Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

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Coord. Luiz Mauro Barbosa CERAD – Instituto de Botânica de São Paulo IV Simpósio de Restauração Ecológica Desafios Atuais e Futuros

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Realização:

Jardim Botânico de São Paulo e Instituto de Botânica de São Paulo

9 788575 230374

ISBN 978-85-7523-037-4

Coord. Luiz Mauro BarbosaCERAD – Instituto de Botânica de São Paulo

IV Simpósio de Restauração Ecológica

Desafios Atuais e Futuros

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Secretaria de eStado do Meio aMbiente

IV Simpósio de Restauração EcológicaDesafios Atuais e Futuros

Coordenação Geral: Luiz Mauro Barbosa

São Paulo16 a 18 de novembro de 2011

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Geraldo Alckmim – Governador

Secretaria de eStado do Meio aMbiente

Bruno Covas – Secretário

inStituto de botânica

Vera Lúcia Ramos Bononi – Diretora Geral

centro de PeSQuiSa JardiM botânico e reSerVaS

Luiz Mauro Barbosa – Diretor do Centro

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FICHA TÉCNICA

COORDENAÇÃO GERAL: Luiz Mauro Barbosa – PqC. IBt

REALIZAÇÃO: Instituto de Botânica de São Paulo – IBtSecretaria de Estado do Meio Ambiente – SMA/SPGoverno do Estado de São Paulo

EDITOR RESPONSÁVEL: Luiz Mauro Barbosa

EDITORES ASSISTENTES: Fulvio Cavalheri Parajara; Lilian Maria Asperti; Nelson Antonio Leite Maciel; Tiago Cavalheiro Barbosa.

EDITORES GRÁFICOS: Fulvio Cavalheri Parajara e Tiago Cavalheiro Barbosa.Fotos da Capa: Tiago Cavalheiro Barbosa.Fotos da Contracapa: Fulvio Cavalheri Parajara e Nilton Neves Júnior

COMISSÃO CIENTÍFICA: Luiz Mauro Barbosa (coordenador); Catarina Carvalho Nievola; Eduardo Luis Martins Catharino; Elenice Eliana Teixeira; Fulvio Cavalheri Parajara; José Marcos Barbosa; Karina Cavalheiro Barbosa; Lilian Maria Asperti; Maria de Fátima Scaf; Nelson Antonio Leite Maciel; Nelson Augusto Santos Junior; Regina Tomoko Shirasuna; Sérgio Romaniuc Neto; Tânia Maria Cerati; Tiago Cavalheiro Barbosa; Valéria Augusta Garcia.

COMISSÃO ORGANIZADORA: Luiz Mauro Barbosa (coordenador); Ada André Pinheiro; Adriana de Souza; Carlos Fernando Aguiar Meirelles; Carlos Yoshiyuki Agena; Catarina Carvalho Nievola; Célio Irineu Dal Seno; Cibele Boni de Toledo; Cilmara Augusto; Eduardo Luis Martins Catharino; Elenice Eliana Teixeira; Florisvalter de Souza Alves; Fulvio Cavalheri Parajara; Janaina P. Costa; José Marcos Barbosa; Julia Cassino Barbosa; Karina Cavalheiro Barbosa; Lilian Maria Asperti; Marco Antonio Machado; Maria de Fátima Scaf; Marília Vazquez Aun; Michel A. A. Colmanetti; Nelson Antonio Leite Maciel; Nelson Augusto dos Santos Junior; Nilton Neves Júnior; Osvaldo Avelino Figueiredo; Paulo Henrique Lodgero; Paulo Roberto Torres Ortiz; Regina Tomoko Shirasuna; Renata Evangelista de Oliveira; Renata Ruiz Silva; Ricardo Francisco Afonso; Ricardo Ribeiro Rodrigues; Sérgio Romaniuc Neto; Simone Sayuri Sumida; Tânia Maria Cerati; Tiago Cavalheiro Barbosa;Valéria Augusta Garcia; Waldyr Baptista.

EDITORAÇÃO, CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Ficha Catalográfica elaborada pela Seção de Biblioteca do Instituto de Botânica

Barbosa, Luiz Mauro, coord. Anais do VI Simpósio de Restauração Ecológica: Desafios Atuais e Futuros Luiz Mauro Barbosa – São Paulo, Instituto de Botânica - SMA, 2011. 344 p.Bibliografia.ISBN: 978-85-7523-037-41. Áreas degradadas. 2. Recuperação. 3. Reflorestamento. I. Título

CDU

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PREFÁCIO

Na história do Jardim Botânico de São Paulo, destaca-se a busca insistente para atender às estratégias mundiais dos jardins botânicos para a conservação, estrutura-das pelo professor Heywood, a pedido da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) e WWF (World Wide Fund for Nature).

No final do século XIX, a região do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) era de mata nativa, ocupada por sitiantes e chacareiros. Em 1893, o governo ini-ciou um processo de desapropriação dessa área, com o objetivo de preservação das flores-tas, dos recursos hídricos e das históricas nascentes do Riacho do Ipiranga. Em 1917, toda área passou a ser propriedade do governo paulista e, em 1928, constituía-se no principal serviço de captação de água para o abastecimento do bairro do Ipiranga. Nesse mesmo ano (1928), o Dr. Fernando Costa, então à frente da Secretaria da Agricultura, convidou o naturalista Frederico Carlos Hoehne para a implantação do Horto Botânico na região. Em 1929, a implantação das estufas do Orquidário do Estado de São Paulo foi o primeiro passo para a criação do Jardim Botânico de São Paulo, o que foi oficializado, em 1938, com a criação do Departamento de Botânica do Estado que, em 1942, passou a chamar-se Instituto de Botânica (IBt). No ano de 1969, o Parque do Estado também teve sua denomi-nação alterada para Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), além de outras inter-venções. A partir de 1987, o Instituto de Botânica passou a desempenhar mais fortemente a sua principal missão, dentro da Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SMA, preservar a biodiversidade paulista e brasileira, por meio da conservação. Em 1989, o Jardim Botâ-nico de São Paulo realizou o I Simpósio sobre Restauração de Matas Ciliares; instituiu a Coordenação de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD); e a partir de 2001, propôs várias resoluções adotadas pela SMA, envolvendo restauração ecológica, incluindo a atu-al SMA 08/2008. No ano de 2002, foi criado o curso de pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente. Em 2007, o Instituto de Botânica realizou estudos florísticos, o resgate de plantas e a restauração ecológica nos reflorestamentos compensatórios exi-gidos pelos estudos de impactos ambientais e licenciamento ambiental do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas em São Paulo, estudos que passaram a ser as condicionantes ambientais para os demais trechos (Leste e Norte).

Em 2011, o Instituto de Botânica, por meio do seu Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas, realizou, com apoio e incentivo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, o “IV Simpósio Sobre Restauração Ecológica: desafios atuais e futuros”. Des-sa maneira, o Jardim Botânico de São Paulo, único do Brasil classificado em 2010 na categoria ‘A’ pelo IBAMA (RESOLUÇÃO CONAMA n° 339/03), fez por merecer essa classificação. Dentre os 16 itens considerados pela resolução, para enquadramento nessa categoria, destacam-se as pesquisas em conservação da biodiversidade, o Jardim Botâni-co como laboratório vivo para as investigações e manutenção de coleções vivas, a edu-cação ambiental, o ensino de pós-graduação e a realização de eventos para discussão de políticas públicas, visando à conservação e restauração de biodiversidade. Assim, o sim-pósio ofereceu subsídios para discussão, análise, execução de estudos, projetos e ações relacionados à restauração ecológica, fundamentados em conceitos desenvolvidos pela comunidade científica e em experiências práticas do setor privado, além da possibilidade de empresas e profissionais da área apresentarem seus produtos.

Destaque especial foi dado às discussões envolvendo os desafios atuais, re-lacionados ao Código Florestal Brasileiro, à avaliação e monitoramento de áreas restau-

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radas, às perspectivas de ecologia de paisagens na restauração ecológica, aos desafios de áreas mineradas, ao planejamento e políticas publicas, além dos desafios futuros da restauração ecológica, frente às mudanças climáticas globais.

Entre os participantes encontraram-se pesquisadores, professores universi-tários, alunos de graduação e de pós-graduação dos cursos afins ao evento, empresas de consultoria ambiental; engenheiros, técnicos e demais profissionais especializados, empresas prestadoras de serviços sobre restauração ecológica e áreas degradadas, pro-dutores, empresários e agentes econômicos envolvidos na área, viveiristas de produção de espécies nativas florestais, empresas em processo de adequação ambiental e/ou de manutenção de processos de melhoria contínua e demais pessoas interessadas no tema.

Bruno CovasSecretário de Estado do Meio Ambiente

Vera Lúcia Ramos BononiDiretora Geral do Instituto de Botânica

Luiz Mauro BarbosaDiretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas

Coordenador do IV Simpósio de Restauração Ecológica

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APRESENTAÇÃO

O Jardim Botânico de São Paulo, fundado em 1928, é uma instituição dedicada à preservação da biodiversidade, tendo como missão a pesquisa científica, a educação ambiental e o lazer. Diversos equipamentos, laboratórios e coleções científicas são utilizados para o cum-primento de sua atividade principal: a conservação “in situ” e “ex situ” da biodiversidade. Tal procedimento, recomendado pelas estratégias mundiais para conservação, classificou o Jardim Botânico de São Paulo (IBt-SP) na categoria “A” do IBAMA, único no Brasil a atender aos 16 critérios da Resolução CONAMA, n° 339, de 25.09.2003, que dispõe sobre a criação, nor-matização e funcionamento dos jardins botânicos e dá providências. Nesse contexto, o Jardim Botânico de São Paulo é um importante centro, responsável pela promoção da restauração eco-lógica, com realização “in situ” da reabilitação de ecossistemas, possibilitando conhecimento sobre espécies nativas, capacitando pessoas e realizando importantes eventos científicos em São Paulo, há mais de 20 anos. Definir parâmetros e orientações técnico-científicas, visando à restauração ecológica e ao licenciamento ambiental, e apresentar soluções através de políticas baseadas em resultados de pesquisa são algumas das atividades que o Jardim Botânico de São Paulo e o Instituto de Botânica passaram a desenvolver com maior ênfase, junto à Secretaria do Meio Ambiente, estabelecida em 1986. Com a criação da Coordenação de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD), em 2000, e os projetos de políticas públicas apoiados pela FAPESP, o IBt organizou e discutiu o tema com todos os segmentos envolvidos na restauração ecológica (universidades, institutos de pesquisa, órgãos licenciadores, fiscalizadores, de assistência téc-nica, ministério público e principalmente os agricultores e as partes mais interessadas). Com a realização de simpósios, workshops e congressos científicos, nos últimos anos, no IBt, a primei-ra resolução (SMA 21/2001) passou por revisões e aprimoramentos (SMA 47, em 2003, SMA 58, em 2006 e SMA 8, em 2007 e 2008), sempre considerando as revisões periódicas (a cada 2 anos) e o caráter participativo, envolvendo diversos atores e segmentos da sociedade. Nesta obra sobre o “IV Simpósio sobre Restauração de Áreas Degradadas: desafios atuais e futuros” são apresentadas as principais linha de pensamento, envolvendo pesquisas, aspectos econômi-cos e toda interdisciplinaridade exigida pela busca da sustentabilidade de ecossistemas naturais ou restaurados. Este livro aborda temas relacionados ao cenário atual das pesquisas científicas, políticas públicas, legislação ambiental e evolução dos processos históricos e legais, envolvendo a restauração, e os impactos das alterações do Código Florestal e das mudanças climáticas na restauração ecológica. Discute a avaliação e monitoramento de áreas restauradas, perspectivas da ecologia da paisagem na restauração e, ainda, o diferencial exigido para a restauração de áreas mineradas. Os desafios são discutidos sob o ponto de vista do planejamento e das políticas públicas, apoiados na disponibilização de mecanismos e “ferramentas” facilitadoras da restau-ração ecológica. O livro também promove a divulgação de bases de dados e esclarece a função da Rede Brasileira de Restauração Ecológica – REBRE, além de registrar não apenas os artigos referentes às palestras e a opinião dos relatores sobre os diversos temas, mas também a opinião de diversos outros especialistas em restauração, por meio de artigos redigidos a convite da coor-denação do simpósio. Houve a apresentação de cerca de 200 resumos de trabalhos voluntários, que também foram expostos, na forma de painéis, no evento. Esta obra, portanto, registra e refle-te os principais aspectos relacionados à restauração ecológica e os seus desafios atuais e futuros.

Luiz Mauro BarbosaDiretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas

Coordenador do IV Simpósio de Restauração Ecológica

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SUMÁRIO

Sistemas Silvopastoriles, Conectividad de Bosques y Pago por Servicios Ambienta-les Para la Rehabilitación de Tierras Ganaderas............................................................ 11

Histórico da Restauração no Estado de São Paulo: Revisão das Bases Teóricas............... 13

Impactos das Alterações no Código Florestal................................................................. 21

Código Florestal: Desdobramentos das Ações no Congresso Nacional.......................... 27

Indicadores de Avaliação e Monitoramento de Áreas em Processo de Restauração Florestal: O Exemplo do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica....................... 31

Monitoramento Inicial de Três Plantios Compensatórios do Rodoanel Mário Covas – Trecho Sul........................................................................................................................... 41

Experiências da Empresa Corpus Saneamento e Obras Ltda. na Implantação, Ava-liação e Monitoramento de Áreas em Processo de Restauração no Trecho Sul do Ro-doanel Mário Covas - SP................................................................................................ 49

Experiências da Verdycon Conservação Ltda. na Execução de 338 Hectares de Plan-tios Compensatórios do Rodoanel Trecho Sul............................................................... 57

Medição e Monitoramento da Biodiversidade em Áreas Restauradas com Espécies Arbóreas......................................................................................................................... 67

Restauração Ecológica em Áreas Degradadas pela Mineração...................................... 79

A Ecologia da Paisagem como uma das Ferramentas de Planejamento da Restauração Ecológica............................................................................................................................. 89

Riqueza Florística Aplicada à Recuperação Florestal.................................................... 91

Experiência em Restauração Ecológica na Bacia do São Francisco............................. 101

Ferramentas Disponíveis Visando à Restauração Ecológica de Áreas Degradadas: Contribuição do Instituto de Botânica de São Paulo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente........................................................................................................................ 111

A Importância do Estabelecimento de Parâmetros de Avaliação de Qualidade em Reflorestamentos Compensatórios................................................................................. 119

Reflexão Sobre a Restauração Ecológica no Brasil: a Atuação da Rede Brasileira de Restauração Ecológica (Rebre)...................................................................................... 125

Interação Solo-Planta-Clima para a Restauração de Ecossistemas Naturais - “A Restinga É Edáfica”: Consequências para sua Recuperação................................................................. 133

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Nutrição Mineral de Espécies Nativas em Solos do Cerrado........................................ 147

Abordagem “Bef”: Um Novo Paradigma na Restauração de Ecossistemas?................ 155

Estudos Sobre Transposição do Banco de Sementes como Metodologia de Restaura-ção Ecológica de Áreas Degradadas............................................................................... 167

Resultados de Médio Prazo na Restauração de Restingas Degradadas e Desafios para o Futuro.......................................................................................................................... 175

Revendo Conceitos e Preconceitos: Sistemas Agroflorestais e Agroflorestas (Safs), Muito Além da Forma e da Função................................................................................ 183

Degradação Ambiental Urbana: Voçoroca do Conjunto Habitacional Taquaral Bosque, Campo Grande, Mato Grosso do Sul............................................................................. 191

Avanços e Próximos Desafios da Semeadura Direta para Restauração Ecológica........ 201

Seleção de Áreas para a Execução de Plantios Compensatórios: Um Desafio para o Cumprimento de uma Exigência Ambiental do Trecho Sul do Rodoanel..................... 209

Consolidação das Propostas para Pesquisas Prioritárias Envolvendo a Restauração Ecológica, Apresentadas no Instituto de Botânica de São Paulo................................... 215

O Geoprocessamento na Restauração Ecológica: Aplicações Atuais e Potencialidades Futuras............................................................................................................................ 221

Somos Conservadores? Mudanças Já! A Sociedade, o Clima e o Código Florestal..... 229

TRABALHOS VOLUNTÁRIOS................................................................................... 245

Área 1 - Métodos e Técnicas Alternativas para a Restauração Ecológica...................... 245

Área 2 - Avaliação e Monitoramento de Projetos de Restauração Ecológica................ 283

Área 3 - Estudos de Caso em Restauração Ecológica (Compensações e Passivos Ambientais).................................................................................................................... 308

Área 4 - Aspectos Sócio-Econômicos, Políticos, Legais, Culturais e Educacionais Vinculados à Restauração Ecológica............................................................................. 316

Área 5 - Restauração Ecológica da Paisagem em Ambientes Urbanos e Rurais........... 331

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SISTEMAS SILVOPASTORILES, CONECTIVIDAD DE BOSQUES Y PAGO POR SERVICIOS AMBIENTALES PARA LA REHABILITACIÓN DE TIERRAS GANADERAS

Enrique Murgueitio Restrepo1

ReSuMen

América Latina sufre una de las mayores tasas de pérdida de bosques a escala global siendo la expansión ganadera una de las principales causas. Desde hace más de una década expertos de todo el continente americano llegaron a la conclusión de que la reconver-sión ambiental de la ganadería era de la mayor urgencia y ahora las dramáticas expresiones del cambio climático como sequías, inundaciones, huracanes y heladas cada vez más violen-tas, obligan a plantear con más fuerza esta transformación de la producción ganadera hacia modelos amigables con la naturaleza y con mayores beneficios económicos y sociales. Tres instrumentos se combinan en la actualidad para cambiar radicalmente los paisajes ganade-ros en degradación: una combinación de sistemas silvopastoriles (agroforestería pecuaria), incremento de la conectividad de los bosques relictuales a través de corredores naturales de drenaje (ríos, microcuencas) e incentivos económicos dentro de los que se destaca el pago por servicios ambientales.

La combinación de sistemas agroforestales pecuarios permite el incremento de la productividad de carne y leche, optimiza el uso de las tierras más agroecológicamente más aptas lo que facilita la liberación de áreas para la restauración ecológica de vegetación de bosques (nativos y mixtos) la cual se dirige a incrementar la conectividad en el paisaje domi-nado por pastos. El pago por servicios ambientales se focaliza hacia favorecer el cambio de uso de la tierra hacia bosques de conservación en tanto que otros instrumentos como crédito, asistencia técnica especializada en buenas prácticas ganaderas y/ o mercados especiales faci-litan la multiplicación de los sistemas silvopastoriles. Todos estos elementos se organizan en arreglos espaciales a la escala del predio ganadero y su entorno hasta escalar hacia paisajes con matrices densamente arborizadas.

El resultado es una combinación innovadora que se ajusta a las condiciones re-gionales de la ganadería, que permiten maximizar la productividad primaria por unidad de superficie aprovechando la energía solar y transformándola en bienes de interés económico y social. Este artículo presenta avances de investigación, innovación y adaptación al cambio climático de la ganadería sostenible en varios países de América Latina donde se logra incre-mentar la producción por unidad, se mejoran los parámetros de calidad de leche y carne sin requerir fertilizantes de síntesis, y emplear cantidades menores de suplementos alimenticios y riego. El éxito depende esencialmente del cambio cultural de los productores, autoridades y técnicos.

1 Director Ejecutivo, Fundación CIPAV, Colombia. E-mail: [email protected]

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HISTÓRICO DA RESTAURAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO: REVISÃO DAS BASES TEÓRICAS

Paulo Y. Kageyama1

João D. Santos2

IntRodução

Historiar o processo da restauração no estado de São Paulo não é uma tarefa fácil, pois já se vão mais de 20 anos que este movimento técnico-científico iniciou-se em nosso es-tado, quando pesquisadores que trabalhavam em vários temas associados às florestas nativas engajaram-se nessa tentativa de reconstruir um novo ecossistema nas áreas degradadas da mata Atlântica. Na situação deste bioma, o mais degradado de todos do Brasil, sem dúvida este movimento que se iniciou com um pequeno número de pesquisadores alcançou um pa-tamar que conhecemos hoje, tomando muita importância principalmente devido à criação de políticas públicas importantes, principalmente no nosso estado e que têm servido de referên-cia para a maioria do país.

Assim, essa tecnologia desenvolvida parece-nos que se mostrou satisfatória para cumprir com seus objetivos de formar um novo ecossistema rico em espécies e recobrir o solo com uma floresta que nos parecia ser sustentável, porém, também apontou que o plantio de somente árvores nesse processo de restauração não nos parecia coerente e satisfatório para copiar uma floresta, onde lianas, epífitas, arbustivas e herbáceas, sendo a grande maioria, não estavam representadas nesses modelos de restauração. Foi natural, portanto, que na crítica a esses modelos de restauração criados nesses últimos 20 anos, o plantio de somente árvores, aguardando que as não árvores chegassem por dispersão natural passasse por uma revisão, que é o que estamos atualmente vivendo.

Devemos salientar que nesse período desde meados dos anos 80, quando algumas dezenas de milhares de hectares foram implantadas com esses modelos baseados em diversidade de espécies de árvores, principalmente pelas empresas hidroelétricas, muita pesquisa básica e aplicada foi também desenvolvida no tema. Essas pesquisas forneceram a base para o aprimo-ramento desses plantios de restauração como, por exemplo, originando projetos de restauração visando a créditos de carbono via MDL/Protocolo de Kioto, assim como originando pesquisas fundamentando novas perspectivas de avaliação crítica dos processos de regeneração natural e fluxo gênico via pólen e sementes, visando à sustentabilidade desses plantios de restauração.

Dessa forma, vale a pena rever esses trabalhos básicos que nos parecem relevantes para se avaliar esse período de plantios com diversidade de espécies de árvores na restau-ração, para que a crítica e a autocrítica sejam fundamentadas em princípios e informações científicas. Isso sem dúvida possibilitaria colaborar na evolução da ciência e da tecnologia no tema da restauração. Desta forma, irá se juntar uma série de pesquisas que foram realizadas também nesse período, tanto sobre a reprodução das espécies nativas, como o fluxo gênico via pólen e sementes, além da estrutura genética das populações dessas espécies, Isso não preten-de esgotar o assunto, porém pode ajudar na discussão nesse momento onde o tema procura novos modelos e direções para a restauração, não só no nosso estado como no Brasil.

1 Professor Titular. ESALQ.USP2 Pesq Dr do NACE-PTECA/ESALQ-USP

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AvALIAção dA ReStAuRAção CoM áRvoReS

Nesse período de mais de 20 anos, desde meados da década de 80, o tema restau-ração no estado de São Paulo teve um avanço significativo, tanto no desenvolvimento tecnoló-gico da restauração, como no avanço das pesquisas básicas (Kageyama et al., 2008). Pode-se atestar isso através de exemplos na restauração aplicada, como a existência de mais de uma dezena de viveiros de espécies nativas com mais de um milhão de mudas e acima de 80 es-pécies produzidas anualmente, assim como projetos de restauração de APPs para Créditos de Carbono via MDL/Protocolo de Kioto. Na área de pesquisa básica, inúmeras publicações, dissertações e teses avançaram nas questões básicas de avaliação da regeneração natural de organismos não árvores, estudos de fluxo gênico de espécies importantes, tamanho efetivo de populações visando à coleta de sementes, efeito de borda na qualidade genética das sementes, introdução de espécies arbustivas e de epífitas, somente citando temas desenvolvidos pelo LARGEA/ESALQ/USP.

Assim, logo após os 17 anos de implantação dos primeiros plantios da CESP, com a orientação técnico-científica da ESALQ/USP, foi apresentada uma dissertação de mestrado onde, entre outros objetivos, avaliou-se a presença de lianas e epífitas nos talhões implantados pela CESP, no Pontal do Paranapanema (Damasceno, 2006). A autora fez essa avaliação em talhões com 6, 11 e 16 anos, avaliando-se em dois períodos, no inverno e no verão, sendo que as três áreas tinham o mesmo modelo sucessional, e com a diversidade média de 100 espécies arbóreas por hectare. Os resultados em relação à presença de lianas nas árvores foram consi-derados satisfatórios, sendo que, aos 16 anos do plantio, 64,9% das árvores portavam lianas em seus troncos e copas. As grandes decepção e desolação vieram com relação às epífitas, já que os resultados foram muito sofríveis para não dizer horríveis, pois somente encontraram-se 2 indivíduos aos 6 anos e 1 indivíduo aos 11 anos de uma bromélia do gênero Tillandsia; e somente um indivíduo de uma Pteridofita aos 16 anos!

Deve-se destacar que esta área onde foram gerados esses resultados experimen-tais, o Pontal do Paranapanema, é a região do estado de São Paulo onde ainda se tem a maior frequência de fragmentos de tamanhos significativos, o que agrava ainda mais o problema de não ocorrência de espécies de epífitas em áreas restauradas até os 16 anos de implantação.

A figura 01 demonstra a fragmentação florestal em que se encontra hoje a região em questão. Apesar disso, o território abriga o maior remanescente de Mata Atlântica Esta-cional Semidecidual do país (fisionomia florestal predominante na região), o Parque Estadual do Morro do Diabo (PEMD), com cerca de trinta e cinco mil hectares (35.000 ha) de florestas em diferentes estados de boa conservação e parte dos mais significativos fragmentos dessa fisionomia no Brasil.

Certamente que esses resultados negativos, muito embora não tenham interrom-pido os plantios de restauração, a partir do modelo somente com árvores em escala comercial, principalmente pelas empresas hidroelétricas, que são as que mais vêm plantando florestas de restauração ao redor dos reservatórios, fez com que houvesse um alerta em busca de alternativas para o problema. As universidades, instituições de pesquisas, órgãos governamentais e organi-zações não governamentais vêm se movimentando, procurando aprofundar- se na discussão do tema, incluindo muitos projetos de pesquisas nesse campo. O LARGEA/ESALQ inclusive já tem resultados muito preliminares sobre a utilização de espécies arbustivas no modelo somente de árvores (Miranda, 2011- comunicação pessoal), o que seria uma medida importante, pois inclui mais um estrato na floresta implantada, sendo muito importante por não deixar uma cla-reira desnuda ao morrerem algumas árvores. Da mesma forma, a introdução de duas espécies de orquídeas (Laelia sp e Oncidium sp) em áreas restauradas com 6 anos já apresenta resultados preliminares favoráveis (Domene, 2011). Mas fica claro que essas são medidas paliativas, pois não resolvem a grande questão de auto-sustentabilidade ecológica dos plantios.

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Figura 01 - Cobertura florestal no Pontal do Paranapanema (Adaptado de Santos 2011).

PRodução de SeMenteS PARA ReStAuRAção

Ao se avaliar alguns dos problemas atuais emergindo em nossas discussões sobre o tema produção de sementes de espécies nativas, verifica-se que essas questões envolvem conceitos básicos que devem ser destacados sobre a reprodução, fluxo gênico e diversidade genética das espécies, assim como na sucessão da comunidade de espécies da floresta tropical. Por exemplo, ao se questionar o problema da qualidade genética e fisio-lógica das sementes que vêm sendo produzidas nesses viveiros, são os conceitos básicos da reprodução e do fluxo gênico das espécies nativas a serem resgatados. Ao se tentar coletar sementes representativas da floresta tropical original, esbarramos na coleta muito fácil de alguns grupos de espécies, porém muito difícil para outros, como irá se destacar, e que vem se agravando com a intensidade da fragmentação.

Sabe-se que as espécies clímax são comuns nas florestas naturais primárias e têm sementes, no geral, grandes, as espécies secundárias por seu lado são raras nesses ecossistemas naturais e têm sementes leves, assim como as espécies pioneiras são comuns somente nas clareiras grandes da mata ou em áreas secundárias e têm sementes pequenas (Budowski, 1966). Dessa forma, vêm se constatando que as sementes de espécies clímax são as que vêm sendo mais prejudicadas, dadas as dificuldades de se encontrar popula-ções íntegras dessas espécies, associado ao problema do grande tamanho das suas semen-tes, o que não dá vantagem nem ao coletor e nem ao viveirista na estimativa do custo, ao se calcular o número de sementes por kilo. Fica este grupo desbalanceado na restauração?

Assim, na coleta de sementes, que é sem dúvida onde se tem graves problemas na restauração, já que a grande maioria dos coletores e viveiristas não leva em conta a qualidade genética das sementes, tem-se todos os problemas possíveis e sendo difíceis de se solucionar. A coleta em populações naturais primárias, as quais têm muita dificuldade de se encontrar, pode ponderar que estas sejam livres de endogamia e têm cruzamento ao

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acaso, podendo-se considerar a coleta de no mínimo 12 árvores mães uma boa resolução a ser tomada. A base teórica dessa metodologia fundamenta-se no conceito de Tamanho Efetivo Genético (Ne) (Gandara, 2009), que coloca que nesse tipo ideal de população a coleta de um número razoável de sementes por árvore (acima de 50) essas sementes de uma árvore matriz valem um Ne igual a 4. Isso significa que esse número, multiplicado por 12, dá um Ne total aproximado de 50, que é o número mínimo de árvores exigido para representar uma população para uso em médio prazo, como no caso da restauração. Alguns poucos coletores e viveiristas têm usado este procedimento, quando podem, o que é muito difícil de seguir.

Para o caso de coleta de sementes em áreas de florestas secundárias, onde a sua estrutura e a composição das espécies já estão descaracterizadas e diferenciadas da floresta original, que é a grande maioria atualmente, deve-se ter algum referencial para o estabeleci-mento de algumas metodologias aplicadas. Como não é possível de forma prática conhecer--se o grau de parentesco entre as árvores na mata, para se estabelecer de quais árvores fazer a coleta de sementes evitando-se árvores muito aparentadas, poderiam estabelecer-se algumas regras em função do grau de degradação do fragmento. Por outro lado, não se podem estabelecer distâncias entre árvores para se evitar árvores aparentadas, já que ao se ter espécies mais raras ou mais comuns na mata, a distância não pode ser parâmetro para a definição de proximidade genética entre árvores. Assim, ao se evitar árvores próximas pos-síveis aparentadas, deve-se estabelecer, por exemplo: se coleta de uma árvore e pula-se uma (50%); ou se coleta de uma árvore e pulam-se duas sem coleta (33%), etc.

O efeito de borda em fragmentos também manifesta-se nas características de qualidade genética das sementes a serem coletadas, já que a polinização mostra-se[ diferenciada na borda ou no interior do fragmento (Tarazi, 2009), se bem que este é um detalhe de caráter científico somente para ilustrar até onde vão os detalhes da reprodução das espécies. Da mesma forma, populações diferentes de uma mesma espécie apresentam muitas vezes coeficientes de endogamia diferenciados, e com isso definindo tamanhos efetivos não similares, em consequência números mínimos para coleta de sementes dife-rentes (Gandara, 2009).

Ainda na coleta de sementes, a localização e escolha das populações e das árvores matrizes para coleta de sementes é sempre um problema para o coletor, fazendo com que ele quase sempre fuja às regras técnico-científicas. Assim, as espécies pionei-ras são as que têm menos problemas para se ter matrizes adequadas para produção de sementes, já que, por estas serem prolíficas, precoces na frutificação e terem populações adequadas em áreas de florestas secundárias, apresentam todas as condições de produção de sementes de boa qualidade genética em grande quantidade. No entanto, as espécies secundárias, por serem normalmente raras na floresta natural preservada, ou abaixo de uma árvore adulta por hectare, apontam muita dificuldade para se encontrar no mínimo 12 matrizes para a formação de um lote adequado de sementes. As espécies clímax, ou finais na sucessão, normalmente têm grande impacto com a intervenção na floresta, ou mesmo desaparecem em florestas secundárias, havendo dificuldades para se encontrar popula-ções de tamanho adequado para fornecimento de sementes geneticamente adequadas.

Deve-se apontar uma falha em que normalmente se incorre, que é o do uso da seleção de matrizes para coleta de sementes de nativas para restauração. Como se consi-dera que se deseja uma representatividade das populações das espécies na restauração, a seleção não seria uma metodologia correta sob o ponto de vista considerado. Ademais, sabe-se que a seleção em condições de populações naturais não tem efeito na qualida-de das sementes colhidas, já que o fenótipo da matriz não condiz com a sua qualidade genética, mas sim às condições locais onde a mesma cresceu e se desenvolveu (grau de isolamento, tamanho do fragmento florestal, estrutura da paisagem, etc.).

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Para finalizar, sem esgotar o tema, é importante salientar que os plantios de restauração podem vir a ser no futuro áreas de produção de sementes, se levarmos em conta a intensidade da degradação ambiental que vivenciamos hoje, e desde que tenham sido implantados com material representativo e de boa qualidade genética. Dessa forma, acredita-se que ações e políticas públicas efetivas devam ser implementadas no tema de produção e qualidade genética e fisiológica de sementes, para que de fato estejamos fa-zendo de algum modo a restauração sustentável de florestas.

FLuxo GênICo e PRoPoStAS de ReStAuRAção

Os fluxos gênicos via pólen e/ou sementes são de fato, tanto os nossos pro-blemas, como também as nossas soluções na área de restauração, se não vejamos: o fato de termos na Mata Atlântica ecossistemas degradados e uma fragmentação desenfreada de nossas florestas e populações de espécies, isso torna as pequenas áreas de florestas sem condições de conter populações mínimas viáveis de espécies, principalmente para aquelas consideradas raras. Assim, ficamos reféns da necessidade de corredores ecológi-cos ou de fluxo gênico, para refazer as populações fragmentadas, para torná-las protago-nistas de novo nos ecossistemas da paisagem rural, ou no que se tem preconizado como agroecossistemas. Por outro lado, como temos espécies de distância de fluxo gênico, via pólen e sementes, tanto curta, como média e longa distâncias, vale a pena colocar-se as implicações dessas diferenças entre os grupos de espécies considerados, principalmente para enfrentar os problemas tanto de implementação de corredores ecológicos, como de adicionar novos organismos além das árvores na restauração. O problema que vem se apresentando é como se aproveitar das características das espécies, ou de grupos destas, para novas alternativas de sua utilização por regeneração natural, além dos plantios de restauração por mudas de árvores.

A evolução das tecnologias para mensuração da distância de fluxo gênico teve grande avanço nessas últimas décadas, com as técnicas da genética molecular destacan-do-se significativamente. Espécies arbóreas secundárias raras apresentam no geral fluxo gênico via pólen a longas distâncias, enquanto espécies clímax comuns têm fluxo gênico via pólen a curtas distâncias (ver Tabela 01). Para o fluxo gênico via sementes, da mesma forma há certa correspondência entre a distância na dispersão de sementes e a ocorrência natural na floresta natural. Assim, as espécies clímax comuns têm no geral fluxo gênico a curtas distâncias, enquanto as espécies secundárias raras têm fluxo gênico a longas distâncias (Tabela 02).

O grupo ecológico das espécies pioneiras é privilegiado quanto aos impactos do desmatamento e da fragmentação das florestas naturais, pois, tendo diversidade gené-tica entre populações, no geral, maior do que dentro de populações, essa destruição dos habitats aumenta o tamanho das populações dessas espécies como também aumenta a di-versidade genética dentro dessas novas populações impactadas. Portanto é o único grupo de espécies que leva vantagem genética, em curto prazo, com a fragmentação das florestas naturais. O fluxo gênico via sementes em longas distâncias desse grupo de espécies, nor-malmente por vetores de vôo de grandes deslocamentos (pássaros e morcegos) especialis-tas de clareiras grandes, fazem com que não tenhamos problemas com esse grupo suces-sional quanto à qualidade genética das sementes. Isso facilita o trabalho de sua utilização tanto para plantio por mudas como por regeneração natural (Bianconi e Mikich, 2011).

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Tabela 01. Fluxo Gênico Via Pólen em Espécies Arbóreas por Marcador Molecular.

Distância de Fluxo Gênico Espécies Arbóreas Tipo de Polinizador Técnica Genética

54 M Palmiteiro* Abelha Pequena Isoenzima

300 M Freijó** Mariposa Isoenzima

1 000 M Tauarí ** Abelha Grande Isoenzima

7 123 M Jatobá** Morcego Microsatélite

**Espécie Clímax Comum; *Espécie Secundária Rara

Tabela 02. Distância de dispersão de sementes de espécies arbóreas secundárias raras e clímax comum da Mata Atlântica (Estacional Semidecidual).

Espécie Gr Ecológico Tipo Dispersor Dist Dispersão

Guarantã Clímax Comum Autocoria 5,2 M

Palmiteiro Clímax Comum Fauna 61,0 M

Paineira Secund. Rara Anemocoria 1 280 M

Fonte: LARGEA/ESALQ/USP

Já o grupo ecológico das espécies arbóreas secundárias, este tem a raridade dos indivíduos como sua característica principal, tendo portanto, o fluxo gênico via pólen e se-mentes em longas distâncias como marca das espécies do grupo. Dessa forma, sendo estas espécies raras, têm elas mais susceptibilidade à fragmentação, pois suas populações exigem maiores áreas para contê-las. Por outro lado, os corredores do tipo “stepping stone” são mais funcionais para esse grupo de espécies secundárias raras por seu fluxo gênico via pólen de longa distância (Santos, 2002). Por outro lado, as pesquisas têm mostrado que essas espécies têm também, no geral, maior endogamia por autofecundação e menor diversidade genéti-ca dentro de suas populações, comparativamente às espécies clímax, o que traz problemas quanto aos cuidados, tanto quanto ao seu uso em plantações de mudas como em aplicação na regeneração natural.

Por outro lado, as espécies arbóreas clímax, que são normalmente comuns nas flo-restas naturais primárias, têm normalmente fluxo gênico em curta distância, porém sendo com-patíveis com sua ocorrência em alta densidade de árvores por área. Dessa forma são menos susceptíveis à fragmentação das florestas, já que pequenos fragmentos são capazes de capturar uma população mínima viável desse grupo de espécies. Ademais, essas espécies clímax são as que vêm apresentando maior diversidade genética dentro de populações e menor diferenciação genética entre suas populações naturais. Corredores de fluxo gênico são pouco necessários para esse grupo de espécies, diferenciando-se sobremaneira do grupo das espécies secundárias.

Visando à discussão sobre o denominado Método da Nucleação (Três e Reis, 2006), com predominância do uso da regeneração natural para a restauração de áreas degra-dadas, primeiramente deve-se salientar que, como já apontado, essa contribuição trouxe novo enriquecimento do debate sobre o tema da restauração, altamente salutar para a evolução da ciência e da tecnologia na área. Inicialmente destaquemos nesta metodologia os poleiros ar-tificiais, que têm a importante missão de atrair pássaros dispersores de sementes, que seriam responsáveis pela deposição de sementes e formação de populações de espécies vegetais. É importante apontar que os pássaros e os morcegos em áreas degradadas normalmente são cita-dos como dispersores de espécies principalmente pioneiras, tanto de árvores como de arbustos e ervas que habitam clareiras grandes na mata natural ou em áreas degradadas. Dessa forma, as espécies pioneiras são beneficiadas nessa tecnologia (Bianconi e Mikich, 2011).

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Devemos destacar também na metodologia em questão o uso do banco de se-mentes, trazidos de florestas próximas bem conservadas, para aplicação nas áreas degrada-das a restaurar. O mais importante a enfatizar da predominância nesse banco de sementes seria também principalmente de espécies pioneiras, o que prioriza também esse grupo de espécies como predominante nessa metodologia. Já no caso do uso da chuva de sementes, há também uma predominância de sementes de um grupo ecológico, o das secundárias de dispersão pelo vento, muito embora eventualmente outros grupos de espécies de sementes possam ser beneficiados. Portanto, o uso de chuva de sementes inclui um grupo importante que é o das secundárias.

O mais importante, sem dúvida, desta metodologia vem contribuir grandemente para o avanço da discussão sobre novas ferramentas a serem utilizadas na restauração, somando--se aos trabalhos sendo conduzidos nesses últimos mais de 20 anos. Duas questões podem ser colocadas: i) a efetividade dessa metodologia está diretamente associada à maior ocorrência de fragmentos em bom estado de conservação, próximos às áreas a serem restauradas; e ii) associar ou somar essas novas tecnologias às de plantio de mudas ou sementes de espécies nativas com modelos sucessionais com alta diversidade de espécies arbóreas seria salutar e mereceria ser experimentado, o que por sinal já está se fazendo. Os resultados virão em seu prazo.

ConSIdeRAçõeS FInAIS

O rápido histórico da restauração no estado de São Paulo, incluindo uma avalia-ção tanto dos avanços dos programas de plantios de proteção com espécies nativas em grande escala, incluindo os voltados para créditos de carbono, assim como os avanços das propostas de metodologias de restauração enfocando ou priorizando a regeneração natural, aponta que estamos num momento importante de busca de um novo patamar na ciência e tecnologia da restauração no estado e, por que não, no país.

A discussão no Congresso Nacional, na Academia e na Sociedade sobre uma possível mudança no Código Florestal aguça o problema, mostrando o quão importante são essas tecnologias que vêm sendo discutidas na restauração. Da mesma forma, aponta também para a necessidade sempre imprescindível da pesquisa básica sobre as questões e conceitos referentes à reprodução, fluxo gênico, diversidade genética e sucessão ecológica, que estão associados à geração e sustentabilidade da biodiversidade.

ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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Reis, A. e Tres, D.R. 2006 Nucleação: Integração das comunidades naturais com a paisagem. In: Manejo Ambiental e Restauração de Áreas Degradadas. Fund. Cargill. P. 29-55.

Santos, J.D. (2002). Estudos ecológicos e genéticos numa paisagem fragmentada visando sua conectividade no Pontal do Paranapanema. Dissertação de Mestrado. ESALQ-USP. 101 p.

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IMPACTOS DAS ALTERAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL

Sergius Gandolfi1

O Código Florestal Brasileiro criado em 1965 introduziu avanços extraordinários na legislação então em vigor, pois ele articulou convenientemente usos rurais tradicionais, com a proteção de ecossistemas e o uso sustentável da biodiversidade. Essa concepção ino-vadora fundamentou-se em estabelecer três tipos de áreas, aquelas destinadas integralmente a proteção, as Áreas de Preservação Permanente (APP), aquelas com dupla função, de pre-sevar e permitir uso sustentável da biodiversidade nativa, as Reservas Legais (RL), e aquelas voltadas à agricultura, pecuária, à silvicultura, etc. Se os esforços governamentais tivessem desde da edição dessa lei sido feitos para que o seu contéudo fosse seguido, não haveria nos dias atuais o imenso estoque de terras abandonadas, ou degradadas e a dimensão dos danos ambientais no meio rural teriam seguramente outra escala. Infelizmente, não foi o que se fez. No entanto, a existência desse instrumento legal foi fundamental para que nos últimos trin-ta anos a sociedade pressionasse e obtivesse, dos governos, ações efetivas de cumprimento desses preceitos legais. Na esteira desse processo fundamental de controle e comando, que muitos irrefletidamente querem ver extintos, é que se tem conseguido reverter parcialmente o grave quadro de degradação hoje existente. Esse Código não apresenta hoje a mesma redação original, e nem poderia, pois assim como ao longo dos anos a crescente consciência ambiental da sociedade passou a exigir do cidadão urbano a coleta de esgoto e a separação doméstica do lixo, das cidades, aterros sanitários e tratamento de esgotos, das indústrias, filtros e chaminés, tratamento de efluentes e deposição adequada de resíduos, também do meio rural passou-se a exigir ações que melhor reduzissem os danos ambientais produzidos pelas atividades agrossil-vopastoris, assim, ampliaram-se as faixas marginais de APPs, alteraram-se aspectos das RLs.

Os comentários que se seguem foram redigidos quando ainda estão em curso alterações na proposta apresentada de criação de um novo Código Florestal. Já votado na Câmara de Deputados o Novo Código tem redação distinta da sua primeira proposição, e no Senado ele vem sofrendo diariamente alterações, oriundas de emendas que vão sendo apre-sentadas. Nesse contexto, não é possível fazer-se aqui uma análise item por item da versão definitiva dessa nova Lei que se quer aprovar, mas já é possível descrever o espírito perverso das alterações que estão sendo pretendidas. O intuito geral das propostas apresentadas pelos representantes do agronegócio e outros interessados tem até aqui sido de simplesmente eli-minar o passivo ambiental dos proprietários rurais, sem custos ou ônus de quaisquer espécies para esses, bastando para tanto:

• que seja aprovada uma anistia geral dos crimes ambientais já perpetrados, • que sejam eliminados os conceitos legais que implicam na preservação de áreas

(APP e RL),• que seja elimidada a exigência de restauração de áreas protegidas que foram

destruídas, ou foram, ou estão sendo hoje ilegalmente ocupadas, • que seja convertida toda ocupação ilegal em direito adquirido,

1 Professor Dr. - ESALQ/ USP. E-mail: [email protected]

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• que o dano ambiental seja transformado em direto à degradação, que para não ser exercido, deva ser remunerado por um imposto disfarçado pelo nome pom-poso de Pagamento de Serviços Ambientais (PSA),

• que a legislação passe a ser definida em nível estadual ou municipal, instâncias mais aptas a se curvarem ante à força do poder econômico e dos interesses po-líticos locais, etc.

Os últimos meses têm ensinado que o esforço da sociedade pode sim deter as per-das que se quer impor à legislação, mas ao mesmo tempo inspiram dúvidas sobre se os órgãos legislativos atenderão as justas demandas da imensa maioria da sociedade que não concorda com essas alterações, ou se ele se curvará, como até aqui se curvou, à satisfação de interesses menores.

Frente à dimensão desse embate, algumas reflexões de mais longo prazo devem ser buscadas. As tentativa de destruição do Código Florestal em vigor vêm já de longa data e se no passado seus proponentes foram derrotados, há que se observar que com mais frequ-ência e mais desenvoltura eles têm mobilizado recursos a fim de alcançarem seus intentos. Isso nos alerta de que essa fase atual dos embates pode não ser a última e que se essas forças forem agora derrotadas, elas tenderão no futuro a voltar reunindas a outros interesses para novas investidas. O traço principal desses interesses é a negação de que a propriedade priva-da tenha função social e ou ambiental, mesmo que esses preceitos constem da constituição. Ao contrário, os adeptos dessa visão entendem que se funções sociais ou ambientais podem existir, ainda que em pequena monta, elas não seriam direitos da sociedade, mas ao contrário “serviços” que poderiam ou não ser prestados e que na eventual vontade ou obrigação de se ter de prestá-los, eles deveriam ser regiamente remunerados, como produtos que se pode, ou não querer vender, no balcão dos negócios. O risco desse discurso é o que já se observa no meio rural, onde muitos produtores desavisados começam agora a se sentir lesados por não estar sendo remunerados, enquanto outros defendem que não devem e nem precisam prestar serviço algum, pois a remuneração que obterão com outros usos lhes parece melhor e mais interessante. Há assim uma crise em gestação no meio rural e se faz urgente combater essa idéia perserva de “Pagamentos de Serviços Ambientais - PSA” que transforma dano ambien-tal em direito, torna a sociedade refém de interesses econômicos e poderá criar de forma legal a opção pela degradação, se a remuneração pretendida não atender aos interesses dos “prestadores de serviços”. Existem hoje no Brasil cerca de 330.000.000 hectares em cerca de 5.200.000 propriedades rurais, se 10% dessa área forem de APP de margem de rio, então seriam 33.000.000 hectares de APPs, e se cada hectare florestado tiver de receber anualmente R$ 100,00 pelo Pagamento de Serviços Ambientais, então seriam R$ 3 bilhões de reais anuais que deveriam ser pagos, algo impraticável. Mais ainda, seria esse um imposto social injusto que enriquecerá os ricos, pois apenas 10% dos proprietários rurais receberiam 77% desses R$3 bilhões de reais, uma vez que esses 10% de médios e grandes proprietários são quem detém hoje 77% das terras!

Dadas essas considerações mais gerais é preciso pensar que a única preservação efetivamente hoje garantida, e com a qual se pode contar a longo prazo, é aquela existente nas unidades de conservação públicas que até aqui parecem ter mais chances de sobreviver que outras áreas protegidas. Tal constatação nos faz refletir se tais UCs estão mesmo cumprindo todo o papel de conservação da biodiversidade que deveriam. A resposta mais direta é não, pois muitas não têm recebido do poder público a proteção que lhes confere a lei, e muitas fo-ram criadas não pela excepcional condição de proteção que apresentavam, mas antes porque foram áreas que o Estado herdou como pagamento de dívidas, etc. Urge, portanto, concentrar esforços na efetiva proteção e restauração dessas áreas, pois é nelas que, no limite, podem vir a restar o que se pretende preservar. Governo, estados, municípios, ONGs, empresas privadas que venham a investir recursos nessas UCs seguramente terão resultados mais rápidos e mais

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efetivos na restauração de comunidades e ecossistemas, e na preservação da biodiversidade, do que com os recursos aplicados em outras áreas, pois nas UCs as fontes de propágulos, a fauna e as condições de restauração são, em geral, melhores do que aquelas existentes em muitas áreas privadas. Tal ênfase, não implica, de forma alguma, em se dizer que ações junto aos proprietários privados devam ser reduzidas ou abandonadas, mas ao contrário, que o que se tem abandonado até aqui é a restauação desses sítios privilegiados, os únicos que são efe-tivamente coletivos.

Entre os muitos absurdos presentes na nova proposta de Código Florestal chama em especial a atenção a dramática falta de qualquer base científica que fundamente a crimi-nosa tentativa de se reduzirem as áreas de preservação permanentes ribeirinhas. Ao contrário, há vasta literatura que dá suporte à idéia de se preservar as zonas ripárias, várzeas e áreas úmidas marginais aos rios pelas suas importantíssimas funções ecológicas (p.ex., Lowrance et al.,1997; Rodrigues & Leitão Filho, 2001; Meyer et al., 2003; Sweeney et al., 2004; Zai-mes, et al., 2004; Tundisi & Tundisi, 2010). Essa redução das APPs presente na proposta de mudança do Código Florestal já aprovada na Câmara, está sendo feita através de várias medidas como a mudança no critério de mensuração dos rios, ou a redução das áreas de APP que devam ser restauradas no rios de menores dimensões (~90% do percursso da maioria dos rios) e se configuram num absurdo sem nenhuma justificativa cientificamente sustentável. No entanto, essas mudanças propostas levarão a graves conseqüências como, por exemplo, à degradação das margens dos cursos d’água e das áreas úmidas marginais, o que levará para dentro dos rios maiores quantidades de sedimentos, fertilizantes e agrotóxicos, que afetarão diretamente a qualidade da água para uso rural, urbano e industrial, aumentando os custos de tratamento de água em todo o país. Devido à menor retenção de água nessas áreas durante os períodos de chuvas, grandes volumes de água seguirão para dentro dos rios causando, inun-dações maiores e mais freqüentes em todo o país, e, portanto maiores danos materiais e perda de vidas. Como água preferencialmente fluirá à jusante e não ficará estocada nos solos e nos aqüíferos durante o período de chuvas, a vazão dos rios se reduzirá durante a seca, e conse-qüentemente a oferta de água para consumo rural, urbano e industrial. Grandes volumes de sedimentos que ficariam retidos nessas áreas serão agora transportados rio abaixo, assoreando rios, açudes e represas, reduzindo-se o tempo de vida e a capacidade de funcionamento dos reservatórios de abastecimento público, e de geração de energia elétrica. Crises nos setores de abastecimento de água e energia serão, com o tempo, mais freqüentes levando a que esses re-servatórios percam sua viabilidade. Os portos fluviais e marinhos serão assoreados exigindo--se dragagens extensas, permanentes e onerosas, afetando-se a navegação fluvial e marinha, o que resultará em aumentos de custos para a exportação. Haverá ainda extensa degradação dos habitats aquáticos, com destruição da fauna aquática e redução da pesca. Embora todas as regiões brasileiras venham a sofrer perdas com a extensa destruição de florestas (APPs e RLs) resultantes das mudanças previstas, serão sobretudo as regiões de ocupação mais antiga, hoje já muito degradadas, que mais sofrerão, pois nelas ocorrerão grandes perdas de fauna e flora, justamente onde elas já são muito escassas. Farta liberação de carbono que hoje é retida nas áreas úmidas ribeirinhas e nas florestas ciliares, ocorrerá com o desmatamento generalizado que deve se seguir às mudanças propostas. Portanto, o panorama é muito grave.

Outra discussão importante é a que diz respeito à existência e a manutenção das Reservas Legais. Infelizmente embora seja uma grande “oportunidade” de preservação aliada à lucro, à criação de novos empregos, no campo e na indústria, de criação de novos produtos e mercados, de amplas possibilidades de exportação, de distribuição difusa de renda e bem--estar, elas têm sido vistas até aqui apenas como um “problema”, menosprezadas pela incapa-cidade de muitos em reconhecer as vantagens que elas podem representar para o proprietário, a sociedade e o país. Nesse momento da história mundial, que país, salvo o Brasil, detém um contingente tão grande de novas matérias primas denominadas biodiversidade e tem condi-

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ções econômicas atuais de explorá-las? Um estoque de oportunidades de negócios, emprego e renda que pode atingir direta ou indiretamente todas as camadas da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que exerce uma função de conservação fundamental. As Reservas Legais são na realidade um instrumento inestimável e estratégico para o desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico brasileiro. Há, no entanto, urgente necessidade de se ampliar estudos e projetos práticos para desencadear, por todo o Brasil, o aproveitamento florestal sus-tentável dessas RLs que devem ser, sim, restauradas. Tais áreas poderiam de forma racional e sustentável permitir e estimular o uso da biodiversidade natural brasileira, sobretudo a flo-restal, de forma difusa e privada, para atender uma demanda reprimida de produtos florestais que já existe, como se observa com a lenha e o carvão. Mas os produtos madeireiros seriam apenas “a ponta do iceberg”, pois dessas RLs se podem extrair frutíferas, corantes naturais, resinas, látex, fitoterápicos, mel, para abastecer o mercado interno, e inclusive o mercado externo com produtos únicos sobre os quais o Brasil poderia controlar os preços (p.ex.: açaí). Assim, em vez de eliminar as RLs, o Código Florestal, aliado às políticas públicas e privadas, deveria estimular isenções, créditos e a criação de cadeias de negócios para a produção, a co-mercialização e a industrialização de produtos nativos aí produzidos. Mas nada disso se fará sem pesquisa científica na restauração dessas RLs, e em estratégias de manejo sustentável dessas áreas, e no aproveitamento racional e sustentável dos produtos aí existentes. Portanto, necessita-se de uma política científica nacional e também,estadual para dar suporte às RLs.

A discussão desse tema é vasta e complexa, aqui apenas foram arranhados alguns dos aspectos mais críticos, mas para os que desejem se aprofundar nessa questão e queiram conhecer melhor a fundamentação científica que suporta a luta pela manutenção das conquis-tas existentes no Código Florestal em vigor, sugiro que consultem o documento produzido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e pela Academia Brasileira de Ciências para subsidiar a discussão (Silva et al., 2011) e também outros trabalhos que fornecem infor-mações importantes (p.ex., Metzger, 2010; Rodrigues et al., 2010; Calmon et al., 2011)

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CÓDIGO FLORESTAL: DESDOBRAMENTOS DAS AÇÕES NO CONGRESSO NACIONAL

Ricardo Tripoli1

1. IntRodução

Preocupar-se com a qualidade de vida da todos os brasileiros é, sem dúvida, uma das principais funções dos parlamentares. Entender os pressupostos do Código Florestal, desde 1965 quando foi criado, certamente fortalece a atuação que devemos ter, no sentido de que a conservação das florestas e de outros ecossistemas naturais interessa a toda a sociedade. Assim entendemos que ao conservar as florestas garantimos, para todos nós, serviços ambientais bási-cos como a produção de água, a regulação do ciclo das chuvas e dos recursos hídricos, a prote-ção da biodiversidade, a polinização, o controle de pragas e doenças, o controle de assoreamento de rios e o equilíbrio do clima, que de alguma forma sustentam a vida e a economia de todo o país. Por outro lado, o “código florestal” é a única lei nacional que veta a ocupação urbana de-sordenada, agrícola de áreas de risco sujeitas, por exemplo, a inundações ou deslizamentos, e de áreas de mananciais, capazes de comprometer a qualidade das águas de abastecimento.

O Código Florestal tem como característica fundamental a determinação das obri-gações de se preservar áreas sensíveis e de se manter uma parcela de vegetação nativa no in-terior de propriedades rurais, respectivamente denominadas área de preservação permanente (APP) e reserva legal (RL).

Com base nestes pressupostos, por diversas vezes pronunciei-me na Tribuna da Câmara de Deputados Federais para abordar o Projeto de lei 1876/1999, que modifica o Có-digo Florestal Brasileiro (CFB). Como membro da Comissão Especial que debateu o assunto no Congresso Nacional, participei ativamente da discussão da proposta.

No entanto, desde o início, a discussão deu-se de forma irresponsável e desigual. Não houve paridade. A Comissão Especial era composta por maioria ruralista (treze parla-mentares) e minoria ambientalista (somente cinco).

Penso que o relatório aprovado pelo Plenário da Câmara causa arrepio na comu-nidade científica. Avalio que a reformulação do Projeto de Lei 1876/99 foi feita sem base científica. A maioria da comunidade científica não foi consultada e a reformulação foi pautada em interesses unilaterais de determinados setores econômicos.

2. MudAnçAS do CódIGo FLoReStAL que PodeM SeR CAtAStRóFICAS PARA A ConSeRvAção do MeIo AMBIente

Quando este artigo estava sendo redigido, as grandes polêmicas recaiam sobre os seguintes pontos:

a) Anistia sobre desmatamentos ilegais ocorridos até julho de 2008(art. 3º III)b) Permite que a autorização de desmatamento seja outorgada por órgãos muni-

cipais (art. 27), a quase totalidade dos quais não possui condição e estrutura para tanto

1 Deputado Federal

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c) Cria manejo “agrossilvopastoril” de RL, um conceito pelo qual haveria manejo pecuário dentro da RL (par. 1º do art. 18)

d) Reduz RL em todo o país e de todos os tamanhos, retirando 4 módulos fiscais da base de cálculo da mesma (até 400 hectares)

e) Permite pecuária extensiva em topos de morros, montanhas, encostas, etc. (art. 10)f) Permite desmatamento total de todas as APPs do país, ao definir de interesse

social qualquer produção de alimentos, que permite derrubar APP (art. 3, IV g.)g) Anistia de multa por desmatamento ilegal por prazo indefinido, até que o poder

público implante Plano de Recuperação Ambiental (art. 30). Em que pesem os argumentos e análise dos pontos centrais do Código Florestal

aprovado pela Câmara de Deputados, os ruralistas entendem que, para os agricultores, é fun-damental que a regularização ambiental seja cumprida e para isto precisa ser flexibilizada, propiciando assim um aumento de produtividade.

Ressalto o documento elaborado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em ação conjunta, as en-tidades enviaram ofício ao então relator da matéria, deputado Aldo Rebello (PC-doB-SP), ponderando que o aumento da produtividade não significa a expansão das fronteiras agrícolas.

No documento, ambas as instituições ressaltam que é possível ganhar produti-vidade sem precisar incorporar novas terras. Segundo o deputado, o que o país precisa é de políticas de ordenamento do território que indiquem quais são as áreas a serem ocupadas para a produção agropecuária futura.

3. entendIMento e BASe dAS InteRvençõeS nA CoMISSão eSPeCIAL dA CAMâRA doS dePutAdoS

Ao tentar minimizar os problemas do agronegócio, a proposta põe em risco a biodiversidade e os serviços ambientais prestados pela floresta. A anistia concedida a quem desmatou até julho de 2008 é um absurdo. O código já tinha sido modificado em 1989, quando se usou o avanço do conhecimento científico para aprimorar a versão original. Não há por que agora dizer que quem devastou está perdoado. A restauração das terras tem de ser exigida. Se isso não acontecer, vão ocorrer novos desmatamentos.

A malfadada modificação do Código Florestal pode levar a um aumento de emis-sões de gás carbônico e à extinção de pelo menos 100 mil espécies. O número citado conside-ra uma eventual perda de 70 milhões de hectares na Amazônia, em decorrência da diminuição da Reserva Legal.

Vamos perder biodiversidade e nossas florestas não vão funcionar como deve-riam. Haverá empobrecimento do solo, erosões, assoreamento de rios e danos irreparáveis em serviços ambientais dos quais a própria agricultura depende.

Tais prejuízos poderão contribuir para aumentar desastres naturais ligados a des-lizamentos em encostas, inundações e enchentes nas cidades e áreas rurais, como ocorrido recentemente na região sudeste.

Qualquer aperfeiçoamento ao Código Florestal que o Congresso Nacional promo-va deve ser conduzido à luz da ciência e com a definição de parâmetros que conservem um modelo econômico que priorize, sempre, a sustentabilidade.

Agora, cabe ao Senado Federal ter maturidade e contornar as lacunas deixadas pela Câmara.

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4. PontoS MAIS CRítICoS SoBRe AS PRInCIPAIS MudAnçAS nA PRoPoStA que ReFoRMuLA o CódIGo FLoReStAL BRASILeIRo (PRojeto de LeI nº 1876/1999)

A seguir são apresentados os 13 pontos que entendemos como os mais críticos e polêmicos da proposta de reformulação do Código Florestal:

I. Considerar como consolidados desmatamentos ilegais ocorridos até ju-lho de 2008 (Art. 3o III). Entre junho de 96 a julho de 2006 foram mais de 35 milhões de hectares desmatados ilegalmente no Cerrado e na Amazônia;

II. Permite consolidação de uso em APPs de rios de até 10 m de largura (+ de 50% da rede de drenagem, segundo SBPC), reduzindo APP de 30 para 15m irrestritamente (art. 36), para pequenas, médias e grandes propriedades.

III. Permite autorização de desmatamento dada por órgãos municipais (art. 27). Mais de 5,5mil municípios autorizando desmatamentos!

IV. Permite exploração de espécie florestal em extinção, por exemplo a araucária, hoje vetada pela Lei da Mata Atlântica (art. 22).

V. Dispensa averbação da Reserva Legal no cartório de imóveis mediante Rural “Municipal” com apenas “1” coordenada geográfica (art. 19).

VI. Cria a figura do manejo “agrossilvopastoril” de Reserva Legal. Agora manejo de boi será permitido em Reserva Legal (par. 1° do art. 18)

VII. Ignora a absoluta diferença entre agricultor familiar e pequeno pro-prietário, estendendo a este, flexibilidades no máximo cabíveis àquele.

VIII. Retira 4 Módulos Fiscais da base de cálculo de todas as propriedades (in-clusive médias e grandes) para definição do percentual de RL. Isso signi-fica milhões de hectares que deixam de ser Reserva Legal.

IX. Permite pecuária extensiva em topos de morros, montanhas, serras, bordas de tabuleiros, chapadas e acima de1800m (art. 10).

X. Ao retirar do CONAMA poder de regulamentar APPs, retirou proteção direta aos nossos manguezais. Casos de utilidade pública e interesse social deixam de ser debatidos com a sociedade no CONAMA.

XI. Abre para decreto (sem debate) definir rol de atividades “de baixo im-pacto” para permitir ocupação em APP (art. 3°, XVII, h), portanto sem discussão aberta e transparente com a sociedade.

XII. Define de interesse social qualquer produção de alimentos (ex. monocul-tura extensiva) para desmatamento em APP (art. 3°, IV, g). Isso permite desmatamento em qualquer tipo de APP em todo País.

XIII. Prazo indefinido para a suspensão de aplicação de multa e outras san-ções por desmatamento ilegal até que poder público implante Plano de Recuperação Ambiental (PRA), cujo prazo deixou de ser exigido nes-sa versão do PL (Art. 30).

5. ConSIdeRAçõeS FInAIS

As considerações aqui apresentadas foram redigidas quando ainda estavam em andamento as discussões e alterações sendo inseridas para o Novo Código Florestal, pelo Se-nado Federal. Desta forma, não é possível mencionar todos os desdobramentos da lei e como eles devem interferir nos processos de restauração ecológica, inseridos em políticas públicas.

Desta forma, quero destacar aqui ser de vital importância a união da sociedade e seus representantes, os esclarecimentos técnico-científicos sobre a temática e a conscienti-zação, principalmente de ruralistas, sobre o fato de que os maiores ganhadores com as ações de conservação de florestas naturais ou restauradas são eles próprios, pois além de ganharem

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em produtividade, terão todo o suporte da estabilidade ambiental promovida pelo recursos naturais preservados.

Finalmente é preciso lembrar aqui que, seja qual for o desfecho dado ao Código Florestal, as ações desenvolvidas pelo Instituto de Botânica, que mais uma vez organiza este importante fórum de discussão - o IV Simpósio sobre Restauração Ecológica: desafios atuais e futuros, já produziram importantes políticas publicas para o setor. Foi do IBt que recebi, quando estão Secretário de Estado do Meio Ambiente, a primeira proposta de resolução que orientava os reflorestamentos heterogêneos com espécies nativas (coincidentemente pelo Dr. Luiz Mauro Barbosa que também coordenou este evento), a Resolução SMA 21/2001, hoje atualizada para a Resolução SMA 08/08.

Parabenizo a todos os participantes e desejo que novos avanços no conhecimento e tratamento destas questões ocorram neste evento.

Código Florestal, chave da sustentabilidade, por Ricardo Tripoli

28 abril, 2011 Fechar os olhos para a elegância institucional, os benefícios e o modelo empresa-

rial da economia verde é excluir a seriedade dos processos que nos levarão à plena sustenta-bilidade. O Código Florestal Brasileiro é uma garantia de proteção à biodiversidade do país. Modificá-lo é danificar as virtudes de uma plataforma defensiva dos biomas nacionais. Sem ele, o caos. Com ele alterado, engolir-se-á o retrocesso.

Ninguém pode atribuir ao Código Florestal a responsabilidade de impedir o cres-cimento na produção de alimentos. Quem afirmar isso não conhece as pesquisas das uni-versidades e os números que a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) proclama. O Código Florestal não trava o desenvolvimento.

É necessário olhar as áreas brasileiras de agricultura e pecuária para se compreen-der a importância da preservação. O agricultor tem crédito agrícola restrito. Faltam assistência técnica, investimentos em tecnologia e estratégias de colheita para que a safra escoe.

O Código Florestal veio proibir o desmatamento nas propriedades rurais privadas de áreas de preservação permanente e nas reservas legais. Nossa produção de arroz e feijão caiu, mas a produção de soja explodiu: somos o maior produtor do mundo. A área para a pas-tagem também cresceu, chegando a mais de 200 milhões de hectares. Nosso rebanho bovino, um dos maiores do planeta, é de mais de 200 milhões de cabeças.

Não faltam terras. Sobram pastos e devastação. Diminui a cobrança dos passivos ambientais.O Código Florestal é um avanço, não deve ser alterado, não pode se prestar a aco-modação de interesses.

A área ocupada pela pecuária tem índice de aproveitamento baixo. Apenas uma cabeça de boi por hectare. Nos Estados Unidos, a permanência por hectare chega a três ani-mais. Portanto, o prejuízo está na ausência de planejamento de utilização das pastagens.

Nosso Código é contrário à utilização das beiradas dos rios e córregos e exige a preservação das matas ciliares. Ações como o Desmatamento Zero não interferem no cres-cimento brasileiro. Antes, ajudam-nos em soluções que sejam compatíveis com o progresso.

Dos nossos 850 milhões de hectares, 367 milhões são áreas privadas e outras sem nenhuma titulação. Por isso, o Código é fundamental, como mecanismo garantindo a integri-dade dessas terras. Mudá-lo é diminuir o Brasil.

Todas as nações clamam por leis ambientais. Não podemos apequenar o Código Florestal. Isso determinaria a falência do bom senso. A morte de seres humanos em catástro-fes nas cidades, os desastres ecológicos e o avanço de moradias em áreas condenadas exigem o Código Florestal como está escrito.

(*) Deputado federal pelo PSDB-SP, Ricardo Tripoli é advogado e ambientalista. Artigo publicado na “Folha de S. Paulo” em 28/04/11.

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INDICADORES DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE ÁREAS EM PROCESSO DE RESTAURAÇÃO FLORESTAL: O EXEMPLO DO PACTO PELA RESTAURAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

Pedro H. S. Brancalion1

Aurélio Padovezi2

Fabiano Turini Farah3

Ricardo A. G. Viani2

Tiago E. Barreto3,4

Ricardo Ribeiro Rodrigues3

Serão apresentados conceitos básicos e aplicados sobre a escolha e uso de indica-dores para a avaliação e monitoramento de áreas em processo de restauração florestal, de for-ma a orientar a elaboração de um programa de monitoramento para projetos de restauração. Como exemplo dessa abordagem, será apresentado o protocolo de monitoramento de projetos de restauração florestal desenvolvido de forma construtiva e participativa por membros do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. Esse protocolo, que teve uma versão prévia desen-volvida por um grupo técnico do Pacto, foi amplamente discutido, ampliado e aperfeiçoado por mais de 70 pessoas em um evento de três dias dedicados a esse objetivo, envolvendo pes-quisadores, técnicos e membros do governo. Esse protocolo é dividido nos princípios (regras fundamentais) Ecológico, Gestão, Econômico e Social, os quais são subdivididos em Crité-rios (um item de avaliação ou meio de julgar um princípio), Indicadores (qualquer variável do projeto de restauração ecológica usada para inferir a condição de um determinado critério) e Verificadores (formas de verificar, mensurar ou avaliar um indicador). Na palestra, serão apre-sentados os diferentes critérios, indicadores e verificadores de cada princípio, apresentando aos participantes do evento uma ferramenta concreta para o monitoramento de projetos de restauração florestal.

IntRodução

A restauração ecológica é o processo de auxiliar a recuperação de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído (SER 2004). Numa visão mais abrangente e atual, a restauração ecológica considera não só aspectos ecológicos, que tratam do restabelecimento da biodiversidade e dos processos ecológicos nos ecossistemas, mas também aspectos econô-micos e sociais relacionados à restauração (Nair e Rutt 2009, Calmon et al. 2011). Além dis-so, diante da importância do gerenciamento adequado das etapas da restauração para garantir seu sucesso e da necessidade de replicação de experiências bem sucedidas, é fundamental que programas de restauração utilizem, no planejamento e na condução das atividades de restau-ração, as múltiplas ferramentas existentes de gestão de projetos.

1 Laboratório de Silvicultura Tropical, Departamento de Ciências Florestais, USP/Esalq ([email protected])2 The Nature Conservancy, Atlantic Forest and Central Savannas Program3 Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, Departamento de Ciências Biológicas, USP/Esalq (www.lerf.esalq.usp.br)4 Programa de Pós Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas

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No entanto, a maioria das iniciativas de avaliação e monitoramento até então ado-tadas em projetos de restauração ecológica no Brasil, e também no mundo (Ruiz-Jaen e Aide 2005), tem focado apenas nos aspectos ecológicos, ao passo que inúmeros outros fatores de-finidores do sucesso das ações de restauração são negligenciados, tal como aspectos sociais, econômicos e de gestão. Concientes dessa limitação, e da importância de uma visão multi- e transdisciplinar na abordagem da restauração ecológica, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica estabeleceu a meta de desenvolver um protocolo de monitoramento holístico e in-tegrado, que abordasse os principais fatores envolvidos no sucesso da restauração florestal e contribuísse com o avanço dos projetos na medida em que os resultados do monitoramento sejam processados e divulgados.

O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, criado em 2006, constitui um dos mais importantes e ambiciosos programas de restauração de florestas tropicais no mundo (ver detalhes em http://www.pactomataatlantica.org.br).

Trata-se de um movimento que visa a integrar esforços no sentido de ampliar a escala e efetividade das ações de restauração na Mata Atlântica, com foco não apenas no restabelecimento da vegetação nativa em áreas degradadas do bioma, mas também na geração de trabalho e renda, bem-estar humano e múltiplos produtos e serviços ecossistêmicos. Esse movimento conta hoje com quase 200 membros divididos entre organizações não governa-mentais, empresas públicas e privadas, órgãos de pesquisa e governos, sob a coordenação de uma secretaria executiva e de um conselho de coordenação. Cabe ressaltar que o Pacto não é uma ONG e não financia ou executa projetos de restauração, mas atua na catalisação de es-forços para que seus membros avancem na restauração do bioma. A meta do Pacto é restaurar 15 milhões de ha até 2050, e já existem no momento mais de 40 mil ha cadastrados. Nesse contexto, de um programa de larga escala e de longo prazo, é fundamental que as iniciativas de restauração sejam monitoradas desde o início, e que os métodos e estratégias melhores sucedidas sejam conhecidos e disseminados, para que todos os membros do movimento bene-ficiem-se dos conhecimentos gerados a partir da avaliação contínua dos projetos e programas de restauração.

Esse protocolo, que teve uma versão prévia desenvolvida por um grupo técnico do Pacto, cujos membros são autores desse capítulo, foi discutido, aperfeiçoado e aprovado em plenária da “Oficina de Monitoramento do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica”, realizada em Campinas, em março de 2011, e que contou com a participação de mais de 70 representantes de instituições de vários estados do Brasil, entre governos, empresas, universi-dades e ONGs, todos signatárias do Pacto e que trabalham pela restauração da Mata Atlântica. A versão integral desse protocolo pode ser obtida em http://www.pactomataatlantica.org.br/protocolo-projetos-restauracao.aspx?lang=pt-br.

Justamente por se tratar de um documento produzido coletivamente, o conteúdo desse capítulo não deve ser citado como de autoria dos autores do capítulo, mas sim como autoria do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, citando o documento original pre-sente no link acima.

Este protocolo deverá ser testado e aprimorado ao longo dos próximos anos, com sua utilização rotineira e com contribuições por parte dos diversos membros do Pacto que adotarão esse protocolo. Diante disso, os preceitos e as indicações propostas pelo documento devem ser considerados ainda preliminares, uma vez que poderão ser modificados na medida em que se acumula conhecimento e experiência com a aplicação do mesmo em campo. Adi-cionalmente, não foram ainda definidas as metas para cada um dos indicadores propostos, pois isso depende ainda da aplicação massiva do protocolo em diferentes projetos e progra-mas, para que em pouco tempo se tenha um banco de dados robusto para a definição de metas específicas para os diferentes ecossistemas e regiões do bioma. Esse será o tema de um próxi-mo workshop sobre o tema promovido em breve pelo Pacto.

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Na construção desse protocolo, uma das principais idéais norteadoras foi a de que o protocolo deveria ser abrangente o suficiente para ser aplicado na escala do bioma, e robusto o bastante para gerar informações relevantes para o sucesso da restauração de forma prática e objetiva, evitando a coleta de dados pouco influenciáveis ou de informações redun-dantes. Essa preocupação se sustenta na premissa de que o protocolo deverá ser aplicado por todas as instituições envolvidas no movimento, e não apenas por órgãos de pesquisa. Assim, espera-se que o protocolo seja aplicado no dia a dia dos projetos, e para isso, é pre-ciso haver coerência no nível de detalhamento considerado. Outra preocupação norteadora foi a de que o protocolo não deveria ser específico para cada método de restauração ecoló-gica. Embora essa informação seja coletada na aplicação do protocolo, o monitoramento tem foco no produto da ação de restauração, ou seja, da aplicação do método, que expressa como a área em processo de restauração encontra- se no momento da avaliação. Assim, o protocolo não traz indicadores específicos para alguns métodos, mas se baseia no uso de indicadores generalistas, focados na descrição da composição, estrutura e funcionamento do ecossistema em processo de restauração. A abordagem conceitual adotada pelo Pacto está detalhada em Rodrigues et al. (2009).

2. eStRutuRA do PRotoCoLo

Este documento apresenta os princípios, critérios, indicadores que devem ser utilizados como guia para o monitoramento dos projetos de restauração ecológica cadastrados no Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e descreve como estes aspectos devem ser veri-ficados, mensurados e/ou avaliados ao longo do tempo de desenvolvimento desses projetos.

O sistema de avaliação da presente proposta está estruturado nos níveis hierár-quicos de princípio, critério, indicador e verificador descritos abaixo e foram adaptados de protocolos já existentes de certificação ambiental. Esse esquema fornece uma estrutura coerente e consistente para alcançar, a cada nível, os valores almejados pela restauração eco-lógica da Mata Atlântica.

Princípio (P): Uma regra fundamental. No contexto de restauração ecológica, os princípios fornecem a estrutura primária para a avaliação de um projeto.

Critério (C): Um item de avaliação ou meio de julgar um princípio. Um critério pode ser entendido como um princípio de “segunda ordem” que acrescenta significa-do e operacionalidade a um princípio, sem que, por si próprio, constitua uma medida direta de desempenho.

Indicador (I): Indicador é qualquer variável do projeto de restauração ecológica usada para inferir a condição de um determinado critério. Os indicadores devem trans-mitir uma informação e não devem ser confundidos como condições para satisfazer os critérios.

Verificador (V): Formas de verificar, mensurar ou avaliar um indicador.

Estes quatro princípios da restauração: ecológico, econômico, social e de ges-tão de projetos relacionam-se entre si, formando uma pirâmide, na qual o princípio eco-lógico encontra-se no topo. Nesse sentido, ações e práticas em um determinado princípio têm reflexo direto ou indireto nos demais e, consequentemente, no processo de restauração ecológica (DellaSala et al. 2003). Dessa forma, entende-se que, embora o objetivo primário da restauração seja ecológico, o mesmo não se sustenta na prática, sem uma abordagem conjunta dos aspectos sociais, econômicos e de gestão, que possibilitam transformar mé-todos e conceitos de ecologia de restauração em projetos de restauração ecológicos bem sucedidos no campo.

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3. PRInCíPIoS, CRItéRIoS, IndICAdoReS e veRIFICAdoReS PARA o MonItoRAMento doS PRojetoS de ReStAuRAção eCoLóGICA

A seguir são apresentados os quatro princípios para o monitoramento da restaura-ção ecológica e seus respectivos critérios, indicadores e verificadores (tabelas 1-4). É impor-tante ressaltar que alguns indicadores são verificados em programas de restauração, enquanto outros, como a maior parte dos indicadores do princípio ecológico, são avaliados em projetos de restauração. Conceitualmente, os programas de restauração são definidos, para o propósito deste protocolo, como “o conjunto de projetos de restauração, com o mesmo objetivo, de uma instituição ou de um conjunto de instituições parceiras numa determinada região”. Já os projetos de restauração equivalem a “unidades espaciais em processo de restauração ecoló-gica, com características homogêneas em relação ao método de restauração adotado, data de implantação, ao tipo de solo e vegetação, ao histórico da área e à instituição executora”.

3.1. PRInCIPIo eCoLóGICo dA ReStAuRAção FLoReStAL (P1)

As atividades de restauração florestal devem restabelecer a diversidade regional de espécies nativas e os processos ecológicos envolvidos com a sustentabilidade dos ecossis-temas naturais e restaurados.

Tabela 1. Critérios, indicadores e verificadores do Princípio Ecológico da Restauração Florestal.

Item

C.1.1. Estrutura

I.1.1.1. Densidade de indivíduos de menor porte

V.1.1.1.1. Número de indivíduos de espécies não invasoras por área

I.1.1.2. Densidade de indivíduo de maior porte

V.1.1.2.1. Número de indivíduos de espécies não invasoras por área

I.1.1.3. Altura da vegetação

V.1.1.3.1. Altura média do estrato mais alto da vegetação, excluindo indivíduos emergentes

I.1.1.4. Estratificação

V.1.1.4.1. Número de estratos

I.1.1.5. Cobertura de copas

V.1.1.5.1. Soma das medidas de copa projetadas no terreno, com base nos comprimentos

não cobertos por copa.

I.1.1.6. Área basal

V.1.1.6.1. Soma das medidas das áreas basais de indivíduos de espécies não invasoras

I.1.1.7. Herbáceas invasoras e superdominantes

V.1.1.7.1. Percentual de cobertura do solo por herbáceas invasoras e superdominantes

C.1.2. Composição de espécies arbustivas e arbóreas

I.1.2.1. Nº de espécies por projeto de restauração

V.1.2.1.1. Número total de espécies e morfoespécies regionais

V.1.2.1.2. Número total de espécies e morfoespécies não regionais

I.1.2.2. Equidade de espécies regionais

V.1.2.2.1. Valor de equidade

I.1.2.3. Espécies arbóreas invasoras

V.1.2.3.1. Composição e densidade de espécies arbóreas invasoras

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3.2. PRInCíPIo eConôMICo dA ReStAuRAção FLoReStAL (P2)

O pagamento por serviços ambientais, produtos florestais madeireiros e não ma-deireiros, a geração de trabalho e renda e a obtenção de vantagens competitivas pela certifi-cação ambiental são favoráveis para a consolidação e o sucesso das iniciativas de restauração ecológica.

Tabela 2. Critérios, indicadores e verificadores do Princípio Econômico da Restauração Florestal.

Item

C.2.1. O projeto gera trabalho e/ou renda com a implantação/manutenção da área em processo de restauração

I.2.1.1. Geração de postos de trabalho

V.2.1.1.1. Número de postos de trabalho direto

I.2.1.2. Valor de investimento do programa/projeto

V.2.1.2.1. Valor de investimento do programa em serviços

V.2.1.2.2. Valor de investimento do programa em insumos

V.2.1.2.3. Valor de investimento do programa/projeto em mão de obra (contrato direto)

V.2.1.2.4. Valor de investimento do programa/projeto em depreciação de máquinas /equipamentos

V.2.1.2.5. Valor de investimento do programa/projeto em impostos

V.2.1.2.6 . Valor de investimento do programa/projeto em gestão

C.2.2. Geração de bens e serviços com a área em processo de restauração.

I.2.2.1. Pagamento por serviços ambientais

V.2.2.1.1. Número de contratos de pagamento por serviços ambientais

V.2.2.1.2. Montante de recursos recebidos pelo PSA

V.2.2.1.3. Incentivo tributário relacionado à área em restauração ecológica

I.2.2.2. Pagamento por carbono

V.2.2.2.1. Projeto técnico circunstanciado visando carbono

V.2.2.2.2. Programa de restauração certificado por entidade independente do mercado de carbono

V.2.2.2.3. Créditos de carbono gerados

V.2.2.2.4. Montante de recursos recebidos pela venda de carbono

I.2.2.3. Servidão florestal

V.2.2.2.3.1. Renda obtida na negociação de áreas em restauração, para compensação de Reserva Legal em

regime de servidão florestal

I.2.2.4. Comercialização de produtos florestais madeireiros

V.2.2.4.1. Projeto de floresta produtiva existente e, quando necessário, aprovado pelo órgão ambiental

V. 2.2.4.2. Montante gerado pela comercialização de produtos madeireiros

I.2.2.5. Comercialização de produtos florestais não madeireiros

V.2.2.5.1. Atividade de exploração de produtos florestais não madeireiros na área em processo de restauração

V.2.2.5.2. Projeto de exploração de produtos florestais não madeireiros na área em processo de restauração

V.2.2.5.3. Montante gerado pela comercialização de produtos não madeireiros

C.2.3. Fonte de recursos para a restauração

I.2.3.1 . Origem do montante de recursos investido no projeto de restauração

V.2.3.1.1. Origem dos recursos investidos

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3.3. PRInCíPIo SoCIAL dA ReStAuRAção FLoReStAL (P3)

As atividades de restauração florestal devem manter ou ampliar o bem estar so-cioeconômico das partes interessadas no projeto. Entende-se como partes interessadas no projeto, todos os colaboradores diretos e indiretos, confrontantes, comunidades envolvidas/interessadas no projeto.

Tabela 3. Critérios, indicadores e verificadores do Princípio Social da Restauração Florestal.

Item

C.3.1. Oportunidades de trabalho, treinamento e outros serviços para as comunidades locais

I.3.1.1. Contratação de mão de obra

V.3.1.1.1. Porcentagem de mão de obra local contratada

V.3.1.1.2. Proporção de gêneros entre os trabalhadores contratados

I.3.1.2. Responsabilidade socioambiental dos envolvidos com as atividades de restauração florestal

V.3.1.2.1. Evidência de iniciativas que promovam acesso à melhoria educacional e profissional aos envolvi-dos com as atividades de restauração florestal

C.3.2. Saúde ocupacional dos trabalhadores de restauração florestal

I.3.2.1. Assegurar os benefícios à saúde do trabalhador

V.3.2.1.1. Comprovação de exames médicos admissionais, regulares e demissionais pertinentes a cada atividade

V.3.2.1.2. Colaboração na divulgação de campanhas de saúde pública por parte do responsável pelas ativi-dades de restauração florestal

V.3.2.1.3. Existência de equipamentos de primeiros socorros no local de trabalho

I.3.2.2. Responsabilidade no cumprimento da legislação que assegure condições sanitárias e ambientais

apropriadas

V.3.2.2.1. Qualidade e quantidade de alimentação e água no campo para o exercício das atividades de restauração

V.3.2.2.2. Qualidade das condições ambientais e sanitárias do trabalho de campo

C.3.3. Deve haver condições seguras de trabalho

I.3.3.1. Garantir condições de segurança de trabalho apropriadas

V.3.3.1.1. Existência de máquinas, ferramentas e equipamentos em condições de uso, com apropriada pro-teção para o trabalhador

V.3.3.1.2. Existência de equipamento de proteção individual (EPI) cedidos aos trabalhadores sem ônus,

quando a atividade assim o exigir

V.3.3.1.3. O uso de EPI é garantido, obrigatório e monitorado

V.3.3.1.4. Existência de equipamentos de comunicação no local de trabalho

V.3.3.1.5. Existência de treinamento regular de primeiros socorros para todos os empregados supervisores.

V.3.3.1.6. Existência de responsável por segurança do trabalho na área de restauração florestal, quando

exigido por Lei

V.3.3.1.7. O transporte dos trabalhadores deve ser realizado em veículos apropriados e em condições adequadas, que garantam sua qualidade e a segurança, de acordo com a legislação vigente ou acordos específicos entre as partes

C.3.4. Remuneração dos trabalhadores

I.3.4.1. Remuneração compatível com a atividade produtiva realizada na região

V.3.4.1.1. Porcentagem em relação à média regional

C.3.5. Uso de mão de obra infantil e de jovens aprendizes

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37

3.4. PRInCíPIoS dA GeStão do PRoGRAMA de ReStAuRAção FLoReStAL (P4)

A gestão do programa de restauração florestal visa a garantir planejamento, ava-liação, controle e documentação adequados, de forma a se preservar a memória do respectivo projeto de restauração ecológica. Incluem-se nessa memória, informações sobre uso histórico da área e metodologia de restauração utilizada, fotografias, custos, etc., que permitam resgatar as possíveis causas de sucesso ou insucesso da iniciativa.

Tabela 4. Critérios, indicadores e verificadores do Princípio de Gestão da Restauração Florestal.

I.3.5.1. Responsabilidade no cumprimento da legislação que assegure condições a contratação de jovens aprendizes

V.3.5.1.1. Existência de lista de trabalhadores na faixa etária de aprendizes incluindo descrição de ativida-des e comprovantes de freqüência escolar

C.3.6. Relação do projeto com a comunidade de entorno

I.3.6.1. Impactos sociais do projeto nas comunidades de entorno

V.3.6.1.1. Existência do diagnóstico da comunidade do estorno

I.3.6.2. Participação de comunidades e atores locais no planejamento do projeto

V.3.6.2.1. Reuniões com a comunidade e atores locais

I.3.6.3. Ações compensatórias dos impactos sociais provenientes das atividades de restauração florestal

V.3.6.3.1. Proposição de ações compensatórias

V.3.6.3.1. Implantação de ações compensatórias

I.3.6.4. O projeto possui ações de educação ambiental

V.3.6.4.1. Proposta de ações de educação ambiental

V.3.6.4.1. Implantação das ações de educação ambiental

I.3.6.5. Benefícios indiretos relacionados às atividades de restauração florestal

V.3.6.5.1. Proposta de ações complementares à restauração

V.3.6.5.2. Implantação de ações complementares à restauração

Item

C.4.1. Planejamento e documentação do processo

I.4.1.2. Existe um Projeto de Restauração

V.4.1.2.1. Existência de diagnóstico socioambiental da área a ser restaurada

V.4.1.2.2. Delimitação das áreas em restauração bem como sua caracterização ambiental

V.4.1.2.3. Lista de espécies indicadas

V.4.1.2.4. Protocolo metodológico para tomada de decisão da técnica de restauração apropriada

V.4.1.2.5. Orçamento do projeto

V.4.1.2.6. Cronograma de execução física

I.4.1.3. Existem registros de execução

V.4.1.3.1. Registro de acompanhamento do projeto

V.4.1.3.2. Lista de espécies utilizadas

V.4.1.1.3. Origem do propágulo para retauração mudas/ sementes/ topsoil/galharia/

V.4.1.3.4. Registro audiovisual

V.4.1.3.5. Registro de despesas

V.4.1.3.6. Controle de produtividade

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4. ConCLuSão

O protocolo de monitoramento de projetos de restauração florestal do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica traz uma contribuição importante e inovadora para a ciência e prática da restauração ecológica, articulando dentre centenas de atores da restauração o es-forço coletivo de monitorar a restauração na escala de bioma, gerando informações valiosas para subsidiar o aperfeiçoamento dos métodos de restauração, o manejo adaptativo de áreas já implantadas e o redirecionamento de estratégias de restauração entre esses atores. Esse protocolo também é útil para a formulação de políticas públicas, pois auxiliará futuramente na definição de níveis satisfatórios de qualidade nas ações de restauração, servindo de suporte para o julgamento da aplicação de recursos públicos nessa atividade e do uso da restauração como ferramenta de mitigação de impactos ambientais causados por atividades degradadoras

C.4.2. A parceria com o proprietário do imóvel rural está formalizada para executar as atividades de restauração florestal

I.4.2.1. Existe acordo de parceria com o proprietário

V.4.2.1.1. Termo de compromisso para o desenvolvimento do projeto entre o proprietário e o executor do projeto

V.4.2.1.2. Documento de comprovação de vínculo do imóvel rural com o proprietário referido no termo de compromisso

C.4.3. A equipe executora está habilitada e capacitada para executar as atividades planejadas

I.4.3.1. Responsável técnico está habilitado

V.4.3.1.1. Comprovação da habilitação profissional do responsável técnico para a execução da atividade

I.4.3.2. Equipe técnica está capacitada

V.4.3.2.1. Experiência profissional da equipe para a execução da atividade

C.4.4. Existe sistema de monitoramento

I.4.4.1. Plano de acompanhamento próprio.

V.4.4.1.1. Existência de Plano de Acompanhamento e Avaliação

V.4.4.1.2. Aplicação Plano de Acompanhamento e Avaliação

C.4.5. Existe comunicação fluida no projeto com os atores envolvidos

I.4.5.1. O fluxo de informação entre a equipe gestora e executora é claro e funcional

V.4.5.1.1. Existência de recomendações dos gestores aos executores do projeto

V.4.5.1.2. Existência de comunicação das dificuldades encontradas pelos executores aos gestores

I.4.5.2. Existe um bom fluxo de informação externo

V.4.5.2.1. Existência de registro de comunicação com a comunidade do entorno

V.4.5.2.2. Existência de registro de comunicação científica

V.4.5.2.3. Existência de registro de comunicação com a mídia

V.4.5.2.4. Existência de registro de comunicação com o Pacto MA

C.4.6. O projeto promove inovação metodológica em restauração

I.4.6.1. Inovação metodológica

V.4.6.1.1. Existência de Descrição metodológica da inovação e experimentação em campo

C.4.7. Existe análise de viabilidade econômica de projeto com caráter de aproveitamento econômico

I.4.7.1. Existe análise de viabilidade econômica do projeto

V.4.7.1.1. Existência do estudo de viabilidade econômica do projeto

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diversas. Não obstante, deve-se ressaltar a visão inovadora e transformadora da restauração promovida pelo Pacto, que teve a audácia de articular a elaboração e consolidação de um protocolo de monitoramento entre mais de 70 instituições, o que evidencia o poder agregador do movimento.

5. ReFeRênCIAS

Calmon, M., Brancalion, P.H.S., Paese, A., Aronson, J., Castro, P., Silva, S.C., Rodrigues, R.R. 2011. Emerging threats and opportunities for large-scale ecological restoration in the Atlantic Forest of Brazil. Restoration Ecology 19: 154-158.

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Ruiz-Jaen, M.C., AIDE, T.M. 2005. Restoration success: How is it been measured? Restoration Ecology 13: 569-577.

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MONITORAMENTO INICIAL DE TRÊS PLANTIOS COMPENSATÓRIOS DO RODOANEL MÁRIO COVAS – TRECHO SUL

Paulo José Alves de Santana1

Marco André de Carvalho Assan2

Altamiro Lobo Guimarães2

IntRodução

Os danos causados pelo homem aos ecossistemas sempre foram motivos de pre-ocupação e, desde o século XIX, o plantio de florestas tem sido um dos mecanismos miti-gatórios a estes danos, mesmo que realizando apenas a simples cobertura vegetal do solo ou ainda para a obtenção de madeira. Na década de 1980, o termo restauração ecológica passou a ser mais claramente definido juntamente com o desenvolvimento da ecologia da restauração como ciência (ENGEL & PARROTA, 2003), que visa a iniciar ou acelerar a recuperação de um ecossistema no que diz respeito a sua saúde, integridade e sustentabilidade, formando um ambiente semelhante ao que anteriormente predominava (SER 2004).

Atualmente diversas técnicas são aplicadas para promoção da restauração ecoló-gica em áreas degradadas, podendo citar a “condução da regeneração natural”, que se dá por meio da condução dos processos da sucessão secundária; o método de “semeadura direta” que aumenta a quantidade de propágulos na área a ser restaurada, sendo uma técnica barata, reco-mendada para áreas onde o plantio é dificultado; o “plantio de mudas” que é uma das formas mais utilizadas nos processos de restauração ecológica e, dependendo do caso, a que mais garante o sucesso e estabelecimento da restauração; e as “ilhas de diversidade” que facilitam a regeneração natural pelo plantio de pequenos núcleos de plantas de distintas formas de vida para atrair a fauna, potencializar a dispersão e promover a conectividade entre os pequenos fragmentos.

Dentre os fatores de degradação de ambientes, encontram-se novas e grandes obras que se tornam de suma importância para a funcionalidade e dinâmica das cidades. Estas obras, porém, trazem consigo grandes empreendimentos e compromissos socioambientais como a restauração de áreas degradadas por elas e a restauração de outras áreas para compen-sação ao dano ambiental.

Para a compensação ambiental do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas foram plantados mais de 1000 hectares (ha) em áreas degradadas, ao longo do traçado do próprio Rodoanel e em outras áreas cedidas por outros órgãos (DAEE, SABESP, EMAE, etc.), tam-bém degradadas, que necessitavam de recuperação e recomposição vegetal. O consórcio das empresas Jardiplan Urbanização e Paisagismo e Biotech Ambiental participou da implantação dessa compensação com o plantio de aproximadamente 340 ha, distribuídos nos municípios de Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Biritiba Mirim, Mairiporã, Nazaré Paulista e Piracaia.

Este artigo abordará algumas avaliações do primeiro trabalho de monitoramento de qualidade dos plantios compensatórios realizados pelas empresas citadas.

1 Jardiplan Urbanização e Paisagismo Ltda. e-mail: [email protected] Consórcio Jardiplan-Biotech.

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AvALIAção, MonItoRAMento e CoRReção de PRojetoS de ReStAuRAção eCoLóGICA

Um dos grandes desafios da restauração em ecossistemas tropicais é a complexa interação entre os organismos, sendo de grande importância avaliações e monitoramentos temporais para o melhoramento das técnicas implantadas na restauração (SOUZA & BATIS-TA, 2004).

Segundo Gandolfi (2006), monitoramento é o acompanhamento temporal dos pa-râmetros estabelecidos, para posterior avaliação do projeto, isto é, verificar se a área restaura-da atingiu o estado pré-definido.

Ainda existe muita divergência quanto a parâmetros seguros que possam ser utili-zados nas diferentes realidades encontradas nos biomas brasileiros, para o monitoramento de plantios. Rodrigues & Gandolfi (2001) também indicam como pouco provável o estabeleci-mento de critérios de uso universal para se avaliar o monitoramento.

Siqueira & Mesquita 2007 indicam, como uma das grandes dificuldades da prá-tica de monitoramento, a falta de consenso na literatura científica em relação aos indicado-res mais adequados para a avaliação do sucesso da restauração florestal e, consequentemen-te, dos ganhos ambientais. Barbosa (2000) destaca a importância de identificar indicadores que possibilitem avaliar e monitorar as metodologias utilizadas em plantios, bem como avaliar se os objetivos da restauração foram alcançados e se a dinâmica florestal está sendo estabelecida.

Os indicadores de restauração precisam avaliar não só a recuperação visual da paisagem, mas também a reconstrução dos processos ecológicos que mantêm a dinâmica da vegetação, garantindo eficiência ecológica e sustentabilidade (RODRIGUES & GAN-DOLFI, 2004).

Um bom indicador ecológico, além da facilidade de medição, clareza e modifica-ção possível ao longo do processo, deve: ser sensível a fatores que modificam o ecossistema; responder aos fatores que atuam sobre o ecossistema de forma previsível; possibilitar predi-ções sobre os efeitos dos agentes de degradação ou sobre os efeitos benéficos de práticas de manejo que venham a ser aplicadas; ser interativo e ter baixa variabilidade nas respostas aos fatores que representa (DURIGAN 2010).

Segundo Belloto et al. (2009), a confirmação do estabelecimento dos processos ecológicos em áreas restauradas só é obtida após a avaliação e monitoramento das áreas em diferentes períodos, recomendando a instalação de parcelas permanentes para a avaliação temporal da evolução dos processos ecológicos, o que possibilita a comparação dos resulta-dos com futuros monitoramentos. Os indicadores de avaliação e monitoramento de processos de restauração podem subdividir-se em: avaliação da fase de implantação; avaliação de pós--implantação e avaliação da fase de vegetação restaurada.

Genericamente, as formas mais utilizadas para a avaliação e monitoramento em áreas em restauração são divididas em três categorias: diversidade, estrutura da vegetação e processos ecológicos (RUIZ &AIDE, 2005). Cada uma destas categorias é realizada em tempos diferentes, de acordo com o desenvolvimento do plantio e sua estabilidade no local.

Barbosa et. al (2009) propuseram uma metodologia baseada na instalação de par-celas permanentes para o monitoramento e avaliação de áreas restauradas, ao buscar embasa-mento estatístico, trazendo dados mais conclusivos para a metodologia de monitoramento de áreas restauradas.

Por estes motivos, as atividades de avaliação e monitoramento tornam-se de ex-trema importância, pois fornecem indicadores do estabelecimento do plantio, apontando os problemas ocorridos e servindo como ferramenta de intervenção, para que o executor corrija suas ações no decorrer das operações de manutenção obrigatórias pelo mesmo.

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MetodoLoGIA

No presente trabalho, foram analisadas duas áreas de plantio no município de Piracaia-SP, denominadas BRC1 e BRC3, e um grupo de pequenas áreas no município de Embu das Artes-SP, denominadas Parque Embu 2.

CARACteRIzAção dAS áReAS

A área BRC1 possui 31,71 ha de área plantada, sendo originalmente composta por floresta caracterizada como Floresta Estacional Semidecidual com manchas de cerrado, com an-tigo histórico de supressão da vegetação para a implantação de pastagens de pequenos rebanhos e cultura cafeeira. O plantio foi iniciado em agosto de 2009 e concluído em setembro do mesmo ano.

A área BRC3 possui 59,86 ha de área plantada, com vegetação semelhante a da área BRC1, pouca vegetação secundária e histórico de atividades agrárias. O plantio foi ini-ciado em setembro de 2009 e finalizado em novembro do mesmo ano.

Considerando que as áreas do município Embu das Artes estão inseridas dentro do Parque Municipal de Embu, neste trabalho será apresentada a avaliação do grupo formado por pequenas áreas denominadas no projeto como: Parque Embu 02, Parque Embu 04, Parque Embu 05, Parque Embu 06 e Parque Embu 07, que totalizam 4,74 ha. Estas áreas estão inse-ridas, conforme o mapa do IBGE (IBGE, 2004), como região de Floresta Ombrófila Densa e sua antropização ocorreu por diversas interferências do desenvolvimento urbano e industrial, além de uso das áreas para pequenas pastagens. Nestas áreas o plantio teve início em abril de 2009 e término em agosto de 2009.

AMoStRAGeM

A amostragem foi baseada na metodologia proposta por Barbosa et al. (2009), na qual as áreas foram divididas em blocos de igual tamanho, instaladas parcelas amostrais em cada bloco para avaliação de quantidade de plantas vivas e posterior análise para verificação de suficiência amostral da área.

Cada parcela constou de 04 (quatro) linhas de plantio contendo 10 (dez) covas em cada linha, independentemente se continham plantas vivas ou mortas, totalizando 2 linhas de espécies pioneiras e duas linhas de espécies não pioneiras. As parcelas foram marcadas com estacas nas extremidades.

No projeto de implantação, o espaçamento do plantio foi: entre linhas de 3,0 me-tros e entre covas de 1,5 metros.

Foram contadas nas parcelas as plantas vivas e mortas e, por fim, calculado o número de plantas vivas por ha. O cálculo de significância para a amostragem foi baseado na fórmula constante em Barbosa et. al (2009).

Após a obtenção da significância, as plantas foram identificadas taxonomicamen-te, baseando-se nas características morfológicas apresentadas.

Para facilitar as identificações em campo, foi realizada visita técnica ao viveiro forne-cedor das mudas do plantio e feito o registro fotográfico da todas as espécies utilizadas no plantio.

As plantas cuja identificação não foi possível ser realizada em campo foram clas-sificadas como ni (não identificadas), porque na maioria das vezes não apresentavam caracte-rísticas morfológicas suficientes.

A instalação e avaliação das parcelas foram realizadas nos meses compreendidos entre junho e setembro de 2010; ao considerar 9 meses, 8 meses e 14 meses após o término do plantio das áreas. Foram avaliados ainda os fatores de altura média das plantas, mortalidade, riqueza, quantidade de indivíduos por espécie e tamanho médio por espécie.

Os dados foram submetidos à análise conforme a metodologia já mencionada.

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ReSuLtAdoS

A Tabela 01 apresenta os resultados obtidos quanto à altura média das plantas dos projetos analisados. Não houve significância amostral para as áreas BRC1 e Parque Embú 2, demonstrando que o número de parcelas instaladas não foi suficiente para demonstrar a rea-lidade total das áreas. Houve significância amostral somente para a área do Projeto Piracaia BRC3, onde o n* (esforço amostral / número de parcelas suficientes para amostrar o total da área), foi inferior ao número de parcelas instaladas, confirmando isso.

Tabela 01: Resultados quanto à altura média de plantas, em função das parcelas amostradas e esforço amostral necessário, para as áreas dos projetos Piracaia: BRC1 e BRC3 e Embu das Artes Parque Embu 2.

Área Altura Média (cm) Parcelas amostradas Esforço Amostral (n*)

BRC1 50,49 8 25

BRC3 38,98 30 13*

Parque Embú 2 83,94 11 25

(n*) Significativo com erro máximo de 10% da média e esforço amostral de 90% de probabilidade.

Devido à mortalidade encontrada, não foi possível obter significância amostral para as áreas analisadas, o que indicou que o número de parcelas instaladas não foi suficiente para demonstrar a realidade das áreas, no momento da avaliação.

Nos momentos de avaliação, foram observados alguns fatores que contribuíram para este resultado, principalmente a exposição das áreas ao uso de pastagem para pequenos rebanhos, mesmo com a fiscalização de funcionários da empresa. Há que se considerar ainda o caso das áreas do Parque Embu, onde alguns plantios foram afetados por incêndio, aumen-tando drasticamente a taxa de mortalidade.

Tabela 02: Mortalidade de plantas em função das parcelas amostradas nas áreas dos projetos Piracaia: BRC1 e BRC3 e Embu das Artes Parque Embu 2.

Área Mortalidade (%) Parcelas amostradas Esforço Amostral (n*)

BRC1 21,25 8 76

BRC3 30,92 30 49

Parque Embu 2 19,55 11 72

(n*) Significativo com erro máximo de 10% da média e esforço amostral de 90% de probabilidade.

Outros aspectos também devem ser levados em consideração quanto a esta avalia-ção, que foi a primeira após a implantação do plantio, ou seja, o primeiro diagnóstico do seu estado de desenvolvimento. Segundo Belloto et. al (2009), os indicadores de avaliação e moni-toramento do processo de restauração podem ser divididos em fase de implantação (1-12 meses pós plantio); fase pós-implantação (1-3 anos) e fase de vegetação restaurada (após 4 anos).

Esta avaliação é de extrema importância por se tratar de um período crucial ao pe-gamento do plantio, no qual as plantas estão no estágio inicial do desenvolvimento em campo e um período em que muitas ações corretivas de manutenção e replantio podem ser tomadas, para um melhor estabelecimento da área.

Para o fator riqueza, constataram-se 47 espécies na área BRC1, excluídos 31 indi-víduos que não apresentavam características suficientes para serem identificados e não foram mencionados nesta avaliação; já na área BRC3, foram 88 espécies identificadas e excluídos

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167 indivíduos também não identificados, assim como ocorreu na BRC1; na área Parque Embu 2, foram identificadas 67 espécies nas áreas e excluídos 15 indivíduos, também não identificados.

O fato de alguns indivíduos não possuírem características morfológicas para a identificação pode ser explicado pelo período do ano em que o levantamento foi realizado, tratando-se do período em que a maioria das espécies caducifólias perdem as folhas como Ceiba speciosa (A. St-Hill) Havenna, Cedrela odorata L., Cedrela fissilis L. e outras.

A Tabela 03 apresenta a lista de espécies mais frequentes e menos frequentes nas parcelas. Analisando os dados das mudas mais frequentes, não foi verificada diferença na quantidade de espécies entre os grupos de pioneiras (P) e não pioneiras (NP) nas áreas, além de demonstrar que a quantidade total de indivíduos das espécies é equivalente.

Quando observamos os dados das espécies menos frequentes, verificamos que o número de espécies P com poucos indivíduos é menor que o de NP, nas três áreas. Isto sugere que, não obrigatoriamente, está ocorrendo uma perda de diversidade de espécies NP, mas sim que pode estar ocorrendo uma perda de quantidade de indivíduos das espécies NP, no decorrer do estabelecimento do plantio.

Na avaliação das espécies que mais se desenvolveram em altura, como já era esperado, os resultados foram mais expressivos para as espécies P. Na área BRC1, a espécie com maior altura média foi Croton urucurana Baill. com 106,00 cm; para a área BRC3 foi Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze, com 94 cm, e para a área Parque Embu 2 foi Solanum granuloso-leprosum Dunal, com 260 cm.

ConSIdeRAçõeS FInAIS

Esta primeira amostragem apresentou resultados e observações consistentes, para os plantios realizados pelo consórcio Jardiplan /Biotech, e cumpriu com o objetivo orientativo para as tomadas de decisão do período inicial. A metodologia mostrou-se eficaz, trazendo os resultados para uma realidade mais científica.

Com base nos resultados apresentados, notou-se que os plantios necessitavam de ações corretivas como replantio, efetivas atividades de manutenção, adubação, controle de fatores degradadores, entre outros, que direta ou indiretamente afetavam a sustentabilidade dos mesmos.

Atualmente, após um replantio direcionado, evitando espécies mais frequentes e valorizando espécies menos frequentes, ou mesmo novas espécies, e com um controle mais sistematizado das manutenções de roçada, aceiro, coroamento, adubação, controle de formi-gas e outros fatores, nota-se uma significativa melhora no plantio (fotos anexas).

A atividade de monitoramento para grandes plantios de restauração ecológica não é uma tarefa simples, seja pela proporção que as áreas apresentam, gerando diferentes realida-des dentro de um mesmo plantio, o que dificulta uma padronização nas ações corretivas; seja pelos fatores não controláveis, como invasão da área por gado, geadas e incêndios, somado à falta de consenso científico para uma avaliação mais precisa desses fatores.

Para o monitoramento desses grandes plantios, as observações de campo e as análises dos resultados de desenvolvimento devem ser muito dinâmicas, uma vez que a pro-babilidade de perda é sempre muito grande e em um período muito curto de tempo.

Seguem fotos de diferentes estágios do plantio, início e fase atual (Anexo).

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ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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Tabela 03: Análise de espécies mais e menos frequentes das áreas dos projetos Piracaia: BRC1 e BRC3 e Embu das Artes Parque Embu2.

BR

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48

Piracaia BRC1 antes e depois

Piracaia BRC3 antes e depois

Parque Embú 2 antes e depois

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49

EXPERIÊNCIAS DA EMPRESA CORPUS SANEAMENTO E OBRAS LTDA. NA IMPLANTAÇÃO, AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE ÁREAS EM PROCESSO DE RESTAURAÇÃO NO TRECHO SUL DO RODOANEL MÁRIO COVAS - SP

Fulvio Cavalheri Parajara1

Tiago Cavalheiro Barbosa1

IntRodução

Um dos maiores empreendimentos realizados nos últimos anos no estado de São Paulo, o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, interligou as principais rodovias que chegam do interior do estado de São Paulo à capital, com as rodovias que partem do município de São Paulo para o litoral do estado, especialmente à baixada santista. Esta rodovia serviu para aliviar o fluxo de veículos, principalmente os de grande porte, que eram obrigados a passar pelas vias da cidade de São Paulo, e desta forma, contribuiu para a melhoria do trânsito, principalmente na Marginal Pinheiros e Avenida dos Bandeirantes, promovendo também significativa melhora da qualidade do ar na região metropolitana da capital. Como parte da compensação ambiental às obras da rodovia, os órgãos ambientais federais e estaduais determinaram que a DERSA - Desenvolvimento Rodoviário S.A., responsável pelo empreendimento, realizasse o plantio de 1.016 hectares para promover a restauração ecológica de áreas degradadas na região metropo-litana de São Paulo (RMSP), além de diversas outras medidas mitigatórias e compensatórias à supressão vegetal dos 212 hectares, necessários para a implantação da rodovia.

Para esta restauração, o Instituto de Botânica de São Paulo (IBt), órgão vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente, tido como referência nos estudos florísticos e que envolvam a temática da restauração ecológica, foi contratado pela DERSA para, dentre outras atividades, atuar na orientação dos plantios compensatórios das empresas contratadas para a realização desta atividade.

Para atender a exigência de se realizarem as ações de plantio com qualidade, principalmente envolvendo a diversidade regional de espécies plantadas, a Corpus seguiu as orientações fornecidas pelo IBt, desde a definição dos projetos, correções necessárias me-diante monitoramentos expeditos que foram realizados e na aplicação de uma metodologia de amostragem criteriosa dos plantios, levando em consideração a suficiência amostral e garan-tindo, desta forma, a confiabilidade dos dados obtidos.

Por meio dessas orientações e outras ferramentas disponibilizadas pelo IBt, o consórcio pôde obter importantes resultados no monitoramento dos plantios, ainda em an-damento (fase de manutenção), sendo possível a detecção e correção de problemas ocorridos durante a fase inicial dos mesmos, visando a obter qualidade e diversidade desejadas.

Serão destacados neste trabalho as principais dificuldades e soluções encontradas durante o período de prestação de serviços à DERSA, deixando registrado um importante material para futuras ações de compensação ambiental que contemplem a restauração de áreas degradadas não só no estado de São Paulo, mas por todo o Brasil.

1 CORPUS Saneamento e Obras Ltda. e-mail: [email protected]

Page 51: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

50

oBjetIvoS

O objetivo deste trabalho foi demonstrar algumas das experiências obtidas pelo consórcio CORPUS/ MOTASA, através da execução de plantios compensatórios, que tiveram como orientação além do termo de referência da DERSA, a Resolução SMA 08 de 2008, que fixa orientações para o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas no estado de São Paulo. Além disso, aspectos quanto a avaliação e monitoramento de áreas em processo de restauração, também foram objetos de discussão.

CARACteRIzAção dAS áReAS de PLAntIo AnALISAdAS

As áreas reflorestadas e que têm sua avaliação e monitoramento apresentados neste artigo, contemplam Áreas de Preservação Permanente (APPs) do Reservatório do Rio Cachoeira, sob administração da SABESP, localizado no município de Piracaia, e áreas per-tencentes ao DAEE, no distrito de Taiaçupeba (Mogi das Cruzes), no entorno de um reservató-rio de abastecimento. Apesar das áreas reflorestadas não se situarem em um local diretamente afetado pelo trecho sul do Rodoanel, são de grande importância para a população devido à localização em dois dos mais importantes sistemas de abastecimento de água da RMPS, o Cantareira e o Alto Tietê, respectivamente.

A área denominada de Taiaçupeba.02, analisada neste artigo, possui aproximada-mente 4 hectares, compondo com outras três áreas um total aproximado de 22 hectares, tendo o reflorestamento sido implantado em outubro de 2009. A região está inserida no Bioma Mata Atlântica, sob área de domínio da Floresta Ombrófila Densa (FOD). Em todo o entorno da re-presa, existem pequenos fragmentos de floresta com os estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, em região de várzea, bem como pequenos fragmentos de vegetação secundária de Floresta Ombrófila Densa Montana, entretanto, a presença de vegetação na área da represa é composta principalmente por espécies gramíneas e arbóreas exóticas, como é o caso da Urochloa sp. P. Beauv., Pinus sp. e Eucalyptus sp. A principal causa de degradação ambiental do local está relacionada, principalmente, à construção da barragem e ao uso das espécies exóticas na “recuperação” das APPs. Cabe ressaltar que a maior área indicada na represa (código 09.11.L0.Taiaçupeba.03), com 13,74 hectares, foi utilizada como área de empréstimo de material para a construção da barragem existente neste reservatório.

Quanto às áreas avaliadas na APP do Reservatório do Rio Cachoeira, é importan-te destacar que, devido ao tamanho, aproximadamente 240 hectares divididos em 4 áreas de reflorestamento, o processo de avaliação e monitoramente foi subdivido em áreas menores, objetivando uma avaliação das áreas mais representativas, em relação à totalidade, e auxilian-do na tomada de decisão quanto aos eventuais procedimentos de correção necessários, para atingir a qualidade esperada nas restaurações daquele local.

Outra consideração a respeito do local é que o município de Piracaia possui regi-ões fitoecológicas correspondendo a uma faixa de transição, com tipos de vegetação predomi-nantemente de Floresta Estacional Semidecidual (FES), mas também apresentam pequenos fragmentos de Floresta Ombrófila Densa (FOD) e até mesmo algumas manchas de cerrado, estabelecendo, na região, um mosaico de fitofisionomias (Kronka et al., 2005).

MetodoLoGIA de AvALIAção

O sistema de amostragem adotado foi o proposto por Barbosa et al. (2009), que utiliza a instalação de parcelas amostrais contendo quatro linhas, com dez plantas por linha, onde o número de plantas vivas, de parcelas amostradas e características das mudas como altura e diversidade, permitem a obtenção de um conjunto de dados quali-quantitativos, que devem respeitar um esforço mínimo de modo a garantir a suficiência amostral necessária para conferir a confiabilidade dos dados obtidos.

Page 52: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

51

ReSuLtAdoS e dISCuSSõeS

Diversas áreas foram amostradas para o efeito de monitoramento quali-quantitati-vo dos reflorestamentos compensatórios, contudo, os resultados aqui apresentados foram ba-seados apenas em algumas áreas, onde as parcelas avaliadas apresentaram suficiência amos-tral quanto aos dados coletados.

áReA tAIAçuPeBA.02

A amostragem da área foi realizada no mês de maio de 2011, portanto após 19 meses do plantio. Entretanto, há que se considerar a realização de replantios 2 meses antes da amostragem ser realizada, em virtude de alta mortalidade ocorrida. Assim, as parcelas amos-tradas apresentaram mudas que possuíam, em média, altura de 40,13 cm e taxa de mortalidade de 1,25%. As informações sobre a riqueza florística, encontrada nas 2 parcelas no momento da avaliação, estão apresentadas na figura 1.

Figura 1 – Riqueza florística encontrada nas 2 parcelas amostrais avaliadas

A área avaliada apresentou riqueza florística de 33 espécies nas duas parcelas analisadas, sendo que apenas 1 (uma) não pode ser identificada. Um índivíduo exótico (Melia azedarach L.), também estava presente nesta amostragem, por falha ocorrida na expedição das mudas, contudo o indivíduo foi removido e substituído por uma nativa, logo após sua detecção no monitoramento. Como as amostragens apresentaram suficiência amostral para os dados analisados, é possível extrapolar que para a área total de plantio, a diversidade ne-cessária estará sendo atendida, uma vez que apenas 80 indivíduos fizeram parte do universo amostral desta pequena área. Devido ao desenvolvimento das mudas ainda incipiente, con-forme apontado pelo monitoramento, o período de manutenção desta área será ampliado por no mínimo 06 meses, para garantir o pleno desenvolvimento destas mudas, estando ainda previsto uma nova avaliação do local, para verificação da situação após este período.

Número de indivíduos

0 2 4 6 8

Senegalia polyphylla Alchornea glandulosa Peltophorum dubium

Citharexylum myrianthum Inga vera

Psidium guineenseAspidosperma polyneuron

Croton urucuranaLafoensia pacari

Mimosa bimucronataParapiptadenia rigida Astronium graveolens

Chorisia speciosa Croton floribundus

Esenbeckia febrifugaEugenia pyriformis

Eugenia uniflora Inga marginata

Myrcia tomentosaPhytolacca dioica

Calophyllum brasilienseCariniana estrellensis

Cedrela fissilisCedrela odorata

Hymenaea courbarilJacaranda puberula

Mimosa scabrellaPsidium cattleyanum

Schinus terebinthifoliusSyagrus romanzoffiana

Handroanthus heptaphyllusMelia azedarach

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Page 53: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

52

áReA RePReSA_RIo_CAChoeIRA1

A amostragem da área foi realizada no mês de fevereiro de 2011, após 15 meses do plantio, sendo observada uma altura média de 21,4 cm e taxa de mortalidade média de 10,36%, nas 7 parcelas amostrais avaliadas na área. As informações sobre a riqueza florística, encontrada nas parcelas no momento da avaliação, estão apresentadas na figura 2.

Figura 2 - Riqueza florística encontrada nas 7 parcelas amostrais avaliadas

A área avaliada apresentou um riqueza florística de 67 espécies nas análises reali-zadas, sendo que outros 16 indivíduos não puderam ser identificados. Não foram encontrados indivíduos exóticos nas parcelas amostradas, atribuindo-se a este fato a troca do fornecedor de mudas, visto problemas enfrentados em outras áreas, como comentado para a área Taia-çupeba.02. A média encontrada para o fator altura das mudas, foi inferior a esperada para um reflorestamento com 15 meses. Contudo, um incêndio ocorrido 10 meses após o plantio, portanto 5 meses antes da avaliação, provocou perdas de aproximadamente 70% das mudas na área, sendo estas repostas após 2 meses do incêndio. Este fato, aliado ao estresse provocado

Número de indivíduos

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Psidium cattleyanumEsenbeckia leiocarpaSenegalia polyphylla

Enterolobium contortisiliquumCitharexylum myrianthum

Croton urucuranaPeltophorum dubium

Phytolacca dioicaSchinus terebinthifolius

Handroanthus heptaphyllusCasearia sylvestris

Colubrina glandulosaAspidosperma polyneuron

Calophyllum brasiliensisChorisia speciosa

Inga veraSparattosperma leucanthum

Syagrus romanzoffianaHymenaea courbaril

Myrsine umbellataCabralea canjeranaCroton floribundus

Inga laurinaLafoensia pacari

Myrcia tomentosaTriplaris brasiliana

Albizia niopoidesEugenia uniflora

Genipa americanaGuazuma ulmifolia

Araucaria angustifoliaGallesia integrifolia

Jacaranda puberulaMimosa bimucronata

Senna multijugaCedrela fissilis

Ficus guaraniticaGochnatia polymorpha

Maclura tinctoriaMagnolia ovata

Plinia truncifloraAlchornea glandulosa

Annona crassifloraEsenbeckia febrifuga

Eugenia involucrataFicus insipida

Ficus sp.Handroanthus ochraceusNectandra megapotamicaRhamnidium elaeocarpum

Senna macrantheraSenna obitusifolia

Tabernaemontana hystrixZanthoxyllum hyemale

Aegiphila integrifoliaBastardiopsis densiflora

Cariniana legalisCassia grandis

Cassia leptophyllaCecropia hololeuca

Copaifera langsdorffiiCordia superba

Cordia trichotomaErythrina speciosaEugenia pyriformis

Holocalyx balansaePseudobombax grandiflorum

Represa Rio Cachoeira 1

Page 54: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

53

nas mudas sobreviventes, acarretou em uma diminuição da média obtida, bem como na difi-culdade da identificação de algumas espécies. Para esta área, em virtude dos fatos ocorridos, o tempo de manutenção também foi ampliado.

áReA RePReSA_RIo_CAChoeIRA4

A amostragem da área foi realizada no mês de fevereiro de 2011, decorridos 8 meses do plantio. Os valores registrados para a altura média das mudas foi de 18,70 cm e taxa de mortalidade média de 10,63%, considerando as 8 parcelas amostrais. As informações sobre a riqueza florística, encontrada nas parcelas, estão apresentadas na figura 3.

Figura 3 - Riqueza florística encontrada nas 8 parcelas amostrais avaliadas

A área avaliada apresentou um riqueza florística de 57 espécies para as parcelas analisadas, contudo foi verificado um alto número de indivíduos que não puderam ser identi-ficados, principalmente por conta das características morfológicas que possuíam no momento da avaliação, somando-se um total de 48 indivíduos. Após dois meses da avaliação, foi re-alizado um replantio de mudas, nos locais onde houve falhas no pegamento, que ocorreram devido a um somatório de fatores (época de seca, mortalidade natural, ataque por formigas

Número de indivíduos

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Inga vera Esenbeckia leiocarpaPeltophorum dubium

Myrcia tomentosaPsidium cattleyanumColubrina glandulosaSenegalia polyphylla

Croton urucuranaEnterolobium contortisiliquum

Inga laurinaBastardiopsis densiflora

Cariniana estrellensisGochnatia polymorpha

Lafoensia pacariMyrsine coriaceae

Alchornea glandulosaCalophyllum brasiliense

Genipa americanaHymenaea courbaril

Mimosa bimucronataTriplaris brasiliana

Anadenanthera colubrinaChorisia speciosa

Citharexylum myrianthumCroton floribundus

Inga marginataMaclura tinctoria

Phytolacca dioica Solanum granulosoleprosum Aspidosperma cylindrocarpon

Astronium graveolensCabralea canjerana

Campomanesia pubescensCordia superba

Erythrina speciosaEugenia unifloraGuarea guidonia

Handroanthus vellosoiPterogini nitens

Syagrus romanzoffianaTapirira guianensis

Aspidosperma parviflorumAspidosperma polyneuron

Casearia sylvestrisEsenbeckia febrifuga

Ficus guaraniticaHandroanthus chrysotrichus

Handroanthus ochraceusLuehea divaricataMiconia brunnea

Pithecellobium incurialePrunus myrtifolia

Rhamnidium elaeocarpumSchinus terebinthifolius

Tabernaemontana hystrixTibouchina granulosa

Zanthoxylum ridelianum

Represa Rio Cachoeira 4

Page 55: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

54

cortadeiras e incêndio parcial). Uma nova avaliação da área está prevista para o final do pró-ximo período chuvoso (março/2012), entretanto os dados obtidos nesta primeira avaliação, já forneceram importantes informações que subsidiaram as decisões quanto a uma série de procedimentos que foram necessários para a área Represa_Rio_Cachoeira4.

Devido a mortalidade inicial observada e principalmente à altura média constata-da para as mudas, uma importante decisão que abrangeu todas as áreas reflorestadas pela Cor-pus foi tomada, tratou-se da substituição do recipiente que vinha sendo utilizado, de 56 cm³, por recipientes de 290 cm3. Esta decisão foi embasada em dados obtidos em experimentação científica (Barbosa, 2011), que mostraram o melhor desenvolvimento e resistência a estresses pós plantio para algumas espécies produzidas nestes recipientes de maior volume.

ConCLuSõeS

Apesar do planejamento criterioso durante a elaboração de projeto técnico, prin-cipalmente quanto à seleção de mudas e diversidade utilizada para cada local, informações obtidas nas amostragens realizadas apontaram a saída de espécies não pioneiras do sistema, ou seja, a mortalidade por provável falta de condições ambientais propícias ao desenvolvi-mento inicial de algumas espécies desta categoria sucessional, o que acarretou, de modo ge-ral, na diminuição da diversidade encontrada nas áreas reflorestadas. Com isso, sugere-se que haja uma revisão quanto ao momento mais adequado de inserção de espécies ocorrentes em estágios mais finais da sucessão, considerando-se as diferentes situações de áreas degradadas.

Dentre outras dificuldades encontradas nos reflorestamentos realizados, pode-se destacar a constante interferência causada pela ocupação humana próxima às áreas de plantio, em especial nas áreas do município de Piracaia – SP, ocorrida pela soltura de animais nas áreas de plantio, mesmo com a implantação de barreiras (cercas) no entorno destas. As equipes de campo, por vezes puderam observar alguns moradores da região aproveitando-se de uma situa-ção criada com o intuito de preservar os plantios, utilizando-se dos cercamentos para facilitar o trato com os animais, soltando-os à noite, nas áreas, e recolhendo-os ao amanhecer. A presença constante destes animais provocou danos imensuráveis às mudas plantadas, pois ora os animais alimentavam-se, ora provocavam danos por pisoteio ou ao deitar sobre as mudas. Sempre que constatada a presença dos animais nas áreas, a equipe técnica comunicava à DERSA e à Polícia Militar Ambiental sobre o ocorrido, e quando possível “tocava” os animais da área.

Outro fator que causou interferência no reflorestamento foi a presença de espécies exóticas, encontradas nas áreas de plantio, como por exemplo o Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth, ou espécies plantadas que tiveram origem em falha durante a expedição de mudas, no viveiro que inicialmente fornecia as mudas. Com a constatação destes problemas durante a realização da amostragem, foi possível orientar as equipes de campo para que removessem estas espécies problema, substituindo as mudas plantadas por espécies nativas regionais, du-rante os procedimentos normais de manutenção nas áreas, e como já mencionado, substituir o fornecedor de mudas por um viveirista idôneo.

Apesar destes aspectos, a maior causa de prejuízo aos reflorestamentos rea-lizados pela Corpus foram os incêndios, ocorridos durante os períodos de estiagem, que afetaram aproximadamente 130 hectares nas diversas áreas reflorestadas no ano de 2010 e aproximadamente 50 hectares em 2011. Somente no município de Piracaia, incêndios atin-giram mais de 100 hectares em 2010, mesmo com a adoção de medidas preventivas como a manutenção de aceiros e a instalação de placas, sinalizando a restauração das APPs da represa. Em 2011, com o objetivo de se minimizar as perdas por incêndios, as equipes de campo passaram por treinamentos de combate a incêndios florestais, realizado em parceria estabelecida pela DERSA e empresas reflorestadoras, com o Corpo de Bombeiros da Polí-cia Militar do Estado de São Paulo.

Page 56: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

55

Cabe ainda ressaltar que a maior parte dos plantios realizados ao longo da faixa de domínio do rodoanel, abrangendo os municípios de São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá, possuíam um solo totalmente desestruturado fisicamente, por terem, dentre outras razões, sido utilizados para o depósito de material inerte excedente da obra, onde as análises efetuadas demonstraram tratar-se de solos extremamente pobres quanto a sua fertilidade. Uma das ações realizadas, para promover a melhoria da condição do sítio de estabelecimento das mudas que seriam nestas áreas plantadas, foi a aplicação de corretivos de solo associados ao acréscimo de matéria orgânica proveniente de substrato já exaurido na produção de cogume-los, contudo ainda com muitos nutrientes lábeis.

Como conclusão geral, pode-se afirmar que as amostragens realizadas serviram para subsidiar diversas das ações corretivas, adotadas nos plantios estudados, e que as visto-rias técnicas, realizadas em conjunto com técnicos da DERSA e do Instituto de Botânica de São Paulo, têm proporcionado excelentes trocas de experiências, refletindo em um expressivo ganho para o programa de reflorestamento da DERSA.

ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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ReGIStRoS FotoGRáFICoS

A B C

d e F

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(A) Instalação de parcela amostral; (B) e (C) Identificação das mudas; (D) e (E) Incêndio na área represa_rio_Cachoeira1 em setembro de 2010; (F) Situação da área represa_rio_Ca-choeira1 em maio de 2011; (G) e (H) Incêndios nas áreas represa_rio_Cachoeira3 e 4 em setembro de 2010; (I) Atuação da equipe na área após ocorrência de incêndio; (J) Replantio das áreas afetadas pelos incêndios; (L) Ataque intenso de formigas cortadeiras; (M) Presença constante de animais nas áreas de plantio; (N), (O), (P) e (Q) Área de plantio na represa de Taiaçupeba em outubro de 2009, janeiro de 2010, setembro de 2010 e maio de 2011, respecti-vamente; (R) Área no município de Mauá, incendiada em agosto de 2010; e (S) e (T) Situação da área de Mauá em outubro de 2010 e fevereiro de 2011 respectivamente.

G h j

K L M n

o P q

R S t

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EXPERIÊNCIAS DA VERDYCON CONSERVAÇÃO LTDA. NA EXECUÇÃO DE 338 HECTARES DE PLANTIOS COMPENSATÓRIOS DO RODOANEL TRECHO SUL

Luís Vicente Brandolise Bufo1

Carlos Henrique Álvares Affonso2

Maycon de Oliveira3

1. IntRodução

A construção do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas, inaugurado em abril de 2011, promoveu a supressão de 212 ha de vegetação de Floresta Ombrófila Densa (FOD) em estágios médio e avançado de regeneração. Em contrapartida, foi estabelecido o compromisso de reposição florestal em 1016 ha, devendo parte do plantio ser obrigatoriamente efetuado dentro da faixa de domínio do empreendimento.

As definições básicas das ações de restauração previstas para a execução do plan-tio compensatório foram estabelecidas no Termo de Referência (TR) do processo licitatório N° 015/2008, além das recomendações da resolução SMA 08/08 e da chave para tomada de decisão para recuperação de áreas degradadas (Barbosa e Barbosa, 2007). Estas duas últimas ferramentas foram concebidas com base no aprendizado adquirido ao longo dos anos, por meio da observação e da experimentação prática de teorias criadas no campo da restauração.

A empresa Verdycon Conservação Ltda., por meio de seu corpo técnico, colocou em prática estes conhecimentos, técnicas e modelos atualmente consagrados, atuando desde a concepção dos projetos até a implantação e manutenção de aproximados 338 ha que lhe foram indicados, para a restauração através de contrato licitatório.

2. oBjetIvo

O presente artigo tem como objetivo descrever os principais fatores determinantes dos casos de sucesso e insucesso, dificuldades e soluções encontradas nos plantios realizados pela Verdycon Conservação Ltda, na execução dos plantios compensatórios do Rodoanel Tre-cho Sul, e assim contribuir através da experiência prática e da visão crítica, com o acúmulo de conhecimento no campo da restauração.

3. CARACteRIzAção GeRAL dAS áReAS deStInAdAS à ReStAuRAção

As áreas objeto de restauração pela empresa Verdycon abrangem 337,75 ha, dis-tribuídos nos municípios paulistas de Cotia, São Paulo, Piracaia e Salesópolis, todos no Bio-ma Mata Atlântica. No município de Cotia somam 109,5 ha, localizados dentro da Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG). Em São Paulo, os plantios ocorrem nas proximidades do Rodoanel, em 59 áreas distintas, distribuídas em quatro unidades de conservação (recém criadas como medida mitigatória dos impactos da obra do Rodoanel Sul), abrangendo um

1 Engenheiro Florestal, Mestre, [email protected] Engenheiro Agrônomo, [email protected] Engenheiro Agrônomo, [email protected]

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total de 117,7 ha na região sul do município. A área de Piracaia abrange 77,1 ha, localizados às margens da Represa do Rio Cachoeira, numa área pertencente à SABESP e em Salesópo-lis somam 34,6 ha, às margens do Rio Paraitinga, numa área administrada pelo DAEE. As áreas de Cotia e São Paulo sobrepõem-se sobre a região de domínio da FOD, enquanto as de Piracaia e Salesópolis ocorrem sobre uma faixa transitória desta formação para a Floresta Estacional Semidecídua (FES) (Kronka et al., 2005).

4. dIFICuLdAdeS e SoLuçõeS enContRAdAS PeLA eMPReSA

4.1. LIMItAçõeS FíSICo-quíMICAS doS SoLoS dA ReGIão

As regiões de domínio da FOD, de maneira geral, são caracterizadas pela ocor-rência de solos de elevada acidez e baixa fertilidade. As análises de solo, realizadas para as áreas de plantio localizadas na região sul do município de São Paulo, apresentaram pH sem-pre inferiores a 5, mesmo para aquelas utilizadas anteriormente em culturas exigentes, como a produção de hortaliças. Elevados teores de silte e argila são características predominantes destes solos, o que, neste caso, confere-lhes deficiência de aeração e drenagem, condição bastante prejudicial ao desenvolvimento das mudas. Em várias áreas de plantio localizadas no município de São Paulo, principalmente naquelas utilizadas anteriormente para agricultura, é comum a ocorrência de uma camada de compactação subsuperficial do solo, que varia em geral de 10 a 30 cm de profundidade, podendo aflorar em locais onde o solo foi arrastado pela erosão. Esta compactação subsuperficial dificulta a infiltração da água e favorece a erosão das camadas superficiais.

4.1.1. áReAS de CoRte de SoLo, eMPRéStIMo e dePóSIto de MAteRIAL

exCedente (dMe)

As áreas destinadas à restauração, resultantes do corte de terreno para empréstimo de solo ou para readequação do relevo, em atendimento às demandas da obra da rodovia apre-sentaram em geral elevada mortalidade de mudas. Isto ocorre porque, na maioria das vezes, o mesmo modelo de implantação utilizado nas áreas de relevo natural é repetido para estas situações, onde os horizontes profundos de solo foram expostos após a remoção das camadas superficiais. Na região sul do município de São Paulo, os solos resultantes desta remoção caracterizam-se por serem extremamente argilosos ou siltosos, pobres em matéria orgânica e nutrientes, ácidos e deficientes em aeração e drenagem. Contribui para o agravamento desta situação a conformação plana do terreno destinado ao plantio, que dificulta o escoamento superficial. É comum, nestas áreas, mesmo após vários dias da ocorrência de uma chuva, a formação de poças d’água sobre as coroas das mudas. Para a maioria das espécies, esta situa-ção desfavorece a sobrevivência das mudas ou o desenvolvimento satisfatório, inviabilizando o fechamento de copas. Após várias experiências mal sucedidas de estabelecer plantios com alta diversidade nestas situações, a equipe técnica da empresa realizou um levantamento das espécies mais resistentes nestas condições, chegando a uma lista composta por 42 espécies. Nos replantios e plantios recentes sobre este tipo de área, onde esta lista restrita de espécies foi adotada, observou-se uma redução significativa nas taxas de mortalidade. Somente após o estabelecimento destas espécies serão realizados plantios de enriquecimento na área.

Já nos DMEs, ao invés do empréstimo há a deposição de solo, entulho e rocha que são compactados para estabilização das camadas. Após a deposição, uma camada superficial de solo é adicionada para possibilitar o desenvolvimento de cobertura vegetal. As condições do solo para o plantio nas DMEs são semelhantes às áreas de empréstimo. Contudo, depen-dendo do tipo do material e do grau de compactação da área, pode haver locais de maior e menor aptidão ao desenvolvimento das mudas. A identificação e mapeamento destas situa-

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ções, no campo, nem sempre é simples e um mesmo DME pode ter manchas de plantio com diferentes resultados. Nos DMEs localizados no município de São Paulo, as áreas críticas ao desenvolvimento das mudas foram descartadas do plantio e nas áreas restantes foi adotado o plantio com o grupo restrito de 42 espécies, sendo os resultados de sobrevivência e desenvol-vimento das mudas, até o momento, satisfatórios.

4.2. áReAS SujeItAS à GeAdAS

Os plantios da zona sul do município de São Paulo e na RFMG em Cotia (SP) sofreram eventos de geada. Na primeira área, a única consequência foi a queima parcial das folhas de algumas plantas, não sendo constatados danos reais ao plantio. Já nos plantios da RFMG, as geadas foram mais frequentes e intensas. Desde o início do plantio na reserva, em março de 2009, foram observadas na área sete geadas, sendo três delas no inverno de 2009, duas em 2010 e duas em 2011.

As geadas de 2009, além de severas, ocorreram num período inicial de desenvol-vimento das mudas, acarretando, neste primeiro ciclo, mortalidade e atrasos significativos ao desenvolvimento do plantio. No verão seguinte, com o aumento das chuvas e o uso in-tenso das estradas de terra que acessam a área de plantio, por veículos pesados das equipes de manutenção da estrada de ferro que corta a reserva, as estradas ficaram intrasitáveis e as manutenções destes plantios ficaram atrasadas. Com este atraso, a samambaia-do-campo (Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Maxon), espécie competidora dominante no local, teve um grande crescimento, chegando a cobrir as mudas implantadas. No início do inverno de 2010, as estradas foram reformadas, mas numa reunião entre as equipes técnicas da Verdycon, DERSA e SABESP (responsável pela RFMG), concluiu-se que a cobertura promovida pela samambaia-do-campo poderia minimizar os efeitos da geada sobre as mudas. Sem compro-metimento com o rigor científico, em uma pequena área foi realizado o controle das samam-baias, como testemunha dessa experiência. No decorrer daquele inverno ocorreram duas gea-das e aparentemente, nestes dois eventos, a queima das mudas foi bem menos pronunciada nas áreas em que a samambaia foi mantida. Em setembro de 2010, as atividades de manutenção da área com o coroamento e a roçada seletiva das samambaias foram retomadas. As mudas plantadas obtiveram um bom desenvolvimento nesse período. No início do inverno de 2011, toda a área de plantio da RFMG estava devidamente manejada, com as mudas coroadas, adu-badas e com a samambaia controlada com roçada de forma seletiva, em toda sua extensão. Em 16 de junho de 2011 ocorreu uma forte geada, que promoveu a desseca de muitas mudas, principalmente daquelas localizadas nas partes mais baixas do terreno. Esta geada, extrema-mente severa, provocou a morte, a perda das folhas ou a queima das partes aéreas mesmo das arvoretas já formadas. Quando as mudas sobreviventes começaram a rebrotar (muitas delas a partir da altura do colo da planta), uma nova geada acometeu o plantio, no dia 30 de julho de 2011, ocasionando mais atrasos em seu desenvolvimento. As perdas de mudas ocorridas até o momento em função das geadas ainda não foram computadas, mas estima-se que seja da ordem de 40 %.

É importante ressaltar que no plantio destas áreas foram utilizadas 135 espécies de ocorrência natural da FOD, formação original da reserva (Catarino et al., 2004; Kronka et al., 2005). Contudo, na seleção das espécies para o plantio não foi considerada a possibilidade de geada nessas áreas. Em regiões de clima frio, muitas das espécies que sobrevivem no inte-rior dos remanescentes florestais dificilmente sobreviveriam, ou passariam isentas dos efeitos das geadas quando plantadas em áreas abertas. No interior das áreas florestadas, a variação térmica é muito menor, não havendo ocorrência de geadas, explicando assim a não aptidão de muitas destas espécies quando expostas a este evento climático. Além disso, em regiões de clima frio, existem variedades selecionadas naturalmente ao longo do tempo, para resistirem nesse ambiente. Diante destas constatações e observações, conclui-se que para plantios em

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áreas sujeitas a geadas, devem ser usadas espécies regionais que sejam comprovadamente resistentes a esses eventos, mesmo que isso represente uma menor diversidade específica, medida que já está sendo considerada pela empresa, no replantio das falhas. A alta diversidade será adquirida gradualmente pelo aporte de sementes do entorno, à medida que a fisionomia florestal comece a prevalecer na área.

Apesar do equivocado uso de elevada diversidade de espécies no plantio das áreas da RFMG, um resultado que merece ser destacado é o aporte de indivíduos da regeneração natural na área, preservados pelo método seletivo de controle de competidores. Em avaliação fi-tossociológica da regeneração natural, após as atividades de roçada seletiva (Bufo, et al., 2009), verificou-se que o número de indivíduos arbustivos arbóreos preservados superou em muito qualquer densidade de plantio usualmente adotada em projetos de restauração no Brasil. Nes-sa avaliação, considerando apenas os indivíduos arbustivos arbóreos regenerantes com altura igual ou superior a 50 cm, foi constatada uma densidade de 6.866 indiv.ha-1, de 32 espécies, 29 gêneros e 13 famílias botânicas. Destes, 57,28% são de espécies arbóreas, 35,68% de espécies arbustivas, e apenas 7,04% de espécies herbáceas. Não foi incluída nessa análise a samambaia--do-campo. Esta foi analisada separadamente, conferindo uma densidade de 5.855 indiv.ha-1.

Outro indício de sucesso das intervenções no sítio de plantio, até o momento, foi o rompimento de um ciclo, geralmente bianual, da ocorrência de incêndios que acometiam a área há mais de duas décadas, retornando a vegetação local sempre a um estágio pioneiro ou inicial. Com o aumento da densidade de indivíduos e redução da cobertura pela samambaia, diminuindo a massa vegetal seca durante o inverno, pretende-se romper definitivamente este ciclo de queimadas, dando condições à evolução do estágio sucessional da vegetação.

4.3. InteRFeRênCIAS AntRóPICAS

Além das diferentes variáveis ambientais naturais que influenciam a sobrevivência e o desenvolvimento dos plantios, existem ainda as interferências antrópicas, em geral tanto mais fre-quentes quanto mais próximos a regiões de ocupação humana. Nos plantios da Verdycon, a soltura de animais (gado e cavalo) para pastoreio em seu interior é a interferência mais frequente. Além de se alimentarem das mudas, os animais também promovem seu pisoteio e podem levar os plantios a elevadas taxas de mortalidade. Como medida preventiva, as áreas consideradas potencialmente sujeitas à invasão pelos animais foram inteiramente cercadas. Contudo, nem sempre as cercas instaladas têm sido respeitadas, havendo casos em que as mesmas foram cortadas e até mesmo roubadas. Esforços conjuntos entre equipes de campo da empresa, o DERSA e órgãos responsá-veis pelas unidades têm sido feitos, no sentido de se vistoriar frequentemente os plantios, a fim de identificar e solucionar estes problemas logo no início, evitando que os danos sejam maiores.

Nos períodos de estiagem prolongada, o fogo passa a ser o foco das atenções destas equipes de monitoramento e, até o momento, poucas e pequenas áreas de plantio da Verdycon foram queimadas. Como medidas preventivas, a empresa tem adotado o uso de aceiros e a instalação de placas indicativas de áreas em restauração. Contudo, a medida que parece surtir melhor resultado no controle dos incêndios é a manutenção em dia das áreas, com coroas amplas e a roçada baixa dos capins em área total, reduzindo assim o acúmulo de matéria seca sobre o solo.

4.4. eSPéCIeS InvASoRAS

Em algumas das áreas de plantio localizadas no município de São Paulo, um problema recente e que vem se acentuando é a predação de mudas pela lebre-européia (Lepus europaeus). Trata-se de uma espécie exótica originária da Europa e de parte da Ásia, que apresenta notável capacidade de adaptação, ocupando tanto florestas quanto áreas abertas, fato que a conduziu ao sucesso no Brasil (Peracchi et al., 2002), sendo atualmente encontrada em todos os estados do sul e sudeste (Rei et al., 2006). A lebre alimenta-se da parte aérea de plantas jovens, incluindo folhas e

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caule, quando o diâmetro de colo das mudas ainda é pequeno. As observações de campo apontam que as plantas predadas possuíam, em geral, diâmetro de colo inferior a 0,7 cm.

As áreas mais afetadas por este problema estão localizadas na região dos Parques Bororé e Varginha, sul do município de São Paulo, principalmente nos plantios e replantios mais recentes, realizados a partir de outubro de 2010. O aumento dos prejuízos do plantio na região pode estar associado à remoção dos cães domésticos, principal predador da lebre--européia, que ocorreu juntamente com a desapropriação das terras ao longo do traçado do Rodoanel e das unidades de conservação criadas.

Uma alternativa para contornar este problema seria a implementação de cercados individuais, compostos de telas plásticas ou lonas, esticadas por quatro pequenas estacas de madeira, no entorno da muda. Contudo, trata-se de uma medida de elevado custo e não pre-vista no orçamento dos plantios. Uma alternativa a essa medida seria promover o controle da lebre-européia, seguindo parâmetros legais.

5. AvALIAçõeS dAS áReAS de PLAntIo

Com o objetivo de avaliar se os parâmetros de diversidade, estabelecidos na Re-solução SMA 08/08, foram atendidos nos plantios e quantificar a mortalidade ocorrida em cada área implantada, para cálculo da necessidade de replantio, foram adotados dois métodos amostrais, aqui denominados método LMQ (Barbosa, 2009) e método IBSP.

5.1. Método LMq

Desenvolvido pelo Laboratório de Métodos Quantitativos (LMQ) da ESALQ/USP e pesquisadores do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo (IBSP), trata-se de um método de amostragem no qual são instaladas parcelas no campo, compostas de quatro linhas de plantio com 10 plantas ou falhas cada. Para cada indivíduo da parcela são anotados altura e espécie, ou “falha”, quando isto ocorrer. O método é aplicado com a finalidade de estimar a riqueza de espécies, altura do plantio e a taxa de mortalidade com erro amostral determi-nado, e foi utilizado em áreas de plantio da zona sul do município de São Paulo, onde foram instaladas 38 parcelas em quatro áreas de plantio próximas entre si. As análises foram feitas individualmente para cada área e agrupadas, para representar o todo.

5.2 ReSuLtAdoS do Método LMq

Os resultados da amostragem são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Resumo dos resultados obtidos da amostragem de campo feita de acordo com mé-todo LMQ, em plantios com espaçamento 2x2 m, na Zona Sul do município de São Paulo, SP.

LOCAL:Idade

(meses)PA

Altura (H) Falhas (F) D. Abs. (Ind.ha-1)

RHmed(cm) E (%) EN F (%) E (%) EN

PQ. JACEGUAVA.01 5 10 62,13 6,41 4 29,9 26,56 71 1753 64,0

PQ. JACEGUAVA.11 1 8 35,87 7,22 4 5 56,4 251 2375 71,0

PQ. LINEARII.04 4 10 37,1 8,36 7 13,25 29,6 88 2169 73,0

PQ. VARGINHA.04 5 10 37,31 8,55 7 15,5 23,22 54 2113 69,0

Análise conjunta 1-5  38 43,48 7,85 23 16,48 20,92 166 2188 116

Onde:PA –número de parcelas avaliadas; Hméd – altura média das mudas em cm.; E (%) – erro amostral obtido para o parâmetro avaliado; EN – esforço amostral necessário para erro amos-tral de 10% (em nº de parcelas); F (%) – porcentagem de falhas; D. Abs. (Ind.ha-1) – Densida-de absoluta em n° de indivíduos vivos em cada hectare; R – Riqueza de espécies.

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Foram amostrados 1520 indivíduos ou falhas, para as quais foram identificadas 116 espécies. Os resultados das análises mostraram que a altura média dos indivíduos variou entre as áreas de 35,87 a 62,13 cm. Na análise conjunta das áreas, a altura média foi de 43,48 cm. A estimativa da porcentagem de falhas variou de 5 a 29,9% e, na análise conjunta, esta porcentagem foi de 16,48 %. Para os dados de porcentagem de falhas, tanto individualmente como na análise conjunta das áreas, o erro amostral foi sempre superior ao desejado de 10 %, havendo a necessi-dade da instalação e avaliação de um maior número de parcelas. Por fim, pode-se concluir que dos 1520 indivíduos amostrados (equivalente ao espaçamento de 2x2 m a 0,6 ha), a ocorrência de 116 espécies indica o atendimento pleno da exigência de 80 espécies da Resolução SMA 08/08.

5.3. Método IBot

O segundo método, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Botânica de São Paulo (IBOT), tem como objetivo prático fornecer uma estimativa de mortalidade através de le-vantamentos expeditos simples, sem a necessidade de instalação de parcelas. O método consiste na seleção ao acaso de duas linhas paralelas de plantio. Em cada linha, são tomadas 50 plantas e anotado o número de plantas vivas e mortas. A soma das duas linhas totaliza 100 plantas e o número de plantas mortas é convertido diretamente em porcentagem de mortalidade.

Quando as áreas apresentam mosaicos de maior ou menor taxa de sobrevivência, as amostragens e as análises são estratificadas, de modo a se ter resultados mais representativos para cada situação. Em áreas homogêneas de grandes dimensões devem ser feitas várias amostras e calculada a média das porcentagens de mortalidade. Este método tem como principal vantagem a possibilidade de se fazer amostras de muitas áreas, com pequeno esforço amostral. Entre as des-vantagens estão o resultado pouco preciso, o erro amostral não controlado e a ausência de informa-ções sobre riqueza de espécies e sobre a altura média do plantio. Entretanto, o método atende bem às necessidades da empresa para estimar as falhas e calcular o total de mudas a serem replantadas, podendo ser aplicado a um grande número de áreas, num curto espaço de tempo.

5.4. ReSuLtAdoS do Método IBot

O método IBOT foi aplicado em todas as 52 áreas de plantio localizadas na zona sul do município de São Paulo. Os resultados obtidos foram organizados em classes de mor-talidade. A Figura 1A apresenta o gráfico da distribuição das classes de mortalidade, pelo número de áreas. A Figura 1B apresenta o gráfico de distribuição das classes de mortalidade, pela porcentagem das áreas de plantio.

Figura 1. Distribuição das classes de mortalidade pela porcentagem do número de áreas (A) e distribuição das classes de mortalidade pela porcentagem da área total de plantio (B).

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Os resultados mostraram que das 52 áreas avaliadas, as classes de mortalidade mais frequentes foram 20 a 30%, ocorrendo em 42,4% das áreas, e 10 a 20%, ocorrendo em 40,7% das áreas. Juntas, estas duas classes representam mais de 80% do total do número de áreas avaliadas.

Considerando o total de hectares implantados no município de São Paulo, 43,7% deles apresentaram mortalidade entre 10 a 20%, e 42,9% apresentaram mortalidade de 20 a 30%. Estas duas classes de mortalidade ocorreram em mais de 86% da área total implantada. Com estes dados, a estimativa de replantio de mudas para as áreas da Verdycon, no município de São Paulo, é de 58.274 mudas (num total de 294.029).

6. APoIo à PeSquISA CIentíFICA

Com o intuito de colaborar com a pesquisa científica, a empresa Verdycon cedeu área, mão de obra, mudas e insumos para a realização de um experimento de mestrado, cujos objetivos foram avaliar as taxas de sobrevivência de plantios realizados com mudas produzi-das em três volumes de recipientes, e com a aplicação ou não de hidrogel. Os recipientes testa-dos foram a bandeja com células, que possuíam um volume de 9 cm³, o tubetinho com 56 cm³ e o tubetão com 290 cm³. Os resultados mostraram que houve diferença significativa na taxa de sobrevivência entre os diferentes recipientes testados, correspondendo a 14% de mortalida-de para o tubetão, 43,9% para o tubetinho e de 81,7% para as mudas provenientes da bandeja. Os testes com o uso ou não do hidrogel não diferiram estatisticamente. Este trabalho pode ser consultado na íntegra em www.teses.usp.br, com o título “Tamanhos de recipientes e o uso de hidrogel no estabelecimento de mudas de espécies florestais nativas” (Barbosa, 2011).

7. ConSIdeRAçõeS FInAIS

As experiências dos plantios compensatórios do Rodoanel Trecho Sul têm mos-trado que os resultados finais são dependentes do ambiente que se propõe a restaurar. Os métodos de restauração, os objetivos e o tempo de manejo propostos devem ser compatíveis com os recursos e limitações que o ambiente disponibiliza ao desenvolvimento das plantas. Utilizar um único modelo de restauração para uma variada gama de situações ambientais pode representar um maior gasto de recursos, sem que haja garantias de que o objetivo da restauração será atingido.

Em áreas sujeitas à geadas, o uso de uma elevada diversidade de espécies, no pri-meiro momento da restauração, pode inviabilizar o fechamento de copas e retardar a formação de uma fisionomia florestal, necessária para o estabelecimento das espécies intolerantes a este evento climático.

Em regiões de solos predominantemente argilosos, o uso de mudas produzidas em recipientes maiores permite maior sobrevivência de mudas do que aquelas produzidas em tubetinhos de 56 cm³, sendo esta vantagem mais acentuada para as espécies finais da sucessão. Estas direcionam suas energias e reservas para a produção de tecidos nobres, em detrimento à produção rápida de raízes e parte aéreas, necessárias para a sobrevivência em ambientes mais seletivos.

Nas áreas de corte, empréstimo de solo e DMEs, as limitações do solo devem ser muito bem avaliadas e mapeadas e a restrição a poucas espécies mais resistentes deve ser considerada, podendo a diversidade ser ou não adquirida ao longo do tempo em plantios adi-cionais, ou via regeneração natural, quando existir essa possibilidade.

Por fim, é importante destacar a limitação imposta pela legislação, ao determinar o período mínimo de dois anos de manutenção. Esta determinação, na prática, normatiza, na grande maioria dos casos, dois anos de manutenção para plantios compensatórios nos licen-

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ciamentos ambientais de empreendimentos diversos. No entanto, o que se nota é que, ao final de dois anos, boa parte das áreas implantadas ainda não atingiram condições de se autossus-tentar, mas os passivos são frequentemente quitados dentro desse período.

8. ReFeRênCIAS BILIoGRáFICAS

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ReGIStRoS FotoGRáFICoS

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MEDIÇÃO E MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE EM ÁREAS RESTAURADAS COM ESPÉCIES ARBÓREAS

Hilton Thadeu Zarate do Couto1

Tiago Cavalheiro Barbosa2

ReSuMo

O Brasil é um dos 17 países com a maior diversidade biológica e estima-se que tenha entre 15 e 20% de toda a biodiversidade mundial, com o maior número de espécies en-dêmicas do globo. O processo de restauração consiste em assistir a recuperação de um ecos-sistema que está degradado, para que no futuro assemelhe-se ao estágio pré-perturbatório. A característica mais marcante de um ecossistema tropical é a diversidade biológica. Para que a biodiversidade das áreas degradadas seja restaurada, há necessidade que se conheça o ecos-sistema de referência e que as ações de restauração sejam adequadas, assegurando a maior diversidade. Para que o processo de restauração seja eficiente, medir e acompanhar a evolução da biodiversidade, procurando corrigir possíveis erros de implantação, é uma ação fundamen-tal. É através da medição e monitoramento, que se pode ter conhecimento do ecossistema de referência e acompanhar o processo de restauração. O processo de medição e monitoramento da diversidade biológica compreende diversas etapas, desde o processo de planejamento, o uso de imagens de satélite (sensoriamento remoto), a definição das variáveis de interesse, a amostragem e as análises e relatórios.

1. IntRodução

A biodiversidade é reconhecida como uma importante herança para a humani-dade. Os ecossistemas tropicais são sustentados pela biodiversidade, portanto a sua perda tem grandes implicações para o atual e futuro bem estar da humanidade. O fornecimento de alimentos, fibras, medicamentos e água potável, a polinização das culturas, filtragem de poluentes e a proteção contra desastres naturais estão entre os serviços ameaçados pelo de-clínio e mudanças da biodiversidade. O relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), publicado em 2010, reconhece que são poucos os avanços ocorridos nos 199 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), na conten-ção das perdas da diversidade biológica, e que as pressões que conduzem a essa perda estão intensificando-se. Uma das medidas que visam à conservação da biodiversidade, desde que executada adequadamente, é a restauração ecológica dos ecossistemas em áreas degradadas. A restauração é mais complexa, a medida que o nível de biodiversidade aumenta. Nas regiões tropicais, onde a biodiversidade é maior, é praticamente impossível restaurar integralmente um ecossistema. Portanto, toda e qualquer restauração nos trópicos deve ter o rigor necessá-rio, desde o planejamento e seleção das espécies e elegibilidade das áreas, coleta de sementes, produção das mudas até o plantio e manutenção. Todas essas fases devem vir acompanhadas de avaliações, que assegurem a diversidade biológica do processo de restauração. Os benefí-

1 ESALQ/USP2 CORPUS – ESALQ/USP

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cios da restauração ecológica, ou sejam, os bens e serviços como a conservação de espécies, a melhoria do habitat para a sustentabilidade e a remoção de gases do efeito estufa, que por sua vez provirão os serviços e bens para a sociedade, podem ser prejudicados, se o processo de restauração não for adequadamente implantado e avaliado. A diversidade biológica é compos-ta de três níveis: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossistemas. A diversidade genética é importante, pois representa a matéria prima para a evolução e adap-tação das espécies. Quanto maior a diversidade genética, maior a capacidade de uma espécie adaptar-se às mudanças do meio ambiente, principalmente às mudanças climáticas. Portanto, ao restaurar uma área, todo o cuidado deve ser tomado na coleta de sementes, de modo a assegurar a diversidade genética das espécies utilizadas. Em geral, todos os estudos sobre bio-diversidade são focados nas espécies. Isto não é feito porque a diversidade de espécies é mais importante que as demais, mas por que é mais fácil de ser avaliada. A diversidade ecológica, embora reconhecida pelo UNEP como um componente importante para assegurar os serviços ambientais de um ecossistema, apresenta um conceito mais complexo. A definição mais aceita remete à diversidade das interações, que ocorrem dentro de uma comunidade e que surgem do número de grupos funcionais existentes.

A diversidade de espécies, em uma determinada área, pode ser classificada em diversidade alfa, beta e gama. A diversidade alfa é a diversidade de um grupo de organis-mos interagindo, competindo pelo mesmo recurso e compartilhando o mesmo ambiente. É também chamada de diversidade interna do habitat. A diversidade beta, ou diversidade entre habitats, refere-se à resposta dos organismos à heterogeneidade espacial. A diversidade gama é a diversidade de um bioma, ou de uma região geográfica.

O objetivo deste trabalho é apresentar os diferentes métodos de medição, com ên-fase na diversidade de espécies, assim como os principais métodos de amostragem utilizados para estimar e monitorar a diversidade biológica.

2. MedIção dA BIodIveRSIdAde

No processo de implantação da restauração de uma área degradada, da seleção de espécies à coleta de sementes, da produção de mudas ao plantio e manutenção, as espécies po-dem tornar-se raras ou abundantes, dependendo do número de mudas disponíveis para o plan-tio e da capacidade de sobrevivência da espécie no ecossistema. O processo de detecção das espécies, pertencentes a cada um desses grupos, depende do sistema de amostragem utilizado.

Uma rápida observação na literatura mostra uma grande quantidade de índices de diversidade. Como já dizia um antigo professor, quanto maior a complexidade dos sistemas, menor a chance de se encontrar um único meio de estudá-los. Entretanto é fundamental sa-ber o que estamos estudando. Há muita confusão quando se estuda ou se mede a diversidade biológica. Existem duas características importantes para ser avaliadas: riqueza e equidade ou equitabilidade. A riqueza é o número de espécies em um ecossistema e equidade é como se distribuem os indivíduos entre as espécies. Alta equidade, que ocorre quando as espécies apre-sentam semelhantes abundâncias, é relacionada a alta diversidade. A Figura 1 mostra duas comunidades vegetais com a mesma riqueza, mas com diferentes diversidades.

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Figura 1: Duas comunidades com a mesma riqueza, mas com diversidades diferentes

A Resolução da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que trata da restauração de áreas degradadas, define em 10% o máximo de indivíduos de uma espécie. Como apresentado na Figura 2, o índice de diversidade de Shannon pode ser de no mínimo 3,95. Se houver uma mudança para um máximo de 2% de indivíduos de uma espécie, o valor mínimo do índice seria de 5,74, ou seja, 46% a mais.

Figura 2: Comparação do índice de biodiversidade de Shannon (base 2) para a determi-nação contida na Resolução da SMA-SP e uma proposta de mudança

A medição da diversidade de espécies pode ser dividida em três principais cate-gorias: os índices de riqueza, os modelos de abundância e os índices baseados na abundância proporcional das espécies. Os índices de riqueza são essencialmente a medida do número de espécies em uma determinada amostragem. Os modelos de abundância descrevem a distribui-ção das abundâncias das espécies e representam situações de alta equidade, até situações de alta variação entre as abundâncias das espécies. Os índices baseados nas abundâncias propor-cionais das espécies são os mais usados e entre eles estão os índices de Shannon e de Simpson, que procuram representar a riqueza e a equidade em um único índice.

Quando uma área restaurada pode ser delimitada no espaço e no tempo e todas as espécies existentes na área são encontradas e identificadas, a riqueza de espécies é uma medição da diversidade extremamente útil. Se entretanto a área for relativamente grande, o que impede, por motivos óbvios, a contagem de todas as espécies, é necessário distinguir entre riqueza numérica de espécies, que é definida como o número de espécies por número de indivíduos amostrados (no caso de áreas restauradas pode-se informar o número de espé-cies por 1000 indivíduos amostrados), e densidade de espécies, que é o número de espécies

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por uma unidade de área (a literatura apresenta como número médio de espécies por m2). Para áreas restauradas com espécies nativas, a densidade de espécies é o mais indicado como índice para representar a riqueza, pois é comum o uso de parcelas de amostragem com área definida. Entretanto, deve-se tomar o cuidado para que a amostragem seja acurada e se tenha uma medida da precisão da estimativa. Quando a amostragem é arbitrária, pode conduzir a resultados erráticos.

Sabe-se que na amostragem, a riqueza, representada pelo número de espécies em uma área, é dificilmente obtida e algumas sugestões surgiram com o objetivo de estimar, através da amostra, o número esperado de espécies. Este método é denominado de rarefação e apresenta muitas críticas, embora alguns pesquisadores continuem a usá-lo. A principal restrição é quanto à perda de informação, pois após a rarefação, o que resta é o número de espécies por amostra. Entretanto, aplicar a rarefação sobre uma amostra não representativa da área estudada pode comprometer o resultado da análise. A Figura 3 apresenta dados obtidos no levantamento das áreas de compensação ambiental do Rodoanel Trecho Sul de São Paulo. É importante notar que a riqueza é função do esforço amostral.

Figura 3: Riqueza de espécies em função do esforço amostral em área de compensação ambiental do Rodoanel Trecho Sul, São Paulo.

Além da rarefação, outros índices de riqueza são citados na literatura, como os índices de Margalef e de Menhinick. Estes índices consideram o número de espécies na área e o número de indivíduos, mas não a proporção de indivíduos de cada espécie, portanto são pouco utilizados. A expressão mais compreensível de riqueza é o número de espécies por m2 e ainda pode-se ter uma medida de incerteza (erro amostral), que nos informa sobre a repre-sentatividade da amostragem.

Os modelos de abundância de espécies estudam a distribuição do número de es-pécies, em função da sua abundância. A Figura 4 apresenta a relação entre o número de indi-víduos e o número de espécies na amostra.

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Figura 4: Método do modelo de abundância para estimar riqueza de espécies

Quatro métodos são usados para modelar esta relação, as séries geométricas, as séries logarítmicas, a distribuição lognormal e o método da vara quebrada (broken stick) de MacArthur. Recomenda-se testar os quatro métodos, pois dependendo da distribuição dos dados, os métodos podem fornecer ajustes diferentes. Para comunidades de plantas arbóreas, o método da distribuição lognormal parece ser o mais indicado. A computação desses dados é trabalhosa e geralmente usam-se softwares específicos, pois para selecionar o melhor modelo que se ajusta aos dados, há necessidade do uso de teste estatístico como o teste Qui-quadrado. Após a seleção do modelo, o índice de riqueza é dado pela(s) estimativa(s) dos parâmetros da distribuição.

Os índices baseados na abundância proporcional das espécies são os mais utiliza-dos e mais populares. Estes índices medem a diversidade ou a equidade das espécies em um ecossistema. A diversidade é uma medida da heterogeneidade e a equidade, de homogenei-dade. A grande quantidade de “pacotes” computacionais para calcular esses índices levam alguns pesquisadores a calcular a maior quantidade possível, sem considerar as reais necessi-dades do estudo. Todos os índices são dependentes da amostragem que seja representativa do ecossistema em estudo, para que os objetivos do estudo sejam atingidos.

São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da hetero-geneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amos-tral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker pos-sibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o con-ceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da heterogeneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker possibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o conceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

O índice de Simpson fornece a probabilidade de dois indivíduos selecionados

aleatoriamente, de uma comunidade infinitamente grande, pertencer a mesma espécie. A fórmula originalmente apresentada por Simpson é:

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i presente na amostra e n o número total de indivíduos de todas as

espécies presentes na amostra. Para uma comunidade finita, a fórmula utilizada é:

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Há uma relação inversa entre o valor do índice de Simpson proposto e a diversidade.

Se o valor de D aumenta, a diversidade diminui. Por motivos óbvios, o índice de Simpson é usado como D’ = 1/D. É possível também utilizar o índice de Simpson como uma medida de equidade. O índice de Simpson expressa a dominância das espécies mais abundantes, em detrimento a riqueza. Portanto, para obtenção da equidade, é necessário dividir o valor do índice de Simpson (D’) pelo número de espécies (S) na amostra, como é apresentado na fórmula:

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O índice de Shannon é um dos mais usados índices de diversidade, na maioria dos

trabalhos apresentados na literatura. A fórmula foi originada na teoria da informação e sua

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São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da hetero-geneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao es-forço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma

Quando uma medida de

São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da heterogeneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker possibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o conceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

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Se o valor de D aumenta, a diversidade diminui. Por motivos óbvios, o índice de Simpson é usado como D’ = 1/D. É possível também utilizar o índice de Simpson como uma medida de equidade. O índice de Simpson expressa a dominância das espécies mais abundantes, em detrimento a riqueza. Portanto, para obtenção da equidade, é necessário dividir o valor do índice de Simpson (D’) pelo número de espécies (S) na amostra, como é apresentado na fórmula:

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i presente na amostra e n o número total de indivíduos de todas as espécies pre-sentes na amostra.

Para uma comunidade finita, a fórmula utilizada é:

São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da heterogeneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker possibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o conceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

O índice de Simpson fornece a probabilidade de dois indivíduos selecionados

aleatoriamente, de uma comunidade infinitamente grande, pertencer a mesma espécie. A fórmula originalmente apresentada por Simpson é:

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Há uma relação inversa entre o valor do índice de Simpson proposto e a diversidade.

Se o valor de D aumenta, a diversidade diminui. Por motivos óbvios, o índice de Simpson é usado como D’ = 1/D. É possível também utilizar o índice de Simpson como uma medida de equidade. O índice de Simpson expressa a dominância das espécies mais abundantes, em detrimento a riqueza. Portanto, para obtenção da equidade, é necessário dividir o valor do índice de Simpson (D’) pelo número de espécies (S) na amostra, como é apresentado na fórmula:

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São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da heterogeneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker possibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o conceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

O índice de Simpson fornece a probabilidade de dois indivíduos selecionados

aleatoriamente, de uma comunidade infinitamente grande, pertencer a mesma espécie. A fórmula originalmente apresentada por Simpson é:

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Há uma relação inversa entre o valor do índice de Simpson proposto e a diversidade.

Se o valor de D aumenta, a diversidade diminui. Por motivos óbvios, o índice de Simpson é usado como D’ = 1/D. É possível também utilizar o índice de Simpson como uma medida de equidade. O índice de Simpson expressa a dominância das espécies mais abundantes, em detrimento a riqueza. Portanto, para obtenção da equidade, é necessário dividir o valor do índice de Simpson (D’) pelo número de espécies (S) na amostra, como é apresentado na fórmula:

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O índice de Shannon é um dos mais usados índices de diversidade, na maioria dos trabalhos apresentados na literatura. A fórmula foi originada na teoria da informação e sua associação com o conceito de entropia foi desenvolvida independentemente por dois pesqui-sadores, Shannon e Wiener. Alguns chamam este índice erroneamente de Shannon-Weaver, pois estes pesquisadores publicaram juntos um livro que contém esta fórmula. Contudo, índi-ce de Shannon é o nome consagrado. Este índice assume que os indivíduos são aleatoriamente amostrados, de uma comunidade infinitamente grande, e que todas as espécies são representa-das na amostra. O índice de Shannon é calculado pela expressão:

H’ = - ∑pi. log2 p

i, onde p

i é a proporção de indivíduos da espécie i na amostra.

Um dos problemas encontrados na comparação entre os valores desse índice, em diferentes trabalhos, é o logaritmo. São três as bases dos logaritmos encontrados na literatura: base 2 (usado no trabalho originalmente apresentado por Shannon), base neperiana e base 10. Os valores do índice de Shannon variam de acordo com a base logarítmica utilizada. Uma amostra de 20 parcelas, selecionadas sistematicamente na área restaurada no Rodoanel Tre-cho Sul, mostra que o índice de diversidade de Shannon, calculado usando a base 2, apresenta o valor de 6,13, para a base neperiana, de 4,25 e base 10, de 1,84. Muitos trabalhos na litera-

São quatro os índices de diversidade e equidade que apresentam justificativa, para uso em áreas restauradas com espécies nativas. Caso se pretenda ter uma medida da heterogeneidade, os índices α e de Simpson são os indicados. São pouco afetados pelo tamanho da amostra (esforço amostral), quando o número total de indivíduos amostrados (n) ultrapassa 1000. O índice de Shannon, apesar de sua popularidade, é bastante sensível ao esforço amostral. Uma das vantagens desse índice é poder comparar com outros trabalhos da literatura, pois tem sido usado nas pesquisas com diversidade no Brasil por mais de uma década.

Quando uma medida de dominância é necessária, o índice de Berger-Parker possibilita uma medida simples e de fácil interpretação.

O índice de diversidade α (não confundir com a diversidade α, segundo o conceito de Whittaker) é uma estimativa do parâmetro do modelo da série logarítmica. Quando se conhece S (número de espécies) e n (número total de indivíduos na amostra), o valor de α pode ser facilmente obtido através do cálculo de x por uma solução iterativa da fórmula:

O índice de Simpson fornece a probabilidade de dois indivíduos selecionados

aleatoriamente, de uma comunidade infinitamente grande, pertencer a mesma espécie. A fórmula originalmente apresentada por Simpson é:

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Há uma relação inversa entre o valor do índice de Simpson proposto e a diversidade.

Se o valor de D aumenta, a diversidade diminui. Por motivos óbvios, o índice de Simpson é usado como D’ = 1/D. É possível também utilizar o índice de Simpson como uma medida de equidade. O índice de Simpson expressa a dominância das espécies mais abundantes, em detrimento a riqueza. Portanto, para obtenção da equidade, é necessário dividir o valor do índice de Simpson (D’) pelo número de espécies (S) na amostra, como é apresentado na fórmula:

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tura brasileira não indicam a base utilizada, tornando difícil a comparação. Para transformar o valor do índice de diversidade de Shannon, calculado na base neperiana para a base 2, deve--se multiplicar o valor por 1,4427, da base 10 para a base 2, por 3,3219 e da base 10 para a base neperiana, por 2,3026. É importante dizer que estes índices só têm validade para efeitos comparativos. Por razões históricas, o logaritmo base 2 é geralmente utilizado, embora haja uma tendência do uso de logaritmos naturais (neperiano) para o cálculo. De qualquer forma, é fundamental que se informe a base logarítmica usada para o cálculo do índice de Shannon, pois as diferenças são grandes. Para calcular a equidade (J’) usando o índice de Shannon, utiliza-se a fórmula:

, onde S é o número de espécies existentes na amostra.

O índice de Berger-Parker (d) é uma medida simples de dominância. A fórmula é:

, onde nmax= número de indivíduos da espécie mais abundante e n, o

número total de indivíduos na amostra.Em comunidades com número de espécies (S) superior a 100, o valor de d é inde-

pendente de S, mas em valores inferiores a 100, o valor de d tende a diminuir com o aumento da riqueza (S).

3. AMoStRAGeM

Para a medição e monitoramento da diversidade, deve-se desenvolver um proto-colo de amostragem para que os resultados sejam precisos e acurados. Existem dois modos de abordagem para a amostragem, aquela em que o indivíduo é a unidade da amostra, ocorrendo avaliação sequencial, e o baseado em parcelas de tamanho fixo ou variável. Como já foi mos-trado, a riqueza ou a diversidade de espécies são dependentes do esforço amostral. Repetições sempre são recomendadas. Sempre é melhor ter pequenas unidades amostrais, distribuídas na área, do que uma única unidade, pois é através das repetições que se pode fazer as análises estatísticas, construir intervalos de confiança e calcular o erro amostral (precisão).

Utilizar indivíduos ou parcelas como unidades amostrais conduzem a resultados e conclusões diferentes. A distribuição de espécies na área nem sempre obedece ao padrão aleatório ou uniforme. Com o tempo, as áreas restauradas tendem a ter a distribuição agrupa-da, quer pelas condições ambientais locais ou pelas respostas apresentadas pelas espécies e seu padrão de dispersão. Portanto o uso da amostragem do indivíduo como unidade amostral, além de representar um alto custo, pode não representar a diversidade da área. O uso de par-celas de tamanho fixo ou com número fixo de indivíduos (quando o alinhamento do espaça-mento de plantio é visível) apresenta diversas vantagens. Além da estimativa dos índices de riqueza e diversidade, permite que se estime a taxa de mortalidade, a densidade de plantio e o erro amostral.

O tamanho da unidade amostral (parcela) varia em função da heterogeneidade do ambiente. Quanto mais heterogêneo, maior deve ser a unidade amostral. Um dos métodos usa-dos para se obter o tamanho da parcela, para que seja mais eficiente, é o da curva de acumula-ção de espécies. Em uma área, deve-se colocar, em áreas de diferentes características, parcelas de tamanho relativamente grande ( 1000 a 2000 m2), subdividindo-as em sub-parcelas de 100 m2. Pelo menos 10 parcelas grandes devem ser distribuídas na área, em diferentes situações ambientais (meio físico e biótico) e de crescimento das plantas. Com essas parcelas, pode-se construir um gráfico de acumulação de espécies como mostra a Figura 5.

associação com o conceito de entropia foi desenvolvida independentemente por dois pesquisadores, Shannon e Wiener. Alguns chamam este índice erroneamente de Shannon-Weaver, pois estes pesquisadores publicaram juntos um livro que contém esta fórmula. Contudo, índice de Shannon é o nome consagrado. Este índice assume que os indivíduos são aleatoriamente amostrados, de uma comunidade infinitamente grande, e que todas as espécies são representadas na amostra. O índice de Shannon é calculado pela expressão:

H’ = - ∑pi. log2 pi, onde pi é a proporção de indivíduos da espécie i na amostra. Um dos problemas encontrados na comparação entre os valores desse índice, em

diferentes trabalhos, é o logaritmo. São três as bases dos logaritmos encontrados na literatura: base 2 (usado no trabalho originalmente apresentado por Shannon), base neperiana e base 10. Os valores do índice de Shannon variam de acordo com a base logarítmica utilizada. Uma amostra de 20 parcelas, selecionadas sistematicamente na área restaurada no Rodoanel Trecho Sul, mostra que o índice de diversidade de Shannon, calculado usando a base 2, apresenta o valor de 6,13, para a base neperiana, de 4,25 e base 10, de 1,84. Muitos trabalhos na literatura brasileira não indicam a base utilizada, tornando difícil a comparação. Para transformar o valor do índice de diversidade de Shannon, calculado na base neperiana para a base 2, deve-se multiplicar o valor por 1,4427, da base 10 para a base 2, por 3,3219 e da base 10 para a base neperiana, por 2,3026. É importante dizer que estes índices só têm validade para efeitos comparativos. Por razões históricas, o logaritmo base 2 é geralmente utilizado, embora haja uma tendência do uso de logaritmos naturais (neperiano) para o cálculo. De qualquer forma, é fundamental que se informe a base logarítmica usada para o cálculo do índice de Shannon, pois as diferenças são grandes. Para calcular a equidade (J’) usando o índice de Shannon, utiliza-se a fórmula:

, onde S é o número de espécies existentes na amostra. O índice de Berger-Parker (d) é uma medida simples de dominância. A fórmula é:

nn

d max= , onde nmax= número de indivíduos da espécie mais

abundante e n, o número total de indivíduos na amostra. Em comunidades com número de espécies (S) superior a 100, o valor de d é

independente de S, mas em valores inferiores a 100, o valor de d tende a diminuir com o aumento da riqueza (S).

3. Amostragem

Para a medição e monitoramento da diversidade, deve-se desenvolver um protocolo de amostragem para que os resultados sejam precisos e acurados. Existem dois modos de abordagem para a amostragem, aquela em que o indivíduo é a unidade da amostra, ocorrendo avaliação sequencial, e o baseado em parcelas de tamanho fixo ou variável. Como já foi mostrado, a riqueza ou a diversidade de espécies são dependentes do esforço amostral. Repetições sempre são recomendadas. Sempre é melhor ter pequenas unidades amostrais, distribuídas na área, do que uma única unidade, pois é através das repetições que se pode fazer as análises estatísticas, construir intervalos de confiança e calcular o erro amostral (precisão).

Utilizar indivíduos ou parcelas como unidades amostrais conduzem a resultados e conclusões diferentes. A distribuição de espécies na área nem sempre obedece ao padrão

SH

HHJ

2max

''

log'

==

associação com o conceito de entropia foi desenvolvida independentemente por dois pesquisadores, Shannon e Wiener. Alguns chamam este índice erroneamente de Shannon-Weaver, pois estes pesquisadores publicaram juntos um livro que contém esta fórmula. Contudo, índice de Shannon é o nome consagrado. Este índice assume que os indivíduos são aleatoriamente amostrados, de uma comunidade infinitamente grande, e que todas as espécies são representadas na amostra. O índice de Shannon é calculado pela expressão:

H’ = - ∑pi. log2 pi, onde pi é a proporção de indivíduos da espécie i na amostra. Um dos problemas encontrados na comparação entre os valores desse índice, em

diferentes trabalhos, é o logaritmo. São três as bases dos logaritmos encontrados na literatura: base 2 (usado no trabalho originalmente apresentado por Shannon), base neperiana e base 10. Os valores do índice de Shannon variam de acordo com a base logarítmica utilizada. Uma amostra de 20 parcelas, selecionadas sistematicamente na área restaurada no Rodoanel Trecho Sul, mostra que o índice de diversidade de Shannon, calculado usando a base 2, apresenta o valor de 6,13, para a base neperiana, de 4,25 e base 10, de 1,84. Muitos trabalhos na literatura brasileira não indicam a base utilizada, tornando difícil a comparação. Para transformar o valor do índice de diversidade de Shannon, calculado na base neperiana para a base 2, deve-se multiplicar o valor por 1,4427, da base 10 para a base 2, por 3,3219 e da base 10 para a base neperiana, por 2,3026. É importante dizer que estes índices só têm validade para efeitos comparativos. Por razões históricas, o logaritmo base 2 é geralmente utilizado, embora haja uma tendência do uso de logaritmos naturais (neperiano) para o cálculo. De qualquer forma, é fundamental que se informe a base logarítmica usada para o cálculo do índice de Shannon, pois as diferenças são grandes. Para calcular a equidade (J’) usando o índice de Shannon, utiliza-se a fórmula:

, onde S é o número de espécies existentes na amostra. O índice de Berger-Parker (d) é uma medida simples de dominância. A fórmula é:

nn

d max= , onde nmax= número de indivíduos da espécie mais

abundante e n, o número total de indivíduos na amostra. Em comunidades com número de espécies (S) superior a 100, o valor de d é

independente de S, mas em valores inferiores a 100, o valor de d tende a diminuir com o aumento da riqueza (S).

3. Amostragem

Para a medição e monitoramento da diversidade, deve-se desenvolver um protocolo de amostragem para que os resultados sejam precisos e acurados. Existem dois modos de abordagem para a amostragem, aquela em que o indivíduo é a unidade da amostra, ocorrendo avaliação sequencial, e o baseado em parcelas de tamanho fixo ou variável. Como já foi mostrado, a riqueza ou a diversidade de espécies são dependentes do esforço amostral. Repetições sempre são recomendadas. Sempre é melhor ter pequenas unidades amostrais, distribuídas na área, do que uma única unidade, pois é através das repetições que se pode fazer as análises estatísticas, construir intervalos de confiança e calcular o erro amostral (precisão).

Utilizar indivíduos ou parcelas como unidades amostrais conduzem a resultados e conclusões diferentes. A distribuição de espécies na área nem sempre obedece ao padrão

SH

HHJ

2max

''

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==

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74

Figura 5: Método de acumulação de espécies para determinação do tamanho de parcelas

O ponto de inflexão da curva corresponde ao tamanho adequado da parcela. Uma vez definido o tamanho e a forma de parcelas (é recomendada para terrenos acidentados e/ou com gradiente de fertilidade, a forma retangular, com o maior comprimento em direção do declive), o próximo passo é estabelecer o protocolo de amostragem. As áreas degradadas caracterizam-se por apresentar uma alta variabilidade ambiental, principalmente em relação ao solo, topografia, sinistros (fogo, presença de gado e geada, por exemplo) e idade de plantio. Outras características também são importantes, como o espaçamento, tipo de muda, compo-sição de espécies, controle de plantas ou animais invasores, pragas e doenças, etc. Fazer uma amostragem juntando áreas com diferentes características pode inviabilizar o levantamento, pelos recursos necessários. Desse modo, a primeira providência é estratificar a área que será avaliada, considerando para tanto as características do plantio (solo, topografia, idade, espa-çamento, etc.). Se a área for grande, acima de 100 hectares por exemplo, o uso de imagens de sensoriamento remoto (satélite ou mesmo foto aérea) é recomendado. Entretanto os estratos não devem ser muito grandes. Considere-se uma área mínima de 5 hectares para compor um estrato, sendo que cada área deve conter no mínimo 2 e máximo 5 estratos. A distribuição das parcelas na área deve seguir um esquema de blocos sistemáticos, com aleatorização interna, como mostra a Figura 6.

Figura 6: Distribuição das parcelas para inventário da biodiversidade em uma área restaurada

Page 76: Anais IV Simp%d3sio de Restaura%c7%c3o Ecol%d3gica

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O esforço amostral, ou seja, quantas parcelas devem ser distribuídas na área, de-pende da variabilidade da área e da variável que se está estudando, índices de riqueza ou de diversidade. A Figura 7 mostra que os valores do índice de diversidade de Shannon estabili-zam-se, após serem amostradas 11 parcelas. Este gráfico foi obtido com dados coletados em áreas restauradas do Rodoanel Trecho Sul.

Figura 7: Valores do índice de Shannon e o esforço amostral em uma área restaurada do Ro-doanel Trecho Sul

Para calcular o intervalo de confiança, o erro e o esforço amostral necessários para se obter um erro de amostragem de 10% da média, com 90% de probabilidade, utilizaram-se as fórmulas:

IC (intervalo de confiança) = yst. , sendo t o valor de 1,649 para 90% de proba-

bilidade e o erro padrão da média.

O erro de amostragem (EA%) =

_

_

__

_ _ _ _ _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Esforço amostral em número de parcelas

4

4,5

5

5,5

6Valor de índice de Shannon (base 2)

Figura 6: Distribuição das parcelas para inventário da biodiversidade em uma área restaurada

O esforço amostral, ou seja, quantas parcelas devem ser distribuídas na área, depende da variabilidade da área e da variável que se está estudando, índices de riqueza ou de diversidade. A Figura 7 mostra que os valores do índice de diversidade de Shannon estabilizam-se, após serem amostradas 11 parcelas. Este gráfico foi obtido com dados coletados em áreas restauradas do Rodoanel Trecho Sul.

Figura 7: Valores do índice de Shannon e o esforço amostral em uma área restaurada do Rodoanel Trecho Sul

Para calcular o intervalo de confiança, o erro e o esforço amostral necessários para se obter um erro de amostragem de 10% da média, com 90% de probabilidade, utilizaram-se as fórmulas:

IC (intervalo de confiança) = , sendo t o valor de 1,649 para 90% de probabilidade e o erro padrão da média.

O erro de amostragem (EA%) = e o esforço amostral (n*) é calculado

como:

Tomando um exemplo de uma área de compensação ambiental do Rodoanel Trecho

Sul, usando 38 parcelas de amostragem de 167,2 m2 cada, o índice de riqueza médio foi de 0,12 espécies/m2, o intervalo de confiança para 90% de probabilidade foi de 0,005 espécies/m2 e o erro de amostragem, de 4,23%. Neste caso, o esforço amostral para estimar o índice de

yIC 100.

yst.ys

2

10.* !

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$%&=CVtn

e o esforço amostral (n*) é calculado

como:

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Esforço amostral em número de parcelas

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6Valor de índice de Shannon (base 2)

Figura 6: Distribuição das parcelas para inventário da biodiversidade em uma área restaurada

O esforço amostral, ou seja, quantas parcelas devem ser distribuídas na área, depende da variabilidade da área e da variável que se está estudando, índices de riqueza ou de diversidade. A Figura 7 mostra que os valores do índice de diversidade de Shannon estabilizam-se, após serem amostradas 11 parcelas. Este gráfico foi obtido com dados coletados em áreas restauradas do Rodoanel Trecho Sul.

Figura 7: Valores do índice de Shannon e o esforço amostral em uma área restaurada do Rodoanel Trecho Sul

Para calcular o intervalo de confiança, o erro e o esforço amostral necessários para se obter um erro de amostragem de 10% da média, com 90% de probabilidade, utilizaram-se as fórmulas:

IC (intervalo de confiança) = , sendo t o valor de 1,649 para 90% de probabilidade e o erro padrão da média.

O erro de amostragem (EA%) = e o esforço amostral (n*) é calculado

como:

Tomando um exemplo de uma área de compensação ambiental do Rodoanel Trecho

Sul, usando 38 parcelas de amostragem de 167,2 m2 cada, o índice de riqueza médio foi de 0,12 espécies/m2, o intervalo de confiança para 90% de probabilidade foi de 0,005 espécies/m2 e o erro de amostragem, de 4,23%. Neste caso, o esforço amostral para estimar o índice de

yIC 100.

yst.ys

2

10.* !

"#

$%&=CVtn

Tomando um exemplo de uma área de compensação ambiental do Rodoanel Tre-cho Sul, usando 38 parcelas de amostragem de 167,2 m2 cada, o índice de riqueza médio foi de 0,12 espécies/m2, o intervalo de confiança para 90% de probabilidade foi de 0,005 espé-cies/m2 e o erro de amostragem, de 4,23%. Neste caso, o esforço amostral para estimar o índice de riqueza é de 7 parcelas, ou seja, necessita-se de 7 parcelas para se ter o índice de riqueza da área.

4. MonItoRAMento dA BIodIveRSIdAde

Poucos são os trabalhos que estudam a variação da diversidade biológica ao longo do tempo, sendo as mudanças climáticas um exemplo de razão importante para o estudo des-tas variações. Toda comunidade sofre algum tipo de mudança durante sua existência. Há dois tipos de mudanças, a direcional e a não direcional. Quando uma área restaurada experimenta uma mudança de um estado para outro, esta mudança é dita direcional. A área pode entrar ou sair de algum estágio sucessional, após receber influência de fatores externos como poluição, invasão de outras espécies ou mesmo alguma catástrofe. A área também pode experimentar mudanças não direcionais, como o resultado de imigração e mortalidade de espécies ligadas

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aos fenômenos de competição, predação e mesmo outros aspectos ligados à dinâmica da po-pulação. Para avaliar as mudanças ocorridas em uma área restaurada, é fundamental que a amostragem seja representativa das comunidades ali existentes. Para tanto, as parcelas devem ser monumentadas, ou seja, marcadas no campo, de modo que outras medições possam ser realizadas em outras ocasiões (anualmente ou a cada dois anos). Para estudar a similaridade entre os anos, existem algumas formas. São quatro os índices de similaridade mais usados: Jaccard, Marczewski-Steinhaus (MS), Sorensen e Morisita-Horn.

O índice de Jaccard (CJ) é o mais usado e apresenta a seguinte fórmula para cál-

culo:C

J = a/(a+b+c), onde

a= número total de espécies presentes em duas avaliações sucessivas;b= número de espécies presentes somente na avaliação 1; ec= número de espécies presentes somente na avaliação 2.

O índice de Marczewski-Steinhaus é uma modificação do índice de Jaccard e apresenta a seguinte fórmula:

CMS

= 1-[a/(a+b+c)].

Os valores de a, b e c são os mesmos do índice de Jaccard.

O índice de Sorensen, por sua vez, é calculado pela fórmula:

CS = 2a/(2a+b+c)

Os valores de a, b e c são os mesmos do índice de Jaccard.O índice de Morisita-Horn é calculado pela equação:

CMH

= 2∑(ai.b

i)/[(d

a+d

b).(n

a.n

b)], onde

na = número total de indivíduos encontrados na ocasião 1;

nb = número total de indivíduos encontrados na ocasião 2;

ai = número de indivíduos da espécie i encontrado na ocasião 1; e

bi = número de indivíduos da espécie i encontrado na ocasião 2.

e

No Brasil, o índice de similaridade de Jaccard é o mais usado, mas a literatura atual recomenda a sua substituição pelo índice de Marczewski-Steinhaus, por ser diretamente relacionado à similaridade.

O índice de Morisita-Horn é influenciado pela abundância das espécies. Sendo que a presença de espécies raras exerce pouca influência no resultado.

Os índices de Jaccard, Jaccard modificado (Marczweski-Steinhaus) e o de Soren-sen são baseados na presença de espécies. Para as regiões tropicais, onde as espécies raras são frequentes, mesmo em áreas restauradas, recomenda-se o uso do índice de Marczweski--Steinhaus ou o de Sorensen.

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5. ConCLuSão

A restauração de áreas degradadas é o meio mais usado para a conservação da biodiversidade. A medição e o monitoramento da diversidade biológica é uma atividade que envolve um conjunto complexo de ações, como o uso de imagens de satélite e geo-processamento, a definição do sistema de amostragem, a determinação de um tamanho e forma das unidades amostrais (parcelas), as medições de campo com as identificações das espécies, a seleção dos índices de riqueza e diversidade, e no monitoramento, o índice de similaridade. É importante saber que os índices são utilizados para fins comparativos, já que o número em si não é suficiente para a tomada de decisões. Entretanto, considerando que restauração de áreas degradadas é uma atividade relativamente nova, com muitas lacunas científicas, maiores estudos devem ser realizados, visando à investigação da te-mática que envolve a diversidade biológica. Os estudos a longo prazo geralmente não são financiados pelas agências de fomento, sendo classificados como mera coleta de dados e não como ciência. Os órgãos de fomento deveriam enxergar mais a longo prazo, nos fi-nanciamentos de pesquisas, já que os eventos que vêm ocorrendo, principalmente quanto às mudanças climáticas, mostram a importância da detecção destas alterações, em tempo hábil, permitindo uma tomada de decisão mais consistente, evitando maiores perdas de biodiversidade.

6. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA EM ÁREAS DEGRADADAS PELA MINERAÇÃO

Luiz Eduardo Dias1

Igor Rodrigues de Assis

IntRodução

Diferentes atividades antrópicas podem resultar em degradação ambiental. No entanto, a atividade agropecuária em terras marginais ou com baixa capacidade suporte, as-sociada a práticas não conservacionistas têm sido a principal fonte de degradação do solo em todo o mundo. A despeito da extensão destas terras degradadas, o nível de degradação nem sempre pode ser considerado como drástico uma vez que somente os horizontes superficiais são diretamente afetados por meio de erosão ou redução no teor de matéria orgânica e nutrien-te disponíveis. Por outro lado, a perda destas camadas superficiais leva ao assoreamento ou eutrofização de rios, podendo se tornar um impacto considerável.

A mineração a céu aberto é uma atividade que gera impacto ambiental de grande intensidade, mas normalmente descrita como de extensão restrita. Entretanto, em função de características da geologia, relevo, hidrologia e clima local, o impacto desta atividade se es-tende muito além da área efetiva de exploração. Nesse sentido, as ações de controle e de recu-peração ambiental - entre as quais a revegetação está incluída – são fundamentais no sentido de minimizar esse impacto.

O caráter multidisciplinar e interdisciplinar das ações que visam a proporcionar o retorno da sustentabilidade, ou auto-sustentabilidade no caso de restauração florestal, deve ser tomado, fundamentalmente, como ponto de partida do processo de recuperação ambiental. Assim, o envolvimento direto e indireto de técnicos de diferentes especializações permite a abordagem integrada que se faz necessária. Bell (1996) coloca como primeiro passo de um programa voltado para a reconstrução de um ecossistema o restabelecimento da vegetação, salientando, ainda, que a atividade de outras formas de vida (micro e macro) depende daquele componente. Normalmente depende, no entanto, em se tratando de revegetação de áreas mi-neradas, correções e fertilizações prévias do substrato se fazem necessárias.

A legislação brasileira obriga o minerador a recuperar a área que foi degradada pela exploração de minério. De acordo com o IBAMA (1990) Recuperação significa que o sítio degradado será retornado a uma forma e utilização de acordo com o plano preestabeleci-do para o uso do solo. Implica que uma condição estável será obtida em conformidade com os valores ambientais, estéticos e sociais da circunvizinhança. Significa, também, que o sítio de-gradado terá condições mínimas de estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo um novo solo e uma nova paisagem. Em contrapartida a este termo coloca-se a Restauração Ecológica (RE), que, segundo a Sociedade Internacional de Restauração Ecológica é definida como um processo que tem como objetivo facilitar a recuperação de um ecossistema que foi danificado, degradado ou destruído (SER 2004). Portanto, observa-se que a recuperação pode contemplar a restauração ecológica, dependendo, certamente, do produto final que se preten-de obter. Este deve, basicamente, conter os recursos bióticos e abióticos que permitam seu desenvolvimento sem assistência ou aportes futuros, ou seja, o ecossistema deve se sustentar

1 Professor Associado III, Departamento de Solos, Univ.Federal de Viçosa. E-mail: [email protected]

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estruturalmente e funcionalmente por si só. Em outras palavras: a auto-sustentabilidade é uma meta e se o produto final da recuperação for auto-sustentável, o processo se enquadra em um contexto de restauração ecológica. Por outro lado, de acordo com a definição do IBAMA a re-cuperação possibilita uma nova função ecológica para o ecossistema, o que, de certa forma, a diferencia da restauração e, ao mesmo tempo, conflita com a restauração ecológica na medida em que esta “tenta retorná-lo a sua trajetória histórica” (SER 2004).

Uma breve revisão dos trabalhos de recuperação ambiental desenvolvidos pelas empresas mineradoras mostra claramente que alguns se enquadram no contexto da RE, outros se aproximam ou se distanciam em função da abordagem adotada e do produto final almejado ou obtido. O presente artigo tem como objetivo discutir a recuperação ambiental de áreas drasticamente alteradas pela atividade de exploração de minérios, no contexto de restauração ecológica.

2. AMBIenteS deGRAdAdoS PeLA AtIvIdAde MIneRáRIA e PRátICAS de ReCuPeRAção/ReStAuRAção

Os principais ambientes que se formam com a atividade minerária e que necessi-tam de um trabalho de revegetação ou implantação de vegetação são os taludes de aterro, topo de pilhas de estéril, taludes de cortes de estrada e de cavas, bacias e barragens de depósito de rejeitos e substratos oriundos diretamente da lavra, onde normalmente são expostos fragmen-tos rochosos e, quando possível, são recobertos com solo superficial retirado de áreas lavradas e armazenados para a sua posterior utilização.

O aspecto que congrega os diferentes cenários de ambientes degradados em uma mineração é a grande movimentação de solo e exposição de substratos rochosos, o que resulta, na maioria das situações, em um ecossistema em colapso (ausência de resiliência e resistência e elevado nível de entropia), ou em um substrato cujas condições físicas, químicas e biológi-cas são desfavoráveis ao estabelecimento e crescimento de plantas. Em áreas de exposição de resíduos de mineração, a elevada concentração de sais - que resulta em elevada condutividade elétrica - e de metais pesados, ou o excesso de acidez ou de alcalinidade, são características igualmente comuns de serem observadas. (Dias, 1998; Dias et al., 2007).

Os procedimentos propostos para recuperação da área degradada devem ser ava-liados quanto aos riscos ambientais, uso futuro da área, harmonização com o ambiente do entorno, custo e a sustentabilidade do sistema. Além destes aspectos, ao se incluir a diver-sidade biológica com ênfase em espécies locais e regionais, observa-se um direcionamento no sentido da RE. Por outro lado, exemplos em diferentes países mostram que nem sempre o objetivo da recuperação se insere no contexto da RE, uma vez que soluções como condomí-nios residenciais, empresariais e comerciais, clubes recreativos e lagoas são frequentemente observadas.

Ao se citar algumas das inúmeras inter-relações existentes entre as características do substrato remanescente e o processo de revegetação, torna-se evidente a importância dos procedimentos que envolvem o conhecimento real do material existente na área a ser recupe-rada. A visualização prévia das potenciais dificuldades reflete-se em economia de recursos e menor risco de dano ambiental. Discussões mais detalhadas sobre características químicas e físicas de substratos minerados podem ser encontradas em Hossner & Hons, (1992); Daniels, (1996); Bell, (1998); Dias, (1998) e Dias et al., (2007).

A atividade de mineração a céu aberto obrigatoriamente envolve a retirada do horizonte superficial do solo, acarretando a exposição de materiais pouco estruturados e sus-ceptíveis à fragmentação. Da mesma forma, a abertura de trincheiras ou faixas de lavra é geralmente seguida de seus preenchimentos com a utilização de solo estéril num processo que resulta na inversão dos horizontes. Nestas atividades deve-se destacar o uso intensivo de

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máquinas para regularização da superfície, podendo compactar excessivamente as camadas mais superficiais do substrato. A redução da permeabilidade, maior susceptibilidade à erosão, redução na aeração, menor disponibilidade de água, menor taxa de difusão de nutrientes, me-nor crescimento de sistema radicular e consequentemente da parte aérea, são exemplos dos efeitos que podem resultar da presença de camadas compactadas ou adensadas. Da mesma forma, lagoas ou tanques de depósito de rejeito, pelas características dos materiais que apor-tam estas áreas, podem apresentar substratos com elevado valor de densidade. Nestes casos as práticas que antecedem a implantação da vegetação incluem como procedimento padrão a escarificação ou subsolagem do substrato previamente ao plantio. Em diferentes condições de substrato essas práticas mostraram-se eficazes em melhorar algumas características físicas dos substratos (Barnhiselet et al., 1988; Scullion & Mohammed, 1991; Dunker et al., 1995), porém a escarificação mostrou-se insuficiente para garantir o início de regeneração natural de cascalheira em um estudo realizado em Brasília, DF (Leite, 1996).

O armazenamento e retorno do horizonte orgânico superficial do solo (“topsoil”) após a exploração é uma atividade amplamente utilizada, quando possível, por minerações a céu aberto que tem fundamental papel no processo de revegetação. A camada superficial de um solo pode conter a “memória” da vegetação local que é de grande importância para o pro-cesso de revegetação. A matéria orgânica do solo, que tem como principal fonte de carbono os resíduos vegetais e animais que aportam ao solo, apresenta características quantitativas e qualitativas que refletem as comunidades anteriormente existentes na área. Da mesma forma, a maior parte dos propágulos e a microbiota existentes podem ser considerados como resul-tantes do ambiente previamente existente, no qual se inclui a vegetação. Assim, a preservação e o retorno das camadas superficiais do solo (a memória do sistema) podem, de maneira efe-tiva, contribuir para o sucesso da revegetação.

A despeito das características de memória do “topsoil”, seu uso possibilita maior disponibilidade de nutrientes essenciais, além da melhoria de características físicas do subs-trato. Nesse sentido, existem situações em que o substrato remanescente é composto por fragmentos rochosos, de pouca porosidade, em que a drenagem e a capacidade de retenção de água são deficientes. A utilização de “topsoil” nessas situações permite condições mais satisfatórias ao estabelecimento e desenvolvimento de plantas. Da mesma forma, o desen-volvimento de propágulos provenientes de fontes externas é intensamente facilitado por um substrato mais “amigável”.

Devido ao elevado impacto geralmente provocado pela atividade de mineração, é difícil considerar um nível de resiliência que permita o restabelecimento natural de comunidades vegetais que possam dar início ao processo de revegetação e garantir a auto-sustentabilidade pelo processo sucessional. Certamente as características dos substratos não podem ser conside-radas como as únicas que vão determinar o sucesso ou não da RE. Características do entorno (fonte de propágulos, presença de vetores, diversidade biológica, etc.) e condições micro climá-ticas são igualmente consideradas como componentes naturais que atuam no processo.

Com o isolamento ou término da fonte de degradação e existindo condições favo-ráveis de substrato (o simples retorno do horizonte superficial muitas vezes pode ser efetivo), de fonte de propágulos e de agentes dispersores, o processo de revegetação natural pode ocorrer. O grau de interferência pode determinar a maior ou menor velocidade no processo, bem como a qualidade ecológica do produto, mas, de maneira geral, programas calcados na resposta do ambiente normalmente demandam maior tempo para o estabelecimento de uma comunidade auto-sustentável. A melhoria das características físicas e químicas do substra-to, o uso de poleiros artificiais (Guedes et al., 1997), o estabelecimento de ilhas de vegeta-ção (Kolb, 1993, Parrota, 1993), transposição de banco de sementes (Rodrigues & Gandolfi, 2000) e enriquecimento por meio do plantio de mudas são técnicas intervencionistas que podem acelerar o processo de revegetação baseado na resposta natural do ambiente. Nesse

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sentido, a boa caracterização do ambiente local e de seu entorno é de grande importância para que aquelas intervenções sejam efetivas.

Os trabalhos iniciais de recuperação de áreas mineradas apresentavam basica-mente a preocupação de uma revegetação rápida, onde o objetivo primordial era o recobri-mento do solo, pois, em muitos casos, a questão era cumprir uma exigência legal. Reflores-tamentos homogêneos e o uso intensivo de hidrossemeadura com gramíneas eram práticas adotadas que foram definidas como técnicas do tapete verde (Griffith et al., 1994). Como maneira de melhorar a qualidade ecológica e acelerar o processo Griffith et al. (1996) pro-põem uma abordagem que procura conciliar a velocidade da técnica do tapete verde com os objetivos ecológicos de uma abordagem sucessional, ou seja, uma abordagem em duas fases. Esta abordagem proposta se enquadra dentro dos preceitos da técnica baseada na utilização de leguminosas arbóreas inoculadas com bactérias fixadoras de N

2 e com fungos micorrízicos

(Dias et al., 1994; 1995a; 1995b; 1996; Faria et al., 1997; Franco et al., 1989; 1992; 1995; 1998). Essa técnica baseia-se na elevada capacidade de adaptação e de produção de biomassa de algumas leguminosas arbóreas, aliado ao fato de que a associação com microrganismos potencializa essas qualidades. Na verdade, sua utilização permite acelerar o processo de re-vegetação, criando uma rápida cobertura vegetal e, ao mesmo tempo criar condições de solo e microclima favoráveis ao ingresso e estabelecimento de espécies de estádios sucessionais mais avançados.

As principais críticas que se fazem ao uso de leguminosas arbóreas referem-se ao fato de um trabalho de recuperação ambiental basear-se apenas na utilização de espécies de uma única família botânica e, muitas vezes, ser calcado basicamente na utilização de espécies exóticas ao local de estudo, contrariamente à linha de pensamento na qual a maior diversidade de famílias poderá garantir o sucesso da recuperação (Klein, 1966; Nogueira, 1977) ou maior estabilidade populacional (Tilman, 1996), ou que a utilização de espécies exóticas possa gerar um desequilíbrio na medida em que uma espécie se torne dominante, interferindo nas fases da sucessão natural, de forma a não permitir o aparecimento de outras plantas (Reis et al., 1996). No entanto, o aspecto mais importante é a capacidade das espécies em criar condições favoráveis de microclima e de substrato para que o processo de regeneração natural ocorra, permitindo que outras espécies posteriormente se estabeleçam na área em recuperação. A importância desta técnica foi salientada por Campello (1998b): “Não resta dúvida que a pos-sibilidade de utilização de espécies leguminosas arbóreas locais mostra-se ecologicamente mais desejável. No entanto, aspectos como baixa disponibilidade de sementes, ausência de espécies selecionadas e adaptadas, falta de conhecimento de características silviculturais e da contribuição ao ciclo biogeoquímico, mostram-se como limitações ao uso de espécies locais”. Assim, continua o autor: “O papel ou a função que a espécie exerce na estrutura parece ser mais importante que a origem desta”.

Os gráficos das Figuras 1 e 2 mostram dados sobre o número de espécies e bio-massa seca da parte aérea de plantas oriundas de regeneração natural em plantios puros de duas leguminosas fixadoras de N

2 (Acacia mangium Willd. – Acacia – espécie exótica - e

Tachigali vulgaris L.G.Silva & H.C.Lima - Taxi – espécie regional) e duas não legumino-sas exóticas (Eucalyptus pellita F.Muell. e E. citriodora Hook.) e uma não leguminosa local (Goupia glabra Aubl., Cupiúba) crescendo em área de empréstimo com horizonte C exposto em Porto Trombetas, Pará. Cerca de onze anos após o plantio a biomassa seca da parte aérea e o número de espécies recrutadas naturalmente foram significativamente superiores nas parce-las com leguminosas fixadoras de nitrogênio, indicando o papel de facilitadoras do processo sucessional dessas espécies.

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O rejeito de lavagem de bauxita é formado basicamente por partículas de argila constituídas de óxidos e hidróxidos de Al e Fe que, ao se depositarem em tanques formam um substrato distrófico, álico e extremamente adensado, características que dificultam o estabele-cimento de vegetação. Para iniciar o processo de recuperação ambiental de tanques de depó-sito de rejeito em Porto Trombetas-PA, foi desenvolvida uma abordagem baseada no conceito de duas fases (Griffith et al., 1996). A primeira fase busca aproveitar que o rejeito se encontra coberto por uma fina lâmina de água e, por meio de uma balsa, hidrossemear uma mistura de sementes inoculadas com bactérias diazotrópicas de espécies leguminosas arbustivas, anuais e bianuais, de rápido crescimento, juntamente com fertilizantes e esporos de fungos micor-rízicos. Já a segunda fase, realizada a partir do momento que o substrato permite o trânsito de homens, contempla o enriquecimento com mudas de espécies regionais que possam criar condições favoráveis ao processo sucessional e aumentar a diversidade de espécies e, conse-quentemente, a resistência e resiliência dos sistemas implantados.

A baixa disponibilidade de nutrientes do rejeito ressalta a importância de se es-tabelecer um nível de adubação de plantio que permita às espécies utilizadas apresentar seu potencial de crescimento para a formação de um sistema florestal compatível com a floresta primária previamente existente nas áreas mineradas. Certamente a formação de biomassa da ordem de 250 a 300 t ha-1 de matéria seca é um processo que demanda muito tempo e seria impossível, em curto prazo, assegurar experimentalmente a obtenção de biomassas daquela ordem de grandeza.

Em uma área de depósito de rejeito de lavagem de bauxita foram implantados ex-perimentos com o objetivo de avaliar a taxa de crescimento de espécies da região amazônica em função de diferentes níveis de adubação. Resultados obtidos após dez anos de plantio indi-caram efeito positivo e significativo da adubação sobre as taxas de sobrevivência, crescimento e o recrutamento e regeneração natural, fatores de grande importância para a sustentabilidade dos sistemas implantados.

O substrato de canga ferruginosa apresenta sérias restrições ao estabelecimento e crescimento da grande maioria das espécies vegetais, tais como solos rasos, com baixa capa-cidade de retenção de água, distrofismo, estrutura deficiente, além de uma grande amplitude térmica diária. A alta especialização da vegetação contribui com a elevada taxa de endemismo que caracteriza a flora dos campos ferruginosos. Os campos rupestres ferruginosos estão entre os ecossistemas com maior perda de habitat, menor área de ocorrência e de representatividade em unidades de conservação. A estreita associação entre a lavra de minério de ferro e esses campos levou esta formação a uma condição especial de vulnerabilidade. Com o objetivo de propor abordagens para a reabilitação de campos ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero (QF) foi instalado um experimento (Rezende, 2010) contemplando a reintrodução de solo superfi-cial de canga e plantas provenientes de operações de resgate.

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Figura 1. Número de espécies da regeneração natural sob plantios de leguminosas e não leguminosas. (Campello, 1998a).

Figura 2. Biomassa seca da parte aérea da regeneração natural sob plantios de leguminosas e não leguminosas. (Campello, 1998a).

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Os tratamentos utilizados no experimento foram compostos a partir de combina-ções de duas espessuras de camada de cobertura de canga e topsoil associado (20 e 40 cm) e quatro níveis de adubação. As mudas provenientes do resgate permaneceram por dois anos em condições de céu aberto em viveiro. Em cada parcela foi feito o plantio do mesmo número de mudas seguindo o mesmo arranjo espacial.

Cerca de dez meses após o plantio não foi observada diferença significativa entre as médias de sobrevivência das mudas plantadas para as diferentes espessuras de substrato e níveis de adubação, indicando que apenas o resgate de flora pode ser uma estratégia eficaz de restauração ecológica. No entanto, o curto período de avaliação não permitiu afirmações conclusivas. Entre as espécies utilizadas, Hoffmannseggella crispata (Thunb.) H.G.Jones, Arthrocereus glaziovii (K.Schum.) N.P.Taylor & Zappi, Vriesea minarum L.B.Sm., Bill-bergia elegans Mart. ex Schult. & Schult.f., Clusia sp, e Cupania sp. apresentaram taxa de sobrevivência superior a 70 %.

Aspecto importante refere-se à presença da gramínea Melinis minutiflora P.Beauv. em todas as parcelas do experimento, sendo que a biomassa da parte aérea desta espécie in-vasora respondeu positivamente aos níveis de adubação. Desta forma, o uso de adubação no processo de restauração deve ser criterioso, uma vez que o elevado distrofismo natural das cangas ferruginosas é um fator de controle sobre a pressão de espécies ruderais invasoras.

3. ConCLuSõeS

Quando se trata de recuperação ambiental de áreas drasticamente alteradas, co-mumente observadas após a exploração de minérios, diferentes procedimentos ou abordagens são utilizadas, no entanto, o enquadramento destas na visão de restauração ecológica – nove atributos de um ecossistema restaurado de acordo com a SER (2004) - fica, em curto prazo, dificultada pela questão tempo. Ou seja, como garantir em um período de 10 a 12 anos que os atributos serão alcançados?

Desta forma, é importante ressaltar a importância de se conhecer bem a área de estudo, as características do substrato e ter objetivos claros a respeito da recuperação/restau-ração. Assim é possível traçar estratégias de ações, que são geralmente específicas para cada caso ou situação. A complexidade do tema torna a participação multidisciplinar fundamental e é a melhor forma de se conseguir a sustentabilidade dos processos de recuperação.

Os tópicos abordados neste artigo mostram que a utilização de espécies legu-minosas de rápido crescimento, o retorno de topsoil, a utilização de serapilheira e outras práticas que visam ao retorno da diversidade biológica original são caminhos na direção da restauração ecológica, sem, contudo existir a garantia de que este objetivo será alcançado. A adoção de mecanismos de monitoramento sistemático ao longo do tempo é fundamental para a avaliação do processo e, caso necessário, de intervenções que possibilitem a obtenção de um ecossistema ecologicamente restaurado.

4. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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A ECOLOGIA DA PAISAGEM COMO UMA DAS FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO DA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

Jean Paul Metzger1

Leandro Tambosi2

Alexandre Camargo Martensen3

Milton Cesar Ribeiro4

A restauração de áreas degradadas para o restabelecimento de serviços ambien-tais e a conservação da biodiversidade pode ser uma atividade muito custosa dependendo do grau de degradação do ambiente e da estrutura da paisagem na vizinhança. Tendo em vista a necessidade de restauração de áreas degradadas em larga escala, é necessária a adoção de estratégias que aumentem a possibilidade de sucesso e reduzam os custos da implementação dessas ações.

O sucesso das ações de restauração depende não apenas da situação do local a ser restaurado, mas também do contexto da paisagem, em particular da disponibilidade de habitat no entorno, da proximidade de uma área fonte de espécies, e principalmente da possi-bilidade das espécies se deslocarem pela paisagem (i.e. da conectividade) e colonizarem áreas em regeneração ou restauração. Paisagens com baixa conectividade têm baixa eficiência de restauração devido ao grande isolamento entre os fragmentos de habitat, dificultando a reco-lonização das áreas restauradas.

Desta forma, uma estratégia de seleção de áreas para restauração deve levar em consideração o potencial da paisagem de permitir o fluxo de organismos entre as áreas de habitat da paisagem e as áreas restauradas. Para tanto, uma das ferramentas mais úteis para analisar a conectividade da paisagem é a teoria dos grafos. Análises baseadas na teoria dos grafos têm conquistado espaço em estudos de composição e configuração de paisagens por serem computacionalmente simples e por apresentarem indicadores consistentes e com sig-nificado biológico.

O grafo é um conjunto de nós com seus atributos e ligações que conectam dois nós distintos. O grafo pode ser utilizado para representar uma paisagem na qual os nós representam os fragmentos de habitat cercados de áreas de não-habitat. As ligações entre dois fragmentos indicam que um determinado organismo é capaz de se deslocar de um fragmento a outro atravessando uma área de não-habitat, representando uma conexão fun-cional. Desta maneira, a paisagem é representada na forma de uma rede de elementos que interagem entre si.

Esta forma de representação permite integrar a característica de cada fragmento (área ou qualidade da vegetação do fragmento), bem como as características ecológicas das espécies analisadas (capacidade de dispersão) para identificar a quantidade e qualidade de fragmentos conectados e o número de conexões entre eles.

1 Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, USP2 Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, USP3 Taki ambiental, Rio Grande, SP4 Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho,

Rio Claro, SP

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A realização de experimentos de remoção de nós dos grafos permite identificar quais nós são os mais importantes para manutenção das conexões de uma rede, bem como identificar quais redes apresentam estruturas mais resistentes a remoção de um ou mais nós.

Ademais, a facilidade de representação de redes espaciais no formato de grafos permite análises em diferentes escalas, possibilitando abordagens em múltiplas escalas para a identificação de áreas prioritárias para restauração. A partir da análise de grafos em escala regional é possível identificar paisagens prioritárias para restauração considerando o impacto desta paisagem em paisagens vizinhas. Por sua vez, a análise em determinadas paisagens permite identificar fragmentos prioritários a serem reconectados.

Esta abordagem em duas escalas baseada na teoria dos grafos permite otimizar os esforços de restauração, priorizando áreas com maior potencial de restauração, onde os custos devem ser menores e os benefícios ecológicos maiores.

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RIQUEZA FLORÍSTICA APLICADA À RECUPERAÇÃO FLORESTAL

Renata J. Almeida-Scabbia1

Sergio Romaniuc NetoEduardo P. C. Gomes

Alexandre H. S. Santos

1. IntRodução

No final das décadas de 1980 e 1990, a recuperação florestal era baseada nas características de uma única comunidade escolhida como modelo do clímax existente na pai-sagem regional. Atualmente, um maior enfoque é dado ao papel do resgate da diversidade regional, para garantir a sustentabilidade da comunidade restaurada (Bernarcci et al. 2006). Outro aspecto que também vem sendo observado são as particularidades de cada fragmento existente em uma mesma região. Rodrigues et al. (2007) assumem que numa paisagem onde existem diversas áreas degradadas, varia entre elas o potencial e as possibilidades de restau-ração. No estado de São Paulo projetos sobre a caracterização fisionômica e estrutural das comunidades vegetais e a dinâmica ecológica que as envolve têm contribuído para o estabele-cimento de políticas públicas voltadas aos processos de recuperação florestal (Leitão-Filho et al. 1993, Gomes et al. 2003, Bernacci et al. 2006, Franco et al. 2007, Kirizawa et al. 2009). Como exemplo de políticas ambientais para o estado de São Paulo temos a Resolução SMA 8-2008 (São Paulo 2008) que altera e amplia as resoluções SMA 21-2001 e SMA 47-2003, fixando a orientação para o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas. Outras questões sobre as normas jurídicas ambientais e suas contribuições para a restauração de florestas, prin-cipalmente referentes à manutenção da biodiversidade, foram abordadas por Brancalion et al. (2010) e Durigan et al. (2010). O objetivo deste estudo foi avaliar a aplicabilidade da legis-lação paulista, principalmente a Resolução SMA 08-2008, na recuperação florestal de áreas degradadas, em um trecho de floresta ombrófila densa, no município de Santo André (SP). Teve como intuito responder as seguintes questões: 1) Há diferenças na composição florística do estrato arbustivo-arbóreo entre duas áreas amostrais em floresta ombrófila densa do Parque Andreense e da Vila de Paranapiacaba?; 2) A lista de espécies exemplificativas mencionada na Resolução SMA 08-2008, para a floresta ombrófila densa (FOD) regiões ecológicas litoral norte e sudeste, acessada via site (http://www.ibot.sp.gov.br/pesquisa_cientifica/restauracao_ecologica/anexo_resol_sma08-08.pdf) , contempla as espécies encontradas na área de estudo e servem de referência para a recuperação florestal no município de Santo André?

Palavras chave: floresta ombrófila densa, Paranapiacaba, Santo André, legislação ambiental

1 Instituto de Botânica - IBt, Núcleo de Pesquisa Curadoria do Herbário SP. Caixa Postal 68041, CEP 04045 -972. São Paulo – SP; [email protected] . Trabalho oriundo de parte das etapas de pós-doutorado da primeira autora, desenvolvido sob a supervisão do Dr. Sergio Romaniuc Neto (IBt)

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2 MAteRIAL e MétodoS

O estudo foi realizado no município de Santo André (SP), na região administrativa da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense que repre-senta 87 km² (53% do território do município), altitude média de 796 m, clima tropical úmido.

Está inserida na bacia hidrográfica do reservatório Billings e é considerada Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais (PSA 2008). Possui uma forte interferência an-trópica, que ao longo do tempo provocou fragmentação florestal causada, por exemplo, pe-las construções da estrada de ferro em Paranapiacaba (de 1861-1867) e da própria represa Billings (década de 20). Para o levantamento florístico das espécies foram amostrados 26 pontos, em área de FOD, distribuídos igualmente entre o Parque Andreense e a Vila de Pa-ranapiacaba e proximidades (figura 1), que apresentavam diferentes níveis de interferência antrópica e características ambientais distintas (por exemplo diferentes níveis de precipitação e relevo). Em cada ponto foram realizadas caminhadas aleatórias mensais, de outubro de 2007 a setembro de 2008. Foram coletados apenas indivíduos em estado fértil e seguindo os pro-cedimentos usuais para estudos de florística. Os materiais foram identificados e incorporados ao Herbário do Instituto de Botânica de São Paulo. A listagem obtida foi comparada com as espécies constantes do anexo da Resolução SMA 8-2008, citadas para a FOD, para as regiões ecológicas litoral norte e sudeste. Para as espécies que não foram encontradas na Resolução, a classe sucessional adotada seguiu os conceitos de Whitmore (1989). As espécies vegetais ameaçadas foram obtidas nas listas oficiais do estado de São Paulo (Mamede et al. 2007), do Brasil (Biodiversitas 2010) e mundial (IUCN 2010). A análise da heterogeneidade florística foi realizada a partir de banco de dados binários (matriz de frequência, número de coletas e das espécies nos pontos de amostragem), utilizando-se dois métodos multivariados: índice de Sørensen como medida de similaridade florística, utilizando agrupamento por médias não ponderadas (UPGMA) e análise de coordenadas principais (PCoA). Também foi realizado o respectivo cálculo do coeficiente de correlação cofenética, a partir da matriz de similaridade obtida pelo índice de Sørensen.

Figura 1 – Localização dos pontos amostrados na área administrativa da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, Santo André, SP. Mapa modificado de IF/SMA-SP (2010).

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3. ReSuLtAdoS e dISCuSSão

Foram encontradas 195 espécies arbustivas e arbóreas, distribuídas em 50 famí-lias. Destas, 120 no Parque Andreense e 144 nas adjacências da Vila de Paranapiacaba e 65 foram comuns às duas áreas (Tabela 1). As famílias com maior riqueza de espécies, como Me-lastomataceae, Myrtaceae e Rubiaceae, foram bem representadas nas duas áreas amostradas. A predominância de Myrtaceae em áreas mais preservadas e de Melastomataceae, em áreas de interferência antrópica, demonstrou que há um predomínio de florestas secundárias em di-ferentes estádios de conservação na área de estudo, corroborando com Franco et al (2007) que afirma que a composição florística é um forte indicador do grau de conservação. Das espécies amostradas 53% foram pioneiras, o que é esperado para áreas de florestas tropicais, como já foi relatado por outros autores como Swaine e Hall (1983) e Brokaw (1985). No Parque Andreense 51% são não pioneiras e na Vila de Paranapiacaba predominam as pioneiras, com contribuição de 56%.

Tabela 1 - Espécies amostradas, seguindo nomenclatura da Resolução SMA-8-2008, atualiza-das para APG III (2009) para fins comparativos, na área administrativa da SGRNPPA, municí-pio Santo André, SP, Brasil. Onde, cl. Suc=classe sucessional, P=pioneira, NP=não pioneira, espécie ameaçada: •=EN, ••=VU, PA=espécies coletas no Parque Andreense, VP=espécies coletas na Vila de Paranapiacaba e adjacências.

Família/Espécie cl. Suc PA VP Família/Espécie cl.

Suc PA VP

Anacardiaceae Moraceae

Schinus terebinthifolius Raddi P X Ficus luschnathiana (Miq.) Miq. P X X

Annonaceae Myrtaceae

Annona emarginata (Schltdl.) H.Rainer NP X Calyptranthes concinna DC. NP X

Annona neosericea H.Rainer P X ••Eugenia brasiliensis Lam. NP X

Guatteria australis A.St.-Hil. NP X X Eugenia cerasiflora Miq. NP X

Apiaceae Eugenia cuprea (O.Berg) Nied. NP X

Eryngium sp P X X Eugenia monosperma Vell. NP X

Aquifoliaceae Eugenia prasina O.Berg NP X

Ilex pseudobuxus Reissek NP X Eugenia pseudomalacantha D.Legrand NP X

Araliaceae Eugenia sp NP X

Dendropanax monogynus (Vell.) Seem. NP X Eugenia squamiflora Mattos NP X

Asteraceae Marlierea racemosa (Vell.) Kiaersk. NP X

Baccharis oreophila Malme P X Marlierea villas-boasii Mattos NP X

Baccharis semiserrata DC. P X ••Myrceugenia campestris (DC.) D.Legrand & Kausel NP X X

Conyza sp P X Myrceugenia myrcioides (Cambess.) O.Berg NP X

Heterocondylus alatus (Vell.) R.M.King & H.Rob. P X X Myrcia multiflora (Lam.) DC. NP X X

Mikania lanuginosa DC. P X Myrcia palustris DC. NP X

Piptocarpha sp P X Myrcia sp 1 NP X

Symphyopappus itatiayensis (Hieron.) R.M.King & H.Rob. P X X Myrcia sp 2 NP X

•Symphyopappus lymansmithii B.L.Rob. P X X Myrcia spectabilis DC. NP X X

Critoniopsis quinqueflora (Less.) H.Rob. P X X Myrcia splendens (Sw.) DC. NP X X

Begoniaceae Psidium cattleianum Sabine NP X X

Begonia luxurians Scheidw. P X Nyctaginaceae

Bignoniaceae Guapira hirsuta (Choisy) Lundell NP X X

Jacaranda puberula Cham. NP X Guapira opposita (Vell.) Reitz NP X X

Boraginaceae Neea schwackeana Heimerl NP X

Cordia sellowiana Cham. P X Ochnaceae

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Família/Espécie cl. Suc PA VP Família/Espécie cl.

Suc PA VP

••Cordia trichoclada DC. P X Ouratea parviflora (A.DC.) Baill. NP X

Campanulaceae Passifloraceae

Siphocampylus betulifolius (Cham.) G.Don P X Turnera sp P X

Cannabaceae Phyllanthaceae

Trema micrantha (L.) Blume P X X Phyllanthus umbratus Müll.Arg. NP X

Celastraceae Picramniaceae

Maytenus cestrifolia Reissek NP X Picramnia gardneri Planch. NP X

Salacia grandifolia (Mart. ex Schult.) G.Don NP X Picramnia ramiflora Planch. NP X

Chloranthaceae Piperaceae

Hedyosmum brasiliense Miq. P X X Piper caldense C.DC. P X X

Chrysobalanaceae Piper cernuum Vell. P X

Hirtella hebeclada Moric. ex DC. NP X Piper dilatatum Rich. P X

Clethraceae Piper gaudichaudianum Kunth P X X

Clethra scabra Pers. P X X Piper hilianum C.DC. P X

Clusiaceae Piper hoffmannseggianum Roem. & Schult. P X

Clusia criuva Cambess. P X ••Piper lanceolatum Ruiz & Pav. P X X

Tovomitopsis paniculata (Spreng.) Planch. & Triana NP X Piper pseudopothifolium C.DC. P X X

Elaeocarpaceae Piper richardiifolium Kunth P X

Sloanea hirsuta (Schott) Planch. ex Benth. NP X X Piper schenckii C.DC. P X

Ericaceae Piper xylosteoides (Kunth) Steud. P X X

•• Gaylussacia rhododendron Cham. & Schltdl. NP X Polygonaceae

Euphorbiaceae Coccoloba glaziovii Lindau NP X

Alchornea sidifolia Müll.Arg. P X X Primulaceae

Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. P X X Ardisia guianensis (Aubl.) Mez NP X

Croton urucurana Baill. P X Cybianthus densicomus Mart. NP X

Croton vulnerarius Baill. P X Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. P X X

Pera heteranthera (Schrank) I.M.Johnst. NP X Myrsine gardneriana A.DC. P X X

Sapium glandulosum (L.) Morong P X X Myrsine umbellata Mart. NP X X

Fabaceae Rhamnaceae

Dahlstedtia pinnata (Benth.) Malme NP X Rhamnus sphaerosperma Sw. NP X

Inga barbata Benth. NP X X Rosaceae

Inga edwallii (Harms) T.D.Penn. NP X X Prunus myrtifolia (L.) Urb. NP X X

Inga marginata Willd. NP X X Rubus brasiliensis Mart. P X

Inga sessilis (Vell.) Mart. P X Rubus rosifolius Sm. P X

Inga vera Willd. P X Rubiaceae

Inga sp P X Bathysa stipulata (Vell.) C.Presl NP X X

Machaerium sp NP X Chomelia sp NP X X

Tachigali denudata (Vogel) Oliveira-Filho NP X Cordiera myrciifolia (K.Schum.) C.H.Perss. & Delprete NP X

Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby P X X Faramea tetragona Müll.Arg. NP X X

Senna sp P X Hillia parasitica Jacq. NP X

Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel NP X Ixora gardneriana Benth. NP X

Gentianaceae Posoqueria latifolia (Rudge) Schult. NP X

Macrocarpaea rubra Malme P X Psychotria hastisepala Müll.Arg. NP X

Lacistemataceae Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl. NP X

Lacistema lucidum Schnizl. NP X Psychotria mima Standl. NP X X

Lamiaceae Psychotria nemorosa Gardner NP X

Aegiphila fluminensis Vell. P X Psychotria nuda (Cham. & Schltdl.) Wawra NP X

Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke P X Psychotria patentinervia Müll.Arg. NP X

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Família/Espécie cl. Suc PA VP Família/Espécie cl.

Suc PA VP

Lauraceae Psychotria subspathulata (Müll.Arg.) C.M.Taylor NP X

Ocotea elegans Mez NP X Psychotria suterella Müll.Arg. NP X X

Ocotea paranapiacabensis Coe-Teixeira NP X X Psychotria vellosiana Benth. NP X X

••Ocotea serrana Coe-Teix. NP X Rudgea jasminoides (Cham.) Müll.Arg. NP X

Ocotea teleiandra (Meisn.) Mez NP X •Rudgea nobilis Müll.Arg. NP X X

Persea americana Mill. E X Rustia formosa (Cham. & Schltdl.) Klotzsch NP X

Malpighiaceae Salicaceae

Heteropterys intermedia (A.Juss.) Griseb. NP X Casearia sylvestris Sw. P X

Melastomataceae Xylosma prockia (Turcz.) Turcz. NP

Behuria insignis Cham. NP X Sapindaceae

Huberia semiserrata DC. P X Allophylus petiolulatus Radlk. NP X

Leandra amplexicaulis DC. P X Cupania oblongifolia Mart. NP X

Leandra australis (Cham.) Cogn. P X X Matayba juglandifolia (Cambess.) Radlk. NP X

Leandra barbinervis (Cham. ex Triana) Cogn. P X X Sapotaceae

Leandra carassana (DC.) Cogn. P X Chrysophyllum flexuosum Mart. NP X

Leandra dasytricha (A.Gray) Cogn. P X X Manilkara subsericea (Mart.) Dubard NP X

Leandra fragilis Cogn. P X X Siparunaceae

Leandra hirtella Cogn. P X X Siparuna brasiliensis (Spreng.) A.DC. NP X

Leandra refracta Cogn. P X Solanaceae

Leandra regnellii (Triana) Cogn. P X Athenaea picta (Mart.) Sendtn. P X

Miconia cabucu Hoehne NP X Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn. P X X

Miconia cinerascens Miq. P X X Brunfelsia pauciflora (Cham. & Schltdl.) Benth. NP X

Miconia cubatanensis Hoehne P X Capsicum villosum Sendtn. P X

Miconia fasciculata Gardner P X Cestrum bracteatum Link & Otto P X X

Miconia hyemalis A.St.-Hil. & Naudin P X Cestrum schlechtendalii G.Don P X

Miconia latecrenata (DC.) Naudin P X Solanum americanum Mill. P X

Miconia ligustroides (DC.) Naudin NP X X Solanum bullatum Vell. P X X

Miconia pusilliflora (DC.) Naudin P X X Solanum campaniforme Roem. & Schult. P X X

Miconia racemifera (DC.) Triana P X Solanum diploconos (Mart.) Bohs P X

Miconia theaezans (Bonpl.) Cogn. P X X Solanum excelsum A. St.-Hil. P X X

Ossaea fragilis Cogn. P X Solanum granulosoleprosum Dunal P X

Ossaea marginata (Desr.) Triana P X Solanum aff insidiosum Mart. P X

Ossaea meridionalis D´El Rei Souza P X X Solanum pseudoquina A.St.-Hil. P X

Tibouchina cerastifolia Cogn. P X Solanum swartzianum Roem. & Schult. P X X

Tibouchina fothergillae (Schrank & Mart. ex DC.) Cogn. P X Solanum variabile Mart. P X X

Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn. P X X Solanum vellozianum Dunal P X

Tibouchina pulchra Cogn. P X X Symplocaceae

Tibouchina regnellii Cogn. P X X Symplocos celastrinea Mart. NP X

Tibouchina scaberrima (Triana) Cogn. P X Symplocos estrellensis Casar. NP X

Tibouchina sellowiana Cogn. P X X Thymelaeaceae

Meliaceae Daphnopsis schwackeana Taub. NP X

Cabralea canjerana (Vell.) Mart. NP X X Urticaceae

Guarea macrophylla Vahl NP X X Boehmeria caudata Sw. P X

Monimiaceae Urera baccifera (L.) Gaudich. ex Wedd. P X

••Mollinedia engleriana Perkins NP X Verbenaceae

Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins NP X X Lantana camara L. P X X

Mollinedia triflora (Spreng.) Tul. NP X Verbena bonariensis L. P X

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As espécies encontradas em maior número de pontos foram Piper gaudichaudia-num Kunth (22), Miconia theaezans (Bonpl.) Cogn. (19), Bathysa stipulata (Vell.) J. Presl (13), Psychotria suterella Mull.Arg. (12) e Tibouchina pulchra Cogn. (12). Algumas espécies como Pera heteranthera (Schrank) I.M.Johnst., que foi coletada pela primeira vez no estado de São Paulo, e Croton vulnerarius Baill., com primeira ocorrência para região, ressaltam a importância de se realizar prospecções de floras locais. Merece destaque também, o registro de nove espécies listadas como ameaçadas: duas em perigo (EN) e sete vulneráveis (VU).

Figura 2 - Dendrograma de similaridade (índice de Sørensen) produzido por análise de agrupamento (método de ligação UPGMA) da composição de espécies arbóreas entre os 26 pontos amostrados de Floresta Ombrófila Densa na área administrativa da SGR-NPPA, município Santo André, SP, Brasil.

A análise de agrupamento, coeficiente de correlação cofenética = 0,7965, entre os locais de coleta evidenciou uma elevada heterogeneidade regional (Figura 2). Este resultado mostra que cada ponto, mesmo próximo, possui características próprias (2 e 4), e que pontos distantes podem ser semelhantes (11 e 16). Dessa forma o índice de similaridade de espécies pode ser utilizado para expressar a diversidade regional (diversidade beta), no sentido que, quanto menor for a similaridade entre as áreas, maior será a diversidade regional, devido a uma maior diferenciação florística em função da alta heterogeneidade entre as amostras, como já observado por outros autores, também para outras formações florestais (Felfili et al. 2004, Carvalho et al. 2008). A preservação da FOD, como se observa nas formações secundárias amostradas no município de Santo André e de outras áreas, em diferentes estádios sucessio-nais desta formação florestal, em outros municípios do estado de São Paulo (Franco et al., 2007), são importantes para a conservação, já que apresentam alta heterogeneidade florística resultante das variações ambientais e dos diferentes graus de perturbação a que essas florestas foram submetidas. Para a área estudada algumas dessas variações podem ser causadas pela diferença de precipitação pluviométrica de quase 1.000 mm de um ponto a outro, conforme citado no PSA (2008). Influenciam também o relevo, a proximidade da Represa Billings, no Parque Andreense e da Serra do Mar, na Vila de Paranapiacaba, com morros baixos para o Parque Andreense, enquanto que na Vila predominam morros escarpados (PSA 2008). Outro aspecto a ser considerado são os estádios de regeneração e o gradiente altitudinal percorrido, como no caso de pontos 18, 19 e 21, próximos a Vila. Como resultado da PCoA os 26 pontos

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foram arranjados em dois grupos, um pertencente as áreas encontradas no Parque Andreense, mais próximos da Represa Billings (à esquerda no gráfico) e também com maior influência antrópica e outro das áreas mais próximas a Vila de Paranapiacaba (Figura 3). O resultado mostra que embora a área de coleta seja considerada fisionomicamente homogênea, existem diferenças florísticas locais que devem ser consideradas, quando da escolha das espécies su-geridas para a recomposição.

Figura 3 - Relações florísticas através da análise por coordenadas principais (PCoA) entre os 26 pontos amostrados na Floresta Ombrófila Densa na área administrativa da SGRNPPA, município Santo André, SP, Brasil.

Recentemente a eficácia da Resolução SMA 8-2008 tem sido discutida por auto-res que se posicionam a favor (Brancalion et al. 2010) ou contra (Durigan et al. 2010) quanto a sua aplicabilidade. Das 195 espécies encontradas na região, quando comparadas com a lista exemplificativas mencionada na Resolução SMA 8-2008, apenas 56 são citadas, cerca de 28% do total. Se considerarmos todas as 514 espécies sugeridas pela SMA 08-2008 para FOD (regiões ecológicas litoral norte e sudeste), aproximadamente 11% são encontradas na área estudada, apenas Rhamnus sphaerosperma é citada para Mata Ciliar (MC), mas não é indicada para FOD. Salienta-se ainda que a área amostrada possui áreas de preservação per-manente localizadas em cabeceiras de nascentes e olhos d’água, elevado potencial de erodi-bilidade dos solos, são corredores ecológicos e estão localizadas em zonas de recarga hídrica e de relevância ecológica, sendo portanto prioritária para a recuperação florestal segundo a Resolução SMA 8-2008.

4. ConCLuSõeS

Apesar da área de estudo estar inserida em uma região com altos níveis de pres-são e de interferência antrópica, atualmente o que se observa é uma floresta com uma riqueza florística que demonstra uma tendência de continuidade e não fragmentos isolados. O sexto pressuposto de Durigan et al. (2010) “one size first all”, diz que não há um modelo único de recuperação devido aos diferentes fatores abióticos e bióticos encontrados em uma área a ser recuperada. O trabalho aqui realizado mostra que embora a área estudada seja classificada

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como FOD, existem diferenças no estabelecimento de suas floras locais, que fazem com que tanto a Vila de Paranapiacaba como o parque Andreense possuam composição florística di-ferenciada. Isso nos leva também a considerar os problemas relativos à obtenção de espécies para a recuperação florestal, podendo aumentar a probabilidade de contaminação biológica ou genética como citado por Durigan et al. (2010). A riqueza florística encontrada justifica a intensificação de prospecções da flora local, para que a aplicabilidade da Resolução SMA 8-2008 tenha maior eficiência, além da incorporação das espécies não encontradas na lista exemplificativa da mesma. Além disso, as áreas amostrais do Parque Andreense e da Vila de Paranapiacaba, embora sejam próximas e apresentem a mesma fisionomia florestal, possuem composição florística distinta, o que reforça a necessidade de prospecções florísticas locais para a recuperação de áreas florestadas. Finalmente cabe lembrar que o foco da restauração ecológica é a recuperação das propriedades essenciais do ecossistema que o tornem ecolo-gicamente viável, incluindo sua biodiversidade e funcionalidade, e que necessariamente este não voltará às suas condições passadas por tratar-se de um sistema dinâmico (Engel, 2011).

5. AGRAdeCIMentoS

A Prefeitura de Santo André e Instituto de Botânica, aos seus corpos técnico e administrativo, pesquisadores e biólogos que colaboraram na coleta e/ou identificação do ma-terial botânico.

6. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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EXPERIÊNCIA EM RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA NA BACIA DO SÃO FRANCISCO

Antonio Claudio Davide1

1. IntRodução

Nos últimos oito anos tivemos a oportunidade de desenvolver alguns trabalhos na bacia do Rio São Francisco, notadamente nas sub-bacias do Alto, Médio e Submédio São Francisco, nos estados de Minas Gerais e Bahia. Nesse contexto, elaboramos o Plano Inte-grado de Desenvolvimento Florestal Sustentável de Suporte ao Programa de Revitalização da Bacia do São Francisco nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Distrito Federal- PIDF-SF, publicado em março de 2008. Trata-se de um documento de planejamento do setor florestal, com ênfase na restauração de ecossistemas florestais das APPs das margens dos rios e reservatórios.

Um grande trabalho de extensão, visando à restauração de ecossistemas de APPs foi realizado em parceria com o Instituto Estadual de Florestas - IEF-MG, e a CODEVASF, onde 286,7 ha de APPs foram restaurados, nos municípios de Porteirinha, Janaúba, Mato Verde, Mamonas, Catutí, Gameleiras e Espinosa, na região norte de Minas Gerais. Nessa região, predominam os rios temporários e efêmeros e vegetação de transição entre cerrado e caatinga, denominada de mata seca. Na região do Alto São Francisco, região de transição entre mata atlântica e o cerrado, nos Municípios de Arcos, Lagoa da Prata, Pains, Iguatama e Pimhuí foram implantados 25 ha de modelos de restauração de APPs, entre novembro de 2007 a fevereiro de 2008, em parceria com 20 proprietários rurais, MMA e FAO.

Desde abril de 2008, coordenamos o Centro de Referência em Recuperação de Áre-as Degradadas do Alto São Francisco, com sede no Distrito de Corumbá, Município de Arcos--MG, em parceria com a CODEVASF e MMA. Nesse centro são realizadas ações de mobiliza-ção social, educação ambiental, coleta de sementes e produção de mudas, recuperação de APPS, além da manutenção e monitoramento dos 25 ha dos modelos de restauração das APPs, citados acima. No sentido de garantir a coleta de sementes com diversidade taxonômica e genética, criamos o software: “Arbórea”, um sistema que permite administrar todas as etapas do processo de produção de sementes destinadas à restauração de ecossistemas florestais.

2. CARACteRIzAção dA áReA de ABRAnGênCIA do PIdF-SF

Como unidade de planejamento para um programa de restauração ecológica de ecossistemas florestais, particularmente daqueles que ocupam as Áreas de Preservação Per-manentes – APPs, a bacia do Rio São Francisco apresenta particularidades únicas quanto aos aspectos ambientais e sócioeconômicos. A bacia do São Francisco está subdividida nas sub--bacias do Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco. Para as três primeiras sub-bacias foi elaborado sob nossa coordenação, o Plano Integrado de Desenvolvimento Florestal Sus-tentável de Suporte ao programa de Revitalização da Bacia do São Francisco nos Estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Distrito Federal – PIDF-SF.

1 Professor titular do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras. Coordenador do Centro de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas do Alto São Francisco – CRAD-ASF. Email: [email protected]

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Existem acentuados contrastes socioeconômicos na área do PIDF-SF. Observam--se áreas de riqueza e alta densidade demográfica e áreas de pobreza crítica e população bas-tante dispersa. A maior concentração de pessoas ocorre no Alto São Francisco, principalmen-te, no Estado de Minas Gerais, onde se encontra a Região Metropolitana de Belo Horizonte

De acordo com os resultados apresentados nos Relatórios ANA/GEF/PNUMA/OEA (Subprojeto 4.5C, 2004) predominam os climas tropicais úmidos e sub-úmido, no Alto e Médio São Francisco, semi-árido, no Sub-médio, e semi-árido e tropical sub-úmido, no Baixo. A precipitação média anual na bacia é de 1.036 mm, podendo variar desde menos de 600 mm, no Semi-árido nordestino, entre Sobradinho (BA) e Xingó (BA), até mais de 1.400 mm, nas nascentes localizadas no Alto São Francisco, em Minas Gerais.

Considerando-se toda a diversidade edafoclimática a cobertura vegetal na área de abrangência do PIDF-SF, contempla fragmentos de diversos biomas (Figura 1). Entre as florestas, encontram-se a Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Estacional Semidecidual, a Floresta Estacional Decidual, as áreas de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, entre o Cerrado e a Caatinga e os Campos de Altitude.

FIGURA 1 - Biomas de ocorrência na Bacia do Rio São Francisco na área de abrangên-cia do PIDF-SF. Fonte: Recuperação, 2008.

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A Floresta, predominante na região úmida, apresenta-se, também, nas regiões sub-úmidas secas e úmidas, ao longo dos rios e riachos, onde ocorre maior umidade do solo, formando floresta de galerias ou mata ciliar, que ocorre, ainda, nas regiões de clima sub--úmido seco e transicional para semi-árido, onde há presença de solos de alta fertilidade. O Cerrado predomina nas regiões de clima úmido e sub-úmido e de solos de baixa fertilidade. O grande domínio deste tipo de vegetação, que cobre 33,9% do Vale, está localizado em Minas Gerais e no Oeste da Bahia (Alto e Médio São Francisco). Já a Caatinga, é a vegetação das áreas de clima árido e semi-árido, predominando na Bahia, Pernambuco e Oeste de Alagoas e Sergipe, cobrindo 21,2% do Vale. Fisiograficamente situa-se no Médio, Submédio e Baixo São Francisco (Subprojeto 4.5C, 2004). Além disso, a caatinga é rica em espécies e em ende-mismos e está entre os biomas brasileiros mais degradados (Subprojeto 4.5C, 2003).

As áreas de contato ou transição dos tipos de vegetação dominantes perfazem 11,1%. Nas áreas antrópicas, que totalizam 24,8%, a agricultura ocupa 7%; as pastagens, 16,6%; o reflorestamento, 0,9%; e usos diversos, 0,3%. Os refúgios ecológicos e as áreas de conservação/preservação perfazem 1,0%. Portanto, as áreas de conservação, sejam elas, esta-duais ou federais, reservas indígenas ou áreas de proteção ambiental ainda são pequenas com relação às necessidades da Bacia (Subprojeto 4.5B, 2003).

As áreas de extrema importância para conservação localizam-se no entorno de alguns brejos e de áreas montanhosas úmidas antes revestidas de florestas, tais como as do Planalto da Ibiapaba do Norte/Jaburuca, da Serra de Baturité, da Chapada do Araripe, da serra Negra e de Caruaru, as situadas ao longo do Rio São Francisco, como, por exemplo, Bom Jesus da Lapa, Peruaçu/Jaíba, Ibotirama, médio do São Francisco e Xingó; bem como aquelas no centro do Estado da Bahia: Ibaetê/Abaíra, Morro do Chapéu, Senhor do Bonfim e Raso Catarina (MMA, 2004).

3. PRInCIPAIS PontoS A SeReM ConSIdeRAdoS no PRoGRAMA de ReStAuRAção dAS APPS dA BACIA do São FRAnCISCo

3.1. ASPeCtoS SoCIoCuLtuRAIS e eConôMICoS /InStItuCIonAIS

A realidade da Bacia do São Francisco mostra que os três grandes gargalos para a implantação de um grande programa de restauração de APPs referem-se à interação entre os aspectos socioculturais, os econômicos /institucionais e os ecológicos/técnicos. Esses as-pectos devem ser analisados e amplamente debatidos por todos os segmentos da sociedade.

Entre os aspectos socioculturais será preciso considerar o significado do uso atu-al das terras e os valores das sociedades locais, que não são as mesmas para toda a área de abrangência da bacia do São Francisco. Poucos proprietários rurais têm interesse na preser-vação das suas APPs, pois, muitas vezes, essas áreas são importantíssimas para o sustento de sua família. Não há estímulos financeiros para atividades de recuperação, principalmente para aqueles pequenos agricultores do árido e semi-árido que têm nas partes úmidas das suas APPs, seu principal sítio para produção de alimentos: Será necessário entender como essas comunidades se organizam; quais as lideranças que possam levar as comunidades ao debate provocando uma ampla discussão sobre as responsabilidades, os custos e benefícios do pro-cesso de restauração, bem como a forma e proporção da repartição dos benefícios financeiros, quando houver.

Quanto aos aspectos econômicos e institucionais, será preciso realizar um grande esforço de planejamento e alocação de recursos financeiros necessários para a realização de todas as fases do organograma, conforme proposto em Recuperação (2008), além da definição sobre quem ou qual órgão do governo executaria um programa desse porte, ou seja, recupe-rar 1.000.000ha de APPs das margens dos cursos d’água, com custos estimados em R$ de R$4.172.746.200,00 em 2008. Além disso, uma forte ação de capacitação técnica terá que ser

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exercida junto aos agentes multiplicadores, habilitando-os a repassar para os agricultores e para a sociedade em geral, as principais opções de incentivo à atividade e técnicas associadas aos processos de restauração das APPs. Os Centros de Referência em Recuperação de Áre-as Degradadas – CRADs, implantados ao longo da bacia do São Francisco, uma parceria do MMA e universidades locais, poderão produzir os materiais didáticos e treinar os agentes multiplicadores que atuarão nas comunidades rurais.

3.2. ASPeCtoS eCoLóGICoS e téCnICoS dA ReStAuRAção de eCoSSISteMAS CILIAReS

A restauração do ecossistema ciliar exige o conhecimento das complexas relações bióticas e abióticas que são responsáveis pela sua estruturação e manutenção ao longo do tempo (Rodrigues e Gandolfi, 2004). Restaurar um ecossistema consiste, portanto, no restabelecimento das características estruturais e funcionais próximas a da floresta original (Macedo 1993). A res-tauração é uma tentativa de retornar o ecossistema à sua trajetória histórica, sendo as condições históricas, o ponto de partida ideal para o planejamento da restauração, SER, 2004. O ecossis-tema restaurado, não irá necessariamente recuperar seu estado prévio, já que as condições e limitações atuais podem ter causado seu desenvolvimento em uma trajetória alterada.

Na bacia do São Francisco, a restauração de ecossistemas das APPs encara uma gran-de diversidade edafoclimática que se reflete num intenso mosaico vegetacional entre regiões da bacia hidrográfica chegando a grandes variações na faixa de APP de um mesmo sítio. Ao contrário das APPs situadas no bioma da Mata Atlântica, onde predomina a mata ciliar, as APPs das mar-gens de rios e reservatórios situados nos biomas do Cerrado e da Caatinga, são ocupadas por uma estreita faixa de vegetação arbórea, denominadas de matas de galeria. Muitas vezes, as APPs são ocupadas pela vegetação do bioma predominante, como acontece no reservatório de Três Marias (cerrado) e Sobradinho (caatinga). Desta forma a restauração da vegetação das APPs das margens de rios e lagos nesses dois biomas, nem sempre se refere à restauração de matas ciliares.

As matas ciliares podem ser definidas como formações florestais associadas aos cursos d’água, as quais podem estender-se por dezenas de metros a partir das margens e apre-sentam marcantes variações na composição florística e estrutura da comunidade dependendo das interações estabelecidas entre o ambiente aquático e sua vizinhança (Oliveira-Filho, 1994).

A expressão “matas ciliares”, segundo Ribeiro et al. (1999) e Ab’Sáber (2000), envolve todos os tipos de vegetação arbórea ocorrente ao longo dos cursos d’água, inde-pendente da fisionomia, florística ou região geográfica de ocorrência. A definição de matas ciliares tem sido empregada no sentido amplo englobando o conceito de matas de galeria ou florestas ripárias. No bioma Cerrado, segundo Walter e Ribeiro (1997) essas formações flo-restais são caracterizadas como uma vegetação lenhosa que margeia as linhas de drenagem natural do terreno, denominadas matas de galeria.

O ambiente ciliar apresenta características bióticas (florística) e abióticas (edáfi-cas) bastante distintas daqueles que a circundam. Dessa forma, fica evidenciada a existência de uma relação direta entre as espécies ocorrentes na mata ciliar com os atributos físico--químicos do solo (Spera 1995, Van den Berg e Oliveira Filho 2000). Na bacia do rio São Francisco as matas ciliares estão inseridas desde o bioma da mata atlântica, do cerrado, da caatinga e por todos os ecótones existentes entre esses biomas. Isso exige atenção muito especial nos trabalhos de recuperação, pois a recuperação de um ambiente degradado ou a restauração de um ecossistema deve envolver diversos preceitos para que o objetivo final, o estabelecimento de um ecossistema auto-sustentável, seja alcançado. Pode-se considerar que um ecossistema foi restaurado, quando o mesmo possuir recursos bióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem precisar de mais assistência ou subsídio, ou seja, ele irá sustentar-se sozinho, estrutural e funcionalmente.

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Assim, a caracterização das condições edafoclimáticas, a seleção das espécies para cada tipo de ambiente e o emprego de métodos e técnicas silviculturais adequadas devem se ajustar perfeitamente para garantir o sucesso do processo de recuperação. Segundo SER, 2004 existem nove atributos básicos que determinam se a restauração teve êxito: a - O ecos-sistema restaurado contém um conjunto característico de espécies que ocorrem em ecossiste-mas de referência e que provém uma estrutura de comunidade apropriada; b - O ecossistema restaurado consiste de espécies nativas na maior extensão possível. Em ecossistemas culturais restaurados, podem ser permitidas espécies exóticas domesticadas, ruderais não invasivas e segetais que presumivelmente co- evoluíram com eles. Ruderais são plantas que colonizam áreas perturbadas e segetais tipicamente crescem junto com espécies cultivadas; c - Todos os grupos funcionais necessários para o desenvolvimento contínuo e/ou estabilidade do ecossis-tema restaurado estão representados, ou, se não forem, os grupos faltantes têm o potencial de colonizar a área, por meios naturais; d - O ambiente físico do ecossistema restaurado é capaz de sustentar suficientes populações reprodutivas de espécies para sua estabilidade continuada ou desenvolvimento ao longo da trajetória desejada; e - O ecossistema restaurado aparentemente funciona normalmente para seu estágio ecológico de desenvolvimento e não há sinais de disfunção; f- O ecossistema restaurado é adequadamente integrado em uma ampla paisagem ou matriz ecológica que interage através de trocas e fluxos bióticos e abióticos; g - Ameaças potenciais da paisagem circundante à saúde e integridade do ecossistema restaurado foram eliminadas ou reduzidas ao máximo possível; h - O ecossistema restaurado é suficien-temente resiliente para suportar eventos estressantes normais e periódicos no ambiente local que servem para manter a integridade do ecossistema; i - O ecossistema restaurado é auto--sustentado no mesmo grau que seu ecossistema de referência e tem o potencial de persistir indefinidamente sob as condições ambientais existentes.

No entanto, aspectos da estrutura e funcionalidade do ecossistema restaurado po-dem sofrer mudanças, como parte de um desenvolvimento normal ou em respostas a estresses periódicos normais e perturbações ocasionais de maior importância. Outros atributos podem ser adicionados aos nove atributos citados acima, se forem identificados como metas espe-cíficas da restauração, como oferecer bens naturais e serviços para a sociedade, SER, 2004. Para o bioma da Mata Atlântica existe um histórico em restauração que se iniciou de forma mais pronunciada no final da década de 1980, o que nos permite atualmente avaliar a evolução dos conceitos e metodologias aplicadas à restauração de ecossistemas florestais. Uma descri-ção das principais metodologias utilizadas na restauração foi apresentada por Kageyama e Gandara, 2004 e mais recentemente, as fases dos processos de restauração foram detalhadas, em Rodrigues et al, 2009. No entanto, para o bioma do Cerrado e da caatinga, não existem experiências em larga escala que permitam uma análise detalhada das estratégias utilizadas.

Para as zonas de transição entre Mata Atlântica e o Cerrado, como no triângulo mineiro e na região de Lavras, foram implantados centenas de ha de matas ciliares. Com o objetivo de avaliar esses ecossistemas em fase de restauração, foram realizados dois estudos Reis (2008) e Ferreira (2009), em 33 áreas, resultado da parceria da CEMIG e dos proprie-tários rurais do entorno do reservatório de Volta Grande, no triângulo mineiro. Nas 15 áreas estudadas por Reis (2008), com idades variando de 1 a 15 anos, foram plantadas 13 a 38 espécies e em outras 18 áreas com idades variando de 4 a 17 anos, Ferreira (2009), encontrou áreas com plantio de 23 a 38 espécies.

Reis, 2008, encontrou 114 espécies florestais plantadas pertencentes a 36 famí-lias e 97 gêneros. Ferreira (2009) registrou no estrato arbóreo, 126 espécies, pertencentes a 97 gêneros e 35 famílias. Das espécies plantadas, 18,5% pertencem ao grupo das Pioneiras (P), 61,5% pertencem ao grupo das Clímax exigentes de luz (CL) e 20,0%, são espécies Clímax tolerantes à sombra (CS). As famílias com maior riqueza de espécies foram Legu-minosae (39 espécies), Anacardiaceae (8), Euphorbiaceae (7), Malvaceae (4), Meliaceae (4)

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e Myrtaceae (4), as quais representam 65,8% das espécies amostradas, enquanto que 15,8% das famílias foram representadas por uma única espécie. Em um levantamento florístico de floresta semidecidual ripária do Baixo Rio Grande no município de Conquista - MG, Vilela et al (1999) encontrou como famílias mais importantes Leguminosae, Myrtaceae, Euphorbiaceae, Moraceae, Rubiaceae, Lauraceae, Meliaceae e Anacardiaceae, as quais re-presentaram 47,97% das espécies. Considerando-se estas 7 famílias de maior importância, 5 famílias (Leguminosae, Anacardiaceae, Euphorbiaceae, Meliaceae e Myrtaceae) são co-muns às famílias encontradas nos reflorestamentos, destacando a adaptabilidade destas à região de estudo.

Ressalta-se a importância de espécies pioneiras, com grande capacidade de atra-ção da fauna, como a calabura (Mutingia calabura), a trema (Trema micrantha), as aroeiras (Schinus terebinthifolius, Lithraea molleoides), a embaúba (Cecropia pachystachia), a goia-beira (Psidium guajava) e o pombeiro (Tapirira guianensis), que possuem dispersão zoocóri-ca (ornitocoria e quiropterocoria) e são importantes agentes dispersores de sementes a longas distâncias, o que é de relevada importância para a área estudada, onde as distâncias entre os fragmentos de florestas nativas e os reflorestamentos são muito grandes.

O grupo das CL está representado por um grande número de espécies (70), que correspondem a 61,5% do total das espécies avaliadas (Reis, 2009). Foram encontra-das 9 espécies exóticas (7,9%), tais como Acacia auriculiformis, Acacia mangium, Clitoria fairchildiana(amazônica), Delonix regia, Leucaena leucocephala , Mangifera indica, Melia azedarach, Syzygium jambolanum e Tipuana tipu, algumas como, Mangifera indica,Clitoria fairchildiana e Syzygium jambolanum são espécies de grande interesse por sua grande capa-cidade de sombreamento do capim colonião e adaptabilidade às margens encharcadas do re-servatório. Essas espécies também possuem grande capacidade de estabilização das margens do reservatório, além de terem comportamento largamente conhecido no Brasil. As demais, na medida do possível, não deveriam ser utilizadas nos plantios de restauração de ecossiste-mas, pelo desconhecimento de seu comportamento frente às diversas situações encontradas, podendo, por exemplo, tornarem-se espécies invasoras.

Como na maioria dos projetos de restauração da mata ciliar em Minas Gerais, a principal limitação existente para a realização de reflorestamentos nos moldes da sucessão florestal secundária está relacionada à falta de incentivos à estruturação de programas de coleta de sementes, que deveriam apresentar maior diversidade florística e genética visando à produção de mudas dos diferentes grupos ecológicos, e de espécies com adaptação específicas de ambiente, como várzeas e afloramentos rochosos.

No estudo de Reis (2008), foram encontradas sob o dossel dos reflorestamentos 80 espécies regenerantes, pertencentes a 32 famílias. O número de espécies regenerantes va-riou de 1 a 39 em cada uma das 15 áreas estudadas. Do número total de espécies regenerantes, 64 espécies (80,0%) coincidem com as espécies plantadas, o que indica que a grande parte da regeneração é originada da dispersão das sementes das espécies presentes nos reflorestamen-tos, devido à grande distância de fragmentos florestais. O mais próximo dista a 2 km na outra margem do reservatório. Em cada uma das 18 áreas estudadas por Ferreira (2009), o número de regenerantes variou de 1 a 29 com similaridade média de 54%.

Nos dois estudos concluiu-se que se pôde considerar como ecossistemas florestais restaurados, aqueles com idades a partir de sete anos, quando ocorre acumulo de serrapilheira e regeneração natural considerável, embora o fechamento do dossel tivesse ocorrido entre três a quatro anos. Considerando-se as relações lineares entre os valores de densidade, riqueza e diversidade (H’) da regeneração, até os 18 anos, considera-se que as áreas estejam ainda em processo de restauração. Adotando-se a idade mínima para restauração de sete anos, poderia se estabelecer esta idade como período de monitoramento, que poderia ser dividido em uma avaliação semestral no primeiro ano, seguido de avaliações anuais nos subseqüentes.

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A restauração de ecossistemas, nos biomas do Cerrado e da Caatinga predomi-nantes na bacia do São Francisco, é ainda muito incipiente, limitando-se a poucas experiên-cias, em escalas reduzidas, mas, por outro lado, felizmente ainda existem muitos fragmentos e áreas contínuas ocupadas por vegetação stricto sensu do cerrado e da caatinga, o que permite contar com a regeneração natural, como o principal método para restauração quando os pré--requisitos existirem.

Alguns autores, como Felfili et al, 2008 e Corrêa, 2005, propõem modelos de restauração para o Cerrado. Segundo Felfili et al, 2008, os modelos sucessionais utilizados para restauração de ecossistemas florestais tropicais, não se aplicam às condições do Cerrado, e das florestas estacionais, conhecidas como matas secas,onde as árvores, normalmente estão totalmente expostas à luz. Segundo Corrêa 2005, o modelo que melhor se adapta à recupe-ração de áreas degradadas pela mineração no Cerrado é a separação das espécies em dois grupos: espécies de crescimento rápido e espécies de crescimento lento, sem levar em consi-deração a ecologia das mesmas. As espécies da mata seca e de galeria apresentam crescimen-to mais rápido do que as espécies do Cerrado stricto sensu, dessa forma, Felfili et al, 2005, recomendam o plantio de linhas de espécies do Cerrado stricto sensu intercaladas a linhas de espécies que ocorrem em matas de galeria e em matas mesofíticas. Segundo os autores, esse processo se assemelha ao mosaico de vegetação que ocorre naturalmente no Cerrado.

Nos Módulos Demonstrativos de Recuperação, propostos por Felfili et al, 2005, são plantadas pelo menos de 10 a 20 espécies principais, com no mínimo 50 plantas por espé-cie visando a obter populações viáveis, além de demais espécies, cerca de 30, que poderão ser introduzidas com números menores de indivíduos, funcionando como espécies acessórias. As mudas são plantadas numa densidade de 1.100/ha, com 10 espécies numa densidade maior, sem ultrapassar 150 indivíduos por espécie. Esses módulos poderão funcionar como núcleos para formação de corredores ecológicos. Neste contexto, a paisagem é considerada como um mosaico de diferentes fisionomias, com espécies do cerrado e de floresta, que irão fornecer abrigo e alimento para a fauna generalista que habita os vários ambientes, integrando-os.

Em 2007, foram implantados 25 ha de modelos de restauração de ecossistemas flo-restais às margens de pequenos cursos d’água em parceria com 20 proprietários rurais do alto São Francisco, nos municípios de Arcos, Iguatama, Lagoa da Prata, Pains e Piumhi. Esta região é caracterizada como de transição entre Mata Atlântica e Cerrado. Os modelos implantados foram:

a) Regeneração natural em áreas onde a vegetação nativa encontra-se em estágio inicial de sucessão, como os agricultores denominam de “pasto sujo” (RN1): Essa estratégia foi adotada no caso da ocorrência de três aspectos favoráveis: a presença de remanescentes (fragmentos) de vegetação nativa nas imediações, vegetação invasora pouco agressiva (capim-gordura e braquiária, por exemplo) e vegetação atual em estágio de “pasto sujo”. A ação consistiu no isolamento da área, com cercas, evitando a entrada do gado, e ma-nutenção periódica favorecendo o estabelecimento das espécies de interesse. Essa estratégia foi utilizada tanto na recuperação de áreas de Cerrado como em áreas de Floresta Estacional Semidecidual.

b) Regeneração natural em áreas onde a vegetação nativa encontra-se su-primida com a área a ser recuperada ocupada por pastagem ou lavoura. (RN2): Essa estratégia foi adotada onde existia alta ocorrência de remanescentes (fragmentos) de vege-tação nativa nas imediações, solos de melhor qualidade como os latossolos e podzólicos e assistência à regeneração, como a instalação de poleiros naturais como o plantio em grupos de 5 a 11 árvores com grande capacidade de atração de pássaros e morcegos e/ou a instalação de poleiros artificiais. Esses poleiros funcionarão como unidades nucleadoras favorecendo a RN. Partiu-se da premissa, que a longo prazo ocorrerá regeneração natural, mesmo em com-petição com capim, como a braquiária. Nesse caso a regeneração se dá principalmente a partir de espécies secundárias.

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Também nesse caso foi realizado o isolamento da área, com cercas evitando a entrada do gado, e manutenção periódica favorecendo o estabelecimento das espécies de in-teresse. Essa estratégia foi utilizada tanto na recuperação de áreas de Cerrado como em áreas de Floresta Estacional Semidecidual. Considerando a média dos dois modelos de regeneração natural, foram recrutadas 17 espécies em média, com um número médio de 14.400 indivíduo/ha, após 3,5 anos da implantação.

c) Plantio de enriquecimento florestal (PEF): foi empregado o enriquecimento florestal nos casos em que houve uma maior fragmentação ou ocorrência de perturbações por fatores ambientais ou antrópicos como em áreas ocupadas por poucas árvores isoladas e distantes de fragmentos florestais. Nesse caso foi efetuado o cercamento da área e o plantio de cerca de 500 mudas/ha, em covas abertas manualmente, buscando-se preencher os espaços não ocupados pelas árvores remanescentes. Foram privilegiadas as espécies de rápido cres-cimento e adaptadas à região. A base científica para a escolha das espécies foi o CD: Revita-lização do Rio São Francisco editado pelo MMA em parceria com a UFLA (MMA/UFLA/CCNMG, 2003). Aos 3,5 anos, existem 41 espécies no extrato arbóreo, com altura variando de 0,6 a 5,6m; cap de 3,0 a 22 cm e área de copa entre 0,6 a 18,9m2.

d) Plantio em área total com alta densidade de plantas e alta diversidade de espécies (PAT 1): essa estratégia foi utilizada na restauração de Florestas Estacionais Semide-ciduais, em áreas ocupadas por extensas pastagens e lavouras, distantes de fragmentos florestais e compreendeu os seguintes critérios: A seleção das espécies empregadas foram definidas com base no CD-Rom “Revitalização do Rio São Francisco” (MMA/UFLA/CCNMG, 2003). Esque-ma de plantio: o plantio foi realizado em quincôncio, no espaçamento 3,0 x 1,5m seguindo-se o conceito de sucessão secundária onde 40% das mudas plantadas pertencem ao grupo funcional das pioneiras (P), 35% de espécies clímax exigente de luz (CL) e 25% de espécies c l í m a x tolerantes à sombra (CS). Após 3,5 anos, existem 50 espécies no extrato arbóreo, com altura variando de 0,9 a 5,25m; cap de 1,0 a 21,0 cm e área de copa entre 0,8 a 21,3 m2.

e) Plantio em área total com alta densidade de plantas e baixa diversidade de espécies (PAT 2): essa estratégia foi utilizada na recuperação de áreas onde predomina a vegetação do cerrado e compreendeu os seguintes critérios:

Esquema de plantio: o plantio foi realizado buscando-se privilegiar um grupo menor de espécies de rápido crescimento próximo às margens do curso d’água, e seguindo-se o gradiente de perda de umidade do solo, o restante das mudas pertence às espécies adaptadas ao cerrado. As mudas foram plantadas no espaçamento 3,0 x 2,0m. Nesse caso não foram observados os princípios da sucessão secundária sendo a distribuição de mudas realizada, alternando-se espécies de crescimento rápido e lento. Após 3,5 anos, existem 43 espécies no extrato arbóreo, com altura variando de 1,2a 6,7m; cap de 1,0 a 21 cm e área de copa entre 008 a 19,6 m2

f) Plantio de árvores sombreadoras visando ao controle do capim colonião (PS): esta técnica foi implantada em uma área dominada por capim colonião com 3 a 4 m de altura. Essa técnica ganha importância nas áreas onde não é conveniente o uso de herbicidas, como em unidades de conservação, margens de rios e cabeceiras de nascentes. Foi realizado o plantio de mudas de sombreiro (Clitoria fairchildiana), com 30 a 40 cm de altura, no es-paçamento 3,0 x 3,0m, em clareiras de um metro de diâmetro abertas no colonião. As mudas são coroadas e adubadas três vezes ao ano. Por observação de campo, em áreas do entorno do reservatório de Volta Grande, espera-se que num prazo de quatro anos, o sombreiro virá a sombrear o colonião e nesse momento será realizado o plantio de espécies não pioneiras em alta diversidade, no sub-bosque do sombreiro. A partir de 7 a 8 anos, o sombreiro muda a for-ma de suas copas, abrindo o espaço para o crescimento das não pioneiras plantadas no quarto ano. Com 2,5 anos de idade as copas das árvores plantadas estão com 3m de altura, saindo da sombra do colonião.

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Nas regiões com predomínio dos cerrados e da caatinga, por falta de experiência em larga escala, custos baixos e reduzido impacto ambiental, temos optado pelo uso da rege-neração natural, mesmo que numa primeira etapa. Atualmente o projeto SOS São Francisco, coordenado pelo Ministério Publico, com recursos da CODEVASF, prevê o cercamento de 450 km em cada margem da calha principal do rio São Francisco, no trecho compreendido entre a nascente em São Roque de Minas e a barragem de Três Marias.

Em determinadas áreas da caatinga, como nas bacias dos rios Salitre e Verde, ou nas margens da represa de Sobradinho, na Bahia, onde as APPs, ou mesmo as calhas úmidas dos rios são utilizadas para a produção de alimentos, será necessário um amplo trabalho de mobilização social, buscando alternativas econômicas para a população local. Trata-se de trabalho de longo prazo.

4. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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FERRAMENTAS DISPONÍVEIS VISANDO À RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁREAS DEGRADADAS: CONTRIBUIÇÃO DO INSTITUTO DE BOTÂNICA DE SÃO PAULO DA SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE

Luiz Mauro Barbosa1

Tiago Cavalheiro BarbosaKarina Cavalheiro Barbosa

1. IntRodução

O Jardim Botânico de São Paulo (JBSP) e o Instituto de Botânica (IBt), ao qual se vincula, têm como missão principal a preservação e o uso sustentável da biodiversidade paulista e brasileira, por meio da conservação “in situ” e “ex situ” e do conhecimento de todos os grupos de plantas e fungos, bem como de suas relações com o meio ambiente, incluindo educação ambiental, capacitação e pesquisas envolvendo a restauração ecológica de ecossis-temas degradados. Com a criação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) em 1986, o IBt passou a integrar esta secretaria e a envolver-se mais fortemente com a “restauração eco-lógica”. Já em 1989, organizou o “I Simpósio sobre Mata Ciliar” e em 1992 reabriu o Jardim Botânico de São Paulo (JBSP) à população, promovendo, além do lazer contemplativo, uma perfeita sintonia entre os produtos das pesquisas científicas decodificados e os programas de educação ambiental. O IBt e JBSP, juntamente com as unidades de conservação que adminis-tra (Parque Estadual das Fontes do Ipiranga - PEFI, Reserva Biológica do Alto da Serra de Pa-ranapiacaba - RBASP e Reserva Biológica de Mogi-Guaçu - RBMG), têm produzido e dispo-nibilizado verdadeiros laboratórios vivos de apoio às pesquisas e ao curso de pós-graduação em biodiversidade vegetal e meio ambiente, implantado em 2002. Também a partir de 2000, instituiu a Coordenação Especial de Restauração Ecológica de Áreas Degradadas (CERAD), que organizou e coordenou diversos eventos científicos, balizadores de políticas públicas da SMA e do governo paulista, como as resoluções orientativas (atualmente em vigor a SMA 08/08), além de promover vários cursos de capacitação para restauração, em todo o Estado, e estabelecer “ferramentas” facilitadoras para diversos processos e situações de restauração ecológica, sendo esta a principal abordagem deste artigo.

2. ASPeCtoS hIStóRICoS dA evoLução dAS PeSquISAS SoBRe ReStAuRAção eCoLóGICA

O estado de São Paulo é hoje o único do Brasil que tem políticas públicas para reflorestamentos heterogêneos com espécies nativas, considerando a diversidade de espécies florestais, o que auxilia na conservação de sua biodiversidade, além de agregar outros proces-sos facilitadores como a nucleação, o uso de topsoil, entre outras técnicas. Barbosa e Barbosa (2007) comentaram sobre as principais bases teóricas para a restauração de áreas degradadas e apontam, ao final, as principais tendências atuais. Antes disso, já a partir dos estudos sobre

1 Instituto de Botânica do Estado de São Paulo. [email protected]

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restauração de áreas degradadas desenvolvidos nas décadas de 1980 e 1990, embora ainda in-cipientes, o Instituto de Botânica organizou o I Simpósio sobre Matas Ciliares, em 1989 (Bar-bosa coord. 1989), na cidade de São Paulo. Depois, em 2000, o primeiro Workshop sobre Re-cuperação de Formações Florestais Litorâneas, na cidade de São Sebastião (Barbosa, 2000), e mais recentemente, importantes palestras e simpósio sobre restauração ecológica, ocorridos no 58º Congresso Nacional de Botânica (Barbosa e Santos Jr. org., 2007), eventos que podem ser considerados marcos importantes na discussão da temática sobre restauração ecológica de áreas degradadas. Após a realização dos dois primeiros eventos citados, verificou-se um intenso desenvolvimento da ciência e tecnologia para restauração de áreas degradadas, com obtenção de resultados importantes, tanto para valorizar as espécies florestais nativas, quanto para modelagem em reflorestamentos de zonas ciliares. Também a produção de sementes e mudas de espécies arbóreas nativas apresentou importantes avanços nas duas últimas décadas, (Barbosa, 2011a), mas foi a partir de constatações das pesquisas desenvolvidas pelo IBt, no início deste século, que novos paradigmas foram estabelecidos pelos pesquisadores e adota-dos pela SMA. O plantio a partir de 80 espécies florestais nativas ou mais por hectare, pro-posto por Barbosa coord. (2002), resulta das pesquisas desenvolvidas pelo IBt, em Projetos de Políticas Públicas (PPP) apoiados pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Complementares a estes resultados há pesquisas e estudos desenvolvidos por algumas universidades paulistas como USP, UNESP, UFSCAR, entre outras.

Para se ter uma idéia de como esta temática vem sendo discutida no estado de São Paulo, nos últimos 20 anos foram realizados, apenas pelo IBt/SMA, mais de 20 eventos entre cursos, simpósios, workshops e congresso. Com a criação do CERAD, no início do ano de 2000, e os projetos de políticas públicas, apoiados pela FAPESP, verificou-se a necessidade de se estabelecer normas ou parâmetros orientativos para a restauração florestal de áreas de-gradadas no estado de São Paulo.

O IBt, através do CERAD, tem sido um exemplo muito positivo de como a ciência pode auxiliar no estabelecimento de políticas públicas para meio ambiente. Assim, o estabe-lecimento de parâmetros facilitadores de planejamento, avaliação e licenciamento ambiental, envolvendo a identificação de obstáculos e dificuldades sócio-ambientais, bem como suas soluções através de políticas públicas baseadas em resultados de pesquisa, são algumas das atividades que o IBt passou a desenvolver com maior ênfase, após a criação da SMA (1986).

De acordo com estudos desenvolvidos pelo IBt, em quase uma centena de proje-tos, todas as áreas reflorestadas há mais de 10 anos estavam em declínio, ou totalmente degra-dadas. Constatou-se que muitos destes insucessos estavam associados à baixa diversidade de espécies utilizadas, com média de 20 a 30 espécies; à falta de manutenção nos primeiros anos de plantio; ao uso de espécies inadequadas a cada situação; à falta de correção ou melhoria da fertilidade do solo; a plantios inadequados, entre outros fatores. Estas constatações levaram a SMA a editar a primeira resolução orientativa, a SMA 21, de 21/11/2001, que estabeleceu cri-térios mínimos para aprovação de projetos de reflorestamento relacionados a licenciamentos, solução de passivos ambientais, ajustamento de conduta, ou com uso de recursos públicos. A partir daí, o IBt discutiu o tema com os diversos segmentos envolvidos com esta questão (uni-versidades, institutos de pesquisa, órgãos licenciadores, fiscalizadores, de assistência técnica, ministério público e principalmente os agricultores e partes interessadas). Com a realização dos diversos eventos realizados pelo IBt, foi possível elaborar a primeira resolução orientativa (SMA 21/2001), que passou por várias revisões e aprimoramentos (SMA 47, em 2003, SMA 58, em 2006, e SMA 8, em 2007 e 2008), sempre considerando revisões periódicas (a cada 2 anos) e o caráter participativo, com atuação dos diversos atores e segmentos envolvidos com a restauração ecológica.

Como consequência muito concreta desta política, citam-se hoje, 10 anos após a edição da primeira resolução, alguns resultados incontestes obtidos com metodologias cientí-

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ficas, como foi o caso do diagnóstico sobre produção de mudas de espécies florestais nativas, no estado de São Paulo. Este diagnóstico apontou que a produção subiu de 12 para mais de 41 milhões de mudas/ano e uma diversidade específica de mudas produzidas que saltou de 130 para mais de 600 espécies, com a maioria dos viveiros produzindo com diversidade superior a 80 espécies florestais nativas (Barbosa, 2011a). Além disso, foi possível desenvolver várias “ferramentas”, que se encontram disponibilizadas no site do IBt – www.ibot.sp.gov.br – como a “chave de tomada de decisões”, lista de espécies florestais nativas com suas principais carac-terísticas, entre outras, que serão apresentadas mais adiante neste artigo.

3. BASeS teóRICAS

Partindo-se da premissa de que conservar a biodiversidade significa reconhecer, inventariar e atuar, visando a manter ao máximo essas diferenças, ou seja, manter a maior va-riabilidade possível de organismos vivos, de comunidades e de ecossistemas, e de que, salvo raras exceções, como nos manguezais, por exemplo, uma floresta tropical bem conservada chega a ter mais de 100 espécies nativas de estratos arbustivos e arbóreos em um único hec-tare, entende-se que a dinâmica florestal só entra em equilíbrio pelas estratégias de evolução desenvolvidas pelas espécies ao longo de centenas e milhares de anos, ou seja, a existência de poucos indivíduos de muitas espécies acaba sendo um mecanismo de autopreservação das mesmas e, consequentemente, das florestas tropicais, ao contrário do que acontece com plantios ou reflorestamentos com muitos indivíduos de poucas espécies, onde é possível que um provável ataque de pragas, ou ocorrência de doenças em uma determinada espécie nativa, multiplique-se rapidamente pela proximidade de “indivíduos irmãos”. Barbosa, coord. (2002) verificaram que em plantios de baixa diversidade, o ataque de brocas em um único indivíduo de cedro (Cedrela fissilis Vell) em plantios com baixa diversidade, promoveu a rápida con-taminação dos indivíduos vizinhos da mesma espécie, o que não ocorre em florestas natu-rais, onde os indivíduos da mesma espécie geralmente encontram-se distantes uns dos outros. Outros estudos desenvolvidos pelos mesmos autores indicaram resultados semelhantes para cerca de 100 áreas com reflorestamentos heterogêneos, a maioria com baixa diversidade es-pecífica, avaliados após 10-15 anos do plantio (Barbosa, 2011b). Kageyama (2007) também destacou que em novos ecossistemas formados com alta diversidade, ao contrário do que se observa em monocultivos, não se verificam problemas com pragas e doenças. As novas florestas implantadas com alta diversidade (80 ou mais espécies), como orientado pela reso-lução SMA 08/08 no estado de São Paulo, dificilmente apresentam estes problemas. O autor comenta que até mesmo o controle das formigas cortadeiras, capazes de acabar com um reflo-restamento, pode ser desnecessário após dois anos do plantio, creditando este não ataque de pragas e doenças, nestes reflorestamentos, à sua alta diversidade, à semelhança da estratégia existente na manutenção de florestas naturais, apesar delas conviverem com uma infinidade de microorganismos e insetos.

Neste sentido, Barbosa e Barbosa (2007) e Barbosa org. (2009) destacam impor-tantes constatações de bases técnico-científicas, muitas delas oriundas de amplas discussões com a comunidade científica, em fóruns adequados e destinados à proposição de políticas públicas para a restauração ecológica.

4. A ReStAuRAção eCoLóGICA: ContRIBuIção dA PeSquISA PARA PoLítICAS PúBLICAS do eStAdo de São PAuLo

Alguns projetos de políticas públicas desenvolvidos pelo IBt, no início da década passada, demonstraram a existência de insucessos, na maioria das iniciativas de restauração florestal nas formações vegetais biodiversas, como a Mata Atlântica. A partir daí, surgiu um

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movimento intenso de discussão sobre a ciência e a prática da restauração ecológica em São Paulo, culminando com a construção participativa de resoluções de caráter técnico e orientati-vo para os reflorestamentos heterogêneos, cujo objetivo era promover restauração com flores-tas biologicamente viáveis e com riqueza de espécies vegetais, condizentes com o dos ecos-sistemas de referência (Barbosa, et.al. 2003; Barbosa, coord. 2006 e Brancalion, et.al. 2010).

Neste contexto, Barbosa org.(2009) destacaram como premissas a serem conside-radas nos processo de restauração ecológica em áreas degradadas, os seguintes aspectos: a) a microbacia como unidade de análise; b) as causas da degradação e seu controle efetivo; c) os processos de sucessão natural; e d) o plantio de espécies florestais regionais associadas a pro-cesso de regeneração natural e/ou com aplicação de técnicas alternativas como a semeadura direta ou a nucleação, por exemplo. Cabe lembrar que, há cerca de 10 anos, a restauração de áreas degradadas caracterizava-se como uma atividade sem vínculos estritos com concepções teóricas, ou seja, era em geral executada como uma prática silvicultural de plantio de mudas. Desde então, diversas correntes de pensamentos têm se consolidado nos últimos anos, em geral propiciando uma significativa mudança na orientação de programas de restauração de áreas degradadas, em especial para áreas de preservação permanente (APPs) e reservas legais (RLs), tendo-se em consideração, inclusive, possíveis mudanças previstas para o código flo-restal brasileiro.

Estas mudanças implicam na troca da mera aplicação de práticas agronômicas ou silviculturais para os reflorestamentos, pela real necessidade de uma reconstrução de comple-xas interações das comunidades a serem implantadas, de maneira a conservar a biodiversidade e promover a sustentabilidade florestal. Há também o posicionamento de que os processos de restauração, além de promover a conservação in situ, devem cuidar de processos naturais de sucessão ou da chamada regeneração natural, o que, entre outros aspectos, também agrega valores econômicos importantes devido ao baixo custo de sua implantação.

São, portanto, posições distintas que determinam a necessidade de ampliação do processo de aprendizagem, onde é preciso não apenas impor nossas decisões na restauração de áreas degradadas, quer sejam com utilização de um grande número de espécies arbóreas plantadas, geralmente num modelo único, independente das características do local a ser re-cuperado, quer sejam através de técnicas de nucleação, que não considerem a paisagem do seu entorno e o substrato (solo), por exemplo.

É preciso também conhecer o histórico da degradação, as situações do entorno, em especial a existência de remanescente florestal, para só então preocuparmo-nos com a reativação e restauração dos processos ecológicos: principais responsáveis pelo sucesso dos reflorestamentos e da chamada restauração ecológica.

De qualquer forma, o plantio de espécies arbóreas nativas e regionais, conforme estabelecido pela Resolução SMA 08/08, seguramente encurta as etapas da restauração e deve ser mesmo uma exigência legal nos casos em que ela se aplica (artigo 4º da Resolução SMA 08/08), ou seja: “I. Projetos de recuperação florestal exigidos como condição para a emissão de licenças ambientais por órgãos integrantes do SEAQUA; II. Projetos de recu-peração florestal exigidos com o objetivo de promover a reparação de danos ambientais que foram objeto de autuações administrativas; III. Projetos de recuperação florestal previstos em Termo de Ajustamento de Conduta (TAC); IV. Projetos implantados com recursos públicos sujeitos à aprovação de órgãos integrantes do SEAQUA (Sistema Es-tadual de Qualidade Ambiental)”.

Também é preciso sempre lembrar que a restauração ecológica exige diversidade elevada, seja em ambientes savânicos e/ou florestais, devendo sempre ser compatível com o tipo de vegetação nativa ocorrente no local e que poderá ser obtida através do plantio de mu-das e/ou outras técnicas, tais como nucleação, semeadura direta, indução e/ou condução da regeneração natural, etc.

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Como vimos, apesar de serem muitos os aspectos a serem considerados, o esta-belecimento de parâmetros de avaliação e monitoramento de reflorestamentos heterogêneos e recuperação da biodiversidade regional, bem como das “ferramentas” que possam auxiliar no planejamento da restauração e no licenciamento ambiental no estado de São Paulo, já apresenta contribuições relevantes para a recuperação da cobertura florestal, a conservação e o resgate da biodiversidade em todo o Estado.

Estudos de resultados concretos da aplicação das políticas públicas, que orientam os reflorestamentos com espécies nativas, apontam ganhos ambientais importantes. A edição da Resolução SMA 48/04 “Lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção no Estado de São Paulo”, consolidada em um workshop realizado no IBt em setembro de 2004, indicou 1.085 espécies com algum grau de ameaça de extinção, das quais 172 são arbóreas. Barbosa (2007) apontou 70 espécies, também arbóreas, como “quase ameaçadas”, incluídas nessa resolução, totalizando 242 espécies que passaram a ser recomendadas, com ênfase, nos projetos de restauração.

Com o desenvolvimento da Ecologia da Restauração como ciência, o termo “res-tauração ecológica” passou a ser melhor definido. De acordo com a SER - Society for Ecolo-gical Restoration (2004), restauração ecológica é uma atividade deliberada que visa a iniciar ou acelerar a recuperação da saúde, integridade e sustentabilidade de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído, em decorrência das ações diretas ou indiretas do homem. Assim, o ecossistema restaurado não precisa necessariamente voltar às suas condições primi-tivas, já que as restrições ambientais atuais certamente não mais permitem este retorno e qua-se sempre nem são conhecidas, por mudarem constantemente com o tempo (Engel e Parrota, 2003). Existem também diversas bases conceituais capazes de promover o desenvolvimento de estratégias para restauração, principalmente considerando os conhecimentos mais atuais desenvolvidos pela ecologia de comunidades e da paisagem, sucessão ecológica e dinâmica de florestas naturais ou implantadas, cujos objetivos estão relacionados ao estabelecimento das espécies, suas interações, os processos populacionais e a dinâmica de habitats (Palmer et.al. 1997; Young 2000).

Atualmente, o grande desafio imposto à comunidade científica é a realização de pesquisas e ações que subsidiem o aprimoramento de políticas públicas, capazes não só de melhorar a qualidade dos reflorestamentos, mas também de agilizar os processos de licencia-mento ambiental, a partir de parâmetros fornecidos pela pesquisa científica e pelas experiên-cias práticas observadas nos últimos anos. Um bom exemplo disto são os resultados obtidos nos reflorestamentos orientados pelo IBt na International Paper, em Mogi-Guaçu/SP. Tem-se observado que, após 9 anos de pesquisas e monitoramentos das áreas restauradas com alta diversidade, já há evidências de sucesso não apenas nestas áreas, como em áreas adjacentes, anteriormente plantadas com baixa diversidade e que precisaram ser enriquecidas com plan-tios de espécies dos estágios mais avançados da sucessão ecológica.

Além das ações e pesquisas do IBt, dirigidas a preencher lacunas do conheci-mento quanto às questões ecológicas ou sócio-econômicas, destacam-se as ações envolvendo a capacitação dos atores envolvidos, o que certamente tem contribuído em muito com as propostas de políticas públicas para o setor florestal, envolvendo a restauração ecológica, a conservação da biodiversidade e as políticas públicas para o setor. Ao se considerar a diversi-dade de situações existentes na área rural, envolvendo aspectos físicos, biológicos, ambientais e sócio-econômicos, a tomada de decisão tem privilegiado a participação da sociedade civil, promovendo a discussão e orientação técnica e evitando imposições aos agricultores.

Concluindo, podemos afirmar que as diversas técnicas utilizadas isoladamente, ou em conjunto, podem auxiliar na restauração ecológica. Na prática é o que temos feito no Brasil, com base em conhecimentos existentes e que possam auxiliar na restauração de um ecossistema que tenha sido degradado. Assim, a ecologia da restauração é considerada uma

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ciência que estuda os processos envolvidos na restauração, gerando conceitos, modelos, ge-neralizações, predições, testando teorias segundo o método científico ou validando técnica por meio de experimentação. Os instrumentos legais utilizados para promoção de políticas públicas e as ferramentas adequadas à aplicação de conhecimento gerado na pesquisa, temas discutidos democraticamente, são os pilares do sucesso de uma boa restauração ecológica.

5. InStRuMentoS LeGAIS, PRátICAS e FeRRAMentAS úteIS PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA

Em que pesem algumas críticas sobre a utilização de instrumentos legais, orien-tando e criando mecanismos e ferramentas capazes de promover a restauração ecológica, sobretudo em situações que ultrapassem o nível crítico de resiliência, já não se pode mais contestar os resultados proporcionados pelas resoluções da SMA (atual SMA 08/08), que não apenas orientam reflorestamentos heterogêneos, mas também ações correlatas, listando, de forma exemplificativa, espécies arbóreas que ocorrem regionalmente, destacando suas princi-pais características ecológicas e nível de conservação ou risco de extinção.

O Livro Vermelho das Espécies Vegetais Ameaçadas de Extinção do Estado de São Paulo, publicado pelo IBt (Mamede. et al., 2007), em seus diferentes capítulos, dá bem o exemplo de como um produto encomendado pode auxiliar na formatação de proposição de políticas públicas, voltadas à conservação da biodiversidade.

Brancalion et al. (2010) acreditam que, em condições mais críticas, a restauração ecológica deve ser mais do que a simples aplicação de um “pacote” de técnicas silviculturais, já que a diversidade biológica e os processos ecológicos não serão estabelecidos por si só, nas situações em que não há resiliência. De qualquer forma, outras questões sobre normas jurí-dicas ambientais, referindo-se apenas às resoluções orientativas do reflorestamento em São Paulo e suas contribuições à manutenção da biodiversidade, foram abordadas por Brancalion et al. (2010) e Durigan et al. (2010), devendo ser consideradas na tomada de decisões e no melhor entendimento das diferentes abordagens.

Atualmente, o IBt disponibiliza em seu site (www.ibot.sp.gov.br) diversas “ferra-mentas” e informações, envolvendo seus serviços e eventos técnico-científicos relacionados à restauração ecológica, como segue:

1 – Resolução SMA nº 48/04 – lista de espécies ameaçadas de extinção no estado de São Paulo, muito utilizada como ferramenta em processos de licenciamento ambiental;

2 – Resolução SMA nº 08/08- orienta sobre a restauração florestal em áreas de-gradadas, visando à conservação da biodiversidade e apresentando dicas importantes que pre-cisam ser consideradas em projetos de restauração;

3 – Resolução SMA nº 68/08 que estabelece regras para a coleta e utilização de sementes oriundas de unidades de conservação no estado de São Paulo;

4 – Resolução SMA nº 64/09 – dispõe sobre o detalhamento das fisionomias da vegetação do cerrado e de seus estágios de regeneração, conforme lei estadual nº 13.550, de 2 de junho de 2009;

5 – Lista exemplificativa com 701 espécies arbóreas nativas e as informações: família botânica, nome científico e popular da espécie, classe sucessional, grau de ameaça de extinção, bioma/ecossistema e região ecológica de ocorrência, síndrome de dispersão, etc.;

6 – Chave de Tomada de Decisão – apresenta uma chave dicotômica com possí-veis ações a serem realizadas em diferentes situações de degradação;

7 – Lista indicativa de 208 viveiros produtores de mudas de espécies florestais nativas, georreferenciados em mapa interativo, com informações cadastrais; e

8 – Lista de espécies nativas fotografadas no estágio de mudas, de forma a auxi-liar a identificação das espécies (além das informações no site, estão publicadas em forma de cartaz e manual, com as mesmas informações)

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6. ConCLuSõeS

As principais conclusões deste trabalho referem-se particularmente aos ganhos ambientais, oriundos da edição das resoluções orientativas sobre restauração ecológica que, em sua elaboração e revisões, invariavelmente contaram com a participação efetiva da comu-nidade científica, o que sempre foi desejável na definição de políticas públicas.

Há ainda a necessidade de se entender melhor as propostas da SMA e princi-palmente as resoluções de caráter participativo e democrático, recomendando-se inclusive a realização de cursos de capacitação, para os diversos atores envolvidos com a restauração, a exemplo dos que o IBt tem promovido, com muita frequência.

É dever de todos, sociedade e Estado, estarem juntos na grande empreitada de se construir conhecimentos científicos e incluí-los nas reuniões previstas em eventos científicos e cursos de capacitação.

7. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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A IMPORTÂNCIA DO ESTABELECIMENTO DE PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE EM REFLORESTAMENTOS COMPENSATÓRIOS

Karina Cavalheiro Barbosa1

Luiz Mauro Barbosa2

Luis Fernando Rego1

IntRodução

O estabelecimento de parâmetros facilitadores de avaliações em reflorestamentos compensatórios, normalmente exigidos como prática de compensação ambiental de empreen-dimentos onde ocorreu supressão de vegetação nativa, é uma demanda emergente. Na prática, a avaliação e aceite de cumprimento para o encerramento de compromissos ambientais, tais como os Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRAs), ou outras condicio-nantes de licenças ambientais (prévia ou de instalação), têm apresentado muitas dificuldades para os órgãos controladores e fiscalizadores. A avaliação de reflorestamentos compensató-rios, até mesmo nos meios técnicos e acadêmicos, tem sido atividade de difícil constatação, especialmente em períodos curtos, como o de 24 meses. Trata-se de uma tarefa bastante com-plexa, principalmente se forem consideradas as tendências mais aceitas sobre o conceito da restauração ecológica.

A tomar como exemplo os reflorestamentos compensatórios referentes às obras do Rodoanel Mário Covas - Trecho Sul), mesmo contando com importantes “ferramentas” para a prática de restauração, disponibilizadas pelo Instituto de Botânica e pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo (SMA), como as Resoluções SMA 08/08 e SMA 48/04, a lista de espécies arbóreas regionais, incluindo as ameaçadas de extinção, com as principais características ecológicas, relação de viveiros produtores de mudas nativas, den-tre outras, muitas são as dificuldades a serem superadas na busca e seleção de áreas para a restauração florestal (os plantios compensatórios) e, mais ainda, para a avaliação do sucesso, após apenas 24 meses de manutenção. Assim, em casos como este, de plantios compensató-rios, além da orientação normativa estabelecida pelos órgãos fiscalizadores, como no caso do estado de São Paulo, outros aspectos precisam ser considerados e superados e não apenas as questões mais técnicas envolvendo o uso quali-quantitativo das mudas, ou de modelos alterna-tivos para a execução de plantios restauradores, mas também: (a) encontrar e selecionar áreas para serem reflorestadas; (b) o estágio e/ou situação de degradação e grau de resiliência; (c) procedências, qualidade e diversidade das mudas de espécies arbóreas; (d) condições edafo--climáticas regionais, etc.

Além disso, outra fragilidade encontrada na seleção de áreas a serem restauradas relaciona-se aos graves e recorrentes problemas causados pelas queimadas, na maioria das vezes provocadas de forma criminosa, geadas e invasões por animais (gado e equinos). As-sim, mesmo com a adoção de medidas preventivas, levando-se em consideração programas ambientais e educacionais, são necessários planejamentos mais abrangentes, que envolvam diversos órgãos da administração pública como polícia ambiental e bombeiros, entre outros

1 DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S.A. [email protected] Instituto de Botânica de São Paulo

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segmentos correlatos. Outras medidas a serem incorporadas, nos chamados Termos de Refe-rência (instrumentos utilizados para contratação de serviços), são as ações preventivas como a realização de seguros feitos para a agricultura, ou a contratação de serviços de vigilância patrimonial para zelar pelos plantios e a montagem de brigadas de incêndio, para atuarem durante os meses de maior risco.

Desta forma, o presente artigo propõe uma discussão sobre o assunto e a neces-sidade de estabelecimento de parâmetros de avaliação de plantios compensatórios, a partir de indicadores que possibilitem inferir sobre a situação e a sustentabilidade dos reflorestamen-tos, para plantios com até 2 anos.

2. A neCeSSIdAde e A IMPoRtânCIA de Se eStABeLeCeR PARâMetRoS PARA AvALIAçõeS doS ReFLoReStAMentoS CoMPenSAtóRIoS

Um dos grandes entraves nos processos de licenciamento ambiental de grandes obras, onde os reflorestamentos compensatórios são condicionantes de licenças ambientais, é o tempo necessário para definição quanto à qualidade e à sustentabilidade dos refloresta-mentos com espécies nativas, que em geral demandam alguns anos, de 2 até 10 anos ou mais, em muitos casos, a depender das características iniciais da área, da paisagem do entorno e das práticas adotadas. Apesar de a SMA disponibilizar informações sobre monitoramento de áreas em restauração e outras ferramentas, orientativas e úteis para a avaliação de plantios compensatórios, nem sempre elas são suficientes para indicar qualidade dos reflorestamentos jovens, ou seja, 2 ou 3 anos após plantio, especialmente em áreas que tenham muitas interfe-rências negativas. No site do Instituto de Botânica de São Paulo está disponível, em sua ínte-gra, a Resolução SMA 08/08, que é aprimorada continuamente, conforme vão ocorrendo os avanços da pesquisa, e a Resolução SMA 48/04, que lista as espécies ameaçadas de extinção no estado de São Paulo. Há também uma chave de tomada de decisões, que sugere ações pas-síveis de serem aplicadas visando à restauração ecológica, de acordo com a situação da área a ser recuperada (restaurada), considerando-se, entre outros aspectos, o tipo de degradação e a paisagem do entorno, e também uma lista exemplificativa contendo mais de 700 espécies nativas florestais, com informações importantes como: ecossistemas de ocorrência; síndrome de dispersão; grau de ameaça das espécies; dentre outras. Um material contendo registros fotográficos de 130 espécies arbóreas nativas, em fase de muda, que auxilia na identificação em campo, e uma relação de mais de 200 viveiros produtores de mudas florestais nativas, no estado de São Paulo, são mais algumas ferramentas que auxiliam no desenvolvimento de projetos de restauração.

Porém, com a ampliação de conhecimentos sobre esta área, além da disponibi-lização de novas ferramentas para a execução da restauração florestal, também é necessário que sejam criados/estabelecidos parâmetros que possam ser utilizados como indicadores da qualidade dos reflorestamentos, o que ainda é uma tarefa difícil e geradora de muitas discus-sões, já que a prática da restauração ecológica com espécies florestais é ainda muito recente, apresentando muitas lacunas de conhecimento sobre o desenvolvimento e perpetuação das florestas (Barbosa et al., 2006; Rodrigues et al. 2009), sendo as áreas a serem restauradas con-sideradas verdadeiros laboratórios para estudos de ecologia (Rodrigues e Gandolfi, 2004). Es-tudos visando ao monitoramento destas áreas são importantes para aumentar o conhecimento sobre os inúmeros processos e fatores, envolvidos na recolonização e restabelecimento de comunidades vegetais (Siqueira e Mesquita, 2007; Barbosa et al., 2009). Além disso, é preci-so entender que para se monitorar e avaliar áreas em processo de restauração, os aspectos são os mais diversos, amplos e não podem ser avaliados apenas por aspectos fisionômicos, o que torna esta tarefa um tanto quanto complexa, especialmente para os que executam e fiscalizam esta atividade, objetivando a atender as exigências de compensações ambientais.

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Desta forma, fica evidente a necessidade do estabelecimento de parâmetros míni-mos, que funcionem como indicadores de que uma dada área está caminhando em direção a uma floresta, ou seja, está em um processo de restauração que se sustentará após alguns anos, refletindo não apenas em aspectos visuais da paisagem, mas também na reconstrução da com-plexidade dos processos ecológicos que possam manter a dinâmica vegetal e a perpetuação, cumprindo o importante papel de conservação da biodiversidade remanescente (Rodrigues e Gandolfi, 2004; Barbosa, 2011a).

No contexto dos reflorestamentos previstos como medidas compensatórias, é de-sejável que algumas exigências sejam pré-requisitos em projetos, tais como: a procedência e qualidade de mudas a serem implantadas; como se darão as atividades práticas de plantio, manutenção, condução de regenerantes, etc; e como se darão os monitoramentos da área que será submetida ao processo de restauração.

De acordo com (Ruiz-Jáen e Aide, 2005), a diversidade, a estrutura de vegetação e os processos ecológicos são aspectos importantes nas primeiras avaliações, podendo ser considerados bons indicadores de qualidade, especialmente quando se trata de florestas bio-diversas.

Assim, o que se pretende estabelecer é uma discussão que possa levar ao estabe-lecimento de parâmetros de avaliação, que indiquem o potencial de sucesso de reflorestamen-tos, facilitando o procedimento para cada situação e possibilitando aos técnicos responsáveis ou avaliadores, a emissão de pareceres e laudos mais ágeis, conclusivos e menos subjetivos.

A seguir, serão relacionados alguns parâmetros potenciais para o uso na avaliação de diferentes situações de áreas degradadas. Vale destacar a importância do registro fotográ-fico georreferenciado, para possibilitar o monitoramento das diferentes situações do processo de restauração florestal, ao longo do tempo.

As bases adotadas, para a reflexão sobre a necessidade quanto ao monitoramento, foram obtidas por resultados práticos já alcançados, conforme mencionado na edição Cader-nos da Mata Ciliar Nº 4 (Barbosa, 2011b) e em diversas informações contidas no livro do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração florestal (Rodrigues et al. 2009). Desta forma, é proposta a adoção dos seguintes parâmetros de avaliação:

a) avaliação visual do solo-substrato: efetuar uma estimativa para toda a área restaurada, verificando se há possibilidade de ocorrência de processos erosivos, registrando-se valores atribuídos por uma nota de 0 a 10;

b) taxa de mortalidade dos indivíduos plantados: durante todo o período de monitoramento, devem ser avaliadas as taxas de mortalidade, havendo reposição das mudas plantadas das diferentes classes sucessionais e, no momento da proposta para finalização das medidas de manutenção, esta taxa deve estar entre 5 e 10 % do total da área plantada. Devem ser verificadas as falhas e transformar a contagem em porcentagem pela fórmula: Mortalidade (%) = nº de falhas x 5, procedimento que deve ser repetido em diferentes pontos da área de plantio, para o cálculo de média dos valores obtidos, sendo considerado apenas o valor médio para a avaliação. O número de repetições deve seguir um mínimo de amostras, conforme o tamanho da área do reflorestamento indicado: menores que 0,3 hec-tares, pelo menos 5 amostras; entre 0,3 e 1,0 hectare, pelo menos 10 amostras; entre 1,0 e 3,0 hectares, pelo menos 20 amostras, e maiores que 3,0 hectares, pelo menos uma amostra a cada 1 hectare;

c) diversidade ou riqueza de espécies: apresentar uma amostragem da área que seja estatisticamente representativa da diversidade dos plantios, conforme descrito na Resolu-ção SMA 08/08, lembrando que deve ser destacada a questão referente à riqueza de espécies na área, ou seja, a relação não só do número de espécies plantadas, mas do número de indiví-duos plantados por espécie;

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d) cobertura de copas: este parâmetro é um indicador estrutural extremamente importante, já que controla a quantidade, qualidade e distribuição da luz, condicionando o micro-habitat interno de uma floresta, interferindo no crescimento e sobrevivência de plântu-las e determinando a composição vegetal. Havendo cobertura vegetal, aumenta o controle da matocompetição e a estabilização de águas de chuva, dando estabilidade ao solo. O método de intersecção de linhas (Canfield, 1994 e Melo et. al., 2007 apud Melo et al., 2010) é consi-derado como uma proposta para a avaliação deste parâmetro, segundo os autores. Para apli-cação desta metodologia, deve-se esticar uma trena numa extensão de 15 metros, em sentido oblíquo às linhas de plantio, para que a leitura não seja influenciada pelo arranjo das árvores nas linhas, e a projeção de cada copa de árvore deve ser medida, somando-se os valores no final. O valor percentual da cobertura em cada medição será obtido pela fórmula: C% = 100 (∑ Pi)/15, onde C% é a cobertura percentual das copas e Pi a projeção da copa do indivíduo i na trena (m). O número de amostragem deve seguir o mesmo padrão estabelecido para a mor-talidade dos indivíduos plantados. Vale lembrar que árvores não plantadas entram no cálculo de cobertura, uma vez que fazem parte da nova comunidade. Baseados nos trabalhos de Melo, 2004 e Melo et al., 2007, os autores elaboraram uma tabela de referência para avaliação de cobertura de copas, esperada para cada idade do reflorestamento, quando em solos férteis, que apresentamos aqui de forma exemplificativa, lembrando que para áreas inférteis (degradadas), estes valores podem não ser atingidos ao longo do tempo.

Tabela 1. Indicação de cobertura de copas esperada conforme a idade dos re-florestamentos, tendo como referência a Região do Médio Paranapanema, em solos férteis obtidos por Melo et al. (2007).

Idade dos Reflorestamentos (meses) Cobertura de Copas (%)

12 30

13 43

14 56

15 67

16 76

17 85

18 92

19 99

20 105

21 110

22 115

23 120

24 124

25 128

26 131

27 135

28 138

29 141

30 143

31 146

32 148

33 150

34 152

35 154

36 156

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e) altura mínima dos indivíduos plantados: supondo que tenham ocorrido replan-tios, após constatações de mortalidades em campo, durante todo o período de manutenção (mínimo de 24 meses). Tem sido sugerido por alguns especialistas que a altura das espécies pioneiras (ou de preenchimento) seja de pelo menos 2 metros para 40% desta categoria de espécies plantadas na área; a altura das espécies não pioneiras (ou de diversidade) seja de pelo menos 80 centímetros para outros 40% desta categoria de espécies plantadas na mesma área.

f) avaliação de cobertura vegetal por gramíneas exóticas agressivas: deve ser ava-liada a matocompetição, tanto na coroa como nas entrelinhas de plantio, identificando as es-pécies predominantes e porcentagem (por estimativa visual) em área total, um mês após a 24ª manutenção, para só então avaliar a necessidade de controle ou não. Na coroa, a matocompe-tição em até 10% é tolerante; entre 10 e 30% a tolerância é média e acima de 30% é intoleran-te; já nas entrelinhas de plantio, a matocompetição menor que 30% da área é tolerante; entre 30 e 50% da área a tolerância é média e acima de 50% dispersa nas entrelinhas é intolerante.

g) observação da presença de regenerantes na área de plantio: este tipo de observação pode indicar se a biologia floral e reprodutiva da comunidade implantada está sendo restabelecida.

Os indicadores em destaque, descritos neste artigo, são apenas algumas sugestões encontradas na literatura e/ou provenientes de observações práticas que podem indicar o po-tencial de sucesso de áreas antropizadas em processo de restauração florestal, e precisam ser mais estudados e reavaliados juntamente com outras abordagens e observações não menos importantes para melhor estabelecer o potencial de restauração florestal de uma área reflores-tada a partirde 2 anos de idade. É preciso também saber se na área há cercamento e aceiros, indícios de predação das mudas ou regenerantes, por invasão de animais (gado, cavalo, entre outros), indícios de deficiência nutricional pela adubação ineficiente ou mesmo estresse hídri-co, impactos positivos observados em campo pela presença de fauna dispersora de sementes, presença ou formação de serapilheira entre outros aspectos.

Dada a diversidade de situações e ambientes encontrados para a execução de plan-tios compensatórios, a avaliação de todos os parâmetros não se aplica a todas as situações ou regiões, sem comprometimento da sua eficácia. Por exemplo, baseado em pesquisas realiza-das, o simples plantio de uma população pioneira, com baixa riqueza e elevada dominância, embora seja capaz de sombrear rapidamente o solo e inibir temporariamente as gramíneas, mostra-se insuficiente para desencadear o processo de sucessão visando à substituição de espécies ou comunidades vegetais para originar uma floresta (Brancalion et al., 2010), o que não deve se repetir para as áreas em questão (a não ser em casos bem específicos, conforme previstos na Resolução SMA 08/08).

2. ConSIdeRAçõeS FInAIS

A restauração ecológica é considerada uma ciência que estuda processos en-volvidos na restauração, gerando conceitos, modelos, generalizações, predições, testando teorias, segundo o método científico ou validade técnica através de experimentação e, ainda que apresente importantes avanços, há muito a ser feito na área. Já existem algumas “ferra-mentas” que orientam e auxiliam a restauração florestal, minimizando erros praticados no passado recente, como plantios com baixa diversidade específica, porém são necessários parâmetros de avaliação que norteiem o aceite de plantios compensatórios. Informações técnico-científicas e sobre práticas de campo devem ser avaliadas, tanto para a indicação de parâmetros como os aqui propostos descritos como outros a serem estudados a fim de possibilitar minimamente a conclusão da implantação do reflorestamento, a partir de uma manutenção de pelo menos 24 meses (conforme Resolução SMA 08/08), estabelecendo assim algumas regras, ainda não claramente definidas, para atendimento de obrigação admi-nistrativa ou judicial. Esta lacuna vem dificultando muito a adoção de medidas importantes,

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que devem ser incorporadas nos termos de referência para execução de reflorestamentos compensatórios, previstos nos casos de licenciamento ambiental ou TCRA.

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REFLEXÃO SOBRE A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA NO BRASIL: A ATUAÇÃO DA REDE BRASILEIRA DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA (REBRE)

Luiz Fernando Duarte de Moraes1

Renata Evangelista de Oliveira2

1. IntRodução

A restauração ecológica é o conjunto de práticas que compõem todo o campo da restauração, incluindo a base científica da ecologia da restauração, e todo o arcabouço político, tecnológico, econômico, social e cultural do envolvimento humano nesse campo (Higgs, 2005).

A necessidade de restauração advém de um ou de um conjunto de fatores que causem os distúrbios que vetam ou impossibilitam a dinâmica, funcionamento e a sustentabi-lidade dos diferentes ecossistemas.

Para Lamb et al. (1997) e Lamb e Gilmour (2007) as áreas prioritárias para restau-ração nos trópicos são: habitats para espécies em particular (onde populações foram reduzidas a níveis críticos), áreas ripárias, áreas degradadas dentro de reservas naturais ou bordas de remanescentes naturais, corredores ligando áreas florestais isoladas, áreas com risco de ero-são e deslizamento, áreas tampão dentro e entre plantações florestais, áreas mineradas, áreas de ocorrência de espécies ameaçadas, matrizes com uso agrícola permeadas por fragmentos florestais remanescentes, entre outras.

No Brasil, a restauração de ecossistemas está hoje muito associada à obrigação da recomposição das áreas de reserva legal e de preservação permanente, bem como às ações de compensação ambiental nos processos de licenciamento, e envolve, principalmente, pesquisas e ações relacionadas à restauração de ecossistemas florestais. Essa restauração florestal sempre esteve muito associada à manutenção de serviços ambientais (embora esse termo seja recente), principalmente associados à conservação de recursos, como solo e, principalmente, água.

Segundo Lamb et al. (2005), vários tipos de plantios e ou plantações florestais po-dem ser utilizadas, com objetivos distintos, em regiões tropicais. Enfocando a restauração da biodiversidade, podem ser utilizados (i) plantios de um pequeno número de espécies, de cres-cimento rápido e não longevas; (ii) plantio de um grande número de espécies, mais tardias na sucessão; e (iii) semeadura direta. Já o enfoque na produção e suprimento de bens e serviços diversos levaria à utilização de (iv) monoculturas com espécies arbóreas exóticas; (v) mono-culturas com espécies nativas; (vi) plantações florestais usadas como vegetação pioneira para o estabelecimento intercalar de espécies nativas; (vii) plantios mistos com espécies nativas.

De um modo geral, os avanços na restauração no Brasil estão associados a quatro linhas de pesquisa, com forte foco no componente ecológico, e utilização das seguintes práti-cas: plantio total; plantio de enriquecimento; nucleação; e condução da regeneração natural. O plantio de mudas de espécies arbóreas nativas ainda é a prática mais usual, embora outras técnicas também venham sendo testadas como alternativas e avaliadas quanto ao seu potencial de utilização e sucesso na restauração.

1 EMBRAPA Agrobiologia ([email protected])2 Professor Adjunto, Departamento de Agroecologia, Centro de Ciências Agrárias - UFSCAR

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São inúmeras as iniciativas e instituições envolvidas com a restauração ecológica no Brasil, e grande o acúmulo de conhecimento, dados e informações relacionadas ao tema, embora muito pouco de toda essa informação esteja organizada e seja devidamente divulgada. Além disso, a maioria das atividades caracteriza-se como ações isoladas, não existindo, quase, integração de diferentes grupos e instituições para desenvolvimento de projetos, pesquisas ou ações em restauração.

Recentemente, esforços visando à criação de uma rede brasileira, que envolva atores e iniciativas de restauração ecológica, têm sido feitos no sentido de sistematizar in-formações e consolidar os avanços obtidos, bem como identificar lacunas e desafios e criar soluções que tenham sustentabilidade ecológica, social e econômica.

2. A Rede BRASILeIRA de ReStAuRAção eCoLóGICA (ReBRe)

2.1 ARtICuLAção PARA CRIAção dA ReBRe: PRIMeIRAS AçõeS

A proposição da criação da Rebre surgiu durante ações de articulação da repre-sentação brasileira da rede latinoamericana (Redlan). Os objetivos iniciais propostos para a Redlan no Brasil foram os de consolidar os conceitos e as técnicas envolvidas nas ações de restauração ecológica adotadas no país, em alinhamento com a SER; promover o intercâmbio entre essas experiências, a fim de acelerar o crescimento na aplicação de ações restauracionis-tas e facilitar a identificação de soluções; e formar um grupo que possa ter força para propor e influenciar, em níveis regionais e nacional, na proposição de políticas públicas visando à restauração de sistemas ambientais degradados.

Nos primeiros esforços para reunir contatos e potenciais membros brasileiros para a Redlan, no período de 2008 a 2009, foi formada uma lista de aproximadamente 70 pes-quisadores, práticos e instituições ligadas à restauração ecológica no Brasil. Tendo essa lista como ponto de partida, houve uma convocação para ampliação da lista de participantes (ins-tituições, projetos, pesquisadores, técnicos) na Redlan/Brasil. Nesse mesmo momento foram propostas ações que caracterizassem um trabalho em rede, como a racionalização das agendas de encontros técnico-científicos sobre restauração, a fim de otimizar a busca por recursos e facilitar a participação de especialistas, e a proposição de um fórum virtual de discussões, trocas e consultas. Estava lançada a idéia de uma rede brasileira.

Nesse contexto, foram contatados pesquisadores historicamente envolvidos com a restauração ecológica no país (considerando a maior diversidade então possível – por bio-mas e regiões) e, a partir de uma discussão e organização de sugestões online, foram pro-postos um formato para a reunião e uma lista final de participantes. A reunião teria como principal objetivo discutir a realização de um diagnóstico sobre a RE no Brasil e a criação da Rede Brasileira de Restauração Ecológica, passo importante no processo de fortalecimento de uma rede latinoamericana.

A programação inicial da reunião previa a discussão dos seguintes temas: histórico da Restauração Ecológica no Brasil; situação da pesquisa e ensino envolvendo a RE; inserção da “floresta” na paisagem rural e/ou no sistema produtivo rural; organização da REBRE – filosofia da rede, compromissos, carta de princípios, representação de biomas e regiões na rede.

Nos dias 25 e 26 de novembro de 2010 foi realizada o que viria a ser a primei-ra reunião da Rebre, na ESALQ, em Piracicaba, da qual participaram 15 pesquisadores de diferentes estados brasileiros. Após uma rodada inicial de manifestações dos participantes, decidiu-se que as discussões deveriam priorizar a constituição de uma rede brasileira de res-tauração ecológica. Essa decisão baseou-se no consenso de que, a partir da rede estruturada, o diagnóstico e discussão dos outros temas seriam mais facilmente realizados.

Essa primeira reunião foi então caracterizada pela construção coletiva das defi-nições de funcionamento da rede e de sua Carta de Princípios, e pelo planejamento de ações

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conjuntas, multi-institucionais, a serem desenvolvidas, como a elaboração de uma publicação e a realização de novas reuniões de trabalho, a partir de 2011.

2.2 eStRutuRAção dA Rede: oBjetIvoS e AtuAção

A REBRE nasceu, portanto, com o entendimento da necessidade de se realizar um diagnóstico sobre a restauração ecológica no Brasil e de se juntar esforços para a efetiva-ção e divulgação da restauração nos diversos biomas brasileiros.

Para os idealizadores da REBRE, “a restauração ecológica é uma área multidis-ciplinar e coletiva por excelência, e como tal exige esforços conjuntos e integrados”. Assim, com o objetivo de aumentar a sinergia das iniciativas de restauração e ampliar o diálogo com a sociedade, essa rede segue como princípios:

• Promover a interação e o intercâmbio entre profissionais que atuam em res-tauração de ecossistemas naturais no país, difundindo e aprimorando os fun-damentos e as práticas adotados na restauração ecológica;

• São membros da REBRE os pesquisadores, técnicos e instituições envolvidas com a restauração ecológica e que voluntariamente se filiem à REBRE, afir-mando respeito aos termos da presente Carta de Princípios;

• O funcionamento da rede se baseia na participação voluntária, na diversidade, na isonomia, na ausência de hierarquia, na democracia e na coesão;

• Compartilhar com os formadores de opinião, os legisladores e executores da política ambiental brasileira, e a sociedade em geral, as informações que possam subsidiar os processos de tomada de decisão, as políticas públicas, a legislação, que resultem na promoção da restauração ecológica no Brasil;

• Buscar ampla representatividade das regiões, ecossistemas e atores da restau-ração ecológica;

• Todas as manifestações em nome da REBRE são produtos de processos cole-tivos e democráticos de construção.

Os temas e ações da rede são: pesquisa, troca de experiências, extensão/divulga-ção, políticas públicas e formação e capacitação. Suas formas de atuação principais são: rede virtual (correio eletrônico), site da REBRE, realização de cursos, realização de projetos de pesquisa conjuntos/ redes de pesquisa, organização de eventos, formação de uma rede itine-rante para visitas técnicas, organização da representatividade regional e internacional.

2.3 dIAGnóStICo de PeSquISAS e AçõeS eM ReStAuRAção no BRASIL

Uma das propostas estabelecidas pela rede, como pré-requisito ao seu funciona-mento, foi a identificação de atores e grupos, envolvidos com a restauração ecológica no Bra-sil, e busca de representatividade regional e dos diferentes biomas/ecossistemas e fisionomias (incluindo ecossistemas terrestres e aquáticos).

Para tal, uma das ações, realizadas em 2010/2011, foi a elaboração de um diag-nóstico, em parceria com a REDLAN, voltado à descrição das ações de restauração no país. As principais questões/características levantadas estão descritas no Quadro 1, a seguir.

A restauração de uma área envolve a compreensão de um contexto, abordando des-de o histórico de degradação e atuais condições da área, passa pela compreensão da estrutura e da dinâmica, ou seja, de todos os processos ecológicos envolvidos no funcionamento do ecossis-tema a ser restaurado, e chega à importância econômica, cultural e social da área, da vegetação que foi degradada (e que deve ser restaurada) e das espécies a serem enfocadas no processo.

A restauração ecológica, no Brasil, envolve os mais variados contextos sócio--econômico-culturais, sem falar de uma variedade enorme de ambientes, onde predominam fisionomias vegetacionais diversas e os mais variados objetivos e motivações para ações de restauração.

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Quadro 1: Aspectos descritores das ações de restauração no Brasil

Descrição geral Justificativa/motivação para a ação e/ou projeto

Enfoque (ecológico, social, legal, econômico, misto)

Escala espacial

Métodos e técnicas utilizadas Classificação da restauração (passiva ou ativa)

Técnicas utilizadas

Tempo de intervenção

Fontes de financiamento Fonte financiadora

Até o momento, 20 questionários foram respondidos. Nas Figuras 1 e 2 podem ser observados os principais biomas onde atuam os profissionais consultados, e as fisionomias enfocadas nas ações e projetos de restauração descritos, nos diferentes biomas. A maioria dos atores desenvolve ações e projetos em áreas de Mata Atlântica, e alguns desenvolvem ações em áreas de cerrado. Projetos em outros biomas ainda são incipientes, no conjunto de dados analisado (Figura 1).

Fica clara a predominância (12 citações) de projetos na Mata Atlântica, nas di-ferentes fisionomias vegetacionais do bioma, com predominância em áreas de Floresta Om-brófila Densa e Floresta Estacional Semidecidual. Áreas de ocorrência e cobertura original do Bioma Cerrado (cerrado e cerradão) são áreas alvo de restauração em 6 dos projetos descritos até o momento (Figura 2).

Figura 1: Biomas onde se inserem os atores responsáveis pelas ações e projetos de res-tauração descritos no diagnóstico REBRE/REDLAN.

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Figura 2: Fisionomias citadas como alvo das ações de restauração, a partir dos dados obtidos no diagnóstico REBRE/REDLAN (FOD = Floresta Ombrófila Densa; FOM = Floresta Ombrófila Mista; RES = restinga; FES = Floresta Estacional Semidecidual; FED = Floresta Estacional Decidual; CA = Campos de altitude; CE = Cerrado; CO = Cerradão).

Para Oliveira (2011), a seleção de áreas para ações de restauração está fortemente ligada às atividades de pesquisa (em sua grande maioria realizadas por universidades e insti-tutos de pesquisa federais e estaduais), e pode estar muito relacionada aos locais de ocorrência das instituições responsáveis por essas pesquisas e ações, o que parece ocorrer também neste levantamento.

Clewell e Aronson (2005) colocam que existem inúmeras razões para que os ecossistemas sejam restaurados, e classifica as motivações para a restauração em cinco ti-pos. A motivação tecnocrática é definida como aquela que baseia a restauração conduzida por agências governamentais ou outras organizações de grande vulto, para satisfazer missões institucionais ou ordens específicas, hierarquicamente falando. A biótica (ou biológica) busca recuperar fatores perdidos da biodiversidade local, e a heurística busca elucidar ou demonstrar princípios ecológicos e expressões bióticas. A idealista baseia-se em questões culturais e/ou pessoais, que concernem ou buscam a reparação da degradação ambiental, e a pragmática ob-jetiva recuperar a capacidade dos ecossistemas de realizar serviços ambientais e produzir bens econômicos, além de minimizar os impactos causados pela perda de ecossistemas.

A principal motivação para a grande maioria das ações (48% dos questionários respondidos) foi a pesquisa. Dos atores consultados, 23% estão envolvidos em projetos vol-tados à recuperação de serviços ambientais (biodiversidade, sequestro de carbono, serviços de provisão, etc) e 13% em programas de compensação ambiental. A obrigação legal de compensação foi a motivação em 6% das ações descritas, e 10% dos consultados apontam outras motivações.

Para Oliveira (2011), é clara a predominância de temas relacionados a questões ecológicas/ambientais quando se avaliam as pesquisas em restauração no Brasil, mas as ques-tões sociais (entendo-as aqui como questões sócio-econômico-culturais) permeiam fortemen-te os trabalhos realizados. Aronson et al. (2009), por sua vez, destacam as inúmeras relações entre a restauração ecológica, o desenvolvimento econômico e o bem estar social.

No levantamento realizado aqui, 100% dos projetos descritos tem enfoque eco-lógico. Entretanto, aspectos sociais, legais e econômicos estão vinculados à maioria dos projetos; 40% dos entrevistados apontam enfoque legal nas ações (ou seja, atendimento à legislação, adequação legal de propriedades com restauração de APPs e RLs, processos de

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licenciamento e/ou termos de ajustamento de conduta). Dos atores consultados, 40% apontam enfoque econômico (alguns atores citam geração de renda advinda de projetos de restauração) e 50% apontam enfoque social nos projetos descritos.

Das ações e/ou projetos, 35% utilizam métodos de restauração ativa, e 60% utili-zam tanto a restauração ativa quanto passiva. Nenhum projeto descreve a restauração passiva como única alternativa escolhida para a restauração. Interessante destacar que a principal justificativa apontada para a adoção de restauração passiva é o grande poder de regeneração do ecossistema, e não o menor custo da intervenção. Em 5% dos questionários respondidos, os atores declaram que, para seus projetos, não se aplica a descrição do tipo de restauração.

As técnicas utilizadas e descritas, identificadas no diagnóstico, bem como a pro-porção de utilização das mesmas, podem ser observadas na Figura 3.

É predominante o plantio de mudas de espécies arbóreas, e arbóreas e arbustivas (40%), mas destacam-se os métodos de semeadura direta, nucleação e condução da regeneração natural (15%, 11% e 15%, respectivamente) como práticas a cada dia mais usuais na restauração.

Além do uso do questionário estruturado, e dando continuidade ao esforço de diagnosticar o estado da arte da restauração ecológica no Brasil, a Rede Brasileira de Restau-ração Ecológica (Rebre) e a Faculdade de Ciências Agrárias da UNESP/Botucatu organiza-ram a I Oficina sobre Avanços e Desafios da Restauração Ecológica no Brasil, realizada no campus da Unesp (Fazenda Lageado) na cidade de Botucatu/SP, entre os dias 11 e 13 de julho de 2011. Na oficina participaram pesquisadores de várias instituições, de distintas regiões do país, envolvidos com estudos em diferentes ecossistemas. Nesta oficina foram apresentados projetos e ações desenvolvidos por diferentes grupos e apontadas as principais lacunas da pesquisa com restauração ecológica hoje no Brasil.

Figura 3: Técnicas utilizadas nas ações de restauração levantadas no diagnóstico REBRE/REDLAN.

3. ConSIdeRAçõeS FInAIS

De uma forma geral, os dados parciais do diagnóstico reforçam o enfoque exces-sivo de esforços na restauração de ecossistemas terrestres, principalmente as florestas. Deve--se fazer um esforço em incluir representantes de ecossistemas aquáticos.

Do ponto de vista da constituição da Rede, há ainda uma baixa representatividade de regiões e ecossistemas em seus participantes; é necessário um esforço em identificar lideran-ças ou expoentes envolvidos com a restauração em regiões mais distantes do centro sul do país.

Finalmente, os membros da Rebre são majoritariamente pesquisadores. Para uma rede que se pretende um interlocutor com os vários segmentos da sociedade envolvidos com a restauração, é preciso identificar mecanismos que estimulem participação e aumento da representatividade de outros grupos.

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4. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

Aronson, J. et al. 2009. Are socioeconomic benefits of restoration adequately quantified? A me-ta-analysis of recent papers (2000–2008) in Restoration Ecology and 12 other scientific journals. Restoration Ecology, Boston, v. 18, n. 2, p. 143-154.

Clewell, A. E.; Aronson, J. 2005. Motivations for the restoration of ecosystems Conservation Biology, Boston, v. 20, n. 2, 420-428.

Higgs, E. 1997. What is good ecological restoration? Conservation Biology, Boston, v. 11, n. 2, p. 338-348.

Lamb, D. et al. Rejoining habitat remnants: restoring degraded forest lands. 1997. In: LA-WRANCE, W. F.; Bierregaard, R. O. Jr. Tropical forest remnants: Ecology, management and conservation of fragmented communities. Chicago, University Chicago Press, 1997. p. 366-385.

Lamb, D.; Erskine, P. D.; Parrotta, J. 2005. Restoration of degraded forest landscapes. Science 310: 1628-1632.

Lamb, D.; Gilmour, D. Rehabilitation and restoration of degraded forests. Gland, Switzerland: IUCN, Forest Conservation, 2003. 110 p. Disponível em: <http://www.iucn.org/dbtw--wpd/edocs/FR-IS-005.pdf> Acesso em: 12 ago. 2007.

Oliveira, R. E. O estado da arte da ecologia da restauração e sua relação com a restauração de ecossistemas florestais no Bioma Mata Atlântica. 2011. 247 p. Tese (Doutorado em Ci-ência Florestal) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista ¨Júlio de Mesquita Filho” /UNESP, Botucatu, 2011.

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INTERAÇÃO SOLO-PLANTA-CLIMA PARA A RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS NATURAIS – “A RESTINGA É EDÁFICA”: CONSEQUÊNCIAS PARA SUA RECUPERAÇÃO

José Carlos Casagrande1

Marcio Roberto Soares1

Rodolfo Martins Bonilha2

Rose Mary Reis-Duarte3

Joana América Castellar da Cunha4

De acordo com Suguio e Tessler (1984), a denominação “restinga” é empregada na literatura brasileira com diferentes acepções, podendo ser usada tanto para designar vários tipos de depósitos litorâneos como outras feições costeiras, e mesmo a vegetação. Os dife-rentes tipos de vegetação ocorrentes nas restingas brasileiras variam de formações herbáceas, formações arbustivas e até florestas (Silva, 1999). Apresentam grande diversidade de espé-cies, constatada no sentido mar-continente, formando diferentes fitofisionomias denominadas ante-duna, duna, restinga baixa e restinga alta, que se tornam mais densas e com porte mais elevado conforme avançam para o continente (Figura 1).

Figura 1. Distribuição das fisionomias de vegetação de Restinga no litoral paulista (adaptado de Souza et al., 1997).

A restinga, de todos os ecossistemas associados à Mata Atlântica, é o mais frágil e susceptível às perturbações antrópicas. Segundo Rizzini (1997) a vegetação de restinga é um conjunto de comunidades vegetais em mosaico determinado pelas características dos subs-tratos que, por sua vez, são determinados pelos processos deposicionais e idades (Araújo e Lacerda, 1987). Por sua localização, desde a colonização do Brasil foi submetida a um intenso processo de degradação de suas características naturais, sendo o primeiro ecossistema a sofrer impactos antrópicos. As ações impactantes em sua maioria são decorrentes das atividades da construção civil que promovem a remoção da camada superficial do solo ou a deposição de

1 Professor DRNPA/CCA/UFSCar - Campus de Araras, [email protected]. 2 Programa Pós-Graduação CCA/UFSCAR 3 Universidade São Judas Tadeu - SP4 Graduação em Engenharia Agronômica CCA/UFSCAR

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solo mais argiloso para a terraplanagem, alterando completamente o regime hídrico do solo. Considerando-se que em geral a terra para depósito é transportada de regiões mais próximas, os impactos sobre as áreas vizinhas são ainda maiores.

O clima que caracteriza grande parte do litoral, segundo a classificação de Köppen, é do tipo tropical, com a temperatura média do mês mais quente superior a 18° C; o total de chuvas do mês mais seco é de 60 mm e a precipitação anual é aproximadamente 2.200 mm (Figura 2). Não apresenta estação seca invernal, apenas diminuição de pluviosidade, enquanto os verões são excessivamente úmidos (Rossi, 1999).

Desta forma e conforme dados históricos (Fonte: Embrapa) dos municípios de Cananéia, Iguape e Ubatuba localizados no litoral paulista, observa-se valores médios anuais de temperatura de 24,1º C/24,3º C/21,9º C, precipitação média anual de 2.261 mm/1.900 mm/2.519 mm, e excedente hídrico de 939 mm/551 mm/1460 mm, respectivamente, para os três municípios citados. Somente para o município de Ubatuba/SP (Figura 2) ocorre déficit hídrico, mas apenas durante 7 dias no ano, caracterizando o litoral paulista como uma região onde praticamente não ocorre déficit hídrico, mesmo com solos de textura muito arenosa (2-4% argila).

Figura 2. Dados históricos de balanço hídrico para os Municípios de Cananéia, Iguape e Ubatuba (Fonte: EMBRAPA)

Solos de restinga são arenosos, quimicamente pobres, tendo como principal fon-te de nutrientes o “spray marinho” (Araújo e Lacerda, 1987). Trabalhos realizados na costa brasileira mostraram que, sob essa vegetação, as principais Ordens de solos encontradas são ESPODOSSOLOS e NEOSSOLOS QUARTZARêNICOS (Gomes et al., 2007), sendo que estes últimos podem apresentar incipiente processo de podzolização, com características in-termediárias para ESPODOSSOLO. A saturação por bases (V%) destes solos é muito baixa, estando na maioria das vezes abaixo de 25%. O V% é um número índice abrangente, que relaciona os teores de K, Ca, Mg com a capacidade de troca de cátions (CTC), expressando a porcentagem de cátions trocáveis.

O solo não é apenas formado por partículas físicas bem arranjadas, mas tam-bém por inúmeros micros ambientes e agregados onde ocorrem interações de natureza química, física e biológica, tornando-se um habitat complexo com grande diversidade de comunidades biológicas, em sua grande parte heterotróficos, com elevada capacidade de decompor e também de produzir substâncias químicas das mais variadas origens e for-mas. No ambiente, o solo possui as funções de armazenar e purificar a água, promover a biodegradação de poluentes, restaurar e aumentar a resiliência do ecossistema e promover a ciclagem de elementos químicos (“C”, nutrientes e metais pesados) (Siqueira et al., 2008).

Cananéia/SP (1954 a 1970) Iguape/SP (1941 a 1970) Ubatuba/SP (1961 a 1990)

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O sistema radicular está exposto às alterações espaciais e temporais quanto às concentrações de nutrientes do solo (Lainé et al., 1998). As plantas respondem a essa hetero-geneidade por meio de modificações fisiológicas e morfológicas, de modo a alterar a arqui-tetura (configuração espacial) de seus sistemas radiculares. Tipicamente, as raízes crescem profusamente em direção às regiões de maior concentração de nutrientes (Van Vuuren et al., 1996), provavelmente como resposta adaptativa compensatória à variabilidade do solo (Ro-binson, 1996).

Dentre as restrições de fatores químicos de solos ácidos, os que mais afetam a absorção de nutrientes são os elementos tóxicos, sobretudo o alumínio (Al), e a própria deficiência de nutrientes, principalmente de fósforo (P) e de cálcio (Ca). Elevados teores de Al no solo provocam redução no crescimento das raízes, variando com as espécies, cul-tivares e solos. As raízes não crescem nos solos deficientes em Ca, que é essencial para a divisão celular e para a funcionalidade da membrana celular. A sua exigência, em termos quantitativos, é pequena, porém, deve estar presente nos pontos de crescimento, pois não há translocação do Ca do floema para as raízes (Raij, 1991).

Segundo a Resolução CONAMA n° 417/2009, as restingas são distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica, sendo consideradas comu-nidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima. Neste mosaico de comunidades, encontram-se as florestas arbóreas de restinga em estágios de elevada e média regeneração, ou seja, restinga alta e baixa, respectivamente. Ambas apresentam sobre o solo uma camada de raízes, que auxilia o processo da ciclagem de nutrientes, possibilitan-do a disponibilização mais lenta dos nutrientes da serrapilheira para o solo extremamente arenoso (< 50 g.kg-1 de argila). Segundo Pires et al. (2006), em estudo realizado na Ilha do Mel, a produção anual de serrapilheira em floresta de restinga encontra-se no limite inferior aos obtidos em florestas tropicais (5,5 ton.ha-1.ano-1). Entretanto, em conjunto com a rela-tiva baixa taxa de decomposição anual, este aspecto representa um grande valor adaptativo para esse ecossistema, pois minimiza perdas por lixiviação e permite melhor aproveitamen-to dos nutrientes.

A floresta arbórea de restinga (CONAMA, n° 417/2009) em estágio médio de regeneração (Figura 3) apresenta substrato arenoso, seco e de origem marinha, com estrato predominantemente arbóreo baixo e arbustivo com dossel aberto, podendo atingir de 3 a 10 m de altura, sendo que as emergentes chegam a 15 m. Outra característica presente em suas árvores é a existência de ramificação dos caules desde a sua base. Seu sub-bosque é difi-cilmente visualizado, e possui serrapilheira mais desenvolvida que no escrube, bem como maior diversidade de espécies. Apresenta um processo de formação em direção à restinga arbórea com estágio elevado de regeneração (restinga alta) e sofre um pouco de influência das matas de encosta (Figura 1). Na floresta de restinga arbórea em estágio de elevada rege-neração (Figura 4) o substrato, a exemplo da restinga em estágio médio de regeneração, é arenoso, de origem predominantemente marinha, podendo neste caso ocorrer deposição de areia e argila de origem continental, proporcionando inundações ocasionais em determina-das áreas. Sua vegetação é arbórea com dossel fechado, com altura variando de 10 a 20 m, podendo em certas regiões atingir porte maior. Ocorre um sub-bosque formado por plantas jovens do estrato arbóreo e arbustivo, e uma pequena quantidade de plantas do estrato her-báceo. A serapilheira é espessa, variando no decorrer do ano.

Diversos trabalhos sobre fertilidade do solo têm sido realizados em áreas do ecos-sistema restinga, nas fitofisionomias de floresta em estágio de elevada (restinga alta), Figura 3, e média (restinga baixa) regeneração, Figura 4, do litoral do estado de São Paulo.

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Figura 3. Floresta de restinga em estágio médio de regeneração da Ilha Anchieta (à es-querda) e da Ilha do Cardoso (à direita) no Litoral Paulista (Fonte: Casagrande, 2009).

Figura 4. Floresta de restinga em estágio elevado de regeneração da Estação Ecológica Juréia-Itatins (à esquerda) e da Ilha Anchieta (à direita) no Litoral Paulista (Fonte: Casagrande, 2009).

As considerações neste trabalho foram feitas levando-se em conta dados e obser-vações de quatro locais do litoral paulista (Quadro 1): (1) Parque Estadual da Ilha Anchieta, município de Ubatuba; (2) Estação Ecológica Juréia-Itatins, Estação Ecológica dos Chauás, município de Iguape; (3) Vila de Pedrinhas no município de Ilha Comprida; e (4) Parque Es-tadual da Ilha do Cardoso, município de Cananéia.

Quadro 1. Coordenadas Geográficas das Florestas de Restinga em estágio elevado e médio de regeneração nas quatro localidades estudadas.

Estágio elevado de regeneração Estágio médio de regeneração

S W S W

Ilha Anchieta 23° 32’ 24.58” 45° 4’ 33.03” 23°32’ 22.39” 45° 4’ 29.79”

Ilha do Cardoso 25° 04’ 29.50” 47° 55’ 41.10” 25° 04’ 18” 47° 55’ 24.20”

Ilha Comprida 24° 53’ 52.38” 47° 47’ 56.22” 24° 54’ 33.30” 47° 46’ 21.42”

Juréia-Itatins 24° 33’ 02.16” 47° 13’ 16.80” 24° 32’ 18.18” 47° 12’ 25.44”

Os estudos sobre fertilidade do solo foram feitos nas profundidades de 0 a 5, 0 a 10, 0 a 20, 20 a 40 e 40 a 60 cm, para floresta arbórea de restinga em estágios de elevada e média regeneração. Para cada camada, foram realizadas análises químicas para determinação de pH, matéria orgânica (MO), P, K, Ca, Mg, S, Al, H+Al, saturação por Al (m%), soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions (CTC) e saturação por bases (V%), além da análise granulométrica para determinar a textura (Embrapa, 1997). A caracterização das fisionomias de florestas de restinga foi feita com base na Resolução CONAMA n° 417/2009.

A combinação entre textura arenosa e a elevada precipitação a que o solo sob flo-resta de restinga está submetido, leva à intensa lixiviação de nutrientes essenciais ao desenvol-vimento vegetal (Casagrande e Soares, 2008). Essas condições caracterizam solos com baixo

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potencial de suporte para produção de biomassa, em que o processo de regeneração florestal torna-se muito lento, principalmente quando o desmatamento é seguido por longo período de perdas que excedem as adições.

A textura extremamente arenosa da restinga (30 g.kg-1 de argila) resulta em ex-cessiva drenagem pela elevada macroporosidade e baixa capacidade de retenção de água. Entretanto, não há déficit hídrico (Figura 2) durante o ano porque o litoral paulista registra precipitação significativamente superior às outras regiões do Estado de São Paulo, atingindo médias anuais de 2.200 mm (Sanchez et al., 1999).

Portanto, textura altamente arenosa, precipitação elevada e solos com baixo po-tencial para suporte de produção de biomassa acarretam em uma baixa capacidade concreta de a vegetação retornar ao estado natural de excelência (baixa resiliência), superando uma situação crítica de degradação. Tais características denotam uma baixa capacidade de reter nutrientes, indicando que a disponibilidade para a vegetação se dá por meio da decomposição da serrapilheira, uma vez que os níveis presentes no solo não seriam suficientes. Os níveis de fertilidade do solo (Quadro 2), principalmente os baixos teores de Ca e o excesso de Al, que limitam o desenvolvimento do sistema radicular e resultam no retardamento, restrição ou até no insucesso da revegetação (Reis-Duarte e Casagrande, 2006; Casagrande et al., 2010), funcionam como prova dessa afirmação, uma vez que o solo está atuando mais como suporte físico do que como reservatório de nutrientes. Considerando a MO e a CTC como importantes

indicadores da qualidade e da retomada da sustentabilidade do solo, e sabendo que a contribuição

média (por grama) da MO para a CTC de solos da zona tropical úmida é de 1,64 mmolc, ou seja,

44 vezes maior do que a contribuição da fração argila (Soares & Alleoni, 2008), depreende-se que

em um solo com teor de argila inferior a 30 g.kg-1, como sob floresta de restinga, os teores de MO

e, conseqüentemente a CTC, são decisivos para a manutenção da fertilidade do solo e do equilíbrio

do ecossistema natural. A conseqüência dessa reflexão é a afirmação de que o ecossistema de floresta de restinga é edáfico, com cerca de 70% do sistema radicular nos primeiros 10 cm de profundidade (Figura 5).

Figura 5. Sistema radicular superficial de floresta de restinga em estágio médio de regeneração da Ilha Anchieta – SP (esquerda) e floresta de restinga em estágio elevado de regeneração da Ilha do Cardoso – SP (direita) (Fonte: Casagrande, 2004 e 2010).

Desta forma, pode-se afirmar que os principais parâmetros da fertilidade do solo sob floresta de restinga estão associados à acidez elevada, aos teores de MO, que é respon-sável pela CTC, já que os teores de argila são muito baixos, e à baixa reserva de nutrientes. Assim sendo, a retirada da vegetação torna-se crítica nestes ambientes, sobretudo pela elimi-nação da ciclagem de nutrientes e, conseqüentemente, o favorecimento de intensa lixiviação e da destruição da MO. Neste contexto, mesmo com banco de sementes disponível, não há

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condições naturais para a recuperação da vegetação, notadamente onde a antropização degra-dou severamente o solo com a retirada da camada superficial. Áreas sem vegetação adjacentes a florestas de restinga, sem que a vegetação consiga se instalar ao longo do tempo, podem ser encontradas na Ilha Comprida – Pedrinhas (Figura 6) e na Juréia-Itatins. Isto demonstra a bai-xa resiliência desse ecossistema, indicando a necessidade de alternativas de manejo para a re-vegetação, principalmente no período de implantação, na ausência da ciclagem de nutrientes.

Quadro 2. Resultados médios das análises químicas de solos sob floresta de restinga em estágio de elevada e média regeneração dos quatro locais estudados.

SB = Soma de bases; CTC = Capacidade de troca catiônica; V= Saturação por bases; m = Saturação por alumínio. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância. O baixo potencial destes solos mostra que a manutenção da vegetação deve ocorrer por meio de um ciclo fechado de nutrientes, dando oportunidade de inferir sobre o manejo de áreas de restingas degradadas e sem vegetação.

Figura 6. Solo de restinga sem vegetação arbórea, adjacente à Floresta de restinga na Ilha Comprida (à esquerda) e na Estação Ecológica Juréia-Itatins (à direita) no Litoral Paulista (Fonte: Casagrande, 2010).

Assim sendo, o manejo da fertilidade do solo em áreas degradadas de restinga deve atender primariamente à elevação da capacidade de reter nutrientes, assim como a dis-ponibilização permanente de nutrientes nos primeiros anos da implantação da vegetação. O aporte de MO é fundamental para o sucesso das fases iniciais mais complexas, já que se trata de uma fonte importante de nitrogênio (N) e de micronutrientes que imprime um regime mais lento e gradual na sua disponibilização. A cinética mais lenta de liberação de nutrientes também pode ser conseguida pelo uso de rochas que se solubilizam mais vagarosamente, como fosfatos naturais e outras rochas fosfáticas e potássicas, além do calcário, que, além de garantir o fornecimento de Ca e Mg também promove a correção da acidez do solo (pH, H+

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Al, Al e saturação por Al). O uso de leguminosas sempre será uma alternativa adequada para o suprimento de N e para o aumento do aporte de MO, principalmente no início da revegetação.

A maior reflexão sobre a restinga ser edáfica, que a torna, com facilidade, incapaz de se recuperar sem a ação técnica/científica do homem, é dar prioridade para a preservação desse ecossistema, evitando a necessidade de ter que recuperá-lo. Se este é um procedimento ideal para os ecossistemas, para as florestas de restinga, dentre eles, é prioritário.

ModeLAGeM dA quALIdAde do SoLo SoB FLoReStA de ReStInGA

A discussão sobre Qualidade do Solo (QS) intensificou-se no início dos anos 1990, quando a comunidade científica, consciente da importância do solo para a qualidade ambiental, começou a abordar a preocupação com a degradação dos recursos naturais, a sus-tentabilidade agrícola e sua função nesse contexto. Lal e Pierce (1991) foram precursores em alertar sobre a relação do manejo do solo e a sustentabilidade da agricultura.

O monitoramento da qualidade do solo deve ser orientado para detectar tendên-cias de mudanças que são mensuráveis num período relativamente longo. Esse monitoramen-to pode ser feito na propriedade agrícola ou em níveis mais abrangentes, como microbacia hi-drográfica, região e outros. As práticas de manejo e conservação do solo e da água devem ser planejadas e executadas procurando-se manter ou mesmo melhorar seus atributos, de modo a aumentar a capacidade do solo em sustentar uma produtividade biológica competitiva, sem comprometer a qualidade da água (Araújo; Goedert e Lacerda, 2007). Para esses autores, o es-tabelecimento de índices de qualidade do solo é ainda útil na tarefa de avaliação de impactos ambientais quando biomas são incorporados ao processo produtivo, seja de forma extensiva ou intensiva. Torna-se, assim, um instrumento importante nas funções de controle, fiscaliza-ção e monitoramento de áreas destinadas à proteção ambiental. Neste contexto, é oportuno buscar indicadores de qualidade do solo comparando-se floresta alta (elevada regeneração), baixa (média regeneração) e sem vegetação em áreas de restinga, dada a diferença natural de biomassa entre elas.

A Restinga, localizada nas planícies costeiras, de todos os ecossistemas asso-ciados à Mata Atlântica, é o mais frágil e susceptível às perturbações antrópicas. Segundo Rizzini (1997) a vegetação de restinga é um conjunto de comunidades vegetais em mosaico, determinados pelas características dos substratos que, por sua vez, são determinados pelos processos deposicionais e idades (Araújo e Lacerda, 1987). Neste mosaico de comunidades encontram-se as florestas arbóreas em estágio elevado de regeneração (restinga alta), carac-terizada por uma vegetação arbórea com dossel fechado, com altura variando de 10 a 20m, existência de um sub-bosque, formado por plantas jovens do estrato arbóreo e arbustivo, e pequena quantidade de plantas no estrato herbáceo, com serrapilheira espessa, e as florestas arbóreas em estágio médio (restinga baixa) de regeneração, caracterizada por uma vegetação arbóreo/arbustiva de porte baixo (3-10 m), onde suas árvores apresentam ramificações nos caules desde a sua base e dossel aberto.

A floresta de restinga representa uma situação diferenciada pela topografia e textura do solo (Casagrande, 2003). Trabalhos realizados na costa brasileira mostram que, sob essa vegetação, as principais classes de solos encontradas são Espodossolos e Neossolos Quartzarênicos (Gomes et al., 2007), muitas vezes estes últimos apresentam incipiente pro-cesso de podzolização, com características intermediárias para Espodossolo. São solos de relevo plano e de elevada infiltração. Devido ao baixo teor de argila (normalmente de 1-5%), estes solos estão sujeitos à intensa lixiviação pela baixa capacidade de retenção de cátions, além de já serem solos originalmente pobres em nutrientes; são solos com elevada saturação por alumínio, valores de saturação por bases geralmente inferiores a 25% e com baixos teores de cálcio; o sistema radicular localiza-se principalmente na camada de 0-10 cm (70%), com

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90% das raízes até a profundidade de 20 cm (Bonilha et al., 2010). O clima que caracteriza grande parte do litoral, segundo a classificação de Köppen, é do tipo tropical, com a tempera-tura média do mês mais quente superior a 18° C; o total de chuvas do mês mais seco é de 60 mm e a precipitação anual é aproximadamente 2.200 mm.

Dentre os indicadores químicos, a matéria orgânica é considerada o parâmetro chave de qualidade de solo, pelas evidências que se tem de seu papel estrutural e funcional na capacidade produtiva do solo e na relação crítica entre manejo de solos florestais e produtivi-dade (Henderson, 1995; Nambiar, 1997). O pH do solo influencia relações químicas e biológi-cas no solo, mas oferece poucas informações diretas por si só. A saturação por alumínio, que é o inverso da saturação por bases, é um indicador mais sensível e significativo em relação à resposta vegetal que o pH do solo (Aune e Lal, 1997).

Embora a capacidade de troca de cátions (CTC) seja amplamente reconhecida como indicador da qualidade de solo, pela capacidade do solo reter e liberar nutrientes, para solos florestais a soma de bases (SB), que é a relativa abundância de nutrientes básicos no complexo de troca do solo, é considerada mais importante que a CTC. Segundo Reuss (1983), nos solos florestais, onde não há adição de Ca e Mg pelo calcário, é a saturação por bases que determina a influência do complexo de troca sobre a composição química e acidez da solução do solo.

Os níveis de nutrientes não devem ser melhores indicadores de qualidade de solo para floresta, uma vez que em ambiente florestal a ciclagem de nutrientes é responsável pela manutenção e desenvolvimento vegetal, já que as reservas estão principalmente na biomassa vegetal. Dessa forma, a deficiência de cálcio e o excesso de alumínio no subsolo podem ser os parâmetros chaves para o crescimento, estando associado com o desenvolvimento do sistema radicular em profundidade, com influência direta sobre a absorção de água e nutrientes, em função da exploração de maior volume de solo. Diversos autores encontraram níveis baixos de cálcio e elevados de alumínio no subsolo de restinga: Sugiyama (1993), Guedes-Silva (2003), Casagrande (2003), Carrasco (2003), Reis-Duarte (2004), e Sato (2007). Assim, tanto os ní-veis de cálcio e alumínio do subsolo, em diferentes profundidades, como a profundidade do sistema radicular, podem funcionar como indicadores da qualidade química do solo.

A maior atividade biológica do solo situa-se, de modo geral, na camada de 0-20 cm de profundidade, pois é onde ocorre maior acúmulo de matéria orgânica pela deposição de material vegetal da parte aérea (serapilheira), além do efeito das raízes. A vegetação, influen-ciadora da deposição de matéria orgânica e o efeito rizosférico, têm grande influência sobre os microorganismos. Solos sem cobertura vegetal tendem a possuir menores teores de matéria orgânica, e conseqüentemente uma comunidade biológica menor e menos diversificada (Mo-reira e Siqueira, 2002).

Uma metodologia que tem sido largamente proposta para superar a dificuldade de traduzir a natureza complexa e específica de cada solo em atributos mensuráveis que possam refletir o seu estado de qualidade é a definição de funções que possam expressar os atributos de qualidade do solo, por meio de um conjunto mínimo de indicadores (Doran e Parkin, 1994; Karlen e Stott, 1994; Larson e Pierce, 1994: Wander e Drinkwater, 2000). Os indicadores de qualidade são variáveis mensuráveis que representam propriedades do solo. Seja qual for o indicador, se utilizado individualmente não será capaz de descrever e quantificar todos os aspectos da qualidade do solo. Nem mesmo uma única função do solo, isolada, será capaz de fazê-lo, visto que todos os atributos do solo interagem entre si de alguma forma (Stenberg, 1999). Assim, faz-se necessário avaliar as funções dos solos com base em atributos e/ou pro-priedades químicas, físicas e processos biológicos, em face das influências existentes entre elas no ambiente do solo (Dexter, 2004).

Para a avaliação do funcionamento do solo, em relação às questões ambientais, Larson e Pierce (1994) propuseram três funções associadas à qualidade do solo, onde o solo

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deve ter a habilidade de funcionar como um meio de crescimento para as plantas, como regu-lador e fornecedor de fluxo de água no ambiente e também como filtro de impactos ambien-tais, afirmando que para a execução destas funções, um solo de alta qualidade deve permitir a infiltração, transmissão de água e liberação de nutrientes, promover e sustentar o crescimento de raízes, manter o habitat biótico do solo em condições satisfatórias, responder ao manejo e resistir à degradação.

As funções que determinam a qualidade são expressas por meio de propriedades e atributos múltiplos do solo. Desta maneira, durante muitos anos os pesquisadores em ciência do solo identificaram, debateram e concordaram com a elaboração de um conjunto de dados mínimos fixados (DMF), que representam um conjunto de atributos do solo que podem ser usados para quantificar a sua qualidade (Wander e Drinkwater, 2000).

O modelo aditivo ponderado parte do princípio que a inter-relação entre os com-ponentes físicos, químicos e biológicos de um solo define sua qualidade. No entanto, sua estrutura e processos de desenvolvimento consideram que estes componentes resultam nas funções desempenhadas pelo solo, e estas por sua vez expressam o efeito ocasionado por seus atributos (indicadores). Assim, este modelo considera as partes (indicadores), ponderando e somando seus efeitos na direção das funções no solo, de modo a quantificar sua qualidade. Calcula um índice de qualidade do solo tendo por referência a utilização de limites críticos, valor ao qual a função solo está comprometida. Os pesos atribuídos devem ser padronizados. Para tanto, utiliza-se a equação (Wymore, 1993):

Onde “v” é a pontuação padronizada; “B” é o valor crítico ou limite-base dos pa-râmetros, cujo escore padronizado é 0,5, e que estabelece o limite entre a ruim e a boa qualida-de do solo; “L” é o valor inicial ou mais baixo que uma propriedade do solo possa expressar, podendo ser 0; “S” é a inclinação da tangente à curva no ponto correspondente ao valor crítico do indicador; e “x” é o valor da propriedade ou indicador medido no campo.

As amostras de solo foram coletadas no ecossistema restinga, na profundidade de 0 a 10 cm, nas fitofisionomias de floresta arbórea em estágio de elevada (restinga alta) e média (restinga baixa) regeneração e uma região sem vegetação (RSV), na Ilha do Cardoso (25° 04’ 29.50” S, 47° 55’ 41.10” W) e analisadas (Embrapa, 1997) para: pH, matéria orgânica (MO), P, K, Ca, Mg, S, Al, H+Al, saturação por alumínio (m%), soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions (CTC), saturação por bases (V%), além da análise física de textura e den-sidade. Para as análises microbiológicas as populações de bactérias, actinomicetos e fungos (Clark, 1965). A caracterização das fisionomias de florestas de restinga foi feita com base na Resolução CONAMA n° 417/2009.

Os solos das três fitofisionomias - RA (RB e RSV - (Tabela 1), apresentaram valores de soma de bases muito baixos, conseqüentemente saturação por bases muito baixas (inferiores a 15%). Valores observados por Gomes et al. (2007) para a Ilha do Cardoso e Sato (2007) para seis locais ao longo do litoral paulista, (norte/sul) também indicaram solos de fertilidade muito baixa, com baixo potencial de fornecer nutrientes às plantas.

Os valores encontrados para saturação de alumínio foram elevados, indicando que a CTC do solo está praticamente ocupada por alumínio. Os teores de cálcio observados nas áreas com vegetação (RA e RB) foram muito baixos, enquanto nas áreas sem vegetação (RSV) foram médios. Baixos teores de cálcio e elevados teores de alumínio podem resultar em retardamento, restrição ou insucesso no desenvolvimento do sistema radicular.

Quanto à disponibilidade de água do solo nas planícies costeiras do litoral pau-lista, os balanços hídricos divulgados pela Embrapa (2003) com base em dados históricos de

v =1+ ((B – L) / (x – L)) 2S(B+x–2L)

1

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30 anos, cujas fontes foram o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Departamento de Água e Esgoto (DAE), não indicam déficit hídrico, apesar de estes solos serem constituídos por teores de argila da ordem de 2%.

Tabela 1. Valores médios observados para os indicadores químicos, físicos e microbiológicos em solos sob floresta de restinga alta, baixa e de solo de restinga sem vegetação na Ilha do Cardoso.

RA = restinga alta. RB = restinga baixa. RSV = restinga sem vegetação; SB = soma de bases; V = saturação por bases; m = saturação por alumínio; Dens. = densidade; Arg. = argila.

Desta forma, as funções do solo que podem resultar em maiores limitações ao desenvolvimento das florestas de restinga são a sua capacidade de disponibilizar nutriente e de promover o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Os indicadores selecionados correlacionados à função do solo “promover o de-senvolvimento radicular” foram: 1- saturação por alumínio (m), 2- teor de cálcio (Ca) e 3- teor de fósforo (P). Para a função “disponibilizar nutrientes” foram: 1- matéria orgânica (MO), 2- soma de bases (SB), 3- saturação por bases (V), 4- saturação por alumínio (m), 5- população microbiana (PM), importantes na decomposição da matéria orgânica e disponibilização de nutrientes. Este último indicador terá um sub-nível composto por população de actinomicetos, bactérias e fungos.

Com relação aos pesos das funções, foram atribuídos valores semelhantes, mas com superioridade para a disponibilização de nutrientes, que é a função mais abrangente. Desta forma ficaram determinados 60 e 40% para “disponibilizar nutrientes” (DN) e “promo-ver o desenvolvimento radicular” (PDR), respectivamente (Tabela 2).

Os pesos dos indicadores relativos à função PDR (Ca, m e P) foram divididos de acordo com sua importância no ambiente, ficando 40% para “Ca” e 40% para “m”, pois repre-sentam grande limitação à função e 20% para “P”, que apresentou valores médios a elevados na profundidade de 0 a 10 cm.

Os pesos dos indicadores relativos à função DN (MO, SB, V%, m e PM), também seguiram o mesmo critério (influência), onde a população de microorganismos e saturação por alumínio receberam o peso de 10% (cada), sendo que para PM foi devido ao potencial de disponibilizar nutrientes para o solo.

Para os demais indicadores atribuiram-se 80% do valor da função, distribuídos com 30% para M.O., 25% para SB e 25% para V. A M.O. recebeu o peso maior por repre-sentar a retenção de nutrientes, em vista do teor de argila do solo ser de cerca de 2%, sendo o peso restante dividido igualmente entre V, valor índice de fertilidade, e SB, somatória dos cátions no complexo de troca.

Os valores de IQS encontrados (Gráfico 1) para as três fitofisionomias apresenta-ram um gradiente crescente, acompanhando o gradiente da vegetação (IQS RA > IQS RB > IQS RSV), contudo com uma faixa de variação muito pequena, sendo 3% de RSV para RB (média regeneração) e 18% de RSV para RA (elevada regeneração). Todas apresentaram va-lores maiores para a função DN (disponibilidade de nutrientes), comparativamente à função PDR (promover o desenvolvimento radicular), sendo praticamente semelhantes os valores da função DN para todas as áreas.

P res M.O. Ca SB V m Actinomicetos

Bactérias Fungos Densidade

Argila

mg/dm3

g/dm3

mmolc /dm3

----- % ----- 10 5 UFC.g - 1 105

UFC.g -1 104

UFC.g -1 g/dm3 %

RA 8 43 1 5 10 69 7.2 4.5 0.5 0.74 2 RB 3 28 2 3 5 78 8.2 8.1 0.7 1.27 2 RSV

1 18 2 4 17 55 12.9 5.2 20.7 1.16 2

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Tabela 2. Estrutura do modelo com as funções, os indicadores, os pesos relativos e os limites críticos.

A: Peso das funções. B: Peso dos indicadores. C: Peso dos indicadores nível 2.

Estes valores de IQS muito baixos, por tratar-se de uma escala de 0 a 1, onde o maior valor obtido foi 0,26, mostram o baixo potencial destes solos e não explicam a exuberância das vegetações desenvolvidas. Os solos são praticamente os mesmos quanto aos níveis de fertilidade. Cabe ressaltar que as áreas sem vegetação localizam-se ao lado das áreas de floresta de restinga, sem que a vegetação consiga se instalar ao longo do tem-po. Isto demonstra a baixa resiliência do ecossistema restinga, indicando a necessidade de alternativas de manejo para a revegetação, principalmente no período de implantação, na ausência da ciclagem de nutrientes.

Gráfico 1. Resultados obtidos para o Índice de Qualidade do Solo (IQS) na Ilha do Cardoso, com respectivos valores das funções PDR e DN para RA, RB e RSV.

Os baixos valores obtidos de IQS indicam que o solo funciona mais como su-porte que fornecedor de nutrientes. Além disso, estes valores explicam-se pelo fato de que os nutrientes presentes neste ecossistema estão em um ciclo fechado. O ciclo de nutrientes fechado foi primeiramente proposto por Hardy (1936) e confirmado em algumas regiões da Amazônia por Jordan e Herrera (1981). Em ecossistemas florestais a ciclagem de nutrien-tes ocorre envolvendo o processo de transferência dos minerais acumulados na biomassa vegetal para o solo, principalmente pela queda de resíduos da parte aérea, formador da serapilheira, onde após sua decomposição possibilita a liberação dos nutrientes para serem absorvidos pelas plantas e por outros organismos do sistema (Toledo e Pereira, 2004). Os maiores valores encontrados de PDR para RSV em relação a RA, ocorrem pela diminuição

RA; restinga alta. RB; restinga baixa. RSV; restinga sem vegetação. PDR; função promo-ver desenvolvimento radicular. DN; função disponibilizar nutrientes. IQS; índice de qua-lidade do solo.

PDR DN IQS

RA 0,08 0,18 0,26

RB 0,00 0,11 0,11

RSV 0,02 0,05 0,08

DN; 0,050,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

RA RB RSV

IQS

PDR DN

Função do Solo A Indicadores B Indicadores 2˚ C Pesos Limite Crítico Unidades

Ca 0,4 0,16 4 mmol c/dm3

0,4 m 0,4 0,16 40 %

P 0,2 0,08 6 mg/dm3

1,00

MO 0,30 0,18 25 g/dm3

SB 0,25 0,15 30 mmol c/dm3

V 0,25 0,15 40 %

0,6 m 0,10 0,06 40 %

Actinomicetos 0,33 0,02 8.88 x 105

UFC.g-1

0,10 Bactérias 0,33 0,02 7 x 105

UFC.g-1

Fungos 0,33 0,02 1.14 x 104

UFC.g-1

1,00 1,00 1,00 1,00

Promover Des. Radicular

Disponibilizar Nutrientes

Pop. Microb.

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dos teores de Al+3, assim como também explicam o porquê da restinga ser considerada uma vegetação edáfica, em que o solo exerce o papel decisivo no desenvolvimento da floresta, pois a baixa disponibilidade de nutrientes na fase inicial de regeneração pode retardar/inibir a recuperação desta floresta.

Das considerações feitas, dado os baixos valores de IQS, é conclusivo o baixo potencial do solo sob vegetação de floresta de restinga, com a manutenção da vegetação pela ciclagem, dando a oportunidade de inferir sobre o manejo de áreas de restingas degradadas e sem vegetação, sugerindo-se dois procedimentos de manejo da fertilidade do solo importantes para recuperação inicial da floresta de restinga: aumento da capacidade de retenção de cátions pela adição de matéria orgânica e a adição de nutrientes de liberação lenta.

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NUTRIÇÃO MINERAL DE ESPÉCIES NATIVAS EM SOLOS DO CERRADO

Marcio Roberto Soares1

José Carlos Casagrande1

Mariane de Souza Oliveira2

Murilo Impulcetto Monteiro de Moraes3

O Cerrado é uma das áreas de maior diversidade no mundo e o segundo maior do-mínio morfoclimático e fitogeográfico do Brasil, ocupando cerca de 200 milhões de hectares no Planalto Central Brasileiro e áreas adjacentes, que englobam parte dos Estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins, além do Distrito Federal (IBGE, 2004).

O conflito entre riqueza biológica e pressão antrópica colocou o Cerrado brasi-leiro entre as áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade mundial. Quando com-parado a outros biomas, sobretudo com a Mata Atlântica, o Cerrado foi poupado da ocupa-ção agrícola até épocas muito recentes. Nas últimas décadas, com o avanço tecnológico da agropecuária, o Cerrado está sendo reduzido a uma taxa acelerada, estimada em 3% ao ano. Entretanto, o recente mapeamento de remanescentes de cobertura vegetal natural do Cerrado, realizado pela EMBRAPA Cerrados, apontou que o bioma mantém 61% de vegetação nativa, sendo 13% de pastagens nativas e 48% de cobertura vegetal remanescentes.

No Brasil, foram identificados 80 milhões de ha sob diferentes usos da terra dos Cerrados, que correspondem a 39,5% da área total do Bioma (Tabela 1).

Tabela 1. Áreas ocupadas pelas diferentes classes de uso da terra nos Estados cobertos pelo Bioma Cerrado.

Estado 1Cerrado Agricultura Pastagem Reflorestamento Área urbana Mineração Total

Uso da

terra

% -------------------------------------------- ha -------------------------------------------- %

PI 37 215.265 521.731 1.379 20.933 0 759.307 8

MA 65 356.028 1.901.655 27.171 35.876 0 2.320.731 11

TO 91 175.565 4.253.134 376.645 36.350 2.406 4.844.100 19

BA 27 1.572.701 2.257.253 125.869 11.892 0 3.967.715 26

MT 40 5.561.053 6.508.944 31.974 64.268 3.289 12.169.529 34

MG 57 2.122.452 11.838.147 1.302.344 171.832 1.889 15.436.664 46

GO 97 5.037.522 12.931.552 50.514 182.089 0 18.201.676 55

DF 100 137.455 119.749 3.504 101.853 0 362.561 62

MS 61 2.712.019 10.948.449 1.017.755 61.630 73 14.739.925 68

PR 2 83.534 103.739 66.697 1.892 0 255.863 68

SP 33 3.585.977 2.622.416 533.236 200.445 213 6.942.286 85

Total 21.559.571 54.006.770 3.537.088 889.059 7.870 80.000.357 39

1Porcentagem do Estado originalmente coberto pelo Bioma CerradoFonte: Sano et al. (2008)

1 Professor DRNPA/CCA/UFSCar - Campus de Araras; [email protected] Programa de Pós-Graduação CCA / UFSCar � Campus de Araras3 Programa de Pós-Graduação CENA/USP

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Do ponto de vista fisionômico, a abordagem mais simplificada de Coutinho (1978) continha o cerradão, fitofisionomia na qual predomina o componente arbóreo-arbusti-vo, e o campo limpo, onde há predomínio do componente herbáceo-subarbustivo. As demais fitofisionomias, ou seja, campo sujo, campo cerrado, cerrado sentido restrito (sensu stricto), eram consideradas zonas de transição entre o cerradão e o campo limpo. Atualmente, o Bioma Cerrado é o tipo de vegetação mais frequente e abundante do grande Domínio Cerrado, con-siderado um mosaico vegetacional mais diversificado (Figura 1).

Figura 1. Fitofisionomias do Domínio Cerrado. Fonte: EMBRAPA Cerrados®

Diferentemente das espécies de Mata Atlântica, que são classificadas por gru-pos de sucessão ecológica (pioneiras, secundárias e clímax), as espécies do Cerrado são categorizadas em grupos fenológicos, principalmente pelo seu padrão de produção e de perda de folhas (decíduas, brevidecíduas e sempre-verdes), possuindo características ecofi-siológicas próprias, com exigências nutricionais e ambientais muito específicas (Haridasan, 2000). Mesmo assim, as leis fundamentais da Nutrição Mineral de Plantas são igualmente válidas para plantas cultivadas ou de ecossistemas naturais, ou seja, a deficiência de ele-mentos essenciais impede que a planta complete a fase vegetativa ou reprodutiva de seu ciclo de vida. Atualmente, 17 elementos químicos são essenciais às plantas: carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), obtidos do ar e da água, nitrogênio (N), fósforo (P), potás-sio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), Mo (molibdênio), níquel (Ni) e zinco (Zn), supridos pelo solo. Ma-cronutrientes, como o N, P, K, Ca, Mg e S, desempenham funções estruturais nas plantas e precisam ser absorvidos em maiores quantidades (vários kg/ha), acumulando no tecido vegetal em quantidades expressas em g/kg de matéria seca. Por outro lado, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn são considerados micronutrientes, não por serem menos importantes, já que são, por excelência, ativadores enzimáticos de várias rotas metabólicas, mas sim por serem absorvidos em pequenas quantidades (alguns g/ha) e expressarem seus teores em mg/kg de matéria seca.

O solo é um fator importante que condiciona a expressão da vegetação do Cer-rado. O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) engloba 13 Ordens de solos (EMBRAPA, 2006). Cerca de 75% da superfície do Cerrado é coberta por solos pertencen-tes às Ordens dos LATOSSOLOS, NEOSSOLOS QUARTZARêNICOS e ARGISSOLOS (Tabela 2).

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Tabela 2. Principais Ordens de solos de ocorrência no Domínio Cerrado.

*SolosSuperfície do Cerrado

Km2 %

LATOSSOLOS 935.870 46,0

NEOSSOLOS QUARTZARêNICOS 309.715 15,2

ARGISSOLOS 307.677 15,1

CAMBISSOLOS e NEOSSOLOS LITÓLICOS 203.760 10,0

Outros 280.578 13,7

Total 2.037.600 100,0

*Ordens de solos segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solo (SiBCS) (EMBRAPA, 2006)Fonte: adaptado de Buol (2009)

Perfis típicos de LATOSSOLOS apresentam sequência de horizontes A-Bw (B la-

tossólico). Podem apresentar texturas que variam de média a muito argilosa, mantendo a dis-tribuição homogênea da fração argila ao longo do perfil, constituída por caulinita e, em maior proporção, por óxidos de Fe e de Al. O processo de podzolização origina ARGISSOLOS, cujo perfil diferencia-se em horizontes A, E e B

t (B textural) em função da movimentação de

argila dos horizontes A e E e de seu acúmulo no horizonte Bt, resultando em gradiente textu-

ral. Frequentemente, os horizontes A e E possuem textura arenosa a média, enquanto o Bt é

argiloso. Minerais de argila de baixa atividade (Ta) predominam na fração argila destes solos. A Ordem dos NEOSSOLOS comporta solos pouco evoluídos e com ausência de horizonte B. NEOSSOLOS QUARTZARêNICOS são originados de quartzitos, arenitos ou depósitos arenosos. O perfil apresenta a sequência de horizontes A-C e textura arenosa (<150 g/kg de argila) composta essencialmente por grãos de quartzo (Figura 2).

Figura 2. Perfis e horizontes característicos de LATOSSOLO VERMELHO (LV), de ARGIS-SOLO VERMELHO-AMARELO (PVA) e de NEOSSOLO QUARTZARÊNICO (RQ). Fonte: USDA/NRCS (2011).

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Os solos que predominam no Bioma Cerrado possuem severas limitações em termos de fertilidade. São solos bastante ácidos, com valores de pH que podem variar desde menos do que 4,0 a pouco mais do que 5,0. Desta condição, surge um conjunto mais amplo de atributos químicos restritivos ao desenvolvimento vegetal, que compreende a alta saturação por Al (m>50% em solos álicos), a toxidez iônica por Al, Fe, Mn e H, a baixa reserva de nutrientes, devida à reduzida satu-ração por bases (V<50% em solos distróficos) e baixa capacidade de troca de cátions (CTC), além da indisponibilidade de P devido à sua fixação pelos óxidos de Fe e de Al (Tabela 3).

Tabela 3. Resultados da análise química para fins de fertilidade de solos de ocorrência típica no Bioma Cerrado.

Horizonte P Resina MO pH K Ca Mg H+Al Al SB CTC V S B Cu Fe Mn Zn m

mg/dm3 g/dm3 Ca CI2

-------------------------- mmolc/dm3 ---------------------- % mg/dm3 %

LATOSSOLO VERMELHO (LV)

A 1,4 17 4,2 0,6 4 1 45 9 5,6 50,6 11 10 0,2 0,4 186 13,2 0,2 61

Bw

0,1 8 3,9 0,2 1 0,3 23 12 1,5 24,5 6 4 0,1 0,1 145 9,6 0,1 88

ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO (PVA)

A 20 14 3,9 1,2 6 2 34 10 9,2 43,2 21 11 0,5 0,5 49 2,6 0,5 54

Bt

10 11 3,8 1,2 3 1 33 12 5,2 38,2 14 12 0,6 0,6 33 2,5 0,3 70

NEOSSOLO QUARTZARêNICO (RQ)

A 4 22 3,7 1,1 3 1 47 12 5,1 52 10 9 0,4 0,2 150 4,7 0,6 69

C 2 12 3,9 0,9 2 1 34 11 3,9 38 10 5 0,4 0,1 69 2,7 0,4 72

Fonte: Programa de Avaliação da Fertilidade do Solo, Laboratório de Química e Fertilidade do Solo UFSCar/CCA.

A baixa fertilidade natural dos solos é refletida nas baixas concentrações de nutrientes nas folhas das espécies nativas em comunidades associadas, sobretudo, aos solos distróficos (Ha-ridasan, 2000). As características escleromórficas das espécies vegetais do Cerrado normalmente eram atribuídas à deficiência hídrica, já que há estação seca entre os meses de maio a setembro, além de veranicos na estação chuvosa de outubro a março. Porém, atualmente é reconhecido que o aspecto xeromórfico da vegetação é condicionado por características desfavoráveis do solo, prin-cipalmente as deficiências minerais e a alta saturação por Al decorrentes dos baixos valores de pH (Durigan, 2003). Existem espécies restritas a solos calcários, outras que são indiferentes à fertilidade do solo e outras de ocorrência exclusiva em solos ácidos (Haridasan, 2000). Algumas famílias de plantas, como Vochysiaceae e Melastomataceae, toleram altas concentrações de Al através de mecanismos de exclusão ou de hiperacumulação (Durigan, 2003), podendo apresentar concentrações foliares acima de 1000 mg/kg de Al (Haridasan, 2008). Espécies como Miconia al-bicans e Vochysia thysoidea acumulam Al em folhas e sementes e não se desenvolvem na ausência do Al (Haridasan, 1982). As espécies adaptadas a solos ácidos são tolerantes ou resistentes ao Al por que sua capacidade de absorção de nutrientes essenciais, crescimento e reprodução não são prejudicados por altas concentrações deste elemento no solo. As práticas corretivas da acidez do solo normalmente não resultam na diminuição das concentrações foliares de Al nestas espécies.

Os conceitos de nível crítico, de deficiência e de toxidez, que estão bem esta-belecidos para plantas cultivadas, devem ser estendidos às espécies nativas de ecossistemas naturais com muita cautela (Haridasan, 2000). Plantas do Cerrado são mais eficientes em solos pobres em função de vários mecanismos adaptativos, tais como o dimorfismo radicular, a transpiração noturna, a redistribuição de nutrientes antes da senescência das folhas, a reci-clagem de nutrientes da serapilheira e as associações micorrízicas (Franco et al., 2008).

As incertezas sobre exigências nutricionais são decorrentes do limitado conheci-mento acumulado sobre aspectos da nutrição mineral de centenas de espécies nativas adapta-das a solos pobres em nutrientes. No entanto, é conhecido que a maioria das espécies nativas do cerrado é capaz de responder à calagem e adubação. Dentre os poucos estudos, a maioria

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avaliou exigências de espécies de ecossistemas naturais por macronutrientes e pouco se avan-çou no conhecimento sobre os efeitos e as exigências por micronutrientes.

Aparentemente, não há resposta de plantas nativas a micronutrientes (Renó et al., 1997). Porém, em razão de deficiências generalizadas em solos do Cerrado, a aplicação de B e de Zn tem sido recomendada, sobretudo em áreas degradadas (Furtini Neto et al., 2005), mas com resultados ainda inconclusivos. A Tabela 4 contém subsídios para a interpretação de teores de micronutrientes em solos do Cerrado.

Tabela 4. Interpretação de resultados de análise de solo para teores de micronutrientes em solos de Cerrado.

Teores1Boro (B) Cobre (Cu) Manganês (Mn) Zinco (Zn)

---------------------------------------------------- mg dm-3 ---------------------------------------------------

Baixo 0,0-0,2 0,0-0,4 0,0-1,9 0,0-1,0

Médio 0,3-0,5 0,5-0,8 2,0-5,0 1,1-1,6

Alto >0,5 >0,8 >5,0 >1,6

1extraído por água quente; os demais, extraídos por Mehlich I. Fonte: Galrão (2004)

Na planta, o Zn é constituinte estrutural de enzimas fundamentais. A deficiência pode afetar a síntese e conservação das auxinas (principalmente o ácido indolacético – AIA), hormônios vegetais envolvidos no crescimento (Dechen e Nachtigall, 2006). Com a deficiên-cia, a planta perece pelo efeito drástico sobre a atividade enzimática, o desenvolvimento dos cloroplastos, e o conteúdo de proteínas e ácidos nucléicos. As Figuras 3 e 4 mostram possí-veis sintomas visuais de deficiência nutricional de Zn para Tabebuia alba (Ipê-Amarelo-do--Cerrado), Astronium graveolens (Guaritá) e Anacardium giganteum (Cajuí), caracterizados por crescimento retardado, encurtamento dos internódios e folhas novas pequenas, estreitas e lanceoladas, com clorose internerval.

O pH tem forte influência na adsorção de Zn. Em solos intemperizados, Casa-grande et al. (2008) observaram nítido aumento na adsorção de Zn (20–90%) no intervalo de pH entre 4 e 6. Em termos práticos, a calagem pode diminuir a disponibilidade de Zn no solo.

Nas plantas, o B tem importante função de translocação de açúcares e no meta-bolismo de carboidratos, havendo acúmulo de açúcares nos tecidos vegetais em ocasiões de deficiência. Desempenha papel importante no florescimento, no crescimento do tubo polínico, nos processos de frutificação, no metabolismo de N e na atividade hormonal. O B intervém na absorção e no metabolismo dos cátions, principalmente do Ca, na formação da pectina de membranas celulares e na absorção de água (Dechen e Nachtigall, 2006).

Figura 3. Desenvolvimento inicial de mudas de a. Tabebuia Alba (Ipê-amarelo do Cerrado) e de b. Astronium graveolens (Guaritá-do-Cerrado), cultivadas em amostras de horizonte C de um NEOSSOLO QUARTZARÊNICO e submetidas aos tratamentos de correção da saturação por bases (V=50%) e omissão do suprimento de zinco (Zn); sintomas: crescimento retardado, encurtamento dos internódios e folhas novas pequenas, estreitas e lanceoladas.

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Figura 4. Mudas de Anacardium giganteum (Cajuí) cultivadas em amostras de horizonte C de um NEOSSOLO QUARTZARÊNICO e submetidas a suprimento crescente de zinco (Zn, em kg/ha): a. 0,0; b. 2,0; c. 4,0; d. 6,0; tratamento com omissão de Zn (a = 0,0 kg ha-1) apresen-tando possível sintoma de deficiência nutricional.

A disponibilidade de B no solo afeta significativamente as concentrações nos teci-dos vegetais, e seus teores, muito elevados ou deficientes, levam as folhas a mostrarem sintomas visíveis e característicos desses extremos. O manejo da adubação com B deve ser cuidadoso, pois a faixa entre toxidez e deficiência de B é mais estreita do que para qualquer outro elemento nutriente (Soares et al., 2008). Os sintomas mais comuns da deficiência de B são (Dechen e Na-chtigall, 2006): redução do crescimento e deformações nas zonas de crescimento, diminuição da superfície foliar, com folhas jovens deformadas, espessas, quebradiças e pequenas, crescimento radicular reduzido, abortamento floral e deformação de pecíolos e frutos.

A Figura 5 mostra o crescimento de Eugenia dysenterica (Cagaita) em diferentes condições de suprimento de B e de saturação por bases (V%). Houve redução do acúmulo de biomassa quando o V% foi aumentado, mas não houve resposta às diferentes concentrações de B. Óxidos de Fe e de Al adsorvem grandes quantidades de B, especialmente na faixa de pH entre 7,0 e 9,0. Principalmente por este motivo, a disponibilidade de B tende a diminuir com o aumento do pH de solos muito intemperizados (Soares et al., 2008). Assim, a calagem pode constituir uma prática de manejo que afeta a disponibilidade do B.

Figura 5. Crescimento inicial (120 dias após transplantio da muda) de Eugenia dysenterica (cagai-ta) em NEOSSOLO QUARTZARÊNICO com diferentes níveis de saturação por bases (V%) (a – natural 36%; b – 50%; c – 70%) e com suprimento crescente de boro (B) (0; 0,5; 1 e 2 kg ha-1).

A Figura 6 mostra planta jovem de Astronium graveolens (Guaritá-do-Cerrado), submetida ao tratamento com V% natural (36%) e fornecimento de 2 kg/ha de B, apresentan-do provável sintoma de toxidez caracterizado pela clorose de coloração branca na região entre as nervuras nas folhas em geral e redução no desenvolvimento do sistema radicular.

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Figura 6. Crescimento inicial de muda de Astronium graveolens (Guaritá-do-Cerrado) em amostras de horizonte C de um NEOSSOLO QUARTZARÊNICO, submetida ao tratamento V% natural (V=36%) e suprimento de 2 kg/ha de B, apresentando provável sintoma de toxidez por B em estágio inicial.

Concomitantemente à diminuição do V%, há decréscimo do pH do solo, o que causa menor adsorção do B pelo solo e o torna mais disponível para absorção e acúmulo pelas plantas (Soares et al., 2008). Logo, é provável que a Figura 6 esteja retratando um sintoma de toxidez de B causado pela adição de uma dose excessiva de B (2 kg/ha) para Astronium gra-veolens, numa condição em que o tornou muito disponível (V%=36%), conduzindo a planta a acumular 109 mg/kg de B em seus tecidos e experimentar uma condição de estresse por excesso de B. De acordo com Furtini Neto (2005), os teores foliares adequados de B para as essências florestais estão na faixa de 10 a 70 mg kg-1. Neste mesmo experimento, constatou-se que o suprimento de 0,5 kg ha-1 de B foi suficiente para garantir o pleno desenvolvimento ini-cial da planta, mesmo em condições de baixo V% (Figura 5). A adição de 2 kg ha-1 de B pode causar sintomas de toxidez por B na faixa de V% entre 35 e 70%. O menor teor de B da parte aérea de A. graveolens foi de 46 mg kg-1, registrado no tratamento sem adição de B. Mesmo assim, não foi observado sintoma característico de deficiência. Provavelmente, ou os teores de B absorvidos, mesmo nos tratamentos com baixo suprimento de B, foram suficientes para suprir as necessidades da planta, ou os sintomas de deficiência de B em A. graveolens não correspondem aos padrões descritos para plantas cultivadas. A resposta ao fornecimento de B pode ser diferente, dependendo da espécie. Sob as mesmas condições experimentais, Anacar-dium giganteum (Cajuí) apresentou pleno desenvolvimento inicial nas condições naturais da amostra de NEOSSOLO QUARTZARêNICO, ou seja, V = 36% e teor naturalmente baixo de B. Já Andira cuyabensis (Angelim-do-Cerrado) apresentou resposta ao suprimento de 1 kg/ha de B, em condições de baixo V%.

Houve um insistente processo evolutivo pelo qual as plantas nativas acompanha-ram as modificações do solo promovidas pelo intemperismo. A teoria de que a vegetação mais exuberante do Cerrado, ou seja, a fitofisionomia Cerradão, estabeleceu-se em um período em que os solos ainda poderiam fornecer nutrientes em quantidades maiores, é bem aceita (Hari-dasan, 2008). Mas, e a vegetação mais esparsa das fitofisionomias com menor biomassa? Ao que parece, a disponibilidade de nutrientes foi o fator limitante no período de estabelecimento da vegetação, já que havia outros fatores edáficos favoráveis ao crescimento vegetal. Desde então, a biomassa vegetal tem sido sustentada pela ciclagem de nutrientes que, uma vez inter-rompida, leva o ecossistema ao colapso (Haridasan, 2000).

O intuito deste capítulo é remeter o leitor à seguinte reflexão: estamos no caminho certo ao tentarmos ajustar o comportamento de espécies vegetais nativas aos padrões nutricio-nais requeridos pelas plantas cultivadas? Parece mais conveniente desvendar os mecanismos construídos por estes vegetais ao longo de um extenso período evolutivo da interação solo--planta, por meio de adaptações fisiológicas que permitem até hoje a formação e a sustentação

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de uma biomassa vegetal única, a partir de recursos considerados escassos, constituindo um verdadeiro exemplo de sustentabilidade. Para isso, recomenda-se a consulta dos trabalhos de Haridasan (1982; 2000, 2008) e de Franco et al. (2008).

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ABORDAGEM “BEF”: UM NOVO PARADIGMA NA RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS?

Vera Lex Engel1

IntRodução

A prática de recuperação de áreas degradadas no Brasil não é nova, principalmen-te no que se refere ao bioma Mata Atlântica (Bellotto et al.,2009; Durigan e Engel, 2011). Como exemplos bem conhecidos, podemos citar a primeira experiência registrada na literatu-ra que foi o projeto de revegetação da Floresta da Tijuca, iniciado no final do século XIX na cidade do Rio de Janeiro (Amazonas et al., 2006); e o reflorestamento da mata ciliar do Rio Jaguari, na Usina Esther em Cosmópolis, SP, iniciada na década de 50 do século passado (No-gueira, 1977). Em ambos os casos, a motivação para as iniciativas foi a percepção da função protetora das florestas e a necessidade de proteção dos recursos hídricos, sendo no primeiro caso a preocupação direta com a diminuição dos mananciais da cidade do Rio de Janeiro. Naquela época, as iniciativas eram bastante empíricas, com base em tentativas e erros e sem uma fundamentação científica que norteasse as ações.

A partir principalmente das duas últimas décadas do século passado muitas ini-ciativas de recuperação de áreas degradadas tomaram corpo no país, podendo-se considerar o fim da década de 1980 como marco para o início do desenvolvimento de uma ciência de base para as práticas da restauração no Brasil (Rodrigues et al., 2009b; Oliveira, 2011). Entretanto, muitos anos se passaram com evolução constante das práticas (Rodrigues et al., 2009a), até que a restauração ecológica, da maneira como é entendida hoje (Engel e Parrotta, 2008) pu-desse se consolidar no Brasil (Durigan e Engel, 2011; Oliveira e Engel, 2011).

Mesmo com a grande evolução científica e com o desenvolvimento da ecologia da restauração no Brasil, os trabalhos desenvolvidos nos últimos anos ainda têm um enfoque limitado quase que exclusivamente a ecossistemas de florestas, principalmente da mata atlân-tica, em detrimento de cerrados, campos e da caatinga. Além disso, embora a grande motiva-ção para a maioria das ações de restauração tenha sido a proteção dos recursos hídricos, houve certa dicotomia no desenvolvimento da restauração no país (Durigan e Engel, 2011). Enquan-to na academia surgia o que se pode chamar de “escola da estrutura”, baseada na ecologia de comunidades e priorizando a restauração da biodiversidade perdida, junto ao setor empresa-rial surgia a “escola da função”, voltada muito mais à recuperação da capacidade de geração de serviços ambientais das áreas restauradas, ou seja, à sua reabilitação (Wright et al., 2009).

O estado de degradação da mata atlântica, colocando em risco de extinção um grande número de espécies, tem motivado pesquisadores e práticos a incluir o maior núme-ro de espécies possível nos projetos de restauração. Entretanto, estudos indicam que nem sempre a recuperação da estrutura e biodiversidade leva à recuperação do funcionamento do ecossistema. Mesmo que a comunidade vegetal da área restaurada seja muito semelhante aos ecossistemas de referência quanto à composição de espécies e suas abundâncias (Castanho, 2009), estudos indicam que alguns processos ecológicos tais como a ciclagem de nitrogênio e fósforo ainda não foram restaurados mesmo após mais de 50 anos da implantação (Amazonas,

1 Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, campus de Botucatu. [email protected]

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2006). Em ecossistemas restaurados aparentemente dentro de uma trajetória sucessional nor-mal, Naem (2006) indicou também casos de ausência de relação entre a comunidade vegetal e a edáfica, com implicações para os processos de ciclagem de material, tanto em regiões temperadas como em tropicais.

Por outro lado, sistemas relativamente simples quanto à riqueza de espécies vege-tais plantadas inicialmente podem ser capazes de restaurar de forma eficiente e rápida muitos dos processos ecológicos, tais como produtividade primária, sendo capazes de acumular mais biomassa acima e abaixo do solo e absorver mais CO

2 atmosférico do que sistemas com maior

riqueza de espécies (Nogueira Jr., 2010), além de contribuir mais para a ciclagem de nitrogê-nio (Siddique et al., 2008). Esta capacidade pode ser fomentada ainda pelo aprimoramento de técnicas de manejo (Campoe et al., 2010), bem como pela escolha de espécies de rápido cres-cimento e que sejam complementares quanto às características ecofisiológicas e nutricionais (Siddique et al., 2008; Nogueira Jr; 2010). Entretanto, uma abordagem fortemente voltada ao funcionamento do ecossistema, que se traduz em maior capacidade de fornecimento de serviços ecossistêmicos (Millenium Ecosystem Assessment, 2005), também tem seus pontos fracos no que se refere à restauração da biodiversidade (Souza e Batista, 2004; Wright et al., 2009). Isso acontece ou por falta de fonte de propágulos e/ou e limitações no processo de dispersão de possíveis colonizadores, pelo habitat inadequado para a regeneração de outras espécies, bem como pela ausência de interações necessárias para o estabelecimento subse-quente de grupos sucessionais mais tardios. Neste caso, que caminho seguir e o que priorizar? Podemos estabelecer algumas diretrizes gerais a partir os ensinamentos da Teoria BEF.

eFeIto dA BIodIveRSIdAde no FunCIonAMento do eCoSSISteMA – PRInCíPIoS dA teoRIA “BeF”

Como consequência do desenvolvimento humano, o declínio da biodiversidade tem ocorrido a uma taxa 100 vezes mais rápida do que as taxas naturais dos registros fósseis (Millenium Ecosystem Assessment, 2005). Deste modo, a perda de propriedades chave dos ecossistemas (funcionamento) em decorrência da perda da biodiversidade, tem sido uma preo-cupação mundial crescente, principalmente porque a sua capacidade de fornecimento de bens e serviços à humanidade depende do seu funcionamento (Balvanera et al., 2006; Benayas et al., 2009; Quijas et al., 2010). Embora os trabalhos mais antigos considerem como serviços ambientais apenas os benefícios indiretos dos ecossistemas (Myers, 1996), existe hoje uma tendência de se utilizar um conceito amplo, definido em Millenium Ecosystem Assessment (2005), que inclui tanto aqueles de provisão (alimento, água, fibras, etc.); como de regulação (clima, ciclo hidrológico, doenças, polinização); culturais (valores estéticos, espirituais, re-creação) e de suporte (produção primária, formação de solo, etc.).

A restauração ecológica visa a recuperação tanto da saúde (associada ao seu fun-cionamento) quanto da integridade (associada a sua estrutura e biodiversidade) dos ecossis-temas (van Andel e Grootjans, 2006), mas em geral a dicotomia entre abordagens limita que esses dois aspectos sejam integrados nas ações e pesquisas. A perspectiva BEF (biodiversi-dade-funcionamento do ecossistema, sigla em inglês) representa uma abordagem sintética que vem justamente integrar aspectos da ecologia de comunidades (competição por recursos e teoria de nichos) e de ecossistemas (ciclagem de nutrientes e dinâmica de cadeias tróficas) (Woodward, 1994; Loreau et al., 2001; Naeem et al., 2002; Hooper et al., 2005; Naeem, 2006; Scherer-Lorenzen, 2005; Wright et al., 2009; Loreau, 2010; deLaplante e Picasso, 2011).

O grande enfoque da pesquisa BEF é compreender como a biodiversidade e, con-sequentemente a sua perda, afeta o funcionamento do ecossistema. Esta abordagem - bastante nova na literatura científica (assim como a Ecologia da Restauração), foi iniciada na década de 1990, tendo como ponto de partida o debate científico existente durante as décadas de 1950

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a 1990 e enfocando a relação diversidade-estabilidade dos ecossistemas (Scherer-Lorenzen, 2005; deLaplante e Picasso, 2011). Mais recente ainda é a sua aplicação na restauração ecoló-gica (Naeem, 2006; Wright et al., 2009), o que tem possibilitado avanços recentes nas teorias relacionadas, pela possibilidade de trabalho em um contexto manipulativo envolvendo escalas espaciais e temporais maiores.

Na abordagem ecológica clássica a biodiversidade é vista como um produto entre o ambiente biótico e o funcionamento do ecossistema. Na abordagem BEF, por outro lado, o enfoque recai sobre o papel chave da biodiversidade na regulação do funcionamento do ecossistema, dentro de limites impostos pelo ambiente físico (Naeem, 2006; Loreau, 2010). Esta abordagem considera todos os ecossistemas como sistemas biogeoquímicos que podem estar dentro ou fora de algumas relações fundamentais entre biodiversidade e função. Deste modo, um ecossistema manejado pode ter seu nível de funcionamento aumentado à custa da biodiversidade, enquanto um ecossistema degradado sofreu uma redução em ambos os níveis. Nesta perspectiva, a restauração seria a atividade de recuperar tais relações (Lamb et al., 2005; Naeem, 2006).

Na perspectiva BEF, a biodiversidade não é entendida apenas como um conjunto de entidades (sejam elas taxonômicas, de genes a reino; ou espaciais, de moléculas até a bio-sfera) com determinada equidade na sua distribuição; mas sim, são enfatizadas as diferenças entre os caracteres funcionais e interações entre espécies, bem como seu papel regulador do funcionamento do ecossistema. Do mesmo modo, o funcionamento inclui não só as proprie-dades e os serviços do ecossistema, mas considera que o mesmo contém um conjunto de organismos capazes de modificar a matéria entre formas orgânicas e inorgânicas, limitados pelos fatores abióticos (Hooper et al., 2005; deLaplante e Picasso, 2011). A abordagem BEF considera ainda que a diversidade funcional é mais relevante para a estabilidade dos ecossis-temas do que a diversidade taxonômica (Naeem, 2006; Cadotte, 2011; Wright et al., 2009).

Evidências empíricas indicam que a resposta do funcionamento do ecossistema ao aumento da biodiversidade ou da riqueza de espécies é muito variável, podendo ser positi-va, negativa ou neutra, o que afeta a sua capacidade de fornecimento de serviços ambientais (Balvanera et al., 2006; Cardinale et al., 2009; Quijas et al., 2010). Esses trabalhos, através de metanálises de dados de mais de 150 experimentos, têm indicado que, de uma maneira geral, há mais respostas positivas do que neutras e negativas, principalmente no que se refere à pro-dutividade acima e abaixo do solo, resistência à invasão e capacidade de regulação de patóge-nos. Por outro lado, propriedades ligadas à capacidade de regulação da fertilidade do solo têm demonstrado uma resposta predominantemente neutra ou negativa com a riqueza de espécies.

A relação entre biodiversidade e funcionamento depende da abundância de cada espécie, dos seus caracteres funcionais, e das interações bióticas que regulam a magnitude e variabilidade de expressão da função considerada (Naeem e Wright, 2003; Hooper et al., 2005). Além disso, a redundância ecológica (Vitousek e Hooper, 1994; Lawton e Brown, 1994; Naeem, 2006), o “efeito de seletividade” ou de amostragem (Cardinale et al., 2006); e a complementaridade entre espécies (Hagar e Ewel, 1997; Cardinale et al., 2007; Ewel e Mazzarino, 2008) determinarão que tipo de relação existirá entre a biodiversidade e o fun-cionamento. Faz parte da abordagem BEF também o papel de engenheiros de ecossistemas (Byers et al., 2006; Bartel et al., 2010).

Três tipos de relações entre biodiversidade (aqui definida como riqueza de espé-cies) e funcionamento podem ocorrer (Vitousek e Hooper, 1994; van Andel, 2006; Hooper et al., 2005; Naeem, 2006), conforme Figura 1:

Tipo 1: quando há uma relação linear positiva, sendo cada espécie singular com relação à importância de seus efeitos, ou no caso em que haja complementaridade total entre as espécies (Cardinale et al., 2007), com partição de nichos. Isso ocorre também quando há “efeito de seletividade”: a presença de uma espécie dominante que não explora inteiramente

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os recursos permite a coexistência de outras espécies e cria condições para a complementari-dade (Haggar e Ewel, 1997). Espécies singulares com extremo impacto no funcionamento do ecossistema são espécies-chave (cujos efeitos são desproporcionais à sua abundância, Bond, 1994) e engenheiros de ecossistema (criam modificações no habitat, tornando-o mais favorá-vel a outras espécies; Byers et al., 2006; Bartel et al., 2010).

Tipo 2: relação assintótica, em que um funcionamento máximo seria atingido a um nível relativamente pequeno de biodiversidade; é explicada pela “hipótese da redundân-cia” (Lawton e Brown, 1994; Naeem, 2006; Wright et al., 2009). De acordo com este modelo a adição de novas espécies numa comunidade pobre (zona da singularidade, em que cada espécie tem um papel único) causa maiores efeitos do que em comunidades mais ricas em es-pécies. A partir do limiar de singularidade S/F=1 (ou estrutura mínima, conforme van Andel e Grootjans, 2006) a redundância ecológica entre as espécies neutraliza o efeito do aumento da biodiversidade. Este é considerado o modelo mais comum nos ecossistemas naturais (Naeem, 2006; Wright et al., 2009).

Tipo 3: quando não há relação óbvia, explicada pela “hipótese da idiossincra-sia”. Neste caso não significa dizer que o efeito não existe (hipótese nula), mas sim que este é difícil de prever, devido à complexidade de papéis das espécies no ecossistema (Scherer--Lorenzen, 2005). Pode haver também um papel forte de uma espécie dominante com traço característico (Shwartz et al., 2000; van Andel, 2006); um forte controle de fatores abióticos; ou ainda quando há uma grande sobreposição de recursos usados pelas espécies (Vitousek e Hooper, 1994). Outra hipótese para explicar a ausência de relação seria o chamado “efeito de amostragem” (Cardinale et al., 2006), que ocorre quando comunidades diversas têm maior probabilidade de conter e tornar-se dominada pela espécie mais produtiva. Há evidências também de ausência de efeito da biodiversidade na produtividade sob condições ambientais constantes, mas que em condições de estresse físico, por exemplo seca, a relação passa a ser linear positiva (Mulder et al., 2001).

Figura 1: Representação esquemática da relação entre biodiversidade e funcionamento do ecossistema. Baseada em Vitousek e Hooper, 1994; van Andel, 2006 e Naeem, 2006. Para maio-res explicações, veja o texto.

Em qualquer um dos três casos, um maior nível de biodiversidade garantiria o que se chama “efeito seguro”, proporcionando maior estabilidade ao ecossistema em médio e longo prazo, em escalas maiores e em ambientes sujeitos a stress abiótico (Mulder et al., 2001; Naeem, 2006: Wright et al., 2009; Loreau, 2010). Isso pode ser ilustrado, por exemplo,

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pelo caso de áreas em processo de restauração com plantio de poucas espécies serem mais suscetíveis a distúrbios, tais como seca prolongada, geada e fogo, levando à mortalidade um grande número de indivíduos com desruptura da estrutura do dossel. Como ressaltam Hooper et al. (2005), no caso de haver relação assintótica entre funcionamento e biodiversidade (Tipo 2), quanto mais variabilidade de habitat, variabilidade temporal e de respostas a distúrbios forem incluídos no modelo, mais espécies serão necessárias para se atingir o ponto de satu-ração da curva.

Outro ensinamento importante da abordagem BEF é que a diversidade funcional (variabilidade de caracteres funcionais) é mais importante que a diversidade taxonômica para a estabilidade dos ecossistemas (Scherer-Lorenzen, 2005; Naeem, 2006; Wright et al., 2009). Embora seja assumido que a riqueza de espécies possa ser uma variável representante da di-versidade funcional, estudos indicam que nem sempre essas duas variáveis estão diretamente correlacionadas (Naeem, 2006; Cadotte, 2011), e quando estão, a relação pode ser linear (espécies raras funcionalmente singulares) ou assintótica (espécies raras funcionalmente re-dundantes). A diversidade funcional é útil para ações de manejo e de restauração quando a função almejada do ecossistema é definida de forma ambígua, ou quando há várias funções de interesse (Cadotte, 2011).

A diversidade funcional pode ser definida como a variação ou dispersão de ca-racteres em uma comunidade (Cadotte, 2011), enquanto grupos funcionais são conjuntos de espécies que provocam efeitos semelhantes no ecossistema ou que respondem de maneira semelhante às condições ambientais (Naeem e Wright, 2003). Segundo esses autores, as espé-cies podem ser separadas em duas categorias de grupos funcionais: de efeito (ex: fixadoras de nitrogênio) e de resposta (ex: tolerância à seca), sendo os grupos de efeito mais relacionados ao funcionamento do ecossistema e os de resposta à estabilidade e resiliência em longo prazo. Para que a diversidade funcional tenha significado, entretanto, ela deve estar correlacionada ao funcionamento do ecossistema, e deve permitir explicações além daquelas fornecidas ape-nas pela diversidade ou riqueza de espécies (Cadotte et al., 2011).

Em florestas tropicais estacionais semideciduais, sujeitas a um período seco e em alguns locais também à ocorrência de geadas, tanto a época quanto a intensidade máxima de perda de folhas pode variar de ano para ano, o que se reflete na adição de matéria orgânica ao solo e nos processos de decomposição (Siddique et al., 2008; Nogueira Jr. et al., no prelo), bem como na disponibilidade de radiação solar para as plantas do sub-bosque e do estrato her-báceo (Gandolfi et al., 2009). Deste modo, a composição da floresta quanto a grupos funcio-nais de deciduidade deve ser considerada no planejamento dos plantios. Alguns desses efeitos podem ser observados em um grupo de experimentos de restauração florestal instalado há 13 anos, composto de diferentes sistemas de plantios, onde incluímos desde 5 até 42 espécies em um módulo de 0,25 ha (descrição em Engel e Parrota, 2000), num delineamento experimental com réplicas e controle. Pudemos verificar que no sistema mais simples, hoje dominado por apenas duas espécies, tanta a época do ano de máxima queda de folhas quanto a intensidade desta fenofase difereciaram-se bastante dos padrões da floresta nativa vizinha, sendo o siste-ma com maior riqueza de espécies mais semelhante à floresta nativa. (Homem, 2011). A pro-dução total anual de serapilheira nos diferentes sistemas foi semelhante e representou cerca de 70-80% daquela da mata, mas novamente a sazonalidade de deposição foi muito diferente no sistema mais simples, com deposição máxima em abril, ao passo que na mata o pico de deposição é setembro-outubro (Camargo e Engel, em prep.). Neste sistema mais simples, o índice de área foliar médio foi significativamente menor que nos demais tratamentos e cerca de cinco a seis vezes menor do que na mata nativa (chegando a até 10 vezes no mês de ju-lho), enquanto a disponibilidade de radiação fotossinteticamente ativa no período de máxima perda de folhas (julho) foi cinco vezes maior que na mata (Engel, dados não publicados). Por outro lado, os sistemas com maior riqueza de espécies se assemelharam mais à mata nativa

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tanto em relação aos padrões fenológicos quanto ao índice de área foliar e disponibilidade de radiação. Estamos no momento examinando os possíveis efeitos destas e de outras diferenças funcionais entre os sistemas não só na produtividade, mas nos processos ecológicos do solo, na dinâmica nutricional e na resistência à invasão por gramíneas exóticas invasoras.

IMPLICAçõeS PARA A ReStAuRAção de eCoSSISteMAS

Dois caminhos se abrem ao pensarmos na restauração de ecossistemas tropicais, principalmente mata atlântica. Seria mais recomendável se restaurar todo o “pool” de espécies esperado para a região, ou seria melhor tentarmos buscar uma estrutura mínima que garanta a funcionalidade completa do ecossistema? Tendo como base os princípios da teria BEF, podemos destacar alguns consensos e a partir daí propor diretrizes aplicáveis à restauração ecológica.

O primeiro consenso é que nem sempre a utilização de um modelo de diversidade taxonômica máxima será eficiente ou tampouco necessário para garantir o bom funciona-mento do ecossistema, considerando que haja certo grau de redundância ecológica entre as espécies. O segundo consenso é que um nível de diversidade maior do que o mínimo será necessário para garantir diminuição das flutuações nas respostas dos ecossistemas aos dis-túrbios e estresses físicos (efeito “seguro”). O terceiro é que a diversidade funcional é mais importante para a estabilidade do ecossistema do que a diversidade taxonômica. O quarto, é que a redundância em relação a alguns caracteres funcionais não significa necessariamente redundância em todos os outros; ou seja, grupos funcionais semelhantes quanto aos caracte-res de efeitos podem ser muito diferentes quanto aos de resposta. A partir daí, como pensar a restauração em um contexto de paisagens bastante alteradas em um mundo em processo de mudanças rápidas e contínuas?

Devemos considerar que a relação entre biodiversidade e funcionamento do ecos-sistema é mediada por processos endógenos (competição, complementaridade, facilitação, herbivoria, dentre outros) e processos ou fatores externos, tais como fluxos bióticos e abi-óticos, uso do solo, história, clima, fertilidade, distúrbios, todos eles atuando como filtros ecológicos no “pool” de espécies capazes de se estabelecer num determinado local (Hobbs e Norton, 2004). Além disso, devemos levar em conta que o processo de degradação não é contínuo, mas sim ocorre passo-a-passo, de maneira que limiares bióticos e abióticos são ultrapassados (Whisenant, 2002). Deste modo é necessário avaliar em qual limiar de degra-dação o ecossistema se encontra a fim de decidir se a restauração pode se basear apenas na manipulação do meio biótico ou se será necessário primeiro manipular o meio físico. E ainda, analisar de forma integrada os atributos da comunidade em função do grau de degradação e de estabilidade ambiental, a fim de prever o tipo de trajetória em função de possíveis estados alternativos de equilíbrio (Palmer et al., 1997; Sudding e Gross, 2006)

Ou seja, em situações nas quais seja possível prever o desenvolvimento de comu-nidades estáveis, numa situação de baixo nível de degradação ambiental e limitações físicas associada à estabilidade ambiental, podemos enfatizar a recuperação da biodiversidade regio-nal, restaurar populações de espécies ameaçadas, com ênfase na estrutura. No caso oposto, em que uma situação de não-equilíbrio poderia ser esperada, tendo em vista a baixa estabilidade ambiental e alto grau de degradação ou limitações físicas, a ênfase deve ser no funcionamento (Figura 2).

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Figura 2. Atributos das comunidades naturais e restauração (modificado de Palmer et al., 1997)

Quando a ênfase da restauração é na estrutura, como garantir uma melhor recupe-ração do funcionamento do ecossistema, com base na abordagem BEF? E como esta aborda-gem pode contribuir também para melhorar a estrutura quando a ênfase é o funcionamento? Algumas diretrizes são sugeridas por Naeem (2006) e Wright et al. (2009), outras emergem da observação. No primeiro caso, inclua espécies nativas dominantes de grupos funcionais chave (organismos autotróficos, consumidores e decompositores); busque padrões nos carac-teres funcionais que determinam padrões nas respostas de espécies às variações ambientais; verifique ligações entre espécies e se sua influência sobre o ecossistema foi restabelecida; maneje entradas de água, energia e nutrientes para aumentar eficiência no uso de recursos; explore o papel de espécies chave e de engenheiros do ecossistema. No segundo caso, após a restauração da estrutura do ecossistema (habitat, condições físicas e químicas, entradas e saídas de matéria e energia) e da introdução de um conjunto de espécies capazes de se per-petuar, aumente a redundância pela adição de espécies que variem seus caracteres funcionais de resposta e efeito; explore a facilitação e complementaridade; após a variância espacial e temporal no funcionamento estar dentro de um intervalo desejado, manipule distúrbios para criar oportunidades para espécie raras.

Outra questão que deve ser levada em conta é a capacidade de fornecimento de serviços ecossistêmicos das áreas restauradas, um subproduto de seu funcionamento. Siste-mas estabelecidos para priorizar inicialmente o seu funcionamento, otimizando os benefícios para a sociedade, podem ser paulatinamente levados a aperfeiçoar sua capacidade de conser-vação da biodiversidade, através do manejo adaptativo. Da mesma maneira, sistemas restau-rados inicialmente com prioridade para a conservação da biodiversidade podem melhorar sua capacidade de gerar benefícios econômicos e sociais, através de enriquecimento com espécies de valor ou condução da regeneração natural de espécies comerciais (Lamb et al., 2005). Desta maneira, podemos aumentar a resiliência não só ecológica, mas também econômica e social das áreas restauradas.

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ESTUDOS SOBRE TRANSPOSIÇÃO DO BANCO DE SEMENTES COMO METODOLOGIA DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁREAS DEGRADADAS

Sebastião Venâncio Martins1

Aurino Miranda NetoKelly de Almeida Silva

IntRodução

A utilização de técnicas de nucleação em projetos de restauração ecológica de áreas degradadas tem se pautado na possibilidade de redução dos custos desta restauração e no retorno das funções e forma dos ecossistemas de maneira gradual e mais semelhante ao processo de sucessão ecológica.

A nucleação permite que determinadas espécies propiciem uma melhora signifi-cativa nas condições ambientais de um ecossistema degradado, auxiliando a ocupação deste por outras espécies mais exigentes na escala sucessional (Yarranton e Morrison, 1974). Em uma área degradada a vegetação remanescente atua como um núcleo de expansão da vege-tação (Reis et al., 2003), propiciando a ocupação de toda a área através da dispersão de pro-págulos, fornecimento de sombra, poleiros e abrigos para a fauna e incorporação de matéria orgânica e nutrientes ao solo.

Entre as técnicas nucleadoras de restauração ecológica destacam-se a transposi-ção do banco de sementes do solo, da serapilheira e de galhadas, semeadura direta, uso de poleiros artificiais e naturais, transposição da chuva de sementes, o plantio em grupos de An-derson e o resgate e transplante de plântulas (Reis et al., 2003; Martins, 2007, 2009; Martins et al., 2009).

A transposição do banco de sementes do solo tem sido indicada como alternativa de restauração ecológica em áreas degradadas, dado o seu baixo custo financeiro e a possibi-lidade de conter alta riqueza florística e densidade de sementes viáveis (Martins, 2007, 2009a; Calegari, 2009). Além das sementes presentes no banco, nutrientes, matéria orgânica, fungos decompositores e associações micorrízicas também estão presentes e serão essenciais para o estabelecimento das plântulas germinadas do banco e posterior desenvolvimento da vegetação quando depositada em áreas onde o solo foi degradado.

O banco de sementes do solo é constituído tanto por sementes produzidas numa determinada área, quanto por aquelas transportadas de outros locais, sendo essas viáveis, em estado de dormência real ou imposta, presentes na superfície ou no interior do solo (Harper, 1977; Fenner, 1985). É um componente de extrema importância na conservação de popula-ções de plantas (Harper, 1977; Swaine e Hall, 1983; Garwood, 1989), participando de proces-sos ecológicos, tais como o restabelecimento de comunidades após distúrbios e a manutenção da diversidade de espécies, entre outros (Putz, 1983; Swaine e Hall, 1983; Garwood, 1989). Desta forma, a transposição do banco de sementes de ecossistemas vegetais, cuja vegetação teve a supressão autorizada pelo licenciamento ambiental, para áreas degradadas, particu-larmente aquelas em que o solo foi degradado, configura-se como uma alternativa viável de restauração ecológica destas áreas, através do estímulo do processo de sucessão secundária.

1 Laboratório de Restauração Florestal, Universidade Federal de Viçosa, MG ([email protected]).

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A transposição do banco de sementes do solo, compreendendo a serapilheira e a camada superficial do solo, permitem a formação de ilhas ou faixas de deposição do banco numa área degradada, tornando-se ao longo do tempo núcleos de alta diversidade de espécies.

MAteRIAL e MétodoS

O Laboratório de Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa, em parceria com empresas do setor florestal e de mineração, através da Sociedade de Investiga-ções Florestais (www.sif.ufv.br), vem desenvolvendo diversos estudos na área de restauração ecológica de áreas degradadas com enfoque em técnicas de nucleação, gerando várias publi-cações (Martins e Ribeiro, 2002; Arato et al., 2003; Martins, 2007; 2009a e b; 2011; Martins e Kunz, 2007; Martins et al., 2009; Calegari, 2009; Silva, 2009; Calegari et al., 2010; Miranda Neto et al., 2010; Rodrigues et al., 2010; Miranda Neto, 2011). Entre as pesquisas desenvol-vidas, destaque para os trabalhos realizados com a transposição do banco de sementes do solo como metodologia de restauração ecológica de áreas degradadas, que serão abordados com maiores detalhes por meio de três estudos realizados recentemente no laboratório: 1) Trans-posição do banco de sementes do solo como metodologia de restauração florestal de pasta-gem abandonada em Viçosa, MG (Miranda Neto et al., 2010); 2) Transposição do banco de sementes do solo como metodologia de recuperação de áreas degradadas: efeitos da adubação (Silva et al., no prelo); e 3) Avaliação do potencial da transposição da serapilheira e do banco de sementes do solo para restauração florestal em áreas degradadas (Rodrigues et al., 2010).

O estudo 1 foi realizado na Reserva Mata do Paraíso (Estação de Pesquisa e Edu-cação Ambiental Mata do Paraíso), pertencente à Universidade Federal de Viçosa (UFV) e dis-tante cerca de 10 km dessa instituição. A reserva Mata do Paraíso (20°48’07”S e 42°51’31”W) possui 195 ha de área e altitude variando de 690 a 800 m, estando localizada no município de Viçosa, Zona da Mata de Minas Gerais (Braz et al., 2002).

Foram alocadas em dois diferentes trechos sucessionais da floresta (floresta ma-dura e floresta inicial), de forma sistemática, 10 parcelas de 5 x 10 m, com intervalos de 10 m entre as parcelas. O trecho denominado de floresta inicial encontrava-se em processo de rege-neração desde 1963. O outro trecho de floresta, denominado floresta madura, sofreu somente exploração seletiva de madeira, constituindo um núcleo de floresta bem preservado, livre de distúrbios antrópicos nas últimas quatro décadas (Pinto et al., 2008).

No centro de cada parcela foi retirada amostra de 1 x 1 m e 5 cm de profundi-dade de solo superficial, totalizando 20 amostras. As amostras do banco de sementes foram transpostas para clareiras de 2 x 2 m abertas em um trecho da Reserva com pastagem aban-donada de Melinis minutiflora P. Beauv. Essas clareiras foram distribuídas aleatoriamente na pastagem, sendo toda a cobertura do capim removida através de capina manual. No centro de cada clareira, foi delimitada uma parcela de 1 x 1 m, na qual foi depositada a camada de solo superficial de mesma dimensão retirada na floresta. Foram avaliadas mensalmente, durante 10 meses, a riqueza e densidade de espécies arbustivo-arbóreas nas parcelas instaladas nas clareiras abertas na pastagem de M. minutiflora.

O estudo 2 foi realizado no Viveiro de Pesquisas do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no município de Viçosa, Minas Gerais, localizado a 42°53’ W e 20°45’ S, sendo que o banco de sementes foi coletado em um frag-mento de Floresta Estacional Semidecidual secundária, conhecido como Mata da Agronomia, localizado no Campus da UFV.

Os tratamentos com banco de sementes do solo foram formados por 15 amostras de solo superficial de 1 x 1 m e 5 cm de profundidade, desconsiderando a serapilheira dura do solo, retiradas em fragmento de Floresta Estacional Semidecidual secundária localizada no campus da UFV e depositadas em canteiros de 1 x 1 m delimitados no viveiro por blocos

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de concreto nos quais o solo superficial foi removido até uma profundidade de 10 cm, para simular uma situação de solo degradado. A distribuição das amostras nos canteiros seguiu o delineamento inteiramente casualizado (DIC).

Foram comparados três tratamentos distintos e uma testemunha, com cinco re-petições cada, totalizando 20 amostras. A testemunha (T) foi o solo do canteiro apenas re-movido, sem receber o banco de sementes; o tratamento 1 (T1), a transposição do banco de sementes do solo sem nenhum tipo de adubação; o tratamento 2 (T2), a transposição do banco de sementes do solo misturado com 150 gramas de adubo (NPK 4-14-8) por m2; e o tratamen-to 3 (T3) a transposição do banco de sementes do solo misturado com 300 gramas de adubo (NPK 4-14-8) por m2. Todas as parcelas receberam irrigações diárias.

Foram avaliadas mensalmente, durante 10 meses, a riqueza e a densidade de espé-cies arbustivo-arbóreas germinadas nos canteiros e acompanhado o crescimento das plântulas.

O estudo 3 também foi realizado no Viveiro de Pesquisas do Departamento de En-genharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e as amostras de solo superficial e serapilheira coletadas novamente em um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual secundária, conhecido como Mata da Agronomia, localizado no Campus da UFV.

Foram retiradas 10 amostras do banco de sementes do solo e 10 amostras de sera-pilheira com o auxílio de um gabarito (moldura de madeira) com a dimensão de 1 x 1 m (1,0 m²), lançado de forma aleatória no chão da floresta, mantendo-se uma distância de 50 m da borda do fragmento. Cada amostra de solo e de serapilheira foi depositada em um canteiro de 1 x 1 m delimitado no viveiro por blocos de concreto no qual o solo superficial foi removido até uma profundidade de 10 cm.

Foram analisados três tratamentos e uma testemunha, com cinco repetições cada, totalizando 20 amostras. O primeiro tratamento (T1) foi a transposição da serapilheira apenas, o segundo tratamento (T2) a transposição do banco de sementes do solo, o terceiro tratamento (T3) a transposição da serapilheira juntamente com o banco de sementes do solo e a testemu-nha (T). A distribuição das amostras nos canteiros seguiu o delineamento inteiramente casua-lizado (DIC). A avaliação do experimento consistiu na quantificação do número de plântulas que emergiram da serapilheira e do banco de sementes do solo.

ReSuLtAdoS e dISCuSSão

No estudo 1 foram registrados 231 indivíduos nos dois tratamentos (floresta ini-cial e floresta madura), sendo 31 de hábito arbustivo e 200 de hábito arbóreo. Foram amostra-das 22 espécies, pertencentes a 17 gêneros e 13 famílias (Tabela 1).

O grupo ecológico mais abundante do banco de sementes do solo foi o das espé-cies pioneiras, representando 64% do total de espécies arbustivo-arbóreas do banco, seguidas das secundárias iniciais (18%) e das sem caracterização (18%). Ao nível de indivíduos, as pioneiras representaram 84% do total recrutado (Figura 1).

Ao nível de espécies, ocorreu predomínio de síndrome de dispersão por zoocoria, com 41%, seguida por anemocoria (23%), enquanto ao nível de indivíduos houve predomínio da classe anemocoria (53%), seguida pelas classes autocoria (26%) e zoocoria (16%) (Figura 2).

No tratamento com banco da floresta inicial (Fi) houve o recrutamento de 120 indivíduos e 18 espécies, enquanto o tratamento com banco da floresta madura (Fm) apresen-tou 111 indivíduos e 14 espécies. Não houve germinação de espécies arbustivo-arbóreas nas clareiras-testemunha, demonstrando que possivelmente as sementes oriundas da chuva de se-mentes do entorno não estavam conseguindo se estabelecer no local, devido ao impedimento pela M. minutiflora.

No estudo 2 foram amostrados 505 indivíduos, totalizando os três tratamentos, sendo 446 árvores e 59 arbustos. Os indivíduos foram distribuídos em 11 famílias, 14 gêne-

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ros e 19 espécies (Tabela 1). Obtiveram-se 181 indivíduos arbustivo-arbóreos no tratamento 1 (T1), 197 no tratamento 2 (T2) e 127 no tratamento 3 (T3). Nas parcelas testemunhas não foram registrados indivíduos arbustivo-arbóreos, ficando o solo praticamente exposto.

O grupo ecológico em maior riqueza no banco de sementes do solo foi o das pionei-ras, representado por 15 espécies (79% do total de espécies) e 99% dos indivíduos. (Figura 1).

Ocorreu predomínio de síndrome de dispersão por zoocoria, representando 79% do total de espécies arbustivo-arbóreas presentes no banco, seguida pela dispersão por auto-coria (16%) e por anemocoria (5,0%). Ao nível de indivíduo, predomínio de zoocoria, com 98% (Figura 2).

No estudo 3 foram identificados 327 indivíduos arbustivo-arbóreos, sendo 91% pioneiras e 9,0% como outros grupos ecológicos. Ao nível de espécies, houve 47% de pionei-ras. O tratamento 2 proporcionou maior número de indivíduos em comparação com os demais tratamentos (147); enquanto o tratamento 3 obteve maior número de espécies (15) em relação aos outros tratamentos.

Ocorreu predomínio de síndrome de dispersão por zoocoria, representando 63% do total de espécies arbustivo-arbóreas presentes no banco e 87% do total de indivíduos, se-guida pela dispersão por anemocoria (21% de espécies) e por autocoria (5,0% de espécies) (Figura 2).

Figura 1 – Grupos ecológicos, ao nível de espécies e de indivíduos dos estudos de transposição do banco de sementes do solo.

Figura 2 – Síndromes de dispersão, ao nível de espécies e de indivíduos dos estudos de trans-posição do banco de sementes do solo.

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Tabela 1 – Comparação dos resultados obtidos em cada estudo de transposição do banco de sementes do solo

Estudo Nº espécies Nº indivíduos Altura média final (cm)

Tempo de análise (meses)

Área de amostra coletada (m²)

1 22 231 97,3 10 20

2 19 505 54,4 10 20

3 19 327 - 6 15

Embora a riqueza de espécies tenha sido baixa nos três estudos, predominaram espécies nucleadoras, de inicio de sucessão e zoocóricas. O predomínio de espécies pioneiras em bancos de sementes do solo foi observado em vários estudos realizados em Floresta Esta-cional Semidecidual (Leal Filho, 1992; Batista Neto, 2005; Franco, 2005; Costalonga, 2006; Martins et al., 2008, Martins, 2009), evidenciando a participação deste grupo ecológico na sucessão e seu potencial para a restauração ecológica.

O predomínio de espécies com síndrome de dispersão zoocórica, verificado nestes estudos, também é de grande interesse na restauração ecológica de áreas degra-dadas, pois como as espécies possuem frutos atrativos à fauna, propiciam a aceleração do processo de nucleação nestas áreas. A presença de espécies zoocóricas pode atrair espécies características do ambiente assim como de etapas mais avançadas de sucessão que não ocorram no local, aumentando a riqueza específica e complexidade estrutural da área (Mikich & Silva, 2001). Dessa forma, na transposição do solo como técnica de nucleação, espécies zoocóricas e facilitadoras da sucessão tendem a estimular a chegada de novas espécies e o avanço da sucessão na área em processo de restauração (Reis et al., 2003; Martins et al., 2009).

Estes estudos evidenciam que é recomendável e viável a adoção da prática de transposição do banco de sementes como metodologia de restauração ecológica, porém deve ser adotado como medida compensatória em áreas em que o licenciamento ambiental para atividades como represamento de cursos d’água para construção de hidroelétricas, mineração, entre outras, autorizoua supressão da vegetação. O banco, antes de ser transposto, deve ser analisado para que plantas invasoras e gramíneas agressivas não inibam a sucessão que se pretende estimular.

A transposição do banco de sementes é mais indicada para áreas degradadas pon-tuais, como ocorre no ambiente da mineração. Para grandes áreas a serem restauradas, como áreas de compensação ambiental, esta técnica de nucleação pode ser adotada como comple-mentar para auxiliar a regeneração florestal em reflorestamentos heterogêneos tradicionais.

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RESULTADOS DE MÉDIO PRAZO NA RESTAURAÇÃO DE RESTINGAS DEGRADADAS E DESAFIOS PARA O FUTURO

Luiz Roberto Zamith1

Geomorfologicamente, as restingas são depósitos marinhos quaternários forman-do longos esporões ou barreiras ao longo da costa, que aprisionam lagunas e criam uma série de cordões arenosos paralelos e depressões entre eles. Mas o termo restinga inclui também as margens das lagoas, dunas móveis, e todas as comunidades vegetais, com uma flora extre-mamente diversa, que ocorrem nestas zonas topográficas (Araujo 1989; Lacerda et al. 1993). Estas comunidades estão sujeitas a distintos fatores abióticos limitantes ao estabelecimento e crescimento de plantas, como a alta salinidade, mobilidade do substrato, dessecação, es-cassez de nutrientes e altas temperaturas no solo, inundação, com a conseqüente diminuição na quantidade de oxigênio disponível para o sistema radicular e exposição a fortes ventos e conseqüente ressecamento da parte aérea (Hemmendorff 1912; Scarano 2002).

Em ambientes secos, o estabelecimento de novas plantas é freqüentemente restrito à sombra sob a copa de outras plantas chamadas de plantas-berçário (do inglês nurse-plants; Holmgren et al. 1997). Este efeito facilitador pode ocorrer através do sombreamento contra a alta irradiação e altas temperaturas, que acarreta maior umidade e menor evapotranspiração, e também pelo aumento da disponibilidade de nutrientes devido ao acúmulo de serapilheira, e a aceleração da ciclagem de nutrientes, por causa da maior umidade, tendo como conseqüência final a melhoria das propriedades físicas e químicas do solo (Callaway et al. 2002; Brooker et al. 2008). A ação destas espécies facilitadoras promovendo a dispersão, germinação, estabele-cimento e crescimento de outras espécies, resulta na formação de agrupamentos ou “ilhas de vegetação” separadas umas das outras por espaços vazios. Este é também o caso de restingas abertas no norte fluminense (Scarano 2002; Dias e Scarano 2007).

Estudos recentes sugerem a importância da facilitação na sucessão e estruturação de restingas abertas (Dias e Scarano 2007). A dificuldade em germinar e se estabelecer no am-biente oligotrófico e de areia desnuda, onde a temperatura do solo pode chegar a 70ºC, fazem com que sejam poucas as espécies capazes de germinar nestas condições. Assim, a formação de “ilhas de vegetação” e a sucessão são iniciadas pela colonização de herbáceas pioneiras ou plantas lenhosas que podem favorecer a entrada posterior de outras espécies (Scarano 2002). De fato, estudos em condições de campo têm demonstrado que a germinação de sementes e o estabelecimento de plântulas na restinga freqüentemente se dão em associação a espécies facilitadoras.

As restingas são consideradas formações associadas do complexo vegetacional Atlântico Brasileiro (Scarano 2002), o qual se encontra reduzido a somente 7,5% de sua área original, sendo considerado um dos 25 “hotspots” de biodiversidade do mundo (Myers et al. 2000) e vêm sofrendo ações antrópicas em maior ou menor escala desde sua ocupação por povos indígenas, há aproximadamente 8.000 anos A.P. (Kneip 1987). Entretanto, o cresci-mento urbano ao longo do século XX provocou uma intensa degradação das restingas (Araujo 1989), e atualmente, mesmo reconhecidas legalmente como área de preservação permanente,

1 Lab. de Ecologia Animal e Vegetal - Universidade Federal Fluminense – [email protected]

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continuam sofrendo com a retirada de areia, fogo, extração de espécies ornamentais, espe-culação imobiliária e turismo predatório (Zamith & Scarano 2006). No município do Rio de Janeiro 30,11% dos remanescentes de restinga foram perdidos entre os anos de 1984 e 1999, significando que apenas 0,63% da área total do município ainda era ocupado por este ecossis-tema (PCRJ, Secretaria Municipal de Meio Ambiente 2000). Em 1993, a Fundação Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro implantou o “Projeto Flora do Litoral”, com o principal objetivo de restaurar áreas degradadas de restinga nas uni-dades de conservação do município, visando a restabelecer a conectividade de alguns destes fragmentos (Zamith & Dalmaso 2000) e entre 1995 e 2004 foram realizados plantios em cerca de 68 hectares. Atualmente estes plantios estão sendo estudados pela equipe do Laboratório de Ecologia Animal e Vegetal da Universidade Federal Fluminense.

A BuSCA PoR eSPéCIeS ChAve

A grande complexidade dos ecossistemas naturais e a necessidade de pragmatis-mo na restauração têm levado ao consenso de que não é possível usar todas as espécies numa iniciativa de restauração. Assim, a possibilidade de existência de redundância funcional entre as espécies tem levantado a questão de que pode ser possível usar um mínimo de espécies para assegurar o funcionamento do ecossistema (Palmer et al. 1997). Neste contexto, são relevantes as espécies que desempenham um papel preponderante nas interações, tendo forte impacto na estruturação das comunidades (e.g. espécies chave; Paine 1966), grande efeito na contribuição de biomassa para o ecossistema, incluindo a criação, modificação ou manuten-ção de habitats (e.g., espécies engenheiras; Jones et al. 1994) ou atuando na amenização das condições ambientais para o estabelecimento de outras (e.g., espécies facilitadoras; Holmgren et al. 1997).

A identificação destas espécies é fundamental, pois o sucesso de seu restabeleci-mento pode levar à restauração da comunidade e manutenção da diversidade e função esta-belecidas, sendo necessários estudos específicos ou experimentos de campo para identificar e confirmar o papel destas espécies (Palmer et al. 1997; Miller & Hobbs 2007). Porém, poucos são os dados disponíveis sobre redundância funcional, sobre o papel das espécies dentro dos ecossistemas, e sobre a ecologia e silvicultura de espécies nativas (Palmer et al. 1997; Holl et al. 2000; Cuenca et al. 2003; Alvarez-Aquino et al. 2004).

Muitos são os impedimentos ou barreiras que impedem a regeneração natural num ambiente degradado, como as condições microclimáticas adversas, os solos degradados e com falta de nutrientes, a invasão de plantas exóticas, principalmente gramíneas, a falta de dispersão de sementes, principalmente zoocóricas, e a herbivoria por mamíferos ou insetos (Holl 1999; Cubiña e Aide 2001; Alvarez-Aquino et al. 2004). Assim, a restauração ecológica pode ser entendida como uma tentativa de superar artificialmente estes fatores considerados como restritivos ao desenvolvimento do ecossistema, gerando assim uma poderosa oportuni-dade para testar, na prática, o entendimento acerca do seu funcionamento (Bradshaw 1987; Palmer et al. 1997; Young et al. 2005).

Com a supressão da vegetação e a perda da escassa matéria orgânica do solo, as áreas degradadas de restinga têm agravadas as já severas condições ambientais que dificul-tam o estabelecimento e crescimento de plântulas. Adicionalmente, a presença de gramíneas, arbustos e árvores exóticas, resistentes aos incêndios freqüentes, e cujo crescimento é muitas vezes mais rápido que o das plantas nativas, inviabiliza os processos sucessionais. Logo, a tendência é tais áreas permanecerem degradadas. Nestas circunstâncias, possivelmente o plantio de espécies nativas seja a técnica de restauração mais adequada (e.g., Zamith & Scara-no 2006, 2010). Carpanezzi (2005) observou que a principal causa do fracasso na restauração de áreas degradadas é a competição exercida por gramíneas durante a fase de estabelecimento,

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ressaltando a importância da utilização de espécies que tenham um comportamento silvicul-tural apropriado para o uso nas condições adversas encontradas, principalmente crescimento rápido, rusticidade, e características de copa.

Embora um dos critérios para a seleção das espécies utilizadas nos plantios de restauração de restingas tenha sido a ocorrência na comunidade a ser restaurada, nossa experiência em plantios realizados desde 1995, com alta diversidade de espécies (40 a 60 espécies), mostra que são necessários de 8 a 10 anos para que ocorra sombreamen-to do solo, e conseqüentemente a eliminação das gramíneas exóticas. Entretanto, nor-malmente este sombreamento só ocorre em partes do plantio, sendo uma das causas a grande variação existente na sobrevivência e no crescimento destas espécies, sugerindo que espécies de diferentes grupos funcionais foram utilizadas. A presença de diferentes grupos funcionais é importante para o funcionamento do ecossistema (Hooper e Vitousek 1998) tendo claras implicações para a restauração. No entanto, devido aos altos custos de manutenção das áreas em restauração, se torna premente diminuir o tempo necessário para se obter o sombreamento das gramíneas. Portanto para a restauração de restingas degradadas colonizadas por espécies exóticas, principalmente gramíneas, nossa premissa é que a estratégia mais adequada é o plantio de mudas de espécies arbustivas e arbóreas, resistentes às condições estressantes do ambiente degradado e com taxas de crescimento que viabilizem um rápido recobrimento do solo, sombreando e eliminando as gramíneas, sendo fundamental o conhecimento dos aspectos silviculturais das diferentes espécies nas condições de plantio, buscando identificar possíveis espécies chave e facilitadoras, e como determinados fatores abióticos e bióticos afetam suas performances de sobrevivên-cia e crescimento.

Das nove espécies arbustivas e arbóreas testadas em experimento de restauração de floresta periodicamente inundada de restinga (Zamith e Scarano 2010), apenas três (Myr-sine rubra, Tabebuia cassinoides, e em menor grau Calyptranthes brasiliensis) mostraram resultados que as qualificam para uso em plantios de restauração em áreas colonizadas por gramíneas e ciperáceas invasoras. Myrsine rubra apresentou o maior crescimento na projeção da copa, ressaltando seu grande potencial de competição com as espécies exóticas. Devido às baixas performances de crescimento de Psidium cattleyanum, e ao baixo percentual de sobre-vivência de Myrcia multiflora, estas duas espécies não devem ser plantadas com a função de competir com as gramíneas, pois permitiram um alto nível de colonização 36 meses após o plantio, devendo ser utilizadas com menor freqüência no plantio e consorciadas com espécies de crescimento mais rápido. Uma alternativa pode ser o plantio numa etapa posterior, quando o controle das gramíneas já foi alcançado. A alta mortalidade de Alchornea triplinervia, Ilex amara, Miconia cinnamomifolia e Miconia staminea evidencia que estas espécies não devem ser incluídas em plantios iniciais nas áreas degradadas.

Em experimento de restauração de restinga arbustiva fechada, realizado entre 1998 e 2000, com a utilização de 17 espécies arbustivas e arbóreas, a sobrevivência total foi de 82% (Zamith e Scarano 2006). Outros dois experimentos no mesmo tipo de comunidade de restinga, testando 12 espécies (tendo apenas duas em comum com o experimento de 1998), implantados em 2003 e 2004 e avaliados em 2006, mostraram sobrevivência de 81 e 97 % (Zamith 2007), sugerindo o acerto na seleção das espécies usando como critérios a ocorrência na vegetação remanescente de entorno e principalmente as encontradas como regenerantes na área degradada. Mas ao compararmos as diferentes espécies utilizadas, novamente encon-tramos diferenças significativas nas performances de sobrevivência e crescimento. Quando foram analisados os índices de crescimento e viabilidade de uso em projetos de restauração (Zamith e Scarano 2006), onze das dezessete espécies testadas no experimento de 1998, e apenas cinco das doze testadas nos experimentos de 2003 e 2004 se mostraram aptas para uso em plantios de restauração de restinga arbustiva fechada degradada.

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vARIAção IntRA-eSPeCíFICA e dIFeRenteS PeRFoRMAnCeS de uMA eSPéCIe eM dIFeRenteS áReAS

Em todos os plantios de restauração de restingas degradadas vêm sendo observa-dos grandes coeficientes de variação nas médias de crescimento das espécies. Durigan e Sil-veira (1999) ressaltaram ser comum entre as espécies nativas uma grande variação de taxas de crescimento entre os indivíduos de uma mesma espécie. Holl et al. (2000) registraram taxas de crescimento altamente variáveis para as mesmas espécies em diferentes locais numa área de 10.000 ha em floresta tropical montana degradada por pastagens na Costa Rica, sugerindo que isto poderia ser explicado por diferenças no tipo do solo, clima, grau de degradação, e ve-getação existente, o que ressalta a importância de se testar qualquer estratégia de restauração numa pequena escala em cada local para avaliar as espécies mais apropriadas.

Aspidosperma parvifolium é um bom exemplo desta variação, pois apresenta bom crescimento em viveiro e em plantios em clareiras de restinga, no entanto em áreas abertas o seu crescimento é bem mais lento. Dois anos após o plantio, Tapirira guianensis teve 95% de sobrevivência em um experimento de restauração (Zamith & Scarano 2006), porém após este mesmo período teve apenas 61% de sobrevivência num outro experimento realizado numa área a cerca de 30 km de distância, devido ao ataque de formigas (Zamith 2007), o que reduziu também suas taxas de crescimento.

CReSCIMento Lento

Os experimentos realizados em áreas degradadas de restinga arbustiva fechada mostraram um crescimento lento para a maioria das espécies testadas (Zamith e Scarano 2006; Zamith 2007), o que confirma as observações de regeneração natural lenta da restinga (Sá 2002). Possivelmente, a natureza dos solos oligotróficos, com alto conteúdo de areia, baixíssimo per-centual de argila e conseqüentemente uma capacidade mínima de retenção de nutrientes (Hay e Lacerda 1984), o vento e as altas intensidades luminosas e temperaturas superficiais do solo (Scarano 2002) justifiquem este padrão. Passados dois anos do plantio, freqüentemente observa--se que a maioria das espécies apresentou crescimento significativo em diâmetro basal e algu-mas em projeção de copa, porém em muitas espécies a altura da muda pode diminuir, devido à perda da parte apical seguida de rebrotas em partes inferiores do caule.

o eFeIto dA AdIção de MAtéRIA oRGânICA no MoMento do PLAntIo

As restingas são caracterizadas como ambientes oligotróficos, sugerindo que as espécies estão adaptadas a esta baixa disponibilidade de nutrientes, tendendo a exibir um crescimento mais lento e a apresentar respostas limitadas ao aumento da disponibilidade de nitrogênio (Padgett e Allen 1999). No entanto, nossos resultados em plantios de restauração de restingas mostram que o crescimento das mudas é fortemente favorecido com a adição de matéria orgânica no momento do plantio, confirmando resultados de outros estudos de restau-ração em distintos ecossistemas (Padgett e Allen 1999; Holl et al. 2000; Carpanezzi 2005), sendo esta prática silvicultural altamente recomendada para a restauração de florestas panta-nosas costeiras e principalmente para restingas arbustivas fechadas de cordão arenoso, onde a carência de nutrientes no solo é um dos fatores limitantes importantes para o estabelecimento e crescimento das plantas.

eFeItoS do AdenSAMento de PLAntIo

Os primeiros plantios de restauração de restingas arbustivas fechadas, realizados entre 1995 e 2000, utilizaram espaçamentos de 2,5 x 2,5 m ou ainda 3,0 x 3,0 m. Devido às

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baixas taxas de crescimento e a alta mortalidade, a partir de 2001 o espaçamento foi reduzido para 1,5 x 1,5 m. Como mesmo com este espaçamento as performances ainda eram insa-tisfatórias, em 2004 foi realizado um experimento onde através da implantação de ilhas de vegetação (formadas por mudas com espaçamento de 0,70 x 0,70 m) foi testado o efeito deste adensamento sobre a sobrevivência e crescimento de mudas (Zamith 2007).

Cerca de dois anos após o plantio observou-se que o percentual de sobrevivência de algumas espécies e a taxa de crescimento da maioria das espécies plantadas nas “ilhas de vegetação” foi significativamente superior ao do controle, onde as mudas foram plantadas com espaçamento de 1,5 x 1,5 m. Estes resultados sugerem que o plantio adensado permitiu a ocorrência de mecanismos de facilitação entre as mudas corroborando a hipótese de Bertness e Callaway (1994) que propõe que a importância da facilitação em comunidades vegetais aumenta com o aumento do estresse abiótico porque os vizinhos protegem uns aos outros. A maior proximidade entre as mudas, obtida no plantio mais adensado das “ilhas”, pode ter proporcionado amenização das condições microclimáticas locais, como sombreamento entre as mudas conferindo proteção contra a radiação excessiva, e barreiras físicas contra os efeitos de dessecação provocados pelo vento, resultando numa maior sobrevivência e crescimento. De fato, a ação deletéria dos ventos é citada como fortemente determinante das fisionomias das restingas (Hemmendorff 1912), sendo razoável admitir que em áreas abertas, situação comum para a maioria das áreas degradadas, os ventos sejam um fator limitante para o esta-belecimento e crescimento das mudas

A evidência da importância da facilitação num período tão curto de restauração de uma restinga arbustiva degradada oferece suporte para os estudos sobre sucessão desen-volvidos, sugerindo que a sucessão nestas restingas ocorra através de modelos de nucleação (Yarranton e Morrison 1974) com a participação de espécies facilitadoras (Dias e Scarano 2007), dando uma forte indicação da necessidade de incorporar estes modelos nas estratégias de restauração de restingas degradadas. No entanto será necessário um acompanhamento fu-turo destes plantios para verificarmos se as tendências observadas neste curto período vão se confirmar.

eFeItoS do teMPo de InundAção e dA ALtuRA e dIâMetRo BASAL dA MudA nA SoBRevIvênCIA e CReSCIMento

Menor tempo de inundação, obtido através do plantio das mudas sobre montículos elevando o nível do solo, favoreceu ligeiramente a sobrevivência e o crescimento para algu-mas espécies testadas e todas as três espécies que foram testadas para o efeito do tamanho da muda mostraram que mudas de maior altura e diâmetro basal apresentam maior sobrevivência do que mudas menores indicando que estes tratamentos são indicados para a restauração de florestas de restinga periodicamente inundadas.

ConCLuSõeS e PeRSPeCtIvAS FutuRAS

Projetos de restauração ecológica vêm obtendo variados graus de sucesso nos diferentes ecossistemas, sendo que para as restingas nossos resultados mostram que o iso-lamento dos agentes causadores da degradação e o plantio de mudas produzidas em viveiro, parecem ser a estratégia mais apropriada para uma primeira fase da restauração, onde os ob-jetivos principais são a restauração de habitats, o aumento da heterogeneidade ambiental e a superação de barreiras que impeçam a ocorrência da regeneração natural.

Independente da comunidade de restinga a ser restaurada, a seleção das espécies com um conjunto de características que confiram rusticidade e maior crescimento em proje-ção de copa, é fundamental para o sucesso do plantio e o controle de gramíneas invasoras.

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Tratamentos como a adição de matéria orgânica no momento do plantio, a indu-ção de mecanismos de facilitação através de plantios adensados, a diminuição do tempo de inundação das mudas e o uso de mudas de maior porte na restauração de florestas de restingas inundáveis têm mostrado resultados animadores necessitando, porém de avaliações de mais longo prazo para possibilitar suas indicações como estratégias adequadas para a restauração de restingas degradadas.

Atualmente a equipe do Laboratório de Ecologia Animal e Vegetal da Universida-de Federal Fluminense está avaliando os estágios sucessionais destes plantios de restauração, avaliando também como está ocorrendo a regeneração natural sob estes plantios. O fato da maioria das espécies plantadas ter dispersão zoocórica, tendo o potencial de atração de dis-persores de sementes, permitirá investigar se espécies que não foram plantadas já estão rege-nerando nestas áreas, contribuindo para o desejável aumento da diversidade nestas restingas em restauração.

Os resultados obtidos até o momento na restauração de restingas degradadas indi-cam que uma maior aproximação da teoria ecológica e da prática da restauração pode apontar melhores alternativas para a conservação da biodiversidade ameaçada pela degradação dos ecossistemas naturais. No entanto, como já tem sido ressaltado por vários autores (Rodrigues & Gandolfi 2000; Young 2000), os avanços obtidos na restauração ecológica não podem ser vistos como justificativa para a degradação ambiental, e sim como medidas para reparar danos já cometidos, devendo ser priorizados os esforços de conservação de habitats originais.

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REVENDO CONCEITOS E PRECONCEITOS: SISTEMAS AGROFLORESTAIS E AGROFLORESTAS (SAFS), MUITO ALÉM DA FORMA E DA FUNÇÃO

João Dagoberto dos Santos1

Paulo Y.Kageyama 2

O mundo todo passa nesse momento por uma crise global sem precedentes, e não poderia ser diferente, já que, além das evidências empíricas (sociais, culturais, econômicas e ambientais), nunca as ciências foram capazes de gerar dados científicos tão contundentes e reveladores dos equívocos cometidos no passado; e, pior, dos equívocos que ainda são cometi-dos no presente. Hoje se questionam os termos e conceitos de crescimento, desenvolvimento, progresso e viabilidade no tempo (no presente e para o futuro) dos atuais padrões de existên-cia e consumo da sociedade; não há mais como não ressignificar os pilares da sociedade, e naturalmente a tendência é de que surjam outros significados e abordagens.

No início da segunda década do Século XXI, estamos ainda ameaçados pelo mo-ralmente inaceitável flagelo da pobreza e da fome. Dado que 1,1 bilhão de pessoas são con-sideradas extremamente pobres e 75 % delas vivem em áreas rurais e, em grande medida, dependem para a sua sobrevivência da agricultura, da silvicultura, da pesca e de atividades conexas (Millennium Ecosystem Assessment 2005), é bem provável que em 2011 esses nú-meros vergonhosos sejam bem maiores!

A globalização, a industrialização e a agricultura comercial (muitas vezes sub-sidiada), muito embora estejam gerando riquezas para alguns, estão também aumentando dramaticamente as disparidades socioeconômicas no interior dos países e entre estes, exacer-bando ainda mais a concentração de terras (Graziano 2010), gerando impactos e alterações ambientais, em muitos casos irreversíveis.

O processo de modernização da agricultura mundial a partir de meados da década de 50 foi marcado por profundas alterações nas dinâmicas de produção, ocasionadas pela su-bordinação aos paradigmas da Revolução Verde. Hoje se reconhece que tais melhorias signifi-cativas na produção e produtividade agrícola foram acompanhadas por efeitos negativos sobre a base de recursos naturais da agricultura, efeitos tão graves que ameaçam o seu potencial de produção futura.

Uma das grandes equações desse novo século, não só no Brasil, mas em todo o planeta, com certeza é encontrar a forma justa de viabilizar o desenvolvimento e a proteção do meio ambiente, o que para o nosso país, considerado o de maior megabiodiversidade do mundo, é mais que um desafio (Silva, 2006).

Compreende-se aqui que toda a vez que ações humanas levam à simplificação biológica, serviços ecológicos/ecossistêmicos são perdidos e os custos econômicos, ambien-tais e sociais daí resultantes se tornam mais altos.

Em conseqüência da necessidade de produção agrícola para a subsistência da po-pulação, e das dinâmicas socioeconômicas resultantes das relações de poder que se sucedem desde os primórdios do processo de colonização no Brasil, a degradação de recursos naturais como resultado dos desmatamentos, seguido do uso extensivo de terras, tem sido um dos

1 Pesquisador NACE-PTECA-ESALQ ([email protected])2 Professor Titular Depto. Ciências Florestais ESALQ-USP ([email protected])

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maiores problemas ambientais e conseqüentemente sociais nas áreas de influência do Bioma Mata Atlântica. Infelizmente, atualmente, esse mesmo modelo de desenvolvimento rural vem devastando outros ecossistemas, com muito mais intensidade e amplitude.

Nesse modelo de uso e ocupação dos solos, prevaleceu por muito tempo a visão depreciativa dos recursos florestais e das demais fisionomias naturais, que tem levado à de-vastação das florestas nativas para implantação de sistemas de produção agropecuários sim-plificados. Essa lógica de valorização de áreas desprovidas de cobertura florestal, por meio da conversão das florestas nativas, está presente em praticamente todos os segmentos rurais. Contudo, não se deve estigmatizar os “agricultores” como depredadores dos recursos na-turais, visto que existem forças econômicas, políticas e sociais que impelem esses agentes sociais em direção a práticas predatórias. Ou mesmo quando consideram o componente arbó-reo como um problema dentro da propriedade rural. Essas forças impulsionam o agricultor a expandir sua área de produção e a converter novas áreas de florestas em monocultivo agrícola e/ou pastagens, gerando a degradação, ou quando a expansão da área produtiva não é mais possível, ficam reféns de pacotes tecnológicos que levam à degradação continua da terra, criando situações, muitas vezes surreais, onde, por exemplo, o Brasil desponta hoje no cenário mundial como o maior consumidor de “agrotóxicos”, principalmente herbicidas, e parte da sociedade considera isso um aspecto positivo! Além de descaracterizar os biomas naturais, estamos gerando degradação sistêmica.

Atualmente, o acalorado debate sobre o novo Código Florestal tem trazido à tona a complexidade da gestão territorial do Brasil. Por trás da defesa passional do “homem do campo”, existe a arcaica estrutura fundiária brasileira. Prova disso é que a maioria dos argu-mentos gira em torno da amplitude do direito à propriedade, como é o caso da Reserva Legal. Tradicionalmente no Brasil grandes interesses elitistas, e atualmente transnacionais, usam a defesa dos mais pobres para resguardar os seus proveitos. Do mesmo modo o latifúndio na-cional propõe reformas à legislação ambiental alegando a defesa dos pequenos agricultores. Lideranças ruralistas apontam a legislação ambiental como um mecanismo que expulsa o pe-queno agricultor do campo. Contudo, para defender a permanência dele no campo, não basta uma nova lei ambiental.

A busca da sustentabilidade no meio rural, em um novo paradigma socioambien-tal, tem que considerar a valorização e a conservação da biodiversidade, assim como a pro-dução, os saberes e a qualidade de vida do trabalhador e da sociedade como um todo, o que infelizmente não constitui uma preocupação do agronegócio brasileiro. Nesse contexto não há um modelo único, mas, sim caminhos múltiplos, pois, como coloca Becker (1995), o desen-volvimento sustentável deve ser um processo e não um estado em si.

Nesta perspectiva, novas ações que propiciem um desenvolvimento com bases sustentáveis são uma demanda urgente. Para tanto se faz necessário rever muitos conceitos, que consequentemente vão lavar a novas ações.

o AGRoeCoSSIteMA CoMo unIdAde de GeStão

Para Conway (1993), os Agroecossistemas são sistemas ecológicos modificados pelo ser humano para produzir comida, fibra ou outro produto agrícola. Eles têm freqüentemente estrutura dinâmica complexa, mas sua complexidade surge, primeiramente, da interação entre os processos socioeconômicos e ecológicos. Trata-se de um complexo sistema agro-sócioeco-nômico-ecológico. Segundo D’Agostini (1999), na definição de agroecossistemas deve ser con-siderada uma modalidade de Sistemas Adaptativos, porque de um ponto de vista evolutivo estes sistemas “aprendem” e se adaptam no “limite do caos”, pois a partir de interações locais e não--locais os agroecossistemas manifestam propriedades emergentes. Nessa perspectiva propõe-se o reconhecimento de quatro dimensões: física; espacial ou estrutural; funcional e conjuntural,

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de cuja conjugação se estabelece a sua configuração. Em termos de sistemas, agroecossistemas se posicionam na interface entre os sistemas naturais e sociais, e que não somente agem como fonte de inputs (insumos), mas também como dreno de outputs (produção).

A BIodIveRSIdAde CoMo FeRRAMentA

O conceito de “agrobiodiversidade” ainda é um conceito em construção, que emergiu nos últimos quinze anos, em um contexto interdisciplinar que envolve diversas áre-as do conhecimento (Agronomia, Antropologia, Ecologia, Botânica, Genética, Biologia da Conservação, etc.). Reflete as dinâmicas e complexas relações entre as sociedades humanas, as plantas cultivadas e animais manejados, e os ambientes em que convivem, repercutindo sobre as políticas de conservação dos ecossistemas cultivados, de promoção de segurança ali-mentar e nutricional das populações humanas, de inclusão social e de desenvolvimento local sustentável. A agrobiodiversidade, ou diversidade agrícola, constitui uma parte importante da biodiversidade e engloba todos os elementos que interagem na produção agrícola: os espaços cultivados ou utilizados para criação de animais domésticos, as espécies direta ou indireta-mente manejadas, como as cultivadas e seus parentes silvestres, as “ervas daninhas”, a meso e microfauna como um todo (Santilli, 2009).

PRodução CoM ConSeRvAção – Revendo o FoCo dA ReStAuRAção

O universo agrário e agrícola brasileiro é extremamente complexo, seja em fun-ção da grande diversidade da paisagem agrária, seja em virtude da existência de diferentes ti-pos de agricultores, os quais têm estratégias próprias de sobrevivência e de reprodução (Stella, Kageyama e Nodari, 2006). Essa coexistência de modelos agrícolas com interesses políticos, sociais e econômicos divergentes tem sido, entretanto, desconsiderada pelas leis agrícolas, que têm tratado de forma geral o espaço rural como se fosse homogêneo e uniforme (Santilli, 2009) e promovido uma quase impossibilidade de sobrevivência dos sistemas agrícolas tra-dicionais e locais, justamente os que conservam a agrobiodiversidade. As leis agrícolas têm imposto um único modelo produtivista, industrial e de baixíssima diversidade genética, com todas suas consequências socioambientais.

Até muito pouco tempo, tanto as iniciativas de pesquisa como na prática de apro-veitamento de recursos naturais, agricultura e floresta eram tratados como dimensões ex-cludentes. Hoje a ciência e as práticas agroflorestais são reconhecidas como instrumentos de enorme potencial para transformar vidas e paisagens, apresentando-se como uma opção concreta para o uso sustentável da terra em todo o mundo. Seu potencial como instrumento para atingir os objetivos das principais convenções globais ambientais (mudanças climáticas, biodiversidade e desertificação) e das metas de desenvolvimento do milênio tem despertado o interesse tanto de pesquisadores quanto de decisores políticos e gestores públicos.

Nas ultimas décadas, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) têm sido apontados como opção promissora de sistema de produção e reflorestamento, particularmente para agricultores familiares em regiões tropicais. É inegável considerar a necessidade de se buscar alternativas a serem contempladas em políticas de incentivo a práticas agrícolas mais sustentáveis, quan-do as evidências de mudanças climáticas globais e de crise econômica mundial reforçam a necessidade da implantação de sistemas de uso da terra que aliem características de mitigar as emissões de carbono para a atmosfera, características de adaptação às mudanças climáticas que tendem a ocorrer em curto e médio prazos, incorporando ainda atributos positivos do ponto de vista social e econômico.

O Centro Mundial Agroflorestal (The Word Agroforestry Center – www.worl-dagroforestry.org) adota a seguinte definição: a Agrossilvicultura é a integração de árvores

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em paisagens rurais produtivas. Quanto à presença dos componentes dos SAFs ao longo do tempo, distinguem-se duas principais categorias: SAFs concomitantes ou simultâneos e SAFs seqüenciais.

Outras duas características podem ser atribuídas aos SAFs: como consórcios agroflorestais estáticos e os SAFs sucessionais (conhecidos também como dinâmicos). Os SAFs Sucessionais se caracterizam por serem sistemas multi-estratificados, implantados e manejados com a tendência de imitar a dinâmica de sucessão ecológica de restauração natural de uma floresta nativa.

Scroth et al (2002) classificam os SAFs para o atendimento de funções ecológi-cas, onde um dos principais aspectos dessa classificação é o entendimento de seu valor como habitat e corredor biológico, e ambos os sistemas podem ser de grande relevância à conser-vação da biodiversidade e à restauração de paisagens fragmentadas e degradadas. Seguindo essa lógica os sistemas podem ser agrupados em duas principais categorias: SAFs de estrutura e composição baseadas em árvores do estrato dominante e SAFs de estrutura e composição baseada em árvores de estrato arbustivo. Em ambas as categorias criam-se mosaicos suces-sionais onde a luz, a diversidade e as condições microclimáticas variam e propiciam a manu-tenção de diferentes nichos e habitats.

Atualmente no Brasil se consolida o termo “Agroflorestas” em detrimento da no-ção mais simplificadora de “Sistemas Agroflorestais”, onde o termo Agrofloresta tem sido uti-lizado para designar Sistemas Agroflorestais Biodiversos Multiestratificados e agroecológi-cos, cujas características se assemelham ecologicamente a sucessão natural dos ecossistemas.

De forma genérica os SAFs podem ser classificados:

a) Quanto a sua função: Sistemas Agroflorestais de Produção e Sistemas Agroflorestais de Proteção

b) Quanto ao aspecto sócio-econômico: Sistemas Agroflorestais Comerciais; Sistemas Agroflorestais Intermediários; e

Sistemas Agroflorestais de Subsistência.

c) Quanto aos aspectos ecológicos/geográficos:Adaptado ao Ecossistema; Considerando a situação topográfica; Nível de Diver-

sidade

Figura 1: Multifuncionalidade dos SAFs no contexto da agricultura familiar (RL = Reserva Legal, APP= Área de Preservação Permanente)

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Figura 2: Modelos dos SAFs , derivados de processo de construção participativa, atendendo às demandas de curto prazo, médio e longo prazos.

eStRAtéGIAS e ReFLexão ConjuntuRAL

Encontram-se listados abaixo os fatores relevantes (Adaptados de Porro, 2009), identificados como os principais fatores para a adoção, desenvolvimento e gestão de SAFs . Os referidos fatores não estão listados em ordem de importância, mas estão sendo todos con-siderados como essenciais.

Entender e analisar esses fatores, amplamente descritos e referidos, são a base para o planejamento das ações.

Hoje os SAFs estão se expandindo rapidamente nos diversos biomas, e chamam atenção não só dos agricultores e técnicos, mas também de gestores de políticas públicas.

Em nível federal começa-se a viabilizar uma política nacional para sistemas agro-florestais (PENSAf). Alguns governos estaduais passaram a implementar políticas públicas voltadas para SAFs, incluindo legislações estaduais que variam bastante de estado para estado do país. Dentro desse contexto merecem destaque: O Atual Código Florestal (Lei 4.771, de 21/09/1965 alterada pela MP 2166-67/2001); Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428de22/12/2006); Lei da Agricultura Familiar (Lei 11.326 de 24/07/2006); Resolução CONAMA 369/06, Lei Estadual (SP) 12.927/08, Decreto Estadual (SP) 53.939/09, Instrução Normativa MMA 4/09 e 5/09; SMA 08/08 e SMA 44/08.

É preciso gerar viabilidade para a construção de alternativas viáveis que minimi-zem a necessidade de termos de restaurar áreas degradadas, tendo em vista que na atualidade a velocidade da degradação é bem superior à capacidade que temos de restaurar. Essas novas alternativas passam por uma revisão do que consideramos como desenvolvimento, principal-mente no meio rural.

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Adequação às condições socioeconômicas e culturais

a) Problemas de organização comunitária

b) Organização social e econômica não consolidadas e fortalecidas

c) Falta de identidade com ecossistema (migrantes)

d) Costumes alimentares influenciando o consumo

e) Ilegalidade

Resiliência do ambiente (características biofísicas)

a) Sistemas com baixa diversidade

b) Manejo do solo inadequado

c)Níveis variados e intensidade de degradação (erosão, espécies invasoras, etc)

d) Falta de conhecimento do sistema como um todo

e) Excesso de sombreamento

f) Competição por água, luz e nutrientes (arranjo inadequado)

g) Pragas e doenças (desequilíbrio ambiental)

Fonte de propágulos (sementes, mudas)

a) Inexistência de rede de coleta de sementes (quantidade e diversidade)

b) Falta de conhecimento dos técnicos e agricultores sobre diversidade de espécies

c) Inexistência de estrutura adequada para produção de mudas (viveiros)

d) Especificidade para cada fisionomia (Cerrado, Flor. Estacional, Mata Ombrófila, Semi-

-árido, etc.)

e) Baixa diversidade genética (susceptibilidade a pragas e doenças e baixa produção)

f) Custo elevado de mudas de frutíferas

Manejo e gestão de atividades (propriedade e relação com mão de obra)

a) Falta de planejamento da propriedade e da paisagem

b) Falta de planejamento para controle de fluxo de caixa

c) Ineficiência na gestão dos recursos (terra, trabalho, capital)

d) Limitada disponibilidade de germoplasma (diversidade e qualidade)

e) Insuficiência de força de trabalho familiar

f) Uso de técnicas/tecnologias incompatíveis com a realidade local

Estratégias de agregação de valor para a produção agroflorestal diversificada

a) Limitação ou inexistência de canais de comercialização

b) Impossibilidade ou não planejamento de transformação/agregação de valor

c) Ausência de preço para produção excedente (passível de comercialização)

d) Ausência de fluxo de produção para suprir demandas contínuas

e) Infraestrutura de transporte inadequada ou inexistente

f) Falta de estratégias de comunicação e marketing

Pesquisa participante e metodologia adequada para extensão e disseminação

a) Técnicos não vivenciam o dia-a-dia dos produtores

b) Imposição de modelos sem construção em tempo real com produtores

c) Formação inadequada de técnicos (condicionados para modelos convencionais )

d) Ausência de pesquisa em algumas regiões (dificuldades de replicação de outras)

e) Falta de recurso para dar continuidade das pesquisas (recurso de curso prazo)

f) Inadequação na linguagem

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DEGRADAÇÃO AMBIENTAL URBANA: VOÇOROCA DO CONJUNTO HABITACIONAL TAQUARAL BOSQUE, CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

Vera Lucia Ramos Bononi1

Izabela Cristina Prado de Souza Barbosa Ronda Paiva2

Luiz Antônio Paiva2

Mercedes Abid Mercante2

Maria Cristiane Fernandes da Silva Lunas2

Andrea Cayres Estrela2

IntRodução

Os impactos decorrentes da intervenção humana sobre o meio ambiente geram situações de degradação ambiental que interferem diretamente e indiretamente na qualidade dos recursos naturais do planeta e, consequentemente, na qualidade de vida do próprio ser humano, tanto em ambientes rurais quanto em ambientes urbanos.

Nas cidades, a degradação ambiental está fortemente ligada ao rápido e desor-denado crescimento populacional, promovendo a urbanização espontânea, desarticulada de políticas de planejamento. O crescimento da malha urbana, desprovido do planejamento ne-cessário, desencadeia uma série de impactos decorrentes do mau uso da terra, dentre eles, os processos erosivos, objeto deste estudo.

Os processos erosivos podem ser desencadeados por determinantes naturais, por pressão de condicionantes físicas e climáticas ou por fatores antrópicos, como o mau uso do solo, ocupações irregulares e de áreas de risco. No entanto, podem também ocorrer pelo consórcio de todos os fatores de suscetibilidade de uma área, ocorrendo que, a intervenção humana sobre o meio ambiente, desconsiderada a dinâmica local, tende a acelerar, intensificar e agravar esses processos.

A erosão urbana está relacionada a essa confluência de fatores naturais e antrópi-cos, aliados ainda à falta, ou mesmo à ineficiência, de políticas de planejamento urbano. Os danos causados por processos erosivos nas cidades causam, além de degradação do ambiente físico, o comprometimento de ecossistemas naturais.

Os estudos referentes à restauração ecológica têm tomado proporções cada vez maiores conforme aumenta a percepção humana sobre a necessidade urgente de conservação, preservação e uso racional dos recursos naturais.

Gonçalves e Guerra (2005) mencionam que há de se considerar as transformações provocadas nos ecossistemas e geossistemas, diretamente pela construção de áreas urbaniza-das, e indiretamente, pela sua ação de influência e relações. Os referidos autores enfatizam a necessidade de se analisar a integração entre os componentes da natureza com os da so-ciedade, como uma unidade integrada. Para que seja possível a interpretação dos processos que culminaram em determinado caso de degradação ambiental, é preciso entender o meio ambiente de forma holística, considerando-o como um objeto de estudo provido de caracte-rísticas físicas, biológicas e socioeconômicas. Sustentam que a degradação ambiental provém

1 Instituto de Botânica – [email protected] Programa de Pós Graduação da Universidade Anhanguera Uniderp

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de intervenções entre uso do solo, tipo de vegetação existente, suscetibilidade à degradação apresentada pela área e mais, devem-se considerar os elementos sociais como pertinentes à problemática. Ressaltam que na temática do desenvolvimento sustentável cabe reconhecer na relação homem – natureza, os processos históricos através dos quais o ambiente é transforma-do, e a suscetibilidade será decorrência de uma conexão entre movimentos sociais, mudança social e, conseqüentemente, políticas mais efetivas.

A erosão pode ser ocasionada por fatores naturais ou antrópicos. Fatores internos como desagregabilidade e erodibilidade do solo também podem contribuir para a formação de erosões. Lopes e Guerra (2001) afirmam que “A erosão é diferenciada de acordo com o agente erosivo (vento, água, gelo, gravidade, etc.), tipo ou origem (erosão por embate, erosão laminar, erosão de córregos, erosão em sulcos profundos ou ravinas) e natureza (geológica e acelerada).”

Segundo Hernandez (2000), o estágio mais avançado e complexo da erosão é a voçoroca, pois seu poder destrutivo local é maior e de difícil contenção.Além da erosão su-perficial, associa-se um processo de erosão interna (“piping”) provocada pela concentração de água do nível freático, que se caracteriza pelo avanço para o interior do solo na forma de tubos (“entubamento”). Os vazios destes tubos, ao se tornarem significativos, originam colap-sos do terreno, com desabamentos que alargam a voçoroca ou criam novos ramos. Durante os processos de erosão interna, ocorrem os descalçamentos e solapamentos da base das paredes da voçoroca, provocando desmoronamentos e escorregamentos de solos.

Serato et al (2008) apresentam a seguinte definição da voçoroca:”Um processo erosivo associado com erosão acelerada e com a instabilidade da paisagem, desencadeado pelo acúmulo de água proveniente do escoamento superficial e subsuperficial, influenciados pelas propriedades dos solos, regime pluviométrico, características das encostas, uso do solo e desmatamento da vegetação, gerando estreitos canais que removem o solo da região em consideráveis profundidades.”

O voçorocamento pode ocorrer tanto em áreas rurais quanto urbanas, e seu pro-cesso de recuperação deve levar em consideração os diversos fatores naturais e antrópicos que levaram a degradação a este estágio.

Nas cidades, a urbanização desprovida de planejamento promove a ocupação ir-regular do território. Esse processo compreende uma série de obras de infra-estrutura que se colocam como obstáculo ao sistema natural de drenagem de determinada área. A interposição de estruturas entre o solo e a chuva diminui a área de infiltração do solo comprometendo o regime de escoamento, deixando o solo suscetível aos processos erosivos.

A perda de vidas humanas e a perda de patrimônio público e privado por movi-mentos de massa, inundações, etc., são problemas recorrentes à maioria das cidades de grande porte. Dessa forma, as alterações no meio ambiente natural, desprovidas do planejamento adequado, refletem-se em impactos negativos sobre a população, configurando em perda da qualidade de vida nas cidades.

Os processos erosivos trazem uma série de implicações sobre a infra-estrutura urbana, podendo, entre outras coisas: comprometer gravemente a produtividade dos solos; reduzir as áreas passíveis de ocupação; danificar estruturas hidráulicas e obras de engenharia; comprometer o patrimônio público e privado; assorear corpos hídricos, aumentando a planície de inundação; assorear reservatórios de abastecimento de água, naturais e artificiais, compro-metendo o abastecimento hídrico das cidades; configurar riscos à vida humana.

A restauração no Brasil começa a ser trabalhada de forma efetiva a partir da pro-mulgação do Decreto Federal N0. 97.632 de 1989, que dispõe sobre a regulamentação do artigo 20, Inciso VIII, da Lei Federal N0. 6.938/81, que define o conceito de degradação e determina a recuperação das áreas degradadas (BRASIL, 1989).

As experiências relatadas em recuperação e manejo de áreas degradadas com-provam que cada caso é único e deve ser tratado de forma singular, devido à infinidade de

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especificações e condicionantes que caracterizam tanto o dano ambiental quanto às medi-das cabíveis ao seu tratamento. No entanto, nota-se que a pluralidade de formas com que se apresenta um dano e suas múltiplas possibilidades de mitigação, têm gerado uma infinidade de conceituações e generalizações acerca do tema. Para que seja possível trabalhar uma área degradada é fundamental que, primeiramente, identifique-se o tipo, a intensidade e relevância do dano, para que seja possível, então, definir as medidas cabíveis.

A recuperação de áreas degradadas é um processo longo, meticuloso e que pode culminar em questões delicadas como desalojamento de famílias. Esse processo caracteriza--se normalmente por ser demasiadamente dispendioso, o que acarreta outra dificuldade para sua implementação: recursos financeiros. Assim, será sempre menos dispendioso (financeira e temporalmente), investir em soluções que possibilitem a prevenção do dano.

Os processos erosivos em centros urbanos tornaram-se grandes desafios para a administração pública. A busca por solução para esse tipo de degradação tem evoluído e fomentado estudos e pesquisas, na busca por alternativas viáveis e bem sucedidas para a con-tenção e controle do dano.

A visão atual sobre a prevenção, controle e recuperação de processos erosivos e os impactos derivados, traz uma abordagem integradora do ambiente, interpretado como um sistema complexo de relações biofísicas e sociais, que ora agem como desencadeadoras/ intensificadores desses processos, ora como vítimas dele. Prevenir, controlar e recuperar a degradação ambiental em centros urbanos é vital para a sustentabilidade das cidades e a quali-dade de vida de seus habitantes. Para que uma cidade possa ser considerada saudável, é neces-sário que respeite a dinâmica ambiental de seu território e que consiga manter um equilíbrio entre manutenção das necessidades de sua população e conservação/ preservação dos recursos naturais que a mantém. Para isso, é fundamental que a cidade desenvolva-se com base numa política de desenvolvimento urbano.

O Planejamento Urbano deve pré-existir à urbanização e acompanhá-la durante seu desenvolvimento. No Zoneamento Ambiental do município devem constar as diretrizes de ordenação do território com objetivo de prevenir impactos ambientais negativos sobre o meio ambiente e sobre a população.

Tal ordenação só pode ser orientada quando baseada em estudos da região, que sejam capazes de fornecer informações sobre o nível de fragilidade ambiental da área a ser ocupada, determinando o tipo de uso adequado para cada setor da cidade.

A Administração Pública deve sempre priorizar a prevenção do dano. A elabora-ção de um plano de prevenção e controle de processos erosivos cumpre esse papel de ordenar a ocupação urbana, minimizando os riscos e os impactos. Existem aspectos que são essenciais e devem ser considerados em todos os planos e projetos de recuperação de processos erosivos, tais como: carta geotécnica, carta de suscetibilidade, carta de fragilidade ambiental, carta de drenagem, contendo análise da bacia de contribuição, micro e macro-drenagem, programa de recuperação de áreas degradadas.

A análise integrada de todos esses aspectos servirá de base para composição da carta de uso e ocupação do solo, ferramenta imprescindível para o Planejamento Urbano. O plano de prevenção e controle deve ainda prever medidas de acompanhamento sistemático e a manutenção das estruturas de controle e equipamentos utilizados.

Nota-se que um dos grandes problemas enfrentados pelas cidades é justamente a falta de planejamento. Dessa forma, Almeida Filho (2010) destaca que para conter os proces-sos erosivos e mitigar seus impactos é necessário um conjunto de obras e equipamentos que atuam sobre o sistema de drenagem, agente do processo erosivo, como “pavimentação das ruas, guias, sarjetas, bocas de lobo e galerias de águas pluviais”, com intuito de conter o fluxo e a velocidade das enxurradas através de estruturas de dissipação de energia. ”No controle das voçorocas já são adotados dispositivos (drenos, filtros e septos) que buscam evitar a ação

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erosiva da “percolação excessiva e o possível colapso da estrutura”, ou ainda, recomendando tipos de estrutura não totalmente estanques (como os gabiões) que “facilitam o controle dos solapamentos pelas águas de infiltração”. Ressalta que os melhores resultados, no entanto, provém de planos que consideram a bacia drenante a montante e o tratamento do processo erosivo. Deve-se ainda considerar o ponto de lançamento da água drenada, por se tratar de um ponto altamente suscetível à erosão, seja por ineficiência do sistema de dissipação de energia ou pela disposição na meia encosta ou na cabeceira da drenagem.

O presente estudo trata de um caso de degradação ambiental existente na zona urbana do município de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma área em processo erosivo ativo, em estágio de voçoroca. Essa área está localizada no setor nordeste do município, no bairro Estrela Dalva II, Conjunto Habitacional Taquaral Bosque. Este trabalho aponta algumas ferramentas que devem ser consideradas para práticas eficientes e viáveis de contenção dos danos e posterior recuperação ambiental de áreas degradadas, com intuito de minimizar os impactos negativos sobre os aspectos físicos, biológicos e socioeco-nômicos gerados pela falta de políticas de planejamento urbano.

MAteRIAL e Método

Durante o mês de julho de 2010, realizou-se à averiguação in loco do dano am-biental a partir de observação e coleta de informações. Por meio do uso de GPS, obtiveram--se as coordenadas geográficas da área de estudo, o que permitiu a utilização de imagem de satélite, disponibilizada pelo programa Google Earth 2010, desta forma, foi possível uma visualização integrada da área degradada e de sua área de influência.

Para complementar a caracterização do dano ambiental foram feitas visitas e con-sultas aos órgãos institucionais responsáveis pela gestão da área, sendo esta a Prefeitura Muni-cipal de Campo Grande, representada pela Secretaria de Meio Ambiente – SEMADUR e Insti-tuto de Planejamento Urbano – PLANURB. No PLANURB foi disponibilizado o Cadastro de Erosões de Campo Grande (Campo Grande, 1997), importante documento para esta pesquisa.

Realizou-se, ainda, uma pesquisa, em meio virtual, sobre notícias relacionadas ao caso, veiculadas pela mídia local. As imagens obtidas nesta pesquisa foram comparadas às fotografias feitas na área, o que permitiu uma análise comparativa da evolução do dano.

LoCALIzAção dA áReA de eStudo

O objeto do presente estudo é uma área degradada por processo erosivo linear, e classificada como voçoroca. Está localizada no Município de Campo Grande, MS, no “Con-junto Habitacional Taquaral Bosque”, inserida no Bairro “Estrela Dalva”, setor nordeste da área urbana. O conjunto faz divisa com os bairros Jardim Arco-Íris, Jardim Veraneio, Jardim Estrela Dalva II e III, Jardim Montevidéu e Conjunto Residencial Novo Sergipe.

A área degradada (Figura 1) localiza-se na Rua Coimbra Mota, próximo à nas-cente do Córrego Coqueiro e estende-se perpendicularmente ao anel viário de Campo Grande (BR 163).

CARACteRíStICAS dA áReA de eStudo

O município de Campo Grande está localizado na região Centro-Oeste do Brasil, na Bacia do Rio Paraná, sub-bacia do Rio Pardo, sobre o divisor de águas das bacias dos rios Paraná e Paraguai. Apresenta topografia de planalto, com relevo de colinas, suave-ondulado. A formação geológica é Serra Geral e Grupo Caiuá. Sua altitude média é de 592 metros. Os tipos de solos originais são: latossolo vermelho escuro; latossolo roxo; areias quartzosas; so-

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los litoicos. Os tipos de vegetação originais do município são: cerrado; florestas e campos. O clima predominante é o tropical de altitude, com duas estações muito bem definidas: quente e seca no verão e fria e úmida no inverno. Precipitação média de 126,15 mm ao ano. A ampli-tude térmica é grande devido à influência quase nula da maritimidade (Campo Grande, 2009).

A área estudada está localizada na bacia hidrográfica do córrego Coqueiro, sub--bacia do córrego Desbarrancado. Geologicamnete constituída por arenitos do Grupo Caiuá. O relevo é constituído por colinas, suave-ondulado. Os solos são constituídos por areias quart-zozas. De acordo com a Carta Geotécnica de Campo Grande (Campo Grande, 1997), a área é composta por terrenos arenosos de alta erodibilidade e alta suscetibilidade à erosão. As características geomorfológicas apresentam um relevo acidentado que, aliado com as caracte-rísticas pedológicas, configuram à area forte sucetibilidade a processos erosivos.

A Prefeitura Municipal de Campo Grande, através do Instituto Municipal de Pla-nejamento Urbano de Campo Grande - PLANURB realizou no ano de 1997 o Cadastro de Erosão Urbana de Campo Grande – MS (Campo Grande, 1997), identificando e classificando todos os processos erosivos existentes na área urbana do município.

A voçoroca localizada no conjunto Taquaral Bosque foi identificada pelo estudo e considerada como sendo de grande porte, alto risco, apresentando desestabilização, aba-timentos de taludes e surgências de água na cabeçeira. O relatório diagnosticou a área em questão como altamente suscetível à erosão, devido, principalmente, a composição do solo e declividade.

Segundo o Cadastro de Erosões de Campo Grande (Campo Grande, 1997), as causas geradoras do dano estão relacionadas principalmente à abertura da Rua Coimbra Mota, que acentuou o volume e velocidade do escoamento das águas pluviais, e ao lan-çamento inadequado do sistema de drenagem do Jardim dos Novos Estados, que corta o conjunto Taquaral Bosque.

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196Figura 1: Vista da localização da voçoroca, no Bairro Estrela Dalva, Conjunto Habitacional Taquaral Bosque, em Campo Grande, MS, em 2009. Fonte: Google Earth, 2010.

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O sistema de drenagem foi considerado inadequado, uma vez que não apresentava as estruturas básicas necessárias para condução, disposição e dissipação de águas pluviais, desencadeando um processo de descalçamento e abatimento dos taludes existentes.Por fim, considerou-se a chuva como um fator determinante. No caso da voçoroca existente no con-junto Taquaral Bosque, os episódios que culminaram nos maiores danos foram precedidos por chuvas torrenciais.

A conclusão apresentada pelo Cadastro de Erosões de Campo Grande aponta que a degradação ambiental no conjunto habitacional Taquaral Bosque teve como fatores determi-nantes a falta de conhecimento da dinâmica local e das características geo-morfo-pedológicas do terreno.

ReSuLtAdoS e dISCuSSão

Além das ações geradoras da degradação consideradas pelo Cadastro de Erosões de Campo Grande, outras, que contribuíram significativamente devem ser destacadas. Pri-meiramente, a falta de planejamento urbano que direcionasse a ocupação e urbanização dessa região. O desmatamento para a ocupação da área, que expôs o solo aos processos erosivos, a compactação e a impermeabilização do solo, acarretando numa mudança do regime de escoa-mento da área, incrementaram o volume e velocidade das águas pluviais em direção ao corpo hídrico receptor, córrego Desbarrancado.

Entre os impactos decorrentes da voçoroca, no Conjunto Habitacional Taquaral Bosque, presentes na área degradada, puderam ser identificados: perda das propriedades físi-cas e químicas do solo; desvalorização imobiliária; riscos à saúde e segurança da população do entorno; proliferação de vetores de doenças; danos à infra-estrutura pública e de proprie-dade privada; e, perda das funções e da qualidade ambiental do recurso hídrico. É importante considerar o assoreamento do córrego Desbarrancado pelo carreamento de sedimentos pelas águas de enxurrada, comprometendo a capacidade do corpo hídrico e a qualidade da água.

Em visita realizada à area, pode-se observar que o quadro de degradação agravou--se de forma considerável desde que identificado e caracterizado em 1997. Neste ano, os da-dos geométricos, apresentados pelo Cadastro de Erosões de Campo Grande, foram de: 9 a 15 metros de largura; 3 a 4,80 metros de profundidade; e 131 metros de comprimento. A Prefeitura Municipal de Campo Grande não tem disponíveis as dimensões atuais da voço-roca. No entanto, os dados mais recentes, levantados em 2009, apontavam que a voçoroca tinha as seguintes dimensões: 20 metros de largura; 8 metros de profundidade em mais de 1 km de extensão (Timblindin, 2009).

Apesar de a voçoroca ter sido identificada e classificada pelo Cadastro de Erosões do Município de Campo Grande (Campo Grande, 1997), como sendo de extre-mo risco, pode-se considerar que nenhuma medida tomada pelo Poder Público Local foi eficiente para conter o processo erosivo. Desde a identificação oficial do dano, o Poder Público local empreende esforços e recursos, para a mitigação, porém sem apresentar resul-tados satisfatórios.

Uma das medidas mais utilizadas foi a autorização de despejo de entulhos de construção civil (Foto 2), com objetivo de conter o processo erosivo.

O despejo de entulhos de construção civil foi feito de forma indiscriminada. Ob-serva-se que essa prática influenciou, de certa forma, a população do entorno, que passou a despejar todo o tipo de resíduos no local (Foto3). Essa prática tende a agravar o dano ambien-tal, através da poluição do solo e do recurso hídrico e também intensificando o processo de assoreamento.

Estruturas de Controle também foram implantandas ao longo dos anos para ten-tar conter o processo erosivo, como obras de sistema de drenagem que incluiram canais de

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drenagem de águas pluviais, pavimentação das vias, bocas de lobo, entre outras obras de infra-estrutura, que obtiveram sucesso por tempo determinado, no entanto, por terem sido subdimensionadas, não suportaram eventos extremos de precipitações, sendo frequentemente destruídas pelas enxurradas.

No ano de 2008, uma barreira com escoadouro de concreto e mantas asfálticas, construída para estabilizar os taludes que represava as águas pluviais, controlando a sua vazão, rompeu-se após episódio de chuva intensa. A obra foi realizada pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes - DNIT, como complemento às obras da ponte rodoviária.

No ano de 2009, a Prefeitura Municipal de Campo Grande elencou, em seu rela-tório de atividades anuais (Campo Grande, 2009), obras voltadas ao Conjunto Taquaral Bos-que que compreendiam a pavimentação asfáltica e drenagem de águas pluviais.

Através de visitas à área de estudo observou-se a existência de estruturas para controle do processo, tais como: construção de uma barragem no interior da voçoroca e sis-tema de drenagem das águas da voçoroca com estruturas de contenção (Foto 4) e ponte sobre o anel rodoviário (Foto 6), constantemente afetada pelo processo de degradação ambiental.

Apesar das medidas já adotadas, a área encontra-se ainda com sérios problemas de degradação e com vários pontos que demonstram processos erosivos em atividade, mos-trando que o processo não se encontra estabilizado. O Poder Público afirma que a área está recuperada,mas existem ainda muitos sinais de instabilidade, tanto dos taludes quanto da barragem (Foto 5).

Foto 2: Despejo de resíduos da construção civil na voroçoca. Foto: Timblindin, 2009.

Foto 3: Despejo de resíduos de origens diversas. Foto: Izabela Paiva (2010).

Foto 4: Vista parcial de sistema de drenagem e estrutura de contenção de água. Foto: Izabela Paiva (2010).

Foto 5: Detalhe mostrando instabilidade do ta-lude e da barragem. Foto: Izabela Paiva (2010).

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Os efeitos da degradação no Taquaral Bosque também afetam diretamente o patrimônio particular e têm se configurado em risco à vida humana, comprometendo significativamente a qualidade de vida dos moradores. Em fevereiro de 2009, a Empresa Municipal de Habitação - EMHA removeu 22 famílias que tinham suas residências na área de risco (C.G Notícias, 2009). Em junho do mesmo ano, 6 casas foram tragadas pela erosão (Foto 6).

Apesar do esforço empreendido pelo Poder Público, a ocupação irregular da área continua ocorrendo, sendo possível observar a presença de habitações e moradores no entorno da voçoroca.

ConCLuSõeS e ReCoMendAçõeS

A área degradada existente no Conjunto Habitacional Taquaral Bosque re-preesenta uma política falha de planejamento urbano, alteração do sistema natural de drena-gem, o subdimensionamento e conseqüente ineficiência das obras de engenharia, incompati-bilidade entre as obras executadas e a dinâmica local.

A degradação identificada pela prefeitura municipal de Campo Grande, desde o ano de 1997, continua ocorrendo.

É um desafio, não somente do Poder Público, mas também da comunidade cientí-fica, de pesquisa, tecnologia e inovação, criar alternativas sustentáveis de promover a ocupa-ção humana em conformidade com a aptidão de uso e ocupação do solo de cada região.

Quanto às obras de controle, observou-se uma inadequação das intervenções até então empreendidas, que podem ter ocorrido em função de economia de recursos nas soluções aplicadas ou mesmo limitação econômica por parte do Poder Público, resultando no sub-dimensionamento das obras de engenharia de drenagem. Observou-se ainda o atendimento parcial às necessidades reais, pois alguns problemas continuam a existir e agravar o dano, tais como: o lançamento de águas pluviais a meia encosta; o escoamento concentrado das águas pluviais não captadas por sistema de drenagem; e a falta de monitoramento e assistência téc-nica das obras e equipamentos implantados.

Sugere-se que o Poder Público municipal empreenda esforços para promover a atualização do Cadastro de Erosões de Campo Grande e elaborar um Plano de Prevenção, Controle e Recuperação de Erosão para o município. Em relação à voçoroca do Taquaral Bosque, sugere-se que a Prefeitura Municipal elabore, em caráter de urgência, um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD, contendo proposta para uso futuro para área.

Foto 6: Casas desmoronadas tragadas pelo processo erosivo. Foto: Timblindin, 2009.

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Em relação às ocupações irregulares existentes nas proximidades da área degra-dada, sugere-se a remoção e realocação imediata das famílias em local adequado à ocupação.

Para que o município de Campo Grande possa superar os desafios impostos pelos im-pactos ambientais, existentes em decorrência do mau uso do solo, tais como a voçoroca , devem ser implementadas medidas eficazes para controlar o crescimento da malha urbana; mapear as áreas de risco ambiental, orientando para o tipo de uso adequado a essas áreas; identificar, estabilizar, recuperar e monitorar os processos degenerativos existentes e adequar a infra-estrutura de serviços básicos existentes na cidade, como saneamento e drenagem, às reais necessidades do município.

AGRAdeCIMentoS

Agradecimentos a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior pelo financiamento do projeto PROCAD 067/2007.

ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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Timblindin. 2009. Campo Grande, 12 de março de 2009. Disponível em: <http://timblindim.wordpress.com/2009/03/12/vocorocas-anunciadas/ >. Acesso em 14 de Jul de 2010.

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AVANÇOS E PRÓXIMOS DESAFIOS DA SEMEADURA DIRETA PARA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

Ingo Isernhagen 1

Natalia Guerin2

A complexidade de soluções necessárias para restauração ecológica das várias formações vegetacionais existentes no Brasil é enorme. Essa realidade deve-se à heteroge-neidade ambiental existente (solos, topografia, microclima, influência do entorno, etc.), com consequente heterogeneidade vegetacional e também diferentes históricos de degradação, particularizando a resiliência desses ecossistemas degradados e, portanto, o método exigido para a restauração (Rodrigues et al., 2009).

Embora os novos paradigmas da Ecologia da Restauração tenham aumentado o leque de estratégias da restauração ecológica, a baixa resiliência e o fato de existirem poucos fragmentos remanescentes, geralmente muito pequenos e muito degradados, que possam con-tribuir com o fornecimento de espécies nativas para as áreas com necessidade de restauração, definiram o plantio de mudas como o método mais usual de restauração na Mata Atlântica (Rodrigues et al., 2009), técnica que foi adotada em todas as regiões do Brasil. Infelizmente, tal método de restauração florestal tem um alto custo, com investimentos da ordem de R$ 5.000,00 a R$ 8.000,00/ha (Kageyama; Gandara, 2003), dificultando a aplicação do método em larga escala ou mesmo com densidades maiores de plantio, tornando premente a busca por métodos de restauração de baixo custo que possibilitem a rápida colonização das áreas em processo de restauração por espécies nativas. Especialmente devido ao alto custo do plantio de mudas, alguns pesquisadores têm indicado a semeadura direta como uma das estratégias alternativas ou complementares mais promissoras (Engel; Parrota, 2001; Lamb; Erskine; Par-rota, 2005; Aerts et al., 2006; Jinks, 2006; Dodd; Power, 2007; Rodrigues et al., 2009).

A SeMeAduRA dIRetA: uM PAnoRAMA BRASILeIRo

É notório o aumento da aplicação da técnica de semeadura direta nos últimos anos (Ruiz-Jaén; Aide, 2005). A seleção adequada de espécies para semeadura direta, consideran-do as características fisiológicas das sementes e o grupo ecológico ou funcional da espécie, pode tornar a técnica operacionalmente mais vantajosa para uma rápida ocupação de áreas degradadas, a baixos custos (Engel; Parrota, 2001). Embora as iniciativas com a técnica de semeadura direta remontem aos anos de 1920 no Hemisfério Norte (Pompéia, 2005), as pri-meiras experiências registradas com semeadura direta no Brasil remontam aos anos de 1960, quando estudos com objetivos silviculturais coordenados pela Food and Agriculture Organi-zation (FAO) na Amazônia propuseram o método para algumas espécies, especialmente as com crescimento rápido e com sementes razoavelmente grandes, baratas e abundantes (Pitt, 1969). Notadamente nos últimos 10 anos intensificaram-se os experimentos com a técnica de semeadura direta no Brasil, testando-se diferentes métodos em campo para algumas espécies arbóreas nativas.

1 Biólogo, Dr., Pesquisador em Restauração Florestal e Adequação Ambiental da Embrapa Agrossilvipastoril, Sinop/MT – [email protected].

2 Bióloga, M.Sc., Assistente Técnica de Pesquisa e Desenvolvimento Socioambiental do Instituto Socioambien-tal, Programa Xingu, Canarana/MT – [email protected].

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O Quadro 1 apresenta uma síntese dos principais trabalhos envolvendo semeadura direta para fins de restauração realizados no Brasil na última década. Essa revisão não é defi-nitiva, sendo passível de complementação.

Quadro 1: Estudos realizados nos últimos 10 anos envolvendo semeadura direta para fins de restauração no Brasil.

Referência Espécie(s) estudada(s) Principais tópicos trabalhados e resultados

Engel & Parrota (2001)

Chorisia speciosa, Croton floribundus, Enterolobium contortisiliquum, Mimosa scabrella, Schizolobium parahyba

Densidades de 1.050 e 1.790 ind./ha para E. contortisiliquum e S. parahyba. Menores custos de implantação da semeadura direta em relação ao plantio de mudas.

Camargo et al. (2002) 11 espécies florestais nativas

Aparente relação entre o tamanho das sementes e a sobrevivência após um ano de implantação em solos nus (quanto maior a semente, maior a chance). Recomendado consórcio da semeadura direta e plantio de mudas.

Mattei e Rosenthal (2002)

Peltophorum dubiumSemeadura para enriquecimento de capoeiras - sucesso na emergência, estabelecimento (80%) e densidade de plântulas, com uso de protetores físicos.

Meneghello e Mattei (2004)

Peltophorum dubium, Cedrela fissilis e Enterolobium contortisiliquum

Semeadura em campos abandonados – importância do manejo inicial das plantas daninhas e de protetores físicos para estabelecimento das plântulas.

Santos Jr., Botelho e Davide (2004)

Cedrela fissilis, Copaifera langsdorffii,Enterolobium contortisiliquum, Piptadenia gonoacantha eTabebuia serratifolia

Avaliações com densidades de semeadura, uso de protetores e efeito de luminosidade. Houve desempenhos diferenciados entre as espécies. Piptadenia gonoacantha e Copaiferalangsdorffii mostraram-se mais restritivas para uso nas condições testadas.

Pompéia (2005)

Gramíneas, arbóreas nativas (Tibouchina spp., Miconia spp., Ficus spp., Cecropia SP.)

Análise histórica de semeadura na Serra do Mar em áreas afetadas por poluição.

Malavasi, Gasparino e Malavasi (2005)

Cedrela fissilis e Enterolobium contortisiliquum

Avaliação dos efeitos da sazonalidade, uso do solo, profundidade de semeadura e exclusão dapredação na sobrevivência. Semeadura a 2cm de profundidade teve melhores resultados.

Araki (2005) 20 espécies florestais nativas

Avaliação de fatores como grupos funcionais, peletização de sementes, substratos e incorporação no solo. Ocupações da ordem de 874 e 1.902 ind./ha para grupos de preenchimento e diversidade, respectivamente.

Basso (2008)

Cecropia pachystachya, Mimosa bimucronata, Peltophorum dubium, Schinus terebinthifolius, Senna multijuga

Hidrossemeadura com espécies arbustivas e arbóreas nativas de preenchimento, testando doses diferentes de sementes (Kg/ha) e influência de adubação química. Ressaltou-se necessidade de evitar o uso de espécies com características alelopáticas, como Mimosa bimucronata. Método promissor, mas carecendo de mais avaliações sobre espécies adequadas.

Soares e Rodrigues (2008)

20 espécies leguminosas arbóreas nativas

Avaliação dos efeitos da inoculação de rizóbio no estabelecimento e crescimento inicial, o que não se mostrou significativo, com desempenhos diferenciados entre as espécies.

Ferreira et al. (2007)

Trema micrantha, Senna multijuga, Senna macranthera e Solanum granuloso-leprosum

Recomendada superação da dormênciade sementes, antes da semeadura no campo, para as espécies S. multijuga e S.macranthera. Não foi verificado efeito significativo do protetor físico nem na emergência de plântulas e nem na sobrevivência de mudas das espécies estudadas.

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Referência Espécie(s) estudada(s) Principais tópicos trabalhados e resultados

Barbosa (2008)

Eriotheca pubescens, Eriotheca candolleana e MyracrodruonUrundeuva

Avaliação de aspectos de tecnologia de sementes, produção de mudas e semeadura em campo. E. candolleana não foi recomendada, devido à baixa germinação em campo.

Ferreira et al. (2009)

Enterolobium contortisiliquum,Hymenaea courbaril, Cassia grandis, Schinus terebinthifolius e Caesalpinia leiostachya

Sementes com maior massa específica apresentaram emergência mais rápida e maior sobrevivência aos 90 dias após semeadura.

Isernhagen (2010)

16 espécies arbóreas nativas de preenchimento

Avaliação de densidades de semeadura direta em linha para espécies de preenchimento. Em menos de 6 meses houve estabilização das germinações, com densidades alcançando até 13.000 ind./ha. Registros de cobertura arbórea acima de 100% após 24 meses. Custos para produção de uma muda por semente variáveis de acordo com a espécie (valores entre R$ 0,01 a R$ 6,95).

SeMeAduRA dIRetA eM LARGA eSCALA: o PLAntIo MeCAnIzAdo de SeMenteS nA BACIA do xInGu, MAto GRoSSo

A fim de reverter o quadro do passivo de 300 mil hectares degradados na Bacia do Xingu e otimizar os reflorestamentos das áreas de preservação permanentes na região, surgiu a pro-posta da utilização do plantio mecanizado de sementes de espécies arbóreas dentro da Campanha Y Ikatu Xingu (Sanches e Villas-Bôas, 2005; ISA, 2004). A idéia surgiu a partir das experiências iniciadas pelo Grupo Mutirão Agroflorestal na Fazenda São Luiz, em São Joaquim da Barra – SP.

Dentre as técnicas de semeadura utilizadas encontram-se a semeadura a lanço, reali-zada com espalhadoras de calcáreo, lançadeiras Vincón ou Tornado, ou mesmo à mão, e a semea-dura em linha com plantadeiras de grãos. Os plantios são realizados de acordo com as caracterís-ticas da área a ser reflorestada e com a disponibilidade do maquinário na propriedade. Em casos de terrenos com declividade muito alta, devido ao risco de erosão e tombamento das máquinas, opta-se pelo plantio manual, realizado em covas ou a lanço, consorciando espécies nativas com va-riedades agrícolas, como mandioca e abóbora. Em casos de plantios em áreas de lavoura, cujo solo já é comumente preparado, o plantio é feito a lanço, realizando-se uma gradagem prévia para nive-lamento do solo, ou plantio direto com a plantadeira, dispensando o combate aos capins. Quando se trata de áreas cujo uso anterior fora pastagem, o solo é preparado por meio de gradagens, para descompactação e retirada do capim, e em alguns casos faz-se necessário o uso de herbicida.

Todas as técnicas usam a homogeneização da mistura de sementes com terra, areia ou serragem, comumente denominada de “muvuca de sementes”, amplamente utilizada em sistemas agroflorestais. A composição de espécies na muvuca é planejada caso a caso, conforme as con-dições de solo e tipologia vegetal, as capacidades do maquinário e as preferências do agricultor. A muvuca é composta por sementes de diversas espécies de árvores nativas, do início da sucessão até as mais tardias, consorciada com leguminosas de ciclo de vida curto, utilizadas como adubação verde. Atualmente, são utilizadas entre 20 e 30 sementes de espécies nativas por metro quadrado, além de outras 10 sementes de leguminosas de adubação-verde (feijão-de-porco - Cannavalia ensiformis; feijão-guandu - Cajanus cajan e crotalária - Crotalaria spectabilis). Em cada muvuca são colocadas cerca de 70 espécies nativas dentre as quais se encontram frutíferas, resiníferas, medicinais e madeireiras.

A média da cobertura do solo encontrada a partir dos primeiros seis meses de plantio é superior a 80% devido à cobertura das espécies de adubação verde utilizadas, de modo que o solo nunca fica completamente desnudo. Nesse mesmo período, encontram-se germinados de dois a quatro indivíduos de espécies nativas por metro quadrado (ou seja, 20.000 a 40.000 mudas/ha), de aproximadamente 40 espécies. A partir do segundo ano de plantio, a densidade de plantas na-

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tivas estabelecidas cai para 0,8 a 2 indivíduos/m2. Em média encontrou-se uma queda de 40% na densidade de indivíduos por ano até o terceiro ano de monitoramento. Observou-se que essa queda foi ocasionada principalmente pela morte dos indivíduos das espécies pioneiras, como mamoninha (Mabea fistulifera) e lobeira (Solanum excelsum e S. eryanthum), que inicialmente dominam a paisagem, seguida de um aumento de indivíduos das espécies com ciclo de vida mais longo, como a aroeira (Myracrodruon urundeuva) e baru (Dypterix alata). O investimento para o plantio meca-nizado varia de R$ 1.500,00 a R$ 4.000,00/ha, o que representa menos da metade do valor de um plantio convencional de mudas, que pode custar até R$ 10.000,00/ha na região.

SuGeStão de eSPéCIeS PARA SeMeAduRA dIRetA

Com base na literatura compilada e em experiências de campo ainda em sistematização, apresenta-se na Tabela 1 uma listagem de espécies indicadas para a técnica de semeadura direta.

Tabela 1: Espécies indicadas para uso em semeadura direta conforme literatura e experiências em sistematização, por bioma.

Espécie Família Botânica Bioma

Acacia polyphylla DC Fabaceae - Mimosoideae Mata Atlântica

Anacardium humile A. St.-Hil. Anacardiaceae Cerrado

Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan Fabaceae - Mimosoideae Cerrado

Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. Fabaceae - Caesalpinioideae Amazônia, Cerrado

Aspidosperma tomentosum Mart. Apocynaceae Cerrado

Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. Anacardiaceae Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica

Bixa orellana L. Bixaceae Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica

Buchenavia capitata (Vahl) Eichler Combretaceae Amazônia

Buchenavia tomentosa Eichler Combretaceae Cerrado

Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna Malvaceae Amazônia

Colubrina glandulosa Perk. Rhamnaceae Mata Atlântica

Copaifera langsdorffii Desf. Fabaceae - Caesalpinioideae Amazônia, Cerrado

Croton floribundus Spreng. Euphorbiaceae Mata Atlântica

Croton urucurana Baill. Euphorbiaceae Cerrado, Mata Atlântica

Cytharexylum myrianthum Cham. Verbenaceae Mata Atlântica

Dipteryx alata Vogel Fabaceae - Faboideae Cerrado

Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Fabaceae - MimosoideaeMata Atlântica, Cerrado, Amazônia

Enterolobium schomburgkii (Benth.) Benth. Fabaceae - Mimosoideae Amazônia

Eriotheca gracilipes (K. Schum.) A. Robyns Malvaceae Cerrado

Genipa americana L. Rubiaceae Amazônia, Cerrado

Guazuma ulmifolia Lam. Malvaceae Cerrado, Mata Atlântica

Himatanthus obovatus (Müll. Arg.) Woodson Apocynaceae CerradoHimatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson Apocynaceae Amazônia

Hymenaea courbaril L. Fabaceae – Caesalpinioideae Amazônia, Mata Atlântica

Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne Fabaceae – Caesalpinioideae Cerrado

Jacaranda micrantha Cham. Bignoniaceae Amazônia, Cerrado

Luehea divaricata Mart. Malvaceae Mata Atlântica

Mabea fistulifera Mart. Euphorbiaceae Amazônia, Cerrado

Magonia pubescens A. St.-Hil. Sapindaceae Cerrado

Myracrodruon urundeuva Allemão Anacardiaceae Amazônia, Cerrado

Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. Fabaceae – Caesalpinioideae Cerrado, Mata Atlântica

Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke Fabaceae – Caesalpinioideae Amazônia

Schizolobium parayba (Vell.) S.F. Blake Fabaceae – Caesalpinioideae Mata Atlântica

Sclerolobium paniculatum Vogel Fabaceae – Caesalpinioideae Amazônia, Cerrado

Senna macranthera (Collad.) Irwin et Barn. Fabaceae – Caesalpinioideae Mata Atlântica

Senna multijuga (Rich.) Irwin et Barn. Fabaceae – Caesalpinioideae Mata Atlântica

Simarouba amara Aubl. Simaroubaceae Amazônia

Simarouba versicolor A. St.-Hil. Simaroubaceae Cerrado

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Espécie Família Botânica Bioma

Solanum granuloso-leprosum Dunal Solanaceae Cerrado

Solanum lycocarpum St.-Hil. SolanaceaeAmazônia, Cerrado, Mata Atlântica

Sterculia chicha A. St.-Hil. ex Turpin Malvaceae Cerrado

Tabebuia ochracea (Cham.) Standl. Bignoniaceae Cerrado

Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nicholson Bignoniacee Amazônia

Terminalia glabrescens Mart. Combretaceae Cerrado, Mata Atlântica

Trema micrantha (L.) Blum. Cannabaceae Mata Atlântica

GARGALoS e PeRSPeCtIvAS

Com a realização de experimentos mais sistemáticos de semeadura direta, tem sido possível avançar no conhecimento da técnica, mas ainda sem estabelecimento de protocolos con-fiáveis que possam ser divulgados e utilizados em larga escala. Nesse sentido, não somente esses trabalhos desenvolvidos no Brasil, mas outros em todo o mundo corroboram alguns tópicos que merecem mais estudos, como:

• predação de sementes e plântulas (Chapman; Chapman, 1999; Löf; Thomsen; Madsen, 2004);

• baixa sobrevivência das plântulas germinadas, especialmente de espécies com sementes pequenas (Camargo; Ferraz; Imakawa, 2002);

• efeitos da competição com plantas já existentes e a necessidade de maiores cui-dados de manutenção inicial da área em restauração (Li et al., 2009; Jesus; Rolim, 2005). O controle prévio e intensivo das plantas competidoras é imprescindível para minimizar a competi-ção por recursos, especialmente se a implantação de um projeto de semeadura direta ocorrer em períodos chuvosos, prática usual em projetos de restauração florestal. Nesse período o crescimento das plantas competidoras também é mais acentuado, gerando competição com as plântulas emer-gidas nas primeiras semanas após a implantação. A forma de controle pode ser mecânica ou quími-ca, embora em ambos os casos sejam necessários cuidados. Durante a manutenção deve-se evitar a exposição direta do solo, o que pode contribuir para o escorrimento superficial de sedimento e o conseqüente soterramento de sementes em caso de chuvas torrenciais, ou o ressecamento des-sas em períodos de seca. O controle químico deve ser feito seguindo as recomendações técnicas. Nesse caso, sugere-se a realização de experimentos que analisem a seletividade de herbicidas e/ou o uso de pré-emergentes, possibilitando a aplicação em larga escala nos projetos de restauração florestal e auxiliando na minimização de custos da atividade. O diagnóstico prévio da área pode apontar as plantas competidoras mais comuns, o que proporcionará o direcionamento do mane-jo, com conseqüente otimização no tempo e nos custos de controle. O uso de adubos verdes em consórcio, nas entrelinhas de semeadura, é uma alternativa viável. Nesse sentido, vale destacar o feijão de porco (Cannavalia ensiformis), que impede a ocupação de capins exóticos. Há que se considerar também a mudança da época de semeadura para um período com menor intensidade de chuvas, como o final da primavera, o que poderia também minimizar a competição com outras plantas herbáceas (especialmente gramíneas) que germinassem nesse período. Experimentos de semeadura direta em covetas, ao invés de sulcos de semeadura, poderiam auxiliar no controle de plantas competidoras, uma vez que haveria espaçamentos conhecidos.

• riqueza de espécies utilizadas nos projetos: na análise da literatura pertinente fica evidente que a maior parte das espécies utilizadas é do grupo de pioneiras, o que é conseqüência do planejamento de projetos que priorizam a rápida ocupação das áreas. Mais estudos são necessá-rios para avaliar as melhores formas de consórcios entre grupos ecológicos / funcionais diferentes, garantindo a retomada dos processos naturais de sucessão com o mínimo de novas intervenções e evitando a mortalidade prematura da comunidade vegetal em restauração.

• importância da existência de microssítios apropriados para germinação (Aerts et al., 2006; Doust; Erskine; Lamb, 2006): alguns estudos indicam que a semeadura direta auxilia

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na formação de um sistema radicular mais íntegro, em relação ao plantio de mudas. Essa caracte-rística pode ser incrementada com o correto preparo da área, descompactando-se o solo através de subsolagem (cultivo mínimo). Raízes melhor desenvolvidas poderiam explorar melhor os recursos naturais, como água e nutrientes, incrementando o desenvolvimento dos indivíduos. Da mesma forma, estudos com as condições de microssítio do local onde as sementes foram colocadas tam-bém são importantes, à medida que podem ter influência nas taxas de germinação em campo devido ao ressecamento e predação, por exemplo.

• condições climáticas após a semeadura (De Steven, 1991; Doust; Erskine, Lamb, 2008);

• dificuldade na definição de densidades de sementes a serem utilizadas: existem grandes incertezas nas densidades de sementes que devem ser utilizadas para garantir a germina-ção e estabelecimento dos indivíduos (Burton et al., 2006). Atualmente, os plantios que envolvem semeadura direta utilizam altas densidades de sementes por m2, baseados nas taxas de germinação das espécies em viveiro. Essas taxas diferem daquelas obtidas em campo, principalmente devido à profundidade em que as sementes são enterradas, especialmente nos casos de semeadura meca-nizada. Vale ressaltar ainda, a grande variação nas taxas de germinação entre lotes de sementes de uma mesma espécie, o que dificulta a padronização da densidade de sementes colocadas nos plan-tios. O monitoramento das áreas em processo de restauração no Mato Grosso, por exemplo, tem apontado que a alta densidade no plantio pode fomentar uma alta competição entre as plântulas que germinaram logo nos primeiros meses, o que pode levar a uma alta mortalidade, principalmen-te durante os períodos de seca.

• manejo de sementes: a técnica de semeadura direta deve ser conduzida com cui-dados fitossanitários, desde a escolha dos lotes de sementes, ao armazenamento e beneficiamento das mesmas. As espécies recalcitrantes, por exemplo, são, na sua maioria, zoocóricas, e por isso, importantes para projetos de restauração. Contudo, a carência de estudos que envolvam as melho-res práticas para armazenamento e beneficiamento dessas espécies impede o aproveitamento das mesmas para semeadura direta, visto que geralmente a época da colheita das sementes é fora do período ideal para o plantio. Esse fato limita a semeadura direta ao uso de espécies ortodoxas, que são capazes de tolerar longos períodos de armazenamento.

• uso de implementos agrícolas para semeadura direta de espécies arbóreas nativas e peletização de sementes deve ser conduzido para auxiliar na utilização da técnica em larga escala. Atualmente, os implementos agrícolas já existentes (plantadeira de grãos e lançadeiras de sementes, adubos e calcáreo) são adaptados para o plantio de espécies nativas, o que limita o número de espé-cies utilizadas, visto que aquelas maiores não conseguem passar nesse tipo de maquinário e são se-meadas manualmente. Algumas experiências nesse sentido estão sendo desenvolvidas na Austrália.

• preços e disponibilidade de sementes: o Brasil ainda carece de uma rede de co-mercialização de sementes efetiva, que consiga atender à demanda tanto em riqueza de espécies, quanto em quantidade de sementes. Atualmente, o número de espécies disponíveis para compra no mercado não ultrapassa 50, e o preço das sementes fica em média R$ 150,00/Kg, com muitas variações até mesmo para uma mesma espécie. Visto que a semeadura direta utiliza um número elevado de sementes por hectare, esse é um gargalo crucial a ser ultrapassado para que essa técnica seja amplamente utilizada na restauração de ecossistemas degradados.

Com base nos relatos de literatura científica brasileira pertinente ao tema, a semeadura direta de espécies arbóreas nativas tem se mostrado um método viável tanto técnica como eco-nomicamente, especialmente para a ocupação inicial de áreas agrícolas abandonadas com baixa resiliência. É notória a predominância de estudos no Bioma Mata Atlântica, mas cada vez mais tem crescido o número de projetos nos Biomas Cerrado e Amazônia, incrementando informações que subsidiem o planejamento de projetos de restauração que utilizem a técnica.

A efetividade pode variar consideravelmente em função das espécies utilizadas e das condições ambientais, especialmente do solo e da presença de plantas daninhas (notadamente gra-

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míneas), ressaltando-se a necessidade de um diagnóstico adequado do local a ser restaurado. Os re-sultados desfavoráveis da semeadura direta para algumas espécies indicam que esse método pode ser adotado de forma complementar quando associado ao plantio de mudas, tornando-se mais uma ferramenta para a restauração de áreas degradadas.

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SELEÇÃO DE ÁREAS PARA A EXECUÇÃO DE PLANTIOS COMPENSATÓRIOS: UM DESAFIO PARA O CUMPRIMENTO DE UMA EXIGÊNCIA AMBIENTAL DO TRECHO SUL DO RODOANEL

Karina Cavalheiro Barbosa1

Luis Fernando Rego1

Marcelo Arreguy Barbosa1

1. IntRodução

A Resolução do CONAMA 01/86 discorre sobre o licenciamento ambiental, exi-gência legal na execução de obras que causem significativos impactos ambientais, e tem como finalidade avaliar, prevenir e monitorar impactos ambientais negativos e as ações nas fases de elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), de desenvolvimento e de consolidação de uma obra. Tem como objetivos principais a redução dos impactos finais da obra, permitindo que se potencialize ao máximo a efetividade das medidas mitigadoras e se limite ao mínimo a necessidade de compensações ambientais para um empreendimento de grande porte.

O Trecho Sul do Rodoanel, que interliga o final do Trecho Oeste com as Rodovias Régis Bittencourt, Imigrantes e Anchieta, até o município de Mauá na Av. Papa João XXIII, teve, dentre as exigências a serem cumpridas, o plantio compensatório de 1.016 hectares, de-vido à supressão de vegetação na obra, e outros aproximados 86 hectares de outros TCRAs, referentes a uso e áreas de apoio. Conforme descrição no Plano Básico Ambiental do EIA do Trecho Sul do Rodoanel, as áreas prioritárias para a execução desta exigência constituir--se-iam na Área Diretamente Afetada (ADA), ou seja, na faixa de interferência da obra e, em segundo plano, áreas fora da faixa de domínio, de preferência na Área de Influência do empreendimento.

Para as áreas dentro da ADA, foram selecionadas as áreas de apoio (DME, AE e caminhos de serviço), áreas dentro da faixa de domínio e remanescentes de desapropriação. Para as áreas fora da faixa de domínio, foram selecionadas as áreas de domínio público, in-cluindo áreas municipais, estaduais ou da União e de empresas concessionárias de serviços públicos (SABESP, DAEE, EMAE, etc.). Para tanto, foram consideradas áreas no interior dos parques e unidades de conservação, criadas pela DERSA como compensação ambiental; áreas indicadas pelas prefeituras; áreas no interior de áreas protegidas existentes; áreas de proteção permanente (APPs), seja dos reservatórios, seja por indicação através do Programa Matas Ciliares, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA). São áreas adjacentes a remanescentes florestais, cuja proximidade poderá promover relações de sinergia com as áreas de plantio, e áreas que pudessem contribuir para a formação de corredores de continuidade entre remanescentes florestais, entre outras.

Deve ser registrado que mesmo com diversas possibilidades de áreas para uso na execução de plantios compensatórios, o desafio da seleção de áreas é grande, em virtude da dificuldade em se achar áreas elegíveis, disponíveis e em quantidade suficiente.

1 DERSA – Desenvolvimento Rodoviário S.A.

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2. o CenáRIo InICIAL x o CenáRIo ReAL, nA BuSCA de áReAS PARA A exeCução doS PLAntIoS CoMPenSAtóRIoS

A seleção de áreas para o plantio compensatório teve início com o uso combina-do de imagens de satélite e visitas em campo. Com auxílio de fotografias aéreas, foi feita a identificação, delimitação e marcação das áreas potenciais para o plantio, visando a facilitar o processo de fiscalização durante as visitas “in locu”. Também teve início com as consultas feitas aos municípios afetados pela obra, bem como a outros órgãos/institutos municipais, estaduais e da União.

Destaque deve ser dado às muitas dificuldades a serem superadas para a busca, indicação e seleção de mais de 1000 hectares para o plantio compensatório biodiverso na região (Barbosa et. al., 2009), sendo a principal, a urbanização dos municípios. As áreas com possibilidade para plantio, logo de início, eram muito pequenas, sendo a maioria das conside-radas relevantes, de domínio particular.

Deve-se ressaltar que a prioridade inicial de recuperação e plantio compensa-tório deveria ser para as áreas relacionadas ao empreendimento, tais como: áreas de apoio, caminhos de serviço, entre outras. Desta forma, faz-se o registro do primeiro problema: muitas destas áreas somente poderão ser iniciadas nos estágios finais das obras, precisam ser planejadas e monitoradas durante a obra e são áreas proporcionalmente muito pequenas, perto da demanda emitida. No total, foram aproveitados 88,3 hectares, o equivalente a 8,1% do total do plantio. Assim, o processo de busca e seleção de áreas para implantação dos plantios compensatórios compromissados baseou-se em terceiros, em função do seu porte e características, que ultrapassam em muito as possibilidades de plantio na própria área diretamente afetada..

A DERSA priorizou o levantamento de áreas a serem desapropriadas, em áreas de parques e unidades de conservação que estavam sendo criados, também como compensação ambiental, decorrente da obra do Trecho Sul do Rodoanel., áreas estas importantes pela sua relevância ambiental (floresta nativa, áreas de preservação ambiental, formadoras de corredo-res ecológicos, etc.).

Como compensação e mitigação ambiental, a Dersa implantou novas áreas de proteção ao longo da rodovia, tais como: quatro unidades de conservação no município de São Paulo, somadas a uma faixa de até 300 metros, denominadas “parques lineares”, conectando estas 4 unidades de conservação, além dos Parques Embu, Itapecerica e Riacho Grande, este último em São Bernardo do Campo. Estas unidades de conservação devem ajudar a preser-vação de importantes fragmentos de vegetação, localizados ao longo do Trecho Sul do Ro-doanel, nas bacias dos reservatórios da Guarapiranga e da Billings, em uma região que sofre grande pressão do avanço da ocupação urbana.

Levando-se em consideração as áreas desapropriadas para criação de parques, unidades de conservação e as lineares, as que estivessem degradadas ou que tivessem uso incompatível, como por exemplo as áreas agrícolas, seriam recuperadas através do programa de reflorestamento, mas ainda assim tinham baixa representatividade perante toda a extensão em hectares a ser plantada, representando 154,7 hectares, equivalente a 14%. Neste caso, foi extremamente importante a gestão compartilhada dos programas de plantios compensatórios e a criação de unidades de conservação, pois permitiu uma interação impar, garantindo a pre-servação e a recuperação destas importantes áreas.

Na busca por áreas, foi iniciada consulta aos municípios afetados pela obra (Embu, Itapecerica da Serra, Mauá, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo do Campo e São Paulo), visando a garantir uma adequada distribuição dos plantios entre os municí-pios interceptados pelas obras, de maneira razoavelmente proporcional ao desmatamento que ocorreria em cada um. Porém, o grande problema constatado foi que os municípios não dis-punham de mapeamento, ou políticas de seleção de áreas prioritárias e públicas que pudessem

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ser reflorestadas, devido também à intensa urbanização, e poucos foram os municípios que de fato indicaram áreas viáveis para a realização dos plantios compensatórios.

Os municípios de Embu, Itapecerica da Serra, Mauá e São Bernardo do Campo não dispunham, por exemplo, de áreas públicas, a não ser que estas fossem áreas destinadas à arborização urbana, o que de fato não é a finalidade desta exigência da compensação. Já as áreas indicadas pelos municípios de Ribeirão Pires, Santo André e São Paulo, ou não tinham grandes extensões que fossem representativas para a execução do plantio, ou eram áreas que não contemplavam ações de plantio propriamente dito, e sim outras propostas e técnicas para uma restauração ecológica, tais como: enriquecimento de espécies, substi-tuição de reflorestamento de espécies exóticas, em áreas de parques, por espécies nativas, condução de regeneração, entre outros aspectos. No total, foram plantados 23,6 hectares em áreas indicadas pelas prefeituras, referentes às áreas dentro do Parque Municipal do Pedroso, em Santo André, e área indicada por Ribeirão Pires. Isto representa 2,2% do total a ser plantado

Além da consulta feita aos municípios, foram consultados os comitês de bacias e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, porém sem resultados.

O processo de seleção de áreas para a realização do plantio compensatório foi registrado pela equipe da Dersa, após diferentes consultas a diversos órgãos, para então ter um mapeamento base de áreas elegíveis.

Diante do cenário da baixa representatividade de áreas, numa prévia seleção e indicação destas para a realização dos plantios compensatórios, ficou estabelecida a busca por meio de reuniões técnicas com outros órgãos e instituições públicas, como: Empresa Metro-politana de Águas e Energia (EMAE), Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Companhia de Saneamento Básico no Estado de São Paulo (SABESP) e Fundação Florestal (FF), além de áreas cadastradas no Banco de Áreas para Recuperação de Matas Ciliares da SMA, respeitando um raio de 150 Km do empreendimento.

Na prática, pôde-se verificar a ausência de informações e de mapeamento prévio sobre áreas disponíveis para a compensação ambiental, por meio de reflorestamentos hetero-gêneos de espécies nativas. Ressalta-se que, após indicação técnica destas áreas, feita apenas por levantamentos prévios por estas empresas, vistorias em campo tornaram-se fundamentais para constatar a viabilidade da execução do plantio nestas áreas, bem como as possibilidades de ganhos ambientais que as mesmas poderiam proporcionar.

Assim, após as vistorias a campo, outras pesquisas davam continuidade à ve-rificação burocrática, inclusive para o efetivo plantio compensatório em áreas de empresas como a SABESP, DAEE e EMAE. Com a indicação e viabilidade diagnosticada em campo, a verificação de condicionantes e exigências legais e ambientais, relacionadas a estas empresas, tiveram de ser checadas.

Com a efetiva parceria feita entre SABESP, DAEE e EMAE, a Dersa conseguiu 828,2 hectares, representando 75,6% dos plantios. Somente assim foi possível atingir o núme-ro de aproximados 1.102 hectares de áreas para os plantios compensatórios (TCRA nº03/06 e outros referentes a áreas de apoio da obra).

Pode-se afirmar que, apesar da dificuldade da seleção de áreas ter sido superada após um período considerável, as áreas encontram-se distantes da AID e AII. Porém os plan-tios foram executados, em grande parte, nas áreas de preservação permanentes e/ou adjacentes aos reservatórios pertencentes aos sistemas de abastecimentos de água da região metropolita-na de São Paulo, possibilitando a preservação da qualidade destas águas, pelas condições de preservação de suas APPs, as chamadas matas ciliares. Nestas empresas, a melhoria contínua dos sistemas de produção de água, em qualidade e quantidade, é um objetivo comum que deve ser pautado pelo ganho ambiental e responsabilidade social, estando entre as iniciativas mais relevantes o reflorestamento das áreas no entorno de mananciais, bem como a educação

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ambiental. Assim, os plantios puderam beneficiar a área de influência do município, através da recuperação dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de água.

Finalmente, com a seleção de áreas para a execução de plantio, as empresas, con-tratadas por meio de licitação para esta atividade, elaboraram projetos técnicos, cujo roteiro mínimo foi fornecido pelo Instituto de Botânica de São Paulo (instituto contratado para orien-tações técnico-científicas). Os projetos, contemplando o Termo de Referência e a Resolução SMA 08/08, foram encaminhados para aprovação da Dersa e tem parecer técnico elaborado pelo IBt, aprovando ou não o projeto e gerando recomendações importantes.

Nota-se que o processo de seleção de áreas para o plantio compensatório do Tre-cho Sul do Rodoanel não foi fácil, por não haver um número grande de áreas disponíveis e vi-áveis para a execução desta condicionante ambiental. A falta destas áreas está principalmente relacionada à intensa urbanização, na região afetada pela obra, e à falta de um banco de áreas ou mapeamento de áreas para recuperação, seja pelas prefeituras, seja pelos órgãos licencia-dores, no caso, a SMA. Estrategicamente, o interessante seria se houvesse locais disponíveis, onde benefícios ambientais pudessem ser maximizados, porém não há muitas alternativas para a escolha de áreas públicas que possam ser reflorestadas.

3. ConSIdeRAçõeS FInAIS

Devido à dificuldade de se identificar áreas disponíveis e viáveis, para a execução de plantios compensatórios, que têm por finalidade a restauração ecológica de ecossistemas, principalmente na região da AID e AII do Rodoanel, fica evidente que outras possibilidades de ações devam ser pesquisadas, visando a reduzir e, de certa forma, também compensar os impactos ambientais de um grande empreendimento. Uma das alternativas é a utilização de outros métodos de compensação, que possam ir além da execução propriamente de plantios compensatórios, dentre elas o enriquecimento de espécies, substituição de espécies exóticas em áreas de reflorestamentos já existentes, condução da regeneração, transposição de “top soil” a áreas muito degradadas, entre outros aspectos.

Em regiões com escassez de áreas, como a região metropolitana de São Paulo, outras alternativas devem ser consideradas, como a aquisição de áreas verdes conservadas (florestas) que pudessem ser incorporadas a áreas de parques e unidades de conservação.

4. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

Barbosa, L.M.; Barbosa, K.C. & Barbosa, T.C. 2009. A importância da biodiversidade nas ações de restauração florestal no Estado de São Paulo. In: V.R.L. Bononi & Santos JR., N.A. Memórias do conselho científico da Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo: Instituto de Botânica/Secretaria do Meio Ambiente, 117-141.

CONAMA 1986. Resolução CONAMA n° 01, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre procedi-mentos relativos a Estudo de Impacto Ambiental. D.O.U. de 17.02.86, 2548 e 2549

São Paulo 2008. Resolução n° 08, de 31 de janeiro de 2008. Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dispõe sobre reflorestamento heterogêneo no Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 01/02/2008. Seção Meio Ambiente.

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1. Seleção de áreas na faixa de domínio do Trecho Sul do Rodoanel (Remanescentes de obra, Parques e UCs).

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2. com significativo interesse ambiental nas AID e AII e 3. parques e UCs criados (ou que tiveram áreas indicadas).

4. Área (em Ribeirão Pires) indicada pela prefeitura.

5. Parcerias SABESP, DAEE e EMAE.

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CONSOLIDAÇÃO DAS PROPOSTAS PARA PESQUISAS PRIORITÁRIAS ENVOLVENDO A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA, APRESENTADAS NO INSTITUTO DE BOTÂNICA DE SÃO PAULO

Luiz Mauro Barbosa1

1. IntRodução

Durante a realização do III Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas, um importante “encontro” paralelo, envolvendo a comunidade científica e diversos outros segmentos ligados à restauração ecológica, apontou várias lacunas de conhecimento que po-deriam não apenas orientar as necessidades de nossas pesquisas, mas também facilitar a ado-ção de políticas públicas para o setor de reflorestamento e restauração ecológica, como por exemplo, as resoluções orientativas da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA) de São Paulo, cuja proposta é de revisão periódica, como aconteceu desde a Resolução SMA 21/2001 até SMA 08/2008, em um processo intensamente participativo. Apesar de já haver novas e im-portantes contribuições, como as sugeridas no referido “encontro” e relacionadas neste artigo, entre outras, até o momento da redação do mesmo, ainda não haviam sido incorporadas ao texto da atual Resolução SMA 08/08.

2. PeSquISA e AçõeS PRIoRItáRIAS PARA ReStAuRAção eCoLóGICA

2.1. PeSquISAS PRIoRItáRIAS PARA ReStAuRAção eCoLóGICA.

Os quadros 1, 2 e 3, a seguir apresentados, consolidam as principais demandas de pesquisa em restauração ecológica para os seguintes subtemas:

(I) Desenvolvimento sustentável(II) Produção de sementes e mudas(III) Modelo de monitoramento

1 Instituto de Botânica - Diretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas e Coordenador do CERAD;IBt/SMA lmbecol@terra,com.br

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Quadro 1: Propostas de pesquisas prioritárias para restauração ecológica, voltadas ao desen-volvimento sustentável. (1º Encontro de pesquisas ambientais sobre restauração ecológica – Instituto de Botânica – Barbosa, Coord. 2009).

(I) PESQUISAS PARA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA PARA DESENVOLVI-MENTO SUSTENTÁVEL E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS (RAD)1. Transdisciplinaridade e interdisciplinaridade: projetos que incluam dimensão antrópica nos processos de RAD; inserção de metodologias de diagnóstico e percepção das comu-nidades, pesquisa-ação.2. Limites ao sucesso dos projetos: social (educação, inserção da comunidade); procedi-mentos (técnicas e formas de implantação: plantio mecanizado X ações manuais e mane-jo); ambientais (físico, biológico, químico); e político, entre outros.3. Estabelecer indicadores de:3.1. Sucesso dos projetos implantados para restauração ecológica:Critérios de avaliação e inclusão de valores previstos no desenvolvimento sustentável 3.2. Limitação e eficácia da legislação, considerando as decisões judiciais aplicáveis à restauração ecológica em RAD4. Princípios de economia ecológica: inserção de valores dos serviços e produtos da natu-reza, nas diferentes etapas do processo5. Métodos de análise integrando os diversos componentes do processo (inter-transdisciplinar)

Quadro 2: Propostas de pesquisas prioritárias para produção de sementes e mudas nativas, visando à restauração ecológica. (1º Encontro de pesquisas ambientais sobre restauração eco-lógica – Instituto de Botânica Coord. 2009).

II-PESQUISAS EM PRODUÇÃO DE SEMENTES E MUDAS1. Produção de mudas de espécies do cerrado, restinga e manguezal;2. Produção de sementes e mudas de espécies de outras formas de vida que não arbóreas;3. Semeadura direta como método de restauração;4. Fenologia de espécies nativas em áreas de restauração ecológica;5. Pesquisa para o estabelecimento de pomares de sementes multi-específicos e bancos genéticos;6. Estudos sobre criação de zonas ecológicas para a colheita de sementes;

Quadro 3: Propostas de pesquisas prioritárias para modelos e monitoramento visando à res-tauração ecológica. (1º Encontro de pesquisas ambientais sobre restauração ecológica – Insti-tuto de Botânica – 2009).

III – PRIORIDADES DE PESQUISAS EM MODELOS E MONITORAMENTO 1. Manejo dos fragmentos, visando a aumentar o papel dos mesmos na conservação da biodiversidade; 2. Estudos de fauna aplicados à restauração ecológica (diversidade, exigências ambien-tais, indicadores de qualidade, etc.)3. Testar modelos e conceitos de restauração de formações com limitações ambientais, como cerrados, floresta de restinga, florestas paludículas, manguezal, floresta deciduais, campos úmidos (naturais e antrópicos).

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2.2. AçõeS PRIoRItáRIAS PRoPoStAS PARA ReStAuRAção eCoLóGICA

No mesmo evento foram propostas políticas públicas para restauração ecológica e para a produção de sementes e mudas, cujas principais ações estão a seguir itemizadas

1. Organização de grupos de colheita de sementes;2. Implantação de pomares de sementes multi-específicos e bancos genéticos, e

fomento à pesquisa na área;3. Ordenar e divulgar o conhecimento e a experiência existente, de forma arti-

culada, nos diversos setores;4. Treinamento de pessoal para maior divulgação e conhecimento de aplicação

da Resolução SMA e técnicas de restauração ecológica para RAD;5. Dar continuidade ao programa Pró-Semente;6. Promover uma parceria formal dos órgãos do estado de São Paulo com o

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para a implan-tação da legislação de sementes e mudas;

7. Criação de um programa temático de pesquisa, vinculado à FAPESP, para a criação de zonas ecológicas para colheita de semente;

8. Divulgar as informações referentes à possibilidade de produção de sementes e mudas, de forma associada ou cooperativa, podendo o Estado atuar no su-porte de regularização da produção.

9. Divulgar as informações referentes à produção legal de sementes e mudas (ex: inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas - Renasem) e sobre a própria Resolução SMA08/08

10. Estabelecer mecanismos de avaliação e monitoramento

3. PRoPoStAS PARA ALteRAção nA ReSoLução SMA 08/08 de 31/01/2008

3.1. ModIFICAçõeS

A Resolução SMA 08, de 31/01/2008 que “fixa a orientação para o refloresta-mento heterogêneo de áreas degradadas e dá providências correlatas” tem como principais propostas de alterações, as seguintes:

Passaria na reedição da resolução a ter o seguinte titulo: “Fixa as orientações para a restauração ecológica de áreas degradadas e dá providências correlatas”.

Propostas de Alterações no Corpo da Resolução 08, de 31/01/2008.

No Artigo 1º - “As orientações contidas nesta Resolução aplicam-se para a restauração eco-lógica em áreas de domínio savânico e/ou florestal, originalmente ocupadas por fisionomias florestais.”, inserir o parágrafo: “Nas situações de áreas rochosas, campos naturais, cerrado stricto sensu e restingas herbáceas arbustivas, as orientações devem ser no sentido de restaurar a formação vegetal com diversidade compatível.”No Artigo 2º - o glossário deve ser deslocado para o início, após os considerandos, com a redação: “Considera-se, para efeitos desta resolução: Glossário... Espécie florestal: qualquer espécie nativa de ocorrência na floresta. Restauração Florestal: .... “No Artigo 6º - “Em áreas de ocorrência das formações de Floresta Ombrófila, de Floresta Estacional Semidecidual e de Savana Florestada (cerradão), a restauração ecológica deve-rá atingir, no período previsto em projeto, o estabelecimento de no mínimo de 80 (oitenta) espécies florestais nativas de ocorrência regional, conforme o Artigo 8º e/ou identificadas em levantamentos florísticos regionais.”, inserir parágrafo: “Para efeito deste artigo, também

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poderão ser computadas nas 80 espécies finais, espécies nativas regionais florestais não le-nhosas, provenientes de regeneração natural. As arbustivas e arbóreas devem representar no mínimo 70% da diversidade vegetal.”No Artigo 6°, parágrafo 1, alínea “a”: “devem ser utilizadas, no mínimo 40% de espécies zoocóricas nativas da vegetação regional, incluindo espécies arbustivas.” No Artigo 6°, parágrafo 2, alínea “b”: “Nenhuma espécie pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 10% de indivíduos do total do plantio.” No Artigo 6°, parágrafo 2, alínea “c”: “Nenhuma espécie não pioneira pode ultrapassar o limite máximo de 5% de indivíduos do total do plantio.”No Artigo 6°, parágrafo 2, alínea “d”: “Dez por cento (10%) das espécies implantadas, no má-ximo, podem ter menos de doze (12) indivíduos por projeto e no máximo dez por cento (10%) das espécies implantadas podem ter menos de seis (6) indivíduos por hectare.”No Artigo 7º - “Para outras formações ou situações de baixa diversidade de espécies florestais (Florestas Paludosas, Florestas Estacionais Deciduais, Floresta de Restinga e Manguezal), o número de espécies a ser utilizado e/ou atingido será definido por projeto técnico circunstan-ciado, a ser aprovado no âmbito da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, considerando-se a maior diversidade possível.” No Artigo 8º - “Para efeitos desta resolução, o Instituto de Botânica de São Paulo disponibi-lizará, através do portal eletrônico da instituição da Coordenadoria de Restauração Ecológica de Áreas Degradadas (CERAD) do Herbário e outros meios, uma lista exemplificativa de es-pécies florestais de ocorrência regional, atualizada no mínimo anualmente, com informações necessárias para o cumprimento desta resolução, tais como: área de ocorrência, formação vegetal, grupo sucessional, síndrome de dispersão e categoria de ameaça de extinção das espécies.”No Artigo 9º - Na execução da restauração ecológica: I. O solo deve ser preparado, considerando-se as características geotécnicas, pedológicas e edáficas; II. Devem ser adotadas as recomendações técnicas de conservação -recuperação de solo; III. Deve ser promovida a restauração da dinâmica hídrica superficial e subsuperficial do solo (inclusive do curso d´água); IV. Deve ser previsto o controle inicial das espécies exóticas competidoras e V. A área deve ser isolada, sempre que necessário, visando a controlar os fatores impeditivos à sobrevivência e ao crescimento das plantas. Incluir percentual máximo de exóticas invasoras (a meta é a erradicação, de acordo com a Resolução de exóticas invasoras). No Artigo 10 - Na execução da recuperação florestal, devem ser observados os seguintes aspectos: § 1º -As práticas de manutenção da área em recuperação florestal deverão ser executadas, no mínimo, por 24 meses após o plantio ou conforme deliberação do órgão responsável pelo licenciamento. § 2º -Como prática de manutenção da recuperação florestal será admitido, por até três anos*, o plantio consorciado de espécies nativas com espécies para adubação verde e/ou agrícolas. § 3º -Recomenda-se a adoção de práticas de manutenção e condução da regeneração natural em situações em que sejam empregadas outras técnicas de recuperação florestal. * Em áreas sujeitas a déficit hídrico superior a seis meses, o plantio consorciado será tolerado por até cinco anos.

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3.2. InSeRção de novoS PARáGRAFoS:

• Será permitido o uso da propagação vegetativa para espécies raras, ameaçadas e com dificuldade de produção de sementes e mudas, com enfoque também em outras formas de vida, desde que justificado em projeto técnico e conside-rando os padrões tecnicamente recomendados de amostragem genética;

• Será permitido o aproveitamento de plântulas provenientes de áreas de su-pressão de vegetação nativa ou de áreas agrícolas para a produção de mudas em viveiros florestais visando à restauração ecológica, atendendo ao disposto na Lei 10.711/03;

• Os parâmetros apresentados na presente Resolução deverão ser adotados para a Certificação dos Processos de Restauração Ecológica.

3.3. ReCoMendAçõeS

• elaborar projetos interdisciplinares agregando pesquisadores de diferentes áreas.

• construir mecanismos de divulgação dos resultados de pesquisa, junto à co-munidade.

• buscar estratégias para estimular a participação da comunidade no manejo, • plantio e utilização sustentável da biodiversidade, entre outros.

4. CoMentáRIoS GeRAIS e oS PontoS MAIS ContRoveRSoS dA ReSoLução SMA 08/08 e dAS PeSquISAS e AçõeS PRIoRItáRIAS PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA

De acordo com Durigan et. al, 2010 a iniciativa de legislar sobre técnicas de restauração pode ser uma barreira a mais a dificultar o êxito das iniciativas. Já Brancalion et AL 2010 consideram que instrumentos legais podem contribuir para a restauração de florestas biodiversas. Aqui opinamos por defender a utilização das resoluções e comentamos nosso ponto de vista.

Apesar de existirem carências de conhecimento científico para promover a mais adequada “restauração ecológica”, existe também muito conhecimento e constatações recen-tes sobre a “restauração”, a partir de casos bem ou mal sucedidos. Há carência de conheci-mento também sobre tecnologia de produção de sementes e mudas, mas já não há mais déficit de produção quali-quantitativa, no estado de São Paulo (Barbosa, 2010). Assim, a estratégia é incentivar pesquisas, divulgar conhecimentos, fazer capacitação e orientar. Não há tempo a perder, deve-se usar o princípio da precaução, ou seja, a ciência não pode ser uma barreira para políticas públicas de conservação da biodiversidade. Ela deve ser uma ferramenta de aperfeiçoamento de resoluções, como as estabelecidas pela SMA que, em tão pouco tempo (10 anos), já apresenta excelentes resultados. A alegação de que as recomendações da SMA não são respaldadas pela ciência não é verdadeira, e a maior prova científica é que em rema-nescentes naturais, as florestas sucedem-se pela infinidade de processos ecológicos mediados por diferentes espécies (até mais que 80). Por esta razão, a resolução adotou 80 espécies arbo-reas, com base em discussão científica, tendo também como meta estabelecer uma produção mínima de diversidade nos viveiros florestais e atender a sustentabilidade efetiva. A intenção foi, portanto, estabelecer um valor de referência necessário ao estabelecimento de uma norma, cuja aplicação é facilitada para o agente (Brancalion et al, 2010). Assim, não se pode dizer que 80 espécies é um número arbitrário. Como não incluir a biodiversidade como base da res-tauração ecológica de hotspots mundiais como o Cerrado e a Mata Atlântica? As resoluções consideram ser possível atingir a diversidade já no plantio, mas reconhece o efetivo aumento da riqueza de espécies por colonização de outras espécies que chegam à área, naturalmente ou

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por técnicas complementares como a nucleação, semeadura ou até o enriquecimento futuro. A resolução não coibiu as iniciativas de restauração ecológica, ao contrário, foi no período de sua aplicação que mais houve incremento nessas iniciativas, tanto no estado de São Paulo, como no Brasil, além de ser uma tendência mundial.

Outro aspecto que devemos contestar é que o “cumprimento da resolução enca-rece a restauração ecológica”. Hoje, tanto a alta como a baixa diversidade de espécies no re-florestamento custa igual. Dados apresentados por Brancalion et al. (2010) e Barbosa (2011) mostram não haver diferença no custo de produção de mudas, sejam elas pioneiras (PI) ou não pioneiras (NP).

Por outro lado, destacar que os profissionais dos órgãos públicos, responsáveis pela elaboração de projetos, licenciamentos e fiscalizações ambientais não detêm conheci-mentos para aplicar as resoluções, é um argumento que só reforça a necessidade de capacita-ção e atualização constante dos técnicos em restauração ecológica (não é deficiência da reso-lução). A resolução orienta com base no diagnóstico ambiental, propicia o uso de ferramentas adequadas e estimula pela “obrigatoriedade” da legislação, nos casos de compensação am-biental e uso de recursos públicos. Logo, a resolução não dificulta a restauração em pequenas propriedades rurais, ao contrário, nestes casos ela orienta para assistência do poder público, dispensa apresentação de projeto técnico e estimula a restauração ecológica, permitindo o plantio consorciado com espécies agrícolas, por até 3 anos, como forma de manter o reflores-tamento. Além disso, a MP n° 466-67, de 2001, permite o uso de sistemas agroflorestais em áreas de preservação permanente (APPs) de propriedades familiares.

Alguns outros comentários desprovidos de melhor entendimento, ou até de leitura completa das resoluções, erroneamente colocam que o uso de espécies exóticas e não regio-nais é estimulado, para se atingir numericamente as 80 espécies requeridas. A resolução SMA 08/08 é clara ao descrever 80 espécies nativas de ocorrência regional (60 nativas e 20 exóticas não cumprem a resolução). O fato é que antes das resoluções permitia-se o plantio de exóticas. Também a resolução não restringe o uso de outros métodos de restauração, que não o plantio de mudas. Pode-se ter o plantio de mudas e outras técnicas, tais como nucleação, semeadura direta, indução e/ou condução de regeneração natural, etc. Em um dos artigos, a resolução recomenda o desenvolvimento de pesquisas e muitas vezes é utilizada como orientadora para políticas de financiamento de órgãos de fomento. A pesquisa é livre, é preciso ler e conhecer melhor a resolução, principalmente a forma como ela foi construída, para melhor opinar.

5. ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

Barbosa, L.M. e orgs. 2009. III Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas, Anais. São Paulo: Instituto de Botânica. 289p.

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São Paulo – Resolução SMA 08 de janeiro de 2008. Altera e amplia as Resoluções SMA 21 de 21 de novembro de 2001, SMA 47 de 26 de novembro de 2003 e SMA 08 de março de 2007. Fixa orientações para os reflorestamentos heterogêneos de áreas degradadas e dá providencias correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo. www.ibot.sp.gov.br.

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O GEOPROCESSAMENTO NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA: APLICAÇÕES ATUAIS E POTENCIALIDADES FUTURAS

Leandro B. Aranha1

APReSentAção

O Geoprocessamento, devido à sua abrangência e crescente desenvolvimento da tecnologia, vem sendo utilizado nas mais diversas áreas de atuação humana, servindo como uma importante ferramenta para auxiliar as tomadas de decisões. A restauração ecológica, como atividade emergente nos dias de hoje, apresenta-se como uma importante aplicação des-sa ferramenta de análise. Hoje, considera-se restaurar ecossistemas degradados e, mais do que isso, paisagens e biomas degradados (Calmon et al., 2011), como uma das grandes ferramen-tas que o ser humano tem para enfrentar os problemas das mudanças climáticas, ocasionadas pelo aquecimento global (Harris et al., 2006) e perda da biodiversidade (Benayas et al., 2009). A utilização do SIG nessa atividade é bastante difundida em todo o mundo, nas mais variadas formas e etapas dos projetos, e tem sido determinante para muitas das iniciativas (Aranha et al., 2009), fato esse que enfatiza a importância do tema central abordado nesse artigo.

A frequência do uso do geoprocessamento em projetos de restauração ecológica é considerável. Em uma breve revisão desse uso, Aranha et al. (2009) constataram que apro-ximadamente 5% dos trabalhos de restauração, publicados nos principais periódicos da área entre 2005 e 2009, utilizaram-se dessa ferramenta em seus estudos, sendo que em aproxima-damente 3/4 destes, a aplicação foi essencial e determinante para alcançar os objetivos. A se-leção de áreas potenciais e prioritárias para restauração são alguns exemplos de aplicabilida-des diretas dos sistemas de geoinformações na restauração ecológica. Queremos acrescentar o monitoramento do sucesso dos projetos de restauração ecológica, como uma potencialidade ainda pouco explorada e que, no caso do Brasil, será necessária no futuro para auxiliar ao monitoramento de vastas áreas em processo de restauração.

GeoPRoCeSSAMento: oRIGeM e deFInIção

O Geoprocessamento surgiu na década de 1960, no Canadá, através de uma ini-ciativa do governo deste país em inventariar os recursos naturais, onde se criou o primeiro sistema digital de armazenamento e processamento de informações geográficas – o primeiro SIG (Sistema de Informações Geográficas). Mas os computadores eram pouco capazes de processar informações e muito caros. A partir da década de 70, com o avanço tecnológico na área da informática e desenvolvimento de novos e mais acessíveis recursos computacionais, os sistemas tornaram-se comerciais e então surgiu a expressão Geographic Information Sys-tem (GIS).

Câmara e Davis (2001) demonstram que, ao longo da década de 80, houve um período de expressivo crescimento e desenvolvimento dos sistemas de informação geográfica, impulsionados por avanços nas áreas de microinformática e massificação de recursos compu-

1 Diretor Executivo da Geo Florestas – Soluções Ambientais e-mail: [email protected]

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tacionais mais acessíveis e potentes. Em 1989, com a criação do National Centre for Geogra-phical Information and Analysis (NCGIA 1989) nos EUA, o Geoprocessamento estabelece-se como uma disciplina científica independente.

No Brasil, os SIG chegaram no início da década de 80, mais especificamente em 1982. Naquele ano, o criador do primeiro sistema canadense fez uma visita ao Brasil e incentivou vários grupos a criarem os seus sistemas, dentre eles o SAGA (Sistema de Análi-se Geo-Ambiental) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Em 1984 surge, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Divisão de Processamento de Imagens (DPI), responsável pelo desenvolvimento da tecnologia dentro da instituição, que desde 1991 lançou o SPRING (Sistema para Processamento de Informações Geográficas) para Windows e UNIX (Câmara e Davis 2001). Desde 1997, esse programa está liberado para usuários de SIG, gratuitamente na internet, através do site do INPE.

Desde então, vários autores publicaram extensiva literatura sobre o assunto, em livros e periódicos relacionados, mas ainda persistem divergências quanto à definição dos termos. A definição de SIG mais clássica, e uma das mais antigas, é de Goodchild (1985), que o define como “um sistema integrado para capturar, armazenar, manipular e analisar infor-mações referentes às relações em uma natureza geográfica”. Outra definição mais atual bas-tante mencionada é de Burrough e McDonnell (1998), que definem SIG como “um conjunto poderoso de ferramentas para coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados sobre o mundo real para um objetivo específico”. Essa segunda definição é interessante, pois menciona o objetivo específico de cada análise e enfatiza as ferramentas/componentes de um SIG: hardware, software e bancos de dados.

Uma das principais definições nacionais para o termo SIG, e a mais mencionada, é a de Câmara e Medeiros (1998). Os autores colocam que as principais características de um SIG são “a capacidade de inserir e integrar, numa única base de dados, informações espaciais provenientes de dados cartográficos, dados censitários e cadastro urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos numéricos de terreno; oferecer mecanismos para combinar as várias informações, através de algoritmos de manipulação e análise, bem como para consultar, recu-perar, visualizar e plotar o conteúdo da base de dados georreferenciados”.

Essa última é uma definição bastante completa, mas muito técnica. Para enten-dermos melhor o que é geoprocessar, podemos fazer uma analogia com nosso dia a dia, ou mesmo com a sociedade humana como um todo. Todos os dias nós processamos informações geográficas para a tomada de decisões, tanto em nossas vidas pessoais quanto os governantes e lideranças em grandes corporações. Para saber qual o melhor caminho a percorrer para ir de casa para o trabalho, do trabalho para o restaurante e depois voltar para casa, processamos, em nosso cérebro, uma série de informações de arruamento e locais geográficos para abstrair o mundo real, tornando-o mais simplificado – simplificado aqui no sentido de menos complexo, com menos informações e variáveis – para tomarmos a melhor decisão.

Da mesma forma, os governantes precisam abstrair a realidade ampla, variável e complexa, e processar uma série de informações ligadas ao espaço geográfico para determinar para onde expandir as linhas do metrô de uma cidade, qual o trecho do Trem de Alta Veloci-dade (TAV), onde construir um estádio para a abertura da copa do mundo de 2014, como dis-tribuir água sem desperdiçar 30%, determinar como e onde criar uma nova usina hidrelétrica para ampliar a rede de energia em âmbito nacional, provendo o desenvolvimento do país, ou mesmo onde ampliar os loteamentos da cidade, para criar moradia para a população em cres-cimento, e determinar os melhores locais para se criar unidades de conservação da natureza. Todas essas questões envolvem análises de dados espaciais em diferentes escalas.

As corporações fazem o mesmo para tomar decisões para onde expandir sua cul-tura de cana-de-açúcar e produção de etanol renovável, quais as melhores terras para nossa variedade de cultivar e onde teremos menos problemas ambientais, por exemplo, são questões

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essenciais a serem respondidas nesse caso, ou mesmo onde licenciar uma nova mina para extração do minério de ferro e qual percurso do oleoduto. Ou seja, em todos os ramos da ativi-dade humana, sem exceção, há o uso dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG), ou sis-temas de gestão de geoinformações, que fazem a abstração do mundo real e nos auxiliam na tomada de decisões. Em analogia, podemos compará-los ao nosso cérebro, que é a ferramenta ou estrutura, podemos assim chamar, que armazena os dados, manipula-os e processa as infor-mações necessárias para a tomada de decisão. Em outra analogia, podemos dizer que nossos olhos são como os sensores remotos carregados em plataformas orbitais ou aerotransportadas, que nos fornecem as imagens de satélite ou aerofotogrametria para entrar em nosso sistema.

APLICAçõeS nA ReStAuRAção eCoLóGICA

Dentre as 18 principais categorias de ferramentas e operações de geoprocessa-mento, identificadas nos trabalhos de restauração ecológica publicados entre 2005 e 2009, as principais são: modelagem ecológica de nicho, mapeamentos temáticos, análises de banco de dados e seleção de áreas prioritárias para restauração (Aranha et al. 2009). A modelagem es-pacial de nicho foi muito utilizada para predizer áreas potenciais para encontrar determinadas espécies-chave e para indicar espécies invasoras que necessitam de controle. Essa modelagem consiste em identificar as variáveis ambientais que caracterizam os locais de ocorrência de determinada espécie em uma área pequena, para depois extrapolar para áreas maiores. Essa operação começa com a coleta de dados em campo para alimentar os modelos computacio-nais, que visam a predizer os possíveis locais onde aquela espécie pode ser encontrada em uma área mais abrangente, diminuindo os esforços de campo.

Outra aplicação das geotecnologias, diretamente na restauração ecológica, é a determinação de áreas para restauração, sejam elas potenciais ou prioritárias. Essa aplicação é uma das mais antigas encontradas na literatura. Um trabalho em que ficou consagrado o uso de SIG para determinar áreas para restauração foi o de Russell et al. (1997), que identificou zonas ripárias prioritárias através de modelagem hidrológica. Nesse caso, temos dois bons exemplos no Brasil, o PACTO pela Restauração da Mata Atlântica, que identificou e mapeou 17 milhões de hectares potenciais para restauração, em toda a extensão do bioma (Calmon et al. 2011), e o projeto Diretrizes para Conservação e Restauração da Biodiversidade no Estado de São Paulo, do Programa BIOTA-FAPESP, que identificou as áreas prioritárias para restau-ração em âmbito estadual (Rodrigues e Bononi 2008). Vários outros trabalhos nessa linha são encontrados na literatura (Ferraz e Vettorazzi 2003; Brito et al. 2007; Metzger et al. 2008; Cui et al. 2009).

Técnicas de geoprocessamento também podem auxiliar no entendimento do processo natural de regeneração da vegetação, em áreas degradadas abandonadas (old fields), e no entendimento da dinâmica de paisagens, o que pode subsidiar as práticas da restauração ecológica (Aranha 2011). Através de análises de dados multitemporais, é possível verificar como a paisagem comportou-se ao longo do período analisado, para detectar mudanças no uso e cobertura da terra e enfatizar o processo de regeneração na-tural ou degradação da vegetação, e assim determinar qual a melhor maneira de intervir na área. Áreas classificadas como com potencial de regeneração natural, muitas vezes próximas a remanescentes florestais, podem não expressar a sucessão secundária de ma-neira espontânea e nunca retornar ao estágio de floresta. Isso pode acontecer devido a interações ecológicas com espécies invasoras e competidoras, ou por questões ligadas às condições edáficas, ou seja, a processos ecológicos diferentes e que necessitam de intervenções (métodos de restauração) diferentes. A dinâmica da paisagem pode auxiliar nesse entendimento e, ainda mais, elucidar questões quanto aos usos pretéritos das áreas em processo de restauração, o que é fundamental.

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Um dos trabalhos mais antigos que fazem menção à sigla GIS, nos periódicos específicos sobre restauração ecológica, é sobre o monitoramento do sucesso de um projeto de restauração (Barret e Niering 1993). Nesse estudo, o SIG foi utilizado para monitorar o sucesso de um projeto de restauração ecológica de pântanos, através do acompanhamento de mudanças na vegetação ao longo do tempo, após a restauração de alguns locais.

Esse fato é muito interessante, pois mostra que é possível realizar o monitora-mento do sucesso dos projetos de restauração com auxílio dos sistemas de informações ge-ográficas, enfatizando a importância das ferramentas de SIG. Além desse trabalho, foram encontrados alguns outros fora do Brasil, mas nenhum no país e nenhum sobre o processo de introdução de invidivíduos (plantio de mudas) a que se está acostumado aqui no Brasil, e sim de controle de espécies invasoras. Nesse tipo de estudo, modela-se a distribuição espacial da invasora para verificar se está controlada.

PotenCIALIdAdeS FutuRAS no BRASIL

Podemos dizer que esses sistemas ampliam a nossa capacidade de planejamento de ações em larga escala (escala geográfica pequena), pois nos retiram a limitação do campo de visão em nível terrestre que temos do mundo e podemos alimentá-los com uma quantidade de dados maior do que nosso cérebro pode armazenar, ou poderíamos coletar sozinhos.

No caso do PACTO, se tivéssemos de percorrer todo o bioma Mata Atlântica de carro, para mapear as áreas potenciais para restauração, seria inviável e talvez esse trabalho nunca terminasse, pois levaria tanto tempo que, ao se chegar a MG – saindo do sul do bioma para o nordeste do país –, todos os mapas anteriores estariam desatualizados devido à dinâ-mica das paisagens e alterações no uso e cobertura da terra, com o passar do tempo. Por isso utilizou-se geoprocessamento.

Da mesma forma, se vamos restaurar 15 milhões de hectares nos próximos 40 anos, como faremos para monitorar o sucesso desses projetos, amostrando em campo 10% da área como se faz hoje? Seria algo bastante trabalhoso e caro, que levaria muitos anos. Acredita-se que técnicas de geoprocessamento podem auxiliar nessa trabalhosa tarefa, mas tão importante, para garantir nosso sucesso. Através da definição de parâmetros e indicadores de sucesso do plantio, mensuráveis através de sensores remotos precisos e de análises orien-tadas a objeto em banco de dados geoespaciais, que podem ser coletadas durante o plantio ou depois de alguns anos, em áreas bem menores e com menor esforço, é possível auxiliar o processo de monitoramento do sucesso de projetos de restauração ecológica.

Um exemplo de dados que poderiam ser utilizados são imagens de levantamento aerofotogramétricos de vôo baixo, com pixel de 10cm a 40cm, imagens de satélite de precisão de centímetros, como Ikonos, QuickBird, WorldView e GeoEye, dados de radares e de laser (LiDAR). Com esses dados bastante precisos, é possível verificar indicadores de mortalidade e crescimento das mudas, cobertura de copa, espaçamentos do plantio, biomassa vegetal das mudas e de gramíneas competidoras, em 2D, 3D e 4D. Esses dados já garantem uma boa quantidade de indicadores sobre o sucesso dos plantios. A Figura 2 mostra um exemplo de imagem LiDAR, para que se tenha uma ideia da qualidade do dado e das possibilidades de análises de parâmetros estruturais dos plantios e morfométricos das mudas.

Além disso, durante ou após o plantio, poderiam ser coletadas as informações es-paciais (coordenadas geográficas com GPS de precisão) e não-espaciais das mudas plantadas (atributos) como a espécie, por exemplo, para análises orientadas a objeto (muda) e monito-ramento da biodiversidade. Podem-se realizar análises no banco de dados sobre a distribuição e agrupamento das espécies, ou mesmo a proporção de machos e fêmeas em espécies dióicas, entre outras análises espaciais sobre a arquitetura da floresta que se está restaurando. Todas as informações poderiam ser cruzadas e modeladas para auxiliar no monitoramento do sucesso

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desses projetos. Essas tecnologias já vêm sendo utilizadas em outros tipos de censos, levanta-mentos florestais, fitossociologicos e dinâmica de populações florestais (Filho et al. 2008), e poderiam ser adaptadas para a restauração.

Figura 1. Imagem de laser tirada de um avião com o Optech Orion LiDAR System do Willow Creek Golf Camp em Utah, EUA. Fonte: Terra Imaging

O PACTO é um projeto que ainda não teve início, mas existem outras tantas áreas em processo de restauração e que necessitam de monitoramento, que poderiam servir para o desenvolvimento dessa tecnologia. Uma delas é o Rodoanel em São Paulo, por exemplo. E é nesse cenário, que se acredita que o Instituto de Botânica de São Paulo, através do Labora-tório de Geoprocessamento, recém inaugurado, e da Coordenadoria Especial de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD), possa exercer papel fundamental. O IBt é responsável pelas orientações técnicas das questões ambientais do trecho sul da obra, participando desde o pro-cesso de resgate de vegetação, antes da supressão, até da criação de unidades de conservação e dos plantios compensatórios, visando à restauração ecológica de ambientes degradados. Atu-almente já existem mais de 1.000ha de áreas restauradas e que necessitam de monitoramento, só na compensação do trecho sul do Rodoanel. Um laboratório a céu aberto.

Essas tecnologias já não são tão caras, hoje é possível adquirir esses dados de alta precisão mais facilmente e com custos menos elevados do que no passado. Acredita-se ser esse o momento de, através de pesquisas custeadas por instituições de fomento e em parceria com órgãos públicos, instituições de ensino e pesquisa e a iniciativa privada, desenvolvermos essa tecnologia que nos será tão útil num futuro próximo. Já é consenso que o monitoramento das áreas em restauração é de extrema importância, não só para garantir o sucesso do proje-to, como para corrigir erros e aprender o comportamento das espécies plantadas e processos ecológicos durante o processo de restauração, consequentemente, o investimento nessa etapa deve ser igualmente considerado.

ConSIdeRAçõeS FInAIS

Restauração Ecológica e Geoprocessamento vieram, definitivamente, para ficar como questões importantes para a sociedade. São atividades em ascensão no mundo e que tem um potencial de expansão e crescimento por si só e mútuo enorme. O Brasil exerce um papel importante reconhecido internacionalmente nas duas atividades, e tem agora uma

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ótima oportunidade de aplicação integrada e de desenvolvimento das mesmas consideran-do a iniciativa de escala continental de restauração do bioma Mata Atlântica dentre outros projetos de restauração ecológica, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologia de geoprocessamento para monitoramento de áreas em processo de restau-ração através do plantio de mudas, que é o mais comumente utilizado no país. Com isso, poderemos no futuro monitorar o sucesso em vastas áreas diminuindo custos e aumentando a eficiência do processo.

ReFeRênCIAS BIBLIoGRáFICAS

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SOMOS CONSERVADORES? MUDANÇAS JÁ! A SOCIEDADE, O CLIMA E O CÓDIGO FLORESTAL

Waldir Mantovani 1

O homem pertence à natureza, mas ao mesmo tempo, a transcen-de. Encontra-se submerso no mundo físico, mas é um ser pessoal que possui dimensões não materiais. Antes de tudo, o homem é uma pessoa, ou seja, um sujeito que pode atuar voluntariamente, respondendo pelos seus próprios atos. A peculiaridade do ser hu-mano consiste em que a sua natureza pertence ao mesmo tempo ao mundo físico e ao mundo espiritual (Artigas, 2005).

IntRodução

Os problemas ambientais ficaram evidentes em todo o mundo, principalmente a partir da década de 1960. Isto se deveu em grande parte aos impactos causados pelo cresci-mento da população humana mundial, que em 1650 era de 500 milhões, passando a um bilhão em 1850, dois bilhões em 1930 e quatro bilhões em 1975, sendo atualmente de aproxima-damente sete bilhões. Este crescimento relaciona-se historicamente a várias conquistas das civilizações, como as práticas da agricultura, a urbanização, a industrialização e os avanços científicos e tecnológicos em diversas áreas do conhecimento, incluindo a medicina, somados ao aumento do uso de recursos naturais.

A maioria dos problemas de degradação ambiental no Brasil relaciona-se com a ausência de uma política de ocupação dos espaços que respeite as características das diversas regiões do país, notadamente suas fragilidades, riquezas e diversidades, e da inadequação dos processos de gestão dos recursos naturais.

A degradação ambiental teve sempre como indutores empreendimentos que não consideraram as alterações do meio em seus custos. As mudanças iniciaram-se com a extração do pau-brasil, que acarretou na derrubada de faixas extensas de mata pluvial tropical Atlân-tica no Nordeste, esteve associada às práticas agrícolas não conservacionistas, notadamente de monoculturas, seja canavieira, algodoeira, cafeeira, da soja, de pastagens e de florestas homogêneas, à ausência de políticas públicas que incorporassem a componente ambiental em suas propostas, ao estabelecimento de políticas públicas contraditórias quanto ao ambiente, ao estabelecimento de um modelo de propriedade da terra que favoreceu a sua exploração e não a transformou em espaço de vida, favorecendo a exploração de recursos e não a construção do pertencimento, à extração de diversos minérios, feita sem tecnologias conservacionistas, às grandes obras hidrelétricas, rodoviárias e ferroviárias não planejadas adequadamente às características ambientais, à ausência de políticas urbanas diante da formação de metrópoles, já que 84% da população brasileira atualmente é considerada urbana, o que foi estimulado por vários ciclos de êxodo rural, por fluxos migratórios diversos, pela transformação extrema-mente rápida de áreas do Centro Oeste e do Norte, e à industrialização, constituída sem regras ambientais e consolidada com a importação de equipamentos obsoletos, altamente poluentes,

1 Professor Titular. Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo. [email protected]

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que vinham sendo substituídos em países mais desenvolvidos, da ausência de tradição na con-servação do patrimônio histórico e artístico, e da complacência dos órgãos responsáveis pelo cumprimento da legislação ambiental, entre vários fatores.

Também ressalta na desvalorização das questões ambientais recentes da nossa história, o modelo de consumo supérfluo e exacerbado por parte da parte de nossa socie-dade, diversos problemas econômicos e sociais, a corrupção em suas diversas formas de manifestação, amplamente inserida em toda nossa sociedade, a falta de políticas públi-cas eficientes à saúde e à educação, a desigualdade social que vem se acentuando com a concentração de renda, o analfabetismo que impede o exercício pleno da cidadania, o descrédito e o desinteresse político por nossa sociedade e o desemprego e subemprego que geram um enorme conjunto de problemas sociais e à sobrevivência de parte da popu-lação, levando a que os problemas ambientais não sejam considerados prioritários. Uma questão ainda não totalmente equacionada é o papel que a globalização tem, sendo uma de suas características o enfraquecimento dos poderes locais, com conseqüências ao pa-pel do estado social.

Neste texto proponho a discussão de alguns aspectos que acredito influírem nas razões pelas quais estamos, nesse momento da recente história do movimento ambientalista brasileiro, discutindo alterações propostas na legislação que trata especificamente da conser-vação da vegetação de reconhecida utilidade às terras que revestem, bens de interesse comum a todos os habitantes do País, mais conhecido como Código Florestal ou Lei 4771/65. O texto está assentado na história e na geografia, na legislação ambiental e nos estudos sobre mudan-ças climáticas e políticas públicas, buscando sintetizar aspectos atuais do espectro ambiental brasileiro.

MudAnçAS nA SoCIedAde

A maior parte das sociedades humanas não tem identidade com a natureza, tendo--se afastado de forma radical de suas expressões, nas cidades, onde hoje se concentra a maior parte da população mundial.

Ontem, o homem escolhia em torno, naquele seu quinhão de natureza, o que lhe podia ser útil para a renovação de sua vida: espécies animais e vegetais, pedras, árvores, flo-restas, rios, feições geológicas.

Esse pedaço de mundo é, da Natureza toda de que ele pode dispor, seu subsistema útil, seu quadro vital. Reforça-se uma estreita cooperação entre cada grupo e o seu Meio: não importa as trevas, o tempo do homem amigo e da natureza amiga. A história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natu-reza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza. Hoje, com a tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução.

No começo dos tempos históricos, cada grupo humano construía seu espaço de vida com as técnicas que inventava para tirar do seu pedaço de natureza os elementos in-dispensáveis à sua própria sobrevivência. Organizando a produção, organizava a vida social e organizava o espaço, na medida de suas próprias forças, necessidades e desejos. A cada constelação de recursos correspondia um modelo particular. Pouco a pouco esse esquema se foi desfazendo: as necessidades e a organização da sociedade e do espaço tinham de se fazer segundo parâmetros estranhos às necessidades íntimas ao grupo (Santos, 1996).

A coexistência com a floresta tropical sempre foi problemática para o homem. O avanço da espécie humana funda-se na destruição de florestas que ela está mal equipada para habitar. A preservação de florestas deve, portanto, basear-se em algo além do argumento do

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auto-interesse cultural, ambiental ou econômico; talvez em uma concepção de interesse que apenas se poderia definir por um autoconhecimento mais perspicaz e uma compreensão mais profunda e filosófica do mundo natural. (Dean, 1995).

A história atual da Terra tem vários exemplos de civilizações e de cidades que tiveram seus desaparecimentos ou abandonos associados ao uso inadequado de recursos natu-rais, principalmente os solos e a água, exemplificando-se com a civilização Rapanui, na Ilha de Páscoa, e diversas cidades Maias e Astecas, estas muito provavelmente também relaciona-das a mudanças climáticas induzidas pelos fenômenos El Niño e La Niña.

Os tupis ocupavam o litoral desde São Paulo até o Maranhão e formavam aldeias com, em média, seiscentas pessoas e eram praticantes de agricultura de corte e queima, de ma-neira que as florestas sobre as planícies litorâneas poderiam encontrar-se, em grande extensão, em estágios secundários de sucessão, ainda que haja controvérsias sobre o tema. Exploradores e missionários do século XVI raramente sugerem que a floresta de alguma forma se imiscuía em seus afazeres. Poucas vezes relatam qualquer dificuldade em atravessá-la e diversos deles, despachados pelos primeiros expedicionários, penetraram centenas de quilômetros com apa-rente facilidade (Dean 1995).

Algumas sociedades indígenas no Brasil praticavam agricultura de corte e quei-ma e não dominavam tecnologias mais sofisticadas de agricultura, principalmente o uso de ferramentas ou equipamentos movidos por força animal, havendo relação direta entre a capa-cidade de transformação do ambiente e a tecnologia dominada por um povo, conforme aponta Diamond (2002).

Os primeiros colonizadores europeus que chegaram ao Brasil, ao contrário do que aconteceu em países como os Estados Unidos, não tinham a intenção de viver aqui, mas de explorar os seus recursos e retornar a Portugal. Esses colonizadores encontraram uma nature-za complexa, expressa em diversos biomas e ecossistemas, com os quais não tinham contatos prévios. Segundo a economia ecológica, esses tipos de vegetação podem ser interpretados como uma enorme acumulação de “capital natural”, ou seja, um estoque não produzido pelos seres humanos de meios para produzir bens e serviços. A postura dos conquistadores foi, des-de o início, a de usufruir e consumir de forma brutal e imediatista este conjunto de estruturas naturais e sociais (Pádua, 1999).

A ocupação do território brasileiro pelos portugueses, a partir de 1500, iniciou-se pelo litoral, principalmente no Nordeste, e o primeiro ciclo econômico baseou-se na extração de um corante da madeira do pau-brasil (Caesalpinia echinata - Leguminosae).

O segundo ciclo econômico relevante no Brasil foi o da cultura da cana-de-açúcar, que se estabeleceu inicialmente no litoral Sudeste e se desenvolveu posteriormente no litoral Nordeste, na chamada Zona da Mata, do Rio Grande do Norte a Sergipe, na região do domínio da Floresta Pluvial Tropical Atlântica, que teve sua cobertura original bastante reduzida.

Esta cultura induziu o escravismo, feito através de incursões ao interior do país na busca de mão-de-obra indígena, um dos fatores da expansão do território brasileiro e, pos-teriormente, com a importação de escravos africanos, entre 1531 e 1780, o que fez com que ingressassem no Brasil, aproximadamente, 1.900.000 escravos (Campos e Dolhnikoff, 1993), ampliando a necessidade de terras para a agricultura, em geral de áreas florestadas, e aumen-tou a exigência de lenha para o número crescente de moendas.

A busca de ouro, prata e de pedras preciosas no interior do Brasil teve início a partir de São Vicente, passando pelo Rio Paraguai, até o genericamente denominado império inca, na Bolívia e no Paraguai. Posteriormente foram descobertos depósitos de ouro na serra do Espinhaço, desde Belo Horizonte até São João Del Rey, iniciando a época do ouro, no século XVIII. (Dean, 1997). Este garimpo era efetuado por escravos negros e atraiu grande contingente de europeus, aumentando a população residente, a produção de alimentos e as áreas ocupadas.

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Nos fins do século XVIII a cafeicultura havia se espraiado pela Capitania do Rio de Janeiro. No alçar do século XIX a cultura atravessa as fronteiras do Rio de Janeiro e entra na capitania de São Paulo pelo vale do rio Paraíba do Sul. Porto Feliz, São Sebastião e Pira-cicaba continuavam a produzir cana-de-açúcar. Passara o ciclo do devassamento e o povoa-mento dos sertões brasileiros. Passara o ciclo do ouro de Minas Gerais, Goiás e Mato grosso. Os Lusopaulistas deixaram de minerar o ouro das Gerais e rumam para as campinas do Sul, onde vão ser criadores de gado. Derrubam a mata virgem com o negro e o caboclo. Começam a chegar, no derradeiro quartel do século XIX, os imigrantes italianos, para a lavoura. Quem derruba o mato, passa o fogo, covêa, planta o café é o negro ou o caboclo, afeitos à luta contra a floresta majestosa (Ferreira, 1968).

José Bonifácio de Andrade e Silva em 1823 alertava para o fato de que: “Nossas terras estão ermas e as poucas que temos ocupado são mal cultivadas, porque o são por braços indolentes e forçados; nossas minas, por falta de trabalhadores ativos e instruídos estão desco-nhecidas ou mal aproveitadas; nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do fogo, do machado, da ignorância e do egoísmo; nossos montes e encostas fecundantes que favorecem a vegetação e alimentam nossas fontes e rios...”, o que era reforçado por Frei Vicente Salvador, para quem: “O problema está nos colonizadores que, por mais arraigados que na terra estejam e, por mais ricos que sejam, tudo pretendem levar para Portugal (...) e isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá nasceram, que uns e outros usam a terra não como senhores, mas como usuários, só para a desfrutarem e a deixarem destruída. (...).” (Zulauf, 1994).

A grande lavoura implantada no país, segundo Sergio Buarque de Holanda, “...ao invés de adubar o solo, para conservar sua fertilidade, optou por queimar progressivamente novas áreas de floresta tropical, uma vez que a riqueza biológica das suas cinzas garantia boas colheitas por dois ou três anos, após o que a terra ficava estragada e ocupada por formigas. Ao invés de promover o replantio dos pastos, já que os campos naturais se degradavam após uma ou duas gerações de pastoreio, optou por incendiá-los, na expectativa de que o fogo impediria o crescimento das ervas não comestíveis e garantiria alguma sobrevida para a permanência do rebanho...”. Ao invés de alimentar as caldeiras dos engenhos com o próprio bagaço da cana, prática rotineira até mesmo em outras colônias de exploração, optava-se por queimar Mata Atlântica primária para servir de lenha. Até mesmo o caso da mineração – onde a maior renda gerada pela extração do ouro e dos diamantes poderia ter incentivado a criação de estrutu-ras tecnológicas mais sólidas e permanentes – os métodos utilizados foram rudimentares e superficiais, provocando um esgotamento precoce das reservas e um desnecessário impacto destrutivo sobre o entorno. Uma colônia de exploração, como era nosso caso, é sempre um empreendimento brutal e imediatista. A lógica de longo prazo é, ou deve ser própria da idéia de nação, do ideal de continuidade histórica de uma comunidade política (Pádua, 1999).

Embora a mão de obra para agricultura e a mineração fosse predominantemente negra e mestiça (cabocla), de modo geral esse grupo de brasileiros não compunha a elite agrária da época e raramente eram proprietários de terra, estabelecendo formas de produção.

Com a consolidação da emancipação política na Proclamação da República, as elites brasileiras iniciam a instalação do novo Estado. Na proposta de construção da naciona-lidade brasileira, que se estabelece na segunda década do século XIX, começa a tomar corpo uma concepção que vai identificar o país não com sua sociedade, mas com seu território. Isto é, o Brasil não será concebido como um povo e sim como uma porção do espaço terrestre, não uma comunidade de indivíduos, mas como um âmbito espacial. Onde a história pouco fornece para a elaboração de uma identidade nacional, os argumentos de índole geográfica vão possibilitar a elaboração de discursos legitimadores onde o país é visto como um espaço e, mais, um espaço a ser conquistado e ocupado. Construir o país é levar a civilização aos ser-tões, ocupar o solo é subtrair os lugares da barbárie. A idéia de levar as Luzes para o interior longínquo acaba por conformar uma mentalidade em que a natureza e os meios naturais ori-

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ginais são associados à situação de barbarismo e atraso, ao passo que a devastação do quadro natural é entendida como progresso (Moraes, 2008).

Nesse período os negros eram a maioria no Brasil e entre as ações que marca-ram esse período está a política de estímulo à imigração de europeus, que fez parte do que foi chamado de “ideologia do branqueamento”, para vários autores uma das ideologias que marcou a questão racial no Brasil. Sua conseqüência baseava-se em uma política de estímulo à imigração de europeus.

No final do século XIX foi estimulada a vinda de migrantes europeus, que se lo-calizaram basicamente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e nas regiões serranas do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Ao contrário dos colonizadores ibéricos dos três primeiro séculos da nossa história, esses novos brasileiros vieram dispos-tos a ficar, trazendo consigo a expectativa de trabalhar a terra que lhes seria destinada pelas companhias colonizadoras. Eram fundamentalmente italianos, alemães, austríacos, checos e poloneses, além de contingentes menores de suíços, húngaros, armênios, russos e lituanos, entre outros.

Entre as ferramentas que traziam, tinham destaque o machado, a serra e a espin-garda, com o que teriam que enfrentar os maiores adversários dos primeiros tempos: a mata, os animais silvestres e os índios.

Por serem, de certa forma, uma versão arcaica e européia dos nossos hoje “sem terra”, pobres, pouco instruídos e discriminados nas suas origens, traziam, se não ostensi-vamente, mas certamente de alguma forma, componentes predadores adquiridos pelos seus ancestrais nas lutas pela sobrevivência nos diminutos espaços das superpovoadas nações européias. São traços remanescentes dos componentes culturais acima os Schützenvereine (Sociedade de tiro, caça e pesca), disseminados em todas as comunidades de descendentes de imigrantes de cultura germânica. Os desdobramentos dessas imigrações têm sido extraor-dinários, pela ótica do desenvolvimento econômico do país, e catastróficos, do ponto de vista ambiental. A constatação da assertiva acima se dá ao seguir o caminho dos seus descendentes, que continuaram suas migrações, agora em território brasileiro (Zulauf, 1994).

Essa é a forma predominante de ocupação do território brasileiro até o início do século XX. Durante o primeiro mandato de Getulio Vargas, no Estado Novo, são criados órgãos, programas e normas a um novo projeto nacional, de construção do Brasil moderno. São valorizadas as características encontradas no interior do país, não mais vista como sertão bárbaro, mas como a matriz da brasilidade, definida como o somatório das culturas regionais do país.

O governo de Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas buscaram ainda mais in-teriorizar o país, salientando-se a construção de estradas e a mudança da capital do país para Brasília, ainda que se destaque um veloz fluxo urbanizador e a idéia de povo ganha peso na discussão da identidade nacional.

No golpe militar de 1964 e sua Doutrina de Segurança, as noções de moderniza-ção e de desenvolvimento perdem seu componente social e político, passando a qualificar ape-nas os aparatos produtivos e as infra-estruturas, revalorizando os espaços de fronteira com for-te incentivo ao avanço das frentes pioneiras no Centro-Oeste e na Amazônia (Moraes 2008).

Ocupadas as melhores terras do Rio Grande do Sul, os imigrantes que chegaram ao Rio Grande do Sul partem para o oeste de Santa Catarina, daí para o Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, chegando já os primeiros “loiros” com sotaque e hábitos sulistas, ao Estado do Acre. Por onde passaram, deixaram as marcas da devastação florestal e das culturas intensivas de soja, trigo ou das fazendas de gado.

Outros segmentos de descendentes desses colonizadores europeus não ibéricos, oriundos do sul, assim como capixabas (do Estado do Espírito Santo), deslocam-se para os cerrados de Goiás, Tocantins, Oeste da Bahia e Minas Gerais. O machado e a serra deram

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lugar ao par de buldozers, acoplados com forte correntes, e ao fogo. Não costumam respeitar matas ciliares nem bosquetes testemunhas dos ecossistemas que devastam. Tanto a forma como ocupam a terra, como a prática da agricultura, são profundamente predadoras do meio ambiente (Zulauf, 1994).

No sul do Brasil as propriedades rurais eram geralmente de pequena extensão (minifúndios), ao contrário do modelo nordestino, em que prevaleciam latifúndios. Essas pro-priedades já não eram capazes de sustentar as famílias que aqui chegaram e que aumentaram significativamente, o que foi um indutor da migração dos agricultores sulistas ao Centro--Oeste e ao Norte do país. Paulistas e mineiros iniciaram a ocupação do Brasil Central para a pecuária, em geral extensiva, ampliando sua fronteira.

No rastro dos europeus vieram os orientais, principalmente japoneses, também oriundos da sobrecarregada zona rural do Japão de um século atrás. Apesar das profundas diferenças étnicas com os europeus, sua história no Brasil, do ponto de vista ambiental, não difere muito da dos seus precursores brancos, o que reforça a tese da aculturação às práticas predadoras consagradas desde os primórdios da ocupação do espaço brasileiro (Zulauf, 1994).

A leitura da paisagem é comum a qualquer sociedade, em qualquer época. A rela-ção dos homens com a natureza implica níveis de percepção do meio que os abriga. A constru-ção do hábitat necessariamente envolve projeções, pré-idealizações, avaliações, enfim formas de consciência do espaço. Assim, em todo período histórico e em todo grupo humano vamos encontrar reflexões sobre o espaço ocupado (Moraes, 2005).

O grupo de empreendedores predominantemente sulistas (gaúchos, catarinenses e paranaenses) que foram estimulados por políticas de governo, na forma de financiamentos, à ocupação do Centro-Oeste e do Norte do país, é muito recente e começa a se consolidar na década de 1980, embora iniciada como política na década anterior.

Quando se fala em transformações das paisagens pelo homem, impondo mudan-ças através da força de seu trabalho e construindo ou adaptando culturas aos lugares, o tempo decorrido desde o início dessa segunda leva de ocupantes dos espaços interiores é muito pequeno para compor identidades ou moldar comportamentos, conforme as naturezas dos lugares ocupados no sertão.

Como exemplos da exclusão local, podem ser citados os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) implantados em todo o território brasileiro, mantendo vínculos com o Sul e excluindo moradores locais e suas culturas de suas relações, muitos deles expulsos de seus espaços construídos durante o processo. Saliente-se, ainda, que a pecuária se utiliza de pouca mão-de-obra e que a agricultura que se instala nas margens do rio São Francisco ou no Brasil Central utiliza tecnologia muito avançada, nas suas máquinas de preparo do solo, plantio, con-trole de pragas e doenças ou colheita ou, ainda, nos sistemas de irrigação, cuja manipulação é feita por mão-de-obra altamente qualificada, raramente regional.

A Constituição de 1988 valoriza os aspectos locais e anti-estatais, concebendo o país não em uma visão integrada e total do território, não estruturando sua gestão em bases geopolíticas. Nos países de formação colonial, isto é, formados na conquista dos espaços, o Estado aparece antes de tudo como um organizador do espaço, um gestor do território. Por isso, a prática estatal manifesta-se fortemente em suas histórias enquanto políticas territoriais, isto é, como ações de modelagem e produção de espaços. A dotação de infra-estruturas, a normalização dos usos do solo, a regulação da propriedade fundiária, a distribuição das popu-lações, tudo se enfeixa na atuação governamental. O Estado se impõe como mediação básica na relação social entre a sociedade e o meio que a abriga. O Brasil foi construído de acordo com a apropriação de terras, tendo na conquista espacial forte elemento de identidade e coe-são sociais. Um padrão de ocupação intensivo do ponto de vista dos recursos e extensivo no que tange ao espaço domina genericamente a história nacional (Moraes, 2008).

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A natureza brasileira é vista como pura riqueza a ser apropriada, e os espaços e os recursos naturais são tomados como inesgotáveis. Uma ótica expoliativa domina a relação da sociedade com o meio no Brasil, a qual se expressa com clareza no ritmo e na forma como avançam as “frentes pioneiras”, na história do país, deixando ambientes degradados em suas retaguardas. O bom governo é o que propicia, antes de tudo, o acesso aos lugares e aos seus recursos. Nesse processo dilapidador histórico vão sendo degradadas áreas significativas e destruídos recursos de alto valor potencial. Vê-se o patrimônio natural do país sendo exauri-do, sem que seja gerada riqueza que minimamente corresponda ao dano causado. Num país construído na apropriação de espaços, a idéia da natureza como valor em si tem dificuldade de se enraizar nas práticas sociais (Moraes, 2008).

O ponto a ser questionado não é o da racionalidade específica da herança colonial predatória, mas sim o da sua permanência ao longo da história do país independente, inclusive nos nossos dias. O que pode ser considerado lógico no contexto de uma colônia de exploração não deve sê-lo no processo de construção de uma verdadeira nação. Este último requer uma nova lógica fundada no cuidado e na conservação das bases ecológicas, sociais e culturais da existência coletiva, mesmo que isso signifique mais trabalho, mais estudo e a aceitação de critérios menos imediatistas e superficiais para avaliar o progresso econômico (Pádua, 1999).

Torna-se cada vez mais claro, a partir das transformações sofridas pelo país no presente século, que o estabelecimento de uma nova relação com a terra no Brasil, construída através da superação do comportamento ignorante, egoísta e destrutivo que dirigiu, e ainda dirige, um setor considerável da economia brasileira, transformando a poderosa herança colo-nial, precisa ser construído através de um amplo movimento político que fortaleça o sentido de cidadania e comunidade na sociedade brasileira, assim como o primado do bem estar cole-tivo, do desenvolvimento humano e do interesse público (Pádua, 1999).

As várias dimensões do “meio ambiente” não são internalizadas no contexto das políticas públicas: por um lado, o meio ambiente é pensado enquanto fornecedor de recursos naturais, receptor de dejetos oriundos das atividades de produção e consumo, e espaço onde se dão as interações entre processos naturais e socioculturais; e, por outro lado, o meio am-biente pensado enquanto qualidade de hábitat. Neste segundo caso, trata-se da dimensão que corresponde à infra-estrutura física e sócio-institucional capaz de influenciar as condições gerais de vida das populações em termos de habitação, trabalho, recreação e auto-realização existencial (Vieira e Weber, 1996).

Até meados da década de 1980, o Estado ditou, de forma centralizadora, a política ambiental a ser seguida no Brasil. A partir de então, o processo de formulação e implemen-tação da política ambiental no país passou a ser, cada vez mais, produto da interação entre idéias, valores e estratégias de ação de atores sociais diversos, num campo marcado por con-tradições, alianças e conflitos que emergem da multiplicidade de interesses envolvidos com o problema da proteção do meio ambiente. A esfera estatal continua sendo, contudo, a instância em que se negociam decisões e em que conceitos são transformados em instrumentos de po-líticas públicas para o setor (Cunha e Coelho, 2008).

Há amplo consenso sobre a necessidade indispensável de incorporar tanto as res-trições e oportunidades ambientais nas políticas econômicas, quanto às restrições e oportuni-dades econômicas nas políticas ambientais (Veiga, 2000).

Em relação às políticas de conservação da biodiversidade no Brasil, possuímos adequada legislação, muitas vezes mais restritiva que a maioria de outros países, somos signa-tários da maioria das convenções internacionais sobre meio ambiente, com normas e políticas complementares, também, suficientes e até mesmo bom planejamento, mas que, na prática, no campo, não acontece nada ou acontece de tudo e estas políticas não são, na maioria das vezes, cumpridas, por falta de pessoal suficiente e capacitado para seu adequado manejo e principalmente por falta de coragem política. É ainda evidente que, embora tenha aumentado

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a preocupação popular com os aspectos ambientais, não há suficiente educação para que nossa gente perceba as prioridades (Pádua, 2000).

Um aspecto que ressalta no que se chama de Educação Ambiental é que já há al-gumas gerações de brasileiros que o ensino fundamental e o ensino médio tratam de questões ambientais, sem que ocorram alterações posteriores no comportamento da maioria dos alunos, quanto aos seus hábitos de consumo ou ao ambiente. Não há uma formação à cidadania, já que o ambiente é um bem de toda a sociedade, como o solo, a água e o ar e, em nossa cultura, o que está consolidado é que o bem público não é de ninguém e, portanto, não tem valor, ao contrário do que deveria ser: o bem público é um bem de toda a sociedade e, portanto, deve haver um zelo maior por cada um dos cidadãos.

As transformações que vêm acontecendo nas propostas de conservação ambiental demonstram que os valores éticos dar-se-ão pelo amadurecimento e voluntarismo, e não mais por força de leis ou truculência das autoridades ambientais. A dimensão ética é uma referência aos modos de pensar e fazer, a qual se vislumbra um porvir com mais conscientização sobre a conservação ambiental e da biodiversidade dos ecossistemas. A ética ambiental impõe à sociedade contemporânea a educação que desempenha importante papel na compreensão dos problemas e de recomendações para adoção de critérios que poderão contribuir na orientação dos esforços para o desenvolvimento local, regional e nacional (Brito, 2006).

Apenas recentemente a cidadania ambiental ingressou no temário de interesse de grupos, povos e classes sociais. A noção de cidadania é, em geral, avaliada na ótica do cidadão no tocante às possibilidades e potencialidades que este pode ou poderia desfrutar no seu rela-cionamento com o Estado e com a sociedade no seu sentido mais amplo. A cidadania associar--se-ia a um modo de vida visceralmente regrado pela existência em comunidade, evidente na própria origem da palavra, decorrente do latim civitas, isto é, cidade.

Um dado básico para discutir as implicações de uma cidadania ambiental é que o meio ambiente se configura como um direito difuso, isto é, não dispõe de um corpo específico. O objeto do interesse difuso, nas palavras do jurista Paulo Affonso Leme Machado, “é sempre um bem coletivo, insuscetível de divisão, a satisfação de um interessado implica necessaria-mente a satisfação de todos”. A deseducação quanto à percepção do ambiente é evidente em vários outros aspectos do cotidiano, geralmente em razão de modelos culturais originários dos países desenvolvidos que colonizam de modo incessante a percepção do real das pessoas.

O imaginário dominante de natureza nos remete para ambientes distantes e sem presença humana marcante. Chama a atenção que os principais ícones ambientalistas repor-tem a animais, e quase sempre habitando ambientes remotos, tais como serras, montanhas ou as imensas massas oceânicas. É, também, notável a valorização de paisagens como as flores-tas pluviais e outros ecossistemas nos quais a presença humana é restrita ou mesmo em alguns casos inexistente. São referências não urbanas, onde os principais problemas ambientais da realidade brasileira, assim como no resto do mundo moderno, se manifestam.

Com relação ao poder público, é necessário que o Estado disponha de capacidade de intervenção, consiga estabelecer políticas públicas, estratégias de urbanização e pactos políticos dos mais diversos. Um aspecto fundamental é que o poder público deve manter inte-ração constante com a sociedade, o que também solicita uma sociedade consciente e cidadãos participantes capacitados a cobrar do Estado as suas atribuições, e, por conseguinte, reforçá--lo. Isso porque a questão ambiental não se resolve com um Estado fraco, mas sim reclama um Estado atuante. Quem considerar que um “Estado mínimo” (isto é, fraco) vai resolver a questão ambiental está fazendo o jogo da degradação ambiental.

O nível individual não pode ser desmerecido por uma estratégia ambiental, até porque a cidadania ambiental tem nos indivíduos seu suporte objetivo. Ademais, parcela pon-derável dos impactos no meio ambiente tem origem na ação e nos procedimentos rotineiros dos indivíduos (Waldman, 2003).

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Problemas ambientais são problemas causados pela espécie humana, já que terre-motos, maremotos, vulcanismo e outros eventos catastróficos são eventos naturais e indepen-dem de nossa ação. Por isto não há solução aos problemas ambientais que passe ao largo de um diálogo com a sociedade. Sem mudanças dentro da sociedade não há soluções duradouras aos problemas ambientais, problemas de toda a sociedade.

A vontade social é precursora da vontade política. Assim, para o entendimento do processo decisório no campo do meio ambiente, há que se detalhar os papéis dos atores e a composição das forças que atuam no processo. Nossa realidade sobre as questões ambientais tem mostrado que não adianta a existência da lei ambiental sem vontade política de aplicá-la e que a vontade política pode ser induzida ou anulada, dependendo da composição de forças que atuam em relação ao fato que requer determinada decisão (Waldman, 2003).

MudAnçAS CLIMátICAS

Mudanças climáticas globais fazem parte da história da Terra. No Período atual (Quaternário: 1,81 milhão de anos até hoje) ocorreram, no mínimo, cinco estádios glaciais, intercalados por estádios interglaciares. Durante os estádios glaciais as áreas continentais co-bertas por geleiras eram bem maiores que as atuais e as temperaturas médias de áreas tropicais eram 5o a 10o centígrados mais baixas do que as atuais.

Há 6 mil anos a temperatura média subiu 2o a 3o centígrados em regiões de lati-tudes médias e, em conseqüência, causou o degelo de parte das geleiras. Há 5 mil anos atrás ocorreu uma transgressão marinha em nível mundial, quando os níveis marinhos estiveram 3 a 5 metros acima do atual (Suguio, 2008).

O clima varia naturalmente, independentemente de ações do homem, isto é, mes-mo sem ações do homem as estações do ano não teriam sempre as mesmas temperaturas, porque o clima é dependente da intensidade da radiação solar, que é variável. As discussões baseadas nas análises das observações climáticas, hidrológicas e oceânicas, assim como dos indicadores têm permitido a identificação de variabilidade de clima e hidrologia em escalas que vão de interanual até decadal e de longo termo (Marengo 2006).

Atualmente não parece haver dúvidas de que, particularmente o rápido aumento da temperatura se deve a ações do homem, principalmente relacionadas à revolução industrial e ao uso de diversas fontes de energia, principalmente a lenha e o petróleo, com conseqüente aumento de gases de efeito estufa, entre eles, o CO

2, (Monzoni, 2009). O Brasil é considerado

o 4º país emissor de gases de efeito estufa, principalmente devido às queimadas que ainda pro-move na Amazônia e no Brasil Central, para a ampliação de áreas agrícolas (Marengo 2006).

A partir do final do século XIX e no século XX há aumento significativo da pro-dução industrial e crescente aumento da quantidade de poluentes na atmosfera, sobretudo nos últimos 70 anos, com o aumento da quantidade dos chamados gases estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO

2), o metano (CH

4) e os óxidos de nitrogênio (NO

x) e um

crescente aumento da temperatura média global. Medidas de temperatura média global, a partir de uma rede de estações meteo-

rológicas em diversas partes do globo, tiveram início em 1850. A temperatura média global vem subindo nos últimos 120 anos, já tendo aumentado de 0,74oC em 100 anos (1906 a 2005) (Sampaio et al. 2008).

Algumas conseqüências notáveis do aquecimento global já foram observadas, como o derretimento de geleiras nos pólos e o aumento de 10cm no nível do mar em um século. Os modelos globais do Quarto Relatório do IPCC projetam para o futuro, ainda com algum grau de incerteza, possíveis mudanças em extremos climáticos, como ondas de calor, ondas de frio, chuvas intensas e enchentes, secas e mais intensos e/ou freqüentes furacões e ciclones tropicais e extratropicais.

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O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais, especialmente quanto aos extremos climáticos. As áreas mais vulneráveis compreendem a Amazônia e o Nordeste do Brasil. Projeções feitas para o século XXI sugerem aumentos na freqüência de extremos de chuva, principalmente na Amazônia ocidental, no Sul e Sudeste do Brasil (Marengo, 2009).

O continente sul americano já experimentou, nos últimos anos, uma sucessão de acontecimentos radicais: chuvas torrenciais na Venezuela, inundações nos pampas argentinos, secas na Amazônia, tempestades de granizo na Bolívia e uma temporada recorde de furacões no Caribe. Com a elevação de temperaturas já registrada, os glaciares andinos estão retroce-dendo. A disponibilidade de água destinada ao consumo e à geração de eletricidade já está comprometida e o problema se agravará no futuro (Orsini, 2008).

A disponibilidade de água no Brasil depende em grande parte do clima. O ciclo anual das chuvas e de vazões no país varia entre bacias, e de fato a variabilidade interanual do clima, associada aos fenômenos de El Niño, La Niña, ou a variabilidade na temperatura da su-perfície do mar do Atlântico Tropical e Sul podem gerar anomalias climáticas, que produzem grandes secas, como em 1877, 1983 e 1998 no Nordeste, 2004-2006 no Sul do Brasil, 2001 no Centro-Oeste e Sudeste, e em 1926, 1983, 1998 e 2005 na Amazônia. No Sudeste e na região Sul do Brasil tem sido observado um aumento intenso na precipitação, identificando--se tendências positivas de aumentos sistemáticos de chuva e de extremos de chuva na região subtropical, no Sul e no Nordeste do Brasil (Orsini, 2008).

O Sudeste, desde 1940, tem mostrado aumentos sistemáticos na freqüência de chuvas intensas, de até quase 58%/100 anos. Em São Paulo observam-se mais eventos extre-mos de chuvas durante o El Niño, os quais, nesse Estado, são sensíveis à intensidade Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) (Carvalho et al., 2004).

O aumento da temperatura associada ao aumento da concentração de CO2, na

atmosfera, poderia ser fator positivo ao aumento da produtividade primária, entretanto, as al-terações na temperatura causam mudanças atmosféricas, influindo no regime e na intensidade de chuvas.

O aumento do CO2, que ocorrerá gradativamente ao longo deste século, provoca o

chamado efeito fertilizante, levando a maiores taxas fotossintéticas e crescimento das plantas. A temperatura faz o mesmo, mas somente até certo ponto. Como se estima que o aumento da temperatura atinja 3oC por volta de 2050, até lá a combinação de mais CO

2 com alta tem-

peratura deverá ser positiva, resultando em maior crescimento das plantas e maior produção agrícola. Porém, em certas regiões, a disponibilidade de água pode não ser ótima, ou seja, em excesso ou falta. Nesses casos, o efeito positivo poderá ser compensado para baixo. O mesmo ocorre com os nutrientes, principalmente nitrogênio, fósforo e potássio, que são necessários em maior proporção para o crescimento das plantas (Buckeridge et al. 2008).

MudAnçAS no CódIGo FLoReStAL

Não adianta a existência da lei ambiental sem vontade política de aplicá-la e a vontade política pode ser induzida ou anulada, dependendo da composição de forças que atu-am em relação ao fato que requer determinada decisão (Zulauf, 1994).

O Código Florestal é, antes, um instrumento para a conservação da biodiversida-de, mas também tem como funções a conservação, entre outros recursos, do solo e da água, que são bens de toda a sociedade brasileira, ainda que seja dado o direito da exploração desses recursos a uma pequena parte da população.

A conservação da diversidade biológica, principalmente a expressa nos níveis de formações e biomas, tem valor pelos seus serviços ecossistêmicos, como a conservação da própria biodiversidade e seu valor intrínseco, do solo, principalmente contra processos erosivos e a lixiviação, e da água quanto à sua qualidade e quantidade; exerce controle do

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clima, influindo no ciclo da água e no albedo, atenua eventos catastróficos, principalmente os escorregamentos e avalanches, as enchentes, prevenindo o assoreamento de rios, manguezais e várzeas, pode controlar a incidência de pragas e de doenças, além de aumentar a produtivi-dade de diversas culturas agrícolas pela polinização efetuada por espécies de insetos nativos de formações naturais, e por seus valores estético, recreativo, educativo e espiritual.

Ainda que a conservação biológica se aplique a diferentes níveis de organização, é nas escalas de bacia hidrográfica, paisagens e domínios que há amplificação dos papéis efetivos da vegetação. Saliente-se que nesses níveis de interpretação, as florestas ao longo de cursos de água funcionam como corredores biológicos, promovendo o fluxo gênico entre regiões às vezes distantes entre si. A vegetação nos topos de morros, encostas íngremes e nas Reservas Legais dão permeabilidade à bacia e/ou paisagem, favorecendo o deslocamento de animais, incluindo dispersores e polinizadores.

O documento legal brasileiro mais antigo relativo a um recurso natural notável é o Código Florestal de 1934 (Decreto Federal 23793/34), reformulado em 1965. É um do-cumento que foi elaborado com a ajuda de diversos naturalistas, muitos dos quais já preocu-pados, à época, com a conservação das funções básicas dos ecossistemas naturais e cientes da importância de se conservar todos os tipos de vegetação nativa e não apenas aquelas que pudessem oferecer lenha. Quando da realização da primeira conferência mundial sobre o meio ambiente, em Estocolmo, em 1972, não havia no Brasil, praticamente, qualquer ativida-de institucional sobre o meio ambiente a nível federal e, a nível estadual, apenas as ações em São Paulo (Comissão Intermunicipal de Controle da Poluição das Águas e do Ar - CICPAA e Centro Tecnológico de Saneamento Básico - CETESB) e no Rio de Janeiro (Instituto de Engenharia Sanitária - IES). Em relação às demais atividades de defesa ambiental, o governo federal somente passou a atuar a partir de 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, através do decreto 73.030, de 30.10.1973, vinculada ao Ministério do Interior e presidida pelo Professor Paulo Nogueira Neto (Zulauf, 1994).

Nesse primeiro Código Florestal já há referências às florestas e demais tipos de vegetação como bens de interesse comum a todos os habitantes do país:

É feita uma classificação das florestas para fins de diferentes restrições à conser-vação, sem que sejam estabelecidas métricas às faixas ou declividades que devem ser manti-das para: conservar o regime de águas, evitar a erosão das terras pela ação dos agentes naturais e fixar dunas, entre outras características, sendo feita também previsão do que será chamado de Reserva Legal.

O Código Florestal de 1934 foi modificado pela Lei 4.771/1965. Das modifica-ções que foram feitas, ressalta-se o estabelecimento das larguras das faixas de algumas das Áreas de Preservação Permanente, como as encostas, nascentes e cursos de água, bordas de tabuleiros e chapadas, além da explicitação do que é a Reserva Legal e o estabelecimento de porcentagens distintas de áreas a serem conservadas em propriedades nos diversos biomas brasileiros.

O Código Florestal constituído pela Lei 4771/65, foi alterado pelas Leis 7511/86 e 7803/89. As faixas das Áreas de Preservação Permanente estabelecidas conforme a largura dos rios eram, em geral, mais estreitas que aquelas que foram indicadas nas novas leis (Tabela 1) e houve aumento no número de categorias.

A Lei 7803/89 detalhou as Áreas de Preservação Permanentes ao redor de nascen-tes e olhos d’água (50m de largura), nas bordas de tabuleiros ou chapadas (em faixa nunca inferior a 100m em projeções horizontais.) e generalizou a conservação em altitude superior a 1800m (qualquer que seja a vegetação.).

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Tabela 1. Comparação entre as faixas de APP propostas nas Leis 4771/65, 7511/86 e 7803/89

Lei 4771/65 Lei 7511/86 Lei 7803/89

Largura do rio Faixa da APP Largura do rio Faixa da APP Largura do rio Faixa da APP

até 10m 5m até 10m 30m até 10m 30m

10-200m ½ larg. do rio 10-50m 50m 10-50m 50m

> 200m 100m 50-100m 100m 50-200m 100m

100-200m 150m 200-600m 200m

>200m = larg. do rio > 600m 500m

Através da Medida Provisória 2166-67/01 foram estabelecidas novas porcentagens de áreas a serem mantidas nas propriedades como Reservas Legais nas diversas regiões do país.

As mudanças propostas para a Lei 4771/65, ou o Código Florestal, foram adequa-damente discutidas em vários documentos, ressaltando-se: O Código Florestal e a Ciência: Contribuições para o diálogo (Silva et al. 2011), vários debates públicos promovidos em todo o território nacional e através de diversos meios de comunicação de alcance nacional. São muitas as alterações propostas, além daquelas contidas no Substitutivo PL 1876/99, de autoria do Deputado Federal Aldo Rebelo.

As propostas mais significativas de alterações no Código Florestal se referem à alte-ração da largura da faixa de APP de cursos de água com até 5m, para 15m de largura, à flexibi-lização da Reserva Legal, podendo ser compensada fora da microbacia, do bioma ou do estado, serem somadas áreas de diversas propriedades em uma grande Reserva Legal, considerar a APP como parte da Reserva Legal, a não recuperação de Áreas de Preservação Permanentes usadas há 10 anos, incluindo encostas de 25o a mais de 45 o, a desconsideração de topos de morros, montes, montanhas e serras como Áreas de Preservação Permanente, a continuidade de uso de várzeas utilizadas há mais de 10 anos, a desobrigação de manutenção de Reserva Legal em pe-quenas propriedades ou posses rurais, a substituição da figura de Reserva Legal, constituindo-se Reservas Ambientais, manterem-se Áreas de Preservação Permanente sob uso, reconhecimento do uso consolidado até agosto de 2001, proposta de Regularização Ambiental (perdão) para propriedades que suprimiram a vegetação antes de 22 de julho de 2008.

São aqui avaliadas as conseqüências de algumas dessas propostas:– redução das faixas de APP para cursos de água com largura inferior a 5m

para 15m de larguraA maioria das drenagens ocorre através de cursos de água de pequeno porte,

salientando-se aquelas próximas às cabeceiras. As faixas marginais de vegetação, principal-mente florestal, dependendo das características do entorno, situam-se em matrizes agrícolas, portanto em ambientes antagônicos ao da vegetação que está sendo preservada, constituindo efeitos de borda que alteram a sua dinâmica funcional, principalmente pela entrada de luz, por alterações no microclima, seja pela oscilação na temperatura ou alteração da umidade relativa, e por invasões biológicas, com conseqüências diversas. As faixas estreitas de vegetação po-dem não ser suficientes para o exercício da função de atenuar processos erosivos e de conter resíduos diversos que podem ser integrados às drenagens, como lixo ou resíduos químicos.

– incorporação das APPs como Reservas LegaisOs ambientes nas margens de cursos de água e ao redor de nascentes são em

geral mais úmidos e mais férteis que aqueles em seu entorno, contendo tipos de vegetação distintos daqueles que se mantêm nas reservas legais. Além de poderem se distinguir por sua composição em espécies e estrutura, suas espécies de plantas podem apresentar períodos de floração, de frutificação e de queda de folhas assincrônicos com os de espécies do tipo de vegetação predominante na região. Pode-se exemplificar com o que ocorre no cerrado, onde

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as florestas-galeria são alternativas de abrigo, alimentação e nidificação de várias espécies no período de seca.

As características do relevo determinam a influência do curso de água sobre as suas margens, permitindo o estabelecimento desde a vegetação predominante na região, quan-do o rio é encaixado e a influência das águas é muito pequena, até a indução ao estabelecimen-to de tipos de vegetação distintos, como as florestas de várzea, sobre solo encharcado tempo-rariamente, ou paludosas, em solos encharcados permanentemente, ampliando a diversidade biológica da paisagem.

Haverá também diminuição de área a ser conservada na maioria das propriedades, já que muitas delas poderão solicitar a soma da área de APP para compor a Reserva Legal, o que será amplificado pela redução da faixa de APP para drenagens com largura inferior a 5m.

– possibilidade de estabelecer Reservas Legais fora da propriedade, da bacia e do bioma

Esta situação poderá levar a que grandes extensões de área não possuam trechos de vegetação conservados, diminuindo a funcionalidade ecossistêmica das bacias e das paisa-gens. A proposta agrava a situação quando indica que podem ser transferidas Reservas Legais para outras bacias e biomas. Uma das possibilidades é o estabelecimento do que é chamado de Servidão Ambiental, que significa que um proprietário destina área com vegetação em sua propriedade, que deve exceder as suas áreas de Reserva Legal e não pode ser em Áreas de Preservação Permanente, para exercício de funções de Reserva Legal por outros proprietários, em geral mediante remuneração. Neste caso, devem ser áreas próximas.

– transferência ao proprietário do direito de escolher a área de Reserva LegalA Reserva Legal é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse

rural, cujo objetivo é a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos, conservação da biodiversidade e o abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Hoje os proprietários têm que reservar uma parte da vegetação natural em sua propriedade para que os ecossistemas sejam protegidos. Esse direito de indicação da localização da Reserva Legal já existe, mas deve ser aprovada por órgão ambiental ou outras instituições habilitadas. Com a decisão exclusiva do proprietário é aberta a possibilidade de que áreas com maior interesse à conservação não sejam as indicadas.

– retirada dos topos de morros, montes, montanhas e serras das APPs, in-cluindo as áreas acima de 1800m.

Os topos de morros e as montanhas são ambientes frágeis, conforme definidos pela Resolução Conama 3003/02, que ressalta as suas fragilidades. Saliente-se a importância da cobertura da vegetação na atenuação do impacto direto das chuvas e na diminuição do escoamento superficial de águas, principalmente se associarmos essas características com a previsão de chuvas cada vez mais fortes em diversas regiões do país, incluindo o Sudeste e as declividades dos morros e montanhas. As áreas acima de 1800m de altitude no Brasil são de exceção, sujeitas a climas distintos daqueles da base das montanhas e, por isto, contendo tipos de vegetação diferenciados, muitas delas campos naturais.

– proposta de Regularização Ambiental para supressão da vegetação de APPs ou Resevas Legais antes de 22/07/2008.

A isenção de ações para proprietários desde 22 de julho de 2008 favorecerá, em grande número, médios e grandes proprietários e projetos de assentamento rural mal conduzi-dos pelo próprio governo. 2008 está muito próximo para que seja alegado que o desmatamen-to ocorreu por desconhecimento da legislação e o prazo deveria ser, ao menos, anterior em dez anos. Há uma agravante que é o hábito de diversos de nossos governos atenuarem situações ilegais, como invasões de terras, por pequenos e/ou grandes proprietários, adiarem ou perdo-arem dívidas tributárias, ou de empréstimo agrícolas, entre outras situações, criando cidadãos de, ao menos, duas categorias: os que cumprem a legislação e os que estão acima dela.

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Não estão sendo considerados diversos fatores relevantes no processo, como o papel social que as pequenas propriedades ou aquelas de até quatro módulos têm, ou que nos últimos 10 anos houve uma imensa evolução no desmatamento, principalmente no Centro--Oeste e Norte, impulsionado pela pecuária e pelas culturas de soja e de cana-de-açúcar, es-timuladas pelos seus preços internacionais. Para diversos juristas, a proposta de alteração do Código fere a Constituição, anistia desmatadores ilegais, estimula o desmatamento e contraria acordos internacionais feitos pelo Brasil.

Deveria haver tratamentos diferenciados para as situações diversas, incluindo o papel que municípios, estados e união têm na Conservação das Áreas, conforme a determina-ção do Código Florestal vigente. Aproximadamente 90% das propriedades no Brasil têm até quatro módulos rurais, que variam de 5 a 100ha, conforme a região e, portanto, são pequenas propriedades. Entretanto, essas propriedades somam, no máximo, cerca de 25% do total de área em que há prática agrícola, com impactos menores que aqueles causados pelas médias e grandes propriedades.

ConSIdeRAçõeS FInAIS

Nosso modelo econômico é o de concentração do lucro na exploração dos re-cursos naturais e de socialização dos prejuízos, quando há a degradação ambiental que resta a toda sociedade. Há problemas de diversas ordens que precisam ser avaliados, incluindo adequações do Código Florestal, o que não é discutido dentro de Políticas Ambientais mais amplas. Há desconhecimento da maioria de nossos agricultores de práticas mínimas de con-servação de recursos naturais, seja do solo ou da água, que em grande parte são exercidas pelos serviços ambientais da vegetação natural, que são influenciados pelas características do relevo.

Em nosso modelo de crescimento econômico há poucas ações que pensam em desenvolvimento no seu sentido mais amplo, considerando ações ao bem estar de toda socie-dade quanto à saúde, educação e, mesmo, ambiental, esta última diretamente relacionada à qualidade de vida, na atenuação de catástrofes naturais, no abastecimento de água, na saúde da população, no tamponamento das mudanças climáticas ou na qualidade do ar.

É necessário que haja uma discussão mais ampla, que insira o problema dentro de um contexto de Políticas Públicas e seja assimilado por toda a sociedade. Nossa sociedade não construiu, ainda, o exercício pleno de cidadania e poucas pessoas, a maioria vivendo em cidades, consegue entender por que deve ser conservada a diversidade biológica.

Os representantes na Câmara de Deputados e no Senado que se sensibilizam pelas questões ambientais são em número muito pequeno e nem sempre são qualificados. Soma-se a isso o fato de que tivemos políticas agrícolas desastrosas à conservação de recursos naturais ao longo do tempo, como o projeto pró-várzea, ou o estímulo à cafeicultura e outras culturas agrícolas atuais, como ocorre com a soja e a cana-de-açúcar, além de projetos hidrelétricos e de sistemas de transporte com pouca preocupação ambiental. O Brasil não tem claramente estabelecidos projetos agrícolas ou ambientais de médio ou longo prazos, independentes do governo de plantão. Faltam-nos políticas, como demonstram nossos limites de infra-estrutura, ou projetos para o futuro. Somos uma sociedade imediatista e corremos atrás de atender de-mandas mundiais da atualidade, mais até que demandas nacionais, para uma sociedade em construção.

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TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

ÁREA 1 - MÉTODOS E TÉCNICAS ALTERNATIVAS PARA A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

ChuvA de SeMenteS e dePoSIção de SeRAPILheIRA CoMo IndICAdoReS de ReStAuRAção eM áReAS eM ModeLo de PLAntIo AdenSAdo

Piña-Rodigues, Fatima C.M.1, Araujo, Roberto Simões de2

1. Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, Curso de Engenharia Florestal, Sorocaba,

SP, Brasil; 2. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de Pós Graduação Ciências Ambientais e Florestais,

Seropédica, RJ. Brasil;[email protected]

Resumo: Os modelos de restauração em geral visam simular as condições intermediárias do processo sucessional, com o uso de maior número de espécies pioneiras e espaçamentos largos. Os modelos testados nesta pesquisa buscam simular as florestas em fase avançada do processo suces-sional, caracterizando-se pelo uso de alta densidade de plantas, maior proporcionalidade de espécies tardias e zoocóricas. As áreas de pesquisa situam-se na região de Silva Jardim, RJ e foram comparadas com uma mata secundária. Foram testados três diferentes espaçamentos: (a) adensado (0,5 x 0,5 m), (b) semi-adensado (1 x 1 m); (c) tradicional (2 x 2 m) aos 5 anos pós-plantio. Nestas áreas foram insta-lados coletores (n= 48; 0,25 m²) e amostrados ao longo de 12 meses. Apesar das distintas densidade de plantas, não houve diferença significativa de aporte de serapilheira entre os modelos (9,6 Mg/ha; 10,4 Mg/ha; 10,0 Mg/ha) porém foram diferentes da área de floresta secundária (12,2 Mg/ha). A chuva de sementes apresentou valores superiores aos encontrados em outros estudos com 794,7 ind.m² (adensa-do), 5688,67 ind.m² (semi-adensado), 11470 ind.m² (tradicional) e 11870 ind.m² na mata. Apenas 17% das espécies plantadas foram encontradas na chuva de semente com predomínio de espécies invasoras nas áreas mais abertas. O modelo adensado foi o que apresentou maior taxa de imigrantes zoocóricos. A deposição de serapilheira não se mostrou um indicador sensível às diferenças de densidade entre as áreas. Já a chuva de sementes foi considerada um bom indicador, pois se mostrou importante ferramen-ta para avaliação da resiliência das áreas estudadas.

Palavras-chave: ecologia aplicada, sucessão florestal, ecologia da restauração

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IdentIFICAção de eSPéCIeS exótICAS e InvASoRAS dA ReSeRvA PARtICuLAR do PAtRIMônIo nAtuRAL (RPPn) do PARque FLoReStAL São MARCeLo, MoGI GuAçu, SP, BRASIL

Shirasuna, R.T.1 ; Barbosa, L.M.2 ; Colmanetti, M.3 ; Ortiz, P.R.T4 & Filgueiras, T.S.5

1.Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente e Assistente do Instituto de Botânica de São Paulo, C.P. 68041, CEP: 04045-972, São Paulo, SP, Brasil; 2. Pesquisador Científico VI do Instituto de Botânica de São Paulo; 3. Pós-graduação do Instituto de Botânica

de São Paulo; 4. Assistente de Pesquisa do Instituto de Botânica de São Paulo; 5. Prof. Dr. Pesquisador visitante do Instituto de Botânica; [email protected]

Resumo: A restauração realizada com alta diversidade específica e genética de espécies nativas tem conferido maiores chances de sucesso ao equilíbrio dinâmico dos novos ecossistemas. Contudo, o sucesso destes reflorestamentos não se baseia somente nos elementos que formarão essa comunidade. A introdução de espécies exóticas sem controle compromete tanto áreas em restauração quanto as unidades de conservação e fragmentos naturais existentes nas imediações. Elas tornam-se altamente prejudiciais dificultando a regeneração/implantação das espécies autóctones e alóctones. O

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resultado é a perda da biodiversidade local. O objetivo deste trabalho foi identificar as espécies arbó-reas, arbustivas e subarbustivas exóticas, invasoras em uma área de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Para tanto, foi realizado o levantamento florístico em 20 parcelas, ca. 0,45 ha do total de 240 ha, na RPPN do Parque São Marcelo em Mogi Guaçu, SP. Foram detectadas três espé-cies exóticas altamente invasoras: Leucaena leucocephala (Lam.)de Wit. (leucena, América Central), Melia azedarach L. (cinamomo, Ásia) e Tecoma stans (L.)Juss. ex Kunth (ipê-de-jardim, Américas exceto Brasil). O ipê-de-jardim está completamente disseminado pelo parque enquanto que a leucena e o cinamomo concentram-se às margens da RPPN. Foram encontradas outras 17 espécies exóticas, menos agressivas: Araucaria columnaris (Forst.)Hook. (Nova Caledônia), Artocarpus heterophyllus Lam. (Índia), Averrhoa carambora L. (Indonésia e Malásia), Casuarina equisetifolia J.R. & G.Forst. (Austrália), Citrus reticulata Blanco (China e Índia), Coffea arabica L. (África), Dillenia indica L. (Ín-dia), Dombeya wallichii (Lindl.)K.Schum. (Madagascar), Dracaena fragrans (L.)Ker-Gawl. (Guiné), Dypsis lutescens (H.Wendl.)Beentje & J.Dransf. (Madagascar), Eriobothrya japonica (Thunb.)Lindl.(Ásia), Hibiscus rosa-sinensis L. (Ásia Tropical), Mangifera indica L. (Ásia), Murraya paniculata (L.)Jack. (Ásia), Nopalea cochenillifera (L.)Salm-Dyck (México), Ricinus communis L. (África) e Spa-thodea campanulata P.Beauv. (África). Mimosa caesalpiniifolia Benth. (sansão-do-campo), embora nativa do nordeste brasileiro (MA, PE, PI), comporta-se como invasora neste local. Propõe-se o manejo dessas espécies através da localização e retirada de indivíduos adultos e plântulas. Sugere-se ainda o acompanhamento da dinâmica da restauração ambiental através de visitas regulares.

Palavras-chave: plantas invasoras, espécies agressivas, reflorestamento

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GRAMíneAS (PoACeAe) nAtIvAS PARA ReStAuRAção de áReAS deGRAdAdAS

Shirasuna, R.T.1 & Filgueiras, T.S.2

1.Pós-graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente do Instituto de Botânica de São Paulo, C.P. 68041, CEP:

04045-972, São Paulo, SP, Brasil. 2. Prof. Dr. Visitante do Instituto de Botânica de São Paulo [email protected]

Resumo: A utilização de gramíneas (Poaceae) nativas para restauração de áreas de-gradadas tem sido um tema bastante discutido devido ao potencial de aplicação imediata dessas plantas. Pelo grande número de espécies (c. 1.401 spp.) no Brasil são candidatas naturais para uso nesses empreendimentos. No entanto, há uma grande dificuldade na escolha das espécies adequa-das para cada região brasileira. O estrato herbáceo/subarbustivo é um componente importante na restauração ecológica. Casos frequentes de invasões por gramíneas exóticas como braquiárias, campim-colonião e capim-gordura impedem a regeneração autóctone e alóctone da flora nativa herbácea. O presente trabalho tem como objetivo indicar algumas espécies de gramíneas nativas para recompor a vegetação herbáceo/subarbustiva das áreas em restauração de Mata Atlântica no Estado de São Paulo, com o intuito de implantar espécies nativas e controlar as exóticas que impedem a regeneração natural. Com base em observações de campo realizadas em várias locali-dades são indicadas aqui 18 espécies e seu respectivo modo de plantio: Ichnanthus pallens (Sw.) Munro ex Benth. (estolão), I. tenuis (J. Presl.) Hitchc. & Chase (estolão), Oplismenus hirtellus (L.) P.Beauv. (estolão), Paspalum conjugatum Berg. (estolão e semente), herbáceas, rasteiras, es-toloníferas de locais sombreados da borda e interior de mata; Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm., Ichnanthus leiocarpus (Spreng.) Kunth. (semente), Panicum pilosum Sw. (semente), P. sellowii Nees (semente), Paspalum mandiocanum Trin (semente), Pseudoechinolaena polystachya (Kun-th) Stapf (semente e estolão), herbáceas estoloníferas de locais sombreados; Lasiacis divaricata (L.) Hitchc. (semente), L. ligulata Hitchc. & Chase (semente), ambas de porte subarbutivo e arbustivo de borda e interior de mata. Alguns bambus herbáceos e subarbustivos são indicados: Olyra glaberrima Raddi (semente), O. humilis Nees (semente), O. latifolia L. (semente) e Paro-diolyra micrantha (Kunth) Davidse & Zuloaga (semente) de sub-bosque. Duas gramíneas basais são também indicadas: Pharus lappulaceus Aubl. (semente) e Streptochaeta spicata Schrad. ex Nees (muda), ambas com grande potencial ornamental. Espera-se que a disseminação destas es-pécies nativas adaptadas ao estrato herbáceo/subarbustivo possa impedir o estabelecimento de espécies exóticas invasoras prejudiciais ao equilíbrio dinâmico da área a ser restaurada.

Palavras-chave: flora herbácea, plantas nativas, plantas exóticas, plantas ornamentais.

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eStudo do deSenvoLvIMento de SeIS eSPéCIeS FLoReStAIS dA BACIA do RIo PARdo, eM PRojeto de RAd CoM e SeM ConSóRCIo AGRo FLoReStAL, no MunICíPIo de RIBeIRão PReto-SP

Coelho, Natália Helena Pesso1, Oliveira, Cleide de2, Varanda, Elenice Mouro3

1. Graduada em Ciências biológicas USP-RP, 2. Engª Agrª Msc. Fundação Florestal, 3. Docente USP-RP,

FFCLRP, Departamento de Biologia. [email protected]

Resumo: A tendência atual da recuperação de áreas degradadas é a de restaurar processos ecológicos com o uso de várias estratégias definidas de acordo com as características e especificidades do local a ser restaurado. Alguns parâmetros como altura total (h) e diâmetro da base (DB) podem ser considerados para acompanhar esse processo. A Resolução SMA 08 de 2008 permite a utilização de consórcio agroflorestal como prática de manejo durante três anos. O projeto visou acompanhar h e DB, em 1 ha de APP ciliar em Ribeirão Preto, de seis espécies florestais nativas divididas em dois gru-pos ecológicos, pioneiras (Croton urucurana Baill., Guazuma ulmifolia Lam. e Trema micrantha (L.) Blum.) e não-pioneiras (Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl., Cedrela fissilis Vell. e Hymenaea courbaril var. stilbocarpa (Hayne) Y.T. Lee & Langenh.) em uma área com e sem cultura intercalar de feijão de porco (Canavalia ensiformes (L.) DC). Para o acompanhamento dos parâmetros escolhidos, de cada espécie citada, foram acompanhados 10 indivíduos na área sem o plantio intercalar e 20 na área com plantio intercalar. Além disso, foram acompanhados todos os custos relacionados ao projeto com a participação do produtor rural envolvido durante três anos. As medidas foram feitas trimestral-mente, durante 12 meses, a h foi obtida com o auxílio de mira topográfica e DB com paquímetro. No decorrer do trabalho houve 48,33% de mortalidade das espécies, com destaque para T. micrantha, que foi excluída da análise. O motivo dessa mortalidade pode estar relacionado ao sombreamento da área. As espécies pioneiras tiveram desempenho maior que as não pioneiras em ambos os parâmetros. Não houve diferença significativa entre DB e h nas áreas com ou sem feijão de porco, indicando que, pelo menos no primeiro ano de desenvolvimento, esta cultura intercalar pode ser utilizada com as espécies florestais. Os custos da recuperação com a cultura intercalar apresentaram 31% de redução em relação às estimativas de 533,69 UFESP sem o cultivo, podendo representar uma alternativa de redução de custos e facilitadora da recuperação. No caso estudado, esse tipo de manejo foi possível somente por dois anos e não três como aponta a citada Resolução, devido à presença de braquiária enleirada nas entrelinhas durante o primeiro ano. Dessa forma, em uma área que permita a limpeza total do terreno e a aplicação da técnica por três anos, a redução de custos poderá ser ainda maior.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas, APP ciliar, redução dos custos de RAD, manejo de RAD, Resolução SMA 08 de 2008.

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CARACteRIzAção FItoSSoCIoLóGICA de uM FRAGMento dA FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoMo eStRAtéGIA de ReStAuRAção eCoLóGICA

Felker, Roselene Marostega¹, Rovedder, Ana Paula Moreira¹, Nunes, Jeremias Damian¹ e Pisatto, Marina¹

1.Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Engenharia Florestal,

Santa Maria, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: A Floresta Estacional Decidual possui como característica principal a perda das folhas por mais de 50% dos indivíduos do estrato superior no inverno. Abrange grandes altitudes e baixas temperaturas, ocorrendo na porção noroeste e central do Rio Grande do Sul, sendo considerada uma das tipologias mais ameaçadas do Bioma Mata Atlântica. Nesse contexto, está em desenvolvi-mento pesquisa com técnicas de restauração ecológica dessa formação florestal na região Central do RS. Na primeira etapa da pesquisa, realizou-se levantamento florístico e fitossociológico de fragmento florestal, para conhecimento da estrutura populacional. Com relação à metodologia de trabalho foram implantadas oito parcelas com dimensões de 10 x 10 m, na unidade de conservação Parque Estadual Quarta Colônia. Realizou-se inventário florístico em todos os indivíduos com mais de 14,9 cm de circunferência à altura do peito (CAP). Observaram-se 20 espécies, distribuídas em 16 famílias cons-tituindo o estrato arbóreo. Foram amostrados 218 indivíduos de diferentes espécies, resultando na

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área basal total de 20, 67 m²/ha. A espécie Escallonia bifida Link & Otto, foi a mais frequente com freqüência absoluta (FA) de 75%, com um total de 90 indivíduos. Também com freqüência alta apa-recem Sapium glandulosum (L.) Morong e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman, presentes em 62,5% das parcelas. O cálculo da densidade absoluta (DA) apontou aproximadamente 2.725 árvores/ha na área de estudo, sendo a Escallonia bifida Link & Otto, a espécie com maior densidade, apre-sentando 1.125 árvores/ha, seguida do Sapium glandulosum (L.) Morong com 262,5 árvores/ha. Com relação à dominância absoluta (DoA) que mensura a taxa de ocupação do ambiente pelos indivíduos de determinada espécie, tem-se novamente Escallonia bifida Link & Otto com o valor de 104,45 e Matayba elaeagnoides Radlk com 60,37. O índice de valor de importância aponta Escallonia bifida Link & Otto, Matayba elaeagnoides Radlk e Sapium glandulosum (L.) Morong como as espécies com maior representatividade, obtendo maior sucesso em explorar os recursos de seu habitat. A partir deste levantamento florístico, pode-se concluir que a predominância da espécie Escallonia bifida Link & Otto, indica que a área se encontra em estágio de sucessão inicial e que esta poderá vir a ser sugerida como espécie a ser utilizada em estratégias de restauração da Floresta Estacional Decidual na região do estudo. (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Palavras-chave: levantamento florístico; unidade de conservação; Escallonia bifida Link & Otto; sucessão inicial.

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IMPoRtânCIA dA AvALIAção do BAnCo de PLântuLAS PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA eM FRAGMentoS de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL

Zanatta, Paula1; Conte, Bruno¹; Passaia, Daniela B.¹; Lyrio, Morgana¹; Dupont, Renan S. ¹; Marco, Rudinei de¹

1.Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Florestal,

Frederico Westphalen, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: Os fragmentos florestais são resultado da antropização na maioria dos ambientes e, como conseqüência tem-se o efeito de borda, que dependendo da área e formato do fragmento pode ser mais acentuado ou não. Dessa forma, este estudo teve por objetivo avaliar o banco de plântulas de três fragmentos de Floresta Estacional Decidual em Frederico Wes-tphalen, RS, servindo de subsídio para definir estratégias que visem à restauração ecológica de áreas alteradas. Em todos os fragmentos foram instaladas aleatoriamente 12 parcelas de 2 x 2 m, denominadas a princípio como borda e interior (50 m). Os fragmentos possuem área de 4,6 ha, 14,6 ha e 34 ha, sendo o de tamanho intermediário o mais alongado e o maior com formato mais próximo do oval. Todos os indivíduos entre 1 e 100 cm de altura foram contabilizados no banco de plântulas, desconsiderando palmeiras, lianas e herbáceas. Encontraram-se 1.013 indivíduos de 44 espécies e pertencentes a 17 famílias botânicas. As famílias que mais se destacaram no banco de plântulas, considerando os três fragmentos, foram: Fabaceae, Meliaceae, Myrtaceae e Sapindaceae. As espécies de maior densidade nas bordas foram Sorocea bonplandii (Baill.) e Pilocarpus pennatifolius (Lem.); e no interior foram Gymnanthes concolor (Spreng.) e Sorocea bonplandii (Baill.). Quanto a freqüência, as espécies Trichilia claussenii (C.DC.), Gymnanthes concolor (Spreng.), Sorocea bonplandii (Baill.), Pilocarpus pennatifolius (Lem.), Machaerium paraguariense (Hassl.) e Inga marginata (Willd.) tiveram ênfase tanto no interior quanto na borda dos fragmentos estudados. O índice de Shanonn, ou seja, a diversidade da área foi de 2,71 para borda e 2,19 para o interior e equabilidade de Pielou foi de 0,75 e 0,63, respectivamente, mostrando assim a pequena diferença que há entre as variáveis. No geral, as espécies que ocor-reram na borda, ocorreram no considerado interior, além de que as espécies com mais ênfase no interior, também se evidenciaram na borda. Ressalta-se ainda, que espécies estabelecidas no estrato superior tiveram pouca representação no banco de plântulas, demonstrando uma insufi-ciência para manter ou melhorar as condições da vegetação ou até mesmo acarretar perda gené-tica ao longo do tempo nesta floresta. Portanto, com o exposto, conclui-se que a 50 m da borda não se considera interior nestes tamanhos de fragmentos, pois o banco de plântulas da Floresta Estacional Decidual avaliada não apresentou diferença entre a borda e o considerado interior.

Palavras - chave: floresta estacional decidual; banco de plântulas; interior; borda.

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InovAçõeS eM ReCuPeRAção de áReAS deGRAdAdAS de MIneRAção de AGReGAdoS: téCnICAS de BIoenGenhARIA de SoLoS e AvALIAção de SeRvIçoS AMBIentAIS

Solera, Maria Lucia1; Gallardo, Amarilis Lucia Casteli Figueiredo1; Romagnano, Ligia Ferrari Torella di1; Souza, Caroline Almeida1; Longo, Mariana H. C.1; Campos,

Sofia Júlia A. M.1; Braga, Tania de Oliveira11.Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, SP,

Brasil. [email protected]

Resumo: Durante todo o ciclo de vida de uma mineração, as atividades desenvolvidas para extração e beneficiamento do minério requerem supressão da vegetação e remoção do capea-mento do solo resultando na exposição de terrenos e formação de cavas que podem alcançar dimen-sões expressivas. Essas atividades alteram processos do meio físico (erosão, assoreamento, escoa-mento das águas superficiais, circulação das águas subterrâneas), modificam os processos biológicos (perda e fragmentação de habitats, alteração nos ecossistemas) e interferem nas relações socioam-bientais do entorno. Embora prevista no licenciamento ambiental, a recuperação da área degradada pela mineração nem sempre é realizada de maneira a atenuar a significância dos impactos causados e gerar um ganho ambiental representativo para a área e adjacências. Sob a ótica do desenvolvi-mento sustentável, considera-se que a recuperação dessas áreas pode ser aprimorada pela aplicação de técnicas diferenciadas (bioengenharia de solos), que extrapolam o uso das convencionais e pela geração de serviços ambientais. Desse modo, propõe-se uma abordagem inédita para a recuperação de áreas degradadas pela mineração de agregados, baseada em técnicas de bioengenharia de solos e avaliação dos serviços ambientais decorrentes. As técnicas de bioengenharia de solos apresentam re-sultados positivos quanto aos aspectos ecológicos, econômicos e paisagísticos em alguns contextos de degradação (por exemplo, ambientes fluviais deteriorados pela ocupação urbana), entretanto não há resultados de pesquisa consistente e suportada por estudos detalhados em áreas mineradas. Para disseminar tecnologia inovadora neste segmento, pretende-se desenvolver um modelo apoiado em experimentos de campo, sistemáticos e de longa duração, em duas áreas de mineração de agregados no estado de São Paulo. Espera-se que o modelo proposto permita ampliar a utilização das técnicas de bioengenharia de solos frente às técnicas usuais. Pretende-se ainda contribuir para a internali-zação da abordagem dos serviços ecossistêmicos na cadeia da mineração, bem como avançar no conhecimento sobre serviços ambientais e métodos para sua quantificação e valoração, no contexto de recuperação de áreas degradadas por mineração com técnicas de bioengenharia de solos. Essa pesquisa possibilitará agregar maior valor à etapa de recuperação de áreas degradadas e mostrar comprometimento do setor com o meio ambiente e a população afetada (Fapesp/Vale).

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; bioengenharia de solos; serviços ambientais; mineração de agregados; impactos ambientais

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SeMeAduRA dIRetA de FABáCeAS ARBóReAS eM uMA PAStAGeM tRoPICAL: A SuPeRAção dA doRMênCIA de SeMenteS é uMA BoA eStRAtéGIA?

Pereira, Silvia Rahe1, Souza, Andréa Lúcia Teixeira2, Laura, Valdemir Antônio3, Pires, Ana Carolina Vieira4

1. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos;

2. Departamento de Hibrobiologia, CCBS, Universidade Federal de São Carlos; 3. Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária, Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte; 4. Departamento de Biologia, CCBS, Universidade Federal

de Mato Grosso do Sul. [email protected]

Resumo: O sucesso da utilização da semeadura direta para a recuperação de áreas degradadas depende, entre outros fatores, da escolha das espécies tolerantes a este tipo de ambiente. As fabáceas são bastante utilizadas em projetos de recuperação de áreas de pasto abandonados, mas grande parte das espécies apresenta sementes dormentes. Para que haja uma rápida taxa de reco-brimento de solo é necessária que a dormência seja superada. Contudo, esse procedimento poderia resultar em uma redução do número de indivíduos sobreviventes, uma vez que a dormência garan-

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tiria que a germinação ocorresse somente quando as condições para o estabelecimento de plântulas fossem adequadas. Este estudo avaliou, através de um experimento fatorial (6´2) em blocos (sítios) conduzido por dois anos, se a superação da dormência poderia ser eficiente para reduzir tempo de germinação e influenciar o recrutamento de seis espécies de fabáceas arbóreas reintroduzidas numa área de pasto na região de Cerrado. A área experimental da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS era dominada por Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf. cv. Marandu. As espécies usadas no experimento e os tratamentos para superação da dormência foram: Mimosa ca-esalpiniifolia Benth. e Copaifera langsdorffii Desf. (escarificação química), Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. (imersão em água quente), Pterogyne nitens Tul. (punção do tegumento), Dimor-phandra mollis Benth. e Hymenaea stigonocarpa Mart. (escarificação mecânica). Em cada sítio foram adicionadas 100 sementes por espécie, sendo metade com superação de dormência e metade sem superação, totalizando 2400 sementes nos quatro sítios. Com exceção de P. dubium, o tratamen-to de superação de dormência reduziu o tempo de emergência no campo de todas as espécies. Após dois anos, a superação de dormência aumentou o recrutamento de H. stigonocarpa e, em D. mollis, apresentou um valor marginal com uma forte tendência também a um aumento no recrutamento. Nas demais espécies o procedimento de superação de dormência não influenciou o recrutamento. Este estudo mostrou que o tratamento prévio de superação de dormência reduziu o tempo de emergência em cinco das seis espécies de fabáceas e aumentou o recrutamento de pelo menos duas das espécies, sugerindo que este procedimento pode ser uma estratégia eficiente em projetos de recuperação de áreas florestais de cerrado degradadas. No entanto, estudos envolvendo um maior número de espé-cies devem ser conduzidos para avaliar esta hipótese. (FUNDECT, CAPES)

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; tempo de germinação; recrutamento.

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ReGeneRAção nAtuRAL SoB PoLeIRoS ARtIFICIAIS

Tomazi, Aline Luiza 1,2, Zimmermann, Carlos Eduardo 1,3 , Laps, Rudi Ricardo 1,4

1. Laboratório de Ecologia e Ornitologia, Instituto de Pesquisas Ambientais,

Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC, Brasil; 2. Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil; 3. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da

Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil; 4. Laboratório de Ecologia, Universidade Federal de Mato Grosso

do Sul, Campo Grande, MS, Brasil. [email protected]

Resumo: Os ambientes naturais têm sido destruídos pela crescente pressão antrópica. Assim a restauração é uma necessidade nesses ambientes. A restauração tem sido promovida por meio de várias técnicas, incluindo o uso de poleiros artificiais. Os poleiros artificiais são apontados como técnica de baixo custo de implantação capaz de atrair a avifauna dispersora. Poleiros artificiais foram pouco estudados em áreas tropicais, principalmente em pesquisas de médio a longo prazos e com o intuito de avaliar o estabelecimento das sementes dispersas sob suas estruturas. Neste estudo caracterizamos a chuva de sementes e a regeneração natural sob poleiros artificiais durante dois anos e avaliamos esta técnica para a restauração de um ambiente ripário na Mata Atlântica. Este trabalho foi desenvolvido em Gaspar, SC, Brasil, em uma área de pastagem na margem do rio Itajaí-Açu. A área foi isolada e nela foram instalados 18 poleiros artificiais. A área foi monitorada de outubro de 2006 a outubro de 2008, por meio da coleta de sementes em coletores instalados sob seis dos dezoito poleiros artificiais (total de 4,22m2 de área amostral). O registro das espécies regenerantes foi obtido percorrendo-se toda a área de estudo. A chuva de sementes consistiu em 51 morfotipos distribuídos entre 21.864 diásporos. Destes diásporos, 17 morfotipos e 17% das sementes eram zoo-córicas, com a projeção de 438,74 sementes zoocóricas/m2/ano na área analisada. Foram registradas 42 espécies regenerantes. Destas espécies, apenas cinco também foram encontradas na chuva de sementes zoocóricas sob os poleiros artificiais (Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke, Alchornea glandulosa Poepp. & Endl, Cissus sp., Solanum americanum Mill. e Trema micrantha (L.) Blume). Assim, 70,59% dos morfotipos presentes na chuva de sementes zoocóricas sob os poleiros artificiais ainda não se estabeleceram na regeneração natural, possivelmente devido a fatores limitantes não avaliados neste estudo. Apesar disso, recomendamos o uso de poleiros artificiais para a restauração ecológica, pois, esta técnica se mostrou eficiente para incrementar a chuva de sementes no ambiente ripário analisado. Sugerimos a realização de pesquisas que objetivem avaliar as principais limitações

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para o estabelecimento das sementes dispersas sob os poleiros artificiais. (Programa de Educação Tutorial – PET/SESu/MEC e Bunge Alimentos S.A.)

Palavras-chave: restauração ecológica; avifauna; dispersão de sementes; regeneração da vegetação nativa.

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AvALIAção dAS SíndRoMeS de dISPeRSão de dIáSPoRoS eM FRAGMentoS de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoMo SuBSídIo PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA

Dick, Grasiele¹ e d’Avila, Márcia¹1.Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Florestal,

Frederico Westphalen, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: A chuva de sementes é um dos principais mecanismos que possibilita a rege-neração natural de um ambiente florestal degradado. Conhecer a dinâmica da dispersão dos diáspo-ros é importante para aperfeiçoar as estratégias de restauração ecológica, sendo que, os propágulos dispersados a maiores distâncias da planta mãe possuem maior probabilidade de sucesso no seu estabelecimento. Para atingirem e recolonizarem áreas degradadas, as sementes podem ser dispersas por anemocoria (quando apresentam estruturas aladas sendo transportadas pelo vento) e zoocoria (consumidas por animais). Já a autocoria ocorre através de mecanismos de explosão do fruto e queda por gravidade. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as síndromes de dispersão de diásporos em três fragmentos de Floresta Estacional Decidual, no município de Fre-derico Westphalen, RS. Os fragmentos possuem 4,6 ha, 14,6 ha e 34 ha de área. A amostragem dos propágulos foi realizada no período de agosto/2010 a julho/2011, obtidos com coletores fixos, de dimensões de 1m2 e 0,50m de altura do solo, com tela tipo sombrite de malha fina, distribuídos de forma aleatória. Foram instalados 16 coletores por fragmento, totalizando 48 coletores. As coletas foram realizadas mensalmente, onde o material foi levado ao Laboratório de Proteção Florestal para análise dos diásporos, classificando-os conforme sua síndrome de dispersão. Foi constatado que, no fragmento menor (4,6 ha) 54,4% dos diásporos apresentam síndrome zoocórica, 45,1% possuem dispersão anemocórica e 0,5% do tipo autocórica. O fragmento médio (14,6 ha) teve 74,4% dos diásporos classificados como zoocóricos, 25,3% como anemocóricos e 0,3% como autocóricos. Já no fragmento maior (34 ha), predominou a anemocoria, com 69,1% dos propágulos, 30,8% são zoocóricos e 0,1% autocóricos. Segundo diversos autores, a zoocoria predomina na grande maioria das formações florestais, sendo, portanto um parâmetro para determinar o grau de perturbação de um ambiente. A zoocoria predominou nos fragmentos menor e intermediário, demonstrando maior recuperação quando comparado ao fragmento maior. Este fato, provavelmente, seja em função, dos fragmentos menor e intermediário localizarem-se mais próximos um do outro, favorecendo o deslo-camento de animais dispersores. Já o fragmento maior apresentou o menor índice de zoocoria, indo contra o que se esperava, fato que pode ser explicado pelo grande número de clareiras existentes, provenientes de extração de madeira.

Palavras-chave: Chuva de sementes; regeneração natural; zoocoria.

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tendênCIAS MetodoLóGICAS de ReCuPeRAção AMBIentAL PARA MIneRAção de BAuxItA no PLAnALto de PoçoS de CALdAS, MG

Guimarães, João Carlos Costa1; Barros, Dalmo Arantes de1; Silva, Rossi Allan1; Pereira, José Aldo Alves1; Borges, Luís Antônio Coimbra1; Nascimento, Gleisson de Oliveira1

1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, DCF/UFLA,

Lavras, MG, Brasil. [email protected]

Resumo: A produção mineral compõe um montante significativo das divisas geradas no Brasil, responsável em 2008 por 11% do PIB e, deste total, a bauxita contribui com 13%. Em função das restrições legais, bem como da necessidade de alcançar os mercados externos por meio das certificações ambientais, muito se tem investido para potencializar a produção, minimizando a

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poluição e degradação ambiental. Atualmente a iniciativa privada tem investido sistematicamente na procura de tecnologias limpas de produção e na recuperação ambiental das jazidas após encerramen-to das atividades de lavra. O presente trabalho objetivou compilar informações sobre o tratamento aplicado às frentes de lavra de bauxita no Planalto de Poços de Caldas, região sul de Minas Gerais, durante seu descomissionamento. Foi verificada em diversas empresas mineradoras do planalto, a tendência multifacetada de substituição gradual das metodologias tradicionais de recuperação das áreas mineradas fundamentadas no preparo intensivo do solo, na introdução de gramíneas exóticas e de mudas de espécies arbóreas nativas e exóticas sem critérios ecológicos de seleção, pelas estra-tégias de restauração ambiental, baseadas nas técnicas de nucleação (transposição de serrapilheira, transposição de galharia, confecção de poleiros artificiais, semeadura de leguminosas, semeadura di-reta ou hidrosemeadura, plantio de mudas em ilhas de alta diversidade e chuva de sementes), resgate de plântulas e plantio de mudas em alta densidade. A adoção destas técnicas maximiza a resiliência e, portanto, uma maior similaridade com a área antes da intervenção, contribuindo para o restabe-lecimento das relações ecológicas naturais características de estágios iniciais de florestas tropicais. Outro ponto considerado na nucleação refere-se à diminuição dos custos de manutenção das áreas em recuperação pela eliminação do manejo e ao controle de espécies invasoras, fonte importante de perda local de biodiversidade, normalmente presentes nos coquetéis de gramíneas utilizados para a formação dos chamados “tapetes verdes” utilizados comumente nas metodologias convencionais de recuperação ambiental (FAPEMIG).

Palavras-chave: atividade minerária; restauração ambiental; nucleação

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MAnejo de háBItAtS CoMo FeRRAMentA PARA ReStAuRAção AMBIentAL: o exeMPLo dA RPPn MoRRo GRAnde, CALdAS - MG

Barros, Dalmo Arantes de1; Silva, Rossi Allan1; Guimarães, João Carlos Costa1; Pereira, José Aldo Alves1; Borges, Luís Antônio Coimbra1;

Pereira, Alexandre Augusto Spadoni1

1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, DCF/UFLA,

Lavras, MG, Brasil. [email protected]

Resumo: O manejo de hábitats para a fauna silvestre é uma das ações mais importantes e recomendadas para melhora das condições de sobrevivência de diversas espécies por meio da restau-ração das variáveis ecológicas do ambiente. Este trabalho objetivou descrever as principais ações do plano de manejo de hábitats da RPPN Morro Grande em Caldas, MG. A reserva é composta por um mosaico vegetacional, compreendendo florestas, campos e várzeas, dentro do domínio Mata Atlântica. A reserva localiza-se em Caldas-MG, possui 365 ha, entre as altitudes de 1200 e 1500m. Primeiramen-te foram caracterizados os nichos ecológicos existentes, visando embasar as tomadas de decisão para o manejo dos hábitats. Foram realizados plantios de enriquecimento em áreas florestais fragmentadas e matas ciliares, preferencialmente com espécies atrativas. Visando incrementar os processos repro-dutivos da fauna silvestre, foram instalados 40 ninhos artificiais para aves, que foram vistoriados no programa de monitoramento, definindo-se a necessidade de instalação de novos ninhos. Analisando a vegetação da reserva, contatou-se que grandes áreas de campos de altitude não ofereciam pontos de pouso elevado, dificultando as atividades de aves de rapina, deste modo foram instalados pontos artifi-ciais, por meio da confecção de duas unidades por ha, utilizando longas varas de eucalipto. Para a pre-venção contra incêndios, periodicamente todos os limites da unidade de conservação foram aceirados. Também foram feitas campanhas educativas orientando os moradores locais, quanto à importância da reserva e seus benefícios ambientais. A proteção contra a caça predatória é importante para a proteção da biodiversidade local, sendo destinado um funcionário para fiscalização da reserva, efetuando ron-das a cavalo. Apesar da necessidade de um maior período de monitoramento, pode-se afirmar que os resultados obtidos foram positivos no sentido da restauração ambiental dos ecossistemas degradados. O incremento vegetacional serviu de abrigo e fonte de alimento para a fauna, proporcionando também, a conectividade entre os fragmentos florestais; a instalação dos ninhos e pontos elevados permitiu a atração e permanência da avifauna; as práticas de proteção florestal foram efetivas no controle de incêndios florestais. O manejo de habitats como ferramenta para restauração ambiental proporcionou uma melhoria significativa na qualidade ambiental da reserva (FAPEMIG).

Palavras-chave: nichos ecológicos; fauna silvestre; unidade de conservação.

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GeoteCnoLoGIAS e CARACteRIzAção de eFeItoS de BoRdA eM áReA de PReSeRvAção PeRMAnente, RIo São LouRenço, CAMPo veRde - Mt

Pietro-Souza, William1; Silva, Normandes Matos da 1; Barbosa, Domingos Sávio1

1. Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Agrárias e Tecnológicas, Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Agrícola, Rondonópolis, Mato Grosso, Brasil, [email protected]

Resumo: O trabalho ocorreu em área de preservação permanente (APP), localizada na nascente do rio São Lourenço, um dos formadores do Pantanal Mato-Grossense. Houve a interação entre procedimentos de sensoriamento remoto e dados de campo (serapilheira e necromassa), que caracterizaram efeitos de borda, o que possibilita aperfeiçoar planos de recuperação de áreas degra-dadas (PRADs) em Mato Grosso. Para contextualizar o histórico do uso das terras e a diferenciação das unidades de estudo, ocorreu a inspeção visual de imagens de satélite: Landsat MSS (1972, pixel de 80m); Landsat TM (1986, pixel de 30m); CBERS 2 CCD (2007, pixel de 20m); SPOT (2009, pixel de 2,5m) e fotos aéreas derivadas de veículos aéreos não-tripulados – VANTs (2011, pixel de 10cm), que compuseram um banco de dados georreferenciado. Os dados de campo foram georrefe-renciados, a partir de receptor GPS, onde a serapilheira foi amostrada em quatro pontos, abrangendo uma área denominada de unidade demonstrativa de restauração ecológica (UDRE) e outra denomi-nada mata ciliar, que foi subdividida em: borda esquerda do fragmento (BEF), interior do fragmento (IF) e borda direita do fragmento (BDF). Para a amostragem da necromassa, foram determinados três pontos dentro da mata ciliar e, em cada ponto, foi amostrada uma área de 10m2. Foram amostra-das 993 peças de necromassa. O IF destacou-se pelos maiores valores (498 unidades) e a BDF pelos menores valores (153 unidades). A produção total de serapilheira foi de 2189,64 g.m-2. A BDF apre-sentou o maior valor 791,21 g.m-2, já para UDRE observou-se o menor valor (86 g.m-2). Com relação à composição da serapilheira, 66% estiveram representados por folhas seguidas por galhos (26%), casca (6%) e outros materiais (2%). A partir das imagens utilizadas, foi possível constatar que a área de estudo já apresentava sinais de alteração antrópica desde 1972. Considerando o critério resolu-ção espacial, apenas as fotos aéreas produzidas por VANTs permitiram diferenciar, com clareza, a mata ciliar da unidade demonstrativa de restauração ecológica, numa escala inferior a 1:1000. Isso se deu, em decorrência da altíssima resolução espacial dessas fotos. Os dados obtidos auxiliarão na indicação de técnicas mais eficientes para PRADs, principalmente por envolver o uso de fotos aéreas de altíssima resolução espacial e por considerar objetivamente os impactos provocados pelos efeitos de borda. (Apoio Financeiro: Fapemat e CNPq; Agradecimentos: AGX® e ICMC-USP São Carlos).

Palavras-chave: VANTs; efeitos de borda, áreas de preservação permanente

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FLuoReSCênCIA de IMAGeM dA CLoRoFILA a CoMo FeRRAMentA nA CARAteRIzAção doS GRuPoS SuCeSSIonAIS

dos Anjos, Letícia1*; Kuki, Kacilda Naomi1; Oliva, Marco Antônio1

1. Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa. [email protected]

Resumo: Os grupos sucessionais têm sido o ponto focal na construção de modelos de asso-ciação de espécies na restauração ecológica. Entretanto, existe uma falta de unificação e pragmatismo nos sistemas de classificação destes grupos e deficiência no conhecimento sobre o comportamento fisiológico das espécies nativas. O método não-destrutivo de imagens da fluorescência da clorofila a têm sido apon-tado como promissor na detecção inicial do estresse luminoso em plantas e na classificação das espécies em grupos sucessionais. Este trabalho teve como objetivo a avaliação da capacidade de aclimatação e do grau de susceptibilidade à fotoinibição, por meio de imagens da fluorescência da clorofila a, de duas espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica, pertencentes a grupos sucessionais diferentes: Schinus tere-binthifolium Schlecht. & Cham (Anacardiaceae) e Hymenaea courbaril L. (Leg. Caesalpinoideae). Após um período de cultivo de 120 dias sob a condição de 80% de sombreamento, indivíduos de cada espécie foram transferidos para a condição de radiação plena e os efeitos fotoinibitórios ocasionados pelo incre-mento súbito de radiação luminosa foram acompanhados ao longo de 16 dias. O decréscimo acentuado nos valores do rendimento quântico máximo do PSII (F

v/F

m) e a manutenção dos valores do rendimento

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quântico efetivo do PSII (Y(II)) e do rendimento do quenching não-fotoquímico (Y(NPQ)) verificados em H. courbaril, mostraram baixa eficiência de utilização da energia no processo fotossintético, baixa ca-pacidade de aclimatação luminosa e elevado grau de susceptibilidade à fotoinibição. Já a recuperação dos valores do F

v/F

m e o aumento dos valores do Y(NPQ) observados em S. terebinthifolium revelaram maior

habilidade de maximizar a eficiência fotossintética e de ativar mecanismos eficientes de dissipação do ex-cesso de energia. Os resultados permitem concluir que o método de imagens da fluorescência da clorofila a é uma excelente ferramenta na análise das características fotossintéticas, fornecendo embasamento para conclusões mais precisas sobre o estudo dos grupos sucessionais. (CAPES/FAPEMIG/CNPq)

Palavras-chave: restauração ecológica; grupos sucessionais; fluorescência de imagem; fotoinibição.

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CoMunIdAde edáFICA de ARthRoPodA CoMo BIoIndICAdoRA dA ReStAuRAção de PRoCeSSoS eCoLóGICoS

Meloni, Fernando, Barosela, José Ricardo e Varanda, Elenice MouroLaboratório de Ecologia Química e Restauração Florestal e CEEFLORUSP – Centro de Estudos e

Extensão Florestal da USP/RP - Departamento de Biologia/FFCLRP, USP. [email protected]

Resumo: A supressão dos ecossistemas naturais criou um grande desafio à conservação da biodiversidade e à manutenção dos serviços ecológicos. Embora os conhecimentos técnico-científicos sobre a recuperação dos ecossistemas tenham aumentado muito nos últimos anos, há ainda carência de métodos práticos que avaliem os seus resultados. Nesse contexto, os bioindicadores podem ser úteis para avaliação de impactos ambientais ou para detectar a restauração de processos ecológicos. Os Arthropoda possuem características que os tornam indicadores em potencial, mas seu uso ainda é restrito, devido à falta de estudos direcionados à restauração. O objetivo de dois estudos em áreas de restauração foi o de avaliar a sensibilidade dos Arthropoda edáficos e epígeos às variações dos estádios sucessionais. No pri-meiro, a fauna edáfico/epígea de duas áreas de recomposição foi acompanhada temporalmente e compa-rada com a de um local de mata semidecidual nativa. Em outro a fauna edáfico/epígea de três fragmentos de mata semidecidual e a de um gradiente sucessional formado por doze locais de restauração ecológica com diferentes idades foram comparadas. Os resultados dos dois trabalhos indicaram que toda a comuni-dade responde rapidamente às mudanças sucessionais, embora haja grande diferença entre os grupos. As classes Insecta (Hymenoptera, Thysanoptera, Coleoptera e Collembola), Arachnida (Acari) e Diplopoda foram as que melhor responderam às mudanças sucessionais, separando os locais em estádio inicial, dos locais em estádios de sucessão mais avançados. Outros grupos também sofreram variações, porém menos importantes. A sazonalidade foi marcante para a maioria dos grupos. Os grupos de Arthropoda respon-dem de maneira distinta às mudanças ambientais e à sazonalidade, fatores que devem ser considerados nas análises. Apesar disso, há potencial indicador em alguns componentes da comunidade de artrópodes edáfico/epígeos. Alguns dos padrões de diversidade encontrados indicam que as comunidades de Arthro-poda podem ser ferramentas úteis para avaliação do sucesso na restauração dos processos ecológicos.

Palavras-chave: bioindicação; artrópodes edáficos; artrópodes epígeos; restauração florestal.

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teSteS de GeRMInAção eM SeMenteS de Myrsine parvifolia A.dC. dA FLoReStA de ReStInGA de ILhA CoMPRIdA (SP), eM GeRMInAdoR

Almeida Jr.1, Paulo A. de; Carrasco1, Pablo G.; Oliveira1, Marcelo A. M.; Santos1, João P. R.; Castanheira1, Solange dos Anjos

1. Universidade São Judas Tadeu, Laboratório de Botânica, São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Sendo o capororocão utilizado em restauração de florestas de restinga, foram realizados testes com tratamentos pré-germinativos para estabelecer procedimentos que promovam aumento do percentual e do sincronismo de germinação de Myrsine parvifolia A.DC. Frutos de 15 matrizes foram colhidos e despolpados manualmente. Lotes de 100 sementes (dividi-

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dos em 4 sub-lotes de repetição) foram submetidos a 5 tratamentos pré-germinativos (HCl 0,1M, 0,2M, 0,3M, GA3 20mg/L por 10 minutos e choque térmico em água quente até o seu resfriamen-to) além do grupo Controle, e colocadas para germinar em caixas gerbox® com papel de filtro como substrato em germinador BOD Marconi® com fotoperíodo de 12h a 25ºC. Calculou-se o índice de velocidade de germinação médio (IVG) e o percentual médio de germinação (%G) ao longo de 115 dias do experimento. As médias aritméticas simples de cada um dos lotes foram sub-metidas à análise de variância, utilizando-se o teste de médias de Tukey (t<0,05). Houve diferença significativa entre os dados obtidos para o %G e para o IVG em função dos diferentes tratamentos. O tratamento com ácido clorídrico a 0,1M foi o de menor IVG, porém com um dos maiores %G, já com HCl 0,2M ocorreu o maior %G, e o segundo mais elevado IVG, havendo portanto um au-mento significativo na sincronia da germinação. Desta forma, este tratamento apresentou-se como o mais viável economicamente por permitir a maior produção de mudas em larga escala. Esta espécie tem síndrome de dispersão ornitocórica e possivelmente as concentrações dos tratamentos pré-germinativos com HCl 0,1M (pH = 1) e 0,2M (pH = 0,69), se aproximem mais do pH encon-trado no estômago químico de aves frugívoras. O tratamento com GA3 não se mostrou eficiente já que o %G foi o pior em relação aos demais tratamentos. O choque térmico pode ser utilizado na produção de mudas desta espécie, já que a sincronia da germinação foi a maior e este é um méto-do simples, porém seu %G não foi o mais elevado. Não há um único tratamento pré-germinativo que se apresente efetivo para proporcionar um aumento no percentual de germinação e que o faça de maneira sincrônica, o que ressalta a necessidade de mais estudos a respeito da fisiologia de sementes desta espécie.

Palavras-chave: restauração ecológica, sementes nativas, zoocoria, ecofisiologia vege-tal, recuperação de áreas degradadas.

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AduBAção veRde e SoLARIzAção do SoLo CoMo ALteRnAtIvAS de MAnejo PARA o CoRRedoR de BIodIveRSIdAde SAntA MARIA – PR

Fragoso, Rosimeri de Oliveira¹, Temponi, Lívia Godinho¹ e Toscan, Maria Angélica Gonçalves¹

1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Mestrado em Conservação e

Manejo de Recursos Naturais, Cascavel, PR, Brasil. [email protected]

Resumo: O estudo da restauração de ambientes naturais está englobado na área de ecologia como uma forma alternativa de buscar soluções ao atual estado de degradação de muitos ecossistemas do planeta. Para dar início a um trabalho de restauração é necessário resgatar conhecimentos de várias áreas, a fim de se conseguir uma visão sistêmica da natureza, e dessa forma compreender como as co-munidades biológicas funcionam. Além disso, é preciso ter uma visão prática do processo, considerando fatores como velocidade da restauração, custo, e manejo necessário para a comunidade final sobreviver. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo testar diferentes métodos para recuperação em uma área com ocorrência do capim colonião Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L.Jacobs do Corredor de Biodiversidade Santa Maria, no município de Santa Terezinha de Itaipu - Paraná, pertencente ao bioma Mata Atlântica, apresentando propostas para programas de recuperação de áreas degradadas em fragmentos florestais similares, com o tipo vegetacional Floresta Estacional Semidecidual. Foram implantados cinco tratamentos, com quatro repetições cada, em parcelas de 10x10 m, sendo três destes na área contendo apenas capim colonião (adubação verde e plantio de mudas em linha, solarização do solo e plantio em linha, testemunha com apenas o plantio em linha) e dois destes na área reflorestada (adubação verde e plantio de mudas em linha, testemunha com apenas o plantio em linha). Para cada tratamento, foi realizada inicialmente a retirada do capim colonião, através de roçada manual e amostras de solo foram coletadas para análises físico-químicas. O peso seco está sendo medido mensalmente para avaliar o cres-cimento do capim nos diferentes tratamentos, além do manejo e reposição de mudas, visando possibilitar condições mais adequadas à germinação do banco de sementes e desenvolvimento do banco de plântulas presente na área. Promovendo desta forma, uma maior cobertura das porções descontínuas do corredor, adensamento das faixas reflorestadas e redução de alterações microclimáticas produzidas pela maior in-cidência de luz, vento, aumento da temperatura e evapotranspiração. (CAPES)

Palavras-chave: corredor ecológico, recuperação de áreas degradadas, adubação ver-de, solarização do solo.

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eStudo dA ReGeneRAção de áReA de euCALIPto CoMeRCIAL CoM SuB-BoSque de CeRRAdo

Bruno Flório Lessi1, Carlos Cesar Ronquim2, Maristela Imatomi1, João Machado3, Maria Inês Salgueiro Lima1.

1.Departamento de Botânica- UFSCar, 2. Embrapa Monitoramento por Satélite,

3. International Paper. [email protected]

Resumo: A área em estudo é de propriedade da empresa International Paper do Brasil e está localizada no Município de Brotas (SP - 22°11’50.39”S; 48° 6’5.88”O). Trata-se de uma área cultivada com sucessivos plantios comerciais de Eucalyptus sp. para a produção de celulose. O sub-bosque do reflorestamento apresentava grande infestação por espécies exóticas invasoras prin-cipalmente braquiária (Urochoa decumbens (Stapf) R.D. Webster) que apresentavam proporções de infestação que variavam de 20 a 75%, dependendo da área. O objetivo do trabalho foi o de encontrar o melhor tratamento para a regeneração de áreas de eucalipto com sub-bosque de cerrado. O corte do eucalipto foi realizado em novembro de 2010, após seis anos de cultivo. Para o acompanhamento do processo regenerativo foi montado um experimento de campo com a instalação de uma parcela de 2,0 ha (125m x 165m), onde foram alocadas sistematicamente 25 sub-parcelas de 300 m² (25m x 12m), com bordadura de 10m entre elas. Estas tiveram amostradas as espécies e o número de in-divíduos de cada espécie em fevereiro de 2011 e três meses depois foram aplicados 05 tratamentos distintos, com 05 repetições de cada tratamento. Para o tratamento as sub-parcelas foram sorteadas e tratadas da seguinte forma: Controle, controle químico seletivo pós emergente de todas as gramíneas exóticas e brotações de eucalipto; controle químico seletivo com herbicida pós emergente de todas as gramíneas exóticas e brotações de eucalipto e adubação; coroamento químico seletivo nas espé-cies de cerrado, coroamento químico seletivo nas espécies de cerrado com adubação. Após dois me-ses da realização dos tratamentos foi feita uma segunda amostragem. A partir dos dados aí obtidos verificamos que das 20 espécies mais numerosas encontradas nos dois hectares amostrados tiveram o seu número de indivíduos diminuído (de 457 para 346 em dois ha), uma aumentou o número de indivíduos e duas delas desapareceram da parcela. Essa queda no número de indivíduos e espécies se deve à drástica mudança dos fatores ambientais ocorrida no processo, podendo-se citar a rápida mu-dança de luminosidade, umidade e a exposição das geadas nos meses de maio e junho. As diferenças entre os tratamentos, considerando-se a aplicação de herbicidas e a adubação não produziram, ainda, mudanças significativas em relação ao número de espécies e indivíduos de plantas do cerrado.

Palavras-chave: áreas perturbadas; espécies invasoras; tratamentos.

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enRIqueCIMento FLoReStAL CoM PALMIto-juçARA (euterpe edulis Mart.) eM FRAGMentoS de FLoReStA oMBRóFILA denSA eM eStádIo SeCundáRIo

Souza, Luana Santos de1; Engel, Vera Lex1; Falchi, Isabele Sarzi 2; Frison, Sergianne 1

1. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Pós-Graduação – Ciência

Florestal, Botucatu, SP, Brasil; 2. Instituto Florestal, Secretaria de Estado do Meio Ambiente, São Paulo-SP, Brasil.

[email protected]

Resumo: O palmito-juçara, por apresentar complexa relação com seus polinizadores e dispersores, é uma espécie-chave que possui importante função na manutenção da estrutura de uma co-munidade ecológica. Devido à sua exploração indiscriminada, suas populações encontram-se em declí-nio nos remanescentes naturais. Neste estudo avaliamos o desenvolvimento do palmito em plantio de enriquecimento em dois fragmentos florestais secundários, localizados no entorno da Reserva de Mor-ro Grande, Embu das Artes, São Paulo. O enriquecimento foi realizado com mudas de palmito-juçara em dois estádios sucessionais de floresta: floresta secundária de porte arbóreo baixo densa (FSPABD) e floresta secundária de porte arbóreo médio densa (FSPAMD). Periodicamente (a cada 60 dias ao longo de 390 dias) avaliamos a sobrevivência das mudas, altura da parte aérea e diâmetro do coleto em seis parcelas de 5x5m com cinco mudas cada, por fragmento. Os resultados foram comparados por análise de variância para efeito do estádio sucessional. Não foram detectadas diferenças significativas entre os fragmentos nas variáveis estudadas, indicando serem ambas as situações igualmente favoráveis para a

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espécie. As mudas de palmito-juçara apresentaram alta sobrevivência nos dois fragmentos, chegando a 93% na FSAMD, o que sugere a viabilidade de sua utilização em plantios de enriquecimento na região, visando à reintrodução da espécie nesses remanescentes secundários, bem como prover alternativas de renda para população local.

Palavras-chave: espécie-chave, plantio de enriquecimento, mata atlântica.

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BIoMetRIA de SeMenteS e eStudoS de queBRA de doRMênCIA de ARAçá (Psidium cattleianum Sabine) dA FLoReStA de ReStInGA de ILhA CoMPRIdA – SP

Oliveira¹, Marcelo Augusto Meratti; Carrasco¹, Pablo Garcia; Almeida Junior¹, Paulo Alves de; Santos¹, João Paulo Romão

e Castanheira¹, Solange dos Anjos¹ Universidade São Judas Tadeu, Laboratório de Botânica, São Paulo,

SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Sendo o araçá utilizado em restauração de florestas de restinga, avaliaram--se dados biométricos e estabeleceu-se um procedimento para quebra da dormência de sementes de Psidium cattleianum Sabine. Frutos amarelos foram colhidos da copa de 12 matrizes e despolpados manualmente. Contaram-se sementes de 5 frutos, mensurou-se o diâmetro e comprimento de 25 sementes e 4 repetições de 100 sementes cada foram pesadas, obtendo-se a variância simples e o desvio padrão das amostras. Lotes de 100 sementes (divididos em 4 sub-lotes iguais) foram sub-metidos a tratamentos pré-germinativos (HCl 0,1M, 0,2M, 0,3M, GA3 20mg/L por 10 minutos e choque térmico em água quente) além do grupo controle, e colocadas para germinar em caixas tipo gerbox®, sobre papel de filtro, em câmara de germinação BOD Marconi®, a 25ºC e fotoperíodo de 12h. Calculou-se o índice de velocidade de germinação médio (IVG) e o percentual médio de ger-minação (%G) ao longo de 104 dias do experimento. As médias aritméticas simples de cada um dos lotes foram submetidas ao teste de médias de Tukey (t < 0,05). As sementes de araçá de floresta de restinga não apresentam padrão de formato ou tamanho, com comprimento de 2,227 a 3,401mm e diâmetro de 1,141 a 1,934mm. A média de sementes por fruto foi 120, com 10,51% de teor de água após despolpa, com 9,36% após cinco meses de armazenamento a seco. A massa de 100 sementes foi 0,688g. Houve diferença significativa entre os dados obtidos em diferentes tratamentos: HCl 0,2M e GA3, foram os mais significativos com ocorrência de maiores %G e IVG, sendo o tratamento HCl 0,2M o mais recomendado por ser mais simples e de baixo custo na produção comercial de mudas desta espécie em condição de viveiro florestal. No segundo teste de germinação simples, sem trata-mento pré-germinativo, com 5 meses de armazenamento a seco, determinou-se IVG = 0,8746 e %G = 96%, sugerindo que a espécie apresente uma dormência fisiológica ou morfológica e que durante o armazenamento tenha ocorrido a maturação do embrião e a superação desta etapa. Há uma variação biométrica entre as sementes de araçá, não sendo possível estabelecer um padrão único para a es-pécie. Na produção comercial de mudas de P. cattleianum é recomendável o armazenamento a seco das sementes para garantir elevado percentual de germinação e sincronia, ou o uso do tratamento pré-germinativo com HCl 0,2M, em curto prazo, como o mais eficiente para a promoção da quebra da dormência de sementes desta espécie.

Palavras-chave: teor de água, goiabeira, tratamento pré-germinativo, produção de mu-das, recuperação de áreas degradadas.

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PotenCIAL de escallonia bifida Link & otto PARA ReCoMPoSIção eCoLóGICA do PARque eStAduAL quARtA CoLônIA, AGudo, RS

Piaia, Bruna Balestrin1,3, Souza, Vagner Cargnin de1,3, Dellamea, Natália Pontelli2,3, Hummel, Rafaela Badinelli1,3

1. Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Engenharia Florestal, Santa Maria, RS, Brasil;

2. Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, Santa Maria, RS, Brasil; 3.

Universidade Federal de Santa Maria, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas, RS, Brasil.

[email protected]

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Resumo: O Parque Estadual Quarta Colônia está situado na região Central do Rio Grande do Sul, possui área de 1.847 hectares e conserva o Bioma Mata Atlântica. Nessa unidade de conservação existem áreas que sofreram ações antrópicas e necessitam de recomposição ecoló-gica. Nesse contexto, a realização de estudos sobre a fitossociologia de espécies colonizadoras de áreas perturbadas constitui importante ferramenta que pode ser utilizada para nortear estratégias de reabilitação ecológica. O objetivo do presente estudo foi avaliar o potencial da espécie canudo-de--pito (Escallonia bifida Link & Otto), árvore caducifólia, pioneira, heliófita e higrófila, que cresce principalmente nas matas ciliares ralas ao longo de rios, para utilização em projetos de restauração ecológica na Floresta Estacional Decidual. Em relação à metodologia de estudo, foram instaladas oito parcelas de 10 x 10 m, subdivididas em subparcelas de 5 x 5 m. Procedeu-se o inventário florís-tico e fitossociológico de duas classes de tamanho da regeneração denominadas Reg 1 (indivíduos com diâmetro de colo entre 1 a 5 cm) e Reg 2 (indivíduos com circunferência à altura do peito de 5,1 a 14,9 cm). Para o estrato arbóreo foram levantados todos os indivíduos da espécie que possuíam circunferência à altura do peito (CAP) maior/igual 15 cm. Foram analisados os seguintes parâmetros fitossociológicos: frequência relativa (FR), frequência absoluta (FA), dominância relativa (DoR), dominância absoluta (DoA), densidade absoluta (DA), densidade relativa (DR), índice de valor de importância (IVI) e valor de cobertura (VC). Para E. bifida Link & Otto em Reg 1 foi encontrado FR de 5,6%, FA igual a 100, DA de 2.325 árvores/ha e DR 23,2%. Em Reg 2 a FR foi de 10,7%, e a FA de 100%, demonstrando que tanto na Reg 1 quanto na Reg 2 a espécie ocorreu em todas as parcelas amostradas. A DA foi 1.350 árvores/ha e DR igual a 27,1%. Com relação ao estrato arbóreo, observou-se que os valores da DoA alcançaram 104,45 m²/ha, FR 10,71%, FA 75, DA 1.125 árvores/ha, DR 41,28%. O IVI encontrado foi 92,43 e VC igual a 81,71, demonstrando que a espécie ocorre de forma significativa na área. A partir desses resultados pode-se inferir que a E. bífida Link & Otto ocorre de forma predominante na regeneração, podendo ser sugerida inclusive como espécie a ser utilizada em projetos de restauração ecológica na região de estudo.

Palavras-chave: floresta estacional decidual; unidade de conservação; fitossociologia.

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níveIS de SoMBReAMento no deSenvoLvIMento InICIAL de Inga thibaudiana dC. eM vIveIRo FLoReStAL

Cardoso, Poliana1; Reis, Simone M. de A.2; Morandi, Paulo S.2; Santos, Claudinei O. dos2; Oliveira, Edmar A.de2; Porto, Pábio H.2; Oliveira, Bianca de2;

Marimon, Beatriz S.2 e Marimon-J.r, Ben Hur2 1. Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT, Programa de

Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Cáceres, Mato Grosso, Brasil. 2. Universidade

do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Campus de Nova Xavantina, Mato Grosso,

Brasil. [email protected]

Resumo: Estudos sobre a resposta ao desenvolvimento inicial de plantas em condi-ções controladas ainda são pouco conhecidos, especialmente em relação aos diferentes níveis de sombreamento de espécies nativas. A avaliação da resposta fisiológica das espécies arbóreas ao sombreamento em viveiro é importante para selecionar o manejo ideal na produção de mudas e pos-terior fase de plantio. O objetivo do presente estudo foi verificar em quais níveis de sombreamento o Inga thibaudiana DC. (Fabaceae), espécie arbórea com ampla distribuição no bioma Cerrado e estratégica para recuperação de florestas degradadas, apresenta os valores mais significativos para seu desenvolvimento. O estudo foi conduzido no viveiro da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Nova Xavantina-MT. As plântulas do ingá foram testadas a pleno sol (0%), 30, 50, 70 e 90% de sombreamento em casas de vegetação. Os tratamentos representam diferentes fases de sucessão em floresta natural, sendo o pleno sol simulando uma área degradada, os de 30 e 50% de sombreamento simulando diferentes tamanhos de clareiras, o de 70% como a fase de fechamento do dossel e o de 90% como o dossel fechado. Para cada tratamento foram avaliadas 50 repetições, e medidos a altura e diâmetro do coleto aos 60, 90, 120, 150 e 180 dias após a semeadura. Aos 270 dias quantificou-se a massa seca aérea e radicular para avaliar a repartição raiz/parte aérea e o ganho total de biomassa. Para comparar as respostas de desenvolvimento das plântulas entre os tratamentos foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis. Aos 90 dias a maior média de diâmetro (1,75 mm) foi registrada para 70% de sombreamento, e aos 120 dias a 50% (1,94) e 70% (1,94). As maiores alturas médias

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(14,8 e 16 cm) também foram registradas a 70% de sombreamento aos 120 e 150 dias. O número de folhas não apresentou diferença significativa durante o período avaliado. A média da relação raiz/parte aérea foi maior para o tratamento a 70% (1,43g/indivíduo), seguido do tratamento a 50% (1,14). De acordo com as condições registradas em viveiro esta espécie pode ser indicada para plan-tios na fase de fechamento do dossel de uma floresta ou em condições de clareiras de médio porte. (FAPEMAT - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso).

Palavras-chave: luminosidade, plântulas, diâmetro do coleto e parte aérea.

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PotenCIAL ReStAuRAdoR do PLAntIo de núCLeoS MonoeSPeCíFICoS eM áReA de PReSSão AntRóPICA SoBRe ReMAneSCente FLoReStAL

Caramez, Renata Bergamo¹; Ducatti, Marcelo¹; Vidal, Edson¹1. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.

Resumo: A utilização de novas alternativas para condução dos processos ecológicos na restauração de ecossistemas naturais degradados vem sendo cada vez mais testada e discutida. Logo, fragmentos remanescentes devem ser considerados de vital importância para uma efetiva res-tauração, uma vez que a presença destes pode acelerar os processos de sucessão ecológica de uma área a ser restaurada, pois são fontes de biodiversidade de fauna e flora nativa. Na busca por maiores informações a respeito do potencial de novos modelos para a ecologia da restauração, avaliou-se a eficácia do plantio de mudas em núcleos monoespecíficos em uma área de preservação permanente degradada (0,372ha) vizinha ao fragmento de floresta estacional semidecidual Mata da Pedreira (campus USP/Piracicaba, SP), cuja situação era de um pasto sujo, com sinais nítidos de regeneração natural. Para isso, foram implantados, com o uso de hidrogel, adubação orgânica e capina seletiva, 40 núcleos monoespecíficos, contendo 5 mudas cada, e alocados ao acaso com 1 fator (núcleos), 4 níveis (espécies) e 10 repetições por espécie, a saber: i - Inga laurina (Sw.) Willd., ii - Albizia has-slerii (Chodat) Burkart, iii - Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.; iv - Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Considerou-se o potencial de interações das espécies a médio e longo prazo para a escolha das mesmas, sendo que i e iii, por serem zoocóricas, possuem maior poder nucleador. Os custos eco-nômicos de implantação e manutenção foram comparados com os de um método convencional de restauração. Os parâmetros altura, diâmetro de copa e de colo têm sido avaliados sistematicamente ao longo de 3 anos. Assim, a espécie iv obteve o melhor crescimento médio em altura, enquanto ii e iii, apesar do alto valor em altura de alguns núcleos, obtiveram maiores desvios padrão, especial-mente iii, devido à sua elevada irregularidade de crescimento e alta taxa de mortalidade. Embora tenha apresentado menor crescimento inicial em altura, a espécie i obteve a menor taxa de mortali-dade – aspecto vital para restauração de ambientes muito degradados – e boa ramificação de copa, possibilitando um aumento na capacidade de competição com as gramíneas. Concluiu-se que o mo-delo em núcleos é significativamente mais barato do que o plantio em área total e apresenta elevada regeneração natural, possivelmente oriunda do manejo seletivo e de baixo impacto, além da chuva de propágulos e presença de fauna em fluxo entre a área restaurada e o fragmento vizinho.

Palavras-chaves: recuperação de áreas degradadas; nucleação; remanescentes florestais.

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ReStAuRAção FLoReStAL: CoMPARAção entRe eSPéCIeS nAtIvAS e MetodoLoGIAS nA BACIA do RIo xInGu, MAto GRoSSo

Cury, Roberta Thays dos Santos1, Silva, Jefferson1, Costa, Darlissom Nunes da1 e Oster, Angela Idelvais1

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Canarana,

Mato Grosso, Brasil. [email protected]

Resumo: Os métodos disponíveis para projetos de restauração florestal são distintos e surgiram em função de demandas variadas. Assim, o constante aperfeiçoamento dessas metodolo-gias e o emprego de “espécies-chaves” permitem resultados mais eficazes, com menores custos de

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implantação e/ou manutenção. O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de espécies nativas no plantio de mudas e na semeadura direta para restauração florestal bem como aferir custos de diferentes metodologias aplicadas na região da bacia do Rio Xingu-MT, em Floresta Estacional Pe-renifólia. O experimento teve o início na estação das chuvas e após seis meses foram analisadas a so-brevivência de mudas de 21 espécies e a germinação de sementes de 41 espécies nativas misturadas a sementes de leguminosas. O plantio de mudas foi realizado manualmente, em covas com até 30cm de profundidade com fertilização (50g de NPK/cova; trat.1), sem fertilização (trat. 2) e enriquecidas com sementes (trat. 3). Na semeadura direta, as sementes foram lançadas em covas com até 10cm de profundidade e cobertas por uma camada de até 5cm de solo (trat. 4). Houve maior mortalidade de mudas no plantio enriquecido (40%), em relação aos plantios com e sem fertilização (23% e 14%, respectivamente), possivelmente devido à maior competição entre as espécies. As mudas das espécies Ocotea guianensis Aubl., Ocotea acutangula (Miq.) Mez, Schefflera morototonii (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin e Trattinnickia glaziovii Swart apresentaram mais de 40% de morta-lidade, em contrapartida Hymenaea courbaril L., Simarouba amara Aubl. e Tapirira guianensis Aubl., menos de 8,5%, sendo assim indicadas para compor reflorestamentos. Do total de sementes nativas semeadas, 7,5% germinaram, dessas, Mabea fistulifera Mart. representou 70% do total das sementes germinadas. As taxas de germinação foram específicas para algumas espécies, no entanto das 56 sementes nativas semeadas por m2 inicialmente, apenas quatro germinaram. Esses resultados sugerem que a restauração florestal via semeadura direta é viável e desponta como uma alternativa de baixo custo em comparação ao plantio de mudas. Como otimização dessa metodologia, propo-mos a redução do número de espécies utilizadas e a priorização das espécies com alto potencial para germinação. Ademais, os orçamentos referentes ao ano de 2010 apontam que a utilização de semen-tes pode reduzir os custos finais da restauração (ex. semeadura R$ 749,80/ha, contra R$ 5103,40/ha com plantio adensado).

Palavras-chave: reflorestamentos, mata ciliar, técnicas de restauração, planejamento.

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eStudo dA InFLuênCIA do eFeIto de BoRdA SoBRe o BAnCo de PLântuLAS eM FRAGMento de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoMo SuBSídIo PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA

Viera, Maria Eliana de Souza1; d’Avila, Márcia1; Piaia, Cleiton P.1; Cadoná, Suelen C.1; Herpich, Maikon A.1

1Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Floestal, Frederico Westphalen,

RS, Brasil. [email protected]

Resumo: O efeito de bordadura é uma alteração que ocorre nos extremos de um frag-mento devido à maior incidência dos fatores como vento e luminosidade que atingem diretamente as espécies que ali estão, uma vez que a área central do fragmento não é atingida. Nos últimos dois séculos, as Florestas Estacionais Deciduais foram reduzidas a pequenos fragmentos, geralmente perturbados, onde grandes áreas foram desmatadas para implantação de agricultura e pastagens. No presente trabalho foi analisada a influência do efeito da borda sobre o banco de plântulas em um fragmento (15 ha) de Floresta Estacional Decidual em Frederico Westphalen, RS. Para o levanta-mento dos dados foram marcados seis pontos aleatórios ao redor do fragmento, sendo em cada ponto traçada uma linha perpendicular à borda do fragmento, marcando-se as distâncias de 10, 20, 40 e 80m. Em cada ponto foram marcadas três parcelas de 1 x 1 m, onde todas as plântulas (5,0 ≤ h ≥ 100 cm) foram identificadas, totalizando 18 parcelas por distância e 72 ao total. Foram desconsideradas as herbáceas, cipós e lianas. Para a verificação da relação existente entre as variáveis: número de es-pécies e distâncias da borda do fragmento foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, através do software estatístico Assistat. Para análise da regeneração natural, foram calculados: frequência, índice de di-versidade de Shannon (H’) e índice de equabilidade de Pielou (J’). Através do cálculo experimental de Kruskal-Wallis, o número de espécies ocorrentes não apresentou diferença significativa entre as distâncias da borda do fragmento, a um nível de 5% de probabilidade. No levantamento foram amos-trados 289 indivíduos, pertencentes a 18 famílias e 32 espécies. As espécies com maior frequência são Gymnanthes concolor (Spreng.) Müll. Arg., Holocayx balansae Micheli e Hennecartia ompha-landra J. Poiss., as quais perfazem 31% do número total de indivíduos. O índice de Shannon (H’) encontrado foi de 3.0, indicando alta diversidade de espécies. O índice de equabilidade de Pielou (J’)

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encontrado foi 0.8669, o que representa uma alta uniformidade de distribuição dos indivíduos entre as espécies presentes. O fragmento estudado possui formato alongado e, dessa forma, provavelmente o efeito de borda ocorre praticamente em toda sua área, por isso não houve diferença significativa nas espécies entre as distâncias analisadas.

Palavras-chave: efeito de bordadura, fragmentação florestal, banco de plântulas.

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SeMeAduRA dIRetA de eSPéCIeS ARBuStIvAS e de AduBAção veRde CoMo eStRAtéGIA de SoMBReAMento PARA ReStAuRAção de áReAS deGRAdAdAS

Vásquez C., Diana C.1

1Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, Escola superior de Agricultura Luiz de Queiroz,

Universidade de São Paulo. [email protected]

Resumo: A fragmentação das formações naturais e a extinção de habitats provocados pela intervenção antrópica têm gerado uma grande perda da biodiversidade. Para mitigar estes im-pactos, se faz necessária implantação de ações de restauração em áreas historicamente degradadas. Este projeto propõem testar o uso da técnica de semeadura direita de duas espécies arbustivas de leguminosas nativas (Senna alata (L.) Roxb e Sesbania sesban (L.) Fawc. & Rendle) e uma exótica de adubação verde (Cajanus cajan (L.) Huth) visando o preenchimento inicial rápido com cober-tura de dossel de áreas de preservação permanente degradadas no ambiente agrícola. O estudo será desenvolvido na Usina São Manoel, no estado de São Paulo, numa área de preservação permanente degradada por atividade agrícola, no município de São Manuel. Na área de estudo a instalação das parcelas será aleatorizado, com 20 parcelas de 30x24m; nessas parcelas será realizada a semeadura direita de preenchimento com as espécies Cajanus cajan (L.) Huth, Sesbania sesban (L.) Fawc. & Rendle e Senna alata (L.) Roxb (cada espécie representa um tratamento diferente) consorciado com plantio de mudas de espécies arbustivas e arbóreas nativas do grupo de diversidade, o plantio con-sorciado de mudas de preenchimento e de diversidade (controle). Serão obtidos os dados mensais de emergência, altura, cobertura de copa nas linhas de semeadura e tamanho de copa, o desenvolvimen-to das mudas plantadas por 12 meses. Serão avaliadas quantidades de nitrogêno, matéria orgânica e outros elementos no solo antes (tempo 0) e depois de um ano de experimento (tempo 1). Os dados serão analisados por meio de análises uni e multivariadas.

Palavras-chave: semeadura direita de preenchimento; floresta estacional semidecidual, espécies de adubação, restauração florestal, área de preservação permanente.

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LuMInoSIdAde e AduBAção no CReSCIMento de MudAS dePeltophorum dubium (Spreng.) taub. (CAnAFíStuLA)

Asperti, Lilian Maria1 e Guardia, Marina Crestana1

1.Núcleo de Pesquisa em Sementes, Instituto de Botânica, São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: O sucesso na formação de florestas para a restauração ecológica de áre-as degradadas está atrelado à qualidade das mudas utilizadas. O desconhecimento das intera-ções dos parâmetros morfológicos e fisiológicos das mudas produzidas é uma das dificuldades encontradas pelos viveiristas, refletidas na escolha de substrato, fertilização e condições de luminosidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento inicial e a produção de bio-massa de mudas de Peltophorum dubium (Spreng.) Taub., Fabaceae, em duas condições de luminosidade e diferentes dosagens de fertilizante de liberação lenta. Foram produzidas mudas a partir de semeadura direta em tubetes, com substrato comercial misturado com Osmocote® (18:18:18). Os tratamentos consistiram em substrato comercial puro (T), 1kg de Osmocote®/m3 de substrato (O1), e 3kg de Osmocote®/m3 de substrato (O2), a pleno sol e sob sombreamento natural, totalizando seis tratamentos. Os parâmetros de avaliação foram: altura, diâmetro do coleto, área foliar (AF) e biomassa seca (parte aérea, raiz e total), obtidos seis meses após a emergência. Foram calculados peso específico da folha (PEF) e Índice de Qualidade de Dick-

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son (IQD). Os resultados foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey (0,05%). As plantas mantidas no sol apresentaram superioridade para todos os parâmetros analisados, exceto altura, que foi maior à sombra (10,35cm e 7,76cm no sol). Este resultado pode apontar estiolamento das mudas, já que para diâmetro, biomassa seca total e da raiz os valores foram significativamente maiores ao sol (2,58mm, 0,89g e 0,32g, respectivamente). Os valores de AF foram 0,55cm2 à sombra e 0,26cm2 ao sol, contudo o PEF obtido à sombra foi 0,24g/cm2 e 1,32g/cm2 no sol. Houve influência positiva da adubação das mudas mantidas na sombra atin-gindo 0,36g no tratamento O2, 0,32g no O1 e 0,19g no T. Não houve influência do adubo sobre a produção de biomassa seca da parte aérea das plantas mantidas no sol. O sistema radicular das plantas mantidas no sol teve maior desenvolvimento com a dosagem O2, seguido de O1 e T (0,33g, 0,22g, 0,12g, respectivamente); na sombra teve a mesma influência positiva da aduba-ção, com melhores resultados para a dosagem O2 (0,18g), seguida de O1 (0,13g) e T (0,07g). O IQD foi significativamente maior a pleno sol (0,23). Analisando-se todos os resultados, pode-se concluir que as mudas de melhor qualidade foram obtidas a pleno sol, utilizando-se adubação na dosagem 3kg de Osmocote®/m3.

Palavras-chave: espécie nativa, produção de mudas, Osmocote.

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BAnCo GenétICo dA unIveRSIdAde de São PAuLo eM RIBeIRão PReto

Varanda, Elenice M.1,2 , Oliveira, Cleide .2,3,Kageyama, Paulo Y.4, da Silva, Antonio J.2,5, dos Reis, Marco A. C.5

1. Departamento de Biologia/FFCLRP/USP; 2. CEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal

da USP/RP; 3. Fundação Florestal, SMA/SP; 4. ESALQ/USP; 5. CCRP- Coordenadoria do campus de Ribeirão Preto/

USP; 6. Associação de Reposição Florestal do Pardo Grande – Verde Tambaú. [email protected]

Resumo: O Projeto Floresta da USP/RP implantou o único Banco Genético de mata mesófila semidecidual do Brasil e ampliou em 20% as áreas verdes urbanas de Ribeirão Preto. Foi um projeto coletivo, implantado em duas etapas: Recomposição Florestal (30ha, 50 espécies e mudas obtidas dos viveiro do campus e da região) e Banco Genético (BG- 45ha). O BG tem 45 espécies produzidas a partir de sementes obtidas de 75 matrizes, com uma diversidade de 3375 progênies coletadas em mais de 400 áreas de fragmentos naturais da Bacia do Pardo-Mogi. O objetivo do BG é o de conservação genética dessas espécies nativas, assim como o de fornecer sementes de origem conhecida e qualidade garantida (13 espécies já atingiram a maturidade), para recuperação de áreas degradadas contribuindo para conservação da biodiversidade regio-nal. As coletas e a produção de mudas foram realizadas pelos viveiros da USP e da ONG Verde Tambaú. Algumas dificuldades enfrentadas para a implantação do BG, pelo seu ineditismo, levaram a uma grande aprendizagem para os envolvidos e permitiu, desde o plantio, a utilização da área para pesquisas, educação ambiental e cursos de capacitação, transformando a Floresta da USP-RP em referência regional. Além do desenvolvimento dos indivíduos plantados, a recu-peração e o aumento da vazão das minas d´água existentes no campus e o retorno da fauna são testemunhas do sucesso da restauração na área. Um Núcleo de Apoio, ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o CEEFLORUSP (Centro de Estudos e Extensão Florestal da Floresta da USP-RP), criado em 2005, coordena as atividades desenvolvidas na Floresta, além de estimular pesquisas que possam produzir conhecimentos sobre a recuperação dos processos ecológicos e outras relacionadas à conservação da biodiversidade regional. Coordena, ainda, projetos de Educação Ambiental, recuperação de áreas degradadas e conservação de fragmentos que são realizados em parcerias com escolas, ONGs, MST e proprietários rurais. Também colabora no manejo da Floresta e na organização e operacionalização da coleta de sementes para a produção de mudas de alta qualidade genética provenientes de matrizes marcadas e do BG, visando à re-cuperação de áreas degradadas e à implantação de florestas e agroflorestas manejadas de forma sustentável. As pesquisas realizadas no BG têm demonstrado tanto o sucesso da restauração na Floresta como a recuperação da diversidade de processos ecológicos.

Palavras-chave: banco genético; qualidade genética de mudas; floresta USP-RP; CE-EFLORUSP.

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dIAGnoSe dA PeRtuRBAção de BoRdA nA ReSeRvA BIoLóGICA dA SeRRA do jAPI

Fengler, Felipe H.1, Peche Filho, Afonso2, Storino, Moises2, Silva, Alexandre M.3;Ribeiro, Admilson I.3

1.Engenharia Ambiental – UNESP Sorocaba/ Estagiário Centro de Engenharia e Automação – IAC,

Jundiaí, SP; 2. Pesquisador científico - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 3. Professor – UNESP

Sorocaba, Sorocaba, SP. [email protected]

Resumo: As Unidades de Conservação (UC) representam um importante instrumento para a conservação da biodiversidade e da qualidade dos serviços ambientais. A pressão existente para ocupação destes territórios é grande, principalmente nas regiões sem organização política/ter-ritorial onde os usos não condizem com a preservação das áreas protegidas. A realização de diag-nóstico nas regiões delimitadas como UCs e em seus entornos é fundamental, pois assim é possível determinar do potencial de perturbação que a UC sofre em função da forma como seu território é ocupado. O trabalho mostra a diagnose de pontos de perturbação nas áreas da Reserva Biológica da Serra do Japi. Foram utilizados dados digitais do satélite Landsat-TM5, e analisados com auxílio de Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Após serem devidamente referenciadas e tratadas as fontes de informação foram submetidas ao processo de classificação assistida. O mapa de cobertura do solo produzido passou pelo processo de redução de dimensionalidade, selecionado uma região de 3 km ao redor da UC, conforme a Resolução CONAMA nº 428/2010. Foram determinados 9 fatores de perturbação, identificados no mapa temático gerado. O mapa foi dividido em quadrantes e anali-sado, partindo do quadrante superior esquerdo e seguindo no sentido horário. Os quadrantes foram classificados de acordo os fatores de perturbação em: intensidade baixa, média, alta ou muito alta. O efeito de borda foi avaliado percorrendo o perímetro da reserva a cada 2 km, iniciando no ponto de coordenada UTM 294727 L e 7429132 S e seguindo sentido horário até retornar ao ponto de partida. Cada ponto foi avaliado nos sentidos N, S, L, O, e notas foram atribuídas de acordo com as distâncias e tipos de cobertura observados. Os resultados mostraram que o primeiro quadrante apre-senta alta intensidade de perturbação, o segundo intensidade muito alta, o terceiro intensidade média e o quarto intensidade baixa. Foi determinada uma taxa de 1,85 para o efeito de borda, indicando presença de pontos de fragilidade a cada 1,85km do perímetro. Com os resultados encontrados concluiu-se que: a) O diagnóstico de pontos de perturbação permitiu análise satisfatória dos efeitos; b) Foi possível classificar as regiões da Serra do Japi de acordo com a intensidade de perturbação; c) A metodologia empregada permitiu a determinação da taxa de ocorrência de áreas com fragilidade.

Palavras chave: SIG, Serra do Japi, diagnose, unidade de conservação.

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eStudo dA ReGeneRAção e eStABeLeCIMento de holocalix balansae Micheli e trichilia clausseni C. dC eM FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoMo SuBSídIo PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA

Piazza, Eliara Marin1; Mariano, Lílian Gonçalves1; Bitencourt, Larissa1; Brito, Marcio1

1.Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Florestal, Frederico

Westphalen, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: Nos últimos dois séculos, a floresta estacional decidual foi reduzida a frag-mentos perturbados pela retirada de madeira, pela pecuária e pelo fogo. A taxa com que o homem altera as paisagens naturais é maior do que a da dinâmica de regeneração natural dos ecossistemas. A regeneração decorre da interação de processos naturais de restabelecimento do ecossistema florestal, fazendo parte do ciclo de crescimento da floresta, e seu estudo permite a realização de previsões so-bre o comportamento e desenvolvimento futuro da floresta, pois mostra a relação e a quantidade de espécies do seu estoque, e também suas dimensões e distribuições. Um dos fatores para o sucesso na regeneração é uma boa incidência de luz, pois funciona como fonte direta de energia, sendo que cada espécie possui exigências diferenciadas. As clareiras naturais são responsáveis pela regeneração das florestas, contribuindo para a diversidade florística das mesmas. Portanto, o presente trabalho

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tem como objetivo, avaliar a regeneração e o estabelecimento de plântulas de Holocalyx balansae Micheli e Trichilia clausseni C. DC., da Floresta Estacional Decidual, em Frederico Westphalen, RS. Para a realização da pesquisa, que iniciou em junho de 2011, com término em junho de 2012, foram escolhidas três clareiras, onde foram demarcadas parcelas de 5 x 5m, distantes 2,5m do centro da clareira e entre cada parcela, totalizando 16 parcelas por clareira, na forma de transecto. Foram consideradas plântulas todos os indivíduos com altura de até 1m das duas espécies em estudo, que receberam uma etiqueta para seu acompanhamento. As avaliações de crescimento em altura e diâ-metro são realizadas mensalmente e, em todas as parcelas também está sendo efetuada a medição da luminosidade. Também será avaliada a probabilidade de sucesso no estabelecimento dos indivíduos em relação à distância da planta mãe, pois algumas pesquisas já constataram maior sucesso no esta-belecimento das plântulas com o aumento da distância, em função, da menor densidade de indivídu-os, para algumas espécies. De acordo com dados preliminares observou-se para as duas espécies um maior incremento em diâmetro e altura nas parcelas com menor índice de luminosidade. Conclui-se, portanto, que as espécies apresentam baixa exigência de luminosidade, corroborando com a literatu-ra, onde elas são citadas como espécies secundárias tardias e/ou clímax.

Palavras-chave: estabelecimento de plântulas, luminosidade, clareiras.

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ReStAuRAção de CeRRAdo eM áReA ALteRAdA dA eStAção eCoLóGICA de MoGI GuAçu, SP

Pinto, Marcos Mecca1, Giudice-Neto, João Del1 e Parente, Paulo Roberto2

1.Instituto de Botânica, Núcleo de Pesquisa Reserva Biológica de Mogi Guaçu, SP, Brasil; 2. Instituto

Florestal, Estação Experimental de Mogi Mirim, SP, Brasil.

[email protected]

Resumo: A regeneração natural é elemento importante na restauração de áreas altera-das, porém, estudos desse tipo são incipientes em áreas de cerrado. Visando verificar o modo como a regeneração natural atua na restauração ecológica, procedeu-se um levantamento fitossociológico em uma área da Estação Ecológica de Mogi Guaçu, anteriormente ocupada por pastagem, perio-dicamente manejada com roçadas e a extração de grama. Contudo, havia a presença de indivíduos arbóreos adultos esparsos. Dezesseis anos após o abandono da pastagem, dez parcelas permanentes de 10m x 25m foram instaladas, feitas a identificação e a marcação das espécies, tomadas medidas de perímetro à altura do colo e altura total. Foram amostrados 1617 indivíduos, distribuídos em 80 espécies, pertencentes a 40 famílias. A altura média foi 3,27 m (IC

95% – 3,20-3,33 m), com amplitu-

de total entre 0,5 e 9,5 m. Nove espécies representaram 52,1% do IVI, destacando-se Leptolobium elegans Vogel, Platypodium elegans Vogel e Randia armata (Sw.) DC. Somadas a estas três, Styrax camporum Pohl., Terminalia argentea Mart., Campomanesia pubescens (DC.) O. Berg. e Luehea divaricata Mart. & Zucc. foram abundantes na área. Destacaram-se ainda, com alta frequência (100%) as espécies Zanthoxylum rhoifolium Lam. e Psidium sp. As famílias com o maior número de espécies foram Fabaceae (10), Myrtaceae (9), Asteraceae (4) e Euphorbiaceae (4). O Índice de Shannon-Wiener foi 3,31 e a equabilidade 0,753. Verificou-se que a área encontrava-se em estágio avançado de restauração, apesar de ainda existirem espécies indicativas de estágios iniciais de suces-são, como o Baccharis dracunculifolia DC., Vernonia sp. e algumas reboleiras da espécie invasora Melinis minutiflora P. Beauv. O número e a riqueza de espécies encontradas estão em acordo com o recomendado pelas normas técnicas e legais para a recuperação de áreas alteradas, demonstran-do que a regeneração natural é, no caso do cerrado, eficaz na promoção da restauração ecológica. Observou-se ainda, ao lado das parcelas, a ocorrência de espécies não capturadas que elevariam a estimativa por hectare em caso de aumento da área amostrada. Ressalta-se, contudo, que a área possuía as condições básicas para a restauração (alta resiliência). Portanto, neste cerrado, boa parte desta recuperação foi provida por estruturas subterrâneas (xilopódios) que sobreviveram a anos de perturbações na superfície do solo, sem, entretanto, grandes interferências nas camadas inferiores.

Palavras-chave: Cerrado, restauração ecológica, fitossociologia

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APRoveItAMento PotenCIAL de BotA-FoRA eM áReA uRBAnA, CoMo MeIo PARA ReCuPeRAção de áReA deGRAdAdA, eM joão PeSSoA - PB

Almeida, Antônio Cláudio C. 1, Araújo,Yuri R. V.1 , Alves, Euzivan L.1, Silva, Vicente F.², e Sousa, Sandra S.²

1.Diretoria de Estudos e Pesquisas Ambientais – DIEP, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de João

Pessoa, PB, Brasil; 2. Viveiro Municipal de Plantas Nativas – VMPN, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de João

Pessoa, PB, [email protected]

Resumo: As alterações produzidas pela construção civil ocorrem na fase de instala-ção do empreendimento, execução, confecção de asfalto, terraplenagem com retiradas de árvores, pavimentação de vias e limpeza de obras. Bota-fora é um termo utilizado pela construção civil que se refere aos rejeitos ou resíduos que serão descartados. O presente trabalho tem como objetivo relatar uma alternativa para o aproveitamento do bota-fora proveniente da terraplenagem da cons-trução civil para recuperação de áreas degradadas, no Cabo Branco, em João Pessoa, Paraíba. O trabalho consistiu no monitoramento da área de depósito do bota-fora por meio de visitas técnicas no período de agosto a outubro de 2010. A área da terraplenagem apresentava uma população herbácea-arbórea significativa. Os resíduos eram compostos por solo argilo-arenoso e vegetais, provenientes da supressão da vegetação. O local de destinação final apresenta o solo compactado e composto por concreções ferruginosas, sem os horizontes O e A, e alguns agrupamentos com espécies arbustivas e arbóreas pioneiras, em pequenos isolados de solo remanescente, em estágio inicial de regeneração. Foram feitas as seguintes observações: (1) predominância de estrato arbus-tivo com presença do murici-da-praia (Byrsonima sp.; Malpighiaceae); (2) com base na colocação do bota-fora, o material argilo-arenoso e sementes presentes no bota-fora foram carreados para outras áreas que estão sendo colonizadas por espécies pioneiras, funcionando como centro dis-persor de sementes, onde se desenvolvem sobre material mineral sem solo – sobre as concreções ferruginosas; (3) existência de espécies indicadoras de média e alta fertilidade do solo, tais como Croton sp. (Euphorbiaceae) e “trevo-mexicano” (Richardia grandiflora Cham. &Schltdl. Steud.; Rubiaceae); (4) plântulas de angélica (Guettarda platypoda DC.; Rubiaceae) – arbusto lenhoso “pioneiro” em vegetação de tabuleiros; (5) famílias botânicas mais frequentes observadas Poacea e leguminosas herbáceas de pequeno porte ou “anuais”, bem como a Carrapateira (Ricinus com-munis L.; Euphorbiaceae). No desenvolvimento da vegetação pioneira foram observadas duas es-tratégias de dispersão: (i) lançamento no solo do bota-fora por zoocoria ou anemocoria, ou ainda (ii) a partir do próprio banco de sementes proveniente do bota-fora, sendo essa última, avaliada qualitativamente, como a de maior potencial para o desenvolvimento de espécies vegetais coloni-zadoras na área em recuperação.

Palavras-chave: construção civil, resíduos, banco de sementes, regeneração.

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ReCuPeRAção dA MAtA CILIAR do RIo APodI/MoSSoRó, Rn

Medeiros, José Laércio Bezerra de¹; Camacho, Ramiro Gustavo Valera²1.Bacharel em Gestão Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; 2.Professor

Adjunto do Departamento de Ciências Biológicas – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró,

RN, Brasil. [email protected]

Resumo: A ação antrópica não tem levado em conta a sensibilidade dos ambientes de matas ciliares onde as atividades econômicas aí praticadas têm trazido impactos negativos para essas paisagens. Atividades como a exploração de argila para produção de tijolos, telhas e cerâmicas, a carcinocultura, exploração de petróleo, atividade salineira, agropecuária, entre ou-tras atividades estão devastando a área de mata ciliar do rio Apodi/Mossoró que é protegida pelo Código Florestal Brasileiro criado no ano de 1965 pela Lei de n° 4771. Entre 2007 e 2009, para amenizar os danos causados pelas ações antrópicas, o Projeto “Rio Apodi/Mossoró: integrida-de ambiental a serviço de todos”, desenvolvido pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN e Universidade Federal Rural do Semiárido-UFERSA, desenvolveu ações de preservação na Bacia hidrográfica do rio Apodi/Mossoró, em três linhas de atuação: Monitora-

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mento Ambiental; Práticas de Educação Ambiental e Zoneamento Ambiental - Recuperação de Áreas Degradadas da Mata Ciliar. Com os dados do diagnóstico do zoneamento ambiental foi possível determinar e escolher as áreas a serem recuperadas. Este trabalho teve como objetivo principal a recuperação de um trecho urbano de mata ciliar do rio Apodí-Mossoró na cidade de Mossoró/RN. Recuperaram-se 25 hectares de mata ciliar com o plantio de 32 mil mudas de espécies nativas distribuídas no perímetro urbano da cidade de Mossoró/RN com espaçamento de 3x3m na parte mais próxima do rio e 4x4m na área adjacente. Nos levantamentos por amos-tragem feitos sobre a quantidade de mudas que sobreviveram em todas as áreas plantadas após o plantio, obteve-se o índice de 72%. O zoneamento detectou que 65 mil hectares de áreas ciliares estão totalmente degradadas ou em processo de degradação ao longo de toda a bacia hidrográ-fica. O Projeto Rio Apodi-Mossoró mobilizou diversos setores da sociedade, diagnosticou a si-tuação atual dos problemas ambientais que atingem a bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró. Foi o primeiro passo e constituiu-se de relatórios com medidas concretas para recuperação am-biental deste ecossistema essencial para a região e que contribuirá para organização do Comitê de Bacias (Petrobras S/A).

Palavras-chave: semiárido, bacia hidrográfica, mudas, exploração.

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RAd deSAFIoS dA téCnICA do InóCuLo CoMo ALteRnAtIvA de SuStentABILIdAde no SeMIáRIdo PotIGuAR

Camacho, Ramiro G. V.¹; Alcântara Neto, Antônio Q.²; Melo, Ismael F.²; Xavier, José I. D.²; Araújo, Delvir S.²; Rocha; Lamarck N. G.³

1.Adjunto IV do Dep. De Ciências Biológicas-DECB/Diretor Centro de Estudos e Pesquisas do Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semiárido – CEMAD - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN;

2. Membros do CEMAD; 3. Aluno de Ciências Biológicas - Bacharelado. [email protected]

Resumo: As plantas da caatinga, principalmente arbóreas e arbustivas, apresentam alta resistência à seca, em virtude de possuírem diferentes mecanismos morfo-fisiológicos de adaptação, que minimizam os efeitos do deficit hídrico. A limitação de estudos nesse aspecto no estado do Rio Grande do Norte, motivou o estudo fitoecológico da caatinga da Potiguar, destinada à realização de pesquisas básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente na-tural e ao desenvolvimento da educação conservacionista. Consolidar a área de monitoramento, avaliação e recuperação de áreas degradadas existente visando à sustentabilidade da caatinga através do uso de técnicas inovadoras foi o objetivo deste trabalho. Escarificou-se o solo a ser recuperado e deitou-se uma mistura de 100 m³ de serapilheira e 30 m³ de esterco bovino por hectare. Após o preparo da área, cercou-se a área com 10 fileiras de arame farpado, a fim de evitar a entrada de animais criados extensivamente no local, instalado há 11 anos. Através de monitoramento, levantamento florístico e fitossociológico acompanhou-se o processo de su-cessão ecológica da área em estudo no Município de Canto do Amaro/RN. O levantamento florístico levantou 16 famílias, distribuídas em 32 gêneros e 37 espécies, onde Fabaceae está representado por 9 gêneros. Os táxons: Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (Jurema preta), Croton blanchetianus Baill. (Marmeleiro) e Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R. W. Jobson (Catanduva), com os maiores IVI respectivamente, conforme os parâmetros densidade e frequ-ência para o estudo Fitossociológico. As alturas médias no extrato arbóreo tiveram uma média de 3,6 a 2,7m, o extrato arbustivo destaca-se com alturas de 1,8 a 1,0m. Pelo levantamento das comunidades vegetais presentes na área, podemos inferir que a recuperação da área começa a dar oportunidade a processo de sucessão ecológica oportunizando a ocorrência de espécies como a Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz var. pyramidalis (Caatingueira), comuni-dade herbácea e chegada da fauna local.

Palavras-chaves: florística, fitoecologia, Caatinga, fonte de inóculo

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eFeIto LIMItAnte no CReSCIMento InICIAL de eSPéCIeS nAtIvAS dA MAtA AtLântICA PeLA oMISSão de nutRIenteS eSSenCIAIS

Melo, Renata Siqueira1; Gatti, Renata Carolina1; Pereira, Daniela da Silva1; Gusson, Eduardo1; Kageyama, Paulo Yoshio1; Stape, José Luiz2

1. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Curso de Engenharia Florestal, Piracicaba, SP,

Brasil; 2. North Carolina State University, Raleigh / NC, EUA. [email protected]

Resumo: A silvicultura tropical constitui-se em uma importante alternativa ao des-matamento, através de suas diferentes linhas de atuação. O plantio de florestas mistas de es-pécies arbóreas nativas, manejadas conforme necessidades fisiológicas é um método que pode apresentar resultados positivos, visto o caso de sucesso das florestas com objetivos comerciais. Baseado nessa premissa, o manejo silvicultural de florestas nativas visa atingir o sucesso da restauração de áreas degradadas, pelo desenvolvimento das florestas. O presente experimento foi instalado às margens do reservatório de Barra Bonita- SP, área da empresa AES-Tietê. Os tratamentos aplicados referem-se à omissão de nutriente, verificando o crescimento limitado conforme o nutriente omitido na fertilização de base e de cobertura. Os tratamentos baseiam--se em 1-Controle, 2-Comercial da empresa (200 kg/ha 06-30-06 na base e na cobertura 120 kg/ha de 12-00-24), Tratamentos Omissões 3-de Nitrogênio, 4-de Fósforo, 5-de Potássio, 6-de Micronutrientes, 7-de Cálcio e 8-Potencial (200 kg/ha 06-30-06 na base e na cobertura 500 kg/ha de Sulfato de Amônio; 500 kg/ha de SSP; 100 kg/ha de Cloreto de Potássio; 3 ton/ha Calcário Dolomítico e 80 kg/ha de FTEBr12). Os tratamentos foram inteiramente casualizados em 3 repetições. A parcela experimental útil possui 800 m2. O plantio foi realizado em Outu-bro/09 e a matocompetição foi mantida controlada. A adubação de base foi realizada 45 dias pós plantio, aplicada em covetas laterais. A adubação de cobertura foi realizada 6 meses pós plantio, a aplicação foi em filete na entrelinha a 1 m de distância da planta, devido à quantidade de fertilizante utilizado. O levantamento de mortalidade foi realizado 45 dias pós plantio, os re-plantios ocorreram aos 60 dias e novamente aos 200 dias pós plantio. A avaliação aos 12 meses de idade apresentou os resultados demonstrados. Aplicou-se o teste F (Análise de Variância) e Tukey-Kramer (p < 0,05), para a comparação de médias de dados desbalanceados. A omissão de nitrogênio apresentou biomassa 45% inferior ao tratamento potencial; a omissão de fósforo foi 67% inferior e a omissão de potássio 33%. As omissões de micronutrientes e de cálcio não apresentaram diferença estatística do tratamento potencial. Portanto, o fósforo seguido do nitro-gênio foram os nutrientes mais limitantes ao crescimento inicial das espécies nativas, já o cálcio e os micronutrientes não foram limitantes.

Palavras-chave: fertilização dos plantios, manejo de espécies nativas, omissão de nu-trientes.

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exPeRIMentAção de ModeLoS e téCnICAS PARA ReStAuRAção eCoLóGICA eM ReStInGA

Chiarelli, Ivy C. ¹, Martini, Adriana M. Z.¹, Vaz, Marcel C. ¹, Oliveira, Alexandre A. ¹

1.Laboratório de Ecologia de Florestas Tropicais, Instituto de Biociências,

Universidade de São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Entre os possíveis fatores limitantes para restauração em restinga estão as altas temperaturas às quais as plantas estão sujeitas em solo exposto, a escassez de nutrientes e a baixa retenção de água no solo. Alguns estudos sugerem que neste tipo de ambiente, a agre-gação de plantas em núcleos poderia propiciar um microclima mais ameno, que favoreceria o desenvolvimento das plantas. Por outro lado, o solo arenoso de restinga é escasso em nutrientes e a proximidade das plantas poderia provocar uma maior competição entre elas. Neste contexto, a técnica de plantio em núcleos merece ser melhor investigada antes de adotada em projetos de restauração. O objetivo foi testar se o plantio em núcleo e a adição de nutrientes e/ou água aumentam o desempenho das plantas. Realizamos o experimento em uma área degradada na Ilha do Cardoso, Cananéia, SP. Plantamos 560 mudas em dois sistemas diferentes, sendo que

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o sistema de plantio nucleado consistiu em agregar 8 mudas de espécies diferentes dentro de uma área de 1,20m², enquanto no plantio isolado plantamos uma muda em área equivalente. No sistema isolado usamos, alternadamente, mudas das espécies Guapira opposita (Vell.) Reitz (Nyctaginaceae) e Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez (Lauraceae), duas espécies arbóreo--arbustivas muito abundantes no ecossistema de referência. Submetemos esses plantios a quatro tratamentos: adição de água, adição de nutrientes, adição de água e nutrientes e controle. Para a avaliação do desempenho das plantas medimos altura, diâmetro à altura do solo e área da copa das mudas ao longo de um ano. Para ambas espécies, a adição de nutrientes foi o único trata-mento que teve efeito significativo. O crescimento da copa em mudas de Guapira e de Ocotea que receberam nutrientes foi, respectivamente, cerca de 2,5 e 2,7 vezes maiores do que em mudas que não receberam nutrientes (F

1,116=6,44; p=0,01), (F

1,70=6,43; p=0,01). Nos plantios

em núcleo as mudas de Guapira e Ocotea cresceram, em média, 50% e 36% a mais (respecti-vamente) em relação ao plantio isolado, entretanto essas diferenças não foram significativas em função de uma grande variação nos valores observados. Acreditamos que para verificar de for-ma conclusiva a eficiência da técnica, será necessário o acompanhamento por um maior período de tempo (PETROBRAS).

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas, restinga arbustiva, nucleação, faci-litação, competição.

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SuBStRAtoS A BASe de FIBRA de CoCo e CASCA de ARRoz CARBonIzAdA nA FoRMAção de MudAS de CAndeIA

Melo, Lucas Amaral de¹; Pereira, Gabriel de Assis¹; Moreira, Edson Júnio Costa¹; Davide, Antônio Claudio¹; Teixeira, Luís Antonio Fonseca¹

1.Universidade Federal de Lavras, Curso de Engenharia Florestal, Lavras, MG, Brasil. [email protected]

Resumo: Além dos fatores genéticos, fatores operacionais como o tamanho do reci-piente e o substrato utilizado para a formação das mudas em viveiros podem em maior ou menor magnitude inibir completamente o crescimento das plantas, afetando características inerentes ao padrão de qualidade das mudas. Afetada a qualidade das plantas, aumenta-se o risco de insucesso na implantação dos projetos de reflorestamento, seja para fins produtivos ou conser-vacionistas. Dentre as espécies utilizadas em projetos de restauração, a candeia (Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish), tem sido bastante estudada devido a sua ocorrência natural em ambientes de grande importância para a recarga do lençol freático. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes formulações de substrato à base de fibra de coco e casca de arroz carbonizada sobre o crescimento de mudas de candeia. Para isso foi montado um experimento com a utilização de quatro formulações de substrato contendo diferentes proporções de fibra de coco e casca de arroz carbonizada, variando suas proporções volumétricas em 0, 30, 60 e 90%. Em todos os tratamentos, utilizou-se 10% de vermiculita média. Para a produção das mudas, foram utilizados tubetes com capacidade para 105 cm³. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, contendo os quatro tratamentos em quatro repetições. Cada repetição foi composta por uma bandeja contendo 108 tubetes, com parcela útil de 20 mudas centrais. As mudas foram produzidas de acordo com técnicas usuais em Viveiros Florestais e aos 145 dias após a semeadura, foram quantificados: o percentual de sobrevivência, a altura da parte aérea e o diâmetro do coleto das mudas. Com base nos resultados obtidos, verificou-se que em todos os substratos foi possível obter valores percentuais de sobrevivência acima de 95%. No entanto, o substrato influenciou significativamente no crescimento das plantas de candeia, sendo que maiores concentrações de fibra de coco em relação à casca de arroz carbonizada influenciaram positivamente as características de crescimento analisadas. (Apoio: FAPEMIG)

Palavras-chave: Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish, recuperação, viveiros florestais.

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CoLoRAção doS FRutoS CoMo índICe de MAtuRAção de SeMenteS de euterpe espiritosantensis Fernandes (AReCACeAe)

Garcia, Valéria A.1; Fuzitani, Eduardo J.2; Nomura, Edson S.2; Damatto Jr, Erval R.2; Souza, Ademir O.3

1Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas do Instituto de Botânica – SMA/SP, São Paulo/SP; 2Pólo

Regional do Vale do Ribeira / APTA – SAA/SP, Pariquera-açu/SP; 3Quasar Consultoria Ambiental. [email protected]

Resumo: A espécie E. espiritosantansis é conhecida como palmiteiro vermelho e é nativa da Floresta Tropical Atlântica. Devido à crescente devastação do habitat das palmeiras das espécies do gênero Euterpe, associadas à derrubada de plantas para a extração de palmito, torna de interesse a produção de sementes e mudas dessa espécie para a restauração ecológica da flora nativa e, ainda, para pesquisas visando subsidiar sua domesticação e uso racional para produção de palmito ou de frutos, e como planta ornamental. Sua propagação é feita exclusiva-mente por sementes, que são consideradas recalcitrantes. O amadurecimento do cacho não se dá de forma homogênea, uma mesma planta de E. espiritosantensis pode apresentar na mesma épo-ca frutos e sementes em diferentes graus de maturação, sendo necessário estudos para identifi-cação do ponto de colheita, o que deveria, preferencialmente, coincidir com o ponto de máxima qualidade fisiológica. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo relacionar as fases de maturação do fruto por meio de sua coloração com a maturidade fisiológica de suas sementes e com isso colaborar com o aproveitamento do potencial econômico das palmeiras regionais e a incorporação à lista de produtos comerciais. Para tanto, colheram-se frutos de E. espiritosan-tensis, em diferentes estádios de maturação em matrizes no Pólo Regional de Desenvolvimento Sustentável dos Agronegócios do Vale do Ribeira, no município de Pariquera-açu (SP). Após a coleta, os frutos foram acondicionados em embalagens de papel e transportados ao Laboratório do Núcleo de Pesquisa em Sementes do Instituto de Botânica de São Paulo (SP) onde foram beneficiados. Separaram-se os frutos em quatro estádios diferentes: I (fruto totalmente verde); II (coloração verde-arroxeado); III (coloração verde com roxo-escuro); IV (frutos totalmente roxo-escuros) e foram determinados: o teor de água, a massa seca e o índice de tamanho dos frutos e das sementes; a germinação (%) e o vigor através do índice de velocidade de germina-ção das sementes. Pode-se concluir que a coloração dos frutos de Euterpe espiritosantensis é um índice visual passível de ser utilizado na prática, representando uma alternativa viável para a obtenção de sementes de melhor qualidade fisiológica. O estádio mais apropriado para a co-lheita é aquele no qual os frutos se encontram na coloração totalmente roxo escuro (estádio IV).

Palavras-chave: germinação; palmeira; palmiteiro vermelho; semente recalcitrante

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FoRMAção de MudAS de euterpe edulis Mart. (AReCACeAe) eM dIFeRenteS SuBStRAtoS

Garcia, Valéria A.1; Rodrigues, Domingos S.2; Fuzitani, Eduardo J.3; Firme, David M. P.4; Young, Jorge L. M.2; Souza, Ademir O.5

1.Instituto de Botânica–SMA/SP, Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas.

São Paulo/SP; 2. Instituto de Botânica–SMA/SP, Centro de Pesquisa em Ecologia e Fisiologia. São Paulo/SP; 3. Pólo

Regional do Vale do Ribeira/APTA–SAA/SP, Pariquera-açu/SP; 4.

Graduando de Ciências Biológicas na Universidade São Camilo; 5.

Quasar Consultoria Ambiental. [email protected]

Resumo: Até o fim da década de 90 o Brasil era considerado o principal produtor, consumidor e exportador de palmito do mundo, sendo este explorado, de forma predatória e extrativista, principalmente das palmeiras do gênero Euterpe. Com a mudança de estratégia de produção de palmito aliada à rigorosa legislação ambiental de proteção às espécies ameaça-das de extinção, caso da palmeira Euterpe edulis nativa da Mata Atlântica houve aumento da procura por sementes e mudas para o cultivo comercial e implantação de projetos de manejo sustentável, além da demanda para a restauração ecológica de matas nativas. Com isso, houve exigência de tecnologia de produção de mudas dessa espécie. Neste contexto, o substrato se

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destaca por apresentar as funções básicas de sustentação da planta e o fornecimento de nutrien-tes, água e oxigênio. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desenvolvimento de mudas de E. edulis quando utilizados diferentes substratos. O experimento constou de cinco tratamen-tos: areia lavada; composto orgânico; areia lavada + composto orgânico (v/v 1:1); areia lavada + casca de pinus (v/v 1:1); casca de pinus. Utilizou-se o delineamento experimental blocos ao acaso contendo cinco repetições com cinco mudas por parcela. Foi transplantada uma plântula de E. edulis por recipiente (sacos plásticos de polietileno preto de 8x20 cm), preenchidos com os substratos. Aos 240 dias após a repicagem foram determinados: diâmetro do coleto, altura da parte aérea, número de folhas e massa seca da parte aérea. Dentre os parâmetros utilizados para descrever o crescimento das mudas foram observadas diferenças significativas em todas as variáveis avaliadas. As mudas produzidas nos tratamentos formados por composto orgânico e composto orgânico + areia demonstraram superioridade em seu crescimento vegetativo, sendo as médias dos valores encontrados para mudas produzidas com composto orgânico: altura de 10,02 cm, diâmetro de coleto de 7,04 mm, número de folhas de 3,96 unidades e massa seca da parte aérea de 1,68 g. Pode-se concluir que os substratos com composto orgânico formaram mudas de melhor qualidade.

Palavras-chaves: jiçara, juçara, palmiteiro, palmito.

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AvALIAção do CReSCIMendo de eSPéCIMeS de SAMAMBAIAçu (Cyathea atrovirens Langsd. & Fisch) APóS o deSMAtAMento PARA ConStRução do RodoAneL – tReCho SuL

Nievola, Catarina Carvalho1, Lopes, Elisabete Aparecida2, Medina, Ivomar Aparecido1

1.Núcleo de Pesquisa em Plantas Ornamentais, Instituto de Botânica, SP, Brasil; 2. Núcleo de Pesquisa –

Curadoria do Herbário de São Paulo, Instituto de Botânica, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) Domin., que pertence à Cyathe-aceae é conhecida como samambaiaçu do brejo. Após o desmatamento da região destinada à construção do Rodoanel-Trecho Sul, denominada faixa de domínio, muitos exemplares de sa-mambaiaçus que antes da supressão da vegetação localizavam-se no interior da mata, permane-ceram nas bordas da pista. Embora tenha sido descrito que essa espécie possa ocorrer em locais abertos, sujeitos à incidência solar plena, bem como em regiões moderadamente sombreadas, não foram encontrados relatos sobre a influência da alteração do ambiente em função da supres-são da vegetação repentina, sobre a manutenção do crescimento de espécimes de C. atrovirens, que ficaram na borda da pista após o desmatamento, sendo este o objetivo deste trabalho. Ao longo de 34 meses após a supressão da vegetação, foram avaliados os números de báculos e frondes expandidas, bem como a altura do cáudice de 14 exemplares de C.atrovirens localiza-dos na borda da pista do Rodoanel – Trecho Sul (S 23º 40’ 21.8” W 46º 49’ 26.9”), região do município de Embu. Os resultados mostraram que houve uma flutuação no aparecimento do número de báculos ao longo do período avaliado, sendo que a maior quantidade (quatro) foi observada nos meses que antecederam o maior número de frondes expandidas (cerca de nove). Este foi observado preferencialmente durante a estação chuvosa, chegando a atingir o dobro em comparação à quantidade de frondes expandidas durante a estação seca. Durante o período avaliado, a altura do cáudice aumentou em média 0,14 cm. Conclui-se que os exemplares de C. atrovirens adaptaram-se às alterações causadas pela supressão da vegetação, mantendo o cres-cimento e resistindo satisfatoriamente quando presentes nas bordas da mata. Órgão financiador: (Instituto de Botânica/DERSA)

Palavras-chave: frondes, báculos, impacto ambiental, efeito de borda, supressão da mata.

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veGetAção ReGeneRAnte CoMo IndICAdoR de SeLeção de eSPéCIeS PARA ReCuPeRAção de uMA voçoRoCA eM ItuMIRIM, MG

Gomes, Danilo J. S.¹; Carlos, Leandro¹; Carmo, Isaías E. P.¹; Pereira, José A.A.¹; Morel, Jean D.¹

1.Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais,

Lavras, MG, Brasil. [email protected].

Resumo: O estágio final do processo de erosão hídrica é o aparecimento de grandes cavidades, tanto em extensão como em profundidade, que são formadas pelas águas de enxurrada que passaram ano após ano no mesmo local e que deslocaram grandes quantidades de massas de solos: as voçorocas. Pelo grau de degradação que as voçorocas provocam ao solo e conseqüentemente ao ambiente, torna-se fundamental a sua estabilização, controle e recuperação para evitar sua expansão e contribuir para a revitalização da área voçorocada. O estudo e o levantamento de espécies vegetais com capacidade de se estabelecerem em locais com condições adversas, associados ao padrão de dispersão e de regeneração natural, se mostram fundamentais para o controle dos processos erosivos e conse-qüentemente para restauração ecológica. Isto amplia as possibilidades de sucesso nas intervenções direcionadas para a recuperação de áreas degradadas. O objetivo deste trabalho foi a realização do le-vantamento da regeneração natural de uma voçoroca situada em Itumirim-MG, identificando espécies vegetais com potencial de estabelecer uma regeneração em áreas semelhantes. A área voçorocada foi separada verticalmente em três terços: inferior, médio e superior; e horizontalmente em oito transe-ções de modo a cobrir toda a área. As transeções foram alocadas paralelamente a linha de divisa entre o fragmento e a voçoroca. O levantamento da vegetação foi realizado através do Método de Agulha. Na análise dos parâmetros fitossociológicos utilizados, a espécie Gleichenia sp. foi a que mais se destacou , com uma Freqüência Absoluta de 74,17% dos pontos, seguida de Lycopodium sp. (6,14%), Paspalum polyphyllum Nees. (4,60%), Baccaris trimera (Less.) D.C. (2,81%), Andropogon guayanus L. (2,56%), Miconia pepericarpa DC. (1,53%), Tibouchina granulosa Cogn. (1,53%) Mellinis minu-tiflora P. Beauv. (1,28%). O parâmetro Vigor Absoluto tende a apresentar a mesma distribuição das espécies observada na Freqüência Absoluta. O Índice de Cobertura mostrou que a espécie Gleichenia sp. apresentou um valor 3,36 vezes maior que as demais espécies juntas. O índice de diversidade de Shannon foi de 1,209 nats/indivíduo, o que pode indicar um local recentemente perturbado. O estrato herbáceo se mostrou mais presente na regeneração. A espécie Gleichenia sp mostra-se dominante na regeneração. A utilização de Miconia pepericarpa DC. e Tibouchina granulosa Cogn. na recuperação de voçoroca se mostra viável (FAPEMIG).

Palavras-chave: áreas degradadas, sucessão ecológica, regeneração natural, método de agulha.

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AvALIAção teMPoRAL dA ReGeneRAção nAtuRAL de eSPéCIeS FLoReStAIS CoMo eStRAté-GIA de ReStAuRAção de MAtA de GALeRIA nA ALdeIA AMAMBAí, MunICíPIo de AMAMBAí, MS

Andressa Cristina Luchetti Lapere1, Zefa Valdivina Pereira2, Flávio Gato Cucolo3; Shaline Séfara Lopes fernandes4, Cezesmundo Ferreira Gomes5, Gilberto Lobtchenko6

1.Bolsista de Iniciação Científica, Curso de Gestão Ambiental da Faculdade de Ciências Biológicas e

Ambientais/ FCBA/UFGD; 2. UFGD-FCBA, C. Postal 533, 79804-970 Dourados-MS; 3. Programa de Pós Graduação em

Entomologia e Conservação da Biodiversidade, FCBA, Universidade Federal da Grande Dourados, MS; 4. Programa de

Pós-Graduação em Biologia Geral/Bioprospecção, FCBA, Universidade Federal da Grande Dourados,MS; 5.Faculdades

Anhanguera de Dourados; 6. Biólogo. [email protected]

Resumo: Este trabalho teve por objetivo fazer uma avaliação temporal da regenera-ção natural de espécies florestais próxima a uma mata de galeria na Aldeia Amambai, e com isso fornecer subsídio para a restauração florestal do local. A Aldeia está situada a cerca de 5 km da cidade de Amambaí, localizando-se na porção Sul do Estado, entre as coordenadas geográficas S 23°02’37” e W 55°09’10”, S 23°06’07” e W 55°13’36”. A vegetação natural da reserva faz parte do Bioma Cerrado, contudo, as diferentes formas de uso da terra conferiram à região uma intensa descaracterização, e os fragmentos remanescentes encontram-se bastante alterados. Os resultados obtidos demonstram pouca variação nos parâmetros analisados no período de 2009

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e 2011, além disso, parte dessas variações se deve ao fato de que várias espécies não puderam ser identificadas na primeira avaliação. As variações observadas na densidade relativa indicam que está havendo na área uma maior heterogeneidade ambiental, além disso, o aparecimento de novas espécies demonstra certo potencial que a área tem em ser recolonizada, pois continuam chegando propágulos da mata adjacente. Os resultados obtidos confirmam a importância de Go-chnatia polymorpha (Less.) Cabrera, Zanthoxylum rhoifolium Lam., Rapanea umbellata Mart. para o processo de restauração da área de estudo na Aldeia Guarani-Kaiowá do município de Amambaí (FUNDECT).

Palavras-chave: flora; diversidade; degradação.

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GeRMInAção de eSPéCIeS nAtIvAS e SuA IMPoRtânCIA nA ReCuPeRAção de áReAS deGRAdAdAS PeLA MIneRAção de níqueL eM BARRo ALto - Go

Pachêco, Bárbara Silva; Lavagnini, Gabriel Vinícius; Vasquez, Natália Pedrosa de Souza; Aquino, Fabiana de Gois; Andrade, Leide Rovênia Miranda de.

Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Planaltina, DF. [email protected]

Resumo: Os complexos ultramáficos se caracterizam por apresentarem teor maior que 90% de minerais máficos, como ferro e magnésio, cujos solos têm composição química diferencia-da, tais como altas concentrações de metais (Ni, Al) altamente demandados pela mineração. Apesar de condições adversas como, por exemplo, presença de metais pesados potencialmente tóxicos, mui-tas plantas se desenvolvem naturalmente nessas áreas, sendo alto o grau de endemismo. Uma forma de minimizar os impactos ambientais decorrentes da exploração mineral de Ni nestes complexos ultramáficos seria utilizar estudos de ecologia vegetal com enfoque em germinação para definir as melhores metodologias de recuperação para tais áreas degradadas. O presente trabalho teve como objetivo realizar testes de germinação para espécies nativas visando à recuperação de área degradada pela mineração de níquel em Barro Alto, Goiás. As sementes foram coletadas em remanescentes de campo sujo que vêm sendo explorados pela mineração de Ni. Essas foram selecionadas e tratadas, ou não, com solução de hipoclorito de sódio (4%). Após esse tratamento foram distribuídas em placas de petri, umedecidas e colocadas em germinador regulado na temperatura de 25ºC. Foi utilizado o mesmo procedimento para o teste de todas as espécies somente variando a data de início do expe-rimento e o número de sementes por placa de petri. O experimento foi acompanhado durante seis meses, sendo realizada a contagem de sementes germinadas e descarte de material com presença de fungos. A maior taxa de germinação foi observada para Heliotropium salicioides Cham. (44,5%) e para as demais espécies a germinação foi abaixo de 19%. Estes resultados indicam que é necessário ampliar os testes de germinação, para essas e outras espécies, bem como incentivar novos estudos para garantir melhores estratégias de recuperação desses ambientes extremos. (CNPq, Embrapa e Anglo American Ltda.)

Palavras-chave: sementes, recuperação, metais, exploração mineral.

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eCoFISIoLoGIA quíMICA de jacaratia spinosa (Aubl.) A. dC. PRovenIente de dIFeRenteS FoRMAçõeS FLoReStAIS do eStAdo do PARAná

Pilatti, Daiane M.¹, Rosimari de O. Fragoso¹, Fortes, Andréa M. T.¹, Boiago, N. P.¹, Fernanda M. Gomes¹

1.Universidade Estadual do Oeste do Paraná, CCBS – Campus de [email protected]

Resumo: Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. - família Caricacea, é indicada para a recuperação de área degradada uma vez que possui características de espécie pioneira, cresci-mento rápido e distribuição ampla em todo país. Porém, faz-se necessário o conhecimento das características ecofisiológicas inerentes à espécie quando inserida numa recuperação de área

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degradada. A alelopatia pode ser entendida como qualquer efeito, direto ou indireto, benéfico ou danoso, que uma planta exerce sobre outra através da liberação de compostos químicos no ambiente. A expressão gênica desses compostos pode ser afetada e diferenciada pelos fatores abióticos das diferentes formações florestais. O objetivo deste trabalho foi avaliar se diferentes formações florestais podem afetar as características alelopáticas de jacaratiá. Para tanto, folhas de jacaratiá foram coletadas no estado do Paraná, nas Formações Florestais Estacional Semi-decidual e Ombrófila Densa; as mesmas foram secas e trituradas e a partir do pó das folhas, foi preparado o extrato aquoso a 5% (peso/volume) que permaneceu por 24 h à 4ºC. Então, foram realizadas as diluições de 1%, 2%, 3% e 4%, mais a testemunha apenas com água destilada para cada formação florestal. Para testar o potencial alelopático de jacaratiá, foram utilizadas duas espécies biondiadoras: alface (Lactuca sativa L.) e tomate (Solanum lycopersicum L.). Foram analisados os parâmetros de Porcentagem de Germinação, Índice de Velocidade de Germina-ção, Comprimento Médio da Parte Aérea e Comprimento Médio da Raiz. Observou-se que os extratos nas maiores concentrações inibiram todos os parâmetros avaliados, com exceção da Porcentagem de Germinação, tanto para o alface quanto para o tomate. A comparação entre o potencial alelopático de jacaratiá nas diferentes localidades apontou o extrato proveniente da Formação Florestal Estacional Semidecidual significativamente mais agressivo que o extrato da Ombrófila Densa.Conclui-se assim que a espécie jacaratiá apresenta ecofisiologia química distinta para diferentes localidades, logo, sua interação com o meio em que será inserida pode variar e seu efeito alelopático deve ser estudado antes da implementação de um projeto de res-tauração vegetal (Parque Tecnológico Itaipu).

Palavras-chave: alelopatia, formação florestal, recuperação de área degradada.

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AvALIAção dA vARIAção de tAxAS de SequeStRo de CARBono de uM ReFLoReStAMento CoM 120 eSPéCIeS nAtIvAS dA MAtA AtLântICA, no MunICíPIo de CAStILho-SP

Melo, A. B. T.1; Trigueirinho, V. M. G. B.1; Stucchi, G. B.2; Stape, J.L.31. Graduação ESALQ/USP; 2. Pós-graduação ESALQ/USP; 3. Orientador Department of Forestry and

Enviromental Resources, North Carolina State University. [email protected]

Resumo: Com advento das mudanças climáticas globais a restauração ecológica ganhou importância crescente no contexto econômico e ambiental atual; atentos a essa de-manda, organizações não governamentais e terceiro setor passaram a comercializar créditos de Carbono dando origem ao Mercado de Carbono. O presente estudo visa avaliar as taxas de sequestro de carbono na biomassa da floresta e na matéria orgânica do solo, estimados através do número de espécies, sucessão ecológica e manejo florestal para períodos de curto e longo prazo. Foi instalado um Ensaio Experimental em fatorial 2X2X2+5 fatores, em Parcelas, com blocos casualizados, totalizando 39 parcelas, divididos em 3 blocos. Os fatores analisados fo-ram: Silvicultura (Manejo Usual e Manejo Potencial), Diversidade (60 e 120 espécies nativas), Composição (25% e 50% de Pioneiras), além das cinco parcelas adicionais: i) Tratamento Irri-gado, ii) Preparo de solo em camalhão, iii) Espécies não-pioneiras, iv) Parcela extra-destrutiva, e v) Linha-Base. O local implantado se localiza em uma RPPN em Castilho, SP, com solo típico (Latossolo areno-argiloso) da região, e coberto por pastagem. O espaçamento é de 2,5 m x 2,0 m, sendo as parcelas de 21 linhas x 23 plantas com 483 árvores por parcela; cada bloco terá 13 parcelas e bordadura externa de 6 linhas e 8 plantas, totalizando uma área de 10,8 ha. A implan-tação ocorreu em Janeiro de 2010. Com a idade de 1 ano, foi feito o censo das alturas e com 18 meses, o inventário das alturas e do diâmetro a 30 cm do solo, realizando um desbaste dos fustes adicionais em indivíduos que apresentavam mais de 3 fustes, identificando-os quanto ao diâme-tro. Observa-se que espécies classificadas como Pioneiras apresentaram crescimento superior às classificadas como Não-Pioneiras. Entretanto, houve espécies que tiveram comportamento di-ferente de sua classificação, apresentando alturas semelhantes à outra classe sucessional. Quan-to ao desenvolvimento entre tratamentos, o Tratamento Irrigado apresenta os indivíduos com maior altura, bem como o Tratamento Não-Pioneiras apresenta os indivíduos com menor altura.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; reflorestamento; sequestro de carbono.

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eFeIto do tAMAnho do tuBete e dISPonIBILIdAde de FeRtILIzAnte nA SoBRevIvênCIA e CReSCIMento InICIAL de MudAS de eSPéCIeS nAtIvAS

Miranda, Frederico T. S.1; Lima, Rebeca P.1; Gusson, Eduardo1; Pereira, Daniela S.1; Kageyama, Paulo Y.1

1.Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Curso de Engenharia Florestal, Piracicaba, SP,

Brasil. [email protected]

Resumo: Nos plantios com espécies nativas voltados à restauração ecológica de áreas antropizadas, o uso de mudas de boa qualidade e a aplicação de fertilizantes em momento e dosagens adequados, são fatores que aumentam o sucesso de estabelecimento dessas florestas. Neste contexto, instalou-se experimento em área da AES Tietê, às margens do Reservatório de Barra Bonita, para testar o efeito de dois fatores na sobrevivência e crescimento inicial de 39 es-pécies nativas, sendo estes: i) tamanho de tubete (a-Tubetinho de 55cm3; b-Tubetão de 290cm3) e; ii) disponibilidade de fertilizante NPK-06.30.06 (a- 100g/planta; b- 200g/planta), aplicado 60 dias pós-plantio. Para tanto, delineou-se um experimento fatorial 22 em blocos casualizados com 10 repetições, totalizando 40 parcelas. As espécies foram divididas proporcionalmente em três grupos: 1- pioneiras/secundárias iniciais de crescimento rápido; 2- secundárias tardias de crescimento moderado; 3- secundárias tardias/clímax de crescimento lento. Para a avaliação dos resultados, aplicou-se o teste F (Análise de Variância) e Tukey-Kramer (p < 0,05), para a comparação de médias de dados desbalanceados. Na avaliação da sobrevivência das mudas em campo, 45 dias pós-plantio, mudas de Tubetão apresentaram 93,8% de sobrevivência, uma superioridade de 12,1% com relação às mudas de tubetinho que apresentaram 83,7% de sobre-vivência. Separadamente por grupos de crescimento, esta superioridade foi de 7,2%, 12,3% e 18,5%, respectivamente, para os grupos 1, 2 e 3. Após 1 ano de plantio, essa superioridade foi de 15,9%, 37,6%, 62,0% nos respectivos grupos, sendo de 35,2% no total do plantio. Na avaliação do desenvolvimento das mudas, em função da biomassa produzida 1 ano pós-plantio, as mudas de Tubetão apresentaram superioridade em suas médias de 13,9%, 17,5% e 79,6%, para os respectivos grupos 1, 2 e 3, porém, com diferença significativa apenas para as mudas de espécies do grupo 3. Com relação à dosagem do fertilizante, os três grupos responderam melhor ao tratamento onde se utilizou o dobro da dosagem atualmente utilizada pela empresa, com médias significativamente superiores em 48,9%, 116,6% e 88,2%. Visando-se otimizar recursos na produção de mudas de nativas, é recomendado que espécies de crescimento rápido sejam produzidas em Tubetinho e, as de crescimento lento, em Tubetão. Em campo, independente do recipiente de produção, essas mudas devem receber dosagens adequadas de fertilizantes no plantio para seu rápido estabelecimento.

Palavras-chaves: recipientes de produção de mudas; fertilização dos plantios; sobre-vivência.

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InteRFeRênCIA de heRBICIdAS SoBRe MudAS de quAtRo eSPéCIeS ARBóReAS nAtIvAS de FLoReStAS eStACIonAIS SeMIdeCIduAIS de São PAuLo

Justi, Marina1 ; Penha, Alessandra S.1 ; Monquero, Patrícia A.1 1.Centro de Ciências Agrárias – Universidade Federal de São Carlos.

[email protected]

Resumos: Em uma área de ecossistema degradado, a contribuição de diferentes fontes de regeneração natural, como a chuva de sementes, a rebrota e o banco de sementes geralmente se altera, além de ser prejudicada por outros fatores como a falta de conectividade entre fragmentos florestais, ausência de agentes dispersores de sementes e intensa competição com espécies invasoras, as quais representam uma grande barreira não só para os mecanismos naturais de regeneração, mas também nos projetos de plantio de mudas e/ou semeadura direta para restauração destes ecossisstemas degradados. As espécies invasoras, também chamadas de voluntárias, competem por nutrientes, espaço e luz com as nativas, com a vantagem de possu-írem crescimento rápido e alta adaptabilidade a condições presentes em áreas degradadas. O

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controle de plantas voluntárias pode ser realizado por métodos químicos ou mecânicos, sendo este último dificultado em áreas muito extensas. Por outro lado, os métodos químicos, muito utilizados e conhecidos nos cultivos agrícolas, precisam ser testados com espécies nativas, na tentativa de avaliarmos seu uso. Assim, pensando em contribuir com informações sobre res-tauração ecológica, testamos a influência de herbicidas em pré-emergência sobre as espécies Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose, Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong, Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna e Croton floribundus Spreng. com objetivo de responder à seguinte questão para as quatro espécies 1) Diferentes diluições de metribuzin, imazapyr e sulfentrazone, quando aplicados em pré-emergência sob plântulas, afetam sua sobrevivência e crescimento? Realizamos os experimentos no Centro de Ciências Agrárias, da UFSCar, campus de Araras, SP. Nos ensaios com os herbicidas em pré-emergência, realizamos com cada um de-les oito tratamentos que consistiram em diferentes diluições dos herbicidas, com três repetições por tratamento, para cada espécie, num delineamento inteiramente casualizado. Cada unida-de experimental consistiu num saco plástico de mudas de cinco quilogramas, no qual foram colocadas quatro sementes de uma mesma espécie. Amostramos o crescimento de plântulas, e medimos a matéria seca das mesmas aos 85 DAA. Os resultados indicam que o herbicida sulfentrazone foi seletivo a todas as espécies testadas, por outro lado, metribuzin e imazapyr mostraram-se prejudiciais ao crescimento e desenvolvimento das espécies, resultando em ele-vada fitotoxidade (FAPESP).

Palavras-chave: floresta tropical; herbicidas; interferência; invasoras; restauração; se-meadura direta; sucessão.

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ReSPoStAS eCoFISIoLóGICAS de PLântuLAS de duAS eSPéCIeS dA MAtA AtLântICA: Luehea divaricata Mart. & zucc. (MALvACeAe) e Cecropia hololeuca Miq. (uRtICACeAe)

Teixeira, Milena Carvalho1; Andrade, Antônio Carlos Silva de1.1.Instituto de pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IPJBRJ).

[email protected]

Resumo: A Mata Atlântica atualmente está reduzida há cerca de 11,4% a 16% de sua área original, destes 83,4% são pequenos fragmentos (menores de 50 ha), o que promove riscos a manutenção e funcionamento das comunidades. Portanto, a tendência é priorizar a adoção de metodologias que se aproximem da sucessão natural, para isso o uso de espécies nativas é funda-mental. Em geral, as espécies são escolhidas de acordo com suas aptidões ecológicas, e a classifi-cação das mesmas deve envolver o seu comportamento silvicultural e ecológico. Dessa forma, as espécies podem ser agrupadas, em função dos diferentes graus de exigência à luz, em dois grandes grupos: pioneiras ou intolerantes à sombra e clímaces ou tolerantes à sombra. Informações sobre quais espécies nativas utilizar, ainda é um dos pontos mais críticos de qualquer método de res-tauração empregado. O objetivo do trabalho foi propor informações ecofisiológicas das espécies nativas L. divaricata e C. hololeuca, a partir da determinação da exigência de luz adequada, a fim de facilitar o processo de produção em viveiros de mudas e em programas de restauração. O pre-sente trabalho foi conduzido no Laboratório de Sementes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As sementes de L. divaricata (açoita-cavalo) e C. hololeuca (embaúba-prateada) foram coletadas na Floresta da Tijuca/RJ. As plântulas foram submetidas a cinco condições de luz: 0,5%, 5%, 11%, 30% e 63% e de razão entre os comprimentos de onda do vermelho e vermelho-extremo (V/VE) de 0,2; 0,4; 1,0; 0,8; e 1,1, respectivamente. As avaliações de crescimento das plantas foram feitas segundo Benincasa, baseada na determinação de massa seca (70ºC/48h) e de área foliar (IMAGE J), nos intervalos de 0, 30, 60 e 90 dias, com seis repetições/tratamento. A tolerância ao sombreamento foi avaliada a partir da taxa de crescimento relativo (TCR) e do índice de plastici-dade fenotípica proposto por Valladares. Observou-se alta mortalidade das plântulas, de ambas as espécies, em menos de 30 dias, quando submetidas a 0,5% de luz. As duas espécies apresentaram índice de plasticidade semelhante, além de TCR maior e positiva em 11% de luz, sendo espécies pioneiras importantes em reflorestamentos mistos.

Palavras-chave: plântula; luz; reflorestamento; crescimento; plasticidade.

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BAnCo de SeMenteS do SoLo eM uM FRAGMento de MAtA CILIAR dA ALdeIA AMAMBAí, MS

Shaline Séfara Lopes Fernandes1; Juliana Almeida Clementino2; Zefa Valdivina Pereira³; Ana Caroline Gomes Abreu4; Thalita de Souza Santos Abreu4 Rodolfo

Portela de Souza5; Andréia Sangalli31. Programa de Pós-Graduação em Biologia Geral/Bioprospecção, FCBA, Universidade Federal da

Grande Dourados, MS; 2. Acadêmica de Gestão Ambiental da FCBA, Universidade Federal da Grande Dourados,

MS; 3. Docente da FCBA, Universidade Federal da Grande Dourados, MS; 4. Bolsistas de Extensão do CNPq, FCBA,

Universidade Federal da Grande Dourados, MS; 5. Programa de Pós- Graduação em Ciências e Tecnologia Ambiental,

FACET, Universidade Federal da Grande Dourados, MS. [email protected]

Resumo: O estudo sobre a dinâmica e estrutura de um ecossistema é de extrema importância no desenvolvimento de modelos de restauração ecológica. Um modelo que vem sendo muito utilizado é a condução da regeneração natural através do banco de sementes, que podem fornecer informações importantes sobre a densidade de sementes, a composição florís-tica, como também, indicar o potencial regenerativo de uma área que se pretende recuperar. Este estudo teve como objetivo caracterizar o banco de sementes do solo em um fragmento de mata ciliar da Aldeia Amambaí, MS. Foram coletadas 50 amostras de solo de 20 x 20 cm até a profundidade de 5,0 cm na estação chuvosa e na seca em um fragmento de mata ciliar da Aldeia Amambaí. As amostras foram mantidas no viveiro da Universidade Federal da Grande Doura-dos com sombreamento de 50%, sendo identificadas após quatro meses em ambas as épocas de coleta. Foram amostradas 62 espécies, 37 gêneros e 25 famílias botânicas. As famílias com maior riqueza específica foram Asteraceae (19%) e Poaceae (8%), contribuindo com 27% do total de indivíduos. A forma de vida da maioria das espécies amostradas nos bancos de sementes foi herbácea (74%), seguido de arbóreas (15%) e lianas (13%). O índice de diversidade Shannon do banco de sementes coletado no período chuvoso foi de 3,14 e a equabilidade de 0,64; no pe-ríodo seco foi de 2,73 e 0,58. Com base nesses dados contatou-se que a riqueza de espécies foi maior no período chuvoso. No entanto, com poucas espécies arbóreas e um grande predomínio de regenerantes herbáceos na área em estudo, passa a ser evidente a necessidade de intervenção no local, com medidas de enriquecimento, através de semeadura direta, translocação de serra-piheira, entre outros (FUNDECT).

Palavras-chave: dinâmica vegetal; estrutura de remanescentes ciliares; riqueza de es-pécies vegetais.

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CLASSIFICAção de AMBIenteS de PRoteção nA FAzendA “entRe RIoS” – CRIStALInA, Go

Marques, Bruno Vicente1; Peche Filho, Afonso2; Freitas, Eduardo Pretto3; Fengler, Felipe Hashimoto4.

1.Gestor Ambiental, Estagiário - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 2. Pesquisador

Científico - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 3. Eng. Agrônomo, Mestrando - Centro de Engenharia

e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 4. Engenheiro Ambiental, Estagiário - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí,

SP. [email protected]

Resumo: Áreas de proteção permanente (APP) e fragmentos florestais favorecem a manutenção da qualidade da água, conservação do solo no entorno dos mananciais e protegem a biodiversidade local. O trabalho apresenta uma técnica para avaliar ambientes de proteção, onde se pretende desenvolver ações de restauração e gestão ambiental. Esta técnica foi aplicada na Fazenda Entre Rios - Cristalina, GO onde a APP equivale a 257,4 hectares distribuídos ao longo dos mananciais. Partindo destes limites estabelecidos por lei foram calculadas zonas proteção com 50 e 100% a mais que a exigência legal, totalizando 523,66 hectares sendo 78% (408,35 ha) uma somatória de APP e de fragmentos florestais. As áreas foram avaliadas de acordo com um critério subjetivo baseado na percepção ambiental do avaliador. Uma escala de nota com valores de 1 a 5 foi utilizada para classificar as diferentes condições ambientais. Ambientes nota 1 refletem áreas degradadas dentro da APP totalizando 18,62 ha ou 4,56%. Ambientes nota 2 refletem APPs bastante perturbadas totalizando 33,36 ha ou 8,17%. Ambientes nota 3 refletem APPs sem perturbações totalizando 189,1 ha ou 46,65%. Ambientes nota 4 refletem os fragmen-

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tos florestais na zona de amortecimento com dimensões de 50% a mais do que as dimensões da APP totalizando 89,43ha ou 21,9%. Ambientes nota 5 refletem fragmentos florestais em zonas de amortecimento que apresentam dimensões 100% maior que a APP totalizando 76,28ha ou 18,68%. Essa classificação permitiu quantificar diferentes APPs que atendem a legislação e também quantificar áreas com diferentes condições para a restauração ambiental. Da mesma forma a classificação permite o planejamento de ações para compor um sistema de gestão am-biental.

Palavras-chave: planejamento, restauração ambiental, gestão ambiental, fragmentos florestais.

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eFeIto de AduBoS veRdeS e Lodo de eSGoto+BRAChIáRIA, eM uM LAtoSSo-Lo veRMeLho dIStRóFICo deCAPItAdo, no CReSCIMento de Astronium fraxinifolium Schott

Souto Filho, Sebastião Nilce1; Alves, Marlene Cristina3; Marchini, Débora de Cássia1; Giácomo, Rômulo Guimarães2; Arruda, Otton Garcia de1;

(1) Estudante de mestrado em Sistemas de Produção – UNESP, Campus Ilha Solteira, sebastiaonsf@

gmail.com; (2)Estudante de doutorado em Sistemas de Produção – UNESP, Campus Ilha Solteira; (3) Professora Titular,

Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, UNESP – Campus Ilha Solteira.

Resumo: A utilização incorreta dos solos e grandes construções no meio rural vêm causando alterações no mesmo, tornando-os menos produtivos, aumentando assim as áreas de-gradadas. Técnicas que visam à restauração ecológica de solos degradados têm sido investigadas. Num planejamento de recuperação de uma área degradada, o grande desafio a ser alcançado é o estabelecimento de um horizonte A, para que a partir daí, o processo seja catalisado pela biosfera, podendo surgir outros horizontes, conforme o condicionamento natural. Neste sentido foram in-vestigadas as mudanças positivas no ambiente edáfico de um Latossolo de Cerrado decapitado, do qual foi retirada uma camada de 8,5 m de espessura para construção de uma usina hidroelétrica. Para a sua recuperação utilizou-se uma espécie arbórea nativa, adubos verdes, lodo de esgoto e braquiária. O solo estudado está sob intervenção antrópica com técnicas para recuperação há sete anos. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com cinco tratamentos e cinco repetições, o qual foi implantado em 2004 sendo os tratamentos: 1-Testemunha - solo ex-posto (sem manejo); 2-Espécie arbórea Gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium Schott); 3-Gon-çalo-alves+feijão-de-porco (Canavalia ensiformis (L.) DC.); 4-Gonçalo-alves+nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), até 2005 sendo substituído no ano de 2006 pela crotalária (Crotalaria juncea L.); 5-Gonçalo-alves+gramínea (Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster) + lodo de esgoto (60 t ha-1, base seca). Estudou-se a condição de Vegetação nativa de Cerrado, onde foi ava-liado nos anos de 2010 e 2011 o desenvolvimento da espécie arbórea (diâmetro do caule e altura das plantas), a massa verde e seca da parte aérea dos adubos verdes e da B. decumbens. Os resul-tados foram analisados efetuando-se a análise de variância e teste de Tukey a 5 % de probabilidade para a comparação de médias. A taxa de crescimento das plantas durante as épocas estudadas no tratamento com lodo de esgoto foi maior que os demais tratamentos, portanto, este manejo é o mais indicado para a recuperação do solo degradado em estudo.

Palavras-chave: qualidade do solo; degradação do solo; área de empréstimo; recupe-ração do solo; Gonçalo-alves.

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ênFASe nA deteRMInAção de PeRdAS de SoLo eM Função dA neCeSSIdAde de ReStAuRAção dA SuPeRFíCIe

Fengler, Felipe H.1, Peche Filho, Afonso2, Ribeiro, Admilson I.3, Bellemo, Adriana C.4, Queiroz, Daniel F. A.5, Dias, Gisele S.s5, Freitas, Eduardo P.6.

1.Engenharia Ambiental – UNESP Sorocaba/ Estagiário Centro de Engenharia e Automação – IAC,

Jundiaí, SP; 2. Pesquisador científico – Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 3. Professor – UNESP

Sorocaba, Sorocaba, SP; 4. Bióloga – Graduação – UFSCAR, Sorocaba, SP; 5. Estagiário – Centro de Eng. e Automação

– IAC, Jundiaí, SP; 6. Pós-Graduação IAC – Campinas, SP. [email protected]

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Resumo: As atividades humanas possuem grande potencial para acelerar o processo erosivo, modificando os ambientes naturais em velocidade que não é acompanhada pela capaci-dade de resiliência do meio. Assim o equilíbrio natural das áreas erodidas fica comprometido, e estes locais são transformados em ambientes com características inóspitas que não suportam mais a manutenção da biodiversidade natural. Portanto o estabelecimento de propostas para a reabilita-ção dessas áreas e a reconstrução das camadas superficiais do solo se faz necessária. Este trabalho apresenta uma forma de determinação das perdas de solo em um talude exposto a uma condição erosiva acelerada, com objetivo de calcular a quantidade de solo necessária para a reconstrução da superfície. Foi escolhido um talude localizado no campus da UNESP Sorocaba SP, nas coor-denadas 23°28’43’’ S, 47°25’03” O. A concepção metodológica teve como base a determinação do volume de solo perdido utilizando o modelo digital do terreno (MDT). Para a determinação da linha original da superfície foram utilizadas, como referencial, as raízes expostas encontradas no talude. Utilizando o programa SURFER, versão 8, foi possível recriar a forma original do terreno, através do MDT que representava a superfície original. Para determinar o volume de solo perdido, foi gerado o MDT da superfície em seu estado atual. A integração dos dois modelos permitiu a cubicagem da área em estudo, obtendo-se 10,12m3 em um talude de 88m2. Com os resultados gerados concluiu-se que: (a) A metodologia empregada permitiu determinar a quantidade de solo perdido; (b) Serão necessários 10m3 de solo, uma camada média de 12cm, para a reconstrução do perfil do solo estudado.

Palavras-chave: reconstituição, metodologia, MDT, erosão.

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PRojeto de ReStAuRAção eCoLóGICA eM áReAS de MAnGuezAL: eStudo de CASo dA áReA de PRoteção AMBIentAL de GuAPIMIRIM, Rj

Medeiros, Rafael Junger de Castro ¹ ²1.Instituto Nacional de Tecnologia e Uso Sustentável; 2. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/

PEC, Doutorado em Meio Ambiente. [email protected]

Resumo: O manguezal é um ecótono responsável pela manutenção do equilíbrio entre ambientes continentais e marinhos. Isto porque amortiza processos erosivos e tempestades; retém sedimentos diminuindo o assoreamento; adsorve e imobiliza poluentes; garante a ciclagem de nu-trientes; provê refúgio, alimento e locais de reprodução para a fauna; têm relevância econômica e sócio ambiental. Contudo sofre pressões antrópicas com construção de portos; alteração de proprie-dades físico-químicas; poluição; preconceito (resquícios do movimento higienista); corte ilegal de árvores; dentre outros. Apesar de ter uma boa resiliência, muitas áreas não retornam às condições originais por falta de matrizes, barreiras à entrada de propágulos, herbivoria e recobrimento do substrato com resíduos sólidos ou espécies oportunistas. Este trabalho tem por objetivo apresentar técnicas utilizadas na restauração de 9,3 ha em Guapimirim. Trata-se do último trecho representativo de manguezais no Recôncavo da Baía de Guanabara. Contudo sofreu perdas de território devido ao corte de árvores, expansão da atividade rural e acidentes ambientais. Com a criação da APA em 1984 estes impactos cessaram, mas trechos que foram desmatados tiveram colonização por daninhas. Devido ao elevado adensamento, elas atuam como barreira à entrada de propágulos; que retidos nas bordas desenvolvem-se com fototropismo positivo em direção ao capim, gradualmente sombreando--o e avançando. Pela lentidão deste processo, a área em restauração foi roçada para permitir a entra-da, fixação e germinação de propágulos. A revegetação se deu com mudas de viveiro (pré adaptadas às condições do terreno) ou transplantadas (coletadas nas bordas). Para Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn., Avicennia schaueriana Stapf & Leechm. ex Moldenke e Rhizophora mangle L., o ganho de biomassa foi igual em ambas situações, contudo a taxa de sobrevivência, maior para as transplantadas. Testes apontaram alturas ideais para transplante, assim como a quantidade mínima de torrão. Foi notada necrose de algumas folhas ou abscisão foliar completa com posterior rebrota-mento. Também geraram resultados positivos a fixação direta de propágulos sombreados e com es-trutura protetora e plantio de propágulos com crescimento radicular induzido. Pode-se concluir que o transplante foi a melhor técnica, dadas as taxas de sobrevivência, disponibilidade de mudas, pré adaptação as condições locais e à altura por sombrear o capim rebrotado e reproduzir mais rápido.

Palavras-chave: manguezais; transplante; propágulos; resiliência.

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AnáLISe de deSARRAnjoS de SuPeRFíCIe PARA A ReStAuRAção AMBIentAL

Freitas, Eduardo P.1; Peche Filho, Afonso2; Moraes, Jener F. L.2; Marques, Bruno V.³; Fengler, Felipe H.4.

1.Eng. Agrônomo, Mestrando - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 2. Pesquisador

Científico - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 3. Gestor Ambiental, Estagiário - Centro de

Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 4. Engenheiro Ambiental, Estagiário - Centro de Engenharia e Automação –

IAC, Jundiaí, SP. [email protected].

Resumo: A ocupação do território modifica a paisagem e altera as relações naturais de um ambiente. Sem o entendimento da dinâmica das relações entre o ambiente físico, biótico e antrópico o processo de restauração ambiental poderá ser ineficiente provocando defeitos na obtenção de um cenário dinâmico e biodiversificado. Em sistemas agrícolas a perda de qualida-de do ambiente produtivo afeta indiretamente os ambientes de proteção como as matas ciliares e fragmentos florestais. Numa agricultura moderna as questões relacionadas com boas práticas ambientais tratam de ações preventivas e da restauração do equilíbrio e qualidade do ambiente. Com o manejo inadequado do solo no decorrer dos anos é possível identificar a ocorrência de diversos desarranjos na superfície do solo, estes podem ser expressos por selamento superficial, poças de água, compactação, reboleiras de ervas daninhas, escorrimento superficial, erosão laminar e em sulcos, etc. Estes desarranjos em sua maioria são visualmente perceptíveis em imagens aéreas, portanto podem ser identificados e analisados em imagens digitais como as disponibilizadas pelo Google Earth. O uso de tecnologias como o geoprocessamento facilita a identificação de desarranjos que podem ser imperceptíveis aos olhos do analista, pois auxiliam a criar cartas indicadoras de pontos com potencial de ocorrência de desarranjos superficiais, como mostra este trabalho. A melhoria de desempenho no manejo de solo dentro de um proces-so de restauração visa diminuir fatores negativos que podem comprometer o cenário ambiental desejado. Inicialmente obtém-se uma imagem do local de estudo, e também seu MDE (modelo digital de elevação) que numa integração de dados permitem determinar as linhas de fluxos e pontos com potencial de acúmulo de água na superfície. Com o recurso de sobreposição de imagens gera uma carta temática para análise visual da paisagem determinando a quantidade e tamanho de pontos não harmoniosos com a morfologia superficial do terreno. Com o posicio-namento geográfico obtém-se a possibilidade de uma avaliação mais detalhada no campo. Além disso a metodologia propicia oportunidade para discussão estratégica de atividades corretivas e um planejamento de práticas conservacionistas.

Palavras-chave: diagnóstico, gestão ambiental, restauração ecológica, geoprocessa-mento.

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Método IAC de dIAGnóStICo PRátICo PARA eLABoRAção de uM PLAno de ReStAuRAção eCoLóGICA

Peche Filho, Afonso 1; Storino, Moises¹; Marques, Bruno V.2; Freitas, Eduardo P.3; Fengler, Felipe H.4.

1.Pesquisador Científico - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 2. Gestor Ambiental,

Estagiário - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP, 3. Eng. Agrônomo, Mestrando - Centro de Engenharia

e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 4. Engenheiro Ambiental, Estagiário - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí,

SP. [email protected]

Resumo: A restauração ecológica pode ser entendida como uma combinação de múltiplos fatores e conhecimentos. As atividades humanas vem descaracterizando os ambien-tes naturais comprometendo a sobrevivência das gerações futuras e do planeta. Dificilmente encontraremos no Brasil uma propriedade que atenda todas as premissas de um código de boas práticas ambientais e também um conjunto de profissíonais das ciências agrárias com prática e capacitados a elaborar um bom plano de restauração ecológica O trabalho mostra a proposição de uma sequência metodológica no sentido de facilitar a leitura de cenários ambientas de forma

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prática e objetiva. Deve contemplar oportunidades para o profissional enxergar fatos e elemen-tos que justifiquem um planejamento adequado para gerar como resultado um sistema altamente diverso e similar ao original, quanto à composição e estrutura. O método é constituído de três fases bem distintas. A primeira, no escritório, consiste na análise visual detalhada das imagens do local culminando na elaboração de um croqui de referência espacial contendo um roteiro de visitação com diversos pontos para análise da paisagem ambiental. A segunda, no campo, per-mite que o profissional realize uma análise do cenário local elencando os principais fatores que caracterizam a paisagem local e merecem ser contemplados no planejamento do processo de restauração. A terceira fase consiste em avaliar os dados coletados no campo obtendo um índice de desempenho ambiental para posicionamento e uma hierarquização das atividades práticas, componentes do plano de restauração. O plano de restauração deve contemplar programas e projetos específicos para cada conjunto de ações envolvendo a interação entre meio físico bió-tico e ações antrópicas. Conclui-se que, embora simples a metodologia contribui efetivamente para a obtenção de um diagnóstico sumário, mas rico em dados importantes para uma restaura-ção ambiental eficiente e contínua.

Palavras-chave: avaliação ambiental; recuperação; áreas degradadas; conservacio-nismo.

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AvALIAção do uSo do toPSoIL AtRAvéS dA ReGeneRAção nAtuRAL eM PRojeto de ReStAuRAção eCoLóGICA no quAdRILáteRo FeRRíFeRo-MG

Rezende, L. A. L(1); DIAS, L. E. D.(2)1.Doutoranda do Programa de Solos e Nutrição de Plantas da Universidade Federal de Viçosa; 2.

Professor Adjunto do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa. [email protected]

Resumo: As áreas de canga (afloramentos rochosos hematíticos) apresentam uma série de restrições ao estabelecimento das espécies vegetais, tais como solos rasos, com baixo teor de umidade e nutrientes, estrutura deficiente, além de uma grande amplitude térmica diária. A alta especialização da vegetação a esses ambientes contribui com a elevada taxa de endemis-mo que caracteriza a flora dos campos ferruginosos. A estreita associação entre a lavra de mi-nério de ferro e esses campos levou esta formação a uma condição especial de vulnerabilidade. O aproveitamento do solo superficial (topsoil) tem sido utilizado como prática comum nas ati-vidades de mineração, possibilitando o aproveitamento do banco de sementes, microrganismos, nutrientes e matéria orgânica do solo. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a regeneração natural proveniente do uso de topsoil em área de restauração ecológica experimental em pilha de estéril em mineração no Quadrilátero Ferrífero (QF), Minas Gerais. Para isso, o topo da pilha de estéril localizada na mina de Capão Xavier foi capeado com material de canga proveniente da expansão da lavra. Aos dez meses foi realizado censo em toda área experimental. Foram identificadas 71 espécies, distribuídas em 28 famílias. As famílias mais representativas em nú-mero de espécies foram: Poaceae (11), Asteraceae (7), Solanaceae (6) e Euphorbiaceae (5). Na regeneração natural, foram encontradas três espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais: Ditassa linearis Mart. e Sinningia rupicola (Mart.) Wiehler e Calibrachoa elegans (Miers) Stehmann & Semir. Além dessas espécies foram identificadas espécies com baixas taxas de sobrevivência ao resgate da flora como, Mimosa calodendron Mart., Sebastiania glandulosa Pax, Portulaca hirsutissima Cambess., Stachytarpheta glabra Cham. A utilização do topsoil fa-voreceu o estabelecimento de famílias típicas dos campos ferrunginosos contribuindo com sua diversidade característica. Além disso, permitiu o ingresso de espécies ameaçadas de extinção e espécies que apresentam dificuldade de reestabelecimento após a alteração do ambiente, in-dicando ser essa uma prática imprescindível para projetos de restauração ecológica de campos ferruginosos.

Palavras-chave: transposição de solo; mineração; campos ferruginosos.

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PRodução de MudAS PARA ReStAuRAção FLoReStAL de FeRnAndo de noRonhA-Pe

Potascheff, Carolina de Moraes1, Machado, Manoela Schiavon2, Brancalion, Pedro Henrique Santin3, Rodrigues, Ricardo Ribeiro1,

Santos, Armando José Barsante21. Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF), ESALQ, USP, Piracicaba, SP; 2. Fundação

Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas, Fernando de Noronha, PE; 3. Laboratório de

Silvicultura de Florestas Tropicais (LASTROP), ESALQ, USP, Piracicaba, SP. [email protected]

Resumo: O arquipélago de Fernando de Noronha sofreu inúmeras interferências antró-picas durante seu processo de ocupação, com construções de bases militares, vilas, estradas, porto, aeroporto, degradando intensamente sua vegetação original, a qual pode ser observada em poucos pontos das ilhas. Nesse contexto, o trabalho teve como objetivo gerar conhecimento sobre a fenolo-gia, germinação de sementes e estabelecimento de mudas de espécies nativas nas condições ecoló-gicas do arquipélago visando recuperar sua vegetação através de, inicialmente, plantios diretos. Para isso, sete trilhas são percorridas quinzenalmente em diferentes áreas da Área de Proteção Ambiental e do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, onde são obtidos dados fenológicos de vin-te espécies arbustivas e arbóreas nativas, das quais duas são endêmicas – Ficus noronhae Oliv. (Mo-raceae) e Oxalis psoraleoides Kunth (Oxalidaceae) – e seis são encontradas apenas em áreas menos perturbadas – Jacquinia armillaris Jacq. (Theophrastaceae), Eugenia rotundifolia Casar. (Myrtace-ae), Savia sessiliflora Willd. (Phyllantaceae), Allophylus laevigatus (Turcz.) Radlk. (Sapindaceae) e Maytenus erythroxylon Reissek (Celastraceae). Frutos maduros das vinte espécies são coletados e levados ao viveiro de mudas, onde são beneficiados e cujas sementes são passadas por diferentes testes de quebra de dormência. As mudas são plantadas em uma área experimental de um hectare e têm seu crescimento acompanhado individualmente e periodicamente. Através dos dados de feno-logia foi possível identificar os locais e os períodos de frutificação das espécies nativas. Os testes realizados com as sementes possibilitaram a determinação dos melhores tratamentos de quebra de dormência para obter uma maior taxa de germinação de cada espécie, que variam entre 8% a 90%. Na área experimental de plantio, foi observado 70% de sobrevivência das mudas, mostrando que a restauração florestal em Fernando de Noronha através de plantios diretos é viável.

Palavras-chave: Recuperação ecológica, ilhas oceânicas, arquipélago, plantio direto, viveiro florestal.

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tAMAnhoS de ReCIPIenteS e o uSo de hIdRoGeL no eStABeLeCIMento de MudAS de eSPéCIeS FLoReStAIS nAtIvAS

Barbosa, Tiago Cavalheiro1, Rodrigues, Ricardo Ribeiro2, Couto, Hilton Thadeu Zarate do3

1. Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, Brasil, barbosa.

[email protected]; 2. Professor Titular do Depto. de Ciências Biológicas, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, Brasil; 3. Professor

Titular do Depto. de Ciências Florestais, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, Brasil.

Resumo: A demanda por projetos de restauração ecológica, com a utilização de técnicas de plantio total, tem aumentado nos últimos anos, com a consequente necessidade de otimização dos insumos para tal atividade que, além de garantir maior sobrevivência das mudas a campo, é essencial para o setor. Assim, as compensações ambientais, geradas pela obra do trecho sul do Rodoanel Mário Covas (São Paulo), proporcionaram uma importante oportunida-de de se realizar alguns estudos nessa temática. O objetivo deste trabalho foi avaliar a taxa de sobrevivência e o crescimento inicial (12 meses), de 30 espécies arbóreas nativas, provenientes de mudas acondicionadas em recipientes com 3 volumes distintos (tubetão 290 cm3, tubetinho 56 cm3 e bandeja 9 cm3), com e sem utilização de hidrogel no plantio, e submetidas às mesmas ações de manutenção. As espécies nativas regionais contemplaram todos os grupos sucessionais (pioneiras e não pioneiras), pertencentes a 17 famílias botânicas. Como resultados deste traba-lho, pode-se concluir que as espécies provenientes do recipiente tubetão obtiveram as menores porcentagens de mortalidade, seguidas de tubetinho e bandeja, entretanto algumas espécies de bandeja mostraram-se com índices de mortalidade menores, se comparadas a outras espécies

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provenientes de tubetinhos, apresentando assim possibilidades de uso, desde que adotados ma-nejos diferenciados (irrigação pós-plantio e controle de competidores) visando a garantir o au-mento da sobrevivência inicial das mudas. O hidrogel não interferiu no estabelecimento e nem no crescimento das mudas nos diferentes recipientes, para o período em que o experimento foi avaliado. Quanto ao desenvolvimento das mudas em crescimento e incremento de altura, pode--se concluir que, uma vez garantido o estabelecimento das mudas, não houve diferenças entre os recipientes, reforçando que, com manejos diferenciados, os custos da restauração poderão ser significativamente reduzidos, para as situações que exijam como metodologia o plantio total na restauração ecológica de uma dada área. (Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor)

Palavras-chave: diferentes recipientes de mudas; polímeros hidrorretentores; mortali-dade; restauração de áreas degradadas; diversidade.

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SItuAção AtuAL do SetoR PRodutIvo de MudAS de eSPéCIeS FLoReStAIS nAtIvAS no eStAdo de São PAuLo

Barbosa, L.M.1; Parajara, F.C.1; Barbosa, T.C.1; Barbosa, K.C.1; Teixeira, E. E.1

1- Coordenação Especial de Restauração de Áreas Degradadas - Instituto de Botânica. [email protected]

Resumo: Tendo como base as informações sobre viveiros produtores de mudas florestais nativas, constantes no banco de dados do Instituto de Botânica de São Paulo – IBt, procurou-se, neste trabalho, atualizar essas informações e apresentar a situação, em 2011, deste setor produtivo. Para tanto, a metodologia compreendeu consulta aos 208 viveiros cadastrados, utilizando-se questionário que abrange todas as etapas da produção de mudas, incluindo expe-dição e região de destino. Foram analisadas a produção e a diversidade por região ecológica e em todo o estado de São Paulo, com vistas a subsidiar políticas públicas. Os resultados obtidos indicam uma produção total de 41.089.906 mudas/ano, o que demonstra estabilidade, em com-paração aos anos de 2009/2010 (41.164.807). A capacidade de produção instalada também não apresenta acréscimo significativo, indo de 83.262.612 para 83.616.736 mudas/ano. Com base na capacidade de produção instalada e na real produção, é possível inferir que atualmente não há déficit de mudas, para o estado de São Paulo. Dos 208 viveiros cadastrados, 200 mantiveram a produção, 5 aumentaram, 2 diminuíram e 1 encerrou as atividades. Com relação à capacidade instalada, houve expansão em 4 viveiros e diminuição em apenas 2. A diversidade de espécies também não apresentou grandes alterações, havendo aumento em 5 viveiros e diminuição em apenas 3. A seguir, são destacados os resultados obtidos por região ecológica, indicando quan-tidade de viveiros produtores, mudas produzidas por ano e capacidade máxima de produção, como segue: (a) região centro: 69 viveiros, 13.185.796 mudas/ano e 29.935.896 capacidade máxima instalada; (b) litoral norte: 3 viveiros, 77.000 mudas/ano, 86.000 capacidade máxima instalada; (c) litoral sul: 21 viveiros, 1.421.000 mudas/ano, 2.964.000 capacidade máxima ins-talada; (d) noroeste: 21 viveiros, 9.304.000 mudas/ano, 15.061.000 capacidade máxima instala-da; (e) sudeste: 76 viveiros, 11.801.135 mudas/ano, 26.381.800 capacidade máxima instalada; e (f) sudoeste: 17 viveiros, 5.300.975 mudas/ano, 9.458.040 capacidade máxima instalada. Estes números demonstram, em função da produção de mudas por ano, uma provável maior demanda para as regiões central, noroeste e sudeste. Já para as as regiões litoral norte, litoral sul e sudo-este, ocorre o inverso.

Palavras-chave: produção de mudas; espécies nativas; regiões ecológicas.

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TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

ÁREA 2 - AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DE PROJETOS DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

SeLeção de IndICAdoReS eCoLóGICoS PARA A AvALIAção de PLAnoS de ReStAuRAção de áReAS deGRAdAdAS

Fonseca, Vitor Hugo1; Piña-Rodigues, Fatima C.M2.1. Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, Curso de Pós Graduação em Diversidade

Biológica e Conservação, Sorocaba, SP. Brasil; 2. Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, Curso de

Engenharia Florestal, Sorocaba, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Indicadores ecológicos são ferramentas úteis para o monitoramento florestal. Sabe-se que muitos projetos de restauração resultam em insucesso devido a fatores de múltiplas es-feras, sendo um desafio conduzir a sucessão a rumos desejáveis. A relevância prática do conceito de integridade ecológica direcionou os objetivos deste estudo que, de forma geral, busca definir indica-dores práticos que possam exprimir as condições das áreas restauradas em fase inicial de restauração (até 5 anos) situadas nos municípios de Itu e Sorocaba, SP, sendo estas comparadas a uma floresta de referência (AR). Os indicadores (composição, riqueza, diversidade, função ecológica, cobertura do solo, competição e sanidade) receberam notas de 0 a 3, de acordo com critérios, tais como facilidade de mensuração, grau de variação da resposta, capacidade de prever alterações no sistema, e pesos de 1 a 3, devido ao grau de importância de cada atributo dos indicadores. O produto da nota pelo peso de cada indicador exprimiu a medida de sua eficiência (EF). Em relação aos indicadores de composição, estrutura e função a área de Itu (AE2) foi a que se apresentou em melhores condições se comparada a AE1. Dentre os indicadores de composição, a riqueza, a diversidade (H´) e a presen-ça de espécies exóticas foram os atributos mais eficientes; em relação à estrutura, os atributos mais eficientes foram a densidade de arbóreas, o incremento médio anual das variáveis dendrométricas e quanto ao indicador de função, a cobertura do solo, a competição e a sanidade foram mais eficientes em detectar mudanças e alterações nas áreas de modo rápido, prático e compreensível.

Palavras-chave: integridade ecológica. 2. reflorestamento heterogêneo. 3. monitora-mento.

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AvALIAção dAS téCnICAS de nuCLeAção PARA ReStAuRAção eCoLóGICA dAS MAtAS CILIAReS do CóRReGo SAnto AntônIo

Silva, Idaiana Aparecida da¹; Carboni, Marina¹. 1. Faculdade de Tecnologia de Jahu, Curso Superior de Tecnologia em Meio Ambiente e

Recursos Hídricos, Jaú, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: As técnicas de nucleação tornam-se uma ação vital para a recuperação de áreas degradadas, pois objetivam reconstituir um ambiente o mais próximo possível da sua condi-ção original. Este estudo tem por objetivo avaliar a capacidade nucleadora destas técnicas para a restauração ecológica de um trecho da Mata Ciliar do Córrego Santo Antônio. O projeto de restau-ração da mata ciliar foi implantado em agosto de 2010 ao redor de uma nascente na Fazenda Santo Antônio no município de Jaú – SP. A propriedade está inserida em uma paisagem cuja matriz é a cultura da cana de açúcar e outras culturas. Foram utilizadas 4 técnicas de nucleação sendo: cinco transposições de solo, três poleiros artificiais, quinze núcleos de Anderson, e nove transposições de galharia. As avaliações para monitoramento da restauração foram realizadas mensalmente no período de fevereiro a maio de 2011. Os dados coletados foram baseados nos Indicadores para Monitoramento de Nucleação elaborado no âmbito do Projeto Mata Ciliar. Entre os regeneran-

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tes naturais foram encontradas 17 famílias e 29 espécies diferentes sendo Solanum mauritianum Scop. e Gnaphalium spathulatum Burm. f. as espécies mais abundantes na regeneração natural dos núcleos avaliados. Mesmo os núcleos sofrendo interferências como o plantio de espécies exóticas pelo proprietário, tendo passado por longo período de estiagem e ter sofrido aplicação de herbicidas, as funções ecológicas da área avaliada estão sendo restituídas como o retorno da microfauna e mesofauna, a utilização dos poleiros pela avifauna e o estabelecimento de indivíduos regenerantes nos núcleos. As técnicas nucleadoras deverão ainda ser testadas em períodos mais longos de avaliação para que esses resultados contribuam para uma melhor eficiência na restaura-ção ecológica de áreas degradadas.

Palavras–chave: restauração, matas ciliares, áreas degradadas, técnicas de nucleação.

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ReStAuRAção de áReAS de PReSeRvAção PeRMAnente: o CASo doS eIxoS hIdRoGRáFICoS eM CuLtIvo de CAnA-de-AçúCAR, SeRtãozInho - SP

Miranda, José Roberto1, Ariedi Junior, Vagner Roberto21. EMBRAPA Monitoramento por Satélite, Campinas, SP, Brasil; 2. Universidade Federal de São Carlos,

Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural, Araras, SP,

Brasil. [email protected]

Resumo: A restauração e conservação efetiva da biodiversidade em Áreas de Pre-servação Permanente (APPs) é um grande desafio. As pesquisas e estudos ainda carecem de itinerários metodológicos, capazes de compreender a realidade ecológica das áreas a serem restauradas. Esta pesquisa visou a desenvolver e testar um protocolo metodológico para a res-tauração de cobertura vegetal dos eixos hidrográficos localizados em fazendas com cultivo de cana-de-açúcar na bacia do Rio Pardo, região de Sertãozinho, SP. Os objetivos principais são qualificar e mapear o “status” da cobertura vegetal nas APPs e determinar os procedimentos de recuperação e restauração mais adequados, além do desenvolvimento de um itinerário metodo-lógico adaptado. A área de estudo compreende cerca de 25.000 hectares, entre áreas agrícolas e de preservação permanente. Para mapear e tipificar o estado da cobertura vegetal das APPs foram utilizadas imagens do satélite QuickBird na escala 1:10.000. Após a interpretação foram realizadas diversas incursões a campo para qualificar o estado atual de restauração ao longo das APPs, todas as cartas geradas foram digitalizadas e georeferenciadas. Uma centena de fichas pré-codificadas foi preenchida nas diversas situações de paisagem dos eixos hidrográficos. Elas identificaram e qualificaram o local, os aspectos do meio físico, a composição e estrutura da vegetação e o grau de degradação em função de gramíneas adventícias invasoras. Esses dados recolhidos orientarão as ações para a restauração mais efetiva possível da cobertura vegetal e auxiliaram na identificação de 14 categorias de ambientes, com a cobertura vegetal diferen-ciada no conjunto das APPs. Porém, algumas situações são mais críticas e prioritárias para o manejo ou restauração, como as que estão inteiramente invadidas por gramíneas adventícias vicariantes. O tratamento das imagens de satélite associado às incursões de campo permitiram o mapeamento e a tipificação temática das situações das APPs, dimensionando no espaço as áreas prioritárias para restauração. Um elenco de medidas corretivas, como o controle sistemático das gramíneas invasoras, escolha das espécies vegetais adaptadas, monitoramento e acompa-nhamento da implantação das mudas, está sendo obtido através da aplicação dos protocolos de campo e gerando mais conhecimento das particularidades em termos de condições solo e clima de cada tipo de unidade de paisagem. A escolha por essências atrativas deverá ser priorizada para promover a zoocoria e conferir sustentabilidade.

Palavras-chave: gramíneas adventícias, ecologia da paisagem, cartografia, cobertura vegetal, restauração florestal.

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vISItAnteS FLoRAIS de eSPéCIeS ARBóReAS PIoneIRAS de uMA áReA de ReStAuRAção de FLoReStA eStACIonAL SeMIdeCIduAL

Fragoso, Fabiana Palmeira e Varanda, Elenice Mouro CEEFLORUSP (Centro de Estudos e Extensão Florestal da Floresta da USP-RP), Departamento de

Biologia, FFCLRP, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil, [email protected]

Resumo: Projetos de restauração florestal devem ter não só o objetivo de recuperar as populações de plantas arbóreas, mas também o de restabelecer os processos ecológicos dos quais elas participam. Visando investigar a resposta do processo de polinização à restauração de Floresta Estacional Semidecidual em Ribeirão Preto/SP, buscou-se conhecer o estágio de desenvolvimento dos indivíduos arbóreos implantados e realizar um levantamento das espé-cies de insetos que visitam as flores das plantas já capazes de produzi-las. Para isso foram realizadas observações fenológicas de treze espécies arbóreas pioneiras e coletados os visi-tantes florais de sete delas. Os insetos foram amostrados por um período de 12-15 horas para cada espécie vegetal em indivíduos selecionados assistematicamente e capturados ativamente por meio de rede entomológica. Guazuma ulmifolia Lam. apresentou uma fauna de visitantes exclusiva devido às suas características florais particulares. Nas flores das espécies Schinus terebinthifolius Raddi, Croton urucurana Baill., Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose, Croton floribundus Spreng., Aegiphila integrifolia (Jack.) Moldenke e Platypodium elegans Vogel foram encontrados 145 visitantes pertencentes a 5 ordens, sendo Hymenoptera a mais diversa, com 69 morfoespécies. No total, identificaram-se 74 gêneros e 38 famílias, sendo mais numerosas Vespidae (16 morfoespécies), Cabronidae (12), Apidae (10) e Halictidae (10) entre os himenópteros, Syrphidae (12) e Tachinidae (6) entre os dípteros e Hesperidae (7) entre os lepidópteros. A maior diversidade de visitantes florais foi encontrada em S. terebinthifolius. No total, foram contabilizadas 193 interações existentes entre 139 espécies de insetos e 5 espécies arbóreas. Pelo menos 10 espécies arbóreas já atingiram a fase reprodutiva e considera-se que as relações mutualísticas entre algumas destas plantas e seus insetos polinizadores estão sendo restabelecidas. A avaliação de aspectos ecológicos é importante para o maior entendimento do processo de restauração de ecossistemas, e proporciona informações relevantes para o planeja-mento e monitoramento de programas de manejo e restauração de áreas degradadas. (CNPq # 132802/2007-4, FAPESP # 06/05862-7).

Palavras-chave: restauração de áreas degradadas, indicadores e polinizadores.

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oS deSAFIoS dA ReStAuRAção eCoLóGICA eM CAMPoS nAtuRAIS de ALtItudeS eLevAdAS, SAntA CAtARInA, BRASIL

Pereira, Karla Conceição1; Campos, Alexandre Felix2; Prudente, Carla21SAA/APTA – Pólo Regional Vale do Paraíba, Pindamonhangaba, SP, Brasil. 2AgroBioma – Projetos,

Lages, SC, Brasil. [email protected].

Resumo: Os Campos de Santa Bárbara (28º10’S/49º34’W) no município de Urubici/SC, com altitude superior a 1600 metros apresentam peculiaridades para a recomposição da pai-sagem em áreas degradadas pela característica edafo-climática local. O objetivo foi recuperar uma área com perturbação antrópica, caracterizar o dano ambiental, a origem, o efeito e o entorno. A metodologia consistiu em levantamentos de dados a campo, com auxílio do georreferenciamento para diagnosticar o uso e ocupação da área e a presença de remanescentes vegetais. Após esta etapa, considerando o potencial de regeneração da área, procedeu-se a implantação do projeto que integrou diferentes técnicas de intervenção, como o isolamento, a nucleação (poleiros e transpo-sição de serrapilheira), e o plantio de 350 indivíduos jovens climatizados. Esta área foi avaliada e monitorada através da observação visual por três anos consecutivos, que permitiram acompa-nhar o desempenho e o estabelecimento da recuperação. O dano ambiental foi caracterizado pelo corte indevido de seis exemplares de pinheiro brasileiro [Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze 1898] já em brotação, em uma área de 1.400 m2 representando 0,59% da área total (23,71 ha) da propriedade, que na sua totalidade é ocupada com 10,41 ha de Campos Naturais associados a

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13,16 ha de Floresta de Araucária. O inventário no remanescente vegetal demonstrou um dossel com predomínio de 80% de araucárias e um sub-bosque típico, caracterizando-se como área fa-vorável ao empréstimo e à transposição da serrapilheira. Durante o monitoramento observou-se a inexistência de processos erosivos, a rápida cobertura vegetal do solo e a regeneração natural adaptada às condições e características peculiares do microclima de altitudes elevadas, além da baixa densidade demográfica no entorno da propriedade, deflagrando uma ação antrópica insig-nificante e favorável à restauração, a preservação da beleza cênica e a riqueza biológica inerente a Floresta Ombrófila Mista. As relações interespecíficas contribuíram para que o processo de sucessão ecológica fosse estabelecido. O monitoramento trimestral evidenciou que a utilização de técnicas e aplicações práticas são favoráveis para mitigar danos e ajudar a natureza a refazer a mi-cro paisagem original. A introdução de estudos bio-ecológicos é necessária, porém os resultados demonstraram a viabilidade da ação restauradora, dada a presença do remanescente no entorno da área degradada e do baixo custo operacional.

Palavras-chave: isolamento, nucleação, adensamento, degradação, monitoramento.

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AnáLISe FItoSSoCIoLóGICA dA ReGeneRAção de ReMAneSCente de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoM PotenCIAL de ReCuPeRAção dA áReA LoCALIzAdA eM AGudo – RS

Thomas, Pedro Augusto1, 3, Piaia, Bruna Balestrin2, 3, Hummel, Rafaela2, 3, Crestani, Fernanda2, 3

1. Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Ciências Biológicas, RS, Brasil; 2. Universidade

Federal de Santa Maria, Curso de Engenharia Florestal, RS, Brasil; 3. Universidade Federal de Santa Maria, Núcleo de

Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: O Parque Estadual Quarta Colônia compreende área de Floresta Estacio-nal Decidual, circundada por pequenas propriedades rurais. Isto confere à região um conside-rável grau de fragilidade natural. O presente trabalho objetivou analisar a estrutura horizontal da regeneração de fragmento florestal em estágio inicial de sucessão, a fim de verificar seu potencial na recuperação de áreas abandonadas pela agricultura. Instalaram-se 8 parcelas de 10 x 10m, onde se amostrou o componente arbóreo e a regeneração, a qual foi separada em Reg 1, indivíduos de diâmetro à altura do coleto entre 1,0 e 4,9 cm e em Reg 2, indivíduos com di-âmetro à altura do coleto entre 5,0 a 14,9 cm. Calcularam-se a estrutura horizontal - densidade absoluta (DA) e relativa (DR), freqüência absoluta (FA) e relativa (FR) -, Índice de Diversi-dade de Shannon (H’) e de Equabilidade de Pielou (J). Os indivíduos que apresentaram maior freqüência na Reg 1 foram Escallonia bifida Link & Otto, Allophylus edulis (A.St.-Hil.et al.) Hieron. ex Niederl., e Erytroxylum deciduum A. St.-Hil., com 100% de ocorrência e 5,63% de freqüência relativa. Sucederam a estes, Cupania vernalis Cambess., Myrsine umbellata Mart., Ligustrum lucidum W.T. Aiton e Sapium glandulosum (L.) Morong com FA de 87,5% e FR 4,93%. A espécie de maior DA foi Escallonia bifida Link & Otto, com 2325 ind.ha-1 e DR de 22,2%, seguida de A. edulis (A.St.-Hil.et al.) Hieron. ex Niederl. com 1425 ind.ha-1. Para a classe Reg 2, os resultados foram E. bifida Link & Otto com FA de 87,5% e FR de 13,73%, seguida de Matayba elaeagnoides Radlk., M. umbellata Mart., S. glandulosum (L.) Morong e Eugenia uniflora L., todos com 50% de FA e 7,84% de FR. Quanto a densidade, percebe-se novamente que E. bifida Link & Otto, foi a espécie mais abundante, com DA de 1025 ind.ha-1

e DR de 47,95 % do total, seguida de M. elaeagnoides Radlk., S. glandulosum (L.) Morong e Ligustrum lucidum W.T. Aiton, apresentando 125 ind.ha-1 de DA e 5,85% de DR. Os valores de H’ e J foram, respectivamente, 2,74 e 0,73 para a classe Reg 1 e 2,06 e 0,70, respectivamente, para Reg 2. Através dos resultados da regeneração pode-se concluir que a floresta ainda apre-senta uma diversidade intermediária, porém avança na sucessão já que, a princípio as espécies de maior importância são pioneiras, preparando espaço para as espécies secundárias.

Palavras-chaves: diversidade, áreas abandonadas, sucessão ecológica.

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ReStAuRAção de áReAS deGRAdAdAS no PARque eStAduAL quARtA CoLônIA (AGudo/RS): BIoIndICAdoReS dA quALIdAde do SoLo

Dellamea, Natália Pontelli¹; Rovedder, Ana Paula Moreira2; Marcuzzo, Suzane Bevilacqua3; Araujo, Maristela Machado2 e Gil, Nilton Cezar Dutra1

1. Universidade Federal de Santa Maria, Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, Silveira

Martins, RS, Brasil; 2. Universidade Federal de Santa Maria, Depto. de Ciências Florestais, Núcleo de Estudos e

Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas, Santa Maria, RS, Brasil; 3. Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Santa

Maria, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: As atividades humanas afetam os ecossistemas através da pressão so-bre os recursos naturais. Obras como a construção de hidrelétricas causam grandes impactos ambientais, devendo executar compensação ambiental. O Parque Estadual Quarta Colônia foi criado a partir da construção da Usina Hidrelétrica Dona Francisca e abriga remanescentes da Floresta Estacional Decidual. Este trabalho objetivou avaliar a influência da recuperação da es-trutura ecossistêmica da floresta na qualidade do solo, usando artrópodes epigéicos como bioin-dicadores. O projeto investigou quatro tratamentos: área de mata nativa (MN); área alterada por agricultura e revegetada há 7 anos (A1); área com presença de entulhos de construção civil (A2) e área de revegetação com ervilhaca comum (Vicia sativa L.) (E). Para a amostragem foram dispostas aleatoriamente, em cada tratamento, 10 armadilhas PROVID, que ficam enterradas com abertura ao nível do solo, contendo 200 ml de álcool 70%. Após a retirada das armadilhas, foram feitas limpeza e classificação dos organismos em nível de Ordem. Calculou-se abundân-cia, riqueza, índice de diversidade de Shannon (H’) e índice de Equitabilidade de Pielou (J) para a comunidade de artrópodes epigéicos em cada tratamento. As áreas apresentaram semelhança entre si para Riqueza (número de Ordens de artrópodes encontrados), que foi de 10 e 12 nos tratamentos A1 e A2 e 11 em MN e E. Os tratamentos MN, A1, A2 e E apresentaram valores de H de 1,75, 1,24, 1,54 e 1,81, respectivamente. O menor valor de H em A1 é devido à abundância do grupo Collembola (1033 do total de 1550 indivíduos), o que se deve, provavelmente, ao efei-to residual da adubação do período em que foi área de cultivo agrícola, nutrientes diferentes dos encontrados em solos de áreas de floresta nativa. MN, A2 e E apresentaram abundância total de indivíduos de 627, 950 e 703, respectivamente, sendo a abundância de colêmbolos de 146, 232 e 479, respectivamente. Os valores de J são de 0,27, 0,17, 0,23 e 0,28 para os tratamentos MN, A1, A2 e E, respectivamente. Conclui-se que as áreas avaliadas apresentaram semelhança entre si, sendo que a população de colêmbolo destaca-se como um bom indicador para diferenciar as condições de habitat e demonstrar a qualidade da cobertura vegetal do solo. (Esse projeto foi realizado com auxílio do programa BIC-REUNI da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria.)

Palavras-chave: artrópodes epigéicos, colêmbolos, diversidade.

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AvALIAção dA ReGeneRAção nAtuRAL eM uMA áReA no PARque nACIonAL do IGuAçu - PR

Marcon, Thaís Regina; Temponi, Lívia Godinho1; Fragoso, Rosimeri de Oliveira1; Cardozo, Ana Paula2

1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Mestrado em Conservação e Manejo de Recursos Naturais,

Cascavel, PR, Brasil. 2. Universidade Federal do Paraná, Mestrado em Botânica, Curitiba, PR, Brasil. [email protected]

Resumo: A Mata Atlântica sofreu intensa fragmentação na cobertura vegetacional, principalmente no estado do Paraná. A sucessão secundária é um modelo eficiente de restaura-ção ecológica, onde as espécies pioneiras atuam para suprir a falta de árvores-matriz fornece-doras de sementes para a regeneração natural, enquanto as secundárias fazem o enriquecimento da floresta, juntamente com as espécies climácicas, as quais são responsáveis pela formação de banco de plântulas. O objetivo do trabalho foi avaliar o estado de recuperação de uma área, pró-xima a antiga Fazenda Salinet no Parque Nacional do Iguaçu, PR. Foram implantadas dezoito parcelas de 10x10m (1800m²), distribuídas em dois transectos, iniciados em uma das margens do Rio Iguaçu até uma lagoa de interior na Mata Atlântica. As coletas foram realizadas mensal-

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mente de abril a setembro de 2010 em indivíduos plaqueados com CAP (circunferência à altura do peito) igual ou superior a 15cm. As amostras foram prensadas de acordo com técnicas usuais de herborização e quando férteis incorporadas ao Herbário da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNOP). A identificação das amostras foi realizada através de chaves de identifica-ção e comparações com exsicatas de outros herbários. A classificação das espécies em grupos sucessionais foi feita através de consulta em bibliografias especializadas. Foram encontradas 35 espécies, onde 31 foram consideradas facilitadoras sucessionais e podem ser indicadas para reflorestamentos com espécies nativas para áreas do Oeste do Paraná. Destas, oito pertencem ao grupo das pioneiras e 18 são secundárias. A área também é diversa em espécies climácicas: Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg, Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg, Eu-genia burkartiana (D.Legrand) D.Legrand, Eugenia moraviana O.Berg., Euterpe edulis Mart., Matayba elaeagnoides Radlk., Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez, Tabernaemonta fuch-siaefolia A.DC e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman. O grupo sucessional mais expres-sivo foi o das secundárias, com 54,28% das espécies, representando um estágio intermediário de regeneração. Das 35 espécies encontradas na área de estudo, 17 espécies foram indicadas pela primeira vez como potencial para recuperação ou enriquecimento de áreas degradadas no oeste do Paraná.

Palavras-chave: Mata Atlântica, recuperação de áreas degradadas, grupos sucessio-nais, sucessão secundária.

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MonItoRAMento dA quALIdAde doS CuRSoS d’áGuA SoB InteRFeRênCIA doS PRojetoS de ReStAuRAção AMBIentAL de áReAS MIneRAdAS eM PoçoS de CALdAS – MG

Barros, Dalmo Arantes de1; Guimarães, João Carlos Costa1; Naves, Leandro Coelho1; Silva, Rossi Allan1; Pereira, José Aldo Alves1; Borges, Luís Antônio Coimbra1

1.Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, DCF/UFLA,

Lavras, MG, Brasil. [email protected]

Resumo: A mineração infere elevado potencial poluidor/degradador aos recursos hí-dricos. Frequentemente se observam situações onde o inadequado controle ambiental implica no comprometimento da qualidade dos corpos d’água. O processo de monitoramento da qualidade das atividades de restauração ambiental de áreas mineradas perpassa por várias possibilidades. Vários são os indicadores que refletem o estágio de desenvolvimento desses projetos, podendo ser baseados diretamente no contexto da cobertura vegetal introduzida ou em outras variáveis indiretamente correlacionadas, como p. ex., a qualidade dos cursos d’água. Este trabalho obje-tivou avaliar um programa de monitoramento ambiental da qualidade de águas superficiais sob interferência dos projetos de mineração de bauxita na região do Planalto de Poços de Caldas, MG. Foram realizadas amostragens em 32 pontos distribuídos nas coleções hídricas das áreas de influ-ência direta de empreendimentos minerários. Foi avaliada a eficiência dos sistemas de controle de carreamento de sólidos e tratamento de efluentes. Os valores dos parâmetros pH, condutividade elétrica, turbidez, oxigênio dissolvido, temperatura, sólidos totais dissolvidos e potencial redox foram obtidos in situ através de sonda multiparâmetros. Já sólidos totais, sólidos totais fixos e voláteis, sólidos dissolvidos totais, fixos e voláteis, cor e alumínio, DBO e DQO, óleos e graxas tiveram seus valores determinados através de análises laboratoriais. Os resultados obtidos no mo-nitoramento foram confrontados com a Resolução CONAMA 357/05, que determina os valores limítrofes para os parâmetros. De um modo geral, foi possível verificar que os valores dos parâme-tros analisados encontraram-se dentro dos limites estipulados, na legislação. Esse é um indicador importante no sentido de atestar a eficiência das medidas de controle adotadas nas frentes de lavra, bem como da qualidade das atividades de restauração ambiental, uma vez que os processos de re-vegetação dessas áreas após a lavra propiciaram o rápido recobrimento do solo, evitando assim, o início de processos erosivos. Deste modo, os resultados demonstraram que os sistemas de controle de carreamento de sólidos (tanques de decantação, canaletas, sumps, entre outros) utilizados apre-sentaram eficiência satisfatória. Também foi possível verificar que o monitoramento da qualidade dos cursos d’água é um bom indicativo da eficiência dos processos de restauração ambiental em áreas mineradas. (Apoio FAPEMIG).

Palavras-chave: degradação ambiental, legislação, águas superficiais.

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ReGIStRo de oCoRRênCIA de Ligustrum lucidum W.t. AIton eM unIdAde de ConSeRvAção dA FLoReStA eStACIonAL deCIduAL, RIo GRAnde do SuL

Boeni, Ana Flávia¹; Felker, Roselene Marostega2; Crestani, Fernanda1; Thomas, Pedro Augusto³

1. Curso de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil; 2. Curso de Ciências

Biológicas, Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil; 3. Universidade Federal de Santa Maria, Núcleo de Estudos

e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas, RS, [email protected]

Resumo: Após o abandono de áreas desmatadas, inicia-se a fase de sucessão, que pode ser acompanhada de espécies invasoras, com elevada taxa de reprodução e de colonização. Esse fato causa efeitos negativos na biota regional. O presente trabalho objetivou analisar a estru-tura horizontal do ligustro (Ligustrum lucidum W.T. Aiton) em fragmento da Floresta Estacional Decidual no estágio inicial de sucessão, no Parque Estadual Quarta Colônia, localizado no muni-cípio de Agudo, RS, a fim de verificar seu potencial invasor. Instalaram-se 8 parcelas de 10 x 10 m, onde amostrou-se o componente arbóreo medindo-se os indivíduos com CAP (circunferência altura do peito) maior/igual a 15 cm. Para análise da regeneração, os indivíduos foram separados em Reg 1 (diâmetro à altura do coleto entre 1,0 e 5,0 cm) e em Reg 2 (diâmetro à altura do coleto entre 5,1 e 14,9 cm). Foram calculados os parâmetros de freqüência absoluta (FA) e relativa (FR), densidade absoluta (DA) e relativa (DR) para todas as classes, e dominância absoluta (DoA) e relativa (DoR) somente para o estrato arbóreo. No estrato arbóreo, a espécie apresentou FA de 37,5% e FR de 5,4%. Em Reg 1, apresentou FA de 87,5% e FR de 4,93%, enquanto em Reg 2, FA de 37,5% e FR de 5,9%. Para o estrato arbóreo, DA e DR foram de 75 ind. ha-1 e 2,7%, respectiva-mente. Na regeneração, Reg 1 apresentou DA de 312,5 ind. ha-1 e DR de 2,98% e Reg 2 apresentou DA de 125 ind. ha-1 e DR de 5,8%. Quando avaliada a DoA e DoR, percebe-se que a espécie não apresenta dominância no estrato arbóreo, já que os resultados foram 0,4851 e 0,1878%, respecti-vamente. O Valor de Importância para a espécie foi de 8,3 do total. Os resultados indicam que no estágio atual da sucessão local, o ligustro está ocorrendo com maior freqüência na regeneração, sendo mais abundante nas menores classes de diâmetro, mostrando seu alto poder de regenera-ção e competição. Conclui-se que a espécie apresenta grande potencial invasor sobre a estrutura ecossistêmica da Floresta Estacional Decidual em seu estágio inicial de sucessão, o que pode prejudicar a futura estrutura da floresta a ser restaurada (Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Palavras-chave: fitossociologia, espécie invasora, regeneração.

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AvALIAção dA eFetIvIdAde dAS AçõeS dA ReStAuRAção dA FLoReStA eStACIonAL no ReSeRvAtóRIo dA uSInA hIdRoeLétRICA de ItuPARARAnGA

Martins, Vinícius Augusto Figueiredo Bistão¹; Almeida, Vilma Palazetti de ² Tonon, Daphne Delduca ¹; Carvalho, Renato Borges de ¹; e Beltrão, Minoru Iwakami ³

1. Curso de Ciências Biológicas na Pontifícia Universidade Católica, Sorocaba, SP, Brasil; 2.

Departamento de Morfologia e Patologia, FCMS, PUC-SP; 3. Departamento de Ciências do Ambiente,

FCMS, PUC-SP. [email protected]

Resumo: O código florestal brasileiro possui exigências legais que visam à re-vegetação de áreas próximas a cursos d’água e nascentes, denominadas áreas de preservação permanente (APP). Na maioria dos casos, observa-se que muitas das APPs são áreas destinadas à pastagem. A pecuária inviabiliza a restauração natural do ecossistema original impedindo a ligação entre os fragmentos remanescentes. Aliado a este problema há o desenvolvimento de es-pécies exóticas invasoras como a Urochloa sp. O local de estudo tratava-se de uma área de pas-tagem com 3 ha localizada às margens da represa de Itupararanga,. Com intuito de se pesquisar diferentes metodologias de revegetação para a região, foi implantado um projeto em dezembro de 2007 no local. Nesse projeto realizaram-se quatro diferentes metodologias de revegetação: implantação de poleiros artificiais, semeadura a lanço, transposição de serapilheira e plantio de mudas com espécies florestais nativas. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a efetividade

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da restauração por plantio de mudas, nesse tratamento foram instaladas quatro parcelas de 20 m x 25 m, com 7 covas para as linhas das espécies do grupo de preenchimento e 6 covas para o grupo de espécie de diversidade, como recomendam alguns autores. Durante o período do plantio a setembro de 2009 houve o acompanhamento uma vez a cada mês e as manutenções das parcelas foram feitas a cada 4 meses. Após esse período a área sofreu abandono, já que pela resolução SMA 08/08 o período de manutenção e acompanhamento da restauração de áreas degradadas deve ser feito pelo período mínimo de 24 meses. Após um ano de abandono da área encontrou-se a necessidade de monitorar a efetividade da restauração. A ação adotada para o monitoramento do plantio foi a da estrutura da vegetação: o crescimento em altura, o diâmetro do caule e da copa. Como resultado, a taxa de mortalidade, em setembro de 2008 foi de 13,14%, aumentando para 17,94% em setembro de 2009 e 30,77% em setembro de 2010 havendo um aumento da mortandade após o abandono. Três anos após a implantação ainda não há a forma-ção de um dossel contínuo. As principais causas para esta resposta são a competição devido à presença de gramíneas. Conclui-se que em áreas de pastagens do entorno do reservatório de Itupararanga onde ocorre a presença de espécies invasoras como a Urochloa sp, recomendamos que seja feito o manejo e acompanhamento da área por mais de dois anos, garantindo a cober-tura da área a ser recuperada.

Palavras-chaves: mata ciliar, restauração ambiental, plantio de mudas.

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MedIdAS de CoMPLexIdAde APLICAdAS à AvALIAção de PAISAGenS ReStAuRAdAS

Mattos, Sérgio Henrique V. L.1; Piqueira. José Roberto C.2; Vicente, Luiz Eduardo3; Perez-Filho, Archimedes1

1. Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual

de Campinas; 2. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo; 3. Embrapa –

Monitoramento por Satélite. [email protected]

Resumo: A heterogeneidade dos padrões vegetacionais é um indicativo do grau de complexidade de uma paisagem. O uso de imagens orbitais obtidas por sensoriamento remoto pode auxiliar na avaliação de tal heterogeneidade em paisagens restauradas a partir da análise dos padrões texturais e espectrais da vegetação, possibilitando monitorar a eficácia do processo de restauração ao longo do tempo. No presente trabalho, são discutidas duas medidas de com-plexidade que podem ser aplicadas na avaliação da heterogeneidade de paisagens restauradas: dimensão fractal e medida baseada na função convexa da entropia (medida LMC). A dimensão fractal é uma medida apropriada para avaliar padrões irregulares, como é o caso daqueles en-contrados nas paisagens, atribuindo-lhes dimensões fracionárias cujos valores elevados indicam maior heterogeneidade (e, portanto, complexidade) dos padrões. Já a medida LMC é obtida a partir do cálculo da entropia informacional, porém, diferentemente das medidas clássicas de en-tropia (como índice de Shanon-Weaver), considera que a maior complexidade não é uma função da desordem, mas sim está localizada entre a ordem e a desordem, ou seja, a complexidade má-xima se situa em padrões de heterogeneidade intermediária. Tais medidas foram aplicadas para imagens de áreas de Cerrado localizadas em unidades de conservação do estado de São Paulo: Estações Ecológicas de Assis, Itirapina e Luiz Antônio. Os resultados mostraram que a medida LMC foi mais eficiente em atribuir maiores valores de complexidade às fisionomias de Cerrado mais heterogêneas. Por sua vez, a dimensão fractal aplicada para uma mesma área manteve va-lores significativamente semelhantes nas diferentes escalas espaciais analisadas. Sendo assim, o uso integrado das medidas LMC e dimensão fractal na análise dos padrões texturais e espectrais da vegetação permite avaliar a complexidade da paisagem em escalas distintas, podendo servir como indicadores no monitoramento de paisagens restauradas.

Palavras-chave: heterogeneidade da paisagem, complexidade da paisagem, Cerrado, dimensão fractal, entropia informacional.

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utILIzAção de téCnICAS nuCLeAdoRAS nA ReCuPeRAção de áReA de PReSeRvAção PeRMAnente eM CAPeLA de SAntAnA, RS

Rosenfield, Milena Fermina1 & Bulhões, Flávia Muradas11. Profill Engenharia e Ambiente Ltda., Porto Alegre, RS. [email protected]

Resumo: A utilização de princípios de nucleação na restauração ecológica é de grande interesse uma vez que estimula o aporte de diásporos e a colonização de novas espécies, acelerando o processo de recuperação da área degradada. Essas técnicas tendem a favorecer o estabelecimento de novas espécies, uma vez que alteram indiretamente as condições do am-biente. Visando a recuperar as características ecológicas da área de preservação de um curso d’água no município de Capela de Santana (RS), foram selecionadas duas técnicas nucleadoras: instalação de poleiros artificiais (secos), com o objetivo de atrair possíveis dispersores de se-mentes, e plantio de mudas em ilhas de diversidade, promovendo a diversidade e estimulando os processos ecológicos. Além disso, através do isolamento da área e remoção de fontes de im-pacto (gado), foi utilizado o princípio da “não-ação”, permitindo assim a regeneração natural da cobertura vegetal. A instalação dos poleiros e o plantio das mudas foram realizados em janeiro de 2011. Após período de aclimatação no novo sítio, foi realizado o monitoramento das mudas (identificação botânica, altura até a última gema apical e diâmetro à altura do solo), no mesmo período em que foi verificada a colonização de espécies arbóreas sob os poleiros (julho/agosto de 2011). Não foi identificada colonização de espécies arbóreas sob os poleiros (n=21), somente o desenvolvimento abundante de espécies herbáceas e alguns indivíduos arbustivos de pequeno porte. Foram amostrados 180 indivíduos de 12 espécies nas áreas a serem recuperadas. A sobre-vivência das mudas foi satisfatória, uma vez que a mortalidade foi inferior a 1% (2 indivíduos apenas). A análise preliminar realizada até então não permite avaliar o crescimento das mudas na área a ser recuperada. Entretanto, cabe salientar que a baixa mortalidade apresentada eviden-cia que as mudas se estabeleceram de forma satisfatória, indicando um bom desenvolvimento futuro. No que diz respeito aos poleiros artificiais, o não-estabelecimento de mudas pode repre-sentar um ambiente de difícil colonização, uma vez que a cobertura herbácea é densa, dominada por espécies de gramíneas. Por fim, o principal resultado obtido diz respeito à modificação da paisagem pelo isolamento da área. Esta ação permitiu o desenvolvimento de vegetação herbá-ceo/arbustiva e sucessão natural da vegetação, evidenciando um resultado positivo do projeto de recuperação. (Essencis Soluções Ambientais Ltda. e Profill Engenharia e Ambiente Ltda.)

Palavras-chave: poleiros secos, plantio de mudas em ilhas, sobrevivência, restauração de áreas degradadas.

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BIodIveRSIdAde de eSPéCIeS ARBóReAS SoB o doSSeL de eucalyptus spp e Pinus spp no BRASIL

Ronquim, Carlos C.1, Cola, Mariana G. S.1, Silva, Gustavo B. S.1, Alvarez, Ivan A.1 e Araujo, Luciana S.1

1Embrapa Monitoramento por Satélite; Av. Soldado Passarinho, 303; CEP 13070-115; Campinas, SP,

Brasil. [email protected]

Resumo: O estudo teve como objetivo avaliar a diversidade de espécies arbustivo--arbóreas que ocorrem no sub-bosque de plantios comerciais de Eucalyptus spp e Pinus spp no Brasil por meio da revisão de 47 trabalhos científicos (35 de Eucalyptus spp e 12 de Pinus spp). Ao todo foram identificadas 82 famílias, 313 gêneros e 858 espécies nativas, sendo que 79 famílias, 292 gêneros e 721 espécies nativas foram encontrados sob a copa de Eucalyptus spp e 63 famílias, 219 gêneros e 421 espécies nativas sob a copa de Pinus spp. As cinco espécies de maior ocorrência foram: Casearia sylvestris Sw.; Copaifera langsdorffii Desf.; Zanthoxylum rhoifolium Lam.; Siparuna guianensis Aubl.; Cabralea canjerana (Vell.) Mart. De todas as espécies levantadas no trabalho somente 23% são pioneiras. Das espécies encontradas nesse ambiente de sub-bosque, tanto de Eucalyptus spp quanto de Pinus spp, 32% ocorrem somente no bioma Mata Atlântica, 18% somente em fisionomias do bioma Cerrado e 50% ocorrem em

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ambos os biomas. Desenvolvendo-se sob o dossel de Eucalyptus spp e Pinus spp. também foram encontradas 41 espécies com algum grau de ameaça de extinção. Das espécies arbóreas encon-tradas, cerca de 460 não foram encontrados em outros dois estudos que revisaram centenas de trabalhos de espécies arbóreas com ocorrência em mata ciliar e vegetação de cerrado em grande parte do Brasil. A forma de dispersão de sementes predominante é a zoocoria, onde 64% do total de espécies apresentam essa característica. Apesar da carência de trabalhos nessa área e do pequeno tamanho dos fragmentos estudados, a biodiversidade de espécies nativas arbóreas e arbustivas encontradas é relevante e qualifica esse tipo de fragmento florestal como útil para o surgimento, desenvolvimento e manutenção de espécies florestais nativas.

Palavras-chave: composição florística, espécies nativas, diversidade.

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AvALIAção dA ReStAuRAção de áReAS deGRAdAdAS no PARque eStAduAL quARtA CoLônIA, RS, BRASIL

Marcuzzo, Suzane B.1; Araújo, Maristela M.1; Meyer, Evandro1; Rorato, Daniele1; Redin, Cristina1

1 Universidade Federal de Santa Maria, Depto. de Ciências Florestais, Santa Maria, RS, Brasil.

[email protected]

Resumo: Em todo o mundo os principais fatores de degradação dos ambientes terrestres são os desmatamentos para fins de agricultura, urbanização e grandes obras de enge-nharia, tais como, estradas, mineração e geração de energia. O Parque Estadual Quarta Colônia, RS, Brasil, foi criado atendendo a medida compensatória de construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Dona Francisca, RS, por se tratar de remanescente de Floresta Estacional Decidual e fazer parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. O presente estudo objetivou a comparação da composição florística de três ecossistemas, um representante de floresta nativa, e outras duas áreas (A1 e A2) oriundas de restauração das áreas de implantação da UHE. No trecho de floresta nativa (FN), há cerca de 50 anos, ocorreu alteração antrópica em baixo grau de alteração, a área A1 foi utilizada como lavoura e a A2 foi a antiga vila de morado-res, apresentando grande quantidade de entulhos de obras no momento da restauração. Ambas apresentam oito anos de plantio, e foram restauradas com espécies nativas do RS, sendo que algumas espécies de outra região fitogeográfica. Para estudo da vegetação foram instaladas 13 parcelas de 20 x 10 m, em cada uma das áreas, nas quais foram identificadas todas as espécies arbóreas e arbustivas. A floresta nativa apresentou 1766 indivíduos distribuídos em 22 famílias, 41 gêneros e 49 espécies, índice de Shannon (H’) de 3,995 e equabilidade de Pielou (J’) de 0,84. A área A1 apresentou 603 indivíduos, 13 famílias, 17 gêneros e 18 espécies, H’ de 2,270 e J’ de 0,785, e a área A2 apresentou 107 indivíduos, 20 famílias, 26 gêneros e 28 espécies, H’ de 2,871 e J’ de 0,862. Na A1, a espécie Ateleia glazioveana Baill. apresentou o maior valor de importância, sendo que é uma espécie de outra região fitogeográfica. Adicionalmente na A2, observou diversas espécies exóticas, como Pinus elliottii Engelm, Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. e Syzigium cumini (L.) Skeels e a espécie Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. que em-bora nativa, é de outra região fitogeográfica. O coeficiente de Sorensen indicou valor de 0,10 para FN e A1 e 0,19 para FN e A2, demonstrando uma baixa similaridade, a qual reflete o curto tempo de restauração de A1 e A2. Com base nos resultados podemos observar que a composição florística dos plantios com nativas e exóticas pode comprometer a sucessão natural e modificar a diversidade e estrutura das áreas em restauração quando comparada a floresta nativa.

Palavras-chave: parque estadual, índice de similaridade, composição florística.

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ChuvA de SeMenteS eM dIFeRenteS áReAS do CoRRedoR de BIodIveRSIdAde SAntA MARIA – PR

Toscan, Maria Angélica Gonçalves¹, Temponi, Lívia Godinho¹ e Fragoso, Rosimeri de Oliveira¹

1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Pós-Graduação em Conservação e Manejo de Recursos

Naturais, Cascavel, PR, Brasil. [email protected]

Resumo: O Corredor de Biodiversidade Santa Maria-PR visa ligar o Parque Nacional do Iguaçu à Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu, buscando manter ou restaurar a conectividade entre fragmentos. O objetivo deste trabalho é analisar a chuva de sementes do corredor, pois esta in-forma como vem ocorrendo a regeneração natural. Para isso, foram utilizadas 18 parcelas de 20 x 20 m, sendo nove de floresta madura (RPPN Fazenda Santa Maria) e nove de restauração (três na faixa seca, três nas matas ciliares do Rio Bonito e três na Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu). Nelas foram distribuídos quatro coletores de sementes de 0,5 x 0,5 m de madeira e tela de náilon. O material é coletado mensalmente e levado para o herbário da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNOP), onde é seco em estufa por 48 h à 70º C, triado e identificado. Na área de estudo foram registradas 11 espécies de arbóreas. Na RPPN encontraram-se sete espécies nativas, distribuídas em seis famílias, predominando a categoria sucessional secundária, e algumas climácicas, destacando-se: Balfouroden-dron riedelianum (Engl.) Engl. (Rutaceae), Dalbergia frutescens (Vell.) Britton (Fabaceae), Euterpe edulis Mart. e Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman (Arecaceae). Nas matas ciliares e faixa seca verificou-se uma baixa riqueza de espécies na chuva de sementes, sendo registradas cinco espécies predominantemente nativas e pioneiras, sendo: três na primeira área, como: Schinus terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae) e Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. (Boraginaceae); e duas na segun-da: Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose (Fabaceae) e Guazuma ulmifolia Lam. (Malvaceae). Na Faixa de Proteção do Reservatório de Itaipu ocorreram quatro espécies, mas verificaram-se tanto espé-cies nativas como: Dalbergia frutescens e Helietta apiculata Benth. (Rutaceae), quanto exóticas para a região: Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit (Fabaceae) e Psidium guajava L. (Myrtaceae). Além dessas, foram registradas sementes de espécies de lianas e herbáceas. A maioria das espécies difere en-tre as áreas analisadas, o que pode indicar dificuldades na dispersão ao longo do corredor. Desta forma, sugere-se que o processo de restauração da conectividade entre essas áreas vem ocorrendo lentamente e que sejam realizados projetos de enriquecimento na área.

Palavra-chave: dispersão de sementes, corredores ecológicos, fragmentos, conectividade.

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eStudo dA ReGeneRAção nAtuRAL eM FRAGMentoS de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL CoMo SuBSídIo à ReCuPeRAção eCoLóGICA

Dallabrida, Juliana Pizutti¹; Basso, Ludmilla Julia¹; Bauchspiess, Camila¹; Erpen, Viviana¹; Gallio, Ezequiel¹; Jung, Ana Paula¹

1Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Florestal, Frederico Westphalen,

RS, Brasil. [email protected]

Resumo: A regeneração natural integra os processos de restabelecimento do ecossiste-ma florestal. Seu estudo importa na orientação dos planos de manejo. O trabalho objetivou conhecer a composição florística da regeneração natural estabelecida da borda e interior em três fragmentos de Floresta Estacional Decidual, em Frederico Westphalen, RS, Brasil. O fragmento pequeno (P) possui 5ha de área e 1.123m de perímetro; o médio (M), 15ha e 1.819m; e o grande (G) 30ha e 2.904m, respectivamente. Instalaram-se, aleatoriamente, 12 parcelas (5x5m) ao longo da borda e 12 parcelas (5x5m) no interior dos fragmentos, totalizando 72 parcelas. Considerou-se como borda a distância de 10m, e interior 50m, 100m e 150m, respectivamente, para os fragmentos menor, médio e grande. Nas parcelas, identificaram-se as espécies arbóreas com 1,0cm ≤ DAS < 5,0cm (diâmetro à altura do solo) e mensurou-se a altura. No fragmento P verificaram-se 397 indivíduos (Ni/300m2) e 41 espécies, sendo, na borda, 163 indivíduos (41,06%) de 30 espécies e, no interior, 234 indivíduos (58,94%) de 30 espécies. O M apresentou 448 indivíduos, distribuídos em 29 espécies, com 230 indivíduos (51,34%) de 25 espécies na borda e 218 indivíduos (48,66%) de 18 espécies no interior.

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No G ocorreram 544 indivíduos e 33 espécies, sendo 211 indivíduos (38,79%) e 31 espécies na borda; e 333 indivíduos (61,21%) em 13 espécies no interior. A ocorrência de espécies iniciais do processo de regeneração, no fragmento P foi semelhante na borda (46,67%) e interior (40%). Nos fragmentos M e G a maior proporção ocorreu nas bordas (32% e 45,16%, respectivamente). No interior do fragmento M obteve-se 22,2% e no G, 15,38%. Constata-se que os fragmentos P e M apresentam maior interferência do efeito de borda, provavelmente em função da menor área, maior perímetro proporcional e formato alongado. Considerando-se o índice de diversidade de Shannon, no interior de todos os fragmentos o valor do índice foi menor que a borda, sendo a diferença entre borda e interior crescente com o aumento de área do fragmento, ou seja, no maior fragmento houve a maior diferença entre os índices de diversidade de borda e interior. Nas áreas em regeneração mais avançada a tendência é contrária: este índice aumenta para o interior da floresta. Concluiu-se que todos os fragmentos estão em processo de regeneração. Pela área maior e forma arredondada, o fragmento G tem maior probabilidade de alcançar características ecológicas semelhantes a esta formação florestal.

Palavras-chave: fragmentação; efeito de borda; regeneração estabelecida.

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FAunA ePíGeA de uM SoLo deGRAdAdo APóS uM Ano do PLAntIo de eSPéCIeS ARBóReAS CoM AduBAção MIneRAL e CoMPoSto CeLuLóSICo CoMo FonteS de nutRIenteS

Rômulo Guimarães Giácomo1, Otton Garcia de Arruda2, Sebastião Nilce Souto Filho2, Marlene Cristina Alves3, Marcos Gervasio Pereira4, Gisele Cristina Frigério5

1.Estudante de doutorado em Sistemas de Produção – UNESP, Campus Ilha Solteira; 2. Estudante de mestrado em Sistemas de Produção – UNESP, Campus Ilha Solteira; 3. Professora Titular, Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, UNESP – Campus Ilha Solteira; 4. Professor Associado III, Departamento de Solos, UFRRJ; 5. Estudante de graduação em Agrono-mia – UNESP – Campus Ilha Solteira. [email protected]

Resumo: O objetivo desse trabalho foi verificar o comportamento da fauna epígea em um solo degradado em processo de recuperação após um ano do plantio de espécies arbóreas. O experimento foi implantado em fevereiro de 2010 na Fazenda de Ensino e Pesquisa, Campus de Ilha Solteira (UNESP), no município de Selvíria-MS, Brasil. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso em esquema de parcelas subdivididas, com cinco tratamentos e quatro repetições. Nas parcelas principais, plantios puros de Eucalyptus urograndis (espécie exótica - híbrido) e Ma-bea fistulifera Mart. (espécie nativa) e nas subparcelas os tratamentos: SI – sem intervenção; D

0

– sem adubação; DAM

– adubação mineral de acordo com a necessidade da cultura; DNC

– adubação com composto de acordo com a necessidade da cultura (10 t ha-1); D

15 – 15 t ha-1 e D

20 – 20 t ha-1 do

composto. No mês de fevereiro dos anos de 2010 e 2011 foram instaladas na região central de cada tratamento duas armadilhas do tipo “pitt fall”, que permaneceram durante sete dias no campo. Fo-ram calculados os índices de diversidade de Shannon e equitabilidade de Pielou, atividade da fauna e Riqueza de grupos. Os resultados foram analisados por meio da análise de variância e teste de Scott Knott a 5 % de significância. Em 2010, no plantio de M. fistulifera, foi capturado um total de 2697 indivíduos distribuídos principalmente em: Hymenoptera com 45,83 % do total coletado, Collembo-la (36,93%); Hemiptera Heteroptera (6,56 %). No plantio de E. urograndis, foram capturados 1938 indivíduos, sendo 50,67 % da ordem Hymenoptera, 26,83 % Collembola, 7,59 % Hemiptera Hete-roptera. Verificou-se que não havia diferença significativa entre os tratamentos e entre as espécies para todas as variáveis analisadas. Em 2011 foram coletados 4970 indivíduos distribuídos em 56,22 % da ordem Hymenoptera, 18,49 % Collembola e 7,12 % Coleoptero na área de M. fistulifera. Na área de E. urograndis foram 4200 indivíduos, sendo 55,29 % (Hymenoptera), 23,79 % (Collembola) e 5,86 % (Coleóptero). Verifica-se que os valores de atividade da fauna e riqueza de grupos foram significativamente maiores nos tratamentos que receberam adubação orgânica em ambos os plantios. Conclui-se que após um ano houve variação dos grupos dominantes e um incremento na atividade e no número de ordens da fauna epígea nos tratamentos que receberam aplicação de composto orgâni-co. (FAPESP, CAPES, Grupo Ambitec, FÍBRIA, CESP)

Palavras-chave: macrofauna, recuperação do solo, degradação do solo, restauração ecológica do solo.

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CARACteRIzAção FLoRíStICA de eSPéCIeS nAtIvAS de uM ReFLoReStAMento IMPLAntAdo CoM ALtA dIveRSIdAde, há nove AnoS, no MunICíPIo de MoGI GuAçu/SP.

Colmanetti, M.A.A¹; Barbosa, L.M.¹; Shirasuna, R. T.¹; Ortiz, P.R.T.¹1-Coordenação Especial de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD) - Instituto de Botânica de

São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A restauração ecológica de áreas degradadas, com espécies nativas, tem apre-sentado importantes resultados nessa última década. Avanços na esfera política, como as resoluções orientadoras para os reflorestamentos com espécies nativas no estado de São Paulo, fazem parte des-tes esforços que contribuem para o sucesso da restauração. Avaliações e monitoramento são essen-ciais para a certificação da eficiência das ações restauradoras. Neste contexto, têm sido desenvolvi-dos estudos de monitoramento, objetivando avaliar a composição florística e estrutural de uma área de 240 ha, reflorestada com 101 espécies nativas em 2002, no Horto São Marcelo em Mogi-Guaçu/SP, sob orientação da Coordenação Especial de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD) do Instituto de Botânica/SP. Na ocasião do plantio, foram demarcadas 40 parcelas permanentes, aonde vêm sendo realizados estudos envolvendo diversas abordagens visando a avaliar o desenvolvimento e qualidade do reflorestamento implantado. Neste trabalho foram realizados levantamentos fitosso-ciológicos e florísticos em 20 subparcelas (18x12,5m), obtidos a partir de 20 parcelas permanentes selecionadas para este estudo. Foram avaliados os parâmetros como: a Circunferência a Altura do Peito (CAP) e altura, sendo consideradas espécies arbóreas todos os indivíduos pertencentes às linhas de plantio e que apresentaram um CAP superior a 15 cm. Na avaliação foram levantados 490 indivíduos arbóreos, e os resultados apontaram a ocorrência de 70 espécies pertencentes a 28 famílias, sendo 22 espécies pioneiras (31,5%), 41 espécies não pioneiras (58,6%) e 7 espécies sem classificação definitiva (10%). Com a finalidade de avaliar a diversidade das subparcelas avaliadas calculou-se o índice de diversidade de Shannon (H’) H’= 3,84 e o índice de equabilidade de Pielou (J’) J’=0,62. Outros estudos complementares envolverão levantamentos do estrato regenerante da mesma área, e poderão ampliar o conhecimento sobre a dinâmica da floresta em desenvolvimento. (Apoio CNPq e International Paper/Brasil).

Palavras-chave: restauração ecológica; plantio com alta diversidade; espécies nativas.

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CReSCIMento de eSPéCIeS nAtIvAS utILIzAdAS nA ReStAuRAção de uM eCoSSISteMA FLoReStAL

Melo, Lucas Amaral de¹; Davide, Antonio Claudio¹; Brégula, José Paulo D.¹; Teixeira, Luís Antônio Fonseca¹

1Universidade Federal de Lavras, Curso de Engenharia Florestal, Lavras, MG, Brasil,

[email protected]

Resumo: Na restauração ambiental, vários fatores interferem no andamento e sucesso dos projetos implantados. Atualmente, um dos grandes obstáculos vividos pelos interessados em recuperar uma área é o custo de tais projetos, sendo este custo, uma consequência do somatório de todos os fatores que o silvicultor enfrenta, dentre os quais, a quantidade de limpezas com capinas e roçadas, necessárias para reduzir a competição entre plantas daninhas e as mudas das espécies florestais. Com base na necessidade por maiores esclarecimentos acerca de fatores que interferem no sucesso de projetos de restauração ambiental, este trabalho teve como objetivo avaliar o cresci-mento de quatorze espécies nativas utilizadas na restauração de um ecossistema florestal, sendo sete consideradas pioneiras e as demais, clímax. Para isso, foi delineado um experimento com o plantio de mudas às margens do reservatório da usina hidrelétrica do Funil, no município de Itumirim, sul de Minas Gerais. Para o plantio das mudas, foi realizada aração em área total, seguida de gradagem e abertura dos sulcos de plantio, utilizando-se um espaçamento de 3 x 1,5 m, alternando espécies pioneiras com espécies clímax. O delineamento estatístico adotado foi o de parcelas subdivididas no tempo em blocos casualizados, com oito repetições. Cada bloco foi constituído por dez plantas de cada espécie e nestas, foram realizadas avaliações da altura da parte aérea, diâmetro à altura do peito e área de copa das plantas, ao longo dos meses. De acordo com os resultados, verificou-se que

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espécies pioneiras apresentaram valores maiores quanto às características de crescimento, quando comparadas às espécies clímax, porém dentro do mesmo grupo ecológico, as espécies também se apresentaram diferentes quanto às mesmas características, mostrando que além do grupo ecológico, a distribuição das espécies no campo pode ser realizada de acordo com as taxas de crescimento de cada espécie. (Apoio: FAPEMIG)

Palavras-chave: área de copa, recuperação de áreas degradadas, tratos silviculturais.

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INFLUÊNCIA DE VARIÁVEIS FÍSICO-AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO DE MUDAS FLORESTAIS NATIVAS EM UMA ÁREA DE RESTAURAÇÃO, NAZARÉ PAULISTA, SÃO PAULO

Daniela Campos de Filippo¹,³, Marina Bujnicki Zablith¹, Gabriela Cabral Rezende¹, Séfora Tognolo de Aguilar¹, Sidney Novoa Sheppard¹, Roberto de Lara Haddad², Alexandre

Uezu¹,², Cristiana Saddy Martins¹,² ¹ Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS/IPÊ), Instituto de Pesquisas

Ecológicas, Nazaré Paulista/SP; ² Instituto de Pesquisas Ecológicas, Nazaré Paulista/SP. [email protected]

Resumo: O monitoramento de áreas restauradas é fundamental para avaliar a eficácia das ações, redefinir metodologias e aprofundar os conhecimentos sobre os processos e fatores relacionados à sucessão ecológica. No entanto, há pouco consenso na literatura sobre quais indicadores devem ser mensurados para avaliar o sucesso de uma restauração, principalmente pelo entendimento diverso dos objetivos finais destas ações. Neste trabalho buscou-se detectar variáveis físico-ambientais (distância do reservatório e de fragmentos de mata, declividade e vertente) que mais afetam o desenvolvimento, mortalidade e herbivoria das mudas nativas. O estudo foi realizado em uma área de restauração com 18 meses de plantio, localizada no entorno do Reservatório Atibainha, Nazaré Paulista (SP). Em 56 parce-las (12x12m), mensuraram-se as variáveis dependentes: desenvolvimento das mudas (altura, área basal e cobertura de copa), taxa de mortalidade e presença de herbivoria. Para cada parcela, foram estimadas variáveis físico-ambientais (independentes) utilizando-se o programa ArcGIS 9.2. A relação entre as variáveis dependentes e independentes foi analisada através de Modelos Lineares Generalizados e os melhores modelos foram selecionados pelo AIC - critério da informação de Akaike. Dos 1280 indiví-duos de 75 espécies nativas relativas a 21 famílias, 55% eram pioneiras e 45% secundárias. A variável distância da represa foi a mais plausível na explicação das variáveis desenvolvimento e mortalidade, ilustrando a importância daquela no sucesso de estabelecimento das mudas. As variáveis distância do fragmento, declividade e vertente tiveram efeitos secundários. A herbivoria não se mostrou influen-ciada por nenhum dos fatores independentes, apresentando um padrão aleatório de distribuição. A distância da represa está correlacionada a outros fatores ambientais como a temperatura e umidade. Por isso, sugere-se que essa variável seja levada em consideração nos processos de restauração e mo-nitoramentos futuros. Nas áreas mais próximas da represa que possuem maior umidade e temperaturas mais baixas, observou-se maior taxa de mortalidade e desenvolvimento mais lento das mudas, portanto o plantio deve ser feito com espécies melhor adaptadas a essas condições ambientais. Os diferentes cenários de restauração, assim como as diferenças físico-ambientais dentro de uma mesma área, devem ser considerados durante a escolha das espécies a serem plantadas.

Palavras-chave: restauração, monitoramento, variáveis, modelos, Mata Atlântica.

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AVALIAÇÃO DA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA NA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO: ESTUDOS NO LABORATÓRIO DE ECOLOGIA QUÍMICA E RESTAURAÇÃO FLORESTAL

Varanda, Elenice Mouro, Barosela, José Ricardo , Fragoso, Fabiana Palmeira , Leal, Mônica Oliveira , Meloni, Fernando , Rubio, Guilherme Cervelle e Mineli, Luiz Henrique Moraes

CEEFLORUSP (Centro de Estudos e Extensão Florestal da Floresta da USP-RP), Departamento de

Biologia, FFCLRP, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP. [email protected]

Resumo: O Laboratório de Ecologia Química e Restauração Florestal, em parceria com o CEEFLORUSP, tem atuado em projetos técnicos e científicos direcionados à recuperação de floresta

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estacional semidecidual na região de Ribeirão Preto. Dentre suas atividades de pesquisa, o laboratório avalia o processo de restauração ecológica de áreas reflorestadas com espécies nativas e estuda a recupe-ração de fragmentos florestais degradados. Os diversos parâmetros utilizados nas pesquisas visam avaliar a recuperação de processos ecológicos, a recuperação e a manutenção da biodiversidade e a estabilidade dos ecossistemas. Nos estudos dos processos ecológicos foram avaliadas, principalmente, as taxas de decomposição, a produção e os componentes químicos da serapilheira e a biodiversidade dos Arthropoda do solo e dos visitantes florais. Os resultados obtidos permitem avaliar o sucesso das técnicas de restau-ração ecológica, indicando caminhos e alternativas para a melhoria da qualidade ambiental e manutenção da biodiversidade. Os dados obtidos até agora sugerem que a implantação de florestas por plantio de espécies arbóreas apresenta resultados positivos a médio e longo prazo. Experimentos indicam que a produção e as taxas de decomposição da serapilheira atingem rapidamente os níveis encontrados nos fragmentos de mata nativa. A comunidade de artrópodes edáficos responde ao desenvolvimento da vege-tação e alguns grupos destes organismos são promissores na indicação da restauração da ciclagem de nu-trientes. O estudo com visitantes florais investigou a resposta deste grupo à restauração e identificou que diversas relações inseto-planta já se encontram restabelecidas na Floresta da USP. Em um estudo sobre recuperação de florestas degradadas, foram manejadas parcelas de um fragmento infestado por lianas. A remoção destas plantas teve um efeito positivo na produção de serapilheira e no crescimento das árvores em comparação com a área não manejada. Atualmente estão sendo avaliados os efeitos da remoção de lianas sobre a chuva de sementes nesta mesma área. Os dados obtidos nestas pesquisas podem contribuir para o planejamento de futuros projetos de recuperação de áreas degradadas.

Palavras-Chave: floresta da USP, restauração ecológica, CEEFLORUSP.

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ReStAuRAção FLoReStAL eM áReA de PAStAGenS, SARAndI – RS

Dal Agnol, Gabriel¹ , Vendruscolo, Rafael¹ e Balbinot, Rafaelo1Universidade Federal de Santa Maria campus CESNORS, Curso de Engenharia Florestal, Frederico

Westphalen, RS, BRASIL. [email protected]

Resumo: Quando do estabelecimento de Unidades de Conservação (UC), é comum a presença de áreas degradadas pela agropecuária e, nestas situações, a restauração ecológica é im-prescindível. Este é o caso da Reserva Hidroflorestal Domingo Zancanella, no município de Sarandi, RS. Esta UC possui 180 ha dos quais aproximadamente 140 ha tiveram uso agrícola e pecuário nos últimos 50 anos, dependendo da restauração ecológica para cumprir suas funções de conservação. Neste contexto, o presente trabalho pretende avaliar três sistemas de restauração florestal em uma área de pastagens Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster (braquiária) dentro da UC. As técnicas testadas foram: Núcleos de Biodiversidade (NB); Transposição de Serapilheira (TS) e Plantio de Mudas (PM) de grande porte. Cada técnica foi aplicada numa área de 0,5 ha, totalizando 1,5 ha. Foram avaliados os custos e a efetividade (crescimento, mortalidade e cobertura) de cada técnica. Na técnica de NB foram implantados 22 núcleos com 5 m², espaçados entre si 15 x 15 m, com uma media de 20 mudas em cada núcleo; já TS foi realizada em 12 parcelas com 4 m² cada e espaçadas a cada 20 x 20 m, espalhando cerca de 10 kg de serapilheira coletadas no Parque Estadual do Papagaio Charrão uma UC próxima à área, além de uma irrigação para favorecer a quebra de dormência dos propágulos e para o método de PM foram plantadas 100 mudas de espécies nativas sob um espaça-mento de 6 x 8 m. As avaliações foram realizadas em um intervalo de 3 meses, sendo avaliado nos NB o crescimento das espécies e o potencial de disseminação de propágulos, na TS foi avaliado o estabelecimento plântulas provenientes da serapilheira e no PM analisou-se o crescimento em altura das espécies e o potencial de disseminação de propágulos sendo até o momento realizadas 4 análises. O NB foi a técnica com melhor resposta, pois em função do rápido sombreamento obtido a braquiária não se desenvolveu na porção periférica dos núcleos. Dentre as espécies testadas nos NB Schinus terebinthifolius Raddi teve a maior resistência à geada e à seca, e alta precocidade de floração e frutificação (apenas 9 meses). A TS teve o menor custo, porém não foi efetiva, pois não conseguiu vencer a competição com a braquiária. O PM apresentou o maior custo, devido à produ-ção das mudas, e não conseguiu inibir o crescimento da braquiáira, além de que as mudas isoladas sofreram mais com geada, interferindo diretamente no crescimento das mudas.

Palavras-chave: Brachiaria decumbens Stapf cv basilisk; nucleação; serapilheira; mu-das de grande porte.

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CReSCIMento e MoRtALIdAde de eSPéCIeS nAtIvAS nA ReStAuRAção de áReAS eM duAS CondIçõeS de PLAntIo

Silva, Alessandra Teixeira¹; Carlos, Leandro¹; Venturin, Nelson¹; Neves, Ygoor Yvaney Bessa¹

¹Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, Lavras, MG,

Brasil, [email protected]

Resumo: Pesquisas desenvolvidas sobre crescimento de mudas de árvores nativas em função de ambientes diferenciados têm apontado respostas diferenciadas entre as espécies, principalmente considerando seu estádio sucessional. Na maioria das vezes, há necessidade de sombreamento na fase inicial de crescimento e de maior intensidade de luz nos estádios avançados de desenvolvimento. Existem poucos dados científicos sobre os efeitos do meio am-biente no crescimento de mudas de espécies arbóreas no sub-bosque de fragmentos florestais remanescentes. Com o objetivo de comparar o crescimento e a taxa de mortalidade de espécies florestais nativas em duas condições silviculturais distintas, foi realizado um experimento nos reflorestamentos de compensação na área de influência da Camargo Corrêa Cimentos S.A. Para tanto, avaliou-se o crescimento 2 anos pós plantio em 4 áreas onde foi realizado plantio em área total, e em 4 áreas onde foi realizado enriquecimento. Foi avaliado crescimento de 14 espécies nativas, a proporção dos grupos ecológicos adotada foi de 54% de espécies pioneiras, 34% de espécies secundárias e 12% de espécies clímax, o preparo inicial do solo foi realizado por meio de roçada, aração, gradagem e sulcagem, o espaçamento utilizado foi de 2,0 x 2,0m em quinquôncio, Foi realizada análise de variância e teste de media Scott-Knott e os resulta-dos mostraram que não houve diferenças significativas entre plantio e enriquecimento tanto para crescimento quanto para mortalidade, mostrando que não foi significativa essa diferença de luminosidade dos dois ambientes distintos. Foi encontrada diferença significativa para os grupos sucessionais: Pioneiras, altura de 2,45 m (a), Secundárias 1,24 m (b) e Clímax 0,75 m (c). Esses resultados demonstram os hábitos de crescimento. A espécie Schizolobium parahyba (Vell.) Blakee apresentou maior crescimento médio de 6 metros, seguida de Peltophorum du-bium (Spreng.) Taub. com crescimento de 4 metros. Todas as outras espécies não apresentaram diferenças significativas entre si. Analisando-se as médias de mortalidade: 5,62% (cv 2,19) para plantio e 8,5% (cv 3,16) para enriquecimento, não houve diferenças, o sombreamento não afetou o percentual de mortalidade. As espécies que apresentaram melhores desenvolvimentos foram Schizolobium parahyba (Vell.) Blake e Peltophorum dubium (Spreng.) Taub. A mortali-dade não foi significativa. Não se verificaram diferenças entre as duas condições luminosas de plantio. (FAPEMIG).

Palavras-chave: enriquecimento, grupos sucessionais, plantio de espécies nativas

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eSPéCIeS ARBóReAS dA FAIxA SeCA do CoRRedoR de BIodIveRSIdAde SAntA MARIA, PARAná, BRASIL

Gris, Darlene ¹, Temponi, Lívia Godinho¹, Toscan, Maria Angélica¹1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Mestrado em Conservação e Manejo de Recursos Naturais,

Cascavel, Paraná, Brasil. [email protected]

Resumo: O Corredor de Biodiversidade Santa Maria é uma faixa de mata que busca interligar a Mata Ciliar do Reservatório da Itaipu ao Parque Nacional do Iguaçu, uma área fonte de diversidade. Estas áreas acabaram isoladas com a destruição das florestas de Mata Atlântica origi-nais na região da fronteira comum ao Brasil, Paraguai e Argentina. O projeto iniciou-se em 2003, tendo como instituição fundadora a Itaipu Binacional e apoio da Fazenda Santa Maria e das prefei-turas das cidades da região. O Corredor conta com uma área de mata ciliar dos rios Apepu e Bonito; a Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Santa Maria, que possui 242 hectares; a área de proteção do Lago de Itaipu e uma faixa revegetada. Esta última, denominada Faixa Seca, é formada por uma área de 60 m de largura e 4 km de comprimento, onde houve um plantio de mudas de es-pécies principalmente nativas e potenciais atrativas a fauna. Objetivou-se com esse trabalho levantar

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as espécies presentes na Faixa Seca do Corredor de Biodiversidade Santa Maria para uma posterior avaliação e monitoramento da efetividade do projeto. Para tanto foram implantadas cinco parcelas semi-permanentes de 400 m2 cada e as árvores com mais de 15 cm de circunferência a altura do peito foram marcadas e amostras coletadas. Os exemplares coletados foram preparados de acordo com as técnicas usuais de herborização e identificados com auxílio de literatura especializada. Até o momento foram registradas 21 espécies, pertencentes a nove famílias botânicas, totalizando 233 indivíduos. As famílias com maior representatividade quanto ao número de espécies foram Faba-ceae, com 11 espécies, seguida de Cannabaceae e Moraceae com duas espécies cada. Dentre as 21 espécies encontradas apenas uma é exótica para o Brasil, Casuarina equisetifolia L., que possui dois indivíduos na área de estudo. Sendo esse um trabalho pioneiro na área de estudo, essa listagem servirá como base para estudos posteriores de fitossociologia, de recuperação de áreas degradadas, assim como possibilitará uma avaliação da efetividade do Corredor de Biodiversidade Santa Maria. (Instituição de Fomento: Fundação Parque Tecnológico de Itaipu - concessão de bolsa de mestrado para a primeira e terceira autora do trabalho.)

Palavras-chave: lago de Itaipu, corredor ecológico, Parque Nacional do Iguaçu.

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AnáLISe de SoBRevIvênCIA e deSenvoLvIMento de tRêS eSPéCIeS AtRAtIvAS dA AvIFAunA

Teixeira, Ana Magalhães Cordeiro 1; Santos, Glaucia Regina 2; Lima, Paulo Henrique 3; Siqueira Junior, Paulo 2; Peres, Fernando Gama 4; Botelho, Soraya Alvarenga 5

1. Eng. Florestal SNC Lavalin Marte; 2. Graduando(a) em Eng. Florestal UFLA; 3. Programa de Pós-

graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural – UFSCAR; 4. Gestor Ambiental Eletrobras Furnas; 5. Prof. Dr./

Orientadora Dep. de Ciências Florestais UFLA. [email protected]

Resumo: A dispersão realizada por aves é responsável por grande parte da dis-persão vegetal nos ecossistemas tropicais. A utilização de espécies atrativas da avifauna na restauração de áreas degradadas é uma técnica importante na estratégia de incrementar a chuva de sementes. Neste contexto, este trabalho tem como principal objetivo analisar a sobrevivên-cia e o desenvolvimento das seguintes espécies atrativas da avifauna: Trema micrantha (L.) Blume, Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. e Myrsine gardneriana A. DC. O estudo foi desenvolvido em uma área degradada localizada na UHE Luiz Carlos Barreto de Carvalho, no município de Pedregulho – SP. Situada na Bacia do Rio Grande, esta área foi utilizada, na época da construção da usina, como aterro sanitário e depósito de resíduos de construção civil. Em janeiro de 2009, com intuito de restaurar a referida área, foram plantadas 3.910 mudas de 38 espécies arbóreas distintas, com aproximadamente 30 cm de altura. Destas, 226 eram da espécie Trema micrantha (L.) Blume, 110 de Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. e 140 de Myrsine gardneriana A. DC.. Para analisar a taxa de sobrevivência e o desenvolvimento das mudas, foram mensurados, 24 meses após o plantio, o diâmetro na altura do solo (DAS) e a altura de todos os indivíduos plantados. A taxa de sobrevivência média do plantio foi de 52,23%, o DAS médio foi de 2,5cm e a altura média foi 1,2m. As taxas de sobrevivência das espécies Trema micrantha (L.) Blume, Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud e Myrsine gardneriana A. DC. foram, respectivamente: 63,3%, 68,2% e 64,3%. Os dados de DAS foram analisados e foram obtidas as seguintes médias: Trema micrantha (L.) Blume 4,0cm; Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud 2,1cm; Myrsine gardneriana A. DC. 1,8cm. Os dados de altura foram analisados e foram obtidas as seguintes médias: Trema micrantha (L.) Blume 1,9m; Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud 1,1m; Myrsine gardneriana A. DC. 1,0m. A espécie que apresentou maior taxa de sobrevivência foi Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. A espécie que mais se destacou, tanto em diâmetro, quanto em altura, foi Trema micrantha (L.) Blume. A partir dos resultados apresentados, conclui-se que as espécies Trema micrantha (L.) Blume, Maclura tinctoria (L.) D. Don ex Steud. e Myrsine gardneriana A.DC., 24 meses após o plantio, apresentaram alta taxa de sobrevivência e crescimento satisfatório (ELETROBRAS FURNAS, SNC Lavalin Marte e Universidade Federal de Lavras).

Palavras-chaves: área degradada; avifauna; chuva de sementes; restauração

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AvALIAção de ModeLoS de IMPLAntAção de MAtAS CILIAReS eM MARGeM de ReSeRvAtóRIo

Soares, Alvaro A. V.¹; Amorin, Breno R. D.¹; Arantes, Tássia B.¹; Ridolfi, Stéphano D.¹ e Botelho S. A.¹.

1Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil, [email protected]

Resumo: As matas ciliares são componentes da paisagem que exercem importan-tes funções ecológicas além de proporcionar serviços ambientais ao homem, logo a conserva-ção e recuperação destes ecossistemas são primordiais. O objetivo do trabalho é avaliar cinco modelos de implantação de matas ciliares em margem de reservatório, utilizando o indicador área basal. O experimento foi implantado em 1998, no município de Igarapava-SP, às margens da Usina Hidrelétrica de Igarapava. Os modelos de plantio variaram em: espaçamento, arran-jo e proporção de grupos ecológicos. Neste, as espécies foram divididas em pioneiras(P), e clímax(Cl). Os tratamentos foram: M1: espaçamento 3x2m; arranjo em quincôncio; 50% P e 50% Cl; M2: 3x2; quincôncio; 100% P; M3: 3x2; regular; 50% P e 50% Cl; M4: 3x3; regular; 100% P e M5: 3x3; regular; 75% P e 25% Cl. O delineamento foi em blocos casualizados com 4 repetições. A unidade experimental constitui-se de 15 linhas de 8 plantas. As medições foram feitas em janeiro de 2011, quando foram obtidas as medidas de CAP das plantas sobreviventes do plantio e das árvores provenientes da regeneração natural, com CAP ≥ 15,7cm para ambos os casos. Posteriormente, procedeu-se a análise de variância, teste de Scott-Knott e, análise de contrastes não-ortogonais pelo teste de Scheffé. O nível de significância foi de 5% para todos os casos. Os contrastes testados foram C1) M1 e M2 vs. M3, M4 e M5; C2) M1, M2 e M3 vs. M4 e M5; C3) M1 e M3 vs. M2 e M4; C4) M1 vs. M2; C5) M1 vs. M3; e C6) M2 vs. M4. Foi obtido o valor total de 14,76m².ha-1 (SD=17,43%). Este valor é considerado baixo comparando-se com matas ciliares nativas e com florestas semideciuais. Na análise de variância, houve diferença significativa entre os tratamentos. Pelo teste Scott-Knott, o tratamento T2 foi o que apresentou menor área basal, sendo que os outros não apresentaram diferença entre si. O contraste C1 foi estatisticamente significativo, com modelos em quincôncio apresentando menor área basal que os regulares. Também significativos foram C3 e C4, resultando em modelos com 100% pionei-ras com menor área basal. Considerando este indicador, sugere-se que reflorestamentos ciliares, em condições similares, não sejam implantados com o uso de apenas espécies pioneiras. Outros indicadores devem ser analisados em conjunto para uma melhor avaliação dos modelos. (Apoio FAPEMIG)

Palavras-chave: indicadores; área basal; reflorestamento ambiental; hidrelétricas.

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eSPéCIeS nAtIvAS PARA ReCuPeRAção de áReAS deGRAdAdAS de CAAtInGA, PetRoLInA, Pe

Basso, Fabiana de Arantes1, Fabricante, Juliano Ricardo1 & Siqueira Filho, José Alves2

1 Pesquisador do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas, CRAD, Universidade

Federal do Vale do São Francisco, UNIVASF, Petrolina- PE; 2. Professor do Colegiado de Ciências Biológicas, diretor do

Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas, CRAD, Universidade Federal do Vale do São Francisco,

UNIVASF, Petrolina- PE. [email protected]

Resumo: O Projeto de Integração da Bacia do São Francisco com as Bacias Hi-drográficas do Nordeste Setentrional compreende a construção de canais e reservatórios que conduzirão água para sub-bacias do São Francisco, cruzando os estados do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Localizado no semiárido nordestino, este projeto afetará diretamente as áreas de Caatinga pela perda de vegetação nativa, construções de taludes, aterros, bota-foras e áreas de empréstimo que deverão ser recuperadas. O objetivo geral do trabalho foi testar a viabilidade de um modelo de plantio com espécies arbustivas arbóreas nativas, em uma área de Caatinga em estágio avançado de degradação, possibilitando assim ser replicado nas áreas do projeto. Foram

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plantadas 700 mudas de 23 espécies nativas com espaçamento de 3 m x2 m. Foram calculadas taxa de mortalidade após 30 dias, e altura após dois meses, seguida de outras cinco leituras com o mesmo intervalo de tempo entre si. Esses valores foram utilizados para o cálculo do incre-mento periódico de altura (IP) e comparados pelo teste de Kruskal-Wallis (H), com diferença entre postos por meio de Dunn (p ≤ 0,05). A taxa de mortalidade foi de 6,7 %. As espécies que apresentaram as maiores taxas de mortalidade foram Hymenaea martiana Hayne (23,5%), se-guida de Cochlospermum vitifolium (Willd.) Spreng. (17,2%) e Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm. (11,5%). Já as espécies Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett., Schinopsis brasiliensis Engl., Spondias tuberosa Arruda, Syagrus coronata (Mart.) Becc., Tabebuia au-rea (Silva Manso) Benth. & Hook.f. ex S.Moore e Ziziphus joazeiro Mart. apresentaram taxa de mortalidade nula. Os maiores valores médios de IP foram encontrados para Libidibia fer-rea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz (0,0135±0.1826 mm.período), Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong(0,011±0.1611 mm.período) e Spondias tuberosa (0,008±0.1514 mm.período). Segundo H, as espécies com maior IP são estatisticamente iguais entre si e diferentes da maioria das demais espécies. Devido às baixas taxas de mortalidade associadas aos maiores incrementos periódicos de altura, L. ferrea, E. contortisiliquum e S. tuberosa foram consideradas as espécies com melhor desempenho no presente estudo, o que capacita as mesmas para a recuperação/res-tauração ou enriquecimento de sítios degradados nas caatingas (Fonte Financiadora: Ministério da Integração Nacional).

Palavras-chave: savana estépica, semiárido, restauração ecológica.

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InFLuênCIA dA LuMInoSIdAde nA ReGeneRAção e eStABeLeCIMento de PLântuLAS de Apuleia leiocarpa e diatenopteryx sorbifolia

Andressa J. Tomazeli¹; Daian T. Kerkhoff¹; Diego Oro¹; Dionéia Felippe¹; Fernanda L. Ril¹; Ricardo Maihack¹

1 Acadêmicos do curso de Engenharia Florestal. Universidade Federal de Santa Maria - Centro de

Educação Superior Norte do RS, Frederico Westphalen, RS, Brasil. 98400-000. [email protected]

Resumo: No presente trabalho analisou-se a influência da intensidade luminosa na regeneração e estabelecimento de plântulas de Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr e Diate-nopteryx sorbifolia Radlk. em um fragmento da Floresta Estacional Decidual, no município de Frederico Westphalen, RS. A Floresta em questão possui como característica principal a queda das folhas de 50% das plantas do dossel superior em períodos de baixa temperatura. A espécie Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr (Fabaceae), conhecida como grápia, já foi classificada por diversos autores em todos os grupos ecológicos. Essa espécie apresenta madeira nobre e de grande valor comercial, podendo atingir grande porte e diâmetro. Outra espécie avaliada neste trabalho é a Diatenopteryx sorbifolia Radlk. (Sapindaceae), conhecida como maria-preta, classificada em secundária inicial e secundária tardia. Atinge dimensões próximas a grápia, possuindo madeira muito boa para uso em construções civis e carpintaria, usada também em restauração ecológica de áreas. O estudo foi realizado utilizando-se 3 clareiras, sendo 16 par-celas por clareira, distantes 2,5m cada, e 2,5m do centro da clareira, dispostas na forma de um transecto. Foram avaliados todos os indivíduos com 5cm ≤ altura ≤ 100cm, assim como a inten-sidade luminosa em cada parcela. Em todas as parcelas (25m²) foram identificadas as plântulas das duas espécies e etiquetadas, sendo realizada mensalmente a medição de altura e diâmetro, e incorporadas à pesquisa as plântulas novas. A luminosidade de todas as parcelas foi medida com luxímetro (lux), em horário próximo as 12h, em dias com poucas nuvens. A pesquisa ini-ciou em setembro de 2010, contabilizando-se nas três clareiras, 379 indivíduos, sendo 260 da grápia e 119 da maria-preta. Em julho de 2011, contabilizaram-se 182 indivíduos, sendo 106 da grápia e 76 da maria-preta. Com a análise dos resultados, verificou-se que não houve relação da luminosidade com os indivíduos mortos, com o crescimento e com a densidade de plântulas as quais distribuíram-se de forma aleatória. Uma provável explicação para esses resultados pode ser atribuída ao fato dessa floresta perder as folhas na estação desfavorável e em função disso não haver diferença na luminosidade a partir do centro da clareira.

Palavras-Chave: clareira; luminosidade; floresta estacional decidual.

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AnáLISe do BAnCo de SeMenteS de duAS nASCenteS eM PRoCeSSo de ReCuPeRAção no SuL de MInAS GeRAIS

Faria, André L. R.1, Toledo, Fábio H. S. F. de1, Faria, Regiane A.V.B.2, Mariano, Elma A.1; Botelho, Soraya A.3

1Universidade Federal de Lavras, Engenharia Florestal, Lavras, MG, Brasil. Mestrando, Programa de

Pós Graduação em Engenharia Florestal, Departamento de Ciências Florestais, Lavras, MG; 2. Doutoranda, Programa

de Pós Graduação em Engenharia Florestal, Departamento de Ciências Florestais, Lavras, MG; 3. Professora titular,

Departamento de Ciências Florestais, Lavras, MG. [email protected]

Resumo: Banco de sementes pode ser definido como sendo o estoque de sementes no solo, dormentes ou quiescentes, que têm potencial para germinar e formar uma nova plântula, quando as condições ambientais forem adequadas. O objetivo deste estudo foi caracterizar o banco de sementes de duas nascentes em processo de recuperação localizadas no sul de Minas Gerais. Para isto, foram selecionadas duas nascentes situadas no interior de Minas Gerais, uma localizada no mu-nicípio de Nepomuceno e outra localizada no município de Carrancas. O processo de recuperação iniciou-se em 2005 onde as nascentes foram cercadas em um raio de 50 metros a partir de seu olho d’água principal. Foram amostrados 17 pontos em cada nascente, distribuídos em oito transectos radiais ao olho d’agua principal de cada nascente. O material para composição do banco foi coletado com um gabarito de metal, resultando um volume total de solo coletado de 0,0031 m³. Para a monta-gem do experimento, foram utilizadas 40 bandejas plásticas (44 x 27,6 x 7,6 cm), sendo 34 bandejas com as amostras coletadas e 6 de controle. Inicialmente as bandejas receberam uma camada de areia esterilizada e, em seguida, foram preenchidas com o solo coletado e recobertas com a serapilheira, sendo as bandejas de controle preenchidas somente com a areia esterilizada. Ao final de 30 dias foram quantificados e identificados os indivíduos emergentes. Na primeira nascente germinaram no total 888 indivíduos. Destes, 13,63% de Melinis minutiflora P. Beauv. (capim gordura), 11,04 % foram de Urochloa sp., 5,52 % são de Ageratum conyzoides L. (mentrasto), 2,14 % são de Cyperus rotundus L. (Tiririca), dois indivíduos de Emilia sonchifolia L. (falsa serralha), um indivíduo de Bi-dens pilosa L. (picão preto) e o restante (63,23 %) não foi possível identificar. Na segunda nascente germinaram um total de 1089 indivíduos, dos quais foi possível identificar três espécies: 30,49 % de braquiária (Urochloa sp.), 3,46 % de capim gordura (Melinis minutiflora P. Beauv.) e 0,09 % de Tiririca (Cyperus rotundus L.). Cerca de 68,14 % dos indivíduos não foram identificados até a idade avaliada. De um modo geral, a presença de capim braquiária e gordura em toda a primeira nascente e a alta concentração de capim braquiária nas áreas em recuperação da segunda nascente estão im-pedindo o estabelecimento da regeneração natural nesses locais, dificultando e tornando o processo de recuperação das mesmas mais demorado. (Apoio: FAPEMIG).

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; serapilheira; regeneração natural.

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AvALIAção do CReSCIMento de duAS eSPéCIeS FLoReStAIS tARdIAS eM Função do SoMBReAMento de eSPéCIeS PIoneIRAS eM áReA deGRAdAdA do AntIGo LIxão de dIAMAntInA, MG

Guimarães, Rodrigo Elias¹, Pereira, Israel Marinho².1UFVJM, Curso de Engenharia Florestal, Diamantina, MG, Brasil; 2. UFVJM, Professor Doutor em

Ecologia Florestal, Diamantina, MG, Brasil. [email protected]

Resumo: Atualmente metade dos municípios brasileiros ainda usa lixões a céu aber-to como destinos para os resíduos sólidos. Esses lixões a céu aberto não possuem infraestrutura adequada para evitar os danos consequentes dessa atividade, degradando o ambiente e causando prejuízos a saúde pública sob sua influência. As áreas de disposição do lixo, quando desativadas, encontram-se, invariavelmente, degradadas e necessitam da elaboração de um plano de recupera-ção, além do monitoramento ao longo dos anos para se avaliar a sua evolução. O presente trabalho tem por objetivo o estudo do comportamento de mudas de duas espécies florestais tardais sob a copa de quatro diferentes espécies pioneiras, já estabelecidas na área, visando determinar os potenciais para o uso como espécies inicias e tardias, em área de restauração ambiental. O experi-

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mento foi conduzido na área de “antigo lixão”, localizada dentro do Campus Juscelino Kubitschek da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina-MG. A vegetação do entorno do lixão se caracteriza como sendo área de Cerrado Stricto Sensu. Foram utilizadas quatro espécies pioneiras como sombreadoras (Tratamentos e três repetições), a saber: T1-Lobei-ra (Solanum lycocarpum Saint Hilaire.), T2-Assa-peixe (Vernonanthura phosphorica (Vell.) H. Rob), T3-Sinamomo (Melia azedarach L.) e T4-Acácia (Acacia mangium Willd.), sendo as duas primeiras nativas e as outras duas exóticas. As espécies climax (sombreadas) estudadas foram Jatobá (Hymenaea courbaril L.) e Copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.), as espécies sombreadas foram disposta sempre no sentido Norte-Oeste e Sul-Leste. Foram utilizadas 32 mudas de jatobá e 32 mudas de copaíba. O experimento foi avaliado em parcela subdividida com oito tratamentos (quatro espécies sombreadoras x duas espécies sombreadas), foram realizadas avaliações de di-âmetro à altura do solo (DAS) e, altura e área de copa aos 20 meses após o plantio. Observou-se um melhor desenvolvimento da copaíba sob a copa da acácia e o Jatobá com um melhor resultado sob a copa do sinamomo. No entanto, não houve diferença significativa entre os tratamentos de espécies sombreadoras para as variáveis DAS, altura e área de copa. Neste sentido, conclui-se que as espécies sombreadoras não influenciaram estatisticamente nos valores de crescimento da copaíba e jatobá.

Palavras-chaves: recuperação de áreas degradadas, restauração ambiental, espécies primárias e secundárias, lixão.

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evoLução FLoRíStICA e eStRutuRAL de uMA CoMunIdAde veGetAL eM PRoCeSSo de ReStAuRAção FLoReStAL nA BACIA do RIo xInGu, MAto GRoSSo

Urzedo, Danilo I.1; Guerin, Natalia2; Costa, José N. M. N.2; Campos, Arthur C. P.3; Leite, Gilvani Scatolin4

1. Universidade Federal de São Carlos, Engenharia Florestal, Sorocaba, SP, Brasil; 2. Instituto

Socioambiental, Canarana, MT, Brasil; 3. Universidade de São Paulo, Engenharia Agronômica, Piracicaba, SP, Brasil; 4.

Universidade Estadual de São Paulo, Agronomia, Registro, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A estrutura das comunidades vegetais pode ser descrita por meio de seus parâmetros de abundância e distribuição das espécies. A estrutura horizontal é a forma de ava-liar como cada espécie participa na comunidade em relação às demais, ao mesmo tempo em que apresenta informações sobre sua distribuição espacial. Essas informações permitem avaliar como a espécie está explorando o seu ambiente. O objetivo do estudo foi realizar uma avaliação da es-trutura florística horizontal de uma comunidade em processo de restauração florestal. O local de estudo consiste em uma antiga área de pastagem, localizada na região das cabeceiras do rio Xingu. A restauração foi realizada por meio de um plantio a lanço de sementes (muvuca), composta por três espécies de adubação verde e 32 espécies florestais. Para a coleta de dados foi alocada em campo uma parcela aleatória de 400 m2, subdivida em quatro subparcelas de 20 m2, nas quais fo-ram coletados dados de altura total e diâmetro a altura do peito ou do coleto de todos os indivíduos arbóreos. Para a análise da estrutura horizontal foram calculados os parâmetros de densidade, dominância, frequência e índice de valor de importância (IVI) para cada espécie amostrada. Para estimar o grau de agregação e a distribuição espacial das espécies foi empregado o Índice de Mo-risita. Após 30 meses do plantio, foram amostradas 19 espécies no local de estudo, representando a ocorrência de 59,38 % das espécies presentes na muvuca de sementes. A densidade média foi 1,43±0,52 indivíduos/m2 com distribuição regular (I < 1), ou seja, as espécies não se encontram agrupadas. A espécie Dipteryx alata Vogel apresentou o maior IVI (208,9 %), sobretudo, em razão da sua elevada dominância (99,7 %), seguida de Mabea fistulifera Mart. (126,7 %) e de Myracro-druon urundeuva Allemão (119,3 %), as quais apresentaram as maiores densidade, 26,6 % e 19,3 % respectivamente. A vegetação encontra-se em um processo avançado de sucessão ecológica, sobretudo, em razão da elevada densidade da comunidade com o predomínio de indivíduos de poucas espécies que tem gerado condições favoráveis (cobertura do solo, fixação de nitrogênio, produção de biomassa) para o estabelecimento de espécies mais exigentes, as quais estão presen-tes no banco de sementes ou nos fragmentos florestais próximos.

Palavras-chave: semeadura direta; sucessão ecológica; cerrado.

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AvALIAção do PRojeto de ReStAuRAção nAS dunAS de CentRAL MAR, GAvà (eSPAnhA)

Oliveira, Maria Paula Pires de1, Fernández, Karina Vergara2, Torre, Maria Purificación Conesa de La2, Oromí, Marina López2, Arija, Marta Mampel2

1. Universidade de São Paulo, Curso de Engenharia Ambiental, São Carlos, SP, Brasil 2. Universitat de

Barcelona, Máster en Gestión y Restauración del Medio Natural, Barcelona, Catalunha,

Espanha. [email protected]

Resumo: Os sistemas dunares são ecossistemas de grande fragilidade e alto valor ecológico. No entanto, encontram-se constantemente ameaçados. O município de Gavà situa-se a 15km de Barcelona, na região Baix de Llobregat. Sua zona litoral sofreu muitas transformações ao largo da história, deteriorando o sistema dunar. No final da década de 90, o local encontrava--se com sua topografia, substrato e vegetação degradados. Em 1997 foi realizado um projeto de reabilitação da área com a construção de uma fachada marítima que harmonizaria, em termos ecológicos e paisagísticos, o tramo do passeio marítimo existente. O projeto consistiu na recons-trução dos elementos do complexo dunar para manutenção da vegetação da zona litoral. Foram estabelecidas as seguintes unidades: dunas primárias, secundárias, depressão úmida e terciárias. Atualmente o cordão dunar encontra-se novamente degradado devido à elevada pressão urbana e turística. O presente trabalho foi realizado para avaliar o projeto de restauração mencionado. Para isso, estabeleceu-se o estado de conservação da área e as possíveis origens das alterações através de um índice de vulnerabilidade específico para as costas espanholas. Para três transectos costei-ros de 100m de comprimento cada um, aplicou-se uma lista de controle composta pelos índices: geomorfológico-sedimentário; incidência marinha; incidência eólica; características da cobertura vegetal; e pressão de uso. A partir da média ponderada dos valores encontrados para cada índice, obteve-se o índice de vulnerabilidade do sistema. Também analisou-se o recobrimento vegetal dos transectos, o qual foi comparado a um inventário da vegetação da região de estudo realizado em 1962. Adotou-se o inventário como referência de boa vegetação dunar, visto que foi realizado antes da degradação inicial do local. Na zona estudada, o sistema apresentou vulnerabilidade mé-dia, a qual se deve principalmente às características geomorfológicas do sistema. Os fatores mais influentes observados foram: fragmentação do sistema, dificuldade de estabelecimento da duna, entorno urbanizado e pressão antrópica. A vegetação presente é similar à descrita no inventário de referência, com algumas diferenças na porcentagem de recobrimento das espécies, mas com semelhanças quanto aos grupos funcionais presentes. Observou-se ainda um aumento de espécies oportunistas e invasoras, provavelmente devido à alta antropização do lugar que ocorreu nas últi-mas décadas.

Palavras-chave: restauração de dunas, sistema dunar, índice de vulnerabilidade, co-bertura vegetal

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APLICAção de IndICAdoReS AMBIentAIS PARA AvALIAção dA ReCuPeRAção de áReAS deGRAdAdAS no MunICíPIo de RIBeRão GRAnde – SP

Viégas, Lucas Bertacini1, Silva, Luciana Gode e2, Silva, Rafael J. Navas da3, Piña-Rodrigues, Fatima C. M.1

1. Universidade Federal de São Carlos, Curso de Engenharia Florestal, Sorocaba, Brasil; 2. Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Curso de Biologia, São Vicente, Brasil; 3. Instituto de Desenvolvimento

Ambiental e Sustentável, Capão Bonito – SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A fragmentação florestal realizada pela ação humana é responsável pela di-minuição da biodiversidade do planeta, sendo uma das mais intensas modificações executadas pelo homem aos recursos naturais. Com a conversão de extensas áreas florestais antes ocupadas por mata nativa em cultivos agrícolas ou cidades, os processos naturais responsáveis pelo equilíbrio sistêmico do ambiente foram profundamente afetados. Para a mitigação dos impactos negativos da degradação ambiental e obtenção da garantia do bem-estar da sociedade e da efetiva conservação ambiental, as ações de restauração ecológica têm se mostrado mais necessárias e urgentes. O monitoramento deste processo é realizado com o uso de indicadores, que expressam o grau de recuperação, apresentando

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o nível em que se encontra a sucessão ecológica. O presente trabalho objetivou avaliar o potencial de bioindicadores empregados para recuperação das funções ecológicas em áreas restauradas no município de Ribeirão Grande – SP. Para isso, foram estabelecidas 3 unidades de estudo conforme os diferentes modelos de recuperação adotados, sendo: propriedade 1 (P1), propriedade 2 (P2) e pro-priedade 3 (P3). Em cada unidade foram alocadas 4 parcelas de 100 m2. Para a obtenção dos dados foi empregado um conjunto de bioindicadores visando a estabelecer os seguintes parâmetros - (a) estrutura e conservação do solo; (b) potencial de auto-regeneração; e (c) estado de desenvolvimento das espécies arbóreas. Observou-se uma pequena variação em altura e circunferência na altura do peito (CAP), sendo de 0,3 m e 3,9 cm respectivamente. A altura média das 3 áreas foi de 2,78±0,9 m, onde a área P1 obteve o melhor desenvolvimento 4,74 m. Por consequência, o P1 teve o melhor desenvolvimento médio da CAP (26,22±12,9 cm), dentre estes, 60 % dos indivíduos mensurados ti-nham bifurcações. De um modo geral, a sucessão ecológica das áreas analisadas apresentou-se pou-co representativa, sendo que 35,31 % eram compostas por gramíneas, 30,36 % por herbáceas, 19,74 % por cobertura morta no solo, 5,63 % por solo desnudo e 11,04 % por serapilheira. A serapilheira quando presente alcançou um valor médio de 6,0±11,7 cm. O P1 obteve os melhores resultados para as variáveis analisadas. Conclui-se, como a área de estudo foi recuperada num período menor que 3 anos, haver necessidade de um acompanhamento contínuo e a longo prazo, uma vez que a dinâmica sucessional é um processo complexo e lento.(Instituto de Desenvolvimento Ambiental Sustentável)

Palavras-chave: monitoramento; restauração ecológica; área de preservação perma-nente; sistemas agroflorestais.

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SoBRevIvênCIA de 12 eSPéCIeS FLoReStAIS eM ReFLoReStAMento CILIAR

Moreira, Edson Júnio Costa¹, Soares, Álvaro Augusto Vieira², Ridolfi, Stephano Diniz¹, Arantes, Tássia Borges¹, Botelho, Soraya Alvarenga³

1. Universidade Federal de Lavras, Curso de Engenharia Florestal, Lavras, MG, Brasil.

[email protected]

Resumo: As matas ciliares são formações vegetais florestais associadas a corpos d’água, ao longo dos quais podem estender-se por dezenas de metros a partir das margens. A conservação e recuperação destes ecossistemas são primordiais tendo em vista que são componen-tes essenciais na paisagem e exercem importantes funções ecológicas, além de trazer benefícios diretos ao homem. Por estas peculiaridades faz-se necessária a pesquisa sobre a implantação de plantios mistos de recomposição de matas ciliares de forma que se obtenham informações que contribuam para o êxito de futuros projetos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a sobre-vivência de 12 espécies florestais utilizadas para recomposição de mata ciliar. A área de estudo está localizada no município de Igarapava, São Paulo. Trata-se de um experimento conduzido às margens da Usina Hidrelétrica de Igarapava, formada pelo represamento do Rio Grande. O clima é do tipo Aw segundo classificação de Köppen - tropical chuvoso com inverno seco. A precipita-ção anual média é de 1.525,2 mm sendo compreendido entre outubro e março o período de maior precipitação. O solo predominante na região é do tipo latossolo vermelho eutroférrico. O experi-mento foi implantado em 1998 adotando plantios mistos de forma regular em linhas de plantio, no espaçamento de 3x3. As espécies utilizadas são de dois grupos ecológicos diferentes, pioneiras (P) e clímax (CL). As P são: Capixingui, Sangra d’ água, Mutamba, Calabura, Aroeirinha, Trema, e as CL: Cedro, Sombreiro, Tamboril, Ipê-roxo, Amora e Angico Amarelo. A coleta de dados foi rea-lizada em janeiro de 2011, sendo avaliadas em sobrevivência: Amoreira, 6,90%; Angico-amarelo, 61,84%; Aroeirinha, 68,25%; Calabura, 16,10%; Capixingui, 0,33%; Cedro, 12,99%; Ipê-roxo, 30,23%; Mutamba, 72,76%; Pororoca, 9,09%; Sangra d’água, 0,66%; Sombreiro, 79,27%; Tam-boril, 9,09%; Trema, 0,64%. Percebe-se que 50% das P estão com taxas de sobrevivência inferior a 1%, esse fato pode ser explicado por essas espécies possuírem ciclo de vida curto, cerca de 15 anos, e se encontrarem em estado de senescência. Já as CL não se destacam com altos valores, exceto duas espécies que possuem porcentagens acima de 60%, as quais apresentam potencial para uma futura recomposição do local. Dessa forma, nas condições em que o experimento foi realizado, pode-se concluir que a Mutamba, Aroeirinha, Angico-amarelo e Sombreiro apresentam perspectivas para a recuperação desta área ciliar. (Apoio: FAPEMIG)

Palavras-chave: matas; clímax; pioneiras.

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AvALIAção dA vARIABILIdAde de CReSCIMento dA ARoeIRA SALSA (Schinus molle L.) eM áReAS de ReStAuRAção eCoLóGICA

Dias, Gisele Soares1, Bellemo, Adriana Camilo2, Duarte, Thiago Franco3, Peche Filho, Afonso4.

1Bióloga – Aluna de graduação FACULDADE PADRE ANCHIETA/ Estagiária Centro de Engenharia e

Automação – IAC, Jundiaí, SP; 2Bióloga – Aluna de graduação – UFSCAR, Sorocaba, SP; 3Ms Agricultura Tropical e

Subtropical; 4Pesquisador Científico – Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP.

[email protected]

Resumo: A sucessão secundária tem sido utilizada como referência para a recompo-sição florestal em áreas degradadas, justificando o plantio misto de espécies nativas. O objetivo deste trabalho foi avaliar as variações dimensionais da população de aroeiras-salsa (Schinus molle L.), presentes em uma área de restauração ambiental. As medidas morfológicas foram obtidas após um ano do plantio de mudas uniformes espaçadas de 2 em 2 metros em linhas de preenchimento seguindo o modelo pioneiras e secundárias iniciais e diversidade seguindo o modelo secundárias tardias e climácias numa área de 2,5 ha localizada nas dependências do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico em Jundiaí – SP. Determinou-se o DAC (diâmetro a altura do colo) utilizando um paquímetro manual graduado em centímetros. Para a mensuração da altura, expressa em centímetros, utilizou-se uma trena. Foram avaliados também o vigor e aparência das plantas utilizando uma escala de notas subjetiva divididas nas seguintes classes: Para vigor foram consideradas 1 para muito baixo, 2 baixo, 3 médio, 4 alto e 5 muito alto; para a aparência foram usados 1 muito ruim, 2 ruim, 3 média, 4 boa e 5 muito boa. A avaliação final apresentou uma alta variabilidade, entre os resultados. A altura variou de 33 a 160 cm; o diâmetro do colo variou de 0,13 a 13,99 cm. O vigor e a aparência variaram de 2 a 5 pontos. O índice morfológico (relação entre DAC e altura) variou de 10,43 a 178,99. Os resultados, embora parciais, demonstraram que a área apresenta variações ambientais, possíveis erros estratégicos de restauração e que a aroeira salsa (Schinus molle L.) é uma planta que tem potencial para servir de referência na avaliação da qualidade dos trabalhos de restauração ambiental.

Palavras chave: revegetação; morfologia vegetal; restauração ambiental; qualidade.

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CARACteRIzAção dA ReGeneRAção nAtuRAL do CoMPonente ARBóReo eM áReAS ReStAuRAdAS: InFLuênCIA dA IntenSIdAde de MAnejo

Podadera, Diego Sotto1,2,3 , Machado, Deivid Lopes1,2 , Engel, Vera Lex1,4

1. Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,

Botucatu, SP, Brasil; 2Pós-graduandos no Programa de Ciência Florestal; 4Profa. Ass. Dra. Do Departamento de Recursos

Naturais. [email protected]

Resumo: Com o objetivo de conciliar aspectos sociais e econômicos à restauração florestal, podem ser incluídos nos modelos de plantio, em uma etapa inicial, espécies para fins de manejo e geração de renda, como espécies madeireiras, medicinais ou até mesmo culturas agrí-colas. Entretanto, o manejo dessas espécies pode causar impactos no objetivo principal do plantio quando esse é a restauração da biodiversidade. Em função disto, objetivou-se neste estudo descre-ver e comparar a regeneração natural do componente arbóreo de dois modelos de plantio para res-tauração florestal com diferentes intensidades de manejo. Para tanto, foram avaliados 2 modelos de plantio: um consórcio de espécies para madeira e lenha (T1) e um sistema agroflorestal (T2), os quais foram implantados em 1997, em parcelas de 50 m x 50 m, em 2 sítios com distintas caracte-rísticas edáficas: nitossolo vermelho (sítio 1) e argissolo vermelo-amarelo (sítio 2), delineados em 3 blocos ao acaso, com 1 repetição por bloco, perfazendo um total de 2 tratamentos com 6 repe-tições. Os tratamentos possuem a mesma composição de espécies, diferindo no espaçamento das linhas de plantio. No T2 foi feito o plantio de linhas triplas de árvores intercaladas em faixas de 5 m, sendo implantadas culturas anuais até o fechamento do dossel. O T1 é semelhante ao T2, mas sem as faixas de cultura agrícola. Todos os indivíduos arbóreos regenerantes foram inventariados de forma estratificada em parcelas de 30 m x 30 m dentro da parcela original, desprezando-se 10

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m de bordadura. Os indivíduos das classes de 20 a 50 cm e de 51 cm a 1,30 m foram identificados e quantificados, para os >1,30m foi tomado o DAP e altura. No total foram identificados 4.059 indivíduos, 2.360 no sítio 1 e 1.699 no sítio 2. Foram encontradas mais de 130 espécies regene-rantes, sendo que os sítios 1 e 2 apresentaram cerca de 125 e 87 espécies, respectivamente. Em média a densidade de indivíduos e número de espécies no T1 foi de 4.685 ind.ha-1 e 41 espécies, e no T2 de 2.831 ind.ha-1 e 44 espécies. Os resultados preliminares indicam uma tendência de maior densidade média de indivíduos no T1, provavelmente devido a uma menor intensidade de manejo, e maior densidade de indivíduos e riqueza de espécies no sítio 1, possivelmente por esse sítio apresentar melhores propriedades edáficas. (Apoio: UNESP e CAPES).

Palavras-chave: restauração ecológica, sistemas agroflorestais, floresta estacional se-midecidual.

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AvALIAçõeS e oRIentAçõeS BáSICAS PARA MeLhoRIA doS ReFLoReStAMentoS CoMPenSAtóRIoS do tReCho SuL do RodoAneL MáRIo CovAS

Barbosa, Luiz Mauro1; Ortiz, Paulo Roberto Torres2; Shirasuna, Regina Tomoko2; Silva, Renata Ruiz2; Agena, Carlos Yoshiyuki2; Sumida, Simone Sayuri2

1 - Pesquisador Científico e Diretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas do Instituto de

Botânica de São Paulo (IBt); 2 - Assistente Técnico de Pesquisa Científica e Tecnológica do IBt.

Resumo: O Instituto de Botânica de São Paulo (IBt), através da Coordenação Es-pecial de Restauração Ecológica de Área Degradadas (CERAD), desenvolveu uma metodologia de avaliação rápida para monitoramento de reflorestamentos compensatórios, referentes à cons-trução do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas. Foram avaliados parâmetros da qualidade de plantios desde sua implantação, identificando dificuldades e inconsistências no atendimento às recomendações do IBt e à Resolução SMA 08/2008. A metodologia consistiu na indicação alea-tória de um local em cada área de plantio, onde foi realizada mais de uma amostragem em áreas superiores a 1 ha. Em cada amostragem foi efetuada a avaliação de diversidade e distribuição de espécies nativas, presença de exóticas e taxa de mortalidade de mudas, sendo esta obtida através da contagem de 25 covas em 4 linhas de plantio, totalizando 100 covas. Verificaram-se também os procedimentos de manutenção e presença ou ausência de fatores degradantes, como acesso de animais domésticos nas áreas de plantio, impactos causados por incêndios, presença de formigas cortadeiras, entre outros. Para cada situação, estabeleceu-se uma classificação baseada nas cores verde, amarelo e vermelho, representando índice de qualidade alto, médio e baixo do plantio, respectivamente. Através desta metodologia foi possível estabelecer ciclos com intervalo de 2 meses em cada área, permitindo melhor monitoramento. Os principais resultados, obtidos nestes 2 anos, auxiliaram a tomada de decisões das empresas reflorestadoras e permitiram ações correti-vas relacionadas à qualidade e procedência, plantios e distribuição inadequados das mudas, baixa diversidade, entre outros. Este trabalho, permitiu também concluir que a aplicação inadequada da chave de tomada de decisões e não atendimento às recomendações básicas estabelecidas para restauração ecológica, podem comprometer a qualidade dos reflorestamentos e ampliar os custos de manutenção. Ações relacionadas à conscientização ambiental das comunidades lindeiras e a ocorrência de fenômenos naturais são aspectos fundamentais a serem considerados. Os ganhos obtidos com essa metodologia vêm de encontro à dinâmica da restauração e são tratados de forma particular, sempre de acordo com as características e peculiaridades presentes em cada área.

Palavras-chave: restauração ecológica, monitoramento, plantio.

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TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

ÁREA 3 - ESTUDOS DE CASO EM RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA (COMPENSAÇÕES E PASSIVOS AMBIENTAIS)

deGRAdAção AMBIentAL eM áReAS uRBAnAS – CASo dA voçoRoCA do Conjunto hABItACIonAL tAquARAL BoSque eM CAMPo GRAnde, MAto GRoSSo do SuL

Paiva, Izabela Cristina, Prado de Souza Barbosa Ronda, Paiva, Luiz Antônio, Bononi, Vera Lúcia Ramos, Mercante, Mercedes Abid, Lunas, Maria Cristiane Fernandes da Silva, Estrela, Andrea Cayres.

Universidade Anhanguera Uniderp – Programa de Pós Graduação Strictu Senso em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional. [email protected]

Resumo: Nas cidades a degradação ambiental está fortemente ligada ao rápido e de-sordenado crescimento populacional. O crescimento da malha urbana, desprovido do planejamen-to necessário, desencadeia uma série de impactos decorrentes do mau uso da terra, dentre eles, os processos erosivos. Tais processos se manifestam nas áreas urbanas pelo consórcio dos fatores de suscetibilidade de uma área, ocorrendo que, a intervenção humana sobre o meio ambiente, descon-siderada sua dinâmica local, tende a acelerar, intensificar e agravar esses processos. Pode-se dizer que erosão urbana está relacionada à confluência de fatores naturais e antrópicos, aliados ainda, à falta, ou mesmo a ineficiência, de políticas de planejamento urbano. Os danos causados por processos erosivos nas cidades geram além de degradação do ambiente físico e comprometimento de ecossistemas naturais, prejuízos à sociedade. Objetivou-se com este estudo fomentar uma dis-cussão sobre degradação ambiental em centros urbanos causada por processos erosivos, tomando como exemplo a voçoroca existente no Conjunto Habitacional Taquaral Bosque, na cidade de Campo Grande – Mato Grosso do Sul. A metodologia aplicada envolveu levantamento e revisão de referencial teórico pertinente ao tema proposto; vistoria in loco para averiguação do dano; uso de imagens do Programa Google Earth e de técnicas de geoprocessamento para: delimitação da micro bacia de drenagem, cálculo de sua área, espacialização da voçoroca e dimensionamento da área degradada; informações da Prefeitura Municipal de Campo Grande; notícias da mídia local; e visualização da evolução do dano a partir de comparação fotográfica. Na conclusão foram apontadas algumas das principais ações que desencadearam o processo, as medidas de contenção aplicadas pelo poder público local, as condições atuais da área e as intervenções necessárias que resultem em práticas eficientes e viáveis de contenção e posterior recuperação ambiental da área degradada, com intuito de minimizar os impactos negativos sobre os aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos, ressaltando a importância de políticas públicas para a construção e manutenção de cidades saudáveis.

Palavras-chave: Erosão linear. Urbanização. Impactos Ambientais. Planejamento Urbano.

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A ReStAuRAção eCoLóGICA e o PASSIvo AMBIentAL dA AGRICuLtuRA no SuL do BRASIL.

Pereira, Karla Conceição1; Campos, Alexandre Felix2

1.SAA/APTA – Pólo Regional Vale do Paraíba, Pindamonhangaba, SP,Brasil; 2.Bio e Meio Ambiente –

Projetos, Turvo, SC, Brasil. [email protected].

Resumo: A adoção de práticas agrícolas conservacionistas através de programas governamentais a princípio deflagra uma inquietação na população atingida, além de exacerbar o conflito de interesse. Os termos de ajustes de conduta são instrumentos reguladores e servem

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de ferramentas de comando e controle. O Estado de Santa Catarina tem sido pioneiro em ado-tar estes termos para conhecer a situação ambiental problema, articular os atores envolvidos e buscar as soluções para a degradação potencial de algumas práticas abusivas oriundas da atividade agropecuária. Em 2002, com o Programa Água Limpa, o Ministério Público com o apoio dos órgãos fiscalizadores, marcou pontualmente à conservação e proteção dos recursos naturais, aliada as recomendações técnicas de práticas menos impactantes. Através do licen-ciamento ambiental da orizicultura evidenciou o passivo ambiental desta atividade. O presente trabalho objetivou avaliar e monitorar as áreas degradadas em decorrência da expansão agrícola, identificando a necessidade de restauração de processos ecológicos devido à ação antrópica. O diagnóstico da situação ambiental das propriedades rurais serviu para instruir os processos de licenciamento, e os levantamentos de dados foram realizados entre 2002 e 2008, no extremo sul catarinense. Para realizar o mapeamento a campo foi utilizado GPS Geodésico, marca Leica. Em laboratório, as peças técnicas foram elaboradas quantificando e qualificando as áreas em um sistema de automação topográfica. Foram levantadas 695 propriedades rurais, em sete municí-pios, Sombrio (18), Jacinto Machado (165), São João do Sul (48), Araranguá (53), Turvo (202), Meleiro (201) e Morro Grande (8), e destas 13 foram autuadas, por apresentarem desmatamento de remanescentes florestais nativos, retificação de leito de rio e expansão agrícola em áreas de preservação permanente. Como medida de compensação foram implantados projetos técnicos de restauração ecológica, considerando a característica do dano e o entorno destas áreas. O município com maior número de áreas degradadas autuadas pela fiscalização foi Araranguá (7), seguido de Jacinto Machado (4), demonstrando a fragilidade do agricultor em acessar in-formações atualizadas e pertinentes a preservação dos recursos naturais. O passivo ambiental da agricultura pode ser minimizado com a adequação ambiental, agregando valor às áreas de interesse ecológico integradas ao manejo dos sistemas produtivos e favorecendo a organização em associações e cooperativas.

Palavras-chave: adequação, licenciamento ambiental, degradação, TAC e PRAD.

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SoBRevIvênCIA e CReSCIMento do SAMAMBAIAçu Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) doMIn 43 MeSeS APóS ReALoCAção

Tamaki, Vívian 1 e Medina, Ivomar Aparecido 1

1Instituto de Botânica – Avenida Miguel Estéfano, 3687, Água Funda, São Paulo, SP, Brasil. vtamaki@

uol.com.br

Resumo: Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) Domin é uma samambaia arbo-rescente com cáudice simples e com uma roseta de frondes no ápice, ocorre em abundância nas matas úmidas do Estado de São Paulo. Durante as obras do trecho sul do Rodoanel, matas nativas foram suprimidas e exemplares de C. atrovirens foram resgatados e armazenados em viveiros de espera. O objetivo deste trabalho foi acompanhar a sobrevivência e o crescimento de plantas resgatadas após a realocação. O resgate das plantas utilizadas neste trabalho ocorreu em setembro de 2007 na área da cidade de Mauá/SP e as plantas foram realocadas em novembro de 2007 em uma área de mata nativa (23º45’15.9” S e 46º30’12.5” W) adjacente à área de resgate. Foram acompanhados 20 exemplares realocados no sol e 10 exemplares realocados na sombra durante 43 meses. Analisou-se o crescimento do cáudice e o número de frondes expandidas, mensalmente. Após este período verificou-se a sobrevivência de 16 exemplares no sol (80% de sobrevivência) e de 7 na sombra (70% de sobrevivência), apesar dessa diferença pode-se sugerir que essa espécie sobrevive bem a realocação tanto no sol quanto na sombra. Observou-se uma maior quantidade de frondes na época de chuva. As primeiras frondes, que surgiram após a realocação, tinham cerca de 1/5 do tamanho das frondes existentes antes do resgate. Durante os primeiros 24 meses após a realocação, praticamente, não se observou o crescimento do cáudice tanto nas plantas realocadas em áreas abertas quanto na sombra. Somente após este período o cáudice apresentou aumento em altura, tendo crescido 10,0±0,6 cm em ambiente mais ensola-rado e 8,3±0,6 sob sombreamento (Instituto de Botânica/Dersa).

Palavras-chave: reintrodução, repovoamento, sol, sombra.

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MudAS de euterpe edulis Mart. ReALoCAdAS eM FLoReStA ReMAneSCente

Tamaki, Vívian 1 e Medina, Ivomar Aparecido 1

1 Instituto de Botânica – Avenida Miguel Estéfano, 3687, Água Funda, São Paulo,

SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A palmeira Euterpe edulis Mart., conhecida popularmente como palmiteiro, encontra-se ameaçada de extinção, pois tem sido alvo do extrativismo ilegal, tornando importante o desenvolvimento de estudos sobre o plantio desta planta. Além disso, é uma espécie importante em áreas de restauração ecológica, visto que seus frutos servem de alimento para a avifauna. O ob-jetivo deste trabalho foi verificar a sobrevivência de mudas de E. edulis realocadas em uma floresta no município de Mauá/SP. Foram utilizados 30 exemplares resgatados durante a supressão vegetal licenciada pela obra do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas. O experimento ocorreu devido a uma prestação de serviços técnicos-orientativos do Instituto de Botânica da SMA/SP para a DER-SA. As mudas foram realocadas em outubro de 2008 em uma área de mata nativa (23º43’09,6” S e 46º28’32,3” W) e, mensalmente, foram realizadas avaliações quanto ao número de folhas novas, diâmetro do caule e altura das plantas. Durante 31 meses de acompanhamento (de outubro de 2008 a maio de 2011) observou-se a sobrevivência de 43% delas, aumento no diâmetro dos caules de cerca de 3 mm e aumento na altura das plantas em cerca de 19 cm. Ao final do período de análise as plantas apresentavam em média duas folhas expandidas por planta. Conclui-se que, no caso desta palmeira, a realocação de mudas em área de sombra parece ser satisfatória até 19 meses, depois deste período as plantas morreram mais e cresceram menos, provavelmente devido ao crescimento intenso de espécies de marantáceas que encobriram as palmeiras, prejudicando o crescimento das mesmas. Assim, no caso desta palmeira, parece ser importante o manejo da área até o estabelecimento das mudas, visto que as plantas que sobreviveram e cresceram mais estavam em áreas mais ensolaradas.

Palavras-chave: conservação, juçara, palmiteiro, realocação, sobrevivência.

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FenoLoGIA RePRodutIvA e eCoLoGIA dA PoLInIzAção de Periandra mediterranea (veLL.) tAuB. (FABACeAe) nA ReSeRvA BIoLóGICA GuARIBAS, MAMAnGuAPe, PARAíBA, BRASIL

Meireles, Andressa Cavalcante¹ e Quirino, Zelma Glebya Maciel¹1.Universidade Federal da Paraíba, Campus IV, Curso de Bacharelado em Ecologia, Rio Tinto, PB, Brasil.

[email protected]

Resumo: A fenologia de plantas e suas relações com polinizadores são muito impor-tantes na restauração de populações e funcionamento de ecossistemas em biomas degradados como a Mata Atlântica, pois influenciam na disponibilidade de recursos vegetais e ainda no sucesso re-produtivo, fluxo gênico, dispersão de sementes, distribuição espacial e permanência de plantas em suas áreas de ocorrência. Considerando a importância de tais estudos investigou-se a fenologia, a ecologia da polinização e a biologia reprodutiva da espécie Periandra mediterranea. O estudo de caso foi conduzido entre agosto de 2010 a julho de 2011 através de observações focais na Reserva Biológica Guaribas, Mamanguape, Paraíba, Brasil e análises no Laboratório de Ecologia Vegetal da Universidade Federal da Paraíba. As fenofases vegetativas, queda e brotamento foliar, ocorreram o ano todo enquanto as fenofases reprodutivas, floração e frutificação, oscilaram apresentando pico no mês de setembro de 2010 se correlacionando com o início da estação seca. A espécie apresenta flores hermafroditas, papilionáceas, zigomorfas, ressupinadas na pré-antese, pediceladas, com bractéolas pareadas e opostas, inseridas na base do cálice e ovadas. As pétalas são modificadas em quilha que protege os órgãos reprodutivos, alas que envolvem a quilha e a estandarte que serve de plataforma de pouso para o visitante floral. Os órgãos reprodutivos permanecem inclusos na quilha, sendo expostos somente durante o contato com os visitantes florais, os mais frequentes são as abelhas Xylocopa sp. e a Bombus sp. O mecanismo de polinização apresentado é o tripping e a deposição do pólen no corpo do animal é nototríbica. Testes de autopolinização demonstraram baixas taxas na frutificação de aproximadamente 26%, a polinização natural realizada pelas abelhas indicou 100% de sucesso na produção de frutos. Conclui-se que P. mediterranea apresenta um padrão de floração e frutificação anual, continuo de longa duração ocorrendo com intensidade no início da estação seca, a queda e o

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brotamento foliar ocorrem durante o ano todo. Testes reprodutivos demonstraram que o sucesso re-produtivo e o estabelecimento das populações naturais da espécie vegetal dependem da manutenção do polinizador efetivo a Xylocopa sp.

Palavras-chave: funcionamento do ecossistema, biologia floral, sucesso reprodutivo.

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CARACteRIzAção SuCeSSIonAL de uM FRAGMento de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL vISAndo A SuA ReStAuRAção eCoLóGICA

Cadoná, Suelen C.1; Piaia, Cleiton P.1; Herpich, Maikon A.1; Flores, Aramis H.1; Viera, Maria E. S.1

1. Centro de Educação Superior Norte-RS, Curso de Engenharia Florestal, Frederico Westphalen, RS,

Brasil. [email protected]

Resumo: A Floresta Estacional Decidual apresenta grande diversidade de flora e de fauna, sendo esta formação florestal um habitat ameaçado. Dessa forma, o estudo da composição e estrutura florística, possibilita caracterizar o estágio sucessional e, permite traçar medidas para favorecer o restabelecimento ou restauração ecológica da área. Portanto, objetivou-se nesse estudo realizar a caracterização sucessional de um fragmento de Floresta Estacional Decidual, em Frede-rico Westphalen, RS. Para o levantamento das espécies foram marcados seis pontos aleatoriamente na borda do fragmento (14,6 ha). Em cada ponto foram marcadas as distâncias de 10, 20, 40 e 80m da borda, onde delimitou-se uma parcela de 5 x 5m (25m²) por distância, totalizando seis parcelas em cada distância e 24 parcelas ao total. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos arbóreos vivos com CAP (circunferência a altura do peito) ≥ 10 cm. Para a classificação dos grupos ecológicos das espécies foi utilizada metodologia específica, conforme referências bibliográficas. Foram amostrados 110 indivíduos representados por 33 espécies pertencentes a 16 famílias, sendo, 6 espécies pioneiras, 14 secundárias iniciais, 7 secundárias tardias e 2 clímax, além de 5 espécies sem informações. Observou-se maior frequência de espécies e indivíduos classificados como secun-dária inicial em todas as distâncias da borda. As espécies secundárias iniciais apresentaram maior riqueza de espécies. A baixa representatividade das espécies pioneiras, clímax e secundárias tardias, demonstra a maior influência exercida pelas espécies secundárias iniciais. Dessa forma, o fragmento de floresta estacional decidual pode ser classificado em estádio inicial de sucessão secundária, pois 67,65% das espécies são classificadas como secundárias iniciais. Para que a restauração ecológica deste fragmento seja maximizada, é importante levar em consideração o aumento das áreas florestais em seu entorno, bem como a diminuição da distância entre elas; a proteção deste fragmento para que não ocorra maior degradação; e também pode ser realizado o incremento de espécies em áreas de clareiras para aumentar a velocidade de restauração desse fragmento.

Palavra-chave: grupos ecológicos, sucessão, fragmentação, floresta estacional decidual.

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CoMPenSAção AMBIentAL no PARque eStAduAL dAS FonteS do IPIRAnGA – PeFI: uM eStudo de CASo

Scaf1, Maria de Fátima; Meneghetti2 , Gabriela I. P.; Silva1, Renata Ruiz; Agena1, Carlos Yoshiyuki; Ortiz1, Paulo Roberto Torres; Sumida1, Simone Sayuri

1Instituto de Botânica; 2Meneghetti Consultoria Ambiental. [email protected]

Resumo: O Parque Estadual das Fontes do Ipiranga - PEFI, situado no município de São Paulo está localizado na Zona Sul da capital, entre as coordenadas 23º38’08’’S / 23º40’18’’S 46º36’48’’W / 46º38’00’’W, possui aproximadamente 540 ha e apresenta vegetação característica de floresta ombrófila densa de encosta atlântica, onde se concentram as nascentes do histórico Ria-cho do Ipiranga. O PEFI é o maior fragmento de Mata Atlântica inserido na área urbana da Região Metropolitana de São Paulo, com várias nascentes e corpos d’água totalmente preservados, muitos exemplares da fauna silvestre e presença de espécies ameaçadas de extinção. Cumpre um importante papel no equilíbrio climático e na qualidade do ar do seu entorno, totalmente urbanizado. Mesmo

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com todos estes atributos, no PEFI encontram-se clareiras causadas por incêndios, colonizada por espécies agressivas que dificultam e impedem o estabelecimento da regeneração natural, indicando uma baixa capacidade de resiliência. No Plano de Manejo da Unidade, essas áreas foram classifi-cadas como zona de recuperação e carecem de manejo no controle de plantas invasoras e a restau-ração ecológica da floresta. Nos licenciamentos ambientais com supressão de vegetação exigem-se plantios compensatórios em áreas próximas ao empreendimento, o que tem favorecido as UC’s. O presente trabalho tem como objetivo apresentar, como estudo de caso, o cumprimento de um Termo de Compromisso de Compensação Ambiental - TCCA no PEFI. A área de restauração tem aproximadamente 0,16 ha, coberta com pteridófitas. O preparo do terreno foi manual, incluindo o controle/corte da espécie invasora e correção do solo. Usou-se NPK 10-10-10 com micronutrientes nas covas. A escolha das espécies obedeceu rigorosamente a listagem das espécies que ocorrem no Parque, seguindo a orientação da Resolução SMA 08 de 2008. Foram utilizadas no plantio 400 mudas, distribuídas em 30 espécies florestais, sendo 50% das mudas de espécies pioneiras e 50% não pioneiras. Conforme recomendado 5% das mudas, compostas por 3 espécies, são de espécies ameaçadas regionais. O plantio foi feito alternando pioneiras e não pioneiras nas linhas, com espaça-mento de 2m X 2m. Após 2 meses do plantio houve a sobrevivência de 100% das mudas plantadas, sinalizando o estabelecimento das plantas. O planejamento do projeto, seleção das mudas, manejo e controle de espécies invasoras, adubação e plantio consorciado heterogêneo de espécies florestais nativas, são práticas que garantem o sucesso da ação restauradora.

Palavras-chave: unidade de conservação, restauração ambiental, manejo de invasoras

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ReGeneRAção nAtuRAL eStABeLeCIdA eM FRAGMento de FLoReStA eStACIonAL deCIduAL

Müller, Caroline Signori1, Roveda, Marcelo1

1Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Educação Superior Norte do RS, Curso de Engenharia

Florestal, Frederico Westphalen, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: Os efeitos de borda e os efeitos de área são os mais importantes fatores que levam às mudanças em comunidades fragmentadas. Com base nisso, este trabalho teve como objeti-vo verificar a composição florística da regeneração natural estabelecida de um fragmento na Floresta Estacional Decidual em Frederico Westphalen, RS. Para isto, foram marcados seis pontos eqüidis-tantes na borda do fragmento, e em cada um deles foram marcadas as distâncias de 10, 20, 40 e 80m da borda, onde foram delimitadas três parcelas de 2 x 2m (4m²) por ponto, totalizando 18 parcelas em cada distância e 72 parcelas ao total. Em cada uma das parcelas foram registrados os indivíduos de espécies arbóreas, com CAP (circunferência à altura do peito) < 15 cm, e de acordo com a altura, pertencentes as seguintes classes: classe I = 1,0 ≤ h ≤ 2,0m; classe II = 2,0 < h ≤ 3,0m; e classe III = h > 3,0m. Foram amostrados 328 indivíduos, pertencentes a 16 famílias e a 37 espécies arbóreas. Com relação às espécies com maiores valores de regeneração natural total, apenas Actinostemon concolor (Spreng.) Müll.Arg., Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger et al., Eugenia florida DC., Eugenia schottiana O. Berg., Senegalia bonariensis (Gillies ex Hook. & Arn.) Seigler & Ebinger tiveram ocorrência nas quatro distâncias da borda, mostrando que tais espécies apresentaram capacidade de regeneração em todo as distâncias, sendo que, Sorocea bonplandii, Actinostemon concolor e Euge-nia schottiana foram observadas em todas as classes de tamanho da regeneração, sendo as espécies mais abundantes da regeneração florestal do fragmento.

Palavras-chave: regeneração; fragmentação florestal; ecologia florestal.

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InFLuênCIA doS dIFeRenteS AMBIenteS RIPáRIoS SoB A veGetAção ARBóReo-ARBuStIvA

Alvarez, Ivan André1; Kiill, Lucia Helena Piedade2; Schilling, Ana Cristina3; Grego, Célia Regina1; Ronquim, Carlos Cesar1, Araujo, Luciana Spinelli1

1 - Embrapa Monitoramento por Satélite, Campinas, SP, Brasil; 2 - Embrapa Semiárido, Petrolina, PE,

Brasil; 3 - Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Ilhéus, BA, Brasil. [email protected]

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Resumo: A recuperação de áreas degradadas do rio São Francisco no bioma Caa-tinga depende do conhecimento da ocorrência das espécies nos ambientes (paisagens) típicos adjacentes ao rio (imediatamente inundável, crista ou dique e planície inundável). O trabalho teve por objetivo avaliar a influência dos diferentes ambientes ripários sobre a presença de espécies arbóreo-arbustiva. O estudo foi realizado nos anos 2009 e 2010 nos municípios de Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Petrolina em Pernambuco e Curaçá, Juazeiro, Sobradinho e Casa Nova na Bahia; num trecho de rio de 204 km, no submédio São Francisco. As amostragens foram realizadas em 408 parcelas (10X20m), dispostas distantes do rio (de 0 a 10m, de 40 a 50m e de 90 a 100m) que representavam, de forma geral, três diferentes ambientes ao longo da margem do rio. A influência desses ambientes sobre a abundância, a riqueza e a frequência de espécies foram testadas por meio do teste de kruskal-walli com 5% de significância. O relevo foi analisado para saber a sua influência sobre esses ambientes ripários por meio da associação (qui-quadrado) entre as variáveis categóricas para o relevo. As dez espécies de maior freqüência foram avaliadas con-forme a sua organização espacial com a utilização da análise geoestatística. Foram construídos semivariogramas que apresentaram estrutura de dependência espacial ajustados a um modelo. As análises do número de indivíduos e da riqueza de espécies não mostraram diferenças significativas para as diferentes faixas. Já para o relevo o desbalanceamento entre variáveis categóricas não per-mitiu dizer que este influenciava os ambientes. A maior freqüência foi de Inga vera Willd. 39,3, Prosopis juliflora (Sw.) DC. 16,3 e Albizia inundata (Mart.) Barneby & J. W. Grimes 14,3 em todas as faixas, sendo que essa é a ordem de predominância de cada uma nas três faixas, respecti-vamente. Para a análise geoestatística foram pré selecionadas as que apresentaram média superior a 0,05. As espécies I. vera, P. juliflora, A. inundata, Celtis membranacea (Wedd.) Miq., Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. e Geoffroea spinosa Jacq. apresentaram dependência espacial, enquanto que A. inundata e Mimosa ophthalmocentra Mart. ex Benth. não apresentaram. Conclui-se que os diferentes ambientes não influenciaram a abundância e a riqueza de espécies, contudo, há de-pendência espacial, quando se considera todo o trecho estudado, para as principais espécies de maior frequência.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas, geoespacial, zona ripária.

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AnáLISe dA vIABILIdAde do uSo de ReFLoReStAMentoS eM MARGenS de ReSeRvAtóRIo PARA InSeRção no MeRCAdo de CRédItoS de CARBono CoM eSPéCIeS nAtIvAS dA MAtA AtLântICA no eStAdo de São PAuLo

Trigueirinho, V. M. G. B.1; Melo, A. B. T. 1; Stucchi, G. B.2; Stape, J.L.3

1.Graduação ESALQ/USP; 2.Pós-graduação ESALQ/USP; 3.Orientador Department of Forestry and

Enviromental Resources, North Carolina State University. [email protected]

Resumo: Os reflorestamentos se apresentam como uma opção viável a médio e longo prazo para inserção no mercado de Carbono, visto que é comprovada a capacidade das florestas em alojar gás carbônico em sua estrutura, atuando como mitigadora das alterações climáticas terrestres. Objetiva-se testar a viabilidade da comercialização de créditos de carbo-no em reflorestamentos com espécies nativas da Mata Atlântica. Foram instaladas 76 Parcelas Permanentes de Inventário retangulares delimitando 24 metros de comprimento e 18 metros de largura em áreas de reflorestamento e, de 9 parcelas de 50 metros de comprimento por 10 de largura em matas nativas; tendo como referencial o reservatório, marcaram-se os primeiros indivíduos de cada parcela; alocaram-se 3 parcelas de regeneração de 3 metros x 2 metros no transecto da parcela, identificando e classificando os indivíduos regenerantes; realizou-se o inventário com coleta dos diâmetros à altura do peito (DAP) e as alturas de todos os indivíduos com diâmetro maior que 3 cm; coletou-se serapilheira em 3 pontos da parcela, sendo que em cada ponto recolhem-se amostras da linha e entrelinha; coletou-se solo em 3 pontos diferentes da parcela para análise de carbono e em 1 ponto para estudo da densidade do solo nas profun-didades de 0-15cm e 15-30cm nas linha e entrelinha. Observou-se a ocorrência de 81 espécies nativas, sendo que 6 espécies pioneiras, representam cerca de 71 % do total de indivíduos men-surados em reflorestamentos; fatores igualmente relevantes são: presença de gado e a matocom-petição nas parcelas, atuando como inibidores a regeneração de plântulas e ao desenvolvimento das espécies secundárias e clímax, comparados a estudos realizados com as parcelas de vege-

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tações nativas na mesma região. Desta forma, estudos ainda são demandados para determinação da viabilidade econômica.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; créditos de carbono; compensação ambiental; parcelas permanentes.

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dIAGnóStICo dA FLoRA exótICA do PARque eStAduAL do RIo veRMeLho (FLoRIAnóPoLIS-SC) vISAndo à ReStAuRAção AMBIentAL

Zuchiwschi, Elaine¹; Abbud, Fernanda Moraes¹; Ziller, Sílvia R.²¹Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina, Parque Estadual do Rio Vermelho, Florianópolis, SC.;

²Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Florianópolis, SC, [email protected]

Resumo: O Parque Estadual do Rio Vermelho (PAERVE), com área de 1532 hecta-res, está localizado no nordeste da Ilha de Santa Catarina, município de Florianópolis-SC. Contém ecossistemas de Formações Pioneiras de Influência Marinha (restingas) e Fluvial, e Floresta Om-brófila Densa de Terras Baixas e Submontana, além de áreas alteradas com plantios de espécies exóticas. Na década de 1950, a maior parte da área era uma restinga degradada, utilizada para agricultura, pasto e coleta de lenha, havendo incêndios frequentes que impactavam a vegetação natural. Em 1962 a área foi definida como Estação Florestal e destinada à experimentação com plantios de Pinus spp. e Eucalyptus spp., visando testar espécimes adaptáveis ao estado, e também a experimentos para a fixação de dunas móveis, a partir, principalmente, dos plantios com espécies exóticas. O gênero Pinus (L.) é reconhecido internacionalmente como um dos principais gêneros de plantas exóticas invasoras no hemisfério sul, estando entre as 100 espécies mais invasoras do mundo segundo o Grupo Especialista em Espécies Invasoras (ISSG) da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Dentre os esforços para efetivar a implantação do PAER-VE, criado em 2007, foi realizado um diagnóstico quali-quantitativo da flora exótica existente no Parque para fins de restauração ambiental, a partir de estudos contratados com recursos de compensação ambiental. Tais estudos incluíram um inventário florestal, o levantamento florístico, o mapeamento e a classificação de unidades da paisagem para a restauração. Verificou-se que o Parque contém 385,1 ha de plantios de Pinus spp., 41 ha de plantios de Eucalyptus spp. e 47,3 ha de plantios mistos de Pinus spp. e Eucalyptus spp.. Foram registradas no total 69 espécies exó-ticas, entre invasoras e plantas ornamentais. Foram definidas as seguintes unidades da paisagem para a restauração: margens da Lagoa da Conceição, dunas, restinga herbácea e arbustiva, restinga arbórea em regeneração, restinga arbórea, áreas inundáveis, Floresta Ombrófila Densa, infra-es-trutura do Parque e imediações do Parque. Além disso, as áreas com plantios de valor comercial receberam classificação detalhada referente à espécie, o destino da madeira (serraria ou energia) e a regeneração natural associada (espécies e porte). Para a restauração ambiental do PAERVE, constatou-se que a maior parte dos esforços deverá ser direcionada à retirada e o controle de espé-cies exóticas, em especial das invasoras.

Palavras-chave: unidades de conservação, espécies exóticas invasoras, restinga.

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PRojeto de ReStAuRAção eCoLóGICA eM MAtAS PALudoSAS dA áReA de PRoteção AMBIentAL de GuAPIMIRIM, Rj

Medeiros, Rafael Junger de Castro¹,², Marques, José Carlos¹1Instituto Nacional de Tecnologia e Uso Sustentável, 2Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/

PEC, Doutorado em Meio Ambiente. [email protected]

Resumo: A ocupação de áreas costeiras e uso indiscriminado de recursos naturais acar-retou perdas de ecossistemas. A região de Guapimirim sofreu intervenções antrópicas que alteraram áreas inicialmente de manguezais. A supressão da vegetação se perpetuou por anos, até a criação da APA Guapimirim. Para viabilizar o transporte da madeira foram construídos diques, que impediram a inundação do terreno (pelas marés), assim como a entrada de propágulos. Visando aumentar as

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áreas de cultivo, diminuir as áreas alagáveis e, posteriormente, coletar água para abastecimento, fo-ram feitas alterações hidrológicas (retificação de trechos dos rios e transposição do rio Macacu para o Guapimirim) que aumentaram a vazão líquida, empurrando a cunha salina à jusante. Estas modi-ficações impediram a regeneração do mangue, sendo substituído gradualmente por mata paludosa nas bordas do terreno. Este trabalho teve por objetivo recuperar 29,43 ha de terreno degradado com técnicas que beneficiem a regeneração natural. A primeira medida foi a retirada do gado, a identifi-cação das espécies presentes e coleta de sementes para produção de mudas em viveiro. A partir do georeferenciamento de formações, estágios de sucessão e matrizes, além do diagnóstico das espécies pioneiras, secundárias e daninhas, com respectivos métodos de dispersão; foi elaborado um mapa temático com diferentes estratégias que beneficiassem o avanço da sucessão. Na parte mais alta do terreno, com solo compactado, e pouca influência hídrica, os plantios se deram no período chuvoso com espécies adaptadas à estas condições. Na área constantemente alagada os plantios se deram no período de estiagem, em covas invertidas. Este trecho tinha cobertura predominante de pteridófita (Blechnum serrulatum Rich.) com algumas espécies arbóreas isoladas (principalmente próximo à mata em estágio avançado) indicando uma sucessão. A mesma pteridófita foi encontrada em clarei-ras dentro da mata clímax corroborando a idéia supracitada. Desta forma, durante o período de es-tiagem foram abertas trilhas paralelas, transversais ao terreno, com espaçamento de 5 m entre cada; feito covas inversas; e plantio das espécies tolerantes (Ipê do brejo - Tabebuia cassinoides (Lam.) DC., Embaúba - Cecropia pachystachya Trécul, Mulungu do litoral - Erythrina speciosa Andrews, dentre outras que apresentaram maior ganho de biomassa nos testes). Esta medida visa aumentar os pontos dispersão (vento e aves) no entorno das 209 trilhas acelerando a regeneração natural.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas, áreas alagadas, sucessão natural.

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CRIAção e IMPLAntAção de unIdAdeS de ConSeRvAção CoMo CoMPenSAção AMBIentAL do tReCho SuL do RodoAneL

Rego, Luis Fernando1; Barbosa, Karina Cavalheiro1; Barbosa, Marcelo Arreguy1

1Desenvolvimento Rodoviário S/A – Dersa. [email protected]

Resumo: A compensação ambiental do Trecho Sul do Rodoanel, em cumprimento a Lei Federal nº 9.985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), por delibera-ção da Câmara de Compensações Ambientais da Secretaria do Meio Ambiente, foi destinada à aplicação da seguinte forma: criação de 4 Unidades de Conservação no município de São Paulo; revitalização do Parque do Pedroso, em Santo André; apoio ao processo de regularização fundiária Parque Estadual Fontes do Ipiranga; apoio ao processo de regularização fundiária do Núcleo São Bernardo do Parque Estadual da Serra do Mar. Também foram implantados os parques lineares, como mitigação ambiental, faixas de até 300 metros de cada lado das pistas, onde havia vegetação significativa, sem ocupação con-solidada, visando conectar essas UCs. A criação de UCs permite a preservação de importantes fragmen-tos florestais localizados ao longo do Rodoanel e para sua implantação foram realizados levantamentos cadastrais e a desapropriação das áreas; o cercamento; a elaboração do plano de manejo e a implantação de infra-estrutura básica para sua gestão e proteção e também a execução do plantio compensatório em áreas degradadas nas UCS e Parques. A gestão compartilhada dos programas de reflorestamento e im-plantação dos Parques e UCs permitiu uma interação impar, garantindo a preservação e a recuperação destas importantes áreas, além da perpetuação dos plantios, já que estão dentro de áreas protegidas. Ou-tros investimentos em compensações e mitigações ambientais foram realizados para o incremento na fiscalização e monitoramento ambiental. Como compensação direta pela supressão de 212 hectares de vegetação, foi feita a recuperação ambiental de 1.016 hectares, por meio do plantio de mudas de espécies nativas, onde os locais de plantio são monitorados e sua manutenção é realizada por pelo menos 24 meses após o plantio. Somando essas ações, serão mais de 4.470 hectares de áreas preservadas, revitalizadas e recuperadas. Portanto, a implantação do Trecho Sul do Rodoanel extrapolou o sentido de uma importante obra de engenharia de trânsito, para significativo avanço na preservação e recuperação do meio ambiente.

Palavras-chave: SNUC; plano de manejo; reflorestamento.

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TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

ÁREA 4 - ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS, POLÍTICOS, LEGAIS, CULTURAIS E EDUCACIONAIS VINCULADOS À RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA

o CentRo de PeSquISAS jARdIM BotânICo de São PAuLo e ReSeRvAS BIoLóGICAS: ContRIBuIçõeS PARA A PRoMoção dA ReStAuRAção eCoLóGICA de áReAS deGRAdAdAS

Barbosa, Luiz Mauro1; Toledo, Cibele Boni De2; Ortiz, Paulo Roberto Torres2; Sumida, Simone Sayuri2; Parajara, Fulvio Cavalheri3

1 - Pesquisador Científico e Diretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas do Instituto de

Botânica de São Paulo; 2 – Assistente Técnico à Pesquisa Científica e Tecnológica do Instituto de Botânica de São Paulo;

3 – Engenheiro Agrônomo, CORPUS Saneamento e Obras Ltda. [email protected]

Resumo: A missão do Jardim Botânico de São Paulo (JBSP) é a preservação e uso sus-tentável da biodiversidade paulista e brasileira, por meio da conservação “in situ” e “ex situ”, bem como suas relações com o meio ambiente, incluindo aqui o desenvolvimento de projetos e atividades voltadas à restauração ecológica que é a abordagem principal deste trabalho. A metodologia adotada constituiu-se de um amplo levantamento de ações e pesquisas que o JBSP propiciou ao longo de sua história, destacando-se o seu papel relevante ao documentar a diversidade vegetal e particularmente manter as coleções vivas: espécies arbóreas da flora regional e exótica (cerca de 200 espécies e 1400 indivíduos), incluindo as espécies ameaçadas de extinção; Orchidaceae (mais de 700 espécies e 20.000 indivíduos);famílias de plantas ornamentais (Bromeliaceae, Cactaceae, Gesneriaceae, Marantaceae, plantas medicinais, etc); e também de fungos e algas, além de uma diasporoteca. Com mais de 420.000 espécimes (fanerógamas, fungos, algas, briófitas, pteridófitas, xiloteca e palinoteca), inclusive impor-tantes materiais tipo, o herbário do Instituto de Botânica apóia os estudos sobre a biodiversidade vege-tal. Toda essa documentação é referência para a ciência botânica, além do herbário ser o fiel depositário da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo. Até o momento foram catalogados mais de uma centena de indivíduos arbóreos na área de visitação do JBSP, tendo a sua localização georreferenciada, com a utilização de um aparelho GPS de precisão submétrica e o uso do software ArcGis 10, além dos equipamentos do Laboratório de Geoprocessamento, da Coordenação Especial de Restauração de Áreas Degradadas (CERAD). Estas informações geográficas serão incluídas em um banco de dados existente sobre as coleções que, juntamente com as outras informações relevantes como: procedência, fenologia, síndrome de dispersão, registro e etc., servirão para a confecção de ma-pas demonstrativos com a localização dos indivíduos de cada uma das coleções. Os dados obtidos neste trabalho servirão como suporte às pesquisas desenvolvidas pela instituição, voltadas à conservação da biodiversidade, à formação de um banco genético e à restauração ecológica de áreas degradadas, prin-cipalmente no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.

Palavras-chave: georreferenciamento, coleções botânicas, Parque Estadual das Fontes do Ipiranga

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AnáLISe eConôMICA dA AdequAção AMBIentAL de áReAS de MAtA CILIAR eM PRoPRIedAdeS PRodutoRAS de ARRoz IRRIGAdo

Dortzbach, Denilson1, Klug, Izabel, Ribeiro, Raphael Souza2 e Araújo, Iria Sartor1

Epagri/Ciram, Florianópolis, SC; 2. Bolsista CNPq. [email protected]

Resumo: As primeiras áreas com arroz irrigado no município de Massaranduba, SC, foram implantas no início do século XX, ocupando as áreas de várzea do município. Devido à de-manda de água pela cultura e à necessidade de áreas planas, a atividade se desenvolveu próximo aos

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cursos d´água, muitas vezes utilizando áreas de mata ciliar, apesar de protegidas pela legislação. A conversão dessas áreas de arroz irrigado para floresta se torna uma tarefa complicada, especialmente pela rentabilidade dessas áreas para os produtores. Diante disso, o objetivo desse trabalho foi avaliar as perdas econômicas de propriedades rurais para conversão de glebas cultivadas com arroz loca-lizadas em área de mata ciliar para floresta. Para os cálculos de rendas e despesas do arroz, foram utilizados os dados de produtividade de arroz de 7,1 t/ha para a primeira colheita e 2,25 t/ha para a soca (segunda colheita do ano). O preço pago ao produtor em Santa Catarina foi de R$ 31,69 por saco de 50 kg em 2010 para a primeira colheita. Diminuídos os custos de produção chegou-se ao lu-cro de R$ 662,68 por ha/ano. Foram avaliadas 23 propriedades rurais perfazendo um total de 438,65 ha, dos quais 339,09 ha eram utilizados com a cultura de arroz irrigado totalizando 77% da área analisada. Desse total de área de arroz irrigado, 56,79 ha estão localizados em áreas de mata ciliar, considerando 30 metros de largura do rio e que deveriam ser restaurados. O tamanho das proprie-dades variou de 1,62 a 86,63 ha, portanto são basicamente pequenas propriedades rurais e a cultura do arroz representa em alguns casos até 95% da área da propriedade. A recomposição dessas áreas com floresta resultaria num total de R$ 37.636,20 anuais para os 23 produtores. Dentre os produtores avaliados, aquele com maior área de arroz em mata ciliar possuía 8,92 ha de arroz, tendo uma queda de lucro anual de R$5.913,88, ou seja, cerca de R$493,00 mensais. Para a conversão dessas áreas com arroz irrigado em floresta uma das alternativas seria a implantação de programa de serviços ambientais, método que favorece a aplicação de técnicas adequadas de revegetação e que facilita a superação de barreiras culturais e sócio-econômicas que impedem que se promova a recuperação de matas ciliares em larga escala. (CNPq).

Palavras-chave: restauração, mata ciliar, serviços ambientais, rentabilidade.

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deLIMItAção de áReAS PARA AdequAção LeGAL de PRoPRIedAdeS no MunICíPIo de MASSARAnduBA, SC

Dortzbach, Denilson1, Klug, Izabel, Ribeiro, Raphael Souza2 e Araújo, Iria Sartor1

1Epagri/Ciram, Florianópolis, SC; 2Bolsista CNPq. [email protected]

Resumo: O processo continuado de redução da cobertura florestal no meio rural e o uso ina-dequado dos solos causaram muitos impactos ao ambiente e consequentemente conflitos com a legislação ambiental. O atendimento às disposições legais das propriedades rurais é uma questão complexa, que envolve aspectos sociais, econômicos e ambientais. As questões socioeconômicas estão principalmente relacionadas à pequena extensão de área disponível dos produtores familiares e que teriam grandes perdas de renda se aplicada a legislação vigente. Portanto, é preciso conhecer a realidade de cada propriedade rural, no contexto social, econômico e ambiental, e identificar os conflitos legais relacionadas às questões ambientais. Diante disso, o objetivo desse trabalho foi delimitar as áreas de APP em mata ciliar e RL para adequação legal das propriedades rurais, no município de Massaranduba, SC. Para delimitar, quantificar e espacializar as unidades rurais foi utilizada a combinação do método participativo de delimitação das propriedades limítrofes, diretamente com os produtores, a interpretação visual de imagem ortorretificada QuickBird do ano de 2008, e a coleta de pontos a campo, com aparelho receptor GPS. As 30 proprie-dades amostradas totalizaram 512,19ha, com uma média de 17ha por propriedade. Nas unidades rurais analisadas 86,38ha são áreas de mata ciliar, considerando 30 metros de largura, visto que os rios da área em estudo apresentam menos de 10 metros de largura, sendo que desse total apenas 2,19ha estão cobertos com floresta e a maior parte está sendo utilizado com a cultura de arroz irrigado. O percentual de mata ciliar chegou a representar 49,6% de uma propriedade, causando grande redução da área a ser cultiva-da, acarretando consequentemente redução na renda das atividades atualmente desenvolvidas. Nas áreas de reserva legal aplicou-se o disposto na Lei nº 14.675/09, que autoriza o cômputo da área de APP na composição de 100% da RL. Dessa forma, com a possibilidade do cômputo das áreas de APP apenas 10 propriedades necessitam recompor RL, correspondendo a 1,02 a 17,3% da área total das propriedades. Observa-se que as áreas de mata ciliar estão sendo utilizadas com atividades agrícolas e necessitam de incentivos para a sua recomposição com florestas nativas. A maior parte das propriedades não necessita recompor RL especialmente pela possibilidade do cômputo das áreas de APP. (CNPq).

Palavras-chave: reserva legal, área de preservação permanente, recomposição

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áReAS de PReSeRvAção PeRMAnente e o PLAnejAMento do Seu uSo no Contexto dAS BACIAS hIdRoGRáFICAS: MetodoLoGIA PARA AdequAção doS PARâMetRoS LeGAIS

Gass, Sidnei Luís Bohn1, Verdum, Roberto1

1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em

Geografia, Porto Alegre, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: O processo de uso e ocupação da terra baseado no desmatamento e no ma-nejo desordenado do solo gera conflitos entre a recuperação ambiental e a reprodução socioeco-nômica dos agricultores. Esta dicotomia reflete-se através da aplicação efetiva do Código Florestal (Lei 4.771/65), que trata das APPs, faixas marginais aos cursos d’água que devem ser mantidas com vegetação nativa. Objetiva-se apresentar metodologia para definir as APPs ciliares a partir de elementos da geomorfologia fluvial e da cobertura vegetal como alternativa aos parâmetros legais atuais. Para chegar aos resultados se apresenta uma retomada histórica da ocupação do Noroeste do RS, aonde se inserem as áreas amostrais, faz-se uma leitura teórica sobre conservação da na-tureza e discutem-se as APPs em três níveis de análise: o arcabouço jurídico atual; o uso destas áreas e o seu estado da arte no Noroeste do RS. A discussão da função social da propriedade é vista como fundamental, por ser a partir dela que ocorre a responsabilização pela preservação ou não das APPs. Buscamos compreender como Ibama, Fepam e MP Estadual se posicionam e desenvolvem as suas atividades frente à temática. Definimos como áreas piloto para a aplicação da metodologia, três setores do Rio Santo Cristo, para os quais definimos os diques marginais e as planícies de inundação a partir de análise cartográfica. Avaliamos a estrutura fundiária da re-gião para possibilitar uma leitura relacionada com o tipo de propriedade existente no local. Como resultado, detectamos áreas de influência do rio variando numa distância de 20m até 380m, ou seja, APPs com faixa de até 330m superior as definidas na legislação, o que mostra a ineficiência das definições métricas adotadas atualmente. Ficam como principais conclusões do estudo: que é urgente um estudo mais aprofundado sobre a questão das APPs para possibilitar propostas de alteração da legislação que busquem parâmetros técnicos efetivos para sua definição; que se bus-que o desenvolvimento de estudos que objetivem apresentar alternativas de uso sustentado para estas áreas; que se avaliem os conceitos de preservação e conservação entendendo que o último traz uma grande gama de benefícios para as pequenas propriedades, na medida em que as práticas conservacionistas auxiliam no equilíbrio da natureza e trazem ganhos reais à produção destas propriedades. Por fim, apresentamos um conjunto de estudos a serem realizados para aprofundar as discussões da temática pesquisada.

Palavras-chave: áreas de preservação permanente; dique marginal; planície de inundação

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CuRSo de IdentIFICAção de FAMíLIAS BotânICAS dA MAtA AtLântICA APLICAdo à ReStAuRAção AMBIentAL: uMA Ação PIoneIRA

Polisel, Rodrigo Trassi, Kizys1, Marina Malta Letro2, Bel, Marcelo Del3

1. Mestrando em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil, 2.

Doutoranda do Laboratório de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, 3. Gestor de

fidelização da Mind Lab Brasil, São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: Em projetos de restauração ambiental, a escolha das espécies e da meto-dologia a seguir depende de diversos fatores locais, dentre eles o tipo, a duração e a intensidade da perturbação, além da proximidade de fontes de propágulos e a presença de avifauna disper-sora. Entretanto, poucas metodologias de ensino em cursos de extensão oferecem aos estudan-tes e profissionais da área capacitação tanto na escolha das espécies, através de conhecimento taxonômico e ecológico a cerca da distribuição das espécies e formações florestais, como na escolha correta da metodologia de restauração, tendo em vista o paradigma atual de sucessão. Este trabalho apresenta a metodologia de um curso de extensão em restauração ambiental, com enfoque na taxonomia de campo e na ecologia vegetal. A carga horária do curso é de 20h, sendo organizada de forma contínua ao longo de um final de semana. As atividades teóricas cumprem quatro horas da carga total e é baseada em palestra, que apresenta a ecologia teórica da restaura-

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ção, as metodologias básicas e os caracteres morfológicos básicos e úteis na identificação de fa-mílias botânicas baseado em ramos e mudas. Já as atividades práticas somam 16h e estão assim organizadas: a) preenchimento de tabela contendo a diagnose básica da família e sua indicação que se trata de um grupo típico de espécies pioneira ou secundária inicial, secundária tardia ou umbrófila, ou ainda que possua comportamento ecológico amplo entre suas espécies; b) ida a campo e visualização da diferença entre os estágios sucessionais médio e avançado, assim como a análise de suas diferenças florísticas e estruturais, sustentadas por processos ecológicos de competição, facilitação e inibição e c) formação de grupos para a proposição de projetos de res-tauração de acordo com histórico fornecido para cada uma das formações florestais do Estado (“floresta sobre restinga”, Floresta Ombrófila Densa, Estacional Semidecidual, Ombrófila Mista e ecótono de Floresta Ombrófila Densa e Floresta Estacional Semidecidual). Dentre o feedback dos participantes, identificamos dois grupos de interesse, aqueles interessados em se aprofundar na identificação botânica e aqueles interessados no aprofundamento dos processos por detrás da restauração ambiental. Para as próximas edições, a equipe utilizará estas recomendações para que os cursos atinjam cada vez mais o interesse geral.

Palavras-chave: curso de extensão, restauração ambiental, ecologia, taxonomia e iden-tificação de plantas.

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ModeLoS deMonStRAtIvoS de RevItALIzAção nA BACIA do RIo São FRAnCISCo

Aguiar, Clarissa M. de1; Pinto, José Roberto R.1; Correia, Carmen R. M. A.1 & Fagg, Christopher W1.

1. Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas - UnB, Brasília,

DF, Brasil, [email protected]

Resumo: Os problemas ambientais no Brasil aumentaram consideravelmente nas últimas décadas. Na região da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco (BHSF) a degradação ambiental deriva da falta de planejamento, principalmente pela prática da agropecuária inadequa-da, atividade de mineração e lançamento de efluentes nos cursos d’água. Este conjunto de ações somado ao desmatamento dos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica geram grandes preju-ízos para o abastecimento da BHSF. Diante deste cenário, em 2006 o governo brasileiro propôs a criação dos Centros de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (CR-ad) na Bacia do Rio São Francisco, inseridos no Programa de Revitalização do rio São Francisco. Estes centros são vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambientes Urbanos (SRHU) e da Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF) e ao Ministério da Integração Nacional, por intermédio da Codevasf. Os CR-ad’s têm por finalidade estimular atividades de reflorestamento, proteção e uso sustentável dos remanescentes florestais, além de criar modelos demonstrativos de recuperação florestal, integrando produtores rurais e comunida-de científica. Os quatro primeiros centros estão localizados nas ecorregiões do baixo, submédio, médio e alto da BHSF. Atualmente são seis e a intenção é criar dois centros em cada ecorregião. O CR-ad destinado a recuperar áreas degradadas do bioma Cerrado na BHSF é de responsabi-lidade do Centro de Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD), da Universidade de Brasília. O CRAD desenvolve suas ações de recuperação no submédio São Francisco, na região de Paracatu – MG. A metodologia se baseia no plantio de espécies nativas de usos múltiplos utilizando-se os Modelos Demonstrativos de Recuperação (MDR). O rápido cres-cimento das espécies florestais e a boa adaptabilidade das espécies savânicas garantem o sucesso da recuperação das áreas degradadas, proporcionando renda extra aos proprietários rurais, a partir do extrativismo das espécies de usos múltiplos. Os plantios realizados apresentam resultados sa-tisfatórios, com alta taxa de sobrevivência e variadas taxas de incrementos em altura e diâmetro, permitindo selecionar as espécies mais adequadas para utilização em projetos de recuperação de áreas degradadas no bioma Cerrado e na BHSF.

Palavras-chave: áreas degradadas, políticas públicas, recuperação, submédio São Francisco.

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AvALIAção doS ASPeCtoS FLoRíStICoS dA PRAIA do CRISPIM, MunICíPIo de MARAPAnIM e Seu PotenCIAL à ReStAuRAção FLoReStAL

Souza, Adriana Paula da S.1; Oliveira, Hélio Paula Lima de1; Gonçalves, Leonam Brito1; Moraes, Maykom Douglas Lira1; Almeida Juinior,

Ricardo William Damasio de1 e Lima, Aline Maria Meiguins de 1

1. Centro Universitário do Estado do Pará, Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Belém, PA,

Brasil. [email protected]

Resumo: Nos ecossistemas costeiros pode ocorrer à presença de restingas, com es-pécies condicionadas ao ambiente (raízes cabeleiras, folhas suculentas, resistência à salinidade, etc), e manguezais, com vegetação adaptada a solos argilosos e presença de raízes aéreas (fixação e respiração do vegetal). Estes sistemas foram o objeto principal deste trabalho, que visou à carac-terização das comunidades vegetais da praia de Crispim (Marapanim - PA), com cerca de 20 Km extensão, com vistas a restauração florestal. A sistemática adotada constou da caracterização: da distribuição espacial (fragmentação e conectividade das unidades), composição florística (princi-pais ocorrências) e grau de interferência antrópica (aspectos ambientais identificados). Estes da-dos foram tabulados em uma matriz de interações (de avaliação de impactos) e discutidos quanto ao potencial à restauração florestal. Os sistemas registrados foram: (a) restinga – com a vegetação adaptada ao movimento das marés, ocorrência de halófitas, tolerância ao sal e alta mobilidade do substrato, podendo suportar baixa disponibilidade de matéria orgânica, drenagem rápida de água, luz solar direta e intensa, neste, foram verificados os gêneros Sesuvium L., Iresine P. Browne e gramíneas (b) dunas – as adaptações desta vegetação não permitem o deslocamento da areia pelo vento, pois apresentam raízes “cabeleiras”, que possibilitam a melhor fixação destas colunas de areia; (c) mata de restinga – tipologia secundária homogênea, denominada como praieiro com al-gumas árvores e arbustos, em geral de troncos finos e copas pouco densas; (d) manguezal - forma-do basicamente de Laguncularia racemosa (L.) C.F. (Gaertn) (mangue branco), fragmentado em toda a região, alternado com a floresta secundária; observa-se a formação de muitas espécies com caule do tipo estipe. Os resultados obtidos mostraram um alto grau de fragmentação espacial e baixa conectividade; onde para a restauração florestal e recuperação do mangue paralelo a linha de costa é condicionante o reordenamento do turismo local, já que os próprios moradores são agen-tes do desmatamento, buscando ampliar a faixa de praia e empregar a madeira para construção de moradias. Outro destaque é a recuperação dos corpos hídricos superficiais que se encontram assoreados ou represados. Estes fatores são limitantes da sua regeneração natural, pois influen-ciam diretamente na taxa de sedimentos e na quantidade e qualidade da água que condicionam a manutenção do ambiente.

Palavras-chaves: mangue, restauração florestal, restinga.

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dIRetRIzeS juRídICAS no SetoR MIneRáRIo: A MIneRAção e A ReStAuRAção AMBIentAL

Lemos, Elianne Christine1; Barros, Dalmo Arantes de1; Borges, Luís Antônio Coimbra1; Resende, José Luiz Pereira1.

1. Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, DCF/UFLA, Lavras, MG, Brasil,

[email protected]

Resumo: Atualmente, a natureza clama por seus direitos. A ideia de sustentabilida-de deixou clara a necessidade do cumprimento de alguns deveres sócio-ambientais, impondo à sociedade contemporânea, sérias obrigações cívicas e jurídicas. O direito ambiental salvaguarda a integridade dos recursos naturais, sem omitir a necessária importância do desenvolvimento econômico, auferido, na maior parte das vezes, com processos impactantes ao meio ambiente, principalmente no setor minerário. O objetivo do presente trabalho foi apontar parâmetros legis-lativos ambientais no caso do extrativismo mineral segundo o ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, fez-se importante analisar a concepção protetora do meio ambiental na Constituição Federal, bem como nas Leis Infraconstitucionais. O estudo do direito minerário foi realçado segundo a visão positiva e benéfica que traz à sociedade moderna e ao desenvolvimento de

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um povo. Em contrapartida, por se tratar de um processo impactante ao meio ambiente, deve obrigatoriamente, se adequar ao modelo de sustentabilidade exigível pelo ordenamento jurídi-co brasileiro, quer seja, o licenciamento ambiental, pois os modelos que não se adequam aos pressupostos da preservação ambiental, não têm reconhecimento como verdadeiros modelos do real desenvolvimento. A busca por alternativas tecnológicas, aplicáveis e compatíveis às parti-cularidades ecológicas, deve ser incansavelmente identificada, avaliada e difundida, visando a estabelecer a adequada e racional utilização dos recursos naturais e, consequentemente, reduzir a níveis aceitáveis os impactos ambientais inerentes. O Código de Mineração, além de definir os critérios e limites de exploração mineral, requer o planejamento adequado da recuperação das áreas degradadas após o fechamento da mina. Neste enfoque, a Constituição Federal, lei maior do Brasil, impõe ao minerador a necessidade de restaurar a área impactada, preceito este que representa a constitucionalização de obrigações já estruturadas pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, ressaltando, inclusive, que deixar de reabilitar a área explorada, imputará aos respectivos titulares a responsabilidade nas esferas civil, penal e administrativa. (Apoio FAPEMIG).

Palavras-chave: impacto ambiental, direito minerário, meio ambiente.

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AvALIAção do CuSto de Método de ReStAuRAção de CAMPoS de ALtItude eM MIneRAção de BAuxItA, no PLAnALto de PoçoS de CALdAS – MG

Guimarães, João Carlos Costa1; Barros, Dalmo Arantes de1; Soares, Álvaro Augusto Vieira1; Silva, Rossi Allan1; van den Berg, Eduardo2; Carneiro, Vilany Matilla Colares2

1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciências Florestais, Lavras, MG, Brasil. 2

Universidade Federal de Lavras, Departamento de Biologia, Lavras, MG, Brasil, [email protected]

Resumo: O planalto de Poços de Caldas apresenta campos de altitude importantes para a manutenção de mamíferos ameaçados de extinção, como o lobo-guará (Chrysocyon bra-chyurus). O licenciamento ambiental de mineração de bauxita nestes locais é simples, adotando a reabilitação com pastagem exótica como metodologia de recuperação. Porém, com a publi-cação da Resolução CONAMA 423/2010, que dispõe sobre a vegetação de campos de altitude e reconhece sua importância em termos de conservação da biodiversidade, a tendência é que este processo torne-se mais restritivo quanto à técnica de revegetação. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a viabilidade econômica de um método de restauração ecológica de campos de altitude, e compará-lo com o método tradicional de reabilitação baseado na implantação de pastagem exótica. Os dados foram levantados em uma empresa mineradora da região, no ano agrícola de 2007-2008. Foram mensurados e comparados os custos financeiros envolvidos na: reabilitação com pastagem exótica (PE) e na restauração ecológica com campo de altitude (CA). O método PE faz uso de fertilizantes, e de um coquetel de sementes das espécies exóti-cas: Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw., Crotalaria spectabilis Röth, Cajanus cajan (L.) Huth, Calopogonium mucunoides Desv., e Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster. O método CA, consiste na coleta de sementes da gramínea nativa do gênero Aristida sp., a qual apresenta ele-vada abundância em vários trechos de campos de altitude. Em termos financeiros o método CA apresentou custo muito inferior ao método tradicional, representando apenas 37,4% do custo de PE (custo total: CA = R$ 3.998,00; PE = R$ 10.690,00). Todos os custos do método CA referem-se à mão-de-obra para coleta de sementes de Aristida sp. em áreas vizinhas, e espalha-mento na área objeto de restauração. O uso de Aristida sp. destaca-se pela: baixa agressividade, permitindo a germinação de outras espécies nativas; baixa exigência nutricional, eliminando o uso de fertilizantes; produção de sementes abundante; e fácil coleta e espalhamento. O método PE tem como principal foco a mitigação de processos erosivos e de impacto visual em função do rápido estabelecimento das espécies exóticas, enquanto que o método CA demanda pelo menos dois anos para o recobrimento completo da área. Recomenda-se a pesquisa para o uso de outras espécies nativas junto com Aristida sp., ampliando a similaridade das áreas em restauração com os campos nativos do entorno. (Apoio FAPEMIG).

Palavras-chave: Aristida sp., recuperação de áreas degradadas, Resolução CONAMA 423/2010, licenciamento ambiental.

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tRILhAS de BIodIveRSIdAde nA FLoReStA do CAMPuS dA uSP eM RIBeIRão PReto

Motokane, Marcelo Tadeu e Varanda, Elenice MouroCEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP-RP; Departamento de Biologia/

FFCLRP/USP, Ribeirão Preto, SP. [email protected]

Resumo: O projeto “Trilhas da Biodiversidade” é um programa de visitas monitoradas ao campus de Ribeirão Preto que tem o objetivo de valorizar o patrimônio biológico existente, es-pecialmente a Floresta da USP e seu Banco Genético de espécies de mata estacional semidecidual, estimular o visitante a refletir sobre questões relacionadas à preservação e conservação do ambiente e conhecer a fauna e a flora regional. O programa prioriza o atendimento aos alunos da educação básica e a comunidade de entorno do campus. Os visitantes são conduzidos por monitores à área de floresta da USP e durante o percurso são discutidos conteúdos próprios das ciências naturais. A recepção, agendamento e produção de materiais de apoio ocorrem no LEB (Laboratório de Ensino de Biologia) do Depto de Biologia da FFCLRP. As bolsas concedidas aos alunos monitores ante-riormente fornecidas pelo programa Bolsa-Trabalho do COSEAS/USP, atualmente são provenientes do programa “Aprender com Cultura e Extensão” da Pró-reitoria de Cultura e Extensão. No período de 2005-2011 foram recebidas mais de 50 escolas e outros grupos representando mais de 5000 pessoas atendidas e concedidas 11 bolsas para alunos da graduação em Ciências Biológicas. Nos últimos anos foram realizados trabalhos de formação de professores com a Diretoria de Ensino de Sertãozinho e a Secretaria de Educação de Ribeirão Preto com o objetivo de tornar as atividades mais eficientes em termos pedagógicos. Atualmente, as propostas de atividades procuram estimular os alunos a desenvolverem o raciocínio argumentativo por meio de registros de observações feitas durante a visita à área de reflorestamento. Ao chegar ao LEB os visitantes são recebidos pelos mo-nitores e assistem a uma palestra sobre o histórico da área reflorestada e as técnicas utilizadas para o reflorestamento. Em seguida, são estimulados a refletir sobre as características físicas da área a ser visitada e sobre quais as representações que possuem sobre uma floresta. A partir dessas questões os alunos são levados para uma caminhada e ao longo do percurso observam as características da flo-resta e do banco genético. Fazem medidas de temperatura, umidade relativa do ar, coletam amostras de solo, medem a circunferência das árvores na altura do peito e levam os dados para o LEB para serem discutidos com os monitores. Ao final do trabalho os alunos discutem a importância de uma área como a que visitaram.

Palavras-chave: educação ambiental, restauração, banco genético.

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InStALAção de uM núCLeo de eStudoS AMBIentAIS vISAndo à eduCAção AMBIentAL e Ao ReFLoReStAMento nA ReGIão de BAtAtAIS, SP deSenvoLvIdo PeLo CeeFLoRuSP – CentRo de eStudoS e extenSão FLoReStAL dA uSP/RP

Varanda, Elenice Mouro1,Motokane, Marcelo Tadeu1, Oliveira, Cleide de2, Donadio, Nicole Maria Marson1, Kato, Danilo Seithi1, Gaioso, Luciana de Fátima1

1. CEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP/RP, Departamento de Biologia/

FFCLRP, Ribeirão Preto, SP, Brasil, 2. Fundação Florestal, SMA/SP. [email protected]

Resumo: Este projeto foi realizado pelo CEEFLORUSP em parceria com a Funda-ção José Lazzarini, com financiamento de uma concessionária de rodovia, em acordo feito no Ministério Público. Na instalação do BATEA (Batatais Educação Ambiental), foi implantado um Viveiro-escola para produção de 140.000 mudas de espécies florestais nativas para a recuperação de áreas degradadas e oferecido o Curso para Professores do Ensino Fundamental e Médio “O Meio Ambiente e você professor: uma rede de saberes”. Este curso, que foi contemplado com o prêmio FIES (Fundo Itaú Excelência Social) 2009 na categoria Educação Ambiental – Formação de Educadores, utilizou uma metodologia interdisciplinar de ensino para atingir o êxito nos pro-cessos de ensino-aprendizagem, empregando o Meio Ambiente como tema unificador de conteú-dos, identificando cada área do conhecimento como parte integrante da problemática ambiental, reconstruindo a concepção de meio ambiente por focalizar o cotidiano e as questões sociais. Visou construir um acervo de materiais didáticos de uso público para apoio às práticas pedagógicas fun-

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damentais à mudança de hábitos e comportamentos frente aos principais problemas ambientais da sociedade, com a proposta de construção de sequências didáticas. A instalação do Viveiro teve o objetivo de estimular a recuperação de áreas degradadas na região, fornecendo capacitação téc-nico/científica para práticas de preparo e produção de mudas e de coleta e beneficiamento de se-mentes de espécies nativas da Bacia do Pardo, com alta qualidade genética. Como viveiro-escola, implantado em uma fundação que se dedica a crianças e adolescentes em situação de risco, teve também o objetivo de despertar a atenção de adolescentes e da comunidade para temas relaciona-dos às questões ambientais integrando-os ao sistema produtivo. A riqueza no número de espécies, na qualidade das mudas, a preocupação com a origem das sementes e a presença de espécies de diferentes grupos sucessionais fornecem ao projeto um importante diferencial na recuperação de áreas degradadas auxiliando a recuperação com qualidade nesta região com predomínio de monocultura canavieira. A promoção do curso, de oficinas e de palestras, a realização de práticas de campo, o treinamento da coleta e do beneficiamento de sementes e o preparo e produção de mudas, além da capacitação de pessoal, serve de apoio às atividades de conservação da biodiver-sidade e à educação ambiental no Programa BATEA.

Palavras-chave: viveiro-escola, educação ambiental, capacitação em RAD, formação continuada de professores, CEEFLORUSP.

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dIveRSIdAde e uSo de eSPéCIeS não-nAtIvAS nA ReStAuRAção de MAtAS CILIAReS no eStAdo de São PAuLo

Bessão, Geissianny Assis1, Suganuma, Marcio Seiji2, Melo, Antonio Carlos Galvão de3, Durigan, Giselda3

1. Programa de Pós Graduação em Ciência Florestal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP,

Botucatu. 2. Programa de Pós Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo. 3. Instituto Florestal do Estado de São Paulo, Floresta Estadual de Assis. [email protected]

Resumo: A restauração ecológica no Brasil se intensificou nas últimas três décadas, passando por uma série de transformações conceituais e de paradigmas, baseadas fortemente na evolução dos conhecimentos científicos. No início destas atividades o uso de espécies exóticas ou não-nativas era permitido e a restauração era conduzida com o objetivo de restabelecer certos ser-viços ecossistêmicos. Atualmente, plantios em alta diversidade e somente com o uso de espécies nativas são recomendados e propostos na legislação ambiental do estado de São Paulo, construída a partir da última década. Com o objetivo de verificar se o número de espécies nativas e não-nati-vas utilizadas na restauração matas ciliares tem se modificado ao longo do tempo, analisamos 46 plantios implantados desde o ano de 1957 a 2008. Os plantios encontram-se distribuídos no estado de São Paulo, em região anteriormente ocupada pela Floresta Estacional Semidecidual (FES). Em cada local efetuamos o levantamento florístico das espécies plantadas em uma área total de 1.000 m2, dividida em 10 dez parcelas aleatoriamente distribuídas. Os plantios foram agrupados de acor-do com a década de sua implantação para o cálculo do número médio de espécies plantadas nati-vas, não-nativas e o número médio do total de espécies plantadas. Classificamos como não-nativas todas as espécies que não ocorrem naturalmente em região de FES. O número total de espécies amostradas por área variou entre 12 e 58 espécies e espécies não-nativas estiveram presentes em 100% dos plantios estudados. Verificamos que o número de espécies nativas aumentou na última década, passando de 25 espécies em média nos anos de 1970, 1980 e 1990, para 33 espécies entre 2000 e 2008. Porém, o aumento no número médio de espécies nativas foi acompanhado pelo au-mento no número de espécies não-nativas que vinha decrescendo nos últimos 40 anos (1957-1979 = 11 espécies não-nativas; 1980-1989 = 7,2; 1990-1999 = 4,7; 2000-2008 = 8,8). As políticas ambientais voltadas à restauração podem estar contribuindo para o aumento na diversidade e no número de espécies nos plantios ao longo do tempo. Contudo, espécies não-nativas ainda são am-plamente utilizadas nos projetos de restauração. Para promover plantios mais adequados aos obje-tivos da restauração ecológica, que primem por espécies nativas, torna-se necessária fiscalização voltada aos viveiros produtores de mudas para restauração. (Financiamento: FAPESP, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo)

Palavras-chave: restauração ecológica, espécies exóticas, plantios heterogêneos, le-gislação ambiental.

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PRodução e teCnoLoGIA de SeMenteS e MudAS de eSPéCIeS FLoReStAIS nAtIvAS, vISAndo A SuA utILIzAção eM PRoGRAMAS de ReStAuRAção FLoReStAL, de ACoRdo CoM A LeGISLAção eM SP

Fernando Ferreira de Morais1,2, Luiz Mauro Barbosa31 Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal), Av. 24 A, n. 1515, Bela Vista,

13506900, UNESP, Rio Claro – SP, Brasil. 2 Autor para correspondência. 3 Coordenação Especial de Restauração de Áreas

Degradadas – Instituto de Botânica – SP. [email protected]

Resumo: A produção e tecnologia de sementes e mudas de espécies florestais nati-vas vêm sendo aprimorada no estado de São Paulo, nos últimos anos, subsidiada pela pesquisa e tecnologia, proporcionando a elaboração de políticas públicas importantes que vêm a corroborar a padronização da tomada de decisões pelos órgãos de fiscalização no Estado, contribuindo assim para uma melhoria da qualidade ambiental. Com um histórico de resoluções, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) procura estabelecer parâmetros orientativos para os reflorestamentos he-terogêneos, visando à restauração ecológica e à sustentabilidade dos novos ecossistemas formados. O objetivo principal deste trabalho é mostrar a relação positiva entre o aumento da produção quali-quantitativa de mudas florestais e as normas orientativas da SMA. As resoluções SMA 08/08 e 68/08 propiciaram, aos viveiristas, orientações importantes para o processo de coleta, produção de mudas e tecnologia de sementes florestais nativas, garantindo assim uma oferta para plantios de mudas com diversidade específica. Além disso, estudos sobre tecnologia de sementes e produção de mudas que subsidiem formulações de políticas públicas para restauração ecológica de áreas degradadas, principalmente aquelas voltadas para garantir a diversidade genética, são importantes no sucesso da regeneração da vegetação e no restabelecimento das funções ambientais. Os principais resultados, obtidos até o momento, indicam que não há mais déficit de produção de mudas em São Paulo, que passou de aproximadamente 12 milhões de mudas produzidas em 2001, para 42 milhões, em 2011. Com relação à diversidade de espécies arbóreas, já é possível contabilizar a produção de mais de 600 espécies em escala comercial, das cerca de 700 espécies indicadas pelo IBt, com suas respectivas ocorrências regionais.

Palavras chave: ecossistemas, conservação ambiental, legislação ambiental, produção de mudas.

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vARIAção teMPoRAL nA PRodução e CoLetA de SeMenteS de Aspidosperma polyneuron (APoCYnACeAe) eM uM Pequeno ReMAneSCente nA ReGIão de RIBeIRão PReto (SP)

Ferreira-Ramos, Ronai1,2, Gioielli, Paulo Gabriel S.1, Martinez, Carlos Alberto2,4, Mestriner, Moacyr Antônio1,4, Alzate-Marin, Ana Lilia1,3,4*

1Laboratório de Genética Vegetal, Depto. de Genética, FMRP/USP-RP; 2PPG Biologia Comparada/Depto.

de Biologia/FFCLRP/USP-RP; 3PPG Genética/FMRP/USP-RP; 4Membros CEEFLORUSP. [email protected]

Resumo: Aspidosperma polyneuron Müll. Arg. (peroba-rosa) é uma espécie arbó-rea nativa neotropical da Floresta Estacional Semidecidual ameaçada de extinção devido aos processos de degradação e exploração de seu ambiente natural, o que justifica a necessidade de se realizar estudos que auxiliem na sua conservação in situ e ex situ. Assim, os objetivos do presente trabalho foram: 1) Estudar a variação temporal na produção de sementes da espécie florestal A. polyneuron em 16 árvores adultas presentes em um fragmento florestal de aproxima-damente 7,5 ha, localizado na Fazenda Águas Claras (21º17’47’’S; 47º40’29’’W) e outras duas árvores presentes na Fazenda Santa Ignácia (21º47’40.5’’S; 47º42’07.7’’W), que distam cerca de 3,0 Km do fragmento; e 2) Analisar a porcentagem de germinação das sementes coletadas nestas árvores. Devido ao porte das árvores (altura média de 20 m) a observação da frutificação foi realizada com auxilio de binóculo. Em todos os anos do estudo coletaram-se aleatoriamente uma média de 50 frutos por individuo reprodutivo, sendo que no primeiro ano contou-se com a colaboração de especialistas em escalada do Instituto Florestal de São Paulo. Após a coleta, os frutos foram colocados à sombra, no Laboratório de Genética Vegetal USP/RP, para completar o amadurecimento e liberação das sementes (média de 1 a 6/fruto), as quais foram plantadas

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no viveiro de mudas da Prefeitura do Campus da USP/RP. Como resultado observou-se que no primeiro evento reprodutivo (2008) oito indivíduos frutificaram, dos quais sete formam parte do fragmento e um de fora. No segundo evento reprodutivo (ano 2009), somente frutificaram as duas matrizes localizadas fora do fragmento. Em 2010 (terceiro evento), somente uma ma-triz localizada fora do fragmento produziu sementes, sendo a única árvore reprodutiva nos três eventos analisados. Nesta mesma matriz foi observada a ocorrência de poliembrionia nos anos 2008 e 2010, períodos coincidentes com sua frutificação isolada, sugerindo a ocorrência de apo-mixia como uma estratégia reprodutiva para a espécie. Já no quarto ano de observação (2011), não se observou, até o presente, formação de frutos nas árvores estudadas. Em termos gerais as porcentagens de germinação das sementes das diferentes matrizes nos três eventos estudados variaram entre 27,4% a 94,7%. As observações realizadas neste trabalho têm importantes im-plicações na coleta de sementes desta espécie florestal para reflorestamentos e recomposição de áreas degradadas. (Apoio Financeiro: FAPESP, CNPq, FAEPA).

Palavras chave: coleta de sementes de espécies florestais; peroba-rosa; fragmentação.

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RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA: DESAFIOS ATUAIS E FUTUROS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO JARDIM BOTÂNICO DE SÃO PAULO

Barbosa, L. M.;1 Cerati, T. M.2 & Maciel, N. A. L.3

1Pesquisador Científico e Diretor do Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas do Instituto de

Botânica de São Paulo; 2Pesquisadora Científica do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação do Instituto de

Botânica de São Paulo; 2Especialista Ambiental do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação do Instituto de

Botânica de São Paulo. [email protected]

Resumo: O Jardim Botânico de São Paulo é o único no Brasil classificado na cate-goria “A” de acordo com a Resolução CONAMA 339/03. Dentre os 16 itens considerados por essa resolução, os jardins botânicos devem também desenvolver pesquisa para conservação da biodiversidade e programas de Educação Ambiental. Apesar da estreita correspondência entre a necessidade global da restauração ecológica e os serviços e produtos oferecidos pelos JBs, o de São Paulo é um dos poucos no mundo que apresenta um histórico de pesquisas em ecologia da restauração visando o melhor conhecimento taxonômico das espécies e da estrutura e fun-cionamento dos ecossistemas; desenvolvimento de parâmetros indicadores e legais; capacitação de pessoal e envolvimento da sociedade nas questões da Restauração Ecológica; e até o estabe-lecimento do Curso de Pós-graduação em Biodiversidade e Meio Ambiente e da Coordenadoria Especial de Restauração Ecológica de Áreas Degradadas. O presente trabalho tem o objetivo de identificar e analisar os recursos materiais e estratégias desenvolvidas no Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação do JBSP, disponíveis para abordagens educativas com ênfase na RE, que possam contribuir para incrementar o apoio social, científico, econômico e político aos esforços da ecologia restauração. Procedeu-se então um levantamento de dados documentais produzidos pelo NPEC, relacionados à visitação de escolas, programas educativos, relatórios de projetos e trabalhos publicados, o qual proporcionou uma análise quali-quantitativa das ações de EA desenvolvidas no JBSP no período de 2005 até junho de 2011. Nesse período, 206.293 escolares visitaram o JBSP, dos quais 72.757 receberam monitoria envolvendo temas de RE e conservação da biodiversidade. Cerca de 50 monitores foram treinados e capacitados para atuar em educação ambiental; desenvolveram-se mais de 50 eventos relacionados ao tema, destacan-

do o “Curso de Atualização em Recuperação de Áreas Degradadas”; projetos direcionados à co-munidade do entorno, visando mudança de comportamento e atitudes conservacionistas. Mais de 65 exposições artísticas tiveram o objetivo de sensibilizar e conscientizar o público visitante sobre questões de conservação da biodiversidade, além de produção e divulgação de materiais pedagógicos que abordam a conservação da biodiversidade para o ensino formal e informal. Concluímos que o JBSP segue desenvolvendo seu grande potencial para geração e difusão de conhecimentos e práticas para a restauração ecológica.

Palavras-chave: educação ambiental, restauração ecológica, jardins botânicos.

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QUAL O PAPEL DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DOS JARDINS BOTÂNICOS NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA?

Cerati, T. M.1& Maciel, N. A. L.21Pesquisadora Científica do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação do Instituto de Botânica;

2 Especialista Ambiental do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação

do Instituto de Botânica. [email protected]

Resumo: Com o aumento das pressões sobre os ambientes naturais, os jardins bo-tânicos em todo o mundo intensificaram sua atuação conservacionista ampliando suas ações de conservação in situ e ex situ. Assim emergiu também a necessidade de inserir a educação am-biental nos programas de atendimento ao público, não só para comunicação dos resultados de pro-jetos e pesquisas, mas também para o envolvimento social na necessidade da restauração ecológica. Atualmente, os JBs constituem-se centros de referência, atuando como norteadores de pesquisas acadêmicas e políticas ambientais, e até como centro de apoio aos setores privados ligados à restau-ração ecológica, uma vez que muitos dos serviços e recursos habitualmente fornecidos por JBs são indispensáveis à prática da RE. Por estas razões os jardins botânicos podem facilitar a aplicação de princípios científicos, aprimorar métodos e incrementar o sucesso das iniciativas de RE. De acordo com a Resolução CONAMA 339/03, os JBs têm como objetivo promover a pesquisa, a conservação, a preservação, a educação ambiental e o lazer. Portanto, os JBs devem desenvolver programas de EA. As afinidades existentes entre as metas dos JBs e os objetivos da RE, fazem com que a EA seja um fator indispensável de apoio social e político aos esforços da restauração. Sendo assim, o presen-te trabalho tem como objetivo avaliar o papel dos programas de EA desenvolvidos nos JBs do Estado de São Paulo, no desenvolvimento da teoria e prática da RE. Para tanto foi elaborado um questio-nário com questões abertas e fechadas, os quais foram encaminhados para serem respondidos pelos responsáveis pelos programas de EA dos JBs dos municípios de Santos, Paulínia, Bauru, Campinas, São Paulo, Botucatu e Jundiaí. Os resultados obtidos mostram que, nem todos os JBs possuem um programa educativo efetivo, pois não contam com equipe especializada. Os que possuem programas educativos voltados ao atendimento público, em sua maioria não possuem articulação entre a EA e os projetos de RE. Concluímos que falta entendimento da missão dos JBs e comprometimento por parte de seus gestores, o que caracteriza essas instituições apenas como espaço de lazer para a popu-lação, não havendo preocupação e empenho em estruturar um corpo técnico para o desenvolvimento de pesquisas e programas de EA voltados à conservação e restauração da biodiversidade.

Palavras-chave: educação ambiental, restauração ecológica, jardins botânicos.

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SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE RESTINGA: DESENVOLVENDO HABILIDADES ARGUMENTATIVAS

Yamada, Mayumi¹, Motokane, Marcelo Tadeu² e Oliveira, Alexandre Adalardo de³1. Universidade de São Paulo, Instituto de Física (Interunidades em Ensino de Ciências), São Paulo, SP,

Brasil. [email protected]

Resumo: Atividades educativas devem ser levadas em conta em programas de restaura-ção de áreas degradadas no sentido de inserir as comunidades nas questões ambientais locais. Assim, é de fundamental importância o entendimento de como a ciência está diretamente relacionada aos processos de restauração. A ciência com suas regras, valores e linguagem própria possui particu-laridades que necessitam ser trabalhadas para que possibilite o desenvolvimento de habilidades, proporcionando o contato com os conhecimentos científicos e dessa forma, localizando o indivíduo socialmente com o propósito da prática social e o exercício da cidadania. Inserido no Projeto “Re-cuperação e Conservação dos Ecossistemas de Restingas do Litoral Sul de São Paulo”, coordenado pelo Prof. Dr. Alexandre Adalardo de Oliveira (IB-USP), este trabalho tem como objetivo apresentar uma seqüência didática elaborada pelo grupo de estudos sobre Linguagem e Ensino de Ciências (LINCE), coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo Tadeu Motokane (FFCLRP-USP), em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Biologia (GEPEB), coordenado pela Prof. Dra. Silvia F. Trivelato (FE-USP), com o propósito de atender a essas demandas, ou seja, aproximar alunos da investigação, da prática da leitura, escrita e discussões, características da própria cultura científica.

Resumo: Com o aumento das pressões sobre os ambientes naturais, os jardins botâni-cos em todo o mundo intensificaram sua atuação conservacionista ampliando suas ações de conser-vação in situ e ex situ. Assim emergiu também a necessidade de inserir a educação ambiental nos programas de atendimento ao público, não só para comunicação dos resultados de projetos e pesqui-sas, mas também para o envolvimento social na necessidade da restauração ecológica. Atualmente, os JBs constituem-se centros de referência, atuando como norteadores de pesquisas acadêmicas e políticas ambientais, e até como centro de apoio aos setores privados ligados à restauração ecológi-ca, uma vez que muitos dos serviços e recursos habitualmente fornecidos por JBs são indispensáveis à prática da RE. Por estas razões os jardins botânicos podem facilitar a aplicação de princípios científicos, aprimorar métodos e incrementar o sucesso das iniciativas de RE. De acordo com a Resolução CONAMA 339/03, os JBs têm como objetivo promover a pesquisa, a conservação, a preservação, a educação ambiental e o lazer. Portanto, os JBs devem desenvolver programas de EA. As afinidades existentes entre as metas dos JBs e os objetivos da RE, fazem com que a EA seja um fator indispensável de apoio social e político aos esforços da restauração. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o papel dos programas de EA desenvolvidos nos JBs do Estado de São Paulo, no desenvolvimento da teoria e prática da RE. Para tanto foi elaborado um questio-nário com questões abertas e fechadas, os quais foram encaminhados para serem respondidos pelos responsáveis pelos programas de EA dos JBs dos municípios de Santos, Paulínia, Bauru, Campinas, São Paulo, Botucatu e Jundiaí. Os resultados obtidos mostram que, nem todos os JBs possuem um programa educativo efetivo, pois não contam com equipe especializada. Os que possuem programas educativos voltados ao atendimento público, em sua maioria não possuem articulação entre a EA e os projetos de RE. Concluímos que falta entendimento da missão dos JBs e comprometimento por parte de seus gestores, o que caracteriza essas instituições apenas como espaço de lazer para a popu-lação, não havendo preocupação e empenho em estruturar um corpo técnico para o desenvolvimento de pesquisas e programas de EA voltados à conservação e restauração da biodiversidade.

Palavras-chave: educação ambiental, restauração ecológica, jardins botânicos.

Cerati, T. M.1& Maciel, N. A. L.2

1Pesquisadora Científica do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação do Instituto de Botânica;

2 Especialista Ambiental do Núcleo de Pesquisa em Educação para Conservação

do Instituto de Botânica. [email protected]

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O objetivo central da seqüência didática é que os alunos possam, a partir de um problema, elaborar textos escritos argumentativos tendo como base a leitura de um texto descritivo em que são tratadas relações entre fatores abióticos e estruturas adaptativas de plantas da Restinga. Para o desenvolvi-mento da sequência didática foi considerado: a) O problema: assunto debatido na sociedade atual aproximando o aluno de questões que não estão totalmente distantes de suas realidades; b) Conheci-mento prévio: levantamento de hipóteses baseado em conhecimentos prévios; c) Observação: dados que corroboram uma das hipóteses propostas anteriormente; d) Argumentação escrita: elaboração de textos; e) Argumentação oral: discussão. A partir dessa seqüência didática, os textos escritos ela-borados pelos alunos serão analisados com o intuito de entender de que forma esses alunos compre-endem o texto descritivo proveniente da Ecologia e como isso reflete na explicação de um problema ambiental pelos alunos.

Palavras-chave: ensino de ciências, enculturação científica, argumentação, restinga.

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Rumohra adiantiformis (G. Forst) Ching: ALteRnAtIvA SóCIo-eConôMICA e AMBIentAL PARA ReCuPeRAção de áReAS deGRAdAdAS PeLA MIneRAção de CARvão eM SAntA CAtARInA, BRASIL

Citadini-Zanette, Vanilde1,3, Rocha-Nicoleite, Edilane2, Santos, Robson dos1,3, Neves, Patrícia da Rocha3, Custódio, San Zatta1, Feltrin, Caio Roberto Magagnin

1. Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz (CRI), Criciúma,

SC, Brasil. 2. Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina, Centro Tecnológico do Carvão Limpo,

Criciúma, SC, Brasil. 3. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, UNESC, Criciúma, SC, Brasil. [email protected]

Resumo: No sul do estado de Santa Catarina, a atividade de mineração de carvão origi-nou extensas áreas degradadas que estão em recuperação, com finalidades diversas. Algumas destas áreas não são de propriedade da empresa mineradora, que também possui o dever de recuperá-las segundo critérios pré-definidos pelos órgãos ambientais. Em alguns casos a expectativa dos pro-prietários em relação à recuperação da área é diferente do compromisso assumido pela empresa, seja por restrições técnicas ou ambientais, ocorrendo, via de regra, conflitos sociais entre a em-presa e a comunidade local, que deseja utilizar estas áreas para obtenção de retorno econômico. A samambaia-preta [Rumohra adiantiformis (G. Forst.) Ching] é uma planta ornamental amplamente comercializada para confecção de arranjos florais. O cultivo desta planta em áreas recuperadas com bracatinga (Mimosa scabrella Benth.), apresenta-se viável e, pode ser uma alternativa para recupe-ração das áreas mineradas. Este estudo tem por objetivo realizar cultivo comercial com apoio da comunidade local e elaborar cadeia produtiva regional para cultivo desta planta, em áreas em recu-peração ambiental após mineração de carvão no sul do Brasil. O cultivo foi estabelecido em área em recuperação ambiental após mineração de carvão a céu aberto, de propriedade de uma família da comunidade local, que acompanhou o preparo do terreno e o plantio, e irá acompanhar a colheita e a comercialização. Esta pesquisa está em andamento, com dados promissores, e poderá estimular a comunidade local a produzir um produto florestal não-madeireiro que pode ser consorciado com a recuperação de áreas degradadas de forma sustentável.

Palavras-chave: recuperação ambiental, cultivo de samambaia-preta, inclusão social.

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AnáLISe dA CoMPenSAção AMBIentAL de eMPReendIMentoS CAuSAdoReS de SIGnIFICAtIvo IMPACto AMBIentAL eM MG

Barros1, Eva Costa de; Borges, Luis Antonio C.1; Santiago, Thais Muniz Ottoni1; Barros, Dalmo Arantes de

1 Universidade Federal de Lavras, Pós-Graduação em Ciências Florestais, Lavras, MG,

Brasil. [email protected]

Resumo: Os impactos ambientais em algumas situações não podem ser evitados. Conforme sua magnitude, os danos socioambientais podem ser irreversíveis para restauração

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do meio ambiente degradado. Diante desta perspectiva, influenciado pelos modelos de avalia-ção de impacto ambiental da Europa e dos EUA, foi criado no Brasil um instrumento visando à compensação ambiental em decorrência dos empreendimentos potencialmente poluidores ou degradadores. Esta exigência foi trazida pela Lei Federal n º 9.985 de 18 de abril de 2000 (Lei do SNUC). A caracterização dos empreendimentos impactantes foi qualificada pelas Resolu-ções CONAMA 01/86 e 237/97 e, ambas, estabelecem os procedimentos para cumprimento da compensação ambiental. O objetivo do presente trabalho foi buscar a fundamentação teórica na legislação vigente no país para a criação do instrumento de compensação ambiental, bem como sua implementação e consequências diretas, especificamente para o Estado de Minas Gerais. A justificativa para a realização do trabalho reside na necessidade de compensar os impactos ge-rados que não podem ser mitigados. Essas compensações são devolvidas à sociedade em forma de melhorias na qualidade ambiental, no sistema produtivo e consequentemente na economia. Como resultado, observou-se uma efetividade deste instrumento, como forma de conservar os recursos naturais. A lei obriga o empreendedor a repassar ao estado um montante em dinheiro, conforme a significância do impacto do empreendimento. No estado de Minas Gerais essa pra-tica é comum. O governo mineiro de posse deste recurso tem investido em regularização fundi-ária das UC, na elaboração de planos de manejo para Unidades de Conservação e na aquisição de bens e serviços. O instrumento de compensação ambiental pretende garantir a compensação ambiental à altura da degradação causada, observando-se os princípios poluidor-pagador e pro-vedor-recebedor. (Apoio FAPEMIG).

Palavras-chave: danos socioambientais, SNUC, conservação de recursos naturais.

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PARtICIPAção PúBLICA no PRoCeSSo de LICenCIAMento AMBIentAL no eStAdo de MInAS GeRAIS

Barros1, Eva C. de; Borges1, Luis A. Coimbra; Souza1, Rachel Hermeto de Pádua; Barros, Dalmo Arantes de1

1 Universidade Federal de Lavras, Pós-Graduação em Ciências Florestais, Lavras,

MG, Brasil, [email protected]

Resumo: O processo de avaliação de impacto ambiental é marcado pela necessida-de da participação pública nas decisões. Conforme a significância do projeto faz-se imperativo debater as principais questões associadas à instalação e operação dos empreendimentos, envol-vendo as principais partes interessadas, tais como: os empreendedores, os órgãos ambientais e as comunidades diretamente afetadas. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA - Lei 6.938/81) e, posteriormente, as Resoluções do CONAMA foram os instrumentos que estabe-leceram as diretrizes para a regularização de empreendimentos causadores de impactos socio-ambientais, dentre elas, a realização de audiências públicas e condição sine qua non para o licenciamento do empreendimento. O objetivo do presente trabalho foi analisar a importância da participação da sociedade no procedimento de licenciamento ambiental, salientando que a participação pública legitima o processo e conforme os conflitos e/ou embates pode vir a in-terferir nos prazos de aprovação. O estudo foi realizado por meio da análise dos processos de Avaliação de Impacto Ambiental no Estado de Minas Gerais (EIA-RIMA’s) licenciados pelo IBAMA. Como resultado da pesquisa, observou-se a influência efetiva dos atores envolvidos nas audiências públicas seja no comparecimento da audiência, como na participação incisiva no debate da sua realidade e nas propostas para uma melhor mitigação dos impactos gerados; os principais conflitos e/ou embates existentes entre os diversos atores ocorreram no sentido da contraposição entre os danos ambientais gerados pela efetivação do empreendimento e os bene-fícios gerados; e, por fim, o entendimento de que os prazos de aprovação dos projetos submeti-dos ao licenciamento ambiental sofrem influência conforme a importância da área e/ou tamanho impactado, da mobilização da comunidade em concordância ou não com o projeto e a atuação efetiva dos órgãos ambientais na região. Conclui-se, portanto, a fundamental importância da participação dos diversos atores na audiência pública como parte do processo de licenciamento ambiental, salientando que a opinião da sociedade é imprescindível para a legitimação, mitiga-ção e restauração ambiental satisfatória. (Apoio FAPEMIG).

Palavras-chave: audiência pública, AIA, atores sociais, legitimação do processo

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PRodutoS FLoReStAIS não MAdeIReIRoS dA FLoReStA oMBRóFILA denSA do SuL de SAntA CAtARInA

Cechinel, Alan Kunz1 Elias, Guilherme Alves2, Padilha, Peterson Teodoro3, Santos-Junior, Ronaldo dos3, Martins, Rafael4, Santos, Robson dos4.

1. Centro de Educação Profissional Abílio Paulo (CEDUP). 2. Programa de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais (PPGCA), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). 3. Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz (CRI),

UNESC. 4. PPGCA, Herbário CRI, UNESC. [email protected]

Resumo: Produto Florestal Não Madeireiro (PFNM) é um termo genérico que se refere aos diferentes produtos vegetais e animais que se obtém de ambientes florestais, incluindo frutas, fibras sementes, plantas medicinais e aromáticas, materiais para artesanato, entre outros. Os PFNM’s são conhecidos e explorados por comunidades associadas a florestas há muitos séculos e seguem sendo usados para os mais variados fins (envase, vestimenta, utensílio de cozinha, medicamento, co-rante, alimento, cosmético, etc). Ainda hoje, estes recursos são a chave para a subsistência de nume-rosas economias locais. Dessa forma, os PFNM’s têm contribuído com a conservação da diversidade biológica, uma vez que mantém a floresta conservada, além de permitir melhoria socioeconômica do povo que nela vive. No entanto, para que o uso dos PFNM’s seja efetivamente apresentado como alternativa viável para o estimulo à conservação e promoção de desenvolvimento de comunidades, as lacunas ainda existentes de conhecimento botânico, ecológico e agronômico das potenciais espécies fontes de PFNM’s devem ser preenchidas. Este estudo teve por objetivo citar espécies arbóreas, da Floresta Ombrófila Densa do sul de Santa Catarina, com potencialidade para obtenção de PFNM’s. Com base em estudos da composição florística e estrutural da comunidade arbórea foram selecio-nadas 60 espécies. Para cada espécie foram citados: distribuição geográfica e ocorrência; sinoní-mias, família e nome popular; dados botânico, ecológico e agrossilvicultural; fornecimento, usos e aplicações de produtos florestais não madeireiros. Para a sistematização das informações relativas aos usos ou potencialidades de usos foram consideradas as categorias de uso (ornamental, apícola, forragem, alimentícia e/ou aditivos, medicinal, produto bioquímico, artesanato, fibra, ecológico e outros usos). As famílias com maior número de espécies selecionadas foram Asteraceae, Arecaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae, Melastomataceae, Myrtaceae e Solanaceae. O número de citações em cada categoria foi: medicinal, com 25 espécies; ornamental (25); apícola (20); produto bioquímico (18); ecológico (10); alimentícia e/ou aditivos (6); forragem (4); artesanato (2); fibra (2) e outros usos (3 espécies). Considerando a importância do bioma Mata Atlântica, e a sua degradação, a utili-zação de espécies fontes de produtos florestais não madeireiros vem de encontro com a conservação da biodiversidade dessas florestas. Fonte Financiadora: Bolsa PIBIC Junior, CNPq/UNESC.

Palavras-chaves: recursos vegetais, produtos da flora.

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novoS deSAFIoS PARA A ReStAuRAção eCoLóGICA de FRAGMentoS de MAtA AtLântICA: o CenáRIo de deGRAdAção AMBIentAL PRoMovIdA PeLo tReCho SuL do RodoAneL MáRIo CovAS, São PAuLo

Ferreira, Vinicius Gregolin¹ e Moretto, Evandro Mateus²1. Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental,

São Carlos, SP, Brasil; 2. Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, São Paulo, SP, Brasil.

[email protected]

Resumo: A definição da localização de um empreendimento é uma das principais decisões que determinará a magnitude e a importância de grande parte dos impactos ambientais negativos resultantes de sua instalação e operação. Muitas vezes, as informações ambientais que revelam restrições territoriais para a localização do empreendimento não existem ou não estão disponíveis, implicando na maior dificuldade para minimizar os impactos ambientais, fazendo com que os possíveis processos de restauração ecológica no local tenham maiores dificuldades em obter sucesso. Empreendimentos rodoviários são grandes causadores de impactos ambientais, principalmente em regiões de alta vulnerabilidade ambiental, como é o caso da Mata Atlântica. Os principais impactos causados pelas rodovias dizem respeito à fragmentação do ambiente físico,

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afetando a qualidade do ar, do solo, a vegetação, a vida silvestre e a dinâmica social próxima. Nes-te sentido, o presente trabalho teve como objetivo principal analisar as possibilidades para o esta-belecimento de uma base referencial de informações sobre potencialidades e restrições ambientais e territoriais como suporte à restauração ecológica de fragmentos de Mata Atlântica, a partir do caso dos impactos ambientais providos pelo trecho sul do Rodoanel Mário Covas, previamente ao início do processo de licenciamento ambiental do projeto. Para isso, foram identificados, junto à bibliografia, quais são os principais fatores territoriais necessários à análise prévia de viabilidade ambiental de traçados rodoviários, utilizando-se o estudo de caso. Após isso, foram listados os principais impactos ambientais causados pela obra e os processos de restauração realizados na região, relacionados à obra. Os fatores territoriais identificados foram: uso e ocupação do solo; hidrografia; vegetação; áreas de proteção; topografia; pedologia e geologia. Estes foram reprodu-zidos em cartas temáticas, com o auxílio de Sistemas de Informação Geográfica, e desta maneira puderam ser relacionados com as informações obtidas a partir dos impactos ambientais e proces-sos de restauração encontrados. Observou-se que por se tratar de uma região com características territoriais muito diversificadas, áreas consideradas mais vulneráveis ambientalmente poderiam ter sido evitadas pelo traçado escolhido. Assim, aumentaram os desafios e os limites para a restau-ração da região impactada. (Financiamento - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP)

Palavras-chave: empreendimentos rodoviários; recuperação de áreas degradadas; as-pectos políticos; alternativas locacionais; planejamento ambiental.

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A PRodução de SeMenteS FLoReStAIS, no âMBIto dA SeCRetARIA de MeIo AMBIente do eStAdo de São PAuLo, CoMo InStRuMento de ReStAuRAção de AMBIenteS

Santos, Márcia Regina Oliveira1; Dale, Paul Joseph2

1.Instituto Florestal, Seção de Silvicultura; 2. Instituto Florestal, Divisão de Reservas e Parques Estaduais.

Rua do Horto, 933. São Paulo – SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A produção de sementes de espécies florestais nativas, com qualidade fi-siológica e variabilidade genética, instrumento de fundamental importância para restauração e conservação ambiental, não tem sido de fácil realização, especialmente com a diversidade pre-conizada, sendo a demanda muito superior à oferta. Pela escassez de remanescentes florestais no Estado, que possam configurar fontes de propágulos de espécies de difícil obtenção, a colheita de sementes em Unidades de Conservação foi regulamentada, para projetos institucionais de restau-ração e implantação de pomares de espécies nativas. O Instituto Florestal é referência nacional como instituição de pesquisa em desenvolvimento florestal integrada à produção e disponibiliza-ção de sementes florestais no âmbito da SMA. Com o objetivo de melhorar as ações para estabe-lecimento do Programa de Produção de Sementes Florestais do IF e sua adequação ao Sistema Nacional de Sementes e Mudas (Lei 10.711/2003), foi criado o Grupo de Trabalho sobre Semen-tes e Mudas (GTSM), em janeiro/2011, reunindo profissionais da instituição atuantes nessa área. Suas ações partem da elaboração participativa de diretrizes para o Plano de Ação sobre Sementes e Mudas, estruturado a partir de diagnóstico das cadeias produtivas de sementes e mudas do IF, salientando os principais problemas e suas causas, notadamente a falta de pessoal qualificado para as diferentes etapas do processo produtivo, a necessidade de modernização estrutural e de veículos específicos para colheita. O GTSM prioriza o estabelecimento de parcerias, gerando soluções para alguns dos problemas encontrados, como o apoio dos projetos da SMA/GEF (Global Environ-mental Facilities). A capacitação, enfatizada nas ações propostas pelo GTSM, iniciou-se com o Treinamento em Colheita e Manejo de Sementes Florestais, direcionado a funcionários do IF, des-tacando o correto cadastramento das matrizes e o manejo adequado das sementes, desde a origem até sua disponibilização. Para consolidação do potencial produtivo do IF, além do aprofundamento na integração interna de setores como manejo de florestas, mercados florestais, melhoramento genético e produtos florestais, é necessário ampliar a discussão da atual estrutura de produção e comercialização de sementes e mudas, incluindo parceiros fundamentais, como Fundação Flores-tal, Instituto de Botânica, CBRN-SMA, entre outros, e, com base na reestruturação institucional em curso, buscar a reorganização de toda a cadeia produtiva.

Palavras-chave: produção de sementes; espécies nativas; mudas florestais.

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TRABALHOS VOLUNTÁRIOS

ÁREA 5 - RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DA PAISAGEM EM AMBIENTES URBANOS E RURAIS

ModeLoS de ReCuPeRAção nA MAtA CILIAR do RIo jAGuARIBe, joão PeSSoA, PB: AnáLISe CoMPARAtIvA

Freitas, Gisele Bezerra1 & Barbosa, Maria Regina de V.21 - Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Sub- programa UFPB/UEPB;

2 - Departamento de Sistemática e Ecologia,Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. [email protected].

Resumo: As florestas nativas são importantes ecossistemas que têm um histórico de de-vastação de longos anos desde o descobrimento do Brasil. Sem estas os rios tornam-se mais turvos, contaminados, assoreados, contendo cada vez menos peixes, e sujeitos a enchentes nas épocas de chuva. Floristicamente as matas ciliares são bastante heterogêneas, como resultado da interação complexa de fatores biológicos e físicos. A fim de indicar espécies e técnicas adequadas para a recuperação da mata ciliar do Rio Jaguaribe, João Pessoa, PB, experimentos com três técnicas de recuperação de mata ciliar (plantio de mudas, semeadura direta e condução da regeneração natural) foram implantados. Foram feitas medições de altura e diâmetro do colo de todas as mudas e indivíduos regenerantes e calculada a taxa de mortalidade por espécie. Cinco espécies se mostraram promissoras para o plantio: Inga laurina (Sw.) Willd., Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore (tem como sin. het. Tabebuia ca-raiba (Mart.) Bureau), Licania tomentosa (Benth.) Fritsch, Handroanthus impetiginosus Mattos e Coc-coloba alnifolia Casar. Além disso, concluiu-se que o plantio de mudas é a técnica mais adequada para a recuperação do rio, nas condições atuais. O trabalho apresenta diversas recomendações para restauração da mata ciliar bem como uma lista de espécies, indicando seu respectivo grupo ecológico.

Palavras chave: mata ripária; recomposição; Rio Jaguaribe; Paraíba.

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ReStAuRAção eCoLóGICA dA PAISAGeM e BIodIveRSIdAde FAuníStICA eM AGRoeCoSSISteMA de CAnA-de-AçúCAR SoB CuLtIvo oRGânICo e MAnejo eCoLóGICo

Miranda, José Roberto1, Ariedi Junior, Vagner Roberto21. EMBRAPA Monitoramento por Satélite, Campinas, SP, Brasil; 2. Universidade Federal de São Carlos, Centro

de Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural, Araras,

SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A presença de vertebrados silvestres nos agroecossistemas varia em função do uso e da ocupação das terras, dos tipos de sistemas de produção, da presença dos remanescen-tes de vegetação natural, recursos hídricos e do manejo adotado. A Usina São Francisco iniciou há mais de duas décadas processos de restauração da paisagem das áreas de plantio de cana-de--açúcar e adjacências. O resultado das ações foi a emergência espacial da flora e complexidade da vegetação restaurada nas Áreas de Preservação Permanente. Esta pesquisa pioneira objetivou testar, adaptar e desenvolver um itinerário metodológico de avaliação da biodiversidade faunística em território delimitado, como também, analisar a riqueza de vertebrados silvestres existente na propriedade. A área de estudo compreende fazendas localizadas no município de Sertãozinho, SP, (aproximadamente 21 graus e 13 minutos de latitude Sul e 48 graus e 11 minutos de longitude Oeste). O conjunto das fazendas possui 7.868 hectares com cultivo orgânico de cana-de-açúcar sob manejo ecológico, sendo 82% de área cultivada. O mapeamento da cobertura das terras foi realizado através da interpretação de imagens de satélite e incursões de campo. Após a análise da carta de uso e cobertura das terras, foram categorizados dez habitats faunísticos. Uma ficha de levantamento pré-codificada foi estabelecida para posterior análise dos dados. Foram realizados

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mais de 2000 levantamentos em campo. As espécies de vertebrados silvestres foram registradas e identificadas através de uma série de técnicas e procedimentos práticos. Foram identificadas 327 espécies de vertebrados silvestres no conjunto dos dez habitats amostrados (27 anfíbios, 17 répteis, 244 aves e 39 mamíferos), das quais 47 das espécies são consideradas ou estão sob algum risco ou ameaça de extinção no estado de São Paulo, de acordo com o Decreto Estadual nº 56.031 da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA-SP). Nos Canaviais Orgânicos foram registradas 88 espécies. O itinerário metodológico adotado permitiu atingir os objetivos da pesquisa e revelou-se plenamente adequado. Os resultados obtidos confirmam a eficácia dos métodos utilizados e a elevada riqueza de espécies registradas neste tipo de sistema de produção de cana-de-açúcar estudado. Esses primeiros resultados indicam interações cada vez mais harmo-niosas e conciliatórias entre a conservação da fauna silvestre e os sistemas de produção.

Palavras-chave: biodiversidade, áreas de preservação permanente, cana-de-açúcar or-gânica, manejo ecológico, fauna silvestre.

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AvALIACão dA quALIdAde do SoLo de uMA MICRoBACIA RuRAL AtRAvéS de PARâMetRoS ISotóPICoS, MunICíPIo de BAuRu/SP

Sobral, Anahi Chimini1,a; Silva, Alexandre Marco da1,b

1 - Programa de pós-graduação em Engenharia Civil e Ambiental – Faculdade de Engenharia de Bauru -

Campus de Bauru – UNESP. a – aluna de mestrado; b – orientador. [email protected].

Resumo: O uso dos recursos naturais no município de Bauru vem acarretando al-terações ambientais de diversas modalidades, sobretudo na supressão da vegetação natural re-manescente, com reflexos na qualidade do solo. A necessidade de trabalhos de investigação de indicadores de qualidade ambiental para recuperação de áreas degradadas é imperativa. Apresen-tam-se aqui resultados preliminares de um trabalho de avaliação de indicadores ambientais que vem acontecendo numa microbacia rural localizada na porção norte do município de Bauru - SP. Através de inspeção em documentos cartográficos impressos e digitais, verifica-se que a micro-bacia possui 26,7 km2, correspondendo a aproximadamente 4% do território do município. O relevo da microbacia é predominantemente suave-ondulado (declividades variando entre 3 e 8 %, com ocorrência de 57,2%), seguido pela classe plana (declividades variando entre 0 e 3 %, com ocorrência de 11,9%) e classe ondulado (declividades variando entre 8 e 20 %, com ocorrência de 30,9%). A hidrografia da microbacia é de 3ª ordem e a vegetação predominante é o Cerrado. O clima de Bauru é, de acordo com a classificação de Koeppen, tropical chuvoso com inverno seco. A temperatura média anual é de 21,6o C e precipitação média anual de 1.170mm. Os solos predo-minantes na área são os Latossolos (70,7% de ocorrência), seguido pelos Argissolos (29,3%). Na microbacia ocorre predominantemente pastagem e a vegetação ripária encontra-se visivelmente alterada. Na área de estudo ocorrem algumas erosões lineares e o uso de práticas mecânicas de conservação do solo (enleiramento), dada a alta predisposição da área aos processos erosivos. Ao longo da principal estrada foram instaladas pequenas bacias de dissipação para captar a água do escoamento superficial gerado na estrada, minimizando o efeito erosivo da enxurrada em termos de velocidade e volume de escoamento. O trabalho encontra-se na fase de coleta de amostras de solo em pontos definidos na área de estudo. Os resultados obtidos com a análise dos índices de qualidade do solo sob os aspectos físico, químico, hidráulico e isotópico subsidiarão a indicação de áreas prioritárias para recomposição vegetal, bem como a escolha de métodos de restauração ecológica. Dessa forma, face à problemática apresentada, espera-se que a pesquisa auxilie na to-mada de decisões que conduzam às ações de manejo e/ou recuperação supracitadas, contribuindo para o uso adequado do solo na microbacia e que, eventualmente, sirva de modelo de trabalho para outras microbacias da região (CAPES).

Palavras-chave: indicadores de qualidade de solo, microbacia, Bauru-SP.

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uSo de eSPéCIeS veGetAIS nAtIvAS eM PRojeto deStInAdo à eStABILIzAção de RAvInA LoCALIzAdA eM áReA CoM oCoRRênCIA do PRoCeSSo de ARenIzAção – SW/RS

Vieira, Carmem Lucas¹; Verdum, Roberto¹.1.Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia,

Porto Alegre, RS, Brasil. [email protected]

Resumo: A erosão e a subsequente deposição de materiais se constituem, naturalmen-te, como processos modeladores do relevo e fatores de contribuição para a formação dos solos. Atividades antrópicas somadas a uma maior susceptibilidade ambiental como regime pluviométrico, declividade, comprimentos de rampa e textura do solo podem agravar processos erosivos atuantes na superfície e subsuperfície, gerando feições morfológicas do tipo ravinas e voçorocas. Para fins deste projeto, foram selecionados 44 metros de extensão de uma ravina situada de modo adjacente à face norte de uma Formação Arenítica tabular denominada Cerro da Esquina, no município de São Francisco de Assis-SW/RS. Esta localidade está inserida na região da campanha gaúcha, cuja pai-sagem caracteriza-se fisionomicamente pela predominância de espécies vegetais campestres, com destaque para as gramíneas. Nesta porção do estado registra-se a ocorrência específica do processo de arenização dos campos, associados ou não a ravinas e voçorocas de grandes dimensões. Tendo-se como objetivo principal avaliar a possibilidade de inserção de espécies vegetais nativas em projeto destinado a estabilização de um processo erosivo avançado foram monitoradas, ao longo de um ano, 18 espécies botânicas nativas com maior ocorrência na área interna e área de contribuição da ravina. Observaram-se locais predominantes de colonização, estruturas e época de propagação, caracterís-ticas do sistema radicular, potencial paisagístico, entre outros fatores fundamentais para utilização destas espécies como ferramentas de apoio em projeto de estabilização. Nos levantamentos a campo houve coleta de espécies para identificação e herborização, além de coleta de exemplares para testes preliminares de propagação vegetativa e semeadura, realizados em estufa. Dentre as 18 espécies que demonstraram maior potencial de uso para compor o projeto de estabilização da ravina seis delas destacaram-se sobremaneira, por características como sobrevivência ao arranque com dano radicular, abundância em sementes, frequente colonização da área, tolerância ao sombreamento, e beleza estética. Quanto à localização, tem-se o predomínio na porção média dos taludes de Melins repens (Willd.) Zizka. Na área superficial e na margem do processo erosivo destacam-se as espécies Lessingianthus macrocephalus (Less.) H.Rob., Croton subpanossus Müll. Arg. ex Griseb, Senecio cisplatinus Cabrera, Scoparia ericaceae Cham. & Schltdl. e Elionurus sp.

Palavras-chave: processos erosivos, estabilização de ravina, espécies vegetais nativas, arenização.

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PRojeto Conexão veRde - ReStABeLeCIMento dA ConeCtIvIdAde eCoLóGICA dA zonA de AMoRteCIMento (zA) CoM A áReA PRoteGIdA eStAção eCoLóGICA de RIBeIRão PReto (eeRP), SP

Oliveira, Cleide de1, Varanda, Elenice Mouro2, Donadio, Nicole Maria Marson3, Gaioso, Luciana de Fátima3, Coelho, Luis2, Gimenez, Valéria Maria Melleiro3, Lapenta, Marina Janzantti3, Barosela, José Ricardo2, Santos, Hertz Figueiredo dos2, Lapate, Mariana3, Silveira,

Gustavo do Carmo2, Romanini, Eduarda2, Vasters, Marcela21Fundação Florestal, SMA/SP; 2 Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto,

Departamento de Biologia, Setor de Botânica, Ribeirão Preto, SP, Brasil; 3 CEEFLORUSP – Centro de Estudos e

Extensão Florestal da USP/RP. [email protected]

Resumo: A Estação Ecológica de Ribeirão Preto (EERP) é uma Unidade de Conser-vação de Proteção Integral localizada na região nordeste do Estado de São Paulo. A Zona de Amor-tecimento (ZA) abrange as microbacias dos córregos da Serraria e do Horto e constitui elo entre as nascentes e a área natural protegida, com 70 % de sua área em território urbano ou de expansão urbana. Com o propósito de restabelecer a conectividade ecológica entre estas áreas, foi idealizado o Projeto Conexão Verde por meio de: 1. Mapeamento do uso do solo da ZA da EERP; 2. Levanta-mento de forma expedita da fauna e da flora; 3. Envolvimento dos proprietários rurais e 4. Indicação

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das estratégias de adequação em 40 ha de acordo com o Plano de Manejo da EERP, inicialmente, em 20 ha na sub-zona 01 (50 m do entorno imediato da Estação) e 20 ha de área de preservação perma-nente (APP) da ZA, identificadas como prioritárias para o restabelecimento da conectividade entre as nascentes e a área natural protegida. A parceria com o CEEFLORUSP forneceu profissionais e estagiários que compuseram os grupos técnicos de coordenação, fauna, flora e geoprocessamento. A articulação institucional entre a equipe técnica, 20 proprietários rurais, ONG, órgãos governamen-tais e lideranças locais possibilitou a realização de 7 encontros de trabalho, durante o ano de 2011, envolvendo 216 pessoas e a elaboração de 11 projetos específicos, com a obtenção de resultado di-ferenciado por envolver os diversos atores. Foram registradas 125 espécies de vertebrados, sendo 16 mamíferos, 96 aves e 13 da herpetofauna por meio de armadilhas fotográficas, registro de pegadas, observações visuais e sonoras. O levantamento florístico da mesma área possibilitou a amostragem de 138 espécies, de 93 gêneros e 49 famílias e prevaleceu a síndrome de dispersão zoocórica em relação à anemocórica. A partir destas informações foi organizado um banco de dados de correlação fauna-flora para a indicação das espécies a serem recomendadas nos projetos específicos. Com as informações obtidas nos diagnósticos da flora e fauna e índice da paisagem (mapeamento do uso do solo), foram gerados mapas de conectividade ecológica rural e urbana, indicando as áreas prio-ritárias, objeto de projetos específicos. A conectividade poderá ser facilitada com a instalação dos corredores entre as áreas, principalmente a partir da recuperação das APPs.

Palavras-chave: unidade de conservação; geoprocessamento.

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eFeItoS de BoRdA SoBRe A SeRAPILheIRA eM uM FRAGMento de FLoReStA eStACIonAL SuBtRoPICAL nA ReGIão do BIoMA PAMPA-RS, BRASIL

Vogel, Hamilton Luiz Munari¹, Azevedo, Jauris Vinícius Sampaio¹, Rott, Luis Augusto¹, Mayor, Malaga Soutto¹

1. Universidade Federal do Pampa, Curso de Engenharia Florestal, São Gabriel, RS, Brasil.

[email protected]

Resumo: A área rural do município de Vila Nova do Sul, onde se encontra a região do Bio-ma Pampa, assim como outras regiões do estado do Rio Grande do Sul, vem sendo intensivamente explo-rada pelas atividades agropecuárias, restando hoje poucas áreas com florestas nativas remanescentes, que formam pequenos fragmentos florestais, muitos destes, bastante alterados e degradados pelos impactos destas atividades na região. Dentre estas perturbações, pode-se citar as alterações dos fatores bióticos e abióticos nas bordas dos remanescentes, que podem ocasionar mudanças na produção de serapilheira e no banco de sementes, que garantem a regeneração da floresta. Em função da ausência de estudos de res-tauração florestal nestes ecossistemas, o trabalho teve como objetivo principal analisar os efeitos da borda e interior da floresta, na produção de serapilheira e material reprodutivo, em um fragmento de Floresta Estacional Subtropical, no interior do município de Vila Nova do Sul, RS. Para o estudo, foram demar-cados 4 locais no fragmento, no sentido borda interior do fragmento: 0-10 m (10 amostras), 10-20 m (10 amostras), 20-50 m (15 amostras) e 50-100 m (25 amostras), totalizando 60 amostras de serapilheira. As amostras foram constituídas pela manta orgânica sobre o solo, coletadas com uma moldura de madeira de 25 cm x 25 cm, no mês de maio de 2011 (estação do outono), e separadas nas frações: folhas, galhos finos < 1 cm, resíduos não identificáveis e material reprodutivo composto por sementes. Nas amostras de serapilheira foram determinados os teores de N, P, K, Ca e Mg. Os resultados obtidos para a quantidade de serapilheira indicaram que não houve diferença significativa entre a borda e o interior do fragmento pelo teste de Tukey; foram constatados valores maiores de serapilheira no interior (9,85 Mg ha-1) do que na borda (8,64 Mg ha-1) do fragmento. A serapilheira acumulada sobre o solo é responsável por grandes estoques de nutrientes, principalmente Ca com 170 kg ha-1 (55%) e N com 292,2 kg ha-1 (32%), consti-tuindo uma via importante na ciclagem de nutrientes na floresta. Quanto ao numero de sementes, houve diferença significativa entre a borda (2064000 semente ha-1) e o interior (3558400 semente ha-1) pelo teste de Tukey. Estas informações são imprescindíveis para a compreensão das relações ecológicas que existem na floresta, fornecendo subsídios para a orientação de planos de restauração e enriquecimento, em áreas de florestas nativas fragmentadas na região.

Palavras-chave: fragmentação de florestas; ciclagem de nutrientes; floresta nativa.

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PRoGRAMA de PeSquISA eM ReStAuRAção FLoReStAL e PReSeRvAção do CeeFLoRuSP – CentRo de eStudoS e extenSão FLoReStAL dA uSP/RP

Varanda, Elenice M.1,Pereira, Rodrigo A.S.1, Martinez, Carlos A.H.3, Alzate-Marin, Ana L.1,2, Mestriner, M. A.1,2

1.CEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP/RP, Dep. Biologia/FFCLRP, Ribeirão

Preto, SP. 2. Dep. Genética/FMRP/USP, Ribeirão Preto, SP. [email protected]

Resumo: O CEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP/RP - possui quatro programas: o Restaurar que fornece assessoria e capacitação técnica em restauração florestal; o de Educação Ambiental que organiza e executa planos de educação ambiental com as comunidades da USP, do entorno do campus e das escolas públicas da região de Ribeirão Preto e o de Pesquisa. O Programa de Pesquisa do CEEFLORUSP/RP, um NACE (Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP) coordenou de início as atividades de pes-quisa que tiveram como tema prioritário a conservação e restauração dos processos ecológicos em florestas implantadas. Posteriormente, os temas estudados foram ampliados, englobando também estudos fora de áreas reflorestadas, mas que forneçam bases para a conservação de ecossistemas tropicais. Os vários projetos são financiados pelas Agências Financiadoras e por parceiros como proprietários rurais, empresas e ONGs. Esses estudos se enquadram em sete temas principais: (1) restauração dos processos ecológicos, incluindo os de relação plantas-fauna (2) bio-indicadores do processo de restauração, (3) genética de populações vegetais, (4) fisiologia de espécies arbóreas, (5) efeito de mudanças climáticas sobre espécies vegetais, (6) efeito da fragmentação florestal sobre espécies-chave em ecossistemas florestais e (7) educação ambiental. Em 5 anos de funcionamento do CEEFLORUSP, os projetos de pesquisa geraram um volume expressivo de produtos, em termos de formação de recursos humanos e conhecimento científico. As atividades de pesquisa envolveram 74 pessoas, dentre coordenadores, jovens pesquisadores, pós-doutorandos, pós-graduandos, alunos de graduação e bolsistas de treinamento técnico. A contribuição na formação de recursos humanos é evidenciada pela evolução acadêmica dos alunos – a maioria continuou dentro do tema de pesquisa, passando da IC ao mestrado e ao doutorado. A geração de conhecimento científico é representada por 17 artigos publicados em periódicos científicos, 8 capítulos de livros, 61 resumos em congres-sos (sendo 22 em eventos internacionais), 13 teses de doutorado, 26 dissertações de mestrado e 21 projetos de iniciação científica. Neste trabalho será apresentada uma análise conjunta dos resultados das pesquisas realizadas neste período e a contribuição dada para a compreensão dos processos eco-lógicos envolvidos na restauração e preservação de ecossistemas.

Palvras-chave: CEEFLORUSP; pesquisas em restauração; formação de recursos hu-manos em restauração.

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CeeFLoRuSP - CentRo de eStudoS e extenSão FLoReStAL dA uSP/RP PRoGRAMA ReStAuRAR

Oliveira, Cleide1,2, Varanda, Elenice M2, Donadio, Nicole Maria Marson2, Gaioso, Luciana de Fátima2, Gimenez, Valéria Maria Melleiro 2 e Coelho, Natália Helena Pesso2

1. Fundação Florestal, SMA/SP; 2. CEEFLORUSP – Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP/RP,

Departamento de Biologia/FFCLRP, Ribeirão Preto, SP. [email protected]

Resumo: Dos problemas enfrentados para a restauração de áreas degradadas na região de Ribeirão Preto, destaca-se a presença de poucos remanescentes florestais para coleta de sementes e a falta de capacitação técnica resultando na utilização de mudas provenientes de outras bacias hidrográficas e com origem genética desconhecida. O Programa Restaurar, o CEEFLORUSP, em convênio com a Fundação Florestal e em parceria com ONG, proprietários rurais e outros setores da sociedade, tem como objetivo desenvolver projetos de recuperação com maior qualidade dos quais são destacados neste trabalho: 1. Instalação de viveiro-escola em Batatais; 2. Levantamento de Flora e Fauna, Fazenda Palmira e Ribeirão Claro, Serra Azul, para análise de possibilidades de manejo sustentável e formação de RPPN; 3. Restauração e análise de possibilidades de redução de custos de APP ciliar em sistemas consorciados; 4. Plano de manejo para controle de lianas em RL da

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Fazenda Retiro do Ipê; 5. Conexão Verde - recuperação de APP na ZA da EERP (Estação Ecológica de Ribeirão Preto); 6. Recuperação de RL do Assentamento Fazenda da Barra; 7. Plano de coleta de sementes no Banco Genético da Floresta da USP-RP. Foram desenvolvidos em parceria com: 1. Fundação José Lazzarini, 2. Antonio Titoto, 3. CMDR/CATI–PEMBH/ FF/ Fazenda Santa Esília, 4. Vila do Ipê Empreendimentos Ltda., 5. FF/Verde Tambaú, 6. Assentados da Fazenda da Barra e MP, 7. CCRP/USP. Algumas dificuldades têm sido encontradas no estabelecimento de parcerias como o fato do CEEFLORUSP, por decisão de seu Conselho, somente fazer parcerias com proprietários e/ou instituições que não apresentem pendências legais com os órgãos ambientais. Alguns interes-sados acreditam que a universidade deva promover a restauração de suas áreas sem ônus próprio recusando-se a considerar que a relação deve ser de parceria com objetivos de busca conjunta de alternativas para problemas ambientais e a formação de alunos. No entanto, nas parcerias estabele-cidas as metas para 5 anos eram: projetos previstos 4 - realizados 11, cursos previstos 3 - realizados 8, além do envio de trabalhos para Simpósios e afins e monografias que não estavam previstos mas foram realizados sendo enviados 15 resumos e 2 monografias. Quinzenalmente, também foram re-alizados seminários com temas relacionados à RAD. O sucesso do programa tem sido reconhecido o que pode ser aferido pela repercussão e crescente demanda regional, sendo o projeto de Batatais contemplado com o prêmio FIES (Fundo Itaú Excelência Social) 2009.

Palavras-chave: restauração de áreas degradadas, capacitação para RAD, parcerias para a restauração, CEEFLORUSP.

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IdentIFICAção de áReAS eStRAtéGICAS PARA ReStAuRAção PoR MeIo dA AnáLISe de PARâMetRoS dA PAISAGeM

Sartorello, Ricardo1, Assis, Júlia Camara1, Campos, Waldir Wagner1 e Furlan, Sueli Angelo1

1.Universidade de São Paulo, Departamento de Geografia, São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: A restauração ecológica pode ser alcançada por estratégias de restabeleci-mento da conectividade em paisagens fragmentadas. A restauração de ligações entre ambientes isolados permite a retomada de fluxos gênicos possibilitando a permanência de populações e a manutenção da diversidade biológica. A restauração é uma prática de longo prazo, com custos de monitoramento elevados e difícil estimativa de sucesso dos métodos aplicados. Nesse sentido, a identificação de áreas estratégicas para a restauração constitui uma ferramenta mais do que útil, necessária. Foi realizado um estudo na região sul da cidade de São Paulo, área onde estão sendo criados quatro Parques Naturais Municipais – Itaim, Jaceguava, Varginha e Bororé – como uma das medidas compensatórias da obra Rodoanel Mário Covas, Trecho Sul. Foram analisadas as potenciais áreas de ligação existentes entre os remanescentes florestais das futuras unidades de conservação e outros fragmentos maiores no entorno, zona de amortecimento. A análise levou em conta parâmetros da ecologia de paisagens, principalmente área, porcentagem de vegetação e proximidade. Utilizando como base um mapeamento de uso do solo - elaborado a partir de imagem de satélite Landsat de 2008 – foi calculada a porcentagem de vegetação (pland) em uma janela móvel (moving window) de 90 m. Esta métrica foi calculada no programa Fragstats 3.3. Este tipo de dado indica, principalmente no entorno de 90 m dos remanescentes, quais seriam as melhores áreas para o restabelecimento de conexões e a viabilidade considerando o contexto da proporção de vegetação nesses pontos de ligação. Por esses parâmetros, essas áreas são as mais relevantes para programas de restauração. Na sequência, foi identificada a viabilidade das ações de restauração de acordo com os usos adjacentes aos fragmentos, admitindo-se somente como usos compatíveis as classes de solo exposto, campo e reflorestamento. Este procedimento foi realizado no programa Arcgis 9.3. Como resultado, obteve--se um mapeamento das áreas onde podem ser restabelecidas conexões com outros fragmentos, com o melhor contexto em relação à cobertura da vegetação e com usos compatíveis com a ação de restauração. Tal seleção mostra-se estratégica do ponto de vista da eficácia ecológica, da viabilidade prática e da otimização da aplicação de recursos.

Palavras-chave: ecologia da paisagem, conectividade, unidades de conservação.

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o veRde novo: A ReStAuRAção ARBóReA no CAMPuS CentRAL dA ueRn CoMo PRátICA SuStentáveL PARA A CIdAdAnIA no SeMIáRIdo

Melo, Ismael Fernandes de¹, Camacho, Ramiro Gustavo Valera¹, Xavier, José Ivanaldo Dias¹, Araújo, Delvir da Silva¹, Alcântara Neto,

Antônio Queiroz¹, Ferreira Filho, Joilson Marques¹1.Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semiárido –

CEMAD/UERN, Mossoró, RN, Brasil. [email protected]

Resumo: As condições climáticas de grande parte do sertão semiárido nordestino apre-sentam ocorrência de secas estacionais e periódicas, baixa pluviosidade, elevada evapotranspiração e temperaturas médias acima de 30ºC, características que ocasionam desconforto térmico. Para mi-nimizar alguns desses efeitos, arborizam-se locais escassos de vegetação. Geralmente, as plantas escolhidas para arborizar são aquelas que reúnem capacidade de fornecer sombra e ornamentar a cidade. Para melhorar a arborização do Campus Central da UERN, a equipe do Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente – CEMAD/PROPEG está empenhada no desenvolvimento do pro-jeto de restauração arbórea e jardinagem para o Campus Central, em curto, médio e longo prazo, com o objetivo de ampliar a extensão das áreas verdes e consequentemente, melhorar a paisagem, proporcionar bem estar psicológico para transeuntes, melhorar a qualidade do ar e preservar a fauna silvestre. Para tanto, as áreas do Campus Central que necessitam de arborização foram levantadas por meio de fotografias aéreas e visitas de campo. Demarcaram-se os locais de estacionamento, abriram-se covas com as dimensões de 0,40 x 0,40 x 0,40 m, de acordo com as necessidades de expansão das copas das espécies plantadas. Após escavação, depositou-se quantidade aleatória de adubo orgânico e químico, cinco dias antes do plantio das mudas. Um levantamento florístico prévio indicou as espécies existentes e permitiu escolher quais seriam as plantas nativas e exóticas ade-quadas para preencher áreas vazias. As mudas foram adquiridas no horto da Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA e Prefeitura Municipal de Mossoró. Após plantá-las, foi preciso instalar gradis de madeira para proteção das mudas devido ao fluxo de pessoas e veículos no local. Para acompanhar o desenvolvimento das plantas, elaborou-se um calendário de monitoramento, com análise da sanidade das plantas e podas regulares. Passados cinco anos, como resultado parcial contabilizou-se, até o momento, 573 árvores plantadas, sendo 70% de espécies nativas e 30% de exóticas. Conclui-se, preliminarmente, a necessidade do plantio de mais árvores, de preferência nativas, devido à adaptação climática. Notou-se que árvores podadas de forma drástica tiveram seu crescimento comprometido e outras não sobreviveram à mutilação. É necessário intensificar a rega no período seco, fazer podas regulares e remover plantas que crescem em áreas inapropriadas.

Palavras-chave: arborização; plantas nativas; meio ambiente; plantas exóticas.

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IdentIFICAção MoLeCuLAR de eSPéCIeS de AnAdenAntheRA (MIMoSoIdeAe) AMPLAMente uSAdAS eM ReStAuRAção eCoLóGICA

Feres, Juliana Massimino1,2,4, Borges, Leonardo M.3, Mestriner, Antônio Moacyr2,4 e Alzate-Marin, Ana Lilia1,2,4

1.Programa de Pós-graduação em Genética, FMRP, Universidade de São Paulo; Departamento de

Genética, FMRP, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP; 3 Instituto de Biociências, Departamento de Botânica,

Universidade de São Paulo, São Paulo-SP; 4.Membros de CEEFLORUSP. [email protected]

Resumo: Anadenanthera Speg. é um gênero endêmico da América Latina e com-preende duas espécies (com duas variedades cada) popularmente conhecidas como “angico”: Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan e Anadenanthera peregrina (L.) Speg. São árvores colonizadoras, comuns na vegetação secundária, principalmente na fase de capoeirão, encon-tradas em altíssimas densidades formando os “angicais”. Usos medicinais, domésticos, comer-ciais, ecológicos, culturais, tradicionais e religiosos têm sido relatados com essas espécies. Do ponto de vista ecológico, essas espécies de angico foram enquadradas no grupo das secundárias (transição de secundária inicial para tardia), sendo recomendadas no Estado de São Paulo para fins de revegetação e recuperação de terrenos depauperados e erodidos, reposição de mata ci-

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liar em terrenos com inundação e em solos pobres e rasos. Porém, mesmo diante de tamanha importância, nos herbários e nas atividades de campo, essas espécies, bem como suas varieda-des, são frequentemente confundidas, já que os padrões de crescimento, folhas, flores, frutos e caules podem ser muito semelhantes. A diferenciação precisa entre as duas espécies vem com o exame detalhado de flores com botões: a presença de glândulas nas anteras diagnostica A. colubrina (Vell.) Brenan. Diante da dificuldade de identificação das espécies, objetivou-se com esse trabalho procurar marcas moleculares que auxiliem no diagnóstico rápido e preciso das espécies de Anadenanthera Speg. Para isso, foi analisado o DNA de 122 árvores de angico, previamente classificadas morfologicamente, com 20 marcadores moleculares microssatélites (SSR) desenvolvidos para o gênero e 5 marcadores RAPD. Dentre os marcadores SSR, os que mais se destacaram como possíveis marcas espécie-específica foram: Acol01 e Acol08 - por serem monomórficos nos indivíduos de A. colubrina (Vell.) Brenan e polimórficos nos indiví-duos de A. peregrina (L.) Speg. Também os marcadores Acol03 e Acol17 mostraram potencial importância por não apresentar produtos de amplificação em A. peregrina e o contrário em A. colubrina. Dentre os marcadores RAPD testados, nenhum forneceu uma região que demarcasse precisamente uma das espécies, sendo observada sobreposição dos produtos de amplificação. Portanto, o uso desses marcadores SSR tem grande potencial pois permitirá a identificação e o uso destas espécies em programas de produção de sementes e conservação ex situ da variabili-dade genética, auxiliando na revegetação de áreas degradadas, dada a sua vasta importância na paisagem natural brasileira. Além disso, as espécies de Anadenanthera Speg. possuem grande potencial para uso na industria farmacêutica, que exige precisão na identificação das espécies e variedades (FAPESP, CAPES, FAEPA e CNPq).

Palavras-chave: angico, identificação de espécies, marcadores moleculares.

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dInâMICA dA ChuvA de SeMenteS zooCóRICAS eM uMA áReA eM PRoCeSSo de ReStAuRAção FLoReStAL nA MAtA AtLântICA

Bellotto, A.1; Ramos, D.C.T.L.2; Silva, W.R.2; Ferraz, K.M.P.M.B.1

1. Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais – Conservação de Ecossistemas, USP- Escola

Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP; 2. Laboratório de Interações Vertebrados-Plantas, Departamento

de Biologia Animal, Instituto de Biologia, UNICAMP, SP. [email protected]

Resumo: Muitos aspectos da restauração de áreas degradadas estão sendo exaus-tivamente discutidos e testados, porém um dos maiores consensos refere-se à importância do restabelecimento da biodiversidade nessas áreas, envolvendo as diversas formas de vida vegetal, animal e suas interações. Neste aspecto, a dispersão de sementes desempenha papel importante no estabelecimento de uma floresta heterogênea com possibilidade real de estabilidade e de manutenção de boa diversidade, principalmente as espécies zoocóricas, já que a grande maioria das espécies arbóreas presentes nas florestas tropicais é dispersa por animais frugívoros. Assim, avaliações da disponibilidade de sementes e dos fatores que a determinam são fundamentais para antecipar a necessidade de intervenções adicionais nas áreas em recuperação, permitindo com isto a otimização no desenvolvimento da atividade restauradora. Neste projeto foi avaliada a dinâmica da chuva de sementes de espécies zoocóricas em uma área em processo de restau-ração florestal desde o período de 2001-2002, localizada na Fazenda Intermontes, próxima ao município de Ribeirão Grande (SP). Propágulos depositados em coletores foram retirados men-salmente pelo período de 1 ano. Foram utilizados 100 coletores de sementes, de 1 m x 1 m. Foi realizado um levantamento dos indivíduos arbóreos com perímetro à altura do peito (PAP) ≥ 15 cm, num raio de 5 metros no entorno de cada coletor de semente. O objetivo desta pesquisa foi verificar como está sendo o restabelecimento das interações dos agentes dispersores na área em questão, avaliando a contribuição destes animais nos processos de restauração da mesma. Até o momento foi registrado um total de 34.709 sementes de espécies zoocóricas pertencentes a 21 famílias e a 60 mosfoespécies.Verificou-se uma riqueza maior de espécies de hábito arbóreo, porém as espécies de hábito arbustivo foram bem representativas quanto à abundância encontra-da. As famílias que apresentaram as maiores abundâncias de sementes, respectivamente, foram: Melastomataceae, Solanaceae e Myrsinaceae. Quanto ao levantamento dos indivíduos arbóre-os adultos, constatou-se que 45,6 % das espécies levantadas apresentam frutos com síndrome

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de dispersão zoocórica. Os dados coletados estão sendo analisados com o intuito de avaliar a influência da estrutura e composição da vegetação arbórea na chuva de sementes zoocóricas, bem como a influência da estrutura da paisagem do entorno da área de estudo na dispersão de propágulos.

Palavras-chave: restauração florestal; dispersão zoocórica.

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ALteRnAtIvAS PARA ReStAuRAção eCoLóGICA de tReCho de MAtA AtLântICA no jARdIM BotânICo do RIo de jAneIRo

Melo1, Vinícius Andrade de, Cardoso, Pedro Rey de, Pereira1, Tânia Sampaio. 1.Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Diretoria de Pesquisas, RJ, Brasil,

[email protected]

Resumo: O plantio de mudas de espécies nativas e a semeadura direta são consi-deradas ferramentas importantes para o manejo e conservação dos ambientes degradados, tendo em vista a escassez de trabalhos sobre o tema, buscamos aqui fornecer subsídios para a avaliação de duas técnicas para restauração de um micro-ambiente degradado da Mata Atlântica em áreas urbanas. A área de estudo corresponde a um fragmento degradado de vegetação ciliar remanes-cente, situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, compreendido entre as coordenadas 22°57’ e 22°59’ de latitude sul e 43°13’ e 43°14’ de longitude oeste. O local do plantio está dentro da APP do Jardim Botânico do Rio de Janeiro-JBRJ, citado no Plano de Ordenamento de Ocupação e Integração das Áreas do JBRJ. Os métodos alternativos utilizados foram, o plantio de mudas de mata atlântica cultivadas em viveiro e transplantadas para a área em consórcio misto de espécies, e a semeadura direta de Piptadenia gonoachanta (Mart.) J.F.Macbr., em covas alternadas nas en-trelinhas do plantio das mudas. Censos foram realizados a cada três meses, quanto à sobrevivência e crescimento em altura, e diâmetro (D.A.S). Trinta e cinco espécies nativas de Mata Atlântica fo-ram utilizadas ao longo do projeto, vinte forneceram dados significativos. Apenas cinco espécies obtiveram índice de aproveitamento até 50%, oito espécies apresentaram sobrevivência entre 50% e 86%, e Campomanesia laurifolia Gardner, Ceiba speciosa (A.St.- Hil.) Ravenna, Cordia tri-chotoma (Vell.) Arrab. ex Steud., Inga laurina (Sw.) Willd., Machaerium nyctitans (Vell.) Benth., Andira anthelmia (Vell.) Benth. e Erythroxylum pulchrum A.St. - Hill. apresentam ótima adapta-ção com um aproveitamento de 100%. Apesar da baixa sobrevivência de P. gonoachanta (Mart.) J.F.Macbr. (3%), os indivíduos remanescentes apresentam excelente desenvolvimento, creden-ciando sua utilização em consórcios mistos, como pioneira típica. Sob ponto de vista de pesquisa e educação, áreas pequenas restauradas permitem a observação de uma grande gama de eventos que vão desde o crescimento das espécies à predação devido à maior facilidade para o monitoramento.

Palavras-chave: restauração ecológica, espécies nativas, floresta ciliar, Jardim Botâni-co do Rio de Janeiro.

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eStRutuRA dA PAISAGeM e A dIveRSIdAde de eSPéCIeS LenhoSAS eM CeRCAS-vIvAS eM FLoReStA AtLântICA eStACIonAL

Oliveira, Carolina de Cássia Cainelli¹, Cavalheiro, Alba Lúcia¹ e Torezan, José Marcelo D.¹

1. Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Centro de Ciências Biológicas (CCB)- Laboratório de

Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas (LABRE)- Londrina, PR. [email protected]

Resumo: Um dos problemas mais relevantes para a conservação da biodiversidade é a fragmentação de habitats naturais. Uma maneira de minimizar os impactos causados pela fragmen-tação é a presença de corredores interligando esses fragmentos, promovendo o fluxo de espécies entre eles. Cercas-vivas são estruturas lineares encontradas na paisagem rural que podem servir como corredor para espécies animais e vegetais. Este estudo teve o objetivo de investigar as relações entre a diversidade e características ecológicas de plantas lenhosas com as características da cerca-

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-viva (dimensões, idade e origem) e a estrutura da paisagem no entorno. Das espécies encontradas no total de cercas-vivas, a maioria apresentou síndrome de dispersão zoocórica e eram de grupos su-cessionais iniciais (pioneiras e secundárias iniciais- PI), como por exemplo, Schinus terebinthifolius Raddi, Tabernaemontana australis Müll. Arg., Zanthoxylum rhoifolium Lam. e Myrsine umbellata Mart. Em cercas mais estreitas a abundância total de espécies foi maior, provavelmente pela maior incidência de luz em seu interior que favorece o estabelecimento de espécies do grupo PI. O aumento da idade da cerca influenciou no aumento da riqueza total de espécies e cercas de origem espontânea tiveram relevância para aumento de espécies com síndrome de dispersão não zoocórica. A estrutura da paisagem no entorno imediato influenciou a vegetação lenhosa das cercas-vivas, sendo que a co-nexão da cerca com algum tipo de estrutura florestal (floresta madura ou em sucessão secundária) e a riqueza de manchas teve relação positiva com a abundância de espécies com síndrome de dispersão não zoocórica. O índice de proximidade (relaciona a área dos fragmentos florestais incluídos em um “raio de busca” e as distâncias, borda a borda, destes fragmentos à cerca-viva amostrada) apresentou relação positiva com abundância de espécies tardias e climácicas (TC) em 1 Km de raio de busca. A presença de cercas-vivas pode proporcionar uma maior diversidade estrutural na paisagem regional e na diversidade local, servindo de hábitat para espécies vegetais nativas e proporcionando recurso alimentar para a fauna em áreas extremamente fragmentadas.

Palavras-chave: ecologia da paisagem; fragmentação; regeneração; paisagem rural.

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ReGeneRAção nAtuRAL PóS-queIMA eM veGetAção SeCundáRIA nA ReGIão dA AMAzônIA LeGAL-MA

Rocha, Elys Regina Carvalho¹, Oliveira, Natália Nicolle Furtado Costa de², Santos, Auderes Watyson de Oliveira², Machado, Keneson Klay Gonçalves², Santos, Leandro Victor dos¹.

1.Universidade Estadual do Maranhão, Curso de Engenharia Agronômica, São Luís, MA, Brasil. 2.

Universidade Estadual do Maranhão, Mestrado de Agroecologia, São Luís, MA, Brasil. [email protected]

Resumo: O processo produtivo na área de estudo caracteriza-se, principalmente, pelo sistema de produção itinerante. Esse tipo de agricultura caracteriza-se pela produção de subsistência e pelo abandono da área produtiva, o pousio. O pousio, atualmente, dura geralmente de 3 a 6 anos e, nesse período se estabelecem os primeiros estágios serais do processo de sucessão secundária, as capo-eiras, que representam hoje, o tipo de vegetação mais comum nas áreas descritas. A idade das áreas de capoeiras cada vez mais baixa, tem como conseqüência, o declínio da produtividade agrícola causado pelo tempo insuficiente para que a capoeira acumule biomassa e nutrientes, e melhore a fertilidade do solo. Objetivou-se com esta pesquisa caracterizar a fitossociologia da vegetação secundária pós-quei-ma em capoeiras de idades distintas no Projeto de Assentamento São João do Rosário no município de Rosário, Maranhão. Foram selecionadas 6 unidades amostrais em áreas de vegetação secundária, capoeiras, com três, quatro, cinco, seis, sete, oito anos de pousio. O estudo fitossociológico foi reali-zado pelo método de quadrante, com a demarcação de 8 pontos sistemáticos por unidade amostral. A dimensão de cada unidade é 50m x 50m. Em cada quadrante foi demarcado um indivíduo, perfazendo o total de quatro indivíduos por ponto, com Diâmetro ao Nível do Solo (DNS) inferior a 5cm, determi-nado com auxílio de paquímetro. Os parâmetros fitossociológicos utilizados foram densidade, freqüên-cia, dominância, área basal, valor de importância e de cobertura, e índice de diversidade de Shannon e Weaver (H ‘). Foram identificados 288 indivíduos pertencentes a 22 famílias e 49 espécies. Do total de famílias apenas Fabaceae e Hypericaceae apareceram em todas as unidades. A unidade de 3 anos de pousio apresentou maior destaque, sendo identificadas 18 espécies pertencentes a 11 famílias e ainda, densidade total de 27951.62 ind/ha e a frequência total de 375. O Índice Shannon (H’) calculado para esta fitocenose foi de 2.694 nats/indivíduos. A espécie Gustavia augusta L estabeleceu o maior Valor de Importância e Cobertura da regeneração natural com VI = 19,95 % e VC = 21,76 %, sendo esta importante para o processo de sucessão e manutenção da fauna. A elaboração de estratégia com base na lógica de sucessão natural do ecossistema local e no modelo produtivo da região são condições para a conservação da diversidade e possibilitar o manejo destas áreas para fins agrícolas.

Palavras-chave: regeneração; capoeiras; pousio.

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CARACteRIzAção dA veGetAção PRIMáRIA nA áReA de ReSeRvA LeGAL PARA enRIqueCIMento de áReAS de veGetAção SeCundáRIA nA ReGIão de PRé-AMAzônIA, MA

Rocha, Elys Regina Carvalho¹, Oliveira, Natália Nicolle Furtado Costa de², Santos, Auderes Watyson Santos de Oliveira² e Machado, Keneson Klay Gonçalves², Oliveira,

Leonardo de Jesus Machado Gois de¹.1.Universidade Estadual do Maranhão, Curso de Engenharia Agronômica, São Luís, MA, Brasil. 2.

Universidade Estadual do Maranhão, Mestrado de Agroecologia, São Luís, MA, Brasil. [email protected]

Resumo: O P.A. São João do Rosário é composto atualmente por 429 famílias, enquan-to a área do assentamento tem capacidade de 240 famílias, que estão formalmente cadastradas junto ao INCRA, portanto, da área de 3.683,8112ha, estima-se que cada família terá somente uma área de uso de 8,59ha. Aliada a esta problemática o assentamento está localizado na área da Amazônia Legal, onde 80% da área total do P.A. deverá ser considerado como área de Reserva Legal e de Preservação Permanente, restando apenas 20% para o estabelecimento de sistemas produtivos tradicionais, de residência e de vias de acesso do mesmo. Grande parte da cobertura vegetal original foi convertida em vegetação secundária, formando um mosaico de vários estádios de desenvolvimento. A pesquisa objetivou aprofundar o conhecimento da vegetação primária para realizar correlações com o cresci-mento da vegetação secundária e as propriedades químicas do solo em diferentes estádios sucessio-nais no P. A. São João do Rosário no município de Rosário, MA. Foram selecionadas nove unidades amostrais, sendo três unidades de cada tempo de pousio de 20, 25, 46 anos. O estudo foi realizado pelo método de quadrante, com a demarcação de 8 pontos sistemáticos por unidade amostral. Em cada quadrante foram demarcados dois indivíduos, perfazendo o total de oito indivíduos por ponto, sendo 4 indivíduos adultos, com diâmetro à altura do peito maior ou igual a 5 cm, e 4 regenerantes, com diâmetro ao nível do solo inferior a 5 cm. Foram identificados 576 indivíduos, 70 espécies distribuídas em 22 famílias. As espécies que se destacaram com maior Valor de Importância (VI%) foram Attalea speciosa Mart. ex Spreng, Apeiba tibourbou Aubl., Inga cinnamonea Spruce ex Ben-th., Gustavia augusta L, Bocageopsis multiflora (Mart.) R.E.Fr, Guazuma ulmifolia Lam., Myrcia sp. As famílias mais ricas em espécies foram Fabaceae (9 espécies), Arecaceae (4), Lecythidaceae (4), Anacardiaceae (3), Apocynaceae (3). As famílias com maiores Valores de Importância (VI) e de Cobertura (VC): Arecaceae, Malvaceae, Fabaceae. O conhecimento florístico e fitossociológico nas áreas estudadas é de fundamental importância para o processo de enriquecimento das áreas de ve-getação secundária, através do plantio de espécies arbóreas florestais e frutíferas de valor comercial. O enriquecimento também se apresenta como uma alternativa de aproveitamento dessas áreas, uma vez que ajuda na recuperação do solo e na produção de produtos para a subsistência dos assentados.

Palavras-chave: Attalea speciosa, enriquecimento, fitossociologia, vegetação secundária.

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deteRMInAção do SuBStRAto MAIS AdequAdo Ao deSenvoLvIMento de MudAS de IPê CASCudo (tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & hook. f. ex S. Moore)

Teixeira, Ana Magalhães Cordeiro 1; Santos, Glaucia Regina 2; Lima, Paulo Henrique 3; Mariano, Elma Ayrão 4; Peres, Fernando Gama 5; Botelho, Soraya Alvarenga 6

1. Eng. Florestal SNC Lavalin Marte; 2. Graduanda Eng. Florestal UFLA; 3. Mestrando Agroecologia e

Desenvolvimento Rural UFSCAR; 4. Mestranda Eng. Florestal UFLA; 5. Gestor Ambiental Eletrobras Furnas; 6. Prof.

Dra. Dep. Ciências Florestais UFLA. [email protected]

Resumo: Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore é uma espécie decídua, heliófita, seletiva xerófita e característica de solos bem drenados do Cerrado. Conhecida popu-larmente como “ipê cascudo”, esta espécie, que pertence à família Bignoniaceae, é uma planta rústica e indicada para a restauração de áreas degradadas do bioma Cerrado. Estudos de desenvolvimento de mudas nativas são importantes por possibilitar o uso destas espécies na restauração de áreas degradadas. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo definir o melhor substrato para o desenvolvimento das mudas da referida espécie, em três tempos de avaliação. O experimento foi conduzido no viveiro da Usina Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto de Carvalho – Eletrobras Furnas, localizada no município de Pedregulho – SP, de novembro de 2010 a abril de 2011. Foram testados seis tipos de substrato: T1 =

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solo de cerrado peneirado; T2 = solo de cerrado peneirado, esterco e areia (1:1:1); T3 = solo de cerrado e esterco (3:1) + 2,0kg superfosfato simples por m³; T4 = substrato comercial, vermiculita e húmus (2:1:1); T5 = areia e substrato comercial (3:1) e T6 = substrato comercial + húmus + areia (3:1:1). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com 6 tratamentos e 4 repetições com 54 plantas por repetição. Para a análise estatística - análise de variância e teste Tukey (0,05) – utilizou-se o software SISVAR. Com o intuito de determinar o substrato mais adequado ao desenvolvimento do ipê cascudo, foram mensurados a altura, o diâmetro do coleto e o número de folhas das mudas. Os tempos de medição foram: 80, 110 e 140 dias após a semeadura. O tratamento T2 foi o que mais se destacou em altura, sendo as médias nos três períodos (80, 110 e 140 dias) respectivamente: 10,02cm; 13,69cm e 16,89cm. Quanto ao parâmetro diâmetro do coleto, os tratamentos T2 e T3 se destacaram com as maio-res médias. As médias de T2 e T3 nos três tempos de mensuração foram respectivamente: T2 = 0,34cm; 0,42cm e 0,50cm T3 = 0,32cm; 0,37cm e 0,49cm. Para o parâmetro número de folhas destacou-se com a maior média o tratamento T2. O número médio de folhas mensurado no tratamento T2 nos três períodos foi respectivamente: 7,14; 9,35 e 8,51. A partir dos resultados apresentados conclui-se que o tratamento T2, composto por solo de cerrado peneirado, esterco e areia (1:1:1), propiciou condições mais adequadas ao desenvolvimento das mudas de Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore (Eletrobras Furnas, SNC Lavalin Marte e Universidade Federal de Lavras).

Palavras-chaves: Cerrado; produção de mudas; restauração de áreas degradadas; semeadura.

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ReStAuRAção eCoLóGICA CoM BASe eM áReAS de PReSeRvAção PeRMAnente eM Função de RIoS e nASCenteS

Maia, Janaina Sant’Ana1, Meurer, Catarina Cristina Bárbara de Siqueira1,2, Tomazi, Aline Luiza1,3

1. Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas, Tijucas, SC, Brasil; 2. Programa de

Pós-Graduação em Ciências e Tecnologia Ambiental, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC, Brasil; 3. Programa de

Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.

[email protected]

Resumo: A ocupação humana em torno dos corpos hídricos continentais tem oca-sionado a degradação de bacias hidrográficas. A bacia hidrográfica constitui uma unidade básica da paisagem terrestre e do ciclo hidrológico, cuja preservação é fundamental para a manutenção da qualidade e disponibilidade hídrica. No entanto, a bacia hidrográfica não tem sido considerada como unidade elementar de planejamento em muitos programas de restauração ecológica. Neste trabalho, buscou-se subsidiar o planejamento de um programa de restauração ecológica na Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas, SC, Brasil, por meio da análise dos dados de transgressão ao código florestal brasileiro (Lei Nº. 4.771/65) das áreas de preservação permanente (APP) em função da hidrografia desta bacia. Para tal, foram analisados os mapas temáticos de transgressão ao código florestal a partir do processamento de dados cartográficos e de imagens de satélite com resolução espacial de 30 m e escala de 1:50.000, comparativos para os anos de 1985 e 2006. Foram conside-radas como APP 30 m para cada margem de rio (todos os rios dessa bacia possuem largura menor que 100 m) e 50 m ao redor das nascentes. A Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas possui 3.000 km2, destes, 526,67 km2 são APPs em função da hidrografia. As APPs em nascentes e rios que se encontravam em transgressão ao código florestal brasileiro diminuíram, passando de 253,97 km2

em 1985 para 197,89 km2 em 2006. No entanto, 37,57 % das APPs em nascentes e rios da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas ainda se encontram degradadas. Considerando os resultados das APPs em rios e nascentes aqui apresentados, iniciou-se o planejamento de um programa de restaura-ção ecológica dessas áreas tendo por base a bacia hidrográfica em questão, no qual se elaborou um Pacto Pela Restauração da Mata Ciliar, apresentado no 1º Seminário sobre a Mata Ciliar do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas. Neste contexto, concluiu-se que os esforços de res-tauração devem ser priorizados nas cabeceiras dos rios, as quais tendem a ser mais dependentes da vegetação ripária. Por fim, salienta-se o potencial do comitê de bacia hidrográfica local em ala-vancar este processo, visto tratar-se de uma instância de gerenciamento hídrico local, cuja atuação deve pautar-se na participação social (Lei Nº. 9.433/97).

Palavras-chave: restauração de áreas degradadas; bacia hidrográfica; planejamento; comitê de bacia hidrográfica.

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FeRRAMentA WeB de IndICAção de eSPéCIeS PARA PRojetoS de ReCuPeRAção FLoReStAL no eStAdo de São PAuLo

Drugowich, Mario Ivo1, Guardia, Marina Crestana2, Camargo, Clélia Maria M.1, Crestana, Marcelo de Souza Machado1, Roque, Antoniane Arantes de Oliveira1, Gomes,

Cristina Carvalho1 e Freitas, Escolástica Ramos de1

1. Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI, Campinas, SP, Brasil. 2. Instituto de Botânica -

IBT, São Paulo, SP, Brasil. [email protected]

Resumo: O Estado de São Paulo, no último século, desmatou a grande maioria de sua vegetação nativa, em grande parte devido às pressões exercidas pelo crescimento urbano e industrial sobre a área rural e seus recursos. Porém na última década, conforme constatações de diferentes órgãos da administração pública, a cobertura vegetal natural vem crescendo, em grande parte devido ao aumento da consciência ecológica da população e do cerceamento das leis de uso do solo. Tal crescimento deve-se a diferentes ações e projetos de recuperação de áreas desmatadas. O objetivo do presente estudo é criar uma ferramenta de suporte à comunidade envolvida em tais projetos, apresentando uma lista de espécies vegetais indicadas às diferentes regiões do Estado, aumentando-se assim a riqueza da biodiversidade nas áreas recuperadas. A metodologia utilizada foi a realização da justaposição dos mapas de biomas (Minis-tério do Meio Ambiente), hipsometria (CATI a partir do MDE do sensor ASTER), fisionomias florestais (Projeto Biota/Fapesp), classificação climática de Köppen-Geiger e agrupamentos de solos (modificado de IAC/EMBRAPA), com vistas a geoespacialização de feições com características semelhantes, utili-zando-se do software ArcGIS 9.3 para o processamento das informações e do pacote ArcGIS Server para a preparação da interface web. O cruzamento efetuado resultou na obtenção de 345 feições (polígonos com características semelhantes), às quais foi atribuída uma lista de espécies por classes sucessionais e in-serção na topossequência, com o suporte de indicações de 68 trabalhos acadêmicos de diferentes autores de diversas instituições paulistas, aliadas às espécies indicadas pela resolução SMA 08/08 e suas regiões ecológicas. O mapa resultante do cruzamento permite uma melhor definição de áreas com características similares, melhorando assim o detalhamento de espécies mais indicadas para as particularidades de cada região. A ferramenta web, ainda em fase de confecção, permitirá que o usuário, de posse de sua coorde-nada geográfica obtenha uma lista com ampla diversidade de espécies, tendo contidas as indicadas pela resolução estadual. O aumento de espécies indicadas por meio do presente trabalho possibilitará uma maior gama de opções por variedades nas áreas a serem recuperadas, aumentando-se assim a diversidade da flora local, mantendo-se a obrigatoriedade estabelecida em lei e sendo mais específica tanto em âmbito regional como local, com a averiguação pontual das recomendações.

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas, fitogeografia, SIG, banco de dados.

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CRItéRIoS SIMPLIFICAdoS PARA A AvALIAção do PotenCIAL de ContAMInAção BIoLóGICA eM áReAS de PRoteção AGRICoLA

Peche Filho, Afonso1, Fengler, Felipe Hashimoto2 Storino, Moises1, Freitas, Eduardo Pretto5.

1.Pesquisador científico - Centro de Engenharia e Automação – IAC, Jundiaí, SP; 2. Engenharia Ambiental

– UNESP Sorocaba; 3. Mestrando – IAC, Campinas, SP. [email protected]

Resumo: A contaminação biológica em áreas de preservação permanente, fragmentos flo-restais e áreas da reserva legal são constantes no meio rural brasileiro. Esse fato é passivamente aceito pela comunidade e poucas são as iniciativas de minimizar ou eliminar esse problema. O trabalho mostra uma iniciativa do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico em disponibilizar elementos e ferramentas para uma ação mais efetiva dos profissionais envolvidos com a agricultura. Para a realização do trabalho piloto foi escolhida uma imagem de ocupação agrícola na região de Pirassununga SP, nas coordenadas 22°02’37’’ S e 47°29’17’’ O. Foi utilizado o programa Google Earth para a obtenção da ima-gem de referência e o programa ILWIS, versão 3.7, para seu processamento e análise. Foi estabelecido um polígono que abrange a região estudada totalizando 46 ha. Para o estabelecimento dos limites do po-lígono foram utilizados como critério os limites das vertentes. Com a utilização do SIG e da interpretação da imagem foi identificado um fragmento florestal de 13,2 ha e 3 km de perímetro. Para a determinação

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do potencial de contaminação biológica no fragmento florestal foram analisadas áreas úmidas, pastagens, áreas agrícolas e estradas. Dividiu-se a região estudada em quadrantes, sendo cada um analisado separa-damente; iniciando pelo quadrante superior esquerdo denominado de um e seguindo no sentido horário. O potencial de contaminação foi determinado de acordo com a soma dos elementos de contaminantes, sendo classificados em: potencial muito alto, potencial alto, potencial moderado, potencial baixo e poten-cial muito baixo. No perímetro do fragmento florestal foram selecionados 20 pontos espaçados a 150 m, sendo a análise iniciada no ponto de coordenadas 22°02’32’’ S e 47°29’25’’ O, seguindo o sentido horário até retornar ao ponto de partida. Foi possível elencar como elementos contaminantes; plantas exóticas, moluscos exóticos, peixes exóticos, répteis, insetos, aves, roedores e animais domésticos além de pragas e agentes patogênicos agrícolas. Para a determinação dos elementos de contaminação foi estabelecido um raio de influência de 50 m ao redor de cada ponto. Os resultados mostraram que o 1° 2° e 3° quadrantes apresentam potencial de contaminação alto, e o 4° quadrante potencial moderado. A análise do perímetro do fragmento apresentou uma taxa de ocorrência de elementos com potencial de contaminação de 0,4, desta forma a cada 400 m do perímetro observa-se elevada probabilidade de ocorrência de pontos com mais de 13 elementos com potencial de contaminação biológica. Com base nos resultados foi possível concluir que a metodologia empregada permitiu avaliar o potencial de contaminação de áreas de proteção ambiental próximas de exploração citrícola.

Palavras-chave: ambientes de produção, restauração ambiental, gestão ambiental, agroecologia.

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Realização:

Jardim Botânico de São Paulo e Instituto de Botânica de São Paulo

9 788575 230374

ISBN 978-85-7523-037-4

Coord. Luiz Mauro BarbosaCERAD – Instituto de Botânica de São Paulo

IV Simpósio de Restauração Ecológica

Desafios Atuais e Futuros

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