Adolescência_Folha005_Bibliog

download Adolescência_Folha005_Bibliog

of 5

Transcript of Adolescência_Folha005_Bibliog

  • 8/4/2019 Adolescncia_Folha005_Bibliog

    1/5

    PEQUENA BCOMENT

    ara ler mais sobre 0 tema e tambern parapercorrer com mais detalhes algumas dasetapas que permitiram escrever este en-saio, podern-se apontar tres carninhos.

    I.0rimeiro sao os textos nos quais e pelos quaisa adolescencia se constituiu e cresceu como objetoautonomo de perplexidade, reflexao e pesquisa. Elescontribuiram nao s6 para entender a adolescencia, massobretudo para faze-la existir como problema moder-no.* Granville Stanley Hall,: Ado le sc ence : I ts Ps ychology and

    I ts R e la ti on s t o Ph ys io lo gy , A n th ro po lo gy , S oc io lo gy , S ex ,C rime , R eli gio n a nd E du ca ti on . New York: D. Appleton&Co., 1904.

    : E a obra fundadora dos estudos sobre adolescen-cia. Hall pode ser considerado 0criador da adolescen-cia, seu inventor. Ele se preocupou com a precocidadedos jovens de seu tempo, os quais the pareciam chegarcedo demais as ruas, as fabricas, aos braces de parcei-

  • 8/4/2019 Adolescncia_Folha005_Bibliog

    2/5

    P eq utn .l b ib lw g r'1 'a c om e nta da 7 7 78 A adabunda

    ros sexuais e tarnbern as prisoes. De fato, essa precoci-dade nao constituia novidade nenhuma. 0 que eranovo, naquele comeco do seculo 20, era a preocupa-c;:ao de Hall. Ele foi a luta para que os beneficios dainfincia se prolongassem. Suas palavras foram decisi-vas para que, aos poucos, os adolescentes foss emescolarizados tao obrigatoriamente quanto as crian-cas. Inaugurou-se assim uma tendencia que hoje em-purra a escolaridade obrigat6ria (e com ela aadolescencia) para alern dos 20 anos de idade.

    Hall considerava a adolescencia uma epoca peri-gosa e trabalhosa. Mas concebia essas dificuldades comonaturais, pr6prias a uma fase da vida. Concluia, por-tanto, que os jovens precisavam de protecao por maistempo do que pensivamos.Em sua descricao da adolescencia, ja aparece amistura de medo e inveja que acompanha ate hoje aidealizacao dessa epoca da vida.* Margaret Mead, C om ing of A ge in Sam oa. New York:William Morrow, 1928.A grande antropologa Margaret Mead respon-

    deu a Hall, mostrando que a adolescencia atorrnenta-da e dificil nao e nenhuma necessidade fisiol6gica,nenhuma fatalidade, mas uma producao de nossa cul-tura. Ela descreve uma sociedade nas ilhas Samoa ondea adolescencia e uma transicao facil e feliz. Mesmo sea descricao etnol6gica e hoje discutida (0 que naosignifica contestada), 0 livro segue sendo urn marcono debate sobre infincia e adolescencia.* Albert Cohen, De li nqu en t B o ys : t he Cu lt ur e ift he G a ng .New York: Free Press, 1955.Logo depois da guerra, aparece 0 classico de

    Albert Cohen sobre os jovens delinquentes. EmboraCohen repetidamente afirmasse que sua analiseconcernia s6 a garotos de classe operaria e membros

    de gangues, a ideia da adolescencia como oposicaodelinqiiente contra a cultura e 0 mundo adulto se ins-talou des de entao. Cohen e crucial na constiruicao dopesadelo do adolescente delinqiiente.* Daniel Offer (com Melvin Sabshin eJudith L. Offer),

    Th e P s yc ho lo g ic a lWo rl d if t h eTeenage r:a S tudy if Nor-m a l A d ol es ce nt B oy s. New York: Basic Books, 1969.Em contraponto a Cohen, embora tarde demais

    para corrigir seus efeitos de desconfianca, Daniel Offerveio lembrar que os adolescentes reais sao mais nor-mais do que a "adolescencia", A producao de Offer seestende ate os anos 80.* Erik Erikson, I de nt id ad e, J uv en tu de e C ri se . Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 1987 (original 1968).

    Enfim, Erikson entende a crise da adolescenciacomo efeito dos nossos tempos. Para ele, a rapidez da smudancas na modernidade toma problematica a trans-missao de uma tradicao de pais para filhos adolescen-tes. Estes devem portanto se constituir, se inventar semreferencias estaveis. Erikson foi 0 primeiro a usar 0termo "moratoria" para falar da adolescencia. Tam-bern foi urn dos raros a perceber que a crise da adoles-cencia se tomava muito dificil de administrar, ja que 0mesmo tipo de crise comec;:ava a assolar os adultosmodernos.

    II. 0 segundo carninho e 0 da s producoes cultu-rais que instituem a adolescencia como ideal social. Aidealizacao da adolescencia e preparada pela idealizacaoda infincia insubordinada. 0 exemplo mais famoso,ainda do seculo 19, e 0 Huckleberry Finn de MarkTwain (ha varias edicoes portuguesas disponiveis: deA s A ve ntu ra s d e H uc kle be rry F in n).

    Depois da Segunda Guerra Mundial, a figura doadolescente perdido e transgressor assume dignidadeliteraria com The Catcher in the Rye de J.D. Salinger

  • 8/4/2019 Adolescncia_Folha005_Bibliog

    3/5

    P c q u ro a b i bl io g r a fi a COI1l(ntada 7 9 80 A adowncia

    em 1951 (0 A panhador no C am po de C enteio . Rio deJaneiro: Editora Autor, 1999)

    Desde essa epoca, a vasta producao cultural queidealiza a adolescencia e constantemente acornpanha-da pe!o tema narrativo do adulto insatisfeito, queren-do voltar a uma adolescencia idealizada, feita deliberdade e de crises salutares.

    Urn dos maiores romances americanos do pos-guerra e R ev ol ut io na ry R o ad , de RichardYates (1961),em que a monotonia da vida suburbana se toma into-leravel, por causa da urgencia de interromper a rotinaadulta para poder (sonho adolescente) "se achar".Querendo dispensar a leitura de Yates (que nao foitraduzido para 0 portugues), e possive! recorrer ao fil-me Amer ic an B ea ut y, de Sam Mendes (1999), em que apersonagem principal e urn herdeiro direto do heroideYates.

    Essa nostalgia adulta da adolescencia, que atra-vessa a segunda metade do seculo, e a forca arras dasmaos que nesse periodo desenham uma serie de re-tratos ideais de adolescentes. 0inema, pretendendoapresentar ou explicar 0que seria a adolescencia, ilus-tra de fato os sonhos adultos sobre a adolescencia. Elenos conta qual adolescente os adultos gostariam devoltar a ser, de ter sido ou de continuar sendo.

    A serie corneca com R ebel w ithou t a C ause (jll-ventudeTransviada), de Nicholas Ray (1955), com JamesDean no papel de urn jovem sedento de uma vidamais intensa e verdadeira do que a intoleravel fraque-za pequeno-burguesa do pai. Em contraponto, Picnic( Fe ri as d e Amo r), de Joshua Logan (1955), nos fala deuma menina, Kim Novak, que, na sua escolha amoro-sa, e mais sincera do que a mae interesseira. 0 estere-otipo do adulto hipocrita que tudo sacrifica a falsosvalores e pintado por adultos e para adultos. Em suma,

    os adultos ado ram se ver e julgar pe!os olhos do ado-lescente ideal que e!es imaginam nostalgicamente.

    Os filmes com Elvis Presley insistem no channeinquietante do adolescente pouco recornendavel. 0heroi de J ailh ou se R oc k (0 P risio ne iro d o R oc k), deRichard Thorpe (1957), se toma cantor na cadeia;verifiquem a cara dos pais da rnoca que se apaixonapor e!e.E impossive! oferecer aqui uma filmografia daadolescencia, Apenas podemos indicar que, depois dessecorneco, ela poderia terrninar com dois filmes. Kids,de Leo Fitzpatrick (1995), seria exemplo do ideal detransgressao e de gozo heroico do adolescente. Dooutro lado, estaria Am er ic an P ie , de Paul Weitz (1999),como exemplo de uma visao da a~olescencia engra-cada e mais proxima da realidade. E instrutivo cons i-derar que Kids fez sucesso com adolescentes e adultos.Am er ic an P ie seduziu apenas os adolescentes.

    Sobre a constituicao do ideal adolescente nosEstados Unidos, dos anos 50, vale conferir (no mini-mo em sua segunda parte):Luisa Passerini, A [u ve ntu de , M etlzfo ra d a M u da nc a S oc i-

    a l. D ois D eba tes S obre 05J ov en s: a [ta lia F asc ista e 05E stados U nidos da D ecada de 50 , em: Hi st 6r ia d o s Jo -vens, vol. 12, "A Epoca Conternporanea". Sao Pau-lo: Companhia da s Letras, 1996.

    III. 0 terceiro caminho e 0 da hist6ria da infin-cia e da rnudanca cultural que levou 0 Ocidente aamar as criancas de uma maneira tao especial. No tex-to e feita referencia a:Philippe Aries, H ist6 ria S ocia l d a C na nia e d a F am ilia .Rio de Janeiro: LTC, 1981 (original 1960)

    Philippe Aries, H om em P eran te a M orte, 2 vol. Lisboa:Europa-America.

  • 8/4/2019 Adolescncia_Folha005_Bibliog

    4/5

    SOBRE 0AUTOR FOLHAE X P L I C Aontardo Calligaris e psicanalista, doutor em

    psicologia clinica e colunista da F olh a de S.Paulo . Itali-ano, formado na Franca, hoje clinica e vive entreBoston e Sao Paulo. Recentemente, ensinou estudosculturais na New School de Nova York e foi professorconvidado de antropologia medica na Universidadeda California em Berkeley. Seus livros mais recentesem portugues sao C rsn ic as d o In div id ua lism o C otid ia no(Atica) e H ello Brasil! Notas de um Psicanalista EuropeuV iajand o ao B ra sil (Escuta).

    - .

    Folha Explica e uma colecao de livros bre-ves, abrangendo todas as areas do conhecimento ecada urn resumindo, em linguagem acessivel, 0quede mais importante se sabe hoje sobre determina-do assunto.

    Como 0nome indica, a colecao ambiciona ex-plicar os assuntos tratados. E faze-lo num contextobrasileiro: cada livro oferece ao leitor condicoes naoso para que fique bern informado, mas para que possarefletir sobre 0 tema, de uma perspectiva atual econsciente das circunstancias do pais.

    Voltada para 0 leitor geral, a colecao serve tam-bern a quem domina os assuntos, mas tem aqui umachance de se atualizar. Cada volume e escrito por urnautor reconhecido na area, que fala com seu proprioestilo. Essa enciclopedia de temas e, assim, uma enci-clopedia de vozes tambem: as vozes que pensam, hoje,temas de todo 0mundo e de todos os tempos, nestemomenta do Brasil.

    ",- - \

  • 8/4/2019 Adolescncia_Folha005_Bibliog

    5/5

    PUBLIFOLHA