Amor à Sabedoria

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Revista de Filosofia Ano lectivo Ano VIII - N.º 1 2013/ 2014 Amor à Sabedoria Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares 14-03-2013 Isabel Marques

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  1. 1. Revista de Filosofia Ano lectivo Ano VIII - N. 1 2013/ 2014 Amor Sabedoria Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares 14-03-2013 Isabel Marques
  2. 2. Ficha Tcnica Organizao: Grupo 410 - Filosofia Colaborao de Turmas: 5. D-E; 7. F; 8. G-H; 10. B-D-C; 11. E; 12. C; EFA ST 5&6. Colaboradores: Ana Carolina; Alexandra Faria; Carina; Carlos Abreu; Diogo; rica; Fti- ma Sousa, Graa Faria; Graa Magalhes; Ins Almeida; Isa Faria; Jssica Abreu; Joa- na; Laura; Leandro; Leandro Batista; Leontina Santos; Lus; Lus Freitas; Maria Luzia; Maria Zita Abreu; Mariana; Martinho Macedo; Miguel; Milagros; Nuno; Srgio; Sofia; Trindade Camarata, Vtor e Virginie. Capa: Isabel Marques Reviso: Martinho Macedo e Lus Freitas Revista de Filosofia Ano: VI Nmero: 1 Sumrio Pgina Editorial ......03 Alegoria da Caverna ......04 Reflexo sobre a relao entre a Cincia e o Homem .. 06 Preconceitos, Esteretipos e Representaes Sociais ......12 Opinio Pblica e Reflexo Crtica ........13 Liberdade .......15 O que ser tico-moral? ......17 Aborto .....21 A Vida Que Podemos Salvar ......23 Como contribuir para um mundo melhor? ....25 A inveja, um mal dos tempos de crise ...27 Quem se importa .....30 Despertar para o nosso patrimnio natural ....38 Identidades e Patrimnios Culturais ......41 40. Aniversrio da Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares ....39 Entrevista com a Leontina Santos ....53 Memrias de uma ex-aluna -Trindade Camarata ....64 Beno das capas ... ....72 Projeto As .....75 Ilustraes ....80 Desafios Lgicos ......89 Sugestes culturais ......91
  3. 3. Pgina 3 Amor Sabedoria Editorial Em primeiro lugar, quero agradecer em nome do Grupo de Filosofia o espe- cial empenho de todos os colaboradores que possibilitou o Amor Sabedoria. O ncleo temtico desta edio contempla Filosofia, tica, Patrimnio, Ani- versrio da Escola, Ilustraes e Passatempos. Desde a Antiguidade Clssica a metfora da caverna tem desempenhado um papel propedutico muito fecundo na redescoberta das dimenses da nature- za humana associada emergncia do pensar autnomo e radical. Na ao humana vislumbra-se a relao entre teoria e prtica e a responsa- bilidade dos agentes na rbitra dos direitos e deveres, daqui as vrias teorias filo- sficas sobre o livre arbtrio. O texto, O Anel de Giges, um ponto de partida para este horizonte temtico. Ampliando a interrogao a revista posiciona-nos diante da vida embrionria e convivncia social, sem descurar a necessidade de repensar o conceito de vida antropocntrico, dadas as alarmantes implicaes ecolgicas. O alerta anterior encaminha-nos para as questes do patrimnio e da memria, realidades que permanecem no presente estabelecendo uma ponte entre a fluidez do presente inacessibilidade do passado. So breves viagens representadas nos beirais, telhados, chamins, portas e janelas das habitaes construdas e nas memrias da Nossa Escola, que comemora quarenta anos de existncia, a partir das experincias de uma professora e de uma ex-aluna. Esta retrospectiva pode reavivar determinados valores e energias para transformar os problemas de indisciplina em oportunidades de desenvolvimento: A forma como ensinarmos as nossas crianas a resolverem os seus conflitos, definir, em parte, o sonho e o bem estar da sociedade futura. Mais importante que o incio, s o percurso. Martinho Macedo
  4. 4. Pgina 4 Alegoria da Caverna - educao da alma A Alegoria da Caverna fala sobre a educao da alma humana. Plato defende a possibilidade de cada ser humano descobrir o Bem verdadeiro. Ao escrever a Alegoria da Caverna, Plato narra-nos a forma de viver habitual do ser humano: os homens esto presos arrogncia, pensando que so os donos da verdade, mas afinal h um deles que descobre a prpria ignorn- cia. Para ter vontade de sair da caverna necessrio que cada ser humano pense por si prprio e descubra as prprias dvidas acerca do mundo, acerca do que realmente sabe, acerca de si prprio. A sada da ignorncia um trabalho individual, a partir da vontade de conhe- cer a verdade e de ser uma pessoa correta, verdadeira. H situaes que so exemplos desta forma de viver fechada na igno- rncia, como por exemplo, a corrupo, os assassinatos, os sequestros e assaltos, o trfico de seres humanos. As pessoas corruptas desviam o dinhei- ro das empresas ou de algum para terem mais poder ou para se vingarem de algo que consideraram uma injustia. Os assassinatos, sequestros e trfico de seres humanos envolvem, tambm, questes relacionadas ao poder, neces- sidade de se sentirem acima dos outros homens. No trfico seja de quem for e como for mulheres crianas ou outros indefesos sempre o desrespeito ao outro como ser humano, o uso do outro como se fosse um objeto manipu- lvel em funo dos prprios interesses. Todas estas e tantas outras situa- es so o resultado da crena em valores ilusrios pois em nada dignificam na verdade os que os praticam como Homens. Plato mostra-nos claramente que se algum soltasse um deles e o for- asse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoo, a andar e a voltar-se para a luz, sentiria dor e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Isto significa que os seres humanos vivem com o pensamento preso em hbitos que no questionam e quando a vida os leva a procurar respostas que esto fora dos seus hbitos, a dor instala-se porque h a
  5. 5. Pgina 5 Amor Sabedoria tentativa de manter as coisas como sempre foram, embora tal j no seja possvel. Inicia-se assim um novo percurso em direo liberdade. A tomada de conscincia da ineficcia do antigo caminho por si alimenta a dor, mas ao mesmo tempo alimenta a coragem de mudar de comportamento. Assim, mesmo os criminosos, porque so seres inteligentes podem acordar e perceber que h outras formas de viver mais felizes. Claro que essa mudana dif- cil porque os hbitos esto enraizados na sua mente. Plato defende que, a pouco e pouco, os prisioneiros de ideias erradas podem sair da antiga maneira de pensar e modificarem as suas vidas. Ricardo Davide Sousa Silva, n 10596, 10 B - ano letivo 2013/14 Alegoria da Caverna - realidade ou iluso? A Alegoria da Caverna levanta um problema que hoje se mantm atual: ser que o que vemos ou percebemos da realidade aquilo que realmente ou ser que a perspetiva que alimentamos acerca da realidade no passa de uma iluso? O ser humano d a ideia, muitas vezes, que prefere viver na sua prpria iluso, porque mais fcil viver no mundo da mentira do que aceitar a verdade. Escolher o mais fcil, como esperar uma boa nota, sem trabalhar, uma destas iluses. Muitas vezes, o ser humano resiste verdade e fixa-se em ideias do senso-comum, sem proceder a uma anlise racional e crtica acerca do que acontece, acerca do que faz, acerca do que pensa. Assim, deixa-se guiar pela rotina, crenas e tradies que acredita serem intocveis. O preconceito, o orgulho, o medo, a vergonha e o cime, na maioria das vezes, no deixam ver as coisas como realmente so e iludem - a quem se deixa iludir - com ideias incorretas acerca da vida. A filosofia tem o papel de ajudar-nos a re-orientar o nosso olhar em direo verdade e a libertarmo-nos do pseudo-saber, da mediocridade. Pensar por ns pr- prios, procurar orientao para a existncia, construir um projeto de vida, construir a nossa identidade atravs do saber, conjugando conhecimentos com uma exigncia tica racional o dever de cada ser humano na sua caminhada no tempo. Alexandra Maria Faria Serro 10.B - ano letivo 2013/ 14
  6. 6. Pgina 6 Reflexo sobre a relao entre a Cincia e o Homem Mas o homem branco no presta ateno. Como poderia o esprito da Terra gostar do homem branco? Onde quer que lhe toque, nela h-de deixar uma chaga. Tuiavii chefe da Tribo de Tiava O Homem, prepotente e arrogante, o primata do xito absoluto. o conquistador por excelncia, julgando, por isso, ser o soberano administrador da Criao. Porm, interpreta tudo como mero objeto, obsequiado domina- o do olhar. Para este ser, que se cr civilizado, a Natureza vista atravs de um olhar mecnico e determinista, sendo, simplesmente, matria bruta a aguardar para ser manipulada. Tudo o que encara instrumento e meio para, descurando-se todos os outros impulsos que completam a vida humana. Esta viso, simplista e reduto- ra da realidade, na qual s o uso critrio de avaliao, conduziu impercept- vel e infalivelmente, o Homem encruzilhada em que se encontra extraviado. O Homem ocidental, privilegiando o quantificvel e o mensurvel, encontra-se condicionado pela cincia e pela tcnica que o envolve, a qual determina o seu modo de pensar e de interagir. Para este Homem, uma exigncia, do esprito humano (ocidental), ter uma representao do mundo unificada e coerente (Franois Jacob), outor- gada pelo saber verificvel, atravs do qual luta para se libertar das amarras com que a Natureza aprisiona os outros animais. Por conseguinte, a cincia investiga sem descanso os mistrios da Natureza e, a partir de uma conceo redutora da realidade, uma vez que a submete a um esquema terico univer- sal que reduz a sua riqueza e diversidade melanclica aplicao de leis gerais, invariveis e constantes, permite ao Homem compreender, explicar e prever o desenrolar de fenmenos, o que lhe confere poder, porm ao preo de reduzir o mundo a meras equaes. A cincia, todavia, um bem intrnse- co. A aplicao prtica dos conhecimentos cientficos que est a facultar ao (continua)
  7. 7. Pgina 7 Amor Sabedoria Homem um controlo crescente das foras da Natureza e da mente humana, a fim de nela produzir as transformaes que julga necessrias, escapando ao determinismo das leis naturais que sentenciaram a morte de outras civilizaes. O que move o homem de cincia, animal para o qual s o suprfluo necess- rio, a exemplo do tcnico, a sede de uma vontade de poder disfarada em apetite de saber. (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers). E, assim, em funo de desejos capri- chosos, impregna a sociedade de mquinas e de tcnica fazendo com que se repro- duza num crescente conjunto de coisas e relaes, que inclui a utilizao tcnica do Homem, o qual caminha, portanto, de olhos abertos para a escravido. O avano da tecnocincia, omnipresente no quotidiano, gerou sociedades forte- mente industrializadas em que o modelo da racionalidade cientfica se impe s pr- prias relaes humanas, originando novos formatos do universo cultural, novos valo- res e cdigos jurdicos. Contudo, os controlos tecnolgicos parecem ser a prpria personificao da Razo. O Homem vive dominado e configurado pela cincia, a qual, com efeito, supre e cumpre nas sociedades modernas o papel normativo e integrador que fora, outrora, desempenhado pela religio. A cincia , hoje, ao mesmo tempo produtora e produto da sociedade. A atualidade subsiste alimentada de factos cientficos e tcnicos que ritmam a vida industrial, econmica, social e poltica das naes. Todavia, a tecnocincia tem sido objeto de reflexes e controvrsias. Uns realam que dela jorra todo o progresso da humanidade; a libertao do peso da tradio e do trabalho; os meios necessrios formao e emancipao do Homem, ocupando, deste modo, um lugar mtico no imaginrio dos indivduos, semelhana de um deus que age de forma misteriosa. Outros apedrejam-na, vendo nela a origem donde emanam todos os males. A produtividade e a eficcia, apresentando-se inerentes tecnocincia; a capa- cidade para disseminar comodidades, para transformar a destruio em construo, reduziram a ameaa de alguns dos mais velhos flagelos do Homem, pondo ao seu alcance a explorao do espao interplanetrio e a multiplicao da riqueza e dos (continua)
  8. 8. Pgina 8 recursos disponveis. A tecnocincia revolucionou a agricultura, duplicando a produo mun- dial de gro entre 1959 e 1971. Mas pode ela continuar a alimentar a crescen- te populao mundial, sem causar danos inaceitveis ao ambiente? Por outro lado, de vez em quando, olhamos com nostalgia para um passado sem agita- o, sem rudo, sem contaminao, mas esquecemos o risco seriamente maior de morte precoce que pairava sobre os nossos antepassados. Agora, o laser assiste o cirurgio e bactrias reprogramadas pelo gnio gentico fabricam substncias que lutam contra o cancro; as conquistas da investigao biomdica possibilitam dominar a fecundidade e conjeturar defi- cincias. A cincia poder ser um espelho da Natureza, mas no um espelho pla- no; pelo contrrio, curvo e distorcido pela viso do mundo daqueles que a dominam. Hoje, como ontem, o bem-estar, to prometido pela cincia e a tc- nica, no foi mais que uma mera miragem, tendo sido acentuadas nos cora- es a ganncia, a ansiedade e a frustrao. A excessiva industrializao, a transformao das pessoas em mquinas ou em nmeros proporcionam um poder crescente aos Estados e, por seu turno, proliferao do trabalho escravo. Muitas vezes, s imagens pblicas da tecnocincia liga-se o desempre- go, no o divertimento; a poluio, no a sade; o aumento do controlo sobre a vida, e no uma extenso da liberdade. O operrio obrigado a harmonizar- se ao ritmo da sua mquina e a servi-la num ciclo que quebra o seu equilbrio fisiolgico. A durao do trabalho no diminuiu. Os insetos tornam-se imunes aos pesticidas e contaminam os seres vivos; os micrbios criam resistncias. As florestas recuam e os bosques transformados em parques de estaciona- mento. As tecnologias so usadas pelo poder poltico e econmico para institu- cionalizarem formas subtis de explorao dos indivduos e dos povos. Por detrs da abundncia e do apelo ao consumo, esconde-se a intole- rncia face diferena, o medo e o conformismo, como contraponto necess- rio produtividade. (continua)
  9. 9. Pgina 9 Amor Sabedoria Hoje, vivemos, igualmente, uma nova ameaa. Face manipulao gentica, como no ver a tentao eugnica a perfilar-se no horizonte, a identidade da huma- nidade a vacilar, o respeito vida sacrificado s experincias e s manipulaes ili- mitadas? Para alguns, o princpio da cincia realizar tudo o que possvel (Francis Bacon) contudo h cada vez mais cientistas e filsofos a afirmarem que H [] coi- sas que era melhor no fazer (Einstein). So raros os domnios em que no se colo- cam questes que pem em causa os valores morais. Nem tudo aquilo que tecnicamente possvel moralmente admissvel. Quanto mais sabemos tanto menos desse saber deve ser por ns aplica- do. (Manfred Eigen) necessrio reclamar uma srie de paragens. Paragem na possibilidade de conhecimento pela interminvel dissecao de animais; paragem desta inquieta e frequente irracional vontade de experimentao, particularmente na rea da manipu- lao gentica. Porque o conhecimento dos mecanismos que presidem o desenvolvimento dos seres vivos pode conduzir tentao de se criar raas puras, exterminando-se os menos aptos ou de se produzir indivduos-mquinas, arruinando a capacidade de opo e liberdade, caracterstica da pessoa humana. Porm, a oposio e a crtica so desencorajadas, e at banidas pelo sistema, de forma dissimulada e subtil, que submetendo tudo e todos a critrios economicis- tas, controla e domestica os indivduos, reduzindo-os condio de objetos e seres annimos sem alma. , portanto, urgente e necessrio restaurar o primado da tica que no deve ser assunto apenas para os filsofos ou telogos. O mundo da cincia e da poltica deve participar numa reflexo coletiva sobre os limites dos poderes do Homem sobre o Homem, sobre essa zona da pessoa onde deveria ser interdito entrar. No entanto, no cabe apenas aos cientistas ou aos polticos estabelecer as normas orientadoras da prtica cientfica. Cabe a todos ns cidados apelar res- ponsabilidade das pessoas envolvidas na tomada dessas decises. A cincia e a tcnica devem contribuir para a construo de uma sociedade mais justa em que a igualdade e a fraternidade bem como a liberdade sejam mais do (continua)
  10. 10. Pgina 10 que meras palavras; de uma sociedade sem classes, na qual todos os seres humanos, elevados categoria de co-proprietrios dos meios de produo, possam trabalhar em conjunto para garantir o bem-estar, a riqueza e a liber- dade para todos os homens. S assim, podemos perspetivar novos progres- sos para o Homem e para a sociedade; metas socialmente aceites, que apon- tem e promovam a responsabilidade do cientista, que encorajem o esclareci- mento e a participao pblica dos cidados no sentido do respeito pelos direitos humanos, que afirmem e promovam a autonomia da cincia face a instituies e movimentos totalitrios que pretendam usar o poder para cir- cunscrever a capacidade de interveno cvica dos seres humanos, limitando- os condio de instrumentos ao servio de interesses particulares. Porque, a responsabilidade do Homem estende-se ao futuro e s outras espcies: a sua responsabilidade csmica. Existem problemas [que] se referem ao conhecimento que [a cincia] produz, ao que determina, s sociedades que transforma. Esta cincia libertadora traz ao mesmo tempo possibilidades terrveis de subjuga- o (Edgar Morin). A cincia, hoje, aparece como um corpo estranho no interior da cultura, cujo crescimento canceroso prenuncia destruir a vida. A corrupo da cincia, controlada pelo poder poltico e econmico, submete todos os valores aos seus interesses e desgnios, e continuar enquanto existirem dirigentes que dediquem a vida morte, o saber igno- rncia, que ponham a cultura aos ps de quem a destri e prostitui, dispostos a lamber as botas ou a adorar o bezerro de ouro, para obterem trinta moedas e comprarem aparelhos e homens. No nos iludamos: A cincia no detentora da verdade absoluta, como ela se julga. Por- tanto, chegou a altura de exigir que ela se submeta a uma escolha democrti- ca dos cidados, pois nada to perigoso como a certeza de se ter razo, nada causa tanta destruio como a obsesso duma verdade considerada absoluta. (Franois Jacob) (continua)
  11. 11. Pgina 11 Amor Sabedoria A satisfao da necessidade de paz, de justia, de felicidade, releva de esco- lhas ticas e no do conhecimento cientfico. necessrio que a cada passo reflitamos sobre o que fazemos. Vivemos atual- mente numa era em que, como nunca at hoje, tantas ameaas convergiram sobre o planeta, mas o inimigo no outro seno ns prprios. Devamos exigir e trabalhar para que a cincia esteja ao servio da paz e da distribuio justa dos seus benef- cios. Mas no No compreendo E por isso pergunto-me: At onde poder ir o Homem na sua nsia de alargar o conhecimento? Quando existem coisas que no foram criadas para serem conhecidas, mas sim contempladas. Hoje continuo, portanto, a [crer] nos sonhos, pois neles est escondida a porta da eternidade [Khalil Gibran]; hoje continuo, particularmente, a crer no sonho de um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferen- tes e totalmente livres. [Rosa Luxemburgo] Milagros
  12. 12. Pgina 12 Preconceitos, Esteretipos e Representaes Sociais Os preconceitos esto presentes no nosso dia a dia, acho que todos ns temos preconceito de algo, por mais que digamos que no, existe e est presente, penso que s nos damos conta que somos preconceituosos quando lidamos com algum assunto. Por exemplo, h dias apareceu-me um tipo porta a pedir dinheiro para uma criana que dizia ser sua filha e estava cancerosa. O indivduo era de nacio- nalidade romena, achei-o muito suspeito. Resumindo, no o ajudei, porque no sei se verdade ou no a histria dele. O que ouo, normalmente, que existem mui- tas burlas, pessoas que se fazem passar por familiares de doentes com cancro ou outro tipo de doenas, com o objetivo de extorquir dinheiro s pessoas. Nisto ouve- se falar frequentemente e os cidados romenos so os que mais o fazem, aquelas mafias de leste. Por isso por uns pagam todos, o preconceito est presente nesta situao. E se ouvimos dizer que determinada pessoa consome drogas, traficante e at mesmo chega a ser ladro, a nossa atitude pr esta pessoa de lado e nem olhar para ela. Aqui est presente a discriminao, o esteretipo. Alis o filsofo Scrates mencionou isso, quando disse que o punham de parte por saber que nada sabia, quando defendia a sua opinio, pensamento. O poder da discrimina- o existe muito no nosso dia-a-dia. As diferentes representaes sociais tambm esto presentes e existem tambm preconceitos e esteretipos em relao a elas. Quantas vezes olhamos para um indivduo de outra religio ou crena e achamo-lo esquisito, isto porque tem um tom de pele diferente, uma maneira de vestir diferente ou at mesmo por ter outra religio. Outro assunto que est na atualidade a homossexualidade, antes era um tabu e hoje deixou de o ser, mas o preconceito e o esteretipo est presente na maior parte das nossas opinies, por mais que digamos no ter nada contra, aceito-os perante a sociedade, mas quando na realidade existe um carinho em pblico o preconceito fala mais alto e as nossas mentalidades no esto ainda preparadas para tal ato. Tal como nos mostrado no filme Fahrenheit 451, tambm pode-se mudar as mentalidades, pode-se ver as coisas de outro modo, o facto de Montag ser bom- beiro e tinha por objetivo destruir todos os livros, acaba por se apaixonar pelos mesmos, porque Clarisse o fez perceber que a mentalidade e a opinio sobre os livros no era como pensavam. Este filme uma pequena amostra de muitas men- talidades fechadas que s tm olhos e foram educados para um determinado obje- tivo e tudo o que possa ser alternativo que possa mudar ou fazer a diferena tem que ser eliminado. Assim aconteceu com Scrates. Ele foi um potencial revolucio- nrio das mentalidades e foi um alvo rpido a abater para que isso no aconteces- se. Resumindo, somos um povo preconceituoso, com uma mentalidade fechada que, dificilmente, deixar de o ser enquanto no existir educao para tal. Isa Faria, EFA ST 5&6 7 de janeiro de 2013 Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
  13. 13. Amor Sabedoria Pgina 13 Opinio Pblica e Reflexo Crtica Hoje podemos assistir a uma exagerada e forada influncia televisiva, pois atravs desta que muitos formam a sua opinio e adotam estilos. Com isto o que quero dizer que, por exemplo, a malta mais jovem era viciada numa srie de televiso Morangos com Acar. Na minha perspetiva esta srie tinha tudo menos de um programa educativo, abordavam temas onde demonstravam como faziam as cenas. A juventude comeou a adotar os ensinamentos que esta srie transmitia. Outro exemplo da televiso que faz com que as pessoas adotem estilos a casa dos segredos. A forma como eles se vestem, o estilo do bon, dos bluses, dos culos etc Comecei a ver a canalha toda com este estilo, at a minha sobrinha falava comigo para eu ver se encontrava determinado artigo para ela usar. Como no sabia o nome daquilo que para mim so culos, bons e bluses, para ela tinha um nome estrangeiro face ao qual eu ficava s aranhas. Com isto o que quero dizer que a malta nova procura usar um estilo que viu numa figura pblica, pois atravs destas figuras que as marcas de roupa vendem, porque elas adotam estilos para transmitir aos outros. At pode ser o estilo mais horroroso, mas como fulano tal usou, diz-se que moda e fica giro. Outro ponto que antigamente era feio e gozado era o aparelho nos den- tes, quando comeou a aparecer na televiso figurinhas com os aparelhos s cores, toda a malta tambm quis colocar um na dentua independentemente da idade. Por isso existe muita influncia por parte da televiso, internet, revis- tas etc. Eis o peso da comunicao sobre a influncia e estilo das pessoas. Quando o Tuiavii, o chefe dos povos dos Mares do Sul, diz que homem branco ganancioso, porque s v dinheiro frente, ele tem toda a razo, porque por detrs de uma srie de coisas est um enorme interesse econmi- co. Hoje em dia nada verdadeiro e original, tudo um estilo plagiado de outros, at a mulher j no gosta do seu corpo necessita de plsticas para o embelezar, vivemos numa sociedade onde o nosso prprio estilo no conta para nada, mas sim o estilo e a opinio dos outros so sem dvida a forma a adotar. Abaixo demonstro exemplos disso. (continua) Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
  14. 14. Pgina 14 Na imagem seguinte a fulana teve a necessidade de aumentar o peito e rabo o que, na realidade, o seu exagero ficou ridculo. Imagem extrada do site http://www.novagente.pt/b8183b1/ mod_artigos_obj_moda.aspx?sid=f47f9ddd-ba79-4667- a14b-7a81d0334b88&cntx=FoNyR% 2FZKavifnlZR0XI1KpAnF9Y- LIQ8SG4dFYByZ1MmJwS8sH9eLdVN2IuSj3j36 Imagem extrada do site http:// www.aceshowbiz.com/ events/Cali%20Swag% 20District/cali-swag-district- 11th-annual-bet-awards- press-room-01.html Este estilo muito adotado atualmente, casaco basebol e bon estilo americano, os culos. Esta uma linha adotado no s pela juventude como tambm pelas figuras pblicas. Isa Faria, EFA ST 5&6 7 de janeiro de 2013
  15. 15. Amor Sabedoria Pgina 15 LiberdadeLiberdadeLiberdade Ser o Homem realmente livre no seu querer e agir? Haver mesmo liberdade ou ser a liberdade da vontade uma ilu- so? Como se pode provar a existncia da liberdade? Na tentativa de encontrar respostas para estas perguntas surgiram trs teorias filosficas: o deter- minismo radical, o libertarismo e o determinismo moderado. As duas primeiras so incompatibilitas pois no admitem a possibilidade de con- ciliao entre a sermos livres e sermos constrangidos ou determinados a sermos como somos. Pelo contrrio a ltima compatibilista pois afirma que possvel conci- liar a liberdade de escolha com a existncia de determinismos fsicos que por exem- plo operam sobre o nosso corpo, assim como todos os corpos do universo: somos livres se agirmos sem constrangimentos internos e/ou externos que nos impeam de fazer o que queremos. Defendemos que nascemos e vivemos livres: somos donos da vontade e quem no o , deveria s-lo. Na verdade, nada nos prende. Somos capazes de fazer as nossas escolhas gra- as nossa capacidade de raciocinar e de deliberar e como tal no existem causas do nosso passado que determinem as nossas aes. Nas mltiplas situaes da Vida temos possibilidade de escolha, alternativas que podemos descobrir pelo exerccio da razo. Deliberamos racionalmente e assumimos a responsabilidade sobre aquilo que escolhemos fazer, em detrimento de outras possibilidades. Se no tivssemos alternativas, como poderamos atribuir responsabilidade a algum? Como que poderia haver mrito ou culpa? Se decidimos estudar em vez de ir s compras, ser que no temos mrito? (continua)
  16. 16. Pgina 16 claro que sim. Independentemente dos acontecimentos do passado, fomos ns, como seres autnomos, que decidimos ir estudar e, por isso, tomamos uma deciso responsvel. Como podemos condenar criminosos se a estes no for atribuda responsabilidade? Se no houvesse responsabilidade a atribuir, no faria sentido a existncia de tribunais. Sendo assim, podemos afirmar que quem defende a teoria que recusa a responsa- bilidade moral (determinismo radical) considera a existncia de tribunais completamente desnecessria. Uma objeo que se coloca defesa da existncia da liberdade da vontade baseia-se numa anlise de carter cientfico, argumentando que tal como evidencia a cincia ao analisar os fenmenos naturais, tudo o que acontece desencadeado por acontecimen- tos anteriores. Para dar resposta a esta objeo podemos afirmar que os seres humanos pos- suem alma e esta transcende as leis da Natureza, dado que no de natureza material. Como tal defendemos que os seres humanos no esto sujeitos s Leis da Natureza, como os outros sistemas fsicos esto. Defender a liberdade defender a dignidade humana pois somos seres pensan- tes, racionais e conscientes e por isso temos a possibilidade de escolher o que verda- deiramente bom. Mesmo coagidos pela eminncia de consequncias extremas como a morte, ainda a temos a possibilidade de escolha e podemos no ceder presso exer- cida sobre ns. Somos livres e seres responsveis. Maria Zita Abreu e Ins Almeida, 10B, ano letivo 2012/ 13 Fotografias de Gerard Castello Lopes
  17. 17. Amor Sabedoria Pgina 17 Pensa na possibilidade de possures um anel que te torna invisvel O que um ser tico - moral? O Anel de Giges Plato Falar a favor da justia, como sendo superior injustia, ainda no o ouvi a nin- gum, como meu desejo pois desejava ouvir elogi-la em si e por si. Contigo, sobretudo, espero aprender esse elogio. Por isso, vou fazer todos os esforos por exaltar a vida injusta; depois mostrar-te-ei de que maneira quero, por minha vez, ouvir- te censurar a injustia, e louvar a justia. Mas v se te apraz a minha proposta. Mais do que tudo respondi . Pois de que outro assunto ter mais prazer em falar ou ouvir falar mais vezes uma pessoa sensata? Falas maravilha disse ele . Escuta ento o que eu disse que iria tratar pri- meiro: qual a essncia e a origem da justia. Dizem que uma injustia , por natureza um bem, e sofr-Ia, um mal, mas que ser vti- ma de injustia um mal maior do que o bem que h em comet-Ia. De maneira que, quando as pessoas praticam ou sofrem injustias umas das outras, e provam de ambas, lhes parece vantajoso, quando no podem evitar uma coisa ou alcanar a outra, chegar a um acordo mtuo, para no cometerem injustias nem serem vtimas delas. Da se originou o estabelecimento de leis e convenes entre elas e a designa- o de legal e justo para as prescries da lei. Tal seria a gnese e essncia da justi- a, que se situa a meio caminho entre o maior bem no pagar a pena das injustias e o maior mal ser incapaz de se vingar de uma injustia. (continua)
  18. 18. Pgina 18Pgina 18 Estando a justia colocada entre estes dois extremos, deve, no preitear-se como um bem, mas honrar-se devido impossibilidade de praticar a injustia. Uma vez que o que pudesse comet-Ia e fosse verdadeiramente um homem nunca aceita- ria a conveno de no praticar nem sofrer injustias, pois seria loucura. Aqui tens, Scrates, qual a natureza da justia, e qual a sua origem, segundo voz corrente. Sentiremos melhor como os que observam a justia o fazem contra vonta- de, por impossibilidade de cometerem injustias, se imaginarmos o caso seguin- te. Dmos o poder de fazer o que quiser a ambos, ao homem justo e ao injusto; depois, vamos atrs deles, para vermos onde a paixo leva cada um. Pois bem! Apanh-lo-emos, ao justo, a caminhar para a mesma meta que o injusto, devido ambio, coisa que toda a criatura est por natureza disposta a procurar alcanar como um bem; mas, por conveno, forada a respeitar a igualdade. E o poder a que me refiro seria mais ou menos como o seguinte: terem a faculdade que se diz ter sido concedida ao antepassado do Ldio [Giges]. Era ele um pastor que servia em casa do que era ento soberano da Ldia. Devido a uma grande tem- pestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por l e contem- plou, entre outras maravilhas que para a fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando atravs das quais viu l dentro um cadver, aparentemente maior do que um homem, e que no tinha mais nada seno um anel de ouro na mo. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi l tambm, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direco parte interna da mo, e, ao fazer isso, tornou-se invisvel para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mo pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visvel. Tendo observado estes factos, expe- rimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engas- te para dentro, se tornava invisvel; se o voltasse para fora, ficava visvel. Assim senhor de si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto (continua)
  19. 19. Pgina 19Amor Sabedoria do rei. Uma vez l chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxlio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder. Se, portanto, houvesse dois anis como este, e o homem justo pusesse um, e o injusto outro, no haveria ningum, ao que parece, to inabalvel que permane- cesse no caminho da justia, e que fosse capaz de se abster dos bens alheios e de no lhes tocar, sendo-lhe dado tirar vontade o que quisesse do mercado, entrar nas casas e unir-se a quem lhe apetecesse, matar ou libertar das algemas a quem lhe aprouvesse, e fazer tudo o mais entre os homens, como se fosse igual aos deu- ses. Comportando-se desta maneira, os seus actos em nada difeririam dos do outro, mas ambos levariam o mesmo caminho. E disto se poder afirmar que uma gran- de prova de que ningum justo por sua vontade, mas constrangido, por entender que a justia no um bem para si, individualmente, uma vez que, quando cada um julga que lhe possvel cometer injustias, comete-as. Efectivamente, todos os homens acreditam que lhes muito mais vantajosa, individualmente, a injustia do que a justia. E pensam a verdade, como dir o defensor desta argumentao. Uma vez que, se algum que se assenhoreasse de tal poder no quisesse jamais come- ter injustias, nem apropriar-se dos bens alheios, pareceria aos que disso soubes- sem muito desgraado e insensato. Contudo, haviam de elogi-lo em presena uns dos outros, enganando-se reciprocamente, com receio de serem vtimas de alguma injustia. Assim so, pois, estes factos. Quanto escolha, em si, entre as vidas de que estamos a falar, se conside- rarmos separadamente o homem mais justo e o mais injusto, seremos capazes de julgar correctamente. Caso contrrio, no. Qual ento essa separao? a seguinte: nada tiremos, nem ao injusto em injustia, nem ao justo em justia, mas suponhamos que cada um deles perfeito na sua maneira de viver. Em primeiro lugar, que o injusto faa como os artistas qualificados como um piloto de primeira ordem, ou um mdico, repara no que impossvel e no que possvel fazer com a sua arte, e mete ombros a esta tarefa, mas abandona aquela. E ainda, se vacilar nalgum ponto, capaz de o corrigir. Assim tambm o homem injusto deve meter ombros aos seus injustos empreendimentos com correco, passando despercebi- do, se quer ser perfeitamente injusto. Em pouca conta dever ter-se quem for apa- nhado. Pois o supra-sumo da injustia parecer justo sem o ser. Dmos, portanto, (continua)
  20. 20. Pgina 20 ao homem perfeitamente injusto mais completa injustia; no lhe tiremos nada, mas deixemos que, ao cometer as maiores injustias, granjeie para si mesmo a mais excelsa fama de justo, e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar, por ser suficientemente hbil a falar, para persuadir; e, se for denunciado algum dos seus crimes, que exera a violncia, nos casos em que ela for precisa, por meio da sua coragem e fora, ou pelos amigos e riquezas que tenha granjeado. Depois de imaginarmos uma pessoa destas, coloquemos agora mentalmente junto dele um homem justo, simples e generoso, que, segundo as palavras de squilo, no quer parecer bom, mas s-lo. Tiremos-lhe, pois, essa aparncia. Porquanto, se ele parecer justo, ter honrarias e presentes, por aparentar ter essas qualidades. E assim no ser evidente se por causa da justia, se pelas ddivas e honrarias, que ele des- se modo. Deve pois despojar-se de tudo, excepto a justia, e deve imaginar-se como situado ao invs do anterior. Que, sem cometer falta alguma, tenha a reputao da mxima injustia, a fim de ser provado com a pedra de toque em relao justia, pela sua recusa a vergar-se ao peso da m fama e suas consequncias. Que cami- nhe inaltervel at morte, parecendo injusto toda a sua vida, mas sendo justo, a fim de que, depois de terem atingido ambos o extremo limite, um da justia, outro da injustia, se julgue qual deles foi o mais feliz. Cus! Meu caro Glucon! exclamei . Com que vigor te empenhas em limpar e avivar, como se fosse uma esttua, cada um dos dois homens, a fim de os subme- ter a julgamento! Plato Traduo de Maria Helena da Rocha Pereira. Adaptao de Vtor Joo Oliveira. Reti- rado de Repblica. Lisboa: Gulbenkian, 4 ed., 1983, pp. 55-60.
  21. 21. Pgina 21Amor Sabedoria ABORTO Este texto tem como objectivo dar a conhecer a minha opinio perante este tema e convencer os leitores que o aborto algo absurdo. O aborto ou interrupo da gravidez a remoo ou expulso prematura de um embrio ou feto do tero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto pode ocorrer de forma espontnea ou induzida, provocando-se o fim da gestao, e consequentemente o fim da actividade biolgica do embrio ou feto, mediante uso de medicamentos ou realizao de cirurgias. A discusso deste assunto importante, pois a vida humana que est em jogo. o aborto moral? H duas respostas possveis para este problema: o aborto moral pois o feto parte do organismo materno e a mulher tem livre disposio de seu corpo e o aborto no uma prtica moral porque todos os seres humanos tm o mesmo direito vida. Eu defendo que o aborto no moral porque todos os seres humanos tm o mesmo direito vida e os fetos so seres humanos. Matar deliberadamente quem tem direito vida errado e o aborto consiste em matar fetos deliberadamente. Est provado cientificamente que aos 40 dias j possvel detetar atividade cerebral atra- vs de um EEG; s 12 semanas o feto demonstra j ter adquiridos aspetos reflexos de comportamento como a suco; por volta das 17 semanas reage a sons fortes, bem como reage voz da me; s 24 semanas as papilas gustativas parecem j es- (continua)
  22. 22. Pgina 22 tar aptas a funcionar; s 28 semanas consegue abrir e fechar os olhos de forma reflexa (piscar); s 30 semanas distingue a luz da escurido e capaz de seguir um foco de luz apontado barriga da me; j capaz de agarrar o cordo umbili- cal e outras partes do corpo intencionalmente e fechar a palma da mo volta delas. Uma pessoa que defende que o aborto uma prtica moral defender que a me deve poder decidir que rumo dar situao, como em casa de violaes, casos de deteco de doenas graves no feto, ou se a gravidez prejudicar a sade da me, isto , se houver risco de vida para a me no parto. Responderei a esta objeo defendendo que os seres humanos, seres racionais que so, tm de assumir as responsabilidades e arcar com as consequncias, sejam elas quais forem, sob pena de colocarem em risco a dignidade humana. Racionalmente, no posso aceitar o assassnio de um ser humano. Ftima Catarina Ferreira de Sousa, 10 D, ano letivo 2012 / 13 Imagem de: http://api.ning.com/fles/5Y36hMbSNo*ko6p4jdd7aRvm0M9dZ5BKnoz ZYirlmdgjn6*fWw*vnIq55Io7HSNiL26P3y1BYnYqjD5LA 2PZBprD*UKt702a/aborto.jpg
  23. 23. Amor Sabedoria Pgina 23 A propsito do livro: A Vida Que Podemos Salvar, de Peter Singer (Traduo de Vtor Guerreiro), Lisboa: Gradiva, 2011, 252 pp. Ser que temos a obrigao tica de ajudar quem vive na pobreza absoluta? Antes de mais, considero que ajudar - seja, na pobreza ou na riqueza - um dever do cidado civil. O cidado no s tem direitos como tem deveres e um deles a entreajuda ao outro. Esta questo faz-me pensar no quanto, por vezes, somos egostas, mes- mo sendo solidrios. Com isto quero dizer que, tal como no texto que li, posso estar a usufruir de bens que podia perfeitamente dispensar para ajudar algum. Por exemplo, quando compro uma tablete de chocolate ou at um sumo, no pen- so que com aquele mesmo valor poderia matar a fome de algumas pessoas/ crianas dos pases pouco desenvolvidos (pobres). No penso que com a quanti- dade de acar ingerida por mim numa tablete de chocolate pudesse fazer as del- cias de muitas pessoas. No me posso considerar mau cidado por isso, mas pos- so comear a ter mais conscincia dos meus atos e tornar-me um cidado cada vez melhor. Alis, quando falamos em obrigao tica para com os outros penso que no se deve referir s ao facto de sermos corretos em algumas situaes, como man- (continua)
  24. 24. Pgina 24Pgina 24 dar alguns donativos de ajuda ou at mesmo quando somos voluntrios em recolhas de alimentos ou de outros tipos de mantimentos. O que no podemos esquecer que, hoje, mesmo estando na situao em que estamos (crise econmica), somos considerados ricos. Digo isto pelo seguinte: ns estudantes do 10G, tivemos pelo menos 10 anos de escolaridade em que sem- pre tivemos formao de forma gratuita, tivemos livros, cadernos, acompanhantes nos estudos, etc, de forma abundante; enquanto noutros pases nem sequer conse- guem ter educao escolar; muitos nem sabem o que so lnguas nem fazem ideia que existem disciplinas. Ns somos egostas no sentido em que temos tudo e no damos o valor quando recusamos por exemplo ir a um apoio de determinada mat- ria. Se todos ns envissemos os nossos materiais usados para os pases pobres, tais como roupas ou calados estvamos a contribuir para uma vida um pouco melhor e acolhedora dos que l vivem. Por outro lado, sabemos que, muitas vezes, no h s falta de alimentos e de formao escolar, como tambm no possvel sequer a higiene pessoal: ns temos o privilgio de ter gua potvel e conseguimos mantermo-nos limpos e hidra- tados, mas existem lugares em que nem possvel sequer beber gua, quanto mais tomar banho. Assim, com a falta de higiene e de boa alimentao comeam a apa- recer algumas doenas associadas tais como a malria, o sarampo e a varola e problemas na pele. Para alm disso, precisamos de nos lembrarmos que, em muitos lugares, os acessos aos hospitais ou postos de socorro/sade no podem ser per- corridos. Considero que temos a obrigao tica de ajudar nestes sectores para comba- ter a pobreza absoluta. Como seres racionais que somos, devemos considerar importante este tema pois faz parte do nosso Mundo: do Mundo Humano, mesmo distante fisicamente. Temos a obrigao de ajudar a melhorar a qualidade de vida, at para a nossa prpria paz de esprito. Costuma-se dizer que quando praticamos o bem recebe-se o bem. Os textos de Peter Singer conseguiram pr-me a refletir na questo inicialmen- te apresentada: Ser que temos a obrigao tica de ajudar quem vive na pobreza absoluta? (continua)
  25. 25. Pgina 25Amor Sabedoria O seu objetivo foi cumprido ao sensibilizar-me e fazer-me pensar nas minhas esco- lhas, de modo a dar mais de mim para ajudar a reduzir a pobreza extrema que o nosso mundo enfrenta hoje. No posso esquecer que ns somos o futuro: eu sou o futuro e posso ajudar a melhorar o mundo. Eu sou voluntrio e continuarei a s-lo! Daniel Freitas, 10G, ano letivo 2012/ 13 Como contribuir para criar um mundo melhor ? Sou uma cidad e, como tal, tenho conscincia dos meus direitos e deveres. Sou muito jovem: tenho apenas 18 anos, mas, assim como todos, sonho com uma sociedade mais justa, onde eu possa viver com a certeza de um futuro melhor. Para contribuir para um mundo melhor, no preciso grandes mudanas. Qualquer pessoa pode fazer a sua parte edificando a sua vida em hbitos saudveis. Econo- mizar gua e energia, reduzir o lixo e usar menos o carro so algumas maneiras eficazes para diminuir a poluio, a sujidade e o gasto de energia. (continua)
  26. 26. Pgina 26 A cidadania constri-se diariamente nas pequenas aes, gestos que faze- mos no quotidiano, para com os outros, com a natureza ou em favor do bem comum. Se importante e fundamental o respeito Natureza, no menos impor- tante o respeito do Homem pelo Homem: cumprimentar as pessoas, saber ouvir, respeitar a opinio dos outros, so atitudes que demonstram a nossa cidadania na prtica. Ainda vivemos num mundo com muitas coisas erradas: ouvimos e vemos ati- tudes de desrespeito vida humana todos os dias, principalmente na televiso sobre a violncia, seja fsica, seja verbal, seja psicolgica. Muitas vezes, o desrespeito pela prpria vida assustador. A fuga pelas dro- gas, pelo lcool, pelo uso de comprimidos para dormir, revelam a nsia pela anes- tesia, para no se ver o que urgente mudar. Respeitar e dignificar a vida humana urgente! Ter em conta as opinies e ideias de cada um, pois todos ns temos virtudes e defeitos: unindo-nos, consegui- remos melhorar a sociedade. Como cidad exero um dever que me compete, pois cumpro com meu papel de estudante. Todas as pessoas de pases e culturas diferentes podem entender-se, se a sua preocupao com o que se passa no mundo for expressa em aes concretas. A msica um meio possvel de unio. Vimos um vdeo na aula de rea de Inte- grao que mostrava como o uso da msica pode unir o mundo volta de causas internacionais. Todos cantavam e tocavam instrumentos, e ningum criava juzos de valor acerca das diferenas: se aquele era branco, preto, se era judeu, budista, chins, rabe. Todos estavam unidos e a colaborar juntos. Podiam ser baixinhos, gordinhos, altos, magros. Naquele vdeo, cada um revelava-se com o que tinha de melhor para dar: no havia uma pessoa melhor do que outra. Conseguiremos fazer um mundo melhor! Conseguiremos ultrapassar guerras, injustias, desigualdades, se o quisermos. Para isso: cada um precisa de fazer a sua parte! Virginie, 10C, ano letivo 2013 / 14
  27. 27. Pgina 27Amor Sabedoria A inveja, mal dos tempos de crise O trigo e o joio H um trao comum a muitas formas de mal-estar que afligem a nossa sociedade e poderiam ser evitadas: a necessidade urgente de reeducar as nos- sas paixes e sentimentos. Uma paixo que precisa especialmente de ser ree- ducada a inveja, uma das mais negativas e devastadoras em todas as cultu- ras, muito perigosa em tempos de crise. Diferentemente da nossa, as culturas do passado conheciam os desastrosos danos produzidos pela inveja no cuida- da e mal gerida e tinham por isso desenvolvido uma tica capaz de a orientar para o bem ou, pelo menos, de cont-la. A regra de ouro faz aos outros o que gostarias que fosse feito a ti pode tambm ser lida como eficaz tratamento preventivo da inveja. No por acaso posta na Bblia no centro da primeira fra- ternidade-fratricdio de Caim. A nossa civilizao, no entanto, tem muita dificuldade em compreender a inveja. Confunde-a, por exemplo, com uma ideia errada de competio (ser melhor do que os outros), que chega a ser apresentada como nico caminho para orientar para o bem comum a natureza invejosa da pessoa. A inveja escon- de-se frequentemente por detrs das crescentes invocaes da meritocracia ou seja do nosso mrito e do demrito (ou m sorte) dos outros. No a reconhece- mos em denncias ou querelas e assim no definimos regras para a bloquear nascena e gerir de modo diferente demasiados processos evidentemente invejosos, que absorvem imensas energias morais e econmicas de cidados e tribunais. No a vemos por detrs da corrida ao consumo posicional, que con- duz a endividamentos para chegar ao nvel de consumo de colegas e vizinhos, uma inveja social que a publicidade tende a amplificar e o mercado a aproveitar para vender as suas mercadorias e produzir infelicidade, mesmo se aumentam o PIB eliminar a componente do PIB produzida pela inveja seria um passo essencial rumo quantificao do bem-estar real de um pas. (continua)
  28. 28. Pgina 28 E no entanto a inveja muito simples de identificar: sofrer com o bem do outro e alegrar-se com o seu mal e depois agir para criar esse mal ou reduzir esse bem. Em alemo h uma palavra (schadenfreude) que exprime exatamente esse sentimento negativo que pode nas- cer quando algum nos comunica uma m notcia que lhe diz respeito. Para que porm se caia no vcio e frequentemente do vcio se passe ao dano e at ao crime, necessrio que a paixo gere aes. No o simples desejo das coisas alheias a violar o nono mandamen- to. o que nos sugere tambm o significado do verbo hebraico hamad: no Declogo traduzi- mo-lo com desejar, mas a sua semntica indica a atitude de quem delibera agir para obter o que deseja (o mal). Na realidade, sabemo-lo muito bem, se um sentimento ou um mau pensamento no combatido nascena, mais tarde ou mais cedo traduz-se tambm em obras, palavras, omisses. Na inveja h depois um fundamental mecanismo de reciprocidade negativa. Porque sei, tendo-o experimentado em mim mesmo em circunstncias semelhantes, que tu ests a experimentar inveja pelo meu sucesso, encontro uma alegria suplementar em contar-te as minhas vitrias (e, analogamente, em silenciar as minhas desventuras). Geram-se assim tris- tes males relacionais em espiral, de que todos os dias somos protagonistas e espetadores, crculos viciosos que s podero ser invertidos pela presena de pessoas magnnimas. As pessoas magnnimas, ou seja anti-invejosas, so um dom de valor imenso para uma comu- nidade porque, diferentemente dos invejosos, em vez de atenuar alegrias e amplificar sofri- mentos, multiplicam alegrias e reduzem sofrimentos. Mas no possvel ser anti-invejoso e magnnimo sem uma profunda vida espiritual e, para tal, um constante exerccio do gape quer o eros quer a philia podem produzir inveja; s o gape naturalmente anti-invejoso. A famlia , ou deveria ser, o principal lugar onde se desenrola o jogo de espelhos virtuoso da anti-inveja. Uma das maiores formas de pobreza do nosso tempo a de tanta gente que no tem pessoas anti-invejosas com quem partilhar as grandes desventuras e as grandes ale- grias da existncia. Alm disso, como j recordava Aristteles, a inveja no se desenvolve em relao a todos, mas apenas para com os nossos pares. Entre estudantes no se invejoso dos pro- fessores, mas dos colegas. No se invejava o imperador, nem o patro. Para com os superiores surgem outros sentimentos: raiva, admirao, imitao e a esperana de ser um dia como eles. O ciclista ainda amador no inveja o grande campeo, mas sim aquele que fica sua frente numa corrida. No se invejam os pais, mas os irmos. Um sinal inequvoco de inveja a sndrome do mesmo se , isto aquela nota negativa com a qual o invejoso termina todas as apreciaes de um colega ou amigo ( uma excelente pessoa, mesmo se ). As sociedades de castas (desde as civilizaes antigas s grandes empresas capitalis- tas) so tambm uma tentativa de limitar a expanso da inveja. (continua)
  29. 29. Pgina 29Amor Sabedoria Alis, o ideal de toda a sociedade hierrquica perfeita a construo de organizaes sociais nas quais os pares existam o menos possvel, de modo que cada um tenha apenas superiores e inferiores, com passagens de status bem disciplinadas. Os seres humanos tm dificuldade no tanto em comandar ou obedecer, mas em relacionarem-se positivamente com os seus pares. Mas na realidade, quando nos confrontamos com os nossos pares que sentimos melhores do que ns, juntamente com a possvel inveja surge tambm frequente- mente a estima e o desejo de cooperao. No seria difcil encontrar uma base biolgica e evolutiva para ambos os sentimentos. Quando um meu par alcana uma melhoria e estamos num contexto esttico, onde o bolo fixo e um s, aquela sua vantagem pode facilmente traduzir-se numa minha desvantagem, num jogo de soma zero (no qual os ganhos so iguais s perdas). E aqui desencadeiam-se o sentimento e muitas vezes as aes da inveja. Mas na realidade as relaes sociais que so objetivamente um jogo de soma zero so apenas uma pequena minoria. A vida em comum, quando funciona, na verdade uma gran- de fbrica cooperativa, um conjunto de relaes de vantagem mtua para crescer em con- junto. A inveja cultivada faz-nos ento perder muitas ocasies de vantagem recproca, por- que nos leva a ler subjetivamente o mundo como um contnuo confronto destrutivo e em riva- lidade com os outros, e no como um conjunto de oportunidades de reciprocidade. por isso que muito frequentemente o desenvolvimento da inveja um mau atalho perante um relacionamento no qual no fomos capazes de ver e encontrar uma boa reciprocidade. A inveja por vezes uma estima que no amadureceu por falta de magnanimidade e trabalho sobre ns mesmos para chegar quela excelncia e auto-estima que se pode oferecer como dom ao outro. Nos tempos de crise, infelizmente, acentua-se a tendncia para ler os relacionamentos com os outros em termos de rivalidade e inveja, como jogos de soma zero. As crises alimen- tam invejas, e so por elas alimentadas, porque a incerteza e o pessimismo impelem a olhar com rivalidade quem est ao lado. pois em tempos de crise que a educao anti- inveja, magnanimidade, estima dos nossos pares particularmente preciosa, como sempre a comear pela famlia e pela escola para chegar s instituies (desde o sistema fiscal at aos esquemas de incentivo nas empresas), que podem alimentar o joio da inveja ou gerar o trigo da cooperao. Luigino Bruni, Avvenire 30.06.2013 http://www.avvenire.it/Commenti/Pagine/ilgranoeilloglio.aspx
  30. 30. Pgina 30 Quem se importa, de Mara Mouro Mais que um documentrio, um movimento que inspira os indivduos a serem transfor- madores. No nos resignemos. O caminho a excelncia Porque em ns reside a coragem e a esperana relativamente a Portugal; em ns resi- de a fora da mudana. Tenhamos a capacidade de trabalhar em rede No nos fechemos em ns mesmos Reflexo Um filme para quem acredita que pode mudar o mundo O documentrio inicia com cenrios de guerra, doena, excesso populacional, polui- o, lixo e pobreza extremas. A indiferena, a apatia e a ignorncia constituem os atuais piores inimigos do Homem e ningum parece importar-se A maioria dos seres humanos vive apenas tentando sobreviver e a remanescente par- cela vive perdida por entre distraes, bombardeada por informaes, desconectada de sen- tido. O Homem vive acreditando que os problemas so impossveis de resoluo. Mas ser que ainda somos capazes de nos importar? No estamos aqui para aproveitar, simplesmente, a vida, como se algum tivesse con- cebido o mundo e fssemos apenas convidados. Ns no somos convidados, somos criado- res. O ser humano criador da sua prpria vida, do seu prprio mundo. O Homem faz e cria a histria. No entanto, antes de criar o seu mundo, o Homem deveria de imaginar que tipo de mundo quer, porque a conscincia precede os factos e antes de mais temos que ima- ginar e saber e s depois ir mais alm do que achamos ser possvel. O mundo transpe agora um perodo difcil. O preo dos alimentos e do petrleo cres- (continua)
  31. 31. Pgina 31Amor Sabedoria ce exponencialmente; decorrem guerras e conflitos. Talvez por uma perda de f nas lideran- as e na respetiva integridade Assim, pensemos no que h de bom: energias limpas; formas de conexo. E atravs de uma conscincia crescente, o Homem querer ver um mundo melhor e aprender que os conflitos, o apego ao passado e a muitos confortos no so to relevantes e podem ser dei- xados de lado. uma questo elementar de estilo de vida. Como vivemos neste planeta? Que respon- sabilidade impomos a ns mesmos? Se respondermos a estas questes, criaremos a conscincia de que se vivermos e agirmos de certo modo, estaremos lesando algum, quando no deveria atingir a vida do prximo. Todos ns podemos, contudo, trazer mudanas positivas para algum confim do plane- ta. Todos podem mudar o mundo Basta dizer basta e no ficar acomodado Basta dizer basta e fazer; e fundar No importa o nmero de beneficiados, mas o sentimento que se esconde Qualquer pessoa pode ser um empreendedor social, no nenhuma bno divina. Simplesmente necessrio que o Homem se consciencialize do seu poder de transfor- mao. A partir de qualquer sector, qualquer confim do planeta, possvel que surjam iniciati- vas que possam mudar o rumo da Histria. , apenas, necessrio que o Homem reconhea que o conhecimento de um ndio ou de uma mulher de uma comunidade tradicional to fundamental como o criado por um grande cientista num grande laboratrio. Um empreendedor social aquele que v esperana onde outros no a vem; que v possibilidades onde no existem; que v espaos entre uma coisa e outra. Um empreendedor social um visionrio: tem imaginao, esperana; infinitamente prtico e detalhista. Ser empreendedor no ter a capacidade de gerenciar, nem a aptido de fazer acontecer ou de liderar; ser empreendedor saber quais os rumos que a sociedade deve tomar e fazer tal acontecer. Todos temos responsabilidade e, por um mundo melhor, temos que participar. No imaginam a ausncia de dignidade que a pobreza pode criar Temos que ver se, (continua)
  32. 32. Pgina 32 como seres humanos, temos uso para algum. Temos que querer fazer mais impossvel pensar num problema global cuja soluo no seja, pelo menos, parcial- mente global. Pela primeira vez na histria da Humanidade, sente-se a ameaa. E no temos mais tempo O consumo, a produo de lixo e de desperdcio j esto exagerados. O aqueci- mento global j facto Se o Homem no mudar, o planeta o varrer O planeta , hoje, um carro a alta velocidade rumo ao abismo. Precisamos desacelerar e mudar completamente. Se todas as comunidades no reaprenderem a tica de cuidado caminharemos eminentemente para a autodestruio Podemos recuperar areas totalmente degradadas Cada pequeno problema comunitrio resultado de todos os factores que envolvem a comunidade. Assim, para desenvolver preciso mover tudo do mnimo preciso o contacto, estar com a comunidade Todos temos coisas a colaborar. Contrapartidas e obrigaes mtuas. Precisamos de uma realidade de parceria. Todos podemos ser transformadores. Basta envolver a comunidade em todos os trabalhos de modo a que tome as rdeas do poder e possa conduzir o seu prprio desenvolvimento. Basta considerar os pobres como cidados capazes e fornecer os instrumentos para que se desenvolvam, encarando-os como irmos. Basta que o Governo e os empreendedores se unam, com viso estratgica de escala. O crescimento do Sector Cidado uma nova esperana para a sociedade, para a Humanidade e para o mundo. Mas s se no se isolar em si mesmo O ponto crtico para o crescimento dos criadores de mudana e do Sector Cidado o consequente alistamento com outros sectores. As mudanas no funcionam quando isoladas do governo ou quando isoladas do mun- do corporativo. Existe esperana no mundo se criarmos uma gerao de transformadores que vem o que existe de bom em todos os lugares da sociedade; que investem, ordenam e mobilizam, como uma fora de mudana. (continua)
  33. 33. Pgina 33Amor Sabedoria necessrio pensar fora da caixa. Os desafios de hoje so diferentes dos de ontem. Assim como no sero iguais aos de amanh. necessria a habilidade de fazer os indiv- duos se envolverem. Um Homem no pode decidir por outro; nem pode ajudar se no conhece os problemas do prximo. necessrio angariar dinheiro, mas com vista a melhorar a sociedade do outro e aten- dendo ao facto de que quando a felicidade se direciona s para um lado se torna explorao. necessrio compreender que o prazer de um Homem o de outro, que quando um Homem ganha, o seu irmo tambm. O problema , por conseguinte, a herana de um mundo compartimentado, sectoriza- do. O Homem precisa de procurar uma convergncia, um novo modelo de gesto de empre- sas, que nasa socialmente responsvel, porque os governos atuais no privilegiam a felici- dade, a fora voluntria de um corpo. Quando se observa os indicadores de desenvolvimento de um pas o principal indica- dor de como um cidado contribui ao bem-estar atravs da PEA populao economica- mente ativa, a qual reconhece o povo entre os 15-64 anos de idade. No existe um indicador que afirme a um menino de 4, 8 ou 12 anos que o que faz contribui para o bem-estar do pas. Por conseguinte, foi criado um novo indicador populao ambientalmente ativa, que reconhece o todo. O consumo originou um estado de alerta para o sustento da vida humana. E a causa a incoerncia, a incapacidade de pensar, de sentir, de dizer e de fazer de modo alinhado e no tempo. O Homem vive pensando, dizendo e fazendo coisas completamente diferentes. E sem coerncia social alimenta-se a indiferena, a mentira e a violncia. necessrio guiar as comunidades locais no sentido de que resolvam os problemas humanitrios, independentemente da ajuda estrangeira. Mas o maior problema a falta de f, de imaginao e de esperana. No se acredita ser possvel. Mas como intervir? Qual a forma mais eficiente? necessrio conhecer. No somos um no-alguma-coisa. Cidadania importar-se, organizar, fazer. Sem uma sociedade civil pulsante, a Humanidade encontra-se extraviada numa encru- zilhada sem sada. (continua)
  34. 34. Pgina 34 Quando o ser humano pensa em mudana surge logo a ideia de grandes milagres, grandes somas de recursos. No precisamos de grandes tecnologias. Com o que j se sabe, com o que j est disposio, o mundo passvel de transfor- mao. Uma transformao que termine com a falta de saber, a ignorncia, a falta de oportu- nidade e de acesso. Ideias so coisas que devemos libertar. Se quer fazer mudana, deve abrir mo de qualquer direito autoral porque o objetivo embutir as ideias nas estruturas dos sistemas. O importante , pois, descontaminar o mundo dos processos antinaturais de privatiza- o do pensamento, das ideias de soluo. Porque, afinal, somos o canal para que se insta- lem no mundo. De algo mnimo pode despontar um proceder totalmente novo; aes pequenas podem somar muito mais rapidamente do que se pensa; os Homens podem realmente transformar um sistema. Qualquer territrio portador de desenvolvimento. A pobreza no uma sentena inexorvel de Deus. A pobreza pode ser eliminada do mundo uma vez que no faz parte da sociedade humana; esta artificialmente imposta. E algo artificial sempre pode ser arrancado. A crise atual verifica-se no devido falta de recursos, mas inadequada distribuio dos mesmos. Os Homens trabalham exclusivamente para si mesmos. Quando necessrio dar as mos e colaborar; terminar com o individualismo, os abusos e a explorao; olhar do ponto de vista ambientalista; fazer mais com menos; incrementar a partilha e a cooperao, por uma sociedade proativa. A crise, no sentido salutfero, ento til para a diminuio do consumismo, da polui- o, do materialismo, do egosmo e do altivismo. No nada com a semente, o problema que se no d a base para que possa cres- cer. Muito do que somos e do que temos consequncia das condies onde nascemos. Reconhecer, respeitar e meditar sobre esse facto torna natural o pensar sobre o outro que nasceu sob circunstncias que no propiciaram que fosse to bem sucedido quanto muitos de ns conseguimos ser. (continua)
  35. 35. Pgina 35Amor Sabedoria Os pobres querem ser tratados como parceiros de negcio. Querem que ns sejamos os seus investidores, numa relao de dignidade mtua. E, na verdade, so os pequenos passos que se somam e fazem o mundo girar numa direo. Busquemos, ento, esse sentido e faamos disso o nosso trabalho de todo o dia. O manifestar de amor e respeito, de forma majestosa, o maior dom que pode ter. Se uma criana tem todos os brinquedos e nenhum vestgio de amor, no funciona. A mesma coisa para os adultos Os bens materiais so medidas indiretas de sucesso na vida; so as sombras da caverna. Tornamo-nos aquisitivos ou materialistas porque nunca estimularam as nossas mentes a nvel inteletual, emocional e espiritual. Pensamos, assim, uma criana como tola se no v beleza numa montanha ou numa estrela, e como normal se no v beleza nas leis e cone- xes invisveis da Natureza Estamos a bloquear parte dos nossos crebros Existe uma fonte infinita de alegria e entretenimento, absolutamente gratuita. Existe um descomunal potencial nas crianas que no estamos nutrindo. A verdadeira raiz da pobreza material a inteletual. Aprendamos, de uma vez por todas, que nem tudo o que conta pode ser contado e, ainda, que nem tudo o que pode ser contado conta [Einstein]. Direitos por si s no conferem uma vida interessante e significativa. preciso que nos sintamos participantes e com amor; que nos sintamos contribuidores. Ter um olhar livre de dogmasTodos tm capacidades necessrio libertar o potencial humano em seres vistos como incapazes, deficientes ou irrecuperveis. Fazer parte da soluo e no do problema. Aprender a cuidar do outro, a entender a sua experincia. Ter a habilidade de imaginar como o outro se sente. S assim resolveremos conflitos, pelo altrusmo, atravs da tica de cuidado; pela humanidade que ainda existe em ns. No temos o direito de desistir de uma criana necessrio reciprocidade, preocupaes compartilhadas, um futuro compartilhado. No preciso muito para inspirar uma pessoa a ser o que realmente . Faa da mudana um caminho a ser seguido. (continua)
  36. 36. Pgina 36 No pea permisso. Simplesmente faa! possvel acabar com os maiores problemas da Humanidade. O mundo dos transformadores ser verdadeiramente igual, tico e respeitoso. O que importa no o resultado, mas quem nos tornamos durante a jornada. Sintamo-nos teis e vlidos. Sejamos uma Humanidade criativa, inventiva, inovadora, ativa, empreendedora, tenaz, verdadeira cidad. Lembremo-nos das nossas maiores aspiraes e tragamos as nossas ddivas de amor para o altar da Humanidade. No somos seres isolados, mas seres permanentemente conectados, em mistrio e encanto, com este Universo, com a comunidade e com o outro. Milagros Existem dois tipos de pessoas. As que falam e as que agem. Procuro estar no segundo grupo, dado que no primeiro h j muita concorrncia. (Indira Gandhi) O mundo ser melhor quando eu for melhor No fiquemos espera necessrio instigar a ao individual e coletiva; apontar novos caminhos e formar agentes ativos na construo de um mundo melhor que detenha um olhar tico. necessrio encarar os grandes problemas do mundo como oportunidades e no como obstculos intransponveis. necessrio ter vontade de metamorfosear o mundo, numa ao social e transforma- dora que melhore contextos sociais, ambientais, econmicos, polticos e humanos. Tenhamos a alegria de usufruir uma misso de vida, vises e solues de futuro, para um mundo sustentvel e justo. necessrio pensar as necessidades da sociedade; abandonar a apatia e o imobilis- mo para agir; criar respostas inovadoras capazes no s de mudar a sociedade em redor, mas tambm de causar um impacto social para que possam transformar-se em polticas pblicas pelo mundo; necessrio revolucionar o processo criativo-destrutivo do capitalis- mo, pelo desenvolver de novas tecnologias ou do aperfeioamento de uma antiga o real papel da inovao; necessrio alcanar o bem-estar coletivo e transformar a realidade em todo o mundo. Milagros
  37. 37. Pgina 37Amor Sabedoria Tanto Mar Sei que ests em festa, p Fico contente E enquanto estou ausente Guarda um cravo para mim Eu queria estar na festa, p Com a tua gente E colher pessoalmente Uma flor do teu jardim Sei que h lguas a nos separar Tanto mar, tanto mar Sei tambm quanto preciso, p Navegar, navegar L faz primavera, p C estou doente Manda urgentemente Algum cheirinho de alecrim Chico Buarque * Letra original, vetada pela censura; gravao editada apenas em Portugal, em 1975. As Gaivotas As gaivotas voam no ar os alunos na sala a trabalhar at o toque soar ningum vai parar. Voar aprender a estudar, a ler, a escrever, a multiplicar, para podermos crescer. O pai e a me a trabalhar para nos sustentar nosso dever ajudar para com eles partilhar. As gaivotas pairam no ar a danar sem cansar e o meu poema a rimar com palavras de encantar. Miguel ngelo Faria Silva, Turma: 5E,N:17
  38. 38. Pgina 38 Despertar para o nosso patrimnio natural Vivemos numa Ilha povoada de plantas e com extensas zonas verdes. Temos uma floresta considerada pela UNESCO reserva da biosfera, floresta essa designada pela Laurissilva. Eu jamais imaginaria que dentro desta floresta existiria milhares de plantas medicinais e plantas existentes a nvel mundial. Quando olha- va para essas mesmas plantas, considerava-as como monda, destinada apenas ao consumo animal. Mas depois da caminhada que realizmos na Faj da Nogueira, na freguesia do Faial, percebi e foi-nos apresentada cada planta e qual a sua fun- o em termos medicinais. A partir desse momento a minha mentalidade mudou. Com base neste trabalho fiquei a conhecer melhor as plantas e para que fins medi- cinais se destinam. Com a recolha de dados fotogrficos e apontamentos, elabormos uma ati- vidade onde inclua tambm essas mesmas plantas observadas na caminhada, mas tambm outras plantas que pesquismos atravs da internet com o objetivo de localizarmos plantas existentes e no existentes na regio e a sua origem, se fazem ou no parte da Macaronsia (Aores, Madeira e Canrias). Com esta atividade, aprendi algo mais sobre plantas, e o que podemos fazer com elas, nem imaginaria que existem milhes de espcies que so benficas para a sade e algumas delas tm origem nos confins do mundo. Abaixo apresento o registo fotogrfico da nossa atividade integradora. (continua) Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
  39. 39. Pgina 39Amor Sabedoria Na Caminhada na Faj da Nogueira-Faial, percurso em busca de plantas medi- cinais. Algumas espcies encontra- das na caminhada (continua)
  40. 40. Pgina 40 Preparao para apresentao da nossa atividade ao pblico Chegada da nossa convidada Eng. Graa Mateus A minha apresentao das plantas da caminhada
  41. 41. Pgina 41Amor Sabedoria Momento em que a nossa con- vidada Eng. Graa Mateus ini- ciou a sua palestra Esta foi mais uma das nossas atividades integradoras em que foi fundamental ver em termos globais a origem das plantas medicinais. Aprendi muito. Isa Faria, EFA ST5&6, 2012/2013 5 de maro de 2013 Identidades e Patrimnios Culturais As casas madeirenses atuais j no so idnticas s casas que antigamente se construam, isto porque, como podemos analisar mais frente nas imagens que tirei s casas antigas, estas tinham muita semelhana em certos traos gerais e pormenores, tais como telhados, beirais, janelas, portas, chamins, ptios e tam- bm na sua estrutura, tanto interior como exterior. Foram-se adaptando novos estilos de casas vindas do exterior, ou seja, tra- zidos por emigrantes, de tal modo que consegue-se distinguir qual a casa de um residente madeirense e de um emigrante madeirense. Isto aplica-se em casas construdas mais ou menos h dez anos ou mais, porque as atuais j so adapta- das aos novos estilos e qualquer um que tenha investimento pode obter uma. Abaixo podemos analisar vrios pormenores semelhantes e tambm pode- mos ver outros aspetos que embelezavam as residncias. (continua) Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares
  42. 42. Pgina 42 Telhados, beirais, figuras ilustrativas, portas, janelas, varandas, chamins etc Figuras Ilustrativas: H quem pense que estas figuras tm um significado, mas outros dizem que apenas eram para enfeitar os beirais. Fiz algumas pesquisas junto de pessoas mais velhas e estas no me souberam responder se tinha ou no, significado estas figuras. Apenas relataram-me que, antigamente, era moda o seu uso. (continua)
  43. 43. Amor Sabedoria Pgina 43 (continua)
  44. 44. Pgina 44Pgina 44 Estas so algumas das figuras que podemos encontrar nas residncias madeirenses. Podemos ver que existem vrios tipos de imagens expostas em habitaes espalhadas pela ilha. Telhados e beirais: Os telhados e os beirais so muito semelhantes, tambm podemos encontrar telhados diferentes, mais modernos, de certa forma conseguimos per- ceber quais so os antigos e quais so os mais modernos. (continua)
  45. 45. Pgina 45Amor Sabedoria (continua)
  46. 46. Pgina 46Pgina 46 (continua)
  47. 47. Amor Sabedoria Pgina 47 Estas imagens so a demonstrao de vrios tipos de telhados e beirais existentes na ilha da madeira, muitos so idnticos. Aqui apenas retratamos alguns deles. Portas e janelas: Outro aspeto nas casas madeirenses a ilustrao de portas e janelas com vidros coloridos. Um exemplo que encontrei numa rua onde existiam vrias casas pertencentes mesma famlia mas cada uma delas tinha um formato diferente, estas procuravam no repetir a forma das outras casas. (continua)
  48. 48. Pgina 48Pgina 48 Outro pormenor que encontramos nas casas madeirenses so os fingimentos ou molduras que contornam as portas e as janelas, esquinas e contornos de beirais, uns simples, outros traba- lhados. E tambm as varandas e portes exteriores. (continua)
  49. 49. Pgina 49Amor Sabedoria (continua)
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  51. 51. Pgina 51Amor Sabedoria Chamins: As chamins so muito idnticas mas mesmo assim encontram-se vrios tipos de forma- tos, de terra para terra podemos ver que nem todas as construes so iguais. Em particular a Ilha da Madeira possuiu uma arquitetura fascinante nos seus moldes, o facto que as chami- ns prismticas so bastante utilizadas se bem que tambm sejam utilizadas formas que tam- bm so fundamentais. (continua)
  52. 52. Pgina 52 Isa Faria, EFA ST5&6
  53. 53. Amor Sabedoria Pgina 53 40. Aniversrio da Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares Entrevista com Leontina Santos 17 de fevereiro de 2014 O esprito de Ferno Capelo Gaivota A Escola Bsica Secundria Padre Manuel lvares celebra 40 anos de exis- tncia. Foi fundada, formalmente, no ano lectivo de 1973/1974, tendo como primei- ro director o professor e escultor Francisco Simes. A propsito do quadragsimo aniversrio da Escola vou entrevistar a professora Leontina Santos, discpula ativa do esprito precursor da instituio, inspirado na obra de Richard Bach - Ferno Capelo Gaivota. Entrevistador: Muito boa tarde, senhora professora. Vamos iniciar esta entrevista recordando algumas experincias significativas que foram compondo a sua biogra- fia. Pode ser? H quanto tempo abraou o esprito de Ferno Capelo Gaivota? Como foi a descoberta da vocao do ensino? Prof. Leontina: Boa tarde. O meu nome Leontina Silva Santos e tenho cinquen- ta e quatro anos. As qualificaes acadmicas foram conquistadas de forma gra- dual e com muita dedicao. Alcancei o grau de mestre na rea da Filosofia pela Universidade de Braga, extenso do Funchal. Em 1981, nesta escola, iniciei a ativi- dade docente, antes de possuir a formao universitria. O percurso acadmico foi realizado a trabalhar e a estudar simultaneamente. Quanto s experincias, elas so muitas e diversificadas. Umas so de ordem privada e familiar, outras de ordem profissional. Inicialmente, no Ensino Diurno, comecei pelo Segundo Ciclo, seguido do Terceiro Ciclo onde estive menos tempo e, claro, a maior parte do tempo foi partilhado com os alunos do nvel Secundrio. Tambm passei pela experincia dos vrios programas do Ensino Nocturno nos diferentes nveis, desde o Ensino Recorrente at aos atuais Cursos de Educao e Formao (CEF) e Cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA). (continua)
  54. 54. Pgina 54 Ao longo destes anos desenvolvi vrias atividades e desempenhei mltiplas funes dentro da escola. Entre aquelas que mais interessam para este momento, as de ordem profissional, so de realar: o papel de animadora de diferentes clu- bes, abrangendo o teatro, a natureza, aos projectos com as crianas, por exemplo, A Filosofia para Crianas; o acompanhamento nas sadas de Visitas de Estudo, dentro e fora da Regio Autnoma da Madeira (RAM); a lecionao enriquecedora nos diferentes nveis escolares; o facto de ter sido Orientadora de Estgios; o desempenho da funo de Coordenadora dos Directores de Turma e, em ltima instncia, o momento em que fui Presidente da Escola durante dois anos. Tem sido um leque de experincias que me deixa confortvel em relao ao ensino por- que muita coisa no nova e, ao mesmo tempo, uma atitude crtica em relao a muitas outras. Entrevistador: Foi uma descoberta exigente mas recompensadora, assente na dedicao e no esprito de misso. Em 1973/1974 emergiu a Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares e o professor escultor Francisco Simes como primeiro Director. A professora Leontina conheceu esta personalidade? Prof. Leontina: Evidentemente. Francisco Simes foi uma figura mpar que mar- cou todos os alunos, especialmente, os primeiros alunos que frequentaram esta escola, por ter sido o impulsionador e o motivador para que a escola funcionasse nesse ano, em 1973/1974. Apesar da instituio no apresentar as melhores condies materiais, ele achou oportuno comear desde logo as actividades lectivas para evitar que a esco- la perdesse muitos alunos. Eu seria uma daquelas que teria ficado sem a escolari- dade, na medida em que no tinha as condies para dar continuidade aos estu- dos noutro local mais longnquo. Tendo conscincia da realidade precria das famlias e do facto de muitas crianas j terem iniciado o primeiro ano ou terem fei- to a Telescola, logo sem condies para continuarem, Francisco Simes decidiu abraar este projecto e lanou-o de uma forma indita. Em 1973/1974, antes de ocorrer a Revoluo do 25 de Abril, podemos dizer que o concelho de Ribeira Brava foi pioneiro, por desenvolver uma atitude de liber- dade, respeito, tolerncia e diversidade que, olhando hoje, parece inconcebvel que se pudesse ter feito isso antes da Revoluo do 25 de Abril, mas aconteceu. (continua)
  55. 55. Amor Sabedoria Pgina 55 Eu tive a felicidade de ter sido uma dessas alunas e de ter partilhado com Francis- co Simes o esprito e a viso de Fernando Capelo Gaivota. Nessa poca era cha- mada de Leontina Gaivota, tal como todas as outras colegas e, desse modo, foi injectado no esprito dos jovens o gosto, a misso, o esforo e o trabalho, dentro e fora da escola, por um futuro melhor. Acho fundamental que se voltasse a renovar e incentivar todos esses valores nos nossos jovens. Entrevistador: Deduzo das suas palavras a necessidade de reorientar os jovens no caminho de uma liberdade mais dinmica e responsvel. Como aluna desta escola, quais so as memrias dessa passagem? Como era o clima escolar, as aulas, enfim, quais foram os traos mais salientes dessa poca? Prof. Leontina: Isso mesmo. Ora, o que eu gostaria de referir, essencialmente, era o gosto por aprender que animava todos os alunos que frequentavam a escola. A escolaridade no era obrigatria, por isso os que c estavam eram aqueles que queriam, aqueles que insistiram com os familiares, tal como eu que chorei e bradei para voltar para a escola e que, assim, aproveitavam ao mximo tudo aquilo que a escola tinha para oferecer. Tambm no havia a concorrncia de outros meios para chegar determinado tipo de informao. Efectivamente, a escola tinha um papel privilegiado nessa poca que presentemente no tem. Hoje ela tem fortes concorrentes, sobretudo do mundo audiovisual. Nesse tempo vivia-se verdadeiramente um esprito de gosto, de interesse e de motivao por aprender. Tudo e todos tinham a aprender e a ensinar e este foi o grande lema de Francisco Simes. Todos os colaboradores de c de dentro, des- de o senhor Joo, o antigo agricultor que cuidava da horta, grande mestre e pro- fessor sem escolaridade, foi professor dos professores e de todos os alunos. Essa motivao fez com que todos os alunos se empenhassem em manter, em construir e criar a prpria escola. Comemos por ter quatro salas e cinco turmas. Uma turma ficava sempre ao relento. Havia uma disputa entre as turmas para ver quem conquistava primei- ramente o espao de cada sala. Nas primeiras semanas nem cadeiras havia, ape- nas o tecto e o abrigar do vento porque no havia imobilirio. Foi uma alegria enor- me os carros chegarem com cadeiras e mesas. Ns ajudamos a descarregar o material e de seguida montamos as salas. So dias e memrias inesquecveis. (continua)
  56. 56. Pgina 56 Depois, todo o percurso, dentro e fora da escola, motivado e muito trabalhado pelo professor Francisco Simes, professor da disciplina de desenho (hoje com a designao de EVT) que sempre nos ensinou e incentivou a enquadrar o contexto social em que estvamos inseridos. Lembro-me que uma das primeiras aulas foi subir at a zona do pico e, a partir do miradouro, tivemos de desenhar a planta da vila da Ribeira Brava porque ele defendia que a escola no podia estar desenraiza- da do seu meio. Esta iniciativa invulgar foi uma experincia nova para essa poca. E neste esprito nasce o dia da Escola, o dia seis de maio, porque o aniversrio da fundao do Concelho da Ribeira Brava. Depois destas prticas surgiram tantos tericos, pedagogos, livros e ensina- mentos que nos vm dizer que a escola deve estar em sintonia com o contexto social onde est inserida. Mas ele no dizia, fazia. E por essa razo samos vila abaixo: decoramos paredes e aconteceram aulas em qualquer espao, onde fos- sem possveis as aprendizagens, quer sentados na esplanada do caf ou no adro da igreja, quer pintando as muralhas do mercado que as pessoas mais conhecedo- ras bem se recordam. Apesar de j ter sido demolido e restaurado, agora, o merca- do j no apresenta qualquer vestgio dessas pinturas. Foi assim que tambm se fez da vila a Escola, pois qualquer meio condio de possibilidade de aprendiza- gem. Quando Francisco Simes regressou Ribeira Brava, passados muitos anos, o professor ficou muito chocado ao encontrar a escola rodeada por uma vedao enorme, o que contraria, naturalmente, o esprito de escola como continuidade com o meio social. Claro que as realidades so diferentes, a realidade social actual ofe- rece outros perigos aos adolescentes e outras motivaes que levou colocao da cerca, mas, realmente, o esprito que se viveu na altura qualquer coisa que deixa uma saudade enorme. Entrevistador: Pois, os agentes educativos que fazem o esprito da escola ape- sar das adversidades. Neste contexto, a Escola Bsica e Secundria Padre Manuel lvares celebra, no dia 6 de maio de 2014, o seu quadragsimo aniversrio, como professora, qual para si o significado desta data? Pode referir algumas dificulda- des e desafios da sua carreira profissional? Prof. Leontina: Sou realmente uma pessoa apaixonada pela histria desta Escola e j o demonstrei em vrias circunstncias, nomeadamente quando exerci a funo (continua)
  57. 57. Amor Sabedoria Pgina 57 de presidente. Nessa altura tentei agregar os antigos alunos e, a partir de ento, passmos a fazer do seis de maio a data do jantar das antigas Gaivotas. Nesse primeiro encontro marcou presena o Francisco Simes que se dignou vir Madei- ra. No ano seguinte fazamos vinte e cinco anos da existncia da Escola e foi decidido assinalar essa data com um pequeno compndio de algumas memrias, com a colaborao de vrios professores da altura e antigos alunos. Foi possvel, grande parte com a participao do professor escultor Francisco Simes, compor um pequeno compndio que realmente perdura at aos nossos dias e, algumas vezes, utilizado como objeto para agraciar quem nos visita. Fico um pouco desa- pontada por no ter havido mais iniciativas para perpetuar a memria dos melho- res ambientes escolares, os verdadeiros ambientes escolares. Nos anos posteriores seguiu-se a destruio de muitos vestgios que marca- vam e assinalavam os documentos vivos da histria desta Escola. Hoje, entra-se na nossa Escola e ela parece uma escola igual a todas as outras porque se apaga- ram as pegadas, os elos e o esprito reinante nas primeiras Gaivotas. Ainda resis- tem duas frases nas fachadas da entrada devido ao esforo que fiz, h uns anos (continua)
  58. 58. Pgina 58 atrs, para que se mantivessem essas frases de Ferno Capelo Gaivota1 . Sobrevi- ve alguns pequenos vestgios como o nome da Rua das Sombras e a Avenida das Gaivotas, mas a grande maioria das pinturas desapareceram e, infelizmente, o novo prottipo da Escola at quer apagar o nome Padre Manuel lvares que, mais uma vez, visa suprimir os vestgios da cultura de uma determinada realidade. O Padre Manuel lvares, filho ilustre desta terra, uma grande figura da Ln- gua Portuguesa, comparvel com aos grandes escritores como Lus de Cames, cuja obra se divulgou mundo alm. E agora at se pretende ignorar semelhante fei- to, apagando o seu nome de uma instituio to importante numa comunidade como a Escola. Para mim, o quadragsimo aniversrio deve ser assinalado com toda a pompa e circunstncia, no s por respeito memria do passado mas, sobretudo, para reavivar determinados valores que possam tocar, sensibilizar e vol- tar a despertar o gosto pela Escola. Entrevistador: A Escola vive das suas referncias, da sua histria e identidade pr- prias. No ano passado foi apresentado o projecto de uma nova escola secundria. Parece que apenas os concelhos de Ribeira Brava e Porto Santo foram os nicos que no renovaram as escolas secundrias. Qual a sua opinio sobre esta pro- messa? Prof. Leontina: Ora, uma escola nova! No sei se ser uma escola nova ou sero apenas paredes novas. Muitas vezes uma escola nova reporta-se apenas a salas, mesas e cadeiras novas. Eu sonhava, sempre sonhei que a Ribeira Brava voltaria a ser pioneira em termos escolares como j foi h quarenta anos atrs, com uma Escola Nova. Fomos exemplo para os pedagogos, fomos exemplo para os pro- fessores do ensino bsico do continente, mais do que para os da Madeira, infeliz- mente. Fiquei um pouco dececionada por saber que a mudana passar pela renova- o das paredes. Vamos continuar com a mesma circunstncia de que existem dis- ciplinas que vo ter de ser administradas, repetidamente, fora daqui, caso da Edu- 1 - Esto cegos? No conseguiro ver? No se apercebero da glria que ser quando aprendermos realmente a voar? No me interessa o que eles pensam. Mostrar-lhes-ei o que voar. Tu tens a liberdade de ser tu prprio, o teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu caminho. Essa a lei da Grande Gaivota, a lei que . - Queres dizer que posso voar? - Quero dizer que s livre?. (Richard Bach, Ferno Capelo Gaivota) (continua)
  59. 59. Amor Sabedoria Pgina 59 cao Fsica, colocando os alunos em situaes desagradveis como as situaes de chuva e mau tempo, os perigos rodovirios, entre outros. Alm disso, ainda no conheo o interior deste projecto, mas se se repetir o que tem vindo a acontecer com as ltimas construes escolares, esta ser mais um copy e paste (copiar e colar) igual a tantos outros, sem qualquer caraterstica que a diferencie. Gostaria que a minha escola tivesse capacidade para agregar os alunos num s turno, que no houvesse dois turnos a funcionar porque isso nunca produz bons efeitos. No h medida alguma que o Ministrio venha a implementar, que v dar o fruto pretendido nas condies em que ns trabalhamos, numa escola a trs tur- nos, onde a funcionria tem de controlar os espaos e esgueirar-se, durante cinco minutos, para poder fazer a limpeza ou poder arejar uma sala. Este um dos vrios problemas. A questo essencial que a escola deveria disponibilizar uma oferta diversificada aos alunos e isso s possvel quando trabalhamos apenas num turno. Num segundo turno, os alunos escolheriam entre as diversas atividades extracurriculares aquelas que pretendiam frequentar sem qualquer tipo de cons- trangimento. O ideal seria conceber atividades para aqueles que tm mais limitaes no processo de aprendizagem e outras iniciativas mais exigentes para aqueles que tm um ritmo de aprendizagem mais avanado. A Escola pode ser uma fonte de enriquecimento dentro dessa natureza, permitindo, essencialmente, que a equipa docente tivesse a possibilidade de ter momentos de trabalho interdisciplinar, pois, s assim se obtm os verdadeiros frutos no ensino. Este ensino compartimentado, esta dificuldade dos professores se reunirem e, sempre que o fazem, tem de ser em horrios ps-laborais, traduz, de facto, a desmotivao e o prejuzo para a vida profissional de qualquer docente. Um professor que entre na escola s oito, com aulas na parte da manh e na parte da tarde, e depois ainda tem uma reunio s dezanove ou s vinte horas, evidentemente que a sua motivao para trabalhar nula, antes pelo contrrio, sente-se cansado e revoltado, como bvio. Assim, no vamos a lugar nenhum. Entrevistador: Muito interessante a sua viso da nova escola. Antes do imvel urge promover um dilogo alargado sobre as ideias quem devem orientar a cons- truo, a organizao e a vida da futura Escola Secundria do concelho. Agora, no (continua)
  60. 60. Pgina 60 papel de presidente da escola, tendo presente a sua experincia, quais foram os aspetos mais relevantes? Prof. Leontina: Muito bem, a minha passagem pela direo desta Escola no foi uma experincia indita, pois j tinha assumido funes no Conselho Diretivo da Escola Bsica da Ponta do Sol. Mas, no caso concreto destes dois anos frente desta Escola, o que mais me desagradou foi realmente o excesso de burocracia. Em muitos casos, o cargo de direo da escola cinge-se muito mais ao papel de um funcionrio a executar tarefas burocrticas do que propriamente a assumir a funo de direo, sobretudo nas circunstncias em que a escola se encontrava: superlotada, na altura com quase dois mil alunos, com problemas disciplinares que se avizinhavam, desde ento vividos com uma certa gravidade. Uma das coisas em que me empenhei, com o apoio do Conselho Pedaggico e outros meios, foi a implementao de um Regulamento Interno onde pudesse travar essa escalada de indisciplina, entretanto, barrado com a questo da legislao em termos gerais e com o Estatuto do Estudante. Certas coisas no foram possveis de desenvolver, o que me contrariou um pouco e me desmotivou para continuar frente da escola. Contribuiu tambm uma grande razo que foi o meu envolvimento num outro proje- to social, onde mais direta e facilmente consigo chegar s pessoas, sem tanta inter- posio burocrtica, como o caso do ensino em Portugal. Entrevistador: Portanto, a burocracia suga a energia vital das pessoas e das insti- tuies. Uma escola viva e social exige disciplina e desburocratizao por parte das direes. Rodando um pouco o ponteiro indagador, tem alguma ideia sobre o novo modelo de avaliao da classe docente? Prof. Leontina: Relativamente ao novo modelo, creio que mais um modelo. Modelos perfeitos de avaliao julgo que no existem, mas este mais um para preencher papel e mostrar opinio pblica que existe um modelo de avaliao. No me sinto confortvel a tecer algumas crticas porque tambm no tenho o modelo alternativo que me diga: deve ser desta ou daquela maneira com clareza, com exactido, objectivamente. No entanto, penso que ele deveria ser sentido mais por dentro, que perpassasse o tecido escolar, e no devesse ficar merc, exclusi- vamente, de um professor para tecer a avaliao. (continua)
  61. 61. Amor Sabedoria Pgina 61 Nesse processo deveriam constar, antes de mais, os dados recolhidos em Conselho de Turma, onde mais claramente se manifesta a dinmica pedaggica que um professor implementa dentro de uma sala com os seus alunos, do que sim- plesmente uma avaliao assente num documento escrito, em linguagem pedag- gica e didctica muito correta, mas de facto pouco ou nada avalia. E assistir a uma ou duas aulas tambm poder ser igual a quase nada, comparativamente avalia- o conscie