ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em...

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RSADE FEDER DO RIO DE JANEO '" "J , " CERO DE CNCIAS ICAS E ECONOCAS COPPEAD ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA PETROBRAS EM AMBIENTE CONCORRENCIAL E COO BBO Mesado em Ainistração Orientador: Edudo Siby Rio de Jeiro 1996

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

' " "J , " CENTRO DE CIENCIAS JURIDICAS E ECONOMICAS

COPPEAD

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA PETROBRAS

EM AMBIENTE CONCORRENCIAL

ALEXANDRE COUTINHO BARBOZA

Mestrado em Administração

Orientador: Eduardo Saliby

Rio de Janeiro

1996

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ii

ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFJNO NA PETROBRAS

EM AMBIENTE CONCORRENCIAL

ALEXANDRE COUT�OBARBOZA

Tese submetida ao corpo docente do COPPEAD/UFRJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

pr�AÊd�;� �h.D. - Presidente da Banca

Prof. Armando Castelar Pinheiro, Ph.D.

, Ph.D.

Rio de Janeiro

1996

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r

Barboza, Alexandre Coutinho. Análise de Investimentos em Refino na Petrobras

em Ambiente Concorrencial/Alexandre Coutinho Barboza. Rio de Janeiro: COPPEAD, 1996.

xi, 129p. il. Dissertação - Universidade Federal do

Rio de Janeiro, COPPEAD. 1. Análise de Investimentos 2. Programação Linear 3. Tese (Mestr. - COPPEAD/UFRJ). l. Título

ili

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A

Rosane, minha esposa e principal incentivadora, e

Victor, meu querido filho.

IV

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v

AGRADECIMENTOS

Ao Serviço de Planejamento da Petrobras pela liberação para o mestrado e

pela oportunidade de desenvolver o tema desta dissertação.

Ao economista Laércio do Prado Freires pelas diversas criticas e sugestões

apresentadas ao longo de todo o trabalho.

Ao engenheiro João Alberto Vieira Santos pelo apOio e incentivo à

abordagem do tema, criticas e sugestões ao trabalho e auxílio na elaboração do

exemplo apresentado.

Ao professor Eduardo Saliby pela orientação prestada.

Aos diversos colegas da Petrobras pelo incentivo e contribuição para a

realização deste trabalho, através de valiosas discussões e sugestões.

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VI

Resumo de Tese Apresentada ao COPPEADIUFRJ como Parte dos Requisitos

Necessários à Obtenção do Grau de Mestre em Ciências (MSc.)

Análise de Investimentos em Refino na Petrobras em Ambiente Concorrencial

ALEXANDRE COUTINHO BARBOZA

Dezembro de 1996

Orientador: Prof. Eduardo Saliby

Programa: Administração

A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas unidades de processo, a interface, do refino com as demais atividades da indústria, como produção, transporte e comercialização de petróleo e derivados, e que contemple a forma de inserção da empresa em seu ambiente de atuação.

A Petrobras dispÕe de modelo matemático em programação linear para auxiliar no processo de seleção da carteira de investimentos em refino. Concebido sob enfoque monopolista, o modelo sofreu várias alterações ao longo dos anos para refletir mudanças nos ambientes externo e interno à empresa, mantendo sua formulação coerente com a atribuição constitucional conferida à empresa de executar, com exclusividade, o monopólio da União nas atividades da indústria petrolífera nacional.

A recente aprovação da abertura do setor petrolífero brasileiro modificará as características do mercado e a forma de inserção da empresa no setor, exigindo que a Petrobras concorra com outras empresas para o abastecimento nacional. Com base na discussão da tendência de configuração de mercado no setor e na avaliação de suas implicações para a Petrobras, este trabalho identifica as mudanças necessárias ao modelo de planejamento de investimentos em refino para que continue sendo instrumento de apoio à escolha de projetos no novo ambiente que se anunCIa.

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F

, ,

Abstract of Thesis Presented to COPPEAD/UFRJ as Partial Fulfillment for the Degree ofMaster of Science (M.Sc.)

Análise de Investimentos em Refino na Petrobras em Ambiente Concorrencial

ALEXANDRE COUTINHO BARBOZA

Chainnan: Prof. Eduardo Saliby

Department: Administration

vii

The investment appraisa! of oi! refinery projects requires an approach which considers the interdependence of several process units, the interface between refining and other industry activities, such as production, transportation and marketing of oi! and its by-products, and which allows for the marketing environment of the company under analysis.

Petrobras uses a linear programming model to support the selection of refining projects from its large portfolio. Conceived under the monopolistic approach, this model has been passing through several modifications to retlect changes in the internal and external environments, maintaining its formulation coherent with the constitutional assignment of sole responsibility for the Brazilian oil industry activities given to the company.

The recent approval of an amendement in the Brazilian Congress, which opens up the oil sector to other domestic and foreign companies, will change the market characteristics and the manner in which the company will operate within the sector, bringing new challenges to Petrobras. Based on discussions of markef configuration trends and on the evaluation of its imp!ications to Petrobras, this work identifies the necessary modifications to the refining investment planning model for its continuation as an etfective tool which facilitates the refining project selection in the emergent environment.

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LISTA DE FIGURAS

I Página

• I

1 Indicadores Físicos Petrobras 25

2 Investimentos por Segmento de Atividade 28

3 Esquema Básico de Refino 36

4 Localização e Capacidade das Refinarias da Petrobras 39

5 Processo de Planejamento 62

6 Metodologia de Seleção de Projetos com Utilização do Planinv 64

7 Dados de Entrada do Planinv 66

8 Relatório de Saída do Planinv 67

9 Abordagem de Planejamento com a Utilização do Planinv 98

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LISTA DE TABELAS

Página

1 Distribuição Geográfica de Reservas, Produção e Consumo de Petróleo 8

2 Reservas de Petróleo e Capacidade de Refino de Empresas Selecionadas 1 4

3 Investimentos em Refino por Tipo de Unidade 1 07

4 Mercado não-Rentável por Produto Segundo Níveis de Preços 1 08

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x

sUMÁRIo

Página

I INTRODUÇÃO 1

2 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO 6

2. 1 Importância nas Economias 6 2.2 Algumas Definições 7 2.3 Detenninantl::s da Competitividade 1 0 2.4 Principais Atores 1 2 2.5 Organização Industrial 1 6

3 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NO BRASil- 2 1

3.1 Antecedentes à Criação da Petrobras 2 1 3.2 Petrobras e o Desenvolvimento do Setor 22 3.3 Situação Atual e Perspectivas da Petrobras 3 1

4 REFINAÇÃO DE PETRÓLEO 33

4. 1 Características da Matéria-Prima 33 4.2 Tipos de Unidades de Processamento 35 4.3 Investimentos em Refino 3 8 4.4 Situação do Refino no Mundo 44

5 MODELO DE PLANEJAMENTO DE INVESTIMENTOS 48 NA ÓTICA MONOPOLISTA

5. 1 Características da Programação Linear 48 5.2 Histórico do Modelo 52 5.3 Análise do Desenvolvimento do Modelo 59 5.4 Inserção Atual do Modelo na Atividade de Planejamento 60 5.5 Descrição do Modelo na ótica Monopolista 63 5.5. 1 Formulação 68 5.5.2 Coleta de Dados 71 5.5.3 Obtenção da Solução e Análise de Sensibilidade 72 5.5.4 Implementação da Solução 73

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Xl

Página

6 ABERTURA DO SETOR PETROLÍFERO BRASILEIRO 74

6. 1 Contexto da Abertura 74 6.2 Processo de Abertura 76 6.3 Tendências de Configuração do Setor 78 6.4 Abertura e Novos Investimentos 8 1

7 MODELO DE PLANEJAMENTO DE INVESTIMENTOS 85 NA ÓTICA CONCORRENCIAL

7. 1 Abertura e Planejamento de Investimentos em Refino 86 7. 1 . 1 Papel da Empresa 86 7.1.2 Demanda 88 7. 1.3 Receita e Preços 91 7. 1.4 Disponibilidade de Recursos para Investimento 93 7. 1.5 Projetos de Investimento

, 93

7.2 Adaptação do Modelo à Otica Concorrencial 94 7.2. 1 Variáveis de Decisão 94 7.2.2 Função-Objetivo 95 7.2.3 Restrições e Parâmetros 96 7.3 Abordagem de Planejamento com o Modelo 97 7.4 Abastecimento Nacional 99

8 APLICAÇÃO DO MODELO DE PLANEJAMENTO 1 02 DE INVESTIMENTOS

8. 1 Definição do Exemplo 1 02 8.2 Apresentação e Análise dos Resultados lOS 8.3 Algumas Conclusões 1 1 2

9 CONCLUSÃO 1 1 5

BIBLIOGRAFIA 120

ANEXO - Simplificação das Mudanças no Modelo 126

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1 INTRODUÇÃO

1

A economia brasileira vem passando por profundas transfonnaçôes nos

últimos anos, envolvendo mudanças relacionadas à fonna de inserção do pais no

contexto internacional e ao papel do Estado nas atividades econômicas.

Principalmente a partir do início dos anos 90, os governos vêm promovendo a

abertura de segmentos industriais à competição externa, retirando o Estado,

enquanto agente produtor de bens e serviços, de alguns setores e revendo

monopólios em áreas controladas durante longo periodo por empresas estatais.

o setor petrolífero nacional não constitui exceção. A aprovação, em

Novembro, de 1995, de emenda constitucional que pennite a participação de outras

empresas no pais, além da representante estatal, carrega a semente de modificações

intensas na estrutura de mercado e na fonna de inserção da Petrobras no setor. A

empresa deixará de deter exclusividade de atuação nas atividades relacionadas à

indústria do petróleo, tendo que concorrer com outras empresas na execução do

monopólio da União nas atividades de exploração, produção, transporte, refinação

e comercialização de petróleo e derivados 1 .

Essas mudanças no ambiente externo à empresa exigem, entre outras

questões, a reavaliação de instrumentos de apoio à tomada de decisão, inclusive do

modelo matemático de que a Petrobras dispõe para auxiliar na avaliação de

investimentos em refmo. Concebido sob enfoque monopolista, esse modelo vem

auxiliando os gerentes da Petrobras, há vários anos, na seleção da carteira de

projetos que proporcione os menores custos de abastecimento nacional de

I Além do segmento de distribuição, que permanecerá sob configuração concorrencial.

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derivados de petróleo, coerente com a atribuição constitucional conferida à

empresa de executar o monopólio nas atividades da indústria petrolífera nacional.

A abertura do setor petrolífero à participação de outras empresas força a

Petrobras a reavaliar sua sistemática de atuação e de planejamento, exigindo

também a revisão desse modelo de suporte à decisão. Assim, coloca-se a seguinte

questão: quais as alterações necessárias ao modelo sob enfoque monopolista para

que continue sendo ferramenta útil de apoio à atividade de planejamento de

investimentos em refino, diante da nova configuração institucional que se forma e

da estrutura de mercado que se desenha?

Apesar de a discussão acerca da regulamentação ainda estar em curso,

existem indicações suficientes quanto à configuração futura do setor petrolífero

que permitem propor uma nova abordagem, com base em mudanças no modelo

existente e no processo de planejamento, de forma a auxiliar os tomadores de

decisão da empresa na escolha de projetos de investimento em ambiente

concorrencial.

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho reside em avaliar as implicações

da abertura do setor petrolífero nacional sobre a atividade de planejamento de

investimentos em unidades de refino na Petrobras. Após a identificação das

implicações dessa mudança institucional para a empresa, discutem-se as alterações

no modelo de programação linear usado como suporte às decisões de investimento.

na área de refino, a fim de ajustá-lo ao ambiente concorrencial, e apresenta-se

abordagem de planejamento com base na utilização do modelo na fase de escolha

de estratégias, em complemento à sua utilização já difundida na etapa de seleção de

projetos.

Assim, após esta introdução, o capítulo 2 revê as principais caracteristicas

da indústria do petróleo, como a diversidade e a dispersão geográfica de atividades,

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os elevados investimentos com longo prazo de maturação, a tendência ao

crescimento do porte da empresa e a busca da integração vertical. Discute, também,

os determinantes da competitividade na indústria e seus principais atores.

o capítulo 3 analisa o caso da indústria no Brasil, cujo desenvolvimento

ocorreu sobretudo sob monopólio estatal. Descreve os principais investimentos

realizados pela Petrobras ao longo de sua existência, de forma a compreender a

situação atual da empresa, que se configura como verticalmente integrada, com

presença marcante em todas as fases da indústria em território nacional e atuando

em amplo mercado de derivados de petróleo.

o capítulo 4 apresenta os principais tipos de UlÚdades de processo

existentes em refmarias de petróleo e discute os aspectos econômicos relevantes à

análise de projetos em refmo. Enfatiza a necessidade de analisar esses

investimentos de forma integrada às demais atividades da indústria, dada a

sensibilidade desses projetos a fatores como o tipo de petróleo processado, a

magnitude e o perfil da demanda de derivados, a disponibilidade e o custo de

transporte de matéria-prima e de produtos entre centros de produção e de consumo,

as exigências de qualidade, bem como as UlÚdades de processamento já existentes

nas refmarias.

o capítulo 5 resume, inicialmente, as principais características da

programação linear, técnica de pesquisa operacional utilizada na representação do

sistema de abastecimento de derivados de petróleo retratada no modelo. Em

seguida, apresenta breve histórico do modelo matemático sob a ótica monopolista e

sua inserção na atividade de planejamento da Petrobras, de forma a permitir avaliar

sua constante revisão à luz das mudanças nos ambientes interno e externo à

empresa. Descreve, por fim, a formulação do modelo, apresentando sua função­

objetivo, principais restrições, dados de entrada e conteúdo dos relatórios de saída.

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o capítulo 6 apresenta o contexto e o processo de abertura do setor

petrolífero brasileiro, discutindo sua tendência de configuração e as possibilidades

de investimento tanto para a Petrobras quanto para outras empresas. A análise

concentra-se nos impactos da abertura sobre os investimentos na atividade de

refmação, a fim de avaliar as mudanças necessárias ao modelo de apoio à seleção

de projetos de investimento em refino.

o capítulo 7 aborda as conseqüências da abertura do setor petrolífero

nacional sobre o papel da empresa, a demanda a ser atendida, a receita e os preços

dos produtos, a disponibilidade de recursos e os projetos de investimento. A partir

daí, propõem-se alterações à formulação do modelo que permitam ajustá-lo à ótica

concorrencial, envolvendo mudanças na função-objetivo e em algumas restrições.

Em seguida, discute-se sua utilidade nas fases estratégica e tática do processo de

planejamento, em que o modelo pode ser utilizado como instrumento de apoio na

avaliação e seleção de estratégias e, dado um curso de ação definido, auxiliar na

seleção de projetos de investimento em retino.

o capítulo 8 ilustra a utilização do modelo, comparando seus resultados sob

a ótica monopolista àqueles obtidos segundo a ótica concorrencial. A partir de

quatro corridas, em que se adotam diferentes premissas de preços de derivados e

mercado a ser atendido, avaliam-se as conseqüências sobre a rentabilidade de

mercados e sobre o montante e tipo de investimento selecionado.

o capítulo 9 apresenta as conclusões do trabalho, abordando questões

relacionadas às características do problema em estudo, à necessidade de constante

revisão de modelos, à forma de utilização do Modelo de Planejamento de

Investimentos na Petrobras e à tendência de preços e de atendimento a mercados no

ambiente concorrencial. Comenta-se, também, acerca da possível utilidade de uma

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variante do modelo apresentado no capítulo 5 para auxiliar o futuro órgão

regulador da indústria petrolífera no desempenho de parte de suas atribuições.

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2 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

2.1 Importância nas Economias

6

No século xx, o crescimento econômico da maioria dos países baseou-se

no uso intensivo de hidrocarbonetos2, em especial do petróleo. Atualmente,

utilizam-se seus derivados como combustível em várias modalidades de transporte,

matéria-prima para setores industriaís, insumo para as petroquimicas e energético

para cocção, entre outras aplicações. Como conseqüência, o petróleo tomou-se

uma das fontes de energia primárias mais utilizadas no mundo e, de acordo com a

Agência Internacional de Energia, continuará desempenhando papel central no

suprimento da energia necessária ao crescimento das economias pelo menos nos

próximos vinte ou trinta anos.

A multiplicidade de usos dos derivados de petróleo demonstra sua

importância para as atividades econômicas não apenas como energético, mas

também como fator determinante na formação de preços de outros setores da

economia. Assim, vários países promovem a regulamentação do setor petrolífero e,

em alguns casos, governos adotam mecanismos de fixação ou controle de preços,

refletindo preocupação com a competitividade de outras indústrias.

2 Compostos orgânicos contendo hidrogênio e carbono, tais como petróleo, gás natural e carvão.

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7

o desenvolvimento da indústria do petróleo no mundo revela muitas facetas

do relacionamento entre empresas e países3• As guerras entre nações envolvendo

esse recurso natural, a competição e os acordos entre empresas e países na disputa

por mercados e a recorrente intervenção de governos fazem do petróleo um bem

com valor estratégic04•

2.2 Algumas Definições

o petróleo é um recurso natural não-renovável desigualmente distribuído

entre as nações, sendo abundante em algumas regiões de baixo consumo e

relativamente escasso em países grandes consumidores, como pode ser visto na

Tabela 1 . O Oriente Médio concentra 65% das reservas mundiaís, enquanto que

produz 29% e consome apenas 6% do total mundial. Pela diferença entre o nível de

produção e, consumo da região, nota-se que se constitui em grande exportadora de

petróleo. Os grandes consumidores são os países da América do Norte, Europa

Ocidental e o Japão, que importam parcelas substanciaís da matéria-prima, além da

ex-URSS.

A indústria do petróleo compreende uma série de atividades e uma ampla

diversidade de processos produtivos, desde a procura de petróleo e gás natural até a

venda de seus derivados aos diferentes consumidores. Nas fases de produção e

refmo, adota processo contínuo, sendo intensiva em capital e escala.

3 Uma abordagem histórica da indústria do petróleo, contemplando seus fimdadores, o surgimento das grandes corporações, a participação de governos, as nacionalizações de empresas e OS conflitos pode ser encontrada em Yergin (1994). • Apesar de contar, como várias commodities, com mercados spot, a termo e de opções, outros fatores, além dos puramente econômicos, influenciam na definição dos preços do petróleo. Para uma discussão das variáveis pollticas internacionais, regionais e nacionais envolvidas, ver Ayoub (1993).

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TABELA 1 �

DISTRIBUiÇÃO GEOGRÁFICA DE RESERVAS, PRODUÇÃO E CONSUMO DE PETRÓLEO (DADOS DE 1994)

RESERVAS % PRODUÇÃO % CONSUMO % (a) (b) (c) (b) (c) (b)

América do Norte 37,8 3,7 10637 1 6,2 1 9.309 28,5

América Latina 1 30,5 1 2,9 8323 12,7 5.660 8,3

Europa Ocidental 1 7,1 1 ,7 5957 9,1 1 3.667 20,2

Europa Oriental 2,2 0,2 295 0,4 1 .317 1 ,9 Oriente Médio 660,3 65,3 1 9082 29,0 3.822 5,6 Africa 62,2 6 ,1 6874 10,5 2.543 3,8 Asia 42,5 4,2 6331 9,6 15.734 23,2 Oceania 2,0 0,2 749 1 , 1 925 1,4

ex-URSS 57,0 5,6 7447 1 1 ,3 4.820 7 , 1

TOTAL 1 0 1 1 ,6 1 00,0 65695 1 00,0 67.797 1 00,0

Brasil 4,1 0,4 693 1 , 1 1 .359 2,0

OPEP 766,4 75,8 26475 40,3

Fontes: Oil&Energy Trends, Annual Statistical Review, Maio d e 1995 e Petrobras.

(a) Bilhões de barris (b) Porcentagem sobre o total (c) Mil barris/dia

00

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9

As atividades da indústria podem ser descritas em diferentes etapas. A

responsabilidade de indicar áreas de prováveis acwnulações de petróleo e gás

natural cabe à exploração, que a partir de métodos potenciais e sísmicos determina

os locais em que exista chance de wna perfuração bem sucedida. Em seguida, a

atividade de perfuração verifica a existência de hidrocarbonetos. Em caso de

sucesso, prosseguem as perfurações para delimitar o campo encontrado. Quando o

volwne, a qualidade e as condições econômicas justificam o empreendimento,

realizam-se investimentos para pôr o campo em produção.

o petróleo e o gás natural extraídos dos campos de produção são

transportados, através de dutos e navios, às refinarias de petróleo e às unidades de

processamento de gás natural (upGN). Nas refmarias, o petróleo é processado em

unidades de destilação, conversão e tratamento, obtendo-se os diferentes derivados,

como gás de cozinha (GLP), nafta petroquimica, querosene de aviação, óleo diesel,

gasolina, óleo combustível, coque, asfalto e vários produtos especiais, como

lubrificantes e parafinas. Nas UPGNs, o gás natural rico é processado, separando­

se as frações líquidas, como nafta e GLP, do gás natural residual.

Em seguida ao processamento nas refinarias e UPGNs, os produtos são

escoados às bases de distribuição, terminais e a alguns grandes consumidores, por

meio de várias modalidades de transporte, como dutoviária, rodoviária, ferroviária,

maritima, fluvial e lacustre, de forma a atender à demanda de consumidores

intennediários, como centrais petroquimicas e tennelétricas, e de companhias

distribuidoras, que os colocam à disposição de wna gama variada de consumidores

finais.

De fonna simplificada, a cadeia produtiva da indústria petrolffera pode ser

dividida em dois grandes segmentos. Exploração, perfuração e produção fonnam o

upstream, enquanto que transporte, refino e distribuição constituem o downstream.

Analisando a indústria, destacam-se a grande disparidade tecnológica entre as

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10

atividades, a diversidade de qualificações exigidas da mão-de-obra e os diferentes

níveis de incerteza e risco entre os segmentos upstream e downstream. De comum,

os elevados investimentos com longo prazo de maturação, a dispersão geográfica

de instalações industriais e de mercados consumidores e a interligação com vários

outros setores industriais enquanto fornecedores e consumidores de bens e

serviços.

2.3 Determinantes da Competitividade

Vários aspectos influenciam a capacidade competitiva de empresas

presentes no setor petrolífero. Porém, os determinantes da competitividade na

indústria podem ser analisados à luz de três conjuntos de fatores (Eem, 1993):

internos à empresa; estruturais; e sistêmicos.

o porte da empresa destaca-se como o fator mais importante entre os

inerentes à empresa. As atividades de upstream possuem grande incerteza e risco,

demandando capacidade financeira da empresa para sustentar perdas em certos

períodos e regiões até obter resultados satisfatórios, além do tempo necessário para

transformar descobertas de hidrocarbonetos em entradas efetivas de caixa.

o downstream, apesar de menos arriscado, requer logística complexa de

transporte e armazenamento específica ao petróleo. Enquanto bem líquido, não

pode compartilhar instalações com outras mercadorias, exigindo investimentos

específicos para seu transporte e armazenamento. A construção de refinarias e as

ampliações de plantas industriais existentes são efetuadas normalmente em blocos

de investimentos, viáveis economicamente a partir de escalas mínimas de

processamento, de forma a produzir derivados a baixos custos unitários.

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Ainda na ótica microeconômica, os investimentos exigidos em pesquisa e

desenvolvimento em diversas áreas e o aproveitamento de oportunidades de

comercialização de petróleo e derivados propiciam vantagens às grandes

corporações, em especial às intemacionalintdas. Assim, todas essas características

da indústria tomam o porte um fator chave na capacidade competitiva da empresa

Quanto aos fatores estruturais, a existência de amplos mercados

consumidores e o acesso a reservas de petróleo consistem nos pontos relevantes à

competitividade na indústria. Por um lado, o acesso às reservas propicia segurança

de recebimento da matéria-prima e possibilidade de melhor planejamento das

refinarias para processar o petróleo adequadamente, tanto do ponto de vista

operacional ( curto prazo) quanto de seleção de investimentos rentáveis (longo

prazo). Por outro lado, o acesso a grandes consumidores permite aumentar a escala

de produção e aproveitar oportunidades de comercialização dos derivados de

petróleo, adicionando mais valor à matéria-prima e aos produtos refinados pela

incorporação de margens de distribuição.

Adicionalmente, a intervenção do Estado na configuração estrutural da

indústria, desde sua criação, também deve ser mencionada. Ocorre via controles

fiscais, coordenação de políticas industriais e tecnológicas e, em alguns paises, pela

criação de empresas estatais. Isso decorreu da percepção da influência da indústria

do petróleo na competitividade de vários outros setores da economia, como

verificado em vários paises na América Latina, África, Oriente Médio e Ásia.

Dentre os fatores sistêmicos, destacam-se os aspectos geopolíticos. Nos

anos 60 e 70, a interpretação por alguns países detentores de grandes reservas de

petróleo de que a independência política, conquistada havia pouco tempo, não

levaria à soberania nacional sem o controle dos recursos naturais, conduziu alguns

desses países à prática de nacionalizações e à interrupção do sistema de concessões

de exploração a empresas estrangeiras.

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Criou-se, a partir de então, uma polarização no mercado de petróleo. De um

lado, passaram a se encontrar países detentores de expressivas reservas a baixo

custo de produção e com consumo interno moderado, em sua maioria membros da

OPEpS. De outro, encontram-se os grandes consumidores mundiais, representados

pelos países da OCDE6, com produção insuficiente para atender à demanda local e

possuindo reservas com custos marginais de produção crescentes.

A OPEP não se constitui, contudo, em grupo monolítico. Coexistem países

com pequenas populações, imensas reservas de petróleo e necessidades financeiras

limitadas, com outras nações que possuem populações expressivas, com demandas

sociais imediatas e reservas menos abundantes. Do complexo jogo de pressões

entre o grupo que prefere maximizar a receita no curto prazo e aqueles que

advogam uma estratégia de longo prazo, resultam as ações da organização7• Assim,

a relativa fragilidade da OPEP em conseguir fazer cumprir as cotas de produção

estabelecidas para os países membros, de forma a influir no balanço entre oferta e

demanda no mercado internacional e regular preços, configura urita situação de

instabilidade na indústria.

2.4 Principais Atores

Com base nos fatores determinantes da competitividade na indústria, acima

descritos, pode-se identificar a configuração dos·agentes que atuam nesse setor: as

, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, criada em 1960, conta com a participação de Arábia Saudita, Argélia, Catar, Kuait, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Irã, Iraque, Llbia, Nigéria e Venezuela. • Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, criada em 1961, conta com países da Europa Ocidental, EUA, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia. 7 Arábia Saudita, Kuait e EAU, por exemplo, procuram maximizar a receita no longo prazo, enquanto que Argélia, Indonésia, Nigéria e Venezuela preocupam·se mais com o curto prazo. Irã e Iraque, apesar de deterem imensas reservas, têm tido uma preocupação mais de curto prazo em função das necessidades financeiras decorrentes das guerras Irã-iraque e iraque-Kuait

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1 3

majori; as estatais dos países exportadores; as companhias independentes; os

governos; e as empresas parapetroleiras.

As maiors são as grandes companhias transnacionais, detentoras de

tecnologia, com grande capacidade gerencial e flexibilidade operacional, estando

concentradas no segmento downstream. Carecem de participação expressiva no

upstream, em função do limitado acesso às reservas dos países produtores.

As empresas estatais dos países exportadores surgiram de legislações

monopolistas criadas ao longo do século XX e das nacionalizações efetuadas pelos

governos, em especial nos anos 60 e 709• Atuam em mercados internos fortemente

controlados, possuem grandes reservas de petróleo e forte atuação no upstream.

Normalmente atuam em mercados internos pequenos e têm poucos ativos no

downstream. Não possuem forte atuação internacional, embora várias dessas

empresas e�ejam, recentemente, adquirindo participações em outros países.

A participação relativa desses dois agentes no upstream e downstream pode

ser analisada pelos dados da Tabela 2. Enquanto que as seis maiores estatais dos

países exportadores detêm 677 bilhões de barris em reservas, as majors possuem

apenas 32 bilhões. Por outro lado, as majors têm quase três vezes a capacidade de

refino daquelas companhias e são muito mais internacionaliVldaslO•

• Termo que engloba as principais companhias internacionais, como British Petroleum, Chevron, Exxon, Mobil, Shell e Texaco.

.

• Por exemplo, Arábia Saudita (1962), Argélia (1964), Catar (1976), Kuait ( 1975), EAU (1971), lraque (1964) e Venezuela (1975). México (1938) e Irã (1951) já haviam nacionalizado anteriormente. 10 Segundo dados de 1992 em Bourgeois (1994), os países da OPEP possuíam 91% das reservas e 62% da produção mundial de petróleo, tendo apenas 27% da capacidade mundial de refino e 21% da parcela de comercialização de derivados. Portanto, o segmento upstream é amplamente dominado pela OPEP, enquanto que o downstream encontra-se sob controle das majors, evidenciando complementaridade entre os grupos.

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TABELA 2 RESERVAS DE PETRÓLEO E CAPACIDADE DE REFINO DE EMPRESAS SELECIONADAS

(DADOS DE 1992)

EMPRESAS (a)

ESTATAIS

ARAMCO (Arábia Saudita) INOC (lraque)

KPC (Kuait) N/OC (Irã) ADNOC (EAU) PDVSA (Venezuela)

TOTAL

PRIVADAS (MAJORS) SHELL (Holanda/lnglaterra) EXXON(EUA) BP (Inglaterra) MOBIL (EUA) CHEVRON (EUA) TEXACO (EUA)

TOTAL Fonte: PIWS TOP 50. dezembro de 1992.

RESERVAS (b) CAPACIDADE DE REFINO (c)

260,9 1.670 100,0 545 96,S 402 92,8 946 64,S 193 62,S 2.327

677,2 6.083

9,6 4.103 6,9 4.133 6,4 2.066 3,3 2.139 3,1 2.078 2,7 1.506

32,0 16.025

(a) Foram escolhidas as 6 maiores empresas estatais em reservas e as 6 maiores empresas privadas em capacidade de refino. (b) Bilhões de barris (c) Mil barris/dia -

...

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15

As empresas independentes são compostas por grupos de empreendedores e

empresas menores, que possuem algumas refinarias ou exploram campos de

petróleo em áreas não controladas por estatais e pelas majors. Normalmente não

possuem participação em mais de uma atividade da indústria, sendo bem mais

vulneráveis às flutuações dos preços do petróleo e das margens de refino que os

outros dois agentes.

Os governos também possuem presença marcante na indústria. A

regulamentação do setor, apesar de variar entre paises, sempre contou com a

participação do Estado. Adicionalmente, ao longo da !ústória da indústria, em

vários momentos o papel dos governos se tornou explícito. A lei anti-truste de 1890

nos EUA e seu impacto sobre o setor petrolífero, as nacionalizações de empresas

estrangeiras nos anos 60 e 70, e a intervenção internacional nos anos 90 para

repelir a invasão iraquiana ao Kuait demonstram a importância desse ator no

desenrolar da !ústória da indústria do petróleoll. Nesse sentido, a configuração da

indústria resulta, em grande medida, da intervenção direta e indireta dos governos

no mercado.

Por fim, as companhlas parapetroleiras são as prestadoras de serviços que

cresceram em número nos últimos anos em razão das políticas de redução de custos

e de racionalização organizacional das empresas do setor, atuando em áreas

terceirizadas.

11 Segundo Hall (I992), o orçamento americano destinou USS 1 8 bilhões a gastos com defesa nacional relacionados a petróleo em 1985. Esse montante correspondeu a USS 8,50 por barril de petróleo importado pelos EUA naquele ano, quando seu preço no mercado internacional oscilava em torno de USS 27 !barril. Outra interessante investigação sobre a participação dos governos seria averiguar quanto foi gasto durante a Guerra do Golfo pelos paises ocidentais participantes da operação "Tempestade no Deserto".

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16

2.5 Organização Industrial

Uma das características marcantes da indústria do petróleo consiste, desde

seus primórdios, na tendência à concentração vertical das atividades. Após

estabelecida nos EUA, em fins do século passado, e internacionalizada nas décadas

seguintes, a verticalização nessa indústria foi rompida somente por fortes mudanças

institucionais, alheias à vontade das empresas.

A participação de uma empresa nas diversas atividades da indústria objetiva

aumentar o grau de controle sobre a cadeia produtiva, de forma a reduzir o risco

associado à queda do faturamento e à vulnerabilidade de suprimento de matéria­

prima. Na indústria do petróleo, a verticalização significa a presença tanto nas

atividades upstream como downstream, permitindo garantia de suprimento de

petróleo, economias de escala pelo aumento do porte da empresa, maior valor

agregado nas atividades e diversificação de investimentos.

Segundo pesquisa realizada em · grandes companhias internacionais de

petróleo, há redução do risco global das empresas integradas pela correlação

inversa veríficada nos lucros no upstream e no downstream (penuchet & Cueille,

1992). A integração vertical permite atenuar as flutuações conjunturais dos dois

segmentos da indústria. Dada a complementaridade entre majors e estatais da

OPEP, a celebração de acordos parece um caminho mutuamente vantajoso de

redução de riscos. Adicionalmente, o estudo sublinha as vantagens decorrentes do

tamanho da firma e os beneficios advindos da diversificação geográfica nos

resultados das empresas.

A história da indústria apresenta alguns exemplos de busca de integração

vertical. Após um período inicial de atuação de diversos empreendedores

independentes na perfuração de poços na Pensilvânia, a Standard Oil Company,

em fins do século passado e início deste, controlava não apenas o downstream mas

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17

procurava se internacionalizar e avançar para o segmento upstream, de forma a

garantir acesso à matéria-prima e aumentar os lucros pelo suprimento de mercados

consumidores internacionais. A concentração vertical chegou a tal ponto que, em

1911, a Suprema Corte dos EUA obrigou seu desmembramento, para permitir

maior competição no mercado, fazendo surgir várias empresas em lugar do

monopólio que se configurava.

Mais à frente, em meados deste século, após longo período de reorganização

internacional da indústria, algumas companhias transnacionais, especialmente as

americanas, possuíam atuação nos diversos segmentos da indústria. Tinham acesso

às reservas de países produtores e aos grandes mercados consumidores. Com as

nacionalizações efetuadas por vários governos de países detentores das principais

reservas entre fins de 60 e início de 70, a verticalização dessas empresas foi

subitamente desfeita, deixando-as dependentes de fornecedores da matéria-prima12•

A partir dessa mudança institucional e do posterior aumento dos preços do

petróleo durante os anos 70, novas regiões passaram a ser exploradas, surgindo

mais tarde as descobertas no Mar do Norte, no Alasca, no Golfo do México e na

Bacia de Campos. Contudo, a principal conseqüência para a indústria, naquele

momento, foi o surgimento de dois pólos de atores: de um lado, os grandes

detentores de reservas e exportadores de petróleo e, de outro, as grandes

companhias refinadoras e de comercialização de produtos finais.

Apesar dessa ruptura, a partir dos anos 80 alguns sinais passaram a indicar

nova busca de integração pelos dois atores evidenciados na década de 70. A queda

dos preços do petróleo a partir de 1986, aliada à diversidade de interesses

econômicos e políticos dos países da OPEP, limitou a capacidade dessa

12 Em 1970, as majors controlavam cerca de 75% do petróleo bruto e dos derivados consumidos no ''mundo livre", excluindo os EUA, segundo Ayoub (1993).

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organização coordenar as ações dos países membros para determinar preços,

reduzindo suas receitas e levando-os a ações isoladas.

Alguns países detentores de grandes reservas e principais produtores, como

Venezuela e Kuait, começaram a comprar participações em refinarias e postos de

distribuição de derivados em outros países. A iniciativa pretendia assegurar

mercado para seus petróleos pesadosI3, agregar mais valor à cadeia produtiva e

aumentar a presença e o poder de influência dessas empresas no mercado. Dessa

fonoa, procuram-se reduzir riscos e garantir rentabilidade no downstream quando o

upstream encontra-se em momentos dificeis (PIW, 1990). Logo, os investimentos

em downstream parecem fazer parte de um movimento estratégico dessas

companhias para ganhar parcelas de mercado e garantir margens.

Esse processo de busca de integração vertical só não foi mais intenso nos

anos 90 pelo lado dos países produtores de petróleo em decorrência da Guerra do

Golfo. Houve reorientação de recursos de dois importantes países -Arábia Saudita e

Kuait- para financiar parte da intervenção militar na regiãol4• Entretanto, Llbia,

Emirados Árabes Unidos, México e Noruega, entre outros, têm adquirido

participações no downstream em diversos países da Europa e do sudeste asiático.

Em paralelo às ações dos países produtores em direção ao downstream, as

grandes companhias transnacionaís começaram a encontrar espaço para estabelecer

acordos de cooperação para exploração e produção de reservas dos países

produtores. Isso foi possível, em grande medida, pela falta de capacitação

tecnológica e financeira de empresas de vários países detentores de reservas,

n o petróleo não é um produto homogêneo. Quando refinado, o tipo leve tem melhor rendimento em derivados mais nobres, como GLP, gasolina, querosene de aviação e óleo diesel, sendo mais valorizado que o de tipo pesado, que tem rendimento maior em óleos combustíveis e resíduos, que precisam passar por processos adicionais para sua conversão em produtos mais nobres. ,. Os gastos do Kuait para ajudar na intervenção militar promovida por países do Ocidente e, em seguida, para a extinção das chamas em seus poços produtores e iniciar a reconstrução do país atingiram cerca de US$ 23 bilhões (Abdalla, 1995).

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qualidades existentes nas empresas transnacionais. A ENI, empresa italiana, possui

acordos de produção na Líbia, Nigéria e Noruega. A PDVSA, estatal venezuelana,

também está promovendo acordos de exploração com companhias transnacionais.

o movimento de integração vertical recente difere, contudo, daquele em

curso na situação anterior às nacionalizações, quando as majors atuavam

fortemente nos dois segmentos da indústria. Agora, a integração ocorre entre

grupos, através da celebração de acordos de cooperação entre empresas

consolidadas no upstream com outras de forte atuação no downstream. A partir de

meados dos anos 80, a onda de fusões e aquisições, sobretudo no downstream, e a

cooperação entre empresas, via alianças estratégicas, contratos de longo prazo e

parcerias, evidenciam a busca da redução de risco pelas empresas do setor.

Na visão de AlveaI (1995), as mudanças no padrão de competição e

cooperaçã� na indústria do petróleo devem ser analisadas à luz das transformações

estruturais em curso na economia mundial. A globalização e seus impactos sobre os

mercados, a tecnologia e as condições de financiamento tornaram o futuro muito

mais incerto do que anteriormente.

No passado, em função da maior estabilidade das informações e melhor

capacidade de previsão, o foco do planejamento empresarial centrava-se na

avaliação do momento e da magnitude da ampliação de capacidade para atender à

demanda, sem mudar a forma de organizar a produção. Atualmente, a instabilidade

de informações e o ritmo acelerado de mudanças exigem maior flexibilidade

organizacional para interpretar os sinais do ambiente externo e promover ajustes

internos consoantes às mudanças das estratégias de empresas concorrentes e

aliadas.

Nesse contexto, o novo padrão de organização industrial e de competição

acarretou a adoção generalizada de estratégias de cooperação entre as firmas, na

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fonna de parcerias, concessões e alianças estratégicas. Isso reflete a adaptação dos

agentes de vários setores da indústria a mudanças estruturais na economia mundial,

não sendo diferente o caso verificado na indústria do petróleo desde meados dos

anos 80 e intensificado mais recentemente.

Contudo, a convergência de interesses entre as majors e as estatais

produtoras, na busca de maior flexibilidade e menor risco, não significa que a

realização desses acordos seja tarefa fácil. Apesar da crescente cobrança por

resultados e da expectativa de desempenho empresarial satisfatório das estatais

terem crescido nos últimos anos em vários paises, não se pode negligenciar as

dificuldades decorrentes de seu papel macroeconômico, enquanto agente de

fomento ao desenvolvimento nesses paises.

Assim, como a busca de maior integração vertical parece continuar fazendo

parte do rol de estratégias das empresas de petróleo, tanto as concentradas no

upstream quanto no downstream, e a abertura das economias consta da agenda

política e econômica mundial, a celebmção de acordos de coopemção deverá se

intensificar. As fonnas e a intensidade em cada pais dependerão, entre outros

fatores, da definição do papel das empresas estatais no desenvolvimento

econômico, da autonomia gerencial e administrativa dessas empresas no seu

relacionamento com o Estado e com os parceiros, bem como das oportunidades

abertas pela regulamentação do setor petrolífero em cada pais.

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3 A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL

3.1 Antecedentes à Criação da Petrobras

2 1

Até 1938, quando foi criado o Conselho Nacional de Petróleo (CNP), as

atividades da indústria petrolífera no Brasil estavam abertas à participação de

qualquer interessado, tanto de capitais nacionais quanto estrangeiros. No entanto,

pouco foi o interesse demonstrado por ambos no setor.

As empresas transnacionais tinham concessões de exploração em áreas

geologicamente privilegiadas, como no México, na Venezuela e em vários países

do Oriente Médio. Através do pagamento de royalties e impostos àqueles países,

extraíam petróleo a baixos custos e o transportavam para as refmarias localizadas

nos países grandes consumidores. Como controlavam as atividades de transporte e

refino de petróleo no mundo, não tinham interesse em procurar a matéria-prima no

Brasil, concentrando esforços na importação e distribuição de derivados (penrose,

1968).

Quanto ao capital nacional, os elevados montantes de investimento exigidos

e a falta de capacitação tecnológica dificultavam a incursão de interessados. Além

disso, o risco de insucesso no upstream e a ameaça de práticas de dumping pelas

transnacionais, que procuravam inibir novos concorrentes no downstream, criavam

fortes barreiras à entrada de novas empresas no setor15•

JS Apesar de os primeiros esforços de refino de petróleo no Brasil terem ocorrido em uma destilaria simples em Uruguaiana em 1932 e por pequenas refinarias com processos descontmuos de produção em Silo Caetano do Sul (Matarazzo) e Rio Grande (Ipiranga). ambas em 1936.

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Diante do desinteresse externo e da falta de capitais nacionais, o mercado

interno de derivados era atendido pela importação maciça de derivados de petróleo

pelo cartel das empresas transnacionais instaladas no país, via operações entre

filiais e matrizes dessas empresas.

Entre 1938 e 1953, com base em lei federal fundamentada no argumento do

caráter estratégico do petróleo, as atividades de exploração, produção e refmo de

petróleo passaram a ser abertas apenas a empresas brasileiras. No mundo, seguia o

domínio das majors, que desfrutavam das vantagens da integração vertical de suas

atividades para auferir lucros elevados.

Quando o CNP foi criado, suas atribuições consistiam, entre outras, em

fomentar a exploração de petróleo e criar condições para o estabelecimento de um

parque de refino no país. Apesar dos esforços, poucas foram as descobertas de

petróleó. Quanto ao refino, no inicio dos anos 50, o CNP contava com uma

refinaria com capacidade para processar 5 mil barris/dia e a Ipiranga, empresa de

capital nacional, possuía outra com capacidade de 6 mil b/d, quando o consumo

nacional beirava os 140 mil b/d. As sementes da indústria do petróleo no Brasil,

entretanto, estavam lançadas.

3.2 Petrobras e o Desenvolvimento do Setor

Nos anos 40 e 50 vários foram os fatores que convergiram em torno da idéia

de criar uma empresa estatal para desenvolver o setor no país. A II Guerra Mundial

impôs um racionamento de combustíveis ao país que reforçou o argumento de

alguns grupos nacionalistas que sublinhavam o caráter estratégico do petróleo. Em

paralelo, o projeto desenvolvimentista nacional encontrou no Estado o único agente

capaz de viabilizar os elevados investimentos de longo prazo de maturação em

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infra-estrutura. Na arena política, crescia a pressão popular, com traço nacionalista,

pela democratização das instituições, criando condições para o surgimento de forte

campanha popular em favor do monopólio do petróleo.

Nesse contexto, em 1953 foi instituído o monopólio da União nas atividades

de pesquisa, lavra, transporte e refino de petróleo e derivados, estendida em 1963

para a importação e a exportação. A distribuição interna de derivados permaneceu

aberta aos capitais privados tanto nacionais quanto estrangeiros16• Para executar o

monopólio, foi criada a Petrobras, que iniciou suas atividades em 1954,

incorporando os ativos17 do CNP, que passou a desempenhar as funções de

orientador e fiscalizador das atividades da indústria.

A empresa foi criada com a missão de "assegurar o abastecimento nacional

de petróleo e derivados de forma rentável e aos menores custos para a sociedade,

contribuindo para o desenvolvimento do pais". Além dos objetivos de

rentabilIdade, normalmente presentes em qualquer empresa, foram acrescentadas

expectativas de desempenho sociais, em razão de ser uma empresa estatal. Essa

coexistência de atribuições micro e macroeconômicas, muitas vezes conflitantes,

faz parte da história da empresa desde sua criação.

À época da criação da Petrobras, nutria-se o desejo de se encontrar petróleo

em território brasileiro. Entretanto, os baixos preços da matéria-prima no mercado

internacional e o relativo insucesso na descoberta de acumulações ao longo dos

primeiros anos da empresa passaram a nortear a estratégia para a busca de auto­

suficiência na atividade de refino. Segundo percepção vigente, a implantação de

16 A Ipiranga e três projetos de refinarias (em Manaus, Capuava e Manguinhos), que haviam obtido concessão pouco antes da instituição do monopólio pela lei 2004 de 3 de Outubro de 1953, permaneceram sob controle privado. Posteriormente, as refinarias de Manaus (1972) e de Capuava (1974) foram vendidas à Petrobras. 11 Incluíam, entre outros, alguns campos de petróleo produzindo 2,7 mil barris/dia, reservas recuperáveis de 15 milhões de barris, uma refinaria na Bahia com capacidade para processar 5 mil bld e outra em construção em Cubatão, uma fábrica de fertilizantes em construção e vinte navios petroleiros com capacidade para transportar 220 mil tpb.

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um amplo parque refinador permitiria reduzir os riscos de desabastecimento

nacional de derivados e possibilitaria gerar recursos e acumular capital para,

posteriormente, investir-se no upstream.

A política desenvolvimentista governamental a partir de meados de 50 e as

elevadas taxas de crescimento da economia, em especial a partir de meados da

década de 60, faziam a demanda de derivados crescer constantemente. A

implantação da indústria automobilística e a construção de estradas enfatizavam o

transporte rodoviário, impondo um grande desafio à empresa para garantir a auto­

suficiência nacional na produção de derivados de petróleo.

Diante disso, uma longa fase de investimentos no downstream foi iniciada.

Apesar da capacidade de refmo ter permitido o atendimento da demanda dos

principais derivados já em 1961, o crescimento do pais e a conseqüente elevação

da demanda de derivados foi atendida somente mediante expressivos

investimentos, conforme pode ser visto na Figura 1. Os saltos de capacidade

representam a entrada em operação de novas refinarias\8, com prazo de maturação

em tomo de quatro anos. Foram também construídos vários terminais e dutos,

criando-se infra-estrutura necessária às atividades de abastecimento19•

A quadruplicação dos preços do petróleo em 73/74 não inibiu a

continuidade do crescimento da demanda de derivados até o final da década nem

promoveu a revisão, por parte da empresa, dos projetos de investimento em refino.

As ampliações de capacidade continuaram, com a entrada do último bloco

expressivo de investimentos em 1980, representado pela Refinaria de São José dos

Campos.

" Em Cubatão (1955), Rio de Janeiro (1961), Belim e Canoas (1968), Paulinia (1972), Araucária (1977) e São José dos Campos (1980), além de várias ampliações ao loogo dos anos. 19 Terminais na Bahia (1956), Rio Grande do Sul (1968), São Paulo (1969), Rio de Janeiro (1971 e 1977), Santa Catarina (1977), além de oleoduto entre Rio e Belo Horizonte (1966).

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A estratégia de prosseguir investindo no downstream após o primeiro

choque dos preços do petróleo baseava-se na crença de que o país continuaria

crescendo. Essa postura era compartilhada pelos planos de desenvolvimento do

governo, que apostavam na possibilidade de o país crescer a despeito do ambiente

recessivo internacional. Dado o longo prazo de maturação dos investimentos e sua

irreversibilidade, o efeito do expressivo aumento da capacidade de refino em fins

de 70 foi sentido maís à frente. A queda da demanda no mercado interno, na

primeira metade. da década de 80, em função da recessão econômica interna,

acarretou o aumento da capacidade ociosa, que atingiu 22% no ano de 1983.

Os efeitos do segundo choque do petróleo trouxeram outros desafios ao

downstream. Em decorrência da forte elevação dos preços do petróleo a partir de

1979, o governo reviu a estratégia de crescimento do país e implementou uma série

de medidas para minimizar os efeitos do choque externo. Reajustou os preços

internos dos derivados e criou políticas de incentivo à conservação e substituição

dos derivados por outros energéticos. Revigorou o Programa Nacional do Álcool

(Proálcool), lançado em 1975, acarretando a oferta crescente de um substituto de

parte da gasolina consumida pelos automóveis.

Adicionalmente, o óleo combustível sofreu redução de demanda em virtude

da queda do consumo industrial decorrente da recessão econômica interna e foi

substituído, em parte, por carvão mineral e vegetal. Quanto ao diesel, sua demanda

continuou a crescer, impulsionada pela substituição da gasolina na frota de

caminhões, processo iniciado em meados da década de 70, em função dos preços

da gasolina terem aumentado substancialmente por conta dos subsídios aos demais

derivados ali contidos.

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Essas mudanças no ambiente externo à empresa tiveram grandes

implicações para o downstream20• Como as políticas governamentais de

conservação e substituição sinalizavam uma forte mudança no perfil de demanda,

as refinarias precisaram ser adaptadas à nova realidade. Exigia-se a conversão de

derivados pesados em leves, sobretudo em diese� pois a gasolina passou a ter um

substituto, o álcool, e sofreu forte aumento de preços, prenunciando sua queda no

perfil médio do barril demandado21•

A estratégia de investimentos, portanto, precisou mudar. No downstream,

alcançada a auto-suficiência no refino, a ênfase recaiu, então, na adaptação do

parque refinador. No upstream, os novos preços do petróleo no mercado

internacional intensificaram a alocação de recursos às atividades de exploração e

produção22, que vinham crescendo desde meados dos anos 70, conforme pode ser

visto na Figura 2.

Os investimentos nesses anos foram bem maiores que em qualquer outro

periodo23• Adicionalmente, percebe-se que, concluída a instalação do parque de

refino em fins dos anos 70, concentraram-se os investimentos nas atividades de

exploração e produção de petróleo, que passaram a absorver as maiores parcelas de

recursos.

2. O petróleo, quando refinado, dá origem a vários produtos em determinadas proporções. Nilo hã como se obter l!I!!l!!l!l! alguns derivados. Para modificar, em parte, essas prOJXlf9ÕCS torna-se necessário processar alguns subprodutos em unidades de converslio de derivados, o que e><ige investimentos nas refinarias. 2' Entre 1919 e 1985, o perfil da demanda de derivados mudou substancialmente. O GLP passou de 1% para 1 i %, a gasolina de 20"10 para 13%, o óleo combustível de 28% para 16% e o óleo diesel de 26% para 33%. Essa mudança e><igiu investimentos para adaptar a oferta das refinarias ao novo perfil de demanda. 22 Na empresa, a meta de auto-suficiência no refino foi substituída pela busca de auto-suficiência na produçlio. Em 1986, lançou-se o Programa de Capacitação Tecnológica em Sistemas de Explotação para Águas Profundas (pROCAP), que visava desenvolver tecnologia pioneira de produçl\o de petróleo e gás natural a 1000 metros de profundidade. 23 Valores atualizados para Dezembro de 1995.

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Como resultado, a produção de petróleo, que havia crescido modestamente

até fins de 70, passou a crescer intensamente nos anos 80, com várias descobertas

offshore na Bacia de Campos, como a do campo gigante de Marlim. Entre 81 e 86,

a produção nacional cresceu à média de 22% ao ano, atingindo 573 mil b/d e

chegando a representar 50% da carga processada em 86.

Apesar da queda na atividade econômica no país e do aumento da

capacidade ociosa no refino, a crise dos anos 80 acabou produzindo efeitos

positivos para a Petrobras. A política governamental de preços realistas dos

derivados de petróleo permitiu à empresa gerar recursos próprios suficientes para

investir montantes expressivos na primeira metade dos anos 80 (Bruginski, 1989).

Assim, em meados dos anos 80, além de ter atuação consolidada no

downstream, a empresa passou a ter uma participação significativa no upstream, o

que reduzi\! a dependência relativa de petróleo importado e aumentou a integração

de suas atividades24• Além de consolidada no core busines?5, a empresa

encontrava-se diversificada, detendo participações na área petroquímica, de

fertilizantes e mineral.26

A partir de meados dos anos 80, a capacidade de geração de recursos

próprios foi sendo erodida. O governo Sarney passou a utilizar os preços dos

derivados de petróleo como instrumento de política antiinflacionária, limitando os

reajustes em periodos de inflação crescente. Adicionalmente, o fraco crescimento

da demanda de derivados no periodo compunha um quadro de redução da

disponibilidade de recursos para investimentos.

2. Se antes as especificidades de qualidade dos petróleos nacionais ni!o constitulam grande preocupaçi!o no planejamento de investimentos em unidades de refino, a partir de entilo o estudo de ampliações precisou atentar para esse fato, dado o peso do petróleo nacional no total refinado no país. 2S Inclusive com a BR no segmento de distribuiçi!o e a BRASPETRO com atuaçi!o internacional no upstream. 26 Através da PETROQUISA, PETROFERTIL e PETROMlSA. Além dessas subsidiárias, possuía a trading company INTERBRAS.

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30

Os efeitos desses fatores podem ser vistos na constante redução dos

investimentos a partir de 87, que se limitaram à metade do nível verificado nos

anos anteriores. As atividades de upstream foram as mais prejudicadas, pois não

houve a continuidade dos projetos que poderiam permitir o crescimento da

produção e a eventual obtenção da auto-suficiência na produção de petróleo, que

manteve-se na faixa de 600 mil b/d na segunda metade dos anos 80. No

downstream, o fator mais relevante no período foi a queda da capacidade ociosa

para 12% em 89.

A década de 90 reservou novidades importantes para a empresa. No rermo,

as pressões sociais por redução de poluentes emitidos à atmosfera exigiram

investimentos em unídades de tratamento para extrair os compostos de enxofre e

nitrogênio presentes nos derivados. Esses projetos acarretaram o aumento da

participação do downstream no total investido, conforme pode ser visto na

Figura 2. No upstream, a produção de petróleo voltou a crescer, a taxas menores,

atingindo o patamar de 700 mil b/d em meados dos anos 9027•

A mudança mais importante, contudo, refere-se ao relacionamento com o

principal acionista. Desde a década de 80 e mais intensamente a partir da gestão

Collor, o papel do Estado enquanto empresário tem sido intensamente questionado,

havendo cobranças mais fortes quanto ao desempenho empresarial das estatais em

geral. Com a abertura da economia à concorrência estrangeira e a redetinição do .

papel do Estado, foram reduzidas ou eliminadas as participações da Petrobras em

subsidiárias, concentrando suas atividades no core businesls.

27 Em 1992, foi criado o PROCAP 2000, para desenvolver tecnologia para explotaçllo de petróleO e gás natural a profundidades de até 2000 metros de lâmina d'água. 2. Foi vendida parcela substancial no setor petroqulmico e foram extintas a INfERBRAS e a PETROMISA.

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3 1

A alteração de maior impacto ocorreu, entretanto, em 1995, quando foi

aprovada a abertura do setor petrolífero nacional à participação de outras empresas.

Como conseqüência, a Petrobras deixará de ser a única empresa a executar o

monopólio da União nas atividades petrolíferas no Brasif9.

3.3 Situaçio Atual e Perspectivas da Petrobras

Atualmente, a Petrobras encontra-se em situação singular na indústria do

petróleo, não se encaixando bem em nenhuma das categorias de agentes discutidas

no capítulo anterior. A empresa possui sólida atuação nas várias atividades da

indústria30 e se encontra estabelecida em um mercado nacional de derivados amplo,

tendo peso significativo na economia brasileira3! . Não se encontra, pois, na posição

de estatal exportadora de petróleo, como as empresas dos países da OPEP, nem na

condição de companhia concentrada no downstream com atuação internacional,

como as majors.

Nesse contexto, a estratégia de inserção futura da empresa no setor

petrolífero, tanto nacional quanto internacional, dependerá de vários fatores, entre

os quaís: a relação com o governo, seu principal acionista; a regulamentação do

"setor no Brasil; o aproveitamento da infra-estrutura montada; o diagnóstico das

forças e fraquezas da empresa; e as oportunidades e ameaças do ambiente externo.

29 A Emenda Constitucional número 9, de 9 de Novembro de 1995, mantém a União como detentora do monopólio na exploração, produção, refino, transporte e comercialização de petróleo e derivados, mas permite que outras empresas públicas ou privadas atuem em qualquer segmento da indústria no pais, mediante condições a serem estabelecidas em regulamentação do setor. 30 Em 1994, possuia reservas provadas de 4, I bilhões de barris, 73 navios com 5,7 milhões tpb de capacidade, produzindo Cerca de 670 mil barris/dia de petróleo. Detinha o oitavo maior parque de refino no mWldo e possuia rede de dutos interligando os principais centros consumidores do pais. 31 Em 1994, adicionou 1 ,92% ao Pffi brasileiro, faturou USS 18,4 bilhões e investiu US$ 2,3 bilhões, dos quais 85% despendidos em máquinas e equipamentos fornecidos por empresas nacionais. Exportou 2,5% e importou 12,7% da pauta de comércio exterior do Brasil.

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32

Quanto ao seu papel, tem sido cobrada maior ênfase no aspecto empresarial

em detrimento da função macroeconômica de agente de desenvolvimento

econômico e social. Já a regulamentação delimitará os contornos competitivos e as

possíveis alianças com outras empresas no setor petrolífero nacional.

Dentre os fatores internos, cabe destacar os pontos fortes, como a infra­

estrutura montada no país ao longo dos anos em downstream, a capacitação

tecnológica em exploração e produção de petróleo em águas profundas e o

conhecimento do mercado nacional. A falta de atuação internacional exige ampliar

o escopo das experiências de parcerias desenvolvidas com a indústria nacional para

o desenvolvimento de novas competências, de forma a permitir a celebração de

parcerias com empresas "concorrentes" no cenário internacional. Isso requer

grande mudança de mentalidade e esforços de treinamento e desenvolvimento de

recursos humanos. Adicionalmente, enquanto estatal, a empresa precisa ampliar

sua autonomia em relação ao governo, para garantir agilidade no ambiente

competitivo que se configura.

Quanto às ameaças e oportunidades do ambiente externo, decorrerão, além

da regulamentação do setor petróleo e da definição do papel da empresa, da

configuração da indústria e das estratégias de seus agentes, que parecem valorizar

as políticas de cooperação para reduzir riscos e tomar as empresas mais ágeis no

ambiente externo em rápida mutação.

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4 REFINAÇÃO DE PETRÓLEO

4.1 Caracteristicas da Matéria-Prima

33

o petróleo é urna miStura32 complexa de compostos orgânicos que se

combinam de diversas formas. Suas características dependem da formação

geológica do local em que foi desenvolvido, havendo diferentes tipos segundo o

tamanho das moléculas formadoras, a presença de compostos oxigenados e

nitrogenados etc. Esses fatores originam petróleos classificados como pesados

(leves), quando há predominância de moléculas longas (curtas), e com diferentes

teores de enxofre, nitrogênio e metais33.

Portanto, o petróleo não se constitui em bem homogêneo. Os classificados

como leves (pesados), quando refinados, apresentam maior rendimento em

derivados considerados mais (menos) valorizados no mercado. Os petróleos com

altos teores de enxofre e nitrogênio, após processamento inicial, passam por

processos complementares em unidades de tratamento, para reduzir a presença

desses compostos indesejáveis nos produtos finais comercializados. O teor de

metais, quando elevado, torna-se agente corrosivo das unidades de processamento,

exigindo investimentos adicionais em materiais mais resistentes.

Em estado bruto, o petróleo não é utilizável em diversos fins, não oferece o

melhor rendimento energético possível e ainda contém substâncias indesejáveis,

decorrendo a necessidade de beneficiá-lo. A refinação constitui-se, então, em

32 Contendo hidrogênio, carbono, nitrogênio, enxofre, metais etc. 33 Há mais de 200 petróleos brutos comercializados no mercado internacional.

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34

atividade intennediária na cadeia produtiva da indústria petrolífera, processando a

matéria-prima de fonna a obter os produtos consumidos no mercado. Através de

processos fisicos e químicos, decompõe-se o petróleo em diversos produtos

derivados para consumo final em várias atividades econômicas e como insumo

industrial. Entre os principais derivados, obtêm-se gás de cozinha (GLP), nafta

petroquímica, gasolina, querosene de aviação, diesel, óleo combustível, asfalto e

coque.

A variedade de tipos de petróleo traz conseqüências econômicas, além de

implicações técnicas relacionadas às diferentes proporções de derivados

produzidos. O preço da matéria-prima varia confonne sua. qualidade, pois alguns

petróleos requerem processamento de grandes quantidades de subprodutos em

unidades adicionais, de fonna a recuperar frações mais valorizadas, aumentando os

custos operacionais e de capital do refmador. Assim. os petróleos leves e com

baixo teor de enxofre, nitrogênio e metais são mais valorizados no mercado.

O gás natural possui a vantagem de ser passível de utilização em seu estado

natural ou após um beneficiamento simples, em que se separam as frações líquidas,

como GLP e nafta, do gás pobre ou residual. Nonnalmente, passa por unidade de

processamento específica (upGN), antes de ser comercializado para a indústria

petroquímica, de fertilizantes ou como energético, em substituição ao óleo

combustívee4•

,. Apesar de o gás natural estar ganhando importância crescente na matriz energética brasileira, normalmente seu processamento ocorre em um tipo de unidade (UPGNIURGN) com pequenas variações de projeto, conforme as características da matéria-prima e o interesse em separar as frações existentes. Dada a maior complexidade de processamento de petróleo e sua maior importância, especialmente para o caso brasileiro, a discussão deste capitulo centrar-se-á nos diversos tipos de unidades de processamento de petróleo.

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4.2 Tipos de Unidades de Processamento

35

A refinação é um processo contínuo que envolve uma série de unidades e

uma multiplicidade de produtos intermediários que precisam passar por várias

unidades da refinaria para atender às quantidades demandadas e às especificações

de qualidade dos produtos finais. De forma simplificada, as diversas unidades de

refino de petróleo podem ser classificadas nas seguintes categorias: destilação;

conversão; tratamento; produtos especiais; e outras. A Figura 3 apresenta um

exemplo de uma composição básica de refinaria, com seu esquema simplificado de

unidades de processament035•

o petróleo passa inicialmente por torres de destilação atmosférica.

Aquecend<;l-se a carga, os derivados mais leves são fracionados, como GLP, nafta,

querosene e diesetl6• O gasóleo e o resíduo de vácuo (RV) são obtidos na etapa

seguinte, a destilação a vácuo e, caso não sejam reprocessados, precisam ser

misturados em variadas proporções para se obterem os óleos combustíveis de

diferentes viscosidades. Estes produtos têm baixo valor comercial quando

comparados aos demais derivados e sofreram forte redução de demanda após o

segundo choque do petróleo, contando com mercado em queda relativa quando

comparados aos demais derivados.

" o esquema apresentado é mna simplificação de uma refinaria básica, apenas para fins ilustrativos e de forma a atender aos objetivos deste trabalho. A configuração de uma refinaria de média complexidade envolve muito mais unidades e inter-relações de produtos e processos. 36 A rigor, parcelas significativas de diesel, querosene e correntes que originam a gasolina precisam passar por outros processos para se enquadrarem nas especificações de qualidade de produtos prontos para consumo. O gás residual gerado em várias etapas do refino serve como combustível ás unidades de processamento.

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I

D E S T ,

PETROLEO I L A

ç -A O

, . RESIDUO

DE , VACUO

FONTE: PETROBRAS - - -

FI G U RA 3 ,

ESQUEMA BASICO DE REFINO , ,

GAS COMBUSTIVEL.

GLP

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�AFTA PETROQuíMIC� QUEROSENE..

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37

Assim, essas correntes costumam ser reprocessadas, sendo transfonnadas

em derivados mais valorizados em unidades de conversão, tais como coqueamento,

craqueamento catalítico (FCC), craqueamento térmico, hidrocraqueamento,

desasfaltação, viscorredução. Esses processos pennitem transfonnar parcela de

produtos pesados, que não se conseguem fracionar na destilação, em derivados

leves e médios37• Na Figura 3, o gasóleo segue para a unidade de FCC e o RV para

a de coqueamento, sendo parcialmente transfonnados em derivados mais

valorizados, como GLP, nafta e gasolina. Algumas correntes vão para unidades de

tratamento para atender às especificações de produtos, enquanto que uma parcela

das frações mais pesadas e alguns produtos diluentes seguem para fonnar o pool de

óleos combustíveis.

Após a obtenção dos derivados básicos nos processos de destilação e

conversão, os produtos nonnalmente não se encontram prontos para consumo, pois

ainda possuem impurezas. Há, também, a necessidade de se atender a

especificações adicionais de qualidade dos derivados finais, como o diesel com

baixo teor de enxofre. Os produtos seguem, então, para unidades de tratamento,

como HDT e HDS, onde se extraem os compostos de enxofre, nitrogênio etc. Os

produtos que saem dessas unidades nonnalmente possuem qualidade acima da

exigida, sendo fiÚsturados em diferentes proporções às correntes dos mesmos

derivados obtidas inicialmente na destilação, compondo um pool que atende às

especificações finais dos produtos.

Outro tipo de unidade presente sobretudo nas refinarias mais complexas são

as que processam derivados especiais. Para a produção de lubrificantes e parafinas

conta-se, nonnalmente, com um complexo de unidades em separado, pois algumas

31 A definição decorre do tamanho da cadeia molecular de hidrocarbonetos e da possibilidade de separação das frações nos processos iniciais de refino. Classificam-se como leves o GLP, a nafta e a gasolina. Querosene e diesel são considerados produtos médios. Os pesados são os demais derivados, como óleo combustível, asfillto e coque. Normalmente, dados os usos finais, os leves são mais valorizados que os pesados.

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38

caracteristicas de qualidade e de processamento exigidas desses produtos diferem

dos processos utilizados na obtenção dos demais derivados combustiveis.

Algwnas refinarias possuem unidades complementares. Para melhorar a

octanagem do pool de gasolina, por exemplo, utilizam-se processos de alquilação,

reforma catalítica e isomerização. Há, também, unidades que agregam mais valor

aos derivados básicos produzidos, como, por exemplo, as unidades calcinadoras de

coque, produto usado como insumo em vários segmentos industriais, e as

separadoras de propeno, matéria-prima utilizada na indústria petroquímica.

Além das unidades de destilação, conversão, tratamento e de produtos

especiais, principais tipos existentes nas refinarias, há unidades de apoio a esses

processos, como aquelas voltadas à geração de hidrogênio e utilidades38.

4.3 Investimentos em Refino

A multiplicidade de produtos intermediários e finais produzidos em

refinarias de petróleo e a interdependência de unidades de processo tornam a

refmação uma atividade extremamente complexa, mesmo quando analisada apenas

uma planta industrial isolada. Quando várias refinarias são vistas conjuntamente, as

inter-relações ocorrem também entre refinarias, através da troca de produtos

intermediários e finais. Esse é o caso da Petrobras, que realiza o planejamento da

operação de um parque instalado com dez refinarias e uma fábrica de asfalto, a

ASFOR, de forma integrada. A localização das refinarias e suas respectivas

capacidades de destilação podem ser vistas na Figura 4.

38 Principalmente vapor e eletricidade gerados a partir de gás residual e outros combustiveis pouco valorizados.

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FIGURA 4 LOCALIZAÇÃO E CAPACIDADE DAS REFINARIAS DA PETROBRAS

CAPACIDADE DE REFINO(*) • 1995 (BARRIS POR DIA)

REMAN 1 1.322 ASFOR 5.22 1 RLAM 140.582 REGAP 144.670 REDUC 226.440 REVAP 213.860 RECAP 39. 627 REPLAN 301.920 RPBC 166. 685 REPAR 169.830 REFAP 1 19.510 TOTAL 1 .539.667 -

(*) REFERENCIAL (DESTILAÇÃO) FONTE: PETROBRAS

w -o

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40

As refinarias, apesar de concentradas na região Sudeste39, encontram-se

distribuídas por todo o país e são operadas pela empresa de fonna a minimizar o

custo de abastecimento nacional de derivados. De acordo com as áreas de

influência40 de cada refinaria, ocorre a transferência de produtos finais entre

regiões e existe a possibilidade de troca de alguns produtos intermediários entre as

refinarias, para otimizar a produção de derivados.

Além da integração intra e inter-refinarias, a atividade de refinação na

Petrobras interage também com as áreas de produção de petróleo, transporte e

comercialização de petróleo e derivados, dada a integração vertical das atividades.

Portanto, a análise de investimentos em refino na empresa deve ser conduzida de

fonna a contemplar as inter-relações nos diversos níveis discutidos.

Além desses aspectos relevantes à análise de investimentos, os processos de

refmo apresentam-se como complementares (destilação-conversão-tratamento) e,

ao mesmo tempo, concorrentes (coque x desasfaltação, HDT x HDS etc.) em cada

refinaria. Há diferentes rotas tecnológicas para se processarem determinados

subprodutos e se obterem outros. O RV proveníente da unídade de destilação pode

ser processado em unídades de desasfaltação ou de coqueamento, gerando

diferentes produtos intennediários e finaís. A qualidade do diesel pode ser

melhorada em diferentes unídades de tratamento, como HDT e HDS. A octanagem

da gasolina pode ser aumentada via processo de refonna catalítica ou por mistura a

co"entes advindas de isomerização e alquilação. Dessa forma, os projetos de

investimento devem ser analisados em conjunto às demais unídades contempladas

e, sobretudo, às unídades já existentes na refinaria.

,. Em 1995, as refinarias do Sudeste concentravam 71 % da capacidade total de refino da Petrobras, região que representa cerca de 60% do consumo nacional de derivados. 40 Regiões que, dada a proximidade do mercado e os tipos de produtos consumidos, são normalmente atendidas por determinada refinaria.

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41

No enfoque de um parque de refmo integrado, deve-se acrescentar a

concorrência das refinarias pela localização das unidades, pois o custo global do

abastecimento difere segundo a localização do investimento. Assim, o nível e a

distribuição geográfica da demanda por produtos finais têm importância

significativa, pois o custo de transportar o petróleo e refiná-lo próximo aos centros

consumidores é menor que o custo de processá-lo próximo às áreas de produção e

de transportar, em seguida, os vários derivados aos centros consumidores. Isso

ocorre em função dos ganhos de escala no transporte de maiores volumes de

petróleo, tanto em navios (maior porte) quanto em dutos (maiores bateladas), além

de se incorrer em despesas portuárias relativamente menores.

Os investimentos em refmo devem ser compatíveis, também, com a

qualidade do petróleo disponível para processamento e com a possibilidade de

transferência de produtos, especialmente em uma empresa verticalmente integrada.

A mudança do tipo de petróleo processado pode exigir elevados investimentos nas

refinarias, de forma a se processar a matéria-prima eficientemente41 • A

disponibilidade e o custo de transporte, segundo os diferentes modais, também

devem ser estudados em conjunto, pois podem afetar a rentabilidade de um projeto.

Nesse contexto, a questão central do planejamento de investimentos em

unidades de refino reside na combinação ótima de meios técnicos de produção para

atender à demanda de derivados, estudando-se os tipos, portes, localização e data

de entrada em operação de unidades de processamento. Diversas são as razões para

se estudarem investimentos em refino, inclusive para a construção de novas

refmarias. Entre as mais importantes, constam os projetos com o intuito de:

41 A capacidade de processamento de uma refinaria varia segundo o tipo de petróleo processado. Caso a refinaria tenha sido projetada para processar petróleos leves, por exemplo, sua operaçllo com petróleos pesados pode exigir substancial reduçllo da carga processada para não se degradar ("perder") produtos nobres, e vice--versa.

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• awnentar a capacidade de processamento para atender ao crescimento

generalizado da demanda interna ou para exportação de derivados

• adaptar o perfil de oferta de derivados ao perfil da demanda

• adaptar a qualidade dos derivados às exigências de órgãos ambientais e

de consumidores

• adaptar o parque de refino ao tipo de petróleo processado

42

• otimizar a rentabilidade das refinarias em função dos preços relativos de

petróleos leves x pesados e os preços relativos dos diversos derivados no

mercado

• awnentar a flexibilidade operacional

• awnentar o valor agregado dos produtos

• melhorar as condições de segurança e produtividade via automação

industrial

A rentabilidade dos investimentos nesse setor depende da margem de refino,

definida como a diferença entre o valor dos derivados produzidos e os custos

incorridos. Considerando o refmador como tomador de preços de petróleo e

derivados, os fatores determinantes de sua rentabilidade são o balanço de oferta e

demanda de derivados no mercado e as políticas internas dos governos, que

definem os preços dos produtos, e a eficiência operacional da planta industrial, que

determina seus custos.

A oferta de derivados decorre da capacidade de refino instalada e do perfil .

de produção das refinarias, enquanto que a demanda por produtos finais depende

do nível de atividade das economias, de particularidades de conswno dos países,

dos preços absolutos e relativos dos derivados e de fatores específicos relacionados

a cada produto.

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43

Quanto aos custos, a recuperação e remuneração do capital investido

representam a maior parcela, em função dos elevados montantes de investimento

com longo prazo de maturação. Somando-se o custo de capital aos itens pessoal,

manutenção, seguros e impostos, formam-se os custos fixos. Entre os variáveis,

além da matéria-prima, os custos de catalisadores, utilidades e outros produtos

quimicos representam os mais significativos.

Portanto, dada a importância dos custos fixos nos custos totais, a refinaria

precisa operar a altas taxas de utilização de capacidade para minimizar seus custos

unitários de processamento e permitir a obtenção de rentabilidade satisfatória no

longo prazo. Entre os fatores determinantes da eficiência operacional, figuram a

idade, o porte e a complexidade42 da planta industrial.

As refmarias da Petrobras foram construídas até o final dos anos 70. Após a

consolidação do parque de refino, os investimentos têm-se concentrado em

adaptações e ampliações das plantas industriais existentes, além do

aperfeiçoamento do controle dos processos de refino, via automação, a partir dos

anos 9043•

Atualmente a empresa possui oito refinarias de grande porte44, uma de

escala média (RECAP) e outra pequena (REMAN), além da fábrica de asfalto em

Fortaleza, conforme pode ser visto na Figura 4. Analisando o parque de refino da

Petrobras como um todo, 96,3% da capacidade de processamento encontram-se em

grandes plantas industriais, 2,6% em médias e 1 , 1% em pequenas refinarias. As

42 Número e diversidade de Wlidades existentes na refinaria. 43 Através da introdução de Sistemas Digitais de Controle Distribuído em substituição aos sistemas analógicos existentes desde a década de 70. 44 Cerca de 40% da capacidade de refino no mWldo encontram-se em grandes plantas industriais, capazes de processar mais de 100 mil bld, 35% estão entre 40 mil e 100 mil bld, consideradas refinarias de médio � enquanto que os 25% restantes encontram-se em refinarias de pequeno porte. processando menos de 40 mil barris/dia. Refinarias com capacidade de processamento acima de 300 mil bld são classificadas como muito grandes e se resumem a poucas plantas industriais em regiões grandes consumidoras ou em países grandes exportadores de derivados (Masseron, 1991).

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44

unidades industriais mais complexas possuem conjuntos de produção de

lubrificantes e parafinas (REDUC e RLAM) e de processamento de matérias­

primas petroquímicas (RPBC, REFAP, RLAM), além de possuírem grande

diversidade de unidades de processamento.

4.4 Situação do Refino no Mundo

Após o segundo choque dos preços do petróleo, as políticas de conservação

e substituição conduzidas por vários países acarretaram a queda da demanda de

derivados de petróleo, sobretudo de óleo combustivel, cujo consumo caíu de 16,5

para 1 1 milhões de b/d entre 79 e 93 (ED, 1996).

A atividade de refino no mundo passou a operar com elevadas taxas de

capacidade ociosa e baixas margens de rentabilidade, acarretando o fechamento de

várias refinarias na Europa Ocidental e América do Norte, onde se iniciou processo

de reestruturação do setor que ainda persiste nos anos 90.

Após a redução na capacidade mundial de refino na primeira metade dos

anos 80, desde 86 a capacidade de processamento tem-se mantido estável45• Como

a demanda voltou a crescer nos últimos anos, a utilização da capacidade mundial

aumentou de 72% em 1983 para 83% em 1995 (BP, 1996), sem, entretanto, elevar

as margens de refino. A análise regional da utilização de capacidade revela

situações diferenciadas e possíveis razões da continuidade das baixas margens.

A América do Norte e a Europa Ocidental vêm operando, desde o inicio dos

anos 90, a taxas acima de 90%, enquanto que a América Latina opera a cerca de

80% da capacidade. Algumas regiões na Ásia e Pacífico, onde se realiza metade

" Entre 1980 e 1986, a capacidade mundial de refino caiu de 79,5 para 73,0 milhões de barris/dia, subindo para 76,4 em 1995 (BP, 1996).

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dos investimentos mundiais em refino, já operam a plena capacidade. Por situação

diferente passam os países da Europa Oriental e da ex-URSS, pois operam com

capacidade ociosa acima de 40% e encontram-se com instalações tecnologicamente

desatualizadas (WEY, 1995).

As expectativas, nos anos 80, de aumento da oferta mundial de petróleos

mais pesados e de crescimento relativo da demanda de produtos leves levaram

muitos refinadores a investirem expressivamente em unidades de conversão de

produtos pesados em leves, em especial na Europa, que passou de uma taxa de

conversã046 de 6% em 75 para 29% em 1994 (IFP, 1994).

Essas previsões, entretanto, não se verificaram, criando-se um

desbalanceamento entre o perfil de oferta e de demanda de derivados (Mellen,

1995). Com os investimentos realizados, passou a haver excedente de derivados

leves e capacidade ociosa em unidades de conversão, sobretudo na Europa. Nesse

contexto, as margens de refino continuaram reduzidas, mesmo com elevadas taxas

de utilização de capacidade de processamento do petróleo bruto em várias

regiões47•

Apesar das baixas margens persistirem, o fechamento de refinarias não tem

ocorrido nos níveis necessários para reequilibrar o mercado. Uma das razões

consiste em barreiras à saída representadas pelos elevados custos ambientais

impostos pelos países desenvolvidos, que exigem a reconstituição do local ocupado

pela unidade industrial em caso de abandono. Adicionalmente, os refinadores

desejam a remuneração do capital nos investimentos em conversão e tratamento

realizados na década passada, continuando a operar com margens insuficientes na

.. Taxa de conversão é a razão entre a capacidade das unidades de conversão e a capacidade de destilação primária, representando o potencial de uma refinaria transformar produtos pesados (desvalorizados) em leves. 47 Portanto, parece que a análise de utilização de capacidade baseada em dados de destilação não consegue mais refletir a situação das refinarias na Europa e a continuidade das baixas margens de refino no mundo.

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expectativa de que outras empresas tomarão a iniciativa de encerrar suas atividades

(Economist, 1995).

Quanto às perspectivas de rentabilidade do setor, dependem de uma série de

fatores, entre os quais a continuidade do seu processo de consolidação e a evolução

da legislação ambiental, que, em alguns países, exige elevados investimentos em

qualidade dos derivados e em redução dos níveis de poluição das refinarias.

Um fator preponderante na determinação das margens, contudo, será a

evolução da demanda mundial de derivados. Caso as economias voltem a crescer,

sobretudo a americana, as margens de refino poderão reagir. Caso a demanda

cresça pouco, o excedente de capacidade de produção de leves terá que ser

comercializado em outros mercados, a baixos preços48. Atualmente, a Ásia vem

absorvendo grandes quantidades desse excedente, dado seu expressivo crescimento

econômico. Porém, em virtude de vários investimentos em refinarias estarem em

andamento naquela região, esse mercado deverá se restringir no futuro.

Nesse sentido, caso a economia mundial não cresça nos próximos anos a

taxas suficientes para absorver o excedente de capacidade de destilação das

refinarias da Europa Oriental e de conversão da Europa Ocidental, e caso a

consolidação do setor não reduza a oferta pelo fechamento de refinarias, novos

mercados consumidores poderão ser alvo da entrada desses derivados produzidos a

baixos custos marginaís, inclusive o mercado brasileiro.

Quanto aos investimentos, os custos de instalação de novas refinarias é

elevado, especialmente em países com legislação ambiental rigorosa. Portanto, a

construção de refmarias deverá se limitar, nos próximos anos, a países em que o

"A maioria das refinarias existentes foi construída até fins de 70. Portanto, suas instalações já foram, em grande parte, amortizadas. Desde que os custos varíáveis de processamento sejam cobertos, a baixa de preços pode ser uma estratégia utilizada.

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47

crescimento da demanda é intenso, como no sudeste asiático e China, e em países

tradicionais exportadores, como os da região do Caribe.

Os países do Oriente Médio também têm intensificado sua atuação no

downstream, havendo alguns projetos de investimento na região, além de estarem

comprando participações em refinarias e postos de distribuição em vários países da

Europa49•

Grande parcela de investimentos mundiais no setor deverá ser alocada à

adaptação de refinarias existentes, dado o menor montante de recursos envolvidos.

As refinarias do leste europeu deverão receber investimentos para a modernização

das unidades existentes. Na América Latina, alguns investimentos deverão ocorrer

em unídades de conversão e tratamento, para ajustar o perfil de oferta de derivados

à maior participação do gás natural na matriz energética e às crescentes exigências

de qualida�e dos produtos finais .

•• Conforme discutido no capitulo 2.

Page 59: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

5 MODELO DE PLANEJAMENTO DE INVESTIMENTOS

NA ÓTICA MONOPOLISTA

48

o planejamento de investimentos na Petrobras utiliza um modelo de

Pesquisa Operacional (PO) como suporte à escolha de projetos em unidades de

refino, o que pennite analisar esses investimentos de fonna integrada às atividades

de produção, transporte, comercialização e finanças, de modo a selecionar a melhor

carteira de projetos para a empresa.

Como o Modelo de Planejamento de Investimentos (planinv) utiliza a

técnica de Programação Linear (PL), faz-se, inicialmente, uma breve revisão de

suas características e suposições básicas. Em seguida, apresenta-se o contexto de

criação· do Planinv e um breve histórico de seu desenvolvimento ao longo do

tempo. No tópico seguinte, descreve-se sucintamente a inserção do modelo na

atividade de planejamento, para permitir compreendê-lo no processo decisório da

empresa. Por fim, apresenta-se a fonnulação recente do Planinv sob a ótica

monopolista, de forma a conhecer sua configuração geral sob essa abordagem e

pennitir, nos capítulos seguintes, analisar as alterações necessárias à sua

fonnulação para que se ajuste ao contexto competitivo que se desenha no setor

petrolífero brasileiro.

5.1 Caracterfsticas da Programação Linear

A PL constitui-se em uma técnica de POso, que pode ser defInida como a

aplicação do método científIco a problemas que envolvem a coordenação das

" Além da Programação Linear, encontram-se entre as técnicas de PO mais utilizadas a Simulação, a Programação Dinâmica, a Programação Nílo-Linear, a Teoria de Filas, de Estoques e de Decisão.

Page 60: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

49

atividades em uma organização (Hillier & Liebermann, 1988). Uma aplicação

clássica de PO são os problemas de alocação, que envolvem distribuição de

recursos escassos entre áreas concorrentes, de forma a se obter a melhor solução

para a o�zação como um todo, seja do ponto de vista da maximização de

lucros, da minimização de custos ou de qualquer outro critério mensurável.

A partir da observação da realidade e da análise do problema em estudo, a

abordagem de PO baseia-se na formulação do problema e posterior elaboração de

um modelo matemático que consiga captar a informação essencial à representação

do sistema em estudo. Utilizando-se técnica apropriada, obtém-se a melhor solução

para a organização de acordo com o objetivo definido. Essa solução auxilia os

gerentes no processo de tomada de decisões operacionais e de investimento, em

geral situações imbricadas.

o desenvolvimento das técnicas de PO ocorreu a partir dos anos 40, em

decorrência da necessidade de uma abordagem que considerasse os problemas de

alocação de recursos militares na n Guerra Mundial, inicialmente por iniciativa da

Grã-Bretanha. Após a guerra, percebeu-se que o crescimento do porte das empresas

e a divisão funcional do trabalho impunham problemas semelhantes a uma vasta

gama de atividades empresariais. Há diversas situações empresariais em que

unidades funcionais das organizações disputam recursos escassos, exigindo da

gerência a alocação desses recursos da melhor forma para a organização como um

todo.

Nesse contexto, a PL representa uma forma particular de abordar o

problema de alocação de recursos quando as relações entre as variáveis podem ser

expressas através de (in)equações lineares. A forma padrão da PL pressupõe a

definição de uma função-objetivo, que pode ser a minimização de custos, sujeita a

restrições de vários tipos, como atendimento a mercados, por exemplo.

Page 61: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

50

Alternativamente, moa das possíveis fonnas de mo problema em PL pode ser

descrita como:

função-objetivo :

sujeito a

mm Z = C).X) + C2,X2 + . . . + CoXo (Xl , X2 , ... , Xo )

all.XI + aI2.X2+ . . . +aln.Xn � bl a21.XI + a22.X2+ . . . +a2n.Xn � b2

restrições funcionais

aml.XI + am2.X2+ ... +amn.Xn � bm

e

restrições de não-negatividade

onde ª' º e f são parâmetros do modelo e � são variáveis de decisão.

Além da definição dos tipos de problemas em que a utilização de técnicas de

PO torna-se adequada, a PL pressupõe que o problema em estudo tenha as

seguintes características:

• proporcionalidade : o uso de recursos deve ser diretamente proporcional ao

nivel de atividade da variável, considerada isoladamente.

Page 62: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

5 1

• aditividade : o uso de recursos deve ser diretamente proporcional ao nível de

atividade da variável quando em conjunto com outras variáveis, de forma que

não haja "produtos cruzados", causando não-linearidades.

• divisibilidade : haja a possibilidade de valores não-inteiros para as variáveis de

decisãos1 .

• certeza : os parâmetros do modelo sejam constantes conhecidas ou passíveis de

estimação com certo grau de confiança52.

Embora os sistemas em estudo normalmente apresentem relações não­

lineares, freqüentemente consegue-se retratá-los com bastante precisão através de

relações lineares. Nesses casos, a PL pode ser utilizada como boa aproximação da

realidade, constituindo-se em abordagem de grande utilidade no planejamento das

empresas.

Além da possibilidade de se retratarem vários sistemas reais através de

relações lineares, a grande difusão do uso da PL decorreu, principalmente, da

existência de algoritmos eficientes de otimização, como o método simplex, e da

crescente capacidade de processamento dos computadores, ferramenta essencial

para a obtenção da solução em problemas complexoss3 •

" Alguns modelos utilizam variáveis de decisão tanto inteiras quanto continuas, configurando uma situação de programação linear mista. " Como os modelos são utilizados, normalmente, para selecionar um curso de ação futuro, inevitavelmente envolvem algum grau de incerteza nos dados de entrada. Para contornar esse fato, recomenda-se realizar análise de sensibilidade aos principais parâmetros, para avaliar o risco e a robustez da solução proposta. " Além do programa de otimização, utilizam-se programas geradores de: (I) matrizes, para converter os dados de entrada em coeficientes das restrições no formato apropriado para o algoritmo de otimização; (2) relatórios, para reunir os dados de saída em informação compreensível por não-especialistas e fornecer dados úteis para análises de sensibilidade aos parâmetros estimados.

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52

Há exemplos de aplicação da PL em várias atividades, tanto no exterior

quanto no Brasil. Na indústria do petróleo, por exemplo, já em 1957 o governo

francês reuniu um grupo para estudar a melhor localização de novas refinarias de

forma a minimizar o custo de abastecimento do mercado nacional de derivados,

utilizando a PLS4 (Hanssmann, 1968). No Brasil, algumas empresas dispõem, desde

meados da década de 60, de equipes de PO desenvolvendo aplicaçõesss. Na

Petrobras, desde 1 965 vêm-se desenvolvendo modelos em PL para dar apoio a

diversas atividades, como de seleção e compra de petróleos, orçamento

empresarial, transporte de petróleo e derivados, produção e abastecimento de

derivados e para dimensionamento de áreas de influência de bases de distribuição.

A PL encontra, pois, grande campo de utilização na indústria do petróleo.

Deve-se destacar, contudo, que os modelos, além de se constituírem em

simplificacão de um sistema real, fazem parte de um processo amplo de tomada de

decisões. Além das limitações técnicas de qualquer abordagem, há outros aspectos

envolvidos na tomada de decisão que normalmente não são contemplados pelos

modelos, como considerações estratégicas, políticas e sociais. Os modelos devem

ser vistos, portanto, como simples instrumentos de apoio à tomada de decisão,

processo em si bem mais complexo.

5.2 Histórico do Modelo

No inicio da década de 70, vários fatores, tanto internos quanto externos à

empresa, contribuíram para a idéia de desenvolver uma ferramenta de suporte à

decisão de investimento em unidades de refino, sob enfoque integrado, com

utilização da PL.

54 Estudo realizado em conjunto pelo Ministério da Indústria e Comércio francês e por consultores independentes, sob a coordenação de E. M. Ventura, renomado especialista em PO. " Um resmno da introdução e do desenvolvimento da PO no Brasil, bem como das diversas aplicações desenvolvidas por empresas estatais e privadas, pode ser visto em Lóss (1981).

Page 64: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

53

A interdependência das atividades da indústria petrolifera, os elevados

montantes de recursos envolvidos e o longo prazo de maturação dos investimentos

recomendavam a utilização de uma abordagem integrada de avaliação de projetos

que permitisse avaliar as conseqüências, no longo prazo, das diferentes

oportunidades de investimento e a compatibilidade intrínseca da carteira de

projetos selecionada.

o país passava por uma fase de intenso crescimento econômico. De acordo

com a política desenvolvimentista da época e em função da crença na continuidade

da trajetória ascendente da economia, previa-se um aumento expressivo na

demanda de derivados de petróleo. O planejamento era calcado na definição de

metas fisicas e nos meios para alcançá-las. O baixo preço do petróleo no mercado

internacional, a pequena produção interna e a farta disponibilidade de recursos

próprios e ,de terceiros para investimento direcionavam os esforços da empresa para

o objetivo da auto-suficiência no refmo.

O monopólio conferia à Petrobras a missão de abastecer o mercado

nacional aos menores custos. Os preços dos derivados eram definidos pelo

governo, sendo a receita total das vendas dos diversos produtos calculada, com

base na previsão de demanda, de forma a remunerar a empresa56• Essa sistemática,

que vigora no ambiente monopolista, dá margem ao governo para usar os preços

dos derivados como instrumento de politicas econômica, energética e social. Logo,

com base na previsão de demanda, estudavam-se os investimentos na ampliação do

parque refinador de forma a minimizar o custo do abastecimento nacional no longo

56 Com base em estrutura de preços elaborada pelo Conselho Nacional de Petróleo, de forma a remunerar os agentes envolvidos na produção, comercialização e distribuição dos derivados de petróleo.

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54

prazoS7, cotejando-se possibilidades de investimento com oportunidades de

importação dos derivados.

A existência de técnicos capacitados a desenvolver modelos sob a

abordagem integrada foi outro fator importante para o desenvolvimento do Planinv.

Em meados da década de 60, a Petrobras admitiu funcionários com fonnação

matemática e os treinou em técnicas de PO. Em paralelo à disponibilidade de

computadores de grande porte e programas capazes de suportar aplicações na área, os analistas em PO procuravam atividades em que pudessem aplicar a técnica.

Desde então, foram desenvolvidos alguns modelos em PL, sendo um dos

primeiros o de apoio à avaliação e seleção de petróleos importados para

processamento nas refinariasS8, com foco no curto prazo. Posterionnente, mediante

adaptações, esse modelo passou a ser utilizado também para a programação

operacional das refinarias, de fonna a otimizar a produção de derivados de

petróleo.

Nesse contexto, em 1971, começou-se a pesquisar a literatura internacional

sobre o assunto e a ser discutida internamente uma fonna de estruturar o problema

de seleção de projetos de investimento em unidades de refino contemplando a

integração das atividades na indústria do petróleo e, em especial, da empresa. A

abordagem deveria permitir a escolha de projetos de refino de fonna a minimizar o

custo do abastecimento nacional de petróleo e derivados no longo prazo,

permitindo a entrada em operação de novas unidades em refinarias existentes ou

mesmo em novas refinarias.

57 Como os preços dos derivados eram determinados pelo governo federal e todo o mercado nacional tinha que ser atendido pela empresa, em decorrência das atribuições conferidas pelo monopólio, minimizar o custo de abastecimento sujeito ao atendimento do mercado equivalia a maximizar lucros. . " Naquela época, a Petrobras realizava, periodicamente, licitação internacional para compra de petróleos. Os interessados enviavam propostas, constando de preços e quantidades, cujos valores eram introduzidos no modelo para seleção do conjunto que minimizava o custo do abastecimento nacional no curto prazo, sujeito ao parque refinador existente.

Page 66: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

55

Após o estudo do problema a ser modelado, escolheu-se a PL como

abordagem e o modelo começou a ser desenvolvidos9• Em 1974, a concepção

inicial considerava apenas algumas unidades de refino, como destilação e

craqueamento catalítico. Incluíram-se as modalidades de transporte ferroviário,

rodoviário, dutoviário e marítimo. Em decorrência da importação de volumes

significativos de petróleo na década de 70 e das dimensões continentais do país, a

atividade de transporte marítimo de longo curso e de cabotagem era bastante

detalhada, pois esses itens tinham peso significativo na composição final do custo

de abasteciment06o• O transporte dutoviário, que tinha um tratamento simplificado,

foi posteriormente detalhado para permitir avaliar a necessidade de construção de

novos oleodutos e polidutos no longo prazo.

Apesar do contínuo aprimoramento do modelo, pelo tratamento mais

detalhado das atividades existentes e pela ínclusão de outras, em fins dos anos 70

sua utilização em estudos ainda era reduzida, dado que poucos usuários o

entendiam61• O equacionamento do problema em análise e a entrada dos dados

exigiam conhecimentos bastante específicos das áreas de PO e de processamento

de dados, em uma época em que os computadores não tinham presença marcante

no cotidiano de trabalho da maioria das pessoas. Os relatórios de saída também não

auxiliavam o usuário não-versado a interpretar os resultados e analisar criticamente

a solução proposta62•

59 A situação em estudo possui caracteristicas de problemas tipo-execulivo, pois envolve a eficiência do sistema de abastecimento como um todo e o conflito de interesses de áreas concorrentes. Além disso, pode ser adequadamente simplificada através de relações lineares entre as principais variãveis. 60 Em razão dos baixos preços do petróleo até 1973, a logística de transporte tinha peso significativo na composição final dos custos de abastecimento. Apesar da demanda de derivados concentrar-se na região Sudeste, a importação de petróleo e a transferência de derivados das regiões produtoras às consumidoras sempre foi expressiva. 61 Segundo um funcionário que vivenciou os eventos da época, "tratava-se de um modelo à procura de usuários" . • 2 Causando barreiras à utilização adequada da ferramenta. Levava potenciais usuãrios a não confiarem nos resultados propostos e outros, menos incrédulos, a tirarem conclusões sem o devido esplrito critico.

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56

Percebendo-se a dificuldade de difusão do potencial de aplicação da PL em

áreas sem especialistas, houve a decisão gerencial de se transferirem alguns

analistas de PO da área de infonnática para aquelas em que seu uso poderia se

desenvolver. Dai em diante, algumas resistências à utilização do modelo

diminuíram. Adicionalmente, a falta de alternativas adequadas de análise de

investimentos de fonna integrada em refino e, alguns anos mais à frente, sua maior

utilização por gerentes familiarizados com a técnica permitiram a difusão de seu

US063•

Em fms dos anos 70 e início dos 80, atingida a meta de auto-suficiência no

refino, o ambiente econômico mudou. Os preços do petróleo, que haviam subido

fortemente em 1973, sofreram nova alta no mercado internacional em 1979. O

governo promoveu uma politica de conservação de energia e de substituição dos

derivados de petróleo, revigorando o Proálcool e incentivando a substituição do

óleo combustível por carvão mineral e vegetal. Em paralelo, via política de preços,

motivou a substituição da gasolina por óleo diesel na frota de caminhões, grande

consumidora de derivados no setor transporte.

Diante de mudanças expressivas no contexto internacional e nacional, o

planejamento de investimentos teve que responder a essas novas questões. Por um

lado, a produção nacional de petróleo precisava crescer para estancar a sangria de

divisas na compra da principal matéria-prima na balança comercial brasileira. Isso

acarretou o forte direcionamento de recursos para as áreas de exploração e

produção de petróleo nos anos 80.

Por outro lado, a recessão econômica do início dos anos 80 acarretou a

queda da demanda de derivados. Além disso, a mudança do perfil da demanda, em

63 Conta-se que um gerente, alçado à diretoria e posteriormente à presidência, solicitava os resultados apontados pelo modelo em alguns estudos e os questionava. Nesse sentido, parece ter desempenhado um papel semelhante ao que a literatura especializada em inovação tecnológica classifica como ''patrocinador'' (sponsor) de projetos. Ver, por exemplo, Roberts (1979).

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57

função das políticas de substituição de derivados, tanto internas à indústria do

petróleo (gasolina por óleo diesel) quanto externas (óleo combustível por carvão e

gasolina por álcool), exigia adaptações do parque refinador.

A preocupação de expansão da capacidade instalada, dominante nos anos

anteriores, foi substituída pela necessidade de adaptação do parque refinador para

capacitá-lo a atender ao novo perfil de demanda. Passou-se, então, a analisar

projetos de investimento em unidades de conversão de produtos de baixo valor

comercial, como óleo combustível, em produtos mais nobres. Detalhou-se esse tipo

de unidade no modelo, oferecendo-se alternativas de rotas tecnológicas para

investimentos, como desasfaltação e coqueamento.

A tônica da atividade de planejamento em meados dos anos 80 passou a ser

a escassez de recursos para investimento nos projetos de refino, dada a prioridade

conferida aos projetos de exploração e produção, que absorviam substancial

parcela de recursos. Alguns anos mais tarde a escassez de recursos passou a se

verificar também nos projetos de exploração e produção. Acostumada a planejar

investimentos sem se preocupar com a disponibilidade de recursos, dada a grande

capacidade de geração de recursos próprios demonstrada até meados de 80, os

cortes de investimentos passaram a fazer parte da rotina da empresa64•

Para refletir a nova realidade, o modelo precisou incluir a restrição de

recursos em seu equacionamento, o que ocorreu na segunda metade da década de

80. Essa mudança permitiu selecionar a carteira de projetos de acordo com a

disponibilidade de recursos, provendo-se os tomadores de decisão de meios

técnicos para efetuar cortes65•

.. Situação causada, em grande medida, pela utilização dos preços dos derivados de petróleo como instrumento de polltica antiinflacionária a partir de meados dos anos 80 . • s Freqüentemente ocorriam cortes de recursos de forma linear, prejudicando a consistência da carteira de projetos selecionada.

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58

Nessa fase, o modelo já era bastante utilizado nos estudos de investimento

em unidades de refino. Outro fator externo, entretanto, impulsionou sua utilização.

O governo passou a exigir das empresas estatais o encaminhamento de planos

qüinqüenais de investimento nas diferentes atividades66• Dada a inexistência de

outras ferramentas de análise integrada, o estudo das alternativas de investimento

encontrou no modelo uma boa ferramenta de realização de simulações, atraindo

mais atenção para seu potencial de suporte às decisões de investimento e tomando­

o mais conhecido e utilizado.

A segunda metade dos anos 80 apresentou o aumento significativo da

produção de petróleo como fator de maior relevância para o planejamento de

investimentos. A produção nacional passou a representar cerca de 50% da carga

processada que, aliada à restrição de recursos, intensificou a importância da análise

de projetos de forma integrada.

O inicio do processo de planejamento estratégico na empresa ocorreu nessa

fase, demonstrando a necessidade de se analisarem as atividades de forma

integrada. O petróleo nacional ganhou maior peso no processamento nas refinarias,

exigindo investimentos no parque de refino para adequá-lo às características da

matéria-prima. O modelo incorporou, então, os projetos de produção de petróleo

em seu equacionamento, passando a selecioná-los conjuntamente aos de refino e

transporte, incluídos desde os primórdios de sua utilização como instrumento de

apoio à decisão de investimentos.

O inicio dos anos 90 trouxe, de forma mais intensa, a preocupação com o

meio-ambiente e os níveis de poluição atmosférica. Para a empresa, representou

crescentes exigências de qualidade dos produtos finais, tanto por imposição de

órgãos de meio-ambiente quanto por expectativa do consumidor. Esse fator foi

.. Objetivando aumentar o controle sobre as estatais e consolidar o Plano Global de Investimento do Governo.

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59

introduzido no modelo na fonna de teor máximo de enxofre e mínimo de indice de

cetana no diesel, teor mínimo de octanagem da gasolina, entre outros.

5.3 Análise do Desenvolvimento do Modelo

Com base na breve descrição do histórico do Planinv, as freqüentes

alterações e inclusões pelas quais passou a ferramenta, em decorrência das

mudanças nos ambientes externo e interno à empresa, pennitem qualificá-la como

um modelo ''vivo''. Desde sua concepção inicial, houve preocupação constante de

retratar os aspectos relevantes ao estudo de projetos de investimento em refmo.

o acompanhamento das mudanças no universo em estudo e a avaliação de

suas implicações para o problema em análise são requisitos essenciais à qualidade

de qualq�er modelo enquanto representação da realidade. Nesse sentido, as

intervenções feitas ao longo dos anos demonstram esforço para manter o Planinv

aderente ao ambiente externo e à dinâmica de inserção da empresa no setor.

Novos desafios se apresentam agora, com a mudança institucional

decorrente do fim da exclusividade da Petrobras na execução do monopólio da

União nas atividades de pesquisa, lavra, produção, transporte e refmo de petróleo e

gás natural, conseqüência da revisão constitucional. As implicações para o

planejamento de investimentos em refino e as mudanças necessárias ao modelo e à

abordagem de planejamento são objeto deste trabalho e serão discutidas e

analisadas nos capítulos seguintes.

Abaixo, será descrita, em linhas gerais, a inserção atual do modelo no

planejamento da empresa, seguido de sua descrição no enfoque imediatamente

anterior à abertura do setor petrolífero nacional.

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5.4 Inserção Atual do Modelo na Atividade de Planejamento

60

A adoção do planejamento estratégico na empresa, em fins dos anos 80, e a

abordagem integrada de planejamento de investimentos precisam ser analisadas à

luz de fatores internos, decorrentes da trajetória da empresa, e externos,

decorrentes do relacionamento com o governo e do ritmo de mudanças no plano

internacional.

o longo período de investimentos no refino, durante as décadas de 60 e 70,

levou à implantação de diversas refinarias e ao alcance da auto-suficiência no

refino. A partir de meados dos anos 70, a alocação expressiva de recursos para as

atividades de exploração e produção acarretou a descoberta de grandes

acumulações na Bacia de Campos e permitiu aumentar significativamente a

produção nacional de petróleo. Assim, a Petrobras encontrava-se, em meados dos

anos 80, com atuação expressiva no upstream e no downstream da indústria do

petróleo, passando a ser, de fato, uma empresa integrada67.

A partir de meados dos anos 80, a relativa autonomia administrativa e a

elevada capacidade de geração de recursos próprios para investimento verificada

até então começaram a mudar ao sabor de eventos externos à empresa. Em um

ambiente de inflação crescente, o governo Sarney conteve os preços dos derivados

de petróleo, descapitalizando a empresa. Em paralelo, passou a controlar os

programas de investimento, exigindo freqüentes cortes na carteira de projetos.

6' Até então, o monopólio estatal do petróleo lhe atribula a reserva das atividades de toda a cadeia produtiva, à exceção do segmento de distribuição, concorrencial, e das refinarias particulares já existentes à época da lei 2004, além das poucas descobertas decorrentes dos contratos de risco entre 1975 e 1988. Entretanto, isso não significou, pelo menos até meados dos anos 80, uma verticalização de filto das atividades da indústria petrollfera no Brasil, em virtude da produção interna ser pouco expressiva em relação à carga processada.

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61

No plano internacional, a velocidade das mudanças, a abertura das

economias e a globalização dos mercados recheavam o futuro de incertezas. Isso

tornava inadequada a abordagem de planejamento predominante nas empresas até a

década de 70, calcada em previsões do futuro como meras extrapol8Ções do

passado68, e recomendava novo enfoque de planejamento.

Nesse contexto de eventos internos e externos, a Diretoria Executiva

enfatizou, em 1989, a necessidade de o planejamento atuar de forma participativa e

com visão integrada e de longo prazo. Adicionalmente, sublinhou a importância de

se considerar o ambiente externo e seus posslveis desdobramentos através da

elaboração de cenários prospectivos, além de exigir procedimentos de avaliação e

controle das atividades.

Um importante desdobramento dessas recomendações foi, entre outros

aspectos69, o estabelecimento de uma metodologia formal de apoio à tomada de

decisão consubstanciada no planejamento estratégico'o. A sistemática adotada,

apresentada na Figura 5, baseia-se em modelo desenvolvido por professores da

Harvard Business Schoo/ nos anos setenta'l, incluindo as contribuições de Porter

(1980) para a análise dos fatores concorrenciais inerentes à indústria em estudo .

.. Pelo menos três exemplos dentro da própria indústria do petróleo depunham contra essa abordagem: os choques do petróleo em 1973 e 1979, bem como o contra-choque de 1986, e seus efeitos sobre as economias e, conseqüentemente, sobre o desempenho das empresas . .. Estudos sobre mudanças na estrutura organizacional, adoção de novas técnicas de gestão empresarial e discussão de um contrato de gestão com o governo. 70 Uma resenha dos principais modelos de plan�amento pode ser encontrada em Freires ( 1996). 71 A partir de trabalho publicado por Learned, et aI. em Business Policy, Tat and Cases, 1969.

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62

FIGURA 5

PROCESSO DE PLANEJAMENTO

ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO

CENÁRIOS

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

MISSÃO

ANÁLISE ESTRATÉGICA

PLANO ESTRATÉGICO

PLANO TÁTICO

ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO

DIAGNOSTICO INTERNO

FORÇAS E FRAQUEZAS

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63

De fonna resumida, a metodologia de planejamento estratégico adotada na

empresa baseia-se na análise do ambiente externo, com a elaboração de cenários e

a identificação de ameaças e oportwúdades, e do ambiente interno, pela realização

de um diagnóstico que permita conhecer as forças e fraquezas da empresa em seus

recursos humanos, tecnológicos e financeiros, entre outros aspectos. Em seguida, à

luz da missão da empresa, analisam-se as alternativas e escolhe-se um curso de

ação72, que orientará o encaminhamento de propostas de investimento constantes

no plano tático.

A sistemática de seleção de projetos de investimento procura refletir as

orientações de visão integrada das atividades, confonne pode ser visto na Figura 6.

Os departamentos enviam propostas de projetos de investimento que se

identifiquem com as diretrizes do plano estratégico. Com base na previsão de

disponibilidade de recursos 73, são elaboradas corridas do Planinv para indicar a

carteira ótima de projetos para a empresa, que passam a compor o Plano Plurianual

de AtiVidades. Os projetos selecionados são estudados em detalhe e reavaliados

quanto à viabilidade técnico-econômica, sendo submetidos à apreciação da

Diretoria Executiva.

5.5 Descrição do Modelo na ótica Monopolista

O Planinv consiste em uma representação matemática do abastecimento

nacional de petróleo e derivados que utiliza a PL para auxiliar na seleção da

carteira de projetos que minimize o custo de abastecimento nacional. Dessa forma,

otimiza a alocação de recursos escassos entre projetos alternativos.

72 Para uma apreciação critica dos pressupostos dessa abordagem, ver Mintzberg (1994). 73 Abate áreas não contempladas pelo modelo, como investimentos em Exploração e Pesquisa & Desenvolvimento.

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FIGURA 6

METODOLOGIA DE SELEÇÃO DE PROJETOS COM UTILIZAÇÃO DO PLANINV

c U_ uÁNÃiISE INTEGRADA J DISPONIBILIDADE DE RECURSOS

PLANO ESTRATÉGICO

PETROBRAS

PROPOSTA DE PROJETOS DE

PRODUÇÃO SELEÇÃO DA

CARTEIRA DE PROJETOS (pLANlNV)

PLURIANUAL DOS ESTUDOS DOS

PLANO

H DETALHAMENTO

1---------1 DE PROJETOS

PROPOSTA DE PROJETOS DE

REFINO E TRANSPORTE

ATIVIDADES

o­.j>.

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65

Confonne visto acima, o modelo foi originalmente concebido para

selecionar apenas os investimentos em unidades de refino, numa época em que a

produção nacional de petróleo era pouco expressiva74• Dada a importância do

transporte de petróleo e derivados nos custos de abastecimento nacional, as

alternativas dutoviárias, ferroviárias, rodoviárias e, em especial, marítimas, foram

consideradas desde os estágios iniciais. Com o passar dos anos, outros aspectos

foram sendo incluídos, como a restrição de recursos e, mais recentemente, os

projetos de produção de petróleo e as exigências de qualidade dos derivados.

o Planinv é um modelo multiperiodal, em PL, que representa o sistema de

abasteciment075 de derivados da Petrobras, de forma a servir de suporte ao

planejamento de investimentos na área, sob enfoque integrad076. Como o tempo

para que um investimento em refmo, aprovado pela direção da empresa, entre em

operação é de cerca de três a quatro anos, o horizonte de estudo contempla t+ 3 a

t+8, send� t o ano presente. Seu enfoque reside, portanto, no longo prazo.

Realizam-se corridas em computador de grande porte nas quais são

oferecidos grandes projetos de investimento, nonnalmente acima de US$ 10

milhões77, para que o modelo indique a carteira que minimiza o custo do

abastecimento nacional. Uma visão geral dos principais dados de entrada e

conteúdo dos relatórios de saída do modelo pode ser obtida nas Figuras 7 e 8.

7. Em 1973, a produção representava 22% da carga processada. 7S Apesar de atualmente o modelo contemplar projetos de produção de petróleo e gás natural, seu grande detalhamento da atividade de abastecimento (transporte, comercialização e, em especial, refino) o torna bastante utilizado como instrumento de suporte à decisão de investimentos em unidades de refino. Este trabalho centrar-se-á, pois, no' uso do Planinv para analisar projetos nessa atividade, apesar de o modelo enxergá-la de forma integrada às demais áreas da empresa. 76 Apesar da recorrente intenção de inclui-la, dado o volume de recursos investidos na atividade, a exploracão ainda não està retratada no modelo, sendo considerada, pois, exógena. Existem dificuldades teóricas de sua inclusão em decorrência da grande incerteza da atividade, que constituem interessante campo de pesquisa, bem como dificuldades operacionais, decorrentes do número de variáveis e equações já existentes no modelo atual e o tempo exigido para a obtenção da solução ótima. 77 Segundo levantamento na empresa, cerca de 20% dos projetos envolvem cifras acima desse montante, representando mais de 900!o do total de recursos disponiveis para investimento. Projetos com desembolsos totais de até US$ 10 milhões são decididos, normalmente, pela própria área de interesse.

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MATÉRIA-PRIMA

PETRÓLEO E GÁS NATURAL • PRODUÇÃO NACIONAL ATUAL • IMPORTAÇÃO: OFERTA,

PREÇOS, FRETES • RESTRiÇÕES DE ALOCAÇÃO

NAS REFINARIAS • PROJETOS DE INVESTIMENTO

TRANSPORTES

• CUSTOS POR MODALIDADE • DESPESAS PORTUÁRIAS • RESTRiÇÕES DE ESCOAMENTO • PROJETOS DE INVESTIMENTO

FIGURA 7

DADOS DE ENTRADA DO PLANINV (ÓTICA MONOPOLISTA)

COMÉRCIO INTERNACIONAL

• LIMITES: VOLUMES E PREÇOS DE DERIVADOS POR FRENTE DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO

1 DISPONIBILIDADE DE RECURSOS

• PRÓPRIOS • TERCEIROS

EMPRÉSTIMOS FINANCIAMENTOS

(

REFINO I UNIDADES (EXISTENTES E INVESTIMENTO)

• CAPACIDADES DE PROCESSAMENTO

• RENDIMENTOS, CAMPANHAS, ESPECIFICAÇÃO E DEGRADAÇÃO

DE PRODUTOS • CUSTOS OPERACIONAIS • PROJETOS DE INVESTIMENTO

I MERCADO INTERNO

DEMANDA POR:

• BASE DE DISTRIBUiÇÃO • PRODUTO

')

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" -

ALOCAÇÃO DE PETRÓLEO E PRODUÇÃO DE DERIVADOS

• CARGAS DAS UNIDADES E PRODUÇÃO DE DERIVADOS POR REFINARIA

• CONSUMO PRÓPRIO • ESPECIFICAÇÃO DE

QUALIDADE DOS PRODUTOS

FIGURA 8

RELATÓRIO DE SAíDA DO PLANINV (ÓTICA MONOPOLISTA)

DADOS DE ENTRADA

1 PLANINV

(MÍNIMO CUSTO DE ABASTECIMENTO)

1 DETALHAMENTO ECONÔMICO

• DISPÊNDIO DE RECURSOS

• MONTANTE DOS INVESTIMENTOS (PROJETOS SELECIONADOS) - PRODUÇÃO NACIONAL DE

PETRÓLEO E GÁS NATURAL - UNIDADES DE REFINO E

AMPLIAÇÕES - DUTOS E NAVIOS

• CUSTOS OPERACIONAIS POR ATIVIDADE

• BALANÇO DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE PETRÓLEO E DERIVADOS

• CUSTOS MARGINAIS DE PRODUÇÃO DOS DERIVADOS

MOVIMENTAÇÔES DE PETRÓLEO E DERIVADOS

• ÁREAS DE INFLUÊNCIA DAS REFINARIAS

• TRANSFERÊNCIA ENTRE REFINARIAS E TERMINAIS

e IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE PETRÓLEO E DERIVADOS

a­--l

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68

A seguir, descreve-se o Planinv, adotando como referência teórica a

abordagem de Vatter (1978), que separa as diferentes fases de solução de um

problema em PL: formulação do modelo; coleta de dados; obtenção da solução;

análise de sensibilidade e implementação, conforme apresentadas abaixo.

5.5.1 Formulação

Variáveis de Decisão

Como o objetivo do modelo reside na seleção da carteira de projetos de

investimento mais adequada para a empresa no longo prazo, as variáveis de decisão

representam: quais os projetos de investimento selecionados nas diversas áreas e

quando devem entrar em operação/produção; quais os volumes de petróleos e

derivados a importar e exportar. O modelo considera o seguinte ambiente:

unidades de refino

• separação: destilação atmosférica e a vácuo

• conversão: craqueamento catalítico fluido, coqueamento retardado,

desasfaltação, craqueamento ténnico, hidrocraqueamento

• tratamento: hidrotratamento, hidrodessulfurização

• especiais: lubrificantes, parafinas, alquilação, isomerização, reforma cataJítica,

fracionadora de nafta

• outras: geração de hidrogênio

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69

petróleos

• nacionais

• importados

frota marítima

• claros

• escuros

• GLP

dutos

• claros

• escuros

• gás natural

Função-Objetivo na 6tica Monopolista

Em decorrência da atribuição constitucional de execução do monopólio, o

papel da empresa consiste em abastecer o mercado nacional de derivados de

petróleo e gás natural aos menores custos (minimizar o custo do abastecimento). As

principais parcelas formadoras do custo podem ser divididas em operacionais e de

investimento, conforme abaixo resumidas:

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(+) operacionais

(+) de produção de petróleo e gás natural

(+) importação de petróleo e derivados

(-) exportação de petróleo e derivados

(+) afretamento de navios e transferência marítima

(+) despesas portuárias

(+) transferência terrestre (dutoviária, ferroviária e rodoviária)

(+) processamento de petróleo nas refinarias

(+) investimento (projetos selecionados)

(+) desenvolvimento da produção

(+) unidades de refino

(+) construção naval

(+) tenninais e dutos

FO : Minimizar Custo78 (operacional + investimento)

Principais Restrições

70

As restrições do modelo devem levar em conta, entre outros fatores, a

qualidade dos derivados, o volume de comercialização de petróleo e de derivados,

a disponibilidade de recursos, a tecnologia, o transporte, a oferta de petróleos

nacionais, o mercado e a capacidade de processamento das refinarias. A seguir, são

listadas as mais importantes:

78 Como o modelo é multiperiodal, descontam-se os fluxos futuros à taxa mínima de atratividade adotada pela empresa, que é de 15% ao ano.

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71

• disponibilidade ano a ano de recursos para investimento no horizonte estudado

• ano mais cedo de entrada em operação/produção e horizonte de continuidade

operacional de novos campos de petróleo e gás natural, unidades industriais,

dutos, navios e tenninais

• disponibilidade de petróleos nacionais e importados para processamento e

comercialização

• mercado nacional de derivados de petróleo e gás natural e disponibilidade de

derivados para importação e exportação

• possibilidade de alocação de petróleos às unidades industriais e refinarias

• capacidade de processamento de petróleo e produtos intermediários nas

unidades industriais e refinarias

• qualidade exigida dos produtos fmais

• limites de transferência de petróleo e derivados, por modalidade de transporte,

entre regiões

• disponibilidade de frota própria de navios e de afretamento

5.5.2 Coleta de Dados

Os dados de entrada são fornecidos pelas diversas áreas envolvidas -

produção, refino, transporte, comercial e planejamento-, sendo continuamente

revistos. Fornecidos freqüentemente em planilhas de cálculo ou via programas de

interface rnicro-mainframe, sofrem pequenos ajustes para compor a base de dados

do modelo. Abaixo, estão listados os principais tipos de dados de entrada:

• curvas de desembolso de recursos dos projetos de investimento

• custos operacionais e volumes de produção dos campos de petróleo e gás

natural

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• demanda dos diversos derivados de petróleo, por base de distribuição

72

• preços de comercialização de petróleo e derivados nas diversas frentes de

importação e exportação

• capacidade de processamento de unidades existentes e possibilidade de

ampliação ou construção de novas unidades

• custo operacional das unidades de refino, campos de petróleo e gás natural,

dutos, navios

• rendimentos dos petróleos nas unidades de refmo

• custo de ampliação de unidades existentes e de construção de novas unidades

• custos marítimos, ferroviários, dutoviários e rodoviários de transferência de

produtos

• despesas portuárias na origem e no destino

5.5.3 Obtenção da Solução e Análise de Sensibilidade

De posse dos dados de entrada, o programa é rodado em computador de

grande porte79• A solução que minimiza o custo do abastecimento é, então,

encontrada, sugerindo-se simultaneamente a carteira de projetos que devem ser

selecionados e a data de sua entrada em operação ou produção8o. Os resultados são

discutidos e revistos no âmbito do grupo de trabalho, depurando-se os dados de

entrada e a própria modelagem, que vai incorporando gradativamente novas

restrições decorrentes de diversos fatores específicos aos estudos em andament08l .

79 O tempo de processamento varia em função de diversos fatores, como a base a partir da qual as iterações são iniciadas, a prioridade dojob, as caracteristicas intrlnsecas à corrida (número de equações e variáveis) etc. Normalmente, consegue>-se obter uma solução continua em cerca de uma hora, enquanto que o tempo para obtenção de uma com'da mista varia substancialmente em função do número de variáveis inteiras utilizadas. 80 Outra informação útil provida pelo modelo são os valores marginais, que complementam a análise dos resultados e auxiliam na definição de corridas de sensibilidade. 81 Dada a interdependência dos projetos, os estudos contam sempre com representantes das diversas atividades envolvidas e da área de planejamento, constituindo-se, portanto, de grupos interdepartamentais.

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73

Realiza-se, também, análise de sensibilidade, para avaliar os efeitos de

variações de alguns dados Críticos sobre os investimentos indicados pela solução

ótima, como as estimativas de demanda de derivados, montantes de investimento,

data de entrada em operação, custos operacionais e preços.

5.5.4 Implementação da Solução

Após obter a solução apontada pelo modelo e os resultados das corridas de

análise de sensibilidade, os gerentes dispõem de informação técnica suficiente para

tomar decisões adequadas, além de poderem conhecer o custo adicional incorrido

na eventual escolha de uma carteira de projetos diferente da apontada pelo

model082• Quando aprovados pela diretoria, os projetos passam a constar do plano

de investimentos da empresa, obtendo recursos para serem realizados .

• 2 Em decorrência, entre outras, de se revestirem de questões estratégicas, sociais e politicas.

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6 ABERTURA DO SETOR PETROLÍFERO BRASILEIRO

6.1 Contexto da Abertura

74

A definição da abrangência das atividades que o Estado deve desempenhar

na economia decorre da discussão sobre a distribuição ideal de funções entre os

setores público e privado, além do papel esperado das instituições.

A visão do Estado e da iniciativa privada como entidades "concorrentes" nas

atividades produtivas tem sido substituída pela idéia de complementaridade,

reservando-se ao setor privado as atividades de produção de bens e serviços e ao

Estado a função de regulador. Sobretudo a partir da década de 80, vários países

vêm promovendo a redução da participação direta do Estado como produtor,

transferindo ativos ao setor privadoS3•

Em virtude da existência de imperfeições nos mercados, como

externalidades, assimetria de informação e tendência à monopolização de alguns

setores, criam-se contornos legaís com o intuito de fomentar a competição entre os

agentes e incentivar a alocação de recursos de forma a se obterem beneficios à

economia do país, atribuindo-se a órgãos reguladores a responsabilidade de

fiscalizar e controlar mercados84 •

• , Apesar das conseqüências, positivas e negativas, dos processos de abertura econômica e redefinição do papel do Estado nas economias serem tema de intenso debate em vários pafses, a avaliação de sua �ência e resultados não constitui objetivo deste trabalho.

Um resumo de teorias de regulamentação pode ser encontrado em Amould (1992), enquanto que as questões relevantes à seleção de modelo regulatório em Ross (1996) e as caracterlsticas organizacionais desejáveis do órgão regulador em Carneiro (1996).

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75

Os objetivos da regulamentação variam confonne o setor de atividade e o

país em análise. De fonna geral, procuram-se estabelecer políticas e nonnas de

atuação das empresas que pennitam aumentar investimentos, nível de emprego,

renda e capacitação tecnológica, e que contribuam para melhorar a qualidade e

reduzir os preços dos produtos, além de questões gerais relacionadas a segurança

industrial, preservação do meio ambiente etc.

A intensidade e a forma de mudança da percepção das atribuições ideais dos

agentes públicos e privados variam entre os países. Há casos em que atividades

monopolizadas são abertas à participação de capitais nacionais e internacionais,

preservando-se a empresa estatal no setor. Em outros países, decide-se transferir a

atividade produtiva estatal ao setor privado, via privatizações, com base na crença

de maíor eficiência administrativa e gerencial da iníciativa privada e em razões

associadas à percepção do papel que o Estado deve desempenhar na economia.

No Brasil, a discussão do papel do Estado intensificou-se no [mal dos anos

80, ganhando maíor importância a partir do Governo Collor. Lançou-se o Programa

Nacional de Desestatização e o Programa Nacional de Desregulamentação, como

parte de um conjunto de medidas almejando a abertura gradual da economia

brasileira ao comércio internacional e para fomentar a competição entre empresas

atuando no país.

O processo de mudanças na economia tem tido continuidade no Governo

Fernando Henrique Cardoso, no qual vários setores industriaís vêm passando por

reestruturações através de fusões e aquisições. Nesse contexto, a participação direta

do Estado nas atividades econômicas vem-se reduzindo, através de privatizações e

revisões de monopólios, para pennitir a entrada de empresas em atividades com

pouca concorrência, em áreas com carência de recursos para investimento ou

simplesmente para retirar o Estado de setores não maís considerados de sua

atribuição enquanto produtor de bens e serviços.

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6.2 Processo de Abertura

76

Na esteira do processo de revisão da Constituição Federal de 1988, o

Congresso Nacional aprovou, em 1995, emenda8S que reafmna a União como

proprietária das jazidas de petróleo e gás natural e como detentora do monopólio

sobre as atividades de pesquisa, lavra, refinação, importação, exportação e

transporte de petróleo e derivados básicos.

A novidade consiste, no entanto, na possibilidade de execucão do

monopólio ser realizada tanto pela Petrobras quanto por outras empresas privadas

e estatais, nacionais ou estrangeiras. Assim, a Petrobras deixa de ter exclusividade

nas atividades da indústria petrolífera nacional.

A abertura efetiva do setor à participação de outras empresas, entretanto,

está condicionada à regulamentaçã086 das atividades, que será realiZada com base

em lei ordinária dispondo sobre (1) a garantia do fornecimento dos derivados de

petróleo em todo o território nacional, (2) as condições de contratação de empresas

e (3) a estrutura e atribuição do órgão regulador do monopólio da Uniã087•

Algumas propostas de regulamentação do setor petrolifero foram

encaminhadas ao Congresso Nacional, inclusive projeto de lei de iniciativa do

Executiv088• Há diferenças entre os projetos quanto à forma e intensidade de

as Emenda Constitucional n° 9, de 9 de Novembro de 1995, que altera e insere parágrafo no artigo 177 da Constituição Federal de 1988. Só A rigor, trata-se de .... e-regulamentar" as atividades do setor para criar condições de competição entre empresas sob acompanhamento da Agência Nacional de Petr61eo (ANP), em substituição à regulamentação exercida pelo DNC, sob abordagem monopolista. " Parágrafo segundo do artigo 177, inc\ufdo pela EC n09. BB Projeto de Lei nO 2. 142 de 1996, de iniciativa do Executivo Federal. As propostas de iniciativa da Câmara dos Deputados foram de Fortes & Mascarenhas (1995), Teixeira (1995), Zica (1995) e Lima (1996). A tramitação do Projeto de Lei de iniciativa do Executivo inicia na Câmara dos Deputados, sendo

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77

abertura do setor em vários aspectos, como no grau de liberdade das empresas na

importação e exportação de petróleo e derivados, nas modalidades contratuais de

atua,ção de empresas interessadas em investir no upstream e no downstream, na

extensão do período de transição entre a estrutura atual monopolista e o futuro

competitivo e na configuração do órgão regulador. Entretanto, as propostas

apontam no sentido de criar condições para a atração de empresas ao setor

petrolífero nacional em complemento à representante estatal no setor, a Petrobras.

o governo propõe que a União, através da Agência Nacional de Petróleo

(ANP), tenha as atribuições de promulgar normas e regulamentos e de fiscalizar as

atividades econômicas do setor, coibindo práticas contrárias à competição.

Adicionalmente, recomenda que a ANP seja responsável pelo planejamento do

rermo e do abastecimento nacionais e promova licitações para outorga de

concessões de pesquisa e lavra de petróleo, além de acompanhar as demais

atividades � indústria em território nacional. Entre os princípios e objetivos gerais

norteadores do exercício de tais atividades do setor petrolífero, constam:

• preservação do interesse nacional

• garantia de abastecimento de derivados de petróleo em todo o território

nacional

• promoção da competição entre empresas

• atração de investimentos de risco

• preservação do meio ambiente

• respeito aos direitos do consumidor

• promoção do desenvolvimento nacional

• valorização dos recursos petrolíferos

discutido e votado inicialmente em Comissão Especial e, em seguida, em Plenário, podendo ser emendado. Posteriormente, segue para o Senado, passando por fases semelhantes. Caso sofra emenda no Senado, deve retomar à Climara. Finalmente, vai para sanção ou veto da Presidência da República. Em caso de vetos, deve retomar ao Congresso Nacional, para apreciação conjunta das Casas em votação única, de forma a manter na lei os dispositivos vetados ou acatar a posição do Presidente.

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78

A transição para a situação de longo prazo, com preços internos dos

derivados em níveis compatíveis aos praticados no mercado internacional deverá

ser conduzida de forma gradual, pois há várias distorções acwnuladas ao longo de

décadas que precisam ser revistas, como os subsídios cruzados entre derivados e

concedidos aos fretes de distribuição de produtos a regiões distantes dos centros

produtores.

6.3 Tendências de Configuração do Setor89

A abertura do setor traz a semente de modificações nos vários segmentos de

atividade da indústria petrolífera nacional, que deverão ocorrer paulatinamente para

permitir a adaptação dos agentes da indústria e de outros setores industriais

consumidores à nova realidade do mercado, dada a importância dos derivados de

petróleO na economia.

Embora a configuração futura do setor dependa dos contornos regulatórios,

ainda em defmição, e das estratégias empresariais que emergirão na nova estrutura

de mercado, os objetivos gerais de longo prazo encontram-se definídos. Baseiam-se

no estabelecimento de wn ambiente concorrencial e sinalizam mudanças em

preços, qualidade, diversidade de produtos ofertados, práticas comerciais etc.

Dado o papel central que os derivados de petróleo desempenham na

economia, o órgão regulador deverá zelar pela garantia de fornecimento desses

produtos aos menores custos para a sociedade sob enfoque de longo prazo,

evitando práticas de obtenção de ganhos circunstanciais na produção e

8. A análise a seguir, apesar de não se restringir apenas à proposta do governo federal, baseia-se na concepção geral do projeto de Lei do Executivo.

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79

comercialização de petróleo e derivados pelas empresas presentes que possam

acarretar perdas futuras de competitividade da indústria nacional90•

As atividades de exploração e produção deverão ser regidas por contratos de

concessão de áreas a empresas, ou consórcios, por determinado período de tempo,

através de licitações sujeitas às normas da ANP. Revertem à União os direitos

sobre as bacias sedimentares brasileiras91 • As áreas onde não haja investimentos da

Petrobras, que terá um período para confirmar o interesse e dar continuidade ao

processo exploratório e de produção em andamento, passam a compor um conjunto

passível de leilão a qualquer empresa qualificada em Iicitaçã092.

Quanto ao segmento de refinação, poderá receber investimentos para

ampliação de refinarias ou UPGNs, bem como para construção de novas plantas

industriais mediante aprovação da ANP, que deverá pautar sua atuação com base

no Plano Nacional de Abastecimento e no Plano Nacional de Refino, além de

considerar questões relacionadas à segurança industrial, restrições técnicas,

proteção ambiental e da população.

Em relação à logística de abastecimento, pretende-se assegurar liberdade de

contratação de transporte maritimo de petróleo e derivados às empresas. A malha

de dutos e as instalações portuárias serão passíveis de utilização pelo proprietário e

pelas demais empresas, mediante condições de acesso e esquema tarifário a serem

estabelecidos pela ANP. A aprovação de novos investimentos nessas atividades

deverá ser analisada pela ANP à luz da redução dos custos . de transporte e

considerações ambientais.

90 De fonna a contribuir para a redução do ''Custo Brasil" e aumentar a competitividade da indústria brasileira no mercado internacional. 91 Apesar de a União reassumir o controle das bacias sedimentares brasileiras, resguardam-se os direitos de continuidade de exploração e produção nas áreas em que a Petrobras estiver atuando na data da promulgação da lei, mediante condições a serem estabelecidas na regulamentação. 92 O território brasileiro possui 29 bacias sedimentares, totalizando 5,7 milhões de km2 em terra e no mar. Encontrou-se petróleo ou gás natural em 8 dessas bacias, havendo áreas praticamente desconhecidas.

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80

A importação e a exportação de petróleo e derivados poderão ser realizadas

por várias empresas, mediante autorização da ANP, tendo como referência o Plano

Nacional de Abastecimento e de forma a resguardar os interesses nacionais, que

podem incluir considerações quanto à preservação do parque de refino instalado e

quanto ao nível de reservas de hidrocarbonetos do país.

Os preços dos derivados no mercado interno serão gradualmente liberados,

de forma a convergir aos níveis praticados no mercado internacional. Para garantir

o abastecimento das regiões mais afastadas dos centros refinadores e bases de

distribuição, serão propostos, à aprovação do Congresso Nacional, mecanismos

fiscais e tributários que compensem os maiores custos de transporte às áreas

remotas.

A arrecadação do Estado sobre as atividades de exploração e produção será

estabelecida em função da forma Contratual e balizada em práticas internacionais,

podendo envolver o pagamento de royalties, taxas de ocupação de áreas, bônus de

produção e outras participações fixadas em editais.

A Petrobras deverá permanecer como representante estatal no setor, tendo

liberdade de criar subsidiárias e estabelecer parcerias majoritárias ou minoritárias

para o exercício de suas atividades. A empresa deverá ter maior autonomia

administrativa mediante aperfeiçoamento de mecanismos de relacionamento com o

Governo, como contratos de gestão, além de ter simplificadas as exigências para

aquisição de bens e contratação de serviços a terceiros.

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6.4 Abertura e Novos Investimentos93

8 1

Os investimentos de empresas nacionais e estrangeiras no setor petroIffero

nacional deverão assumir diferentes formas. Nas atividades upstream, poderá

haver investimentos em exploração para novas descobertas em bacias sedimentares

consideradas promissoras, por iniciativas isoladas de empresas ou através de

associações, atraindo produtores independentes e majors na busca de diversificação

de fontes de suprimento de matéria-prima.

Os projetos para desenvolvimento da produção de campos já descobertos

também deverão atrair interessados, pois representam empreendimentos com menor

risco que os existentes na atividade exploratória e permitem obter retomo mais

rápido do capital investido. Deverão ocorrer, inicialmente, pelo estabelecimento de

parcerias com a Petrobras, que possui vários projetos para desenvolvimento de

campos descobertos. Adicionalmente, detém tecnologia de ponta em projetos

ojJshore, onde se concentra a maior parcela de reservas brasileiras conhecidas.

Os investimentos no segmento downstream dependem do crescimento do

mercado nacional de derivados de petróleo e do balanço entre oferta e demanda de

derivados no mundo, que definem a atratividade dos investimentos em ampliações

de refinarias, dutos, terminais e bases de distribuição. Dada a possibilidade de

importação de derivados, segundo restrições quantitativas a serem estabelecidas

pela ANP, o incentivo maior deverá se concentrar na importação de produtos

excedentes disponíveis a baixos preços no mercado internacional. Essa prática

permite às empresas importadoras obter margens de lucro na comercialização e, no

93 Em razão dos objetivos deste trabalho se cen1rarem na avaliação dos impactos da abertura do setor petrolifero para a atividade de planejamento de investimentos em unidades de refino. que entram em operação de três a quatro anos após aprovação pela Diretoria Executiva da empresa, questões relacionadas ao período de transição do ambiente monopolista atual para o futuro concorrencial não serão detalhadas na análise a seguir. O foco da discussão será o ambiente competitivo que se desenha no longo prazo, quando a transição deverá estar concluída, e as questões relevantes para a análise da rentabilidade desses projetos sob a ótica concorrencial.

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82

caso das presentes no mercado nacional, na distribuição de derivados, sem incorrer

em riscos de projetos de investimento com longo prazo de maturação.

A atividade de refino poderá receber investimentos substanciais em unidades

que agregam valor aos derivados básicos disponíveis. Há grande potencial de

desenvolvimento de projetos isolados ou em parcerias para produção de insumos .

petroquimicos e industriais. Há possibilidade, também, de empreendimentos

relacionados à ampliação ou construção de novos pólos petroquimicos próximos às

refinarias existentes, bem como para construção de unidades calcinadoras de coque

para utilização, por exemplo, como insumo na indústria de alumínio.

Em relação a projetos de novas refinarias, os elevados custos de capital

envolvidos na construção de plantas industriais condicionam os investimentos

sobretudo às estratégias das empresas presentes e potenciais entrantes no mercado.

Por exemplo, a similaridade de alguns petróleos pesados venezuelanos e brasileiros

e a extensão do mercado nacional de derivados poderiam assegurar a parceiros

desses países a garantia de processamento de matéria-prima e posterior venda de

derivados em regiões com escassez de oferta, como o Norte e Nordeste brasileiros.

Esses fatores podem constituir incentivo para realização de investimentos em

parceria entre Petrobras e PDVSA, estatal venezuelana, contribuindo para a

redução de riscos dessas empresas, que procuram se manter integradas.

As majors também podem se sentir atraídas a investir em refinarias no

Brasil de acordo com estratégia mundial de atuação e de forma a ampliar sua

participação no mercado nacional a longo prazo, seja isoladamente ou em

empreendimentos conjuntos. Tal iniciativa dependerá do grau de liberdade de

importação de derivados estabelecido pela ANP e estará associada à polftica de

atração de investimentos do Governo Federal e de estados da federação

interessados em fomentar o desenvolvimento industrial local mediante, por

exemplo, isenções e diferimento de impostos.

Page 94: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

83

Assim, a materialização de investimentos em novas refinarias provavelmente

exigirá incentivos fiscais, para que as empresas assumam riscos de projeto de

grande porte com longo prazo de maturação, sobretudo porque a situação atual de

capacidade ociosa no segmento de refino mundial poderá inibir, inicialmente, a

propensão dessas empresas investirem no país, apesar da perspectiva de

crescimento do mercado nacional de derivados.

Nesse contexto, o cenário de longo prazo do setor petrolífero nacional

aponta para uma conjunção de riscos e oportunidades para os diferentes atores

presentes e potenciais entrantes na indústria. Como requisitos básicos à ocorrência

de investimentos, a estabilidade econômica, política, institucional e legal do país

compõem as condições gerais para atrair capitais ao setor, devido aos riscos

decorrentes de elevados montantes de recursos com longo prazo de maturação,

fatores inerentes à indústria do petróleo.

Adicionalmente, o papel da ANP na sinalização de diretrizes relacionadas

aos interesses nacionais de longo prazo será determinante nos rumos da indústria,

afetando niveis de investimento, emprego e desenvolvimento tecnológico do setor,

além dos reflexos sobre outros setores industriais nacionais. Quanto ao segmento

upstream, deve ser contemplada a flexibilidade de critérios de licitação conforme

os diferentes niveis de risco das áreas ofertadas para exploração e produção.

Quanto ao segmento downstream, o grau de liberdade na importação de derivados

terá peso substancial na decisão de investimentos em refinarias no país, além dos

fatores estratégicos, tributários e de mercado já discutidos.

Assim, o contexto de mudanças institucionais em andamento e a estrutura de

mercado concorrencial que se avizinha exigem que a Petrobras reavalie sua

estratégia de inserção na indústria e, entre outros aspectos, sua estrutura

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84

organizacional, relacionamento com consumidores e fornecedores, formas de

associação com empresas e treinamento de recursos humanos94•

Além dessas questões, a atividade de planejamento de investimentos

também requer reavaliação de ferramentas de apoio à decisão e revisão na

abordagem de avaliação de projetos. O capítulo seguinte discute as mudanças

necessárias ao modelo Planinv para que continue desempenhando a função de

instrumento de suporte à seleção de projetos em unidades de refIno na Petrobras,

sob enfoque compatível com o novo cenário que se desenha para o setor petrolífero

nacional.

94 Uma visão das fases do processo de transição de uma configuração de mercado sob monopólio protegido para ambiente competitivo pode ser encontrada em Moore (1995).

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7 MODELO DE PLANEJAMENTO DE INVESTIMENTOS

NA ÓTICA CONCORRENCIAL

85

Desde sua criação na década de 70, o Planinv vem passando por freqüentes

revisões para que sua representação matemática do sistema de abastecimento

nacional de derivados se ajuste às mudanças dos ambientes externo e interno à

empresa, de forma a permitir que o modelo continue como simplificação adequada

da realidade. Entre outras alterações, foram detalhados os diferentes modais de

transporte de petróleo e derivados, oferecidas novas unidades de processamento,

acrescentadas restrições de recursos para investimento, incluídos projetos de

produção de petróleo e gás natural e introduzidas crescentes exigências . de

qualidade dos derivados produzidos, refletindo a evolução das atividades da

empresa e sua inserção na indústria do petróleo.

A abertura do setor petrolífero brasileiro constitui mais um evento que

modifica o sistema em análise e exige reavaliação de sua representação matemática

no Planinv. A diferença em relação aos acontecimentos passados consiste na

magnitude e importância dos fatos recentes, que ensejam mudanças mais amplas e

profundas que as verificadas anteriormente, geradoras das intervenções realizadas

no Planinv ao longo de sua existência.

o fim da exclusividade de execução do monopólio estatal do petróleo pela

Petrobras e o ambiente concorrencial que se desenha no setor petrolífero trazem

implicações para a atividade de planejamento de investimentos em unidades de

refino quanto a aspectos relacionados ao papel da empresa, ao mercado a ser

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86

atendido, à receita operacional, à disponibilidade de recursos para investimento e à

fonna de participação da empresa nos empreendimentos.

A discussão dessas questões pennitirá avaliar as mudanças necessárias ao

Planinv de fonna a tomá-lo aderente à realidade concorrencial que se anuncia,

ajustando-o para que continue a desempenhar a função de instrumento de suporte

às decisões de investimento em refino na Petrobras95•

7.1 Abertura e Planejamento de Investimentos em Refino

7.1.1 Papel da Empresa

A Petrobras deixa de ter, por um lado, a obrigatoriedade de garantir o

abastecimento de todo o mercado nacional de derivados de petróleo e gás natural,

que será atendido também por outras empresas. Por outro lado, deixa de deter a

reserva de mercado, tendo que concorrer com as demais empresas no suprimento

dos produtos às diversas regiões do país.

Na configuração monopolista, as refmarias da Petrobras produzem

derivados para atender à demanda de consumidores abastecidos por sua subsidiária,

a BR Distribuidora, e para as demais empresas presentes no segmento de

distribuição, como Esso, Ipiranga, Shell e Texaco. Os volumes de produção de

derivados excedentes ao mercado nacional são exportados e aqueles cuja produção

interna não atinge o nível de consumo são importados, ambos pela Petrobras .

• , Embora a abertura do setor petrollfero nacional tenha conseqüências sobre os vários segmentos da indústria, conforme visto no capitulo anterior, a discusslio a seguir centrar-se-á nos aspectos relevantes à análise de investimentos em unidades de refino e as mudanças necessárias ao Pianinv para que continue dando suporte a essa atividade na Petrobras, cujo tema constitui objetivo deste trabalho.

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87

No ambiente concorrencial de longo prazo, passado o período de transição a

ser detenninado pela regulamentação, as distribuidoras não terão a obrigatoriedade

de adquirir os derivados nas refinarias instaladas no país, se as condições de preço,

qualidade etc. não forem compatíveis com as práticas vigentes no mercado

internacional. Assim, mediante limites estabelecidos pela ANP no desempenho das

atribuições de controle das atividades segundo interesses nacionaís, as

distribuidoras poderão adquirir derivados produzidos internamente ou importá-los,

se os preços e demais condições no mercado internacional forem melhores que os

oferecidos pela Petrobras e demais empresas presentes no país.

No enfoque monopolista, o governo federal estabelece os preços que as

refinarias obtêm na comercialização de derivados sem refletir, necessariamente, os

valores praticados no mercado internacional, pois os preços dos derivados são

administrados de forma a atender a objetivos econômicos e sociais e a garantir, no

global, a remuneração da empresa. A Petrobras tem que abastecer mercados

independentemente da receita auferida na venda de alguns produtos ser inferior aos

valores praticados no mercado internacional.

Na ótica concorrencial, ainda que a permanência como empresa estatal

venha a solicitar o desempenho de algumas atividades com objetivos sociais, como

o atendimento a mercados pouco interessantes sob enfoque empresarial, tal papel

deverá ser desempenhado mediante contrapartidas fiscais, previstas na proposta de

regulamentação. Adicionalmente, a Petrobras, e as empresas estatais em geral, tem

sofrido crescentes cobranças por resultados empresariais, enfatizando-se

expectativas microeconômicas de maiores lucros em detrimento da atuação como

instrumento de desenvolvimento nacional, papel macroeconômico valorizado no

passado e desempenhado em vários projetos ao longo da trajetória da empresa.

A continuidade da Petrobras como empresa competitiva na configuração

concorrencial requer a análise de investimentos baseada em critérios empresariais,

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88

de fonna a selecionar projetos que assegurem sua sobrevivência e rentabilidade ao

capital investido. Sob esse enfoque, norteará os investimentos de forma a ajustar o

parque de refIno ao ambiente concorrencial, em que os preços nas refInarias

deverão se ajustar aos níveis praticados no mercado internacional, garantirá sua

sobrevivência e permitirá seu crescimento, através do aproveitamento de

oportunídades de desenvolvimento de novos produtos e mercados, via

empreendimentos exclusivos ou em parceria com outras empresas.

Nesse contexto, quando instada a executar projetos sociais com retornos

empresariais insatisfatórios, a adoção da análise empresarial explicitará o montante

de contrapartidas fIscais do governo que tomem projetos sociais, importantes sob

enfoque macroeconômico, viáveis sob a ótica empresarial. Dessa forma, permitirá a

utilização da representante estatal no setor sem comprometer sua capacidade

fInanceira e competitiva, possibilitando a continuidade de seu uso como

instrumento macroeconômico pelo governo, e explicitará os subsídios necessários à

execução de projetos sociais, provendo meios para que o Legislativo e o Executivo

Federais avaliem a pertinência de tais gastos.

Assim, a adoção da abordagem empresarial reduzirá os riscos de

descapitalização da empresa e de perda de capacidade competitiva no longo prazo,

que podem decorrer em caso de utilização exclusiva ou preponderante do enfoque

social na avaliação e seleção de projetos, abordagem incompatível com a nova

estrutura de mercado que se avizinha.

7.1.2 Demanda

A confIguração monopolista, exigindo o atendimento de todo o mercado

nacional, requer a previsão da demanda de derivados, por produto e por região,

para permitir o planejamento dos investimentos que minimizam o custo do

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89

abastecimento nacional, sob enfoque de mercado garantido. Os estudos são

conduzidos contemplando a combinação de unidades de refino que ampliem a

capacidade de processamento, ajustem o perfil de produção de derivados à

demanda projetada, à qualidade dos produtos exigida por legislações ambientais e

consumidores, às características da matéria-prima etc. De forma complementar,

consideram-se as possibilidades de importação e exportação de derivados que

minimizam o custo de abastecimento nacional.

A previsão de demanda baseia-se na expectativa de crescimento da

economia, nos preços dos produtos ao consumidor final e em fatores peculiares a

cada derívado. No caso da gasolina, por exemplo, considera-se também a

estimativa de vendas de automóveis, o percentual de mistura de álcool no

combustível, a idade média e a vida útil da frota de veículos, a eficiência dos

motores etc. Quanto à nafta, avaliam-se, entre outros fatores, os planos de

expansão dos pólos petroquímicos existentes e a possibilidade de novas plantas

industriais. A previsão de demanda dos demais derivados também conta com

fatores específicos.

No ambiente concorrencial, o parque de refino da Petrobras deverá ser

dimensionado e configurado considerando a possibilidade de empresas

distribuidoras optarem por importar derivados, no curto e longo prazos, e investir

em refinarias e produzi-los internamente, no longo prazo, ao invés de adquiri-los

nas refinarias nacionais96• Logo, os limites à importação estabelecidos pela ANP

deverão desempenhar papel de grande importância para a estimativa de

comercialização interna de derivados produzidos pelas refinarias instaladas no pais,

caso as condições externas sejam melhores que as oferecidas pelas refinarias

nacionais .

.. Em 1995, a capacidade de processamento das refinarias da Petrobras (1440 mil bld) representava cerca de 98,7% do total nacional, complementado pelas refinarias particulares de Manguinhos ( lO mil bld) e Ipiranga (9,4 mil bld).

Page 101: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

90

Portanto, com o fim da exclusividade de atendimento ao mercado nacional,

o planejamento de investimentos na ótica concorrencial requer a definição da

parcela de mercado que as refinarias da Petrobras pretendem obter no suprimento

de diferentes produtos às companhias distribuidoras, além da estimativa de

crescimento da demanda dos diferentes derivados por região de consumo, já

realizada na ótica monopolista97•

A participação efetiva da empresa nos diferentes mercados decorrerá de sua

capacidade de competir, envolvendo custos de produção e qualidade dos produtos,

e da configuração de mercado resultante das estratégias das diferentes empresas

concorrentes, que poderão concentrar esforços em obter parcelas de mercado em

determinados produtos especiais, como gasolina premium e diesel com baixo teor

de enxofre.

Adicionalmente, dada a tendência dos empreendimentos em unidades

especiais se intensificarem, o Planinv deve contemplar a possibilidade de novos

projetos dessas unidades, cujos processos melhoram a qualidade dos derivados

básicos ou os transformam em insumos industriais e petroquímicos mais

valorizados, agregando valor aos produtos e ampliando a receita e os lucros da

empresa.

Nesse contexto, a Petrobras deverá avaliar os mercados em que as receitas

excedam os custos de abastecimento das regiões, proporcionando remuneração

satisfatória de seus investimentos, e aqueles nos quais convém abastecer por

considerações estratégicas, tais como criar barreiras à entrada de concorrentes,

manter parcela de mercado, desenvolver futuros consumidores e assegurar imagem

positiva da empresa junto à população e ao mercado consumidor.

Page 102: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

91

A definição do mercado a ser atendido torna-se, portanto, variável

dependente da estratégia adotada pela empresa, de sua capacidade competitiva em

relação aos concorrentes, dos preços dos produtos, dos limites à importação de

derivados a serem estabelecidos pela ANP e de eventuais exigências do Estado,

acionista majoritário, para o atendimento a alguns mercados pouco atrativos.

7.1.3 Receita e Preços

No enfoque monopolista, dada a obrigatoriedade de atendimento a todo o

mercado nacional de derivados, os investimentos no parque de refino que

minimizam o custo de abastecimento nacional equivalem àqueles que maximizam

os lucros, pois a receita proveniente da venda de derivados pelas refinarias às

empresas distribuidoras decorre do mercado garantido e dos preços dos produtos

nas refinarias98, sendo estes determinados pelo governo federal.

No mercado concorrencial, a geração de recursos próprios via

comercialização de derivados deixará de ser garantida em função da perda de

exclusividade de abastecimento do mercado nacional e do fim da sistemática de

preços nas refinarias fixados pelo governo federal com base nos custos de

produção previstos. O faturamento dependerá da parcela de mercado obtida pela

empresa e dos preços dos produtos nas refinarias. Com a abertura do setor

petrolífero, esses preços deverão convergir aos praticados no mercado

internacional, pois as distribuidoras terão a alternativa de importar derivados e os

refinadores de exportá-los, ambos segundo limites estabelecidos pela ANP. A

97 Vale dizer, o planejamento de investimentos em refino estará atrelado à estratégia da empresa na configuração de mercado concorrencial. A utilidade do Planinv na avaliação e escolha de estratégias e, em seguida, na seleção de investimentos será tema discutido no tópico 3 deste capitulo. .. Conhecidos como precos de realizacão da Petrobras, que sAo os valores recebidos pelas refinarias considerando a entrega dos derivados às empresas distribuidoras em determinados locais, normalmente contiguos às refinarias.

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92

atratividade de atendimento a mercados pela Petrobras dependerá, portanto, da

comparação dos preços dos produtos nas refinarias e dos seus custos de produção e

armazenamento.

Os níveis de preços ao consumidor final decorrerão das definições

governamentais de políticas energética, econômica e social. Através da utilização

de mecanismos fiscais e tributários, o governo pode influir nos preços relativos e

absolutos dos derivados de forma a atender a objetivos de conservação e

substituição de energéticos, controle de índices de inflação, promoção do

desenvolvimento regional e setorial, equilíbrio das contas externas, distribuição de

renda etc. Dessa fonna, o governo possui meios para alterar o perfil de demanda

sem, necessariamente, afetar a remuneração dos refmadores. Atualmente, subsídios

cruzados influenciam os preços dos derivados ao consumidor final, tendo

conseqüências sobre a demanda dos produtos. Por exemplo, o preço do GLP ao

consumidor no mercado interno encontra-se bem abaixo do vigente em vários

paises, incrementando seu consumo, enquanto que a gasolina, por contar com

subsídios ao âJcool e a outros derivados em seu preço final, encontra-se em

situação inversa.

No mercado concorrencial, a mudança de preços relativos dos derivados ao

consumidor final, caso ocorra de fato, influirá os investimentos em unidades de

refino, pois irá alterar a proporção de produtos demandados e, por conseqüência, a

rentabilidade de unidades de processo. Portanto, além dos preços vigentes nas

refinarias atuarem sobre a atratividade de atendimento a mercados e sobre a receita

da empresa, os preços ao consumidor final também influenciam na seleção da

carteira de projetos de investimento em refino.

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7.1.4 Disponibilidade de Recursos para Investimento

93

No ambiente concorrencial, a geração de recursos próprios resultará da

parcela do mercado nacional obtida pela empresa e das margens obtidas na venda

de produtos, inclusive na exportação de petróleo e derivados, que poderá se tornar

parcela mais significativa caso a empresa decida internacionalizar sua atuação.

Os recursos para investimento serão complementados por mecanismos já

utilizados na configuração monopolista, como empréstimos e financiamentos. Em

virtude da abertura do setor, os investimentos poderão ocorrer também com a

utilização de novas fontes decorrentes do estabelecimento de parcerias com

empresas em novos empreendimentos ou por associações mediante utilização de

ativos existentes.

7.1.5 Projetos de Investimento

Na ótica concorrencial, os projetos da empresa poderão ser realizados

isoladamente pela Petrobras ou por consórcios com outras empresas. A forma de

investimento em unidades de refino dependerá do tipo de unidade de

processamento.

A expansão de plantas industriais pelo acréscimo de unidades de destilação,

conversão e tratamento, consideradas básicas em qualquer refinaria, dificilmente

será objeto de parcerias, devendo permanecer sob a iniciativa isolada da empresa

proprietária da refinaria. Os investimentos em refinarias completas, entretanto,

poderão ocorrer tanto por empresas isoladas quanto por associações.

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94

As associações deverão se concentrar nos projetos que possuem interface

com o setor petroquímico e de insumos industriais, envolvendo unidades especiais,

como separadora de propeno, calcinadora de coque e para produção de solventes e

parafinas. Esses projetos agregam valor aos derivados básicos produzidos nas

refinarias, aumentando a rentabilidade do segmento refinador.

7.2 Adaptação do Modelo à ótica Concorrencial

Conforme discutido acima, a abertura do setor petrolífero nacional à

participação de outras empresas implica mudanças na forma de inserção da

Petrobras na indústria, exigindo alterações na representação matemática do sistema

de abastecimento contida no Planinv. Com base na abordagem de formulação de

modelos de PL adotada em 5.5, propõem-se mudanças ao Planinv de forma a

refletir a configuração concorrencial que se anuncia e para permitir que o modelo

continue como ferramenta de análise de investimentos em refino na Petrobras.

7.2.1 Variáveis de Decisão

Dada a continuidade de utilização do modelo como suporte à seleção de

projetos de investimento em unidades de refino, permanecem as mesmas variáveis,

pois os objetivos continuam a ser a seleção da melhor carteira de investimentos

para a empresa no longo prazo, indicando quais os projetos e quando devem entrar

em operação.

Dada a tendência dos investimentos em refino se intensificarem em

unidades que agregam valor aos derivados básicos produzidos nos processos de

destilação, conversão e tratamento, classificadas em 4.2 como especiais. convém

incluir no modelo outras unidades desse tipo no rol de projetos contemplados,

como calcinadora de coque, separadora de propeno, parafinas, solventes etc. Isso

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9S

requer, entre outros parâmetros, dados quanto a investimentos, portes de unidades,

cargas e rendimentos. Assim, permitirá analisar sua atratividade em conjunto à dos

demais projetos da carteira de investimentos da empresa.

7.2.2 Função-Objetivo

Em decorrência da abertura do setor petrolífero à atuação de várias

empresas, o enfoque macroeconômico de minimização dos custos de abastecimento

de todo o mercado nacional de derivados de petróleo, presente na FO do Planinv,

deixa de ser atribuição exclusiva da Petrobras no ambiente concorrencial e passa a

ser missão da ANP. Enquanto órgão regulador das atividades do setor, deverá

adotar normas e procedimentos que garantam o atendimento do mercado nacional e

promovam investimentos em beneficio do país, cabendo à ANP, portanto, adotar o

enfoque macroeconômico e social no desempenho de seu papel.

No ambiente concorrencial, a Petrobras disputará mercados com outras

empresas. Sua permanência enquanto empresa competitiva requer investimentos

em projetos rentáveis, de forma a gerar recursos que garantam sua sobrevivência e

crescimento no setor. Deve, portanto, privilegiar o enfoque microeconômico de

obtenção de lucros.

Portanto, a Função-Objetivo proposta consiste em:

FO : Maximizar Lucro (Receita - Custosr

.. Apesar da mudança no modelo da situação de FO minimo custo para FO máximo lucro parecer exigir muitas modificações no modelo, alguns artificios matemáticos permitem torná-Ia bem menos trabalhosa (ver Anexo).

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96

7.2.3 Restrições e Parâmetros

• O atendimento da demanda em todas as regiões e produtos deixa de ser

obrigatório. Deve ocorrer quando a receita de venda do produto superar seus

custos de produção, transporte e armazenamento e quando for objetivo

resultante de estratégia adotada pela empresa. Portanto, a estimativa de demanda

nacional por produto e região deve ser considerada como mercado potencial,

sujeito a considerações de custo e estratégicas da empresa. A previsão de

demanda deixa de ser, portanto, restrição decorrente de obrigatoriedade de

atendimento, independente dos custos, como ocorre no enfoque monopolista, e

passa a representar potencial de mercado segundo interesse e capacidade

competitiva da empresa.

• No enfoque concorrencial, para permitir a decisão de atendimento a mercados

pelo modelo, deve-se fornecer também a previsão dos preços dos derivados nas

refmarias ou nas bases de distribuição, que deverão se balizar nos níveis

praticados no mercado internacional. Como o governo deverá utilizar

mecanismos fiscais que garantam o abastecimento de regiões distantes, pode-se

contemplar preços diferenciados por região. Adicionalmente, a obtenção de

maiores parcelas de mercado pela empresa pode ser condicionada à obtenção de

preços decrescentes, incluindo-se níveis de preço menores por volumes

adicionais de mercado pretendido.

• A permanência da Petrobras como representante estatal no setor pode exigir que

a empresa atenda a determinados mercados não-rentáveis, que deixariam de ser

atendidos quando considerados apenas critérios de rentabilidade. Nesse casos, e

em situações decorrentes de opção estratégica da empresa, a continuidade de

abastecimento obrigatório de alguns produtos e regiões poderã permanecer no

modelo, devendo ser explicitados aos tomadores de decisão os custos

envolvidos.

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97

• A possibilidade de desenvolvimento de empreendimentos pela Petrobras em

associação com outras empresas possibilita aumentar a disponibilidade de

recursos para investimento, sobretudo em projetos de unidades especiais e novas

refinarias. O modelo pode rodar livre de restrições de recursos para indicar o

potencial de investimentos em refino, oferecendo esse tipo de unidade para

indicar projetos rentáveis, nos quais seriam apontados possíveis

empreendimentos e testadas propostas de parceria realizadas por outras

empresas.

7.3 Abordagem de Planejamento com o Modelo

A atividade de planejamento engloba aspectos estratégicos, táticos e

operacionais, referindo-se, respectivamente, a preocupações de longo, médio e

curto prazos. Para auxiliar no processo de tomada de decisões relacionadas a

aspectos operacionais do abastecimento, a Petrobras dispõe de modelos para

compra e alocação de petróleo e derivados e para otimização de produção de

derivados nas refinarias.

O Planinv pode auxiliar a atividade de planejamento da empresa nas

questões relacionadas à otimização do abastecimento nos aspectos estratégicos e

táticos, conforme pode ser visto na Figura 9. A partir do planejamento estratégico

da empresa, elaboram-se cenários de longo prazo do abastecimento. Várias

estratégias podem ser adotadas para o segmento downstream. O Planinv pode ser

utilizado nessa fase para testar as estratégias possíveis e auxiliar na avaliação das

conseqüências de diferentes cursos de ação sobre a rentabilidade da empresa,

parcela de mercado obtida, riscos associados às estratégias etc. Esse processo

iterativo persiste até a escolha ''final'' das estratégias.

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FIGURA 9

ABORDAGEM DE PLANEJAMENTO COM A UTILIZAÇÃO DO PLANINV

r Planejamento Estratégico Petrobras

1 Cenários para o Abastecimento

1 Estratégias para o

Refino

E

98

FAS ESTRAT ÉGICA -< 1

Simulação com o

FASE TÁTICA

Planinv

1 Avaliação de

Estratégias

+ Seleção de Estratégias

'- --------- ----Simulação do Planinv com Propostas de

Simulação do Planinv sem Restrição de Recursos

Restrição de Recursos Parcerias

Carteira Potencial Carteira Proposta

(Incluindo Possíveis Parcerias)

Detalhamento dos Estudos dos Projetos

� � Impacto do Projeto no Análise de Sensibilidade

Abastecimento do Projeto

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99

Na fase tática, após a definição das estratégias, o Planinv pode dar suporte

ao planejamento em duas vertentes. Por um lado, rodando sem restrição de

recursos, pode auxiliar a definir a carteira potencial da empresa. Os projetos

apontados constituem, então, as oportunidades de investimento existentes no

abastecimento, que podem ser realizadas isoladamente pela própria empresa ou

indicar a conveniência de se procurarem sócios em empreendimentos nos quais

parcerias sejam consideradas adequadas, seja por razões estratégicas, tecnológicas,

financeiras etc.

Por outro lado, adotando restrição de recursos e contemplando propostas de

empresas interessadas em estabelecer parcerias, o Planinv pode ser utilizado para

selecionar a carteira de investimentos no abastecimento. Dessa forma, pode auxiliar

na seleção de projetos de investimento em situação de escassez de recursos.

Por fim, o modelo pode ser utilizado para avaliar o impacto de um projeto

isolado . sobre o sistema, detalhando-se o estudo de determinado investimento

adicional sobre o abastecimento. Nesse contexto, o Planinv permite checar a

rentabilidade do projeto, podendo-se adotar diferentes cenários para testar os riscos

associados à escolha de determinado empreendimento.

7.4 Abastecimento Nacional1oo

As mudanças descritas em 7.2 permitem ajustar o Planinv ao ambiente

concorrencial, de forma a auxiliar os gerentes da Petrobras, enquanto uma das

empresas atuando no setor petrolífero nacional, na seleção de projetos de

investimento que garantam rentabilidade e competitividade à empresa. O Planinv

passa a adotar, portanto, a ótica rnicroeconôrnica.

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100

A atribuição de coordenar as atividades do setor petrolífero nacional para,

entre outros objetivos, garantir o abastecimento, promover a competição entre

empresas, atrair investimentos de risco e promover o desenvolvimento nacional

caberá ao órgão regulador. No desempenho de suas atribuições, a ANP deverá

adotar enfoque macroeconômico e social, delegado à Petrobras durante o periodo

de exclusividade de execução do monopólio e refletido na representação

matemática do sistema de abastecimento realizada no Planinv na ótica monopolista.

Assim, a abordagem de mínimo custo de abastecimento do país, presente no

Planinv descrito em 5.5, pode ser útil ao órgão regulador. Além das questões já

contempladas naquela abordagem, podem-se incluir outras restrições que reflitam o

papel a ser desempenhado pela ANP de acordo com os interesses nacionais,

adaptando-se aquela versão do modelo aos interesses do órgão regulador, que pode

contemplar, entre outras questões:

• dispêndio anual máximo de divisas na importação líquida de petróleo e

derivados

• razão mínima de reservas/produção de petróleo ou fatores de reposição de

reservas

• percentual mínimo de petróleo nacional no total processado nas refinarias do

país

• percentual máximo de importação de derivados sobre o consumo interno,

proporcional ao mercado de cada empresa distribuidora de derivados

Nesse contexto, o modelo poderia ser utilizado, em corridas sem restrição

de recursos, para indicar a carteira de projetos no segmento downstream . que

100 Embora não constitua objetivo deste trabalho, comenta-se, neste tópico, acerca da posslvel utilidade do Planinv sob a ótica monopolista para a ANP, enquanto órgão regulador, desempenhar suas atribuições de forma a garantir o abastecimento nacional de derivados de petróleo, no longo prazo, aos menores custos.

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101

minimizaria o custo de abastecimento nacional. Os investimentos indicados

contribuiriam para a ANP estudar e propor mecanismos que incentivassem as

empresas a investir, de forma a aumentar a competitividade da economia nacional,

dada a importância dos derivados de petróleo na matriz energética do país 101.

,o, Como exemplo, poderia ser utilizado para estudar o nível de imposto de importação de derivados que tomaria viável o investimento em novas refinarias, caso tal empreendimento se tome objetivo estratégico ou social do país, entre outras possibilidades de utilização do modelo adaptado às atribuições do órgão regulador.

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8 APLICAÇÃO DO MODELO DE

PLANEJAMENTO DE INVESTIMENTOS

8.1 Definição do Exemplo

102

Os objetivos deste exemplo consistem em analisar, em função de diferentes

premissas de preços e de atendimento a mercados, os tipos e portes de unidades de

refino selecionados pelo Planinv, o correspondente montante de recursos

necessário para viabilizar a carteira potencial de projetos indicada e seus efeitos

sobre o abastecimento do mercado nacional.

Para ilustrar a utilização do Planinv como instrumento de suporte ao

planejamento de investimentos em refino, sob diferentes abordagens, realizaram-se

quatro corridas contendo parâmetros relativos às atividades de produção,

transporte, refino, comercialização e finanças, além de dados relacionados à

estimativa de demanda, qualidade de produtos etc., descritos em 5.5.

As corridas foram realizadas sem adotar restrição de recursos financeiros,

deixando-se o Planinv indicar livremente o montante de investimentos considerado .

ideal. Dessa forma, os projetos selecionados constituem a carteira de investimentos

potencial em cada caso. As premissas que variam entre as corridas encontram-se

descritas a seguir e resumidas no quadro abaixo:

Page 114: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

Premissas

Preços 102

Mercado

Oferecido

ao Modelo

Mercado

Atendido

pelo Modelo

Ótica

Monopolista

I

Total

Total

103

C O R R I D A S

Ó t i c a

C o n c o r r e n c i a l

11

Realização103

Total

Modelo

Indica

m

Roterdã104

Total

Modelo

Indica

IV

Roterdã

Parcial

Modelo

Indica

A corrida I reflete a formulação do Planinv sob a ótica monopolista,

conforme definida no capítulo 5. Nessa abordagem, os preços dos derivados são

parâmetros desnecessários, pois o abastecimento de todo o mercado nacional deve

ser garantido pela Petrobras, independentemente da rentabilidade dos mercados,

seja através de investimentos para ampliar a produção de derivados ou pela

102 Considerando a entrega de derivados pela Petrobras às empresas distribuidoras nas bases primárias. 101 Preços de realização são os valores Iiquidos recebidos pela Petrobras na comercialização de derivados às empresas distribuidoras, sendo fixados pelo governo federal através do DNC. 104 Dada a grande disparidade de preços ao refinador, em alguns derivados, entre os mercados interno e externo (ver Tabela 4), os valores praticados em Roterdã representam uma primeira aproximacio dos níveis vigentes no mercado internacional (\) coerentes com a tendência de configuração de mercado concorrencial que se anWlcia e com os objetivos governamentais de extinguir subsldios cruzados entre derivados de forma a ajustar os preços internos aos praticados no mercado internacional e (2) adequados aos objetivos do exemplo desenvolvido neste capitulo.

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104

importação de produtos. O modelo seleciona, então, os projetos que minimizam o

custo de abastecimento nacional. O mercado oferecido, que representa a previsão

de demanda nacional de derivados por base e por produto para o periodo estudado,

deve ser integralmente atendido.

As corridas lI, m e IV baseiam-se na formulação do Planinv sob a ótica

concorrencial, apresentada no capitulo 7. Nesse enfoque, o modelo seleciona a

melhor alternativa para atender mercados rentáveis. Portanto, nessas corridas, o

Planinv seleciona os mercados a serem atendidos em função dos preços dos

produtos -parâmetros fornecidos- e de seus custos de produção, transporte e

armazenamento.

As corridas II e m são realizadas oferecendo ao modelo todo o mercado

nacional de derivados previsto para o horizonte de estudo, de forma a auxiliar na

avaliação dos efeitos de diferentes níveis absolutos e relativos de preços sobre o

atendimento ao mercado nacional e sobre os projetos de investimento selecionados.

O mercado oferecido em II e m será atendido na medida em que ofereça

rentabilidade, com base nos preços.

Para ilustrar a necessidade dos preços internos tenderem aos níveis

praticados no mercado internacional, em ambiente de abertura do setor petrolífero

à participação de outras empresas, a corrida II considera como referência os

valores recebidos pela Petrobras, em cada derivado, no inicio de 1996, enquanto

que a corrida m utiliza preços dos produtos com base em valores praticados em

RoterdãJ05. Os resultados dessas corridas permitem avaliar a atratividade de

atendimento a mercados no cenário de não-obrigatoriedade de abastecimento

segundo dois níveis de preços, o praticado sob monopólio -estabelecido pelo

governo- e uma referência dos vigentes no mercado aberto -baseados em Roterdã.

Page 116: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

1 05

A corrida IV, também sob ótica concorrencial, ilustra a utilização do

Planinv pela Petrobras enquanto uma das empresas atuando no setor petrolifero

nacional. Parte do pressuposto de que os gerentes, após avaliarem cenários para o

abastecimento e possíveis conseqüências da escolha de diferentes estratégias -

rentabilidade, riscos, parcela de mercado, imagem da empresa etc.-, tenham

decidido planejar os investimentos necessários ao parque de refino da empresa

assumindo como premissa atender: (1) a 70% do mercado previsto de gasolina e

diesel, que juntos respondem por cerca de 60% do total da demanda nacional de

derivados; e (2) à totalidade dos demais produtos, ambos quando o abastecimento

desses mercados for rentável.

8.2 Apresentaçiio e Análise dos Resultados

A análise dos resultados das corridas será efetuada de forma agregada,

considerando os investimentos selecionados para as diversas refinarias

conjuntamente, por tipo de unidade, e a demanda nacional dos principais

derivados. Adicionalmente, para facilitar a apresentação dos resultados e reduzir o

número de variáveis contempladas, optou-se por concentrar a análise no ano

2002106•

10' Adotam-se estimativas de preços baseadas na média dos valores praticados em Roterdã em 1995, ajustadas para refletir diferenças de qualidade dos produtos e coerentes com previs!!o dos preços de petróleo para o horizonte estudado. 106 Conforme discutido no capitulo 5, O Planinv seleciona a carteira de projetos de refino, indicando os portes dos investimentos em cada unidade de processo, por refinaria, ano a ano. A análise dos investimentos acumulados até um determinado ano, agregada em tipos de lDlidade (definidos no capitulo 4), e a avaliação dos mercados atendidos por produto em totais nacionais simplifica o universo de análise e atende aos objetivos deste capítulo, que consistem em ilustrar a utilização do Planinv e seu potencial para gerar informação à atividade de planejamento. Escolheu-se 2002 por ser um ano de referência nos estudos de planejamento de investimentos realizados atualmente na Petrobras.

.

Page 117: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

106

Os resultados encontram-se resumidos nas tabelas a seguir. A Tabela 3

apresenta os investimentos em unidades de refino selecionados pelo modelo, por

tipo de unidade, e aponta o montante de recursos necessário para viabilizar a

carteira proposta em cada corrida. A Tabela 4 exibe, para os principais derivados

de petróleo, os percentuais de mercado não-afendido em cada corrida, além dos

preços adotados como premissas sob enfoque concorrencial - preços de realização

em II e referenciados a Roterdã em m e IV.

Analisando a Tabela 3, nota-se que, sem obrigatoriedade de abastecimento

de todo o mercado nacional de derivados, os investimentos em ampliação de

capacidade -destilação- diminuem significativamente entre I e as demais corridas e

reduz-se o montante de recursos necessário para viabilizar a carteira de projetos.

Os investimentos entre I e II caem 23% -menos US$ 600 milhões- e 27% entre I e

m -menos US$ 700 milhões.

A Tabela 4 evidencia as parcelas de mercado não-rentáveis, por derivado,

nas corridas concorrenciais, refletindo a falta de atratividade de seu abastecimento,

principalmente quando se utilizam preços de realização (lI) .

O planejamento de investimentos em refino pressupõe estudar a

configuração futura do parque refinador que se ajuste à magnitude e perfil da

demanda prevista e às características dos petróleos a serem processados. Avaliam­

se projetos de construção, expansão e ajuste de refinarias em paralelo a

oportunidades de importação de produtos, selecionando-se o mix que produza os

melhores resultados, sejam de minimização de custos (1) ou de maximização de

lucros (lI, m e 1V).

Page 118: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

CORRIDAS

I

"

'"

IV

TABELA 3

INVESTIMENTOS EM REFINO POR TIPO(a) DE UNIDADE (em mil m3/dia)

T I P o S D E U N I D A D E S D E R E F I N O (b)

DESTILAÇÃO I CONVERSÃO I TRATAMENTO I ESPECIAIS (e)

44 49 1 0 4

14 31 1 1 1 7

23 37 9 4

1 3 29 6 1

(a) Conforme definido em IV.2

MONTANTE DE

RECURSOS (US$ BI)(d)

2,6

2,0

1 ,9

1 ,2

(b) Capacidade adicional ao parque de refino previsto em 1 999 decorrente dos investimentos realizados até 2002.

(c) Consideradas apenas unidades para produção de gasolina com alta octanagem.

(d) Valor aproximado dos desembolsos necessários para realizar a carteira de projetos de refino selecionada,

adotando-se determinados portes de unidades de processamento como referência. -o ...,

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TABELA 4

MERCADO NÃO-RENTÁVEL POR PRODUTO(a) SEGUNDO NíVEIS DE PREÇOS

(percentual da demanda nacional não-atendida em 2002)

CORRIDAS GLP GASOLINA DIESEL NAFTA ÓLEO

PETROQufMICA COMBUSTfvEL

I O O O O O /I 26 O 5 81 6 111 1 3 1 2 6 31 4

IV(b) 1 2 O 1 O 3

PREÇOS (US$/m 3 ) Realização (11) 43 1 97 126 95 94

Roterdã (111 e IV) 93 133 1 27 1 19 83

----_ .. .. - - -

(a) Foram considerados apenas os principais derivados de petróleo.

(b) Percentuais de gasolina e diesel considerando como premissa atender a 70% do mercado total.

O restante seria abastecido por outras empresas. .­o 00

Page 120: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

1 09

Nesse contexto, o abastecimento obrigatório de todo o mercado nacional de

derivados aos menores custos (1) implica investir montante de recursos equivalente

a US$ 2,6 bilhões, de forma a viabilizar a carteira de projetos em destilação,

conversão, tratamento e em unidades especiais, cujos investimentos permitem

adequar o perfil de produção das refmarias ao atendimento de todo o mercado e à

matéria-prima previstos, independentemente da rentabilidade dos mercados.

Aos orecos de realizacão e oferecendo todo o mercado previsto (lI), a

diferença de investimentos entre I e II atinge 30 mil m3/dia (44 - 14) em destilação

e 1 8 mil m3/dia (49 - 3 1) em conversão. A título de ilustração, essas diferenças

equivalem à capacidade de processamento e conversão de uma refinaria de grande

porte, processando cerca de 190 mil barris/dia de petróleo e com alta taxa de

conversão de produtos pesados em leves.

Adicionalmente, 26% da demanda de GLP e 81 % da de nafta não são

atendidos em lI, principalmente em virtude de seus baixos preços - o GLP de

realização representa 46% do valor praticado em Roterdã, enquanto que a nafta

atinge 80%107. Como, dada a configuração do parque de refino, o processamento de

um determinado petróleo gera certas proporções "fixas"I08 de derivados, parcelas

da produção de nafta e GLP que poderiam ser direcionadas ao mercado consumidor

são utilizadas, em lI, como carga de unidades que as transformam em correntes

formadoras de gasolina, em virtude de seu alto preço e dos baixos valores de GLP e

da nafta aos preços de realização. Por isso, os investimentos em unidades especiais

aumentam significativamente entre I e lI, representando projetos de unidades de

reforma catalítica, alquilação, isomerização e fracionamento de nafta. Assim,

consegue-se atender a todo o mercado de gasolina em II sem se amplíar

'07 Por outro lado, o preço de realização da gasolina encontra-se 48% acima do valor praticado em Roterdã e o do óleo combustfvel 13%, enquanto que o do diesel encontra-se no mesmo nfvel. , .. Podem ser realizadas transferências de parcelas de produtos, como nafta para diesel, diesel para QA Y e vice-versa, flexibilizando, em parte, essas proporções.

Page 121: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

1 1 0

significativamente a capacidade de refino e o processamento de petróleo. Ainda em

n, não se atende a pequena parcela (5%) da demanda de diesel, representada por

pontos nas regiões N, NE e CO.

Aos orecos de Roterdã e oferecendo todo o mercado previsto (llI), a

diferença de investimentos entre I e m alcança 21 mil m3/dia (44-23) em destilação

e 12 mil m3/dia (49-37) em conversão, o que representa uma refinaria de médio

para grande porte. A parcela não-atendida de GLP em m cai à metade em relação a

n, deixando de ser abastecidos alguns pontos das regiões N, NE e CO, enquanto

que a maior parte da demanda de nafta passa a ser rentável. Em contrapartida,

parcela do mercado de gasolina (12%) deixa de ser atendida\09, sobretudo em

mercados na região CO, refletindo a queda de rentabilidade desse produto

decorrente da redução de seu preço em relação a n -de US$ 197/m3 para US$

133/m\ e em virtude dos maiores custos de transferência de produtos aos

mercados mais distantes e de dificil acesso.

Comparando n e m, percebe-se melhoria substancial nas condições de

abastecimento do mercado nacional. As parcelas não-atendidas diminuem

sensivelmente. Aos preços de Roterdã (li), os investimentos caem

significativamente -de 17 mil m3/dia para 4 mil m3/dia- em unidades especiais,

quando comparados aos preços de realização (TI), refletindo a mudança de preços

absolutos e relativos, principalmente da nafta, do GLP e da gasolina. Os montantes

de recursos em n e m são equivalentes, ocorrendo, entretanto, alocação diferente

entre os tipos de unidades em decorrência dos níveis de preços adotados, havendo

forte "migração" de investimentos em unidades especiais para destilação e

conversão entre n e m.

Aos precos de Roterdã e oferecendo o mercado parcial (IV), os

investimentos em ampliação de capacidade e ajuste do parque de refino são

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1 1 1

menores que nas demais corridas, em função da premissa de atendimento a 70%

dos mercados de gasolina e de diesel e à totalidade dos demais, quando rentáveis.

Assim, o Planinv indica investimentos -US$ 1 ,2 bilhão- para atender a todo o

mercado oferecido de gasolina e nafta, quase toda a demanda de 6leo combustível

(97%) e de diesel (99%), não considerando rentável pequena parcela do GLP

(12%), concentrada em alguns pontos no NE.

A carteira de projetos indicada em IV atende, portanto, a uma possível

definição estratégica da empresa. Permite vislumbrar os investimentos que

propiciariam à empresa ter capacidade de produzir derivados para atender a 70%

do mercado de gasolina e de diesel, a totalidade da demanda de nafta e a quase

todo o 6leo combustível (97%) e GLP (88%), parcelas consideradas rentáveis.

Os projetos de unidades de tratamento, que produzem correntes formadoras

do diesel com baixo teor de enxofre, baixa instabilidade e alto indice de cetana,

permanecem no mesmo nível em I, II e m, em razão das especificações futuras de

qualidade desse derivado exigirem investimentos em unidades de hidrotratamento

para ajustar o parque de refino da empresa e em virtude do mercado atendido desse

produto ter-se mantido praticamente estável nessas corridas. Em IV, a ampliação

de capacidade de tratamento equivale a aproximadamente 70% do indicado nas

outras corridas, o que representa o percentual de . diesel definido como mercado

potencial e atendido nessa corrida.

Os investimentos em unidades de conversão, que transformam derivados

pesados em leves, são expressivos em todas as corridas. Isso decorre da

necessidade de ajustar o perfil de produção das refinarias: (1) à queda relativa de

6leo combustível -derivado pesado- e ao aumento de gasolina -leve- no barril

médio demandado e (2) ao aumento previsto da produção de petr6leo nacional com

características pesadas, acarretando maior proporção desse tipo de matéria-prima

109 Além de pequenas parcelas de diesel (6%) e de óleo combustível (4%).

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1 12

no total da carga processada nas refinarias. Conjugados, esses dois fatores apontam

na mesma direção: necessidade de ajustes expressivos no parque de refino em

ftmção de mudanças a montante e a jusante do segmento refmador na cadeia da

indústria petrolífera, requerendo elevados investimentos em unidades de conversão

para permitir o processamento adequado da carga e atender ao mercado

consumidor da forma mais rentável possivel.

8.3 Algumas Conclusões

o enfoque adotado na corrida I, de abastecimento de todo o mercado

nacional aos menores custos, reflete abordagem macroeconômica e social,

aproximando-se das atribuições que o órgão regulador deverá ter no desempenho

de suas ftmções. De acordo com as premissas adotadas no exemplo desenvolvido

neste capitulo, os investimentos apontados em I constituem, pois, uma primeira

aproximação dos projetos que permitiriam ao pais obter, no longo prazo, os

maiores beneficios com as refinarias aqui instaladas.

Portanto, o aperfeiçoamento do Planinv para incluir outras questões

relevantes à ANP, conforme discutido em 7.4, e o desenvolvimento de estudos

complementares podem servir de suporte àquela agência na formulação de políticas

que incentivem as empresas a investirem na direção considerada adequada para o

pais.

As corridas lI, m e IV permitem constatar, sob enfoque agregado, a

influência dos preços -relativos e absolutos- dos derivados sobre o abastecimento

do pais e sobre os investimentos selecionados quando não há obrigatoriedade de

atendimento a mercados.

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1 1 3

Quanto ao abastecimento nacional, nota-se que o percentual de atendimento

aos mercados aumenta de fonna expressiva quando se adotam os preços de

Roterdã, em comparação aos preços de Realização, pois reduzem-se

substancialmente os mercados não-rentáveis de GLP e de nafta -este, totalmente

atendido em IV-, enquanto que os demais mercados encontram-se quase que

integralmente abastecidos em rn e IV.

Algumas parcelas de mercado dos vários produtos não apresentam

rentabilidade satisfatória nas três corridas concorrenciais, indicando falta de

atratividade econômica. Isso decorreu, em parte, das premissas .do estudo, que

consideraram que (I) o refinador deveria entregar os derivados às distribuidoras

nas bases primárias, incorrendo nos custos de transporte dos produtos entre a

refinaria e a base, e (2) os preços seriam iguais em todas as bases. Assim, alguns

mercados de GLP, por exemplo, não apresentam rentabilidade nessas três corridas,

o que sugere a necessidade de os preços dos derivados variarem entre as regiões

elou o governo adotar mecanismos compensatórios -tributação diferenciada,

ressarcimento etc.- para garantir seu abastecimento, caso seu atendimento

pennaneça como objetivo econômico e social.

Quanto ao efeito dos preços sobre a carteira de projetos mais rentável, nota­

se que a configuração "ideal" do parque de refino varia substancialmente confonne

os valores adotados. Embora os montantes de investimento apontados em 11 e rn

sejam semelhantes, a distribuição dos recursos entre os tipos de unidades difere: os

investimentos em projetos de ampliação de capacidade em rn "migram" para

unidades especiais em 11. Assim, a Petrobras deverá ajustar seu parque de refino à

nova configuração de mercado que se desenha, que tende a ter preços mais

próximos dos praticados no mercado internacional do que dos vigentes no mercado

interno sob ótica monopolista.

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1 14

Por fim, além das conclusões relacionadas às co"idas e apresentadas acima,

cabe destacar a flexibilidade do Planinv como instrumento de apoio à atividade de

planejamento. Adotando análise agregada dos resultados, este exemplo procurou

ilustrar a capacidade de o Planinv gerar informação em um dos contextos de sua

possível utilização. Outros usos podem ocorrer também no processo de avalíação e

escolha de estratégias e, sobretudo, na seleção de projetos de refino de forma mais

específica, segundo determinado curso de ação definido, em função da

representação matemática do sistema de abastecimento nacional de derivados de

petróleo retratada no Planinv ser bastante detalhada.

Page 126: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

9 CONCLUSÃO

1 1 5

Dentre as transformações pelas quais vem passando a economia brasileira

nos últimos anos, a abertura do setor petrolífero nacional à participação de outras

empresas, além da Petrobras, constitui evento que induz a intensas modificações na

estrutura de mercado e na forma de inserção da empresa no setor, exigindo, entre

outras questões, a reavaliação de instrumentos de apoio à tomada de decisão.

Diante disso, este trabalho analisou as conseqüências da abertura do setor

petrolífero nacional sobre a atividade de planejamento de investimentos em refmo

na Petrobras, de forma a identificar as alterações necessárias ao modelo concebido

sob enfoque monopolista para que continue sendo ferramenta de apoio à atividade

de planejamento no ambiente concorrencial.

A fim de compreender de forma mais detalhada o contexto do problema em

estudo, fez-se breve revisão acerca das características da indústria do petróleo, da

empresa em análise e da atividade de refinação relevantes ao planejamento de

projetos de investimento, além de se reverem as características da programação

linear, abordagem utilizada para representação do sistema de abastecimento de

derívados de petróleo. Descreveu-se, então, o modelo matemático utilizado como

suporte à escolha de projetos em unidades de refino na Petrobras, sob enfoque

monopolista, e sua inserção no processo de planejamento da empresa.

Em seguida, avaliaram-se as conseqüências da abertura do setor petrolífero,

com ênfase em refino, discutindo-se sua tendência de configuração e as

implicações para a Petrobras, de forma a identificar as alterações necessárias ao

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1 16

modelo existente. Por fim, ilustrou-se a utilização do modelo, comparando-se os

resultados obtidos sob enfoque concorrencial àqueles decorrentes da aplicação da

abordagem monopolista.

o trabalho permitiu conhecer melhor a natureza e a complexidade do

planejamento de investimentos em refmarias de petróleo e concluir sobre questões

relacionadas às características do problema em estudo, à necessidade de constante

revisão de modelos, à forma de utilização do Modelo de Planejamento de

Investimentos (planinv) na Petrobras e à tendência de preços e de atendimento a

mercados no ambiente concorrencial.

Quanto às características do problema em estudo, a interdependência das

unidades de processo, a multiplicidade de produtos e subprodutos existentes nas

refinarias, a dispersão geográfica de instalações industriais e de mercados e a

restrição de recursos recomendam o uso de ferramenta que permita refletir tal

complexidade na avaliação de projetos. Adicionalmente, por ser a Petrobras uma

empresa integrada verticalmente, sua atividade de refino deve ser analisada em

conjunto às demais áreas da empresa Tal enfoque encontra-se retratado no

Planinv, cuja formulação permite captar as inter-relações de processos e de

produtos no refino e contemplar sua interface com as áreas de produção, transporte

e comercialização de petróleo e derivados 1 10.

Os elevados montantes de recursos com longo prazo de maturação

envolvidos em projetos de refino, que freqüentemente alcançam centenas de

milhões de dólares, justificam o emprego de ferramenta detalhada, que . requer

esforço significativo de levantamento e atualização continua de dados de diversas

áreas e pressupõe a disponibilidade de computadores com grande capacidade de

1 10 Apesar de o Planinv descrito neste trabalho considerar todas as refinarias de forma integrada, sua formulação permite utilizá-lo considerando apenas algumas refinarias. Isso permite seu uso para análises regionalizadas, contemplando refinarias e mercados na área de influência de determinada região, como Mercosul, Sudeste, NINE/Caribe.

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1 17

processamento, recursos nonnalmente disponíveis apenas em empresas de grande

porte.

As várias alterações implementadas no Planinv evidenciam a necessidade de

constante revisão de modelos. O detalhamento de modais de transporte, a inclusão

de diferentes unidades de processo das refinarias, de restrições financeiras, de

projetos de produção de petróleo e de crescentes exigências de qualidade de

produtos, entre outras questões, constituem exemplos de ajustes realizados ao

longo de sua existência a fim de manterem a ferramenta aderente à realidade em

constante mutação.

Assim, o modelo foi continuamente revisto à luz das modificações nos

ambientes externo e interno à empresa. Como as alterações no Planinv discutidas

neste trabalho baseiam-se em tendência de configuração do setor petrolífero

nacional, cuja regulamentação encontra-se ainda em elaboração no Congresso

Nacional, cabe reavaliá-las tão logo se descortinem as regras que, de fato,

prevalecerão no ambiente concorrencial que se anuncia e se defina o papel a ser

desempenhado pela empresa na nova configuração de mercado! ! ! .

Em comparação à configuração monopolista, que reserva· à Petrobras o

atendimento ao mercado nacional de derivados de petróleo, o ambiente

concorrencial awnenta a incerteza relacionada à estimativa de participação da

empresa no suprimento do pais. A definíção da estratégia de investimentos em

refino exigirá a avaliação das conseqüências de diferentes cursos de ação segundo

diferentes cenários.

I I I A reavaliação deve envolver não apenas o equacionamento do modelo propriamente dito, mas também a própria abordagem utilizada para representar o problema em análise. Pode-se, no futuro, concluir ser mais adequado representar o sistema de abastecimento (ou parte dele) através de (ou com o complemento de) outra abordagem de pesquisa operacional.

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1 18

Nesse contexto, além da utilizacão do Planinv na fase de seleção de projetos

segundo estratégia previamente definida, pode-se fomentar seu uso na fase de

avaliação e escolha de estratégias. Atuaria como um simulador dos investimentos

necessários para se atingir determinada situação desejada, de forma a se obter

informação quanto à exeqüibilidade de estratégias -necessidade de recursos,

parcela de mercado pretendida etc.- e auxiliar na avaliação de suas implicações

sobre rentabilidade e riscos envolvidos.

Os resultados do exemplo desenvolvido no capitulo anterior auxiliam na

análise da tendência de precos ao refinador e do abastecimento aos mercados em

ambiente concorrencial, além de ilustrarem a possivel utilidade do Planinv,

conforme descrito no capítulo 5, ao futuro órgão regulador (Agência Nacional de

Petróleo - ANP).

O aperfeiçoamento do Planinv sob abordagem de mínimo custo do

abastecimento nacional, partindo-se da formulação descrita no capítulo 5, e o

desenvolvimento de estudos complementares podem servir de suporte à ANP na

formulação de políticas que incentivem as empresas a investirem na direção

considerada adequada para o país. Podem-se incluir naquela formulação do

modelo restrições de dispêndio anual máximo de divisas na importação de petróleo

e de derivados, percentual mínimo de petróleo nacional processado nas refinarias

do país, fatores de reposição de reservas e outras questões consideradas adequadas

ao órgão regulador.

Quanto ao abastecimento nacional, nota-se que o percentual de atendimento

aos mercados aumenta de forma expressiva quando se adotam os preços de

Roterdã, em comparação aos preços de Realização, pois reduzem-se

substancialmente os mercados não-rentáveis. Entretanto, algumas parcelas de

mercado dos vários produtos continuam não apresentando rentabilidade

satisfatória, o que sugere a tendência de os preços dos derivados variarem entre as

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1 19

regiões e/ou a necessidade de o governo adotar mecanismos compensatórios -

tributação diferenciada, ressarcimento etc.- para garantir seu abastecimento, caso o

atendimento dessas regiões permaneça como objetivo econômico e social.

Quanto ao efeito dos preços ao refinador sobre a carteira de projetos mais

rentável, percebe-se que a configuração "ideal" do parque de refino varia

substancialmente conforme os valores adotados. Assim, a Petrobras deve ajustar

seu parque de refino à nova configuração de mercado que se desenha, que tende a

ter preços mais próximos dos praticados no mercado internacional do que dos

vigentes no mercado interno sob a ótica monopolista.

Por fim, cabe destacar que este trabalho analisou as mudanças necessárias a

um dos instrumentos de apoio à tomada de decisão na Petrobras, à luz das

implicações da abertura do setor petrolífero nacional sobre a forma de atuação da

empresa. Podem-se desenvolver estudos semelhantes envolvendo não apenas

outros modelos matemáticos, como os voltados ao planejamento de atividades de

produção, transporte e comercialização de petróleo e derivados, mas também a

própria sistemática de planejamento empresarial em ambiente concorrencial.

Em relação ao planejamento de investimentos em refino, tema abordado

neste trabalho, acredita-se que as alterações na formulação do Planinv, de forma a

refletir o ambiente concorrencial, e o desenvolvimento de sua utilização na etapa

estratégica de planejamento, em complemento ao seu uso já difundido na fase

tática, possam contribuir para os gerentes da Petrobras escolherem estratégias

empresariais e projetos de investimento que mantenham a capacidade competitiva

da empresa e promovam seu crescimento no longo prazo.

Page 131: ANÁLISE DE INVESTIMENTOS EM REFINO NA ... - … · A análise de projetos de investimento em refinarias de petróleo requer abordagem que considere a interdependência das diversas

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126

ANEXO

SIMPLIFICAÇÃO DAS MUDANÇAS NO MODEW

No enfoque concorrencial, o objetivo da atividade de planejamento de

investimentos em refino na Petrobras deve consistir em selecionar projetos

rentáveis, respeitando-se as diversas restrições. A Função-Objetivo (FO) de

maximização de lucros corresponde a:'

Max Lucro = R - C

onde :

Lucro= (Mpb X P) - C

como Mpb = Mtotal - M"pb

Lucro = (MrotaI - M"pb) x P - C

Lucro = (M.otal x P) - (M"pb X P) - C

R = Receita Auferida na Venda de Derivados

C = Custos Operacionais e de Investimento, conforme definidos

no capítulo 5

P = Preços dos derivados nas refinarias ou nas bases de distribuição

primárias

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M.otal = Mercado Total do pais

Mpb = Parcela de Mercado Atendida pela Petrobras

M.,pt, = Parcela de Mercado Atendida por outras empresas

Como Mtotal e P são constantes fornecidas ao modelo, o termo MtotaI x P é

uma constante e pode ser eliminado, transformando a FO, via inversão de sinais,

em mínimo custo:

Max Lucro = - (Mt.pb X P) - C

Contudo, o valor absoluto da FO não representará o "lucro" da empresa,

pois a abordagem acima não considera a receita auferida no mercado atendido, mas

a ''perda'' de receita decorrente do mercado não-atendido pela empresa, em virtude

do seu custo de abastecimento ser maior que a receita.

* * *

Portanto, para evitar as várias alterações de sinais de inequações de

demanda de produtos e regiões, bem como reduzir as modificações necessárias à

FO do Planinv, podem-se adotar os seguintes procedimentos:

1 . A FO passa a ser escrita como:

FO : Minimizar Custo (Operacional + Investimento +

+ Mercado não-Atendido pela Petrobras)

onde o custo do Mercado não-Atendido pela Petrobras (M.,pb x P) seja

valorado como:

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Volume não-Atendido x Preço do Produto no local de atendiment01l2

2. Inequações de Mercado

No enfoque monopolista, dada a obrigatoriedade de atendimento, as

inequações de mercado consistem em:

onde:

P - produção própria

M - importação

X - exportação

D - demanda

w - determinado derivado de petróleo

No enfoque concorrencial, as inequações de demanda devem considerar a

possibilidade de não atender ao mercado. Isso pode ser realizado pela inclusão de

variável de não-atendimento, caso não seja de interesse da empresa, como segue de

forma simplificada:

onde:

N - mercado não-atendido pela Petrobras

112 Os preços adotados devem ser os vigentes nos pontos de venda. Podem ser os previstos para as refinarias ou para as bases de distribuição de derivados, desde que o custo de atendimento do mercado inclua as parcelas relativas a transporte dos produtos às regiões e seu armazenamento.

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A implementação desses prorenimentos permitirá que o modelo selecione as

variáveis de decisão que seriam escolhidas pela FO Max Lucro (Receita - Custo)

sem muitas alterações no equacionamento. O modelo não selecionará projetos para

atender à demanda de determinado produto quando seu custo de produção,

transporte e armazenamento for maior que a receita auferida em sua venda no local

de atendimento, indicando somente investimentos rentáveis à empresal13•

113 Em caso de obrigatoriedade de atendimento a determinados produtos e regiões, decorrente de opção estratégica da empresa ou por solicitação do Estado, basta zerar a variável "Mercado nlio-Ateodido" nas referidas inequações do modelo. Dessa forma, o planejamento de investimentos com utilização do Planinv contemplará a necessidade de abastecimento desses mercados pela Petrobras.