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Dr. Mareio

Alimentação para um Novo Mundo Ãr

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A consciência ao se alimentar como garantia para a saúde e o futuro da vida na Terra

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Dr. Mareio Bontempo

Alimentação para um

Novo Mundo A consciência ao se alimentar como garantia

para a saúde e o futuro da vida na Terra

E D I T O R A R E C O R D R I O D E J A N E I R O • S Ã O P A U L O

2003

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Este trabalho foi inspirado no exemplo de vida de Roberta, minha esposa, e a ela é dedicado,

com todo o meu amor e gratidão.

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SUMÁRIO

Prefácio (por Michio Kushi) Apresentação — Contribuindo para um mundo melhor

PARTE I

1. Introdução Por que adotar uma alimentação vegetariana Por que não comer carne

2. Um cardápio industrial: fast food, açúcar, corantes, irradiados, transgênicos, etc. Como pagamos a conta... Alimentos sintéticos e aditivos químicos — O perigo disfarçado Agrotóxicos — Dá para viver com eles? O que há de errado em consumir leite e seus derivados A polêmica dos alimentos transgênicos Alimentos irradiados O que mais evitar na alimentação industrializada

3. Comendo bichos — Quem é o animal? Histórias para boi morrer É a ave um vegetal? Quem é o porco? Os bichos embutidos Comer peixe é uma alternativa? Conclusões sobre a covardia em relação aos animais Resultados dos prazeres da carne

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MÁRCIO BONTEMPO

Curiosidades do mundo dos criadores de animais

Direitos dos animais

Animais de testes de laboratório — As piores atrocidades O que podemos fazer para evitar os testes com animais Declaração Universal dos Direitos dos Animais Como ajudar os animais — Um resumo

PARTE I I

Pesquisas atuais sobre saúde e notícias a favor do vegetarianismo

Consumo de carne e osteoporose

O vegetarianismo nas religiões e filosofias

Ajude a salvar e a melhorar o mundo O impacto ambiental do consumo de animais

Como obter os nutrientes necessários Vitaminas

Proteínas e aminoácidos Minerais e microminerais mais importantes Cardápio para reposição de proteínas, cálcio, ferro e zinco

para homens e mulheres entre 25 e 60 anos Fontes vegetais de nutrientes Alimentação adequada para gestantes Alimentação adequada para atletas e desportistas Alimentação para pessoas em fase de crescimento Como prevenir carências nutricionais através de suplementos

— Um suplemento "veggie" Os bons alimentos 'Alimentos funcionais" — Uma novidade muito antiga

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

Cereais integrais Verduras, iegumes, raízes e turbérculos Frutas — A comida que é o melhor remédio Brotos germinados Enzimas

10. Dieta para um novo tempo Dicas gerais para uma boa alimentação

í I. Receitas práticas, nutritivas e deliciosas

Sumário das receitas

12. Endereços úteis, sites e e-mails afins

13. Obras consultadas e recomendadas

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PREFÁCIO

De vez em quando surgem livros que nos impressionam e mudam profunda-mente a nossa vida. Existem diversos exemplos, como A Modest Proposal, de jonathan Swift, no início do século XVIII, o Erewhon, de Samuel Butler, no sé-culo XIX, o Macrobiótica Zen, os livros de Georges Ohsawa, já no século XX , D/et For a New America, de John Robbins, que há poucos anos produziu uma verdadeira revolução dietética em prol do vegetarianismo consciente na Amé-rica do Norte.

Este novo livro de Mareio Bontempo segue essa tradição, oferecendo ao consumidor moderno uma quantidade de informações úteis e de primeira li-nha quanto aos nossos hábitos alimentares. O estilo levemente irônico, mas embasado em sua ciência médica, confere um tempero especial à obra, que acaba tratando a questão do vegetarianismo de modo consistente. O lado sa-tírico do livro tem notável importância, e funciona como uma crítica aos valo-res inversos da sociedade. Ainda mais agora, quando surgem obras antagônicas à defesa de uma nova vida, como a recém-lançada nos Estados Unidos Saving

the Planet with Pesticides and Plastic (Salvando o planeta com pesticidas e plás-ticos), que na verdade é uma reação infundada e desesperada da indústria far-macêutica e da agropecuária industrializada contra o movimento em prol da alimentação orgânica e da saúde holístíca.

Alimentação para um novo mundo apresenta uma análise penetrante dos hábitos alimentares e do comportamento da sociedade moderna, alertando o leitor para a sua responsabilidade quanto ao futuro do mundo. Em uma abor-dagem muito sensata e divertida, o autor propõe a restauração da saúde mun-dial em todos os níveis possíveis: individual, familiar, social e ambiental.

Como médico, Mareio Bontempo apresenta uma profunda, inusitada e incomum compreensão da medicina moderna, sendo que a sua descrição sobre o efeito dos alimentos industrializados na saúde humana, bem como o das drogas, remédios e produtos químicos, presentes no meio ambiente e utiliza-

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dos pelo homem (tanto em si mesmo como nos pobres animais), torna a lei-tura mais que excitante e motivadora de reflexões.

O livro todo é uma crítica bem fundamentada à dieta moderna, rica em produtos animais, com elevados teores de gorduras saturadas e colesterol, açúcar refinado, sal industrial, fast food e alimentos altamente processados (in-cluindo irradiados e transgênicos), apontados como agentes da onda de doen-ças degenerativas que ameaçam e têm prejudicado a saúde individual, familiar e da humanidade.

Assim como Hipócrates, Hufeland, Sagen Ishizuka, Georges Ohsawa e outros pioneiros, Mareio Bontempo resgata nesta obra o nosso potencial de autodeterminação e autocondução, ao mesmo tempo em que encoraja o lei-tor a assumir a responsabilidade sobre a sua saúde e o seu destino. Lendo as suas advertências e sugestões, nós nos sentimos capazes de fazer valer o nos-so direito de liberdade em relação às nossas escolhas, de ser naturalmente sau-dáveis neste planeta e juntos criar, enfim, um mundo de saúde e de paz.

MICHIO KUSHI* Brookline, Massachusetts

Junho de 1999

*Michio Kushi é atualmente o mais importante representante da alimentação baseada na filosofia do Principio Único e da Ordem do Universo. Foi discípulo direto de Georges Ohsawa e tornou-se, principalmente nos Estados Unidos, o grande mestre inspirador do desenvolvimento de uma ali-mentação mais consciente. Com mais de cem obras publicadas em cinqüenta anos de dedicação à causa da Macrobiótica. Michio é hoje procurado por pessoas do mundo inteiro, em busca dos seus ensinamentos. Fundador do Kushi Institute. em Becket, Massachusetts, EUA, e do movimento paci-fista One Peacefui Worid, já fez milhares de discípulos, entre elesjacques de Langre (Do-ln), Herman Aihara e Michei Abshera (Georges Ohsawa Macrobiotic Fundation), Wiflian Dufty (autor do livro Sugar Blues), John Robbins (autor de Diet for a New America), Flávio Zanata (Brasil) e o autor desta obra, seu discípulo direto, Mareio Bontempo.

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APRESENTAÇÃO — CONTRIBUINDO PARA UM MUNDO MELHOR

'A paz no mundo, ou em qualquer outra esfera, resultará, principalmente, de nossa atitude mental, O vegetarianismo pode nos proporcionar essa

atitude adequada à paz... Ele expressa um modo de vida aprimorado que, se for praticado universalmente, poderá conduziras nações a um convívio

melhor, mais justo e mais harmonioso."

UTHANT

O sonho de um mundo perfeito, sem violência, fome, dores ou sofrimentos, é, certamente, aígo que qualquer cidadão deste pequeno planeta almeja. Hoje, centenas de milhares de movimentos — sejam de cunho ambientalista, social, religioso, filosófico, caritativo, governamentais ou populares oficiais ou não — dedicam-se a esse fim. Grandes quantias, compostas de verbas de várias ori-gens, são investidas no combate à fome, às doenças, às calamidades naturais, etc. Tudo voltado para a luta por um mundo melhor. Apesar disso, mesmo com resultados razoáveis, continuamos a assistir, a ler, a ouvir histórias sobre violên-cia, fome, dor... Quer dizer, o mesmo de sempre e com alguns agravantes es-pecíficos e gerais.

O esforço global pela paz, por exemplo, que envolve setores variados da comunidade mundial, parece frágil e impotente diante de fatos como os re-centes ataques terroristas aos Estados Unidos. Não nos referimos aos ata-ques propriamente ditos, que representam um ato deplorável e abjeto, mas a reação de um presidente da república, incitando o revanchismo e o ódio e usando o "orgulho nacional ferido", como justificativa para dar vazão a impul-sos neuróticos obscuros e a escusos interesses imperialistas, bélicos, ou sabe-se lá o que mais. Os mesmos interesses e impulsos que criaram desigualdades socioeconómicas entre as nações, provocando a ira dos esfomeados ou injustiçados. Dessa forma, desfalecem as nossas esperanças pela paz e por um mundo diferente.

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No entanto, em todo esse contexto uma importante reflexão raramente é lembrada. Mesmo que determinados e fortes, os movimentos são sempre iniciativa de um grupo e não de um indivíduo. A Grande Revolução, a única que pode realmente mudar o mundo, é a revolução pessoal. A única que jamais poderá sofrer repressão, e que aponta para uma "desidentificação" progressi-va com os valores do mundo material e da cultura vigente alienante. É o ho-mem negando aquilo que historicamente o manteve afastado da "verdade verdadeira" (diante de tantas "verdades" inventadas pela mentira), tornando-o incapaz de centralizar a atenção em si mesmo. Ao contrário, inventaram-se milhares de formas de distrair a sua atenção, com milhares de atrativos, mira-gens e promessas vãs. Desde a idéia da riqueza, das vantagens do conforto, da luxúria, do poder, etc., o homem tem sido iludido. Ainda que as mais profun-das filosofias, sempre disponíveis, tenham revelado que as miragens do mun-do só levam, no meio ou no final da história, à dor e ao sofrimento, insiste-se em buscar essas falácias.

Está bem claro que a ambição humana, o egoísmo e o desejo são a base de toda dor e de tudo o que acontece de ruim no mundo. A pobreza nada mais é do que a antítese da riqueza, uma vez que os seus valores e essências são exatamente os mesmos. Um homem pobre sonha em ter dinheiro, e luta, como se isso fosse resolver todos os seus problemas. No outro extremo, no entanto, os valores se revelam iguais, pois o que é aparente solução para o pobre é problema real para o rico (quanto mais se tem mais insensível se fica e mais complexa se torna a vida), E nesse círculo vicioso, as pessoas, em todas as épocas e circunstâncias, são envolvidas.

A "luta pela vida" embruteceu o homem. Tornou-o insensível. Deixou-o tão centrado na própria angústia de existir que anestesiou a sua capacidade de reflexão e discernimento. Hoje ele é um agressor da natureza. Acha que pode ser dono da terra, dos animais e de tudo o que existe. Exaure da natureza matérias-primas que um dia não mais existirão, devolvendo-as em forma de venenos e toxinas capazes de pôr em risco a vida como um todo.

Não há mais solução centralizada em ações de grupos ou grandes movi-mentos sociais ou religiosos (neste setor, os choques entre as diversas seitas, crenças e o fracasso do ecumenismo já selaram esse caminho). Mesmo que Jesus, Buda, Krishna ou outros avatares se manifestassem agora, na tentativa de "salvar" a Terra do colapso, teriam de enfrentar sérias dificuldades e talvez nada conseguissem.

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

A revolução pessoal, isto é, a auto-reflexão ou mudança interior, é a nossa única saída. Começando pela "desidentificação", ela produz resultados a partir da premissa de que, "se eu quero mudar o mundo, devo começar por mim mesmo". Ato contínuo, é só procurar ver em si mesmo como o mundo e os seus valores estão ligados. Se observarmos os hábitos, o comportamento, o tipo de diversão, de atividades, etc., vamos verificar que "nós somos o mun-do". A chave para a transformação está em nós mesmos. Isso se torna claro à medida que praticamos a auto-observação.

Muitas filosofias que apontam em direção ao autoconhecimento, à supe-ração do universo conceituai, à compreensão do funcionamento da mente trivial e do ego material mundano (formado, moldado e condicionado desde a mais tenra infância) podem nos ajudar nesse caminho. A maior parte delas mostra que os "grandes problemas" existenciais não podem ser resolvidos, pelo me-nos como a nossa mente trivial imagina e muito menos através de quiméricas "grandes soluções". Convém ressaltar que não estamos falando de "auto-aju-da", mais uma falácia ineficaz e decepcionante, mais um artefato da mente discriminativa, ou seja, muito mais um treinamento para o infeliz acreditar que é feliz...

Precisamos apelar para a dialética relativista e entender que, para "grandes problemas", precisamos de pequenas soluções. Assim como tudo o que há de aparentemente complexo na vida é composto por uma teia de pequenas coisas infinitamente menores e as grandes verdades, uma vez compreendidas, mos-tram-se extremamente simples, também é possível simplificarmos a nossa vida.

Portanto, se queremos um mundo mais suave, tranqüilo, saudável, o ca-minho parece ser o oposto ao da intelectualização ou da adoção, de um siste-ma racional ou fundamentado em teorias complexas, best sellers, revelações, preceitos, rituais, hipóteses, correntes de pensamento, profetas, gurus, etc.

Tudo o que pode alienar-nos de nós mesmos, despertando nosso poder pessoal de discernir e experienciar a vida e de captar as impressões do exterior de forma completamente pura, sem os filtros dos "pré-conceitos", das idéias pré-formadas e de quaisquer informações registradas, nos levará a trilhar o autocaminho. Teremos aí a única chance de ser autênticos e de fazer com que as impressões absorvidas tenham uma legitimidade indelével e irrefutável.

Em termos práticos, então, como isso funciona? O autocaminho é deter-minado pelo próprio autocaminho. Não existem caminhos; eles são feitos ao se caminhar.... com os próprios passos.

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Mas dicas podem ser dadas. Se quiser tentar comece pelo mais simples em sua vida, o mais básico, que

é o tema deste trabalho: a sua comida! Se observarmos bem, o alimento é a coisa mais necessária à manutenção

do corpo. Comer é o primeiro ato da nossa vida depois de respirar. Hoje os habitantes da Terra não se alimentam mais obedecendo às leis da

natureza, mas aos seus desejos e aos seus impulsos de satisfazer sensações. Seleciona-se o alimento muito mais com base no prazer que ele pode propor-cionar do que na sua capacidade nutritiva ou nos seus benefícios. E a indústria alimentícia trabalha justamente em cima disso, criando miríades de formas de atrair e incrementar o consumo.

Podemos afirmar que atualmente temos apenas dois tipos de alimentação: a burra, centrada apenas no prazer oral excessivo, e a inteligente, baseada em escolhas esclarecidas e saudáveis. Infelizmente, a primeira não afeta somente os seus adeptos — cerca de 98% da população mundial —, provocando pro-blemas de saúde já tão conhecidos: doenças cardiovasculares, câncer, degene-rações, mal de Parkinson, Alzheimer, radicais livres, osteoporose, etc., etc. (Há cerca de dez anos, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos anunciou que 68% das doenças modernas tinham como causa a dieta industrializada.) Ela afeta a vida como um todo, a começar pelo meio ambiente e pela herança genética (o genoma) das futuras gerações.

Portanto, quando observamos alguém saboreando um hambúrguer com uma Coca-Cola, ou algo similar, enganamo-nos imaginando que ele está pre-judicando apenas a si mesmo, entupindo-se de colesterol, hormônios, antibió-ticos, toxinas e outras especialidades próprias do fast food (veja adiante como isso acontece). Lamentavelmente, não é assim. Sem que possamos nos dar conta, o impacto daquele alegre lanche (alegre só no começo, pois a carne gordurosa, a maionese, o ovo encharcado, o queijo derretido logo provocam enjôo, irritação gástrica, sensação de plenitude, fermentação, flatulência...) pro-duz efeitos mais tristes do que podemos supor — seja no meio ambiente, na manutenção e crescimento da fome mundial, na violência, na injustiça social e no enfraquecimento racial humano, conforme ficará demonstrado mais adiante.

Sendo um dos nossos temas centrais, o consumo de carne é uma das prin-cipais causas da fome, da dor, da destruição do meio ambiente e da violência. Ao optarmos pela adoção de uma dieta totalmente livre de produtos de ori-gem animal, estaremos contribuindo para transformar o mundo.

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

Este trabalho vai mostrar que a forma como nos alimentamos, como sele-cionamos os nossos alimentos, é o primeiro e mais importante passo para criar-mos um mundo melhor,

Assim como no passado os mestres Zen mostraram que, ao se adotar uma alimentação simples, é possível simplificar o corpo, a mente e a própria vida, também podemos simplificar o mundo começando por nós mesmos, É só lem-brar o que John Lennon disse em Imagine.

Para quem já se alimenta conscientemente, ótimo. Ajude-nos a difundir ainda mais a idéia de uma alimentação adequada para todos. Caso contrário, junte-se a nós! Não é aceitável, não é possível um Novo Mundo, um Novo Tempo, sem uma dieta adequada. O nosso futuro está em nossas mãos.

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PARTE I

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1. INTRODUÇÃO

Por que adotar uma alimentação vegetariana

'Até que tenhamos coragem de reconhecer a crueldade pelo que ela é — seja a vítima um animal humano ou não — não podemos esperar que as

coisas melhorem... não podemos ter paz vivendo entre homens cujos corações se deleitam em matar criaturas vivas. Cada ato que glorifica o

prazer de matar, atrasa o progresso da humanidade."

RACHEL CARSON (Silent Spring)

Com o desenvolvimento da civilização, em vez de aprimorarmos os nossos hábitos alimentares, de buscarmos uma melhor qualidade nutritiva, tomamos exatamente o caminho oposto. O ser humano foi perdendo o contato direto com a natureza e deixando de perceber a necessidade de estar em harmo-nia com o meio ambiente.

Cientistas concluíram recentemente que os nossos mais remotos ances-trais eram vegetarianos e só comiam carne em períodos de extrema crise. Darwin concorda que os primeiros humanóides eram comedores de frutas, nozes e legumes. Von Linné afirma que, comparada à dos outros animais, a estrutura do homem, tanto interna quanto externa, indica que legumes e frutas constituem o seu alimento natural.

Foi apenas durante a última era glacial, quando essa dieta tomou-se inaces-

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sível, que os primeiros seres humanos tiveram que comer carne para sobrevi-ve r— costume que permaneceu, seja por necessidade, hábito ou condiciona-mento.

Somente nas últimas décadas temos reagido contra o modelo alimentar imposto pela indústria alimentícia e contra a tendência ao consumo de animais torturados. As pessoas mais conscientes estão constatando que a comida quí-mica e a carne são prejudiciais e devem ser evitadas. Surgiram assim inúmeros movimentos e padrões nutritivos, formando inclusive diversas correntes. A macrobiótica, importada do Japão na década de 60, foi um marco importante na história da alimentação, levando a humanidade a perceber a necessidade de pensar o que come. Pela primeira vez no Ocidente, questionou-se em maior escala os perigos da carne, do açúcar branco, dos produtos artificiais, dos agrotóxicos, etc., com o requinte adicional de buscar equilibrar os alimentos segundo a antiga filosofia dos opostos/complementares, o Yin e o Yang. Além disso, foi também a primeira vez que nos concientizamos de que os alimentos tanto podem gerar doenças e matar (industrializados), como curar ou salvar vidas (arroz integral, tofu...).

Embora a prática do vegetarianismo sempre tenha existido, foi somente após a implantação da macrobiótica que essa opção ganhou força, reforçada pela idéia de uma dieta livre de agrotóxicos, isenta de produtos animais e quí-micos, chamada alimentação orgânica.

O tipo de vegetarianismo anterior à década de 60 era muito mais praticado por razões de saúde ou por motivos religiosos do que pela compaixão pelos animais. Atualmente, a questão da justiça na escolha dos alimentos, a preocu-pação com o meio ambiente e com as futuras gerações — conforme será visto adiante — também contam.

Os vegetarianos compreenderam que, para contribuir com uma socieda-de mais pacífica, é necessário primeiro resolver o problema da violência, da qual participamos, de modo indireto, ao comer carne. Não é de surpreender, portanto, que milhares de pessoas de todos os níveis tenham se tornado vege-tarianas, optando por aquela que é considerada "a dieta do novo mundo". Elas estão convencidas de que uma alimentação sem carne ou produtos de origem animal é um passo decisivo rumo a uma sociedade melhor. Saber que pessoas famosas fizeram também essa opção é não só confortador como estimulante. Eis algumas delas:

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Vegetarianos famosos

Abraham Lincoln Madre Tereza de Calcutá Albert Einstein Mahatma Gandhi Albert Schweitzer Mark Twain Alexandre Pope Milan Kundera Arnold Schwarzenegger Montaigne Arthur Schopenbauer Paul e Linda MacCartney Benjamin Franklin Percy B. Shelley Bob Dylan Pitágoras Buda (Sidarta Gautama) Platão Dalai Lama Plutarco Charles Darwin Rabindranath Tagore Clemente de Alexandria Rachel Carson Confûcio Ralph Waldo Emerson Émile Zola Ramakrishna Francisco de Assis Ramatís George Bernard Shaw Rei Ashoka Henry David Thoreau Richard Gere H.G. Wells Richard Wagner Isaac Newton Sai Baba Jean-Jacques Rousseau São Basílio Jésus Cristo Shirley MacLaine Krishna Sócrates Krishnamurti Swedenborg John Milton Thomas Edison Lamartine U Thant Lao Tsé Victor Hugo Léon Tolstoi Voltaire

Brasileiros vegetarianos famosos: Rita Lee, Eder Jofre, Stenio Garcia, Gilberto Gil, Royce Gracie.

Para um estudo mais apurado, é bom conhecer as diversas modalidades

de vegetarianismo hoje praticadas:

Ovolactovegetariari ismo

Admite o consumo de ovos e, além dos alimentos vegetais, leite dos mamífe-ros e seus derivados: manteiga, queijo, requeijão, iogurte, etc. Conforme já foi

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mencionado, há ovolactovegetarianos que estão conscientes da prática de uma alimentação integrai e orgânica e outros que não, permitindo-se o uso de ali-mentos industrializados, como o açúcar, por exemplo.

Lacto-vegetarianismo

É semelhante ao tipo anterior de dieta, com a diferença de que evrta o consu-mo de ovos que, para os seus adeptos, representam uma vida em potencial. Seu consumo significaria, então, a interrupção de um tipo de processo de vida. Curiosamente, os ovos hoje consumidos no mundo inteiro raramente possuem vida de fato, pois não são galados, ou seja, não têm mais energia vital. Seu con-sumo é bastante prejudicial à saúde por ser rico em antibióticos, toxinas, ácidos graxos saturados (colesterol...), hormônios, etc.

Vegetarismo — ou "Vegan"

Este tipo de vegetarianismo evita qualquer tipo de alimento que possa ter origem animal, inclusive ovos, leite e seus derivados. É conhecido interna-cionalmente como vegan, termo que passou a denominar também aqueles que o praticam — "veganistas". Seus seguidores são mais radicais: têm tan-to amor aos bichos que evitam inclusive os demais produtos derivados de animais, como bolsas, cintos, sapatos e roupas de couro, travesseiros de penas, etc.

Frugivorismo

É a modalidade que admite apenas o consumo de frutas, sejam cruas ou cozi-das. Nenhum outro produto é aceito, pois, segundo os seus adeptos, elas re-presentam o alimento ideal para o homem. Suas conclusões foram tiradas a partir de observações bíblicas, antropológicas, antropométricas e com base na teoria evolutiva de Darwin. Os antigos primatas não eram carnívoros, mas frugívoros, como, aliás, são até hoje.

Há uma vertente que aceita os cereais integrais, crus ou cozidos, por considerá-los como "pequenos frutos", De um modo geral, os frugívoros ten-dem também a evitar o acréscimo de sal nos alimentos que consomem.

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Cereatismo

Não é bem um tipo opcional de vegetarianismo, mas um ramo da alimentação e da medicina natural. No entanto, podem ser encontrados alguns raros segui-dores desse tipo de dieta baseada apenas no consumo exclusivo de cereais integrais, cozidos ou crus, incluindo ou não o sal.

Como técnica alimentar, o cerealismo visa à desintoxicação profunda do organismo e à renovação biológica da parte humoral do sangue.

Crudivorismo

E a modalidade que só admite alimentos crus. Baseia-se na idéia de que os alimentos devem ser consumidos conforme a natureza os fornece, sem a ne-cessidade do fogo e do sal. Seus adeptos entendem que o fogo destrói a parte mais importante dos alimentos naturais: sua energia vital.

O crudivorismo aceita principalmente as frutas, verduras, raízes, alguns tubérculos e cereais passíveis de ser ingeridos crus como trigo (triguilho pica-do, broto, etc.) e aveia. Os pratos são muito bonitos, coloridos e saborosos.

A alimentação natural recomenda dietas cruas como tratamento de diver-sas doenças. Sua ação é basicamente oxigenante, vitalizante e purificadora, ca-paz de eliminar elementos nocivos ao organismo. Pratos e cardápios compostos por alimentos crus poderão ser encontrados mais adiante.

Alimentação orgânica

Outra corrente que vem ganhando importância cada vez maior e se tornando muito difundida é a chamada alimentação orgânica, que evita os agrotóxicos e os aditivos químicos, como os conservantes, corantes, aromatizantes artificiais, etc.

Essa concepção alimentar surgiu durante a década de 60 nos Estados Uni-dos, mobilizando muitas fazendas na produção de alimentos inteiramente li-vres de produtos químicos. No Brasil, essa atividade já existe, mas ainda é incipiente e realizada em pequeníssima escala, contrastando com os Estados Unidos, a Europa e o Japão, onde os próprios governos incentivam a pesquisa e a produção de alimentos através de uma agricultura biológica.

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Adotando uma dieta vegetariana consciente

Atualmente, não basta apenas parar de comer carne animal ou seus derivados para estarmos seguros de ter uma dieta perfeita. Se quisermos escapar de sé-rias doenças carenciais é necessário também evitar o açúcar branco, o sal refi-nado, as farinhas e grãos descortícados (pão e arroz brancos, por exemplo), os alimentos industrializados e sintéticos, os enlatados, os óleos refinados, os irra-diados, os congelados e, de preferência, os transgênicos. Consumir estes pro-dutos é talvez o pior erro daqueles que param de comer carne. Uma vez que a pessoa ainda consuma carne, ela dispõe de nutrientes que acabam compen-sando aquilo que o alimento manipulado perdeu. Essa vantagem é apenas quan-titativa, e depende do tipo de proteína animal escolhida. Qualitativamente é uma boa escolha, mas devemos estar preparados para alguns tipos de carên-cias nutricionais. Isso no entanto pode serfacilmente contornado, se evitarmos os itens acima relacionados estabelecendo uma dieta rica em cereais integrais, leguminosas, frutas, raízes, tubérculos, etc.

O açúcar branco, conforme será visto adiante, é um antinutriente e rouba elementos do nosso corpo. Se associarmos o seu uso ao consumo de grãos descorticados (sem vitaminas), enlatados (de reduzida carga de nutrientes), ir-radiados (empobrecidos), estaremos aumentando o risco de desenvolver ca-rências nutricionais de vários tipos.

Pode-se dizer que, através do vegetarianismo consciente, da escolha cor-reta dos alimentos, o homem busca o próprio equilíbrio e harmonia em rela-ção às leis naturais. Isso inclui a abordagem analítica quantitativa que caracteriza a nutrição acadêmica na questão da compreensão científica sobre a importân-cia dos nutrientes — como as proteínas, aminoácidos, vitaminas, sais minerais, lipídios, açúcares, oligoelementos, calorias — e das necessidades básicas do organismo humano relativas a esses mesmos elementos. É preciso, hoje, esta-belecer uma compreensão sensata e racional quanto a estas questões, pois elas envolvem aspectos orgânicos, médicos, individuais e culturais de grande im-portância.

Curiosamente, é essa preocupação que nos leva a fortalecer ainda mais os argumentos que nos certificam ser a carne um alimento a ser evitado, confor-me será visto a seguir.

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Por que não comer carne

Segundo os adeptos da alimentação vegetariana, existem cerca de 30 razões para não se comer carne. Eis algumas delas:

A proteína da carne não é superior

O argumento de que a proteína da carne animal é insubstituível é falso. Uma proteína é uma cadeia de aminoácidos, que podem ser obtidos de várias ou-tras fontes e em quantidades mais que suficientes. Existem 22 aminoácidos conhecidos, sendo que dez deles não são facilmente sintetizados pelo orga-nismo humano a partir de fontes mais simples; precisam portanto ser absor-vidos em porções maiores. Ocorre, entretanto, que uma boa variedade de alimentos, entre eles frutas, cereais integrais, leguminosas (feijão, ervilha, len-tilha, grão-de-bico, soja, vagem, etc.) e legumes (como, por exemplo, a ce-noura e a abóbora) possuem esses nutrientes em quantidades adequadas. O tabu que aponta a carne animal como "única" fonte de aminoácidos essen-ciais é baseado no fato de que ela possui quantidades um pouco maiores em sua cadeia protéica; no entanto, uma simples composição de alimentos, com cadeias menores de aminoácidos, já cobre as necessidades básicas do orga-nismo.

Temos sidos totalmente condicionados a acreditar que não podemos ser saudáveis sem comer grandes porções de carne, mas a verdade é exatamente oposta.

Nos anos 50, os cientistas classificaram as proteínas da carne como de "pri-meira classe" e as de legumes como de "segunda classe", Entretanto, esta idéia tem sido totalmente contestada, As proteínas vegetais têm-se mostrado tão efetivas e nutritivas quanto as da carne. Não se admite mais tal distinção, Há grande variedade protéica na alimentação vegetariana, entre 8 e 12% nos ce-reais. A soja é incrivelmente rica, possuindo duas vezes mais quantidade de proteínas que a carne. Muitas nozes, sementes e feijões têm teor protéico ava-liado em 30%.

Em 1954, em Harvard, após um estudo minucioso, cientistas descobriram que, quando vários legumes, cereais e derivados do leite eram consumidos em qualquer combinação, havia sempre mais proteína do que o necessário.

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Eles não conseguiram detectar nenhuma deficiência, independente da combi-nação dos alimentos usados.

A maioria das pessoas ingere de 10 a 18% das calorias diárias na forma de proteína, quando na realidade necessitamos somente de 5 a 6%l Mesmo se comêssemos somente batatas cozidas, estaríamos ingerindo I I % de proteína — o dobro do necessário!

Portanto, é preciso descartar a falsa idéia de que a carne nos dá força e de que a sua ausência pode nos enfraquecer. Muitos campeões e atletas são intei-ramente vegetarianos. Animais extremamente fortes, como o touro, o búfalo, os gorilas, são vegetarianos e não sofrem carências nutricionais de nenhum tipo. Mais à frente apresentaremos argumentos, em geral negligenciados, que apontam a carne como um produto até mesmo perigoso para a saúde.

Falsa sensação de satisfação

A sensação de "satisfação" provocada pela carne deve-se ao fato de ela exigir uma digestão mais prolongada, com uma ação estimulante de enzimas, e não à sua capacidade de fornecer nutrientes, fator menos influente nesta questão. As pessoas acostumadas ao consumo de carne, principalmente da carne bovi-na, estão organicamente condicionadas à sua presença. Mesmo ingerindo uma refeição vegetariana composta de todos os nutrientes necessários, não se sen-tirão satisfeitas ou plenas; sentem-se como se alguma coisa indefinida estivesse faltando. Só com o tempo é possível acostumar-se a uma alimentação vegeta-riana e evitar a sensação de fraqueza, comum quando se inicia uma modifica-ção dietética dessa natureza.

Pessoas não acostumadas a comer carne têm efeitos desagradáveis quan-do a consomem, como peso digestivo, mal-estar, digestão longa, indisposição, dor de cabeça, intestino preso, etc.

Carne cozida tem menos nutrientes

Todas as análises feitas a partir dos componentes da carne animal são realiza-das mais comumente com a carne crua, não se levando em consideração que o cozimento reduz substancialmente as taxas de proteínas e vitaminas.

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São, portanto, carentes as dietas cujos balanceamentos não se baseiam nes-sa diferenciação. São diversas as proteínas e as vitaminas ditas termolábeis,

que se modificam (ou se destroem) sob a ação do calor. Desse modo, o chur-rasco e as carnes longamente cozidas ou assadas perdem cerca de 30% de seus nutrientes principais, com concentração de lipoproteínas densas. Para uma absorção adequada de nutrientes, deve-se ingerir a carne mal cozida ou, preferencialmente, crua, o que não é, contudo, um hábito saudável nem culturalmente aceito hoje em dia.

Fisiologia humana

A dieta de qualquer anima! se ajusta à sua estrutura fisiológica. Portanto, vê-se que a constituição do corpo humano e de seu sistema digestivo é completa-mente diferente da dos animais carnívoros. De acordo com a dieta, podemos dividir os animais em dois grandes grupos: carnívoros e herbívoros.

Os animais carnívoros são, naturalmente, dotados de dentes cortantes, com caninos pontiagudos, o que lhes permite prender e dilacerar mais facilmente a carne. A dentição humana é adequada para mastigar grãos e frutas; não é pró-pria para mastigar carne, daí a necessidade de cozimento, para tornar o produ-to macio. Todos eles possuem um sistema digestivo muito simples e curto — apenas três vezes o comprimento de seus corpos, para a expulsão rápida das bactérias putrefatas da carne em decomposição, bem como estômagos com dez vezes mais ácido clorídrico do que os de animais não-carnívoros.

Os animais herbívoros vivem de gramas, ervas, frutos, cereais, sementes, folhas e outras plantas, que, em geral, são alimentos fibrosos e volumosos. A digestão começa na boca com a ação da enzima ptialina, da saliva. Esses ali-mentos devem ser bem mastigados e misturados à ptialina, para serem digeridos apropriadamente. O tamanho dos intestinos dos herbívoros é comparati-vamente bem mais longo que o dos carnívoros. O do macaco antropóide, as-sim como o sistema digestivo humano, tem cerca de doze vezes o comprimento do corpo.

Os herbívoros têm 24 dentes "molares" e fazem movimentos laterais com as mandíbulas, para triturar os alimentos, ao contrario dos carnívoros, que só fazem movimentos verticais.

Estudos recentes demonstraram que uma dieta carnívora produz efeitos

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maléficos nos animais herbívoros. O dr. Willian Collins, dentista do centro mé-dico do Lincoln Medicai and Mental Health Center, em Nova York, descobriu que os animais carnívoros têm "capacidade quase ilimitada para ingerir gordu-ras saturadas e colesterol". Por outro lado, se 200 g de gordura animal forem acrescentados diariamente à dieta de um rato, depois de dois meses seus va-sos sangüíneos se tornarão enrijecidos, devido à gordura, com o desenvolvi-mento da arteriosclerose.

Não somente o sistema digestivo humano é completamente diferente do dos animais carnívoros, Nossa pele tem milhões de poros minúsculos para li-berar a água e esfriar o corpo através do suor; bebemos água com movimen-tos de sucção como os outros animais vegetarianos; nossos dentes e nossa estrutura mandibular são próprios de vegetarianos. Nós não temos caninos afiados e pontiagudos para cortar a carne.

Charles Darwin, autor da teoria da evolução, confirma que a nossa anato-mia não mudou ao longo da história. Von Linné afirma que a estrutura do ho-mem, tanto interna quanto externa, comparada com a dos outros animais, mostra que legumes e frutas constituem o seu alimento natural.

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A carne não tem fibras

Resíduos anormais permanecem mais tempo em nossos intestinos quando ingerimos uma dieta com baixo teor de fibras. Não só toxinas são absorvidas pelas paredes do intestino, aumentando o risco de câncer; ocorre também uma diminuição da umidade, o que torna as fezes mais secas e duras. Quando o intestino está preso, há necessidade de se realizar maior esforço na evacuação, o que pode provocar hemorróidas e fissuras anais.

Alimento antiecológico

A agropecuária é, hoje, a principal causa do desmatamento em todo o planeta. E costume a derrubada de florestas para a criação de rebanhos. Um bife equi-vale a três árvores médias (valem por um bifinho...).

Se no Brasil continuarmos a comer carne de vaca, até 2010 toda a Mata Atlântica terá desaparecido.

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O consumo de carne estimula a devastação das matas e assim torna-se um ato destrutivo que põe em risco o futuro da humanidade. O vegetarianismo, portanto, é a opção adequada para os militantes ambientais mais conscientes.

Aspectos humanistas e sentimentais

Uma das principais motivações que levam as pessoas a se tornar vegetarianas é o amor pelos animais e a vontade de reduzir seus sofrimentos, a verdadeira tortura por que passam ao longo da sua vida somente para servir de alimento ao homem. Esses aspectos serão apresentados mais adiante.

Razões econômicas

Ao se tornar vegetariana uma pessoa economiza muito ao fazer suas compras, ao selecionar pratos nos restaurantes e pelo simples fato de não comer ne-nhum tipo de carne. Em média, a carne de qualquer animal custa 16 vezes mais do que os vegetais, mesmo considerando os mais caros, como os cogu-melos comestíveis. Vitela, foie gras, camarões, lagostas, ostras, etc. são itens sofisticados que custam demais. A famosa sopa de barbatana de tubarão é um dos pratos mais caros do mundo, só perdendo para a caríssima sopa de ninho de andorinha. Os pratos da culinária japonesa e da francesa, que na grande maioria das vezes têm componentes animais, são excessiva e desnecessaria-mente caros.

O valor gasto em restaurantes aristocráticos poderia acabar com a fome no mundo. Mas isso se as pessoas tivessem mais senso de justiça e compai-xão e cultivassem simplesmente o sabor natural dos alimentos, redi-recionando (pelo menos em parte), o gasto nesses restaurantes para a população carente. Freqüentar um pouco menos um tipo de ambiente pode ser de certo modo confortador para aqueles que têm e podem cultivar o hábito da gastronomia.

Quando nos sentamos para um "bom" jantar num restaurante caro, toda aquela encenação de maîtres vestidos a rigor, garçons excessivamente aten-ciosos e polidos, o salão com suas toalhas imaculadas e talheres bem postos, o champanhe francês, os pratos deliciosos (sempre, no entanto, carregados,

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de produtos prejudiciais à saúde), as sobremesas fantásticas, a música am-biente, etc. nos impede de enxergar o verdadeiro preço desse jantar, que é o seu custo social. Na verdade, todo esse ambiente é uma grande farsa; todo aquele fino trato, a atenção desmesurada, tudo é hipócrita e falso. O freguês é tido, na verdade, como um "chato" que exige demais. Os sorrisos forçados não nos deixam perceber os bastidores dessa realidade. Basta visitar a cozi-nha de um "bom restaurante" para, via de regra, constatar, entre outras coi-sas deploráveis, a barulheira, as brigas, os xingamentos, a agitação, a fumaça, o suor, a temperatura elevada, a devolução de alimentos não comidos para a panela e a falta de higiene (chefs metem o dedo na panela e na boca sem o menor constrangimento, garçons usam a mesma mão que carrega bandejas para ajeitar verduras, ajudantes limpam o molho que sujou o prato com pa-nos imundos).1

Certamente um indivíduo consciente saberá perceber a ilusão que isso representa. Certamente não se sentirá bem ao saber que aquele sabor sofisti-cado, excessivo, tem como custo a fome e a angústia de alguma criança, em alguma parte do planeta. Segundo dados oficiais da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura), 40 mil crianças morrem de fome diariamente no mundo, ou seja, uma a cada dois segundos.

Para as donas-de-casa, sempre conta muito a economia na hora das com-pras. Não é difícil entender que, adquirindo apenas itens vegetais, economi-zam-se milhares de reais ao longo dos anos e de toda a vida. Não existem estudos conhecidos sobre esse tipo de avaliação, mas certamente faremos uma economia brutal ao nos tornarmos vegetarianos.

Mas a principal economia é a que diz respeito à redução dos gastos com a saúde (ou com as doenças). Em outro capítulo, apontaremos diversas provas de que o consumo de carne é o principal fator desencadeante das doenças crônicas no mundo, gerando despesas descomunais não só para o indivíduo mas também para a saúde pública, os sistemas privados de saúde, o governo, a Previdência Social, as seguradoras, etc. Todo mundo perde. Só quem lucra é a indústria farmacêutica.

'Confirmando esses argumentos, no ano passado o chef americano Anthony Bourdain, do Les Halles, bistrô francês de Manhattan, publicou suas memórias em Kitchen Confidential. O livro virou best seller; mas provocou a ira dos seus colegas ao desnudar o obscuro mundo das cozinhas.

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Questão religiosa e filosófica

Muitas tradições religiosas, notadamente cristãs ou hindus, desaconselham o consumo de carne animal para aqueles que almejam a ascensão espiritual. Se-gundo os mestres antigos, a carne transfere energias densas e inferiores para aqueles que a consomem.

Este assunto será apreciado daqui a pouco.

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2. UM CARDÁPIO INDUSTRIAL: FAST FOOD, AÇÚCAR, CORANTES, IRRADIADOS, TRANSGÊNICOS, ETC. COMO PAGAMOS A CONTA

"...e então passaram a envenenar os seus corpos com comidas e bebidas doces, a fumigar o peito com fumaças, a perturbar o pensamento com

álcool. Trocaram o bom alimento que nasce nas árvores e nos prados por aqueles guardados, estragados, estranhos. Não comem apenas o que se caça, o necessário, mas, como se o animal fosse um inimigo, tiram-lhe a

liberdade, prendem-no e maltratam-no, matando-o sem piedade. Não sei como podem comer dessa carne. Eles não conseguem ver que estão

comendo também todo aquele sofrimento. Isso não agrada ao Grande Espírito, que acaba por enviar-lhes doenças e dores... Talvez seja por não

entender estas coisas que não sabem mais comer, beber água, respirar, ouvir o vento, correr pela relva... Não podem ensinar mais nada a seus filhos... e morrem mais cedo, sem ao menos saber por que viveram..."

Depois de milênios consumindo alimentos naturais, cultivados ou não, vivendo em harmonia com a natureza, desfrutando as benesses de um meio ambiente puro, o ser humano passou a atacá-lo como um vândalo idiota. Começou a derrubar as árvores e a acabar com as florestas, como se elas fossem suas ini-migas. Passou a explorar matérias-primas da Terra, corroendo as suas entra-nhas em busca de minerais e riquezas. Depois, inventou de se intrometer

CHEFE COMANCHE DESCONHECIDO

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naquilo que come, introduzindo no alimento produtos tóxicos (agrotóxicos), empobrecendo-o (com adubos químicos que acabam por tornar a terra esté-ril), retirando dele partes importantes (como a película dos cereais, por exem-plo, para ter o arroz branco, o pão branco, etc.), intoxicando-o com herbicidas (para matar plantas "daninhas"), formicidas, antibióticos, corantes, aromatizantes artificiais e outros venenos. Orgulhosamente também, inventou alimentos com-pletamente artificiais. Finalmente acabou por irradiar a comida com raios peri-gosos e a modificá-la geneticamente (transgênicos). Tudo isso criado e apoiado por técnicos de aspecto sério, de semblantes orgulhosos, que tudo fazem em nome da necessidade de uma produção maior de alimentos, O que eles não sabiam (e continuam sem saber) é que isso determinaria também uma maior produção de coisas indesejáveis: carências nutricionais, doenças degenerativas, degradação ambienta!, enfraquecimento biológico, risco da inviabilidade racial, mutações, etc.

A aplicação dos chamados "defensivos agrícolas" e dos adubos ou fertili-zantes surgiu coma Revolução Industrial, que marcou o início da "Era da Agres-são à Natureza", quando o homem começou a extrair descontroladamente as matérias-primas do planeta e o crescimento populacional passou a exigir maior produção agrícola, Com a necessidade cada vez maior de alimentos, as monoculturas tornaram-se cada vez mais vastas, favorecendo o surgimento das pragas agrícolas que exigem agrotóxicos. Da mesma forma, a indústria ali-mentícia desenvolveu técnicas de conservação e transformação dos produtos. O interesse no lucro hipertrofiou o poder das grandes empresas produtoras de farmacos e defensivos agrícolas, que passaram a formar lobbies e cartéis de alta influência econômica e política nos governos de, praticamente, todos os países. A indústria de agrotóxicos sofisticou seus métodos, criando não somen-te inseticidas e fungicidas, mas herbicidas seletivos de grande poder de pene-tração na célula humana e de imensa capacidade tóxica, cancerígena ou teratogênica.

Em associação ao uso dos agrotóxicos, a indústria de alimentos aprimo-rou os seus métodos de criação de aditivos alimentares (corantes, aro-matizantes, etc.), criando uma imensa gama de produtos completamente supérfluos e prejudiciais à saúde, presentes em produtos como sorvetes, chicletes, chocolates, bombons, refrigerantes e similares. O desconhecimento e o descontrole dos governos e das autoridades sanitárias quanto aos perigos dessas substâncias puseram em risco a saúde de todos os habitantes da Terra.

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Quanto aos agrotóxicos, é necessário conhecer os meios para evitá-los, con-forme será exposto mais adiante.

E potencialmente perigoso, sob vários aspectos, consumir alimentos que contenham qualquer produto químico. Contrariando as características natu-rais dos alimentos disponíveis desde a criação do mundo, há pouco menos de um século o homem vem criando, de modo crescente, uma grande variedade de venenos, que são incorporados àquilo que comemos. São centenas de mi-lhares, absolutamente supérfluos, destinados quase que somente à satisfação do paladar e ao estímulo do consumo descontrolado. A cada instante um novo chocolate ou refrigerante de mirabolante sabor é apresentado pela indústria alimentícia. Um intrincado jogo de interesses envolve a fabricação desses pro-dutos e revela um imenso descaso quanto aos seus efeitos sobre a saúde indi-vidual ou coletiva, a curto, médio e longo prazos — além de iludir um mercado consumidor muito mal informado.

Até o início do século X X existiam, apenas, cerca de oitocentos tipos de alimentos conhecidos, configurando todas as possibilidades de recursos natu-rais disponíveis no campo da alimentação. Hoje, são quase 40 mil produtos, sendo que cerca de 39.200 representam criações sintéticas ou artificiais ou, mais especificamente, "comida de laboratório". É justamente esse início de sé-culo que marca o aparecimento, em maior escala, das doenças degenerativas entre as populações mais abastadas, como resultado da interferência química sintética sobre a sutil bioenergética dos seres vivos — ou antes, a interferência datecnosfera, criada pelo homem, sobre a biosfera.

Segundo pesquisas mais recentes, cerca de 85% das doenças modernas, como o câncer, a arteriosclerose, o diabetes, o reumatismo, etc., são causadas pelos alimentos industrializados ou sintéticos. Pela primeira vez na história da humanidade, o homem criou produtos de cadeia molecular capazes de pene-trar e interferir poderosamente no intrincado metabolismo intracelular, o que significa poluirtambém a célula. Não se conhece quase nada a respeito de como a maior parte dos produtos sintéticos se comporta no organismo, mesmo porque não existem condições técnicas necessárias para se avaliar o efeito, a médio e longo prazos, de produtos como DDT corantes, etc. Sabe-se, contu-do, que o DDT (diclorodifeniltricloroetano) já está presente nos mares e nos organismos vivos marinhos, no leite materno e no leite das vacas do mundo inteiro.

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Alimentos sintéticos e aditivos químicos — 0 perigo disfarçado

Silenciosamente, sem nos darmos conta, as nossas crianças podem estar sendo envenenadas, expostas a doenças degenerativas, sofrendo de vários tipos de alergias e prejudicando sua capacidade intelectual e seu rendimen-to escolar, devido ao consumo de guloseimas industrializadas aparentemente inofensivas.

Hoje os aditivos químicos são recursos largamente utilizados pela indústria de alimentos e são conhecidos como corantes, aromatizantes, conservantes, estabilizantes, antioxidantes, edulcorantes, espessantes, acidificantes e outros.

O uso de aditivos é recente na história humana, e começou com a neces-sidade de conservar os alimentos. Antes, apenas os edulcorantes — basica-mente o melaço ou o açúcar mascavo — eram considerados aditivos, sendo usados para acelerar a fermentação do vinho e da cerveja.

Os produtos enlatados praticamente iniciaram a prática da conservação. Com a ampliação da industrialização de alimentos, outras substâncias foram sendo incorporadas, como acidulantes, estabilizantes e corantes — todas na-turais ou de fonte natural. Com o tempo, a indústria alimentícia desenvolveu-se profusamente, criando centenas de aditivos artificiais ou sintéticos, que permitiram torná-la a segunda maior fonte de lucros no mundo, só perdendo para a indústria bélica. Se eles antes eram realmente naturais, úteis e necessá-rios, passaram a ser em sua maioria artificiais, e perigosos para a saúde, além de terem se tomado um pretexto para a geração de lucros formidáveis, por serem segredos industriais de megacorporações internacionais.

Argumentos que subestimam a inteligência humana, como aqueles que apontam os aditivos artificiais como "beneficiadores" ou "melhoradores" dos alimentos, são meros pretextos para o seu uso, já que possibilitam grandes lu-cros, a despeito do impacto negativo que são capazes de produzir sobre o organismo, como os antibióticos, por exemplo, largamente aplicados na con-servação de carnes e de outros produtos, mas que podem produzir bactérias resistentes às nossas defesas. Basicamente, nenhum alimento produzido pela natureza precisa ser "melhorado".

Em muitos países a lei exige que qualquer produto destinado à alimenta-ção humana que contenha aditivos relacione os seus nomes na embalagem. Como geralmente muitos deles são usados, acabam sendo mencionados por

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meio de códigos — os códigos de rotulagem, que são propositadamente im-pressos com letras pequeníssimas. Mesmo que o consumidor conseguisse enxergá-los, não saberia identificá-los nem tampouco descobrir a quantidade de cada aditivo presente num determinado produto. Desse modo, ficam institucionalizados o desrespeito, o pouco-caso e a inconseqüência, tanto dos fabricantes quanto dos responsáveis pela saúde coletiva, em relação aos con-sumidores.

O controle da toxicidade dos aditivos e a sua liberação fica por conta de uma comissão mista formada por membros da FAO e da OMS (Organização para Alimentação e Agricultura e Organização Mundial da Saúde) denominada CodexAlimentarius. Tal comissão, além de não possuir um centro próprio para pesquisas, recebe relatórios técnicos de empresas produtoras de alimentos e medicamentos (como a Nestlé, a Du Pont, a Union Carbide, a Monsanto, etc.), o que coloca em dúvida os dados que dizem respeito à segurança e à inocuidade desses produtos. O interesse comercial dessas indústrias nos impede de con-fiar totalmente nas informações.

Existem, hoje, mais de trinta aditivos sintéticos proibidos, mas que antes faziam parte da lista de produtos "inócuos". A cada ano, novas substâncias são inventadas e outras saem da lista "permitida" em direção à lista proibida. Curio-samente, quando um novo aditivo é criado, seja um corante, aromatizante ou qualquer outro, ele primeiro ingressa na lista dos permitidos. Se por acaso ele se mostrar prejudicial, vai sendo transferido para outras listas; "duvidosos", "proi-bidos", e finalmente, "perigosos", quando então, supostamente, é banido do grupo geral dos aditivos alimentares. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o dióxido de titânio (que ainda aparece em confeitos prateados e coloridos para bolos e balas, mas somente em países como o Brasil). Trata-se de um aditivo capaz de produzir leucemia em animais de laboratório, já havendo estudos in-dicando essa mesma possibilidade para os seres humanos. O uso do dióxido de titânio como aditivo também foi proibido no Brasil há alguns anos, mas, cu-riosamente, a Nestlé lançou no mercado um produto denominado Smarties que, petulantemente, apresenta esse elemento na sua embalagem.

No grupo específico dos corantes, havia, até bem pouco tempo, uma curiosa classificação dividindo-se em três tipos: Cl, Cll e Clll. Os primeiros são os na-turais (açafrão, clorofila, etc.); os segundos, os "artificiais" e os terceiros, os "qui-micamente definidos" (definidos para quem?). Os corantes Cll formam um grupo com cerca de 30 componentes, sendo que cada um deles tem uma dose diária

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máxima específica. No entanto, nas embalagens brasileiras — mesmo quando vários corantes estão presentes — não se específica qual deles está sendo usa-do, nem a sua quantidade, aparecendo uma simples referência: "Cll".

A capacidade de tolerância aos aditivos — assim como aos medicamen-tos — não é igual para todas as pessoas, incluindo crianças, adultos, espor-tistas, doentes, grávidas e idosos. A dosagem máxima permitida por lei provém de um gabarito vinculado à unidade aleatória de tempo. Não se sabe, por exemplo, quanto de determinado aditivo uma pessoa pode con-sumir por dia, semana ou mês. Conclusão: com relação ao consumo des-sas substâncias, não há — e nenhum fabricante garante — segurança total para a saúde.

A grande maioria dos aditivos apresenta toxicidade. Todos possuem uma dosagem máxima diária tolerada pelo organismo, sendo prejudiciais além desse limite. No entanto, não há controle da quantidade ingerida pelo con-sumidor. Mesmo que houvesse, desconhece-se a capacidade de tolerância do organismo. Considerando-se ainda que os seres humanos têm diferen-tes níveis de tolerância aos produtos químicos, estamos diante de um gran-de descontrole, Não se pode padronizar níveis de tolerância de produtos sintéticos, pois as reações alérgicas, as respostas e o acúmulo são sempre quantitativa e qualitativamente diferentes de um indivíduo para outro. Mes-mo sem contar com esse aspecto, qualquer pessoa, principalmente as crian-ças, pode facilmente (e inclusive motivada pela mídia!) comprar e ingerir qualquer guloseima industrializada — chocolates, balas, iogurtes, por exem-plo —, o que pode ultrapassar as quantidades máximas diárias permitidas, ainda que ela não apresente restrições individuais quanto à tolerância a determinada substância.

Se contarmos que a maior parte dos efeitos dos aditivos alimentares ocor-re geralmente a longo prazo e por acumulação, variando de um organismo para outro, o caso fica ainda mais preocupante. É de se perguntar, por exemplo, o que acontece com o pigmento de um refrigerante artificial de uva (daqueles capazes de deixar a língua roxa...), se a pessoa que o ingere não urina dessa cor, nem apresenta a pela roxa? Para onde vai esse pigmento ou o que acon-tece com ele dentro do organismo? Que tipo de interferência essa substância artificia! — não prevista pelo código genético humano — pode provocar na sutil bioquímica humana? A inconseqüência das autoridades sanitárias mundiais é tamanha, que as respostas a estas perguntas seriam condição para que se

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liberasse ou não o consumo desse tipo de refrigerante, por exemplo. Mas, na realidade, não é isso o que acontece. O interesse das indústrias no lucro supe-ra a sensatez humana.

A maior parte dos aditivos sintéticos, principalmente os corantes e aro-matizantes, tem efeito acumulativo no organismo, o que elimina o argumento das "doses máximas diárias permitidas" e qualquer viabilidade ou sentido rela-cionado à "segurança de consumo". Essas substâncias são capazes de atingir o interior da célula e o seu núcleo, interferindo nas funções celulares mais no-bres, produzindo mutações e degenerações. Com o avanço da biologia molecular, não se pode mais aceitar o raciocínio que permite doses máximas toleradas de qualquer aditivo alimentar artificial. Atualmente, a medicina ortomolecular relaciona a presença desses aditivos no organismo com a eleva-ção dos níveis de radicais livres.

Como podem causar doenças degenerativas bem posteriores à sua ingestão, ou como resultado do uso contínuo, eventual, ou mesmo pelo acúmulo de vários tipos de aditivos no organismo, fica difícil estabelecer uma relação de causa e efeito entre eles e os males que são capazes de provocar.

Os estudos mostram que os alimentos industrializados que contêm ele-mentos sintéticos podem produziras seguintes doenças, aqui relacionadas por ordem alfabética;

Agranulocitose Desequilíbrios hormonais

Anemia Dificuldade de aprendizagem

Anencefalia Distúrbios gastrointestinais variados

Ansiedade infantil Doenças teratogênicas (doenças congênitas)

Baixa resistência a infecções Leucemia

Câncer Má formação do feto

Deficiência imunológica Obesidade

Deficiência mental em bebês Reações alérgicas variadas

Descalcificação dos ossos e dos dentes

Fonte: Food and Nutrition Board. National Research Council da National Academy of Sciences. USA, 1987.

Para evitar os efeitos dos produtos contendo aditivos, convém evitar tudo o que é industrializado e que possa contê-los. Não é difícil. E só uma questão

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de cuidado. Se entendermos que todos os produtos artificiais criados pela in-dústria de alimentos não são imprescindíveis, sendo perfeitamente dispensá-veis e totalmente supérfluos, sem importância nutricional alguma (a não ser calorias vazias, gorduras saturadas e perigosas), por que consumi-los? Se en-tendermos também que esses produtos são, todos eles, de algum modo, pre-judiciais à saúde, e que fazem parte de uma gigantesca estrutura de marketing,

que mobiliza a enorme força da mídia para incentivar o seu desnecessário con-sumo, talvez fiquemos mais convencidos a não comprá-los, e a não presentear as crianças com eles.

Um grande engano, por exemplo, é considerar "alimentícios" esses pro-dutos, pois não são exatamente "comida", e muito menos necessários. São simplesmente guloseimas que funcionam, na verdade, como anti nutrientes, inibindo a assimilação de elementos nutritivos importantes, como aminoácidos, minerais e microminerais. Se a maior parte deles contém açúcar como edulcorante, todos os problemas relacionados ao consumo de açúcar refina-do devem ser acrescentados aos efeitos desses produtos. Se uma criança ingerir um copo de refrigerante ou doces e balas pouco antes de uma refei-ção, haverá inibição do seu apetite, o que geralmente determina uma menor ingestão de alimentos necessários e, conseqüentemente, de nutrientes no-bres. A repetição desse comportamento pode provocar carências nutricionais subclínicas promotoras de deficiências imunológicas, obesidade infanto-juve-nil e fenômenos de depressão psíquica, que tanto preocupam os pediatras e nutricionistas conscientes.

Sugere-se então que esses produtos não sejam mais incluídos na classifica-ção de "alimentos" (o que caracterizaria "propaganda enganosa"), mas que se crie uma outra modalidade, talvez um novo grupo. Sugerimos: produtos

nutricionalmente supérfluos.

Certamente as empresas envolvidas não permitirão que o Ministério da Saúde crie essa classificação. O seu poder de influência e o grande lobbie que representam no Brasil controlam a maior parte das resoluções dos órgãos sa-nitários e de fiscalização neste país, mesmo havendo risco para a saúde da população, Se não fosse assim, a Nestlé não colocaria no mercado produtos com aditivos que não são mais permitidos pela lei, como por exemplo o seu colorido e alegre "Smarties". O dióxido de titânio presente no "Smarties" foi classificado pelo Ministério da Saúde como INS-I7I, e não é ironia nossa... Rara quem duvidar, é só conferir: o produto pode ser adquirido nas padarias,

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supermercados, cinemas, cantinas escolares, nos ambulantes e camelôs, e até pela Internet.

Todo este tema, contudo, é mais preocupante por sabermos que existem nutricionistas e outros profissionais de saúde — certamente mal-informados ou com preguiça de se informar — que não conseguem enxergar tudo isto e, bi-sonhamente, consideram produtos artificiais, como essas guloseimas adocica-das, inócuos e seguros. Certamente assim o fazem por desconhecer detalhes mais recentes do mundo da biologia molecular, que mostram que o câncer, por exemplo, pode ser desencadeado a partir de uma única célula em contato com quantidades ínfimas de derivados moleculares do alcatrão da hulha, do petróleo, etc. Para completar a informação, 98% dos aditivos sintéticos deri-vam exatamente dessas fontes... E a biologia molecular derrubando definitiva-mente o argumento das "doses máximas diárias toleradas". Qualquer quantidade de corante ou aromatizante sintético é capaz de produzir anomalias e altera-ções em nível celular. Até um simples fóton de raio ionizante pode desenca-dear o câncer...

Ao recebermos informações como estas, não mais podemos negligen-ciar a nossa responsabilidade no sentido de evitar e desaconselhar o consu-mo dessas substâncias, quer sejamos pais de família, profissionais de saúde, comerciantes desse tipo de produtos, donos de cantinas escolares, etc. Aliás, essas cantinas são hoje consideradas as maiores inimigas da saúde infantil, pois oferecem grande quantidade de doces, guloseimas, frituras, carnes, etc. Na medida do possível, o ideal seria preparar os lanches em casa e conscientizar as crianças, levando-as a evitar esse gênero de "alimentos" na cantina ou nos bares.

Médicos pediatras e nutricionistas estão particularmente envolvidos nessa tarefa, devendo informar seus clientes sobre os riscos que tais produtos ofere-cem à saúde. Isso começa com o seu próprio exemplo; caso contrário, qual-quer orientação sua no sentido de evitar o consumo desses produtos perderá legitimidade.

Os produtos a que nos referimos são praticamente todas as balas, choco-lates, iogurtes industrializados, caixinhas de dropes, jujubas, bebidas acho-colatadas, refrigerantes, sorvetes, gelatinas sintéticas, snacks, etc. Os mais perigosos são, obviamente, os mais coloridos, de design tentador, produzidos por grandes empresas, apresentados na TY exibidos nos outdoors, revistas,

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etc. Empresas que se apresentam como "preocupadas com a saúde dos con-sumidores" ou que mostram uma imagem de benevolência, "tipo Nestlé", são aquelas cujos produtos devem ser sumariamente evitados, pois são revestidos de um componente pior do que as cores que envolvem as suas balas e gulosei-mas: a mentira.

Concentramos aqui maior atenção nas crianças por serem elas o principal "público-alvo" da propaganda dessas empresas, na tentativa de ampliar o con-sumo dos seus produtos. Mas os argumentos apresentados são válidos para pessoas de qualquer idade, principalmente as grávidas, que podem ter tanto a sua saúde quanto a da criança afetadas. Citamos aqui a Nestlé por ser, se não a maior, uma das mais fortes empresas do mundo na área de alimentação infantil e de guloseimas supérfulas. Certamente a empresa não tem interesse na saú-de ou no bem-estar dos seus consumidores, sendo voltada apenas para o lu-cro, ta! como suas irmãs. Em função disso, ela tem sido combatida por grupos de consumidores e pais em todos os países. A Nestlé promove a alimentação infantil artificial em todo o mundo, infringindo o código de mercado da Organi-zação Mundial de Saúde. Na visão dos seus opositores, enquanto a empresa lucra, os outros pagam por isso.

Na década de 60, na Inglaterra, a Nestlé foi alvo de críticas violentas e de t

processos, provocados pela sua ação na Africa, quando cerca de dois milhões de lactentes morreram de gastrenterite e diarréias, devido à propaganda desencadeada pela empresa em todo o continente, mostrando as "vantagens" do aleitamento artificial. Convencidas pelos seus argumentos, mães interrom-peram a amamentação, provocando as mortes. O fato foi acompanhado por grupos ativistas e resumido no livro que se tornou apócrifo, denominado The

Baby Killer Skandal (O escândalo do assassino de bebês), do grupo inglês War or Want. Apesar de proibido pelas autoridades, graças à influência lobista da empresa, a obra teve mais de um milhão de exemplares vendidos e serviu para alertar o mundo sobre as falcatruas da Nestlé. Serviu também para le-var a companhia à Corte e a promover indenizações. Contudo, devido ao poder da organização, não se fala mais no assunto. Nada mais se soube so-bre os indenizações aos povos africanos vitimados, ao grupo War or Want e ao livro...

A Organização Mundial de Saúde e o Fundo das Nações Unidas para a In-fância informam que 1,5 milhão de crianças poderiam ser salvas se a propagan-

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da a favor do uso de leite em pó fosse proibida. Milhões de crianças ficam doentes por não ser amamentadas.

Atualmente o grupo Baby Miik Action coordena uma ação internacional de boicote à Nestlé em 18 países, com base no fato de que a empresa controla 40% de todo o mercado mundial de leite em pó infantil, usando a sua influên-cia para controlar as atividades mercantis e os governos. Os membros do gru-po apontam a Nestlé como a única companhia internacional a violar a lei de mercado, com propaganda falsa.

Hoje, qualquer cidadão do mundo pode participar do boicote via Internet.2

Os ativistas sugerem que se evite a compra e o uso de qualquer produto da empresa, em qualquer parte do mundo.

Pais, pediatras, nutricionistas e educadores conscientes, convencidos dos perigos do consumo de alimentos que contenham aditivos sintéticos, encon-tram uma dificuldade inicial ao lidar ou "negociar" com as crianças na tentati-va de evitar que elas tenham contato com esses produtos. Por isso, é necessário conhecer as diversas alternativas que existem para doces e simila-res. Há inúmeras receitas de guloseimas e sobremesas naturais e atrativas, como doces, gelatinas, bolos, sorvetes, chocolates, iogurtes caseiros ou in-dustriais — todos desenvolvidos para compensar as crianças habituadas aos produtos sintéticos.

Num próximo capítulo, na seção de receitas, relacionamos uma grande quantidade de opções. Fora isto, os entrepostos e as lojas especializadas em alimentos naturais apresentam diversas alternativas nesse sentido.

2 0 boicote mundial à Nestlé é apoiado por mais de 100 grupos religiosos, de saúde e de consumi-dores, com cerca de 90 escritórios, BO unidades estudantis, 17 autoridades sanitárias, 12 empresas de importação e exportação, 74 políticos ou partidos políticos e diversas celebridades no mundo inteiro. A Nestlé tem sido solicitada pela Advertising Standards Authority (ASA) a não dar continuida-de à propaganda realizada em 1998 contra o referido boicote. Além de estimular os consumidores a não adquirir os produtos da Nestlé, o boicote sugere o envio de e-mail diretamente para a em-presa, com os seguintes termos: "I understand that Nestle baby milk substitutes contribute to the unnecessary death of 1.5 million

infant deaths per year, I therefore pledge to do my best not to buy any Nestle products. I shall con-tinue my boycott until independent monitoring demonstrates that Nestle no longer unethically advertises or promotes breastmilk substitutes."

Enviar para: [email protected] Os ativistas propõem ainda que esta mensagem seja enviada para todos os amigos e pessoas co-

nhecidas através da Internet.

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Agrotóxicos — Dá para viver com eles?

Os agrotóxicos talvez sejam os produtos químicos que mais refletem a in-terferência do homem na natureza, pois foram as primeiras substâncias a estar presentes naquilo que é mais importante para a manutenção da vida; a comida.

Hoje o mundo inteiro se preocupa com a sua presença nos alimentos e há um intenso movimento no sentido de evitá-los. No Brasil, praticamente todos os produtos agrícolas e a carne dos animais de criação em larga escala apresentam vestígios de agrotóxicos. Eles se dividem em vários grupos, como inseticidas, fungicidas, antibióticos, herbicidas comuns e seletivos, desfolhantes, hormônios sintéticos para animais, etc. Temos desde o mais simples formicida, passando pelo DDT, o BHC e família, até agentes desfolhantes extremamen-te tóxicos, criados para a Guerra do Vietnã e hoje largamente usados na agri-cultura. No Brasil, dentre os produtos agrícolas que mais recebem agrotóxicos destacam-se o tomate, a batata-inglesa, o morango comercial e o mamão papaia.

Na impossibilidade de se evitar completamente a ingestão desses ingre-dientes através dos alimentos, pode-se minimizar o contato com eles obede-cendo-se às seguintes medidas;

— Compre frutas, verduras, legumes, pescados e similares em feiras li-vres ou em pequenos produtores. Evite os supere hipermercados.

— Rejeite a batata, o tomate, o morango e o mamão papaia que não se-jam de produção orgânica ou de pequena escala.

— Evite as frutas resultantes de enxertos, como a nêspera, a nectarina, a bergamota, a ameixa-preta, etc.

— Procure cultivar alimentos em hortas comunitárias e domésticas, can-teiros, vasos, etc.

— Adquira apenas os produtos da estação, de acordo com a seguinte ta-bela:

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Época de safra dos alimentos

Mês do ano Legumes, verduras, etc. Frutas

janeiro Abóbora, Abobrinha, Agrião, Alho-poró, Almeirão, Aspargo, Batata-inglesa, Berinjela, Beterraba, Brócolis, Catalunha, Cebola, Cebolinha, Cenoura, Chicória, Cogumelo, Couve, Espinafre, Inhame, Jiló, Mandioca, Mandioquinha, Maxixe, Milho verde, Mostarda, Nabo, Palmito, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Rúcuta, Salsa, Salsão (aipo), Tomate, Vagem.

Abacaxi, Ameixa, Ameixa importada, Banana-d'água, Banarsa-maçã, Caju, Figo, Goiaba, Jaca, Laranja-pêra, Limão-taiti, Limao-galego, Maçã, Manga, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Melão, Pêra, Pêssego, Uva-rtália.

Fevereiro Abóbora, Abobrinha, Agrião, Alho-poró, Aspargo, Batata-inglesa, Berinjela, Beterraba, Cebola, Cebolinha, Cogumelo, Couve, Inhame, Jiló, Mandioca, Mandioquinha, Maxixe, Milho verde, Mostarda. Palmito, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Salsa, Salsão (aipo), Tomate.

Abacate, Abacaxi, Ameixa, Ameixa importada, Banana-d'água, Banana-maçã, Caju, Caqui, Figo, Fruta-do-conde, Goiaba, Jaca, Umão-taiti, Limão-galego, Maçã, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Melão, Pêra importada, Uva-itália, Uva-isabel.

Março Abóbora, Abobrinha, Alho-poró, Aspargo, Batata-inglesa, Berinjela, Cará, Cebola, Cebolinha, Chuchu, Cogumelo, Inhame, Jiló, Mandioca, Mandioquinha, Maxixe, Milho verde, Palmito, Pimentão. Quiabo, Rabanete, Repolho, Vagem.

Abacate, Ameixa importada, Banana-d'água, Banana-maçã. Caqui, Figo, Goiaba, Jaca, Laranja-lima, Lima-da-pérsia, Limão-taiti, Limão-galego, Maçã, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Melão, Pêra importada, Uva, Uva-itália, Uva-isabel.

Abril Abóbora, Abobrinha, Aspargo, Batata-inglesa, Berinjela, Cará, Cebolinha, Chuchu, Cogumelo, Inhame, Jiló, Mandioca, Mandioquinha, Maxixe, Milho verde, Palmito, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Repolho, Vagem.

Abacate, Banana-d'água, Banana-maçã, Caqui, Figo, Goiaba, Jara, Laranja-seleta, Laranja-lima, Laranja-pêra, Lima-da-pérsia, Limão-taiti, Limão-galego. Maçã, Maçã argentina, Mamão-bahia, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Pêra importada, Tangerina, Uva,

Maio Abóbora, Abobrinha, Alface, Batata-inglesa, Berinjela, Cará, Chuchu, Cogumelo, Inhame, Jiló, Mandioca, Mandioquinha, Pimentão, Quiabo, Rabanete, Rúcula, Salsa, Tomate, Vagem.

Abacate, Banana-d'água, Banana-maçã, Banana-pnata, Jaca, Laranja-seleta, Laranja-lima, Laranja pêra, Lima-da-pérsia, Limão-taiti, Maçã argentina, Mamão-bahia, Mamão amarelo, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Tangerina, Tangerina-poncã.

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Junho Acelga, Alface, Batata-inglesa, Brócolis, Cará, Chuchu, Cogumelo, Ervilha, Inhame, Mandioca, Mandioquinha, Rúcula, Salsa, Tomate.

Abacate, Banana-d'água, Banana-maçã, Banana-prata, Jaca, Laranja-seleta, Laranja-lima, Laranja-pêra, Lima-da-pérsia, Limão-taiti, Maçã argentina, Mamão-bahia, Mamão amarelo, Maracujá azedo, Maracujá doce, Melancia, Tangerina, Tangerina-poncã.

Julho Abóbora, Acelga, Alface, Batata inglesa, Brócolis, Cará, Cenoura, Erva-doce, Ervilha, Espinafre, Inhame, Mandioca, Mandioquinha, Mostarda, Nabo, Rúcula, Salsa, Tomate.

Abacate, Abacaxi, Banana-d'água, Banana-prata, Laranja-seleta, Laranja-lima, Laranja-pêra, Lima-da-péreia, Limão-taiti, Maçã argentina, Mamão-bahia, Mamão amarelo, Maracujá azedo, Melão, Morango.

Agosto Acelga, Agrião, Alface, Almeirão, Beterraba, Brócolis, Cará, Catalunha, Cebola, Cenoura, Chicória, Couve, Couve-flor, Erva-doce, Ervilha, Espinafre, Inhame, Mostarda, Nabo, Rúcula, Salsa.

Abacaxi, Banana-prata, Jabuticaba, Laranja-lima, Laranja-pêra, Lima-da-pérsia, Maçã argentina, Melão, Morango,

Setembro Acelga, Agrião, Alface, Alho, Almeirão, Beterraba, Brócolis, Catalunha, Cebola, Cenoura, Chicória, Cogumelo, Couve, Couve-flor, Erva-doce, Espinafre, Mostarda, Nabo, Repolho, Salsa, Salsão (aipo).

Abacaxi, Banana-prata, Jabuticaba, Laranja-pêra, Maçã argentina, Morango, Nêspera.

Outubro Acelga, Alcachofra, Alface, Alho, Alho-poró, Almeirão, Beterraba, Brócolis, Catalunha, Cebola, Cenoura, Chicória, Chuchu, Cogumelo, Couve, Couve-flor, Erva-doce, Espinafre, Mostarda, Nabo, Repolho, Salsa, Salsão (aipo), Vagem.

Banana-prata, Jabuticaba, Morango, Nectarina, Nêspera.

Novembro Alcachofra, Alface, Aiho-poró, Almeirão, Beterraba, Catalunha, Cebola, Cebolinha, Cenoura, Chicória, Couve, Espinafre, Mostarda, Repolho, Salsa, Salsão (aipo), Vagem.

Jabuticaba, Morango, Nectarina, Pêssego.

Dezembro Alcachofra, Alho, Alho-poró, Almeirão, Beterraba, Catalunha, Cebola, Cebolinha, Cenoura, Couve, Repolho, Salsa, Salsão (aipo), Tomate, \&gem.

Abacaxi, Ameixa, Melão, Pêssego.

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Os vegetais têm mais agrotóxicos do que a carne

Um dos argumentos usados contra a alimentação vegetariana afirma que os vegetais, e não a carne, estão contaminados pelos agrotóxicos. Apesar dos ta-bus e da desinformação dos médicos e das autoridades sanitárias, essa afirma-ção, hoje, é o inverso da realidade.

Um gráfico esclarecedor— publicado em 1969, nos Estados Unidos, pelo Pesticides Monitoring Journal — demonstrou que os derivados de produtos animais contêm mais DDT e seus similares que os produtos vegetais. Observe as dosagens assinaladas:

Presença de agrotóxicos nos diversos tipos de alimentos

Carne bovina, pescados e aves 0,281 pprn*

Laticínios 0,1 12 pprn

Óleos, gorduras e similares 0,041 pprn

Vegetais verdes 0,036 pprn

Frutas 0,027 pprn

Legumes 0,026 ppm

Grãos e cereais integrais 0,008 ppm

Raízes 0,007 ppm

Batata-inglesa 0,003 ppm**

*PPM — partes por milhão. **Os dados acima referem-se aos Estados Unidos e ao Canadá. No Brasil os números são relativamente semelhantes, com exceção da batata comum, que entre nós registra forte pre-sença de agrotóxicos.

Com relação à carne bovina, suína, ovina, e ao leite e seus derivados, es-tudos no Brasil não só confirmam os índices registrados como acrescentam que há um descontrole na utilização desses venenos agrícolas, o que determina maio-res concentrações de toxinas nos produtos citados.

A carne bovina contém a mais alta concentração de herbicidas entre todos

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os alimentos comercializados na América do Norte, segundo o National Research Council (NRC) da National Academy of Sciences. Oitenta por cento de todos os herbicidas usados nos Estados Unidos são pulverizados no milho e na soja, usados primariamente para alimentar o gado. Depois de consumidas pelo rebanho, as substâncias químicas acumuladas em seus corpos são trans-mitidas aos consumidores através dos bifes cortadinhos do açougue.

Resíduos de agrotóxicos na alimentação norte-americana

•Resíduos de agrotóxicos em parte por milhão (ppm)

O DDT e seus semelhantes se depositam na gordura dos animais, onde é murto difícil ser assimilados. Assim, quando o gado come capim ou ração impregna-dos de pesticidas, essas substâncias ficam retidas em seu corpo. Portanto, quando o homem se alimenta dessa carne, ele recebe toda a concentração de DDT e de outras matérias acumuladas durante toda a vida animal. Como eles se ali-mentam na "etapa final" da cadeia alimentar, os seres humanos tornam-se os últimos consumidores, sendo, portanto, os receptores da mais alta concentra-ção de pesticidas. De fato, a carne contém 13 vezes mais DDT do que os le-gumes, as frutas e a ração animal. A Universidade Estadual de lowa demonstrou, através de pesquisas, que a maior parte do DDT encontrado nos organismos humanos vem da carne.

O New York Times relatou: "Um grave risco potencial à saúde são as subs-

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tâncias contaminadoras invisíveis — bactérias como a salmonela e resíduos de pesticidas, nitratos, nitritos, hormônios, antibióticos e outros produtos quími-cos" (18.7.1971).

Há tempos fez-se uma experiência nos EUA, que foi relatada por Robert J. Courtine: "Pulverizaram com DDT as ervas de uma pastagem e com essa for-ragem alimentaram as vacas. Com o leite dessas vacas fez-se manteiga, que foi dada a ratos. Os ratos morreram, e foi verificado que o DDT contido em seus estômagos possuía poder mortífero igual àquele que havia sido empregado inicialmente." Tal pesticida é igualmente absorvido junto com os legumes, os frutos, os cereais, o leite, a carne... Os inseticidas penetram nas gramíneas; in-geridos pelos animais, acumulam-se na sua gordura e voltam a encontrar-se nos produtos alimentícios de origem animal. Depois de medirem a percenta-gem de DDT existente em diversos produtos americanos, foram encontrados:

• 89/milhão na gordura de vaca • 65/milhão nos ovos • 500/milhão na gordura de galinha • 12/milhão no leite de vaca

O DDT absorvido pelas vacas através da forragem é também armazenado na gordura, sendo depois eliminado lentamente pelo leite, durante meses. Até no leite humano, em 30 de 32 casos, se encontrou DDT em proporções que variavam entre 0,1 e 0,77 por milhão. Assim, os seres humanos, quer sejam alimentados pela mãe ou com leite de vaca, ingerem resíduos venenosos des-de os primeiros dias de vida. Esta intoxicação é muito grave, porque a sua ali-mentação é composta só de leite e os organismos jovens são mais sensíveis a venenos do que os adultos.

Dioxina — 0 pior veneno

A dioxina, ou tetraclorodibenzoparadioxina (TCDD), é um composto altamente tóxico e persistente, que se forma na elaboração de herbicidas, como o 2,4,5T Pela sua alta toxidez, faz parte da lista dos chamados "ultravenenos". Asubstân-cia ficou conhecida na Guerra do Vietnã porque integrava o herbicida apelida-do de "agente laranja", usado portropas americanas durante o conflito.

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Um estudo feito pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), nos Estados Unidos, enfatiza que, embora a emissão de dioxina tenha caído desde 1970, quando foi amplamente utilizada, a substância ainda representa uma ameaça para aqueles que ingerem elementos químicos contidos em certos alimentos. Existem fontes naturais e artificiais de dioxina, como lixo hospitalar e domésti-co e resíduos industriais originários da produção de papel.

A dioxina contamina a água e as plantas, sendo ingerida por peixes e ani-mais que se alimentam de vegetais. Por se acumular na gordura, atravessa toda a cadeia alimentar até chegar ao homem, causando diversos tipos de câncer, como o de pulmão. Ela tem uma dose letal (DL50) de 0,001 mg/kg, ou seja, um único grama pode intoxicar e matar cerca de 10.000 pessoas.

Os produtos veterinários mais comuns aplicados nos animais são os antibió-ticos, sulfamidas e hormônios, que podem dar origem às dioxinas. Segundo o estudo da EPA, a probabilidade de as pessoas que seguem dietas ricas em co-midas gordurosas de origem animal desenvolverem câncer é de I em 100, estimativa dez vezes maior que a anteriormente prevista. Esses alimentos, ge-ralmente com alto índice de dioxina, são ingeridos ao longo dos anos e, por terem efeito cumulativo, as conseqüências só são sentidas a longo prazo.

Os pesquisadores que participaram do estudotambém concluíram que essa substância está relacionada com a diabetes e com problemas no desenvolvi-mento infantil. As crianças estão mais expostas à matéria tóxica do que os adul-tos, já que além de consumirem grande quantidade de laticínios bebem leite materno, que também pode conter dioxina.

Os vegetais podem neutralizar venenos neles contidos

Enquando os produtos de origem animal, notadamente a carne, apresentam índices elevados de venenos agrícolas e toxinas, provenientes da ação do ho-mem no meio ambiente, os vegetais, que também podem contê-los, possuem um poder especial de eliminá-los do próprio organismo que deles se alimenta.

O problema das nitrosaminas, por exemplo, diz respeito às carnes e seus derivados (salsicha, chouriço, presunto e fiambre), devido à adição de nitritos usados para manter a cor da carne mais apetitosa. Esses elementos tendem a se concentrar na gordura animal e a se acumular. Apesar disso, pouco se divul-ga a quantidade de nitrosaminas utilizada nesses produtos. Prefere-se afirmar,

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sem comprovações, que os vegetais cultivados ou industrializados têm mais nitrosaminas. Mesmo assim, os nitratos que ingerimos provenientes dos legu-mes e frutos têm seus efeitos quase anulados, o que não ocorre com a carne por eles contaminada. Assim, nada ainda está decidido quanto à agricultura bio-lógica. Os nitratos, na boca ou no estômago, podem transformar-se em nitritos que, por sua vez, produzem nitrosaminas — substâncias cancerígenas. No caso dos vegetais estes efeitos negativos são parcialmente neutralizados pelas vita-minas C e E, os carotenóides e os flavonóides, o que não acontece com os outros alimentos. Mesmo assim, é melhor ter certos cuidados: lavar, descascar e cozer eliminam grande parte dos nitratos. No caso das alfaces, que são consumidas cruas, é especialmente importante não aproveitar as folhas exte-riores e as nervuras, onde eles se concentram. Deixando de consumir estas partes, estaremos eliminando 30% deles.

0 que há de errado em consumir leite e seus derivados

O consumo desses produtos contribui para a devastação e degradação ambiental, quase que nas mesmas proporções que o consumo de carne bo-vina. Em busca de novas pastagens, são comuns o desmatamento e as quei-madas, principalmente no Brasil. Por essa razão, o vegetariano autêntico não faz uso do leite de vaca e dos seus derivados. Mas existem razões ligadas à saúde que apontam os laticínios como alimentos inadequados para o consu-mo humano.

Nos últimos anos, principalmente, têm crescido as evidências sobre os efeitos negativos do leite e dos seus derivados sobre o organismo humano. Considerados excelentes alimentos até há alguns anos, eles hoje estão sendo questionados por muitos médicos e nutricionistas, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.

Recentemente, os estudos do dr. FranckA. Oski e John D. Bell compro-vam que, mesmo não lhes acrescentando nenhum aditivo ou açúcar, os laticí-nios não são apropriados para o homem, uma vez que a natureza fez com que cada espécie de mamífero produzisse o seu próprio leite. Pouco depois dos três anos de idade, ou assim que a primeira dentição começa a se definir, o organismo humano vai perdendo uma enzima denominada lactose. Com isso o leite de vaca torna-se um produto de difícil digestão, perturbando a assimila-

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ção de outros nutrientes e favorecendo as fermentações digestivas que pro-vocam flatulências.

Diferentemente do leite humano, o leite de vaca possui vários compo-nentes em quantidades desproporcionais para o homem, como a caseína e a lactoalbumina. Contém também alérgenos diversos (produzem vários tipos de reações alérgicas), como as imunoglobulinas, por exemplo, que provo-cam alergias em diferentes mamíferos, menos no bezerro. O excesso de albuminas, de mucopolissacarídeos e de outros compostos mucosos faz do leite integral um dos produtos mais mucogênicos, sendo portanto capaz de aumentar a secreção das mucosas. Muitos organismos descarregam o exces-so de compostos mucóides lácteos através dos "emunctórios naturais", ou seja, das áreas forradas por mucosas, como o conduto auditivo, as paredes dos brônquios, a mucosa nasal, as paredes dos seios da face, as paredes va-ginais e, também, através da pele e do couro cabeludo. Respectivamente, isto contribui para o surgimento de bronquites, rinites, sinusites, corrimentos vaginais, eczemas, descamações, caspas e seborréias. A medicina natural in-tegral compreende que estes fenômenos resultam da descarga de toxinas e de material ácido do sangue. O excesso de consumo de laticínios favorece a produção de ácido lático.

Há algum tempo, o leite de vaca era recomendado pelos médicos para o tratamento auxiliar da úlcera gástrica, mas hoje está sendo contra-indicado. Por ser alcalino na sua forma natural, o leite de vaca tem, de fato, um efeito ime-diato e espetacular sobre os sintomas de queimação determinados pelos áci-dos do estômago sobre uma úlcera. Mas quase que imediatamente ele talha e azeda, gerando ácido lático nos intestinos, o que contribui para a assimilação e presença de maior quantidade de elementos acidificantes. Isso faz com que o sangue forneça mais íons H +, o que incrementa a produção de ácido clorídri-co no estômago, perpetuando o processo. Como a pessoa que sofre de úlce-ra tem alívio imediato com o leite, acaba por consumir quantidades crescentes do produto, sem saber que caiu num círculo vicioso.

Estudos mais recentes revelam dados estarrecedores que têm causado muita polêmica. Recomendado como um dos alimentos capazes de prevenir a osteoporose, o leite hoje está sendo apontado como um dos fatores que a provocam.

A osteoporose é um enfraquecimento do tecido ósseo derivado de uma carência de minerais, entre eles o cálcio. Muito comum no sexo feminino na

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menopausa e no envelhecimento, ela pode produzir alterações na estrutura da coluna vertebral e fraturas espontâneas causadas por poucas trações. Como o leite de vaca (de cabra e outros) é rico em cálcio, imagina-se que ele seja bené-fico nesses casos. Contudo, uma visão global ou integral nos revela que os mine-rais interagem entre si e se interdependem. No tecido ósseo, o cálcio, o fósforo e o magnésio têm função importante quanto à formação e manutenção do osso. Numa analogia muito simples, poderíamos imaginar que o cálcio é o tijolo de um muro; o magnésio, o cimento e o fósforo, a água que mistura o cimento. Com-parado ao leite humano o leite de vaca é particularmente muito pobre em magnésio (que o bezerro obtém mais tarde através da clorofila do capim, sendo o leite, portanto, adaptado a esta condição), além de ter também pouco fósforo. Como o leite fornece muito cálcio, mas quase nenhum magnésio, este cálcio (secundário) excessivo acaba exigindo uma complementação bioquímica com o magnésio (menor com o fósforo), que acaba por ser retirado lenta e continua-mente do tecido ósseo, enfraquecendo-o ao longo dos anos. Entretanto, com base em estudos mais atuais, descobriu-se que somente o leite não seria um fa-tor tão importante na questão da osteoporose.

Segundo a indústria de laticínios, para manter os ossos fortes precisamos ingerir cálcio através do leite. No entanto, pesquisas demonstraram que mes-mo algumas mulheres que bebiam três copos de leite por dia acusavam defi-ciência deste mineral.

Mais de 25% das mulheres acima dos 60 anos nos EUA já perderam mais da metade de seu tecido ósseo, O consumo excessivo de proteínas através da carne e dos laticínios acidula o sangue, provocando a redução de cálcio nos ossos para neutralizar essa acidez. As mulheres vegetarianas, ao contrário, têm ossos fortes, posturas eretas e pouquíssimas fraturas na idade avançada. Isso se deve ao fato de que as verduras têm mais cálcio do que o leite, além de não apresentarem excessos de proteína capazes de causar acidez e perda óssea.

O teor mais elevado de cálcio no leite de vaca — adequado para o bezer-ro, mas excessivo para seres humanos — é um dos fatores que contribuem para a maior incidência de arteriosclerose, aterosclerose, cálculos renais e biliares, além de anomalias ósseas, já que o cálcio, juntamente com o sódio e o colesterol, tende a contribuir para a formação de placas endurecidas dentro das artérias.

A precipitação do cálcio excedente na corrente sanguínea favorece a for-mação de cálculos renais, segundo pesquisas realizadas em Boston, Mas-

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sachusetts, em 1998. Não é sem razão que o leite seja o primeiro alimento a ser suspenso por médicos bem informados em situações de litíase renal.

Também verificamos na alimentação humana a presença constante de um agente descalcificante, sensivelmente negligenciado pela medicina oficiai e bas-tante utilizado junto com o leite: o açúcar branco. A elevada e crescente inci-dência de osteoporose nos dias de hoje se deve ao hábito de se consumir excessivamente laticínios e açúcar branco. Em quantidades excessivas, o açú-car atua retirando basicamente o cálcio e o magnésio primários presentes nos ossos e nos dentes.

Resumo dos problemas provocados pelo consumo

de leite e derivados

Alergias alimentares Caspa

Alergias de pele Dermatite seborréica

Alergias subclínicas Enxaqueca

Arteriosclerose cerebral Flatulência

Artrite Fluxos vaginais

Artrose Gases intestinais

Asma brônquica Infecções intestinais

Aterosclerose coronariana Osteoporose

Bronquite Reumatismo

Cálculos biliares Rinite

Cálculos renais Sinusite

Fonte: Franck A. Oski e John D. Beil, em Don't Drink Your Milk. Avon Books, Nova York, 1969.

Adeptos da alimentação natural com base na abordagem macrobiótica afir-mam que o leite de cada mamífero é adequado para cada espécie. Se uma delas se alimentar regularmente do leite de uma outra espécie, surgirão pro-blemas. Seriam as doenças que acabamos de enumerar ligadas a essa forma de entendimento? Possivelmente sim. O estudo e a observação das leis da

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natureza indicam que toda e qualquer infração cometida contra elas resulta em multa ou em dano à saúde. De fato a estrutura do leite de vaca é própria para bezerros, mas não exatamente adequada para os homens. O bezerro cresce cerca de dez vezes mais rapidamente que os humanos nos primeiros meses de vida e, como já vimos, nesse período precisam de menos magnésio do que nós; além disso, os anticorpos gerados pelo organismo da vaca para a defesa imunológica do bezerro tornam-se antígenos para os seres huma-nos e podem desencadear distúrbios alérgicos de várias proporções. Exis-tem outros numerosos elementos presentes no leite de vaca que são importantes para bezerros, mas inadequados para homens, O leite humano, ao contrário, é perfeitamente próprio para o nosso consumo, mesmo apo-sentando quantidades menores de vários nutrientes (principalmente proteí-nas), quando comparado ao leite de vaca. Mas não há como consumir leite humano, a não ser no início da vida.

Convém lembrar que, se quisermos obedecer aos ditames das leis natu-rais, devemos parar de tomar leite assim que nascem os dentes. A esta altura, o leite, mesmo humano, deixa de ser um alimento completo. É o que aconte-ce com os demais mamíferos, que mudam a sua dieta logo que nascem os dentes. O seres humanos são os únicos "animais" que continuam a se alimen-tar de leite — obviamente de outros animais — durante toda a sua vida.

Comparando o leite das diferentes espécies

Porcentagem de proteínas

Tempo necessário para dobrar o peso

Humano 5 % 180 dias

Égua 1 1% 60 dias

Vaca 15% 47 dias

Cabra 17% 19 dias

Cadela 30% 8 dias

Gata 40% 7 dias

Rata 49% 4 dias

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Entre as opções de substitutos saudáveis para o leite de vaca podemos encon-trar o leite de soja, de amêndoas (ver receita adiante), de aveia, de arroz inte-gral e de cereais, preparado através do cozimento prolongado de farinhas de cereais integrais.

A polêmica dos alimentos transgênicos

"O conhecimento atual não nos permite prever os efeitos, a longo prazo, da liberação de organismos transgênicos no meio ambiente."

DR. RENÉ VON SCOMBERG, técnico e conselheiro do Parlamento europeu

Considera-se transgênico qualquer alimento modificado geneticamente. Atra-vés das técnicas da engenharia genética ou da biotecnologia introduz-se uma ou mais seqüências de DNA de outra espécie, ou uma seqüência modificada da mesma. Organismo transgênico é aquele que recebeu um gene, ou seja, um pedaço de DNA que não existia. Toda e qualquer espécie viva é formada por um conjunto de genes, o DNA, que vai determinar suas características.

Os efeitos do avanço da biotecnologia e dos transgênicos na indústria de alimentos continuam sendo discutidos no mundo inteiro.

Animais também podem ser transgênicos. A empresa de biotecnologia de Edimburgo, PPL Therapeutics, a mesma que criou Dolly, a primeira ovelha clonada do mundo, produziu mais um clone. Trata-se de Polly, uma ovelha que representa um avanço em relação a Dolly: tem um gene humano. Ela é a pri-meira ovelha transgênica criada a partir da tecnologia de clonagem e está sen-do considerada pelos cientistas um passo crucial na comercialização desta técnica. Polly contém um gene humano, responsável pela produção de uma proteína humana em seu leite, que permitirá tratar doenças que vão da hemofilia à osteoporose. O método de clonagem permitirá o nascimento apenas de fê-meas e a obtenção de um rebanho inteiro a partir de uma só geração.

Acredita-se que o que vai realmente valorizar a planta transgênica será o desenvolvimento de variedades mais resistentes às pragas, o que, teoricamen-

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te, exigiria o emprego de menos agrotóxicos nas culturas vegetais. Além disso, espera-se que os alimentos transgênicos garantam maior teor de nutrientes, principalmente proteínas e lipídios. Considera-se também que estes alimentos possam ser mais baratos e o seu cultivo mais eficiente do que o convencional, o que poderia ser a solução para o abastecimento da população mundial, re-solvendo a situação da fome.

Essa idéia principiou quando as primeiras experiências americanas com transgênicos produziram tomates com genes que modificam a parede celular da solanácea, aumentando sua vida útil. Usou-se o bacilo turigensis, bactéria usada como biopesticida, colocando-se a sua toxina dentro das plantas, o que produziu maior resistência a pragas e melhoria da qualidade. O bacilo foi intro-duzido também no genoma do algodão e do milho, mostrando a possibilidade de redução dos custos de produção e menor uso de inseticidas.

Nos Estados Unidos, a soja é o produto vegetal que vem sendo largamen-te produzido através da biotecnologia. Ficou famoso o caso da soja RR (Roundup Ready), resistente ao herbicida glifosato (herbicida Roundup). Um gene origi-nado de uma bactéria de solo que tinha o poder de quebrar a molécula do herbicida foi introduzido nesse tipo de soja, fazendo com que o vegetal, que normalmente não resistiria à aplicação do herbicida, não morresse ao ser atin-gido pelo produto, enquanto as ervas daninhas não resistiram à aplicação.

Atualmente cerca de 70% da área destinada ao plantio de algodão nos Estados Unidos é cultivada com variedades transgênicas — alteradas genetica-mente para combater principalmente a lagarta da maçã e a lagarta rosada, os dois principais problemas dessa cultura nos EUA. A previsão é de que, na pró-xima safra, os transgênicos ocupem 80 a 90% da área destinada ao algodão no país.

A Monsanto entra no campo

A Monsanto é uma empresa norte-americana pioneira na pesquisa e na pro-dução de alimentos transgênicos. Com a ajuda da engenharia genética, ela vem desenvolvendo sementes dos mais variados tipos, da colza ao milho, tornan-do-as altamente produtivas e resistentes a pragas. Mas nenhuma supersafra vem de graça. Os agricultores pagam uma fortuna pelas sementes da Monsanto e são obrigados a assinar um contrato que os impede de plantar sementes pro-

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venientes de suas colheitas. Isso quer dizer que, se quiserem repetir o sucesso da safra seguinte, têm de recorrer mais uma vez à companhia para conseguir um novo carregamento.

Usando a engenharia genética e com a ajuda de genes inteligentes — ainda em fase de desenvolvimento —, a Monsanto quer criar futuras safras com um novo propósito: a esterilidade, No momento em que as plantas atingirem a maturidade, as sementes perderão a capacidade de reprodução. Esse novo gene — chamado de Terminator (Exterminador do Futuro) — está sendo motivo de preocupação no mundo inteiro. Caso essa nova tecnologia tome conta do mercado, acredita-se que, em breve, os agricultores estarão implorando pelas sementes da Monsanto, dispostos a pagar qualquer preço para garantir uma nova safra, O perigo maior, segundo algumas previsões, estaria na dissemina-ção do gene esterilizador. Com o vento, o pólen dessas plantas poderia fertili-zar outras da mesma família, culminando com a contaminação, de forma irreversível, de toda a flora terrestre.

Os pesquisadores conseguiram remover de uma célula vegetal o segmen-to de DNA responsável pela produção de toxina e introduzir esse material genético letal no genoma de plantas comerciais. Em associação com outros dois elementos, o gene assassino permanece inativo até um estágio avançado de desenvolvimento, quando atoxina produzida afeta apenas as sementes, não a planta. Entretanto, como a empresa precisa produzir inicialmente uma quan-tidade suficiente de sementes para a venda, os cientistas acrescentaram mais uma seqüência de DNA para neutralizar os genes esterilizadores. Uma vez produzidas as sementes necessárias, elas serão imersas em antibiótico para que o gene repressor seja ativado e as sementes se tomem estéreis.

Embora a maior parte dos cientistas acredite que não haja perigo na criação do "exterminador do futuro", o fato é que, de posse dessa tecnologia, a Monsanto estará numa situação privilegiada e de grande poder. Jeremy Rifkin, especializado em biotecnologia, tem a seguinte opinião: "Em se tra-tando de marketing, a nova tecnologia é fantástica, mas do ponto de vista social, ela é calamitosa, porque o que está em jogo é o controle das se-mentes da vida."

Muitas organizações e instituições do mundo inteiro estão reagindo contra a Monsanto. A empresa, no entanto, não é a criadora da tecnologia do "exter-minador do futuro". Ela foi desenvolvida pelo Departamento de Agricultura norte-americano, em parceria com a empresa produtora de sementes, a Del-

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ta and Pine Land, do Mississippi, que vendeu as patentes para a Monsanto por um bilhão de dólares.

A Monsanto vem criando inimigos, especialmente em países em desenvol-vimento. Em muitos deles, os agricultores não têm condições de comprar es-sas sementes de primeira linha todos os anos e precisam usar uma porção de cada colheita para o plantio no ano seguinte. Na visão da empresa, o "Extermi-nador do Futuro" é particularmente importante nessas regiões, onde não exis-te proteção efetiva para suas patentes. Mas esse é um argumento pouco convincente nos países pobres. Segundo Hope Shand, diretor de pesquisa da Fundação Internacional para o Avanço Rural, "não haverá benefícios para os agricultores".

A Monsanto contra-argumenta a favor dos seus produtos. Além de produ-zir um dos herbicidas mais populares do mundo, a companhia desenvolveu plantas mais resistentes ao veneno, permitindo que os agricultores pulverizem a plantação sem prejuízo à sua colheita. Os cientistas da empresa também desenvolveram plantas capazes de produzir uma toxina inofensiva para o ho-mem, mas fatal para os insetos. Atualmente eles pesquisam outras substâncias que podem ser incorporadas ao material genético e serão capazes de comba-ter mais de vinte doenças. Se as supersementes — com ou sem o Extermina-dor do Futuro—forem adotadas em países em desenvolvimento, o aumento de produtividade seria uma boa justificativa para a compra anual de sementes a um custo mais elevado.

Os técnicos da Monsanto também contestam as sombrias previsões dos ambientalistas. Eles descartam o risco de uma esterilização generalizada. Se-gundo a empresa, a transmissão dos genes "assassinos" pode até ocorrer, mas é pouco provável. Precauções simples, como o isolamento das plantações que contêm o gene alterado, estão aptas a resolver o problema.

0 perigo dos alimentos transgênicos

Em relação aos alimentos transgênicos, a verdade é que, enquanto alguns cien-tistas dizem que eles são inofensivos a saúde e ao meio ambiente, até hoje nenhum conseguiu provar isso. Há cientistas mais prudentes que exigem no-vas pesquisas, já que há evidências de que existem riscos potenciais relaciona-dos aos transgênicos, Vamos a eles.

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Cientistas menos envolvidos com os interesses comerciais da Monsanto afirmam que o gene "exterminador" poderá ser levado pelo vento junto com os grãos de pólen e fecundar as flores de plantas silvestres ou domésticas, tor-nando-as também estéreis, e provocando uma irreparável destruição no patrimônio biológico da humanidade.

Dizem também que novos elementos tóxicos podem ser agregados aos alimentos. Muitas plantas produzem naturalmente uma variedade de compos-tos — como as neurotoxinas, inibidoras de enzimas — que podem ser tóxicos e alterar a qualidade dos alimentos. Geralmente, estes compostos estão pre-sentes em níveis não-tóxicos, mas através da engenharia genética podem ser produzidos em altos níveis.

Existem também riscos para a saúde, já que existe a possibilidade do DNA inserido na comida ser tóxico. No Japão, um suplemento alimentar "engenhei-rado" causou dezenas de mortes e deixou centenas de pessoas inválidas em razão da sua toxicidade.

Há também relatos de respostas alérgicas de indivíduos que consumiram um transgênico que possuía um gene da castanha-do-pará brasileira. Com a engenharia genética, novas proteínas causadoras dessas reações alérgicas po-dem entrar nos alimentos. Alergênicos são proteínas que causam reações alér-gicas. Transferidas de um alimento para outro, as proteínas podem conferir à nova planta as propriedades alergênicas do doador. Embora as pessoas nor-malmente costumem identificar os produtos que as afetam, com a transferên-cia dos alergênicos perde-se a identificação e a pessoa só vai descobrir o que lhe fez mal após a ingestão do alimento.

É possível ainda que o DNA inserido possa sertransferido para os microor-ganismos da flora intestinal conferindo resistência bacteriana aos antibióticos. Segundo um estudo da Royai Society da Inglaterra, há chances de que isso ocorra. Os genes antibiótico-resistentes podem diminuir a eficácia de alguns antibióticos em seres humanos e nos animais.

A qualidade nutricional dos alimentos da engenharia genética também pode ser reduzida. Pode ser significativamente alterada a quantidade de nutrientes nos alimentos "engenheirados". Sua absorção ou metabolismo também po-dem ser modificados e novas substâncias correm o risco de alterar a composi-ção dos alimentos. O gene introduzido pode não só estimular a atividade de genes inativos, como inativar genes antes ativos. Isso resultaria na deficiência de uma proteína ou no surgimento de uma nova proteína, causando distúrbios

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imprevisíveis no metabolismo da célula, como a geração de novos compostos ou modificação nos níveis de concentração dos já existentes,

No que diz respeito à segurança em reSação à liberação dos transgênicos, a avaliação é feita através da equivalência substancial, isto é, se o transgênico possui as mesmas substâncias que o alimento original. Alguns cientistas alegam que esse método não é seguro uma vez que existe a possibilidade de novas proteínas nocivas ao metabolismo não serem detectadas, Como essa avaliação foi aprovada por rigorosos órgãos americanos como sendo segura, os trans-gênicos avaliados são vendidos em vários países, inclusive no Brasil.

A engenharia genética cria um aminoácido tóxico

Suplementos alimentares, como aminoácidos, geralmente são fabricados por processos fermentativos. Grandes quantidades de bactérias são cultivadas em tonéis e o suplemento é extraído das bactérias e purificado. O aminoácido triptofano tem sido produzido deste modo há muitos anos.

No final dos anos 80, a companhia Showa Denko K.K. decidiu usar a en-genharia genética para acelerar e aumentar a eficiência da produção de triptofano. Foram inseridos vários genes que alteraram a bactéria, levando-a a expressar certas enzimas, em níveis muito acima do normal, e outras que nor-malmente não fariam parte da bactéria original. Estas enzimas alteraram subs-tancialmente o metabolismo celular do triptofano provocando um grande aumento da sua produção. A bactéria alterada foi imediatamente utilizada na produção comercial do aminoácido, posto à venda no mercado norte-ameri-cano em 1988. Substancialmente ele foi considerado equivalente ao triptofano que estava sendo vendido há anos. Só que, em poucos meses, causou a morte de 37 pessoas e 1.500 ou mais incapacitações permanentes.

Meses se passaram até que se descobrisse que o envenenamento fora provocado por uma toxina presente no aminoácido produzido pela bactéria modificada pela Showa Denko através da engenharia genética. A nova doença foi batizada de EMS (eosinophilia myalgia syndrome), porque seus sintomas iniciais eram: aumento do número das células sanguíneas (eosinófilos) e dores musculares (mialgia). Mais tarde mostrou-se que o triptofano produzido pelas bactérias modificadas continha um ou mais contaminantes tóxicos. O mais importante deles, chamado EBT, foi identificado como um produto da dime-

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rização do triptofano. Ele representava menos de 0,1 % do peso total do pro-duto, mas ainda assim foi suficiente para matar pessoas.

Assim, parece que a manipulação genética para aumentar a sua biossíntese levou a um aumento dos níveis celulares do triptofano e de seus precursores. Nestes altos níveis, esses compostos reagiram com eles mesmos, gerando uma toxina mortal.

Sendo quimicamente muito parecida com o aminoácido, esta toxina não poderia ter sido facilmente separada dele, o que ocasionou a contamina-ção do produto comercial final em níveis altamente tóxicos para os consu-midores.

Alimentos transgênicos podem afetar as abelhas e seus produtos

Recentemente um caso envolvendo abelhas e transgênicos assustou os britâ-nicos. Um pólen geneticamente modificado foi encontrado no mel produzido em locais próximos a campos experimentais de transgênicos. A descoberta foi divulgada pela organização ecológica Friends of the Earth (Amigos da Terra) que agora está reivindicando a suspensão imediata dos testes com safras de canola e milho geneticamente modificados feitos ao ar livre.

Os testes foram realizados pelo cientista Andreas Heissenberger, da Agên-cia Federal de Meio Ambiente da Áustria. Os criadores que possuem colméias próximas aos campos experimentais estão sendo advertidos para que retirem suas abelhas das imediações. Eles se queixam de não ter sido alertados sobre a "vizinhança" e agora a Associação dos Criadores de Abelhas da Inglaterra — que representa 350 produtores em todo o país — quer compensação pela perda de renda provocada pela mudança das colméias.

Transgênicos e o meio ambiente

Ainda não se sabe ao certo se a produção de transgênicos traz mais prejuízos ou benefícios para o meio ambiente.

Foi comprovado que uma planta transgênica inserida no ambiente toma o espaço das plantas naturais, formando uma plantação só de transgênicos. Isso é considerado perigoso, já que estas plantas (as transgênicas) correriam o risco

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de ser atacadas por "superpragas" capazes de resistir a pesticidas e de se re-produzir, danificando assim toda a plantação.

Por outro lado, também foi comprovado que há plantas geneticamente modificadas que limpam os lençóis freáticos. Bactérias transgênicas que despo-iuem ambientes já estão até sendo usadas.

Existem outros fatos a ser analisados. Um problema recente aconteceu com o milho transgênico. Em laboratório, notou-se que as borboletas monarcas que se alimentaram do pólen desse milho morreram, mas quando a experiência foi refeita em local aberto isso não ocorreu.

Diante destes fatos, vê-se que o impacto dos transgênicos no meio am-biente ainda é incerto. O ideal seria que, com o avanço das pesquisas, se con-seguisse encontrar métodos que trouxessem apenas bons resultados para a espécie humana e o meio ambiente.

Algumas das declarações enganosas ou falsos dos

defensores da biotecnologia:

"A engenharia genética é apenas uma variedade do melhoramento conven-cional."

A verdade é que a engenharia genética é fundamentalmente diferente do que se denomina melhoramento genético. Devido à inserção artificial de genes estranhos, substâncias nocivas podem aparecer de forma inesperada. Isto é um fato científico, experimentalmente comprovado.

"Não existem evidências de que os organismos modificados geneticamen-te sejam nocivos ao meio ambiente."

Ao contrário, não existe nenhuma evidência de que estes organismos não sejam nocivos ao meio ambiente. Um grande número de testes de campo já foi realizado, mas, na sua grande maioria, de forma superficial e sem que fos-sem incluídas investigações mais amplas quanto aos impactos ambientais a médio e longo prazos. Existem inúmeras razões para se temer a ocorrência de pro-blemas ecológicos que, pela natureza da tecnologia empregada, provavelmen-te serão, na sua maioria, impossíveis de reparar.

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A opinião pública mundial e os transgênicos

Alimentos modificados geneticamente são produzidos em farga escala e já são maioria nos Estados Unidos, onde o governo ainda não exige identificação es-pecial nos rótulos desse tipo de produto. Contudo, 90% dos consumidores norte-americanos manifestam posição contrária aos alimentos transgênicos. Nesse sentido, são acompanhados por consumidores do mundo inteiro: 78% dos suecos, 77% dos franceses, 65% dos italianos e holandeses, 63% dos di-namarqueses, 58% dos ingleses, 70% dos australianos e cerca de 80% dos brasileiros. No Japão, um abaixo-assinado com 1,7 milhão de assinaturas foi levado ao governo.

Existe também uma forte campanha mundial liderada pelo Greenpeace para impedir o desenvolvimento da biotecnologia.

Transgênicos e o governo brasileiro

Quando há alguns anos o tema da engenharia genética dos alimentos chegou ao Brasil, era notório o descuido do governo e a falta de informação. A desregulamentação é favorável às empresas interessadas e vem sendo busca-da em todos os países como uma estratégia para facilitar a liberação, a comer-cialização e a industrialização dos transgênicos. Isso explica por que no Brasil havia má vontade das autoridades em impor um marco regulatório eficiente para esses produtos.

Criou-se a Lei da Biossegurança, que começou a tramitar no Congresso Nacional a partir de 1989, com o objetivo não só de preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético brasileiro, como de proteger a vida. Em 1995, essa lei foi sancionada pelo presidente da República e estabeleceu a cria-ção da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) — com poder de aprovar ou não testes de campo e a comercialização de plantas transgênicas e de outros produtos da biotecnologia. No entanto, só poderão requerer au-torização aqueles que tiverem o certificado de qualidade e de biossegurança da CTNBio.

Uma das resoluções do governo brasileiro foi a exigência de rótulo identificador na embalagem dos produtos alimentícios obtidos por meio da biotecnologia. Essa posição será levada à reunião do Comitê de Rotulagem do

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Códex Alimentarius, entidade que é referência para a Organização Mundial do Comércio (OMC) na definição de padrões de alimentos em todo o mundo. A decisão, que obriga todos os trangênicos a se identificarem em selo fixado na embalagem, representa um avanço: até então, o governo brasileiro vinha sus-tentando posição idêntica à dos Estados Unidos, ou seja, não rotular alimentos "substancialmente equivalentes". A resolução se baseia no Código de Defesa do Consumidor que, em seu artigo 31, diz que a apresentação de produtos deve assegurar informações corretas e claras sobre suas características, quali-dades, composição e origem. Essa atitude do governo foi fruto das pesquisas realizadas pelo Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), segundo as quais consumidores do mundo inteiro, incluindo o Brasil, querem que os alimentos transgênicos sejam rotulados. Levantamento de uma emissora de televisão nacional mostrou que mais de 90% dos brasileiros fazem questão dessa iden-tificação.

No Brasil, até o momento as pesquisas feitas com transgênicos têm busca-do variedades mais resistentes e diferenciadas, como o algodão colorido. A Embrapa e seus associados vêm trabalhando para a obtenção de algodão transgênico no Brasil. O objetivo aqui é o combate às pragas, mas haverá mudanças em relação ao modelo americano, considerado de custo muito ele-vado. A previsão é de que a primeira variedade brasileira de algodão transgênico seja apresentada até 2003.

Apesar das dúvidas, de pontos inconclusivos e da regulamentação in-completa, empresas brasileiras já estão plantando soja modificada geneti-camente.

Sem se importar com a lei, companhias interessadas no plantio da soja no Brasil baseiam-se em informações "seguras" emitidas pela Monsanto. Uma delas procura mostrar que os primeiros produtos da engenharia ge-nética de plantas são espécies resistentes a herbicidas. Já os próximos — que estão sendo cultivados em cerca de 10 milhões de hectares em alguns países — serão responsáveis pela redução de inseticidas, que custam hoje US$ 10 milhões à agricultura, sem falar nos problemas ambientais decor-rentes de seu uso. Só no Brasil são gastos quase US$ 2 bilhões por ano com agrotóxicos.

Ambientalistas e entidades ligadas à saúde pública acreditam que deve-mos discutir melhor o papel do governo e da CTNBio, que se apóia no in-constitucional Decreto 1.752 de 20.12,1995: liberar os transgênicos sem levar

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em conta o seu impacto sobre o meio ambiente, A comissão tampouco res-pondeu às contestações de entidades civis, como a SBPC (Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciência). Além de tudo, ainda atropela o Código de Defesa do Consumidor, que garante o direito de escolher o que comer a despeito de simples menções em rótulos. Diversos artigos e reportagens publicados na imprensa recentemente questionam aspectos relacionados ao processo de avaliação dos alimentos geneticamente modificados e a atuação da CTNBio.

Há muitos aspectos questionáveis com relação a esta comissão, que atua anonimamente e sem remuneração na implantação da Lei de Biossegurança (Lei 8.974, de 5.1.1995). De acordo com essa lei, a CTNBio pode decidir sem solicitar documentos das empresas interessadas, que são exigidos ape-nas quando a comissão julgar necessário. A comissão entendeu que esses documentos relativos à segurança não eram necessários no caso da soja transgênica tolerante ao herbicida Roundup e é, perante a opinião pública, responsável por tal decisão, A comissão afirma ter analisado essa questão "exaustivamente". Diz que acompanhou sua evolução experimental e sua liberação comercial em todo o mundo. Analisou todas as evidências relati-vas à sua segurança quanto à alimentação humana ou animal, sua liberação ambiental e não encontrou nenhuma evidência real que justificasse a não-aprovação do seu uso em escala comercial no Brasil. Nenhum argumento apresentado pelo IDEC ou pelos cientistas envolvidos nesse episódio, como a SBPC (ou qualquer outra organização interessada), deixou de ser analisa-do criteriosamente.

Apesar de todos os seus argumentos, a posição determinada da CTNBio é apenas aparente. Na verdade, trata-se de uma comissão confusa, com-posta por membros não remunerados, que emitem pareceres inconclusivos. Cientistas sem nenhum compromisso oficial com o governo ou com as em-presas ligadas à biotecnologia afirmam categoricamente que não há evidência de aumento de produtividade nos experimentos realizados com a soja no país. Contudo, as estimativas apontam que, só no Brasil, o plantio da soja Roundup Ready provocará aumento no consumo de glifosato — de 2 para 20 milhões de litros por ano. Além disso, agricultores, principalmente os de menor porte, vão transformar-se em reféns das empresas, A introdu-ção da tecnologia terminator, já patenteada nos EUA e com pedido de

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patenteamento no Brasil, poderá acabar com a opção de usar parte dos grãos colhidos como sementes, já que esses grãos passarão a ser estéreis, Portanto, a substituição dos agrotóxicos por uma agricultura biológica e sustentável é questionável.

Felizmente, a justiça brasileira tem respondido, em parte, a esses desres-peitos, corrigindo os rumos do trabalho da CTN Bio ao determinar a rotulagem completa dos transgênicos. Enquanto isso, eventos envolvendo o confisco de soja transgênica têm sido relatados no Brasil.

Em São Paulo a juíza Raquel Fernandes Perrini, da I I a Vara da Justiça Fe-deral, atendendo a pedido formulado pelo IDEC, proibiu o plantio da soja transgênica em escala comercial no país até que se façam estudos técnicos sobre eventuais riscos que esse produto possa oferecer aos consumidores, à população em geral e ao meio ambiente. Alem disso, determinou que todo produto transgênico seja devidamente identificado, através de rótulo coloca-do na embalagem. Essa providência é importante não só para a defesa dos consumidores, mas também para a proteção do meio ambiente, já que exis-te a possibilidade de a soja transgênica cruzar com outras plantas e dar ori-gem a uma erva daninha resistente a herbicidas.

Devemos ficar alertas, Enquanto os cientistas estiverem divididos a favor e contra os transgênicos, nós, as pessoas comuns, só podemos ter medo. Não é possível sentir segurança a respeito de algo que nem os cientistas en-:endem. Causa indignação pensar que nos induzem a comer coisas que não sabem se poderão nos dar mais vida ou se nos trarão doenças e morte. A rotulagem dos transgênicos é necessária, pois só assim podemos saber o que estamos comprando. Infelizmente isso não garante nem substitui as questões oertinentes à segurança alimentar, pois não é prova de que esses produtos sejam inofensivos.

É preciso tomar algumas providências que defendem o consumidor e o meio ambiente, antes que os alimentos geneticamente modificados sejam pro-duzidos em grande escala e consumidos pela população, Por enquanto, procu-re evitá-los. Existem muitos produtos alimentícios importados dos Estados Unidos contendo transgênicos, principalmente aqueles à base de soja. Não adquiri-los é uma forma de protesto, até que tenhamos total segurança quanto à sua inocuidade.

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Produtos com transgênicos, a ser evitados

Produtos com presença de transgênicos no Brasil Produto Empresa País de Origem Porcentagem de transgênicos Data do teste Nestogeno Nestié do Brasi! Brasil 0,1 % de soja Roundup Ready da Monsanto,

Menos de 1 % de soja Roundup Ready 20/6/00 e 4/4/01

Pringles Original Procter & Gamble Estados Unidos Mitho Bt 176 da Novartis 20/6/00 Sopa Knorr creme de milho verde

Refinações de Milho Brasil

Brasil 4,7% de soja Roundup Ready (reincidente) 20/6/00 e 4/4/01

Sopa Knorr macarrão e legumes

Refinações de Milho Brasil

Brasil Traços de soja Roundup Ready e milho Bt 176 20/9/00

Cup Noodles Nissin-Ajinomoto Estados Unidos 4.5% de soja Roundup Ready, menos de 1 % de soja Roundup Ready (reincidente)

20/6/00 e 4/4/01

ProSobee Preparado Instantâneo

Bristol-Myers Estados Unidos 1,9% de soja Roundup Ready, menos de 1 % (reincidente)

20/6/00 e 4/4/01

Bac'os Gourmand Alimentos Estados Unidos 8,7% de soja Roundup Ready 20/6/00 Supra Soy integral Josapar Bélgica 0,7% de soja Roundup Ready, menos de

1% de soja Roundup Ready (reincidente) 20/6/00 e 4/4/01

Sopa Pokemon Arisco Refinações de Milho Brasil Brasil Traços de soja Roundup Ready e milho Bt 176 20/9/00 Mistura para bolo de chocolate Sadia

Sadia Brasil Traços de soja Roundup Ready e milho Bt 176 20/9/00

Ovomaitine Cereais e Fibras Novartis Brasil Traços de soja Roundup Ready e milho Bt 176 20/9/00

Ap tamil Support Produtos Nutricionais Ltda.

Argentina Menos de 1 % de soja Ftoundup Ready

In Natura — Mistura de Cereais

AUF Natur Ind. E Com. De Produtos

Brasil Menos de 1 % de soja Roundup Ready

Salsicha Swift Swift Armour Brasil 3,9 de soja Roundup Ready 20/6/00 Broinha de milho ^bki Yoki Alimentos AS Brasil Menos de 1% de soja Roundup Ready

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Produtos importados que apresentaram contaminação

Produto Empresa País de Origem

Aptamil Support Produtos Argentina

Cup Noodles Nissin-Ajinomoto Alim. Ltda. Estados Unidos

ProSobee Preparo Instantâneo Bristol Myers Estados Unidos

Supra Soy Integral Joaquim Oliveira S A Brasil

Cinco produtos que já estavam na lista dos contaminados

e voltaram a apresentar contaminação

Produto Empresa

Creme de Milho Verde Knorr Refinações de Milho Brasil Ltda.

Cup Noodles Níssin-Ajínomoto Aiim. Ltda.

Nestogeno com Soja Nestlé do Brasil

ProSobee Preparo Instantâneo Bristol Myers

Supra Soy Integral Joaquim Oliveira SA .

Fonte: Greenpeace e IDEC.

Alimentos irradiados

Diante do que foi até agora visto em termos da relação tecnologia/alimentos, qualquer técnica voltada de algum modo para a área alimentar passa obrigato-riamente pelo crivo da dúvida. A irradiação dos alimentos, ao que parece, é aquela que mais estranheza nos provoca. Vamos ver o que é isso.

Nos Estados Unidos, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) vem realizando pesquisas nessa área desde 1899 e, na Europa, cientistas ale-mães e franceses começaram a se interessar pelo assunto a partir de 1914, Os resultados desses estudos não foram animadores, porque o processo de irradiação provocava alterações que comprometiam a aceitação do produto pelos consumidores. A partir de 1950, novas pequisas pareciam sugerir pro-

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váveis benefícios sem se buscar efeitos indesejáveis, e verificou-se que, além do potencial de diminuir a incidência de intoxicações alimentares, a irradia-ção inibia o brotamento de raízes e tubérculos, desinfetava frutos, vegetais e grãos, atrasava a decomposição, eliminava organismos patogênicos e aumen-tava o tempo de estocagem de carnes, frutos do mar, frutas e sucos de frutas que podiam ser conservados durante muito tempo, até anos, sem refrigera-ção. Então, a tragédia provocada pela bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial, o acidente na usina de Chernobyl (e, entre nós, o Césio 90, em Goiânia), repercutiram de maneira negativa sobre os estudos que vinham sendo realizados. A opinião pública mundial se tornou mais crítica e passou a exigir explicações, tais como: se a comida irradiada se torna radioativa, se a irradiação produz toxinas nos alimentos, se a técnica acarreta a perda de nutrientes, se as doses de radiação são seguras para a saúde, quais os seus efeitos sobre o sabor, a cor e a textura dos alimentos e se o processo é ino-fensivo para o meio ambiente.

Respostas para essas questões foram buscadas através de inúmeras pes-quisas, grande parte delas realizadas nos EUA, onde alimentos irradiados foram servidos a prisioneiros, voluntários, astronautas, pacientes imunode-primidos e militares de várias partes do mundo. Entre 1964 e 1997, a Or-ganização Mundial de Saúde (OMS) acompanhou os resultados desses estudos em conjunto com a Organização das Nações Unidas para Agricul-tura e Alimentação (FAO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AlEA), através de uma série de reuniões com especialistas de diversos países do mundo. Na última reunião, em setembro de 1997, foi anunciada uma conclusão provisória: a OMS aprovava e recomendava a irradiação de ali-mentos em doses que não comprometessem as suas características orga-nolépticas, sem necessidade de testes toxicológicos. Depois disso, a nova técnica foi aprovada pelas autoridades sanitárias de 40 países, Diversos ali-mentos têm sido regularmente submetidos a esse processo, sendo os mais comuns os cereais, as frutas, vários tipos de vegetais, temperos, grãos, fru-tos do mar, carnes e aves. Segundo dados oficiais da Fundação para Educa-ção em Alimentos Irradiados, dos Estados Unidos, mais de 1,5 tonelada de alimentos é irradiada no mundo a cada ano. Embora essa quantidade re-presente apenas uma pequena fração do que é consumido no mundo todo, sua tendência é crescer.

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O que é a irradiação do alimento

Quando um produto alimentício é irradiado, ocorre ionização, ou seja, criam-se cargas positivas ou negativas que produzem efeitos químicos e biológicos capazes de impedir a divisão celular nas bactérias pela ruptura de sua estrutura molecular. Díz-se que a quantidade de energia utilizada para se conseguir esse efeito não é suficiente para causar radioatividade nos alimentos, e que não há perigo de eles entrarem em contato com a fonte de radiação.

Argumentos favoráveis a essa técnica garantem que ela pode induzir a for-mação de algumas substâncias — chamadas de produtos radiolíticos — na constituição dos alimentos. Estas substâncias não são radioativas nem exclusi-vas dos irradiados. Muitas delas são encontradas naturalmente nos alimentos ou produzidas durante o processo de aquecimento, como a glicose, o ácido fórmico e o dióxido de carbono. As pesquisas não encontraram associação entre a sua presença e efeitos nocivos aos seres humanos. Em relação aos nutrien-tes, a irradiação promove poucas mudanças. Outros processos de conserva-ção, como o aquecimento, causam reduções muito maiores dos nutrientes. As vitaminas, por exemplo, são muito sensíveis a qualquer tipo de proces-samento. Sabe-se que a vitamina BI (tiamina) é das mais sensíveis à irradiação, mas mesmo assim as perdas são mínimas. A vitamina C (ácido ascórbico), sob o seu efeito, é convertida em ácido dehidroascórbico, que é outra forma ativa da vitamina C.

Outros argumentos têm razão econômica. Segundo a FAO, cerca de 25% de toda a produção mundial de alimentos se perde pela ação de microorganismos, insetos e roedores. A germinação prematura de raízes e tubérculos condena à lata de lixo toneladas desses produtos e é um fenômeno mais intenso nos paí-ses de clima quente, como o Brasil. A irradiação ajudaria a reduzir essas perdas e a diminuir a dependência aos pesticidas químicos, alguns deles extremamen-te nocivos para o meio ambiente, como o metilbrometo, por exemplo.

Existem doses seguras de irradiação para a saúde?

Na irradiação de alimentos utiliza-se como fontes de radiação os isótopos radioativos, mais freqüentemente o Cobalto 60, obtido pelo bombardeamento com nêutrons do metal Cobalto 59 em um reator nuclear. De acordo com a

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OMS, alimentos irradiados com doses de até I OkGy não necessitam de ava-liação toxicológica ou nutricional. É o caso dos que são consumidos no mun-do, que não recebem mais do que essa dosagem. A dose de radiação é medida em Grays (G) ou quilograys (kGy), onde I Gray é igual a 0,001 kGy que, por sua vez, é igual a I Joule de energia absorvida por quilograma de alimento irradiado. Para retardar o amadurecimento das frutas, por exemplo, não é necessário mais do que I kGy, para inibir o brotamento de raízes e tubércu-los (batata, cebola, alho, etc,), a dose necessária varia de 0,05 a 0,15 kGy, para prevenir que os grãos sejam infestados por insetos, 0,1 a 2kGy são su-ficientes.

Nem todos os alimentos podem ser irradiados. É o caso do leite, por exem-plo, que adquire um sabor ruim. Para se adotar essa técnica como processo de conservação, é preciso que se realize um estudo das características orga-nolépticas do alimento depois de ele sofrer a irradiação. Na maioria dos ali-mentos, entretanto, segundo os técnicos envolvidos no processo, essas alterações são mínimas ou simplesmente inexistem.

A irradiação e o meio ambiente

Afirma-se que a irradiação é um processo bastante seguro, que não produz nenhum tipo de resíduo. Os isótopos radioativos obtidos pelo bombardeamento com nêutrons do metal Cobalto 59 produz o Cobalto 60, que é duplamente encapsulado em tubos de aço inoxidável, o que impede qualquer vazamento. A meia-vida desse elemento é de 5,3 anos.

Segundo informações técnicas, os produtos passam pela câmara da irra-diação através de um sistema transportador composto por esteiras, onde são irradiados num ritmo controlado e preciso, de forma a receber a quantidade exata de energia. Os níveis enérgicos são baixos e os produtos não se tornam radioativos. O processo é monitorado eletronicamente, de modo que a fonte de radiação, quando não utilizada, é mantida dentro de uma piscina profunda. Os técnicos informam que a câmara é composta de paredes de concreto e portas de chumbo, o que impossibilita qualquer vazamento. Há ainda disposi-tivos de travamento e alarme, que impedem que a fonte de radiação se eleve da piscina caso as portas da câmara não estejam lacradas.

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Alimentos irradiados no Brasil

No Brasil, a legislação sobre irradiação de alimentos existe desde 1985 (Porta-ria Dinal n° 9 do Ministério da Saúde, 8.3.1985. Apenas o Centro de Energia Nuclear para Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, realiza esse serviço no Brasil. O Instituto de Pesquisas Nucleares da USR além de desenvolver estudos sobre o tema, trabalha junto aos produtores prestan-do informações.

Conclusões

A maior parte das pesquisas é realizada por empresas ou instituições envolvi-das direta ou indiretamente no processo. São elas também que se encarregam das campanhas educativas em prol da aceitação do consumo de alimentos irra-diados. Um estudo realizado na Alemanha revelou que os consumidores se preocupam com o processamento dos alimentos que consomem. No entan-to, essa preocupação foi maior no caso dos pesticidas (55%) e conservantes (43%) do que no da irradiação (38%). Embora uma parcela dos consumido-res seja extremamente contrária a essa técnica alimentar, a maioria muda de opinião após ser exposta às campanhas educativas, Na Argentina, uma campa-nha de esclarecimento aumentou muito a aceitabilidade das cebolas irradiadas. Na França aconteceu o mesmo depois que uma rede de supermercados co-locou à venda morangos irradiados. Devidamente esclarecida a respeito de suas qualidades, a população passou a optar por esse tipo de produto.

Mesmo diante desses fatos, não existe ainda um estudo conclusivo e total-mente neutro, ou pelo menos não tendencioso, que nos garanta a inocuidade desses alimentos e dos seus possíveis efeitos antinutríentes ou poluidores em relação ao meio ambiente. Há muitas questões pendentes. Um exemplo é a questão das enzimas naturais, que se perdem quase completamente quando os alimentos são submetidos à radiação. Assim, proteases, catepsina, amilases, lipases, etc. desaparecem durante o processo, o que exigiria a sua suplementação todas as vezes em que se usasse alimentos irradiados. Neste caso, seria necessá-rio que todo produto dessa natureza fosse identificado no rótulo e que o seu consumo exigisse uma complementação enzimática administrada por médicos ou nutricionistas. Como isso é impossível, estamos diante de um sério impasse.

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Outra questão diz respeito ao destino dos resíduos radiativos, principal-mente o isótopo Cobalto 60. Se ele tem uma meia-vida de 5,3 anos, a quanti-dade de alimentos irradiados numa região não pode ser muito grande, sob o risco de não termos espaço suficiente para estocar os produtos que ainda con-tenham partículas de radioatividade. Inclua-se a questão da segurança, indis-pensável para se evitar vazamentos na manipulação do material e no estoque, além de falhas no dispositivo de alarme dotravamento das "piscinas", etc. Se nas usinas atômicas, onde a segurança é tida como exemplar, há riscos (e histó-rias) de vazamentos e acidentes, o que poderemos esperar de empresas que irradiam alimentos e manipulam artefatos radiativos?

Portanto, ainda é cedo para aceitarmos tacitamente a utilização desses produtos, mesmo que existam aparentes vantagens, como a redução da necessidade do uso de pesticidas e conservantes na estocagem. A Portaria 9 da Dinal não nos oferece garantias palpáveis; tampouco o Instituto de Pesquisas Nucleares, pois é composto apenas por técnicos. As pessoas que liberaram atalidomida como um calmante inofensivo também se compor-taram assim.

Melhor optar por alimentos orgânicos, frescos, oriundos da pequena pro-dução, adquiridos em entrepostos e através de empresas idôneas, envolvidas com o compromisso de oferecer alimentos puros, que não precisam ser con-servados, irradiados, bombardeados, congelados, expostos a microondas e a todas as outras formas de manipulação industrial humana.

0 que mais evitar na alimentação industrializada

Açúcar branco

Não existe na natureza nenhum tipo de composto isolado e concentrado como a sacarose — o açúcar refinado. Todos os alimentos são compostos. Ele, o açú-car, é obra do homem, que conseguiu a façanha de retirar de um alimento in-tegrado, como a beterraba e a cana, apenas um princípio químico ativo. Portanto, o açúcar refinado deve ser visto como uma droga, de preferência em duplo sentido, de modo a evidenciar a sua realidade.

A natureza sempre nos forneceu energia química, representada pela glicose

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e outras substâncias semelhantes, presentes em estruturas de cadeias mole-culares mais complexas, os açúcares compostos, os amidos, encontrados nos cereais, nas frutas, nos tubérculos, nas raízes, etc, O organismo sempre con-tou com a mastigação para digerir o amido na boca através da ação da ptialina, enzima capaz de quebrar as cadeias moleculares de modo a obter glicose, frutose, dextrose e outros açúcares primários, que geram energia quando as-similados, Com a "descoberta" do açúcar refinado, criou-se um elemento novo para o corpo humano, capaz de fhe fornecer imediatamente uma enorme car-ga de glicose, E sem exigir mastigação, uma vez que o ingerimos diretamente, depois de dissolvê-lo nas bebidas e comidas. Só que o organismo não contava com isso. Acostumado há milênios ao contato com o amido, a frutose, etc., ele passou a trabalhar com uma nova informação: a presença de cargas super-rápidas de glicose.

Antes do surgimento do açúcar não era costume acrescentar nenhum adoçante aos alimentos. Apreciava-se o sabor natural de tudo. A idéia de ado-çar bebidas e comidas surgiu há pouco mais de dois séculos (e intensificou-se nos últimos cinqüenta anos). Depois do incremento do plantio da cana-de-açúcar na América, a Europa criou um mercado consumidor que se ampliou enormemente; mesmo assim, o produto consumido por ingleses, franceses, alemães, espanhóis, entre outros, era o açúcar mascavo marrom, muito forte e carregado, mais destinado à fermentação precoce da cerveja e do vinho do que para a adoçagem de tortas, bolos, compotas e, muito menos, de sucos, leite, etc.

O paladar dos povos do passado era voltado para a apreciação do sa-bor conforme a natureza do próprio alimento. Os burgueses da França de Luís XV, por exemplo, preferiam o pão integral bruto, com sabor forte de trigo, aos cro/ssants e brioches consumidos pela Corte, adoçados com o mascavo oriundo do Caribe. Eles achavam essas variações enjoativas e in-capazes de sustentar um trabalhador, um soldado ou um agricultor. Apenas os aristocratas de vida sedentária e tediosa poderiam dispor dessas gulosei-mas feitas com farinha empobrecida e repletos de açúcar formador de ga-ses intestinais.

Os exércitos, antigamente, tampouco consumiam açúcar. Se o fizessem, talvez precisassem de um contingente de igual número de homens para trans-portar toneladas de sacos do mascavo necessário para "energizar" dez, vinte, cinqüenta ou cem mil pessoas,,.

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Quanto ao mel ou outras formas de açúcares, também não havia o hábito de acrescentá-los aos alimentos.

O açúcar é prejudicial à saúde por ser um produto muito concentrado que desestabiliza os mecanismos de compensação do organismo e exige com-plementação bioquímica, o que produz perdas minerais (cálcio, magnésio, etc.) crônicas e constantes.

Hoje as pessoas praticamente se viciaram no açúcar e, só nos Estados Unidos, a média de consumo é de aproximadamente 300 gramas por pessoa, isso significa 9 quilos de açúcar por mês e... cerca de í 00 quilos por ano!

Se entendermos que esse composto é totalmente desnecessário para o organismo, que todo açúcar de que o corpo precisa ele retira dos alimentos comuns (glicose) e que todo excesso tem efeito desequilibrante, então pode-mos ter uma breve idéia dos perigos que o hábito comporta. O consumo de açúcar está ligado às seguintes doenças:

Arteriosclerose Hipercolesterolemia

Câncer Hipoglicemia

Cáries dentárias Obesidade

Deficiência imunológica Osteoporose

Depressão psíquica Reumatismo

Diabetes melito

O hábito de consumir açúcar branco é hoje considerado uma das causas do aumento da incidência da diabetes. Como vimos, o organismo humano está preparado para receber a glicose proveniente de cereais, frutas, legumes, leguminosas, etc. Ela é importante como fonte de energia celular. Normalmente, temos glicose suficiente reservada no fígado (sob a forma de glicogênio, ou na própria capa gordurosa que, ao se desdobrar, fornece energia). Isto explica por que antigamente não necessitávamos de açúcar branco, o mascavo, mel, etc. Esta glicose (ou frutose) é derivada da quebra da molécula do amido, o que permite uma assimilação lenta do nutriente — daí o amido ser considerado um "açúcar lento". O açúcar branco fornece cargas muito rápidas e imediatas de glicose, por isso é chamado de "açúcar rápido". Cada molécula de sacarose possui apenas duas moléculas de glicose, que são separadas muito rapidamen-

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te no tubo intestinal. Esse fato engana o metabolismo glicídico, que envolve reações muito complexas das quais participam enzimas, insulina, mediadores químicos, mecanismos de feedback, etc. Como o corpo humano está "progra-mado" para lidar bem com o açúcar lento, de modo a poder metabolizá-lo convenientemente, obedecendo aos parâmetros auto-reguladores, quando se ingere uma quantidade grande de açúcar branco, o organismo se confunde e acaba se desregulando com o tempo.

Há um mecanismo de regulação dos níveis de glicose no sangue que pro-cura mantê-la entre 70 e 120 mg por 100 ml. Quando este nível é ultrapassa-do, um pouco mais de insulina é liberada para compensar e normalizar essa taxa. Um simples sorvete pode provocar elevações acima de 300 mg, mas apenas num trecho de 100 ml de sangue. E este é o problema: o nível se eleva num pequeno trecho do sangue proveniente dos intestinos, onde o açúcar foi rapidamente assimilado. Os sensores do fígado e do pâncreas "avisam" o cére-bro de que a quantidade de glicose captada é de "300 mg" e o cérebro, por sua vez, determina a liberação de insulina relativa a essa quantidade, que não é uma realidade para a totalidade do sangue circulante. Isto ocorre porque a "pro-gramação" biológica do organismo é destinada a assimilar o açúcar "lento" que, ao ser processado gradativamente, permite uma saturação de glicose também lenta e bem distribuída, Se esta situação acontece de vez em quando não causa problema, mas desde que seja constante, através dos anos — como mostra a realidade dos hábitos alimentares modernos — produz um condicionamento metabólico e bioquímico que libera constantemente insulina, quantidades um pouco acima do normal. Isto tende a instalar uma situação de constante baixa dos níveis de glicose (hipoglicemia reativa ou funcional), apesar do consumo de doses elevadas de açúcar (glicose). A pessoa desenvolve, assim, uma necessi-dade constante de doces ou de açúcar, que pode ser crescente, transforman-do-se, freqüentemente, em compulsão.

A hipoglicemia é uma situação orgânica variável, que pode afetar as pes-soas de várias maneiras. Pode ser imperceptível, com apenas um pouco mais de fome perto das refeições, ou algumas tonteiras passageiras e ansiedade, até graus intermediários com sudorese, taquicardia, cansaço, falta de memória, forte ansiedade ou depressão — sintomas que, curiosamente, desaparecem tem-porariamente com a ingestão de doces. Em graus mais acentuados, a hipo-glicemia pode determinar distúrbios orgânicos subjetivos, semelhantes a um distúrbio neurovegetativo, com sensações corporais desagradáveis, de difícil

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descrição, pensamentos estranhos e forte depressão. Estes casos, sempre re-lacionados com uma melhora temporária após a ingestão de açúcar, fre-qüentemente são encaminhados para tratamento psiquiátrico ou psicológico. A única forma de tratamento é a suspensão gradativa do açúcar (tratamento idêntico ao dos toxicômanos e farmaco-dependentes) e a adoção de dietas muito controladas.

À medida que esse tipo de hipoglicemia se mantém, pode ocorrer uma falência relativa da capacidade do pâncreas em produzir insulina, elevando-se os níveis de açúcar do sangue (hiperglicemia), surgindo assim o diabetes. Isto porém depende sobremaneira da predisposição herdada pelo organismo. Pré-diabéticos têm maior tendência a ter primeiro hipoglicemia e, depois, diabetes em graus variáveis, desde aquele controlável com dietas e/ou hípoglicemiantes orais até aqueles que exigem insulina sintética.

Esta é a relação do açúcar com o crescimento da incidência de diabetes no mundo, segundo dados oficiais e diversos estudos modernos.

Por sua ação desmineralizante, anti nutriente, condicionante, desreguladora e viciante, o açúcar é considerado um dos produtos mais prejudiciais ao orga-nismo.

E importante consumir os alimentos como a natureza os fornece; portan-to, não é preciso acrescentar nada aos sucos, às saladas de frutas etc. Existem formidáveis receitas de doces caseiros, tortas e bolos adoçados apenas com o talento culinário — como faziam os antigos, que apuravam o açúcar próprio das frutas, ou usavam apenas pequenas quantidade de mel (que não é saudá-vel quando aquecido). Bananas, mangas, laranjas, morangos, tâmaras, etc., pos-suem o próprio açúcar (frutose), que pode ser apurado por cozimento, bastando lhe acrescentar uma pitada de sal marinho.

O hábito de se usar açúcar branco surge do condicionamento do paladar que começa desde o nascimento, quando as mamadeiras do aleitamento arti-ficial já recebem sacarose ou outras formas concentradas de açúcares.

Um dos ensinamentos principais da alimentação natural é o de não forne-cer às crianças alimentos adoçados. Nenhum açúcar, ou antes, nenhuma glicose é necessária ao corpo humano além daquela naturalmente presente nos ali-mentos. O raciocino serve não só para crianças como para adultos, desportistas, doentes, gestantes, lactantes, etc.

Para que se tenha saúde e equilíbrio é preciso praticar uma alimentação que dispense o açúcar branco, tolerando-se, eventualmente, mel ou açú-

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car mascavo em algumas guloseimas inevitáveis, como bolos de aniversá-rios, tortas, etc. Para as crianças ou aduitos dependentes de comidas e be-bidas muito adoçadas, convém proceder a uma eliminação gradativa e inteligente do açúcar branco. Nessa fase, tanto o mel quanto o mascavo podem assumir uma função importante, até que se estabeleça uma dieta completamente natural.

Adoçantes artificiais são muito perigosos para a saúde, talvez mais do que o próprio açúcar branco. O ciclamato e a sacarina são proibidos em numero-sos países devido ao seu potencial cancerígeno e teratogênico (deformações no feto). O aspartame, apesar de ser um produto considerado "natural", é um derivado sintético dafenilanína, capaz de produzir vários problemas orgânicos, mas de intensidade menor,

Para quem necessita de adoçantes, sugere-se a estévia verdadeira (em pó). Deve-se ressaltar que existem falsificações e misturas nos chamados "adoçantes naturais" que não são recomendáveis.

Sal refinado

O sal de mesa comum não é natural, mas resultante de um complexo pro-cesso industrial que, através de elevadas temperaturas e banhos sucessivos, retira do sal marinho natural quase a totalidade dos seus minerais (cerca de 83), restando apenas o cloreto de sódio, ao qual são acrescentados vários compostos químicos como: carbonato de cálcio, dextrose e talco mineral, ferrocianato de sódio, fosfato tricálcico de alumínio, iodeto de potássio, óxi-do de cálcio (cal), prussiato amarelo de sódio, silicato aluminado de sódio e outros.

O sal natural, ou sal marinho, é um produto benéfico, composto por nutrientes primários (elementos), entre eles o iodo natural das algas mari-nhas microscópicas presentes no sal. Se usado em quantidades normais, o sal marinho contribui para a reposição mineral do organismo e para um bom funcionamento da glândula tireóide. Pode ser encontrado já moído bem fino nos entrepostos e nas casas de produtos naturais. O uso do sal refinado, por outro lado, é prejudicial à saúde, estando ligado ao surgimento das se-guintes doenças:

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Arteriosclerose Eclampsia e pré-eclâmpsia

Arteriosclerose cerebral Edemas dos membros inferiores

Cálculos biliares Nódulos da tireóide

Cálculos da bexiga Pressão alta

Cálculos renais Retenção de líquidos

Doenças das glândulas paratireóides Tensão pré-menstrual

Cuidados com os óleos enlatados, gorduras e frituras

Gorduras ou lipídios são compostos complexos que têm como função principal a reserva de energia do organismo. Deste modo, sempre que há excedente calórico não utilizado, o corpo não tem como livrar-se dessa energia extra e aca-ba por armazená-la sob a forma de gordura em suas várias partes ou segmentos.

As gorduras representam uma questão importante. Afinal, o que determi-na o diagnóstico de peso excessivo é o ganho de gorduras na massa corporal. Isto é notório, uma vez que ninguém engorda acumulando carboidratos, pro-teínas ou vitaminas. Embora seja possível ganhar um pouco de peso com o crescimento da massa muscular (proteínas), é o aumento do tecido gorduroso (adiposo) o responsável pela elevação global de peso.

As gorduras ganham mais importância se nos lembrarmos do fato de que, quando há uma quantidade de nutrientes excedente (proveniente da ingestão de carboidratos, proteínas e vitaminas), desde que não utilizada pelo corpo em trabalhos musculares e demais funções, eia se transforma em gorduras. Uma situação inversa, contudo, não ocorre facilmente, a não ser em casos raros, como em certos jejuns forçados, subnutrição e outros.

Mesmo sendo o menos importante dos nutrientes, o organismo necessita sempre de uma pequena quantidade de gorduras, uma vez que elas têm fun-ções bioquímicas importantes, como a participação no metabolismo hormonal. Mas a pequena dose de lipídios presente nos alimentos naturais (milho, arroz, soja, sementes, frutas oleaginosas, etc.) é suficiente para a suplementação lipídica do organismo. Pode-se até afirmar com certeza que os lipídios não são nu-trientes essenciais (como os aminoácidos), mas secundários, uma vez que to-dos os demais tendem a se transformar em gorduras.

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Existem dois tipos básicos de lipídios ou gorduras: as saturadas e as insaturadas. As primeiras são de cadeia molecular longa e caracterizam os ele-mentos de digestão mais difícil, representadas pelas gorduras presentes na carne do porco, da vaca (e de outros animais de carne vermelha) e de algu-mas aves; as segundas são de cadeia molecular menor e, portanto, de mais fácil digestão, representadas pela gordura dos peixes e dos vegetais oleagi-nosos.

A grande maioria dos óleos vegetais industrializados e enlatados hoje disponíveis constitui-se de produtos refinados quimicamente, acidificados e acrescidos de aditivos antioxidantes. Não são produtos salutares e tendem fortemente à saturação ao primeiro aquecimento; favorecem mais facilmente a elevação dos níveis sanguíneos de gordura e as deposições gordurosas nas artérias.

As frituras repetidas ou a reutilização contínua do mesmo óleo em frituras sucessivas, como acontece em pastelarias, etc., torna o óleo ou a gordura ricos em benzopireno (um dos maiores cancerígenos conhecidos), gorduras poliinsaturadas e alantoína, um derivado irritante das mucosas digestivas capaz de reduzir a função da elastina na pele, favorecendo o aparecimento e o au-mento das rugas, celulites e estrias.

Uma alimentação equilibrada e saudável evita tanto os óleos refinados comuns quanto as frituras, quaisquer que sejam os óleos utilizados. Frituras não são formas saudáveis de preparo dos alimentos, muito menos quando se usa gordura animal, como a banha de porco. Existem formas menos pre-judiciais que usam óleos não-refinados, como o óleo bruto de girassol, o de canola, o de gergelim e o azeite de dendê. As frituras em margarina ou man-teiga devem ser igualmente evitadas. A manteiga aquecida ou rançosa é rica em ácido butírico, que também reduz a função da elastina na pele. Ovos fri-tos na manteiga, por exemplo, fornecem cargas enormes de ácidos graxos polissaturados, com grande capacidade de fazer engordar e de favorecer o infarto, a arteriosclerose, a aterosclerose, etc. O ideal é eliminar os alimen-tos fritos e preferi-los assados, grelhados em pouco óleo bruto, cozidos ou crus (saladas, por exemplo).

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Cereais decorticados, farinhas brancas e "enriquecidas".

Se há um século o homem podia alimentar-se quase exclusivamente de pão, hoje isso não é mais possível. Ele já não é um alimento completo e confiável. Pior é que no cultivo do trigo são usados adubos e pesticidas químicos, A arma-zenagem dos grãos é feita em silos hermeticamente fechados, o que facilita a fermentação e a ação dos insetos e dos parasitas — daí o uso de inseticidas. Perde substâncias nutritivas preciosas, como o gérmen e a base protéica, con-tendo glúten, sais minerais (fósforo, cálcio, magnésio, ferro, silício, iodo, manganês) e vitaminas B e E. Assim, quanto mais branca é a farinha, menos nutritiva ela é.

O recém-inventado processo de decorticação ou de refinamento dos grãos de cereais só fez empobrecer esses alimentos milenares, retirando deles a maior parte das vitaminas e fibras (película), dos óleos essenciais ricos em vitaminas A e D e das proteínas (gérmen) restando quase que somente o amido, que possui apenas valor energético, pobre em minerais, vitaminas e oligoelementos.

Desde o início da civilização, os cereais representaram um alimento sagra-do e eram a base alimentar de muitos povos. A retirada da fina película nutritiva que os envolve, notadamente o arroz e o trigo, deve-se a interesses comer-ciais das empresas fabricantes de ração animal, aliados à tendência humana ao consumo de alimentos mais macios, que exigem menos mastigação, como pão e arroz brancos. A História registra a técnica francesa de peneirar finamente as farinhas de trigo ou de centeio para a produção dos aristocráticos crassants, que tornaram os padeiros da França mestres famosos na arte de empobrecer o tradicional pão integra!. Por volta do século XIV a Europa considerava o pão feito a partir de grãos integrais um alimento tipicamente plebeu, ao passo que os pães macios, os biscoitos, os brioches, etc., feitos com farinhas muito finas e peneiradas, adocicados e fermentados, eram próprios para a mesa dos no-bres e dos burgueses bem-sucedidos.

No início do século XX, intensificou-se mundialmente o hábito de descor-ticar os grãos dos cereais. No Oriente, principalmente na China, surgiram gran-des "epidemias" de um mal desconhecido que ceifou milhões de vidas, mais tarde identificada como uma doença carencial derivada da falta de vitaminas do complexo B, hoje conhecida como beribéri. Muitos são os relatos de casos em

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que a dieta à base de cereais descorticados foi a causa de muitas mortes. Lon-gas expedições e viagens que transportavam ração baseada em farinha ou ar-roz brancos resultaram em desastres.

Se hoje em dia não há mais beribéri — pois continua-se a consumir pães e arroz brancos — isto se deve à multiplicidade de tipos de alimentos que aca-bam por cobrir a deficiência vitamínica da dieta habitual. Contudo, embora a ocorrência do beribéri seja hoje remota, o uso de dietas pobres em vitaminas do complexo B favorece situações subclínicas freqüentes — mas pouco diagnosticadas — de distúrbios nervosos variados, cansaço, queda de cabelos, envelhecimento precoce, elevação dos níveis de radicais livres, perturbações digestivas, má assimilação de outros nutrientes, redução dos níveis de enzimas variadas, síndrome pré-menstrual, insónia e outros. Como são sintomas co-muns que podem ser provocados por vários outros fatores, fica difícil estabele-cer uma relação de causa e efeito com as reduções relativas dos níveis corporais de vitaminas do complexo B. O fato de que o consumo excessivo de açúcar branco também reduz os níveis de vitaminas do complexo B é bastante signifi-cativo.

Outro componente dos cereais retirado com o processo da descorticação é o importante ácido glutâmico, responsável pelo bom crescimento cerebral e pelo desenvolvimento da capacidade intelectual, e um participante ativo das trocas iónicas de toda atividade metabólica do sistema nervoso. Uma redução, mesmo pequena, de ácido glutâmico na dieta resulta em todo tipo de proble-mas, dos mais simples aos mais graves, como irritabilidade, incapacidade de reter informações, memória fraca, fadiga mental e, inclusive, retardo mental, no caso da falta do nutriente em cérebros de crianças de até dois anos de ida-de. Nos países onde foram criados programas de retorno ao uso de pães inte-grais para populações carentes, houve uma rápida recuperação da capacidade de aprendizagem infantil e uma notável redução dos índices de retardo mental, superior aos programas de simples inclusão de ácido glutâmico na dieta. Estes dados podem ser verificados através dos editais da FAO, um órgão das Nações Unidas.

A antiga União Soviética, preocupada com o problema, propagou a impor-tância do uso de pão integral entre a população; o resultado foi uma melhor condição intelectual, principalmente na faixa infanto-juvenil.

Nos Estados Unidos, entretanto, os programas falharam fragorosamente.

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Por essa razão, tem-se tentado ao menos estimular o hábito do consumo de pães de hambúrguer enriquecidos com sementes de gergelim, de certo modo ricas em ácido glutâmico.

O processo de descorticação, chamado erroneamente de "bene-ficiamento" (o nome mais apropriado seria "maleficiamento" ou, antes, "em-pobrecimento"), também elimina as fibras dos cereais, o que resulta em perturbações digestivas variadas. Sabe-se, por exemplo, que dietas pobres em fibras causam a doença diverticular do cólon e estão ligadas ao câncer intestinal e a uma série de outras moléstias que são raras em populações que consomem fibras. São elas que tornam as fezes mais calibrosas, menos pastosas, menos putrefantes, facilitam a assimilação dos nutrientes e a motilidade intestinal.

Embora o consumo de cereais descorticados seja um fenômeno mundial, nota-se uma tendência muito forte de retorno ao cereal integral como alimen-to básico. O despertar da nova consciência alimentar tem mostrado a imensa importância desse tipo de alimento, que deverá recuperar sua posição na dieta humana.

Para a prática de uma boa alimentação natural, é fundamental o consumo de produtos integrais, mais especificamente de cereais integrais como arroz, trigo, milho e aveia.

Radicais livres

Como os vilões do momento, os radicais livres são moléculas de oxigênio que assimilaram elétrons em excesso, tomando-se desequilibradas e destrutivas. Elas agridem e danificam outros átomos e moléculas do organismo, que se tor-nam igualmente instáveis, produzindo uma reação em cadeia de degeneração celular. Os radicais livres são o principal fator de envelhecimento e podem até mesmo destruir o DNA de nossas células, causando mutações e câncer — especialmente se houver excesso de ferro no corpo, o que aumenta a produ-ção de radicais livres nocivos. Devemos evitar alimentos que causam a sua for-mação, como, por exemplo, carnes, peixes, óleos vegetais, frituras, açúcar, sal refinado, alimentos transgênicos, irradiados, ou seja, todos os que foram até

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Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora

De comer. Coisa hedionda! Corro. E agoraf

Antegozando a ensangüentada presa,

Rodeado pelas moscas repugnantes,

Para comer meus próprios semelhantes

Eis-me sentado à mesa!

Como porções de carne morta... Ai! Como

Os que, como eu, têm carne, com este assomo

Que a espécie humana em comer carne tem!...

Como! E pois que a Razão me não reprime,

Possa a terra vingar-se do meu crime

Comendo-me também

— AUGUSTO DOS ANJOS em À MESA

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3. COMENDO BICHOS — QUEM E O ANIMAL?

"O homem é o único animal que consegue estabelecer uma relação amigável com as vítimas que ele pretende comer,"

SAMUEL BUTLER

Com base na alimentação da humanidade e no seu estado de consciência, pode-se considerar muito sábia a divisão acadêmica dos reinos da natureza em mine-ral, vegetal e animal. Sim, pois embora os ciclos mais esotéricos admitam um reino "hominal", que diferencia os seres humanos pela sua faculdade mental, ~ão se pode dizer — baseados no nosso fraquíssimo discernimento — que sso seja aceitável. A função mental é pouco desenvolvida na grande maioria dos homens, que ainda se alimenta em função dos seus desejos, buscando satisfazer sabores e alimentara gula. Não há uma seleção de alimentos em bases •acionais. Portanto, somos basicamente "animais", (no stricto sensu, é claro,..). =raticamos um tipo de canibalismo (ou talvez "animofagia") que se caracteriza Dor comer seres semelhantes a nós... não ficando nada a dever aos índios que comeram o D. Pero Sardinha, no Nordeste, há alguns séculos. Ou seja, não merecemos ainda o sublime adjetivo que nos permitiria pertencera um "quar-to reino", o "hominal". Aqueles índios, pelo menos, foram até mais coerentes co que nós, civilizados, pois comeram um homem... enquanto nós comemos seres considerados "inferiores"... Se depender da forma como nos alimenta-mos, a classificação tomo sapiens é incorreta.

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Bichos que são comidos pelo ser humano:

Arraia Codorna Lagarto Polvo

Avestruz Coelho Lagosta Pombinha

Baleia Cotia Lula Porco-do-mato

Barata Faisão Macaco Preá

Búfalo Formiga Mariscos Rã

Cabrito Gafanhoto Ostras Rato

Cão Gambá Ouriço Siri

Capivara Ganso Ouriço-do-mar Tanajura

Caranguejo Gato Paca Tartaruga

Carneiro Golfinho Passarinho Tatu

Camarão Jacaré Pato Tubarão

Camelo Javali Peixe-boi Vaca

Cavalo Jegue Peixes

Chester Jumento Perdiz

Cobra Lagarta Peru

Histórias para boi morrer

"Um homem só é nobre quando consegue sentir piedade por todas as criaturas."

BUDA

A farra com o boi

Certa vez, numa bela manhã de domingo, e m Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, um grupo de bons amigos reuniu-se para uma confraternização na pequena

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fazenda do Maninho. Beberam cerveja alegremente. Ficaram um pouco "al-tos". Pensaram em comprar carne para fazer um churrasco. Só que o Maninho possuía algumas "cabeças" de gado. Perto de onde estavam havia uma cerca e um pasto. Ali, piacidamente, pastava um belo e forte boi branco. Um dos ami-gos do Maninho, ao observar o animal, sugeriu comê-lo, a princípio como pia-da. Mas o álcool ajudou a atiçar a sanha da insensatez e resolveram abater o boi para transformar, pelo menos parte dele, em churrasco.

A euforia que a idéia gerou foi suficiente para instigar instintos sádicos. Maninho, no pleno exercício do seu poder de proprietário — inclusive da vida do animal — deu ordem ao capataz para amarrá-lo e abatê-lo. Aí surgiu um problema. O gado era leiteiro e o boi, apenas um dos componentes do gru-po. Ninguém entendia de abate. Mesmo assim, ele foi amarrado. O bicho lu-tou muito, mas acabou com cordas no pescoço, preso a uma árvore.

Então o capataz ordenou ao Zé Venâncio que matasse o boi, mas tanto ele como o Zé já tinham bebido bastante. Buscaram uma grande marreta para acertá-lo na cabeça, que estava voltada para a árvore. Como o animal se me-xia muito, o Zé, que mal se mantinha em pé, não conseguia um bom ângulo. Mas com o incentivo ruidoso dos convivas e amigos e diante dos gritos do Maninho, Zé desfechou a primeira marretada. Errou o alvo, atingindo o pes-coço do boi, atrás da orelha. O bicho deu um tremendo pulo e um grande urro de dor. Zé caiu no chão, o que provocou gargalhadas. Mas ele, heroica-mente, levantou-se e, raivoso, desferiu outro golpe, errando outra vez o alvo e acertando o focinho do boi. O sangue esguichou forte por todos os lados, inclusive respingando as camisas do Zé, do capataz e de meia dúzia de peões que tentavam conter o boi que, agora, espumava sangue e se agitava com uma força enorme. Sob as gargalhadas crescentes dos observadores, Zé investiu contra o animal novamente e desta vez acertou, não o centro do crânio da vítima, mas o olho esquerdo, que saltou da órbita e ficou ligeiramente pendu-rado. O sangue pintava, em matizes cruentos, a cena bárbara de um quadro grotesco.

Várias outras marretadas foram desferidas sem que o animal desse mos-tras de se render, ao contrário, a cada golpe, parecia revigorar-se na dor e se agitava sem se importar com a perda de um dos chifres. Os convidados come-çaram a se irritar com Zé, não por compaixão pelo animal, mas pela demora do churrasco. Então o capataz trouxe um machado e afastou o Zé, tomando a iniciativa de matar o animal. Desfechou-lhe uma tremenda machadada, mas

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não soube bem onde. Não era possível identificar a cabeça da vítima, uma vez que tudo não passava de uma massa vermelha. Depois de mais três ou quatro golpes, o boi, enfim, começou a tontear e a arriar sobre as suas pernas. O olho que sobrou, do lado direito, mostrava tal expressão de terror, que era difícil sustentar o seu olhar, mesmo para aqueles comensais mais insensíveis. Já semideitado, o animal começou a tremer um pouco. O sangue já tingia prati-camente todo o seu corpo, antes branco, além da roupa do capataz e dos aju-dantes, que exultavam de contentamento. Antes, todos sentiam raiva do boi, agora riam e dançavam em torno do bicho agonizante. Só que aquele boi estava custando a morrer.

Foi quando o Pelé da Zinha, moço de confiança do Maninho, que era cren-te, não bebia, e assistia a tudo a certa distância, apareceu com um 38. Afastou cada companheiro e, chorando, aproximou-se da cabeça do animal, descarre-gando os 6 tiros que a arma permitia. Só então o boi parou de se mexer e exalou um derradeiro e libertador suspiro. Todos pararam. Reinou um silêncio estranho. Pelé deixou o grupo, voltando as costas para todos e, já alguma dis-tância, disse: "Eu não tenho coragem de comer a carne desse boi." O silêncio durou pouco, Os "amigos", motivados pelo sangue e pelo clima, pouca aten-ção deram ao que o moço disse. Um dos empregados trouxe facas e uma afi-ada foice, com que começaram a descarnar o bicho, ali mesmo. Um dos participantes pegou o coração do boi e mordeu-o, bebendo do sangue ali con-tido, Mas daquela carne ninguém comeu.

O álcool e a insensatez não deixaram o grupo se lembrar de que a carne recém-tirada é muito dura —tem de ser maturada. Os pedaços colocados na brasa haviam sido arrancados, indiscriminadamente, de partes da coxa do boi. Acenderam churrasqueiras, queimaram nacos de carne, mas foi impossível comê-la. Não somente pela dureza da carne, mas porque muitos dos convi-dados foram embora, meio bêbados, decepcionados, até um pouco silencio-sos, alguns dissimulando a irritação com gracejos idiotas, típicos. Maninho pegou os filhos e foi para uma churrascaria,

A cena restante foi grotesca. O corpo do boi, ainda com parte do couro, jazia na relva, com a cabeça separada. Como ninguém era açougueiro, tenta-ram desossar o bicho, sem sucesso. Os cortes malfeitos, uma coxa pendente, vísceras isoladas. Cães se aproximavam para roubar um tasco, algumas mulhe-res e crianças, meio ressabiadas, arrancavam como podiam pequenas porções. Empregados tentavam organizara "farra". Depois foram embora, cobrindo o

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que restou da brincadeira com uma lona. Por ordem do Maninho, no dia se-guinte iriam tentar vender o que fosse possível para algum açougue. E ali, sob uma lona suja, estava o que chamaram de "carcaça". Talvez uns 450 quilos do corpo de um animal inocente, torturado e assassinado, inutilmente..,

Histórias verdadeiras na vida real

A "Farra com o boi", infelizmente, não é uma história, mas um fato que acon-teceu há alguns anos. Casos semelhantes ocorrem aos milhares pelo Brasil e pelo mundo. Bois e vacas são criaturas dóceis, plácidas e amigas. No entanto, são tratados como meros objetos de consumo, explorados e submetidos a verdadeiras torturas ao longo de suas vidas, tanto pelo pequeno quanto pelo grande criador.

Mesmo hoje em dia, o processo de abate permanece primitivo e vio-lento. Animais entram no abatedouro um a um. Os criadores mais bem apa-relhados, como acontece nos Estados Unidos, usam um revólver pneumático atordoador, mas o mais comum é a marretada na cabeça, nem sempre cer-teira. No Brasil, quando é chegada a hora do abate, os animais, em geral, são forçados a entrar num corredor estreito. Desesperam-se, tentam fugir de todas as formas, viram-se de um lado para outro, os olhos cheios de terror. Sentem o cheiro do sangue dos companheiros mortos e recusam-se a seguir adiante. Alguns, já sem forças, caem; os que permanecem de pé são forçados a prosseguir, tangidos a choques elétricos. Ao final do percur-so, um por um, são contidos em pequenos boxes e covardemente massa-crados: recebem marretadas, tantas quantas forem necessárias, até que tombem. Os golpes lhes causam mutilações nos chifres, olhos e focinho. São então suspensos — alguns às vezes ainda vivos — por uma das patas traseiras; seus músculos se rompem em virtude do grande peso de seus corpos. Operários com longas facas cortam a garganta de cada animal, na veia jugular e carótida, deixando-o sangrar até a morte, pendurado de ca-beça para baixo.

No Brasil, este procedimento é comumente empregado no abate de bo-vinos. Porcos, cabras, ovelhas, aves e outros animais são igualmente abatidos com idêntica brutalidade, mas sem o uso do atordoamento.

Qualquer que seja o lugar do mundo, o gado é sempre exposto a duras

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condições, sofrendo manejo bruto e, freqüentemente, crueldades no decor-rer de suas curtas vidas. Só nos Estados Unidos, onde cada cidadão comum come sete bois de aproximadamente 500 kg em toda sua vida, mais de 100 mil cabeças de gado são abatidas a cada 24 horas.

Principalmente no Brasil, o gado é rotineiramente castrado; seus chifres são arrancados, e seu corpo é marcado a ferro quente sem anestesia. Estes proce-dimentos são realizados somente para benefício econômico e conveniência dos produtores de carne.

Ao pastar a céu aberto, eles são expostos a condições climáticas extremas, que vão desde o calor insuportável até tempestades e secas. Muitos animais sofrem e morrem de calor, frio, sede, fome, doenças e envenenamento por plantas tóxicas.

Após diversos meses no campo, o gado é transportado para locais de en-gorda, o que é feito através do fornecimento de grãos. Nesse local, dezenas de milhares de animais são apinhados em áreas lamacentas, infestadas de mos-cas e cheias de estrume, onde o estresse os torna suscetíveis à febre e a outras dolorosas doenças debilitantes. Defender-se das moscas pode fazer com que eles percam um ou mais quilos por dia, por isso os produtores os pulverizam regularmente com inseticidas altamente tóxicos.

O gado não se adapta de imediato a comer grandes quantidades de grãos. A mudança fisiológica abrupta na dieta de grama para grãos causa dolorosos problemas digestivos, principalmente flatulência.

Para aumentar o ganho de peso e reduzir os custos, alguns produtores adicionam papelão, jornais, serragem e até pó de cimento à ração. Outros pre-ferem adicionar estrume de aves e suínos ou esgoto industrial e óleos.

Quando atingem o peso ideal, os animais são transportados por caminhão até os matadouros. Freqüentemente são manejados com brutalidade: levam choques elétricos de aguühões, são chutados e arrastados. Podem ser privados de alimento e água e sofrer exposição a condições ambientais difíceis por lon-gos períodos.

Caminhões que transportam gado estão sempre superlotados, o que re-sulta em quedas, pisoteamento e lesões durante o transporte.

Os animais que sofrem fratura de pernas, pelve, pescoço ou costas, e que não têm mais como locomover-se para fora dos caminhões, podem ser sacri-ficados impiedosamente. Acorrentados pelo pescoço ou pela perna, são arras-

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tados para fora dos caminhões até o piso do matadouro, onde, muitas vezes, agonizando de dor, chegam a esperar horas para ser abatidos.

Animais que estão doentes demais para morrer não recebem eutanásia. Em vez disso, podem ser jogados na "pilha de mortos" e deixados para morrer de doença, sede, fome ou hipotermia.

Nos Estados Unidos, embora seja requisito do Federa! Humane Slaughter Act de 1958 e revisto em 1978 (com exceção de abate kosher e de outras recomendações religiosas), o atordoamento nem sempre é feito com sucesso, devido à incompetência, à indiferença ou à deficiência do equipamento.

Existe um tipo de abate de cunho "religioso" que segue o preceito segundo o qual não se deve ingerir alimentos com sangue, como o praticado para a produção de alimentos judaicos, a chamada comida kosher. Esse tipo de costu-me é particularmente cruel porque os animais não são atordoados. Plenamen-te conscientes e aterrorizados, são içados de cabeça para baixo por uma perna para receber um pequeno corte na jugular de modo a sangrar lentamente até a morte. O abate kosher talvez seja pior do que o habitual, pois é marcado por um excepcional requinte de crueldade.

Vacas são mães atenciosas e sensíveis. Basta ver como lambem carinhosa-mente as suas crias e como estas necessitam da companhia de suas mães. Exis-te uma profunda dependência amorosa entre esses animais. No entanto, os grandes criadores de gado não se importam com isso. Assim que nascem, os bebês são afastados de suas mães. Não se permite nem ao menos que as va-cas vejam a sua cria, pois do contrário não conseguiriam permanecer tranqüi-las. Elas costumam agitar-se e gritar desesperadamente quando são afastadas do filhote. E assim começa uma das maiores crueldades que o ser humano pode cometer contra os animais: a indústria da vitela.

Sendo uma carne alva, tenra e considerada deliciosa, a vitela é apreciada em todo o mundo. Conseqüentemente, é uma das comidas mais caras que se conhece, o que estimula a ambição dos criadores, em sua ânsia por lucros.

Assim que nascem as pequenas vacas são retiradas da presença da mãe e isoladas em compartimentos individuais onde recebem um banho frio e pas-sam a se alimentar com leite fornecido não em tetas, mas em recipientes ou canaletas. O ato de sugar, importante para esses pequenos seres, não lhes é permitido, o que produz um alto índice de ansiedade. Costumam então sugar qualquer coisa que lhes é dada, como dedos, pontas de roupas etc.

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Sua carne deve ser sempre branca e macia. Para isso é necessário que os músculos dos animais não se tornem avermelhados, como os tecidos de vacas adultas. Atécnica de produção da vitela mostra que é preciso evitar a atividade muscular para impedir a oxigenação dos músculos. Rara isso os animais devem ser mantidos em pequenas celas que impeçam seus movimentos. Depois de um tempo, os animais são forçados a permanecer em pequenos currais indi-viduais onde somente conseguem ficar de pé com o pescoço virado para a direita ou para a esquerda. Em dias alternados, funcionários mudam a cabeça do ani-mal cada dia para um lado, Raramente têm a cabeça voltada para a frente com o pescoço esticado, pois isso permitiria a movimentação dos músculos do pes-coço. Este processo é mais comum algumas semanas depois do nascimento,

Ainda para evitar o tingimento dos músculos, os bebês são forçados a uma dieta completamente isenta de ferro, o que lhes provoca uma fraqueza pro-funda. A ausência do mineral em seus corpos produz uma grande ansiedade por tudo aquilo que possa conter ferro, mas até a água que lhes é fornecida é desmineralizada, Por isso os animais lambem pregos e material metálico das suas celas e até mesmo a própria urina.

Visitar uma área de criação de vitela é como estar em um campo de con-centração infantil. As novilhas olham para os visitantes e se aproximam como quem pede ajuda. Tentam sugar dedos ou pedaços de roupas, enchem os olhos de lágrimas e emitem sons guturais estranhos. Esse sofrimento não dura mais do que três meses, quando já estão prontas para o abate. São então levadas para um local onde são cruelmente mortas, em geral com um corte profundo na jugular, para perder todo o sangue lentamente.

Todo ano, só nos EUA cerca de um milhão de novilhas são mortas para servir aos refinados apreciadores de uma boa carne.

O hábito de comer vitela começou provavelmente quando vacas grávi-das morriam e seiviam de refeição. Percebeu-se que o feto tinha uma carne de textura muito tenra. Depois vieram os métodos para manter a carne da bezerra macia por mais tempo. Por isso hoje se consegue essa façanha com animais de até três meses de idade. Muitos deles morrem antes de comple-tar três meses de nascidos, alguns por infecções (uma vez que seu sistema imunológico é frágil devido à anemia), outros por uma doença de causa des-conhecida. Apresentam diarréias constantes e ficam cada vez mais tristes, até se entregara morte libertadora. Sua carne, mesmo nesses casos, é direcionada para os restaurantes.

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É possível entender perfeitamente a origem dessa doença "de causa des-conhecida". Se um bebê humano, imediatamente afastado de sua mãe ao nas-cer, for amamentado artificialmente, estando preso a um berço que limite os seus movimentos, sem receber carinho de forma alguma, sentindo fraqueza constante, certamente viverá bem menos do que uma vaquinha.

A produção de leite também implica crueldade com os animais, Milhares de bezerros são mortos, depois de ser criados em gaiolas minúsculas para que não desenvolvam nem enrijeçam músculos e sejam abatidos e vendidos como se fossem vitelas, Ao tomar o seu "leite", a pessoa torna-se cúmplice dessa produção e do abate indiscriminado de bezerros.

Atualmente uma vaca produz dez vezes mais leite do que a sua natureza permitiria. São tratadas como máquinas: não tomam sol, não amamentam seus filhotes, recebem doses de hormônios, sentem dores (basta ver o tamanho das tetas de uma vaca leiteira) e algumas contraem infecções. Quando estão exaustas, são abatidas. Muitos animais doentes, que mal podem se levantar, são arrastados para os matadouros assim mesmo, para não haver desperdício.

Não podemos nos esquecer dos bezerros que são vendidos para rodeios, onde sofrem fraturas de coluna, patas, hemorragias, e são quase sempre aba-tidos de forma cruel.

Nos Estados Unidos, defensores da alimentação vegetariana e dos direitos dos animais afirmam que, se um produtor de carne tratasse seu cão da manei-ra como rotineiramente trata seu gado, seria multado, processado e provavel-mente preso — e teria seu cão apreendido.

A McDonald's, rede multinacional de hambúrgueres, gasta milhões de dó-lares em campanhas de propaganda direcionada a crianças e jovens, tentando mostrar que o seu produto é bom. Criaram até um palhaço chamado Ronald McDonald's. Nos anúncios, ele mostra que os hambúrgueres nascem como frutas e crescem em pacotes. Esse personagem era interpretado porjeffjuliano que, ao inteirar-se da forma como o gado vive e é assassinado, abandonou o emprego milionário e tornou-se vegetariano.

Os criadores costumam afirmar, com um orgulho sinistro, que "da vaca se apro-veita tudo", dos cascos ao chifre, sendo por isso um "animal muito útil ao homem", conforme aprendemos na escola. Até mesmo as patas, que não seriam comestí-veis, fornecem material para a geléia de mocotó. Muitas gelatinas artificiais são pro-duzidas com patas de vacas ou bois, além de conter corantes e aromatizantes artificiais. Portanto, vegetarianos não devem consumir gelatinas e geléia de mocotó.

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Se você ainda não foi convencido de que deve fazer a sua parte deixando de comer carne, lembre-se destas informações na próxima vez que se sentar num restaurante de luxo e pedir uma vitela acompanhada de um bom vinho francês.

Existe um grande movimento internacional de boicote ao consumo de vi-tela criado justamente pela compaixão que sentimos em relação a esses filho-tes. E disso você pode participar. Não peça mais vitela (ou a carne da mãe dela!) nos restaurantes, nem a compre nos supermercados. Mas quer fazer mais? Não freqüente mais lugares que apresentem este tipo de prato em seu cardápio. Melhor ainda: divulgue isto entre os seus amigos.

É a ave um vegetal?

Os produtos animais expostos nas prateleiras e freezersdos supermercados são apresentados higienicamente limpos e empacotados num ambiente plá-cido, tranqüilo. Mas esse lugar calmo e perfumado, geralmente com música suave ao fundo (que contribui mais ainda para oferecer um clima sereno), esconde uma outra realidade. Sem mencionar detalhes da parte de apoio do supermercado, de como a sujeira e a falta de higiene campeiam no ruidoso setor de embalagens de frutas, legumes e verduras, com a presença de bara-tas, roedores e de outros bichos, vamos direto ao setor de produtos ani-mais.

No caso dos frangos e seus derivados, deparamo-nos com partes desses animais muito bem cortadas, limpas e arrumadas em embalagens brilhantes, de aspecto sedutor; os ovos, também muito limpos e alvos, dentro de caixas especiais, coloridas, empilhadas com esmero. Não raro, o setor de frango do agradável supermercado mostra a imagem de uma galinha sorrindo, muito fe-liz devido à preferência do freguês pela sua carne ou pela granja que a comercializa. Nas campanhas promocionais, essas empresas freqüentemente distribuem folhetinhos pelo supermercado muitas vezes por meio de uma pessoa ridiculamente fantasiada de um alegre frangão. Contando historinhas de galinhas e pintinhos amarelinhos, rechonchudos e bonitinhos, que vivem em campos e chácaras, eles querem nos fazer crer que esses animais habitam ver-dadeiros paraísos ou quintais alegres e multifioridos e são criados com amor e dedicação. Nada mais hipócrita e distante da realidade.

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Certa vez, num supermercado, John Robbins, líder do movimento ameri-cano Earth Save e autor de Diet Fora New America, observou uma placa onde estava escrito "frango fresco". Ao verificar que, na verdade, o produto da ven-da eram galinhas mortas, chamou o gerente e sugeriu-lhe que, para evitar a propaganda enganosa, mudassem os dizeres da placa para "frango fresco mor-to". Claro que o gerente não ficou nada satisfeito com a sugestão...

Por detrás da farsa da propaganda se encontra a dura realidade dos mi-lhões de frangos criados em cativeiro, impedidos de ciscar alegremente, tris-tes, sem direito à liberdade, ao sol, vivendo em "celas" superlotadas até atingir o peso ideal (obtido através de hormônios e de outros medicamentos), quan-do são cruelmente abatidos. Depois de mortos são depenados, eviscerados, limpos e cortados — não se sabe em que condições de higiene — para ser enfim empacotados nas embalagens, congelados e enviados para o comércio. Du rante a s ua vid a m ise ráve I, passam por verdade i ra tortu ra, A superpop ulação estressa profundamente as aves. No setor das "unidades" poedeiras, as gali-nhas são expostas a luz artificial constante, de modo a pensarem que o dia é contínuo, o que mantém o seu metabolismo ativo na produção de ovos. De-vido à sobrecarga a que são forçadas, acabam vivendo pouco. Sob forte ten-são, tendem a se bicar e a se dilacerar. Mas a genialidade dos criadores resolveu o problema: a "debicação", técnica de cortar a ponta do bico dos frangos ao nascerem. Essa prática hoje é regularmente praticada, independente da dor que possa produzir no animal. E como produzi A ponta do bico das aves, assim como a parte interna da unha dos homens, é de grande sensibilidade. Calcula-se que a debicação produza uma dor semelhante àquela que sentimos aos cortar a ponta de um dedo (ou do nosso nariz!). Tanto é assim que, após terem parte dos seus bicos cortados, os pobres animais se debatem de dor e correm apa-vorados de um lado para o outro, emitindo sons de agonia. Geralmente têm sangramento profuso e correm o risco de morrer. Os criadores — não por humanismo, é claro, mas para evitar prejuízos com a morte por hemorragia — mais uma vez lançam mão da sua habitual inteligência: logo em seguida à debicação, cauterizam o bico do pintinho com um aparelho que apresenta um fundo incandescente... Ao conferirmos o modo como vivem esses animais e a tortura a que são submetidos, percebemos que não somente as grandes gran-jas, mas também as pocilgas e os locais de criação de gado, nada devem aos campos de concentração.

Muitos frangos e galinhas poedeiras morrem subitamente nessas "fazen-

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das", certamente de tristeza. Outras são transportadas em caminhões super-lotados, sendo expostas ao sol, ao frio, ao vento, a chuva e a um jejum prolon-gado.

Obviamente, não seria conveniente que o supermercado, em vez de pa-gar um palhaço disfarçado de galinha para fazer propaganda, mostrasse ima-gens e filmes das cenas de debicação, da cauterização, dos galpões superlotados, repletos de animais com olhares atônitos (sem entender que crime comete-ram para estar ali), do transporte desumano, do abate cruento, etc. A música de fundo poderia ser os tristes pios das aves deprimidas, ou dos pintinhos logo após a debicação... Claro que não fariam isso. É mais fácil disfarçar com ima-gens de fazendas cheias de galinhas felizes, tendo um monte de pintinhos à sua volta... ao fundo uma montanha azul e um regato plácido... Nada mais distante da verdade!

Curioso é perceber que quando afirmamos ser vegetarianos, seja num restaurante ou entre pessoas que acabamos de conhecer, é comum ouvir-se a pergunta: "Mas você come frango, não é?"

Certa vez, num restaurante, afirmei ser vegetariano e pedi uma salada. O gerente, para agradar, mandou servir-me, sem que eu pedisse, um "peitinho de frango" grelhado, como uma oferta da casa...

Diante disso, podemos inferir que certas pessoas pensam que frangos e aves em geral são vegetais. Se pudéssemos ver como eles nascem, vivem e morrem nos criadouros, talvez entendêssemos por que são comparados a "ve-getais" ou a objetos. Isso vale para qualquer outra ave criada para consumo: pato, marreco, ganso, faisão, chester, peru, avestruz, codorna, perdiz, etc. Desde que criados industrialmente para o consumo humano, todas as aves têm o mesmo destino que os frangos, algumas até envolvendo situações pio-res, como é o caso dos gansos, de quem se produz o requintado foie gras.

Com os perus não é diferente

Para quem comemora o Natal ou o Dia de Ação de Graças comendo peru, preste atenção no seguinte:

De forma a se obter o máximo de lucro, a técnica da criação industrial de perus recomenda que nas unidades maiores sejam "acomodadas" de 10 a 15 mii aves por cercado.

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A maioria delas é criada de forma intensiva em empresas-fazendas. Elas são engordadas em criadouros sem paredes ou em gaiolas para frangos, em abrigos sem janelas e mal iluminados. Usa-se luz baixa para tentar reduzir a agressividade das aves umas com as outras. Já adultas, elas têm pouco mais espaço que uma galinha criada em gaiola. Cada peru criado para abate vive confinado numa área de meio metro quadrado e recebe cerca de cem subs-tâncias químicas durante a sua vida.

A criação intensiva também provoca doenças. Problemas no quadril, ferimentos nos joelhos, úlceras nos pés e bolhas no peito são comuns. A taxa de mortalidade é estimada em 7%, ou seja, cerca de 2,5 milhões de perus por ano. Muitos são indivíduos mais jovens que morrem de fome por não encon-trar os cochos de comida e água.

Usam-se métodos de criação seletiva para acelerar a taxa de crescimento e maximizar a massa corporal. Como resultado, muitos animais adultos sim-plesmente não conseguem agüentar o peso antinatural do próprio corpo. Isso pode provocar infecções das articulações da perna e do joelho e prostração generalizada.

A expectativa de vida natural de um peru é de cerca de dez anos. Os ani-mais das fazendas são mortos entre 12 a 26 semanas, dependendo do tama-nho da ave produzida.

Confinados num espaço reduzido e apinhado, tendem à agressividade e muitas vezes se agridem, causando mutilações, como olhos e dedos perdidos. Para reduzir os ferimentos, mais de 20% dos perus têm o bico arrancado. A extração consiste no corte de um terço do bico da ave com uma lâmina em brasa, Estudos feitos com galinhas que sofreram a mesma mutilação mostra-ram que a dor é prolongada e talvez permanente. Mesmo depois do corte do bico eles ainda se atacam, produzindo ferimentos, infecções e até cegueira.

Levados para o matadouro em caixotes cheios, em trajetos que levam, às vezes, vários dias, os perus não se alimentam nem bebem água. No matadou-ro, são retirados dos caixotes e pendurados em ganchos, de cabeça para bai-xo, como numa linha de montagem. Os animais, que pesam até 28 kg, são suspensos pelos pés durante uns seis minutos e depois atordoados com um banho de água eletrificada. Após o atordoamento corta-se a garganta das aves, que são então mergulhadas num tanque de água fervente que solta suas penas preparando-as para ser depenadas. Pesquisas revelaram que, a cada ano, cer-ca de 35 mil perus vão para a água fervente ainda vivos.

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Todos os anos, só na Inglaterra, cerca de í 6 milhões de perus são mortos no período de Natal.

Depois de abatidos, eles recebem temperos químicos artificiais, incluindo antibióticos, numa quantidade tão grande que se transformam praticamente em fórmulas químicas complexas, antes de ser congelados e encaminhados para o comércio. Cada fabricante possui seus "segredos industriais", cujas fórmulas são herméticas e garantidas por lei. Alguns desses produtos químicos são anti-bióticos potentes, aromatizantes e até corantes sintéticos perigosos.

A carne dos perus não é saudável e representa um grande risco para a saúde. Uma porção de 170 gramas de peru light sem pele possui cerca de 274 calorias e seis gramas de gorduras saturadas. A mesma porção de peru, porém com pele, tem 380 calorias e dezesseis gramas de gorduras saturadas.

Ovos — Advinhe o que há neles

Primeira informação importante: ovos de granja não são ovos! Os de codorna também não! Aquelas coisas arredondadas que as aves de cativeiro produzem são óvulos. Ovos são estruturas galadas, ou seja, contêm um embrião formado pela fusão do óvulo da galinha com o sêmen dos galos. Mas as frangas produ-toras não têm direito a ter contato com os galos, Como os produtos das aves não são galados, são apenas óvulos e, portanto, estruturas em plena degenera-ção progressiva. O ovo, se não for chocado, dura muito mais que o óvulo e é muito mais saudável.

Para aumentar a produção de "óvulos" as aves são alimentadas com ração rica em estimulantes, geralmente hormônios, e são criminosa e constantemente expostas à luz artificial. Normalmente uma galinha põe um ovo por dia, mas sob a influência da inteligência humana pode produzir até três! Um fenômeno! Só que o preço por esse excesso de estímulo é o encurtamento substancial da vida do animal. Galinhas foram transformadas em fábricas de ovos.

Se um ovo (galado) já possui quantidades significativas de colesterol, gor-duras saturadas e toxinas, um óvulo é muito pior. Além dos hormônios sintéti-cos, apresentam resíduos de antibióticos, proteínas em degeneração e taxas progressivamente maiores de toxinas. São altamente prejuduciais à saúde, pois contêm substâncias putrefantes muito agressivas aos intestinos e à flora intesti-nal, ao sangue e aos tecidos nobres do organismo. Basta deixar um óvulo es-

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tragar para perceber o que há lá dentro... O odor forte que um ovo estragado ou velho exala já explica tudo...

Ovos galados, que não sejam de granja, os chamados "ovos caipiras" ver-dadeiros, além de ovos de patas e de outras aves domésticas, são mais sau-dáveis.

Algumas realidades sobre aves industrializadas:

Embora o frango (carne) seja a mais consumida, outras aves são "produzidas" industrialmente para consumo. Assim, galinhas reprodutoras, poedeiras, pe-rus, patos, gansos, codornas, perdizes, faisões e, mais recentemente, avestru-zes também são submetidos a uma vida torturante e/ou fazem parte do cardápio humano. Nos Estados Unidos, segundo o American Journal ofNutrition, o

seguinte gráfico mostra a proporção de consumo de frango, em relação às outras

Com o decréscimo do consumo de carne bovina nos Estados Unidos, a procura por frango aumentou em cerca de dez vezes e o custo da ave indus-trializada caiu para um terço do seu valor anterior, devido à demanda. Algo semelhante ocorreu no Brasil.

Os norte-americanos consomem cerca de 25 kg per capita a cada ano, o dobro do que consumiam há vinte anos, quando os frangos eram mais saudá-veis, apresentando menor teor de gorduras saturadas, colesterol, hormônios, antibióticos e outros elementos químicos.

Por causa disso, a cada ano, nos Estados Unidos, cerca de 6,5 milhões de

aves: Avestruzes

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pessoas são acometidas de doenças derivadas do consumo de frango contami-nado por bactérias e cerca de 900 pessoas morrem em conseqüência dessas enfermidades. Um relatório recente apresentou 55 estudos diferentes mos-trando que aproximadamente 30% dos frangos postos à venda em todo o país estão contaminados, de alguma forma, pela bactéria Salmonela e 62% pela Campylobacter, Juntas, essas bactérias são responsáveis por 80% das doenças e 75% das disfunções orgânicas, segundo o Departamento de Agricultura (USDA), a agência do governo responsável pela segurança dos alimentos.

No Brasil, as coisas são muito parecidas, embora a fiscalização seja bem mais deficiente, ajudada pelo nosso habitual "jeitinho" que mobiliza "propinas", subornos, corrupção, etc. Aqui os frangos de 45 dias já atingem o peso "ideal". E quanto antes forem abatidos e encaminhados para consumo, melhor, pois cerca de 90% dos animais apresentam doenças, devido às condições artificiais e forçadas em que vivem. Uma delas, um tipo de anemia muito comum entre as aves, pode provocar câncer no sangue: a leucose aviária. Nada demais, apenas um tipo de leucemia. Acredita-se que essa doença não possa afetar os seres humanos, mas pode matar os animais se ultrapassarem a idade de 45 dias! E isso não é bom, pois exige-se que as aves a ser abatidas mostrem "sani-dade". O aspecto estético também conta: se os frangos acometidos de leucose progredirem na doença podem apresentar fígados com metástases ou, no mí-nimo, muito desenvolvidos, inchados, doentios e com manchas irregulares, o que provocaria reações do consumidor.

Animais mortos ou doentes que chegam sem inspeção adequada aos abatedouros acabam certamente nos supermercados.

São necessários cerca de 2.400 litros de água para produzir aproximada-mente 500 gramas de frango. São necessários 3,7 litros de gasolina para cerca de 2,5 kg de frango. Com a mesma quantidade, agricultores podem produzir 8 kg de brócolis e soja suficiente para três fôrmas de tofu ou trigo para cinco fôrmas de pão integral. A criação de frangos nos Estados Unidos utiliza cerca de 357 bilhões de litros de água anualmente, o bastante para manter cerca de 4,5 milhões de pessoas. Para produzir uma porção de proteína de ave, são neces-sárias 100 vezes mais água do que seria exigido para produzir a mesma porção de proteína vegetal — da soja, por exemplo. Numa situação de escassez de água mundial, prevista para as próximas décadas, esses números são muito sig-nificativos.

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Quem é o porco?

Porcos são animais dóceis, amigos e podem viverem contato conosco de modo semelhante aos cães domésticos. São sensíveis e capazes de amar seus donos se conviverem com seres realmente humanos. Porcos são também inteligen-tes. lestes científicos demonstraram que estão aptos a realizar tarefas seme-lhantes àquelas desempenhadas por cães e, em alguns casos, podem ser adestrados para executar tarefas tão excepcionais que nenhum outro tipo de animal conseguiria desempenhar.

Mas devido ao hábito humano de consumir esse tipo de carne, o porco é submetido a muitos tipos de agressões e desrespeitos. O modo como co-mem (fuçando a comida) deu origem à idéia de que eles não seriam "higiêni-cos". Daí o substantivo "porco" ter dado margem à criação do adjetivo do mesmo nome. "Porco" ficou sendo o epíteto não somente de alguém que não tem higiene, mas de diversos outros tipos como os obesos, os policiais, as pessoas sujas, etc.

Hoje considera-se "porcaria" diversos tipos de hábitos ou atos, que os porcos são incapazes de cometer—muito menos intencionalmente —, como emitir gases, arrotar à mesa, retirar secreções do nariz, falar com a boca cheia, não gostar de tomar banho, urinar fora do vaso sanitário, etc. Convencionou-se usar o adjetivo "porco", numa referência ao animal, mas na verdade os se-res humanos (e somente eles) são capazes de realizar mais "porcarias" — inclusive conscientemente — do que qualquer porco. Considera-se que o animal chafurda na lama e no lixo em busca de comida e que tem coragem de comer a sua costumeira "lavagem". Mas há porcos criados em condições espe-ciais, embora sofrendo em cativeiro, que vivem e precisam de ambientes ex-tremamente limpos, e se alimentam de ração especial.

Considerando-se que porcos domésticos acabam em lixões ou comendo lavagem em coxos (não por culpa deles), e que humanos comem de fato ver-dadeiras "porcarias", como, entre outras, intestinos de boi, rins, cérebro de macaco, bunda de formiga, olho de passarinho e de atum, baratas, morcegos (na China), ovas de peixes, pênis de cachorro, mortadela (feita com restos de vários tipos de animais), chouriço (feito com sangue de porco), testículos de vários animais, miolo (cérebro de boi), bofe (pulmão bovino), carnes putrefatas (carne-de-sol), carne crua (quibe árabe), picanha sangrenta e buchada nordes-tina, cabe a pergunta: Quem é o porco?

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Também em relação ao comportamento e à ética, podemos verificar que realmente há humanos que são porcos (adjetivos) e que há porcos que, pela sua sensibilidade e benevolência, são bem mais "humanos" (adjetivo) que mui-tos humanos (substantivo).

Talvez a mais injusta atitude do homem em relação a esses animais seja o fato de ele ter sido "malignizado" nas escrituras sagradas e associado a Satanás. Jesus teria induzido demônios a se esconderem em porcos. Esse e outros ar-gumentos, incluindo as referências citadas no Corão e na Torá, por exemplo, induziram grupos religiosos judaicos e árabes a não comer esse tipo de carne, nem seus derivados. Se Jesus tivesse escolhido cães, em vez de porcos, para encerrar os demônios, hoje o melhor amigo do homem, sob o ângulo cristão, poderia ser o porco. Sinceramente, o animal em si nada tem a ver com tradi-ções ou crenças humanas. Se bem que seria até conveniente para o porco ser associado totalmente a Satanás, uma vez que assim poderia ser deixado em paz. Rara a sua tristeza, porém, a maior parte dos cristãos não leva em consi-deração o que Jesus Cristo fez, devorando leitões na própria festa do seu nas-cimento, ou seja, no Natal.

Vamos ver então "quem" é o porco. Ele é simplesmente um animal também criado por Deus. Nada tem a ver

com o demônio. A verdade é que ele tem tudo para ser amigo do homem, como ele realmente é. Há diversos casos descritos de porcos que viveram como cães em seu relacionamento com seres humanos. Tive um amigo em Minas Gerais que, compadecido, salvou um leitãozinho de ser devorado na festa máxima da cristandade. O animalzinho, que recebeu o sugestivo nome de Oinc, foi criado por ele e acabou crescendo e habitando a sua casa. Já adulto, era curiosíssimo ver o meu amigo assobiando para chamar o porco, que dormia normalmente na soleira da porta e perambulava pela casa, como se fosse um cachorro. Oinc tinha por hábito sentar-se à beira da mesa aguardando que lhe fosse atirado algum pedaço de pão ou comida... Imenso, mas não obeso, brin-cava com as crianças, aguardava ansiosamente a volta do meu amigo (abanan-do o seu pequeno rabo de alegria assim que ele chegava) e avisava, com guinchos e agitação, a chegada de alguma pessoa estranha. Era acariciado pelas pessoas e gostava disso, e, como qualquer cão, não aceitava o carinho de es-tranhos. Quando o seu dono chegava do trabalho, Oinc corria desengonçado ao seu encontro.

Infelizmente o destino de Oinc não foi feliz. Meu amigo teve de viajar para

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o exterior, onde permaneceu por mais de dois anos. Cheio de tristeza e sau-dades, Oinc não suportou a ausência e desenvolveu uma profunda depressão, morrendo devido a uma baixa de imunidade que lhe desencadeou uma infec-ção generalizada, Quem duvidar que animais têm sentimentos deveria ter vis-:o o olhar de Oinc uma semana depois da viagem do meu amigo...

Mas a grande maioria dos porcos não tem a mesma sorte de ter um dono como o de Oinc. Eles também são vistos como mercadorias, não como seres .wos e com sentimento. Devido à sua carne considerada saborosa, são criados em larga escala no mundo inteiro, mas em condições tão vis e deploráveis que envergonhariam qualquer pessoa dotada de um mínimo de sensibilidade. Tal-vez sejam os animais que mais sofrem nas mãos dos seus criadores.

Aqueles que criam porcos em pequena escala e domesticamente costu-mam castrar os animais (para que possam engordar bastante), forçando-os a uma vida sedentária, reclusa e totalmente incômoda, alimentando-os com todo tipo de resto de comida, preparando-os para ser abatidos. São mortos através de uma fina, longa e cortante faca que lhes é cravada com perícia, diretamente no coração. Sem se incomodarem se o animal sente dor e em que grau, esses criadores, insensíveis, praticam esse ato friamente, em geral rindo, como se estivessem fazendo algo trivial, como puxar uma descarga, por exemplo. Há aqueles que têm como profissão matar porcos dessa maneira e assim, todos os dias, realizam o seu trabalho. Conheci um deles, uma pessoa no mínimo asquerosa, que me confessou que a sensação que sentia ao introduzir a faca no peito de um porco de 100 quilos era a mesma de matar um homem gordo...

Nos matadouros, onde os animais são produzidos industrialmente, não é muito diferente. Assim que nascem, os porquinhos machos são castrados sem anestesia, de modo cruento. Depois de mamarem alguns dias, são afastados da mãe e nunca mais a vêem. As porcas grávidas, nos dias finais da gravidez, são mantidas num tipo de jaula tão pequena que não podem se mover, sendo forçadas a se manter na mesma posição, de pé, sem se voltar para qualquer ;ado e sem poder deitar-se. E assim têm os seus filhotes, como máquinas de produzir porquinhos. Qualquer mulher que já teve um filho sabe do incômodo característico dos dias finais que precedem o final da gravidez, que exigem a busca de posições mais confortáveis a cada instante. Durante o próprio parto é necessário mudar de posição várias vezes, imaginem então que tremendo desconforto deve ser sentir as dores, as contrações uterinas, sem poder me-xer-se ou deitar-se... As porcas grávidas, geralmente muitas ao mesmo tem-

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po, costumam urrar de dor, o que torna o ambiente em que vivem um local onde se capta uma tristeza e uma agonia indescritíveis. Os animais apresentam sempre um olhar apavorado, talvez pela tremenda dor a que são submetidos.

Os demais porcos, castrados e programados para a engorda, vivem igual-mente agrupados ou isolados em áreas muito exíguas e costumam agredir-se uns aos outros. Não raro matam-se ou mutilam-se. Para evitar isso, muitos criadores utilizam drogas calmantes na ração.

Porcos são animais de cascos fendidos, adequados para que possam andar na terra, na lama, na relva ou em terrenos macios. No cativeiro, desde que nascem, são forçados a viver em chão de cimento ou grade, completamente antinaturais. Com o tempo e o aumento de peso, os cascos sofrem maior ten-são, o que provoca abertura do ângulo e fissura central, muitas vezes com ferimentos hemorrágicos, seguidos de infecção. Antibióticos são fornecidos em grande quantidade, não para aliviar o sofrimento dos animais (que costumam urrar de dor, sem conseguir andar), mas para evitar as mortes que provoca-riam prejuízos. "Humanamente", as feridas nos cascos são cauterizadas com instrumento de metal em brasa. Muito técnico!

Os porcos também recebem cargas consideráveis de outras drogas, além de vacinas e hormônios. Usados regularmente, os remédios contra parasitas, a maior parte cancerígena (DDT e similares), contaminam a gordura desses ani-mais e se alojam no tecido adiposo. Isso faz do toucinho de origem industrial algo perigoso para a saúde, "lai qual a lingüiça "pura" de porco, que de pura não tem nada.

A vingança do porco

Sem que queiram vingar-se dos maus-tratos, torturas e do desrespeito com que são (mal)tratados, os porcos, uma vez consumidos, "fornecem" uma car-ne muito prejudicial à saúde, fazendo jus à sua fama de "perigosa". Sem contar com o excesso de colesterol e gorduras saturadas do torresmo, do bacon e da própria carne, rica em lipídios pesados, existem numerosas doenças que po-dem ser transmitidas através da carne de porco. São relatados muitos tipos de infecções bacterianas e parasitas (solitária) adquiridas da carne mal cozida do porco. A perigosa cisticercose, um processo neurológico sério, incurável, pro-duzido pela fixação de ovos da solitária no cérebro humano, causa muito sofri-

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mento, com convulsões, dores, alterações funcionais variadas, etc., dependendo ca área do cérebro onde se fixe. Seria esta uma forma de vingança do porco?

Os bichos embutidos

Bichos embutidos estão sendo comercializados sob aforma de salsichas, lingui-ças, salames, paios, copas, mortadelas, presuntos, frios em geral, chouriços, rosbifes, tender, lombos e outros mais sofisticados.

Todos os perigos e problemas que o consumo de carne oferece à saúde são agravados quando ela é industrializada para o preparo de embutidos. O -isco de se contrair doenças graves é ainda maior. Além dos hormônios e toxi-nas oriundos da carne com que foram preparados, esses produtos necessitam de quantidades consideráveis de conservantes (geralmente antibióticos), corantes sintéticos, nitritos, nitratos, sulfitos, aromatizantes artificiais, além de ser ricos em gorduras saturadas, colesterol, ácido úrico e outros ingredientes. As variantes light — os compostos de frango, chester e peru, por exemplo — em alguns casos são piores do que os seus semelhantes, feitos de carne bovina ou suína.

Cada fabricante desenvolve os seus segredos "industriais" de modo a agra-dar a sua clientela ou atrair consumidores. O certo é que vários tipos de car-ne costumam entrar nesse processo de produção. Muitos comem salsichas

| feitas de frango com carne de cavalo, pensando que estão comendo carne de porco.

Curioso é constatar que os proprietários de frigoríficos que produzem "ali-mentos" embutidos, bem como seus funcionários, raramente consomem aquilo que fabricam. Certa vez, trabalhando como médico em Blumenau, Santa Catarina, atendi um dos sócios de uma das mais famosas empresas do gênero. Ele me afirmou que jamais consumia os seus próprios produtos, devido à quan-tidade de substâncias perigosas que eles continham e à qualidade biológica da carne destinada à sua fabricação!

Se já é desaconselhável ingerir came anima! por causa dos perigos que ela representa para a saúde, alimentar-se de produtos embutidos é algo que se aproxima da idiotice.

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Dados interessantes sobre a produção e o

consumo de carne no Brasil

Utilizando informações fornecidas pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, (aABIEC), temos alguns dados curiosos:

O Brasil é hoje praticamente o segundo produtor mundial de carne, produzin-do anualmente 6,4 milhões de toneladas de carne bovina. Mesmo que uma parte seja destinada à exportação, a média de consumo de cada brasileiro é de 36,6 kg por ano. Ou seja, cada brasileiro come aproximadamente uma vaca a cada dez anos, o que significa que, ao longo de uma vida, come, em média sete vacas.

O porco não tem melhor sorte. O Brasil produz 2,1 milhões de toneladas por ano de carne suína, com 12,8 kg per capita. Mas como porcos pesam menos do que vacas, cada brasileiro come, em média, 13 porcos ao longo da sua existência.

já o frango, por ser uma carne mais barata, é o mais consumido em ter-mos de "unidades". O Brasil produz anualmente 6 milhões de toneladas de galináceos. A média de consumo anual é de 26 kg per capita. Isso significa que cada brasileiro consome cerca de 21 frangos por ano, 210a cada decênio e devora, ao longo de sua existência (se os hormônios e os antibióticos permiti-rem que viva...), cerca de 1.500 animais.

Comer peixe é uma alternativa?

Quando paramos de comer carne, surgem muitas dúvidas sobre como obter proteínas e manter uma dieta quantitativamente saudável. Se frangos e aves, devido aos aspectos sanitários e humanitários, também não devem ser consu-midos, os peixes e frutos do mar aparecem como alternativas, até mesmo consideradas saudáveis. Mas, infelizmente, não é bem assim. Embora a gordu-ra da maioria dos peixes de água salgada e de água doce seja ínsaturada e be-néfica para a saúde, os frutos do mar e muitos produtos dos rios e lagos são ricos em colesterol. O hábito de consumir peixes crus, como o sashimi e o sushi, mesmo sendo uma forma de adquirir proteínas de boa qualidade, não isenta o seu apreciador de assimilar colesterol,

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Claro que peixes como o atum e o salmão, e aqueles que vivem em águas doces, são saudáveis, mas existem aspectos a ser compreendidos. Esses ani-mais, quando mal conservados, são perigosos para a saúde. Para evitar o de-senvolvimento de bactérias nocivas, o pescado recebe hoje conseivantes, como a amónia e seus derivados, que podem afetar a saúde do consumidor. Peixe só é bom fresco e, de preferência, recém-pescado, quando conhecemos a sua origem. Assim como a carne vermelha e a das aves, o pescado também con-tém ptomaínas e outras toxinas. As piores intoxicações alimentares são provo-cadas por frutos do mar deteriorados, como ostras, mariscos, camarões, etc. Cerca de 20% dos seres humanos apresentam algum tipo de alergia às suas proteínas, principalmente as do camarão.

O "peixeiro amigo" das peixarias e feiras talvez não seja tão amigo assim. Muitos pescados são postos à venda e várias vezes recongelados, para ser oferecidos como "frescos", no dia seguinte ou em feiras subseqüentes em postas ou filés. Aprendemos a reconhecer se um peixe é fresco através do olhos, guelras, textura da pele, mas se ele é apresentado dessa forma, isso já não é possível. Portanto comprar filés e postas de peixe congelados, oferecidos pe-los supermercados, também não oferece nenhuma segurança.

Há atualmente um grande risco de contaminação humana por agentes poluentes (PCB, DDT) e metais pesados com o consumo de frutos do mar. Um marisco ou ostra é capaz de filtrar muitos litros de água do mar por dia, o que pode determinar uma grande concentração de metais pesados e substân-cias nocivas, capazes de contaminar o consumidor, às vezes mortalmente. Os animais capturados próximo às grandes cidades são os mais perigosos, já que são mais expostos ao problema. Recomenda-se, portanto, o consumo de pei-xes oriundos de áreas distantes e do alto-mar, ou, pelo menos, de regiões afas-tadas de áreas poluídas.

Consumir a carne desses animais também pode ser aníiecológico. Veja por que no item O impacto ambiental do consumo de animais.

Peixes também sentem dor

Em um documentário realizado nos EUA, estudiosos declararam que os pei-xes têm em suas bocas quase a mesma quantidade de terminações nervo-sas que os humanos têm em seus genitais. Assim, puxar um peixe para fora

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cTágua com um anzol seria como tirar uma pessoa da água segurando suas partes íntimas,

Muitos peixes, especialmente os que vivem no fundo do mar, usam a boca não só para se alimentar, mas também como uma espécie de sensor geral. Eles possuem uma alta densidade de nervos. Esta informação nos faz refletir sobre os programas de pesca na TV em que os desportistas ou apresentado-res capturam peixes com anzol. Aparentemente bons ecologistas ou bons samaritanos, depois de fisgá-los, e!es os devolvem à água. Só que não podem imaginar a dor e o estresse que provocam no animal, que, segundo os espe-cialistas, é suficiente para que a grande maioria não consiga sobreviver. A dor na boca impede que eles se alimentem, o que facilita a inanição e a morte; o sangramento freqüentemente atrai predadores, como piranhas e jacarés. Quan-do esses programas estrearam, imitando os similares norte-americanos, en-tendeu-se ser uma boa ação devolver à água os peixes capturados. Hoje sabemos que o melhor é guardá-los para servirem de alimento. Como morre-rão de qualquer jeito, é melhor dar alguma utilidade a esse sacrifício. Mas o ideal seria proibir esses torturantes programas,

A sensação de um peixe fora d'água se compara à de um homem sendo asfixiado, sentindo suas forças se esvaírem lentamente. A retirada da água cau-sa uma dor terrível e provoca o sangramento das guelras.

A dor gerada pelo imenso arpão de um mergulhador quando atravessa o corpo de um peixe deve ser a mesma que sentiríamos se fôssemos trespassa-dos por uma lança.

Peixes criados em tanques, como tilápias, carpas e trutas, também são sub-metidos a forte estresse devido aos espaços exíguos em que são mantidos. Em alguns restaurantes é possível ver aquários onde peixes e lagostas são ex-postos para ser escolhidos pelos fregueses. Esses aquários estão longe de for-necer o mesmo espaço que esses animais encontrariam na natureza. Muitas vezes, em virtude da urgência em se preparar os pratos, são descamados, têm o couro arrancado, ou são eviscerados ainda vivos! Há certas especialidades culinárias japonesas, um tipo de sushi, em que o peixe é servido ainda vivo. Segundo os experts, é necessário que ele ainda se mova ao ser servido, caso contrário o prato deve ser devolvido!

Rãs passam pelo mesmo problema, pois são criadas em pequenos espa-ços, abatidas com uma forte pancada na cabeça e, geralmente, têm o couro arrancado ainda vivas. Comer rã é basicamente antiecoiógico. Esses batráquios

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são muito importantes para a cadeia alimentar e o equilíbrio dos ecossistemas, já que se alimentam de insetos. Há quem diga que se rãs e sapos desapareces-sem, os insetos dominariam a Terra. Mas fica aqui uma constatação interessan-te: a capacidade dos seres humanos de comer um bicho que come moscas...

Consumir pescados e similares durante um período de adaptação dietética, rumo a uma alimentação totalmente vegetariana, é um recurso muito comum, principalmente entre pessoas acostumadas a uma dieta rica em carne verme-lha e de aves.

Portanto, o consumo de peixes, frutos do mar e seus semelhantes fica a critério do(a) leitor(a). Apenas uma dica: se a preocupação diz respeito aos nu-trientes, notadamente proteínas e minerais, podemos garantir que é possível obter tudo o que necessitamos através dos vegetais.

Conclusões sobre a covardia em relação aos animais

"Quanto mais eu vejo animais serem mortos para virar comida, mais eu entendo por que o McDonald 's engana as criancinhas, fazendo-as crer que

hambúrgueres crescem em árvores, já nos saquinhos."

JOHN ROBBINS

Animais não nos dão a vida como contam as historinhas ou como os desenhos animados e a propaganda em folhetos escolares procuram mostrar. Nós tira-mos as suas vidas. Eles lutam até o fim para fugir da morte, do mesmo jeito que faríamos se estivéssemos em seu lugar.

O porco, dócil e inteligente, não aceita a morte simplesmente pensando que ela é apenas mais um passo na produção de bacon\ portanto, será difícil vê-lo cantando alegremente como nos anúncios dos produtores de salsichas.

As galinhas não se aproximam dançando da faca que irá matá-las, tentando nos mostrar como vai ser gostoso saborear uma de suas coxas.

Agentil e paciente vaca não se rende docilmente à marreta ou à faca; ela se agita e pula como pode para se livrar do gancho que prende uma de suas per-nas, que foi quebrada e pendurada a uma corrente.

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MÁRCIO BONTEMPO

Os indivíduos que matam os animais são chamados de profissionais. Eles alegam que simplesmente estão realizando um trabalho ordinário (aqui, para nós, no duplo sentido), mesmo que isso envolva o assassinato de milhões de criaturas inocentes. Eles consideram "natural" o que fazem. Se isso é natural, que Deus os ajude.

Os produtores de leite nos EUA costumam fazer propaganda. Uma delas mostra uma simpática vaca sorrindo, enquanto uma suave voz masculina avisa, em off, que o lerte dessa empresa é proveniente de vacas felizes. Talvez ele esteja se referindo ao efeito dos tranqüilizantes e antidepressivos que esses animais recebem regularmente para combater a tristeza dos ambientes onde são criados.

Resultados dos prazeres da carne

"Os animais são meus amigos... e eu não como os meus amigos."

GEORGE BERNARD SHAW

Todos os produtos compostos por proteínas animais apresentam, obriga-toriamente, toxinas em quantidades variáveis. Toxinas são compostos or-gânicos capazes de agredir o organismo e de prejudicar as funções biológicas. A carne de porco, de vaca, as vísceras de todos os animais, as carnes embutidas (presunto, salame, mortadela, salsichas, carnes defuma-das, lingüiças industriais, etc.) são particularmente ricas em toxinas, por isto são classificadas como alimentos cujos malefícios superam a capacidade nu-tritiva. As principais toxinas presentes nesses produtos são a cadaverína, a putrescina, o indol, o escatol e o fenol. Assim como a uréia, são provenien-tes da transformação bioquímica das proteínas, mas também podem ocor-rer livremente na massa protéica. Se um pouco de carne permanece muito tempo nos intestinos humanos (em caso de prisão de ventre, por exem-plo), a intensidade de putrefação dentro do organismo passa a ser maior, o que permite uma maior formação e difusão dessas toxinas. O resultado da

A

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presença dessas substâncias venenosas no corpo humano é a redução da capacidade orgânica às infecções, a tolerância maior à presença e ao cres-cimento de bactérias patogênicas, uma maior tendência às inflamações e infecções em qualquer parte do organismo (apendicite, amigdalite, nefrite, colite, dermatose, acne, espinhas, fluxos, corrimentos, entre outras), pre-disposição ao câncer e aos tumores em geral, reumatismo, gota, etc.

Quando um animal está prestes a ser sacrificado, a bioquímica do seu or-ganismo, devido ao seu estado de pânico, sofre profundas transformações. Subprodutos tóxicos são lançados na corrente sanguínea, causando dores e envenenando toda a carcaça.

De acordo com a Enciclopédia Britânica, toxinas do corpo, inclusive o ácido úrico e outros produtos tóxicos, encontram-se presentes no sangue e nos tecidos dos animais abatidos. "A proteína obtida de nozes, leguminosas (lentilhas, ervilhas, etc.), cereais e derivados do leite é considerada relativa-mente pura quando comparada à da carne de gado, que possui 56% de im-purezas."

O nível de hormônios no sangue dos animais—especialmente a adrenalina — muda radicalmente quando eles vêem seus semelhantes morrendo à sua volta e lutam, inutilmente, pela vida e pela liberdade.

De acordo com o Instituto de Nutrição dos Estados Unidos, "a carne de um animal morto está repleta de toxinas e de outros subprodutos noci-vos".

Por ocasião do abate, proteínas coagulam no corpo do animal e enzimas degenerativas são liberadas. Em seguida, surgem as substâncias de putrefação, chamadas ptomaínas. Com isso, a carne (bem como o peixe e os ovos) apre-senta uma decomposição e uma putrefação extremamente rápidas! O tempo exigido desde o abate, que passa pelo transporte da carne morta, a refrigera-ção e a exposição no açougue, a chegada em casa ou no restaurante, o esto-que nas geladeiras e freezers domésticos até ela ser cozida e servida, aumenta gradativamente o estado de decomposição da carne. O congelamento não reduz a quantidade de ptomaínas.

A carne passa lentamente pelo sistema digestivo humano. Ao contrário do alimento vegetariano, que demora apenas um dia e meio para ser digerido, ela leva cinco dias, período que expõe os órgãos digestivos à ação constante dos subprodutos da decomposição da carne. Devido a esse processo de apodreci-

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mento, o hábito de comer carne desencadeia o envenenamento do cólon, desgastando prematuramente esta parte do aparelho digestivo.

Câncer

A carne vermelha é tida como o segundo maior agente causador de câncer, perdendo apenas para o fumo. Segundo os médicos, 35% de todas as mortes causadas por uma doença se devem, em grande parte, à ingestão de alimentos cárneos. Dados científicos comprovam que consumidores de produtos de ori-gem animal apresentam maiores chances de contrair câncer de cólon, intesti-no, estômago (o que mais mata no Brasil), boca, faringe, mama e próstata, entre outros. Há maior incidência de câncer de cólon em populações que conso-mem carne do que nos grupos vegetarianos.

São muitos os estudos científicos que apontam a relação entre o câncer e a ingestão excessiva de carne animal, O consumo de proteínas além das ne-cessidades diárias (um grama por quilo de peso por dia) incrementa o metabo-lismo nitrogenado, o que determina um efeito carcinogênico e carcinocinético

(que fazem surgir e que favorecem o crescimento do tumor). Esse efeito é particularmente mais intenso quando se consome carnes bovinas embutidas ou enlatadas; mas as carnes brancas manipuladas ou criadas pelo homem — notadamente as de frango, chester, peru temperado, etc. — têm potencial cancerígeno próximo ao das carnes vermelhas.

As carnes defumadas industrialmente (incluindo as de peixe, frango, etc.), bem como churrasco, as almôndegas enlatadas e a carne de hambúrguer, quando submetida ao aquecimento (nas chapas para sanduíches), formam um derivado orgânico de elevada capacidade cancerígena — o benzopireno, considerado um dos maiores agentes carcinogênicos do ambiente.

Estatísticas oficiais da Organização Mundial de Saúde apontam bem maior incidência de câncer em populações consumidoras de carne que nos grupos vegetarianos, em que a doença praticamente inexiste.

A carne é o segundo item da lista de alimentos que oferecem maior risco cancerígeno devido à contaminação por pesticidas. (O primeiro é o tomate.) Na relação dos alimentos contaminados por inseticidas ela figura em terceiro lugar, o que representa quase 11 % do risco total de câncer.

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Hormônios

Nos Estados Unidos mais de 95% de todo o gado de engorda estão atualmen-te recebendo hormônios, que promovem crescimento, e outros farmacêuti-cos, cujos resíduos podem estar presentes nos cortes de carne.

Embora proibidos por lei na maioria dos países, o uso de hormônios do tipo estrógeno anabolizante é comum, principalmente nos países menos de-senvolvidos. De modo a acelerar o ganho de peso, os criadores usam esti-muladores do crescimento e aditivos alimentares. Esteróides anabolizantes, na forma de pequenos implantes liberados a longo prazo, são implantados nas orelhas dos animais. Eles penetram lentamente na corrente sanguínea, aumen-tando os níveis hormonais de duas a cinco vezes. O gado recebe estradiol, testosterona e progesterona.

No Brasil é muito comum a aplicação desses hormônios no gado clandes-tino, que, infelizmente, abastece cerca de 50% do mercado nacional. O mais aplicado é o dietiletilbestrol, mais facilmente encontrado nas carnes bovinas e suínas, nas aves, nos ovos de granja e nos derivados dessas mesmas carnes (presunto, salame, salsicha, etc.). Sua aplicação visa ao aumento da massa mus-cular e do peso do animal. As conseqüências dessa substância no organismo são imprevisíveis, mas sabe-se, com certeza, que ele interfere no equilíbrio endócrino humano, mesmo em quantidades mínimas. Seu efeito é geralmente acumulativo e permanece durante meses nos tecidos gordurosos, tanto do animal quanto do consumidor.

O produto é um composto sintético capaz de causar alterações hipo-fisárias de vários tipos: tumores malignos e benignos do útero, câncer e nódulo mamário, câncer e cistos ovarianos, diversas alterações menstruais, câncer vaginal, esterilidade masculina e feminina, tumores malignos e be-nignos da próstata, câncer masculino de mama, tumores testiculares, im-potência, ejaculação precoce, oligoespermia e outros. Não somente a carne de boi ou de vaca é rica em hormônios. Com o aumento da deman-da no consumo de frango (preço menor), foi necessário incrementar a pro-dução. Como já vimos, isto foi feito à base de hormônios anabolizantes sintéticos, que fazem com que um frango atinja em apenas 45 dias o peso ideal para o abate.

Existem pesquisas mostrando resultados da interferência progressiva dos

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hormônios da carne consumida no organismo humano. No Japão, onde pei-xes e frutos do mar sempre foram a principal fonte de proteínas, a população mudou bruscamente de hábitos, passando a consumir carne de vaca e frango industrializado. O gráfico seguinte mostra o resultado desse hábito em rela-ção ao aparecimento da primeira menstruação, que é um excelente indica-dor, uma vez que, quando os níveis hormonais femininos atingem um certo patamar, a menina atinge a puberdade e menstrua pela primeira vez. É um gráfico revelador:

Relação entre o consumo de carne animal e a precocidade

da menarca, entre adolescentes japonesas.

O estudo revelado nesse gráfico mostra que no final do século XIX, a idade média do aparecimento da primeira menstruação era de aproximadamente 16 anos. Compare-se com o ano de 1974, onde isso ocorria, em média, por vol-ta dos 12 anos de idade. Observa-se nitidamente a ação de interferentes hor-monais e o seu impacto no organismo humano, uma vez que o consumo de carne contendo hormônios veio se elevando gradativamente.

Não se pode nunca saber ao certo a quantidade de dietiletilbestrol de um bife, de uma omelete ou de um frango assado; não se pode nem ao menos saber se ele está presente. As próprias autoridades sanitárias não conseguem estabelecer uma fiscalização adequada quanto ao uso dessas substâncias, prin-cipalmente nos países pobres, onde ainda é rara a concepção generalizada

Idade da I a menstruação

7

1875 1950 1960 1970 1974 Ano

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de respeito humano e de consciência coletiva. O mais curioso, porém, é o fato de um produto de uso proibido por lei estar disponível para a venda no comércio.

A carne animal, notadamente a bovina, também contém doses elevadas de um produto derivado da adrenalina, o adrenocromo, que se transforma depois em adrenolutina, capaz de produzir, quando em grandes quantidades, irritabilidade, sensação de insatisfação, aumento de agressividade e exaltação dos instintos. Por essa razão costuma-se afirmar que a carne faz o consumidor tomar-se violento. Embora não seja acrescida artificialmente à came, a adrenalina é o resultado do tremendo estresse vivido pelos animais nos momentos que antecedem o abate.

Outros produtos farmacêuticos veterinários

Os animais de criação recebem também uma grande variedade de remédios, seja para uso interno ou externo, que impregnam a carne da mesma forma. Os mais comuns são os antibióticos, os carrapaticidas, os bernicidas, as vacinas e outros. Seus efeitos não representam muito para o organismo humano, mas tornam a carne bovina, ovina ou suína um produto desvitalizado e tóxico, ab-solutamente nada saudável.

O arsênico é um estimulante do crescimento bastante usado na criação de gado para aumentar artificialmente a produtividade dos animais; anfetaminas, tranqüilizantes e centenas de outras drogas são utilizados com o mesmo fim. A carne, o leite e os ovos, mesmo quando já prontos para o consumo, segura-mente contêm resquícios dessas substâncias.

Em 1988, mais de 10 mil toneladas de antibióticos foram usadas nos Esta-dos Unidos como aditivos alimentares para criações. As drogas foram usadas para promover o crescimento e combater as doenças que correm à solta, vio-lentas, nos currais e granjas de engorda superlotados e contaminados. Enquan-to a indústria pecuarista declara que parou de impregnar a ração do gado de antibióticos, eles ainda estão sendo dados às vacas leiteiras, que fornecem 15% de toda a carne consumida naquele país. Resíduos dessas substâncias muitas vezes aparecem na came que as pessoas consomem, tornando a população humana cada vez mais vulnerável a variedades mais virulentas de bactérias cau-sadoras de doenças.

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Obesidade

Na população norte-americana, o índice de obesidade observado entre os não-vegetarianos é quase dez vezes maior que aquele encontrado entre os estrita-mente vegetarianos. A obesidade é um fator de diabetes, câncer, cálculos re-nais e doenças cardiovasculares, entre outros males.

Ácido úrico

O ácido úrico é uma das substâncias mais nocivas acumuladas no organismo pelas pessoas que comem carne. A maior parte dos produtos animais possui ácido úrico, principalmente as vísceras e a pele, Destaque maior deve ser dado ao coração de frango, aos fígados bovino e ovino, ao miolo (cérebro de boi), à pele do frango e à came de porco em geral. Um bife de 100 gramas, por exem-plo, contém cerca de três gramas de ácido úrico.

Um médico norte-americano analisou a urina de diversas pessoas e consta-tou que os rins dos carnívoros trabalham três vezes mais do que os dos vegeta-rianos, tentando eliminar os compostos de nitrogênio nocivos encontrados na came. Enquanto jovens, as pessoas conseguem suportar este esforço adicional, de modo que não surgem evidências de males ou lesões, mas à medida que os rins envelhecem e se tornam prematuramente cansados, ficam incapacitados e, como resultado, surgem as doenças renais. Quando os rins não mais conseguem lidar com a sobrecarga de ácido úrico, ele pode ser depositado em todo o corpo. Os músculos o absorvem tal como uma esponja absorve água. Entre as fibras musculares, o ácido úrico forma cristais que podem enrijecê-las, desencadeando uma grande quantidade de doenças ligadas aos músculos, Surgem problemas do-lorosos, como o reumatismo, a artrite, a gota e outros, Quando o ácido úrico é depositado nos nervos, os resultados são neurites e dores ciáticas.

Hoje em dia, muitos médicos aconselham os pacientes que sofrem de tais doenças a parar de comer carne ou a reduzir a sua ingestão.

A carne é acidificante

Uma das maiores causas de problemas digestivos é o excesso de acidez. A maioria dos alimentos cárneos é altamente acidificante do sangue. O corpo, no

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seu estado natural, é ligeiramente alcalino. Quando se ingere alimentos dessa natureza, o sangue torna-se ácido, e órgãos como o fígado, o coração e os rins tornam-se sobrecarregados, enfraquecidos e suscetíveis a doenças. Assim, as toxinas são eliminadas com dificuldade, tendendo a se depositar nas juntas, contribuindo para o surgimento de doenças reumáticas, como a gota e diver-sas outras moléstias, como hemorróidas, pressão alta, males cardíacos, asma e alergias.

Presença maciça de gordura saturada e coíesterot

De um modo geral, as carnes animais possuem gorduras mais saturadas (pe-sadas) que os óleos vegetais. Isso não só exige maior trabalho do organismo para a digestão e assimilação dos lipídios como mantém os níveis sanguíneos de gordura, colesterol, triglicerídeos, sempre em níveis mais altos. Assim, as deposições em artérias, articulações, sinus faciais e demais espaços são cons-tantes, facilitando doenças como arteriosclerose, aterosclerose, infarto do miocárdio, má circulação das extremidades e uma incalculável quantidade de outros problemas.

Gráficos publicados pelo órgão de imprensa do Instituto Nacional do Cân-cer e pelo estudo "Carne e alimentos estocados", do USDA, Washington, D.C., 1976, apresentam a nítida relação entre o consumo de carne, a incidência de doenças cardíacas e de câncer intestinal em vários países.

Alimentos ricos em ácidos graxos saturados e colesterol: carne de porco, pele das aves, vísceras, banha, leite, ovos, carne de vaca em geral, salsichas, camarão, lagosta, ostras e mariscos, que reconhecidamente podem ocasionar o surgimento ou agravamento de doenças cardiovasculares.

Doenças cardiovasculares

Pelos seus altos níveis de colesterol, gordura saturada, ácido úrico e toxinas, a carne bovina, que freqüentemente vem sendo contaminada por substâncias químicas e doenças, deve ser considerada um dos alimentos mais prejudiciais à saúde existentes no mercado atualmente. Quase 70%, ou 1,5 milhão dos 2,1 milhões de mortes nos Estados Unidos, em 1987, foram provocadas por

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doenças associadas à dieta — particularmente dietas com elevada taxa de gor-dura saturada e colesterol, segundo o relatório do Departamento de Saúde.

Em 1990, o maior estudo jamais feito na China sobre os efeitos do consu-mo de alimentos de origem animal confirmou os resultados das pesquisas an-teriores realizadas nos Estados Unidos: elevada correlação entre consumo de carne e a incidência de doença cardíaca e câncer. Os pesquisadores envolvidos monitoraram os hábitos alimentares de 6.500 pessoas vivendo em 25 provín-cias chinesas.

Quem come carne e gorduras envelhece mais cedo

Os esquimós, cujos alimentos principais são a carne e as gorduras, envelhe-cem cedo e vivem em média 28 anos e meio. O kirgeses, membros de uma tribo da Rússia Oriental, que se alimentam basicamente de carne, envelhecem mais cedo e têm morte prematura; eles raramente passam dos quarenta anos de idade.

Pesquisas realizadas por antropólogos entre povos que não usavam carne em sua alimentação, documentaram a saúde radiante, o vigor e a longevidade desses grupos como os hunzas do Paquistão, a tribo Otomi (nativa do México) e os povos nativos do sudoeste dos Estados Unidos. Não era raro, em tais tribos, haver indivíduos ativos e saudáveis com I 10 anos de idade, ou mais.

Artrite

Uma pesquisa na Alemanha concluiu que consumidores de carne e laticínios apresentam incidência de artrite quase quatro vezes maior do que aquela en-contrada entre indivíduos que mantêm uma dieta de baixo teor de gordura.

Doenças infecciosas e parasitárias

Existem várias doenças provocadas peta ingestão de determinados produtos animais passíveis de estar contaminados por bactérias, fungos e vírus, como a salmonela, a echeríchia coli e outras. Ao serem comidas cruas ou mal cozidas,

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as carnes dos.animais, principalmente a de bois e porcos, podem produzir in-toxicações e contaminações por brucelose, teníase, cisticercose e alguns tipos "nais raros de tuberculose.

Recentes descobertas sugeriram um possível elo entre novas doenças do gado e doenças nos seres humanos, O vírus da leucemia bovina (BLV), um retrovírus transmitido por insetos que causa malignidade e pode ser encontra-do em 20% do gado e 60% dos rebanhos americanos, é suspeito de ter um elo causal em algumas formas de leucemia humana. Anticorpos do BLV foram encontrados em pacientes vítimas de leucemia; células humanas in vitro foram infectadas pelo BLV

O vírus bovino de imunodeficiência (BIV), que se descobriu estar gene-ralizado nos rebanhos de gado americano nos anos 80, se parece genetica-mente com o vírus do HIV (AIDS). Tal como o vírus da AIDS nos humanos, acredita-se que ele suprima os sistemas imunológicos do gado, tornando-os suscetíveis a uma vasta gama de doenças e infecções. Cientistas infectaram com sucesso células humanas com este BIV e pelo menos um estudo suge-riu que, "no homem, ele pode ter um papel tanto em vírus malignos bem como em benignos". Em 1991, o USDA declarou que não sabe ainda "se a exposição às proteínas do BIV faz com que o soro humano... se torne HIV positivo".

0 consumo de carne reduz as reservas de cálcio do organismo

Recentes pesquisas na China e nos Estados Unidos apontam que o consumo ce proteína animal (came, leite e derivados) está provocando uma necessida-de orgânica de maiores reservas de cálcio, para sua assimilação. Essas reservas normalmente não estão disponíveis através de nossa alimentação diária. Então, o corpo "rouba" cálcio do nosso esqueleto. Isso, com o tempo, pode resultar numa perda de 50 a 75% de massa óssea, principalmente em mulheres acima dos 50 anos, idade em que 25% delas sofre de osteoporose.

Pesquisas recentes comprovam que, quanto mais proteínas consumimos, menos cálcio absorvemos.

O acúmulo de proteínas obriga nossos fígados e rins a trabalhar em dobro para excretar o excesso de BUN (nitrogênio de uréia do sangue), que possui um efeito diurético. Para conhecer as conseqüências a longo prazo basta avaliar

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a endemia de osteoporose observada nas sociedades desenvolvidas que con-somem proteínas em demasia.

A tribo dos Bantos, que vive na África à base de uma dieta vegetal de baixa taxa de proteínas (476 gramas de proteína e 400 miligramas de cálcio por dia), não conhece a osteoporose. Por outro lado, os esquimós têm o maior consu-mo de proteína diária do mundo (de 1.250 a 1.400 gramas por dia, com pelo menos 2.000 miligramas de cálcio de ossos de peixe) e sofrem dos mais altos índices de osteoporose do planeta.

Muitos idosos e crianças têm problemas para assimilar alimentos altamen-te protéicos e produtos derivados do leite, devido a dois fatores: a inabilidade do seu metabolismo em "quebrar" a proteína, e a dificuldade dos rins em excretar o excesso de nitrogênio de que seus corpos não necessitam. Isso sem mencionar aqueles que são alérgicos ao leite animal.

Came de animais doentes

Um outro risco a que as pessoas carnívoras estão expostas é a presença de infecções não detectadas ou até mesmo ignoradas pelos produtores de ani-mais de corte. É bem provável que um animal com câncer tenha o tumor extraído para que o resto do corpo seja colocado no mercado, ou, pior ainda, que a própria parte doente seja incorporada à preparação de salsi-chas ou vendida como miúdos. Em certa região dos Estados Unidos, onde a inspeção de animais abatidos é feita rotineiramente, 25 mil cabeças de gado com câncer nos olhos foram abatidas e colocadas no mercado como carne saudável.

Conclusões

O organismo humano é adaptado a uma dieta de vegetais, Nossos antepas-sados eram vegetarianos assim como nossos atuais parentes primatas mais próximos. Portanto, não é de estranhar que alguns de nossos problemas de saúde mais graves estejam relacionados ao consumo de produtos de origem animal.

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Resumo dos efeitos dos prazeres da carne

Na Saúde Outros Efeitos

Ácido úrico (vísceras) Consciência ambienta!

Agrotóxicos Desmatamento

Câncer Escassez de água

Perda de nutrientes (carne cozida) Esgotamento dos combustíveis fósseis

Doenças cardiovasculares Destino das fezes

Doenças infecciosas e parasitárias Efeito estufa

Envelhecimento precoce Erosão do solo e desertificação

Falsa sensação de satisfação Consumo de frutos do mar e ecologia

Fisiologia humana imprópria Razões religiosas e filosóficas

Gorduras saturadas, colesterol Humanismo e amor aos animais

Hormônios Economia

Menos fibras Fome e justiça social

Obesidade

Intoxicação por produtos farmacêuticos veterinários

Proteína da carne não é superior

Redução das reservas de cálcio

Toxinas e venenos embutidos

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4. CURIOSIDADES DO MUNDO DOS CRIADORES DE ANIMAIS

Um desafio para quem gosta do sabor da carne

Os apreciadores de carne dizem que ela é mais saborosa do que os vegetais. A verdade é que a came, comida sozinha, não tem sabor algum, ela precisa ser cozida, acrescida de sal e de temperos vegetais "sem sabor", como a cebola, o alho, a salsa, a pimenta, o orégano... Se você a considera mais saborosa do que os vegetais, é melhor provar direito. Ponha um naco de carne crua num prato. Você não consegue comer isso!

Anúncio colhido na Internet

"Caro amigo; Primeiramente queira nos desculpar pela invasão de seu espaço. Caso a

mensagem abaixo não seja de seu interesse, por favor, retome este e-mail, pedindo para ser excluído de nossa lista.

Somos produtores em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, da carne de JAVONTEIRO, o cruzamento do javali europeu com o porco monteiro, suí-no asselvajado amplamente distribuído por todo o Pantanal do Centro Oeste, bem como em países vizinhos. Trata-se de um projeto pioneiro onde busca-mos produzir uma carne de excelente sabor com baixos teores de colesterol egordura. Estamos procurando distribuidores para formar parcerias. Visite nosso site www.javonteiro.com.br e conheça mais sobre o nosso projeto.

Obrigado"

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Comentário nosso

O anúncio parece oferecer um objeto ou uma ferramenta qualquer, mas não um ser vivo.

O javonteiro surge aqui como um prodígio da engenharia genética. A ma-ravilha do poder do homem, capaz de imitar Deus e criar espécies diferen-tes. Trata-se de algo parecido com o chester, ave também "inventada" pelo homem e que não existe na natureza.

O "porco monteiro", o que seria? O nome de um animal? Um porco cha-mado Monteiro que foi capturado nas matas do Pantanal e utilizado para o cru-zamento? Possivelmente fruto de uma raça de porcos antes selvagens que recebeu, mui adequadamente, segundo supomos, o nome do seu caçador e criador...

Vale a pena visitar o site em questão e conferir do que o ser humano é capaz no que diz respeito aos animais.

Anúncios de máquinas para um abate mais "humano"

Z I LKA— UMA MÁQUINA A SERVIÇO DO BEM DOS ANIMAIS Características Técnicas: Função: Insensibilizar bovinos, ovinos, caprinos e animais silvestres mantidos

em cativeiro por embolia cerebral para abate. Produção: 200 animais/h. Funcionamento: Por acionamento pneumático através de um gatilho, são acio-

nados os mecanismos internos da pistola, fazendo disparar um penetrador contra o crânio do animal.

Anúncio de depenadores de aves

"Os depenadores "Prosperidade"® são peças importantes durante o processo de abate, pois, além de entrar em contato firme e direto com a sensível pele das aves ainda vivas, alteram significativamente para melhor seu visual e, conse-quentemente, o seu valor final de mercado, o que redunda em imensos ganhos de produtividade para todos os abatedouros usuários.

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São fabricados desde 1990 mediante rigorosas normas técnicas internaci-onais, executadas em conformidade com os mais exigentes e conceituados ór-gãos fiscalizadores, como o Instituto Adolfo Lutz do Brasil, FDA — Federal Drug Administration dos Estados Unidos—, Bayer da Alemanha e BGAda Europa. Assim, ao usar os produtos com a marca "Prosperidade"®, os abatedouros têm a certeza de estar usufruindo de dedos depenadores saudáveis, ecologicamente corretos, duráveis, seguros, confiáveis, econômicos e mundialmente reconhe-cidos. No Brasil, todas as grandes unidades de abate de aves adotam, sem exceção, os dedos depenadores com a marca "Prosperidade"®, sinônimo, in-clusive, de confiabilidade também entre muitos abatedouros no exterior.

Para os criadores de aves, também existem outros instrumentos curiosos para o abate mais "humanitário" ou para facilitar o trabalho.

Sem comentários... Fico imaginando como é a mente de uma pessoa que cria essas máquinas...

Algumas outras propagandas curiosas

Abatedouro Paraíso das Rãs"

Imagina-se que as rãs desse abatedouro não concordem com a alusão ao paraíso. Para elas deve ser bem o contrário...

Apenas para concluir, em Varginha, sul de Minas Gerais, existe um aba-tedouro de gado cujo nome representa, no mínimo, uma manifestação de humor negro:

Abatedouro São Francisco de Assis"

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5. DIREITOS DOS ANIMAIS

Dedicado a Francisco de Assis

"Como zeladores do planeta, é nossa responsabilidade lidar com todas as espécies com carinho, amor e compaixão. As crueldades que os animais

sofrem nas mãos dos homens estão além da nossa compreensão. Por favor, ajude-nos a parar com esta loucura."

RICHARD GERE

"Eu sou a favor dos direitos animais bem como dos direitos humanos, Essa é a proposta de um ser humano integral."

ABRAHAM LINCOLN

Há quem afirme que os animais não têm alma. Outros supõem que eles não têm sentimentos ou inteligência. Por não se comunicarem como seres hu-manos, também não teriam sensibilidade ou capacidade de pensar ou refle-tir, Sendo assim, os "bichos", sejam hoje domesticados ou não, estão à mercê completa dos seres humanos e são por eles tratados quase como objetos, em todos os sentidos. Parece, sob certos aspectos, que eies são nossos ini-migos, tal o grau de sofrimento a eles imposto ou as atrocidades a que são submetidos.

Quando nos dedicamos a observar atentamente as diversas formas com que os homens tratam os animais, causando-lhes dores e sofrimentos, parece-

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o nosso progresso, pois sempre foram o nosso meio de transporte antes da invenção dos veículos automotores. Todas as grandes civilizações do passado só puderam existir graças a ele. E nenhum dia especial lhe é reservado como reconhecimento. O Dia do Cavalo. Sob este aspecto, se o cão é o melhor amigo do homem, o cavalo é o melhor amigo da humanidade. Até hoje o ca-valo e seus irmãos (o burro, o jumento, o jegue, etc.) ainda representam uma opção de tração, para carroças e charretes, servindo como meio de transpor-te, diversão, caça e até esportes (corridas). Mesmo assim, o homem costuma não reconhecer os serviços desses amigos silenciosos, prestando-lhes pouca atenção como seres vivos. Quando estão já velhos e cansados, são abandona-dos para morrer ou mortos pelos próprios donos, seja para comer da sua car-ne ou vendê-la para algum frigorífico fabricante de mortadela ou salsicha.

Talvez não haja exemplo maior de amor cristão do que o cão, que, mes-mo chutado e abandonado pelo melhor amigo, não lhe guarda nenhum ran-cor, voltando sempre com o rabo abanando. Não nos foi ensinado a dar a outra face?

Cães são também companheiros dos homens, seja puxando trenós nos pólos, seja levando conhaque para esquiadores perdidos na neve. Eles prote-gem lares, pastoreiam ovelhas e gado, defendem crianças, a despeito de ser abandonados na velhice, treinados para lutar e brigar, ou criados para servir de alimento, como na China, onde o "melhor amigo do homem" é uma iguaria, Lá, como aqui, os cães são criados normalmente entre os homens e, quando o dono decide comê-lo, basta assobiar. O dócil amigo se aproxima, recebe uma forte pancada na cabeça e vai direto para a panela. No Brasil, gatos são normalmente transformados em churrascos e vendidos nas ruas em espetos.

Quanto à inteligência, o que dizer dos alegres golfinhos, capazes de amar, realizar cálculos matemáticos, ser leais e fiéis, medir distâncias e proteger seres humanos do ataque de tubarões? Hoje, os cientistas atônitos obser-vam as baleias se comunicarem segundo um método ainda não compreen-sível por seres humanos. Gatos são capazes de retornar às residências anteriores, mesmo quando distantes dezenas de quilômetros. Pombas fun-cionam como melhores carteiros do que homens e foram extremamente úteis no passado. Papagaios, periquitos e todos os psitacídeos também po-dem sentir raiva, amor e ciúme. Galinhas são exemplos de mães dedicadas, cuidando com extremo zelo de sua cria, mesmo que os seus ovos tenham sido trocados por ovos de patas. (Seriam consideradas estúpidas por isso?

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nos que os bichos cometeram crimes hediondos. Considerando ainda o modo como são explorados e como vivem, fica difícil saber quem é realmente o "animal". Nessas observações, freqüentemente somos assolados pelo senti-mento de que há uma inversão de papéis. Sim, pois quando os "animais" são tratados de modo não "humano" ou com desumanidade, respondem sem-pre com uma suave complacência. Portanto, são eles que nos dão exemplos de "humanidade".

Há "estudiosos" que ousam afirmar que "animais não sentem dor". Usam esse argumento como pretexto para utilizá-los em experiências e pesquisas de laboratório. Não sabemos de que modo eles chegaram a essa conclusão, mas certamente não foi observando os gritos de um cachorro machucado, recém-atropeladol Afirmam que a formação do sistema nervoso dos animais é dife-rente. Mas a neurologia nos mostra que, quanto mais ativas as vias aferentes do sistema nervoso (aquelas que conduzem a sensibilidade), maior a sensibili-dade à dor. Um simples exemplo, a capacidade olfativa de um cão sabujo é cerca de 300 vezes maior do que a do homem de nariz mais aguçado. O cão possui muito mais vias aferentes, portanto, é capaz de sentir muito mais dor!

Meu amigo John Robbins, célebre autor do best seller D/et For a New

America, conta como ficou impressionado, ainda menino, quando viu sapos sendo utilizados nas aulas de biologia do curso primário. Dezenas deles eram abertos vivos apenas para mostrar aos alunos que as perninhas se moviam quando uma corrente elétrica contínua era aplicada nos nervos da coluna dos batráquios. Outra experiência procurava verificar se esses animais nadavam melhor com ou sem cabeça. Dezenas deles — um para cada aluno — eram decapitados e imediatamente colocados num tanque. Ao final da experiência ficou claramente demonstrado e "cientificamente" comprovado que os sapos

nadam melhor com cabeça...

Animais são geralmente amorosos, integrados em si mesmos, obedientes às leis da natureza,,, predicados que poucos humanos apresentam. Se tivésse-mos essas qualidades, mantidas em uníssona e perfeita integração, como os animais o fazem, certamente o mundo teria paz e harmonia.

Animais vivem nos dando exemplos de comportamento e atitude perfei-tos. Em diversas situações são bem melhores que muitos seres humanos. Ve-jamos alguns casos.

Na sua relação com os animais, o homem tem se mostrado um algoz, in-grato e insensível. O caso dos cavalos é notório. A essa espécie devemos todo

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nos que os bichos cometeram crimes hediondos. Considerando ainda o modo como são explorados e como vivem, fica difícil saber quem é realmente o "animal". Nessas observações, freqüentemente somos assolados pelo senti-mento de que há uma inversão de papéis. Sim, pois quando os "animais" são tratados de modo não "humano" ou com desumanidade, respondem sem-pre com uma suave complacência. Portanto, são eles que nos dão exemplos de "humanidade",

Há "estudiosos" que ousam afirmar que "animais não sentem dor". Usam esse argumento como pretexto para utilizá-los em experiências e pesquisas de laboratório, Não sabemos de que modo eles chegaram a essa conclusão, mas certamente não foi observando os gritos de um cachorro machucado, recém-atropelado! Afirmam que a formação do sistema nervoso dos animais é dife-rente. Mas a neurologia nos mostra que, quanto mais ativas as vias aferentes do sistema nervoso (aquelas que conduzem a sensibilidade), maior a sensibili-dade à dor. Um simples exemplo, a capacidade olfativa de um cão sabujo é cerca de 300 vezes maior do que a do homem de nariz mais aguçado. O cão possui muito mais vias aferentes, portanto, é capaz de sentir muito mais dor!

Meu amigo John Robbins, célebre autor do best seller D/et For a New

America, conta como ficou impressionado, ainda menino, quando viu sapos sendo utilizados nas aulas de biologia do curso primário. Dezenas deles eram abertos vivos apenas para mostrar aos alunos que as perninhas se moviam quando uma corrente elétrica contínua era aplicada nos nervos da coluna dos batráquios. Outra experiência procurava verificar se esses animais nadavam melhor com ou sem cabeça. Dezenas deles — um para cada aluno — eram decapitados e imediatamente colocados num tanque. Ao final da experiência ficou claramente demonstrado e "cientificamente" comprovado que os sapos

nadam melhor com cabeça...

Animais são geralmente amorosos, integrados em si mesmos, obedientes às leis da natureza... predicados que poucos humanos apresentam. Se tivésse-mos essas qualidades, mantidas em uníssona e perfeita integração, como os animais o fazem, certamente o mundo teria paz e harmonia.

Animais vivem nos dando exemplos de comportamento e atitude perfei-tos. Em diversas situações são bem melhores que muitos seres humanos, Ve-jamos alguns casos.

Na sua relação com os animais, o homem tem se mostrado um algoz, in-grato e insensível. O caso dos cavalos é notório. A essa espécie devemos todo

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o nosso progresso, pois sempre foram o nosso meio de transporte antes da invenção dos veículos automotores. Todas as grandes civilizações do passado só puderam existir graças a ele. E nenhum dia especial lhe é reservado como reconhecimento, O Dia do Cavalo. Sob este aspecto, se o cão é o melhor amigo do homem, o cavalo é o melhor amigo da humanidade. Até hoje o ca-valo e seus irmãos (o burro, o jumento, o jegue, etc.) ainda representam uma opção de tração, para carroças e charretes, servindo como meio de transpor-te, diversão, caça e até esportes (corridas). Mesmo assim, o homem costuma não reconhecer os serviços desses amigos silenciosos, prestando-lhes pouca atenção como seres vivos. Quando estão já velhos e cansados, são abandona-dos para morrer ou mortos pelos próprios donos, seja para comer da sua car-ne ou vendê-la para algum frigorífico fabricante de mortadela ou salsicha.

Talvez não haja exemplo maior de amor cristão do que o cão, que, mes-mo chutado e abandonado pelo melhor amigo, não lhe guarda nenhum ran-cor, voltando sempre com o rabo abanando, Não nos foi ensinado a dar a outra, foce?

Cães são também companheiros dos homens, seja puxando trenós nos pólos, seja levando conhaque para esquiadores perdidos na neve. Eles prote-gem lares, pastoreiam ovelhas e gado, defendem crianças, a despeito de ser abandonados na velhice, treinados para lutar e brigar, ou criados para servir de alimento, como na China, onde o "melhor amigo do homem" é uma iguaria. Lá, como aqui, os cães são criados normalmente entre os homens e, quando o dono decide comê-lo, basta assobiar, O dócil amigo se aproxima, recebe uma forte pancada na cabeça e vai direto para a panela. No Brasil, gatos são normalmente transformados em churrascos e vendidos nas ruas em espetos.

Quanto à inteligência, o que dizer dos alegres golfinhos, capazes de amar, realizar cálculos matemáticos, ser leais e fiéis, medir distâncias e proteger seres humanos do ataque de tubarões? Hoje, os cientistas atônitos obser-vam as baleias se comunicarem segundo um método ainda não compreen-sível por seres humanos. Gatos são capazes de retornar às residências anteriores, mesmo quando distantes dezenas de quilômetros. Pombas fun-cionam como melhores carteiros do que homens e foram extremamente úteis no passado. Papagaios, periquitos e todos os psitacídeos também po-dem sentir raiva, amor e ciúme. Galinhas são exemplos de mães dedicadas, cuidando com extremo zelo de sua cria, mesmo que os seus ovos tenham sido trocados por ovos de patas. (Seriam consideradas estúpidas por isso?

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Seriam? Então por que procuram levar os seus "patinhos" à beira de um lago para ensiná-los a nadar, se não costumam fazer isso quando têm seus pintinhos?) Estudos recentes mostram que as lulas sabem contar até 99 e que os polvos, am alguns aspectos, têm memória superior à dos homens, inclusive sendo capazes de resolver quebra-cabeças que muitos seres hu-manos não conseguiriam decifrar. Elefantes são conhecidos também pela sua memória e afetividade. Carneiros são dóceis e sensíveis, desenvolven-do afeição pelos seus pastores. Eis por que os carneirinhos têm sido mos-trados como companheiros de anjos e crianças.

Enquanto isso, os homens se orgulham da sua capacidade de domar os animais e as feras mais selvagens. Contudo, não há realmente motivo al-gum de orgulho, pois qualquer treinamento é sempre uma grande agres-são ao animal, que geralmente é condicionado por meio da fome ou do medo. Nos circos, podemos verificar que os animais não são felizes de fato. Sua habilidade para realizar proezas que arrancam aplausos da platéia tem um preço muito elevado: um sofrimento crucial, começando pela vida re-clusa, em jaulas, longe do seu hábitat natural, submetidos a treinamentos atrozes, muitas vezes com choques elétricos, água fria, fome e esquecimen-to. Se pudéssemos acompanhar a vida dos chimpanzés, dos cães, focas, elefantes, leões, tigres e demais escravos do circo, certamente não aplau-diríamos o espetáculo. Hoje, felizmente, há um vasto movimento mundial pelo circo sem animais. No Brasil, o trabalho do artista Marcos Frota é um belo exemplo de amor e respeito aos bichos. O circo sem animais é um circo verdadeiramente humano.

Os animais não são somente explorados pelo homem apenas por suas capacidades e habilidades. Dominá-los e vencer a sua força por meio da nossa "inteligência" superior sempre instigou os seres humanos. Embora submetidos a terríveis atrocidades, esses animais geralmente não são agressivos. Os cava-los e bois só ficam furiosos feito bestas por causa de uma fita de couro que lhes aperta firmemente os testículos pouco antes do show. Em alguns casos um cin-to de agulhas lhes é acrescentado ao abdome para aumentar sua fúria. Mesmo assim, um tremendo choque elétrico lhes é aplicado no ânus assim que a por-teira se abre para o heróico cowboy receber todas as atenções e merecer os aplausos da arena.

Ainda nesse contexto, temos a Farra do Boi, de Santa Catarina, onde tou-ros são instigados à extenuação máxima por um grande grupo de sádicos (in-

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cluindo crianças) que os espancam até a morte.3 Mas talvez a atitude mais covar-de que se pode terem relação a eles, chamada indevidamente de "esporte", é a tradicional tourada. Diante de uma platéia doentia, toureiros elegantemente vestidos e orgulhosos submetem o animal não somente a sofrimentos, mas a humilhações. Quando finalmente o toureiro introduz a espada no fundo do coração do touro, que, estático, vai se abaixando aos poucos para morrer, isso parece simbolizar a supremacia do homem sobre a fera. Mas aí cabe a pergun-ta: quem é realmente a fera no sentido real da palavra? Que significa essa "vitó-ria" sobre um animal? Qual o nível de consciência e de humanidade do toureiro e da platéia?

Sinceramente, sentimos emoção não ao assistirás touradas, que nos cau-sam asco, mas ao ver aquelas cenas de "acidentes" em que o touro acerta o toureiro... Dizem que a carne do touro morto em touradas é distribuída para consumo. Você, leitor(a), comeria a carne desse animal sofrido e humilhado? Iria se sentir bem com isso?

Pode-se dizer o mesmo de caçadores que se orgulham de assassinar animais nas selvas para ostentar suas cabeças e couros em suas salas. Quanto heroísmo para manter ambientes tristes, que se tornam lúgubres pela pre-sença constante daquelas "testemunhas" de crimes contra o direito dos ani-mais de existir e viver em paz. Milhares de elefantes foram covardemente dizimados, não para ter a sua carne comida, mas para lhes arrancarem as lucrativas presas, enquanto a imensa e pesada "carcaça" era abandonada. "Pedaços" das presas de dóceis, inteligentes e sensíveis elefantes são hoje

3A Farra do Boi ocorre com mais freqüência na época da Páscoa, culminando na Sexta-feira Santa. Mas algumas comunidades celebram casamentos, aniversários, jogos de futebol e outras ocasiões especiais promovendo a Farra do Boi. Proeminentes empresários, criadores de gado, cidadãos, pro-prietário de restaurantes, donos de hotéis e políticos são os que doam os bois para a "festa". Antes do evento o boi é confinado sem alimento por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num local onde ele possa ver, mas não alcançar. A Farra começa quan-do o boi é solto e perseguido peíos "farristas" — homens, mulheres e crianças —, que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras e perseguem o boi que, no de-sespero de fugin corre em direção ao mar e acaba se afogando.

Fontes da WSPA-Brazil (World Society for Protection of Animais) afirmam ter visto o gado sendo torturado de diversas maneiras: animais banhados em gasolina e depois incendiados, pimenta joga-da em seus olhos que, geralmente, são arrancados. Participantes quebram os cornos e patas do anima! e cortam seus rabos. Os bois podem ser esfaqueados e espancados, mas há um certo "cui-dado" para que o animal permaneça vivo até o final da "brincadeira", Essa tortura pode continuar por três dias ou mais. Finalmente o boi é morto e a came é dividida entre os participantes. Alguns dizem que é um ritual simbólico, uma encenação da Paixão de Cristo, em que o boi representaria Judas; outros acreditam que o animal representa Satanás e, torturando o Diabo, estariam se livrando dos pecados. Mas hoje em dia a Farra do Boi não tem nenhuma conotação religiosa,

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caixinhas de alvo marfim que servem para guardar jóias, inúteis cabos de facas de coleção, colares, estiletes, chaveiros, imagens de Buda (como se Buda aceitasse isso!), santinhos ou uma coleção de bichinhos de alguma criança em algum lugar do mundo, Caçadores talvez sejam a pior categoria de seres humanos, pois são impiedosos, covardes e desumanos. Sempre ostentando o seu habitual sorriso imbecilizado, são responsáveis diretos pela redução da biodiversidade do planeta e, em sua ignorância completa, não sabem que estão contribuindo para o desaparecimento da vida na Terra, Tudo por esporte...

E o que dizer da grande covardia que representa a "caça à raposa", um /

hábito tradicional dos lordes da Inglaterra? E de causar espanto a insensibilidade dos participantes desse "esporte". São dezenas de cavalheiros muito bem ves-tidos, com trajes caros (mas ares de idiotas), montados em custosos cavalos puro-sangues, com armas luzidias e cães especialmente treinados. Cavaleiros, cavalos e muitos cães perfumados, apenas por ostentação, perseguindo uma pobre e assustada raposa — que sempre morre com um tiro "misericordioso" e heróico. A nobre façanha é comemorada com champanhe e caviar, A carca-ça da raposa é simplesmente abandonada numa vala ou dada aos cães, pois nem ao menos serve como alimento.

Covardias semelhantes podem ser verificadas nas brigas entre animais, que lutam às vezes até a morte para deleite dos assistentes e lucro dos seus apostadores, como no caso das famosas brigas de galo no Brasil e de cães na China. Certa vez, ao presenciar uma rinha de galos, pude verificar o grau de excitação dos participantes e o modo como levam a "sério" aquela atividade. Os animais recebem esporas metálicas e cortantes, semelhantes a bisturis, com as quais se dilaceram, muitas vezes arrancando olhos ou eviscerando-se. E tre-mendamente incômodo saber como preparam detalhadamente o animal para o sacrifício e o requinte de crueldade com que esses galos são criados, À guisa de "treinamento", para aumentar sua agressividade, muitos são propositada-mente deixados horas a fio sob o sol escaldante, sem água, e com uma ração plena de pimenta... Naquele dia, presenciando o "esporte", pensei como seria interessante que os próprios donos dos galos brigassem entre si. Seria mais coerente.

Em alguns lugares do Brasil, canários também são forçados a brigar. Dois machos são estimulados a disputar uma fêmea até a morte. Mas o vencedor

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"ão fica com eta: é preparado para a próxima luta para proporcionar novos bcros aos criadores.

Um outro "esporte", chamado de "tiro à pomba", considerado também :e grande nobreza, demonstrou a grande habilidade da mira dos esportistas, rssa prática, antes das campanhas promovidas pelas sociedades protetoras dos animais, fazia parte das Olimpíadas! Existe atualmente uma outra modalidade :e "tiro ao pombo", em que os animais não são lançados ao ar, mas permane-:em presos em painéis, à mercê dos atiradores.

O homem também explora a beleza, a peculiaridade e os aspectos curio-sos dos animais, confinando-os em zoológicos. Os belos espécimes e as feras ião aprisionados em jaulas e em ambientes exíguos para o deleite das pessoas. Se observarmos bem, os animais dos zôos são tristes e deprimidos. Essa sen-sação, queiramos ou não, está sempre presente nas visitas aos "jardins" zooló-gicos (que de jardins não têm quase nada...). As crianças — bem mais sensíveis — em geral sentem pena dos animais e não gostam verdadeiramente da "visi-ta". E só conferir com os mais pequeninos. Afastados dos seus ambientes natu-rais, os bichos não entendem por que estão presos. Vale a pena perguntar: :ue crime cometeram para estar ali, entre as grades? Talvez esse sentimento ce injustiça explique o comportamento dos macacos, que costumam atirar fe-zes nos visitantes.

O mesmo raciocínio serve para os criadores de pássaros em gaiolas e •Tveiros. Os aficcionados desse estranho hobb y garantem "amar" os passari--hos. Só não entendemos que tipo de amor é esse que aprisiona os seres imados e os submete a uma vida extremamente sofrida, tolhendo comple-"^mente o seu direito à liberdade. Dizem que os pássaros não "cantam" ver-radeiramente, mas "choram". Esses "criadores", todos eles sem exceção, olham com orgulho para as suas gaiolas e imaginam que aquele pequeno ser, que vive dentro daquela pequena prisão, está feliz. Não está! Se esses cria-dores pudessem entender que não é possível aprisionara beleza, a arte ou o canto... Quando se tenta fazer isso, o resultado é justamente o contrário, ou seja, a feiúra, a tristeza e o choro. A prisão não pode ser companheira da beleza.

O cúmulo do desrespeito aos bichos é algo também antigo, mas muito explorado atualmente: o uso de animais em filmes pornográficos. O absurdo cesses atos de sodomia não merece nem mesmo ser comentado. Apenas para

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evidenciar o grau de degeneração psíquica das pessoas que atuam nesse setor, há um site na Internet que mostra relações sexuais entre seres humanos e animais, como cães, porcos, cavalos, jumentos, com a seguinte chamada irôni-ca: We Love Animais!

Certamente o homem não demonstra amor ou respeito pelos animais. É mais comum observarmos situações de ódio. Como, por exemplo, nas ilhas próximas ao arquipélago das Samoas, no Pacífico, infestada de tubarões. Ali vive uma colônia de pescadores que apresenta muitos indivíduos mutilados, com membros amputados pelos animais, e registros de muitas mortes entre os nativos. Essa colônia desenvolveu um tal ódio pelos tubarões que anual-mente é realizada uma "festa" em que muitos animais são mortos através de um método marcado por um especial requinte de perversidade: depois de ferverem pequenas abóboras em grande quantidade, aplicam a elas, ainda quentes, carnes com sangue. Essas abóboras são atiradas ao mar, onde superabundam os tubarões, que acabam por abocanhá-las. Ao atingir os es-tômagos dos animais e aquecer o seu ambiente gástrico, a abóbora provoca dores atrozes. Os tubarões não conseguem vomitá-la e acabam em plena

^ ^ agonia, mordendo-se ou atirando-se contras as rochas em busca do alívio trazido pela morte. Os filmes mostram centenas deles pulando para fora d'água, em completo desespero, diante da gritaria de satisfação dos nativos. Os animais mortos não são comidos, mas suas cabeças viram troféus. Aque-les que conseguem permanecer vivos são levados para a praia e queimados numa grande fogueira..,

Outro exemplo notável de desamor para com os animais são as chama-das pet shops, as casas de bichos de estimação, onde podemos presenciar o sofrimento daqueles seres presos, tristes e sem amor, aguardando que algu-ma alma caridosa os adquira, Muitos adoecem e morrem nessas casas de co-mércio,

O resultado da ação do homem no mundo animal está pondo em risco a vida no planeta com a redução da biodiversidade. São centenas de espécies já extintas e outras ameaçadas de extinção — não somente pelo consumo da carne de animais silvestres, mas pelo hábito de querer tê-los como animais de estimação. Por isso, no Brasil, araras, papagaios, borboletas, jabutis, macacos, passarinhos, aranhas, escorpiões, cobras e tantas outras espécies da fauna sil-vestre brasileira vêm sendo vítimas de um comércio ilegal que movimenta cer-

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ca de 2 bilhões de dólares por ano — aqui e lá fora. O tráfico de animais é a terceira atividade ilícita mais lucrativa, depois do tráfico de drogas e armas. Anual-mente cerca de 12 milhões de animais são ilegalmente retirados das matas brasileiras e vendidos em diversas cidades do país. Nesse tipo de atividade, a perversidade em relação aos bichos é por vezes extrema, conforme pudemos constatar.

Os traficantes de animais silvestres, além de caçarem, pagam crianças para capturarem borboletas e passarinhos, que depois são transportados em condi-ções absurdamente desumanas, muitas vezes sob o efeito de anestésicos e drogas que os mantêm quietos. Estatísticas comprovam que, para cada animal capturado que sobrevive, nove morrem durante o transporte, de sede, fome, frio ou asfixia. A maioria dos papagaios morre em condições a que nenhum ser humanos resistiria (alimentação inadequada, estresse e falta de exercício). Cada animal retirado da natureza enfrenta crises de depressão geradas por solidão, o que os faz perder a própria identidade.

Para garantir a "beleza" do artesanato feito com asas de borboleta, os ma-chos são mergulhados, ainda vivos, em um tipo de solvente de tinta, que elimi-na os parasitas. Alguns criadouros atuam como pontos de "lavagem" de animais contrabandeados.

Para capturar um filhote de macaco os traficantes não hesitam em matar a mãe. Eles têm as presas arrancadas e são dopados com analgésicos para pare-cer mansos. Apesar da Portaria 117/97-N, de 15.10.1997, em que o Ibama legaliza a venda de animais silvestres apenas para criadouros credenciados, o tráfico ilegal continua.

As autoridades ambientalistas consideram o "comércio ilegal de animais" uma forma de tráfico. Ao nosso ver, contudo, qualquer negócio que envolva seres vivos deve ser ilegal. Ao admitir a hipótese de um "comércio legal", estaremos contribuindo, de um modo ou de outro, com o consumo de car-ne, com o aprisionamento de animais e, conseqüentemente, com a degra-dação ambiental.

Atualmente, diante das inúmeras evidências e estatísticas, determinando que o consumo de carne é um ato antiecológico, seja de animais criados para o abate, ou capturados nas selvas, deve-se evitar incluir carne animal — qual-quer que ela seja — na nossa dieta. Não basta afirmar, como fazem as auto-ridades ambientalistas brasileiras, que, depois do desmatamento, a maior

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ameaça à fauna é o seu comércio ilegal. Tanto o Ibama quanto os demais órgãos afins, além dos ecologistas, devem saber que a captura animal com fins comerciais é apenas uma parte do problema, Os seres humanos conti-nuam consumindo carne de animal silvestre e esta é a atividade que mais devasta as florestas, excluindo-se, obviamente, o consumo de peixes de água doce e do mar.

Sim, os homens comem animais silvestres e muitos outros. Basta conhe-cer um pouco dos seus curiosos hábitos alimentares para se ter uma idéia dos vários tipos de carnes e de seres que os humanos são capazes de consu-mir. O estudo serve também para confirmarmos o desrespeito, a insensibili-dade e o pouco-caso com que são tratados os animais, nossos irmãos menores.

Podemos dizer que os seres humanos comem praticamente todos os ti-pos de animais. Desde camelos e cavalos no deserto, tigres, javalis e elefan-tes na África, avestruzes e cangurus na Oceania, até bichinhos, como paca, tatu, cotia, capivara, ouriço, gambá, cobras, gatos-do-mato, macacos, ta-najuras, tartarugas, peixes-boi, botos, peixes-elétricos e muitos outros devo-rados no Brasil (a maioria passando por sofrimentos extremos), Animais estranhos como cobras e ratos (China), baratas, lagartas, larvas, formigas e gafanhotos (Tailândia) também fazem parte dos incomuns hábitos alimenta-res da humanidade.

Há, contudo, hábitos piores, que não envolvem apenas animais esquisitos e repulsivos, mas órgãos que exigem muita dor e sofrimento, como pênis de cães (China) e de tigres-de-bengala (índia). Considerados alimentos afrodisíacos, são consumidos por aficcionados que, para o seu prazer, permanecem indife-rentes à dor que esses hábitos provocam. Muitas vezes o pênis desses animais é retirado com eles ainda vivos. Após a extirpação, eles são deixados para a engorda e consumo (caso dos cães) ou para a retirada da pele (caso dos tigres), que ocorre em seguida à morte do animal. No Oriente a busca de maior pra-zer sexual desperta um frenesi pela bílis de ursos pardos, tida como um forte afrodisíaco. Para isso, centenas de animais são criados e mantidos em jaulas exíguas, com o abdome perfurado, para que uma sonda mantida na sua vesícula biliar permita uma drenagem constante do liquido amarelo. Trata-se de um comércio milionário, embora as "fazendas" de criação desses ursos sejam lo-cais degradantes, onde pessoas normais são incapazes de permanecer. Os ur-

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sos urram de dor e choram continuamente, e seus gemidos podem ser ouvi-dos a quilômetros... Felizmente, existem movimentos internacionais tentando coibir esse hábito que, no entanto, ainda resiste.'1

Há requintes ainda mais abomináveis, como o hábito de se consumir o cérebro de certos primatas no Japão. Em um tipo de cerimônia macabra, o grupo de comensais se reúne para uma refeição numa mesa em que orifícios ocupam o lugar do prato. Ali são encaixadas as cabeças de macaquinhos vivos, cujos pêlos são raspados. Com a ajuda de um martelinho as pessoas batem no crânio do animal até que e!e desfaleça. Então, o garçom retira os ossos supe-riores da cabeça dos macacos, expondo-lhes o cérebro, que recebe temperos e molho de soja. São imediatamente saboreados por meio de palitinhos típicos da culinária oriental. Também no Japão e nos estranhos mercados alimentícios do Oriente, pequenas cobras são comidas vivas, após ter o seu couro retirado,

"Durante 1999 e 2000, a WSPA (Worid Society for Protection of Animais) fez uma das investigações mais completas já apresentadas ao público sobre as fazendas de ursos na China. A investigação re-veíou como os ursos são cirurgicamente mutilados e "ordenhados" diariamente para extração de bílis. Esses animais são submetidos a requintes de crueldade assustadores e mesmo com todas as tentativas de se amenizar essa tragédia nem mesmo as condições mínimas para aliviar esses animais foi conseguida. A investigação da WSPA também mostra que as fazendas de ursos estão ameaçando a sobrevivência desses animais em seu hábitat, uma vez que esse "negócio" colocou a cabeça de ursos a preços muito elevados. A Convenção Internacional de Comércio das Espécies de fauna e FloraAmeaçadas de Extinção (CITES — Conventon on the International Trade in Endangered Species ofWild Fauna and Flora) foi estabelecida pelas Nações Unidas para regulamentar o comércio da vida selvagem. Esse acordo entrou em vigor em 1975 e, a partir de então, 150 países assinaram esse tratado, incluindo a China. Todas as espécies de ursos do sudoeste da Ásia foram enquadradas no Appendix I, onde se proíbe virtualmente todo tipo de comércio desses animais, partes de seus cor-pos e produtos derivados dos mesmos. Em novembro de 1999 e fevereiro de 2000, investigadores da WSPA visitaram um total de 10 fazendas de ursos em 6 províncias do sudoeste, sudeste e no-roeste da China, onde constataram as piores condições. Em média, as gaiolas encontradas medem 0,8 x 1,3m x 2m, espaço total em que o urso mal pode se mover, sentar ou mesmo mudar de íado. Em cada fazenda visitada, o chão das gaiolas foi construído com barras de ferro, negando aos ani-mais a possibilidade de-fjcar em pé, ou deitar no chão firme.

A WSPA visitou duas fazendas modelos do governo chinês que afirma ter melhorado as condi-ções para os animais, aumentando o tamanho das gaiolas. Enquanto uma gaiola menor é usada para ordenhar os ursos duas vezes por dia, uma outra gaiola conectada a essa proporciona mais espaço para o urso se virar e ficar em pé. Ferimentos na cabeça, nas patas e nas costas foram encontrados na maioria dos ursos que vivem nessas condições, por se rasparem repetidamente nas barras. Do lado de fora, também foi providenciado cercado externo. No entanto, no norte da China, onde o inverno é muito frio e o acesso não é permitido por cerca de 4 meses, e no sul da China, o cercado é usado para procriação de ursos. Apesar de a temperatura chegar a 30 graus negativos em algumas partes do país, os "fazendeiros" não permitem que os animais hibernem, através de reforço de com-portamento não-natural. Na maioria das fazendas a dieta dos ursos é muito pobre. Purê de milho, maçãs, tomates e açúcar misturado com água são a fonte de alimentação principal desses animais, o que não é suficiente sem suplementos vitamínicos e minerais. Os ursos são alimentados duas vezes por dia para incentivar produção de bílis,

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antes mesmo de ter suas cabeças decepadas. Curioso também o hábito de se consumir a sopa de barbatana de tubarão, um dos pratos mais caros do mun-do. Pescados vivos, são cruamente despojados de suas barbatanas e em segui-da devolvidos ao mar. Via de regra são consumidos pelos companheiros, atraídos pelo sangue dos cortes.

Atrocidades contra os animais existem em todas as partes do mundo. O Brasil não fica longe: aqueles que apreciam caranguejos sabem que costu-mam serfen/idos vivos! Caranguejo que não se move não é consumido. Em Recife, Pernambuco, grelham a lagosta viva, recém-retirada de um tanque, de onde foi "escolhida" pelo freguês. Depois de ser colocada diretamente na brasa com um peso por cima ela passa instantaneamente da cor verde/azul para vermelha...

Para ilustrar ainda mais a crueldade, podemos citar outro costume pratica-do no Nordeste brasileiro, onde a carne dos dóceis jumentos é apreciada para a produção de uma modalidade de carne-de-sol. Só que para tornar a carne mais macia cortam-se as patas do animal da articulação do joelho para baixo. Eles ficam urrando de dor, correndo desesperadamente sobre seus cotocos de pernas, esvaindo-se em sangue durante horas, até perder definitivamente os sentidos. Dizem os criadores que isso é necessário, caso contrário a carne permanece dura demais para ser consumida.

Termos outras informações sobre hábitos alimentares humanos que exi-gem sofrimento animal. A França dá a sua contribuição com o caso do foie gras

(patê de fígado de ganso). As aves são criadas apenas com o objetivo de terem seus fígados transformados em caríssimo patê. Desde que nascem, os peque-nos gansos recebem uma carga de alimentos muito rica em gorduras saturadas, de modo a ter o seu fígado aumentado. São alimentados por meio de tubos que atingem diretamente o seu estômago, pois, caso contrário, não comeriam aquele tipo de comida. Muitas vezes é colocado um elástico nos seus pescoços de modo a evitar a regurgitação. Nunca se alimentam por conta própria de nenhum tipo de comida extra, além do "gordurama". Chegam à idade adulta com fígados que podem atingir até cinco vezes o peso do resto do seu corpo. Eles não se movimentam mais, pois perdem a capacidade de andar. São mor-tos cruamente e, após terem retirados os seus fígados, suas carcaças são atira-das no lixo, pois não servem para consumo devido ao excesso de antibióticos e de outras drogas que recebem. Hoje muitos países produzem o foie gras,

mas é na França que podem ser encontrados os melhores...

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É lá também que se consomem formigas de abdome doce, um tipo de inseto que, por possuir grande concentração de carboidratos em seu abdo-me, é usado para o preparo de um dos mais sóbrios e caros tipos de gulosei-ma. Essas formigas são mergulhadas numa calda quente de chocolate derretido de modo que o processo envolva apenas o seu abdome, deixando de fora o resto do seu corpo. O "produto" é colocado em caixas especiais. As formigas permanecem vivas por alguns dias, o suficiente para ser vendidas. Consome-se apenas a parte do chocolate. O "resto" da "iguaria", que é a formiga ainda se movendo, é dispensada.

Muitos objetos de consumo exigem crueldade com animais, como rou-pas, tênis, sapatos, bolsas e demais acessórios de couro, peças de marfim, ca-sacos de pele, perfumes feitos com almíscar, travesseiros e petecas de penas, bolas esportivas de couro, fantasias de carnaval (penas de avestruz, pavão, etc.). Comprando produtos que não venham de animais, além de pagar bem mais barato, estaremos agindo com ética, dando exemplo para as gerações futuras.

Animais de testes de laboratório — As piores atrocidades

"Atrocidades não são atrocidades menores quando ocorrem em laboratórios, ou quando recebem o nome de 'pesquisa médica'."

GEORGE BERNARD SHAW

Quando assistimos a uma corrida de cavalos, um desfile ou uma competição de cães de raça, uma premiação de bovinos ou eventos similares, não sabe-mos ao certo como os criadores conseguem a façanha de conseguir espéci-mes tão belos, obedientes, limpos, dóceis e elegantes. Se descobrirmos a maneira como eies chegam a esses resultados, certamente não veremos mo-tivo para justificar tanto orgulho nos olhares dos "proprietários". Os animais são obrigados a suportar treinamentos estafantes e condições de vida descon-fortantes, totalmente antinaturais. Muitos recebem golpes dolorosos, surras, choques elétricos, injeções, são submetidos a castrações, tratamentos odon-tológicos desnecessários, banhos gelados; passam por privações intensas, in-

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clusive de alimentos e água, além de uma série de outros detalhes que fazem parte dos segredos de cada criador, apenas para obter os "resultados" espera-dos. Certamente esses animais sofrem, mas não enxergamos esse sofrimento nesses "acontecimentos sociais".

Entretanto, há algo extremamente cruel, que também não vemos e que não pode ser mostrado pela TV ou em documentários (pois não conquistaria aplausos ou admiração), mas que envolve sofrimentos infinitamente piores; os animais utilizados em testes de laboratório e experiências científicas. Sem que saibamos, centenas de milhares deles, como macacos, coelhos, cobaias, ratos, hamsters, pombos, cães, pintinhos, gatos, porcos, cavalos, peixes, carneiros e outros são regularmente submetidos a torturas que transformariam a rotina dos campos de concentração em comédia, Tudo isso apenas para que possamos usar com segurança e conforto um novo sabonete, um xampu, talvez um per-fumado amaciante de roupas, um detergente que não irrite as nossas mãos, um medicamento que não cause alergia, um desodorante que não produza vermelhidão ou prurido, etc.

A maior parte dos produtos usados em residências são antes testados em animais pelas empresas. Há documentários com fotos chocantes de animais presos em jaulas, com cortes, queimaduras, pêlo raspado, pele arrancada, es-coriações propositais, membros arrancados, infecções horrorosas, olhos infla-mados e com hemorragia, e muito mais, em experiências realizadas apenas para garantir a segurança de produtos usados pelo homem. Podemos citar al-guns exemplos: substâncias aplicadas nos olhos de coelhos provocam queima-dura e cegueira; animais são forçados a engolir matérias que produzem dores lancinantes e morte (para se medir o tempo que um produto tóxico leva para matar...); compartimentos com centenas de animais são preenchidos com ga-ses e fumaça tóxica que causam tremores, vômitos, sangramento nasal e oral e morte; produtos de limpeza de chão e de roupas são passados na pele ras-pada de porcos por 24 a 72 horas para se conhecer o tipo de reação que pro-vocam; detergente de louça e limpeza de vidros são aplicados em olhos abertos de coelhos e injetados no corpo de ratos; animais são obrigados a ingerir polidores de móveis para se saber de que modo o envenenamento afeta os seus delicados organismos; hamsters são trancados em espaços fechados para inalar gases e inchar até a morte. Muitas outras formas de tortura são pratica-das regularmente por diversas empresas. Laboratórios produtores de medica-mentos realizam suplícios bem mais graves, porém não conhecidos. Animais

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são presos, amarrados, amordaçados, de modo a não poder se debater e es-capar da dor; têm de sofrer quietos, sem anestesia ou analgésicos. Invariavel-mente evacuam e urinam de pavor ou dor. Muitos, desesperados, sempre apresentando olhar de pânico, partem a própria coluna devido à contratura muscular e a espasmos violentos produzidos pelos medicamentos ou produ-tos. Tudo isso diante do olhar frio e calculista de algum técnico que anota os "resultados" na sua prancheta.

Laboratórios farmacêuticos cometem atrocidades semelhantes, e até pio-res, em nome da "ciência". Na verdade esses testes visam elaborar substân-cias para a produção de drogas com objetivos comerciais. Algumas delas são úteis e capazes de salvar vidas, mas a indústria farmacêutica, cuja competição entre empresas tem como meta apenas o lucro, procura criar e aprimorar fármacos ou marcas que permitam assegurar os seus objetivos mercantis. Por-tanto, os animais não são sacrificados por uma causa nobre, em nome da saúde da humanidade. Esse argumento característico das indústrias de remé-dios, que garantem estar contribuindo para o nosso bem-estar, é totalmente hipócrita e desrespeita não somente os animais, mas os próprios seres hu-manos.

A filosofia médica que preconiza o uso de drogas, a chamada alopatia, é responsável pelo aumento da incidência de doenças crônicas e degenerativas nos seres humanos (e nos animais). Seguindo a idéia de que saúde é a ausên-cia de sinais e sintomas, ela centraliza toda a sua ação no combate a eles, ou seja, sua ação é basicamente sintomática. Sabemos que saúde física é conse-qüência do restabelecimento das funções orgânicas. Usar apenas drogas não somente é a antítese dessa idéia, como também produz intoxicações e inter-ferências no organismo. Sem contar as interações medicamentosas, as do-enças iatrogênicas (provocadas pelo remédio), o preço exorbitante dos produtos farmacêuticos, e o custo social das doenças que, ao não serem eli-minadas (pois as drogas geralmente mascaram a realidade causa! da molés-tia), exigem despesas colossais.

Sabemos hoje que testes de drogas injetadas em animais não são exata-mente válidos para seres humanos. Em termos de bioquímica, metabolismo e estrutura genética, há profundas diferenças entre esses seres, o que invalida muitos resultados.

Ao contrário do que muitos acreditam, a experimentação animal, além de ser cruel, é responsável pela morte de seres humanos. Conforme estudo

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realizado pelo grupo Americans for Medicai Advancement, as conseqüências fatais desse tipo de experiência são as seguintes:

De acordo com o Dr. Albert Sabin, pesquisas em animais prejudicaram o desen-volvimento da vacina contra a pólio. A primeira delas, contra pólio e contra raiva, funaonou bem em animais, mas matou as pessoas que receberam a aplicação.

Muitos pesquisadores adoecem ou morrem devido à exposição a micro-organismos e agentes infecciosos que, embora inofensivos para animais, po-dem ser fatais para humanos, como, por exemplo, o vírus da hepatite B.

Apesar das evidências clínicas e epidemiológicas que apontam a exposição à benzina como uma das causas da leucemia em seres humanos, a substância não foi retida como produto químico industrial. Tudo porque testes apoiados pelos fabricantes não reproduziram a doença em camundongos expostos à benzina.

Experimentos em ratos, homsters, porquinhos-da-índia e macacos não revelaram relação entre fibra de vidro e câncer. Não até 1991, quando após estudos feitos com humanos, a OSHA — Occupational, Safety and Health Administration — os rotulou como cancerígenos,

Apesar de o arsênico ter sido reconhecido como substância cancerígena por várias décadas, cientistas encontraram poucas evidências desse efeito em animais. Só em 1977 o risco para humanos foi estabelecido, depois de o cân-cer ter sido reproduzido em cobaias de laboratório.

A companhia farmacêutica Pharmacia & Upjohn interrompeu os testes clí-nicos dos comprimidos de Linomide (roquinimex), criados para o tratamento da esclerose múltipla, após oito dos 1,200 pacientes terem sofrido ataques car-díacos em conseqüência da medicação. Experimentos realizados em animais não previram esse risco.

Muitas pessoas expostas ao amianto morreram porque cientistas não con-seguiram produzir câncer expondo animais de laboratório a essa substância.

Experiências falharam em mostrar que colesterol elevado e dieta rica em gorduras aumentam o risco de doenças coronárias. Em vez de mudar hábitos alimentares para prevenir esse mal, as pessoas mantiveram seus estilos de vida com falsa sensação de segurança.

Erroneamente, estudos laboratoriais atestaram que os bloqueadores beta não diminuiriam a pressão arterial dos homens, o que evitou o seu desenvol-vimento. Até mesmo os vivisseccionistas admitiram que os testes de hiperten-são em animais falharam nesse ponto. Por causadisso, milhares de pessoas foram vítimas de derrame.

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Cirurgiões pensaram que haviam aperfeiçoado em coelhos a queratotomia radial (cirurgia para melhorar a visão), mas o procedimento cegou os primei-ros pacientes humanos. Isso porque a córnea do coelho tem a capacidade de se regenerar internamente, enquanto a nossa se regenera apenas superficial-mente. Atualmente, a cirurgia é feita apenas na superfície da córnea humana.

Transplantes combinados de coração e pulmão também foram "aperfeiçoa-dos" em animais, mas os primeiros três pacientes morreram nos 23 dias sub-seqüentes à cirurgia. Dos 28 pacientes operados entre 1981 e 1985, oito morreram logo após a intervenção arúrgica, e dez desenvolveram bronquiolite obliterante, uma complicação pulmonar que os cães submetidos aos experi-mentos não contraíram. Desses dez, quatro morreram e três nunca mais con-seguiram viver sem o auxílio de um respirador artificial. Abronquiolite obliterante passou a ser o maior risco da operação.

As perigosas drogas taiidomida e DES foram lançadas no mercado depois de ser testadas em animais. Dezenas de milhares de pessoas sofreram com o resultado. Atalidominafoi desenvolvida em 1954, destinada a controlar ansie-dade, tensão e náuseas. Em 1957 passou a ser comercializada e em 1960 fo-ram descobertos os seus efeitos teratogênicos quando consumida porgestantes: durante os três primeiros meses de gestação ela interfere na formação do feto, provocando a focomelia, que consiste no encurtamento dos membros junto ao tronco.

Ciclosporin A inibe a rejeição de órgãos e seu desenvolvimento foi um marco no sucesso dos transplantes. Se as evidências irrefutáveis em humanos não tivessem derrubado as frágeis provas obtidas a partir de testes com ani-mais, a droga jamais teria sido liberada.

Experimentos com cobaias falharam em prever toxicidade do anestésico geral metoxyflurano. Muitos indivíduos que receberam o medicamento per-deram todas as suas funções renais.

Mais da metade dos 198 medicamentos lançados entre 1976 e 1985 foi retirada do mercado, ou passou a trazer nas bulas seus efeitos colaterais, que variam de severos a imprevisíveis. Tais efeitos incluem complicações como disritmias letais, ataques cardíacos, falência renal, convulsões, parada respirató-ria, insuficiência hepática, derrame e muitas outras.

Flosin (Indoprofeno), remédio para artrite, foi testado em ratos, macacos e cães, que o toleraram bem. Algumas pessoas morreram depois de fazer uso da droga.

Zelmid, um anti depressivo, passou sem incidentes por ratos e cães; no entanto, provocou sérios problemas neurológicos em seres humanos.

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Nomifensina, um outro antidepressivo, foi associado a insuficiência renal e hepática, anemia e morte. Testes realizados anteriormente em animais não revelaram seus efeitos colaterais.

Amrinone, medicamento indicado para insuficiência cardíaca, foi testado em inúmeros animais e lançado sem restrições, Seus consumidores desenvol-veram trombocitopenia, ou seja, ausência de células necessárias à coagulação.

Fialuridina, produto antiviral, causou danos no fígado de sete das quinze pessoas que fizeram uso dele. Cinco acabaram morrendo e as outras duas necessitaram de transplante do órgão. Entretanto a droga funcionou bem em marmotas.

Clioquinol, um antidiarréico, passou nos testes feitos com ratos, gatos, cães e coelhos. Em 1982, foi retirado das prateleiras em todo o mundo após a des-coberta de que causava paralisia e cegueira nos homens.

Um remédio indicado para doenças do coração, Eraldin, provocou 23 mor-tes e casos de cegueira em humanos, apesar de nenhum efeito colateral ter sido observado em animais. Na época em que foi lançado, os dentistas afirma-ram ter realizado estudos intensivos de toxicidade nos testes com cobaias. Após os efeitos devastadores, os pesquisadores tentaram, sem sucesso, desenvol-ver em animais resultados similares aos das vítimas humanas.

Opren, uma droga receitada para artrite, matou 61 pessoas. Mais de 3.500 casos de reações graves têm sido documentados. No entanto, foi testada sem problemas em macacos e outros animais.

Zomax, também indicado para artrite, matou 14 pessoas e fez sofrer mui-tas outras.

Metisergíde, usado para tratar dor de cabeça, provoca fibrose retroperitonial ou severa obstrução do coração, dos rins e das veias do abdome. Cientistas não estão conseguindo reproduzir os mesmos efeitos em animais.

Pensava-se que fumar não provocava câncer, porque o fumo não provo-cava a doença nos animais de laboratório. As pessoas continuam fumando e morrendo de câncer.

Suprofen, indicado para artrite, foi retirado do mercado quando pacientes foram vítimas de intoxicação renal. Antes do seu lançamento, os pesquisadores asseguraram que os testes apresentaram "perfil de segurança excelente, sem efeitos cardíacos, renais ou no sistema nervoso central".

Surgam, outra droga para artrite, continha um fator protetor para o estô-mago que prevenia úlceras, um efeito colateral comum a muitos medicamen-tos dessa natureza. Apesar dos resultados obtidos com animais em laboratórios, úlceras foram verificadas em seres humanos.

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O diurético Selacryn foi intensivamente testado em animais. Em 1979, foi retirado do mercado depois que 24 pessoas morreram de insuficiência hepáti-ca causada pela droga.

Perexilína, receitado para o coração, foi suspenso de circulação quando produziu insuficiência hepática não prognosticada em estudos com animais. Mesmo sabendo que se tratava de um tipo específico de insuficiência hepática, os cientistas não conseguiram induzi-la em animais.

Domperidone, destinada ao tratamento de náusea e vômito, provocou batimentos cardíacos irregulares e teve que ser retirado do mercado. Cientis-tas não conseguiram produzir o mesmo efeito em cães, mesmo usando uma dosagem setenta vezes maior.

Mitoxantrone, usado em um tratamento para câncer, produziu insuficiên-cia cardíaca. Foi testado extensivamente em cães, que não manifestaram os mesmos sintomas.

A droga Carbenoxalone deveria prevenir a formação de úlceras gástricas, mas causou retenção de água a ponto de causar insuficiência cardíaca em al-guns pacientes. Depois de conhecer os efeitos da droga em humanos, os cien-tistas a testaram em ratos, camundongos, macacos e coelhos, sem conseguir reproduzir os mesmos sintomas.

O antibiótico Clindamicyn é responsável por uma condição intestina! cha-mada colite pseudomembranosa. O medicamento foi testado em ratos e cães, diariamente, durante um ano. As cobaias toleraram doses dez vezes maiores que os seres humanos.

Cylert (pemoline), um medicamento usado no tratamento de déficit de atenção/hiperatividade, causou insuficiência hepática em treze crianças. Onze delas morreram ou tiveram que se submeter a um transplante de fígado.

A combinação das drogas próprias para dieta, fenfluramina e dexfenfluramina — ligadas a anormalidades na válvula do coração humano —, foi retirada do mercado, apesar de as pesquisas em animais nunca terem revelado tais sin-tomas,

O medicamento para diabetes troglitazone, mais conhecido como Rezutin, foi testado em cobaias sem nenhuma indicação de problemas signi-ficativos, mas causou lesão de fígado em humanos, O laboratório admitiu que ao menos um paciente morreu e outro teve que ser submetido a um trans-plante de fígado.

Há séculos a planta digitalis tem sido usada no tratamento de problemas cardíacos. Entretanto, tentativas clínicas de usar a droga derivada da planta fo-

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ram adiadas por ter causado pressão alta em animais. Evidências da eficácia do medicamento em humanos acabaram invalidando a pesquisa em cobaias. Como resultado, a digoxina, um análogo da digitalis, tem salvado inúmeras vidas. Muitas outras pessoas poderiam ter sobrevivido se a droga tivesse sido lançada antes.

O Tacrolimus é um agente anti-rejeição que quase ficou engavetado antes de estudos clínicos por ser extremamente tóxico aos animais. Estudos em co-baias sugeriram que a combinação do Tacrolimus com c/closporin potencializaria o produto, mas em humanos o efeito foi exatamente o oposto.

Experimentos em animais sugeriram que os corticosteróides ajudariam em casos de choque séptico, uma severa infecção sanguínea causada por bacté-rias. Em humanos, a reação foi diferente; o tratamento aumentou o índice de mortes entre os pacientes.

Apesar de a penicilina ter sido ineficaz em coelhos, Alexander Fleming usou a substância em um paciente muito doente, uma vez que ele não tinha outro recurso. Se os testes iniciais tivessem sido realizados em porquinhos-da-índia ou em homsters, as cobaias teriam morrido e talvez a humanidade nunca tives-se se beneficiado da penicilina. Howard Florey, ganhador do Prêmio Nobel da Paz como co-descobridor e fabricante do antibiótico, afirmou: "Felizmente não tínhamos testes em animais nos anos 40. Caso contrário, talvez nunca tivésse-mos conseguido uma licença para usar a penicilina e, possivelmente, outros antibióticos jamais tivessem sido desenvolvidos."

No início de seu desenvolvimento, o flúor ficou retido como preventivo de cáries, porque causou câncer em ratos.

A dose indicada de isoproterenol, medicamento usado para o tratamento de asma, funcionou em animais. Infelizmente, foi tóxico demais para humanos, provocando na Grã-Bretanha a morte, por overdose, de 3.500 asmáticos. Os cientistas ainda encontram dificuldades para reproduzir resultados semelhan-tes em animais.

Pesquisas laboratoriais feitas com cobaias produziram dados equivocados sobre a rapidez com que o vírus HIV se reproduz. Por causa desse erro de informação, pacientes não receberam tratamento imediato e tiveram suas vi-das abreviadas.

A partir dessas colocações é possível concluir que animais não são neces-sários para que a ciência se desenvolva. Existem outras formas de realizar pes-quisas mais humanas e mais confiáveis, conforme diversas empresas hoje podem comprovar.

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O que podemos fazer para evitar os testes com animais

Pelo que foi exposto, depende muito de nós reduzir, evitar ou interromper o sofrimento e a morte dos animais condenados a ser cobaias de experiências. O primeiro passo é usar remédios alopáticos apenas em casos realmente ne-cessários. Em vez de apenas combater sintomas, opte por restabelecer a saú-de e o equilíbrio através da adoção de uma dieta vegetariana, integral e orgânica, a melhor medicina preventiva (e até curativa em muitos casos!) que existe. Em segundo lugar, use apenas suplementos nutricionais, recursos fitoterápicos, homeopatia, medicina ortomolecular, sob orientação médica, quando for ne-cessário tratar alguma enfermidade.

Em seguida, aderindo ao grande-boicote internacional, evite adquirir ou consumir produtos de empresas que utilizam animais em testes, instando os parentes, amigos e conhecidos a fazer o mesmo.

Nos Estados Unidos, cerca de 550 companhias foram pressionadas pelos grupos de defesa dos direitos dos animais a interromper esse tipo de experiên-cia. A Avon e a Revlon são exemplos de empresas que pararam de molestar animais. A Gillette afirma ter feito o mesmo, mas ainda está sob investigação. A maior parte delas, no entanto, continua praticando atos desumanos contra os animais, como, por exemplo, a Procter & Gamble (holding da Max Factor, Pantene, CoverGirl e outras), que teima em manter o seu particular campo de concentração animal, torturando e matando milhões de espécimes por ano.

Existem movimentos que visam estimular as empresas que não praticam esses testes nem utilizam elementos de origem animal nos seus produtos a inscreverem a seguinte mensagem em seus rótulos:

"NOT TESTED O N ANIMALS" (não testado em animais)

Apesar de várias companhias terem aderido a essa prática, ainda não é uma praxe mundial. Por enquanto, devemos evitar adquirir produtos cujas marcas pertençam às empresas que mencionaremos a seguir, até que elas se cons-cientizem dos direitos dos animais. Como são multinacionais em sua maioria, os produtos dessas empresas também podem ser encontrados no Brasil. Mui-tas marcas são nossas conhecidas. Não temos ainda nenhuma informação so-bre empresas nacionais que pratiquem experiências com animais.

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Lista das empresas que ainda praticam testes com animais

Ajax Elida Fabergé/Gibbs (Denim Vasenol, Impulse, Linic, Dove, Organics)

Aicon Labs Elizabeth Arden

Allergan, Inc. Fabergé

Anais Anais (Cacharei) Fendi

Aqua Vital Gillette Co.* (Orai B, Liquid Paper, Fàrker, Astra, Braun, Duracell)

Aquafresh Beiersdorf Inc. (Nivea) Giorgio Armani

Ariel Given chy

Bausch & Lomb Head and Shoulders

Benckiser (Coty, Lancaster, Jovan) Helene Curtis industries (Finesse, Unilever)

Bic Jergens

Biospray Johnson & Johnson

Biotherm Kimberly-Clark Co. (Kleenex, Scott Raper, Huggies)

Braun (Gillette Company) Lever Brothers (Gessy Lever)

Bristol Myers Squibb Co. (Cíairol, Inc.) -prod, higiene e limpeza

Levi's Strauss Bristol Myers Squibb Co. (Cíairol, Inc.) -prod, higiene e limpeza Linic

Cacharei Max Factor (Procter & Gamble)

Calvin Klein Maybelline

Cif Nina Ricci

Clarion Obsession

Clerasil Pennex

Colgate-Palmolive (Palmolive, Ajax, Colgate, Soft Soap)

Pfzer Colgate-Palmolive (Palmolive, Ajax, Colgate, Soft Soap) Procter & Gamble Co. (CoverGirl, Pantene)

Coty Schering-Plough (Coppertone)

Crest S.C. Johnson Products

Dana Perfumes Shiseido

Denim Vidal Sasson

Dove Whitehall Labs (Kolynos)

Ecolab Yves Saint Laurent

Eden (Cacharei) 3M (Scotch)

Eli Lilly & Co. (Merthiolate)

Dados retirados da revista Animal — sobre proteção de animais * Empresa sob investigação

Sugere-se fazer cópias da lista e distribuir.

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Declaração Universal dos Direitos dos Animais

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi proclamada na Unesco em 15.10.1978.

Preâmbulo

Considerando que todo animal possui direitos, Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm

levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza,

Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência dos animais constitui o fundamento da coexistência das outras espé-cies no mundo,

Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e o perigo de continuar a perpetrar outros,

Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante,

Considerando que a educação deve ensinar, desde a infância, a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais,

Proclama-se o seguinte:

Art. I lodos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.

Art. 2o, Todo animal tem o direito a ser respeitado. 1. O homem, como espécie animal, não pode exterminaras outras espé-

cies ou explorá-las violando esse direito. Ele tem o dever de pôr os seus co-nhecimentos a serviço dos animais.

2. Todo animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do ho-mem,

Art. 3o. Nenhum animal será submetido a maus-tratos nem a atos cruéis e degradantes.

I. Se for necessário matar um animal, ele deve ser morto instantaneamen-te, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia ou sofrimento.

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Art. 4o. Todo animal selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural — terrestre, aéreo ou aquático — e tem o direito de se re-produzir.

I. Toda privação de liberdade, mesmo com fins educativos, é contrária a este direito.

Art. 5o. Todo animal que viva tradicionalmente no meio ambiente do ho-mem tem o direito de viver e de crescer no ritmo e nas condições de vida e de liberdade que lhe são próprias.

I. Toda alteração deste ritmo ou destas condições impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.

Art. 6o. Todo animal que o homem escolheu como companheiro tem di-reito a uma vida plena conforme a sua longevidade natural.

I. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. Art. 7o. Todo animal que esteja a serviço do homem tem direito a um limi-

te razoável de carga, duração e intensidade de trabalho, além de alimento e repouso.

Art. 8o. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psi-cológico é incompatível com os direitos da espécie, quer se trate de uma expe-riência médica, científica, comercial ou qualquer outra forma de experimentação.

!. As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas. Art. 9o. Quando o animal é criado como fonte de alimentação, deve ser

alimentado, alojado, transportado e morto sem que isso lhe provoque ansie-dade ou dor.

Art. 10. Nenhum anima! deve ser explorado para divertimento do ho-mem.

I. As exibições e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade da espécie.

Art. I I. Todo ato que resulte na morte de um animal inutilmente é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida.

Art. 12. Todo ato que provoque a morte de um grande número de ani-mais selvagens é um genocídio, ou seja, um crime contra a espécie.

I. A poluição e a destruição do ambiente natura! conduzem ao genocídio. Art. 13. O animal morto deve ser tratado com respeito. I. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser interditas

no cinema e na televisão, salvo se tiverem o objetivo de demonstrar um aten-tado aos direitos do animal.

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

Art. 14. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados em nível governamental.

!. Os direitos do animai devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

Como ajudar os animais — Um resumo

"Matar animais por esporte, prazer, aventura e por suas peles é um

fenômeno ao mesmo tempo cruel e repugnante. Não há justificativa na

satisfação de uma brutalidade dessas."

SUA SANTIDADE DALAI-LAMA

'A compaixão pelos animais é das mais nobres virtudes

da natureza humana."

CHARLES DARWIN

Diversos grupos de defesa dos direitos animais resumem atitudes que deve-mos tomar, como seres humanos conscientes. Destacamos algumas:

/. Não coma carne

2. Compre produtos de empresas que não realizam testes com animais

Ligue para a central de atendimento dos fabricantes de produtos que você utiliza no seu dia-a-dia (os números dos telefones estão nos rótulos). Indague sobre o teste de animais em seus laboratórios. Em caso positivo, faça-o saber da sua Indignação e diga que deixará de adquirir seus produtos. A opinião dos consu-midores é vital para a mudança da política empresarial.

3. Evite produtos derivados de animais

4. Não compre animais em lojas. Adote e esterilize

5. Informe-se, e participe

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MÁRCIO BONTEMPO

Inscreva-se em alguma lista onde possa se manter informado sobre o que acon-tece com os animais. Para saber mais,

6. Escreva cartas

Diversos web sites sobre animais sugerem que as pessoas escrevam cartas de protesto. Enviar e-mails é muito importante, mas há campanhas que necessi-tam de cartas, milhões delas, para que os representantes de governo conside-rem os apelos expressivos. Copie ou elabore um modelo de carta, remeta-a ao seu destinatário e destribua envelopes selados para seus amigos fazerem o mesmo. Você pode ajudar, é só querer.

7. Faça um trabalho voluntário

Muitas associações já têm bastante gente trabalhando no dia-a-dia com os animais, mas necessitam de outros tipos de ajuda voluntária. Você pode ar-recadar ração com a vizinhança e distribuí-la uma vez por mês, juntar jor-nais velhos, remédios, lixo reciclável (algumas entidades vendem latinhas e embalagens plásticas usadas). A maioria das associações também precisa de gente para elaborar campanhas, escrever artigos para a imprensa, fazer tra-duções, etc. Escolha aquela mais perto de você e doe uma parte do seu tempo.

8. Divulgue campanhas entre seus amigos

9. Associe-se a alguma entidade de defesa animal

10. Denuncie maus-tratos a animais

Com a nova Lei de Crimes Ambientais, não há mais razão para não se denun-ciar maus-tratos a animais. Você pode ir a uma delegacia e fazer a queixa. Te-nha uma cópia da Lei impressa, mostre para o delegado e exija o cumprimento da Lei. Você pode encontrá-la na Internet no seguinte endereço:

http: //www. a pasfa. org

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PARTE I I

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PESQUISAS ATUAIS SOBRE SAÚDE E NOTÍCIAS A FAVOR DO VEGETARIANISMO

Informações indicam que o número de vegetarianos está crescendo no mun-do, principalmente entre os adolescentes. Nos Estados Unidos e na Europa o consumo de carne de vitela caiu até 70%. Os supermercados incluíram pro-dutos vegetarianos e vegan em suas prateleiras. A tendência à adoção de uma alimentação que evite a exploração de animais vem crescendo além das ex-pectativas, também pelo fato de ser mais saudável. É comum encontrarmos pessoas que seguem a dieta vegan por indicação médica no controle da obe-sidade e da pressão alta, uma vez que o colesterol diminui rapidamente quan-do não se consome produtos de origem animal.

Cada ser humano que se toma vegetariano salva anualmente 35 animais de viverem amontoados em gaiolas, de serem mutilados, drogados, manusea-dos e abatidos cruamente pelos homens. Se um único indivíduo pára de co-mer came, ao longo de 20 anos terá poupado cerca de 700 animais. Numa casa com seis pessoas vegetarianas, 4.200 animais seriam salvos nesse mesmo período de tempo.

Dieta ocidental e doenças degenerativas

Pesquisadores chineses concluíram que a alimentação tipicamente ocidental pode causar doenças cardíacas. Segundo eles, uma dieta baseada em arroz, vegetais e chá verde tem menos probabilidade de causar essas doenças, mes-

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mo que o tabagismo seja comum entre chineses. Foi observado também que aqueles que emigravam para os Estados Unidos tendiam a desenvolver doen-ças cardiovasculares quando abandonavam seus hábitos alimentares anterio-res, adotando dietas ricas em carne animal e gorduras saturadas. (Fonte: Dr. Kam Woo, da Universidade de Hong Kong, durante um encontro promovido pela American Heart Association, em 1999.)

Um estilo de vida saudável, que inclua uma alimentação com elevado teor de fibras e baixo teor de gorduras saturadas, associada a exercícios e ao uso do álcool com moderação, é capaz de reduzir drasticamente o risco de doenças do coração, segundo relatam pesquisadores de Massachusetts. Um estudo recente, conduzido entre enfermeiras, sugere que uma vida saudável pode reduzir em 80% o risco de problemas cardiovasculares.

Dieta vegetariana e câncer

Um estudo recente conduzido entre 50 mil vegetarianos (Adventistas do Séti-mo Dia) revelou resultados que abalaram os pesquisadores de câncer em todo o mundo. A pesquisa mostrava, claramente, que a taxa de incidência dessa doen-ça entre os indivíduos que não comem alimentos de origem animal é surpre-endentemente baixa.

Na Califórnia, um outro estudo realizado entre os mórmons mostrou que a incidência de câncer nesse grupo é 50% menor do que na população em geral. Os mórmons têm por hábito comer pouca came.

Cientistas ingleses e americanos encontraram diferenças significativas entre as bactérias intestinais das pessoas carnívoras: ao reagir com os sucos digesti-vos, essas bactérias produziam substâncias cancerígenas. Isto talvez explique a maior incidência de câncer intestinal em regiões onde é grande o consumo de came, como nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, e a razão de ele ser extremamente raro em países cuja população é vegetariana, como na índia. Nos Estados Unidos, por exemplo, o câncer intestinal é a segunda forma mais comum da doença (em primeiro lugar vem o câncer dos pulmões). A popula-ção da Escócia, que consome 20% mais carne do que a inglesa, tem uma das mais altas taxas de câncer intestinal.

Não só o câncer do cólon, mas todos os outros tipos de câncer—dos seios,

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ovários, útero e próstata — também já foram ligados diretamente ao consumo de carne. Alimentos com alto teor de gordura aumentam a produção de hormônios sexuais, como o estrogênio e a testosterona, contribuindo para a for-mação de tumores nos seios e nos órgãos sexuais. Nas dietas vegetarianas, com baixo teor de gorduras, o nível de estrogênio cai significativamente. Seus adeptos têm menor incidência de todas as formas de câncer do que as pessoas carnívo-ras. Mulheres que comem came diariamente têm quatro vezes mais chances de contrair câncer de mama do que aquelas que comem pouca carne.

Dieta vegetariana reduziu a mortalidade na guerra

Por ocasião da Primeira Guerra Mundial, as pessoas foram forçadas a adotar uma dieta vegetariana, o que provocou uma grande melhoria na saúde da população. Na Dinamarca, devido ao bloqueio britânico, houve uma escassez crucial de alimentos. O governo dinamarquês designou o diretor da Sociedade Vegetariana Nacional para dirigir um programa de racionamento de alimentos que se tornou famoso. Durante todo o bloqueio, os dinamarqueses foram for-çados a subsistir alimentando-se de cereais, legumes, frutas e derivados do leite. No primeiro ano de racionamento, a taxa de mortalidade caiu em 17%. Quando os noruegueses também foram obrigados a se tornar vegetarianos, devido à escassez alimentar, houve uma queda nos casos de mortes por problemas cir-culatórios. Depois da guerra, quando a população de ambos os países voltou a consumir carne, as taxas de mortalidade relacionadas às doenças cardíacas retornaram aos níveis anteriores.

Vegetarianos pagam menos seguro

Uma notícia interessante: na Inglaterra, os vegetarianos pagam muito menos por um seguro de vida. Como a incidência de doenças cardíacas é menor entre eles, os vegetarianos são considerados grupo de menor risco pelas se-guradoras. Da mesma forma, restaurantes vegetarianos pagam menos por seus seguros contra contaminação, porque os seus freqüentadores estão menos sujeitos às infecções do que aqueles que freqüentam outro tipo de restaurante.

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Vegetarianos têm melhor condição imunológica

O Centro de Pesquisas do Câncer da Alemanha demonstrou que os vegeta-rianos têm o sistema imunológico duas vezes mais forte, sendo duas vezes mais capaz de destruir as células cancerígenas,

Um estudofeito na China descobriu que os chineses consomem 20% mais calorias que os americanos, mas que os americanos são 25% mais gordos. Isso porque 37% das calorias na dieta americana provêm da gordura, ao passo que menos de 15% das calorias da dieta rural chinesa têm a mesma origem. O mesmo estudo descobriu que, na dieta ocidental, 70% da proteína vem de fontes animais e 30% das plantas. Na China, apenas 11 % vêm de produtos animais e 89% de fontes vegetais. (Fonte: Universidade Rural de Pequim — Newsletter, 143.99-1997).

Antibiótico na ração animal é risco para a saúde humana

O uso crescente de antibióticos na ração animal está produzindo não só resis-tência bacteriana—tanto em animais como em humanos—como o surgimento de insetos agressores mais fortes. Esta informação é de Michael Osterholm, membro da Infection Control Advisory Network, dos Estados Unidos, alertando sobre a presença de antibióticos na ração para bois, porcos e frangos. Cientis-tas norte-americanos e europeus alertam para o fato de que antibióticos po-tentes têm sido regularmente acrescentados à ração, além de estar sendo usados como remédios para tratar de infecções de animais e promover o seu cresci-mento.

Em dezembro de 2001, a União Européia ordenou a suspensão de qua-tro tipos de antibióticos usados na alimentação animal, afetando companhias farmacêuticas poderosas, como a Rhone Poulec, a Pfizer, a Eli Lilly's Elanco Animal Health e a Alpharma, que sofreram sérios prejuízos. Nos Estados Uni-dos, as autoridades têm sido mais lentas nesse setor, pois a FDA (Food and Drug Administration) é que monitora o uso veterinário de vários tipos de drogas. Apesar das evidências de que a ingestão dessas substâncias através da ração animal possa produzir resistência bacteriana em humanos, o órgão parece temer a reação da indústria farmacêutica, que possui um forte lobby

no governo.

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Uma bactéria capaz de resistir a um dos mais poderosos antibióticos exis-tentes, a vancomicina, foi detectada em frangos, porcos e vacas, nos Estados Unidos. Com o uso de antibióticos na criação desses animais, mesmo bactérias sensíveis àquele produto foram encontradas entre o rebanho, como salmonelas, colibactérias e outras.

Diante de fatos semelhantes, estudiosos têm afirmado que "existe uma crescente evidência científica de que o uso de antibióticos na ração dos ani-mais destinados ao abate permite o desenvolvimento de bactérias pato-gênicas resistentes, capazes de infectar seres humanos através da cadeia alimentar".

Em Minnesota, pesquisadores noticiaram um caso de doença gastrointestinal causada por um tipo de bactéria conhecida como Escherichia coli, resistente a antibióticos comuns acrescentados à ração de frangos de criação industrial.

Câncer de mama e o consumo de carne

No Uruguai, onde o câncer de mama é a forma mais comum de tumor ma-ligno entre as mulheres, um estudo revelou que um consumo elevado de carne — principalmente de carne vermelha — está associado ao aumento da incidência e do risco de câncer de mama. Mulheres que têm o hábito de consumir carne vermelha com regularidade têm um risco 42 vezes maior de desenvolver esse tipo de câncer. A came frita e exposta a temperaturas ele-vadas durante o cozimento (como os churrascos) mostrou ser a forma mais determinante desse tipo de enfermidade. (Fonte: International Journal of

Câncer 1996; 65:328-31.)

Câncer de mama e o consumo de vegetais

Em 1996, um estudo realizado entre mulheres acima dos 40 anos de idade mostrou que o consumo regular de vegetais reduziu em cerca de 54% o risco do desenvolvimento do câncer de mama no período pós-menopausa. (Fonte: Journal of the National Câncer Institute 1996; 88:340-8.)

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Dietas vegetarianas durante o tratamento do câncer

Um recente artigo apresentado no Issues in Vegetarian Dietetics (uma publica-ção da American Dietetic Associatiorís Vegetarian Practice Group) anunciou que uma dieta feita exclusivamente à base de vegetais é altamente benéfica para pessoas em fase de tratamento de câncer, qualquer que ele seja. (Fonte: Donna Paglia, MS, RD, "Vegetarian Diets During Câncer Treatment", Issues in

Vegetarian Dietetics, vol. VI, n° 2, inverno de 1997.)

Doenças crônicas nos "países em desenvolvimento"

As seguintes informações foram extraídas do quarto capítulo do Worldwatch

Institutes State ofthe World, 1997:

À medida que os países em desenvolvimento adotam o modelo alimentar dos países ricos, baseado no consumo de quantidades elevadas de carne animal (motivado pela mídia, TV e marketing global), as doenças crônicas e degene-rativas assumem o lugar das doenças infecto-contagiosas, predominantes nos países menos ricos.

Em 1989, as moléstias cardiovasculares, incluindo a doença coronariana e o infarto, foram a principal causa de morte na China. No mesmo ano, na Amé-rica Latina e no Caribe, o número de pessoas mortas por doenças crônicas cardiovasculares foi o dobro das que sucumbiram às doenças infecciosas (que antes matavam mais). Um padrão similar foi observado em diversos países do Oriente Médio e da Ásia. No ano 2000, nos países em desenvolvimento, sete em cada dez mortes foram ocasionadas por doenças cardiovasculares, ou seja, aproximadamente 60%.

Durante a Guerra da Coréia, 200 soldados americanos mortos, com idade média de 22 anos, foram examinados. Verificou-se que 80% deles tinham artérias enrijecidas e obstruídas pelos resíduos da carne, ao passo que, entre os soldados coreanos examinados, todos da mesma faixa etária, não se constatou esse problema nos vasos sanguíneos. Eles eram basica-mente vegetarianos.

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O prejuízo econômico resultante da incidência de doenças crônicas preo-cupa os americanos, serviços de saúde não só do governo como da iniciativa privada. Nos Estados Unidos, até o ano 2000, foram gastos cerca de 180 bi-lhões de dólares — referentes a despesas médicas e coberturas previdenciárias — em tratamentos sobretudo do câncer e dos distúrbios do coração.

As estatísticas de doenças coronarianas e cardíacas são cinco vezes maio-res entre homens norte-americanos do que em gregos e quatro vezes mais comuns entre mulheres americanas do que em gregas.

Cerca de dois terços de toda a gordura saturada consumida no mundo se originam da carne vermelha, do leite de vaca e dos ovos de granja.

A política alimentar de diversos países desaconselha o consumo excessivo de gorduras e de came, ao contrário da recomendação em vigor no mundo até há alguns anos, que mostrava esses itens como necessários e essenciais a uma nutrição adequada. Em países asiáticos como a China, promover saúde através da alimentação significa abandonar os padrões dietéticos ocidentais — recém-adotados — e retomar aos hábitos alimentares tradicionais de cada povo, que incluem técnicas culinárias e preferências culturais. O valor de alimentos como grãos, frutas e vegetais tem sido evidenciado. (Fonte: Environmental

Nutrition, fevereiro de 1997, p. I).

Doença de Crõhn e consumo de came

Trata-se de uma enfermidade crônica que afeta sensivelmente os intestinos. Apesar de as causas da doença ainda não terem sido definidas, achados recentes apontam a influência da alimentação. No Japão (onde a incidência da doença de Crõhn tem aumentado) pesquisadores descobriram que a proteína animal é o nutriente que mais se aproxima da origem desse mal. A proteína vegetal, por sua vez, está asso-ciada à redução dos seus índices. (Fonte: American Journal of Clinicai Nutrition, 1996; 63:741-745, conforme citado em légetarian Journal, set/out. de 1996, p. 14.)

Consumo de carne e osteoporose

Em janeiro de 2001, o American Journal of Clinicai Nutrition publicou um estu-do promovido ao longo de sete anos pelo Instituto Nacional de Saúde dos

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Estados Unidos, que mostrava a correlação entre proteínas animal e vegetal e a perda de massa óssea entre senhoras de idade mais avançada. Um grupo de 1.000 mulheres entre 65 e 80 anos foi dividido em três categorias: uma se ali-mentou de uma grande quantidade de proteína animal e pouca de vegetal; ou-tra, intermediária, de uma dieta com porções iguais de cada tipo de proteína e uma terceira, de pouca proteína animal e muita vegetal. O primeiro grupo apre-sentou uma perda óssea três vezes superior ao terceiro e uma incidência de fraturas ósseas quatro vezes superior ao segundo. (Fonte: American Journal of

Clinicai Nutrition, janeiro de 2001; 150:165).

Consumo de carne e doenças

Metade dos adultos norte-americanos — 100 milhões de pessoas — sofre de um ou mais tipos de doença crônica, seja cardíaca, renal, neoplásica, obliterativa, diabetes ou senilidade, segundo o Journal of the American Medicai Associatlon.

Dois entre três adultos entre 45 e 64 anos e nove entre dez idosos têm pro-blemas cardíacos. Estas doenças custam três quartos de cada dólar exigido para os cuidados com a saúde. No ano 2030, de acordo com estimativas do gover-no dos Estados Unidos, um entre cada cinco americanos terá 65 anos ou mais, o que significa que 150 milhões de pessoas sofrerão de doenças crônicas. (Fonte: JAMA, 13 de novembro de 1996; 276:1473.)

Doença cardíaca e reposição hormonal

Um dos mais fortes argumentos que reforçam a necessidade de reposição hormonal na mulher é a crença de que esse procedimento reduz os riscos de doenças cardíacas. Atualmente, no entanto, essa informação está sendo ques-tionada. Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburg afir-mam que a reposição com estrogênio não reduz significamente o risco dessas doenças. Os estudos anteriores, que afirmavam o contrário, não haviam leva-do em conta a possibilidade de que pacientes que optam pela reposição hormonal eram simplesmente mais saudáveis antes da menopausa.

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Fibra e doença cardíaca

Uma recente pesquisa realizada na Universidade de Harvard concluiu que uma dieta rica em fibra, sozinha, independente do consumo de gorduras, é capaz de prevenir doenças cardíacas. Homens que consumiram cerca de 29 gramas de fibras por dia mostraram 36% menos possibilidades de desenvolver pro-blemas de coração do que aqueles que consumiram apenas 12 gramas, que é a quantidade consumida em média na dieta americana. (Fonte: "Fat and Fiber Square Off in the Fight Against Heart Disease", Environmental Nutrition, outu-bro de 1996, p. 2.)

Doença cardíaca e consumo de peixe

Durante a década de 80, acreditava-se que comer peixe era um modo de pro-teção contra doenças cardíacas. Atualmente, no entanto, o consenso entre pesquisadores, contrariando expectativas e esperanças, é um pouco diferente. Em 1986, uma pesquisa realizada entre 45 mil dentistas do sexo masculino mostrou que existem dúvidas com relação a isso: aqueles que consumiam seis ou mais porções semanais de peixe não mostraram menor risco de desenvol-ver doenças cardiovasculares que homens que comiam apenas uma porção de peixe por semana. (Fonte: Bonnie Liebman, "Is Seafood a Heart Saver?", Nutrition Action Healthletter, vol. 23, n° 9, novembro de 1996, pp .6-7.)

Aterosclerose

Pesquisas mais recentes afirmam que o hormônio vegetal isoflavona, presente no grão da soja, torna as artérias mais flexíveis e reduz o índice da doença. (Fonte: Revista Época, 7 de fevereiro de 2000, p. 62.)

Doenças cardíacas e consumo de frutas

Um estudo realizado por pesquisadores ingleses em 11 mil adultos acima de 45 anos mostrou que pessoas que comem frutas diariamente têm 24% menos chances

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de sofrer ataques cardíacos, 32% menos chances de enfartar e 21 % menos pro-babilidade de morrer de outras doenças vasculares. (Fonte: "The Healthy in a Study Eat Fresh Fruit Daily", The Washington Fbst, 8 de outubro de 1996.)

Hipertensão arterial e dieta vegetariana

Cerca de 50 milhões de norte-americanos sofrem atualmente de pressão arterial elevada. Um recente estudo nacional envolvendo pacientes hipertensos mostrou a redução da pressão sanguínea daqueles que se submeteram a uma dieta rica em fibras, frutas e laticínios desnatados, mesmo sem a suspensão da medicação habi-tual. Estes resultados sugerem que hábitos alimentares mais saudáveis podem subs-tituir drogas que, em geral, produzem efeitos colaterais indesejáveis. (Fonte: Stuart Auerback, "Diet Lowers Blood Pressure", The Washington Post, 19 de novembro de 1996.)

Comida de hospital

Não é somente no Brasil que a comida servida em hospitais é de má qualidade ou perigosa para a saúde. Uma recente pesquisa americana, além de constatar o habitual sabor sofrível dos menus hospitalares questionou o seu valor nutritivo e verificou a possibilidade do surgimento de doenças. A pesquisa mostrou que 39% dos cardápios tinham, em média, 47% mais gorduras saturadas do que o padrão recomendado, além de 81% mais colesterol e 54% mais sódio. Com esses re-sultados, os cientistas recomendaram que os hospitais reformulassem os seus critérios, já que é totalmente incoerente que locais que devem promover saúde forneçam dietas capazes de promover doenças. (Fonte: Don Colbum, "Hospital Menus Fare Poorly in Nutrition", The Washington Post, 2 de janeiro de 1997,)

Ferro na alimentação

Novas descobertas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos indi-cam que mulheres vegetarianas não têm níveis de ferro sanguíneo muito dife-rentes daquelas que comem carne diariamente, O estudo sugere que o corpo

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

humano é capaz de absorver de fontes vegetais todo o ferro de que necessita, do mesmo modo como atua a partir de fontes animais. Pesquisas anteriores, no entanto, já apontavam que os vegetarianos consomem, habitualmente, maior quantidade de alimentos ricos em ferro do que os onivoristas — pessoas que comem de tudo. (Fonte: Amy O'Connor, "The Iron-clad Truth", Vegetarian

Times, fevereiro de 1997, p. 22.)

Doença da vaca louca I

Em outubro de 1996, pesquisadores ingleses informaram à conceituada revis-ta Nature que foram verificadas sérias evidências de que a doença da vaca lou-ca havia sido realmente transmitida do gado para seres humanos. (Fonte: Science

News, vol. 150, 2 de novembro de 1996, p. 282.)

Doença da vaca louca II

As autoridades sanitárias americanas estão preocupadas, uma vez que muitas partes de animais, segundo dados da FDA, são recicladas para a produção de ração bovina. Essa é a principal via de contaminação da doença da vaca louca. (Fonte: FDA Press Release, 2 de janeiro de 1997.)

Obesidade e consumo de carne

Um estudo realizado pelo British Medical Journal avaliou que a média de peso entre mulheres que comem carne e aquelas que adotam uma dieta vegetaria-na é de aproximadamente 13 kg maior no primeiro grupo. (Fonte: British Medica/ Journal, 1996; 313:816-17.)

Câncer de estômago e cebola

Estudos chineses apontam que o consumo de cebola e seus similares, como o alho, a cebolinha, etc., reduz consideravelmente o risco de câncer de estôma-go. (Fonte: Gastroenterology, 1996; 110:10-20.)

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Dieta vegetariana e saúde

Num estudo realizado no nordeste do México, pesquisadores observaram que indivíduos que praticavam uma dieta vegetariana num período superior a cinco anos apresentavam menores concentrações de sódio, maiores concentrações de potássio e pressão arterial mais baixa. Adicionalmente, verificaram que 11,1% dos que não obedeciam a essa dieta mostravam peso acima do normal e so-friam de hipertensão arterial. Entre os rigorosamente vegetarianos a incidência desses mesmos problemas foi de apenas 2,7%. (Fonte: Nutrition Research,

1995; I5(6):819-30.)

Dieta vegetariana e longevidade

Um estudo, com duração de 17 anos e realizado em 11 mil vegetarianos e pessoas que optaram por uma alimentação mais saudável, mostrou que as ta-xas de mortalidade foram reduzidas em 44% em comparação às taxas da po-pulação em geral. (Fonte: British Medicai Journal, 1996; 313:775-79.)

Saúde feminina, menopausa e soja

Pesquisadores da Bowman Gray School of Medicine, na Carolina do Nor-te, Estados Unidos, descobriram que mulheres que receberam suplemen-tos à base de soja relataram significativa redução dos sintomas da menopausa, como calores e sudorese noturna. Num outro estudo, feito ao longo de 18 semanas, os suplementos da soja foram também benéfi-cos, apontando uma redução de 10% do colesterol, 12% do colesterol LDL e queda de seis pontos na pressão diastólica geral. O estudo concluiu que a soja tem grande potencial como substituto alternativo ao estrogênio em terapias de reposição hormonal. Outras pesquisas relativas a esse efei-to estão em andamento. (Fonte: "Research News", Environmental Nutrition,

fevereiro de 1997, p. 8,)

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Frangos geneticamente modificados podem se tornar fábricas de remédios

A revista britânica New Scientist anunciou que frangos geneticamente modifi-cados podem se tornar fábricas de remédios no futuro. Um artigo mostrou que dois biopesquisadores americanos produziram galinhas com alterações ge-néticas que as tornaram capazes de produzir ovos contendo drogas, proteínas e anticorpos para tratamento de doenças humanas.

A GeneWorks, de Ann Arbor, Michigan, já produziu 60 dessas aves. Sem reiatar maiores detalhes, a empresa afirmou que as proteínas presentes nos ovos dessas aves têm grande potencial para o tratamento de algumas doenças humanas. Segundo a New Scientist, o funcionário da GeneWorks, Steve Sensoii já negociou cerca de 14 proteínas para seis companhias farmacêuticas de várias partes do mundo.

Enquanto isso, a AviGenics de Atenas, Geórgia, está produzindo aves ca-pazes de desenvolver o interferon humano, ou antibióticos naturais, para o tratamento do câncer. As aves são capazes, inclusive, de transmitir genetica-mente o interferon. Segundo o presidente da empresa, Carl Marhaver, os genes são microejetados na gema dos ovos. Quando nascem, os pintinhos já apre-sentam a mudança que os leva a se transformar numa fábrica de drogas e pro-teínas.

Comentário nosso

Nenhuma empresa, contudo, apresenta avaliação sobre o impacto dessas ex-periências na genética humana, na alimentação e no meio ambiente. Tudo permanece no terreno da exaltação à capacidade da ciência e das vantagens econômicas do procedimento. Em vez de estudar as causas básicas das doen-ças que pretendem tratar com as drogas produzidas por frangos, preferem insistir na busca de mais uma droga. Na verdade, sabemos que há grandes in-teresses lucrativos nessas descobertas, pois serão produtos extremamente caros, capazes de estimular significamente a filosofia alopática da indústria farmacêuti-ca. Entretanto, somente melhorando as condições ambientais, alimentares, sociais e buscando um comportamento humano mais harmônico com as leis naturais é possível termos a saúde coletiva ideal.

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7. O VEGETARIANISMO NAS RELIGIÕES E FILOSOFIAS

A alimentação vegetariana sempre foi a dieta natural da humanidade. Os anti-gos gregos, egípcios e hebreus descreveram o homem como frutívoro. Os escritos mostram que os sacerdotes do Egito antigo nunca comeram carne. Muitos sábios gregos eram grandes adeptos da dieta vegetariana, como Sócrates, Platão, Pitágoras, Aristóteles e muitos outros. A notável civilização inca, bem como a asteca, a maia e atolteca, estava baseada nesse tipo de dieta, tendo o milho como a sua principal fonte de proteínas. Buda ensinava a seus discípulos a não comer carne. Sábios e santos adeptos do taoísmo eram vegetarianos, assim como os primeiros cristãos e judeus.

A postura rigorosamente vegetariana das antigas filosofias iniciáticas, como o orfismo e o pitagorismo, era fruto de uma cultura já amplamente difundida. A rejeição ao sacrifício de animais e ao consumo de carne era justificada pelo respeito à vida ou pela crença na reencarnação (a possibili-dade de humanos reencarnarem em animais). Os sacrifícios eram conde-nados tanto por ser cruéis como por dissimular um desejo puro e simples de comer carne.

Sábios vegetarianos existiram durante toda a Antigüidade, da Idade Clássi-ca aos períodos helenístico e imperial. Na época romana, são eles que criticam com unanimidade o sistema de sacrifícios. No entanto, é somente com o Cris-tianismo que esse costume acaba abolido ou seriamente transformado.

De inído, a difusão cristã põe em questão a prática e a "filosofia" do sacrifício. Nega o valor sacrificial do ponto de vista doutrinário, considerando-o uma falsa oferenda feita a falsos deuses. Além disso, substitui o sacrifício animal pelo "vege-

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tal", lembrando, com as espécies sagradas do pão e do vinho, o sacrifício de Cristo. Dessa vez, os rituais sacrificatórios foram condenados não pelas mesmas razões alegadas pelos filósofos vegetarianos, mas sim por serem dedicados a seres maus: os demônios. Segundo os primeiros autores cristãos, os demônios eram alimen-tados pelos sacrifícios e tinham o poder de provocar doenças, restituindo a saú-de dos doentes somente após receber a oferenda. Os cristãos que se recusavam a fazer sacrifícios aos deuses se abstinham de comer a carne dos animais sacrifi-cados. À medida que o consumo da came se desvincula da prática do sacrifício, os ritos cristãos sacramentalizam o pão e o vinho.

O Alcorão, livro sagrado do Islamismo, recomenda não comer animais mortos, carne e sangue... O sobrinho de Maomé, um dos profetas que o su-cederam, aconselhou os discípulos: "Não transformem seus estômagos em sepultura de animais."

Gandhi, um dos grandes mestres da humanidade pelo seu exemplo de vida, adotou o princípio do ahimsa, ou de não-violência. Ele o aplicava não somente no relacionamento humano, mas na sua alimentação, entendendo que não se deve matar os animais para comê-los, por se tratar também de uma forma de violência.

Uma das classificações alimentícias que deve ser adotada por todo aquele que busca aperfeiçoar a sua vida está presente no Ayurveda, sistema médico indiano clássico que divide os alimentos em três categorias: tomas, rajas e satva, as trêsgunos ou qualidades da matéria. Segundo esta seleção, pode-se ter um corpo mais ou menos sutil, assim como as emoções e os pensamentos terão uma característica. Os alimentos satva são os que favorecem a sensibilidade espiritual, que fazem a alma almejar o seu crescimento, que purificam o corpo e suavizam a mente, acal-mando-a e facilitando a meditação. Alimentos satva são leves e suaves, como os cereais (trigo, arroz, cevada, centeio, trigo sarraceno, milho, etc.), o leite fresco, as frutas suaves, os alimentos doces naturais, como o mel, os néctares, etc. Os ali-mentos rajas são os estimulantes, que favorecem o trabalho da mente, provocam reações e tonificam. São os de tempero forte, mas naturais, como a pimenta, o alho, a cebola, a assa-fétida, o gengibre, etc., além do café, dos chás estimulantes, das plantas tonificantes e das bebidas alcoólicas. Os alimentos tamas são aqueles que bloqueiam a percepção espiritual, embotam os pensamentos, densificam e intoxicam o corpo físico, tomando-o menos apto a perceber o lado sutil das coisas. São geralmente condicionados, secos, defumados, fétidos, de mau aspecto e mui-to condimentados, como as carnes salgadas, a gordura densa, a salsicharia, os pre-

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suntos, salames e chouriços, a came vermelha, as vísceras animais e alguns frutos do mar como os camarões, os mariscos e outros.

Segundo a visão ayurvédica, pela escolha dos alimentos podemos deter-minar o nosso humor, o nosso temperamento, a nossa capacidade de discer-nimento. Portanto, os alimentos mais próprios para quem busca a ascensão espiritual são os satva, usando-se eventualmente algum alimento raja.

Na índia, diversos grupos religiosos praticam uma alimentação vegetariana. Entre eles, os adeptos de Krishna que, além de evitar a came, também se abstêm de qualquer produto de origem animal, com exceção do leite, Bhaktivedanta Swami Prabhupãda, criador do grupo internacionalmente famoso denominado Hare Krishna, tem uma visão mais profunda sobre a questão do sofrimento animal:

"Quando um ser humano tira desnecessariamente a vida de outra entida-de viva, especialmente sob condições de grande dor e sofrimento, este ato de agressão declarada produz uma severa reação Kármica; e se ano após ano, milhões de animais são cruelmente abatidos em gigantescos matadouros, o acúmulo de Karma negativo produzido nos seres vivos e no planeta por todos aqueles que participam dessa matança, comprando, cozinhando ou ingerindo carne, é quase inimaginável."

Também para outros hinduístas a alimentação ideal é aquela baseada na observância à Lei de Deus, ou "Dharma", caracterizada pela moderação, pela parcimônia, pela sobriedade, pela regularidade e voltada para o bem-estar e o bom funcionamento do organismo. A dieta do "homem superior", sensibiliza-do pela realidade do Dharma, deve ser composta por produtos leves, nutriti-vos, saudáveis, frescos, bonitos, ricos em energia estrutural (que podem ser plantados e que brotem,,.), coloridos, naturais, orgânicos, não-industriaüzados, da estação, e adequados para o tipo do organismo de quem os consome. Seguindo essa linha de pensamento, a dieta perfeita deve primar pela qualida-de e não ser fixada somente no aspecto quantidade, Os alimentos existem para manter vivo e saudáve! o corpo físico e energético do ser humano.

"Se o corpo está saudável, o Tao prosperará. Se o alimento e a bebida são regulados com correção, a felicidade será

apreciada com tranqüilidade e a mente funcionará zelosamente.

Este é o ensinamento de todos os Budas."

SUTRA BUDISTA

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Como em tudo na vida, o tipo de alimentação e a seleção dos alimentos também refletem o grau de consciência de uma pessoa em relação ao Dharma. Quanto mais rudimentar essa consciência, tanto mais caótico será o padrão alimentar; quanto mais aprimorada, mais apuradas e equilibra-das serão as nossas escolhas nutritivas, em harmonia com a Ordem do Universo.

Alimentação baseada no Dharma consiste na prática de uma dietética sin-tonizada com as leis e os ditames da natureza, o que, obviamente, depende do grau de discernimento de cada um. Não pode ser considerada assim uma ali-mentação baseada apenas no sabor, ou que busque unicamente a satisfação exclusiva e intensa do paladar.

Um indivíduo guloso e glutão, sem controle dos seus impulsos e ansieda-des, não pode estar em harmonia com o Dharma. Comer sem moderação e de modo excessivo é também uma forma de agredir o Dharma e gerar doen-ças e sofrimentos.

Com base na dialética da Ordem do Universo, quando se busca descon-trolada e continuamente o prazer (aqui, no caso, o sabor), atinge-se invariavel-mente o seu pólo oposto, o sofrimento e a dor: frustração, culpa, acúmulos, doenças degenerativas, envelhecimento precoce, alterações bioquímicas, per-turbações funcionais, etc., além da redução contínua do respeito próprio e do autocontrole. O indivíduo passa a não confiar mais em si mesmo e fica à mercê dos seus desejos, escravo de um comportamento alimentar tipicamente egoís-ta, reflexo do seu próprio mundo psicomental.

'Aquele que aqui na Terra, Arjuna, não se alinha com a roda da vida, mas em vez

disso prefere perder tempo atirando-se ao prazer dos sentidos, vive em vão."

Bhagavad GITA3, 16

infelizmente, o padrão alimentar atual da humanidade ainda está longe de obe-decer aos apelos da Ordem do Universo ou do Dharma, O fato de existirem no mundo bilhões de pessoas famintas e, paralelamente, sociedades mais abas-tadas, onde ocorrem excesso de consumo e desperdício, é uma demonstra-ção da falta de senso de justiça e de compaixão dos homens.

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O grande mestre Zen Taisen Deshimaru afirmava que o controle dos impulsos do prazer do paladar e da satisfação dos desejos por guloseimas saborosas (que geralmente só lhe trazem dissabores, desequilíbrios e doenças) é uma das maiores contribuições que um ser pode dar à evolução psíquica da humanida-de. Conseguindo entender a ilusão do paladar e suprimindo gradativamente esses impulsos primários, a mente vai, aos poucos, percebendo uma nova si-tuação de autocontrole altamente gratificante; vai descobrindo o prazer nos ali-mentos simples e naturais, ao mesmo tempo em que o bem-estar, a disposição orgânica, o bom funcionamento do corpo e a boa saúde permitem sensações e percepções inusitadas, antes bloqueadas peia constante necessidade de pra-zeres imediatos e intensos. Somente quem passa pela experiência pode en-:ender este mecanismo mágico. Nesse estágio, o discernimento individual vai se aguçando e surge um indescritível "senso de justiça", no qual se percebe que o prazer da guia é tipicamente egoísta.

0 que há na Bíblia

"E Deus os abençoou e disse: Eis que vos dei as ervas que dão sementes sobre aterra e todas as árvores que encerram em si sementes do seu

gênero, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves do céu e a tudo o que se move sobre a terra, e em que há

alma vivente, toda a erva verde lhes será para mantimento."

(Gên. 1:28-31)

Um dos temas pouco ventilados aíualmente, pelo menos entre a maior par-te dos vários grupos religiosos cristãos, é a questão da carne como alimento. Apesar da importância de se definir se a carne deve ou não estar presente nas mesas de famílias cristãs, parece-nos que a maioria das pessoas que di-zem seguir os ensinamentos de Jesus preferem evitar pensar no assunto, con-tinuando a comer a carne dos animais. Essa atitude passiva, e de certo modo omissa, é fracamente alicerçada em citações bíblicas sem relação direta com a questão.

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Utilizam-se passagens escolhidas intencionalmente, que sirvam de pretexto para que se continue a saborear os prazeres da carne animal. Uma delas, já viciosa e surrada, é aquela em que Jesus teria dito que "o mais importante é o que sai da boca do homem e não o que entra por ela". Pessoas ávidas pelo prazer que a carne parece proporcionar enganam a si próprias, repetindo essa passagem bíblica com a intenção de forçar o entendimento de que não impor-ta o que se come, mas o que se fala. Trata-se de um erro de interpretação e de colocação. Afinal, só para lembrar, o carnívoro corre o risco de ter taxas eleva-das de colesterol e morrer do coração...

Quando realizamos uma análise mais apurada e honesta das Escrituras, chegamos a conclusões que apontam a alimentação vegetariana como a dieta própria do cristão verdadeiro.

Como o ideal é imitar Cristo em tudo, seria importante saber o que o Fi-lho de Deus comia. Hoje existe uma certa polêmica entre os cristãos que dis-cutem se Jesus comia carne ou não. Os grupos favoráveis justificam a sua crença citando as referências à carne no Novo Testamento. Porém, o estudo atento dos manuscritos originais gregos mostra que a maioria das palavras traduzidas como "carne" são na verdade trophe, bromie e outros termos, que querem dizer simplesmente "alimento" ou "comida". Um bom exemplo está no Evan-gelho de Lucas (8:55), onde se narra que Jesus levantou uma mulher do meio dos mortos e ordenou que lhe dessem carne. A palavra grega traduzida para carne é phago, que significa apenas "comer". Jesus teria dito "deixe-a comer". Carne em grego é kreas, palavra que nunca foi usada por Jesus Cristo.

São fortes as evidências de que Jesus e seus discípulos eram vegetarianos. Em São Jerônimo, podemos ler: "Jesus Cristo, que apareceu quando se cum-priu o tempo, novamente reuniu o final com o princípio, de modo que não é mais permitido que nós comamos carne animal."

Considerando que a maior parte dos santos era vegetariana, como São Francisco, seria estranho que Jesus não fosse um deles. O apóstolo Paulo, dis-cursando aos romanos, afirmou: "Melhor seria não comermos carne", segun-do Romanos 14:21.

Na verdade, não existem escrituras dizendo que Jesus comia carneiro, que certamente teria comido na Páscoa se não fosse vegetariano. Naquela época, como ainda hoje, havia muitos judeus que praticavam um tipo de alimentação pela fé. Só os não-vegetarianos comiam carneiro na Páscoa, os vegetarianos comiam pão sem levedura, conforme, ao que parece, fazia Jesus.

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Difícil associar a figura meiga de Jesus comendo uma coxa de frango, um naco de carneiro, uma bisteca, ou um frango ao molho pardo,.. Ninguém ja-mais o viu colocando carne na boca. A singela figura do Nazareno não é com-patível com banquetes onde cadáveres de animais temperados eram servidos. Se prestarmos bem atenção, Jesus ensinou, em verdade, a amar e respeitar os animais.

Apesar disso, a Cristandade inventou um dia em que se comemora o su-posto nascimento do Salvador, sacrificando bilhões de animais em todo o mun-do. Leitões, perus, chesters são mortos para compor a ceia das famílias que se reúnem com o coração pleno de fraternidade. Paradoxalmente, o dia em que a Cristandade cornemora a festa máxima da vida é aquele em que a maior quan-tidade possível de animais se depara com a morte.

Conforme pode ser facilmente confirmado, o Natal antigamente era um período de reflexão, onde se desenvolviam o perdão, a fraternidade e o amor cristão verdadeiro e se praticavam a prece e o jejum. Hoje, no entanto, pre-senciamos mesas fartas e pantagruélicas, excessos e libações, inclusive alcoóli-cas, que nada ficam a dever aos banquetes dos Césares. É um período em que o excesso de consumo e a concentração das atenções em bens materiais (pre-sentes) são a antítese da vida espiritual ensinada por Jesus, confirmada por São Francisco e por outros seres autênticos.

Isso, com certeza, opõe-se frontalmente aos ensinamentos bíblicos que pre-gam a necessidade de amarmos e respeitarmos os animais, e não comê-los.

Seguindo esse mesmo raciocínio, a Semana Santa, outra data comemora-tiva cristã, é marcada por mais uma grave incoerência quanto à questão da alimentação. Como sinal de respeito à morte de Cristo, só nesse período, de Quinta-feira Santa até o Domingo de Páscoa, não se come carne. Mas come-se peixe! Será que durante a Páscoa os peixes tomam-se legumes? Talvez fru-tas. Ah! sim. "Frutas do mar"...

O verdadeiro cristão, em respeito não somente à morte e ao sofrimen-to, mas à vida de Cristo e aos seus ensinamentos, não deveria comer carne nunca! No que se refere à alimentação deveria fazer de toda a sua vida uma "Semana Santa".

Tampouco podemos entender a que "fraternidade" as pessoas se referem durante o período de Natal. Sim, pois elas se reúnem em casa, distribuem pre-sentes, comem e bebem em excesso e nada mais além disso. De um modo

r

geral, nada é repassado aos pobres e necessitados ou aos carentes. E uma

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expressão de fraternidade hipócrita, mais presente na tela das TVs familiares do que nos seus corações e atitudes.

O mesmo questionamento pode ser feito com relação ao Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day), comemorado nos Estados Unidos com qua-se o mesmo significado do Natal. Para as famílias, unidas em profundo sen-timento, a presença do peru é necessária e fundamental. É quando milhões e milhões de aves, criadas em grande sofrimento, engordadas em cativei-ros exíguos, são abatidas sem compaixão. Servidas como refeição na festa máxima do perdão, incoerentemente ninguém lhes pede perdão peio que passaram ou por terem sido mortas. Ao contrário, a oração geralmente feita pela família é indiferente ao sacrifício do bicho, buscando apenas a santificação da ceia.

Aliás, o hábito de orar às refeições, muito comum nos lares do mundo inteiro, só pode ser considerado sensato e coerente se na mesa não houver carne animal. Caso contrário, seria de se perguntar qual a validade dessa ora-ção. Havendo carne na mesa, a oração feita, em vez de abençoar o alimen-to, não deveria ser para pedir perdão pela conivência na morte do animal? Nesse caso, o ideal seria nem precisar rezar, bastando para isso evitar bichos à mesa....

Segundo a leitura da Bíblia, fica claro que a alimentação, tanto dos povos pré-diluvianos como pós-diluvianos, era eminentemente vegetariana, O argu-mento de que Deus haveria autorizado Noé a consumir carne animal por não haver vegetação sobre a Terra logo após o Dilúvio é um erro de interpretação com base em Gênesis 9:3-4, que diz:

Tudo o que se move e vive será para vosso mantimento, assim como vos dei

as ervas verdes, tudo vos dou agora. A carne, porém, com a sua vida, isto é,

com seu sangue, não comereis,

Esse capítulo apresenta um aparente paradoxo. No seu início Deus parece mostrar que "tudo o que se move e vive" pode ser usado como alimento, pouco depois afirma "a carne, porém, com a sua vida e o seu sangue", não deve ser comida. Essa passagem da Bíblia sempre causou confusão. Afinal, Deus permi-te ou não que se coma came? Na verdade, trata-se de uma questão de inter-pretação e, talvez, de um problema de tradução. A chave da resolução do aparente paradoxo está na palavra "mantimento", que admite muitas formas

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alternativas de entendimento. O termo não significa que "tudo o que se move e vive pode ser usado como alimento", mas sim para a manutenção da vida, ou seja, sem que haja necessidade de se matar um animal. Mostra que é possível utilizar aquilo que esses seres vivos podem produzir para benefício do homem. Aqui fica claro que, como "produto" proveniente de animais, temos o leite dos vários mamíferos, os ovos, a lã, a seda, etc. Não fosse esse o entendimento, o paradoxo persistiria, sem resolução. Assim, aparece um amplo e confortante sentido para o trecho "a carne, porém, com a sua vida, o seu sangue, não deve ser comida". Isso parece permitir que animais mortos acidentalmente ou de velhice possam ser comidos ou aproveitados.

Está claro, portanto, que não devemos matar os animais para comer a sua carne. O trecho do mesmo capítulo "assim como vos dei as ervas verdes, tudo vos dou agora" define a questão.

Mas entendemos que essa polêmica não deveria nos preocupar, uma vez que já em Gênesis 1:28,31 —trecho citado na epígrafe deste capítulo —, está escrito: "Eis que vos dei as ervas que dão sementes sobre a terra e todas as árvores que encerram em si sementes do seu gênero, para que vos sirvam de alimento..." Isso mostra que a alimentação indicada por Deus é eminentemen-te vegetariana.

Para ratificar esse posicionamento, o mesmo capítulo 9 do Livro de Gênesis (9:5) contém uma citação mais grave e preocupante para quem come carne animal: "Certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; de todo animal o requererei, como também das mãos do homem, sim, das mãos do irmão de cada um requererei a vida do homem."

"Animais são criaturas, não propriedade humana, nem utensílios, nem

recursos ou bens, mas sim preciosos seres na visão de Deus... Cristãos

cujos olhos estão fixos no horror da crucificação estão numa posição

especial para compreender o horror do sofrimento inocente.

A vida de Cristo é a demonstração da absoluta identificação de Deus com os

fracos, os sem poder, e os vulneráveis, porém mais que tudo, com o

sofrimento desprotegido, indefeso, inocente."

REVERENDO ANDREW LINZEY

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O exemplo de jesus a ser seguido é de amor e misericórdia. Há outras evidências de que tenha sido vegetariano. Por exemplo: no seu tempo, o sacrifício animal era uma desculpa para os seres humanos comerem carne, e Jesus se opunha a eles sempre que podia. Por exemplo, ele expulsou do pátio do Templo pessoas que vendiam animais para serem sacrificados e consumidos, Também instituiu o batismo no lugar dos sacrifícios animais, afirmando que Deus "requer misericórdia, não sacrifício". A Ultima Ceia, uma refeição evidentemente vegetariana, marca nitidamente o fim dos sa-crifícios animais.

A forma desumana com que hoje são criados e abatidos os animais certa-mente não é do agrado de Deus. O consumo desses seres, ainda que a ma-neira como viveram ou morreram não seja vista, não pode ser um hábito verdadeiramente cristão. Cada animal criado por Deus tem a capacidade de sentir e de sofrer. Eles não cometeram crime algum para ser confinados em gaiolas durante toda a sua vida miserável, para ser submetidos a atrocidades e sofrimentos, a maioria descritos neste livro.

Quando se compra um frango, alguns bifes, presunto, salsicha ou morta-dela, estamos sendo no mínimo coniventes e, portanto, co-autores anônimos de todos esses crimes. Apenas se faz "vista grossa". Cristãos que comem carne parecem esquecer:

"Tudo aquilo que fizerdes a qualquer um desses pequeninos, a mim estareis fazendo."

Não há nada de cristão ou de misericordioso em apoiar atividades que confinam, torturam e matam as criaturas de Deus, sem maior motivo além do gosto que as pessoas adquiriram por carne.

O cristão verdadeiro, ao selecionar os seus alimentos, deve atender ao chamado de Jesus pela misericórdia e compaixão com os animais. É evidente que não há nada de compassivo no modo como eles são criados e vendidos para servir de comida.

Finalizando este capítulo, mostramos o argumento final, que certamente define a dieta adequada para o verdadeiro cristão: a vegetariana. Nos Dez Mandamentos está escrito: "Não matarás." Basta meditar sobre ele com ho-nestidade. Acreditamos que esse importante aspecto das escrituras não se di-rige apenas a seres humanos, mas a todos os seres vivos. Negá-lo, como o faz a grande maioria dos cristãos, é negar um desígnio de Deus. Chegou a hora da decisão para aqueles que ainda não o fizeram. Vamos tomá-la já? Chega de

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procrastinar. Sabemos o que é certo e o temos negligenciado, enganando-nos, adiando uma decisão importante somente pelo prazer de saborear um naco de um irmão menor, que precisou sofrer para nos satisfazer! Até quando? Não é a gula também um dos pecados capitais? E, por cometê-la a cada refeição, não temos sido cruéis? Não estaríamos agradando verdadeiramente a Deus obedecendo as suas leis mais básicas?

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8. AJUDE A SALVAR E A O MUNDO

MELHORAR

"Não temos consciência de como as nossas escolhas alimentares afetam o

mundo. Não entendemos que em cada Big Mac existe um pedacinho de

floresta tropical e que, a cada bilhão de hambúrgueres vendido, cerca de

cem espécies são extintas. Não compreendemos que, no frigir dos nossos

bifes, está o sofrimento de animais, o empobrecimento do nosso solo, o

devastar das nossas florestas, o desequilíbrio da nossa economia e o

enfraquecimento da nossa saúde. Não percebemos que, nos bifes que

saboreamos, está o choro de centenas de milhões de seres que poderiam

estar sendo alimentados se não comêssemos essa carne. Não vemos o

veneno se acumulando na cadeia alimentar e nas nossas células, o

envenenamento das nossas crianças e da nossa Terra, por gerações

que ainda virão."

JOHN ROBBINS, in D/et for a New America

0 impacto ambiental do consumo de animais

Há algumas décadas, quando nos sentávamos tranqüilamente à mesa para comer, tudo parecia cálido e algo cerimonioso. Para a maioria das famílias era uma espécie de confraternização, muitas vezes quase religiosa. O alimento era servido, geralmente um assado, ou um bife. Assistíamos ao exemplo pela T V com as famílias norte-americanas..,

Mas esse clima plácido, sem que percebêssemos, disfarçava uma situação

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da qua! só tomaríamos consciência muito tempo depois, nos dias atuais: a con-tribuição daquela refeição para a degradação ambiental, ampliando o risco de ter um planeta intoxicado, doente, com a sua água potável comprometida, os mares poluídos, o efeito estufa, o rombo na camada de ozônio e, pior ainda, a possibilidade de não haver condições de vida (ou, pelo menos, uma boa qua-lidade de vida biológica) para as futuras gerações.

Exagero? As carnes que comemos (e aqui a coincidência dos tempos do verbo comer, no presente do indicativo e no pretérito perfeito, é bem fortui-ta e adequada, pois o ato era realizado e continua a sê-lo,..) poderiam e po-dem afetar o meio ambiente desse modo? Isoladamente não. Mas como sabemos que todos os fenômenos da vida são sempre multicausais, o ato de comer carne tem a sua parcela de participação. E não é pequena. Vejamos por que, acompanhando informações da FAO (organismo da O N U para a agricultura e a alimentação), do Greenpeace, do EarthSave e do grupo Friends of Earth.

Antes, porém, é necessário entender que comer pouca carne, apenas um bifinho eventualmente, ou um hambúrguer nos finais de semana, não minimiza a nossa participação nesta questão, É uma grande ilusão pensar assim. Se al-guém consome, alimenta a indústria. E por causa dos "bifinhos" ou" franguinhos" ou da "costeletinha" de porco, quer sejam diários ou eventuais, que os animais são criados e mortos e o meio ambiente é afetado, direta ou indiretamente. Acontece! Apenas não enxergamos isso. Vejamos então:

Dados estarrecedores, mas reais

A produção de gado, sem contarmos com a de frangos e de porcos, é uma ameaça primária ao meio ambiente global. Trata-se de um dos principais fato-res que contribuem para o desmatamento, a erosão do solo e conseqüente (ou inconseqüente, depende do ponto de vista..,) desertificação, a escassez de água, a poluição dos rios, lençóis freáticos, mares e mananciais de águas, o esgotamento dos combustíveis fósseis, o efeito estufa, a extinção de animais e a perda da biodiversidade.

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Desmatamento

Quase a metade da massa de terra do globo é usada como pasto para gado e outras criações. Cerca de 80% de todo o desmatamento e desaparecimento de florestas, no planeta inteiro, devem-se à pecuária. Em pastos muito férteis, I O.OOOm2 podem sustentar uma vaca por ano; em pastos de qualidade margi-nal, são necessários 200.0000 m2, ou seja, vinte vezes mais.

Fazendas de gado são uma causa primária do desmatamento na América Lati-na. Desde 1960, mais de um quarto de todas as florestas da América Central foram arrasadas para criar pastos. Quase 70% da terra desmatada no Panamá e na Costa Rica se transformaram em pasto.

Um só hambúrguer médio exportado pela América Latina requer o desma-tamento de aproximadamente 6 metros de floresta tropical e a destruição de 75 kg de matéria viva, incluindo 20 a 30 diferentes espécies vegetais, 100 espécies de insetos e dúzias de espécies de aves, mamíferos, e répteis.

Nos anos 60, com ajuda de empréstimos do Banco Mundial e do Inter American Development Bank, muitos governos da América Central e do Sul começaram a converter milhões de hectares de floresta amazônica e terras rurais em pas-tos destinados a abastecer o mercado internacional de carne. Entre 1971 e 1977, mais de US$ 3,5 bilhões em empréstimos e assistência técnica foram para a América Latina para a criação de gado.

Na Costa Rica, interesses pecuaristas desmaiaram 80% das florestas tropicais em apenas 20 anos, transformando a metade da terra arável em pastos. Hoje em dia, apenas 2.000 famílias de fazendeiros poderosos possuem mais da metade da terra produtiva do país, com 2 milhões de cabeças de gado pastan-do. A maior parte da carne é exportada para os Estados Unidos.

No Brasil, 4,5% dos proprietários de terras possuem 81 % das terras de fazen-da, enquanto 70% das famílias rurais são "sem-terra". Entre 1966 e 1983, qua-se 65.000 km2de floresta amazônica foram desmaiados em nome de interesses comerciais. O governo brasileiro estima que 38% de toda a floresta tropical destruída durante este período pode ser atribuído ao desenvolvimento pecuarista de grande escala, que beneficia apenas alguns poucos fazendeiros ricos.

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Se não reduzirmos em pelo menos 20% o consumo de carne bovina no Brasil, até 2020 não teremos mais Mata Atlântica.

Erosão do solo e desertificação

O gado degrada o solo ao tirar a vegetação e compactar a terra. Cada animal que pasta num campo aberto come cerca de 400 kg de vegetação a cada mês. Seus poderosos cascos pisoteiam as plantas e comprimem o solo com um impacto de, aproximadamente, 7 kg por centímetro quadrado.

Escassez de água

Produzir cerca de I kg de proteína de carne muitas vezes requer até 24 vezes mais água que a produção de uma quantidade equivalente de proteína vegetal. Só para produzir uma porção de proteína de ave são necessárias 100 vezes mais água do que seria exigido para a mesma porção de proteína vegetal, da soja.

As reservas norte-americanas de água doce baixaram muito como resulta-do do uso excessivo de água para o gado e outras criações, A falta d'água nos Estados Unidos, especialmente no Oeste, chegou a níveis críticos. A demanda atualmente excede o reabastecimento em 25%. O grande aqüífero de Ogallala, uma das maiores reservas de água doce do mundo, já se encontra semi-exau-rido no Kansas, Texas e Novo México. Na Califórnia, onde 42% da água de irrigação são usados para ração ou produção das criações, os níveis freáticos baixaram tanto que, em algumas áreas, a terra está afundando sob o vácuo. Alguns reservatórios americanos e aqüíferos estão em seus mais baixos níveis desde a última Era Glacial.

Esgotamento dos combustíveis fósseis

Atualmente são necessários 3,7 litros de gasolina para produzir 450 gramas de carne alimentada com grãos nos Estados Unidos. O consumo anual de carne de uma família americana comum com quatro pessoas requer mais de 962 li-

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tros de combustível e libera 2,5 toneladas de C0 2 para a atmosfera, o mesmo que um carro comum emite num período de seis meses.

Fezes e contaminação do meio ambiente

O alto nível de contaminação produzido pelas fezes de animais preocupa as autoridades sanitárias de todo o mundo. As fezes bovinas provocam a morte de peixes e o surgimento de doenças. Nos Estados Unidos, o volume de fezes animais é 130 vezes superior ao de excrementos humanos. Uma fazenda de suínos no estado de Utah, por exemplo, produz mais dejetos do que a cidade de Los Angeles. Com a proliferação dessas superfazendas em áreas populosas, o lixo produzido está contaminando a água potável. Sabemos que as fezes de frangos são excelentes adubos, mas infelizmente não pode ser mais considera-dos assim. Agrande quantidade de antibióticos e metais pesados presentes nas fezes dos animais criados industrialmente inviabiliza essa possibilidade. Tanto assim que os excrementos oriundos de granjas nos Estados Unidos represen-tam agora um sério problema ambientai, pois são milhões de toneladas diárias, produzidas por bilhões de frangos; um material que não pode ser despejado em qualquer lugar, nem podem ser reciclado. Só no estado do Arkansas, por exemplo, são produzidas a cada dia cerca de 125 toneladas de fezes de fran-gos, que não podem ser recicladas. Aterros sanitários estão sendo usados para isso, mas denúncias de ecologistas e fazendeiros sobre a contaminação da água dos lençóis freáticos estão gerando pesadelos para as autoridades,

Em algumas fazendas do Texas, os criadores lançam os excrementos de fran-gos em rios, o que tem provocado a contaminação de mananciais. Isso não ape-nas enche de coliformes fecais a água a ser consumida por cerca de 300 mil pessoas, como reduz a presença de trutas e de outros animais nesses rios.

Efeito estufa

O gado emite metano, outro gás causador do efeito estufa, via arrotos e flatulência. Cientistas estimam que mais de 500 milhões de toneladas de metano são libera-das a cada ano e que 1,3 bilhão de cabeças de gado, e outras criações ruminan-tes do mundo, emitem aproximadamente 60 milhões de toneladas — 12% do

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total de todas as fontes. Trata-se de um sério problema porque uma molécula de metano retém 25 vezes mais calor solar que uma molécula de C O r

0 consumo de carne e os ecologistas

Diante dos fatos apresentados, fica claro que uma das atitudes ecológicas mais importantes é não comer carne. Portanto, é completamente incoerente um ecologista, militante ou não, ingerir qualquer tipo de carne animal. Muitos ambientalistas não sabem que o consumo desse tipo de alimento é danoso para o meio ambiente. Mas o preocupante é que muitos, ao receberem essa infor-mação, continuam comendo carne. É preciso estarmos completamente cons-cientes da maneira como os nossos atos, escolhas e hábitos afetam o nosso ambiente, principalmente na questão da alimentação.

0 consumo de carne e a fome no mundo

Uma dieta vegetariana, além de favorecer a saúde e contribuir para a preserva-ção ambiental, é uma opção que tem por base a consciência relativa a aspectos socioeconómicos. Optar por uma alimentação vegetariana contribui, de alguma forma, para reduzir a intolerável situação da fome no mundo. Vejamos como:

Segundo a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura) a produção de came causa fome e pobreza humana ao desviar grãos e terras férteis para sustentar gado em vez de pessoas. Nos países em desenvolvimento, ela perpe-tua e intensifica a pobreza e a injustiça, particularmente se a ração do gado ou das aves é produzida para exportação. Se conservássemos a produção de cereais e a distribuíssemos aos pobres e subnutridos, em vez de dá-la ao gado, podería-mos facilmente alimentar quase toda a população subnutrida do mundo.

Alguns dados estarrecedores sobre a fome no mundo

A fome crônica e as doenças relacionadas a ela afetam mais que 1,3 bilhão de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nunca antes na história da humanidadetãogrande percentual de nossa espécie — mais que 30%—esteve

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subnutrido. Na África, quase uma entre três pessoas se encontra nesse estado. Na América Latina, quase uma entre cada sete pessoas deita-se com fome todas as noites. Na Ásia e no Pacífico, 27% das pessoas vivem à beira da morte por inanição. No Oriente Próximo, uma em nove está subnutrida.

Afome mundial é um problema tão grande que quase um quarto da popu-ação mundial não dispõe de comida suficiente. Estima-se que entre 40 a 60 milhões de pessoas morrem de fome e de doenças ligadas a ela a cada ano.

A subnutrição afeta quase 40% de todas crianças nas nações em desen-volvimento e contribui diretamente para uma estimativa de 60% de todas as mortes infantis, segundo a U.S. Agency for International Development. Mais de 15 milhões de crianças morrem a cada ano de doenças resultantes da subnutrição.

As causas da fome: a injustiça social e o consumo de carne

Poderíamos viver num mundo completamente sem fome ou desnutrição se os seus habitantes fossem mais conscientes em relação aos seus hábitos ali-mentares, ou, pelo menos, tivessem informações acertadas sobre as razões do sofrimento de milhões de pessoas. Se soubéssemos, por exemplo, que cerca de 100 gramas da comida que deixamos no prato, que geralmente vão para o lixo, poderiam alimentar três crianças nas áreas mais pobres do planeta, talvez agíssemos diferente. Melhor ainda seria se entendêssemos que, ao comer 50 gramas de carne numa refeição — e não se trata do resto nem da sobra —, estamos contribuindo para que cinco crianças passem fome em algum lugar do mundo! Todos precisamos saber que uma criança morre de fome a cada 2 segundos neste planeta. Existem ainda outras informações igualmente estar-recedoras sobre o consumo de carne, todas invariavelmente associadas à ques-tão da injustiça social:

Um quarto da população mundial usa de 80 a 86% dos recursos não-renováveis e consome 34 a 53% dos alimentos. Cada homem, mulher ou criança, só nos Estados Unidos, consome cerca de 100 kg de carne anualmen-te, enquanto na índia o consumo anual é inferior a 2 kg por pessoa. Há vinte anos, o americano comia em média 23 kg por ano; o consumo atual, só de carne de gado, é de cerca de 58 kg.

jean Mayer, um nutricionista de Harvard, calcula que, reduzindo-se

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em 10% a produção de carne, teríamos cereal suficiente para alimentar 60 milhões de pessoas; se a redução fosse de 50%, haveria alimento para todos.

Se toda a soja produzida no mundo fosse direcionada para consumo hu-mano, em vez de animal, cerca de 1,3 bilhão de pessoas poderia ser alimenta-do. Isso pode ser melhor dimensionado ao pensarmos que 95% de toda a aveia, 80% de todo o milho e 90% de toda a proteína vegetal produzidos nos Estados Unidos são destinados ao consumo animai. A verdade trágica e alar-mante é que algo entre 80 e 90% de todos os cereais americanos são usados para alimentar animais de corte.

Um número crescente de cientistas e economistas defende a dieta vegeta-riana como solução para os grandes problemas alimentares do nosso planeta.

A carne é o alimento mais antieconômico e ineficiente que comemos. O custo de meio quilo de proteína de carne é vinte vezes mais alto que o de pro-teína vegetal, igualmente nutritiva. Das proteínas e calorias fornecidas aos ani-mais, apenas 10% são recuperados na carne ingerida, o que significa um desperdício de 90%.

Vastas extensões de terra são usadas para a criação de animais de corte. Estas terras poderiam ser muito mais produtivas se fossem utilizadas para o plantio de cereais, feijões e legumes, para consumo direto do homem. Por exemplo: um hectare de terra usado para criar gado fornece apenas um quilo de proteína; no entanto, essa mesma área, usada para o plantio de soja, pro-duziria 17 kg de proteína!

A produção de carne precisa de uma área í 7 vezes maior do que a neces-sária para a plantação de soja, A seguinte tabela é reveladora:

Produção relativa de proteínas por hectare

Soja 356

Arroz 260

Milho 211

Trigo 138

Carne (gera!) 45

Carne bovina 20

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A pecuária da (dá) fome

A demanda por carne entre as populações mais abastadas exige precedência sobre a necessidade de produção de grãos e legumes para as populações pobres, principalmente nos países em desenvolvimento. Em nome do lucro, proprietários de terras tendem a optar pela criação de animais para o abate em vez de cultivar vegetais. Isso pode ser facilmente verificado nos países em desenvolvimento onde, mesmo nas áreas agrícolas, há uma grande produ-ção de grãos e forragem para consumo animal, que geram lucros bem mais rapidamente, em detrimento da produção de vegetais para consumo huma-no. Os criadores de gado, principalmente exportadores, aparecem como cli-entes em potencial e toda a política de exportação desses países, visando à geração de divisas, acaba por incentivar indiretamente essa opção dos agri-cultores.

A produção de vegetais para uso animal também ocorre em grandes paí-ses. Dois terços dos grãos exportados pelos Estados Unidos destinam-se à ali-mentação animal e servem apenas aos produtores que podem arcar com os custos da criação. Criar gado, tanto de corte (abate) quanto de leite, não é a maneira mais eficiente de se utilizar os recursos alimentares, pois requer uma enorme quantidade de energia para produzir poucos alimentos utilizáveis — exatamente o oposto da produção de vegetais,

Nos países em desenvolvimento, quanto mais se produz ração, menos terra têm os lavradores para plantar sua própria comida, o que reduz o alimen-to disponível. Como resultado, os preços sobem, e o impacto é mais sentido pelos pobres. No Brasil, por exemplo, o feijão-preto, um dos pratos básicos das populações mais carentes (sua principal fonte de ferro), está ficando mais caro, pois muitos fazendeiros optaram pelo plantio de soja de olho no merca-do internacional de rações. Além do mais, nos países em desenvolvimento, os habitantes menos favorecidos não recebem benefícios sociais da pecuária. A produção moderna de carne é um investimento intensivo que utiliza pouca mão-de-obra. A usual fazenda pecuarista de floresta tropical emprega uma pessoa a cada 2 mil cabeças de gado — uma pessoa por aproximadamente 20.000 km2. A agricultura, por sua vez, pode muitas vezes sustentar 80 pessoas por quilô-metro quadrado.

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Consumir peixe e frutos do mar pode ser antiecológico

Os pescados e frutos do mar sempre representaram uma importante fonte de nutrientes, e a pesca sempre foi uma atividade de subsistência. O sabor sofisti-cado dos frutos do mar tem atraído gastrônomos e gourmets do mundo intei-ro, o que está sendo considerado uma ameaça à vida marinha.

Segundo um informe da ONU, 17 das maiores áreas de pesca do mundo estão esgotadas ou próximas do limite da sua capacidade natural. De acordo com a União para a Conservação da Natureza, existem no mundo 1.081 pes-queiros ameaçados de esgotamento, No Oceano Fàcífico 106 regiões de pes-ca de salmão estão atualmente extintas e uma dúzia seriamente ameaçada. Duzentas áreas de pesca se encontram seriamente poluídas no planeta.

Dos 13 milhões de pescadores no mundo, 12 usam técnicas tradicionais para capturar anualmente cerca da metade de todo o peixe pescado no mun-do. Mas aproximadamente um milhão deles, lotados em 37 mil barcos, utili-zam alta tecnologia de pesca industrial. Sonares e radares de grande precisão, aviões localizadores de cardumes e redes eletrônicas imensas (algumas gran-des o bastante para conter até doze Jumbos 747), estão ajudando a extinguir diversas espécies ou a reduzir dramaticamente a sua quantidade, ameaçando a vida marinha. Com essa tecnologia agressiva e interferente, capturam a outra metade dos peixes pescados anualmente em todo o planeta! Foram estes pes-cadores tão bem aparelhados que quase fizeram as baleias desaparecerem. E o teriam feito, não fossem as campanhas internacionais a favor delas. Aliás, ca-çar baleias é um dos crimes mais hediondos que podemos cometer, uma vez que são seres extremamente dóceis, sensíveis, inteligentes e inofensivos.

Segundo Tím Weiner, repórter do New York Times, existem pelo menos 12 mil barcos irregulares que, com a ajuda de redes finas, praticam a pesca predatória no goífo da Califórnia.

Trata-se de um problema mundial, que não está permitindo que a vida marinha se renove. Em 1989, foram pescados 86 milhões de toneladas de peixes, um número quatro vezes maior que todo o produto da pesca ao lon-go de 50 anos. Muitos pesqueiros e empresas de porte já entraram em colap-so, mas diversos países, inclusive os Estados Unidos, o Japão, a China e o México, continuam subsidiando grandes frotas comerciais para mantê-las em atividade. E são eles a maior ameaça à vida marinha. Não estão preocupadas com a alimentação dos povos, mas com o lucro.

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As reservas biológicas e a biodiversidade marinha estão igualmente com-prometidas por causa da pesca predatória e ilegal, praticada não somente por aqueles que utilizam alta tecnologia, mas também pelos pequenos pescadores, que pescam artesanalmente em colônias, empresas, grupos de barcos de pes-ca, etc. Sem consciência quanto ao futuro da sua própria atividade, eles têm sido responsáveis pela redução do pescado em todos os mares. O pior é que tudo tende a piorar se não interromperem práticas predatórias como o uso de redes de malha fina (que capturam animais pequenos, não aproveitados), a utilização de explosivos, a pesca de parelha (dois barcos puxando juntos uma rede), as armadilhas que capturam indiscriminadamente animais pequenos e ovados, a pesca praticada fora da temporada permitida por lei (lagostas, atum, sardinha, etc.).

Muitas espécies marinhas estão ameaçadas. Diversos tipos de peixes, siris e lagostas, bem como arraias, cavalos-marinhos, tartarugas e polvos, estão se tornando cada vez mais raros. A invasão dos manguezais — pela especulação imobiliária ou para a captura descontrolada de caranguejos — é algo extrema-mente perigoso para o meio ambiente e para a vida marinha.

Apesar das campanhas contrárias à pesca ilegal e antiecológica, pescadores continuam a praticá-la, seja por questões de sobrevivência ou para manter os lucros.

É possível participar de movimentos e boicotes a favor dos seres marinhos e contra os grandes trustes da pesca.

Um deles foi movido pelo grupo Greenpeace contra as empresas que enla-tam e comercializam atum nos Estados Unidos. As redes usadas pelos pescado-res costumavam capturar também golfinhos, que se alimentam de atum. Como não servem de alimento e competem com os pescadores, acabavam sendo mortos — às vezes com requintes de crueldade — com marteladas, estocadas, por asfixia, etc. O Greenpeace conseguiu sensibilizar os consumidores, conven-cendo-os a não comprar o produto das empresas que adquiriam atum dos pes-cadores que capturavam golfinhos. O resultado foi surpreendente, graças à resposta dos consumidores, que seguiram as orientações dos ecologistas. No Brasil, infelizmente, nem ficamos sabendo disso... Mas nunca é tarde. Hoje é proibido capturar golfinhos, e os atunzeiros que desrespeitaram a lei estão sujei-tos a multas, suspensão da atividade e até prisão.

Uma dieta vegetariana não inclui peixe, como alguns erroneamente acre-ditam, contudo, para quem quiser continuar a consumi-lo ou para quem pre-

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9. COMO OBTER OS NUTRIENTES NECESSÁRIOS

"É bom comer um alimento sem se preocupar com o que possa ter causado a sua morte."

DR. J. KELLOG

Como muitos conceitos dietéticos estão mudando, estamos presenciando o despencar dos principais tabus do universo da alimentação. A tendência atual é mais para uma abordagem qualitativa, em oposição à quantitativa, que caracte-riza o prisma pelo qual a nutrição acadêmica analítica compreende a questão alimentar.

Conforme estudos recentes, alimentos como o leite e seus derivados, a carne animal e os ovos de granja produzem mais danos que benefícios, mes-mo levando em conta a carência quantitativa sofrida pelas populações mais pobres. A O N U tem desenvolvido programas visando à implantação de siste-mas alimentares ricos, que forneçam quantidades suficientes de nutrientes e um mínimo de toxinas ou de agentes poluentes (agrotóxicos, aditivos, antibió-ticos, corantes artificiais, etc.).

A preocupação em obter da dieta os nutrientes necessários para a manu-tenção da vida faz com que se consumam exageradamente alimentos que não são tão ricos quanto se pensa. Hoje, nutrientes como o cálcio e o ferro e as vitaminas essenciais merecem outros estudos interessantes como aquele que busca classificá-los quanto à sua origem. Uma dessas classificações reúne três

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fontes básicas de nutrientes e minerais: primária, secundária e terciária. A pri-mária pertence ao reino vegetal, base de toda a cadeia alimentar, que sustenta a vida na Terra; a secundária diz respeito ao organismo animal, que absorve nutrientes da fonte primária; a terciária é o laboratório que sintetiza vitaminas e demais compostos. Obviamente, a fonte mais saudável é a primária, que for-nece elementos facilmente absorvíveis e elaboráveis pelo organismo humano ou animal. Desse modo, o cálcio (dos vegetais, grãos de cereais e raízes), o ferro (das leguminosas, brotos, frutas e legumes) e as vitaminas (dos cereais, etc.) são muito bem aceitos pelo organismo, devido à sua harmonia atômica estrutural em tropismo especial com o metabolismo do homem. Os mesmos nutrientes obtidos de fonte secundária — como o cálcio dos laticínios, o ferro do fígado, as vitaminas dos ovos; os aminoácidos da carne, etc. — não são bem metabolizados pelo homem, pois já foram trabalhados por um outro organis-mo. Absorvidos apenas parcialmente, criam condições anômalas, que a ciência ainda não conhece totalmente.

Existem muitos pontos obscuros, contradições e dúvidas ligadas à questão alimentar que perturbam a compreensão e a prática de uma dieta adequada.

Entendemos que tudo pode ser solucionado se buscarmos individualizara dieta e evitarmos os padrões rígidos. Para isso é preciso desenvolver minucio-samente a auto-observação e o autoconhecimento. A partir de então o obser-vador atento poderá conhecer mais sobre as leis universais que governam a vida.

Vitaminas

Vitaminas são compostos orgânicos que foram descobertos em função da ob-servação de certas anomalias que desapareciam com a ingestão de alimentos de grupos específicos. Tal foi o caso do beribéri e do escorbuto, doenças que são facilmente curadas com a ingestão de farelo de cereais integrais (vitaminas do complexo B) e de frutas cítricas (vitamina C), respectivamente. O fato deu origem ao estudo de outros elementos nutricionais presentes nos alimentos, surgindo assim a classificação atual das vitaminas.

As vitaminas são acessórios alimentares, sem os quais a vida é impossível. A carência de uma ou mais vitaminas produz sérias alterações no organismo.

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Diferentemente dos demais nutrientes, como as proteínas, os carboidratos e as gorduras, elas não entram na estrutura dos tecidos orgânicos e não sofrem degradação para produzir energia.

Hoje são conhecidas cerca de doze vitaminas e sua classificação é baseada na sua solubilidade: as vitaminas do complexo B (B I , B2, B3, B6 e B I2) e a vitamina C são solúveis na água (hidrossolúveis), enquanto as vitaminas A, D, E e K são solúveis em gorduras (lipossoSúveis).

Distribuídas nos vários alimentos, elas geralmente se apresentam sob a forma de protovitaminas, ou formas quimicamente predecessoras, as vitaminas pri-márias, que se transformam na vitamina propriamente dita dentro do organis-mo. Por esta razão, a não ser em casos de carência extrema e de hipovrtaminose bem definida, apenas as fontes naturais de vitaminas são recomendáveis, uma vez que este procedimento obedece às leis da natureza.

Atualmente são conhecidas diversas carências vitamínicas, além daquelas clás-sicas. Sabe-se, por exemplo, que existem carências absolutas (beribéri, escorbuto, raquitismo, xeroftalrmia), facilmente detectáveis, e as relativas, de difícil detecção. Estas últimas são determinadas pela constante falta de pequenas quantidades de .'itaminas na dieta, como acontece nos regimes não balanceados. Infelizmente os resultados das carências relativas acontecem dentro da esfera nervosa e psíquica, determinando sensações e sintomas dos mais variados, como cansaço mental, irritabilidade, falta ou redução da memória, insatisfação existencial, diminuição do poder de vontade, distonias neurovegetativas (como a síndrome pré-menstrual, por exemplo), predisposição à síndrome do pânico (carência relativa da nicotina-mida ou vitamina B6) e muitas outras—todas bem semelhantes àquelas produ-zidas pela carência mineral de certos oligoelementos (zinco, selênio, cobre, etc.) ligados à estafa mental e ao estresse crônico. Na prática, é possível verificar que estes estados são muito comuns entre aqueles que adotam dietas e regimes sem orientação profissional gabaritada.

A maior parte das dietas para emagrecer carece de um ou mais importan-tes elementos da nutrição, que são as vitaminas. Comumente pode-se verifi-car a falta relativa de uma ou mais dessas vitaminas nos regimes pobres em calorias. Preocupadas em emagrecer, as pessoas (geralmente orientadas por profissionais) adotam regimes que sofrem de carência vitamínica.

A moderna ciência da nutrição ensina que é prejudicial ao organismo a falta de uma ou mais vitaminas durante muito tempo, mesmo em pequenas quan-

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tidades, sendo fundamental a manutenção das necessidades diárias de todas as vitaminas, sempre que se fizer uma refeição.

Como sabemos, a melhor maneira de obter vitaminas é através dos alimentos vegetais, que representam a fonte primária destes nutrientes, ge-ralmente no seu estado de pré-vitaminas. Aquelas provenientes do reino animal representam as chamadas fontes secundárias, enquanto as sintéticas são fontes terciárias, de onde os nutrientes são obtidos apenas no estado bioquímico de vitaminas prontas, e não em forma de protovitaminas. O resultado do uso constante desse tipo de vitamina, principalmente as de fonte terciária, é a dependência do organismo de estruturas vitamínicas que não necessitam sertrabalhadas, gerando acomodação funcional e redução da capacidade do corpo em "gerenciar" o seu metabolismo e cobrir as suas necessidades fundamentais.

As protovitaminas exigem do organismo uma atuação ativa. Suas estrutu-ras são bem assimiladas, uma vez que perfeitamente identificadas e conduzidas para as suas funções bioquímicas de modo extremamente adequado. Quando são ingeridas prontas, o organismo vai gradativamente aceitando uma "atua-ção passiva". Aos poucos, os nutrientes de origem primária deixam de ser bem assimilados, ocorrendo diversos tipos de carências relativas, O organismo en-tra em deficiência subclínica quando lhe faltam as vitaminas de fontes secundá-ria ou terciária, às quais se acostumou. Fermentações digestivas, dificuldades enzimáticas, má assimilação, distúrbios bioquímicos setoriais, "seqüestro" de oligoelementos (zinco, cobre, etc.), aumento dos níveis de radicais livres circulantes, incremento das oxidações intracelulares, alterações dos mecanis-mos de compensação, mudanças obscuras do metabolismo intermediário e outros fenômenos de difícil compreensão passam a ocorrer com freqüência progressiva.

Se a obesidade, assim como todos os demais distúrbios da saúde, é pro-duzida por um desequilíbrio essencial, temos aqui uma das suas causas. O restabelecimento da normalidade metabólica, um dos pilares da nova me-dicina, é a via correta para a eliminação da maior parte das mazelas que acometem o ser humano. Portanto, aconselha-se a adoção de dietas bem balanceadas, compostas de produtos vegetais que forneçam vitaminas pri-márias. Hoje em dia, sabe-se que é perfeitamente possível obter todas as vitaminas necessárias do reino vegetal, inclusive a vitamina BI2, presente em alimentos como os brotos (de feijão, alfafa, nabo, lentilhas, etc.), o queijo

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de soja, o mísso e outros. Conforme já foi apontado, existe também a ca-pacidade de trasmutação biológica do organismo, cuja função é a de pro-duzir qualquer nutriente primário a partir de outros compostos mais simples. É este fenômeno que explica o fato de animais totalmente herbívoros não apresentarem carências protéicas, de esquimós não apresentarem escorbuto (embora nunca comam frutas ou alimentos que contenham vitamina C), de animais carnívoros não apresentarem beribéri (embora jamais comam ce-reais ou alimentos que contenham quantidades suficientes de vitaminas do complexo B, tais como a B I , B2 e B6). Quando o ser está bem adaptado à natureza, tudo redunda num equilíbrio perfeito. Quando um indivíduo in-gere nutrientes não adequados à sua natureza surgem os distúrbios. A transmutação biológica é um fenômeno que compensa carências apenas quando se pratica uma dieta fundamentada na ordem natural e se ingerem alimentos ricos em energia vital estrutural. Carne animal e vitaminas sinté-ticas são inadequadas à ordem biológica humana e têm o efeito de inibir — e, às vezes, destruir — a capacidade de "autogerenciamento e auto-sus-tentação" do organismo, em que o mecanismo de trasmutação biológica representa a mola mestra.

Devido à sua natureza química, as vitaminas sintéticas podem gerar da-nos de difícil detecção aos sistemas orgânicos mais sutis. Um deles é a de-pendência progressiva da suplementação vitamínica artificial devido à redução da capacidade de transmutação e auto-regulação do organismo. Outro efeito é a conhecida "hipovitaminose pós-vitamínica", um estado de carência vitamínica que se instala após longos períodos de ingestão dessas substân-cias.

A ingestão de vitaminas sintéticas é contra-indicada na obesidade ou nos tratamentos de redução e manutenção do peso corporal, já que, quando usa-das em grandes quantidades, abrem o apetite.

Vitamina B12

Também chamada de cianocobalamina, devido à presença em sua molécula de um grupo ciânico ligado ao cobalto, a BI2 pertence às vitaminas do complexo B. Suas funções biológicas estão relacionadas à síntese de ácidos nucléicos, à transferência de grupos metilas lábeis das reações de transmetilação, à forma-

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ção de mielina no sistema nervoso e à participação no metabolismo de lipídios e carboid ratos.

Suas fontes alimentares mais ricas são os extratos de fígado, mas ela tam-bém pode ser obtida do reino vegetal através das algas clorela e Blue Green, e da espirulina de processos complexos de síntese orgânica e da fermentação alcalina da soja e seus derivados.

As doses recomendadas para adultos variam entre 25 a 300 mcg diárias.

Proteínas e aminoácidos

Aminoácido é o nome genérico dos compostos químicos que constituem os elementos essenciais das proteínas. São fundamentais para a matéria viva e indispensáveis à alimentação. Todas as proteínas são formadas por aminoácidos ligados entre si por cadeias peptídicas. São conhecidos atualmente 22 ami-noácidos principais, divididos em 10 essenciais e 12 não-essenciais. A bioquí-mica moderna entende que os primeiros (essenciais) não podem ser sintetizados pelo organismo humano, que, no entanto, é capaz de sintetizar os não es-senciais. Recentemente, no entanto, observou-se que o organismo pode sin-tetizar até mesmo os essenciais através de atividades hepáticas especiais. Normalmente, através do fígado, que produz 80% dos aminoácidos neces-sários.

Os aminoácidos conhecidos até hoje são, por ordem alfabética: ácido aspártico, ácido glutâmico, alanina, arginina, cisteína, cistina, diiodotirosina, fenilalanina, glicina, hidroxilisina, hidroxiproíina, histidina, isoleucina, leucina, metionina, prolina, serina, tireonina, tireoxina, tírosina, triptofano e valina.

São assim considerados os aminoácidos não sintetizados pelo organismo em situações comuns, que devem ser obtidos do meio exterior por meio da alimentação ou da suplementação. Os essenciais são 10: ácido glutâmico, alanina, arginina, fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina, metionina, triptofano e valina.

As combinações dos aminoácidos conhecidos formam mais de 50 mil tipos de proteínas classificadas, além de mais de 20 mil tipos de enzimas. Rara uma proteína ser considerada de boa qualidade ela deve conterá maior quantidade possível de aminioácidos essenciais, embora cada proteína tenha um aminoácido predominante.

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Entre numerosas outras funções, os aminoácidos permitem que as vita-minas e os minerais possam ser aproveitados e que atuem adequadamente nos sistemas bioquímicos, principalmente no metabolismo. A carência de qualquer um deles pode prejudicar a absorção de nutrientes, incluindo ou-tros aminoácidos.

Hoje, tratamentos com suplementação de aminoácidos têm-se mostrado eficazes em numerosas doenças, principalmente aqueles relacionadas com a estrutura muscular e o metabolismo cerebral.

As fontes alimentares mais comuns de aminoácidos são: proteínas presen-tes na carne animal, levedura, leite bovino ou caprino, ovos; ou proteínas ve-getais (sendo as da soja, do arroz e do trigo as mais comuns). Os grãos de cereais integrais são mais ricos em triptofano (película), lisina e ácido glutâmico (glúten). O arroz integral é igualmente rico em treonina. As frutas oleaginosas possuem lisina e metionina. Os legumes em geral contêm metionina e triptofano. A soja é particularmente rica em diversos aminoácidos, mas princi-palmente em metionina.

Hoje é comprovadamente possível obter todos os aminoácidos de fon-tes vegetais. A carne bovina é uma fonte atualmente em questão. Embora ela forneça a maior parte dos aminoácidos, se a ingestão diária for superior a um grama por quilo de peso, ocorre uma elevação prejudicial do metabolis-mo nitrogenado, proporcional à quantidade de carne ingerida, Combinan-do-se vários vegetais, alguns laticínios e ovos, pode-se obter todos os aminoácidos necessários para a nutrição humana, e em quantidades exigidas para a manutenção de todas as funções corporais, sem o inconveniente da elevação dos resíduos nitrogenados.

Dietas hiperprotéicas à base de carne animal estão relacionadas atualmen-te a diversas enfermidades, como o câncer, as doenças cardiovasculares e reu-máticas, o envelhecimento precoce e a elevação dos radicais livres, capazes de provocar processos degenerativos em geral.

Recentemente comprovou-se que a proteína bovina e suína, quando ex-posta a temperaturas superiores a 90 graus por mais de 10 minutos, sofre uma redução da quantidade de proteínas úteis e elevação dos níveis de lipoproteínas associadas a ácidos graxos saturados e polissaturados,

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Minerais e microminerais mais importantes

Cálcio

O cálcio é um mineral importante por ser constituinte do tecido ósseo. Me-tabolicamente ele participa de muitos processos fisiológicos, tais como a transmissão nervosa, a contração muscular, a coagulação sanguínea, a permeabilidade das membranas, as reações imunes e de fixação do com-plemento, afagocitose, a secreção e ação de algumas enzimas e hormônios. Contratura e relaxamento muscular, controle de pressão arterial, assim como mediação na transmissão nervosa, são outras funções importantes do cálcio.

Há uma relação direta entre as proporções dos níveis de cálcio, magnésio e fósforo, que é de 2 para l e de I para 3, respectivamente. Ou seja, há duas vezes mais cálcio do que magnésio e três vezes mais fósforo do que cálcio. Embora a dose diária de cálcio recomendada nos Estados Unidos para um adulto médio seja de aproximadamente 1.000 mg, estima-se uma ingestão média de 743 mg por dia (530 mg para pessoas entre 35 e 50 anos). Em 1987 uma pes-quisa realizada nos Estados Unidos mostrou que nenhum grupo de mulheres em qualquer faixa etária atingiu o patamar do RDA (média de 501 mg). Duran-te a gravidez e lactação as necessidades diárias aumentam cerca de 400 mg (total de 1.200 a 1.400 mg/dia).

Ferro

O ferro é um mineral essencial para afunção das células sanguíneas, É um com-ponente necessário da hemoglobina, uma proteína conjugada, composta de quatro grupos heme, ligados a quatro cadeias polipeptídicas, que constituem a porção globina. O heme é responsável pela coloração característica e pela ca-pacidade do sangue de transportar o oxigênio. A hemoglobina liga-se ao oxigê-nio nos capilares pulmonares para formar a oxiemoglobina, que percorre a corrente sanguínea em direção aos tecidos, onde o oxigênio é liberado para tomar parte dos processos oxidativos.

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O ferro é armazenado sob a forma de dois complexos ferro-protéicos: a ferritina e a hemossiderina. A forma mais concentrada de ferro é a hemos-siderina. A mioglobina, encontrada apenas no tecido muscular, está relacionada à hemoglobina do sangue, tanto na estrutura como na função. E um transpor-tador de oxigênio, que atua como um reservatório deste elemento, alimentan-do as células musculares e removendo o dióxido de carbono.

O ferro da dieta se apresenta sob duas formas: ferro heme ou não-

heme (inorgânico). A absorção intestinal do ferro heme encontrado na hemoglobina e na mioglobina da carne, do peixe e das aves processa-se por um mecanismo diferente daquele que absorve o ferro não-heme, po-rém não são conhecidos os detalhes desses processos. O heme parece ser absorvido intacto, seguido pela liberação do ferro dentro da célula mucosa. A absorção do ferro heme é mais eficiente e menos influenciada por fato-res fisiológicos e alimentícios. Não está esclarecido, contudo, o modo pela qual a mucosa intestinal percebe o estado ferroso no organismo, se heme ou não-heme.

O ferro é um dos minerais que exigem mais atenção, principalmente pelo fato de não ser excretado com facilidade, nem ser consumido, como os ou-tros. Por essa razão, é necessário evitar o seu excesso no organismo. O ferro é expelido em pequenas quantidades nas fezes, na urina, através da menstruação e nas hemorragias ou doações de sangue.

Fontes alimentares de ferro e biodisponibilidade

Considera-se que as melhores fontes de ferro são a carne, os peixes, as aves e os ovos. As leguminosas, os vegetais folhosos verdes, as batatas, as frutas secas, o pão e os cereais integrais são as mais ricas fontes vegetais. O leite e seus derivados são notavelmente pobres em ferro. Alguns alimentos como o melaço, o açúcar mascavo e as frutas passas têm alta concentração do mineral, no entanto, são consumidos em pequenas quantidades pela população.

Em média, cerca de 40% do ferro da carne, do peixe e das aves domésti-cas estão sob a forma de heme (hemoglobina e mioglobina). Os outros 60% estão sob a forma de não-heme, que também contém o ferro alimentar origi-

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nário de outras fontes, como, por exemplo, ovos, cereais, legumes, frutas, sais ferrosos e suplementos. Embora menos influenciada pelas reservas de ferro corporal que o ferro não-heme, a disponibilidade do ferro heme varia aproxi-madamente de 25%, em pessoas com reservas de 500 mg, a 35%, em indiví-duos com reservas baixas ou esgotadas.

Dois fatores dietéticos conhecidos aumentam substancialmente a absor-ção do ferro não-heme, o ácido ascórbico (vitamina C) e um "fator carne" desconhecido, que supostamente estaria presente nas carnes de vaca, carnei-ro, porco, galinha, no fígado e no peixe, embora inexistente no leite, no queijo, nos ovos ou nos vegetais. Deve ser observado que a absorção do ferro heme varia com o nível das reservas, não com a composição da refeição. A substitui-ção do café pelo chá-mate, por exemplo, reduz a absorção do mineral em mais de 50%. O suco de laranja, ao contrário, ingerido no lugar do café (refeição padrão), dobra a sua capacidade da absorção. (Fonte: American journal of Clinical

Nutrition. 32:2484,1979). Não está suficientemente bem definido o impacto que as dietas ricas em

fibras exercem sobre a biodisponibilidade do ferro. Recentes pesquisas mostram que a biodisponibilidade ferrosa no leite hu-

mano é notavelmente elevada, apesar do seu baixo teor de ferro. Graças a essa condição a quantidade disponível desse mineral é suficiente para satisfazer as exigências do lactente durante o primeiro ano de vida,

Ainda não foram identificados os fatores responsáveis por esse fenôme-no. Por outro lado, a adição de alimentos suplementares (como a carne) à dieta da criança amamentada ao seio reduz a absorção do mineral presente no leite humano. Esse fato argumenta contra a introdução precoce de ali-mentos sólidos na dieta do bebê. O suprimento de ferro do leite humano é suficiente.

As fontes animais de ferro não são superiores às vegetais

Amy O'Connor, em matéria publicada no Vegetarian Times, apresenta um informe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, mostrando que mulheres vegetarianas não têm níveis de ferro sanguíneo muito diferentes daquelas que comem carne diariamente. O estudo sugere que o corpo hu-

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mano é capaz de absorver de fontes vegetais todo o ferro de que necessita, do mesmo modo como o faz a partir de fontes animais. Estudos anteriores, no entanto, já apontavam que vegetarianos consomem, habitualmente, maior quantidade de alimentos ricos em ferro do que os onivoristas — pes-soas que comem de tudo.

Composição de ferro nos al imentos

(Em miligramas por 100 calorias)

Vegetais: Frutos: Cereais e grãos: Carne animal: Laticínios:

Espinafre 1 1,3 Moranga 2,7 Feijão em geral 2,3 Bife de filé 1,2 Queijo cheddar, até 0,1

Mostarda 11,2 Abocóseoo 2.3 Lentilhas 2,0 Músculo 1,1 Cottage até 0,1

Couve-flor 4,2 Urráo 2,0 Sem. de abóbora 2,0 Atum em lata 0,9 Mussarela até 0,1

Couve-chinesa 4,0 Amora 1,7 Sem. de girassol 1,4 Presunto 0,9 Leite desnatado até 0,1

Brócolis 3,1 Pêssego 1.3 Aveia 1,1 Bisteca de porco 0,9 Iogurte desnatado até 0,1

Cogumelos 3,0 Toranja 1,1 Trigo 1,0 Salame 0,9 Leite integral até 0,1

Ervilha 2,7 Ameora fresca 1.0 Noz 0,9 Perto de frango 0,8 Sorvete até 0,1

Feijão-verde 2,7 Abacaxi 1.0 Amêndoa 0,8 Peru 0,7 Creme de leite 0,0

Tomate 2,4 Banana 0,8 Salmão 0,6 Manteiga 0,0

Alface 2,4 Laranja 0,8 Bacon 0,6

AJpo 2,4 Cordeiro 0,6

Cenoura 1.8 Fígado de boi 0,6

Cebola 1,4 Rim de porco 0,5

Pepino 0,6

Batata-doce 0,6

Fonte: Valor Nutritivo dos Alimentos, Instituto de Economia e Consumo de Alimentos, De-partamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, U.S. Government Printing Office, 1977.

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A listagem mostra claramente que as fontes vegetais de ferro são muito mais ricas que as fontes animais. A seguinte tabela permite uma visão mais ampla dessa distribuição:

Quantidade de ferro em miligramas por 100 calorias

Espinafre 11,5 Bisteca 1,9

Pepino 6,0 Alcatra 1,1

Alface 3,8 Grapefruit \, 1

Pimentão 3,3 Trigo 1,0

Morango 2,7 Peito de frango 0,8

Couve 2,4 Músculo 0,6

Feijão 2,3 Fígado de boi 0,1

Queijo cottage 0,1

Leite 0,1

Portanto, no tratamento e prevenção da anemia, o ideal é ministrar verduras, frutas, cereais e sementes, pois o famoso fígado de boi (0,6) não é uma fonte tão rica como julgam os orientadores menos informados... Mas, com certeza, trata-se de uma das mais ricas fontes de ácido úrico, uréia, indo!, putrescina e outras toxinas muito ativas em sua ação de reduzir a capacidade de defesa do organismo, contribuindo para perdas minerais substanciais e, conseqüentemen-te, para o surgimento de carências, anemia, etc.

O organismo de um adulto médio possui de 3 a 5 gramas de ferro, dos quais 500 a 1.000 mg são armazenados como estoques não funcionais, princi-palmente na ferritina, na hemosiderina, no fígado, na medula óssea, no baço e, em menor quantidade, no tecido muscular.

Muitos autores apontam a carência de ferro como a mais comum deficiên-cia nutricional no mundo, afetando pelo menos I bilhão de pessoas. Pelo me-nos 58% da população norte-americana consome menos ferro em doses mais baixas que as indicadas pelo RDA (dose diária permitida).

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Nos países do terceiro mundo estes dados são alarmantes. Na gestação, a quantidade total de ferro a ser dirigida ao feto é de 800 mg. Ao longo dos nove meses de gravidez é apontada uma necessidade de suplementação de outros [2-42 mg/dia, o que perfaz um total de 30 a 60 mg de ferro por dia.

Uma dieta que satisfaça as necessidades mínimas de ferro de uma mulher em fase fértil (18 mg/dia) chegaria a 3.000 calorias. Doses mais elevadas correm o risco de provocar efeitos indesejáveis. Nos indivíduos que praticam esportes, a perda diária normal (I mg/dia) pode ser acrescida de mais um miligrama, devido ao suor, o que eleva as necessidades mínimas apontadas pelo RDA para 20 mg/dia.

No Brasil, um dos problemas com a suplementação de ferro é que aforma mais habitual de se prescrever ou ingerir o mineral é através da sua apresenta-ção mais comum, o sulfato ferroso. Geralmente, somente 4 a 6% do ferro ingerido desta forma é realmente absorvido. Desta percentagem somente metade é utilizada pelo organismo, sendo o restante eliminado através do pró-prio intestino.

A toxicidade do ferro proveniente dos alimentos é praticamente nula, mas possível em organismos com distúrbios metabólicos específicos. O ferro férrico, geralmente presente nos suplementos, deve ser ministrado com cautela. Há inclusive relatos apontando maior incidência de câncer em situações que indi-cam níveis elevados desse tipo de ferro.

Zinco

O zinco é um dos minerais mais importantes, que participa da formação e fun-ção de numerosas enzimas, atuando em grande parte dos fenômenos biológi-cos. E um dos componentes fundamentais das enzimas ligadas aos processos oxidativos das células e essencial à ação de catalizadores, atuando diretamente no crescimento e nas funções celulares.

Os alimentos naturais mais ricos em zinco são: grãos, pão integral, pão de centeio, massas, frutos do mar, vegetais, frutas frescas, nozes. No entanto, a quantidade de zinco presente nos alimentos varia de acordo com a qualidade do solo plantado e dos fertilizantes utilizados. Além disso, as fontes vegetais contêm âníons fixadores do zinco e no processo de moagem e industrialização dos cereais há considerável perda do mineral.

As primeiras observações sobre deficiência de zinco foram realizadas por

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Prasad e Halstead em jovens que se alimentavam, quase que exclusivamente, de pão e cereais, sem proteína animal. Entre os vários sintomas descritos estão o nanismo e o hipogonadismo, a ausência ou deficiência de paladar e olfato e sinais de cegueira noturna.

A deficiência de zinco causa diminuição datolerância a carboidratos e, pro-vavelmente, toma parte no desenvolvimento do diabetes no adulto, caracteri-zado por uma diminuição na sensibilidade à insulina. Além disso, acarreta um distúrbio na formação do colágeno, o que explicaria seus efeitos benéficos nos processos de cicatrização de ferimentos e na recuperação de tecidos que so-freram queimaduras.

Observações realizadas em Bangladesh demonstraram que asuplementação dietética de 50 mg/dia de zinco é benéfica na reabilitação nutricional de crian-ças com quadro de desnutrição severa.

A carência de zinco parece provocar problemas na adesão e agregação plaquetárias, que são reversíveis com a ingestão do mineral. Em crianças des-nutridas, atrofia do timo e uma deficiência da imunidade humoral têm sido observadas. Após a restauração nutricional, quando as proteínas plasmáticas e os níveis de corticosteróides retornam ao normal, a atrofia persiste e somente é corrigida quando se restabelecem os níveis de zinco.

Diferentes estudos demonstraram o efeito do zinco na diminuição dos ní-veis plasmáticos de colesterol. A administração de sulfato de zinco parece me-lhorar a condição clínica de pacientes com aterosclerose (Poreis, 1968). Observou-se uma diminuição dos níveis plasmáticos e da quantidade de zinco nos cabelos de pacientes com aterosclerose e insuficiência coronariana.

O zinco participa da molécula da superóxido desmutase, que protege as células contra os efeitos tóxicos do oxigênio. A carência de zinco determina uma diminuição da imunidade celular por reduzir a atividade da nucleosídeo fosforitas, enzima essencial para a atividade dos lintócitosT

O zinco está envolvido nos mecanismos de estresse. Durante estes esta-dos observa-se uma maior eliminação urinária de zinco o que pode gerar défidts agudos.

A maior parte do zinco obtido através da alimentação, de 10 a 15 mg/dia, é absorvida no duodeno, íleo e jejuno. No homem, de acordo com Turnlund et al., uma ingestão de 15 mg/dia parece suficiente. Pequena parte pode ser absorvida no estômago e no cólon. Somente 10 a 40% do zinco ingerido é metabolizado. O mecanismo de absorção não é completamente conhecido.

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Uma vez absorvido, o zinco liga-se às proteínas plasmáticas e é conduzido ao fígado, onde se une a proteínas fixadoras de metais.

Algumas substâncias limitam a absorção do zinco; como os fígados e as fi-bras. O fitato, ácido fftico, presente nos vegetais, prejudicam a biodisponibilidade do mineral nesses alimentos. Outras substâncias agem aumentando a sua ab-sorção, como a lactose. (Fournier, 1971; Grudento, 1982.). O leite de vaca, apesar de mais rico em zinco que o humano, não melhora a deficiência deste alimento. Isto se deve a dois fatores: a presença no leite humano de um fixador com baixo peso molecular que favorece a sua absorção e a grande quantidade de cálcio presente no leite da vaca que interage com a absorção do mineral,

Algumas causas da deficiência de zinco: estresse, alcoolismo acentuado, tratamentos com D-Penicilina, nutrição parenteral prolongada, síndromes de má absorção, doenças ir:~amatórias intestinais, síndromes diarréicas, enteropatia perdedora de proteínas, síndrome nefrótica, queimaduras graves, gravidez, aleitamento, talassemia, sudorese, alimentação inadequada.

Estudos indicam que são necessários 12,5 mg de zinco diários para manter um balanço positivo. Considerando-se que apenas 10 a 40% do zinco ingerido na dieta são absorvidos, recomenda-se que a ingestão média do indivíduo adulto seja em torno de 15 mg/dia.

Durante a gravidez há uma necessidade maior de zinco, para que haja um desenvolvimento fetal adequado. Por esta razão, recomenda-se um acréscimo de 5 mg/dia, além das necessidades básicas, levando-se em consideração que muitas das dietas não contém níveis suficientes deste mineral. No período de lactação, quando a perda através do leite materno é avaliado em tomo de 3 mg/dia, as necessidades são ainda maiores, Portanto, além das doses básicas diárias, recomenda-se a adição de 10 mg/dia de zinco.

Nas crianças de um a dez anos, são recomendadas 10 mg/dia. No entan-to, é necessário observar se o tipo de alimentação contém índices adequados de zinco, se há consumo demasiado de açúcar branco (que elimina este ele-mento), ou se há grande consumo de cereais que contenham fitato. Nas crian-ças, em particular, há que se observaras perdas por sudorese excessiva e pelo trato gastrointestinal (diarréias).

Em pacientes adultos, suplementos de zinco são sempre necessários em suporte nutricional parenteral prolongado. Recomenda-se 0,1 mg de zinco por quilo de peso corpóreo.

O suplemento diário recomendado por via oral é em torno de 5 a 10 mg.

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Na criança, tem sido observada a aceleração do crescimento com doses de 4 a 5 mg/dia de zinco.

O zinco é muito pouco tóxico e existe boa margem de segurança entre as necessidades fisiológicas e as dosagens tóxicas.

Presença de proteínas, ferro, cálcio e zinco em alguns alimentos

Alimento (100 g)

Proteínas (em g)

Ferro (em mg)

Cálcio (em mg)

Zinco (em mg)

Ameixa seca - 2,4 51 0,5

Amêndoas (torradas) 19 3,8 282 4.9

Amendoim (torrado) 26,5 1,8 88 6.6

Arroz (cozido) 2,3 0,2 - 0,4

Batata (cozida c/ a pele) 1.8 0,3 - 0,3

Brócolis (cozido) 2,1 0,8 46 0,4

Castanha de caju (torrada) 16,8 6,0 45 5,6

Couve 2,8 1.7 135 0,3

Ervilha (cozida) 4,2 1,5 27 1,2

Feijão (cozido) 8,3 2,4 70 1,0

Rgos secos 2,4 2,2 14 0,5

Grão-de-bico (cozido) 8.5 2,8 49 1,5

Leite 3,4 - 119 0,3

Macarrão (cozido) 4,8 0,5 7 0,5

Manteiga de amendoim 24,7 1,6 34 2,5

Ovo (frito) 13,5 1,5 55 1.2

Pão branco 8,0 2,0 108 0.4

Pão integral 9,3 3,2 70 1,8

Queijo (de-Minas; de coalho) 24 0,4 673 2.6

Sementes de abóbora 21 3,3 55 10,3

Fonte: Almanaque de Nutrição, Nutrition Search Inc, McGraw Hill, 1973.

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Quantidades de cálcio e proteínas em alguns alimentos

(Para uma xícara de cada)

Cálcio (miligramas)

Proteínas (gramas)

Queijo cheddar 204,8 68,8

Leite integral 187 8,5

Castanha-do-pará 558 42

Amêndoas 328 26

Gergelim 253 42

Folhas de nabo 267 3,2

Dente-de-leão 252 3,6

Folhas de brócolis 132 4,6

Alga Kombu 240,5 16,5

Alga Hiziki 202,2 -

Alga Wakame 676 -

Alga Ágar-ágar 567 -

Camarão cozido 163 46,0

Lagosta cozida 130 37,0

Fonte: Almanaque de Nutrição, Nutrition Search Inc.McGraw Hill, 1973.

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Cardápio para reposição de proteínas, cálcio, ferro e zinco para homens e mulheres entre 25 e 60 anos

Proteínas — Necessidades diárias: Mulheres: 0,5 g/kg/dia Homens: 0,6 g/kg/dia

1 xícara de soja 20 g t xícara de grão-de-bico I5g 1 hambúrguer de glúten I5g í xícara de iogurte comum I4g Vi xícara de manteiga de amendoim 8g 1 xícara de semente de girassol 6g

Cálcio — Necessidades diárias: 1.000 mg

'A de xícara de avelãs 378 mg

1 xícara de couve crua picada 357 mg

1 xícara de soja cozida 175 mg

Vi xícara de brócolis cozido 42 mg

Ferro — Necessidades diárias: Mulheres: 18 mg Homens: 8 mg

180 g de castanha de caju 8 mg

100 g de lentilhas 2,5 mg 100 g de feijão-preto 2,4 mg

Zinco — Necessidades diárias: Mulheres: !2mg Homens: 15 mg

Vi de xícara de germe de trigo 5 mg

1 e VA de xícara de farelo de trigo 5 mg

Vi xícara de tofu 2 mg

Um interessante estudo da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos mostra a total falta de necessidade de se obter proteínas de qualquer fonte animal. Há alguns anos, a academia publicou um trabalho, apresentando

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cardápios compostos apenas por fontes vegetais que cumpriam todas as exigên-cias proteicas. A seguir, um exemplo de cardápio típico:

Desjejum Calorias Proteínas (g)

1 xícara de suco de laranja 1 11 1,7

1 xícara de mingau de aveia integral 148 5,4

1 colher de sopa de sem. de girassol 80 3,5

1 colher de sopa de açúcar mascavo 52 0

3 colher de sopa de uva-passa 87 0,9

Aimoço Calorias Proteínas (g)

2 colheres de sopa de paste de amendoim 172 7,8

2 fatias grossas de pão integral puro 1 12 4,8

1 colher de sopa de mel puro 64 0,1

1 maçã média 87 0,3

2 cenouras pequenas 42 1,1

Jantar Calorias Proteínas (g)

1 xícara de feijão cozido 236 15,6

1 xícara de arroz integral cozido 178 3,8

í xícara e 1 /3 de brócolis cozidos 52 6,2

4 cogumelos grandes 28 2,7

2 colheres de sopa de óleo de soja 248 -

1 xícara de suco de maçã sem açúcar 64 0,8

Lanche da tarde Calorias Proteínas (g)

1 xícara de pipocas de milho d óleo 123 2,7

Total 1,993 57,7

Recomendado pela OMS 2,000 40,0

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Fontes vegetais de nutrientes

Proteínas

Sementes: Linhaça, abóbora, girassol. Grãos: Ervilhas, feijões, lentilhas, amendoins, grão-de-bico, soja, além de no-

zes, amêndoas, castanha-do-pará, castanhas de caju. Cereais: Trigo (pães, massa), aveia, centeio, milho, arroz. Derivados de soja: Tofu, tempeh, proteína texturizada de soja (PTS), leite de

soja.

Vitaminas

Vitamina A: Vegetais vermelhos, laranja ou amarelos, folhas verdes e frutas. Vitaminas do complexo B: Leveduras e cereais integrais, nozes. Vitamina C: Frutas frescas, verduras. Vitamina D: Produzida pelo próprio organismo quando exposto ao sol. Vitamina E: Óleos vegetais, cereais integrais. Vitamina K: Vegetais frescos e cereais integrais.

Minerais

Cálcio: Folhas verdes, nozes e sementes. Fósforo: Gérmen de trigo e castanhas. Ferro: Folhas verdes, cereais integrais, feijão, lentilhas. O consumo de alimen-

tos ricos em vitamina C aumenta o seu aproveitamento.

Carboidratos

Há três tipos principais de carboidratos: açúcares simples, amidos e fibras. Os açúcares são encontrados nas frutas, amidos são encontrados em ce-

reais, grãos e em alguns vegetais, como a batata. Carboidratos não refinados,

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obtidos a partir de cereais integrais, são de melhor qualidade, porque contém fibras e vitaminas do complexo B, Fontes comuns de carboidratos: pães e mas-sas em geral.

Fibras

Frutas, amêndoas, castanhas, coco, aveia, trigo, centeio, folhas, ervilhas, feijão.

Gorduras e óleos

Apesar de prejudiciais quando ingeridas em excesso, uma certa quantidade é necessária para o corpo. As gorduras vegetais tendem a ser mais insaturadas, sendo um dos benefícios mais evidentes da dieta vegetariana. Entre as gordu-ras monoinsaturadas, destaca-se o azeite de oliva, entre as poliinsaturadas, o óleo de girassol e de linho (linho dourado ou linhaça).

Alimentação adequada para gestantes

Como no caso dos bebês recém-nascidos, a mulher grávida necessita de uma orientação dietética especial. Cada fase da gestação, cada pessoa em particular e cada situação de saúde exige um tipo diferente de alimentação.

De um modo geral, a dieta da gestante deve ser muito rica em alimentos construtivos (proteínas), pobre em gorduras saturadas e normal em energéticos. Os orientadores nutricionais mais conscientes e bem informados são unâni-mes em desaconselhar produtos sabidamente nocivos à saúde da gestante e do ser em desenvolvimento no útero, como o açúcar branco, e todos os ali-mentos que o contenham, enlatados, comidas artificiais ou que contenham aditivos sintéticos, carne animal em geral, ovos de granja, frituras saturadas e alimentos repletos de agrotóxicos.

Comidas saudáveis e importantes para a fase de gestação: cereais integrais, leguminosas, misso, tofu, legumes, verduras e frutas em abundância, glúten, tubérculos, bem como vitaminas ricas em energia e cheias de cor.

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A gestação é um momento muito especial em que o organismo deve estar em estado de pureza e bem carregado energeticamente, É comum a gestante apresentar desejos e vontades irresistíveis. Estes fenômenos cos-tumam indicar carências significativas que se manifestam sob formas muitas vezes curiosas. Desejar alimentos doces, por exemplo, revela necessida-des calóricas; ter desejo de comer carne, baixa taxa orgânica de proteínas ou de aminoácidos. Sabiamente, o corpo "pede" aquilo que lhe falta, freqüentemente sob a forma de desejos os mais bizarros. A vontade de comer tijolos, telhas ou tampa de filtros, por exemplo, manifesta falta de cálcio, ferro ou microminerass.

Embora seja conveniente satisfazer os "desejos" da gestante, convém sa-ber diferenciar os desejos reais, ligados às necessidades verdadeiras, daqueles que fazem parte das preferências habituais da gestante. A diferença básica en-tre eles é que, no primeiro caso, o desejo é um impulso irresistível, imperioso, freqüentemente por alimentos ou coisas pelos quais a gestante não costuma se sentir atraída.

A seguinte tabela aponta as necessidades nutricionais de gestantes, não gestantes e lactantes, em termos de calorias, proteínas, cálcio, ferro e vitami-nas A, B e D.

Nâo gestante Gestante Lactante

Calorias/dia 2.500 2.500 3.000

Proteínas (g/dia) 60 85 100

Cálcio (mg/dia) 0,8 1.5 2

Ferro (mg/dia) 12 15 15

Vitamina A (Ul) 5.000 6.000 8.000

Vitamina B (mg/dia) 70 100 150

Vitamina D (Ul) 4.000 600 600

A tabela seguinte, que completa a anterior, aponta as necessidades nutricionais da gestante/lactante e crianças de 0 a 4 anos:

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Unidade Lactentes Até 1 ano 1 -4 anos Lactantes/gestantes

A Ul 1.500 2.500 5.000 8.000

D U1 400 400 400 400

E Ul 5 30 30 30

C mg 35 40 60 60

B mg 0,5 0,7 1,5 1,7

B2 mg 0,6 0,8 1,7 2

B6 mg 0,4 0,7 2 2,5

BI2 mcg 2 3 6 8

Ac. fól. mg 0,1 0,2 0,4 0,8

B3 mg 8 9 20 20

B5 mg 3 5 !0 10

H mg 0,15 0,15 0,3 0,3

Alimentação adequada para atletas e desportistas

Uma das mais equivocadas informações acerca da dieta vegetariana é afirmar que ela deixa a pessoa pálida, fraca e doente. A palavra "vegetariano" não pro-vém de "vegetal", mas sim do termo latino vegetare, que significa "dar vida, animar". Quando os romanos usavam o termo homo vegetus, referiam-se a uma pessoa vigorosa, dinâmica e saudável.

Na realidade, muitos estudos têm demonstrado que os vegetarianos são mais fortes, mais ágeis e mais resistentes que as pessoas carnívoras. O Dr. H. 5choutedem, da Universidade da Bélgica, realizou testes para comparar a re-sistência física, a força e a rapidez no restabelecimento do cansaço entre esses dois grupos. Os vegetarianos foram bastante superiores nos três aspectos. Em 1906 e 1907, o Dr. Irving Siher, da Universidade de Yale, EUA, conduziu testes de resistência, do qual participaram atletas, instrutores, doutores e enfermei-ros. Surpreendentemente, os resultados revelaram que os vegetarianos tinham duas vezes mais vigor do que aqueles que comiam carne. Testes semelhantes realizados porj. H. Kellog, da Casa de Saúde de Battle Creek, em Michigan, EUA, confirmaram as descobertas de Fisher. Um estudo da Universidade de

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Bruxelas, feito peto dr, J. Loteyko e por V Kipani, mostrou resultados compa-ráveis aos do dr. Fisher. Durante os testes de resistência, os vegetarianos fo-ram não só capazes de resistir por um período de tempo duas ou três vezes maior do que os carnívoros, antes de chegar à exaustão, como também se recuperaram da fadiga em um quinto do tempo.

Os animais mais poderosos e de vida mais longa são os vegetarianos. O cavalo, o boi, o búfalo e o elefante, todos têm corpos grandes e saudáveis, poder de resistência e uma força fenomenal que os capacitam a suportar car-gas pesadas e a realizar trabalhos árduos para o homem. Nenhum dos animais carnívoros tem vigor ou resistência para servir como animal de carga.

O clube dos ciclistas vegetarianos da Inglaterra tem conquistado mais de 40% dos recordes nacionais de ciclismo; por toda a Europa, ciclistas vegetari-anos têm conseguido maior número de vitórias do que aqueles que comem carne.

Um grande nadador vegetariano, Murray Rose, foi o mais jovem conquis-tador de três medalhas de ouro nos jogos Olímpicos.

Bill Walton, um astro do basquete, ficou famoso por seu desempenho enér-gico e ofensivo. Os benefícios de sua experiência pessoal estimularam outros a seguir a dieta vegetariana.

Muitos atletas internacionalmente famosos, do passado e do presente, mudaram para a dieta vegetariana. Por exemplo, o austríaco levantador de peso, A. Anderson, que estabeleceu muitos recordes, ejohnny Weismuller, autor de 56 recordes mundiais de natação, ao mudarem a sua alimentação, não tiveram nenhuma queda de força física. Na verdade, sua capacidade aumentou.

Atletas vegetarianos e seus recordes:

Dave Scott Único homem a vencer seis vezes o Iron

Stan Price

Sixto Linares

Robert Sweetgall

Edwin Moses

man triatlon.

Vencedor de 24triat!ons completos (nado, bicicleta e corrida). Corredor dos 400 metros rasos, oito ve-zes campeão mundial. Recordista mundial de corrida de longa dis-tância. Recordista mundial de longa-distância.

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Paavo Nurmi

Bill Pickering

Murray Rose

Andreas Cabling

Roy Hilligan

Pierro Verot

Estelle Gray e Cheryl Marek

James e Johnathon de Donato

Ridgely Abele

Arnold Schwarznegger

Vinte recordes mundiais de corrida de dis-tância, nove medalhas olímpicas. Recorde mundial de natação. Atravessou o canal da Mancha. Recorde mundial de nado livre, 400 e 1.500 metros. Vencedor do campeonato mundial de fisi-culturismo. Vencedor do campeonato Mr. América de fisiculturismo. Campeão mundial do declive de ski. Recorde mundial de cross country em bici-cleta. Recorde mundial de natação estilo borbo-leta. Vencedor de oito campeonatos nacionais de caratê, incluindo os campeonatos da Asso-ciação Mundial de Caratê. O famoso ator norte-americano, antes vá-rias vezes vencedor dos campeonatos de fisiculturismo e de Mr. Universo, fazia filmes carregados de violência e brutalidade (Con-nan, o Bárbaro). Ao se tornar vegetariano, continuou a manter um físico privilegiado e venceu alguns concursos, mas a sua men-talidade mudou, passando a cultivar mais o aspecto da arte e a qualidade da interpre-tação. já durante as filmagens de O Exter-

minador do Futuro, o ator não se adequava mais ao gênero violento. Começou a par-ticipar de filmes mais significaticos e com melhor conteúdo. Em Um Tira no Jardim-

de-lnfância, segundo suas próprias palavras, Arnold já se apresentava como um ator, não como um corpo...

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Família Grade No Brasil, a famosa família Gracie, que hoje atrai a atenção do mundo inteiro por ter criado uma modalidade brasileira de jiu-jftsu, é composta basicamente de vegetarianos. Os principais lutadores e atletas represen-tantes dos Gracie mantêm essa alimentação como uma tradição familiar.

Alimentação para pessoas em fase de crescimento

Se uma dieta pura e balanceada é importante para o adulto, ela é muito mais para a criança e o adolescente, devido às exigências ligadas ao crescimento do corpo. Vejamos as necessidades nutricionais diárias básicas exigidas nessas duas fases:

Carboidratos e gorduras

O suficiente para suprir as necessidades calóricas. Os carboidratos suprem de 25 a 55% das calorias; taxas mais elevadas tendem a engordar. As gorduras entram com cerca de 35% das calorias, mas o seu excesso tende a se acumu-lar em caso de vida sedentária.

Proteínas Vitaminas Minerais

Variável conforme a idade. Vitamina A 5.000 Ul Cálcio l,0g

Média de 2 g/kg/dia. Tiamina (BI ) 1 mg Fósforo 1.5 g

Acima de 15 anos, 1,0g/kg/dia. Riboflavina (B2) 2 mg Ferro 16,0 mg

Nicotinamida (B6) 10 mg lodo Traços

Vitamina C 60 mg

Vitamina 400 a 800 Ul

Fonte: Food and Nutrition Board National Research Council. EUA.

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Como prevenir carências nutricionais através de suplementos — Um suplemento "veggie"

Talvez a maior preocupação de quem adota uma dieta à base de vegetais seja a questão da aquisição dos nutrientes necessários. Para os casos mais específi-cos, aconselha-se a não mudar bruscamente para uma dieta vegetariana sem orientação profissional. Contudo, já vimos anteriormente que é possível obter dos alimentos de origem vegetai tudo o que se necessita em termos nutricionais.

Para ser um vegetariano bem nutrido, deve-se prestar atenção principal-mente à quantidade adequada dos nutrientes básicos: proteínas, ferro, cálcio, vitamina B12 e zinco. Mesmo assim, é possível estabelecer um nível maior de segurança através da suplementação desses nutrientes.

Um suplemento "veggie", adequado a todas as idades e condições, pode ser estabelecido com base no IDR (índice diário recomendado). As quantida-des de nutrientes são calculadas levando-se em conta as necessidades mínimas diárias dos quatro alementos, que podem ser suplementados através de cáp-sulas, preparadas em farmácias especiais. Já uma suplementação protéica feita desta forma não é conveniente nem prática; ele pode ser efetuada por meio da própria alimentação.

Os bons alimentos

Sojo — A principal fonte de proteínas

A soja, uma leguminosa cultivada e consumida pelos chineses há cerca de cin-co mil anos, é um dos mais antigos alimentos humanos. Sua espécie mais an-tiga, a soja selvagem, crescia principalmente nas terras baixas e úmidas, junto aos juncos, nas proximidades dos lagos e rios da China Central. Há três mil anos a soja se espalhou pela Asia, onde começou a ser utilizada como alimen-to. No início do século X X passou a ser cultivada comercialmente nos Estados Unidos. A partir de então, houve um rápido crescimento na sua produção, com o desenvolvimento das primeiras culturas comerciais.

No Brasil, ela chegou com os primeiros imigrantes japoneses, em 1908, mas foi introduzida oficialmente no Rio Grande do Sul somente em 1914. A

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grande expansão da soja no Brasil aconteceu nos anos 70, devido ao interesse da indústria de óleo e a demanda do mercado internacional.

O grão passou a ser o alimento que mais atenção recebeu no mundo oci-dental depois que a Food and Drug Administration comprovou suas proprieda-des nutritivas — superiores as da carne bovina — e divulgou que o consumo diário de 25 gramas de proteína de soja — equivalente a meia xícara — ajuda-va a prevenir doenças coronarianas. A partir de então a soja saiu do terreno exclusivo dos nutricionistas e ganhou espaço nos consultórios médicos.

Os altos níveis de colesterol sanguíneo e do LDL-colesterol estão asso-ciados a doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio e a arterios-clerose. Pesquisas da American HeartAssociation(AHA) (Associação Americana do Coração) têm demonstrado que a ingestão de proteínas de soja reduz as taxas de LDL-colesterol. Pacientes acompanhados durante quatro semanas por médicos da AHA tiveram proteína de soja incluída em sua dieta — sem qual-quer outra alteração — e apresentaram uma redução nos níveis de LDL-colesterol em torno de 33%. Isso significa que a introdução de pequena quantidade dessa proteína na dieta diária, cerca de 20 g que equivalem a 50 g de grãos, é suficiente para tornar o sangue e o coração mais saudáveis.

Em 2000, o Comitê de Nutrição da American Heart Association publicou uma declaração no jornal Circulatíon, recomendando oficialmente a inclusão na alimentação diária de 25 gramas ou mais de proteína de soja, na forma de suplemento proteico isolado (que mantém seus níveis de fitoquímicos intactos), como fator de proteção à saúde cardíaca. Esta recomendação coincide com uma recente declaração da FDA: "Vinte e cinco gramas diárias de proteína da soja, como parte de uma dieta de baixos teores de gorduras saturadas e de colesterol, pode reduzir os riscos de desenvolvimento de doenças cardíacas."

Hoje em dia, muitos países estudam a soja como um produto capaz de prevenir uma série de doenças, além de reabilitar doentes. Congressos médi-cos mundiais já incluem o grão em suas pautas de discussões, sinalizando-o como sinônimo de saúde. Pesquisas do mundo inteiro já confirmaram: as die-tas ricas em fibras e com baixos teores de gordura saturada, aliadas a exercícios físicos e a um estilo de vida saudável, podem auxiliar no controle da obesidade e proteger contra doenças cardiovasculares, câncer, osteoporose e diabetes.

Inúmeras pesquisas realizadas pela área médica no Japão, China, Estados Unidos e Europa comprovam cientificamente os benefícios da soja na preven-ção de doenças crônicas.

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Menopausa e câncer ginecológico

Há poucos anos, foi confirmado que o consumo dos derivados da soja é um importante hábito para o equilíbrio hormonal feminino e a proteção contra as doenças da próstata. A prática médica diária tem comprovado que a soja ate-nua os desconfortos do climatério, como suores noturnos e ondas de calor.

Os grãos de soja contêm isoflavonas, compostos singulares constituídos principalmente de genisteína, também chamado defitoestrógeno ou hormônio vegetal, que possui uma ação estrogênica moderada e atua na prevenção do câncer relacionado ao estrogênio. Pesquisas realizadas no Japão, Estados Uni-dos e Europa têm mostrado que a ingestão diária de alimentos à base de soja, como tofu (queijo de soja), misso, natto e tempeh, reduz os riscos de câncer de mama e próstata em 50%.

Osteoporose

Com o envelhecimento, as pessoas perdem cálcio, o que resulta, muitas ve-zes, em osteoporose. Na menopausa, esse processo se agrava com a defi-ciência hormonal ovariana. Devido a sua ação estrogênica, a genisteína da soja pode manter a estrutura óssea. Exames de densitometria óssea comprovam que o consumo do grão retarda a osteoporose decorrente da idade, como também reduz significativamente a perda óssea total.

Câncer

A soja e seus derivados também possuem uma ação preventiva quanto aos cânceres de cólon, reto, estômago e pulmão, fóra que os tumores aumentem seu tamanho, é necessário o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos. O bloqueio desse processo é visto como uma maneira potencialmente impor-tante para controlar o câncer. A genisteína também inibe a formação desses vasos e, conseqüentemente, o desenvolvimento dos tumores cancerígenos.

Em 1997, o Instituto Americano para Pesquisa do Câncer, em colaboração com seu afiliado internacional, o Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer, emitiu um relatório denominado Alimentação, nutrição e a prevenção do cân-cer: uma perspectiva global". Este relatório analisou mais de 4.500 pesquisas e estudos que envolveram a participação de mais de 120 colaboradores e revi-

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sores, incluindo participantes da Organização Mundial de Saúde, da Organiza-ção para Alimentação e /^ricultura das Nações Unidas (FAO), da Agência In-ternacional para a Pesquisa do Câncer e do Instituto Nacional do Câncer dos EUA. Em 2000, Riva Bitrum, presidente do Instituto Americano para a Pesquisa do Câncer, afirmou: "Estudos consistentes mostram de modo definitivo e encorajador que uma dose diária de alimento à base de soja contribui para uma redução do risco de câncer."

Profissionais de saúde do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Uni-dos descobriram uma redução de 70% da incidência de câncer de próstata entre homens que consomem alimentos à base de soja diariamente.

Diabetes e outras doenças

As fibras de soja exercem importante papel na regulação dos níveis de glicose no sangue, pois retardam sua absorção. Essa redução na velocidade assimilativa auxilia no controle do diabetes. Há evidências de que o consumo da soja tem efeito positivo no controle de outras doenças, como hipertensão, litíase (cál-culos biliares) e doenças renais.

Soja: herói ou vilão — A polêmica acabou

Atualmente a soja é um dos alimentos mais comentados, que suscita opiniões divergentes, com muitas correntes contraditórias e temas polêmicos. Classifi-cada por uns como um produto perigoso para a saúde e por outros como um recurso curativo e preventivo de muitas doenças, a soja tornou-se o assunto do dia, tanto no setor da nutrição quanto no da suplementação nutricional, atin-gindo inclusive o delicado e ainda obscuro campo da reposição hormonal. Di-ante dessa confusão, devemos refletir cuidadosamente e procurar conhecer as verdades inerentes a esse tema. Mas isso só é possível se estudarmos a ques-tão de modo não tendencioso e isento de preconceitos ou de opiniões pré-formadas.

A "maratona" da soja

É interessante saber como a maratona da soja começou no Ocidente, pois no Oriente o alimento é utilizado desde o passado mais remoto como um impor-

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tante recurso nutricional. Aqui, a soja começou a ser mais conhecida a partir dos anos 60, com a maior difusão da alimentação orgânica e da macrobiótica. No início, ela foi pouco utilizada fora desses círculos, até que nos Estados Uni-dos médicos começaram a perceber que o consumo da soja e de seus deriva-dos reduzia o risco de doenças cardíacas e de câncer. Além de ser considerada fator de melhor qualidade da vida biológica, ela se apresentava como um subs-tituto ideal da proteína anima!, na época já conhecida como transportadora de gorduras saturadas e de colesterol. Em 1999, um famoso artigo publicado no Time Magazine anunciou que pouco mais de 500 gramas de soja poderiam reduzir os níveis de colesterol. Outras evidências acabaram por mobilizar a FDA, que se mostrou convencido de que ela poderia prevenir ou mesmo curar doenças.

Assim, a soja começou a sua escalada rumo ao sucesso. As vendas do pro-duto, nos Estados Unidos, dispararam. Livros sobre a soja, o queijo de soja — o tofu —, etc., só vieram a firmar ainda mais a importância desse alimento.

Porém, cerca de vinte anos depois, diversas questões contra a soja já se acumulavam, não somente nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. Isso, no entanto, não abalou japoneses, chineses e coreanos, que continuaram a consumir o produto, confiantes e indiferentes à polêmica gerada no distante Ocidente.

Aqui, especialistas começaram a afirmar que a soja não passava de mera propaganda, sem base científica. Apontaram o grão e seus derivados como antinutrientes ricos em toxinas naturais contendo uma potente enzima capaz de inibir a ação datripsina e outras ligadas à digestão das proteínas. Afirmaram que o seu consumo poderia gerar sérios problemas, como perda da capacida-de digestiva dos sucos gastrointestinais e deficiência na assimilação dos ami-noácidos. A presença de antinutrientes poderia provocar carências minerais sérias, descalcificação, fraturas espontâneas, etc. Curiosamente, porém, esses fatos pareciam só aparecer nos inúmeros artigos e nos escassos estudos cientí-ficos, não entre as pessoas que consumiam a soja e seus derivados. Seus adeptos sempre se mostravam bem mais saudáveis que o cidadão comum, consumidor de carne e açúcar, vítima de doenças cardiovasculares e de câncer, principais responsáveis pelas mortes e pelas despesas com a "saúde". Mas precisamos entender o que estava acontecendo e o que existe de realidade nas afirmações dos antagonistas da soja.

A soja é, comprovadamente, um produto muito rico em proteínas e, preci-

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sãmente por isso, é consumido. É verdade também que a proteína da soja é menos digerível que a maior parte das proteínas de origem anima!. No entanto, a soja em forma de grão — aquela estudada pelos seus opositores — é rara-mente consumida. As formas mais comuns do produto são os seus derivados, como, por exemplo, o leite de soja, o tofu e o tempeh, cujo preparo toma a sua proteína tão digerível quanto qualquer proteína animal. Além disso, conforme já foi comprovado, retira dela fatores antinutrientes, como os fitatos, geralmente presentes na película que envolve o grão. Ademais, qualquer efeito negativo liga-do aos inibidores enzimáticos da proteína da soja é sempre fraco e irrelevante. Esses mesmos fatores estão presentes em outras leguminosas, como os feijões, as lentilhas, o grão-de-bico, sem que isso seja motivo para que eles não sejam tão largamente consumidos no mundo inteiro. O argumento de que a grande quantidade de soja consumida pelos aficcionados determinaria uma maior con-centração de fatores inibidores é até infantil. Primeiramente porque ela, confor-me vimos acima, quase nunca é consumida na forma de grão. Além disso, populações, como o povo brasileiro, que consomem grandes quantidades de feijão-preto — que, diga-se de passagem, contém mais inibidores enzimáticos do que a soja — não apresentam problemas digestivos em larga escala.

Nutricionistas e pesquisadores, utilizando métodos parciais de estudos, afir-mam que a soja contém hemaglutinina, um componente que pode produzir trombose pela aglutinação de células vermelhas do sangue humano. Afirmam também que a hemaglutinina e os inibidores datripsina são fatores que redu-zem o crescimento corporal. Dizem ainda que a soja contém goitrogenos — substâncias que reduzem a função tireoidiana. É bem verdade que ela possui essas substâncias, mas em quantidades tão insignificantes — tão inferiores ou iguais a, por exemplo, uma semente de girassol ou de milho —, que qualquer risco à saúde humana é afastado. Por outro lado, a carne animal contém uma quantidade tão grande de fatores realmente nocivos — capazes, estes sim, de produzir graves doenças (fato comprovado por pesquisas sérias) —, que esses supostos perigos da soja se transformam até em qualidades.

Conhecendo os interesses e a ambição dos comerciantes, criadores e pro-dutores de carne, sabemos quais são exatamente os "perigos do consumo da soja". Sabemos também que qualquer pesquisa científica, desde que não utili-ze ou aplique parâmetros metodológicos amplos, pode chegar à conclusão que bem quiser. Assim, existem centenas de "pesquisas" que podem ser direcio-nadas, obedecendo aos interesses dos seus financiadores.

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Falhas técnicas ocorridas em pesquisas podem melhor demonstrar o fato. Como o famoso caso Fallon e Enig, em que animais foram alimentados — ex-clusivamente, durante meses a fio — com uma absurda quantidade de feijão-soja integral. Os resultados mostraram que os animais "não se desenvolveram normalmente" e apresentaram "condições patológicas do pâncreas, incluindo câncer". Utilizar apenas um tipo de alimento — qualquer que seja ele — que não aquele naturalmente apropriado ou que faça parte do cardápio do animal, pode causar diversos danos. Em fato não foi considerado na pesquisa. Curioso é considerar que, se um ser humano for alimentado apenas com carne anima!, não consegue sobreviver por mais de 21 dias, morrendo devido a infecções generalizadas...

Além do mais, estudar a ação de qualquer alimento utilizando-se animais é um processo duvidoso, pois o organismo humano reage de modo diferente. Por exemplo, nos estudos de Fallon e Enig inibidores da protease, isolados da soja, mostraram-se capazes de desenvolver câncer em animais de laboratório. Só que esse estudo foi realizado com a aplicação de elevadas doses desses inibidores e, mesmo assim, testes semelhantes feitos com humanos, que con-sumiram grandes quantidades de soja, não demonstraram esse mesmo efeito. Ao contrário, em quantidades naturais eles se mostraram potentes inibidores dos cânceres de cólon, próstata e mama. De um modo geral, podemos inferir que qualquer organismo, que receba doses muito elevadas de uma mesma substância, durante muito tempo (e a referida pesquisa com animais se esten-deu durante meses..,), sofrerá profundas alterações bioquímicas e metabóli-cas, suficientes para produzir processos degenerativos semelhantes ao câncer.

Em 1985, a mesma pesquisa afirmou, nos Estados Unidos, que o consumo de soja aumentava o risco de câncer de pâncreas em ratos. No entanto, o Ins-tituto Nacional do Câncer mostrou que o pâncreas de animais como ratos e frangos são particularmente sensíveis aos inibidores da protease presentes na soja. Essa mesma sensibilidade não é encontrada no órgão humano ou no de outros animais como hamsters, camundongos, cães, porcos e macacos. De fato, enquanto ratos alimentados com soja mostram elevação do risco de cân-cer pancreático, a mesma doença tem a sua incidência reduzida entre grupos de humanos que consomem o mesmo alimento.

Geralmente, os estudos feitos com animais não levam em conta que, em nível molecular, as funções humanas podem ser muito diferentes. Na pesquisa feita com ratos, mencionada anteriormente, o organismo desses animais apre-

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sentou problemas com a soja, só que ela não cita que esses mesmos animais tiveram problemas nutricionais quando consumiram apenas leite humano. Ocorre que o leite humano tem apenas 5% de proteínas, enquanto que o dos ratos tem 45%. Isso mostra que as exigências nutricionais e as respostas orgâ-nicas são diferentes para as diversas espécies. O que é alimento para uma pode ser um veneno para outra. O mesmo se pode dizer das drogas. Atalidomida, por exemplo, que causou má-formação em centenas de bebês nascidos de mães que usaram a droga como sedativo, foi amplamente testada em animais e tida como segura.

A combinação entre fenfluramina e dexfenfluramina, utilizada recentemente por dietistas e antes testada em animais, mostrou-se segura a princípio, mas foi responsável por inúmeros casos de anormalidades cardíacas em humanos.

Outro exemplo aberrante é a droga Opren, meticulosamente testada em macacos e utilizada por um período como a "nova droga contra a artrite": matou 61 pessoas antes de ser banida do mercado. Há muitos outros casos seme-lhantes.

Aproximadamente um quarto das 427 substâncias testadas em ratos e ca-mundongos causaram câncer em camundongos, mas não em ratos, ou vice-versa, causaram câncer nos ratos, mas não nos camundongos.

Não apenas ratos e camundongos respondem diferentemente às mesmas substâncias e dosagens; muitos químicos que causam câncer em ratos e ca-mundongos não causam a mesma doença em framsters, Se substâncias têm efeitos diferentes em animais tão proximamente relacionados, podemos con-cluir que esses testes não têm como fornecer informações precisas sobre efei-tos cancerígenos em humanos

Em 1998, um artigo publicado na revista Nutrition Review, de autoria do Dr. K. O. Kline, do Departamento de Ciências Clínicas do Hospital Infantil Du Pont, em Delaware, Estados Unidos, afirmou: "Está perfeitamente claro, com comprovação na literatura médica, que diferentes espécies e diferentes tecidos orgânicos são afetados pela soja de modo diferente. Isso é particular-mente verificado no caso das isoflavonas da soja, frtoestrógenos (hormônios vegetais), que apresentam efeitos diferentes, mesmo em organismos huma-nos, de uma pessoa para outra." Portanto, estudos em animais envolvendo fitoestrógenos não podem ser conclusivos quanto aos seus efeitos em seres humanos.

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A soja não inibe a absorção de minerais

Alguns pesquisadores americanos, entre eles Fallon e Enig, estudaram a ação do ácido frtico presente na soja (e em quase todos as leguminosas, na película de cereais integrais, nas cascas de muitas frutas e em outros alimentos). O estudo con-cluiu, que essasubstância é capaz de inibir, no trato intestinal a absorção de minerais essenciais, como o cálcio, o magnésio, o cobre e, especialmente, o zinco. Foi men-donado inclusive que vegetarianos consumidores de queijo de soja, como substi-tuto da proteína animal e dos laticínios, estavam correndo o risco de desenvolver sérias carências minerais. Embora essas supostas carências nunca tenham sido verificadas de modo realmente significativo, a campanha contra a soja continuou. Houve "estudiosos" que definiram o bem-estar, a serenidade e a "iluminação espi-ritual" descritos por alguns vegetarianos como uma grave deficiência de zinco...

É bem verdade que os fitatos presentes nos grãos, sementes e castanhas podem reduzir a absorção de minerais nos intestinos, particularmente o zinco. No entanto, estudos mostram que isso só é possível se a pessoa ingerir gran-des quantidades desses alimentos — que apresentam, em sua maioria, suas próprias taxas de zinco e demais minerais. Uma deficiência poderia ocorrer se o indivíduo ingerisse apenas soja como alimento — e durante muito tempo. Embora, os fitatos estejam em maior concentração na película da soja, eles são retirados no preparo da maior parte dos seus subprodutos. Também é devido a esse aspecto que não se recomenda o uso isolado do farelo do trigo ou do arroz, mais ricos em fitatos. Ademais, quando o grão é consumido inteiro ou em farinhas integrais, os fitatos adquirem uma ação reguladora na ingestão de minerais, evitando assim o excesso de absorção, como um recurso harmo-nizador e equilibrante da natureza. Se essas substâncias fossem capazes de realmente produzir carências, como explicar que os alimentos ricos nesses componentes venham sendo consumidos há milênios pela humanidade sem que se tenha notícias dessas manifestações nos relatos médicos?

Vejamos agora um resumo sobre o tema, especificamente sobre cada mineral mencionado:

Zinco

Embora seja recomendado que os vegetarianos incluam alimentos ricos em zinco em sua dieta, os níveis desse mineral mostram-se normais nos cabelos,

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na saliva e no sangue de pessoas que optaram por esse tipo de alimentação sem se preocupar em fazer uso de alimentos ricos em zinco. A deficiência des-te elemento pode ser particularmente perigosa em gestantes, mas estudos atuais não apresentam diferenças significativas dos níveis de zinco entre gestantes vegetarianas e não vegetarianas.

De qualquer modo, recomenda-se que os adeptos do vegetarianismo mantenham uma suplementação baseada no IDR (índice diário recomen-dado), estabelecido pelas autoridades sanitárias internacionais e brasileiras, como um modo de prevenir a possibilidade de carências desse mineral. Esse procedimento reduz a preocupação quanto a busca de alimentos ricos em zinco.

Ferro

Dietas vegetarianas são muito mais ricas em vitamina C, que aumenta a absor-ção de ferro. Desse modo, mesmo sem ingerir carne animal (que possui um pouco deste mineral), e apesar da redução da absorção de ferro devido à ação dos fitatos, vegetarianos não têm maior tendência à deficiência ferrosa do que os não vegetarianos.

Cobre

As dietas vegetarianas tendem a apresentar maiores concentrações de cobre, o que compensa qualquer possibilidade de redução de absorção desse mineral pela ação dos fitatos. Vegetarianos, em geral, consomem maiores quantidades de cobre do que outros grupos.

Magnésio

Ainda que os teores mais elevados de fitatos da soja possam reduzir um pouco a absorção do magnésio, não importa; a alimentação vegetariana é marca-damente muito mais rica nesse importante mineral. Isso pode ser verificado ao se constatar que os níveis séricos de magnésio são maiores em vegetarianos do que em pessoas que comem carne regularmente.

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Cá Leio

O cálcio presente na soja é quase tão biodisponíve! quanto aquele presente no leite de vaca. Centenas de estudos têm demonstrado que vegetarianos oci-centais apresentam ossos mais saudáveis, um balanço de cálcio mais positivo, menor incidência de osteoporose do que carnívoros, além de índices mais baixos ce doenças cardíacas, câncer, hipertensão arterial, obesidade e diabetes, e uma expectativa de vida muito maior.

Atualmente, nos Estados Unidos, a completa adequação da dieta vegeta-riana é comprovada e documentada até mesmo por instituições que possuem interesse no comércio da carne, como é o caso da National Cattlemen's Beef Association. Numa declaração oficial, esse órgão afirmou que "uma dieta ve-getariana bem planejada pode oferecer os nutrientes diários necessários ao organismo humano".

O consumo de soja nos Estados Unidos, segundo dados oficiais publicados no American Journal of Nutrition, foi responsável por reduções significativas no lucro do comércio da came, na casa dos milhões de dólares anuais. Curiosamen-te, a propaganda contra a soja, desencadeada nos Estados Unidos a partir dos anos 80, reduziu esse prejuízo, favorecendo os criadores e comerciantes...

Se fôssemos acreditar nos artigos escritos por Fallon e Enig, praticamente todas as informações relativas aos benefícios da soja deveriam ser esquecidas. Por exemplo, o que dizer sobre a reputação da soja, confirmada pela FDA, de

| reduzir os níveis do colesterol? "Rara nós", dizem Fallon e Enig, "desistir do bife e comer hambúrgueres vegetais não vai reduzir os níveis do colesterol de san-gue." O núcleo de verdade na declaração é que o consumo de soja tende a reduzir o nível de colesterol total na maioria das pessoas cujos níveis são altos. Entretanto, mesmo indivíduos com níveis normais de colesterol se beneficiam ao comer mais soja, já que, segundo dezenas de estudos, isso melhora a razão entre o HDL (bom) e LDL (ruim) colesterol. Reconhecido pela American Heart Association, este fatortornou-se mais importante do que os níveis de colesterol total em relação aos riscos de desenvolvimento de doenças cardíacas,

A toxidade das isoflavonas isoladas da soja

Suplementos concentrados de soja têm efeitos diferentes dos alimentos deri-vados da soja. Cápsulas com concentrados de derivados, como as isoflavonas,

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por exemplo (usualmente a ginesteína e a daidzeina) podem conter quantida-des excessivas de compostos ativos. Embora não existam evidências cabais de que a ingestão de megadoses de isoflavonas possa afetar o organismo, fica cla-ro que não é sensato abusar dela. Uma orientação médica adequada é reco-mendada para as pessoas que desejam optar por uma reposição hormonal em bases vegetais.

Problemas reais com a soja

Obviamente não estamos nos referindo à soja comum, mas à soja transgênica, Esta, sim, tem problemas. Já mencionamos antes a questão da soja Roundup Ready, modificada geneticamente pela Monsanto, principal empresa de enge-nharia genética do mundo (citado no item 'A polêmica dos alimentos trans-gênicos"). Tudo o que foi dito sobre os riscos dos alimentos transgênicos vale para a soja modificada geneticamente. Convém acrescentar que, de acordo com pesquisas realizadas pela própria Monsanto, a soja Roundup Ready apre-senta 29% menos colina (nutriente cerebral) e 26% mais inibidores datripsina, cujo potencial alergênico é maior do que a da soja comum.

Os derivados da soja são freqüentemente prescritos pela sua composição rica em fitoestrógenos, mas ainda de acordo com testes da própria empresa, a soja RR tem menores níveis não só desse componente, como dafenilalanina, um aminoácido essencial ligado à síntese hormonal. Também as taxas de lecitina envolvidas com fatores alérgicos são duas vezes maiores na soja transgênica,

Portanto, a soja modificada geneticamente tem mais problemas e menos elementos favoráveis do que a comum. Por essa razão, o melhor é optar pela soja orgânica, evitando inclusive todos os produtos compostos que contenham soja transgênica, já apontados em capítulos anteriores.

Os produtos derivados da soja

Leite de soja

Trata-se de um alimento forte, com muita concentração de proteínas, vitami-nas e sais minerais, e baixos teores de inibidores da tripsina e de fitatos. No entanto, crianças recém-nascidas, idosos avançados e casos clínicos especiais

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só devem ingeri-lo sob orientação médica nutricinal. Adultos podem ingeri-lo com maior regularidade, Para crianças, aconselha-se o uso alimentar do leite de soja diluído em água. Contudo, pode ser um produto indigesto para alguns organismos com dificuldade de dissociar as proteínas da soja. De um modo geral, é um excelente recurso alimentar, que chega a ser muito pratico e per-mite associações variadas com frutas, mel, castanhas e legumes. Substitui com vantagem o leite de vaca em bolos, tortas e suflês, pavês, empadões, milkshakes,

sorvetes naturais, vitaminas, iogurtes, etc.

Leite de vaca versus leite de soja

A indústria de laticínios nos Estados Unidos também voltou as suas baterias contra o leite de soja. Durante um tempo tentou-se evitar a inclusão das bebi-das à base desse tipo de leite no importante guia de laticínios chamado Dietary

Guidelines for Americans. Fabricantes de bebidas de soja foram processados por usarem o termo "leite" em seus produtos, sob a alegação de que apenas as indústrias de laticínios teriam esse direito. Tentaram também manter as bebi-das feitas com leite de soja longe das prateleiras dos supermercados onde o leite de vaca era vendido. Um representante do National Milk Producers Federation afirmou que "o leite de soja e seus similares competem seriamente com os laticínios".

Durante muito tempo, a indústria de laticínios norte-americana gastou cen-tenas de milhares de dólares em propaganda, tentando convencer a popula-ção de que o leite de vaca era melhor que o leite de soja. Um exemplo é a citação do Dairy Bureau, que procurou comparar as propriedades nutritivas de ambos os produtos, afirmando, entre outros argumentos, que o leite de soja continha 50% do fósforo, 40% da riboflavina, 10% da vitamina A e 3 % do cálcio contidos no leite de vaca.

Brenda Davis, dietista e ex-catedrática da American Dietetic Association's

Vegetarian Practice Group, disse não se impressionar com a propaganda da in-dústria de laticínios, afirmando: "Pode-se obter todo o fósforo necessário atra-vés de vários alimentos comuns, até mesmo além das necessidades, o que pode ser perigoso. Fornecer apenas metade da quantidade de fósforo presente no leite de vaca é uma vantagem, não uma desvantagem. 'Apenas 40% de riboflavina? Não é necessário se preocupar com ela, pois o nutriente está sig-nificativamente presente nas folhas verdes, castanhas, cereais, legumes, etc. O

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que dizer do pão branco, que tem 90% menos riboflavina que o pão integral, e ainda assim ninguém deixa de comê-lo regularmente? O mesmo raciocínio vale para a vitamina A. Mas a verdade tem de ser dita: o leite de vaca também não tem vitamina A. A propaganda não diz que ela tem de ser acrescentada ao leite... Quanto ao cálcio, é uma grande mentira da indústria de laticínios afirmar que o leite de soja tem apenas 3 % do cálcio presente no leite de vaca. A soja tem mais cálcio que o leite de vaca, como provam as tabelas disponíveis. Os produtos à base de soja comercializados no mercado norte-americano podem comprovar isso. Basta observar os seus rótulos. Por exemplo, o Westsoy P/us e o Vitasoy Enriched fornecem 100% a mais de cálcio que o leite de vaca co-mum; o Pacific Soy, 95%; o Edensoy Extra fornece 67% a mais. E importante afirmar que aqui, neste país, os rótulos não mentem..."

Agora vejamos o que a indústria de laticínios esconde quanto às desvanta-gens do leite de vaca, comparado ao leite de soja:

O leite de vaca comum possui cerca de nove vezes mais gorduras saturadas, capazes de contribuir diretamente para as doenças cardíacas e muitas outras. O leite de soja, ao contrário, fornece dez vezes mais ácidos graxos essenciais, insaturados, do que o leite de vaca. O leite de soja é livre de colesterol, enquanto que o leite de vaca co-mum contém 34 mg de colesterol por xícara, sendo portanto, capaz de promover doenças circulatórias. O leite de soja contém pouquíssimo LDL-colesterol (o mau colesterol), enquanto o leite de vaca possui em taxas elevadas. O leite de vaca não contém fitoestrógenos, capazes de prevenir o cân-cer e as doenças cardiovasculares, como ocorre com o leite de soja. Homens que consomem leite de soja diariamente têm 70% menos chance de desenvolver câncer de próstata. O consumo de leite de vaca, ao contrário, é tido como um dos fatores que têm promovido a eleva-ção da incidência da doença no mundo inteiro.

No Brasil existem muitos produtos à base de leite de soja disponíveis, não so-mente nos entrepostos de produtos naturais, mas nos supermercados. No entanto, recomenda-se optar por aqueles produzidos com soja integral e or-gânica, feitos em casa ou artesanalmente, por serem muito mais saudáveis. Diversos produtos industrializados, feitos com leite de soja e disponíveis no

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comércio, contém açúcar branco, aromatizantes artificiais e conservantes (nitritos, sulfitos, etc.)- É preciso tomar cuidado. O melhor é aprender afazer o leite de soja e o tofu em casa, observando a seguinte receita:

Preparo do leite de soja

Deixe de molho, na véspera, a quantidade de soja que deseja transformar em leite. Geralmente meio quilo de grãos transforma-se em pouco mais de um litro de leite. No dia seguinte, jogue fora a água e retire manualmente a maior quantidade possível das películas translúcidas dos grãos. Passe-os aos poucos no liqüidificador, acrescentando sempre um pouco de água para permitir que sejam transformados numa pasta bem pouco densa, quase líquida. Vá reser-vando a quantidade de soja liquefeita num recipiente à medida que ela é passa-da no liqüidificador. Não é aconselhável encher o copo do aparelho com grãos. Depois de toda a soja estar transformada em pasta líquida, leve-a ao fogo numa panela grande. Mantenha fogo brando até levantar fervura. Depois de algum tempo é possível notar a presença de uma espuma banca sobrenadante. Ela deve ser retirada com uma escumadeira à medida que for surgindo, pois trata-se de um produto tóxico. Por esta razão, desaconselha-se a utilização dos lei-tes de soja em pó ou microtexturizados disponíveis no comércio: eles são preparados com a película e contêm elementos tóxicos e antinutrientes muito concentrados. A retirada dessa espuma torna o leite de soja muito mais assimilável e nutritivo.

Depois de uma prolongada fervura de mais de uma hora, desligue o fogo e espere que ela esfrie. É importante que a quantidade de água acrescentada aos grãos durante a liquefação não seja muito escassa, de modo a evitar que o pre-paro seque demais na fervura. Caso isso aconteça, acrescente água à medida que o produto apresentar ressecamento.

Já frio, use um coador de pano limpo para filtrar o preparo. Aquilo que passar através do pano já é o leite de soja; a massa restante não deve ser mais misturada ao líquido. Com ela podem ser feitos diversos pratos saborosos e nutritivos, como croquetes, pastéis, refogados, etc.

O produto resultante do processo é geralmente um líquido amarelado forte. Comumente, ele exige uma diluição em partes iguais de água, mas isso vai depender do teor do leite, como resultado da habilidade do cozinheiro. No princípio não é muito fácil produzir o leite, mas só a experiência pode aprimo-

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rar a prática. Podem ser feitas grandes quantidades, mantidas em geladeira por um tempo considerável. Tomado puro ou com mel, quente ou frio, asseme-lha-se de algum modo ao sabor do leite de vaca,

Tofu, ou queijo de soja

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E preparado a partir do leite de soja talhado, acondicionado em forma especial. Seu sabor aproxima-se mais ao da ricota, mas os menos avisados devem saber que o tofu está longe de ter sabor de queijo. Raramente é consumido puro, devendo ser temperado e/ou acrescido a outros pratos, como refogados, pas-téis, empadões, assados, patês vegetais, sopas, etc.

O tofu é também concentrado em proteínas, sem a presença de inibidores da tripsina e dos fitatos do grão da soja.

Na culinária japonesa acrescenta-se habitualmente um tempero feito com um pouco de shoyu e gengibre ralado. Usado milenarmente no Oriente, mas já muito difundido no Ocidente, o tofu é uma importante fonte de nutrientes e

/

um bom substituto para a proteína animal. E vendido nos entrepostos natura-listas e nas casas de alimentos japoneses. Há uma variedade sem aditivos, mais recomendada, e uma outra que contém ácido acético, não muito saudável mas tolerável. Pode ser produzido em casa, mas isso exige algum trabalho e tempo disponível.

Preparo do tofu caseiro

Prepare dois litros de leite de soja. Com o produto frio, acrescente uma colher de sopa de sumo de limão peneirado. Deixe descansar por várias horas em ambiente não muito frio. Depois, coloque o leite talhado nas fôrmas apropria-das ao queijo de soja (disponíveis no comércio especializado). O tofu estará pronto em geralmente 24 horas. Há uma possibilidade de se encontrar o tofu defumado, especiaria deliciosa com a qual temperam-se feijões, guisados e muitos outros pratos.

Proteína texturizada de soja

Obtida do grão da soja, após o processo de extração do seu óleo, a proteína ou "carne de soja", como é popularmente conhecida, é constituída em média

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de 53% de proteína de alto valor biológico. Absorve o sabor dos temperos facilmente, e por ser um produto pré-cozido, necessita apenas ser hidratada em água morna por 5 minutos, dispensando cozimento prolongado.

Por ser extremamente versátil na sua aplicação culinária, pode substituir a carne moída em diversas preparações, como estrogonofe, feijoada vegetaria-na, hambúrgueres, croquetes, picadinhos, recheios, caçarolas, sopas, refoga-dos, etc. (Ver receitas mais adiante.)

Tabela nutricional da proteína texturízada de soja (para

aproximadamente 100 gramas)

Calorias 280 Niacina 3,0 mg

Proteínas 53 g Zinco 5,5 mg

Lipídios l,0g Potássio 2.200 mg

Glicídios 31 g Cálcio 340 mg

Vitamina BI 0,6 mg Fósforo 700 mg

Vitamina B2 0,33 mg Ferro 8,0 mg

Vitamina B6 0,50 mg Manganês 2,6 mg

Ácido Fólico 0,35 mg Fibras 3,0 g Acido Pantotênico 0,33 mg Colesterol 0 mg Biotina 0,07 mg

Misso

O misso é um importante alimento de uso milenar no Extremo Oriente. É pre-parado com uma mistura bem balanceada de soja, cereais integrais e sal mari-nho, deixada para fermentar em recipientes de madeira durante um tempo, que varia entre um e seis meses. O produto final é uma pasta salgada de aspec-to castanho e aroma parecido com o vinho tinto envelhecido. O gosto é mo-deradamente salgado/adstringente. É usado tradicionalmente em cremes, sopas, caldos, pastas, patês, saladas, refogados, como molho para macarronada, assa-dos e em diversos outros pratos.

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Os diversos componentes do misso, resultantes do longo processo de fer-mentação salina, tais como o ácido láctico, o ácido linolênico, a lecitina, a metionina, etc., fazem dele não apenas uma apurada fonte de proteínas e nu-trientes, mas um poderoso agente medicinal. Mesmo usado em pequenas quantidades, tem ação desintoxicante, depurativa e protetora do organismo.

Estudos muito recentes mostraram a capacidade deste alimento em comba-ter as radiações atômicas. Tem ainda ação antiinflamatória, é despoluente, facilita a digestão em geral, limpa os resíduos intestinais, reconstituindo a flora intestinal e restaurando a jovialidade da pele. É um dos segredos dos orientais para a ma-nutenção da beleza da pele e o combate ao envelhecimento precoce. Sendo tônico e fortificante, é indicado para todos os tipos de dieta, para o tratamento e para a prevenção da anemia, das fraquezas orgânicas, durante as convalescenças, doenças espoliativas e carenciais. Além disso, purifica o sangue e os tecidos em geral, ativa os intestinos e é um bom antiaiérgico. Previne a arteriosclerose e, apesar de possuir sódio, é utilizado no combate à hipertensão arterial. Fortifica o fígado combatendo os maus efeitos da nicotina e do álcool. Nos tempos atuais, configu-ra-se como um excelente recurso remineraiizante na luta contra o estresse e seus efeitos deletérios.

O misso favorece o crescimento de bactérias intestinais amigas, que pro-movem a boa função do ambiente digestivo. Seu processo de fermentação desativa os inibidores da tripsina e a ação dos fitatos.

O misso mais recomendável é o orgânico, preparado a partir dos grãos de soja, de cereais sem agrotóxicos e do sal marinho puro. E melhor consumir o de preparo caseiro, seguindo a receita a seguir. No comércio, podem ser en-contrados vários tipos de misso, mas devem-se evitar os industrializados, que comumente contêm açúcar branco e glutamato monossódico.

No preparo dos alimentos, é conveniente não ferver aqueles que contêm misso, pois a fervura pode reduzir seu poder nutritivo e medicinal. E preferível acrescentá-lo apenas depois que os pratos já estiverem prontos.

Shoyo, ou molho de soja

Também conhecido como Tamari, o molho de soja é um produto resultante da fermentação do misso, apresentando propriedades nutritivas e medicinais muito semelhantes a ele. O shoyo brota regularmente na massa de soja e ce-reais, em meio à fermentação salina.

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No comércio, o shoyo, ou molho de soja, pode ser encontrado indus-trializado e acrescido de produtos químicos como aditivos. O ideal é aquele produzido e conservado naturalmente, caracteristicamente mais diluído e sal-gado (menos saboroso) que o shoyu industrializado, xaroposo, denso e mais forte, rico em açúcar branco.

Tempeh

É preparado a partir dos grãos da soja descascados, triturados, pré-cozidos e, em seguida, inoculados com o fundo alimentício risopus oligosporus. É apre-sentado em tabletes pequenos que apresentam pedaços visíveis de grãos de soja ligados por uma massa esbranquiçada. De sabor excelente, tem um pa-ladar que lembra o do bacon. Pode ser consumido depois de ligeiramente aquecido, frito, cozido ou assado. Com ele podem ser feitos todos os pratos que a criatividade culinária permite, principalmente pizzas, sanduíches, tor-tas, etc.

O tempeh é um alimento secular da Indonésia, introduzido há algumas décadas no Ocidente, sendo hoje muito consumido em vários países da Europa, no Japão e nos Estados Unidos. No Brasil, ainda é muito pouco conhecido e pode ser encontrado nas boas casas de alimentos naturais e macrobióticos.

Trata-se de um produto extremamente concentrado em proteínas e fibras, capaz de reduzir expressivamente os inibidores datripsina e os fitatos da soja.

Graças à ação do risopus oligosporus sobre a soja, produz-se a importante vitamina B12, que é rara entre os alimentos naturais, mas encontrada em abun-dância no fígado animal, nos rins, na carne em geral, nos ovos e nos laticínios. A vitamina BI 2 é basicamente um nutriente resultante da elaboração do orga-nismo. Um metabolismo saudável consegue elaborar a vitamina a partir de compostos simples presentes nos vegetais em geral, sem a necessidade de ingestão de derivados animais. Ocorre, porém, que os organismos acostuma-dos a adquirir a vitamina B12 da fonte animal reduzem a capacidade de síntese do nutriente, daí a possibilidade do surgimento de carências e anemia durante as fases de transições dietéticas. A vitamina B12 é essencial na fisiologia das células vermelhas do sangue. Sua redução produz anemia megaloblástica e outros problemas.

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O tempeh, rico em vitamina B12, proteínas e muitos minerais, é um ali-mento forte e preventivo de várias doenças carenciais.

Composição do tempeh (por 100 gramas do produto)

Proteínas 18 gramas (a carne tem cerca de 20)

Lipídios 5,3 gramas (a carne tem cerca de 10 a 30 gramas de gorduras saturadas e colesterol; o tempeh, somente lecitina e ácido linolênico de fácil assimilação)

Carboidratos 9,4 gramas

Fibras 4 gramas (a carne tem 0)

Vitaminas E, BI, B2, B6e BI 2, ácido fólico (a carne não teme pode produzir a anemia perniciosa), ácido pantotênico.

Minerais Cálcio, potássio, fósforo, ferro, magnésio, zinco e outros.

Outros produtos feitos com a soja

A soja permite um sem-número de receitas que a criatividade é capaz de gerar. Por exemplo, pode-se fritar os grãos da soja e temperá-los com várias ervas e condimentos, o que produz um excelente acompanhamento.

A manteiga de soja, o patê de soja (que pode ser feito com tofu) e sorve-tes de soja, mais raros no Brasil, são muito comuns nos Estados Unidos e no Japão

"Alimentos funcionais" — Uma novidade muito antiga

Recentemente, o Ministério da Saúde no Brasil criou uma nova classifica-ção para alguns alimentos: os chamados "alimentos funcionais", ou nutra-cêuticos, são aqueles que, além de cumprirem sua função nutricional básica, contêm compostos que trazem benefícios à saúde e podem auxiliar na pre-venção e redução de doenças crônico-degenerativas. Nesse grupo, estão alimentos que possuem outros componentes com grande capacidade pro-

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tetora da saúde, como o alho, a semente da linhaça, os cereais, a soja, os vegetais da família dos crucíferos, alguns produtos lácteos, etc. todos eles receberam o status de "medicamento" e têm sido classificados como ali-mentos funcionais.

A classificação do Ministério da Saúde, contudo, é apenas mais uma classi-ficação. Na verdade, todo alimento natural não processado industrialmente pode ser classificado como "funcional", já que contém elementos importantes para a saúde, como vitaminas, minerais, enzimas, fibras, etc. Em contrapartida, foram também classificados os "não-funcionais", alimentos que, por "algum" motivo, não possuem todos os componentes de sua estrutura original. Seriam aqueles que "não funcionam mais"...

Sugeriríamos ao Ministério da Saúde uma classificação mais coerente: alimentos naturais e alimentos modificados pelo homem. Sim, pois desde que o homem passou a interferir na comida, seja por meio de aditivos sin-téticos, "defensivos" agrícolas, irradiação, conservação química, transgenia, etc. — , houve redução de nutrientes e de elementos na estrutura daquilo que comemos. Chega a ser irônico criar a classificação de "alimento funcio-nal" para aquilo que, há milênios, sempre "funcionou", ou seja, sempre foi natural e, sendo assim, é capaz de fornecener ao organismo o que ele pre-cisa. E o que o organismo necessita são os nutrientes e princípios ativos que a industrialização lhes retira. Quanto à capacidade "medicinal" dos ali-mentos "funcionais", isso só é novidade para o Ministério da Saúde e para a medicina oficial em sua ala conservadora, que demonstram estar muito mal informados sobre a História. Até mesmo Hipócrates, o Pai da Medici-na, já sabia disso há quase 25 séculos: a melhor medicina é a prevenção por meio de alimentos que cumprem completamente as suas funções no organismo.

Cereais integrais

Todos os cereais integrais são benéficos ao organismo, representando uma fonte natural de energia vital, de energia química (carboidratos), de gordu-ras essenciais, de vitaminas, proteínas, minerais e microminerais (oligo-elementos).

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Arroz integral

O arroz integral é altamente nutritivo, sendo um dos poucos alimentos que oferece 12 aminoácidos básicos em sua cadeia protéica. Além disso, é rico em carboidratos, vitaminas do complexo B, minerais e gorduras poliinsaturadas. Recentemente, com o advento da medicina ortomolecular, descobriu-se que o arroz integral é um dos alimentos de maior poder antioxidante, sendo po-tencialmente capaz de reduzir os radicais livres do organismo.

Trigo

Graças à sua riqueza em ácido glutâmico, o trigo é conhecido como o alimento que realça a inteligência, a criatividade e o raciocínio. A grande quantidade de vitaminas, proteínas (perde apenas para o arroz), óleos essenciais, etc. man-tém a resistência física e a energia corporal.

O trigo é também usado em suas partes isoladas, tais como o farelo (fibras da película), a farinha (para o pão, etc.), a sêmola, o gérmen e o glúten (parte protéica separada do amido).

Valor nutritivo do pão de trigo integral em relação ao pão branco

Calorias 0% a mais Proteínas 10% a mais

Cálcio 20% a mais Ferro 30% a mais Tiamina / Ribofiavina / Niacina 40% a mais

Glúten

Também chamado se/ton ou simplesmente "carne vegetal de trigo". Trata-se de uma matéria viscosa, castanha, obtida com a retirada do amido da farinha integral do trigo na água. É uma ótima fonte de proteínas, principal-

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mente da gliadína e da gluteina que, apesar de serem proteínas simples, contêm uma boa carga de aminoácidos. Sendo assim, o glúten é um ali-mento nutritivo, de grande importância na alimentação natural. Com ele produzem-se bifes vegetais e outros tipos de alimentos que imitam a car-ne, tanto no aspecto quanto no sabor (que é aproximado). É uma opção para diversos pratos, como bifes acebolados, sanduíches, estrogonofe, as-sados, churrasco e todos aqueles em que se costuma usar carne animal. O produto pode ser encontrado pronto para uso nos entrepostos apropria-dos ou pode ser preparado facilmente em casa,

Trígo-sarraceno

*

Também conhecido como trigo mourisco, mouro ou cashe. É um grão muito rico em cálcio, muito mais que o trigo comum e o arroz. Em 100 gramas de trigo-sarraceno há I I4 miligramas de cálcio, enquanto que a mesma quantida-de de trigo e de arroz possui 36 e I I miligramas, respectivamente. Por esta razão, é recomendado para crianças raquíticas, descalcificadas, adolescentes em franco crescimento, convalescentes e gestantes. Não tem a mesma quantida-de de vitaminas e de proteínas que o trigo comum, mas possui dosagens maio-res de triptofânío e sintomina do que qualquer outro cereal (inclusive maiores que a carne animal). Também contem ácido glutâmico e microminerais em porções razoáveis. Pela sua grande quantidade de zinco, é importante no com-bate e na prevenção do estresse.

Centeio

Embora não seja um cereal tão rico em glúten, aminoácidos e vitamina B3 quanto o trigo, o centeio é um excelente alimento, usado há milênios na confecção de pães. Os povos que costumam usá-lo têm menor incidência de doenças cardiovasculares, por isto ele é indicado para os casos de hipertensão arterial, doenças cardíacas, arteriosclerose, etc.

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Cevada

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E talvez o mais antigo cereal usado como alimento pelo homem. Suas pro-priedades nutritivas assemelham-se às do trigo, sendo também rica em cálcio, potássio e fósforo. Muito recomendada para atletas, pessoas em fase de cres-cimento e como restaurador do equilíbrio nervoso.

Aveia

É também um cereal de grande importância, cujo uso como alimento bási-co é tão antigo quanto a humanidade. Altamente energético, sua composi-ção de nutrientes assemelha-se a do trigo. Por ser rica em manganês, é particularmente recomendada no tratamento e na prevenção da anemia causada por falta de ferro ou por perdas sanguíneas. Os escoceses usam a aveia como fonte energética há milênios. Os hunos, famosos pela resistên-cia física, contavam apenas com a aveia como ração durante as campanhas de guerra.

Milho

O milho não é tão rico em nutrientes quanto os alimentos que acabamos de citar. Possui menos vitaminas do complexo B que o trigo, o centeio, a cevada e o arroz, e sua proteína — a zeína — tem menos aminoácidos. No entanto, o milho foi extremamente importante como base alimentar dos povos pré-co-lombianos da América. Sua poderosa carga de energia vital e magnética o dife-rencia bastante dos demais.

Painço

É uma semente bem pequena, da mesma família do sorgo. Rica em fósforo, magnésio e cálcio, é muito recomendada contra doenças nervosas.

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Linhaça

Nome aplicado às sementes dó linho. A linhaça tradicional é uma semente marrom escura e luzidia, pequena, pouco maior que o gergelim. Atualmente se cultiva a semente dourada do linho, muito mais rica em ômega 3 e ácidos graxos insaturados. Rica em fibras digeríveis, principalmente a lignina, protege contra o câncer e as doenças femininas em geral. Muito rica em vitaminas, mi-nerais e aminoácidos, é hoje um grande recurso nutricional. A semente apre-senta também fibras não digeríveis, o que confere à linhaça propriedades ativadoras dos intestinos, sendo muito útil contra a prisão de ventre.

Composição nutricional das sementes de linho

(Porção recomendada por dia: 25-46g)

Análise em I00g RDA

Calorias: 333 kcal 2.000 kca)

Proteínas: 22,0 g 37 g (ou 0,8 a 1,4 g/kg/dia)

Carboidratos: 10,1 g 50 a 60% das calorias totais

Gorduras: 36,2 g 20 a 30% das calorias totais

Fibras: 2l,94g solúveis e insolúveis — 20 a 30 g

Colesterol: 0g menos de 300 a 200 mg

Ômega-3: 16,51 g 1,0 a 1,5 g

Ômega-6: 5,74 g 4,0 g

Vitaminas RDA

A: 18,47 Ul 2,500 Ul

E: 128,2 Ul I0UI

B1: 0,6 mg l,0mg

B2: 3,26 mg 1,2 mg

B3: 4,78 mg 13 mg

B6: 0,86 mg 2,0 mg

BI2: 0,65 mg 2,0 mg

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Composição nutricional das sementes de linho

(Porção recomendada por dia: 25-46g) (Cont.)

Minerais RDA Potássio: 777 mg 1,9 —5,6 mg Sódio: 253 mg 1,1 a 3,3 mg Magnésio: 3720 mg 300 mg Fósforo: 6.551 mg 800 mg Ferro: 2,2 mg 5 — 9 mg Cobre: 14,4 mg 2 — 3 mg Zinco: 46,2 mg 15 mg Manganês: 33,3 mg 2,5 — 5 mg Selênio: 0,64 mg 70 mcg Cromo: 0,24 mg 50 a 200 mcg

Aminoácidos

Acido aspártico; 10,35 g Serina: 3,99 g Ácido glutâmico: 21,92 g Proiina: 4,48 g Glicina: 6,52 g Alanina: 4,87 g Cistina: 1,48 g Valina: 4,64 g Metionina: 1,28 g Isoleucina: 3,83 g Leucina: 6,18 g Tirosina: 2,52 g Feniíalanina: 4,99 g Lisina: 4,64 g Histídina: 2.12 g Triptofano: 0,41 g

Arginina: 10,47 g

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:, Legumes, raízes e tubérculos

Da família das crucíferas. Como alimento é rico em iodo, cálcio e magnésio. Útil como condimento, contém vitamina B I . Possui efei-to tonificante e digestivo. Rico em cálcio e magnésio. Como alimento, é mais utilizada sob a forma de brotos germinados (ver Brotos). O broto de alfafa é reconsti-tuinte, indicado para os casos de anemia, fraquezas, falta de apetite e má digestão. Ou manjericão. Tem ação tônica, útil no combate ao can-saço físico e à debilidade orgânica geral. Raiz de efeito tônico, rica em vitaminas, aminoácidos, cálcio e zinco.

-doce Tubérculo rico em vitaminas (BI , B2, e C), fécula (15%) e açúcar (10%). Como alimento, o bulbo tem ação mineralizante, alca-linizante e levemente laxante. (6asella rubra). Como alimento (refogada como espina-fre), é uma rica fonte de clorofila, iodo, ferro, cálcio, vita-minas e aminoácidos, sendo quase semelhante ao espinafre em sabor e propriedades nutritivas. A porcentagem de sacarina da "beterraba de açúcar" é de 12% a 16%. A da forrageira, de 2 % a 6%. Rica em betaína, é um dos mais modernos recursos antioxidantes, combatendo os radicais livres e prevenindo o câncer e as doenças hepáticas. Rica em sulfureto de alilo, substâncias hidrocarbonadas, fermentos e sais orgânicos, contém vitaminas A, BI e C. Ingerida crua, a cebola é um forte depurativo e desintoxicante, sendo atualmente utilizada desta forma no combate ao excesso de colesterol e de ácido úrico (sumo cru). Rica em cálcio, magnésio, iodo, ferro, manganês e zinco, (Siphytum officinalis). Utilizado há milênios pelos povos

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orientais, tem ação antianêmica, tônica, mineralizante. É um alimento rico em ferro, magnésio, iodo, cálcio, ami-noácidos, proteínas e vitaminas, da família das crucíferas, é rica em vitamina K, cálcio, magnésio e outros nutrientes. (Taraxacum offiónale). Pode ser usado como alimento em saladas cruas, sendo uma fonte vegetal de iodo e de di-versos minerais. Um dos recursos vegetais mais utilizados pela humanida-de, desde os tempos mais remotos, é muito rico em vi-tamina C. Como condimento, auxilia a ação das enzimas digestivas, sendo aplicado contra a dispepsia e a flatulência. O girassol é uma flor gigante, Das suas sementes extrai-se um óleo bruto, fino, de excelente digestibilidade, mui-to nutritivo e rico em ácidosgraxos insaturados, proteínas e lipoproteínas. 0Colocam esculenta). Tubérculo de grande valor alimen-tício, é muito rico em minerais e oligoelementos. Utiliza-do largamente como remédio na medicina natural, antiga, doméstica e indígena. Como alimento, tem ação mineralizante, protetora he-pática e eupéptica. Designação que abrange diversas plantas da família das crucíferas. As mais conhecidas são a mostarda branca (Sinapis alba) e a mostarda negra (Sinapis nigra). Suas fo-lhas frescas podem ser comidas refogadas ou em saladas cruas, constituindo uma boa fonte de iodo, ferro, cálcio e fósforo. Como tempero, tem ação digestiva, tônica e fortificante. (Sonchus oleraceus). Em muitas regiões a serralha é uti-lizada como alimento (refogada ou em saladas cruas), sendo uma excelente fonte de cálcio, manganês, ferro, iodo, vitaminas e enzimas. Fortalece a visão é um exce-lente recurso contra a anemia, as carências minerais ou vitamínicas.

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Frutas — A comida que é o melhor remédio

Abacate

Acerola (Malpighia glabra)

Ameixa (Prunus domestica)

Como alimento, é uma fruta nutritiva, digesti-va, antiinflamatória, rica em vitaminas, minerais e aminoácidos. Costuma ser usada nos casos de reumatismo, gota, afecções renais e hepáti-cas, obstipação intestinal. Combate os males

produzidos pelo hábito de comer carne, as per-turbações digestivas, a prisão de ventre, as flatulências, os abscessos estomacais, o reuma-tismo, a gota, as afecções dos rins, do fígado, da pele, etc. É uma das frutas mais nutritivas que existem; tem quatro vezes mais valor nutritivo que os outros frutos, exceto a banana. Nele se encontram quase todas as vitaminas, inclusive a vitamina C, uma das mais importantes. Por conter pouco açúcar e quase nenhum amido, o abacate é muito recomendável aos diabéti-cos. Ao contrário do que sucede com os gor-duras animais, suas abundantes substâncias gordurosas não são prejudiciais, pois a fruta é rica em gorduras insaturadas. É considerada a fruta com maior teor de vita-mina C. Para cada 100g de polpa existem de 2.000 a 5.000mg de vitamina C, quantidade cem vezes maior do que a contida no limão. É vitaminizante, antianêmica, adstringente, aperiente, cicatrizante, antiinflamatória e mi-neralizante.

Graças ao seu conteúdo rico em magnésio, sódio e potássio, a ameixa é laxativa, sendo recomendada contra a prisão de ventre. Pela sua elevada taxa de fósforo é muito utilizada nos casos de fraqueza geral, especialmente quando ocorre debilidade cerebral. A ameixa fresca é um agente terapêutico que age con-

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Amêndoa (Prunus amygdalus)

tra as enfermidades causadas pelos ácidos oriundos de uma alimentação baseada em muita proteína— principalmente o ácido úrico —, tais como o reumatismo, a artrite, a gota, a arteriosclerose, a nefrite, etc. O fruto comido regularmente e bem mastiga-do é muito benéfico contra a acidez ou úlcera gástrica. Nestes casos, podemos associá-la a um pouco de mel, suco de couve, agrião ou algu-mas outras hortaliças. O leite de amêndoas é um valioso alimento nos casos de anemia, atuando contra as afecções das vias respirató-rias e o diabetes. A amêndoa é um bom tônico do sistema nervoso. Murto nutritiva, é riquíssima em gorduras insaturadas e lipoproteínas. Suas proteínas, de alto valor biológico, são um subs-tituto da carne.

Como preparar o nutritivo leite de amêndoas

Mergulhe uns 50 ou 60 gramas de amêndoas em água fria durante várias ho-ras, ou então escalde-as com água fervente, para remover mais facilmente a película. Uma vez peladas, triture-as com um pilão até transformá-las numa pasta. Acrescente água aos poucos, sem deixar de amassar. Deixe o conteúdo repousar durante umas três horas, depois passe-o por uma peneira fina. As partículas maiores, presas na superfície da peneira, devem ser novamente tri-turadas, até que se tenha aproveitado praticamente toda a porção de amên-doas. Se quiser aromatize o refresco com casca de limão e adoce-o com mel. É um alimento de grande poder nutritivo que, embora semelhante ao leite de vaca, supera-o em alguns nutrientes. Para melhor conservá-lo, guarde-o na geladeira ou no congelador.

Avelã Fruto da aveleira, árvore da família das betuláceas, é uma pequena castanha usa-da como alimento no mundo inteiro. É muito oleosa e rica em vitaminas B I , B2 eC .

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Azeitona

Banana

Carambola (Averrhoa carambola)

Castanha (Castanea vulgaris)

A azeitona é um alimento excelente para os órgãos internos, recomendada aos tuberculosos e aos que sofrem de outras doenças pulmonares, principalmente a asma. As azeitonas pretas, laxativas, pa-recem possuir um efeito medicinal supe-rior às verdes, adstringentes. Existem no mundo mais de 30 varieda-des de bananas. Representa um alimen-to importante para muitas comunidades e povos, graças aos seus componentes nutritivos, entre vitaminas, aminoácidos e sais minerais, como cálcio, potássio, sódio, fósforo, cloro, magnésio, enxofre, silício. A banana contém vitaminas A, BI , B2, B5, (niacina) e C, entre outras. Nas diversas variedades, a vitamina A se encontra na proporção de 200 a 300 Ul em cada 100 g. O teor de vitamina C também varia, de um tipo para outro. Assim, em cada 100 gramas, a banana-d agua possui 6,4 mg; a maçã, 12,7 mg; a figo, 15,3 mg; a prata, 17,3 mg; a ouro, 9,4 mg. Fruto da caramboleira, uma pequena ár-vore originária da índia, muito rico em fós-foro e ácido oxálico. O suco da fruta é um excelente febrífugo e atua contra o pres-são alta.

Trata-se de um alimento energético por excelência, indicado para os anêmicos, debilitados, tuberculosos e convalescen-tes, e também para os doentes do fígado e dos rins. Aumenta a secreção de leite nas lactantes.

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Castanha-do-pará

(Bertholletía excelsa)

Coco

Dendê (Elaeis guineensis)

Seu teor de proteínas se equipara à das amêndoas, nozes e avelãs. Contém a excelsina, uma proteína de alto valor bi-ológico, considerada quase completa. Assim como as amêndoas, é possível preparar um leite muito nutritivo das castanhas-do-pará, de sabor e teor vita-mínico semelhantes aos do leite de vaca. A farinha parcialmente desengor-durada desta castanha tem a seguinte composição: água, 7,6%; hidratos de carbono, 13,6%; proteínas, 33,5%; gor-duras, 38,5%.

A água e o leite de coco são ricos em glícerofosfatos e lecitinas. Indicado contra a arteriosclerose, é excelente para pro-mover o desenvolvimento do tórax, dos nervos, do cérebro e dos pulmões (a chamada gordura de coco, geralmente saturada, "pesada" e desaconselhável, não é derivada do coco-da-bahia, mas do coco-babaçu). Trata-se de um alimento muito bom para os diabéticos. Uma co-lherada de coco raiado fresco, tomado a cada manhã, em jejum, expulsa os ver-mes instestínais de todos os tipos. A água do coco é famosa pelas suas aplicações nc combate à úlcera do estômago, ao enjôc de mar e à artrite.

Fonte do famoso azeite-de-dendê, utili-zado largamente na culinária nordestina brasileira, é uma das mais ricas fontes de vitamina A e carotenóides. Utilizado nos alimentos serve para combater a fraque-za ocular, as dores de cabeça, a prisão de

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Fruta-päo (Artocarpus incisa)

Lima-da-pérsia

Limão

ventre e as cólicas abdominais. Apesar da sua densidade e da coloração vermelha carregada, é um óleo insaturado, reco-mendável nos casos de excesso de co-lesterol, triglicerídios e aterosclerose coronariana. Usado regularmente, adqui-re propriedades anticancerígenas, graças ao seu teor de elementos antioxidantes. As populações que consomem azeite de dendê são as que apresentam as meno-res incidências da doença. Alimento essencialmente popular como fonte de calorias e vitaminas do comple-xo B. No Nordeste brasileiro, onde o tri-go é caro e escasso, a fruta-pão é usada na refeição matinal, sendo um recurso abundante e barato. Muito rica em vitamina C e em compos-tos que protegem as mucosas digestivas, possui efeitos diuréticos. Suas proprieda-des desintoxicantes fazem com que ela seja útil nas monodietas de alguns dias. Pode-se tomar o suco em jejum ou co-mer as limas feito laranjas. Seus componentes principais são: ácido cítrico, vitamina C, fósforo, magnésio, man-ganês e potássio. Os ácidos do limão, facilmente transfor-mados em elementos alcalinizantes, alia-dos às suas bases, fermentos e vitaminas, o tornam poderoso para oxidar resíduos, principalmente os protéicos, responsáveis diretos pelo artritismo e todas as suas ma-nifestações. Apesar de ser ácido, o sumo do limão determina uma reação alcalina. Graças a um processo metabólico, ele é

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utilizado como agente inibidor da acidez gástrica. Usada regularmente, é um depurativo do sangue. O ácido máíico que ela contém eli-mina os detritos provenientes do metabo-lismo. É muito útil na gota e no reumatismo. Devido ao seu elevadoteor de vitaminas (A, BI, B2, C) e sais minerais — especialmen-te potássio, fósforo, sódio, ferro —• é um alimento especial para crianças fracas, pes-soas que exercem atividades mentais, mães que amamentam e convalescentes. Afruta madura é digestiva, diurética, emo-liente, laxante e refrescante. Possui um fermento solúvel, a papaína (mais abun-dante no fruto verde e nas sementes), de grande poder digestivo, daí ser receitado pelos médicos nas doenças do estômago e dos intestinos. O dr. John Harvey Ke-llogg apontou o mamão como o mais poderoso de todos os digestivos. Comi-do em jejum, de manhã, é eficaz contra diabete, bronquite e icterícia. É também um ótimo depurativo do sangue. Fruta eficaz para todas as doenças gineco-lógicas e hormonais femininas. Indicado no tratamento a longo prazo das cólicas mens-truais e na tensão pré-menstrual. A quan-tidade a ser ingerida é livre, respeitando-se as refeições. Por seu elevado teor de fósforo, é um tô-nico excelente para o cérebro. Serve tam-bém para combater a debilidade nervosa. A fruta do pinheiro, chamada pinhão, ou ata, é um alimento de ação tônica, antia-nêmica, nutritiva e energética.

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Pitanga

Romã (Púnica granatum).

Tâmara (Phoenix dactylifera).

Tangerina

Uva

Planta de grande uso popular, rica em vi-tamina C e bioflavonóides. Seu consumo regular combate o excesso de ácido úrico, o reumatismo e a artrite. É uma fruta oxidante, mineralizante, re-frescante, utilizada pela medicina desde os seus primórdios. Como alimento, é um tônico de primeira linha, atuando nos caso de anemia, desnu-trição e tuberculose. Tem efeito calmante sobre o sistema nervoso. Combate a in-sónia, fortifica o estômago e os intestinos e é recomendada para prevenir e comba-ter colites, hemorragias e escorbuto. A tâ-mara verde é lactígena, diurética e útil no tratamento das hemorróidas. E um alimen-to energético, de grande importância nutri-cional. O fósforo e o cálcio favorecem o desen-volvimento ósseo; o magnésio tonifica as articulações e os músculos, beneficiando os intestinos e o sistema nervoso; a vita-mina C age contra as infecções, a neurite e o escorbuto. Como alimento, é muito útil contra arte-riosclerose, debilidade da visão causada por endurecimentos, gota, reumatismo, cálcu-los, tumores (adenomas, condromas, fibro-mas, gliomas, lipomas, miomas, mixomas, neuromas, osteomas), cistos recentes, en-durecimentos cálcicos e cristalizações de áci-do úrico. Como alimento regular, a uva atua sobre o fígado, o rim e o intestino. Ela ativa os rins e aumenta a diurese. Suas substân-cias pécticas e seus tartaratos estimulam os

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intestinos. Diminui a formação de certos compostos, como o indoi, o escatol e o fenol, presentes na carne animal. A uva tonifica, remineraliza e renova os tecidos. Para as crianças que ainda mamam no peito, o suco de uva, fresco e puro, é uma espécie de leite vegetal, que pode ser mi-nistrado aos lactentes na proporção de três colheradas diárias. Tem ação preven-tiva na arteriosclerose e no câncer.

Brotos germinados

Os brotos são resultantes da germinação de grãos em contato com a água. A germinação é o despertar da energia potencial do grão ou da vida latente trans-formada em energia ativa. Através da ação da água, do ar e da luz inicia-se o misterioso processo de dinamização da energia de reserva de uma semente, que pode guardá-la por meses, anos, séculos ou até milênios. Essa energia desperta é a própria vida presente nos alimentos e da qual todo o universo depende.

O processo de germinação pode ser realizado em qualquer semente, mas só alguns brotos são comestíveis, tais como os de alfafa, feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico, soja, gergelim, girassol, linho, abóbora, rabanete, nabo compri-do, agrião, mostarda, espinafre, milho, trigo, arroz, aveia e cevada. A maioria dos brotos pode ser ingerida crua, alguns apenas cozidos, como o arroz e o milho, e outros só moídos, como a cevada e a aveia.

A germinação, contudo, não desperta apenas a energia latente, mas multi-plica as taxas de vitaminas e de alguns outros nutrientes em níveis muito eleva-dos. O Dr. C. W. Bailey, da Universidade de Minnesota, estudou as modificações ocorridas no trigo germinado, concluindo que a quantidade de vitamina C au-menta em 600%, comparado ao trigo seco, que contém apenas traços exí-guos dessa vitamina.

O Dr. Burkhoíder, da Universidade de Yale, mediu a elevação das taxas de vitamina B e de outros elementos presentes na aveia germinada, obtendo re-sultados surpreendentes:

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Ácido nicotínico 500% Inositol 100%

Ácido pantotênico 200% Riboflavina 135%

Ácido fólico 600% Piridoxina 500%

Biotina 50% Tiamina 10%

A equipe do Dr. Plummer mediu a taxa de vitamina C de ervilhas secas, da aveia e da soja, antes e até três dias após a germinação, concluindo o seguinte:

Vitamina C (em 100 g)

Horas de germinação

Vitamina C (em 100 g)

Aveia em grão seca 1 1 mg 96 horas 20 mg Aveia em grão seca

120 horas 42 mg

Ervilha seca não tem vit. C 24 horas 8 mg

40 horas 69 mg

86 horas 86 mg

Soja seca não tem vit. C , 24 horas 108 mg Soja seca

72 horas 706 mg

Essas e outras pesquisas do gênero realizadas nos últimos anos mostram que os brotos germinados são excelentes fontes nutritivas. Eles têm sido consumi-dos largamente no Oriente, na Europa e na América do Norte, mas só recen-temente seu uso alimentício tem sido incentivado no Brasil, onde podem ser encontrados nos entrepostos alternativos e em alguns supermercados. Os bro-tos mais comumente consumidos no Brasil são, por ordem: o broto de feijão, de alfafa, de nabo comprido e o trigo germinado.

Existe uma técnica medicinal muito antiga e extremamente eficaz, que con-siste na ingestão de três colheres de sopa de trigo integral germinado, em je-jum. Mastiga-se prolongadamente e evita-se qualquer alimento até o almoço, Realizada durante 21 dias, serve como método de desintoxicação profunda e de revitalização orgânica no tratamento de qualquer doença, segundo os anti-gos mestres. Os brotos não só nutrem, mesmo em pequena quantidade, como são ricos em fatores anticancerígenos, além de prevenir as doenças dege-nerativas. Eles podem ser obtidos no comércio, mas é mais recomendável produzi-los em casa.

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Preparo caseiro dos brotos germinados

A produção é extremamente simples. Escolha primeiro o tipo de grão a ser germinado. Como primeira vez, aconselhamos o feijão azuki ou a lentilha. Mais tarde, poderá produzi-los com sementes de alfafa, gergelim ou mostarda.

Lave bem os grãos na quantidade desejada. Em seguida, deixe-os de mo-lho em bastante água durante orto horas, num recipiente bem limpo. Escorra toda a água, enxague bem e coloque-os numa grande embalagem de vidro coberta por um pano leve. A cada três ou quatro horas tome a lavar os grãos sem retirá-los do recipiente; atampa de pano serve para ajudar a escorrer bem a água virando-se o vidro de boca para baixo por alguns minutos e depois co-locando-o na posição normal. Evite que as sementes encharquem, pois podem apodrecer. Os brotos não devem receber jatos fortes de água; ela deve ser colocada gentilmente a cada período. Em geral, eles estarão prontos para consumo em três a quatro dias. Existem outras técnicas de produção de brotos em escala industrial. Fàra se obter bons resultados é fundamental que a água utilizada na germinação seja muito pura e que as sementes sejam, de preferên-cia, orgânicas.

Enzimas

Enzimas são estruturas protéicas ativas, básicas, que tornam a vida possível. Em outras palavras, sem enzimas, não há vida. Elas representam a fonte da energia orgânica e a vitalidade bioquímica central de toda estrutura viva existente, em todas as suas possibilidades.

São elas as responsáveis pela formação estrutural, crescimento, desin-toxicação, defesa e existência dos mecanismos de cura do nosso corpo. O mesmo acontece em relação aos animais, às plantas, aos microorganismos e às algas. Elas são também a força fundamental que regula as mais de dez mil fun-ções bioquímicas que ocorrem a cada segundo no nosso organismo, incluindo a digestão e a absorção dos alimentos, o pensamento, o humor, a sexualidade, o equilíbrio hormonal, a circulação sanguínea, a respiração, os estímulos ner-vosos, o funcionamento ideal do sistema imunológico, a reposição celular, a proteção contra as doenças e o envelhecimento, o mecanismo do olfato, da visão, do paladar, do tato, da audição, o desenvolvimento e a inibição do cres-

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cimento celular e muitas outras funções vitais. Até a nossa vitalidade e longe-vidade estão relacionadas às atividades enzimáticas.

Portanto, toda a nossa vida, bem como a nossa saúde, depende das enzimas e, principalmente, da manutenção dos níveis enzimáticos no nosso corpo.

Por ocasião do nascimento, o corpo humano apresenta um potencial enzimático metabólico limitado, muito semelhante a uma conta bancária, com um depósito inicial substancial. Quanto mais rapidamente usamos esse poten-cial, mais curta é a nossa vida e mais doenças nos perturbarão. De modo que, para se ter uma vida longa, saudável e feliz, é necessário evitar a depleção ou o enfraquecimento enzimático através de "depósitos regulares" no nosso "banco de enzimas". Isso pode ser realizado por meio do consumo de alimentos ricos em enzimas ou pela ingestão de suplementos adequados.

Recentes estudos concluem que a causa central das doenças degenerativas e do envelhecimento precoce é exatamente a redução do nosso potencial enzimático, que é provocado por dois fatores principais, em ordem de impor-tância: a ingestão de alimentos pobres em enzimas e o estresse.

Carências enzimáticas são facilmente detectadas em pacientes que apre-sentam doenças crônicas, como o câncer, o reumatismo em todas as suas for-mas e derivações, a artrite reumatóide, as alergias, as doenças da pele, as doenças cardiovasculares, certos tipos de obesidade e dezenas de outras.

Com o advento da medicina ortomolecular, há algumas décadas, con-vencionou-se relacionar esses problemas à carência de vitaminas, minerais e oligoelementos, que determina o surgimento dos infernais "radicais livres", res-ponsáveis pela interferência na função celular e causa das enfermidades crôni-cas. No entanto, pesquisas mais atuais centralizam essas causas mais na carência enzimática, uma vez que, sem enzimas, nem mesmo a função de assimilação e distribuição das vitaminas e minerais pode ser efetivada.

Até mesmo os radicais livres surgem devido ao enfraquecimento de enzimas, associado à carência de microminerais. Como exemplo, temos o zinco e o cobre, envolvidos com uma enzima metabólica e intracelular, a SOD (Super Óxido Dismutase). Quando enfraquecida, ela permite o surgimento de radi-cais livres.

Portanto, conclui-se que a carência e o enfraquecimento do potencial enzimático metabólico é o núcleo responsável não somente pelas doenças, mas pelo envelhecimento prematuro. Pesquisas atuais indicam que os níveis enzi-máticos nos tecidos corporais são elevados na infância e reduzidos na velhice.

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Um recém-nascido, por exemplo, apresenta cerca de cem vezes mais enzimas na sua corrente sanguínea do que um idoso, Em contrapartida, um idoso apre-senta cerca de mi! vezes mais radicais livres no seu organismo do que um bebê.

Onde não há enzimas, não há vida

Existem dois tipos básicos de enzimas: as endógenas, ou internas, e as exógenas, ou externas, originadas fora do corpo. As endógenas dividem-se em metabó-licas — presentes nas células, no sangue e nos tecidos em geral — e digestivas — presentes no trato digestivo. As exógenas são aquelas que provém dos ali-mentos ou, mais modernamente, dos suplementos nutricionais especiais.

O alimento humano mais rico em enzimas e ativadores enzimáticos que se conhece é o leite materno, ou antes, o colostro. Esse produto biológico é de grande importância, não só por conter nutrientes em quantidades balance-adas e apropriadas, e por ser uma fonte de anticorpos e de elementos prote-tores, mas também pela presença de enzimas de elevado potencial. Enquanto o leite materno é rico em enzimas digestivas, o colostro é fértil em enzimas metabólicas. O mesmo se pode dizer do leite dos demais mamíferos. As fru-tas, incluindo as oleaginosas, os cereais integrais, as verduras, os legumes, as raízes, o leite de outros animais, o mel, os ovos e a carne, desde que todos crus, também possuem enzimas, bem como os alimentos fermentados em meio salino (misso, shoyu) e fermentados naturalmente com base protéica (queijo de soja, queijo fresco, iogurte).

O cozimento destrói as enzimas digestivas presentes na comida, o que torna os alimentos cozidos e industrializados produtos sem vida.

0 que são de fato as enzimas

Biologicamente, são compostos protéicos complexos, caracterizados por lon-gas cadeias de aminoácidos, unidos por ligações peptídicas. Os aminoácidos, por sua vez, são derivados da quebra das cadeias protéicas e funcionam como transportadores dos fatores vitais para a atividade enzimática. Há também as co-enzimas, formadas a partir de vitaminas e minerais e destinadas à ativação das enzimas. Combinadas aos aminoácidos, as vitaminas são, na maioria das

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vezes, formadoras da estrutura enzimática, enquanto os minerais e os oügoe-lementos são seus ativadores. Esta ativação produz cargas eletrostáticas que determinam toda a dinâmica elétrica corporal, gerando a atração e a repulsão de partículas dentro das enzimas. Esta energia é basicamente importante para o sistema nervoso e para a transmissão dos estímulos ao longo dos nervos, além de servir para regular a temperatura corpórea, a secreção glandular, a atividade muscular e as demais funções que demandam carga imediata. Este tipo de energia gerada pelo complexo enzimático é o único conhecido pela ciência que não pode ser sinteticamente reproduzido.

Cada enzima possui uma função específica no corpo, segundo o arranjo das cadeias de aminoácidos e componentes vitamínicos e minerais a elas asso-ciadas. As enzimas estão ligadas a muitas outras importantes funções bioquími-cas, como, por exemplo, à catálise. Catalisadores são estruturas que ativam uma reação química, sem ser modificados ou envolvidos. Participam das rea-ções de síntese, combinação, divisão e duplicação molecular. Enzimas com esta função estão presentes, por exemplo, na quebra das cadeias protéicas de ali-mentos no trato digestivo, nos fenômenos da reprodução, na respiração e no armazenamento energético no fígado.

Portanto, enzimas representam a "força-tarefa" do organismo, podendo acei-tar outras analogias, tais como forças armadas, bombeiros, médicos, polícia, ar-quitetos, construtores, demolidores, companhias de seguro, etc. Comparadas a uma construção, elas são como o cimento que liga todas as estruturas. Assim como uma casa não pode ser construída somente com tijolos, vergalhões, canos e fios, o corpo não pode existir somente com minerais, vitaminas e aminoácidos.

Existem mais de mil tipos básicos de enzimas metabólicas e, a cada dia, novas são descobertas, Já as digestivas aparecem em número muito menor, sendo que as principais são:

Amilases destinadas à quebra das moléculas dos amidos ou açúcares de longa cadeia. A ptialina da saliva é um exemplo e aponta para a importância da mastigação como fase inicial da digestão dos amidos presentes nas farinhas, féculas, grãos, etc.

Proteases destinadas à quebra da cadeia de aminoácidos das proteínas, seja das carnes, ovos, leite ou dos vegetais protéicos.

Lipases destinadas à quebra da cadeia molecular das gorduras (lipídios) para a formação de glicerol e ácidos graxos.

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Há dezenas de outras enzimas digestivas com a mesma função de reduzir as longas cadeias moleculares dos alimentos para transformá-los em elemen-tos menores, assimiláveis para o organismo. Uma vez assimilados, estas partes menores serão reagrupadas, estruturadas e formarão células, tecidos, ossos, sangue, humores, cartilagens, etc.

Apesar da disponibilidade de alimentos para a maior parte dos habitantes do planeta, raramente vamos encontrar uma pessoa que não apresente um ou mais tipos de deficiência enzimática, mesmo (e principalmente) entre os povos que se alimentam abundantemente.

As causas da falência enzimática

Antes desta civilização complexa, quando não havia poluição ambiental, não existia o fast food e os alimentos não eram espoliados de seus nutrientes bási-cos; quando o solo não estava desmineralizado pelos adubos, o estresse não minava as vitaminas e microminerais dos nossos corpos e não se consumia o desmineralizante açúcar branco e uma quantidade excessiva de café, álcool e medicamentos, quando o nosso organismo não estava envenenado por me-tais pesados, agrotóxicos e aditivos alimentares sintéticos e se consumia muito mais alimentos crus como a natureza nos oferece, em vez de alimentos conge-lados sem vitalidade, quando não existiam fomos de microondas destruindo nutrientes e formando compostos moleculares perigosos; então, sim, as enzimas podiam trabalhar normalmente e a humanidade não padecia de tantas doenças degenerativas como agora.

Toda a mudança básica nos hábitos humanos ocorreu nos últimos cem anos. Antes disso, num período histórico que compreendeu mais de cinco mil anos, somente as infecções, algumas endemias e epidemias, bem como as doenças tropicais, eram as principais causas das mortes, depois das guer-ras...

Os cientistas dizem que, atualmente, o ser humano tem uma expectativa de vida superior ao homem de séculos atrás. Isso é uma verdade. No entan-to, esquecem de completar que essa "extensão" de vida é somente quantita-tiva e não qualitativa. Em outras palavras, hoje vive-se mais tempo, porém carregando-se mais doenças. Se compararmos os dois períodos, a qualidade de vida biológica atual é imensamente inferior a do passado, apesar de todo

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o avanço científico. Mas, com a descoberta das enzimas e do seu importante papel vital, esse quadro tende a mudar, dando início a uma nova consciência médico-científlca. Afinal, elas são a base de toda a vida, a chave da alquimia orgânica.

Atingimos hoje o clímax da agressão, tanto do meio ambiente global quan-to do nosso "meio ambiente interno". Nunca o ser humano padeceu de tantas doenças crônicas, e foi ameaçado por tantas novas enfermidades. Ao mesmo tempo, nunca as enzimas foram tão obstruídas e enfraquecidas nas suas fun-ções.

As causas da carência enzimática se devem principalmente aos seguintes fatores, por ordem de importância:

| I. Consumo de alimentos cozidos 2. Estresse 3. Consumo de álcool, açúcar e demais saqueadores de vitaminas e minerais 4. Uso excessivo de medicamentos 5. Poluição ambiental

Um alimento cru geralmente traz consigo enzimas que servem para a sua própria digestão, daí os processos de autólise, autodigestão (cereais, frutas, verduras, tubérculos) e, no outro extremo, de putrefação (carnes, ovos), que acontece quando um alimento é deixado sob efeito do tempo, sem conservação. As nossas enzimas digestivas, presentes na saliva (ptialina, que é uma amitase), no estômago (proteases) e nos intestinos (lípases), e as produzidas no pâncreas, atuam tão-somente como reservas ou para "re-tocar" o processo digestivo. Normalmente, o corpo conta com a presença das enzimas digestivas que já vêm nos alimentos. Estudos recentes mos-tram que a maioria dos animais apresenta uma perfeita adaptação orgânica ao seu tipo característico de alimento. Geralmente, eles não produzem grandes quantidades de enzimas digestivas. Na verdade, os órgãos animais responsáveis pela produção dessas substâncias, como o pâncreas, têm um funcionamento muitas vezes menor que o mesmo órgão de um ser huma-no moderno. Tanto o estômago de animais herbívoros, quanto o de carní-voros, não mostra a presença desses elementos digestivos, uma vez que contam com "estômagos enzimáticos", onde as enzimas presentes nos res-

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pectivos tipos de alimentos se encarregam da digestão, sem que haja ne-cessidade de outras enzimas serem produzidas,

Estudos revelaram que nos animais herbívoros, os alimentos permanecem em "antecâmaras" (estômagos enzimáticos) durante um tempo considerável, até que as suas enzimas terminem o primeiro estágio da ingestão. Nos carní-voros ocorre o mesmo processo, porém mais rapidamente.

Corpos inteiros de focas, que ali estavam há muitas horas, foram encontra-dos em estômagos de porcas em processo "autodigestivo", quando não havia nenhuma glândula secretora de proteases. Isso ocorre em todos os organis-mos de animais carnívoros, uma vez que a carne anima! é rica em catepsina, uma enzima capaz de promover a autodigestão das proteínas. Essa função não ocorre plenamente enquanto o animal está vivo, uma vez que a substância só é ativada após a morte das células.

Do mesmo modo, nos vegetais existem celulares, amilases, proteases, lípases e outras enzimas que também só são ativadas por ocasião da morte celular, de sua destruição ou da interrupção da oferta de material nutriente. Os vegetais, notadamente as folhas e as películas de cereais e leguminosas (feijões e grãos em feixes) apresentam uma capa de celulose parcialmente digerível para os seres humanos (daí eliminarmos cascas de feijão, tomate, etc. pelas fezes). Os animais silvestres, herbívoros e ruminantes também não produzem em seus corpos quantidades suficientes de celulase (enzima que dissolve a celulose das folhas). A digestão ocorre nas suas "câmaras" ou pré-estômagos (pança), onde o calor corpóreo e a umidade favorecem a ação da enzima que existe nas próprias folhas. Isto é verdadeiro também para seres humanos.

A celulase e outras substâncias enzimáticas presentes nos vegetais expli-cam o processo de deterioração que eles sofrem quando, não conservados, tornam-se gradativamente gelatinosos. É aquela transformação que acontece com a alface, o repolho e outras verduras, quando as suas folhas vão murchan-do ou apresentam áreas amolecidas e geleificadas mais escuras. Isto se deve à ação das enzimas, que podem ser ativadas por vários fatores, sendo um dos principais a elevação da temperatura. Se exposta ao calor intenso, uma enzima é completamente destruída, mas se mantida prolongadamente a uma tempe-ratura corporal, por exemplo, será ativada e realizará as suas funções de ma-neira adequada.

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O estômago humano é fisiologicamente dividido em duas partes, a proximal e a distai. Após uma refeição, os alimentos permanecem até cer-ca de uma hora na parte superior, em "lento aquecimento", onde não re-cebem nenhum tipo de enzima digestiva corpórea, a não ser as poucas amilases salivares (que em geral resultam de uma quase convencional má mastigação). Muito claramente, o corpo parece aguardar a autodigestão alimentar, de modo muito semelhante ao que ocorre nos "estômagos enzimáticos" das orcas e ruminantes. Somente depois deste período inicia-se o processo digestivo das proteínas com a ação do suco gástrico rico em pepsina e outras enzimas, que existem apenas para "arrematar" uma que-bra de cadeias protéicas que deveria ter ocorrido anteriormente. Mas cha-mamos atenção para o fato de a comida ingerida necessitar de calor e umidade para que sejam ativadas as suas enzimas naturais. Se estes alimen-tos não possuírem estas enzimas, nada de substancial ocorrerá nesse pri-meiro período da digestão, a não ser a formação de gases (fermentação peia ausência de enzimas) e eructação (arrotos), Começa então o silencio-so e habitual tormento para o organismo, forçado a produzir enzimas di-gestivas para compensar a sua ausência na comida.

Agora fica mais fácil entender porque o cozimento, ao destruir as enzimas de qualquer alimento perturba uma ordem natural, uma programação biológi-ca de milhões de anos, e vai sobrecarregar o organismo, exigindo dele a pro-dução de enzimas digestivas. É como se fosse um "saque na conta bancária" enzimática, cobrando um "desvio" de substratos presentes nas enzimas meta-bólicas, em direção aos órgãos que produzem essas substâncias para a diges-tão. Desse modo, há um enfraquecimento das funções gerais que dependem dessas importantes enzimas, expondo o organismo às mais variadas moléstias. Este mecanismo é tido atualmente como a causa nuclear da maioria das doen-ças crônicas.

Animais domesticados, que se alimentam de rações e alimentos cozi-dos, apresentam uma incidência de doenças muitas vezes superior à dos animais selvagens ou daqueles que se alimentam adequadamente, respei-tando a sua natureza. Assim, cães, gatos, porcos, aves, cavalos, etc. preci-sam de veterinários e de remédios do mesmo modo que os seres humanos necessitam de médicos. Os seus organismos apresentam o mesmo tipo de "desvio", em que o excesso de produção de enzimas digestivas determina

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uma exaustão do material que seria destinado à estruturação das enzimas metabólicas.

Estudos recentes mostraram que o pâncreas de animais e seres huma-nos submetidos a uma dieta cozida é mais pesado do que aqueles habituados a ingestão de alimentos crus ou apropriados, segundo a sua natureza. O pân-creas é obrigado a executar uma função extra, um trabalho maior para pro-duzir enzimas, o que determina o seu aumento de peso e volume. Quando humanos e animais fazem uso de alimentos crus ou apropriados, ou subme-tem-se a uma suplementação de enzimas digestivas, o pâncreas reduz o seu volume e muitos sintomas ruins desaparecem, como, entre outros, fadiga, gases, dores de cabeça, de estômago, alergias, prisão de ventre, alterações circulatórias, distúrbios menstruais, inflamações e infecções, diarréias e defi-ciências nutricionais.

Demais fatores redutores das ações enzimáticas são menos importan-tes, mas contribuem para o problema. Nas condições de estresse, há im-portantes perdas minerais, o que enfraquece as enzimas metabólicas e reduz a capacidade das digestivas. O açúcar branco é comprovadamente um pro-duto desmineralizante (rouba cálcio, magnésio e vitaminas do complexo B), um agente enfraquecedor do metabolismo. O abuso das bebidas alcoólicas reduz as reservas corporais de tiamina (vitamina B I ) e de outras vitaminas envolvidas com a estruturação enzimática. O uso constante de medicamen-tos, principalmente antibióticos, enfraquece os mecanismos de defesa do organismo, interfere nos processos de auto-regulação e homeostase, afe-tando a função das enzimas. A poluição ambiental determina a presença de compostos químicos, moléculas agressoras e metais pesados que intoxicam e alteram as funções celulares, prejudicando também a função das enzimas protetoras.

Todos esses fatores reunidos são a causa da explosão dos radicais livres, que se tornam abundantes devido à incapacidade das enzimas metabólicas de inibir a sua formação (ações antioxidantes). Uma vez em quantidades elevadas, estes radicais agressivos do oxigênio interferem nas atividades celulares, pro-movendo mutações, erros genéticos, perturbações funcionais variadas, estímulos excessivos da mitose, inibição de secreções celulares, e uma imensa série de outros problemas.

Muitas vezes, somente a suplementação vitamínica e mineral não é sufi-ciente para resolver o problema da redução da capacidade das enzimas me-

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tabólicas. Se o caso estiver relacionado aos fatores 2, 3, 4 e 5, poderá ha-ver sucesso relativo, mas se a causa estiver ligada ao fator I, ou seja, ao desvio de substratos metabólicos para a produção de enzimas digestivas, somente o uso de alimentos crus e/ou a suplementação enzimática podem ser efetivos.

0 que fazer para restaurar a capacidade enzimática

Pelo que foi exposto, fica óbvio que devemos adotar uma dieta crua, composta de saladas, frutas, etc. No entanto existem dois fatores que dificultam, ou tor-nam impossível, esta opção. Um deles, e mais importante, é a nossa vida so-cial; o outro, a própria dificuldade de se comer somentes alimentos crus. Aparentemente, parece que esse hábito imprime uma certa monotonia alimen-tar, mas isto não passa de uma impressão.

Podemos perfeitamente tentar comer a maior quantidade possível de ali-mentos crus, como saladas ricas compostas de verduras variadas, legumes crus [beterraba, cenoura, nabo), ralados e brotos germinados. Esta dieta deve ser enriquecida com frutas em abundância e cereais integrais, como aveia em flo-cos, flocos de milho (corn flakes), laticínios frescos e frutas oleaginosas (nozes, castanhas, etc.). O açúcar branco deve ser substituído pelo mel cru (não aque-cido), que inclusive é rico em enzimas. Algas marinhas, queijo de soja (tofu), misso e molho de soja (shoyu) são naturalmente ricos em enzimas e vitamina B12. Na questão da carne animal, há uma enorme vantagem em se adotar al-guns elementos da culinária japonesa, como o sashimi, as ostras cruas e muitos outros recursos. O peixe cru é muito saudável e também possui catepsinas que promovem a sua própria digestão.

Não é necessário, porém, adotar uma dieta completamente crua, uma vez que necessitamos das vitaminas e fibras dos importantes cereais integrais, como o arroz, o trigo (para o nosso pão), o centeio, o milho, a cevada, o trigo sarraceno, etc. Entretanto, estes devem ser sempre integrais, pois os decor-ticados perdem grande parte de seus nutrientes principais. Ademais, quando mastigamos prolongadamente o arroz integral, uma fatia de pão integral, uma espiga de milho, etc. — ainda que cozidos —, realizamos uma digestão quase completa já na boca, através da ação da amilase, ou ptialina, que transforma o amido em maltose e derivados. Assim, não sobrecarregamos o organismo,

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exigindo dele a elaboração de amilases intestinais, o que não provocaria desvi-os de enzimas metabólicas. No entanto, se mesmo os cereais integrais não forem bem mastigados, haverá exigência de produção extra de enzimas diges-tivas através do pâncreas. Isto ocorre continuamente quando se ingere uma refeição típica do brasileiro — arroz branco com feijão — sem mastigá-la ade-quadamente, provocando uma enorme sobrecarga orgânica para a produção de amilases. Em relação à questão enzimática, devemos ressaltar que o prato preferido do brasileiro — arroz, feijão, mais bife e batata frita — é um dos há-bitos alimentares mais insalubres do planeta.

Infelizmente, os alimentos disponíveis atualmente, mesmo as frutas, cereais, verduras e legumes, não possuem as quantidades adequadas de nutrientes básicos devido ao enfraquecimento do solo, seja pelo uso de fertilizantes ou de agrotóxicos. Devido à necessidade de produção de alimentos em larga escala, aterra própria ao cultivo recebe cargas crescentes de adubos químicos, o que acaba por empobrecer o solo e, conseqüentemente, a nossa comida. Estudos recentes mostram que, atualmente, uma simples cenoura pode ter até 30% a menos de vitaminas e minerais do que antigamente, ou quando comparada a outra cenoura que cresceu numa terra normal. O mesmo ocorre quanto a uma infinidade de outros produtos, principalmente os importantes cereais, mesmo que integrais.

Sobre essa questão, o Dr. Daniel T. Quingley, no seu livro The National

Malnutrition, faz o seguinte comentário: "Qualquer pessoa que, no passado, tenha comido açúcar, farinha refinada, comida enlatada, etc. tem alguma doen-ça carencial e a extensão dessa carência vai depender da percentagem dessa deficiência na dieta."

Quando ingerimos um alimento que não apresenta a quantidade sufici-ente de nutrientes básicos, não adquirimos a quantidade de minerais e vitaminas necessária para a elaboração das nossas importantes enzimas me-tabólicas, o que representa mais um fator de enfraquecimento enzimático. Estabelece-se então uma disputa por nutrientes, sendo que grande parte dos aminoácidos, microminerais e vitaminas acaba destinada à elaboração das enzimas digestivas. Isso ocorre crônica e continuamente no organis-mo, enfraquecendo-o e expondo-o às doenças degenerativas e ao enve-lhecimento prematuro.

Conclusão: se quisermos possuir uma boa saúde e prevenir as doenças

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além das mudanças dietéticas propostas (ou mesmo quando não se possa adotá-las), necessitamos de uma suplementação enzimática, vitamínica e mineral, preferencialmente de fontes primárias.

O elevado índice de doenças degenerativas que acomete a humanidade atual é sinal evidente de que as preocupações da Organização Mundial de Saú-de, quanto ao estado evidente de degeneração biológica progressiva da raça humana, são reais. E necessário modificar essa situação, resgatando a saúde do indivíduo e da coletividade, de modo a evitar um provável colapso biológico futuro.

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10. DIETA PARA UM NOVO TEMPO

"Ditosos os que a Luz Divina poupou ao guante rude e extraordinário da

gula, que decerto não os domina, pois se contentam só do necessário."

DANTE, em 0 Inferno de Dante

Concebemos como alimento saudável e apropriado aquele que nos chega como uma dádiva, ou presente da natureza, como é o caso dos cereais integrais e das frutas, cujas plantas não precisam ser mortas para servir de alimento: ou morrem naturalmente, deixando as sementes, ou podem ser retiradas sem que a planta principal tenha que ser sacrificada. Este é, exatamente, o tipo de ali-mento mais recomendado para o homem superior, segundo o ensinamento dos antigos mestres.

De acordo com a tradição alimentar dos chineses e indianos, o alimen-to ideal para o consumo humano é aquele que não se deteriora ou apre-senta odor ou gosto desagradável ao se degradar. Se a carne não for conservada, fatalmente apodrecerá, e dela emanará um odor insuportável. Por outro lado, frutas, verduras, cereais e tubérculos geralmente não se tornam desagradáveis com o tempo. As frutas tendem a murchar e a secar; as verduras a se gelatinizar; os cereais (integrais) a desidratar um pouco, mantendo a sua estrutura e energia vital, servindo inclusive para ser planta-dos, mesmo depois de longo tempo de colhidos. Arqueólogos descobri-ram amostras de trigo de 4.000 anos de idade em tumbas de faraós egípcios

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— germináveis! Com base nessa mesma tradição, se ingerirmos alimentos que se deterioram e apresentam odores ruins, poderemos contaminar os nossos corpos e prejudicar nossa saúde. Por outro lado, alimentos como os cereais são extremamente benéficos ao organismo. Esta é uma boa for-ma de avaliar que tipo de comida devemos ingerir. Segundo Pitágoras, "ape-nas os alimentos vivos e frescos podem dar condições ao homem de conhecer a verdade".

A dieta a ser adotada — seja por pessoas inteligentes, conscientes, sen-síveis, de discernimento aguçado, capazes de superar as tendências inferio-res de ceder aos impulsos do prazer oral excessivo, ou pelos indivíduos que, apresentando esses predicados, herdarão a Terra — deve ser baseada nos mais lídimos princípios de amor e respeito aos animais. A dieta vegetariana é a dieta do futuro, aquela que devemos adotar, se quisermos poupar nossos recursos naturais e — o que é mais importante — as vidas preciosas de se-res humanos em todo o mundo. O indivíduo vegetariano de hoje é o ser humano do futuro.

Mas, como vimos, não basta evitar a carne. É necessário evitar também as frituras, os laticínios, o fast food, as batatas fritas, os refrigerantes, os produtos artificiais, estabelecendo uma alimentação sem excessos, bem balanceada, va-riada, sem açúcar ou outros desmineralizantes, rica em cereais integrais, frutas, alimentos crus, etc.

Devemos adotar uma alimentação que não só previna as doenças como elimine do corpo as condições anômalas. Porém, muito mais importante do que isso, confirmando um estado de consciência altruísta, é procurarmos nos alimentar com o objetivo de reparar o dano genético que a tecnosfera (criada pelo homem) produziu na biosfera (criada por Deus) e, portanto, no nosso corpo. Esse é o único caminho para melhorarmos a qualidade biológica da raça humana, permitindo uma melhor condição orgânica e energética para as gera-ções vindouras.

Dicas gerais para uma boa alimentação

• Mastigue sempre prolongadamente os alimentos, principalmente os grãos.

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Não coma em demasia. Não beba iíquidos durante as refeições. Evite deitar-se após as refeições; é sempre bom realizar caminhadas após a ingestão substancial de alimentos. Consuma sucos de frutas apenas após o preparo; os sucos guardados, mesmo em geladeiras, perdem parte de suas qualidades, oxidam e fer-mentam.

Acostume desde cedo as crianças a apreciar o paladar natura! dos ali-mentos, sem habituá-las ao hiperestímulo do açúcar branco, ao exces-so de temperos (mesmo vegetais!) e às guloseimas artificiais inventadas pela indústria. Durante as refeições, procure manter o silêncio e a concentração. Coma apenas quando tiver fome; forçar o organismo é mais prejudicial que afalta circunstancial de alimentos. Isto serve principalmente para as crianças, desde que sua inapetência não seja prolongada. Há ocasiões em que o organismo rejeita os alimentos para poder reciclar-se ener-geticamente.

Alimente-se apenas de produtos agradáveis; forçar a ingestão de pro-dutos que não agradem ao paladar produz bloqueios enzimáticos e conseqüente perturbação da digestão. Faça refeições leves pela manhã. Não faça refeições pesadas à noite, notadamente antes de dormir; isso resulta em cansaço orgânico e envelhecimento precoce, Evite feijões e alimentos preparados há muito tempo, principalmente guardados na geladeira. Exceção para o picles preparado com sal. Evite os tabus alimentares e aja com liberdade e desenvoltura na co-zinha. Evite ingerir alimentos entre as refeições.

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Tabela de alimentos que causam e que curam doenças

Doenças Alimentos que causam Alimentos que curam

Acne Fríturas/mante iga/carne/ovos Aveia/aze iteAofu/m/sso

Acidez no estômago Café/gasosos/frituras/chá-mate Lima/azeite/couve/maçã

Aftas Leite/fríturas/álcool/açúcar Uma/jiló/masã/melancia

Alergias Laticínios/frutos do mar/aditivos

químico

Cebola/m/sso/tofu/limão/ agrião

Amidalite Sorvetes/carnes/ovos/frituras Alho/limão/ruibarbo/nabo

japonês

Anemia Açúcar/leite/pão branco/sal Espínafre/couve/brócolis/salsa

Angina pectoris Carne/gordura saturada/frituras/ovo Limão/cebola/m/ssoAofu/uva

Ansiedade Carne/açúcar/café/chá Aveia/mel/funcho/maracujá

Arteriosclerose Gorduras/carne/leite/ovos/frituras Toíu/misso/be rinje la/lin haça/

uva

Artrite Laticínios/Vísceras/açúcar/sal InhameAofu/limão/abacaxi/

uva

Artrose Laticínios A/ísceras/açúcar/sal 1 nhameAofü/l imão/abacaxi/

uva

Asma Laticínios/açúcar/chocoiate AgriãoAofu/m/sso/arroz integra!

Aterosclerose Leite/queijos/frituras/ovos/álcool Tbfu/míssoA>e rinjela/li n haça/ uva

Bronquite comum Laticínios/açúcar/aditivos químicos AbacaxiAofu/m;sso/arroz integral

Cálculos biliares Laticín ios/açúcar/frituras/sal jiló/arroz integrai/aveia/ melancia

Cálculos renais Laticínios/açúcar/sal Azuki/melão/arroz integral/

uva/mel

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Tabela de alimentos que causam e que curam doenças (cont.)

Doenças Alimentos que causam Alimentos que curam

Câncer CarneyVísceras/açúcar/aditivos

químicos

Arroz integralAofu/m/sso/

beterraba

Cárie dentária Açúcar/pão branco/enlatados EspinafreAofu/azuki/brotos

Caspa Laticínios/açúcar/massas brancras Limão/lima/nabo/cenoura

Cefaléia Laticínios/café/chá/álcool Jejum/m/sso/alcachofra/uva

Celulite Frituras/açúcar/laticínios/chocolate Nabo/tofu/misso/inhame/

aveia

Cirrose Átcool/gorduras/frituras Alcachofra/aipo/nabo/tofu

Cistos do ovário Carne/frango(granja)/ovos/teite Tofu/mísso/mefão/arroz

integral

Colesterol, excesso de frituras/gorduras/laticínios/ovos Berinjela/msso/limão/tofu/uva

Colite Pão branco/açúcar/frituras Aveia/inhame/linhaça/arroz

integral

Corrimentos vaginais Leite/açúcar/massas brancas Arroz integral/cítricos/nabo/

alho

Depressão Açúcar/gorduras saturadas/café Alface/aveia/me l/glúten/

cidreira

Diabetes Açúcar/café/pão branco/massas Arroz integral/azuki/m/sso/

tofu

Distonia

neurovegetativa

Café/açúcar/carne Aiface/chicórea/mel/maracujá

Eczemas Leite/frituras/pão branco Arroz integral/inhame/tofu/

cebola

Envelhecimento

precoce

Carne/Vísceras Arituras/açúcar/̂ al UnhaçaAofu/msso/kzeíteMa

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Tabela de alimentos que causam e que curam doenças (cont)

Doenças Alimentos que causam Alimentos que curam

Enxaqueca Laticínios/açúcar/pão branco/sal Azeite/alho/arroz integral/

limão

Estrias Frituras/açúcar/laticínios/chocolate Nabo/tofu/misso/inhame/

aveia

Flatulência Leite/pão branco/amidos Aipo/funcho/salsa/abacaxi

Furúnculos CameMsceras/frituras/ovos Arroz integral/mísso/pepino/

manga

Gastrenterite Frituras/leite/embutidos Inhame/arroz integral/abacate

Gastrite Frituras/gord uras/café/mate/leite Lima/mísso/tofu/arroz integral

Gota Vísceras/came/ie ite/fritu ras/sal Abacaxi/nabo/inhame/m/sso

Hipertensão artéria! Sat refinado/gordura/carne/

álcool/café

Alho/cebola/abacaxi/

limão

Impotência sexual Embutidos/açúcar/ca rne/álcool Pimenta/linhaça/orégano/

sálvia

Infarto cardíaco Carne/gordura sat/frituras/ovo Li mão/cebola/al ho/m/sso/

azeite

Insónia Café/mate/álcool Linhaça/aveia/arroz integral/

alecrim

Intestinos presos Pão branco/massas/batatas Farelo/mamão/inhame/

quiabo

Leucemia Aditivos sintéticos/açúcar Tofu/linhaça/arroz integral/

misso

Leucorréia Laticínios/açúcar/pão branco Alho/melãoAofu/pimentas

Mastite Frango/laticínios/ovos/carne Tofu/linhaça/brócol is/azeite

Menopausa Carne/leite/açúcar/frango/ovos Tòfu/arroz integral/misso/

melão

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Tabela de alimentos que causam e que curam doenças (cont.)

Doenças Alimentos que causam Alimentos que curam

Obesidade Açúcar/mas sas/frituras/álcoo 1 Arroz integral/alcachofra/aipo

Osteoporose Açúcar/leite/sal/cames Tofu/brócolis/couve/

beterraba

Próstata Came/frango/ovos/fritu ras/gord ura; Tofu/arroz integral/linhaça/

tomate

Psoríase Gorduras saturadas/açúcar/leite Arroz integral/linhaça/

cenoura/uva

Reumatismo LeiteMsceras/açúcar/carne/sal Arroz integral/nabo/rabanete/

uva

Rinites Laticínios/pão branco/embutidos Agrião/mel/arroz integral/

alhoAofu

Rugas Frituras/manteiga/gorduras/açúcar Arroz integral/linhaça/azeite/

tofu

Tensão

pré-menstmal

Came/vísceras/açúcar/café Linhaça/melão/canela

Sinusite Laticínios/pão branco/embutidos Agrião/mel/arroz integral/

alhoAofu

Ulceras digestivas Frituras/café/gasosos/álcool Arroz integral/inhaimeAofu

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Sumário das Receitas

Alga marinha hiziki refogada 287 Arroz integral — Cozimento na

panela de pressão 287 Arroz integral — Preparo

tradicional 287 Arroz integral — Técnica

macrobiótica 288 Arroz integral a carreteiro 288 Arroz integral à grega 289 Arroz integral à indiana 289 Bife com resíduo de soja 289 Bife de cenoura ou beterraba 290 Bife vegetal acebolado 290 Bolinho de fruta-pão recheado 291 Café de cevada com canela 291 Chá especial de maçã 291 Chantilly natural 292 Chapati (pãozinho indiano

de frigideira) 292 Coalhada caseira 292 Coração de bananeira 293 Creme de abacaxi 293 Creme de ervilha 294 Creme de milho verde com

azeitonas 294 Croquetes, bifes e salsichas à

base de proteína de soja 294 farofa de germe de trigo 295 Feijão-preto 3 águas 295

Feijoada vegetariana com feijão azuki

Gelatina de frutas Geléia de maçã Gersal Goiaba recheada com ricota Grão-de-bico especial Lasanha integral Leite de soja Lentilha ou ervilha especial Macarrão com molho de algas Macarrão de trigo-sarraceno soba Maionese sem ovo Massa integral para panqueca Molho branco Ranetone tuttífrutti Panqueca de couve-flor Pão arco-íris

Polenta com molho de algas Pudim de frutas em camadas Queijo de soja: tofu Quibe vegetal Sagu de frutas Salada crua de abóbora japonesa Sorvete de abacaxi Strogonoff vegetariano Suflê de couve-flor Trigo para quibe com legumes

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ALGA MARINHA HIZIKI REFOGADA

Ingredientes:

1 pacote de 50 gramas de alga marinha hiziki

1 dente de alho picado

2 colheres de sopa de shoyu 4 colheres de sopa de óleo de

gergelim ou de girassol Uma pitada de sal marinho

Modo de preparar:

Deixe a alga de molho em água por duas horas. Coe, Doure o alho no óleo. Acres-cente a alga e o shoyu, deixando cozi-nhar por 15 minutos em fogo brando, com a panela tampada. 0 sal só deve ser colocado se for necessário realçar o gosto.

ARROZ INTEGRAL — COZIMENTO NA PANELA DE PRESSÃO

Ingredientes:

2 xícaras de arroz integral

(opcionalmente deixado de

molho por 8 horas)

3 xícaras de água

1 colher de sopa de Óleo de oliva

Modo de preparar:

Inicie o cozimento com fogo bem alto.

Quando estiver fervendo, baixe o fogo

e coloque uma xícara virada (ou qual-

quer outro peso) sobre a válvula da pa-

nela de pressão.

Esta técnica fará com que o arroz se

contraia, tornando-se macio, solto e

menos volumoso, sem perder suas pro-

priedades nutricionais.

ARROZ INTEGRAL — PREPARO TRADICIONAL

Ingredientes:

2 xícaras de arroz integral 4 xícaras de água quente 1 colher de sopa de sal marinho 1 colher de sopa de óleo

(de preferência, oliva)

Modo de preparar:

Lembramos que o arroz integral exige panela grossa (as melhores são as de barro e as de aço inoxidável (inox) Escolha, lave e escorra o arroz, deixan-

do-o (opcionalmente) de molho por oito horas. Coloque-o numa panela para que seque e toste em fogo brando. Mexa de vez em quando para não queimar o fundo. 0 vapor da secagem pré-cozinha o grão. Adicione e misture o óleo, não é preciso fritar.

Acrescente a água quente rapidamente. 0 tempo de cozimento em fogo baixo é de 1 hora ou 30 minutos, se o arroz fi-car de molho por 8 horas.

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MÁRCIO BONTEMPO

ARROZ INTEGRAL — TÉCNICA MACROBIÓTICA

Esta receita serve para o preparo mais adequado do arroz: sem nenhum tempero,

sem refogar e com pouco sal. O resultado é o arroz segundo a técnica macrobiótica

clássica, aplicando-se a pressão para obter cozimento e sabor ideais.

Ingredientes (para duas pessoas):

2 xícaras grandes de arroz integral

orgânico

2 V2 xícaras de água

Uma pitada de sal marinho (opcional)

Acima de 3 xícaras de arroz, igual

quantidade de água e mais sal

Modo de preparar: (em panela de

pressão):

Três minutos em fogo baixo

Três minutos em fogo médio

Fogo alto até chiar

Quando a válvula apitar, coloque um

peso bem fixo de 160 gramas sobre a

válvula e deixe em fogo alto por mais

três minutos. Baixe o fogo e cozinhe por

meia hora. Desligue, aguarde a saída de

toda a pressão, retire o peso, a tampa

da panela e coloque o arroz num reci-

piente de madeira.

ARROZ INTEGRAL A CARRETEIRO

Ingredientes:

2 xícaras de arroz integral

cozido na panela de pressão

1 xícara de proteína de soja miúda,

hidratada e escorrida

1 beterraba bem picada

2 tomates picados

1 colher de chá de colorau

Vz xícara de milho verde lk de xícara de queijo colonial ralado

ou tofu picado

2 batatas-cará bem picadas

1 cebola picada

1 xícara de couve flor picada

2 colheres de sopa de óleo de oliva

Modo de preparar:

Esquente o óleo em panela grande e

acrescente a cebola picada; deixe-a dou-

rar. Acrescente os demais ingredientes,

com exceção do queijo ralado, e deixe

refogar durante uns 15 ou 20 minutos.

Adicione o arroz e leve-o a uma fôrma.

Cubra com queijo e leve ao forno bran-

do por 10 minutos. 0 arroz integral a car-

reteiro é um prato de sabor excelente,

ótimo para ocasiões especiais.

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ALIMENTAÇAO PARA UM NOVO MUNDO

ARROZ INTEGRAL À GREGA

Ingredientes:

3 xícaras de arroz integral cozido

na pressão

VJ xícara de uvas-passas mistas

V2 xícara de maçã picada

V2 xícara de ervilhas frescas

Vi xícara de milho verde

fresco

Modo de preparar:

Misture muito bem todos os ingredien-

tes e sirva quente.

ARROZ INTEGRAL À INDIANA

Ingredientes:

2 xícaras de arroz integral cateto

1 colher de chã de curry

5 folhas de hortelã

2 cravos-da-índia

V-» de colher de chá de cominho moído

1 pitada de noz-moscada moída

1 colher de sopa de óleo de oliva

1 colher de chã de gengibre ralado

1 colher de chá de sal marinho

1 pitada de pimenta-do-reino

V4 de xícara de salsa picada

1 laranja-lima descascada e cortada

em rodelas longitudinais

Modo de preparar.

Quando o arroz estiver quase cozido

acrescente o curry. Em outra panela,

refogue os demais ingredientes no

óleo quente. Misture-os ao arroz em

um pirex. Enfeite com salsinha e ro-

delas de Laranja-lima. Esta receita

também é ótima para festas e oca-

siões exóticas.

BIFE COM RESÍDUO DE SOJA

Ingredientes:

4 xícaras de resíduo de soja 1 xícara de farinha integral fina

1 xícara de farinha de trigo comum

2 dentes de alho triturados 1 colher de chã de cominho 1 colher de chá de orégano 1 colher de sopa de araruta

1 colher de sopa de sal marinho tempero verde a gosto

Modo de preparar:

Esquente o óleo. Quando estiver bem quente, junte o alho. Acrescente o re-síduo de soja. Coloque os demais ingre-dientes, menos o tempero verde e as farinhas. Ponha mais um pouquinho de água e deixe cozinhar durante alguns minutos. Tire do fogo e espere esfriar. Acrescente o tempero verde e as fari-nhas, misturando bem e modelando em

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MÁRCIO BONTEMPO

formato de bife ou de almôndega.

Frite os bifes em uma frigideira untada

com óleo bem quente.

As almôndegas devem ser assadas no

forno e levadas temperadas com o mo-

lho de sua preferência.

BIFE DE CENOURA OU BETERRABA

Ingredientes:

2 xícaras de beterraba ou cenoura ralada

1 ovo caipira (opcional)

1 xícara de farinha de trigo integral

fina

1 xícara de farinha de trigo comum

1 cebola picada

1 colher de sopa de orégano

2 colheres de sopa de tempero verde

1 colher de sopa de cominho

1 colher de sopa de noz-moscada

ralada

outros temperos a gosto

Modo de preparar.

Misture bem todos os ingredientes.

Modele os bifes e frite em um pouco

de óleo numa frigideira.

Essa massa também é ótima para bo-

linhos.

BIFE VEGETAL ACEBOLADO

Ingredientes:

100 gramas de proteína de soja/PVT

miúda

50 gramas de germe de trigo natural

100 gramas de farinha branca comum

1 cenoura ralada média

1 colher de sopa de orégano

1 colher de chã de noz-moscada

em pó

1 colher de chã de sal marinho

Ví xícara de shoyu macrobiótico

outros temperos a gosto

óleo de oliva

Modo de preparar.

Hidrate a proteína com água fervente,

escorrendo-a bem, retirando o soro.

Misture bastante todos os ingredientes,

acrescentando mais farinha, se neces-

sário. Modele os bifinhos (almôndegas

ou croquetes) com as mãos, fritando-

os em pouquíssimo óleo ou assando no

forno, em frigideira untada.

Com um pouco de shoyu, doure a ce-

bola em rodelas para enfeitar os bifes

em uma tigela.

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

BOLINHO DE FRUTA-PÃO RECHEADO

Ingredientes:

fruta-pão

queijo-minas ou carne de soja

cebola

cheiro-verde

óleo de girassol

shoyu

molho de tomate

pimentão

Modo de preparar:

Cozinhe a fruta-pão e passe-a na má-

quina de moer. Modele-a como se fos-

se um bolinho de aipim.

Prepare o molho com os demais ingre-

dientes e recheie os bolinhos com quei-

jo-minas ou a carne de soja.

Frite em óleo de girassol bem quente.

CAFÉ DE CEVADA COM CANELA

Ingredientes:

500 mL de água

6 colheres de sopa de cevadinha

torrada e moída

1 colher de chá de canela em pó

2 cravos-da-índia

Modo de preparar:

Ferva a água com os cravos por 5 mi-

nutos.

Misture a cevada com a canela e colo-

que no coador de café.

Despeje a água e sirva quente.

Utilize açúcar mascavo ou estévia como

adoçante.

CHÁ ESPECIAL DE MAÇÃ

Ingredientes:

150 gramas de maçã seca

500 ml água

1 limão-taiti (caldo)

3 colheres de sopa de mel de abelhas

natural

5 cravos-da-índia

Modo de preparar:

Ferva todos os ingredientes, com exce-

ção do mel, por 20 minutos. Aguarde

uns 10 minutos depois da fervura e

acrescente o mel.

Sirva quente ou gelado. É paradisíaco!

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MÁRCIO BONTEMPO

CHANTILLY NATURAL

Ingredientes:

4 colheres de sopa de tofu 1 colher de chá de essência natural

de baunilha

Vz vidro de leite de coco

2 colheres de sopa de malte

Modo de preparar:

Misture tudo e leve ao liqüidificador.

Bata bem até o conteúdo ficar cremoso.

Se desejar, use o chantilly como cober-

tura de bolo, substituindo o malte por

açúcar mascavo peneirado.

CHAPATI (PÃOZINHO INDIANO DE FRIGIDEIRA)

Ingredientes:

200 gramas de farinha de

trigo branca comum 100 gramas de farinha de

trigo integral fina água suficiente para dar liga 1 colher de sopa de sal marinho

Modo de preparar:

Misture todos os ingredientes e amasse

com as mãos, acrescentando água até

obter uma massa macia e não pegajo-

sa. Corte a massa em pedacinhos iguais

em forma de bolinhas (tamanho de uma

ameixa). Com um rolo, amasse as boli-

nhas uma a uma até obter um círculo

semelhante a uma panqueca. Aqueça

uma frigideira, panela de ferro ou cha-

pa de fogão a lenha. Quando estiver

bem quente, asse os pãezinhos em for-

ma de disco, um de cada vez, virando-

os dos dois lados. Depois de ter assado

cada unidade na frigideira de ferro, leve

o pãozinho direto a uma chama ligada

no bico do fogão. Nesse momento ele

irá inchar, tornando-se oco como um

balão. Está pronto. Você poderá recheá-

lo como uma panqueca!

COALHADA CASEIRA

Ingredientes:

2 litros de leite integral de vaca

2 (caldo de) limões-taiti

1 colher de sopa de sal marinho

temperos a gosto

Modo de preparar:

Ferva o leite durante 6 minutos. Assim

que desligar o fogo, despeje no leite o

caldo dos limões e mexa com uma co-

lher inox.

Em 10 a 15 minutos, o soro estará se-

parado da parte sólida do leite. Então,

coe sobre um pano limpo ou coador fino

e acrescente o sal. Obs.: Também pode

ser doce.

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ALIMENTAÇAO PARA UM NOVO MUNDO

Está pronta a coalhada, substituta da

margarina e da manteiga. Utilize-a mis-

turada com salsa ou castanhas pica-

das, ervas frescas ou segundo a sua

criatividade.

CORAÇÃO DE BANANEIRA

Ingredientes:

1 coração de bananeira novo

100 ml de suco de limão

2 colheres de sopa de sal marinho

5 dentes de alho picados

4 tomates médios picados sem pele e

sem sementes

4 folhas de hortelã

500 ml de água quente

salsinha a gosto

queijo parmesão opcional

Modo de preparar:

Retire as cascas vermelhas do coração

de bananeira e reserve. Quando chegar

ao miolo branco, corte-o como uma cou-

ve, em pedaços bem pequenos. Leve-os

a uma vasilha com o suco de limão e a

água quente, deixando de molho por 15

minutos. Escorra toda a água, espremen-

do bem com o sal e lavando com mais

água quente para retirar o látex de gos-

to amargo. Passe-os para outro reci-

piente e adicione a hortelã picada, o sal

e o alho. Deixe descansar por alguns mi-

nutos e refogue com alho em pouco óleo,

acrescentando o tomate para formar um

molho.

Pode ser coberto com queijo parmesão

e salsinha.

É um prato barato, sofisticado e deli-

cioso, presente em várias tradições cu-

linárias da humanidade.

CREME DE ABACAXI

Ingredientes:

Yz abacaxi picado (200g)

Vz abacaxi liquidificado

1 litro de água

200 gramas de açúcar mascavo

300 gramas de amido de milho ou

maisena

10 cravos-da-índia

Modo de preparar:

Cozinhe todos os ingredientes, com

exceção do amido de milho, durante 20

a 25 minutos. Acrescente o amido de

milho-dissolvido em Vz xícara de água

e cozinhe por mais 5 minutos.

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MÁRCIO BONTEMPO

CREME DE ERVILHA

Ingredientes:

Vz kg de ervilhas partidas

Vi xícara de moranga cabotia picada

com casca

2 colheres de sopa de óleo de oliva

Vi cebola picada

1 litro de água

1 colher de chá de orégano

1 colher de chá de louro

2 colheres de sopa de salsa picada

Modo de preparar:

Deixe a ervilha de molho por 8 horas.

Lave a ervilha muito bem, escorrendo

até que o soro desapareça. Coloque a

ervilha na panela de pressão com água,

deixando-a ferver por 20 minutos, con-

tados a partir da fervura inicial. Tire do

fogo e acrescente os demais ingredien-

tes. Leve a mistura novamente ao fogo

por uns 10 minutos.

Caso tenha colocado água demais, deixe

o creme ferver com a panela destam-

pada por alguns minutos a mais. Servir

morno ou quente. Se necessário, bata

no liqüidificador.

CREME DE MILHO VERDE COM AZEITONAS

Ingredientes:

2 xícaras de milho verde fresco

Vi de xícara de azeitonas picadas

Vn de pimentão picado

VA de cebola picada (ou 4 dentes de

alho)

1 xícara de água

3 colheres de óleo de oliva

Modo de preparar:

Liquidifique bem o milho verde e reserve.

Refogue os demais ingredientes, sem água

e com óleo. Acrescente o milho batido e

mexa com uma colher de pau, despejando

água aos poucos para não grudar no fun-

do. Fica pronto em 15 minutos.

CROQUETES, BIFES E SALSICHAS À BASE DE PROTEÍNA DE SOJA

Ingredientes:

250 gramas de proteína de soja

miúda natural

Vz batata-cará

Vi xícara de shoyu macrobiótico

1 xícara de farinha integral fina

1 xícara de farinha de trigo comum

Vz xícara de farinha ae rosca

1 xícara de água

2 colheres de sopa de óleo de oliva

Vi cebola picada

1 colher de chá de sal marinho

1 colher de chá de orégano

1 colher de chá de cominho

1 colher de chá de curry

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ALIMENTAÇAO PARA UM NOVO MUNDO

Modo de preparar:

CoLoque a proteína em água quente para

hidratar durante 30 minutos. Lave-a em

água corrente para retirar o soro. Junto

com a batata-cará, bata no Liqüidificador

todos os temperos. CoLoque a água aos

poucos no Liqüidificador. Misture o com-

posto à proteína e aplique as farinhas

para dar liga. Modele como quiser. Pas-

se na farinha de rosca e frite numa fri-

gideira, com pouco óleo de oliva, bem

quente. Se preferir, asse no forno em

fôrma untada.

Para preparar as salsichas, liquidificar uma

beterraba crua e misturá-la ao prepara-

do, modelando-as. Asse-as no forno e,

depois, use o molho de sua preferência.

FAROFA DE GERME DE TRIGO

Ingredientes:

250 gramas de germe de trigo

1 colher de sopa rasa de sal marinho

% de ceboLa picada

1 cenoura ratada

3 colheres de sopa de óleo de oliva

Modo de preparar: Refogue a cebola e a cenoura no óleo

quente, Acrescente o germe de trigo e

mexa com uma colher de pau por 5 ou

10 minutos.

Guarde em vidro seco e bem fechado.

É uma opção proteica e saborosa para

as pessoas que não têm muito tempo

de cozinhar. Dura até sete dias sem es-

tragar.

FEIJÃO-PRETO 3 ÁGUAS

Ingredientes:

3 xícaras de feijão-preto

5 xícaras de água

1 cebola média

2 folhas de Louro

1 colher de sopa rasa de sal marinho

2 colheres de óleo de oliva

Modo de preparar:

Deixe o feijão de molho da noite para

o dia. Jogue fora a primeira água.

Cozinhe o feijão com as 5 xícaras de

água. Quando estiver fervendo, jogue

fora a segunda água. Com mais 5 xíca-

ras de água, leve novamente ao fogo

acrescentando os temperos. Deixe co-

zinhar por uns 25 ou 30 minutos.

Frite a cebola no óleo e despeje sobre

o feijão já pronto, depois de desligar

o fogo.

A técnica das três águas é necessária

para eliminar toxinas fermentativas do

feijão-preto.

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Ingredientes:

1 kg de maçãs

6 xícaras de açúcar mascavo

casca de 1 laranja-lima ou limão

canela em casca

DE MAÇÃ

Modo de preparar.

Corte as maçãs em quatro. Coloque er

uma panela, acrescentando a raspa da

laranja ou do limão mais a canela. Cu-

bra com água e deixe ferver. Retire dc

fogo, passe em um coador e acrescen-

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ALIMENTAÇAO PARA UM NOVO MUNDO

te o açúcar. Leve novamente ao fogo

por uns 30 minutos ou mais, até que

a geléia adquira a consistência dese-

jada.

GERSAL

Ingredientes:

16 porções de gergelim com casca

1 porção de saL marinho

Modo de preparar:

Toste os ingredientes durante 5 ou 7

minutos numa frigideira, mexendo com

uma colher de pau. Deixe esfriar e tri-

ture no liqüidificador. Guarde o con-

teúdo em um vidro seco e bem fecha-

do. Use como tempero sobre o arroz

integral cozido ou sobre outros pratos

à base de cereais. 0 gersal é alca-

linizante e possui várias propriedades

nutritivas.

GOIABA RECHEADA COM RICOTA

Ingredientes

goiabas (de preferência, vermelhas)

ricota

cebola

óleo de girassol

shoyu

Modo de preparar.

Lave bem as goiabas e retire todos os

caroços com uma colher. Corte a fruta

por cima, onde será recheada.

Lave a ricota.

Com os demais ingredientes prepare um

refogado, coloque a ricota e deixe co-

zinhar um pouco. Use salsinha para dar

um toque.

Recheie as goiabas, coloque-as numa

bandeja e leve-as ao forno para dourar.

GRÃO-DE-BICO ESPECIAL

Ingredientes:

3 xícaras de grão-de-bico

6 xícaras de água

1 cebola picada

Vi pimentão picado

1 xícara de moranga (com casca)

picada

1 colher de chá de sal marinho

2 folhas de louro

1 xícara de tofu picado em cubos

1 colher de sopa de óleo de oliva

Modo de preparar:

Deixe o grão-de-bico de molho por 12

Page 283: Alimentacao_Para_Um_Novo_Mundo__Dr._Marcio_Bontempo.pdf

MÁRCIO BONTEMPO

horas. Depois de lavá-lo cozinhe-o em

panela de pressão com as 6 xícaras de

água, por 30 ou 40 minutos.

Refogue os demais ingredientes no

óleo por 20 minutos, misture-os ao

grão-de-bico e espere mais uns 5 mi-

nutos para desligar o fogo.

LASANHA INTEGRAL

Ingredientes:

1 pacote de massa para

lasanha integral

250 gramas de proteína de soja

1 cebola média picada

3 espigas de milho verde debulhadas

2 molhos de espinafre

2 cenouras refogadas

100 gramas de maionese de soja

ou tofu

água

sal marinho

Modo de preparar:

Cozinhe a massa em uma panela com

água, um fio de óleo de oliva e sal ma-

rinho. Escorra a água e deixe esfriar.

Enquanto a massa esfria, hidrate a pro-teína em água quente, lavando-a bem

e refogando-a com o milho e os tem-

peros.

Com a cenoura, faça uma maionese,

batendo-a no liqüidificador e acrescen-

tando cebola frita.

Em uma fôrma untada coloque as cama-

das de massa e recheios, cobrindo a úl-

tima camada com a maionese de cenoura

(ou de tofu). Polvilhe com orégano e

leve ao forno bem quente por uns 15

minutos.

Por ser um prato muito forte, esta la-

sanha deve ser consumida em ocasiões

especiais.

LEITE DE SOJA

Ingredientes:

1 kg de soja em grão

5 litros de água

Modo de preparar:

Deixe os grãos de soja de molho por 12

horas.

Escorra a água e coloque os grãos so-

bre um guardanapo em cima da mesa.

Passe um rolo de massas ou uma garra-

fa sobre eles, com firmeza.

Dentro de uma bacia, lave o conteúdo

com água corrente, procurando retirarto-

das as peles soltas dos grãos. Bata tudo

no liqüidificador, até ficar em ponto de

creme, acrescentando água aos poucos.

Se for preciso, bata duas vezes ou mais.

Coloque o creme em uma panela gran-

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MÁRCIO BONTEMPO

2 colheres de sopa de vinagre de

maçã natural

1 colher de sopa de sal marinho

1 colher de sopa de gengibre ralado

ervas a gosto

Modo de preparar.

Bata todos os ingredientes no liqüidi-

ficador por 4 ou 5 minutos. Guarde em

vidro esterilizado e bem fechado. Utili-

ze-a, também, como recheio de tortas sal-

gadas.

Na geladeira dura de 5 a 7 dias.

MASSA INTEGRAL PARA PANQUECA

Ingredientes:

1 xícara de farinha de trigo

integral fina

2 xícara de farinha de trigo comum

1 colher de chá de sal marinho

Vz batata-cará ou 2 inhames pequenos

6 xícaras de água

2 colheres de sopa de araruta

Modo de preparar:

Misture todos os ingredientes. Bata no

liqüidificador e deixe descansar por

mais ou menos 2 horas.

Uma a uma, frite as panquecas em uma

frigideira com pouco óleo. Vire-as com

a escumadeira e um garfo ou, com cer-

ta habilidade, jogue-as para o alto, vi-

rando-as no ar.

Utilize como recheio o tofu temperado,

ricota ou aquele citado na receita de

lasanha.

MOLHO BRANCO

Ingredientes:

200 gramas de tofu

3 colheres de sopa de aveia em flocos

finos

1 cebola cortada em cubos

1 colher de sopa de araruta

ou maisena

2 xícaras de água

Modo de preparar.

Bata tudo no liqüidificador até ficar

bem cremoso. Leve ao fogo brando e co-

zinhe, mexendo de vez em quando.

Acrescente um pouco de óleo no final

do cozimento.

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PANETONE TUTTI FRUTTI

Ingredientes:

600 gramas de farinha de trigo

branca comum

400 gramas de farinha de trigo

integral fina

300 gramas de açúcar mascavo

peneirado

60 gramas de fermento instantâneo

4 colheres de sopa de manteiga

colonial

100 gramas de frutas cristalizadas

naturais

100 gramas de uvas-passas (pretas e

brancas)

4 colheres de sopa de gengibre ralado

4 colheres de sopa de raspa de casca

de limão

400 ml de suco de uva morno

4 colheres de sopa de lecitina de soja

50 gramas de coco ralado natural

1 colher de sopa de canela em pó

Modo de preparar:

Misture muito bem todos os ingredien-

tes até formar uma massa uniforme,

macia e não pegajosa. Se necessário,

acrescente mais água. Amasse bem e

deixe descansar por 10 minutos. Torne

a amassar e aguarde até que a massa

dobre de tamanho.

Divida-a em porções iguais, em forma

de bolas, referentes ao número de pane-

tones desejados (a quantidade acima dá

para 5 ou 6 panetones). Ponha a mas-

sa em fôrmas de papel próprias para

panetones, cobrindo com um pano lim-

po por mais 10 minutos.

Corte-as superficialmente em forma de

cruz com faca ou tesoura.

No centro de cada cruz, coloque 1 co-

lher de sopa de manteiga.

Leve ao forno preaquecido e asse em

temperatura média, por aproximadamen-

te 40 minutos. Deixe esfriar e sirva.

PANQUECA DE COUVE-FLOR

Ingredientes:

2 xícaras de farinha de trigo comum

1 xícara de farinha integral

3 xícaras de água

2 colheres de sopa de óleo de oliva

1 colher de sopa de sal marinho

1 couve-flor pequena

1 cebola picada

tempero verde

V* xícara de shoyu macrobiótico

1 colher de sopa de orégano

Modo de preparar.

Utilize a massa de panqueca da receita

anterior. Para rechear, prepare um refo-

gado de couve-flor da seguinte maneira:

doure a cebola em pouco óleo, acres-

centando a couve-flor picada, o shoyu

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MÁRCIO BONTEMPO

e os demais temperos, refogando tudo

por uns 15 minutos. Recheie cada pan-

queca, coloque-as num pirex e enfeite

com o molho de sua preferência.

PÃO ARCO-ÍRIS

Ingredientes:

Idem receita do Chapati.

Modo de preparar:

Prepare 3 massas diferentes feitas

com corantes naturais de beterraba,

espinafre e cenoura. Utilizar uma xí-

cara da tintura natural, feita com o

legume ou raiz refogado e liquidifi-

cado, para 1 kg de farinha de trigo

branca (+ fermento, sal, mascavo,

etc.) Depois de bem amassadas sepa-

radamente, teremos 3 massas, 1 ver-

melha, 1 amarela e 1 verde.

Passe o rolo ou uma garrafa sobre cada

uma das massas, abrindo-as como se

fosse massa de pastel.

Modele três massas para que fiquem do

mesmo tamanho em retângulos iguais.

Coloque um retângulo de massa sobre

outro na seguinte ordem: vermelho —

verde — amarelo. Enrole como se fos-

se um rocambole, em forma de cilindro.

Corte o cilindro em pequenos pedaços

de 5 ou 6cm. Leve estes pequenos

pãezinhos cilíndricos a uma fôrma un-

tada, dispondo-os lado a lado, todos na

posição vertical. 0 ideal é fazer uma fila

de 4 por 8.

Espere 20 minutos para que cresçam no

forno quente, mas desligado. Ligue o

forno e deixe-os assar por 25 a 30 mi-

nutos.

Estes pães ficam muito bonitos, saudá-

veis, especiais na ceia de Natal e são

uma boa opção para crianças que não

gostam de verduras e Legumes.

POLENTA COM MOLHO DE ALGAS

Ingredientes:

2 xícaras de farinha de milho fina

1 colher de chá de sal marinho

4 xícaras de água

6 rodelas de alga kombu

Vi cebola picada

1 pitada de cominho em pó

1 xícara de shoyu

1 colher de chá de gengibre ralado

Modo de preparar.

Em uma panela, misture a farinha de

milho, a água e o sal, e cozinhe, me-

xendo com uma colher de pau até qup

a polenta se torne sólida.

Refogue a cebola no óleo quente e acres-

cente os demais ingredientes, com ex-

ceção do shoyu. Refogue por mais uns

10 minutos, adicionando um pouco de

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ALIMENTAÇAO PARA UM NOVO MUNDO

água sempre que secar. Despeje o shoyu

e deixe refogar por mais 5 minutos.

Aplique este molho sobre a polenta e

sirva quente.

É uma ótima combinação de elemen-

tos, tornando-se um prato apreciável

por todos.

PUDIM DE FRUTAS EM CAMADAS

Ingredientes:

2 xícaras de morango liquidificado

mais 1 xícara de água

2 xícaras de suco de uva natural mais

1 xícara de água

2 xícaras de suco de maçã mais 1

xícara de água

2 colheres de sopa de caldo de limão

3 colheres de sopa de maisena para

cada camada

3 colheres de sopa de açúcar mascavo

para cada camada

Modo de preparar:

Cozinhe separadamente cada item com

o açúcar mascavo, engrossando com a

maisena. Em uma fôrma refratária, co-

loque uma camada de cada vez e deixe

esfriar (as camadas devem ser cozidas

em tempos diferentes).

Não acrescente a camada seguinte en-

quanto a anterior não estiver fria.

Depois de tudo pronto, aplicar a co-

bertura, cremosa, feita da seguinte

maneira:

Em uma panela, coloque 2 xícaras de

água, 1 vidro de leite de coco, 2 co-

lheres de sopa de araruta, 2 colheres

de sopa de mel puro e leve tudo ao

fogo. Mexa sempre até ferver. Espere

esfriar e aplique sobre o pudim.

QUEIJO DE SOJA: TOFU

Ingredientes:

2 litros de leite de soja

4 limões-taiti médios

2 colheres de sopa de sal marinho

2 colheres de sopa de orégano

outros temperos a gosto

Modo de preparar.

Aqueça o leite de soja até o ponto da

fervura. Retire do fogo e misture o suco

dos limões coado. Acrescente o sal e

os temperos, mexendo bem. Deixe des-

cansar um pouco para coagular. Colo-

que em um pano para escorrer, depois

ponha dentro de uma vasilha revestida

com um tecido de algodão. Aperte um

pouco e deixe assim por mais ou me-

nos 24 horas.

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QUIBE VEGETAL

Ingredientes:

250 gramas de trigo burgol para quibe

1 ovo caipira (opcional)

2 colheres de sopa de óleo de oliva

água

1 cebola média

Vz batata-cará

4 colheres de sopa de farinha integral

farinha de rosca

3 colheres de sopa de molho shoyu

Modo de preparar.

Deixe o trigo burgol de molho em água

morna durante duas horas.

Enquanto isso, refogue os demais in-

gredientes, com exceção da farinha,

por alguns minutos. Tire do fogo e

deixe esfriar. Coloque a farinha e

modele, passando o quibe na farinha

de rosca antes de fritar em pouquís-

simo óleo de oliva.

SAGU DE FRUTAS

Ingredientes:

Ve litro de suco de fruta

Vi litro de água

IV2 xícara de açúcar mascavo

casca de 1 laranja-lima

canela em casca

4 cravos-da-índia

1 colher de sopa de noz-moscada

ralada

250 gramas de sagu

Modo de preparar.

Coloque o sagu de molho por duas horas.

Ferva os demais ingredientes junto com

o suco. Quando iniciar a fervura, adicio-

ne, o sagu, deixando cozinhar por mais

uns cinco minutos, mexendo sempre. Re-

tire do fogo e deixe esfriar em tigelinhas.

Quando estiver frio, leve à geladeira.

Sirva com creme de coco ou chantilly.

SALADA CRUA DE ABÓBORA JAPONESA

Ingredientes:

1 abóbora japonesa pequena

Maionese de soja (ver seção de

maioneses) a gosto

Modo de preparar.

Lave bem a abóbora com escova de

náilon e água, sem retirar a casca. Rale

em ralador plástico, na espessura de-

sejada, retirando apenas as sementes

e os fiapos internos. Misture a maione-

se de soja. Se quiser acrescente raba-

nete picado ou cogumelos crus.

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SORVETE DE ABACAXI

Ingredientes:

Vz abacaxi liquidificado

1 colher de sopa de essência naturaL

de baunilha

4 colheres de sopa de extrato de soja

1 xícara de açúcar mascavo peneirado

1 xícara de água quente

1 xícara de iogurte natural

Modo de preparar:

Bata todos os ingredientes num ü-

quificador. Leve ao congelador. Depois

de congelado, Liquidifique novamente,

acrescentando um pouco mais de iogur-

te para facilitar o processo.

Se desejar, adicione chantilly naturaL

STROGONOFF VEGETARIANO

Ingredientes:

250 gramas de proteína de soja

graúda

4 cenouras pequenas

2 chuchus

250 gramas de vagem

2 batatas-cará

2 cebolas médias

Vi de xícara de óleo de oliva

2 xícaras de molho branco

4 colheres de sopa de salsa picada

2 colheres de sopa de orégano

1 colher de sopa de sal marinho

1 pitada de curry

Modo de preparar:

Hidrate a proteína em água quente por uns

30 minutos, lavando-a em água corrente.

Frite a cebola bem picada, acrescentando

a proteína e os legumes igualmente pica-

dos. Junto com a cebola refogue tudo em

uma panela. Quando o preparado estiver

macio, misture o molho branco, cozinhan-

do por mais alguns minutos.

SUFLÊ DE COUVE-FLOR

Ingredientes:

couve-flor

leite de coco

maisena

cebolinha

óleo de girassol

shoyu

Modo de preparar:

Cozinhe as flores cortadas em pedaços

pequenos {não deixe cozinhar muito).

Molho branco: corte a cebola xadrez e

refogue-a com óleo (bem pouco). De-

pois de dourá-la, coloque o leite de

coco já quase fervido. Dilua em água

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fria um pouco de maisena para engros-

sar o creme. Salgue com shoyu.

Coloque numa fôrma de vidro, salpique

coco por cima e deixe dourar no forno.

TRIGO PARA QUIBE COM LEGUMES

Ingredientes:

3 xícaras de trigo burgol para quibe

cozido e escorrido

1 cebola média picada

1 abobrinha comprida picada

1 chuchu picado

1 cenoura ralada

1 beterraba ralada

100 g de tofu

1 inhame ralado

10 cm de bardana ralada

4 rabanetes picados

1 colher de chá de sal marinho

2 colheres de sopa de óleo de oliva

1 colher de chá de noz-moscada ralada

Modo de preparar:

Cozinhe 2 xícaras do trigo burgol em

4 xícaras de água (o que resultará em 3

xícaras de burgol cozido). Escorra bem

e reserve. Refogue a cebola no óleo

quente e acrescente os demais ingre-

dientes, deixando por mais 10 minu-

tos. Misture o trigo burgol e cozinhe

por mais 5 minutos.

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4 y

Associação Internacional de Proteção aos Animais Rua Moreira de Godoi, 495 São Paulo — SP

Associação Pró-Direito dos Animais Av. Sergipe, 217 Porto Alegre — RS

Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis Rua Santo Eliseu, 272 Vila Maria São Paulo — SP leis.: ( I I ) 292-9308 — 6955-4352 http://Aww.apasfa.org

Frente Brasileira para Abolição da Vivissecção — FBAV Caixa Posta! 8.169 Rio de Janeiro — RJ CEP 21032-970 Tels. (21)9962-1526 [email protected]

Fundação Cloé-Misael Cardoso Pinto Filho de Proteção da Fauna e Flora Rua Antonio Onisto — Casa do Telhado Verde Extrema — MG Tels.: (35) 435-1470 -435-1902

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis — Ibama Rara receber denúncias e sugestões de qualquer lugar do Brasil, para denunciar ambulantes e vendedores de animais

silvestres ou para obter outras informações: Linha Verde 0800 61 8080. Avenida L 4 Norte s.n., Edifício Sede do Ibama Brasília — DF CEP 70.800-200 Tels.: (61) 226-8221 -226-9014 Fax: (61)322-1058 [email protected] www.ibama.gov.br

International Wiidlife Coalition P O. Box 5087 Florianópolis — SC CEP 88040-970 Tels.: (48) 234-0021 Fax: (48) 234-2580 [email protected] http://www.procergs.com.br/iwcbr

Liga Brasileira dos Direitos dos Animais Av. Delfim Moreira, 396, cj. 01 Rio de Janeiro — Rj

Liga de Prevenção à Crueldade contra o Animal Rua Espírito Santo, 935, ap. 803 Belo Horizonte — MG Tels.: (31) 224-4735

Sociedade de Proteção aos Animais Francisco de Assis Rua Desembarcador Botto de Menezes. 634 Mandacaru João Pessoa — PB

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Sociedade Educacional Fala Bicho Caixa Postal 31.047 Rio de janeiro — RJ CEP 20732-970 Tels.: (21)568-1708 falabicho infolink.com.br www.falabicho.org.br

Sociedade Juizforense de Proteção aos Animais Caixa Postal 1.103 Juiz de Fora — MG

Sociedade Norte Mineira Protetora dos Animais — SNMPA Av, Coronel Prates. 106 Montes Claros — MG

Sociedade Petropolitana Protetora dos Animais — SPPA Rua Marechal Hermes da Fonseca, 675 Petrópolis — RJ

Sociedade União Internacional Protetora dos Animais — SUIPA Av. Suburbana, 1.801 Benfica Rio de Janeiro— RJ CEP 20973-010 Tels.: (21) 2501 -1529 — 2501 -9954 Fax: {21)2501-7896 [email protected] http://www.suipa.org.br

Sociedade Zoófila Educativa — Sozed Avenida Delfim Moreira, 1.044 Rio de Janeiro — RJ Tels.: (21) 259-3926 — 273-3990

SOS Bichos Protetora Rua Xavier de Gouveia, 189 Campo Belo São Paulo — S P

SOS. Bichos Rua Cravinhos, 85, casa 7 São Paulo — S P

União em Defesa das Baleias Rua Granja Julieta, 345 São Paulo — S P Fax:(l 1)246-9354

União Erechinense Protetora dos Animais Rua Torres Gonçalves 153/501 Erechim — RS Tels.: (54) 321-1329

World Society for the Protection of Animais — W S P A Rua Manuel da Nóbrega, 471 /02 São Pauio — SP CEP 04001-083 Tels.: (I 1)884-8787

W W F — Program Office SHIS EQ QL6/8, cjE, 2.° andar Brasília — DF CEP 71620-430 Tels.: (61)248-2899 Fax: (61)248-7176 [email protected] http://www.wwf.org.br

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Organizações internacionais de interesse

Animal Place Providenciam morada e alojamento para animais resgatados de abates e submissão a sacrifícios ou trabalhos forçados desumanos. 3448 Laguna Creek Trai!, Vacaville, CA 95688; Tel. 707-449-4814. www.animalplace.org

Association of Veteri narians for Animal Rights Trabalham pela proteção animal, com base numa visão veterinária e ética. R O. Box 208, Davis, CA 95617-0208; TeS. 530-759-8106. www.avar.org

Centerfor Science in the Public Interest — CSPl Trabalham por uma melhor qualidade e conscientização alimentar. Publicam o periódico Nutrition Action Healthletter.

1875 ConnecticutAve., NW, Ste. 300, Washington, DC 20009; Tel. 202-332-91 10, www.cspinet.org

Citizens for Health Informam consumidores sobre opções alimentares vegetarianas e suplementação dietética. R O. Box 2260, Boulder, C O 80306; Tel. 800-357-221 I. www.citizens.org

EarthSave Grupo liderado por John Robbins, autor do best seller Diet for a New America.

A organização é internacional e divulga matérias e eventos ligados à proteção dos animais, vegetarianismo completo (vegans) e atividades em favor dos direitos dos animais, www.earthsave. org

Endangered Species Coalition Lutam pela preservação das espécies em perigo de extinção, l i 01 14th St. NW, Ste. 1400, Washington, DC 20005; Tel. 202-682-9400. www.stopextinction.org

Farm Animal Reform Movement — Farm Promovem o vegetarianismo integral e promovem campanhas educativas quanto aos direitos dos animais. R O. Box 30654, Bethesda, MD 20824; 888-FARM-USA. www.farmusa.org

Farm Sanctuary Facultam alojamento e proteção a animais salvos do abate cruento e vida sacrificante em fazendas de criação e abatedouros, além de promoverem campanhas educativas de esclarecimento sobre o direito animal. Têm um santuário dedicado a animais. R O. Box 150,

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Watkins Gien, NY 14891; Tel. 607-583-2225;

RO , Box 1065, Orland, CA 95963; Tel. 530-865-4617. www.farmsanctuary.org www.factoryfarming. com

Food and Water Desenvolvem campanhas públicas contra alimentos industrializados e agrotóxicos, incluindo irradiação e transgênicos. Publicam o Food and Water Journal and

Wild Matters.

389 Rt. 215, Walden, VT 05873; 800-EAT-SAFE. www.foodandwater. org

Food Animal Concerns Trust— FACT Promovem métodos mais humanos de criação de galináceos e gado, com programas de humanização. RO . Box 14599, Chicago, IL 60614; Tel. 773-525-4952, www.fact.com

Friends of the Earth Trabalham pela proteção do planeta contra a degradação ambiental, biológica, cultural e pela diversidade étnica. 1025 Vermont Ave., NW, Washington, DC 20005; Tel. 202-783-7400; www.foe.org

Global Resource Action Center for the Environment — Grace Lutam pela preservação do futuro da sociedade e do planeta, por uma melhor qualidade de vida e ambiental. 15 E, 26th St., Rm, 915, New York, NY 10010; Tel. 212-726-9161. www.graceliriks.org

Greenpeace Internacional Campanhas e educação ambiental, com ênfase na questão das florestas, clima, oceanos e espécies animais. 702 H St., N W Ste. 300, Washington, DC 20001; Tel. 202-462-1177. www.greenpeace.org

Humane farming Association Trabalham para a coibição do abuso e da tortura animal em fazendas de criação através de campanhas educativas na mídia em prol da consciência vegetariana. R O. Box 3577, San Rafael, CA 94912; Tel. 415-485-1495. www.hfa.org

Humane Society of the United States — HSUS Promovem a consciência por um tratamento mais humano e respeito em relação aos animais. 2100 L St., N W Washington, DC 20037. www.hsus.org

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Internationa! Vegetarian Union — IVU Promove o vegetarianismo através de grupos internacionais e realizando congressos vegetarianos. RO . Box9710 Washington, DC 20016; 202-3 62-VEGY www.ivu.org

North American Vegetarian Society — Navs Dedicado à promoção de eventos ligados ao vegetarianismo nos Estados Unidos. Publicam o periódico Vegetarian Voice.

R O. Box 72. Doigeville, NY 13329; Tel. 518-568-7970. www.navs-online.ong

One Peaceful World — OPW Grupo macrobiótico de Massachussets, liderado por Michio Kushi, atual líder mundial da macrobiótica. Cursos, seminários, grupos, culinária e alojamento para visitantes. www.macrobiotics.org/opw.html

Our Food, Our World Circle of Life Foundation Fundado por Julia Butterfly Hill, atua em conjunto com outras entidades similares em favor da defesa do meio ambiente e dos animais. R O. Box 1940, Redway, CA 95560; Tel. 707-923-9522. www.circleoflifefoundation.org

People for the Ethical Treatment of Animais — Peta Trabalham contra a crueldade e o sacrifício animal, em fazendas, laboratórios etc. 501 FrontSt., Norfolk, VA 23510; 757-622-PETA. www.peta-online.org

Rainforest Action Network Atuam na área de proteção ambiental ligada à defesa da Mata Atlântica e outras atividades ecológicas. 221 Pine St, San Francisco, CA 94104; Tel. 415-398-4404. www.ran.org

Safe Tãbles Our Priority — Stop Ampara vítimas de intoxicações e danos produzidos por alimentos industrializados e desenvolve política pública de educação quanto a hábitos alimentares mais saudáveis. R O. Box 46522, Chicago, iL 60646-0522; Tel. 312-957-0284; www.stop-usa.org

The Fund for Animais Protegem a vida animal selvagem e doméstica através de educação e atuação legai. 200 West 57th St.. Ste. 705, New York, NY 10019; 888-405-FUND. www.fund.org

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ALIMENTAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO

The Hunger Project Trabalham contra a fome e a desnutrição no mundo atuando nas comunidades carentes. 15 E. 26th St., New York, N Y 10010; Tel. 212-251-9100. www.thp.org

Union of Concerned Scientists — UCS União dos dentistas conscientes dos EUA, que buscam uma atuação mais responsável nas áreas de energia, meio ambiente, transporte, recursos esgotáveis e vida animal. 2 Bnattle Sq., Cambridge MA 02238; Tel. 617-547-5552. www.ucsusa.org

Worldwatch Institute Produzem relatos e reportagens sobre a questão ambiental global do planeta, incluindo o famoso periódico WorldWatch.

1776 Massachusetts Ave., NW, Washington, D C 20036; Tel. 202-452-1999. www.worldwatch.org

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