Agroecologia e Sistemas Agroflorestais

38
Rural Sustentável: Agroecologia e Sistemas Agroflorestais DESENVOLVIMENTO

description

Publicaçao do Projeto Plantando Aguas

Transcript of Agroecologia e Sistemas Agroflorestais

  • 1 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    Rural Sustentvel: Agroecologiae Sistemas Agroflorestais

    Desenvolvimento

  • 2

  • 1 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    So Paulo (SP), 2014

    Rural Sustentvel: Agroecologiae Sistemas Agroflorestais

    Desenvolvimento

  • 2TextoPedro Kawamura Gonalves (Instituto Terra Viva

    Brasil de Agroecologia , ITVBA)

    Colaborao no textoDiego Podadera (ITVBA)

    Suzana Marques Alvares (ITVBA)

    Edio de textoIsis Nbile Diniz

    Reviso tcnicaMariana GomesRoberto Resende

    Reviso de textoIsis Nbile DinizMariana Gomes

    Edio de imagensIsis Nbile DinizJulianna Colonna

    Magno Castelo BrancoPedro Kawamura Gonalves

    Roberto Resende

    Projeto grficoGiselly Motta

    IlustraesPatrcia Yamamoto

    Fotos da capaIsis Nbile DinizMariana Gomes

    Pedro Kawamura GonalvesRoberto Resende

    A reproduo desta obra permitida desde que citada a fonte. Esta publicao no pode ser comercializada.

    iniciativa verDe

    Esta publicao faz parte do projeto Plantando guas, elaborado pela Iniciativa Verde em parceria com cerca de 20 instituies e aprovado em abril de 2013 pelo Programa Petrobras Ambiental. O projeto tem como objetivo adequar propriedades rurais do estado de So Paulo de acordo com o que estabelece o novo Cdigo Florestal para recuperar e conservar os recursos hdricos. Aproximadamente, 200 famlias so beneficiadas diretamente nos municpios de Iper, Itapetininga, Piedade, Porto Feliz, Pirapora e So Carlos.Ao publicar esta cartilha, o projeto Plantando guas espera contribuir para o desenvolvimento rural sustentvel, auxiliar os agricultores nessa adequao e inserir a Agroecologia e os Sistemas Agroflorestais nas propriedades rurais.

    patRocnio

    Rua Joo Elias Saada, 106 - Pinheiros, So Paulo (SP), CEP 05427-050Telefone: +55 (11) 3647-9293 - [email protected]

    www.iniciativaverde.org.br

    Patrocnio:Execuo:Parceria:

  • 3 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    sumrio05 intRoDuo

    06 agRoecologia , poR qu? 08 princpios da agroecologia 10 transio agroecolgica

    14 sistemas agRofloRestais 18 tipos de sistemas agroflorestais 26 planejamento de sistemas agroflorestais 29 plantio e manejo de sistemas agroflorestais 32 sistemas agroflorestais em reas ambientalmente protegidas 34 Referncias

    Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

  • 4Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

  • 5 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    introDuo

    O projeto Plantando guas tem como maior objetivo o desenvolvi-mento sustentvel no meio rural considerando as suas diferentes dimenses: ambiental, social e econmica. Para atingir essa meta, ele busca a melhoria da qualidade de vida por meio da instalao de

    saneamento rural com tecnologias de baixo custo e promove a adequao

    ambiental atendendo legislao e a recuperao e conservao das

    florestas nativas.

    Somado a esse trabalho, o Plantando guas apoia atividades produtivas

    que sejam saudveis para a natureza. Esse o caso da agroecologia e

    dos Sistemas Agroflorestais, abordagens de cultivo de alimentos e de outros

    produtos protegendo e melhorando os recursos naturais. Ambos geram em-

    prego e renda, alm de alimentos mais saudveis e uma melhor qualidade

    de vida para as pessoas no campo.

    A agricultura pode e deve conviver em harmonia com o meio ambiente. Com

    o projeto Plantando guas, a Iniciativa Verde procura apoiar essa unio.

    Roberto ResendePresidente da Iniciativa Verde

  • 6Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

    agroecologia, por qu?

  • 7 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    A partir da segunda metade do sculo XX, a chamada agricultura moderna comeou a ser disseminada na Amrica Latina, no processo conhecido como Re-voluo Verde. Nesta forma de pensar a agricultura que passou a ser conhecida como agricultura convencional , o uso intensivo de insumos industriais (adubos e agrotxicos), de maquinrio agrcola e a simplificao extrema dos agroecos-sistemas nos chamados monocultivos so prticas de um pacote tecnolgico que elimina processos e servios ecossistmicos em busca de um ganho de produtividade de algumas poucas espcies.Se por um lado esse ganho foi alcanado, por outro foram criados diversos problemas, como a degradao de solos, a contamina-o ambiental, a reduo da mo de obra no campo, a perda da biodiversidade, a perda de variedades agrcolas selecionadas por populaes locais durante milhares de anos e o abandono de diversas prticas agrcolas tradicionais. Como consequncia, tivemos o aumento contnuo dos custos de produo e

    a perda de autonomia das famlias agricul-toras, o que faz com que muitos continuem deixando o campo. Assim, a agricultura como modo de vida perdeu espao para a agricultura como apenas negcio. Com o reconhecimento desses efeitos da Re-voluo Verde, a agroecologia surge como um campo do conhecimento que tem como objetivo apoiar a transio dos modelos convencionais de agricultura para um modelo de uso do solo e de desenvolvimento rural sustentvel. O intuito construir um sistema ecologicamente equilibrado, socialmente justo e economicamente vivel.A agroecologia surge da soma dos saberes cientficos com os empricos de agricultores tradicionais, fazendo uso, tambm, das agri-culturas conhecidas como alternativas por exemplo, orgnica, biodinmica, natural para propor um conjunto de prticas e princpios a serem aplicados no manejo do Agroecossistema. Este compreende a unidade produtiva e o entorno dela como a casa, as pessoas que o manejam, os animais, a estra-da, o rio do local, etc.

    A g r o e c o l o g i A

    agroecologia, por qu?

    As agriculturas denominadas alternativas surgiram em vrias partes do mundo como resposta aos danos causados pela Revoluo Verde. Em comum, usam resduos orgnicos como fontes de nutrientes de baixa solubilidade e concentrao, eliminam o uso de agroqumicos, realizam a ciclagem de nutrientes e a preservao do solo. Por exemplo, a agricultura orgnica tem seu incio a partir dos trabalhos do pesquisador ingls Albert Howard, autor do livro Um Testamento Agrcola de 1940. Ele foi inspirado por prticas dos agricultores da ndia que aplicavam adubos orgnicos e no usavam fertilizantes qumicos. Por sua vez, a agricultura biodinmica uma linha fundada no incio do sculo XX pelo filsofo austraco Rudolf Steiner. Fortemente ligada antroposofia, a biodinmica enxerga a propriedade como um orga-nismo, valoriza a influncia dos astros nos processos biolgicos e faz uso de preparados biodinmicos (compostos lquidos de alta diluio elaborados a partir de substncias minerais, vegetais e animais) para reativar as foras vitais da natureza, alm de outras prticas. A agricultura natural foi fundada em meados da dcada de 1930 pelo filsofo japons Mokiti Okada e, anos mais tarde, ampliada pelas pesquisas de Masanobu Fukuoka. Seu princpio de que as atividades agrcolas devem respeitar as leis da natureza reduzindo ao mnimo a interferncia sobre o ecossistema e potencializando os processos naturais.

    Linhas de agricultura

    A agricultura comeou a ser praticada pelo homem h mais de dez mil anos. Naquela poca, populaes de todo o mundo iniciaram a seleo de variedades de plantas para seu uso e desenvolveram tcnicas de cultivo tradicionais.

  • 8Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

    princpios Da agroecologia

  • 9 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    Entre as prticas comumente empregadas nas agriculturas de base ecolgica, esto:

    Entre as prticas comumente empregadas nas agriculturas de base ecolgica, esto:

    A g r o e c o l o g i A

    Aes coletivas e construo participativa do desenvolvimento por meio do dilogo de saberes entre agricultoras e agricultores com os tcnicos; Desenvolvimento regional a partir dos recursos locais; Enfoque sistmico no planejamento e no trabalho na propriedade rural; Foco na sade do solo como um organismo vivo que sustenta a produo agrcola e a nossa vida; Foco na sade do sistema e no bem estar dos elementos envolvidos na produo; Busca por uma crescente autonomia da famlia e do sistema produtivo; Segurana alimentar e nutricional; Valorizao da agrobiodiversidade local (conjunto de espcies, variedades e raas utilizadas pelas comunidades); Valorizao da participao de jovens, adultos, mulheres e homens nos processos; Fortalecimento de canais de circulao (venda e troca) direta e solidria dos produtos.

    Manejo racional da vegetao espontnea e manuteno da cobertura do solo; Preservao da estrutura do solo com a reduo da aragem para manter a sade dele e do cultivo; Valorizao, resgate e troca de sementes e de variedades adaptadas localmente (sementes crioulas); Rotao de culturas e adubao verde (plantas utilizadas para melhorar a fertilidade da terra); Promoo da reciclagem de nutrientes dentro da propriedade com adubao verde, reuso e compostagem de resduos; Foco na sade dos cultivares (variedade de espcies vegetais) e das criaes animais a partir de ambientes menos estressantes e de uma nutrio equilibrada; Uso de barreiras de vento, de policultivos, de Sistemas Agroflorestais; Produo local de insumos como composto, bokashi (um tipo de composto orgnico enriquecido com microrganismos benficos), biofertilizantes e caldas naturais para o controle de pragas e doenas; Uso racional dos recursos minerais como ps de rochas (rico em fsforo e micronutrientes); Integrao da criao de animais no sistema; Preservao das matas e de reas de refgio prximas ao cultivo, favorecendo o aparecimento e a manuteno de inimigos naturais das pragas da lavoura; Reduo e eliminao do uso de insumos industriais sintticos (adubos e agrotxicos).

    Alguns dos princpios agroecolgicos so:

    9

    Foto

    : D

    ivul

    ga

    o In

    icia

    tiva

    Ver

    de

    SEMENTES CRIOULAS DO ASSENTAMENTO CARLOS LAMARCA, EM ITAPETININGA (SP).

  • 10

    transio agroecolgica

    Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

  • 11 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    A g r o e c o l o g i A

    O objetivo da transio agroecolgica uma passagem gradual da agricultura con-vencional para um sistema produtivo de base ecolgica. Durante essa mudana, o agri-cultor busca por maior autonomia visando o aumento de sua renda por meio da reduo de custos e agregao de valor sua pro-duo, a valorizao dos aspectos sociais

    No sistema de Organizao de Controle Social (OCS), forma-se um grupo de agricultores que troca experincias e visitas para verificar se cada membro do grupo est cumprindo as normas de produo orgnica. Esta organizao cadastrada no Ministrio da Agricultu-ra e Pecuria e os agricultores passam a fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgnicos. Trata-se de um reconhecimento que permite ao agricultor vender sua produo diretamente em feiras ou mesmo nos programas de compras do governo (Programa de Aqui-sio de Alimento, PAA, ou Poltica Nacional de Alimentao Escolar, PNAE). Neste caso, os produtos no tm um selo especifico de orgnico.

    Para ser considerado orgnico, o alimento deve ser cultivado em um ambiente de produo orgnica onde se utiliza como base do processo os princpios agroecolgicos. Estes contem-plam o uso responsvel do solo, da gua, do ar e dos demais recursos naturais respeitando as relaes sociais e culturais.O sistema de garantia de produtos orgnicos do Brasil tem trs categorias: Organizao de Controle Social (OCS), certificao por auditoria e Sistema Participativo de Garantia (SPG).

    e culturais e a harmonizao da atividade agropecuria com o funcionamento e os ritmos da natureza. Para isso, deve ocorrer uma transformao nas atitudes e nos valores das pessoas envolvidas na atividade rural, no manejo, na conservao dos recursos naturais e nas relaes sociais e econmicas envolvidas.

    Quando o agricultor deseja uma mudana em sua terra e em seu sistema produtivo dentro de uma viso mais integrada e ecolgica ele deve dar incio recuperao da sade do seu sistema produtivo, comeando assim a sua transio agroecolgica . Este processo envolve a racionalizao do uso de insumos externos, a gradual reduo e eliminao do uso de agrotxicos e insumos sintticos, a aplicao de insumos orgnicos e, por fim, um replanejamento ou redesenho do agroecossistema incluindo os princpios e as prticas mencionadas anteriormente.

    No Brasil, a Lei 10.831/2003 rege a comercializao de produtos orgnicos. O sistema de garantia ou de certificao dos alimentos orgnicos uma forma de comprovao da origem deles, necessria, principalmente, quando consumidores e produtores rurais esto distantes. Tambm pode ser feita a venda direta, desde que haja proximidade e confiana entre todos.

    Legislao de orgnicos e mercado

    Organizao de Controle Social (OCS)

  • 12

    No sistema de certificao por auditoria, a avaliao feita por uma empresa certifi-cadora credenciada no Ministrio da Agri-cultura e que segue a legislao brasileira. Em geral, este um servio que cobrado.

    No Sistema Participativo de Garantia (SPG), a certificao de responsabilidade coletiva dos membros (produtores, consumidores, tc-nicos e demais interessados, formando uma Organizao Participativa de Avaliao da Conformidade, OPAC). O agricultor tambm pode vender para outros mercados ou para

    Neste sistema, o agricultor paga sozinho ou forma um grupo para dividir os custos do processo. Assim, os produtos podem ser comercializados com um intermedirio ou via venda direta usando selo prprio.

    intermedirios, tendo o selo de certificao para isso. No h custo direto, mas demanda uma grande responsabilidade coletiva de seus membros e exige o envolvimento e a dedicao do agricultor. Neste sistema, por exemplo, os agricultores devem realizar trocas e vistorias mtuas nas propriedades envolvidas.

    Nos sistemas de OCS e de SPG, criado um espao de troca de conhecimentos e de traba-lhos entre os envolvidos que ajuda no processo de transio agroecolgica de todos. bom lembrar que o agricultor no precisa certificar toda sua propriedade se assim desejar, mas somente parte dela onde feito o manejo orgnico. Isso facilita uma passagem gradual do sistema convencional para o orgnico de produo.

    Atualmente, o mercado de alimentos orgnicos cresce no pas gerando uma valorizao dos produtos oriundos desses agroecossistemas orgnicos e agroecolgicos. Diversas experincias demonstram que produtores que fizeram a transio e conseguem articular a venda, tm tido significativo retorno econmico, principalmente devido reduo de custos externos e agre-gao de valor no produto final. Tem-se a, portanto, uma boa oportunidade para melhoria da qualidade de vida para a agricultura familiar. Mas, alm disso, de responsabilidade de cada um apoiar esse processo para, assim, reduzir as ameaas e os riscos como a contami-nao ambiental gerados pela agricultura convencional (que usa muitos insumos).

    Certificao por auditoria

    Sistema Participativo de Garantia (SPG)

  • 13 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    A g r o e c o l o g i A

    Veja a pgina do Ministrio da Agricultura na internet para saber mais sobre produtos orgnicos e certificao:http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos

    Foto

    : Jo

    o B

    ened

    etti

    FEIRA DE PRODUTOS ORGNICOS E AGROECOLGICOS EM ITAPETININGA (SP).

  • 14

    Foto

    : di

    vulg

    ao

    Inic

    iativ

    a Ver

    de

    sistemas agroflorestais

  • 15 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    Na verdade, Sistema Agroflorestal uma nova denominao para prticas antigas dos povos tradicionais e das famlias de agricultores, somadas a novos conheci-mentos cientficos. Por exemplo, prximo a casas muito comum encontrar reas bastante biodiversas com rvores, hortas e plantas ornamentais. Essas reas podem ser consideradas quintais agroflorestais, onde diferentes plantas so cultivadas juntas e adensadas contribuindo para o bem estar e para a alimentao da famlia.O agricultor familiar pode e deve adotar os

    SAFs para aumentar de forma sustentvel a renda familiar. Alm disso, pode us-los para tirar proveito de suas vantagens potenciais quanto segurana alimentar, sade, qualidade de vida e envolvimento dos filhos na atividade do stio de forma compensadora, melhorando as condies para permanncia da famlia na proprie-dade rural. Os SAFs possibilitam maior equilbrio ecolgico da regio com proteo do solo e dos recursos naturais, diminuio no uso de insumos externos e diversificao da produo.

    Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) so formas de uso da terra e de produo que renem, no mesmo espao, espcies agrcolas (agro), arbreas (florestais) e animais. Todos so manejados em conjunto em um mesmo local, de acordo com os objetivos do agricultor. Os SAFs melhoram as condies socioeconmicas e contribuem significativamente para o aumento da biodiversidade das unidades familiares, colaborando tambm para a adequao legislao ambiental.

    Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    SISTEMA AGROFLORESTAL COM BANANEIRAS E PALMITO-JUARA, EM IBINA (SP).

  • 16

    As florestas so ecossistemas nos quais a natureza cria uma vida abundante e diversa. Elas favorecem a formao do solo saudvel e o controle natural das pragas e doenas das plantaes. Assim, busca-se aprender as caractersticas de seu funcionamento para us-las a favor do interesse do agricultor, no manejo dos agroecossistemas, produzindo alimentos e inmeros outros benefcios. As rvores e os arbustos, elementos tpicos das florestas, podem cumprir diversas funes em uma propriedade agrcola cabendo ao proprietrio utiliz-los com sabedoria. Dentro da viso da agroecologia e dos Sistemas Agroflorestais, busca-se valorizar as funes agrcolas produtivas e as funes ambientais ou servios ecossistmicos prestados pelas espcies vegetais.

    Qual a importncia das rvores para a propriedade?

    Funes produtivasO produtor pode aumentar e diversificar suas fontes de alimento e de renda em diferentes pocas do ano introduzindo uma diversidade de espcies que produzam em distintos pero-dos. Assim, as rvores e os arbustos fornecem uma diversidade importante para o agricultor e para o seu stio. Os produtos podem estar relacionados ao consumo da famlia rural, sua autossuficincia, bem estar ou serem destina-dos comercializao.Lenha, madeira, frutas, pasto apcola (flores

    para abelhas), plantas medicinais, plantas ornamentais, forragem para alimentar ani-mais, palmito, etc. Vrios so os produtos provenientes das rvores com uma vantagem: diferente de outras culturas agrcolas, uma vez formadas, dispensam o cuidado constante. Isto significa que, mesmo se o agricultor der pouca ateno a elas por um perodo, as rvo-res continuaro crescendo e produzindo. Mas, para obter sucesso, fundamental realizar um adequado manejo agroflorestal.

    Foto

    : di

    vulg

    ao

    Inic

    iativ

    a Ver

    de

    BOSqUE DE PALMITO-JUARA.

  • 17 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    Funes ecolgicas

    Vale lembrar que uma planta, geralmente, tem mais de uma funo no sistema. Por exemplo, a amoreira pode adubar o solo, suas folhas podem ser usadas como forragem para o gado, produz frutos, sombra e lenha. O feijo-guandu um timo descompactador do solo, oferece feijo para alimentao, suas folhas podem ser empregadas como forragem para o gado e so adubadeiras de crescimento rpido.

    As rvores trabalham a favor do meio ambiente e do agricultor, que sabe empreg-las com conhecimento. Veja algumas das funes ecolgicas ou servios ecolgicos proporcionados por elas:

    PROTEOdO SOLO E REduO

    dA EROSO

    FERTILIzAO E dESCOmPACTAO

    dO SOLO

    COnTROLE bIOLGICO dE PRAGAS

    SOmbREAmEnTO E PROTEO COnTRA

    GEAdAS

    As folhas e os galhos das plantas protegem o solo da ao do sol, do vento e da chuva. Dessa maneira, o solo retm mais umidade, o que contribui para melhoria de sua qualidade.

    O aumento da biodiversidade cria um ambiente propcio ao controle das pragas e doenas das plantaes, com maior presena de predadores naturais.

    O manejo correto da sombra pode ajudar o agricultor ao diminuir o estresse de plantas e de animais que se adaptam melhor sob ela do que sob o sol pleno. Alis, at o prprio agricultor se beneficia ao trabalhar em locais sombreados em vez de debaixo do sol in-tenso. Alm disso, o produtor ganha uma proteo contra geadas para suas culturas ao manter uma estrutura de copas nas reas agrcolas e uma ajuda para controlar o crescimento de espcies que so infestantes a sol pleno, como alguns capins. Mas essa sombra precisa ser controlada sempre que necessrio por meio do manejo da poda das rvores ou da retirada de uma planta inteira.

    As rvores e arbustos tm razes, proporcionais ao tamanho das copas, com a capacidade de romper camadas de solo compactadas. Alm disso, essas razes puxam nutrientes de camadas profundas, locais onde a maioria das espcies agrcolas no conseguiria alcanar. Com o manejo de poda dos Sistemas Agroflorestais, esses nutrientes incorporados nas folhas, galhos e frutos da planta retornam ao solo junto com a biomassa, entrando em decomposio para formar um hmus nutritivo e importante para reestruturar o solo. Merecem des-taque as plantas da famlia das leguminosas (guandu, ing, tamboril, canafstula e bracatinga) pois so timas adubadoras, conseguindo puxar o nitrognio do ar ao se associarem com bactrias em suas razes. Ao se degradar, a biomassa das rvores tornar o nitrognio disponvel para outras plantas, adubando a terra sem custo para o agricultor.

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

  • 18

    Foto

    : Jo

    o B

    ened

    etti

    tipos De sistemas agroflorestais

  • 19 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    Existem vrias formas de se aplicar os Sistemas Agroflorestais no meio rural atendendo diferentes objetivos e situaes. O aumento da ciclagem de nutrientes, a produo de biomassa, a diversificao de espcies e de grupos funcionais e a sucesso ecolgica (alteraes graduais na composio, na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas resultantes da interao contnua entre os organismos e destes com o ambiente) so alguns princpios. Estes tm como objetivos gerais: a recuperao do equilbrio e da fertilidade dos agroecossistemas, a diversificao de produtos, a gerao de fonte de renda para a famlia e o melhor aproveitamento da mo de obra e dos recursos disponveis.

    Existem SAFs mais simples (com menor biodiversidade e servios ecolgicos) e outros com-plexos, mas todos trazem uma diversidade maior de produtos e de benefcios ambientais. O mais importante, afinal, que o agricultor compreenda e valorize alguns princpios e faa um bom planejamento. A ideia seguir o que cada um considera melhor para si e avaliar como os Sistemas Agroflorestais podem ajudar no curto, mdio e longo prazo.

    Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

    SISTEMA DE POLICULTIVO.

  • 20

    Conhea alguns exemplos de SAFs

    As agroflorestas sucessionais biodiversas so sistemas com uma grande diversidade e densidade de espcies e de grupos funcionais. Por meio delas, busca-se uma similaridade com a dinmica e com o funcionamento da floresta nativa local e uma grande diversidade de produtos.Nela, cada planta ajuda a criar a outra que nascer a seguir (a chamada sucesso ecolgica). A evoluo do sistema ocorre desde um estgio inicial, com plantas rsticas e de crescimento rpido. Estas do espao a outras espcies de ciclo mais longo, transformando gradualmente a rea em um sistema com porte maior e com mais complexidade, conhecido como sistema de luxo.Em cada momento, cada planta ocupa o seu andar (estrato). Ou seja, plantas com tamanhos diferentes ocupam vrios nveis de altura dentro do consrcio. Plantar rvores com distintas alturas e ritmos de crescimento estimula a co-operao, no lugar da competio por luz. Desse modo, um maior nmero de plantas pode ocupar a mesma rea.Vale ressaltar que as plantas iniciais produzem alimentos e criam melhores condies de solo e de clima. Alm disso, ajudam a cultivar as espcies mais exigentes de ciclos de vida mais longo.

    AGROFLORESTAS SuCESSIOnAIS bIOdIvERSAS

  • 21 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    Conhea alguns exemplos de SAFs

    Estes visam diretamente o consumo da famlia. Por isso, normalmente, o grupo de plantas que faz parte dos quintais agroflorestais diverso: ervas como temperos, condimentos, plantas medicinais; plantas olercolas (de horta) e agrcolas como couve, taioba, milho, mandioca; e, espcies tardias como frutferas, palmito e lenha. Alm disso, nos quintais muitas vezes existem espcies utilizadas unicamente com a funo orna-mental ou de gerar sombra.As mulheres costumam ter uma grande participao nos quintais agroflorestais. Eles so fundamentais do ponto de vista social porque conciliam a segurana alimentar atrelada grande diversidade de produtos e baixo custo.

    QuInTAIS AGROFLORESTAIS

  • 22

    So sistemas de cultivos perenes semelhantes a pomares. A diferena est em conter espcies com fun-es produtivas e outras com funes ecolgicas fornecendo sombreamento e reciclagem de nutrientes. As espcies so combinadas para ocupar estratos diferentes e, consequentemente, proporcionar que o agricultor tenha mais plantas por rea. Os pomares agroflorestais valorizam a agrobiodiversidade e os servios ecolgicos, mas tambm podem ter as espcies carros-chefes, ou seja, encontradas em maior quantidade visando produo comercial.

    POmARES AGROFLORESTAIS

  • 23 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    Espcies arbreas, culturas agrcolas e animais podem ser integrados nos sistemas silvipastoris (rvores e pasto) e agrossilvipastoris (agricultura, rvores e pasto). H diversas formas de se fazer essa integrao. As mais comuns so o uso de rvores para a diviso de piquetes no pasto, o plantio de faixas de espcies madeireiras junto com pasto, a introduo de rvores com baixa densidade no pasto, a integrao de animais em reas de cultivos perenes de porte grande e espaamento largo, a formao de pequenos bosques e de bancos de forragem ou de bancos de protena (espcies vegetais com maior teor de protena) com alta densidade de plantas de valor nutricional diferenciado para os animais.Para definir o que melhor empregar, o agricultor deve considerar seus recursos e quais seus objetivos. Estes podem ser: uma melhoria no conforto dos animais, a produo de forragens e de bancos de protenas para os animais ou a recuperao do solo e de sua produtividade. Junto a isso, pode-se inserir outras fontes de renda na rea como madeira, pasto apcola, produo de frutas e culturas anuais.

    SISTEmAS AGROSILvIPASTORIS

  • 24

    Esta prtica agroflorestal consiste na simples introduo de linhas de rvores em faixas, em um espaamento que permita o cultivo de culturas anuais de forma mecanizada entre as faixas. O objetivo principal deste sistema melhorar a fertilidade do solo com baixo custo, alm de criar abrigo para predadores naturais de pragas e quebrar o vento que poderia trazer doenas e secar as culturas plantadas.Todo ano (ou mais de mais de uma vez por ano) as rvores devem ser cortadas e depositadas na faixa onde o trator passa para incorporar esse material ao solo.

    SISTEmA dE ALEIAS

    Conhea alguns exemplos de prticas agroflorestais

  • 25 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    Os quebra-ventos so outra forma de inserir o elemento arbreo na propriedade. Mesmo com pouca mudana na forma de trabalhar a terra, traz vantagens para o agroecossistema impedindo a ao de ventos excessivos que roubam a umidade do solo e das plantas e que trazem doenas para a lavoura. Os quebra-ventos podem incluir outros elementos produtivos como madeiras, frutas, forragem e pasto apcola. Para instalar um quebra-vento, deve-se primeiro identificar a face onde o vento predomina. nela que ele ser plantado. Em propriedades em transio agroecolgica, os quebra-ventos devem isolar a propriedade tambm de vizinhos que aplicam agrotxicos em suas terras.Neste sistema, as rvores so plantadas em faixas. A altura do quebra vento protege uma extenso de at dez vezes o seu tamanho, ou seja, um quebra vento de cinco metros de altura vai resguardar uma faixa de at 50 metros de extenso.Preferencialmente, devem-se introduzir pelo menos duas faixas de rvores de diferentes alturas, para que o efeito de proteo seja mais efetivo.

    QuEbRA-vEnTO

  • 26

    planeJamento De sistemas agroflorestais

    Foto

    : Jo

    o B

    ened

    etti

  • 27 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    A introduo de rvores na propriedade pode trazer diversos benefcios. O produtor pode utilizar rvores em sua propriedade de diversas formas e para inmeras finalidades, inserindo-as como parte de diferentes tipos de sistemas produtivos: criao de animais, produo de frutas, reas de cultivo anual. Porm, importante ressaltar que a agroflo-resta pode representar por si s outra forma de uso do solo na propriedade. Sistemas simples, como os de aleias ou

    silvipastoris, so mais fceis de serem plane-jados do que outros mais complexos como os sucessionais biodiversos. Independente do sistema escolhido, o desenho prvio dos modelos como forma de planejamento uma ferramenta til para o agricultor. O desenho representa os elementos do sistema, sendo til para o planejamento do plantio e ao acompanhamento da agrofloresta, considerando a dinmica do sistema ao longo dos anos.

    O planejamento o primeiro e um dos mais importantes passos para o agricultor que pretende implantar uma agrofloresta. A prtica do planejamento, ainda que para alguns seja um desafio no incio, ajuda o agricultor a melhorar sua estratgia de instalao e, principalmente, a evitar equvocos na distribuio das espcies o que poderia gerar mais trabalho no futuro.

    Foto

    : Pe

    dro

    Kaw

    amur

    a

    RODA DE CONVERSA NA SOMBRA, EM IPER (SP).

  • 28

    veja algumas dicas de como planejar o SAF

    Deve-se fazer um desenho mostrando o espaamento e a distribuio das diferentes espcies no campo.

    Vale fazer smbolos com cores ou com letras diferentes para identificar os distintos ele-mentos.

    Comece o desenho pelas plantas de porte maior, ciclo mais longo e maior interesse, pois o agricultor poder ter que retirar uma ou outra dessas rvores no futuro, sacri-ficando-as, caso estejam muito prximas e competindo entre si. Depois de colocar as plantas mais importantes e de vida longa, so inseridas as plantas de ciclos mais curtos e menor porte.

    importante pensar em diferentes etapas para sistemas sucessionais, aqueles que se modificam com o tempo. Deve ser feito um desenho para visualizar como o sistema dever estar com um, dois, quatro, dez anos. Isso porque, a cada momento, haver um conjunto diferente de plantas ocupando o espao (estratos verticais e espao horizontal) e ser pos-svel pensar quais sero favorecidas em cada momento, quais ajudaro a criar as espcies do ciclo seguinte e quais podero competir entre si em um mesmo momento.

    interessante avaliar o tamanho das copas e, consequentemente, colocar as plantas com copas muito parecidas distantes umas das outras para que no haja competio por luz entre elas.

    importante lembrar sempre das caractersticas das plantas, seu porte e ritmo de cresci-mento, observando, tambm, as posies delas em relao trajetria do sol pela rea. Alm disso, analisar quais vo crescer primeiro e o espao ocupado por suas copas.

    Espcies com a funo de adubao podem ser inseridas no desenho depois, j que sero podadas com alguma frequncia e, assim, podem ser plantadas na rea com maior densida-de. No momento em que estas adubadeiras comearem a sombrear demais as outras plantas realizada sua poda, fornecendo biomassa para o solo e mais luz para o sistema.

    O agricultor pode at reunir em um quadro as caractersticas de plantas para pensar como elas devero ser plantadas, em que poca daro frutos, entre outras.

    As caractersticas do terreno so cruciais e o agricultor sempre conhece melhor a sua rea do que qualquer outra pessoa. Se optar por implantar o SAF em um solo mais degradado, deve considerar que demandar mais esforos e mais tempo para recuperar a fertilidade do local. Ou, se o agricultor dispuser de mais recursos, pode utilizar insumos externos no momento da instalao (como p de rocha e composto, por exemplo), deixando com que o manejo do SAF d conta da melhoria do solo a mdio e longo prazo.

  • 29 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    plantio e maneJo De sistemas agroflorestais

    Foto

    : J

    oo

    Bene

    detti

  • 30

    O preparo da terra e a forma como ser feito o plantio dependero das caractersticas do terreno (tipos de solo, declive) e dos recursos disponveis (ferramentas, mudas, se-mentes, mo de obra, trator).

    Alm do que j foi abordado aqui, pode ser interessante o uso das tcnicas comuns citadas anteriormente na prtica agro-ecolgica, tal como uso de composto, rochagem, caldas, biofertilizantes, etc.O preparo mecanizado do solo facilita o plantio e possibilita a ocupao de

    A poda uma das prticas mais importantes nos Sistemas Agroflorestais. Ela auxilia a renovao do sistema de diversas manei-ras: faz com que as camadas mais baixas recebam a luz e ajuda a depositar no solo a biomassa e os nutrientes das folhas e dos galhos podados. A poda tambm ajuda a guiar o crescimento harmnico do SAF, con-duzindo as plantas em cada estrato no qual elas devem ficar.Para o material podado virar hmus e melho-rar o solo, necessrio pic-lo at que cada

    reas mais amplas. No caso do plantio gradual, de menor escala sem o uso de trator, as vantagens so a reduo do gasto de implantao e o aprendizado gradual com a rea menor para que, em um segundo momento, ela possa ser aumentada.

    galho fique em contato com o cho. Se os galhos ficarem longe do cho, secaro e demoraro mais tempo para se decompor. Dessa maneira, picar os galhos acelera a recuperao do solo onde o SAF est sendo manejado. As podas de conduo para madeiras, com a retirada de galhos laterais, podem manter uma boa qualidade da madei-ra. Existe, tambm, a poda de formao para estimular e para conduzir a frutificao. A poda seletiva uma das prticas mais impor-tantes no manejo de SAFs em capoeiras.

    Alm do plantio feito com mudas, a tcnica de muvuca de sementes mistura de sementes de diversos tipos tambm usada para a realizao de um SAF. Essas misturas podem ser feitas com sementes de culturas em geral (feijo, milho, abbora, feijo-de-porco, guandu), de rvores, madeiras de lei, plantas adubadoras, entre outras. Nesta tcnica, vrias espcies com diferentes funes e de vrios estgios de sucesso so plantadas, misturando-as de acordo com o planejamento de densidade que se pretende obter de cada uma.A inexistncia de custo ou de trabalho para produzir mudas a maior vantagem desse tipo de plantio. Nos casos em que h muitas sementes disponveis, o custo ainda menor. Alm disso, h algumas que se desenvolvem com mais vigor entre as diversas sementes plantadas. Essa diferena demonstra quais se adaptaram melhor s condies locais do solo.Porm, quando no h grande quantidade de sementes melhor produzir mudas para garantir o aproveitamento das sementes disponveis. Neste caso, o espaamento do plantio pode ser mais bem definido, pois, por ter sido plantada como muda, existe maior chance dela sobreviver e se desenvolver.Algumas espcies se desenvolvem melhor por plantio de estaca como o hibisco, a gliricdia, a amora e o capim napier. Cabe ao agricultor analisar quais materiais tm disponveis e, aps esta avaliao, optar por uma tcnica ou por um conjunto delas.

    Plantio de mudas e muvuca de sementes

    Podas

  • 31 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    Algumas espcies so muito rsticas e produtivas podendo ser aliadas do agricultor que quer recuperar uma rea e que se compromete a fazer um correto e frequente manejo (com podas, roada, capina). Porm, podem se tornar invasoras se no forem devidamente manejadas, ou seja, se proliferarem muito rapidamente dominando as reas de cultivo ou de preservao ambiental. Alguns exemplos de plantas que podem ser invasoras: leucena, margarido, pinus, capim braquiria, capim napier e ip de jardim (ipezinho amarelo). O agricultor deve pesquisar sobre qual espcie plantar e verificar o seu correto manejo.

    A agroecologia e os SAFs so reconhecidos por vrias leis ambientais como uma prtica saudvel para o meio ambiente. Por isso, existem diversos tipos de polticas pblicas para in-centivar a aplicao deles, tais como: vantagem nas compras pblicas, crditos com condies mais facilitadas como o PRONAF e a possvel participao em programas de pagamentos por servios ambientais. Estas polticas ainda so recentes, portanto, importante se informar ao fazer projetos e propostas.

    Capina seletivaA capina seletiva uma prtica na qual as plantas que no tm uma funo importante no sistema so carpidas, ficando no sistema as que podem ter um uso no futuro. Para realiz-la, o agricultor deve analisar o que est nascendo espontaneamente em sua rea de SAF e saber valorizar as funes dessas plantas, mesmo que seja para podar futura-mente. Essa ao gerar mais biomassa para o solo ao aproveitar tudo o que a natureza por si s est plantando na rea.

    Importante

    Foto

    : P

    edro

    Kaw

    amur

    a

    MUVUCA DE SEMENTES.

  • 32

    sistemas agroflorestais em reas amBientalmente protegiDas

    Foto

    : Ro

    bert

    o Re

    send

    e

  • 33 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

    As APPs e as RLs, protegidas por lei, so fun-damentais para a manuteno do equilbrio ecolgico nas propriedades rurais. Elas auxi-liam, por exemplo, na proteo dos recursos hdricos, fundamentais para a vida de todos. Alm disso, ambas cumprem outras funes re-levantes: preservar a fauna e a flora, proteger o solo e colaborar com o clima mais estvel na propriedade. Dessa maneira, assegura-se uma qualidade de vida melhor.Diversas experincias comprovam a importn-cia dos SAFs para a recuperao de florestas degradadas em reas protegidas. Existem vrias maneiras de utiliz-los com esse fim.

    A legislao permite que agricultores familiares utilizem as APPs e RLs, desde que seja empre-gada atividade de baixo impacto e sem descaracterizar a rea e nem ser feita a supresso (corte total) da cobertura florestal. Por isso, os Sistemas Agroflorestais biodiversificados se mostram um importante instrumento para a conduo e uso desses locais. Pelo menos metade das rvores plantadas deve ser de espcies nativas. Alm disso, deve-se cuidar da conservao do solo, no queimar a mata e evitar o uso de agrotxicos.Nas APPs podem ser feitos o cultivo intercalar nos primeiros anos, o manejo de poda e a introduo de espcies arbreas frutferas junto com espcies nativas da regio. Porm, proibido o corte raso de madeiras. Apenas permitida a retirada de produtos como frutas, folhas e sementes (chamados de produtos no madeireiros). No caso das Reservas Legais, o plantio e o corte de madeiras so permitidos dependendo de autorizao e do projeto de manejo feito junto com a adequao ambiental da propriedade.

    A lei tambm considera como uma atividade de interesse social quando os agricultores fami-liares implantam e manejam os SAFs em reas de capoeiras finas ou mdias (descritas na lei como estgios inicial ou mdio de regenerao). Nestes casos, tambm deve haver o cuidado com a funo ambiental mantendo as espcies nativas, a conservao do solo e evitando o uso do fogo e dos agrotxicos. Assim tem-se ao mesmo tempo a funo ambiental, a social e a econmica do uso dessas reas. No caso do plantio de espcies nativas da Mata Atlntica deve ser feito um cadastro no rgo ambiental, para legalizar a explorao.

    Uma maneira seria fazer um consrcio tempo-rrio (por at trs anos) de culturas agrcolas com as espcies nativas at que estas criem uma estrutura que permita o estabelecimen-to de interaes ecolgicas propiciando a evoluo da floresta em formao. Nesse sistema, chamado de Taungya (cultivo inter-calar temporrio), o agricultor pode obter renda com a produo, em vez de somente dispensar custos e tempo cuidando de rvores de reflorestamento. Assim, o proprietrio rural aproveita melhor o seu tempo e o espao em recuperao. A lei permite que isso seja feito em propriedades grandes e pequenas.

    Segundo a legislao ambiental brasileira, existem algumas reas dentro de cada imvel que devem ser protegidas. Um exemplo so as encostas de morro, nascentes e beiras de curso de gua as chamadas reas de Preservao Permanente (APPs). As proprieda-des tambm devem manter as Reservas Legais (RLs) para assegurar o uso econmico de modo sustentvel dos recursos naturais, auxiliar a conservao dos processos ecolgicos e da biodiversidade.

    1 - Recuperao de APPs e Reservas Legais

    2 - Para o manejo da mata Atlntica

    s i s t e m A s A g r o f l o r e s t A i s

    A implantao de SAFs fora destas reas protegidas dispensa licenas e registros junto aos rgos ambientais.

  • 34

    referncias

    legislao relacionaDa

    CAPORAL, F.R. & COSTABEBER, J.A. Agroecologia : alguns conceitos e princpios. 2 ed. Braslia: MDA/SAF/DATER, 2007.

    GTSCH, E. Importncia dos SAFs na Recuperao de reas Degradadas. In: Anais do IV Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. Ilhus, Bahia, 2002.

    MAY, P. H. (Coord.), TROVATTO, C.M.M., DEITENBACH, A. (Org.). Manual Agroflorestal para a Mata Atlntica. Braslia : Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, Secretaria de Agricultura Familiar, 2008. 196 p.

    MILLER, R.P. Construindo a complexidade: o encontro de paradigmas Agroflorestais. Instituto Olhar Etnogrfico, Braslia (DF). 2009

    PRIMAVESI, A.M. Agricultura sustentvel: manual do produtor rural. So Paulo: Nobel. 1992.

    Lei Federal 10.831, de 2003 - Agricultura orgnica; Lei Federal 11.428, de 2006 - Lei da Mata Atlntica; Lei Estadual 13.798, de 2009 - Poltica Estadual de Mudanas Climticas de So Paulo; Lei Federal 12.651, de 2012 - Lei Florestal (ou novo Cdigo Florestal); Lei Federal 12.854, de 2013 - Fomento e incentivo para recuperao florestal e a implantao de sistemas agroflorestais.

    Foto

    : P

    edro

    Kaw

    amur

    a

  • 35 Desenvolvimento RuRal sustentvel: agRoecologia e sistemas agRofloRestais

  • 36

    Rua Joo Elias Saada, 106 Pinheiros, So Paulo - SP CEP 05427-050Telefone: (11) 3647-9293 [email protected]

    Patrocnio:Parceria: