Agostinho Da Silva Sobre a Felicidade

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Escolher a Felicidade Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão. Está-se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer; como de um modo geral no viver, em que a única companhia possível é a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente e a dos que neles estão, a de seus santos. Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos: aqui o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder e toda a experiência que vamos fazendo, negativa mesmo para todos, a podemos transformar em positiva. Para o fazermos, se exige pouco, mas um pouco que é na realidade extremamente difícil e que não atingiremos nunca por nossas próprias forças: exige- se de nós, primacialmente, a humildade; a gratidão pelo que vem, como a de um ginasta pelo seu aparelho de exercício; a firmeza e a serenidade do capitão de navio em sua ponte, sabendo que o ata ao leme não a vontade de um rei, como nos Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, revelada num servidor de servidores; finalmente, o entregar-se como uma criança a quem sabe o caminho. De qualquer forma, no fundo de tudo, o que há é um acto de decisão individual, um acto de escolha; posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto. Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

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Texto filosófico de Agostinho da Silva sobre a Felicidade

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  • Escolher a FelicidadeNem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se do. Est-se aqui to sozinho como no nascer e no morrer; como de um modo geral no viver, em que a nica companhia possvel a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente e a dos que neles esto, a de seus santos. Felicidade ou paz ns as construmos ou destrumos: aqui o nosso livre-arbtrio supera a fatalidade do mundo fsico e do mundo do proceder e toda a experincia que vamos fazendo, negativa mesmo para todos, a podemos transformar em positiva. Para o fazermos, se exige pouco, mas um pouco que na realidade extremamente difcil e que no atingiremos nunca por nossas prprias foras: exige-se de ns, primacialmente, a humildade; a gratido pelo que vem, como a de um ginasta pelo seu aparelho de exerccio; a firmeza e a serenidade do capito de navio em sua ponte, sabendo que o ataao leme no a vontade de um rei, como nos Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, revelada num servidor de servidores; finalmente, o entregar-se como uma criana a quem sabe o caminho. De qualquer forma, no fundo de tudo, o que h um acto de deciso individual, um acto de escolha; posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto.

    Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosficos'

    Escolher a Felicidade