AfrânioCoutinho-LiteraturaNoBrasil,Romantismo

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A LITERATURA

A LITERATURA NO BRASIL

Direo de AFRNIO COUTINHO

VOLUME II

ROMANTISMO

RIO DE JANEIROEDITORIAL SUL AMERICANA S. A. 1969COPI'RIGHT 1968 BY

LF.ONfDIO RIBEIRO

SEGUNDA EDIOIMPRESSO NO BRASIL

Nmero de classificao decimal-

8 869.09

DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO

DISTRIBUIDORA RECORDDE SERVIOS DE IMPRENSA S.A.EDITORA E DISTRIBUIDORA DE LIVROSR. PEDRO ALVES, 150'-ZC14-Tel. 52-4128C. POSTAL 884 - END. TELEG. "RECORDIST"R I O D E J A N E I R O - GB

R. JOS ANT8N10 COELHO, 801S A O P A U L O - SP

Composto e impresso pelaEDITORIAL 81JL AMERICANA, S. A.Rua Pedro Ales. 187 - Tel. 43-5288F.R.R.I. 128.174 - C.G.C. 33.429.242Rio de Janeiro, G13 - Brasil

NOTA DO EDITOR

A primeira edio desta obra, em quatro tomos, com mais de duas mil pginas e uma tiragem de vinte mil exemplares, apareceu entre 1955 e 1959, por minha iniciativa e sob o patrocnio da Instituio Larragoiti, de que era ento Diretor Executivo.

Confiei o planejamento e a escolha dos colaboradores, assim como a sua direo, ao escritor Afrnio Coutinho por mim convidado para tarefa de tanta responsabilidade.

Esta publicao, cujo tomo quarto foi editado pela Livraria So Jos, graas boa vontade do Sr. Carlos Ribeiro, est esgotada h muitos anos, no tendo sido impresso o ltimo volume que se incorpora presente edio.

Tomei a deciso de reimprimir este livro, por ser a nica histria completa da literatura brasileira at nossos dias, publicado nestes ltimos cinqenta anos, com a participao de vrias dezenas de escritores.

Para isso, obtive os seus direitos autorais, graas gentileza de meu velho amigo Antonio de Larragoiti Jnior.

A Literatura no Brasil agora lanada, sob a responsabilidade nica de seu Editor, revista e atualizada pelo acadmico Afrnio Coutinho, a quem agradeo a colaborao que de novo me prestou, com tanta competncia e dedicao.01INDICE GERAL

Prefcio da Segunda Edio

1. Introduo Geral t

I PARTE

GENERALIDADES

2. O Panorama Renascentista3. A Lngua Literria4. O Folclore: Literatura Oral e Literatura Popular5. A Escola e a Literatura6. O Escritor e o Pblico7. A Literatura e o Conhecimento da Terra

II PARTE

BARROCO-NEOCLASSICISMO-ARCADISMO

8. Do Barroco ao Rococ9. As Origens da Poesia10. A Literatura jesutica,11. Antnio Vieira12. Gregrio de Matos13. O Mito do Ufanismo14. A Oratria Sacra15. O Movimento Academicista16. Neoclassicismo e Arcadismo

ROMANTISMO

17. O Movimento Romntico18. Os Prdromos do Romantismo19. Gonalves Dias e o Indianismo20. O Individualismo Romntico21. Castro Alves22. Jos de Alencar e a Fico Romntica23. A Crtica Romntica24. Manuel Antnio de AlmeidaREALISMO-NATURALISMO-PARNASIANISMO

25 , Realismo-Naturalismo-Parnasianismo26 , A Crtica Naturalista e Positivista27. A Fico Naturalista28. A Renovao Parnasiana na Poesia29. Machado de Assis30. Raul Pompia31. Joaquim Nabuco. Rui Barbosa32 , Euclides da Cunha33. Lima Barreto. Coelho Neto34. O Regionalismo na Fico

SIMBOLISMO-IMPRESSIONISMO-MODERNISMO

35. Simbolismo. Impressionismo. Modernismo36. Presena do Simbolismo37. O Impressionismo na Fico38. A Crtica Simbolista39. Sincretismo e Transio: o Penumbrismo40. Sincretismo e Transio: o Neoparnasianismo41. A Reao Espiritualista ROMANTISMO42. A Revoluo Modernista43. O Modernismo na Poesia44.O Modernismo na Fico45. A Crtica Modernista

III PARTE

46. Nota Explicativa47. Evoluo da Literatura Dramtica48. Evoluo do Conto49. Literatura e jornalismo50. Ensaio e Crnica51. Literatura e Filosofia52. Literatura e Artes53. Literatura e Pensamento jurdico5-1. Literatura Infantil55. Concluso ' Bibliografia ndices.li. O MOVIMENTO ROMNTICO

Origens do movimento. Definio e histriada palavra. O Pr-romantismo. A imaginaoromntica. Estado de alma romntico. Caracteres e qualidades gerais e formais. Os gneros.As geraes romnticas. O Romantismo noBrasil: origem, perodos, caracteres. O india nismo. Significado e legado.

ORIGENS E DEFINIO

1. Aos olhos do comparatista e do historiador estilista - "stylistician qua historian" chama-lhe Hatzfeld, l - o Romantismo aparece como um amplo movimento internacional, unificado pela prevalncia de caracteres estilsticos comuns aos escritores do perodo. , portanto, um estilo artstico - individual e de poca. um perodo estilstico, consoante nova conceituao e terminologia, e a perspectiva sinttica, que tendem a vigorar doravante na historiografia literria. 2 , ademais, um conjunto de atividades em face da vida, e um mtodo literrio. O uso da palavra Romantismo e seus derivados em crtica literria j foi historiado de maneira completa. 3 Remonta ao sculo XVII na Frana e na Inglaterra, com referncia a certo tipo de criao potica ligado tradio medieval de "romances", narrativas de herosmo, aventuras e amor, em verso ou em prosa, cuja composio, temas e estrutura - particularmente evidenciadas em Ariosto, Tasso e Spencer -- eram sentidas em oposio aos padres e regras da potica clssica. Assim, romntico, romanesco, so trmos encontradios no sculo XVII, e, segundo Wellek, deve-se a Warton (1781) o primeiro emprgo da oposio clssico-romntico, que teria fortuna, embora nle a anttese no tivesse a plena significao que lhe foi posteriormente adjudicada. Da palavra francesa "roman" ("romanz" ou "romant" ) , as lnguas modernas derivaram o sentido corrente no sculo XVIII, e que penetrou no Romantismo, designando a lite-

1 in J. Aesthetics and art criticism. December, 1955, p. 156. 2 Sbre o problema da periodizao, especialmente da periodizao estilstica, ver a -Introduo Geral" desta obra, bem como a Bibliografia, Introduo, 2 e 6. Particular ateno merecem os trabalhos de R. Wellek, H. Hatzfeld, P. Frank, C. Friedrich. Os estudos de Frank e Friedrich colocam os postulados tericos da periodizao estilstica em trmos bastante esclarecedores. 3 Baldensperger, F. Romantique, ses analogues et quivalents. (in Harvard studies and notes in philology and literatura, XIV, 1937, pp. 13-105); Lovejoy, A. On the discrimination of Romanticisms. (in Essays in the History of Ideas. Baltimore, 1948); Smith, L. P. Words and idioms. Boston, 1925; Van Tieghem, P. Le Romantisme dons Ia littrature europenne. Paris, 1948. pp. 2-5; Wellek, R. The concept of Romanticism in literary history. (in Comparativa literatura. I, n. 1, Winter, e n. 2, Spring, 1949, repr. em: Concepts oj Criticism. Yale uniu. pr., 1963).

_1ratara produzida imagem dos "romances" medievais, fantasiosos pelos tipos e atmosfera. Quanto ao substantivo "Romantismo", seu uso mais recente, variando nos diversos pases europeus pelas duas primeiras dcadas do sculo XIX (na Frana, 1822-1824).4 Em Portugal,. a palavra "romntico" foi introduzida por Almeida Garrett, em 1825, no Cames, e no Brasil ainda no aparece nos trabalhos de 1826 de Gonalves de Magalhes e Trres Homem, mas empregada pelo primeiro no prefcio tragdia Antnio Jos (1839), em oposio a clssico. Qualquer que tenha sido a poca de introduo do trmo "romntico" e seus derivados, o fenmeno, em histria literria e artstica, hoje conhecido como Romantismo, consistiu numa transformao esttica e potica desenvolvida em oposio tradio neoclssica setecentista, e inspirada nos modelos medievais. A mudana foi consciente, generalizada, de mbito europeu, a despeito de no haver o mesmo acrdo quanto introduo da palavra que designaria o movimento. A nova era literria, o nvo estilo, nasceu em oposio ao estilo neoclssico anterior, embora a etiquta s depois tivesse aceitao geral. Mas o que ela veio designar foi cedo geralmente entendido: o movimento esttico, traduzido num estilo de vida e de arte, que dominou a civilizao ocidentais durante o perodo compreendido entre a metade do sculo XVIII e a metade do sculo XIX. Conforme a concepo de histria literria sinttica, um movimento conjunto e unificado, com caractersticas gerais e comuns s vrias naes ocidentais, elementos positivos e negativos no plano das idias, sentimentos e formas artsticas, e, no dizer de Wellek, a mesma concepo da literatura e da imaginao potica, a mesma concepo da natureza e suas relaes com o homem, o mesmo estilo potico, formado de imagstica, smbolos e mitos peculiares. A histria das transformaes operadas na mentalidade ocidental, no sculo XVIII, que redundaram na revoluo romntica, foi narrada esgotantemente, luz da perspectiva comparada e sintetizaste, por Paul Van Tieghem em vrios trabalhos. 5 Deve-se-lhe, sobretudo, o relvo dado fase pr-romntica, noo recente na histria literria, cuja fixao necessria compreenso da maneira como os elementos romnticos foram de camada em camada penetrando a alma ocidental e dominando a arte e a literatura. Durante o perodo pr-romntico foi que ocorreu a luta contra o Neoclassicismo, contra as regras e gneros regulares, que le estabelecera, e que o Romantismo revogaria, realizando o ideal j anunciado pela Querela dos Antigos e Modernos. No se pode fixar o lugar onde primeiro surgiu, porquanto os movimentos literrios se formam gradativamente, ao mesmo tempo

4 Para maiores detalhes, ver R. Wellek. loc. cit. em nota 3. S Paul Van Tieghem. Le Romantisme dans Ia littrature europenne. Paris. A. Michel, 1948; idem. Le Prromantisme. Paris, Alcan, 1924-1947. 3 vols., idem. Histoire littraire de 1'Amrique. Paris, Colin, 1941; idem. Le Sentiment de Ia Nature dans le Prromantisme Europen. Paris, Nizet, 1960. - Ver tambm: M. Magnino. Storia dei Romanucisrno. Roma, Mazara, 1950.

em diversos lugares, sem ligao entre si, como o resultado de evoluo interna das formas e sensibilidade, e segundo leis imanentes natureza dos estilos. As novas tendncias que se opuseram no meado do sculo XVIII aos ideais neoclssicos, preludiando o Romantismo, refletem um estado de esprito inconformista em relao ao intelectualismo, ao absolutismo, ao convencionalismo clssicos, ao esgotamento das formas e temas ento dominantes. A imaginao e o sentimento, a emoo e a sensibilidade, conquistam aos poucos o lugar que era ocupado pela razo. A noo de natureza e seus corolrios - a bondade natural, a pureza da vida em natureza, a superioridade da inspirao natural, primitiva, popular, - atraem cada vez mais o intersse e o pensamento dos homens. Uma srie de fatos relevantes constituem os marcos dessa "longa incubao" pr-romntica, em que se produziu a desintegrao do Neoclassicismo: a mudana do foco de irradiao do temperamento nvo da Frana para a Inglaterra, de onde irrompem as fontes da poesia popular e natural, produzindo um intenso movimento europeu - o ossianismo -iniciado pela fraude memorvel de Macpherson (1760-1763). A redescoberta ou revelao de Shakespeare, por outro lado, constitui a outra face da contribuio inglsa renovao em curso. Da Alemanha, o Sturm und Drang (dcada de1710), a ressurreio dos contos medievais e das lendas germnicas, ao lado da mitologia escandinava e nrdica, concorrem para orientar os espritos na direo nova. Herder e Goethe, os irmos Schlegel, Klopstock encabeam a renovao, no sentido do irracionalismo, tornando o perodo o mais importante da histria literria alem. Rousseau o outro grande europeu, cuja presena no sculo serve de ponto de irradiao e de convergncia das principais tendncias que definiro a fisionomia romntica, a ponto de ser, por alguns, cognominado o "pai do Romantismo". Chateaubriand, em Le Gnie du Christianisme (1802) e Mme. de Stal, com De la Littrature (1800 ) e De l'Allemagne (1810 ) , oferecem o contedo da potica e da doutrina literria romnticas. Como afirma Van Tieghem, em fatos aparecidos nos treze anos entre 1797 e 1810 que se deve situar o incio do Romantismo prpriamente: a apario da escola alem, dos lakistas inglses, de Walter Scott, Chateaubriand. Mme. de Stal. Esses os marcos principais, ao lado dos quais outros, em diferentes pases, constituem a linha sinuosa que configura o perodo. Assim, ainda segundo Van Tieghem, 1795 para a Alemanha; 1798 para a Inglaterra (a data inicial para a Inglaterra adiantada por Bowra, para 1789, publicao dos Songs of Innocence de Blake); o incio do sculo XIX para a Frana e os pases escandinavos; 1816, para a Itlia; e um pouco mais tarde para a Espanha; 1822, para a Polnia. Na altura de 1825, todos os pases esto mais ou menos conquistados pelo movimento, que, por volta do meado do sculo, denotar completo esgotamento. 2. Sem perder de vista o critrio comparatista e sintetizaste e a noo da unidade do movimento, as suas caractersticas ressaltamde uma anlise parcial ou de conjunto. E essas qualidades constituem, reunidas, a melhor definio do fenmeno, revelando que a sua unidade provm, no dizer de Wellek, da mesma viso da poesia, da mesma concepo da imaginao, da natureza e do esprito, ou, por outras palavras, uma viso da poesia como conhecimento da realidade mais profunda por intermdio da imaginao; uma concepo da natureza como um todo vivo e como uma interpretao do mundo, e um estilo potico constitudo primordialmente de mitos e smbolos. Se quisermos reunir numa qualidade o esprito romntico esta ser a imaginao. Mostrou C. M. Browa, em The Romantic Imagination, a importncia que os romnticos emprestaram imaginao e a concepo especial que dela tiveram. Parte integrante da crena contempornea no eu individual, a crena na imaginao comunicava aos poetas uma extraordinria capacidade de criar mundos imaginrios, acreditando por outro lado na realidade dles. O exerccio dessa qualidade era que os fazia poetas. Por outro lado, a nfase na imaginao tinha significao religiosa e metafsica. Graas imaginao criadora, o poeta era dotado de uma capacidade peculiar de penetrar num mundo invisvel situado alm do visvel, a qual o tornava um visionrio, aspirando saudoso por um mundo diferente, no passado ou no futuro, outro mundo mais satisfatrio do que o familiar. Essa viso de outro mundo ilumina e d significao eterna s coisas sensveis, cuja percepo se torna vvida por essa interpretao do familiar e do transcendente. No estudo do Romantismo, h que estabelecer primeiramente uma distino entre o estado de alma romntico e o movimento ou escola de mbito universal que o viveu entre os meados do sculo XVIII e do sculo XIX. O estado de alma ou temperamento romntico uma constante universal, oposta atitude clssica, por meio das quais a humanidade exprime sua artstica apreenso do real. Enquanto o temperamento clssico se caracteriza pelo primado da razo, do decro, da conteno, o romntico exaltado, entusiasta, colorido, emocional e apaixonado. Ao contrrio do clssico, que absolutista, o romntico relativista, buscando satisfao na natureza, no regional, pitoresco, selvagem, e procurando, pela imaginao, escapar do mundo real para um passado remoto ou para lugares distantes ou fantasiosos. Seu impulso bsico a f, sua norma a liberdade, suas fontes de inspirao a alma; o inconsciente, a enoo, a paixo. O romntico temperamental, exaltado, melanclico. Procura idealizar a realidade, e no reproduzi-Ia. Essas qualidades bsicas do temperamento romntico renem-se em artistas de diversos tempos e naes, tanto em Ovdio quanto em Dante, na literatura lrica da Idade Mdia, em diversas manifestaes do Renascimento, at encontrar no sculo XVIII o instante supremo de realizao, em um movimento universal e unificado. interessante mencionar aqui certo parentesco dos espritos romntico e barroco. Desencadeado como uma reao contra o Classicismo racionalista que constitura o dogma literrio reinante desde o Renascimento

- caracterizou-se o movimento romntico por um conjunto de novas idias, temas literrios e tipo de sensibilidade, resultantes de correntes que convergiram paralelamente da Alemanha e da Inglaterra, no curso do sculo XVIII, .durante o perodo hoje definido como Pr-romantismo. Os elementos novos assumiram na Inglaterra a forma de uma reao contra o racionalismo cartesiano, em nome de uma teoria do conhecimento atravs dos sentidos. Essa reao realista invade o sensualismo de Condillac, conjungando-se com um sentimentalismo mstico. Assim, realismo e sentimentalismo entronizam a idia de natureza, como o lugar onde se encontram a fonte de tdas as coisas e a origem do lirismo. A intuio, o empirismo, o senso do concreto, o individualismo, tm como contraparte a necessidade de fugir da realidade, de ver alm da razo, de evadir-se do mundo, graas imaginao, para uma poca passada ou um universo sobrenatural. Da o senso do mistrio, a atitude de sonho e melancolia, de angstia e pessimismo, que carreiam para o Romantismo os temas da morte, desolao, runas, tmulos, o gsto das orgias e o "mal do sculo". Da tambm a volta ao passado, Idade Mdia, ao mundo de magos, fantasmas e feiticeiros. E o redescobrimenta do tema da infncia. Do romance sentimental de Richardson, passou-se ao lirismo sonhador e melanclico de Young, ao passadismo de Gray, ao mundo fantstico de Ossian, ao romance gtico e ao romance negro. Sentimento da natureza, culto do eu, religiosidade, melancolia,: gsto do passado e das runas, sobrenaturalismo, eis os traos que o esprito romntico deveu Inglaterra. Na Alemanha, desde cedo no sculo XVIII, o lirismo da natureza, o sentimentalismo, o culto da imaginao, o gsto do passado medieval germnico, das baladas populares, encontraram defensores em Klopstock, Herder, vindo afinal desabrochar no movimento 'do Sturm und Drang (17'70), revoluo literria dirigida ao "assalto'' da tradio clssica. Goethe e Schiller, e, mais tarde, Tieck, Novalis, os irmos Schlegel, conduzem a literatura no mesmo sentido da Inglaterra, aliando sensibilidade e misticismo, melancolia e mistrio, particularismo e desconhecido, exaltao apaixonada e sofrimento amoroso. Sob o impacto da influncia convergente das correntes inglsa. e alem, a fortaleza francesa do racionalismo clssico, vai aos poucos, ao longo do sculo XVIII, cedendo os seus basties de defesa, e a marcha progride tambm l com a vitria do individualismo, sentimento da natureza, sensibilidade, paixo, melancolia, desejo de evaso, mormente pela influncia poderosa de Rousseau. Da Frana o Romantismo se espalha por tda a Europa e Amrica, sobretudo merc do mpeto liberal e revolucionrio que adquiriu o movimento no contato com a Revoluo Francesa (1789). Para a compreenso e definio do Romantismo como movimento histrico que deu forma concreta - em determinado tempo e lugar - a um estado de esprito ou temperamento, faz-se mister, acima de tudo, renunciar a reduzir o esprito romntico a uma fr-mula, como tentaram inmeros crticos e historiadores, e procurar caracteriz-lo antes como um conjunto de traos, uma constelao de qualidades, cuja presena, em nmero suficiente, o torna distinto em oposio ao clssico ou ao realista. Essa combinao de qualidades, variando naturalmente a composio, que serve para identificar o esprito romntico.

Em conformidade com um trabalho de Hibbard, s pode-se apontar as seguintes qualidades que caracterizam o esprito romntico: 1) Individualismo e subjetivismo. A atitude romntica pessoal e ntima. o mundo visto atravs da personalidade do artista. O que releva a atitude pessoal, o mundo interior, o estado de alma provocado pela realidade exterior. Romantismo subjetivismo, a libertao do mundo interior, do inconsciente; o primado exuberante da emoo, imaginao, paixo, intuio, liberdade pessoal e interior. Romantismo liberdade do indivduo. 2 ) Ilogismo. No h lgica na atitude romntica, e a regra a oscilao entre plos opostos de alegria e melancolia, entusiasmo e tristeza. 3 ) Senso do mistrio. O esprito romntico atrado pelo mistrio da existncia, que lhe aparece envolvida de sobrenatural e terror. Individualista e pessoal, o romntico encara o mundo com espanto permanente, pois tudo - a beleza, a melancolia, a prpria vida - lhe aparecem sempre novos, e sempre despertando reaes originais em cada qual, independentemente de convenes e tradies. 4) Escapismo. o desejo do romntico de fugir da realidade para um mundo idealizado, criado, de nvo, sua imagem, imagem de suas emoes e desejos, e mediante a imaginao. Nem fatos nem tradies despertam o respeito do romntico, como acontece com o realista ou o classicista. Pela liberdade, revolta, f e natureza, em comunho com o passado ou aspirao pelo futuro, sse escapismo romntico constri o mundo nvo base do sonho. 5) Reformismo. Essa busca de um mundo nvo responsvel pelo sentimento revolucionrio do romntico, ligado aos movimentos democrticos e libertrios que encheram a poca e na devoo a grandes personalidades militares e polticas. 6) Sonho. Tambm responsvel o desejo de um mundo nvo pelo aspecto sonhador do temperamento romntico. Em lugar do mundo conhecido, a terra incgnita do sonho, muitas vzes representada em smbolos e mitos. 7) F. Em vez da razo, a f que comanda o esprito romntico. No o po smente que satisfaz o romntico; idealista, aspirando a outro mundo, acredita no esprito, e na sua capacidade de reformar o mundo. Valoriza, a faculdade mstica e a intuio.

6 Hibbard, Writers oj the World. Boston, Houghton Mifflin, 1942, pp. 389 as.

8) Culto da natureza. Supervalorizada pelo Romantismo, a Natureza era um lugar de refgio, puro, no contaminado pela sociedade, lugar de cura fsica e espiritual. A natureza era a fonte de inspirao, guia, proteo amiga. Relacionada com sse culto, que teve to avassalador domnio em todo o Romantismo, foi a idia do "bom selvagem'", de homem simples e bom em estado de natureza, que Rousseau exprimiu; foi tambm a voga da ilha deserta, e da "paisagem" na pintura e na literatura, paisagens exticas e incomuns (exotismo). 9 ) Retrno ao passado. O escapismo romntico traduziu-se em fuga para a natureza e em volta ao passado, idealizando uma civilizao diferente da presente. pocas antigas, envoltas em mistrio, a Idade Mdia, o passado nacional, forneciam o ambiente, os tipos e argumentos para a literatura romntica. A histria eravalorizada e estudada (historicismo). 10) Pitoresco. No smente a remotido no tempo, mas tambm no espao atraa o romntico. o gsto das florestas, das longes terras, selvagens, orientais,ricas de pitoresco, ou simplesmente de diferentes fisionomias e costumes. a melancolia comunicada pelos lugares estranhos, geradora da saudade e da dor de ausncia,to caractersticas do Romantismo. O pitoresco e a cr local tornaram-se um meio de expresso lrica e sentimental, e, por fim, de excitao de sensaes. o caminhopara o Realismo. 11) Exagro. Na sua busca de perfeio o romntico foge para um mundo em que coloca tudo o que imagina de bom, bravo, amoroso, puro, situado no passado,no futuro, ou em lugar distante, um mundo de perfeio e sonho.

Ao lado dessas caractersticas, resumidas de Hibbard, o Romantismo distingue-se ainda por traos formais e estruturais.a Como decorrncia da liberdade, espontaneidade e individualismo, no romntico h ausncia de regras e formas prescritas. A regra suprema a inspirao individual,que dita a maneira prpria de elocuo. Da o predomnio do contedo sbre a forma. O estilo modelado pela individualidade do autor. Por isso, o que o caracteriza a espontaneidade, o entusiasmo, o arrebatamento. Enquanto o classicista prso s regras e o realista aos fatos, o romntico movido pela vontade do artistae pelas suas emoes e reflexes. Ao passo que o clssico tende a simplificar as personagens, o romntico encara a natureza humana na sua complexidade, construindo tipos multifacetados, maisnaturais e mais humanos. Do ponto de vista estilstico, o Romantismo oferece fisionomia bem distinta podendo ser considerado um perodo estilstico, um estilo individual e de pocabem caracterizado. Helmut Hatzfeld assim resume as qualidades que definem estilsticamente o Romantismo:

Romanticism is the preferente given to metaphor in contradistinction to Classicism which is mainly relying on metonymy. The consequente of this linguistic behavior is a propensity to imagery in general, be it in epic (novelistic) description, be it in lyrical symbolism oralle gory. The intoxication of the eye and the stressing of sensation versus catharsis ftrrthermore recurs to showy substantives and colorful epithets which in thelong rui shift the stress from the necessarily paler verbal style to a painterly nominal style in which even psychological shades are only expressed by physiognomicaltraiu and gesttues. v

O Romantismo distinguiu-se tambm quanto ao problema dos gneros. Alis, quando se inicia o processo revisionista da prpria noo de gnero, tal comofoi consagraria pela potica neoclssica, sobretudo por Boileau, imagem de Aristteles e Horcio, reao que culminaria com Croce. A noo de gnero fixo, imutvel, puro, isolado, correspondente a uma hierarquizao social, o Romantismo comeou a opor as idias da possibilidade de mistura,evoluo, transformao, desaparecimento dos gneros, seu enriquecimento ou esclerose, o nascimento de novos, a concomitncia de diversos numa s obra, abolindo,destarte, o esprito sistemtico e absolutista que dominava a compremso do problema, lodiernamente encarado - diga-se de passagem atravs de uma viso antes discritivae analista, sem a tendncia fixao de regras. Assim, as classificaes e separaes, as regras, os assuntos, que vigoravam quanto aos gneros segundo os postulados neoclssicos, foram postos em xequepela polmica romntica. Em nome da liberdade, a literatura neoclssica aparecendo nitidamente esgotada e esclerosada pela submisso a um sistema de regras paracada gnero; o Romantismo insurge-se contra a distino dos gneros, considerando arbitrria a separao e reivindicando, ao contrrio, a sua mistura. A prpriasubverso social conseqente Revoluo Francesa, rompendo com a antiga hierarquizao, refletia-se nessa anulao das fronteiras entre as formas literrias; pois,no dizer de Hugo, "Ia seule distinction vritable dans les oeuvres de 1'esprit est celle du bon et du mauvais". Guizot ps em relvo a impossibilidade de manterem-seas classificaes e separaes, acordes com uma sociedade estvel e ordenada, depois de subvertida por sentimentos e necessidades contrastantes. Por outro lado,o esprito clssico no admite na arte a pluralidade de emoes e sentimentos num mesmo gnero, o que prerrogativa do romntico, que se compraz na apresentaomisturada e ntima de coisas e estados de alma opostos. Para o romntico, mais seduzido pela complexidade da vida, em obedincia a essa complexidade e sua aparentedesordem que se impe

7 . "O Romantismo a preferncia pela metfora, por contraste com o Classicismo que confia principalmente na metonmia. "A conseqncia dsse comportamento lingstico a propenso imageria em geral, seja na descrio pica (novelstica), seja no simbolismo lrico, sejana alegoria. "A exaltao da viso e a nfase na sensao contra a catarse recorrem, alm disso, a substantivos vistosos e a eptetos coloridos, os quais acabam, afinal,mudando a tnica de um estilo verbal, necessriamente mais plido, para um estrio nominal pictrico, no qual at as nuances psicolgicas s logram expressar-se portraos e gestos fisionmicos". llelinut Hatzfeld, escrito especialmente para esta obra.

a mistura dos gneros, aparecendo lado a lado a prosa e a poesia, o sublime e o grotesco, o srio e o cmico, o divino e o terrestre, a vida e a morte. As conseqncias dessa formulao do problema dos gneros, que no se processou, alis, abruptamente, ao contrrio, atravs de longos debates e experincias,no deixaram de se fazer sentir na poesia, no teatro, no romance.

a) A partir do conceito de que a poesia se origina no corao, onde reside a suprema fonte, e de que arte cabe apenas a operao de fazer versos, o Romantismoreduz tda poesia ao lirismo, como a forma natural e primitiva, oriunda da sensibilidade e da imaginao individuais, da paixo e do amor. Poesia tornou-se sinnimode auto-expresso. Em conseqncia, as denominaes genricas de poesia, poesia lrica, lirismo, poema, foram substituindo as antigas denominaes especficas deode, elegia, cano, as quais, inclusive, perderam, no dizer de Van Tieghem, seu sentido preciso ou desapareceram de uso, acompanhando o declnio ou a substituiodos gneros que designavam. Assim, a&poesia romntica foi pessoal, intimista e amorosa, explorando, ainda, a temtica filosfica e religiosa. mister, tambm, noesquecer que teve um aspecto social e reformista, alm do narrativo com tonalidade pica. b) Quanto ao teatro, a revoluo ainda mais drstica, dela resultando, como acentua Van Tieghem, a destruio da tragdia como gnero fixo e consagradopor leis imutveis, e sua substituio pelo drama de estrutura e forma livres e diversas, melhor apropriado s tendncias do esprito do sculo. A revoluo no teatro, o primeiro gnero a atrair o esprito romntico, e no qual se realizou principalmente, processou-se contra as regras ou unidades detempo e lugar, da potica neoclssica, salvando-se a unidade de ao ou de intersse, criada pela personagem, que forma o seu centro. Foi a prpria exigncia dodrama romntico, - de fundo histrico, reunindo problemas sociais, polticos, morais, psicolgicos, religiosos, assuntos vastos, personagens numerosas tratadas nasua evoluo, sem saltos, - que imps a ruptura das unidades, pela necessidade de maior margem de tempo e lugar para movimentar a ao. Renunciando a essas unidades, o drama romntico virou-se para o passado nacional e, para a histria moderna, em lugar da antiguidade greco-latina, em buscada forma nova, a "cr local", os costumes, base da realidade e caracterstica essencial da sociedade. Mas o drama romntico distingue-se ainda pela unio do nobree do grotesco, do grave e do burlesco, do belo e do feio, no pressuposto de que o contraste que chama a ateno, alm de assim mostrar-se mais fiel realidade.Por ltimo. o drama romntico misturou o verso e a prosa. c) De referncia ao romance, no foi menor a importncia que o Romantismo lhe emprestou, e, pode-se afirmar, o gnero ofereceu ao esprito romntico as melhoresoportunidades de realizaode seus ideais de liberdade e realismo - fsse na linha psicolgica, histrica ou social, - alm de proporcionar-lhe melhor atmosfera para o sentimentalismo, o idealismo,o senso do pitoresco e do histrico, e a preocupao social. Com o Romantismo, inaugura-se o gsto da anlise precisa e do realismo na pintura dos caracteres e dos costumes, cujos exemplos mximos so Stendhal e Balzac.Mas a simples realidade no prendia os romancistas romnticos, que tambm buscavam a verdade atravs da construo de snteses ideais e tipos genricos, reunindotraos variados e de origens diversas na composio de uma personagem. O romance, destarte, fundiria realidade e fantasia, anlise e inveno. 'Assim como no teatro,no romance, o gsto da histria, dos motivos e personagens, de tal maneira disseminado, que imprime ao gnero uma de suas formas principais na poca: o romancehistrico. Outra variedade que gozou de extrema popularidade foi o romance gtico, "o romance negro", de contedo fantstico ou terrorfico, histrico ou sentimental,armado com incidentes misteriosas, cheio de fantasmas, aparies e vozes sobrenaturais, passados em castelos, claustros ou solares assombrados, e buscando deliberadamentea impresso de horror. Tambm o romance de aventuras, com muita ao, faanhas perigosas, extraordinrias e emocionantes, podendo encontrar-se combinadas as duasformas. Em suma, o Romantismo cultivou principalmente a poesia lrica, o drama e ~ o romance - social e de costumes, psicolgico e sentimental, gtico e de aventuras,e histrico, de tema medieval ou nacional. Mas, s inovaes introduzidas na estrutura dos gneros, na inspirao, na temtica, houve que acrescentar reformas na lngua, no estilo, na tcnica da versificao.De modo geral, atenderam tendncia para a liberdade. Sem renunciar sintaxe e disciplina potica, o romntico reagiu, em geral, contra a tirania da gramtica e combateu o estilo nobre e pomposo, que consideravaincompatvel com o natural e o real, e defendeu o uso de uma lngua libertada, simples, sem nfase, coloquial, mais rica. Por outro lado a versificao deveria passar por um processo de adoamento, com formas mtricas mais variadas, ritmos novos e mais harmoniosos (Van Tieghem),maior mobilidade e variedade de cesuras e riquezas de rimas, a fim de fugir monotonia das formas clssicas. 3. O movimento romntico ocidental, concretizao do esprito romntico num estilo de vida e de arte, estendeu-se pela Europa e Amrica em ondas concntricasformadas por sucessivas geraes de indivduos. Essas ondas possuem fisionomia especial, resultado da diferenciao das qualidades romnticas custa do predomniode umas sbre outras e de preferncias ' ideolgicas e artsticas reveladas pelas geraes que as compuseram. O Romantismo foi preparado por uma primeira gerao, que constituiu o movimento atualmente conhecido como o Pr-romantis-

mo, desenvolvido sobretudo na Inglaterra e na Alemanha durante o sculo XVIII. Formam sse grupo: Macpherson, Young, Gray, Collins, Goldsmith, Chatterton, Cowper, Burns, Klopstock, Herder, Goethe, Schiller, Bernardin de Saint Pierre,Foscolo, etc. Em seguida, vem a primeira gerao romntica, constituda de figuras nascidas por volta de 1770: Blake, Wordsworth, Coleridge, Southey, Walter Scott, Guilhermee Frederico Schlegel, Tieck, Novalis, Chamisso, Mme. de Stal, Chateaubriand, Lamb, De Quincey, Irving, Fichte, De Maistre, Courier, Hazlitt, Eichendorff, Uhland,Kleist, Grillparzer, Beethoven, Bello, Senancour, Hoffmann, etc. O Romantismo nles no est completamente formado, e se notam, em muitos, certos resduos clssicos,na luta por impor uma nova sensibilidade. A segunda gerao romntica a mais numerosa, e enquanto a primeira s atinge a plenitude mais para a idade madura, seus representantes, nascidos entre1788 e 1802, denotam plena posse de sua novidade, e desde a juventude avivem revolucionria e conscientemente. Compem-na: Byron, Atterbom, Brentano, Lamartine,Schopenhauer, Shelley, Keats, Vigny, Leopardi, Mickiewicz, Pouchkine, Lenau, Hugo, Manzoni, Espronceda, Garrett, Dumas ( pai ) , Carlyle, Emerson, Macaulay, Michelet,Villemain, Nisard, George Sand, Cooper, Andersen, Stendhal, Merime, Balzac, Sue, Ranke, Heine, Schubert, etc. A terceira gerao compreende figuras nascidas entre 1810 e 1820: Musset, Petoeff, Gautier, Nerval, Avellaneda, Herculano, Poe, Belinsk. Dos escritores romnticos, aqules que mais influram na ecloso e desenvolvimento do movimento no Brasil foram: Chateaubriand, Walter Scott, Byron, Lamartine,Hugo Leopardi, Espronceda, Dumas (pai), Musset, Cooper, Heine, Hoffmann, Sue, Garrett e Herculano. Os grandes romancistas romnticos - Merime, Stendhal e Balzac,- tiveram influncia duradoura, que se prolongou pela fase realista da literatura brasileira.

CRONOLOGIA E CARACTERES DO ROMANTISMO BRASILEIRO

1. A penetrao do movimento romntico no Brasil relatada no eap. 17. vol. I, de A Literatura no Brasil. Foi graas ao prprio senso de relativismo do movimento que le se adaptou situao local, valorizando-a, de acrdo com a regra romntica de exaltaodo passado e das peculiaridades nacionais. Assim, o Romantismo, no Brasil, assumiu um feitio particular, com caracteres especiais e traos prprios, ao lado doselementos gerais, que o filiam ao movimento europeu. De qualquer modo, tem uma importncia extraordinria, porquanto foi a le que deveu o pas a sua independncialiterria, conquistando uma liberdade de pensamento e de expresso sem precedentes, alm de acelerar, demodo imprevisvel, a evoluo do processo literrio. O perodo de meio sculo, entre 1800 e 1850, mostra um grande salto na literatura brasileira, passando-se daspenumbras de uma situao indefinida, mista de neoclassicismo decadente, iluminismo revolucionrio e exaltao nativista, para uma manifestao artstica, em quese rene uma pliade de altos espritos de poetas e prosadores, consolidando, em uma palavra, a literatura brasileira, na autonomia de sua tonalidade nacional ede suas formas e temas, e na autocon:.eincia tcnica e crtica dessa autonomia. O estudo da evoluo e caractersticas dos diferentes gneros, e a anlise das teorias literrias e crticas que informaram o movimento, evidenciam a gnesedessa concincia de uma literatura que atingia sua independncia. Sobressai nesse instante a figura de Jos de Alencar, o patriarca da literatura brasileira, smboloda revoluo literria ento realizada, a cuja obra est ligada a fixao dsse processo revolucionrio que enquadrou a literatura brasileira nos seus moldes definitivos.Incitando o movimento de renovao; acentuando a necessidade de adaptao dos moldes estrangeiros ao ambiente brasileiro, em lugar da simples imitao servil; defendendoos motivos e temas brasileiros, sobretudo indgenas, para a literatura, que deveria ser a expresso da nacionalidade; reivindicando os direitos de uma linguagembrasileira; colocando a natureza e a paisagem fsica e social brasileiras em posio obrigatria no descritivismo romntico; exigindo o enquadramento da regio edo regionalismo na literatura; apontando a necessidade de ruptura com os gneros neoclssicos, em nome de uma renovao que teve como conseqncia imediata, prticamente,a criao da fico brasileira, relegando para o limbo das formas cedias a epopia que Gonalves de Magalhes tentara reabilitar ainda em plena metade do sculo- Alencar deu um enrgico impulso marcha da literatura brasileira para a alforria. O mesmo processo revolucionrio segue a poesia, transplantada para o plano ntimo, embora, ao lado do lirismo, formas de veia pica e narrativa se hajamcultivado com valorosas expresses, sobretudo em Gonalves Dias e Castro Alves. Mas os tipos que caracterizaram os neoclssicos e mesma os pr-romnticos, foramde todo superados. Teve, portanto, o movimento romntico tdas as qualidades de uma revoluo, dando largas s manifestaes do temperamento potico e literrio nacionais.Para melhor acentuar essa nota revolucionria, h o paralelismo com as circunstncias sociais e polticas, tambm de natureza nitidamente revolucionria, que acompanharamo processo da independncia, em 1822. A ascenso da burguesia, custa da atividade comercial e das profisses liberais, intelectuais e polticas, e tambm peloprocesso de qualificao social do mestio graas, como mostrou Gilberto Freyre, s cartas de branquidade que o enriquecimento, o casamento e o talento literrioe poltico concediam, - a ascenso da burguesia tornou-a um aliado ou concorrente poderoso da aristocracia rural, quando no a substituiu ou se

fz o seu representante nos parlamentos, na administrao pblica, no govrno, conferindo-lhe, assim, uma posio igualmente influente e direitos to fortes ao gzodos benefcios da civilizao. O momento, sob a rvore frondosa de um trono estvel e respeitado, de prosperidade geral e progresso em tdas as direes. Depoisda presena da Crte portugusa e da Independncia, ste processa ascendente e constante, mesmo quando sobressaltado por crises momentneas, como a da poca daRegncia (1831-1840 ) . Particularmente, o progresso cultural tal que dificilmente se poder apontar poca de maior significao na histria da cultura brasileira.E se cabe, inegvelmente, a Alencar um psto sem igual, talvez, como a figura que encarna e simboliza, no plano literrio, essa revoluo, no foi ela, todavia,obra de um s homem, como isso poderia fazer supor. Basta o registro da galeria de poetas do Romantismo para comprovar a assertiva. Tudo assim pe em relvo a importnciae o significado do Romantismo na literatura e na cultura brasileira. Importncia e significado tanto mais reley,antes quanto contrastam com o que realizou o perodoimediatamente anterior. bem verdade que o Arcadismo constitui a primeira grande manifestao literria coletiva de valor no Brasil, quando se desenvolve realmentea poesia e se fixa profundo sentimento nacionalista. Pode considerar-se a primeira manifestao romntica, ou precursora do Romantismo. Todavia, a despeito de virtambm do Arcadismo o germe da exaltao da natureza, nas suas tendncias rsticas e aluses flora e fauna locais, a qual se desenvolveria numa das mais fortescaractersticas do Romantismo, o Arcadismo manteve-se fiel, mormente na forma, aos modelos clssicos e lusos, deixando para o Romantismo a conquista de um nativismotambm de emoo e motivos. Dessa maneira, evidencia-se a novidade do Romantismo, ainda mais destacada pelo contraste com os elementos arcdicos, muitos dos quaispenetraram, sob forma de resduos, at a primeira fase do Romantismo. Contraste que ressalta ainda com a substituio da influncia lusa pela inglsa e francesa. Entre os dois momentos medeia, alis, uma fase de transio - pr-romntica - em que lutam as tendncias novas e o esprito antigo, e ressa tal hesitaona mistura e interpenetrao de tendncias estticas, de formas novas com temas cedios ou de assuntos novos com gneros superados, tudo mostrando a indefinioe incaracterizao da poca,, dominada por um subarcadismo ou pseudoclassicismo. Correntes diferentes cruzam-se e misturam-se, barrcas, arcdias, iluministas, neoclssicas,rococs, romnticas, oriundas a maioria de fontes europias - portugusa e francesa, - outras mergulhando razes na terra brasileira, prenunciando traos que marcaroa futura fisionomia literria brasileira. A transio no cronolgica, mas formal. Destaca-se, na gnese do Romantismo brasileiro, a contribuio do Arcadismo portugus, muito atuante na fase de transio, justamente, o que parecer paradoxal,quando se deu o rompimento com a Metrpole. Fomentando a reao ao cultismo decadente; incentivando a imitao antiga, por intermdio da Frana; iniciandoolirismo pessoal; insistindo no culto da natureza, depois do que foi fcil a transio para o exotismo americano; legando aos pr-rommticos a grande herana do versobranco; elevando como regras poticas a simplicidade, a naturalidade e a fantasia; os rcades portuguses - Correia Garo, Reis Quita, Antnio Dinis da Cruz e Silva- a que os brasileiros estiveram ligados, conquistaram uma posio de influncia impossvel de ser negligenciada. H que registrar, outrossim, o influxo de Borge,por si mesmo j ocupando um psto de transio, bem como os de Nicolau Tolentino, Jos Agostinho de Macedo, Filinto Elsio, e outros, alguns dos quais, ao lado deGarrett e Herculano, tiveram influncia que se prolongou por todo o Romantismo brasileiro. Mas a ecloso do Romantismo no foi fenmeno isolado, e sim um dos aspectos por que se afirmou a conscincia da Nao, em trabalho de autonomia. O progresso geral do pas durante a fase da permanncia da Crte portugusa (1808-1821), imediatamente seguida pela Independncia (1822 ) , teve indisputvelexpresso cultural e literria. O Rio de janeiro tornou-se, alm da sede do govrno, a capital literria, e, com a liberdade de prelos, desencadeou-se intenso movimentode imprensa por todo o pas, em que se misturavam a literatura e a poltica numa feio bem tpica da poca. A agitao intelectual que caracteriza a fase posterior Independncia, h que aliar uma grande curiosidade acrca do pas - sua histria, sua vida social, econmica e comercial, sua raa, flora e fauna, - de que resultoua criao do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro (1838), alm do intersse pelas cincias naturais, pela mineralogia, qumica, medicina. Os estudos histricoslibertaram-se do tipo de memrias, crnicas e genealogias, encamhinando-se para a orientao moderna. Foi relevante o papel da imprensa poltica e literria na faseestudada. Sua vasta atuao mostra o alargamento do pblico, no Brasil, ao mesmo tempo que estabelece um lao entre le e os escritores, que ter vida longa no pas,numa popularidade, com altos e baixos, mas sempre presente. Contudo, a essa fuso de poltica e literatura se devem tambm muitos malefcios produo literria.Criou ou implantou entre ns, a moda do "publicista", misto de jornalista, poltico e homem de letras, capaz de borboletear por todos os assuntos sem se fixar emnenhum. A isto se deve a primazia do "diletante" sbre o "profissional" no exerccio das letras, de graves conseqncias para a qualidade da produo, seja no terrenoda literatura de imaginao, seja no das idias. No ser injustia responsabilizar-se sse esprito pela superficialidade, falta de calado, contedo e substncia,que so traos de nossa literatura. De qualquer modo, porm, no se pode desdenhar o papel que teve a imprensa literria e poltica na fase da gnese do Romantismo no Brasil. Imprensa representadasobretudo pelos seguintes rgos: Correio Brasiliense (1808-1822), de Hiplito da Costa Pereira; Aurora Fluminense (1827), de Evaristo da Veiga; As Variedades ouEnsaios de Literatura (1812), primeiro jornal literrio do Brasil; O Patriota(1813-1814) ; Anais Fluminenses de Cincias, Artes e Literatura (1822) ; O Jornal Cientfico, Econmico e Literrio (1826) ; O Beija-Flor (1830-1831) ; Revista daSociedade Filomtica (1833 ) ; Niteri-Revista Brasiliense (1836) ; Minerva Brasiliense (1843-1845) ; Guanabara (1850). Como bem define Virgnia Crtes de Lacerda, "observando o local e a data do aparecimento, a durao mais ou menos efmera, a orientao, filosfica, polticaou literria, o contedo dsses rgos da nossa imprensa de ento, podemos chegar a determinadas concluses bastante elucidativas do nosso Pr-romantismo: 1) a influnciaestrangeira, poltica e literria, vinda de Londres, primeiro, e de Paris, depois, com predominncia; 2) os focos culturais do perodo3 ) a influncia das sociedades pensamento e da ao (socie-dades manicas, literrias, cientficas, artsticas) ; 4) o estmulodas leigas brasileiras, lana persistncia do filintismoe do elmanismo na expresso literria do tempo". Atravs do jornalismo - poltico ou literrio, pela notcia e pela traduo - o incipiente e rarefeito meio cultural brasileiro mantinha-se em contato espiritualcom os grandes centros estrangeiros. Mas essa funo foi tambm preenchida pela traduo, de larga voga na poca, divulgada em livra ou jornal, de literatura deidias ou de fico, feita por penas ilustres. Teve influncia poderosa na renovao intelectual, pela divulgao que fz da cultura estrangeira, desde que, cessadaa proibio lusa, importao intelectual, se abriram livremente as portas s idias. Assim, os ideais iluministas, enciclopedistas, revolucionrios e romnticostiveram livre curso no pas, produzindo rpidamente os seus frutos. A oratria foi outro meio importante e de largo cultivo no perodo, contribuindo para alargar os horizontes, atravs dos plpitos e parlamentos. Foi umaforma extremamente popular, graas qual as novas doutrinas alcanavam as camadas altas e as populares, atradas pelo brilh e eloqncia dos pregadores e dos polticos.A voga da oratria resistiu todo o sculo XIX, e smente nos anos mais recentes, aps a revoluo modernista, que ela no mais desperta o mesmo eco e igual receptividade,sobretudo nas esferas mais cultas. Deixou, porm, forte impregnao na mentalidade e nos hbitos literrios brasileiros, que refletem o gsto do discurso, at naprosa de fico e na poesia. Situada, porm, no tempo, a oratria poltica e religiosa representou um papel importante no plasmar a estrutura poltica e social brasileira,pela eloqncia de agitadores em quem se concentravam os melindres e anseios da nacionalidade, luz dos ideais liberais e do nacionalismo inovador, ideais difundidoslargamente ao impulso do Iluminismo e da Revoluo Francesa. Mas foi a poesia lrica a expresso literria dominante nessa fase de transio, em que se exercitaram, como relembra Virgnia Crtes de Lacerda, os poetasdo grupo que Verssimo chamou "os predecessores do Romantismo", e Slvio Romero os "ltimos poetas clssi-localizados em Bahia, Rio e S. Paulo; secretas ou literrias na orientao doproveniente dos apelos de nacionalizaoadas por Ferdinand Denis e Garrett; 5)cos, retardatrios e de transio", e Ronald de Carvalho os "ltimos rcades". $ , portanto, no perodo pr-romntico que se deve colocar o germe da independncia intelectual do Brasil. E nesse trabalho distinguiram-se Jos Bonifcio,o promotor da independncia literria, e Sousa Caldas. O papel revolucionrio que desempenharam foi a despeito de seu carter hbrido e transicional, pois se conservaramneoclssicos por certos aspectos, e adotaram atitudes e formas inovadoras, inspiradas no Pr-romantismo e no Romantismo europeu, ou decorrentes da prpria vida dopas. Assim, "j se reconheceu que os nossos pr-romnticos tinham laivos dos pr-romnticos europeus (Sturmistas, Wieland, Young. . . ), e de romnticos conservadorese religiosos (Scott, Wordsworth, Chateaubriand, Lamartine, Hugo, da primeira fase, poetas medievalistas. . . ) e ainda nada do Romantismo liberal e revolucionrio( Shelley, Hugo, Heine . . . ) . Eram de inspirao nacionalista, mas conservadores e religiosos'". A tarefa de introdutor do Romantismo no Brasil coube, porm, singularmente a uma figura que foi, alm disso, como assinalou Jos Verssimo, o nosso primeirohomem de letras, e quem iniciou a carreira literria entre ns, Domingos Jos Gonalves de Magalhes, o Visconde de Araguaia. A singularidade do fato reside em quetal trabalho haja sido realizado por um esprito de tendncias conservadoras, expressas no seu primeiro livro de poesias (1832 ) , e ainda na fidelidade a certasformas clssicas, ressuscitadas muito tempo depois de implantado o Romantismo, quando deu a lume o poema A Confederao dos Tamoios (1856), de linhas nitidamentetradicionais. Mas sse carter hbrido tpico da poca de transio, e no prprio Magalhes, aos remanescentes clssicos, aliam-se traos e ndices de

8 Assim se define, conforme ainda Virgnia Crtes de Lacerda, essa poesia lrica da poca: "Poesia lrica para ser cantada e portanto estrfica em sua primitivasignificao - conserva ainda, nesse tempo as suas formas mais remotas, herana greco-romana vestida neolatina; so odes (religiosas, hericas, filosficas ougraciosas), cantaras (odes postas em msica to do agrado do sculo XVIII), epstolas, clogas, sonetos, idlios, epitfios, epitalmios, formas encontradias emquase todos os poetas do perodo. As diversas espcies de odes gregas (alcaica, asclepidica, sfica) foram muito usadas no sculo XIII, sobretudo na Alemanha ena Inglaterra, e se infiltraram em tdas as literaturas do tempo, como gnero mais nobre, at que o Romantismo as viesse banir. Mas, embora continue a imitao dosclssicos, comea a traduo dos poetas romnticos (Jos Bonifcio); embora se cultivem ainda os gneros antigos, comea a preocupao de renovar as formas poticas;embora seja greco-romana a formao literria dos poetas de ento, procedem alguns, consciente e propositadamente ao abandono da mitologia (Sousa Caldas, S. Carlos...);embora os temas poticos eternos sejam ainda tratados maneira antiga, j se adotam novos motivos (Borges de Barros) e j se tentam caminhos de renovao (Gonalvesde Magalhes). Da essa desproporo entre fundo e forma, sse ecletismo de gneros literrios, essa incoerncia entre pensamento e ao, que tornam difcil, a noser por si mesmos, a caracterizao ntida do momento potico. H, por isso mesmo, diferentes graus de iniciao romntica nos poetas dsse perodo de transiodesde que Jos Bonifcio nos apresentou suas primeiras tradues romnticas, at que Gonalves de Magalhes viesse indicar "uma nova estrada aos futuros engenhos",fazendo "vibrar as cordas do corao" e elevar "o pensamento nas asas da harmonia at as idias arqutipas". A esta nova finalidade da poesia, devia corresponder,segundo o prprio Magalhes, uma reforma de gnero abandonando-se

renovao. Assim, a ,fuso de poltica e literatura, ambas trabalhando para a autonomia cultural e poltica do pas; a sua atitude intencionalmente revolucionria,de renovao total da literatura brasileira, expressa no manifesto com que lanou a revista Niteri (1836) ; .a inteno antilusa, com a indicao de transferirpara a Frana a fonte de inspirao literria e artstica, de onde, alis, simblicamente, lanou a revista e o seu livro Suspiros Poticos e Saudades (1836) ; apreferncia dada ao tema do indianismo; tudo justifica a posio de introdutor do Romantismo que detm Gonalves de Magalhes na literatura brasileira.

O fator essencial na transformao operada no Brasil, no sentido do Romantismo, foi o influxo proveniente da Frana. Ao papel de Ferdinand Denis, como "paido Romantismo brasileiro", h que acrescentar os de Chateaubriand, Victor Hugo, Lamartine, Musset, e outros vultos pr-romnticos e romnticos. O fato j fra registradopor Ferdinand Denis e, depois, por Ferdinand Wolf, em O Brasil literrio (1863) ; "Foram os romnticos franceses que, em grande parte, favoreceram o verdadeiro Romantismonos outros povos novilatinos". Essa influncia, como acentua Paul Hazard, em vez de opressiva, foi excitadora, fazendo-os libertarem-se dos grilhes classicizantes.

No obstante a reao antilusa do Romantismo brasileiro desde a fase preparatria, mister, no entanto, no esquecer a repercusso da figura de AlmeidaGarrett, cuja obra renovadora na implantao do movimento em Portugal anterior a 1830, mais precisamente de 1825, quando publica o poema Cames. As suas idias,expostas na introduo ao. Bosquejo (1826 ) , correm de par com as, de Ferdinand Denis, nos Resumes (1826), em favor da liberdade e nacionalizao da literaturabrasileira. O fato, porm, que os melhores espritos de ento j sentiam os mesmos anseios, como Jos Bonifcio

os "antigos e safados ornamentos", e de forma; que a de no seguir "nenhumaordem" na construo material das estrofes, a de fugir monotonia, abandonando "a igualdacj& dos versos,, a regularidade das rimas, a simetria das estncias",sem esquecer que, quanto lngua, "uma nova idia pede um nvo trmo". Aest, em germe, tda a revoluo romntica que Magalhes e Prto Alegre pregaram 'mas no conseguiram realizar de todo. Introdutores oficiais do Romantismo no Brasil, so, por suas obras, apenas pr-romnticos, faltando sua poesiaa verdadeira fibra romntica, que to profundamente havia de vibrar depoisidentificando-se com o estado coletivo e pessoal do esprito brasileiro no momento,realizando a fuso jamais depois verificada da inspirao das vocaes individuaisdos nossos grandes poetas romnticos (que ento atravessam a adolescncia e aprimeira mocidade, momentos romnticos da vida e de cada um) e da inspiraocoletiva, pois vivamos, como povo, a grande exaltao da nacionalidade, que sefirmara e afirmara realizando a sua autonomia. A adolescncia do Brasil coincidiu com a adolescncia de muitos dos seus valres literrios de ento (Alvaresde Azevedo, Castro Alves, Casimiro de Abreu .... ), da a completa aceitao,pelo pblico, dessa poesia s ento verdadeiramente nova e verdadeiramente romntica. Base fato, singular em tda a nossa histria literria, s pode ser verdadeira e profundamente compreendido, quando analisamos detidamente a produoliterria dsse perodo at hoje to pouco estudado, que foi o nosso Pr-romantismo; quando procuramos penetrar no mago dessa poesia, to pouco poesia,mas to cheia de propsitos de renovao, que foi a obra dos nossos pr-romnticos". Virgnia Crtes de Lacerda. O Pr-romantismo brasileiro (Estudo indito).e Gonalves de Magalhes, no sentido de uma forma nova adaptada ao nvo assunto. e Configura-se, pois, o Romantismo, no Brasil, entre as datas de 1808 e 1836, para o Pr-romantismo; de 1836 a 1860 para o Romantismo prpriamente dito, sendoque o apogeu do movimento se situa entre 1846 e 1856. Depois de 1860, h um perodo de transio para o Realismo e o Parnasianismo. 2. O movimento romntico no Brasil processou-se, como o europeu, atravs de ondas de geraes sucessivas, que constituem

subperodos ou grupos mais

vista ideolgico e temtico.

$ problema dos mais complexos a classificao e distribuio dos escritores romnticos brasileiros, resultante da prpria complexidade do movimento, entrecortado de correntes cruzadas e tendncias variadas e, por vzes, divergentes. Comentando os esforos baldados de Slvio Romero, e as tentativas simplificadoras de Jos Verssimo e Ronald de Carvalho, confessa Oto Maria Carpeaux, "que quase impossvel distinguir com nitidez as diferentes fases da evoluo do Romantismo brasileiro", dificuldade resultante, como acentua, do nmero de escritores aparecidos num curto perodo de tempo do entrecruzamento da cronologia, que rompe completamente qualquer esquema de agrupamento por geraes. l

9 "Ora, todos sabem a grande influncia de Ferdinand Denis s8bre os nossos primeiros romnticos e se recordam da sua frase famosa, escrita em 1826, dez anos antes do livro de Magalhes: "O Brasil j sente a necessidade de beber as suas inspiraes poticas numa fonte que de fato lhe pertena e em sua nascente glria no tardar em apresentar as primcias dsse entusiasmo que atesta a juventude de um povo. Se adotou esta parte da Amrica uma linguagem que aperfeioou a nossa velha Europa, deve rejeitar as idias mitolgicas devidas s fbulas da Grcia... porque no esto em harmonia nem com o seu clima, nem com as suas tradies. A Amrica, brilhante de mocidade, deve ter novos e enrgicos pensamentos... Deve finalmente a Amrica ser livre em sua poesia como j em seu govrno". Ferdinand Denis foi o pai de nosso Romantismo". Trinto de Atafde. Estudos. 3 .a srie, II, Rio de Janeiro, A Ordem, 1930, p. 156. A propsito do papel de Ferdinand Denis na origem do Romantismo brasileiro particularmente sua influncia no grupo da Niteri ver o estudo de Paul Hazard (Rev. Aead. Brasil. Letras, 1927, n. 69). Por outro lado, a influncia de Garrett no pode ser descontada nem diminuda. Baseado, alis, em rro de data, julga Srgio Buarque de Holanda infundada a suspeio de Jos Verssimo que Gonalves Magalhes tivesse lido 0 conselho nacionalizaste de Garrett, no Bosquejo, "publicado dez anos depois do Discurso de Magalhes". Em verdade, porm, o Bosquejo de 1826, dez anos antes do Discurso (1836), e no de 1846 como afirma (v. Prefcio a Suspiros poticos e saudades, Rio de Janeiro, M. E. S., 1939, p. XX). A propsito, h que assinalar ainda o testemunho de J. S. Queiroga (v. A Literatura no Brasil, Vol. I, t. 2, p. 643). 10 Estas foram as principais tentativas de classificao dos escritores romnticos: Silvio Romero, na Histria, fala em seis fases, que reduz mais tarde, na Evoluo da Literatura Brasileira (1905), para cinco momentos: 1 , de 1830, com a segunda escola fluminense e a segunda escola baiana: 2., de 1848, com a primeira escola paulista; 3 , de 1855; 4., de 1858, com a escola maranhense; 5 , de 1862 a 1870, com os coadoreiros. Junto aos momentos, refere os divergentes, os precursores, os retardatrios, etc. Jos Verssimo, diante da dificuldade e sem dispor de segura metodologia, opta por uma simplificao e seleo dos val8res romnticos, que ordena em

ou menos diferenciados do ponto de

H representantes de uma gerao que a ultrapassam espiritualmente e tomam parte em outro grupo. H figuras de transio; h os diletantes e marginais; que no se fixam ou evoluem, adaptando-se a grupos sucessivos; os retardatrios, os que no pertencem a qualquer grupo, ou que se ligam a um grupo por identidade espiritual e estilstica, mas que no o da sua gerao; e em cada grupo, h as figuras maiores, bem representativas, e as secundrias que se ligam s principais de maneira descolorida, hesitante, incaracterstica. Acompanhando-se a evoluo das tendncias e formas literrias atravs do Romantismo, verifica-se a formao progressiva de uma esttica e de um estilo - em que se renem lementos formais e espirituais. Essa evoluo efetua-se em vrias etapas, de que participam grupos ou geraes de poetas, ficcionistas e cultores de outros gneros. De modo geral, como nota Manuel Bandeira, a forma a mesma, variando de acrdo com as geraes, os temas, o sentimento e a tonalidade. Abrangendo a poesia, a nova esttica envolveu a fico e o drama, formulando tambm teorias crticas e literrias quanto natureza e finalidade da literatura, quanto mais conveniente estratgia de realizao dsses ideais, e quanto aos gneros adequados sua expresso. O objetivo era a criao do carter nacional da literatura, em oposio marca portugusa, considerada de importao e de opresso nesse momento de luta pela autonomia. Sem respeito estrita cronologia, j violentada pela realidade, podem-se estabelecer grupos estilsticos e ideolgicos na evoluo do Romantismo brasileiro. Em primeiro lugar, mister distinguir o Pr-romantismo e o Romantismo prpriamente dito, este ltimo com quatro grupos, fixando-se datas como simples marcos flexveis de referncia. PR-ROMANTISMO (1808-1836). $ um corpo de tendncias, temas, idias, sem constituir doutrina literria homognea, com remanescentes classicistas e arcdicos, e elementos novos. J se encontram algumas notas esptbcficas do Romantismo. Ora como antecessores, ora como precursores, ora como figuras de transio, anunciam, preparam ou veiculam as qualidades romnticas. Muitas das figuras

duas fases ou geraes, alm dos precursores, e uma terceira de "ltimos romnticos".

Ronald de Carvalho estabeleceu quatro grupos ou fases, caracterizadas pelas tendncias dominantes: 1) a poesia religiosa (Gonalves de Magalhes, etc.); 2) a poesia da natureza (Gonalves Dias, etc.); 3) a poesia da dvida (Alvares de Azevedo, etc.); 4) a poesia social (Castro Alves, etc.). Agrega ainda alguns poetas menores, e aponta outros como figuras de transio entre o Romantismo e o Parnasianismo (Machado de Assis, Lus Guimares).

Oto Maria Carpeaux (Pequena bibliografia crtica da literatura brasileira) adotou o critrio de diviso estilstica, estabelecendo os seguintes grupos: Pr-romantismo (Gonalves de Magalhes, P8rto Alegre, Borges de Barros, Varahagen. Dutra e Melo), corrente paralela de outras de Neoclassismo e de Romantismo trivial e diletante, que se seguiriam de Classismo pr-romntico (arcadismo mineiro). No Romantismo prpriamente dito, distingue os grupos de: Romantismo nacional e popular (Gonalves Dias, Alencar, etc.), Romantismo individualista (Alvares de Azevedo, etc.) e Romantismo liberal (Castro Alves. etc.).dessa fase, por incaractersticas, atravessam. o Romantismo, como diletantes ou marginais, aproveitando os recursos formais ou temticos, sem contudo se realizarem plenamente. A influncia partugusa vai cedendo o lugar francesa, e inglsa. Cultiva-se intensamente o jornalismo (poltico e literrio, na maioria misturados), a eloqncia sacra e profana, a poesia lrica, a histria, as cincias naturais. Compreende mais ou menos figuras nascidas antes de 1820.11 ROMANTISMO. Primeiro grupo. Iniciao pelo grupo fluminense, com o manifesto romntico de 1836: Niteri, Resista Brasiliense. Tendncias contraditrias, de conservadorismo, com resduos classicistas, ao lado de marcha deliberada para a nova esttica, o que o faz no mais pertencer fase pr-romntica de maneira completa e desempenhar o papel tambm de iniciao e introduo. Poesia religiosa e mstica; nacionalismo, lusofobia; influncia inglsa e francesa (Marmontel, Chateaubriand, Hugo, Vigny, Lamartine). As

11 Representantes do perodo pr-romntico: Manuel Aires do Casal (17541821); Padre Domingos Simes da Cunha (1755-1824); Jos Joaquim Azeredo Coutinho (1743-1821); Jos de Sousa Azevedo Pizaro e Arajo (1753-1830); Jos Arouche de Toledo Rndon. (1756-1834); Jos da Silva Lisboa (1756-1835); Baltazar da Silva Lisboa (1761-1840); Antnio Pereira de Sousa Caldas (17621814); Cipriano Jos Barata de Almeida (1762-1825); Jos Bonifcio de Andrada e Silva, pseud. Amrico Elsio (1763-1838); Jos Eli Otni (1764-1851); Lus Gonalves dos Santos, "O Perereca" (1767-1844); Lucas Jos de Alvarenga (17681831); Frei. Francisco de So Carlos (1768-1829); Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846); Mariano Jos Pereira da Fonseca, marqus de Maric (1773-1848); Antnio Carlos Ribeiro. de~,Andrada (1773-1845); Hiplito Jos da Costa (17741$23); Jos Felicino Fernandes Pinheiro (1774-1847); Joaquim Jos Lisboa (17753811); Manuel de Arajo Ferreira Guimares (1777-1838); Frei Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio (1778-1830); Domingos Borges de Barros (17791855); Frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1779-1825); Janurio da Cunha Barbosa (1780-1846); Caetano Lopes de Moura (1780-1860); Joaquim Gonalves Ledo (1781-1847); Jos Lino Coutinho (1784-1836); Frei Francisco de Mont'Alverne (1784-1859); Jos Rodrigues Pimentel Maia (1785-1837); Frei Francisco de Xaxier Barana (1785-1846); . Dom Romualdo Antnio de Seiras (1787-1860); Padre Francisco Ferreira Barreto (1790-1851);. Jos Joaquim Machado de Oliveira (1790-1867); Miguel do Sacramento, Lopes Gama (1791-1852); Cndido Jos de Arajo Viana (1793-1875); Francisco Muniz -Tavares (1793-1876); Miguel Cahnon du Pine Almeida (1794-1865); Antnio Joaquim de Melo (1794-1873); Francisco de Montesuma (1794-1870); Bernardo Pereira de Vasconcelos .(17951850); Jos da Natividade Saldanha (1796-1830); Jos Incio Abreu e Lima (1796-1869); Manuel Odorico Mendes (1799-1864); Evaristo Ferreira da Veiga (1799-1837); Francisco Sotero dos Reis (1800-1871); Ladislau dos Santos Titara (1801-1861); Antnio Peregrino Maciel Monteiro (1804-1868); Francisco Muniz Barreto (1804-18b8); Joo de Barros Falco (1807-1882); lvaro Teixeira de Macedo (807-1849); Incio Acili de Cerqueira e Silva (1808-1865); Joaquim Caetano da Silva (1810-1873); Joo Salom de Queiroga (1810-1878); Francisco de Paula Meneses (1811-1857); Jos Maria Velho da Silva (1811-1901); Justiniano Jos da Rocha (1812-1862); Antnio Augusto de Queiroga (1812?-1855); Joo Francisco Lisboa (1812-1863); Jos Maria do .Amaral (1813-1885); Francisco Bernardino Ribeiro (1815-1837); Firmino Rodrigues da Silva (1816-1879); Jos Maria da Silva Paranhos (1819-1880); Padre Jos Joaquim Corra de Almeida (1820-1905); Agostinho Marques Perdigo Malheiros . (1824-1881); Manuel Joaquim Ribeiro (-ca. 1822); Padre Srlvrio Ribeiro de Carvalho, dito Silvino Paraopeba (?-1843).

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idias romattics procuram impor-se atravs de novos, temas, aspiraes espirituais e religiosas, nova sensibilidade; a fico esboa-se; o gsto pela natureza espalha-se; intensifica-se o intersse cultural (cientfico, filosfico, histrico, sociolgico). O gnero preferido a poesia lrica, mas a fico e o teatro do os primeiros passos, e continua o intenso cultivo ao jornalismo. 12 Segundo grupo (1840-1850) . Apesar de incluir figuras pertententes gerao do grupo anterior e mesmo alguns retardatrios, e a despeito de continuarem, com muitos dles, os laos ao passado classicis'ta: e lusa, formam um grupo bem caracterizado e diverso do anterior. Predominam a descrio da' natureza, o pantesmo, a idealizao do selvagem, o indianismo, expresso original do nacionalismo brasileiro, o selvagem como smbolo do esprito e da civilizao nacionais em luta contra a herana portugusa. Influncias de Chateaubriand, Fenimor Cooper, Walter Scott, Eugne Sue, Balzac. Os gneros mais cultivados so a poesia lrica e narrativa, a fico, o teatro, a crtica, a histria e o jornalismo. Compreende, na maioria, figuras nascidas entre 1820 e 1830, que comearam a atuar pela dcada 1840.13 Terceiro grupo (1850-1860). Individualismo e subjetivismo, dvida, desiluso, cinismo e negativismo bomio; "mal, do sculo"; poesia byroniana ou satnica. Influncia de Byron, Muss~et, Espronceda, Leopardi, Lamartine. A fico consolida-se com Alencar, Macedo, `Bernardo Guimares, Franklin Tvora, sob a forma indianista, sertanista, regionalista, usando material local e ambiente nativo, com intenes nacionalistas. Surge, tambm, a fico histrica, por influncia de Walter Scott; e acentua-se a variedade urbana. A' crtica, iniciada antes sob a fama de notas biogrficas e antologias, adquire conscincia de sua misso e tcnicas. Poesia lrica, fico, crtica, alm da histria e jornalismo so, portanto, os gneros cultuados. Compreende figuras nascidas por volta de 1830, e que comearam a exercitar-se na dcada de 1850 a 1860.14

12 Representantes d 1 grupo romntico: Manuel de Arajo Prto Alegre (1806-1879); Domnios Jos Gonalves de Magalhes (1811-1882); Antnio Gonalves Teixeira e Sousa (1812-1861); Lus Carlos Martins Pena (1815-1848); Francisco Adolfo Varnhagen (1816-1878); Joo Manuel Pereira da Silva (18171898 ) ; Emlio Adet (1818-1867 ) ; Joaquim Norberto de Sousa e Silva (1820-1891) ; Francisco de Sales Trres Homem (1822-1876); Cndido M. de Azevedo Coutinho (?-1878).

13 Representantes do 2.0 grupo romntico: Francisco de Paula Brito (18091861); Joo Duarte de Lisboa Serra (1818-1855); Vicente Pereira de Carvalho Guimares (1820-?); Joaquim M. de Macedo (1820-1882); Antnio Gonalves Dias (1823-1864); Antnio Francisco Dutra e Melo (1823-1846); Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro (1825-1876); Bernardo Joaquim da Silva Guimares (18251884); Joo Cardoso de Meneses, Baro de Paranapiacaba (1827-1915); Joaquim Felfcio dos Santos (1828-1895); Jos Martiniano de Alencar (1829-1877); Trajano Gaivo de Carvalho (1830-1864).

14 Representantes do 3 grupo romntico: Francisco Otaviano de Almeida Rosa (1825-1889); Laurindo Jos da Silva Rabelo (1826-1864); Jos Bonifcio de Andrada e Silva, o Mo (1827-1886); Aureliano Jos Lessa (1828-1861); Lus Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882); Antnio Joaquim Rodrigues da Costa (1830-1870); Manuel Antnio de Almeida (1831-1861); Manuel Antnio Alvares

Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas, com a nicainteno de que seja bem utilizado por seus companheiros cegos Quarto gyuPo (Depois de 1860). Romantismo liberal e social: intensa impregnao poltico-social, nacionalista, ligada s lutas pelo abolicionismo (especialmente depois de 1866) e pela Guerra do

Paraguai (1864-1870) . Na poesia lrica, alm de um lirismo intimista e amoroso, por influncia de Victor Hugo tende para um lirismo de metforas arrebatadas e ousadas, que se batizou (Capistrano de Abreu) de poesia "condoreira" ou "condoreirismo". Grande preocupao formal leva o grupo a experincias que, aliadas ao clima de realismo literrio e filosfico, conduzem a poesia na direo do Parnasianismo. quase um grupo de transio, de "romantismo realista", pteludiando a "arte pela arte", j com uma nota bem forte de erotismo, algumas figuras penetrando mesmo o Parnasianismo ou servindo de trao de unio entre os dois estilos. Franca reao antiromntica na dcada de 1870. A fico supera, nessa fase, a frmula romntica, que se esgota no sentimentalismo e no sertanismo, invadindo, depois de 1870, a forma realista, seja na maneira urbana, de anlise de costumes e caracteres, seja na regionalista, seja na naturalista. a fico nacional, brasileira, consolidada, autnoma. Os gneros adquirem maior autonomia esttica, libertando-se da poltica e do jornalismo. Com a gerao de 1870, comea nova influncia nas letras, a da filosofia positiva e naturalista. Compreende, na maioria, figuras nascidas por volta de 1840. 3, Caracteres. O movimento ramntico, muito embora subdividido em nuances estilsticas, denota unidade em seus caracteres fundamentais. No Brasil, todavia, assumiu uma tonalidade prpria, comunicada pelas peculiaridades do meio a que se acomodou, ainda em conformidade com o senso do relativo e a historicidade que

15 Representantes do 4. grupo romntico: Joaquim de Sousa Andrade, Sousndtade (1833-1902) Lus Delfino dos Santos (1834-1910); Joaquim Jos da Frana Jnior (1838-1890); Joaquim Maria Serra Sobrinho (1838-1888); Tobias Barreto de Meneses (1839-1889); Pedro Lus Pereira de Sousa (1839-1884); Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908); Vitoriano Jos Marinho Palhares (1840-1890); Salvador de Meneses Furtado de Mendona (1841-1913); Joo Barbosa Rodrigues (1842-1909); Joo Franklin da Silveira Tvora (1842-1888); Jos Carlos do Patrocnio (1842-1905); Pedro Amrico (1843-1905); Alfredo d'Escragnole Taunay (1843-1890); Apolinrio Prto-Alegre (1844-1904); Rosendo Muniz Barreto (1845-1897); Jlio Csar Ribeiro (1845-1890) Lus Caetano Pereira Guimares Jr. (1847?-1898); Antnio de Castro Aves (1847-1871); Pedro de Calasans (1837-1874); Melo Morais Filho (1844-1919).

de Azevedo (1831-1852); Francisco Pinheiro Guimares (1832-1877); Jos de Morais e Silva (1832-1896); Lus Jos Junqueira Freire (1832-1855); Vtor Meireles (1823-1903) Antnio Ferreira Viana (1833-1903); Jos Alexandre Teixeira de Melo (1833-1870); Agrrio de Sousa Meneses (1834-1863); Quintino Bocaiva (1836-1912); Carlos Gomes (1836-1896) Franklin de Meneses Dria (1836-1906); Juvenal Galeno da Costa e Silva (1836-1931); Jlio Csar Leal (1837-1897); Casimiro Jos Marques de Abreu (1837-1860); Francisco Incio Marcondes Homem de Melo (1837-1918); Bruno Henrique de Almeida Seabra (1837-1876); Joaquim Maria Serra Sobrinho (1838-1888); Antnio Joaquim Macedo Soares (1838-?); Aureliarno Cndido Tavares Bastos (1839-1875); Lus Nicolau Fagundes Varela (1841-1875); Jos Joaquim Cndido de Macedo Jr. (1842-1860); Verssimo Jos do Boro Sucesso (1842-1886).

so alguns de seus traos definidores. 16 possvel resumir come se segue as suas caractersticas: a) Coincidindo sua ecloso com o alvorecer da nacionalidade, ajustou-se alma do povo, cujos anseios e qualidades sentiu e exprimiu. Como muito bem asseverou um crtico, "o Romantismo brasileiro tem muito de seu a fuso, que realizou, do momento pessoal ao momento coletivo". Era um instante de exaltao individual que se aliava exaltao coletiva, e encontrava na esttica romntica o meio adequado de realizao. Da o Romantismo possuir vrios aspectos - o literrio e artstico, o poltico e social, envolvendo gneros variados como a poesia lrica, o romance, o drama, o jornalismo, a eloqncia, o ensaio. Mais do que um movimento literrio estrito, foi antes e acima de tudo um estilo de vida, nacional, todo o povo tendo vivido de acrdo com suas formas, e sentido, cantado, pensado de maneira idntica, procurando afirmar, atravs dle, a sua individualidade e a alma coletiva. b) Pela nfase dada inspirao, como guia supremo da criao literria, o Romantismo estabeleceu um padro que, indo ao encontro de qualidade inata no povo brasileiro, se entronizou em norma esttico-literria que dominaria grande parte de nossa atividade literria. bem romntico o culto brasileiro da inspirao, da improvisao e da espontaneidade como fontes de criatividade. Mas , por outro lado, bem brasileiro, o que prova a sintonizao da alma brasileira com a alma romntica. Bem brasileiros e bem romnticos so o sentimentalismo e o sensibilismo. Conseqncia disso

a extrema popularidade da

literatura romntica, que correspondeu e

ainda corresponde a uma exigncia natural do povo, a um gsto

16 Sbre o Romantismo brasileiro, suas caractersticas e significado, ver, entre outros: Alves, C. A sensibilidade romntica (in Rev. Acad. Letras, 1928, n. 73); Andrade Mrio de. O Aleijadinho e Alvares de Azevedo. Rio de Janeiro, R. A. Editra, 1935; Andrade Murici, J. Elogio do Romantismo brasileiro (in Suave convvio. Rio de Janeiro, Anurio do Brasil, 1922); Bandeira Manuel. Prefcio Antologia dos poetas brasileiros da fase romntica. 3.a ed. Rio de Janeiro, Inst. Nac. Livro, 1949; idem. Apresentao da Poesia brasileira. Rio de Janeiro, C. E. B., 1946; Bevilqua C. Esbo sinttico do movimento romntico brasileiro. (in Esboos e individualidades. Rio de Janeiro Garnier, 1888); Capistrano de Abreu, J. Ensaios e estudos. l.a ser. Rio de Janeiro, Briguiet, 1931; Carvalho, R. de. Pequena histria da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Briguiet 1919 (ref. 4.a ed., Rio de Janeiro, Briguiet, 1929); Crtes de Lacerda, V. Unidades literrias. S. Paulo, Cia. Ed. Nac., 1944; Fernandes Pinheiro, J. C. Literatura nacional. Rio de Janeiro, Garnier, 1893; Hazard, P. As origens do Romantismo no Brasil. (in Rev. Acad. Brasil. Letras. 1927, n. 69); Magalhes, F. O Romantismo liberal. (in Rev. Acad. Brasil. Letras. 1927, n. 69); Monteiro, C. Traos do Romantismo na poesia brasileira. Rio de Janeiro, 1929; Orlando, A. Teorias literrias no Brasil. (in Filocrtica. Rio de Janeiro, Garnier, 1884); Paranhos, H. Histria do Romantismo no Brasil. S. Paulo, Cultura Brasileira, 1937-1938. 2 vols.; Peixoto, Afrnio. O romantismo e seu significado. (in Pipitas. S. Paulo, Cia. Ed. Nac., 1942); idem. Noes de histria da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Alves, 1931; Putnam, S. Marvelous Journey. New York, Knopf, 1948; Romero, S. Histria da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Garnier, 1888; Ureia, H. P. Literary currents in Latin America. Cambridge, Harvard, 1945; Verssimo, J. Histria da literatura brasileira. Rio de Janeiro, Alves, 1916; Wolf, F. O Brasil literrio. Ed. Brasil. S. Paulo, Cia. Ed. Nac. 1955.

- 23especfico, a tuna tendncia por assim dizer permanente da sua alma. So os romnticos dos escritores brasileiros mais populares, dos que mais eco despertam no pblico - Gonalves Dias, Casimiro de Abreu, Alvares de Azevedo, Castro Alves, Jos de Alencar, Macedo... Mas a norma romntica da inspirao e da improvisao, com deslocar as regras e a retrica da base da formao literria, em reao contra os postulados classicistas, introduziu o desprm pelo artesanato e o conseqente descuido, relaxao e negligncia em relao a todos os aspectos tcnicos da arte. Ao lado do princpio romntico da liberdade - literria, social, poltica, - essa norma conduziu ruptura com as obrigaes de respeito s tradies na linguagem, que, se trouxe um bom resultado quanto ao enriquecimento do vocabulrio e alargamento dos assuntos, produziu certa anarquia e desordem, arroladas como licenas poticas. c) O Romantismo brasileiro teve colorido fortemente poltico e social. o seu lado democrtico-popular que se torna mais visvel e atuante, pois, como afirma Samuel Putnam, "nunca foi to ntima a relao entre arte e sociedade", acompanhando lado a lado a revoluo burguesa e o movimento pela independncia e democracia, o que o transformou em "poderosa, arma na luta e o veculo literrio do nascente nacionalismo do Brasil e outros pases latino-americanos". Tambm aqui a revoluo burguesa triunfava com a Independncia e a democracia, como repercusso da era inaugurada pela Revoluo Francesa. Portugal representava tudo o que abominavam os brasileiros, a opresso poltica, a explorao econmica, o conservadorismo literrio. O Romantismo fz soarem os clarins da liberdade em todos os setores. A liberdade poltica, autonomia de conscincia, correu paralela a rebelio literria. Formara-se com o tempo uma nova sensibilidade, que procurava expressar-se por outra forma artstica. Diante dos materiais de uma nova civilizao, os homens de letras deixaram, depois de longo processo de amadurecimento, de olhar para a Metrpole portugusa em busca de padres de expresso literria na poesia, na fico, no drama. Da essa consonncia de ideais entre a poltica e a literatura, que fz elevar-se a figura de Jos Bonifcio de Andrada e Silva, como o patriarca da independncia poltica e o pioneiro mais forte da revoluo literria. 17 Acresce

17 Afrnio Peixoto considera Jos Bonifcio o "prcere do Romantismo", sbre ser um "sbio, poltico, estadista, poeta, o maior e mais culto dos brasileiros de seu tempo". Histria da literatura brasileira. pp. 154, 177. do mesmo autor a teoria da precedncia de Jos Bonifcio, com suas poesias de 1825, em relao a Magalhes (1836). Afirma le que as Poesias de Amrico Elsio so "o primeiro livro que, no Brasil, subscreveu o Romantismo" (Ver "O Primeiro livro do Romantismo no Brasil", Prefcio s Poesias, Rio de Janeiro, Publicaes da Academia Brasileira, 1942). Parece mais correto atribuir a Jos Bonifcio a posio de um precursor pr-romntico, luz dos prprios argumentos de Afrnio Peixoto, pois, a despeito de suas familiaridades romnticas, conservou-se fiel ao credo clssico. Ver S. Buarque de Holanda, Pref. s Poesias, de Amrico Elsio, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, Imprensa Nacional, 1942, p. XIII. Essa posio de transio - arcadismo, neoclassicismo, pr-romantismo - a que melhor cabe a Jos Bonifcio, no somente pela produo potica, seno tambm pela doutrina potica. Foi o que demonstrou ainda Antnio Soares Amora, em dois artigos: "Um Alter ego comprometedor", e "Amrico

a circunstincia de muitos escritores terem sido tambm polticos de destaque, o que concorria para aumentar-lhes a popularidade. Essa relao entre a literatura e a poltica fz com que, no Brasil, - a despeito de ser, da Amrica Latina, como salientou Urena, o nico pas em que frutificou alinha de rebeldia individualista e de mal do sculo, - tivesse mais xito o aspecto liberal e revolucionrio, em contraposio com o conservador e religioso. Mesmo entre o clero, grassava o idealismo romntico, poltico e social. A literatura romntica foi, portanto, uma arma de ao poltica e social, desde a Independncia. d) O nacionalismo romntico assumiu um carter muito prprio no Brasil, sob a forma do indianismo. Casando a doutrina do "bom selvagem" de Rousseau com as .tendncias lusfobas, o nativismo brasileiro encontrou no ndio e sua civilizao um smbolo de independncia espiritual, poltica, social e literria, como demonstrou Capistrano de Abreu, para quem o indianismo no era planta extica, mas tinha fundas razes na literatura popular. Alm disso, o indianismo estava, em Alencar e Gonalves Dias, estreitamente relacionado com a restaurao do mito da infncia e do retmo inocncia infantil caracterstica geral do Romantismo, tema que encontrou, alis, em lvares de Azevedo, outra forma de expresso. profundo, dessa maneira, o significado do indianismo, no dizer de Clvis Bevilqua, "o primeiro passo da esttica brasileira procurando o seu tipo especial e prprid', surgindo da prpria massa da originalidade nacional e constituindo o ponto de partida, cheio de sugesto, de tdas as tentativas posteriores de encontrar materiais peculiarmente brasileiros para dar expresso literria conscincia nacional. dai que resultam o culto do serto e do sertanejo, o caipirismo, o caboclinho, e, acima de tudo, o regionalismo, que foi, afinal, a feio mais alta que ainda gerou sse brasileirismo. e) A corrente individualista e bomia floresceu na metade do sculo, embora suas raizes mergulhem at Gonalves de Magalhes, com a sua melancolia, pessimismo, dvida e religiosidade e o seu senso da inanidade das coisas terrenas. Mas foi no grupo de Alvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu, que o "mal do sculo" pde empenhar sua fra mxima, em estados mrbidos de dvida, negativismo e melancolia. sse aspecto bem tpico do Romantismo teve, por outro lado, larga difuso atravs dos heris e heronas dos romances romnticos, irmos e primos de Werther e Ren, que constituem uma grande galeria de mrbidos e melanclicos sonhadores, dos romances de Macedo, Alencar, Taunay, como Lauro, Estcio, Cirino, Honorina, Raquel, Inesita, Isabel, Inocncia, etc. f) Pela necessidade de alargar o horizonte literrio, o Romantismo dirigiu-se para fontes de inspirao nacional e local, em oposio

Elsio desagravado", in Estado So Paulo, Supl. Literrio, 30-3-1963, 27-4-1963. Tambm Josu Montelo coloca-se em atitude compreensiva a respeito da poesia do 'Patriarca, acentuando sse carter de sincretismo e transio, embora reconhecendo-lhe o valor documental para a interpretao de sua personalidade (Ver "O Poeta Jos Bonifcio", Jornal do Comrcio, R. J., 11, 18, 25 julho 1964).inspirao greco-romana que dominou a potica neoclssica. O primeiro passo nessa busca de novas dimenses foi dado no sentido interior, na direo da natureza do corao e do esprito, de que resultou o primado do lirismo, como a forma natural e primitiva da poesia, e o estabelecimento de um tipo de realismo baseado na verdade interior e na efuso do corao. O outro passo orientou-se para a valorizao da "cr local" e o pitoresco, procurando em virtude do princpio relativista de que o homem varia conforme os tempos e lugares, captar a sua verdade na diversidade exterior e interior - costumes, sentimentos, linguagem - que o tornam tpico. Essa teoria encontrou clima sobretudo no romance, mas ela serviu de base tambm para a valorizao da histria local e das criaes populares ou folclore. No Brasil, a valorizao da histria e do passado nacional constituiu uma das mais importantes atividades durante o Romantismo. A Histria, a Etnologia, a Lingstica, tiveram grande desenvolvimento, de que so ndice a fundao do Instituto Histrico e Geogrfico (1838) , as numerosas publicaes e obras que marcam o incio da historiografia brasileira em bases modernas, com Varnhagen como o seu grande propugnador. A Histria foi uma das atividades intelectuais que maior favor gozaram sob a gide do Romantismo. Mas ela frutificou tambm na voga do romance histrico, Walter Scott, de inspirao nacional, cujo maior representante foi Jos de Alencar. Correspondeu ao desejo de valorizar a temtica nacional em oposio lusa. Em vez dos assuntos da Idade Mdia, sbre os quais recaiu geralmente a tnica do Romantismo europeu, o brasileiro encontrou nas recordaes da histria local, nas lendas do nosso passado e na glorificao do indgena, as sugestes para uma desejada volta s origens prprias, que seriam a fonte de inspirao da arte e da literatura, alis de todo o esprito e civilizao brasileira. A procura do colorido local peculiar conduziu compreenso da literatura popular, onde, para os romnticos, residiria o carter original da criatividade literria, e de onde partiria o veio formador da literatura. As formas tradicionais e folclricas, na frescura de seu lirismo e de sua veracidade, seriam o fator diferenciador da literatura. Em lugar da mitologia clssica, a que deviam a sua moldura ideolgica os imitadores neoclssicos e arcdicos, os romnticos preferiam povoar a imaginao com os mitos e cosmogonias amerndias. Houve um largo intersse por tdas as formas da criao popular, e homens como Celso Magalhes, Jos de Alencar, Slvio Romero, Araripe Jnior, Vale Cabral, Melo Morais, por efeito do relvo que lhes deu o Romantismo, dedicaram-se coleta ou ao estudo do folclore, ressaltando a valia e o significado da poesia popular como forma de tradio, no momento em que a procura de uma tradio vlida constitua objetivo de tda a inteligncia brasileira na nsia pela autonomia e em reao contra a tradio lusa. g) O sentimento da natureza, um dos caracteres essenciais do Romantismo, traduziu-se na literatura brasileira de maneira exaltada., transformando-se quase numa religio. A atrao da natureza ame-

ricana, sua beleza., sua hostil e majestosa selvajaria, exerceram verdadeira fascinao sbre a mente dos escritores, que se lanaram sua conquista e domnio pelas imagens e descries, ao mesmo tempo que se deixavam prender pantesticamente aos seus encantos e sugestes. Como que se desenvolveu um estado de comunho ou correspondncia entre a paisagem e o estado de alma dos escritores, poetas ou romancistas. Se essa inclinao j vicejava fortemente na literatura brasileira, herana da poca do descobrimento e primeira colonizao, que os rcades acentuaram, embora com a imagina%o, por certos aspectos, ainda impregnada de vises clssicas, cora o Romantismo o sentimento da natureza transformou-se num dogma e num culto, fixando-se na literatura de prosa e verso com sua presena absorvente, elevando categoria distintiva o poder descritivo do escritor e mobilizando a capacidade humana de admitir e espantar-se diante da grandiosidade e mistrio da natureza tropical. O romntico instaurou o prazer esttico da paisagem, descobrindo-a defir.; vamente para a literatura, ao mesmo tempo fazendo conhecer o Brasil pelas suas descries. Significado e legado. Fixadas as qualidades especificas do Romantismo brasileiro, ou que no Brasil se tornaram especficas, h lugar para levantar a questo do seu legado e importncia. Do Romantismo, como estilo artstico e como movimento literrio recebeu a literatura brasileira contribuies definitivas. a) Os gneros literrios prpriamente ditos ganharam autonomia e consistncia, no s quanto ao aspecto temtico, mas tambm quanto ao estrutural. A um cotejo com a literatura da era barrca, neoclssica e arcdica, e mesmo com a produo pr-romntica, ressaltar claramente que foi a prpria literatura que, com o Romantismo, deixou de ser instrumento de ao religiosa e moral, ou de torneios de salo, para tornar-se a expresso esttica da alma do povo para o seu supremo devaneio espiritual. Mesmo considerada a sua fuso com a poltica, sobretudo na fase pr-romntica, h no Romantismo um superior senso esttico a comandar a sua criao, em franca evoluo para a autonomia e especialidade de atuao e de formas. a prpria conscincia literria que se configura. Em verdade, realizam os romnticos a criao dos gnerosi literrios com feitio brasileiro. Antes dles, a poesia recendia a impregnaes clssicas e portugusas. Era uma poesia portugusa escrita no Brasil, por homens que aqui residiam, mas que no Reino se formaram e a seu modo sentiam. O Romantismo quebrou tal submisso, introduzindo na literatura a maneira brasileira de sentir e encarar o mundo, de traduzir os sentimentos e reaes. Deu-lhe foros de cidade, reconheceu o direito a essa atitude nova de entrar na literatura. Os escritores no mais seriam obrigados a buscar inspirao na paisagem fsica, social e humana de Portugal. Bastava olharem ao derredor de si, e a literatura que produzissem no era necessriamente inferior dos seus mulos portuguses. De expresso espria, a nova literatura adquiriu direito de cidadania, passando para o plano de igualdade, graas ao esfro autonomista dos romnticos.

-- 27 Tanto quanto a poesia brasileira, consolidou-se nessa poca, de igual modo, a fico. Ou melhor, mais do que isso, a fico brasileira foi criada no Romantismo. Mesmo com o predomnio do descritivo e da pintura sbre o narrativo; mesmo a despeito da voga da histria romanesca, sentimental e idealizada, as condies peculiares do meio brasileiro favoreceram a formao do gnero, na temtica e na estrutura, mediante sobretudo as experincias altamente conscientes de Alencar, qu