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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” AFETIVIDADE: PARCEIRA DA APRENDIZAGEM Por Flávia Raquel Crespo de Jesus ORIENTADORA Profª. Fabiane Muniz RIO DE JANEIRO FEVEREIRO / 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

AFETIVIDADE: PARCEIRA DA APRENDIZAGEM

Por

Flávia Raquel Crespo de Jesus

ORIENTADORA

Profª. Fabiane Muniz

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO / 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

AFETIVIDADE: PARCEIRA DA APRENDIZAGEM

Flávia Raquel Crespo de Jesus

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do grau

de Especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

FEVEREIRO / 2003

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Agradeço a todos que direta e

indiretamente contribuíram para a

execução desta pesquisa. Especialmente a

professora mestra Fabiane Muniz, que

com sua competência e dinamismo

orientou esta monografia.

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Dedico este trabalho de pesquisa a

todos os meus familiares sem eles

seria impossível chegar até aqui.

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AS SEM – RAZÕES DO AMOR

Eu te amo porque te amo. Não precisa ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

Amor é dado de graça, É semeado no vento, Na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários E a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo. Bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca, Não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, Feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam).

A cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

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SUMÁRIO:

PÁGINA

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

CAPÍTULO I – A RELAÇÃO ENTRE AFETIVIDADE E

INTELIGÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......................

3

CAPÍTULO II – AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM UM ELO

NECESSÁRIO NA TRAJETÓRIA DO EDUCANDO ..............................

8

CAPÍTULO III – HABILIDADE COGNITIVA SOCIAL E

EMOCIONAL BASES PARA UMA EDUCAÇÃO BEM SUCEDIDA....

14

CONSIDERAÇÕES FINAIS: SER OU NÃO SER AMADO PODE

FAZER A DIFERENÇA .............................................................................

20

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................. 22

ANEXOS ..................................................................................................... 24

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RESUMO A afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte. Ela

está em nos como uma fonte geradora de potência, de energia. As crianças que

possuem uma boa relação afetiva são seguras, têm interesse pelo mundo que as cerca,

compreendem melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento intelectual.

Alguém já viu criança feliz e amada ir mal na escola? Acreditamos que não,

existem crianças que de uma série para outra, passam a gostar mais ou menos de

determinada disciplina, modificando até mesmo seu aprendizado. Tudo indica que

muitas das vezes a troca do professo e não do conteúdo da disciplina é responsável

por essa mudança. Portanto deduzimos com isso que o afeto transmitido ao educando

é de suma importância para sua aprendizagem, defendemos no contexto dessa

monografia um investimento maior na afetividade para uma aprendizagem prazerosa

e consequentemente para um futuro melhor, mais justo, mais humano para os nossos

educandos.

Abordamos nesse trabalho monográfico a relação entre afetividade e

inteligência no desenvolvimento infantil, acreditamos que a afetividade e

aprendizagem são elos necessários na trajetória do educando e para entendermos

melhor esses fatos, abordamos de forma simplificada as habilidades cognitiva social

e emocional, que ao nosso ver são bases fundamentais para uma educação bem

sucedida. Defendemos uma pedagogia voltada para amorosidade, no sentido de

trabalhar no educando o desenvolvimento do seu “eu”. Quando nos sentimos amados

tudo se torna mais fácil e a aprendizagem não foge dessa linha de pensamento. Já

nos dizia Bernardo Toro “A escola dá certo quando o aluno aprende e é feliz”.

Sentimos nesse contexto a necessidade de desenvolver e de valorizar atividades

educacionais que se preocupem em trabalhar o relacionamento humano diálogo,

solidariedade e partilha e o intercâmbio que conduzem a humanização da cultura e do

saber implicando no primado da sabedoria e do aprendizado sobre a ciência e o

respeito à ética em todas as relações humanas.

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INTRODUÇÃO Quando penso em educação me vem a mente o rostinho de cada criança que

passou por minhas mãos, de alguma forma quando se é um educador nos tornamos

“responsáveis” pelo educando no aspecto de mediar suas descobertas.

Descobertas essas que envolvem uma série de aspectos para que possam ser bem

desenvolvidas, um desses aspectos é o amor e o afeto que o educador dedica ao ato

de ensinar. Foi pensando sobre esses fatos que escolhi como tema de minha pesquisa

monográfica: Afetividade: parceira da aprendizagem.

Acredito que o afeto é um dos caminhos mais importantes para se chegar a um

bom desempenho, seja no trabalho, na família ou na educação.

Falar sobre afeto é falar de uma educação com amor paixão e solidariedade.

Tendo em vista um educador que é apaixonado por aquilo que faz e no contexto que

estamos inseridos, só mesmo com muita paixão para não desistir. O próprio Platão

alertou-nos sobre a importância da educação para a justiça e para o bem, inspirado

sempre no prazer de aprender.

Em uma pesquisa sobre esse tema não poderia faltar uma menção honrosa ao

educador mais apaixonado que já tivemos, o professor Paulo Freire (1996) quando

diz: “Estudar é um fazer exigente em cujo processo se dá uma sucessão de dor, de

prazer, de sensação de vitória, de derrotas, de dúvidas e de alegria”

Queremos a partir deste tema, falar sobre a ousadia de fazer da educação paixão

e prazer, numa época que tudo conspira para que ela seja um mero acontecimento

científico-tecnológico voltado aos interesses da economia de mercado e configurado

a uma simples mercadoria. Um dos grandes desafios da educação atual é descobrir

quais são as formas de como ensinar, fazer com que o educando aprenda com prazer

e motivação. Porque “a escola dá certo quando o aluno aprende e é feliz” (Bernardo

Toro, 1998).

Temos como objetivo ressaltar a importância de um trabalho de aprendizagem

voltado a relação de “aprender a aprender” (Paulo Freire, 1996). Ou seja, aprender a

quem nos ensina com amor e prazer. Partindo dessa idéia, analisamos o nosso papel,

enquanto educadores, o papel da família nesse processo e a relação de afeto

aprendizagem no desenvolvimento escolar do educando na construção do seu “eu”,

nos questionamos até que ponto o afeto pode influenciar nesses fatos.

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Enfim, queremos refletir em conjunto sobre o resgate da dignidade humana,

promovendo uma educação integrada dentro dos quatro pilares da educação:

aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos e a ser, numa ação emancipadora baseada

em ações educacionais mais humanas. Através do trabalho de campo queremos

buscar uma visão mais clara a que rumo nossas práticas escolares estão caminhando.

A metodologia para realização deste projeto se dará através das pesquisas que

serão realizadas em escolas públicas e particulares. Essa pesquisa se dará através de

entrevistas e depoimentos de alunos, pais e professores. Serão preservadas a

identidade das pessoas e as instituições.

Para auxiliar as reflexões me apoiarei em autores tais como Paulo Freire,

Leonardo Boff, Ana Rita Silva Almeida, Celso Antunes, Lúcia Moysés entre outros

Pensadores como: Piaget e Freud entre outros para enriquecer e textualizar essa

pesquisa.

No primeiro capítulo estaremos falando sobre o processo de afetividade de

aprendizagem no desenvolvimento infantil, a importância do meio externo e interno

nesta fase, até onde a família e a escola influenciam neste processo.

No segundo capítulo destacamos a afetividade e a aprendizagem como sendo

um elo necessário na trajetória do educando, para isso me apoio em uma pesquisa

feita com duas crianças da primeira fase do ensino fundamental e discuto até que

ponto a atenção familiar, o carinho do professor podem influenciar no aprendizado

dos educados.

No terceiro capítulo veremos as habilidades cognitivas, social e emocional

como bases para uma educação bem sucedida, lembramos que eles são interligadas e

quando pensamos em educação uma não pode estar dissociada da outra, elas são de

vital importância para que a aprendizagem do educando transcorra com sucesso.

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CAPÍTULO I

A RELAÇÃO ENTRE AFETIVIDADE E INTELIGÊNCIA

NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O afeto e a inteligência são dois parceiros inseparáveis da atividade humana,

nenhuma atividade por mais intelectual que seja, suprime a emoção.

Segundo o dicionário Aurélio (2001) os significados das palavras afeto e

inteligência são:

Afeto s.m. 1. Afeição, amizade, amor. 2. Objeto de afeição – adj. Partidário sectário.

Inteligência s.f. 1. Faculdade ou capacidade de aprender, compreender ou adaptar –

se facilmente, intelecto, intelectualidade. 2. Destreza mental.

Vocês devem estar se perguntando o porque desta colocação acima, pois bem,

embora essas duas palavras não coincidirem em seu significado, elas tem um ponto

em comum “O desenvolvimento do indivíduo”, esse ponto faz as duas conviverem

em contínua relação. Afeto no sentido de “emoção” e aprendizagem são duas

estradas que seguem seu percurso e se cruzam continuamente, uma é necessária a

outra.

Wallon (1975) destaca que “a emoção só será compatível com os interesses e a

segurança do indivíduo se souber se compor com o conhecimento e o raciocínio – e

seus sucessos –, ou seja, se em parte, deixar – se reduzir”.

O afeto e a inteligência são dois parceiros inseparáveis da atividade humana,

nenhuma atividade por mais intelectual que seja, suprime a emoção.

Podemos perceber no que foi dito anteriormente que esses dois aspectos – o

afeto e a inteligência – fazem parte do ser humano e consequentemente influenciam

no desenvolvimento do indivíduo. A afetividade segundo Wallon se manifesta antes

da inteligência.

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“O recém nascido, antes de estabelecer atividades de relação, isto é no sentido de conhecer, descobri o mundo físico, permanecer por um dado período voltado pra si mesmo, como se estivesse desenvolvendo, exercitando determinadas habilidades para poder mais tarde interagir com o mundo físico”. (Wallon, 1975)

A afetividade como a inteligência não se apresenta pronta elas evoluem no

decorrer do desenvolvimento do indivíduo, as necessidades afetivas se tornam

cognitivas. Por esse motivo é importante que na infância a criança não seja apenas

acariciada, mais respeitada, os pais que conversam com os filhos e mostram com

clareza o motivo das zangas e repreensões ou dos aplausos e incentivos,

provavelmente deixará essa criança mais segura e preparada para conviver com as

variações da nossa vida em sociedade. Vygostsky (1984) nos alerta que a

transferência está ligada a mudanças e que essas mudanças “são incorporadas em um

novo sistema com suas próprias leis”. A formação da criança está ligada ao que ela

vive e não se da automaticamente, elas fazem ligação do que está sendo aprendido

com os conteúdos que já existem em sua mente, como cada criança traz experiência e

vivências individuais a absorção dos conteúdos se fará de acordo com as

experiências já existentes.

Nesse processo de construção de experiência a família assume um papel

importante. Vamos analisar a realidade de duas crianças com histórias de vida

diferentes:

Caso 1 – Roberto tem 7 anos, cursa a 1ª série em uma escola pública, ele vive

com sua mãe e três irmãos, sua mãe trabalha o dia inteiro como doméstica, só volta

para casa a noite e não tem muito tempo para ficar com o filho. Quando falo com o

Roberto sobre afeto (família) e aprendizagem (escola) ele se mostra desinteressado e

sem muitas expectativas para o futuro, ele ainda não sabe ler e diz que não gosta

muito da escola, “a professora é nervosa e grita o tempo todo”.

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Caso 2 – Carlos é um menino de 7 anos, cursa a 1º série em uma escola

particular, vive com sua mãe, seu pai e seu irmão mais novo, Pedro, sua mãe é

advogada e seu pai é médico, a relação da família é bem afetiva, os pais afirmam que

criam os filhos com muito diálogo. Quando falo com Carlos sobre afeto e

aprendizagem (escola) ele me relata varias coisas, me mostra seus livros e trabalhos

escolares, lê muito bem, quer ser piloto de Fórmula I, demonstra muito carinho pela

professora e pela escola.

Vimos que esses dois meninos têm a mesma idade e cursam a mesma série,

porém apresentam realidades diferentes, seus estímulos externos e internos se

diferenciam em vários aspectos. Roberto é uma criança arredia e desconfiada, não

gosta de conversar, demonstra dificuldade de aprendizagem. Em contrapartida Carlos

é oposto de Roberto, fica o questionamento até onde os pais e os estímulos internos e

externos interferem no comportamento e na aprendizagem dessas crianças.

“Quando os pais se determinam a esmagar a vontade da criança estão a contribuir para a formação de neurose da criança. A autoridade irracional é aquela que não tem qualquer fundamento genuinamente humano e nenhuma justificada no amor ou na razão. – Exijo que faças isso porque sou o teu pai...” (A . S. Neill, 1978)

Voltando ao questionamento sobre as crianças (Roberto e Carlos), podemos

observar que Roberto não consegue expressar o que não foi passado a ele pela

família, amor, afeto, diálogo, expectativa de futuro. Ele apresenta dificuldade de

dialogar, usa respostas curtas. Quando perguntei : Porque você acha que ainda não

aprendeu a ler? Sua resposta foi: Minha mãe diz que sou cabeça dura e minha

professora diz que não tenho jeito. Acho que sou burro mesmo. Onde está a auto-

estima dessa criança?

Provavelmente está sendo esmagada pela falta de afeto e dialogo da família e

da escola. Como seria se ele fosse estimulado, se sentisse que é amado. Segundo

Piaget:

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“O sentimento dirige a conduta a atribuir um valor aos seus fins (...) A afetividade é caracterizada por suas composições energéticas, com cargas distribuídas sobre um objeto ou outro (cathexis) segundo as ligações positivas ou negativas. O que caracteriza, pelo contrário, o aspecto cognitivo das condutas é a sua estrutura”. (Piaget, 1984)

Segundo a teoria de Piaget, a realidade poderia ser diferente, se as relações de

afeto e aprendizagem fossem modificadas. Temos um mundo externo, imenso

estruturado a partir da cultura, de regras já estabelecidas. Possuímos um mundo

interno grandioso, não somente nas áreas cognitivas, mas nas áreas afetivas. Como

aproveitar essas relações na prática da educação?

È difícil, falar sobre uma postura adequada na área educacional que possa dar

possibilidade a estruturação do conhecimento como elo de ligação com o meio,

equilibrando emoções. Uma educação que leve mais ao prazer no aprender do que a

repressão do educando. O homem apresenta uma acelerada evolução no campo dos

conhecimentos científicos e tecnológicos. Seria mais apropriado entrar no terceiro

milênio compreendendo melhor esse ser humano. A escola muitas vezes permanece

distante, isenta dessas responsabilidade.

Verificamos que a caso desse despreparo da escola em reação ao “humano” há

um numero cada vez maior de pessoas à margem da sociedade, improdutiva,

destruindo muitas vezes a força desta mesma sociedade.

Nosso pequeno Roberto é um exemplo de como a escola e a família muitas

vezes demonstra nada entender de como a cognição e a afetividade estão implicadas

no desenvolvimento do educando. Segundo Rubens Alves: o nascimento do

pensamento e igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com uma ato de

amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do

pensamento é do sonho.

Sonho esse que pode ser alimentado e desenvolvido por mãos afetuosas. Porque

não em nossa mãos de educadores? Apaixonados e motivados pela tarefa de ensinar e

orientar a família no processo de desenvolvimento infantil.

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“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprendem a ver o mundo pela magia da nossa palavra...” (Rubens Alves, 1987)

A complexidade e dinamicidade do processo educativo o fazem único. O

ensinar e aprender estão repletos de mistérios, enigmas profundamente ontológicos e,

por isso, terão que se dar no contexto da esperança da efetividade de, da construção

de atitudes humanas, do diálogo, da troca. Esse com certeza são ingredientes que não

pode faltar no processo educativo, quando um professor se compromete de maneira

plena em sua tarefa de ensinar ele transcende a mera aplicação de conteúdos, ele usa

a afetividade na construção de sua prática pedagógica.

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CAPÍTULO II

A AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM UM ELO NECESSÁRIO

NA TRAJETÓRIA DO EDUCANDO O ser humano é complexo e singular ele é dotado de quociente intelectual, e

pode aprender e desenvolver novas habilidades, porém sua essência não está apenas

no "pensar", se ele não estiver bem no seu lado afetivo sua ação intelectual poderá

ser afetada.

Por acreditarmos que o pensar não estar desvinculado do sentir, é possível

avaliar que a atividade pedagógica, poderia se basear em uma prática educacional

que desse oportunidade ao educando de expandir seu lado emocional, trabalhar nesta

linha não significa ser permissivo, pelo contrário ser afetivo não é sempre dizer "sim"

e saber dizer não quando necessário, é saber dar limites não por imposição, mas

através do diálogo e da conscientização, neste contexto o professor deveria ter

qualidades humanas imprescindíveis: equilíbrio emocional, responsabilidade, alegria

de viver, ética e principalmente gostar de sua profissão.

Abordar a questão de uma pedagogia mais humana e afetiva não é tarefa

simples e fácil. Pelo caminho da reflexão, olhando a organização e o funcionamento

das escolas, percebemos que em sua grande maioria, elas assumem uma educação

mais ligada aos conteúdos e baseadas em sistemas tradicionais, que visão a aplicação

de conteúdos com profissionais de ensino muitas vezes insatisfeitos e desmotivados,

que não percebem a importância do afeto no aprendizado deste educando, mas

vemos também em nosso caminhar uma luz no fim do túnel, escolas com um

trabalho pedagógico voltado para emancipação e humanização com um ambiente

educacional voltado para o desenvolvimento pleno deste aluno na parte afetiva e

intelectual.

Neste processo de aprendizagem e afetividade a escola assumiria um lugar de

encantamento, gerando a inclusão do educando em uma ação prazerosa de

aprendizagem.

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“O mestre nasce da exuberância da felicidade e por isso mesmo, quando perguntado sobre a sua profissão os professores deveriam ter coragem para dar a absurda resposta: sou um pastor da alegria...” (Rubens Alves, 1987)

Nesta linha educacional professores, gestores e coordenadores têm a missão de

desenvolver uma pedagogia baseada no afeto e no desenvolvimento do prazer, na

alegria do aprender, no sentido de encantar o educando no processo de

aprendizagem, tendo a responsabilidade pela promoção de uma educação em que

todos possam participar.

A escola tem na aprendizagem a sua razão do ser, por isso é preciso saber

aonde se quer chegar com sua ação educacional. A escola é uma instituição do

homem. Existe nela um objetivo. Persegui-lo é tarefa diária que se estende pelo

tempo. A escola é talvez, das instituições humanas, aquela onde o homem entra com

maior expectativa. Todos sabemos reconhecer que o ingresso na escola é a atitude

que imprime uma das mais significativas conquistas para a formação da

personalidade do homem. A escola está associada definitivamente como sendo um

espaço oportunizador das conquistas que permitirão a aquisição do humano no

homem. É fácil associar a entrada na escola com um momento mágico para uns e

desmotivador para outros.

Para explicarmos a afirmação acima iremos voltar ao caso de Roberto e Carlos

no qual falamos no capítulo anterior. Fiz a seguinte pergunta aos dois meninos: Você

gostou quando foi para escola? Roberto me respondeu:

“Achei que ia ser bom, mas depois não gostei, a professora é igual a minha mãe grita o tempo todo. Eu não tinha caderno e ela brigou comigo.” (Roberto, 7 anos, 2002)

Nas entrelinhas das palavras de Roberto pude notar que ele esperava encontrar

na escola o que não tinha em casa como afeto, carinho etc... onde você gosta mais de

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ficar, na escola ou em casa?

Ele respondeu: na rua. É triste constatar que para essa criança a escola não foi

um lugar de encantamento, mas de frustração, a rua se tornou para ele uma fuga de

seus problemas, em seus sete anos de vida, Roberto parece carregar em seu olhar

uma sombra que impede que seus olhos brilhem de felicidade. Me pergunto o que

está sendo feito com essa criança?

Essas marcas de sua infância provavelmente se refletirão em sua vida futura.

Na escola e em casa Roberto não se sente feliz falta em ambos o afeto o aconchego

de uma palavra amiga, um toque de carinho e cada vez mais essa criança se fecha em

si mesma e não se sente verdadeiramente amado, não se acha importante para

alguém. Isso deveria nos preocupar; pois o ser humano reproduz muitas vezes em

sua vida futura o que teve em sua infância. Como se pode dar amor se nunca se foi

amado?

Sempre que conversava com Roberto me sentia triste, eu queria de alguma

forma transmitir a ele um pouco de afetividade e dizer-lhe: Você é muito importante.

Porém a aproximação era difícil, quando eu lhe dava alguma coisa ele sempre

perguntava. Porque você está me dando isso? Em meus questionamentos percebi, o

mundo não dava nada de graça à Roberto, e era normal que ele achasse que quando

as pessoas lhe dessem algo seria em troca de alguma outra coisa, afinal vivemos em

uma sociedade capitalista onde o afeto está sendo quase sempre sufocado pela lei da

mais valia, você é importante desde, que consiga de alguma forma produzir lucro

para alguém com a força de seu trabalho, neste processo a solidariedade, o afeto

muitas vezes se perdem, pois cada um está aprendendo a pensar em si e

consequentemente a escola reproduz esses padrões que impedem tantas vezes um

olhar mais humano para aqueles que são desprovidos além dos bens matérias do

afeto da amorosidade.

Quando perguntei a Carlos se ele gostou quando foi para escola, sua reação foi

completamente diferente, ele me contou que antes de ingressar na escola foi junto

com seus pais conhecer os três estabelecimentos de ensino nos quais eles julgaram

melhores, no final foi Carlos quem decidiu onde queria estudar. Ele me falou

animado da escola, disse que havia parquinho, sala de informática, sala de vídeo,

quadra, etc... Falou com muito carinho das professoras e de todos na escola me disse

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que a escola era muito divertida que tinha muitas coisas para fazer: aula de arte,

educação física, tarefas nos livros e cadernos etc....

Carlos me relatou que sua professora era muito carinhosa e quando ele errava

as tarefas ela apagava o que ele errou e ensinava fazer tudo certo.

Notamos no relato acima que para Carlos a escola é um lugar de encantamento

e descobertas, naquele espaço ele se sentia amado e acolhido tal encantamento faz

sentido, uma vez que para ele a escola é um local de afeto, amorosidade,

desvelamento, para a descoberta e a construção do mundo. Desvendar, descobrir,

construir são ações próximas do fantástico, do sublime, pois pela ação, o oculto se

mostra o escondido aparece, e a matéria dispersa e se agrupa numa construção

magnífica. Mas o maior encantamento oportunizado pela escola ainda é aquele da

magia do encontro do afeto, onde um eu encontra outro eu, diferente, interpelador, as

vezes assustador, justamente por ser distinto. Na alquimia do afeto e do encontro, o

eu se afirma afirmando também o outro. A descoberta do outro não só plenifica no

exercício do afeto a aquisição de uma aprendizagem através da confiança e da

segurança no outro em uma troca constante que se define na plenitude de um ser

humano melhor.

Vimos no relatório de Roberto e Carlos duas realidades bem diferentes não

apenas por causa da diferença social, mas me arisco a dizer que principalmente pelos

fatores emocionais. Quando não se é amado tudo se torna mais difícil, a realidade de

Roberto poderia ser diferente se ele encontra-se na escola e principalmente na família

o afeto e o incentivo necessário para que ele se interessa-se pela aprendizagem,

porém o que notamos nas palavras de Roberto é desinteresse creio que neste sentido

o setor financeiro não assumi papel principal pois se esta criança tivesse um pouco

mais de carinho afeto e atenção sua motivação pela aprender certamente seria

diferente.

Quando penso em afetividade e aprendizagem me vem a mente o filme Patch

Adams: “O amor é contagiante, 1998”, nesse filme ele parecia louco e até mesmo

utópico quando defendia uma medicina voltada para o afeto porém ficou provado

que os resultados obtidos em pacientes onde o médico mostrava interesse e

afetividade foi bem melhor, do que em pacientes que recebiam uma abordagem

simplesmente profissional do médico, sem interesse pelos seus sentimentos, seus

pensamentos. Esse filme foi um convite para uma reflexão mais humana sobre um

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ponto fundamental em qualquer setor de aplicação profissional, “o eu” o ser humano

visto como um indivíduo único que precisa de afeto, de compreensão, de atenção e

principalmente de ser ouvido e ser respeitado como indivíduo. Patch Adams prega

neste filme o encantamento e a determinação diante daquilo que acredita.

O processo de aprendizagem por sua própria natureza permite que o educando

se aproxime da sociedade em que vive e consequentemente de si mesmo, descubra

no ato de aprender o prazer pela educação letrada e emocional e se posicione frente

aos seus limites, nessa ação a aprendizagem não é apenas decifrada, ela é usada e

redimensionada em novos desafios, por esse e muitos outros fatos deveríamos

acreditar em uma educação que possibilite o bem estar e a inclusão do aluno. Uma

pedagogia mais afetiva provavelmente refletiria em nossa sociedade novos padrões

ideológicos e fortaleceria os fatores morais, no sentido de organizar limites para as

ações que estão fugindo dos padrões sociais, por estarmos perdendo muito de nossos

valores. Percebemos que os jovens atualmente se acham muitas vezes acima do bem

e do mau.

Quando falamos em valores, me vem a mente uma frase de Carlos

Drummond de Andrade “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar”. Não se

experimentou para a educação informal nenhuma célula social melhor do que a

família. É nela que se forma o caráter, qualquer trabalho educacional depende da

participação familiar, muitas vezes apenas o incentivo, em outras a participação

afetiva na aprendizagem.

Por melhor que seja uma escola, por mais preparados que sejam os professores,

nunca a escola vai suprir a carência deixada por uma família ausente. A família tem

que acompanhar de perto e afetivamente, se não houver esse envolvimento a escola

corre o sério risco de não atingir seu objetivo.

A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os

desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Os filhos se espelhando nos

pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com seus filhos. Não é exemplo de

família aquela que o filho é testemunha involuntário dos desentendimentos entre os

pais. Não é exemplo na família o ódio, a violência. A família e um espaço de

transparência e dialogo, se em outros tempos bastava um olhar severo para corrigir o

comportamento, hoje vivemos na era do “por que” . A família autoritária reproduz os

valores de uma sociedade autoritária e consequentemente forma em seus filhos a

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idéia de obediência e submissão, o cidadão que somente aprende a obedecer não

estará preparado para a sociedade complexa do novo milênio. Se é errado roubar, os

pais tem que explicar o motivo. De nada adianta a crítica, a negativa seca sem

explicação sem diálogo. A preparação para vida, a formação da pessoa, a construção

do ser são responsabilidade da família.

“Eis a família em sua difícil tarefa. A convivência diária pode ser desgastante. É preciso criatividade. A convivência diária pode ser penosa. É preciso amor.” (Gabriel Chalita, 2001)

A família sem duvida é o elo mais importante na formação do indivíduo, com

esse elo de amor, de afeto tudo se torna mais fácil. Quando se é amado a vida ganha

novas cores, e a aprendizagem se torna um mundo novo de grandes descobertas.

A educação para a ética prepara o ser humano para o equilíbrio de aceitar que

não devem prevalecer as vontades individuais e que o bom senso determinará o

ponto consensual. A cidadania não é um direito solitário, é a arte de convivência

social. O grande desafio do educador nesse aspecto é convencer o educando a deixar

de lado os prazeres e gostos individuais em benefício do bem comum, da boa

convivência, da responsabilidade partilhada, na esperança de um mundo cada vez

melhor para esta e para as gerações que virão.

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CAPÍTULO III

HABILIDADES COGNITIVA, SOCIAL E EMOCIONAL –

BASE PARA UMA EDUCAÇÃO BEM SUCEDIDA.

As habilidades cognitiva, social e emocional são interligadas, quando pensamos

em funções pedagógicas, uma não pode estar dissociada da outra.

Neste capítulo estaremos falando um pouco de cada uma dessas habilidades

que são de suma importância para que a aprendizagem e o desempenho do educando

transcorra com sucesso.

“A lógica é a força com a qual o homem algum dia haverá de se matar. Apenas superando a lógica é que se pode pensar com justiça. Pense nisso: O amor é sempre ilógico, mas cada crime é cometido segundo as leis da lógica.” (Guimarães Rosa)

Habilidade cognitiva é a habilidade de absorver o conhecimento e de trabalhá-

lo de forma eficiente e significativa. Não se trata de ignorar outras dimensões da

aprendizagem como a social e a emotiva. Falar em habilidade cognitiva significa

nível escolar, para que os mesmos sejam significativos e formem cidadãos

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preparados para o mercado de trabalho, o educando deve ser preparado para

desenvolver a aptidão para o aprender a aprender. Trata-se de um olhar

interdisciplinar do desenvolvimento humano, o educando irá adquirir uma visão não

apenas de sua profissão, ele deverá ter familiaridade com outras áreas do

conhecimento para que possa cada vez mais desenvolver sua habilidade para o

conhecimento.

O conhecimento é superado, o que não é superado é a habilidade para o

conhecimento, o que foi aprendido pode não ter aplicabilidade, o aprender a aprender

terá sempre aplicabilidade e nunca estarão ultrapassadas, os avanços tecnológicos

surgem rapidamente, os conhecimentos científicos facilitam a descoberta de novos

remédios, cirurgias para doenças que não tinham cura.

Não há conhecimento estático, tudo está em constante transformação e é

preciso que acompanhemos essas mudanças no conhecimento para que

acompanhemos essas para que não se envelheça com ele. O aprender a aprender não

envelhece nunca. É uma constante perspectiva de lançar-se ao novo através de

cursos, leituras de livros, internet...

Não pode haver acomodação ao conhecimento ao conhecimento já adquirido, o

que seria de um profissional de educação se ele não se atualizasse, se não jogasse

fora uma postura rígida e inflexível, para dar lugar ao dialogo ao afeto no ato de

ensinar, certamente ele não conseguiria alcançar o seu objetivo e o maior prejudicado

seria o aluno.

“No momento histórico da abertura e da mudança, a escola é um instrumento de suma responsabilidade na formação das consciências.( ...), se a dialogicidade penetrar em suas práticas, se os currículos ocultos corresponderem aos manifestos e se os educadores tiverem a coragem de deixar os seus alunos errarem, para discutir com eles o erro, haverá alguma esperança de mudança num horizonte que entre nós retrata apenas o amanhecer.” (Hamilton Werneck, 1994)

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Sendo a habilidade mais importante do que o conteúdo no processo de

aprendizagem, um fator que contribui decisivamente nesse processo e a aplicação

dos conteúdos de forma significativa e interligadas, o aluno aprende feudalismo em

história, trovadorismo em português... assim ele conseguirá relacionar as áreas e ter

uma visão de conjunto, irá se localizar dentro de nossa história, não se trata de

memorização, mas sim de apropriação do conhecimento. O professor que ainda

trabalha com pergunta e resposta, não contribui para uma aprendizagem ampla e

permanente, mas estimula apenas a memorização.

“Cada um hospeda dentro de si uma águia sente-se portador de um projeto infinitivo. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação que pretendem reduzir-nos a simples galinhas. Confinadas aos limites do terreno. Como vamos dar asas a águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga?” (Leonardo Boff, 1997)

Cada um compreende o mundo a partir do conhecimento que tem, o nosso

modo de concepção está ligado a vivência, ao nosso modo de vida. Somos produtos

do meio em que vivemos, se é desenvolvido em nós o comodismo diante dos fatos

dificilmente teremos condições de interagirmos socialmente. Se somos estimulados a

reflexão crítica provavelmente seremos questionadores diante dos fatos. Vamos

construindo através dos nossos grupos sociais família, escola...cada um carrega

consigo eternamente características desses grupos.

A vida em sociedade é necessária e essencial. O ser humano não consegue se

desenvolver sem o outro. As relações são difíceis, mas não há como viver sem elas, e

preciso superar as diversidades e conseguir costumar relacionamento que se dão em

níveis:

Familiar, escolar, profissional, afetivo... não existe momento de nossa vida em

que não estejamos nos relacionando com alguém, desta forma estamos exercitando a

todo tempo nossas habilidades sociais.

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A habilidade social é a preparação para a convivência em uma sociedade plural.

A preparação para o trabalho em grupo, em equipe, cuja aprendizagem pode ser

significativa. O professor que dá uma aula teórica do tipo tradicional, pouco

colabora para o trabalho em equipe, não incentiva a cooperação do grupo, não lança

desafios. Apenas decide de forma arbitrária o conteúdo a ser desenvolvido e o faz

sem a menor preocupação em saber o que o aluno pensa, o que ele quer ou o que

sabe. Quem decide o que o aluno deve o não saber é ele, o professor. A habilidade

social é deixada de lado porque a convivência é mínima e o exercício de

companheirismo não pode ser realizado. O aluno precisa amadurecer socialmente,

em sua convivência com o grupo, que se torna uma chave para o sucesso, visto que

na vida profissional o convívio social será imprescindível. O respeito ao outro, a

disposição para ajudar e ser ajudado, a troca de experiência, a convivência com o

sucesso e o fracasso do outro com uma atitude de maturidade e do coleguismo, tudo

faz parte dessa habilidade.

Alguns elementos podem ser destacados na habilidade social, entre eles a

solidariedade, o trato com as outras pessoas, a aplicabilidade da afetividade. A escola

pode preparar o aluno para essa dimensão da vida proporcionando projetos concretos

em que a solidariedade o afeto, a importância de respeitar o outro seja

experimentada. Pode-se promover visitas a asilos, hospitais orfanatos, sempre

respeitando a faixa etária do educando e seu preparo emocional. Esse tipo de trabalho

pode ter ótimo resultados principalmente se houver por parte da escola um projeto

continuando que busque desenvolver por exemplo um coral de alunos, projeto de

nutrição que visem o aproveitamento de cascas de frutas, alimentos de menor custo e

de alto valor nutritivo. Com esses e muitos outros projetos que podem ser

desenvolvidos todos saem ganhando, e experimentam a dimensão da entrega, da

doação, do amor ao próximo e consequentemente a si mesmo.

“Aquele que sabe ler nas emoções tem o livro do homem aberto ante seus olhos.” (V. J Wukmir, 1976)

Das habilidades nas quais estamos falando a mais importante é sem dúvida a

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habilidade emocional. Não é possível desenvolver a habilidade cognitiva e a social

sem que a emoção seja trabalhada.

O trabalho com emoções requer paciência e continuidade, pois as coisas não

mudam de uma hora para outra, as emoções são únicas para cada indivíduo, o que a

minha pessoa possa parecer bom a outro pode parecer ruim. O trabalho com emoções

é diferente de uma simples memorização em que o educado decora conceitos para

resolver problemas. A emoção trabalha com a liberdade da pessoa humana, é a busca

do foco interior e exterior, de uma relação do ser humano com ele mesmo e com o

outro, isso dar trabalho, requer tempo e esforço, mas é o passaporte para a conquista

da autonomia e da felicidade.

A emoção é o colorido necessário para a vida do indivíduo é a visita

inconveniente, a surpresa agradável a expressão mais pura é desenfreada das

preferências e dos desgostos individuais, a emoções se traduzem no comportamento

com as outras pessoas e com seus próprios sentimentos.

Há quem negue seus próprios sentimentos, e não acredite em uma felicidade

continua, elas acreditam que esse sentimento e apenas momentâneo, há quem diga

que ela é relativa, depende do dia, do estado de espírito, do humor.

Quando acreditamos em nos mesmo nos tornamos mais fortes determinados,

aprendemos a lidar melhor com os sentimentos ruins, raiva, inveja... e com os

sentimentos bons e minimizar os maus. E assim é o ser humano, tem tudo para dar

certo, para ser feliz, tem um horizonte para ser descoberto e as vezes fica preso a

coisas pequenas, a detalhes que não trazem felicidade e nada significa na existência

humana. Perdem a liberdade, o sonho a amizade...por falta de maturidade de

equilíbrio.

Na área educacional seria muito importante que se compreendesse o aluno a

partir de seu modo de agir de sua personalidade, não significa que se deva trabalhar

individualmente com cada aluno isso seria certamente inviável, seria proporcionar

atividades que trabalhassem com esses sentimentos que prejudicam tais como: A

dificuldades no relacionamento no relacionamento, a agressividade, alunos que não

medem a conseqüência de seus atos, são apáticos etc... Desenvolver esse tipo de

trabalho não é tão simples, porque o amadurecimento é um processo que envolve

tempo dedicação; tempo e conhecimento; tempo e vontade.

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Em todos os níveis do processo de formação, o aprendiz precisa trabalhar sua

dimensão ou habilidade afetiva, para isso é preciso que o condutor do processo, o

professor, comece a trabalhar e desenvolver o primeiro sua habilidade, sabemos que

ninguém dá o que não tem e que a única aptidão inata no homem e a aptidão para a

formação de outras aptidões.

“Por tanto amor Por tanta emoção A vida me fez assim Doce ou atroz Manso ou feroz Eu, caçador de mim.” (Milton Nascimento, 1981)

Em muitas situações da vida são os afetos, a emoções que determinam o nosso

comportamento, Marx (1976) nos afirmou “ que o homem se define no mundo

objetivo não somente em pensamento, senão com todos os sentimentos(...) Sentidos

que se afirmam, como forças essenciais humanas (...) Não só os cinco sentidos, mas

os sentimentos espirituais (amor, vontade...)”

Baseado em tudo que foi tido sobre afeto e aprendizagem, fica a todos nos

profissionais de educação um convite, vamos fazer das instituições de ensino um

lugar repleto de afeto de amorosidade de compreensão e acima de tudo de

conscientização, como nos diz muito bem Milton Nascimento em sua música

Caçador de mim. A vida pode nos tornar doce ou atroz, manso ou feroz, mas seremos

eternamente caçadores de nos mesmos, pois nos importarmos com o “eu” humano,

sem dúvida somos a maior criação que existe pois temos nas mãos o destino de nossa

própria sorte, a emoção, o amor pode nos torna pessoas muito melhores. Vamos em

busca disso, pois os afetos podem ser produzidos fora do indivíduo, a partir de um

estimulo externo, do meio físico ou social ao qual se atribuí um significado com

tonalidade afetiva: agradável ou desagradável, para as instituições de ensino e os

profissionais de educação fica apenas uma certeza. “Nós podemos fazer a

diferença”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

SER OU NÃO SER AMADO PODE FAZER A DIFERENÇA

Quando uma criança é amada, recebe atenção, afeto, aprende a confiar e vai

construindo o seu autoconceito com base nessas relações: aprende a amar, quem é

valorizado, aprende a dar valor ao outro. Nesse contexto é lento e gradual a

aprendizagem que a criança faz sobre as referências a seu respeito. As mais fáceis de

Ter seu sentido apreendido são as que nascem de comentários ao seu

comportamento, assim ao observar as reações emocionais das pessoas com as quais

convivem a criança vai internalizando-os. Quando os pais acreditam e incentivam os

filhos eles passam consequentemente a acreditar em si mesmo.

Na educação esse processo não é diferente o modo do professor tratar o

educando provavelmente influência em sua aprendizagem. A educação deve ser algo

prazeroso onde família alunos e professores possam unir-se para dividir

responsabilidades integra-se e conscientizando-se de que a educação é também uma

arte. Requer sensibilidade, entusiasmo, calor e emoção. A sensibilidade e a emoção,

deverão ser referência para os encontros de aprendizagem de cada docente. Sendo

assim o ser humano será concebido como um todo, que tem sentimentos desejados,

emoções e não apenas razão. A escola deverá recuperar o afeto deverá ser espaço de

afeto. Não somente do afeto que consola, mas principalmente do afeto que

impulsiona, que aponta caminhos e reconstrói a esperança.

Com o amor e afetividade se constrói dentro de cada indivíduo sua carga de

auto estima de conhecimento de si mesmo, o afeto funciona como um energético

para alma, faz com que o indivíduo de projete confiante para a vida, acredito que

quando não somos amados nos tornamos apáticos para o que nos cerca, nos sentimos

desmotivados e até mesmo incapazes.

Nesta pesquisa pude constatar que o amor faz a diferença, quando olhava nos

olhos das crianças em muitas delas havia falta do brilho da felicidade. É triste

constatar que muitas vezes os pais e até mesmo os professores não conseguem

perceber o grito de socorro de uma criança que não é amada. Os sintomas são

inúmeras, mais os dois que me chamaram mais atenção foram a agressividade e a

apatia. Uns sofrem calados são apáticos, eles se limitam a viver o próprio mundo,

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não querem fazer mal a ninguém, mas não querem ser importunados, demonstram

que não gostam de afeto e pouco interessam pelas aulas são infelizes porque não se

lançam ao outro, têm dificuldade de revelar os sentimentos.

O agradessivos trazem muitos problemas nos ambientes em que vivem na

família, na escola, com eles é ferro e fogo, não esperam se agredidos agridem antes,

não fazem muitos amigos, se orgulham de serem temidos pelos outros, gostam de

chamar atenção. Provavelmente todo esse desejo de exposição está ligado a carência

que sentem e a solidão que experimentem. Pois a escola como pude observar não

sabe lidar com esse tipo de educando, rotulam e excluem esses alunos e o resultado

muitas vezes é o caminho das drogas e da criminalidade.

Se como educadores conseguirmos perceber e interagir no pedido de socorro

dessas crianças, estaremos contribuindo provavelmente para um futuro melhor para

elas. Uma palavra, um gesto de carinho e apoio na hora certa pode fazer a diferença,

temos que aprender a lidar com esses alunos e desenvolver neles as habilidades

necessárias para o desenvolvimento de sua auto estima e o seu convívio social.

Almejo que todos nós profissionais de educação possamos descobrir com que

grau de paixão e de amor realizamos as nossas práticas e que possam desabrochar e

crescer constantemente em nosso desejo de uma educação melhor mais humana,

mais afetiva. Lançando as sementes do respeito, da solidariedade do afeto, com

paciência de aguardar a produção dos frutos e a convicção na possibilidade de

transformar a realidade.

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Discografia:

MAGRÃO, Sérgio e SÁ, Luís Carlos. Caçador de mim. Milton Nascimento.

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ANEXOS

ATIVIDADES CULTURAIS

DECLARAÇÃO DE ESTÁGIO