Ana Filipa de Barroso Carvalho -...

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abril de 2015 Ana Filipa de Barroso Carvalho UMinho|2015 Ana Filipa de Barroso Carvalho Universidade do Minho Instituto de Educação A História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de Ciência e de Cientista veiculadas e perceção dos professores A História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de Ciência e de Cientista veiculadas e perceção dos professores

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abril de 2015

Ana Filipa de Barroso Carvalho

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A História das Ciências na abordagem dotema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de Ciência e de Cientista veiculadas e perceção dos professores

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Dissertação de MestradoMestrado em Ciências da EducaçãoÁrea de Especialização em Supervisão Pedagógica na Educação em Ciências

Trabalho realizado sob a orientação do

Doutor José Luís de Jesus Coelho da Silva

Universidade do MinhoInstituto de Educação

abril de 2015

Ana Filipa de Barroso Carvalho

A História das Ciências na abordagem dotema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de Ciência e de Cientista veiculadas e perceção dos professores

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DECLARAÇÃO

Nome: Ana Filipa de Barroso Carvalho

Endereço eletrónico: [email protected]

Número do Bilhete de Identidade: 12141734

Título da Dissertação: A História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de

Ciência e de Cientista veiculadas e perceção dos professores

Orientador: Doutor José Luís de Jesus Coelho da Silva

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado: Mestrado em Ciências da Educação, Área de Especialização em

Supervisão Pedagógica na Educação em Ciências

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO, APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE.

Universidade do Minho, 30 de abril de 2015

______________________________________

Ana Filipa de Barroso Carvalho

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Aos meus pais, Deolinda e Rui, pelo

apoio incondicional em todas as

etapas da minha vida.

Dedico-vos esta conquista.

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“Se eu vivesse mais vinte anos e pudesse trabalhar,

quanto teria que modificar A Origem, e quanto seria

preciso modificar as ideias referentes a todos os

aspetos! Bem, pelo menos é um começo, e isso já é

alguma coisa (…)“

Charles Darwin

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador desta dissertação, Doutor José Luís Coelho da Silva pela partilha dos seus

conhecimentos e experiência.

À Professora Doutora Laurinda Leite pelo apoio e contributo na validação do protocolo da

entrevista utilizada neste estudo.

A todos os professores do Mestrado pela aprendizagem que nos proporcionaram e por terem

contribuído de uma forma marcante para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Aos professores que colaboraram neste estudo por prescindirem do seu tempo e por partilharem

comigo as suas perceções e convicções sobre o tema assim como a sabedoria conquistada com

muitos anos de experiência em sala de aula.

Aos meus Pais e ao António por estarem sempre presentes nos melhores e piores momentos da

minha vida. São eles que me dão força e vontade para crescer e para todos os dias querer fazer

mais e melhor. Obrigada por acreditarem sempre em mim.

A todos os meus amigos que, muito pacientemente, aguentaram as constantes ausências.

A todos os alunos que passaram pela minha vida. Sem eles este trabalho não teria sentido.

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A História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade: recursos mobilizados, imagens de Ciência e Cientista

veiculadas e perceção dos professores

RESUMO

O manual escolar, o principal elemento de acesso do aluno à Ciência e um dos

principais instrumentos didáticos utilizado pelos professores, terá uma influência significativa na

construção pelos alunos de uma imagem de Ciência e Cientista. Este estudo incide no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade com o intuito de

analisar: a) o modo como a História das Ciências é operacionalizada; b) a imagem de Ciência e

Cientista veiculada, c) as perceções de professores acerca da imagem de Ciência e de Cientista

veiculadas; d) o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História

das Ciências. A consecução dos dois primeiros objetivos implicou a análise do tema

Evolucionismo nos quatro manuais escolares de Biologia do 11ºano, utilizando uma grelha

adaptada para o efeito. Os terceiro e quarto objetivos implicaram a realização de uma entrevista

a oito professores de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade que utilizaram os manuais

escolares analisados. Os resultados obtidos permitem afirmar que, embora se registem

diferenças entre os manuais, as fotografias dos cientistas e os textos elaborados pelos autores

são os principais recursos mobilizados na exploração da História das Ciências. O Cientista como

um indivíduo do sexo masculino, de origem europeia, isolado da sociedade e do contexto familiar

e a Ciência como um processo assente fundamentalmente na observação e na experiência são

as imagens primordialmente veiculadas. Esta imagem coincide com a perceção da maior parte

dos professores entrevistados. Estes reconhecem o valor educativo da História das Ciências mas

apontam vários constrangimentos na sua exploração. Os resultados reforçam a importância da

formação inicial e contínua de professores e da inclusão da abordagem da História das Ciências

baseada na autosupervisão para que o professor seja sensível às vantagens pedagógicas da

utilização da História das Ciências em sala de aula.

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The History of Sciences on the approach of the topic Evolutionism of Biology textbooks of the 11th

school year: Mobilized resources, images of Science and Scientist conveyed and teachers’

perception

ABSTRACT

Textbook, the student’s main element of accessing Science and one of the main teaching

instruments used by teachers, will have a significant influence in building by students of an

image of Science and Scientist. This study focuses on the topic Evolutionism of Biology textbooks

of the 11th school year and aims to analyse: a) the way how History of Sciences is

operationalized; b) the image of Science and Scientist conveyed, c) the teachers’ perceptions

about the image of Science and Scientist conveyed; d) the value attributed by Biology and

Geology teachers to the integration of History of Sciences. The achievement of the first two

objectives implied the analysis of the Evolutionism topic on four Biology textbooks of the 11 th

school year, using a grid adapted for such effect. Third and fourth objectives implied the

performing of an interview to eight Biology and Geology teachers of the 11th school year who used

the analysed textbooks. The obtained results allowing to state that, although there are differences

between the textbooks, the scientists’ photographs and the texts elaborated by the authors are

the main mobilized resources in the exploration of History of Sciences. The Scientist as a male

individual, European, isolated from society and family context and Science as a process based

fundamentally of the observation and experience are the primordially transmitted images. This

image coincides with the perception of most interviewed teachers. These acknowledge the

educational value of the History of Sciences but point out several constraints in its exploration.

The results reinforce the importance of the initial and continuous training of teachers and of the

inclusion of the approach of History of Sciences based on the self-supervision so that the teacher

is sensible to the pedagogical advantages of using History of Sciences on the classroom.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS …………………………………………………………………………………………..

RESUMO …………………………………………………………………………………………………………

ABSTRACT ………………………………………………………………………………………………………

ÍNDICE DE FIGURAS ………………………………………………………………………………………….

ÍNDICE DE QUADROS ………………………………………………………………………………………..

ÍNDICE DE TABELAS …………………………………………………………………………………………

I – CONTEXTUALIZAÇÃO À DEFINIÇÃO DO ESTUDO

Introdução ……………………………………………………………………………………………………….

1.1. Contextualização do estudo …………………………………………………………………………..

1.1.1. Ciência na Sociedade ………………………………………………………………………….

1.1.2. Potencialidades/Vantagens da História das Ciências para a Educação em

Ciências …………………………………………………………………………………………..

1.1.3. A História das Ciências nos documentos oficiais dos ensinos Básico e

Secundário ……………………………………………………………………………………….

1.1.4. A relevância do manual escolar no ensino e na aprendizagem das

Ciências……………………………………………………………………………………………

1.1.5. O valor atribuído pelos professores à História das Ciências nas práticas

letivas………………………………………………………………………………………………

1.2. Âmbito e objetivos de estudo ………………………………………………………………………..

1.3. Importância do Estudo …………………………………………………………………………………

1.4. Limitações …………………………………………………………………………………………………

1.5. Estrutura geral da dissertação ……………………………………………………………………….

II – REVISÃO DE LITERATURA

Introdução ……………………………………………………………………………………………………….

2.1. História das Ciências em manuais escolares de Ciências: alguns estudos ……………..

2.1.1. Processos de operacionalização didática da História das Ciências nos

manuais escolares …………………………………………………………………………..

2.1.2. Imagem da Ciência e do Cientista veiculada através da História das Ciências

nos manuais escolares ……………………………………………………………………..

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2.2. Processos de integração da História das Ciências nas práticas letivas: algumas

experiências pedagógicas …………………………………………………………………………….

2.2.1 Tipo de recursos utilizados para explorar a História das Ciências …………………

2.2.2 Modo de exploração da informação histórica ……………………………………………

III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Introdução ……………………………………………………………………………………………………….

3.1. Plano geral do estudo ………………………………………………………………………………….

3.2. História das Ciências no tema Evolucionismo dos Manuais Escolares de Biologia do

11ºano de escolaridade ……………………………………………………………………………….

3.2.1. Apresentação do corpus de análise dos Manuais Escolares de Biologia do 11º

ano de escolaridade ……………………………………………………………………………

3.2.2. Procedimentos de recolha e análise de informação relativa aos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade ………….................………….

3.3.Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista e valor atribuído à integração da História das Ciências no tema Evolucionismo

dos manuais escolares do 11º ano de escolaridade …………………………………………………

3.3.1. Professores de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade envolvidos no

estudo ……………………………………………………………………………………………..

3.3.2. Procedimentos de recolha e análise de informação relativa às perceções dos

professores de Biologia e Geologia do 11º ano de

escolaridade…………………….....…………………………………………………………….

IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Introdução ……………………………………………………………………………………………………….

4.1. História das Ciências no tema Evolucionismo dos Manuais Escolares de Biologia do

11º ano de escolaridade ………………………………………………………………………………

4.2. Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista e o valor atribuído à integração da História das Ciências no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11ºano de

escolaridade……………………………………………………………………………………………….

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4.2.1. Perceções dos professores entrevistados acerca da imagem da Ciência e de

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade……………………………………………………….

4.2.2. Valor atribuído pelos professores à integração da História das Ciências na

abordagem do tema Evolucionismo, nos manuais de Biologia do 11º ano de

escolaridade ……………………………………………………………………………………..

V – CONCLUSÕES, IMPLICAÇÕES E SUGESTÕES

Introdução ……………………………………………………………………………………………………….

5.1. Principais conclusões do estudo …………………………………………………………………….

5.1.1. História das Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade ……………………………………………………

5.1.2. Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem das

Ciências e de Cientista e valor atribuído à sua integração no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade ……………………………………………………………………………………

5.2. Implicações para o Ensino das Ciências ………………………………………………………….

5.3. Sugestões para futuras investigações ……………………………………………………………..

BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………………………………………

ANEXOS …………………………………………………………………………………………………………..

ANEXO I: Grelha de Análise da Informação Histórica da temática Evolucionismo nos

Manuais Escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade ……………………….

ANEXO II: Guião da entrevista aos professores de Biologia e Geologia do 11º ano de

escolaridade ……………………………………………………………………………………..

ANEXO III: Exemplo da transcrição da entrevista ao professor PD1 ……………………………..

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Exemplos dos vários tipos de fontes iconográficas presentes na exploração do

tema Evolucionismo ……………………………………………………………………………..

Figura 2: Mapas da rota de expedição da viagem de Charles Darwin a bordo do veleiro

Beagle ……………………………………………………………………………………………….

Figura 3: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-A, p.163 …………………………

Figura 4: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-D, p.34, Caderno de

Atividades …………………………………………………………………………………………..

Figura 5: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-D, p.129 …………………………

Figura 6: Atividade de aprendizagem do tipo avaliação do manual escolar ME-D …………..

Figura 7: Busto do naturalista sueco Lineu no jardim botânico de Wroclaw, na Polónia.

(p.144) ………………………………………………………………………………………………

Figura 8: Estátua do naturalista francês George Cuvier na sua terra natal, Montbéliard,

em França (p.145) ……………………………………………………………………………….

Figura 9: Fig.9: Caricatura de Charles Darwin apresentada nos manuais escolares ME-B

(p. 155) e ME-C (p. 129) ……………………………………………………………………….

Figura 10: Fig.10: Caricatura de Charles Darwin apresentada nos manuais escolares ME-

B (p. 155) e ME-D (p. 137) ………………………………………………………………….

Figura 11: Fig.11: Caricatura de Charles Darwin apresentada no manual escolar ME-B

(p.155) …………………………………………………………………………………………….

Figura 12: Exemplos de cientistas referidos na exploração do tema Evolucionismo ………..

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Publicações de autores nacionais sobre a inclusão da História das Ciências

em Manuais Escolares de Ciências ……………………………………………………….

Quadro 2: Publicações de autores estrangeiros sobre a inclusão da História das Ciências

em Manuais Escolares de Ciências ……………………………………………………….

Quadro 3: Estudos nacionais e internacionais sobre estratégias para a integração da

História das Ciências na prática letiva ……………………………………………………

Quadro 4: Tipo de Fontes verbais utilizadas na exploração da História das Ciências ……….

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Quadro 5: Tipo de atividades de aprendizagem que dominam o modo de exploração da

História das Ciências na prática letiva ……………………………………………………

Quadro 6: Corpus de análise dos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11º ano

de escolaridade …………………………………………………………………………………

Quadro 7: Estrutura global da grelha de análise de manuais escolares ……………………….

Quadro 8: Operacionalização da subdimensão Tipo de Informação Histórica explorada

incluída na dimensão Operacionalização didática …………………………………….

Quadro 9: Operacionalização da subdimensão Tipo de recursos mobilizados na

exploração da informação histórica incluída na dimensão Operacionalização

didática ……………………………………………………………………………………………

Quadro 10: Operacionalização da subdimensão Modo de exploração da informação

histórica incluída na dimensão Operacionalização didática …………………………

Quadro 11: Operacionalização da subdimensão Imagem do Cientista incluída na

dimensão Imagem de Ciência/Cientista …………………………………………………

Quadro 12: Operacionalização da subdimensão Dinâmica da Atividade Científica incluída

na dimensão Imagem de Ciência/Cientista …………………………………………….

Quadro 13: Operacionalização da subdimensão Processo de Criação Científica incluída

na dimensão Imagem de Ciência/Cientista …………………………………………….

Quadro 14: Operacionalização da subdimensão Contexto da Atividade Científica incluída

na dimensão Imagem de Ciência/Cientista …………………………………………….

Quadro 15: Operacionalização da subdimensão Evolução do Conhecimento Científico

incluída na dimensão Imagem de Ciência/Cientista ………………………………….

Quadro 16: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a obter

relativamente à primeira secção da entrevista …………………………………………

Quadro 17: Quadro 17: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a

obter relativamente à segunda secção da entrevista …………………………………

Quadro 18: Quadro 18: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a

obter relativamente à terceira secção da entrevista …………………………………..

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Caracterização dos professores de Biologia e Geologia do 11ºano de

escolaridade entrevistados …………………………………………………………………

Tabela 2: Informação Histórica apresentada na exploração do tema Evolucionismo nos

manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ………….

Tabela 3: Recursos mobilizados na exploração de informação histórica incluída no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de

escolaridade ……………………………………………………………………………………..

Tabela 4: Modo de exploração da informação histórica incluída no tema Evolucionismo

dos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ……

Tabela 5: Imagem do cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares

de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ……………………………………

Tabela 6: Dinâmica da atividade científica veiculada no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ………………………

Tabela 7: Processo de criação científica veiculada no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ………………………

Tabela 8: Contexto da Atividade científica veiculado no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ………………………

Tabela 9: Evolução do conhecimento científico veiculada no tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade ………….

Tabela 10: Perceções dos professores acerca da imagem de Cientista veiculada no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11ºano de

escolaridade………………………………………………………………………………………

Tabela 11: Atividades atribuídas aos cientistas pelos manuais de Biologia do 11ºano de

escolaridade, no tema Evolucionismo …………………………………………………….

Tabela 12: Perceção dos professores acerca da imagem de atividade científica veiculada

no tema Evolucionismo dos manuais de Biologia do 11ºano de escolaridade…

Tabela 13: Fatores que influenciam a atividade do cientista considerados pelos manuais

de Biologia do 11ºano de escolaridade, no tema Evolucionismo ………………….

Tabela 14: Evolução do conhecimento científico patente nos manuais de Biologia do

11ºano de escolaridade, no tema Evolucionismo ……………………………………..

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Tabela 15: Recursos mobilizadas na exploração do tema Evolucionismo no manual

escolar de Biologia do 11ºano de escolaridade ………………………………………..

Tabela 16: Exploração de atividades de aprendizagem com informação histórica incluídas

na exploração do tema Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do

11ºano de escolaridade ………………………………………………………………………

Tabela 17. Sugestões apresentadas para melhorar a exploração da História das Ciências

no tema Evolucionismo do manual escolar de Biologia do 11ºano de

escolaridade ……………………………………………………………………………………..

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I – DA CONTEXTUALIZAÇÃO À DEFINIÇÃO DO ESTUDO

Introdução

Este capítulo de abertura tem como objetivo o enquadramento e a apresentação do

estudo. Inicia-se com a descrição do contexto gerador do estudo. Passa-se em seguida à

apresentação dos seus objetivos, relevância e limitações. Por fim, descreve-se o modo como a

dissertação está estruturada. O estudo baseia-se na análise de um conjunto de quatro manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade no tema Evolucionismo. O seu

desenvolvimento inicia-se pela apreciação das potencialidade/limitações da utilização da História

das Ciências e pela apreciação dos documentos emanados pelo Ministério da Educação, acerca

do processo de ensino-aprendizagem das disciplinas de Ciências Naturais e de Biologia e

Geologia, dado que são eles que estarão na primeira linha de orientação da construção de

manuais escolares. Inclui mais três vertentes que incidem em diferentes olhares sobre o mesmo

grupo de manuais escolares: a visão da investigadora acerca da forma como a História das

Ciências é operacionalizada nos manuais escolares, as imagens de Ciência e Cientista

veiculadas pelos manuais escolares e percecionadas pelos professores.

1.1.Contextualização do estudo

O desenvolvimento da Ciência a um ritmo progressivamente acelerado coloca novas

exigências à vida do cidadão em sociedade. Este vê-se confrontado com a necessidade de

assumir posicionamentos críticos perante situações de natureza diversa que exigem um

determinado nível de literacia científica. Esta literacia científica assenta no desenvolvimento do

conhecimento científico nas suas vertentes substantiva, processual e epistemológica. Esta última

vertente, na qual se focaliza o presente estudo, é já reconhecida como uma das dimensões da

Educação em Ciências pelos currículos portugueses dos ensinos Básico e Secundário. As

evidências, tanto por parte dos alunos como por parte dos professores de imagens da ciência de

cariz positivista exige que os processos de formação a eles destinados promovam a reconstrução

dessas imagens. O manual escolar, o principal elemento de acesso do aluno à Ciência e um dos

principais instrumentos didáticos utilizado pelos professores, deverá veicular imagens de Ciência

concordantes com as perspetivas atualmente defendidas e constituir-se como um facilitador da

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construção dessas imagens. É em torno deste instrumento didático que se desenrola o presente

estudo. Analisar-se-ão, em relação à História das Ciências nele operacionalizada, as imagens de

Ciência/Cientistas veiculadas e as perceções de professores que os utilizam.

1.1.1. Ciência na Sociedade

Assistimos hoje a um avanço científico e tecnológico que influencia profundamente a

sociedade, a escola e, inevitavelmente a forma como se ensina. A finalidade da Educação em

Ciências tem evoluído ao longo do tempo. Se inicialmente o objetivo da educação em ciências

era formar futuros cientistas, hoje, pretende-se formar futuros cidadãos, detentores de literacia

científica (Díaz, 2002). É neste sentido que Vieira (2011) sublinha a importância de desenvolver

competências que permitam ao aluno exercer um papel ativo e interventivo na sociedade:

“Tem sido defendida uma Educação em Ciências numa perspetiva de literacia científica, por oposição a uma lógica de mera instrução, que promova o desenvolvimento pessoal dos alunos e lhes permita pensar por si próprios, enfrentar a vida e alcançar uma participação esclarecida e racional numa sociedade democrática”(p. 8)

Segundo Wellington (2000) cada vez mais os cidadãos são chamados a opinar e a tomar

decisões sobre diversos temas importantes para a sociedade, e só o poderão fazer de uma

forma crítica e consciente se possuírem uma formação científica básica, para uma tomada de

posição fundamentada. O documento norte-americano National Science Education Standards

(1996) define literacia científica, como a capacidade do cidadão:

“Ler e compreender um artigo sobre Ciência, envolver-se em diálogos públicos sobre a validade das conclusões apresentadas no artigo e expressar posições que são científica e tecnologicamente informadas. Significa ser capaz de avaliar informação a partir da credibilidade das fontes usadas para a gerar. Implica a capacidade de avaliar argumentos com base na evidência e, apropriadamente, aplicar conclusões a partir desses argumentos” (p.22)

Para que consigamos formar alunos cientificamente literados, García (2001) sugere

cinco objetivos que devem ser tidos em conta e incluídos nos currículos de Ciências. De acordo

com este autor o currículo de Ciências deve: (1) transmitir uma perspetiva adequada da Ciência,

enfatizando a sua construção social; (2) dar a conhecer os códigos e validações da Ciência; (3)

enfatizar a ausência de neutralidade da Ciência e da construção do conhecimento científico; (4)

capacitar os alunos na elaboração de representações adequadas à realidade; (5) promover a

compreensão das interações das dimensões: Ciência, Tecnologia e Sociedade.

3

Não é apenas a investigação em educação que reconhece a importância de educar

cidadãos cientificamente literados. Também o Currículo Nacional do Ensino Básico (DEB, 2001)

atribui importância ao desenvolvimento da literacia científica dos alunos através da Educação em

Ciências. Neste documento regulador pode ler-se que a Educação em Ciências deve despertar

no aluno a curiosidade sobre o mundo natural que o rodeia, dar-lhe conhecimentos sobre os

procedimentos da investigação científica e fazê-lo compreender o impacto da Ciência e da

Tecnologia na sociedade:

- “Despertar a curiosidade acerca do mundo natural à sua volta e criar um sentimento de admiração, entusiasmo e interesse pela Ciência; - Adquirir uma compreensão geral e alargada das ideias importantes e das estruturas explicativas da Ciência, bem como dos procedimentos da investigação científica, de modo a sentir confiança na abordagem de questões científicas e tecnológicas; - Questionar o comportamento humano perante o mundo, bem como o impacto da Ciência e da Tecnologia no nosso ambiente e na nossa cultura em geral.” (p.129)

Também no programa de Biologia e Geologia, do 10ºano de escolaridade pode ler-se

sobre a importância da Biologia na Educação para a cidadania, cuja abordagem pretende

consciencializar os alunos relativamente aos assuntos que os rodeiam:

“Uma vez que o ensino da Biologia pode ser uma componente importante na Educação para a Cidadania, deverá contribuir para que os alunos, enquanto cidadãos, interajam de forma autónoma, consciente e construtiva com a sociedade e o ambiente. Tal significa que os processos de ensino-aprendizagem devem ajudar os alunos a desenvolver formas de relacionamento responsável com os seus concidadãos e também com os outros seres vivos.” (p. 68)

O mesmo documento refere que a Educação em Ciências deve incluir várias vivências que

tornem o aluno mais crítico e o aproximem da sociedade e do quotidiano:

- “Analisar e criticar notícias de jornais e televisão, aplicando conhecimentos científicos na abordagem de situações da vida quotidiana; - Realizar debates sobre temas polémicos e atuais, onde os alunos tenham de fornecer argumentos e tomar decisões, o que estimula a capacidade de argumentação e incentiva ao respeito pelos pontos de vista diferentes dos seus” (p.132)

Para educar através das Ciências é necessário que na sua prática pedagógica, o

professor consiga valorizar e integrar as várias dimensões da educação em Ciências. De acordo

com Hodson (1996) os alunos devem aprender Ciência (aprendizagem de conceitos e teorias),

aprender sobre Ciência (compreensão da natureza da Ciência, dos métodos científicos e da

relação entre a Ciência, Sociedade e Tecnologia) e aprender a fazer Ciência (desenvolvimento de

competências científicas). É certo também, que a aprendizagem das ciências é vista de forma

4

negativa por muitos dos nossos alunos (Gil Pérez, 1991). Assim, é premente uma renovação

didática, que permita ultrapassar os maus resultados a estas disciplinas, considerados como

naturais pela sociedade. A utilização da História das Ciências em sala de aula reveste-se de uma

grande importância uma vez que podemos considerar que este método de aprendizagem é uma

forma de aprender Ciência e aprender sobre a Ciência.

1.1.2. Potencialidades/Vantagens da História das Ciências para a Educação em Ciências

A aproximação recíproca do Ensino das Ciências e da História das Ciências ter-se-á

iniciado no século XIX e adquirido um impulso significativo no século XX (Solbes & Traver, 2011).

As potencialidades que justificam a inclusão da História das Ciências na Educação em Ciências

têm sido evidenciadas através de estudos desenvolvidos neste domínio (Vannucchi, 1996;

Monteiro, 2007; Domingues, 2006; Souza, 2008; Costa da Silva et al., 2009; Forato, 2009;

Kokkotas et al., 2009; Corrêa et al, 2010; Hülsendeger, 2004; Köhnlein & Peduzzi, 2005;

Soares & Borges, 2010; Silva, 2010; Beltran et al., 2011; Arriassecq & Greca, 2012; Moura,

2012; Braga et al., 2012) e têm sido objeto de síntese por diversos investigadores (Gagliardi,

1988; Sánchez, 1988; Sequeira & Leite, 1988; Matthews,1994; Solbes & Traver, 1996; Gil-

Pérez et al., 2001; Solbes & Traver, 2001; Leite, 2002; Santos, 2003; Duarte, 2004; Martins,

2006; Baldinato & Porto, 2007; Pereira & Amador, 2007; Vidal et al., 2007; Domingues &

Duarte, 2008; Trindade, 2008; Prestes & Caldeira, 2009; Sobes & Traver, 2011; Fúrio-Más et

al.,2012; Reis et al., 2012). Uma análise desta literatura permite sublinhar as seguintes

potencialidades da exploração educativa da História das Ciências:

Contribui para o desenvolvimento do interesse dos alunos para o estudo das

Ciências. A abordagem contextualizada dos conceitos científicos, no tempo e no

espaço, torna a Ciência mais atrativa para os alunos, motivando-os para a

aprendizagem;

Promove a aprendizagem do conhecimento substantivo, contribuindo para uma

melhor compreensão dos fenómenos científicos. Para além disso contribui para a

identificação das conceções alternativas dos alunos;

Contribui para a (re)construção da imagem do Cientista, tendo potencial para

transmitir uma ideia mais correta do cientista, humanizando a Ciência. A utilização

5

adequada de episódios da vida do cientista, dos seus trabalhos e descobertas

permite combater a ideia enraizada de que os cientistas são indivíduos fora do

comum, heróis e génios que nunca erraram e que trabalham sempre de forma

rápida, neutra e isolada;

Contribui para a (re)construção da imagem da Ciência. Demonstra que a Ciência não

é um corpo fixo, imutável e que o conhecimento científico é construído gradualmente,

com avanços, obstáculos e retrocessos, controvérsias e debates, até que um dado

conhecimento ou teoria seja aceite pela sociedade e comunidade científica, como

ciência. Combate a ideia da existência de um único método científico formado por

um conjunto de etapas a seguir até se atingir uma verdade absoluta. Esta distorção

do trabalho científico desvaloriza a aventura da criação científica e as características

humanas que contribuem e determinam o trabalho do cientista, tal como a sua

intuição e a criatividade;

Combate o cientismo ainda veiculado nas salas de aula que transmitem a Ciência

como um corpo de conhecimentos absolutos e capazes de dar resposta a todos e

quaisquer problemas da Humanidade;

Apesar das várias potencialidades alguns autores assinalam alguns riscos e limitações

no uso educativo da História das Ciências. São de evidenciar a:

reinterpretação e simplificação dos episódios históricos. Klein (1972) afirma que a

exploração da História da Ciência no ensino das ciências exige um processo de

reinterpretação e simplificação que poderá conduzir a uma pseudo-história

constituída por material com pouca qualidade, pouco rigor, parcial e por

consequência pobre na descrição dos feitos históricos.

transformação da História das Ciências numa “quasi-história”, ou seja, o conteúdo

histórico apresentado é o resultado da interpretação dos seus utilizadores, que os

adaptam e que os selecionam deliberadamente, tendo em conta as suas próprias

conceções e os objetivos pedagógicos a atingir (Whitaker, 1994). Segundo este autor

a História das Ciências utilizada em sala de aula não é apenas simplificada, mas

falseada e camuflada como verdadeira.

6

Lombardi (1997) responde a estas críticas referindo que utilizar a História das Ciências

em sala de aula não tem de implicar o uso de toda a história. Este autor não desaprova a

simplificação dos feitos históricos para uso didático na área das Ciências, mesmo sabendo que

esta simplificação irá ser influenciada e determinada pela interpretação dos autores dos

materiais didáticos (autores de manuais escolares ou professores). Lombardi justifica esta

posição argumentando que: a) não é suposto o aluno saber a história em profundidade; b) a

história é uma disciplina em constante desenvolvimento logo, permite uma contínua

reinterpretação e reconstrução dos episódios históricos; c) a diferente interpretação sobre o

mesmo acontecimento faz parte da natureza do próprio conhecimento histórico. Para este autor

o professor pode fazer uma cuidadosa reconstrução dos acontecimentos históricos,

apresentando a sua própria interpretação, mas tendo sempre a prudência de não a apresentar

como versão definitiva. Isto poderá desenvolver nos alunos a reflexão e o espírito crítico.

Para além da problemática sobre a profundidade com que a história deve ou não ser

incluída na sala de aula, são vários os autores que chamam a atenção para a forma como se

operacionaliza a inclusão da História das Ciências. Investigadores na área da Educação em

Ciências criticam a qualidade dos materiais existentes para explorar a História das Ciências

(Sequeira & Leite, 1988; Martins, 2007). Apontam a sua falta de rigor e a deturpação que fazem

da Natureza da Ciência, divulgando e perpetuando listas de descobertas científicas feitas ao

acaso, em determinada data e por génios isolados da sociedade (Milne, 1998; Bello & Sánchez,

2003; Carneiro & Gastal, 2005).

Em síntese, os vários autores referidos mostram que a utilização da História das

Ciências pode apresentar diversas potencialidades na Educação em Ciências, não só como fator

de motivação para os alunos e melhor compreensão dos conteúdos e ideias científicas, mas

também, como forma de explorar vários aspetos relacionados com a Natureza da Ciência.

Os investigadores da área não negam a existência de obstáculos na sua implementação,

nomeadamente, a falta de recursos didáticos com qualidade histórica e a falta de formação dos

professores em História das Ciências. Estas dificuldades, possíveis de serem ultrapassadas,

exigem um maior investimento na formação inicial e contínua de professores com vista à

mudança de práticas e transformação de visões deformadas da Ciência e do trabalho científico.

Para além disso professores sensibilizados para esta metodologia serão indivíduos mais

críticos e capazes de, autonomamente, analisarem os recursos didáticos, nomeadamente, os

7

manuais escolares, compreendendo se estes operacionalizam a História das Ciências de forma

adequada e se veiculam uma ideia de Ciência e de cientista que vá de encontro às orientações

do Ministério da Educação e à literatura da especialidade.

1.1.3. A História das Ciências nos documentos oficiais dos ensinos Básico e Secundário

Os documentos oficiais emanados pelo Ministério da Educação, reconhecem o valor

educativo da utilização da História das Ciências, na área disciplinar de Ciências Naturais e

Biologia e Geologia, em que se focaliza o presente estudo. Estas orientações oficiais incluem o

recurso à História das Ciências de forma explícita ou implícita.

O Currículo Nacional do Ensino Básico, ainda em vigor, inclui evidências explícitas do

recurso à História das Ciências. Na secção relativa à área disciplinar de Ciências Físicas e

Naturais (Ciências Naturais e Ciências Físico-Químicas) e no documento Ciências Físicas e

Naturais: Orientações Curriculares para o 3º ciclo do Ensino Básico, pode ler-se que uma das

competências a serem desenvolvidas para que se promova a literacia científica nos alunos do

3ºciclo é:

“A análise e debate de relatos de descobertas científicas, nos quais se evidenciem êxitos e fracassos, persistência e formas de trabalho de diferentes cientistas, influências da sociedade sobre a Ciência, possibilitando ao aluno confrontar, por um lado, as explicações científicas com as do senso comum, por outro, a ciência, a arte e a religião” (DEB, 2001, p.133 e Galvão et al., p.5).

O Currículo Nacional do Ensino Básico refere ainda que, para uma preparação inicial na

área das Ciências, o aluno deve:

“ Conhecer relatos de como ideias importantes se divulgaram e foram aceites e desenvolvidas, ou foram rejeitadas e substituídas; Reconhecer que o conhecimento científico está em evolução permanente, sendo um conhecimento inacabado” (DEB, 2001, p.130).

Também nos programas de Biologia e Geologia do 10º e 11º anos de escolaridade, é

reconhecido explicitamente o potencial educativo da História das Ciências. Mencionam como

uma das finalidades da disciplina apresentar a Ciência como:

“um conhecimento em construção, dando-se particular importância ao modo de produção destes saberes, reforçando a ideia de um conhecimento científico em mudança e explorando, ao nível das aulas, a natureza da Ciência e da investigação científica” (Amador et al., p. 7)

8

Para concretizar este objetivo sugerem:

“Atribuir um especial destaque à História da Ciência, em particular no suporte de estratégias de

ensino baseadas em exemplos históricos. O conhecimento de antigas formas de pensar, obstaculizadoras, em determinados momentos, do desenvolvimento científico, associado à compreensão e valorização de episódios históricos que traduzem uma mudança conceptual, ajuda a identificar não só os conceitos estruturantes como pode, igualmente, ser uma ferramenta importante na sua superação”. (Amador et al., p. 12).

O programa de Biologia do 12ºano evidencia o recurso à História das Ciências de forma

implícita. Salienta a importância de transmitir aos alunos a forma como evolui o conhecimento

científico ao longo do tempo e a relação que este possui com o contexto social, político e

religioso da época em questão. Este objetivo implica o recurso aos conteúdos históricos por

forma a conseguir demonstrar qua a construção do conhecimento científico é um processo

resultante da atividade humana impossível de dissociar dos fatores sociais vigentes na época:

“A compreensão do valor da ciência enquanto corpo de conhecimentos, que evolui sempre que soluções mais explicativas são encontradas, enquanto processo, que engloba o que os cientistas fazem e como o fazem, enquanto forma de entender a realidade e, sobretudo, enquanto atividade humana, que não pode ser considerada neutra ou isenta das influências sociais inerentes a cada época e a cada contexto” (Mendes et al., p. 4)

Ao contrário do programa de Biologia do 12ºano, o programa de Geologia do mesmo

ano, coloca ênfase na utilização da História das Ciências:

“atribui uma maior importância às perspetivas históricas, não só em termos do próprio conhecimento geológico como, também, uma maior atenção ao desenvolvimento da Geologia como ciência (história da ciência)”. (Amador & Silva, 2004, p. 3)

Na perspetiva das autoras deste documento, a exploração de episódios históricos na

disciplina de Geologia do 12ºano ajudará os alunos a compreenderem que o conhecimento

científico não é uma verdade absoluta e pode sofrer alterações:

“ajudará os alunos a desenvolverem o sentido crítico e a criatividade, uma vez que os conhecimentos não são apresentados como entidades definitivas e terminadas, mas sim como entidades que vão evoluindo no tempo”. (Amador & Silva, 2004, p.3)

O tema do presente estudo está incluído na unidade didática de natureza histórica:

Evolucionismo do 11ºano da disciplina de Biologia e Geologia, o programa divide os conteúdos a

desenvolver em conteúdos concetuais, procedimentais e atitudinais. No que diz respeito aos

conteúdos concetuais estes devem abordar as teorias explicativas da origem da vida e dos

9

mecanismos de evolução, com especial destaque para a controvérsia entre a corrente de

pensamento fixista e a corrente de pensamento evolucionista. Os conteúdos procedimentais

devem permitir que, ao longo da unidade didática, os alunos possam “recolher, organizar e

interpretar dados de natureza diversa relativos ao evolucionismo e aos argumentos que o

sustentam, em oposição ao fixismo” (Amador & Mendes, 2004, p.11). Nos conteúdos atitudinais

deve existir uma valorização “do conhecimento da história da ciência para compreender as

perspetivas atuais; do reconhecimento do caráter provisório dos conhecimentos científicos, bem

como da importância epistemológica das hipóteses; no reconhecimento que o avanço científico-

tecnológico é condicionado por contextos (ex. sócio-económicos, religiosos, políticos...),

geradores de controvérsias, que podem dificultar o estabelecimento de posições consensuais”

(Amador & Mendes, 2004, p.11).

No que diz respeito às sugestões metodológicas desta unidade, estas evidenciam

explicitamente o recurso à História das Ciências. É sugerido ao professor que promova: o estudo

dos diferentes modelos que ao longo do tempo tentaram explicar o aparecimento da vida, dos

organismos eucariontes e da multicelularidade e atividades de pesquisa e discussão orientadas

em questões que abordem as diferentes explicações que foram avançadas para explicar a

diversidade de seres vivos (Amador & Mendes, 2004, p.12).

Como sugerido pelo programa estes conteúdos devem ser avaliados de forma integrada

não devendo existir uma valorização excessiva dos conteúdos concetuais em relação aos

conteúdos procedimentais e atitudinais.

Em síntese, da análise dos diversos programas das várias disciplinas e mais

especificamente do programa do tema em estudo, é notória a relevância atribuída, pelos

documentos emanados do Ministério da Educação à História das Ciências na Educação em

Ciências. Se a valorização desta dimensão é incluída nos vários anos de escolaridade torna-se

premente analisar o tipo de História das Ciências incluída nos manuais escolares e a forma

como esta é operacionalizada. Esta análise permitirá avaliar se as imagens da Ciência e do

cientista veiculadas por estes recursos didáticos vão de encontro aos documentos e orientações

oficiais e à literatura da especialidade.

10

1.1.4. A relevância do manual escolar no ensino e na aprendizagem das Ciências

Antes do 25 de Abril, Portugal vivia num contexto de livro escolar único. A elaboração

deste livro era cuidada no que diz respeito à informação incluída, temas abordados e reforço de

ideologias. Sacrificava a novidade e a inovação e transmitia uma visão sobre o mundo baseada

numa ideologia de escolaridade elementar reduzida ao mínimo. (Magalhães, 1999 e 2006). As

mudanças sociais que se verificaram após o 25 de Abril, principalmente na década de 80,

permitiram liberdade na conceção destes materiais didáticos o que, consequentemente levou à

publicação de uma grande variedade de manuais escolares para cada disciplina. A par da

liberdade editorial o papel do professor tornou-se mais complexo, sendo hoje da

responsabilidade do docente a escolha dos manuais escolares a serem adotados pela escola

(Tormenta, 1996; Moreira et al., 2006). Esta emancipação do manual escolar fez com que, nos

últimos anos, este recurso didático seja o livro com mais títulos publicados, com mais tiragens,

que mais se vende e com maior presença nas casas dos portugueses (Silva, 1999). O Ministério

da Educação regula, em legislação própria, a avaliação, certificação e adoção destes recursos

didáticos. O artigo 3, alínea b), da Lei nº 47/2006 define o manual escolar como:

“recurso didático-pedagógico relevante, ainda que não exclusivo, do processo de ensino e aprendizagem, concebido por ano ou ciclo, de apoio ao trabalho autónomo do aluno que visa contribuir para o desenvolvimento das competências e das aprendizagens definidas no currículo nacional para o ensino básico e para o ensino secundário, apresentando informação correspondente aos conteúdos nucleares dos programas em vigor, bem como propostas de atividades didáticas e de avaliação das aprendizagens, podendo incluir orientações de trabalho para o professor”

Apesar de a definição anterior evidenciar o aluno como o principal utilizador do manual

escolar, a verdade é que cada vez mais estes instrumentos ocupam uma posição central na

prática pedagógica dos docentes. Para muitos professores o Manual Escolar é o único recurso e

guia da atividade letiva, determinando-a e chegando mesmo a substituir o programa da disciplina

(Tormenta, 1996; Brito, 1999). Estes docentes utilizam o manual escolar de forma acrítica na

planificação das atividades letivas, garantindo a sequencialização e organização dos conteúdos a

serem abordados. (Duarte & Pereira, 1999; Morgado & Viseu, 2010; Neto & Fracalanza, 2003);

como fonte exclusiva de tarefas a serem realizadas na aula ou em casa (Neto & Fracalanza,

2003; Moreira et al., 2006) e ainda como principal fonte de informação (Neto & Fracalanza,

11

2003). Esta postura passiva e dependente, de mera reprodução do conteúdo do manual escolar

condiciona aquilo que o professor ensina e a forma como ensina.

Para além da importância pedagógica referida anteriormente, o Manual Escolar possui,

também, uma importância cultural e social (Morgado, 2004), transmitindo, por vezes de forma

silenciosa, valores e ideologias dominantes na sociedade atual, negligenciando a perspetiva

neutra que, desejavelmente, deve conter.

Sendo o manual escolar o recurso de eleição na prática pedagógica este terá um papel

preponderante, não só como fonte de informação histórica sobre a Ciência, mas também como

contributo na construção da imagem da Ciência e do Cientista. Como foi dito anteriormente, se o

manual escolar pode determinar o que o professor ensina e a forma como ensina, a maior ou

menor importância atribuída à História das Ciências nos manuais escolares pode levar à maior

ou menor valorização da informação histórica por parte dos docentes. Inevitavelmente, essa

informação incluída nos manuais escolares de Ciências serão um reflexo das conceções que os

autores desses recursos possuem sobre o tema e da reinterpretação que fazem das sugestões

emanadas do Ministério da Educação. Assim sendo, é crucial que os professores possuam uma

posição crítica face aos manuais existentes no mercado em dois momentos: (1) no momento de

adoção do manual escolar, analisando, discutindo e avaliando o seu conteúdo, tentando escolher

aquele que é cientificamente e pedagogicamente mais adequado, (2) durante o ano letivo, não

substituindo o manual escolar pelo programa da disciplina e assumindo que o seu conteúdo

encerra uma única verdade. Para atingir este objetivo é necessário que os professores estejam

sensibilizados para olhar, analisar e utilizar os manuais criticamente o que pressupõe um maior

investimento nesta competência durante a formação inicial e/ou contínua dos professores.

A inclusão da História das Ciências em manuais escolares e a forma como é abordada e

explorada nestes documentos, têm sido objeto de vários estudos (Leite, 1986; Campos &

Cachapuz, 1997; Duarte & Pereira, 1999; Cardoso, 2002; Leite, 2002; Bello & Sánchez, 2003;

Carneiro & Gastal, 2005; Batista, 2006; Pereira & Amador, 2007; Vidal et al., 2007; Amorim,

2009; Niaz et al., 2010; Cavadas & Franco, 2010; Antunes, 2012; Tavares, 2012). Estes

estudos sugerem que na maior parte dos manuais escolares, os autores têm seguido as

orientações dos documentos reguladores do Ministério da Educação, mostrando maior

preocupação com a inclusão da informação histórica. Ainda assim este conteúdo histórico é,

grande parte das vezes, insuficiente ou inadequado.

12

Em síntese, sendo o manual escolar um importante instrumento de trabalho e uma fonte

privilegiada de informação para os professores, é importante averiguar o papel que estes

recursos didáticos atribuem à História das Ciências. O tipo de informação histórica e a imagem

da Ciência e Cientista que veiculam podem condicionar ou determinar a perspetiva de ensino

que será implementada na sala de aula.

1.1.5. O valor atribuído pelos professores à História das Ciências nas práticas letivas

Reconhecendo o papel fundamental que o professor ocupa no processo de ensino-

aprendizagem é de extrema relevância analisar o valor que este atribui à utilização da História

das Ciências na sala de aula. Os estudos efetuados com este objetivo incluíram docentes de

Ciências (Corrêa et al., 2010; Silva, 2007; Amorim, 2009) ou autores dos manuais escolares,

uma vez que grande parte deles são, também, professores de Ciências (Batista, 2006; Silva,

2007; Antunes 2012; Tavares, 2012).

Apesar de, aparentemente, alguns professores valorizarem cada vez mais a introdução do

conteúdo histórico na Educação em Ciências, isto nem sempre está de acordo com as suas

práticas reais em sala de aula (Duarte, 2004). Da análise dos vários estudos efetuados sobre a

relação entre o professor e a implementação da História das Ciências pode concluir-se:

Os professores de Ciências possuem uma visão deformada e a histórica da Ciência,

demonstrando dificuldade em romper com o ensino tradicional e resistindo à mudança

nas suas convicções (Martins, 2007). As crenças que estes professores possuem

relativamente à Ciência e ao trabalho científico levam-nos a transmitir o conhecimento

numa perspetiva definitiva sem abordar a sua origem, evolução e obstáculos

encontrados durante a sua construção. (Pérez et al., 2001; Höttecke & Silva, 2010)

Os professores utilizam a História das Ciências como algo exterior ao currículo. A

História das Ciências não é incluída nos conteúdos lecionados e não é utilizada para

integrar conceitos científicos, servindo como introdução geral do tema ou como

ferramenta complementar na aprendizagem (Martins, 2007; Silva, 2012). Os

professores justificam esta opção pelos programas que consideram extensos, não

havendo espaço para a introdução da História das Ciências que muitos chegam a

considerar um novo conteúdo (Sequeira & Leite, 1988; Martins, 2007; Höttecke & Silva,

2010). Para além disso, a existência da avaliação externa no sistema de ensino acaba

13

por ser determinante no processo de ensino-aprendizagem uma vez que influencia o que

os alunos devem saber e o quê, e como, os professores devem ensinar. Se os

professores orientam a sua prática, influenciados por estas provas podemos concluir

que enquanto a História das Ciências não for incluída nas questões dos exames

nacionais, grande parte dos professores continuará a desvalorizar esta dimensão

deixando-a para segundo plano. (Martins, 2007)

Subsiste uma falta de sensibilização dos docentes para as vantagens da utilização da

História das Ciências em sala de aula. Alguns investigadores apontam a falta de

formação específica em História das Ciências dos professores e a consequente

insegurança e incapacidade que estes possuem em introduzi-la na sala de aula, não

sabendo que metodologia seguir ou que textos de apoio explorar (Martins, 2006;

Martins, 2007; Höttecke & Silva, 2010; Reis et al., 2012; Silva, 2012)

Os recursos didáticos que exploram a História das Ciências são inexistentes ou

existentes mas inadequados. Os professores apontam a falta de recursos didáticos para

uma exploração adequada da História das Ciências (Martins, 2006). Grande parte dos

conteúdos históricos incluídos nos manuais escolares muitas vezes apresentam

informação histórica errada, deturpam a Natureza da Ciência e reduzem a informação

histórica a dados biográficos de cientistas considerados génios, que fazem descobertas

à primeira tentativa, em datas específicas (Pereira & Amador, 2007; Reis et al., 2012).

1.2. Âmbito e objetivos de estudo

O presente estudo toma o manual escolar como objeto de investigação, enquanto um

instrumento pedagógico que através da História das Ciências, contribui de forma determinante

para a construção de uma imagem da Ciência e do Cientista. Assenta nos seguintes objetivos:

1. Analisar o modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

2. Identificar a imagem de Ciência e Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11ºano de escolaridade

3. Identificar as perceções de professores acerca da imagem de Ciência e de Cientista veiculadas no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

4. Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das Ciências no

tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

14

O estudo incide na análise de quatro manuais escolares de Biologia e Geologia do 11º

ano de escolaridade. Este corpus de análise correspondente ao número total de manuais

escolares disponíveis no mercado livreiro e em vigor nos últimos anos letivos de acordo com a

legislação vigente. De todas as unidades didáticas disponíveis para análise optou-se pela

temática Evolucionismo, por ser predominantemente de natureza histórica.

1.3. Importância do Estudo

O manual escolar, como principal recurso utilizado em sala de aula, influencia o

processo de ensino-aprendizagem, logo é premente que, através da investigação, possam ser

recolhidos dados que permitam a compreensão e o aperfeiçoamento deste recurso didático. O

professor, como principal agente educativo escolhe o manual escolar e determina quando e

como este recurso didático é utilizado em sala de aula, logo é fundamental a identificação das

perceções dos professores sobre a História das Ciências, imagem da Ciência e imagem do

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e Geologia do

11º ano de escolaridade. A verificação destas condições conduzirá a uma maior eficácia do

processo de ensino-aprendizagem. Contudo, a capacidade do professor olhar criticamente o

conteúdo do manual e a forma como este é apresentado, transformando sempre que considere

necessário, deverá acompanhar a sua atividade letiva. Assim, é imperioso contribuir para a

reflexão crítica dos manuais escolares por parte dos professores/utilizadores, de forma a que

procedam a uma seleção mais fundamentada e que tomem consciência de que o manual

escolar é um auxiliar de natureza pedagógica que pode ser, por eles, modificado e corrigido.

1.4. Limitações

O presente estudo possui limitações relativamente ao tema. A investigação levada a cabo

neste trabalho incidiu apenas num tema específico lecionado no 11º ano de escolaridade. Desta

maneira, os resultados não devem ser generalizados a outros temas lecionados, que podem

apresentar a História das Ciências de outra forma. O número reduzido dos elementos que

constituem a amostra da investigação na segunda parte do estudo representa, também, uma

limitação. Foram trabalhados todos os manuais de Biologia e Geologia do 11ºano de

15

escolaridade existentes no mercado, mas a escolha do número e dos professores entrevistados

seguiu critérios que exigiam que apenas os docentes que utilizaram o manual escolar nos

últimos dois anos, fossem entrevistados.

1.5. Estrutura geral da dissertação

A finalizar este capítulo introdutório, apresenta-se a estrutura seguida na redação do

texto desta dissertação. Está organizado em cinco capítulos: Da contextualização à definição do

estudo, Revisão de Literatura, Metodologia de Investigação, Apresentação e Análise de

Resultados, e Conclusões, Implicações e Sugestões. Tem início no presente capítulo – Da

contextualização à definição do estudo – onde se apresentam o contexto que deu origem a este

estudo, os objetivos, a importância e as limitações do estudo, e a estrutura geral deste

documento.

No segundo capítulo – Revisão de Literatura - procede-se à apresentação e exploração

do quadro teórico mais relevante para o estudo em causa, abordando-se alguns estudos sobre a

inclusão e o processo de operacionalização da História das Ciências em manuais escolares, a

Imagem da Ciência e do Cientista veiculada através da História das Ciências nos manuais

escolares e os processos de integração da História das Ciências nas práticas letivas.

No terceiro capítulo – Metodologia de Investigação - são apresentados os manuais

escolares que constituem o corpus de análise em que incide o presente estudo e é efetuada a

descrição da grelha construída para a análise da informação histórica da temática

Evolucionismo. Caracteriza-se, também, os critérios de seleção dos professores que participaram

no estudo. Descrevem-se os procedimentos de recolha e análise de informação e os processos

de validação dos instrumentos de investigação em função de cada uma das vertentes que

integram o estudo.

No quarto capítulo – Apresentação e Análise de Resultados - são apresentados os

resultados da investigação bem como a análise reflexiva dos mesmos em relação à forma como

é incluída a História das Ciências, a imagem de Ciência e Cientistas nos manuais escolares e no

tema em estudo e as perceções dos professores sobre a História das Ciências, imagem da

Ciência e imagem do Cientista veiculadas nos manuais escolares de Biologia e Geologia do

11ºano de escolaridade no tema Evolucionismo

16

No quinto e último capítulo - Conclusões, Implicações e Sugestões - apresentam-se as

principais conclusões decorrentes da análise de dados, possíveis implicações que delas advêm

para a educação em Ciências, em particular, para a exploração adequada da História das

Ciências na sala de aula e sugestões para futuras investigações em educação em Ciências.

Termina-se a presente dissertação com a enumeração das referências bibliográficas e a

apresentação dos anexos considerados necessários para uma melhor compreensão do estudo

desenvolvido.

17

II – REVISÃO DE LITERATURA

Introdução

O presente capítulo encontra-se dividido em duas secções principais. Na primeira secção

são analisados e revistos alguns estudos realizados sobre a História das Ciências em manuais

escolares de Ciências. A análise destes estudos pressupôs a divisão desta primeira secção em

duas subsecções. Na primeira subsecção é abordado o processo de operacionalização didática

da História das Ciências nos manuais escolares de Ciências, ou seja, o tipo de recursos

mobilizados na exploração da informação histórica e o modo como essa informação é explorada.

Na segunda subsecção é abordada a Imagem de Ciência e de Cientistas veiculadas pelos

manuais em estudo. Na segunda secção é realizada uma revisão de estudos publicados que se

basearam na integração da História das Ciências na prática letiva. Os processos de integração

do conteúdo histórico foi analisado tendo em conta o tipo de recursos utilizados nas intervenções

pedagógicas (primeira subsecção) e o modo como foi explorada a História das Ciências (segunda

subsecção).

2.1. História das Ciências em manuais escolares de Ciências: alguns estudos

A revisão de literatura efetuada revela a existência de um número considerável de

estudos efetuados sobre a abordagem e exploração da História das Ciências em manuais

escolares (Leite, 1986; Campos & Cachapuz, 1997; Duarte & Pereira, 1999; Cardoso, 2002;

Leite, 2002; Bello & Sánchez, 2003; Carneiro & Gastal, 2005; Batista, 2006; Pereira & Amador,

2007; Vidal et al., 2007; Amorim, 2009; Niaz et al., 2010; Cavadas & Franco, 2010; Antunes,

2012; Tavares, 2012). O quadro 1 mostra o conjunto de publicações de autores nacionais que

incidem na análise da exploração da História das Ciências em manuais escolares de várias áreas

disciplinares.

18

Quadro 1: Publicações de autores nacionais sobre a inclusão da História das Ciências em Manuais Escolares de Ciências

Disciplinas Ano Título Nº de ME Autor

Física 1986 Teaching Science Through History: A comparative study in England and Portugal of the use of the History of Science in teaching of Physical Sciences

12 Leite, L.

Física 2002 History of Science in Science Education: Development and Validation of a Checklist for Analysing the Historical Content of Science Textbooks

5 Leite, L.

Química 1997 Imagens de Ciência em manuais de química portugueses

4 Campos & Cachapuz

Química 1998 O Manual Escolar como facilitador da construção do conhecimento científico – o caso do tema “Reações de Oxidação-Redução” do 9ºano de escolaridade

10 Pereira & Duarte

Química 2002 A História da Química em Manuais Escolares de Química dos 9º e 11º Anos de Escolaridade. 15 Cardoso, M.

CdN6 2006 A História das Ciência no Ensino das Ciências da Natureza – um estudo com manuais escolares do 6º ano de escolaridade e seus autores

18 Baptista, R.

CdN5 2007 A História da Ciência em manuais escolares de Ciências da Natureza 9 Pereira & Amador

CFQ 2009

A História das Ciências e a Adopção dos Manuais Escolares: uma investigação com manuais escolares e professores de Ciências Físico-Químicas, centrada no tema “Viver Melhor na Terra”

8 Amorim, M.

CFQ/QA 2012 A história do átomo no ensino da Física e da Química: um estudo com manuais escolares do 9º e 10º anos de escolaridade e seus autores

16 Antunes, M.

CFQ/QA 2012 A História das Ciências e as analogias na evolução da Tabela Periódica: Um estudo com manuais escolares e seus autores

16 Tavares, A.

CN BG

2007

Natureza da Ciência em Manuais Escolares de Ciências Naturais e de Biologia e Geologia: imagens veiculadas e operacionalização na perspetiva dos professores e autores

5 Silva, J.

Física 2008 A evolução da descoberta do eletromagnetismo na História e no ensino da Física

22 Lourenço, I.

Geologia 2010 A Teoria da Deriva dos Continentes de Alfred Wegener nos manuais escolares de Ciências Naturais portugueses

2 Cavadas & Franco

Ciências Naturais

2011 A influência dos naturalistas franceses nos manuais escolares portugueses de ciências naturais: o caso das teorias da origem das espécies

5 Cavadas, B.

O quadro 2 apresenta alguns estudos de autores estrangeiros que fizeram parte da

revisão de literatura e que também se focam na inclusão da História das Ciências nos manuais

escolares de diversas disciplinas:

19

Quadro 2: Publicações de autores estrangeiros sobre a inclusão da História das Ciências em Manuais Escolares de Ciências

Disciplinas Ano Título Nº de ME Autor

Biologia 2005 História e Filosofia das Ciências no ensino de Biologia

4 Carneiro & Gastal

Química 2007 Lavoisier nos manuais didáticos 2 Vidal et al

Física

Química 1996 La utilización de la Historia de las Ciencias en la

enseñanza de la Física y la Química 13 Solbes & Traver

Ciências 1998 Philosophically Correct Science Stories? Examining the Implications of Heroic Science Stories for School Science

s/r Milne, C.

Física 2010 Why Implementing History and Philosophy in School Science Education is a Challenge: An Analysis of Obstacles

s/r Höttecke & Silva

Química 2012 Estudiando cómo los modelos atómicos son introducidos en los libros de texto de Secundaria 16 Manzado & Alonso

Ciências 2003 O livro didático de Ciências: Problemas e soluções s/r Neto & Fracalanza

Química 2002 How in spite of the rhetoric, History of Chemistry has been ignored in presennting atomic structure in textbooks

23 Niaz & Rodriguez

Física Química

2005 The oil drop experiment: do Physical chemistry Textbooks refer to its controversial nature? 28 Niaz & Rodriguez

Biologia 2008 Nature of Science as Depicted in Turkish Biology Textbooks 4 Irez, S.

Física 2010 Reconstruction of the History of the Photoelectric Effect and its Implications for General Physics Textbooks

103 Niaz et al.

Química 2003 La Historia de la Ciencia en los libros de texto: La(s) hipóteses de Avogadro s/r Bello, R. & Sánchez

Química 2005

A reconstruction of Development off the Periodic Table based on the History and Philosophy of Science and its implications for general chemistry textbooks

57 Brito et al.

2.1.1.Processos de operacionalização didática da História das Ciências nos manuais escolares

A revisão de literatura efetuada permitiu verificar que os dados biográficos dos cientistas

são o tipo de informação histórica mais explorada nos manuais escolares. Estes dados

biográficos podem incluir por exemplo: data de nascimento e/ou falecimento do cientista, a sua

origem, a sua formação académica, a sua historiografia familiar e prémios, condecorações

recebidas e/ou homenagens efetuadas. Este tipo de informação histórica é, por vezes, a única

representação da História das Ciências incluídas em vários temas (Leite, 1986; Solbes & Traver,

20

1996; Vidal et al., 2007; Carneiro & Gastal, 2005; Lourenço, 2008; Höttecke & Silva, 2010). As

investigações levadas a cabo por Cardoso (2002); Baptista (2006); Amorim (2009); Antunes

(2012); Tavares (2012); Amorim (2009) e Baptista (2006) permitiram verificar que:

O recurso mais utilizado são as fotografias de cientistas nos manuais de CFQ e QA-11

antes e depois da reforma curricular, analisados por Cardoso, (2002), nos conteúdos

históricos sobre o Átomo e sobre a Tabela Periódica quer dos manuais escolares de

CFQ-9 (Antunes, 2012; Tavares, 2012) quer dos manuais escolares de QA-10 (Antunes,

2012; Tavares, 2012), na temática ‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares de

CFQ-9 (Amorim, 2009), nos manuais escolares de Física (Leite, 2002) nos manuais

escolares de CdN6 antes de 2001 e sofrendo um acréscimo significativo após 2001

(Baptista, 2006)

A revisão de literatura efetuada às investigações levadas a cabo por Cardoso (2002);

Leite (2002); Pereira & Amador (2005); Baptista (2006); Pereira & Amador (2007); Amorim

(2009); Antunes (2012) e Tavares (2012) permitiram identificar os textos elaborados pelos

autores dos manuais escolares e os documentos/textos originais como os dois tipos de recursos

mobilizados com maior frequência na exploração da informação histórica:

Os textos elaborados por autores dos manuais escolares estão presentes

fundamentalmente na temática ‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares de CFQ-9

(Amorim, 2009) e nos manuais de Física (Leite, 2002) mas com uma ocorrência inferior

à das fotografias dos cientistas. Nos manuais escolares de CdN6, os textos elaborados

por autores dos manuais escolares encontram-se em número superior às fotografias dos

cientistas quer nos manuais editados antes de 2001 quer nos manuais editados após

2001 (Baptista, 2006).

Os documentos/textos originais estão patentes também nos manuais escolares de

CFQ-9 e QA-11 antes e depois da reforma (Cardoso, 2012), no tema “Viver melhor na

Terra”, nos manuais de Física (Leite, 2002), nos manuais de CFQ-9 no tema sobre a

Tabela Periódica (Tavares, 2012) e nos manuais de CdN5 (Pereira & Amador, 2005).

Exemplo de estas ocorrências são um excerto do discurso de Max Planck durante a

21

cerimónia de atribuição do prémio Nobel, no manual de Física do 10ºano de

escolaridade (Leite, 2002), a tabela periódica original de Mendeleev em alguns manuais

de CFQ9 (Tavares, 2012), uma citação do mesmo químico russo em 1869 no tema

“Viver melhor na Terra” (Amorim, 2009), um texto atribuído a Robert Hooke (Pereira &

Amador, 2007) e o excerto do relato da experiência realizada por Dr. Beaumont, sobre

as transformações ocorridas no estômago (Baptista, 2006).

As atividades de aprendizagem que contemplam explicitamente a exploração das

História das Ciências são escassas em edições anteriores aos anos 90. A partir desta altura

houve um aumento destas atividades nos manuais escolares. Grande parte das atividades de

natureza histórica possuem um estatuto complementar, no final do capítulo ou da seção (Solbes

& Traver, 1996). As atividades com recurso à História das Ciências foram identificadas nos

manuais escolares de CN do 3ºciclo e nos manuais escolares de BG-10/11 (Silva, 2007).

A revisão de literatura efetuada às investigações levadas a cabo por Cardoso (2002);

Leite (2002); Pereira & Amador (2005); Baptista (2006); Pereira & Amador (2007); Amorim

(2009); Antunes (2012) e Tavares (2012) permitiram verificar que:

As atividades de aprendizagem de caracter livre apresentam maior número de

ocorrências nos manuais escolares de CFQ-9 no tema “Viver melhor na terra” (Amorim,

2009), no tema sobre o Átomo nos manuais escolares de CFQ-9 (Antunes, 2012) e no

tema sobre a Tabela Periódica nos manuais escolares de CFQ-9 (Tavares, 2012). Já nos

manuais escolares do ensino secundário QA-10 sobre o tema do Átomo e Tabela

Periódica (Antunes, 2012, Tavares, 2012), nos manuais de CdN6 publicados antes de

2001 (Baptista, 2006), nos manuais de CdN5 (Pereira & Amador, 2007) e nos manuais

de Física (Leite, 2002) estas atividades apresentam-se com um caracter

predominantemente obrigatório. É de salientar que os manuais escolares de CdN6

publicados após 2001 revertem esta tendência de forma significativa passando a figurar

um número de atividades de caracter livre muito superior aos manuais publicados antes

de 2001. Nos manuais escolares de CFQ-9 e QA-11 analisados por Cardoso (2002) as

atividades de aprendizagem relacionadas com a História da Ciência estão praticamente

ausentes nos manuais anteriores à reforma. Este facto altera-se em manuais publicados

22

depois da reforma, sendo que o estatuto das atividades são predominantemente

obrigatórias e com um nível normal tanto no 9º como no 11º.

As atividades de nível normal são predominantes nos manuais escolares de CFQ-9 do

tema “Viver melhor na terra”, assim como nos manuais escolares de CFQ-9 sobre o

Átomo (Antunes, 2012), nos manuais de CdN5 (Pereira & Amador, 2007), nos manuais

de CdN6 antes e após a reforma de 2001 (Baptista, 2006) e nos manuais de Física

(Leite, 2002). No tema Tabela Periódica nos manuais CFQ9 e QA-10 denota-se alguma

valorização das atividades de nível aprofundado (Tavares, 2012).

As atividades de memorização da informação são o tipo de atividade com maior

número de ocorrências nos manuais escolares de CFQ9 depois da reforma (Cardoso,

2002), de CFQ-9 no tema “Viver melhor na terra”. As leituras guiadas e a investigação

bibliográfica ocorrem de forma semelhante entre elas e ambas em número inferior à

especificação anterior (Amorim, 2009). As leituras guiadas estão também patentes nos

manuais de CdN5 em número expressivo (Pereira & Amador, 2007).

As atividades de análise de dados históricos estão patentes nos manuais escolares de

CFQ- 9 no tema “Viver melhor na terra” em número bastante reduzido, mas apresenta-

se como tipo de atividade dominante nos manuais de CFQ-9 e QA-10 no tema sobre o

Átomo (Antunes, 2012), nos manuais de CdN6 antes e após a reforma de 2001

(Baptista, 2006) e ainda nos manuais de CdN5 (Pereira & Amador, 2007).

O tema “Viver melhor na Terra” é aquele que se destaca como apresentando maior

número de experiências históricas como forma de abordar a História das Ciências

(Amorim, 2009). É dado como exemplo desta ocorrência a experiência de Oersted no

que se refere à descoberta do eletromagnetismo.

O conteúdo histórico ocupa tanto um estatuto fundamental como complementar nos

manuais escolares de CFQ-9 e QA-11 depois da reforma (Cardoso, 2002), nos manuais

de CFQ-9 no tema “Viver melhor na terra” (Amorim, 2009), nos manuais de CdN6 antes

e após a reforma de 2001 e nos manuais escolares de Física (2002). O número de

23

atividades de aprendizagem dirigidas a todos os estudantes é semelhante às atividades

dirigidas a alunos voluntários no primeiro estudo, mas as restantes atividades são

dirigidas apenas a alunos voluntários. Ao contrário, nos manuais de CdN5 (Pereira &

Amador), nos manuais de CFQ-9 e QA-11 anteriores à reforma e no tema sobre a Tabela

Periódica nos manuais de CFQ-9 e QA-10 constata-se que o conteúdo histórico

apresenta um papel fundamental sendo dirigido predominantemente a todos os

estudantes. (Cardoso, 2002; Antunes, 2012).

2.1.2. Imagem da Ciência e do Cientista veiculada através da História das Ciências nos manuais

escolares

A ideia da existência de um único método científico e universal formado por um conjunto

de etapas, assente na Observação/Experimentação e com uma perspetiva empirista/indutivista

da ciência e do conhecimento científico predomina a visão de Ciência transmitida pelos manuais

escolares de Química e Biologia do nível secundário, não sendo desenvolvida a pluralidade de

métodos científicos e demonstrando que a lei é induzida a partir de observações e

experimentação (Solbes & Traver, 1996; Campos & Cachapuz, 1997; Milne, 1998; Vidal et al.,

2007; Irez, 2008; Höttecke & Silva, 2010; Cavadas & Franco, 2010; Cavadas, 2011). Nos

manuais escolares de CN do 3ºciclo e de BG-10/11 a observação e a experimentação são os

métodos mais enfatizados, apesar de se encontrarem contemplados outros processos

diversificados de construção do conhecimento como: ideias/imaginação; raciocínio analógico,

processos matemáticos e processos classificação. A mobilização de ideias/imaginação é referido

num dos manuais escolares e esta é ilustrada no exemplo de Mohorovicic ter imaginado que as

ondas P e as ondas S teriam seguido trajetórias diferentes e por isso terem chegado em tempos

diferentes (Silva, 2007). No tema da Deriva Continental, lecionado no 7ºano de escolaridade está

patente de forma ténue o processo de criação científica, que mostra que o conhecimento

científico não é um conhecimento estático, mas suscetível à mudança, de acordo com os novos

dados que vão sendo adquiridos e o consenso na comunidade científica da época. Também no

tema sobre os modelos atómicos nos manuais escolares espanhóis de Química do nível

secundário é rompida a perspetiva empirista/indutivista da ciência e do conhecimento científico

(Manzado & Alonso, 2012)

24

O contexto da atividade científica nos manuais escolares de CdN, CN do ensino básico e

Biologia e Química do nível secundário não incluem ou não valorizam a contextualização,

apresentando os conteúdos como um conjunto de fatos, leis e teorias, como ciência neutra e

verdade absoluta sem interesses políticos, económicos e ideológicos envolvidos (Campos &

Cachapuz, 1997; Níaz & Rodriguez, 2002; Neto & Fracalanza, 2003; Carneiro & Gastal, 2005;

Vidal et al, 2007; Irez, 2008; Cavadas, 2011; Manzado & Alonso, 2012). Nos manuais de CN do

3ºciclo e BG-10/11 os contextos sociais e científico/tecnológicos estão patentes, aproximando-se

de uma perspetiva pós-positivista de Ciência. Os fatores religiosos e políticos são também fatores

explorados nos diferentes manuais. Um exemplo de fator religioso apresentado num dos

manuais remete para o facto de os cristãos interpretarem os acontecimentos geológicos à luz da

Bíblia. (Silva, 2007).

A evolução do conhecimento científico nos manuais de Química do 9ºano, Física,

Química e Biologia do nível secundário transmitem a visão de Ciência como finalizada e como

um produto acabado, resultado da acumulação de conhecimentos. A linearidade na

apresentação da evolução dos vários temas é reforçada pelos manuais escolares que veiculam a

imagem de Ciência como uma sucessão de episódios históricos, desde da sua origem até à

atualidade. Não é referida qualquer controvérsia científica e contexto social em que se inseriam

os cientistas que contribuíram para a construção do conhecimento do tema. (Campos &

Cachapuz, 1997; Pereira & Duarte, 1998; Bello & Sánchez, 2003; Carneiro & Gastal, 2005;

Brito et al, 2005; Niaz & Rodriguez, 2005; Vidal et al., 2007; Niaz et al, 2009; Manzado &

Alonso, 2012). Como exemplo é apresentada a teoria de dissociação eletrolítica de Arrhenius, à

parte do texto principal, mas sem explicarem as limitações desta mesma teoria, que foram a

base ou que deram significado ao surgimento de outras teorias como a de Bronsted-Lowry que é

apresentada aos alunos como verdadeira (Campos & Cachapuz, 1997). A Ciência como uma

soma de acontecimentos, linear e com a perspetiva de que o conhecimento científico atualmente

aceite é o resultado linear de conhecimentos pré-existentes é também apontado nos manuais de

Biologia brasileiros (Carneiro & Gastal, 2005). Os manuais de CN do 3º ciclo e Biologia e

Geologia do nível secundário apontam o carater dinâmico da Ciência de forma explícita e

incluem também as caraterísticas dessa natureza dinâmica: controvérsias, problemas não

resolvidos, revoluções, conjeturas e substituição de uma perspetiva teórica por outra (Silva,

2007).

25

A revisão de literatura efetuada às investigações levadas a cabo por Cardoso (2002);

Leite (2002); Pereira & Amador (2005); Baptista (2006); Pereira & Amador (2007); Amorim

(2009); Antunes (2012) e Tavares (2012) permitiram verificar que:

A evolução da Ciência está representada na maioria dos manuais escolares analisados

através da combinação de diferentes tipos de evolução: menção a períodos discretos;

descrição de uma descoberta científica; linear e reta/unidirecional. A referência à

evolução real da Ciência está patente num número significativamente reduzido de

manuais escolares de QA-10 e de CFQ-9 (Tavares, 2012), de CdN6 antes e após 2001

(Baptista, 2006), de CdN5 (Pereira & Amador, 2007) e de Física (Leite, 2002). No tema

“Viver melhor na terra (CFQ-9) e na temática Átomo (QA10) está presente na maioria

dos manuais escolares (Amorim, 2009; Antunes, 2012) e na temática Átomo do 9ºano

de escolaridade está evidenciada em alguns manuais escolares (Antunes, 2012). A

referência à descoberta do elemento químico radão no ano de 1900 é incluída como

exemplo de menção a descoberta científica no tema “Viver melhor na Terra” nos

manuais escolares de CFQ-9 (Amorim, 2009). A descoberta do neutrão Por J. Chadwick

em 1932 (Antunes, 2012) é um outro exemplo desta especificação. A existência das

ondas eletromagnéticas colocada em evidência por Hertz em 1888, quando Maxwell as

previra 15anos antes (CFQ-9, Amorim, 2009) e o facto de os gregos não conseguirem

provar a existência dos átomos e esta ideia ter sido abandonada durante 2000 anos até

Dalton ter apresentado o primeiro modelo do átomo no século XIX são exemplo da

ciência como um processo linear e reto (CFQ-9, Antunes, 2012).

O contexto no qual a informação histórica é relatada está representado essencialmente

pelo contexto científico nos manuais escolares de CFQ-9 e QA-11 (Cardoso, 2002), no

conteúdo histórico sobre a Tabela Periódica nos manuais escolares de CFQ-9 e de QA-

10 (Tavares, 2012) e, ainda, na temática ‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares

de CFQ-9 (Amorim, 2009). Na temática sobre o Átomo, tanto nos manuais CFQ-9 e QA-

10 (Antunes, 2012), nos manuais escolares de Física (Leite, 2002), nos manuais de

CdN6 antes e após 2001 (Baptista, 2006) e nos manuais de CdN5 (Pereira & Amador,

2007) encontra-se também a referência ao contexto tecnológico. Os contextos social,

político e religiosos estão ausentes nos trabalhos referidos ou encontram-se em número

26

significativamente reduzido comparativamente aos contextos científico e tecnológico. A

evolução do conhecimento sobre o átomo e a sua aceitação pela comunidade científica

(CFQ-9, Antunes, 2012) e a evolução da ideia do sentido da corrente elétrica (CFQ-9,

Amorim, 2009) são exemplos de contexto científicos utilizados para relatar a informação

histórica. Relativamente ao contexto ao tecnológico é referida a descoberta do

microscópio, por Leeuwenhoek num dos manuais de CdN6 antes de 2001 (Baptista,

2006) ou a relação entre a implementação definitiva das telecomunicações e o avanço

da eletrónica (CFQ-9, Amorim, 2009).

A revisão de literatura revelou que maior parte dos manuais escolares transmite uma

ideia inadequada de Cientista. A imagem veiculada é de cientistas como indivíduos brilhantes,

fora do comum, heróis e génios que trabalham de forma objetiva, isolada e sem influências das

suas crenças ou do contexto social da época. A informação do cientista encontra-se à parte do

texto e inclui pequenas referências a nomes, datas ou pequenos episódios históricos de

descobertas relevantes (Carneiro e Gastal 2005; Irez, 2008; Höttecke & Silva, 2010; Cavadas,

2011). Silva (2007) reforça ainda que na imagem veiculada pelos manuais escolares de CN e

Biologia/Geologia, predomina a referência a cientistas do sexo masculino e europeus,

pertencentes a classes elitistas e que trabalham de forma individual.

As investigações levadas a cabo por Cardoso (2002); Leite (2002); Pereira & Amador

(2005); Baptista (2006); Pereira & Amador (2007); Amorim (2009); Antunes (2012) e Tavares

(2012) permitiram verificar que:

As caraterísticas pessoais dos cientistas estão presentes fundamentalmente na temática

‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares de CFQ-9 (Amorim, 2009) e nos manuais

de Ciências da Natureza do 5ºano (Pereira & Amador, 2007) mas com uma ocorrência

significativamente diminuta, inferior à dos dados biográficos em todos eles. A

incapacidade da distinção das cores por John Dalton, acompanhada da indicação da

atribuição do nome Daltonismo a esta anomalia, é referida como um exemplo de uma

característica pessoal incluída num manual escolar (CFQ-9, Amorim, 2009). A saída da

Áustria por Erwin Schrödinger aquando da ocupação Nazi é um outro exemplo

apresentado como uma caraterística pessoal (CFQ-9, Antunes, 2012) e a descrição de

27

Aristóteles como sendo um bom aluno, curioso, questionando tudo que via ou ouvia é

indicado como outro exemplo (Pereira & Amador, 2007)

Os episódios/anedotas estão patentes também principalmente na temática ‘Viver melhor

na Terra’ dos manuais escolares de CFQ-9 (Amorim, 2009) assim como os episódios da

vida pessoal no conteúdo Átomo dos manuais escolares de CFQ-9 e de Química A do

10º ano (Antunes, 2012) e nos manuais de Ciências da Natureza do 5ºano (Pereira &

Amador). Esta última caraterística é significativamente inferior à dos dados biográficos

nos manuais escolares de CFQ-9 e QA-11 antes e depois da reforma (Cardoso, 2002),

na temática ‘Viver Melhor na Terra’ da maioria dos manuais escolares de CFQ-9

(Amorim, 2009) e nos manuais de Ciências da Natureza do 5ºano (Pereira & Amador) e

inferior ou equivalente no conteúdo Átomo dos manuais de CFQ-9 e de Química A do

10º ano (Antunes, 2012). No que diz respeito aos manuais de Ciências da Natureza

publicados antes de 2001 não é contabilizada qualquer ocorrência e depois de 2001 é

contabilizada apenas uma ocorrência (Baptista 2006) assim como nos manuais de

Física (Leite, 2002). O facto de Mendeleev ter sido casado duas vezes e poder ser a

razão para nunca ter sido admitido na Academia Imperial das Ciências é apresentado

como um exemplo de episódios/anedotas (CFQ-9, Tavares, 2012). A atribuição do

Prémio Nobel da Química ao cientista neozelandês Ernest Rutherford em 1908 e do

Prémio Nobel da Física ao cientista de origem alemã Albert Einstein em 1921 são

indicados como exemplos de episódios da vida pessoal dos cientistas (QA-10, Antunes,

2012). Nos manuais de Ciências da Natureza de 5ºano é referida uma pequena história

sobre os azares de Avelar Brotero, antes da sua publicação da Flora Lusitânica (Pereira

& Amador, 2007).

Nas características dos cientistas é veiculada a ideia dos cientistas como indivíduos

famosos, geniais e fora do comum nos manuais de CFQ-9 e QA-11 (Cardoso, 2002) nos

conteúdos históricos sobre o Átomo e sobre a Tabela Periódica quer dos manuais

escolares de Ciências Físico-Químicas do 9º ano (CFQ-9) (Antunes, 2012; Tavares,

2012) quer dos manuais escolares de Química A do 10º ano (QA-10) (Tavares, 2012),

na temática ‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares de CFQ9 (Amorim, 2009),

nos manuais escolares de CdN6 nas publicações anteriores e após 2001 (Baptista,

2006) e ainda Leite (2002). A apresentação de Max Planck como um físico brilhante

28

(CFQ-9, Antunes, 2012) ou a atribuição do estatuto de um dos maiores génios da

antiguidade ao cientista grego Arquimedes (CFQ-9, Amorim, 2009) são exemplos de

referências a cientistas como pessoas famosas ou génios. Os manuais de CdN do 5ºano

(Pereira & Amador, 2007) atribuem ainda um sentido de “paternidade” a estes

cientistas sinónimo de famoso e pioneiro numa certa área do conhecimento. A título de

exemplo as autoras destacam referências nos manuais escolares ao holandês

Leeuwenhoek como o pai da microbiologia, Antoine Lavoisier como pai da física e ainda

Whittaker como o pai da classificação dos seres vivos em cinco reinos.

Os cientistas individuais como responsáveis pela produção do conhecimento é uma ideia

veiculada nos manuais escolares de CFQ-9 e QA-11 antes e após a reforma (Cardoso,

2002) nos conteúdos históricos sobre o Átomo e sobre a Tabela Periódica quer dos

manuais escolares de Ciências Físico-Químicas do 9º ano (CFQ-9) (Antunes, 2012;

Tavares, 2012) quer dos manuais escolares de Química A do 10º ano (QA-10) (Antunes,

2012; Tavares, 2012), na temática ‘Viver Melhor na Terra’ dos manuais escolares de

CFQ9 (Amorim, 2009), nos manuais escolares de CN6 antes e após 2001 (Baptista,

2006), nos manuais escolares de CdN5 (Pereira & Amador, 2007) e ainda em nos

manuais de Física analisados por Leite (2002). A invenção da primeira pilha elétrica pelo

físico Alessandro Volta no início do século XIX (CFQ-9, Amorim, 2009), atribuição da

evolução da tabela periódica apenas a Mendeleev (CFQ-9, Tavares, 2012), são exemplos

de referências ao trabalho isolado do cientista.

2.2. Processos de integração da História das Ciências nas práticas letivas: algumas experiências

pedagógicas

São vários os estudos que deram um contributo para um maior entendimento sobre as

estratégias para a integração da História das Ciências nas práticas letivas. O quadro 3 mostra

alguns dos estudos nacionais e internacionais que fizeram parte da revisão efetuada:

29

Quadro 3: Estudos nacionais e internacionais sobre estratégias para a integração da História das Ciências na prática

letiva

Disciplinas Ano Título Autor

Física 1996 História e Filosofia da Ciência: da teoria para a sala de aula Vannucchi, A.

Geologia 2007 Controvérsias Geológicas: seu valor científico- histórico e didático Monteiro, G.

CdN6 2006 A História da Ciência no tema “Microbiologia”. Um estudo no

6ºano de escolaridade

Domingues, M.

Física 2009 A Natureza da Ciência como saber escolar: um estudo de caso a

partir da História da Luz.

Forato, T.

Física 2012 Formação crítico-transformadora de professores de Física: uma

proposta a partir da História da Ciência

Moura, B

Biologia 2010 História e Filosofia da Biologia como ferramenta no Ensino de

Evolução na formação inicial de professores de Biologia

Corrêa et al.

Física 2010 A History of Science classroom experience: Teaching the

movement concept

Soares & Borges

Física 2005 Uma discussão sobre a Natureza da Ciência no ensino médio: um

exemplo com a Teoria da Relatividade Restrita

Köhnlein, J.& Peduzzi, L.

Física 2004 Uma análise das conceções dos alunos sobre a queda dos corpos Hülsendeger, M.

Física 2011 The Role of Historical-Philosophical Controversies in Teaching

Sciences: The Debate Between Biot and Ampère

Braga, M. et al.

Física 2012 A Teaching–Learning Sequence for the Special Relativity Theory at

High School Level Historically and Epistemologically Contextualized

Arriassecq, I. & Greca, I.

Física 2009 Teaching Physics to In-Service Primary School Teachers in the

Context of the History of Science: The Case of Falling Bodies

Kokkotas, P. et al.

Física 2010 Controvérsias sobre a Natureza da Luz: uma aplicação didática Silva, B.

Biologia 2011 História da Ciência em Sala de aula – Propostas para o ensino das

Teorias da Evolução

Beltran, M. et al.

Física 2008 Uma abordagem histórica para o ensino do Princípio da Inércia Souza, J.

Biologia 2009 Charles Darwin goes to school: the role of cartoons and narrative

in setting science in an historical context

Costa da Silva et al.

No que diz respeito ao tipo de recursos utilizados para explorar a História das Ciências

em sala de aula a revisão de literatura demonstrou que os recursos mais utilizados são as fontes

verbais como apresentado no quadro 4:

30

Quadro 4: Tipo de Fontes verbais utilizadas na exploração da História das Ciências

Fontes verbais Autores

Primárias (textos da autoria dos cientistas

responsáveis pelo conhecimento produzido. Por

exemplo, excertos de autobiografias, cadernos de

campo, correspondência, etc.)

Vannucchi, 1996; Monteiro, 2007; Domingues, 2006; Moura,

2012; Corrêa et al., 2010; Arriassecq & Greca, 2010; Soares &

Borges, 2010; Köhnlein, 2005; Hülsendeger, 2007; Braga et al., 2006

Secundárias (textos da autoria de historiadores,

filósofos e ou sociólogos da Ciência) Vannucchi, 1996

Textos produzidos pelo próprio investigador ou

outros investigadores

Vannucchi, 1996; Monteiro, 2007; Domingues, 2006; Forato,

2009; Corrêa et al.,2009; Arriassecq & Greca, 2010;

A revisão de literatura efetuada mostrou que quanto ao modo de exploração da

informação histórica, as principais atividades de aprendizagem pressupõe a (re)construção do

conhecimento como demostrando no quadro 5:

Quadro 5: Tipo de atividades de aprendizagem que dominam o modo de exploração da História das Ciências na

prática letiva

Tipo de atividades de aprendizagem Autores

Interpretação de informação (relatos de

experiências laboratoriais, dados experimentais, etc.) Vannucchi, 1996; Monteiro, 2007; Forato, 2009; Domingues,

2006; Souza, 2008; Silva, 2010; Braga et al., 2006

Pesquisa de informação (bibliografia especializada,

(auto)biografias, Histórias da Ciência, etc.) Hülsendeger, 2007

Execução de experiências históricas Batista & Araman, 2009; Soares & Borges, 2010; Braga et al., 2006

Dramatizações Forato, 2009; Köhnlein et al., 2005

Debates/role-playing Vannuchi, 1996, Monteiro, 2007; Forato, 2009; Silva, 2010 e

Baptista, 2006

Friso cronológico Forato, 2009

Vídeos Beltran et al., 2011; Forato, 2009

Biografias de cientistas Arriassecq et al., 2010; Braga et al., 2006

Construção de textos fictícios Monteiro, 2007; Kokkotas et al., 2009

2.2.1. Tipo de recursos utilizados para explorar a História das Ciências

A revisão de literatura demonstrou que os recursos mais utilizados pelos investigadores

são as fontes verbais. As fontes iconográficas foram encontradas apenas como complemento

dos textos elaborados pelos investigadores. As fontes verbais são quase sempre utilizadas como

ponto de partida em atividades de carácter histórico.

31

As fontes verbais primárias são utilizadas em textos da autoria dos cientistas

responsáveis pelo conhecimento produzido. Foram elaborados conjuntos de textos com recurso

a várias fontes primárias como por exemplo, no tema sobre a importância atribuída por outros

cientistas à descoberta das observações astronómicas proporcionadas pela luneta (Vannucchi,

1996). Esta autora utiliza textos autênticos de Galileu Sizzi e Kepler que tentaram dar resposta e

desacreditar as descobertas obtidas por Galileu. Para abordar os temas Tempo Geológico, Deriva

Continental e Tectónica de Placas, e as Extinções em Massa também foram utilizados alguns

materiais didáticos construídos com recurso a fontes primárias (Monteiro, 2007). Foram

utilizados excertos originais de investigadores como Charles Darwin, Lord Kelvin e Clarence King

para explorar a controvérsia sobre o tempo geológico e a idade atribuída à Terra ou James Dana

e Eduard Suess sobre a controvérsia da tectónica de placas e formação de montanhas. Excertos

do livro de Galileu, o Diálogo também foram utilizados, sendo que este ocorre entre as

personagens Simplício e Salviati criados por este cientista aquando da controvérsia sobre qual

seria o corpo celeste localizado no centro do Universo, o Sol ou a Terra (Hülsendeger, 2004).

Um texto redigido por Ampere foi também utilizado e explorado em sala de aula, numa turma de

Física em que se pretendia demonstrar a importância das controvérsias científicas na História

das Ciências nomeadamente entre os físicos franceses, Biot e Ampère. É neste texto que

Ampère apresenta a teoria ondulatória da luz (Braga et al., 2012). Também um artigo escrito e

publicado por Einstein foi fornecido aos alunos e depois discutido no âmbito do estudo sobre a

Teoria da Relatividade (Arriassecq & Greca, 2010). A revisão de literatura demonstrou que

existem vários estudos onde os autores elaboram textos com algumas passagens com fontes

verbais primárias, como por exemplo: textos originais de Francesco Redi sobre os seus

pensamentos acerca da geração espontânea, de Leeuwenhoek sobre as suas observações de

microrganismos em gotas de água dos charcos e Pasteur onde este faz uma descrição do seu

trabalho ou ainda excertos de cartas escritas por Pasteur à sua família, mulher e amigos

(Domingues, 2006); textos originais de Isaac Newton sobre a ótica e Thomas Young sobre a

teoria de luz e cores (Moura, 2012); excertos da obra A Origem das Espécies de Charles Darwin

para explorar o tema Evolução (Corrêa et al., 2009); conjunto de textos de Aristóteles, Copérnico,

Brahe, Kepler e Galileu por forma a explorar o tema movimento (Soares & Borges (2010) e

excertos de textos redigidos pelo próprio Einstein e outros cientistas (Köhnlein & Peduzzi, 2005).

32

As fontes verbais secundárias caracterizam-se por textos da autoria de historiadores,

filósofos e ou sociólogos da Ciência. O estudo de Vannucchi (1996) que explora a história da

luneta incluiu um diálogo imaginado por Stillman Drake (1983), um diálogo fictício que inclui

cientistas contemporâneos de Galileu e baseia-se em críticas desfavoráveis às primeiras

observações astronómicas realizadas por Galileu com o fundamento de que estas teriam sido

obra do acaso (p.89).

Os textos produzidos pelo investigador/professor são o recurso verbal mais utilizado nas

experiências pedagógicas em sala de aula no momento de explorar a História das Ciências de

determinado tema. Estas fontes estão incluídas em todas as investigações que fizeram parte da

revisão de literatura. Foram encontrados textos onde são relatas as observações científicas de

Galileu realizadas com a mediação de um instrumento, no caso, a luneta ou telescópio

(Vannucchi, 1996, p. 93); texto históricos onde é explorada a evolução do conhecimento sobre

da idade da terra (Monteiro, 2007, p. 243); texto onde é explorada a vida e obra de Aristóteles e

a teoria por este concebida da geração espontânea (Domingues, 2006, Anexo VI); texto histórico

onde explora o entendimento sobre a luz na antiguidade grega (Forato, 2009, p. 38, Volume 2);

textos elaborados pelos próprios investigadores na abordagem à Teoria da Relatividade

Arriassecq & Greca (2010); também foram encontrados em alguns trabalhos textos de outros

investigadores como por exemplo passagens da dissertação de mestrado de Lilian Al-Chueyr

Pereira Martins (A teoria da progressão dos animais de Lamarck, de 1993) com o objetivo de

estudar o processo de evolução na perspetiva de Lamarck (Corrêa et al., 2009)

2.2.2. Modo de exploração da informação histórica

As estratégias para a exploração da História das Ciências encontradas na revisão de

literatura foram diversificadas e incluem: interpretação da informação; pesquisa; execução de

experiências históricas; dramatizações; debates/role playing; vídeos; frisos cronológicos,

utilização de biografias e construção de textos fictícios.

A maioria das atividades propostas para explorar a história das Ciências são do tipo

interpretação da informação e seguem a mesma estrutura recorrendo a textos que devem ser

lidos e interpretados pelos alunos, seguidos de várias questões relativas a esses mesmos textos.

33

Os textos utilizados incluem o recurso a fontes primárias, secundárias e a textos produzidos pelo

próprio investigador. A título de exemplo refere-se como fonte secundária, um diálogo imaginado

por Stillman Drake (1983), sobre Galileu, utilizado por Vannucchi, 1996 que deveria ser lido e

interpretado pelos alunos. No final deste texto a investigadora incluiu questões que visavam

abordar a história e a natureza da Ciência, questionando os alunos, por exemplo, sobre as

dificuldades enfrentadas por Galileu na construção da luneta. No tema Tempo Geológico

também existem textos utilizados em atividades didáticas com recurso à interpretação da

informação que ilustram a forma como se pensava a Idade da Terra até aos finais do século

XVIII. Aborda a vida e obra de vários cientistas que contribuíram para a controvérsia do cálculo

da idade da Terra, tais como: James Ussher, o Conde de Buffon, James Hutton, Richard Kirwan,

William Smith e John Phillips. No final desta atividade são colocadas questões aos alunos como:

“Existe algum ponto de semelhança nas razões apresentadas entre os que defendiam uma Terra

à semelhança da descrita nos livros Bíblicos e nas expostas por Hutton?”; “Por que razão

Buffon, em semelhança com Hutton, defendeu que o calor interno da Terra deve ter

desempenhado um importante papel na história da Terra?” e “De que forma Smith e Phillips

vieram dar nova dinâmica à questão da Idade da Terra?” Monteiro (2007). A história da evolução

do nosso entendimento sobre a luz desde a antiguidade grega até aos dias de hoje também foi

elaborada em forma de narrativa com o objetivo de ser explorada com os alunos. Aborda o

entendimento da luz de filósofos e cientistas como: Leucipo de Mileto, Empédocles e Aristóteles.

(Forato, 2009) No final da informação dada a investigadora coloca questões direcionadas à

exploração da história da luz em diferentes épocas ao longo do tempo. A narrativa sobre a vida e

obra de Aristóteles e o contexto em que surgiu a sua teoria da Geração Espontânea foi elaborado

por Domingues (2006) e utilizado com o mesmo objetivo dos textos anteriores. No final a

investigadora explora o texto com um conjunto de questões de interpretação, como: “De que

forma pensava Aristóteles relativamente à origem dos microrganismos?”; “De que forma

Aristóteles chegou a essa conclusão?”; “Qual o nome da Teoria proposta por Aristóteles?”; “O

que nos diz essa Teoria? A sociedade da época concordou com a Teoria proposta por

Aristóteles?” A História do Princípio da Inércia também foi explorado através de textos que

incluíram a história do movimento segundo Aristóteles e segundo Galileu. Todos são seguidos

por várias questões relativas à informação que é incluída no texto e à Natureza das Ciências.

(Souza, 2008). A título de exemplo, o texto onde o autor explora o conceito de movimento

segundo Aristóteles é explorada a biografia do filósofo e de seguida o seu entendimento sobre o

34

movimento. No final do texto são colocadas aos alunos questões como: “Dentro de uma visão de

universo hierárquico, qual era o modelo de mundo de Aristóteles e como era dividido esse

mundo para ele?”; “Utilizando argumentos da física Aristotélica, discuta o termo repouso

absoluto; “Para Aristóteles o movimento deve-se a ação de uma força permanente, sobre o

corpo. Cessando a ação dessa força, cessa o movimento. Concorda com essa ideia aristotélica?

Aponte exemplo(s) do seu dia a dia para sustentar a sua argumentação.” No texto onde aborda

outros cientistas que contribuíram para a história do conceito do movimento tenta explorar

questões sobre a natureza da Ciência como ilustra o exemplo que se segue: “Pensando na

história da construção do Princípio da Inércia, podemos afirmar que a ciência é construída de

forma cumulativa (na qual os conhecimentos novos somente são somados aos anteriores) ou

passa por períodos de quebras e ruturas? Justifique sua resposta a partir dessa passagem

histórica”. O conceito de ótica também já foi explorado com a utilização de textos históricos

(Silva, 2010). Este investigador utilizou um conjunto de três textos históricos sobre a controvérsia

acerca da Natureza da luz entre os séculos XVII e XVIII e ainda os moldes explicativos do

processo de visão. No primeiro texto por exemplo, explica como as mais antigas civilizações já se

preocupavam em estudar os fenómenos físicos que envolviam a luz e a tentativa de discutir a

sua natureza. Aborda diferentes perspetivas de diferentes autores como: Platão, Pitágoras,

Leucipo e Demócito, Aristóteles, Euclides, Ptolomeu, Alhazen e mais tarde, na idade média,

Santo Tomás de Aquino. No final do texto histórico coloca questões como: “Quais as principais

dúvidas relacionadas ao estudo da luz, desde a Antiguidade?”; “Compare os modelos de visão

de Platão e de Alhazen. Você é capaz de dar argumentos em defesa de um ou de outro?”;

“Ainda que de forma filosófica, iniciam-se na Grécia Antiga estudos para tentar explicar o que

seria a luz. Aponte as principais correntes filosóficas que divergiam na tentativa de responder a

esta pergunta” e “De que forma Santo Tomás de Aquino defende a imaterialidade da luz?

Concorda com esse argumento?”. Os trabalhos de William Gilbert também foram colocados em

forma de texto histórico, tal como o contexto social e cultural onde nasceu a ciência moderna. A

elaboração e exploração deste texto teve como objetivo sistematizar as ideias debatidas pelos

alunos (Braga et al., 2012). No tema Deriva Continental e Tempo geológico, na problemática da

determinação da idade da Terra depois da descoberta da radioatividade foi utilizado um texto em

forma de diálogo entre o confronto de ideias de Geólogos e Físicos. Os alunos da turma foram

divididos em dois grupos, sendo que um deles assume e lê os comentários relacionados com a

Geologia e o segundo grupo e lê e assume o papel dos Físicos. (Monteiro, 2007)

35

A pesquisa de informação foi uma das estratégias encontradas no tema das ideias de

Aristóteles e Galileu sobre a queda dos corpos num trabalho proposto a alunos do nível

secundário. Esta pesquisa foi orientada e avaliada pelo professor através de um conjunto de

várias tarefas realizadas em grupo na sala de aula e os resultados foram apresentados

oralmente para a restante turma (Hülsendeger, 2004)

A execução das experiências históricas incluíram a simulação da formação de um arco-

íris utilizando um esguicho de água foi utilizada para reproduzir a forma como os pensadores

antigos observavam a formação deste fenómeno nas suas condições naturais. Na

impossibilidade de prever a formação de um arco-íris naturalmente, recorreu-se a esta

reprodução para que os alunos pudessem observar “as cores da luz do Sol” e estabelecer a

relação entre as posições do Sol e do observador. Numa outra atividade, foi abordada a

propriedades da luz de atravessar ou não alguns materiais, principalmente o vidro e a água, uma

vez que muitos pensadores já observavam e se preocupavam com essas propriedades da luz em

lentes, vidros, e superfícies refletoras. A experiência histórica da decomposição da luz branca ao

passar por um prisma de vidro constituiu outra atividade. A reprodução da experiência histórica

da simulação da “grande gota d’água” teve como objetivo tornar a observação do fenómeno do

arco-íris controlada pelos sujeitos. Esta experiência foi utilizada por pensadores como Teodorico

de Freiberg e Descartes. Foi possível o aluno observar a decomposição da luz branca ao passar

pela água, associar a reflexão da luz com a posição do observador e perceber o papel das gotas

individuais para a formação do fenómeno (Batista & Araman., 2009). Os procedimentos de

medição utilizados por Galileu foram reproduzidos com o objetivo de estudar o movimento linear

uniforme (Soares & Borges, 2010). A experiência de Oersted, físico Dinamarquês, foi

reproduzida com a ajuda de uma bateria moderna, por alunos da disciplina de Física. O objetivo

foi mostrar como este físico relacionou os fenómenos elétricos com os fenómenos magnéticos

Esta experiência foi acompanhada por um texto fornecido aos alunos, ode para além de ser

explicada a experiência foi explicado o contexto histórico em que aconteceu (Braga et al; 2012)

A peça de teatro “O éter e a natureza da luz” foi encenada por um grupo de alunos com

o objetivo de os envolver mais no processo de ensino aprendizagem. Numa primeira fase o texto

a dramatizar foi fornecido aos alunos participantes para que se preparassem e na fase seguinte

36

realizou-se a dramatização que incluiu personagens como Laplace, Thomas Young; Arago e

Fresnel (Forato, 2009). A questão do tempo e do espaço absoluto em Newton, bem como a

importância da transformação de Galileu foi dramatizada em aula, em fases semelhantes ao

estudo anterior e também com o envolvimento dos próprios alunos (Köhnlein & Peduzzi, 2005)

O recurso ao debate em pequeno grupo ou em turma é o tipo de atividade de

aprendizagem mais utilizado. Estes encontram-se nos estudos de Vannuchi (1996), Monteiro

(2007), Forato (2009), Silva (2010) e Baptista (2006). Em atividades propostas sobre o motivo

do aperfeiçoamento da luneta e o papel da teoria da observação e interpretação de dados

obtidos por Galileu os alunos leram textos e discutiram as questões colocadas no final, em

pequeno grupo. De seguida, criou-se um debate em turma sobre o tema (Vannuchi, 1996).

Também Monteiro (2007) e Forato (2009) utilizam estratégias de discussão/debate em pequeno

e grande grupo. O tipo de debate em que os alunos assumem e defendem diferentes papéis foi

explorado por Forato (2009) e Silva (2010). A atividade de role playing em que foi explorada a

natureza da luz a turma foi dividida em dois grupos, sendo que um grupo defendeu a teoria

ondulatória de Huygens e o outro grupo a teoria corpuscular de Newton (Forato, 2009). A

mesma metodologia e no mesmo tema foi utilizada por Silva (2010). A turma foi dividida em três

grupos sendo que um grupo defendeu a luz como onda e outro grupo defendeu a luz como

partícula. O terceiro grupo assumiu o papel de júri, escolhendo no final o grupo/teoria que

defendeu melhor a sua perspetiva.

O filme “Criação” foi utilizado na aprendizagem do tema Evolucionismo. É uma obra de

ficção adaptada para o cinema que retrata a história de Charles Darwin aquando da publicação

do livro A Origem das Espécies. Neste estudo é sugerido ao professor algumas passagens do

filme que podem ser utilizadas para trabalhar a História e a Natureza das Ciências (Beltran et al.,

2011). Imagens de filmes históricos como: “Troia”, “Alexandre”, “O nome da Rosa” e “Carlota

Joaquina” foram utilizadas para ilustrar o período da história e o contexto social que o

investigador pretendia trabalhar com os alunos (Forato, 2009)

Os frisos cronológicos foram utilizados por Forato (2009). Com a ajuda dos alunos a

investigadora elaborou um friso cronológico de seis metros que iniciava no ano 1300 a.C. e

terminava no ano 2000. Aqui foram incluídas imagens de filósofos, pensadores e cientistas

37

ligados à história da ciência. Por baixo da linha cronológica foi colocada uma faixa de papel em

branco para que os alunos contribuíssem com eventos históricos, obras literárias, compositores,

pensadores de várias áreas.

A biografia de Albert Einstein foi utilizada no estudo de Arriassecq & Greca (2012) sobre

a Teoria da Relatividade com o objetivo de confrontar os alunos com alguns aspetos e

curiosidades da sua vida. As autoras pretendiam trabalhar e desmistificar a imagem deste

cientista, mostrando este cientista como um indivíduo normal e comum. Este recurso foi

elaborado com cuidado para adaptar a linguagem à idade dos alunos que participaram no

estudo, sem no entanto se perder o rigor científico. A biografia de Ampère foi elaborada por

forma a dar a conhecer aos alunos a vida e obra deste cientista francês. Esta biografia incluiu

uma visão sobre o seu trabalho como: o resultado das várias interações entre os seus resultados

experimentais, a sua visão do mundo, a sua filosofia científica, as suas competências

matemáticas e as suas frustrações face à rejeição da sua teoria eletromagnética (Braga et al.,

2012).

Para explorar o confronto entre teorias catastrofistas e teorias uniformitaristas foi

utilizado e debatido um diálogo fictício entre Cuvier e Lyell (Monteiro, 2007). Com o intuito de

trabalhar a teoria da queda dos corpos foi elaborada, por um dos grupos de trabalho, uma

entrevista fictícia a Aristóteles e apresentada à restante turma. A entrevista incluiu questões

como: “Que causas acredita serem responsáveis pela queda dos corpos?”; “O peso tem algum

papel na queda dos corpos” e “E relativamente aos corpos celestes?” (Kokkotas et al, 2009)

38

39

III – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Introdução

Inicia-se este capítulo com uma descrição do plano geral do estudo. Em seguida, é

apresentado o corpus de manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade analisados.

Posteriormente, faz-se uma apresentação do procedimento de recolha e análise de informação

histórica relativa aos manuais escolares de Biologia descrevendo a grelha de análise utilizada

para este efeito. Por último, caraterizam-se os professores de Biologia e Geologia do 11º ano de

escolaridade envolvidos na segunda parte do estudo e o instrumento utilizado para recolher as

suas perceções acerca da imagem de Ciência e de Cientista veiculada pelos manuais escolares

que utilizam e do valor que atribuem à abordagem da História das Ciências por estes recursos

didáticos.

3.1. Plano geral do estudo

O presente estudo tem como objeto de análise manuais escolares de Biologia da

disciplina de Biologia e Geologia do ensino secundário, no tema Evolucionismo. Esta análise

baseia-se na forma como a História das Ciências é operacionalizada e nas imagens da Ciência e

do Cientista patentes nestes manuais. Assenta nos seguintes objetivos:

1. Analisar o modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

2. Identificar a imagem de Ciência e Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares

de Biologia do 11ºano de escolaridade.

3. Identificar as perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade;

4. Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das

Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

O estudo é limitado a um grupo de quatro manuais escolares elaborados por diferentes

editoras e diferentes equipas de autores. Recorreu-se aos seguintes instrumentos de

investigação:

40

a) Grelha de análise de manuais escolares;

b) Entrevista sobre as perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista e o o valor atribuído à integração da História das Ciências no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

3.2. História das Ciências no tema Evolucionismo dos Manuais Escolares de Biologia do 11º ano

de escolaridade

A primeira parte deste estudo pretendeu dar resposta ao primeiro e segundo objetivos

desta investigação:

- Analisar o modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

- Identificar a imagem de Ciência e Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11ºano de escolaridade.

Esta primeira fase envolveu a análise de uma amostra de quatro manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade que contemplam o tema Evolucionismo e ainda em vigor no

presente ano letivo 2014/2015. A análise de dados foi efetuada utilizando como instrumento de

análise uma grelha construída para outro estudo (Bernardes, 2013) e adaptada pontualmente

para dar resposta aos objetivos traçados para este trabalho. A grelha em causa está estruturada

em duas dimensões: operacionalização didática e imagem de Ciência/Cientista. Estas

dimensões estão divididas em subdimensões que abarcam diferentes tipos de

operacionalizações didáticas. Para constatar possíveis semelhanças ou diferenças no que se

refere à História das Ciências presente nos manuais analisados, os dados foram tratados através

de uma análise de conteúdo qualitativa e quantitativa. Deste modo, puderam-se comparar os

diferentes manuais no que se refere à inclusão do conteúdo histórico.

3.2.1. Apresentação do corpus de análise dos Manuais Escolares de Biologia do 11º ano.

O Quadro 6 representa os manuais escolares de Biologia e Geologia do 11º ano de

escolaridade:

41

Quadro 6: Corpus de análise dos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade.

Código Título Editora Autores

M1 Planeta com Vida Santillana/Constância Cristina Carrajola; Maria José Castro;

Teresa Hilário

M2 Biologia e Geologia 11 Areal Editores Osório Matias; Pedro Martins

M3 Terra, Universo de Vida Porto Editora Amparo Dias da Silva, Almira

Fernandes Mesquita, Fernanda

Gramaxo, Maria Ermelinda Santos,

Ludovina Baldaia, José Mário Félix

M4 Desafios Edições ASA João Carlos Silva; Elsa Ribeiro; Óscar Oliveira

Os manuais escolares são constituídos por quatro volumes: 1) exemplar do professor -

inclui o manual do aluno; 2) manual do aluno - inclui dois volumes; 3) guia/livro do professor e

4) caderno de atividades/manual de auto-avaliação. Este estudo incidiu na análise do exemplar

do professor e do caderno de atividades/manual de autoavaliação. Ao contrário do manual

utilizado pelo aluno, o manual do professor das editoras Edições Asa, Porto Editora e Areal

Editores, contêm bandas laterais com informação dirigida apenas ao docente. Esta informação

incluída no manual abarca informações que os autores consideram relevantes, como: sugestões

metodológicas; justificações das opções tomadas pelos autores; aprofundamento de conteúdos e

respostas às questões incluídas nas atividades. Para além destas informações as bandas laterais

remetem o docente para o livro do professor que pretende apoiar a sua prática letiva. Inclui

planificações e recursos didáticos específicos para o professor. A editora Santillana/Constância

não inclui no manual as bandas laterais e a informação específica para o docente encontra-se no

livro do professor.

O manual do aluno é constituído por dois volumes: o primeiro volume dedicado à

componente da Biologia e o segundo volume dedicado à componente da Geologia. Neste estudo

são considerados apenas os volumes dedicados à componente da Biologia porque é nesta área

que se enquadra a temática científica – Evolucionismo – que é objeto de análise. Esta temática

está patente nos manuais escolares na Unidade Didática designada por Evolução Biológica. No

final de cada unidade didática é possível encontrar em todos os manuais escolares um espaço

reservado à síntese dos conteúdos abordados e um conjunto de exercícios de avaliação da

aprendizagem efetuada. A maioria dos cadernos de atividades/manual de auto-avaliação incluem

resumos de cada unidade e exercícios que abrangem os aspetos mais importantes das matérias

lecionadas. O caderno de atividades da Areal Editores é o único que não inclui resumos teóricos.

42

3.2.2. Procedimentos de recolha e análise de informação relativa aos manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade

A análise da abordagem da História das Ciências na exploração do tema Evolucionismo

dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade implicou o uso de uma grelha

que permitisse a recolha de informação. A estrutura dessa grelha está globalmente representada

no quadro 7:

Quadro 7: Estrutura global da grelha de análise de manuais escolares

Dimensão Subdimensão

Operacionalização

Didática

Tipo de informação histórica apresentada/explorada

Tipo de recursos mobilizados na exploração da informação histórica

Modo de exploração da informação histórica

Imagem de

Ciência/Cientista

Imagem de Cientista

Dinâmica da Atividade Científica

Processo de Criação Científica

Contexto da Atividade Científica

Evolução do Conhecimento Científico

A grelha de análise dos manuais escolares está estruturada em duas dimensões: 1)

operacionalização didática e 2) imagem de Ciência/Cientista. Estas dimensões estão divididas

em subdimensões que especificam enfoques diversificados e que em conjunto dão uma visão

aprofundada do modo como cada uma das dimensões está corporizada no Manual Escolar. A

primeira dimensão – operacionalização didática – está dividida em três subdimensões que

incidem respetivamente na identificação do tipo de informação histórica apresentada, dos

recursos mobilizados para explorarem essa informação e do modo como o fazem. A segunda

dimensão – Imagem de Ciência/Cientista – também está, à semelhança da anterior, dividida em

subdimensões. Estas subdimensões podem ser agrupadas em dois conjuntos: 1) o primeiro

conjunto engloba apenas uma Imagem do Cientista - incide na caracterização dos cidadãos

envolvidos no processo de criação científica e 2) o segundo conjunto engloba as restantes

subdimensões – Dinâmica da atividade científica, Processo de Criação Científica, Contexto da

atividade científica e Evolução do conhecimento científico - que se reportam ao processo de

criação científica.

43

A subdimensão Tipo de Informação Histórica explorada foi subdividida em várias

categorias que se traduzem em várias formas de operacionalização, conforme se verifica no

quadro 8:

Quadro 8: Operacionalização da subdimensão Tipo de Informação Histórica explorada incluída na dimensão

Operacionalização didática

Subdimensão Operacionalização

Tipo de Informação

Histórica explorada

Dados biográficos do

cientista

Data de nascimento e/ou falecimento

Origem

Imagens (fotografias, retratos, esculturas, caricaturas, etc.)

Historiografia familiar (genealogia, acontecimentos familiares, etc)

Prémios/condecorações recebidas e/ou homenagens efetuadas

Formação académica (grau obtido, instituição e/ou homenagens

efetuadas)

Atividades

desempenhadas pelo

cientista

Investigação (projetos de investigação desenvolvidos e em curso)

Disseminação do conhecimento (publicações, participação em

reuniões científicas)

Ensino

Funções/Intervenção de cariz sociopolítico

Áreas do

conhecimento do

interesse do cientista

Áreas de Investigação

Artes Plásticas, Pintura, Escultura, História da Arte, Literatura, etc.

Dinâmica da atividade

científica

Trabalho individual e/ou de equipas

Colaborações/Intercâmbios nacionais e/ou estrangeiros

Papel da comunidade científica na validação do conhecimento

Processo de criação

científica

Observação/Experimentação; Ideias/Imaginação; Raciocínio

analógico; Processos matemáticos; Processos de medição;

Processos de classificação

Contexto da atividade

científica

Visão internalista (Científico. Tecnológico, Epistemológico

Visão externalista (Económico, Político, Ético/Moral, Religioso)

Evolução do

Conhecimento

Científico

Finalizado

Dinâmico, temporal

A subdimensão Tipo de informação histórica explorada inclui informações sobre: Dados

biográficos do cientista; Atividades desempenhadas pelo cientista; Áreas do conhecimento do

interesse do cientista; Dinâmica da atividade científica; Processo de criação científica; Contexto

da atividade científica e Evolução do Conhecimento Científico. Uma vez que o objetivo seria

analisar o grau de incidência de cada operacionalização, a apresentação dos resultados desta

subdimensão foi apenas qualitativa, utilizando-se o símbolo (+) para menos de três ocorrências;

o símbolo (++) de quatro a dez ocorrências e (+++) para mais de dez ocorrências e o símbolo (-)

para as ausências.

44

O quadro 9 apresenta o modo de operacionalização da subdimensão Tipo de recursos

mobilizados na exploração da informação histórica passível de ser concretizado nos manuais

escolares:

Quadro 9: Operacionalização da subdimensão Tipo de recursos mobilizados na exploração da informação histórica

incluída na dimensão Operacionalização didática

Subdimensão Operacionalização

Tipo de recursos

mobilizados na

exploração da

informação históricas

Fontes verbais

Fontes primárias

Fontes secundárias

Textos da autoria dos autores dos manuais escolares

Notícias da imprensa escrita

Guiões de peças de teatro

Font

es Ic

onog

ráfic

as

Cientistas

Fotografias

Escultura (busto, estátua)

Caricaturas

Livros

Fotografias de frontispício e/ou páginas de obras

científicas

Fotografias de cadernos de campo

Mapas Fotografias/gravuras de rotas de expedições

Equipamento

/ Técnicas de

Investigação

Fotografias de máquinas e/ou de equipamento de

laboratório

Fotografias de técnicas laboratoriais

Fotografias/pinturas/gravuras de navios oceanográficos

Modelos Fotografias/gravuras de modelos científicos

Espécies Fotografias de novas espécies classificadas

A subdimensão Tipo de recursos mobilizados na exploração da informação histórica é

passível de ser explorada através de dois tipos de fontes: as fontes verbais e as fontes

iconográficas. As fontes verbais podem ser fontes primárias, ou seja, textos da autoria dos

cientistas responsáveis pelo conhecimento produzido (por exemplo, excertos de autobiografias,

cadernos de campo, correspondência, etc), fontes verbais secundárias (textos da autoria de

historiadores, filósofos e ou sociólogos da Ciência), textos da autoria dos próprios autores dos

manuais escolares, notícias da imprensa escrita, guiões de peças de teatro com diálogos

ficcionados entre os cientistas da época. No que diz respeito às fontes iconográficas estas

podem ser representativas de; cientistas (fotografias, retratos, esculturas e caricaturas); livros,

como por exemplo o frontispício e/ou páginas de obras científicas, ou cadernos de campo;

mapas com fotografias/gravuras da rota de expedição seguida por Charles Darwin na sua visita

às ilhas Galápago; equipamentos/técnicas de investigação como por exemplo Fotografias de

máquinas e/ou de equipamento de laboratório Fotografias de técnicas laboratoriais

Fotografias/pinturas/gravuras de navios oceanográficos; Modelos, Fotografias/gravuras de

modelos científicos, espécies, como por exemplo fotografias de novas espécies classificadas

45

O quadro 10 apresenta o modo de operacionalização da subdimensão Modo de

exploração da informação histórica passível de ser concretizado nos manuais escolares:

Quadro 10: Operacionalização da subdimensão Modo de exploração da informação histórica incluída na dimensão

Operacionalização didática

Subdimensão Operacionalização

Modo de exploração

da informação

histórica

Tipo de

atividades de

aprendizagem

(Re)construção do

conhecimento

Interpretação de informação (relatos de experiências

laboratoriais, dados experimentais, etc)

Pesquisa de informação (bibliografia especializada,

(auto)biografias, Histórias da Ciência, etc.)

Execução

de

experiência

s históricas

conjugada com a análise do contexto

cientifico e intelectual da época

dissociada da análise do contexto

científico e intelectual da época

Dramatizações

Debates/Role Playing

Avaliação da aprendizagem

Contexto de

exploração das

atividades de

aprendizagem

Trabalho individual

Trabalho de grupo

Par

Pequeno Grupo (3 ou mais alunos)

Grupo Turma

Estatuto das

atividades de

aprendizagem

Primário As atividades estão incluídas ao longo da unidade

didática no manual do aluno

Secundário

As atividades estão incluídas no final da unidade didática

no manual do aluno

As atividades estão integradas no caderno de atividades

do aluno

O tipo de atividades de aprendizagem passíveis de serem mobilizadas na exploração da

informação histórica são atividades de reconstrução do conhecimento e de avaliação de

aprendizagens. As atividades de (re)construção do conhecimento podem implicar a interpretação

de informação, como por exemplo a interpretação de relatos de experiências laboratoriais e/ou

dados experimentais, a procura, seleção e organização de informação com base na consulta de

fontes diversificadas, a execução de experiências históricas conjugadas ou não com a análise do

contexto científico e intelectual da época; a realização de dramatizações e a realização de

debates/role playing. A exploração das atividades de aprendizagem pode ser efetuada no

contexto de trabalho individual e/ou em grupo.

As atividades de aprendizagem podem ocupar um estatuto primário ou secundário nos

manuais escolares. Assumem um estatuto primário quando estão incluídas ao longo das

unidades e um estatuto secundário quando estão incluídas no final de cada unidade didática ou

integradas no caderno de atividades.

46

A subdimensão Imagem do Cientista incluída na dimensão Imagem de Ciência/Cientista

permite obter uma visão sobre a vida e obra dos cientistas incluído nos manuais escolares,

como apresentado no quadro 11:

Quadro 11: Operacionalização da subdimensão Imagem do Cientista incluída na dimensão Imagem de Ciência/Cientista

Subdimensão Operacionalização

Imagem de

Cientista

Sexo Feminino

Masculino

Nacionalidade

Portuguesa

Estrangeiro

Europeu

Americano

Asiático

Africano

Historiografia

familiar

Genealogia

Acontecimentos familiares

Formação

académica

Licenciatura

Mestrado

Doutoramento

Atividades

desempenhadas

Ensino

Investigação (projetos de investigação desenvolvidos e em curso)

Disseminação do conhecimento (publicações, participação em reuniões

científicas)

Intervenção político-social

Áreas do

Conhecimento de

interesse

Áreas de

Investigação

Biologia (Zoologia, Botânica, Ecologia, Biologia

Marinha, etc.)

Geologia

Química

Física

Matemática

Outras áreas de

interesse

Pintura

História da Arte

Escultura

Literatura

Valoração social

Rec

onhe

cim

ento

Inte

rnac

iona

l

Atribuição do Prémio Nobel

Atribuição de outros prémios/condecorações por

organismos internacionais

Apresentação de Estátuas/ Bustos dos cientistas

noutros países que não são o da sua

nacionalidade

Rec

onhe

cim

ento

Nac

iona

l

Atribuição de prémios/condecorações por

organismos nacionais

Apresentação de estátuas/bustos dos cientistas

no país da sua nacionalidade

Desacreditação

Apresentação de caricaturas criadas na época

com o intuito de desacreditar e ridicularizar o

cientista

47

A subdimensão Imagem do Cientista é passível de ser operacionalizada nos manuais

escolares através da explicitação de várias características do cientista: sexo, nacionalidade,

historiografia familiar; formação académica; atividades desempenhadas; outras áreas de

conhecimento de interesse do cientista a valoração social. A análise destas características

permite caracterizar a imagem do cientista primordialmente veiculada e verificar se os manuais

escolares induzem imagens estereotipadas do cientista.

A operacionalização da valoração social contempla não só o reconhecimento do

cientista, através das referências à atribuição de prémios, condecorações e construção de

estátuas ou bustos nos países da nacionalidade dos cientistas ou noutros países, mas também

ações sociais desenvolvidas no sentido de desacreditar o cientista. Esta última situação emerge

nesta temática em análise – Evolucionismo – pela presença nos manuais escolares de

caricaturas de Charles Darwin.

O quadro 12 apresenta as diferentes operacionalizações incluídas na subdimensão

Dinâmica da Atividade Científica:

Quadro 12: Operacionalização da subdimensão Dinâmica da Atividade Científica incluída na dimensão Imagem de Ciência/Cientista

Subdimensão Operacionalização

Dinâmica da Atividade

Científica

Cientista O conhecimento científico produzido é atribuído a um único cientista

Equipa de

cientistas

O conhecimento científico produzido é atribuído a uma equipa de

cientistas

Intercâmbio entre

equipas de

cientistas

O conhecimento científico produzido é o resultado da interação entre

equipas de investigação

Comunidade

Científica

A validação do conhecimento científico está dependente da aceitação

pela comunidade científica da época

A operacionalização Dinâmica da atividade científica contempla o cientista como o único

responsável pela construção do conhecimento científico, equipas, quando o conhecimento

científico é atribuído a dois ou mais cientistas, intercâmbio de equipas, quando existe

comunicação e partilha entre equipas de cientistas para a produção do conhecimento científico e

a comunidade científica como entidade que valida o conhecimento produzido.

A pluralidade de processos metodológicos envolvidos na atividade científica e a

existência de um método científico único e de aplicação universal para a produção do

conhecimento científico são aspetos contemplados. O quadro 13 apresenta as diferentes

operacionalizações desta subdimensão.

48

Quadro 13: Operacionalização da subdimensão Processo de Criação Científica incluída na dimensão Imagem de Ciência

Subdimensão Operacionalização

Processo de criação científica

Observação/Experimentação

Ideias/Imaginação

Raciocínio analógico

Processos matemáticos

Processos de medição

Processos de classificação

A subdimensão Contexto da atividade científica pode ser operacionalizada nos manuais

escolares através de uma visão Internalista ou Externalista da Ciência. O quadro 14 apresenta as

diferentes operacionalizações desta subdimensão:

Quadro 14: Operacionalização da subdimensão Contexto da Atividade Científica incluída na dimensão Imagem de Ciência

Subdimensão Operacionalização

Contexto da Atividade

Científica

Visão Internalista

Científico

Tecnológico

Epistemológico

Visão Externalista

Económico

Político

Ético/Moral

Religioso

A visão internalista pressupõe que a ciência apenas é influenciada por fatores inerentes

à construção do conhecimento científico. Os diferentes modos de operacionalizar uma visão

internalista será quando os únicos elementos que influenciam a Ciência são o Contexto

Científico, tecnológico e epistemológico. Ao contrário a visão Externalista pressupõe a influência

de outros fatores na produção do conhecimento científico existentes em cada época. Assim, o

modo de operacionalizar a visão Externalista é utilizando os contextos económico, político,

ético/moral e religioso.

A subdimensão Evolução do conhecimento científico pode ser operacionalizada nos

manuais escolares através de uma visão finalizada ou dinâmica/temporal. O quadro 15

apresenta as diferentes operacionalizações desta subdimensão:

49

Quadro 15: Operacionalização da subdimensão Evolução do Conhecimento Científico incluída na dimensão Imagem de Ciência

Subdimensão Operacionalização

Evolução do Conhecimento

Científico

Finalizado Interpretação única sobre um dado fenómeno científico

Dinâmico/Temporal

Avanços e recuos, controvérsias/polémicas, problemas não

resolvidos, problemas resolvidos, conjeturas, substituição de uma

perspetiva por outra

Esta subdimensão refere-se ao carácter estático/finalizado do conhecimento científico

(Interpretação única sobre um dado fenómeno científico) ou ao carater dinâmico/temporal

(Avanços e recuos, controvérsias/polémicas, problemas não resolvidos, problemas resolvidos,

conjeturas, substituição de uma perspetiva por outra) do conhecimento científico.

A análise da temática Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia comportou uma

análise de natureza interpretativa na qual se conjugam procedimentos qualitativos e

quantitativos. A análise de conteúdo é efetuada mediante a aplicação de uma grelha de análise,

adaptada da grelha elaborada por Bernardes (2013) e a ser usada na dissertação de Mestrado

em Estudos da Criança, Área de especialização em Ensino Experimental das Ciências com o

título Vida e Obra de Cientistas Portugueses nos manuais escolares de Ciências da Natureza:

modos de operacionalização e perspetiva dos autores, orientada pelo Doutor José Luís de Jesus

Coelho da Silva. A grelha foi adaptada pontualmente para este estudo por forma a acentuar ou

acrescentar determinados aspetos inexistentes noutras grelhas, como por exemplo a presença

de caricaturas. Dado a grelha já ter sido utilizada por Bernardes (2013) para manuais de

Ciências da Natureza, considerou-se a mesma como validada para o presente estudo, em que os

manuais escolares de Biologia são o alvo de análise. O procedimento quantitativo consistiu no

cálculo de frequências aplicado à informação recolhida de forma a evidenciar tendências e

regularidades. Esta análise compreendeu as seguintes fases:

a) Identificação e categorização da informação de carácter histórico incluída nos Manuais

Escolares em função da grelha de análise;

b) Validação da categorização anteriormente referida;

c) Contabilização do número de ocorrências da informação de carácter histórico em função

da categorização anteriormente efetuada.

50

Numa primeira fase procedeu-se a uma análise de conteúdo onde foram identificadas e

sinalizadas as referências históricas incluídas em cada um dos manuais escolares da amostra. A

identificação e categorização da informação histórica basearam-se nos atributos previamente

definidos para cada dimensão. A validação desta análise consistiu na repetição da categorização

em períodos diferentes e confrontação da interpretação efetuada pela investigadora com a

interpretação do orientador deste estudo. Em situações de incerteza a categorização foi

submetida a um acordo. Na última fase procedeu-se à contagem frequencial da informação

histórica incluída em cada dimensão. Os dados foram apresentados em tabelas onde estão

designadas as dimensões, subdimensões e operacionalizações da grelha de análise elaborada.

3.3. Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista e valor atribuído à integração da História das Ciências no tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia d 11ºano de escolaridade

A segunda parte deste estudo pretendeu dar resposta ao terceiro e quarto objetivos

desta investigação:

- Identificar as perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade;

- Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das Ciências

no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

O estudo em causa incluiu uma amostra de oito professores de Biologia e Geologia de

escolas do distrito de Braga, que utilizam três dos quatro manuais analisados, a quem foi

realizada uma entrevista. O guião de entrevista dividiu-se nos três objetivo principais desta tarefa.

Cada entrevista foi gravada em áudio e posteriormente transcrita. As respostas às questões das

entrevistas foram tratadas através de uma análise de conteúdo, com vista a relacionar as

respostas dos docentes entre si e comparar as suas respostas com os dados obtidos na primeira

parte deste estudo

51

3.3.1. Professores de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade envolvidos no estudo

Investigadores da área da Educação definem população como o grupo-alvo sobre o qual

o investigador tem interesse em recolher informação e extrair conclusões (Tuckman, 2000). Na

impossibilidade de inquerir toda a população, ou seja, os professores de Biologia e Geologia do

país irá optou-se por selecionar um grupo de indivíduos constituído por 8 professores. A opção

por uma amostra reduzida baseou-se nas exigências dos objetivos do estudo, os quais remetem

para uma compreensão profunda mais do que para uma generalização de resultados. Num

estudo não estatístico, não será necessário a amostra assegurar a representatividade da

população, uma vez que o objetivo não será contabilizar o número de respostas, mas analisar o

seu conteúdo e riqueza, que é o caso deste estudo. Segundo estes mesmos autores num estudo

deste tipo “o que é importante é assegurarmo-nos da variedade de pessoas inquiridas e

confirmar que nenhuma situação importante para o problema tratado foi omitida aquando da

seleção dos indivíduos” (Ghiglione & Matalon, 1997, p. 62). A amostra de professores de

Biologia e Geologia foi definida de acordo com os seguintes critérios: (1) lecionarem em escolas

públicas ou privadas do distrito de Braga; (2) a lecionar ou que já tenham lecionado o 11º ano

de escolaridade nos dois últimos anos. Assim, o estudo inclui as perceções de oito professores

que se disponibilizaram a participar neste estudo em tempo útil. Foram entrevistados três

docentes que utilizavam o manual ME-B, três docentes que utilizavam o manual ME-C e dois

docentes que utilizavam o manual ME-D. É de salientar que o manual escolar ME-A não foi

adotado por nenhuma escola do distrito de Braga o que impossibilitou recolher as perceções dos

professores em relação a este manual escolar.

A tabela 1 apresenta uma caracterização dos professores de Biologia e Geologia

entrevistados, no que se refere ao manual que utilizam, à sua formação académica e experiência

profissional. Por forma a simplificar a análise e manter o seu anonimato, os docentes foram

identificados com denominações correspondentes aos manuais que utilizam: professores PB1,

PB2 e PB3 utilizam o manual escolar ME-B (Areal Editores); PC1, PC2 e PC3 utilizam o manual

escolar ME-C (Porto Editora) e os professores PD1 e PD2 utilizam o manual escolar ME-D

(Edições ASA).

52

Tabela 1: Caracterização dos professores de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade entrevistados

Caracterização Professores

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2 Total

Situação Profissional

Quadro de escola 6

Quadro de agrupamento 1

Contratado 1

Formação Académica

Doutoramento 0

Mestrado 1

Licenciatura 7

Formação em História das

Ciências

Formação académica 6

- U.C. específica 1

- Várias U.C. 5

Curso/oficina 0

Não 2

Tempo de serviço

(anos)

≤ 10 1

9-20 2

21-30 3

≥ 31 2

Tempo de Lecionação

do Evolucionismo

(anos)

≤ 6 3

7-12 1

13-18 3

≥ 18 1

No que diz respeito à formação inicial em História das Ciências, parte dos professores

admite não ter tido qualquer contacto com o tema durante a formação inicial. Os professores

que possuem uma formação que incluiu a abordagem à História das Ciências afirmam que essa

formação não foi concentrada numa disciplina específica de História das Ciências, mas antes

diluída ao longo da formação em várias disciplinas. Relativamente ao contributo que teve essa

abordagem para a prática letiva nem todos os professores conseguem responder de forma clara,

sendo que os restantes afirmam que esta abordagem os deixou mais sensibilizados para o tema:

“Contribuiu para que olhasse para o ensino da História das Ciências como uma parte mais

motivacional, importante na prática educativa, fundamental, introdutória dos conteúdos e motivadora

dos conteúdos para os alunos” (PD1)

53

Nenhum dos professores entrevistados alguma vez frequentou um curso

curso/formação sobre História das Ciências. Este resultado vai de encontro ao que alguns

investigadores afirmam relativamente à falta de formação específica em História das Ciências

dos professores (Martins, 2006; Martins, 2007; Höttecke & Silva, 2010; Reis et al., 2012; Silva,

2012)

3.3.2. Procedimentos de recolha e análise de informação relativa às perceções dos professores

de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade

A técnica de inquérito por entrevista é a modalidade de recolha de dados mais adequada

para atingir os objetivos propostos que são compreender as opiniões e perceções dos

professores entrevistados acerca da imagem de Ciência e de Cientista veiculada no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade e o valor que

atribuem à abordagem da História das Ciências efetuada neste tema A entrevista define-se como

um método através do qual se recolhem, oralmente, informações sobre factos ou

representações (Ketele & Rogiers, 1999), permitindo ainda recolher elementos com um certo

grau de profundidade, uma vez que o entrevistado exprime as suas perceções e interpretações

de uma situação, orientado pelo entrevistador (Quivy & Campenhoudt, 1996). O inquérito por

entrevista mostra-se mais adequado comparativamente à técnica de inquérito por questionário,

uma vez que este último não permite compreender de forma aprofundada as respostas do

indivíduo (Ghiglione & Matalon, 1997). Estas são geralmente superficiais e não possuem

“elementos de compreensão penetrantes” (Quivy & Campenhoudt, 1996, p. 191). Neste estudo,

em que se pretende aprofundar certos domínios, fará mais sentido a opção pela entrevista semi-

diretiva em que o entrevistador possui um esquema da entrevista e vai colocando as questões ao

entrevistado pela ordem que entender e acrescentando outras, de modo a aprofundar ou a

esclarecer respostas dadas ou informações facultadas pelo entrevistado. Apesar de existir um

protocolo que a investigadora terá que cumprir, o entrevistado tem liberdade para falar

abertamente sobre os temas propostos. Os objetivos propostos para a entrevista foram:

1. Identificar as perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de Cientista

veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

54

2. Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das Ciências no

tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

Esta componente do estudo desenvolveu-se em três fases:

a) Elaboração de uma versão inicial do guião da entrevista;

b) Sujeição desta versão à apreciação de uma especialista;

c) Redação da versão final do guião e realização da entrevista.

As questões da entrevista foram elaboradas tendo em conta a grelha de análise utilizada

e os resultados obtidos na primeira parte do estudo. A investigadora teve também em conta a

revisão de literatura efetuada. O guião da entrevista está estruturado em três secções que se

apresentam respetivamente nos quadros 16, 17 e 18.

O quadro 16 mostra a relação entre o objetivo de investigação, as questões da entrevista

e a informação que se obtém a partir de cada uma delas relativamente à primeira secção da

entrevista – Caracterização dos professores de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade.

Quadro 16: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a obter relativamente à primeira secção

da entrevista

Objetivo Questão da entrevista Informação a obter

1. Caracterizar o

entrevistado

1.1. Qual é a sua situação profissional? Situação profissional

1.2. Há quantos anos leciona? Experiência profissional

1.2.1. Quantos anos já lecionou o tema Evolucionismo? No 11º ano ou noutros anos de escolaridade?

Experiência de lecionação do tema Evolucionismo

1.3. Qual é a sua formação académica? 1.3.1. Em que área?

Formação académica

1.3.2. Incluiu a abordagem do papel da História das Ciências no ensino e aprendizagem das Ciências? 1.4. Alguma vez frequentou algum curso/oficina de formação sobre História das Ciências? 1.4.1. Qual o tempo de duração?

Formação em História das Ciências

1.3.2.1. Qual foi o contributo dessa abordagem para as suas práticas letivas? 1.4.2. Qual foi o contributo dessa formação para as suas práticas letivas?

Repercussões da formação em História das Ciências nas práticas profissionais

O quadro 17 mostra a relação entre o objetivo de investigação, as questões da entrevista

e a informação que se obtém a partir de cada uma delas relativamente à segunda secção da

entrevista – Perceções dos professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

55

Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade.

Quadro 17: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a obter relativamente à segunda secção

da entrevista

Objetivo Questão da entrevista Informação a obter

2. Identificar as perceções dos professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

2.1. Que imagem de cientista é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano, adotado na sua escola, aquando da abordagem do tema Evolucionismo? (Considerar as dimensões sexo, nacionalidade, contexto social e familiar, convicções religiosas e políticas)

Perceções dos professores acerca das características dos Cientistas veiculadas pelo tema Evolucionismo nos manuais escolares

2.2. Quais são as atividades que na sua perspetiva são atribuídas aos cientistas pelo manual escolar de Biologia do 11º ano, adotado na sua escola, aquando da abordagem do tema Evolucionismo? (Considerar: investigação, ensino, disseminação/divulgação do conhecimento científico, atividade política)

Perceções dos professores acerca do tipo de atividades desenvolvidas pelos cientistas veiculado pelo tema Evolucionismo nos manuais escolares

2.3. Que imagem da atividade cientifica é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano, adotado na sua escola, através da abordagem do tema Evolucionismo? (Considerar - cientistas envolvidos: Cientistas individuais? Equipas? Comunidade científica?) (Considerar - processos de investigação envolvidos: Um único? Pluralidade de processos?)

Perceções dos professores acerca da natureza do processo de investigação científica veiculada pelo tema Evolucionismo nos manuais escolares

2.4. Qual pensa ser o contributo dado pelo tema Evolucionismo do manual escolar do 11º ano, adotado na sua escola, para a compreensão dos fatores que influenciam a atividade dos cientistas? 2.4.1. Que fatores são considerados e com que relevo o são? (Considerar: fatores científicos/tecnológicos, fatores económicos/políticos/ religiosos/sociais?

Perceções dos professores acerca do tipo de fatores que influenciam a atividade de investigação científica veiculado pelo tema Evolucionismo nos manuais escolares

2.5. A imagem das Ciências veiculada no manual escolar de 11º ano, adotado na sua escola, quando aborda o tema Evolucionismo aponta para um conhecimento estático/finalizado ou em constante mudança/transformação?

Perceções dos professores acerca do caráter estático ou dinâmico do conhecimento científico veiculado pelo tema Evolucionismo nos manuais escolares

O quadro 18 mostra a relação entre o objetivo de investigação, as questões da entrevista

e a informação que se obtém a partir de cada uma delas relativamente à terceira secção da

entrevista – Valor atribuído pelos professores de Biologia e Geologia à abordagem da História

56

das Ciências efetuada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade.

Quadro 18: Relação entre objetivo da investigação, questões e informação a obter relativamente à terceira secção

da entrevista

Objetivo Questão da entrevista Informação a obter

3. Identificar o valor atribuído pelos professores de Biologia e Geologia à abordagem da História das Ciências efetuada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

3.1. Qual é a relevância que atribui à integração de textos da autoria dos próprios cientistas na exploração do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua escola? 3.2. Qual é a relevância que atribui à integração dos seguintes recursos na exploração do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua escola? - fotografias de cientistas - fotografias de rotas de expedição - caricaturas 3.3. Qual é a relevância que atribui às atividades de aprendizagem incluídas no manual escolar, adotado na sua escola, que incidem na interpretação de textos com informação de caráter histórico no âmbito do tema Evolucionismo?

Valor atribuído aos recursos usados pelos manuais escolares para explorar a História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo

3.1.1. Costuma explorá-los? 3.1.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo? 3.2.1. Costuma explorá-los? 3.2.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo? 3.3.1. Costuma explorá-las? 3.3.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo?

Práticas de exploração dos recursos mobilizados pelos manuais escolares na abordagem da História das Ciências no tema Evolucionismo

3.1.1.2. Que dificuldades sente? 3.2.1.2. Que dificuldades sente? 3.3.1.2. Que dificuldades sente?

Dificuldades sentidas na exploração dos recursos mobilizados pelos manuais escolares na abordagem da História das Ciências no tema Evolucionismo

3.1.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes textos? 3.2.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes recursos? 3.3.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destas atividades?

Impacto nos alunos da exploração dos recursos da História das Ciências incluídos nos manuais escolares na abordagem do tema Evolucionismo

3.4. Que sugestão(ões) apresenta para melhorar a exploração da História das Ciências no tema Evolucionismo do manual escolar de Biologia do 11 ano adotado na sua escola? Que outros recursos incluiria?

Perceções dos professores sobre possíveis modos de integração da História das Ciências na abordagem do tema Evolucionismo nos manuais escolares

57

Na segunda fase o protocolo da entrevista foi submetido à validação por uma

especialista na Educação em Ciências que analisou a coerência e adequação das questões

contempladas no inquérito por entrevista aos objetivos específicos que se pretendiam atingir.

Efetuadas as correções sugeridas pela especialista foi elaborada a versão final do guião da

entrevista. A realização da entrevista aos professores selecionados para este estudo foi efetuada

pela investigadora na escola de cada um dos participantes e gravada em áudio. A gravação

permitiu salvaguardar uma possível perda de informação dada pelo entrevistado. Os professores

foram entrevistados individualmente uma vez que numa entrevista em grupo existe o risco de

um dos entrevistados controlar e dominar a sessão (Bogdan & Biklen,1994). As respostas dos

professores, recolhidas durante a entrevista, foram transcritas e analisadas pela investigadora. A

análise de conteúdo foi a técnica escolhida uma vez que, segundo Bardin (2011), esta técnica

mostra-se também adequada à análise de respostas abertas de questionários e entrevistas. A

análise de dados passou por uma etapa inicial designada por redução de dados para que a sua

transformação e simplificação fosse possível, utilizando-se assim conjuntos de categorias (Miles

& Huberman,1984). Para cada questão incluída na entrevista correspondeu um conjunto de

categorias, algumas definidas pela investigadora antes da entrevista e baseadas na grelha de

análise utilizada na primeira parte do estudo e outras definidas a posteriori tendo por base as

respostas semelhantes dadas pelos entrevistados. Relativamente a cada professor, registou-se a

presença () ou ausência (-) de cada uma das categorias. Esta classificação foi efetuada pela

investigadora e, para garantir a fiabilidade dos resultados, foi repetida com um intervalo de pelo

menos um mês, sendo os dados resultantes das duas classificações confrontados de modo a

identificar eventuais discrepâncias e a resolver as mesmas. No sentido de clarificar algumas das

respostas dos entrevistados foram utilizados extratos das entrevistas realizadas.

58

59

IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

Introdução

Neste capítulo são apresentados e interpretados os resultados relativos às duas vertentes que

constituem este estudo. A primeira vertente centra-se na integração da História das Ciências na

abordagem do tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade através do modo como é operacionalizada e da respetiva imagem de

Ciência/Cientista que é veiculada. A segunda vertente incide nos mesmos enfoques de análise

da primeira vertente mas sob a visão de professores que utilizam os manuais escolares

referidos.

4.1. História das Ciências no tema Evolucionismo dos Manuais Escolares de Biologia do 11º ano

de escolaridade

Esta primeira componente do presente estudo tem por base os seguintes objetivos:

a) Analisar o modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

b) Identificar a imagem de Ciência e Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares

de Biologia do 11º ano de escolaridade.

A tabela 2 apresenta uma visão global do tipo de informação histórica incluída na

abordagem do tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade. A análise dos dados permite verificar que a informação história explorada no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade é de natureza

diversificada e valorizada pelos vários manuais escolares com níveis de frequência distintos. A

análise evidencia a ausência de referências em todos os manuais escolares acerca dos seguintes

itens caracterizadores dos cientistas ou processo de criação científica: formação académica do

cientista, áreas de conhecimento do interesse do cientista para além da sua área de investigação

e colaborações/intercâmbios entre cientistas.

60

Tabela 2: Informação Histórica apresentada na exploração do tema Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade

Tipo de informação Histórica

Manual Escolar

ME-A Santillana/ Constância

ME-B Areal

Editores

ME-C Porto

Editora

ME-D Edições

ASA

Dados biográficos do cientista

Data de nascimento e/ou falecimento ++ +++ + ++

Origem + ++ + +

Imagens ilustrativas do cientista + +++ + ++

Historiografia familiar - - + -

Prémios/condecorações recebidas e/ou

homenagens efetuadas - ++ - +

Formação académica - - - -

Atividades desempenhadas pelo cientista

Investigação + ++ + +

Ensino, Disseminação do conhecimento,

Ação/Intervenção político social

+ ++ + +

Áreas do conhecimento do interesse do cientista

Áreas de investigação +++ +++ + ++

Artes plásticas, pintura, escultura, história da arte,

literatura, etc.

- - - -

Dinâmica da atividade científica

Trabalho individual ++ +++ ++ ++

Equipas de trabalho + + - +

Colaborações/intercâmbios - - - -

Processo de criação científica

Observação/Experimentação; Ideias/Imaginação;

Raciocínio analógico; Processos matemáticos;

Processos de medição; Processos de classificação

+++ +++ ++ ++

Contexto da atividade científica

Científico, Tecnológico e Epistemológico ++ ++ ++ ++

Sociopolítico + ++ + ++

Evolução do Conhecimento Científico

Finalizado versus Dinâmico, temporal ++ ++ ++ ++

Legenda: + menos de três ocorrências; ++ quatro a dez ocorrências; +++ mais de dez ocorrências; - ausências

O manual ME-B destaca-se como sendo aquele que atribui uma maior valorização à

História das Ciências por apresentar um maior número de ocorrências nas várias dimensões

consideradas. Num pólo oposto, situa-se o manual escolar ME-C por ser aquele que apresenta

um menor número de ocorrências nas várias dimensões consideradas.

61

A tabela 3 apresenta os vários recursos mobilizados na exploração de informação

histórica acerca do tema Evolucionismo em cada um dos manuais escolares de Biologia do 11º

ano de escolaridade.

Tabela 3: Recursos mobilizados na exploração de informação histórica incluída no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade

Tipo de recursos Recursos (f)

ME-A ME-B ME-C ME-D

Fontes verbais

Fontes primárias - 4 1 3

Fontes secundárias - - - -

Textos produzidos pelos autores dos manuais

escolares

7 7 6 5

Notícias da imprensa escrita - - - -

Guiões de peças de teatro - - - -

TOTAL 7 11 7 8

Fontes iconográficas

Cientistas

Fotografias 3 8 1 8

Esculturas - 6 - -

Caricaturas - 3 1 1

Sub-total 3 17 2 9

Livros

Fotografias de frontispício e/ou

páginas de obras científicas

- 1 - -

Fotografias de cadernos de campo - - - -

Sub-total - 1 - -

Mapas Fotografias/gravuras de rotas de

expedição

1 1 1 1

Sub-total 1 1 1 1

Equipamento/

Técnicas de

Investigação

Fotografias de máquinas e/ou de

equipamento de laboratório

- - - -

Fotografias de técnicas

laboratoriais

- - - -

Fotografias/pinturas/gravuras de

navios oceanográficos

- 1 1 -

Sub-total - 1 1 -

Modelos Fotografias/gravuras de modelos

científicos

- - - -

Espécies Fotografias de novas espécies

classificadas

- - - -

TOTAL 4 20 4 10

62

Os quatro manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade recorrem a fontes

verbais e a fontes iconográficas para explorar informação de natureza histórica. No entanto, o

tipo e número de fontes mobilizadas varia em função do manual escolar. As fontes verbais

mobilizadas pelos manuais escolares são de dois tipos: 1) fontes primárias e 2) textos

produzidos pelos próprios autores dos manuais escolares. Verifica-se a ausência de mobilização

de fontes verbais do tipo fontes secundárias, notícias da imprensa escrita e guiões de peças de

teatro. As fontes primárias mobilizadas correspondem a textos da autoria dos cientistas

responsáveis pela produção do conhecimento em exploração.

O quadro 19 mostra a localização das fontes primárias incluídas no tema Evolucionismo

em cada um dos manuais escolares e o enfoque que lhe é atribuído.

Quadro 19: Localização das fontes primárias incluídas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade

Manuais Fonte primária Localização Enfoque

ME-B

“Se uma espécie for produzida a partir de outra, se a espécie do burro vem da do cavalo (…)” p.145 Buffon

Atividade didática Conhecimento Substantivo

As espécies menos perfeitas, mais delicadas, menos ativas, menos armadas, já desapareceram ou vão desaparecer“p.146 Buffon

Texto Conhecimento Substantivo

“Eis uma ave terrestre que é obrigada a viver em regiões inundadas ou transformadas em lagos (…)” Lamarck

Atividade didática Conhecimento Substantivo

“Se Wallace tivesse nas mãos o meu esboço manuscrito não teria podido fazer uma síntese mais perfeita! Até os seus próprios termos figuram agora como títulos dos meus capítulos (…)”p.155 Darwin (correspondência com Lyell)

Texto Contexto da

atividade científica

ME-C

“O ambiente afeta a organização dos animais, o que significa que, quando o ambiente se trona muito diferente, produz no decurso do tempo as correspondentes modificações (…)”p.122 Lamarck, 1809

Atividade didática Conhecimento Substantivo

ME-D

Creio que as tartarugas da espécie Testudo nigra se encontram em todas as ilhas do arquipélago dos Galápagos (…)“p.128 Darwin (diário)

Texto Conhecimento Substantivo

“Os antepassados da girafa devem ter vivido em regiões desérticas, onde a erva era rara (…)”p.134 Lamarck

Texto Conhecimento

Substantivo

“O ambiente afeta a forma e a organização dos animais, o que significa que, quando o ambiente se torna diferente, produz no tempo as correspondentes modificações (…)”p.155 Lamarck

Atividade didática Conhecimento Substantivo

63

As fontes primárias mobilizadas nos manuais escolares estão localizadas nos manuais

ME-B e ME-D nas secções Texto e Atividade didática e no manual ME-C na secção atividade

didática. À exceção do excerto com enfoque no contexto da atividade científica, todos os excertos

incidem no conhecimento substantivo.

As fontes iconográficas são um outro recurso mobilizado por todos os manuais escolares

para explorar informação de carácter histórico na abordagem do tema Evolucionismo. No

entanto, a quantidade e o tipo de fontes iconográficas difere nos vários manuais escolares. As

fontes ilustrativas de cientistas são aquelas que predominam e em, particular, as do tipo

fotografias. As fontes iconográficas relativas a esculturas dos cientistas estão presentes num

único manual escolar (ME-B) que corresponde ao manual que apresenta o maior número de

fontes iconográficas. Este manual escolar e o ME-D destacam-se dos outros dois manuais

escolares pelo número significativamente superior de fontes iconográficas. As caricaturas são um

outro tipo de fontes iconográficas que estão presentes em três manuais escolares (ME-B, ME-C,

ME-D) e ausentes apenas num único manual escolar (ME-A). Em todos os casos reportam-se a

Charles Darwin.

As fontes iconográficas do tipo mapas estão representadas em todos os manuais

escolares mas por uma única ocorrência. Ilustra a rota de expedição da viagem realizada por

Charles Darwin a bordo do veleiro Beagle.

Encontram-se, ainda, outras fontes iconográficas que, à semelhança das fontes do tipo

mapas, apresentam uma ocorrência limitada. É o caso das fontes relativas a livros e

equipamentos de investigação representados, respetivamente por uma fotografia do frontispício

da obra A Origem das Espécies no manual ME-B e pela fotografia do navio oceanográfico usado

na expedição de Charles Darwin (manuais ME-B e ME-C).

Apresentam-se na figura 1, a título ilustrativo, exemplos das várias fontes iconográficas

mobilizadas nos quatros manuais escolares.

64

a) b) c)

d) e) f)

g)

h)

Fig. 1: Exemplos dos vários tipos de fontes iconográficas presentes na exploração do tema Evolucionismo. [a)

Fotografia de Charles Darwin (ME-A, p. 139); b) Estátua de Georges Cuvier (ME-B, p. 145); c) Caricatura de

Charles Darwin (ME-C, p. 129); d) Fotografia de Lamarck (ME-D, p. 134); e) Busto de Lineu (ME-B, p. 144); f)

Fotografia do navio oceanográfico Beagle (ME-B, p. 150); g) Fotografia do frontispício da obra A Origem das

Espécies de Charles Darwin (ME-B, p. 155); h) Rota de expedição do navio oceanográfico Beagle (ME-A, p. 141)]

As fontes iconográficas do tipo mapas mobilizadas nos quatro manuais escolares estão

apresentadas na figura 2. Representam a rota de expedição da viagem realizada por Charles

Darwin a bordo do veleiro Beagle.

65

a) b)

c) d)

Fig. 2: Mapas da rota de expedição da viagem de Charles Darwin a bordo do veleiro Beagle. [a) ME-A, p. 141 b)

ME-B, p. 150 c) ME-C, p. 125d) ME-D, p. 135]

O recurso a esta fonte iconográfica é um contributo relevante na construção de uma

imagem da área geográfica percorrida e estudada por Charles Darwin, situando-a no contexto

mundial e por referência a Portugal. A sua exploração educativa também é um contributo para o

aluno construir uma imagem menos abstrata da atividade de Charles Darwin. Embora os quatro

mapas sejam muito idênticos, estando o trajeto percorrido claramente assinalado, em nenhum

mapa está indicado o local de origem da viagem. A análise dos mapas permite assinalar alguns

aspetos que os distinguem: 1) o mapa d) não mostra o sentido da rota que nos outros mapas

está assinalado através de setas; 2) o mapa a) inclui uma figura com a ampliação da região das

ilhas Galápagos, contribuindo assim para a construção mais precisa desta área geográfica

estudada por Charles Darwin. Os mapas apresentam em todos os manuais escolares uma

localização aproximada do texto que refere a importância dos dados recolhidos por Charles

Darwin nas várias ilhas daquele arquipélago para apoiar a sua teoria.

O número e tipo de atividades de aprendizagem focalizadas na exploração da informação

histórica no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

estão registados na tabela 4.

66

Tabela 4: Modo de exploração da informação histórica incluída no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia e Geologia do 11ºano de escolaridade

Modo de exploração da informação histórica

Atividades de aprendizagem (f)

ME-A

(n = 2) ME-B

(n = 2) ME-C

(n = 1) ME-D

(n = 4)

Tipo de atividades de aprendizagem

(Re)

cons

truç

ão d

o co

nhec

imen

to

Interpretação de informação 2 2 1 3

Pesquisa de informação 1 - - 1

Execução de experiências

históricas

Conjugada com análise do contexto científico e intelectual da época

- - - -

Dissociada da análise do contexto científico e intelectual da época

- - - -

Dramatizações - - - -

Debates/Role playing 1 - - -

Avaliação da aprendizagem - - - 1

Contexto da exploração das atividades de

aprendizagem

Trabalho individual - - -

Trabalho de

grupo

Par - - - -

Pequeno grupo (3 ou mais alunos) 1 - - -

Grupo turma - - - -

Estatuto das atividades de aprendizagem

Primário As atividades estão incluídas ao

longo da unidade didática

1 2 1 2

Secundário

As atividades estão incluídas no final

da unidade didática

1 - - 1

As atividades estão integradas no

caderno de atividades

- - - 1

O número de atividades de aprendizagem incluídas no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade que integram a exploração de informação

histórica estão entre quatro e duas atividades, sendo os manuais escolares ME-D e ME-C aqueles

que, respetivamente apresentam o maior número e menor número de atividades de

aprendizagem. O manual ME-C ocupa uma posição intermédia por incluir uma única atividade

de aprendizagem, estando neste aspeto próximo dos manuais ME-A e ME-B e mais afastado do

manual ME-D. As atividades de aprendizagem orientadas para a reconstrução do conhecimento

estão representadas em todos os manuais escolares, predominando as atividades focalizadas na

interpretação da informação. Estas são o único tipo de atividades que estão presentes em todos

os manuais escolares. Os manuais escolares ME-A e ME-D destacam-se dos outros dois manuais

67

escolares por incluírem atividades de outra natureza: pesquisa de informação, Role Playing e

avaliação da aprendizagem. Cada um destes manuais escolares contribui para o

desenvolvimento não só do conhecimento substantivo mas também para o desenvolvimento de

competências transversais, como é o caso da competência de pesquisa de informação. O

desenvolvimento desta competência está no manual ME-A associada à consecução da atividade

de Role Playing, designada pelos autores como Jogo de simulação. Esta atividade exige uma

tarefa de pesquisa para a construção do perfil das personagens – Moderador, Criacionista,

Lamarck, Darwin e Defensor do Neodarwinismo – intervenientes no debate. Esta atividade está

representada na figura 3.

Fig. 3: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-A, p. 163

68

A atividade de aprendizagem Jogo de simulação permite a exploração dos contextos

científico e religioso da época no desenvolvimento do conhecimento científico. A opção por uma

estratégia de debate proporciona a confrontação de perspetivas e a assunção de argumentos a

favor de uma ou outra perspetiva. É uma atividade que implica o aluno em tarefas propícias ao

desenvolvimento da capacidade de procurar, selecionar e organizar informação na construção

das personagens indicadas e da capacidade de argumentação no momento do debate.

As atividades de aprendizagem estão orientadas maioritariamente para a aprendizagem

do conhecimento substantivo no âmbito do tema Evolucionismo. É o caso, por exemplo, da

atividade registada na figura 4, incluída no caderno de atividades do manual escolar ME-D.

Fig. 4: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-D, p. 34, Caderno de Atividades

A atividade de aprendizagem consiste na interpretação de três segmentos de texto,

provenientes de uma fonte primária (A Origem das Espécies de Charles Darwin), orientada por

três questões focalizadas no conhecimento substantivo. Contudo, pode também ser utilizada

para explorar o carácter dinâmico da Ciência através da interpretação da posição de Darwin face

à teoria defendida pelos Naturalistas acerca da origem das espécies.

A atividade de aprendizagem do tipo Pesquisa de informação proposta no manual

escolar ME-D está representada na figura 5.

69

Fig. 5: Atividade de aprendizagem do manual escolar ME-D, p. 129

Esta atividade é constituída por um texto introdutório acompanhado de uma figura, sobre

um animal – o ornitorrinco – e um conjunto de duas questões orientadoras da pesquisa de

informação.

A primeira questão embora esteja focalizada no conhecimento substantivo acerca da

evolução dos seres vivos, direciona implicitamente para o carácter dinâmico do conhecimento

científico. A segunda questão aponta explicitamente para o contexto da atividade científica

através da análise dos fatores socioeconómicos, políticos e religiosos na construção do

conhecimento científico.

O manual escolar ME-D é o único que possui uma atividade do tipo avaliação da

aprendizagem incluída no manual escolar e no final da unidade didática como é apresentado na

figura 6.

70

Fig. 6: Atividade do tipo avaliação da aprendizagem do manual escolar ME-D, p. 155

A atividade do tipo avaliação da aprendizagem consiste na interpretação de um

segmento de texto proveniente de uma fonte primária (texto produzido pelo próprio cientista,

Lamarck), orientada por quatro questões focalizadas no conhecimento substantivo. Contudo,

pode também ser utilizada para explorar o carácter dinâmico da Ciência através, por exemplo,

da interpretação da posição da teoria fixista face aos primeiros argumentos transformistas e

evolucionistas emergentes na época.

A ausência ou presença reduzida de atividades de avaliação das aprendizagens

focalizadas na exploração de carácter histórico, em particular, de informação que acentue as

características e os processos envolvidos na construção da Ciência poderá ser interpretada como

uma certa desvalorização do papel da História das Ciências na aprendizagem das Ciências

repercutindo-se nas práticas letivas pela ausência de abordagem ou por uma abordagem

limitada

Inicia-se agora a análise da imagem de Ciência/Cientista veiculada através da

informação histórica explorada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º

ano de escolaridade. A tabela 5 incide na imagem de Cientista.

71

Tabela 5: Imagem do cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e Geologia do

11ºano de escolaridade

Operacionalização

Cientistas (f)

ME-A (n = 9)

ME-B (n = 16)

ME-C (n = 4)

ME-D (n = 14)

Sexo

Feminino - - - -

Masculino 9 16 4 14

Nacionalidade

Portuguesa - - - -

Estrangeira

Europeu 3 4 1 3

Americano - - - -

Asiático - - - -

Africano - - - -

Historiografia familiar

Genealogia - - 1 -

Acontecimentos familiares - - - -

Formação académica

Licenciatura - - - -

Mestrado - - - -

Doutoramento - - - -

Atividades desempenhadas

Ensino - 1 1 -

Investigação 2 4 1 2

Disseminação do conhecimento 3 6 1 2

Intervenção político-social - - - -

Áreas do Conhecimento do interesse do cientista

Áreas de

investigação

Biologia 3 10 3 7

Geologia 3 3 1 1

Química - - - -

Física - - - -

Matemática - - - -

Demografia 1 1 - 1

Biogeografia - 1 - -

Medicina - - - 1

Outras áreas de

interesse

Pintura - - - -

História da Arte - - - -

Escultura - - - -

Literatura - - - -

72

Tabela 5 (continuação): Imagem do cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e

Geologia do 11ºano de escolaridade

Valoração social na época

Reconhecimento

internacional

Prémio Nobel - - - -

Prémios/condecorações por

organismos internacionais - - - -

Estátuas/bustos noutros

países que não são o da sua

nacionalidade

- 1 - -

Reconhecimento

nacional

Atribuição de prémios por

organismos nacionais - - - 1

Estátuas/bustos no país da

sua nacionalidade - 4 - -

Desacreditação Caricaturas - 1 1 1

A imagem de cientista primordial veiculada nos manuais escolares de Biologia do 11º

ano é a imagem de um indivíduo do sexo masculino e europeu.

A ausência de referência a elementos da historiografia familiar é um fator que dificultará

a construção da imagem do cientista como um indivíduo integrado num contexto familiar e que

experiencia situações idênticas às de cidadãos comuns. O manual escolar ME-C é o único que

faz uma breve referência ao contexto vida familiar de Charles Darwin:

“Este jovem pertencia a uma família abastada que cresceu com transformações sociais e culturais

do século XIX, onde a visão evolucionista começava a ter seguidores, de entre os quais se pode

destacar o seu próprio avô paterno, Erasmus Darwin (1731-1802)”

Não é abordada qualquer referência à formação académica dos cientistas incluídos nos

manuais escolares e no que diz respeito às atividades desempenhadas destacam-se a

investigação. A atividade de disseminação do conhecimento como uma atividade do cientista

está implicitamente expressa através da referência aos livros publicados por alguns cientistas. É

o caso da referência à publicação das obras Philosophie Zoologique,, do naturalista francês Jean

Baptiste Lamarck em 1809 (ME-A, p. 137), Theory of the Earth do geólogo James Hutton em

1778 (ME-B, p. 146), On the Origin of Species by Means of Natural Selection em 1859 (ME-C,

p. 121) e Essay on the principle of population de Malthus (ME-D, p. 132)

A obra The Origin of Species é referida em todos os manuais escolares mas o seu

frontispício é apresentado unicamente pelo manual ME-B. Contudo, nenhum manual escolar

73

refere a panóplia de obras e artigos científicos publicados por Charles Darwin depois de este

regressar da sua viagem a bordo do veleiro o Beagle. Este naturalista foi responsável por obras e

artigos científicos importantes na consolidação e reconhecimento nacional e internacional como

cientista. Destacam-se exemplos como: The zoology of the voyage of H.M.S. Beagle, obra

publicada em vários capítulos entre 1838-1843; Journal of researches into the geology and

natural history of the various countries visited by H.M.S. Beagle, em 1839; Geological

observations on South America, 1846; On the various contrivances by which British and foreign

orchids are fertilised by insects, 1862.

A maioria dos cientistas referidos nos quatro manuais escolares, não estão associados a

elementos – prémios e/ou estátuas/bustos – que lhe atribuam um destaque na sociedade da

época. Assim, a imagem do cientista veiculada nestes manuais escolares não aponta para

imagens estereotipadas que associem o cientista a uma elite e a personalidades com

características muito distintas do cidadão comum. No entanto, a apresentação de fotografias de

estátuas ou bustos de cientistas mostra implicitamente o reconhecimento que lhes terá sido

atribuído pela sociedade da época. Esta visão é veiculada apenas nos manuais escolares ME-B e

ME-D porque são os únicos que incluem o tipo de recursos referidos. A título de exemplo,

mostram-se as figuras 7 e 8, que pertencem ao manual escolar ME-B.

Fig.7: Busto do naturalista sueco Lineu no jardim botânico de Wroclaw, na Polónia. (ME-B, p. 144)

Fig.8: Estátua do naturalista francês George Cuvier na sua terra natal, Montbéliard, em França (ME-B, p. 145)

O manual ME-D refere ainda a atribuição da medalha Copley da Royal Society, a Charles

Darwin em 1864. Embora os manuais escolares ME-B e ME-D incluam estes elementos

indicativos da valoração social atribuída aos cientistas pela sociedade da época, verifica-se que

estes mesmos manuais, e, ainda, o manual escolar ME-C, incluem outros elementos –

74

caricaturas – que mostram uma outra posição sobre os cientistas a que se reportam. É o caso

das caricaturas relativas a Charles Darwin. Na época, a criação destas caricaturas divulgadas em

publicações diversas, teve como objetivo satirizar e desacreditar Charles Darwin por defender

ideias contrárias às instaladas na sociedade da época. As caricaturas eram nos séculos XVIII e

XIX muito utilizadas como uma forma de intervenção social e política (Brown, 2003).

As figuras 9, 10 e 11 são exemplos das caricaturas reproduzidas no tema Evolucionismo

dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

Fig.9: Caricatura de Charles Darwin apresentada nos manuais escolares ME-B (p. 155) e ME-C (p. 129)

Fig.10: Caricatura de Charles Darwin apresentada nos manuais escolares ME-B (p. 155) e ME-D (p. 137)

Fig.11: Caricatura de Charles Darwin apresentada no manual escolar ME-B (p.155)

Nenhum dos autores faz referência simultaneamente ao nome do jornal e à data de

publicação. Apesar disso tentam no texto contextualizar as fontes iconográficas fazendo

referencia à ridicularização pública sofrida por Darwin depois da publicação da sua teoria na

obra A Origem das Espécies. A caricatura da figura 9 foi publicada no jornal La petite Lune em

1878. No respetivo artigo, é acentuada, por exemplo, a polémica gerada pelas ideias de Charles

Darwin no meio religioso.

“E pronto, eis o que é. É um sábio inglês, um naturalista, um fleumático. Disse que o Homem

descendia do macaco. O homem é um macaco transformado, aperfeiçoado, selecionado, como

dizem as pessoas instruídas. Compreendeis que isto aborrece os gabarolas que acreditam ter – e

escrever – a coluna! E os padres? Havíeis de ver os seus narizes!” (La Petit Lune, p.2)

A caricatura representada na figura 10 é publicada no jornal londrino The Figaro em 18

de Fevereiro de 1874. O autor do artigo refere-se a Charles Darwin afirmando:

“O Dr. Darwin põe um par de macacos na raiz da sua árvore genealógica; e, com rara humildade,

reconhece que os seus antepassados eram macacos. Ao que parece, uma pessoa acreditou na

75

teoria Darwiniana, o que nós consideramos ser prova de que o homem é descendente de um

quadrúpede com orelhas grandes” (The Figaro, 1874)

O jornal inglês The Hornet publica um artigo intitulado “Um venerável orangotango” que

inclui a caricatura da figura 11. Nele, é explicado que a intenção do desenho seria representar

Darwin mas que o ilustrador se terá confundido e terá desenhado “uma mistura de memórias da

cara do filósofo com a dos macacos, até que não conseguiu distinguir uma da outra” (The

Hornet, 1871, página 308)

A figura 12 apresenta alguns dos cientistas abordados no tema Evolucionismo dos

manuais escolares. A maioria das figuras acerca dos cientistas veicula a imagem do cientista

como um individuo já com uma idade avançada. O manual ME-C é o único que mostra o

cientista como um jovem mas limita-se a uma única ocorrência através da inclusão da fotografia

de Charles Darwin.

a) b) c)

d) e) f)

g) h)

Fig.12: Exemplos de cientistas referidos na exploração do tema Evolucionismo. [a) Aristóteles (ME-B, p. 143); b) Carl Von Linné (ME-D p. 160); c) Jean Baptiste Lamarck (ME-D, p. 160); d) Georges Cuvier (ME-D, p. 160); e) Charles Darwin (ME-A, p. 139); f) Charles Darwin (ME-C, p. 125); g) Alfred Wallace (ME-B, p. 154); h) G.L. Stebbins, George Simpson e Theodosius Dobzhansky (ME-B, p. 171)

76

A tabela 6 apresenta a distribuição dos segmentos de texto incluídos no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade que implícita ou

explicitamente contribuem para a construção de uma visão acerca da dinâmica da atividade dos

cientistas.

Tabela 6: Dinâmica da atividade científica veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e

Geologia do 11ºano de escolaridade

Operacionalização

Segmentos de texto (f)

ME-A (n = 10)

ME-B (n = 12)

ME-C (n = 5)

ME-D (n = 11)

Cientista (o conhecimento científico produzido é

atribuído a um único cientista) 7 11 4 9

Equipa de cientistas (o conhecimento científico

produzido é atribuído a uma equipa de cientistas) 1 1 - 1

Intercâmbio entre equipas de cientistas (o

conhecimento científico produzido é o resultado da

interação entre equipas de investigação)

- - - -

Comunidade científica (a validação do conhecimento

científico está dependente da aceitação pela

comunidade científica da época)

2 - 1 1

As atividade dos cientistas é veiculada no tema Evolucionismo dos quatro manuais

escolares de Biologia do 11º ano como sendo fundamentalmente uma atividade individual. O

conhecimento científico é produzido e atribuído a cientistas singulares. Cita-se a título de

exemplo o manual escolar ME-D:

“Lamarck é considerado o fundador do evolucionismo, uma vez que foi o primeiro a apresentar

uma teoria explicativa sobre o mecanismo da evolução das espécies, em 1809.” (ME-D, p.134)

O papel da comunidade científica da época no processo de validação do conhecimento

científico está patente em três manuais escolares. O manual escolar ME-B é o único que não faz

referência a este aspeto. Os segmentos de texto seguintes são ilustrativos da posição da

comunidade científica da época a favor ou contra as ideias defendidas por alguns cientistas:

“Em 1858, ano em que os ensaios de Darwin e Wallace foram apresentados numa reunião da

Sociedade Lineana, em Londres, a comunidade científica apresentava-se recetiva à aceitação de

uma teoria evolutiva, dado que se acumulavam evidências da mutabilidade das espécies.” (ME-A,

p. 139, sublinhado nosso)

77

“Embora as ideias propostas por Lamarck tenham grande importância para a história da Biologia,

dado que constituem a primeira explicação do mecanismo de evolução, por não terem sido

suportadas por factos, não são aceites atualmente pela comunidade científica.” (ME-A, p. 138,

sublinhado nosso).

“No século XX, embora a ideia de evolução biológica fosse uma ideia já aceite pela comunidade

científica, a explicação para essa evolução através da seleção natural apresentava ainda alguns

pontos frágeis” (ME-C, p. 137, sublinhado nosso)

“O Darwinismo ia contra os pressupostos defendidos pela igreja (defensora do criacionismo).

Assim, muitos cientistas (incluindo antigos tutores de Darwin), influenciados pelo contexto religioso

e social, não aceitaram a sua teoria”( ME-D, p. 137, sublinhado nosso)

Os primeiro e segundo segmentos de texto apontam a existência ou não de evidências

que implícita ou explicitamente referem como um fator que contribui para a comunidade

científica assumir uma posição, em relação à validade científica da teoria em causa. O terceiro

segmento de texto sublinha a existência de fragilidades na explicação apresentada. O quarto e

último segmento de texto refere a atitude de oposição assumida por muitos cientistas da época

por motivos de cariz social e religioso. É de notar que nesta situação, contrariamente às

apresentadas nos dois primeiros segmentos de texto, não são critérios de cariz científico mas

critérios de cariz social que presidem à posição assumida por alguns cientistas.

A tabela 7 apresenta a distribuição dos segmentos de texto que implícita ou

explicitamente referem o processo de criação científica apresentada pelos manuais escolares de

Biologia do 11º ano de escolaridade.

Tabela 7: Processo de criação científica veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e

Geologia do 11ºano de escolaridade

Operacionalização

Segmentos de texto (f)

ME-A (n = 10)

ME-B (n = 11)

ME-C (n = 4)

ME-D (n = 9)

Observação/Experimentação 5 6 2 4

Ideias/Imaginação 1 - - -

Raciocínio analógico 3 3 2 4

Processos matemáticos - - - -

Processos de medição - - - -

Processos de classificação 1 2 - 1

A análise da tabela 7 mostra a referência aos processos envolvidos na criação científica

no tema Evolucionismo de todos os manuais escolares de Biologia do 11ºano. Verifica-se em

78

todos os manuais escolares a referência a processos de natureza diversificada. No entanto, a

abordagem efetuada nos vários manuais escolares não aponta explicitamente para uma visão do

processo de criação científica assente na pluralidade metodológica. O predomínio da referência à

observação/experimentação nos manuais escolares ME-A e ME-B poderá induzir a uma visão de

criação científica assente unicamente neste processo. Esta visão será reforçada se não for

efetuada uma abordagem explícita dos outros processos como sendo processos envolvidos na

construção do conhecimento científico.

O processo de criação científica baseado na classificação é um dos evidenciados na

maioria dos manuais escolares. O exemplo que se segue explicita o processo de classificação de

seres vivos realizado por Lineu e que teve repercussões na teoria do Evolucionismo:

“O seu trabalho de classificação, assente num sistema que ele próprio desenvolveu, exigia um

estudo pormenorizado da morfologia dos seres vivos. Estes estudos permitiram o conhecimento de

semelhanças e diferenças entre esses indivíduos, sugerindo relações de parentesco e, para alguns

naturalistas da época, uma possível origem em comum” (ME-B, p. 144).

O processo de criação científica baseado na intervenção das ideias/imaginação é

explorado numa única situação. Está patente no manual ME-A e é ilustrado através da

interpretação que George Cuvier atribuiu à descoberta/existência dos fósseis.

“Devido à descoberta de fósseis com aspeto diferente entre si nos vários estratos rochosos e

distintos dos seres vivos atuais, Cuvier imaginou que os seres vivos de um determinado local eram

destruídos por catástrofes naturais…” (ME-A, p. 130, sublinhado nosso).

O número de segmentos de texto onde é explorado o contexto da atividade científica está

apresentado na tabela 8. O contexto da atividade científica é explorado em todos os manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade, sendo abordados os contextos científico,

tecnológico e religioso. O contexto científico da atividade científica está contemplados em todos

os manuais escolares analisados no tema Evolucionismo.

79

Tabela 8: Contexto da Atividade científica veiculado no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia e

Geologia do 11ºano de escolaridade

Operacionalização

Segmentos de texto (f)

ME-A (n = 13)

ME-B (n = 13)

ME-C (n = 4)

ME-D (n = 14)

Visão Internalista

Científico 9 7 5 8

Tecnológico 2 2 2 3

Epistemológico - - - -

Visão Externalista

Económico - - - -

Político - - - -

Ético/Moral - - - -

Religioso 2 4 2 3

Na exploração do contexto científico predomina a indicação de que os conhecimentos da

época foram um fator facilitador da construção do conhecimento:

“Estas ideias na área científica da Geologia tiveram também influência na fundamentação e

aceitação de teorias mais concretas de Evolucionismo." (ME-A, p. 130)

“Para além do trabalho de Lineu, o desenvolvimento da Paleontologia permitiu colecionar um

conjunto de dados que viriam a abalar as ideias fixistas.” (ME-B, p. 144)

“No final do século XVIII e durante o Século XIX, o desenvolvimento da Geologia permitiu uma

noção mais clara sobre os fenómenos que têm lugar no nosso planeta. Abandona-se,

progressivamente, a visão estática do mundo, substituindo-a por uma ideia de um planeta em

constante mudança. Esta perspetiva veio preparar o terreno para que as conceções evolucionista,

relativamente à origem das espécies, se pudessem desenvolver com mais alguma aceitação.” (ME-

B, p. 146)

“A ideia de que as espécies teriam evoluído a partir de outras espécies pré-existentes começou a

surgir no contexto científico do século XX. Um dos contributos mais importantes para as ideias

evolucionistas, veio da Geologia.” (ME-C, p. 121)

A influência do trabalho desenvolvido por determinados cientistas na atividade científica

também está evidenciada nos manuais escolares. Destacam-se em seguida alguns exemplos:

80

“No livro Essay on the principle of population, Thomas Malthus defendeu que a população humana

tende a crescer exponencialmente enquanto os recursos, neste caso alimentos, crescem

aritmeticamente. […] Darwin transpôs esta teoria economicista para as populações naturais, onde

haveria uma luta pela sobrevivência face a um meio com recursos finitos” (ME-D, p. 136)

Os fatores tecnológicos patentes nos manuais escolares resumem-se aos argumentos

citológicos, bioquímicos, embriológicos cujo estudo se mostraram a favor do Evolucionismo:

“Para os estudos evolutivos os investigadores recorrem à análise de proteínas (formadas por

aminoácidos) e do DNA (formado por nucleótidos), que permitem estudar com detalhe as relações

evolutivas entre os seres vivos. Os estudos comparativos das proteínas e do DNA de diversos seres

vivos revelaram que os organismos filogeneticamente mais próximos possuem maior semelhança

nas sequências de proteínas e do DNA. Este facto permite usar técnicas bioquímicas para

facilmente reconstituir as relações filogenéticas entre diferentes organismos”. (ME-D, p. 145)

A influência dos fatores religiosos na construção do conhecimento científico também

esta patente em todos os manuais escolares. Apresenta-se, em seguida, exemplos ilustrativos de

fatores religiosos:

“As ideias de Darwin suscitaram escândalo entre as secções mais conservadoras da sociedade e,

particularmente, por parte dos setores eclesiásticos, por considerarem que elas encerravam uma

perspetiva puramente materialista do Mundo” (ME-B, p. 155)

“A interpretação à letra do Livro do Génesis, ode se descreve a criação no início dos tempos,

influenciou de forma determinante o pensamento científico até aos séculos XVIII e XIX.” (ME-C, p.

120)

“O Darwinismo ia contra os pressupostos defendidos pela Igreja (defensora do criacionismo).

Assim, muitos cientistas (incluindo antigos tutores de Darwin), influenciados pelo contexto

religiosos e social, não aceitaram a sua teoria” (ME-D, p. 137)

A referência ao contexto da atividade científica aponta para uma visão internalista e

externalista de Ciência embora a presença maioritária de segmentos de texto ilustrativos da

primeira aponte para uma maior ênfase desta. A visão externalista da Ciência decorre apenas da

referência do contexto religioso.

81

A tabela 9 mostra a distribuição de segmentos de texto ilustrativos da evolução do

conhecimento veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano

de escolaridade.

Tabela 9: Evolução do conhecimento científico veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia

e Geologia do 11ºano de escolaridade

Operacionalização

Segmentos de texto (f)

ME-A (n = 9)

ME-B (n = 9)

ME-C (n = 6)

ME-D (n = 8)

Finalizado - - - -

Dinâmico 9 9 6 8

O carácter dinâmico da Ciência é evidenciado em todos os manuais escolares.

Apresentam-se em seguida alguns exemplos de segmentos de texto ilustrativos da natureza do

progresso científico:

“Embora as ideias propostas por Lamarck tenham grande importância para a história da Biologia,

dado que constituem a primeira explicação do mecanismo de evolução, por não terem sido

suportadas por factos, não são aceites atualmente pela comunidade científica.” (ME-A, p. 138)

“Assim, a teoria de Lamarck não teve grande aceitação na sua época. A argumentação pouco

consistente de Lamarck, a forte influência de Cuvier e a natural resistência à mudança que

caracteriza o Homem, levaram a que as ideias fixistas perdurassem durante mais,

aproximadamente, meio século.” (ME-B, p. 150)

“As ideias de Cuvier, aceites durante algum tempo, foram contestadas por Charles Lyell (1797-

1875), que apresentou outra explicação para as diferenças encontradas entre os diferentes

estratos de uma rocha.” (ME-A, p. 130)

“As ideias de Darwin suscitaram escândalo entre as secções mais conservadoras da sociedade e,

particularmente, por parte dos setores eclesiásticos, por considerarem que elas encerravam uma

perspetiva puramente materialista do Mundo” (ME-B, p. 155)

“As maiores críticas da comunidade científica ao neodarwinismo surgem, essencialmente, pela voz

dos paleontólogos, que não reveem no registo fóssil o processo defendido pelos seguidores de

Darwin.” (ME-A, p. 151)

82

“Aristóteles pensava que os seres vivos eram criados a partir de matéria inanimada e que um

principio ativo a transformava em matéria viva. Esta hipótese fixista é conhecida como Teoria da

Geração Espontânea e só em 1864 foi completamente posta de parte por Pasteur (1822-1895)

com a descoberta do processo de pasteurização.” (ME-A, p. 130)

“Entre 1930 e 1940 foi-se construindo uma visão unificadora entre o darwinismo e os dados da

genética, cujo resultado foi o aparecimento, em 1942, de uma teoria denominada teoria sintética

da evolução, também chamada neodarwinismo, que engloba duas ideias fundamentais,

variabilidade genética e seleção natural.” (ME-C, p. 138)

“Para tentar dar resposta a estas questões surgiu, em 1942, a Teoria Sintética da Evolução ou

Neodarwinismo. Consiste na reformulação do Darwinismo tendo por base os conhecimentos da

biologia molecular, de modo a combinar as causas da variabilidade com a seleção natural” (ME-D,

p. 147)

4.2. Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista e valor atribuído à integração da História das Ciências no tema Evolucionismo dos

manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

Esta segunda vertente do estudo teve por base os seguintes objetivos:

a) Identificar as perceções de professores acerca da imagem de Ciência e de Cientista veiculadas no

tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

b) Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das

Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

4.2.1. Perceções dos professores entrevistados acerca da imagem da Ciência e de Cientista

veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade

A identificação das perceções de professores acerca da imagem de Ciência e de

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade foi efetuada através da realização de uma entrevista segundo o guião apresentado

no anexo X. As perceções dos professores acerca da imagem de Cientista veiculada pelo tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade está registada na

tabela 10.

83

Tabela 10: Perceções dos professores acerca da imagem de Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11ºano de escolaridade

Imagem de Cientista Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Sexo Masculino

Feminino - - - - - - - -

Origem Europeia

Outra - - - - - -

Contexto Social - - - -

Familiar - - - - - - - -

Convicções Religiosas - -

Políticas - - - - - - - -

Todos os professores entrevistados afirmam que os manuais escolares adotados na sua

escola veiculam uma imagem de cientista do sexo masculino. Dois professores justificam a

predominância de cientistas do sexo masculino pela ausência de mulheres cientistas envolvidas

no estudo do tema, pela interdição do acesso à ciência pelas mulheres naquela época ou pela

ausência do reconhecimento do seu trabalho:

“...se posicionarmos este conteúdo em termos de construção do conhecimento científico, na

altura não havia nenhuma mulher, não era permitido à mulher a participação na ciência, não é?

Tinha um papel secundário” (PD1).

“Algumas até viram o seu trabalho assinado por homens e não por elas, porque era muito

estranho para a opinião pública da altura” (PC3).

A perceção dos professores aponta ainda para uma imagem veiculada pelos manuais

escolares de cientista como um indivíduo principalmente de nacionalidade europeia. Afirmam

que as nacionalidades primordialmente referidas são a inglesa e a francesa. Destacam-se dois

professores que manifestam a perceção de que o manual escolar por eles utilizado e

pertencente à mesma editora (ME-B), também incluem cientistas de outras nacionalidades para

além da europeia, contribuindo assim para a desconstrução de imagens estereotipadas do

cientista como um indivíduo, de origem exclusivamente europeia.

No que diz respeito ao contexto da atividades científica, quatro professores afirmam que

este manual não refere nenhum contexto social vivido na época. Os restantes professores

84

afirmam que as referências ao contexto social que se encontram no tema Evolucionismo são

muito superficiais e referem-se quase exclusivamente a Darwin. A perceção dos professores

aponta a ausência de referência ao contexto familiar dos cientistas. Alguns professores afirmam

que colmatam esta ausência com materiais preparados e organizados por eles próprios como

por exemplo, vídeos ou apresentações multimédia:

“Também acho que foi importante o seu contexto familiar, não é? Eu até uso, tenho usado, um

filme que aparece com uma biografia, o mínimo da biografia de Darwin onde aparecem os filhos e

a mulher” (PB1)

A perceção dos professores aponta ainda a ausência de referência das possíveis

convicções políticas perfilhadas pelos cientistas. No entanto, seis professores afirmam que as

convicções religiosas estão patentes ao longo da abordagem do tema Evolucionismo.

As perceções dos professores acerca das principais atividades desempenhadas pelos

cientistas que são exploradas pelo tema Evolucionismo dos manuais escolares do 11º ano de

escolaridade estão apresentadas na tabela 11.

Tabela 11: Atividades atribuídas aos cientistas pelos manuais de Biologia do 11ºano de escolaridade, no tema

Evolucionismo

Atividades dos Cientistas Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Investigação

Ensino - - - - - - - -

Disseminação/divulgação do conhecimento científico

- - -

Atividade política - - - - - - - -

A investigação é percecionada por todos os professores como sendo a principal atividade

do cientista veiculada nos manuais escolares. Referem que os manuais escolares transmitem

esta ideia ao referirem a viagem de Darwin a bordo do Beagle, a observação, a recolha e a

organização de dados que ele foi efetuando. Cinco professores indicam ainda que os respetivos

manuais mostram também a disseminação/divulgação do conhecimento científico como uma

atividade inerente ao trabalho do cientista, patente nos manuais através da referência a obras

85

publicadas. O ensino e a atividade política são percecionados pelos professores como tarefas do

cientista que não estão referidas no tema Evolucionismo dos manuais escolares.

A perceção dos professores é semelhante aos resultados da análise dos manuais

escolares da primeira vertente do estudo, as atividades de investigação e

disseminação/divulgação do conhecimento foram identificadas como sendo as principais

atividades dos cientistas.

A perceção dos professores relativamente à imagem da atividade cientifica encontra-se

registada na tabela 12. Os professores são unânimes a afirmar que os manuais escolares que

utilizam veicula a ideia do trabalho individual e isolado do cientista, pelo menos na época tratada

no tema.

Tabela 12: Perceção dos professores acerca da imagem de atividade científica veiculada no tema Evolucionismo dos

manuais de Biologia do 11ºano de escolaridade

Imagem da atividade científica Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Cientistas envolvidos

Individuais

Equipas - - - - - -

Comunidade científica - - - - - - -

Processos de investigação envolvidos

Único - - - - - -

Pluralidade - - - - - -

A investigação em equipas ou a referência à importância da comunidade científica é, na

opinião dos professores PB1 e PB3, uma questão mais recente e atual da atividade científica e

que estará patente de forma ténue no manual que utilizam:

“O manual transmite um bocado a ideia de individualização do trabalho, não é? Pelo menos nos

cientistas mais antigos, depois quando se fala nos mais atuais já vêm dois ou três que já vão mais

em equipa. Depois no fundo é importante eles referirem que a aceitação das suas ideias necessita

do avale da comunidade científica não é? Eles falam e fazem essa referência” (PB1)

Na perspetiva de dois professores, o manual transmite uma ideia, implícita, do método

científico único, clássico e positivista. Os professores PB1 e PD1 já apontam para uma ideia de

pluralidade de processos de investigação envolvidos na atividade científica transmitidos pelos

manuais, fazendo referência às observações efetuadas por Darwin durante a viagem no Beagle e

todo o trabalho seguinte de organização e classificação.

86

A perceção dos professores é semelhante aos resultados da análise dos manuais que

aponta a dinâmica da atividade científica como sendo um trabalho individual do cientista. O

trabalho em equipa e entre a comunidade científica foi também identificado no manual ME-B e

referido pelos professores PB1 e PB2 e no manual ME-D, mas não referido pelos professores

que o utilizam. Na perceção do professor PB1 e na perceção do professor PD1 é veiculada a

pluralidade metodológica no manual escolar ME-B e no manual ME-D.

A tabela 13 apresenta a perceção dos professores acerca dos fatores que que

influenciam a atividade do cientista.

Tabela 13: Fatores que influenciam a atividade do cientista considerados pelos manuais de Biologia do 11ºano de

escolaridade, no tema Evolucionismo

Fatores Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Científicos - - - - -

Tecnológicos - - - -

Sociais - -

Religiosos

Económicos - - - - - - - -

Políticos - - - - - - - -

A perceção de todos os professores entrevistados mostra que os manuais escolares que

utiliza veiculam principalmente os contextos religioso e social e referem a importância que estes

contextos tiveram na evolução do conhecimento na época. Para exemplificar o contexto religioso

afirmaram estar patente nos manuais escolares a dificuldade e a demora de Darwin em assumir

a sua teoria e publicar a sua obra numa sociedade onde a igreja dominava e era difícil romper

com ideais instalados. Os professores PB2, PB3 e PC1 afirmaram que o contexto científico está

presente no manual escolar que utilizam, apesar de não empregarem esta designação. Referem

todos os autores e publicações que serviram de referência a Darwin e à construção da

fundamentação teórica para tudo que observou. O contexto tecnológico apontado por PB1, PC3,

87

PD1 e PD2 como estando incluído nos manuais com que lecionam têm todos como referencia

os argumentos que confirmam a teoria da evolução e que estão também incluídos neste tema.

Os contextos científicos, tecnológicos e religiosos foram também identificados na

primeira parte do estudo como os contextos veiculados por todos os manuais escolares. Os

professores PB2 e PB3 que utilizam o manual ME-B foram os únicos que afirmaram que,

segundo a sua perceção, o manual escolar que utilizam veicula este contexto.

A imagem da evolução do conhecimento científico patente nos manuais escolares,

segundo a perceção dos professores, encontra-se representada na tabela 14.

Tabela 14: Evolução do conhecimento científico patente nos manuais de Biologia do 11ºano de escolaridade, no

tema Evolucionismo

Imagem da Evolução do Conhecimento científico

Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Estático/finalizado - - - - - - - -

Mudança/Transformação

Por unanimidade todos os professores afirmaram que, no tema Evolucionismo, os

manuais escolares que utilizam veiculam uma ideia de conhecimento em constante mudança e

transformação. A perceção dos professores coincide com os resultados da primeira parte do

estudo.

4.2.2. Valor atribuído pelos professores à integração da História das Ciências na abordagem do

tema Evolucionismo, nos manuais de Biologia do 11ºano de escolaridade

A identificação do valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da

História das Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade foi efetuada através da realização de uma entrevista segundo o guião apresentado

no anexo II.

A tabela 15 mostra os principais recursos mobilizados pelos professores na exploração

do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11ºano de escolaridade.

88

Tabela 15: Recursos mobilizadas na exploração do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11ºano de escolaridade

Recursos mobilizados Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Textos da autoria dos cientistas

Fotografias de Cientistas - - - - -

Fotografias de rotas de expedição - -

Caricaturas - - - -

Todos os professores entrevistados referem que a integração de textos da autoria dos

próprios cientistas é relevante para a abordagem do tema. Apesar de todos os professores

admitirem que os manuais que utilizam não apresentam textos originais suficientes, estes

justificam a sua importância como uma forma de concretizar o que é lecionado e aproximar o

aluno da época e do cientista:

“Em termos da divulgação da História das Ciências é fundamental, não é? Porque quase que

coloca os alunos junto do cientista quando ele esteve a formular e a apresentar esse

conhecimento. Se não houvesse se calhar não haveria uma empatia entre o aluno e este momento

histórico da construção do conhecimento científico” (PD1)

Uma parte significativa dos professores admite a necessidade de utilizar outras fontes de

textos originais para além das existentes nos manuais escolares, uma vez que consideram que

os textos originais aí existentes são escassos. Referem textos originais de Cuvier, Buffon e

Darwin onde estes descrevem o seu trabalho. Comparam ainda o manual escolar que utilizam

com os manuais escolares de Biologia do 12º ano do antigo programa, referindo que nestes

últimos os textos originais eram bastante mais frequentes que nos manuais atuais. Com a

mudança de programa afirmam que se perdeu muito do conteúdo histórico que em publicações

antigas da mesma editora era mais enfatizado.

Todos os professores entrevistados afirmam explorar os textos da autoria dos próprios

cientistas incluídos nos manuais escolares que utilizam e grande parte deles utiliza uma

estratégia de leitura seguida de exploração em grupo para abordar o conhecimento substantivo

do tema Evolucionismo. Em todos os manuais escolares existem textos originais integrados em

atividades didáticas e associados a algumas questões de interpretação. Um professor afirma

utilizar estes textos para abordar questões relacionadas com a natureza da Ciência:

89

“Tento retirar desses textos os modelos explicativos dos mecanismos da evolução que vão sendo

apresentados, e a influência da sociedade, a influência do contexto histórico, da religião, da política

que vão sendo apresentados nesses textos” (PD1)

Os professores entrevistados consideram não possuir nenhum tipo de dificuldade na

exploração dos textos originais. Reconhecem que alguns textos explorados a nível didático

possuem uma linguagem mais inacessível aos alunos, mas afirmam não ser o caso de nenhum

texto incluído nos manuais escolares que cada um utiliza, considerando que os textos dos

cientistas apresentados são bastante simples:

“Não sei até que ponto são textos mesmo originais, ou seja, apesar de serem apresentados aqui

como originais do cientista muito provavelmente há aqui alguma adaptação, inclusive do português

para tornar percetível ao aluno que vai estudar em casa sozinho, não é? Que consiga explorar um

bocadinho esses textos. Porque acredito que o texto original seja um bocado mais difícil de

interpretar por causa dos alunos” (PD1)

Todos os professores afirmaram que a reação dos alunos à exploração dos textos da

autoria dos autores é sempre positiva. Os professores referem que os alunos ficam motivados

por lerem um texto original de alguém que terá dado um contributo à evolução do conhecimento

científico, aproximando-o da época e do cientista.

À exceção do professor PB1, todos os professores entrevistados consideram que as

fotografias dos cientistas são recursos relevantes para a exploração do tema. O professor PB1

justifica a sua opinião considerando que estas imagens são apenas uma questão de cultura

geral, no sentido de, no futuro, os alunos conseguirem identificar o indivíduo, por exemplo numa

biblioteca ou exposição. Os restantes professores consideram as fotografias relevantes para a

aprendizagem do tema pelas seguintes razões: (1) Contextualização na época, chamando a

atenção dos alunos à forma como os cientistas abordados se apresentam e como se vestem; (2)

motivação para o conteúdo, sendo um recurso mais apelativo ajuda os alunos a terem mais

atenção ao texto e (3) concretização do conteúdo, deixando o imaginário e passando para uma

realidade e um rosto concreto. Relativamente às rotas de expedição, a maioria dos professores

atribui relevância a este recurso na medida em que o consideram um importante referencial no

momento de explicar a viagem de Darwin a bordo do Beagle. Para além de ser um recurso

90

gráfico, que consideram sempre apelativo mais apelativo que o texto, dizem ajudar o aluno a ter

uma noção do percurso realmente efetuado durante a expedição não ficando apenas com a sua

própria representação. Um professor chama a atenção para a importância que a abordagem da

imagem da rota de expedição possui na exploração de questões relacionadas com a imagem

adequada de Ciência e de Cientista:

“…Por exemplo para os miúdos perceberem…acho que sim…que isto não foi uma coisa de dias e

outra vez a mesma história, que o darwinismo resultou de vários dados de um trabalho que

demorou muito tempo. Eu tenho muitos miúdos que querem ser cientistas e para eles não ficarem

com a ideia, por exemplo que ser cientista não se faz dentro de um laboratório só, ou então que

eu vou hoje para o laboratório e que daqui a uns dias já tenho os meus dados” (PC3)

No que diz respeito às caricaturas PB1, PC3 e PD1 consideram que estas não têm

qualquer relevância para a exploração do tema. Um dos professores refere-se à caricatura como

uma forma de desvalorizar o trabalho do cientista:

“Neste caso isso aqui aparece, o corpo do macaco com a cabeça do Darwin, tira importância ao

cientista, ridiculariza o trabalho do cientista, tira seriedade ao trabalho do cientista, não gosto

muito de caricaturas, principalmente por causa disso” (PD1)

Os restantes professores consideram a caricatura um recurso de eleição para trabalhar o

contexto social vivido na época e a pressão e humilhação pública a que Darwin foi sujeito. As

caricaturas de Darwin incluídas em todos os manuais escolares parecem ser exploradas por

parte dos professores com recurso ao debate e discussão em turma por forma a

compreenderem o seu significado.

Apesar de, na questão 3.2. considerar relevante a presença de fotografias dos cientistas

no manual escolar que utiliza, um dos professores admite não fazer uma exploração deste

recurso, chamando apenas os alunos à atenção para a sua existência. Outros professores

afirmam recorrer a fotografias de cientistas mas não às que se encontram no manual escolar

que utilizam alegando que esta variedade de fotografias à disposição do aluno enriquece a

imagem que este constrói do cientista. Os restantes professores afirmam explorar oralmente as

fotografias de cientistas incluídas nos manuais escolares que utilizam recorrendo a breves

explicações, principalmente de dados biográficos incluídos, como a data de nascimento e

91

falecimento, a área do conhecimento a que se dedicava e a obra ou obras que publicou. A

exploração da rota de expedição do Beagle parece reunir maior unanimidade entre os

professores entrevistados no que diz respeito à sua exploração. Todos os professores que

exploram este recurso fazem-no com uma breve explicação oral da viagem de Darwin no Beagle,

com pequenas questões discutidas em turma sobre os locais por onde passou, a localização

específica das ilhas Galápago e Cabo Verde e os dados que foi recolhendo em casa um desses

locais.

A tabela 16 mostra a exploração de atividades de aprendizagem com informação

histórica incluídas na exploração do tema Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do

11ºano de escolaridade.

Tabela 16: Exploração de atividades de aprendizagem com informação histórica incluídas na exploração do tema

Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do 11ºano de escolaridade

Exploração Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Sim

Não - - - - - - -

A tabela mostra que todos os professores entrevistados consideram relevante a inclusão

de atividades históricas que incidem na interpretação de textos com informação de carater

histórico, incluídas nos manuais escolares que utilizam com o objetivo de explorar: (1) o

conhecimento substantivo, analisando o texto e sinalizando as leis fundamentais inerentes à

teoria do cientista em questão e (2) a natureza das Ciências, colocando os alunos em contacto

com a construção do conhecimento científico e com o que foi vivido na altura pelo cientista, uma

descrição do seu trabalho e dos obstáculos que enfrentaram.

Todos os professores fazem uma exploração oral das atividades com informação

histórica incluídas nos manuais escolares que utilizam. A leitura pode ser efetuada para trabalho

de casa ou realizada em sala de aula individualmente, a pares ou em turma, mas a discussão

das respostas dadas às questões colocadas na atividade são discutidas sempre em turma. Há

professores que referem a necessidade de acrescentar outras questões para além das incluídas

na atividade e outros admitem responder às questões que consideram ser as essenciais

alegando a falta de tempo para uma exploração mais aprofundada

92

Nenhum professor mencionou sentir dificuldades nas atividades de baseadas em textos

históricos. Apesar disso um professor refere que o tipo de questões que são colocadas na

atividade com informação histórica, não se adequam ao texto que é apresentado:

“As questões não são as mais adequadas para o tipo de texto que aqui está. Podia ser explorado

mais, por exemplo o papel do cientista, por exemplo esta questão aqui é fundamental, do avanço e

o contexto socioeconómico, religioso e político mas são muito poucas questões a explorar um texto

tão grande podia ser mais clara, mais dissecada, mas temos o tal condicionalismo do tempo para

serem dados os conteúdos”. (PD1)

A perceção da maioria dos professores aponta para uma reação positiva dos alunos

relativamente à exploração de atividades de aprendizagem com informação histórica. Os

restantes professores consideram que a recetividade dos alunos não é positiva uma vez que

sabem que estas não são avaliadas em exame nacional:

“É o que menos gostam em termos de atividades. Leem, fazem, mas não é aquilo que lhes dá

mais…Só os contextualiza. Não lhes dá conhecimento, lá está…para o exame (…) considerando as

outras atividades e classificando-as de um a cinco esta teria um interesse vá lá…dois. Enquanto

que as outras têm um interesse cinco” (PB2)

Alguns professores acrescentam que apesar de explorarem estas atividades e

considerarem importante a sua inclusão no manual escolar admitem que essa parte apenas será

lecionada se o professor gostar e estiver sensibilizado para a história do Evolucionismo, caso

contrário os alunos ficarão alheios a tudo o que pressupõe a construção desse conhecimento

como os receios dos cientistas, os constrangimentos, a sua perspetiva e o seu contributo na

evolução do conhecimento sobre o tema.

A tabela 17 mostra as sugestões de melhoria apresentadas pelos professores para

explorar a História das Ciências no tema Evolucionismo. O vídeo/filme é apresentado como uma

das sugestões a incluir no bloco pedagógico dos manuais escolares utilizados, para a exploração

da História das Ciências. Os professores sugerem que o vídeo contenha informação histórica

sucinta sobre a vida e obra de vários cientistas importantes para a evolução do conhecimento do

tema.

93

Tabela 17. Sugestões apresentadas para melhorar a exploração da História das Ciências no tema Evolucionismo do

manual escolar de Biologia do 11ºano de escolaridade

Sugestões apresentadas Professores ME-B ME-C ME-D

PB1 PB2 PB3 PC1 PC2 PC3 PD1 PD2

Vídeos relacionados com a História das Ciências

- - - - -

Inclusão de sites na internet relacionados com a exploração da História das Ciências no Evolucionismo

- - - - - -

Modificações no conteúdo histórico apresentado

- - - - -

Os sites da internet também são apontados como sugestão a incluir nos manuais

escolares, para que os alunos possam complementar o que é lecionado em sala de aula.

Relativamente ao conteúdo histórico apresentado, o professor PB1 considera-o insuficiente e

afirma implementar atividades e metodologias que de alguma forma complementem a

informação histórica. Afirma que o manual não veicula uma imagem correta do cientista e que

tenta colmatar essa lacuna envolvendo os alunos em trabalhos de pesquisa e apresentação

sobre os cientistas da época:

“Às vezes já tenho feito, eu peço um trabalho de pesquisa aos alunos para eles fazerem ou então

uma pesquisa bibliográfica e distribuo por cada grupo um cientista e eles então pesquisam sobre

aquele cientista (…) Eles gostam, porque transparece a parte humana porque muitas vezes eles

pensam que um cientista é algo, ou uma pessoa que se isola que não tem vida própria e não. Um

cientista é uma pessoa como nós, comum, tem filhos, tem família, pronto. E essa parte que eu

acho que também se tem que chamar à atenção porque se não eles acham o cientista muito

distante deles”.

Os professores PC1 e PC3 referem que o manual ME-C, não possui informação histórica

suficiente no que diz respeito à evolução do conhecimento sobre o tema. Afirmam que apresenta

um fosso temporal entre a abordagem das perspetivas fixistas e das perspetivas evolucionistas.

PC1 e PC3 admitem existir necessidade de colmatar esta lacuna recorrendo a outros recursos

para além do manual, para que os alunos possam ter um conhecimento adequado sobre a

construção do conhecimento das teorias da evolução e os cientistas que direta ou indiretamente

contribuíram para o culminar da teoria de evolução proposta por Darwin.

Os restantes professores não apresentaram qualquer sugestão, uma vez que na sua

opinião o conteúdo histórico abordado no manual é suficiente para aquilo que os alunos devem

94

saber no 11º ano de escolaridade, relativamente ao tema em estudo. Para além disso os oito

professores entrevistados foram afirmando em vários momentos da entrevista os

condicionalismos existentes na exploração mais ou menos aprofundada dos conteúdos

históricos. Os professores consideram que o conteúdo histórico é importante, principalmente

como contextualização e motivação, mas não é enfatizado no programa de Biologia e Geologia

de 11ºano. Uma vez que o programa desta disciplina é extenso no nível secundário e no 11ºano

de escolaridade os alunos são sujeitos à avaliação externa, os professores consideram premente

valorizar o conhecimento substantivo do tema:

“A avaliação externa condiciona o tempo que nós podemos dedicar à História das Ciências. É

muito pouco avaliado, quase nada avaliado. Poderá ser avaliado esporadicamente numa questão

de escolha múltipla, mas um peso importante à História das Ciências? Não”. (PC2)

Admitindo que a existência de exame nacional no 11º ano de escolaridade determina a

prática dos professores, quase a totalidade, admite não incluir questões sobre a História das

Ciências quando avaliam o conhecimento dos alunos sobre o tema, procurando sempre que as

questões incluídas nas fichas de avaliação sumativa se assemelhem às questões de exame. Para

além disso afirmam que o tema Evolucionismo não é tão avaliado em exame nacional como

outros temas do programa de Biologia e Geologia. Para além da extensão do programa e da

existência do exame nacional, os professores fazem referência à ausência de formação para

abordar a História das Ciências de forma adequada. Afirmam que a História das Ciências

abordada na formação inicial não foi suficiente e muitos dizem-se autodidatas, aumentando os

seus conhecimentos pela curiosidade e leitura.

95

V – CONCLUSÕES, IMPLICAÇÕES E SUGESTÕES

Introdução

No presente capítulo são apresentadas as principais conclusões resultantes do estudo

focalizado na análise da exploração da História das Ciências no tema Evolucionismo, dos

manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade. A partir destas conclusões serão

avançadas algumas implicações para o ensino das Ciências e para a conceção dos manuais da

disciplina referida. Por fim, apresentam-se sugestões de futuras investigações.

5.1. Principais conclusões do estudo

As principais conclusões do presente estudo estão estruturadas em função das duas

vertentes que o corporizam: (1) modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema

Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade e a respetiva

imagem da Ciência e de Cientista veiculada e (2) perceções dos professores acerca da imagem

da Ciência e de Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia

do 11º ano de escolaridade e do valor atribuído à integração da História das Ciências nesse

tema.

5.1.1. História das Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º

ano de escolaridade

Esta primeira vertente do estudo teve por base os seguintes objetivos:

a) Analisar o modo como a História das Ciências é operacionalizada no tema Evolucionismo dos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade;

b) Identificar a imagem de Ciência e Cientista veiculada no tema Evolucionismo dos manuais escolares de

Biologia do 11ºano de escolaridade.

96

Os resultados da análise do tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do

11º ano de escolaridade acerca do modo como a História das Ciências é operacionalizada

permitiu efetuar as seguintes constatações:

Os textos produzidos pelos autores dos manuais escolares e os textos da autoria dos

cientistas responsáveis pelo conhecimento produzido são as fontes verbais mobilizadas

na exploração da informação histórica;

As fotografias dos cientistas são a principal fonte iconográfica mobilizada na exploração

da informação histórica;

As atividades de aprendizagem orientadas para a construção do conhecimento estão

presentes em todos os manuais escolares, predominando as atividades de

aprendizagem focalizadas na interpretação da informação;

O contexto de exploração das atividades de aprendizagem – individual e/ou em grupo –

não é referido nos manuais escolares;

As atividades de aprendizagem assumem primordialmente um estatuto primário pela

sua localização ao longo das unidades didáticas.

O número de atividades de aprendizagem que tomam a exploração da História das

Ciências como um objetivo de aprendizagem intencional e explícito é reduzido, sendo

que estas incidem fundamentalmente no conhecimento substantivo do tema

Evolucionismo;

A análise da dimensão Imagem da Ciência/Cientista permitiu chegar às seguintes

conclusões:

A Imagem de Cientista predominantemente veiculada é a de um indivíduo do sexo

masculino e de origem europeia. É induzida, por omissão, a imagem do cientista como

um indivíduo focalizado na atividade profissional e desligado de um contexto familiar e

social;

Os processos de construção do conhecimento predominantemente referidos são a

Observação e Experimentação. No entanto, encontram-se referências pontuais a outros

processos – raciocínio analógico, ideias/experimentação e processos de classificação –

97

que dão um contributo para a formação de uma visão da construção do conhecimento

científico assente na pluralidade metodológica;

Os contextos científicos e tecnológicos da época são os contextos da atividade científica

predominantemente referidos;

A investigação científica como uma atividade essencialmente de natureza individualizada

predomina nos manuais escolares;

5.1.2. Perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem das Ciências e de

Cientista e valor atribuído à sua integração no tema Evolucionismo dos manuais escolares

de Biologia do 11º ano de escolaridade

Esta segunda vertente do estudo teve por base os seguintes objetivos:

a) Identificar as perceções de professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de Ciência e de

Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de

escolaridade;

b) Identificar o valor atribuído por professores de Biologia e Geologia à integração da História das

Ciências no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade.

As perceções primordiais dos professores de Biologia e Geologia acerca da imagem de

Ciência e de Cientista veiculadas no tema Evolucionismo dos manuais escolares de Biologia do

11º ano de escolaridade são as seguintes:

A imagem de cientista veiculada é essencialmente a de um indivíduo do sexo masculino

e principalmente europeu, maior parte das vezes isolado do contexto social da época e

do contexto familiar;

A principal atividade atribuída ao cientista é a investigação, não sendo referida a sua

intervenção em atividades de ensino e política;

A atividade científica é apresentada como uma tarefa individual e isolada;

Os processos de investigação envolvidos na construção da Ciência não estão claramente

explicitados ou não são referidos;

Os contextos social e religioso são os contextos mais enfatizados havendo referência aos

contextos económico e político;

98

O conhecimento científico como um conhecimento em constante mudança e

transformação é percecionado como sendo veiculado por todos os manuais escolares;

A integração de textos da autoria dos próprios cientistas em causa é considerada

relevante por todos os professores na abordagem do tema. Alguns professores

consideram estes textos escassos no manual escolar que utilizam e admitem a

necessidade de recorrer a outras fontes de obtenção deste recurso;

Os textos da autoria dos próprios cientistas são utilizados pela maioria dos professores

para abordagem do conhecimento substantivo;

Os professores não sentem dificuldade na exploração dos textos originais e consideram

que são textos simples e adaptados à faixa etária;

Os professores afirmam que os alunos reagem positivamente à exploração dos textos da

autoria dos cientistas afirmando que sentem uma maior motivação dos alunos para o

estudo;

As fotografias dos cientistas são considerados recursos relevantes para contextualizar o

aluno na época e como motivação para a exploração do conteúdo. Apesar disso, nem

todos os professores fazem a sua exploração.

As rotas de expedição são consideradas importantes pela maioria dos professores

porque constituem um referencial relevante na explicação da viagem de Darwin a bordo

do Beagle;

A caricatura é considerada por parte dos professores como um recurso de eleição para

trabalhar o contexto social vivido na época e a pressão e humilhação pública a que

Darwin foi sujeito. As caricaturas são exploradas com recurso ao debate e discussão em

turma por forma a compreenderem o seu significado;

A inclusão de atividades históricas que incidem na interpretação de textos com

informação de caráter histórico são consideradas relevantes pelos professores, sendo

utilizadas na exploração do conteúdo e na exploração da natureza das Ciências;

As atividades com informação histórica são trabalhadas oralmente com os alunos.

Alguns professores fazem referência à necessidade de completar estas atividades com

outras questões e outros admitem responder apenas às questões que consideram ser as

essenciais. Alegam a falta de tempo para uma exploração mais aprofundada.

Os professores não sentem dificuldade na exploração das atividades de aprendizagem

baseadas em textos históricos;

99

Os professores afirmam que os alunos reagem positivamente à exploração das

atividades de aprendizagem baseadas em textos históricos afirmando que sentem uma

maior motivação dos alunos para o estudo;

A exploração das atividades baseadas em textos históricos não representam uma

dificuldade para os professores e na sua perceção os alunos têm uma

reação/recetividade positiva à sua exploração;

O vídeo/filme e os sites da internet são apresentados como sugestões a incluir no bloco

pedagógico dos manuais escolares utilizados, para a exploração da História das

Ciências;

Os professores que utilizam o manual ME-C apontam a insuficiência da informação

histórica que nele está patente;

O conteúdo histórico é considerado relevante pelos professores, principalmente como

contextualização e motivação, mas estes professores admitem uma maior valorização do

conteúdo científico em detrimento do conteúdo histórico;

As questões sobre História das Ciências não são incluídas nas fichas de avaliação

sumativa pela maioria dos professores.

5.2. Implicações para o Ensino das Ciências

As implicações do presente estudo no ensino das Ciências incidem fundamentalmente

em três vertentes: construção de manuais escolares, formação de professores e práticas letivas.

As implicações na construção dos manuais escolares prendem-se com a integração

explícita da História das Ciências na abordagem das temáticas científicas com o objetivo de

contribuir não só para a aprendizagem do conhecimento substantivo mas também para a

aprendizagem das características e dos processos da Ciência. Exige uma abordagem que

contribua para a reconstrução de visão estereotipada de cientista e de visão deformada da

Ciência. A explicitação nos documentos de apoio ao manual escolar dos pressupostos

assumidos pelos autores nas opções tomadas é necessário para que os professores adquiram

uma visão clara das finalidades educativas subjacentes às propostas apresentadas e promovam

a sua operacionalização em função delas.

As implicações na formação de professores reportam-se à criação de uma unidade

curricular de História das Ciências na formação inicial de professores e ao desenvolvimento de

100

cursos e/ou oficinas de formação no âmbito da formação contínua centradas na

operacionalização da História das Ciências no ensino e na aprendizagem das Ciências. Nestes

dois contextos, a formação de professores deverá estar orientada para o desenvolvimento de um

profissional com um perfil de cariz reflexivo e investigativo. Neste sentido, a opção por oficinas

de formação é uma via propiciadora para o envolvimento dos professores na conceção,

implementação e avaliação de práticas educativas de modo a desenvolverem capacidades de

indagação e inovação das suas próprias práticas pedagógicas. A análise de experiências

pedagógicas num contexto de natureza marcadamente dialógico, reflexivo e colaborativo é uma

outra possibilidade a adotar quer na formação inicial quer na formação contínua de professores.

Nas práticas letivas salienta-se a necessidade de promover a interpretação dos vários

recursos que são utilizados no manual escolar de modo a atribuir-lhe significado. As intervenções

práticas que incluam a exploração da História das Ciências baseadas na autosupervisão são

necessárias para que o professor seja sensível às vantagens pedagógicas da utilização da

História das Ciências em sala de aula e consiga incluir autoavaliar de forma crítica o impacto na

desta inclusão na aprendizagem dos alunos. A inclusão/integração de questões orientadas para

a interpretação de informação histórica nas fichas de avaliação sumativa irá contribuir para que

os alunos passem a atribuir uma maior importância aos conteúdos históricos, transformando-os

em objetos de estudo.

A inclusão/integração sistemática e contínua da História das Ciências, patente nos

diferentes anos de escolaridade e nas disciplinas das Ciências do mesmo ano de escolaridade

será necessária com vista a uma articulação de conteúdos e a uma compreensão mais

abrangente e interdisciplinar da história do conhecimento científico.

5.3. Sugestões para futuras investigações

A importância do manual escolar no processo de ensino aprendizagem, reconhecida por

todos os intervenientes nos processos de ensino e de aprendizagem, justifica que este seja

tomado como objeto principal de investigação educacional, como por exemplo:

Conceção, implementação e avaliação de estratégias de intervenção pedagógicas

orientadas para o desenvolvimento de competências de utilização do manual escolar

pelos alunos;

101

Identificação do impacto dos manuais escolares no desenvolvimento das conceções de

Ciência e da imagem de Cientista pelos alunos;

Análise da relação entre a mentalidade científica e a mentalidade religiosa veiculada nos

manuais escolares de Biologia e Geologia;

Ampliar o tipo de investigação desenvolvida nesta dissertação a outros temas de cariz

histórico dos manuais escolares.

Reconhecendo a importância da investigação centrada nas práticas educativas, importa

promover também o desenvolvimento de estudos centrados na conceção de estratégias de

intervenção pedagógica focalizadas na exploração da História das Ciências e que contribuam

para a superação de conceções erróneas acerca da Ciência e de ideias estereotipadas acerca do

Cientista.

102

103

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114

115

ANEXOS

116

117

ANEXO I

Grelha de Análise da Informação Histórica da temática Evolucionismo nos

Manuais Escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade,

adaptada de Bernardes (2013)

118

119

Estrutura Global da Grelha de Análise da informação Histórica da temática Evolucionismo nos Manuais Escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

Dimensão Subdimensão

Operacionalização

Didática

Tipo de informação histórica apresentada/explorada

Tipo de recursos mobilizados na exploração da informação histórica

Modo de exploração da informação histórica

Imagem de

Ciência/Cientista

Imagem de Cientista

Dinâmica da Atividade Científica

Processo de Criação Científica

Contexto da Atividade Científica

Evolução do Conhecimento Científico

120

Grelha de análise da Operacionalização Didática da Informação Histórica da Temática Evolucionismo nos manuais

escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

Subdimensão Operacionalização

Tipo de Informação

Histórica explorada

Dados biográficos do cientista

Data de nascimento e/ou falecimento

Origem

Imagens (fotografias, retratos, esculturas, caricaturas, etc.)

Historiografia familiar (genealogia, acontecimentos familiares,

etc)

Prémios/condecorações recebidas e/ou homenagens

efetuadas

Formação académica (grau obtido, instituição e/ou

homenagens efetuadas)

Atividades desempenhadas pelo

cientista

Investigação (projetos de investigação desenvolvidos e em

curso)

Ensino

Disseminação do conhecimento (publicações, participação em

reuniões científicas)

Ação/Intervenção político-social

Áreas do conhecimento do interesse

do cientista

Áreas de Investigação

Artes Plásticas, Pintura, Escultura, História da Arte, Literatura,

etc.

Dinâmica da atividade científica

Trabalho individual e/ou de equipas

Colaborações/Intercâmbios nacionais e/ou estrangeiros

Papel da comunidade científica na validação do conhecimento

Processo de criação científica

Observação/Experimentação; Ideias/Imaginação; Raciocínio

analógico; Processos matemáticos; Processos de medição;

Processos de classificação

Contexto da atividade científica Visão internalista (Científico, Tecnológico e Epistemológico)

Visão Externalista (sociopolítico)

Evolução do Conhecimento Científico Finalizado

Dinâmico, temporal

Tipo de recursos

mobilizados na

exploração de

informação

histórica

Fontes verbais

Fontes primárias (textos da autoria dos cientistas responsáveis

pelo conhecimento produzido. Por exemplo, excertos de

autobiografias, cadernos de campo, correspondência, etc)

Fontes secundárias (textos da autoria de historiadores, filósofos

e ou sociólogos da Ciência)

Textos da autoria dos autores dos manuais escolares

Notícias da imprensa escrita

Guiões de peças de teatro

Font

es Ic

onog

ráfic

as

Cientistas

Fotografias

Retrato (pintura, gravura, etc.))

Escultura (busto, estátua)

Caricaturas

Livros Fotografias de frontispício e/ou páginas de obras científicas

Fotografias de cadernos de campo

Mapas Fotografias/gravuras de rotas de expedições

Equipamentos/ Técnicas

de Investigação

Fotografias de máquinas e/ou de equipamento de laboratório

Fotografias de técnicas laboratoriais

Fotografias/pinturas/gravuras de navios oceanográficos

Modelos Fotografias/gravuras de modelos científicos

Espécies Fotografias de novas espécies classificadas

121

(continuação) Grelha de análise da Operacionalização Didática da Informação Histórica da Temática Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade

Modo de

exploração da

informação

histórica

Tipo de atividades

de aprendizagem

(Re)construção

do

conhecimento

Interpretação de informação (relatos de experiências

laboratoriais, dados experimentais, etc)

Pesquisa de informação (bibliografia especializada,

(auto)biografias, Histórias da Ciência, etc.)

Execução de

experiências

históricas

conjugada com a análise do contexto

cientifico e intelectual da época

dissociada da análise do contexto científico

e intelectual da época

Dramatizações

Debates/Role Playing

Avaliação da aprendizagem

Contexto de

exploração das

atividades de

aprendizagem

Trabalho individual

Trabalho de

grupo

Par

Pequeno Grupo (3 ou mais alunos)

Grupo Turma

Estatuto das

atividades de

aprendizagem

Primário As atividades estão incluídas ao longo da unidade didática no

manual do aluno

Secundário

As atividades estão incluídas no final da unidade didática no

manual do aluno

As atividades estão integradas no caderno de atividades do

aluno

Grelha de análise da Imagem de Ciência/Cientista veiculada através da Informação Histórica da temática

Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade Subdimensão Operacionalização

Imagem de Ciência/

Cientista

Sexo Feminino

Masculino

Nacionalidade

Portuguesa

Estrangeiro

Europeu

Americano

Asiático

Africano

Historiografia familiar Genealogia

Acontecimentos familiares

Formação académica

Licenciatura

Mestrado

Doutoramento

Atividades

desempenhadas

Investigação (projetos de investigação desenvolvidos e em curso)

Ensino

Disseminação do conhecimento (publicações, participação em

reuniões científicas)

Intervenção político-social

122

(continuação) Grelha de análise da Imagem de Ciência/Cientista veiculada através da Informação Histórica da

temática Evolucionismo nos manuais escolares de Biologia do 11º ano de escolaridade Subdimensão Operacionalização

Imagem de Ciência/

Cientista

Áreas do conhecimento

de interesse do

Cientista

Áreas de

Investigação

Biologia (Zoologia, Botânica, Ecologia, Biologia

Marinha, etc.)

Geologia

Química

Física

Matemática

Outras áreas

Pintura

História da Arte

Escultura

Literatura

Valoração social

Rec

onhe

cim

ento

Inte

rnac

iona

l

Atribuição do Prémio Nobel

Atribuição de outros prémios/condecorações por

organismos internacionais

Apresentação de Estátuas/ Bustos dos cientistas

noutros países que não são o da sua

nacionalidade R

econ

heci

men

to

Nac

iona

l Atribuição de prémios/condecorações por

organismos nacionais

Apresentação de estátuas/bustos dos cientistas

no país da sua nacionalidade

Desacreditação

Apresentação de caricaturas criadas na época

com o intuito de desacreditar e ridicularizar o

cientista

Dinâmica da Atividade

Científica

Cientista O conhecimento científico produzido é atribuído a um único cientista

Equipa de cientistas O conhecimento científico produzido é atribuído a uma equipa de

cientistas

Intercâmbio entre

equipas de cientistas

O conhecimento científico produzido é o resultado da interação entre

equipas de investigação

Comunidade Científica A validação do conhecimento científico está dependente da aceitação

pela comunidade científica da época

Processo de Criação

Científica

Observação/Experimentação

Ideias/Imaginação

Raciocínio analógico

Processos matemáticos

Processos de medição

Processos de classificação

Observação/Experimentação

Contexto da Atividade

Científica

Visão Internalista

Científico

Tecnológico

Epistemológico

Visão Externalista

Económico

Político

Ético/Moral

Religioso

Evolução do Conhecimento

Científico

Finalizado Interpretação única sobre um dado fenómeno científico

Dinâmico/Temporal

Avanços e recuos, controvérsias/polémicas, problemas não

resolvidos, problemas resolvidos, conjeturas, substituição de uma

perspetiva por outra

123

ANEXO II

Guião da entrevista aos professores de Biologia e Geologia do 11º ano de escolaridade

124

125

GUIÃO DA ENTREVISTA

1. Caracterização profissional dos professores entrevistados

1.1. Qual é a sua situação profissional?

1.2. Há quantos anos leciona?

1.2.1. Quantos anos já lecionou o tema Evolucionismo? No 11º ano ou noutros anos de

escolaridade?

1.3. Qual é a sua formação académica?

1.3.1. Em que área?

1.3.2. Incluiu a abordagem do papel da História das Ciências no ensino e aprendizagem das

Ciências?

1.3.2.1. Qual foi o contributo dessa abordagem para as suas práticas letivas?

1.4. Alguma vez frequentou algum curso/oficina de formação sobre História das Ciências?

1.4.1. Qual o tempo de duração?

1.4.2. Qual foi o contributo dessa formação para as suas práticas letivas?

2. Perceções dos professores entrevistados acerca da imagem das Ciências e de Cientista

veiculadas pelos manuais escolares no tema Evolucionismo

2.1. Que imagem de cientista é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano, adotado

na sua escola, aquando da abordagem do tema Evolucionismo?

(Considerar as dimensões sexo, nacionalidade, contexto social e familiar, convicções religiosas e políticas)

2.2. Quais são as atividades que na sua perspetiva são atribuídas aos cientistas pelo manual

escolar de Biologia do 11º ano, adotado na sua escola, aquando da abordagem do tema

Evolucionismo?

(Considerar: investigação, ensino, disseminação/divulgação do conhecimento científico,

atividade política)

2.3. Que imagem da atividade cientifica é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano,

adotado na sua escola, através da abordagem do tema Evolucionismo?

(Considerar - cientistas envolvidos: Cientistas individuais? Equipas? Comunidade científica?)

(Considerar - processos de investigação envolvidos: Um único? Pluralidade de processos?)

126

2.4. Qual pensa ser o contributo dado pelo tema Evolucionismo do manual escolar do 11º ano,

adotado na sua escola, para a compreensão dos fatores que influenciam a atividade dos

cientistas?

2.4.1. Que fatores são considerados e com que relevo o são?

(Considerar: fatores científicos/tecnológicos, fatores económicos/políticos/ religiosos/sociais?

2.5. A imagem das Ciências veiculada no manual escolar de 11º ano, adotado na sua escola,

quando aborda o tema Evolucionismo aponta para um conhecimento estático/finalizado ou em

constante mudança/transformação?

3. Valor atribuído pelos professores entrevistados à integração da História das Ciências na

abordagem do tema Evolucionismo nos manuais escolares

3.1. Qual é a relevância que atribui à integração de textos da autoria dos próprios cientistas na

exploração do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua

escola?

3.1.1. Costuma explorá-los?

3.1.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo?

3.1.1.2. Que dificuldades sente?

3.1.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes textos?

3.2. Qual é a relevância que atribui à integração dos seguintes recursos na exploração do tema

Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua escola?

- fotografias de cientistas

- rotas de expedição

- caricaturas

3.2.1. Costuma explorá-los?

3.2.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo?

3.2.1.2. Que dificuldades sente?

3.2.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes recursos?

127

3.3. Qual é a relevância que atribui às atividades de aprendizagem incluídas no manual escolar,

adotado na sua escola, que incidem na interpretação de textos com informação de caráter

histórico no âmbito do tema Evolucionismo?

3.3.1. Costuma explorá-las?

3.3.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo?

3.3.1.2. Que dificuldades sente?

3.3.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destas atividades?

3.4. Que sugestão(ões) apresenta para melhorar a exploração da História das Ciências no tema

Evolucionismo do manual escolar de Biologia do 11 ano adotado na sua escola? Que outros

recursos incluiria

128

129

ANEXO III

Exemplo da transcrição da entrevista ao professor PD1

130

1. Caracterização profissional dos professores entrevistados

1.1. Qual é a sua situação profissional?

R: Pertenço ao quadro de escola.

1.2. Há quantos anos leciona?

R: Há 17 anos.

1.2.1. Quantos anos já lecionou o tema Evolucionismo? No 11º ano ou noutros anos de

escolaridade?

R: O tema Evolucionismo já lecionei seis vezes, no 11ºano. Antigamente havia as Ciências da

Terra e da Vida, mas acho que o investimento seria mais na origem da vida e a parte da

evolução não era dada. Portanto quando começou este novo programa em 2003/4, eu comecei

a dar este tema foi em 2004/5 para aí, em que comecei a dar o Evolucionismo.

1.3. Qual é a sua formação académica?

R: Licenciatura em ensino da Biologia e Geologia.

1.3.2. Incluiu a abordagem do papel da História das Ciências no ensino e aprendizagem das

Ciências?

R: Sim. Uma cadeira de História das Ciências intitulada assim, não. Foi sempre dada ao longo

das diferentes cadeiras, sim.

1.3.2.1. Qual foi o contributo dessa abordagem para as suas práticas letivas?

R: O ensino da HC como uma parte mais motivacional, importante na minha prática educativa,

fundamental, introdutória dos conteúdos e motivadora dos conteúdos para os alunos. Para os

alunos conseguirem compreender um bocadinho o conhecimento que agora lhes é dado como

feito, como completo.

1.4. Alguma vez frequentou algum curso/oficina de formação sobre História das Ciências?

R: Não.

131

2. Perceções dos professores entrevistados acerca da imagem das Ciências e de Cientista

veiculadas pelos manuais escolares no tema Evolucionismo

2.1. Que imagem de cientista é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano, adotado

na sua escola, aquando da abordagem do tema Evolucionismo?

(Considerar as dimensões sexo, nacionalidade, contexto social e familiar, convicções religiosas e

políticas)

R: Alguém que se questiona, que procura encontrar respostas em relação aos fenómenos que

observa. Neste caso concreto do Evolucionismo o conflito criado com os conhecimentos que ele

tem, a formação que ele tem e aquilo que ele vai observando, que o coloca a tentar procurar

respostas para tentar encontrar…e acabar com esse conflito e o contributo que ele vai buscar a

todos os cientistas e não só….Não caminha sozinho vai sempre procurar contributos de outras

áreas das ciências, para tentar construir o seu conhecimento, as respostas para as perguntas

que ele vai colocando quando observa os fenómenos, neste caso do evolucionismo que ele vai

observando ao longo do seu percurso. Relativamente ao sexo, homens, quase exclusivamente

homens, neste tema. Isto também por causa do contexto histórico, ou seja se posicionarmos

este conteúdo em termos de construção do conhecimento científico, na altura não havia

praticamente nenhuma mulher, não era permitido à mulher a participação na ciência, não é?

Tinha um papel secundário. A imagem do cientista é de um cientista fundamentalmente

ocidental, europeu principalmente, não é? Parece que só se constrói ciência na Europa, não há

aqui contributo de outras, há centralização do conhecimento na europa, principalmente

Inglaterra, os ingleses principalmente. Contexto social e familiar, não, essa parte não.

Provavelmente essa seleção da vida do cientista é feita por uma questão de condicionalismos

em termos de manual, não é? Que não pode ir muito para além daquilo que são os conteúdos.

Aliás é obrigatório o manual seguir o programa oficial que o obriga a enfatizar alguns conteúdos

em detrimento de outros e evitar, por causa da extensão do programa e preparação para o

exame nacional, alguns conteúdos que poderão para o autor ou mesmo para o Ministério

parecerem um bocado secundários. O familiar não, agora o contexto social dá uma ideia muito

ao de leve, muito levezinha, situando em termos históricos, em termos de cronologia. Fala, é

óbvio, tal como todos os outros manuais, na influência entre ciência, tecnologia, sociedade e

ambiente e então nesse caso fala na sociedade e enquadra um bocadinho na influência que tem

a sociedade na construção desse conhecimento, mas só nesse aspeto. As convicções religiosas,

132

aí acho que sim, neste caso sim. É claro no caso da evolução, principalmente no aparecimento

de novos mecanismos explicativos do aparecimento das espécies, é claro a influência da religião

no posicionamento de alguns modelos explicativos e a influência para evitar que a ciência se

despegue da religião. Eles têm aqui, no tema da Evolução das espécies uma atividade onde

falam nas diferentes teorias explicativas da origem das espécies que vão sucedendo ao longo do

tempo e falam ai da influência que tem por exemplo a religião católica, no caso de algumas

hipóteses e a força que tem a religião nessas hipóteses e nos modelos que foram sendo

apresentados e no trabalho do cientista.

2.2. Quais são as atividades que na sua perspetiva são atribuídas aos cientistas pelo manual

escolar de Biologia do 11º ano, adotado na sua escola, aquando da abordagem do tema

Evolucionismo?

(Considerar: investigação, ensino, disseminação/divulgação do conhecimento científico,

atividade política)

R: Principalmente neste caso investigação, o ensino neste caso acho que não era uma das

principais atividades do cientista, mas eles eram um bocado sobranceiros, procuravam

protagonismo, muito principalmente não estavam disponíveis para o ensino. Procuravam

principalmente a investigação para depois terem o reconhecimento por parte dos seus pares. A

divulgação científica era muito limitada, dentro de uma comunidade muito fechada, em termos

sociais pertenciam a uma classe social muito elevada. E as descobertas que iam sendo feitas

muito provavelmente não saíam com muita facilidade para fora. Está é a minha opinião mas o

manual não dá essa ideia de que o conhecimento era fechado num círculo restrito. Um caso

muito especial que referem são as reticências que Darwin teve em divulgar a sua obra dado ao

medo que ele tinha em termos da pressão da comunidade científica, isso é o que está patente

aqui. Agora essa atividade como a política não.

2.3. Que imagem da atividade cientifica é veiculada pelo manual escolar de Biologia do 11º ano,

adotado na sua escola, através da abordagem do tema Evolucionismo?

(Considerar - cientistas envolvidos: Cientistas individuais? Equipas? Comunidade científica?)

(Considerar - processos de investigação envolvidos: Um único? Pluralidade de processos?)

R: Neste caso Darwin não conseguiria ter feito o que fez se não tivesse ido buscar ajuda, mas de

uma forma autónoma, não houve uma partilha aqui. Porque também há uma série de áreas que

133

eles explicitam aqui numa barra cronológica. Há aqui dados que Darwin foi buscar às outras

áreas do conhecimento científico que foram publicadas antes, alguns já tinham falecido, antes

da sua viagem, das suas descobertas, dos seus estudos. Mas veicula a ideia de que ele

trabalhou sozinho, parece que ele trabalhou sozinho. Há uma pluralidade de processos de

investigação e de pesquisa. O facto de ele ter ido buscar a área de conteúdos a nível da

demografia, à economia, o facto de ir buscar questões a nível de anatomia/medicina houve aqui

um contributo de várias áreas da ciência para a construção deste conteúdo específico do

conhecimento. O manual é explícito nisso.

2.4. Qual pensa ser o contributo dado pelo tema Evolucionismo do manual escolar do 11º ano,

adotado na sua escola, para a compreensão dos fatores que influenciam a atividade dos

cientistas?

R: É muito bom.

2.4.1. Que fatores são considerados e com que relevo o são?

R: Portanto, os fatores sociais influenciaram muito porque sem a possibilidade de haver uma

ajuda da comunidade científica e da sociedade em termos financeiros, neste contexto histórico,

para a investigação, ele não teria feito nada. O facto de ele ter feito uma viagem de

circunavegação foi um facilitador do trabalho que ele foi desenvolvendo nos anos seguintes, a

influência que teve a religião no retardar das suas descobertas a influência politica que teve dos

amigos e do seu grupo de amigos no avançar e no recuar na tentativa de publicar. Em termos

tecnológicos não faz aqui grande referência a nível da tecnologia, quer dizer, peço desculpa,

estou a centrar-me muito…Também este manual está confuso relativamente ao posicionamento

dos argumentos em relação ao momento em que se fizeram as descobertas dos mecanismos de

evolução, não é muito claro e os miúdos ficam um bocado confusos em termos cronológicos

para saber se os argumentos que são apresentados aqui, se são coincidentes em termos

temporais com o trabalho de Darwin e de Lamarck. Mas se nós considerarmos esses

argumentos é óbvio que a tecnologia foi fundamental, não é? A tecnologia foi fundamental em

termos dos conhecimentos embriológicos, citológicos, etc. Aliás este manual tem o exemplo do

exercício da borboleta que é posterior e que é apresentado como praticamente sendo da autoria

do próprio Darwin.

134

2.5. A imagem das Ciências veiculada no manual escolar de 11º ano, adotado na sua escola,

quando aborda o tema Evolucionismo aponta para um conhecimento estático/finalizado ou em

constante mudança/transformação?

R: Em constante mudança, em reconstrução. Alias, ele fala desse conflito, do entrave, essa tal

relação entre CTSA. Mas apesar de a tecnologia não ser aqui, neste caso, neste momento, tão

explícita em termos de sociedade e ciência há essa relação. Aliás todos os manuais enfatizam a

importância do conhecimento científico em constante mudança.

3. Valor atribuído pelos professores entrevistados à integração da História das Ciências na

abordagem do tema Evolucionismo nos manuais escolares

3.1. Qual é a relevância que atribui à integração de textos da autoria dos próprios cientistas na

exploração do tema Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua

escola?

R: Em termos da divulgação da História das Ciências é fundamental, não é? Porque quase que

coloca os alunos junto do cientista quando ele esteve a formular e a apresentar esse

conhecimento. Se os textos não existissem se calhar não haveria uma empatia entre o aluno e

este momento histórico da construção do conhecimento cientifico.

3.1.1. Costuma explorá-los?

R: Sim, aliás não são os do manual, os do manual todos, mas outras fichas de trabalho

baseadas nos mesmos textos, basicamente são sempre os mesmos exemplos, não é?

3.1.1.1. De que modo? Pode dar um exemplo?

R: Tentando retirar desses textos os modelos explicativos dos mecanismos da evolução que vão

sendo apresentados, e a influência da sociedade, a influência do contexto histórico, da religião,

da política que vão sendo apresentados nesses textos. A tal influência da religião no avançar ou

recuar ou impedir que o conhecimento seja apresentado. Para dar um bocadinho o exemplo de

como foi construído esse conhecimento científico. Os textos são explorados como

contextualização e também com o objetivo da construção do conteúdo em si, da apresentação

135

do conteúdo em si. Com bases nestes textos nós já conseguimos retirar os mecanismos todos

que foram apresentados.

3.1.1.2. Que dificuldades sente?

R: Nenhuma. Porque é assim, primeiro são quase todos em português, não é? E muito

provavelmente não sei até que ponto são textos mesmo originais, ou seja, apesar de serem

apresentados aqui como originais do cientista muito provavelmente há aqui alguma adaptação,

inclusive do português para tornar percetível ao aluno que vai estudar em casa sozinho, que

consiga explorar um bocadinho esses textos. Porque acredito que o texto original seja um

bocado mais difícil de interpretar.

3.1.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes textos?

R: Acho que é importante para os alunos se motivarem para o tema, acho que é importante, os

alunos gostam.

3.2. Qual é a relevância que atribui à integração dos seguintes recursos na exploração do tema

Evolucionismo no manual escolar de Biologia do 11º ano adotado na sua escola?

- fotografias de cientistas

- rotas de expedição

- caricaturas

R: As fotografias de cientistas são importantes porque ajudam a posicionar o aluno num tempo

da história “Eh pa, isto tem muito tempo”. É óbvio que se repararmos, uma coisa que tinha dito

há bocado, é que são tudo homens. Mas acho que sim, é interessante porque os ajuda a

posicionar em termos históricos e dar-lhes, como são normalmente fotografias de homens muito

austeros, muito sérios, dá alguma importância, alguma seriedade ao conhecimento que vai ser

apresentado aqui neste conteúdo. Às rotas de expedição não atribuo relevância nenhuma e as

caricaturas acho perigoso. Se não for bem explicada a razão dessa caricatura, pode dar uma

ideia ao aluno de ridicularização do cientista, do trabalho do cientista. Essa ridicularização, neste

caso isso aqui aparece, o corpo do macaco com a cabeça do Darwin, tira importância ao

cientista, ridiculariza o trabalho do cientista, tira seriedade ao trabalho do cientista Não gosto

muito de caricaturas, principalmente por causa disso. E essa caricatura ilustra a pressão que

sofre qualquer cientista quando apresenta um novo conhecimento, de resto não tem interesse

136

nenhum. A caricatura tem a ver com o humor, o humor é importante na divulgação científica, na

aprendizagem das ciências, não só das nossas ciências, em qualquer uma. Neste caso acho que

é perigoso o uso de caricaturas.

3.2.1. Costuma explorá-los?

R: Rotas…muito pouco, porquê? Estas rotas têm interesse possivelmente para tentar dar uma

ideia em que parte do planeta do globo que Darwin foi recolhendo dados, mas não exploro

muito. As imagens dos cientistas normalmente mostro-as sempre, saliento não só a nível de

imagem mas também do nome da data e da área do conhecimento, apesar que nessa altura

eles eram todos naturalistas, não é? Da área do conhecimento científico a que eles se

dedicavam. Acho que é importante. As caricaturas evito-as. Falo muito de que Darwin era fixista

antes de partir para a viagem, exploro muito a História das Ciências, da mudança que ele sofreu

e o manual apesar de o fazer eu exploro um bocadinho mais.

3.2.1.2. Que dificuldades sente?

R: Nenhuma.

3.2.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destes recursos?

R: Em relação às rotas não gostam, razão pela qual as evito. Às fotografias não lhes dão tanta

importância. Acho que os ajuda a focarem-se em termos temporais e a importância que eles dão

fica por aí. Eles não dão assim muita importância às fotografias. Às caricaturas gostam, gostam,

riem-se e aproveito isso para partir para a explicação porque que aquela, essa caricatura lá está

e nesse caso concreto explicar apesar do livro também o fazer, aproveitar para explicar a

influência que teve neste caso a comunidade cientifica no entrave das ideias de Darwin. Temos

que perceber uma coisa, em termos de Biologia este tema sai com alguma frequência no exame

nacional em questões de resposta aberta, então é mais importante se calhar o enfoque da

minha parte no conteúdo dos mecanismos explicativos e deixar passar ou passar mais

rapidamente pela História das Ciências. Apesar que este ano no Exame Nacional de Biologia e

Geologia, na 2ºfase, houve uma pergunta interessantíssima sobre a História das Ciências. Há lá

uma nova descoberta que foi feita que pode dar uma nova luz à ideia Lamarckista da evolução

das espécies.

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3.3. Qual é a relevância que atribui às atividades de aprendizagem incluídas no manual escolar,

adotado na sua escola, que incidem na interpretação de textos com informação de caráter

histórico no âmbito do tema Evolucionismo?

R: Fundamentais!

3.3.1. Costuma explorá-las?

R: Sim. Este texto em termos de História das Ciências é muito interessante, apesar de ser muito

extenso todos os professores aqui, inclusive eu, dedicamos algum tempo aqui, para eles

perceberem precisamente que o conhecimento científico está em constante construção. É

fundamental. Há outros aqui em que eles não colocam texto e colocam imagens e que não dá

tantos resultados. Mas de resto são importantíssimos, fundamentais.

3.3.1.2. Que dificuldades sente?

R: Com o conteúdo histórico não, com as perguntas neste caso concreto, sim. Há aqui algumas

questões que não são muito explícitas da informação que tem que ser retirada do texto histórico,

para os alunos conseguirem responder, mas se calhar isso é um problema que é transversal a

outros conteúdos. Neste manual em relação a outras explorações de outras atividades, as

questões não são as mais adequadas para o tipo de texto que aqui está. Podia ser mais

explorado, por exemplo o papel do cientista, por exemplo há uma questão aqui que é

fundamental, do avanço do conhecimento e a influência do contexto socioeconómico, religioso e

político, mas são poucas questões a explorar um texto tão grande que podia sem mais

dissecado, mas temos o tal condicionalismo do tempo para serem dados os conteúdos. A

avaliação externa condiciona o tempo que nós podemos dedicar à História das Ciências. É muito

pouco avaliado, quase nada avaliado. Poderá ser avaliado esporadicamente numa questão de

escolha múltipla, mas um peso importante à História das Ciências, não. Os alunos que fazem

exame nacional são muito pressionados, mas acho que este papel da História das Ciências é

fundamental porque senão isto era só decorar, decorar, decorar sem interesse, sem alguma

coisa que os motivasse para o estudo daquele conteúdo. Porque eles vão fazer exame nacional

mas depois vão continuar os estudos. É importante motivá-los para as ciências mostrando-lhes a

História das Ciências. Mas como não sai no exame é o mínimo de tempo possível na História

das Ciências para poder investir mais no resto.

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3.3.1.3. Qual é a reação/recetividade dos alunos à exploração destas atividades?

R: Gostam, normalmente gostam. São recetivos à exploração da construção da ciência. Se o

professor não se interessa por essa parte ele não a vai dar e os alunos ficam um bocadinho

apáticos em relação ao conhecimento que lhes é apresentado, é mais um. Agora se lhes for

dada a História das Ciências, os receios dos cientistas, os constrangimentos dos cientistas,

como é que eles construíram e como chegaram ao conhecimento, eu acho que eles estão mais

recetivos para a exploração do conteúdo.

3.4. Que sugestão(ões) apresenta para melhorar a exploração da História das Ciências no tema

Evolucionismo do manual escolar de Biologia do 11 ano adotado na sua escola? Que outros

recursos incluiria?

R: Principalmente um bom filme a explicar precisamente esse caminho, esse percurso, essa

construção, como uma série de televisão, por exemplo. Normalmente os alunos não ligam muito

à bibliografia apresentada ou a sites da internet. Não têm tempo, não têm possibilidade

financeira, não têm interesse, em termos de exploração de recursos adicionais, para além

daquilo que está no bloco pedagógico, porque depois essa procura tem a ver com alguém que

se encantou, que se apaixonou pela História das Ciências neste caso concreto, e que vai à

procura de alguma coisa, e que vai muito para além daquilo que é exigido em termos de

programa, mas de resto o aluno típico não lhe interessa mais nada e não seria pertinente pôr

mais do que cá está no final do capitulo, da unidade onde eles apresentam alguns sites. Apesar

que alguns sites, como são sites estão sempre em reformulação, aparecem, desaparecem não

estão ativos e então não são assim muito seguros. Normalmente direciono para algum site mas

sei perfeitamente que 99% ou 98% dos alunos não vão lá porque eles neste momento procuram

a internet em termos de estudo para procurar exames, testes, perguntas…e isso é muito bom!

Eles estão formatados e sabem que a importância neste momento é o exame nacional. Acredito

perfeitamente que maior parte das escolas muito dos professores ponham isto em segundo

lugar. Nos testes nem avalio a História das Ciências porque tenho de ir de encontro àquilo em

que eles vão ser avaliados no Exame Nacional. Colocamos nesta questão da História das

Ciências uma questão de escolha múltipla, uma questão de Verdadeiro/ Falso, mas uma coisa

muito residual, se teve ou não teve influência, qual foi o conteúdo, uma coisa assim muito

simples.