Alexandre Machado - Preconceitos Sobre a Filosofia Analítica

7/25/2019 Alexandre Machado - Preconceitos Sobre a Filosofia Analtica

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21/01/2016 Problem as Fi losficos: Preconceitos sobre a fil osofia analtica

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Heidegger

Preconceitos sobre a filosofia analtica

Toda interpretao se funda na compreenso. O

sentido o que se articula como tal na interpretao e

que, na compreenso, j se prelineou como

possibilidade de articulao. Na medida em que a

proposio (o "juzo") se funda na compreenso,

representando uma forma derivada de exerccio de

interpretao, ela tambm "possui" um sentido. O

sentido, porm, no pode ser definido como algo que

ocorre em um juzo ao lado e ao longo do ato de

julgar. No presente contexto, a anlise temtica da

proposio visa vrias coisas.

Em primeiro lugar, pode-se mostrar na proposio de

que maneira a estrutura-"como", contitutiva de toda

compreenso e interpretao, suscetvel de

modificao. Com isso a compreenso e interpretao

aparecem com maior nitidez. Em segundo lugar, a

anlise da proposio ocupa um lugar privilegiado na

problemtica de uma ontologia fundamental, uma vez

que no incio decisivo da antiga ontologia, somente o

logos [em grego no original] constitua o fio condutorde acesso ao ente propriamente dito e da determinao do ser dos entes. Por fim, h

muito tempo a proposio vale como o lugar prprio e primrio da verdade. Esse

fenmeno acha-se to intimamente acoplado ao problema do ser que a presente

investigao ter de se deparar necessariamente, em seu curso, com o problema da

verdade. Ela j se encontra, embora implicitamente, na dimenso desse problema. A

anlise da proposio tambm pretende preparar oadvento desta problemtica.

Atribuiremos a seguir trs significados palavra proposio. So significados auridos do

fenmeno por ela designado, inter-relacionados entre si e que, em sua unidade, delimitam

a estrutura completa da proposio. [Martin Heidegger, Ser e Tempo, 33 (Petrpolis:Vozes)]

Por que estou citando essa passagem de um texto de Heidegger? Porque concordo com ele? No.Porquediscordo? Tambm no. No tenho certeza de ter entendido tudo o que ele diz nessa passagem.Meu objetivo com essa citao apresentar um caso paradigmtico de contra-exemplo de umpreconceito muito difundido na academia: que "filosofia da linguagem" sinnimo de "filosofia analtica"ou ao menos de "filosofia analtica da linguagem". Ernst Tugendhat, que foi um estudioso de Heidegger,chama um de seus livros Lies Introdutrias Filosofia Analtica da Linguagem (Iju: Uniju Tugendhat

dedica o livro memria de Heiddeger). Ele tem o cuidado de colocar o qualificativo "analtica", o quedeixa espao para se pensar em uma filosofia da linguagem no analtica. E acho que o 33 de Ser eTempo, o trecho inicial do qual eu citei acima, bem como o 34 ("Dasein e discurso. A linguagem"),exemplificam bem essa alternativa, sem entrar no mrito de se uma boa ou m alternativa. Heidegger
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est se propondo fazer uma anlise da proposio e est dizendo que essa anlise ocupa um lugarprivilegiado na principal tarefa que ele realiza em Ser e Tempo, e que a principal tarefa da sua filosofianessa poca. Essa anlise no uma atividade filosfica? E seu tema central no a linguagem? Se sim,ento o que falta para se admitir que se trata de uma filosofia da linguagem?

Outra afirmao importante de Heidegger que a linguagem era entendida desde os gregos (os queiniciaram a ontologia antiga) como o fio condutor da ontologia. Essa tese atribuda aos gregos (correta ou

incorretamente) muito prxima da afirmao que a filosofia, mesmo a metafsica, deve ser feita pormeio da anlise da linguagem, uma tese geralmente atribuda aos filsofos analticos (mas que nemtodos os filsofos analticos aceitam). Portanto, segundo Heidegger, essa tese, que ele combate em Ser eTempo, no passou a ser defendida apenas com o advento da filosofia analtica no final do sc. XIX. Ouseja, de acordo com Heidegger, de h muito tempo a filosofia atribui importncia filosfica crucial anlise da linguagem.

Esse contra-exemplo paradigmtico do preconceito referido acima serve para mostrar que, seja qual for adiferena que haja entre filosofia analtica e filosofia continental, se h alguma, essa diferena no umadiferena de temtica. Mas h contra-exemplos anlogos de preconceitos anlogos: o preconceito que

epistemologia, filosofia da cincia, filosofia da lgica e filosofia da matemtica so disciplinas apenas dafilosofia analtica. Plato e Kant, por exemplo, no tinham uma reflexo espistemolgica (que influencia osdebates at hoje)? Heidegger no tinha uma reflexo filosfica sobre a natureza da cincia? Hegel notinha uma filosofia da lgica? Husserl, o professor de Heiddeger, no tinha uma filosofia da matemtica?

Mas h um outro preconceito: que filsofos analticos no esto interessados em histria da filosofia. Seisso fosse o caso, eles no estariam interessados na histria da filosofia analtica. E se no estivessesinteressados nisso, ento eles teriam que entrar no debate sobre os problemas que eles querem tratarsem saber como esse debate se desenrolou at sua insero no mesmo. Mas difcil ver como isso seriapossvel. claro que h muitos filsofos analticos que fazem histria da filosofia, e de alta qualidade.

Talvez eles no faam a histria da filosofia do modo como os filsofos no-analticos fazem, ou nosobre os autores preferidos dos filsofos no analticos. Mas isso j outra questo. Bertrand Russell,escreveu um livro sobre Leibniz. Bernard Williams escreveu um livro sobre Descartes. A tese dedoutorado de Donald Davidson sobre Plato. Gilbert Ryle escreveu um livro sobre Plato. PeterStrawson escreveu um livro sobre Kant. E hoje em dia a h muitos livros de filsofos analticos sobrefilosofia medieval. Isso so apenas uns poucos contra-exemplos paradigmticos desse ltimopreconceito. Mas h ainda filsofos analticos que estudam Hegel, Marx e outros filsofosparadigmaticamente no-analticos. Entre esses estudiosos de Hegel esto Robert Brandom, JohnMcDowelle Peter Hylton, esse ltimo um grande historiador da filosofia analtica e autor de um artigo quefaz parte do Cambridege Companion to Hegel. A abordagem analtica de Marx deu origem ao que se

costuma chamar de marxismo analtico.

Eu abordo brevemente um outro preconceito contra a filosofia analtica nesta postagem. Trata-se depensar que os filsofos analticos resolvem problema filosficos como matemticos, de modo puramenteformal, aplicando um algoritmo a um conjunto de dados para obter um certo resultado...

Lutar contra esses preconceitos no fcil! s vezes a gente no sabe nem por onde comear...

Desidrio Murcho oferece uma anlise das causas de tais preconceitos, em Compreender as crticas filosofia analtica, e mostra a importncia de se compreender essas causas para se compreender melhor

esses preconceitos e, com isso, poder lidar melhor com eles.

Termino com a sugesto de dois textos importantes para ajudar a compreender a filosofia analtica:
http://criticanarede.com/html/ed2.htmlhttp://problemasfilosoficos.blogspot.com.br/2013/06/filosofia-e-logica-formal.htmlhttp://books.google.com.br/books?id=iFzYDg7TdREC&dq=analytical+marx&printsec=frontcover&source=bl&ots=LIDRKGJvv6&sig=vCTbzx_1nVutz1_jZPPmmBD1AOI&hl=pt-BR&ei=-tYgSsbnMcKGtgfW6sjFBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6https://books.google.com.br/books?id=u5Yw2pjjfNkC&pg=PA445&lpg=PA445&dq=peter+hylton+hegel&source=bl&ots=7_bKHGFHPg&sig=n566Ju_2dRo1UQivuXQX5HR_bUg&hl=pt-BR&sa=X&ved=0CCkQ6AEwAWoVChMIvYWh_JHNyAIVQ46QCh2IOQyp#v=onepage&q=peter%20hylton%20hegel&f=falsehttp://www.uic.edu/depts/phil/bios/hylton.htmhttp://www.pitt.edu/~philosop/people/mcdowell.htmlhttp://www.pitt.edu/~rbrandom/http://www.amazon.com/Bounds-Sense-Essay-Critique-Reason/dp/0415040302/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1243665565&sr=1-1http://www.amazon.com/Platos-Progress-Gilbert-Ryle/dp/052109982Xhttp://plato.stanford.edu/entries/davidson/http://www.amazon.com/Descartes-Project-Enquiry-Bernard-Williams/dp/0415356261/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1243665058&sr=1-1http://www.amazon.com/Philosophy-Leibniz-Critical-Exposition-Appendix/dp/0851247423


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Franois Recanati, "Pela Filosofia Analtica".Timothy Williamson, "Depois da viragem lingustica?".
http://criticanarede.com/html/filos_viragem.htmlhttp://criticanarede.com/html/filos_pelafil.html

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