Anais I Workshop Internet e Eleições 2014
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- Internet e Eleições 2014 - I Workshop da Linha de Pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública
Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Curitiba - PR, 9 e 10 de abril de 2015
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APRESENTAÇÃO
O workshop “Internet e Eleições 2014”, realizado nos dias 9 e 10 de
abril de 2015, na Universidade Federal do Paraná – Campus Reitoria, é a
primeira edição do evento de apresentação de trabalhos da linha de
pesquisa Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião
Pública, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política (PPGCP) da
UFPR.
O tema “Internet e Eleições 2014” abriga os projetos de pesquisa em
andamento por parte dos alunos e professores da graduação e do programa
de pós-graduação. Já a data do workshop foi escolhida pela proximidade
com outro evento promovido pelo PPGCP, a palestra “Deliberação e
Internet”, ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Fabrino Mendonça (UFMG) no dia
10 de abril.
Nesta primeira edição, foram apresentados estudos de três grupos de
pesquisa vinculados ao programa: CPOP, GEIST e NEPRI. São trabalhos de
doutorandos, mestres e mestrandos do PPGCP, além de alunos da
graduação de Ciências Sociais e de outros programas de pós-graduação da
UFPR, como o da Comunicação (PPGCOM).
Esperamos que os Workshops anuais contribuam para a troca de
conhecimento entre os alunos, da graduação e da pós, e que o debate e a
exposição dos trabalhos desenvolvidos nos grupos enriqueçam as pesquisas
e contribuam para o desenvolvimento destas e de outras novas.
Boa leitura!
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Anais do I Workshop da Linha Comunicação e Comportamento Político, Novas Mídias e Opinião Pública: Internet e Eleições 2014. Curitiba, 9 e 10 de abril de 2015. 162 páginas. ISSN: 2359-6481. https://issuu.com/workshop-ccpnmop
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SUMÁRIO
A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK:
Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 2014
Bruno Fernando da Silva e Anne Caroline Pellizzaro.............................................................7
WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:
Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha presidencial de 2014
Fernanda Cavassana, Isabele Mitozo e Michele Massuchin.................................................25
#FALANDO_SOZINHO:
Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook
Jaqueline Buckstegge, Ricardo Dantas, Bruno Nichols e Sérgio Tramujas.............................36
FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014:
Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre os principais candidatos à presidência
Regiane Lima e Romer Santos.............................................................................................46
CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS:
O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 2014
Isabele Mitozo e Miriane Rodrigues....................................................................................58
PARTIDOS E REDES SOCIAIS:
Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook
Leonardo Rocha..................................................................................................................74
PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET:
Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 2014
Fabrícia Vieira.....................................................................................................................86
PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL:
Uma análise empiricamente orientada (1998-2014)
Marcio Carlomagno e Sérgio Braga....................................................................................101
A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET:
Do direito à privacidade ao direito à participação
Thaíse Kemer............................................................ ......................................................129
O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES DE 2014 NO BRASIL
Nilton Cesar M. Kleina....................................................................................................140
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A COBERTURA ELEITORAL POR MEIO DO FACEBOOK:
Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo nas eleições presidenciais de 20141
Bruno Fernando da Silva2
Anne Caroline Pellizzaro3
RESUMO
O trabalho insere-se entre os estudos de comunicação política dedicados a análise da cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos. O objetivo é comparar a maneira com que os portais Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo noticiaram a disputa presidencial de 2014 através de suas páginas oficiais na rede social Facebook durante o período eleitoral. A hipótese é que estes veículos possuem diferentes linhas editoriais, que tornam distintos os espaços destinados aos diferentes temas jornalísticos. Em relação as valências destinadas aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, visto que os jornais declaram-se imparciais, não assumindo posição política. Os resultados apontam para uma cobertura eleitoral intensa da Folha de S. Paulo, ao contrário de Estadão e O Globo. Já quando trata-se do formato da cobertura dos candidatos, Folha e Estadão realizaram uma cobertura equitativa, com O Globo fornecendo tratamento diferenciado a um dos candidatos.
Palavras-chave: Comunicação Política; Cobertura Eleitoral; Eleição Presidencial; Facebook.
Introdução
Os meios de comunicação constituem uma ferramenta muito importante na
sociedade atual, capaz de promover um intenso debate no espaço público, propiciando as
trocas de informações para o alcance de todos, suprimindo as barreiras geográficas,
culturais e linguísticas. Os estudos a respeito dos meios de comunicação de massa
sempre foram objetos de discussão, pois, buscava-se compreender o que os meios
representavam e quais eram os efeitos que a mídia poderia produzir nas pessoas.
Nesta pesquisa, inserida nos estudos de comunicação política, pretende-se
analisar a cobertura eleitoral pelos portais jornalísticos O Estado de São Paulo (Estadão),
Folha de S. Paulo e O Globo em suas páginas do Facebook, durante as eleições
1 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em
Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 2 Mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciência Política pelo
Centro Universitário Uninter (2013). Contato: [email protected] 3 Mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Bacharel em Ciências Sociais pela
Universidade Federal do Paraná (2013) e em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2012). Contato: [email protected]
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presidenciais de 2014, em relação aos candidatos Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio
Neves. O período de coleta de dados compreende-se apenas ao período eleitoral, de
01/07/2014 a 31/10/2014 (cinco dias após a realização do segundo turno). O objetivo
deste trabalho consiste em comparar a maneira com a qual estes jornais noticiaram a
disputa eleitoral através de suas páginas na rede social Facebook, tanto em termos de
espaço à cobertura quanto no formato adotado para noticiar os candidatos.
A hipótese é que os jornais, por possuírem diferentes linhas editoriais, fornecem
diferentes espaços destinados aos variados temas jornalísticos. No que tange o formato
da cobertura atribuída aos candidatos, espera-se que haja similaridade na cobertura, uma
vez que os veículos de comunicação no Brasil assumem a postura de imparciais (CERVI
et al, 2011).
O trabalho divide-se em três partes. Na primeira, reservada a uma discussão
teórica, são abordadas algumas teorias gerais da mídia, passando pelo estudo dos novos
meios de comunicação e alguns resultados de pesquisa empírica que servem como
parâmetro para os dados que serão expostos. A segunda parte será dedicada à análise
dos dados, onde serão verificados: a) quais os temas gerais que foram veiculados nos
portais; b) os temas de campanha mais adotados; c) a quantidade de citações aos
candidatos nas páginas dos portais no Facebook; e, por último, d) a valência atribuída aos
presidenciáveis pelos portais. A terceira parte destina-se as conclusões que esta pesquisa
permite aferir.
1. Discussão conceitual
Os meios de comunicação são tanto o principal canal de acesso dos cidadãos às
informações de que precisa para agir na esfera política quanto o principal instrumento dos
líderes políticos para a divulgação de suas mensagens, projetos, temas para a agenda
pública, em suma, para a batalha política crucial, a construção de vontades coletivas (ou,
dito de outra maneira, a luta pela hegemonia) (MIGUEL, 2000). Ocupa uma posição
central na arena política das sociedades contemporâneas (MIGUEL, 2000). Além disto,
representa um espaço onde a realidade política pode ser ampliada e que, por
consequência, impacta a democracia (CERVI, 2006).
No que tange as eleições, sabe-se que há uma expressiva variação das intenções
de voto dos candidatos durante o período eleitoral, as causas desta variação estão
ligados a fatores externos, como, por exemplo, às campanhas produzidas pelos
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candidatos, a cobertura que a imprensa faz das campanhas, os eventos, os
acontecimentos (políticos, econômicos ou sociais), todas essas causas apontadas se
fundam na forma em que os eleitores utilizam as informações políticas para tomarem suas
decisões e definirem o voto (MUNDIM, 2010).
Os meios de comunicação na cobertura eleitoral possuem duas opções, a
primeira consistente em assumir uma ideologia política e a segunda se autoproclamar
como um veículo de comunicação imparcial. A mídia brasileira tende a optar pelo segundo
caminho, ou seja, declaram-se imparciais na produção da notícia (AZEVEDO, 2001;
CERVI et al, 2011). Na cobertura eleitoral é necessário, portanto, que haja um cuidado
para que o meio midiático ofereça para o leitor informações completas e neutras,
inclusive, devendo-se atentar aos candidatos à reeleição, que tendem a ocupar mais as
notícias, justamente por fazerem parte da atual gestão (CERVI et al, 2009).
A mídia possui um papel relevante no debate eleitoral, atua nos momentos que
antecedem, durante e subsequentes à campanha, propiciando muitas das vezes uma
prestação de contas. É neste ponto que entram os jornais, porque como uma importante
mídia tradicional, são capazes de agendar temas e enquadra-los de modo a dar maior
ênfase a determinados assuntos relacionados à política. Em relação aos formatos
impresso e online é importante fazer uma distinção, no primeiro, prepondera à atividade
de seleção de fatos durante o processo de produção da notícia, no segundo, a
noticiabilidade valoriza a resposta mais rápida dada aos fatos (BORGES, 2008).
A internet integra as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC),
constituindo-se como uma importante fonte de transmissão de informação. Oferece um
recurso capaz de atingir cada vez mais uma participação virtual ativa, bem como
fortalecer o processo democrático (MAIA, 2001; GOMES, 2005; PEIXOTO e RIBEIRO,
2009; FREIRE e SALES, 2010). Atua como uma mídia no sentido restrito do termo, isto é,
um suporte tecnológico para a comunicação, capaz de mobilizar os recursos da escrita,
imagem e som, em razão do caráter multimídia (MAIGRET, 2010). Por este motivo a
demanda por informações na internet é motivada pela praticidade, rapidez e comodidade
de acesso tendo em vista que a linguagem digital permite que ela seja guardada,
armazenada, recuperada, processada e transmitida, dinamizando o seu fluxo e alterando
os modos de disseminar o conhecimento (BARBALHO, 2004).
As relações sociais não estão mais limitadas à esfera local onde acontecem, elas
são invariavelmente influenciadas pela cultura e expressão de indivíduos que estão em
múltiplos lugares, uma vez que a rede permite a conexão imediata entre pessoas de
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dessemelhantes nacionalidades, sendo o tempo e distância entraves superados (LEMOS,
2010). Desta forma, as mídias, tais como jornais impressos, revistas, televisão, rádios,
migram no todo ou em parte seu conteúdo na internet, objetivando uma circulação maior
da notícia. Assim, os veículos de comunicação planejam estratégias para atrair leitores
para a plataforma web. Uma dessas estratégias consiste em postar links para as
principais notícias em redes sociais como o Facebook e o Twitter. As mídias sociais
potencializam o efeito de circulação das notícias, pois possibilitam o compartilhamento
destas matérias pelos usuários em seus perfis pessoais (ZAGO e BASTOS, 2013).
Desta forma, sintetizando a contextualização a respeito das novas mídias, temos
que estas acrescentam para o debate eleitoral. Inclusive, é possível ver a utilização das
novas mídias nas eleições atuais, sejam através dos portais informativos em plataforma
web para a circulação de informações, sejam através de redes sociais (sites pessoais dos
candidatos, Facebook, Twitter, Instragram, dentre outros) (MASSUCHIN e CERVI, 2012).
Os meios de comunicação representam, portanto, uma ferramenta capaz de
transmitir informações aos leitores, e para que esta relação seja democrática é necessário
que aquilo que é repassado, seja feito de forma objetiva e imparcial, principalmente
quando relacionado a cobertura eleitoral.
Tecidas essas breves considerações a respeito da teoria dos meios de
comunicação, bem como das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC),
passamos a uma revisão dos estudos empíricos que, assim como esta pesquisa,
analisam a cobertura eleitoral.
A relação jornal impresso e cobertura eleitoral era analisada frequentemente
pelos estudiosos da área da comunicação política. Posteriormente, com o avanço da
internet, os jornais impressos perderam um pouco da força, dando lugar ao estudo dos
portais e das redes sociais. Porém, muitas conclusões a respeito da análise dos jornais
impressos e da cobertura eleitoral podem servir como base para os conteúdos web. Neste
ponto, destacamos alguns resultados de pesquisas para traçar um comparativo com os
dados que serão apresentados neste trabalho.
Cervi, Souza e Barretta (2011) analisaram como o jornal Folha de S. Paulo cobriu
as eleições presidenciais em 2006 e 2010. Concluíram que no ano de 2006 o jornal FSP
dispôs de um tratamento diferenciado em relação aos candidatos Lula e Alckmin, porque
ainda que tenha oferecido uma cobertura semelhante aos candidatos presidenciais, o
ritmo de crescimento nas aparições no Jornal foi maior para Lula do que para Alckmin. No
entanto o candidato do PSDB teve um crescimento maior das matérias com valência
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positiva. Já no ano de 2010, o tratamento dispensado aos candidatos presidenciais Dilma
e Serra foi semelhante, não apresentando diferenças significativas quanto ao número de
citações e valência positiva, porém a valência negativa mereceu destaque, porque
enquanto Serra teve um crescimento no número de matérias com valência negativa no
período pré-eleitoral e primeiro turno, com queda no segundo, a candidata Dilma teve um
crescimento tanto no primeiro, quanto no segundo turno. Assim, os autores concluíram
que a imparcialidade se deu apenas no volume da cobertura, porque através dos dados
estatísticos foi possível observar um tratamento diferenciado entre os candidatos à
presidência do PT e PSDB nas eleições de 2006 e 2010.
Saisi (2011) analisou o papel da imprensa através dos jornais Folha S. Paulo e O
Estado de S. Paulo na campanha presidencial de 2010. A autora concluiu que os jornais
deram espaço apenas aos candidatos que ocupavam os primeiros lugares das pesquisas.
E apesar de não se posicionar claramente a favor de determinado candidato, os veículos
impressos criaram mitos políticos para relacionar aos candidatos presidenciáveis, por
exemplo, “Dilma a mãe da política”.
Estas pesquisas ilustram apenas uma parcela dos estudos de comunicação
política, havendo ainda várias outras vertentes, principalmente em relação à ferramenta
das redes sociais (PENTEADO, 2012; FERREIRA e VELOSO, 2014; RAMALDES, 2012;
MARTINS e DA SILVA, 2015; LUNES, 2012), como será o objeto de estudo deste
trabalho. Destaca-se que as mídias sociais são utilizadas tanto pelos candidatos à
disputa, quanto pelos portais de informação. Em ambas as formas se objetiva uma maior
aproximação com o usuário, e mais uma circulação ampla das notícias relacionadas à
disputa eleitoral.
Na seção seguinte é apresentada a análise dos dados empíricos no que tange à
cobertura eleitoral feita pelos portais jornalísticos Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo
durante as eleições presidenciais de 2014, através de suas páginas na rede social
Facebook.
2. A cobertura eleitoral em números
A análise dos dados da cobertura eleitoral está dividida em dois momentos: no
primeiro são apresentados os números gerais quanto aos temas predominantes nas
postagens dos portais e o tipo de cobertura dada à campanha; já no segundo, o foco é na
maneira com que os candidatos foram tratados, tanto em termos de espaço destinado
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quanto em valência. Vale lembrar que o presente trabalho analisa apenas o conteúdo
presente nas postagens das páginas do Facebook dos portais e não no conteúdo das
matérias jornalísticas ao qual a postagem levava. Portanto, trata-se do material escrito
para apresentar a notícia aos usuários da rede social.
O método empregado para a pesquisa foi a análise de conteúdo a partir de
estatísticas descritivas. Para indicar relação entre as variáveis, adotou-se o teste do Qui-
quadrado, indicado para observar se a distribuição dos casos dentro das categorias deu-
se de maneira independente (ou seja, uma variável não exerceu influência sobre a outra)
ou dependente (no caso de uma variável estar relacionada à outra). Nos casos em que o
Qui-quadrado apontou dependência estatística entre as variáveis foram realizados mais
dois testes adicionais. O primeiro deles é o Cramer’s V, indicado para apontar a força da
relação entre as variáveis. Já o segundo teste indica os pares de categorias que estão
estatisticamente associadas e que, portanto, fazem com que as variáveis relacionem-se.
A este teste dá-se o nome de Resíduos Padronizados.
A primeira variável utilizada no trabalho foi denominada “tema geral’. Com ela é
possível observar os assuntos que estiveram mais presentes nas publicações dos três
veículos selecionados para a pesquisa e também o espaço que a campanha presidencial
recebeu. Tendo em vista a relevância deste tema, espera-se que os portais tenham
promovido o agendamento desta discussão no debate público. Para a codificação das
postagens foram adotadas treze possibilidades temáticas, são elas: campanha eleitoral,
político-institucional, economia, saúde, educação, violência e segurança, infraestrutura
urbana, meio ambiente, carentes e minorias, variedades e cultura, internacional, esportes
e ético-moral. Ressalta-se que nesta codificação todas as publicações que mencionavam
um dos três principais candidatos à presidência (a saber, Dilma Rousseff, Aécio Neves e
Eduardo Campo / Marina Silva) foram consideradas como campanha eleitoral. Já as
postagens que tratavam de eleições regionais ou que não citavam nenhum dos principais
candidatos foram classificadas como político-institucional.
A tabela 1 sumariza as principais informações a respeito da aparição dos temas
gerais nas postagens da Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo.
TABELA 1 - Temas gerais por página de portal
Temas Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
Variedades
N 1.596 1.411 1.336 4.343
% 29,3% 28,9% 37,6% 31,3%
Rp -2,60 -2,97 6,70
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Político institucional
N 634 593 419 1.646
% 11,6% 12,1% 11,8% 11,9%
Rp -0,46 0,59 -0,13
Campanha eleitoral
N 882 431 154 1.467
% 16,2% 8,8% 4,3% 10,6%
Rp 12,78 -3,73 -11,44
Esportes
N 538 565 301 1.404
% 9,9% 11,6% 8,5% 10,1%
Rp -0,54 3,21 -3,09
Internacional
N 503 312 486 1.301
% 9,2% 6,4% 13,7% 9,4%
Rp -0,32 -6,80 8,37
Economia
N 289 539 155 983
% 5,3% 11,0% 4,4% 7,1%
Rp -4,92 10,40 -6,10
Saúde
N 154 271 210 635
% 2,8% 5,6% 5,9% 4,6%
Rp -6,02 3,19 3,71
Violência
N 233 176 133 542
% 4,3% 3,6% 3,7% 3,9%
Rp 1,40 -1,06 -0,50
Ético-moral
N 166 139 120 425
% 3,0% 2,8% 3,4% 3,1%
Rp -0,05 -0,85 1,07
Infraestrutura urbana
N 192 165 42 399
% 3,5% 3,4% 1,2% 2,9%
Rp 2,84 2,09 -5,96
Meio-ambiente
N 125 143 80 348
% 2,3% 2,9% 2,2% 2,5%
Rp -0,98 1,87 -0,97
Educação
N 79 78 70 227
% 1,5% 1,6% 2,0% 1,6%
Rp -1,06 -0,20 1,55
Carentes e minorias
N 55 59 51 165
% 1,0% 1,2% 1,4% 1,2%
Rp -1,21 0,13 1,34
Total N 5.446 4.882 3.557 13.885
% 100% 100% 100% 100%
Qui-quadrado: 800,947 (sig. 0,000)
Cramer's V: 0,170 (sig. 0,000)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).
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Na tabela 1 é possível observar que o tema variedades e cultura predominou nas
postagens para os três portais. Ao todo, foram 4.343 postagens, que representam 31% do
total publicado. O veículo que mais abordou esta temática foi O Globo, com 37,6% das
suas entradas, seguido por Folha de S. Paulo, com 29,3% e Estadão, com 28,9%. Em
variedades e cultura são encontradas notícias sobre celebridades, cinema, previsão do
tempo, humor, dentre outros. Em seguida aparece político institucional como o segundo
tema mais noticiado, com 11,9% do total da soma dos portais.
A campanha eleitoral aparece como terceiro tema mais abordado, entretanto, isto
deve ser ponderado para cada veículo de maneira diferente, já que o tema ganhou
notoriedade específica entre eles. Na página da Folha de S. Paulo no Facebook, por
exemplo, à campanha presidencial aparece como o segundo tema mais noticiado, com
16,2% das postagens. No Estadão, por sua vez, ela é o quinto objeto mais tratado, com
8,8%, atrás de variedades e cultura, político-institucional, esportes e economia. Já no
Globo, apenas 4,3% das publicações referiam-se ao tema campanha eleitoral, atrás de
temas como variedades e cultura, internacional, político-institucional, esportes, saúde e
economia. Ou seja, a terceira colocação ocupada pela campanha eleitoral está muito
ligada ao elevado número de entradas feitas pela Folha de S. Paulo e do Estadão.
O teste do Qui-quadrado, com sig. 0,000 (abaixo do limite crítico de 0,050 a um
intervalo de confiança de 95%), indica que há dependência entre as variáveis e que
portanto a distribuição dos casos não é aleatória. Já o coeficiente do Cramer’s V de 0,170
pode ser interpretado como uma relação de 17% entre as variáveis portal e tema geral, ou
seja, uma baixa relação entre as variáveis.
Em relação aos resíduos padronizados, apresentados na tabela de maneira
abreviada como “Rp”, estes devem ser entendidos como um valor padronizado (ou seja,
transformados para uma mesma dimensão) que indica se um par de categorias têm mais
ou menos casos do que o esperado em uma distribuição independente. Este valor só
apresenta valor estatístico se seu coeficiente estiver acima de ±1,96. Em outras palavras,
os resíduos que superam esta marca são considerados os casos sobre representados (se
acima de 1,96) ou sub-representados (se acima de -1,96) na tabela. Os três maiores
resíduos de cada portal foram realçados para facilitar a sua visualização. O maior valor,
de 12,78, aparece para a Folha de S. Paulo e o tema campanha eleitoral. Isto indica que
há uma grande concentração de casos neste par de categorias e que este tema está
representado acima do que seria esperado tendo em vista a forma com que estão
distribuídos os casos. Na sequência aparece o resíduo de -11,44 para O Globo, na
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mesma temática do anterior, comprovando que o espaço destinado à campanha foi
significativamente baixo nas postagens deste portal. Já o terceiro maior resíduo é do
Estadão, com o tema economia e um valor de 10,40, sugerindo alta publicação nesta
temática. Entretanto, em relação à cobertura eleitoral, o resíduo do Estadão é negativo e
estatisticamente significativo (-3,73). Neste sentido, a aparição da campanha eleitoral nas
postagens do Estadão teve uma presença baixa.
Ademais, pode-se concluir que mesmo com o alto volume de postagens para
variedades e cultura, o único portal que apresenta um resíduo positivo e significativo para
este tema é O Globo, que tem mais casos do que era esperado. Este fato, somado a alta
presença de postagens sobre questões internacionais, sugere que a escolha editorial do
portal dentro do Facebook não foi de privilegiar o debate público quanto às eleições
presidenciais, mas sim de abordar temas menos substantivos. O Estadão, mesmo com
elevado percentual de entradas destinadas à cobertura eleitoral, também optou por
destacar outros temas que não campanha, como economia e esportes. Por fim, a Folha
de S. Paulo foi o veículo que mais privilegiou a campanha eleitoral entre os três portais,
sendo decisiva para que o tema fosse o terceiro mais citado no total.
Em seguida, analisa-se a forma com que a campanha eleitoral foi abordada dentro
das postagens dos três portais. Com esta variável pretende-se indicar se cobertura
eleitoral, quando ocorre, é em verdade de temas realmente decisivos para fomentar o
debate público ou questões superficiais4. Esta variável somente é codificada quando a
anterior, tema geral, foi classificada como campanha eleitoral e ela apresenta oito
possibilidades válidas. São elas: i) evento de campanha, quando a postagem apenas
informa a agenda do candidato ou por ele esteve; ii) imagem política do candidato, ao
exibir o lado do candidato enquanto homem público; iii) imagem pessoal do candidato, ao
mostrar questões privadas do candidato; iv) imagem administrativa do candidato, nos
casos em que o competidor é apresentado pelas suas realizações enquanto gestor; v)
imagem do governo em disputa, quando são apresentadas na postagem questões
referentes ao governo federal; vi) imagem da campanha e eleitores, para notas sobre os
eleitores ou prazos relacionados a campanha em geral; vii) resultados pesquisa, ao tratar
de pesquisas eleitorais; por fim, viii) justiça eleitoral, em enunciados destinados a
divulgação de processos e decisões da justiça eleitoral.
4 Considerou-se para esta pesquisa temas relevantes: imagem política do candidato, imagem administrativa
do candidato, imagem do governo em disputa e justiça eleitoral. Os demais, por sua vez, foram considerados temas de menor importância para a qualidade do debate público.
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A tabela 2 sumariza as estatísticas descritivas quanto aos temas de campanha
tratados nas postagens e os respectivos veículos que a abordaram.
TABELA 2 - Temas de campanha por páginas dos jornais
Tema de campanha Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
Imagem política dos candidatos
N 229 183 40 452
% 31,5% 50,3% 32,3% 37,2%
Rp -2,53 4,10 -0,90
Imagem da campanha e eleitores
N 133 54 15 202
% 18,3% 14,8% 12,1% 16,6%
Rp 1,10 -0,83 -1,23
Agenda de campanha
N 122 32 22 176
% 16,8% 8,8% 17,7% 14,5%
Rp 1,62 -2,85 0,96
Resultados de pesquisas
N 88 26 23 137
% 12,1% 7,1% 18,5% 11,3%
Rp 0,66 -2,34 2,42
Imagem administrativa dos candidatos
N 50 29 11 90
% 6,9% 8,0% 8,9% 7,4%
Rp -0,53 0,40 0,60
Imagem pessoal dos candidatos
N 63 15 7 85
% 8,7% 4,1% 5,6% 7,0%
Rp 1,70 -2,07 -0,57
Imagem do governo em disputa
N 27 22 2 51
% 3,7% 6,0% 1,6% 4,2%
Rp -0,64 1,72 -1,40
Justiça eleitoral
N 16 3 4 23
% 2,2% ,8% 3,2% 1,9%
Rp 0,60 -1,48 1,08
Total N 728 364 124 1.216
% 100% 100% 100% 100%
Qui-quadrado: 68,219 (sig. 0,000)
Cramer's V: 0,167 (sig. 0,000)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).
De saída é possível constatar que o tema mais noticiado pelas páginas dos portais
no Facebook foi imagem política dos candidatos, com 37,2% dos 1.216 posts sobre
campanha eleitoral, seguido de imagem da campanha e eleitores (16,6%), agenda de
campanha (14,5%) e resultados de pesquisas (11,3%). Considerando a classificação dos
assuntos proposta para este trabalho, pode-se afirmar que a cobertura nas postagens dos
portais foi majoritariamente composta de temas incipientes, que não contribuem para a
qualidade do debate público.
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O teste do Qui-quadrado apontou novamente para a existência de dependência
entre as variáveis, ou seja, a distribuição dos casos entre as categorias não se deu de
forma aleatória, mas sim por meio da influência de uma variável sobre a outra. Já o
Cramer’s V aponta para uma relação de 16,7% entre variáveis (muito próximo a de 17%
constatada para tema geral e portal, na tabela 1). Mais uma vez o coeficiente indicou uma
baixa relação entre as variáveis. Em relação aos resíduos padronizados, verifica-se o
maior valor (4,10) para o portal Estadão e o tema imagem política dos candidatos, ou
seja, analisando o conjunto de casos a maior sobre representação está neste par de
categorias. Tendo em vista que este é um tema relevante para o debate e que o Estadão
destinou mais da metade de suas postagens a ele (50,3% do total), é possível afirmar que
a página deste portal no Facebook contribuiu para o debate público, agendando temas
relevantes. Ao todo, 63,2% das postagens do Estadão foram tematizadas em relação aos
temas considerados importantes para o debate. Corroborando mais ainda com esta
afirmação estão os resíduos negativos e estatisticamente significativos de agenda de
pesquisa (-2,85) e resultados de pesquisas (-2,34). Eles apontam para uma quantia
menor de casos do que a esperada caso a distribuição dos casos fosse independente.
A Folha de S. Paulo, por sua vez, apresentou apenas um resíduo significativo. O
valor de -2,53 em imagem política do candidato mostra que este portal esteve sub-
representado nesta categoria. A soma dos quatros temas considerados de menor
relevância para o debate atingiu 55,9% das postagens, indicando que a cobertura da
Folha de S. Paulo, apesar de intensa se comparada aos demais veículos, foi
predominantemente constituída de temas que agregam menor qualidade ao debate
público. Neste mesmo sentido aparece O Globo, apresentando 53,3% das postagens a
temas de menor profundidade. Os resíduos padronizados apontam para uma
concentração de casos no tema resultados de pesquisas (também considerado tema de
menor importância para o debate público).
Destas duas primeiras variáveis analisadas é possível concluir que a Folha de S.
Paulo foi o portal que mais destinou postagens ao tema campanha eleitoral. Contudo, a
opção do veículo não foi privilegiar temas de maior relevância, destinando espaços
semelhantes para questões superficiais e profundas do debate eleitoral. Já o Estadão,
mesmo apresentando menos informações sobre a corrida presidencial, quando o fez foi
sobretudo por meio de notícias relevantes para o debate. Por fim, O Globo deu mínimo
atenção para a campanha e privilegiou temas mais rasos, pouco contribuindo para o
debate público na rede social Facebook.
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Encerradas as análises quanto a tematização dos portais, passa-se para a
segunda parte do estudo, em que o foco é a forma com que os veículos noticiaram os
candidatos em termos de espaço dado e às valências destinadas a eles.
A tabela 3 contém a quantidade de citações que cada um dos três principais
candidatos recebeu nas postagens dos portais no Facebook. Cabe lembrar que o estudo
leva em conta tanto o primeiro quanto o segundo turno da eleição presidencial e que o
período compreendido da coleta de dados foi de 01/07/2014 a 31/10/2014 (quinto dia
após a realização do segundo turno das eleições).
TABELA 3 – Quantidade de citações aos candidatos nas páginas do Facebook
Candidato Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
N % N % N % N %
Dilma Rousseff 458 40,0% 237 40,1% 87 43,1% 782 40,3%
Eduardo / Marina 363 31,7% 199 33,7% 52 25,7% 614 31,7%
Aécio Neves 325 28,4% 155 26,2% 63 31,2% 543 28,0%
Total 1146 100% 591 100% 202 100% 1939 100%
Qui-quadrado: 4,860 (< 11,070)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP)
A primeira informação que atrai atenção na tabela 3 é quanto ao número de
citações do candidato Aécio Neves. Este, mesmo tendo disputado o segundo turno contra
a candidata Dilma Rousseff, foi menos citado que Marina Silva (esta, derrotada logo no
primeiro turno das eleições. Enquanto Aécio recebeu 543 menções nas postagens dos
três portais (28% do total), Marina teve 614 citações (31,7%). A candidata Dilma, por sua
vez, como já era possível esperar, foi a concorrente mais lembrada. Acredita-se que este
fato seja explicado em razão do acumulo do cargo de Presidente da República e
candidata à reeleição. Portanto, era a figura de maior visibilidade, sendo mencionada
tanto enquanto ocupante do cargo máximo do Estado brasileiro quanto competidora na
eleição.
No que concerne à cobertura que cada veículo deu aos candidatos, apenas O
Globo apresenta números distintos, fornecendo maior espaço a Aécio Neves (31,2% das
citações) do que a Marina Silva (25,7%). Já a cobertura de Folha de S. Paulo e Estadão
foram muito semelhantes, já que Dilma tem praticamente o mesmo percentual de
citações, Aécio recebeu 28,4% do espaço no primeiro e 26,2% no segundo e Marina tem
31,7% das menções na Folha de S. Paulo e 33,7% no Estadão. A similaridade dos portais
na quantidade de citações aos candidatos é comprovada pelo teste Qui-quadrado, que
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apresentou coeficiente de 4,860 (muito abaixo do limite crítico de 11,070 para um
intervalo de confiança de 95%). Ou seja, não é possível afirmar que existem diferenças
estatisticamente significativas na distribuição dos casos. Em outras palavras ainda, uma
variável não está produzindo efeito sobre a outra, já que a mudança em uma categoria de
dada variável não produz alteração sobre a outra.
Diante disso é possível afirmar que os portais citaram de forma semelhante em
suas postagens os candidatos de oposição ao governo, muito embora apenas um deles
tenha disputado os dois turnos da eleição. Já a candidata à reeleição teve maior número
de menções, o que sugere-se como resultado de seu duplo-papel desempenhado durante
o período eleitoral. Em seguida serão apresentados os números em relação à valência
recebida pelos três candidatos.
TABELA 4 - Valências de Dilma na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo
Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
Positiva
N 92 33 17 142
% 20,1% 13,9% 19,5% 18,2%
Rp 0,97 -1,53 0,30
Negativa
N 124 56 23 203
% 27,1% 23,6% 26,4% 26,0%
Rp 0,47 -0,70 0,09
Neutra
N 230 132 47 409
% 50,2% 55,7% 54,0% 52,3%
Rp -0,62 0,72 0,22
Equilibrada
N 12 16 0 28
% 2,6% 6,8% 0,0% 3,6%
Rp -1,09 2,58 -1,76
Total N 458 237 87 782
% 100% 100% 100% 100%
Qui-quadrado: 15,993 (sig. 0,14)
Cramer's V: 0,101 (sig. 0,14)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).
A tabela 4 sumariza a distribuição das valências destinadas à Dilma nas postagens
dos três portais. Como é possível visualizar, a maior concentração de casos está em
valências neutras, que em nenhum dos casos aparece com menos da metade das
valências Ou seja, em relação as postagens dos portais, a cobertura para a candidata
Dilma foi em sua maior parte neutra. O teste do Qui-quadrado mostra que a distribuição
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dos casos não aleatória e que há dependência entre as variáveis, mas o Cramer’s V
aponta para uma baixíssima relação entre elas (10,1%). Os resíduos padronizados, por
sua vez, apontam para uma concentração de casos acima do esperado apenas em
relação à valência neutra e o portal Estadão.
Ao olhar apenas para os percentuais, vê-se uma pequena tendência dos portais em
citar mais negativamente do que positivamente a candidata Dilma. Tanto Folha de S.
Paulo quanto O Globo apresentam 7% a mais de menções negativas do que positivas,
enquanto que no Estadão este valor sobe para 10%. Entretanto, conforme antecipado,
não há uma forte relação entre estas duas variáveis e os resíduos padronizados não
apontam para uma concentração de casos estatisticamente significativa associada a uma
valência positiva ou negativa e um portal.
TABELA 5 - Valências para Aécio na Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo
Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
Positiva N 77 25 15 117
% 23,7% 16,1% 23,8% 21,5%
Negativa N 88 33 10 131
% 27,1% 21,3% 15,9% 24,1%
Neutra N 149 89 36 274
% 45,8% 57,4% 57,1% 50,5%
Equilibrada N 11 8 2 21
% 3,4% 5,2% 3,2% 3,9%
Total N 325 155 63 543
% 100% 100% 100% 100%
Qui-quadrado: 10,785 (sig. 0,095)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).
Na tabela 5 encontram-se as distribuições de valências para o candidato Aécio
Neves. O que se vê novamente é uma cobertura majoritariamente neutra e com poucos
casos de valência equilibrada. O teste do Qui-quadrado indica um coeficiente de 10,785,
abaixo do limite crítico, que impede a afirmação de que os casos estão se distribuindo de
maneira dependente entre as categorias, ou seja, não há relação estatisticamente
significativa entre as variáveis. Nestes casos, não há indicação estatística de realização
de testes como o Cramer’s V e os resíduos padronizados, já que a relação entre as
variáveis é baixa.
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A principal novidade entre as menções dedicadas a Aécio dizem respeito a
cobertura feita pelo portal O Globo. Neste veículo, apesar do domínio de citações neutras,
a valência positiva supera a negativa em praticamente 8%, enquanto que na Folha de S.
Paulo as negativas são superiores as positivas em pouco mais de 3% e em pouco mais
de 5% no Estadão. Este novo elemento mantém O Globo como uma página que destoou
das demais na cobertura eleitoral de 2014, isto porque, além de ter dado maior espaço
para Aécio do que os outros dois portais analisados, este veículo inverte a lógica até
então apresentada de predomínio de citações negativas aos candidatos.
TABELA 6 - Valências para Eduardo/Marina nas postagens do Facebook
Valência Folha de S. Paulo Estadão O Globo Total
Positiva N 56 32 7 95
% 15,5% 16,1% 13,5% 15,5%
Negativa N 87 41 10 138
% 24,0% 20,6% 19,2% 22,5%
Neutra N 213 120 35 368
% 58,8% 60,3% 67,3% 60,0%
Equilibrada N 6 6 0 12
% 1,7% 3,0% 0,0% 2,0%
Total N 362 199 52 613
% 100% 100% 100% 100%
Qui-quadrado: 3,994 (sig. 0,678)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP).
Por fim, a tabela 6 apresenta as valências de Eduardo Campos/Marina Silva
durante a cobertura eleitoral no Facebook. Como já havia sido constatado para os dois
primeiros candidatos, as menções destes três portais foram em sua maioria neutra,
seguida de negativa, positiva e equilibrada. Para Marina Silva observa-se o mesmo
quadro do apresentado para Dilma Rouseff: todos os portais citaram mais a candidata de
maneira negativa do que positiva (diferentemente do que foi visto em relação a Aécio
Neves). Em relação ao teste do Qui-quadrado, mais uma vez o coeficiente apontou para
ausência de dependência entre as variáveis, tornando inútil a realização do Cramer’s V e
dos resíduos padronizados.
No que tange às valências dedicadas pelos portais, por meio do Facebook, aos
candidatos, notou-se que a atuação da Folha de S. Paulo e Estadão foi muito semelhante:
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ambos destacaram mais negativa do que positivamente os candidatos quando estes
foram mencionados. Já O Globo tratou de maneira semelhante Dilma e Marina, mas
dedicou mais valências positivas do que negativas a Aécio. Infelizmente não foi possível
aprofundar as análises por meio dos métodos estatísticos adotados para a pesquisa, já
que o teste Qui-quadrado não apontou dependência entre as variáveis nos casos das
valências de Aécio e Marina.
Notas conclusivas
Através deste trabalho tentou-se realizar alguns apontamentos quanto à forma com
que as páginas de Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo no Facebook cobriram as
eleições presidenciais de 2014. Uma primeira conclusão informa que os dois últimos
portais não deram grande destaque em suas publicações à campanha eleitoral,
noticiando-a de maneira lateral. A cobertura do O Globo, entretanto, apresentou um
percentual ainda menor de postagens, privilegiando temas como variedades e cultura e
internacional. A Folha de S. Paulo, por sua vez, deu destaque positivo e estatisticamente
significativo à corrida presidencial, sendo o portal que mais contribuiu com o debate
eleitoral em termos gerais.
Os temas de campanha foram utilizados como um segundo critério para medir o
quanto as postagens dos portais contribuíram para o debate público. Nesta variável foi
possível constatar que o Estadão foi o único a privilegiar os temas aqui classificados
como contendo maior quantidade de informações para o debate público. A Folha de S.
Paulo, mesmo sendo o veículo que mais agendou a campanha eleitoral, dedicou menor
espaço para temas de maior relevância. Já O Globo distribui de maneira quase que
igualitária a quantidade de entradas para temas relevantes e de menor importância, mas
foi ainda estes que predominaram.
Em relação à quantidade de citações e valências, o comportamento dos três
veículos foi muito semelhante. O único portal a apresentar comportamento distinto foi O
Globo ao ter citado mais vezes Aécio Neves do que Marina Silva e a destinar mais
valências positivas do que negativas a Aécio. Um fato que chamou atenção foi a
quantidade elevada de citações que Marina recebeu nos três portais, que somados
superaram as citações a Aécio (candidato este que este esteve presente no segundo
turno eleitoral, ao contrário de Marina.
De maneira geral é possível afirmar que Folha de S. Paulo e Estadão tiveram um
comportamento semelhante na cobertura eleitora através do Facebook, com a diferença
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de que o tema assumiu maior preponderância no primeiro do que no segundo, mas que a
maior quantidade de entradas relevantes esteve no segundo. Pelas informações das
quais este trabalho dispõe pode-se afirmar que a cobertura destes dois portais foi
imparcial, de maneira geral, já que a mesma política crítica foi adotada para os três
candidatos. Já O Globo contribui de maneira menos efetiva ao debate, dedicando pouco
espaço à corrida presidencial, noticiando temas menos relevantes em relação a
campanha e dedicando espaço e valência diferenciada somente ao candidato Aécio
Neves.
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WEBLEITORES, ELEITORES E COMENTADORES:
Uma análise do debate público no Facebook d’O Estadão durante a campanha
presidencial de 20145
Fernanda Cavassana de Carvalho6
Isabele Batista Mitozo7
Michele Goulart Massuchin8
RESUMO
Devido à adesão dos veículos de comunicação às redes sociais, o debate público passa a ter nova arena para seu desenvolvimento. O presente trabalho tem por objetivo analisar como os comentadores da página d’O Estadão no Facebook se comportaram como comentadores de posts que faziam menção direta a, pelo menos, um dos três principais presidenciáveis em 2014, também mencionando tais candidatos, durante o primeiro turno. Procura-se, especificamente, verificar 1) que posturas esses webleitores mais tomaram durante a discussão (se monológica ou recíproca em relação a outros comentadores) e 2) se eles persuadiram, progrediram ou radicalizaram no decorrer do debate. Para tanto, a metodologia adotada foi a análise de conteúdo quantitativa, tendo-se utilizado testes estatísticos para verificar as relações tanto entre a página observada e o perfil de seu comentador em relação às categorias das variáveis estudadas, assim como a relação entre cada categoria e a citação dos candidatos no comentário. Como resultado, pode-se observar que o Estadão, além de possuir um comentador mais propício ao debate, agrega mais eleitores dispostos a persuadir, mas, com maior tendência à radicalização, quando mencionam Dilma Rousseff, e ao progresso, quando citam Eduardo Campos ou Marina Silva.
Palavras-chave: Debate público; Eleições Presidenciais 2014; O Estado de S. Paulo; Facebook
Introdução
Os estudos acerca das relações entre internet e debate público têm se voltado para um
novo campo a princípio mais aberto e, portanto, propício a discussões: as redes sociais
digitais. Se observarmos, por exemplo, a quantidade de trabalhos que têm sido
apresentados nos últimos congressos e publicados em periódicos da área de internet e
política, é notável o quanto as investigações acerca, especialmente, de Facebook e
Twitter estão crescendo e tornando-se tendência.
Este trabalho, por sua vez, endossa essa subárea e procura estudar a relação
específica entre o debate que o jornalismo suscita, atualmente, entre seus webleitores, a
partir do momento em que adentra as redes sociais, em que é permitido a atores sociais
5 Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de pesquisa em
Comunicação Política e Opinião Pública, da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR). 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, PPGCOM-UFPR.
[email protected] 7 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected]
8 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos –
UFSCAR. [email protected]
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comentarem o que é postado pelas páginas dos veículos de comunicação. De forma mais
específica, o objetivo do artigo é apresentar uma investigação acerca de como se
comportou o comentarista-eleitor dos posts difundidos pela página d’O Estadão no
Facebook tendo como metodologia a análise de conteúdo quantitativa, que terá como
foco a análise das variáveis 1) postura do comentador (se responde ou não a outros
comentadores), conforme classificação de Dahlberg (2002) e 2) reflexividade, seguindo o
que teoriza e aplica Jensen (2003), em seu estudo. Tais variáveis serão, ainda, cruzadas
com a citação de cada candidato, a fim de indicar quando o diálogo se desenvolve de
forma mais ampla em relação à citação de um candidato, assim como o tipo de
reflexividade que mais se expressa nessa mesma relação.
O período em estudo comporta 13 semanas que compõem o primeiro turno das
eleições presidenciais (julho-setembro/20149) e tem como unidade de análise os
comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais
presidenciáveis, feitos a posts que, igualmente, citavam um deles. Assim, trabalhou-se
com 63.730 comentários. Os resultados apresentam que O Estadão, além de ser um
veículo que gera debate entre os comentadores de seus posts no Facebook, também
agrega distintos posicionamentos políticos dos eleitores enquanto comentadores.
1. Jornalismo e debate nas redes sociais online
O jornalismo pode ser considerado um elemento imprescindível ao jogo político,
interferindo na forma como a política se desenvolve (MONT’ALVERNE; MARQUES, 2013)
e no debate público, sendo até chamado por alguns de novo “quarto poder”, como uma
espécie de “poder moderador” (ALBUQUERQUE, 2000). Sua forma de alcançar o leitor,
porém, foi durante muito tempo unilateral: os veículos de comunicação de massa
assumiam o papel de emissores, enquanto ao público restava a função de receptor da
mensagem.
Esta visão do poder dos veículos de mídia passa a ser superada quando
consideramos características próprias da comunicação via web, como a descentralização
da produção de conteúdo, a multidirecionalidade e a interatividade. É fato que a internet
possibilitou grandes mudanças na comunicação em comparação com as mídias de
9 São considerados os comentários feitos aos posts, sobre a disputa presidencial, de 1 de julho a 29 de
setembro de 2014. O dia 30 de setembro faz parte da semana 14, última semana do primeiro turno, não incluída nesta análise, porque o banco de outubro encontra-se em fase de finalização.
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massa, como a televisão e o rádio, mas, assim como o público está presente na internet,
os veículos tradicionais também estão. Na rede, exploram as ferramentas possíveis para
compartilhar seu produto – a notícia – muitas vezes com o conteúdo modificado pela
interação de seu leitor, ativo, principalmente, nas redes sociais.
Assim, a presença dos veículos jornalísticos na web, e em suas diversas
plataformas como o Facebook, acaba propiciando uma nova configuração da forma a
partir da qual a audiência recebe e interage com o que é publicado. E esse é um fator
importante quando se pretende estudar debate público, já que, agora, o leitor não é mero
receptor a discutir com parentes ou vizinhos acerca do que o jornal pautou: ele pode
questionar diretamente a notícia, bem como debater com outros webleitores online.
A interatividade do webleitor com o jornal traz novas possibilidades para
pesquisas que desejam compreender a influência do conteúdo jornalístico no debate
público. Em redes sociais digitais, por exemplo, os comentários nos posts dos veículos
podem se tornar objetos que revelem, ao menos em parte, como se dá a recepção da
notícia compartilhada. Na perspectiva de Braga (2006), há um sistema de interações
sociais sobre a mídia, caracterizado por uma circulação diferida e difusa, que se dá após
o consumo da informação midiatizada. As pessoas passam a comentar e debater o que
viram na mídia e, a partir disso, “as proposições circulam evidentemente trabalhadas,
tensionadas, manipuladas, reinseridas nos contextos mais diversos” (BRAGA, 2006,
p.28).
Portanto, a partir de Braga (2006), os comentários dos webleitores em posts de
jornais nas redes sociais devem ser considerados como um dispositivo deste sistema de
interação social. Os dispositivos são formas socialmente geradas e tornadas
culturalmente disponíveis, “lugares materiais ou imateriais nos quais se inscrevem
(necessariamente) os textos” (MOUILLAUD apud BRAGA, 2006, p.40). O autor ainda
ressalta que a ocorrência dessas interações diretamente na mídia em que o conteúdo é
veiculado é importante, porque, deste modo, as interações podem ter efeitos sociais e
culturais mais abrangentes. Atualmente, a internet é a mídia mais escolhida para a
ocorrência destes dispositivos e as redes sociais potencializam tais ocorrências.
Se, por um lado, a possibilidade de interação entre jornal e webleitor existe, há
também a interação entre leitores, em que eles podem desenvolver uma conversação
(DAHLGREN, 2005) e, inclusive, tornarem-se politicamente ativos. Embora algumas
estratégias tenham apenas sido transportadas dos media tradicionais aos media digitais
(MARQUES et al., 2013), como a capacidade de enquadrar notícias, esses webleitores
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têm se tornado agentes cada vez mais importantes para a dinâmica da comunicação via
web, uma vez que podem escolher o veículo de comunicação que vão ler, pois os jornais
romperam com a barreira da distância estando em ambiente online e, portanto, concorrem
pela audiência entre si. Do mesmo modo, os leitores podem decidir conversar mais com
outros internautas que com as notícias, como apresentou o trabalho de Cervi (2013).
Os sites de redes sociais, mais especificamente, tomaram tanto o primeiro plano
das campanhas eleitorais quanto o da circulação de notícias jornalísticas. Isso porque,
além da maior potencialidade de circulação de conteúdo em relação aos websites e
portais, as redes agregam mais seguidores, pois são gratuitas ao usuário (o que não é o
caso de todos os portais jornalísticos, como a Folha de S. Paulo) e são consideradas,
pelo próprio público, um importante canal para se informar (BRASIL, 2014)10.
2. O Estadão no Facebook: análise dos comentários em posts do primeiro turno da campanha presidencial de 2014
Tendo como base a breve discussão teórica realizada na seção anterior, este
paper se concentra em compreender como os webleitores d’O Estadão agem na condição
de comentadores dos posts desse jornal em sua página oficial no Facebook.
A escolha da referida página como aquela a ser tomada para observação deu-se,
primeiramente, pela constatação em trabalho anterior (MITOZO; MASSUCHIN;
CARVALHO, 2015) do quanto O Estado de S.Paulo se destacou em relação aos outros
quality papers nacionais, Folha de S. Paulo e O Globo (MONT’ALVERNE; MARQUES,
2013), quanto ao notado maior nível de reciprocidade que seus comentadores
apresentaram.
Em segundo lugar, é interessante observar como O Estadão, sendo um jornal que
possui tradição em deixar explícito seu posicionamento político, assim como de destacar
o fato de separar opinião de informação, agrega mais reciprocidade entre os
comentadores. Por outro lado, vale ressaltar que esse jornal possui o portal online mais
democrático, por ter sido o primeiro dentre aqueles três maiores jornais nacionais a abrir a
possibilidade de se comentar, nele, suas notícias (CERVI, 2013).
10
A Pesquisa Brasileira de Mídia (BRASIL, 2014) aponta o Facebook como o site/rede social mais acessado pelos brasileiros em dias de semana e nos finais de semana, bem como o site/blog/rede social mais acessado pelo público para se informar.
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O jornal O Estado de S. Paulo, durante o primeiro turno11 das eleições de 2014,
publicou em seu perfil no Facebook 3.747 posts, dos quais consideramos 276 como
pertencentes ao tema “Campanha Eleitoral”, por citarem um dos três principais candidatos
à Presidência da República12. A partir disso, a análise a seguir traz algumas
características do debate público nestes posts, pela investigação de 63.730 comentários,
que totalizam as citações dos principais candidatos pelo próprio público no ato de
comentar.
2.1. A postura do comentador
Primeiramente, observou-se a postura que o comentador d’O Estadão adota. A
postura é um dos fatores que Dahlberg (2002) aponta como importante categoria de
análise indicativa de predisposição ao debate. Assim, o autor estuda a reciprocidade de
comentários. Classificamos, ainda, como fez Sampaio et al. (2010), a ausência dessa
resposta como postura monológica.
O Gráfico 1, abaixo, mostra a frequência de comentários monológicos e recíprocos
encontrados entre os webleitores da página d’O Estadão no Facebook.
GRÁFICO 1 – Postura dos comentadores nos posts d’O Estadão FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR
11
Considerando as 13 semanas aqui analisadas. 12
Até agosto consideramos os nomes de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Em agosto e setembro, passamos a considerar o nome de Marina Silva.
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Como se pode ver, há uma predominância de comentários em que os webleitores
conversam sozinhos, o que representa 74% do total. De qualquer forma, se olharmos
para a proporção apresentada entre esses e aqueles em que houve reciprocidade, 26%
do total, há uma diferença significativamente menor entre as duas categorias em relação
aos outros grandes jornais de circulação nacional, conforme apresentado em estudo
anterior (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015)13. Assim, mesmo que O Estadão se
apresente como veículo de posição política conservadora explícita, ele agrega
comentadores mais dispostos a responder, de alguma forma, outros internautas.
Em relação à pluralidade de citação dos candidatos pelos comentadores dos posts
desse jornal, era esperado que Dilma Rousseff fosse a mais citada, tanto por ser a
candidata à reeleição como por ocupar concomitantemente ao período eleitoral a
Presidência da República em um momento de escândalos políticos, um dos maiores
temas a pautar o jornalismo. O que surpreende é o fato de que houve equilíbrio entre as
citações da incumbente e de Eduardo Campos/Marina Silva.
GRÁFICO 2 – Total de citações dos candidatos em comentários d’O Estadão14
FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.
É certo que a tragédia que vitimou Campos causou alta na produção de
comentários, mas não de forma a causar a vantagem das citações dele e de Marina sobre
13
A Folha de S. Paulo teve 82,4% dos comentários monológicos e 17,6% recíprocos. Os dados são ainda mais negativos para O Globo: 91,6% de comentários monológicos e somente 8,4% recíprocos. 14
É importante ressaltar que a soma desses valores ultrapassa o total de comentários em estudo (63.730), pois há comentários que citam mais de um candidato, o que se deve considerar em todas as análises que seguirão neste paper.
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aquelas de Aécio Neves, que agregou pouco mais que a metade de menções da mais
citada. Chegamos aqui à constatação de que Aécio Neves foi o menos citado nos
comentários sobre campanha n’O Estadão, aparecendo em apenas 26,7% dos 63.730
comentários analisados.
Quando se observa a expressão da reciprocidade em relação à citação dos
candidatos, pode-se constatar que os internautas estiveram mais dispostos a conversar
sozinhos, não importando que candidato estivessem mencionando. Os Gráficos 3, 4 e 5,
abaixo, mostram a correlação que existe entre a postura adotada pelos comentaristas e
as citações dos candidatos.
GRÁF.3– Postura X Dilma GRÁF.4 – Postura X Aecio GRÁF.5 Postura X Edu/Marina
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
É interessante observar que, proporcionalmente, os comentadores mais propícios
ao debate foram aqueles que mencionavam Dilma Rousseff, seguidos, novamente, de
Eduardo Campos/Marina Silva. Vale informar que o maior ou o menor número de
menções não teve influência sobre a proporção de comentários que apresentaram
postura recíproca, embora tenha havido a coincidência em relação à ordem dos
presidenciáveis. Por outro lado, a análise não se resume a essa observação e alguns
dados adiante mostrarão que, mesmo respondendo a outros comentários, o webleitor não
necessariamente apresenta-se como um debatedor no sentido que Jensen (2003), à luz
dos conceitos habermasianos, identifica, justamente por não expressar de forma mais
ampla o que se desejaria em um debate aberto e respeitoso.
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2.2. A reflexividade nos comentários
Assim, passa-se ao estudo de uma variável que complementa aquela anterior por
proporcionar, mesmo que de forma mais restrita, uma visão qualitativa à análise quanti
aqui desenvolvida: o tipo de reflexividade apresentada nos comentários. Como dito
anteriormente, essa variável ajuda a investigar como essa maior reciprocidade foi
expressa entre os comentadores d’O Estadão: tentou-se mais 1) persuadir; 2) progredir,
apresentando informações complementares ao debate; ou 3) radicalizar, comportando-se
de forma desrespeitosa durante a discussão.
Tab.1 - Tipo de reflexividade do comentador n’O Estado de S. Paulo
Frequência Porcentual Porc. Válida
ESP Válido Persuasão 16427 25,8 52,5
Radicalização 10224 16,0 32,7
Progresso 4619 7,2 14,8
Total 31270 49,1 100,0
Ausente 32460 50,9
Total 63730 100,0
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
Como exposto na Tabela 1 acima, a categoria “persuasão” foi aquela mais utilizada
pelos comentadores, representando 52,5% das ocorrências. Em seguida, a radicalização
apareceu em 32,7% dos casos, superando “progresso”, que representou apenas 14,8%
do total. É importante lembrar que muitos comentários não apresentaram qualquer
reflexividade e, portanto, decidiu-se trabalhar apenas com a percentagem válida.
GRÁFICO 6 – Tipo de reflexividade dos comentadores FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
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Conforme foi feito com a postura do comentador, analisa-se, também, o tipo de
reflexividade que os comentadores apresentaram ao mencionar cada candidato. Tendo
atentado anteriormente sobre a ausência de relação entre ser recíproco e apresentar-se
mais polido no debate, observando a tabela a seguir, pode-se ter uma percepção mais
nítida desse fenômeno. Os resíduos padronizados permitem a constatação de que o
comentarista que citou Dilma Rousseff, se, por um lado, esteve mais propenso a ler e dar
continuidade à discussão, por outro, apresentou-se como aquele que mais radicalizou o
debate. A incumbente é a única cujo resíduo é alto positivo (22,5), destoando dos outros
candidatos, que apresentam baixos negativos, principalmente de Eduardo
Campos/Marina Silva (-17,8).
Tab. 2 - Tipo de reflexividade em comentários que citam candidato
Cita candidato no comentário
Dilma Aécio Edu/Marina Total
Reflexividade Radicalização N 6845 2329 3081 12255
Rp 22,5 -8,8 -17,8
Progresso N 2200 1142 2470 5812
Rp -5,5 -5,05 10,2
Persuasão N 7356 5318 7779 20453
Rp -14,4 9,5 8,3
Total 16401 8789 13330 38520
FONTE – As autoras com dados do Núcleo CPOP-UFPR
Os comentadores que mais estiveram abertos ao progresso, preocupando-se, pois,
em inserir novas informações e, assim, reforçar a argumentação, foram aqueles que
citaram Eduardo Campos/Marina Silva (10,2). Perceba-se que os outros candidatos
tiveram resíduos padronizados negativos bem próximos, o que caracteriza aqueles que os
mencionaram com um perfil, em relação a essa categoria, bem similar.
GRÁF.7 – Reflexividade X Dilma GRÁF.8 – Reflexividade X Aécio GRÁF.9–Reflexividade X Edu/Mar
FONTE: As autoras, com os dados do Núcleo CPOP-UFPR.
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Por fim, os comentadores que mencionam Dilma Rousseff são também os únicos
que estão menos dispostos a persuadir ou serem persuadidos, pois os resíduos para essa
categoria ficaram com baixo negativo (-14,4), em contraste com os altos positivos de
Aécio Neves (9,5) e Eduardo Campos/Marina (8,3). Isso implica dizer que os
comentadores que fizeram menção a Aécio foram aqueles mais dispostos a persuadir
outros debatedores. Os gráficos acima (GRAFs. 7, 8 e 9) ilustram bem as diferenças e
semelhanças que os números da Tabela 2 já apontaram.
Considerações finais
Apesar de, entre os comentários analisados, o debate nos posts d’O Estado de S.
Paulo apresentar quase três vezes mais comentários monológicos do que recíprocos,
esses comentaristas tendem a apresentar mais reciprocidade, especialmente na
comparação direta com o debate realizado nos comentários na Folha e n’O Globo no
mesmo período (MITOZO; MASSUCHIN; CARVALHO, 2015). Porém, só esse dado não é
suficiente para se afirmar que o diálogo flui entre os comentadores na página do veículo e
que há um debate construtivo entre os participantes.
Esta análise preliminar identificou algumas características do webleitor que
comenta no Facebook d’O Estadão. Pode-se verificar que a grande maioria tende a tentar
convencer, persuadir, o outro e apenas 7% progridem no debate. Há ainda um número
alto de comentadores que tendem à radicalização, interrompendo o diálogo e se fechando
às ideias de outros comentadores, muitas vezes, agredindo-as.
Em relação à citação de candidatos nos comentários, observa-se que há muito
mais radicalização quando Dilma Rousseff é citada e mais progresso quando há
referência a Eduardo Campos ou Marina Silva. Esse trabalho também apontou que estes
nomes pautaram bem mais o debate entre os comentadores, eleitores, do que o nome de
Aécio Neves, presente em menos de 27% dos comentários.
A análise apresentada neste trabalho leva à conclusão de que ainda há muitas
investigações a serem realizadas, a fim de traçar-se um perfil de comentador, mesmo na
página de um único veículo jornalístico dentro do Facebook. Mesmo que se possa
perceber como um comentador se comporta quando cita determinado candidato, não se
pode depreender totalmente esse comportamento, pois isso exigiria nova modelagem do
banco de dados, para identificar que comentários citaram apenas um dos candidatos e
em que temáticas tal perfil poderia ser observado.
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Nada impede que trabalhos futuros venham a tomar isso como ponto de partida
para nova análise, uma vez que é interessante perceber como o leitor-eleitor se põe no
debate, quando suas opiniões e crenças serão postos à prova por outros debatedores.
Referências
ALBUQUERQUE, A. Um outro “quarto poder”: imprensa e compromisso político no Brasil. In: Contracampo, n.4, pp. 23-57, 2000.
BRAGA, J. L. A sociedade enfrenta sua mídia. São Paulo: Paulus, 2006.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação Social. Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/livro-pesquisa-brasileira-de-midia_internet-pdf/view. Acesso em: Janeiro de 2015.
CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. In: Explanans, vol.2, n.1, pp. 75-99, Jan-Jun/2013.
DAHLBERG, L. Net-Public Sphere Research: Beyond the 'First Phase'. In: Euricom Colloquium: Electronic Networks and Democracy. Nijmegen: The Netherlands, 2002.
DAHLGREN, P. Internet, public spheres and political communication: Dispersion and deliberation. In: Political Communication, vol. 22, n. 2, pp. 147-162, 2005.
JENSEN, J. L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or Government-Sponsored – A Comparison. In: Scandinavian Political Studies, v. 26, n. 4, 2003.
MITOZO, I.B.; MASSUCHIN, M.; CARVALHO, F.C. Características do debate político-eleitoral no Facebook: Os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. Anais do VI Compolítica, Rio de Janeiro, 2015.
MONT’ALVERNE, C.; MARQUES, F.J. Jornalismo político e imagem pública: Dilma Rousseff nos editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. In: Contracampo, Vol. 28, n. 3, pp. 92-115, 2013.
SAMPAIO, R.C.; MAIA, R.C.; MARQUES, F.P.J.A. Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Participativo Digital de Belo Horizonte. In: Opinião Pública, Campinas, vol. 16, n. 2, pp.446-477, Nov/2010.
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#FALANDO_SOZINHO:
Uma análise do comportamento outlier nas postagens sobre a campanha
presidencial das páginas de mídias tradicionais no Facebook15
Jaqueline Kleine Buckstegge16
Ricardo Dantas Gonçalves17
Bruno Washington Nichols18
Sérgio Roberto Serafim Tramujas19
RESUMO
Entender os espaços criados pelas redes digitais como novas arenas para o debate público implica em compreender quem são os atores presentes na interação. O presente trabalho buscar analisar como internautas altamente participativos reagem à campanha presidencial de 2014 a partir do agendamento feitos por alguns medias tradicionais selecionados em níveis nacional e regional. Foram analisados 82.281 comentadores das páginas do Facebook de onze jornais durante os meses de julho, agosto e setembro de 2014 e destacados 456 outliers. A hipótese testada e verificada foi de que tais comentadores não detém nenhum tipo de estratégia discursiva e apenas induzem uma impressão de “clima geral” do debate, majoritariamente em favor de algum dos candidatos.
Palavras-chave: debate online; Facebook; eleições presidenciais; comportamento político.
1. Introdução
A análise do debate público em relação à esfera política, em especial em períodos
de campanha eleitoral quando a temática ganha maior visibilidade nas diversas
dimensões informacionais, torna-se cada vez mais multifacetada conforme criam-se
ferramentas para o acompanhamento da opinião eleitoral on e off-line. A distribuição de
conteúdo também se complexifica e não é mais possível isolar os media tradicionais da
construção na web.
15
Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), da Universidade Federal do Paraná. 16
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES
e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 17
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES
e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 18 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná. Bolsista Fundação Araucária e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected] 19 Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (PPGCP-UFPR), [email protected].
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Ainda existe resistência, no entanto, para considerar a produção na internet como
parte real do debate público off-line. Como destaca Marques (2006), no entanto, não é
possível descartar a produção de opinião feita na web pela simples justificativa de
“irracionalidade” presente nos discursos. O autor afirma que
Se são diversas as ressalvas à internet enquanto esfera pública, por outro lado
não se pode negar que muitos debates só se concretizam por causa do advento
desta modalidade de comunicação. (...) o debate racional entre cidadãos comuns,
por exemplo, se não acontece na internet, também não parece acontecer
rigorosamente fora dela. Em outros termos, deve-se considerar que, funcionando
mal ou bem, pelo menos o ambiente digital abre a oportunidade para a exposição
de opiniões e formação de arenas conversacionais, instâncias antes pouco
prováveis ou mais difíceis de se realizarem (MARQUES, 2006, p. 183)
Opinião pública, dentro do debate contemporâneo, deve ser entendida como a soma
de conjuntos de indivíduos que não se conhecem entre si, mas levam em consideração a
possibilidade de que a opinião ou a ação do outro, sobre temas públicos, seja próxima à
sua. (CERVI, 2013, p.80). Tal afirmação pode encontrar matriz nas causalidades sócio-
psicológicas apresentadas por Noelle-Neuman (2003) que explica a formação, alteração e
continuidade da opinião pública, bem como seus efeitos e funções a partir de três
premissas: i) a sociedade ameaça com isolamento e exclusão os indivíduos que se
desviam do consenso; ii) os indivíduos, por sua vez, têm medo, em grande parte
subconsciente e provavelmente com causa genética, de serem isolados; iii) este medo do
isolamento faz com que as pessoas tentem constantemente mensurar quais opiniões e
comportamentos – o clima de opinião – são aprovados ou desaprovados pelo seu meio
social.
Nesse sentido, os indivíduos que percebem sua opinião como sendo a da maioria as
expõem com confiança. E, na contramão, os que se percebem em minoria expressam-se
com cautela ou se colocam em silêncio, desse modo, reforçando a opinião como fraca até
que, em última instância, ela desapareça ou sobre apenas a um “núcleo duro” de
indivíduos que se agarrem a tal opinião. Na lógica de Noelle-Neuman a opinião pública
tem muito poder advindo da própria natureza social do homem – i.e o medo do
isolamento. E assim, a característica forte do fenômeno é a de controle social, que tem
como fim garantir um nível suficiente de consenso social sobre os valores e objetivos
comuns à sociedade criando um laço entre o indivíduo e a sociedade. De outra maneira,
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para que a coesão do sistema seja mantida, a sociedade ameaça com o isolamento
aqueles que violam o consenso social que a mantém viva. (NOELLE-NEUMAN, 2003)
Temos, portanto, que o debate público se coloca como momento em que os
participantes do público “medem” suas opiniões frente às dos demais. Ou seja, o espaço
de debate é um ambiente de interação usado para expor, medir proximidade e reformular
posições (CERVI, 2013).
A opinião pública, segundo Cervi (2013), é um fenômeno de caráter transitório
depende de comportamentos próprios e dos outros, de sentimentos e percepções. Nesse
sentido, mudanças nos elementos do debate, tais como a divulgação de novas
informações sobre o tema, tem poder de alterar a opinião pública (CERVI, 2013, p.80).
Esse ponto da discussão sobre a opinião pública é especialmente relevante para este
estudo, que busca nas divulgações digitais de resultados de pesquisas eleitorais analisar
o comportamento dos debatedores, aqui entendidos como comentadores das páginas
oficiais dos media tradicionais.
2. Materiais e Métodos
Para a análise do comportamento dos comentadores das páginas de mídias
tradicionais no Facebook, foram coletados postagens e comentários de três jornais
nacionais (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo) e oito regionais (A
Tarde/BA, Correio Brasiliense/DF, Correio do Estado/MS, Diário do Pará/PA, Gazeta do
Povo/PR, O Estado de Minas/MG, O Povo/CE, Zero Hora/RS).
Foi utilizado pela coleta o software gratuito de indexação automática Netvizz, que
extrai bancos de dados a partir de páginas do Facebook em períodos pré-determinados
pelo coletador. O Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública
(CPOP/UFPR) realizou coletas semanais, de 07 de Julho a 09 de Novembro de 2014,
resultando em dois bancos de dados principais.
O primeiro, das postagens, totalizou 34.618 entradas de posts das páginas pré-
definidas. O segundo, que utiliza os comentários como unidade de análise, soma mais de
onze milhões de textos comentados dentro das respectivas postagens.
Como forma de especificar a pesquisa, foi selecionado o tema “campanha eleitoral”
dentre as postagens, considerando apenas a eleição presidencial, e a partir deste corte,
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foram definidos como objeto apenas os comentários que mencionam explicitamente
alguma das três campanhas. Isso reduziu a coleta inicial a 2.595 postagens.
Para compreender a produção dos debatedores no espaço online objeto da
pesquisa, os comentários foram analisados a partir de duas dimensões: (i) forma do
comentário (ex.: elogio ou crítica) e (ii) reflexividade (progresso, persuasão,
radicalização).
O terceiro nível de análise, criado posteriormente para este trabalho, é o dos
comentadores20 – os “donos dos comentários” – que citam um dos três candidatos
principais em seus textos. Somam-se, nessa categoria, 81.825 debatedores com
frequência de comentários que variam entre 1 vez e 847 vezes. Com uma produção muito
mais intensa, foi criada uma categoria de comentadores classificada como “outliers”, que
engloba indivíduos que postaram de 52 a 847 comentários.
Como recorte temporal para análise de comentários e comentadores, o trabalho
delimitou o intervalo do primeiro como entre os meses de julho e setembro. A partir destas
três bases (postagens, comentadores e comentários), os dados foram analisados através
de software estatístico, buscando testes que se adequassem às variáveis categóricas e
contínuas encontradas.
3. Análise dos dados
Uma vez considerado como base de análise as postagens sobre a campanha
presidencial de 2014 e seus respectivos comentários, dentro do intervalo do primeiro
turno, foi possível resumir o banco de dados a 25.318 publicações, com 82.281
comentadores e 262.017 comentários que citam pelo menos uma das três candidaturas.
A análise de dados a seguir descreve a categoria outlier em comparação ao
restante dos comentadores, apresentando principalmente seu comportamento em relação
à variável reflexividade e suas categorias persuasão, progresso e radicalização. Para um
panorama geral do agendamento produzido em relação à campanha presidencial, o
Gráfico 1 apresenta a distribuição de postagens classificadas como “campanha eleitoral”.
20
Definimos como “comentador” o perfil pessoal de Facebook, coletado como variável “dono do comentário”.
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O pico de visibilidade da campanha presidencial presente na semana21 7 pode ser
explicado pelo acidente aéreo que resultou no falecimento do presidenciável Eduardo
Campos. E a semana 10 indica o início dos debates eleitorais.
3.1. Dos comentadores
Para análise da primeira dimensão proposta por este trabalho, a dos comentadores,
a variável binária “outlier” foi utilizada como grupo controle para descrever as
características gerais do banco.
Tab. 1 – Comparação entre Outliers e outros Comentadores
Outlier
Não Sim
Média Comentadores Máximo Mínimo Desvio padrão
Comentários Total
Média Comentadores Máximo Mínimo Desvio padrão
Comentários Total
Comentários 2,64 81825 51,00 1,00 4,50 215615 101,76 456 847,00 52,00 78,01 46402
Dilma 1,34 81825 49,00 0,00 2,70 109288 51,34 456 584,00 0,00 55,48 23410
Aécio ,65 81825 45,00 0,00 1,95 53123 30,90 456 382,00 0,00 39,19 14089
Marina ,97 81825 49,00 0,00 2,34 79726 41,02 456 730,00 0,00 50,29 18704
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).
21
A divisão das semanas para a pesquisa se deu da seguinte forma: (1) 01 a 07 de Julho, (2) 08 a 14 de Julho, (3) 15 a
21 de Julho, (4) 22 a 28 de Julho, (5) 29 de Julho a 04 de Agosto, (6) 05 a 11 de Agosto, (7) 12 a 18 de Agosto, (8) 10 a
25 de Agosto, (9) 26 de Agosto a 01º de Setembro, (10) 02 a 08 de Setembro, (11) 09 a 15 de Setembro, (12) 16 a 22
de Setembro, (13) 23 a 29 de Setembro, e (14) 30 de Setembro
GRÁFICO 1 – Número de postagens do subtema “campanha eleitoral por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).
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Como é possível observar pela Tabela 1, existe uma tendência mais dispersa dentre
os comentadores considerados outliers no que diz respeito à produção no debate,
possuindo uma média de 101,76 comentários por comentador, no entanto um desvio-
padrão de 78,01 comentários. Mesmo representando apenas 0,55% dos comentadores de
postagens da campanha eleitoral, eles são responsáveis por 17,71% das entradas que
fazem menção a algum candidato.
Em relação a tais citações, observa-se o esperado. A presidente Dilma Rousseff
recebe o maior número de citações, em grande parte devido ao exercício do mandato,
seguida de Marina Silva e Aécio Neves. É interessante ressaltar que, após o falecimento
do candidato Eduardo Campos e a substituição da campanha do PSB por Marina Silva,
esta se manteve em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção eleitoral, obtendo
grande visibilidade na mídia. O quadro apenas se reverteu na quinta-feira prévia ao dia da
eleição, quando Aécio Neves assumiu segundo lugar e garantiu seu lugar no segundo
turno.
Uma das principais característica dentre os outliers, no entanto, também na relação
entre postagem e comentários, pode ser verificada pela variável “sobrevivência” que
indica a diferença entre o dia que a postagem foi publicada pela página e o dia em que o
comentário foi feito.
Tab. 2 – Tempo (dias) entre Postagem e Comentário
Outlier
Não Sim
Média 0,34 0,25
Máximo 7,00 1,17
Mínimo 0,00 0,00
Desvio padrão 0,58 0,20
Contagem 81825 456
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)
Como é possível observar na Tabela 2, enquanto comentadores em geral podem
levar até uma semana para comentar a mesma postagem, o número máximo encontrado
no estrato dos outliers não chega a dois dias.
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Para compreender como tal proporção de comentários de outliers se comportou ao
longo do primeiro turno da eleição, o Gráfico 1 apresenta a média de comentários por
semana.
Fica evidente um pico na média de comentários pelos outliers na semana que vai de
12 a 18 de Agosto (semana 7), nas semanas que vão 26 de Agosto a 08 de Setembro
(semanas 9 e 10) e, posteriormente, na semana de 16 a 22 de Setembro (semana 12).
Uma das hipóteses explicativas para o ocorrido é a coincidência com os três primeiros
debates presidenciais, que ocorreram, respectivamente, em 26 de Agosto, 1º e 16 de
Setembro. Tornou-se uma tendência durante os dias de debate presidenciais que os
comentadores utilizassem o espaço das postagens, mesmo que estas não tratassem do
tema, para posicionar-se em relação à performance dos candidatos. Para a semana 7,
assim como nas postagens, o aumento na média é atribuído ao falecimento de Eduardo
Campos.
3.2 Dos comentários
Tal concentração na média de comentários nas semanas dos debates eleitorais
destaca um primeiro aspecto dos comentadores de maior intensidade, mas ainda não
GRÁFICO 2 – Média de comentários de comentadores outliers por semana FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).
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elabora sobre a forma dos comentários. Para isso, a distribuição de médias controladas
temporalmente foi aprofundada, agora ponderando a variável reflexividade.
O gráfico 3 controla os comentários pela reflexividade de seus textos. Assim como já
observado nas frequências agregadas, fica claro que os picos foram gerados pelos
comentários da categoria “Outro”. No entanto, cabe uma ressalva: considera-se essa
categoria válida, dado que a partir da observação dos dados, essa categoria,
predominantemente, representa os comentadores que “falam sozinhos”, só buscam expor
suas próprias opiniões, sem apontar participação no debate que não buscam persuadir,
agregar com novas informações e nem radicalizar.
Os comentários incluídos na categoria “Outros” demonstram o padrão de maior
disparidade. O maior pico, na nona semana, indica que a média de comentários por
GRÁFICO 3 – Média de comentários de comentadores outliers por semana controlados por Reflexividade FONTE - Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR).
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comentadores outliers ultrapassou os 60 sempre apresentando auge nas semanas dos
debates.
Estabelecido que os comentadores outliers tendem a apenas expor sua opinião, sem
reciprocidade, cabe compreender o formato de suas exposições, mais especificamente,
se elogiam ou criticam os candidatos. A Tabela 3 apresenta a distribuição de comentários
de comentadores outliers controlando a sua reflexividade e forma.
Tab. 3 – Relação entre Reflexividade e Forma para os Outliers
Reflexividade do Comentário
Total
Persuasão Progresso Radicalização Outro
Fo
rma
do
Co
men
tário
Elogio ao
Candidato
n 26070 4690 3012 61020 94792
RP 17,0 -46,2 -110,7 78,5
Elogio
Outros22
n 693 431 98 307 1529
RP 16,2 23,5 -11,1 -15,3
Crítica ao
Candidato
n 26218 12433 34178 43243 116072
RP -14,8 12,2 84,3 -48,0
Crítica
Outros
n 5848 5270 7242 6948 25308
RP -5,3 57,6 36,3 -45,2
Total n 58829 22824 44530 111518 237701
(V de Cramer = 0,232, Qui-quadrado = 38.496,49)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR)
É possível perceber que existe uma maior concentração de “elogio ao autor” na
categoria “outros” de reflexividade, o que reforça que o posicionamento expositivo dos
comentadores outliers tende a ser positivo.
22
As categorias critica ou elogio “outros” são resultado do agrupamento de: autor, governo, internauta e portal. Aqui
utilizados como controle, uma vez que seu n é muito reduzido.
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4. Comentários Finais
A partir do objetivo de analisar o comportamento outlier no debate online de mídias
tradicionais nas eleições presidenciais de 2014, foi possível constatar que, primeiramente,
existiram quatro momentos em que a participação deste estrato mostrou-se mais intensa:
o falecimento do candidato Eduardo Campos e os três primeiros debates eleitorais
presidenciais.
A categoria desviante apresentou altos níveis de produção no debate, no entanto,
como hipótese do trabalho, foi possível verificar que tal participação não implicou na
construção da arena de discussão, mas sim na exposição de seus posicionamentos. Com
característica de participar do debate quase que imediatamente após a publicação das
postagens, os outliers não buscaram recursos argumentativos, nos formatos de
persuasão, progresso ou radicalização. Ainda, tiveram como forma predominante de seus
comentários o elogio a um dos candidatos citados.
Referências
CERVI, E. U. Como os webleitores do “Portal Estadão” comentaram a eleição de Dilma Rousseff em 2010: uma discussão sobre os participantes do debate público em campanhas eleitorais nos novos meios de comunicação. Explanans, v. 2, n. 1, p. 75–99, 2013.
MARQUES, F. P. J. A. Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil. Opinião Pública, v. 12, n. 1, p. 164–187, 2006.
NOELLE-NEUMAN, Elisabeth. La espiral del silencio: opinion publica, nuestra piel social.
Barcelona: Ed. Paidós, 2003
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46
FACEBOOK E AS ELEIÇÕES DE 2014:
Um estudo sobre os posts e os comentários nos jornais regionais brasileiros sobre
os principais candidatos à presidência23
Regiane Soares Lima 24
Romer Mottinha Santos 25
RESUMO
Tendo em vista a importância da internet e das redes sociais digitais nas eleições 2014 no Brasil, o presente trabalho trata sobre a cobertura eleitoral (postagens) e a interação dos internautas por meio de comentários, em relação aos principais candidatos à presidência: Dilma Rousseff (PT); Aécio Neves (PSDB); Eduardo Campos & Marina Silva (PSB), na timeline do Facebook de jornais regionais do Brasil. O trabalho apresenta parte dos resultados obtidos pela pesquisa de acompanhamento da cobertura jornalística na rede social digital Facebook, no período eleitoral de 2014 no Brasil, obtidos através do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP) da UFPR. Os objetivos são: identificar o volume de informações disponibilizado pelos jornais e verificar quem são os destinatários dos comentários quando ao menos um candidato à presidência é citado e qual a forma predominante do comentário, que pode ser de elogio, com explícita menção positiva ou crítica com explícita menção negativa. Os dados apresentados sobre a interação dos internautas via comentários são relativos ao primeiro turno da eleição 2014, que foram coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído.
Palavras-chave: Comunicação Política, Cobertura eleitoral, Eleição 2014, Candidatos à
presidência, Opinião Pública.
1. Introdução
A mídia com o processo de redemocratização iniciado em 1980 passou a ocupar
um papel político na sociedade. O público utiliza os recursos disponibilizados pela mídia
para fazer interpretações e construir significados dentro das sociedades contemporâneas,
e é através de uma agenda, onde são selecionadas as notícias relevantes para a pauta
midiática, que os meios de comunicação de massa ocupam uma centralidade e
importância na construção de debates no espaço público.
Nos últimos anos a web 2.0 possibilitou uma nova reconfiguração nos meios de
comunicação online. A segunda geração da internet lança pressupostos de interatividade,
a distinção entre informação e opinião está cada vez mais difícil visto que os cidadãos têm
23
Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo núcleo de pesquisa CPOP, da Universidade Federal do Paraná. 24
Graduanda em Ciências Sociais, Universidade Federal do Paraná - UFPR, [email protected] 25
Mestre em Ciência Política, Universidade Federal do Paraná - UFPR, [email protected]
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a possibilidade de colaborar, construir e participar dos conteúdos produzidos nos meios
de comunicações. Dentro deste novo cenário, o jornalismo se adequou para abranger
esse movimento onde os consumidores de informações passam a contribuir na produção
da notícia.
O chamado jornalismo participativo não é um movimento que nasceu com a web,
visto que o público consumidor sempre buscou contribuir com as pautas vias cartas,
ligações e e-mail. Segundo Aroso (2013) a web contribuiu para “novos contornos com a
Internet e com a facilidade de acesso às ferramentas de produção, publicação,
cooperação e partilha de informação”. Neste sentido as redes sociais digitais têm ocupado
um espaço de ferramenta do jornalismo, o qual tem que se adaptar à rápida evolução e
influência da web. Para Catarina Rodrigues (2010), as redes sociais digitais se tornaram
um tipo de ferramenta que auxilia a atividade jornalística:
O número de utilizadores de redes como o Twitter e o Facebook permite equacionar questões fundamentais no jornalismo como o relacionamento com as fontes, a ampliação, valorização e distribuição de conteúdos, a fidelização dos leitores e a velocidade informativa (RODRIGUES, 2010, p. 1).
No Brasil, segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, a internet é o
meio de comunicação que mais cresce entre os brasileiros. A pesquisa anual é divulgada
pela Secretária de Comunicação Social da Presidência da República que traz os hábitos
de consumo de mídia pela população brasileira. Na pesquisa foi aferido que “pelo menos
um quarto da população (26%) faz uso do meio nos dias da semana com uma intensidade
diária de 3h39 de 2ª a 6ª feira e de 3h43 no final de semana” (BRASIL, 2014). O acesso à
internet é mais comum entre os jovens, moradores de grandes centros urbanos e os
estratos de maior renda e escolaridade. A rede social digital Facebook na pesquisa é o
site mais acessado pelos entrevistados durante a semana e nos finais de semana para se
informar. Observar e estudar como os jornais se comportam nas redes sociais digitais é
fundamental para entender a lógica jornalística na web e a lógica de participação dos
internautas.
O Facebook é a maior das redes sociais digitais na Internet. Nascida em 2004, esta
rede social digital é hoje em dia o segundo site mais visitado na Internet, apenas atrás do
Google. Já cedo as instituições científicas e as universidades perceberam a importância
de uma rede social desta magnitude para a amplificação das suas mensagens
(SANCHEZ; GRANADO; ANTUNES, 2014, p. 10). O uso do Facebook tornou-se comum e
cotidiano entre determinados segmentos da população, mesmo que sua cobertura ainda
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seja limitada, não se pode negar que podem exercer uma influência bastante importante
entre os usuários (MORENO; MENDIZÁBAL, 2013, p. 399-400).
Os dados da cobertura eleitoral foram coletados no período eleitoral de 2014, entre
os meses de julho e outubro, por meio do aplicativo netvizz do Facebook dos seguintes
jornais: A Tarde (BA), Correio Brasiliense (DF), Correio do Estado (MS), Diário do Pará
(PA), Estado de Minas (MG), Gazeta do Povo (PR), Jornal da Manhã (PR), O Povo (CE) e
Zero Hora (RS) e os dados da interação dos internautas através dos comentários são do
primeiro turno da eleição 2014, coletados do dia 01 de julho até 29 de setembro. A
metodologia utilizada é quantitativa e de análise de conteúdo, que permite identificar a
categoria dos destinatários dos comentários, bem como a forma de comentário atribuído.
A problematização consiste na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário
predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014
nos posts dos jornais? Qual a forma de comentário que os internautas priorizaram nos
comentários? A hipótese desta pesquisa é que os internautas postaram seus comentários
em maior parte destinado aos candidatos à presidência priorizando a explícita menção
negativa/crítica aos mesmos.
2. O papel da mídia
Os meios de comunicação de massa selecionam quais são as noticias relevante
para a pauta midiática, há então uma espécie de seleção dos fatos. A isto, dá-se o nome
de agendamento. Éric Maigret (2010) explica que:
Uma agenda é uma hierarquia de prioridades, uma lista de problemas em jogo classificados por importância crescente, e que se pode apreender, por exemplo, enumerando em dado momento os assuntos tratados na imprensa e a quantidade de tempo no ar e/ou de linhas que eles geram, ou, para os cidadãos, efetuando sondagens de opinião e entrevistas (MAIGRET, 2010, p. 311).
A centralidade da mídia na vida humana, seja como fonte de entretenimento,
informação ou instrumento de trabalho, é uma das características mais marcantes do
século XX (LIMA, 1996). No Brasil com o inicio do processo de redemocratização em
1985, a mídia se tornou um ator importante que atua conjuntamente com os atores
políticos. Os meios de comunicação de massa exercem um papel fundamental na
democracia brasileira. Cervi (2006) explica que:
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A mídia é o espaço onde uma versão da realidade, que pode ser a realidade política, passa a ser ampliada. Isso tem um impacto significativo para a democracia, pois na mídia alguns temas são "iluminados", enquanto outros, não abordados, perdem espaço na arena pública. A informação e sensibilização dos homens, que geram as possibilidades de mudança nas preferências, dependem do grau de proximidade das mensagens com a realidade dos receptores mais interessados nos temas – os líderes de opinião. Quanto mais distantes ou estranhos forem os conteúdos, menor a capacidade de modelar a consciência dos indivíduos que entram em contato com as mensagens, seja direta ou indiretamente, no segundo estágio da comunicação (CERVI, 2006, p. 49).
Nessa linha de pensamento os meios de comunicação massa dentro das
sociedades democráticas exercem o papel central de divulgar informações, ideias,
noções, através de temas, que possam situar os públicos do mundo real, porém a mídia
segue uma lógica própria de interesses e muitas vezes essa lógica pode impactar a
construção de um espaço público. Segundo Castro (2006):
Assim, as possibilidades de constituição de espaços públicos – múltiplos, plurais, democráticos – que possam articular dimensões argumentativas e deliberativas ao campo da operação política dependem enormemente das condições de visibilidade acerca das questões, dos sujeitos e de suas ações que são proporcionadas pelo sistema de mídia. (CASTRO, 2006, p.140).
Em seu artigo: “Dilemas para a Construção do Espaço Público Brasileiro:
Controvérsias Midiáticas”, Maria Céres P. S. Castro, apresenta considerações do
posicionamento da mídia para a constituição de um espaço público. Para a autora: “Vale
dizer que os modos operatórios da mídia, presentes no processo de construção
democrática, são relevantes para a compreensão dos dilemas atuais da constituição do
espaço público” (CASTRO, 2006).
A autora ainda acrescenta que a mídia vem exercendo um papel de fiscalizador, as
críticas voltadas para a operação do Estado que mantém uma cultura patrimonialista e
clientelista, são temas frequentes nos discursos dos media. A visibilidade desses
discursos e a sua propagação, para a autora:
“... acaba se estendendo aos organismos que, no interior da sociedade, podem constituir uma esfera pública em que os interesses plurais constitutivos de uma sociedade democrática se tornam visíveis, interagem, disputam legitimidade e adesão e possibilitam a constituição de normas e regras públicas.” (CASTRO, 2006, p. 143)
A ação política acaba sendo constantemente criticada e desqualificada pela mídia.
A superficialidade em tratar assuntos relativos à cultura pública, a política e os serviços
prestados pelo Estado gera no interior da sociedade um sentimento de insatisfação e “o
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sensacionalismo e o escândalo tornam-se meios de captura da atenção do receptor e
mostram-se eficazes como procedimento de consagração na esfera midiática” (CASTRO,
2006).
A crítica feita pela mídia deve ser levada em consideração, pois são fundamentais
as informações que são repassadas para o público de ordem política ou não. O que se
espera é uma imparcialidade, pois essa crítica constante acaba por idealizar o setor
privado, a sua capacidade de realização e dinamismo. Ainda segundo Castro:
“... a crítica aos equívocos da ação política, a critica à ação do Estado corrobora uma visão privatista do mundo, e ambas, lamentavelmente, diminuem as chances de que elementos essenciais de constituição de uma cultura pública e de expressão de uma cidadania emancipada se fortaleçam” (CASTRO, 2006, p. 144).
As críticas da mídia ao Estado devem ser analisadas pelo público. Não é objetivo
deste trabalho criticar simplesmente os meios de comunicação e deixar de lado a
importância dos mesmos para a construção de questões e significados para o debate.
Entender a lógica jornalística de produção se faz necessária para compreender a
discussão que posteriormente acontecerá no debate público.
3. Análise dos dados
Este trabalho está dividido em duas partes, primeiramente será feita uma análise
dos posts publicados por todos os veículos nos meses que correspondem a cobertura
eleitoral para entender a lógica de produção jornalística na rede social digital e
posteriormente, será feita uma discussão sobre a interação dos internautas via
comentários que é o obejeto central deste trabalho.
Ao todo, foram analisadas nesta pesquisa 19.824 postagens publicadas na página
do Facebook de todos os veículos no período de 01 de julho ao dia 31 de outubro de
2014. As frequências apresentadas são dos conteúdos compartilhados na página da rede
social digital. É importante ressaltar que nem todo conteúdo produzido pelo jornal é
compartilhado com os internautas via Facebook, há uma seleção de notícias para ocupar
este espaço virtual. Essas notícias ganham visibilidade por estarem divulgadas no site
web do jornal e em forma de post no Facebook.
Foram selecionados pelo menos um jornal regional de cada região geográfica do
Brasil, sendo três da região sul, um da região sudeste, dois da região nordeste, dois da
centro-oeste e um do norte do país. Busca-se na pesquisa observar a produção
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jornalística compartilhada na rede social digital, comparando os veículos e regiões entre
si.
A tabela 1 expõe a produção na rede em número de postagem durante a
campanha eleitoral. Ao observamos a tabela, podemos constatar que cada veículo
compartilha um número variável de conteúdo no período. Enquanto o jornal Zero Hora
(RS) publicou 4189 (21,1%) do total de postagens, o Jornal da Manhã (PR) representa
apenas 2,4% dos posts com 467 noticias compartilhadas. Publicar menos ou mais
conteúdo em redes sociais não é a problemática desse trabalho, cada jornal possui uma
estrutura de organização e uma linha editorial independente, como também opta em
publicar noticias mais locais ou regionais, não alcançando um grande número de
seguidores além dessa limitação.
Tab. 1 – Frequências das Postagens
Jornal Frequência Porcentagem
A TARDE 1319 6.7 %
CORREIO BRASILIENSE 2207 11.1 %
CORREIO DO ESTADO 1383 7.0 %
DIÁRIO DO PARÁ 2778 14.0 %
GAZETA DO POVO 2891 14.6 %
JORNAL DA MANHÃ 467 2.4 %
O ESTADO DE MINAS 1899 9.6 %
O POVO 2691 13.6 %
ZERO HORA 4189 21.1 %
Total 19824 100%
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
Há uma aproximação entre os jornais Correio Brasiliense (DF), Diário do Pará (PA),
Gazeta do Povo (PR) e O Povo (CE), nos seus números totais de posts, esses jornais
representam 53.3% do banco de dados, com médias de postagem no período de 13,3%.
Os jornais A Tarde (BA), Correio do Estado (MS) e O Estado de Minas (MG), juntos
representam 23,3% do banco, com médias de postagens de 7,7%. Considerando os
jornais e a média de posts no período, podemos classificá-los em jornais com alto, médio
e baixo volume de publicações na rede social digital Facebook.
Para comparar qual foi a distribuição dos posts de cada jornal entre os meses do
período analisado, a Tabela 2, através do cruzamento de informações, mostra o número
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de postagens por mês de cada jornal no período. O interessante dessa tabela é mostrar
que o compartilhamento de notícias varia pouco, em todos os jornais, porém há alguns
casos que devem ser destacados.
Tab. 2 – Frequência das Postagens por mês
Mês Total
Julho agosto setembro outubro
A TARDE N 250 244 248 577 1319
% 19,0% 18,5% 18,8% 43,7% 100,0%
CORREIO BRASILIENSE N 577 560 454 616 2207
% 26,1% 25,4% 20,6% 27,9% 100,0%
CORREIO DO ESTADO N 519 323 261 280 1383
% 37,5% 23,4% 18,9% 20,2% 100,0%
DIÁRIO DO PARÁ N 979 759 616 424 2778
% 35,2% 27,3% 22,2% 15,3% 100,0%
GAZETA DO POVO N 710 646 719 816 2891
% 24,6% 22,3% 24,9% 28,2% 100,0%
JORNAL DA MANHÃ N 125 132 79 131 467
% 26,8% 28,3% 16,9% 28,1% 100,0%
O ESTADO DE MINAS N 539 440 368 552 1899
% 28,4% 23,2% 19,4% 29,1% 100,0%
O POVO N 979 731 395 586 2691
% 36,4% 27,2% 14,7% 21,8% 100,0%
ZERO HORA N 879 930 947 1433 4189
% 21,0% 22,2% 22,6% 34,2% 100,0%
Total N 5557 4765 4087 5415 19824
% 28,0% 24,0% 20,6% 27,3% 100,0%
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
Alguns jornais apresentaram padrões semelhantes de cobertura jornalística, no
decorrer do mês com poucas variações do percentual de publicações, o jornal Gazeta do
Povo (PR) e Correio Brasiliense (DF) não variou muito no período, concluindo que a linha
editorial segue uma estrutura com mínimos e máximos posts por mês. Em contrapartida, o
jornal A Tarde (BA) mantém nos primeiros três meses uma média de 247 posts, e no mês
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de outubro as notícias na rede digital dobram, já O Correio do Estado (MS) e Diário do
Pará (PA) reduziram a quantidade de posts publicados na rede mês a mês. Para mostrar
de maneira mais clara, o comportamento dos jornais no período, o Gráfico 1 abaixo traz
informações quanto ao número de postagens nos meses de cada jornal. Utiliza-se o
gráfico nesse caso para fique mais visível o comportamento de cada jornal.
Gráfico 1 – Número de Postagens nos meses
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
Primeiramente deve-se ressaltar que a linha pontilhada que divide o gráfico
verticalmente é a média, que será nosso ponto de referência para analisar cada caso. Os
jornais se concentram próximo à linha. Os jornais Correio do Estado e Jornal da Manhã
ficaram bem abaixo da média de publicações, no caso do Jornal da Manha os
compartilhamentos de noticias na rede digital não ultrapassaram 200 posts nos meses. As
linhas que liga os meses dos jornais Diário do Pará e O Povo são as mais espaçadas,
significando uma variação constante nos meses. O Estado de Minas, Correio Brasiliense
e A Tarde com algumas similaridades não compartilharam mais que 700 posts na rede
digital.
O jornal Zero Hora junto com a Gazeta do Povo são os únicos que ficaram acima
da média de posts em todo o período, enquanto o Zero Hora apresenta julho, agosto e
setembro com número de posts mais próximos, outubro se distancia com o maior número
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de posts com mais de 1.400 publicações no mês. Já a Gazeta do Povo apresentou um
número de publicações concentradas entre 600 e 800 posts publicados, mostrando um
determinado padrão na sua cobertura jornalística.
Com relação aos comentários dos internautas sobre as postagens dos jornais
relacionados podemos verificar que não há uma correspondência proporcional do número
de posts com o número de comentários. Como os comentários coletados foram apenas
dos que citavam pelo menos um dos principais candidatos à presidência em 2014,
consideramos natural que a cobertura de um jornal não seja proporcional ao número dos
comentários, visto que cada jornal segue um padrão de cobertura próprio. Os jornais que
apresentaram o maior número de posts no Facebook no período, conforme a Tabela 1,
foram pela ordem: I) Zero Hora (4189, 21,1%); II) Gazeta do Povo (2891, 14,6%); III)
Diário do Pará (2778, 14,0%); IV) O Povo (2691, 13,6%); e V) Correio Brasiliense (2207,
11,1%). Todavia, os comentários dos internautas apresentaram um volume distinto do
número de posts na timeline do Facebook, conforme a Tabela 3, pois o número de
comentários do jornal O Povo somou mais da metade de todos os outros no período
eleitoral, com 7136 registros (54%). Ou seja, a timeline do jornal O Povo foi a que
apresentou maior atividade de comentários por parte dos internautas com relação aos
jornais regionais relacionados nesta pesquisa.
Tab.3 – Número de comentários por jornal
Frequência Porcentual Porcentagem
válida
Porcentagem
acumulativa
Válido
ATARDE 343 2,6 2,6 2,6
CORREIOBRASILIENSE 2201 16,7 16,7 19,3
CORREIODOESTADO 540 4,1 4,1 23,4
DIARIODOPARA 302 2,3 2,3 25,7
GAZETADOPOVO 997 7,6 7,6 33,3
JORNALDAMANHA 3 ,0 ,0 33,3
OESTADODEMINAS 13 ,1 ,1 33,4
OPOVO 7136 54,1 54,1 87,5
ZEROHORA 1644 12,5 12,5 100,0
Total 13179 100,0 100,0
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
Com relação aos destinatários dos comentários foram 6081 (46,1%) destinados
aos candidatos e 5383 (40,8%) sem destinatário específico, conforme a Tabela 4. Estes
dados indicam que os usuários demonstraram interesse específico para o destinatário de
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seus comentários na timeline dos jornais regionais, com pouco interesse em destinar os
comentários à campanha (0,4%), ao portal (ao jornal) (1,0%), ao autor do post (1,8%), ao
governo (1,8%).
Tab. 4 - Destinatário do comentário
Destinatário Frequência Porcentual
ao autor 237 1,8%
ao candidato 6081 46,1%
à campanha 48 0,4%
ao governo 235 1,8%
aos internautas 412 3,1%
ao portal 133 1,0%
ao tema 650 4,9%
sem destinatário 5383 40,8%
Total 13179 100,0%
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
Ao observarmos, na Tabela 5, os formatos dos comentários dos internautas na
timeline dos jornais regionais em que verificamos ao menos uma citação de um dos
principais candidatos à presidência em 2014, o predomínio foi de crítica ao candidato com
5975 (45,3%) dos comentários e logo em seguida elogio ao candidato, com 4876 (37%).
Esses dados demonstram que os internautas priorizam o debate sobre os candidatos,
deixando em segundo plano elogios ou críticas ao governo, ao autor, aos internautas, ou
ao portal no período eleitoral.
Tab.5 - Formato do comentário
Frequência Porcentual Porcentagem
válida
Porcentagem
acumulativa
Válido
elogio ao autor 31 ,2 ,2 ,2
elogio ao candidato 4876 37,0 37,0 37,2
elogio ao governo 22 ,2 ,2 37,4
elogio aos internautas 9 ,1 ,1 37,5
elogio ao portal 5 ,0 ,0 37,5
crítica ao autor 543 4,1 4,1 41,6
crítica ao candidato 5975 45,3 45,3 87,0
crítica ao governo 245 1,9 1,9 88,8
crítica aos internautas 313 2,4 2,4 91,2
crítica ao portal 149 1,1 1,1 92,3
Formato indefinido 1011 7,7 7,7 100,0
Total 13179 100,0 100,0
FONTE: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política & Opinião Pública (CPOP/UFPR)
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Ao final deste trabalho relacionamos alguns achados com relação aos posts e
comentários coletados da timeline do Facebook dos jornais regionais do Brasil no período
eleitoral de 2014. Primeiro que o número de posts varia em volume de um jornal para o
outro, mas há um número aproximado de postagens entre os jornais, com exceção
apenas do Jornal da Manhã com poucos posts e comentários. Segundo, os jornais
tiveram postagens que variaram mês a mês no período eleitoral, mas não
necessariamente tiveram mais postagens em outubro. Terceiro, o número de comentários
foi de grande diferença observado de um jornal para o outro, o que sugere uma pesquisa
minuciosa para verificar este comportamento. E em quarto verificamos que os
destinatários dos comentários predominaram entre os candidatos ou sem candidato
específico, tendo como formatos em sua maior parte ou de elogio ou crítica ao candidato.
O que demonstra que os internautas optam por comentar preferencialmente sobre os
candidatos em posts dos jornais regionais, que citam ao menos um dos candidatos.
4. Considerações Finais
As publicações no Facebook podem proporcionar uma nova forma de análise sobre
cobertura eleitoral dos jornais nos estudos de Comunicação e de Ciência Política. Este
trabalho utilizou um recorte de uma coleta de pesquisa para este teste. A problematização
desta pesquisa consistiu na formulação das seguintes perguntas: Qual o destinatário
predominante nos comentários postados pelos internautas no período eleitoral em 2014
nos posts dos jornais regionais? Qual a forma de comentário que os internautas
priorizaram em seus comentários?
Os resultados demonstram que podemos corroborar a hipótese desta pesquisa de
que os internautas postaram seus comentários em maior parte destinado aos candidatos
à presidência priorizando a explícita menção negativa/crítica aos mesmos. Todavia é
importante mencionar que o número de comentários que priorizou a explícita menção
positiva/elogio aos candidatos foi de grande volume também. Isso demonstra que os
internautas não tem a preocupação e o interesse exclusivo em apenas criticar os
candidatos na rede social digital Facebook, pois grande parte compartilha comentários
positivos, o que proporciona um equilíbrio entre negativo e positivo no debate online.
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Referências
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BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. & GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som. Editora Vozes: Petrópolis – RJ, 2003.
CASTRO, Maria Ceres. Dilemas para a constituição do espaço público brasileiro: controvérsias midiáticas In: Mídia, Esfera Pública e Identidades Coletivas. UFMG, 2006.
CERVI, Emerson Urizzi. Opinião Pública e Política no Brasil: O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia. Tese de Doutorado em Ciência Política do IUPERJ. Rio de Janeiro, 2006
LIMA, V. Os mídia e o cenário de representação da política, Lua nova, São Paulo, 16 dez. 1996.
MAIGRET, Éric. Sociologia da comunicação e das mídias. São Paulo: Editora Senac, 2010.
MORENO, Alejandro; MENDIZÁBAL, Karla Yuritzi. O uso da redes sociais e o comportamento político no México. In: TELLES, Helcimara; MORENO, Alejandro (Org.). Comportamento eleitoral e comunicação política na América Latina: o eleitor latino-americano. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
RODRIGUES Catarina. Novas fronteiras do jornalismo: comunicação individual na era global. Universidade da Beira Interior, Portugal, 2008
SANCHEZ, Ana; GRANADO, António; ANTUNES, Joana Lobo. Redes Sociais para Cientistas. Lisboa: Nova Escola Doutoral – Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa, 2014.
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CAMPANHAS ONLINE E REDES SOCIAIS:
O uso do Facebook pelos Senadores eleitos em 201426
Isabele Batista Mitozo27
Miriane Pires Rodrigues28
RESUMO
O surgimento das plataformas online trouxe inovações ao estilo de comunicação desenvolvido entre representantes e representados. Refletindo acerca dessa nova ferramenta política, este trabalho visa a analisar como se deu a utilização dos sites de redes sociais, mais especificamente o Facebook, pelos candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, a fim de perceber como se deu a inserção das campanhas nas mídias digitais, no contexto da Web 2.0, desde o provimento de informações ao conteúdo em que, de fato, se investiu. Como resultado, percebe-se que as campanhas estão muito mais interessadas em publicar agenda e compreender a participação dos eleitores na campanha como chamada a fazer “selfies” com os candidatos ou mudar o avatar de seu perfil que, de fato, investir em transparência, tendo em vista que todos esses concorrentes já ocuparam cargos eletivos.
Palavras-Chave: Campanhas online, Facebook, Senadores.
Introdução
O advento das redes sociais como ferramentas de comunicação trouxe grandes
avanços à comunicação política. Assim, era esperado que o marketing político passasse a
utilizar esses novos canais para alcançar os eleitores, como se pode ver de maneira mais
clara desde a campanha de Barack Obama à Presidência norte-americana, em 2008, que,
por tão inserida no meio digital, foi mesmo caracterizada como campanha “pós-web” por
Gomes et al. (2013).
Tendo em vista a apropriação de estratégias desse modelo pelas campanhas
brasileiras, pretende-se desenvolver um trabalho cujo objetivo é analisar os perfis que os
candidatos eleitos ao Senado Federal, em 2014, tiveram na rede Facebook a fim de
perceber como se caracterizou a inserção das campanhas nas mídias digitais em nível de
Web 2.0. A escolha se deu pela concentração de maior conteúdo nessa rede social que
nos sites de campanha e as observações realizadas consistiram em saber 1) como as
campanhas gerenciaram três dimensões apontadas pela literatura como aquelas que
26
Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Politico e Novas Tecnologias – GEIST, da Universidade Federal do Paraná. 27
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected] 28
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, PPGCP-UFPR. [email protected]
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foram alteradas com a campanha em ambiente online: provimento de informações, oferta
de mecanismos de participação, e promoção da transparência (MARQUES et al., 2013).
O corpus empírico a ser analisado, portanto, é constituído pelos posts difundidos através
da página oficial no Facebook dos 27 candidatos eleitos ao Senado, coletados a partir do
aplicativo Netvizz. Essa escolha deveu-se ao fato de as pesquisas se concentrarem mais
nas eleições para os cargos do Poder Executivo, deixando de lado as mudanças que
podem ser percebidas, atualmente, em uma campanha online a um cargo legislativo como
o Senado, cuja escolha é também majoritária, e a especialização, constatada por
observação prévia, de muitas das campanhas daqueles que se elegeram para essa Casa.
Assim, o trabalho se estruturará em três seções: 1) Discussão teórica acerca das
campanhas online, especialmente daquelas já realizadas no contexto da Web 2.0; 2)
análise da utilização do Facebook nas eleições brasileiras de 2014, pelos candidatos
eleitos ao Senado Federal; e, por fim, 3) considerações finais acerca do fenômeno
estudado.
1. Campanhas eleitorais em ambiente online: da Web 1.0 à interatividade na era da
‘Política 2.0’
A utilização de plataformas de comunicação online pelo campo da política tem se
tornado cada vez mais comum. Especificamente, as campanhas são os períodos em que,
atualmente, se pode observar de forma mais ampla a apropriação dessas “novas”
ferramentas. Isso se deve ao fato de que plataformas online oferecem “uma gama de
estilos de comunicação, que podem desenvolver laços mais fortes entre legisladores e
seu eleitorado”, por exemplo (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013, p. 191 – tradução
própria)29.
A entrada das campanhas em ambiente online se iniciou em meados dos anos
1990, pelo investimento em websites, através dos quais as campanhas divulgavam
materiais e agenda dos candidatos, com leves traços de chamada à participação,
caracterizada pela disponibilização, entre os candidatos mais ousados (MARQUES;
SAMPAIO, 2013), de endereços eletrônicos, os e-mails, através dos quais os cidadãos
poderiam estabelecer contato com a equipe de campanha. A utilização real dos e-mails,
no entanto, servia mais à atividade de “mala-direta”, i.e., a veiculação de e-mails para
29
[...] a range of conversational-style communication, that can develop stronger ties between the legislator and his or her constituents.
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grupos de cidadãos. Nesse caso, além da precariedade de letramento digital e de
investimento nessa modalidade de campanha, pela obscuridade de seu potencial efeito
sobre a votação, aqueles candidatos ou representantes que ofereciam esse tipo de canal
não pretendiam usar o e-mail como ferramenta de interatividade, gerando, em vez de
empatia, nova insatisfação ao eleitorado.
A corrida presidencial norte-americana disputada por Bill Clinton e George Bush,
em 1992, pode ser considerada a pioneira na utilização de websites, embora, ainda, muito
limitada a limites de velocidade de internet e resumida à atividade panfletária (AGGIO,
2013), constituindo-se, desse modo, como mera transposição das estratégias offline para
o ambiente online, sem inovações.
No contexto brasileiro, somente em 2002 e 2006 os websites passaram a ser
utilizados para fins de campanha, e neles se podiam encontrar desde os jingles às
propostas dos candidatos, como ferramenta complementar ao Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral (HGPE), para veicular, inclusive, o que não poderia aparecer na
televisão, já que não havia muita fiscalização no ciberespaço àquela época (MARQUES;
SAMPAIO, 2010). Assim, as campanhas não pareciam “se preocupar em explorar os
mecanismos de interação e colaboração que o meio [digital] permite” (PENTEADO, 2012,
p. 44).
É certo que alguns fatores, tais quais exclusão digital, receio à falta de controle da
repercussão do conteúdo e ausência de especialização no trato com as plataformas
online, contribuíram para o atraso da implantação de estratégias desse tipo, no Brasil e
em outros países, onde esse tipo de tecnologia ainda engatinhava em sua implantação.
A campanha de Barack Obama, desde as primárias, à Presidência dos Estados
Unidos foi, sem dúvidas, um grande marco para novas modalidades de campanha online:
a inserção dos sites de redes sociais (SNS, conforme nomenclatura original: social
network sites). A contratação de um dos fundadores da rede Facebook, Chris Hughes,
traria grandes inovações ao modo de comunicação estabelecido entre candidato e
eleitores. A ideia, então, era aproximar Obama do eleitorado norte-americano da maneira
mais ampla possível. Os investimentos não foram escassos e o candidato, além de ter
sua própria rede social (My.BO), conseguiu se inserir em outros grupos bem específicos,
como o BlackPlanet (grupo de negros), AsianAve (para descendentes de asiáticos) e
MiGente (destinado a latinos) (GOMES et al., 2009).
A possibilidade de compartilhamento de conteúdo, portanto, passa a dar às
campanhas a função de proporcionar a mobilização do eleitorado, o que se tornou tema
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central das pesquisas relacionadas a essa área na última década (AGGIO, 2013). Houve
quem não acreditasse, contudo, que os SNS poderiam vir a substituir os websites nas
campanhas, por atenderem a diferentes propósitos (GULATI, 2007 apud AGGIO, 2013).
Eles servem a diferentes propósitos, como fornecer a possibilidade de cidadãos, distantes geograficamente, se identificarem e formarem comunidades de interesse que podem planejar ou inserirem-se em atividades presenciais tradicionais. Não obstante isto, os media sociais possibilitam que as campanhas circulem informações, conteúdos, notícias, respostas, pronunciamentos e debates através de simples publicações de links associados a sites de armazenamento gratuito de arquivos audiovisuais como o Youtube (AGGIO, 2013, p. 116).
Observando-se as campanhas atuais, contudo, pode-se constatar que há uma
adoção decrescente dos websites, pois a utilização de redes sociais parece ter ampliado
tanto o acesso quanto a circulação de conteúdo. O Facebook, o youtube e o twitter têm
servido como objeto de pesquisa para a explicação de alguns fenômenos relacionados à
comunicação política através da internet, atualmente (PENTEADO, 2012; VEERGER;
HERMAN, 2011; MARQUES et al., 2014; BACCHINI et al., 2013). É certo que grande
parte dos trabalhos se concentra em observar a relação entre representação e novos
media e pensa a possibilidade de se estabelecer um tipo de representação direta
(COLEMAN, 2005), i. e., um contato mais próximo e contínuo entre mandatários e
mandantes, a fim de fortalecer a confiança da esfera civil na esfera política, legitimando
as atividades e a própria constituição do centro de decisão.
Pensando além da adoção das plataformas digitais como instrumento de marketing
político e observando o conteúdo em que se investe em uma campanha online, pode-se
constatar que ocorreram mudanças significativas acerca do conteúdo que se espera ver
nas redes dos candidatos. Marques e Sampaio (2010) já afirmavam que o advento das
campanhas na web trazem novos padrões de comunicação política tendo em vista os
custos que essa abertura digital da campanha aos eleitores, em relação às exigências
cada vez maiores que são demandadas dos candidatos, e o apelo quanto à real eficiência
do uso da internet.
Assim, os autores afirmam que os principais quesitos cobrados nessas campanhas
são 1) provimento de informação política, uma vez que ela é o fator estimulante aos
outros domínios a serem observados; 2) motivação à participação, já que esse é o grande
fator novo que a internet pode trazer às campanhas: a interação com a audiência; e 3) a
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transparência, a partir da qual os cidadãos podem “saber os limites de influência que suas
contribuições têm” (MARQUES; SAMPAIO, 2010, p.216).
É interessante perceber, como também foi apontado por esses autores, que tais
exigências vêm daquelas direcionadas aos representantes, já eleitos. Pensando no caso
cujo estudo é apresentado neste paper, faz sentido que tais demandas estejam
presentes, uma vez que todos os candidatos ao Senado Federal já ocuparam cargos
eletivos. Dessa forma, podem-se agregar às análises do conteúdo apresentado pelas
campanhas online categorias como Homestyle Information e Impression Management,
respectivamente, informações ligadas às ações realizadas pelo candidato enquanto
representante (como incumbente ou exercendo outro cargo) e gerenciamento de imagem
pessoal, quando o candidato expõe dados pessoais, como passar a impressão de ser um
bom pai (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013).
Partindo das reflexões acima expostas, a seção seguinte procura observar mais de
perto o caso brasileiro e como as eleições no país se apropriaram das ferramentas digitais
para desenvolverem melhor esse elo prévio entre cidadãos e representantes, assim como
o conteúdo e as ações que proporcionam através desse meio, visto que a Web 2.0, ou
seja, a era de interação humana mediada pelas tecnologias digitais (STROMER-GALLEY,
2000), estabelece novas diretrizes comunicacionais, tendo adentrado todas as esferas da
política, mesmo que ainda haja um receio de contato, por parte das elites políticas, com a
esfera civil.
2. O uso do Facebook nas eleições brasileiras: uma análise da campanha dos 27
eleitos ao Senado Federal
Como se pode perceber, há alguns anos a internet tem servido de espaço para o
desenvolvimento de campanhas políticas. As últimas eleições brasileiras mostraram que,
embora ainda haja ampla lacuna na utilização desse meio, a chamada Web 2.0 pode
servir de importante plataforma tanto para a divulgação de conteúdo de campanha quanto
para o debate público, sendo este o ponto que caracteriza a diferença fundamental entre
os media digitais e os tradicionais.
No Brasil, as potencialidades das plataformas online só começaram a ser
exploradas após 2009, quando a lei eleitoral nacional passou a incluir em seus artigos e,
assim, permitir essa modalidade de campanha (MARQUES et al., 2013). Essa nova
utilização, mesmo que pós-campanha de Obama à Presidência dos EUA, em 2008, inicia-
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se de forma precária e muito cautelosa, o que suscita várias questões, tais como: 1) que
impacto eleitoral esses novos media poderiam causar; 2) se uma paridade de campanha
poderia ser instaurada, já que a disparidade de tempo no Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral (HGPE) poderia ser sanada pela propagação de conteúdo online; 3) quão
mobilizado o eleitorado poderia ser; 4) que interações poderiam ser suscitadas a partir do
desbravamento das redes sociais online; dentre outras (AGGIO, 2013).
Observando os trabalhos produzidos acerca da utilização de plataformas digitais
pelas campanhas eleitorais, percebe-se que eles têm se concentrado em estudar o
desenvolvimento das e-campanhas para cargos do Poder Executivo, especialmente à
Presidência da República, ou mesmo a estudar a utilização desse ambiente pelos
representantes (STROMER-GALLEY, 2000; MARQUES et al., 2010; GOMES et al., 2009;
IASULAITIS, 2013; CERVI; MASSUCHIN, 2013; BACCHINI et al., 2012; BECHER, 2013).
O único trabalho encontrado com estudo de candidatos ao Senado, ainda assim, aliado às
candidaturas aos governos estaduais, é aquele de Braga et al. (2013), que analisa as
campanhas online nas eleições de 2010.
Desse modo, tem-se apontado que, gradativamente, as campanhas vão
oferecendo mais acesso aos cidadãos, em um movimento que parece ter caminhado da
teoria de Norris (2001) de “pregar para os convertidos” àquela de Gibson et al. (2003), de
“pregar através dos convertidos”. Essa passagem pode se confirmar ao se observar o
modo como as campanhas ocorriam na época em que os websites eram a grande
ferramenta digital e as novas possibilidades alcançadas pelo uso de sites de redes sociais
(SNS), em que as ações dos usuários complementam e ampliam aquelas das próprias
páginas oficiais de campanha. Nesse caso, a participação da audiência chega mesmo a
ser “essencial no processo de produção de conteúdo interativo e compartilhado”
(PENTEADO, 2012, p. 42).
O caso do Facebook é ainda mais específico, pois essa rede proporciona três
ações aos usuários: compartilhar, curtir e comentar. Isso tudo além da nova atividade que
ao cidadão foi permitida: postar seu próprio conteúdo, inclusive, na página de seu
candidato. Mesmo que algumas assessorias de postulantes aos cargos eletivos, por outro
lado, bloqueiem a postagem de usuários na página oficial, como uma espécie de
gerenciamento de conteúdos, a fim de não prejudicar o desenrolar planejado para a
campanha, os internautas ainda desenvolvem estratégias para driblar esse controle, como
a criação de perfis falsos, os chamados fakes, ou a utilização de imagens de posts oficiais
para a criação de “memes”.
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Por essa razão, além do fato de o Facebook ser, atualmente, a rede social online
mais utilizada pelos brasileiros, conforme dados da Pesquisa brasileira de mídia (BRASIL,
2014), esta pesquisa decidiu observar o desenvolvimento de campanhas através dessa
SNS. Mais especificamente, propõe analisar como as páginas dos candidatos eleitos ao
Senado Federal em 2014 (Gladson Cameli – AC, Collor – AL, Omar Aziz – AM, Davi
Alcolumbre – AP, Otto Alencar – BA, Tasso Jereissati – CE, Reguffe – DF, Rose de
Freitas – ES, Ronaldo Caiado – GO, Roberto Rocha – MA, Antônio Anastasia – MG,
Simone Tebet – MS, Wellington Fagundes – MT, Paulo Rocha – PA, José Maranhão –
PB, Fernando Bezerra – PE, Elmano Férrer – PI, Álvaro Dias – PR, Romário – RJ, Fátima
Bezerra – RN, Acir Gurgacz – RO, Telmário Mota – RR, Lasier Martins – RS, Dário Berger
– SC, Maria do Carmo – SE, Serra – SP e Kátia Abreu – TO) se comportaram em relação
ao volume de conteúdo postado e em que tipo mais se investiu. Assim, as categorias de
análise serão 1) provimento de informação política, 2) motivação à participação, 3)
transparência (MARQUES; SAMPAIO, 2010), 4) Homestyle information e 5) Impression
management (LILLEKER; KOC-MICHALSKA, 2013).
Embora as assessorias de campanha já reconheçam a importância dessa
ferramenta, ou, ao menos, a necessidade de competir por atenção com os outros, a peer-
pressure (MARQUES; SAMPAIO, 2010; VICENTE-MERINO, 2007), nem todos os
candidatos investiram na modalidade “página” no Facebook: Omar Aziz possuía apenas
um perfil pessoal: José Maranhão, apenas um perfil que o classifica como “negócios”: e
Paulo Rocha não utilizou essa rede social online em sua campanha.
Assim a distribuição de postagens das páginas dos 24 candidatos que investiram
na plataforma em estudo, i.e., apenas posts provenientes da equipe de campanha,
ocorreu de forma quase homogênea, havendo poucas disparidades entre candidatos,
mesmo que expressivas, como se pode observar na Tabela 1, abaixo.
Tabela 1: Total de posts (04/07 a 06/10/2014)
Frequência Percentual
ACIR GURGACZ 287 3,3
ÁLVARO DIAS 1183 9,5
ANTONIO ANASTASIA 237 1,9
COLLOR 527 4,2
DÁRIO BERGER 395 3,2
DAVI ALCOLUMBRE 295 2,3
ELMANO FÉRRER 480 3,8
FÁTIMA BEZERRA 1426 11,4
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65
FERNANDO BEZERRA COELHO 567 4,5
GLADSON CAMELI 466 3,7
KÁTIA ABREU 322 2,5
LASIER MARTINS 591 4,7
MARIA DO CARMO 164 1,3
OTTO ALENCAR 574 4,6
REGUFFE 6 0,
ROBERTO ROCHA 308 2,5
ROMÁRIO FARIA 519 17
RONALDO CAIADO 466 3,8
ROSE DE FREITAS 439 3,4
SERRA 152 1,2
SIMONE TEBET 369 3,0
TASSO JEREISSATI 590 4,7
TELMÁRIO MOTA 17 0,1
WELLINGTON FAGUNDES 423 3,4
TOTAL 10803 100.0
FONTE: As autoras
A partir dessa tabela, pode-se perceber que as campanhas que mais investiram em
postagens foram, respectivamente, aquelas de Fátima Bezerra (1426) e Álvaro Dias
(1183). Lasier Martins (591) vem logo em seguida, mas não se distancia como aqueles da
média de posts dos outros candidatos. Por outro lado, de forma bastante díspar, Reguffe
e Telmário Mota não tiveram expressividade em sua campanha pelo Facebook: além de
postarem pouco, esse conteúdo não se concentrou em um período de campanha, como,
p.ex., na reta final, o que poderia ter ajudado a atrair seguidores.
2.1. O conteúdo das postagens
A primeira categoria a ser analisada é a informação político-eleitoral que os
candidatos dispuseram em suas respectivas páginas. Como se pode observar no quadro
abaixo (QUADRO.1), os candidatos tiveram perfis diferentes de publicação de conteúdos.
Quadro 1 – Tipo de conteúdo compartilhado pelas páginas dos candidatos
SENADOR TOTAL
INFO PART TRANP HOMESTYLE IM
ACIR Count 219 16 22 54 9 287
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66
Std. Residual
4,2 ,4 14,7 8,1 -8,4
ÁLVARO DIAS
Count 254 5 9 45 200 698
Std. Residual
-7,3 -5,1 2,1 -,1 -,8
ANASTASIA
Count 119 1 0 9 104 159
Std. Residual
2,9 -2,5 -1,0 -,4 8,0
COLLOR
Count 293 49 6 45 38 458
Std. Residual
1,8 5,3 1,7 2,7 -8,6
DÁRIO
Count 249 63 16 50 14 394
Std. Residual
1,5 9,6 8,4 4,8 -9,7
DAVI ACOLUMBRE
Count 190 3 0 12 178 295
Std. Residual
1,6 -3,1 -1,4 -1,7 9,4
ELMANO
Count 382 42 2 35 10 495
Std. Residual
5,8 3,4 -,7 ,5 -11,4
FATIMA BEZERRA
Count 392 12 1 85 335 1426
Std. Residual
-14,9 -7,1 -2,7 -,9 -4,7
FERNANDO BEZERRA
Count 406 6 0 53 340 567
Std. Residual
4,5 -4,3 -1,9 2,6 12,8
GLADSON CAMELI
Count 130 3 0 5 125 376
Std. Residual
-5,8 -3,7 -1,6 -4,0 1,0
KÁTIA ABREU
Count 205 57 0 26 4 322
Std. Residual
1,5 10,0 -1,5 1,1 -9,5
LASIER
Count 384 50 0 0 17 591
Std. Residual
2,4 3,6 -2,0 -6,2 -12,1
MARIA DO CARMO
Count 153 0 2 29 124 164
Std. Residual
6,1 -2,9 ,9 5,6 10,5
OTTO ALENCAR
Count 476 5 0 30 444 486
Std. Residual
11,8 -4,0 -1,8 -,3 24,4
REGUFFE
Count 5 2 0 1 3 6
Std. Residual
,8 3,1 -,2 1,0 ,9
ROBERTO ROCHA
Count 166 18 0 6 167 308
Std. Residual
-,8 ,6 -1,4 -3,2 7,6
ROMÁRIO
Count 277 32 4 46 122 519
Std. Residual
-1,2 1,1 ,3 2,1 -2,8
RONALDO CAIADO Count 288 36 0 14 28 466
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67
Std. Residual
1,2 2,5 -1,7 -3,0 -9,5
ROSE DE FREITAS
Count 273 1 0 37 224 439
Std. Residual
1,3 -4,5 -1,7 1,5 7,9
SERRA
Count 96 33 0 7 9 152
Std. Residual
,9 9,1 -1,0 -,9 -5,5
SIMONE TEBET
Count 144 9 0 20 122 255
Std. Residual
-,2 -1,1 -1,3 ,8 5,1
TASSO
Count 115 29 1 5 0 314
Std. Residual
-4,9 3,3 -,7 -3,4 -9,8
TELMÁRIO MOTA
Count 6 0 0 0 5 18
Std. Residual
-1,3 -1,0 -,3 -1,1 -,2
WELLINGTON FAGUNDES
Count 301 17 0 16 295 423
Std. Residual
3,7 -1,0 -1,7 -2,2 14,7
Total 9618
FONTE: As autoras.
As categorias em que todos apresentam um perfil similar são “provimento de
informação” e “transparência”, com investimentos inversamente proporcionais, no total.
Na categoria “provimento de informação”, houve alta concentração de posts,
havendo resíduos padronizados negativos (fora do padrão de distribuição) apenas para
Álvaro Dias, Fátima Bezerra, Gladson Cameli e Tasso Jereissati. Quem mais se destacou
com resíduo alto positivo foi Otto Alencar (11,8).
O candidato à reeleição Álvaro Dias, por exemplo, durante o período eleitoral
postou muitas informações políticas acerca de seu posicionamento contrário ao Governo
Federal, bem como deu ênfase à temática da corrupção no Executivo nacional e em
empresas públicas. O político deu muita ênfase à sua opinião em relação às políticas
governamentais, e um pouco menos a suas atitudes enquanto Senador da República.
De maneira geral, as páginas postavam muitas informações sobre sua trajetória
política, sua agenda de campanha, sobre suas crenças e bandeiras individuais e menos
sobre suas propostas e seus projetos.
Em relação à categoria “motivação à participação”, o desempenho das campanhas
dos senadores em estudo podem ser destacados como bastante positivos apenas em três
casos, que apresentaram resíduos padronizados destoantes dos outros da tabela: Kátia
Abreu (10,0), Dário Berger (9,6) e José Serra (9,1).
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O resultado é alarmante quando se observa a categoria “transparência”: com
exceção apenas de Acir Gurgacz (com 22 posts) e Dário Berger (com 16 posts), essa
categoria esteve ausente das campanhas. Os resíduos padronizados nesse quesito são
significativos e positivos apenas para os dois candidatos já mencionados (14,7 e 8,4,
respectivamente) e para Álvaro Dias (2,1), sendo que este beira a margem de distribuição
normal.
Em relação ao quesito “homestyle”, em que o candidato apresenta feitos de quando
ocupava cargo público, destaque expressado pelo cálculo dos resíduos, apenas para as
campanhas de Acir Gurgacz (8,1), Dário Berger (4,8) e Maria do Carmo (5,6). Nessa
temática, apenas Lasier Martins não investiu.
A última das categorias, muito ligada aos estudos sobre personalização da política,
momento em que a candidatura se volta para a construção da imagem do candidato como
cidadão comum, apresentou investimento de todas as campanhas, com exceção de
Tasso Jereissati, cuja página não publicou nada a respeito da vida do senador. Por outro
lado, houve apenas dois destaques: Otto Alencar (Rp. 24,4) e Wellington Fagundes (Rp.
14,7).
A maior evolução do manejo da plataforma por parte das assessorias de campanha
online foi a percepção de que postagens com imagens são propícias a circularem mais.
De um modo geral, 71,5% das postagens usaram imagem. A Tabela 2 mostra como cada
candidato usou desse recurso, em relação ao total de posts em sua página.
Tabela 2: Proporção de imagens compartilhadas em relação ao total de posts
Frequência Percentual
ACIR GURGACZ 223 78
ÁLVARO DIAS 674 57
ANTONIO ANASTASIA 159 67
COLLOR 446 84,6
DÁRIO BERGER 307 78
DAVI ALCOLUMBRE 207 70
ELMANO FÉRRER 336 70
FÁTIMA BEZERRA 1243 87
FERNANDO BEZERRA COELHO 472 83,2
GLADSON CAMELI 376 81
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69
KÁTIA ABREU 250 77
LASIER MARTINS 451 76
MARIA DO CARMO 134 82
OTTO ALENCAR 486 84.6
REGUFFE 2 33,3
ROBERTO ROCHA 227 73,7
ROMÁRIO FARIA 1200 57
RONALDO CAIADO 333 71,4
ROSE DE FREITAS 330 75
SERRA 97 63,8
SIMONE TEBET 255 69
TASSO JEREISSATI 292 49,5
TELMÁRIO MOTA 5 29,4
WELLINGTON FAGUNDES 367 86,7
TOTAL 8872 71,5
FONTE: As autoras.
Como se pode observar, Wellington Fagundes, Collor e Fernando Bezerra
praticamente basearam sua campanha na comunicação imagética, apresentando os
maiores índices de uso dessa estratégia (mais de 80%). Reguffe e Telmário Mota, que já
tinham apresentado poucas postagens, também não apresentaram uma campanha bem
treinada em relação ao que foi compartilhado, pois apresentaram os menores índices de
uso de imagens (33,3% e 29,4%, respectivamente).
Conforme observado, a utilização do Facebook nas campanhas dos senadores foi
intensa. As campanhas, mesmo que ainda em processo de aprendizagem em relação às
estratégias que funcionam para entrar em contato com o eleitor, progrediram e investiram
em estratégias, no Facebook, que possibilitavam a maior visibilidade possível do
candidato. As propostas (i.e., o provimento de informação política), contudo, ficaram em
segundo plano, tendo havido um maior investimento em postagens com imagem
estampada, o que é uma estratégia garantida de maior probabilidade de angariar curtidas
e comentários. Na campanha de Gladson Cameli, senador eleito pelo Acre, por exemplo,
houve grande concentração de postagens que faziam referência a datas comemorativas e
desejos de “bom dia” aos seguidores. Na mesma proporção, houve um incentivo da
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70
campanha para que as pessoas enviassem fotos e mensagens de apoio ao candidato, o
que, cuidadosamente, recebia respostas da equipe de Gladson.
Outras campanhas, como a de Lasier Martins, investiram em fazer fotos dos
eventos offline, disponibilizar o álbum na timeline e chamar os seguidores a se
encontrarem e copiarem as fotos em que apareciam. Essa estratégia, considerada de
participação, é, entretanto, bastante limitada à compreensão de participação como
simples apoio presencial ao candidato. Em um contexto de Web 2.0, i.e., a era da
interação, esse pensamento ainda soa muito retrógrado a uma campanha que se diga
inserida nas redes sociais.
Outra possibilidade pouco explorada pelas campanhas, apesar de ser uma
atividade em alta no Facebook30, foi a criação de “eventos”, atividade à parte da timeline,
para aos quais se podem fazer convites a seguidores e esses a seus amigos, como forma
de divulgação da agenda do candidato. Na timeline da página eram divulgadas as
carreatas, os encontros, as convenções de partido em que o candidato estaria e havia
uma convocação dos apoiadores, mas faltou às equipes um pouco mais de letramento
digital em relação ao manejo da plataforma.
A própria oferta de uma página em rede social já se caracteriza como uma oferta
de mecanismo de participação. O problema se encontra na restrição da visibilidade dessa
participação, pois, quando se verifica que dos 24 candidatos analisados 14 (i.e. 58%
deles) tinham sua página bloqueada para postagens dos internautas, percebe-se que o
receio que Stromer-Galley (2000) apontava no início do século, em relação à interação,
ainda é concreto.
A maior deficiência das campanhas, por sua vez, é a falta de investimento tanto em
informação estritamente política, incluindo atividades prévias e futuras dos candidatos,
como representantes, e, principalmente, na transparência que poderia ser veiculada
através desses perfis. Isso, além de driblar o filtro jornalístico e os enquadramentos dados
por essa esfera acerca de possíveis atividades ocultas dos candidatos, fortaleceria a
confiança dos eleitores nas candidaturas. Porém, ainda há uma grande resistência das
campanhas nesse quesito.
Assim, percebemos que os assessores de campanha acabam dando mais ênfase a
postagens com informações imagéticas e menos atenção ao debate, que pode se
caracterizar pelo conjunto de informação política, de campanha ou não, motivação à
30
Observe-se a onda de eventos fake criados nessa rede em meados do segundo semestre de 2014.
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participação e, especialmente no caso de candidatos que já exerceram cargos eletivos,
transparência.
3. Considerações finais
A partir da análise realizada aqui, pode-se constatar que as campanhas tomaram
novas formas a partir do advento dos media digitais, em especial os sites de redes
sociais. Essa mudança, contudo, ainda não parece ter alcançado um patamar adequado a
fim de que se explorem possibilidades maiores, em relação ao desenvolvimento de novas
estratégias, que elas proporcionam. O próprio fato de a equipe de muitos candidatos
bloquearem a página da campanha às postagens dos seguidores já demonstra que,
espelhando-se no que acontecia ainda na primeira década do século XXI, as elites
políticas ainda estão fechadas ao diálogo e à possibilidade de deliberação acerca do que
os cidadãos desejam e aquilo que é possível realizar, dentro das possibilidades do
mandato e das atribuições de um senador, como no caso estudado.
A transparência foi o recurso menos utilizado nas campanhas no Facebook e a
participação foi pouco explorada pelos senadores. Houve poucas iniciativas dos
candidatos em buscar a opinião dos eleitores e poucas chamadas a participação. Apenas
alguns senadores, como Collor, Dário Berger, Lasier Martins, Roberto Rocha e Katia
Abreu, exploraram um pouco mais a ferramenta de participação, quando pediam a opinião
dos eleitores sobre possíveis temas para debater no rádio e/ou tv com os adversários, ou
com o lançamento de campanhas, como foi o caso da senadora Katia Abreu que
chamava a população para “abraçar o Tocantins” postando sobre o amor que tinham por
aquele estado. Outros meios de motivação à participação foram convites para o
compartilhamento e divulgação de matérias, sair em caminhadas e carreatas, postar fotos
com o candidato, dentre outros. Mas não houve casos em que o político levantasse a
opinião dos eleitores sobre temas polêmicos, por exemplo, o que poderia ajudá-lo a
elaborar suas propostas e projetos.
Desse modo, um fator importante a ser notado é se, em campanhas online,
“candidatos e eleitores estão interagindo genuinamente entre si em processos de
deliberação ou se a maioria das pessoas, na verdade, apenas têm acesso aos artefatos
que contêm apenas aquilo que os candidatos desejam que os cidadãos vejam, leiam ou
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acreditem” (STROMER-GALLEY, 2000, p. 119 – Tradução própria)31. Participação, nesse
caso, parece estar sendo entendida, ainda, como chamada a caminhadas, postagem de
fotos de apoio e, portanto, está longe de alcançar uma construção colaborativa de
projetos.
É difícil precisar o quanto a campanha online, neste caso, através do Facebook,
reverteu-se em votos para esses candidatos (o que foge do escopo deste trabalho),
sobretudo porque há fatores externos bastante influentes, como o financiamento de
campanha. No entanto, “embora haja um vivo debate sobre o quanto as e-campanhas
replicam características das campanhas off-line ou contribuem para uma mudança
fundamental no discurso democrático” (VEERGER et al., 2011), é visível que a web se
tornou uma ferramenta importante para a maior inserção dos cidadãos nos processos
políticos, como se pôde observar melhor no último pleito brasileiro.
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31
[...] candidates and people are genuinely interacting with each other in a process of deliberation, or if the most people can get is the artifacts of what candidates want citizens to see, read or believe.
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74
PARTIDOS E REDES SOCIAIS:
Análise da ação dos partidos brasileiros no Facebook32
Leonardo Caetano da Rocha33
RESUMO
O trabalho aborda as relações entre partidos políticos e internet no Brasil, mais especificamente como tais instuições atuam junto ao Facebook, em períodos não eleitorais. A relevância da pesquisa, encontra-se na necessidade dos partidos agirem de forma efetiva dentro das novas mídias, pelo grande impacto que as mesmas possuem no âmbito social, especialmente nas relações políticas, voltando nosso olhar para como se instiga a prática democrática para além dos períodos eleitorais. A literatura concernente a área e os estudos de caso referentes a atuação partidária na rede, nos demonstram as principais preocupações dos teóricos sobre os impactos da web no campo político, bem como as tendências de ações das instituições partidárias, sendo assim, temos como hipóteses: I – os partidos tendem a atuar na internet no sentido da difusão da informação; II – não há padrões de ação diferentes quando contrastados partidos de tamanho e ideologia diferentes; III – existe um considerável grau de personalismo nas ferramentas. A metodologia tem base em Gibson & Ward (2000), submetendo as ferramentas partidárias a análise a partir de um conjunto de variáveis que conformam quatro dimensões de análise. Os resultados apontam para uma subutilização dos potenciais interativo e mobilizador da internet, um uso mais efetivo pelos partidos de esquerda e a um grau não acentuado de o personalismo.
Palavras-chave: Partidos políticos, Internet, Redes Sociais, Facebook.
1. Introdução
O presente artigo provém de um dos capítulos da dissertação de mestrado do
autor, defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal do Paraná no ano de 2014.
Nosso objeto de análise é a relação entre política e internet. Mais especificamente
buscamos compreender a atuação dos partidos políticos junto as novas TICs no contexto
brasileiro, em especial as redes sociais, focalizando os períodos não eleitorais.
Dentre nossos objetivos, buscamos demonstrar qual o sentido da ação das
instituições partidárias nas redes sociais, ou seja, se as mesmas têm aproveitado os
potenciais interativos e mobilizadores das mesmas ou apenas têm atuado no sentido da
difusão da informação, reproduzindo a lógica das mídias tradicionais. Além disso, temos
como pretensão observar se existem padrões de uso entre os partidos brasileiros,
levando em conta diferenças relativas ao tamanho e ao posicionamento no espectro
político. Por fim, iremos mensurar o grau de personalismo nas ferramentas em referência,
32
Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo grupo de pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias, da Universidade Federal do Paraná. 33
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná – [email protected].
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explicitando se os conteúdos veiculados nas mesmas possuem foco nas instituições em si
ou em seus líderes.
A relevância deste estudo encontra-se, em primeiro lugar, no contexto de falta de
legitimidade por que passam os partidos políticos de uma perspectiva global (Dalton &
Wattenberg, 2000), fato que se acentua quando tratamos da realidade brasileira, como
demonstrado no forte caráter antipatidário exposto nas manifestações de Junho de 2013
no Brasil. Isto posto, os indivíduos, sobretudo os mais jovens, têm encontrado na web um
meio para atuação política desvinculada das instituições tradicionais, em especial através
das redes sociais, tendo em vista o potencial que as mesmas possuem em propiciar um
ambiente de debate e mobilização política. Tais fatos ficam explícitos quando olhamos
exemplos de importantes movimentos políticos contemporâneos que tiveram sua origem
nas redes, tais como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street.
Com efeito, após a presente introdução, faremos um breve balanço da literatura e
explicitaremos as hipóteses e a metodologia empregada. Numa terceira seção
apresentaremos os dados e a análise para então concluirmos.
2. Revisão teórica, hipóteses e metodologia
A internet, assim como os demais meios de comunicação quando se
desenvolveram, provocou modificações significativas no processo comunicativo, e, por
consequência, nas relações sociais como um todo. O campo político não está alheio a
este processo, uma vez que, como mencionado, a web tornou-se espaço fértil para ações
de caráter político.
Neste contexto, os indivíduos que se propuseram a analisar os possíveis impactos
da introdução das novas mídias nas relações políticas, produziram perspectivas diferentes
quanto ao processo descrito (NORRIS, 2000).
A vertente dos ciberotimistas, acreditava que a internet poderia revolucionar o
campo político, produzindo uma radicalização da prática democrática ao aproximar os
cidadãos dos espaços de poder e de seus representantes, criando mecanismos de
deliberação e acirrando as disputas entre as instituições partidárias (LILLEKER et al,
2010, DUDGE, 1996, NEGROPONTE, 1995 apud BRAGA et al, 2009). Por outro lado, os
ciberpessimistas entendiam que as novas mídias apenas se adequariam a lógica política
vigente, reproduzindo em seu meio as relações já existentes nesta esfera, como por
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exemplo, com a mais eficiente utilização por parte das instituições políticas com maiores
condições estruturais (SCHWEITZER, 2005, SMALL, 2008, VACCARI, 2008).
Entre os dois polos, encontram-se os cibermoderados, entendendo que a web pode
causar modificações significativas nas relações políticas, contudo, sem produzir
modificações estruturais. Nas relações interpartidárias, as instituições ditas menores
poderiam lançar mãos de recursos com o intuito de equilibrar as disputas, mas haveria
uma tendência a um uso mais efetivo pelas grandes instituições (EINSENBERG, 2003,
ROCHA & NICOLÁS, 2013).
Os estudos de caso centrados na ação dos partidos no meio digital, observam a
existência de certos avanços mas que pouco modificam as relações políticas
estabelecidas. Em suma, os partidos tendem a utilizar a internet como forma de
divulgação de informações em detrimento a um viés mais interativo e mobilizador,
havendo forte moderação das ferramentas utilizadas e conteúdos veiculados, as disputas
entre os partidos sofrem pouca influência, posto que mesmo que os partidos menores
tenham espaço não dispensado à eles nas mídias tradicionais, os partidos maiores
utilizam os recursos da web de forma mais eficiente em geral (BLANCHARD, 2006,
GIBSON & WARD, 2000, SILVA, 2012, VACCARI, 2008).
No Brasil a realidade não é diferente, pois ainda que observamos um crescimento
na utilização das novas mídias, elas se mostram pouca interativas e intensamente
controladas pelas direções. Contudo, não se observa grandes diferenças na ação digital
quando comparamos partidos grandes e pequenos, ou de tendências ideológicas distintas
(MARQUES, 2005, BRAGA et al, 2009).
Isto posto, as hipóteses que servem como base para este trabalho são: a) Os
partidos políticos brasileiros utilizam as redes sociais como meio de difusão de
informações, em detrimento a perspectivas interativas e mobilizadoras; b) Não existem
significativas diferenças no uso entre partidos de tamanho e posição no espectro
ideológico diferentes; c) Existe um grau relevante de personalismo nas páginas partidárias
nas redes sociais.
Para verificarmos a validade das hipóteses, utilizaremos como base o modelo
criado por Gibson & Ward (2000) e desenvolvido posteriormente por outros autores
(SILVA, 2012, VACCARI, 2008). Dessa forma, nossa metodologia é composta por quatro
dimensões de análise, Difusão da informação, Interação, Mobilização e Sofisticação,
cada uma destas contempla uma série de variáveis a partir das quais se atribui um valor
em acordo com a existência e a qualidade do emprego dos recursos na ferramenta
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analisada. Podemos então, extrair índices de uso, tanto geral, quanto para cada dimensão
de análise, bem como para um item específico, como no caso do personalismo.
Nosso universo de análise contém as fan pages oficiais das direções nacionais dos
32 partidos políticos brasileiros com registro no Tribunal Superior Eleitoral. Destes 32 não
foram encontradas as páginas de PTB e PCdoB, ressaltando que outros três partidos,
PTC, PRP e PPL, estavam com suas páginas fora do ar34. Tal fato indica que, apesar de
ser uma ferramenta intensamente disseminada dentre os cidadãos brasileiros, cinco
partidos, ou seja, mais de 15% da totalidade de instituições partidárias no Brasil, sequer
possuem tal ferramenta. Dessa forma, retiramos estas cinco agremiações para o cálculo
dos índices uma vez que as mesmas receberam a qualificação “0” em todas as
variáveis35, fato que abaixaria todos os índices e poderia enviesar o entendimento sobre o
uso das redes sociais pelos partidos.
3. Partidos e Facebook no contexto não eleitoral
Após a análise das páginas obtivemos os seguintes índices gerais e para cada
dimensão de análise:
Tab. 1 Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros36
Ferramenta Difusão da informação Interação Mobilização Sofisticação Índice geral
Facebook 3,3 1,9 0,8 5,2 2,8
Fonte: Autor
Observamos índices baixos presentes nas dimensões e, por consequência, um
índice geral igualmente baixo, alcançando apenas a marca de 2,8. Isto posto, podemos
inferir que, de uma perspectiva geral, a utilização da ferramenta em referência pelos
partidos brasileiros ainda é consideravelmente precária.
Voltando nosso olhar para as dimensões de análise, ficam claros os baixos índices
e a sobreposição da dimensão Difusão da informação em relação a Interação e
Mobilização, estando praticamente dois pontos acima da primeira e três da segunda.
34
Ressalta-se que a presente análise ocorreu no primeiro semestre de 2014. 35
Apenas na variável Grupos todos os partidos receberão a qualificação “10” uma vez que os grupos independem da existência de uma fan page. 36
Os valores pouco mudariam caso fossem inclusos os índices dos partidos sem página ou que estão com as mesmas fora do ar, a maior variação seria em Sofisticação que cairia 0,6. Os valores com os 32 partidos seriam: Difusão da informação 2,9; Interação 1,7; Mobilização 0,7; Sofisticação 4,4; Índice geral 2,4.
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Leva-se em conta que o índice de Difusão da informação é de apenas 3,3, entretanto
Interação alcança o patamar extremamente baixo de 1,9, e Mobilização alcança uma
marca praticamente nula, inferior a 1,0.
Portanto, aqui também verificamos que apesar de índices baixos no sentido da
difusão da informação, esta forma de ação sobrepõe-se sobre os vieses interativos e
mobilizadores, ou seja, os partidos mesmo que de forma deficiente utilizam o Facebook
como meio para difundir informação subutilizando demais potenciais da ferramenta.
Confirma-se, assim a primeira hipótese.
Com relação à dimensão Sofisticação, esta atinge um índice muito próximo da
média. Como as páginas são as mesmas para todos os partidos, fica claro que os
recursos possíveis de serem utilizados para incrementar, sobretudo seus posts, ainda não
são empregados de maneira ostensiva pelas organizações partidárias no Brasil.
Gráf. 1: Índices de uso do Facebook pelos partidos políticos brasileiros
Fonte: Autor
Isolando as variáveis de maior e menor destaque dentre as dimensões, temos
respectivamente: Difusão da informação - Cores e símbolos 8,1 e Agenda 0; Interação -
Grupo 10 e Videoconferência 0; Mobilização - Manifestações 1,6 e
Contribuição/Produtos/Divulgação de materiais 0; Sofisticação - Tamanho dos textos 8,5 e
Quantidade de áudios 0,1.
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Isto posto, passamos a buscar as relações entre os índices encontrados e
diferenças entre as insituições partidárias, tendo como base tamanho e ideologia37,
Tab. 2: Correlações entre tamanho e os índices de uso das fan pages partidárias
Fonte: Autor
Conforme o teste, nenhum índice possui um nível de significância mínimo em
relação a tamanho. O índice de difusão é o que mais se aproxima de uma relação
significante, apresentando um índice médio de correlação negativo, ou seja, em favor dos
partidos maiores.
Tab. 3: Correlações entre ideologia e os índices de uso das fan pages partidárias Correlations
ESPECTRO
IDEOLÓGICO
Índice
Difusão
Índice
Interação
Índice
Mobilização
Índice
Sofisticação
Índice
Geral
ESPECTRO
IDEOLÓGICO
Pearson
Correlation
1 ,191 ,035 ,672** ,282 ,534**
Sig. (2-
tailed) ,339 ,861 ,000 ,154 ,004
N 27 27 27 27 27 27
Fonte: Autor
Neste ponto encontramos uma correlação bastante relevante. A relação entre o
índice geral de uso do Facebook com a posição ideológica dos partidos aponta um grau
interessante de significância. Ao mesmo tempo aponta um índice de correlação positivo
de 0,534, isso implica em uma correlação média mas quase chegando a uma correlação
alta. Quanto mais a esquerda melhor a utilização da rede social pelo partido, ou seja, os
37
O posicionamento destes partidos se deu pela representatividade na Câmara Federal quanto ao tamanho, e de acordo com Becher & Braga (2013), quanto a ideologia. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014).
Correlations
TAMANHO
Índice Difusão
Índice Interação
Índice Mobilização
Índice Sofisticação
Índice Geral
TAMANHO Pearson Correlation
1 -,340 -,177 ,161 ,274 -,083
Sig. (2-tailed)
,082 ,378 ,423 ,167 ,680
N 27 27 27 27 27 27
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partidos de esquerda tendem a utilizar melhor o Facebook quando comparados aos de
centro e direita, e os de centro tendem a utilizar de forma mais eficaz em relação aos de
direita.
No quadro também fica explicita uma correlação ainda mais significativa e forte
quando isolado apenas o índice de mobilização. O índice de correlação atinge um nível
considerado alto, superior a 0,60, e também positivo. Dessa forma, podemos afirmar que
há uma alta tendência dos partidos de esquerda utilizarem mais o Facebook como forma
de mobilização em relação aos partidos de centro e direita, ao passo que os de centro
também tendem a utilizar a ferramenta no sentido da mobilização mais do que os de
direita. As duas correlações de destaque estão representadas nos gráficos subsequentes.
Gráf. 2: Correlação entre o índice geral de uso e ideologia nas fan pages dos
partidos políticos brasileiros
Fonte: Autor
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Gráf. 3: Correlação entre o índice de mobilização e ideologia nas fan pages dos partidos brasileiros
Fonte: Autor
Com efeito, podemos confirmar apenas parcialmente a segunda hipótese, uma vez
que, quando focalizamos tamanho, não observamos padrões distintos de uso para
partidos maiores e menores, entretanto, no quesito ideologia fica explícito um padrão mais
eficiente de uso por parte dos partidos de esquerda.
Por fim, no que concerne ao grau de personalização38 nas fan pages partidárias,
obtivemos os seguintes índices.
Tab. 4: Índices de personalização nas fan pages dos partidos brasileiros
Índice geral da variável “Referências aos líderes”
Índice geral da variável “Links para páginas de líderes”
Índice geral de personalização
6,2 1,8 4,0
Fonte: Autor
38
Para mensurar o grau de personalização foi elaborado um índice específico, a partir de duas variáveis específicas presentes na dimensão de análise Difusão da informação. Para um maior detalhamento ver Rocha (2014).
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Os dados evidenciam um grau de personalização pouco inferior a média,
alcançando 4,0. Neste ponto fica claro certo contraste, posto que a variável Referências
aos líderes alcança um valor mais de 4,0 superior a variável Links para páginas de
líderes, a qual promove uma queda no índice geral. Portanto, mais uma vez não podemos
confirmar incisivamente a terceira hipótese, posto que com um índice inferior a média não
podemos dizer que as páginas dos partidos no Facebook têm um caráter quase
exclusivamente personalista.
Entretanto, não podemos deixar de pontuar a intensidade de referências aos
líderes nas páginas, sendo que 12 dos 27 partidos tiveram mais de 20 referências em
seus últimos 30 posts. Neste prisma, o viés personalista existe e possui força, mas não se
configura como a principal função dos partidos brasileiros junto às redes sociais.
Para concluirmos, fazemos uma breve análise particular dos índices alcançados
pelos partidos. Nesse sentido, destacaremos as instituições que obtiveram os melhores e
piores resultados.
Gráf. 4: Índices das dimensões de análise das fan pages de cada partido brasileiro
3,44 4,3
5,64,6 4,6 5
3,44
1,2
4,3
2,8 2,84
5,3
2,8 2,5 2,8 2,53,1
4
1,8
3,73,1
1,81,2 1,2
2,7 1,1
4,41,1
4,4
2,2 1,1
2,21,6
4,4
1,1
1,6 1,6
1,6
1,1
1,1 2,2 1,1 2,22,2
1,6
1,1
2,2
1,6
1,6
1,1 1,6
3,1
3,7
0,6
2,5
0
00,6 1,8
0,6 0,6 0,6
1,2 1,20
0
1,2
1,2
1,2 00
0,6
1,8
0,6
0
0
00
66 5 5 5
6 5,85
6 6 66 6 6
5
65
5,86 5
4
5
3
4
5
53
Índice de difusão da informação Índice Mobilização Índice Interação Índice Sofisticação
Fonte: Autor
Entre os três partidos de maior destaque no Facebook aparecem dois
ideologicamente considerados de esquerda e um de centro. Com índices muito próximos,
PSTU e PSOL lideram no índice geral. O primeiro que é um pequeno partido de esquerda
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com presença em alguns meios no campo sindical e estudantil, parece aproveitar a
internet como espaço para difundir suas ideias e mobilizar a militância já que não desfruta
de espaços nas mídias tradicionais. Para o segundo pode-se dizer o mesmo, sobretudo
com relação a mobilização, contudo, é um partido que vem crescendo nos últimos anos,
tendo representação no congresso nacional, dirigindo cidades, inclusive uma capital39, e
obtendo votações relevantes nos pleitos presidenciais.
Por fim aparece o PT, partido que detém o governo federal há mais de uma década
e que deu origem aos dois partidos anteriormente citados. Com origem na esquerda e
aproximação ao centro nos últimos tempos, apesar de aparecer entre os três melhores,
possui um índice muito abaixo se considerado seu tamanho e relevância no âmbito
político nacional. O partido se destaca pelo seu índice de Interação juntamente com
PSDB e PEN, já na primeira dimensão de análise destaca-se o PSD ao passo que em
Sofisticação, além de PSTU e PSOL, temos diversos partidos de médio porte40 dividindo a
melhor qualificação.
O conjunto dos partidos de menor destaque abarca três instituições consideradas
de direita, duas de médio e uma de pequeno porte. Ressaltamos aqui que a distância
entre o partido de maior e menor destaque é de apenas 2,4, demonstrando que não há
uma grande diferença no uso entre os partidos. Os dois melhores partidos entre os de
menor destaque são PROS e PP. O primeiro é uma nova agremiação fundada em 2013
sob forte influência de indivíduos ligados a igrejas neopentecostais, mas que já nasceu
influente com 20 Deputados Federais. O segundo corresponde a uma sigla que se
modificou ao longo do tempo, mas possui tradição na direita brasileira, e
coincidentemente, forma junto com o PROS um bloco parlamentar na Câmara dos
Deputados, configurando a terceira maior bancada da casa.
4. Conclusão
Buscamos no presente trabalho descrever o estágio de utilização de uma das
principais ferramentas do âmbito digital, a rede social Facebook, por parte das instituições
partidárias brasileiras. Destacamos o período não eleitoral pela menor preocupação da
literatura com o mesmo, e por entendermos ser importante compreender a ação
comunicativa virtual dos partidos para além das eleições.
39
Macapá (AP), Prefeito Clécio Luis. 40
PSB, PPS, PV, PSDC, PCO, PRB, PR, PEN e SDD.
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Com efeito, destacamos com base na literatura, os principais pontos analisados nos
estudos concernentes a relação partidos e internet, construindo as hipóteses que
nortearam a pesquisa. Por intermédio da metodologia apresentada, observamos que o
principal sentido do uso da web pelos partidos brasileiros é relativo à difusão da
informação, subutilizando os elementos diferencias da internet, vale dizer interação e
mobilização, comprovando nossa primeira hipótese.
No que diz respeito as eventuais diferenças no uso, ficou explicito que não existem
grandes distinções quando contrastados instituições de tamanhos diferentes. Todavia, no
tocando a ideologia, os partidos de esquerda apresentaram índices de uso mais efetivos
quando comparados aos de centro e direita, o que fica ainda mais acentuado quando
destacamos o quesito mobilização. Portanto, comprovamos apenas parcialmente a
segunda hipótese. Quanto a personalização, foram encontrados índices relevantes, mas
não a ponto de inferirmos que este seja o foco principal da ação nas ferramentas
analisadas.
De uma forma geral podemos dizer que o uso das novas mídias pelos partidos
brasileiros no período não eleitoral ainda é bastante precário, ou seja, a efetividade de
uso não está a altura da importância que as redes sociais tem apresentado no processo
comunicativo contemporâneo, bem como nos processos de discussão e mobilização
política. Além disso, as instituições tendem a atuar neste meio com a lógica proveniente
das mídias tradicionais, com efeito, utilizam tal espaço como um meio de difusão da
informação em detrimento ao potencial interativo e mobilizador do mesmo. Fica explícito
com isso, a dificuldade das direções partidárias em abrir espaços dialógicos com os
cidadãos, buscando um diálogo mais efetivo e a construção de pautas em conjunto com
os segmentos da sociedade.
Referências bibliográficas
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PARTIDOS POLÍTICOS E INTERNET:
Os websites partidários e o eleitorado jovem paranaense nas eleições de 201441
Fabrícia Almeida Vieira42
RESUMO
No campo político a internet é um instrumento que proporciona a interação entre eleitores e partidos políticos a partir dos recursos de diálogo disponíveis nas páginas dos websites. De acordo com a Secretaria Nacional da Juventude (2013) a internet é o segundo meio de comunicação mais utilizado como fonte de informação e comunicação pela juventude. O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período eleitoral das eleições de 2014. Para isso foi selecionado o período de 01 a 30 de setembro para realizar-se o acompanhamento do uso dos websites partidários pelos respectivos partidos. O método utilizado para a coleta de dados baseia-se em dois tipos de análise: a análise formal e a funcional dos portais. As evidências coletadas mostram que os websites partidários são subutilizados como instrumento de mobilização e interação com a juventude. Tal resultado pode ter como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais pessoais dos candidatos – facebook, twitter e websites pessoais - em detrimento aos websites partidários.
Palavras-chave: Websites; Partidos Políticos; Internet; Eleições.
1. Política, eleições e internet
O objetivo desta pesquisa é entender como os partidos do PT, PMDB e PSDB
utilizam os websites para interagir e mobilizar os jovens eleitores paranaenses no período
eleitoral das eleições de 2014.
O interesse nesta pesquisa decorre do fato de que nos últimos anos no Brasil, e
exclusivamente no estado do Paraná, houve um avanço de pesquisas na área da Ciência
Política e da Comunicação Social que buscam identificar a adaptação dos partidos
políticos junto à internet (DORNELLES, 2005; IASUALAITIS, 2007; ROCHA & NICOLÁS,
2012; CARVALHO, 2013). Entre as principais preocupações que norteiam as pesquisas
realizadas estão: i) saber como os partidos políticos se utilizam dos recursos de interação
e de comunicação que a internet oferece; ii) identificar o público alvo que os partidos
políticos procuram atingir; iii) comparar o uso da internet pelos diferentes partidos
políticos. Há um consenso entre uma parte considerável destas pesquisas de que os
partidos políticos ainda não se adaptaram totalmente a utilização da internet, aproveitando
41
Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014” e desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Instituições, comportamento político e novas tecnologias (GEIST), da Universidade Federal do Paraná. 42
Mestranda de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná, [email protected].
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pouco os recursos que essa tecnologia disponibiliza. Em comum os estudos tem
mostrado que os websites partidários são mais utilizados para a comunicação
intrapartidária – militantes e membros do partido – e para a autopromoção do
candidato/político (GIBSON ET AL, 2003; DORNELLES, 2005; BLANCHARD, 2006;
IASULAITIS, 2007; NICOLÁS, 2009, ROCHA & NICOLÁS, 2012; FILHA & RIEGER,
2013).
A principal tecnologia fruto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(NTICs) é a internet. Segundo Eisemberg (2003, p. 491) a internet pode ser entendida
como uma “rede mundial de computadores” formando uma sociedade de rede. Ou seja, a
internet é um meio de comunicação que permite acesso de várias pessoas de qualquer
lugar do mundo. Permite a aproximação das pessoas diminuindo a “distância efetiva entre
as pessoas, aproximando-as e dando a impressão de vivermos em uma enorme aldeia
composta por todos os internautas” (EISEMBERG, 2003, p. 497).
No âmbito político a possibilidade de interação que a internet proporciona pode
fortalecer o processo democrático participativo, incluindo a participação via online do
eleitor nos assuntos políticos. Segundo Stromer-Galleu, autora utilizada por Aggio, a falta
de meios de aproximação e de debate entre eleitores e candidatos pode ser corrigida
através da utilização da internet (STROMER-GALLEU, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 80-
84). Entretanto, Aggio expõem que as iniciativas para estabelecer aproximação, diálogo,
discussão entre eleitores e representantes são poucas (AGGIO, 2010, p. 86).
Assim, os websites partidários, objeto de estudo desta pesquisa, são considerados
como espaços de interação, informação e mobilização e os partidos políticos podem usar
essa ferramenta como um instrumento para diferentes fins. Usá-lo para informar e educar
o eleitor acerca da conduta eleitoral, mobilizar e recrutar eleitores, circular informações
negativas a respeito dos adversários ou reunir todos estes artifícios em um único
ambiente (STEFFEN, 2006, p. 5). Neste contexto é que se insere a proposta desta
pesquisa. A eleição é um momento de interação entre eleitores e partidos num regime
político democrático. Os candidatos e partidos têm o período da campanha eleitoral para
dialogar com os eleitores e mostrar suas propostas, para convencer o eleitorado de que
vale a pena atribuir o voto a eles. Dornelles assegura que está tecnologia é capaz de
melhorar a imagem partidária e pode promover a captação dos jovens (2005, p. 18 e 19).
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2. Metodologia
Procura-se aqui nesta pesquisa responder a seguinte pergunta: de que forma os
partidos do PT, PMDB e PSDB utilizam os websites partidários para manter interação e,
consequentemente, mobilizar os eleitores jovens paranaenses em um período eleitoral?
A pesquisa tem por objetivo verificar, de maneira comparativa, se os partidos
políticos utilizam os websites partidários como ferramenta de campanha. Visando
identificar, de forma mais específica: i) se os recursos de participação nas páginas dos
websites (como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estão ativos; ii) identificar se a
juventude é prioridade na construção das páginas dos websites partidários; iii) identificar
qual partido, dentre os analisados, buscou disponibilizar informações sobre a importância
do voto; iv) identificar quais são as estratégias de aproximação que os websites
partidários estabelecem com o segmento jovem; v) verificar se as páginas da juventude
partidária interagem mais com os jovens se comparada as páginas dos partidos políticos.
A análise dos websites partidários foi realizada durante o período eleitoral
selecionado – 01/09 a 30/09 - com relação à disputa pelo o cargo de Governo do
Paraná43. Os partidos que foram selecionados são: PT, PSDB e PMDB. Isso porque,
conforme Braga; França e Nicolás (2009, p. 195), são partidos institucionalizados e com
grande representatividade parlamentar no Paraná. Além disso, em âmbito estadual a
candidata do PT (Gleisi Hoffmann) contou com o apoio do governo federal; entre 2010 e
2014 o Governo do Paraná foi ocupado pelo PSDB (Beto Richa) e este buscou a
reeleição; e anteriormente quem o ocupava o cargo era o PMDB (Roberto Requião).
A juventude foi selecionada já que, como sugere a Secretaria Nacional da
Juventude (2013, p. 7), são necessários mais estudos voltados à compreensão da
participação dos jovens na política. Dados da pesquisa realizada pela Secretaria Nacional
da Juventude (SNJ) revelam que entre os jovens brasileiros de 15 a 29 anos a internet é o
segundo meio de comunicação mais utilizado para a busca de informações e se para se
comunicar (56%), ficando atrás apenas da televisão (83%).
O método que será utilizado para a coleta dos dados se baseia em Iasulaitis
(2007) a partir de duas categorias de análise: a análise formal e a análise funcional44. A
análise formal, de acordo com Iasulaitis (2007, p. 15), baseia-se nos seguintes índices:
43
A metodologia foi aplicada aos websites partidários paranaenses do PT, PSDB e PMDB e, simultaneamente, nas páginas da Juventude dos mesmos partidos. 44
A análise formal irá identificar qual é a acessibilidade do website, a qualidade do design, facilidade na navegação e a atualização das páginas. A análise funcional irá identificar qual o grau de participação,
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Acessibilidade – elementos que permitem a maior disponibilidade dos conteúdos do
website como, por exemplo, opções de download;
Navegação – elementos que facilitam a busca;
Atualização – nível de inserção de notícias e novos conteúdos;
Design – analisada com relação aos quadros, opções multimídia e ícones
animados.
A análise funcional baseia-se nos seguintes índices:
Informação – apresentação de informações sobre os candidatos, coligação,
procedimentos de urna eletrônica, proposta de governo, notícias e eventos políticos;
Mobilização – opções que permitem aos internautas apoiarem e serem voluntários
dos partidos políticos;
Integração – estrutura que permite coordenar a comunicação interna dos partidos,
como por exemplo, a presença de intranet;
Participação – elementos que geram interesse político no internauta;
Interação – itens que permitem a interação entre os usuários da web com os
candidatos e coordenadores da campanha, como, por exemplo, a presença de sala de
bate-papo; e-mail; fóruns (AGGIO, 2010, p. 130).
Cada variável será compilado como presente (1) ou ausente (0), sendo dividida a
quantidade de itens encontrados em cada website pelo número total de itens de cada
índice. O resultado dessa divisão é o quociente de índice (entre 0 e 1, do qual 0 significa
que não foi identificado nenhum dos elementos nos websites; e 1 significa que todos os
elementos foram identificados nos mesmos) para cada categoria (IASULAITIS, 2007, p.
16). Quando o website apresentar índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é
satisfatório; quando ficar entre 0,69 e 0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0
o índice é insatisfatório45.
interação, integração, mobilização e informação que o website apresentou no período da coleta. As variáveis sofreram algumas alterações. Originalmente, a análise funcional integrava o item interação (salas de bate-papo, e-mail, entre outros) no item de participação, sendo analisados em um único índice. Para melhor exposição e análise dos dados, optou-se em separar – participação e interação. Portanto, o item interação foi incluído na categoria funcional, baseado na metodologia exposta por Aggio (2010, p. 130). 45
Classificação estipulada pela autora para facilitar o entendimento dos índices.
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3. Análise dos websites partidários
3.1. Análise formal
A análise formal permite verificar o quanto às informações são acessíveis ao
internauta, se as opções de busca funcionam bem e se as informações são atualizadas
diariamente. E, através do design do website é possível identificar o público alvo do
partido político. Observe o gráfico a seguir:
Fonte: A autora.
A acessibilidade de um website está relacionada com a disponibilidade e o acesso
a notícias e artigos, comentar, imprimir e baixar artigos e compartilhar informações em
redes sociais. O website partidário do PSDB apresentou o maior índice com 0,50, o PT
com 0,33 e o PMDB não pontuou neste item. De modo geral, os dados coletados mostram
que o índice de acessibilidade é de regular para ruim.
A navegabilidade compreende funções para facilitar a navegação do internauta.
Todos os websites partidários apresentaram o mesmo índice de 0,17, com apenas o
campo de busca em funcionamento, como é possível observar no Gráfico 1. No quesito
navegabilidade os websites foram classificados como insatisfatórios devido o índice.
O website partidário do PSDB foi o que mostrou maior periodicidade na atualização
das notícias, com média de 4 atualizações ao dia. O PT apresentou média de 1 notícia
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por dia e o PMDB com média de 0,5 notícias por dia - menos de uma notícia por dia. Isso
significa que o PSDB, durante o período selecionado, apresentou maior preocupação em
informar os webleitores se comparado aos demais websites. O website do PT informou
pouco e quando se aproximou do dia da votação (a partir do dia 24/09) nenhuma
informação passou a ser divulgada em seu website. O PMDB não utilizou seu respectivo
website para informar o internauta/eleitor, já que divulgou poucas notícias.
Quanto ao conteúdo das informações o PSDB focou na divulgação das
ações/agenda do candidato e nos resultados de pesquisa de opinião – resultados estes
favoráveis ao candidato Beto Richa -, informações sobre os debates televisivos e
sabatinas. O website do PT, divulgou as ações/agenda da candidata Gleisi Hoffmann nas
cidades do Paraná e informações negativas relacionadas ao PSDB e ao Governador e
candidato Beto Richa. As informações no site do PMDB compreendem assuntos mais
gerais da campanha, como propostas do candidato Roberto Requião.
O item de estética/design agrega fatores de multimídia, demostrando como a
página está preparada para despertar o interesse dos visitantes. Além disso, os itens da
característica design contribuem para a navegação e acessibilidade do website. Como
mostra o Gráfico 1, o website do PT e do PSDB apresentaram o índice de 0,38 e o PMDB
apresentou o índice de 0,08. Todos com índices insatisfatórios. Dentre os websites
partidários analisados não houve utilização de recursos gráficos, ícones animados,
notícias com sentido de humor ou ironia, estes recursos podem atrair o segmento jovem.
No website do PT foi identificado o ring tone da campanha de Gleisi Hoffmann, ou seja,
músicas da campanha que podem ser utilizadas como toque no celular. Mas, não foi
identificada a utilização de imagens para o compartilhamento nas redes sociais - facebook
e twitter - ou protetor de tela, por exemplo. Portanto, a juventude não foi o público alvo na
construção das páginas dos websites partidários.
3.2. Análise funcional
A partir da análise funcional se procurou saber qual o grau de participação,
interação, informação, mobilização e integração que os websites partidários analisados
apresentaram durante o período eleitoral. Observe o gráfico 3:
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Fonte: A autora.
Com relação ao item de participação o website com maior índice foi o PT com 0,29,
o website do PSDB e do PMDB ficou com índice de 0,14. Em geral, o item de participação
é insatisfatório. O diferencial do website do PT foi o item cadastramento para recebimento
de boletim da campanha. O diferencial do website do PMDB foi o recurso de comentar
notícias, mas vale lembrar que o comentário primeiro passa por uma avaliação, depois de
24h o comentário poderia ou não ser divulgado, dependendo da avaliação.
Quanto a variável interação o website partidário do PSDB foi o que apresentou o
maior índice, com 0,50, o website do PT ficou com índice de 0,30 e do PMDB com 0,10. O
website do PSDB foi o único que disponibilizou sala de bate-papo “Conversa com os
Brasileiros”, porém está opção esteve mais direcionada a campanha presidencial. Ou
seja, não foi usado como uma ferramenta exclusiva para o eleitor paranaense interagir
com o partido. Todos os websites analisados apresentaram a opção de enviar e-mail
(sugestão, críticas, dúvidas, demandas sociais). No primeiro dia da coleta (01/09/2014) foi
enviado um e-mail46 para os websites e somente o PT e do PSDB responderam com uma
mensagem automática no mesmo instante. O website partidário do PMDB não respondeu
o e-mail.
O website do PT e do PSDB disponibilizaram janelas para interação com às redes
sociais. O PT se focou no facebook, assim, quando o partido divulgava alguma
informação/notícia no facebook automaticamente divulgava em seu website. O mesmo
procedimento ocorreu no website do PSDB, mas este focou na janela do twitter.
46
O conteúdo do e-mail direcionado ao website dos partidos políticos foi indagando sobre a juventude partidária (sede, como ingressar, ações).
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No quesito informação os websites partidários do PSDB e do PT apresentaram
índices regulares, com 0,50 e 0,44 respectivamente, e o website do PMDB aparece com
índice de 0,13 (insatisfatório). O website do PSDB foi o único que apresentou notícias e
fotos do candidato ao governo Beto Richa e a candidata à vice-governadora Cida
Borghetti. No website do PT a candidata ao governo Gleisi Hoffmann aparece ao lado do
ex-presidente Lula e da candidata à presidência Dilma Rousseff, mas o vice-governador
Haroldo Ferreira não é mencionado. Sendo o único website com a divulgação da agenda
da candidata.
No website do PMDB não foram localizadas notícias ou informações referentes ao
candidato Roberto Requião e a candidata à vice-governadora Rosane Ferreira. Nem
mesmo fotos do candidato foram divulgadas. O PMDB não utilizou o website como fonte
para informar os internautas/eleitores sobre o candidato ao Governo. O PSDB e o PT
disponibilizaram o programa de governo e informações referente as realizações dos
respectivos candidatos, como mostra a tabela 7 (em anexos).
Com relação ao item de integração, como mostra o Gráfico 3, o website do PT e do
PSDB ficaram com índice de 0,22 e o website do PMDB ficou em 0,11, índices estes
classificados como insatisfatórios. Em todos os websites analisados foram
disponibilizados links de referência as redes sociais dos partidos políticos, demonstrando
que as ferramentas de web 2.0 integram os websites partidários.
O diferencial do website do PT foi disponibilizar um link para uma organização da
educação: Fundação Perseu Abramo, fundada em 1996 pelo próprio Partido dos
Trabalhadores. A Fundação possui o objetivo de desenvolver práticas de debates políticos
e ideológicos, para a elaboração de pesquisas e estudos47. A diferença do website do
PSDB foi a menção ao blog do candidato Beto Richa. No website do PMDB só foi
localizada a referência às comunidades virtuais, direcionando o internauta/eleitor ao
facebook e twitter do partido.
De acordo com o Gráfico 3 os índices de mobilização foram regulares e ruim,
respectivamente, o PT com 0,50, o PSDB com 0,57 e o PMDB 0,07. O website do PT é o
único que divulgou o calendário de eventos da candidata Gleisi Hoffmann e que dispõem
o download do ring tone de campanha. Este é um item capaz de mobilizar o
internauta/jovem.
O website do PSDB é o único que incentiva o internauta a acessar o blog do
candidato Beto Richa, divulgando as atividades do partido/candidato nas cidades. Todos
47
Fundação Perseu Abramo. Disponível em: http://novo.fpabramo.org.br/. Acessado em: 01/09/2014.
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os websites incentivam o internauta a participar das comunidades online, como facebook,
twitter, youtube. O voluntariado online foi disponibilizado nos websites do PT e PSDB (Ver
tabela 9 em anexos).
Com relação às seções temáticas (juventude, mulheres, entre outros), dentro da
variável de mobilização, o website do PT apresenta a seção da Juventude do PT (JPT)
diretamente na primeira página, na parte superior da tela, com fácil localização. A página
da Juventude do PSDB (JPSDB) se encontra na parte inferior do website, com mais
dificuldade na localização, se comparado ao website do PT. O website do PMDB não
apresenta seções temáticas, a página da Juventude do PMDB (JPMDB) é localizada em
um link separado48. Todas as páginas da juventude apresentaram índices insatisfatórios
para todas as variáveis (participação, interação, informação, integração e mobilização).
Durante o período da coleta, a página da JPT foi encontrada totalmente
desatualizada, a última notícia atualizada foi no dia 12 de março de 2014. A página possui
um pequeno texto informativo referente a JPT e o endereço eletrônico do Secretário da
Juventude. Não há a utilização de nenhum recurso interativo (sala de bate papo, charges,
links para redes sociais, vídeos), que possa contribuir para despertar o interesse do
segmento jovem. Desta forma, a fácil localização da página da Juventude não contribui
para atrair o eleitor/internauta jovem devido à falta de atualização e manutenção da
página.
A página da JPSDB foi encontrada praticamente na mesma situação, com a última
notícia atualizada em 22 de agosto de 2013. Não há informações quanto aos ideais da
JPSDB, não há recursos interativos como (sala de bate papo, charges, links para redes
sociais, vídeos). No quadrante direito da tela há links relacionados com as eleições
presidenciais de 2014, como agenda do candidato, material de campanha para
downloads, aplicativo para celular com dados das últimas notícias das eleições. Este
último pode ser considerado um recurso para incentivar o segmento jovem a acompanhar
as eleições.
A página do JPMDB possui informações sobre o estatuto da juventude, Comissão
Executiva Nacional e do Diretório Municipal, por esse motivo o índice de informação ficou
em 0,13. Há incentivo para participação nas mídias sociais – twitter, facebook, youtube –
da juventude, a página possui banners e galeria de fotos. Entretanto, a última notícia
atualizada foi em 21 de outubro de 2013. A página disponibiliza a filiação à Juventude do
PMDB, descrevendo o passo a passo do processo da filiação. Dentre as páginas da
48
Disponível em: http://www.jpmdb.org.br/. Acessado em: 01/09/2014.
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Juventude analisadas, a página da JPMDB é a que mais promoveu mobilização e
interação com a juventude. Mas nenhuma das páginas é utilizada como um meio de
proximidade entre o partido e os internautas/eleitores jovens.
Para uma visualização mais ampla das condições encontradas nos websites
partidários foi realizada uma classificação dos índices, de modo a demostrar se os itens
encontrados foram satisfatórios, regulares ou insatisfatórios. Quando o website apresentar
índice entre 1 e 0,70 pode-se dizer que o índice é satisfatório; quando ficar entre 0,69 e
0,40 o índice é regular; e quando ficar entre 0,39 a 0 o índice é insatisfatório. Observe a
tabela a seguir:
Tabela 1: Classificação dos websites: análise formal
PARTIDO CLASSIFICAÇÃO Análise formal dos websites partidários
Acessibilidade Navegação Atualização Estética/design
PT
Satisfatório
Regular
X
Insatisfatório X X
X
PSDB
Satisfatório
X
Regular X
Insatisfatório
X
X
PMDB
Satisfatório
Regular
X
Insatisfatório X X
X
Fonte: A autora.
Os dados demonstram que na análise formal todos os websites analisados
apresentaram índices insatisfatórios para a categoria acessibilidade, navegação e
estética/design, somente na categoria atualização em que o website do PT e do PMDB
ficaram com a classificação regular e o PSDB foi satisfatório. Isso quer dizer que a
circulação de informação foi prioridade em detrimento dos recursos de multimídia e que
facilitam a navegação na página.
A tabela 2 demonstra a classificação da análise funcional dos websites partidários.
Tabela 2: Classificação dos websites: análise funcional
PARTIDO CLASSIFICAÇÃO Análise funcional dos websites partidários
Participação Interação Informação Mobilização Integração
PT
Satisfatório
Regular
X X
Insatisfatório X X
X
PSDB
Satisfatório
Regular
X X X
Insatisfatório X
X
PMDB Satisfatório
Regular
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Insatisfatório X X X X X
Fonte: A autora.
De acordo com os dados acima, o website do PT apresentou classificação
insatisfatória para as categorias: participação, interação e integração. As categorias de
informação e mobilização ficam com a classificação regular. Assim, é possível perceber
que o website do PT não aproveitou os recursos de interação e participação, sendo estes
fatores que possibilitam o estabelecimento da aproximação e diálogo entre partido e
jovem/internauta. No website do PSDB as categorias de participação e integração foram
classificadas como insatisfatórias. No quesito interação, informação e mobilização a
classificação foi regular. Demonstrando que o website do PSDB esteve mais preocupado
em disponibilizar recursos de interatividade, como sala de bate-papo, por exemplo. O
website do PMDB apresentou todas as categorias classificadas como insatisfatórias,
demonstrando que o website partidário não foi utilizado para promover aproximação com
o jovem/internauta.
4. Considerações finais
A atual democracia representativa reascende a pertinência da existência de um
fluxo contínuo e plural de informações necessárias para o processo deliberativo de
decisões políticas, como o que ocorre durante uma eleição (MANIN, 1995; HABERMAS,
2006). É neste contexto democrático deliberativo que se insere a importância da internet e
de seus recursos – websites, twitter, facebook, blogs – em atuarem como fórum que
subsidiam o internauta/eleitor com informações permitindo a interação e a participação
dele no desenrolar do processo eleitoral.
O objetivo central da presente pesquisa foi identificar como os websites partidários
são utilizados pelos partidos políticos para interagir e mobilizar o segmento jovem, no
contexto das eleições de 2014, para o cargo do Governo do Paraná. De acordo com a
análise formal e funcional que procedemos nesta pesquisa é possível afirmar que os
websites partidários são subutilizados no sentido de mobilização e interação do setor
jovem.
De acordo com o Gráfico 3 os recursos de interação nas páginas dos websites
(como, por exemplo, chats, fóruns, e-mail) estavam ativos. Os websites investigados
apresentaram opção de envio de e-mail, sendo que somente o PT e o PSDB responderam
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com uma mensagem automática. O website do PSDB foi o único que apresentou sala de
bate-papo em funcionamento. Com poucos recursos de interação em funcionamento, não
é possível afirmar que os websites partidários investigados foram utilizados pelos partidos
para estabelecer interação com os eleitores. Manin (1995) afirma que em uma democracia
do público os meios de comunicação são uma arena aberta e global que possibilitam uma
democracia deliberativa, ou seja, funcionam como um canal de debates. Porém, os
websites dos partidos analisados não são utilizados com esse fim, ou seja, com o objetivo
de ser um ambiente de interação com o eleitor.
Outro objetivo proposto foi entender se os jovens são público alvo na construção
dos websites partidários. Os websites partidários não aproveitaram os recursos de
interação e multimídia, que podem ser utilizados para atrair a juventude. Nenhum website
analisado, no período da coleta, se preocupou em disponibilizar informações referente ao
voto. Este assunto é de extrema importância e interesse para os jovens, como afirma
Dornelles (2005, p.16).
A presente pesquisa também se propôs identificar quais são as estratégias de
aproximação que os websites partidários estabelecem com o segmento jovem. É possível
afirmar a partir dos dados coletados que os websites partidários não adotam estratégias
de aproximação com os jovens. Os índices de design ficaram muito baixos, PT (0,38);
PSDB (0,38) e PMDB (0,08), como mostrou o Gráfico 1. E as páginas da juventude
estiveram desatualizadas. Manin também afirma que a imagem dos candidatos é um dos
fatores que podem determinar as escolhas dos eleitores. Os websites partidários podem
aumentar a visibilidade dos candidatos, porém nas páginas da juventude nenhuma
informação sobre os candidatos foi divulgada.
O último objetivo da pesquisa foi identificar se nas páginas da juventude partidária
há maior mobilização jovem se comparada as páginas dos websites partidários. Os dados
apresentados permitem concluir que nem mesmo a juventude partidária esteve
preocupada em interagir com o eleitorado jovem ao manter suas páginas totalmente
desatualizadas e sem qualquer recurso interativo e participativo, com todos os recursos
insatisfatórios.
Portanto, os websites partidários não buscaram mobilizar e interagir com o setor
jovem. Mas fica o questionamento: se 83% dos jovens entendem que a política é
importante e 56% dos jovens utilizam a internet para se informar (SNJ, 2013), porque os
partidos políticos não utilizam seus respectivos websites com o intuito de interagir com
esse segmento da sociedade?
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Uma possível explicação para esse resultado pode ser extraída da pesquisa de
Stromer-Galley (2000), citada por Aggio (STROMER-GALLEY, 2000 apud AGGIO, 2010,
p. 86-88). Stromer-Galley percebeu a ausência da funcionalidade de participação e
interação em sua pesquisa sobre os websites partidários americanos nas eleições de
1996 e 1998. Assim, ao realizar uma entrevista com os coordenadores de campanha,
compreendeu que essas funcionalidades não são utilizadas estrategicamente. Isso
porque não há um número significativo de pessoas para responder todos os e-mails e as
salas de bate papo tornam-se um veículo de “perda de controle”, devido à alta exposição
do candidato e possíveis mensagens negativas que podem repercutir em outros meios de
comunicação (STROMER-GALLEY, 2000, apud AGGIO, 2010, p. 86 a 88).
Outra possível explicação para essa pergunta é a personalização do uso das
ferramentas da internet. O sistema eleitoral majoritário tende a favorecer a
personalização, no sentido de que as estratégias adotadas durante a campanha eleitoral
são individualistas, isto é, a imagem do candidato é mais ressaltada do que a imagem
partidária (QUADROS, 2012, p. 2-4). Desta forma, as redes sociais – facebook e twitter -
e sites pessoais podem ter sido mais utilizadas em detrimento aos websites partidários.
Este argumento é reforçado por Vieira, Cardoso & Ton (2014), que demonstraram a
aderência à internet pelos candidatos a Deputado Estadual do Paraná - mais
especificamente no facebook, twitter e website pessoal. Os dados coletados pelos
pesquisadores mostraram que de um universo de 848 candidatos, 51% possuíam algum
tipo de página na internet e 49% não possuíam nenhum link. Cerca de 49% dos
candidatos possuem facebook, enquanto 10% dos candidatos apresentaram páginas do
twitter e 11% de websites pessoais (VIEIRA; CARDOSO; TON, 2014, p. 6). Esses dados
sugerem que talvez a subutilização dos websites partidários como instrumento de
interação e mobilização em períodos eleitorais, como identificado nesta pesquisa, tenha
como explicação o fato de tais estratégias estarem mais presentes nas redes sociais dos
candidatos.
Referências
AGGIO, Camilo de Oliveira. Campanhas políticas online: a discussão do estado da arte seguido de estudo de caso sobre os websites dos candidatos à prefeitura de Salvador em 2008. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporâneas) – Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2010.
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PADRÕES DE LONGA DURAÇÃO DE E-CAMPANHA NO BRASIL:
Uma análise empiricamente orientada (1998-2014)49
Márcio Cunha Carlomagno50
Sérgio Braga51
RESUMO
As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social (especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto, não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos.
Palavras-chave: Internet e política, e-campanhas, análise longitudinal, eleições brasileiras.
1. Introdução
As últimas campanhas eleitorais brasileiras se caracterizaram pelo uso e incorporação
maciça da internet e das mídias sociais como ferramenta de propaganda pelos
candidatos. Nesse sentido, as eleições de 2014 consolidaram esta tendência, com
virtualmente todos os candidatos aos cargos majoritários e a grande maioria dos
candidatos a cargos proporcionais utilizando a internet e algum tipo de mídia social
(especialmente Facebook e, em seguida, o Twitter) como ferramenta de comunicação e
interação com os cidadãos de uma maneira geral. A questão a ser colocada, portanto,
não é se os candidatos estão usando as tecnologias digitais como ferramenta de
campanha, mas como eles a estão utilizando e quais os padrões e efeitos de uso de tais
ferramentas de e-campanha na organização dos pleitos eleitorais. Nossa intenção nesse
paper é contribuir para o debate sobre o tema apresentando dados sistemáticos sobre o
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Trabalho apresentado no Workshop “Internet e Eleições 2014”. Este artigo apresenta resultados de pesquisa desenvolvida no âmbito do GEIST/Grupo de Pesquisa em Instituições, Comportamento Política e Tecnologias Digitais da UFPR, coordenada pelo prof. Sérgio Braga, e intitulada: Elites políticas e tecnologias digitais: uma análise longitudinal do uso da internet nas eleições para as prefeituras e para as Câmaras Municipais das capitais dos estados nos pleitos e 1998 a 2018. 50
Mestre em Ciência Política (UFPR), [email protected] 51
Doutor em Desenvolvimento Econômico, DECIPOL/UFPR, [email protected]
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uso das mídias sociais e da internet pelos candidatos nas últimas campanhas eleitorais
brasileiras (especialmente a partir de 2006, quando estes dados passaram a ser
compilados de maneira mais precisa), e analisando os padrões de uso das tecnologias
digitais ao longo do tempo pelas diferentes categorias de candidatos. Procuraremos em
nossa comunicação fornecer evidências que nos permitam demonstrar as seguintes
proposições básicas: a) consolidou-se no Brasil nos dois últimos pleitos um padrão "pós-
web" de campanhas eleitorais, com uso intensivo de mídias sociais articuladas às
plataformas-base de e-campanha dos candidatos (os websites); b) Facebook e Twitter,
por seu baixo custo e fácil acesso, se tornaram as ferramentas digitais preferidas dos
candidatos desde o pleito de 2012, ultrapassando os websites como ferramenta de e-
campanhas; c) houve uma atenuação progressiva do "digital divide" ao longo dos
sucessivos pleitos, com as desigualdades entre os diferentes subgrupos de candidatos se
atenuando ao longo do tempo, havendo portanto uma tendência à "equalização"; d)
embora as mídias sociais não possam em geral ser consideradas como "preditoras" dos
resultados eleitorais, especialmente nas eleições proporcionais, em nível majoritário a
relação entre o uso das mídias sociais e votação é mais intensa na medida em que há
correlação significativa entre presença online dos diferentes candidatos e resultados
eleitorais, o que implica afirmar que a intensidade do uso das mídias sociais já pode ser
considerada um antecipador de certos comportamentos off-line; e) aumento da
intensidade da interação online nas plataformas virtuais, especialmente o Facebook, que
passou a ser a plataforma preferida pelos candidatos para interagir com os eleitores,
embora os padrões observadores de interação online por intermédio dessa plataforma
entre os diferentes subgrupos de candidatos seja bastante distinto.
Este artigo é, portanto, uma tentativa inicial de sistematização empírica de dados
longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras, e também da maneira pela qual a
literatura existente sobre o tema apreendeu a evolução do emprego das tecnologias
digitais nas e-campanhas brasileiras. Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões
do uso da internet pelos candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos
anos, e apontar algumas inovações feitas, especialmente na última campanha eleitoral.
Utilizaremos os seguintes indicadores: a) uso de websites de campanha e de algum tipo
de midia social pelos candidatos às eleições majoritárias; b) frequência de uso das mídias
sociais mais utilizadas, tais como Facebook, Twitter e Canal do Youtube; c) Nível geral de
interatividade observada nas principais mídias sociais; d) desigualdades existentes no uso
das tecnologias digitais por candidatos localizados em diferentes regiões do país e em
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diferentes tipos de partidos, agregados; e) evolução dos gastos em internet nas
campanhas eleitorais a partir de 2002; f) relação entre intensidade de uso das mídias
sociais e padrões de votação nas últimas eleições brasileiras. Sublinhe-se que
concentraremos nosso estudo nas eleições para cargos majoritários (governadores e
senadores), pelos seguintes motivos: (i) estas eleições fornecem um “n” intermediário
entre as eleições presidenciais (com reduzido número de candidatos) e as eleições
proporcionais para deputados federais e estaduais (com número acentuado de
candidatos, que dificulta a coleta sobre o uso das tecnologias digitais); (ii) elas nos
possibilitam “nacionalizar” a análise, permitindo um estudo comparativo mais abrangente
do uso da internet pelos candidatos em diferentes contextos socioeconômicos; (iii) ainda
são escassos estudos abrangentes e agregados sobre as e-campanhas nesses níveis
administrativos.
Além disso, procuraremos sistematizar alguns dados existentes em literatura
secundária sobre as eleições brasileiras a partir de 1998, quando a internet passou a ser
utilizada de forma mais sistemática como ferramenta de campanha no Brasil. Como
método para a sistematização da literatura utilizaremos a tipologia de campanhas
eleitorais sugerida por Wilson Gomes em seus trabalhos, agregando por nossa conta
alguns estágios intermediários às três principais etapas sugeridas pelo autor. Como se
sabe para Gomes podemos subdividir a campanha nas etapas pré-web, protoweb web e
pós-web, cujas características podem ser assim sistematizadas:
QUADRO 1 -
CARACTERÍSTICAS
Pré-web Ausência de uso de websites. Os candidatos usam outras
ferramentas de comunicação com o eleito, tais como e-mail
e newsletter
Protoweb Sites estáticos e com pouca interação. O uso do e-mail já
começa a se difundir, de maneira tímida, de modo que as
campanhas eleitorais ainda tinham natureza claramente off-
line.
Web As principais (ou únicas) plataformas virtuais dos candidatos
são os websites. As atividades partem de sites vinculados a
bancos de dados empregados para arquivo e acesso a
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discursos, panfletos e outros materiais de campanha. Esse
material de campanha tende a reproduzir o conteúdo off-
line. Observam-se algumas experiências de interação e
participação através dos websites.
Pós-Web Surge depois da criação das redes sociais e de seu uso
maciço por alguns candidatos e políticos. O website do
político deixa de ser o elemento central ou único da
estratégia de comunicação dos candidatos e passa a ser um
centro difusor e de oferta de credibilidade a informações
difundidas por outras mídias. Os candidato interagem com
os cidadãos nas mídias sociais e não no website.
Fonte: Gomes et al. (2009)
Além disso, para estruturar nossa análise dos mecanismos de interação nas e-
campanhas procuraremos aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de
interatividade formulado por FERBER et. AL. (2008) no estudo dos mecanismos de
interação entre elites políticas e cidadãos ordinários propiciados pelas novas tecnologias,
especialmente a internet. De acordo com estes autores, a introdução das ferramentas da
Web 2.0 como blogs, chats, comunidades virtuais e redes sociais no contexto legislativo
ensejaram o estudo de novas formas de comunicação, diferentes das sugeridas pelas
aplicações da Web 1.0 que se apóiam em um monólogo top-down de transferência de
informações. Além dos modelos de comunicação de duas vias, Ferber et al (2007)
propõem “a three-way model of communication”, mais apropriado para encorajar a
deliberação pública. O autor utilizou o modelo quadripartido de ciber-interatividade de
McMillan (2002) e construiu “a six-part model of Cyber-Interactivity”, baseando em seis
níveis de interação: (i) monólogo; (ii) diálogo responsivo; (iii) feedback; (iv) resposta
controlada; (v) discussão mútua; (vi) debate público/deliberação.
Combinando os indicadores utilizados por estes autores, nossa hipótese básica é a
de que as e-campanhas no Brasil evoluíram de um grau pré-web com baixo grau de
interatividade em 1998 (monólogo), para um grau pós-web com alto grau de interatividade
(debate público), embora experiências mais avançadas de deliberação online e de debate
sobre políticas públicas nas eleições brasileiras ainda sejam uma exceção no atual
contexto das e-campanhas brasileiras.
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2. Tecnologias digitais e campanhas eleitorais no Brasil: um breve histórico.
Embora no caso das campanhas eleitorais norte-americanas já existam desde
1996 (CORRADO, 1996) estudos sobre o uso da internet, no caso do Brasil, podemos
afirmar que apenas com a campanha eleitoral de 1998 teve início o uso da internet. De
nosso conhecimento, os estudos mais sistemáticos sobre esta fase inicial das e-
campanhas no Brasil são os de Rodrigo Garcia Fernandez (Fernandez, 2005, 2005a)
onde o autor busca aplicar uma versão ligeiramente modificada do modelo de análise de
conteúdo de proposto por Ward & Gibson (2001) para examinar 50 websites de
campanhas eleitorais na Internet para cargos executivos nas eleições de 1998, 2000 e
2002. As conclusões de Fernandez são as mesmas de outros estudos produzidos à
época (e. g. BIMBER & DAVIS, 2003), ou seja, a pouca presença de ferramentas de
participação e interatividade mais sofisticas no Web e a predominância de mecanismos
"top down" de comunicação política virtual entre os candidatos e os eleitores. Além do
mais o autor aponta, como característica específica do caso brasileiro, uma maior
"personificação" (ou personalização) das mensagens políticas divulgadas através dos
websites.
Após o pleito de presidencial de 1998, tivemos as eleições de outubro de 2000 para
prefeitos, onde a internet teve pouco impacto e provocou poucos estudos (cf. CARNEIRO,
2002). Os estudos pioneiros sobre internet neste período, além do de Rodrigo Garcia
Fernandes já citado, concentraram-se em mapear o papel que meios alternativos às
mídias tradicionais tinham no agendamento das grandes questões relacionadas à mídia.
A este respeito, destacam-se os estudos de Alessandra Aldé e Juliano Borges (2004)
sobre o papel da internet e dos websites dos candidatos no agendamento de notícias nas
mídias tradicionais, e a dissertação de mestrado de César Steffen sobre os websites dos
candidatos à presidência nas eleições de outubro de 2002. Segundo o autor, "Notamos,
assim, que os espaços da campanha eleitoral de 2002 via Internet são exatamente isso,
espaços de campanha eleitoral, e não promovem - ou buscam promover - uma relação
mais direta com o eleitor, mas apenas e tão somente construir mais um espaço de
enunciação de discursos e propostas pelos candidatos". (p. 18). Ainda segundo o autor,
"A maior novidade deste processo reside, em nossa opinião, na possibilidade de
montagem do discurso pelo eleitor a partir da seleção das ofertas de interação e na
permanência dos discursos e informações num mesmo espaço sem as limitações
temporais impostas pela legislação eleitoral" (p. 19).
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Após o pleito de 2002 passaram a surgir estudos mais sistemáticos sobre o uso da
internet nas eleições no Brasil e, pela primeira vez, se fornecem dados sistemáticos e
agregados sobre o uso das diferentes tecnologias digitais pelos candidatos as eleições
brasileiras. Paradigmático dessa fase são os estudos de Francisco Brandão Júnior
(BRANDAO JUNIOR, 2005, 2008, 2009) onde são fornecidas as primeiras informações
agregadas sistemáticas sobre o uso da internet pelos candidatos no Brasil e o de Adriane
Figueirola Martins (MARTINS, 2006) sobre as estratégias persuasivas de José Fogaça e
Raul Point no segundo turno da do pleito, em outubro de 2004. A principal conclusão a
que chega a autora é que a campanha na Web agrega algo em relação ao conteúdo
transmitido via HPEG e desempenha papel relevante no processo eleitoral. Segundo a
autora, "apesar da Internet ser acessada somente por uma pequena parcela da
população, e não apresentar um espetáculo de imagens e sons tal qual a televisão, pôde-
se evidenciar nesta pesquisa que os sites realmente apresentavam características
persuasivas capazes de seduzir os internautas. Tal afirmação tem validade uma vez que
a principal estratégia persuasiva utilizada pelos websites de Fogaça e Pont era a
informação textual, a qual possibilita a busca de informações sobre os candidatos pelo
eleitor" (p. 113).
Após de 2006, além de ferramentas tais como emails e websites, outras
tecnologias entram na agenda de estudos sobre e-campanha: os Blogs e o Orkut, que dá
origem aos artigos pioneiros de (PENTEADO et. Al., 2006), Vera Chaia (2007) e Barros
Filho, Coutinho e Safatle (2007) sobre esta rede social (COUTINHO, 2007). Segundo
estes autores embora no Brasil os nível de inclusão digital ainda sejam reduzidos em
comparação com outros países, "a internet é um canal de comunicação (...) que
apresenta importantes possibilidades em termos de mobilização e engajamento dos
eleitores mais envolvidos com a política, notadamente os mais jovens. A utilização
crescente da rede, para além dos sítios de organizações midiáticas e políticas
tradicionais, indica um processo (ainda incipiente no Brasil) de formação de novos
espaços complementares à esfera pública tradicional. Embora ainda restrito aos mais
jovens e escolarizados, esse fenômeno ocorre independente da vontade dos meios de
comunicação tradicionais e dos partidos políticos, e não depende de sua aprovação para
acontecer. Entretanto, apesar da diversidade de fontes de informação oferecidas pela
Rede, as comunidades tendem a conectar-se apenas com sítios e comunidades de
opiniões similares e a reprimir manifestações dissonantes, o que pode gerar uma menor
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pluralidade de opiniões entre os eleitores que usam apenas os sítios de comunidades e
blogs como fonte de informação sobre a campanha" (op. Cit.).
As eleições municipais de 2008 também deram origem a vários estudos que
mostravam o uso intensivo da internet por determinados candidatos e a emergência das
primeiras experiências participativas de importância no espaço virtual, inclusive com
acentuado uso de algumas mídias sociais por alguns candidatos, apesar da ambiguidade
ou proibição da legislação eleitoral (BRAGA et. al, 2008). Entretanto, apesar de algumas
inovações introduzidas no pleito de 2008, é somente no pleito de 2010 que as tecnologias
digitais apresentam maior grau de difusão entre os candidatos, por dois motivos básicos:
a) em primeiro lugar, pela queda das restrições dos tribunais eleitorais ao amplo uso da
internet pelos candidatos; b) em segundo lugar, e estreitamente relacionado ao primeiro
fator, pelo bem-sucedido exemplo da campanha presidencial de Barack Obama no pleito
de novembro de 2008, que provocou uma euforia no campo do marketing político eleitoral
e também entre os analistas políticos pelo mundo afora. Como afirma um estudioso da
matéria, "de acordo com a legislação nacional, até 2009 só eram permitidas
manifestações por candidatos e por sua equipe em websites oficiais de campanhas.
Mesmo redes sociais com considerável penetração no país nas eleições de 2008, como o
Orkut, não puderam ser utilizadas naquela ocasião. Essa regra limitou de maneira
excessiva as possibilidades de inovações nas campanhas, o que ajuda a explicar o baixo
número de estudos sobre o tema até 2008. [...] Todas estas modificações evidenciaram a
singularidade das eleições de 2010, nas quais foram realizadas campanhas online
significativamente maiores e mais inovadoras" (MARQUES, 2011: p. 18). Entretanto,
como pudemos ver, mesmo antes do pleito de 2010, de fato um divisor de águas na
histórica das e-campanhas eleitorais brasileira, já existiam vários estudos sobre o tema,
inclusive mostrando que os candidatos inventavam formas criativa de driblar a legislação
eleitoral, as utilizando intensamente.
A partir de 2010, seja em virtude da maior liberalidade da legislação, seja em
virtude das inovações no campo das e-campanhas, foi cada vez mais intenso o uso das
tecnologias digitais nas eleições brasileiras. Este movimento está sintetizado no quadro
anexo a este artigo, destacando os principais momentos dessa expansão em direção ao
um estágio pós-web, níveis mais acentuados de interação on-line. Feito esse breve
resumo do estado da arte sobre e-campanha no Brasil, podemos agora nos concentrar na
apresentação de dados empíricos sobre a evolução objetiva do emprego das tecnologias
digitais nas eleições brasileiras nos últimos anos.
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3. Tendências do uso da internet nas campanhas eleitorais no Brasil
Como dissemos anteriormente, este artigo é uma primeira tentativa de
sistematização empírica de dados longitudinais sobre as e-campanhas brasileiras. Ele
busca sistematizar alguns dados sobre campanhas eleitorais no Brasil, tanto de fontes
secundárias como de fontes primárias, a partir das pesquisas que efetuamos deste 2008
sobre o uso da internet pelos candidatos, especialmente nas eleições majoritárias
brasileiras com vistas a mapear de maneira abrangente as principais inovações trazidas
pelo emprego das tecnologias digitais nas eleições brasileiras.
Vamos apresentar dados sobre algumas dimensões do uso da internet pelos
candidatos a fim de verificar algumas tendências nos últimos anos, e apontar algumas
inovações feitas na campanha mais recente de outubro de 2014. Utilizaremos os
indicadores mencionados acima, sendo o primeiro dele a frequência simples de uso de
websites e mídias sociais pelos candidatos a cargos majoritários ao longo do tempo.
GRAFICO 01: USO DE WEBSITES DE CAMPANHA E DE ALGUM TIPO DE MIDIA
SOCIAIS PELOS CANDIDATOS ÀS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS
FONTE: Elaboração própria.
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Pelo gráfico, podemos observar que desde 2002, quando começaram a ser
efetuadas mensurações mais sistemáticas do uso de websites e mídias sociais pelos
candidatos (Brandão Júnior, 2008), houve uma grande expansão no uso de tais
ferramentas nas eleições majoritárias, embora tal expansão não tenha sido linear. No
caso das últimas eleições, nota-se inclusive um decréscimo no uso de websites em
virtude da fácil disponibilidade e acesso de mídias sociais para os candidatos, mesmo de
partidos com menos recursos políticos e regiões com o eleitorado menos incluído
digitalmente. Com efeito, se verificarmos as causas desse grande decréscimo no uso de
websites pelos candidatos aos governos estaduais e ao senado nas últimas eleições,
podemos verificar que eles se devem principalmente ao excesso de candidatos de
pequenos partidos com menos recursos políticos e a candidatos menos competitivos
nestas últimas eleições. [TABLE]
Outro indicador agregado da difusão do uso das midias sociais nas eleições
brasileiras é a frequência com que as mídias sociais mais difundidas tais como Facebook,
Twitter e canal do Youtube foram utilizadas pelos diferentes candidatos. Estes dados
estão resumidos nos gráficos seguintes.
GRÁFICO 2: FREQUÊNCIA DE USO DAS MÍDIAS SOCIAIS MAIS UTILIZADAS, TAIS COMO FACEBOOK, TWITTER E CANAL DO YOUTUBE (n=1515)
FONTE: Elaboração própria.
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Como observado, as mídias sociais começaram a ser utilizadas com mais
frequência somente a partir de 2010, quando a legislação eleitoral brasileira permitiu o
uso de mídias pelos candidatos. Desde então nota-se uma acentuada progressão no uso
das principais midias sociais, destacando-se o Facebook, com a grande maioria dos
candidatos possuindo fanpages nessa rede desde as eleições para prefeito de 2012.
Nota-se também uma acentuada preferência pelo Facebook entre os candidatos, ao
contrário da expectativa gerada por muitos de que o twitter iria ser a midia preferida em
virtude de sua facilidade em promover a comunicação de "um para muitos". Isso pode ser
um indicador também de que os candidatos estão preferindo interagir com os apoiadores
mais próximos das candidaturas, configurando um padrão de "pregar através dos
convertidos", ao invés de preferir uma estratégia de comunicação eleitoral em grande
escala interagindo com os eleitores como um todo. Por fim, verifica-se um forte declínio
do uso de Websites e Twitter nas últimas eleições, fato que pode ser atribuído, no caso
dos websites, à proliferação de candidatos de pequenas legendas sem recursos políticos
e com baixo grau de competitividade eleitoral, enquanto que em relação ao Twiter, como
afirmamos acima, podemos lançar a hipótese de que temos a preferência de um padrão
de "pregar através dos convertidos" pelos candidatos e o apego a um padrão mais
“enunciativo” e “top down” de comunicação política.
Outro aspecto a ser analisado é a existência ou não de um "digital divide" no uso
das tecnologias digitais mais relevantes (Websites e Facebook) pelos candidatos e seu
comportamento ao longo do tempo. Isso nos permite também abordar uma questão mais
substantiva: estaria havendo uma tendência à "normalização" (repetição dos padrões
existentes no mundo offline) ou uma "equalização" (maior igualdade de oportunidades)
nos padrões de competição política digital entre os candidatos ao longo do tempo? Não
se trata de uma questão fácil de ser respondida, e ela tem de ser respondida em vários
níveis correspondentes aos vários significados do termo "digital divide" (material, societal
e cognitivo). Neste texto, abordaremos apenas um deles, que são os níveis material e
societal. Para abordá-lo, criamos um indicador que consiste na diferença entre as regiões
com o maior percentual de candidatos usuários de algum tipo de ferramenta digital
(Websites e Facebook) e as regiões com menor percentual de usuários. Apenas a título
de exemplificação, seguem os dados para a última eleição, para os governos estaduais e
senadores, na medida em que não faz sentido calcular o indicador para a eleição
presidencial, dado que trata-se de uma circunscrição única.
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TABELA 01: INDICES DE INCLUSÃO DIGITAL NAS ÚLTIMAS NOVE ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS BRASILEIRAS (2008-2014).
Esta tabela é apenas para ilustrar a forma como construímos o indicador. O mais
importante para os fins da análise diacrônica empreendida neste artigo é o
comportamento do índice ao longo do tempo, que pode ser sumarizado no gráfico abaixo:
GRÁFICO 3: DESIGUALDADES EXISTENTES NO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS POR CANDIDATOS LOCALIZADOS EM DIFERENTES REGIÕES DO PAÍS.
Fonte: Elaboração própria.
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Como verificamos pelo gráfico acima, há um acentuado decréscimo na fratura
digital entre as diferentes regiões do país ao longo do tempo, com as diferenças variando
de um pico de 54,6% nas eleições para as prefeituras de 2008 até um mínimo de 18,6 nas
eleições para os governos estaduais em 2014. O mínimo de diferença ocorreu no pleito
para as prefeituras das capitais de outubro de 2012, quando a desigualdade de uso das
tecnologias digitais ficou em apenas 15,0%, embora no caso das cidades do interior as
diferenças fossem significativamente maiores.
Por fim, resta um último indicador que é o nível de interatividade observada nas
eleições. Para tanto, procuramos mensurar o grau em que os candidatos interagem como
os eleitores na última semana eleitoral tal como evidenciado pelo indice de presença no
Facebook (amigos + seguidores + falaram), número de seguidores no twitter e de
visualizações em vídeos no youtube.
GRAFICO 4: NÍVEL GERAL DE INTERATIVIDADE OBSERVADA NAS PRINCIPAIS MÍDIAS SOCIAIS.
Fonte: elaboração própria
Estes dados dão uma evidência adicional da transição do Twitter para o Facebook
como a principal mídia social de campanha eleitoral nas últimas eleições. Com efeito, o
pico de interações no twitter comparativamente às outras mídias ocorreu no pleito para a
presidência da República de 2010, onde os candidatos que usaram twitter tiveram uma
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média de cerca de 370.000 seguidores, com uma movimentação no Facebook inclusive
inferior àquela verificada em canais de Youtube. Nas eleições para prefeito de 2010, o
Twitter continou a provocar uma impacto relativo maior que o Facebook, embora o
número de usuários não tenha mais sido o maior. Por fim, o Facebook ultrapassa o twitter
no pleito de 2014, sendo a midia social mais utilizada tanto em termos do percentual de
candidatos que utilizaram esta mídia quanto do número médio de seguidores que cada
um tem online.
Outra forma de avaliar a importância que as campanhas eleitorais têm dado às
ferramentas digitais enquanto recurso de comunicação para atingir o eleitorado é verificar
os gastos de campanha. Se a ferramenta realmente importa para aqueles que planejam
como chegar ao eleitor e conquistar o seu voto, a lógica é que exista um investimento na
área, a despeito deste ser um meio relativamente mais barato em comparação com
demais mídias.
Os dados que apresentaremos a seguir sobre esta questão são fruto de um
trabalho de compilação de 17 diferentes bancos de dados fornecidos pelo TSE, que
abarcam sete eleições52 brasileiras ao longo de 12 anos, de 2002 a 2014. Vamos
começar analisando os valores globais a cada ano, a fim de demonstrar a crescente
importância que a área ganhou ao decorrer do tempo.
GRAFICO 5: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS E PROPORCIONAIS (2002 A 2014)
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE
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Agregamos, aqui, os gastos lançados em qualquer uma das três modalidades possíveis: “pelo candidato” “pelo comitê” e “pelo partido”. Para a análise em tela esta distinção é desnecessária.
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Percebe-se que os investimentos em internet pelas campanhas durante o período
eleitoral acompanha o crescimento da área no Brasil, demonstrado pelos dados a respeito
de sua utilização. Até 2008, este investimento era relativamente baixo e a campanha de
2010 é o ponto de virada, onde ocorre o maior salto quantitativo. Interessante notar que
este crescimento ocorreu também para as campanhas municipais (crescimento de mais
de 3 vezes de 2012 em relação a 2008), embora naturalmente as campanhas locais
tenham menos recursos do que as campanhas nacionais.
Os dados sobre 2014 são ainda interessantes por registrar uma marca
impressionante: na soma de todos os candidatos foram gastos quase R$ 50 milhões de
reais (R$ 49.344.709,37, para ser preciso) apenas com os itens relacionados a “internet”.
Se lembrarmos daquele argumento que esta é uma mídia substancialmente mais barata
do que suas alternativas, este número é impressionante – embora seja apenas 1% do
total de R$ 5 bilhões de reais gastos na campanha eleitoral daquele ano.
A seguir, vamos demonstrar, por meio dos dados separados por cargo, que,
embora a maior parte destes recursos venha das campanhas presidenciais, a utilização
se dá em todas as frentes.
GRAFICO 6: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR CARGOS
Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do TSE
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Naturalmente, as campanhas majoritárias (presidente, governador e prefeito)
utilizam mais as ferramentas de internet, mas os valores para deputados estaduais e
federais não ficam a dever. Curiosamente, os candidatos a senador gastam menos com
internet do que os a deputado federal, indicando algum tipo muito peculiar de campanha
eleitoral para este cargo.
Ainda é importante pontuar sobre este gráfico o altíssimo investimento realizado
pelos candidatos a prefeito em 2012, que supera em valor absoluto o de governadores em
2014. Isto é uma importante evidência de que a internet como ferramenta de campanha é
utilizada também na esfera local e municipal.
O gráfico a seguir versa sobre a divisão regional dos gastos com estas ferramentas
e pode nos dizer muitas coisas sobre a tese da diminuição do digital divide regional.
GRAFICO 7: GASTOS DE CAMPANHA EM INTERNET POR REGIÃO
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE
Estes dados corroboram outros apresentados neste artigo, com o mesmo
movimento. Como se percebe na evolução histórica, até 2008 apenas sudeste e sul se
destacavam na área. Em 2010, o nordeste já apresenta o mesmo nível de investimento
em internet do que o sul, embora norte e centro-oeste ainda estejam atrás. O grande salto
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acontece em 2014. O nordeste apresenta quase o triplo de investimento em internet do
que o sul, ao passo que norte e centro-oeste investem no mesmo patamar. É bem
verdade que o sudeste continua sendo a região que mais gasta com a área, mas é
preciso relativizar que os custos das campanhas em alguns estados desta região são
superiores aos demais estados, refletindo o alto custo de vida (e de campanha) de
estados como São Paulo ou Rio de Janeiro. De qualquer forma, esta é outra clara
evidência da diminuição drástica do digital divide brasileiro, ao menos no que toca ao uso
da internet pelas campanhas eleitorais. Se no passado algum tipo de senso comum
poderia acreditar que estados e regiões que estas ferramentas não importariam nem eram
utilizadas em estados com menor desenvolvimento econômico, os dados de 2014 estão aí
para desfazer esta crença.
Em estudos anteriores (BRAGA, 2013), analisando as eleições municipais de
capitais brasileiras de 2012, as mídias sociais tiveram baixa correlação com a votação
final, não sendo boas preditoras dos resultados eleitorais dos candidatos. Nós
questionamos, aqui: será que o mesmo se repete quando tratamos de eleições a nível
estadual ou, neste caso, a relação é mais intensa?
A seguir, apresentamos os resultados a partir dos quais podemos afirmar que, nas
eleições para governador e senador, ao contrário do nível municipal, existe uma
correlação positiva de nível moderado. Testamos como variável dependente um índice de
presença no Facebook, construído a partir dos likes na fanpage e do campo “pessoas
falando sobre isso”, disponibilizado pelo próprio Facebook.
Na primeira tabela, testamos a correlação tanto com a votação final total quanto
com a votação percentual obtida. Embora a votação tenha sido a mais significativa, nos
testes seguintes utilizamos a votação percentual por ser o método mais correto de
estabelecer um parâmetro comparativo entre os candidatos, além de podermos dialogar
com a literatura que já utiliza esta variável.
TABELA 2: CORRELAÇÃO ENTRE INDICE DE PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO.
Correlações
Cargo Índice de
presença FB
Votação final Votação
percentual
GOVERNADOR
Correlação de Pearson 1 ,567** ,361
**
Sig. (2 extremidades) ,000 ,000
N 165 165 165
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SENADOR
Correlação de Pearson 1 ,484** ,375
**
Sig. (2 extremidades) ,000 ,000
N 167 167 167
**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE
TABELA 3: COEFICIENTES DE REGRESSÃO ENTRE ÍNDICE DE
PRESENÇA NO FACEBOOK E VOTAÇÃO
Cargo Coeficientes não
padronizados
Coeficientes
padronizados
t Sig.
B Erro padrão Beta
GOVERNADOR
(Constante) 10443,327 8777,459 1,190 ,236
Votação
(percentual) 1665,909 337,453 ,361 4,937 ,000
SENADOR
(Constante) -12479,076 12820,884 -,973 ,332
Votação
(percentual) 2580,195 496,596 ,375 5,196 ,000
Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE
GRAFICO 8- DIAGRAMAS DE DISPERSÃO: VOTAÇÃO DOS CANDIDATOS x RESULTADO ELEITORAL.
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Fonte: elaboração própria, a partir dos dados do TSE
Como podemos perceber por meio do r2 nos gráficos (em .130 para governadores
e .141 para senadores) existe uma correlação fraca entre os dois fenômenos. Embora não
seja um valor alto, comparativamente, é maior do que a literatura prévia havia encontrado.
Acreditamos que dois fatores são importantes para explicar estes níveis acima do
apontado anteriormente. Primeiro, a validade do campo “pessoas falando sobre isso” –
introduzido pela plataforma Facebook em meados de 2013 –, que contribuiu para que as
correlações fossem mais altas do que se considerados apenas os seguidores. Isto implica
em afirmar que ter visibilidade na plataforma é mais importante do que apenas o número
total de seguidores e um melhor preditor. Segundo, por as eleições majoritárias de nível
estadual atraírem mais atenção midiática (somado a um possível efeito da polarização
ideológica ocorrida em 2014 no nível presidencial), as pessoas potencialmente tendem
mais a apoiar publicamente (seguir no Facebook) candidatos a cargos de maior
visibilidade (governador, senador) do que aqueles de nível municipal.
Por fim, podemos abordar um ponto final. Alguém poderia argumentar que a
simples conexão (ter seguidores) não implicaria em necessária conexão e interação entre
as fanpages e usuários de mídias sociais. Por isso, coletamos por meio de softwares
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específicos todas as interações realizadas durante o primeiro turno das eleições de 2014,
nas fanpages de 140 candidatos a governador presentes no Facebook. O gráfico a seguir
mostra os resultados divididos por mês e região.
GRÁFICO 9: SOMA DAS INTERAÇÕES REALIZADAS NO FACEBOOK DE 140
CANDIDATOS A GOVERNADOR DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL DE 2014
Fonte: elaboração própria
Duas conclusões podemos tirar disto. Primeiro, as pessoas passam a dar mais
atenção aos políticos na reta final de campanha, em setembro. Segundo, esta é outra
prova contundente daquilo que estamos argumentando neste texto: a redução do digital
divide brasileiro. Embora o sudeste tenha índices elevados desde julho, nos últimos dias
de campanha o nordeste tantas interações quanto – e muito superior às demais regiões,
como o sul. Baseado nisto e nos dados sobre gastos de campanha, o nordeste parece
apresentar uma tendência para ocupar, junto com o sudeste, o posto das regiões com
maior utilização destas ferramentas.
4. Conclusões
Vimos neste artigo alguns dados empíricos sobre o uso da internet nas campanhas
eleitorais no Brasil. O primeiro ponto a ser observado é o de que, não obstante o
ceticismo inicialmente observado por alguns analistas no tocando à utilização das
tecnologias digitais nas eleições, estas tornaram-se uma plataforma de campanha
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amplamente difundida entre os candidatos, com praticamente todos os candidatos com
alguma presença online. Nesse sentido, Twitter e Facebook foram um divisor de águas na
história dos padrões de interação online entre candidatos e cidadãos: ao reduzir os custos
operacionais e técnicos de possuir uma plataforma online, tornando possível a qualquer
cidadão leigo ter um perfil e interagir online, tais ferramentas praticamente
universalizaram o uso das tecnologias digitais como ferramenta de campanha e de
interação online entre cidadão e elites políticos. Entretanto, como é evidente, nem todos
optam por estar online e, para os que estão online, observamos diferentes padrões
empíricos de interação. A nosso ver, o fenômeno chave a ser explicado é porque houve o
decréscimo de websites, twitter e youtube, enquanto o Facebook se manteve constante.
Os dados permitem levantar algumas hipóteses, mencionadas acima. A nosso ver, além
da difusão das mídias no mundo off-line, há uma razão mais substantiva para seu uso
desigual: os estrategistas de campanha preferem se "comunicar através dos convertidos"
do que uma "comunicação direta com o eleitor". Por isso não usam ou usam pouco o
twitter, exceto em alguns países onde o uso do twitter ainda é maior (e mais intenso) do
que o do Facebook.
Seja como for, os resultados agregados líquidos de nossa pesquisa, sintetizados
no Anexo a este paper, aprontam para uma evolução de um padrão mediano “protoweb
com baixo grau de interatividade e mecanismos top down de e-campanha”, no pleito de
outubro de 1998, para a difusão de um “estágio pós-web de e-campanha com alto grau de
interatividade”, conforme procuraremos demonstrar com outros estudos que se seguirão a
este paper.
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ANEXO: PERIODIZAÇÃO SOBRE ELEIÇÕES E INTERNET NO BRASIL COM
INDICAÇOES BIBLIOGRÁFICAS DE ESTUDOS EXEMPLARES.
ANO ELEIÇÕES CARACTERÍSTICAS
GERAIS DO PLEITO
PRINCIPAIS INOVAÇÕES E
EVENTOS ASSOCIADOS À
INTERNET
2014: Eleições para
presidente, governos
estaduais, 1 senador,
deputados federais e
estaduais
- Ascensão dos pequenos
partidos de direita e
fragmentação do sistema
partidário. Derrota do PT e
dos partidos de esquerda nas
eleições proporcionais.
- Facebook torna-se a
principal ferramenta de
campanha e de organização
do debate público na internet;
- Websites se tornam menos
frequentes, menos interativos
e mais pobres, sendo
produtores de conteúdos a
serem difundidos em mídias
sociais;
- Amplos debates no twitter
sobre temas de campanha
2012: eleições para prefeitos
e vereadores
- Vitória da situação e de
partidos aliados à base
governista nas eleições.
Todos os prefeitos se
reelegem, exceto Luciano
Ducci (PSB) em Curitiba.
- Padrão web avançado e
pós-web primitivo, com uso
de mídias sociais com baixo
grau de interatividade e baixo
potencial mobilizador;
2010: Eleições para
presidente, governos
estaduais, 2 senadores,
deputados federais e
estaduais
- Dilma Rousseff (PT) eleita
presidente derrotando José
Serra(PSDB)
- Momento favorável à
situação. Maioria dos
governadores é reeleita.
- Primeira eleição sem
restrições legais ao uso das
mídias sociais no Brasil, com
várias experiências
inovadoras.
- Marina Silva utiliza
intensamente a internet nos
pleitos eleitorias obtendo
18% dos votos válidos
- Uso de twitter por José
Serra e demais candidatos; O
twitter é a ferramenta de
interação preferida do twitter.
- Padrão "web" avançado,
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com websites mais
sofisticados e interativos.
Experiências "pós-web"
iniciais.
- Iniciativas de controle civil
online (Sampaio, 2012)
2008: eleições para prefeitos
e vereadores
- Experiência de Barack
Obama nos EUA. Início de
um padrão "pós-web",
altamente mobilizador e
interativo de uso das mídias
sociais
- PT sofre algumas derrotas
importantes em eleições
muncipais, tais como São
Paulo.
- Padrão web mais avançado
(4/5)
- No Brasil, destacam-se as
experiências de Gilberto
Kassab (PFL) e Fernando
Gabeira (PV) no uso da
internet (Braga, 2010).
- Uso da internet em escala
subnacional caracteriza-se
por padrões tradicionais,
veiculando práticas de
natureza clientelista (Braga,
2013)
- Primeiras experiências de
participação digital on-line e
de "falas cidadãs"
2006: eleições para
presidente, governos
estaduais, 1 senador,
deputados federais e
estaduais
- Lula é reeleito na onda do
crescimento econômico e o
PT recupera-se do escândalo
do mensalão, elegendo a
maior bancada na Câmara
dos Deputados.
- Padrão Web intermediário
(2). Algumas midiais sociais
como o Orkut passam a ser
utilizadas, mas sem
processos de discussão e
deliberação muito
aprofundados.
2004: eleições para prefeitos
e vereadores
- Esquerda ganha as eleições
para prefeito em cidades
importantes, como São
Paulo, embora sofra o
desgaste do "escandalo do
mensalão".
- Padrão Web primitivo. -
Estratégias persuasivas de
Raul Pont e José Fogaça
(Martins, 2006).
2002: eleições para
presidente, governos
estaduais, 2 senador,
deputados federais e
estaduais
- Lula (PT) é eleito presidente
da República derrotando
José Serra (PSDB).
Ascensão de governos
estaduais de centro-esquerda
- Padrão Web primitivo (1) .
Destaque para o site de Lula
e do Instituto Cidadania.
Apesar do site primitivo, teve
1.3 milhões de acessos
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- Estágio web de campanha
eleitoral. A maioria dos
candidatos à presidência usa
websites de campanha,
embora com poucas
ferramentas de interatividade.
únicos e 13 milhões de
acessos durante a
campanha.
2000: eleições para prefeitos
e vereadores
- Marta Suplicy elege-se
prefeita de São Paulo
derrotando Paulo Maluf.
Ascensão dos partidos de
esquerda nos pleitos
municipais, crise do modelo
de desenvolvimento
"neoliberal" e da bancada
governista do governo FHC
- Padrão web primitivo de e-
campanhas. Websites pouco
informativos e interativos,
personalização da
comunicação política e fluxos
de comunicação "top down"
(Carneiro, 2006) [cf.]
1998: eleições para
presidente, governos
estaduais, 1 senador,
deputados federais e
estaduais
- FHC (PSDB) é reeleito
presidente da República no
Brasil. Vários
- Estágio proto-Web:
primeiras experiências de uso
da internet nas eleições no
Brasil, com sites estáticos e
sem mecanismo de
interatividade (Steffen, 2002).
- Resolução n.º
20.106 do TSE começa a
regulamentar o uso da
internet nas campanhas
eleitorais, estabelecendo
várias restrições a seu uso.
Propaganda pode ser feita
apenas nos websites e não
em outras redes.
1996: eleições para prefeitos
e vereadores
- Sem registro do uso da
internet nas campanhas
eleitorais brasileiras.
- Estágio pré-web de
campanha.
1994: eleições para
presidente, governos
estaduais, 1 senador,
deputados federais e
estaduais
- primeiras experiências de
uso da internet nos EUA
- FHC (PSDB)é eleito
presidente no Brasil. Sem
registro do uso de internet
nas campanhas eleitorais
- Estágio pré-web de
campanha.
Predomínio das mídias
tradicionais.
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brasileiras.
1989: eleições para
presidente, governos
estaduais, 1 senador,
deputados federais e
estaduais
- Collor (PRN) é eleitor
presidente.
- Amplo predomínio das
mídias tradicionais na
campanha eleitoral.
ANO ELEIÇÕES CARACTERÍSTICAS
GERAIS DO PLEITO
PRINCIPAIS INOVAÇÕES E
EVENTOS ASSOCIADOS À
INTERNET
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A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA GOVERNANÇA DA INTERNET:
Do direito à privacidade ao direito à participação
Thaíse Kemer53
RESUMO
O objetivo do trabalho é analisar os princípios defendidos pela política externa brasileira relativamente ao direito à privacidade na era digital e à democratização da da Internet. Essas temáticas ganharam novo destaque em junho de 2013, quando foram noticiadas revelações de espionagem realizadas pelos Estados Unidos em correspondências de diversos chefes de Estado, entre os quais a Presidenta Dilma Rousseff, bem como em empresas do Brasil. Para alcançar essas metas, o artigo será dividido em três seções, que versão sobre: (1) a evolução do conceito de governança da Internet; (2) a Governança da Internet na Política Externa Brasileira e; (3) o direito à privacidade. Na conclusão, argumenta-se que a diplomacia brasileira tratou o caso da espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos países na governança da Internet.
Palavras-chave: Política Externa Brasileira; Privacidade; Governança da Internet.
Introdução
Num mundo crescentemente globalizado, a Internet, ao interconectar diferentes
culturas, desafia uma ordem mundial baseada exclusivamente na soberania estatal e nas
fronteiras geográficas, e cria novas arenas de atuação internacional para o Brasil
(LUCERO, 2011, p. 11). Uma das ilustrações mais recentes desse fenômeno pode ser
encontrada nas denúncias de espionagem noticiadas pela imprensa internacional em
junho de 2013, segundo as quais os Estados Unidos violaram correspondências de
diversos Chefes de Estado, entre os quais a Missão Permanente do Brasil junto às
Nações Unidas e a Presidenta do Brasil Dilma Rousseff (PLANALTO, 2013).
Nesse contexto, considerando-se que o tema da governança da Internet motivou
um crescente esforço político internacional do Brasil, o ponto de partida para a discussão
é discussão sobre a evolução do conceito de governança da Internet, bem como da
relevância desse conceito para a Política Externa Brasileira. Em seguida, será analisado o
direito à privacidade e sua relação com a política externa brasileira e com a
democratização da governança da Internet.
53
Thaíse Kemer é mestranda em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR). Email: [email protected].
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1. A evolução do conceito de governança da Internet
A compreensão do conceito de governança da Internet na contemporaneidade
pode ser enriquecida mediante uma breve digressão ao contexto que assistiu ao
nascimento dessa tecnologia. De acordo com Kurbalija (2005), a Internet começou como
uma iniciativa governamental quando, no final da década de 1960, os Estados Unidos
criaram a Rede da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de
Defesa (DARPANet), cujo objetivo era a concepção de uma forma de comunicação capaz
de resistir a possíveis ataques nucleares (KURBALIJA, 2005, p.10-15). Nesse sentido, o
caráter intrinsecamente descentralizado da rede era compatível com o cenário
internacional da Guerra Fria, uma vez que seria uma forma de evitar a perda de dados
que poderia advir de eventuais ataques a pontos do sistema.
Apesar de ter sido gestada na esfera governamental, a Internet teve um caminho
diverso de outras tecnologias, pois prescindiu, em seus primórdios, de um planejamento
governamental centralizado (KURBALIJA, 2005, p.10). Nas palavras de Kleinwächter
(2007):
Enquanto inovações tecnológicas mais antigas, como o telégrafo ou a transmissão por rádio, em princípios do século XX foram imediatamente objeto de regulação governamental na forma de leis de telecomunicações e de transmissão, não houve atividades governamentais comparáveis quando da emergência da Internet. A regulamentação necessária era principalmente de natureza técnica e feita por técnicos, provedores e usuários da Internet (KLEINWÄCHTER, 2007, p. 41).
Nesse contexto, e de forma aparentemente paradoxal, a expressão que se
consolidou para a Internet, tecnologia gestada com grande impulso do governo
americano, não foi o termo “Governo”, mas, sim, “Governança”, introduzido na década de
1980 e utilizado para designar, principalmente, a gestão técnica dos recursos centrais
para o funcionamento da Internet, como nomes de domínio, endereços IP, o sistema do
servidor raiz e protocolos de Internet (KURBALIJA, 2005, p.10).
A partir daí, o uso da Internet progressivamente se ampliou para outros usuários,
ao ponto de haver a fundação, em 1986, da Força-Tarefa da Engenharia da Internet
(IETF), uma comunidade de designers de rede, operadores, vendedores e pesquisadores
preocupados com a evolução da arquitetura e da operação da Internet (IETF, 2014). Na
esteira desse processo, oobservaramm-se as primeiras iniciativas com vistas à
centralização do processo de planejamento para a Internet. Nesse sentido, em 1993, a
Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) terceirizou o desenvolvimento
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do Sistema de Nomes de Domínio (DNS) para a Network Solutions Inc. (NSI), empresa de
consultoria de tecnologia fundada em 1979 no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos.
Com isso, a Network Solutions tornou-se a primeira e única registradora de nomes de
domínio até 1999, quando a indústria de nomes de domínio foi aberta à competição
(NETWORKSOLUTIONS, 2015). Conforme Kurbalija (2005, p.10; 2007, p. 197 - 198),
essa iniciativa dos Estados Unidos desencadeou uma verdadeira “Guerra dos DNS”, uma
vez que entidades internacionais, como a Internet Society54, buscaram, por anos, que a
gestão do DNS retornasse ao domínio público.
Na esteira desse processo, é criada, em 1998, a ICANN (Internet Corporation for
Assigned Names and Numbers) uma organização sem fins lucrativos que coordena as
funções da IANA (Internet Assigned Numbers Authority), as quais se relacionam a
serviços técnicos críticos para o funcionamento da Internet, como é o caso do Sistema de
Nomes de Domínio (DNS) (ICANN, 2012). Segundo Kurbalija (2007), com a criação da
ICANN, a Internet Society logrou um maior controle público da gestão do DNS; no
entanto, segundo o autor, os interesses dos Estados nacionais e da comunidade da
Internet permaneceram os pontos fracos da governança da ICANN55 (KURBALIJA, 2007,
p. 198).
Do seio desse debate emerge, portanto, um crescente interesse por parte dos
governos sobre a temática da Governança da Internet. Nesse sentido, do ponto de vista
das relações internacionais, é relevante destacar a analisar de Marques e Pinheiro (2013),
as quais enfatizam que a informação pode ser utilizada como um recurso de poder por
determinados países, os quais podem deter: “… o controle das tecnologias de informação
e comunicação e da própria informação, como forma de exercício de poder” (MARQUES
E PINHEIRO, 2013, p. 117). Corroborando essa argumentação, ABDENUR (2014)
recorda que, não obstante a ICANN ser uma organização sem fins lucrativos, argumenta-
se que sua localização nos Estados Unidos - e, portanto, sua submissão ao direito
54
A Internet Society é uma associação sem fins lucrativos, criada em 1992, com atuação internacional, que tem por objetivo promover liderança no desenvolvimento dos padrões Internet, bem como fomentar iniciativas educacionais e políticas públicas ligadas à rede mundial entre computadores (ISOC, 2015). 55
De acordo com a revista The Economist (2014), em março de 2014, o Departamento de Comércio Americano, ao qual a ICANN está submetida, afirmou que pretendia acabar com seu papel na gestão do DNS até, preferencialmente, setembro de 2015. No entanto, conforme aponta a publicação, para a autora do livro “The Global War for Internet Governance”, Laura DeNardis, da Universidade Americana de Washington, a gestão dos nomes e números, ainda que seja uma parte crítica da governança da Internet, constitui apenas um de seus aspectos, a qual deve considerar também tanto a míriade de organizações que trabalham no tema quanto o enfrentamento de desafios crescentes à liberdade de expressão e aos direitos de propriedade intelectual (ECONOMIST, 2014).
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norteamericano - pode possibilitar a esse país uma vantagem competitiva no que
concerne à Internet.
Essa discussão propiciou o terreno fértil para que o tema fosse incluído no contexto
das conferências realizadas no seio das Nações Nações Unidas. Nesse sentido, em 2003
é realizada a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, a qual é realizada em duas
fases, a saber: (i) em Genebra, na Suíça, de 10 a 12 de dezembro de 2003, com o
objetivo de desenvolver as fundações de uma Sociedade da Informação para todos; (ii)
em Tunis, na Tunísia, de 16 a 18 de novembro de 2005, com o propósito de por em
prática o Plano de Ação de Genebra, bem como outros acordos e mecanismos de
financiamento na área de governança da Internet (WSIS, 2005a).
De acordo com Lucero (2011, p. 76 - 80), a Agenda de Tunis, documento emanado
por ocasião da segunda fase, deu publicidade ao conceito de governança da Internet que
pauta as atividades internacionais contemporâneas nessa temática:
Governança da Internet é o desenvolvimento e aplicação por governos, setor privado e sociedade civil, em seus respectivos papéis, de princípios comuns, normas, regras, processos decisórios e programas que moldam a evolução e o uso da Internet (WSIS, 2005).
Nota-se, portanto, que dos seus primórdios aos dias atuais, o conceito de
governança da Internet ampliou-se para abranger uma multiplicidade crescente de atores.
De acordo com a União Internacional de Telecomunicações, em 2012, 41,3% da
população mundial estava conectada à Rede Mundial de Computadores, número que,
conforme a instituição, só tende a crescer (ITU, 2013, p. 8). De fato, Oppermann (2012, p.
12) destaca que, na atualidade: (i) serviços de todos os tipos estão disponíveis na
Internet, a qual pode ser acessada por um número cada vez mais significativo de
equipamentos; (ii) cada vez mais serviços públicos passam ser fornecidos pelos Estados
aos cidadãos por meio da Internet. Esse contexto torna a segurança uma questão central
tanto ao nível individual quanto ao nível coletivo (OPPERMANN, 2012, p. 12), de forma
que a participação dos Estados nas discussões sobre a Internet constitui característica
inescapável das relações internacionais no século XXI.
2. A Governança da Internet na Política Externa Brasileira
A preocupação com a democratização da governança da Internet reflete os anseios
do governo brasileiro participar de forma proativa e propositiva do processo mais amplo
descrito na seção anterior, no qual a Internet pode ser concebida não apenas como
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instrumento central para o aprimoramento científico e tecnológico das sociedades
modernas, mas também como oportunidade para a construção de uma ordem
internacional inclusiva, em que todos os países tenham iguais oportunidades de acesso.
Nesse sentido, a busca pela democratização da Internet pode ser compreendida a partir
de uma perspectiva mais ampla da Política Externa Brasileira, a qual buscou,
tradicionalmente, participar da elaboração das normas internacionais. A esse respeito,
Cervo (2008, p. 27) descreve a valorização do multilateralismo normativo - que
corresponde à construção de uma ordem internacional baseada em regras transparentes
e emanadas de negociações multilaterais - como um dos padrões de conduta que
compõem o acumulado histórico da diplomacia brasileira.
A reação aos episódios de espionagem de 2013 evidencia um claro exemplo da
busca, pela diplomacia brasileira, desse multilateralismo normativo, o qual é materializado
por um novo ímpeto do protagonismo internacional do Brasil na governança da Internet
(MRE, 2013a). Em discurso na 68º Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro
de 2013, a Presidenta Dilma Rousseff enfatizou que as interceptações de comunicações
nacionais constituíam, além de grave de violação dos direitos humanos e das liberdades
civis, matéria que afeta a totalidade da comunidade internacional, na medida em que diz
respeito a todos os cidadãos do mundo (PLANALTO, 2013). Nesse sentido, a Presidenta
defendeu, na ocasião, o estabelecimento de mecanismos multilaterais para a rede
mundial capazes de garantir princípios como:
1. Da liberdade de expressão, privacidade do indivíduo e respeito aos direitos humanos.
2. Da Governança democrática, multilateral e aberta, exercida com transparência, estimulando a criação coletiva e a participação da sociedade, dos governos e do setor privado.
3. Da universalidade que assegura o desenvolvimento social e humano e a construção de sociedades inclusivas e não discriminatórias.
4. Da diversidade cultural, sem imposição de crenças, costumes e valores. 5. Da neutralidade da rede, ao respeitar apenas critérios técnicos e éticos, tornando
inadmissíveis restrições por motivos políticos, comerciais, religiosos ou de qualquer outra natureza. (PLANALTO, 2013).
À época do discurso, tais princípios não constituíam novidade para a legislação
brasileira, uma vez que foram objeto de resolução de 2009 do Conselho Gestor da
Internet no Brasil (CGI), intitulada “Princípios para a Governança e uso da Internet no
Brasil (CGI.br/RES/2009/003/P)56. No entanto, o cenário internacional propiciou o
56
O CGI foi criado por meio do Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, com vistas, entre outros, a: (1) estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil; (2) elaborar diretrizes para a execução do registro de Nomes de Domínio e a alocação de Endereço IP (Internet
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lançamento de nova luz ao tema, de forma que tais princípios motivaram a atitude
protagônica da política externa brasileira relativamente à governança da Internet.
Nesse contexto, após o discurso na Assembleia Geral, Brasil e Alemanha, cuja
Primeira-ministra, Angela Merkel, também havia sido alvo espionagem digital, elaboraram
uma Proposta de Resolução para a Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual foi
aprovada em novembro de 2014, com o título “O Direito à Privacidade na Era Digital”
(ONU, 2014). Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, essa resolução:
(...) demonstrou o reconhecimento, pela comunidade internacional, de princípios universais defendidos pelo Brasil, como a proteção do direito à privacidade e à liberdade de expressão, especialmente contra ações extraterritoriais de Estados em matéria de coleta de dados, monitoramento e interceptação de comunicações (MRE, 2013b).
Na esteira desse processo, o Brasil sediou, em 23 de abril de 2014, a conferência
NETMundial – Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet.
O encontro, que foi organizado em uma parceria entre o Comitê Gestor da Internet no
Brasil (CGI.br) e a 1Net57, teve como foco a elaboração de princípios de governança
internacional da Internet e a proposta de um roteiro para sua evolução futura
(NETMUNDIAL, 2014).
É interessante sublinhar ainda que os acontecimentos internacionais tiveram
grande impacto também no plano do Direito Interno Brasileiro. Nesse sentido, após as
denúncias de espionagem, a Presidenta Dilma Rousseff solicitou a tramitação da proposta
do Marco Civil da Internet em regime de urgência constitucional, a qual estava há dois
anos na Câmara dos Deputados (SENADO FEDERAL, 2013). Com isso, o Marco Civil foi
aprovado por meio da Lei no. 12.965, de 23 de abril de 2014 - mesmo dia em que teve
início a NETMundial -, estabelecendo os princípios, as garantias, os direitos e os deveres
para o uso da Internet no Brasil (PLANALTO, 2014). Desse contexto, é válido afirmar que
as ações nacionais e internacionais do Brasil se coadunaram em torno do propósito de
concretizar os princípios mencionados pela Presidenta Dilma Rousseff no contexto do
discurso da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2013.
Protocol) e; (3) promover estudos que permitam a manutenção do nível de qualidade técnica e inovação no uso da Internet (CGI, 2014). 57
A 1Net é um fórum que reúne entidades internacionais dos vários setores envolvidos com a governança da Internet. Para maiores informações: http://1net.org/
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3. O Direito à privacidade
O avanço das tecnologias da Internet, com impactos em todas as searas da vida
particular e da vida pública, impõe novos desafios ao Direito Internacional (DI)
contemporâneo. Se, por um lado, o DI enfrenta uma escassez de normas no que se refere
à espionagem eletrônica (ABDENUR, 2014; SENADO FEDERAL, 2014, p. 28), por outro,
as denúncias de violação de correspondências oficiais do Brasil e de outros países em
2013 revelam a violação a um direito já internacionalmente consagrado: o direito à
privacidade. De fato, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 dispõe, em
seu artigo 12:
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.
Na esteira da declaração de 1948, o Pacto Internacional sobre os Direitos e Civis e
Políticos (PIDCP), preconiza em seu artigo 17:
1. Ninguém poderá ser objetivo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e reputação.
2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas. (PLANALTO, 1992)
Após a PIDCP, no que se refere ao âmbito regional, a Convenção Americana de
Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica (1969),
ratificada pelo Brasil em 1992, afirmou, em seu artigo 11:
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas (PLANALTOb, 1992).
Ainda que abundem as normativas internacionais relativas ao direito à privacidade,
é importante sublinhar que a eficácia de normas depende da atuação discricionária dos
Estados nesse sentido. Para ilustrar esse argumento, e considerando as denúncias de
espionagem norteamericanas em 2013, observe-se a interação dos Estados Unidos com
algumas das normas de Direitos Humanos existentes no Direito Internacional
contemporâneo: (1) PIDCP: se, por um lado, o PIDCP possui como mecanismo de
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monitoramento o Comitê de Direitos Humanos58, ao qual os Estados Unidos estão
submetidos, por outro, um de seus Protocolos Adicionais, que permite receber
reclamações de indivíduos, não foi ratificado pelo Estado norteamericano (SENADO
FEDERAL, 2014, p. 28); (2) Pacto de San José da Costa Rica: os Estados Unidos apenas
assinaram o Pacto de San José da Costa Rica de 1969, sem, contudo, ratificá-lo até os
dias atuais (CIDH, 2015). Esses exemplos ilustram o fato de que a defesa do direito à
privacidade, na esfera internacional, depende, em grande medida, da vontade dos
Estados em assegurá-lo.
Essa tarefa não é simples, sobretudo porque, em tempos de terrorismo, o direito à
privacidade é, por vezes, visto como um direito que deve ser balanceado com o direito
dos Estados de garantir sua defesa e segurança. Para ilustrar esse argumento, é
importante recordar que, após as denúncias de espionagem de 2013, o presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, discursou, por ocasião da 68º Assembleia Geral das
Nações Unidas, de 2013:
E, da mesma forma que nós revisamos a forma pela qual nós implementamos nossas extraordinárias capacidades militares de forma a atingir nossos ideais, nós começamos a revisar a forma pela qual coletamos inteligência, de forma que possamos balancear adequadamente as legítimas preocupações de segurança dos nossos cidadãos e aliados com as preocupações com a privacidade que são compartilhadas por todas as pessoas59.
No entanto, as ações do Brasil em matéria de Política Externa permitem afirmar
que o direito à privacidade e o direito à segurança nacional devem não apenas ser
balanceados, mas respeitados em sua integralidade. A esse respeito, note-se, em
primeiro lugar, que o Brasil compromete-se com a assunção e o respeito das normas às
quais se vincula, adotando, tradicionalmente, uma postura legalista, no sentido de buscar
o respeito aos acordos internacionais e ao direito internacional público (CERVO, 2008).
Com base nessa premissa, e considerando-se que o Brasil (1) ratificou as principais
convenções internacionais em matéria de direitos humanos da atualidade; (2) tem acordo
de Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal com os Estados Unidos, por meio
do qual Partes se obrigam a prestar assistência mútua em matéria de investigação,
58
De acordo com o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, o Comitê de Direitos Humanos é um órgão composto por experts independentes que monitoram a implementação do Pacto de Direitos Civis e Políticos. Todos os Estados-Partes são obrigados a submeter relatórios periódicos ao comitê a respeito da forma como esses direitos estão sendo implementados (OHCHR, 2015). 59
Tradução livre da autora. Trecho original em inglês: “And just as we reviewed how we deploy our extraordinary military capabilities in a way that lives up to our ideals, we’ve begun to review the way that we gather intelligence, so that we properly balance the legitimate security concerns of our citizens and allies with the privacy concerns that all people share” (WHITE HOUSE, 2013).
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inquérito, ação penal, prevenção de crimes e processos relacionados a delitos de
natureza criminal (SENADO FEDERAL, 2014, p. 44; PLANALTO, 2001), conclui-se que as
ações do Brasil no plano internacional buscam a convivência os direitos à privacidade e à
segurança nacional.
A busca ativa pela democratização da governança da Internet é a forma
encontrada pelo Brasil de mostrar que tais direitos são de fato, compatíveis e harmônicos.
De fato, conforme destaca Abdenur (2014), o Brasil busca situar essa discussão em
diversas instâncias da concertação político-diplomática nos quais atua, seja no plano
regional, com a coordenação de iniciativas no âmbito da UNASUL60, seja no plano
multilateral, com iniciativas como a organização da Conferência NETmundial e a proposta
de resolução aprovada no âmbito das Nações Unidas. Dessa forma, o direito à
privacidade e a democratização da governança da Internet encontram-se estreitamente
vinculados para a Política Externa Brasileira contemporânea.
4. Considerações Finais
Partindo do caso de espionagem envolvendo os Estados Unidos, a diplomacia
brasileira buscou fazer valer um direito não apenas dos cidadãos do país, mas um direito
de toda a humanidade. Nesse sentido, conforme destacou o ex-Chanceler Luiz Alberto
Figueiredo Machado, a defesa do direito à privacidade - essencial para a preservação da
liberdade de expressão e opinião e para a democracia - insere-se em um contexto mais
amplo da promoção dos direitos humanos e, portanto, deve ser prioritária nas ações dos
Estados (MRE, 2013c). Esse argumento é parte fundamental para compreender a
importância da atuação do Brasil pela construção de um novo modelo de governança da
Internet, que seja democrático, multilateral e inclusivo.
Dessa forma, num contexto em que a Internet ganha cada vez mais relevância em
diferentes áreas da vida contemporânea, a diplomacia brasileira tratou o caso da
espionagem de forma produtiva, buscando tanto defender o direito à privacidade quanto
propondo formas mais democráticas e inclusivas para a participação dos cidadãos e dos
países na governança da Internet.
60
Após reunião em Lima, no Peru, no dia 9 de Agosto de 2013, Ministros das Comunicações e
representantes de 11 países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) fizeram uma
declaração conjunta por meio da qual rejeitaram qualquer ato de intercepção de comunicações sem a
autorização das autoridades competentes (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2012).
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O USO E A IMPORTÂNCIA DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS NAS ELEIÇÕES
DE 2014 NO BRASIL
Nilton Cesar Monastier Kleina61
Resumo: As eleições realizadas em 2014 no Brasil foram marcadas pelo uso de redes sociais pelos
candidatos a todos os cargos em disputa, confirmando que a internet se transformou definitivamente em
uma ferramenta eleitoral no país. Junto com a aplicação dessa plataforma, que resulta em uma
convergência de mídias, novas perspectivas podem surgir na política nacional – ou ao menos um novo
mercado na divulgação de propostas e chamados ao voto. O presente artigo dedica-se a catalogar e
analisar os aplicativos para tablets e smartphones Android desenvolvidos e disponibilizados por
candidatos a Deputado Federal, Senador e presidente da República. O objetivo é definir se esse tipo de
plataforma já é utilizado no pleito em questão, qual o conteúdo normalmente veiculado e se há um bom
recebimento por parte da população em relação a essas ferramentas.
Palavras-chave: Eleições; Campanha Política; Internet; Dispositivos Móveis; Android.
Introdução
Desde o sucesso do exaustivamente estudado caso de sucesso Barack Obama em 2008,
que revolucionou o uso da internet e das mídias sociais na campanha eleitoral dos
Estados Unidos e do mundo (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009; LOCK,
BALDISSERA, 2010) com uma proposta inovadora de convergência de conteúdo e
atuação em rede, os olhos da academia e dos marqueteiros responsáveis por alavancar a
popularidade e a imagem de candidatos voltaram-se a essa nova forma de divulgação. O
que aconteceu foi a adaptação de uma ferramenta antes vista como uma ferramenta de
relacionamentos à comunicação política, e emerge dessa constatação um
questionamento sobre a aplicabilidade ou não de tal resultado em outras plataformas
tecnológicas, épocas e nações.
Isso porque os estudos sobre marketing político e campanhas na internet
adentram somente no campo das redes sociais – especialmente Facebook, Twitter,
Instagram e YouTube – e dos sites de campanha, que são as plataformas mais utilizadas
e com números concretos e consideráveis vindos de pesquisas anteriores, deixando de
fora uma possibilidade que já é considerada pela área da tecnologia como uma cultura
61
Jornalista, mestrando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR), na linha de pesquisa em Comunicação, Política e Atores Coletivos. [email protected]
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própria (GOGGIN, 2011): os aplicativos direcionados a dispositivos móveis, sejam eles
tablets ou smartphones.
O objetivo do presente artigo é catalogar e analisar os aplicativos para o sistema
operacional Android utilizados como ferramenta de campanha nas eleições de 2014 no
Brasil para cargos executivos e legislativos. De posse dos dados, pretende-se refletir
sobre a efetividade dessas ferramentas de busca por votos, além de possibilidades de
uso de tais produtos e serviços em futuros pleitos nacionais.
O processo de criação e idealização do presente trabalho ocorreu durante
discussões acerca do marketing eleitoral na internet, em um misto de curiosidade e
vislumbre de possibilidade sobre o uso de aplicativos nas eleições de 2014, logo após o
final do primeiro turno. Ao levar a questão para a sala de aula, obteve-se somente uma
resposta positiva, mas ainda abstrata, no sentido de “há um certo candidato utilizando,
talvez até outros, mas poucos detalhes a respeito”. Tal comentário, que confirmava a
existência de um objeto de pesquisa e da falta de interesse (porém não da relevância)
gerado pelo tema, serviu como pontapé inicial para o desenvolvimento da pesquisa.
Na seção metodológica, que consiste em uma tabela comparativa, são levados em
conta dados como análise de conteúdo, número de downloads (ou seja, popularidade e
possibilidade de sucesso) e, já em um campo qualitativo, a avaliação da interface
estrutural e do conteúdo veiculado pelos aplicativos. As demais seções que antecedem à
análise em si, dedicadas a um breve histórico sobre a campanha digital online no Brasil e
ao mercado atual do sistema operacional móvel Android no país, servem não só como
reforços teóricos e metodológicos, mas também como justificativa para a realização do
presente trabalho.
1. Internet e dispositivos móveis em campanhas eleitorais
Ainda não há o desenvolvimento de uma vasta teoria do uso político e eleitoral de
aplicativos para dispositivos móveis. Apesar de certos artigos e capítulos já analisarem
casos isolados e ainda não tão relevantes desde 2009 (WALTON, DONNER, 2011), a
literatura analisada a seguir coincide com o trabalho positivo do novo marketing político e
eleitoral desenvolvido para a era digital, além do uso da internet em campanhas eleitorais.
Assume-se, portanto, que os conceitos aplicados às páginas na internet dos candidatos
em campanha transportem-se ao menos parcialmente aos dispositivos móveis – assim
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como aconteceu durante a transição das estratégias de meios tradicionais, como rádio e
televisão.
A ideia aqui não é recapitular historicamente as campanhas que utilizaram a
internet como meio de divulgação e agregação, mas sim focar nos aplicativos e notar de
que modo a rede de computadores contribuiu na área eleitoral. Casos de sucesso a
serem estudados e comparados não faltam, como o já citado trabalho de Barack Obama
envolvendo sites e redes sociais, garantindo visibilidade ao então senador (LOCK,
BALDISSERA, 2010), e o pioneirismo de Jesse Ventura com os bulletin boards (AGGIO,
2011), hoje equivalentes às páginas do Facebook.
Nota-se, portanto, que junto à popularização da internet para uso acadêmico, lazer
e comunicação, cresceu também o interesse político no veículo. Gradativamente,
campanhas “passam a incorporar pouco a pouco os dispositivos da Web em suas
estratégias de comunicação, ampliando o escopo de ação da equipe de marketing
político” (PENTEADO, 2012, p. 42). Penteado (2012) alega que o marketing político
tradicional altera-se para se adaptar, utilizando as novas ferramentas e o espaço virtual
sob novas perspectivas durante as eleições.
De um modo geral, a internet garante vantagens aos partidos, “facilitando canais
informais de feedback (similares a enquetes mais sistemáticas e grupos de foco),
mobilizando fontes como serviços voluntários e doações financeiras, promovendo
discussão interna e debates sobre propostas políticas” (NORRIS, 2003, p. 26). Ações que
antes exigiriam maior disposição e tempo livre por parte dos eleitores tornam-se
acessíveis, a poucos cliques e segundos de distância. A internet “possibilita uma
informação contínua, ininterrupta e de fontes variadas que podem ser acessadas de
qualquer local e a qualquer hora” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p.13). Outro ponto positivo
do uso dessas ferramentas é a facilidade no acesso: os aplicativos de candidatos não
costumam ser pesados, mesmo que carregados de conteúdo escritos, e são bem
visualizados tanto em smartphones quanto tablets, ou seja, qualquer tamanho de tela.
Norris (2003) acredita que a função primária dos sites de campanha vão ao
encontro dos objetivos dos demais veículos de comunicação eleitoral — ou seja, “mirando
informar, persuadir e mobilizar apoio, seja a partir de discursos de liderança, panfletos
eleitorais, textos à imprensa, comerciais pagos de TV, transmissões gratuitas do partido
ou sites partidários” (p. 27). Vale ressaltar que a política norte-americana diferencia-se
bastante da brasileira em seu sistema, por conta de ações como votação facultativa,
doações de campanha, configuração do horário eleitoral e sistema de primárias. Ainda
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assim, as formas de publicidade desenvolvidas nos Estados Unidos estão cada vez mais
presentes nas campanhas eleitorais brasileiras. É o que Albuquerque (1998) chama de
“americanização da política”. Essa discussão alega que o marketing político brasileiro
absorve diversos elementos das eleições norte-americanas, importando técnicas e
linguagens. Junto com características próprias, os partidos transformam o processo
eleitoral e as ações de comunicação.
Aggio (2011) define e analisa dois tópicos que o pesquisador considera questões
chave no estudo de campanhas eleitorais em rede: a interatividade e o ativismo.
1) Interatividade: a possibilidade de construção de ambientes digitais que
possibilitem a interação entre eleitores e, eventualmente, entre estes e os
candidatos.
2) Ativismo: recursos que possibilitem novas formas ou maneiras já
conhecidas, porém otimizadas, de ativismo dentro das campanhas. (p. 179).
No caso dos aplicativos, mesmo antes de realizar a análise dos exemplos das
eleições brasileiras de 2014, é possível afirmar que ambos os pontos estão presentes no
uso de tais ferramentas – independentemente da efetividade. A interatividade se faz
presente na possibilidade de envio de críticas, sugestões e mensagens para o próprio
candidato, função que pode ser adicionada aos softwares móveis no Android. Essa
prática pode não render uma resposta direta, mas a existência de um serviço já indica ao
menos essa possibilidade. A seção de comentários na loja virtual Google Play, plataforma
em que é possível comprar e baixar apps, é outro exemplo de ambiente que proporciona
interação entre eleitores. Ainda assim, como bem afirma Strommer-Galley (2000), ainda
não há uma predileção por interações diretas entre candidatos e eleitores, por motivos
como possibilidade de perder o controle da comunicação, não poder realizar discursos
ambíguos de campanha e elas oprimem a campanha em si, caso a equipe não saiba lidar
corretamente com todos os meios digitais.
Ainda assim, o tipo de interação “humano-humano” é fundamental para a
deliberação pública, que serve para identificar problemas, criar políticas e determinar
como implementar soluções (STROMMER-GALLEY, 2000). Penteado (2012) acredita que
a interatividade “imprime uma lógica comunicativa diferenciada, colocando desafios para o
marketing político, que precisa aprender a se apropriar desse novo espaço e dos novos
dispositivos comunicacionais que produzem formas de interação mais participativa” (p. 41-
42).
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Já o ativismo é identificado quando os aplicativos fornecem plataformas de
disseminação de mensagens durante a campanha, seja na forma de compartilhamento de
postagens ou do apoio em redes sociais ou a partir de mensagens prontas enviadas via
mensagem de texto ou serviços de bate-papo.
Os aplicativos encontram-se também no escopo do que é chamado pós-web
(GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009). Esta é a terceira fase das campanhas que
utilizam a internet — após a proto-web, que ainda descobria o email e só servia como
mecanismo de correspondência, e a web, já com sites de campanha e bancos de dados
(que agregam inclusive doações). Nessa campanha pós-web,
"os conteúdos em páginas web já não são o centro das operações de persuasão e mobilização. Nesse novo padrão, as páginas são principalmente centros distribuidores de tráfego que remetem para sítios de compartilhamento de vídeo ou de fotos, para sítios de relacionamento e para sítios de compartilhamento de atualização online, dentre outras ferramentas on-line, e o modus operandi da campanha é cooperativo, ao par com o espírito da internet 2.0 no que se refere a convocar e pressupor a participação dos internautas na produção dos conteúdos e nos procedimentos de difusão viral de informações e de mobilização" (GOMES, FERNANDES, REIS, SILVA, 2009).
No trabalho citado, que conceitua rapidamente as três fases e analisa o caso de
Barack Obama nas eleições presidenciais de 2008, os aplicativos não são citados – tais
produtos ainda não eram tão populares as próprias plataformas mobile ainda não
apresentavam números tão expressivos. Ainda assim, de acordo com a descrição acima,
eles se encaixam perfeitamente na situação do pós-web.
Apesar de serem dignos de tantos elogios, não é correto pensar que os aplicativos
promoverão uma revolução imediata no modo de fazer campanha: Goggin (2011) nota o
potencial cultural dos gadgets, sem deixar de acentuar a falta de estudos relativos ao
tema ao ressaltar que na área “há falta de trabalho desenvolvido e compreensão sábia,
parte por conta do reino historicamente especializado da tecnologia da telecomunicação e
das políticas de mídia, das quais os dispositivos móveis derivam” (p. 155).
O caso analisado por Donner e Walton (2011) pode ser considerado um dos
pioneiros no setor. Objeto de estudo da dupla, a campanha da África do Sul nas eleições
de 2009 reserva algumas semelhanças adicionais com o Brasil. Em diferentes
proporções, o país africano também convive com desigualdade social ao mesmo tempo
em que é um polo de tecnologia e startups (pequenas empresas). Naquele período, as
comunicações por dispositivos móveis ainda engatinhavam em uso e eram restritas a uma
pequena parcela da população com maior poder aquisitivo — e sites móveis de
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campanha, aplicativos mensageiros e redes sociais dominavam a comunicação eleitoral.
Programas relativos aos próprios candidatos, entretanto, sequer foram citados na
pesquisa. Tal comparação ajuda a indicar que a tendência de “americanização”, ao
menos para o lado da internet móvel, parece caminhar a passos largos para acontecer em
vários cantos do mundo.
Em uma pesquisa feita em 2012 sobre as eleições do mesmo ano nos Estados
Unidos, Duggan e Smith notam que aplicativos de celular não se mostraram efetivos ao
conectar candidatos, partidos e grupos de eleitores. De acordo com o levantamento feito
pela dupla, 45% dos norte-americanos com direito a voto usam apps, mas só 8% “usam
programas relacionados a um candidato, partido ou grupo de interesse para conseguir
informações sobre a campanha durante a temporada eleitoral” (p. 2). Mas, se a
popularidade de aplicativos ainda é relativamente baixa, a pesquisa nota que há uma alta
taxa de uso de celulares para verificação ou postagem de comentários em redes sociais
(45% e 18%, respectivamente), checagem sobre a veracidade de informações sobre
candidatos (35%) e busca por notícias e informações atualizadas do pleito (27%).
De uma forma ideal, esses aplicativos não devem ser usados somente como uma
reprodução em telas menores de um conteúdo já existente, apostando em originalidade e
conteúdos direcionados ao mobile. Ou seja, servir “não apenas como uma adaptação da
propaganda da TV e dos jornais, mas potencializar ao máximo suas capacidades
comunicacionais, tornando-a uma ferramenta de engajamento, colaboração e participação
política” (LOCK, BALDISSERA, 2010, p. 9).
Ainda na campanha norte-americana entre Barack Obama (candidato à reeleição)
e Mitt Romney (representante da oposição selecionado pelos republicanos), o uso de
aplicativos foi bastante notável. O curioso é notar como as estratégias adotadas foram
diferentes, apesar de ambos reconhecerem a importância e a possibilidade de uso dessas
plataformas. De acordo com a análise de Petronzio (2012), o maior investimento
surpreendentemente foi feito pelo candidato republicano: além de gastos com publicidade
posicionada nas plataformas Android e iOS, foram lançados os aplicativos Mitt, Mitt's VP,
Romney-Ryan e Mitt Events. Essa prática de lançar mais de um app por candidato,
preferindo segmentar as funções em vez de lançar somente um software agregador, foi
pouco adotada no Brasil, como mostrará a pesquisa a seguir. Obama apostou nos
aplicativos Dashboard (uma forma de procurar formas de ativismo) e Obama for America
(informações sobre o candidato e possibilidades de interação). Apesar da menor
quantidade, foi o que mais arrecadou com aplicativos móveis – e saiu vitorioso na eleição.
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Paralela aos aplicativos dos dois candidatos, a plataforma Mobile Politics, também
lançada para dispositivos móveis, serviu como ponte principal naquele ano entre
candidatos e eleitores. O serviço também recolheu dados importantes, como o fato de que
80 milhões de pessoas nos Estados Unidos acessariam informações políticas críticas na
tomada de decisão de voto via smartphones (PETRONZIO, 2012).
No Brasil, a utilização de aplicativos mobile foi usada de forma pouco chamativa ou
até inexistente nas eleições de 2010, já que não há registros dessa atividade — os
próprios dispositivos necessários para reproduzi-los, como tablets e smartphones, ainda
eram pouco populares e de preço nada acessível. Já o uso da internet em si também
começou tardiamente, mas já mostra sinais de progresso. Impulsionados pelo efeito
Obama, Ao quantificar e qualificar o uso de mídias sociais, sites e outras plataformas
online de interação entre candidatos e eleitores no pleito nacional de 2010, Braga (2011)
notou que, "embora utilizadas num estágio ainda embrionário (...), as ferramentas
disponibilizadas pelas novas tecnologias aos candidatos indicam potencialidades e
tendências futuras que muito provavelmente devem se concretizar nos próximos pleitos
eleitorais" (p. 72). A existência cada vez maior de candidatos com contas ativas em sites
como Twitter e Facebook, além dos aplicativos a serem analisados neste trabalho, são
evidências favoráveis à evolução citada.
2. Android, um mercado em ascensão
O sistema operacional móvel da Google, batizado de Android, foi escolhido como
única fonte de análise do presente trabalho por uma série de motivos a serem
desenvolvidos nesta seção, como o fato de ser a plataforma mais vendida no Brasil (e no
mundo, apesar de não dominar o ranking de todos os países) e por conta da facilidade no
desenvolvimento e postagem de programas na loja oficial. Foram preteridos o iOS, da
Apple, e o Windows Phone, da Microsoft.
A preferência é comprovada em pesquisas de institutos como o IDC Brasil.
Tomando como base os relatórios mais recentes62, o mercado de tablets e smartphones
com sistema operacional Android já está consolidado no Brasil e no mundo, com as
vendas em uma constante ascensão. No país, em agosto de 2014, 92% dos smartphones
vendidos eram Android. Os 8% restantes são divididos entre o Windows Phone, que em
62 Números completos disponíveis em: http://www.idcbrasil.com.br/releases/news.aspx?id=1730)
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fevereiro estava na segunda colocação, o iOS, que costuma crescer no último trimestre,
com o lançamento de uma nova geração de iPhones, e os feature phones, que são
celulares que até possuem acesso à internet, mas funções bem menos limitadas e um
sistema operacional rudimentar.
Ainda de acordo com dados do IDC Brasil63, no segundo período de abril e junho
de 2014, foram vendidos 13,3 milhões de smartphones, um aumento de 22% em relação
ao mesmo período do ano passado. Mais de 90% dos aparelhos funciona a partir do
sistema operacional citado. A venda de phablets, que são dispositivos intermediários
entre os tablets e os celulares (por polegadas), também está em alta: até 5 milhões de
unidades devem ser vendidas em 2014. Os tablets foram os únicos aparelhos que
sofreram uma redução nas vendas trimestrais, caindo 12% do primeiro para o segundo,
mas com ascensão semestral de 21% em relação a 2013. Tal relato tem explicação: a
Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, impulsionou a venda de aparelhos como
televisores e celulares — e agora, passado o torneio, os números devem retornar à
normalidade de crescimento
Outro argumento incentivador ao uso de aplicativos na campanha está no período
diário dedicado ao uso dos dispositivos móveis, que passou a ser mais intenso: ele não é
mais somente um aparelho para efetuar ou receber ligações ou enviar mensagens em
SMS. Com os aplicativos e a possibilidade de acessar email e sites da internet, torna-se
uma verdadeira central de trabalho, comunicação e entretenimento. O desenvolvimento
dos hardwares, isto é, a melhoria na potência de processadores e quantidade de memória
RAM, entre outros componentes, permite ainda mais espaço, poder e flexibilidade para o
desenvolvimento de softwares (GOGGIN, 2011, p. 150. Tradução nossa).
Tal uso da internet em celulares é um grande potencial a ser explorado,
especialmente entre a população mais jovem. Os dados discutidos a seguir foram
retirados do relatório Juventude Conectada64, da Fundação Telefônica Vivo em parceria
com o IBOPE, o Instituo Paulo Montenegro e o Núcleo das Novas Tecnologias da
Comunicação Aplicadas à Educação Escola do Futuro-USP. Ela entrevistou 1.440 jovens
de 16 a 24 anos a partir de um questionário sobre hábitos de uso da rede. A pesquisa foi
realizada de setembro a outubro de 2013. O telefone celular é o equipamento preferencial
de acesso à internet. A conexão é intensamente utilizada por jovens de todas as classes
63
A pesquisa completa pode ser acessada em: http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1713 64
A pesquisa completa pode ser acessada em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Sete-em-
cada-dez-jovens-acessam-internet-pelo-celular.aspx
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socioeconômicas (42% dos brasileiros). Ainda de acordo com a mesma pesquisa, lazer e
atividades de comunicação são as ações cotidianas preferenciais dos jovens na internet.
Ainda assim, 40% dos entrevistados faz pesquisas sobre informações em geral
diariamente ou em quase todos os diase 36%. A política também é um interesse
constante — ou ao menos reconhecido — pela faixa pesquisada. Na pesquisa, 64% dos
jovens responderam que concordam totalmente ou parcialmente com o item “Procuro
aprender sobre causas sociais, ambientais e políticas pela internet”.
Vale ressaltar ainda uma das vantagens dos tablets e smartphones em relação à
internet de computadores de mesa ou laptops, a portabilidade: com uma conexão WiFi ou
um plano de dados de operadoras (2G, 3G ou 4G), é possível acessar a loja digital da
Google Play e efetuar o download de novos aplicativos — sendo que vários podem ser
acessados sem precisar de uma rede. Essa é a máxima do que Goggin (2011) chama de
“computação ubíqua”, que significa uma ligação constante e onipresente com redes
eletrônicas. Mas, se por um lado, tal possibilidade resulta em “profundas ramificações
socioculturais” (p. 149), ainda há muito trabalho a ser feito: o mesmo autor acredita que a
infraestrutura de mídias móveis ainda é “bagunçada, parcial e contingente” (IDEM, p.
149).
Goggin (2011) acredita que a computação ubíqua não trará tantas funções e
informações novas. O trabalho da conexão ininterrupta é fazer com que as tarefas sejam
executadas de forma fácil e rápida, exigindo menor esforço por parte dos usuários – o que
já é uma grande diferença. A comparação é com o computador pessoal, que trouxe uma
série de maneiras renovadas de realizar tarefas como escrever textos e entreter-se com
jogos, porém sob uma nova dinâmica.
Porém, o mercado de dispositivos móveis não é formado somente por pontos
positivos – caso contrário absolutamente todos os candidatos seriam donos de um
aplicativo na Google Play e todos seriam bem-sucedidos, o que não é o caso, como será
confirmado a seguir. Além do já citado alcance ainda limitado da população, alguns
obstáculos no desenvolvimento podem impedir a produção desses programas ou
convencer partidos e candidatos a não adotarem tal prática na campanha.
É claro que, assim como no caso dos sites de campanha (NORRIS, 2003), é
possível que voluntários realizem sem custos o desenvolvimento do aplicativo, embora
seja necessário um conhecimento bastante específico da plataforma para que o resultado
seja de qualidade e a manutenção, se possível, aconteça de modo constante. Essa,
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149
entretanto, pode ser uma alternativa viável para partidos de menor poder aquisitivo ou que
não recebam altas quantias privadas de financiamento de campanha.
Enquanto a popularização dos aplicativos de candidatos parece não ocorrer, ao
menos os dispositivos móveis marcam presença na campanha eleitoral. O mensageiro
WhatsApp, que permite a troca de mensagens de texto ou multimídia sem custos (exceto
o plano de internet móvel ou WiFi) foi bastante utilizado para campanha, incluindo a
prática de spam, disseminação de correntes e chamados ao voto. Além disso,
ferramentas para tablets e smartphones de cunho eleitoral atingiram sucesso relativo na
loja virtual. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou o aplicativo Apuração Eleições
2014 65 para que brasileiros acompanhassem a divulgação dos resultados durante os dois
turnos do pleito. O aplicativo teve entre 1 milhão e 5 milhões de downloads na Google
Play.
Mas o valor pode ser considerado baixo, se comparados aos serviços de maior
sucesso na plataforma. Essencialmente voltado ao público brasileiro, o aplicativo de rádio
e reprodução de áudios Palco MP3 possui entre 10 milhoes e 50 milhões de downloads.
Já o WhatsApp, que é o mensageiro mais utilizado da plataforma Android, contabiliza de
500 milhões a 1 bilhão de downloads.
3. Os aplicativos de candidatos nas Eleições 2014
Esta seção metodológica consiste em uma tabela quantitativa com dados relativos
aos aplicativos lançados pelos candidatos às eleições brasileiras de 2014 na plataforma
Android. Com o objetivo de limitar o escopo da pesquisa, optou-se por catalogar somente
os produtos individuais e oficiais de candidatos, excluindo softwares móveis de partidos e
eventuais produtos de eleitores sem relação com a campanha.
Para a produção da tabela, foi realizada uma coleta de dados pelo site da Google
Play, a loja oficial de aplicativos para Android, em pesquisa realizada pelo autor. A
pesquisa foi efetuada sob o termo “deputado federal”, sendo que toda a rolagem da tela
foi efetuada com o objetivo de utilizar todos os elementos filtrados pela busca. Tal método
é efetivo não só para o caso de aplicativos com o cargo no nome, como “Deputado
Federal Hugo Leal”, mas também quando as duas palavras aparecem somente na
descrição do produto. No caso dos presidenciáveis e candidatos ao Senado, devido ao
65
Disponível para download em https://play.google.com/store/apps/details?id=br.jus.trese.divulga&hl=pt_BR
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menor número de envolvidos, a pesquisa deu-se nominalmente, ou seja, ao procurar pelo
nome de cada candidato. A partir dos primeiros resultados obtidos, obteve-se um acervo
já considerável de exemplos – e, na seção relativa aos desenvolvedores (com outros
trabalhos realizados por eles) e nos aplicativos sugeridos (naturalmente ligados às
eleições), foi possível encontrar ainda mais resultados.
Em uma análise prévia, verificou-se uma série de semelhanças entre os aplicativos
feitos pelos mesmos desenvolvedores. Por conta da alta quantidade de programas
coletados, decidiu-se por uma tabela limitada: um exemplo de cada desenvolvedor foi
selecionado já que os produtos criados pelo mesmo profissional diferem muito pouco
entre si, tornando a análise individual algo redundante. Quando a programação é feita por
uma mesma empresa, eles variam somente em dois aspectos: a) a identidade visual, que
envolve o nome, as cores (normalmente relacionados ao partido) e a foto do candidato; b)
o conteúdo, com as devidas propostas, a biografia, os envios multimídia e as
possibilidades de contato – no caso de exceções, elas serão contabilizadas e
posteriormente desenvolvidas. A título de curiosidade e documentação, é possível
consultar a lista completa da pesquisa com todos os aplicativos obtidos na seção de
Anexos deste trabalho.
Os parâmetros dispostos na tabela envolvem as seguintes informações: o nome do
candidato, o partido político, o cargo desejado, o estado da candidatura, o número de
downloads na Google Play, a contagem de avaliações e comentários na loja, o espaço
que o aplicativo ocupa na memória do dispositivo, o conteúdo disponibilizado nos ícones
clicáveis e o contato em outras plataformas digitais.
Ao todo, foram coletados 64 aplicativos de Android. A divisão dos aplicativos por
cargos é a seguinte: 48 sobre deputados federais, 10 sobre senadores e 6 relativos a
candidatos à presidência. Nota-se, portanto, que a quantidade de deputados federais com
aplicativos é maior – algo esperado, por conta do maior número de candidatos totais. Já
os postulantes à presidência da República praticamente ignoraram tal plataforma,
enquanto o número de senadores com aplicativos na Google Play também é baixo, porém
em maior proporção.
As categorias foram selecionadas com base em uma análise prévia das páginas de
aplicativos, de acordo com a relevância dos conteúdos a serem analisados. Dados de
identificação básicos (nome do aplicativo, desenvolvedor, partido e Estado do candidato)
foram escolhidos para catalogar cada ferramenta. As categorias quantidade de downloads
e interações – avaliações e comentários na página da Google Play – foram selecionadas
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para notar a recepção do público ao serviço e o sucesso do produto. Por fim, uma
descrição das seções e os contatos disponíveis no aplicativo é necessária para uma
análise mais elaborada dos conteúdos presentes. Para a catalogação, cada aplicativo foi
instalado em um smartphone e devidamente consultado.
Partidos de maior verba e maior representatividade na câmara são os que mais
estão presentes no mercado de dispositivos móveis, ao menos nos cargos pesquisados.
Já aqueles de posicionamento característico de esquerda (PSTU, PCB, entre outros),
direita (PROS) e de baixa ou nenhuma participação legislativa (PRTB, PSDC e demais)
estão ausentes desse segmento ou com participação mínima – o que indica a
transposição dos mesmos valores da política tradicional para a política online, sem a tão
desejada igualdade e paridade de participantes na rede.
Há o reconhecimento de que a coleta não representa a totalidade dos aplicativos
existentes no Brasil relativos aos candidatos às Eleições 2014, já que nem todos os
programas podem ser encontrados pelo método de busca realizado. Ainda assim, os
métodos de pesquisa são capazes de filtrar os apps por popularidade – ou seja, aqueles
que não foram atingidos pela coleta são praticamente irrelevantes no cenário estudado.
No caso dos candidatos à presidência da República, foi detectada uma baixa
presença dos políticos. Curiosamente, os dois candidatos que possuem participação entre
os aplicativos para Android, Aécio Neves e Marina Silva, cunharam a campanha
baseando-se em pretextos de mudança e renovação – o tucano para vencer a candidata
à reeleição, Dilma Rousseff, e Marina sob ideais do que ela conceitua como “nova
política”.
Tab. 1 – Os aplicativos para Android dos candidatos à presidência do Brasil em 2014
Candidato Partido / Estado
Downloads Avaliações / Comentários
Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato
Aécio Neves PSDB 500 a 1.000
35 / 10 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias, Participe
Facebook, Instagram, Google+, Twitter,
YouTube
Aécio Neves PSDB 100 a 500 21 / 5 14 MB Rcf Inovações LTDA
Perfil, Fotos, Eventos,
Localização, TV
Aécio Neves, Plano de Governo
Facebook, Twitter,
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152
Aécio 45 Realidade
Aumentada
PSDB 100 a 500 11 / 6 20 MB Ohmar Tacla Realidade Aumentada
Nenhum
Marina Silva 40
PSB 1.000 a 5.000
134 / 55 0,67 MB Blu Sky Aplicativos
Sobre Marina, Conheça o
Beto,
Twitter, Facebook,
Presidente Plano de Governo, Deixe seu Recado, Agenda, Canal de
vídeos, Sites e Links, Apoio
40, Desenvolvedor,
Compartilhe
YouTube, site oficial,
e-mail, telefone
Prog. De Governo Marina Silva
PSB 100 a 500 11 / 4 1,9 MB VirtualPape Início, Acervo, Baixados, Opções
Nenhum
Clique 40 PSB 1.000 a 5.000
201 / 68 6,9 MB R8 Tecnologia Fotos, Galeria 40
Facebook, Instagram,
Twitter, WhatsApp
Fonte: Google Play e produção do autor
Em ambos os casos, não foram encontrados somente um aplicativo oficial, mas sim
uma série de ferramentas com funções diferentes. Tanto Aécio quanto Marina Silva
possuem serviços em separado para compartilhamento de fotos, lazer ou consulta ao
programa de governo. Essa estratégia, embora ocupe mais espaço no aparelho, é
interessante por fazer com que uma verdadeira rede de softwares seja desenvolvida em
torno do candidato.
Os candidatos ao Senado estão em um meio termo. A quantidade de candidatos
com aplicativos é baixa (somente 5,4% do total) e, desta vez, é identificado o padrão
visual e estrutural nos serviços oferecidos – ou seja, propostas, biografia do candidato,
conteúdo multimídia e possibilidades de contato.
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153
Tab. 2 - Os aplicativos para Android dos candidatos ao Senado no Brasil em 2014
Candidato Partido/
Estado Downloads
Avaliações/
Comentários Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato
E o Bernal?
(Alcides Bernal)
PP/MS 100 a 500 9 / 5 7,4 MB Geleia.Mob Apps Alcides Bernal, Bernal e VC
Nenhum
Espalhe
133 (Lucélio
Cartaxo)
PT/PB 10 a 50 5 / 0 0,96 MB Midia Sync Nenhum
(apagado após as eleições)
Nenhum
(apagado após as eleições)
Fátima131 (Fátima
Bezerra)
PT/RN 100 a 500 26 / 7 4 MB Ideia Software #Compartilhe Nenhum
Magela 133
(Geraldo Magela)
PT/DF 50 a 100 5 / 3 21 MB Pepper Interativa Magela, Bandeiras,
Notícias, TV Magela 133, Agenda, Colabore, Materiais de
campanha, Ouça o jingle
Facebook, Twittr,
Flickr, Instagram, YouTube,
site
Marcelo Serafim
PSB/AM 1 a 5 1 / 1 10 MB Márcio Heli & Diogo Said
Perfil, Fotos, Você no mandato, Gabinete, Links importantes,
Vídeos
Facebook, Twitter, telefone
Neucimar
22 (Neucimar
Fraga)
PV/ES 50 a 100 2 / 1 3,5 MB SAMUS Início, Perfil,
Multimídia, Participe
Twitter, Facebook
Romário PSB/RJ 1.000 a 5.000
112/46 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias,
Participe
Twitter, Facebook,
Instagram, Flick,
YouTube
Ronaldo Caiado
DEM/GO 10 a 50 10 / 8 10 MB Twopix Tecnologia Home, Notícias, Projetos Facebook, Twitter,
Flickr,
Instagram, YouTube,
telefone, email, site
Senador
Gim (Gim Argello)
PTB/DF 100 a 500 16 / 10 9,6 MB MobilizeBrasil.com Sobre, Nossos
Desafios, Perguntas, Lista de
Mensagens
Twitter,
Facebook, Flickr,
YouTube,
site, email
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154
Todos Pelo
Maranhão (Roberto
Rocha)
PSB/MA 100 a 500 17 /7 3,7 MB Rede6 Todos pelo Maranhão, Perfil dos Candidatos,
Plano de Governo, Envie sua Contribuição,
Candidatos da
Coligação,
Localização de COmitês,
Participe da Campanha, Fotos
e Vídeos, Notícias, A
Coligação, Sobre App
Facebook,
YouTube, Twitter,
Instagram, WhatsApp
Fonte: Google Play e produção do autor
Por fim, no caso de quem disputa vagas a Deputado Federal, a quantidade de
aplicativos identificados é maior – mas a proporção cai consideravelmente, dado ao alto
número de candidatos, com apenas 0,67% dos candidatos presentes na Google Play.
Tab. 3 - Os aplicativos para Android dos candidatos a Deputado Federal no Brasil em 2014
Candidato Partido / Estado
Downloads Avaliações/ Comentários
Tamanho Desenvolvedor Conteúdo Contato
Ademir Camilo
PROS / MG
50 a 100 1 / 0 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias, Participe
Facebook, YouTube, site
Afonso 1200
PDT / RS 10 a 50 7/2 1,9 MB BBM – Broadcast
Mobile Media
O Cidadão Afonso, Propostas
para Mudar, #webcidadao,
#eugostodepolitica, Artigos de
Opinião, Enquetes,
Preferência, Podcasts, Favoritos
Nenhum
Alex Matos Federal
4043
PSB / SP 10 a 50 0 / 0 1,2 MB Streaming Profissional
Jingle Facebook, Site, Twitter
André de Paula 5555
PSD / SP 10 a 50 1/1 4,6 MB Up to Date Eventos
Perfil, Trajetória, Propostas,
Agenda, Deixe seu Recado, Tirar
Fotos, Fotos, Compartilhadas
Site, Facebook, Instagram, YouTube
App da Cris/Cristin
a Félix
PT / PR 100 a 500 22 / 13 13 MB Dreams&Innovati on Ltda.
A Cris, Propostas, Música, Fotos
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Arthur Maia SD / BA 10 a 50 3/1 10 MB Mobigap Mobile Home, Ações, Notícias, Perfil, Jingle e Fotos
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155
Artur Bruno PT / CE 5 a 10 0 / 0 9 MB MobilizeBrasil.co m
Home, Nossos Desafios, Redes (Fotos e Vídeos), Sobre/Notícias,
Cadastro
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Aureo 7733 SD / RJ 5 a 10 0 / 0 14 MB Miguel de Souza Carino
Início, Agenda, Projetos,
Propostas, Notícias, Vídeos,
Congressos
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Dep. Dr. Michel
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Compartilhe, 11.190, Notícias,
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PMDB/PB
100 a 500 20/jun 11 MB EASYWEB Início, Notícias, Proposições,
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Deputada Luciana
PC do B/PE
100 a 500 08/mai 9,2 MB MobilizeBrasil.co m
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Pergunta e resposta, Contato,
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Deputada Jaqueline
PMN/DF 1 a 5 0 / 0 9,4 MB SC 21 Media Notícias, Eventos, Sobre, Rede J,
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Deputado Antonio
Elisandro
PSB / RS 50 a 100 05/mar 4,6 MB Disk Cidadão Biografia, Agenda, Notícias, Projetos,
Vídeos
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Deputado Arolde de Oliveira
PSD / 100 a 500 02/jan 4,7 MB VELASCO TI Perfil, Redes (Fotos, Vídeos), Notícias, Indique
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Deputado Arthur Maia
SD / BA 10 a 50 0 / 0 2,3 MB Mobigap Mobile Home, Notícias, Ações, Contato
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Deputado Federal
Hugo Leal
PROS/RJ
50 a 100 03/fev 5,2 MB Imperion Apps Biografia, Atuação, Notícias,
Saiu na mídia,
Endereço, Email,
Telefone, Site, Twitter,
Deputado Jonathan de Jesus
PRB / RR
10 a 50 0 / 0 3,1 MB Traki Mobile Notícias, Ações, Home
Twitter, Facebook,
Youtube, Site, Email,
Telefone, Endereço
Deputado Luiz
Martins
PDT / RJ 10 a 50 4 / 0 5,6 MB Fattoria Web Últimas Notícias, Perfil, Defesa do
Consumidor, Galeria de Fotos,
Vídeos
Twitter, Facebook, YouTube, Formulário
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156
Deputado Marcon
PT / RS 10 a 50 02/jan 2,9 MB Dionilso Marcon Apresentação, Propostas, Links recomendados, Receba nosso
newsletter e SMS
YouTube,Twitter, Facebook,
site
Deputado Popó
PRB/BA 5 a 10 0 / 0 4 MB Traki Mobile Home, Agenda, Notícias, Participe
Instagram, Flickr,
Facebook, Twitter,
YouTube
Deputado Renzo Braz
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Dr. João Deputado Federal
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Fonte: Google Play e produção do autor
Os desenvolvedores Traki Mobile e MobilizaBrasil.com foram identificados como os
mais presentes. Esse aspecto é esperado, já que os profissionais que se especializam na
produção de aplicativos para políticos montam um modelo pronto e oferecem o serviço a
candidatos. Por outro lado, a encomenda em massa pode “engessar” o formato das
ferramentas, fazendo com que muitos deles sejam parecidos demais em estrutura, sem
apostar em originalidade ou pontos para convencimento do eleitor, variando somente no
conteúdo.
Nota-se ainda que contratar os serviços de um desenvolvedor que não possua
trabalhos parecidos na área passar a impressão de um serviço amador ou até inacabado,
como é o caso de Marcelo Serafim – a página do aplicativo na Google Play não oferece
informações sobre o conteúdo, mas o serviço em si conta com os mesmos tipos de
conteúdo e contato que a maioria das demais ferramentas. Como resultado, uma
quantidade bastante reduzida de downloads foi realizada em período eleitoral.
4. Conclusão
Ao analisar os dados coletados para o presente artigo, nota-se que o uso de
aplicativos para dispositivos móveis nas Eleições 2014 no Brasil é um mercado possível e
que pode render bons frutos, mas ainda mal utilizado ou pouco aproveitável. O exemplo
encaixa-se na teoria de “americanização da política” descrito por Albuquerque (1998).
Até mesmo os mais populares em downloads e avaliações na Google Play
possuem uma taxa de downloads pouco relevante (especialmente se comparados ao
número total previsto de votos necessários para vencer uma eleição). Além disso, esses
materiais não são exclusivos ou muito otimizados para o mobile, sendo meras
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reproduções dos sites. Levando em conta que o próprio uso de sites de campanha e de
candidaturas podem ter recebido críticas no início do uso justamente por conta da falta de
originalidade da produção de conteúdo, que já era encontrado em mídias tradicionais, é
possível esperar que, se adotados, esses programas de dispositivos móveis adquiram
uma identidade própria com o passar das campanhas e tornem-se um destaque da
campanha eleitoral nas chamadas novas mídias. O mercado do Android já é muito
popular no Brasil e tende a ser ainda maior, o que prova que ele não deve ser ignorado.
Os conteúdos dominantes são os mesmos dos sites de campanha e das redes
sociais, que são formas mais tradicionais de campanhas eleitorais online: a biografia do
candidato, uma lista de propostas, projetos e realizações (caso o político já ocupe ou
tenha ocupado algum cargo), informações de contato, possibilidades de adesão à
campanha ou compartilhamento de mensagens e postagem de fotos, áudios e vídeos da
campanha. Como todos eles estão disponíveis naturalmente na internet, na forma dos
perfis desses candidatos ou na versão mobile das páginas de campanhas, é questionável
se os atuais conteúdos são realmente relevantes para o eleitor, seja ele indeciso ou com
o voto já definido no candidato em questão. As próprias formas de contato são as
mesmas, apostando somente nas redes sociais mais populares do momento, como
Twitter, Facebook, YouTube e Instagram. Para efeitos de comparação, Obama utilizou 16
mídias sociais e criou uma plataforma própria de interações entre eleitores (GOMES,
FERNANDES, REIS, SILVA, 2009).
Portanto, fica a dúvida sobre que tipo de conteúdo criar para ser veiculado
diretamente nos aplicativos. Vários deles já apresentam menos textos que o comum,
aspectos visuais de qualidade e foco em multimídia, mas isso parece não ser o suficiente
para atrair o público. Os jogos e passatempos mostram-se bastante populares na Google
Play, e a criação de uma atividade lúdica e de lazer junto com o setor informativo da
ferramenta pode ser a solução para prender usuários de todas as idades, sejam eles
eleitores ou filhos e netos de eleitores. É questionável, entretanto, se esse tipo de
conteúdo seria levado em conta pelos candidatos, já que pode encarecer o serviço de
desenvolvimento e exigir maior preocupação e cuidado com a ferramenta móvel. Por fim,
a publicização do aplicativo deve ser massiva, tanto em meios online, como nas redes
sociais do candidato, a meios tradicionais massivos, como no Horário Gratuito Público
Eleitoral (HGPE). Ou seja, por mais que a internet queira ser designada como uma “nova
mídia” livre de correntes e interesses dos meios de comunicação de massa, ela pode não
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funcionar separadamente e necessitar de uma divulgação mais ampla para garantir
visibilidade.
Nota-se ainda, a partir de uma análise superficial dos comentários (que envolvem
somente elogios e palavras de apoio), que as pessoas que fazem o download desses
aplicativos já têm alguma intenção política em relação ao candidato, como a garantia do
voto, ou certo grau de aproximação com o candidato e com o partido. Dessa forma, trata-
se de um conteúdo com um horizonte muito limitado de transmissão de mensagens e
aproximação dos eleitores, capturando e convencendo somente quem já estava parcial ou
totalmente decidido em relação às eleições – é o que Pippa Norris (2003) fala sobre
“pregar aos convertidos”. Dificilmente, eleitores indecisos buscariam nos aplicativos os
dados sobre biografia, propostas e realizações de vários candidatos para efeitos
comparativos, já que veículos tradicionais (o Horário Gratuito Político Eleitoral no rádio ou
na televisão, os sites de campanha ou do candidato e as redes sociais) têm notável
preferência. Ainda assim, a autora argumenta que os efeitos não são somente negativos,
já que essas plataformas podem ser usadas para que uma base eleitoral definida discuta
estratégias e dê continuidade às mobilizações e ações de comunicação. Não é possível
definir se isso acontece nos aplicativos para Android dessas eleições, mas a possibilidade
da autora não deve ser descartada. Ainda assim, não há como concluir se a prática dos
aplicativos será popularizada nas próximas eleições (regionais, de 2016, ou nacionais, de
2018), se a quantidade de downloads aumentará ou se tais ferramentas terão uma
importância vital no convencimento do eleitorado. Porém, a popularização dos sistemas
Android e a já existência desse serviço no período eleitoral de 2014 já indica que eles ao
menos estarão presentes, em menor ou menor quantidade e relevância.
Referências
AGGIO, Camilo. Internet, Eleições e Participação: Questões-chave acerca da participação e do ativismo nos estudos em campanhas online. In: MAIA, Rousiley C. M.; GOMES, Wilson; MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida (Org.). Internet e Participação Política no Brasil. Porto Alegre: Editora Sulina, 2011, p. 175-193.
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LOCK, Matheus, BALDISSERA, Rudimar. Comunicação política on-line: estratégias de administração da visibilidade no ambiente da Web 2.0. In: IV Congresso Brasileiro Científico de Comunocação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp). 20 a 22 de maio, Porto Alegre-RS, 2010
NORRIS, Pippa. Preaching to the Converted?: Pluralism, Participation and Party Websites. In: Party Politics vol. 9, nº 1, 2003, p. 21-45.
PENTEADO, Claudio Luis de Camargo. Facebook e campanha eleitoral digital. In: Revista Debate, Belo Horizonte, v.4, n.4, jul. 2012, p.41-53.
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