Adolescência_Folha004_ideal_cultural

11
A ADOLESCENCIA "COIIIO aJrlStgUir que lIIe rcw"h'I'lIll' mt .w n ir al ll aJmo aduuo!" 5 3 Em todas as suas tentativas de desafiar e provo- car, 0adolescente encontra uma dificuldade: por mais que invente maneiras de se enfeiar, de se distanciar do canone estetico e comportamental dos adultos, a cada vez, rapidamente, a cultura parece encontrar jeitos de idealizar essas maneiras, de transforrna-las em com- p rtamentos aceitos, ate desejaveis invejaveis. Ou seja, 0adolescente descobre que sua rebeldia nao para de alimentar os ideais sociai s dos adultos.

Transcript of Adolescência_Folha004_ideal_cultural

Page 1: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 1/11

A A D O L E S C E N C I A

"COIIIO a J r lS t g U ir q u e l I I e r c w " h ' I ' l I l l ' mt .w n ir al ll a Jm o aduuo!" 5 3

Em todas as suas tentativas de desafiar e provo-

car, 0adolescente encontra uma dificuldade: por mais

que invente maneiras de se enfeiar, de se distanciar do

canone estetico e comportamental dos adultos, a cada

vez, rapidamente, a cultura parece encontrar jeitos de

idealizar essas maneiras, de transforrna-las em com-

portamentos aceitos, ate desejaveis e invejaveis. Ou

seja, 0adolescente descobre que sua rebeldia nao para

de alimentar os ideais sociais dos adultos.

Page 2: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 2/11

A aJok ;cbu i .J ( om o id ea l c ultu ra 5 7

[ Q Jm lado exasperante da adolescencia e que

e dificil encontrar uma escolha adolescente

que nao seja a realizacao do sonho dos

adultos. E quase impossivel, para 0adoles-

cente, se afastar da interpretacao do desejo adulto, por

duas razoes.

Primeiro, porque 0 acesso a idade adulta em nossa

cultura nao e regrado por urn ritual, mas depende deurn olhar, de urn consenso que nem sabe articular suas

condicoes. Portanto e necessario procura-las interro-

gando e interpretando 0 desejo dos adultos.

Segundo, por uma especie de pecado original

proprio a uma cultura que idealiza a autonornia. Mes-

mo se 0comportamento adolescente fosse totalrnen-

te regrado pelo plano de nao mais depender do

reconhecimento dos adultos, mesmo se isso fosse pos-

sivel (e talvez se tome possivel, por exemplo no grupoadolescente), a autonomia assim realizada ainda seria

o sonho dos adultos para 0adolescente. A l i a s , esse e 0

sonho de liberdade por excelencia, 0 sonho que acorn-

panha qualquer vida adulta conternporanea nas for-

mas mais variadas, do desejo de ferias a tentacao de

cair fora.

Verifica-se entao 0 paradoxo seguinte: a adoles-

cencia, excluida da vida adulta, rejeitada num limbo,

acaba interpretando e encenando 0 catalogo dos so-

nhos adultos, com maior ou men or sucesso. Mas, atra-

ves de todas as suas variantes, ela sempre encarna 0

maior sonho de nossa cultura, 0 sonho de liberdade.

Ou seja, por tentar dispensar a tutela dos adultos, a

rebeldia adolescente se toma uma encenacao do ideal

cultural basico. Por esse motivo, as condutas adoles-

centes em todas as suas variantes se cristalizam, se fi-xam e se tomam objeto de irnitacao.

Tudo leva a fazer da adolescencia urn ideal soci-

al. E ate bern possivel que a adolescencia surja na

modernidade como ideal necessario. Logo, que a ado-

lescencia como ideal seja quase urn corolario do mun-

do contemporaneo. Mas, alern dessa possibilidade (que

exarninaremos no Capitulo 5), ha outras cumplicida-

des que, no minimo, colaboram em tal idealizacao da

adolescencia.

Os adolescentes, como vimos, se reunem em gru-pos que podem ser mais ou menos fechados, mas sern-

pre apresentam ao mundo uma identidade propria,

diferente do universo dos adultos e dos outros grupos.

No minimo, sao comunidades de estilo regradas por

traces de identidade claros e definidos, pois os mem-

bros devem poder pertencer a elas sem ter de cocar a

cabeca se perguntando: "Mas 0 que sera que os outros

querem para me aceitar?" Os grupos tern portanto

em comum urn l ook (vestimentas, cabelos, rnaquiagem),preferencias culturais (tipo de musica, imprensa) e

comportamentos ( bares, clubes, restaurantes etc.).

r:

Page 3: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 3/11

58 A adolesdnoaA a.Wb: inc i . l c om o i d ea l c ul l U r a 5 9

o resultado disso e que cada grupo irnpoe facil-

mente a seus membros uma conformidade de consu-

mo bastante definida. Por isso mesmo, todos os grupos

se tornam tarnbern grupos de consumo facilmente

cornercializaveis. Os adolescentes, organizados em

identidades que eles querem poder reconhecer sem

hesitacao, se tomam consumidores ideais por serem

urn publico-alvo perfeitamente definido. A adolescen-

cia e suas variantes sao assim um neg6cio excelente.

o proprio marketing se encarrega de definir e crista-

lizar os grupos adolescentes, 0 maximo possivel.

Os grupos, nascidos como amparo contra a mo-

ratoria imposta pelos adultos, se constituem em ideais

para os adultos justamente por serem rebeldes. Ao

mesmo tempo, esses grupos sao culturalmente exalta-

dos pelo marketing, que tern to do interesse em

apresenta-los como coesos, catalogando os apetrechos

necessaries para seus membros, comercializando as

senhas de reconhecimento e todos os traces do l ook

suscetiveis de circular no mercado.

Esses l ook s que surgiram como "rebeldia" sao

entao propostos como ideais para aurnentar a adesao

de seus membros, ou seja, para seduzir os adolescentes

que chegam ao mercado dos grupos ou transitam de

urn grupo para outro.

Cada look e propagandeado e idealizado por sua

comercializacao. Cada grupo e a adolescencia em ge-

ral se transforrnam numa especie de f ranchis ing que

pode ser proposta a idealizacao e ao investimento de

todo mundo, em qualquer faixa etaria,

Se a adolescencia encena urn ideal cultural basi-

co, e compreensivel que ela se transforme num estilo

que e c oo l para todos.

Na idealizacao comercial e para maior proveito

dos empresarios da adolescencia, praticamente todos

os estilos adolescentes (seus produtos, seus apetrechos)

sao oferecidos e vendidos aos adultos, magnificando

urn mercado ja interessante em si. Desde os anos 80,

surge uma verdadeira especialidade do marketing da

adolescencia. Sua relevan cia esta nas proporcoes do

mercado dos adolescentes: eles sao numerosos e dis-poem de cada vez mais dinheiro. Mas interessam ao

mercado tambern pela influencia que exercem sobre a

decisao e a consolidacao de modas, que transforrnam

os modelos de consumo de muitos adultos.

A adolescencia, por ser um ideal dos adultos, se

toma urn fantastico argumento promocional.

Ate aqui pensavamos que havia uma revolta dos

jovens contra sua exclusiio da sociedade dos adulto~. E

acrescentavamos que as forrnas dessa revolta podiarncoincidir com ideais adultos por duas razoes: porque

o ideal cultural dominante e, em nossa cultura, a insu-

bordinacao e porque, ao se revoltar, os jovens ainda

estariam tentando agradar aos adultos, ou seja, realizar

algum sonho deles.

Agora podemos perguntar se a adolescencia nao

surgiu justamente porque os adultos modemos preci-

saram dela como ideal.

Sera que a adolescencia nao foi provocada, im-pondo a moratoria e suscitando a rebeldia, justamente

para que encenasse 0 sonho de idiossincrasia, de

unicidade, de liberdade individual e de desobediencia

que e proprio de nossa cultura? Sera que a adolescen-

cia nao veio a existir para 0uso da contemplacao pre-

ocupada, mas complacente, dos adultos?

As vezes, essa suspeita deve atravessar 0espirito

dos adolescentes.

Vimos como e por que - correndo atras de

urn reconhecimento que os adultos the negam e

que ele procura com seus pares - 0adolescente

Page 4: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 4/11

60 A adol tsdnc iaA adob -a . .. - i. J " 'mo i d e a l cul tura 6 1

constitui grupos e conformismos. E interessante

notar que esses grupos mudam com extrema rapi-

dez. Ha uma constante invencao de novos estilos.

Como se 0adolescente tentasse correr mais rapido

do que a comercializacao, que quer descreve-lo para

melhor idealiza-lo e vender seu estilo. Como se elefugisse da assidua recuperacao de sua rebeldia pelos

adultos, famintos de model os esteticos de juventu-

de, liberdade e rebeldia.

Se a adolescencia nao existisse, os adultos mo-

demos a inventariam, tanto ela e necessaria ao bom

desempenho psiquico deles.

invencao rnoderna. Em principio e com as devidas

excecoes, em nossa cultura todos amamos, ou me-

lhor, veneramos, as criancas incondicionalmente e ir-

resistivelmente. Nao podemos deixar passar um

miudo perto de n6s sem estender a mao para uma

caricia protetora na pequena testa. Quando, num cafe

ou restaurante, cruzamos 0olhar de uma crianca sen-

tada em outra mesa, estamos dispostos a fazer qual-

quer macaquice para extrair seu sorriso. Em outras

palavras: qualquer adulto parece estar investido da

dupla missao de proteger as criancas e torna-Ias feli-

zes. Mas por que essa seria uma propriedade exclusi-

va da modernidade?

Certo, os seres humanos nascem extraordinaria-

mente prematuros, e a especie conta com cuidadosparentais assiduos e perrnanentes para assegurar a so-

brevivencia dos rebentos. Sem uma dose brutal de amor

dos pais e esforcos anexos, nossa especie estaria

presumivelmente arneacada.

o amor pelas criancas nos parece portanto na-

tural, urn efeito quase fisiol6gico da prernaturacao dos

pequenos humanos, necessario na batalha da evolu-

~ao das especies. Sem amor e cuidados as criancas de-

certo nao sobreviveriam, mas nem por isso 0amor eos cuidados foram sempre os mesmos.

Ao co ntrario, como foi inicial e magistral-

mente mostrado por Philippe Aries,' pode-se di-

zer que a infan cia e uma invencao moderna.

Entendendo aqui por infincia nao os primeiros

anos da vida - que sempre existiram, obviamente

-, mas a pr6pria ideia de um tempo da vida bern

distinto da idade adulta, miticamente feliz, prote-

DA INVENC;Ao DA INFANCIA

A EPOCA DA ADOLESCENCIA

Chegou a hora de perguntar em que medida e

como essa morat6ria que produziu a adolescencia veio

a ocorrer logo na modernidade tardia que n6s habita-

mos. Chegou a hora, em suma, de explicar por que e

como a adolescencia que nos interessa e urn fenorne-

no sobretudo dos ultirnos 50 anos.

Faz um seculo apenas que a adolescencia se tor-

nou urn tema que justificasse um livro como este. Ate

entao, certamente era possivel se preocupar com 0devir

dos jovens, tanto fisico quanto moral e economico,

mas "a adolescencia" nao era uma entidade que enco-

rajasse um titulo ou animasse a imprensa. Nao era urn

faro social reconhecido. Era uma faixa etiria, mas nao

por isso um grupo sociaL Ainda menos um estado de

espirito e um ideal da cultura.

Para entender como isso aconteceu, e necessa-

rio primeiro lembrar que a pr6pria infincia e umasC( Bibliografia. Ill.

Page 5: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 5/11

61 A adolesdncia A adob:inda w nw i dr o/ c ul tu ra 6 )

gido pelo amor dos pais e, sobretudo, nao definido

simplesmente pela espera apressada de se tornar

adultos. Na modernidade, a infancia se tornou

objeto de preocupacoes, rneditacoes, planes e pro-

jetos infinitos, tema inesgotavel e autonomo de

exploracao e debate. Alias, essa posicao aos poucos

parece ser herdada pela adolescencia.

Vamos ver como essa ideia ou visao da in ran cia

veio surgindo em nossa cultura junto com a

modernidade (do seculo 13 em diante) e se afirmou

definitivamente so quando a modernidade ganhou a

partida, no fim do seculo 18.

A maneira moderna de olhar para as criancas,

esse jeito de arna-las que faz da infincia uma verda-

deira divindade cultural, triunfou quando a sociedadetradicional cedeu 0passo ao individualismo.

Sem passar por uma descricao da transforrnacao

cultural que leva da sociedade tradicional ao indivi-

dualismo que domina nossa modernidade, e possivellembrar dois traces essenciais que contribuirarn para

fazer desta mudanca cultural 0momenta da invencao

da infmcia.

o proprio Aries nos deixou uma obra centrada

sobre essa transicao, da qual salientou, alern da inven-yao da infincia, outro aspecto decisivo: uma mudanca

na experiencia da morte.

Explicado rapidamente: numa sociedade tradi-

cional, a comunidade e a verdadeira depositaria da

continuidade da vida. Aqui a morte, por mais que

seja um evento tragico e triste na vida do sujeito,

nao e um ponto final, conclusivo, pois a vida que

mais importa nao e a do individuo - que se perde

com a morte.A comunidade sob revive e segue. Ela euma experiencia que fala mais alto do que 0fim do

breve tempo de uma vida.

Com 0fim da sociedade tradicional, a morte se

torna fundamental mente uma experiencia individual,

cujo sentido (ou falta de sentido) deve ser procurado

no espaco da vida do individuo e nao po de ser substi-

tuido pela significacao mais ampla da comunidade.

Mesmo que a Ie religiosa venha consolar cada um em

seu foro intimo, a morte e antecipada na modernidade

como 0 fim sempre tragico e solitario de uma ex is-

tencia que, por sua vez, parece coincidir com, e nao

ser nada mais do que, a sobrevivencia do individuo.

Entende-se que de repente, nesse contexto cul-

tural, as criancas assumam uma importancia especial e

nova. Para quem a morte e 0 fim de tudo, as criancas

se tornam a unica consolacao, a unica promessa de

algum tipo de continuacao ou mesmo de imortalida-de. Mas essa e apenas uma razao para que 0individu-

alismo moderno invente a infincia,

N uma sociedade tradicional, cada crianca vinda

ao mundo ocupa urn lugar definido numa rede social

articulada e estabelecida. Em qualquer comunidade

hierarquicamente organizada, nascer nurna classe, numa

casta, numa corporacao sao figuras iniciais e decisivas

do destino. Certo, a vida de cada urn continua em suas

maos e eventualmente nas da gra\=a divina, mas 0su-jeito encontra uma exigencia social ao mesmo tempo

fundamental e incontestavel e, por isso mesmo, pacifi-

cada, tranqiiila, geralmente explicita: trata-se de ocu-

par 0 lugar que 0nascimento outorgou a cada um,

num universo onde por regra a divisao social e deci-dida pela tradicao,

Ao contrario, numa cultura individualista como a

nossa, espera-se de anternao que qualquer sujeito se

construa um lugar e se invente urn destino contra 0

que a tradicao e 0 berco onde nasceu lhe reservaram.

Por isso, transrnitir, ensinar, formar sao, em nossa cultu-

Page 6: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 6/11

64 A adousdncia A adokscincia (01110 i d e a l cultura 65

ra, atividades tao problematicas, pois a ordem rransmiti-

da (quer dizer, a tradicao) e de contradizer a tradicao.

Ora, quase todas as instituicoes do mundo tradi-

cional periclitaram ou sumiram com a modernidade.

o individuo so nao se achou desprovido de cornuni-

dade porque uma sobreviveu e, de certa forma, adqui-

riu importancia nova e central na vida de todos: a

familia. A familia moderna e restrita ao essencial, nu-

clear (ou seja, composta essencialmente pelo nucleo

de pais e criancas), mas por isso mesmo mais intensa,

pois idealmente organizada ao redor nao de

consanguinidades extensas, de obrigacoes, deveres e

contratos, mas da forca proclamada dos sentimentos

inti mos. A familia nuclear existe e resiste por ser fun-

dada no amor. Amor entre pai e mae e amor entreestes e as criancas que eles criam. A familia - instirui-

yao que portanto sobrevive e vinga na modernidade -

e a grande porta-voz do duplo vinculo moderno: ela

pede a s criancas todo tipo de submissao e obediencia

em nome do amor, mas tambern pede que, em nome

do mesmo amor, a crianca se liberte da familia e ultra-

passe a condicao na qual se criou, para responder as

expectativas dos pais. Particularmente, para dar conti-

nuidade (imortalidade) aos sonhos dos pais - sonhosfrustrados antes de rna is nada pela mortalidade dos

sonhadores.

Para entender melhor como se criam na

modernidade as condicoes sociais e psico16gicas da

sacralizacao da infincia, ainda e preciso acrescentar a

esse quadro sucinto outro trace bern especifico da

modernidade ocidental: a insatisfacao fundamental do

sujeito.O homem moderno nao e insatisfeito aciden-

talmente com 0que the acontece, infeliz porque cho-veu, a peste recrudesceu ou de novo a guerra vern por

ai , E indispensavel que ele seja insatisfeito constituti-

vamente, por definicao. Pois seu lugar no mundo nao

pode nem deve ser mais definido do que sua aspiracao

- como se diz - de subir na vida, sua ambicao, sua

inveja. Esse trace se revelou crucial para produzir uma

aceleracao inedita na producao de riqueza e de dife-

renca social:0

sujeito moderno quer rna i s (portanto,produz e consome mais) porque deve querer sempre

mais do que os outros.

Nao ha, nao pode haver, objeto, facanha ou mes-

mo triunfo social que possa apagar essa insatisfacao.

Para 0 sujeito moderno, sua obra, seu trabalho de

escalador social perrnanecerao sempre inacabados.

Talvez se compreenda melhor agora por que a

modernidade realizada produz uma paixao inedita pelas

criancas. Para seus pais e para os adultos em geral, elassao a consolacao e a esperanca. Gracas a elas, os adul-

tos estendem 0 sentido e a expectativa de suas vidas

para alern do limite estreito de sua sobrevivencia indi-

vidual. Gracas a elas, a insatisfacao pr6pria do sujeito

moderno se torna suportavel, pois 0 fracasso - inevi-

ravel numa corrida que desconhece faixa de chegada

- alimenta a espera de que as cr iancas fa cam

revezamento conosco.

A infincia preenche a funcao cultural essencialde tornar a modernidade suportavel.

Para isso, ela proporciona antes de mais nada urn

prazer estetico. Nao e por acaso que Aries descobriu a

transforrnacao que a modernidade produziu na rna-

neira de ver e amar as criancas principalmente a partir

da iconografia da infincia. As criancas modernas sao

urn objeto de contemplacao, de agrado e descanso para

nossos olhos. Criamos, vestimos, arrumamos as crian-

yas para comporem uma imagem perfeita e segura defelicidade. No corneco da visao moderna da infincia,

elas eram vestidas aquern da diferenca sexual, seu de-

Page 7: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 7/11

66 A i U W k s c i n c i a A a do ks .: i n ci a c o m o i d a l l c u lt u ra 6 7

sejo era negado por ser para elas uma possivel fonte de

inquietacao, Nos precisamos ver as criancas ao abrigo

das imperfeicoes e das rnagoas: cornpletamente dife-

rentes de nos, por serem protegidas da corrida

insatisfator ia ao sexo e ao dinheiro.Amparadas da ne-

cessidade, nao desejantes, elas sao sorridentes, amadas,

encantadas: vivem em outro mundo.

Essa imagem de felicidade, inocencia e paz que

construimos como urn presepio permanente no meio

de nossas casas e a perfeicao que nunca alcancamos

nem alcancarernos, pois ser insatisfeitos e para nos

definitorio, Por isso, a infincia, rna i s do que uma uto-

pia, e nossa idade de ouro.

De certa forma, a infincia moderna e 0verda-

deiro grande resto da sociedade tradicional na soc ie-dade moderna: as criancas sao as {micas que gozam de

direitos so pelo fato de serem pequenas, ou seja, de

terem nascido criancas, U rna infmcia feliz e a unicacoisa a qual teriamos direito de nascenca.

Isso e 0que parece a primeira vista. Mas 0ver-

me da modernidade esta no encanto desse jardim re-

servado, onde artificialmente contemplariamos nossas

criancas felizes.

A infincia nao oferece so urn prazer estetico: aimagem da felicidade infantil tern tarnbern outra fun-

r,:ao.Essas criancas felizes sao tambern encarregadas de

dar urn sentido a nossa corrida social - garantindo

que, embora incompleta, e!a sera continuada. Elas sao

as herdeiras de nossos anseios, de nossa insatisfacao

constitutiva.

Portanto nos de!eitamos na imagem de sua feli-

cidade, como se esta nos consolasse de nosso fracasso.

Ou, melhor ainda, como se demonstrasse nosso suces-so: fracassamos nos, mas e!as sao fe!izes e seguirao sen-

do, dando assim completude a nossas falhas.

Por isso mesmo precisamos lutar para que nossos

anseios passem para e!as nas me!hores condicoes pos-

siveis, ou seja, com a maior chance de serem satisfeitos

por elas no futuro.

Paradoxalmente, as criancas devem ao mesmo

tempo ser fe!izes e se preparar ativamente para conse-

guirem tudo 0que nos nao conseguimos.A transmis-

sao dessa tarefa e crucial, constitutiva da infancia

moderna, que portanto nao e so uma imagem estatica

de felicidade, mas uma especie de promessa.

Por isso, a modernidade pode ser paradoxal-

mente hiperprotetora e violenta com suas crian-

cas: ela venera, protege as que tern condicao de ser

portadoras da promessa, ou seja, mandatar ias dos

sonhos dos adultos. E pode brutalmente deixar cair,abandonar, aquelas que por qualquer razao nao tern,

ou parecem nao ter condicao de realizar urn dia

nossas esperancas (0 unico corretivo a essa bruta-

lidade e que sempre sobra algum gosto estetico de

ver criancas felizes).

Por isso tambern a modernidade sofre de con-

tradicoes pedagcgicas: como preparar as criancas para

o futuro sem comprometer a imagem de sua felicida-

de? Surge assim a utopia do aprender prazeroso, daaula que seria eficaz como urn cursinho acelerado e

divertida como urn jogo de jardim da infincia. Essas

contradicoes nao ajudando, a preparacao fica cada vez

mais longa e laboriosa.

Quanto mais a infincia se afasta de urn simples

consolo estetico, quanto mais e encarregada de prepa-

rar 0 futuro, ou seja, de se preparar para alcancar urn

(irnpossivel) sucesso que faltou aos adultos, tanto mais

ela se prolonga. Isso inevitavelmente forca a invencaoda adolescencia, que e urn derivado conternporaneo

da infmcia mode rna.

Page 8: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 8/11

68 A adolesdncia~

,--

rA EPO CA DA ADO LESCENCIA

Aos poucos, os adultos verificam que essas cri-

anyas que estao se preparando ja sao urn pouco cresci-

das, a forca de esperar. Elas constituem uma nova

mistura, inedita. Os adultos tentam rnante-las protegi-

das e felizes, assistidas, no mundo encantado c ia infin-~

cia, sem obrigacoes e responsabilidades. Por outro lado,

r- elas se parecem cada vez rna is com os adultos, pelo

tamanho, pela maturacao de seus corpos e pelas exi--r-,

gencias de sua felicidade e de seus prazeres, que nao

sao mais brinquedos e historinhas, mas, por exemplo,

~ sexo e dinheiro - segundo eles VaGaprendendo.Alern.-."

disso, a propria pressao preparatoria se torna parecidapara essas criancas com a pressao c ia corricla adulta.

Aparece assim uma sernelhanca inedita entre os +-,

adultos e essas supostas "criancas" que ja tern corpos,

gostos, vontades, prazeres e alguns deveres muito pa-

recidos com os nossos. -r-,

- - - -Cada vez mais, 0 olhar dos adultos se desloca das

criancas para os adolescentes, pois 0 espetaculo de sua

feliciclade e de fato mais gratificante. Se conseguirmos -r-,

realiza-Ia mantendo os adolescentes protegidos e ir-

, . . . . . . .responsaveis como criancas, mas com exigencias e

voraciclades de adultos, eles VaGnos oferecer urn show

bern parecido com a feliciclade que gostariamos aqui " " 'e agora, para nos.

" ' " " " 'A imagem c ia infincia encantacla nos dele ita por-

que nos consola e con tern uma promessa. A imagem

r>; c ia adolescencia feliz nos propoe urn espelho para con-" " " " 'templar a satisfacao de nossos avidos desejos, se por-r-,

algum milagre pudessernos deixar de lado os deverese as obrigacoes basicas que nos constrangem. Ou seja,

"se pudessernos ser tao despreocupados quanta gosta-

"'- - . . . .

"' "<,

A aJ"kscbu ia co mo idM I cu ltu ra 69

riamos que fossem nossos adolescentes. Gostariamos

por que? Para nos oferecer esse show,justamente.

As visoes de infincia e adolescencia se opoern

como urn erotismo alusivo se opoe a pornografia.

Olhamos para infincia como promessa. Procuramos

na visao c ia adolescencia 0dipe de nossos gozos:"Nos-

sa, se pudessernos de verdade tirar ferias de urn jeito

que nem adolescente consegue!".

Ha certo genero de filme pornografico on de

as situacoes extremas filmadas sao reais, nao atuadas.

Pois bern, a adolescencia real nos assusta como urn

desses filmes, em que, de repente, se realizam de

verdade fantasias que estao em nos, mas que prefe-

ririamos esquecer.

A infincia e urn ideal comparativo. Os adultospodem desejar ser ou vir a ser felizes, inocentes, des-.

preocupados como criancas, Mas normalmente nao

gostariam de voltar a ser criancas,

Com a adolescencia que hoje toma 0lugar c ia

infincia no ideario ocidental, a coisa muda.

o adolescente nao e so urn ideal comparativo,

como as criancinhas. Ele e urn ideal possivelmente

identificatorio. Os adult os podem querer ser adoles-

centes.Os adolescentes ideais tern corpos que reconhe-

cemos como parecidos com os nossos em suas formas

e seus gozos, prazeres iguais aos nossos e, ao mesmo

tempo, gray as a magica c ia infincia estendicla ate a eles,

sao ou deveriam ser felizes numa hipotetica suspensao

das obrigacoes, clas dificulclades e das responsabilida-

des da vida adulta. Eles sao adultos de ferias, sem lei.

Em nossa idealizacao, seriam turistas sexuais num Ter-

ceiro Mundo sem policia, bon vivants gostando de fi-car high no Afeganistao antes de 1970 ou nos cafes de

Amsterda, compradores em dolares nos supermerca-

Page 9: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 9/11

70 A adole sdnda A a do le sd nd a c om o i de al c ul tu ra 71

dos inflacionados do Quarto Mundo e mesmo assim

eternos ganhadores da loteria.

Talvez adoremos mais essa imagem do que a irna-

gem das criancas que nos extasiava. Pois e propriamen-

te uma imagem de nos mesmos gozando, felizes, sem

impedimento ou quase. Gostamos tanto que e uma pena

nos confinarrnos na contemplacao estetica ou no so-

nho. Por que simplesmente nao imiti-los? Concreta-

mente nao e simples, pois quem vai nos dar a mesada?

Mas podemos, por exemplo, irnitar seus estilos.

A adolescencia se torna assim urn ideal dos adul-

tos. au seja, os adultos nao se contentam mais com 0

consolo oferecido pela visao das criancinhas felizes.

Eles encontram nos adolescentes idealizados urn pra-

zer men os utopico e mais narcisista. Os adolescentes

oferecern uma imagem plausivel, praticavel,

Idealizar os prazeres da adolescencia (que, con-

trariamente a infincia, e imitavel) e uma maneira de

querer menos consolo com perspectivas futuras (0 que

a infincia oferece) e mais satisfacao imediata. Quere-

mos ver os adolescentes felizes porque eles seriam ape-

nas a caricatura despreocupada de nos mesmos.

Portanto, atingiveis, a nosso alcance.

Essa idealizacao nao escapa aos proprios adoles-centes.

Ate a metade dos anos 60, claramente 0 ideal

(inclusive estetico) da maioria dos adolescentes era a

idade adulta. a que os adolescentes dessa epoca mais

queriam era ser aceitos e reconhecidos como adultos,

obter, em suma, pleno acesso a tribo. Isso provavel-

mente nao e diferente do que querem os adolescentes

de hoje. Mas,justamente com esse tim, os de entao se

esforcavam em imitar os adultos. a aniversario (12 ou

13 anos) em que as calcas compridas eram autorizadas

era esperado como se fosse mais importante ou tao

importante quanto crisma, barmitzvah ou equivalente.

As maneiras em publico eram, do mesmo jeito, inspi-

radas pelos adultos. Chegando em casa da escola, os

jovens deviam trocar da roupa de rua para a roupa de

casa (isso porque se presumia que uma "crianca" se

sujasse, deitasse no chao etc.).

A vontade frustrada de poder ficar 0dia inteiro

de paleto e no de gravata tem como paralelo hoje a

grande vontade dos adultos de poderem enfim se ves-

tir como adolescentes nos domingos e mesmo nas sex-

tas-feiras informais permitidas nos escritor ios. A

vontade de usar sapato amarrado ate em casa

corresponde hoje a vontade adulta de usar tenis ate

quando nao e a hora de praticar nenhum esporte.

Tambern os adolescentes dos anos 60 procura-

yam nao so parecer adultos, mas se aventurar em qua-

lidades de experiencia adultas. Se possivel, rnais adultas

do que a experiencia dos adultos. Algumas ativida-

des adolescentes (desde as brincadeiras ate a

masturbacao) eram culpadas e vergonhosas, nao tan-

to por serem proibidas, mas por serem infantis, ou

seja, prova de distancia da idade adulta, de falta da

maturidade que daria acesso ao reconhecimento so-

cial e a independencia.Talvez por isso os adolescentes dos anos 60 aca-

baram sendo uma geracao de individuos politicarnen-

te engajados, para mitigar e esconder uma vontade de

folia arras da seriedade da consciencia social. a ideal

deles era a vida adulta. 0desejo era nao de se confer-

mar aos adultos, mas de nao se diferenciar deles por

ser infantis, adolescentes.

Atras desses adolescentes, havia as criancas, que

eram aparentemente felizes num mundo de contos defada e assim ficariam ate descobrirem que 0que im-portava era ser adulto. Elas eram idealizadas por todos,

-r-;

I

Page 10: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 10/11

71 A adobdt1da A adokscincia C O I I I O i de al c ult ur a 7 3

mas como um daguerreotipo da felicidade de outros

tempos. As cr iancas eram decorativas. 0 ideal eram os

adultos.Ia na frente.

Isso cornecou a mudar bem naquela epoca. Aos

poucos, os adolescentes se tornaram 0 ideal dos adul-

tos. Logo, ao interpretar 0desejo dos adultos e procu-

rar descobrir qual seria 0 sonho deles arras de seus

eventuais pedidos de conformidade, os adolescentes

depararam com sua propria imagem. 0 ideal escondi-

do dos adultos eram eles mesmos, os adolescentes.

Como satisfazer aos adultos, senao sendo mais

adolescentes ainda do que ja eram?

Fato notavel: nestas ultimas decadas, as criancas

perderam sua especificidade estetica. Elas sao cada vez

menos vestidas como criancas. Tampouco sao masca-

radas de adultos em miniatura, para antecipar 0 futuro

que se espera para elas. Elas sao camufladas de adoles-

centes. E tanto rna i s surpreendente (e preocupante

quanto as conseqiiencias) em lugares onde os adoles-

centes e seus uniformes sao simbolos instituidos de

uma marginalidade perigosa. Caminhe pela rua 125

em Nova York: sem falta voce encontrara, por exem-

plo, garotos de quatro anos de calcas cargo ridicula-

mente largas, mantidas abaixo do cos para mostrar tresdedos de cueca, chapeu de beisebol virado para tras

ou entao, no inverno, capuz por cima da cabeca. Em

suma, a caricatura dos membros de uma gangue. Eles

nao estao vestidos nem de criancas nem de adultos.

Estao de adolescentes. 0 adolescente que eles imitam

eo ideal dos adultos que os vestem. Os homens adul-

tos, por sua vez, estao ridiculamente fantasiados do

mesmo jeito. Repitam a mesma observacao na saida

de uma escola primaria, comparando as meninas e asrnaes que esperam 0 fun da aula. Nao e raro que elas

compartilhem de uma estetica comum.

A estetica da adolescencia atravessa assim todas as

idades. E os continentes. Os adolescentes sao os mes-

mos no mundo inteiro ou, ao men os, no mundo oci-

dental. Mesmas mocias, mesmos estilos, mesmas musicas,

Uma mesmice muito americana. De faro, a adolescen-

cia foi inventada e vingou nos Estados Unidos. Nao

seria falso dizer que ela e originariamente americana.

Isso significa apenas que os Estados Unidos mos-

traram primeiro esse trace de modernidade, dita avan-

cada, pelo qual os adultos preferem sonhar em ser

adolescentes a ficar contemplando as criancas supos-

tamente felizes. De qualquer forma, a adolescencia eo

ideal coletivo que espreita qualquer cultura que recu-

sa a tradicao e idealiza liberdade, independencia, insu-

bordinacao etc. Os Estados Unidos foram aqui a

vanguarda do Ocidente moderno.

Alias, isso explica em parte a incrivel expansao

da cultura americana na segunda metade do seculo

20. Pois quem captura a alma dos adolescentes, quem

decide dos estilos adolescentes, de fato e mestre dos

sonhos dos adultos cuja aspiracao e a adolescencia.

Paradoxalmente (note-se entre parenteses), essa

americanizacao forcada, que nivela e destroi patrirno-

nios culturais diferentes, pode ter alguns efeitos posi-tivos. Por exemplo, no Brasil rappe r s afavelados

conseguem sair da exclusao e participar da adolescen-

cia (encarnar para todos uma fatia de ideal) por pa-

rentesco com os rappe r s dos guetos americanos.

Nessa situacao - em que a adolescencia e urn ide-

al para todas as idades e global-, 0adolescente se torna

urn ideal para si mesmo. Ele e empurrado pelo olhar

admirativo de adultos e criancas a se tornar cada vez

mais a copia de seu proprio estereotipo, A se margina-lizar (ser rebelde) para seguir ocupando 0 centro de

nossa cultura, ou seja, 0 lugar do sonho dos adultos.

Page 11: Adolescência_Folha004_ideal_cultural

8/4/2019 Adolescência_Folha004_ideal_cultural

http://slidepdf.com/reader/full/adolescenciafolha004idealcultural 11/11

74 A a d o l e s d n c i a

A adolescencia, nessa altura, nao precisa acabar.

Crescer, se tomar adulto, nao significaria nenhuma

prornocao. Consistiria em sair do ideal de todos para

se tomar urn adulto que so sonha com a adolescencia.

Acaba assim a preocupacao fundamental do ado-

lescente de ser aceito ou reconhecido pelos adultos

como urn par. Nao precisa mais se preocupar. A ado-

lescencia e agora 0 ideal dos adultos por ser suposta-

mente urn tempo de ferias permanentes - uma maneira

de ser adulto quanto aos prazeres, mas sem as obriga-

coes relativas. Se a adolescencia e isso, ela e reconheci-

da 0suficiente. Por que desejar se tomar adulto quando

os adultos querem ser adolescentes? E por que desejar

o reconhecimento dos adultos, se na verdade sao estes

que parecem pedir que os adolescentes os reconhe-

~am como pares?

Os adolescentes pedem reconhecimento e en-

contram no amago dos adultos urn espelho para se

contemplar. Pedem uma palavra para crescer e ganham

urn olhar que admira justamente 0 casulo que eles

queriam deixar.

Moral da hist6ria: 0dever dos jovens e envelhe-

cer. Suma sabedoria. Mas 0que acontece quando a

aspiracao dos adultos e manifestamente a de rejuve-nescer?

-'""',