Análise do Desempenho dos Metropolitanos na Europa · recorrendo para tal a dois métodos,...
-
Upload
trinhquynh -
Category
Documents
-
view
219 -
download
0
Transcript of Análise do Desempenho dos Metropolitanos na Europa · recorrendo para tal a dois métodos,...
Análise do Desempenho dos Metropolitanos na Europa
Reflexão sobre o caso português
Carina Joana Pinto Santos
Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Doutor Joaquim Jorge da Costa Paulino Pereira
Orientador: Professor Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques
Vogal: Professor Doutor Álvaro Fernando de Oliveira Costa
Outubro de 2008
ii
Agradecimentos
Ao professor Rui Cunha Marques por todo o apoio, paciência e precioso conhecimento que
prontamente me disponibilizou, apesar da sua agenda ocupadíssima. Um muito sincero obrigado por
todos os seus conselhos e ajuda ao longo destes meses.
À Eng.Teresa Stanislau do Metro do Porto e ao Dr. André Peres do Metropolitano de Lisboa, pela
prontidão com que se disponibilizaram em ajudar na procura dos dados para a análise.
Ao Dr. Paolo Palamà da Direzione Comunicazione da Metropolitana di Roma spa, pela ajuda na
obtenção de dados e publicações muito úteis na análise. Muito obrigado pela simpatia e prontidão
com que se disponibilizou em ajudar-me.
Á Dr. Maria Francesca Baldinelli da Direzione Marketing e Comunicazione da Azienda Trasporti
Milanesi S.p.A. pelo fornecimento do relatório de contas e alguns outros dados para a análise.
Aos professores assistentes R.V.Duin e J.H.Baggen da universidade de Delft, por me receberem e
me explicarem a organização do sector dos transportes públicos na Holanda, e pela disponibilização
de documentação relevante.
Ao Richard Anderson, do Railway and Transport Strategy Centre da Imperial College London, pela
prontidão com que sempre respondeu aos meus emails.
Ao Carlos Cruz, por me iniciar no mundo dos transportes, e pela sempre disponibilidade em tirar-me
dúvidas e ajudar no que fosse preciso. Obrigado.
Aos meus colegas de gabinete, Pedro, Tânia e Thelma, pelas muitas horas a fio passadas em
companheirismo nos períodos de angústia. Obrigado por me tirarem dúvidas, por arranjarem papers,
por me guiarem quando estava perdida, pelos momentos de descontracção e vídeos no Youtube.
Foram muitas lágrimas e muitos risos. Obrigado.
Aos meus amigos de Erasmus, que me ajudaram na obtenção de dados dos metros dos vários
países, em especial, à Cris pelo tempo dispendido em telefonemas com o Metro de Valência e ao
Bas, pela tradução dos relatórios holandeses da GVB e da RET.
Ao Dani. Obrigado pelas horas a fio em telefonemas para Itália e pela tradução de emails. Obrigado
pela paciência com que sempre tentaste resolver os meus problemas.
Aos meus companheiros de casa, que apesar de não contribuírem directamente na elaboração desta
tese, foram quem mais me ajudou a superar tudo com ânimo e alegria, mesmo quando parecia não
haver motivos para sorrir. Obrigado Tere, Luís, Pedro, Nini e Jorge*. São para mim, a minha family.
E como não podia deixar de ser, às pessoas mais importantes da minha vida: mamã, papá e avó,
muito obrigado por existirem. Sem o vosso apoio não seria capaz de conduzir a minha vida da
mesma forma e de ser tão feliz como sou agora.
iii
Muito obrigado a todos os amigos e amigas que sempre me apoiaram e me acompanharam nestes
anos. Pelo companheirismo com que fazíamos as cadeiras, pelas horas de converseta e cartadas na
esplanada, pelas tardes a cantar ao som da viola e pelas noites no Bairro Alto. Fez tudo parte da
minha passagem pelo Técnico, e da qual sem vocês não seria a mesma coisa. Obrigado a todos.
iv
Resumo
A presente dissertação tem como objectivo a análise do desempenho dos metropolitanos na Europa,
recorrendo para tal a dois métodos, nomeadamente a aplicação de indicadores de desempenho e a
aplicação da metodologia não paramétrica de Data Envelopment Analysis (DEA).
O trabalho realizado foi dividido, essencialmente, em três partes. Na primeira parte, efectuou-se um
extenso trabalho de pesquisa bibliográfica e documentação relacionado com o tema de forma a
compreender quais as questões pertinentes para o sector e quais os stakeholders envolvidos. Foram
ainda recolhidos e tratados os dados a utilizar na análise de desempenho.
Na segunda parte, respeitante à organização dos metros em Portugal, analisou-se a legislação e a
estrutura institucional do sector dos transportes, discutiu-se a criação das AMTs, a questão do
financiamento e os vários modos de prestação de serviços públicos de transporte, entre os quais,
PPPs. Foram analisados, em detalhe, os metros de Lisboa, Porto, Sul do Tejo e Coimbra.
Na terceira parte, foi proposto um quadro de indicadores de desempenho e analisados, em pormenor,
8 indicadores de eficiência e eficácia para os 39 metros da Europa. Posteriormente, foi aplicada a
metodologia DEA construindo-se três modelos para 37 metros, com diferentes inputs (extensão da
rede, efectivos, veículos e outros custos operacionais) e diferentes outputs (veículos-quilómetros,
passageiros e passageiros-quilómetros). Cada modelo foi testado com rendimentos constantes à
escala e rendimentos variáveis à escala, e todos os modelos tinham como orientação a minimização
de inputs.
Ambas as metodologias mostraram que os metros de Londres e Moscovo são os mais eficientes. Os
metros de Lisboa e Porto têm desempenhos medíocres, situando-se abaixo da média europeia.
Palavras-chave: Análise de Desempenho; DEA; Eficiência; Metro; Transporte Ferroviário Urbano;
Transporte Público.
v
Abstract
This dissertation is aimed at examining the performance of metros in Europe, using for the purpose
two methods, the application of performance indicators and the non-parametric technique of data
envelopment analysis (DEA).
The work was divided, essentially, into three parts. In the first part, an extensive literature and
documentation research related to the subject was carried out in order to understand what are the
relevant issues and the stakeholders involved. It was also collected and processed data to be used in
the performance analysis.
In the second part, related to the organization of metros in Portugal, it was analyzed the legislation
and institutional structure of the transport sector, discussed the creation of metropolitan transport
authorities (MTAs), the issue of funding and the various ways of providing public transport services,
among which, public-private partnership (PPP). The metro systems of Lisbon, Oporto, Coimbra and
Sul do Tejo were analyzed in more detail.
In the third part, a framework of performance indicators was proposed and analyzed in detail 8
indicators of efficiency and effectiveness for the 39 European metros. Later, the DEA methodology
has been applied to build three models for 37 metros, with different inputs (extension of the network,
staff, vehicles and other operating cost) and different outputs (vehicle-kilometres, passenger and
passenger-kilometres). The input-minimisation version of DEA was used for all the models, and each
one was tested with constant returns to scale and variable returns to scale.
Both methods have shown that London and Moscow metros are efficient. The metros of Lisbon and
Oporto highlighted a poor performance, placed below the European average.
Keywords: Data Envelopment Analysis (DEA), Efficiency, Metro, Performance Measurement, Public
Transport, Urban Railways.
vi
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................................... 1
1.1. Considerações gerais .................................................................................................................. 1
1.2. Objectivos e Metodologia ............................................................................................................ 3
1.3. Estrutura ...................................................................................................................................... 5
2. Nível actual dos conhecimentos ....................................................................................................... 6
2.1. O que é o Benchmarking? ........................................................................................................... 6
2.2. A evolução do conceito e prática de benchmarking ................................................................... 8
2.3. Organismos dedicados a benchmarking ..................................................................................... 9
2.4. Revisão da Literatura existente ................................................................................................. 13
3. Organização dos Metropolitanos em Portugal ..............................................................................15
3.1. Considerações gerais ................................................................................................................ 15
3.2. Legislação nacional aplicável ao sector dos Transportes ......................................................... 16
3.3. A estrutura institucional do sector dos transportes em Portugal ............................................... 17
3.3.1. IMTT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres ........................................ 18
3.3.2. Autoridade metropolitana de transportes e a articulação dos vários modos ................. 19
3.3.4. A Autoridade metropolitana de transportes e a problemática do financiamento do
sistema ......................................................................................................................... 20
3.4. Financiamento do Sistema de Metro ........................................................................................ 22
3.5. Modelos de prestação de serviços públicos de transporte ....................................................... 23
3.6. SEE – Sector Empresarial do Estado ....................................................................................... 24
3.7. A contratualização do serviço público de transporte em Portugal ............................................ 25
3.7.1. Parcerias Público-Privadas ............................................................................................ 26
3.7.2. Parcerias Público-Público ............................................................................................... 27
3.7.3. Nova regulamentação na contratualização de serviços públicos .................................. 28
3.8. O sistema urbano de transporte em Lisboa .............................................................................. 29
3.8.1. Enquadramento .............................................................................................................. 29
3.8.2. Organização do sistema de transportes da AML ........................................................... 31
3.8.3. Diferentes regimes para a exploração dos serviços de utilidade pública da AML ......... 31
3.8.4. Análise financeira do sistema de transportes metropolitano de Lisboa ......................... 33
3.8.5.Metropolitano de Lisboa .................................................................................................. 34
3.8.6. Metro Transportes do Sul ............................................................................................... 37
3.8.7. SATU-Oeiras – Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras ......................... 39
3.9. O sistema urbano de transporte no Porto ............................................................................. 40
3.9.1. Enquadramento .............................................................................................................. 40
3.9.2. Organização do sistema de transportes da AMP ........................................................... 41
3.9.3. Diferentes regimes para a exploração de serviços de utilidade pública da AMP .......... 42
3.9.4. Análise financeira do sistema de transportes metropolitano do Porto ........................... 42
3.9.6. Metro do Porto ................................................................................................................ 43
3.10. O sistema urbano de transporte em Coimbra ..................................................................... 44
vii
3.10.1. Enquadramento ............................................................................................................ 44
3.10.2. Metro Mondego............................................................................................................. 45
4. Eficiência dos Metropolitanos na Europa ......................................................................................49
4.1. Introdução.................................................................................................................................. 49
4.2. Indicadores de desempenho ..................................................................................................... 51
4.2.1. Considerações gerais ......................................................................................................... 51
4.2.2. Método de cálculo de indicadores de desempenho ........................................................... 52
4.2.3. Proposta de aplicação de um quadro de indicadores ........................................................ 53
4.2.4. Exemplo de aplicação ......................................................................................................... 57
4.2.5. Limitações da análise por indicadores de desempenho .................................................... 62
4.3. Data Envelopment Analysis (DEA) ........................................................................................... 64
4.3.1. Considerações gerais ......................................................................................................... 64
4.3.2. Metodologia ........................................................................................................................ 65
4.3.3. Caso prático ........................................................................................................................ 70
4.3.3.1. Escolha dos inputs e outputs dos vários modelos ...................................................... 70
4.3.3.2. Orientação do modelo ................................................................................................. 71
4.3.3.4. Análise de Resultados ................................................................................................. 72
5. Conclusões .......................................................................................................................................76
5.1. Síntese Conclusiva .................................................................................................................... 76
5.2. Recomendações para estudos futuros ..................................................................................... 78
Bibliografia ............................................................................................................................................79
Anexos ...................................................................................................................................................82
viii
Lista de Figuras
Fig. 1: O processo cíclico de benchmarking – modelo de 9 fases .......................................................... 7
Fig. 2: Cidades membros da EMTA (Abril de 2008) ............................................................................. 11
Fig. 3: Índice de Centralidade de centros urbanos ............................................................................... 15
Fig. 4: Financiamento do sector dos transportes em França ................................................................ 21
Fig. 5: Passivo das empresas públicas a operar no sector dos transportes (1999-2003) .................... 21
Fig. 6: Benefícios das PPPs .................................................................................................................. 26
Fig. 7: Tipos de PPPs ............................................................................................................................ 27
Fig. 8: AML e localização dos metropolitanos em exploração actualmente na AML ............................ 29
Fig. 9: Área de influência da AML e índices de polarização de estudantes e de emprego em 2001. .. 29
Fig. 11: Distribuição modal do transporte de residentes da AML, no âmbito dos movimentos
pendulares em 1991 versus 2001 ......................................................................................................... 30
Fig. 10: Principais movimentos da população empregada e estudantil na AML em 2001 ................... 30
Fig. 12: Metropolitano de Lisboa: viatura e logotipo ............................................................................. 34
Fig. 13: Bilhetes sem contacto 7 colinas (a) e passe mensal Lisboa Viva (b) ...................................... 36
Fig. 14: Exemplo de um sistema de metro ligeiro com pneus .............................................................. 37
Fig. 15: Metro Sul do Tejo: viatura e logótipo........................................................................................ 37
Fig. 16: Rede actual do Metro Sul do Tejo e trabalhos em curso (a tracejado) para a conclusão da
primeira fase (a) e plano de expansão da rede (fases 1, 2 e 3) (b) ...................................................... 39
Fig. 17: Viatura do SATU-Oeiras (interior, perspectiva exterior, em circulação) .................................. 39
Fig. 18: Perspectiva da via elevada 100% dedicada ao SATU-Oeiras e do sistema de tracção a cabos
............................................................................................................................................................... 39
Fig. 19: AMP e localização do sistema de metro do Porto ................................................................... 40
Fig. 20: Distribuição modal na AMP ...................................................................................................... 41
Fig. 21: Metro do Porto – Veículo e Logótipo da empresa .................................................................... 43
Fig. 22: (a) Atractividade do Concelho de Coimbra e sua metropolização (b) ..................................... 45
Fig. 23: Sistema de mobilidade do Mondego (rede) ............................................................................. 46
Fig. 24: Plano do sistema de mobilidade do Mondego (2006) .............................................................. 46
Fig. 25: Alterações ao traçado base do Ramal da Lousã: .................................................................... 47
Fig. 26: Rede actualmente prevista do MLM......................................................................................... 47
Fig. 27: Esquema de financiamento das ILD’s ...................................................................................... 48
Fig. 28: Modelo possível de expansão da rede..................................................................................... 48
Fig. 29: Localização dos sistemas de metro em análise ....................................................................... 49
Fig. 30: Processo de implementação dos indicadores de desempenho ............................................... 52
Fig. 31: Elementos a recolher pela entidade gestora antes de iniciar o cálculo dos indicadores de
desempenho .......................................................................................................................................... 54
Fig. 32: Quadro de indicadores de desempenho a utilizar .................................................................... 55
Fig. 33: Quadro de indicadores de desempenho a utilizar (continuação) ............................................. 56
Fig. 34: Distribuição das publicações de DEA por ano ......................................................................... 64
ix
Fig. 35: Conceito de eficiência de Farrell .............................................................................................. 66
Fig. 36: Avaliação de eficiência e as folgas de inputs ........................................................................... 68
Fig. 37: Eficiência de escala .................................................................................................................. 69
Fig. 39: Modelo 1 ................................................................................................................................... 70
Fig. 38: Orientação output do DEA ....................................................................................................... 70
Fig. 40: Modelo 2 ................................................................................................................................... 71
Fig. 41: Modelo 3 ................................................................................................................................... 71
Fig. 42: ET por operador de metro no modelo 1 ................................................................................... 72
Fig. 43: ETP por operador de metro no modelo 1 ................................................................................. 72
Fig. 44: Eficiência técnica e ganhos de eficiência de escala no modelo 1 ........................................... 73
Fig. 45: ET por operador de metro no modelo 2 ................................................................................... 73
Fig. 46:ETP por operador no modelo 2 ................................................................................................. 73
Fig. 47: Eficiência técnica e ganhos de eficiência no modelo 2 ............................................................ 73
Fig. 48: ET por operador de metro no modelo 3 ................................................................................... 73
Fig. 49: ETP por operador de metro no modelo 3 ................................................................................. 74
Fig. 50: Eficiência técnica e ganhos de eficiência por operador de metro no modelo 3 ....................... 74
Anexo
Fig. 51: Organigrama do Consorcio Regional de Transportes de Madrid ............................................ 83
Fig. 53: Esquema de financiamento do sistema metropolitano de transportes de Madrid ................... 84
Fig. 52: Comunidade de Madrid (esq.) e zonamento tarifário (dir.) ...................................................... 84
Fig. 54: Domínio da ATM ....................................................................................................................... 85
Fig. 55: Zonamento tarifário da área metropolitana de Barcelona ........................................................ 86
Fig. 56: Organigrama da ATM ............................................................................................................... 86
Fig. 57: Esquema de financiamento do sistema ................................................................................... 86
Fig. 58: Planos de expansão do ML a tracejado, após conclusão dos ................................................. 87
Fig. 59: Sistema VAL: (a) Linha 14 do metro de Paris - pormenor das portas de protecção, (b) Linha
14 do metro de Paris - vista superior do túnel do metro e (c) Dianteira do veículo sem condutor no
metro de Copenhaga ............................................................................................................................. 88
Fig. 60: Presença de sistemas de metro automatizados no mundo ..................................................... 89
Fig. 61 Sistemas de metro automático em construção ......................................................................... 89
x
Lista de Quadros
Quadro 1: Níveis de benchmarking ......................................................................................................... 7
Quadro 2: Overview dos estudos sobre eficiência em TP .................................................................... 13
Quadro 3: Cronograma das autoridades de transporte europeias. ...................................................... 19
Quadro 4: Regime do sector empresarial do Estado ............................................................................ 25
Quadro 5: Actores do sistema de transportes da área metropolitana de Lisboa .................................. 31
Quadro 6: Regimes actuais de exploração dos serviços de transporte ferroviário de passageiros na
AML ....................................................................................................................................................... 32
Quadro 7: Défices de exploração versus a atribuição de indemnizações compensatórias para a AML
............................................................................................................................................................... 33
Quadro 8: Actores do sistema de transporte de passageiros da área metropolitana do Porto ............ 41
Quadro 9: Regimes actuais de exploração dos serviços de transporte na AMP .................................. 42
Quadro 10: Défices de exploração versus a atribuição de subsídios à exploração para a AML .......... 42
Quadros 11: Estimativas para o investimento com a construção do sistema MLM. ............................. 48
Quadro 12: Inputs e outputs na produção e utilização do serviço de transporte .................................. 50
Quadro 13: Resumo dos resultados para os indicadores de eficiência e eficácia (os 3 melhores e os 3
piores desempenhos) ............................................................................................................................ 62
Quadro 14: Síntese dos resultados dos diferentes modelos para a operação dos metros .................. 74
Quadro 15: Targets dos operadores dos metros de Lisboa e Porto para o modelo 1, considerando
RCE ....................................................................................................................................................... 74
Quadro 16: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 1, considerando RVE ............. 75
Quadro 17: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 2, considerando RCE ............. 75
Quadro 18: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 2, considerando RVE ............. 75
Quadro 19: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 3, considerando RCE ............. 75
Quadro 20: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 3, considerando RVE ............. 75
Quadro 21: Eficiências ponderadas com rendimentos crescentes à escala ........................................ 75
Anexo
Quadro 22: Comparação do desempenho da linha 14 do metro .......................................................... 88
Quadro 23: Valores da ET para 1º modelo, considerando minimização de inputs ............................... 98
Quadro 24: Valores da ET para o 2º modelo, considerando minimização de inputs ............................ 99
Quadro 25: Valores da ET para o 3º modelo, considerando minimização de inputs .......................... 100
xi
Lista de Abreviaturas
ACE - Agrupamento Complementar de Empresas
AML – Área Metropolitana de Lisboa
AMP – Área Metropolitana do Porto
ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações
APDL – Autoridade Portuária do Porto de Leixões
APL – Administração do Porto de Lisboa
APSS – Administração do Porto de Setúbal e Sesimbra
ATM – Autoritat del Transport Metropolita
BEI – Banco Europeu de Investimento
BEST – Benchmarking European Sustainable Transport
BCC – Banker, Charnes e Cooper
BOB - Benchmarking of Benchmarking
CAPEX – Custos de Capital
CCR – Charnes, Cooper e Rhodes
CE – Comissão Europeia
CMA – Câmara Municipal da Amadora
CMO – Câmara Municipal de Oeiras
CoMET - The Comunity of Metros
CRTM - Consorcio Regional de Transportes de Madrid
DE – Défices de Exploração
DEA – Data Envelopment Analysis
DGL – Direcção Geral de Lisboa
DGTTF – Direcção Geral dos Transportes Terrestres e Fluviais
DL – Decreto-Lei
DTN – Direcção de Transportes do Norte
EA – Eficiência Alocativa
EE – Eficiência de Escala
EMEL – Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa
EMEF – Empresa Manutenção de Equipamento Ferroviário
EMTA – European Metropolitan Transport Authorities
EPE – Entidade Pública Empresarial
ERRAC - European Rail Research Advisory Council
ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
ET – Eficiência Técnica
ETP – Eficiência Técnica Pura
FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
GIL – Gare intermodal de Lisboa
IC – Indemnizações Compensatórias
xii
IEP – Instituto Estradas de Portugal
ILD – Infra-estruturas de Longa Duração
IMTT – Instituto da Mobilidade dos Transportes Terrestres
INE – Instituto Nacional de Estatística
INTF – Instituto Nacional Transporte Ferroviário
KCR - Kowloon-Canton Railway Corporation
LBTT – Lei de Bases de Transportes Terrestres
LU – London Underground
ML – Metropolitano de Lisboa
MLM – Metro Ligeiro do Mondego
MOPTC – Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações
MTRC - Mass Transit Railway Corporation
MTS – Metro Transportes do Sul
OPEX – Operational expenses
PIB – Produto Interno Bruto
PPP – Parceria Público Privada
RC – Relatório de Contas
RCE – Rendimentos Constantes à Escala
REFER – Rede Ferroviária Nacional
RSEL – Regime do Sector Empresarial Local
RTSC - Railway and Transport Strategy Centre
RVE – Rendimentos Variáveis à Escala
SA – Sociedade Anónima
SATU – Sistema Automático de Transporte Urbano
SCUT- Sem custo para o Utilizador
SEE – Sector Empresarial do Estado
SEL – Sector Empresarial Local
SIEG – Serviços de Interesse Económico Geral
SL - Storstockholms Lokaltrafik
SMM - Sistema de Mobilidade do Mondego
STCP – Sociedade de Transportes Colectivos do Porto
STIF - Syndicatt des Transports d’Ile-de-France
TFM - Transportes Ferroviarios de Madrid
TI – Transporte Individual
TP – Transporte Público
UE – União Europeia
UITP – Union Internationale des Transports Publics
VAL – Véhicule Automatique Léger
1
1. Introdução
1.1. Considerações gerais
A noção de ineficiência nos serviços de transporte público é comummente aceite pela nossa
sociedade, ainda muito dependente do transporte individual. O factor comodidade e a sensação de
liberdade de movimentos concedida pela viatura tornam-na no meio de transporte de eleição da
nossa sociedade face à oferta existente em transporte colectivo de passageiros.
O sucesso do transporte individual está intimamente ligado ao processo de individualização da
sociedade actual, mas se, por um lado, a viatura consegue proporcionar o individualismo que muitos
procuram, por outro induz externalidades negativas que afectam o nosso dia-a-dia. O “Boom” sentido
nas últimas décadas quanto à compra e utilização do transporte individual desencadeou um
sobrecarregamento das infra-estruturas viárias existentes, sentindo-se, um pouco por toda a área
metropolitana, o peso do congestionamento. O aumento do custo dos combustíveis fósseis e a sua
instabilidade aliados à falta de estacionamento e às tarifas obrigatórias em estacionamento tem vindo
a tornar esta opção mais desconfortante e a longo prazo insustentável para os utilizadores.
As crescentes preocupações de sustentabilidade financeira, social e ambiental forçam as Autoridades
Públicas a adoptar formas mais eficientes de organização e gestão dos vários modos de transporte
nas metrópoles, investindo na melhoria da qualidade e desempenho do transporte público. Ora, como
nem todos os investimentos na melhoria da qualidade são eficazes ou mesmo geradores de retorno
para as organizações de transporte, as Autoridades Públicas perceberam já a necessidade de avaliar
previamente o retorno dos investimentos realizados na eficiência e qualidade do serviço prestado,
para que estes se tornem realmente úteis. Dá-se início, desta forma, a uma prática continua de
benchmarking, i.e., um processo contínuo de procura por um desempenho superior, pela comparação
e adopção das best practices já em vigor e com sucesso, em outras organizações estrangeiras ou
nacionais.
A aplicação de técnicas de benchmarking aos sistemas de metropolitano desenvolvidas neste
documento justifica-se também pela crescente afirmação do metro enquanto alternativa ao transporte
particular no centro urbano e pelo papel social que desempenha enquanto elemento de coesão social
e de mobilidade urbana. Segundo dados da UITP, em 2006, foram transportados 155 milhões
passageiros por dia no conjunto de todas as redes de metro à escala mundial, uma média 34 vezes
superior ao n.º de passageiros diários do tráfego aéreo, o que denota a importância económica deste
tipo de sistemas.
Mas o que é um metropolitano? Um metropolitano é um sistema de transporte urbano, movido a
tracção eléctrica e que se desloca sobre carris (directamente sobre carris ou através de pneus),
surgido pela primeira vez em Londres em 1863, com o intuito de responder ao aumento de tráfego na
cidade. A denominação “metropolitano” deve-se à sua área de implantação, dado que originalmente
estes sistemas se confinavam ao centro urbano ou metropolitano da cidade onde se inseriam.
Actualmente, os grandes sistemas expandem-se para além dos limites da área metropolitana,
2
abrangendo mesmo os municípios vizinhos. A expressão “metro” é, por sua vez, fruto da abreviatura
familiar da palavra metropolitano.
A definição de metropolitano é um pouco ambígua, sendo muitas vezes mal atribuída a outros modos
de transporte do género por razões políticas, o que gera ainda mais confusão. Quais as condições
necessárias para que este modo de transporte possa ser apelidado correctamente de metropolitano?
A literatura existente sobre a matéria aponta quatro condições gerais a cumprir (ERRAC, 2004):
1. O sistema de transporte tem de ser movido a electricidade;
2. Deslocar-se em via própria (superfície, elevada ou subterrânea) separando-se do restante
tráfego;
3. Apresentar uma frequência de circulações elevada, que permita satisfazer a quarta condição;
4. Lidar com grandes fluxos de passageiros por hora e por sentido.
Com base nestes princípios, a Union Internationale des Transports Publics (UITP) segrega os
sistemas de metro em dois tipos:
o metro convencional, caracterizado por um sistema impulsionado a tracção eléctrica que se
desloca integralmente em via própria, de troço enterrado ou em superfície;
o sistema de metro ligeiro (Light Rail). Nesta categoria enquadra-se todo o sistema que
evoluiu de eléctrico (Tram) a um modo de transporte capaz de se deslocar em túnel ou em via
elevada, podendo até vir a ser integrado na rede ferroviária convencional (sistema Tram-Train).
Segundo estimativas da UITP, um sistema de metro convencional tem capacidade para transportar
uma média de 30 000 passageiros por hora e por sentido. As estações de metro são normalmente
intervaladas de 1 km e a velocidade comercial deste modo de transporte atinge valores mais
elevados que outros modos de transporte urbano (autocarros e eléctrico), sensivelmente 30km/h,
graças ao seu traçado, que não tendo de acompanhar a rede viária, permite uma geometria mais
flexível e segura, com curvas de maior raio.
O metro é o meio de transporte urbano de eleição no que toca ao consumo de espaço e energia.
Para transportar 50 000 passageiros por hora e por sentido, um sistema de metro precisa em média
de reservar uma via de 9 m de largura, enquanto que em autocarro é necessário reservar 35m e em
automóvel 135m. No que diz respeito à eficiência energética, estimativas indicam que 1 KEP (kg
equivalente de petróleo) perfaz 48km em metro, 38km em autocarro e não mais de 19km em
automóvel.
Embora espacialmente e energeticamente mais eficientes, os sistemas de metro envolvem
investimentos muito elevados face às outras alternativas (autocarro ou eléctrico), devendo, por isso, a
sua instituição ser ponderada cuidadosamente. Na mesma ordem de ideias, os sistemas de metro
convencional exigem maiores investimentos que os sistemas de metro ligeiro e, portanto, justificam-
se apenas em cidades onde se preveja uma grande procura, caso contrário é preferível a segunda
opção.
Tendo presente a dimensão dos investimentos feitos anualmente em metropolitano, juntamente com
o grave endividamento do sector, é urgente avaliar qual o seu nível de desempenho e delinear
3
medidas que o possam tornar mais eficiente com o mínimo de encargos. O benchmarking é uma
medida útil nesse sentido, mas tem de ser fruto de uma reflexão cuidada. O seu sucesso está
intimamente ligado à forma de escolha dos indicadores de performance, da sua pertinência e
quantificação na indústria.
No conjunto global, os dois tipos de sistemas, metro ligeiro e metro convencional, englobam uma
ampla variedade de soluções. Em 2006, segundo dados da UITP, só na Europa era possível
encontrarem-se 206 sistemas de metro, convencional e ligeiro, sendo que destes apenas 36 sistemas
diziam respeito a metro convencional e 18 a sistemas híbridos (parcialmente enterrados e de via
reservada), perfazendo um total de 54 sistemas. Para a análise, são relevantes e passíveis de serem
comparáveis, estes últimos 54 sistemas que se dispersam por 25 países da Europa. Destes,
destacam-se pela maior oferta quilométrica, a Alemanha, a Espanha, a França, a Inglaterra e a
Rússia, todos com mais de 300km de rede. Em 2004, a extensão da rede europeia em metro
superava os 2800km (ERRAC, 2004).
1.2. Objectivos e Metodologia
Esta dissertação, intitulada “Análise do desempenho dos metropolitanos na Europa – Reflexão sobre
o caso português”, surge da necessidade de analisar o desempenho deste tipo de transporte público
em Portugal comparativamente ao resto da Europa. Tem, por isso, dois objectivos principais: analisar
o funcionamento do sector em Portugal, comparando-o com o de outros países Europeus e estudar a
eficiência dos serviços de transporte em metro, mais concretamente, dos operadores de transporte.
Para cumprir o primeiro objectivo serão considerados, entre outros aspectos, a legislação nacional
relativa ao transporte público, a estrutura institucional do sector, o financiamento do sistema, os
diferentes modelos de prestação de serviços públicos e o envolvimento do Estado (sector empresarial
do Estado) e a contratualização dos serviços de transporte. Serão analisados, em detalhe, os
sistemas de transporte urbano de Lisboa e Porto, dando especial relevo aos sistemas de metro
instaurados nessas duas áreas metropolitanas. É ainda analisado o futuro Metro de Coimbra (Metro
Mondego).
Para cumprir o segundo objectivo, utilizar-se-á, em primeiro lugar, um quadro de indicadores de
desempenho e, em segundo lugar, dadas as limitações dos indicadores de desempenho em termos
de necessidades de informação e restrições na análise (como será discutido), adoptar-se-á a técnica
não paramétrica de análise de desempenho de data envelopment analysis (DEA).
Na elaboração dos rácios associar-se-ão os níveis de outputs, a saber, passageiros, distância
percorrida pelos passageiros (passageiros-km) e distância percorrida pelos veículos (veículos-km)
com os efectivos da entidade gestora (n.º), os veículos da frota (n.º), as estações (n.º) e a extensão
da própria rede (km). Estes rácios, divididos em indicadores de eficiência e indicadores de eficácia,
quando comparados com os registados nos restantes países da Europa, permitem estabelecer
objectivos em termos de desempenho para cada operador, identificando os operadores mais
eficientes (operadores de referência) que podem servir de benchmark na prossecução desses
objectivos. Na interpretação dos indicadores propostos são considerados como factores explanatórios
4
a densidade populacional, o PIB per capita, a distância média às estações, a taxa de absentismo, o
clima, entre outros.
O DEA é uma técnica não paramétrica que usa programação matemática para construir uma fronteira
constituída por todos os operadores eficientes (fronteira eficiente) e que envolve todos os outros
operadores não eficientes da amostra. Segundo esta técnica, a eficiência relativa de um operador é
dada por comparação com a eficiência dos outros operadores da amostra, que apresentam
combinações de inputs e de outputs semelhantes.
Os estudos de avaliação de desempenho dividem-se em dois grandes grupos, designadamente,
métodos paramétricos, como fronteiras estocásticas [stochastic frontier analysis (SFA) e modelos de
regressão] e não paramétricos (como o DEA). Esta divisão é feita mediante a admissão, ou não, de
uma forma funcional, definida a priori, para a função de produção ou função custo, podendo ainda
classificar-se em fronteira e não fronteira, caso se considerem as melhores práticas ou se relevem em
detrimento de valores médios.
A escolha da metodologia não paramétrica de DEA deve-se ao facto de ser esta mais vantajosa em
estudos de benchmarking, aquando a presença de múltiplos inputs e múltiplos outputs. Ao contrário
dos métodos paramétricos, o DEA permite definir metas para as variáveis, identificando as best
practices e a origem da ineficiência. De qualquer forma, ressalve-se que os métodos paramétricos
podem apresentar nalguns pontos, vantagens face aos não paramétricos, como a possibilidade de
medição do erro dos resultados e da qualidade do modelo.
Dado o volume de informação recolhido para os diferentes operadores, serão aqui desenvolvidos 3
modelos de DEA, contemplando diferentes inputs e outputs, com duas variantes cada, assumindo
numa rendimentos constantes à escala (RCE) e noutra admitindo rendimentos variáveis à escala
(RVE).
No primeiro modelo utilizam-se como inputs, a extensão da rede (km), os veículos da frota (n.º) e os
efectivos do operador (n.º) e como outputs, a distância percorrida pelos veículos (n.º de veículos-km)
e o volume de passageiros transportados anualmente (n.º). Para o segundo modelo mantêm-se os
outputs e inclui-se mais um input, os custos de operação e manutenção (OPEX). No terceiro modelo,
os inputs e outputs são iguais aos do primeiro há excepção do n.º de passageiros que será
substituído pela distância percorrida pelos passageiros na rede (n.º de passageiros-km).
A escolha destes inputs e outputs prende-se com as características do próprio serviço de transporte
em metro e com a disponibilidade de informação. Todos os modelos são orientados por uma vertente
de minimização de inputs em virtude da natureza de serviço público do serviço de transporte.
O ponto de partida na elaboração desta dissertação foi assim a recolha de informação junto dos
diversos operadores. Esta recolha seguiu a seguinte metodologia:
- Em primeiro lugar, elaborou-se uma listagem dos 54 operadores de metro europeus que se
deslocam a electricidade, sobre carris, em via reservada (de superfície, parcialmente enterrada
ou integralmente enterrada) e consultaram-se as respectivas páginas na internet;
5
- Em segundo lugar, efectuou-se o download dos relatórios de contas (RC) acessíveis ao público
(na maioria dos casos, na língua original);
- Em terceiro lugar, desenvolveu-se uma lista de indicadores-chave transversais a todos os
metros e procedeu-se à recolha dessa informação nos relatórios disponíveis;
- Em quarto lugar, efectuou-se o contacto electrónico dos operadores de metro para os quais não
havia qualquer informação e solicitação dos respectivos relatórios de contas;
- Em quinto lugar, procedeu-se ao contacto telefónico directo com os responsáveis dos
operadores para os quais não foi obtida qualquer resposta favorável via correio electrónico;
- Em sexto lugar, recolheram-se dados em publicações de várias fontes.
Esta dissertação reúne informação sobre 54 operadores de metro, sendo que destes, 39 farão parte
da análise de desempenho através de rácios e 37 são objecto de estudo da metodologia DEA.
Os estudos de avaliação de desempenho efectuados sobre metropolitano são escassos e quando
elaborados, raramente são dados a conhecer os operadores envolvidos, visto tratar-se de informação
normalmente classificada de confidencial. O trabalho desenvolvido nesta dissertação pode ser muito
útil no sentido em que reúne informação sobre os vários sistemas de metro da Europa,
proporcionando uma visão clara e objectiva dos stakeholders do sector e do estado da arte da
prestação de serviços de transporte em metro, apresentando diversos indicadores sobre a oferta, a
procura e vários aspectos inerentes à qualidade do serviço.
1.3. Estrutura
A dissertação aqui desenvolvida encontra-se organizada e estruturada em cinco capítulos que se
apresentam de seguida
Após esta introdução (capítulo 1) segue-se, no capítulo 2 intitulado “Nível actual dos conhecimentos”,
onde se faz um enquadramento ao nível das organizações e estudos de benchmarking desenvolvidos
em transporte público, destacando aqueles específicos do metro e que se encontram publicados.
O terceiro capítulo apresenta uma caracterização geral da organização dos metros em Portugal,
incidindo sobre o seu enquadramento legal, a estrutura institucional, o financiamento do sistema, os
vários modelos de prestação de serviços públicos, o sector empresarial do Estado e a
contratualização do serviço público. Ainda neste capítulo é feita uma abordagem aos sistemas de
transporte urbano das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e da cidade de Coimbra, analisando
em pormenor os sistemas de metro que se desenvolvem nessas áreas.
O quarto capítulo introduz o caso de estudo e as metodologias de avaliação de desempenho que
serão aplicadas. Para além da definição de rácio e da apresentação da técnica de benchmarking data
envelopment analysis (DEA), ambos os métodos são aplicados na avaliação do desempenho de 54
operadores de metro na Europa, apresentando-se, primeiramente, os fundamentos teóricos inerentes
a ambas as metodologias e, posteriormente, a interpretação dos resultados que advém da sua
aplicação. No capítulo cinco apresentam-se as principais conclusões retiradas do presente trabalho
de investigação e tecem-se algumas recomendações para investigações futuras, designadamente
dos problemas que ficam em aberto nesta dissertação.
6
2. Nível actual dos conhecimentos
Benchmarking, qualidade e eficiência são conceitos usuais em gestão, aplicáveis também no âmbito
do sistema de transportes públicos. No entanto, embora estes termos sejam bastante comuns e
utilizados noutras indústrias, não são ainda cuidados com a devida atenção na área dos transportes
públicos.
Este capítulo “Nível actual dos conhecimentos” tenta sintetizar os resultados mais significativos da
investigação levada a cabo durante as últimas duas décadas no âmbito da implementação de
benchmarking nos transportes públicos”, destacando as entidades que a conduziram e os métodos de
identificação, quantificação e comparação de níveis de serviço aplicados, dando especial ênfase a
estudos dirigidos ao metropolitano.
2.1. O que é o Benchmarking?
As definições de benchmarking divergem de autor para autor, mas o fio condutor de todas elas passa
pela identificação, medição, comparação e implementação das melhores práticas, levando ao
aumento de desempenho no sistema (Dattakumar et Jagadeesh, 2003).
Leonard (2001) propõe a seguinte terminologia, que parece bastante esclarecedora:
- Benchmarking é um processo. É o meio pelo qual se tenta atingir um nível de desempenho
superior ao nosso, numa determinada área, e se tentam mudar as práticas correntes na
empresa, levando a melhorias na sua performance.
- Benchmark é um standard de excelência com o qual devem ser comparados resultados
similares.
- Best practice é o meio através do qual, o nível de performance máximo (benchmark) é
atingido.
A aplicação de benchmarking permite identificar áreas de performance elevada e áreas a melhorar, e
ainda quantificar a escala dessas potenciais melhorias, permitindo o cálculo do valor acrescentado
pela mudança.
O processo pode ser desenvolvido interior ou exteriormente à empresa, podendo assumir-se como a
comparação sistemática do desempenho de um departamento de uma empresa com outros
departamentos da mesma empresa, benchmarking interno, ou como a comparação do desempenho
da empresa com outras organizações, competidores ou empresas líderes no sector, benchmarking
externo.
O conceito de benchmarking baseia-se, portanto, na noção de comparação. No entanto, enquanto
que “comparação” é um fenómeno estático, benchmarking é uma operação dinâmica onde prevalece
a noção de aperfeiçoamento, o que implica necessariamente uma implementação continuada de
acções. Segundo Anderson (2006) “benchmarking não se trata de uma mera comparação de
performance para a criação dum ranking, e muito embora os indicadores-chave tragam por si só
alguns benefícios, a verdadeira mais valia deste processo é o estimular de questões pertinentes e
7
frutíferas e novas linhas de pensamento para mais análises e trabalho de investigação na melhoria do
desempenho dos serviços de transporte.”
O processo cíclico de Benchmarking pode ser descrito em 9 passos, como se ilustra na figura 1,
adaptada de Hanman (1997):
Fig. 1: O processo cíclico de benchmarking – modelo de 9 fases
Os primeiros 4 passos do processo de benchmarking constituem o domínio de estudo desta
dissertação.
De uma maneira geral, podem ser definidos 3 níveis de benchmarking em 3 graus crescentes de
compromisso e cooperação, como descritos no quadro 1 (EQUIP, 2000):
Quadro 1: Níveis de benchmarking
Nível Categoria Elementos
I Auto-avaliação Monitorização da performance da própria organização
ao longo do tempo.
II Comparação Comparação da perfomance da organização com
uma base de dados com valores de indicadores
anónimos;
Identificação das áreas a melhorar e dos níveis a
obter, benchmarks.
III Parceria Trabalho com parceiros relevantes do mesmo
sector ou talvez até exteriores ao sector;
Troca de informação confidencial;
Aprendizagem das best practices e dos melhores
meios para as implementar.
O processo de benchmarking externo entre operadores, correspondente ao nível III, não é comum. As
principais razões para este facto são a confidencialidade, a falta de ferramentas eficientes para
identificar práticas comparáveis e uma resistência notável à abertura e à difusão de informação, dita
confidencial. Não obstante a tal facto, existem várias organizações, tais como os grupos CoMET ou
NOVA, que têm vindo a desenvolver projectos de benchmarking na área dos transportes públicos
Âmbito da dissertação
8
colectivos e, em particular, do metropolitano, que se discutirão adiante. Ainda assim, o acesso à
informação recolhida dos vários intervenientes no processo é, normalmente, restrito às entidades
aderentes do grupo, o que dificulta a tarefa de benchmarking a uma entidade exterior individual.
2.2. A evolução do conceito e prática de benchmarking
O interesse pela prática de benchmarking, sobretudo da “qualidade nos transportes públicos” tem
vindo a crescer gradualmente. O primeiro passo dado pela Comissão Europeia (CE), neste sentido,
remonta a 1990, com a publicação do Livro Verde sobre “Ambiente Urbano” (COM, 1990).
Este documento, apesar de não se centrar na temática dos transportes, sublinha o desequilíbrio na
distribuição modal de passageiros vivido nas metrópoles europeias que apresentam elevadas taxas
de tráfego urbano em transporte individual (TI) e a incapacidade das autoridades competentes de
reverterem o cenário em detrimento do transporte público (TP). Aponta ainda, como principal causa
para este fracasso, a falta de um planeamento integrado do território cujos desequilíbrios e falhas
levam à criação de desenvolvimentos urbanos que dificultam, ou mesmo impossibilitam, a
implementação de redes de TP economicamente eficientes.
A solução apontada pelo documento, já em 1990, dizia respeito à melhoria dos serviços de transporte
e consequente aumento do investimento em veículos de TP. Embora o Livro Verde, de 1990, tenha
aberto uma porta no caminho para a qualidade dos serviços de transporte, permanecia a ausência
duma referência ao utilizador (personalidade que justifica a própria existência desses serviços).
Apesar da publicação, em Dezembro de 1992, do Livro Branco “Futura evolução da política comum
dos transportes” (COM,1992), só em 1995, o papel da opinião do utilizador e a questão dos padrões
de normalização e estandardização no contexto dos transportes públicos são discriminados num
documento político oficial. Trata-se do “documento verde” intitulado: “The citizen’s network – Fulfilling
the potential of public transport in Europe” (COM,1995), o primeiro dedicado exclusivamente às
questões relacionadas com o TP.
No mesmo documento, é apresentada uma lista de critérios destinados a orientar a avaliação do
transporte público segundo a perspectiva do utilizador, argumentando que a existência de uma
checklist traria o poder necessário ao utilizador para pressionar operadores e autoridades
competentes, no sentido da melhoria da qualidade e eficiência do TP. Propõe também um nível
mínimo para a educação do condutor, ilustrando o interesse crescente nos padrões de qualidade no
sector dos transportes. Para finalizar, é ainda sugerida a entrega de um prémio pela União Europeia
para o melhor trabalho em qualidade no sector.
Segue-se em 2001, a publicação do Livro Branco intitulado: “A política europeia de transportes no
horizonte 2010: a hora das opções” (COM, 2001), que descreve e discute um conjunto alargado de
medidas no sector do TP. Neste livro, o conceito de benchmarking é sugerido como uma ferramenta
útil uma vez que permite tirar benefício da experiência dos outros. Uma das propostas mais
inovadoras presentes no Livro Branco consiste na criação de um “mecanismo de protecção do
9
passageiro” que garanta ao utilizador o direito a um nível de qualidade específico e desejado em cada
viagem.
Em 2006, quando foi apresentada a revisão intercalar do Livro Branco sobre os transportes de 2001
(COM, 2006), a Comissão Europeia anunciou a sua intenção de apresentar um Livro Verde sobre os
Transportes Urbanos. Este foi publicado em Outubro de 2007, intitulando-se: “Por uma nova cultura
de mobilidade urbana” (COM, 2007).
Todos estes documentos têm como objectivo reflectir e lançar a discussão sobre o estado actual da
mobilidade urbana e o papel dos sistemas de transportes públicos na evolução do espaço urbano e
rural. Constituem exercícios de benchmarking na medida em que despertam o sentido crítico e a
consciência do que passa em outros países, ajudando na tomada de decisões que conduzam a
práticas mais eficientes.
2.3. Organismos dedicados a benchmarking
O esforço colectivo de melhoria na prestação de serviços de transporte público e aumento da
responsabilidade social e corporativa tem ganho força na última década. São várias as entidades que
se têm dedicado a estudos de benchmarking em TP. Só sobre metropolitanos podem ser destacadas
6 entidades dedicadas a estudos de benchmarking:
Os grupos CoMET (The Comunity of Metros) e NOVA (Comunity of medium sized metro systems),
duas associações de metros de grande e pequeno porte, respectivamente, praticam lado a lado, há já
doze anos, operações neste sentido. A distinção entre grande e pequeno/médio porte assenta no
número de passageiros transportados anualmente. No total, os dois grupos perfazem 24 metros.
O grupo CoMET nasceu em 1994, seguido do grupo NOVA em 1998, ambos fruto do projecto
“CoMET and NOVA metros” conduzido pelo Railway and Transport Strategy Centre (RTSC), Centro
de Estudos de Transportes, do Imperial College London. O primeiro e maior dos grupos contabiliza
onze membros, os metros considerados de grande porte das cidades de Hong Kong (MTRC), Nova
York, Londres, Paris e Berlim, aos quais se juntaram, posteriormente, Madrid, Moscovo, São Paulo,
Shangai, Cidade do México e Tokyo.1
No grupo NOVA estão reunidos os metros de pequeno e médio porte, cuja classificação se deve ao
baixo volume de passageiros transportados anualmente comparativamente ao grupo CoMET (inferior
a 500 milhões) e entre os quais se pode encontrar o Metropolitano de Lisboa. Actualmente inclui
também os metros de Buenos Aires, Glasgow, Montreal, Newcastle, Rio de Janeiro, Santiago de
Chile, Singapura, Toronto e os sistemas ferroviários suburbanos de Dublin e Hong Kong (KCR).
Os estudos de benchmarking levados a cabo por estas duas organizações dispersam-se por 6 áreas
distintas, designadamente operação do sistema, engenharia/tecnologia, segurança de passageiros,
1 Em Hong Kong, no que diz respeito ao sistema de transporte ferroviário, existem duas organizações
responsáveis pela operação da rede, a saber, a Mass Transit Railway Corporation (MRTC) e a Kowloon-Canton Railway Corporation (KCR). A primeira é responsável, entre outros modos, pela operação do metro convencional, e a segunda pelo sistema ferroviário suburbano.
10
finanças, gestão e serviço cliente, abordando questões como a redução dos custos operacionais, a
poupança energética, a detenção e gestão de propriedade da infra-estrutura, a gestão de lugares
produzidos, a segurança nas deslocações dentro das estações, a tarifação e as formas de
financiamento dos metropolitanos, entre outros.
O objectivo é proporcionar aos intervenientes um aumento da eficiência do serviço prestado,
conseguindo melhores desempenhos a vários níveis, tais como, maior número de circulações, menor
tempo de espera ou maior velocidade comercial ao menor custo e a eficácia do sistema de
transportes, através do aumento do número de utilizadores.
O grupo ALAMYS é uma associação de metros e ferrovias metropolitanas de países Latino-
Americanos e da Península Ibérica, que conta com a participação de empresas e organismos que
desenvolvem actividades conexas no sector (como fornecedores de material e outros serviços).
Criada em 1987 com o objectivo de facilitar o intercâmbio de experiências e tecnologias entre os
países intervenientes, o grupo ALAMYS reúne os responsáveis pela construção e/ou operação de 39
sistemas de metro de países Latino-Americanos e da Península Ibérica, onde figuram os sistemas de
metropolitano de Lisboa e do Porto. O presidente do Metropolitano de Lisboa, integra mesmo o
quadro de direcção da ALAMYS na função de segundo vogal.
As iniciativas de benchmarking incidem sobre a optimização de recursos, a modernização das infra-
estruturas e os diferentes métodos de gestão. O objectivo é conseguir maior produtividade e uma
melhoria na prestação dos serviços de transporte ao utilizador.
A Union Internationale des Transports Publics (UITP) é uma organização internacional, criada em
1885, que reúne em si autoridades políticas, operadores do serviço de transporte nos vários modos
(rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo), institutos científicos e entidades ligadas à indústria do
transporte. São, ao todo, mais de 3100 membros de 90 países diferentes à escala mundial.
Os principais domínios de actuação da UITP são a regulação e a organização do transporte público.
A União está sediada em Bruxelas, mas possui 10 outras divisões espalhadas pelos quatro
continentes, a saber, Abijã (República da Costa do Marfim), Bangalore (Índia), Camberra (Austrália),
Dubai (Emirados Árabes Unidos), Hong Kong (China), Istambul (Turquia), Moscovo (Rússia), Roma
(Itália), São Paulo (Brasil) e Teerão (Irão).
Entre as várias actividades da UITP encontram-se estudos científicos, cursos de formação para os
stakeholders do sector, publicações regulares, como a revista trimestral Public Transport International
e conferências. As conferências mundiais da UITP constituem das maiores iniciativas de promoção
dos transportes públicos à escala mundial.
A European Metropolitan Transport Authorities (EMTA) é, como o nome indica, uma organização
que integra Autoridades Metropolitanas de Transportes de vários países da Europa. Criada em 1998,
tem como objectivo a troca de informação e conhecimento entre as várias entidades responsáveis
pela gestão dos transportes públicos. A rede de cidades membros da EMTA apresenta-se na fig. 2
(Fonte: EMTA).
11
Fig. 2: Cidades membros da EMTA (Abril de 2008)
A Área Metropolitana de Lisboa, assinalada a vermelho, também participa na organização, mas como
"observador" desde 2003. Tem acesso a toda a documentação disponível e é-lhe permitida a
participação nas reuniões de grupos de trabalho. A efectividade da sua entrada no grupo aguarda o
início da actividade da já criada Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa.
Entre as várias actividades da associação encontra-se a emissão de pareceres sobre novos
documentos, regulamentos ou medidas produzidas pela União Europeia (UE) sobre o TP, que são
depois disponibilizados aos membros. A EMTA edita ainda informação técnica especializada sobre os
vários modelos institucionais de autoridades de transportes e a forma de financiamento e de
organização dos diversos sistemas de transportes públicos. A organização é dirigida por um
Conselho de Administração, renovável de 2 em 2 anos.
O European Rail Research Advisory Council (ERRAC) engloba 45 representantes entre os mais
importantes stakeholders do sector ferroviário europeu, incluindo fabricantes, operadores de
transporte, gestores das infra-estruturas, Comissão Europeia, Estados-Membros da UE, académicos,
grupos de utilizadores, entre outros. Abrange todas as formas de transporte ferroviário, desde metro
convencional a metro ligeiro de superfície, de comboio urbano/suburbano a serviço de alta-
velocidade, em serviço de passageiros ou mercadorias.
O ERRAC foi criado em 2001 com o objectivo de reunir, numa só corporação europeia, competências
para revitalizar o sector ferroviário europeu, tornando-o mais apelativo e competitivo, através de
iniciativas de inovação tecnológica e trabalho de investigação a nível europeu.
Para além destas organizações, que desenvolvem entre outras funções, estudos de benchmarking
em metropolitano, vários projectos têm vindo a ser realizados com o apoio da UE neste âmbito, tais
como:
12
Os projectos Benchmarking European Sustainable Transport (BEST) e Benchmarking of
Benchmarking (BOB) estabelecidos ao abrigo do 5º programa da União Europeia para a Pesquisa,
Desenvolvimento Tecnológico e Demonstração, “Mobilidade sustentada e Intermodalidade”, no
período de 2000 a 2003.
O principal objectivo destes projectos era identificar, através da criação de uma rede de especialistas
e representantes nacionais, o potencial do benchmarking como ferramenta de suporte e melhoria da
política de transportes a nível nacional e europeu. A rede criada pelo BEST reveu o estado-de-arte do
benchmarking e despertou a consciência para a utilidade desta ferramenta na melhoria e partilha de
conhecimentos. Destes projectos resultou, entre outros, um grupo de benchmarking em transporte
ferroviário denominado de RAILBENCH (Best practice benchmarking consortium of national railways).
Ambas as iniciativas, BEST e BOB, contribuíram para a concretização das directrizes prescritas no
Livro Branco da UE.
O projecto MODUrban (Modular Urban Guided Rail System), financiado a 50% pela UE no âmbito do
6º Programa de trabalhos da Comissão Europeia, reúne os maiores fornecedores e operadores da
indústria ferroviária. O objectivo principal é projectar, desenvolver e testar novos sistemas de
transporte e interfaces procurando economias energética e de mão-de-obra e o aumento da
acessibilidade.
Entre os operadores de transporte em metro participantes no projecto encontram-se a RATP (do
metro de Paris), a BVG (do metro de Berlim), a MM (do Metro de Madrid), a TMB (do Metro de
Barcelona), a LUL (do Metro de Londres), a MW (do Metro de Varsóvia), a DP (do Metro de Praga) e
o português ML (Metro de Lisboa).
O MODUrban foca as novas tendências em tecnologia e automatização dos sistemas de transportes.
A futura tendência em metro diz respeito aos sistemas completamente automatizados sem recurso a
condutor, que reduzem os custos operacionais tornando os sistemas de transporte mais eficientes.
No âmbito deste projecto foram postos em circulação alguns protótipos no Metro de Madrid. O
projecto pro-activo teve início em Janeiro de 2005 e vai prolongar-se até 2009.
Nos vários projectos e organizações atrás apresentados, é facilmente perceptível o envolvimento do
metro de Lisboa em todos eles.2 Esta atitude, embora denote uma vontade de aperfeiçoamento e de
aprendizagem, que é de louvar, revela uma das principais falhas no processo de benchmarking, isto
é, a falta de concretização prática. O processo de benchmarking, sendo uma ferramenta poderosa,
não deixa de ser contudo, apenas uma ferramenta. Não é um estratagema milagroso e independente
que fornecerá sozinho, resultados extraordinários. Para se obter esses resultados não basta aprender
as melhores práticas no sector, é preciso definir os benchmarks, impor targets reais à organização e
2
Para além dos projectos enunciados, muitos outros foram desenvolvidos pela Comissão Europeia. No que toca a estudos de benchmarking sobre as infra-estruturas ferroviárias destacam-se, ainda, os projectos Profitability of rail transport and adaptability of railways PRORATA (4º programa de trabalhos da Comissão Europeia) e Progress in Maintenance and Management of Infrastructure PROMAIN (5º programa de trabalhos da Comissão Europeia).
13
implementá-los. Caso contrário, nestas participações (normalmente dispendiosas) não há retorno do
esforço financeiro efectuado.
2.4. Revisão da Literatura existente
Borger et al (2002) apresentam uma revisão literária dos principais trabalhos sobre eficiência dos
transportes públicos, utilizando tanto métodos paramétricos como métodos não paramétricos. O
quadro 2 apresenta um overview sobre uma amostra de 33 estudos de benchmarking em transportes
públicos, (Borger et al., 2002).
Quadro 2: Overview dos estudos sobre eficiência em TP
Dentro dos métodos não paramétricos possíveis a técnica DEA, utilizada nesta dissertação, é a mais
recorrente, tendo sido utilizada em 88,9% dos estudos, que são maioritariamente focados no domínio
europeu (60,3%). Os outputs mais recorrentes estão predominantemente relacionados com os
veículos (distância percorrida pelos veículos, n.º de circulações, quilometragem média entre avarias,
entre outros), com passageiros (volume de passageiros transportados, distância percorrida pelos
passageiros, entre outros) e receitas (receitas de tráfego por passageiro, receitas operacionais por
passageiro, cobertura dos custos operacionais pelas receitas, entre outros).
Apesar de existirem vários estudos publicados na área de benchmarking em transportes públicos,
como é evidenciado pelo quadro anterior, a maioria destes não foca nenhum modo em específico,
14
estabelecendo apenas uma comparação entre TP e TI. Em estudos onde se foca um modo de
transporte tem-se privilegiado o transporte rodoviário. O transporte público ferroviário é também um
sujeito recorrente, quer em meio urbano quer em meio sub-urbano. Então e quanto a sistemas de
metro?
A recolha de literatura relacionada com benchmarking em metropolitano mostrou-se bastante difícil.
Os estudos de benchmarking focados em metropolitano disponíveis publicamente são raros e, por
isso, de uma mais-valia acrescida. Como já se referiu no ponto anterior, dado a importância crescente
do sector, existem várias organizações dedicadas exclusivamente a estudos de benchmarking em
metro, lançando regularmente vários press releases a dar nota da sua actividade. Sabendo por tais
press releases que vários estudos existem e são feitos regularmente sobre a matéria, qual é então o
problema da revisão literária? O grande problema reside na indisponibilização ao público desses
estudos. Os esquemas de confidencialidade são tão intrusivos que alguns estudos, apesar de
publicados, não revelam sequer o nome dos metros intervenientes.
Por tal motivo, algumas organizações compilam e editam informação sobre os vários operadores de
transporte público e comercializam-na a preços exorbitantes. O livro Analysis of the European Public
Transport Market and its Operators: Markets – Competition – Operators – Key Figures, de Junho de
2007, editado pela SCI Verkehr GmbH é um bom exemplo disso.
Ainda assim, foram bastante úteis na realização desta dissertação e merecem por tal destaque, o
artigo de Costa (1998) Public transport efficiency and effectiveness: Metro de Madrid, publicado no
livro Transport Networks in Europe: Concepts, analysis and policies e o documento de Frasquilho
(2005) “Eficiência dos Transportes Urbanos e Autoridades Metropolitanas de Transporte” do grupo de
investigação do BES, Espírito Santo Research. Ambos os artigos apresentam valores concretos para
o metro e propõem indicadores de desempenho na análise.
Costa (1998) aplica mesmo a metodologia DEA para avaliar a eficiência do metro de Madrid ao longo
do tempo (nesta dissertação a técnica DEA é utilizada com outro fim, designadamente para comparar
o desempenho dos operadores de metro relativos a um ano).
Frasquilho (2005) propõe como indicadores os custos operacionais por carruagem-km e as receitas
por passageiro-km para os metros de Lisboa, Paris, Copenhaga, Madrid, Londres e Barcelona. Faz
ainda um levantamento do número de carruagens de metro ofertadas por cada 1000 habitantes para
as cidades de Roma, Copenhaga, Bucareste, Lyon, Atenas, Bruxelas, Budapeste, Praga, Roterdão,
Paris, Barcelona, Londres e Lisboa.
15
3. Organização dos Metropolitanos em Portugal
3.1. Considerações gerais
Neste ponto, atentando ao estado presente do sector dos transportes públicos em Portugal será
tomado como objecto de estudo o modelo de transporte ferroviário ligeiro, comummente conhecido
como sistema de metro ou metropolitano. O objectivo é compreender o funcionamento e organização
destes sistemas de transporte numa perspectiva individual e de interoperabilidade.
O Instituto Nacional de Estatística publicou em 2004, um estudo sobre a caracterização dos sistemas
urbanos do território continental e ilha da Madeira. Neste estudo, foram apresentados índices de
centralidade para os vários centros urbanos do continente e região autónoma da Madeira, os quais
revelam o grau em que determinado centro urbano exerce funções centrais. Os 15 centros urbanos
com maior índice de centralidade foram destacados a vermelho na figura 3 (INE, 2004).
A geografia do índice de centralidade aponta para a existência de três aglomerados de centros
urbanos de elevado índice de centralidade no Continente, nomeadamente no Norte Litoral (na Área
Metropolitana do Porto), nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e em Coimbra. Na AML, destacam-se
cinco centros urbanos, 4 localizados na Grande Lisboa (Lisboa, Cascais, Oeiras e Sintra), e apenas
um centro urbano da Península de Setúbal, isto é Almada. É pois nestes centros urbanos (Lisboa,
Porto, Coimbra e Almada) onde se encontram e justificam os sistemas de transporte em
metropolitano.
O modelo português de transporte em metropolitano respeitante à gestão das infra-estruturas e à
prestação dos serviços de transporte difere de metropolitano para metropolitano. Em Portugal existem
actualmente quatro metropolitanos, dois em exploração, o Metropolitano de Lisboa (ML) e o Metro do
Fig. 3: Índice de Centralidade de centros urbanos
16
Porto (MP), e dois ainda em fase de construção e reconversão das infra-estruturas de longa duração,
o Metropolitano do Mondego (MM) e o Metro Sul do Tejo ou oficialmente Metro Transportes do Sul
(MTS). O MTS, embora ainda na primeira de três fases de implantação da rede, dispõe desde Maio
de 2007 de um troço em exploração entre Corroios e Cova da Piedade que se estendeu em
Dezembro desse ano até a Universidade Nova.
Para além destes 4 metros, existe em Portugal uma variante a estes sistemas, a saber o SATUO. O
SATUO (Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras) é um sistema automático de
transporte urbano, eléctrico, apoiado em viaduto de betão, por tracção a cabo, com a particularidade
de não ter condutor, nem motor incorporado. Trata-se de um monocarril que se estende por 1150m
entre a Estação de Paço de Arcos e o Oeiras Parque, percorridos em apenas quatro minutos. Apesar
dos fracos níveis de utilização, está prevista pela autarquia, a extensão da linha até ao Tagusparque.
Visto o SATUO não ser considerado um metro, este não será objecto do estudo que aqui se
desenvolve, retendo-se apenas algumas considerações acerca do sistema.
Todos os sistemas de transporte enunciados apresentam diferentes características quanto à forma de
gestão e ao seu enquadramento legal. Para perceber as dinâmicas envolvidas na organização deste
sector, é necessário primeiramente, perceber o modelo de transporte onde está inserido. Tanto o
Metro Sul do Tejo como o metropolitano de Lisboa encontram-se situados na AML, fazendo parte da
rede de infra-estruturas de transporte que serve a metrópole. Estes metros serão analisados
inicialmente como um todo, na parte integrante do sistema de transporte da AML e, posteriormente,
individualmente, atendendo às suas atribuições, competências e estatutos legais.
O mesmo se fará em relação ao Metro do Porto. De início, será analisado o contexto do sector dos
transportes na área metropolitana do Porto (AMP) e o enquadramento do MP nesse sector.
Supletivamente, serão analisados os estatutos do Metro do Porto enquanto entidade empresarial de
transporte, as suas competências e atribuições no sector.
O projecto do Metro Mondego, desde Março de 2006 sob a designação de Sistema de Mobilidade do
Mondego (SMM), encontra-se actualmente em desenvolvimento, não havendo ainda qualquer troço
em exploração. A entrada em vigor do primeiro troço prevista inicialmente para 2010, tem visto
sucessivos adiamentos por conflitos entre a Metro Mondego,S.A. e a Câmara de Coimbra. Dada a
sua prematuridade e incerteza, neste estudo serão apenas apresentados os traços gerais do
processo de concurso para a exploração do sistema (em regime de subconcessão para a exploração
do Metropolitano do Mondego e de subconcessão para a implantação e manutenção da infra-
estrutura), e as linhas actuais de orientação do projecto do sistema de mobilidade que abrange os
municípios de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã.
3.2. Legislação nacional aplicável ao sector dos Transportes
A estrutura portuguesa do sistema de transporte público assenta na Lei de Bases do Sistema de
Transportes Terrestres (LBTT), Lei n.º10/90 de 17 Março.3 O sistema de transportes terrestres
3 No que toca ao transporte rodoviário está também, em vigor, o RTA, “Regulamento dos Transportes
Automóveis” de 1948, sem relevância para o estudo em causa.
17
regulado compreende as infra-estruturas e os factores produtivos afectos às deslocações por via
terrestre de pessoas e de mercadorias no âmbito do território português ou que nele tenham término.
O capítulo IV do presente diploma estabelece as bases do ordenamento e exploração dos transportes
nas regiões metropolitanas, prevendo, simultaneamente, a instituição de uma Comissão
metropolitana de transportes, responsável pela elaboração do plano de transportes da região
metropolitana. O plano de transportes referido “definirá os investimentos e as medidas legais,
regulamentares e administrativas reputadas necessárias para gerir o sistema de transportes, pela
coordenação entre os diferentes modos e respectivas entidades exploradoras (...). O plano de
transportes da região metropolitana abrangerá não só os meios de transporte público de superfície
(ferroviário, rodoviário e fluvial) e subterrâneo (metropolitano), como também as condições de
circulação e estacionamento dos veículos privados.”
As comissões metropolitanas de transportes ou Autoridades Metropolitanas de Transportes, apesar
de previstas já na década de 90 pela dita Lei, foram apenas criadas mais de 13 anos depois, pelo
Decreto-Lei (DL) n.º 268/2003, de 28 de Outubro. Este decreto, hoje em revisão, cria a Autoridade
Metropolitana de Transportes de Lisboa e a Autoridade Metropolitana de Transportes do Porto.
Para efeitos da LBTT, são consideradas regiões metropolitanas de transportes áreas geográficas
constituídas pelo centro urbano principal, no qual se verificam intensas relações de transporte de
pessoas entre os locais de residência e os diferentes locais da actividade económica, administrativa e
cultural, e pelas zonas circunvizinhas, onde podem existir também aglomerados urbanos secundários,
que com o centro urbano principal mantêm relações intensas de transporte, nomeadamente de
passageiros em deslocação pendular diária entre os locais de residência e de trabalho. Na época, a
lei considerava a existência de apenas duas áreas metropolitanas em Portugal cumpridoras de tais
requisitos, designadamente Lisboa e Porto. Actualmente, outros centros urbanos sofrem processos
de metropolização, destacando-se Coimbra.
3.3. A estrutura institucional do sector dos transportes em Portugal
A estrutura institucional do sector é composta por várias entidades com diferentes universos de
actuação (Cruz, 2006):
O Estado e entidades directamente dependentes do Estado:
- Estado responsável pelas decisões e financiamento do sistema de transportes do país
(financiamento das infra-estruturas ferroviárias do metro ligeiro de superfície, metro
convencional e comboio e infra-estruturas rodoviárias juntamente com os municípios
abrangidos);
- Entidades directamente dependentes do Estado, como a antiga Direcção Geral dos
Transportes Terrestres e Fluviais (DGTTF), com competências de regulação do sector dos
transportes terrestres; e o Instituto Nacional do Transporte Ferroviário (INTF), antiga
entidade reguladora do transporte ferroviário. Estas duas instituições, juntamente com
18
algumas atribuições da Direcção-Geral de Viação (DGV), deram origem ao actual IMTT,
Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres4.
Os municípios, responsáveis pela regulação do transporte urbano e local através de
concessões para a exploração de sistemas rodoviários urbanos e municipais e pela,
definição de percursos escolares e de projecto da rede rodoviária municipal, segundo a já
abordada LBTT. Os municípios são também responsáveis pelo financiamento das infra-
estruturas rodoviárias do seu domínio.
Áreas Metropolitanas e regiões, cujas competências estão dependentes da concretização
das referidas Autoridades Metropolitanas de Transporte (AMTs) criadas a 28 Outubro pelo
DL n.º 268/2003. Estas autoridades terão competências de regulação e coordenação dos
vários modos de transporte dentro dos limites da área metropolitana correspondente.
Apesar de terem já sido criadas, as AMTs ainda não foram reguladas, criando-se uma
situação de impasse e incerteza quanto ao domínio e forma de actuação das mesmas.
3.3.1. IMTT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres
Criado pelo DL n.º 147/2007, de 27 de Abril, o IMTT, I.P. (instituto público) é um organismo da
administração central, com jurisdição sobre o território nacional e dotado de autonomia administrativa,
financeira e patrimonial. É actualmente a autoridade reguladora do sector do transporte ferroviário
ligeiro em Portugal com poderes sobre todos os sistemas de transporte em metropolitano,
nomeadamente o Metro de Lisboa, o Metro do Porto, o Metro da margem Sul e futuramente o Metro
de Coimbra.
O IMTT tem por missão regular, fiscalizar e exercer funções de coordenação e planeamento do sector
dos transportes terrestres e da mobilidade. É responsável pela supervisão e regulamentação das
actividades deste sector, competindo-lhe a promoção da segurança, da qualidade e dos direitos dos
utilizadores dos serviços de transportes terrestres, promovendo a intermodalidade e o desempenho
global dos modos de transporte público de forma a potenciar a sua utilização e minimizar o
congestionamento gerado pelo transporte individual.
Entre os seus objectivos incluem-se o assegurar a competitividade das empresas do sector, através
da eficiência dos dispositivos de transporte, a defesa dos interesses e direitos dos utilizadores e a
procura de soluções inovadoras, que minimizem os impactes ambientais gerados pela actividade
transportadora e outras externalidades.
Por ser um instituto público, está sob a tutela e superintendência do Ministério das Obras Públicas,
Transportes e Comunicações (MOPTC), o que pode influenciar a sua imparcialidade em situações
onde os interesses das transportadoras ou dos utilizadores não confluam com os interesses do
Estado. Neste tipo de regulação, estadual indirecta, de que são exemplo, para além dos institutos, as
previstas Autoridades Metropolitanas de Transporte, o Estado pode destituir, em caso de desagrado,
os membros que constituem a própria entidade reguladora, ao mesmo tempo que lhe é permitido o
exercício de pressões sobre a gestão do próprio organismo.
4 Assumiu as atribuições da Direcção Geral de Viação (DGV) nas matérias relativas a condutores e veículos.
19
Alguns autores (Marques, Moreira, entre outros) apontam como solução a adopção de regulação
independente, como se pratica em Portugal noutros sectores, por exemplo, no sector das
telecomunicações e comunicações postais, pelo exercício da ANACOM, e no sector eléctrico, através
da ERSE. A ser independente, a entidade reguladora não tem tutela ou superintendência
governamental, o que a libertaria de tais pressões.
3.3.2. Autoridade metropolitana de transportes e a articulação dos vários modos
A criação das AMTs pressupõe a adopção de um novo modelo de organização das diversas
entidades. O Governo deixa de ter o papel de autoridade central sobre o sistema passando a haver
uma participação crescente das autoridades locais. Ao aproximar a autoridade do próprio sistema, a
regulação torna-se mais simples e eficaz, dado que a Autoridade Metropolitana de Transportes de
uma determinada região tem sob a sua alçada apenas o sistema urbano de transportes dessa região
e não de todo o continente.
O princípio da descentralização de competências nos transportes urbanos tem vindo a afirmar-se na
Europa nas últimas décadas. O quadro 3, retirado de Cruz (2006), demonstra esta tendência,
resumindo a cronologia das AMTs europeias.
Quadro 3: Cronograma das autoridades de transporte europeias.
Entre as várias AMTs apresentadas, destacam-se como exemplos de sucesso Paris, através da
actuação da STIF (Syndicatt des Transports d’Ile-de-France), Madrid, através da CRTM (Consorcio
Regional de Transportes de Madrid) e Barcelona da ATM (Autoritat del Transport Metropolita).
De um modo geral, a descentralização de competências foi alargada aos vários modos de transporte,
à excepção dos caminhos-de-ferro. A sua escala, francamente maior que a dos autocarros ou
serviços metropolitanos, torna mais difícil a sua gestão pelas autoridades locais ou regionais,
mantendo-se normalmente nessa modalidade a intervenção directa do Estado. São exemplos disto,
os modelos de Barcelona e Madrid que se explicitam no anexo 1. Excepções há, como por exemplo
na Suécia, onde a autoridade metropolitana de transporte da cidade de Estocolmo, Storstockholms
AMT Data de criação AMT Data de Criação
Amesterdão (ROA) 1993* Londres (TfL) 2000
Atenas (OASA) 1977 Lyon (SYTRAL) 1983
Barcelona (ATM) 1997 Madrid (CTM) 1985
Berlim (VBB) 1996 Manchester (GMPTE) 1968
Bilbao (CTB) 1975** Munique (MVV) 1975
Bremen (VBN) 1989 Newcastle (Nexus) 1968
Colónia (VRS) 1987 Paris (STIF) 1959
Copenhaga (HUR) 2000* Praga (ROPID) 1993
Dublim (DTO) 1995 Rhine-Rur (VRR) 1990*
Frankfurt (RMV) 1994 Sheffield (SYPTE) 1968
Glasgow (SPT) 1973 Estugarda (VVS) 1978
Hamburgo (HVV) 1996* Valência (ETM) 2000
Helsínquia (YTV) 1996* Viena (VOR) 1984
Leeds (YTV) 1985 Zurique (ZVV) 1990
Liverpool (Merseytravel) 1968
*Data da criação das suas actuais funções e responsabilidades; **A sua função original era construir o metro. A integração tarifária só ocorreu em 2000.
20
Lokaltrafik AB (SL), tem a seu cargo a gestão de todos os modos de transporte incluindo os
caminhos-de-ferro.5
3.3.4. A autoridade metropolitana de transportes e a problemática do financiamento
do sistema
A discussão que se levanta sobre a actuação destas autoridades diz respeito ao estatuto e
competências das mesmas, sobretudo no que toca ao financiamento do sistema. Inicialmente, estas
autoridades foram pensadas como entidades públicas, podendo elas mesmas recorrer a crédito junto
da Banca, com garantia do Estado de modo a cobrirem os défices do sistema. Esta medida em nada
contribuiria para a eficiência do sistema proporcionando apenas uma concentração da dívida dos
operadores nos vários modos de transporte em uma única entidade. Posto isto, pensou-se ser mais
proveitoso não conceder às autoridades capacidades para se endividarem, obrigando o Estado a
assumir a sua responsabilidade para com o financiamento do serviço público de transporte, o que
gerou alguma controvérsia.
A ter início a sua actividade sem hipótese de recorrer a crédito, a AMT força o Estado a atribuir
indemnizações ou subsídios iguais ao valor total do défice do sistema, sendo que tais verbas
incorreriam para o cálculo do défice da administração pública, ultrapassando largamente a meta
demarcada pelo Governo sob directiva da EU (imposto pelo pacto de estabilidade).
Na hipótese de se incluírem os encargos com a subsidiação completa do sistema público de
transportes estima-se uma subida do défice actual até os 8 ou 9% do produto interno bruto (PIB)
nacional, balançando a economia do país.
Para se contornar este efeito outros esquemas de financiamento têm de ser aplicados. A questão
decisiva do financiamento do sistema obriga à criação de um novo modelo que, para além das
receitas directas obtidas com a exploração do próprio sistema de transportes ou daquelas obtidas por
contratualização directa com o Estado ou com as autarquias, consiga captar para si, outras receitas
provenientes, por exemplo, do sistema de parqueamento da área metropolitana, ou da internalização
dos custos externos infligidos pelos utilizadores do transporte individual aos outros utilizadores do
sistema de transporte (custos sociais de deterioração da qualidade de vida pelo congestionamento do
espaço urbano, emissão de poluentes, etc.). Esta é uma das medidas correctoras possíveis da
indisciplina de circulação e de estacionamento que se vive hoje nas áreas metropolitanas, podendo
virem a tornar-se mais drásticas, como sucedeu em Londres, através da aplicação de portagens
elevadas à entrada do centro da cidade.
Os planos de melhoria da qualidade do ar elaborados para a Região de Lisboa e Vale do Tejo e
região Norte, publicados em Diário da República em Agosto deste ano, contemplam já estas medidas
e propõem, para além da introdução de portagens diferenciadas no acesso a Lisboa (conforme a taxa
de ocupação do veículo) e do aumento da eficácia da fiscalização no estacionamento, medidas como
a ampliação da frota a gás natural na Carris, o aumento dos corredores BUS e a criação de vias
5
A SL gere todos os modos à excepção do transporte marítimo que está a cargo da Waxholms Ångfartygs AB, empresa detida pela Câmara Municipal de Estocolmo.
21
exclusivas para veículos com alta ocupação, nas infra-estruturas rodoviárias de acesso a Lisboa. O
Governo veio já publicamente afirmar que a introdução de portagens à entrada de Lisboa, apesar de
não excluída, seria o último recurso a aplicar.
Em França, foi adoptada outra forma para subsidiar o sistema de TP, apresentada na figura 4,
retirada de Frasquilho (2005). Uma parcela do financiamento é garantida pela contribuição das
empresas sediadas em cidades com mais de 20 mil habitantes, nas quais trabalhem mais de 9
empregados. Esta medida, denominada de Versement de Transport, prende-se com o conceito de
que a empresa abrangida beneficia directamente com a presença de transportes públicos, devendo
pagar imposto pelas mais-valias imobiliárias decorrentes da construção de infra-estruturas.
Fig. 4: Financiamento do sector dos transportes em França
Há ainda que considerar a potencialidade do financiamento do sistema através do aproveitamento
comercial dos espaços livres das estações. Esta medida já foi testada em vários modos de transporte
com grandes sinais de sucesso no sector aeroportuário, onde as receitas geradas pela
comercialização dos espaços são muitas vezes superiores às obtidas pelo tráfego aéreo.
Outra questão que se coloca quanto à concretização destas AMTs diz respeito à gestão das receitas.
Há quem advogue que as receitas do sistema de transporte devam ser assumidas pela própria
autoridade, limitando os operadores de transporte público ao cumprimento de percursos nos termos
que foram contratados. Esta não aparenta ser uma boa estratégia visto não incentivar os operadores
a aumentar a eficácia do sistema pela captação de clientes. A acrescer a isto, está o facto de a
autoridade não ter experiência no mercado nem conhecimento deste, ao contrário das empresas que
nele operam.
O tema é delicado e a discussão está longe de ter fim, dada a condição económica instável do país e
o fraco empenhamento das partes envolvidas para a sua resolução. Desta forma, Governo,
operadores de transporte e até UE fecham os olhos à situação, elevando, ano após ano, a dívida
pública do sistema de transportes, como se mostra na figura 5, retirada de Frasquilho (2005).
Fig. 5: Passivo das empresas públicas a operar no sector dos transportes (1999-2003)
22
Actualmente a dívida soma mais de 11 mil milhões de euros, situação que a longo/médio prazo se
tornará insustentável.
3.4. Financiamento do Sistema de Metro
Um sistema de metro, dado a sua dimensão, implica elevados investimentos. O seu financiamento
pode referir-se a 3 categorias, a saber, a infra-estrutura, o material circulante e a operação do sistema
pela prestação de serviço público.
O investimento com as infra-estruturas de longa duração (ILD’s), à parte da utilização de fundos
comunitários (FEDER), está por norma associado ao Estado, dado o peso e importância deste
esforço financeiro, mas pode em alguns casos ser suportado parcial ou integralmente pela
administração local e regional (municípios e autoridades metropolitanas).6 Exemplos disto são os
casos de Amesterdão e Milão, onde a participação do Estado, para além do financiamento
comunitário, cobre a totalidade do investimento com as ILD’s ou Lyon, onde é a administração local a
assumir esses encargos ou ainda, numa situação intermédia, Munique, onde o Estado participa com
60% e as administrações local e regional suportam o restante em igual parte (20%-20%).
Quanto ao investimento com o material circulante, este fica normalmente a cargo do operador
através dos seus capitais próprios e endividamento. Esta prática é frequente, sobretudo, quando há
abertura ao privado.
O financiamento da operação do sistema prende-se com a componente de serviço público que um
sistema de metro acolhe. A política de subsidiação da operação do sistema de metro diverge de país
para país. Em Barcelona, a ATM subsidia integralmente a operação do sistema cobrindo os défices
de exploração em cada ano. Esta política, embora tenha a vantagem de evitar o endividamento dos
operadores de transporte, não traz, só por si, incentivos à eficiência.
Uma maneira de incentivar a eficiência consiste em estimar o défice que o operador incorre pela
prestação de serviço público cobrindo esse valor e apenas esse. Dessa forma, se o operador incorrer
em custos excessivos originando défices mais gravosos, estes serão suportados única e
exclusivamente pelo operador. Esta situação é frequente, no caso da contratualização de serviços em
parceria público-privada, de que são exemplos as concessões dos metros de Londres (pela LU), de
Lyon, Rennes e Lille (pela Keolis), de Estocolmo (pela Veolia, antiga Connex) e de Copenhaga (pelo
consórcio Ansaldo STS e Azienda Trasporti Milanesi).
Em Portugal, pelas obrigações de serviço público que prestam, os vários metros do país e outras
empresas de transporte público de passageiros nos vários modos, têm recebido anualmente do
Estado compensações financeiras, chamadas indemnizações compensatórias (ICs), em montante
inferior ao custo estimado dessas obrigações. O modelo de financiamento subjacente à prestação do
6 Portugal, desde a adesão à UE em Janeiro de 1986, tem-se candidatado, à semelhança dos outros países
membros, a este co-financiamento para a realização de numerosas acções de desenvolvimento. O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) apoia, entre outros, infra-estruturas de base nos domínios dos transportes, comunicações, energia, ambiente e renovação urbana, dentro dos Quadros Comunitários de Apoio (QCA).
23
serviço público é estabelecido pela tutela, sem serem dados a conhecer, às empresas de transporte,
os critérios que o definem.
No futuro, as obrigações de serviço público deverão ser, de acordo com as orientações estratégicas
da UE para o sector dos transportes, objecto de contratualização entre o Estado e os vários
operadores de transporte. A ser concedida pelo município, pela AMT ou pelo Estado, a prestação do
serviço público deve ser contratualizada para garantir o seu cumprimento.
3.5. Modelos de prestação de serviços públicos de transporte
Existem vários modelos de prestação de serviços públicos e várias maneiras de os apresentar. De
uma forma global, o panorama português pode ser segregado em três partes distintas (Cruz, 2006):
Serviços públicos de transporte prestados por operadores de transporte “públicos”,
propriedade do Estado e sob o seu controlo, directo ou indirecto;
Operadores municipais responsáveis pelos:
- Serviços municipais, geridos directamente pela Câmara Municipal;
- Serviços municipalizados, geridos por uma unidade autónoma da Câmara com autonomia
administrativa e financeira, mas sem personalidade jurídica, e
- Empresas municipais e intermunicipais, onde a gestão é delegada em empresas criadas
pela Câmara Municipal em Assembleia municipal, com autonomia administrativa e financeira
e personalidade jurídica. Pode haver a participação de uma entidade privada, levando à
criação de empresas mistas (PPP do tipo institucional). A escolha do capital privado é
segundo o novo regime do SEL obrigatoriamente concursual.7
Operadores privados, que exercem a sua actividade por meio de um qualquer tipo de contrato
de concessão, gestão ou arrendamento. Daqui resultam, entre outras, concessões
municipais e intermunicipais, onde a autoridade concedente da exploração é o município ou
a associação de municípios. O processo de selecção é obrigatoriamente concursual.
As competências dos municípios no sector dos transportes encontram-se definidas na Lei 159/99, de
14 de Setembro, que define o quadro de transferência de atribuições e competências para as
autarquias locais e na Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, que estabelece o quadro de competências
assim como o regime jurídico de funcionamento, dos órgãos dos municípios e das freguesias.8
As atribuições da autarquia são explícitas no art.º 18 do primeiro diploma, abrangendo o
planeamento, gestão e realização de investimentos das redes de transporte. O art.º 19, referente à
Educação, inclui também no domínio de competências dos Municípios, os Transportes Escolares.
Em termos generalistas, a legislação actual coloca sob a alçada das autarquias as redes de
transportes, com as respectivas infra-estruturas, que se desenvolvam dominantemente no interior do
seu território, dando especial ênfase à necessidade de coordenação de intervenções, de modo a
evitar a sobreposição de actuações entre a administração central e a local. Assim, no caso de redes e
infra-estruturas de carácter supra-municipal (nacionais e regionais), o planeamento, gestão e
7 SEL- Sector empresarial local
8 Lei n.º 169/99 foi posteriormente alterada pela Lei n.º 5-A/2002, de 11 de Janeiro.
24
realização de investimentos encontra-se fora da alçada dos municípios, sendo estas tarefas da
responsabilidade da administração central.
No entanto, sob pena de pôr em causa o funcionamento global do sistema de transportes, e no caso
particular do sistema rodoviário, a legislação em vigor, ainda que não defina competências
específicas, estipula que poderão intervir na definição das redes rodoviárias de carácter supra-
municipal.
3.6. SEE – Sector Empresarial do Estado
A relação assumida entre o Estado e os diferentes operadores diverge largamente de caso para caso.
A própria participação do Estado no sector empresarial é variável, oscilando entre empresas públicas,
de base societária (S.A’s) ou institucional (E.P.E’s), e empresas participadas.
É comum a designação dos estatutos de Empresa Pública (E.P.) e Entidade Pública Empresarial
(E.P.E.) de forma indiferenciada, muito embora o sejam. A distinção entre ambas nem sempre é fácil
de se apreender, na medida em que, nem mesmo o Regime do Sector Empresarial do Estado
(RSEE), implementado pelo Decreto-Lei n.º58/99, as distingue de forma clara e precisa.
A actividade empresarial do Estado caiu num descontrolo a ponto de os próprios poderes públicos
não saberem em concreto, quantas há, quem são, e em que actividades se inserem, as empresas
públicas que criou ou detém. A Inspecção Geral de Finanças, responsável pela fiscalização das
empresas públicas estaduais, como decorre do artigo n.º12 do RSEE, não tem em sua posse os
elementos que as identificam, e o próprio Tribunal de Contas já se pronunciou sobre essa dificuldade.
A definição de empresa pública em vigor até 1999 encontrava-se explícita no DL n.º260/76 que
classificava como empresa pública “as empresas criadas pelo Estado, com capitais próprios ou
fornecidos por outras Entidades públicas, (…), tendo em vista a construção e desenvolvimento de
uma sociedade democrática e de uma economia socialista”. Do primeiro artigo do mesmo diploma
resultava também que as empresas nacionalizadas também eram empresas públicas.
O Decreto-Lei n.º58/99, recentemente alterado, de forma pouco significativa, pelo DL n.º300/2007 de
23 de Agosto, veio introduzir um novo conceito de empresa, passando a considerar não só as
entidades de base institucional, mas também aquelas que no seu âmbito do DL n.º260/76 estavam
excluídas expressamente, as empresas de base societária. Seguindo a directiva comunitária, foi
alargado o conceito de empresa pública, considerando a forma societária tão empresa pública quanto
a tradicional, de base institucional, promovendo o princípio da igualdade de tratamento entre elas.
Ainda assim, é possível afirmar que actualmente, a figura típica de empresa pública diz respeito à
empresa de base societária, com influência dominante do Estado (as Sociedades Anónimas, S.A.). As
E.P.E.s mantêm uma participação mais rígida do Estado.
O Regime do Sector empresarial do Estado, instituído por tal diploma, descreve as diferentes formas
de participação do Estado no sector empresarial, podendo ser resumido no quadro 4 seguinte.
25
Quadro 4: Regime do sector empresarial do Estado
3.7. A contratualização do serviço público de transporte em Portugal
3.7.1. Introdução
Os sistemas de transporte em Portugal são na sua maioria geridos por empresas que se inserem no
RSEE, variando o tipo de contratualização do serviço (ou ausência dela). São várias as situações de
irregularidade na prestação dos serviços atribuídos por ajuste directo entre o Estado e o operador
sem recurso a concurso. Existem também atribuições de regalias excessivas como o “direito
exclusivo” de operação de que são exemplos, a CP (operador ferroviário), a STCP (operador
rodoviário no Porto), a Transtejo (operador fluvial em Lisboa), entre outros. Estes casos e outros
modos de relacionamento entre o Estado e os operadores de transporte ferroviário ligeiro,
presenciados no cenário português, serão discutidos nos capítulos 3.8., 3.9 e 3.10.
Os diferentes operadores de transporte desenvolvem a sua actividade sob regimes de operação
distintos, alterando-se os relacionamentos com a autoridade responsável, a proprietária da infra-
estrutura e a entidade reguladora, o modo de contratualização do serviço (quando existe), e a própria
autoridade em questão.
Tradicionalmente, a concepção, manutenção e operação de serviços públicos encontrava-se a cargo
da entidade estatal. Esta podia ser directa ou através de empresas criadas especificamente para
esse efeito, estando estas sob o controlo do Estado. Este método de gestão mostrou-se pouco
eficiente. A tendência, assistida na Europa nos últimos anos é, por isso, de desintervenção do Estado
9 No caso de se tratar de uma S.A. de capitais exclusivamente públicos, o capital social só se pode alienar a
empresas de capitais exclusivamente públicos.
Empresas Públicas Empresas Participadas
Base Societária Institucional
Denominação
Sociedade Comercial com
influência dominante do
Estado
(forma societária é actualmente a
figura de empresa pública típica)
Entidade Pública
Empresarial (E.P.E.)
(empresa pública
tradicional)
Sociedade Comercial
com participação
permanente do Estado
sem influência
dominante
Enquadramento legal
Regem-se predominantemente pelo direito privado
Regem-se predominantemente pelo direito público
Natureza do capital
Maioria do capital social é do Estado. O capital social pode ser transaccionado a qualquer pessoa singular ou colectiva.
9
Estado detém a totalidade do capital estatuário. O capital não pode ser transaccionado.
Estado não tem a maioria do capital social
Órgãos da administração/
fiscalização
Estado pode designar a maioria dos membros dos órgãos
Estado não pode designar a maioria dos membros dos órgãos
Controlo financeiro
Feito pelo revisor oficial de contas A cargo da Inspecção Geral das Finanças
Extinção Há possibilidade de extinção por falência
Não se aplicam as regras gerais de extinção por falência das sociedades
26
e desgovernamentalização da actividade regulatória. Para tal são apontadas as parcerias público-
privadas (PPPs) como forma de contratualização de serviços públicos.
3.7.2. Parcerias Público-Privadas
As PPPs tratam-se de uma modalidade de contratação pública baseada numa relação comercial
estabelecida entre entidade pública e parceiro privado para o desenvolvimento de uma actividade de
utilidade pública. Estas parcerias podem ser aplicadas na concepção e financiamento das infra-
estruturas, ou na exploração do serviço público em diversas áreas (transportes, saúde, educação...).
A consagração da prática das PPPs, verificada a nível internacional, reside num determinado
entendimento do papel do Estado na economia (o Estado deixa de ser o único dono de obra,
passando a desempenhar um papel mais fiscalizador, concentrado na delimitação das necessidades
a prover).
Em termos conceptuais, a utilização das PPPs assenta:
Na evidência histórica de que o sector público tem dificuldade em controlar os riscos
inerentes ao desenvolvimento de grandes projectos de infra-estrutura (forte desvio de custos
face aos orçamentos iniciais);
Na transferência desses riscos (em maior ou menor medida) para o sector privado. Por essa
razão, o sector privado apresenta as suas propostas com um prémio de risco, sendo neste
âmbito, mais dispendiosas do que no método de contratação tradicional;
Em custos de financiamento mais elevados caso a responsabilidade pela contratação de
financiamento do investimento inicial seja transferida para o sector privado.
Em termos de VAL do esforço financeiro do sector público, verifica-se que os custos acrescidos que
resultam do envolvimento do sector privado em regime de PPP (prémio de risco nas propostas e
custos financeiros mais elevados) são menores que os desvios de custos que ocorrem no método de
contratação tradicional, como se pode verificar na figura 6, adaptada de Marques (2008).
Fig. 6: Benefícios das PPPs
As PPP distinguem-se em dois tipos:
Puramente contratual, onde a parceria entre os sectores público e privado tem por base uma
relação exclusivamente contratual;
Do tipo institucionalizadas, implica a cooperação entre os sectores público e privado numa
entidade distinta, uma empresa mista.
A figura 7 ilustra os vários tipos de variantes a cada tipo de PPP.
27
Na variante contratual podem distinguir-se:
Contratos de concessão – onde o investimento fica a cargo do privado e este é remunerado
directamente pelos utentes do serviço (cobrança directa das tarifas). O risco comercial é todo
do privado e o contrato de concessão tem uma duração normalmente entre 20 e 35 anos;
Contratos de arrendamento - nos quais o investimento é público, mas o operador do serviço
é remunerado pelos utilizadores através da arrecadação directa das tarifas. O risco comercial é
partilhado e o contrato de delegação prolonga-se entre os 8 e os 15 anos;
Contratos de gestão – onde o investimento é do Estado que impõe as tarifas a cobrar aos
utilizadores pela gestão privada. O operador é pago pelo Estado. Neste tipo de contratos, o
risco é maioritariamente público e o período de delegação situa-se, em geral, entre 2 a 5 anos;
Contratos de outsourcing – que diz respeito a um contrato de gestão por um período muito
curto (caso da subcontratação de serviços).
Por sua vez, as PPPs institucionalizadas dizem respeito à criação de empresas mistas (entrada de
capital privado na empresa). O antigo regime do Sector Empresarial Local – SEL (Lei n.º 58/98, de 18
de Agosto) não obrigava claramente, nas empresas de capitais maioritariamente públicos, que a
entrada de capital privado fosse sujeita a procedimentos concursuais.
A necessidade de maior equidade entre todas as entidades gestoras levou à criação de um novo
regime jurídico do sector empresarial local (Lei n.º53-F/2006, de 29 de Dezembro), que obriga à:
- existência de concurso para a escolha do capital privado para a empresa municipal;
- submissão da empresa municipal à regulação do sector (artigo 11º, do novo regime do SEL).
3.7.3. Parcerias Público-Público
As parcerias público-público são um fenómeno recente e a sua eficácia tem vindo a ser discutida. Na
prática, as parcerias público-público são semelhantes às suas congéneres público-privadas, mas no
lugar do parceiro privado entra uma entidade pública. Estas podem ser uma parceria entre Município
e Estado, desde que o Estado participe como uma E.P.E. (excluem-se as empresas públicas de base
societária, as SA); ou parcerias com outras entidades públicas.
Em Inglaterra, um dos parceiros públicos pode mesmo ser um grupo de consumidores. Esta pode ser
a solução para o fornecimento de serviços de transporte urbano locais, sobretudo em zonas de baixa
densidade populacional, onde uma associação de moradores de uma freguesia pode criar um serviço
rodoviário, em parceria com a autarquia, para transportar os seus moradores dentro do município.
Fig. 7: Tipos de PPPs
28
3.7.4. Nova regulamentação na contratualização de serviços públicos
As novas directivas da UE exigem uma contratualização dos serviços públicos de transporte por
período definido relativamente curto (preferencialmente com duração distinta para a construção das
infra-estruturas e a exploração do serviço) recorrendo por sistema a concursos, o que põe um fim aos
direitos exclusivos de operação.
Na década anterior, o sistema de transportes colectivos urbanos era, ainda em muitos países,
operado por empresas públicas sem contratualização com a autoridade administrativa. A ausência
desses contratos resultava em contornos mal definidos para as obrigações de serviço público, para a
tarifação (feita, sobretudo, segundo critérios políticos e não razões técnicas coerentes) e para a
atribuição dos subsídios à exploração (concedidos aleatoriamente e mais dependentes da
disponibilidade financeira do Estado que do serviço desempenhado ou da sua qualidade).
A CE e o Tribunal Europeu consideraram esta prática inaceitável por constituir auxílios de estado fora
do quadro muito restritivo que os permitia. De acordo com a Directiva Comunitária, o pagamento de
indemnizações compensatórias aleatórias aos operadores de transporte e financiamento do sistema
de transportes, não é sustentável e, como tal, previu-se a revisão do sistema.
A contratualização do serviço público através da celebração de “Contratos de Prestação de Serviço
Público” após concurso, foi identificada como a principal solução para:
- Cobrir os défices orçamentais advindos dos défices históricos operacionais das empresas de TP;
- Regular com transparência o pagamento das obrigações de serviço público impostas aos
operadores públicos ou privados (obrigações cujo valor deve ser estimado);
- Permitir um sistema de transportes mais eficiente (onde cada interveniente cumpre o seu papel).
Em Paris, a contratualização dos serviços entrou em vigor em 2001. Em Portugal a mudança começa
recentemente com entrada em vigor do Código dos Contratos Públicos (CCP), publicado pelo
Decreto-Lei n.º 18/2008 a 29 de Janeiro.
As três grandes inovações do novo diploma dizem respeito:
À criação de um conjunto homogéneo de normas relativas aos procedimentos pré-
contratuais públicos, seguindo as Directivas da Comissão Europeia;10
Ao desenho de uma linha de continuidade relativamente aos principais regimes jurídicos
que vigoravam anteriormente (os DL n.º 59/99
11, 197/99
12 e 223/2001
13 que têm constituído a
matriz da contratação pública portuguesa nos últimos anos);
À desburocratização da contratação pública através da eliminação e simplificação de
actos administrativos, reflectindo-se em maior celeridade e rigor (redução de tempos e
custos de processo).
10
Nos
2004/17/CE e 2004/18/CE. 11
Este diploma aprova o novo regime jurídico das empreitadas de obras públicas. 12
Este decreto estabelece o regime da realização de despesas públicas com locação e aquisição de bens e serviços, bem como da contratação pública relativa à locação e aquisição de bens móveis e de serviços. 13
Este DL estabelece os procedimentos a observar na contratação de empreitadas, fornecimentos e prestações de serviços nos sectores da água, da energia, dos transportes e das telecomunicações.
29
O último ponto é especialmente importante, tendo em conta a relevância da actividade administrativa
contratualizada, bem como a urgência no controlo da despesa pública. Um estudo da Delloite
Consultores, S.A., apresenta como estimativa do potencial de poupanças anuais, pela simplificação
dos processos, um valor superior a 300 M€.
A entrada em vigor do novo Código ocorreu a 31 Julho podendo ser utilizado em paralelo com a
legislação anterior até ao fim do ano, altura no qual deterá exclusividade. O objectivo assumido no
novo código é conseguir maior transparência nas relações entre autoridades e operadores (públicos e
privados), igualdade, concorrência e uma prestação de serviços eficiente.
3.8. O sistema urbano de transporte em Lisboa
3.8.1. Enquadramento
A área metropolitana de Lisboa (AML) tem uma extensão de 3120 km2, abrangendo 18 municípios
com um total aproximado de 2,62 milhões de habitantes. É nos municípios de Lisboa e Almada que
podem ser encontrados dois dos três sistemas de transporte em metropolitano actualmente em
operação do país, a saber, o Metropolitano de Lisboa e o Metro Sul do Tejo (atente-se à figura 8).
As áreas metropolitanas são áreas que polarizam e são polarizadas por espaços exteriores aos seus
limites administrativos, delineando uma área de influência mais abrangente. Informação censitária
recolhida pelo Instituto INE, no período de 1991 a 2001, acentua a polarização das áreas
metropolitanas revelando-as como espaços receptores líquidos de movimentos pendulares, sejam
eles do tipo casa-trabalho ou casa-local de estudo [como de verifica na figura 9, retirada de INE
(2003)].14
14
Note-se que, a figura refere-se ao ano de 2001. Em 2002, houve uma reclassificação das NUTs (nomenclatura das unidades territoriais) que atribuiu o município da Azambuja à NUT III, Lezíria do Tejo, excluindo-o da AML.
Fig. 8: AML e localização dos metropolitanos em exploração actualmente na AML
Fig. 9: Área de influência da AML e índices de polarização de estudantes e de emprego em 2001.
30
Dados recolhidos dos últimos Censos de 2001 do INE, mostram que são efectuadas diariamente
cerca de 1,38 milhões de viagens na AML (com origem na AML e destino fora da AML, vice-versa ou
ambos), perto de 94,8% das quais dentro da própria AML, i.e., com origem e destino na AML. O
destino preferencial dos residentes na AML foi, em 2001, Lisboa, para ambos os tipos de movimentos
pendular, como é visível na figura 10 (dados: INE, 2003).
Do total de viagens levadas a cabo na AML, 37% são efectuadas em transporte público e 45% em
transporte individual. Comparativamente aos resultados dos Censos de 1991 verifica-se uma
transição do transporte colectivo em benefício do transporte individual, como é ilustrado na figura 11.
(1991)
(2001)
Fig. 11: Distribuição modal do transporte de residentes da AML, no âmbito dos movimentos pendulares em 1991 versus 2001
A quota de transporte público tem vindo a diminuir em detrimento do aumento da taxa de motorização
atingindo, em 2006, o valor de 672 veículos/1000 habitantes na cidade de Lisboa e 471 veículos/1000
habitantes na área metropolitana (Rodrigues, 2007). Esta situação tornou-se insustentável, devido
aos condicionamentos físicos, de sustentabilidade ambiental e financeira dos utilizadores de
transporte, despoletando a atenção das entidades de gestão pública para a necessidade de um plano
de intervenção que invertesse a situação.
De facto, nos últimos anos, tem sido incentivado o uso do transporte colectivo, e embora o transporte
predominante continue a ser o TI, começa a sentir-se uma mudança de comportamento face à
utilização do transporte público. Desde 2001, grandes investimentos têm sido feitos no sentido de
expandir a oferta em transporte público. Note-se, por exemplo, a ausência em 2001 dos sistemas de
transporte Metro Sul do Tejo e SATU-Oeiras. Estes sistemas, embora ainda sem grande expressão,
denotam uma mudança nas atitudes e prioridades governamentais, mais focadas no TP.15
15
Ao contrário do Metro Sul do Tejo, o sistema SATU-Oeiras não tem, de facto, qualquer expressão. A Câmara de Oeiras aguarda a chegada da linha ao Taguspark para reverter a situação.
Fig. 10: Principais movimentos da população empregada e estudantil na AML em 2001
31
3.8.2. Organização do sistema de transportes da AML
O sistema de transportes da AML têm vindo a alterar-se nos últimos anos, seja pela reforma
regulatória seja pela expansão das redes de transporte (do Metro de Lisboa e do Metro Sul do Tejo).
No quadro 5, adaptado de Cruz (2006), estão expostos os vários intervenientes do sistema de
transporte actual organizados em 3 classes distintas, a saber, as autoridades de transporte
(entidades reguladoras nacionais e municipais), os gestores da infra-estrutura nos diversos modos e
os operadores do serviço de transporte. Note-se que, embora no caso da rede ferroviária, a REFER
esteja indicada como a única entidade gestora da infra-estrutura, esta diz respeito ao transporte em
comboio. No que toca aos sistemas de transporte em metropolitano, de Lisboa e Almada, a gestão e
manutenção da infra-estrutura ficam a cargo do Metropolitano de Lisboa, E.P.E, e do consórcio Metro
Transportes do Sul, respectivamente, ambos acumulando funções com a operação do serviço.
Quadro 5: Actores do sistema de transportes da área metropolitana de Lisboa
Autoridades
de Transporte
Nacionais DGTT/DGL
→ IMTT 1 (fusão da
DGTT e INTF) INTF
Municipais Câmaras da AML 18
Gestores das Infra-estruturas
Redes
Rodoviária Metropolitana
IEP
4 Brisa
Lusoponte
SCUT
Rodoviária Municipal Câmaras 18
Ferroviária REFER 1
Portuária APL
2 APSS
Terminais e Estacionamento
Terminais de Transporte Público
Câmaras 18
GIL 1
Empresas de Parque de Estacionamento
Esli 1
Gisparques 1
...
Exploração de Estacionamento
EMEL 1
Câmaras Municipais 18
Operadores
de
Transporte
Ferroviário
CP - Comboios de Portugal (operador público de comboio)
6
Fertagus (operador privado de comboio)
ML– Metropolitano de Lisboa
MTS – Metro Transportes do Sul
SATU – Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras
Carris (Eléctricos)
Rodoviário Urbano Carris 1
Rodoviário Sub-urbano Companhias privadas 16
Fluvial Transtejo/Soflusa 1
3.8.3. Diferentes regimes para a exploração dos serviços de utilidade pública da AML
O quadro 6, obtido por consulta dos sites dos vários operadores, resume os actuais regimes de
exploração no sector dos transportes na AML. Estes regimes oscilam desde contratos de concessão
a delegação directa de serviços sem contratualização, com ou sem “direito exclusivo” de operação,
passando por contratos de gestão entre muitos outros.
32
Quadro 6: Regimes actuais de exploração dos serviços de transporte ferroviário de passageiros na AML
Operador Tipo de Regime Duração do contrato Autoridades
responsáveis
Ferroviário
CP- sub-urbanos
A CP, E.P.E. foi criada em 1975, por meio legislativo, com o intuito de explorar o sistema ferroviário português. Em 1977, a gestão da infra-estrutura passou para a REFER. A CP é a operadora do serviço e a CP suburbanos ganhou a posição contratual da CP. Tem tutela financeira e sectorial do Ministério das Finanças e da Administração Pública e do MOPTC.
Não há contrato.
Governo IMTT
Fertagus
PPP do tipo contratual. Contrato de Concessão estabelecido ao abrigo de um concurso internacional. A Fertagus é a operadora do serviço e a REFER a gestora da infra-estrutura.
O contrato inicial de concessão, celebrado em 1999, foi renegociado com efeitos a partir de Junho 2005. Válido até Dezembro de 2010. O prazo pode ser prorrogado por um período de 9 anos.
Governo IMTT
Metropolitano de Lisboa
Não existe contrato com direitos e obrigações do ML, E.P.E. As suas atribuições estão estabelecidas em DL. Não houve concurso, a gestão do sistema foi delegada pelo Estado no ML, E.P.E., que detém direito exclusivo de operação na cidade de Lisboa.
Não há contrato.
Governo
IMTT
Câmara
municipal de
Lisboa
Metro Transportes do Sul
PPP do tipo contratual. Contrato de Concessão estabelecido ao abrigo de um concurso internacional.
O prazo da concessão é de 30 anos, com início em Dez 2002.
Governo
IMTT
SATU-Oeiras
PPP institucional. A exploração do SATU foi atribuída pela câmara a uma empresa municipal de capitais mistos (SATU-OEIRAS, E.M.).
Não há contrato.
IMTT
Câmara
Municipal de
Oeiras
Rodoviário
Urbano: CARRIS
Direito Exclusivo de operação na cidade de Lisboa. Competências e atribuições da
CARRIS, E.P.E. foram estabelecidas em DL. Não há contrato.
IMTT
Câmara
Municipal de
Lisboa
Sub-urbano: TCB Transportes Colectivos do Barreiro
Serviços municipalizados atribuídos pela Autarquia a uma unidade da Câmara com autonomia administrativa. A TCB não tem personalidade jurídica mas tem autonomia
financeira.
- Câmara
municipal do Barreiro
Sub-urbano: Rodoviárias privadas
Contratos de gestão segundo as regras estabelecidas pelo RTA
Renováveis a cada 5 anos
IMTT e
Municípios
Fluvial
Transtejo / Soflusa
A Transtejo, E.P.E. resultou da nacionalização em 1975 dos 5 operadores privados que à data faziam a travessia do
Tejo. Passou a sociedade anónima de capitais públicos (Transtejo, S.A.) em 1992 e
em 2001 adquiriu a totalidade da Soflusa.
Não há contrato. Governo
IMTT
33
São vários os agentes com poder para atribuir a exploração do serviço de transporte público de
passageiros, a saber, autoridades locais (municípios, que atribuem, por exemplo, a exploração dos
serviços de transporte público rodoviário local) e administração central (Governo e entidades
governamentais, que decidem a atribuição da exploração de serviços em maior escala como a rede
ferroviária nacional). Estes regimes estão em alguns casos contratualizados, embora no global, o
cenário português possa ser descrito como um aglomerado de situações atípicas.
3.8.4. Análise financeira do sistema de transportes metropolitano de Lisboa
Pela componente de serviço público que os operadores de transporte público de passageiros prestam
à sociedade, o Estado concede anualmente subsídios ou indemnizações compensatórias. Estes
subsídios visam indemnizar o operador pelas suas perdas devido às condições de operação a que
está sujeito, i.e., devido às obrigações de serviço público. No quadro 7, é possível contrapor os
défices de exploração (DE) e as indemnizações compensatórias (IC) atribuídas às empresas públicas
de transporte de passageiros nos últimos anos. As empresas privadas só começaram a receber
subsídios a partir de 2004, caso da Fertagus (dados: RC dos vários operadores).
Quadro 7: Défices de exploração versus a atribuição de indemnizações compensatórias para a AML
Empresa 2003 2004 2005 2006
DE IC DE IC DE IC DE IC
Carris -99.913.588 40.916.478 -83.680.635 33.962.044 -86.766.379 42.484.598 -90.772.777 45.458.520
ML -106.158.696 20.277.200 -98.196.283 19.895.223 -107.387.498 21.236.666 -111.579.666 22.723.233
MST16
- - - - - - - -
Fertagus -252.762 - -1.274.195 29.761 -1.284.835 48.950 -6.554.026 23.736
CP -9.443.963 1.394.594 -7.927.117 1.421.254 -5.532.523 4.869.838 -5.748.292 1.782.395
TT/ SL -19.123.229 4.209.416 -21.729.452 8.771.912 -23.286.475 10.947.350 -18.097.147 9.573.664
Total -234.892.237 66.707.688 -212.807.682 64.080.194 -224.257.710 79.587.402 -232.751.909 79.561.548
Se se confrontarem os montantes atribuídos pelo Estado com os défices de exploração apresentados
anualmente é facilmente perceptível a disparidade entre eles. O facto de estes montantes serem
inferiores aos défices registados prende-se, para além da falta de verbas do Estado, com a isenção
dos défices de exploração do sistema de transporte na factura do défice público. Para as contas do
défice nacional são apenas contabilizados os subsídios estatais atribuídos (ainda que estes sejam
inferiores aos reais).
Pelas obrigações de serviço público que prestam, os vários metros do país e outras empresas de
transporte público de passageiros nos vários modos, têm recebido anualmente do Estado
compensações financeiras, chamadas IC, em montante inferior ao custo estimado dessas obrigações.
Actualmente, o modelo de financiamento subjacente à prestação do serviço público é estabelecido
pela tutela, sem serem dados a conhecer, às empresas de transporte, os critérios que o definem. No
futuro, as obrigações de serviço público deverão ser, de acordo com as orientações estratégicas da
EU para o sector dos transportes, objecto de contratualização entre o Estado e os vários operadores
de transporte, tendo necessariamente em conta o padrão comunitário.
16
O MST só entrou em exploração em Maio de 2007.
34
3.8.5.Metropolitano de Lisboa
a) Estatutos e enquadramento Legal
O Metropolitano de Lisboa (ML) iniciou a sua actividade em 29 de Dezembro de 1959 como empresa
privada, sob a designação de Sociedade Metropolitano de Lisboa. A empresa Metropolitano de
Lisboa data de 1975 e resultou da nacionalização dessa Sociedade.17
Os estatutos de empresa
pública foram publicados no DL n.º439/78 de 30 de Dezembro e a empresa passou a operar sob a
designação Metropolitano de Lisboa, E.P.
O já discutido DL n.º558/99 redefiniu o RSEE, alargando a definição de empresa pública a
sociedades e entidades públicas empresariais. A designação de E.P. deixa de ter valor legal, o
metropolitano de Lisboa passou a enquadrar-se na categoria de E.P.E. (entidade pública
empresarial). Apesar de legalmente o metropolitano de Lisboa ser uma E.P.E., não foram ainda
revistos os seus estatutos por parte do Governo, e o metro continua a operar sob a designação de
Metropolitano de Lisboa, E.P.
O Metropolitano de Lisboa é uma pessoa colectiva de direito público, dotada de personalidade
jurídica, autonomia administrativa, financeira e patrimonial que opera dentro do enquadramento legal
aplicável a empresas públicas. Sendo uma entidade pública empresarial tem fins de realização
obrigatoriamente concordantes com os do Estado, embora exerça poderes próprios de autoridade. As
atribuições e competências da empresa, assim como os seus programas gerais de acção, são
definidos pelo Ministério da Tutela e fixados por lei.
b) Competências
Ao Metropolitano de Lisboa compete-lhe, entre outros, a exploração do sistema e a construção,
manutenção e modernização da sua rede, assumindo-se, desta forma, como gestor das infra-
estruturas e operador de transporte. É também a entidade responsável pela exploração industrial, i.e.,
pela manutenção dos veículos. A sua actividade enquanto transportadora desenvolve-se no subsolo
da cidade de Lisboa e zonas limítrofes.
c) Financiamento do Sistema
A situação do ML é, nesta matéria, bastante frágil. O ML tem a seu cargo o investimento com as infra-
estruturas de longa duração, embora não haja um enquadramento legal definido para o seu
financiamento, o que significa que nem o Estado nem a autarquia de Lisboa nem a já prevista AMT
17
Nacionalização ou estatização é o termo dado para a aquisição pelo Estado de uma empresa privada.
Fig. 12: Metropolitano de Lisboa: viatura e logotipo
35
de Lisboa têm obrigatoriedade concreta no financiamento das mesmas. Esta completa indefinição
contratual quanto ao modelo de financiamento das infra-estruturas tem vindo a empurrar o ML para
uma situação deficitária grave, agravada pelos avultados investimentos feitos ao abrigo do plano de
expansão da sua rede nos últimos anos. Actualmente, a dívida do ML ronda os 2,4% do PIB
português, atingindo os 3.800 milhões de Euros.
Quanto ao investimento com o material circulante, embora se trate de uma empresa pública, é
também o Metropolitano de Lisboa a assumir o investimento com o material circulante.
Em relação à operação do serviço, a empresa beneficia da atribuição de fundos oficiais,
nomeadamente através de dotações para capital estatutário, indemnizações compensatórias, fundos
comunitários e outros subsídios para se manter a operar, muito embora, como já se discutiu, seja o
endividamento bancário o mecanismo de sobrevivência do metro, dado a lacuna entre os défices de
exploração e as diferentes dotações de capital.
d) Missão e Política tarifária
O papel que o Metropolitano de Lisboa desempenha como elemento de coesão social e pilar da
mobilidade urbana no seio da metrópole lisboeta impedem-no de fixar as tarifas de acordo com os
seus interesses comerciais, não tendo controlo sobre o tarifário base a aplicar.
As tarifas do ML são definidas pelo MOPTC e fixadas por lei, sendo-lhe, no entanto, permitido,
actualizar o valor do seus títulos dentro do limite imposto pelo Governo, como aconteceu no passado
dia 1 de Julho. O aumento de referência dado pelo Governo foi de 5,83% para a generalidade dos
transportes colectivos, sendo ligeiramente inferior no caso do metro (5,49% para todos os bilhetes,
incluindo o bilhete simples). Ao ML foi-lhe então permitido aumentar, em maior ou menor medida, o
preço de certos títulos, desde que, em média, o valor não excedesse o tecto estipulado de 5,49%. O
ML estima que o aumento do preço dos bilhetes simples afectará apenas dez por cento dos utentes,
visto não se reflectir, por ordem governamental, nos passes sociais.
O sistema tarifário do ML está integrado na estrutura de coroas da Região de Lisboa. A rede
actual do Metro abrange duas coroas, a saber a Coroa L, onde se encontra a grande parte da rede, e
a Coroa 1 onde se localizam os troços Senhor Roubado – Odivelas, da linha amarela e Pontinha-
Amadora Este da linha azul.
e) Bilhética
Os títulos de transporte utilizados para viajar na rede do ML (numa ou nas duas coroas da rede)
variam desde títulos de uma só viagem, passando por títulos ida-e-volta, até títulos de 10 viagens,
carregados no cartão 7 colinas ou viva viagem, como se apresentam na figura 13, ambos cartões
recarregáveis com metodologia sem contacto, disponibilizados ao custo de 50 cêntimos nos pontos
de venda do ML (postos de atendimento e máquinas de venda automática).
Aos utilizadores frequentes do ML recomenda-se o uso do cartão Lisboa Viva (figura 13 b),
recarregável com viagens exclusivas da rede metro ou com tarifas combinadas com outros
operadores da AML (Carris, Transtejo, Soflusa, Metro Transportes do Sul) por períodos de 30 dias.
36
(a)
(b)
Fig. 13: Bilhetes sem contacto 7 colinas (a) e passe mensal Lisboa Viva (b)
f) Evolução da Rede
O Metropolitano de Lisboa iniciou a sua actividade em 29 de Dezembro de 1959. A forma inicial da
rede de metro em Y contava com uma extensão de 6,5 km e 11 estações, que se desenvolvia ao
longo de dois eixos distintos, a saber, Sete Rios - Rotunda e Entre Campos - Rotunda, confluindo
ambos no troço comum, Rotunda – Restauradores.
Em 1959, o ML servia cerca de 16 milhões de passageiros. Passados 49 anos, a rede do
Metropolitano de Lisboa conta agora, com uma rede composta por 4 linhas, que se estende por 37,7
km e 46 estações, prestando um serviço público regular de transporte a 184 milhões de passageiros
por ano (valor de 2006).18
Estão actualmente em construção, os troços Alameda - S. Sebastião e Oriente - Aeroporto, na Linha
Vermelha. Após a sua conclusão, apontada para 2009, Lisboa contará com quatro linhas autónomas,
com cerca de 40 km de comprimento e 52 estações.19
As estações antigas estarão todas
remodeladas.
A evolução da rede, desde então, e os trabalhos em curso actualmente, podem ser observados no
anexo 2.
O Metropolitano de Lisboa disponibilizou já online, os planos futuros de expansão da rede, que
incidem nas linhas vermelha, amarela e azul, como ilustrado no anexo 2. Na linha vermelha foi
pensada a ramificação da linha a partir de Moscavide até Sacavém e o prolongamento da linha em
ambos os sentidos (no sentido do aeroporto, até ao Lumiar, e no sentido inverso, de São Sebastião
até Campo de Ourique). Quanto à linha amarela, está prevista a expansão da linha do Rato até
Alcântara. Na linha azul foi assinado recentemente o contrato para a construção dos 850 m entre
Amadora-Este e a nova estação da Reboleira, obra que deverá estar concluída em 2011.
Após a chegada à Reboleira, segue-se a ligação ao futuro Centro Comercial Dolce Vita Tejo, situado
junto ao Casal da Mira, na zona norte do concelho da Amadora, por via de um “metro ligeiro com
pneus”, como se ilustra na figura 14. É uma aproximação da imagem entre autocarro e metro, que
18
Estações que servem duas linhas contam apenas como uma estação 19
O facto de as linhas serem autónomas evita que uma eventual avaria numa das linhas afecte o sistema de exploração do metropolitano nas restantes linhas, como aconteceria se existisse apenas uma, com bifurcações e um troço comum.
37
apesar de ser um meio rodoviário, beneficia das vantagens da tracção eléctrica e da operação em via
dedicada e com prioridade absoluta nos semáforos, o que lhe confere alguma vantagem competitiva
relativamente ao transporte individual. O projecto de construção desta ligação foi lançado pela
autoridade local, a Câmara Municipal da Amadora (CMA). O novo sistema de transportes irá ter,
numa primeira fase, uma extensão de 7 km, podendo ser, posteriormente, alargado ao concelho de
Loures. Não há ainda data prevista para a concretização deste projecto.
Fig. 14: Exemplo de um sistema de metro ligeiro com pneus
Fonte: Transportes em Revista
3.8.6. Metro Transportes do Sul
a) Estatutos e enquadramento Legal
A MTS – Metro Transportes do Sul, S.A. foi constituída em Abril de 2002 após ter ganho em Março
desse ano, o concurso público internacional, para a construção e exploração do Metro Sul do Tejo,
em regime de concessão. O contrato foi assinado em 30 de Julho de 2002, com um prazo de 30
anos, a ter início a 12 de Dezembro desse ano. O consórcio, liderado pelo grupo Barraqueiro (34%) e
pela Teixeira Duarte, conta ainda com a participação da Joaquim Jerónimo, da Siemens, da Mota-
Engil, da Sopol e da Meci.
b) Competências
A MTS, S.A. é a empresa responsável pelo projecto, construção, fornecimento dos equipamentos e
material circulante, exploração e manutenção da totalidade da rede do Metropolitano Ligeiro da
Margem Sul do Tejo, em regime de concessão. É, portanto, o operador e gestor da infra-estrutura. O
proprietário da rede é o concedente da exploração, o Estado.
Fig. 15: Metro Sul do Tejo: viatura e logótipo
Fonte: Site da empresa
38
c) Missão e Política tarifária
A Metro Transportes do Sul, SA, tem como missão, prestar de forma adequada um serviço de
transporte de tipo metro ligeiro de superfície, na margem Sul do Tejo. As tarifas são definidas em
contrato de concessão com uma margem de variação em função da inflação (5%).
d) Financiamento do Sistema
A primeira de três fases do MST, que liga Corroios, Universidade do Monte de Caparica e Cacilhas
teve um custo inicial de 320,377 milhões de euros. Ao Estado competia-lhe o financiamento do
projecto em 83% (265 milhões euros para assumir os custos com as infra-estruturas de longa
duração) e à concessionária MTS 17% do investimento total (responsável pela aquisição do material
circulante e equipamento de bilhética).
No que toca à exploração do sistema, a MTS é remunerada pelas receitas dos títulos vendidos, pelos
proveitos publicitários e pelas receitas decorrentes da exploração das áreas comerciais e parques de
estacionamento incluídos no projecto MST.
Pelos três anos de atraso na entrada em funcionamento do sistema, a concessionária solicitou ao
Estado uma indemnização no valor de 72 milhões de euros, que viria a ser aprovada em resolução do
Conselho de Ministros, a 6 de Dezembro de 2007, causando a derrapagem financeira do projecto.
Esta medida vai contra a filosofia das PPPs dado que, como já foi abordado, uma das grandes
vantagens das PPPs é precisamente a transferência do risco para o parceiro privado, ao qual, por
esse motivo, se reserva o direito de exigir um “prémio de risco”.
Apesar de ter sido aprovada em Conselho de Ministros, o Estado ainda não indemnizou a MTS. A
prolongar-se a situação, o Estado pode vir a ser intimado a pagar uma 2ª indemnização pelo não
pagamento da primeira.
A contrariar também a lógica de PPP acresce ainda o facto de, nesta concessão, o Estado assumir o
risco de tráfego, compensando a concessionária por défices de tráfego, nos anos em que este se
situar abaixo do limite mínimo da banda de tráfego de referência, a saber, 85 mil passageiros por dia
nas três linhas. Este é, segundo a MTS, o valor necessário para equilibrar financeiramente a
exploração.
e) Evolução da Rede
A primeira linha entrou em exploração a 1 de Maio de 2007 entre Corroios e Cova da Piedade. Um
ano depois, o Metro Sul do Tejo conta com uma extensão de 13,6 km, 3 linhas e 13 estações. As
linhas 1 e 2 coincidem entre as estações de Corroios e Cova da Piedade, as linhas 2 e 3 coincidem
entre Pragal e a Ramalha. Está em construção a ramificação da linha azul, a partir da estação da
Cova da Piedade até Cacilhas, com conclusão prevista até ao fim do ano corrente, e a ligação da
Ramalha na linha verde ao mesmo troço, como se vê na figura 16 (a). Com a chegada a Cacilhas fica
concluída a primeira fase de expansão do MTS.
Finda a primeira fase do projecto segue-se o prolongamento da linha 1 até ao fogueteiro (2ª fase), e a
construção de uma nova linha no seguimento dessa, desde o fogueteiro até ao Barreiro/Lavradio (3ª
fase). O plano de expansão pode ser visto na figura 16 (b), relativa ao anteprojecto.
39
(a)
(b)
Fig. 16: Rede actual do Metro Sul do Tejo e trabalhos em curso (a tracejado) para a conclusão da primeira fase (a) e plano de expansão da rede (fases 1, 2 e 3) (b)
3.8.7. SATU-Oeiras – Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras
a) O sistema inovador em Portugal
O SATU-Oeiras,Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras, inaugurado a 7 Junho de 2004,
é um dos chamados mecanismos “people mover”. Sendo um sistema automático, não tem condutor
nem motor incorporado e é movido a electricidade. Circula em via própria elevada, sobre carris, como
um elevador horizontal, deslocando-se através de tracção por cabo, como se mostra na figura 18.
Por ser movido a electricidade, o nível de poluição atmosférica local é nulo, à excepção do ruído, que
apesar de se encontrar dentro dos limites normativos, já despoletou alguns protestos por parte das
populações vizinhas.
carris
cabos
Fig. 17: Viatura do SATU-Oeiras (interior, perspectiva exterior, em circulação)
Fig. 18: Perspectiva da via elevada 100% dedicada ao SATU-Oeiras e do sistema de tracção a cabos
40
b) Estatutos e Competências da SATU-OEIRAS, E.M.
A SATU-OEIRAS, Sistema Automático de Transporte Urbano, E.M., é uma empresa municipal de
capitais mistos, criada a Setembro de 2001 (PPP institucional) entre a Câmara de Oeiras (CMO) e a
empresa Teixeira Duarte. É a entidade responsável pelo estudo, concepção e operação do serviço de
transporte.
A construção e implementação do sistema automático de transporte foram delegados pela autarquia
à empresa Teixeira Duarte. Após a conclusão da obra, a construtora está incumbida de a entregar à
empresa municipal SATU-OEIRAS, E.M., na qual detém 49% do capital social. Pela obra, a Teixeira
Duarte receberá anualmente da empresa municipal, ao longo de 50 anos, o montante dispendido.
c) Evolução da Rede
Está prevista pela CMO uma 2ª fase de expansão da rede até ao pólo empresarial Lagoas Park
(propriedade da Teixeira Duarte) e uma 3ª fase, ainda sem data prevista, de expansão até ao pólo
Taguspark. A CMO argumenta que só a chegada ao Taguspark permitirá ao sistema atingir o
breakeven (receitas=custos). Ainda em discussão pelas autarquias de Oeiras e Sintra está a possível
expansão da rede até à estação ferroviária do Cacém, permitindo a ligação com a linha de Sintra.
3.9. O sistema de transporte urbano no Porto
3.9.1. Enquadramento
A área metropolitana do Porto (AMP) tem uma extensão de 814,5 km2 abrangendo 14 municípios com
um total aproximado de 1,30 milhões de habitantes. O sistema de metro ligeiro do Porto teve
inicialmente origem na cidade do Porto, mas depressa se estendeu aos municípios vizinhos.
Actualmente encontram-se em operação 60 km de rede que permitem aos utentes atravessar a AMP
desde a Póvoa até Vila Nova de Gaia. O metro do Porto é o único metro da região Norte (figura 19).20
Fig. 19: AMP e localização do sistema de metro do Porto
Das 0,7 milhões de viagens diárias levadas a cabo na AMP, durante o ano de 2001, 52% foram
efectuadas em transporte individual e 28% em transporte público. Comparativamente aos resultados
dos Censos de 1991 verifica-se, também para a AMP, uma transição do transporte colectivo em
benefício do transporte individual, como se verifica na figura 20.
20
Na região Norte existe também o Metro de Mirandela. Apesar de se auto-denominar “metro” este sistema ferroviário diz respeito à antiga linha ferroviária do TUA e é explorado pela CP da mesma forma que tantas outras linhas de comboio regionais, com baixas frequências devido à procura.
41
Fig. 20: Distribuição modal na AMP
3.9.2. Organização do sistema de transportes da AMP
No quadro 8, adaptado de Cruz (2006), estão listados os vários intervenientes do sistema de
transporte actual da AMP organizados, como para a AML, em 3 classes distintas (autoridades de
transporte, gestores das infra-estruturas e operadores do serviço de transporte).
Quadro 8: Actores do sistema de transporte de passageiros da área metropolitana do Porto
Autoridades de
Transporte
Nacionais DGTT/DTN
21
→ IMTT 1 (fusão da
DGTT e INTF) INTF
Municipais Câmaras da AMP
Gestores das Infra-estruturas
Redes
Rodoviária Metropolitana
IEP 2
Brisa
Rodoviária Municipal Câmaras
Ferroviária REFER 1
Metro do Porto 1
Portuária APDL 1
Terminais e Estacionamento
Terminais de Transporte Público
Câmaras da AMP
Exploração de Estacionamento
Câmaras da AMP
Operadores
de
Transporte
Ferroviário
CP - Comboios de Portugal (operador público de comboio)
3 Transdev
STCP22
(eléctricos)
Rodoviário Urbano STCP 1
Rodoviário Sub-urbano STCP 1
Companhias privadas Mais de 35
Ao contrário do que sucede para o Metro de Lisboa (em que este desempenha as funções de
operador do serviço e gestor da infra-estrutura), no caso do Metro do Porto, a exploração do serviço
não se encontra sob a sua responsabilidade. A operação do serviço está sob a alçada da Transdev e
a manutenção da infra-estrutura a cargo da Metro do Porto. A manutenção dos veículos foi atribuída a
uma terceira entidade, a EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, S.A.),
contratada pela Metro do Porto.
21
DGTT/DTN- Direcção Geral dos Transportes Terrestres/ Direcção de Transportes do Norte. 22
STCP – Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, S.A..
42
3.9.3. Diferentes regimes para a exploração de serviços de utilidade pública da AMP
Os operadores listados na tabela anterior exercem a sua actividade segundo diferentes regimes, que
se explicitam no quadro 9.
Quadro 9: Regimes actuais de exploração dos serviços de transporte na AMP
Operador Tipo de Regime Duração do
contrato Autoridades
responsáveis
CP- Porto
À semelhança de Lisboa, a CP-Porto é uma entidade pública empresarial (E.P.E) responsável pela operação do serviço ferroviário (em contraposição à REFER que é a gestora da infra-estrutura).
Tem tutela financeira e sectorial dos Ministérios das Finanças, da Administração Pública e das Obras Públicas Transportes e Comunicações.
Não há contrato. Não há limite para o fim da exploração.
Governo IMTT
Metro do Porto / Transdev
O Metro do Porto S.A. ganhou a concessão do sistema por 50 anos e delegou a gestão do serviço na Transdev por 5 anos.
A primeira medida trata-se de um contrato de concessão entre o Estado e o Metro do Porto, S.A.
A segunda medida diz respeito a um contrato de gestão estabelecido ao abrigo de um concurso internacional entre a Metro do Porto, S.A. e a Transdev, Portugal, Lta. A Transdev opera o sistema sobre a marca do metro do Porto.
Contrato de gestão com a Transdev de 5 anos (em vigor até Março 2009), renovável em caso de satisfação de ambas as partes.
IMTT Metro do Porto
STCP
A STCP,S.A. é uma empresa participada pelo Estado com direito exclusivo de operação na Cidade do Porto.
Também presta serviço rodoviário sub-urbano mas não detém a exclusividade.
Não há contrato.
Não há limite para o fim da exploração.
Município do Porto
3.9.4. Análise financeira do sistema de transportes metropolitano do Porto
A situação financeira do sistema de transportes em Portugal não é, como já se discutiu, de todo
favorável e a experiência da AMP não é excepção. Os défices de exploração dos vários modos de
transporte são em muito superiores às indemnizações compensatórias (ICs) atribuídas pelo Estado,
como se pode ver no quadro 10, construído através de informação recolhida nos relatórios de contas
dos diversos operadores. Os operadores de transporte alegam que as ICs são inferiores ao valor
estimado da componente de serviço público, o que mais uma vez realça a importância da sua
contratualização.
Quadro 10: Défices de exploração versus a atribuição de subsídios à exploração para a AML
Empresa 2003 2004 2005 2006
DE IC DE IC DE IC DE IC
CP Porto -17.306.150 4.190.563 -15.623.915 4.811.280 -14.664.884 4.087.887 -15.236.815 4.387.939
Metro do Porto
-9.763.933 0 -25.647.493 4.730.000 -48.591.686 2.245.613 -50.486.762 2.402.806
STCP -27.800.000 11.787.000 -24.700.000 21.563.000 -25.647.000 15.370.000 -29.776.000 16.432.000
Total -54.870.083 15.977.563 -65.971.408 31.104.280 -88.903.570 21.703.500 -95.499.577 23.222.745
43
3.9.6. Metro do Porto
a) Estatutos e enquadramento Legal
O Metro do Porto, S.A, é uma sociedade comercial anónima de capitais exclusivamente públicos,
inicialmente apelidada de “Metro da Grande Área Metropolitana do Porto, SA”. A sua origem remonta
a 1993, onde através do DL n.º71/93, de 10 de Março, se imputa a exploração de um sistema de
metropolitano ligeiro de superfície, servindo a Grande AMP, em regime de exclusivo, a uma
sociedade anónima a criar nos termos da lei comercial, de capital social exclusivamente público e
detido obrigatória e maioritariamente pela Grande Área Metropolitana do Porto.
b) Competências
O DL n.º394-A/98, de 15 de Dezembro, definiu o modelo de exploração do sistema, designadamente
um regime de concessão de serviço público por um período de 50 anos. O mesmo DL atribuiu ao
Metro do Porto a responsabilidade pela construção da sua infra-estrutura e permitiu a aprovação do
respectivo contrato de adjudicação, no âmbito de concurso público internacional.
O contrato de adjudicação da construção das infra-estruturas foi celebrado a 16 de Dezembro de
1998 entre o Metro do Porto e a Normetro, ACE (Agrupamento Complementar de Empresas).
Reconhecida a impossibilidade do cumprimento dos prazos, inicialmente pensados para a concepção
e entrada em serviço do sistema, foram republicadas, em 2001, as bases da concessão e os
estatutos do Metro do Porto, através do DL n.º26/2001.
Desta forma, cabe à Normetro, empresa vencedora do concurso, a construção das infra-estruturas,
até data estipulada na lei, e à concessionária Metro do Porto a gestão da infra-estrutura e a operação
do sistema de transporte por um período de 50 anos, sem possibilidade de subconcessão, excepto
em caso de clara demonstração de incapacidade financeira para o fazer.
Apesar de não poder sub-concessionar o serviço, o Metro do Porto contratou a empresa francesa
Transdev para explorar o serviço, através de um contrato de gestão por 5 anos.
c) Financiamento do Sistema
O investimento com as ILDs foi suportado a 100% pelo Estado (detentor da infra-estrutura),
recorrendo para tal a crédito do Banco Europeu de Investimento (BEI) que financiou com 544 milhões
de euros o projecto do Metro do Porto. O material circulante é propriedade do Metro do Porto, que
assumiu esses encargos.
Fig. 21: Metro do Porto – Veículo e Logótipo da empresa
44
Relativamente ao financiamento do serviço, o Metro do Porto, S.A. é remunerado directamente pelos
utentes através das receitas dos bilhetes vendidos, recebendo ainda indemnizações compensatórias
pelas suas obrigações de serviço público.
A Transdev Portugal, Lta é remunerada pelo Metro do Porto, tendo por base o número de veículos-
quilómetros produzidos. Esta medida não é a mais eficaz visto não responsabilizar o operador pela
eficácia do sistema (o operador não se preocupa em ter mais utentes visto ser remunerado de igual
forma, independentemente do nível de procura).
e) Evolução da Rede
A primeira linha do Metro do Porto, que liga Senhor de Matosinhos à Estação da Trindade (Linha A)
foi inaugurada a 1 Janeiro de 2003 com uma extensão de 11,8 km em superfície e 18 estações. A
expansão da rede prosseguiu em bom rumo aos municípios vizinhos do Porto, detendo actualmente
60 km e 72 estações.
Quanto aos planos de expansão futuros, está prevista a ligação do Metro do Porto até Gondomar,
num percurso de 7 km. O custo da obra ronda os 100 milhões de Euros (de 87.8 até 104.5 milhões de
Euros). O MOPTC garantiu publicamente, que quer iniciar a expansão da rede de metro do Porto
antes de 2009 e "tão breve quanto possível", embora ainda não haja uma data oficial para o
lançamento do concurso em regime de concessão para a construção e exploração das mesmas.
Concluída a 1ª fase de expansão da rede do Metro do Porto em 2006, discute-se actualmente futuros
planos para a 2ª fase. Vários estudos foram já conduzidos para o efeito.
O estudo de expansão da rede, encomendado pela Metro do Porto à Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP), propõe a construção de uma linha circular de 9km no Porto, a ligação
entre a Senhora da Hora e o Hospital de São João (passando por S. Mamede de Infesta), de uma
segunda linha para Gaia com traçado alterado para cruzar a Avenida da República na estação João II
(mais recente da rede) rumo a Oliveira do Douro e ainda o prolongamento da actual linha Amarela a
Laborim e Vila d’Este.
Outras propostas foram elaboradas por outros especialistas.
3.10. O sistema urbano de transporte em Coimbra
3.10.1. Enquadramento
Coimbra é, cada vez mais, um pólo atractivo de população originando grandes fluxos pendulares de
entrada e saída. A metropolização deste concelho pode ser constatada pelos elevados volumes de
tráfego patentes nas figuras 22 (a) e (b), e a sua evolução desde 1991. A tendência de crescimento
do tráfego prolongou-se aos dias de hoje, devolvendo valores ainda mais elevados.
45
(a)
(b)
Fig. 22: (a) Atractividade do Concelho de Coimbra e sua metropolização (b)
Fonte: Metro Mondego, dados dos Census 2001.
Segundo dados dos Censos 2001, das 43.461 pessoas que, por dia, entram em Coimbra, 66%
fazem-no em TI, 14% em autocarro, 12% em comboio e 8% noutros meios de transporte. A
dependência do automóvel é fortíssima. O Metro Mondego pretende alterar esta realidade visando a
longo prazo atingir uma distribuição modal mais equilibrada e assente no TP, como acontece já
noutras cidades europeias (e.g., o caso de Viena na Áustria, onde a quota de mercado do TI era, em
2004, apenas 38%).
3.10.2. Metro Mondego
a) Estatutos e enquadramento Legal
A construção e exploração do sistema de metro ligeiro de superfície abrangendo os municípios de
Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã, foi, à semelhança do Metro do Porto, atribuída pelo Estado em
forma de concessão a uma sociedade anónima, a Metro-Mondego, S.A.. A empresa concessionária,
Metro-Mondego, S.A. constituída a 20 Maio de 1996, é uma sociedade anónima de capitais
exclusivamente públicos detidos pelas Câmaras dos municípios abrangidos, designadamente
Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã. A 4 Junho de 2001, o Estado entrou na nova estrutura
accionista, detendo até hoje 53% do capital.
b) Competências
O Metro Mondego, S.A. tem a seu cargo a construção e operação do sistema em regime de
concessão por 30 anos, prazo este tendo sido, posteriormente, alargado pelo DL n.º226/2004 de 6 de
Dezembro a 40 anos. O mesmo decreto permite a aprovação do respectivo contrato de concessão,
no âmbito de concurso público internacional.
O concurso ocorre no âmbito de um modelo de PPP, com a particularidade de dar origem a duas
subconcessões com a Metro Mondego:
Subconcessão A, para a concepção, construção, financiamento e manutenção das infra-
estruturas (com um prazo de 30 anos);
Subconcessão B, apenas para a exploração do serviço (com um prazo de 9 anos). O prazo
reduzido proposto tem como objectivo evitar a acomodação e a consequente ineficiência do
operador.
46
c) O projecto
O projecto do Metro Mondego tem vindo a sofrer sucessivas alterações desde a sua primeira ideia
original, por motivos de ordem económica e política ou constrangimentos físicos no terreno.
O primeiro projecto relativo ao Metro Mondego, de nome MLM (Metro Ligeiro do Mondego - Eléctrico
Rápido de Superfície) incluía a cooperação entre vários modos de transporte, a saber, serviço de
metro ligeiro de superfície (nas linhas assinaladas a amarelo e vermelho), serviço ferroviário urbano
(na linha azul) e serviço rodoviário (na linha verde). A figura 23 ilustra o sistema pensado.
Fig. 23: Sistema de mobilidade do Mondego (rede)
A multimodalidade contemplada visava uma maior adequação da oferta à procura estimada, de forma
a conseguir um sistema mais eficiente. O serviço rodoviário Lousã - Foz de Arouce - Serpins seria
prestado por autocarros com a mesma cor e logótipo do metro, de piso rebaixado, de modo a
aproximar a imagem dos dois serviços junto do cliente. O mesmo bilhete seria válido em toda a rede
do sistema.
A 7 de Março de 2006, este projecto foi redefinido segundo orientações directas do MOPTC,
introduzindo-se algumas alterações, quer a nível do modelo de concepção e implementação previsto
anteriormente, abandonando-se a ideia do serviço rodoviário, quer a nível da programação física e
temporal para a execução do próprio sistema. O projecto passou a ter o nome de Sistema de
Mobilidade do Mondego (SMM) e o plano da rede passou a ser o apresentado na figura 24.
Fig. 24: Plano do sistema de mobilidade do Mondego (2006)
47
Em Abril de 2007, com a renovação da Administração da Sociedade Metro Mondego e segundo
directivas da Secretaria de Estado dos Transportes, foi adoptada uma nova estratégia para a
implementação do SMM. Foram contempladas duas variantes ao projecto de forma a potenciar
maiores níveis de procura, ambas respeitantes a alterações ao traçado base do Ramal da Lousã, na
zona urbana. Nas figuras 25 (a) e (b) apresentam-se as duas variantes.
(a)
(b)
Fig. 25: Alterações ao traçado base do Ramal da Lousã:
Variante da Solum (a) e variante da Avenida Fernão de Magalhães (b).
A variante da Solum (fig. 25 a), desvia o traçado para dentro do núcleo urbano da Solum enquanto a
variante da Av. Fernão de Magalhães (fig. 25 b), coloca o traçado de metro numa das grandes
artérias da cidade. A rede actualmente prevista para o sistema MLM está apresentada na figura 26.
Fig. 26: Rede actualmente prevista do MLM
e) Financiamento do sistema
O modelo de financiamento previsto imputa ao Estado 50% do investimento com as ILD’s, cabendo
ao parceiro privado os restantes 50%. Na figura 27 e quadro 11 (cedidos pelo Metro Mondego), estão
representados o esquema de financiamento da construção do sistema MLM e os valores estimados
pelo Metro Mondego para a sua concretização, segundo um modelo de PPP.
48
Quadros 11: Estimativas para o investimento com a construção do sistema MLM
Valor do Investimento Base (com a construção)
247 milhões de Euros
Prémio de Risco 20% que se espera seja
incluída nas propostas do sector privado
Valor do Investimento com prémio de Risco
302 milhões de Euros
Participação do Estado no
financiamento inicial
Fechado: 50% (151m€) até ao máximo de 175m€
Fig. 27: Esquema de financiamento das ILD’s
A sub-concessionária A, para além de responsável pela concretização, conservação, manutenção e
modernização das ILDs, tem a seu cargo o fornecimento e a manutenção do material circulante. É
remunerada segundo a expressão 1:
RA= X.(1-DA) (1)
Onde:
X: valor mensal em euros, a cobrar à Metro Mondego, pela disponibilização do sistema de MLM. O concorrente
apresenta a proposta para o valor anual e esta será fixa e não revisível;
DA: % deduzida em função da avaliação do desempenho da sub-concessionária.
A sub-concessionária B, responsável pela operação do serviço, é remunerada pela fórmula 2:
RB=S-P-DB (2)
Onde:
S: subsídio relativo à compensação pela prestação de um serviço público;
P: partilha de receitas a entregar a Metro Mondego pela subconcessionária B;
DB: dedução aplicada em função da avaliação do desempenho.
f) Plano da rede
Os planos de expansão do sistema MLM podem ser observados na figura 28. A ligação de Condeixa
a Coimbra tem vindo a ser planeada há já alguns anos. Este percurso de 20km, percorrido em
circulação normal em 40min, encontra-se fortemente congestionado nos períodos da manhã e fim da
tarde (dada a forte presença de movimentos pendulares casa-trabalho ou casa-estudo nesta ligação),
chegando a atingir 1h30 de tempo de percurso (hora de ponta).
Fig. 28: Modelo possível de expansão da rede
49
4. Eficiência dos Metropolitanos na Europa
4.1. Introdução
No âmbito desta dissertação recorrer-se-á a diferentes técnicas de avaliação de desempenho, a
saber o cálculo de indicadores de desempenho e à metodologia não paramétrica de data
envelopment analysis (DEA) para avaliar a performance dos operadores de metro a actuar na Europa
em 2006.
Das 206 soluções de metro convencional e metro ligeiro existentes na Europa, em 2006, são objecto
de estudo nesta dissertação, 54 sistemas, dispersos por 25 países, ilustrados na figura 29 (adaptada
de UrbanRail.net).
Fig. 29: Localização dos sistemas de metro em análise
A escolha dos sistemas prende-se com as próprias metodologias de avaliação de desempenho
utilizadas. Tanto na aplicação de indicadores de desempenho como na aplicação da técnica DEA, os
operadores em análise têm de ser, antes de mais, relativamente homogéneos e comparáveis entre si
e, como tal, têm de reunir características o mais semelhantes possíveis.
Dos 206 sistemas de metro da amostra, apenas 36 dizem respeito a sistemas de metro
convencionais, movidos a electricidade, deslocando-se sobre carris, em via reservada, enterrados
totalmente ou quase na totalidade, com elevada frequência (entre 3 a 8min), com capacidade para
transportar grandes volumes de passageiros por hora e por sentido e conduzidos, manualmente, por
um motorista. A estes 36 sistemas convencionais juntam-se 18 sistemas de metro ligeiro,
parcialmente enterrados e, por vezes automáticos, sem recurso a condutor. É neste grupo que se
50
enquadram, entre outros, o Metro do Porto (metro ligeiro de superfície em sistema híbrido “tram-
train”) e os metros automáticos de Lille, Toulouse, Rennes, Copenhaga e Turim.
Os metros automáticos encontram-se em fase de grande expansão pela redução de custos
operacionais que proporcionam e maiores níveis de desempenho. No anexo 3 é apresentada uma
breve descrição deste tipo de sistemas, a sua origem e futuros projectos na matéria.
A avaliação do desempenho de qualquer sistema de transporte público envolve a consideração de
duas funções principais, a saber, a função produção do serviço e a função utilização desse serviço
(Costa, 1998). A produção do serviço relaciona-se com a eficiência do operador, enquanto que a
função utilização se relaciona com a eficácia do sistema.
Para ter uma boa performance um serviço de transporte tem de ser, para além de eficiente, eficaz.
Esta condição implica que a capacidade de produção de circulações, veículos-quilómetros e lugares-
quilómetros tenha de ir ao encontro das expectativas dos potenciais passageiros, i.e., a oferta do
serviço tem de conter em si uma previsão do número de passageiros que irá captar de forma a
adaptar-se ao nível da procura.
No entanto, fazer corresponder a oferta do serviço às necessidades dos utentes não é fácil e nem
sempre inteiramente possível. Das diferentes formas possíveis de adaptar a procura à oferta, a mais
comum passa pelo aumento do número de circulações nos períodos de pico de procura, como
sucede no Metropolitano de Lisboa. O aumento da frequência de circulações aumenta a capacidade
horária de transporte de passageiros. Outra forma diz respeito à afectação de mais veículos ao
mesmo comboio, aumentando a capacidade, por hora e por sentido, sem alterar a frequência de
circulações, como acontece no metro do Porto. Casos existem ainda, onde tais afectações não estão
exclusivamente relacionadas com os picos de procura horários, mas também com a utilização
diferenciada das próprias linhas. No Metro de Londres, por exemplo, a frequência de circulações
difere para além da hora de ponta, de linha para linha, registando-se maiores frequências na linha
Northern, a mais procurada com cerca de 206 milhões de passageiros por ano.
À parte da compatibilização entre os níveis de procura e oferta, para o sistema de metro ser eficaz há
ainda que ter em consideração a qualidade do serviço prestado, de forma a potenciar o aumento do
número de passageiros.
O quadro 12, retirado de Costa (1998) exemplifica a inter-relação entre produção e utilização do
serviço, mostrando inputs e outputs dessas actividades.
Quadro 12: Inputs e outputs na produção e utilização do serviço de transporte
Operador
Inputs Outputs
Staff Lugares-km
Veículos Veículos-km Passageiros-km
Energia Veículos-hora Passageiros
Inputs Outputs
Potencial Passageiro
51
A produção de um serviço de transporte consiste no processo de transformação de inputs (como
trabalhadores, veículos e energia) em outputs (como a distância percorrida pelos veículos da frota
(veic-km), a distância percorrida pelos lugares da frota (lug-km) ou o número de horas de circulação
dos veículos (veic-hora)). Por sua vez, a função utilização do serviço é o processo visível ao público
de ocupação dos outputs anteriores (lugar-km, veic-km e veic-hora), resultando em passageiros
transportados e passageiros-quilómetros percorridos (outputs finais).
As duas funções, “produção” e “utilização”, são interpretadas por diferentes agentes, nomeadamente
os produtores do serviço (os operadores de transporte) e os utilizadores do mesmo (potenciais
passageiros). O facto de, ao contrário do que sucede noutras indústrias, os utilizadores do serviço de
transporte estarem presentes aquando o processo de produção, causa perturbações e diminui a
eficiência do operador. Uma produção eficiente é mais fácil de alcançar sem o congestionamento
provocado por níveis de procura elevados, mas em contrapartida, grandes níveis de procura tornam a
produção mais eficaz e visto ser ele (utilizador) a própria razão da existência destes serviços, não é
possível ignorá-lo. A solução passa pelo equilíbrio dos dois factores, produção e utilização, muitas
vezes conflituantes.
Tanto a eficiência como a eficácia de um serviço de transportes podem ser avaliadas, de forma
simples e intuitiva, através da aplicação de indicadores de desempenho. O conceito de indicador de
desempenho, o seu método de cálculo e utilidade de aplicação serão explanados de seguida.
4.2. Indicadores de desempenho
4.2.1. Considerações gerais
“Um indicador de desempenho ou medida parcial de produtividade constitui uma relação matemática
que mede numericamente atributos de um processo ou actividade ou dos seus resultados, com o
objectivo de avaliar e comparar esta medida com metas pré-estabelecidas ou com o valor obtido ao
longo do tempo” (Marques e Brochado, 2007).
Um indicador é então um rácio, uma relação entre dois elementos, numerador e denominador, que
não evoluem sempre no mesmo sentido e quase nunca proporcionalmente, podendo ser expressos
em percentagem ou relatividade.
A utilização de indicadores de desempenho em exercícios de benchmarking é muito comum e
extremamente útil para o conhecimento das próprias unidades em avaliação, assumindo-se como
instrumento essencial numa organização que tenha como perspectiva futura maior eficiência, maior
eficácia e maior economia. A simplicidade do cálculo e da leitura dos indicadores de desempenho
permite-lhes uma utilização mais global e recorrente, sendo frequentemente empregues por
organizações na elaboração de diagnósticos globais, na ilustração de uma informação ao público ou
em olhares de síntese sobre a prestação das próprias corporações.
Segundo Lochard (2003) “a simplicidade é a utilidade mais espectacular dos rácios que se aproxima
mais da publicidade informativa que da gestão”.
52
Uma das primeiras vantagens a elevar na utilização de indicadores de desempenho diz respeito à
necessidade de recolha e compilação de informação por parte da organização. Esta medida obriga
antes de mais a um auto-conhecimento e a um período de reflexão sobre o desenrolar da actividade
da própria empresa, o que justifica, por si só, a sua implementação.
Por outro lado, a determinação dos indicadores possibilita uma gestão mais conscienciosa e pró-
activa, identificando os pontos fortes e fracos da entidade gestora que assim pode, de melhor forma,
elaborar o seu plano estratégico. Em comparação com os valores registados em outras organizações
do sector pode mesmo servir como estimulante na melhoria da prestação da empresa.
4.2.2. Método de cálculo de indicadores de desempenho
A avaliação do desempenho pela aplicação de indicadores segue (ou deveria seguir) o seguinte
processo, como se ilustra na figura 30, retirada de Marques e Monteiro (2001).
Fig. 30: Processo de implementação dos indicadores de desempenho
A determinação dos diferentes indicadores de desempenho passa em primeira instância, pela
definição do próprio indicador e da fórmula de cálculo ou do critério de medição. Depois de
calculados, segue-se a interpretação dos resultados obtidos.
53
A explicação dos resultados passa pela análise dos factores ditos “explanatórios”. Estes factores
tentam, com base na análise de dados relacionados directa ou indirectamente com o sector, justificar
ou reflectir sobre a validade dos resultados.
Os factores explanatórios podem classificar-se em controláveis ou não controláveis, sendo que, no
primeiro grupo, encontram-se todos os factores que, de alguma forma, estão sob a acção do
operador (por exemplo, o plano de trabalhos da empresa, a estrutura organizatória, o estado das
infra-estruturas em casos em que a gestão das infra-estruturas está a cargo do operador e a distância
média entre estações) e no segundo, aqueles sob os quais o operador não tem intervenção (por
exemplo, a densidade populacional, o PIB per capita, a taxa de motorização, o clima, entre outros).
Desta forma, embora o desempenho do operador de transporte esteja directamente relacionado com
a sua capacidade de produção do serviço, o desempenho do sistema como um todo não lhe pode ser
directamente imputado, devido ao contexto envolvente, designadamente, factores explanatórios não
controláveis por si (ou controláveis apenas até certa medida).
Após a interpretação dos resultados, segue-se a comparação com os valores de referência para o
sector. Estes valores, considerados adequados, estão normalmente associados às práticas correntes
do sector, quer em termos nacionais quer internacionais. Na análise realizada nesta dissertação, foi
acrescida uma margem de 5% aos valores de referência (valores médios), resultando numa banda de
valores sobre a qual se situam os operadores de desempenho aceitável. Os operadores com
desempenho superior situam-se, em casos onde o objectivo seja o de maximização do rácio, acima
da banda de referência (e.g. número de passageiros transportados por efectivo) ou, vice-versa,
abaixo da banda de referência quando o objectivo é a minimização do indicador (e.g. custos
operacionais por efectivo). A lógica é a mesma quando se trata de operadores com desempenho
medíocre ou fraco. Se o objectivo for a maximização do indicador, operadores ineficientes situar-se-
ão abaixo da banda de referência e se o objectivo for a minimização, situar-se-ão acima.
Em função do desempenho obtido para cada organização devem ser adoptadas práticas que
permitam melhorar o desempenho da organização (em casos de desempenho fraco ou aceitável) ou
manter o nível de excelência (em casos onde o desempenho se apresente excelente)
4.2.3. Proposta de aplicação de um quadro de indicadores
Neste ponto é proposto um quadro de indicadores, que se julga ser conveniente, para a análise do
desempenho de um sistema de metro. Para tal, e como já foi referido, é preciso proceder à recolha
prévia de um conjunto de dados que permitam determinar, posteriormente, os indicadores de
desempenho e interpretar de forma mais assertiva os seus resultados. Este sistemas de informação
encontra-se organizado em 6 partes, a saber, enquadramento, recursos humanos, oferta e procura,
níveis de produção, qualidade do serviço e elementos económico-financeiros, como se ilustra na
figura 31. Estes elementos foram recolhidos para o conjunto total dos 54 operadores de metro
europeus, ora por consulta do site e leitura dos relatórios de contas anuais ora por contacto
electrónico e telefónico com as entidades em causa.
54
Fig. 31: Elementos a recolher pela entidade gestora antes de iniciar o cálculo dos indicadores de desempenho
O quadro de indicadores de desempenho, por sua vez, encontra-se organizado em 6 grupos, a saber,
indicadores da oferta e da procura, indicadores de recursos humanos, indicadores da qualidade do
serviço, indicadores económico-financeiros, indicadores de eficiência e indicadores de eficácia, como
se mostra nas figuras 32 e 33.
56
Fig. 33: Quadro de indicadores de desempenho a utilizar (continuação)
Este quadro de indicadores resume o que seria desejável determinar para avaliar acertivamente o
desempenho dos vários operadores de metros europeus. A lista de indicadores foi elaborada tendo
como ponto de partida, os quadros propostos por outras entidades, como os grupos CoMet e NOVA e
pelos vários operadores de metro europeus. Foram também retirados alguns indicadores propostos
em outras publicações directa ou indirectamente relacionadas com metropolitano [vide.Costa (1998),
Frasquilho (2005) e Magalhães (2005)].
Cada um dos 6 grupos de indicadores tem objectivos particulares. O primeiro tenta avaliar os níveis
de oferta e de procura experenciados em cada sistema de metro. Como foi referido, o desempenho
de um sistema de transportes está intimamente ligado a estes dois factores, mais concretamente, à
capacidade que os operadores dispõem para ajustar a oferta à procura. É o ponto de partida na
análise de qualquer sistema de transportes.
O segundo grupo pretende avaliar a prestação do corpo efectivo da organização, discutindo-se, entre
outros factores, a taxa de absentismo, um indicador com implicações directas na rentabilidade dos
trabalhadores. A formação do pessoal é também abordada, com consequências na qualidade do
serviço prestado (qualidade no atendimento ao público, etc…) e implicações na capacidade de
trabalho da mão-de-obra (que sendo especializada será, em princípio, mais produtiva).
O terceiro grupo diz respeito à salvaguarda da qualidade do serviço. Tratando-se nesta dissertação,
da análise de sistemas de transporte público, a garantia de bons níveis de qualidade do serviço é
uma das condições obrigatórias, constituindo uma obrigação de serviço público inerente a este tipo
de sistemas. A qualidade de um serviço de transporte engloba diversos factores que vão desde
questões de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, a questões de protecção
57
ambiental (preocupação com a redução do consumo energético e procura por soluções
energeticamente mais eficientes) ou questões de fiabilidade (do material circulante, garantindo a
continuidade do serviço sem avarias e pontualidade nos horário). Como seria de esperar, a satisfação
dos clientes é um aspecto fundamental neste ponto.
O quarto grupo, relativo a indicadores económico-financeiros, é extremamente útil na análise do
desempenho financeiro do sistema, questão especialmente importante dado a dimensão dos
investimentos anuais requeridos. Neste grupo incluem-se indicadores relacionados com o controlo
dos custos, com a análise das receitas e ainda com outros resultados, como a taxa de cobertura dos
custos operacionais pelas receitas.
Os indicadores de eficiência do processo produtivo, respeitantes ao quinto grupo, estão subdivididos
em 3 categorias, permitindo analisar os níveis de produção (através de taxas de realização de
veículos-quilómetros e de circulações), os níveis de produtividade do trabalho (através de rácios que
relacionam o n.º de veículos-quilómetros e lugares-quilómetros produzidos com o n.º de efectivos da
organização ou o n.º de horas trabalhadas) e os níveis de produtividade do capital (rácios que
relacionam o n.º de veículos-quilómetros e lugares-quilómetros produzidos com o n.º de veículos da
frota, o n.º de estações ou a extensão da rede).
O último grupo diz respeito aos indicadores de eficácia. Estes também se subdividem em três grupos,
designadamente indicadores referentes aos níveis de ocupação, indicadores de eficácia do trabalho e
indicadores eficácia do capital. O grupo permite avaliar a medida da utilização do sistema, em termos
de capital e de mão-de-obra. Nos indicadores referentes aos níveis de ocupação podem distinguir-se
2 medidas de ocupação, uma relativa (resultado do rácio entre a distância percorrida pelos
passageiros na rede, passageiros-quilómetros e o n.º de lugares-quilómetros oferecidos) e outra
absoluta (resultado do rácio entre passageiros-quilómetros e veículos-quilómetros). Os rácios de
eficácia são expressos usualmente relacionando o volume de passageiros transportados ou o n.º
passageiros-quilómetros com o n.º de veículos (carruagens), que constituem o parque de material
móvel, com a extensão da rede, com o n.º de estações e ainda, com o n.º de efectivos.
4.2.4. Exemplo de aplicação
Nesta primeira abordagem, a avaliação do desempenho dos diferentes operadores de metro será
efectuada por recurso ao cálculo de rácios que põem em confronto o nível de um determinado output
gerado com o nível de input necessário para a obtenção desse output. Entre os vários indicadores de
desempenho propostos no quadro anterior (figuras 32 e 33), serão analisados, com mais detalhe,
alguns dos indicadores dos grupos 1, 3, 4, 5 e 6.
Como exemplo de aplicação da metodologia de avaliação do desempenho através da utilização de
indicadores, foram determinados 13 indicadores de desempenho (1 indicador da oferta e da procura,
1 indicador da qualidade de serviço, 3 indicadores económico-financeiros, 4 indicadores de eficiência
e 4 indicadores de eficácia), para uma amostra de 35 operadores de metro, num conjunto de 18
países da Europa.
58
Para cada indicador foi feita uma “ficha” que o identifica e caracteriza, acompanhado de um gráfico de
benchmarking onde se apresentam os valores obtidos para os diversos operadores, assinalando-se a
rosa escuro, o intervalo onde se considera que o operador tem um desempenho aceitável (intervalo
de referência). Este intervalo diz respeito ao valor médio das observações acrescido de uma margem
de 5%. Dependendo do indicador em análise, o intervalo considerado de desempenho fraco ou
insuficiente pode estar abaixo ou acima da banda de referência (correspondendo ou não à banda
rosa claro).
Por exemplo, quando se trata de rácios de produtividade e eficácia, seja dos capitais ou do trabalho,
os melhores desempenhos correspondem à maximização desses rácios. Assim sendo, acima da
banda de referência situar-se-ão os operadores de desempenho excelente e abaixo da banda, os
operadores de desempenho fraco. Na gama de valores de referência estarão os operadores de
desempenho aceitável. Acima das zonas coloridas a rosa (rosa claro equivalente a desempenho fraco
e rosa escuro equivalente a desempenho aceitável), irão recair os operadores de desempenho
excelente. Pelo contrário, no caso de indicadores económico-financeiros onde os custos operacionais
apareçam no numerador, o objectivo é a minimização desses rácios, implicando uma troca na
interpretação visual dos gráficos de benchmarking (com operadores eficientes situados na banda rosa
claro e operadores ineficientes situados acima da banda de referência).
Os operadores dos metros de Lisboa e Porto foram em todos os gráficos, destacados a vermelho,
para ser mais fácil avaliar a sua prestação face aos outros operadores na Europa. A melhor
performance registada, entre todos os operadores, é assinalada a verde e a pior, a preto.
Indicador 1: Pass-km por pass
Nome: Passageiros-quilómetros por passageiro transportado.
Definição: Percurso médio de cada passageiro na rede.
Unidade: km.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador permite contrapor a oferta (quilométrica) à procura (passageiros) e avaliar o comportamento dos
utilizadores. Sabendo a extensão do percurso dos utilizadores da rede e analisando, simultaneamente, o volume de
passageiros transportados por troço, é possível dimensionar melhor o espaço das estações nesse troço, de forma a
aumentar a comodidade das deslocações pedonais e o aproveitamento comercial dos espaços livres das estações.
Valor de referência: 5,60 km.
Análise comparada dos operadores:
59
Neste indicador, o melhor desempenho corresponde ao metro de Madrid, na linha explorada pela
TFM. Nesta linha, com 19,10 km de comprimento, um passageiro faz em média 15,96 km. As
estações terminais são, por isso, as mais propícias à instalação de outras actividades económicas.
O quociente entre a extensão do percurso efectuado pelos passageiros na rede e a velocidade
comercial para cada operador permite obter o tempo médio dispendido por cada utilizador na rede.
Este rácio é uma medida muito útil para o aproveitamento dos espaços dos veículos, por exemplo
com publicidade. Em linhas onde o tempo dispendido dentro dos veículos é elevado, há maior
exposição à publicidade e outras formas de comunicação.
Os metros de Lisboa e Porto apresentam valores próximos da média, 4,65 e 5,23 km,
respectivamente. Dado a dimensão da rede do Porto, seria de esperar percursos mais longos. No
entanto, esta medida revela que o utilizador comum do metro do Porto é o da própria cidade do Porto.
Os residentes nos outros municípios da AMP continuam dependentes do TI para chegar à cidade do
Porto, transferindo aí, em parte, para o TP. Em Lisboa, o fenómeno não é recente, havendo cada vez
mais utentes a utilizar o metropolitano dentro de Lisboa, como fuga ao tráfego viário.
Quanto ao consumo energético registado para o ano de 2006, o pior desempenho corresponde ao
metro de Helsínquia que, por cada quilómetro percorrido pelo conjunto dos seus veículos, dispende
9,88 kWh, face à média europeia.
O melhor desempenho diz respeito ao metro de Londres.
Os metros de Lisboa e Porto são energeticamente eficientes situando-se ambos abaixo da média.
Indicador 2: Consumo de energia por veic-km
Nome: Consumo de energia por veículo-quilómetro.
Definição: Consumo de energia (kWh) por cada veículo-quilómetro produzido.
Unidade: kWh/veic-km.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador permite avaliar a dimensão dos encargos energéticos com a produção do serviço e analisar a
sustentabilidade ambiental do sistema.
Valor de referência: 4,79 kWh/veic-km.
Análise comparada dos operadores:
60
O pior desempenho corresponde ao Metro do Porto. A estrutura de custos operacionais deste metro é
pesadíssima, atingindo 27,30€ por cada veic-km, face à média de 8,52€/veic-km. Lisboa também tem
uma estrutura de custos operacionais elevada, situando-se acima das principais capitais europeias
(e.g. Londres, Paris, Madrid e Roma).
O melhor desempenho diz respeito ao metro de Moscovo.
Indicador 4: Custos operacionais, ajustados por PPC, por passageiro transportado
Nome: Custos operacionais, após paridade do poder de compra, por passageiro transportado.
Definição: Custos de operação do sistema, após PPC, por cada passageiro transportado.
Unidade: €/pass.
Importância: Elevada.
Significado: Permite avaliar a dimensão dos custos correntes por cada passageiro transportado.
Valor de referência: 2,35€/pass.
Análise comparada dos operadores:
Indicador 3: Custos operacionais, ajustados por PPC, por veic-km
Nome: Custos operacionais, ajustados por paridade do poder de compra, por veículo-quilómetro.
Definição: Custos de operação do sistema, após PPC, por cada veículo-quilómetro produzido.
Unidade: €/veic-km.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador permite avaliar a dimensão dos custos correntes com a produção do sistema.
Valor de referência: 8,52 €/veic-km.
Análise comparada dos operadores:
61
Moscovo é também para o indicador 4, o metro mais eficiente.
O Metro de Lisboa é eficiente, com 1,29 € gastos por passageiro face à média de 2,35 €/pass. O
Metro do Porto pelo contrário tem custos 2 vezes superiores à média europeia, apenas superado por
Londres e Turim. Este último detém o pior desempenho com 24,11€ dispendidos por cada passageiro
transportado. Dado o desfasamento deste valor face aos outros, é de desconfiar da sua validade,
podendo ser este metro, um outlier. Excluindo Turim, o valor de referência passa a ser 1,44 €/pass,
mantendo-se as mesmas conclusões para os metros de Lisboa e Porto.
De uma maneira geral, os vários operadores de metro apresentam níveis elevados de custos
operacionais face às receitas geradas. Em média, as receitas operacionais não cobrem mais de
78,5% dos custos incorridos com a operação do serviço.
Dos 24 metros da amostra, apenas conseguem obter receitas superiores aos custos operacionais, os
Metros de Roma, Lyon, Varsóvia, Amesterdão e Nápoles. Lyon é o metro economicamente mais
eficiente com uma taxa de cobertura de 121,6%.
A situação dos metros portugueses é preocupante, sobretudo se se pensar que o Metro do Porto tem
o pior desempenho da amostra, com uma taxa de cobertura inferior a 36%.
Para além destes 5 indicadores, foram analisados outros 8 indicadores, 4 de eficiência e 4 de
eficácia, cuja análise individual se apresenta no anexo 4 para não tornar o trabalho aqui exposto
demasiado maçudo. O quadro 13 resume os resultados obtidos nos diferentes indicadores de
eficiência e eficácia, expondo os operadores que registaram os três melhores resultados e os três
piores resultados.
Indicador 5: Receitas operacionais/ Custos operacionais
Nome: Rácio entre as receitas operacionais e os custos operacionais
Definição: Cobertura dos custos operacionais pelas receitas operacionais.
Unidade: €/pass
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador permite avaliar o desempenho económico da operação do serviço de transporte.
Valor de referência: 78,5%.
Análise comparada dos operadores:
62
Quadro 13: Resumo dos resultados para os indicadores de eficiência e eficácia (os 3 melhores e os 3 piores desempenhos)
Ranking I6 I7 I8 I9 I10 I11 I12 I13
Me
lho
res
1º Helsínquia Frankfurt Moscovo Moscovo Helsínquia São Peters. Moscovo Moscovo
2º Berlim Moscovo São Peters. São Peters. Milão Moscovo São Peters. São Peters.
3º Londres Londres Londres Londres Moscovo Helsínquia Paris Paris
Pio
res
1º Génova Génova Valência Valência Dnepro. Glasgow Valencia Valencia
2º Samara Estocolmo Porto Porto Samara Samara Samara Glasgow
3º Bruxelas Glasgow Estocolmo Génova Yeka. Yeka. Porto Porto
Da observação dos diferentes gráficos de benchmarking e do quadro exposto atrás é possível
verificar que os metros russos, Moscovo e São Petersburgo, apresentam na generalidade dos
indicadores de eficiência e de eficácia, os melhores desempenhos. Helsínquia demonstra também ter
um bom desempenho na globalidade. Londres é um metro eficiente, apresentando bons resultados
nos rácios de produtividade ( I6, I7, I8 e I9).
Focando os indicadores de eficácia (I10, I11, I2 e I13), Paris já aparece como um dos metros eficazes
na utilização das estações e da rede. Helsínquia apresenta os melhores resultados no que toca à
produtividade e eficácia da mão-de-obra.
Quanto aos piores desempenhos, Valência aparenta ser o vencedor. Génova e Glasgow também não
se encontram numa posição favorável. O Metro do Porto apresenta na globalidade um mau
desempenho, tanto no que toca a indicadores de eficiência como de eficácia, embora se deva ter em
atenção a sua recente entrada em exploração (2003).
4.2.5. Limitações da análise por indicadores de desempenho
Embora os indicadores de desempenho permitam uma leitura rápida e acessível da prestação de
uma organização, existem algumas limitações na análise dos seus resultados. A grande falha diz
respeito ao facto de serem medidas parciais de produtividade que relacionam apenas um dos
factores produtivos (inputs) e um dos resultados (outputs) que a organização “produz”.
Como os operadores de metro empregam diferentes recursos (pessoas, capital, equipamentos, …) e
“produzem” diferentes outputs (circulações, veic-km, passageiros, pass-km …) com características
distintas, é necessário ter cuidado na interpretação dos resultados obtidos. Essa diversidade torna
difícil fazer benchmarking, tendo por base indicadores pontuais isolados, pois cada um incorpora
objectivos de gestão diferenciados e frequentemente conflituantes (Magalhães, 2005). Para evitar
conclusões erróneas, não se pode ter em consideração apenas um rácio isolado, pois este pode
induzir o gestor em erro.
Acresce ainda o facto de, segundo Henscher e DeMellow (1991), numa avaliação com indicadores
isolados, não estar claro se uma alteração num dos rácios afecta o desempenho global da
organização. Mesmo em caso afirmativo, não está clara a medida em que isso acontece.
Além disso, a análise por indicadores de desempenho não integra na análise o ambiente operacional
e institucional (Marques e Brochado, 2007). Os factores explanatórios possíveis (densidade
63
populacional, PIB per capita, distância média às estações, taxa de absentismo do corpo efectivo,
clima, taxa de motorização, entre outros), embora influenciem e expliquem, de alguma forma, os
resultados obtidos para os diferentes indicadores, são difíceis de ser directamente correlacionados a
cada indicador individualmente.
Outro aspecto a ter em atenção é o tratamento de outliers. Os outliers dizem respeito a observações
que apresentam um grande afastamento das restantes da amostra ou são inconsistentes com esta.
Na análise de indicadores de desempenho, os outliers dizem respeito aos operadores cuja
performance nos vários indicadores seja desenquadrada ou desfasada em relação à média da
amostra. Nesses casos, há que analisar o que causa essa disparidade e se é justificável ou não.
Caso não seja, o operador em questão é um verdadeiro outlier, podendo ser ignorado da análise. Na
origem dos outliers estão normalmente erros de medição, erros de execução e variabilidade inerente
dos elementos da análise.
A análise directa dos gráficos de benchmarking sugere dois possíveis outliers, a saber, os metros de
Moscovo e Turim. Para averiguar a fiabilidade destas observações é necessário aprofundar a análise
destes dois operadores recorrendo a outros métodos estatísticos.
Para contornar todos os problemas anteriores, surgiram outras abordagens de avaliação de
desempenho, tendo por base as fronteiras de produção ou de custo. Estas fronteiras podem ser
avaliadas através de métodos paramétricos ou não-paramétricos.
Na abordagem paramétrica, partindo de um conjunto de observações, escolhe-se uma forma
funcional para a função de produção e assume-se uma distribuição para os termos de ineficiência,
determinando depois a função que melhor se ajusta às observações disponíveis. Na abordagem não
paramétrica, pelo contrário, não se assume qualquer forma funcional para a função de produção.
Nesta abordagem, é criada uma fronteira eficiente sobre a qual se encontram todas as entidades
eficientes. No interior dessa fronteira encontram-se todos os metros considerados ineficientes, cuja
medida de ineficiência é dada pela distância à fronteira de produção.
A grande vantagem desta metodologia face aos indicadores de desempenho é permitir agregar, numa
só medida de avaliação, vários inputs e vários outputs. A aplicação mais comum do método diz
respeito a benchmarking de actividades entre organizações ou entidades gestoras, no entanto a
mesma metodologia pode ser aplicada a uma única entidade utilizando, para isso, diferentes períodos
temporais. Esta variante, utilizada em Costa (1998) e Magalhães (2005), entre outros, permite
visualizar a evolução do desempenho ao longo do tempo.23
No capítulo seguinte será aplicada a metodologia não paramétrica de data envelopment analysis
(DEA), na avaliação de desempenho dos operadores de metro europeus.
23
Existem outras metodologias que permitem também analisar o desempenho ao longo do tempo, o índice de produtividade de Malmquist (Färet et al.1994).
64
4.3. Data Envelopment Analysis (DEA)
4.3.1. Considerações gerais
O método de data envelopment analysis (DEA) é uma técnica não paramétrica de programação
matemática, destinada a avaliar o desempenho relativo de unidades organizatórias, na presença de
um conjunto homogéneo de múltiplos inputs e múltiplos outputs.
Esta metodologia foi desenvolvida por Charnes, Cooper e Rhodes em 1978 (Charnes et al., 1978)
tendo por base os estudos conduzidos por Michael Farrell na década de 50 (Farrell, 1957). Nesses
estudos iniciais, Farrell utiliza como referência uma indústria que emprega dois inputs (x1 e x2) na
produção de um único output, para a hipótese mais simples de rendimentos constantes à escala
(RCE). Nesta hipótese, quando se aumentam λ vezes os inputs, os outputs também aumentam na
mesma proporção.24
Na década de 80, (Banker et al., 1984) introduz a hipótese de rendimentos
variáveis à escala (RVE). Estes podem ser crescentes à escala ou decrescentes à escala. Na
hipótese de rendimentos crescentes à escala, quando se aumentam os inputs λ vezes, os outputs
aumentam em proporção superior.25
Por sua vez, na hipótese de rendimentos decrescentes à escala,
quando se multiplicam os inputs por λ, os outputs aumentam em proporção inferior.26
Desde a primeira aparição em 1957, outros modelos mais complexos têm sido explorados.27
O DEA
apresenta uma grande versatilidade quanto ao seu domínio de aplicação, tendo sido vastamente
utilizado na avaliação do desempenho de operadores de serviços públicos nas diversas vertentes,
tais como ensino (escolas), saúde (hospitais), direito (prisões), serviços de transporte público
(rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), gestores de infra-estruturas de transporte (portos e
aeroportos), entre outros.
Segundo (Emrouznejad et al., 2008), a bibliografia do DEA, desde a sua primeira ocorrência em 1957
até 2006, conta com mais de 7000 entradas, incluindo dissertações, trabalhos de investigação, e
papers apresentados em conferências e outros eventos. A figura 34 mostra a evolução exponencial
do n.º de publicações anuais em matéria de DEA (quer em trabalhos teóricos ou em casos de estudo
práticos). Em 2006, a média de produção anual encontrava-se cifrada nas 360 publicações por ano.
Fig. 34: Distribuição das publicações de DEA por ano
24
Hipótese de rendimentos constantes à escala: 25
Hipótese de rendimentos crescentes à escala: 26
Hipótese de rendimentos decrescentes à escala: 27
Para uma revisão da literatura, vide (Cooper et al., 2000).
65
Entre as várias vantagens da aplicação da metodologia DEA podem destacar-se a possibilidade de
(Marques, 2006):
Identificar as best practices no sector em estudo;
Determinar a dimensão óptima dos operadores;
Estimar os ganhos potenciais de eficiência (relativos à redução dos factores de produção ou à
expansão dos resultados);
Obter as taxas marginais de substituição entre os factores de produção;
Calcular a variação da produtividade ao longo do tempo de cada operador (se a técnica for
aplicada para um operador ao longo do tempo);
Identificar os operadores mais eficientes em cada ponto no tempo (se a técnica for aplicada a
vários operadores para um ponto no tempo);
Determinar a estrutura organizacional mais eficiente (e.g. público versus privado ou
verticalização versus unbundling).
O método de DEA consiste numa abordagem não-paramétrica na medida em que, no lugar de
pressupor uma função para a fronteira de produção (como acontece nos métodos paramétricos), esta
é definida pelas melhores práticas observadas na amostra disponível. É uma das principais
vantagens do DEA que, ao contrário de outras técnicas de benchmarking (paramétricas), não
necessita de uma especificação prévia para os pesos de cada input/output, nem exige juízos sobre a
forma da função de produção.
4.3.2. Metodologia
No caso mais simples, de um processo produtivo com um único input e um único output, a eficiência,
medida em relação ao valor óptimo, pode ser descrita por:
(3)
Na presença de uma indústria com múltiplos inputs e outputs, a eficiência de cada unidade ou
operador é avaliada através da distância que o separa da fronteira. Atente-se, por exemplo, ao caso
mais simples de uma organização que emprega dois inputs (x1 e x2) na produção de um único output,
admitindo a hipótese de rendimentos constantes à escala.
O desempenho de cada operador resulta da combinação entre eficiência técnica e alocativa. A
eficiência técnica (ET) reflecte a capacidade que cada operador tem para produzir um dado nível de
output despendendo o mínimo de inputs possível (minimização de inputs) ou noutra perspectiva, é a
capacidade de produzir o maior nível de output para determinados níveis de inputs (maximização de
outputs). Para ser tecnicamente eficiente, um operador tem de se situar sobre a fronteira de produção
(FP).
A figura 35, adaptada de Magalhães (2005), esquematiza o desempenho de 4 operadores distintos
(A, B, C e D) da organização anterior.
66
Fig. 35: Conceito de eficiência de Farrell
Por observação da figura 35, constata-se que apenas os operadores C e D são tecnicamente
eficientes. Quanto aos outros operadores, a eficiência técnica é avaliada através da distância à
fronteira, por exemplo, a eficiência técnica do operador B é medida pelo quociente ET=OB’/OB.
A eficiência técnica pode assumir valores entre 0 e 1, sendo que 1 é devolvido quando o operador é
eficiente (localiza-se na FP) e abaixo de 1 quando é ineficiente.
A eficiência alocativa (EA) traduz a capacidade de cada operador para empregar uma combinação de
inputs e de outputs que minimize o custo de produção. Desta forma, para ser alocativamente
eficiente, um operador tem apenas de se situar sobre o segmento zz’ que diz respeito às várias
combinações de inputs e outputs que minimizam o custo de produção. A eficiência alocativa de um
operador é medida através da distância a zz’, por exemplo, a EA do operador B é definida pelo rácio
OP/OB’.
Da figura 35 retém-se que o único operador eficiente é o operador D (técnica e alocativamente
eficiente, em simultâneo).
Ao produto da eficiência alocativa pela eficiência técnica denomina-se de eficiência económica ou
eficiência global do operador.
Eficiência económica (global) = Eficiência Técnica X Eficiência Alocativa (4)
= [OB’/OB] X [OP/OB’]
= [OP/OB]
Atente-se agora ao caso mais usual de uma indústria que emprega múltiplos inputs na produção de
múltiplos outputs. A forma comum de medir a eficiência relativa de cada operador é dada pelo rácio:
(5)
Esta metodologia obriga à definição prévia dos pesos a aplicar aos inputs e outputs em estudo para
os vários operadores, o que segundo (Benito et al., 2005), acarreta para além da dificuldade na
medição dos próprios inputs e outputs, a determinação dos pesos a aplicar.
O método de DEA vem ultrapassar esta dificuldade, permitindo a cada operador o estabelecimento
dos seus próprios pesos, com intuito de atingir a combinação mais favorável quando comparadas
67
com os outros operadores da amostra (Charnes et al., 1978). Assim, a eficiência do operador (hk)
pode ser maximizada condicionando a eficiência de todos os operadores a valores inferiores ou igual
a um. Matematicamente, o problema pode ser exposto da seguinte forma:
(6)
sujeito a
onde,
- quantidade do output i da unidade k;
- quantidade do input j da unidade k;
- peso atribuído ao output i;
- peso atribuído ao input j;
- número de unidades;
- número de outputs;
- número de inputs;.
Segundo esta formulação, a eficiência relativa de um operador resulta da maximização do quociente
entre a soma ponderada de outputs (yi, i=1, …, I) e a soma ponderada de inputs (xj,j=1,…,J)
aplicando os respectivos pesos ( ai e bj) aos M operadores na indústria. A eficiência de cada operador
em relação aos restantes só pode ser, no máximo, igual a 1.
Esta primeira formulação fraccionária não era simples de resolver e por tal, Charnes, Cooper e
Rhodes introduziram um pequeno artifício de forma a permitir a aplicação dos algoritmos de
programação linear mais usuais, que consistiu na imposição de um valor constante ao denominador
(que, por simplificação, se igualou à unidade). Este modelo é chamado CCR pelos seus autores e
baseia-se em RCE. Considerando minimização de inputs, o modelo obtém a seguinte formulação:
(7)
sujeito a
,
A resolução da expressão (7) resultará em valores para cada hk entre zero e um, que correspondem à
eficiência relativa de cada operador. Se hk for igual a 1, a unidade k é eficiente relativamente às
restantes. Se for menor que 1, a unidade k está no interior da fronteira de produção, sendo, por isso,
considerada relativamente ineficiente. A aplicação da formulação dual (minimização) na programação
linear permitiu construir uma aproximação distinta à fronteira eficiente, formada pela união de
68
segmentos lineares (facetas) paralelos aos eixos que minimizam a quantidade de inputs mantendo o
nível de produção de outputs. Neste tipo de formulação a selecção dos pesos recai sobre os
operadores e não sobre os inputs e outputs como na anterior. A formulação dual (minimização) é
expressa por:
(8)
sujeito a
,
onde,
hk - medida da eficiência do operador k;
- número positivo pequeno;
xjm - quantidade do input j da unidade m;
yim- quantidade do output i da unidade m;
- medida do desperdício ao nível dos outputs (folga dos outputs ou output slacks);
𝑠 - medida do desperdício ao nível dos inputs (folga dos inputs ou input slacks);
- peso atribuído aos inputs e outputs do operador m;
M - número de unidades;
J - número de inputs;
I - número de outputs.
De acordo com esta formalização, o operador k é considerado eficiente se as folgas forem nulas e se
hk for igual à unidade, ou seja, quando não existir nenhuma composição de pesos tal que a
eficiência de k seja ultrapassada pela de outra unidade. Inversamente, se hk for inferior à unidade
e/ou se as folgas forem positivas, os valores óptimos de darão origem a uma unidade compósita
cuja eficiência supera a de k, que assim se considera ineficiente relativamente às unidades que
compõem a fronteira de produção. A medida dessa ineficiência é dada por hk, que representa a
máxima proporção dos actuais níveis de input, que a empresa k deveria utilizar para assegurar, pelo
menos, os actuais níveis de output.
Na figura 36 está representada esquematicamente este tipo de formulação para operadores A e B.
Fig. 36: Avaliação de eficiência e as folgas de inputs
69
Para o operador A, a eficiência técnica (ET) é dada por a OA’/OA e para B por OB’/OB. Da análise da
figura é possível aferir que, apesar do ponto A’ se situar na fronteira eficiente, este não é globalmente
eficiente, dado que é possível reduzir a produção dos inputs, mantendo o mesmo nível de outputs.
Pode-se, portanto, definir dois tipos de ET, a ET de Farrell (eficiência radial) e a ET de Koopmans
(eficiência de Pareto). Na figura anterior a ET de Farrell é dada pelo ponto A’ e a ET de Koopmans é
representada pelo ponto C. A folga do operador A, dada por A’C, diz respeito à diferença entre a ET
de Farrell e a ET de Koopmans.
A abordagem descrita anteriormente tem subjacente o princípio de RCE, que nem sempre
corresponde à realidade das indústrias estudadas. Banker et al. (1984) introduziram no modelo uma
adaptação que lhes permitiria acomodar a hipótese de RVE. Nesses casos, pode argumentar-se que
os operadores devem ser comparados para uma dada escala de produção, ou pelo menos,
destacando a proporção da sua ineficiência que é devida à escala das operações, (Magalhães, 2005).
No modelo BCC (Banker et. al., 1984), a eficiência global ou agregada de uma determinada unidade
para a hipótese de RVE pode ser decomposta em dois termos, eficiência técnica pura e eficiência de
escala, cujos conceitos são ilustrados na figura 37.
Fig. 37: Eficiência de escala
A eficiência técnica agregada (pura e de escala) de D relativamente a D’’ é dada pelo rácio AD’’/AD,
que é igual ao produto da eficiência técnica pura (ETP) pela eficiência de escala (EE).
Eficiência técnica (ET ou ETRCE) = Eficiência técnica pura x Eficiência de escala (4.7)
= (ETP ou ETRvE) x EE
= [AD’/AD] x [AD’’/AD’]
= [AD’’/AD]
A eficiência de escala contabiliza o grau de economias que se verificaria se o operador operasse na
escala óptima. A eficiência de escala varia entre 0 a 1. Para valores iguais a unidade, existe eficiência
de escala. Caso haja diferença entre as ET devolvidas pelos modelos de DEA, admitindo ora RCE
ora RVE, é porque existe ineficiência de escala do operador.
Como alternativa poderia ter sido analisada a hipótese de avaliar a ineficiência técnica, tendo em
conta a produção de outputs, fixando para isso o nível de inputs. Ambas orientações (minimização de
inputs e maximização de outputs) tomam os mesmos valores sob RCE, no entanto, o mesmo não
sucede quando são assumidos RVE.
70
Atente-se à figura 38. O ponto P, projectado para o ponto P’, não se encontra na fronteira eficiente.
Esta situação sucede na medida em que a produção do output q1 pode ser aumentada o equivalente
a AP’, mantendo a produção dos inputs. Deste modo, o segmento AP’ representa a folga para o
output q1.
As orientações input e output da técnica DEA, aquando da existência de RCE, estimam exactamente
a mesma fronteira e, por esse motivo, identificam os mesmos operadores eficientes. Os valores de
ineficiência devolvidos para os dois modelos, esses sim, não são iguais.
4.3.3. Caso de Estudo
4.3.3.1. Nota Metodológica
Neste ponto serão analisados os desempenhos dos metros europeus com base na técnica não
paramétrica de DEA. Para tal, foi utilizado o software DEA Excel Solver proposto por Zhu (2002), na
variante de RCE e RVE. Nesta dissertação foram desenvolvidos três modelos com diferentes
combinações de inputs consumidos e outputs produzidos pelos operadores.
4.3.3.2. Escolha dos inputs e outputs dos vários modelos
A escolha dos inputs e dos outputs prendeu-se, para além da necessidade de serem quantificáveis e
o mais homogéneos possíveis entre os operadores, com a disponibilidade de informação. Dos inputs
e outputs disponíveis, foram seleccionados os que melhor caracterizariam a dinâmica do sector de
transporte em metropolitano.
Assim, no primeiro modelo, os inputs consumidos adoptados foram a extensão da rede (km), o n.º de
veículos (carruagens) ao serviço do operador, o n.º de efectivos da entidade gestora, enquanto que
os outputs produzidos foram a distância percorrida pelos veículos (veic-km) e o n.º de passageiros
transportados anualmente em todo o sistema. A figura 39 possibilita observar esquematicamente o
processo de operação do metro no primeiro modelo.
Fig. 39: Modelo 1
O modelo aplicado compreende assim três inputs e dois outputs obtidos para 37 metros na Europa.
No segundo modelo (figura 40) aos três inputs já utilizados no processo foi acrescido um quarto
relacionado com os custos operacionais. Os custos operacionais (operational expenses, OPEX, na
Fig. 38: Orientação output do DEA
71
literatura inglesa) retirados da demonstração de resultados dos relatórios de contas dos vários
metros, compreendem o consumo de existências, fornecimentos e serviços externos e custos com
pessoal (incluindo plano de pensões). Como o modelo íntegra também, os efectivos da corporação,
os custos a imputar ao modelo não podem ser directamente os custos operacionais, de forma a não
inflacionar o peso da mão-de-obra no modelo. Torna-se assim necessário excluir primeiramente os
custos com pessoal (com plano de pensões). A estes novos custos deduzidos chamar-se-ão “outros
custos operacionais” (other operational expenses, OOPEX).
Fig. 40: Modelo 2
Os custos operacionais são um dado económico-financeiro difícil de conseguir sem recurso à leitura
dos relatórios de contas. Estes não foram sempre disponibilizados e mesmo quando o foram, muitas
vezes não estavam desagregados os vários serviços prestados pela companhia, que em alguns
casos não se restringia à operação do metro. Procurar ainda a desagregação nas várias rubricas de
forma a obter os OOPEX foi ainda mais restritivo, resultando numa amostra de 22 metros.
No terceiro e último modelo (figura 41) mantiveram-se os três inputs já utilizados no modelo 1
substituindo-se apenas o output passageiros transportados pela distância que os passageiros
percorrem na rede (passageiros-quilómetros). Esta medida, embora mais correcta no que toca à
avaliação da real utilização do serviço, restringe o número de metros a avaliar a 26.
Fig. 41: Modelo 3
Outros inputs poderiam ter sido acrescentados à análise, como os custos de capital (CAPEX) e
unidades monetárias ou a energia consumida, entre outros. No entanto, a escolha do n.º de inputs
influencia directamente a dimensão da amostra analisar, neste caso, o n.º de operadores de metro.
Se o n.º de inputs e outputs na análise aumenta, o n.º de metros para os quais é possível obter esses
dados diminui, conduzindo a valores de ET mais elevados. Se o n.º de inputs for excessivo, a técnica
DEA irá posicionar todos ou grande parte dos operadores sobre a FP, com valores de ET iguais à
unidade, impedindo uma análise correcta.
Zhang e Bartels (1998) realçam a importância que a dimensão da amostra pode ter nos resultados da
eficiência técnica devolvidos pelo método de DEA. Uma regra prática consiste em ter um número de
entidades gestores pelo menos o triplo de número de variáveis (Banker et al., 1989).
4.3.3.2. Orientação do modelo
Usualmente são utilizadas duas orientações para o modelo de DEA, nomeadamente minimização de
inputs (orientação input) e maximização de outputs (orientação output). Na orientação inputs o
objectivo é manter ou se possível incrementar o nível de serviço prestado através da menor utilização
72
possível dos factores de produção (dos inputs). Na prática, corresponde a avaliar até que ponto se
poderia reduzir o nível de inputs utilizado mantendo o nível de outputs corrente.
A orientação output, por sua vez, diz respeito à maximização do nível de outputs produzido pela
mesma utilização dos factores de produção, o que na realidade corresponde a avaliar em que medida
se pode aumentar o nível de outputs mantendo constante o nível de inputs.
Os vários modelos estudados foram orientados no sentido da minimização de inputs. Dado as
características de um serviço de transporte, o aumento de eficiência de um operador passa em
primeira instância pelo aumento da produtividade dos inputs utilizados na produção do serviço para
um determinado nível de procura fixo. Importa, portanto, maximizar a rentabilidade da rede instalada,
do material circulante e dos empregados ao serviço da empresa. Na realidade, para os dois primeiros
inputs, a extensão da rede e o n.º de veículos, o objectivo não se trata de minimizar (não se quer
diminuir a extensão da rede nem o material circulante ao serviço da empresa), mas sim conseguir
produzir mais com o mesmo nível input, devendo, portanto, fixar-se estes dois inputs aquando a
definição das variáveis do modelo.
Já o pessoal efectivo e os outros custos de operação (OOPEX) devem ser reduzidos o mais possível
de forma a elevar o desempenho da organização. A redução dos custos operacionais tem especial
importância dado que, os serviços de transporte estão, normalmente, associados ao erário público.
4.3.3.4. Análise de Resultados
No anexo 5 apresentam-se os quadros com os valores da eficiência técnica (ET), da eficiência
técnica pura (ETP) e dos ganhos de eficiência de escala dos vários modelos. Os operadores
encontram-se organizados por ordem decrescente de volume de passageiros transportados, de forma
a permitir analisar mais facilmente a existência de eficiências de escala.
Os gráficos seguintes (figuras 42, 43 e 44) ilustram a ET, a ETP e os ganhos de EE para 37
operadores de metro da Europa, que integram o modelo 1.
Fig. 42: ET por operador de metro no modelo 1
Fig. 43: ETP por operador de metro no modelo 1
73
Fig. 44: Eficiência técnica e ganhos de eficiência de escala no modelo 1
Os próximos gráficos (figuras 45, 46 e 47) ilustram a ET, a ETP e os ganhos de EE para 22
operadores de metro da Europa, que integram o modelo 2.
Fig. 45: ET por operador de metro no modelo 2
Fig. 46:ETP por operador no modelo 2
Fig. 47: Eficiência técnica e ganhos de eficiência no modelo 2
Os próximos gráficos (figuras 48, 49 e 50) ilustram a ET, a ETP e os ganhos de EE para 26
operadores de metro da Europa, que integram o modelo 3.
Fig. 48: ET por operador de metro no modelo 3
74
Fig. 49: ETP por operador de metro no modelo 3
Fig. 50: Eficiência técnica e ganhos de eficiência por operador de metro no modelo 3
Da análise de resultados dos quadros do anexo 5, para os vários modelos, é possível concluir que
Moscovo e Londres são dois metros eficientes, em concordância com os resultados obtidos na
análise de indicadores de desempenho efectuada anteriormente.
Os gráficos apresentados para cada modelo (figuras 42 a 50) demonstram existir economias de
escala, apresentando maiores ganhos de eficiência em operadores com menor volume de
passageiros transportados. Os rendimentos são, portanto, crescentes à escala.
O quadro 14 resume os principais resultados devolvidos pelos modelos.
Quadro 14: Síntese dos resultados dos diferentes modelos para a operação dos metros
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3
ET média (RCE) 0,76882 0,84939 0,68297
ETP média (RVE) 0,89353 0,96191 0,82737
EE média 0,86190 0,87917 0,82547
Mínimo ETP 0,53074 0,77578 0,40890
Mínimo EE 0,17218 0,21181 0,27412
ET Lisboa (RCE) 0,69292 0,83284 0,49101
ETP Lisboa (RVE) 0,70684 0,89335 0,59839
ET Porto (RCE) 0,73608 0,84614 0,61736
ETP Porto (RVE) 0,96155 1 0,77123
Os metros portugueses estão numa posição desconfortável. O Metro de Lisboa apresenta para todos
os modelos um desempenho medíocre com valores de eficiência abaixo da média. O Metro do Porto
apresenta valores de eficiência próximos da média para RCE e valores acima da média para RVE,
mas ainda assim, não é eficiente em nenhum modelo (excepto no modelo 2 para RVE).
Os próximos quadros (15 a 20) evidenciam os valores dos inputs actuais e dos targets, para os
metros de Lisboa e Porto, identificando não só as poupanças potenciais destes operadores, mas
também os pares de referência que podem constituir benchmarks para os mesmos (peers).
Quadro 15: Targets dos operadores dos metros de Lisboa e Porto para o modelo 1, considerando RCE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88 Veículos (uni.) 338
338
72
72 Efectivos (uni.) 1702
1179
426
314
Peers Berlim, Helsínquia, Budapeste, Moscovo Helsínquia, Budapeste, Moscovo
75
Quadro 16: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 1, considerando RVE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88
Veículos (uni.) 338
338 72
72
Efectivos (uni.) 1702
1203
426
410 Peers Berlim, Helsínquia, Budapeste, Moscovo Helsínquia, Budapeste, Moscovo
Quadro 17: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 2, considerando RCE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88
Veículos (uni.) 338
338 72
72
Efectivos (uni.) 1702
1418
426
360 OOPEX (€) 118 503 965
37 511 939
89 561 642
17 286 701
Peers Barcelona-FMB, Lyon e Praga Barcelona-FMB, Lyon e Moscovo
Quadro 18: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 2, considerando RVE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88
Veículos 338
338 72
72
Efectivos 1702
1520
426
426 OOPEX (€) 118 503 965
57 800 515
89 561 642
89 561 642
Peers Lyon, Turim, Praga Porto
Quadro 19: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 3, considerando RCE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88
Veículos (uni.) 338
338 72
72
Efectivos (uni.) 1702
836
426
263 Peers Berlim, Helsínquia, Londres, Moscovo Londres e Moscovo
Quadro 20: Targets para os metros de Lisboa e Porto para o modelo 3, considerando RVE
Lisboa Porto
Valor actual Target Valor actual Target
Extensão da rede (km) 35,60
35,60 58,88
58,88
Veículos (uni.) 338
338 72
72
Efectivos (uni.) 1702
1018
426
329 Peers Glasgow, Helsínquia e Moscovo Madrid-TFM e Helsínquia
Da análise dos peers propostos em cada modelo para os metros de Lisboa e Porto conclui-se que
Moscovo, Helsínquia, Barcelona-FMB e Berlim são os mais recorrentes, servindo de referência aos
metros portugueses.
Os RVE são do tipo crescente, facto que se pode comprovar outra vez, pelo cálculo das eficiências
ponderadas através do volume de passageiros. As eficiências expressas no quadro 21 têm valores
superiores às originais, exibidas no quadro 17, o que significa dizer que metros com maior volume de
passageiros transportados são, por norma, mais eficientes (rendimentos crescentes à escala).
Quadro 21: Eficiências ponderadas com rendimentos crescentes à escala
Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3
ET ponderada pelo volume passageiros 0,90064 0,96468 0,87150
ETP ponderada pelo volume passageiros 0,94190 0,99010 0,90430
EE ponderada pelo volume passageiros 0,95518 0,97375 0,95934
N.º operadores eficientes (ET) 9 8 6
N.º operadores eficientes (ETP) 16 14 11
76
5. Conclusões
5.1. Síntese Conclusiva
Esta dissertação, intitulada “Análise do desempenho dos metropolitanos na Europa” conseguiu atingir
os dois objectivos principais, designadamente analisar o funcionamento do sector dos transportes
públicos urbanos em Portugal, comparativamente ao de outros países europeus e estudar a eficiência
dos serviços de transporte em metro, mais concretamente, dos operadores de transporte europeus.
Para cumprir o primeiro objectivo consideraram-se, entre outros aspectos, a legislação nacional
relativa ao TP, a estrutura institucional do sector, o financiamento do sistema, os diferentes modelos
de prestação de serviços públicos, o envolvimento do Estado (sector empresarial do Estado) e a
contratualização dos serviços de transporte. Foram analisados, em detalhe, os sistemas de transporte
urbanos de Lisboa e Porto, dando especial relevo aos sistemas de metro instaurados nessas duas
áreas metropolitanas. Foi ainda analisado o projecto do futuro metro de Coimbra.
Para cumprir o segundo objectivo, utilizou-se, em primeiro lugar, um quadro de indicadores de
desempenho, dividido em 6 grupos (Indicadores da oferta e procura, indicadores de recursos
humanos, indicadores da qualidade do serviço, indicadores económico-financeiros, indicadores de
eficiência e indicadores de eficácia). Em segundo lugar, devido às limitações desses indicadores em
termos de necessidades de informação e restrições na análise, adoptou-se a técnica não paramétrica
de análise de desempenho de data envelopment analysis (DEA) para construir três modelos, com
diferentes inputs e outputs. Os três modelos foram orientados segundo a minimização de inputs, com
a particularidade de manter fixos alguns deles (nomeadamente, a extensão da rede e os veículos).
A metodologia não-paramétrica de DEA assumiu-se como uma ferramenta muito útil de
benchmarking na medida em que, para além de lidar facilmente com múltiplos inputs e outputs (ao
contrário da análise por indicadores de desempenho), permitiu definir targets para as variáveis da
análise, identificando as melhores práticas e os operadores de referência a seguir pelos outros
operadores de metro (peers). O facto de se basear na construção empírica, através de programação
matemática, da fronteira de produção (onde de situam os operadores eficientes) no lugar de pré-
definir uma forma funcional, como acontece no caso dos métodos paramétricos, elimina alguma
subjectividade.
Da análise dos indicadores de desempenho foi possível constatar que os vários operadores de metro
apresentam, à semelhança das outras empresas de TP, níveis elevados de custos operacionais face
às receitas geradas. Para a maioria dos operadores de metro analisados, as receitas operacionais
não cobrem os custos de operação do sistema. A taxa média de cobertura dos custos operacionais
pelas receitas operacionais ronda os 78,5%. A situação é ainda mais gravosa para os metros
portugueses, não atingindo sequer os 50%.
Os operadores revelam uma grande dependência de ICs, agravada por sucessivas actualizações
tarifárias abaixo da inflação. O facto de as ICs não estarem avaliadas monetariamente e
contratualizadas leva à atribuição de subsídios de valor aleatório, concedidos segundo a
77
disponibilidade financeira do Estado, o que normalmente se traduz em valor insuficiente face aos
investimentos realizados, obrigando ao endividamento bancário.
Para controlar o endividamento do sector e garantir a melhoria da qualidade do serviço prestado é
necessário promover acções de melhoria da eficácia e eficiência deste sector. Estas medidas passam
primeiramente pelo ajuste da oferta em TP à procura, nomeadamente, através do aumento da oferta
em alturas de maior procura pelos utentes e redução fora desses períodos.
No entanto, não basta reduzir a oferta e aguardar por melhores resultados operacionais. O grande
desafio que se coloca aos operadores de TP passa pela captação de novos utilizadores (e fidelização
dos antigos). Para tal, é necessário melhorar a qualidade do serviço oferecido através de
investimentos na modernização dos serviços e renovação da imagem do TP, devendo recorrer-se a
campanhas de marketing e marketing segmentado.
A intermodalidade é uma questão fundamental sendo a chave para um desempenho superior de um
sistema de TP. Para garantir a coordenação dos vários modos e o bom desempenho do sistema
como um todo, criaram-se as AMTs. Estas autoridades pressupõem a adopção de um novo modelo
de organização do sistema. O Governo perde o papel de autoridade central passando a haver uma
participação crescente das autoridades locais sobre o sistema de transportes. Ao aproximar a
autoridade do próprio sistema, a regulação torna-se mais simples e eficaz, dado que a AMT de uma
determinada região tem sob a sua alçada apenas o sistema urbano de transportes dessa região e
não de todo o continente. A polémica da forma de financiamento destas autoridades e do sistema, e
da sua forma de actuação não permitiu ainda a sua aplicabilidade. Aguarda-se, portanto, o início da
actividade da AMT de Lisboa e do Porto.
Ainda assim, é possível concluir que, independentemente da entrada ou não em vigor das AMTs, os
grandes volumes implicados no financiamento do sistema obrigam à definição de novas estratégias e
esquemas de financiamento. Os operadores têm de ser capazes de captar maiores níveis de receitas,
através de meios alternativos às receitas de tráfego, como por exemplo, através da comercialização
dos espaços das estações, ou de campanhas de publicidade nos veículos, ou ainda através de
merchandising do metro para turistas (como acontece em Londres). Os operadores devem poder
beneficiar de mais verbas, vindas por exemplo de impostos sobre as empresas que beneficiem
directamente da rede de metro, como acontece em França através do Versement de Transport. O
imposto de circulação automóvel deveria, também ele, reverter a favor do financiamento do sistema
de transportes públicos, devendo ser agravado consoante a quilometragem.
Para que a necessidade de financiamento seja a menor possível, é fundamental reduzir os custos
operacionais do sistema. Tal pode ser conseguido de várias formas, entre as quais através da
redução do efectivo ao serviço do operador e aposta no aumento da produtividade pela formação e
qualificação dos seus empregados. O controlo da idade média da frota também permite reduzir os
custos de manutenção e aumenta os níveis de fiabilidade (menor n.º de avarias, maior pontualidade).
As soluções apontadas pelo DEA passam também pela redução do efectivo e redução dos outros
custos operacionais de forma a tornar os metros mais eficientes.
78
No que toca ao desempenho operacional dos diferentes metros, o panorama português não é
favorável, apresentando baixos níveis de produtividade e eficácia face à média europeia. Os
resultados da técnica de DEA corroboram as conclusões retiradas da análise dos indicadores de
desempenho, onde os Metros de Lisboa e Porto figuram sempre ineficientes.
Os Metros de Moscovo e Londres são globalmente eficientes para os 3 modelos. Em termos de
referência para os metros portugueses, são indicados como peers os Metros de Moscovo, Helsínquia,
Barcelona-FMB e Berlim.
5.2. Recomendações para estudos futuros
Os estudos de eficiência são muito comuns, dispersando-se por várias áreas. Apesar da grande
abundância de estudos de eficiência, escasseiam os estudos especificamente direccionados para o
transporte público urbano, sendo ainda mais evidente a carência no domínio do transporte ferroviário
ligeiro em metropolitano.
As diferentes organizações internacionais que realizam estudos de benchmarking em metropolitano
restringem a informação aos membros aderentes, o que dificulta, em grande medida, a tarefa a um
investigador individual ou a organizações que pretendam fazer estudos semelhantes. A
confidencialidade dos dados e a relutância na partilha de informação tornam o conhecimento público
do sector mais deficiente, o que não é de forma alguma benéfico nem justificável. Tratando-se de
operadores de serviços públicos, logo serviços de interesse económico geral, estes deveriam tecer e
ceder periodicamente informação de gestão, com o mérito de aumentar o auto-conhecimento da
situação ao próprio operador.
Outra dificuldade superada nesta dissertação diz respeito à recolha dos dados nos RC dos vários
operadores que muitas vezes não apresentavam os dados desagregados por modo de transporte
(quando o operador prestava vários serviços) nem por rubrica (não apresentavam os custos
operacionais nem custos com pessoal, apenas valores médios para os custos totais). Os dados
médios apresentados por algumas destas empresas não são facilmente comparáveis porque, em
muitos casos, não são sequer referidas as rubricas incluídas. Nesses casos, os dados tiveram de ser
pedidos directamente ao operador, o que atrasou todo o processo de elaboração desta dissertação.
A presente dissertação pode ser um bom princípio, no sentido em que deu início a uma recolha de
material nem sempre fácil de conseguir, reunindo informação sobre o sector, até então dispersa em
muitas outras publicações. Espera-se portanto, que motive outros estudos, ajudando ao
desenvolvimento e ao progresso do sector.
Questões do fórum político e económico do tipo “Qual a melhor forma de gestão, pública ou
privada?”, “Qual a melhor forma de prestação de serviços e melhor forma de contratualização dos
diferentes serviços?” e “Qual a contribuição do outsourcing para a eficiência do sistema?” são
muitíssimo importantes para o planeamento de um serviço de transportes mais eficiente e dariam
bons tópicos de discussão em análises futuras. Embora se reconheça a sua relevância, essas
questões foram excluídas desta análise dado o volume de trabalhos que implicariam e o objectivo a
que esta dissertação se propõe.
79
Bibliografia
Alouche, P., 2007. Estado da arte da automação integral nos metros no mundo. Apresentação no
âmbito da 13ªsemana de tecnologia metroferroviária, Metroferr 2007.
Anderson, R., 2006. Improving the management and delivery of mass public transportation in cities.
Nova Symposium, Buenos Aires.
Araújo, D., 2006. Destaque: Autoridade metropolitana de transportes, em Metrópoles Revista, 4º
trimestre, nº16, pp. 60-68.
Banker, R., Charnes, A. e Cooper, W., 1984. Some models for estimating technical and scale
inefficiencies in data envelopment analysis, Management Science, vol. 30, n.º 9, pp. 1078-1092.
Banker, R.; Charnes, A.; Swarts, J.; Cooper, W.; Thomas, D. (1989). An introduction to data
envelopment analysis with some of its models and their uses. In Research in Governmental and
Nonprofit Accounting. Vol. 5. Ed. por J. Chan e J. Patton. Greenwich, Connecticut (EUA): JAI Press.
ISBN 0-8923-2975-0. pp. 125-163.
Benito, B., Bastida F. e Garcia, J., 2005. The determinants of efficiency in municipal governments.
Fundación Séneca of the Autonomous Community of the region of Murcia, Murcia.
Chadwick, E., 1989. Results of different principles of legislation and administration in Europe: of
competition for the field, as compared with the competition within the field of service. Journal of the
Royal Statistical Society. ISNN 0964-1998, vol. 22A, pp. 381-420.
Charnes, A., Cooper, W., Rhodes, E., 1978. Measuring the efficiency of decision making units.
European Journal of Operacional Research, 2, pp. 429-444.
Coelli, T., Prasada, R. e Battese, G., 1998. An introduction to efficiency and productivity analysis,
Kluwer Academic Publishers, Boston.
Comissão Europeia COM, 1990. Livro Verde: “Ambiente Urbano”.
Comissão Europeia COM, 1992. Livro Branco: “Futura evolução da política comum dos transportes”
Comissão Europeia COM, 1995. Documento verde: “The citizen’s network – Fulfilling the potential of
public transport in Europe”.
Comissão Europeia COM, 2001. Livro Branco: “A política europeia de transportes no horizonte 2010:
a hora das opções”.
Comissão Europeia COM, 2006. Revisão intercalar do Livro Branco sobre os transportes de 2001:
”Manter a Europa em Movimento: Mobilidade sustentável para o nosso continente”.
Comissão Europeia COM, 2007. Livro Verde: “Por uma nova cultura de mobilidade urbana”.
Cooper, W., Seiford, L. e Tone, K., 2000. Data Envelopment Analysis. A comprehensive Text with
models applications, references and DEA-solver software, Kluwer Academic Publishers, Boston.
Costa, Á., 1998. Public transport efficiency and effectiveness: Metro de Madrid. Transport Networks in
Europe: Concepts, analysis and policies, editado por Button, K., Nijkamp, P. e Priemus, H.,
Publicações Edward Elgar, pp. 248-264.
Cruz, C., 2006. Organization of metropolitan transport systems: the portuguese case, FEUP.
Dattakumar, R. e Jagadeesh, R., 2003. A review of literature on benchmarking, in: Emerald Group
Publishing Limited (Ed.): Benchmarking: an international journal, vol. 10, n.º3, pp. 176-209.
De Borger B., Kerstens K., e Costa Á., 2002. Public transit performance: What does one learn from
frontier studies? Transport Reviews, 22, pp.1-38.
EQUIP-Consorcio, 2000. The benchmarking handbook. Deliverable D4. Brussels and NewCastle
upon Tyne: European Commission DG-TREN and the EQUIP Consortium; 2000.
80
Emrouznejad, A., Parker, B. e Tavares, G., 2008. Evaluation of research in efficiency and
productivity: a survey and analysis of the first 30 years of scholarly literature in DEA. Journal of Socio-
Economics Planning Science, vol. 42, nº3, pp. 151-157.
ERRAC, 2004. Light Rail and Metro Systems in Europe - Current market, perspectives and research
implication.
Farell, M., 1957. The measurement of productive efficiency. Journal of the Royal Statistical Society,
(Series A), 102, pp. 253-281.
Färe, R.; Grosskopf; S.; Norris, M.; Zhang, Z. (1994b). Productivity growth, technical progress and
efficiency change in industrialized countries. American Economic Review. ISSN 0002-8282. Vol. 84,
n.º 1, pp. 66-83
Frasquilho,M., 2005. Eficiência dos transportes urbanos e autoridades metropolitanas de transporte,
Grupo Banco Espírito Santo, Espírito Santo Research.
Hanman, R., 1997. Benchmarking your firm’s performance with best practice. International Journal of
Logistics Management, Vol 8, n.º2, pp. 1-8.
Henscher, D. e DeMellow, I., 1991. Performance evaluation in passenger transportation: What are
relevant measures? Proccedings of the 2nd
International Conference in Privatization and Deregulation
in Passenger Transportation, Tampere, Finland, pp. 23-38.
INE, 2003. Movimentos Pendulares e Organização do Território Metropolitano: Área metropolitana de
Lisboa e área metropolitana do Porto: 1991/2001, Instituto Nacional de Estatística – Lisboa. ISBN
972-673-676-5.
INE, 2004. Sistema urbano: áreas de influência e marginalidade funcional: região de Lisboa e Vale do
Tejo, Instituto Nacional de Estatística – Lisboa. ISBN 972-673-722-2.
Leonard, P., 2001. The key factors for Successful Benchmarking. BEST Newsletter, January 2001.
Lochard, J., 2003. Les ratios qui comptent, Bertrand Editora. ISNBN 972-25-1306-0.
Magalhães, D., 2005. Organização de mercado, produtividade e eficiência no transporte ferroviário
suburbano de passageiros, FEUP.
Mansell, R., Church, J., 1995. Traditional and Incentive Regulation.Canadá: The Van Horne Institute
for International Transportation and Regulatory Affairs.
Marques, R., 2006. Avaliação e medição de eficiência de unidades organizatórias através do método
fronteira não paramétrico de Data Envelopment Analysis (DEA). Apontamentos das aulas, mestrado
em investigação operacional e engenharia de sistemas, IST, Lisboa.
Marques, R., 2008. Parcerias público-privadas em projectos de engenharia. Introdução ao estudo das
PPP. Apontamentos das aulas, mestrado em investigação operacional e engenharia de sistemas,
IST, Lisboa.
Marques, R.; Monteiro, A., 2001. Application of performance indicators in water utilities management
- a case-study in Portugal. Water Science & Technology, vol 44, n.º2/3, pp. 95-102.
Marques, R. e Brochado, A., 2007. Aplicação de indicadores de desempenho em instituições do
ensino superior.Working paper.
Pinto J.H.Q. e Silveira J.P., 1999. Aspectos teóricos de regulação económica: Controle de Preços,
Nota técnica, ANP.
Rodrigues, J., 2007. Transporte de Passageiros na cidade de Lisboa – Carris, Comunicação na
Sessão subordinada ao tema: “Transporte Colectivo de Passageiros na Área Metropolitana de
Lisboa” promovida pela ADFER – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte
Ferroviário, Lisboa.
81
Simões, P., 2007. Eficiência dos serviços de resíduos sólidos, IST. Dissertação de mestrado.
Tavares, G., 2002. A Bibliography of Data Envelopment Analysis (1978-2001). Rutcor Research
Report, Center for Operational Research, Rutgers University, New Jersey.
Zhang e Bartels, 1998. The effect of sample size on the mean efficiency in DEA: With an application
to electricity distribution in Australia, Sweden and New Zealand. Journal of Productivity Analysis, 9,
pp. 187–204.
Zhu,J., 2002. Quantative models for performance evaluation and benchmarking: DEA with
spreadsheets and DEA Excel Solver. Kluwer Academic Publishers.
83
Anexo 1 : Autoridades Metropolitanas de Transporte
CRTM – Consorcio Regional de Transportes de Madrid
O consórcio regional de transportes de Madrid foi constituído em 1986, agrupando por adesão
voluntária instituições públicas e privadas relacionadas com os transportes públicos.
Do seu organigrama fazem parte um conselho de administração com 20 membros, uma direcção
geral, respeitante à gestão dos próprios serviços de CRTM, e um Comité Técnico a apoiar o
Conselho de Administração.
O consórcio conta com as seguintes atribuições:
- Planeamento da infra-estrutura de transporte;
- Planeamento e definição da gestão coordenada dos serviços de transporte;
- Definição de circuitos, paragens, horários e controlo da qualidade de serviço;
- Definição da política de bilhética e do quadro tarifário comum para os sistemas de transporte
público;
- Gestão dos passes anuais, mensais e bilhetes multimodais;
- Tramitação e resolução de autorização de concessões; e
- Gestão dos sistemas de compensação.
O seu âmbito de actuação é a Comunidade de Madrid constituída por 179 municípios cobrindo uma
superfície de 8.028km2.
Fig. 51: Organigrama do Consorcio Regional de Transportes de Madrid Fonte: (Araújo, 2006)
Figx. Organigrama do Consórcio Regional de Transportes de Madrid
84
O financiamento do sistema de transportes é feito segundo o esquema da figura 53. A autoridade
conta com participações dos municípios da comunidade de Madrid assim como verbas directas
provenientes do Estado. A subsidiação dos vários modos é contratualizada entre a CRTM e os
diferentes operadores de transporte à excepção do modo ferroviário pesado, no qual o Estado
intervém directamente.
Fig. 53: Esquema de financiamento do sistema metropolitano de transportes de Madrid
Fonte: RC da CRTM (2006)
ATM – Autoritat del Transport Metropolita
A criação da autoridade metropolitana de transportes respeitante à cidade espanhola de Barcelona
remonta a 1987, com a criação da EMT, “Entidad Metropolità del transport”, pelo Parlamento da
Catalunha. A EMT dizia então respeito a uma entidade local constituída pelos 18 municípios
correspondentes à 1ª coroa da área metropolitana de Barcelona, com o objectivo de prestar, de forma
conjunta, serviços de transporte público, no seu âmbito territorial.
Só 10 anos depois, foi criada a Autoritat del Transport Metropolità de Barcelona, ATM, responsável
pela coordenação dos serviços de transporte público das várias coroas em que se encontra dividida a
região metropolitana de Barcelona.
Fig. 52: Comunidade de Madrid (esq.) e zonamento tarifário (dir.)
Fonte: (Araújo, 2006)
85
Após a publicação dos estatutos em 2005, a ATM foi agrupar as entidades dos municípios da 1ª e
2ªcoroa (a EMT e a AMTU). A Agrupación de Municípios Titulares de Transport Urbá, AMTU, teve
início em 2001, inicialmente com 16 municípios estando hoje alargada a 45 municípios da 2ª coroa.
Na figura 54 é possível observar a área de actuação da ATM, área metropolitana de Barcelona, a
qual inclui 164 municípios e alberga 4.399.390 habitantes em 3.237,1 km2
(dados de 2001). A azul,
estão assinaladas as 7 comarcas da 2ª coroa: Alt Penèdes, Baix Llobregat, Barcelònes, Garref,
Maresme, Vallès Ocidental e Vallès Oriental.
É um consórcio inter-administrativo, de carácter voluntário, a que podem aderir todas as
administrações titulares de serviços públicos de transporte colectivo, individualmente ou através de
entidades que as agrupam ou representam.
Das suas atribuições constam:
- Planear as infra-estruturas de transportes públicos, os serviços e estabelecer programas de
exploração coordenada para todas as empresas;
- Estabelecer contratos-programa com as empresas prestadoras de serviços controlando as
receitas, custos e investimentos das mesmas;
- Formalizar acordos de financiamento com as administrações públicas, para subsidiar o défice e
os gastos de funcionamento da estrutura de gestão;
- Exercer as competências administrativas para organizar os serviços na sua área territorial
estabelecendo relações com outras administrações para o melhor cumprimento das suas
funções;
- Elaborar e a aprovar o sistema tarifário integrado, tendo em conta a política de financiamento e
a percentagem de cobertura dos custos pelas receitas.
A tarifação é feita segundo as coroas a atravessar de acordo com a figura 55.
Fig. 54: Domínio da ATM
Fonte: (Araújo, 2006)
86
6B
4G4G4G4G4G4G4G4G4G4G
4H4H4H4H4H4H4H4H4H4H5H5H5H5H5H5H5H5H5H5H
5G5G5G5G5G5G5G5G5G5G
3E3E3E3E3E3E3E3E3E3E
6E6E6E6E6E6E6E6E6E6E
6D6D6D6D6D6D6D6D6D6D
5F5F5F5F5F5F5F5F5F5F
3D3D3D3D3D3D3D3D3D3D
2C2C2C2C2C2C2C2C2C2C2D2D2D2D2D2D2D2D2D2D
2E2E2E2E2E2E2E2E2E2E
5E5E5E5E5E5E5E5E5E5E
4E4E4E4E4E4E4E4E4E4E
4F4F4F4F4F4F4F4F4F4F
3C3C3C3C3C3C3C3C3C3C
6C6C6C6C6C6C6C6C6C6C
2A2A2A2A2A2A2A2A2A2A3A3A3A3A3A3A3A3A3A3A
1111111111
3B3B3B3B3B3B3B3B3B3B
2B2B2B2B2B2B2B2B2B2B
4Z4Z4Z4Z4Z4Z4Z4Z4Z4Z
4D4D4D4D4D4D4D4D4D4D
5C5C5C5C5C5C5C5C5C5C
4C4C4C4C4C4C4C4C4C4C
5D5D5D5D5D5D5D5D5D5D
6B6B6B6B6B6B6B6B6B6B
5A5A5A5A5A5A5A5A5A5A4A4A4A4A4A4A4A4A4A4A
4B4B4B4B4B4B4B4B4B4B
6A6A6A6A6A6A6A6A6A6A
5B5B5B5B5B5B5B5B5B5B la Palmade Cervelló
105
km
0
Abrera
Aiguafreda
Alella
Arenys de Mar
Arenys de MuntArgentona
Avinyonet del Penedès
Badalona
Badia del Vallès
Barcelona
Begues
Bigues i Riells
Cabrera de Mar
Cabrils
Caldes de Montbui
Calella
Campins
Canovelles
Cànoves i Samalús
Canyelles
Cardedeu
Castellar del Vallès
Castellbisbal
Castellcir
Castelldefels
Castellet i la Gornal
Castellterçol
Castellví de la Marca
Cerdanyola del Vallès
Cervelló
Collbató
Corbera de Llobregat
Cornellà de Llobregat
Cubelles
Dosrius
el Masnou
el Papiol
el Pla del Penedès
el Prat de Llobregat
Esparreguera
Fogars de MontclúsFont-rubí
Gallifa
Gavà
Gelida
Granera
Granollers
Gualba
l'Ametlla del Vallès
la Granada
la Llagosta
la Roca del Vallès
Lliçà de Vall
Llinars del Vallès
Malgrat de Mar
Martorell
Matadepera
Mataró
Mediona
Molins de Rei
Mollet del Vallès
Montcada i Reixac
Montgat
Montmany - Figaró
Montornès del Vallès
Montseny
Olèrdola
Olesa de Bonesvalls
Olesa de Montserrat
Olivella
Orrius
Palafolls
Palau de Plegamans
Pontons
Rellinars
Rubí
Sabadell
Sant Adrià de Besòs
Sant Andreu de la Barca
Sant Boi de Llobregat
Sant Celoni
Sant Climent de Llobregat
Sant Cugat Sesgarrigues
Sant Esteve Sesrovires
Sant Feliu de Llobregat
Sant Just Desvern
Sant Llorenç Savall
Sant Martí Sarroca
Sant Pere de Ribes
Sant Pere de Riudebitlles
Sant Quirze Safaja
Sant Vicenç de Montalt
Sant Vicenç dels Horts
Santa Fe del Penedès Santa Maria de Palautordera
Sentmenat
Sitges
Subirats
Tagamanent
Teià
Terrassa
Tiana
Tordera
Torrelavit
Torrelles de Foix
Torrelles de Llobregat
Ullastrell
Vacarisses
Vallgorguina
Vallirana Vallromanes
Viladecavalls
Vilafranca del Penedès
Vilalba Sasserra
Vilassar de Mar
Massanes
Maçanet de la Selva
Hostalric
Blanes
Taradell
Balenyà
Centelles
Vic
Manresa
Castellgalí
St.Vicenç
Castellbell i el Vilar
Monistrol M.
Igualada
la Pobla de Claramunt
Vilanova del Camí
Piera
Vallbona d'Anoia
Masquefa
Bellveí
St. Oliva
el Vendrell
Riells i Viabrea
Breda
St.Martí de Centelles
Hostalets de Pierola
Calafell
Cunit
Tona
el Bruc
Seva
Malla
Castellolí
CORONES ATM
123456
Fig. 55: Zonamento tarifário da área metropolitana de Barcelona
O modelo da ATM é composto pela Generalitat de Catalunya com 51% e pela Administração Local
que representa 49% do capital, distribuídos pelos municípios de Barcelona e Agrupación de
Municípios Titulares de Transport Urbá (25%) e pela Entitat Metropolitat del Transport (24%).
Do seu organigrama fazem parte um conselho de administração com 18 membros, uma comissão
executiva que apoia a administração, um conselho de mobilidade e um Director Geral.
Fig. 56: Organigrama da ATM
Fonte: (Araújo, 2006)
O modelo de financiamento do sistema é apresentado na fig. 57. O esquema é semelhante ao
aplicado na capital espanhola, com o Estado a intervir directamente na subsidiação do sistema
ferroviário.
Fig. 57: Esquema de financiamento do sistema
Fonte: RC da ATM 2006
87
Anexo 2: Evolução da rede do metropolitano de Lisboa e planos de expansão
Fig. 58: Planos de expansão do ML a tracejado, após conclusão dos
troços Alameda-São Sebastião e Oriente-Aeroporto
2008 Obras em curso
88
Anexo 3: Sistemas de metro automático
A grande aposta do sector consiste agora nos sistemas de metro automáticos, os chamados
driverless train systems na literatura inglesa ou véhicule automatique léger (VAL), na literatura
francesa. Nestes sistemas, os veículos do metro circulam sem condutor, assistidos por computador a
partir duma central. Por não terem condutor não é possível reagir atempadamente em caso de
incidentes com passageiros, como queda à linha. Para se contornar o problema, a maioria dos
sistemas automáticos vêm acompanhados de barreiras físicas de protecção que impedem o acesso
directo à via, com portas de abertura que apenas dão passagem aquando a chegada da viatura
(figura 59 a). Há, no entanto excepções, como é o caso da linha D do metro de Lyon, que não tem
qualquer barreira de acesso à linha.
(a) (b) (c)
Fig. 59: Sistema VAL: (a) Linha 14 do metro de Paris - pormenor das portas de protecção, (b) Linha 14 do metro de
Paris - vista superior do túnel do metro e (c) Dianteira do veículo sem condutor no metro de Copenhaga
Os sistemas de metro automático apresentam custos de operação bastante mais reduzidos não só
devido à redução de efectivo ao serviço das empresas, mas também pela própria automatização das
circulações, que permite maiores velocidades comerciais que os sistemas de metro convencionais
(aumentos na ordem dos 30%). Quanto à qualidade de serviço prestada, os sistemas de metro
automático têm demonstrado melhores resultados em termos de frequência, limpeza dos veículos e
imagem. Um ano após a entrada em funcionamento da linha 14 do metro de Paris, a RATP
comprovou o aumento da qualidade de serviço prestada através de uma série de indicadores que se
apresentam no quadro seguinte.
Quadro 22: Comparação do desempenho da linha 14 do metro
de Paris (sistema VAL) em relação ao resto da rede
89
Segundo dados da UITP (Alouche, 2007), em 2006 encontravam-se em operação 30 linhas de metro
automático em todo o mundo (figura 10).
Fig. 60: Presença de sistemas de metro automatizados no mundo
Na Europa este tipo de sistemas tem proliferado desde a sua primeira aparição na cidade francesa de
Lille, em 1983. Seguiram-se as cidades de Paris com a linha Orly Val (1991), Lyon com a linha D
(1991), o metro de Toulouse (1993), a linha 14 do metro de Paris “Météor” (1998) (ver fig. 9 b), a linha
People Mover28
na cidade de Milão (1999), o metro de Copenhaga na Dinamarca (2002) (fig. 9 c), o
metro de Rennes (2003), o metro de Turim em Itália (2006), entre outros. Este tipo de sistemas tem
ganho popularidade sobretudo em ligações a aeroportos, como as ligações aos aeroportos de
Heathrow, Stansted e Gatwick, em Londres.
A figura 61 apresenta uma lista dos sistemas de metro automático em construção actualmente.
Fig. 61 Sistemas de metro automático em construção
Fonte: (Alouche, 2007)
O mesmo estudo aponta para um aumento de 75% em novos sistemas e um aumento de 40% em
linhas reconvertidas, até 2020.
28
Este sistema People Mover é um sistema mais simples que o preconizado em França. Em Milão diz respeito a
uma linha curta, em via simples, com 682 m de extensão.
90
Anexo 4: Análise de indicadores de eficiência e eficácia
Numa apreciação global, a média ponderada do n.º de veic-km percorridos por efectivo afecto à
entidade gestora do serviço de transporte é de 16 564 veic-km por efectivo (16,6 mil veic-
km/efectivo). Acima desta banda encontram-se todos os operadores que obtiveram bons
desempenhos, entre os quais se demarcam claramente, os operadores de metro de Helsínquia (a
verde) e Berlim, ambos com valores superiores a 50 mil veic-km por efectivo (Helsínquia chega
mesmo perto dos 60 mil veic-km/efectivo registando 58 222 veic-km/efectivo).
Na banda rosa claro, encontram-se todos os operadores com prestações deficientes. O pior
desempenho diz respeito ao metro de Génova, na Itália, que realizou uma quilometragem de 2986
veic-km por cada efectivo. Os metros de Lisboa e Porto, destacados a vermelho, têm ambos um
desempenho fraco neste indicador, com o Metro do Porto ligeiramente mais próximo da banda
mediana face ao de Lisboa (15,4 versus 13,4 mil veic-km/efectivo).
Indicador 6: Veic-km por efectivo (‘000)
Nome: Veículos-quilómetros por efectivo ou carruagens-quilómetros por efectivo.
Definição: Distância percorrida pelo conjunto dos veículos da frota (em milhares de km) durante o período em estudo
(ano de 2006) por cada empregado na organização.
Unidade: 1000 veic-km/efectivo.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador permite avaliar a produtividade do trabalho, i.e., a capacidade de produção de trabalho dos
empregados ao serviço do operador.
Valor de referência: 16,6 mil veic-km/efectivo.
Análise comparada dos operadores:
91
No geral, a média ponderada do n.º de veic-km percorridos por veículo da frota é de 85.537 veic-km
por veículo (85,5 mil veic-km/efectivo). Isto corresponde a dizer que o valor médio para a
quilometragem realizada por cada carruagem ao longo de 2006 é de 85,5 mil km.
Os melhores desempenhos, neste indicador, dizem respeito aos metros de Frankfurt (a verde),
Moscovo e Londres, todos com valores de produtividade superiores a 135 mil km. O pior desempenho
diz, novamente, respeito ao metro de Génova, na Itália, cujo veículo realiza em média 15.926 km.
Quanto aos operadores portugueses, o Metropolitano de Lisboa situa-se na região ineficiente com
67,6 mil km percorridos por veículo enquanto que o Metro do Porto apresenta uma produtividade
acima da média com 91,1 mil km efectuados anualmente por cada veículo.
Indicador 7: Veic-km por veículo (‘000)
Nome: Veículos-quilómetros por veículo.
Definição: Distância percorrida por cada carruagem da frota (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de
2006).
Unidade: 1000 veic-km/efectivo.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador destina-a a avaliar a produtividade do capital, neste caso a capacidade de realização
quilométrica do material circulante. A distância anual percorrida por cada carruagem ou veículo é igual à distância
percorrida por cada comboio. Este indicador é extremamente importante visto servir de apoio à decisão de manutenção,
reparação ou substituição dos veículos.
Valor de referência: 85,5 mil veic-km/veic.
Análise comparada dos operadores:
92
O valor médio de produtividade da rede é de 656 mil veic-km por km de rede.
Os melhores desempenhos, neste indicador, dizem respeito aos metros de Moscovo (a verde), São
Petersburgo e Londres, todos com valores de produtividade superiores a 1,1 milhões veic-km por km
de rede.
O pior desempenho diz respeito ao metro de Valência, em Espanha, para o qual este valor não chega
aos 45 mil veic-km por km de rede.
Ao contrário do que sucede no indicador n.º 2, neste caso o Metropolitano de Lisboa situa-se na
região eficiente com 642 mil veic-km percorridos por km de rede enquanto que o Metro do Porto se
mostra claramente ineficiente com uma média de 111 mil veic-km por km de rede.
Indicador 8: Veic-km por km de rede (‘000)
Nome: Veículos-quilómetros por quilómetro unitário de rede.
Definição: Distância percorrida pelos veículos da frota (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de 2006),
por cada quilómetro de extensão da rede.
Unidade: 1000 veic-km/km de rede.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador relaciona a produção quilométrica com a dimensão da rede, dando uma ideia da interligação
entre os dois factores. Rácios elevados implicam maiores produções quilométricas para a mesma dimensão da rede, i.e.,
indicam maior rentabilidade do capital (maior eficiência do capital).
Valor de referência: 656 mil veic-km/km de rede.
Análise comparada dos operadores:
93
O valor médio de produtividade das estações é de 656 mil veic-km por km de rede.
Os melhores desempenhos neste indicador, há semelhança do que se verificou no indicador anterior,
dizem respeito aos metros de Moscovo (a verde), São Petersburgo e Londres, todos com valores de
produtividade superiores a 1,7 milhões km por km de rede.
O pior desempenho diz novamente respeito ao metro de Valência, em Espanha, para o qual este
valor não chega aos 50 mil veic-km por estação.
Os metros portugueses, Metropolitano de Lisboa e Metro do Porto apresentam ambos desempenhos
fracos com 520 mil e 95 mil veic-km/estação, respectivamente.
Indicador 9: Veic-km por estação (‘000)
Nome: Veículos-quilómetros por estação efectiva.
Definição: Distância percorrida pelos veículos da frota (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de 2006),
por cada estação existente na rede.
Unidade: 1000 veic-km/estação.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador tem como função avaliar a produtividade do capital, neste caso concreto, avaliar a
produtividade das estações em serviço.
Valor de referência: 746 mil veic-km/estação.
Análise comparada dos operadores:
94
Numa apreciação global, a média ponderada do n.º de pass-km transportados por efectivo afecto à
entidade gestora do serviço de transporte é de 510 mil pass-km por efectivo.
Neste indicador, os melhores desempenhos correspondem aos operadores de metro de Helsínquia (a
verde), Milão e Moscovo, ambos com valores superiores a 1 milhão de pass-km por efectivo
(Helsínquia chega mesmo perto dos 2 milhões pass-km/efectivo).
Os piores desempenhos correspondem aos operadores dos metros de Dnepropetrevsk, Samara e
Yekatarinburgue.
O Metropolitano de Lisboa e o Metro do Porto estão muito próximos da banda eficiente com cerca de
500 mil pass-km por efectivo.
Indicador 10: Pass-km por efectivo (‘000)
Nome: Passageiros-quilómetros por efectivo.
Definição: Distância percorrida pelos passageiros na rede (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de
2006), por cada trabalhador da organização.
Unidade: 1.000 pass-km/efectivo.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador destina-se a avaliar a eficácia do trabalho, ou seja, avaliar a eficácia do corpo efectivo do
operador no transporte de passageiros.
Valor de referência: 510 mil pass-km/efectivo.
Análise comparada dos operadores:
Am
este
rdão
95
O valor de referência, dado pela média ponderada do n.º de pass-km transportados por efectivo
afecto à entidade gestora do serviço de transporte é de 510 mil pass-km por efectivo.
Neste indicador, os melhores desempenhos correspondem aos operadores de metro de Helsínquia (a
verde), Milão e Moscovo, ambos com valores superiores a 1 milhão de pass-km por efectivo
(Helsínquia chega mesmo perto dos 2 milhões pass-km/efectivo).
Os piores desempenhos correspondem aos operadores dos metros de Dnepropetrevsk, Samara e
Yekatarinburgue.
O Metropolitano de Lisboa e o Metro do Porto estão muito próximos da banda eficiente com cerca de
500 mil pass-km por efectivo.
Indicador 11: Pass-km por veículo (‘000.000)
Nome: Passageiros-quilómetros por veículo.
Definição: Distância percorrida pelos passageiros na rede (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de
2006), por cada veículo da frota.
Unidade: 1.000.0000 pass-km/veículo.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador destina-a a avaliar a eficácia do capital, neste caso, avaliar a eficácia do material circulante ao
serviço do transporte de passageiros.
Valor de referência: 2,65 milhões pass-km/veículo.
Am
este
rdão
96
Neste caso, o valor médio do n.º de pass-km transportados por km de rede é de 21,16 milhões de
pass-km por km de rede.
Os melhores desempenhos correspondem aos operadores de metro de Moscovo (a verde), São
Petersburgo e Paris que registam valores superiores a 50 milhões de pass-km por km de rede
(Moscovo chega mesmo perto dos 125 milhões pass-km/km de rede).
Os piores desempenhos correspondem aos operadores dos metros de Valência, Samara e Porto.
Pelo contrário, o Metropolitano de Lisboa está na gama eficiente com mais de 24 milhões pass-km
por km de rede.
Indicador 12: Pass-km por km de rede (‘000.000)
Nome: Passageiros-quilómetros por km de rede.
Definição: Distância percorrida pelos passageiros na rede (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de
2006), por cada km de extensão da rede.
Unidade: 1.000.000 pass-km/km de rede.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador destina-a a avaliar a eficácia do capital, neste caso, avaliar o bom dimensionamento da rede
instalada.
Valor de referência: 21,16 milhões pass-km/km de rede.
Am
este
rdão
97
Neste indicador, o valor médio do n.º de pass-km transportados por estação é de 27,2 milhões de
pass-km por estação.
Os melhores desempenhos correspondem aos operadores de metro de Moscovo (a verde), São
Petersburgo e Paris com valores de 39,9, 191,0 e 200,6 milhões de pass-km por estação.
Os piores desempenhos correspondem aos operadores dos metros de Valência, Glasgow e Porto. O
Metropolitano de Lisboa também não é eficiente embora apresente um valor 9 vezes superior ao do
Porto (19,4 milhões pass-km por estação).
Indicador 13: Pass-km por estação (‘000.000)
Nome: Passageiros-quilómetros por estação.
Definição: Distância percorrida pelos passageiros na rede (em milhares de km) durante o período em estudo (ano de
2006), por cada estação.
Unidade: 1000 pass-km/estação.
Importância: Elevada.
Significado: Este indicador destina-a a avaliar a eficácia do capital, neste caso, avaliar o dimensionamento das estações.
Valor de referência: 27,2 milhões pass-km por estação.
Am
este
rdão
98
Anexo 5: Quadros resumos dos vários modelos utilizados no DEA
Modelo 1:
Quadro 23: Valores da ET para 1º modelo, considerando minimização de inputs
N.º DMU Nome da DMU ET para RCE ETP para RVE Ganhos de EE
1 Moscovo 1,00000 1,00000 0,00000
2 Paris 0,88854 1,00000 0,11146
3 Londres 1,00000 1,00000 0,00000
4 São Petersburgo 0,88996 0,89175 0,00179
5 Madrid - MM 0,75244 0,91948 0,16704
6 Praga 0,86542 0,91853 0,05311
7 Budapeste 1,00000 1,00000 0,00000
8 Viena 0,82660 0,82688 0,00028
9 Berlim 1,00000 1,00000 0,00000
10 Estocolmo 0,77698 0,80525 0,02827
11 Milão 1,00000 1,00000 0,00000
12 Barcelona - FMB 0,85343 0,90064 0,04721
13 Roma 0,83546 0,85020 0,01474
14 Munique 0,90557 1,00000 0,09443
15 Minsk 1,00000 1,00000 0,00000
16 Lisboa 0,69292 0,70684 0,01392
17 Lyon 0,87062 0,94182 0,07120
18 Atenas - ISAP 0,89718 0,93245 0,03527
19 Bruxelas 0,48268 0,53849 0,05581
20 Varsóvia 0,78631 0,90783 0,12152
21 Frankfurt 1,00000 1,00000 0,00000
22 Roterdão 0,55136 0,60829 0,05693
23 Bilbao 0,87348 0,87493 0,00145
24 Novosibirsk 0,77232 0,93318 0,16086
25 Oslo 0,53067 0,53074 0,00007
26 Valência 0,55537 0,72076 0,16539
27 Helsínquia 1,00000 1,00000 0,00000
28 Yekaterinburgue 0,70423 1,00000 0,29577
29 Nápoles 0,54490 0,72489 0,17999
30 Barcelona - FGC 1,00000 1,00000 0,00000
31 Porto 0,73608 0,96155 0,22547
32 Nizhny Novgorod 0,57179 0,80120 0,22941
33 Glasgow 0,30502 0,76488 0,45986
34 Samara 0,45121 1,00000 0,54879
35 Génova 0,17218 1,00000 0,82782
36 Madrid - TFM 0,73855 1,00000 0,26145
37 Turim 0,61496 1,00000 0,38504
Inputs Outputs
Extensão da rede Veículos-quilómetros
Veículos Passageiros
Efectivos
99
Modelo 2:
Quadro 24: Valores da ET para o 2º modelo, considerando minimização de inputs
N.º DMU Nome da DMU ET para RCE ETP para RVE Ganhos de EE
1 Moscovo 1,00000 1,00000 0,00000
2 Paris 0,92822 1,00000 0,07178
3 Londres 1,00000 1,00000 0,00000
4 Madrid - MM 0,92456 0,99142 0,06686
5 Praga 1,00000 1,00000 0,00000
6 Viena 0,94182 0,94686 0,00504
7 Estocolmo 1,00000 1,00000 0,00000
8 Milão 1,00000 1,00000 0,00000
9 Barcelona - FMB 1,00000 1,00000 0,00000
10 Roma 0,95056 0,99071 0,04015
11 Lisboa 0,83284 0,89335 0,06051
12 Lyon 1,00000 1,00000 0,00000
13 Varsóvia 0,94318 1,00000 0,05682
14 Roterdão 0,71679 0,78768 0,07089
15 Oslo 1,00000 1,00000 0,00000
16 Valência 0,65901 0,77578 0,11677
17 Nápoles 0,70582 0,97915 0,27333
18 Porto 0,84614 1,00000 0,15386
19 Glasgow 0,34276 0,79713 0,45437
20 Génova 0,21181 1,00000 0,78819
21 Madrid - TFM 0,75818 1,00000 0,24182
22 Turim 0,92486 1,00000 0,07514
Inputs Outputs
Extensão da rede Veículos-quilómetros
Veículos Passageiros
Efectivos
OOPEX
100
Modelo 3:
Quadro 25: Valores da ET para o 3º modelo, considerando minimização de inputs
N.º DMU Nome da DMU ET para RCE ETP para RVE Ganhos de EE
1 Moscovo 1,00000 1,00000 0,00000
2 Paris 0,87008 0,92009 0,05001
3 Londres 1,00000 1,00000 0,00000
4 São Petersburgo 1,00000 1,00000 0,00000
5 Madrid - MM 0,70098 0,78321 0,08223
6 Berlim 1,00000 1,00000 0,00000
7 Estocolmo 0,49541 0,49583 0,00042
8 Milão 0,93669 1,00000 0,06331
9 Barcelona - FMB 0,73298 0,73635 0,00337
10 Minsk 0,75870 0,83148 0,07278
11 Lisboa 0,49101 0,59839 0,10738
12 Bruxelas 0,34500 0,40890 0,06390
13 Frankfurt 1,00000 1,00000 0,00000
14 Roterdão 0,45336 0,50908 0,05572
15 Bilbao 0,79816 0,82762 0,02946
16 Novosibirsk 0,62055 0,88282 0,26227
17 Oslo 0,51028 0,51600 0,00572
18 Valência 0,43373 0,61172 0,17799
19 Helsínquia 1,00000 1,00000 0,00000
20 Yekaterinburgue 0,52192 1,00000 0,47808
21 Nápoles 0,47238 0,81768 0,34530
22 Porto 0,61736 0,77123 0,15387
23 Nizhny Novgorod 0,52926 0,80120 0,27194
24 Glasgow 0,27412 1,00000 0,72588
25 Samara 0,44677 1,00000 0,55323
26 Madrid - TFM 0,74847 1,00000 0,25153
Inputs Outputs
Extensão da rede Veículos-quilómetros
Veículos Passageiros-quilómetros
Efectivos