Agricultura biológica - maça

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A A MAÇÃ MAÇÃ BIOLÓGICA BIOLÓGICA QUALIDADE ALIMENTAR E AMBIENTAL QUALIDADE ALIMENTAR E AMBIENTAL Jorge Ferreira · Arminda Lopes · Dulcineia Ferreira · António Jordão Jorge Ferreira · Arminda Lopes · Dulcineia Ferreira · António Jordão Projecto 740 Valorização de variedades regionais de pomóideas através do modo de produção biológico

Transcript of Agricultura biológica - maça

  • AA MAMA BIOLGICABIOLGICAQUALIDADE ALIMENTAR E AMBIENTALQUALIDADE ALIMENTAR E AMBIENTAL

    Jorge Ferreira Arminda Lopes Dulcineia Ferreira Antnio JordoJorge Ferreira Arminda Lopes Dulcineia Ferreira Antnio Jordo

    Projecto 740

    Valorizao de variedades regionais de pomideas

    atravs do modo de produo biolgico

  • 21. Qualidade alimentar1.1. Qualidade alimentar e modo de produo agrcola

    Por ma biolgica entenda-se ma de agri-cultura biolgica, semos produtos qumicos de sntesehabitualmente aplicados noutrosmodos deproduo adubos, pesticidas e hormonas (figura 1.1).

    A qualidade alimentar decorre em grande partedo modo de produo agrcola, das prticas segui-das e dos produtos aplicados.

    Os princpios, fundamentos e prticas da agricul-tura biolgica aprovados na Unio europeia podemser lidos no Anexo I do regulamento (CEE) n. 2092/91,modificado, quer para a produo vegetal (Parte A),quer para a produo animal (Parte B). Em Junho de2007 foi aprovado um novo regulamento comunitrio(Reg. CE n. 834/2007), que substitui o anterior a partirde 1 de Janeiro de 2009 e acrescenta algumas nor-mas e produes antes no abrangidas vinificao,aquicultura, produo de algas marinhas e colheitade plantas silvestres.

    Os fertilizantes autorizados pela legislao comu-nitria, de origem exterior explorao e provenien-tes da agricultura convencional ou da agro-indstria,s podem ser utilizados em complemento das prti-cas culturais referidas e em conformidade com a le-gislao portuguesa relativa a fertilizantes.

    Foto: Jorge Ferreira

    A base para a produo agrcola biolgica o solo, a sua fertilidade, o ecossistema envolventee respectiva biodiversidade, num compromissoentre o ecologicamente possvel e o economica-mente vivel. O solo a base da produo e considerado como um sistema vivo, com muitosorganismos em interaco comas plantas e comas componentes fsica (argila, limo, areia) e qu-mica (nutrientes solveis do solo). O solo, paraalmda cultura, temde ser alimentado. Alimenta-se o solo que alimentar a planta.

    A fertilidade do solo deve ser mantida e/oumelhorada prioritariamente atravs dosmeios dis-ponveis na prpria explorao, principalmente asprticas culturais adubao verde e enrelva-mento, rotaes e consociaes, incluindo plan-tas de raiz profunda, empalhamento do solo,compostagemcomaproveitamento dos resduosvegetais e animais como fertilizantes, mobilizaomnima e empalhamento do solo. Estas prticasso as prioritrias ou de base.

    A proteco fitossanitria das culturas enca-rada duma maneira mais preventiva que cura-tiva, de modo a evitar ao mximo o tratamento,ainda que comos produtos fitofarmacuticos au-torizados.

    Procura incrementar-se a limitao natural, em es-pecial favorecendo os auxiliares inimigos naturaisdas pragas e doenas das culturas e pondo empr-tica vrias medidas culturais preventivas rotaes econsociaes, compostagem, variedades resistentes,solarizao, barreiras de proteco, armadilhas paracaptura.

    S em ltimo recurso se aplicam os produtos fitofar-macuticos (oupesticidas deusoagrcola) autorizados,de origem vegetal, animal ou mineral, em nmero re-duzido, de impacto ambiental e toxicolgico mnimoou nulo e desde que homologados. Emesmo emcasode tratamento aplicam-se, sempre que possvel, meiosde luta biolgica com organismos auxiliares que, em-bora produzidos embiofbricas, tambmocorramna-turalmente, ou luta biotcnica, que pode ser confusosexual com difusores de feromona, captura emmassaou atraco emorte, em substituio da luta qumica.O tratamento s pode ser efectuado depois de se terfeito a estimativa do risco e se ter concludo haver pe-rigo imediato para a cultura.

    Para a proteco contra ervas infestantes (ou ad-ventceas), no podem ser aplicados herbicidas, mas

    Figura 1.1 - Ma Bravo (de Esmolfe) de agricultura biolgica

    Ma BiolgicaMa Biolgica

  • 3sim medidas culturais, como o empalhamento, oumeios de luta manual, mecnica (corte ou sacha),ou trmica.

    Para mais pormenores sobre as tcnicas de pro-duo em agricultura biolgica pode consultar olivro As Bases da Agricultura Biolgica Tomo I: Pro-duo Vegetal (Ferreira et al., 2008).

    1.2. Qualidade nutricional e sanitria1.2.1. Constituintes benficos

    As plantas produzem substncias designadas pormetabolitos secundrios para a sua proteco con-tra pragas e doenas. A quantidade produzida de-pende de vrios factores, incluindo a variedade,o terroir (condies de solo e clima), o estado dematurao e os mtodos de proteco fitossanitriada cultura (Heaton, 2002).

    compreensvel que, na generalidade, se verifi-quem teores mais elevados (10 a 50%) nos alimentosproduzidos em agricultura biolgica, j que subs-tancialmente reduzida a aplicao de pesticidas,obrigando a planta a reagir, desenvolvendo os seusprprios meios de defesa. (Alfoldi, et al., 2006). Deentre os diversos metabolitos secundrios, as desig-nadas substncias antioxidantes so igualmente im-portantes para a sade humana.

    Os polifenis, presentes em vegetais e frutos, sodos exemplos mais estudados. A ma rica em po-lifenis, a nvel da polpa, mas ainda mais na casca.Essa riqueza depende da variedade de ma e domodo de produo.

    Quanto variedade, um estudo comparativo depolifenis totais na polpa de mas de variedadesregionais com variedades comerciais (ProjectoAGRO n. 740), mostra teores mais elevados nas re-gionais e diferentes para cada variedade (figura 1.2).

    No mbito do mesmo projecto, quando compa-radas as mas provenientes de agricultura biol-gica e agricultura convencional, verificou-se amaiorriqueza em polifenis nas biolgicas (figura 1.3).

    Figura 1.2 Polifenis totais da polpa da ma, em diferentesvariedades regionais em comparao com as variedades comerciais

    Golden Delicious e Granny Smith

    Figura 1.3 Polifenis totais da polpa da ma, em variedadesregionais cultivadas em agricultura biolgica (BIO) ou agricultura

    convencional (CONV)

    Um estudo comparativo do teor de flavonol (umpolifenol) em mas de agricultura biolgica e deagricultura convencional, em 10 exploraes agrco-las, ao longo de 3 anos, apresenta valores mdios de2,75mg/100g de matria seca nas mas biolgi-cas e de 2,37mg/100g nas convencionais (Alfoldi,et al., 2006) (figura 1.4).

    Figura 1.4 Teor em flavonol (polifenol antioxidante) emmas de agricul-tura biolgica (bio) e de agricultura convencional (conv), em 10 explora-es agrcolas, ao longo de 3 anos (Weibel, et al., cit. Alfoldi, et al., 2006)

    Na prtica, esta diferena de 16% maior quandose comparam as duas mas, j que a ma biol-gica contm teores mais elevados de matria secae, consequentemente, mais flavonol.

    1.2.2.Substncias indesejveis

    Nos frutos, os antioxidantes e as fibras encontram--se emmaior quantidade na casca, pelo que con-veniente ingerir a mesma. Mas tambm na cascaque se encontrammais resduos de pesticidas, espe-cialmente os de maior persistncia. No o casodos frutos cultivados em agricultura biolgica, poisos poucos pesticidas autorizados tm poucos dias

  • 4de persistncia e degradam-se rapidamente ou sofacilmente lavados pela gua da chuva (caso dosfungicidas de cobre e enxofre), apresentando sem-pre baixa ou nula toxicidade para o homem (Ferreira,et al., 2008).

    1.3. Qualidade organolptica

    Aspecto (cor, forma)

    Umama de agricultura biolgica deve ter a core a forma naturais da variedade (figura 1.5), uma vezque no so aplicadas hormonas de crescimento quemuitas vezes alteram a forma das mas convencio-nais, comalongamentos na zona apical do fruto. Nodeve apresentar sinais de produtos fitofarmacuticosaplicados, embora o enxofre e os produtos base decobre possam manchar a ma quando aplicadosaps o perodo das chuvas. Nesse caso deve proce-der-se limpeza da fruta, o que elimina os resduos,visto que no so autorizados pesticidas sistmicosque poderiam entrar dentro do fruto e que so fre-quentemente aplicados na fruticultura convencional.

    aceitvel uma pequena percentagem (at 5%)de frutos com bichado (lagarta da ma que comeas sementes e que deixa a maior parte da polpa emcondies de ser consumida), dadas as limitaes exis-tentes no combate biolgico desta praga. A confusosexual com difusores de feromona nem sempre fun-ciona e o melhor insecticida biolgico (o vrus da gra-nulose dobichadoque smataaquela lagarta) aindano est homologado em Portugal, apesar de autori-zado em agricultura biolgica na Unio Europeia.

    J as larvas damosca da fruta (mosca doMediter-rneo) no podem estar presentes nos frutos comer-cializados, pois provocam a deteriorao completados mesmos.

    Aroma e sabor

    Ama biolgica cheira e sabe... a ma, e noa eventuais produtos que sejam aplicados.

    O sabor deve ser mais intenso, o que est rela-cionado com amaior concentrao de acares ecidos e com o menor teor de gua.

    1.4. Qualidade do produto transformado

    Sumo

    O sumo biolgico deve ser 100% de ma obtidodirectamente do fruto, e no base de concen-trado dema, mais gua, acar e aditivos, como frequente na produo convencional de sumos.

    Compota

    As compotas de ma biolgica so feitas comacar geralmente integral e obrigatoriamente deagricultura biolgica e, ou no levam aditivos, ouapenas os poucos aditivos autorizados para produtosbiolgicos transformados (Anexo VI do RegulamentoCEE n. 2092/91).

    2. Qualidade ambiental2.1. Qualidade e sustentabilidade ambiental

    A agricultura convencional dos ltimos 50 anostem vindo a dar sinais de perda de sustentabilidadeambiental, econmica e social. O aumento dos cus-tos de produo, a dependncia de factores deproduo no renovveis, a reduo da biodiversi-dade, a contaminao da gua, os resduos qumi-cos nos alimentos, a degradao e eroso do solo,os riscos de sade dos trabalhadores agrcolas, sosintomas dessa perda de sustentabilidade.

    A agricultura biolgica tem de ser sustentvel enesse sentido, reduz a utilizao de factores de produ-o externos explorao, reduz o consumo de ener-gia, mantm emelhora a fertilidade do solo com basenos recursos da explorao (resduos orgnicos, legu-minosas em simbiosecomabactria rizbio fixadoradeazoto, rvores de fruto e outras espcies vegetais emsimbiose commicorrizas fungos) paraaumentar aab-sorode fsforoedeoutros nutrientes em solos pobres.

    No caso do pomar de macieiras, alguns estudoscomparativos mostram a maior sustentabilidade re-lativamente agricultura convencional e integrada. o caso da produo de ma, variedadeGoldenDelicious com o porta-enxerto M9, cuja produobiolgica teve melhor desempenho ao nvel da ma-nuteno da fertilidade do solo, ummelhor balanoenergtico (quadro 2.2) e uma maior rentabilidade(Reganold, 2001).

    Figura 1.5 Ma Riscadinha de Palmela (Cunha) de agricultura biol-gica, com a forma achatada e o riscado rosado tpicos da variedade.

    Foto: Guilhermina Cotrim

  • 52.2. Conservao do solo e eroso

    Oproblemada eroso do solo e da desertificaofsica muito grave a nvel mundial e a continuarassim o problema da fome nomundo ter tendnciaa agravar-se. Um dos especialistas mundiais da ma-tria, David Pimentel, disse que a eroso do solo a maior ameaa para a sustentabilidade da agricul-tura em todo o mundo e, em especial, nos EstadosUnidos (Crosson, 1995), afirmao que, apesar de termais de 10 anos, continua actual.

    Em Espanha a situao no melhor. A Andaluzia a regio mais afectada, em especial na cultura daoliveira. No olival andaluz, estimativas oficiais indicamperdas de solo anuais superiores a 80t/ha (Pastor etal., 1997). Segundo Laguna (cit. Pastor et al., 1999), naprovncia deCrdoba, as perdas anuais de solo estocompreendidas entre 60 e 105 toneladas por hectare.

    Em Portugal, apesar da falta de dados mensur-veis, existem regies com solos muito degradados eerosionados de que destacamos as seguintes, deNorte para Sul Terra Quente Transmontana, Beira In-terior, Oeste, Alentejo e Serra Algarvia.

    Enrelvamento, ou cobertura vegetal do solo

    Em culturas perenes (olivais, vinhas, pomares), acobertura permanente do solo com vegetao her-bcea, semeada ou espontnea, cortada regular-mente e deixando a erva cortada no terrenoconjuntamente com os resduos da poda triturados, a forma mais eficaz de conservar o solo. o enrel-vamento ou cobertura herbcea do solo (figura 2.1).

    Empalhamento, ou manta morta

    No empalhamento, mulching, ou paillage,so normalmente utilizados materiais vegetais, em-bora seja possvel a utilizao de materiais sintticoscomo o plstico. Contudo, apesar de autorizado,este ummaterial a evitar porque, no tendo todasas caractersticas dosmateriais orgnicos, no cum-pre todas as funes destes materiais, designada-mente o fornecimento de nutrientes ao solo.

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.1 Enrelvamento (ervas semeadas + ervas espontneas) empomar de macieiras de agricultura biolgica

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.2 Empalhamento com mato triturado, em pomar de macieirasde agricultura biolgica uma cobertura do solo nutritiva

    Em pomares biolgicos de macieiras faz-se em-palhamento na linha, numa faixa de at 1 metro delargura, com o objectivo principal de evitar as ervasjunto das rvores e de poupar gua, evitando a eva-porao. Alguns resduos orgnicos usados no em-palhamento tm tambm uma funo nutritiva,caso domato triturado, do engao e do bagao deuva ou do bagao de azeitona (figura 2.2).

    2.3. Qualidade da gua

    O principal problema de poluio da gua comorigem em fertilizantes o do azoto, na forma de ni-tratos e nitritos. Seguem-se os fosfatos, os metais pe-sados e alguns compostos orgnicos.

  • 6Azoto orgnico no solvel e no lixivivel facil-mente pela gua (chuva ou rega)

    Em agricultura biolgica parte do problema estresolvido pela no utilizao de adubos mineraisazotados e fosfatados solveis em gua. Ainda assimpode ocorrer em menor escala poluio com nitra-tos de origem orgnica - estrumes, adubos verdes,adubos orgnicos, o que se pode evitar com a cor-recta aplicao destas prticas. No caso do fsforo menos provvel a no ser por arrastamento su-perficial e/ou eroso do solo, j que os fosfato natu-ral no solvel em gua e por isso no lixiviado.

    Monitorizao da gua no solo

    O teor de gua no solo medido a diferentesprofundidades, de modo a evitar o excesso de regae a lavagem de nitratos e outros nutrientes para osubsolo e para os aquferos

    Aplicao de fertilizantes orgnicos com baixoteor de azoto

    A maioria dos fertilizantes orgnicos aplicados empomares de agricultura biolgica so mais correcti-vos para o solo do que adubos para a rvore. A li-bertao de azoto muito gradual e em pequenasdoses, medida das necessidades das rvores. me-dida que os nutrientes se vo libertando dos fertilizan-tes orgnicos em decomposio, eles vo sendoabsorvidos pelas razes das macieiras, evitando-seassim o seu arrastamento para as guas subterrneas.

    No inverno, quando as rvores esto em repouso,h um perodo, at cerca de um ms antes da re-bentao, emque as razes esto inactivas, pelo queo solo deve estar coberto com erva, de modo a queseja esta a absorver os nutrientes solveis do solo.

    Enrelvamento para reter os nutrientes no perodode repouso vegetativo das rvores

    Manter o terreno coberto de vegetao, espon-tnea ou semeada, a melhor maneira de aprovei-tar e reter os nitratos que continuam a libertar-se dosfertilizantes orgnicos (adubos e correctivos) aplica-dos na cultura e que continuam a mineralizar-se nosolo aps a colheita (excepto no Vero em sequeiroem que a mineralizao mnima quando a humi-dade do solo baixa).

    2.4. Alteraes climticas

    Sequestro do carbono (C) no solo

    A agricultura pode e deve contribuir para diminuiras emisses de CO2 para a atmosfera, o que pode

    ser conseguido pela reteno ou sequestro, no solo,de parte do carbono absorvido pelas plantas na fo-tossntese, desde que o teor de matria orgnica(MO) do solo aumente.

    A eroso e, em particular, a perda de matria or-gnica do solo, liberta dixido de carbono (CO2)para a atmosfera, contribuindo para agravar oefeito de estufa e as alteraes climticas. A agri-cultura, que deveria servir para contrariar esse efeito,com o sequestro do carbono no solo, tem vindo nasltimas dcadas a ter um impacte negativo, poisque na maior parte dos solos o teor de matria or-gnica (e de carbono) tem vindo a baixar, devidos ms prticas agrcolas seguidas queima dalenha da poda, lavouras, outras mobilizaes do soloem excesso, aplicao de adubos qumicos em vezde fertilizantes orgnicos, aplicao de herbicidas.

    A perda de 1% (um ponto percentual) de matriaorgnica (MO) no solo, numa camada de apenas

    Quadro 2.1 - Evoluo da MO e do C num pomar de macieiras instaladoem agricultura biolgica em 1998, no concelho de Ferreira do Zzere

    (Ribatejo Nordeste)

    Matria orgnicano solo

    1998( plantao)

    2006 1998 2007

    (%) (t/ha) (%) (t/ha) (t/ha) (t/ha) (t/ha)

    1,50 90,0 2,44 146,4 52,20 84,91 32,71

    Carbono (C)no solo

    Csequestrado

    no solo

    20 cm de espessura, equivale libertao de cercade 20 toneladas de CO2 por hectare. No caso dospomares, com solos mais profundos essas perdas (ouganhos no caso de aumento do teor de MO nosolo), a quantidade de CO2 transferida do solo paraa atmosfera, ou vice-versa, pode ser ainda superior(quadro 2.1).

    No caso deste pomar, em 8 anos, houve um au-mento de carbono no solo de, aproximadamente32,7 toneladas por hectare, o que equivale reten-o de 120 t/ha de CO2, o mais conhecido gs comefeito de estufa e causa de alteraes climticas.

    Este aumento foi conseguido principalmente gra-as ao carbono fixado pelas macieiras (folhas erama da poda), pelas ervas do enrelvamento vege-tal na entrelinha (figuras 2.3 e 2.4) e pelo empalha-mento da linha com casca de pinho, p de cortiae mato triturado. A somar a este carbono h aindaaquele que se mantm no empalhamento e queainda no passou para a matria orgnica do solo,visto que a anlise da terra s mede o que est den-tro do solo (e no por cima dele).

  • 7Utilizao de recursos e eficincia energtica

    O indicador da eficincia energtica assumecadavez maior importncia, pois a agricultura pode contri-buir positiva ou negativamente para o efeito de estufae alteraes climticas, consoante a eficincia ener-gtica alcanada.

    Numestudocomparativodumpomardemacieiras,no estado americano de Washington, em trs modosde produo biolgico, integrado e convencional durante seis anos (1994-1999), a relao energia pro-duzida/energia gasta paraopomar biolgico foi 7%maior que no pomar convencional e 5% superior do pomar de produo integrada, tornando o sis-temade fruticultura biolgicamais eficiente (quadro 2.2).

    2.4. Biodiversidade

    A biodiversidade contribui tambmpara uma agri-cultura mais eficiente e mais sustentvel, nomeada-mente na vertente ambiental. Ela fornece serviosecolgicos, como por exemplo a proteco fitossani-tria contra pragas ou a melhoria da fertilidade dosolo, permitindo economizar energia na produo defactores deproduoe trabalho naaplicao dessesfactores. A biodiversidadepodeconstituir tambmumproduto vendvel, caso de algumas variedades re-gionais de ma, com valor comercial superior s res-tantes, comoo caso da Bravo (de Esmolfe) (figura 2.5),da Riscadinha de Palmela (figura 1.5) e do Pro Pipo(figura 2.6). Podemos falar nestes casos em energia cul-tural biolgica, ou seja a biodiversidade enquantofactor de produo.

    Variedades regionais

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.3 - Corte e triturao da erva e da lenha da poda, com capina-deira de correntes, que ficam sobre o solo em manta morta, com ganhos

    substanciais de carbono para o solo

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.4 Aspecto da erva triturada j seca no pomar da figuraanterior, que vai entrando lentamente na terra pela aco

    das minhocas e doutros organismos do solo

    Quadro 2.2 Gasto energtico em pomar de macieiras em 3 modosde produo, energia produzida nas mas e eficincia energtica

    valores acumulados durante os 6 primeiros anos do pomar (unidadesde energia em Mega-Joules) (Reganold, 2001)

    Parmetro Biolgico Integrado Convencional

    Trabalho (h/ha) 2.921 2.147 2.008

    Trabalho (MJ/ha) 2.337 1.718 1.607

    Mquinas agrcolas (MJ/ha) 73.974 73.560 73.560

    Gasleo (MJ/ha) 173.400 182.919 182.919

    Electricidade (MJ/ha) 10.749 10.794 10.794

    Fertilizantes (MJ/ha) 311 8.901 16.255

    Insecticidas (MJ/ha) 22.159 40.375 42.313

    Fungicidas (MJ/ha) 18.023 12.855 12.922

    Monda de ervas (MJ/ha) 141 13.350 31.931

    Infraestruturas (MJ/ha) 144.188 144.188 144.188

    Total gasto (MJ/ha) 445.328 488.661 516.489

    Total produo (MJ/ha) 526.544 550.076 570.745

    Relao prod./gasto (MJ/MJ) 1,18 1,13 1,11

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.5 Ma Bravo (de Esmolfe) de agricultura biolgica

  • 8Variedades resistentes ou tolerantes

    Para alm de algumas variedades regionais por-tuguesas tolerantes ou resistentes a algumas doenas,nos ltimos 40 anos tm sido obtidas em vrios pases,novas variedades resistentes principal doena damacieira o pedrado. Uma das primeiras variedadesresistentes foi a Querina (= Florina), obtida em Frana(INRA de Angers) em 1970, a partir duma macieira sil-vestre resistente (Malus floribunda ) cruzada com asvariedades comerciais Rome Beauty, Golden Deli-cious e Jonathan (figura 2.7).

    tratamentos contra o pedrado. Note-se que com va-riedades sensveis comoa RoyalGala, aMondial Gala,a Gala Galaxy, a Fuji, a Starking e a Golden Delicious,podem ser necessrios 10 tratamentos com fungicidass contra estadoena, comohabitualmente se faz emfruticultura convencional e mesmo na produo inte-grada.

    Outras variedades resistentes mais recentes quea Querina, podem vir a ser cultivadas em Portugal,mas carecem de experimentao das condiesdo pas. o caso das seguintes:

    vermelhas: Summerfree, Topaz;

    amarelas: Goldrush, Golden Orange.

    H ainda variedades que, no sendo completa-mente resistentes, quando cultivadas em agriculturabiolgica, apresentamnotvel tolerncia aopedrado:

    Bravo (de Esmolfe),Granny Smith (Austrlia, 1850)(figura 2.8), Reineta parda do Canad (= Reinetado Grand Faye) (origem desconhecida, descritaem Frana desde 1821) (figura 2.9), Reineta brancado Canad.

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.6 Ma Pro Pipo de agricultura biolgica

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.7 Ma Querina (= Florina) de agricultura biolgica

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.8 Ma Granny Smith de agricultura biolgica

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.9 Ma Reineta do Grand Faye (= Reineta Parda do Canad),de agricultura biolgica

    Apesar de alguns defeitos, como a falta de cor colheita antes deestar bemmadura, oua tendnciaafarinar com o aumento do perodo de conservaops-colheita, uma variedade apreciada, sumarentaedocequandoemboas condies decolheita econ-servao. Temaindaagrande vantagemdedispensar

  • 9Ervas da cobertura vegetal do solo e da bordadura

    As ervas tm vrias funes teis no pomar. Paraalm da conservao do solo j referida atrs, temosas seguintes (figuras 2.10 a 2.15):

    a fixao biolgica de azoto pelas ervas legumi-nosas em simbiose comabactria do solo rizbio,o que contribui para amelhoria da fertilidade dosolo e para a nutrio das macieiras;

    o incremento das populaes de auxiliares, emespecial insectos e caros predadores e parasi-tides das pragas da macieira;

    o arranjo paisagstico do local.

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.10 Ervas espontneas da bordadura do pomar, refgio de in-sectos auxiliares e... um regalo para a vista

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.11 Ervas semeadas do enrelvamento da entrelinha do pomar trevo resupinado (Trifolium resupinatum ssp. resupinatum) em florao

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.12 Ervas semeadas do enrelvamento da entrelinha do pomar trevo-subterrneo (Trifolium subterraneum ssp. brachycalycinum)

    flor ao alto, embora em geral voltada para o solo

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.13 Ervas semeadas do enrelvamento da entrelinha do pomar trevo-vesicoloso (Trifolium vesiculosum) em florao

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    com vantagem para os auxiliares se as plan-tas forem bem escolhidas;

    proteco microclimtica, diminuio de 30 a50% da velocidade do vento, com protecoa uma distncia at 15 a 20 vezes a altura dasebe; reduo de 25 a 30% da evaporao;elevao de 1 a 2 C na temperatura do solo;

    regulao do sistema hdrico, no solo e nasculturas: maior infiltrao da gua da chuva;

    proteco contra a eroso, retenodeguae conservao do solo;

    produo, de madeira, de frutos, de mel, deplantas aromticas e medicinais;

    reconstruo da paisagem.

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.16 Hera em flor, alimento para insectos auxiliarespredadores de afdeos (piolhos), como os sirfdeos

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.17 Caixa-ninho para chapim instalada emcarvalho cerquinho na bordadura do pomar

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.14 Ervas semeadas do enrelvamento da entrelinha do pomar luzerna anual escudelada (Medicago scutellata) em frutificao

    uma vagem enrolada

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.15 Ervas espontneas do enrelvamento da entrelinhado pomar luzerna anual multiforme, trevagem ou trevo carrapio

    (Medicago polimorpha) com flores e frutos ao mesmo tempo uma vagem enrolada e espinhosa

    rvores e arbustos em bordadura (sebes, floresta)

    Destacamos aqui a importncia das sebes nasbordaduras do pomar, principalmente quanto cons-titudas por vrias espcies (10 ou mais) de rvores earbustos favorveis fauna auxiliar (figuras 2.16 e 2.17).

    As sebes podem ser de diversos tipos e desempe-nhar vrias funes, nomeadamente:

    manuteno do equilbrio biolgico, pelo au-mento da diversidade da flora e da fauna,

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    Referncias bibliogrficas

    Ferreira, J.(Coord.), et al., 2008. As Bases da Agricultura Biolgica

    Tomo I: Produo Vegetal. Edibio, Castelo de Paiva. (www.edibio.com)

    Pastor, M., Castro, J., Humanes, M.D. & Saavedra, M. 1997. La erosion

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    Organismos auxiliares: insectos, caros, aves, morcegos...

    Os auxiliares tm um papel fundamental na limita-odas pragas damacieira, sejam vertebrados (aves,morcegos), sejam invertebrados (insectos, caros).

    o caso do chapim-azul, que na fase de criaoconsome centenas de lagartas do bichado dama. A sua presena no pomar favorecida pelainstalao de caixas-ninho (figuras 2.17 e 2.18), j queso aves que fazem os ninhos em cavidades.

    Os insectos auxiliares so muito diversificados,sendo as joaninhas os mais conhecidos e dos maiseficientes no combate aos afdeos (piolhos) da ma-cieira (figura 2.19). Outros insectos bastante eficazes napredao de piolhos e outras pragas, so as criso-pas, cujas posturas tm o aspecto caracterstico quese pode ver na figura 2.20 e os adultos so insectos aomesmo tempo frgeis e belos (figura 2.21).

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.18 Caixa-ninho com juvenis de chapim-azul, na bordadura dopomar de macieiras

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.19 Joaninha de 7 pintas alimentando-se de piolho verde damacieira

    Foto: Jorge Ferreira

    Figura 2.20 Ovos de crisopa sobre uma ma, de onde saem as larvasque vo comer os piolhos e outras pragas da macieira

    Foto: Ftima Gonalves

    Figura 2.21 Crisopa adulta em flor de funcho,planta favorvel aos insectos auxiliares

  • Capa Joaninha na predao de piolho verde da macieira,Ma Riscadinha de Palmela bio.

    Contracapa Variedades regionais em pomar de agriculturabiolgica em Viseu.

    Editor Agro-sanus Assistncia Tcnica em Agricultura biolgica, Lda.

    www.agrosanus.pt

    Autores Jorge Ferreira, Arminda Lopes, Dulcineia Ferreirae Antnio Jordo

    Colaboradores Sandra Almeida e Clarisse Marques

    ISBN 978-989-95714-0 -2

    Depsito Legal 273231/08

    Data 2008

    Grafismo e Impresso Heragrfica Artes Grficas, Lda.

    LegendasLegendas Ficha TcnicaFicha Tcnica

    Novo Smbolo da agricultura biolgica na UE.

    Smbolo de produto de agricultura biolgicaproduzido em Portugal.