Amador

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Curta-metragem sobre o amadurecimento e seus desdobramentos nos relacionamentos, produzido através do Projeto de Extensão Cine Shot.

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Agradeço profundamente à minha família. Aos meu pais, por estarem sem-pre tão presentes e interessados e por me darem a liberdade de escolher meus próprios caminhos. Por serem tão carinhosos e atenciosos e dedicarem tanto do seu tempo a nós, por cultivarem uma conversa franca e sincera que tantas vezes fez a diferença. À minha irmã e melhor amiga, Vitória, por ser a melhor companhia em todas as ocasiões e por estar sempre presente, me ajudando e ensinando.

Gostaria de agradecer também a minha namorada Carolina, pelo amor e compan-heirismo, por me ensinar e participar do meu amadurecimento. Sem você este projeto não teria acontecido.

Ao amigo e irmão José Henrique Ronchi, por todos os anos de conversas, críticas, trabalhos, festas e viagens.

Ao Dan, Mari e Help pelas longas conversas nas quais compreendi um pouco mais sobre a vida e o design e pela amizade sincera que surgiu delas.

Aos amigos e companheiros Saulo, Rato, Ricardo, Tatau, Shape e Camila. A todos os parceiros de Design Júnior. Obrigado pela troca de experiências, gargalha-das, memórias e curtição ilimitada sempre!

Aos amigos e irmãos de Sorocaba pela união e alegria: sem vocês, nada tem graça.

Gostaria de agradecer também a toda a equipe do Cine Shot e a todos aqueles que contribuiram de alguma maneira para que este curta-metragem fosse produzido.Quero agradecer ao Guilherme, ou Camelo, por todo o trabalho que fez no filme e por ser meu braço direito ao longo da produção do mesmo, sem a sua participação esse curta não teria nem mesmo chego ao papel, quanto menos saído dele.Obrigado também ao amigo Cauê Espírito Santo, por me ensinar a viver de uma maneira mais feliz. Por fazer tudo ao seu alcance para ajudar no projeto e por acreditar nele e em mim desde o princípio, sempre alegrando as gravações. Agradeço também ao Victor, amigo e parceiro de trampos por assumir tantas responsabi-lidades com o filme e doar tanto do seu tempo e conhecimento para o projeto, ajudando não só na fotografia e correção de cor como nos meus obstáculos pessoais ao longo do percurso.A Priscila Beal, também integrante da equipe, por assumir a Direção de Arte e co-mandá-la com pró-atividade no momento em que foi mais necessário.

Aos companheiros do Studio F1.4, pelo aprendizado nesse ano de trabalho e por terem emprestado os equipamentos usados nas gravações. Obrigado em especial a Daniel Retz pelo envolvimento direto com dicas e ideias e pela disponibilidade.

Aos atores Pedro Pandolfi, Laís Machado e Antonio Thomé pelo comprometimento.

Ao Professor Dorival Rossi por nos ensinar um novo olhar sobre o Design.

Agradecimentos

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Introdução

Este trabalho nasceu do meu envolvimento com o mundo audiovisual. Diante das ideias que tinha para o meu projeto de conclusão de curso eu per-cebi, em um determinado ponto, que fazer um filme era o caminho natural a ser seguido. Não digo isso por ter certeza que essa é a área que mais gosto ou com a qual pretendo trabalhar daqui em diante, mas justamente porque esse dilema do “encontro profissional” ainda é muito presente em mim e ,no momento da decisão, diversos fatores me levaram a optar por fazer meu próprio curta. O primeiro deles foi o fato de eu estar envolvido em projetos audiovi-suais tanto na universidade quanto no meu trabalho. Na universidade, eu ajudei a fundar e desde então tenho coordenado um Projeto de Extensão chamado “Cine Shot” onde produzimos conteúdo audiovisual, em sua maioria curta-metra-gens. Fora da universidade eu estava trabalhando em uma produtora de vídeos de Bauru, a F1.4, onde participava de diversas etapas da produção de um filme. Essas duas atividades me proporcionaram algumas facilidades: pessoas interes-sadas na área, conhecimento específico e, futuramente, equipamentos profission-ais para as gravações. Aliado a essas facilidades e à minha vontade de contar histórias, estava o meu anseio de que ao dirigir um filme independente eu me tornasse mais apto a decidir o que fazer após a universidade. O segundo foi a já conhecida dinâmica de produzir um curta-metragem. A melhor parte da minha universidade aconteceu quando trabalhei em coletivo com outras pessoas. As trocas de experiências e laços de amizade que surgem desse tipo de relação são muito ricos e nos movem adiante de uma maneira única. Essa oportunidade de conhecer novas pessoas e aprender com elas me motivou a desenvolver o projeto. Decidi, portanto, iniciar a produção do filme através do Cine Shot. Como

A coragem não é a ausência do desespero, mas a capacidade de seguir em frente, apesar do desespero. [...] A principal característi-ca dessa coragem é originar-se no centro, no interior do nosso eu, pois do contrário nos sentiremos vazios. O “vazio” interior corre-sponde à apatia exterior; com o correr do tempo, a apatia se trans-forma em covardia. Portanto, o compromisso em que nos engaja-mos só é autêntico quando originado no centro do nosso ser.

Rollo May, 1975, pág. 10

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explicarei ao longo desse relatório eu ainda não fazia ideia de que história contar e qual seria o tema do meu filme, mas ele se tornou algo muito influenciado por características e pontos de vista pessoais, sofrendo desvios de percurso a todo momento e me mostrando que, de fato, eu precisava tê-lo filmado e aprendido com a sua estória. É claro que surgiram várias dúvidas durante o processo, mas uma das mais presentes e incômodas foi a necessidade de encontrar o design no projeto. É curioso como olhar para nós mesmos pode ser muito mais complexo que olhar para os outros. Quando estamos imersos em algo, tentando entender o que devemos fazer, parece que as coisas se embaralham e ficam confusas e é nesse momento que a família, a namorada e os amigos são tão importantes para nos colocar de volta à “pista”. De ma-neira similar, explicar ou entender um projeto alheio talvez fosse mais fácil que explicar esse filme que fiz, talvez identificar o design em um projeto do qual eu era o espect-ador fosse mais fácil que identificá-lo em meu próprio projeto, afinal ele é extrema-mente pessoal e, como fui lembrado, é exatamente aí que reside o seu design: na sua inspiração interior, sua sensibilidade e as emoções que fizeram parte de seu processo.

Este projeto é, então, um curta-metragem cujos dilemas e sensações são inspirados em pensamentos e emoções pessoais mas que, no entanto, não é autobiográfico. Embora seja originado em mim, foi preciso que a es-tória se desprendesse - no decorrer do processo criativo - de minhas ex-periências para então tomar seus próprios rumos e ser capaz de expressar minhas ideias com mais propriedade.

O logline (ou breve resumo) do filme é o que se segue:

“Um Garoto irresponsável e dependente de suas relações pessoais en-contra-se em um período decisivo de sua vida, no qual vê seus amigos e namorada mudando de cidade por fins profissionais e tem que decidir entre suas visões e crenças e seu grande amor, aprendendo que talvez precise ficar sozinho para passar por um amadurecimento pessoal.”

Resumo

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O Processo Geral

cursos de cinema

seleção Cine Shot

brainstorm roteiro

roteiro e pré-produção

gravação

pós-produção

início TCC

mini-docs e oficinas

jan fev jan fevmar abr mai

2013 2014

jun jul ago set out nov dez

O projeto como um todo teve início antes da concepção do roteiro propri-amente dito. Foi necessário, de início, encontrar novos integrantes para a equipe que viria a gravar o filme, uma vez que vários membros do Cine Shot haviam se formado ou estavam fazendo seus respectivos TCC’s e não poderiam participar tão ativamente do projeto. Juntamente com os membros do ano anterior (2012), organizamos um Processo Seletivo para nos apresentar e encontrar as pessoas que tivessem o perfil mais parecido com o nosso, integrando assim a equipe. Fo-mos felizes em ter mais de 100 inscritos e por volta da metade do mês de Março havíamos selecionado os novos integrantes. Por ser um projeto de extensão que consome uma porção significativa do tempo de seus participantes, a grande maioria dos integrantes estão cursando seu primeiro ou segundo ano da faculdade. Uma porcetagem um pouco menor encontra-se no terceiro ano e raras pessoas estão no quarto ano, já que os quartanistas estão trabalhando em seus respectivos projetos de conclusão.

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Tendo como objetivo integrar a nova equipe, familiarizando-os com a dinâmica de uma gravação e incentivando-os a experimentar as diversas áreas de uma produção audiovisual, desenvolvemos dois projetos entre março e junho de 2013: a produção de três mini-documentários e a promoção de oficinas com alunos mais experientes, principalmente do curso de Rádio e TV. A ideia por trás desses eventos era que os participantes conseguissem descobrir de qual área gostavam mais antes de embarcarmos na gravação do curta-metragem, a qual seria mais longa e difícil que a dos mini-documentários. Em paralelo, a produção de documentários também era um desejo antigo dos integrantes passados do Cine Shot e resolvemos colocá-la em prática nessa ocasião. Finalmente, ao fim de Maio, os documentários haviam sido gravados e a equipe toda iniciou o brainstorm para o filme. Nessa altura eu já estava trabalhando no filme há algum tempo mas não havia tido nenhum resultado satisfatório ou mesmo decidido sobre o que seria o filme. Em virtude disso, realizamos um grande brainstorm onde foram abordados diferentes temas e possibilidades e todos contribuíram com ideias e até argumentos de roteiro. Foi nessa etapa que percebi que deveria fazer um filme cujos dilemas e assuntos eu realmente conhecesse, emoções que me fossem verdadeiras. De outra forma, a estória tinha grandes chances de ficar rasa e eu de desacreditar no projeto durante seu curso. Foi nesse momento que dividimos a equipe e os poucos membros que escolheram fazer parte da equipe de Roteiro começaram a me ajudar a es-crever a estória. Nessa etapa, a ajuda do Guilherme Gonçalves foi essencial. Em Julho viajamos para São Paulo e fizemos um curso de uma semana com o Thiago Fogaça, professor de Roteiro que ajudou com algumas dicas durante o processo. Após a viagem, o roteiro continuava incabado mas o raio de possib-ilidades estava cada vez menor, o que possibilitou o início da pré-produção do filme algumas semanas após o retorno das aulas. Coincidentemente, os alunos entraram em greve e o calendário da UNESP foi reformulado, alterando a apre-sentação dos TCCs de novembro para fevereiro. Devido a essa mudança, re-organizamos nosso cronograma de maneira a aproveitar os novos meses que “ganhamos”: o cronograma à esquerda segue esta adaptação. A pré-produção finalmente acabou no início de Novembro e então grava-mos todas as cenas do filme a partir desta data até o dia 21 de Dezembro, quan-do a equipe entrou de recesso para as festas de fim de ano. As atividades foram retomadas em 8 de Janeiro e a pós-produção do filme irá terminar na segunda semana de Fevereiro, uma semana antes da apresentação deste trabalho. A seguir, detalharei as etapas mais importantes para o projeto.

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O Roteiro

De todas as etapas necessárias para a execução do projeto a concepção do Roteiro foi de longe a mais difícil e, consequentemente, a mais demorada. Ao decidir que meu projeto seria um filme, inúmeros caminhos diferentes se abri-ram: o filme poderia ser sobre qualquer coisa. Mas assim como na história da folha em branco, a liberdade criativa funcionava como um limitador. Por cerca de dois meses tentei descobrir sobre o que eu gostaria de falar. Qual mensagem eu gostaria de passar. Comecei buscando assuntos relevant-es, tentando definir um tema que discutisse dilemas sociais e/ou culturais, fiz brainstorms com a equipe do Cine Shot, incentivei os membros a produzirem argumentos de roteiros, votamos entre as estórias produzidas e eu pedi um tempo para pensar qual delas eu gostaria de filmar. Analisando todas as estórias criadas eu percebi, finalmente, que eu não queria fazer um filme sobre nenhum daqueles tópicos. Eu não sentia que tinha propriedade para filmar uma estória que discutisse questões políticas e/ou sócio-culturais da maneira adequada: inevitavelmente elas ficariam superficiais. Era a primeira vez que escrevia o roteiro de um filme e precisa escrever sobre algo que conhecesse muito bem.Minhas habilidades enquanto roteirista eram (e ainda são) muito precárias e discutir assuntos tão complicados em um curta-metragem poderia ser um tiro

There is more than likely something about yourself that you would like to change or that you should change but it is too difficult. I don’t know why the world works this way, but the things we should do are always the most difficult. So we rarely run toward change. This is true of your characters as well.

Brian McDonald, 2010, pág. 55

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pela culatra. Mais importante, no entanto, foi que percebi que eu precisava falar sobre algo que fosse verdadeiro para mim, dilemas que eu conhecesse a fundo, ainda que não soubesse explicá-los completamente ou que fossem incômodos de serem compreendidos. Ao estudar Roteiro (Estrutura, Personagem, Tema, Diálogos, etc) eu, inevi-tavelmente, passei a me conhecer melhor. Seja pelos recorrentes exercícios de auto-conhecimento indicados por professores e autores, seja pelo simples fato de que estórias são, essencialmente, sobre a natureza humana e nós so-mos, primordialmente, nossa maior fonte de conhecimento sobre ela. Isso quer dizer que, independentemente de sua estória ser uma autobiografia ou uma ficção científica ou uma mistura entre os dois, você irá usar suas experiências para construí-la. E irá escrever sobre assuntos e conflitos que mexem com você. No meu caso, apesar de o filme não ser uma autobiografia - como mencionado na intro-dução - ele se aproxima tanto dela que é como se eu me desenvolvesse junto com o personagem. Brian McDonald explica bem esse processo em seu livro “Invisible Ink” (no caso ele se refere apenas ao personagem):

No início eu não compreendia exatamente porque estava sendo tão difícil escrever a estória, mas com o decorrer do tempo acredito que tenha entendido melhor. Ao decidir usar minha curta experiência de vida como base da estória que estava a redigir, eu inevitavelmente recorri a situações reais que havia vivido e ao fazê-lo encontrei duas grandes barreiras. A primeira delas era o fato de não conseguir escrever livremente, pois sabia que após escrever a estória eu pre-cisaria compartilhá-la com a equipe e posteriormente com os espectadores e eu não estava confortável com essa abertura, fato esse que me levava a manipular as cenas através do estilo, valendo-me muito do subtexto para explicar meus pontos e por muitas vezes decupando o roteiro antes da hora, o que enrijecia as

Because change is never easy, and is resisted, it is your job as a storyteller to apply as much pressure on your characters as possible. You must back them into a corner and force them to change. Make it as painful as you can. Bring them to the brink of physical or emotional death if you possibly can. Your protagonists will be measured by the size of their struggle, so don’t pull any punches.

Brian McDonald, 2010, pág. 58

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cenas e diminuia a qualidade dos beats da minha estória. A segunda era justa-mente a minha ignorância em relação ao fato de que apesar de ser o escritor do roteiro, eu não era seu “mestre”. Como Brian McDonald ensina no excerto abaixo, devemos ser escravos de nossa estória e não o contrário. Só assim sere-mos capazes de escrever cenas verdadeiras que contribuem com a progressão da estória. Eu demorei a perceber isso e quando o fiz já não havia tempo para remediar todos os erros. De qualquer maneira, isso tudo fez parte do processo e apesar do atraso ainda foi possível arrumar alguns pontos em um último tratamento.

E mais adiante:

For us story-crafters, the armature is the idea upon which we hang our story. [...] One way to look at your armature is what is called, in children’s fables, “the moral.” The armature is your point. Your story is sculpted around this point. [...]I often have spoken to writers who say the reason they like writing is that they have so much power. If you want it to snow, you can make it snow. Or if you want to make it sunny, you can make it sunny. You can do whatever you want. You are a master of the universe. Guess what—that is not so. You are a slave to your story, not a master. Your characters, places, scenes, and sequences must be built around the armature.

Brian McDonald, 2010, pág. 58

You are the slave of your story, not its master. You don’t make decisions, you make discoveries.

Brian McDonald, 2010“ ”

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O desconforto em me abrir para a equipe do filme manteve-se presente, cada vez em menos escala é verdade, durante toda a produção. Com a neces-sidade de me fazer entender, no entanto, ele não era mais um impecílio para o andamento do filme. Nessa etapa a equipe já estava dividida em áreas de interesse mas até então somente a equipe de roteiristas estava realmente trabalhando. Foi nessa altura do projeto que recebi grande ajuda do Guilherme, membro do Cine Shot, e Thiago Fogaça, professor de roteiro de São Paulo a quem tive a oportunidade de conhecer em um curso feito no início de 2013. Após a viagem para São Paulo para participar do curso (como menciona-do no “Processo Geral”), fui capaz de direcionar a estória para o lado que queria e finalmente só restava sentar e redigir o roteiro, concertando eventuais prob-lemas no processo. Por volta de 15 de Outubro acabei o primeiro tratamento do roteiro e o entreguei para o pessoal do Cine Shot. Começava a pré-produção de verdade. Dessa data em diante o roteiro sofreu várias alterações, algumas até após as gravações terem iniciado. Cada grande alteração ou conjunto de alterações marcava um novo tratamento do roteiro. No total foram cinco versões diferentes sendo que após a gravação do filme, um final alternativo foi gravado.

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A Direção

A direção do filme envolve diversos aspectos. É função do diretor coor-denar toda a equipe, garantindo o andamento do projeto e o ânimo e sinergia do grupo envolvido. Além disso é claro, também é responsabilidade dele dirigir os atores durante as gravações, decupar as cenas e ângulos de câmera junto ao diretor de fotografia e “dar a cara do filme”. Todas as demais áreas trabalham em conjunto com o diretor, que se comunica com os diretores de arte, produção, fotografia, som, luz e demais equipes. Em uma produção independente como é o caso deste projeto, a equipe é reduzida e as funções são aglutinadas. O diretor acaba por vezes se envolven-do em praticamente todas as etapas do processo, as quais ele provavelmente confiaria a outra pessoa em uma produção maior. Desde a produção do roteiro, passando pelo casting e preparação dos atores selecionados, pré-produção, gravações e também a pós-produção (montagem e edição principalmente) o di-retor está presente e muitas vezes desempenhando alguma tarefa diretamente. Uma das maiores dificuldades que enfrentei como diretor do filme foi, sem dúvida, coordenar toda a equipe, mantendo o interesse no filme e passan-do para eles os significados que queria atingir com a produção. A parte mais prazerosa do processo para mim foi a decupagem do roteiro. Essa é uma das etapas com maior teor criativo e inventivo e consequentemente uma das mais divertidas. Até agora não consegui identificar ou resumir o estilo do filme em uma única frase, mas sei que minha intenção ao decupar as cenas foi valorizar a estória e escolher os melhores planos para ela. Baseado nos batidores de séries e filmes, tentei enriquecer o roteiro visualmente. Como a direção está relacionada e presente em o todo do projeto, é difícil falar dela sem entrar em detalhes também pertencentes às demais áreas. Dessa maneira irei descrevê-la melhor a seguir, em conjunto com as áreas que foram mais marcantes no filme. Por último, no entanto, acho que vale a pena mencionar algumas referências e porque elas foram importantes.

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A primeira grande referência é o filme “The Graduate”, dirigido por Mike Nichols e estrelando Dustin Hoffman. Esse filme foi um grande norte no início, quando já havia decidido sobre o que seria o roteiro mas ainda estava esboçan-do as cenas e estruturando a estória. Com o decorrer do tempo o meu roteiro se distanciou bastante da película de Nichols mas esta continuou servindo de referência para as demais áreas da produção. A atuação de Hoffman foi assistida diversas vezes com o ator Pedro Pandolfi, protagonista de “Amador”, assim como sua trliha (composta por hits da época pela dupla Simon & Garfunkel) foi enviada para os músicos e amigos Daniel e César, responsáveis pela trilha deste projeto. A segunda forte referência é o filme “Beginners”, dirigido por Mike Mills estrelado por Ewan McGregor, Mélanie Laurent e Christopher Plummer. Este filme foi uma descoberta que surgiu durante a pré-produção quando a equi-pe buscava referências para a direção de arte e fotografia. Apesar de não ser um blockbuster como o filme de Nichols, Beginners apresenta personagens sensíveis e com dificuldades para viverem juntos. É fato que seus conflitos são diferentes mas pudemos encontrar várias cenas repletas de referências para a Arte e Fotografia do nosso curta. Por último, uma referência geral em audiovisual atualmente encontra-se a série televisiva “Breaking Bad”, criada e comandada por Vince Gilligan e vi-sualmente coordenada pelo diretor de fotografia Michael Slovis. A série é tão original e sem falhas que é difícil descrever porque ela é uma referência. Ela é na verdade uma meta: escrever um roteiro tão bom e dirigir algo tão envolvente vi-sualmente seria o ápice para qualquer um. Ela me influenciou com planos, estilos de filmagem, câmeras no ombro ou mãos ao invés de tripés e, principalmente, sua fidelidade e preocupação com o roteiro e a estória em si: a decupagem das cenas foge do comum e valoriza a estória a cima de tudo, sem se repetir desnec-essariamente ou usar o estilo pelo estilo, sem significado. Michael Slovis explica um pouco sobre isso em uma entrevista para o blog “rogerebert.com”:

I believe there’s a certain simplicity and elegance—and if you really look at the shots in “Breaking Bad,” they’re like simple black dresses. They really are not complicated. They’re just properly placed, and the camera is often times really just in the right place to tell the story, that’s all. [...] The truth of the matter is that Vince asked us to try to find the truth in the scenes in organically structured shots that would fit in with the language of the show.

Michael Slovis, DP of Breaking Bad

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A Direção de Foto

Por se tratar de uma produção pequena, a Direção de Fotografia en-volve grande parte dos aspectos mais técnicos e relativos a equipamentos, e os envolvidos nela acabam por desempenhar várias funções. Conhecimentos de fotografia e das especificidades do equipamento que está sendo usado são necessários para se conseguir o resultado desejado ao final da produção. No caso deste filme, o amigo Victor Claudio assina a Direção de Foto, desempenhando o papel principal de interpretar as emoções do roteiro e de-cidir qual estilo visual caberia melhor em cada cena. É comum haver confusão na hora de dividir as funções entre diretor e diretor de fotografia: quem escolhe os ângulos de câmera? Quem opera a câmera? Não sou a melhor pessoa para responder a essas dúvidas mas, pela minha experiência até o momento, essas funções variam de produção para produção e de profissional para profissional. No nosso filme, o Victor era responsável por iluminar a cena enquanto revezáva-mos na operação da câmera e na decupagem dos planos. Os equipamentos utilizados variam em sua origem. Em geral usamos materiais básicos a qualquer produção: um par de refletores 1000W, câmeras DSLRs (Digital Single Lens Reflex) Canon EOS 5D e Canon EOS 60D; rebatedor/difusor; gravador digital ZOOM H4N; vara e microfone direcional tipo shotgun (Boom); um jogo de lentes contendo: 16-35mm f2.8, 50mm f1.4, 85mm f1.4, 24-105mm f2.8, 20mm; um tripé simples e um tripé manfrotto com cabeça hidráulica.

Diretor de Fotografia: Victor Claudio de Paula e SilvaAssistentes: Ana Carolina Paiva de Toledo, Cauê Espírito Santo, Isis Gaona.

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1. O “Look”

Evolução de alguns testes de luz e um frame do resultado final, in camera.

O estudo para chegarmos ao resultado final do “look” do filme, isto é, seu aspecto fotográfico determinado pela intensidade da luz, temperatura de cor, sombras, meio-tons, highlights, profundidade de campo e demais fatores, foi feito originalmente com base na evolução das emoções e sentimentos dos person-agens ao longo das cenas do filme. Uma grande referência nesse processo foi a fotografia do filme Beginners (2010, Mike Mills), que apesar de possuir uma trama diferente da nossa, apresenta personagens com dilemas e conflitos similares: a incapacidade ou dificuldade de um casal para conseguir ficar junto. Tentamos com-preender o que era melhor para cada cena em termos de luz e exposição, sem ter medo de variar a temperatura de cor e o look de cada cena/locação dentro do filme, sempre buscando o melhor para aqueles personagens naquela situação. De forma geral, temos bastante cenas noturnas que são bem escuras e pouco con-trastadas, as temperaturas variam de acordo com o ambiente (sacada, cozinha, bar, restaurante). A filmagem foi feita com as câmeras na mão ao invés de usar tripé, para se relacionar com a característica mais humana do filme. A seguir, alguns frames retirados do filme Beginners em comparação com o nosso curta:

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1. Ref. Cozinha e 2. Cozinha 3. Ref. Restaurante e 4. Restaurante 5. Ref. Sacada e 6. Sacada 7. Ref. Festa e 8. Festa

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2. As DSLR’s

DSLR ou “digital single-lens reflex” camera nada mais é que uma câmera digital que combina a óptica e mecânica das câmeras analógicas antigas com um sensor digital, ou seja, é uma câmera digital (que não usa filme fotográfico) mas cujo mecanismo é igual ao das câmeras antigas. A grande diferença entre uma DSLR e as outras câmeras digitais é o seu jogo de espelhos. Nas “single-reflex” ou DSLR, a luz viaja através da lente até chegar ao espelho que alterna sua posição para que a ima-gem atinja ou o “viewfinder” ou o sensor digital da câmera. A vantagem desse sitema é que a imagem que o fotógrafo vê quando olha no visor é praticamente a mesma que é capturada pelo sensor no momento do clique. Além desse mecanismo explicado acima, as DSLRs, apesar de serem câmeras semi-pros ou mesmo profissionais para fotografia, também capturam vídeo e fazem isso tão bem que acabaram por inaugurar um novo nicho no mercado de câmeras usadas por cinegrafistas e diretores independentes. O principal atrativo nessas câmeras é que elas proporcionam um aspecto de imagem e profundidade de campo estreita que é característico dos filmes 35mm. Isso é possível graças ao seu sensor que é muito maior se comparado com as outras gravadoras de vídeo da mesma faixa de preço. Isso tudo aliado a possibilidade de trocar as lentes, acoplar diversos acessórios e também por ser extremamente portátil, popularizou as DSLRs como as principais câmeras usadas em produções independentes e com orçamen-to limitado assim como incentivou o surgimento de diversos empreendimentos. Até mesmo séries de TV famosas e de alta produção como”House” já usaram essas câmeras na gravação de um ou outro episódio. É claro que devido a sua facilidade e acessibilidade, a linguagem do foco estreito e a constante alternância dele entre primeiro e segundo planos se tornou recorrente e utilizada sem necessidade. Há também vários contras atribuídos à essas câmeras, como a falta de ergonomia, mas é certo que pelo resultado que fornece e pelo ótimo custo-benefício elas são uma ótima opção para produções independentes. No nosso caso, nós utilizamos a Canon EOS 5D como câmera principal de nossas gravações, graças a parceria do Studio F1.4, que nos cedeu esses equipamentos.

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A Direção de Arte

Diretora de Arte: Priscila BealAssistentes: Betânia Menardi, Gabriela Moreira, Isis Gaona

A essência da direção de arte deste filme foi a escolha cuidadosa da pal-eta de cores. Cada personagem possuia uma cor predominante que era escol-hida de acordo com suas principais características e funções dentro do filme. As cores variam com os personagens, principalmente o protagonista, ao longo da estória e conforme eles passam pelos seus respectivos arcos. Por se tratar de um filme curto, cerca de 20 minutos, é difícil observar a evolução dessas cores ao assistir a obra, uma vez que diversos personagens aparecem somente em duas ou até mesmo uma só cena, de maneira que o espectador nem sempre é capaz de perceber tais variações. De fato, durante a pré-produção, as cenas recebiam uma atenção individual onde buscávamos compreender sua dinâmica e identificar pontos que justificassem uma nova cor, mesmo que esta fugisse um pouco do arco macro da estória. Para citar um exemplo, a cena do carro que aparece ao final do filme mostra o protagonista de vermelho e a garota de marrom. Originalmente, o garoto (protagonista) se veste de amarelo e a garota carrega a cor vermelha, nesta cena no entanto ambos desempenham papéis dif-erentes dos que vimos no filme até então, justificando uma troca nas cores da cena. Outros fatores cobertos pela direção de arte e detalhados a seguir são os objetos de cena e o figurino dos atores. A seguir podemos observar melhor o estudo das cores e a sua atribuição para cada personagem, assim como sua disposição ao longo das cenas do filme e a escolha dos principais objetos para a narrativa.

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1.Paleta de Cores

Lídia

Amor Covardia,indecisão

Seriedade

Pedro Zé

Cena 01 - EntrevistaCor marcante (laranja) e cores sóbrias:Ambiente levemente ameaçador.

Cores gerais para o apartamentoVermelhor, amarelo e azul se complementam e representam os 3 personagens principais.

Cena 02 - BarClima de aconchego transmitido por tons terrosos e ambiente colorido e escuro.

Cena 07 - RestauranteVermelho e amarelo remetem ao relacio-namento dos protagonistas.

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2. Objetos de Cena

Além de vários objetos objetos de composição e detalhes que compuse-ram as cenas, a Direção de Arte e a Direção em si também foram responsáveis por encontrar e/ou produzir objetos específicos que estavam previstos no ro-teiro. Abaixo e ao lado encontram-se algumas fotos tiradas durante a pré-pro-dução e que representam os principais objetos para o curta, além de proporcio-nar uma visão geral sobre este processo de busca.

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Workflow & Aspectos Técnicos

Mesmo sendo uma produção simples e sem grandes mistérios à respeito do processo e de como as coisas foram feitas até atingir o produto final que será reproduzido na apresentação, vou contar um pouco de alguns aspectos técnicos que nos foram muito úteis e que podem facilitar a vida de alguém que esteja interes-sado em desenvolver algum projeto similar mas que, assim como eu, não fez uma graduação ou curso extenso na área. O Workflow geral do projeto - a partir da gravação - é o seguinte: 1. Após as gravações o material bruto é transferido para um computador e, no mínimo para 01 HD externo, fazendo um backup e evitando assim que o todo o material seja perdido e haja prejuízo na produção no caso de algum incidente como quebra/perda/roubo/hd estragado e etc.2. Dependendo da câmera que você estiver usando, você precisará de um leitor de cartão diferente: a 5D por exemplo utiliza cartões CF (Compact Flash) e uma 60D ou T3i utiliza cartões SD (Secure Digital) e para que eles se comuniquem com seu PC ou Mac você precisará de um adaptador ou de entradas na própria máquina. Os cartões são relativamente frágeis e é preciso certo cuidado ao manuseá-los. Existem também várias capacidades de armazenamento. Como as DSLRs geralmente gravam em Full HD (1920x1080p) é recomendável usar cartões com no mínimo 16GB e, se a gravação não for muito planejada, levar cartões reserva para não perder tempo descarregando em campo.3. O seu PC ou Mac deve possuir uma boa configuração para que os softwares de edição de vídeo rodem sem problemas e você consiga processar o material filmado sem dificuldades. A máquina que utilizamos possui a seguinte configu-ração: processador intel i7 terceira geração; 12GB de memória RAM; 2TB de disco rígido; placa de vídeo AMD Radeon 7870. 4. Tenha noção do tamanho do seu filme: este curta tem 8 cenas e duração total de cerca de 20 minutos. O material bruto das gravações é de 230GB.5. Após o material ser importado para o computador, eu selecionava os melhores takes através do software Adobe Bridge e os jogava diretamente para o Adobe Premiere, organizando-os em pastas. Após a finalização do primeiro corte do filme, ele foi exportado em qualidade baixa e enviado via dropbox para os re-sponsáveis pela trilha, colorização e tratamento do som respectivamente.6. Para a correção de cor e o tratamento do áudio, foram criados arquivos com-pactos contendo somente os clipes utilizados no filme final. Dessa forma o arqui-vo total ficou com apenas 28GB (arquivo editável + brutos necessários).7. Após a coloração e áudio prontos, o vídeo antigo tem seus arquivos substituí-dos e é exportado nos formatos finais. (Codec H.264 para versão leve e Codec DNxHD para a versão em alta qualidade).

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Outros dois detalhes importantes que concernem a parte da gravação em si é o uso do firmware adicional “Magic Lantern” e do perfil de imagem “CineStyle”. O CineStyle é um perfil de imagem desenvolvido pela Technicolor e dis-ponibilizado de graça em seu site. Ele pode ser instalado em sua câmera Canon através do software que já a acompanha, chamado EOS Utility, e então acessa-do em seu menu normalmente. O CineStyle aumenta o dynamic range (relação entre maior e menor intensidade de luz ou relação entre brancos e pretos) da sua câmera, retendo mais informações nas partes claras e também nas sombras da imagem, o que garante uma imagem de maior qualidade em ambientes com luz escassa e proporciona maior liberdade na pós-produção e correção de cor, pois tem-se mais informação na imagem. O Magic Lantern por sua vez é um firmware grátis para câmeras Canon EOS que funciona através do cartão SD ou CF e que foi desenvolvido com o intuito de “liberar” novas funções que não vieram “de fábrica” com a Canon. Deve-se ler com atenção as etapas para instalá-lo em seus cartões e pesquisar um pouco antes de usá-lo mas ele, de fato, é muito útil durante as gravações e depois que você acos-tuma ele acaba se tornando essencial. Entre outras coisas, ele disponibiliza novos formatos de filmagem, controle do balanço de branco, visualização de waveform do áudio da câmera, criação de presets, “magic zoom” e por aí vai. No nosso caso sua maior utilidade foi viabilizar a visualização da imagem em “Cinemascope” que era o formato final do nosso vídeo, dessa maneira conseguíamos enquadrar as cenas com maior segurança durante as filmagens.

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Considerações

Produzir um filme é muito trabalhoso. Para chegar ao produto final é necessária a ajuda de muitas - realmente muitas - pessoas. Nesse breve relatório eu procurei contar um pouco sobre os principais intuitos, desafios, curi-osidades e conhecimentos que nos foram necessários para realizar este proje-to. No entanto, há muitos outros detalhes e pessoas que se envolveram, portanto, segue abaixo os créditos com todas as pessoas que integraram a equipe do início ao fim:

RoteiroRevisão de Roteiro

DireçãoAssistência de Direção

Direção de FotografiaAssistência de Fotografia

Direção de ArteAssistência de Arte

Produção

Casting

Preparação dos Atores

Som Direto

Edição de Som

Trilha Sonora

Correção de Cor

Montagem e Edição

Atores

Jorge Teivelis NetoGuilherme de Almeida Gonçalves

Jorge Teivelis NetoGuilherme de Almeida Gonçalves

Victor Claudio de Paula e SilvaAna Carolina Paiva de ToledoCauê Espírito SantoIsis GaonaGuilherme Oisi

Priscila BealBetânia MenardiGabriela Moreira

Henrique SuenagaVictor Youssef

Jorge Teivelis NetoGuilherme de Almeida GonçalvesAntonio Fernando ThoméAna Carolina Sá

Jorge Teivelis NetoGuilherme de Almeida Gonçalves

Vinícius LauretoGabriel Reis

Vinícius Laureto

Daniel Bollina SegamarchiCésar Avolio Bastos

Victor Claudio de Paula e Silva

Jorge Teivelis Neto

Pedro PandolfiLaís MachadoAntonio Fernando ThoméMarcelo FormigoniFelipe Graebin

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Conclusão

Sempre tive muitas ambições em relação ao meu projeto de conclusão de curso em Design. No momento que escolhi fazer um filme, no entanto, es-tava ciente que muitas delas não seriam possíveis ou não estariam presentes da mesma maneira que havia imaginado, mas por diversos motivos este me pareceu o melhor caminho. O que eu não sabia é que muitas outras coisas necessárias ao meu crescimento viriam ao meu encontro. Este projeto me pro-porcionou um grande amadurecimento e superação pessoal, como se fosse uma experiência extremamente necessária para a qual eu caminhei sem entend-er completamente o porquê, mas que fez sentido ao longo do processo. Agora que este trajeto de aprendizagem e superação terminou, posso dizer que me conheço muito melhor e que apesar de ainda estar incerto sobre o futuro, sinto-me mais preparado para caminhar em direção a ele.

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Bibliografia

Webgrafia

Filmografia

MCDONALD, Brian. 2009. Invisible Ink. Libertary Edition. Creative Com-mons License.

MCKEE, Robert. 2006. Story - Substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. Curitiba. Arte & Letra Editora.

MAY, Rollo. 1975. A Coragem de criar. Rio de Janeiro. Editora Nova Fron-teira.

Multi-facial - curta-metragem escrito e dirigido por Vin Diesel, disponível em: http://www.shortoftheweek.com/2011/04/29/vin-diesel-in-multi-facial/ Aces-sado em 19/07/2013

Gliding Over All - entrevista com Michael Slovis de Breaking Bad, dis-ponível em: http://www.rogerebert.com/balder-and-dash/gliding-over-all-the-cin-ematography-of-breaking-bad-season-2 Acessado em 07/08/2013

Magic Lantern Website - download do instalador e fórum com dúvidas. Disponível em: http://www.magiclantern.fm/

The Graduate - 1976, 106min, Dirigido por Mike Nichols - Romance/Comédia/Drama.

Beginners - 2010, 105min, Dirigido por Mike Mills - Romance/Drama/Comédia.

Breaking Bad - 2008 à 2013, 45min/episódio - Drama.

8 e 1/2 - 1963, Dirigido por Federico Fellini - Drama/Fantasia.

Kramer vs Kramer - 1979, 105min, Dirigido por Robert Benton - Drama

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Anexo - Roteiro

Amador

Written By

Jorge Teivelis Neto

[email protected]

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TEASER

INT. SALA DO APARTAMENTO - DIA

Um relógio no chão avança um minuto.

12:01

Alguém dorme no chão. Ao lado de sua mão jaz uma espécie de bilhete ou passagem. Uma brisa leve vinda da sacada afasta-o da mão. A pessoa se mexe e resmunga.

P.O.V: Um retângulo com as proporções de uma tela de cinema e as bordas apagadas e desgastadas "enquadra" a sala.

Fora de foco, uma sombra se mexe e levanta do chão. Caminha em direção a tela. A medida que se aproxima e atinge a zona focal, distinguimos suas feições faciais e completamos a imagem de um jovem.

20 e poucos anos embora pareça cansado. Cabelo amassado, olheiras, na verdade sua cara toda parece amassada. Cabelo curto e sem barba, está usando um colar.

Ele abaixa e pega algo no chão. Nós não vemos o que é.

Ele encara o retângulo e enquadra-se exatamente no centro da tela.

FIM DO TEASER

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FADE IN:

AMADOR

INT. SALA DE ENTREVISTA - DIA

Sala pequena porém estilosa. Decorada de maneira ostensiva, ela chega a ser opressora. Um relógio de ponteiros na parede marca 10h. Um homem tamborila os dedos na mesa, impaciente. Nós ainda não vemos seu rosto.

POV desse homem: a sua frente a cadeira está vazia. Nitidamente alguém se atrasou.

O homem suspira e afasta a cadeira para trás -- preparando-se para levantar -- quando ouve um barulho à porta..

GAROTO, vinte e poucos anos, barba por fazer, visual surrado, entra na sala desajeitado com uma pasta-portfolio embaixo do braço e senta-se na cadeira vazia. Ele estende a mão para o homem.

GAROTOBoa ta.. Bom dia!

Finalmente vemos o rosto do homem. Ele aperta a mão do Garoto.

HOMEMBom dia.

GAROTODesculpe o atraso.. Eu..

Garoto empurra a pasta através da mesa, em direção ao homem. Este começa a folheá-la. Demora-se em algumas páginas, mas acaba tudo depressa. Ele encara o Garoto.

HOMEMÉ.. Interessante.. Mas, vamos direto ao ponto: Quem é você?

SILÊNCIO. Relógio avança um minuto. Garoto começa a suar.

GAROTO(gaguejando)

Eu sou o.. João.

HOMEMJura? E você já pensou o que quer ser no seu futuro?

CLOSE no Garoto. Longa pausa.

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GAROTOEu sou um.. comunicador!

EXT. RUA DO BAR - NOITE - CONTINUOUS

Risada escrachada. Duas pessoas caminham pela calçada. Uma delas é Garoto, a outra é ZÉ. Com ambos lado a lado no quadro, comparamos as aparências: do cabelo e barba até o jeito de se vestir, Zé transparece mais segurança e organização. A risada escrachada é dele.

ZÉ(irônico)

Comunicador?

GAROTOPareceu bom na hora.

ZÉSério?

Garoto consente.

ZÉSer geral assim nunca é bom. Talvez você devesse ter sido mais direto.

GAROTOÉ, se eu soubesse como. Mas porque diz isso?

ZÉDe tanto pensar no assunto, acho.

Silêncio.

ZÉEu fiz uma dessas semana passada também.

GAROTOUma o que? Entrevista? E não falou nada?

ZÉTava tão concentrado que.. acabei esquecendo de comentar.

GAROTOEra só ter deixado um bilhete ou sei lá! Que merda ein?.. Como você foi?

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ZÉBem igual o RUSSO é que não fui.

GAROTONem fala, e o pior é que ele faz aquilo naturalmente, sem esforço.

ZÉTá louco? Já te falei que ele é esforçado mesmo, caso contrário como é que ele ia..

GAROTO(acenando)

Olha o pessoal lá!

Garoto apressa o passo e deixa Zé falando sozinho. Alguns metros a frente alguém acena de volta pra ele. Um burburinho de vozes cresce ao fundo, eles estão quase em frente ao bar.

EXT. FACHADA DO BAR - NOITE - CONTINUOUS

Fachada simples, se não fosse pelas pessoas na entrada, o bar passaria despercebido.

Zé entra direto no BAR e Garoto demora-se cumprimentando as pessoas que estão na rua. Vemos que alguém se aproxima mas não conseguimos distinguir seu rosto, até que Garoto vira e vê..

GAROTA, bonita, cabelos compridos e quase tão alta quanto ele. Eles sorriem um para o outro. Ela usa um pingente de pedra um pouco estranho em seu pescoço e nós o reconhecemos como o colar do Teaser.

GAROTAAtrasado de novo!

GAROTOLinda de novo?

Abraços, beijos, risos, entram no bar.

INT. BAR - NOITE - CONTINUOUS

Ambiente barulhento e movimentado. Mesas, decoração alternativa nas paredes, colorido e escuro. Apesar de estar lotado, tudo é administrado por poucos funcionários. O típico bar frequentado pelo público universitário, com um ar de aconchego.

Garoto e Garota aproximam-se da mesa onde Zé e Russo estão sentados e BÚFALO THE KID, o garçon, está de pé com uma garrafa de cerveja na mão (a outra já está na mesa). Garota

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também senta à mesa.

GAROTOOlha ele aí! Tudo bem Russo? Parabéns pelo emprego, fiquei muito feliz! Você merece!

RUSSO(bêbado)

Que isso, obrigado Garoto! Sorte que não te esperei pra começar a comemoração né?

GAROTOVocê chegou faz tempo?

BÚFALOSó não abriu o bar porque não tinha a chave! Já bebeu de tudo!

Búfalo dá um tapinha nas costas do Garoto e se dirige ao balcão. Garoto senta e olha pra Garota.

ZÉ(olhando para Garoto)

Típico!

Garoto enche o copo de todos.

GAROTO(sem perceber o olhar)

Ainda mais hoje né? Tem que beber mesmo. Você é foda!

RUSSOMas hoje a comemoração é em dobro não? A Garota também arranjou um bom emprego!

GAROTAAh, obrigada Russo! Mas não é nada demais assim, só é no Rio.

RUSSOModesta como sempre. Vai ser uma boa experiência!

GAROTOVai ficar difícil de visitar todo mundo ein? Eu e o Zé vamos ter que fazer uma vaquinha.

Zé bebe a cerveja do seu copo.

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GAROTOMas fala aí Russo, qual o segredo pra conseguir um emprego internacional assim, tão fácil?

RUSSOUma dose de tequila por dia!

Todos riem, mas continuam esperando por uma resposta melhor que essa.

RUSSO (CONT'D)Tá legal, tá legal: duas doses!

ZÉConta a real pra gente vai, pode falar que tirando o álcool só o que você faz é estudar!

RUSSOMas isso eu achei que fosse óbvio! Se não eu nem tinha tentado a vaga.

Zé sorri. Garoto parece um pouco perturbado.

ZÉE tem quem diga que é sorte!

GAROTOBom, mas sorte ele tem né. Pelo menos sempre soube o que queria fazer! Se eu tivesse certeza que queria ser ilustrador, também não parava de desenhar!

RUSSOCalma lá, eu não tenho certeza de nada não! É só que como eu já desenhava um pouco, foi mais fácil insistir nisso. Afinal, temos que ganhar o pão de cada dia!

Garoto parece perplexo. Búfalo assiste a cena do balcão.

RUSSOMas assim que der uma brecha eu vou tentar trampar com outra coisa. Enquanto não decido, pelo menos ganho uns trocados com esses desenhos aí.

Isso não faz sentido. Pra que ele trabalharia tanto em algo que não sabe se gosta? Búfalo chega com uma bandeja e doses

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de tequila.

BÚFALOTequila por conta da casa!

Ele distribui as doses. Sem esperar pelos amigos, Garoto entorna seu copo e devolve-o a mesa com um baque.

INT./EXT. SACADA DO APARTAMENTO - NOITE

Garota coloca um copo de água com uma pastilha efervescente no parapeito da sacada. Garoto contempla o céu, de ressaca.

Garota olha pra ele. Ela pega o copo do parapeito e oferece ao Garoto.

GAROTAToma, vai te fazer bem.

Garoto aceita a oferta e bebe o sal de frutas. Beijam-se.

GAROTOO que você achou daquele papo do Russo?

GAROTAAcho que ele tem razão.

Silêncio.

GAROTOMas não faz muito sentido né.. Eu nunca pensei desse jeito!

Garoto faz uma pausa. Conforma-se.

GAROTO (CONT'D)O pior de tudo é que ele tá certo. Do jeito que eu to, é capaz de eu nunca descobrir nada mesmo.

Garoto vira-se e olha para ela.

GAROTO (CONT'D)Você não acha que eu deveria escolher a minha área primeiro?

GAROTAEu acho que você tem que fazer alguma coisa enquanto não descobre exatamente o que quer. Fazer tudo ao mesmo tempo, sabe?

Garoto volta para a posição inicial, de frente para o céu.

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Garota analisa a reação dele.

GAROTAO que você vai fazer quando eu for embora?

GAROTOVocê tem que fazer isso mesmo?

GAROTAVocê tem alguma ideia?

GAROTOVocê poderia ficar..

GAROTAVocê iria comigo?

GAROTOSim! Mas você podia me esperar e depois nós vamos juntos..

Garota vira o rosto.

GAROTOO que foi?

Garota olha para o horizonte e brinca com o colar em seu pescoço.

GAROTAEu pensei em ficar também. Mas eu não posso continuar te esperando. Eu preciso fazer as minhas coisas. Talvez você precise desse tempo sozinho.

Garoto olha para o horizonte também. Vira-se novamente, puxa a Garota pela mão e segura seu rosto com delicadeza.

GAROTOVocê acha que ainda vamos dar certo?

A luz da sala se acende e Zé entra no recinto.

ZÉOpa, licença. Depois vem aqui na cozinha?

Zé vai para a cozinha. Garoto olha para Garota. Ela permanece quieta. Garoto sai para a cozinha.

Garota fica sozinha na sacada. Ela toca o colar em seu

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pescoço.

INT. SALA DO APARTAMENTO - NOITE

Sala cheia. O garoto só passa por ela em direção a cozinha.

Evidenciamos a quantidade de móveis e objetos que compõem o ambiente.

Uma foto de Zé e Garoto abraçados está grudada em um espelho na parede.

INT. COZINHA - NOITE

Cozinha comum. Um bolo grande de chocolate está sobre um fogão super arrumado: toalha, faca e guardanapos estão todos alinhados sobre o fogão -- se possível teremos um fogão colorido -- O calendário (o mesmo do TEASER, mas sem a marcação circular no dia 27) está na porta da geladeira.

Zé engole um pedaço de bolo. Garoto entra no recinto.

ZÉOpa! Aceita um bolo? Eu que fiz!

GAROTONão não, obrigado.

ZÉPega um pedaço pô, não é sorvete mas é bolo!

Garoto nega com a cabeça.

ZÉ(acenando para a porta)

E como vocês estão?

GAROTOIndo né. Vai ser difícil agora.

Zé pega outro pedaço de bolo.

ZÉBom, eu preciso te contar uma coisa.

Garoto levanta o olhar, intrigado.

ZÉEu passei na entrevista..

GAROTO(abraçando)

Caramba!.. Parabéns!..

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ZÉ(afastando)

Calma!..Eu já sabia que tinha passado, eu sei faz uma semana.

GAROTOO quê?

ZÉEu vou me mudar. A vaga é em outra cidade.

GAROTOCaralho! Porque você não disse antes? Como assim.. Quando você vai?

ZÉSemana que vem.

Silêncio.

ZÉDesculpa, eu sei que devia ter contado antes.

Garoto consente.

ZÉO lance é que você não aproveita nenhuma oportunidade. Eu não me sinto na posição de te falar essas coisas mas..

GAROTOVocê também? Corta essa vai.

Silêncio.

ZÉTem uma última coisa, me indicaram pra outra entrevista essa semana mas eu recusei, já que eu já .. Enfim.. Você não quer ir? Marquei aqui.

Ele tira um pedaço de papel do bolso e entrega pro Garoto. Silêncio. Zé espera um pouco.

ZÉSe eu fosse você, eu iria.

Ele sai da cozinha.

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Garoto continua estagnado. Estarrecido. Ele corta um pedaço de bolo.

O fogão fica cheio de farelos, a faca jogada, a toalha fora do lugar.

Ele caminha até o calendário na geladeira. Pega a caneta que fica ao seu lado e circula o dia 27 de agosto, terça-feira. Ele copia o conteúdo do papel para o calendário:

14H. RUA RUY MENDES. 128.

Guarda o papel no bolso e come o pedaço de bolo.

INT. FESTA DE REPÚBLICA - NOITE

Uma festa modesta em um espaço pequeno, uma sala. Pessoas vão e vem até que encontramos..

Garoto sozinho em um canto do ambiente. Ele parece deslocado e com o olhar distante, então percebemos: ele está na verdade encarando seu reflexo num espelho no outro lado do recinto.

Alguém passa em frente ao espelho, e quando tornamos a enxergá-lo vemos o reflexo da Garota nele. Ela está do outro lado da sala recebendo abraços de despedida. Seus olhares se cruzam pelo espelho.

Eles caminham um para o outro e se abraçam demoradamente.

GAROTO(ainda abraçados)

Eu te amo.

GAROTA(chorando)

Eu também!

Eles se afastam e ficam de frente um para o outro.

GAROTAEu comprei uma passagem pra você ir comigo! Pro Rio!

Ele sorri para ela, mas na verdade seu olhar está longe.

Ela o abraça de novo. Ele corresponde.

Ainda abraçados, o sorriso se esvai do rosto do Garoto e dá lugar à dúvida.

INT. CARRO - ANOITECER

Garoto dirige o carro, Garota está ao seu lado. A estrada a

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frente é bonita e com mais paisagem verde do que concreto. Eles conversam sobre a vida nova.

GAROTAE começar a surfar! Já pensou? Acho que se juntarmos uma grana conseguimos comprar uma prancha..

GAROTOUhumm.. Certeza..

GAROTAA gente pode passar os primeiros meses conhecendo todos os pontos turísticos também..

O toque de um celular quebra a mágica do momento.

Ambos procuram pelo aparelho. A Garota revira sua bolsa até que os dois percebem que é o do Garoto. Ele retira o aparelho do bolso com dificuldade --está dirigindo-- e entrega para ela.

Um pedaço de papel vai junto com o celular, a Garota pega somente o aparelho, sem notar a tira de papel.

GAROTA(ao telefone)

Oi!.. Sim!..

Garoto tem os olhos fixos no pedaço de papel. A tira contém uma mancha do que parece ser chocolate e um desenho característico no canto do papel. Ele lê:

14H. RUA RUY MENDES. 128.

GAROTA(ao telefone)

Ok eu aviso ele sim!.. Obrigado, tchau tchau.

Ela desliga o telefone.

GAROTA (CONT'D)(para o Garoto)

Era tal pessoa, pediu pra você ligar depois.. Mas então, aonde a gente tava? Na nossa nova rotina, né?

Garoto consente com a cabeça.

GAROTABom, eu vou chegar do trabalho e

(MORE)

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frente é bonita e com mais paisagem verde do que concreto. Eles conversam sobre a vida nova.

GAROTAE começar a surfar! Já pensou? Acho que se juntarmos uma grana conseguimos comprar uma prancha..

GAROTOUhumm.. Certeza..

GAROTAA gente pode passar os primeiros meses conhecendo todos os pontos turísticos também..

O toque de um celular quebra a mágica do momento.

Ambos procuram pelo aparelho. A Garota revira sua bolsa até que os dois percebem que é o do Garoto. Ele retira o aparelho do bolso com dificuldade --está dirigindo-- e entrega para ela.

Um pedaço de papel vai junto com o celular, a Garota pega somente o aparelho, sem notar a tira de papel.

GAROTA(ao telefone)

Oi!.. Sim!..

Garoto tem os olhos fixos no pedaço de papel. A tira contém uma mancha do que parece ser chocolate e um desenho característico no canto do papel. Ele lê:

14H. RUA RUY MENDES. 128.

GAROTA(ao telefone)

Ok eu aviso ele sim!.. Obrigado, tchau tchau.

Ela desliga o telefone.

GAROTA (CONT'D)(para o Garoto)

Era tal pessoa, pediu pra você ligar depois.. Mas então, aonde a gente tava? Na nossa nova rotina, né?

Garoto consente com a cabeça.

GAROTABom, eu vou chegar do trabalho e

(MORE)

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você vai estar em casa! Eu posso GAROTA (CONT'D)

cozinhar alguma coisa pra gente e depois saímos pra..

Garoto diminui a velocidade do carro. Dá seta e encosta no acostamento.

GAROTA (CONT'D)..ver o mar.

Garoto balança a cabeça em sinal de negação.

GAROTO Linda, é exatamente isso que vai acontecer.

GAROTA(confusa)

Sim..

GAROTOVocê não vê? Eu não posso ir! Olha pra você: você quer ficar me sustentando? Quantos meses isso duraria?

Ela olha pra ele, esperando uma conclusão.

GAROTOMorar com você é o meu maior presente, mas eu não posso fazer isso enquanto não estiver pronto. Enquanto não tiver certeza que não vou te atrasar.

Eles se olham por um momento, os olhos marejados. Ela retira o colar do seu pescoço e entrega pra ele. Eles se beijam e entram em um abraço demorado.

Eles se soltam. Garota enxuga os olhos e sorri.

GAROTAÉ melhor você não demorar muito, viu?

Segurando o choro, Garoto faz que sim e dá um leve sorriso. Eles dão as mãos e continuam a viagem.

O sol se põe no horizonte à frente.

INT. RESTAURANTE - NOITE

Sons de aeroporto, pessoas se movendo, avião decolando.

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SILÊNCIO. Um pequeno ruído surge ao fundo.

Garoto com as mesmas roupas da viagem de carro com a Garota, está sentado sozinho à mesa de um restaurante. Ele encara fixamente algum ponto bem próximo à câmera.

Nuvens. Céu azul. Um avião.

O ruído aumenta. Garoto continua a olhar fixamente para o mesmo ponto.

Nuvens, céu, avião, tudo faz parte da mesma pintura, pendurada na parede em frente a mesa do Garoto.

De repente: outro som aparece e saímos do transe. Uma criança passa em frente ao quadro, brincando com um caminhãozinho e fazendo barulhos estranhos com a boca.

O som ambiente volta ao normal.

A criança aproxima-se do Garoto e pousa o caminhão na mesa. Garoto segura o carrinho, impedindo a criança de continuar com a brincadeira. Ela pára o som de motor que fazia e arregala os olhos pra ele.

Garoto solta o carrinho e permanece em silêncio. A criança pega o brinquedo para si e senta na cadeira em frente. Eles se olham por um tempo.

GAROTOCadê sua mãe?

CRIANÇAEu to sozinho.

GAROTOEu também. Tô perdido.

Criança concorda com um gesto de cabeça.

CRIANÇAVocê não sabe cadê sua mãe?

GAROTOSei sim. Eu não sei o que eu quero fazer quando eu crescer.

CRIANÇAEu quero voar!

GAROTOCom um caminhão?

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CRIANÇAPorque não?

A criança empurra o caminhão pra ele e sai correndo da mesa.

INT. COZINHA - DIA - (IMAGENS REPETIDAS)

Estamos de volta ao Teaser. O calendário com o dia 27 circulado e o endereço copiado está na porta da geladeira.

INT. SALA DO APARTAMENTO - DIA - (IMAGENS REPETIDAS)

12:00.

12:01.

De ponta cabeça, um relógio está no chão.

Alguém está deitado no chão da sala, ainda não vemos seu rosto. No chão, ao lado de sua mão, jaz uma pedaço de papel. Uma brisa leve empurra-o para longe.

A pessoa se mexe e levanta com dificuldade. Sua silhueta se torna visível contra o céu azul da sacada. As nuvens lá trás parecem se mover mais rápidas que o normal.

P.O.V: Um retângulo com as proporções de uma tela de cinema e as bordas apagadas e desgastadas "enquadra" a sala.

Fora de foco, a sombra se mexe e caminha em direção a tela. A medida que se aproxima e atinge a zona focal, distinguimos suas feições faciais e completamos a imagem do Garoto.

Agora de barba feita e cabelo curto, o colar da Garota está em seu pescoço. Com a mesma cara de acabado do Teaser, ele encara a câmera, intrigado.

Assim como no Teaser, ele abaixa e pega algo no chão. Agora nós vemos: é a foto dele e da Garota abraçados.

Ele encara a câmera.

O retângulo está, na verdade, marcado sob a superfície do espelho. É a fita que antes segurava a foto ali. O jovem continua intrigado com seu reflexo.

FADE OUT.

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