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ALTERAÇÃO DA PAISAGEM URBANA DECORRENTE DA CONSTRUÇÃO
DA USINA HIDRELÉTRICA DO FUNIL – UHE FUNIL - MUNICÍPIO DE IJACI, MG
Maria Lúcia Leite Silvano¹
André Luiz Nascentes Coelho¹
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES¹
Vitória – Espírito Santo
RESUMO
A Energia limpa provenientes de hidrelétricas é considerada fonte de energia
renovável por não poluir o ambiente como afirma a ANEEL(2011). No entanto, a paisagem sofre impactos decorrentes da construção de hidrelétrica, sendo de atuação drástica inicialmente e gradativo ao decorrer dos anos. Sendo assim, será analisado o desenvolvimento urbano através das imagens termais de satélite da série LANDSAT, analisando o estudo temporal do desenvolvimento urbano na região impactada da UHE Funil, servindo como ferramenta para analises de desenvolvimento através do sensoriamento remoto.
PALAVRAS CHAVES: Energia Renovável; UHE Funil; Sensoriamento
Remoto
ABSTRACT
The clean Power provided by hydropower is considered a renewable energy
source for not polluting the environment as stated by ANEEL (2011). However, the landscape suffers impacts dramatically from the construction of hydroelectric power since the phase of implementation, increasing gradually through the years. Therefore, this paper will discuss urban development through thermal satellite images of LANDSAT series, examining the temporal study of urban development in the impacted Funil HPP region, serving as a tool for analysis of development through remote sensing.
KEYWORDS: Renewable Energy; Funil HPP; Remote Sensing.
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1 INTRODUÇÃO
A água está inclusa no cotidiano do homem e passa a ser um elemento
indispensável para sua sobrevivência, presente em sua vida desde os primórdios da
civilização, as tribos nômades sempre procuravam se instalar à beira de rios ou próximo
a cachoeiras. Para atender às necessidades de sobrevivência e adaptação, o homem dá o
primeiro passo importante para a sua permanência na terra: a descoberta do fogo. No
entanto, é na Grécia antiga, por volta de 600 A.C. que a palavra eletricidade surge
através do filosofo e matemático Tales de Mileto, e através de experiências e estudos,
surge a energia elétrica em meados de 1750 D.C. através de experiências do cientista
americano Benjamim Franklin como afirma SILVA, Cibelle C . & PIMENTEL A.
C.(2008). Um longo caminho foi percorrido até a descoberta da energia elétrica, a qual
transforma a vida do homem. Em pouco mais de um século a energia elétrica passou a
ser produzida pelas forças da água, tornando fonte de energia limpa e renovável,
conforme a ANEEL(2011) a água sempre se renova e as hidrelétricas não poluem o
ambiente.
2 OBJETIVOS
A exatamente 10 anos UHE Funil - Usina Hidrelétrica de Funil entra em
funcionamento com o aproveitamento hidrelétrico de 180 MW. A construção de
hidrelétrica provoca transformações na paisagem, a princípio em grande escala e
passando a ser lento com o passar dos anos. Sua implantação requer estudos
minuciosamente detalhados abrangendo a flora e fauna desde sua construção até o plano
diretor das cidades do entorno do reservatório formado pelo barramento da hidrelétrica.
E a partir do momento em que entra em operação seu entorno é alterando com o
surgimento de condomínios e a exploração turística. Apoiado neste contexto de
urbanização objetivou-se realizar o estudo da modificação da paisagem urbana e
formação de condomínios ao longo do entorno da represa da UHE Funil durante estes
10 anos de funcionamento.
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2.1 Energia Renovável
O Brasil está entre os cinco maiores produtores de energia hidrelétrica mundial
segundo a ANEEL (2011), além de possuir 12% da água doce superficial do planeta
possui em torno de 200 hidrelétricas, sendo considerada a principal fonte de energia do
país. Sendo fator importante para o desenvolvimento das regiões e centros urbanos e
industriais.
Segundo a ANEEL (2011) o potencial hidrelétrico brasileiro está estimado em
260 GW, dos quais 40,5% estão localizados na Bacia do Amazonas, 23% na Bacia do
Paraná, 10,6% na Bacia do Tocantins, 10% na Bacia do São Francisco.
2.4 UHE Funil
Implantada no rio Grande afluente do rio Paraná, próximo à cidade de Lavras, a
montante do reservatório da UHE Furnas e a jusante da UHE Itutinga e UHE Camargos.
Ambas pertencentes a CEMIG, sua construção foi resultante do Consórcio Funil
(formado pela CEMIG e Companhia Vale), apresentando um reservatório de
34.7km² formado pelo barramento do Rio Grande e seus afluentes rio das Mortes
na margem direita e o Capivari na margem esquerda o qual atingiu terras rurais dos
municípios de Lavras, Perdões, Bom Sucesso, Ijaci, IItumirim e Ibituruna e três
aglomerados urbanos: vila de Macaia e povoado de Pedra Negra (município de
Bonsucesso) e Ponte do Funil (municípios de Lavras e Perdões).
3 METODOLOGIAS
Para SOARES-FILHO, B.S.(2000), a interpretação visual dos dados sob a forma
digital ou analógica (ortofoto e imagens orbitais) no sensoriamento remoto, trata-se de
identificar as feições impressas nas imagens e determinar seu significado. A
interpretação da imagem é vista não como um processo completo e sim parte da
construção de um mapa, partindo das primícias que dados interpretados serão conferidos
4
em campo. Continuando em SOARES-FILHO, B.S.(2000) “para uma boa
interpretação, a acuidade visual e o conhecimento do que será interpretado e a
tecnologia empregada são dados essenciais, além de considerar o sensor do satélite e a
composição de bandas espectrais”.
JENSEN (2009) afirma que as paisagens urbanas são compostas por um
conjunto diversificado de materiais de formas que a urbanização transmite uma
característica própria, com clima específico. E MENDONÇA & DANNI-OLIVERIA,
(2007) também afirma que a urbanização gera um clima próprio resultante das
construções que juntamente com o clima regional e o meio físico são percebidos pelos
habitantes locais.
As imagens deste estudo estão relacionadas na Tabela I - referente a imagens
de satélites da série LANDSAT, sua aquisição é gratuita através INPE (2014). As
imagens do satélite são referentes a duas etapas da UHE funil, a primeira etapa com
imagem datada de 1999, refere-se a construção da UHE Funil. A etapa seguinte
apresenta duas imagens datadas de 2003 e 2010, apresentando a UHE Funil em
funcionamento.
A composição das bandas a serem aplicada neste estudo, são compostas
pelas bandas 3 do visível(0,63-0,69 mm), a banda 4 infravermelho próximo (0,77-0,90
mm), a banda 5 infravermelho próximo (1,55-1,75 mm) e a banda 6 termal (10,40-
12,50 mm) em tons de cinza.
TABELA I: IMAGENS DE SATÉLITES DA SÉRIE LANDSAT.
SATÉLITE DATA SENSOR ORBITA CENA HORÁRIO CENTRAL
LANDSAT 7 1999/10/14 ETMXS 218 75 12:50:46 LANDSAT 7 11/02/2003 ETMXS 218 75 12:46:27 LANDSAT 5 13/05/2010 TM 218 75 12:48:34 Fonte: E laborado por Maria L .L. Si lvano(2014)
As imagens orbitais LANDSAT serão trabalhadas no programa da
plataforma ArcGIS na versão 10 da ESRI, onde a composição das bandas
multiespectrais serão analisadas conjuntamente. A composição das bandas
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multiespectrais 3,4 e 5 serão sobreposta pela banda 6 termal, onde além de analisar
o comportamento da temperatura no entorno da represa formada pela UHE Funil,
será analisado o desenvolvimento urbano.
Rao P.K. (1972) foi o primeiro a usar imagens termais para demonstrar que áreas
urbanas poderiam ser identificadas por meio de análises de dados na faixa do
infravermelho termal adquiridos por um satélite. Lembrando que a temperatura local é
dada pela temperatura dos materiais das construções e não do terreno. Esta técnica
possibilita detectar a temperatura em diversas escalas.
Para obter a temperatura em Celsius ºC, para imagens TM/Landsat banda 6, foi
necessário transformar o sinal digital proveniente do satélite em radiância através da
equação 1 fornecida por Chander et al. (2009). www.elsevier.com/locate/rse:
Lλ = ((lmaxλ-λLmin)/(QCALMAX-QCALMIN))*(QCAL-QCALMIN)+λLmin (1)
Onde:
L λ: Radiância Espectral em sensor de abertura em Watts
QCAL: Valor quantizado calibrado pelo pixel em DN.
Lmin λ: Radiância espectral, que é dimensionado para QCALMIN em Watts =
0.000.
LMax λ: Radiância espectral, que é dimensionado para QCALMAX = 17.040.
QCALMI: Mínimo valor quantizado calibrado pixel (correspondente a Lmin λ),
em DN = QCALMAX
Máximo valor quantizado calibrado pixel (correspondente a LMax λ)
no DN =255.
Estes dados são convertidos para grau Celsius
6
T (°C) = K1/ ln[(K2 / Ly)]+1 (2)
Onde:
K1 e K2 são constantes para a banda termal 6
Para auxiliar a analise das imagens serão usados os seguintes documentos como
apoio de pesquisa e fornecimento de dados: O plano diretor de Ijací, dados do IBGE
referente ao crescimento populacional e a carta cartográfica de Lavras vetorizada e
georreferenciada na escala 1:25.000, além do EIA/RIMA e PCA fornecidos pelo IEMA
e projeto de relocação urbana, dos povoados e distritos.
4 RESULTADOS PRELIMINARES
A composição das imagens de 1999 apresenta uma temperatura de mínima de
24°C e máxima de 44°C uma temperatura bastante elevada para a região conforme o
apresentado pelo PCA (SETE,1999). Na Figura 1 a seguir, podemos observar que a
temperatura mais alta de 44 a 46 C°, apresentada na cor laranja escuro, indica que de
acordo com a composição das bandas multiespectrais, estas cores são referentes a focos
de incêndio provocados para preparar o solo para o plantio. Porém, na região onde será
construído o barramento da UHE Funil (Ponto 1) e na região próxima ao rio Grande
apresenta grandes focos de queimadas indicando o preparo para as áreas que serão
inundadas pelo lago artificial (Ponto 7). Nas localidades onde se encontram as áreas
urbanas da região(Pontos 2,3,5 e 6) a temperatura apresenta uma cor azul um pouco
mais escura na faixa de temperatura de 26 a 28 C°, exceto a vila de Macaia (Ponto 2)
que apresentou uma temperatura mais elevada, na cor laranja 40 a 42°C que
provavelmente se deve a preparação do solo para a relocação das residências da área a
ser alagada como foi indicado anteriormente por COELHO.J.(2008). Ponto 4, nesta
figura datada de 1999, aponta uma temperatura de 42,1 a 44° devido à exposição de
terra e pedras, onde há extração de calcário, apresentando a mesma temperatura das
regiões com solo exposto.
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Figura 1: Imagem landsat7 de 1999. Composição das bandas 3,4,5 com sobreposição da banda termal 6. Fonte: Organizado por Maria L .L. Si lvano(2014)
A composição das imagens de 2003 apresenta o barramento da UHE Funil
(Ponto 1) e o lago artificial já formado, o qual tem a característica de ser estreito e
somente em alguns ponto ele passa a ser um pouco mais largo, conforme demonstrado
na figura 2, a região passa a apresentar uma temperatura de mínima de 22°C e máxima
de 40°C uma temperatura elevada para a região, conforme o PCA (SETE,1999). No
entanto, podemos observar que a temperatura mais alta de 38 a 40 C° apresentada na cor
laranja escuro, identifica com maior nitidez os aglomerados urbanos (Pontos 2,3,5 e 6),
apenas o povoado de Rosário (ponto 5) é que apresenta uma temperatura entre 36 a
38C° apesar da temperatura alta a região não apresenta focos de incêndio.
Observa-se um desenvolvimento contínuo na área da mineração de calcário, que
na imagem pode-se notar um avanço da mancha em direção a sudoeste, e sua
temperatura 38,1 à 40° demonstra ser de área urbana.
No ponto 6, onde situa-se a cidade de Lavras, é possível verificar uma
ramificação da cidade seguindo em sentido noroeste e nordeste, a primeira se
8
desenvolve ao longo da rodovia de acesso à BR Fernão Dias e a segunda em segue em
direção da região formada pelo lago artificial da UHE Funil.
Figura 2: Imagem landsat7 de 2003. Composição das bandas 3,4,5 com sobreposição da banda termal 6. Fonte: Organizado por Maria L .L. Si lvano(2014)
Em 2010 o comportamento das cores mudou a configuração da composição das
imagens (Figura 3), não sendo possível neste ano adquirir imagens na época mais
quente, na mesma época das imagens anteriores devido ao acúmulo de nuvens na
região, portanto as bandas multiespectrais adquiridas referem-se ao mês de maio, que
segundo o PCA(SETE,1999) a temperatura mínima gira em torno de 10°C, mas com a
formação do reservatório foi possível observar que a média mínima da temperatura caiu
para 5°C apresentado na Figura 3 pela cor azul escuro, ou seja de 5° a 6°, podemos
observar que a incidência maior desta temperatura refere-se às proximidades do
reservatório da UHE Funil. As áreas urbanas apresentam uma temperatura entre 20 a
24°C na cor laranja a laranja escuro, sendo fácil a identificação das mesmas (Pontos
2,3,4,5,6,7 e 9), observamos que houve um crescimento significativo da cidade de
Lavras em direção à UHE Funil (Ponto 9) e também um crescimento de Ijaci (Ponto 3)
em direção à borda do reservatório, em sentido leste, a mineração sofreu um
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crescimento considerável sendo possível observar o aumento da cava a céu aberta, em
direção a sudoeste (Ponto 8).
Na ilha formada pelo represamento da água (Ponto 5) e nas margens da represa
(Pontos 6 e 4) surgiram aglomerados urbanos, apresentando uma temperatura entre 16 a
20°C, nas cores amarelo mais escuro, concluindo que a região prospera, porém com
residências espaçadas. É possível notar que a comunidade do Rosário não houve
modificação em seu crescimento.
Figura 2: imagem landsat7 de 2010. Composição das bandas 3,4,5 com sobreposição da banda termal 6. Fonte: Organizado por Maria L .L. Si lvano(2014)
Foi possível observar um crescimento considerável na região nestes últimos
anos, sendo interessante observar que em 1999, ano refere-se à construção do PCA –
Plano de Controle Ambiental (SETE,1999) a temperatura da região era mais alta do que
a apresentada atualmente pelas imagens, provando que o acúmulo de água na região
alterou a temperatura local, houve um grande desenvolvimento na região do reservatório
formado pelo barramento da UHE Funil.
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A análise deste estudo foram realizadas somente através das imagens, a
confirmação deste desenvolvimento e suas características dependem de outro estudo
com pesquisa “in locus”, para a obtenção de melhores resultados.
BIBLIOGRAFIA
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