Agressividade na Prática

Médica

Prof.ª Luciana KrebsEmail: lucianakrebs@hotmail.com

Asclépio tem 32 anos,é clínico geral e exige muito de si em relação à competência profissional. Muito estudioso, frequenta com regularidade os congressos (embora com sacrifício financeiro) e se esforça para atender seus pacientes da melhor maneira possível. No entanto corre de um lado para outro nos dois empregos que tem, intercalados pelo plantão que dá no pronto-socorro, tentando melhorar sua remuneração. É casado e tem dois filhos, de 5 e 3 anos, respectivamente. Preocupa-se de ajudar a esposa, que é professora de nível médio e trabalha o dia inteiro.

Naquele dia, particularmente, Asclépio estava muito estressado porque deixou o filho mais novo em casa com febre alta, vômitos e diarréia. O ambulatório estava “lotado”. Quase ao final do expediente, irrompe pela porta um rapaz de aproximadamente 30 anos, e de maneira agressiva, joga sua carteira profissional sobre a mesa, gritando:

“Eu pago esta m..., quero ser atendido!”

O primeiro impulso de Asclépio foi responder agressivamente, chamando o segurança e mandando retirá-lo dali. Mas, em um instante, pensou: “O que está acontecendo com ele?” E disse ao rapaz: “Vejo que voce está muito nervoso e deve haver razão para isso. Por favor me espera ali em frente à porta que eu vou terminar de atender esta senhora e já te chamo.”

O rapaz ficou atônito e, automaticamente, retirou-se da sala. Asclépio terminou o atendimento que fazia e chamou-o.

- Então, como você se chama? - José. - José, eu vejo que você está muito tenso. O que está havendo? O rapaz, com lágrimas nos olhos, disse que estava

desempregado há 3 meses, que tentava todos os dias conseguir trabalho e só conseguia alguns biscates que mal davam pra ele, sua mulher e seus 3 filhos comerem.

O mais velho de 8 anos andava muito magro, sem ânimo para nada e, na véspera, havia desmaiado quando voltava da escola. A mulher se queixava que não tinha dinheiro para comprar remédio e que de comida, só arroz, feijão e macarrão.

Asclépio ouviu com atenção. Disse a José que era compreensível sua angústia e que acreditava em uma solução para o caso, já que ele vinha tentando de todo modo conseguir um emprego. Perguntou se aceitava conversar com a assistente social e, com sua concordância, imediatamente telefonou para ela, que se prontificou a receber e encaminhar José.

Agressividade o que é?

• É um componente instintivo do comportamento animal e tem como finalidade a sobrevivência.

• Sua intensidade dependerá da gravidade da situação vivida, bem como da “dose” que o indivíduo traga como traço de personalidade.

Agressividade o que é?

• Os indivíduos mais estruturados emocionalmente sofrem com perdas, doenças, mas raramente chegam ao descontrole.

• Já pessoas imaturas, com precária estrutura de sua personalidade, são habitualmente ansiosas, grosseiras, irritadiças e impulsivas.

Insegurança, medo de ser ludibriado ou humilhado, necessidade de chamar a

atenção (histrionismo) ou de autoafirmação.

Diferentes maneiras de se manifestar: irritação, mau humor, ironia, insultos e

violência física. Pode estar reprimida em pessoas com

dificuldades de expressar suas emoções

Pode estar escondida sob uma atitude de cooperação

ou passividade.

A Agressividade na Prática Médica

• Ter de esperar para marcar consulta ou para ser atendido.

• Ter experimentado situações desagradáveis com atendimentos médicos anteriores.

• Ter consulta interrompida por telefonemas, entrada de funcionários.

• Sentir-se incompreendido, ofendido ou desconsiderado pelo médico.

• Não ter sua licença médica prorrogada ou concedida.• Sentir-se tolhido ou ameaçado pela doença.

O paciente agressivo

A Agressividade do Médico• Pressão para atender maior número de pacientes• Falta de recursos• Regulação de exames por planos de saúde• Gasto de tempo com preenchimento de documentos

burocráticos.• Salários insuficientes, sendo necessário acúmulo de

empregos.• Processos contra médicos.• Ordens judiciais que obrigam a um determinado

procedimento.

A Agressividade do Meio Social

• Os meios de comunicação “bombardeiam” as pessoas com muita informação e alguns pacientes já chegam sugerindo o diagnóstico, provocando conflitos na RMP.

• Reclamações estimuladas por uma mídia sensacionalista.

• Desgaste social da figura do médico na nossa sociedade, responsabilizado pelas deficiências do sistema de saúde.

Como lidar com a agressividade do paciente

• Compreender as razões daquela agressidade.• Manter a necessária tranquilidade e objetividade para fazer um

diagnóstico correto.• Partir da premissa que aquela agressividade tem um sentido e

direção e não passa necessariamente pelo médico.• Orgânica? Ou a maneira da pessoa enfrentar a situação?• Solidarizar com o estado de espírito do paciente e tentar, junto com

ele, “administrar” sua agressividade.• A atitude tranquila do médico, tranquiliza o paciente .• O gesto de apoio e carinho do profissional dá ao paciente um

sentimento de acolhimento e compreensão que o fortalece e acalma.

Como lidar com a sua própria agressividade

• Da mesma forma ocorre com o médico, a diferença é que este deve ter uma boa capacidade de controlar ou neutralizar seus impulsos e ansiedade, para que não interfiram e não prejudiquem o paciente.

Como lidar com a sua própria agressividade

1. Reconhecer que está agressivo2. Detectar as manifestações que apresenta3. Identificar as razões4. Buscar meios para lidar com ela

Deve aprender a “administrar” sua própria a agressividade.

Como lidar com a sua própria agressividade

• Habitualmente jogamos a culpa em um agente externo• O enfrentamento direto e objetivo propicia que

busquemos agir de maneira coerente• O médico poderá, dependendo dos traços de

personalidade, ter dificuldades com alguns tipos de pacientes. O melhor será identificar estes e encaminhá-los.

• Nos dias que não estiver bem consigo, será melhor evitar atender seus pacientes a ser rude, irônico ou distante com eles.