Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE TURISMO CURSO DE TURISMO Aline Beatriz Pérez Zúñiga A DINÂMICA DO TURISMO EM COMUNIDADES INDÍGENAS MEXICANAS: UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO EM CUETZALAN, PUEBLA NATAL 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE TURISMO

CURSO DE TURISMO

Aline Beatriz Pérez Zúñiga

A DINÂMICA DO TURISMO EM COMUNIDADES INDÍGENAS MEXICANAS:

UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO EM CUETZALAN, PUEBLA

NATAL

2015

Page 2: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

Zúñiga, Aline Beatriz Pérez.

A dinâmica do turismo em comunidades indígenas mexicanas: uma análise

do desenvolvimento em Cuetzalan, Puebla / Aline Beatriz Pérez Zúñiga. -

Natal, RN, 2015.

100f.

Orientador: Prof. Dr. Wilker Ricardo de Mendonça Nobrega.

Monografia (Graduação em Turismo) - Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de

Turismo.

1. Turismo cultural – México – Monografia. 2. Comunidades indígenas –

Mexicanas - Monografia. 3. Patrimônio cultural - Monografia. 4.

Desenvolvimento sustentável – Turismo – Monografia. I. Nobrega, Wilker

Ricardo de Mendonça. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/BS/CCSA CDU 338.48-6:7/8(721/727)

Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

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Aline Beatriz Pérez Zúñiga

A DINÂMICA DO TURISMO EM COMUNIDADES INDÍGENAS MEXICANAS:

UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO EM CUETZALAN, PUEBLA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação de Graduação em Turismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para a obtenção de título

de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dr. Wilker Ricardo de

Mendonça Nobrega

NATAL

2015

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Aline Beatriz Pérez Zúñiga

A DINÂMICA DO TURISMO EM COMUNIDADES INDÍGENAS MEXICANAS:

UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO EM CUETZALAN, PUEBLA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Coordenação de Graduação em Turismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel

em Turismo.

Data de aprovação: 03/12/2015

Banca examinadora:

______________________________________________

Prof. Dr. Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Orientador

______________________________________________

Prof.ª Dra. Kerlei Eniele Sonaglio

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Examinadora

______________________________________________

Prof.ª Dra. Cassiana Panissa Gabrielli

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Examinadora

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Tein tikpia amo ejko kemej tapetanilot yeua

tein tekit tik chiua tonalmej, mesmej uan

xiujmej. Idioma Náhuatl -

El éxito no llega por suerte, es el sacrificio

y el esfuerzo de días, meses y años de

trabajo

O sucesso não chega por acaso, é o

sacrifício e o esforço de dias, meses e anos

de trabalho

Sin embargo, por la gracia de Dios soy lo que soy

y el favor que me hizo no fue en vano; he

trabajado más que todos ellos, aunque no yo, sino

la gracia de Dios que está conmigo.

1 Cor 15, 10

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AGRADECIMENTOS

Eterna gratitud a Dios, eterna presencia de infinito amor, en todo momento, por todas las cosas.

Por permitirme vivir con Él este sueño, aprender, madurar y crecer resiliente.

Miak tasokamatik uan to Teotzin, miak tasokamatik, Tonantzin.

Agradezco a mi familia en México, papás, hermanos, abuelitos y amigos porque cada

paso dado es un esfuerzo en conjunto y el logro es de todos nosotros.

Gracias a cada uno de aquellos que se volvieron mi familia en Brasil. A mis

hermanos de misión, siempre amigos, por la compañía y apoyo en este camino. Y a mis hermanos

de capoeira, por la fraternidad y esa unión única que tenemos.

A todos los que hacen posible el PEC-G en Brasil, por darnos la oportunidad de

formarnos en esta nación y a todos los compañeros del PEC-G, que viniendo de países y culturas

tan diferentes compartimos los mismos sueños, historias y luchas.

A mis profesores más dedicados del curso de Turismo, por su entrega a la profesión y

por todo el conocimiento transmitido, siendo un ejemplo a seguir en mi carrera.

A mis compañeros y amigos en la UFRN.

Al profesor Wilker Nóbrega por la orientación en este trabajo.

A la comunidad nahua de Cuetzalan, a las mujeres de la Masehual Siuamej

Mosenyolchicauani, por su ejemplo de vida que fue mi motivación para realizar este trabajo y por

todas las atenciones y apoyo prestado.

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ZÚÑIGA, Aline Beatriz Pérez. A dinâmica do turismo em comunidades indígenas

mexicanas: uma análise do desenvolvimento em Cuetzalan, Puebla. 2015. 99 p. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de Turismo, Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal, 2015.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a relação da dinâmica da atividade turística com o

desenvolvimento nas comunidades indígenas no México, especificamente na Serra Norte do

estado de Puebla. Foi escolhida esta região por ter uma concentração significativa de

comunidades indígenas no país e ter o turismo como uma das principais atividades econômicas.

A metodologia da pesquisa foi descritiva de abordagem qualitativa e foi desenvolvida nas

comunidades nahuas pertencentes ao município de Cuetzalan del Progreso. Primeiramente foi

realizada uma consulta de material bibliográfico com coleta de dados secundários relacionada

com os conceitos de desenvolvimento sustentável e turismo cultural. Posteriormente foi realizado

o levantamento de dados primários por meio da observação de campo em dezembro de 2014 e

julho de 2015, bem como entrevistas com representantes do poder público, a iniciativa privada e

o terceiro setor, a população indígena e os próprios turistas com o fim de traçar o perfil de cada

ator. Finalmente foram identificados os fatores e ações que contribuíram ao desenvolvimento

sustentável por meio do turismo nas comunidades indígenas. Os resultados apontam que o

turismo iniciou em Cuetzalan após a construção de vias de acesso e se intensificou a partir da

divulgação por parte dos primeiros visitantes. Os recursos naturais da região foram o principal

atrativo no inicio da atividade turística, posteriormente foi explorado o patrimônio cultural.

Atualmente ambos os recursos são utilizados em conjunto e o município mostra uma demanda

crescente através do tempo. Houve um maior grau de desenvolvimento no momento em que a

população indígena teve uma participação mais ativa tanto na gestão quanto na produção e oferta

de produtos e serviços. Outro fator chave que impulsou o desenvolvimento a partir do turismo foi

a inclusão no Programa Pueblos Mágicos da SECTUR em 2002. Em conclusão, atualmente o

turismo é uma das principais atividades econômicas no município, servindo de apoio para as

outras e os benefícios que a mesma traz são principalmente a geração de receitas, a conservação

dos recursos naturais, a valorização da cultura e a promoção social. Afirma-se assim que a

atividade turística é protagonista no desenvolvimento sustentável em Cuetzalan.

Palavras-chave: Turismo Cultural; Comunidades Indígenas; Desenvolvimento Sustentável.

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ZÚÑIGA, Aline Beatriz Pérez. La dinámica del turismo en comunidades indígenas

mexicanas: un análisis del desarrollo en Cuetzalan, Puebla. 2015. 99 p. Trabalho de Conclusão

de Curso (Graduação) - Curso de Turismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

2015.

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivo analizar la relación de la dinámica de la actividad turística

con el desarrollo en las comunidades indígenas en México, específicamente en la Sierra Norte del

estado de Puebla. Fue escogida esta región por tener una concentración significativa de

comunidades indígenas en el país y tener al turismo como una de las principales actividades

económicas. La metodología de la investigación fue descriptiva de abordaje cualitativo y fue

desarrollada en las comunidades nahuas pertenecientes al municipio de Cuetzalan del Progreso.

Primeramente fue realizada una consulta de material bibliográfico con recolección de datos

secundarios relacionada con los conceptos de desarrollo sustentable y turismo cultural.

Posteriormente fue realizado el levantamiento de datos primarios por medio de la observación de

campo en diciembre de 2014 y julio de 2015, bien como entrevistas con representantes del poder

público, la iniciativa privada y el tercer sector, la población indígena y los propios turistas a fin

de trazar el perfil de cada actor. Finalmente fueron identificados los factores y acciones que

contribuyeron al desarrollo sustentable por medio del turismo en las comunidades indígenas. Los

resultados apuntan que el turismo se inició en Cuetzalan después de la construcción de vías de

acceso y se intensificó a partir de la divulgación por parte de los primeros visitantes. Los recursos

naturales de la región fueron el principal atractivo al inicio de la actividad turística,

posteriormente fue explotado el patrimonio cultural. Actualmente ambos recursos son utilizados

en conjunto y el municipio muestra una demanda creciente a través del tiempo. Hubo un mayor

grado de desarrollo en el momento en que la población indígena tuvo una participación más

activa tanto en la gestión como en la producción y oferta de productos y servicios. Otro factor

clave que impulsó el desarrollo a partir del turismo fue la inclusión en el Programa Pueblos

Mágicos de la SECTUR en el 2002. En conclusión, actualmente el turismo es una de las

principales actividades económicas en el municipio, sirviendo de apoyo para las otras y los

beneficios que la misma trae son principalmente la generación de ingresos, la conservación de los

recursos naturales, la valoración de la cultura y la promoción social. Así, se afirma que la

actividad turística es protagonista en el desarrollo sustentable en Cuetzalan.

Palabras clave: Turismo Cultural; Comunidades Indígenas; Desarrollo Sustentable.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Sistema de turismo SISTUR ......................................................................................... 20

Figura 2 - Zonas reconhecidas como Patrimônio cultural no México .......................................... 30

Figura 3 - Distribuição espacial dos povos indígenas no país ...................................................... 33

Figura 4 – Logomarca da RITA ................................................................................................... 43

Figura 5 – Municípios da Serra Norte de Puebla.......................................................................... 44

Figura 6 – Mapa da distribuição dos nahuas na Serra Norte de Puebla ....................................... 45

Figura 7 – Praça central de Cuetzalan .......................................................................................... 48

Figura 8 – Vista externa do templo de São Francisco de Assis .................................................... 49

Figura 9 - Interior da Paróquia de São Francisco de Assis ........................................................... 49

Figura 10 – Santuário de Guadalupe e cemitério ......................................................................... 50

Figura 11 - Casa de Cultura de Cuetzalan .................................................................................... 51

Figura 12 – Zona arqueológica de Yohualichan ........................................................................... 52

Figura 13 – Entrada da gruta Atepolihui ...................................................................................... 53

Figura 14 – Rappel em Atepatahua .............................................................................................. 53

Figura 15 - Cachoeira El Salto .................................................................................................... 54

Figura 16 – Jardim Botânico Xoxoctic ......................................................................................... 55

Figura 17 – Gastronomia em Cuetzalan ....................................................................................... 55

Figura 18 – Comida típica Cuetzalteca ........................................................................................ 56

Figura 19 – Vestes típicas das mulheres cuetzaltecas .................................................................. 57

Figura 20 – Temazcal do Hotel Taselotzin ................................................................................... 58

Figura 21 – Rainha da festa do Huipil .......................................................................................... 59

Figura 22 – Dança dos Quetzales ................................................................................................. 60

Figura 23 – Dança dos Voadores do Sol ...................................................................................... 61

Figura 24 - Feira de Cuetzalan ..................................................................................................... 62

Figura 25 - Mercado de artesanato ............................................................................................... 63

Figura 26 – Festa do padroeiro em San Miguel Tzinacapan ........................................................ 64

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Figura 27 – Cartaz do primeiro encontro Tejiendo Nuestras Vidas ............................................. 65

Figura 28 – Mulheres indígenas organizadoras do encontro ........................................................ 65

Figura 29 – Mulheres no tear de cintura ....................................................................................... 66

Figura 30 – Peças artesanais de cera de abelha ............................................................................ 67

Figura 31 – Artesanato de Cuetzalan ............................................................................................ 67

Figura 32 – Quarto do Hotel Taselotzin ....................................................................................... 68

Figura 33 – Rodoviária de Cuetzalan ........................................................................................... 69

Figura 34 - Pueblos Mágicos de México ...................................................................................... 70

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Ranking dos 10 primeiros países por chegadas de turistas internacionais .................. 13

Tabela 2 - Povos indígenas por entidade federativa ..................................................................... 34

Tabela 3 - Indicadores socioeconómicos da população indígena no México............................... 35

Tabela 4 – Referência histórica de eventos e situações representativas ....................................... 39

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Chegadas internacionais de turistas ao México (Em milhares) .............................................. 12

Gráfico 2 - Gênero dos turistas entrevistados ........................................................................................... 80

Gráfico 3 – Escolaridade dos turistas entrevistados ................................................................................... 81

Gráfico 4 – Procedência dos turistas entrevistados .................................................................................... 81

Grafico 5 – Motivo da viagem dos turistas entrevistados .......................................................................... 82

Gráfico 6 – Número de vezes em Cuetzalan dos turistas entrevistados ..................................................... 83

Gráfico 7 – Dias de permanência em Cuetzalan dos turistas entrevistados ............................................... 83

Gráfico 8 – Gasto médio de consumo em MXN dos turistas entrevistados ............................................... 84

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LISTA DE SIGLAS

AIEST - Association Internationale D'Experts Scientifiques Du Tourisme

CDI – Comisión Nacional para el Desarrollo de los Pueblos Indigenas

CESTUR – Centro de Estudios Superiores en Turismo

CONACULTA - Consejo Nacional para la Cultura y las Artes

FONART – Fondo Nacional para el Fomento de las Artesanías

INEGI – Instituto Nacional de Estadística y Geografía

PACMyC - Programa de Apoyo a las Culturas Municipales y Comunitarias

SECTUR – Secretaria de Turismo do México

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

WTO/OMT – World Tourism Organization/ Organización Mundial de Turismo/ Organização

Mundial do Turismo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 12

2 DISCUSSÕES CONCEITUAIS SOBRE TURISMO, PATRIMÔNIO CULTURAL E

COMUNIDADES INDÍGENAS ..................................................................................................................... 19

2.1 Turismo, sustentabilidade e desenvolvimento ................................................................................ 19

2.2 Turismo cultural e patrimônio ........................................................................................................ 25

2.3 Comunidades indígenas no México ................................................................................................ 31

3 O TURISMO E AS COMUNIDADES INDÍGENAS NO MÉXICO ........................................................ 38

3.1 Antecedentes e panorama geral do turismo em comunidades indígenas ........................................ 41

3.2 RITA Red Indígena de Turismo de México ................................................................................... 42

3.3 Município de Cuetzalan del Progreso e Comunidade Nahua ......................................................... 43

3.3.1 Atrativos turísticos, infraestrutura e serviços ................................................................. 47

3.3.2 Infraestrutura e serviços ................................................................................................. 68

3.3.3 Programa Pueblos Mágicos como política pública principal no município ................... 69

3.4 Atores de turismo no município ..................................................................................................... 72

3.4.1 Poder público - Entrevista com o Secretário de Turismo ............................................... 72

3.4.2 Iniciativa privada e terceiro setor - Entrevista com a administração do Hotel Taselotzin

................................................................................................................................................ 75

3.4.3 População - Entrevista com guia de turismo .................................................................. 77

3.4.4 População - Entrevista com produtor de artesanato ....................................................... 78

3.5 Perfil da demanda ........................................................................................................................... 80

3.6 Análise do conjunto de dados coletados ......................................................................................... 85

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................... 91

APÊNDICES .................................................................................................................................................... 95

Apêndice A ........................................................................................................................................... 95

Apêndice B ........................................................................................................................................... 96

Apêndice C ........................................................................................................................................... 97

Apêndice D ........................................................................................................................................... 98

Apêndice E ........................................................................................................................................... 99

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1 INTRODUÇÃO

O México é um país que vem se desenvolvendo de forma relevante nos aspectos

econômico e social. O processo de globalização, a diversidade de recursos naturais e culturais, as

facilidades de acesso pela sua localização estratégica, adjacente aos Estados Unidos de América e

acessível para os países da América Central e América do Sul, a competitividade dos destinos,

entre outros fatores tem feito do México um país com uma demanda turística crescente ao

decorrer do tempo. Segundo as estatísticas, partir de 1950 até os dias de hoje a demanda turística

tem aumentado significativamente. No gráfico 1 é possível verificar o crescimento na chegada de

turistas internacionais a cada dez anos, desde 1950 até o final de 1999 o país passou de 950 mil a

quase 20 milhões, o que representa um crescimento de vinte vezes em meio século.

Gráfico1 - Chegadas internacionais de turistas ao México (Em milhares)

Fonte: Compendio Estatístico de turismo no México (2000)

Por esse motivo, o turismo no México é também um foco de investimentos nacionais

e estrangeiros. Assim, o turismo se bem planejado e realizado de maneira sustentável resulta ser

um fator importante de crescimento e desenvolvimento nas comunidades receptoras, portanto tem

se tornado a principal atividade econômica de diversas regiões. Isso significa que a atividade

25,000

20,000

19,236

17,172

15,000

12,956

10,000

5,000

*

5,782

1,872 *

0 950 *

1950 1960 1970 1980 1990 1999

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turística tem a capacidade para se tornar um dos principais eixos de desenvolvimento do país, e

ser um modelo para outros, pois ele se destaca também a nível internacional. A tabela 1 mostra o

ranking dos 10 países com o maior número de chegadas de turistas no mundo do último ano.

Tabela 1- Ranking dos 10 primeiros países por chegadas de turistas internacionais

POSIÇÃO

Milhões Variação (%)

2013 2014* 13/12 14*/13

1 França 83,6 83,7 2,0 0,1

2 Estados Unidos 70,0 74,8 5,0 6,8

3 Espanha 60,7 65,0 5,6 7,1

4 China 55,7 55,6 -3,5 -0,1

5 Itália 47,7 48,6 2,9 1,8

6 Turquia 37,8 39,8 5,9 5,3

7 Alemanha 31,5 33,0 3,7 4,6

8 Reino Unido 31,1 32,6 6,1 5,0

9 Federação Russa 28,4 29,8 10,2 5,3

10 México 24,2 29,1 3,2 20,5

Fonte: Organização Mundial do Turismo OMT-WTO (2015)

Segundo o Panorama do turismo internacional, edição 2015 da Organização Mundial

do Turismo (OMT), só em 2014 o México recebeu 29,1 milhões de turistas internacionais

apresentando um crescimento de 20,5% em relação ao ano anterior. Cabe destacar que o México

ascendeu 5 posições em 2014 integrando-se assim a esse ranking. Com isso é possível deduzir

que depois dos Estados Unidos, o México recebe anualmente mais turistas que o restante dos

países da América.

Apesar do turismo ser prioritário para o desenvolvimento nacional, não é toda a

população que pode usufruir dos seus benefícios. Como em todo país em desenvolvimento, existe

uma diversidade de classes e condições de vida e dentre os mais vulneráveis se encontram

atualmente as classes indígenas. O último censo do Instituto Nacional de Estadística y Geografía,

INEGI em 2010 indica que estes grupos apresentam os mais altos índices de pobreza, que se

traduzem em problemas educacionais, serviços de saúde precários ou inexistentes, subnutrição,

desemprego, além de serem vítimas de discriminação racial e segregação.

Page 17: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

14

O México conta com uma grande diversidade de comunidades indígenas que são um

vestígio vivo da cultura original daquela nação. Estes povos indígenas, possuem um vasto

patrimônio cultural, material e imaterial, inclusive parte dele reconhecido pela Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Contraditoriamente, e por

questões históricas e políticas, os habitantes das regiões indígenas, sem importar a sua etnia, são

geralmente discriminados, marginalizados e pouco valorizados pela maior parte da sociedade,

tornando-se assim camadas excluídas da população e com um nível de desenvolvimento precário

em comparação a algumas regiões do país.

Na ocasião das comemorações referentes ao Dia Mundial do Turismo, que teve o

México como sede em 2014 e cujo tema foi “Turismo e desenvolvimento comunitário”, o

Secretario Geral da OMT, Taleb Rifai na sua mensagem menciona:

No puede haber un verdadero desarrollo del turismo si ese desarrollo obra de algún

modo en detrimento de los valores y la cultura de las comunidades receptoras o si los

beneficios socioeconómicos que genera no llegan a percibirse directamente en las

comunidades. Como estipula el Código Ético Mundial para el Turismo de la OMT, «las

poblaciones y comunidades locales se asociarán a las actividades turísticas y tendrán una

participación equitativa en los beneficios económicos, sociales y culturales que

reporten».

Ele faz referência ao Código Ético Mundial para o Turismo da OMT, que estipula que

os benefícios econômicos, sociais e culturais devem ser atingíveis de maneira equitativa por

todos nas comunidades locais, mas desafortunadamente na prática existe uma realidade muito

diferente. Nas comunidades indígenas muito frequentemente são as empresas privadas que

lucram com a sua cultura através da utilização do espaço e a venda da produção artesanal local.

Sendo os povos indígenas que dão origem à maior parte do patrimônio cultural do

país e sendo este patrimônio a fonte dos principais atrativos turísticos do México, tais como a sua

arquitetura e sítios arqueológicos, usos e costumes, gastronomia, danças, religiosidade, entre

outros, é possível, portanto, lograr o desenvolvimento efetivo das comunidades indígenas por

meio da atividade turística, ao gerar principalmente recursos econômicos, ações de bem-estar

social e ações de preservação cultural e ambiental. Sendo assim, é preciso que a população

indígena assuma o papel de principal gestora do turismo tanto no poder público quanto na

iniciativa privada dentro das comunidades

Page 18: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

15

Um exemplo de desenvolvimento a partir da atividade turística se encontra no

município de Cuetzalan del Progreso na região da Serra Norte de Puebla, onde há uma

significativa concentração de comunidades nahuas1. Dados do INEGI e da CDI apontam que

maioria das comunidades tem o turismo como uma das principais atividades econômicas, sendo a

própria população indígena a responsável pela administração dos atrativos e empreendimentos,

mostrando também uma participação ativa na gestão pública. Isso demonstra na prática que é

possível atingir o desenvolvimento por meio do turismo e realizar uma atividade sustentável ao

longo do tempo onde exista uma demanda constante com a qual a própria população se beneficie.

Essas ações podem ser levadas à prática também em outras comunidades indígenas com potencial

turístico no país.

Desta maneira, a problemática desta pesquisa se resume na seguinte questão: Qual é a

relação da dinâmica da atividade turística com o desenvolvimento nas comunidades indígenas

nahuas1 em Cuetzalan, Puebla?

O desenvolvimento desta pesquisa poderá compreender o funcionamento do turismo,

o envolvimento da população e as suas contribuições para o desenvolvimento econômico, social,

ambiental e cultural das comunidades indígenas e em base a isso poder futuramente desenvolver

novas pesquisas e projetos. Do ponto de vista pessoal, é fundamental contribuir ao progresso do

México de alguma maneira, e fazê-lo com os conhecimentos adquiridos no Brasil por meio do

programa Estudante Convênio de Graduação, programa pelo qual o Brasil mantém acordos

culturais e educacionais com diversos países, cujo objetivo é contribuir com o seu

desenvolvimento socioeconômico através da formação de estudantes de nível superior. Optou-se

pelas comunidades indígenas com a intenção que o progresso surgido a partir do turismo possa

ser atingido cada vez mais por todos os grupos sociais.

Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar a dinâmica da atividade

turística nas comunidades indígenas do município de Cuetzalan del Progreso, pertencente à Serra

Norte de Puebla (México). Para isso é necessário atingir os seguintes objetivos específicos:

levantar os principais atrativos e serviços turísticos comercializados pelas comunidades nahuas

em Cuetzalan, Puebla; Caracterizar o perfil dos atores do turismo na comunidade; Levantar as

1 Maior grupo indígena do México assentado no planalto central

Page 19: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

16

ações mais relevantes realizadas pelos atores do turismo na comunidade; por último, identificar

os principais impactos da atividade turística no desenvolvimento das comunidades.

A metodologia da pesquisa se caracteriza como descritiva de abordagem qualitativa.

Segundo Silva & Menezes (2000, p.21), “a pesquisa descritiva visa descrever as características de

determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o

uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática”. Neste

caso, pretende-se estudar a relação do fenômeno com uma população, sendo o fenômeno o

turismo como atividade econômica e a população categorizada como indígena. Segundo

Prodanov e Freitas (2013) a pesquisa qualitativa não requer o uso de técnicas estatísticas e os

dados são analisados indutivamente pelo pesquisador. Portanto, a presente pesquisa é considerada

qualitativa, pois não é possível atingir os objetivos por meio de dados quantitativos e sim

interpretando subjetivamente o fenômeno estudado diretamente no ambiente natural.

Para isso primeiramente foi feito um levantamento de dados secundários por meio de

uma pesquisa bibliográfica tendo como referência autores de turismo sobressalientes. e

documentos relevantes. Foram analisados como referencia do conceito de turismo e

desenvolvimento sustentável, Beni, Sachs, Sharpley e Tefler, Mowforth e Munt, Dias e Aguiar e

documentos da OMT, bem como a Carta de Lanzarote e o Relatório Brundtland. Sobre

patrimônio e turismo cutural se utilizaram referências bibliografia de Zanirato, Peciar, Cruz e

Swarbrooke e documentos da UNESCO. Em relação às comunidades indígenas no México,

foram utilizados como fontes textos e documentos da Comisión Nacional para el Desarrollo de

los Pueblos Indígenas CDI, do Consejo Nacional para la Cultura y las Artes CONACULTA, os

dados do Instituto Nacional de Estadística y Geografía INEGI e os autores Romo, Bringas e

Pardo. Posteriormente foi feita uma pesquisa de dados primários em campo por meio de

entrevistas aos representantes dos atores de turismo nas comunidades alvo com registros de voz,

aplicação de questionário a turistas e uma observação de campo com registros fotográficos.

A aplicação do instrumento de coleta de dados anexa nos apêndices deste trabalho foi

realizada no período de 16 a 20 de dezembro de 2014 e de 4 a 11 de julho de 2015 em uma

amostra das comunidades nahuas da Serra Norte de Puebla, no município de Cuetzalan del

Progreso, pertencente ao programa Pueblos Mágicos da SECTUR de abrangência nacional.

Optou-se por esta região por possuir uma significativa concentração de população indígena, uma

Page 20: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

17

oferta diversificada e uma atividade turística bem desenvolvida tornando-se uma das principais

atividades econômicas na população nahua. Os sujeitos da pesquisa foram os principais atores da

atividade turística nas comunidades, ou seja: o poder público, a iniciativa privada, a população

indígena e os próprios turistas.

Como representante do poder público foi entrevistado o secretário de turismo do

município, com o objetivo de conhecer a visão do turismo nas comunidades indígenas de

Cuetzalan por parte do poder público e as suas principais ações. A iniciativa privada foi

representada pela associação Masehual Siuamej Mosenyolchicauani pelo seu protagonismo na

administração de empreendimentos turísticos de caráter indígena, com o objetivo de conhecer o

nível de participação da população indígena na iniciativa privada e a sua relação com o turismo.

Na população foram abordados habitantes da região diretamente ligados à atividade turística,

especificamente guias de turismo e produtores de artesanato. Finalmente foi aplicado um

questionário a 25 turistas visitantes das diversas comunidades de Cuetzalan cujo objetivo era

caracterizar o perfil da demanda.

Para a análise dos dados foi levada em consideração a técnica de análise de

conteúdo de Bardin (2009) que consiste em: pre-análise, exploração do material e tratamento dos

resultados, inferência e interpretação. Foi reunido o material bibliográfico de consulta para o

referencial teórico, documentos analisados previamente à coleta de dados em campo, documentos

relevantes encontrados em campo e os dados coletados com os instrumentos de pesquisa. Uma

vez coletados os dados, a análise foi realizada de forma descritiva, comparando a teoria do

referencial com a prática do turismo nas comunidades e assim foi possível atingir o objetivo

principal que é analisar a dinâmica da atividade turística nas comunidades indígenas do

município Cuetzalan del Progreso.

A relevância da pesquisa consiste na utilização dos conhecimentos obtidos em futuras

pesquisas e projetos para outras comunidades indígenas com potencial turístico no México ou

inclusive em outros países. Através da análise individual dos elementos e atores que compõem a

atividade turística e a sua interação, foi possível compreender a dinâmica nesta região e assim

identificar os fatores que tornaram a atividade turística bem sucedida nas comunidades

indígenas de Cuetzalan. Este trabalho visa tornar Cuetzalan uma modelo, pois tem atingido um

nível de desenvolvimento significativo por meio do turismo e uma participação ativa e direta

Page 21: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

18

por parte da população indígena. Existem no México e no mundo diversos espaços que

apresentam características e recursos semelhantes, mas que ainda não têm sido explorados ou

onde o turismo não tem sido bem sucedido, portanto nesses espaços seria possível imitar a

dinâmica de Cuetzalan.

Seguindo a ordem dos capítulos do trabalho, encontram-se o Referencial Teórico, As

comunidades indígenas e o turismo em Cuetzalan, Puebla e as Considerações Finais. O

Referencial Teórico abordará três tópicos: Turismo, desenvolvimento e sustentabilidade,

Turismo cultural e patrimônio e por último, Comunidades indígenas no México. A partir do

primeiro tópico do referencial será possível a compreensão de uma teoria geral do turismo a

partir dos conceitos de turismo, desenvolvimento e sustentabilidade, para posteriormente

aprofundar na questão da sustentabilidade no âmbito sociocultural e o papel e uso do patrimônio

cultural no turismo no segundo tópico, finalmente será apresentado um panorama geral das

comunidades indígenas no México e a sua relação com o turismo.

O conjunto de elementos no capítulo 3 (As comunidades indígenas e o turismo em

Cuetzalan, Puebla) visa apresentar a dinâmica do turismo nas comunidades indígenas a partir da

pesquisa realizada, com base nos objetivos previamente mencionados. A introdução consistirá

na descrição geográfica, demográfica e cultural do espaço estudado. Posteriormente serão

citados e descritos os atrativos turísticos levantados. Será analisada a situação da infraestrutura

e serviços turísticos do município bem como as políticas públicas de turismo mais relevantes.

Finalmente, a partir das entrevistas será possível identificar o papel dos atores de turismo no

município e o perfil do turista. Serão discutidos os resultados com base no referencial teórico

para poder chegar por último ao capítulo das considerações finais.

Page 22: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

19

2 DISCUSSÕES CONCEITUAIS SOBRE TURISMO, PATRIMÔNIO CULTURAL E

COMUNIDADES INDÍGENAS

2.1 Turismo, sustentabilidade e desenvolvimento

Existem diversas definições sobre o fenômeno do turismo, algumas das quais tem se

modificado através do tempo, outras têm sido as bases para as definições do turismo aceitas

atualmente. Dentre as primeiras definições dadas ao turismo se encontram a da escola de Berlim,

dos autores Glucksmann (1929 apud DIAS E AGUIAR, 2002) e Bormann (1930 apud DIAS E

AGUIAR, 2002), que define o turismo como a ocupação do espaço por pessoas que afluem a um

lugar onde não possuem residência, e como o conjunto de viagens durante os quais a ausência da

residência habitual é temporária. Os professores Hunziker e Krapf (1942) foram os autores da

definição atualmente utilizada pela Association Internationale d'experts Scientifiques du

Tourisme AIEST: “O conjunto das relações e fenômenos originados pela deslocação e

pemanência de pessoas fora do seu local habitual de residência, desde que tais deslocações e

permanências não sejam utilizadas para o exercício de uma atividade lucrativa principal,

permanente ou temporária”.

A Organização Mundial do Turismo (2002, p.38) coloca algumas outras

condições e define o turismo como:

Turismo compreende as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e

estadias em lugares diferentes do seu local de residência, por um período consecutivo

inferior a um ano, com propósitos de lazer, descanso, negócios ou outros motivos, não

relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado.

E define o turista como “toda pessoa que se desloca a um lugar diferente de sua

moradia habitual, por uma duração inferior a doze meses e cuja finalidade principal não é exercer

uma atividade que se remunere no lugar visitado”. Essa é a definição do turismo mais completa e

aceita nos últimos anos, pois define também o tempo para que uma pessoa seja considerada

turista e dá a entender que as atividades realizadas não se limitam ao lazer, como antigamente era

considerado, e sim, dependem de uma grande diversidade de motivações.

A partir das definições anteriores identificam-se os seguintes elementos para que o

fenômeno ocorra: o turista, a motivação, o local de partida, o local visitado, o deslocamento, a

permanência e o caráter não lucrativo da viagem. Beni (1987) propõe uma teoria semelhante,

mencionando como elementos do turismo: a viagem ou deslocamento, a permanência fora do

Page 23: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

20

domicilio, a temporalidade, o sujeito do turismo e o objeto do turismo. De acordo com Arrillaga

(1976 apud BARRETTO 2003) para que uma pessoa se torne um turista, é preciso que exista uma

motivação de viagem, a acessibilidade, os recursos econômicos e o tempo suficiente. Estes são

também os principais fatores que determinarão o lugar a ser visitado. A efetiva realização do

turismo depende ao mesmo tempo de outros fatores, que podem estar sob controle, como a

existência de um ou mais atrativos, a acessibilidade do lugar, a existência de infraestrutura e

serviços necessários, a preservação do patrimônio e a promoção do destino, etc; ou fatores

externos que não é possível controlar e que tem grande influencia na motivação e nas decisões do

turista, por exemplo, os fenômenos naturais ou a situação política e econômica. Em relação à

demanda potencial e para que esta se torne real, na oferta são essenciais os seguintes elementos:

os atrativos que serão a motivação, o meio de transporte para o deslocamento, o meio de

hospedagem para a permanência e a infraestrutura e serviços para atender as necessidades e

desejos dos turistas. Segundo Acerenza (1991) os elementos listados anteriormente compõem o

produto turístico.

Para ilustrar a relação entre elementos utilizando a teoria de sistemas, Beni (1987)

cria o Sistema de Turismo – SISTUR apresentado na figura 1:

Figura 1- Sistema de turismo SISTUR

Page 24: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

21

Fonte: BENI, Mario Carlos (1987)

Beni (1987) agrupa os elementos em três conjuntos: Da organização estrutural, que

consta em superestrutura e infraestrutura; das Ações Operacionais, onde o input, o processo e o

output consistem respectivamente na produção, distribuição e consumo do produto turístico; e

finalmente das Relações Ambientais. Este último se compõe dos subconjuntos que são meios que

influenciam e ao mesmo tempo são impactados pelo turismo, sendo o ecológico, social,

econômico e cultural. Os elementos do subconjunto das relações ambientais se encontram da

mesma maneira relacionados com os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento.

O significado desses dos conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade foi

conhecido e adotado a nível global desde 1987 a partir do Relatório Brundtland da ONU, que

define a sustentabilidade como “a capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”

(ONU, p.9). O Relatório Brundtland tinha como objetivo propor uma agenda global para a

humanidade considerando os principais problemas ambientais e a necessidade de progresso,

garantido também para as gerações futuras.

Sachs (2004) contempla cinco dimensões principais para definir a sustentabilidade,

sendo a social, ambiental, territorial, econômica e política, além dos critérios cultural e ecológico.

A partir disso define o desenvolvimento sustentável como “um processo de transformação no

qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento

tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a

fim de atender às necessidades e aspirações humanas.” (SACHS, 2004, p.15). Então, o

desenvolvimento se relaciona com a satisfação efetiva das necessidades humanas e a qualidade de

vida, e a sustentabilidade com a garantia de satisfação das necessidades nas gerações futuras. As

necessidades são satisfeitas a partir dos recursos disponíveis no meio econômico, ecológico,

social e cultural influenciados pela situação territorial e política.

O turismo pode causar impactos positivos e negativos nos ambientes anteriormente

descritos. Os efeitos negativos podem ser amortecidos através do cálculo da capacidade de

atenção as necessidades e de resistência dos recursos. Alguns exemplos de impactos negativos

mais frequentes no meio ecológico são: a poluição do ar principalmente pela emissão de gases

Page 25: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

22

dos transportes, o consumo excessivo de água potável, a poluição da água pelo esgoto e

acumulação de lixo, os prejuízos ao solo e à flora pelas atividades realizadas pelos turistas, a

modificação da paisagem, entre outros, que podem ser diminuídos através de ações de

preservação, conservação e conscientização.

No meio econômico frequentemente são mencionados a geração de emprego e renda

e o fluxo de capitais como benefícios do turismo, porém, crescimento econômico não é sinónimo

de desenvolvimento. É possível observar globalmente que a partir do momento em que o fluxo de

partida e chegada de pessoas começa a impactar positivamente na economia das regiões, o

turismo tende a tornar-se uma das principais atividades econômicas e um dos meios para atingir o

desenvolvimento através da geração de recursos que podem ser destinados a outras áreas. Porém,

crescimento econômico mesmo havendo distribuição dos recursos, não significa automaticamente

desenvolvimento. Segundo Cruz (2006, p.339):

Distribuição espacial da riqueza não é o mesmo, entretanto, que distribuição estrutural

da riqueza. Por isso, muitos lugares pobres, capturados pela atividade do turismo, viram

suas economias dinamizadas e assistiram a profundas transformações em seus territórios

sem que, necessariamente, suas populações se tivessem tornado automaticamente

detentoras de melhores condições de vida e de renda.

Portanto, de acordo com o mencionado pela autora anteriormente, considera-se que

para atingir o desenvolvimento econômico é preciso o usufruto igualitário dos recursos para a

satisfação com qualidade das necessidades da população. Mowforth e Munt (2007, p.103)

afirmam:

Sustainability refers to a level of economic gain from the activity sufficient either to

cover the cost of any special measures taken to cater for the tourist, and to mitigate the

effects of the tourist´s presence or to offer an income appropriate to the inconvenience

caused to the local community visited – without violating any of the other conditions –

or both.

Assim, para ter um turismo economicamente sustentável, os recursos econômicos

obtidos através da atividade devem ser suficientes para cobrir os gastos feitos para atender as

necessidades do turista e além disso, gerar um lucro que atinja todos os participantes da cadeia

produtiva, justo para satisfazer com ele outras necessidades da população.

Finalmente, em relação aos impactos socioculturais, estes afetam tanto os turistas

quanto a população local através da interação. Ressaltam o choque cultural e a partir dele a

rejeição ou tentativa de imitação da cultura alheia. Segundo Mowforth e Munt (2007) a

Page 26: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

23

sustentabilidade cultural se refere a habilidade das pessoas de reter ou adaptar elementos da sua

cultura que as distinguem de outras pessoas e a sustentabilidade social é a capacidade de absorver

inputs como entrada extra de pessoas num determinado período de tempo e continuar

funcionando sem comprometer a harmonia social ou adaptando-a de tal maneira que seus efeitos

sejam amortecidos. As condutas dos turistas e da população local serão muitas vezes ditadas pelo

motivo da visita e o papel de cada um, não terá o mesmo comportamento uma pessoa de classe

alta e outra de classe baixa, um turista de negócios ou uma família com motivos de lazer, um

agente de turismo receptivo que um morador do lugar. Portanto, o perfil dos turistas impactará

positiva ou negativamente no comportamento social local, podendo reafirmar ou modificar a sua

cultura.

Como documento guia para o desenvolvimento sustentável no turismo existe a carta

da conferencia mundial do turismo sustentável, conhecida como Carta de Lanzarote, foi escrita

em 1995 com o fim de alavancar o desenvolvimento através do turismo garantindo a

sustentabilidade da atividade. No artigo 1 se declara:

El desarrollo turístico deberá fundamentarse sobre criterios de sostenibilidad, es decir, ha

de ser soportable ecológicamente a largo plazo, viable económicamente y equitativo

desde una perspectiva ética y social para las comunidades locales. El desarrollo

sostenible es un proceso orientado que contempla una gestión global de los recursos con

el fin de asegurar su durabilidad, permitiendo conservar nuestro capital natural y

cultural, incluyendo las áreas protegidas. Siendo el turismo un potente instrumento de

desarrollo, puede y debe participar activamente en la estrategia del desarrollo sostenible.

Una buena gestión del turismo exige garantizar la sostenibilidad de los recursos de los

que depende.

Esse é um princípio para ser adotado por qualquer espaço que presente atividade

turística sem importar o tipo ou o nível, com o fim de ser abordado desde uma perspectiva global,

pois como atividade ambivalente, pode trazer benefícios e degradação ao mesmo tempo e a sua

sustentabilidade depende não do arribo de turistas e as atividades realizadas pelos mesmos e sim

da gestão e das ações em relação ao fenômeno por parte da comunidade receptora.

Os atores de turismo no processo de desenvolvimento, segundo Sharpley e Tefler

(2008) são: o estado ou setor público, o setor privado, as agências internacionais, as organizações

sem fins de lucro e os turistas. Os objetivos de cada um podem ser semelhantes ou entrar em

conflito, o que influencia no processo de desenvolvimento, todavia todos contribuem de alguma

maneira com o produto turístico. O estado, através de vários ministérios, estabelece o marco

Page 27: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

24

legal, as políticas, planos e regulamentos para atrair e controlar o desenvolvimento do turismo

bem como, estabelece o marco econômico para a indústria do turismo, providencia infraestrutura,

educação um marco econômico, estabelece a regulamentação ambiental e tem um papel ativo na

promoção e o marketing. O setor privado abrange desde os pequenos empreendedores até as

grandes cadeias hoteleiras e corporações multinacionais. Enquanto as grandes companhias atraem

a atenção, pelos grandes investimentos, experiência e competência administrativa e recebem

críticas pela dominação estrangeira, as pequenas empresas são de grande importância na geração

de empregos e oportunidades para que a população local participe ativamente na indústria do

turismo.

Quanto as agências internacionais, Sharpley e Tefler (2008) destacam que o seu papel

no processo de desenvolvimento é a consultoria e financiamento em projetos específicos. Os

países em desenvolvimento têm sido assistidos por agências como o Banco Mundial, o Fundo

Monetário Internacional, agências da ONU e a Organização Mundial do Turismo. Através delas,

o turismo cada vez mais está mais envolvido na redução da pobreza. Já as organizações sem fins

de lucro ou organizações não governamentais vão desde organizações locais de pequeno porte até

organizações internacionais. O seu papel principal é a geração de oportunidades de emprego e

promoção social através de iniciativas de turismo de base comunitária, turismo voluntario e pro-

poor tourism2. Finalmente os turistas por si próprios têm um papel no processo de

desenvolvimento, seja passivo, através das suas escolhas de consumo, seja ativo, participando de

ações como o turismo voluntário, pois ambas ações podem contribuir potencialmente para as

metas de desenvolvimento do local.

Em síntese, o turismo se compõe de uma diversidade de elementos e se caracteriza

como um fenômeno sócio-espacial, já que tem como agente a sociedade e como matéria prima o

espaço físico num determinado período de tempo. O sistema se compõe basicamente de um ponto

emissor e um receptor e o fluxo de pessoas (e capitais) entre os dois. O deslocamento se dá por

diversos motivos e é considerado turismo quando a viagem é de caráter não lucrativo e contempla

o retorno ao lugar de origem. Há uma necessidade de atrativos, infraestrutura e serviços para

satisfazer a demanda. O turismo causa impactos positivos e negativos e a sustentabilidade existe

quando os efeitos negativos são equilibrados ou superados pelos efeitos positivos, satisfazendo as

2 Turismo que providencia benefícios líquidos a pessoas pobres

Page 28: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

25

necessidades da população e dos turistas no tempo atual sem comprometer os recursos

(econômicos, naturais e culturais) para a qualidade de vida das gerações futuras e a continuação

da atividade turística no lugar. E nesse processo estão envolvidos vários atores que vão desde o

poder público ate os turistas cujos papéis se inter-relacionam e suas ações contribuem aos

objetivos de desenvolvimento.

2.2 Turismo cultural e patrimônio

Existem diversos atrativos turísticos no espaço comercializado, estes podem ser

naturais ou culturais. Quanto aos atrativos culturais, estes se dividem em tangíveis, que são

aqueles que refletem a cultura da população local materialmente, como conjuntos arquitetônicos,

museus e zonas arqueológicas; e intangíveis, que são aqueles que não constam só de materiais

para manifestar a cultura, principalmente tradições e costumes que vão sendo herdadas por

gerações anteriores, tais como a dança, a gastronomia, a música, a poesia, o sistema de valores, as

manifestações religiosas e festividades, entre outros. O termo patrimônio engloba todos estes

itens, de acordo com Zanirato (2009 p.137) “O patrimônio é compreendido como os elementos

materiais e imateriais, naturais ou culturais, herdados do passado ou criados no presente, no qual

um determinado grupo de indivíduos reconhece sinais de sua identidade”.

Em relação aos bens tangíveis, na convenção sobre a Proteção do Patrimônio

Mundial, Cultural e Natural em 1972, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura UNESCO define mais detalhadamente como patrimônio cultural:

- os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou

estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do

ponto de vista da história, da arte ou da ciência,

- os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura,

unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da

história, da arte ou da ciência,

- os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como

áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de

vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.

O mesmo documento determina que cabe a cada Estado-parte da Convenção

identificar, delimitar, proteger, conservar e valorizar os bens considerados patrimônio. O

patrimônio cultural se encontra cada vez mais ameaçado de desaparecimento, seja pela

degradação ao longo do tempo ou pelo desenvolvimento social e econômico que muitas vezes

Page 29: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

26

desconsidera estes elementos que acabam tendo alguma alteração ou destruição. A destruição ou

desaparecimento é muitas vezes irreversível e acaba afetando e empobrecendo a cultura a nível

global.

A diferença da década de 1970, atualmente a UNESCO considera que o patrimônio

cultural não se compõe somente de monumentos e objetos, antes bem compreende também outros

elementos detentores de cultura que não estão no meio físico, especificamente: tradições orais,

artes do espetáculo, usos sociais, rituais, atos festivos, conhecimentos e práticas relativas à

natureza e o universo e saberes e técnicas vinculados ao artesanato tradicional. Segundo a

UNESCO o patrimônio cultural imaterial é “tradicional, contemporâneo e vivente ao mesmo

tempo, integrador, representativo e baseado na comunidade”, pois contem elementos do passado

e do presente, adotadas por vários grupos, depende dos saberes transmitidos e é reconhecido por

aqueles que conformam com ele a sua identidade. Embora este tipo de patrimônio seja mais

propenso a modificações ou desaparecimento, pois é cambiante e depende do homem para

reproduzi-lo, é importante a sua manutenção já que reflete a diversidade cultural no meio à

globalização, isso contribui ao diálogo entre culturas e promove o respeito a outras formas de

vida.

Os itens do patrimônio são registrados na “Lista do Patrimônio Mundial”. que são

todos aqueles considerados de valor universal excepcional pelo mesmo órgão, essa lista é

atualizada a cada dois anos. Assim, os Estados-parte das convenções recebem assessoria e apoio

financeiro da UNESCO por meio do Fundo para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e

Natural, destinado à preservação do patrimônio, porém, cabe a cada um o consentimento de

inclusão na lista, bem como a criação e implementação de políticas que garantam essas ações.

O patrimônio cultural então, se compõe de construções e objetos que possuem uma

história e significado e de tradições e expressões vivas herdadas de gerações anteriores, ambas

classificações de patrimônio se complementam e reforçam a identidade de uma sociedade, por

isso mesmo, ao ser descobertos por pessoas alheias à cultura que desejam aprofundar os seus

conhecimentos ou simplesmente pelo olhar curioso do diferente, motivam um deslocamento para

a aproximação das pessoas e assim, acabam virando atrativos turísticos.

Page 30: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

27

A pratica do turismo motivada pelo patrimônio cultural, denomina-se “turismo

cultural”. Segundo Peciar (2006, p. 41), “O turismo cultural é uma atividade que proporciona

acesso ao patrimônio cultural de uma comunidade, ou seja, é tudo aquilo criado pelo homem,

bem como seus usos e costumes com o intuito de promover a preservação e a conservação dos

mesmos”. Assim, as regiões detentoras de elementos do patrimônio cultural podem aproveitar o

seu potencial turístico para desenvolvê-lo como uma atividade econômica que seja se benefício

para a própria população. Cruz (2006, p.339) faz referência à cultura no turismo como atividade

econômica da seguinte maneira:

Considerando que a matéria-prima do turismo é o espaço, reconhecemos desde já um

diferencial entre a atividade econômica do turismo e outras atividades econômicas, ou

seja, teoricamente, todos os lugares são potencialmente turísticos já que a atratividade

turística dos lugares é uma construção cultural e histórica.

A partir da citação da autora é possível deduzir que um dos fatores que torna espaço

propício para turismo é a cultura, pois a atratividade vai muitas vezes além das características

naturais do lugar. A cultura, que é a ação da sociedade no espaço e a marca que ela deixa através

do tempo, é única em cada região e com ela o turista se sente atraído por conhecer aquilo que

julga interessante e é diferente do seu lugar de origem. Todavia, o turismo cultural, se não for

bem planejado resulta contraproducente.

Como atividade turística, a exploração do patrimônio cultural deve ser bem

gerenciada, com um planejamento prévio à exploração, um controle e uma avaliação contínua a

fim de garantir a sustentabilidade. Alguns fatores que comprometem a sustentabilidade do

turismo cultural, segundo Swarbrooke (2002) são: o risco de sobrecarga, a padronização do

produto, a pobreza da qualidade e a excessiva comercialização. Os impactos à cultura são

subjetivos e visíveis em longo prazo e, portanto mais difíceis de mensurar e controlar. Além de

ter outros fatores que ameaçam o seu desenvolvimento. Swarbrooke (2002) cita como exemplo

de ameaças as mudanças na educação, a preservação das culturas antigas e desestimulo às novas,

a mudança social e a concorrência de outras atividades de lazer, que a longo prazo acabam

desvalorizando certas culturas e assim, deixando de ser motivos para o turismo.

Um tema polémico em relação à sustentabilidade do patrimônio cultural intangível

explorado pelo turismo se encontra nos grupos folclóricos. As definições de folclore em geral

remetem à prática das tradições do passado (em relação à música, dança vestes, festas, etc.). Os

Page 31: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

28

grupos na tentativa de preservação dessas práticas do passado continuam reproduzindo-as, isso

atrai os turistas. Uma vez que há um lucro e um público que valoriza as representações, estas

continuam sendo reproduzidas de maneira artificial, não com os fins que eram praticadas no

passado nem em função da comunidade e sim, como um espetáculo para agradar ao turista,

inclusive com modificações, perdendo assim a sua autenticidade.

A não sustentabilidade do turismo cultural, segundo Swarbrooke (2002) se dá quando

existe uma superutilização dos sítios culturais, uma falta de controle local, uma trivialização ou

perda de autenticidade, a fossilização de culturas e um turismo polêmico e moralmente

problemático. Esses fatores causariam impactos negativos como a degradação do espaço e

patrimônio físico, o descuido e a falta de manutenção, a reprodução artificial de manifestações

culturais, o impedimento das mudanças que naturalmente ocorreriam na cultura e na sociedade e

uma imagem negativa do local, que causaria diminuição no fluxo de turistas. Considerando esses

impactos negativos, seria preciso criar estratégias para amortecê-los, garantindo a sua

sustentabilidade e a obtenção de benefícios através do turismo cultural. Algumas ações para

desenvolver um turismo cultural sustentável seriam:

O antimarketing como estratégia para diminuir o fluxo de turistas nos pontos

que não o suportam o nos quais não é conveniente.

O incentivo às iniciativas locais onde a própria comunidade gerencie a

atividade turística e seja proprietária e administradora dos empreendimentos

para poder assim obter benefícios diretos com o turismo.

Os projetos inovadores no setor público, já que cabe ao poder público a

criação de políticas, a aprovação e fiscalização, o recolhimento de impostos, e

o incentivo e financiamento de novos empreendimentos, a administração do

patrimônio público, entre outras ações.

Celebrar as culturas emergentes, que serão o motivo do turismo cultural no

futuro. Um exemplo são as culturas populares e a inclusão dos mais jovens

nas suas práticas.

Maximizar os benefícios locais, não só na questão econômica, mas também

social e ambiental através da prática do turismo cultural e da inclusão da

população.

Page 32: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

29

Assegurar aos turistas um preço justo, sem tornar o turismo cultural uma

prática elitizada nem pouco valorizada, e sim onde todos tenham acesso.

Oferecendo produtos e serviços de qualidade com os quais o turista não seja

explorado na questão econômica, nem pague menos do valor do trabalho dos

autóctones.

Em síntese, o turismo cultural é aquele motivado pelos elementos detentores da

cultura de uma sociedade, sejam materiais ou imateriais. Os lugares que possuem estes elementos

têm o potencial de explorá-los através do turismo como uma atividade econômica. O turismo

cultural e o conceito de desenvolvimento sustentável parecem entrar em conflito ou ser

incompatíveis, porém, esta prática pode trazer diversos benefícios contanto que se realizem ações

para diminuir os impactos negativos e potencializar os positivos, isto depende do bom

planejamento e gestão dos atores de turismo.

Como introdução ao próximo tópico e relacionado com a pesquisa desenvolvida, será

apresentado um panorama geral do turismo cultural no México. A SECTUR (2012 apud

GONZÁLEZ 2012, p.174) define o turismo cultural como “a viagem turística motivada por

conhecer, compreender e desfrutar o conjunto de traços e elementos distintivos, espirituais e

materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade de um destino específico”. Por

ser o patrimônio cultural tão diversificado no país, a SECTUR classifica este tipo de turismo em

4 segmentos de demanda principal: turismo arqueológico, turismo urbano, turismo espiritual e

turismo gastronômico, os quais são frequentemente praticados nas comunidades indígenas, pois

possuem estes itens. Com base na definição da UNESCO e a SECTUR, o INEGI identifica as

zonas reconhecidas como patrimônio cultural no país, e são mostradas a continuação na figura 2.

O marcador marrom simboliza uma pirâmide e indica a localização de zonas com monumentos

arqueológicos, o marcador azul simboliza um templo religioso e indica a localização de zonas

com monumentos históricos, finalmente o marcador vermelho indica a localização das zonas

consideradas patrimônio mundial.

Page 33: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

30

Figura 2 - Zonas reconhecidas como Patrimônio cultural no México

Fonte: INEGI (2005)

No Plano Nacional de Desenvolvimento do México 2007-2012 se faz referencia ao

turismo cultural como ponto de apoio para o desenvolvimento regional:

El fomento del turismo cultural será un instrumento detonador del desarrollo regional.

Ésa será una de las formas de unir esfuerzos con el sector privado para generar

financiamiento, fuentes de empleo, difusión y, desde luego, protección para el

patrimonio cultural.

Conforme observado, se procura principalmente o financiamento, a geração de

empregos, a difusão e a proteção ao patrimônio. Aqui entra o papel do poder privado, ao ser

capaz de trazer esse financiamento e a geração de empregos, é necessária a sua intervenção e um

diálogo com a população para que, uma vez estabelecidos os empreendimentos, haja igual

satisfação de interesses. Nesse processo, cabe também ao poder público a criação e aplicação

efetiva de políticas que garantam o desenvolvimento na repartição igualitária de recursos. Pois

em indeterminadas ocasiões, o poder privado acaba lucrando a custa do trabalho mal remunerado

da população, é possível observar este acontecimento na prática nas comunidades indígenas, que

motivam grande parte das viagens no México, porém nem sempre se beneficiam com o turismo.

Page 34: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

31

Romo, dentro do material do Conselho Nacional para a Cultura e as Artes (CONACULTA), trata

esse assunto:

Al considerar las posibilidades del binomio turismo cultural y desarrollo rural, y

atendiendo a la preocupación discursiva de los gobiernos de América Latina sobre el

combate a la pobreza, no solo la generación de empleos con salarios mínimos, sino la

generación de oportunidades en proyectos turísticos culturales comunitarios para el

desarrollo endógeno, el turismo cultural comunitario —y por tanto las empresas

turísticas comunitarias—, más que una modalidad, un gesto de inclusión de sectores

vulnerables o una etiqueta de programas sociales, debe considerarse una de las

estrategias de desarrollo en las políticas públicas en los tres niveles de gobierno.

(ROMO, 2012, p.84)

Conclui-se que o patrimônio cultural é um recurso existente em todas as sociedades e

especificamente, na situação atual do México, este é um ótimo recurso a ser explorado como

produto turístico como meio para atingir o desenvolvimento nas comunidades indígenas. Como

atividade econômica, o turismo cultural é ideal nestas comunidades, pois a diferença da cadeia

produtiva tradicional, não precisa de fornecimento da matéria prima, pois a matéria prima é o

próprio espaço e as práticas que refletem a sua identidade. O desenvolvimento seria atingido

então por meio da inclusão da população detentora dos atrativos culturais na cadeia produtiva do

turismo e as ações de promoção e preservação do patrimônio.

2.3 Comunidades indígenas no México

O México é um país no qual é possível observar nos dias de hoje o resultado da

miscigenação que se deu fortemente entre espanhóis e indígenas. Apesar da mistura de raças com

a chegada dos espanhóis em 1521 e a inserção de outros povos, a raça indígena junto com a

cultura própria de cada comunidade tem se mantido através de quase cinco séculos (GARCIA,

2013). Atualmente se têm duas imagens ou pontos de vista sobre as comunidades indígenas

tratadas pela CDI (2010), por um lado existe a imagem dos heróis, dos detentores da cultura pré-

hispânica que tem resistido às mudanças do tempo preservando uma cultura rica e única, por

outro lado, existe a imediata relação com a discriminação, segregação e pobreza, a classe

indígena e os seus descendentes são os que mais apresentam índices de pobreza e

subdesenvolvimento no país. Nos parágrafos seguintes será apresentado um panorama geral das

comunidades indígenas no México no tempo atual.

As comunidades indígenas existentes no México são registradas pela CDI (Comisión

Nacional para el Desarrollo de los Pueblos Indígenas) pelo seu nome em espanhol e a sua

Page 35: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

32

denominação em língua autóctone original. Segundo os registros de 2014 da CDI as etnias

existentes atualmente no país são:

Amuzgo-Tzañcue, Chatino-Cha’cña, Chichimeca jonaz-Uza, Chinanteco-Tsa jujmi,

Chocholteca-Chocho, Chontal de Oaxaca-Slijuala xanuk, Chontal de Tabasco-Yokot’na.

Chol-Winik, Cora-Naayeri, Cuicateco-Nduudu yo, Guarijío-Varogío, Huasteco-Teenek,

Huave-Mero ikooc, Huichol-Wirr’árika, Jacalteco-Abxubal, Kikapú-Kikapoa, Kiliwa-

K’olew, Kumiai-Kamia, Lacandón-Hach tan, Mame-Qyool, Matlatzinca-Botuná,

Motozintleco-Mochó, Mayo-Yoreme, Mazahua-J ñatio, Mazateco-Ha shuta enima,

Mexicanero-Mexicanero, Mixe-Ayook, Mixteco-Ñuu Savi, Mochó-Mochó, Nahua-

Náhuatl, Ocuilteco-Tlahuia, Otomí-Hña hñu, Paipai-Kwa’ala, Pame-Xigüe, Pápago-

Tohono O'odham/ Tohono O'otham/ Tono ooh’tam, Pima-Otam Purépecha-P’urhépecha,

Seri-Konkaak, Tarahumara-Rarámuri, Tarasco-P’urhépecha, Tepehua-Hamasipine,

Tepehuán del Norte-O’damí del Norte, Tepehuán del Sur-O’dam del Sur, Tlapaneco-

Mepha, Tojolabal-Tojolwinik’otik, Totonaco-Tachihuiin, Triqui-Driki, Tzeltal (tseltal)-

K’op, Tzotzil (tsotsil)-Batzil k’op, Yaqui-Yoreme, Zapoteco-Diidzaj e Zoque-O’ de püt.

Apesar dos censos periódicos e outros registros, não existem dados exatos sobre

quantidades e distribuição dessas comunidades, pois há mais de um critério para que uma pessoa

ou grupo social seja considerado indígena. De acordo com Bringas (2007) nos censos de

população tinha se utilizado como critério fundamental a condição de falar uma língua autóctone

para definir os grupos indígenas. Recentemente, em novembro de 2014 demógrafos do INEGI

determinaram que a identidade étnica é dinâmica e pode ter variações segundo a migração,

estratos sociais de pertença, mudanças no entorno cotidiano e período histórico.

Segundo o censo do INEGI do ano 2000 existiam 2 051 251 lares classificados como

indígenas, o que representava 9.1% do total de lares no âmbito nacional. Destes, 53,5%

localizados em áreas rurais, ou seja, em localidades com menos de 2 500 pessoas, e o restante

46,5% em áreas urbanas. Os critérios para as pessoas serem consideradas indígenas nesse censo

foram: ser falantes de uma língua ou dialeto indígena ou a autoadscrição étnica. Existe mais de

uma língua falada por etnia registrada no México. A figura 3, elaborada pela CDI a partir dos

dados desse censo, mostra a concentração da população indígena no país.

Figura 3 - Distribuição espacial dos povos indígenas no país

Page 36: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

33

Page 37: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

34

Fonte: CDI (2000)

As regiões de cor cinza são os municípios considerados indígenas e as marcadas em

bege são aqueles municípios onde, havendo uma concentração menor ou uma mistura de

habitantes de diversas origens, existe presença indígena na sua população. As regiões indígenas

podem abarcar mais de um estado ou estão localizadas entre os limites geográficos. Para a melhor

compreensão do mapa, a localização dos povos por estado se encontra ordenada na seguinte

tabela, retirada da CDI:

Tabela 2 - Povos indígenas por entidade federativa

Estado Povo indígena

Baja California Cochimí, cucapá, kiliwa, kumiai y paipai

Campeche Maya

Coahuila Kikapú

Chiapas Cakchiquel, chol, jacalteco, kanjobal, lacandón, mame, mochó, tojolabal, tzeltal (tseltal) , tzotzil (tsotsil) e zoque

Chihuahua Guarijío, pima, tarahumara e tepehuán

Distrito Federal*

Maya, mazahua, mazateco, mixe, mixteco, náhuatl, otomí, purépecha, tlapaneco, totonaco e zapoteco

Durango Tepehuán

Guanajuato Chichimeca jonaz

Guerrero Amuzgo, mixteco, náhuatl e tlapaneco

Hidalgo Náhuatl e otomí

Jalisco Huichol

México Mazahua, náhuatl e otomí

Michoacán Mazahua, otomí e purépecha

Morelos Náhuatl

Nayarit Cora e huichol

Oaxaca Amuzgo, chatino, chinanteco, chocho, chontal, cuicateco, huave, ixcateco, mazateco, mixe, mixteco, triqui e zapoteco

Puebla Chocho, mixteco, náhuatl e totonaca

Querétaro Otomí e pame

Quintana Roo Maya

San Luis Potosí Huasteco, náhuatl e pame

Sinaloa Mayo

Page 38: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

35

Sonora Mayo, pápago, pima, seri e yaqui

Tabasco Chontal e chol

Veracruz Náhuatl, tepehua, popoluca e totonaca

Yucatán Maya

Fonte: CDI (2000)

Em relação à tabela 2, a CDI menciona que no Distrito Federal, os nomes citados se

referem aos principais grupos migrantes estabelecidos na cidade. Aguascalientes, Baja California

Sur, Colima, Nuevo León, Tamaulipas, Tlaxcala e Zacatecas não tem população indígena

significativa e cabe considerar que nos outros estados existem também indígenas migrantes.

A maioria dos lares indígenas apresenta algum grau de pobreza, em função da

satisfação das necessidades básicas. A pobreza é gerada por diversas circunstâncias, que vão

desde a falta de acesso à educação e serviços básicos, a falta de oportunidades de emprego, até a

discriminação racial, e essa pobreza gera outros fenômenos como a migração para outros estados

ou inclusive fora do país, principalmente para os Estados Unidos, o que modifica a concentração

da população indígena no país. O relatório gerado pelo INEGI sobre a população indígena (2000)

indica que as atividades econômicas estão focadas principalmente ao trabalho agropecuário, à

manufatura artesanal tradicional e ao comércio, nas quais participam a maioria dos integrantes

das famílias desde os poucos anos de idade.

A CDI classifica os níveis de marginalidade como: muito alto, alto, médio, baixo e

muito baixo, todas estas categorias se encontram por baixo da Classe Média. A tabela 3 apresenta

um panorama geral dos níveis de pobreza da população indígena segundo a CDI com base nos

dados da contagem de população e moradia do INEGI do ano 2005.

Tabela 3 - Indicadores socioeconómicos da população indígena no México.

Descrição Quantidade Porcentagem

Total de municípios no México 2443 100%

Total de municípios indígenas ou com presença de população indígena

871 35.7%

Municípios indígenas ou com presença de população 295 33.9%

Page 39: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

36

indígena com um grau de marginalidade “muito alto”

Municípios indígenas ou com presença de população indígena com um grau de marginalidade “alto”

363 46.5%

Municípios indígenas ou com presença de população indígena com um grau de marginalidade “médio”

87 10.0%

Municípios indígenas ou com presença de população indígena com um grau de marginalidade “baixo”

45 5.2%

Municípios indígenas ou com presença de população indígena com um grau de marginalidade “muito bajo”

81 9.3%

Fonte: CDI com dados públicos do INEGI (2005)

Considerando a situação das comunidades indígenas e os tópicos anteriores nos quais

se trata o turismo como fator de erradicação da pobreza e impulso para o desenvolvimento

através da geração de renda, promoção da cultura e preservação do seu patrimônio, Cruz (2006,

340-341) menciona o seguinte:

Se existe, teoricamente, alguma possibilidade de o turismo contribuir para “aliviar a

pobreza”, então o planejamento do turismo como instrumento para o alcance de tal fim

deveria: 1) apropriar-se do conhecimento já produzido no País acerca da distribuição

espacial da pobreza, localizando-a bem como diagnosticando seu perfil [...] 2)

diagnosticar as causas da pobreza para além de explicações óbvias. [...] 3) identificar

eventuais fatores regionais perpetuadores da pobreza ou dificultadores de sua superação,

de modo a construir um referencial que ao fim e ao cabo permita avaliar as

possibilidades de o turismo contribuir para a sua superação.

Portanto, de acordo com a autora, a erradicação da pobreza e geração de

desenvolvimento por meio do turismo vão além da realização da atividade nas regiões do jeito

superficial que as políticas públicas atuais tratam o tema: “por meio da geração de empregos e o

financiamento de empreendimentos”. Não basta apenas mencionar os tópicos nos planos, é

necessário antes de elaborar as políticas públicas analisar cada uma das situações de pobreza nas

comunidades indígenas, e propor soluções em concreto para cada caso e assim planejar e gerir o

turismo de acordo as necessidades e potencialidades específicas de cada região.

A nível governamental, a Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos

Indígenas CDI é um órgão descentralizado da Administração Pública Federal, orientador das

políticas públicas para o desenvolvimento integral e sustentável dos povos e comunidades

indígenas, que promove o respeito às suas culturas e o exercício dos seus direitos. Foi criada em

Page 40: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

37

21 de maio de 2013 como sucessora do Instituto Nacional Indigenista que existia desde 1948. Em

março de 2014, o poder executivo federal através da SECTUR assinou um convênio com a CDI

com o fim de promover a criação de projetos turísticos em benefício das comunidades indígenas.

É o primeiro convênio assinado entre essas duas instituições e as principais ações a partir desse

convênio foram o investimento de 250 milhoes de pesos3 em 157 projetos turísticos nas

comunidades indígenas em 2015 e a promoção dos projetos ecoturísticos das zonas indígenas no

“Tianguis Turístico 2015” 4. A parceria desses órgãos é de grande importância para a inclusão

das comunidades indígenas de maneira formal na cadeia produtiva do turismo e a destinação de

verba especificamente para os seus próprios projetos turísticos, gerando desenvolvimento através

desta atividade.

No próximo capítulo será apresentado um panorama do turismo nas comunidades

indígenas no México e será aprofundado o tema tendo como foco a pesquisa em Cuetzalan sobre

a atividade turística nas comunidades Nahuas da Serra Norte de Puebla.

3 MXN, moeda mexicana

4 Feira de turismo nacional realizada anualmente desde 1975

Page 41: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

38

3 O TURISMO E AS COMUNIDADES INDÍGENAS NO MÉXICO

A partir do referencial teórico do presente trabalho, foi possível compreender a

definição do turismo e o seu funcionamento como sistema, os conceitos de desenvolvimento e

sustentabilidade, as características do patrimônio cultural e a situação atual das comunidades

indígenas do México do ponto de vista dos dados secundários. Esta última se relaciona em muitas

ocasiões com marginação e pobreza. Ao mesmo tempo, as comunidades indígenas, na sua

maioria, se localizam em espaços privilegiados em relação aos recursos naturais e possuem um

patrimônio cultural de grande valor com uma tendência de demanda por parte do turismo.

Portanto, nesses recursos, existe o potencial de serem aproveitados como matéria prima para o

turismo, como uma atividade econômica alternativa àquelas tradicionalmente desempenhadas

pelos indígenas. O turismo como atividade econômica seria benéfico para as comunidades

indígenas pelo do desenvolvimento que esta pode trazer, sempre que seja garantida a

sustentabilidade. O patrimônio das comunidades indígenas no México tem o potencial de atrair

um fluxo significativo de turistas nacionais e inclusive estrangeiros motivados pelo turismo

cultural, nos parágrafos seguintes serão apresentados dados relevantes em relação à atividade

turística no país.

Conforme apresentado no gráfico 1 da Introdução deste trabalho, a partir da década

de 1950 o fluxo turístico no México começou a aumentar e a atividade a se desenvolver. Foram

diversos os fatores que influíram para que isto acontecesse. A tabela 4 do Centro de Estudios

Superiores en Turismo, CESTUR (2000) mostra uma referência histórica de eventos e situações

representativas que impactaram no desenvolvimento da atividade turística no país desde 1950 até

2000.

Page 42: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

39

Tabela 4 – Referência histórica de eventos e situações representativas

Fonte: CESTUR (2000)

O relatório analítico do Estudo da Grande Visão do Turismo no México: Perspectiva

2020 do Centro de Estudos Superiores em Turismo CESTUR indica que os fatores que influirão

no desenvolvimento do turismo desde 2000 até 2020 são de ordem política e econômica, social e

do meio ambiente, tecnológica e comercial. A continuação se os principais fatores citados por

categoria:

Fatores políticos e econômicos: Oscilações entre a globalização e a integração regional

contra a fragmentação sub-regional e local. O internacional será cada vez mais

condicionante do nacional. Contração e redução dos poderes do Estado: o fortalecimento

do mercado livre, a liberação comercial e condições mais flexíveis das transferências de

capital. A influência dos resultados das economias da Ásia e as economias emergentes da

migração geral. O crescimento da população economicamente ativa, particularmente no

México "Bolha de oportunidade" Regionalização e estabilização dos tipos de câmbio nos

países desenvolvidos. Facilitação da abertura de fronteiras e incremento migratório por

Page 43: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

40

diversos fatores. Desregulamentação do transporte aéreo, rodoviário e náutico.

Fatores sociais e do meio ambiente: Maior expectativa de vida das pessoas e

aposentadoria antecipada, crescente nos países desenvolvidos. Casamentos e famílias

tardias com menos filhos e crescimento das famílias monoparentais. Incremento na

participação das mulheres em atividades economicamente produtivas e maior influencia

em âmbitos políticos e sociais. Aumento da renda disponível nos países desenvolvidos e

segmentos elitistas. Maior flexibilidade do tempo laboral e aumento de férias subsidiadas.

Crescimento do movimento social e político favorável à proteção do ambiente natural e

cultural. Maior demanda por segurança por parte dos consumidores e viajantes (pessoal,

dos seus bens, de saúde e higiene, jurídica, de qualidade ambiental, etc.). Maior

importância à identidade e diferenciação local. Crescimento da influência da sociedade

organizada e ONGs.

Fatores tecnológicos: Notável desenvolvimento dos sistemas de comunicação,

gerenciamento de informações, reservas, comercialização e distribuição de produtos

(Internet). Técnicas aperfeiçoadas de planejamento e marketing que permitirão

desenvolver nichos e segmentos específicos. Desenvolvimento de tecnologia para o uso

de energia alternativa, reciclagem de resíduos, medição dos impactos ambientais. Menor

crescimento na tecnologia aeronáutica, ferroviária, náutica e rodoviária. Dificilmente

diminuirão mais os tempos de viagem, mas aumentará a qualidade e a segurança nos

trajetos, assim como será reduzida a poluição ambiental.

Comerciais: Megafusões e fragmentação das unidades de negócios. Maior concorrência

na indústria do entretenimento Maior segmentação psicográfica. Incorporação do

marketing direto com bases de dados personalizadas e orientadas a partir de um

conhecimento profundo do cliente. Saturação de informação e maior conhecimento sobre

produtos diversos.

Então, com base nos antecedentes do turismo, a situação atual, as tendências e as

perspectivas do futuro até 2020, é possível deduzir que o turismo no México terá o potencial de

manter a competitividade a nível mundial e continuar nos primeiros países do ranking de

Page 44: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

41

demanda. Aproveitando a demanda nacional e estrangeira em aumento e conhecendo as

tendências do mercado, é importante criar estratégias para aproveitar os recursos e as

oportunidades e desenvolver o turismo também nas comunidades indígenas.

Com base nos antecedentes mencionados anteriormente, na pesquisa de campo

observou-se que nas comunidades indígenas, as vantagens do turismo em relação aos fatores

políticos e econômicos, podem ser: a integração no mercado global, pois atualmente já são

oferecidos os produtos turísticos em comunidades indígenas em feiras internacionais de turismo,

a participação da população indígena no poder público, a oportunidade para o empreendedorismo

e a capacitação de jovens que ingressam no mercado de trabalho para se inserirem na cadeia

produtiva do turismo. Também a demanda ao Estado de infraestrutura e serviços em benefício da

comunidade e do turismo.

Em relação aos fatores tecnológicos, estão sendo utilizadas as novas tecnologias para

melhorar a qualidade dos serviços, a promoção de destinos e a profissionalização, como exemplo

disso, atualmente muitos empreendimentos indígenas como meios de hospedagem e de

alimentação já possuem o serviço wi-fi, divulgam os seus serviços nas redes sociais e inclusive

utilizam sistemas de informação na gestão interna. A energia alternativa e reciclagem de resíduos

contribuíram na sustentabilidade dos projetos ecoturísicos. Finalmente, os fatores sociais se

relacionam com os fatores comerciais, pois a segmentação para o melhor conhecimento da

demanda facilitará a adequação da oferta para o crescimento e a procura de novos mercados. Os

fatores sociais também se refletem no mercado de trabalho, os empreendimentos abordados nesta

pesquisa são administrados por mulheres indígenas. Observa-se então que as mudanças previstas

de 2000 para 2020 no turismo estão de fato acontecendo e atingem também às comunidades

indígenas, que aproveitando essas oportunidades se veem beneficiadas.

3.1 Antecedentes e panorama geral do turismo em comunidades indígenas

Os dois tipos de turismo mais explorados nas comunidades indígenas no México,

como observado em campo, são o turismo alternativo/de natureza e o turismo cultural. O turismo

de natureza foi o primeiro a ser promovido e receber investimentos já que os recursos naturais

onde as comunidades indígenas se localizam tem o potencial de atrair um fluxo significativo de

Page 45: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

42

turistas quando o lucro das atividades cotidianas não era suficiente para o sustento familiar.

Segundo Pardo (2013, p.103)

El turismo alternativo / turismo naturaleza surge en el campo mexicano cuando los

impactos de la globalización en los territorios rurales se manifiestan con la agudización y

profundización de la crisis de un campo cada vez más proletarizado, pobre y en algunos

casos en franco proceso de desestructuración de su tejido social. Las actividades

productivas tradiciones, como la agricultura, la ganadería y la pesca a baja escala,

aseguran cada vez menos el bienestar de la población mayoritaria. Todo lo anterior

acompañado de la presión del capital y de la expansión urbana sobre las riquezas

naturales.

Assim, o turismo de natureza passou a ser uma atividade econômica alternativa ou

complementar nas comunidades, porém o uso indiscriminado dos recursos naturais pode gerar

uma degradação em longo prazo, motivo pelo qual se tornou necessário o planejamento e gestão

da atividade, bem como a exploração de outros recursos, como o patrimônio e as manifestações

culturais, que são próprias da comunidade.

Fazendo uma comparação das figuras 2 e 3, é possível observar que os lugares

considerados como detentores do patrimônio cultural do país, coincidem muitas vezes com

regiões indígenas, isso aponta que além dos recursos naturais, tem uma grande variedade de

recursos culturais no espaço físico com potencial para serem aproveitados para o turismo. A

partir da exploração deste tipo de recursos, são criadas políticas públicas denominadas

“indigenistas” a fim de inserir a população no mercado desde as condições de desvantagem em

que se encontram. Uma vez inseridos no mercado e na gestão do turismo, os indígenas são

considerados interlocutores capazes e sujeitos do seu próprio desenvolvimento. Este tipo de

turismo ao mesmo tempo, muda o olhar da sociedade sobre as comunidades indígenas,

valorizando a sua cultura, participando da preservação do seu patrimônio e reconhecendo a sua

identidade com orgulho e não mais com discriminação.

3.2 RITA Red Indígena de Turismo de México

A Red Indígena de Turismo de México Asociación Civil RITA é uma organização

constituída por mais de cento e vinte empresas do movimento indígena do México que desde

2002 opera através de projetos ecoturísticos em regiões indígenas em 16 estados do país. Tem

como objetivo coadjuvar ao desenvolvimento comunitário por meio da conservação, o resgate e o

aproveitamento alternativo do legado cultural e a biodiversidade. Promove também o diálogo

Page 46: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

43

intercultural e mantem uma relação com o Estado. É a primeira rede de projetos ecoturísticos no

país criada e dirigida por indígenas de diversas etnias.

Figura 4 – Logomarca da RITA

Fonte: Red Indígena de Turismo de México AC (2015)

As informações encontradas no site oficial da RITA mencionam que a rede oferece

aos turistas de maneira independente uma variedade de produtos e serviços como meios de

hospedagem, estabelecimentos de alimentação, pacotes turísticos, passeios locais e eventos.

Oferece também capacitação constante aos membros da organização com cursos úteis para a

atividade turística como contabilidade e administração, qualidade dos serviços e primeiros

socorros, entre outros. Promove oficinas sobre conservação de flora e fauna e sobre resgate e

valorização de práticas culturais, bem como atividades produtivas do trabalho do campo como

complemento da oferta turística. A sua oferta é divulgada através de redes sociais e participação

em feiras e eventos de turismo. Através da RITA foi possível integrar às comunidades indígenas

à cadeia produtiva do turismo, possibilitando à população não só de exercer uma atividade

econômica alternativa, mas o planejamento e a gestão da mesma, se beneficiando diretamente

com o turismo e atingindo assim o desenvolvimento. É relevante mencionar a RITA no presente

Page 47: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

44

trabalho pelas suas contribuições ao turismo e às comunidades indígenas no país. No município

de Cuetzalan, foram encontrados também membros da RITA.

3.3 Município de Cuetzalan del Progreso e Comunidade Nahua

O presente tópico sobre o município de Cuetzalan del Progreso e as suas

comunidades, é baseado nas observações de campo realizadas em dezembro de 2014 e julho de

2015, nos dados coletados na exposição permanente do museu municipal da casa de cultura e no

material disponibilizado em meio eletrónico pela CDI de 2000 a 2015, essas informações foram

extraídas do Arquivo Histórico do Município.

Cuetzalan del Progreso é um dos 217 municípios do estado de Puebla na região

denominada Serra Norte, localizado no centroeste do México a 183 km da capital do estado.

Conta com uma população aproximada de 47, 433 mil habitantes em uma extensão territorial de

135.22 km2 segundo o censo do INEGI (2005). O seu clima é húmido e semi-cálido entre os 18°

e 25° C com chuvas abundantes no verão e muitos dias de intensa neblina, carece de uma estação

seca bem definida. A figura 5 da CDI mostra a localização dos municípios da Serra Norte de

Puebla, entre eles Cuetzalan.

Figura 5 – Municípios da Serra Norte de Puebla

Page 48: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

45

Fonte: CDI (2009)

É considerado município indígena pela sua concentração de população nahua que

equivale ao 55% da população total, o restante 45% é considerado mestiço. Na região toda são

faladas as línguas náhuatl, totonaca, otomí e tepehua, mas a língua predominante do município é

o náhuatl com um total de 30,354 falantes, muitos dos quais também dominam o espanhol. A

figura 6 mostra a distribuição da população nahua em toda a região.

Figura 6 – Mapa da distribuição dos nahuas na Serra Norte de Puebla

Fonte: CDI (1995)

Segundo os registros do Arquivo Histórico da Casa de Cultura do município, a

população foi catequizada em torno do ano 1531 por franciscanos e posteriormente por

agostinianos, até os dias de hoje é possível observar uma religião católica predominante e

inculturada com a cosmovisão indígena. Num ambiente indígena e rural, o que tem sustentado a

sua identidade por meio da memória e a tradição oral. O racismo e a discriminação se fazem

presentes nas relações com os grupos de maior influencia política e econômica mesmo sendo a

população na sua maioria de origem indígena, motivo pelo qual a realidade está sendo mudada.

Até a metade do século XIX, a população era totalmente indígena, mas a medida que novas vias

Page 49: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

46

de acesso foram construídas para a introdução do café, a população mestiça foi se inserindo no

município. Devido aos níveis de marginação que o município apresentava até antes do ano 2000,

a população tinha uma tendência a emigrar às cidades de México e Puebla para trabalhar na

construção e alguns poucos para os Estados Unidos, que se dedicavam à agricultura.

De acordo com Báez (2004), as principais atividades econômicas no município além

do turismo são a agropecuária, a produção de milho e café, a produção de peças têxtis de algodão

e em menor medida a pesca. Conserva ainda a produção de peças artesanais que se entendem

como aqueles artigos com fins utilitários elaborados manualmente e com elementos naturais do

local. Comumente, a elaboração de artesanato é um complemento do trabalho do campo, no caso

dos homens e das tarefas domésticas no caso das mulheres. É importante destacar a produção

artesanal de peças têxteis, pois a indumentária indígena continua sendo utilizada no dia a dia,

como um meio de expressão cultural, de destacar a pertença a certo grupo ou como distintivo de

rango ou status em algumas comunidades. Cada localidade se dedica à elaboração de alguma

peça em particular, o que assegura a venda dos objetos, o intercambio de objetos e o fluxo de

recursos.

Em relação à infraestrutura, nos anos 70 foi construída a rodovia Interserrana que

percorre toda a região e é ligada à Rodovia Federal que chega até a Cidade do México. Antes da

construção dessas vias, o acesso só era possível por meio de pequenos aviões ou pelos caminhos

“reais” onde só podia transitar a pé ou com animais de carga. Posteriormente foram realizadas as

obras de energia elétrica, encanamento e esgoto, atualmente conta com rede de telefonia fixa,

móvel e internet banda larga. Quanto à educação, conta com instituições que oferecem até o

ensino médio, preparação pre ensino superior e cursos de ensino superior a distância.

Os usos e costumes da população indígena se mantêm vivos e acompanham as

mudanças do desenvolvimento, é possível observar isso em exemplos como o ensino fundamental

com distribuição de livros em língua náhuatl, a rádio indígena, as vestimentas da população, as

celebrações religiosas segundo os costumes e realizadas em espanhol e náhuatl, a gastronomia, as

danças, entre outros. Essas práticas se mantem a partir das relações inter-étnicas na região, que à

sua vez se fortalecem pelas práticas do comercio e a visita aos santuários regionais entre

comunidades.

Page 50: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

47

Além da organização política tradicional, o município se destaca na região pelas

organizações independentes de caráter étnico, como a cooperativa Tosepan Titaniske,

conformada por pequenos produtores. Maseualpajti, que é uma sociedade de médicos tradicionais

que conseguiram ser reconhecidos e se integrar à rede pública de saúde. A oficina de tradição oral

de Tzinacapan que tem como fim o resgate e a compilação de saberes naturalistas indígenas e a

tradição oral. A comissão Takachihualis para a defesa dos direitos humanos. E a organização de

mulheres indígenas Masehual Siuamej Mosenyolchicauani que entre os diversos projetos,

destacam os empreendimentos turísticos.

Estes traços da cultura indígena juntamente com as suas características naturais

tornam o município um dos principais lugares destinos turísticos no estado. Atualmente conta

com uma infraestrutura, acessos, equipamentos e serviços suficientes para atender a demanda

turística. Cuetzalan pertence ao Programa Pueblos Mágicos da SECTUR desde 2002, programa

que incentiva o turismo através de ações de reconhecimento do patrimônio natural e cultural e

desenvolvimento através do turismo em regiões com esse potencial. Nos tópicos seguintes serão

apresentados os atrativos turísticos, a infraestrutura e os serviços do município.

3.3.1 Atrativos turísticos, infraestrutura e serviços

O município conta com uma variedade significativa de atrativos naturais e

culturais que retratam os traços da cultura indígena atraindo uma demanda nacional e estrangeira.

Assim, o turismo se tornou uma das principais fontes de emprego para a população. A

continuação são apresentados os dados primários acerca dos atrativos turísticos levantados em

campo. Os principais atrativos turísticos de Cuetzalan são:

Centro da cidade: Conta com uma diversidade de edifícios que têm sido preservados para

retratar a sua arquitetura vernácula original como o prédio da prefeitura, os casarões, o

relógio antigo e as construções ao redor do quiosque central. Além de outros lugares de

importância para o turismo como a casa de cultura que hoje alberga o museu de

Cuetzalan, a biblioteca municipal e o arquivo histórico. São edificações que datam da

época da colônia. A figura 7 ilustra a paisagem noturna do centro da cidade.

Figura 7 – Praça central de Cuetzalan

Page 51: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

48

Fonte: Tikuas.com (2015)

Paróquia de São Francisco de Assis: Templo católico de arquitetura vernácula construído

no século XVI no centro da cidade. Lugar onde são feitas celebrações que retratam o

sincretismo religioso, atraindo um número significativo de visitantes, como as missas com

danças indígenas e liturgia em náhuatl, e a festa do padroeiro, São Francisco de Assis no

dia 4 de outubro.

No meio do átrio paroquial se localiza o mastro utilizado para a dança dos voadores.

Dentro se observam relevos com passagens da vida de Cristo e o quadro do “Cântico d

irmão sol”. Na paróquia é possível observar uma religião católica inculturada através das

vestimentas tradicionais colocadas nos santos e o artesanato de cera da decoração e o

ofertório. A figura 8 mostra a vista externa do templo de São Francisco de Assis, e a

paisagem da Serra e a figura 9 mostra o interior da paróquia de São Francisco de Assis

Figura 8 – Vista externa do templo de São Francisco de Assis

Page 52: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

49

Fonte: cuetzalanmagico.mx (2015)

Figura 9 - Interior da Paróquia de São Francisco de Assis

Fonte: www.cuetzalanmagico.com (2015)

Santuário de Guadalupe – “Iglesia de los jarritos” e cemitério antigo: Templo católico

dedicado à “Tonantzin” (Virgem de Guadalupe). Tem características neogóticas e data de

1895, foi inspirado no santuário de Lourdes em Louvre e tem como diferencial a

Page 53: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

50

decoração feita com pequenas jarras de argila conhecida assim como “Iglesia de los

jarritos”. Na frente dele se localiza o cemitério da cidade que alberga uma variedade de

túmulos antigos que destacam pelos seus enfeites com flores. A figura 10 mostra a entrada

do Santuário de Guadalupe, cujo acesso se faz atravessando o corredor principal do

cemitério.

Figura 10 – Santuário de Guadalupe e cemitério

Fonte: www.corazondepuebla.com.mx (2015)

Museu e casa de cultura: Antigamente conhecida como Máquina Grande, este prédio foi

construído em 1898. Gerou um grande impacto na indústria do café da zona. O prédio de

janelas góticas era utilizado como escritório, armazém, áreas de entrega, classificação do

grão, salas e continha a enorme máquina que deu origem ao seu nome. Em 1997 foi doado

para albergar a casa de cultura de Cuetzalan. A partir do ano 2002 alberga o Museu local,

a Biblioteca e o Arquivo Municipal. Nela também são realizadas oficinas e apresentações

culturais. A figura 11 mostra a fachada da Casa de Cultura de Cuetzalan.

Figura 11 - Casa de Cultura de Cuetzalan

Page 54: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

51

Fonte: reidocbici.com (2015)

Zona arqueológica de Yohualichan: Zona arqueológica localizada a 8 km do centro da

cidade, cujo nome significa “casa da noite”. Conta com edificações da antiga civilização

totonaca, otomí e mexica bem preservadas que datam do ano 600 d.C. É composta pelas

pirâmides, a zona de “juego de pelota”, o centro cerimonial, o túmulo do governador,

prédios com “Grecas” e a macropraça central. Em 1978 o Instituto Nacional de

Antropologia e História começou as explorações e reconstrução, finalizando em 1996. Foi

um importante complexo cerimonial e atualmente ainda são realizadas festividades de

origem prehispánico como danças e ritos religiosos. É comumente incluída nos pacotes

turísticos ou oferecida pelos guias de turismo locais, provenientes das comunidades

próximas. A figura 12 mostra a pirâmide principal da zona arqueológica de Yohualichan.

Figura 12 – Zona arqueológica de Yohualichan

Page 55: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

52

Fonte: viajesflosan.com (2015)

Grutas e cachoeiras: Pelas características da região, as grutas e cachoeiras tem se tornado

um dos principais atrativos turísticos sendo inclusive procuradas por público estrangeiro.

Foi o primeiro atrativo turístico, pois se tem registros de visitas desde a década de 1960.

Frequentemente são descobertos e adaptados novos espaços, pois o município conta com

uma rede de mais de 21 km de grutas e rios subterrâneos. São mais de 60 as grutas e

cachoeiras com acesso ao público, dentre elas as que mais se destacam são as grutas de

Chivostoc, Amocuali e Atepolihui, o lago de Cuichatl e as cachoeiras Atepatahua, Las

Brisas, Las Hamacas, El Salto, La Encantada e Velo de Novia, Los Corales, Mirador

Balcon del Diablo, e 3 Caidas . São um atrativo natural e cultural, pois além das

características da paisagem, cada lugar tem histórias do imaginário dos indígenas. Nesses

espaços é possível praticar atividades de turismo de aventura como recorridos internos,

mergulho nos rios subterrâneos, rappel, e trilhas de turismo pedagógico. Quando o clima é

oportuno, os guias de turismo locais oferecem esses passeios no centro da cidade. As

figuras 13, 14 e 15 são exemplos de grutas e cachoeiras da região.

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53

Figura 13 – Entrada da gruta Atepolihui

Fonte: tiouitinemiti.mex.tl (2015)

Figura 14 – Rappel em Atepatahua

Fonte: tiouitinemiti.mex.tl (2015)

Page 57: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

54

Figura 15 - Cachoeira El Salto

Fonte: tiouitinemiti.mex.tl (2015)

Jardim Botânico Xoxoctic: Jardim botânico de 5 hectares, dedicado à preservação e

valorização da diversidade da flora da região. Foi um projeto que começou com o fim de

reflorestar as áreas inutilizadas do município e preservar as orquídias mais raras,

samambaias e a flor “chamaki” característica da região. A sua missão é promover as

pesquisas e a conservação da floresta nublada. Oferece recorridos internos, observação de

aves e borboletas, oficinas de cuidado ao meio ambiente, produção de café e medicina

tradicional. Apto para o turismo pedagógico. Na figura 16 aprecia-se o jardim botânico

Xoxoctic sendo utilizado para o turismo pedagógico.

Figura 16 – Jardim Botânico Xoxoctic

Page 58: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

55

Fonte: puebla.travel (2015)

Gastronomia: A gastronomia é totalmente de origem indígena baseada principalmente em

pratos de milho, cogumelos, pimentas, frutos e ervas da região elaborados de maneira

tradicional com peças como o molcajete, o metate e o comal (instrumentos

prehispánicos). Conta com uma grande diversidade de pratos originários e como

gastronomia mexicana, são reconhecidos patrimônio imaterial da humanidade pela

UNESCO. Alguns dos pratos típicos mais comuns são os tlayoyos, molotes, chilposonte,

mole, acamayas, tamales, pipián, exquíhit, chayoteste, xocoyoles, entre outros. E bebidas

como o licor yolixpa, o café e o xocoatol. A figura 17, um exemplo da gastronomia

mostra um prato de enfrijoladas com flor de abóbora e a figura 18 mostra os tradicionais

tlayoyos.

Figura 17 – Gastronomia em Cuetzalan

Page 59: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

56

Fonte: cuetzalanmagico.mx (2015)

Figura 18 – Comida típica Cuetzalteca

Fonte: yosoypuebla.com (2015)

Usos e costumes: Existem vários usos e costumes vindos de antigas gerações que se

conservam até os dias atuais. Os moradores de origem indígena ainda produzem

artesanalmente e comercializam as suas vestes originais. É comum observar homens e

mulheres utilizando essas vestes no dia a dia. As mulheres utilizam uma saia “enredo”

com uma faixa bordada na cintura, uma blusa de algodão com decote quadrado e

bordados feitos a mão. Pelo estilo dos bordados é possível saber a sua procedência.

Utilizam também o clássico “huipil”, um pano de difícil elaboração. Nos dias de festa é

utilizado uma touca de linha preta e roxa, simulando um cabelo alto. As mães carregam as

crianças nas costas numa cesta de jonote (fibra da região). Quanto aos homens, utilizam

diariamente uma camisa e calção de manta de algodão, amarrado até o joelho, chapéus de

palha e sandálias de couro ou simplesmente caminham descalços. Ainda é utilizado o

mecapal (instrumento para carregar objetos pesados apoiados na testa) no trabalho e nas

tarefas diárias. A figura 19 mostra as mulheres cuetzaltecas utilizando as vestes típicas.

Page 60: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

57

Figura 19 – Vestes típicas das mulheres cuetzaltecas

Fonte: viajerosustentable.com (2015)

Outras práticas que se destacam são aquelas voltadas ao cuidado da saúde, como a

medicina a base de ervas, massagens tradicionais e o uso do temazcal comumente

utilizado nas comunidades e oferecido aos turistas nos hotéis indígenas. O temazcal

consiste na desintoxicação do corpo por meio de um banho de vapor com ervas que é feito

numa pequena construção de pedra e barro ou folhas de milho, onde se acende o fogo que

esquenta as pedras e se joga agua para produzir o vapor enquanto o corpo nu recebe leves

golpes com galhos. A figura 20 mostra o Temazcal de folhas de milho do Hotel

Taselotzin.

Figura 20 – Temazcal do Hotel Taselotzin

Page 61: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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Fonte: booking.com (2015)

Festas e eventos relevantes: As principais festas celebradas no município de Cuetzalan

são: A Festa de São Francisco de Assis, padroeiro da cidade. É comemorada na véspera e

no dia 4 de outubro com procissões, danças e missas. Antecede a ela a festa do huipil,

desde o dia 1 de outubro, onde é escolhida a rainha do huipil, uma mulher jovem

representante de cada comunidade com as condições de ser autóctone e falar náhuatl e

espanhol, além de ter elaborado manualmente o próprio huipil no tear de cintura. A figura

21 mostra a cerimónia de eleição da Rainha do Huipil.

Figura 21 – Rainha da festa do Huipil

Page 62: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

59

Fonte: pueblanoticias.mx (2015)

Outro evento relevante de recente criação é a Feira do Yolixpa, no mês de agosto. Durante

dois dias são feitas apresentações culturais numa feira dedicada ao Yolixpa. O Yolixpa é

uma bebida de origem pré-hispânico oferecida a deuses e reis, elaborada a base de cana e

ervas medicinais. O seu nome vem do náhuatl yoli-coração e pajti-medicina, significa

medicina para o coração. Nessa mesma feira são vendidos outros licores de frutos e ervas

da região.

Outras celebrações com destaque na região são o dia de todos os santos e os fieis defuntos

comemorado no dia 1 e 2 de novembro respectivamente, onde são colocadas oferendas e

enfeites no cemitério e a festa titular de Yohualichan em agosto a maneira de promover a

visitação à zona arqueológica.

Danças e rituais: As danças são apresentadas nas festividades do município. As mais

comuns são: a dança dos “negritos” de origem crioula e africana, executada por crianças,

que narra a lenda de um menino que foi mordido por uma cobra e a tentativa da mãe para

salvar a sua vida. A dança dos Santiagos que representa uma batalha entre o apóstolo

Thiago e Pilatos e as cruzadas, esta dança surgiu a partir da chegada dos espanhóis e se

Page 63: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

60

caracteriza também pelas vestes usadas. Finalmente, as duas danças que mais se destacam

são a Dança dos Quetzales e a Dança dos Voadores do Sol. A primeira se realiza com

vestes vermelhas e brancas além de um enorme cocar circular elaborado com fitas

coloridas e penas que representa a ave quetzal, é uma dança ritual que marca os pontos

cardinais. A figura 22 mostra as crianças dançando a dança dos Quetzales.

Figura 22 – Dança dos Quetzales

Fonte: cuetzalanmagico.mx (2015)

A Dança dos Voadores, é o principal atrativo nessa categoria. É uma dança originaria da

cidade de Cuetzalan, difundida no resto do país e atualmente considerada Patrimônio

Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Essa dança está dedicada ao sol, e se

inicia com um ritual para a escolha da árvore com a qual se fará o mastro, pedindo perdão

à natureza pela retirada da árvore. O mastro, que mede aproximadamente 30 metros é

colocado permanentemente num lugar estratégico, geralmente à frente da igreja. Os cinco

voadores sobem ao mastro sem proteção, na ponta, o “sacerdote” executa um ritual de

oração ao sol com um pequeno tambor marcando os pontos cardinais e senta, dando o

sinal para que os outros quatro voadores se joguem pendurados por umas cordas de fibra,

girando de cabeça pra baixo no ar ao redor do mastro até tocar o chão. Cada voador dá

Page 64: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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treze voltas ao redor do mastro, totalizando cinquenta e duas, representando cada semana

do ano. Atualmente é realizada em datas de festas católicas como pagamento de

promessas e aos domingos ao meio dia, como atrativo para os turistas. A figura 23 mostra

a execução da dança dos voadores no mastro da praça central.

Figura 23 – Dança dos Voadores do Sol

Fonte: turismopuebla.es (2015)

A feira central aos domingos: Todo domingo é realizado o tradicional “tianguis” ou

também conhecido como mercado. É uma feira grande onde acodem todos os

comerciantes indígenas das comunidades do município para vender ou trocar seus

produtos e a população faz as compras necessárias. A feira ocupa todo o centro da cidade

e opera das 7h às 18h com preços baixos comparados com os estabelecimentos. Na feira é

possível encontrar produtos como artesanato, roupas, panos bordados, café, cereais,

sementes, especiarias, flores, frutas, materiais e ferramentas de trabalho do campo, etc.

As pessoas que a frequentam vão com as suas vestes tradicionais, representando a sua

comunidade. A figura 24 mostra uma parte da feira dominical.

Page 65: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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Figura 24 - Feira de Cuetzalan

Fonte: minube.com (2015)

O mercado central de artesanato: Espaço destinado aos produtores de artesanato indígenas

onde podem oferecer seus produtos num estabelecimento fixo e de baixo custo de aluguel.

Nele é possível comprar todo tipo de artesanato diretamente com os produtores. Tem

também um restaurante com comidas regionais e um quiosque que oferece passeios e

serviço de guia de turismo. A figura 25 mostra a fachada do mercado de artesanato.

Figura 25 - Mercado de artesanato

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Fonte: reydocbici.com (2015)

Os assentamentos indígenas e suas festas: A poucos quilômetros do centro da cidade se

localizam alguns assentamentos indígenas que são frequentemente visitados por turistas.

Neles é possível observar um estilo de vida mais rudimentar, onde a população se dedica

às atividades próprias do campo e a língua predominante é o náhuatl. Desses

assentamentos provem os produtores de artesanato e trabalhadores do centro de

Cuetzalan. As comunidades são conhecidas pelas suas festas religiosas e foi promovida a

visitação a partir do encontro intercultural Tejiendo Nuestras Vidas. Os principais

assentamentos são Chicueyaco, Cuautamazaco, Pepexta, Xiloxochico, San Andrés

Tzicuilan e San Miguel Tzinacapan. A figura 26 mostra uma dança da festa do padroeiro

em San Miguel Tzinacapan

Figura 26 – Festa do padroeiro em San Miguel Tzinacapan

Page 67: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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Fonte: radiomas.mx (2015)

Encontro intercultural Tik Ijkiti To Nemilis: O encontro intercultural “Tejiendo Nuestras

Vidas” consiste na estada e interação de uma semana dos turistas com a comunidade

indígena. Os turistas são hospedados nas casas das famílias das sócias da Masehual

Siuamej Mosenyolchicauani (associação de mulheres indígenas com empreendimentos

turísticos). Eles interagem com os moradores, aprendendo a língua “náhuatl”, conhecendo

as suas histórias, participando das atividades cotidianas dos indígenas como o trabalho do

campo e a elaboração de artesanato e conhecendo os lugares de maior importância

cultural no local. Este encontro tem como fim a valorização do patrimônio natural e

cultural indígena utilizado para o turismo, a promoção da produção local e a

movimentação da economia nas comunidades. O primeiro encontro foi organizado pela

associação de mulheres indígenas Masehual Siuamej Mosenyolchicauani em julho de

2015. A figura 27 é um cartaz do primeiro encontro Tejiendo Nuestras Vidas e a figura

28, as mulheres organizadoras do mesmo.

Figura 27 – Cartaz do primeiro encontro Tejiendo Nuestras Vidas

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Fonte: Zúñiga (2015)

Figura 28 – Mulheres indígenas organizadoras do encontro

Fonte: Zúñiga (2015)

Page 69: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

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Artesanato e produtos regionais: Os produtos produzidos artesanalmente chamaram a

atenção dos turistas e atualmente são produzidos em maiores quantidades para a sua

comercialização. São elaborados com materiais da região, como algodão, fibra de jonote,

sementes, madeira, cera de abelha, fios, flores, couro e bambu. Os produtos mais comuns

são a cestaria de jonote, as roupas de manta com bordados feitos a mão, as peças de tear

de cintura, bijuteria de sementes, relevos de madeira e bambu, mochilas e bolsas de

algodão ou outras fibras, chapéus, sandálias de couro, cocares, chaveiros, canetas e

brinquedos. Também são oferecidos licores de frutas regionais, café orgânico, pimentas e

especiarias, cigarros artesanais de fumo e baunilha. São vendidos na rua, no mercado

central, na feira aos domingos, em estabelecimentos fixos, nos hotéis e na rodoviária. São

produzidos por indígenas das comunidades próximas ao centro da cidade. Eles evitam

revendedores no processo a fim de ganhar o lucro diretamente do turista. A figura 29 é um

exemplo da prática do tecido em tear de cintura executado por mulheres nahuas. A figura

30 é um exemplo do artesanato de cera de abelha e a figura 31 uma barraca do mercado

de artesanato.

Figura 29 – Mulheres no tear de cintura

Fonte: cidadania-express.com (2015)

Figura 30 – Peças artesanais de cera de abelha

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67

Fonte: Zúñiga (2015)

Figura 31 – Artesanato de Cuetzalan

Fonte: turismoencuetzalan.com (2015)

Page 71: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

68

3.3.2 Infraestrutura e serviços

De acordo com os dados levantados em campo a partir dos registros da Secretaria de

Turismo do município até 2015, o município conta com 33 meios de hospedagem que somam um

total de 539 UH. Eles se classificam como: hotéis, pousadas, “cabañas” e “mesones”. Os hotéis

Tosepan Kali e Taselotzin, se caracterizam como os principais empreendimentos indígenas de

hospedagem. Existe unicamente um hotel de 5 estrelas e um hotel de 4 estrelas, a sua maioria são

de 1 e 3 estrelas. Quanto a alimentação e diversão noturna, Cuetzalan conta com 28 restaurantes

com capacidade entre 16 e 100 PAX e um total de 1 637 PAX. Conta com 5 estabelecimentos de

diversão noturna, dentre 70 e 200 PAX, somando um total de 900 PAX. Existe também um

grande número de opções informais de alimentação. A figura 32 mostra um quarto do Hotel

Taselotzin.

Figura 32 – Quarto do Hotel Taselotzin

Fonte: Zúñiga (2015)

Quanto ao acesso terrestre, Cuetzalan se localiza a aproximadamente 50 km ao sur de

Poza Rica, porém, não existe uma estrada principal que ligue Cuetzalan com essa importante

Zona Metropolitana do norte de Veracruz. No oeste de Cuetzalan, na mesma latitude, a 130 km

de distância em linha reta, se localiza a Zona Metropolitana de Pachuca, mas o acesso mais direto

Page 72: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

69

é pela estrada Arco Norte até chegar a Tlaxcala, passando por Huamantla e continuando na

estrada a Tehuacán. Ao sul e sudoeste da cidade de Cuetzalan se localiza a Zona Metropolitana

de Puebla-Tlaxcala, a maior da entidade e a quarta maior do país. Porém, para um percurso de

apenas 150 km é preciso viajar mais de 3 horas. Finalmente, a Zona Metropolitana da Cidade do

México, o maior mercado turístico do país, se localiza a mais de 4:30 horas de viagem, mas com

estradas mais eficientes, este tempo poderia ser reduzido notoriamente.

A linha de ônibus que liga a Cidade do México e Puebla (principais pontos

emissores) com Cuetzalan, é a linha Texcoco que sai diariamente da rodoviária San Lázaro

TAPO na Cidade do México e a linha VIA na rodoviária CAPU em Puebla. Pode ser feita

também uma viagem por outras linhas com transbordos nas rodoviárias dos municípios vizinhos

como Zacapoaxtla. Cuetzalan conta com uma rodoviária e várias saídas para a Cidade do México

e Puebla todos os dias. Internamente conta com serviço de táxi e van que liga os assentamentos

indígenas e os atrativos turísticos mais afastados com o centro da cidade. A figura 33 mostra uma

parte da rodoviária de Cuetzalan.

Figura 33 – Rodoviária de Cuetzalan

Fonte: Zúñiga (2015)

3.3.3 Programa Pueblos Mágicos como política pública principal no município

Page 73: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

70

A principal política pública que rege o turismo no município é o programa Pueblos

Mágicos, a partir das suas bases e critérios para pertencimento são desenvolvidas todas as ações

de gestão e realização da atividade turística. O Programa foi criado pela SECTUR em parceria

com outros órgãos de governo, especificamente: Secretaría de Desarrollo Social; Secretaría de

Educación Pública; Secretaría del Trabajo y Previsión Social; Secretaría de Economía; Secretaría

de Medio Ambiente y Recursos Naturales; Fondo Nacional para el Fomento de las Artesanías;

Consejo Nacional para la Cultura y las Artes; Banco Nacional de Obras y Servicios; Comisión

Federal de Electricidad; Comisión Nacional del Agua, e Instituto Nacional de Antropología e

Historia pois a realização da atividade turística envolve todos estes setores. O programa foi criado

em 2001 e o município de Cuetzalan tem feito parte desse programa desde o ano de 2002. A

prefeitura do município conta no organograma com um conselho especificamente para o

Programa Pueblos Mágicos.

O programa consiste em na revalorização de cidades que refletem claramente

diversos aspectos da identidade nacional e representam alternativas de visitação para público

nacional e estrangeiro. O programa é de abrangência nacional e atualmente existem 83 “Pueblos

Mágicos” distribuídos ao longo do território nacional. A figura 34 imagem mostra a localização

dos “Pueblos Mágicos”:

Figura 34 - Pueblos Mágicos de México

Page 74: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

71

Fonte: SECTUR (2012)

Os objetivos do programa são:

Estruturar uma oferta turística complementar e diversificada para o interior do país,

baseada fundamentalmente nos atributos histórico - culturais de localidades singulares.

Aproveitar a singularidade das localidades para a geração de produtos turísticos baseados

nas diferentes expressões da cultura local como artesanato, festividades, gastronomia,

tradições, entre outras.

Aproveitar a singularidade das localidades para a geração de outros produtos turísticos

tais como a aventura e o esporte extremo, o ecoturismo, a pesca esportiva, e outros que

signifiquem um alto grau de atratividade dentro do território da localidade participante.

Valorizar, consolidar e/ou reforçar os atrativos das localidades com potencial e

atratividade turística, fomentando assim os fluxos turísticos que gerem:

‒Maior gasto em benefício da comunidade receptora (artesanato, gastronomia,

amenidades e o comercio em geral), assim como,

‒ A criação e/ou modernização dos negócios turísticos locais.

Que o turismo local se constitua como uma ferramenta do desenvolvimento sustentável

das localidades incorporadas ao programa, assim como num programa de apoio à gestão

municipal.

Que as comunidades receptoras das localidades participantes aproveitem e se beneficiem

do turismo como atividade lucrativa como opção de negócio, de emprego e de forma de

vida.

O programa Pueblos Mágicos é um programa que busca reconhecer a própria riqueza

cultural e histórica. Pelas exigências de ingresso e permanência no programa, são garantidas

ações de preservação e promoção do patrimônio cultural sem deixar de ser um destino com um

significativo fluxo turístico e altos padrões de qualidade nos serviços. O programa opera nas

cidades que têm como população base acima de 20 mil habitantes, porém, o Comitê

Interinstitucional de Avaliação e Seleção abre exceções para cidades que cumpram todos os

requisitos mesmo sem atingir o mínimo da população. A cidade deve estar localizada a não mais

de 200 km ou 2 horas de viagem via terrestre de um ponto emissor ou destino turístico bem

consolidado como as capitais dos estados. As repercussões deste programa vão além da melhoria

Page 75: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

72

da imagem urbana e o crescimento econômico, pois o programa busca somar esforços para

garantir um desenvolvimento que possa ser usufruído por todos os interessados. Pelos resultados

do programa, vários países da América Latina como El Salvador, Colombia, Peru, Ecuador e

Chile têm decidido implementá-lo na própria realidade e para isso tem requerido assessoria à

SECTUR da República Mexicana.

3.4 Atores de turismo no município

A partir das entrevistas com os atores do turismo no município foram gerados os

seguintes tópicos, com o fim de atingir os objetivos específicos mencionados na introdução deste

trabalho. As entrevistas foram realizadas em dezembro de 2014.

3.4.1 Poder público - Entrevista com o Secretário de Turismo

Em relação ao poder público no município de Cuetzalan através da entrevista com o seu

representante, Jesus González Galícia, foram obtidos os seguintes dados.

O professor Jesus González Galícia é o atual secretario de turismo no município de

Cuetzalan del Progreso. É professor aposentado, mas no município iniciou como assessor cultural

e atualmente é o principal responsável pelo turismo a nível municipal por parte do poder público.

Possui o grau de licenciatura em língua e literatura espanhola, e trabalhou como professor de

ensino fundamental.

Ele menciona que as principais atividades econômicas do município são a agricultura

e o turismo e depois tem outras atividades, como o comercio que ocuparia o terceiro lugar. As

comunidades indígenas do município têm 8 “juntas auxiliares”, dessas 7 são indígenas e uma e

mestiça e a maioria se ocupam da agricultura. Em relação às etnias e aos atrativos turísticos, ele

menciona que as duas etnias mais importantes estabelecidas são o grupo Totonaco e Nahua. No

turismo eles deixaram a sua cultura que é atualmente utilizada como principal atrativo turístico.

Para o turismo na prefeitura tem unicamente o setor da câmara de vereadores

dedicado especificamente ao Turismo, criado este ano e dela dependem a Coordenação de

Turismo e Cultura, a Direção de Turismo e um grupo de orientadores turísticos, além disso, foi

realizado um diplomado para jovens que estão sendo capacitados para serem guardiões do

patrimônio cultural. Como programa para o turismo, existe o programa “Pueblos Mágicos”.

Page 76: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

73

Cuetzalan se integrou a este projeto em 2002 e continua em vigência. Este ano continuam sendo

realizados os esforços para continuar dentro desse programa, pois existem diversos requisitos

tanto para entrar quanto para permanecer nele. A partir dai são desenvolvidos projetos com

convenio de trabalho com o Campus Cuetzalan da Benemérita Universidad Autónoma de Puebla.

Para as comunidades indígenas existe especificamente um setor da câmara de

vereadores para Usos e Costumes com a sua respectiva direção de Usos e Costumes e também

um grupo de prefeitos tradicionais (auxiliares) que estão sob as ordens e incentivos do governo.

Existem também relações com a CDI para a criação, apresentação e aprovação de projetos e

trabalhos em conjunto com o Programa de Apoyo a las Culturas Municipales y Comunitarias

PACMyC entre outras instituições e organismos que providenciam alguma ajuda aos grupos

indígenas. Além do PACMyC, há uma relação com o Fondo Nacional para el Fomento de las

Artesanías FONART e CONACULTA.

Esses órgãos oferecem incentivos à cultura mediante projetos, resgatando o que está

se perdendo e perpetuando o que ainda se tem, porque a cultura é o principal atrativo de

Cuetzalan, que é na verdade um leque de atrativos. Alguns projetos programados para os

próximos anos são: a apresentação de livros sobre a cultura nahua com CONACULTA, um

concurso de artesanato regional, que posteriormente se prepara para concorrer a nível estadual e

nacional e projetos de apoio à agricultura indígena, por exemplo, a escola de voadores infantis.

A abrangência das políticas de CONACULTA, FONART e CDI é de nível nacional e

tem também políticas a nível municipal dependendo das necessidades e recursos Cuetzalan tem

os projetos que localmente são solicitados, mas principalmente há participação de programas de

abrangência nacional. As políticas públicas locais são elaboradas democraticamente de acordo

com a demanda local. A maioria das políticas existe há vários anos, de administrações anteriores

e algumas delas são realmente de recente criação. As mesmas mudam, quando muda a

administração não tanto local, mas sim a nível nacional, na mudança de administração a cada seis

anos têm também novas políticas que vão sendo propostas. A principal política que impactou no

município foi a inclusão dele no programa Pueblos Mágicos, a partir dai tem outras que recebem

investimento mas de maneira particular. Existe um fundo federal para investimento no turismo

correspondente a “Pueblos Mágicos” é um fundo tripartido de investimento federal, estadual e

municipal que uma vez aplicado ele impacta não somente a cabeceira municipal, mas impacta

Page 77: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

74

também à zona rural, ajudando de alguma maneira ao desenvolvimento no município. Há uma

boa relação com os outros atores de turismo. Recentemente foi mudada a administração, e a

ordem do prefeito nesse sentido é dar todas as facilidades aos prestadores de serviços turísticos

para que esse rubro possa ser continuado e gerando receitas para Cuetzalan.

Quanto à participação da população indígena na cadeia produtiva de turismo, não se

têm dados exatos, mas considera-se que é pouco porque eles participam mais com a criação e

venda de artesanato. Existe uma população de 46mil habitantes no município e desses 46mil

aproximadamente 30mil são habitantes das comunidades e em cada uma aproximadamente 100

pessoas se dedicam ao artesanato.

Assim, para a gestão democrática do turismo existe um conselho municipal de

turismo, um comitê de Pueblos Mágicos e a prefeitura. Quando precisam de recursos, eles

solicitam ao município e o município sob um estudo, os outorga. É a primeira vez que é criada

uma “Câmara de vereadores para o turismo” na administração. A sugestão do prefeito é estar ao

serviço dessa Câmara e propiciar a comunicação para poder ir gerando impactos positivos a favor

do turismo. Um pequeno exemplo disso, foi uma reunião com os donos de hotéis e restaurantes

com a proposta de criar um site para que os prestadores de serviços possam ser promvidos, e nela

a prefeitura se comprometeu a pagar a metade das despesas para o site. Então, a Câmara de

Vereadores para o turismo é o principal interlocutor entre os atores e o conselho e o comité de

Pueblos Mágicos.

Alguns exemplos práticos dos recursos destinados especificamente para as

comunidades indígenas com obras que impactaram positivamente o turismo foram a colocação de

concreto hidráulico da estrada até Yohualichan e a criação da estrada até um assentamento

chamado Taxipehuatl, onde existia já um andador feito na beira do rio e um mirante da cachoeira.

As melhorias vieram primeiro para a comunidade indígena e acabaram impactando o turismo.

Finalmente, como dado relevante, o entrevistado destacou que o prefeito atual é

totalmente de origem indígena. Como vereadores, há unicamente três de origem indígena, e os

funcionários públicos, 80% são de origem indígena. Ele considera que a maioria dos indígenas

ainda não tem a preparação para assumir cargos no governo, e aponta que alguns dos filhos dos

indígenas campesinos, se formam como advogados ou médicos, porém optam por trabalhar na

Page 78: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

75

cidade de Puebla. Em relação ao turismo, os grupos indígenas cada vez estão se envolvendo mais

na gestão com ajuda de ONG´s. Exemplos disso são as cooperativas Maseualpajti, Takachihualis,

Tosepan Titaniske e Masehual Siuamej Mosenyolchicauani. Os indígenas formam redes para

representar as suas comunidades com a assessoria principalmente de ONG´s e não do governo

municipal.

3.4.2 Iniciativa privada e terceiro setor - Entrevista com a administração do Hotel

Taselotzin

A iniciativa privada foi representada por Rufina Edith Villa Hernández, membro da

associação Masehual Siuamej Mosenyolchicauani e administradora do Hotel Taselotzin, principal

empreendimento indígena no município Os dados obtidos a partir da entrevista são apresentados

a continuação.

O Hotel Taselotzin existe há 17 anos e surgiu a partir da iniciativa das mulheres

indígenas da Organização Masehual Siuamej Mosenyolchicauani de gerar emprego para as

sócias. Para a construção, que durou um ano, também houve emprego para outras pessoas da

comunidade. Foi criado também com o intuito de ter os próprios recursos para não depender de

recursos externos para o sustento das outras atividades da comunidade. Para a sua construção

foram solicitados dois créditos, um para o INI (atual CDI) e recursos do Programa Mundial de

Alimentos. Os recursos do INI foram uma doação de 350 mil pesos, que foi devolvida ao

instituto. O FONAES do México outorgou um empréstimo de 515 mil pesos, que também foi

devolvido. No empreendimento trabalham 3 empregados de tempo completo e trabalhadores

eventuais dependendo da demanda. Ele tem uma demanda de turistas provenientes

principalmente de Puebla e México e alguns estrangeiros da França, Austrália, Canada e

Argentina.

As mulheres indígenas decidiram se dedicar ao turismo, porque no tempo em que o

hotel foi criado havia poucos hotéis em Cuetzalan e uma grande demanda do turismo.

Acreditaram que seria um projeto que poderia dar bons resultados e a partir dele poderiam

desenvolver algumas ações de cuidado ao meio ambiente. Isso impactou a população indígena de

diversas maneiras. O local virou um centro de intercâmbio. As organizações trazem seus

produtos, alguns produtos orgânicos, de beleza e artesãos que trazem produtos da região que são

Page 79: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

76

vendidos ali. Esses indígenas não são sócios, mas as mulheres de Hueyapan contribuem com os

seus produtos há mais de 20 anos. O restante é o artesanato das próprias sócias. A associação

nasceu a partir da intenção de vender o artesanato por um preço justo, então nesse lugar continua

sendo vendido o artesanato. Também os produtores de frutas fornecem e vendem os seus

produtos no Hotel Taselotzin. Assim, são beneficiadas mais de 120 familias de varias

comunidades do município. A mão de obra é totalmente local e de origem indígena. E como

apoio do governo se recebem cursos de capacitação.

Por parte da comunidade indígena, atualmente há uma boa aceitação do

empreendimento, pela origem indígena das fundadoras. Elas tiveram problemas quando

iniciaram, precisamente por serem mulheres e indígenas, e a comunidade não estava acostumada

com o fato que elas saíssem de casa para cursos de capacitação, eram muito criticadas pelo fato

de sair para as ruas. Com o tempo, os outros habitantes perceberam os logros e as melhoras que

obtínham para as famíliase assim, mudaram o olhar em relação à sua iniciativa. Trabalham de

maneira significativa a questão cultural, então aos poucos, na comunidade começam a ser

convidadas para serem “mayordomas” das celebrações, havendo assim uma maior receptividade.

A administradora comenta que existiram problemas no bairro durante a construção do

hotel, porque a comunidade não podia aceitar que um grupo de mulheres indígenas quisesse abrir

um empreendimento desse tipo ali. Se fosse um grupo mestiço, não haveria problemas, seria

normalmente aceito. As críticas foram pelo fato de serem mulheres indígenas. Os habitantes

inicialmente não quiseram dar apoio em nada, nem mesmo na instalação dos serviços, que

precisava da mão de obra masculina. Depois que foi construído o hotel, os homens foram se

involucrando e o trabalho de encanamento, marcenaria e eletricidade foi feito por pessoas do

local, que atualmente ainda trabalham para o hotel. Mudou o olhar da população, passaram de ser

“intrusas” a líderes e também uma fonte de emprego para o gênero masculino.

Quanto à capacitação, recebem cursos de capacitação para a preservação do meio

ambiente, cuidados à saúde e incentivo à cultura. Pensando na questão ambiental foram feitas

fossas sépticas onde há um tratamento das aguas e desde o primeiro dia de funcionamento do

hotel é feita a separação do lixo, o lixo orgânico vira composta para o jardim e o resto, é reciclado

ou enviado ao aterro sanitário. Também, ao pouco tempo que hotel abriu, foi contratado um

biólogo para apoiar os jovens que tinham a intenção de ser guias de turismo e não sabiam como

Page 80: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

77

começar nem das responsabilidades do cuidado ao ambiente. O Hotel Taselotzin também

pertence a uma rede de turismo indígena a nível nacional chamada RITA e recebe por ela

capacitação em questões ambientais e sobre as atividades desde uma visão cultural, desde a

identidade indígena. RITA é uma rede nacional de diferentes empresas indígenas que se dedicam

ao turismo

Em relação ao turismo em Cuetzalan, a entrevistada acredita que seja um bom lugar

para o turismo, unicamente é preciso que exista um cuidado nos lugares que são visitados, um

respeito à natureza e à cultura para que continue sendo atrativo, se tudo isso se perdesse não tería

nada a oferecer. A cultura tem que ser enxergada não como um espetáculo e sim como uma

manifestação original e importante das suas raízes. Se não tiver o devido cuidado, pode impactar

à cultura e pode afetar a população. Se por exemplo, Cuetzalan recebesse mais turistas do que

pode suportar, com o tempo pode ser um fato negativo. A entrevistada se mostra totalmente a

favor do turismo, porque atualmente é uma boa fonte de emprego para as pessoas das

comunidades que trabalham nos restaurantes, nos hotéis e na venda de produtos.

A administradora do Hotel Taselotzin, finalmente comenta que sempre foi artesã,

mais antigamente não relacionava isso diretamente com o turismo. E sugere que as políticas

públicas devam beneficiar à população para desenvolver este tipo de projetos e sejam

beneficiários diretos, porque as pessoas da comunidade querem manter o seu ambiente são,

porém quando vem alguém de fora que desconhece totalmente o entorno, e que unicamente tenta

explorar para ganhar dinheiro, esquecem os cuidados ao ambiente, não conhecem as necessidades

da população, nem respeitam a cultura e unicamente querem explorar a mão de obra, pagando o

menos possível e com condições de trabalho injustas.

3.4.3 População - Entrevista com guia de turismo

Outro representante da população relacionada com a cadeia produtiva do turismo foi

Emanuel Padilla, originário do centro de Cuetzalan, guia de turismo há 15 anos.

A sua fonte de ingressos desde o começo foi através do turismo, ele menciona que

está satisfeito com o seu emprego atual, pois ele escolheu esta profissão de maneira voluntaria.

Outros membros da sua família não tem relação com a atividade turística, ele optou por trabalhar

como guia de turismo porque não há muitas oportunidades de emprego em outras áreas, a

Page 81: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

78

principal atividade econômica no centro de Cuetzalan é o turismo. Ele opina que o turismo no

município é bom e deve existir um respeito pelos turistas, pois estão só de visita nesse lugar. Na

sua opinião, o turismo impacta positivamente no desenvolvimento, por meio do crescimento

econômico e o destaque da cultura, pois foi ela que atraiu os turistas.

Como impactos positivos gerados a partir do turismo ele menciona a construção das

estradas até os assentamentos e a oportunidade de crescimento econômico. Embora exista um

apoio limitado por parte do poder público, recebem cursos de capacitação gratuitos, o que ajuda

para serem reconhecidos. Esses cursos são ofertados por parte da Secretaria de Turismo de

Puebla. Têm também convênios com os empreendimentos locais para a oferta dos seus serviços.

3.4.4 População - Entrevista com produtora de artesanato

Como representante da população relacionada com a atividade turística, foi

entrevistada María Lucía Vázquez, originaria de San Andrés Tzicuilan. Artesã do tear de cintura,

vendedora de roupas no mercado de artesanato central.

Em relação ao turismo, a entrevistada acredita ser bom para a comunidade, por ter

turistas que consomem o artesanato produzido, procuram objetos da cultura antiga e o que é

produzido manualmente. Isso é muito raro porque os anciões que preservavam essas tradições são

falecidos e os jovens não querem mais utilizar as vestes indígenas, e é importante que isso seja

preservado. O negócio do artesanato foi a mãe dela que iniciou, depois que faleceu, ela continuou

o trabalho que foi ensinado a ela pela mãe. A irmã dela se dedica à mesma atividade, oferecendo

às vezes os seus produtos e vendendo outras vezes em Puebla. A entrevistada menciona que

quando o esposo dela vivia, ela não trabalhava ou trabalhava pouco. Depois que ele faleceu, ela

teve que se dedicar à venda de artesanato para o turismo. Antigamente, o esposo dela trabalhava e

ela cuidava das suas filhas. A medida que as suas filhas foram crescendo, ela ensinou o trabalho

no o tear de cintura, pois é uma tradição de família. Das suas filhas, unicamente tem uma que

habita em Cuetzalan e trabalha na radiodifusora, ela utiliza as vestes originais para preservar a

tradição, herdada da avó. Ela trabalha na radio pelo domínio da língua náhuatl e espanhol.

Sobre o lucro gerado pelo turismo, ela afirma que começo da atividade se lucrava

mais, atualmente não, porque os turistas não querem pagar o preço justo pelo artesanato, além de

existir muita concorrência. Antigamente só os nahuas sabiam fazer esse tipo de artesanato, hoje

Page 82: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

79

existem produtores das comunidades e de fora. Assim, as oportunidades de lucro diminuiram

muito. Quem não se dedica ao turismo trabalha no campo, principalmente ao cultivo quando há

café e no inverno, ao cultivo de milho. Os habitantes das comunidades querem que continue o

turismo como atividade econômica, pois existe uma proposta sobre a abertura de minas e uma

presa hidroelétrica, mas o povo rejeita o projeto, porque os recursos hídricos se veriam afetados e

haveria danos ao meio ambiente em geral.

Uma grande parte dos produtores de artesanato não recebem nenhum tipo de auxílio

do poder público. Existe o programa Prospera, que disponibiliza recursos econômicos para a

população carente, porém ela acredita que a repartição seja injusta ou a verba não está sendo

repassada. Ela se inscreveu no programa mas o auxilio não foi outorgado. Mesmo sendo uma

pessoa da terceira idade pretende continuar desempenhando essa atividade. Também menciona

que os habitantes das comunidades não são convocados para as reuniões do poder público sobre o

turismo. Sendo que eles precisam que aumentassem as vendas. Eles solicitam, ser escutados e

receber apoio. Que não exista uma pequena seleção, porque o governo estadual afirma que todas

as pessoas estão recebendo algum tipo de apoio mas tem uma grande parcela da população que na

prática não recebe.

Page 83: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

80

3.5 Perfil da demanda

O perfil do turista foi traçado a partir dos questionários aplicados a 25 turistas

selecionados aleatoriamente em diversas partes da cidade. A análise dos dados da pesquisa indica

que não há um gênero significativamente predominante dos visitantes. O gráfico 2 mostra a

porcentagem de visitação entre turistas do gênero masculino e feminino.

Gráfico 2 - Gênero dos turistas entrevistados

Fonte: Zúñiga (2015)

Dos turistas entrevistados, 100% possui escolaridade acima do ensino médio e 88%

escolaridade acima de graduação. Esse é um fato relevante que se relaciona com a motivação dos

turistas, e é importante para a comunidade receptora pela predisposição dos turistas à valorização

da cultura e a conscientização em relação aos cuidados ao meio ambiente. O gráfico 3 mostra as

porcentagens sobre a escolaridade dos turistas entrevistados.

52%

48%

Gênero

Feminino

Masculino

Page 84: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

81

Gráfico 3 – Escolaridade dos turistas entrevistados

Fonte: Zúñiga (2015)

A maior parte dos turistas entrevistados, correspondente ao 72% são provenientes da

Cidade do México e do Estado de México, principais áreas metropolitanas do país e pontos com a

maior facilidade de acesso. Existe demanda de outros estados da república e do próprio estado de

Puebla, havendo também uma demanda estrangeira, 12% dos turistas entrevistados são

procedentes da Argentina e Alemanha. O gráfico 4 mostra as porcentagens de procedência dos

turistas entrevistados.

Gráfico 4 – Procedência dos turistas entrevistados

36%

12% 8%

8%

36%

Procedência

Cidade do México

Estrangeiro

Puebla

Outros estados

Estado de México

12%

62%

21%

5%

Escolaridade dos turistas

Ensino médio

Graduação

Mestrado

Doutorado

Page 85: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

82

Fonte: Zúñiga (2015)

A principal motivação identificada é o turismo cultural, correspondente ao 84% das

entrevistas, e em menor medida o trabalho voluntário, a medicina alternativa e a pesquisa. O

gráfico 5 ilustra a relação das porcentagens da motivação dos turistas.

Grafico 5 – Motivo da viagem dos turistas entrevistados

Fonte: Zúñiga (2015)

A pesquisa mostra que não há muita discrepância ente os turistas que visitaram

Cuetzalan por primeira vez e os turistas que retornaram 2 ou mais vezes. Isso demonstra que

existe um potencial na região tanto para atrair novos públicos quanto para motivar o retorno dos

turistas. O gráfico 6 mostra a relação do número de vezes em Cuetzalan dos entrevistados.

84%

4%

4% 8%

Motivo da viagem

Turismo cultural

Trabalho voluntárioem ONG

Medicinaalternativa/saúde

Pesquisa

Page 86: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

83

Gráfico 6 – Número de vezes em Cuetzalan dos turistas entrevistados

Fonte: Zúñiga (2015)

A moda de permanência entre os turistas entrevistados foi de 5 a 6 dias, que

dependem dos recursos econômicos e do tempo disponível, bem como das atividades a serem

realizadas. Durante os dias de permanência, os turistas visitam os atrativos mencionados

previamente no tópico 3.3.1, podendo também visitar os assentamentos e municípios próximos,

com hospedagem em Cuetzalan. O gráfico 7 mostra os dados dos dias de permanência dos

turistas em Cuetzalan.

Gráfico 7 – Dias de permanência em Cuetzalan dos turistas entrevistados

14

5 3 3

1 2 3 4 oumais

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Vezes em Cuetzalan

Vezes emCuetzalan

1

6

15

3 0

2

4

6

8

10

12

14

16

1 a 2 3 a 4 5 a 6 7 oumais

Dias de permanência

Dias depermanência

Page 87: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

84

Fonte: Zúñiga (2015)

Durante a sua estada, a maioria dos turistas realizam um gasto superior a 1000 pesos

mexicanos. Um equivalente a 48% mencionou realizar um consumo entre 1000 a 2000 MXN e

outro 48% acima de 2000 MXN, apenas 4% realizou um gasto menor a 1000 MXN. O gasto

consiste no consumo de alimentos e bebidas, artesanato, visitação de atrativos, entre outros. Cabe

mencionar que o gasto realizado não se relaciona com os dias de permanência, pois entre os

entrevistados, foram encontrados casos com menos dias de permanência e maior gasto e vice

versa. Esta relação depende de outros fatores do perfil de turista, por exemplo a classe

socioeconômica. O gráfico 8 mostra os dados do gasto médio da demanda no local.

Gráfico 8 – Gasto médio de consumo em pesos mexicanos (MXN) dos turistas

entrevistados

Fonte: Zúñiga (2015)

.

1

12

6

4

2

Menos de1000

1000 a1999

2000 A2999

3000 a3999

4000 oumais

0

2

4

6

8

10

12

14

Gasto médio de consumo no local em pesos mexicanos (MXN)

Gasto médio deconsumo no localem MXN

Page 88: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

85

3.6 Análise do conjunto de dados coletados

Comparando a teoria com os dados coletados, tomando como base o Sistur e os

conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento e turismo cultural, encontrou-se que no âmbito

econômico, o turismo impactou positivamente, possibilitando à população de exercer uma

atividade econômica para obter o seu sustento, seja a principal, ou complementar para as outras

atividades que são desenvolvidas. Isso acontece, por exemplo, quando o lucro obtido através do

turismo é reinvestido na produção agrícola, na manutenção da própria família e na produção de

artesanato, bem como para bancar as despesas das festas da comunidade, atividades que já eram

realizadas antes do turismo, que continuam sendo executadas e que ao mesmo tempo atrairão

mais turistas. Assim, as atividades econômicas não distam do turismo, pelo contrário, se

complementam. Ao promover o crescimento econômico, a população indígena também tem

acesso a outros recursos como a aquisição de imóveis, a melhoria dos lugares de moradia e a

capacidade de bancar a educação dos filhos, etc. e melhorar cada vez a qualidade da

infraestrutura e serviços destinados para o turismo.

Em relação à questão social, através do turismo se logrou a promoção da população

indígena e principalmente da mulher indígena, ao inverter os papeis de uma sociedade

culturalmente machista. Ao principio as mulheres foram bastante criticadas pelo fato de serem

empreendedoras, de se reunir, de diminuir o tempo dedicado às tarefas domésticas, ainda mais de

quererem construir e administrar um negócio de tal porte. Atualmente, são elas que há mais de 17

anos lideram na rede de empreendimentos indígenas, se envolvem nas questões políticas e

sociais, inclusive representando a comunidade e o país em eventos externos. Trouxeram

benefícios para as próprias famílias e geraram empregos para o resto da população. Além de ter

uma capacitação constante e procurarem a inovação dos produtos e serviços, o que resulta numa

demanda crescente. Observa-se que a língua nativa não foi um impedimento, pelo contrário, é

também um traço da cultura que é atrativo para os turistas na localidade e que ao mesmo tempo,

para a melhor atenção dos turistas, motivou à população a aprender o espanhol.

Quanto à questão cultural, o turismo permitiu que a cultura nahua fosse conhecida e

valorizada fora dos limites territoriais. Embora os primeiros atrativos tenham sido de caráter

natural, os atrativos culturais hoje em dia são o principal foco da demanda. Assim, a população

assume a sua cultura com orgulho e faz um esforço por preservá-la, transmitindo os saberes

Page 89: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

86

populares às novas gerações e reproduzindo as práticas culturais sem que estas virem um

espetáculo para o turista. A população, ao mesmo tempo evita que o turismo modifique a cultura

local, impondo os seus costumes aos turistas, não permitindo que aconteça o contrário. Todos

esses esforços são apoiados também pelo poder público através de políticas públicas de incentivo

à cultura.

Sobre o âmbito ecológico, existe naturalmente um zelo pela ecologia. Portanto,

procura-se permanentemente uma preservação dos recursos naturais através da conscientização

de cuidado ao meio ambiente da população e dos turistas. Também através da regulação e

controle da atividade com ações nos empreendimentos que são benéficas para o meio ambiente.

Quanto ao perfil dos atores de turismo, encontrou-se que o poder público é composto

por elementos capacitados, de origem indígena, com conhecimentos teóricos suficientes e com

experiência prática. Existe de fato um incentivo para os empreendedores e as empresas existentes

de turismo e a providência da infraestrutura necessária. Existe também uma forte intenção de

continuar o turismo como atividade econômica e uma boa gestão, pois foi possível a inclusão no

Programa Pueblos Mágicos e hoje é o eixo como política pública para desenvolver ações em prol

do turismo no município. As suas deficiências são o incentivo insuficiente aos pequenos

produtores da população indígena, a necessidade de melhorias na administração dos recursos, a

falta de oferta de capacitação para o turismo para os empreendedores e a pouca inclusão da

população na gestão do turismo.

A iniciativa privada está relacionada com o terceiro setor, pois os principais

empreendimentos turísticos administrados por indígenas surgiram a partir do interesse da própria

população por meio de ONG´s atuantes em outros setores. A iniciativa privada se mostra

proativa, em busca constante da capacitação e da melhoria da qualidade dos serviços, da

inovação, da expansão e da sustentabilidade. É atualmente é o ator que mais contribui ao

desenvolvimento das comunidades indígenas, beneficiando direta e indiretamente a população.

Não apresenta fraquezas significativas, mas como ameaças existem a falta de valorização do

trabalho e a concorrência externa.

A população diretamente ligada ao turismo se compõe principalmente de funcionários

dos empreendimentos, produtores de artesanato, vendedores de diversos produtos para o turista e

Page 90: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

87

os guias de turismo. Nas entrevistas observa-se que existe uma boa aceitação da atividade

turística, pois em ocasiões se torna a principal fonte de renda, há uma percepção positiva sobre o

perfil turista quando este valoriza a cultura e o trabalho. A sua principal preocupação em relação

ao turismo são as novas atividades que comprometeriam a sua continuidade e as condições do

meio ambiente, especificamente a mina e a usina hidroelétrica. Quanto às necessidades em

relação ao poder público, eles solicitam poder participar da gestão, uma maior atenção e estímulo

econômico. Finalmente cabe destacar que são eles os principais promotores da cultura, ao

preservá-la, transmiti-la às novas gerações e mostrá-la ao turista.

Quanto ao perfil da demanda, é possível observar que os visitantes são atraídos

principalmente pela cultura do local. Mostram um conhecimento prévio à visita e um respeito aos

recursos naturais e culturais e fazem um gasto considerável de consumo na sua estada. A maior

parte dos visitantes tem uma formação superior e são provenientes da Cidade do México, do

Estado de México e de Puebla, capital do estado. Cuetzalan também é uma das poucas regiões

indígenas com potencial de atrair o público estrangeiro, recebendo frequentemente turistas que ao

mesmo tempo, divulgam o destino no seu lugar de origem. Conhecendo o perfil da demanda, as

suas motivações, necessidades e desejos é possível criar uma oferta cada vez mais adequada,

sempre aderida aos princípios de sustentabilidade, a fim de aumenta-la e obter mais benefícios.

Um fato a ser destacado em relação ao zelo que existe pela cultura e que pode

impactar positivamente a atividade turística é a resistência da população contra a tentativa de

entrada das empresas externas. Na observação de campo e o convívio com a população, se fez

referência à rejeição da cadeia de televisão “Televisa” para filmar e transmitir as festas

autóctones. Também se fez menção da resistência contra a apertura de estabelecimentos da cadeia

Walmart, que não beneficiaria em nada à população indígena. Fez-se questão em manter para si e

para os visitantes presentes os seus costumes ao impedir a intervenção de Televisa, bem como em

manter a feira dominical que beneficia à população, reforça a cultura e atrai turistas.

Finalmente, cabe destacar as questões que comprometeriam a continuação da

atividade turística. Ao mesmo tempo são a principal preocupação da população indígena, as

propostas da escavação mineira e a construção da presa hidroelétrica, pois afetaria os recursos

naturais, existiria uma invasão do território por parte das empresas externas, e mudaria o tipo de

atividade desempenhada pelos indígenas, comprometendo também a cultura, além da exploração

Page 91: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

88

da mão de obra indígena sem existir um lucro direto. Por esses motivos, a população se mostra

contra a sua realização.

Page 92: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

89

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a coleta e análise de dados, foi possível compreender a dinâmica do turismo nas

comunidades indígenas no município de Cuetzalan Del Progreso. Comparando essa análise com o

referencial teórico, os resultados da pesquisa apontam que o turismo trouxe mais impactos

positivos do que negativos para as comunidades indígenas ao ponto que atualmente é uma das

principais atividades econômicas e muitas das políticas em vigor e ações relacionadas com o

incentivo à cultura e a conservação do meio ambiente surgiram a partir da atividade turística.

Encontrou-se que o turismo é realizado de maneira sustentável gerando um grau

importante de desenvolvimento. Embora, seja utópica a prática do turismo 100% sustentável, pois

sempre existirão pontos a serem melhorados, o município de Cuetzalan apresenta diversas

características que permitem colocá-lo como modelo de desenvolvimento sustentável para outros

espaços com características semelhantes e potencial para o turismo. Esta dedução foi obtida

através da comparação da prática com a teoria do Sistur, a descrição do papel dos atores de

turismo, os conceitos universais de desenvolvimento e sustentabilidade junto com as colocações

sobre patrimônio cultural.

Os fatores identificados que contribuíram para que o turismo fosse desenvolvido na

região e envolvesse a participação da população indígena foram:

A diversidade de recursos naturais e culturais, capazes de atrair uma demanda

significativa

A construção de estradas que permitiram o acesso ao município

O conhecimento e a divulgação do destino pelos primeiros visitantes

A iniciativa das cooperativas Masehual Siuamej Mosenyolchicauani e Tosepan Titaniske

para a construção de meios de hospedagem administrados totalmente por pessoas de

origem indígena e que ao mesmo tempo beneficiassem as famílias de outras comunidades,

pelo envolvimento das mulheres na cadeia produtiva.

A geração de emprego através dos empreendimentos próprios dos indígenas e outros

empreendimentos no centro da cidade.

A participação crescente da população na gestão do turismo e a sua inserção no poder

público a fim de conhecer e atender as reais necessidades.

Page 93: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

90

A postura da população em relação à preservação, promoção e defesa da própria cultura

A aceitação do turismo por parte da população e a sua natural hospitalidade

A integração ao programa “Pueblos Mágicos” e os esforços por parte do poder público em

relação à capacitação, financiamento de novos empreendimentos e melhoria da

infraestrutura.

Assim, as tendências do turismo nas comunidades indígenas desta região são a

continuidade da atividade turística como atividade econômica, a busca constante pela

sustentabilidade por meio do cuidado ao meio ambiente e a preservação da cultura, o aumento da

demanda, a possibilidade de se tornar modelo para outras regiões e o aumento da participação

indígena na gestão do turismo.

Em conclusão, estes fatores e ações, que vão desde o planejamento até o controle,

aproveitando os próprios recursos, podem ser imitados nos espaços que apresentem uma

necessidade de desenvolvimento e contem com características semelhantes em relação ao

potencial turístico. Cuetzalan é um exemplo prático, que mostra que o desenvolvimento em

comunidades indígenas pode ser atingido através do turismo e é possível realizar uma atividade

sustentável onde a população seja a principal beneficiaria em todos os sentidos.

Page 94: Aline Beatriz Pérez Zúñiga

91

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VELÁZQUEZ, Francisco. Pueblos Mágicos ejemplo a nivel internacional SECTUR. El

Financiero. México, 16 set. 2012.

ZANIRATO, Silvia Helena. Usos sociais do patrimônio cultural e natural. Patrimônio e

Memória, São Paulo, v. 5, n. 1, p.137-152, out. 2009.

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95

APENDICE A – Roteiro de entrevista para o Poder Público

Dados de identificação

Qual é a sua formação?

Quais são as principais atividades econômicas do município?

Especificamente as comunidades indígenas a que se dedicam?

Quais são os principais atrativos do turismo indígena e que etnias estão envolvidas nela?

Qual é o organograma dos gestores de turismo no município?

Que tipo de políticas tem esses organismos?

Quais são os programas existentes para o turismo?

Existem políticas públicas dirigidas especificamente para as comunidades indígenas do

município?

Poderia citar alguns programas e projetos da CDI, CONACULTA e FONART?

Qual é o nível de abrangência dessas políticas?

As políticas do município são elaboradas democraticamente?

As políticas atuais são de recente criação ou vêm de alguma administração anterior?

Quais foram as principais realizadas no município a partir dessas políticas públicas?

Aproximadamente, que porcentagem das pessoas participantes da cadeia produtiva de

turismo são de origem indígena?

Como impactam estas políticas no desenvolvimento do município?

Existem algumas dificuldades para levar à prática essas políticas?

Como é a relação do poder público com a iniciativa privada e a população indígena em

relação ao turismo?

Como se promove a participação democrática na gestão do turismo?

Quais são os recursos destinaos ao turismo nas comunidades indígenas?

Quais são as principais ações que recebem estes recursos?

Quais são as principais ONG´s?

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APÊNDICE B – Iniciativa privada indígena e ONG

Dados de identificação

Quantas pessoas trabalham neste meio de hospedagem?

Qual é a origem da maioria dos turistas que vem aqui?

Há quanto tempo existe este empreendimento?

Como surgiu?

Vocês receberam algum tipo de apoio para o empreendimento?

Porque decidiram se dedicar ao turismo?

Como impactaram as ações anteriormente mencionadas à população indígena?

Que comunidades são beneficiadas?

A mão de obra é totalmente local?

Existem empregados ou colaboradores de origem indígena?

Atualmente recebem algum apoio do poder público?

Qual é a relação do hotel com a comunidade indígena?

Existe uma capacitação constante? Como é feita?

Como é a sua relação com outros empreendimentos da iniciativa privada?

Qual é a sua opinião sobre o turismo em Cuetzalan?

Em relação a essa questão, você acredita que o turismo modifica a cultura ou a cultura

impacta ao turismo? Explique

Você e contra ou a favor do turismo? Justifique

Você sempre se dedicou ao turismo?

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APÊNDICE C – Roteiro de entrevista para a população (Guia de turismo)

Dados de identificação

Você sempre se dedicou ao turismo?

Está satisfeito com o seu emprego atual?

Outros membros da sua família desempenham atividades relacionadas com o turismo?

Qual é a ocupação deles?

Porque você decidiu trabalhar com o turismo?

Qual é a sua opinião sobre o turismo em Cuetzalan?

Você acredita que o turismo impacta positiva ou negativamente na comunidade?

Você acredita que o turismo modificou de alguma maneira a cultura do lugar?

Menciona alguns impactos positivos a partir do turismo

Vocês têm algum tipo de relação com o poder público ou a iniciativa privada daqui?

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APÊNDICE D – População (Produtor de artesanato)

Dados de identificação

Qual é a sua ocupação?

Qual é a sua opinião sobre o turismo em Cuetzalan?

Sempre se dedicou ao trabalho para o turismo ou antigamente desempenhava outra

atividade?

Você acredita que o turismo impactou positiva ou negativamente no município?

Quem não se dedica ao turismo, que atividade desempenha na comunidade?

Você e contra ou a favor do turismo aqui?

Você começou a se dedicar ao turismo por influencia da familia?

Vocês recebem algum apoio do governo para preservar esta tradição?

Vocês são convocados a participar das reuniões do governo para a gestão do turismo?

Quando o governo cria políticas públicas, você acredita que as suas necessidades são

consideradas?

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APÊNDICE E – Questionário para identificação do perfil da demanda

Gênero:_______________________________________________________________________

Idade:________________________________________________________________________

Procedência:___________________________________________________________________

Escolaridade:__________________________________________________________________

Número de acompanhantes:______________________________________________________

Meio de Hospedagem:___________________________________________________________

Motivo da viagem:______________________________________________________________

Dias de permanência:___________________________________________________________

Profissão/ Ocupação:____________________________________________________________

Atrativos visitados:

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Número de vezes em Cuetzalan:___________________________________________________

Por que meio soube do turismo em Cuetzalan:

______________________________________________________________________________

Meio de transporte utilizado:_____________________________________________________

Gasto médio durante a sua estada:________________________________________________

Opinião:______________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

Sugestões de melhoria:

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________