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ANA PAULA FERREIRA DE CERQUEIRA
ISOMETRIAS: ANÁLISE DE DOCUMENTOS CURRICULARES
E UMA PROPOSTA DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
PARA O ENSINO MÉDIO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA
PUC/SPSão Paulo
2005
ANA PAULA FERREIRA DE CERQUEIRA
ISOMETRIAS: ANÁLISE DE DOCUMENTOS CURRICULARES
E UMA PROPOSTA DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
PARA O ENSINO MÉDIO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de
MESTRE (PROFISSIONAL) EM ENSINO DE
MATEMÁTICA, sob a orientação da Profa
DraSiobhan Victoria Healy (Lulu Healy).
PUC/SPSão Paulo
2005
II
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Centro das Ciências Exatas e Tecnologias
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática
ISOMETRIAS: ANÁLISE DE DOCUMENTOS CURRICULARES
E UMA PROPOSTA DE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
PARA O ENSINO MÉDIO
Banca Examinadora:
_________________________________Profa Dra Siobhan Victoria Healy (Lulu Healy)
_________________________________Profa Dra Cármem Lúcia Brancaglion Passos
_________________________________ Profa Dra Ana Paula Jahn
PUC/SPSão Paulo
2005
III
Eu, Ana Paula Ferreira de Cerqueira, autorizo, exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por
processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________
IV
Deus é Fortaleza do meu coração e
lâmpada para os meus pés é a tua
palavra e, luz para os meus
caminhos.
Todavia, estou sempre contigo, tú
me seguras pela minha mão direita.
(Salmo 73 vs. 23,26 e Salmo 119 vs. 105)
V
DEDICATÓRIA
A minha querida e amada mãe, ofereço-lhe
este fruto com amor, carinho e dedicação.
VI
AGRADECIMENTOS
À CAPES, pela ajuda financeira para concluir esta pesquisa.
A Lulu Healy, minha orientadora, pela orientação competente e estímulo sem a qual
este trabalho não seria possível, pela dedicação e apoio em todos os momentos.
Às Professoras da Banca Examinadora Profa Dra Cármem Lúcia Brancaglion Passos
e Profa Dra Célia Maria Carolino Pires, pela atenção e valiosas contribuições.
A meu amigo Clemente, Edna e Ieda, por todo companheirismo nos momentos bons e
ruins deste trabalho.
A ex-coordenadora Professora Doutora Sonia Barbosa Camargo Igliori, pela atenção e
carinho que sempre teve com a 1a turma do Mestrado Profissional em Ensino de
Matemática.
A todos os Professores do Programa de Mestrado em Ensino de Matemática da PUC-
SP, pela atenção e conhecimentos adquiridos.
A todos meus queridos colegas da 1a Turma do Mestrado Profissional em Ensino de
Matemática, pela amizade, companheirismo em todos os momentos do curso.
Aos secretários do Programa, Francisco e Vera que muito me ajudaram nos momentos
necessários.
Aos sujeitos participantes desta pesquisa, pela colaboração, amizade e respeito.
VII
A meu querido irmão pela amizade, carinho e por ser tão especial.
A meu querido Kekey, pelo carinho, apoio e companheirismo nesta fase final.
Ao Thiago e a minha grande amiga irmã Hello, pela amizade, carinho, apoio e por
serem tão especiais.
Especialmente, a minha mãe, pela compreensão quanto às ausências, nervosismo e,
sobretudo, por ter acreditado em meu sonho e sempre se orgulhado de mim.
Enfim, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização
deste trabalho.
VIII
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................X
LISTA DE QUADROS.................................................................................................XIII
RESUMO.....................................................................................................................XIV
ABSTRACT..................................................................................................................XV
CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO...............................................................................01
1. Da trajetória ao tema de investigação.....................................................................01
CAPÍTULO 2: ISOMETRIAS E SUA APRENDIZAGEM..............................................06
2.1 Introdução...............................................................................................................06
2.2 Isometrias na Perspectiva Educação Matemática................................................06
2.3 Noções da Teoria da Simetria Axial.......................................................................07
2.4 Figura Simétrica......................................................................................................10
2.5 A Teoria dos Campos Conceituais.........................................................................12
2.6 Simetria como Campo Conceitual..........................................................................16
2.7 Considerações........................................................................................................18
CAPÍTULO 3: Isometrias nos Documentos Curriculares........................................20
3.1 Introdução................................................................................................................20
3.2 Transformações Isométricas nos PCN..................................................................22
3.2.1 Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental (3oe 4o. ciclos).....................23
3.2.2 Parâmetros Curriculares do Ensino Médio (PCNEM)........................................27
3.3 Isometrias nos Livros Didáticos do Ensino Fundamental e Ensino Médio...........30
IX
3.3.1 Análise das Coleções do Ensino Fundamental (3o e 4o ciclos).........................34
3.3.1.1 Tipos de Situações-Problema envolvendo as Isometrias.................................35
3.3.2 Análise dos Livros Didáticos do Ensino Médio .................................................58
3.4 Considerações.......................................................................................................62
CAPÍTULO 4: Simetria Axial no Ensino Médio: Uma Análise de Situações de...65
Aprendizagem..............................................................................................................65
4.1 Introdução...............................................................................................................65
4.2 Perfil do Grupo........................................................................................................66
4.3 Papel da Professora-Pesquisadora.......................................................................67
4.4 Procedimento Experimental...................................................................................68
4.5 Análise dos Resultados..........................................................................................70
4.6 Considerações .......................................................................................................96
CAPÍTULO 5: Considerações finais........................................................................99
5.1 Introdução..............................................................................................................99
5.2 Resultados da Pesquisa.......................................................................................101
5.3 Direções Para o Futuro.........................................................................................106
REFERÊNCIAS...........................................................................................................108
ANEXO........................................................................................................................113
Anexo 1 – Levantamento dos tipos de situações da coleção CEF1.........................113
X
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Simetria Axial..........................................................................................................09
Figura 2.2 – Simétrico do Triângulo............................................................................................10
Figura 2.3 – Eixo de Simetria do Triângulo Isósceles.................................................................10
Figura 2.4 – Eixo de Simetria do Quadrado................................................................................11
Figura 2.5 – Eixo de Simetria do Retângulo...............................................................................11
Figura 2.6 – Centro de Simetria do Losango...............................................................................12
Figura 2.7 – Simétrico do Castelo – (Esquema de Vergnaud)....................................................17
Figura 2.8 – Simétrico do Triângulo ABC – (Esquema de Vergnaud).........................................17
Figura 3.1 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Introdução p.211........................................39
Figura 3.2 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 218........40
Figura 3.3 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Resolvendo problemas p. 212........40
Figura 3.4 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: é preciso saber fazer, p. 216..........41
Figura 3.5 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Resolvendo problemas ,p. 212.......41
Figura 3.6 – Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 218........42
Figura 3.7 – Propriedades da Simetria Axial...............................................................................43
Figura 3.8 – Módulo 20 – “Simetria” - Seção: Resolvendo problemas, p. 221............................44
Figura 3.9 – Módulo 20 – “Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p.229.............................44
Figura 3.10 – Módulo 20 – “Simetria” Seção: Mostre que você sabe, p. 227.............................45
Figura 3.11 – Módulo 20 – “Simetria” – Seção: Resolvendo problemas , p. 221........................45
Figura 3.12 – Módulo 20 – “Simetria” Seção: Para saber mais, p. 226.......................................46
Figura 3.13 – Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 114.......47
Figura 3.14 – Modúlo 9 – “Arquitetura e Simetria” - Seção: Resolvendo Problemas,p. 104.......48
Figura 3.15 – Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria” - Seção: É preciso saber fazer, p. 110.........48
Figura 3.16 – Módulo 13 –“Transformações Geométricas”- Seção: Mostre que você sabe,p.163.........49
Figura 3.17 – Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria - Seção: Mostre que você sabe,p. 108.........50
Figura 3.18 – Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria” - Seção: Mostre que você sabe, p. 115........50
XI
Figura 3.19 – Módulo 18 – “Sobreposição de Figuras” – Seção:É preciso saber fazer, p.213...51
Figura 3.20 – Módulo 18 – “Sobreposição de Figuras” – É preciso saber fazer, p.211.............52
Figura 3.21 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – Introdução - p.51..................................................53
Figura 3.22 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 58.................................54
Figura 3.23 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber conceitos, p. 53..........................54
Figura 3.24 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 58.................................55
Figura 3.25 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 59.................................56
Figura 3.26 – Módulo 5 – “Rotação e Arte” – Mostre que você sabe, p. 63................................56
Figura 3.27 – Vértice da Parábola - Coleção CEM1 - p. 117-118...............................................59
Figura 3.28 – Simetria e Coordenadas - Coleção CEM2 - p. 79.................................................60
Figura 3.29 – Eixo de Simetria - Coleção CEM2 – p. 80.............................................................60
Figura 3.30 – Simetria e Funções - Coleção CEM2 – p. 100......................................................61
Figura 4.1 – Questionário sobre o Vídeo Simetrias.....................................................................71
Figura 4.2 – Declarações dos Alunos A e B................................................................................72
Figura 4.3 – Situação-Problema da Foto.....................................................................................73
Figura 4.4 – “Eixo de Simetria” do Rosto....................................................................................75
Figura 4.5 – Rosto Simétrico formado pela face esquerda.........................................................75
Figura 4.6 – Rosto Simétrico formado pela face direita..............................................................76
Figura 4.7 – Reflexão da Dupla D8.............................................................................................78
Figura 4.8 – Ficha 3 – Espelho...................................................................................................79
Figura 4.9 – Exemplos de Resoluções.......................................................................................81
Figura 4.10 – Ficha 4 – Investigação no Cabri-Géomètre..........................................................83
Figura 4.11 - Eixo de Simetria do Triângulo Eqüilátero encontrado pelas duplas......................84
Figura 4.12 - Eixo de Simetria do Triângulo Eqüilátero da Dupla D6..........................................85
Figura 4.13 - Construção Livre do Simétrico do Triângulo ABC..................................................86
Figura 4.14 - Simétrico do Triângulo da Dupla D6......................................................................86
Figura 4.15 – Ficha 5...................................................................................................................88
Figura 4.16 – Construção da Planificação do Sólido Usando a Ferramenta Simetria Axial.......89
Figura 4.17 - Exemplos de Planificações elaboradas pelas Duplas D5, D7e D11.....................89
XII
Figura 4.18 – Reflexões sobre o cubo da Dupla D2....................................................................92
Figura 4.19 – Reflexões sobre o tetraedro da Dupla D2.............................................................92
Figura 4.20 – Reflexões sobre o cubo da Dupla D3....................................................................93
Figura 4.21 - Reflexões sobre o tetraedro da Dupla D3..............................................................93
Figura 4.22 – Auto-Avaliação......................................................................................................94
XIII
LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1 – Levantamento do tipo de situação na 5a série da coleção CEF1..........................42
Quadro 3.2 – Levantamento do tipo de situação na 6 série da coleção CEF1...........................47
Quadro 3.3 – Levantamento do tipo de situação na 7a série da coleção CEF1..........................52
Quadro 3.4 – Levantamento do tipo de situação na 8a série da coleção CEF1..........................57
XIV
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi investigar a inserção das isometrias no currículo
de matemática, tanto sob o ponto de vista oficial como da prática. Para
alcançar esse objetivo, o trabalho dividiu-se em duas partes: na primeira, foram
consideradas as características das isometrias enfatizadas nos instrumentos
oficiais de ensino, tais como: Parâmetros Curriculares Nacionais e Livros
Didáticos do Ensino Fundamental e Médio avaliados pelo Programa Nacional
do Livro Didático/2005. Nos PCN, identificou-se uma ruptura no tratamento
entre as duas etapas do ensino e nos PCN-EF as isometrias estão bastante
presentes, ao passo que nos PCNEM a inclusão desse tópico não se encontra
explícita. Em relação aos Livros Didáticos do Ensino Fundamental analisados,
a incorporação das isometrias não era uniforme, ou seja, uma coleção não
aborda o tema , enquanto na outra, as isometrias foram citadas em todas as
séries. Para analisar as atividades dessa coleção, um sistema de classificação
foi desenvolvido que se baseou em quatro níveis de complexidades do Campo
Conceitual da Simetria, de acordo com Vergnaud (1997). Esta análise permitiu
descrever uma progressão gradativa da apropriação de conceitos relacionados
à simetria. Nos livros do Ensino Médio, foi difícil localizar atividades que
trataram o Campo Conceitual da Simetria de forma sistemática. Na segunda
parte, foi elaborado e desenvolvido um conjunto de situações de ensino para
alunos do Ensino Médio (noturno). Os resultados indicaram que, embora os
alunos não tivessem estudado o conceito de simetria antes, eles se
apropriaram com sucesso da idéia de simetria como propriedade de uma figura
e, também, vivenciaram a simetria axial como uma relação entre duas figuras
distintas. Além disso, o desenvolvimento dos alunos diante das situações
indicou que eles poderiam ter trabalhado também com simetria, como objeto
em um nível de complexidade mais elevado do Campo Conceitual da Simetria.
Palavras-Chave: Campo Conceitual, Simetria, Documentos Curriculares, Situações-
Problema e Ensino Médio.
XV
ABSTRACT
The aim of this research was to investigate the insertion of isometries in the
mathematics curriculum, both from an official perspective and in terms of questions
related to practice. To this end, it was divided into two parts. The first part considered
the characteristics of isometries emphasised in official teaching instruments, such as
the National Curriculum Parameters (PCN) and mathematics textbooks. In the PCN, a
rupture was identified between the levels of Middle School and High School. In the
Middle School parametesr, isometric transformations figure highly, while at the High
School level they are not explicity included at all. In relation to the Middle School
textbooks analised, isometries were not incorporated in a uniform manner: one
collection did not consider the topic, while in the other they were comprehensively
covered for all Middle School grades. To analise the activities presented in this second
collection, a classification system based on four level of complexity of the conceptual
field of Symmetry (Vergnaud, 1997) was developed. This enabled the description of a
gradual progression in the appropriation of concepts associated with symmetry. In the
High School textbooks, no continuation of this progression was found, as it was difficult
to locate activities belonging to the conceptual field of symmetry in either of the
collections analised. In the second part of the study, a set of situations was designed
for High School students. The results indicated that although the students, all of whom
studied at night, had never studied symmetry before, they appropriated with success
the idea of axial symmetry as a property of a figure and experienced symmetry as a
relationship between two distinct figures. There were also signs that they could have
considered symmetry as an object with its own properties.
Keywords: Conceptual Field, Symmetry, Curriculum Documents and High School.
1
CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO
Os professores são os principais agentes para promover
qualquer mudança educativa; que é ele, em última instância,
que dá vida ao currículo. (Ruy Pietropaolo, 1999).
1. Da trajetória ao tema de investigação
Esta pesquisa não emergiu como uma exigência apenas: é decorrente
de muitas inquietações com as quais me deparei como estudante e professora
na rede oficial de Ensino do Estado de São Paulo.
Depois de seis anos exercendo a profissão de professora de
matemática, nos diversos níveis de ensino (Fundamental e Médio), alguns
questionamentos começaram a se tornar freqüentes em minha prática docente.
Durante conversas e reuniões de planejamento com professores de
matemática nas escolas onde lecionei e leciono, sempre observei uma certa
resistência em trabalhar com a Geometria, por se tratar de um conteúdo muito
difícil do ponto de vista dos professores e constatei que em sua maioria
dedicavam-se ao ensino da Álgebra e da Aritmética.
2
Nos momentos de trabalho com a geometria, observei que a tendência
era fazer uma abordagem tradicional, como um conjunto de definições,
propriedades, nomes e fórmulas, desligado de quaisquer aplicações ou
explicações de natureza histórica ou lógica. Observo que eu também como
professora tinha as mesmas dificuldades reveladas por meus colegas quanto
ao ensino da geometria.
Desse modo, ao aprofundar minhas reflexões a respeito da ausência do
ensino da Geometria que ocorreu também durante minha trajetória escolar e
acadêmica (graduação), nas décadas de 1980 e 1990, insisti em melhorar
meus conhecimentos geométricos, indo em busca de cursos de extensão e
oficinas que tratassem dos diversos tópicos da Geometria.
Assim, como havia optado pelo magistério, especificamente, o ensino de
Matemática, decidi aperfeiçoar os conhecimentos e fazer o Mestrado
Profissional em Ensino de Matemática recém-criado pela PUC/SP no 2o
semestre de 2002, que de acordo com as normas da CAPES:
O Mestrado Profissional em Ensino de Matemática tem caráter
de preparação profissional na área docente, focalizando o
ensino, a aprendizagem, o currículo, a escola e o sistema
escolar. Deve também contribuir efetivamente para a evolução
do sistema de ensino, seja pela ação direta em sala de aula,
seja pela ação em espaços educativos em que a atuação do
professor é fundamental: escola, comunidade, associações
científicas, etc.
3
No segundo semestre do curso, envolvi-me no desenvolvimento de um
trabalho sobre as transformações geométricas, enfocando as isometrias no
plano, sendo minha primeira experiência com este tópico que não fez parte da
minha formação escolar e acadêmica.
A partir desse momento, comecei a sentir um grande interesse também
sobre o tema: seus aspectos matemáticos e didáticos. Descobri de fato que as
transformações geométricas tinham uma presença nas propostas curriculares
desde a década de 60/70, por influência do Movimento da Matemática
Moderna1, mas esse estudo foi negligenciado por falta de conhecimento dos
professores.
Nos documentos oficiais no Estado de São Paulo, as transformações
geométricas estão presentes no Guia Curricular de Matemática, elaborado e
divulgado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo na década de
1970, onde podemos observar, pelos conteúdos propostos e os objetivos
específicos contidos no Guia (1975), as sugestões do estudo das
transformações isométricas são tratadas, como aplicações pontuais do plano
nele mesmo, usando uma abordagem essencialmente algébrica.
Atualmente, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN
surgem novas recomendações sobre o ensino de transformações isométricas
que irei detalhar mais adiante.
1 Segundo Fiorentini (1995), o Movimento da Matemática Moderna aparece no Brasil no início da décadade 60, tenta unificar os três campos fundamentais da Matemática – Geometria, Álgebra e Aritmética – pormeio das estruturas Algébricas e das Relações e Funções; dando ênfase aos aspectos estruturais e lógicosda Matemática. Esta tentativa é feita pela introdução de elementos unificadores como a Teoria dosConjuntos e as Estruturas Algébricas. Destaca o papel da geometria para ilustrar o caráter dedutivo eaxiomático da matemática, desvalorizando os aspectos ligados a observação, experimentação econstrução.
4
Dentre as várias possibilidades de estudo que a temática da geometria nos
dá, percebi que seria possível desenvolver uma pesquisa com dois objetivos
inter-relacionados:
! Investigar como as transformações isométricas estão
incorporadas nos documentos curriculares atuais.
! Elaborar um conjunto de situações para alunos do Ensino Médio,
abordando uma transformação isométrica, simetria axial,
investigar o desenvolvimento dos alunos diante dessas situações
de aprendizagem.
Para atingir esses objetivos da pesquisa, desenvolvemos o trabalho da
seguinte maneira:
No Capítulo 2, apresentamos uma breve análise do objeto matemático,
considerando, tanto aspectos matemáticos como cognitivos. Em particular,
destacamos os tipos de transformações isométricas no plano, concentrando-se
na simetria axial e na noção de figura simétrica. Neste capítulo, também
consideramos isometrias como parte do Campo Conceitual da Simetria,
5
apresentando, assim, o quadro teórico que norteou nossas investigações em
relação aos aspectos cognitivos.
No Capítulo 3, o enfoque está no primeiro objetivo da pesquisa. Surgiu a
idéia de fazer uma análise de documentos curriculares, como: Parâmetros
Curriculares Nacionais – (PCN) - Ensino Fundamental e Ensino Médio,
Programa Nacional do Livro Didático – (PNLD/2005) - Ensino Fundamental e
Ensino Médio, com intuito de analisar como as transformações isométricas são
tratadas nesses documentos.
No Capítulo 4, desenvolvemos o segundo objetivo da pesquisa, usando
como base as análises dos documentos curriculares e os aspectos da Teoria
dos Campos Conceituais de Vergnaud para elaborar um conjunto de situações
para alunos do 2o ano do Ensino Médio (período noturno), realizando uma
análise da forma como os alunos se desenvolveram e interagiram com essas
situações de aprendizagem.
No capítulo 5, nas considerações finais, busco uma síntese de nosso
estudo.
6
CAPÍTULO 2
ISOMETRIAS E SUA APRENDIZAGEM
Uma geometria não é mais verdadeira do que outra, pode ser
apenas mais conveniente. (Henry Poincaré)
2.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo, faremos uma breve análise do objeto matemático, no
qual consideramos os aspectos matemáticos e cognitivos.
Apresentamos os tipos de transformações isométricas no plano,
concentrando-se na simetria axial, a noção de figura simétrica e, a seguir,
discutimos o quadro teórico que norteará as investigações.
2.2 ISOMETRIAS NA PERSPECTIVA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
As transformações isométricas compõem um tema da geometria que
pode enriquecer o processo de ensino-aprendizagem, contribuindo de forma
valiosa para a construção e desenvolvimento do pensamento geométrico e em
7
outras áreas do conhecimento, tanto pelo seu aspecto visual, artístico, intuitivo
como pela característica “dinâmica” que possui.
Os PCN destacam que:
À primeira vista, as transformações podem parecer um assunto
que não tem relação com o dia-dia, mas refletindo e
observando nota-se, por exemplo, que as simetrias estão muito
presente no cotidiano. Em inúmeros objetos físicos ocorrem
aproximações de planos de simetria de reflexão. (Parâmetros
Curriculares Nacionais – Matemática de 5a a 8a série, 1998,
p.124).
Assim, entre as várias razões que justificam a inclusão das isometrias no
ensino, uma delas é a relação entre conhecimento geométrico e vida cotidiana
(desenvolvimento das habilidades de percepção espacial), pois, assim a
geometria desempenha um papel que gera possibilidades do aluno
compreender, descrever, representar e fazer uma leitura de forma organizada
do mundo em que vive.
2.3 NOÇÕES DA TEORIA DA SIMETRIA AXIAL
No que segue, faremos uma apresentação da teoria das transformações
isométricas, vista na perspectiva da geometria. Iremos falar brevemente das
8
transformações isométricas, para depois apresentar a definição da simetria
axial que este trabalho irá focalizar.
As isometrias são transformações geométricas no plano ou no espaço
euclidiano que não distorcem as formas e tamanho; por isso são conhecidas
também como: movimentos rígidos, ou seja, muda unicamente a posição de
uma figura.
(ISO = mesma; METRIA= medida)
Uma isometria é uma transformação, na qual as seguintes propriedades
são preservadas:
• A distância entre os pontos;
• A colinearidade de pontos;
• A ordem dos pontos numa reta;
• A medida dos ângulos;
• O paralelismo entre retas.
No plano euclidiano, existem quatro tipos de transformações isométricas:
reflexão em relação a uma reta (simetria axial), translações, rotações em torno
de um ponto e reflexões com deslizamento em relação a uma reta.
9
No espaço, há seis tipos de isometrias: reflexão, translação, rotação,
parafuso, reflexão deslizante e reflexão rotativa.
No plano, a reflexão em relação a uma reta (simetria axial) representa
uma transformação, particularmente, importante, pois cada isometria no plano
é uma composição de, no máximo, três reflexões.
A reflexão na reta ou simetria axial é a transformação isométrica que fixa
todos os pontos de uma reta dada r e associa a cada ponto P do plano, não
pertencente a r, o ponto P’, de modo que r é a reta mediatriz do segmento PP’.
A reta r chama-se eixo de simetria, e os pontos P e P’ são chamados de
simétricos em relação a r.
Figura 2.1 – Simetria Axial
A simetria axial conserva as distâncias e os ângulos; portanto, dizemos
que é uma isometria.
10
Figura 2.2 – Simétrico do Triângulo
2.4 FIGURA SIMÉTRICA
A simetria é descrita como uma correspondência em grandeza, forma e
posição relativa, de partes situadas em lados opostos de uma linha ou plano
médio, ou que estejam em volta de um centro de simetria ou eixo. Quando uma
figura é simétrica de si mesma em relação ao eixo r, dizemos que a reta r é
eixo de simetria da figura. Ao adotar como referência Alves e Galvão, 1996,
temos:
A reta que contém a bissetriz do ângulo correspondente ao vértice de
um triângulo isósceles é um eixo de simetria do triângulo.
Figura 2.3 – Eixo de Simetria do Triângulo Isósceles
11
As retas que contêm as diagonais de um quadrado, ou seja, as que
passam pelo seu ponto de intersecção e são paralelas a seus lados são eixos
de simetria do quadrado.
Figura 2.4 – Eixo de Simetria do Quadrado
As retas que passam pelo ponto de intersecção das diagonais de um
retângulo e são paralelas a seus lados são eixos de simetria do retângulo.
Figura 2.5 – Eixo de Simetria do Retângulo
12
No paralelogramo, que não seja losango nem retângulo, há um centro de
simetria e nenhum eixo de simetria.
Figura 2.6 – Centro de Simetria do Losango
2.5 A Teoria dos Campos Conceituais
Na seção anterior, apresentamos os objetos matemáticos de nosso
estudo, em relação ao ensino e aprendizagem, é importante também
considerar estes objetos sob o ponto de vista cognitivo.
Vergnaud (1997) sugere que a simetria representa o que chama de um
do Campo Conceitual. Ele define Campo Conceitual como sendo, em primeiro
lugar, um conjunto de situações cujo domínio requer, por sua vez, o domínio de
vários conceitos de natureza distinta (Vergnaud, 1993,1996).
A Teoria dos Campos Conceituais é uma teoria psicológica de conceitos
(Vergnaud, 1990, p.147), uma teoria pragmática, ou seja, que faz apelo à
noção de situação e das ações dos sujeitos nestas situações; “o saber se
forma a partir de problemas para resolver, quer dizer de situações para
dominar”.
13
Vergnaud (1985, 1990, citado por Franchi, p.174, 1999) caracteriza
campos conceituais, como conjuntos de situações com distintos invariantes que
estão envolvidos em diversas situações. O autor argumenta que uma situação
não pode ser analisada pela via de um único conceito, pois sua resolução
mobiliza vários esquemas.
Vergnaud considera um conceito como um conjunto constituído de três
subconjuntos:
C =(S, I, R)
S: é um conjunto de situações que dão sentido ao conceito (o referente);
I: é um conjunto de invariantes operatórios, conceitos-em-ação e teoremas-
em-ação que intervém nos esquemas de tratamento dessas situações (o
significado);
R: é um conjunto de representações lingüísticas e simbólicas que permite a
representação do conceito e de suas propriedades, nas situações às quais ele
se aplica e nos procedimentos que dele se nutrem (o significante).
Dessa definição, decorrem os principais argumentos que levaram
Vergnaud a considerar o conceito de campo conceitual:
1) Um conceito não se forma com uma única situação;
2) uma situação não se analisa com um único conceito;
3) a construção e a apropriação de todas as propriedades de um certo
conceito é um processo que leva um longo período de tempo.
14
Muitas vezes uma situação pode ter ou não sentido para o aprendiz. Por
sentido, Vergnaud entende que há uma relação do sujeito com as situações e
com os significantes, ou seja, muitos esquemas são evocados sucessivamente
e mesmo simultaneamente a uma situação nova para o sujeito.
Vergnaud (1993, p.2) define esquema como “a forma estrutural da
atividade”, a organização invariante da atividade do sujeito sobre uma classe
de situações dadas.
Conforme cita é nos esquemas que podemos identificar os
conhecimentos em ação do sujeito, ou seja, os elementos cognitivos que fazem
com que a ação do sujeito seja operatória.
Os principais ingredientes de um esquema são:
• Metas e expectativas - um esquema dirige-se sempre a uma classe de
situações, nas quais o sujeito pode descobrir uma possível finalidade de
sua atividade;
• Regras para gerar ações – busca informações e envolve a busca de
formas de controle que permitem que o sujeito aja;
• Invariantes operatórios (Teorema-em-Ação e Conceitos-em-Ação) são
os conhecimentos incorporados aos esquemas que permitem obter a
informação pertinente e com base nela inferir a meta a alcançar e as
regras de ação adequada;
• Possibilidade de conclusões (raciocínios) “hic et nunc”, (“aqui e agora”)
– as regras e as antecipações baseadas nas informações e invariantes
operatórios, essas expressões designam os principais conhecimentos
15
contidos nos esquemas, pois produzem ações, incluindo operações
intelectuais.
Destes ingredientes, os invariantes operatórios constituem a base
conceitual dos esquemas. Eles fazem a articulação entre teoria e prática,
percepção e busca de informações pertinentes que dão sentido às situações e
baseiam-se inteiramente no Conceito em Ação disponível para o sujeito
(objetos, atributos, relações e condições) e nos Teoremas em Ação subjacente
a conduta.
Os termos Conceito em Ação e Teorema em Ação designam os
conhecimentos contidos nos esquemas. Um Teorema em Ação é uma
proposição considerada como verdadeira sobre o real; ao passo que Conceito
em Ação refere-se a uma categoria do pensamento considerada como
essencial e pertinente, para constituir a base conceitual para resolução do
problema em mão junto dos esquemas.
Segundo Franchi (1999), a teoria dos Campos Conceituais visa à
construção de princípios que permitem articular competências e concepções
constituídas em situação, e os problemas práticos e teóricos em que essas
competências e concepções se constituem.
A competência é traçada pela ação do aluno diante das situações (ou
seja, resolução do problema) e as concepções dos alunos podem ser
delineadas por expressões verbais ou outras representações simbólicas (tais
como, escrita e gestual-perceptual).
Vergnaud (1998, p.172) enfatiza que há perceptivo-gestuais, verbais e
sociais, entre outros, na matemática, como nos exemplos:
16
• Contando um conjunto de objetos;
• Desenhando a imagem simétrica de alguma figura plana feita de linhas
retas na malha quadriculada;
• Desenhando alguma imagem simétrica de uma figura plana com régua
e compasso;
• Desenhando um gráfico ou diagrama.
A representação exerce um papel fundamental na teoria dos campos
conceituais, tanto no nível conceitual como na comunicação, e os objetos
matemáticos podem ter “status” muito diferente de um ponto de vista conceitual
ou de um ponto de vista lingüístico.
Fundamentados dessa idéia, podemos enxergar a simetria como um
campo conceitual, no qual as isometrias representam um conceito importante
para a simetria.
2.6 SIMETRIA COMO CAMPO CONCEITUAL
Segundo Vergnaud (1997, p.9), o conceito de simetria pode ser
envolvido em diversas situações e estas formam um campo conceitual. Por
exemplo, o autor descreve quatro sentenças envolvendo a palavra simetria,
cada uma associada com distintas situações e significados para o conceito:
17
1. O castelo é simétrico;
Figura 2.7 – Simétrico do Castelo
(Esquema de Vergnaud)
2. Triângulo A’B’C’ é simétrico ao triângulo ABC, em relação à reta r.
Figura 2.8 – Simétrico do Triângulo ABC
(Esquema de Vergnaud)
3. Simetria conserva comprimentos e ângulos.
4. A simetria é uma isometria.
18
Podemos ver os diferentes níveis conceituais pelos seus aspectos
lingüísticos, ou seja, palavras e outros símbolos, sentenças e outras
expressões simbólicas, que são instrumentos cognitivos indispensáveis para
transformação de invariantes operatórios, implícitos, em conceitos e teoremas
científicos, explícitos.
No primeiro nível de complexidade caracterizado pela frase “O castelo é
simétrico” (sentença 1), o conceito simétrico é relacionado às propriedades
que a figura possui; “mesma forma”, “mesmo comprimento” e “mesma
distância“, ou seja, uma única figura que possui um eixo de simetria.
A sentença 2, “O triângulo A’B’C’ é simétrico ao triângulo ABC em relação à
reta r”, trata mais explicitamente a simetria como uma relação entre duas
figuras distintas, cujos pontos distam igualmente do eixo de simetria.
Na sentença 3, temos a volta para dar ênfase nas propriedades, mas
difere-se da sentença 1, pois, agora a simetria e não uma figura, que é
colocada como um objeto que possui suas próprias propriedades.
Na sentença 4, ocorre a substituição da simetria por “isometria”, ou seja, a
simetria tornou-se um membro de um grupo que preserva propriedades. Nas
quatro sentenças, então, temos simetria como propriedade, como relação,
como objeto e como membro de um grupo estruturado.
2.7 Considerações
Neste capítulo, apresentamos os objetos matemáticos investigados do
nosso estudo e o quadro teórico que pretendemos usar para considerar como
19
esses objetos, atualmente, estão, sendo incorporados nos documentos
curriculares de matemática.
No capítulo 3, analisamos de que forma a isometria está sendo inserida
nos documentos curriculares.
20
CAPÍTULO 3
ISOMETRIAS NOS DOCUMENTOS CURRICULARES
No seu trabalho, “Introdução ao estudo da geometria, baseado
no conceito de transformações geométricas, afirmava que o
conceito de transformação geométrica desempenhava um
vasto papel coordenador e simplificador no estudo da
geometria”. (Felix Klein)
3.1 INTRODUÇÃO
Na década de 90 do século XX, enfrentamos um desafio na educação
brasileira em razão das grandes transformações. Vivemos uma era marcada
pela competição e pela excelência, na qual os progressos científicos e as
novas tecnologias definem distintas exigências para a formação do cidadão.
Salientamos que a formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição
de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as
diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.
No que se refere ao Ensino Fundamental, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação 9.394/96, aponta a educação em valores como principal objetivo
desta etapa da educação básica, refere-se à formação geral do cidadão,
valorizando a aquisição de conhecimentos por meio do desenvolvimento da
capacidade de aprender.
21
As estratégias básicas desta etapa incluem o pleno domínio da leitura,
da escrita e do cálculo e de três competências relacionadas explicitamente com
a educação em valores: a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta
a sociedade (inciso II); o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de
atitudes e valores (inciso III) e o fortalecimento dos vínculos de família, dos
laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social (inciso IV). A legislação prevê ainda o desenvolvimento da
capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
habilidades e a formação de atitudes e valores bem como o fortalecimento dos
vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância
recíproca em que se assenta a vida social.
O artigo 35, no que se refere ao Ensino Médio, aponta, além do
desenvolvimento cognitivo que se caracteriza pela consolidação e
aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, a
possibilidade de prosseguimento de estudos e preparação básica do educando
para o trabalho e cidadania.
O artigo aponta explicitamente o aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico; e mais, a compreensão dos fundamentos
científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a
prática no ensino de cada disciplina.
Uma grande desafio que nos propomos a refletir neste estudo é como
ensinar a Matemática de forma consistente com o principal objetivo descrito na
22
LDB 9.394/96. Em especial, nos referimos em relação à Geometria, visto que
pesquisas indicam ser este um campo que aparentemente é dada pouca
ênfase em relação a outros conteúdos.
Assim, torna-se, um desafio ensinar geometria no espírito da visão
educacional descrito em lei. Entretanto, isso parece possível quando se
incentiva a investigação do tema isometrias, o qual está presente na vida
cotidiana das pessoas, pois pode servir como um contexto pertinente ao
processo de ensino e aprendizagem da geometria. Com isso, há fortes indícios
de contribuir de forma valiosa para a construção do conhecimento geométrico
dos estudantes.
Embasados neste fato, sentimos necessidade de investigar mais
detalhadamente a respeito do que é sugerido sobre as transformações
isométricas nos documentos curriculares ligados ao ensino de matemática no
Ensino Fundamental e Médio.
Na primeira parte do capítulo, analisaremos a inclusão das
transformações isométricas nas propostas curriculares; na segunda,
discutiremos a presença ou não das transformações isométricas nos livros
didáticos.
3.2 TRANSFORMAÇÕES ISOMÉTRICAS NOS PCN
Nesta seção, consideramos o que é sugerido sobre a incorporação das
Transformações Isométricas nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio.
23
3.2.1 PARÂMETROS CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL
(3O E 4O CICLOS)
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN–EF), os conteúdos
matemáticos estão divididos em quatro grandes blocos: Números e Operações,
Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação. Quanto à
organização curricular, propõem o “tratamento em espiral”, ou seja, os
assuntos são abordados mais de uma vez, de diferentes formas, ou
relacionados a novos conteúdos nos vários ciclos, acompanhando a
experiência do aluno, subvertendo a rígida exigência de pré-requisitos do
ensino tradicional.
O bloco Espaço e Forma, ao qual nos deteremos, justifica-se pelo fato
do aluno desenvolver um tipo especial de pensamento que permite a
compreensão, descrição e representação de forma organizada do mundo onde
vive.
Nessa direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que a
incorporação das transformações isométricas desses ciclos seja feita de forma
que os alunos passem a reorganizar e ampliar os conhecimentos sobre
espaço e forma, visando ao desenvolvimento das habilidades de percepção
espacial, favorecendo a construção de figuras congruentes apoiadas na
reflexão, translação, rotação de uma outra figura, nas quais os alunos
percebam que as medidas dos lados, dos ângulos, da figura dada e das
figuras transformadas sejam as mesmas.
24
De acordo com os PCN-EF:
Deve-se destacar também nesse trabalho a importância das
transformações geométricas (isometrias, homotetias), de modo
que permita o desenvolvimento de habilidades de percepção
espacial e como recurso para induzir de forma experimental a
descoberta, por exemplo, das condições para que duas figuras
sejam congruentes ou semelhantes. (Parâmetros Curriculares
Nacionais – Matemática de 5a a 8a série, 1998, p.86).
A ênfase ao bloco espaço e forma evidencia sua importância para a
inserção do aluno, como cidadão no mundo do trabalho, cultura, tecnologia que
lhe possibilitam um “novo olhar” sobre as figuras geométricas, auxiliando na
descoberta de propriedades e no desenvolvimento do pensamento geométrico.
Desta forma, os PCN-EF propõem que, durante os 3o e 4o ciclos, os
conceitos de transformações isométricas sejam consolidados, uma vez que já
vêm sendo trabalhados desde ciclos anteriores e outros deverão ser
completados e consolidados no Ensino Médio.
Os PCN-EF sugerem que a incorporação das transformações
isométricas seja feita de forma significativa, permitindo ao aluno ter um
desenvolvimento do pensamento geométrico, por meio da exploração de
situações de aprendizagem que levem a produzir e analisar as transformações
de figuras geométricas planas, identificando seus elementos variantes e
invariantes. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:
25
Com relação às transformações geométricas, as atividades que
envolvem as transformações de uma figura no plano devem ser
privilegiadas nesses ciclos, porque permitem o
desenvolvimento de conceitos geométricos de uma forma
significativa, além de obter um caráter mais dinâmico para este
estudo.(Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática de 5a
a 8a série, 1998, p.124).
No terceiro ciclo (5a e 6a série) do Ensino Fundamental, os Parâmetros
Curriculares Nacionais estabelecem que o ensino de matemática deve visar ao
desenvolvimento do pensamento geométrico por meio da exploração de
situações de aprendizagem que levem o aluno a:
Resolver situações-problema que envolve figuras geométricas
planas, utilizando procedimentos de decomposição e
composição, transformação, ampliação e redução. (Parâmetros
Curriculares Nacionais – Matemática de 5a a 8a série, 1998,
p.65).
Quanto ao bloco Espaço e Forma, para este ciclo, é importante ressaltar
que os alunos consolidem alguns conceitos já aprendidos nos ciclos anteriores,
como analisar figuras por observações, manuseios e construções, aprendendo
a fazer conjecturas e identificar propriedades ao invés de se ocupar com
definições que sejam memorizadas e fórmulas decoradas.
26
No quarto ciclo (7a e 8a série) do Ensino Fundamental, a proposta dos
Parâmetros Curriculares não é muito diferente e estabelece praticamente os
mesmos objetivos, desenvolvimento do pensamento geométrico pela
exploração de situações de aprendizagem que levem o aluno a:
Produzir e analisar transformações e ampliações/reduções de
figuras geométricas planas identificando seus elementos
variantes e invariantes, desenvolvendo o conceito de
congruência e semelhança. (Parâmetros Curriculares Nacionais
– Matemática de 5a a 8a série, 1998, p.82).
Os conteúdos que constituem o bloco Espaço e Forma visam a
estabelecer uma grande ligação entre matemática, situações do cotidiano e o
exercício de diversas profissões como a engenharia, a bioquímica, a
coreografia, a arquitetura, a mecânica, etc., que demandam do indivíduo a
capacidade de pensar geometricamente.
Enfim, podemos ressaltar, conforme os PCN-EF, que é importante dar
ênfase ao bloco Espaço e Forma e que as transformações isométricas
representam uma parte integrante da formação nesse nível. Conforme o PCN-
EF:
27
O estudo das transformações isométricas (transformações do
plano euclidiano que conservam comprimentos, ângulos e
ordem de pontos alinhados) é um excelente ponto de partida
para a construção das noções de congruência. As principais
isometrias são: reflexão numa reta (ou simetria axial),
translação, rotação, reflexão num ponto (ou simetria central),
identidade”.
Desse modo as transformações que conservam propriedades
métricas podem servir de apoio não apenas para o
desenvolvimento do conceito de congruência de figuras planas,
mas também para a compreensão das propriedades destas.
(Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática de 5a a 8a
série, 1998, p.124).
Pela leitura dos PCN’s - EF, inferimos que a abordagem sugerida seria a
utilização das isometrias como ferramenta no estudo das propriedades das
figuras geométricas planas e desenvolvimento do conceito de congruência.
3.2.2 PARÂMETROS CURRICULARES DO ENSINO MÉDIO - (PCNEM)
Quanto aos Parâmetros Curriculares do Ensino Médio (PCNEM), no que
se refere a conteúdo da geometria no Ensino Médio são propostas quatro
unidades temáticas: Geometria plana, espacial, métrica e analítica.
28
Os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio (PCNEM) destacam a
importância do aluno ter capacidade para compreensão e construção de
modelos para resolução de problema de matemática e outras disciplinas,
usando a geometria como ferramenta para representar e visualizar partes do
mundo real. Além disso, apontam a necessidade de desenvolver habilidades
de visualização, desenho, argumentação lógica e de aplicação na busca de
soluções para certos problemas.
Segundo os PCNEM, a Matemática no Ensino Médio tem um valor
formativo que ajuda a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo, mas
também desempenha um papel instrumental, pois é uma ferramenta que serve
para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase todas as
atividades humanas.
As concepções da matemática no Ensino Médio juntam-se à idéia de
que no Ensino Fundamental os alunos devem ter se aproximado de vários
campos do conhecimento matemático. Agora estão em condições de utilizá-los,
ampliá-los e desenvolver de modo mais amplo capacidades tão importantes
como as de abstração, raciocínio em todas as suas vertentes, resolução de
problemas de qualquer tipo, investigação, análise, compreensão de fatos
matemáticos e interpretação da própria realidade.
Quanto às habilidades e competências discutidas nos Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio relacionados a um conteúdo específico, como:
por exemplo as transformações isométricas, não há tratamento de forma
explícita, como é feito nos PCN-EF.
No Ensino Médio, o professor deve apresentar ao aluno o conhecimento
de novas informações e instrumentos necessários, para que seja possível
29
continuar aprendendo, ou seja, haja um aprofundamento dessas idéias no
sentido de que o aprendiz possa desenvolver amplamente seus conhecimentos
de transformações isométricas para fatos que lhe são familiares.
Algumas das finalidades da matemática do ensino médio indicam como
objetivo levar o aluno a:
• “aplicar seus conhecimentos matemáticos a situações diversas, utilizando-os
na interpretação da ciência, na atividade tecnológica e nas atividades
cotidianas;
• desenvolver as capacidades de raciocínio e resolução de problemas, de
comunicação, bem como o espírito crítico e criativo;
• expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas e valorizar
a precisão da linguagem e as demonstrações em matemática;
• reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito, relacionando
procedimentos associados às diferentes representações”.
(Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática: Ensino Médio, 1999, p.254).
Há uma diferença entre os Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Fundamental e Médio. Enquanto que nos PCN-EF há uma orientação
didática, no Ensino Médio a proposta é ampla e aberta, cabendo ao professor
verificar a forma de aprendizagem na área de ciência, matemática e suas
tecnologias.
Ressaltamos que aprender matemática no Ensino Médio deve ser mais
do que memorizar resultados dessa ciência. A aquisição do conhecimento deve
estar vinculada ao domínio de um saber fazer matemática e de um saber
pensar matemático, cabendo ao professor desvencilhar-se das práticas
30
respaldadas pelos livros didáticos com característica de “currículo linear2” que,
na maioria das vezes, utiliza como recurso para elaborar suas aulas.
Diante desta consideração, o que nos perguntamos é: Será que os livros
didáticos abordam as transformações isométricas de forma significativa? Para
responder a esta questão, na próxima seção analisaremos alguns livros
didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio que foram avaliados pelo
PNLD/2005 e pelo PNLEM/2005, com isso investigaremos se esses livros
abordam esse tema e qual importância é dada às isometrias.
3.3 ISOMETRIAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
(3O E 4O CICLOS) E ENSINO MÉDIO
Nesta seção, procuramos realizar uma análise dos livros didáticos com o
intuito de constatar a incorporação das transformações isométricas nesses
meios didáticos, além disso, averiguar se o tratamento do tema é feito
isoladamente e visto uma única vez.
Quanto à abordagem dos livros didáticos, os PCN-EF de 1998
mencionam:
2 Currículo Linear é a organização curricular tradicional, guiada por pré-requisitos internos quedificultam uma abordagem interdisciplinar, além disso, um dado tema é visto uma única vez,extensivamente.
31
O que também se observa em termos escolares é que muitas
vezes os conteúdos matemáticos são tratados isoladamente e
são apresentados e exauridos num único momento. Quando
acontece de serem retomados (geralmente num mesmo nível
de aprofundamento, apoiando-se nos mesmos recursos), é
apenas com a perspectiva de utilizá-los como ferramentas para
a aprendizagem de novas noções. De modo geral, parece não
se levar em conta que, para o aluno consolidar e ampliar um
conceito, é fundamental que ele veja em novas extensões,
representações ou conexões com outros conceitos.
(Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática de 5a a 8a
série, 1998, p.22 e 23).
O Ministério da Educação (MEC) por meio do Programa Nacional do
Livro Didático - PNLD vem avaliando a qualidade dos livros didáticos brasileiros
de (5a a 8a séries), e esta é sua terceira avaliação. Ao final de cada processo
de avaliação pedagógica sistemática das obras inscritas no PNLD, é elaborado
o guia de livros didáticos3.
É importante que o professor leia atentamente o PNLD/2005, pois as
obras não são mais acompanhadas de menções (RD-Recomendada com
distinção; R- Recomendada e RR- Recomendada com ressalvas).
Atualmente elas são relacionadas em ordem alfabética, sem o recurso da
linguagem iconográfica que acabava sendo, na maioria das vezes, um
indicador para a escolha do professor. Muitos se baseavam apenas pela
indicação desses requisitos, sem uma leitura e análise das considerações dos
guias ou mesmo das resenhas dos livros.
3 No Guia dos Livros Didáticos, são apresentados os critérios que nortearam a avaliação dos livros, bemcomo as resenhas das obras aprovadas.
32
O Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio está sendo
implantado em 2005, portanto, até a presente data ainda não dispomos de
análise final das coleções dos livros didáticos de Matemática do Ensino Médio.
Para a seleção dos livros didáticos que seriam analisados neste estudo,
procuramos o PNLD/2005 (5a a 8aséries) – Ensino Fundamental e o
PNLEM/2005 para o Ensino Médio e nos restringimos ao tema transformações
isométricas presentes nas coleções selecionadas.
Neste estudo, a metodologia usada baseou-se em uma pré-análise
comparativa dos conteúdos abordados nas coleções pesquisadas, foi a fase de
organização propriamente dita com o objetivo de sistematizar os procedimentos
metodológicos.
O trabalho passou pelas seguintes fases:
1. A leitura do PNLD/2005 - (3o e 4o ciclos) e PNLEM/2005 – (Ensino
Médio);
2. A escolha das coleções a serem submetidas à análise;
3. Investigar de que maneira o tema transformações isométricas é
abordado nas coleções;
4. Constatações que fundamentaram as considerações e conclusões.
33
Para análise dos livros didáticos, escolhemos duas coleções das 23
obras indicadas pelo PNLD/2005 que abrangem o Ensino Fundamental (3o
e 4o ciclos) pelo fato das duas coleções apresentarem características
distintas na abordagem dos conteúdos. Assim, na primeira coleção, os
conteúdos são estruturados em “espiral”4, e na segunda , apresentam uma
estrutura “compartimentalizada”5.
As siglas mencionadas abaixo referem-se às coleções dos livros
didáticos de (5aa 8a séries), dos seguintes autores:
• CEF1 – Coleção “EDUCAÇÃO MATEMÁTICA“ dos autores Célia
Carolino Pires, Edda Curi e Ruy Pietropaolo.(5a a 8a série). 1aedição.
Editora Atual. São Paulo, 2002.
• CEF2 - Coleção A CONQUISTA DA MATEMÁTICA – A + NOVA, dos
autores José Ruy Giovanni, Benedito Castrucci e José Ruy Giovanni
Junior, (5a a 8a série). 1aedição. Editora FTD. São Paulo, 2000.
Para o Ensino Médio, escolhemos duas coleções das 11 obras indicadas
pelo PNLEM/2005 que abrangem o Ensino Médio e por apresentarem
características distintas na abordagem dos conteúdos. Assim, a CEM1 é
guiada por pré-requisitos internos, centra-se na definição, nos exemplos e nos
modelos de exercícios, desconsiderando situações de interdisciplinaridade e de
contextos diversos.
4 “Espiral” os assuntos são abordados mais de uma vez, de diferentes formas ou relacionadas a novosconteúdos, nos vários ciclos, acompanhando a experiência do aluno. O tratamento em espiral tambémsubverte a rígida exigência de pré-requisitos do ensino tradicional.5 “Compartimentalizada” os assuntos são esgotados em uma só abordagem.
34
Quanto à Coleção CEM2, já possui situações de interdisciplinaridade e
de contextos diversos, mas, ainda, com características de estrutura
compartimentalizada.
As siglas mencionadas abaixo referem-se às coleções dos livros
didáticos do (Ensino Médio), dos seguintes autores:
• CEM1 – Coleção “Matemática Aula Por Aula”, dos autores Benigno
Barreto Filho e Cláudio Xavier da Silva, (Ensino Médio). 1a edição.
Editora FTD. São Paulo, 2003.
• CEM 2 – Coleção “Matemática Ensino Médio”, das autoras Kátia
Stocco Smole e Maria Ignez Diniz, (Ensino Médio). 4a edição
reformulada/2004 e 3a tiragem/2005. Editora Saraiva. São Paulo, 2005.
3.3.1 ANÁLISE DAS COLEÇÕES DO ENSINO FUNDAMENTAL
(3o e 4o Ciclos)
Na análise da Coleção CEF1, percebemos que seus autores dedicaram-
se a trabalhar os conteúdos de forma espiral, assim, às transformações
isométricas são ilustradas e contextualizadas com a pretensão de facilitar a
aprendizagem do aluno.
35
No caso da Coleção CEF2, constatamos que não apresenta o conteúdo
transformações isométricas como tópico de estudo e esse tema não está
associado a outros conteúdos matemáticos.
Podemos inferir que a coleção não está de acordo com as orientações
dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (3o e 4o ciclos),
pois, nem todos os livros didáticos apropriaram-se do tema, indicando que nem
todos os alunos do Ensino Fundamental trabalharão com o tema em suas aulas
de matemática.
Para melhor situar o leitor quanto à análise das coleções, faremos uma
descrição dos tipos transformações isométricas e situações-problema e, em
qual contexto é trabalhada a isometria na coleção CEF1, já que a outra
coleção não aborda o tema. Além disso, investigaremos se está de acordo com
a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (3o
e 4ociclos), no que diz respeito ao Bloco Espaço e Forma, como vimos nas
orientações didáticas dos PCN - EF.
3.3.1.1 TIPOS DE SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO AS
ISOMETRIAS
Nesta seção, faremos uma investigação à luz da Teoria dos Campos
Conceituais sobre os tipos de situações-problema e transformações
isométricas contidas na coleção CEF1 a qual se compõe de módulos, sendo
que cada volume apresenta uma introdução, seguida das seções: Resolvendo
36
problema; É preciso saber; É preciso saber fazer; Para saber mais e Mostre
que você sabe.
No capítulo anterior, descrevemos que o conceito de simetria pode ser
envolvido em um conjunto de situações, cujo domínio requer uma variedade
de conceitos, procedimentos e representações simbólicas em estreita conexão,
isso nos leva a considerar a simetria como campo conceitual.
Ao recorrer a esta proposição teórica, consideramos que a apropriação
de um determinado conceito matemático envolve, na realidade, o trabalho com
vários conceitos em distintos contextos com suas múltiplas representações.
Para situar nossa discussão, exemplificaremos que este é o caso do
trabalho envolvendo as transformações isométricas. Tentamos classificar as
atividades da coleção CEF1 nesta perspectiva, ou seja, quanto ao tipo de
situações, procedimentos e invariantes matemáticos que cada uma delas
desenvolve, podendo também ter uma visão geral da forma como o assunto
está incorporado em toda coleção CEF1.
Identificamos quatro grupos de situações-problema, com distintos
invariantes (objetos, propriedades e relações) que devem ser utilizados pelos
alunos para analisar e dominar a situação dada.
Reconhecemos que as situações-problema envolvem diferentes
representações lingüísticas e simbólicas para a representação e
contextualização do conceito e de suas propriedades.
Por meio desta classificação, descrevemos primeiramente os quatro
grupos de situações-problema.
37
Grupo 1 – Figura Simétrica
Este grupo é formado por tarefas e exercícios, tratando de uma figura plana
simétrica que possui uma reta chamada eixo de reflexão ou eixo de simetria,
que se divide em duas figuras congruentes.
Três tipos de situações são incluídas no grupo:
a) Determinar os eixos de simetria
b) Completar a figura na malha quadriculada.
c) Completar a figura sem malha quadriculada.
Grupo 2 – Construção da Figura Imagem
O grupo 2 é formado por tarefas e exercícios que tratam a simetria como
relação entre duas figuras distintas.
Nesse grupo, existem dois tipos de situações:
a) Problema apresentado na malha quadriculada;
b) Problema apresentado sem a malha quadriculada.
Grupo 3 – Identificação dos invariantes
Neste grupo, são situações que envolvem a identificação explícita de
invariantes em uma isometria.
38
Grupo 4 - Identificação
São situações, nas quais o aluno precisa identificar o tipo de transformação;
(simetria axial, simetria central, translação e rotação).
Em termos de representações e contextualizações das situações-problema,
identificamos quatro categorias:
a) Arte
b) Natureza
c) Cotidiano
d) Contexto Matemático Escolar
Por meio desse levantamento, classificamos os tipos de situações e
isometrias presentes na coleção CEF 1.
Na análise da coleção, observamos que a introdução das
transformações isométricas é feita a partir da 5a série no Módulo 20 –
“Polígonos e Simetria”, por meio de um texto, que versa sobre a simetria em
diversos aspectos, como: na natureza, no cotidiano e na arte. A simetria é
caracterizada como palavra de origem grega que significa “Justa Proporção ou
Harmonia”, resultante de certas combinações e proporções regulares.
39
Figura 3.1 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Introdução p.211.
No volume da (5a série), observamos que a simetria é incorporada a situações
dos grupos 1, 2 e 3.
Do grupo 1, temos por exemplo:
• 1a – Figura Simétrica – determinar os eixos de simetria.
40
Figura 3.2 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 218.
• 1b – Figura Simétrica – Completar a figura na malha quadriculada;
Figura 3.3 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Resolvendo problemas, p. 212.
41
Como exemplo do grupo 2, temos:
• 2a – Construção da Figura Imagem – Problema apresentado na malha
quadriculada;
Figura 3.4 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: é preciso saber fazer, p. 216.
Do grupo 3, temos:
• Identificação dos Invariantes
Figura 3.5 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Resolvendo problemas, p. 212.
42
Cabe ressaltar que a situação apresentada na Figura 3.5, também pode ser
caracterizada como 2a, ou seja, construção da figura imagem apresentada na
malha quadriculada.
No volume da 5a série, além das situações de contexto matemático escolar,
também, há um problema, no qual a simetria é abordada em um contexto
artístico. (Figura 3.6).
Figura 3.6 - Módulo 20 – “Polígonos e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 218.
Quadro 3.1– Levantamento do tipo de situação na 5a série da coleção CEF1.
série: 5a
Tipo de Situação no de Questões
1a 81b 42a 53 1
Total 18
43
De acordo com os dados do Quadro 3.1 é visível que as situações do
tipo 1a e 2a são as que predominam nesta série. Esses tipos de situações
podem ser classificados como os dois primeiros níveis de complexidade
sugeridos por Vergnaud, conforme foi discutido no capítulo anterior.
No volume da 6a série no módulo 20 – “Simetria”, a ênfase é dada à
simetria axial, ocorrendo a formalização do conceito de simetria axial.
Primeiro, as propriedades da figura são explicitadas:
Figura 3.7 – Propriedades da Simetria Axial
Finalmente, formaliza o conceito da seguinte forma:
Definição:
“O processo de obtenção de uma figura por reflexão em reta ou simetria axial é um
tipo de transformação que não modifica as medidas da figura original. Transformações
em que as medidas não se modificam, são chamadas de isométricas”. (p.223)
44
As situações sugeridas aos alunos de 6a série têm, por exemplo:
Do grupo 1:
• 1 a - Figura Simétrica – determinar os eixos de simetria;
Figura 3.8 - Módulo 20 – “Simetria” - Seção: Resolvendo problemas, p. 221.
• 1b – Figura Simétrica -Completar a figura na malha quadriculada;
Figura 3.9 - Módulo 20 – “Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p.229.
45
Do grupo 2, temos por exemplo:
• 2a - Construção da figura imagem – Problema apresentado na malha
quadriculada.
Figura 3.10 - Módulo 20 – “Simetria” Seção: Mostre que você sabe, p. 227.
Do grupo 4, temos como exemplo:
• Identificação do tipo de transformação;
Figura 3.11 - Módulo 20 – “Simetria” – Seção: Resolvendo problemas , p. 221.
46
A questão requer que o aluno decida se os pares de figuras são ou não
relacionados por simetria axial que classificamos, como tipo 4.
Portanto, não corresponde exatamente ao quarto nível de complexidade
sugerida por Vergnaud, no qual a simetria é vista, como um membro da
isometria, já que as outras isometrias não foram apresentadas ainda.
Em termos de representações e contextualizações, o volume da 6a
apresenta uma situação da categoria cotidiano, por exemplo:
Figura 3.12 - Módulo 20 – “Simetria” Seção: Para saber mais, p. 226.
De acordo com os dados do Quadro 3.2, notamos novamente uma
ênfase na situação do tipo 1a – Figura Simétrica/determinação dos eixos de
simetria e do tipo 2a – Construção da Figura-Imagem, apresentada na malha
quadriculada.
Embora as situações sejam muito semelhantes às do volume da 5a
série, notamos que existe um fator que diferencia os capítulos, pois, apenas
na 6a série ocorre uma formalização do conceito de simetria axial.
47
Quadro 3.2 – Levantamento do tipo de situação na 6a série da coleção CEF1.
série: 6a
Tipo deSituação no de Questões
1a 131b 42a 164 2
Total 35
No volume da 7a série, as isometrias são trabalhadas nos seguintes
módulos: Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria”; Módulo 13 – “Transformações
Geométricas” e no Módulo 18 – “Sobreposição de Figuras”.
Além da simetria axial, constatamos que são incorporadas também simetria
central, rotação e translação e as situações diversificam-se.
Do grupo 1, temos por exemplo:
• 1 a - Figura Simétrica – determinar os eixos de simetria;
Figura 3.13 - Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria” – Seção: Mostre que você sabe, p. 114.
48
• 1c - Complete a figura, sem a malha quadriculada.
Figura 3.14 - Modúlo 9 – “Arquitetura e Simetria” - Seção: Resolvendo Problemas, p. 104.
Do grupo 2, temos por exemplo:
A próxima situação pode ser identificada como 2b – construção da figura
imagem apresentada sem a malha quadriculada e, também, 3a identificação
explícita de invariantes em uma isometria.
Figura 3.15 - Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria” -Seção: É preciso saber fazer, p. 110.
49
• 2a - Construção da figura imagem apresentada na malha quadriculada,
envolvendo a simetria central.
Figura 3.16 - Módulo 13–“Transformações Geométricas”-Seção:Mostre que você sabe, 163.
Do grupo 4, temos por exemplo:
• Identificação do tipo de transformação, envolvendo a simetria axial e a
translação. Neste nível, os alunos já identificaram os invariantes e
precisam identificar também qual o tipo de transformação a figura
sofreu.
50
Figura 3.17 - Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria “ - Seção: Mostre que você sabe, p. 108.
Há também uma situação-problema que se refere em termos de
representações e contextualizações da categoria arte como, no exemplo
abaixo:
Figura 3.18 - Módulo 9 – “Arquitetura e Simetria”- Seção: Mostre que você sabe, p. 115.
51
As situações sugeridas no volume da 7a série enfatizam o desenvolvimento
do conceito de congruência de figuras planas, com base nas transformações
(reflexão em retas, translação, simetria central, rotações e suas composições),
de acordo com as orientações dos PCN’s (1998, p.124).
O módulo 18 – “Sobreposição de Figuras” trata do estudo de congruência
de figuras planas e utiliza a isometria como ferramenta para o estudo das
propriedades das figuras congruentes, no qual pudemos identificar situações
do grupo 2, por exemplo:
• 2b - Construção da figura imagem – apresentada sem a malha
quadriculada. Nesta situação, aplica-se a simetria central para mostrar a
congruência dos triângulos, utilizando os casos de congruência de
triângulos.
Figura 3.19 - Módulo 18 – “Sobreposição de Figuras” – Seção: É preciso saber fazer, p. 213.
52
Figura 3.20 - Módulo 18 – “Sobreposição de Figuras” – É preciso saber fazer, p 211.
De acordo com os dados do Quadro 3.3, observamos que ocorre uma
grande variedade de situações, envolvendo diversas isometrias que são
introduzidas de maneira menos intuitivas do que nas séries anteriores (5a e 6a
séries), ou seja, os conceitos são mais explicitados e formalizados, já que
nessa fase todos os níveis de complexidade sugeridos por Vergnaud foram
apresentados em diversas situações.
Quadro 3.3 – Levantamento do tipo de situação na 7a série da coleção CEF1.
série: 7a
Figura Simetria Axial Translação Simetria CentralTipo de Situação Simétrica no de Questões no de Questões no de Questões
1a 7 ..... ..... .....1b ..... 1 5 112a ..... 4 2 72b ..... 4 1 ......3 ..... 3 2 .....4 ..... 5 2 .....
Total 07 17 12 18
53
No volume da 8a série, as isometrias encontram-se no Módulo 5 –
“Rotação e Arte” - estão presentes em diversas situações, porém, a ênfase
maior é dada à rotação. Na introdução, há uma conceitualização de
isometria e descrição de suas propriedades de maneira explícita.
Figura 3.21- Módulo 5 – “Rotação e Arte” – Introdução - p.51.
54
Do grupo 2, temos por exemplo:
• 2a - Construção da figura imagem apresentada na malha quadriculada;
Figura 3.22 - Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 58.
• 2b - Construção da figura imagem apresentada sem a malha
quadriculada, envolvendo a simetria central e a rotação.
Figura 3.23 - Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber conceitos, p. 53.
55
Do grupo 3, temos, por exemplo:
• Identificação dos Invariantes
Na situação, os invariantes (propriedades) nesse tipo de isometria são
quanto ao sentido (horário ou anti-horário); quando a figura sofre a
transformação.
Figura 3.24 - Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 58.
Do grupo 4, temos por exemplo:
• Identificação do tipo de transformação;
56
Na situação, existem diversas isometrias envolvidas que, por meio da
característica de cada figura, o aluno deverá descobrir o tipo de transformação
que a figura sofreu.
Figura 3.25 - Módulo 5 – “Rotação e Arte” – É preciso saber fazer, p. 59.
Existe também uma situação que se refere em termos de
representações e contextualizações da categoria arte, envolvendo diversas
simetrias.
Figura 3. 26 - Módulo 5 – “Rotação e Arte” – Mostre que você sabe, p. 63.
57
De acordo com os dados do Quadro 3.4, é visível que as situações que
envolvem a simetria axial e a rotação aparecem com maior freqüência,
enquanto as translações, a simetria central e as do tipo 1 e 2 são menos
apontadas.
Notamos que existe uma diversidade de situações envolvidas nas
diversas transformações. No volume da 8a série, a coleção formaliza os
conceitos das transformações geométricas explicitamente, pois o campo
conceitual em estudo foi desenvolvido na coleção de modo progressivo, ou
seja, transformou conceitos que eram implícitos no início do ciclo em científicos
ao final do ciclo.
Quadro 3.4 – Levantamento do tipo de situação na 8a série da coleção CEF1.
série: 8a
Simetria Axial Translação Simetria Central RotaçãoTipo de Situação no de Questões no de Questões no de Questões no de Questões
2a 1 ...... ...... 12b 4 ...... 1 113b ...... 1 ...... 044 7 5 6 9
Total 12 06 7 25
Pela análise, usando os níveis de complexidades de Vergnaud constatamos
que ocorre uma progressão gradativa de situações-problema sugeridas na
coleção CEF 1.
No volume das 5a e 6a séries, as situações concentram-se na simetria
como propriedade de uma figura, em uma relação entre duas figuras distintas.
58
Nos volume das 7a e 8a séries, ocorrem a formalização dos conceitos, e a
simetria é tratada como objeto inserido no grupo de isometrias definido com
base em suas propriedades.
3.3.2 ANÁLISE DOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
Ao analisar a coleção CEM1, constatamos que a transformação
isométrica não faz parte dos conteúdos apresentados nesta coleção do Ensino
Médio.
Não há abordagem das transformações isométricas nem estudos das
propriedades das figuras ou resolução de problemas, utilizando as isometrias
como ferramentas e também não há estudo como objeto matemático.
As idéias que se fundamentam da teoria das transformações
manifestam-se de modo esparso pelos assuntos que são estudados
tradicionalmente no ensino médio.
Só encontramos um indício dessa abordagem em alguns assuntos que
poderiam levar ao estudo das isometrias, deixando a critério do professor uma
possível discussão sobre a idéia de simetria que é usada sem uma
conceitualização precisa em diversos tópicos da matemática que pode ser pelo
fato dos autores das coleções imaginarem que o conceito de simetria, já foi
abordado de modo suficiente no Ensino Fundamental.
Além disso, observamos que as orientações didáticas não são
evidenciadas nos PCNEM nem mesmo a proposta de organização curricular
59
em espiral.Talvez, por causa disso, os livros didáticos de modo geral possuam
uma característica de “texto escolar”, ao qual o conteúdo e a metodologia, na
maioria das vezes, centram-se na definição, nos exemplos, desconsiderando a
abordagem interdisciplinar ou contextualizada.
Em particular, verificamos que na coleção CEM1 o trabalho com as
transformações isométricas está relacionado apenas a exercícios para análise
de gráfico de funções. Essa abordagem pode ser caracterizada como uma
situação-problema de primeiro nível de complexidade de Vergnaud, como
mostra a Figura 3.27.
Figura 3.27 – Vértice da Parábola - Coleção CEM1 - p. 117-118
No caso da coleção CEM2, não há referência explícita ao estudo das
isometrias, mas constatamos que a mesma está presente. Ela é abordada de
maneira superficial no volume 1 da coleção na unidade 3 – Relações entre
grandezas: Funções; na seção “FLASH MATEMÁTICO”, o qual têm como
objetivo estabelecer relações entre matemática, vida cotidiana e outras áreas
60
do conhecimento, ou, ampliar determinados aspectos de assuntos
desenvolvidos teoricamente, ficando a critério do professor abordar ou não
esse tópico.
No primeiro “FLASH MATEMÁTICO” da unidade 3, as autoras
introduzem a simetria contemplada na arte e definem uma figura plana
simétrica para fazer uma conexão da simetria com coordenadas do plano
cartesiano.
Figura 3.28 – Simetria e Coordenadas - Coleção CEM2 - p. 79
Figura 3.29 – Eixo de Simetria - Coleção CEM2 – p. 80
61
No segundo “FLASH MATEMÁTICO”, as autoras relacionam simetria e
funções. Neste caso, a transformação está sendo vista como uma função, ou
seja, uma bijeção do plano no plano, levando o aluno a interpretar a simetria
como transformação de pontos no plano.
Embora não explicitada nas descrições do Campo Conceitual de
Vergnaud, sugerimos que esta concepção representa uma especificação mais
precisa da simetria como membro da classe função, talvez, então, um quinto
nível de complexidade.
Figura 3.30 – Simetria e Funções - Coleção CEM2 – p. 100
62
Pudemos constatar que houve intenção das autoras inserir as
isometrias, mesmo que, superficialmente, propiciando diversas formas de
pensar e analisar o conteúdo, usando a isometria como uma ferramenta para o
desenvolvimento do pensar geométrico.
3.4 Considerações
Por meio da análise dos PCN-EF, constatamos que é sugerida a
inserção efetiva das transformações isométricas no currículo, para que o aluno
desenvolva gradativamente esses conceitos e aplicações das transformações
de forma significante, dinâmica, inovadora e vinculada a outros conteúdos que
enriquecem potencialmente a geometria.
Quanto à nossa análise dos Livros Didáticos - EF, identificamos que das
duas coleções analisadas só a coleção CEF1 aborda as isometrias,
enfatizando-as em todas as séries, de forma significativa.
Isto nos mostra que a coleção está adaptada às propostas dos PCN-EF,
no que diz respeito a desenvolver o conteúdo do bloco Espaço e Forma
(transformações isométricas); podendo servir de apoio para o
desenvolvimento do conceito de congruência de figuras planas e a
compreensão de suas propriedades, além de identificar medidas que
permanecem invariantes nessas transformações, ficando a cargo do professor
a responsabilidade de incluir a isometria em um contexto significativo.
63
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio conforme
observamos não explicitam a incorporação das isometrias, mas de acordo com
as concepções da matemática do Ensino Médio que se aliam ao Ensino
Fundamental, os alunos devem ter se aproximado de vários campos do
conhecimento. Agora estão em condições de utilizá-los, ampliá-los e
desenvolvê-los de modo mais amplo.
É importante ressaltar que incluir este tema no currículo é um meio de
dar continuidade sem ocorrer ruptura do assunto, possibilitando ao aluno
desenvolver os conceitos e aplicações das isometrias de forma significante,
dinâmica, inovadora e, também, vinculada a outros conteúdos, enriquecendo a
aprendizagem e o desenvolvimento do pensar geométrico.
Em nossa análise das coleções do Ensino Médio, constatamos que a
coleção CEM1 não enfatiza as isometrias. A simetria é citada para análise de
gráfico sem o conceito formal. Já na CEM2 é feita uma abordagem superficial,
relacionando simetria e função, na qual a simetria é vista como uma bijeção do
plano no plano.
Estudos sobre essa temática constataram que o ensino das
transformações isométricas é paradoxal, pois existem bons materiais de apoio,
entretanto, muitos professores não conhecem o suficiente, para que possam
ensinar aos alunos por meio de situações-problema ou não.
Segundo Pietropaolo (1999, p.16), “os professores são os
principais agentes para promover qualquer mudança educativa;
que é ele em última instância, que dá vida ao currículo. Se ele
não compreender a proposta, se ele não a incorporar ou não
estiver convencido dela, a potencialidade da mudança será
limitada ou não ocorrerá”.
64
Consideramos que outras ações sejam necessárias, assim, destacamos
a urgência de uma revisão sistemática dos cursos de formação de professores
e a implantação de projetos de formação continuada e como contribuição
elaboramos um conjunto de situações direcionadas aos alunos do Ensino
Médio que será assunto do próximo capítulo.
65
CAPÍTULO 4
SIMETRIA AXIAL NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DE
SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
Muitas de nossas concepções vêm das primeiras situações que
fomos capazes de dominar ou de nossa experiência tentando
modificá-las. (Vergnaud, 1996, p.117).
4.1 Introdução
Neste capítulo, apresentaremos uma análise de situações de
aprendizagem elaboradas e aplicadas com alunos do 2o ano do Ensino Médio,
tendo como referencial teórico a progressão gradativa dos diferentes níveis de
complexidade do Campo Conceitual da Simetria sugerido por Vergnaud.
Inicialmente, mostraremos algumas características relevantes dos
sujeitos de pesquisa e do ambiente de aplicação da investigação. Em seguida,
apresentamos as situações desenvolvidas, as descrições, os objetivos, as
estratégias utilizadas pelos alunos, bem como suas reflexões e conclusões
sobre a temática.
66
4.2 Perfil do Grupo
Participaram de nossa experiência 26 alunos do 2o ano do Ensino
Médio, período noturno, de uma escola da Rede Pública do Estado de São
Paulo, da região leste da cidade de São Paulo, onde leciono.
Os participantes do estudo tinham entre 16 e 20 anos de idade, sendo
que 80% dessa turma residiam a 30 Km da escola, ou seja, no extremo leste
da cidade.
Os alunos começaram a estudar na referida escola no Ensino Médio,
diziam que sua opção pela escola foi em razão de seu bom Projeto
Pedagógico, que avaliavam como satisfatório em comparação às escolas
próximas de suas residências que julgavam não serem boas. Além disso, a
escola é tida como uma “Escola de Passagem”, ou seja, se localiza entre o
trajeto do trabalho e suas casas. Isto facilita, ao aluno trabalhador chegar na
escola em tempo hábil para estudar.
Os alunos provinham de famílias modestas, em geral, pais assalariados,
pois precisavam optar estudar no período noturno, porque trabalhavam
durante o dia com carga horária de 10 a 12 horas, para ajudar no sustento da
família.
Em conversas informais e, mesmo na convivência com os alunos
durante o ano letivo de 2004, pôde-se constatar que eles estudaram pouca
geometria no Ensino Fundamental. Que a mesma era apresentada sempre no
final do ano e abordada, como um conjunto de definições, nomes e fórmulas.
67
Além disso, a relação que tinham com a matemática não era boa.
Relataram que, na maioria das vezes, as aulas eram cansativas, tradicionais,
expositivas e os assuntos eram estudados por meio de definições, exemplos e
modelos de exercícios.
O ambiente de aprendizagem não tinha mudança. Eram usados os
recursos materiais de sempre: lousa, lápis e caderno, com isso, muitas vezes,
não tinham muito estímulo para aprender.
4.3 Papel da Professora-Pesquisadora
Além do desenvolvimento das situações de aprendizagem, a Professora-
pesquisadora desempenhou a função de investigadora dos procedimentos dos
alunos frente à resolução das situações-problema, de modo que eles
pudessem desenvolver, de forma gradual o Campo Conceitual da Simetria, por
meio dos quatro níveis de complexidade sugeridos por Vergnaud.
Foram feitos registros das falas dos alunos que são instrumentos
cognitivos indispensáveis para transformação de invariantes operatórios
implícitos, em conceitos explícitos. A professora exerceu uma função essencial
nesse processo de aprendizagem, ou seja, considerou o aluno como um
sistema com mecanismos regulatórios capazes de assegurar seu progresso
cognitivo para desenvolver os diferentes níveis de complexidade do Campo
Conceitual em estudo.
68
4.4 Procedimento Experimental
Durante o mês de novembro de 2004, o trabalho foi desenvolvido em
sete sessões consecutivas, cada uma com a duração de 50 minutos, ou seja,
uma aula regular da escola.
Antes da aplicação da pesquisa, a professora-pesquisadora informou
aos alunos, os objetivos e o tema que seria abordado, além disso, que seriam
sujeitos de pesquisa de um trabalho que ela estava desenvolvendo sobre uma
proposta de inserir um determinado tema no currículo do Ensino Médio.
As situações foram elaboradas e apresentadas sob a forma de material
impresso que chamamos de Fichas numeradas de 1 a 6.
O ambiente de trabalho não foi em sala de aula, pois havia atividades
que deveriam ser desenvolvidas no computador. Durante todas as sessões,
utilizamos o laboratório de informática. Com a ajuda dos alunos montamos uma
“sala-laboratório” com nove computadores e mesas para as duplas6 de alunos,
para que resolvessem as situações quando não necessitavam do computador e
para fazer revezamento com os colegas, pois o número de computadores era
insuficiente a todos. As duplas foram identificadas por D1,...D13, para
preservar a imagem dos alunos pesquisados.
Em cada sessão, as duplas recebiam a ficha contendo a situação-
problema a ser resolvida durante a sessão com espaço para fazerem as
anotações e conclusões até o final de cada sessão, quando eram recolhidas
6 A formação inicial das duplas permaneceu idêntica até o final da pesquisa e quando um dos integrantesfaltava, trabalhava-se individualmente.
69
pela professora. Essas fichas serviriam como material de análise das
dificuldades ou estratégias de resoluções realizadas pelos alunos.
Algumas duplas não participaram de todas as sessões, pois faltavam às
aulas. Os motivos das ausências de alunos do curso noturno são variados: às
vezes, precisavam trabalhar além do horário normal. Destaca-se que
justificavam as ausências, uma prática que não faziam antes do
desenvolvimento deste estudo.
No início de cada sessão, a professora fazia uma breve introdução, dava
as instruções sobre a situação-problema a ser resolvida ou retomava a anterior
para observações e discussões.
A análise das situações-problema baseou-se em:
! Descrição da situação-problema;
! Objetivo da situação-problema;
! Estratégias e reflexões dos alunos para resolver a situação-
problema;
! Considerações.
70
4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
PRIMEIRA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Na primeira sessão, os alunos assistiram ao vídeo: ARTE Matemática.
Direção de Sérgio Zeigler. Simetrias: Os diferentes casos de simetria, da
música às equações algébricas. São Paulo: Brasil Videocultura TV Escola,
2001. Fita de vídeo (30’min.), VHS Son., color.
O filme abordava a simetria em termos de representação e
contextualização da categoria arte, natureza e cotidiano.
OBJETIVO
Seu objetivo era apresentar o tema fora do contexto matemático escolar,
provocando a curiosidade e, também, investigar se foi estudado em aspectos
diferentes da matemática.
71
REFLEXÕES DOS ALUNOS
Após a apresentação do filme, os alunos responderam ao questionário
individualmente (Figura 4.1),
Nas respostas, houve registros de 24 alunos que declararam ter ouvido
falar na simetria pela primeira vez. Dois alunos relacionaram o termo simetria
à reflexão do espelho ou ao corpo humano (Figura 4.2), ou seja, a linguagem
daqueles que tinham algum conhecimento não era ligada explicitamente ao
contexto matemático, que é característica do primeiro nível de complexidade,
isto é, a simetria é vista como propriedade de um determinado objeto.
Figura 4.1 – Questionário Sobre o Vídeo Simetrias.
72
Figura 4.2 – Declarações dos Alunos A e B.
CONSIDERAÇÕES
Pela atividade, constatamos que os alunos não tinham conhecimentos
do tema em estudo, assim, foi essencial identificar quais seriam os níveis de
complexidade que poderiam ser explorados com eles para desenvolver o
Campo Conceitual da Simetria e introduzir de forma gradativa.
SEGUNDA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Nesta sessão, a professora-pesquisadora escaneou o carômetro7 e
gravou as fotos dos alunos individualmente em disquetes, para que eles
manipulassem durante o desenvolvimento da atividade.
7 Carômetro: Catálogo de fotos dos alunos para identificação.
73
Na sessão, ocorreu o uso da tecnologia, do programa “Paint” para a
resolução da situação-problema que se compõe das seguintes fases:
• Na primeira fase, os alunos precisavam identificar o “eixo de simetria”
do rosto, pois na primeira situação algum aluno tinha suposto que o
corpo humano tinha uma certa simetria.
• Na segunda fase, com os recursos e ferramentas do programa “Paint”,
os alunos construíram um “novo rosto” que foi, realmente, simétrico e
pode ser comparado com o rosto original.
• Na terceira fase, solicitou-se aos alunos que definissem uma figura
simétrica.
Figura 4.3 – Situação-Problema da Foto
74
OBJETIVO
Tinha por objetivo desenvolver o primeiro nível de complexidade do
Campo Conceitual da Simetria, para que os alunos pudessem identificar as
propriedades da figura simétrica.
ESTRATÉGIAS DOS ALUNOS
A maioria dos alunos manipulou o programa adequadamente, os que
não sabiam, solicitavam ajuda do colega.
Quanto à resolução da situação-problema, não apresentaram
dificuldades, encontravam o “eixo de simetria” do rosto por meio da ferramenta
recortar e colar, sem a orientação e interferência da professora-pesquisadora e
traçavam uma linha para indicar o “eixo de simetria”, depois construíam o rosto
simétrico por meio da ferramenta que executava a função inverter
(horizontalmente/verticalmente), para formarem o rosto simétrico que ocorreu
nas seguintes fases, conforme o exemplo:
75
1a fase: Encontrar o “eixo de simetria” do rosto8.
Figura 4.4 – “Eixo de Simetria” do Rosto.
2a fase: O rosto simétrico que construíram com as faces direita e esquerda.
! Simétrico com a face esquerda:
Figura 4.5 – Rosto Simétrico formado pela face esquerda.
8 O rosto usado como exemplo é o da professora-pesquisadora, para preservar a imagem dos alunos.
76
! Simétrico com a face direita:
Figura 4.6 – Rosto Simétrico formado pela face direita.
REFLEXÕES DOS ALUNOS
Os alunos identificaram as propriedades da figura simétrica, com o uso de
uma linguagem informal para descrevê-la, como mostramos abaixo:
• “É quando a figura possui lados iguais”.
• “Uma figura simétrica é aquela que dividida ao meio, os dois lados são
idênticos”.
• “Imagens repetidas”.
• “Quando a figura se sobrepõe”.
• “Quando partimos ao meio (eixo de simetria) e as figuras são iguais”.
• “Quando a figura é cortada ao meio fica exatamente igual a outra parte”.
77
CONSIDERAÇÕES
Por meio dessa situação-problema, atingiu-se o objetivo que era o aluno
desenvolver o primeiro nível de complexidade do Campo Conceitual da
Simetria, ou seja, identificar as propriedades da figura simétrica.
Os alunos acharam a atividade interessante e motivadora por
desenvolverem o trabalho em um ambiente diferente do cotidiano escolar, ou
seja, marcado por uma maior aproximidade, interação e colaboração entre os
pares. Além disso, houve discussões sobre os resultados obtidos e as
descobertas das propriedades da figura simétrica, conforme o objetivo central
da atividade.
Enfim, a participação dos alunos nessa sessão foi satisfatória, pois a
postura foi totalmente contrária ao habitual em uma sala de aula tradicional.
Muitas vezes, cansados pelo trabalho, não agüentam realizar os
exercícios e ouvir as explicações dos professores, sentem-se sem estímulo
para aprender e ter reações positivas diante de determinados assuntos.
Durante a sessão, a situação provocou reações diante dos resultados,
gerando (risos, brincadeiras e apropriação da característica de figura
simétrica), comentários do tipo que nenhum aluno era perfeito, isto é, com a
formação do “novo rosto” ficavam diferentes do rosto real e só com base nessa
situação perceberam que, em geral, o rosto não é realmente simétrico, ou seja,
não possui a mesma forma.
78
Salientamos um comentário interessante de uma das duplas que se
referia à simetria no contexto cotidiano, sobre a investigação policial, isto é, a
simetria é um ótimo recurso para se fazer retrato falado (Figura 4.7).
Figura 4.7 – Reflexão da Dupla D8.
Essa dupla continuava pensando que o rosto é simétrico, ou, pelo
menos, “suficientemente” simétrico para identificação. Cabe ressaltar, pela
reflexão da Dupla D8, a diferença interessante que existe entre a simetria
contemplada no dia-dia e a simetria do contexto matemático.
TERCEIRA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Nesta sessão, os alunos disponibilizavam de um espelho e a Ficha 3,
com a situação-problema com uma malha quadriculada para executar a
atividade, como mostra a figura a seguir:
79
Figura 4.8 – Ficha 3 – Espelho.
OBJETIVO
O objetivo desta situação-problema era desenvolver e explicitar a
mesma estrutura da situação-problema anterior, porém, complementando com
diferentes representações matemáticas, contextos e recursos, mas, ainda no
primeiro nível de complexidade.
Na situação-problema anterior, a principal propriedade mencionada
pelos alunos da figura simétrica foi a mesma forma.
80
Parece que os alunos têm Teorema em Ação (proposição considerada
como verdadeira sobre o objeto), isto é, uma figura simétrica com duas partes
iguais. Embora esta proposição esteja correta nem todas a propriedades
associadas com o eixo da simetria foram explicitadas.
Nesta situação-problema, a malha quadriculada foi utilizada para
enfatizar as seguintes propriedades:
• Mesma Forma;
• Mesma Distância;
• Mesmo Comprimento.
ESTRÁTEGIAS DOS ALUNOS
Na atividade, todas as duplas participaram, e o tempo gasto para
resolver foi 35 minutos, e os outros 15 minutos foram usados para discutir
sobre a situação-problema.
Os alunos colocaram o espelho, visualizaram a figura de uma parábola,
e para descrever a imagem na malha quadriculada empregaram o mesmo
número de quadradinhos da figura dada para representar sua imagem obtida,
usando, pelo menos, nas suas ações as propriedades: mesma forma, mesma
distância e mesmo comprimento e também um eixo de simetria.
81
Figura 4.9 – Exemplos de Resoluções.
REFLEXÕES
A figura foi reconhecida por todos como uma parábola, nos 15 minutos
finais da sessão durante as discussões, constatamos que 50% das duplas
identificaram o eixo de simetria e as propriedades da figura (mesma forma,
82
mesma distância e mesmo comprimento), sempre relacionando a figura inicial
com a imagem obtida com o espelho.
CONSIDERAÇÕES
Pela situação, constatamos que com a mudança da situação do rosto
para a situação da malha quadriculada, as propriedades da figura simétrica
ficaram ainda mais explícitas aos alunos.
Além da propriedade mesma forma, os alunos tiveram a oportunidade de
descobrir outras como: a mesma distância e mesmo comprimento ao fazer a
construção na malha quadriculada. Nas discussões os alunos foram explicando
as observações feitas sobre a figura, além disso, relacionaram a figura com o
gráfico da função do 2o grau que haviam estudado em séries anteriores, porém
revelaram não saber o que era eixo de simetria.
Esta atividade foi mais complexa que a anterior, porém essencial para
que identificassem que a figura simétrica possui suas próprias características.
83
QUARTA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Nesta sessão, os alunos usaram a tecnologia como recurso para a
resolução da situação-problema, ou seja, o programa “Cabri-Géomètre”.
Foram cedidos apenas 10 minutos para conhecerem e familiarizarem-se com
as ferramentas que o programa disponibilizava. Logo após, abriram o arquivo
2medio.fig , conforme mostramos a seguir:
Figura 4.10 – Ficha 4 – Investigação no Cabri Géomètre
84
OBJETIVO
O objetivo desta proposta era levar o conceito da simetria ao segundo
nível de complexidade, ou seja, tratar explicitamente a simetria, como uma
relação entre duas figuras distintas, cujos pontos distam igualmente do eixo de
simetria; além disso, nosso objetivo era que distinguisse a figura simétrica do
simétrico de uma figura. Por essa razão, foi dada uma situação de figura
simétrica e outra do simétrico de uma figura, em particular, a simetria axial.
ESTRATÉGIA DOS ALUNOS
Nessa situação-problema, 12 das 13 duplas utilizaram a ferramenta reta
ou segmento de reta, traçaram um segmento ou reta no ponto em que
supunham ser o ponto médio de um lado do triângulo equilátero (Figura 4.11).
Ou seja, dividiam o triângulo ao meio e descreveram que o segmento era o
eixo de simetria da figura. Afirmaram que o triângulo ficava com dois lados
“idênticos”, sendo assim tratava-se de uma figura simétrica.
Figura 4.11 – Eixo de Simetria do Triângulo Eqüilátero encontrado pelas Duplas.
85
Apenas a dupla D6 utilizou a ferramenta ponto médio para construir o
ponto médio em um dos lados do triângulo. Sobre esse ponto traçou uma reta
perpendicular ao lado em que construiu o ponto médio. Depois mediu as
distâncias entre os vértices e o ponto médio, e caracterizou a figura como
simétrica, pois as medidas eram iguais, como mostra (Figura 4.12).
Figura 4.12 – Eixo de Simetria do Triângulo Eqüilátero da Dupla D6.
Na segunda situação-problema, as 12 duplas tentaram construir o
simétrico do triângulo A, B, C sem critérios geométricos, isto é, construindo
livremente sem o uso da ferramenta simetria axial, utilizando a ferramenta
copiar colar.
Copiavam a figura e colavam a uma certa distância do eixo ou
desenhavam um outro triângulo-imagem livremente, como mostraremos na
(Figura 4.13).
86
Figura 4.13 – Construção Livre do Simétrico do Triângulo ABC.
Novamente, apenas a Dupla D6 utilizou a ferramenta simetria axial para
a construção do simétrico do triângulo ABC, ou seja, fez primeiro uma
investigação de cada ferramenta que o programa disponibilizava e perguntou à
professora-pesquisadora se poderia utilizar. A professora sugeriu que fizesse o
uso e verificasse o resultado.
Seguindo os passos que a ferramenta dava, os alunos da dupla
obtiveram a solução desejada, que era o simétrico do triângulo.
Figura 4.14 – Simétrico do Triângulo da Dupla D6.
87
REFLEXÕES
Nas duas situações, apenas a dupla D6 conseguiu obter o resultado
desejado, enquanto as outras 12 duplas mostraram mais dificuldade para
resolver a situação, até mesmo, por questão de tempo para se familiarizar com
o programa “Cabri Géomètre”, que foi muito pouco.
Mas, puderam observar e depois discutir sobre as soluções da dupla D6.
Nesta discussão, a propriedade enfatizada foi de simetria como relação entre
a duas figuras distintas, cujos pontos de ambas distam igualmente do eixo de
simetria.
Entretanto, não podemos afirmar que esta interpretação foi apropriada
pelos alunos.
CONSIDERAÇÕES
Nesta atividade, os alunos mostraram mais dificuldade na situação-
problema (b), isto é, ainda pensavam na simetria, como propriedade da figura,
e não como relação entre duas figuras distintas, ou seja, uma questão de nível
de complexidade maior.
Além disso, observamos a falta de familiaridade com o programa “Cabri
Géomètre”, o que acabou dificultando a resolução.
A apresentação do programa deveria ter acontecido com maiores detalhes
e exploração, para depois propor a atividade no “Cabri-Géomètre”, criando,
assim, uma possibilidade do aluno ter um desenvolvimento melhor na situação.
88
QUINTA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Duas figuras iniciais foram dadas no “Cabri Géomètre”; um quadrado e um
triângulo eqüilátero; por meio delas, os alunos tinham que construir a
planificação de um cubo e de um tetraedro, usando a ferramenta simetria axial.
Figura 4.15 – Ficha 5
OBJETIVO
Diante dos resultados da situação anterior, o objetivo da atividade era
facilitar a passagem do primeiro nível de complexidade, ao segundo nível de
complexidade do Campo Conceitual de Simetria, sugerido por Vergnaud.
Além disso, visou à familiarização com a ferramenta simetria axial do
“Cabri Géomètre”, de tal forma que pudessem investigar dinamicamente a
relação entre uma figura e sua imagem sobre a reflexão na reta.
89
ESTRATÉGIAS
Na situação-problema de construção das planificações do cubo e do
tetraedro, as 13 duplas utilizaram a ferramenta simetria axial, selecionando os
lados da figura original (quadrado ou triângulo), para que servissem como eixo
para obter a imagem da figura (original), formando gradativamente a
planificação do sólido pedido.
Figura 4.16 – Construção da Planificação do Sólido usando a Ferramenta Simetria Axial.
Figura 4.17 – Exemplos de Planificações elaboradas pelas Duplas D5, D7 e D11.
90
REFLEXÕES
Por meio desta situação, com ajuda e mediação da professora, as
propriedades e as características da isometria colocadas em questão, isto é,
(segundo nível de complexidade) ficaram mais claras aos alunos, ou seja, a
relação entre duas figuras distintas. Além disso, o uso do programa “Cabri
Géomètre” foi mais fácil do que na atividade anterior.
CONSIDERAÇÕES
Pode-se concluir que o segundo nível de complexidade sugerido por
Vergnaud, para o estudo do Campo Conceitual da Simetria desenvolveu-se
gradativamente. Com base nessa situação, os alunos perceberam a relação
entre as figuras, ou seja, as medidas da figura original eram correspondentes a
sua imagem.
SEXTA SESSÃO
DESCRIÇÃO
Os alunos usaram as planificações da atividade anterior que foram
impressas em papel cartão ou com o uso da massa de modelar montaram os
sólidos: tetraedro e cubo.
91
OBJETIVO
O objetivo era sair do plano e considerar a simetria no espaço. A idéia foi
desenvolver a situação-problema equivalente ao plano, ou seja, tratar a
simetria como propriedade de uma figura geométrica (nível de complexidade
1), neste caso, identificando plano de simetria.
ESTRÁTÉGIAS
Duas duplas realizaram o experimento com a massa de modelar para
identificar o plano de simetria dos sólidos geométricos que cortava a figura com
a régua no meio das faces. Assim, referiam-se ao plano de simetria, enquanto
as 11 duplas que utilizavam o sólido feito no papel cartão, encaixavam um
palito no centro da figura e descreviam que se tratava do “eixo de simetria” da
figura espacial.
REFLEXÕES
As duas duplas que usaram a massa de modelar, diziam que os sólidos
tinham planos de simetria, pelo fato de terem as faces do sólido todas iguais.
As 11 duplas, diziam que os sólidos tinham “eixo de simetria”, quando
encaixavam o palito no centro do sólido. Além disso, descreviam que, ao girar
o sólido, que chamaram de rotação, ele não mudava, ou seja, não sofria
alteração, e comparavam com a situação anterior do simétrico do triângulo
ABC, pois sua imagem continuava a mesma, uma perspectiva mais
92
característica de nível 3 do que nível 1, no qual a figura simétrica não é mais
um objeto com suas propriedades, porém um objeto que fica invariante sobre
uma transformação.
Mostraremos os exemplos das duplas D2 e D3 que registraram na Ficha 69.
Ficha 4.18 – Reflexões sobre o cubo da Dupla D2.
Ficha 4.19 – Reflexões sobre o tetraedro da Dupla D2.
9 As figuras do “cubo e do tetraedro” que contêm na ficha 6 são representações, que os alunos utilizavampara fazer seus registros e conclusões, após manipulação de seus sólidos.
93
Ficha 4.20 – Reflexões sobre o cubo da Dupla D3.
Ficha 4.21– Reflexões sobre o tetraedro da Dupla D3.
94
CONSIDERAÇÕES
Por meio desta situação, concluímos que embora tenham inserido o
primeiro nível de complexidade já visto em situações-problema anteriores no
plano, os alunos abordaram a situação para um nível mais elevado, ou seja,
considerando um objeto que fica invariante sobre uma transformação e não
como um objeto com suas próprias propriedades no caso da figura simétrica.
Concluímos que se atividade tivesse uma extensão maior, os alunos
desenvolveriam todos os níveis de complexidade, podendo relacionar com
outros contextos matemáticos escolares.
Após o término da pesquisa, aplicamos uma auto-avaliação com algumas
das observações dos alunos sobre o desenvolvimento das situações de
aprendizagem.
Figura 4. 22 – Auto-Avaliação.
95
Todos responderam apenas de forma geral, citando suas reações sobre
o estilo de aula, porém, sem comentários do contexto matemático.
! Muito interessante ajuda a desenvolver o raciocínio e a percepção;
! Gostei, pois trabalhamos em outro ambiente facilitando o aprendizado
de um novo assunto;
! Muito interessante “essa geometria”;
! Interessante, não conhecia o assunto;
! Achei as aulas ótimas, em ambiente diferente e um tema rico que pode
ser aplicado em diversos assuntos;
! Achei ótima e aprendi um pouco mais sobre um tema que eu
desconhecia.
Suas reações foram bem positivas, ao considerarmos o perfil do grupo,
avaliamos como satisfatório.
96
4.6 CONSIDERAÇÕES
Por meio dessas situações-problema, o aprendizado tornou-se ativo e
dinâmico, mas ocorreu interação entre o sujeito (aluno) e o objeto de estudo
(Campo Conceitual da Simetria).
Pelo perfil do grupo, observamos que a relação com a geometria foi
essencial na primeira sessão para identificar, quais eram os níveis de
complexidade do Campo Conceitual da Simetria que poderiam ser explorados
por esse grupo de alunos. Pela situação, constatamos que só 1% dos alunos
tinha ouvido falar no termo simetria e fora do contexto matemático escolar.
Optamos por desenvolver o estudo nos primeiro e segundo níveis de
complexidade, para que os alunos pudessem gradativamente se apropriarem
dos conceitos de forma significativa.
Em relação à segunda e terceira sessão, as situações-problema
abordadas foram resolvidas satisfatoriamente pelo grupo. Além disso, uma
sessão completou a outra, fazendo com que eles se apropriassem das
propriedades de figuras simétricas.
Na quarta sessão, o desempenho do grupo não foi satisfatório, ou seja,
só uma das 13 duplas conseguiu obter o desenvolvimento desejado.
Nesta situação, os alunos utilizavam o programa “Cabri Géomètre”, por
meio das ferramentas que o programa disponibilizava; verificavam se o
triângulo dado era simétrico e, além disso, tinham que dar o simétrico do
triângulo em relação ao eixo r.
97
Na situação-problema para construir o simétrico do triângulo, os alunos
ainda pensavam na simetria como propriedade (primeiro nível de
complexidade), e não como relação entre duas figuras distintas (segundo nível
de complexidade), além disso, observamos que a falta de familiaridade com o
programa dificultou a resolução.
Na quinta sessão com o intuito de facilitar a passagem do primeiro nível
para o segundo nível de complexidade, não atingido na sessão anterior, o
grupo percebeu a relação entre as duas figuras distintas, ou seja, apropriou-se
da simetria axial, isto é, as medidas da figura original eram correspondentes à
sua imagem.
No fim da atividade, os alunos ainda estavam enfocando a simetria como
propriedade, mas baseados no uso da ferramenta simetria axial no “Cabri
Géomètre”, tiveram a experiência com a simetria, tendo a oportunidade de se
apropriar da simetria como relação entre figuras e, em particular, decidir o que
usar como eixo de simetria para produzir a figura desejada.
Na sexta sessão, houve uma surpresa, a intenção da situação era
concentrar a simetria em três dimensões, com uma atividade que enfatiza
simetria, como propriedade de um sólido. Eles poderiam ter resolvido a
situação, usando apenas o primeiro nível de complexidade, mas abordaram a
situação para um nível mais elevado, ou seja, terceiro nível de complexidade,
considerando o sólido como um objeto que ficava invariante, sobre uma
determinada transformação, não como um objeto com suas próprias
propriedades, no caso da figura simétrica (primeiro nível de complexidade).
98
Diante dessa análise, consideramos que os alunos avançaram em seus
conhecimentos de forma gradual, embora nunca tivessem estudado esse
tema.
Além disso, observamos com os resultados das situações-problema que
os alunos apresentaram dificuldades para se expressar em uma linguagem
geométrica, porém no decorrer do desenvolvimento das atividades e com
mediação da professora, foram se apropriando de alguns termos geométricos
que desconheciam.
Podemos concluir que o ambiente e os recursos utilizados também
contribuíram para participação e ampliação das experiências dos alunos e a
compreensão do Campo Conceitual da Simetria. Ressaltamos que seria
possível desenvolver outros níveis de complexidade, caso o estudo se
prolongasse.
As atividades envolveram várias dimensões, além da resolução das
situações-problema, tivemos o diálogo, as participações e as discussões
coletivas, o que enriqueceu o ensino e a aprendizagem.
Para os alunos, essa experiência deu suporte teórico, cujas soluções
ajudaram a formular conceitos, a descobertas de propriedades relacionadas,
sobretudo aos primeiro e segundo níveis de complexidade da simetria.
Para a professora-pesquisadora, a teoria de Vergnaud apresentou uma
ferramenta nova para descrever, analisar e interpretar aquilo que se passa em
sala de aula na aprendizagem da geometria, em particular, no Campo
Conceitual da Simetria.
99
CAPÍTULO 5
Considerações Finais
5.1 Introdução
O objetivo da pesquisa foi investigar a inserção das isometrias no
currículo de matemática, tanto sob o ponto de vista oficial como na prática.
Para alcançar esse objetivo, o trabalho dividiu-se em duas partes: na
primeira, analisamos como as transformações isométricas estão inseridas nos
documentos curriculares; e na segunda, consideramos o ensino e
aprendizagem das isometrias, propondo um conjunto de situações-problema
para alunos do segundo ano do Ensino Médio (noturno), a fim de investigar
suas interações e desenvolvimento diante do tema.
Nosso estudo percorreu várias etapas. Iniciamos com algumas
considerações do capítulo 2, sobre o objeto matemático em discussão e seus
aspectos cognitivos. Os tipos de transformações isométricas no plano foram
apresentados, concentrando-se na simetria axial e na noção de figura
simétrica. Ainda, mostrou-se pertinente a tentativa de inserir esse tema, usando
a progressão gradativa dos diferentes níveis de complexidade do Campo
Conceitual da Simetria sugerido por Vergnaud, a saber:
100
• No primeiro nível de complexidade, o conceito de figura simétrica é
relacionado às propriedades que a figura possui; “mesma forma”,
“mesmo comprimento” e “mesma distância“, ou seja, uma única figura
que possui um eixo de simetria.
• O segundo nível de complexidade trata mais explicitamente a simetria
como uma relação entre duas figuras distintas, cujos pontos distam
igualmente do eixo de simetria.
• No terceiro nível de complexidade, ocorre a ênfase nas propriedades,
mas difere-se do primeiro nível de complexidade, pois, refere-se à
simetria e não a figura, que é colocada como um objeto que possui suas
próprias propriedades.
• No quarto nível de complexidade, a simetria torna-se um membro de um
grupo que preserva propriedades.
Em suma, observa-se que nos quatro níveis de complexidade, temos
simetria como propriedade, como relação, como objeto e como membro de um
grupo estruturado.
Os demais capítulos do trabalho centram-se no ensino e aprendizagem
das isometrias, em particular, na simetria axial. A pesquisa inicia-se com uma
análise dos documentos curriculares (PCN-EF, Livros Didáticos do Ensino
Fundamental, PCNEM e Livros Didáticos do Ensino Médio) à luz da Teoria dos
Campos Conceituais, buscando identificar de que forma esse tema é
apresentado.
101
Na elaboração do conjunto de situações-problema para alunos do
Ensino Médio, ao qual aplicamos e analisamos as suas interações tivemos
como referencial teórico a progressão gradativa dos diferentes níveis de
complexidade do Campo Conceitual da Simetria sugerido por Vergnaud.
Na aplicação das situações de aprendizagem consideramos quais
seriam os conhecimentos que esses alunos, do Ensino Médio, detinham sobre
o tema, no contexto matemático ou em outros aspectos. Com isso, buscamos
identificar quais os níveis de complexidade que poderiam ser explorados com
esses alunos.
5. 2 RESULTADOS DA PESQUISA
Vale recordar que os objetivos da pesquisa, em síntese foram:
! Investigar como as transformações isométricas estão incorporadas
nos documentos curriculares atuais.
! Elaborar um conjunto de situações para alunos do Ensino Médio,
abordando uma transformação isométrica, simetria axial e
investigar o desenvolvimento dos alunos diante destas situações
de aprendizagem.
102
Em relação ao primeiro objetivo, nossas análises indicaram:
a) Os PCN-EF sugerem a incorporação das transformações isométricas no
currículo, desde ciclos iniciais. Propõem um estudo das isometrias e sua
utilização como ferramenta para o estudo das propriedades das figuras
geométricas planas e o desenvolvimento do conceito de congruência.
b) Na análise dos Livros Didáticos – Ensino Fundamental, constatou-se que
das duas coleções analisadas, só uma coleção aborda as isometrias,
enfatizando-as em todas as séries, de forma significativa e abordando de forma
gradativa os quatro níveis de complexidade do Campo Conceitual sugeridos
por Vergnaud (1997).
Nesta coleção, identificamos quatro tipos de situações com distintos invariantes
(objetos, propriedades e relações) que podem ser utilizados pelos alunos para
analisar e dominar a situação dada. Constatamos, também, as situações que
envolviam diferentes representações lingüísticas e simbólicas para a
representação e contextualização do conceito e de suas propriedades.
c) Os PCNEM, revelam uma valorização ao ensino da Geometria, mas não
apontam quais os conteúdos que devem ser abordados. Assim, diferem do
PCN-EF, pois, em termos de conteúdo, são mais genéricos. Não trazem
orientação didática como nos PCN-EF, ficando assim subentendido a
necessidade do estudo de tais tópicos para o desenvolvimento das habilidades.
103
d) Nos Livros Didáticos do Ensino Médio, aferiu-se que nenhuma das
coleções apresentou uma abordagem aprofundada das isometrias. Em uma
coleção, a simetria é abordada apenas para análise de gráfico sem o conceito
formal e, na outra, ocorre uma abordagem superficial, relacionando simetria e
função, na qual a simetria é vista como uma bijeção do plano no plano.
A partir desta análise, conclui-se que as isometrias não são ainda
abordadas de forma consistente, tornando-se difícil a tarefa de desenvolver
atividades para alunos do Ensino Médio.
Assim, acreditamos que a isometria que deve ser estudada no Ensino
Médio é um meio de oferecer continuidade ao estudo sugerido nos PCN-EF
sem rupturas, possibilitando ao aluno desenvolver conceitos e aplicações da
isometria de forma significativa e, também, vinculada a outros conteúdos.
Quanto ao segundo objetivo, elaboramos um conjunto de situações para
alunos do Ensino Médio, abordando uma transformação isométrica, a simetria
axial e investigamos o desenvolvimento desses alunos diante dessas
situações de aprendizagem.
Estas foram elaboradas de modo que a cada sessão, os alunos fossem
colocados frente a situações que visavam a atingir aos diferentes níveis de
complexidade do Campo Conceitual da Simetria de Vergnaud (1997).
O perfil do grupo e da relação que mantinham com a geometria, foram
essenciais na primeira sessão, para identificar quais eram os níveis de
complexidade que poderiam ser explorados.
Na primeira sessão, constatamos, por meio de um questionário para 26
alunos, que, apenas dois alunos, tinham ouvido falar no termo simetria,
entretanto, fora do contexto matemático. Sendo assim, desenvolvemos as
104
atividades abordando, sobretudo o primeiro e segundo nível de complexidade
do Campo Conceitual da Simetria.
Com base na segunda e terceira sessão, as quais iniciamos o
desenvolvimento do primeiro nível de complexidade, a simetria é enfatizada em
termos de propriedades de uma figura simétrica como; “mesma forma”,
“mesmo comprimento” e “mesma distância”.
Observamos que os alunos resolveram as situações relacionadas a esse
nível satisfatoriamente. Além disso, as atividades foram coerentes, pelo fato, de
uma complementar a outra, fazendo com que os alunos descobrissem as
propriedades das figuras simétricas e se apropriassem delas, como
identificamos pelas descrições que faziam.
A quarta sessão envolveu uma situação na qual a simetria foi tratada
como relação entre duas figuras (segundo nível de complexidade), e o
desempenho do grupo não foi tão satisfatório como na anterior. Só uma dupla
das treze, chegou ao resultado desejado. Uma das implicações do mau
desempenho foi a familiaridade com o programa “Cabri Géomètre” que
precisavam usar e, também, uma dificuldade em negociar a passagem do
primeiro nível de complexidade para o segundo.
Ao construir o simétrico do triângulo, os alunos não o relacionavam
como uma relação entre duas figuras distintas, ou seja, as medidas da figura
original tinham que ser correspondentes à sua imagem.
Na quinta sessão, com o intuito de facilitar a passagem do primeiro nível
para o segundo nível de complexidade, foi apresentada novamente ao grupo
uma situação abordando a simetria simultaneamente, como propriedade de
uma figura e como relação entre as duas figuras.
105
No fim da atividade, os alunos ainda estavam enfocando a simetria como
propriedade, mas com base no uso da ferramenta simetria axial no “Cabri
Géomètre”, passaram a discutir como relação.
Na sexta sessão, ocorreu uma surpresa, a intenção da situação era
concentrar a simetria em três dimensões, com uma atividade que enfatiza
simetria como propriedade de um sólido. Embora, pudessem resolver a
situação, usando apenas o primeiro nível de complexidade, os alunos
abordaram considerando o sólido como um objeto que ficava invariante sobre
uma determinada transformação, uma visão consideravelmente mais complexa
do que ver o sólido como um objeto que pode ser dividido em duas partes
iguais.
Assim, em razão da falta de familiaridade dos alunos com o tópico do
estudo, as situações concentraram-se nos elementos menos complexos da
simetria, sendo possível perceber avanços significativos; mesmo assim foi
possível que os alunos desenvolvessem o aprendizado gradualmente,
enriquecendo e reorganizando os conceitos que foram abordados durante a
pesquisa.
Enfim, em relação às interações constatamos que:
• Os alunos foram capazes de construir o próprio conhecimento com as
ferramentas fornecidas e direcionadas pela professora.
106
• A aula tornou-se dinâmica e produtiva com a participação de todos,
sobretudo daqueles que não demonstravam interesse em aulas
tradicionais.
5.3 DIREÇÕES PARA O FUTURO
Salientamos que o ideal no Ensino Médio não seria necessariamente
abordar o primeiro e segundo nível de complexidade, mas concentrar-se nos
níveis mais avançados, como o quarto nível de complexidade que trata a
simetria como um membro de um grupo estruturado que preserva propriedades
(isometria).
Entretanto, enquanto as isometrias não forem inseridas na forma mais
coerente nos instrumentos oficiais do ensino, tanto no Ensino Fundamental
como no Médio a tendência será ficar preso ao primeiro nível de complexidade.
Como professora, o estudo serviu para clarificar os aspectos
relacionados com a aprendizagem do Campo Conceitual da Simetria de
Vergnaud (1997) e mostrou-me a importância de desenvolver situações
frutíferas, para colocar o aluno em contato com o conhecimento. Acreditando
assim, que para ter um avanço no ensino da geometria parece necessário
modificar minha prática em sala de aula, tornando o ensino dinâmico, interativo
e criativo.
107
Enfim, ao descrever este capítulo final, entendemos que, embora o
trabalho chegue a seu fim, acreditamos que estamos apenas no início de um
longo caminho a ser percorrido, já que mediante as respostas encontradas,
muitas outras questões e dúvidas surgiram no decorrer do estudo.
108
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113
ANEXO 1
LEVANTAMENTO DOS TIPOS DE SITUAÇÕES DA COLEÇÃO CEF 1.
série: 5a
Tipo de Situação no de Questões
1a 81b 42a 53 1
Total 18
série: 6a
Tipo deSituação no de Questões
1a 131b 42a 164 2
Total 35
114
série: 7a
Figura Simetria Axial Translação Simetria CentralTipo de Situação Simétrica no de Questões no de Questões no de Questões
1a 7 ..... ..... .....1b ..... 1 5 112a ..... 4 2 72b ..... 4 1 ......3 ..... 3 2 .....4 ..... 5 2 .....
Total 07 17 12 18
série: 8a
Simetria Axial Translação Simetria Central RotaçãoTipo de Situação no de Questões no de Questões no de Questões no de Questões
2a 1 ...... ...... 12b 4 ...... 1 113b ...... 1 ...... 044 7 5 6 9
Total 12 06 7 25