ANÁLISE DO PROCESSO PERSUASIVO NO GÊNERO...

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ANÁLISE DO PROCESSO PERSUASIVO NO GÊNERO EDITORIAL Por NEIVA MARIA SOARES REBELO Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Letras, Estudos da Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria(RS), como requisito parcial para obtenção do grau de MESTRE EM LETRAS. Santa Maria, RS, BRASIL 1999

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ANÁLISE DO PROCESSO PERSUASIVO NO GÊNERO EDITORIAL

Por

NEIVA MARIA SOARES REBELO

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Letras, Estudos da

Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria(RS), como requisito parcial

para obtenção do grau de MESTRE EM LETRAS.

Santa Maria, RS, BRASIL

1999

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE ARTES E LETRAS

MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

A COMISSÃO EXAMINADORA,ABAIXO ASSINADA,APROVA A DISSERTAÇÃO

ANÁLISE DO PROCESSO PERSUASIVO NO GÊNERO EDITORIAL

ELABORADA POR

NEIVA MARIA SOARES REBELO

COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM

LETRAS

COMISSÃO EXAMINADORA

Désirée Motta-Roth – Orientadora

Prof. Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira – PUC, SP

Prof. Dr. Paulo Coimbra Guedes – UFRGS

Santa Maria, 19 de março de 1999.

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AGRADECIMENTOS

À Profª. Drª.Désirée Motta-Roth, pela orientação segura e eficiente que me fez ver

que era possível superar limites.

Às colegas Maria da Glória, Lucy, Lisane e Cleide, pelo companheirismo, amizade

e críticas na hora certa.

À professora mestre Najara Ferrari Pinheiro, pela olhar crítico, pela competência e

pela amizade.

À professora doutoranda Débora C. Figueiredo pela leitura atenta, ao participar da

banca de pré-defesa.

À amiga Maria Cristina Rivé, pela paciência, incentivo e amizade.

À professora Ruth Larré, pela leitura atenta e segura.

Aos meus familiares, meus irmãos, em especial, a minha mãe Teresinha Soares,

por ter sempre me orientado e me apoiado nas minhas escolhas.

Ao meu esposo Júlio Rebelo, pela vitória nesta caminhada.

À Capes, pela bolsa, sem a qual este trabalho não poderia ser realizado.

À Coordenação do Mestrado em Letras, pela competência que faz deste curso um

ponto de referência para professores de todo o estado.

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RESUMO

ANÁLISE DO PROCESSO PERSUASIVO NO GÊNERO EDITORIAL

Autora: Neiva Maria Soares Rebelo Orientadora: Désirée Motta-Roth

Estudos em lingüística, nos últimos anos, têm procurado explicitar os usos

que são feitos da linguagem para veicular ‘discursos’ , ou seja, formas de ver e expressar o mundo, bem como as experiências a partir de uma perspectiva específica (FAIRCLOUGH,1995a, p.135). Dessa forma, a análise de gêneros textuais, associados a diferentes contextos de produção e consumo de textos, tem contribuído para explicitação do modo em que o uso da linguagem é socialmente construído em conexão com um tipo particular de atividade social (idem). Dentre os diversos contextos particulares que oportunizam essa análise, tomou-se a mídia, em virtude de sua linguagem ser usada em uma situação social de comunicação, tendo um papel vital na difusão das mudanças sociais. Definiu-se o gênero editorial para análise devido ao seu caráter opinativo (MELO 1994, p.59), que tem por objetivo atuar sobre o devir dos leitores, levando-os a agir numa dada direção, apresentando, portanto, características do discurso exortativo (LONGACRE,1992, p.100-1). Assim, os editoriais oferecem material de análise sobre a produção da mídia, com suas visões particulares de mundo e seu poder de persuasão. Este trabalho pretende contribuir para estudos na área da linguagem, pois investiga a organização do gênero editorial, suas estratégias retóricas, através do uso de marcadores metadiscursivos adotados pelos editorialistas de três instituições: A Razão, Zero Hora e Folha de São Paulo. A análise revela que certos artifícios lingüísticos contribuem para o processo de persuasão. Dentre eles, os comandos que caracterizam um discurso exortativo, as marcas de validade e de atitude que dão expressão à força persuasiva do gênero. O diferencial, entre os contextos analisados, está na utilização enfática da modalidade deôntica e marcas de atitude por Zero Hora; maior incidência da modalidade epistêmica pela Folha de São Paulo; uso significativo da personalização sintética nA Razão. Cada um desses fatores releva a posição discursiva de cada instituição e o uso da linguagem na persuasão. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS Dissertação de Mestrado em Letras- Estudos da Linguagem

Santa Maria, 19 de março de 1999.

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ABSTRACT

THE EDITORIAL GENRE PERSUASIVE PROCESS ANALYSIS Author: Neiva Maria Soares Rebelo

Adviser: Profª Drª Désirée Motta-Roth

Over the last few years linguistic studies have look forward explaining the ways language is used in order to present ‘discourses’, that is to say, manners of seeing and expressing the world as well as the experiences from a specific perspective (FAIRCLOUGH, 1995a, p. 135). In this sense, textual genre analysis, associated to different context of text production and consumption, have contributed to the explication of the way in which the language use is socially constructed in connection to a particular type of social activity (idem). Among the several particular context proper to such a analysis, this study chose the media due to it vital role to the diffusion of social values and changes. Because of its opinion based character which leads the readers to act in given direction, presenting, thus, features of the exhortative discourse (LONGACRE, 1992, p. 100-1), the genre editorial was defined as the study’s object (MELO, 1994, p. 59). Therefore, editorials offer material the analysis of the media’s production, considering its particular points of the view of world and persuasion power. The objective of this work is to contribute to the linguistic studies, since investigates the organization of the genre editorial, its rhetorical strategies, through the use on metadiscoursive markers adopted by the editorialists of the three institutions: A Razão, Zero Hora and Folha de São Paulo. The analysis showed the certain linguistics devices contribute to the persuasion process, such as the commands which characterize the exhortative discourse, and the validity and attitude marks which give expression to the genre’s persuasive force. The variation, in the corpus, was found in relation to the emphatic use the deontic modality and the validity markers in Zero Hora; greater incidence of the epistemic modality in Folha de São Paulo; and significant use of the synthetic personalization in A Razão, revealing the discourse position of the each institution and the language use to persuasion.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Dissertação de Mestrado em Letras – Estudos da Linguagem

Santa Maria, 19 de março de 1999.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os estudos em Análise Crítica do Discurso têm

focalizado a relação que se estabelece entre a linguagem e o meio no qual

ela é produzida. Levando em conta essa perspectiva, pesquisadores têm

buscado explicitar os diferentes usos da linguagem para veicular “discursos”,

ou seja, formas de ver e expressar o mundo, bem como as experiências a

partir de uma perspectiva específica (FAIRCLOUGH, 1995a, p.135).

Nesse sentido, percebe-se a dualidade entre linguagem e sociedade,

na medida em que uma tem influência sobre a outra, pois recorre-se ao

sistema da língua para expressarem-se relações sociais entre as pessoas,

ao mesmo tempo que se constituem essas relações sociais através das

variadas formas em que a linguagem pode se manifestar. Partindo dessa

constatação, procurou-se um contexto que oportunizasse analisar como a

linguagem é utilizada para estabelecer relações bidirecionais entre as

pessoas. Com esse intuito chegou-se à mídia, uma vez que a linguagem da

mídia é utilizada numa situação social de comunicação, com papel relevante

na difusão das relações e mudanças sociais e culturais. Por outro lado,

atualmente o domínio da mídia é muito amplo, pois inclui televisão, jornal,

revistas, rádio, etc. Dentre esses, tomou-se o jornal como objeto de estudo

por este englobar um variado conjunto de textos associados a tipos

específicos de informação, conteúdo, forma e objetivos comunicativos:

publicidade, notícias policiais, notas sociais, editoriais. Os objetivos de cada

um desses gêneros estabelece que cada um tenha uma forma específica de

estabelecer a comunicação com o leitor. Percebendo que cada um dos

gêneros poderia ser um rico material de análise, optou-se por analisar

aquele que demonstrasse, de forma mais explícita, marcas de persuasão, o

editorial. Esse gênero congrega elementos que são importantes, quando se

deseja conhecer um pouco mais sobre linguagem e como argumentos são

construídos com o intuito de persuadir o leitor.

Esse gênero tem por função apresentar a posição de cada jornal

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sobre assuntos que estão em voga no noticiário do momento, tendo por

objetivo cooptar leitores para que creiam naquelas posições adotadas. O

estudo do gênero editorial pode ser relevante, na medida em que a análise

dos recursos empregados por editorialistas para persuadir o leitor, pode

trazer para a sala de aula uma discussão mais crítica sobre os discursos

veiculados pela mídia, servindo de ponto de referência para a produção e

leitura mais eficientes de textos pelos alunos.

O estudo de gêneros da mídia, tanto escrita como televisionada, vem

recebendo atenção de pesquisadores, conforme se pode verificar no último

encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Lingüística

ANPOLL (1998)1. Vêm ganhando importância, portanto, as pesquisas que se

dedicam a estudar e divulgar as formas pelas quais os meios de

comunicação produzem suas informações e com que finalidade tais

informações são veiculadas.

Especificamente no caso de editoriais jornalísticos, podem-se

destacar os seguintes estudos: na USP, a tese que toma o editorial como um

texto dissertativo, buscando reconhecer nesse texto os seus procedimentos

de persuasão (KRIEGER,1990); na UFSC, a pesquisa que se destina a

abordar as semelhanças entre os editoriais de diferentes instituições

(SILVA,1992); na UFSM, a pesquisa que objetiva apontar algumas

regularidades, em termos de formação ideológica, formação discursiva e

condições de produção que constituem o discurso de editorialistas

(AYRES,1996); e, na UFSC, a tese de HEBERLE (1997), que investiga

aspectos textuais e contextuais nos editoriais de revistas femininas inglesas

e algumas brasileiras.

1 Dentre alguns trabalhos apresentados, tendo como foco de estudo os textos da mídia destacam-se: A referenciação textual como estratégia cognitivo-interacional de Ingedore G. Villaça Koch, em cuja exposição apresenta exemplos colhidos dos textos opinativos da mídia impressa; A metadiscursividade como recurso textual-interativo em entrevista televisiva de Clélia Cândida Abreu Jubran, que trata das relações textuais-interativas numa entrevista televisiva como o líder do MST; A comparação a serviço das estratégias argumentativas na mídia impressa de Maria A. Pauliukonis, que faz análise semiolingüística de textos publicitários. Esses são alguns dos trabalhos que tomam a mídia para estudo, dentre outros que também constam do Boletim Informativo 27 do XIII Encontro Nacional da Anpoll.

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Os três trabalhos sobre editoriais de jornais, citados acima, abordam

algumas questões que serão retomadas neste estudo, entre elas, a

construção do argumento no discurso editorialista, com a intenção de

persuadir o leitor. Deve-se destacar, entretanto, que os pressupostos

teóricos aqui tomados são diferentes daqueles adotados nos mencionados

trabalhos, motivo por que se acredita que este estudo contribui para a

pesquisa existente sobre o tema.

O interesse que o tema ‘mídia impressa’ desperta é tratado por

FAIRCLOUGH em seu livro Media discourse (1995b, p.2). O autor destaca a

importância do desenvolvimento de estudos que focalizem os textos da

mídia enquanto materialidade dos discursos que são produzidos para

retratar o modo como a sociedade se organiza. Nesse sentido, a mídia e,

mais especificamente, os editoriais são instrumentos que merecem ser

estudados por pesquisadores devido a sua importância como meio de

manifestação de posições e opiniões formuladas na sociedade.

Este estudo verificará dois aspectos nos textos dos editoriais: a

organização retórica do gênero, o que permitirá situar os textos analisados

numa escala de sistematicidade e variabilidade; e, por outro lado, o caráter

de textos mais ou menos persuasivos em relação aos elementos

metadiscursivos utilizados pelos editorialistas.

A análise estará fundamentada nos pressupostos de FAIRCLOUGH

(1989,1992a,1992b,1995a,1995b), nas considerações sobre gênero de

BAKHTIN (1992), HASAN (1985) e LONGACRE (1992) e no conceito de

metadiscurso elaborado por VANDE KOPPLE (1985) e CRISMORE (1989).

Essa análise focaliza aspectos tanto do nível micro quanto do nível

macroestrutural. No nível microestrutural, levantar-se-ão os elementos

metadiscursivos que compõem o gênero editorial; esses elementos

apresentam-se no texto para conduzir a persuasão do escritor e para

contribuir para a interpretação do texto pelo leitor. No nível macroestrutural,

analisam-se as questões sobre gênero e discurso, as formas como o gênero

editorial está estruturado e de que maneira o discurso veiculado repassa

opiniões com intenção de persuadir os leitores. Esses dois níveis são

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analisados conjuntamente, pois ambos se complementam e contribuem para

a relação entre as partes e o todo do gênero editorial.

Para análise macroestrutural, parte-se da visão de que um gênero

possui uma estrutura esquemática, organizada em estágios ou blocos de

textos que exercem funções que podem ser obrigatórias ou opcionais

(FAIRCLOUGH,1995b, p.85). Sob essa perspectiva, pode-se sugerir que os

textos dos editoriais apresentam uma configuração genérica porque estão

organizados em blocos que se completam.

Pressupõe-se que os textos que pertencem ao gênero editorial

possuem características específicas, ou seja, são construídos com o intuito

de influenciar alguém e, por isso, podem ser apontados como exemplares

característicos do discurso exortativo (LONGACRE,1992; MARTIN,1989).

Dessa forma, objetiva-se verificar, na análise, se os textos dos editoriais

efetivamente apresentam características que os identificam como

exemplares do discurso exortativo/persuasivo, que tem por objetivo

determinar o modo como as pessoas devem proceder (idem).

Para CARNEIRO (1996, p. 69), no discurso exortativo, os

participantes interagem fazendo uso da persuasão, já que um participante

busca convencer do outro e levá-lo a aderir a sua tese. Nos editoriais, a

interação pode ocorrer entre o editorialista, que representa a voz institucional

do jornal, e o leitor em potencial, a quem cabe aderir ou não às teses

propostas pelo editorialista. Através dessa interação, projeta-se um diálogo

entre aquele que tem o poder de opinar em nome do órgão que representa e

aquele que será o seu possível leitor.

Assim, o editorial apresenta, através do discurso do editorialista, a voz

institucional do jornal que define lugares discursivos em um espaço sócio-

político-cultural (SANTOS,1996, p.143). Esses lugares discursivos dizem

respeito ao espaço ocupado pela instituição, ou seja, a voz que se pretende

formadora de opinião e ao espaço ocupado pelo leitor em potencial que

‘precisa’ ser informado.

No espaço do jornal, a característica de ‘opinião’ é mais explícita nos

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editoriais, cuja intencionalidade está voltada para influenciar o pensar e

interferir no devir dos leitores. Em vista disso, pode-se considerar que o

discurso dos editoriais é persuasivo/exortativo porque tenta conduzir a

opinião a um destino de unanimidade, como se assuntos e opiniões

bordados pudessem ser considerados irrefutáveis.

Para se entender como se constitui esse ‘lugar’ de opinião, é

importante, para a análise da organização genérica dos discursos

exortativos, o levantamento dos marcadores metadiscursivos (CRISMORE,

1989; VANDE KOPPLE, 1985). A presença desses elementos auxilia o

querer-dizer do produtor do texto, na explicitação de seu intento de formar e

repassar opiniões, e, em última instância, facilita a compreensão do texto

pelo leitor.

Dentre tantos elementos passíveis de análise, tomaram-se os

conectores textuais, marcadores de modalidade e de atitude. A hipótese

deste trabalho é que a presença ou ausência desses marcadores

metadiscursivos no texto poderá auxiliar o estabelecimento de uma escala

de textos mais ou menos persuasivos. Vale ressalvar que obviamente não

são apenas esses elementos que podem ser responsáveis pela força

argumentativa de um dado texto, mas sim auxiliam nesse sentido. Neste

trabalho, optou-se por definir apenas tais categorias.2

Assim, nesse nível de análise microestrutural, acredita-se poder

perceber os recursos argumentativos e os procedimentos adotados pelo

editorialista para estabelecer a interação com seu leitor, levando-o a

compreender o texto e, também, realizando a persuasão. No nível

microestrutural, duas metafunções da linguagem, propostas por HALLIDAY

(1985), serão abordadas: a função textual, através dos elementos que

‘tecem’ o texto; e a função interpessoal que representa as intenções e

atitudes do escritor, manifestadas no texto, e que contribuem para

estabelecer contato com o seu leitor. Ressalta-se, porém, que está análise

não terá uma abordagem sobre a receptividade dos textos dos editoriais

2 Agradecimento ao Prof. Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira pelas observações sobre esse ponto.

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pelos leitores.

Pretende-se com os dois níveis de análise – micro e macroestrutural–

investigar a forma como o editorialista constrói seu texto para mediar

relações entre o jornal e o leitor, bem como os tipos de recursos que são

usados para esse fim.

Portanto, para nortear este estudo, indaga-se:

1- Quais características estruturais compõem os editoriais e

permitem situá-los como pertencentes a tal gênero?

2- Quais características constituem os editoriais e permitem

considerá-los como exemplares do discurso exortativo?

3- Qual é o grau de sistematicidade e de variabilidade dessas

características nos editoriais?

4- A utilização dos elementos metadiscursivos contribui para situar os

textos analisados como mais ou menos persuasivos?

Para responder a essas questões, este estudo apresenta-se dividido

em quatro capítulos, organizados a partir desta introdução, onde estão

expostos os propósitos do trabalho. O Capítulo 1 apresenta a

Fundamentação Teórica para o estudo. O Capítulo 2 descreve a

Metodologia utilizada, destacando os critérios e procedimentos da seleção,

coleta e análise dos dados do corpus. O Capítulo 3 apresenta a Discussão

dos Dados obtidos na análise. Por fim, o Capítulo 4 da Conclusão,

Limitações do Trabalho e Sugestões para Futuras Pesquisas.

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1 REVISÃO DA LITERATURA

Introdução

O estudo do gênero jornalístico editoriais requer um aparato teórico

que forneça elementos que fundamentem a análise dos textos. Dessa forma,

este capítulo busca destacar conceitos básicos que auxiliem na presente

pesquisa.

1.1 Análise Crítica do Discurso

Para investigação dos textos dos editoriais que são objeto de análise,

adota-se aqui a perspectiva de Análise Crítica do Discurso, tendo em vista

que, a partir desse modelo de análise, podem-se levantar os elementos

lingüísticos que compõem o texto, como também as influências da

sociedade sobre os discursos e dos discursos sobre a sociedade.

Nessa perspectiva, ‘discurso’ é visto como o uso da linguagem como

uma forma de prática sociocultural, e a análise do discurso como a análise

do modo como os textos trabalham dentro de uma prática sociocultural

(FAIRCLOUGH, 1995a, p.7)1.

Na análise do discurso, consideram-se as três dimensões que

compõem a visão multidimensional de FAIRCLOUGH: a análise textual que

focaliza a linguagem, através do vocabulário, da semântica e dos elementos

lingüísticos que auxiliam na textualidade; a análise da prática discursiva

que investiga produção e interpretação dos discursos; e a análise da

prática sociocultural que remete aos fatores contextuais que determinam o

discurso (1995b, p.16-7). Entenda-se, nesta análise, prática discursiva como

o processo de produção, consumo e distribuição dos textos e, prática

sociocultural, os diferentes níveis de organização social nos quais o discurso

1 As referências a obras estrangeiras, aqui citadas, que ainda não foram traduzidas para o português, quando não mencionado o tradutor, são de responsabilidade da autora.

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pode se realizar: contexto situacional, contexto institucional e o mais amplo

contexto social e cultural (idem, p.50). Observa-se, porém, que tendo em

vista a delimitação da análise a ser realizada neste trabalho, não se

abordará o aspecto do consumo e distribuição dos texto, ou seja, não será

considerada a recepção dos mesmos pelos leitores.

Assim, a análise do discurso congrega três aspectos: a capacidade da

linguagem para representar situações no mundo (discurso), a interação

entre os participantes em situações específicas (contexto) e o

estabelecimento da comunicação através dos textos utilizados (texto).

1.2 Discurso

Há algumas variações de sentido no uso dessa palavra. Isso decorre,

principalmente, da diversidade na linha teórica seguida pelos diferentes

autores que tratam do assunto. A imprecisão quanto ao significado do termo

surge em função da multiplicidade de seu uso nas mais variadas disciplinas.

Por isso, há necessidade de distinguir os sentidos de acordo com a área de

atuação, conforme sugere FAIRCLOUGH (1995b, p.18). Para ele, o discurso

é visto como uma interação entre os participantes de um evento

comunicativo em situações reais de comunicação.

A palavra discurso usada por FAIRCLOUGH (1992a, p.62-4)

corresponde imprecisamente às expressões ‘performance’ e ‘parole’,

adotadas por Chomsky e Saussure, respectivamente, que consideravam

ambas como não indicadas para um estudo sistemático da linguagem, por

designarem uma atividade puramente individual. Na visão de FAIRCLOUGH

(idem), o termo discurso compreende a linguagem, não como algo estático e

de manifestação individual, mas sim como uma forma de prática social e de

ação das pessoas sobre o mundo e especialmente sobre as outras pessoas.

O discurso é visto como uma forma de prática social, determinada por

estruturas sociais, que, ao mesmo tempo em que tem efeito sobre tais

estruturas, é influenciado por elas. Portanto, pode contribuir tanto para

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promover mudanças sociais, como a continuidade de certas situações

sociais. Ressalta-se, abaixo, a visão sobre o discurso proposta por GEE

(1990, p.xv):

Discurso compreende não somente a linguagem, mas também a combinação do que dizer, de modo adequado, através de ações e interações adequadas [...]. Discursos são vistos como papéis sociais que as pessoas desempenham na sociedade abrangendo uma teoria sobre como o mundo deveria funcionar, que varia de acordo com as experiências de cada grupo de pessoas2.

Por essa citação, observa-se que o discurso compreende várias

ações que se realizam por meio da linguagem, compreende também as

interações que se efetuam, através do discurso, entre as pessoas. Isso

ocorre porque o discurso é produto de uma situação social. Por meio do

discurso, podem ser expressos sentimentos, atitudes e reações relacionadas

com situações de comunicação particulares.

Situações diferenciadas determinam a ocorrência de um variado

número de discursos, já que as pessoas interagem em vários contextos

(escola, igreja, consulta médica, festa, etc.). Em cada uma dessas situações,

as pessoas recorrem a um tipo de prática discursiva, ou seja, o médico irá

utilizar um discurso no consultório e outro em uma festa, por exemplo.

Assim, o discurso identifica as pessoas como indivíduos dessa sociedade,

pois são parte de sua identidade.

Para KRESS (1989, p.7), os grupos sociais e institucionais têm

sentidos e valores que são articulados na linguagem de maneira sistemática

através dos seus discursos. Na sua visão, discursos representam

[...] um conjunto sistematicamente organizado de declarações que expressam sentidos e valores de uma instituição. Eles descrevem, delimitam, definem o que é

2 Tradução MOTTA-ROTH,D. Seminário “Discurso e Ideologia”, Programa de Pós-Graduação em Inglês, Florianópolis, UFSC, mar. 1993.

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possível dizer (ou fazer) ou não em relação a uma área de interesse de uma instituição.

De acordo com essa abordagem, percebe-se que os discursos estão

associados a instituições, ou seja, eles manifestam os pontos de vista

socialmente determinados pelas instituições (igreja, família, escola) que os

originam, bem como conduzem sentidos sobre a natureza de tais

instituições.

FAIRCLOUGH (1995a, p.2) propõe a Análise Crítica do Discurso

(ACD) a partir de uma estrutura tridimensional, que permite mapear,

separadamente, três formas de análise: a análise da linguagem enquanto

texto, a análise das práticas discursivas e a análise dos eventos discursivos

(momento de uso da linguagem) como instâncias das práticas socioculturais.

A Figura 1.1 demonstra como essa estrutura tridimensional relaciona

esses três elementos (texto, prática discursiva e prática sociocultural).

Figura 1.1 Estrutura tridimensional da ACD (FAIRCLOUGH,1995b,

p.59)

O processo de produção dos textos, representados pela prática

discursiva, ajuda a formar a natureza da prática sociocultural, ao mesmo

tempo em que pode deixar vestígios na materialidade do texto

(FAIRCLOUGH,1995a, p.133).

As três dimensões – texto, prática discursiva e prática sociocultural –

que aparecem delimitadas por linhas cheias, não se apresentam

encapsuladas nem delimitadas por marcas estanques: elas coexistem em

configurações permeáveis para constituir diferentes discursos Nessa

PRÁTICA SOCIOCULTURAL

PRÁTICA DISCURSIVA

TEXTO

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sentido, PINHEIRO (1998, p.12-3) sugere uma adaptação ao modelo

tridimensional do discurso, pois considera que tais dimensões estão inter-

relacionadas, tendo em vista que “a análise do texto não pode ser isolada

das práticas discursivas que envolvem os participantes de um evento

discursivo e também das práticas socioculturais de um determinado grupo”.

Figura 1.2 Adaptação de PINHEIRO (1998, p.12) do modelo

tridimensional do discurso de FAIRCLOUGH (1992a).

PINHEIRO (1998, p.13) usa linhas pontilhadas, em sua adaptação do

modelo de FAIRCLOUGH, para representar os limites difusos e a inter-

relação entre os três níveis que compõem o discurso. As linhas cheias, que

perpassam as três dimensões do discurso, representam a inter-relação entre

os vários discursos que coexistem numa dada sociedade.

Um princípio na ACD é que a análise encapsula texto e prática

discursiva, pois a análise do primeiro não pode ser artificialmente isolada da

análise do contexto sociocultural que influencia essa prática discursiva e

também sofre influência dela (FAIRCLOUGH 1995a, p.9).

As análises fundamentadas na teoria da ACD ultrapassam a

descrição lingüística, destacando fatores sociais e culturais que influenciam

a produção e a reprodução dos discursos (por exemplo, discurso sexista,

discurso racista). Tais fatores, que deixam seus vestígios nos textos em uma

relação recíproca, moldam e são moldados pela sociedade. Para ilustrar a

PRÁTICA SOCIOCULTURAL

PRÁTICA DISCURSIVA (produção e consumo)

TEXTO

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relação bidirecional entre discurso e práticas socioculturais, é possível dizer

que a mídia pode mudar o seu discurso em função de um dado

posicionamento da sociedade, assim como o discurso da sociedade pode

sofrer alterações em função do que é veiculado na mídia

(FAIRCLOUGH,1989,1992a, 1992b, 1995a,1995b).

Essa visão é reforçada por esse autor, em seus livros, quando aponta

que o discurso das pessoas é influenciado pelas relações de poder que

umas pessoas exercem sobre as outras (FAIRCLOUGH,1989, p.4). Para

exemplificar o exercício de poder, podem ser destacadas as relações

tradicionais estabelecidas entre médico–paciente, professor–aluno, patrão–

empregado, mídia–público. Todas essas relações são investidas de poder,

ou seja, há uma relação assimétrica entre as pessoas: cabe a um dos

participantes da relação o controle da situação porque, de alguma forma, o

meio ao qual pertence confere a ele esse controle (por exemplo: professor,

mídia), enquanto que a outro cabe um papel de assujeitamento (aluno, leitor

da mídia).

O papel da ACD é revelar essas marcas de poder que fazem parte do

discurso, já que a consciência crítica da dominação pelo poder é o caminho

para mudar situações que já se encontram naturalizadas na sociedade.

Tendo em vista que certas relações de poder, como aquelas citadas

anteriormente, fazem parte do senso comum, as pessoas podem não ter

consciência da dominação que elas reproduzem.

No caso específico da mídia, esta exerce controle sobre o seu público

diariamente, pois as notícias são veiculadas pouco a pouco, porém de forma

contínua (FAIRCLOUGH, 1989, p.36). Esse controle é estabelecido na forma

como as pessoas reproduzem os discursos veiculados, sem que percebam

que essa é uma forma de perpetuar práticas socioculturais da sociedade.

Nesse sentido, os produtos ‘vendidos’ (informações, opiniões) pela mídia

têm a função de reproduzir valores que a sociedade possui. A mídia ‘vende’

o status de uma sociedade capitalista em que um grupo exerce o poder

sobre o outro (por exemplo, rico/pobre; magro/gordo, bonito/feio,

branco/preto).

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13

FAIRCLOUGH destaca o que é fundamental na análise ‘crítica’ do

discurso:

explorar sistematicamente as relações opacas de casualidade e determinação entre (a) práticas discursivas, eventos e textos e (b) amplas estruturas sociais e culturais, relações e processos; investigar como as práticas, eventos e os textos surgem e são ideologicamente formados por relações de poder; explorar como a opacidade dessas relações entre o discurso e a sociedade é um fator de poder e hegemonia (1995a, p.132-3).

Quando o autor se refere às relações opacas, ele quer ressaltar as

situações onde se dá a perpetuação de certos valores, porém de forma

obscura, sem que as pessoas percebam que no seu discurso, de forma não

aparente, perpetuam-se relações de poder e de dominação.

Em seu livro Critical language awareness (1992b, p.1-9),

FAIRCLOUGH ressalta que muitas dessas relações de controle e dominação

estão mudando (por exemplo, na sala de aula, no consultório médico, na

relação profissional e cliente). Tal mudança está associada a um trabalho

que começa com a conscientização que os professores devem ter e devem

exercitar em seus alunos, para que estes possam tornar-se pessoas mais

críticas e cidadãos mais conscientes de seus papéis.

Um elemento essencial às relações de poder é a ideologia, entendida

como maneiras particulares de representar o mundo (por exemplo,

representação particular das mulheres); construções particulares de

identidades sociais (por exemplo, o estilo que caracteriza os experts

científicos que apresentam programas de TV e rádio); construções

particulares de relações sociais (políticos e o público) (FAIRCLOUGH,1995b,

p.12). Assim, as representações, as identidades e as relações que as

pessoas estabelecem podem contribuir para a produção, a reprodução e a

transformação das relações de dominação.

Baseado em fatores como poder, ideologia e dominação,

FAIRCLOUGH (1989, p.1) aponta duas principais metas da ACD: a primeira,

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14

ajudar a divulgação da importância da linguagem para a produção,

manutenção e mudança das relações de poder e, a segunda, ajudar na

conscientização de que a linguagem contribui para a dominação. Essa

conscientização é a primeira etapa no processo de emancipação. Assim, a

ACD busca desvendar relações de poder que subjazem à linguagem, com o

intuito de revelar o modo como a linguagem contribui para a dominação.

Para melhor entender essas relações de poder que estão investidas

na linguagem, através dos discursos, é importante conhecer o contexto, pois

é a partir dele que o texto passa a constituir sentido para o leitor. Diferentes

contextos sociais geram diferentes discursos onde as relações de poder

podem ser reveladas.

1.3 Contexto

Contexto vincula o texto à situação em que ocorre e em que pode ser

interpretado, pois, a partir de um dado texto, pode-se recuperar o contexto

que o originou (HALLIDAY, 1985, p.5-6).

O contexto de situação é um termo cunhado por Malinowsky–

antropólogo polonês trabalhando na Universidade de Londres na década de

20– que necessitava de uma palavra que expressasse o meio global,

incluindo o meio verbal e a situação em que ocorre a comunicação (idem).

Dessa forma, o que se percebe é que as noções de contexto e de texto

estão intrinsecamente associadas, e que a interpretação de um depende da

interpretação do outro. O contexto de situação está encapsulado no texto em

função de uma relação sistemática entre o meio social e a organização da

linguagem (HALLIDAY, 1985, p.11). Assim, a comunicação que é

estabelecida nessa relação não pode ser vista de modo isolado.

O contexto de situação pode ser interpretado através de uma

estrutura composta por três elementos: campo (field), teor (tenor) e modo

(mode) (idem, p.12). Podem-se utilizar esses elementos para caracterizar o

contexto situacional de um texto, ou seja, o meio no qual os sentidos são

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15

trocados em diferentes interações estabelecidas entre os participantes da

comunicação.

Assim, o campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, à

natureza da ação social que está ocorrendo, à atividade na qual os

participantes estão engajados. O teor do discurso diz respeito aos

participantes, seus papéis, às relações em que estão envolvidos, o controle

que um participante exerce sobre o outro e a maneira como verbalizam suas

intenções. O modo tem relação com a organização retórica do texto, o canal

(fônico, gráfico) que é utilizado para a comunicação e os elementos

responsáveis pela textualidade. Esses três elementos do contexto de

situação são importantes “para elucidar e expor exemplos particulares de

uso da linguagem” (idem, p.8).

Na visão de KRESS (1989, p.vii), contexto e texto apresentam uma

íntima relação, ou seja, um só pode ser interpretado em relação ao outro,

uma vez que o sentido se realiza, através do texto, que é formado e

padronizado como uma resposta ao contexto de situação. Essa visão e a de

HALLIDAY se assemelham, pois ambos consideram texto e contexto como

partes de um mesmo processo. Esses autores tratam a linguagem a partir de

uma concepção sociossemiótica associada à concepção de experiência e

realidade socialmente construída e sujeita a transformações.

Textos são produzidos em ocasiões (ou momentos) sociais, em meios

específicos (por exemplo, mídia), para reproduzir o que ocorre em certas

ocasiões, conforme o interesse da instituição produtora e o papel que ela

ocupa no mercado. A mídia produz seus textos num dado momento sócio-

histórico com a finalidade de informar ou opinar. A origem dos textos e sua

finalidade determinam a sua constituição, bem como a maneira como ele

pode ser interpretado.

PINHEIRO considera que o contexto vincula

as condições sociais e culturais de produção com o processo de interpretação. Ambas as condições apresentam-se inter-relacionadas no texto e são percebidas através dos conhecimentos de linguagem,

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das representações de mundo, das crenças, valores e pressuposições dos participantes envolvidos no processo sociocomunicativo (1998, p.40).

Percebe-se, portanto, que, para estabelecer-se sentido ao texto, uma

série de fatores congregam nesse intuito, indo além da materialização da

linguagem, recorrendo a fatores que a ela se associam e influenciam.

Os três elementos que compõem o contexto de situação campo, teor

e modo se associam aos usos que as pessoas fazem da linguagem, ou seja,

às funções ideacional, interpessoal e textual da linguagem respectivamente.

Para HALLIDAY (1985, p.23), essas funções estão interligadas na

construção do discurso, portanto toda sentença num texto é multifuncional.

Em vista disso, não se pode olhar para as diferentes partes do texto

separadamente, mas, sim, observar os vários ângulos que possibilitam

diferentes interpretações.

Neste estágio do trabalho, passa-se a tratar da relação entre as

funções da linguagem e os seus contextos de situação.

1.3.1 Contextos de situação e suas respectivas funções da linguagem

Cada um dos elementos do contexto de situação (campo, teor e

modo) propostos por HALLIDAY (1985) relaciona-se a uma das funções da

linguagem, as quais, por sua vez, cumprem funções específicas no texto e

no estabelecimento da interação com o leitor.

O campo está diretamente relacionado à função ideacional, que diz

respeito ao conteúdo da linguagem e à experiência humana, ou seja, aos

conhecimentos e crenças que as pessoas (participantes) repassam através

da linguagem. A análise do campo pode ser realizada em função do uso de

um dado tipo de vocabulário, dos adjetivos, da estrutura gramatical,

observando se as sentenças são ativas ou passivas, positivas ou negativas,

e também em função do tempo verbal utilizado.

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O teor está ligado à função interpessoal, que demonstra a relação

entre os participantes do evento comunicativo. Está relacionado ao papel

social da linguagem, isto é, ao fato de que a linguagem existe para

estabelecer relações entre as pessoas. Dessa forma, a função interpessoal

diz respeito às questões sociais que são abordadas no texto. Um exemplo é

o uso da linguagem para estabelecer o controle de um participante sobre o

outro, em relações assimétricas, em que se faz uso do poder para ter o

domínio sobre o discurso (por exemplo, policial e suspeito de um crime).

Ao focalizar essa função, há possibilidade de se analisar, no texto,

questões como o uso dos modos verbais (declarativo, interrogativo,

imperativo); a modalidade, presentes nos textos da mídia, principalmente

nos editoriais, através de verbos e de advérbios; e as palavras (adjetivos,

expressões atitudinais) que ajudam a criar, no texto, as relações sociais

entre os participantes. Através desses elementos, o escritor pode expressar

ao leitor toda a sua simpatia, antipatia, atitude ou ironia em relação a algum

assunto.

O modo é expresso através da função textual. Essa função é

identificada através do canal utilizado para comunicação (gráfico, fônico),

dos aspectos que contribuem para a coesão e coerência textual. Tais

elementos contribuem para a construção do texto e da sua argumentação,

isto é, o ato de argumentar poderá ser mais efetivo se o texto apresentar

uma estrutura textual em que seus elementos internos e externos estejam

bem articulados.

Assim, a relação entre texto e contexto é de fundamental importância

para se entender e explicitar como os textos da mídia são produzidos num

espaço e tempo socialmente construídos. Essa relação é representada

através das intenções e crenças dos produtores dos textos e dos

participantes envolvidos tanto no processo de produção como interpretação

dos textos.

1.4 Texto

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O interesse que o estudo do texto desperta é alvo de pesquisas desde

a década de 60 (KOCH, 1996, p.11-14). Assim, tais pesquisas, com variados

enfoques para a análise textual, podem concentrar-se em vertentes como:

Lingüística Textual, Análise do Discurso e Análise Crítica do Discurso.

Dependendo da corrente adotada para análise, diferentes abordagens

surgem para o assunto texto.

Na visão de KOCH (idem), o interesse pelo estudo do texto surge

porque ele é considerado uma unidade básica de manifestação da

linguagem, e porque certos fenômenos lingüísticos só podem ser explicados

no interior do texto. Como unidade básica de linguagem, o texto representa

mais do que uma soma aleatória de frases ou palavras.

Para HALLIDAY & HASAN (1976, p.1-2):

... a palavra texto é usada para se referir a qualquer passagem (falada ou escrita) de qualquer extensão que forma um todo unificado. Texto pode ser escrito, falado, prosa ou verso...é uma unidade de linguagem em uso. Não é uma unidade gramatical , como a oração e a sentença...é uma unidade semântica, pois não é uma unidade de forma, mas de sentido.

Nos estudos de HALLIDAY (1985, p.10-1), o texto é considerado

como a linguagem que é funcional, ou seja, a linguagem que é empregada

em algum contexto. Dessa forma, texto e contexto fazem parte de um

mesmo processo, no qual o texto deve ser considerado a partir de duas

perspectivas: como produto e como processo. O texto é o produto, ou seja, a

forma materializada do discurso que pode ser estudada e representada de

maneira sistemática. O texto é um processo, porque a sua construção

decorre de diferentes escolhas semânticas que podem ser adequadas para

retratar uma dada situação.

Na perspectiva sociossemiótica de HALLIDAY (idem), o texto é visto

como uma troca social de sentidos, na qual se destaca, como aspecto

fundamental, o diálogo, a interação entre os participantes. O que se percebe

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é que os textos constituem-se de forma multifuncional, pois congregam dois

processos fundamentais simultaneamente: cognição e representação do

mundo, e interação social (FAIRCLOUGH,1995a, p.6). Um texto constitui-se

das três funções da linguagem que HALLIDAY propõe: a função ideacional,

representada através da experiência de mundo; a função interpessoal, que

se constitui da interação social dos participantes no discurso, e a função

textual que se dá pelo estabelecimento da ligação das partes do texto,

tornando-o um todo coerente e ligando-o ao contexto situacional (1985, p.15-

23).

Sob a ótica de KRESS (1989, p.18), os textos surgem em situações

sociais específicas e são construídos com propósitos específicos pelos

escritores e também por seus leitores. O sentido encontra a sua expressão

no texto e aí é negociado a partir de uma situação concreta de relações

sociais. Ao se estudar o texto, portanto, há que se destacar a relação com o

seu processo de produção e interpretação, ou seja, a prática discursiva que

lhe dá origem. O texto, nessa perspectiva, resulta do processo de produção

e do meio no qual o processo de interpretação é realizado. Quando se trata

das condições sociais de produção e interpretação de textos, é necessário

tratar das práticas socioculturais que propiciam e influenciam essa produção

e interpretação, e acabam interferindo no texto.

Na análise dos editoriais jornalísticos, os textos podem ser

considerados o produto de um processo. Produto, porque é por meio do

argumento exposto no editorial que a instituição tenta persuadir seus

leitores. Nesse processo, o editorialista formula opiniões em função do que a

sociedade determina, ou seja, daquelas notícias que as pessoas estão

discutindo ou daqueles fatos que o editorialista julga ser mais importante

mencionar naquele momento.

Em decorrência disso, a análise do discurso engloba o levantamento

microestrutural do texto, através dos elementos lingüísticos que formam o

texto, e o levantamento macroestrutural, através da análise das relações que

se estabelecem entre os participantes no discurso, envolvidos no processo

de produção e consumo dos textos.

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20

A seguir, passam-se a destacar os recursos de textualidade que

contribuem para que o texto se constitua em uma unidade semântica,

utilizada para estabelecer comunicação.

1.4.1 Textualidade

O conceito de textura está inteiramente associado às propriedades de

um texto, ou seja, está associado a fatores internos e externos que dão

sentido ao texto. A textura pode ser estabelecida por meio de relações

internas entre as sentenças que constroem a tessitura do texto (HALLIDAY

& HASAN, 1976, p.2). A textura vai além da questão da estruturação textual,

pois retoma os elementos internos, através dos mecanismos coesivos, que

sinalizam o modo como as partes se concatenam para a construção

semântica do texto.

Textualidade é o conjunto de características que fazem com que um

texto seja um texto, e não apenas uma seqüência de frases isoladas

(COSTA VAL,1993, p.5).

Os critérios que conferem textualidade a um texto podem ser

considerados a partir da visão de BAKHTIN. Para ele “o ato humano é um

texto em potencial e não pode ser compreendido (na qualidade de ato

humano distinto da ação física) fora do contexto dialógico de seu tempo (em

que figura como réplica, posição de sentido, sistema de motivação)” (1992,

p.334).

MOTTA-ROTH (1998, p.11), a partir dessa visão de texto proposta por

Bakhtin, considera, como característica básica da linguagem enquanto texto,

a possibilidade de o interlocutor entender que todo enunciado é passível de

réplica e permite uma resposta. Essa característica da linguagem pode ser

entendida como ‘responderabilidade’, ou seja, a propriedade dialógica do

texto (BAKHTIN,1992). Assim, a linguagem utilizada, quando é

compreendida pelo interlocutor, encerra uma relação de diálogo entre o

locutor e o interlocutor.

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BAKHTIN (1992, p.299-301) propõe dois critérios básicos para o

entendimento da linguagem enquanto texto – delimitação e unidade.

O primeiro critério, delimitação do texto, está relacionado à

possibilidade de responder ou adotar uma atitude responsiva diante da

linguagem (por exemplo, seguir as instruções para montar um aparelho)

(MOTTA-ROTH, idem.). O segundo critério, unidade, está associado à

totalidade do enunciado e pode ser reconhecido a partir de três fatores

indissociáveis:1- tratamento exaustivo do objeto do sentido 2- o intuito, o

querer dizer do locutor e 3- as formas típicas de estruturação do texto.

O tratamento exaustivo do objeto de sentido é o que possibilita a

alternância entre os falantes, pois um dos participantes, ao dizer o que

queria, esgota a sua participação, dando a possibilidade para o outro

responder. Isso é considerado como atitude responsiva para com um

enunciado, que ocorre, por exemplo, no momento em que se executa uma

ordem (BAKHTIN,1992, p.299).

O intuito discursivo, ou querer-dizer do locutor, determina o todo do

enunciado: sua amplitude e suas fronteiras. Através desse intuito, o autor

revela para o seu leitor como o texto deve ser visto (fronteiras), a partir de

suas intenções implícitas ou explícitas (amplitude). Assim, o que o locutor

quer dizer deve estar claro no texto, para que o leitor perceba exatamente as

suas intenções.

As formas típicas de estruturação permitem que o texto seja visto

através de sua totalidade em formas relativamente estáveis chamadas de

gênero. Para realizar o seu intuito, o escritor deverá fazer escolhas

adequadas de um gênero do discurso. Essa escolha é realizada em função

da especificidade de cada esfera de comunicação. A utilização de gêneros

varia porque, para cada intuito de comunicação, há um gênero que a ele

melhor se adapta. Ao escrever uma carta, uma reportagem, um editorial,

dentre outras formas recorrentes de linguagem, as pessoas estão utilizando

o que lhes parece ser a melhor forma de comunicação para atingir o objetivo

pretendido.

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Os três fatores citados representam, portanto, a totalidade de um

texto, isto é, conferem-lhe a possibilidade de manter com seu leitor uma

relação dialógica, quer seja pela adesão, quer seja pela negação das idéias

expostas. Possibilitam também ao interlocutor perceber o que o locutor quis

dizer e como isso pode ser visto pelo interlocutor. Por fim, esse querer-dizer

se realiza numa forma padrão de enunciado, chamada de gênero do

discurso. Assim, para o leitor e o escritor terem uma leitura e uma escritura

crítica, eles precisam abarcar esses três fatores.

Para HASAN (1985, p.94), a textura é essencial para a unidade

textual, que se pode estabelecer também através de elementos lingüísticos

responsáveis pela coesão e coerência textuais. Na visão da autora, a

coesão é a “fundação na qual o edifício da coerência está construído”.

Dessa forma, a coesão tem sua função na constituição do texto, porém não

é suficiente, pois há textos destituídos de coesão que apresentam coerência.

Devido à importância que têm como elementos que asseguram a

textualidade, passam a ser abordadas, então, a coesão e coerência.

1.4.1.1 Coesão

O conceito de coesão, para HALLIDAY & HASAN (1976, p.4), é

semântico, pois refere-se às relações de sentido que ocorrem no interior do

texto e o definem como tal. Para esses autores, a coesão ocorre quando a

interpretação de um elemento (pronome, conjunção, artigo, etc.) no texto

depende de outro, pressupõe o outro, e o sentido de um só pode ser

entendido em relação ao outro. Tal processo de construção textual refere-se

à ligação entre as sentenças e à maneira como elas se juntam para formar o

texto, por meio de “laços” ou “elos coesivos”.

Exemplo 1.1:

Os números sugerem uma atitude de descompromisso dos pais. Eles

parecem desejar transferir ao poder público que em primeiro lugar era deles.

(Editorial, Folha de S. Paulo, 20/09/97)

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Os elementos grifados funcionam como elementos coesivos, pois

fazem referência à palavra ‘pais’ citada anteriormente. O uso desses

elementos evita a repetição dessa palavra, bem como retoma o argumento

anterior. A coesão é linear e superficial, pois se apresenta a partir dos

elementos lingüísticos que organizam a seqüência do texto. Dentre tais

elementos, destacam-se os conectores textuais e os elementos anafóricos,

que são responsáveis pelo estabelecimento de relações de sentido entre as

sentenças ou entre os parágrafos.

Para que se perceba a coesão num texto, é preciso ir além da

questão estrutural, ou seja, é preciso analisar como uma sentença se liga a

outra, estabelecendo, no conjunto textual, uma unidade semântica.

HALLIDAY & HASAN (1976) distinguem os mecanismos coesivos a

partir de uma divisão em cinco categorias: referência, elipse, substituição,

conjunção e a coesão lexical. Como os estudos, sobre tais categorias, são

inúmeros, não é intuito deste trabalho retomá-los um a um.

Pode-se ainda acrescentar a visão, mais recente, de HALLIDAY sobre

o assunto:

Coesão é, naturalmente, um processo porque o próprio discurso é um processo. Texto é algo que acontece, na forma falada ou escrita, ouvida ou lida. [...] texto é usualmente tomado como referindo-se ao produto – especialmente o produto na sua forma escrita, pois é claramente percebida como objeto [...]. A organização do texto é mais semântica do que formal [...].É importante pensar o texto dinamicamente, como um processo seqüencial de significado; e a coesão como um aspecto desse processo, por onde o fluxo de significados é canalizado propositalmente pelo falante (1994, p.311).

Assim, observa-se que a coesão é um aspecto importante para que

se veja um texto não como algo estático ou um produto acabado; mas sim

como um processo, através de escolhas que são feitas, com o uso de

determinados recursos, que possibilitam a construção semântica do texto.

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Dessa forma, HALLIDAY (idem) associa a coesão à coerência, pois para ele

a coesão dá uma importante contribuição para o estabelecimento da

coerência.

1.4.1.2 Coerência

A coerência estabelece dois tipos de conexões: entre as partes

seqüenciais do texto e entre as partes do texto e o mundo. Essas conexões

são realizadas quando se interpreta um texto: a coerência de todo texto é

como um tipo de reação química que se realiza por meio da alquimia entre o

que está no texto e os conhecimentos que o leitor já possui (FAIRCLOUGH,

1989, p.78). A coerência pode ser vista, portanto, como uma propriedade da

interpretação, devendo ser analisada na prática discursiva, pois está

relacionada ao processo de produção e interpretação dos textos. Para que

haja uma interação (ou uma ‘troca’) nesse processo, o autor e o leitor devem

possuir conhecimento partilhado (FAIRCLOUGH, 1992a, p.83-4).

Além desse conhecimento de mundo, leitor e escritor devem partilhar

princípios interpretativos, associados às maneiras naturalizadas de ver o

mundo, às relações entre os sujeitos e aos papéis que esses sujeitos

exercem. Assim, uma situação que é ‘naturalizada’ (ou seja, faz parte do

senso comum num domínio sociocultural) para as mulheres londrinas (idem)

e japoneses, por exemplo, que é abandonar o emprego após terem filhos,

não o é no contexto brasileiro. Dessa forma, certas situações podem ser

vistas como coerentes por certos leitores e incoerentes por outros,

dependendo do contexto onde eles estejam inseridos e de suas posições

ideológicas frente ao mundo ou no mundo.

Exemplo 1.2:

O Show

O cartaz

O desejo

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O pai

O dinheiro

O ingresso

.................

A música

A vibração

A participação

O fim

A volta

O vazio (KOCH & TRAVAGLIA, 1996, p.12)

Esse texto poderia ser considerado incoerente por alguns, pois

apresenta uma relação de palavras que não estão sintaticamente

relacionadas. Por outro lado, o leitor que possua em sua memória a noção

do que seja a palavra ‘show’, pode perceber que tal seqüência lingüística

apresenta uma unidade de sentido. Tal unidade possibilita ver o texto como

algo mais que uma soma aleatória de palavras. Portanto, no exemplo, a

relação entre o conhecimento armazenado pelo leitor, o contexto e o

conjunto do texto é que formam a coerência.

A abordagem realizada até o momento procurou demonstrar que o

texto é uma unidade lingüística concreta utilizada pelos seus usuários numa

situação de interação, possuindo uma unidade de sentido e uma função

comunicativa.

A seguir, buscam-se a destacar os recursos utilizados pelo escritor

para produzir significados interpessoais na interação com o leitor. Dentre tais

recursos, podem-se destacar os elementos metadiscursivos.

1.4.4 Elementos metadiscursivos na sinalização textual e retórica

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26

Devido à importância de marcas que demonstrem para o leitor o

caminho seguido pelo escritor, os textos constituem-se de vários marcadores

metadiscursivos. Os elementos metadiscursivos podem ser comparados

com sinais de trânsito, que são usados para indicar um percurso a ser ou

que foi seguido, com a finalidade de conduzir as pessoas (leitores) numa

direção.

O metadiscurso é empregado com a função de orientar o leitor e

sinalizar a presença do autor, marcando, freqüentemente, o seu

posicionamento diante do tema. Está presente para envolver o leitor em atos

retóricos que possibilitem tanto a compreensão como a persuasão

(CRISMORE, 1989, p.4-7). Os elementos que são usados de forma

metadiscursiva ajudam os leitores a entender o assunto tratado no texto,

tornam textos coesos e coerentes, possibilitam estratégias retóricas (utilizar

a linguagem de forma que contribua para a persuasão), organizam e avaliam

as informações do texto e indicam o posicionamento do escritor em relação

aos assuntos que aborda (idem, p.91-2).

As funções ideacional, interpessoal e textual propostas por Halliday

estão presentes no texto, pois através delas é possível realizar as seguintes

ações: expressar a experiência de mundo (função ideacional), interagir com

a audiência (função interpessoal) e organizar o que se quer dizer de forma

coesa e coerente (função textual). O metadiscurso pode se fazer presente

nas funções textual e interpessoal, não ocorre na função ideacional porque

ela representa o próprio conteúdo proposicional ou o discurso primário

(VANDE KOPLE,1985, p.86).

Assim, pode-se sugerir que um texto compreende dois níveis de

utilização da linguagem: um informativo e um metadiscursivo. No primeiro

nível, o escritor fornece informações sobre o assunto do texto; no segundo

nível, o metadiscursivo, a linguagem usada refere-se ao próprio texto,

através dos artifícios lingüísticos que guiam a argumentação do escritor e a

interpretação do texto por parte do leitor. O nível metadiscursivo ajuda o

leitor a organizar, interpretar, avaliar e reagir ao conteúdo apresentado no

texto (idem, p.83).

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Exemplo 1.3:

Virar a terra, adubar e semear durante a noite são atividades

habituais na primavera, mas este ano os produtores de soja, arroz

e milho precisam, além de tudo, aproveitar as circunstâncias

climáticas momentaneamente favoráveis. (Editorial, Zero Hora,

22/11/97)

Esse exemplo apresenta elementos metadiscursivos: dois conectores

textuais (mas e além de tudo) e um marcador de validade (precisam

aproveitar). Os dois conectores grifados servem para dizer como se deve

agir, ou seja, o que está contido na primeira oração já faz parte da rotina dos

agricultores. Agora, porém, eles têm que observar também o clima. Esses

recursos sinalizam o processo argumentativo, pois acrescentam novos

argumentos ao mesmo tema e favorecem o entendimento do leitor sobre a

informação textual; o marcador de validade precisam demonstra a maneira

enfática do editorialista se posicionar no texto.

Dentre os marcadores metadiscursivos, considerar-se-ão apenas dois

tipos: aqueles responsáveis pela estrutura textual (conectores), que integram

a função textual, tornando possível a boa articulação das partes, e aqueles

que são importantes para que o escritor possa marcar sua presença no texto

enquanto participante do discurso (marcas de validade e de atitude). Tais

marcadores fazem parte da função interpessoal da linguagem

(CRISMORE,1989, p.93).

1.4.4.1 Marcadores da estrutura textual

Esse tipo de marcador tem ligação direta com a função textual da

linguagem. Essa função pode ser considerada um componente essencial do

texto que possibilita ao falante organizar o que está sendo dito, de modo que

seja coeso e coerente (HALLIDAY & HASAN, 1976, p.27).

Assim, pode-se dizer que a função textual envolve marcas textuais

que são responsáveis por enfatizar aspectos do conteúdo semântico ao

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mesmo tempo que ajudam na estrutura global do texto. Essas marcas são

necessárias para que o escritor deixe claro a forma como construiu o seu

argumento, pois cada conector determina um percurso do argumento

Entre os elementos metadiscursivos, que cumprem a função textual, e

que serão analisados neste estudo, podem-se destacar os conectores, cuja

função é ajudar os leitores a reconhecer como o texto está organizado e ver

como as diferentes partes do texto se relacionam. Os conectores podem ser

empregados para tentar guiar os leitores através dos textos e também para

ajudá-los a construir uma representação do texto em sua memória (VANDE

KOPPLE 1985, p.83). Para cada um dos conectores, há funções específicas,

ou seja, a sua utilização pode indicar diferentes modos de organizar a

informação.

A organização dos textos, através dos conectores que sinalizam

relações textuais, pode ser estabelecida por: seqüencializadores (ex: o

primeiro, o próximo, em primeiro lugar); conectores que indicam uma relação

lógica ou temporal (ex: entretanto, conseqüentemente, desse modo,

portanto, quando, logo depois, ao mesmo tempo); conectores usados como

lembretes para o leitor (ex: como eu observei no primeiro capítulo) e

topicalizadores (ex: em consideração, o problema é).

Exemplo 1.4:

Por último, mas não menos importante, é imperativo que se reduza o

elevado custo dos transportes e que, pelo menos em similar

proporção, se ampliem as exportações de alto valor agregado.

(Editorial, Zero Hora, 29/11/97)

As palavras grifadas, no exemplo, retratam um seqüencializador ‘por

último’ que encaminha os argumentos finais que serão apresentados; uma

relação lógica de oposição introduzida pelo ‘mas’ que direciona para a

conclusão do argumento, ressaltando sua importância; e o conector ‘pelo

menos’, que seleciona o argumento mais importante para encaminhar a

discussão para conclusão.

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Como se pode observar nos exemplos, os conectores são importantes

para estruturar a informação do texto, possibilitar o encadeamento entre as

partes e estabelecer atos de fala distintos, pois utiliza-se de um conector

para cada tipo de argumento.

Dentre os outros elementos metadiscursivos, que são importantes

ajudar no processamento da informação, como também para estabelecer

interação entre leitor e escritor, destacam-se os marcadores retóricos.

1.4.4.2 Marcadores retóricos

Esses marcadores se associam à função interpessoal da linguagem,

que, de acordo com CRISMORE (1989, p.64-5), contribui para estabelecer e

manter relações humanas. Essa função permite ao autor revelar sua

personalidade e tornar a sua presença explícita no texto, por meio de

comentários, atitudes e avaliações, ajudando a guiar e dirigir os leitores

quanto à forma de responder ao conteúdo apresentado no texto. As marcas

de validade e de atitude revelam as ações que o escritor tenta realizar no

texto.

1.4.4.2.1 Marcadores de validade

Através dessas marcas, o escritor pode manifestar sua posição de

duas maneiras: ou demonstra sua visão de forma explícita e enfática,

salientando para o leitor aquilo em que realmente acredita, ou expressa sua

posição de modo encoberto (VANDE KOPPLE,1985, p.84). Portanto, tais

marcas mostram o comprometimento ou a dissimulação desse compromisso

do escritor em relação ao assunto abordado. São empregadas para

demonstrar ao leitor a maneira como o escritor avalia a informação contida

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no texto, em termos de veracidade (mais certeza) ou de probabilidade de

verdade (menos certeza).

As marcas de validade permitem ao escritor demonstrar maior ou

menor assertividade, dependendo do tipo de marca adotada para modalizar

a mensagem.

Exemplo 1.5:

a- Se atuar nessa perspectiva, o PT ajudará a si mesmo e ao Brasil.

Caso contrário, poderá afundar no radicalismo e no bizantinismo

da esquerda (AYRES,1996, p.91).

b- Talvez por isto permaneça dentro de todos nós a sensação de que

a república ainda não nasceu de todo, por ter ido ao fundo de suas

próprias proposições (SILVA, 1992, p.36).

A utilização do verbo modal poder, no exemplo ‘a’, dá ao enunciado

um tom menos impositivo da presença do escritor, na medida em que ele

procura não manifestar de forma explícita a sua visão, demonstrando uma

certa dúvida sobre a ocorrência do fato. Ficando a cargo do leitor decidir se

o PT afundará ou não.

Já o uso do advérbio talvez, no exemplo ‘b’, tem a finalidade de

atenuar a força da asserção por ele introduzida. O escritor, através desse

conector, manifesta dúvida e desconfiança, pois não assume totalmente o

seu discurso.

Outro tipo de marca de validade (expressa no exemplo 1.13) tem um

caráter enfático e busca salientar aquilo em que o escritor acredita ou

gostaria que o leitor pensasse que ele acredita (VANDE KOPPLE, 1985,

p.84).

Exemplo 1.6:

O governo deve agir duro, jogar pesado para conter os preços com

instrumentos legais que tiver a seu alcance.

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É preciso restaurar com urgência o sentido do investimento produtivo

(KRIEGER, 1990, p.142-3).

Nesse exemplo, o uso do verbo dever e da expressão é preciso

salienta a ênfase do escritor em relação à posição que ele crê ser a mais

adequada. Dessa forma, o autor busca determinar como o governo deve

proceder em alguns assuntos, ao mesmo tempo em que manifesta

assertivamente, para o leitor, o seu pensamento em relação a tais temas.

Conforme se observam pelos exemplos, as marcas de validade estão

intrinsecamente associadas àquelas de modalidade. Tendo em vista que a

modalidade está inserida numa escala entre os pólos positivos ou negativos,

ou seja, entre o que é possível e o que é permitido fazer (HALLIDAY,1994,

p.88)

A modalidade pode ser vista como um comentário mais ou menos

explícito do produtor do texto (FOWLER,1991, p.85) que pode ser expressa

numa escala que varia mais certeza e menos certeza. Dessa forma, pode

indicar: verdade (numa escala de mais ou menos certeza), obrigação,

permissão, probabilidade e desejo.

Assim, neste trabalho serão consideradas marcas de validade

aquelas que fizerem o uso de verbos modais (dever e poder), bem como

advérbios que possuam função modalizadora. Por último, também inseridas

na função interpessoal, estão as marcas de atitude que indicam, da mesma

forma, a interação dos participantes do discurso.

1.4.4.2.2 Marcas de atitude

Ao manifestar, no seu discurso, uma atitude positiva ou negativa em

relação a um certo tema, o escritor o está avaliando e expondo a sua opinião

em termos que podem ser definidos como ‘bom’ ou ‘ruim’. Expressar

avaliação, no texto, envolve tanto uma declaração de um julgamento

pessoal, como uma intenção de persuadir o leitor a compartilhar normas e

valores (HUNSTON, 1994, p.191).

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Como marcas de atitude, serão consideradas, neste trabalho,

palavras que denotam a avaliação do escritor em relação ao assunto que

está tratando, bem como advérbios atitudinais (efetivamente, naturalmente,

felizmente, realmente, surpreendentemente, lamentavelmente, etc.) e

adjetivos que, pelo seu sentido positivo ou negativo, configuram-se em

expressões avaliativas e enfáticas (lamentável, salutar, polêmico, etc).

Exemplo 1.7:

Mas é necessário destacar que a Nação cobra do Governo, em

particular, uma disposição especial para realizar o que até agora não

conseguiu: uma vigorosa política de cortes e de economia presidida

por inatacável austeridade. (KRIEGER, 1990, p.163)

No exemplo, tem-se a utilização do adjetivo como uma forma de

manifestação da atitude do escritor para dizer como o governo deve

proceder (ou seja, de forma especial, vigorosa e inatacável), com o

objetivo de persuadir o leitor a compartilhar da posição do escritor.

Exemplo 1.8:

[...] Um trabalho que exigiria muito mais um livro de artista, do que

sobre o artista como a “coroação” tradicionalista de uma carreira

realmente excepcional. (KOCH, 1993, p.191)

O advérbio realmente e o adjetivo excepcional manifestam a atitude

indubitável e o julgamento positivo do escritor em relação ao artista.

Assim, percebe-se que através do metadiscurso se realizam ações

em nível de estrutura textual, como num nível superior, por meio relações

sociais que podem ser criadas entre os participantes do discurso. Isso

ocorre, porque através da linguagem, o escritor demonstra o seu modo de

ver e expressar o mundo, ou seja, o seu discurso (FAIRCLOUGH, 1995a, p.

135). Dessa forma, na análise dos editoriais, o metadiscurso será analisado

como parte integrante do discurso do editorialista, como um recurso que

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remete a modos particulares de cada escritor se expressar e interagir com a

sua audiência.

Os discursos são expressos em forma de textos (orais ou escritos),

que apresentam um dado tipo de estruturação, característica essa que

permite diferenciá-los. Assim, cada um desses tipos textuais se inserem em

um dado gênero do discurso, ou seja, certas formas de textos relativamente

padronizadas, associadas às atividades que o ser humano desempenha.

1.5 Gênero

1.5.1 Gênero na visão de Bakhtin

O gênero está presente, de forma intrínseca, na utilização da língua,

nos vários âmbitos da atividade humana. Em cada tipo de atividade, há

enunciados que caracterizam situações, ou seja, para cada uma delas,

encontram-se tipos relativamente estáveis de enunciados que são chamados

gêneros do discurso (BAKHTIN,1992, p.279).

Os gêneros apresentam variações porque a própria atividade humana

se manifesta de forma diversa. A todo momento, podem-se criar e recriar

gêneros, facilitando-se a atividade primordial, que é, no momento em que se

fala de linguagem, a comunicação.

Sob a perspectiva de BAKHTIN (idem, p.281-2), estruturalistas como

Saussure ignoraram a natureza do enunciado, bem como as particularidades

do gênero. Considerando que isso leva ao formalismo e à abstração, pois

enfraquece o vínculo natural entre a língua e a vida. Se a linguagem serve a

um fim específico que é a comunicação entre os seres humanos, é

questionável não se levar em conta o uso que os indivíduos fazem da língua,

ou seja, o modo como a linguagem é usada em diferentes situações sociais

de comunicação por indivíduos também diferentes.

O querer-dizer de um locutor realiza-se na escolha de um gênero do

discurso. Assim, para cada objetivo comunicativo a ser atingido, escolhe-se

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um gênero que é peculiar àquela situação, e esse gênero possibilita dizer

isso, e não aquilo, num dado contexto de comunicação (BAKHTIN, 1992,

p.300).

Cada esfera da atividade humana tem seus gêneros apropriados, que

apresentam especificidades e estilos próprios. Para cada função (científica,

técnica, oficial, cotidiana), há condições, específicas que, na esfera da

comunicação verbal, requerem um dado gênero, relativamente estável do

ponto de vista temático, composicional e estilístico (BAKHTIN,1992, p.284-

5).

1.5.2 Gênero na visão de Fairclough

Em seu livro Language and social change (1992a, p.126),

FAIRCLOUGH usa o termo como referência a um conjunto de convenções

relativamente estáveis associadas a um tipo de atividade socialmente

ratificada, que pode ser uma conversa informal, uma venda de mercadoria,

um documentário na TV ou um artigo científico. Em geral, essas atividades,

produzidas e consumidas de um modo particular, apresentam um protocolo

para sua escrita, leitura e interpretação. Um gênero implica não somente um

tipo particular de texto, mas também um processo particular de produção,

distribuição e consumo desse texto. Isso pode ser verificado ao comparar-se

a produção de um poema e a de um artigo de jornal. Ambos apresentam

diferentes formas de produção, distribuição e consumo. É certo, pois, que

cada gênero apresenta não somente um tipo particular de texto, mas

também uma prática discursiva particular.

O gênero corresponde a tipos de práticas sociais, e o sistema de

gênero que é obtido em uma sociedade, num dado tempo, determina que

combinações e configurações de outros tipos de gênero podem nele estar

inseridos. Cada sociedade, instituição ou domínio particular tem uma

configuração de gênero que lhe é peculiar (FAIRCLOUGH,1992a, p.125-6).

Quando FAIRCLOUGH trata das configurações de gênero, pode-se

remeter esse enfoque ao de configuração contextual e gênero de HASAN

(1985, p.55-62). Esta autora, ao falar em configuração contextual, concebe-a

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como a estruturação de uma atividade social. Para cada atividade que as

pessoas realizam, há certos elementos que podem ou devem ocorrer para

caracterizar essa atividade, por exemplo, os elementos que são necessários

para evidenciar uma situação de compra e venda.

Para HASAN (idem), o contexto interfere na estrutura do texto. Isso

ocorre porque os participantes (teor), o objetivo da atividade em que estão

envolvidos (campo), e o papel da linguagem (modo) determinam a estrutura

textual. E, para cada uma das atividades em que os participantes se

envolvem, há uma dada configuração contextual (CC) que determina como

tal atividade deve ser realizada.

A recursividade dos elementos na CC – os participantes, a atividade

na qual se envolvem e o objetivo de tal atividade – bem como o meio onde

esta atividade é desenvolvida, é o que dão origem ao gênero. O gênero se

caracteriza, pois, como aquela linguagem que possui em sua estrutura

elementos obrigatórios, isto é, para ser considerada como pertencente a um

gênero, a linguagem deve apresentar certa regularidade e emprego

apropriado numa dada atividade social (HASAN, 1985, p.108).

Dessa forma, uma atividade social, como a transação comercial,

apresenta elementos contextuais imprescindíveis que caracterizam esse

gênero e são responsáveis pela realização dessa atividade. A título de

ilustração, será utilizado um exemplo de HASAN (1985, p.59).

Exemplo 1.9:

Campo: transação econômica: aquisição de bens: alimentos

perecíveis...

Teor: agentes da transação: hierarquia: freguês superordenado e o

vendedor subordinado; distância social: quase máxima...

Modo: papel da linguagem: auxiliar; canal fônico; meio falado com

contato visual...

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Os elementos obrigatórios que identificam esse gênero como uma

transação comercial são aqueles que aparecem numa ordem específica e

sua ocorrência é prevista pelos elementos contextuais que são definidos

pelo gênero (campo, teor e modo). Os elementos opcionais, que não

aparecem nessa transação, pertencem aquela porção variável que está

comumente associada como um dado gênero, mas que não precisam ser

apresentados no texto como parte de uma atividade social (por exemplo,

saudações iniciais e finais (MOTTA-ROTH,1995, p.38-9).

Considerando-se que na visão hallidyana texto e contexto estão

conectados, portanto os elementos que compõem a configuração contextual

(campo, teor e modo) são importantes para determinar um texto como

pertencente a um dado gênero.

Em seu livro Media discourse, FAIRCLOUGH (1995b, p.85) considera

o gênero como uma estrutura esquemática feita de estágios, tanto

obrigatórios como opcionais, representativos da construção de um

argumento. A sua ocorrência no texto pode ocorrer numa ordem fixa ou

parcialmente fixa.

Os gêneros podem sofrer variações de acordo com os contextos, ou

seja, em decorrência de certos comandos serem necessários em uma

situação e não serem noutra. Aquilo que é pré-requisito para a comunicação

numa entrevista para emprego, não o é em uma entrevista jornalística.

Assim, chega-se a uma visão mais ampla de gênero, podendo-se

conceituá-lo como a linguagem com emprego apropriado numa classe de

acontecimentos sociais (HASAN, 1985, p.108).

As atividades que as pessoas desempenham são atos sociais. Dessa

forma, elas fazem uso de gêneros para se relacionar com outras pessoas.

Como a sociedade está em constante transformação, e a linguagem também

sofre evoluções, os gêneros são criados e transformados em decorrência

disso (TODOROV, 1980, p.46)

Os gêneros da mídia talvez sejam aqueles que mais reflitam as

mudanças que ocorrem na sociedade. Nesse sentido, pode-se afirmar que o

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modo de usar um dado gênero pode sofrer transformações em decorrência

de exigências do contexto onde os textos são produzidos e consumidos. A

seguir, será tratado o gênero jornalístico, especialmente no que diz respeito

aos editoriais.

1.6 Estudo de texto, contexto, gênero e discurso na mídia jornalística

A tarefa de identificação dos gêneros jornalísticos tem atraído para a

área, pesquisadores que se interessam em conhecer como se organizam os

textos de jornais utilizados no dia-a-dia.

MELO, em seu livro A opinião no jornalismo brasileiro (1994), como o

próprio título do livro sugere, traça um estudo do jornalismo, mais

especificamente, do jornalismo opinativo. Ele busca compreender aquilo que

TODOROV (1980, p.48-9) chamou de ‘propriedades discursivas’, ou seja,

descreve as peculiaridades da mensagem (forma, conteúdo), destacando os

avanços na análise das relações socioculturais entre emissor e receptor e

das relações político-econômicas (entre a instituição jornalística, o Estado,

corporações mercantis e movimentos sociais) que permeiam a totalidade do

jornalismo (MELO,1994, p.37).

Com base nessa abordagem, pode-se asseverar que o jornalismo

está num processo de reformulação e de transformação. As influências

recíprocas que as instituições jornalísticas recebem e exercem sobre a

sociedade, fazem com que os jornais, e principalmente seus textos, estejam

num contínuo processo de conquista do público. Para tanto, o jornalismo

impresso utiliza recursos que buscam atrair a atenção dos leitores: imagens

coloridas, fotos, ilustrações, gráficos que, ao mesmo tempo, antecipam o

assunto de que o texto irá tratar e despertam a curiosidade do leitor em

relação à matéria veiculada.

De acordo com FAIRCLOUGH (1992a, p.109), as notícias da mídia

são um importante negócio de recrutamento de leitores, expectadores e

ouvintes em um contexto de mercado em que as vendas ou avaliações são

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decisivas para a própria sobrevivência da mídia. Não há dúvida de que o

objetivo da mídia é atrair a atenção dos leitores para vender seu produto.

Assim, os produtores e distribuidores de textos farão tudo que estiver a seu

alcance para alcançar os fins visados.

O professor da USP e pesquisador do Labjor (Laboratório de

Jornalismo) da Unicamp, José Marques de Melo, apresenta um vasto estudo

sobre a mídia brasileira e também sobre o jornalismo opinativo. Ele interroga

“como preservar a credibilidade de um jornal ou revista, quando a fronteira

entre informação e opinião torna-se ambígua ou imperceptível para o leitor”

(DINES & MELO,1997, p.13).

Tal questão é considerada e estudada por aqueles que procuram

discernir dois fatores: de um lado, a informação, que ‘deve’ ser precisa,

imparcial; de outro, a opinião, que é utilizada para demonstrar o

posicionamento da instituição jornalística.

Levando em consideração essa questão, MELO (1994, p.64-5) propõe

a classificação do jornalismo brasileiro em dois âmbitos: o da informação e o

da opinião. Como jornalismo informativo, são consideradas a nota, a notícia,

a reportagem, a entrevista. Como jornalismo opinativo, toma-se, o editorial, o

comentário, o artigo, a resenha, a coluna, a crônica, a caricatura, a carta.

Comparando esses dois níveis de relato jornalístico, pode-se dizer,

que no nível da informação, há uma descrição dos fatos que ocorreram ou

continuam ocorrendo; no jornalismo opinativo, há uma versão dos fatos, ou

seja, o editorialista se posiciona em relação a um certo tema e manifesta

para o leitor o que ele, representante de uma instituição jornalística, pensa

sobre aqueles fatos (idem).

CALDAS-COULTHARD (1997, p.34-5), por sua vez, argumenta que,

nos jornais, existem vários tipos de gêneros (os editoriais, as cartas do leitor,

os documentários, etc) e cada um apresenta certas estratégias textuais que

lhe são peculiares. A autora propõe quatro categorias de gêneros

jornalísticos: serviço de informação, opinião, publicidade e notícias.

O serviço de informação compreende resultados de esportes,

informação cultural, previsão do tempo, etc. A opinião inclui editoriais, artigos

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de experts e cartas do editor. A publicidade compreende todos os textos dos

anunciantes. A notícia domina a maior parte das páginas dos jornais e pode

ser dividida em vários tópicos (economia, política, esportes, polícia).

A autora ressalta que a notícia não é o próprio evento, mas o relato ou

avaliação de um evento. Assim, algumas vezes, é impossível separar o que

é notícia (supostamente real) do que é opinião. Tendo em vista que, ao

recontar um fato, o jornalista vai fazê-lo de forma particular e sob uma certa

ótica, seu relato deixará de ser uma visão imparcial, tal como os jornais

alegam que ocorre.

Tomando por base os pressupostos teóricos da ACD, sob a

perspectiva de FAIRCLOUGH (1995b, p.91), pode-se afirmar que os

propósitos sociais do jornalismo são complexos. É certo que os jornalistas

não somente narram ou descrevem eventos, mas também interpretam e

explicam, o que pode direcionar a visão dos leitores e até a condicionar a

sua forma de agir. Sob essa perspectiva, percebe-se que é muito difícil ter-

se em uma informação, somente a visão imparcial dos fatos.

Assim, embora as notícias ou as informações ocupem um dado

espaço no jornal e a seção opinião ocupe outro, é difícil acreditar que as

práticas sociais nas quais se inserem as instituições jornalísticas não

interfiram de forma semelhante tanto na notícia como na opinião.

O que se acredita é que a divisão entre informação e opinião, que

MELO (1994) sugere, foi cunhada há algum tempo, a partir de classificações

de jornais internacionais, como uma forma de dividir os assuntos tratados

nas várias seções de um periódico. Criou-se, então, uma subcategorização

de gêneros, tanto para opinião como para informação. Embora, oficialmente

os jornais dividam os seus textos nesses dois níveis, na realidade, ao ler-se

os textos, muito pouco há para distinguir aqueles que informam daqueles

que opinam.

O que se deve destacar é que ao ler um editorial, por exemplo, o leitor

sabe que encontrará um texto que exprime o pensamento da instituição.

Quanto às notícias, supostamente isentas de caráter opinativo, sabemos

que, se observarmos vários jornais, cada um dará um enfoque para o

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mesmo tema. Isso reforça a alegação de que o contexto e as práticas sociais

refletem-se sobre as práticas discursivas, isto é, sobre os textos que são

produzidos pelas instituições jornalísticas.

1.7 Gênero editorial

O editorial, em termos gerais, pode funcionar como um discurso

exortativo/persuasivo (conforme MARTIN,1989, LONGACRE, 1992).

A partir das visões de gênero, já apresentadas, pode-se perceber que

um gênero possui uma configuração que o identifica com o contexto em que

se insere. Essa configuração é assegurada através dos três elementos que

compõem a configuração contextual e que auxiliam na construção de um

dado gênero (campo, teor e modo). Cada elemento corresponde a um

estágio com alguma conseqüência na progressão do texto (HASAN,1985,

p.56). Para a autora, os gêneros podem variar assim como o contexto, mas

um texto, para pertencer a um dado gênero, deve apresentar os elementos

obrigatórios, ou seja, uma organização em estágios que possibilitem a sua

identificação em diferentes contextos de produção (idem, p.108). Assim, uma

situação como vender, por exemplo, apresentará características recorrentes

em Porto Alegre e em São Paulo. Um editorial produzido em São Paulo e em

Santa Maria terá as mesmas finalidades, sendo isso que o identifica como

pertencente a tal gênero.

O gênero editorial pode apresentar características de um discurso

exortativo, pois esse discurso procura levar os leitores a fazer algo que ainda

não estão fazendo, deixar de fazer algo de determinado modo ou

permanecer agindo de certa forma (LONGACRE, 1992, p.109-10). Assim,

esse discurso pode ser visto como um subtipo do discurso comportamental,

ou seja, a sua estruturação é organizada com argumentos que visam

interferir no modo como as pessoas agem.

Para MARTIN (1989, p.23-5), o discurso exortativo tenta persuadir as

pessoas a fazer alguma coisa, utilizando recursos que expressam

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sentimentos e atitudes. Tais recursos podem ser estabelecidos através de

verbos, advérbios, adjetivos e substantivos que se destinem a influenciar a

posição de certos destinatários (por exemplo, responsabilizar, inocentar,

sentir, felizmente, bem, trágico, fantástico, idiota, inocente, massacre, etc.).

Conforme as considerações sobre discurso exortativo de LONGACRE

(1992, p.110-14), podem-se definir características do discurso exortativo que

podem permitir a identificação de um editorial como pertencente a esse tipo

de discurso. Assim, um exemplar do discurso exortativo deve apresentar

necessariamente: uma situação e/ou problema que evoca os elementos de

comando, problema representa o momento de maior tensão, seguido por

uma solução ou resposta para o mesmo; comandos e sugestões, que estão

presentes nas formas imperativas e verbos modais que sugerem, comandam

e exijam alguma ação do leitor; e estágios de argumentos que demonstrem a

autoridade do escritor, um problema a ser solucionado e os comandos que

evocam a participação do leitor.

Podem-se destacar ainda elementos que dão suporte à linha de

exortação, tais como: os adjetivos, substantivos, advérbios, verbos que

apresentem a função de repassar as atitudes do escritor (MARTIN,1989,

p.21-3).

Essas características podem ser consideradas como aquelas que

contribuem para que um texto, como os editoriais, possa ser visto como

pertencente ou não ao discurso exortativo. Nos diferentes estágios

argumentativos que compõem esse discurso, o escritor utiliza estratégias

retóricas para informar, opinar, tendo o propósito de atingir

persuasão/exortação do leitor.

Pressupõem-se que todos os estágios de argumentos integrantes do

discurso exortativo sejam importantes na constituição do ato de exortar.

Dependendo do assunto tratado, pode-se dar mais ênfase a um ou outro

movimento, mas, para o sentido e construção retórica dos textos, todos os

estágios ou blocos de argumentos dentro do texto parecem necessários. No

capítulo da Metodologia, apresentam-se maiores detalhes sobre os

movimentos que caracterizam um discurso como exortativo, bem como os

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fatores que determinam que dado argumento se insira num ou noutro

movimento.

Considerações finais

Nesse percurso da Revisão da Literatura, procurou-se traçar o

caminho teórico que se adota no estudo a fim de realizar a análise dos

editoriais jornalísticos.

Tendo como base a Análise Crítica do Discurso, focalizam-se três

dimensões: o texto (e os elementos responsáveis pela textualidade como

coerência e coesão); o contexto (que está relacionado à produção dos

editoriais) e o discurso (que representa as formas como os escritores

transmitem aos leitores a sua maneira de ver assuntos que fazem parte da

sociedade).

Para analisar os textos dos editoriais, parte-se do levantamento

macroestrutural para o microestrutural. No nível macroestrutural, busca-se

analisar o gênero editorial através de sua estrutura, que lhe confere a

característica de texto persuasivo/exortativo. Possuindo tal característica,

esses textos podem ser considerados como pertencentes ao discurso

comportamental, cuja estrutura está baseada em estágios de argumentos

que buscam levar os leitores à mudança ou manutenção de seu

comportamento. Os textos dos editoriais, pelo seu caráter persuasivo,

podem encaixar-se nesse perfil. Por isso, para a presente análise adotou-se

o modelo de discurso exortativo formulado por LONGACRE (1992). Por

outro lado, a análise microestrutural busca destacar os elementos que

contribuem para construir o argumento no gênero jornalístico editorial,

através das funções textual e interpessoal desempenhadas por elementos

metadiscursivos.

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3 DISCUSSÃO DOS DADOS

Introdução

Neste capítulo, procura-se discutir os resultados da análise

desenvolvida no estudo. Para tanto, o presente capítulo divide-se em três

grandes partes.

Na primeira parte, faz-se uma explicitação dos contextos de produção

dos editoriais e sua configuração dentro do espaço do jornal. Na segunda

parte, discute-se o gênero editorial a partir da análise macroestrutural do

argumento. Por último, faz-se a análise do gênero a partir do modelo de

discurso exortativo proposto por LONGACRE (1992), desenvolvendo-se um

levantamento dos marcadores metadiscursivos de forma a explicitar como

esses elementos são utilizados para orientar o leitor através da

argumentação.

Espera-se, com essa análise, conhecer mais precisamente sobre as

práticas discursivas da mídia, mais especificamente, dos editoriais inscritos

em três jornais de diferentes abrangências.

3.1 Produção de editoriais: CONTEXTO

Conforme explicitado na metodologia, concebe-se texto e contexto

como fazendo parte de um mesmo processo, isto é, o texto tem sua origem

relacionada a uma situação que o antecede (HALLIDAY, 1985, p.5). Assim,

busca-se revelar os traços contextuais que se fazem presentes nos textos

das instituições analisadas.

Seguindo a mesma linha teórica de Halliday, HASAN, quando trata de

gênero, considera que os elementos que ajudam a constituir a progressão

do texto, e que são obrigatórios para identificação de um gênero, podem ser

definidos, a princípio, a partir da Configuração Contextual (CC) através das

variáveis de campo, teor e modo (1985, p.56-7). Cada uma dessas três

variáveis auxilia na definição de um gênero, na medida em que a cada

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variação nos valores dessas variáveis que definem o contexto, corresponde

alguma variação nas dimensões ideacional, textual e interpessoal da

linguagem.

Assim, os contextos podem variar, provocando alterações também no

texto. No caso de textos pertencentes ao mesmo gênero, mas oriundos de

contextos institucionais diferentes como é o caso dos editoriais de diferentes

jornais, espera-se que a estrutura básica que permite identificar o gênero

não varie em seus elementos obrigatórios (idem, p. 103-4).

A seguir, cada uma das variáveis da CC serão exploradas como ponto

de partida para análise textual.

3.1.1 Modo ou ‘como é o texto do editorial’

A instituição jornalística A Razão publica um editorial por semana, aos

sábados, na seção Opinião, na página dois. Segundo informações de seu

editorialista1, um editorial semanal é suficiente para fornecer ao público leitor

a visão que a instituição possui sobre os assuntos correntes. Dessa forma,

esse editorial representa uma síntese dos assuntos mais relevantes que

ocorreram na semana.

A Zero Hora apresenta três editoriais de segunda a sábado e, no

domingo, às vezes, apresenta um único editorial. Esses textos estão

dispostos mais ao centro do periódico, na seção ‘Editoriais’, geralmente

entre as páginas quatorze e dezoito, entre as seções de economia e política.

Os três editoriais nesse veículo se apresentam da seguinte forma: um mais

extenso, que pode ser considerado como o principal, e dois outros de menor

extensão. Segundo um dos editorialistas da instituição2, há uma

preocupação de que os textos dos editoriais não ultrapassem os 35

centímetros de comprimento, facilitando a leitura e tornando-se mais

atrativos para o leitor. O primeiro texto apresenta um olho, destacando um

1 Conforme entrevista concedida pelo seu editor Claudemir Pereira em 15/08/97. 2 Nilson Souza, via e-mail em 13/01/98.

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trecho do texto, e também um ilustração, que se relaciona com o assunto

tratado no editorial (Ver Anexo B, p. Bii)

Como a Zero Hora, a Folha de S. Paulo apresenta diariamente três

editoriais, sendo que, às vezes, aos domingos, esse número varia entre dois

e três textos, com uma configuração textual fixa de 28 linhas, divididas em

duas colunas. Os editoriais dessa instituição são publicados na página dois

do periódico, na seção ‘Opinião’, que apresenta uma coluna com os três

editoriais.

Considerando a variável modo, pode-se ainda abordar os aspectos

relativos à coesão e coerência textuais. Em relação à utilização de

elementos que auxiliam na coesão, observa-se que as três instituições

fazem uso de forma significativa desses artifícios, pois o emprego auxilia na

progressão do texto, facilitando a interação das idéias propostas pelo

editorialista. Sabe-se que a ocorrência de elementos coesivos nem sempre

proporciona coerência, mas na maioria dos textos analisados essa presença

contribui significativamente para a progressão do texto e para a manutenção

de sua unidade. Alguns textos, porém, do jornal A Razão (por exemplo, os

textos - Potencial à mostra e O novo discurso) e de Zero Hora (por exemplo,

o texto - Dupla responsabilidade) apesar de fazerem uso de conectores, não

possuem um desenvolvimento seqüencial das idéias. Tendo em vista que

não possuem uma unidade de temas apresentados, fator que não contribui

para um desenvolvimento paulatino dos argumentos propostos. Assim, os

editoriais da Folha de S. Paulo apresentam uma correlação entre o uso de

conectores e a manutenção de uma unidade de argumentos o que possibilita

uma melhor orientação sobre o percurso argumentativo adotado.

Considera-se que esse aspecto da Configuração Contextual (CC) é

importante porque permite a identificação da forma como o gênero editorial

se configura em cada um dos contextos de produção, bem como as

particularidades desses domínios.

3.1.2 Teor ou ‘quem faz o editorial’

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O jornal A Razão tem como meta produzir um jornal a serviço de sua

comunidade, ou seja, reivindicar em favor da melhoria dos serviços para a

comunidade da qual faz parte3. A instituição tem como foco de interesse,

como se pode verificar na forma como os assuntos são tratados nos

editoriais (ver anexos d’A Razão), a livre iniciativa e o livre mercado. Dessa

forma, seus textos são manifestações a favor das privatizações, do

crescimento e do incentivo à economia da região, a partir da instalação de

indústrias e de empreendimentos que venham auxiliar o desenvolvimento do

município e da região.

Os editoriais de A Razão se dedicam, basicamente, a tratar de

questões econômicas da região de Santa Maria. Procuram mostrar

abertamente como essa instituição vê as ações praticadas pelos

governantes e empresários locais. A partir dos textos analisados, percebe-se

que há um destaque para o potencial da cidade e da região, bem como para

a necessidade de que empresas de outras lugares instalem-se no município.

A instalação de empresas auxiliaria o crescimento econômico, gerando

empregos e impostos.

Zero Hora desenvolve uma linha editorial em defesa da democracia,

da liberdade, da igualdade, da ética, do livre mercado e da privatização4.

Realiza também o combate à economia estatizada e ao poder de ingerência

do Estado em assuntos econômicos (KRIEGER, 1990, p.216). Os editoriais

do jornal Zero Hora dedicam-se, muitas vezes, à economia estadual e

outras, à economia nacional, destacando aspectos positivos e negativos das

ações e investimentos que são feitos pelos empresários ou pelo governo,

tanto em termos de agricultura, como em outras áreas. Quanto às ações

governamentais (em nível estadual ou nacional), em relação à economia, há

uma visível variação de tomada de posição, que varia entre crítica e apoio.

Zero Hora é um jornal que defende a posição de que o governo deve

se movimentar apenas dentro de certos limites, deixando a cargo da livre

3 Ver nota 1 (um) neste capítulo. 4 Ver nota 2 (dois) neste capítulo.

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iniciativa, a determinação das regras da política econômico-financeira

(KRIEGER,1990, p.216).

A Folha de S. Paulo se propõe a realizar um jornalismo crítico,

apartidário e pluralista5. Do ponto de vista político, sustenta a democracia

representativa, a economia de mercado, os direitos do homem e o debate

dos problemas sociais resultantes do subdesenvolvimento. Procura adotar

uma atitude de independência em relação aos grupos do poder.

Conforme o Novo Manual da Redação da Folha de S. Paulo, a

instituição considera as notícias e as idéias como mercadorias que devem

ser tratadas com rigor técnico, buscando uma relação de transparência com

a opinião pública, estimulando o diálogo, a difusão de novas tendências e o

desenvolvimento do próprio jornalismo (1996, p.13). O jornal, em sua linha

editorial, apresenta tanto críticas às ações realizadas pelo atual prefeito de

São Paulo (Celso Pita), quanto elogios ao que venha a ser efetivado para o

crescimento da economia estadual ou nacional. Assim, os textos dos

editoriais dessa instituição focalizam, principalmente, as ações econômicas

do governo e destacam os investimentos produtivos de acordo com a livre

iniciativa.

Em relação à variável ‘teor’, cabe ainda ressaltar que a instituição A

Razão, por ser um jornal de irradiação regional, faz uso de um discurso que

trata de temas principalmente da sua região de cobertura. O editorialista

utiliza, para transmitir a informação, formas que retratem proximidade entre

os participantes – escritor – leitor: Não podemos esquecer que Santa Maria

está incluída, agora, na Rede de Mercocidades. O editorialista, quando fala

da cidade sede do jornal, usa a primeira pessoa do plural para chamar a

atenção dos leitores para um fator que pode ter influência na vida de ambos.

Ele vivencia muitos dos fatos que aborda, portanto, a instituição, através

dele, prevê como manifestar posições de acordo com os anseios do cidadão

santamariense.

O jornal Zero Hora possui abrangência principalmente estadual, mas

também é distribuído para outras regiões do país. Tendo, então, um número

5 Dados retirados do Novo Manual da Redação – Folha de São Paulo.

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de leitores mais amplo do que A Razão. Discutindo assuntos que interessam

tanto aos leitores gaúchos como àqueles de outros estados, por exemplo,

quando discute a economia nacional.

A Folha de S. Paulo, em virtude de estar sediada na maior cidade

brasileira, de primar por um tipo de jornalismo diversificado e moderno, de

discutir temas a partir da ótica de jornalistas que estão em contato com

todos os tipos de informações, pode ser considerada como de maior

abrangência das três (quiçá do país). Possuindo, portanto, um número de

leitores evidentemente mais amplo do que as duas outras instituições. Esse

jornal divulga em seus editoriais os temas, que interessem tanto aos leitores

da capital de São Paulo, como aos leitores de todo o país.

O teor é um aspecto da CC que demonstra como cada instituição,

através do editorial, traça suas metas visando interagir com os leitores,

tratando de assuntos que digam respeito ao público que visam atingir, bem

como debatendo temas correntes da sociedade.

3.1.3 Campo ou ‘de que trata o editorial’

O jornal A Razão está sediado no município de Santa Maria, região

central do Estado (RS) e pertence à Empresa Jornalística De Grandi Ltda.

Suas notícias tratam, principalmente, de assuntos da cidade, podendo haver

espaço para aquelas de fora que, de alguma forma, interfiram nos assuntos

da região. O texto do editorial discute os principais assuntos da semana

sobre os quais a instituição julgou necessário manifestar sua opinião, dentre

os quais, destacam-se a cidade e a região, com enfoques, basicamente,

político, econômico e social.

O jornal Zero Hora faz parte da Rede Brasil Sul de Comunicações

(RBS), grupo que, presentemente, engloba emissoras de rádio e de

televisão, representando o maior conglomerado de veículos de informação

no sul do Brasil. Os assuntos tratados por essa instituição dizem respeito

principalmente aos fatos da capital do Estado (RS), Porto Alegre, havendo

referência também a fatos do interior do Estado, algumas vezes, aos do País

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e do exterior. A escolha dos temas a serem abordados nos textos é feita

com base no que é destaque no noticiário e também nos assuntos que a

instituição julga relevantes. Mas, qualquer que seja o nível de abrangência

dos textos, percebe-se que esses tratam de temas como economia,

agricultura, política e questões sociais (por exemplo, educação, saúde,

moradia).

A Folha de S. Paulo, faz parte da Empresa Folha da Manhã S/A, da

qual também fazem parte os jornais Folha da Tarde e Notícias Populares. A

Folha de S. Paulo tem como lema “Um jornal a serviço do Brasil”, que

aparece sempre sob o logotipo da capa do jornal. Na página “Opinião”, o

logotipo aparece logo acima da coluna de editoriais. Esse jornal dedica-se a

assuntos da capital paulista e àqueles de impacto nacional que possam

interessar a maioria dos leitores.

Os assuntos tratados pela Folha de S. Paulo variam desde aqueles

que focalizam fatos da capital paulista, até os do interior do Estado e os do

exterior. Esses textos sempre mantêm uma relação com as notícias que

estão em voga no momento.

Com base na comparação da linha editorial dos jornais A Razão, Zero

Hora e Folha de S. Paulo, e em informações fornecidas pelos editorialistas,

percebe-se que, apesar dos assuntos tratados nos editoriais apresentarem

um a gama diversificada, as questões econômicas são as que se destacam

na maioria dos textos. Esse fator permitiu que fossem escolhidos os

editoriais que tratassem desse assunto. A presença mais significativa do

tema, justifica-se a partir de existência de uma sociedade capitalista, onde a

economia é a engrenagem que comanda muitas ações.

Questões econômicas são entendidas como aquelas que se

relacionam aos vários graus de extensão da riqueza, ou seja, produção,

distribuição, acúmulo e consumo de bens materiais (Novo Dicionário

Aurélio, 1975, p.497-8). Também podem referir-se às ações do governo que

regulam, condicionam e modificam os negócios econômicos da Nação.

Assim, o campo corresponde a uma das variáveis da CC que está

associada aos tópicos abordados nos editoriais. Assim, cada uma das

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instituições analisadas, em função dos contextos que abrangem, apresenta

um tipo de prática discursiva.

A Tabela 3.1 a seguir apresenta os tópicos abordados nos doze

editoriais analisados:

Tabela 3.1. Demonstrativo dos tópicos abordados nos editoriais analisados.

A Razão

Zero Hora

Folha de S.

Paulo

Total

Economia local 2 (SM) --- --- 2

Economia regional 2 (RS) --- --- 2

Economia nacional --- 4 4 8

A partir desse comparativo, observa-se que as instituições Folha de S.

Paulo e Zero Hora dedicaram-se, nos textos analisados (quatro de cada

instituição), a assuntos em nível nacional, que se direcionam a ações

econômicas determinantes dos rumos do país. O jornal A Razão, nos seus

quatro textos, focalizou a economia local (Santa Maria) ou regional

(municípios próximos à cidade de Santa Maria).

Com essa análise, pode-se comprovar que o contexto determina o

texto. Cada um dos jornais analisados, dedica-se a assuntos da sua região

de cobertura, visando atingir o público do contexto que abrangem. Assim,

Zero Hora e Folha de S. Paulo, em função do público leitor que pretendem

atender, consideram que o enfoque da economia nacional abranja tais

leitores.

Um texto que aborda assuntos de Santa Maria poderia não ser

compreendido pelo público paulista, porém os leitores santa-marienses

entenderão com facilidade assuntos do centro do país. Nessa perspectiva,

constata-se, de fato, que quanto maior o contexto, no qual o jornal se insira,

maior será a sua diversidade e abrangência de temas, possibilitando a

interação com um maior número de leitores. Assim, os editoriais que tratam

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da economia nacional da Folha de S. Paulo e da Zero Hora podem

interessar a um maior número de leitores.

3.2 O objetivo comunicativo do gênero editorial jornalístico

Pode-se encontrar pelo menos duas definições de editorial em dois

dicionários bastante populares:

Editorial é um artigo que exprime a opinião de um órgão da imprensa, em geral escrito pelo redator-chefe (Novo Dicionário Aurélio, 1975, p.499). Editorial is a part of writing in a newspaper that gives the editor’s opinion about something, rather than reporting facts. (Longman Dictionary of Contemporary English, 1978, p.437).

As definições, retiradas de um dicionário brasileiro e de um dicionário

inglês, são praticamente iguais, pois ressaltam que tais textos são utilizados

com o intuito de opinar.

Na visão de MELO, que vem em complementação às anteriores, o

editorial é um gênero jornalístico que expressa a opinião oficial do órgão de

imprensa, seja ele escrito, falado ou televisionado, diante de fatos de maior

representatividade no momento (1994, p.95).

Sob a ótica de KRIEGER (1990, p.155-8), há algumas peculiaridades

nos discursos dos editoriais que ocorrem em função de seu objetivo de

opinar, buscando, muitas vezes, a defesa dos interesses de uma

coletividade. Para a autora, esses discursos caracterizam-se por ser:

- de exigência, em nome da coletividade, do compromisso público;

- de caráter mediador, apresentando-se como uma fala

intermediária, direcionada aos governantes – o narrador atuando

como porta-voz da coletividade ;

- de natureza deliberativa, propondo leis que visem ao bem da

comunidade.

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Ao opinar em defesa do bem da sociedade, a instituição jornalística

pode estar usando uma estratégia, para, implicitamente, defender seus

próprios interesses ou os interesses da mídia como um todo. Assim,

dissimulando interesses próprios e ressaltando necessidades coletivas, o

jornal mantém uma boa imagem junto ao público.

A partir de tais características, pode-se dizer que o editorial é um tipo

específico de texto utilizado pelos jornais para persuadir seus leitores a

verem os fatos do modo como a instituição julga adequado. Para isso, busca

criticar ações que a maioria do público gostaria de ver criticadas. Por outro

lado, da forma como a opinião é expressa, tais textos podem despertar a

atenção das pessoas para questões que estão no dia-a-dia e para a

necessidade de tomada de posição.

Vale observar que segundo MELO (1994, p.96), nas pequenas

empresas jornalísticas, a opinião dos editoriais ainda representa o

pensamento dos donos dessas empresas. Isso pode ser verificado em

empresas de pequeno porte como o jornal A Razão, onde poucas vozes

determinam a opinião da empresa (Zaira de Grandi – dona e diretora e

Claudemir Pereira – editor). Por outro lado, em empresas de maior porte o

editorial pode não se limitar apenas à opinião do/a dono/a e de sua

assessoria direta, mas pode se constituir do consenso de diferentes visões

que compõem o todo dessa instituição, como, por exemplo, em Zero Hora e

Folha de S. Paulo. O consenso de diferentes visões remete ao fato de que,

pelo crescimento das empresas jornalísticas, o capital é divido em ações,

portanto, muitas pessoas passam a tomar parte na direção dessas

instituições.

Os produtores dos jornais, agindo como figuras mediadoras entre o

que é informado e o público leitor, cultivam características típicas do objetivo

da audiência–alvo, bem como uma solidariedade para com ela

(FAIRCLOUGH,1992a, p.109). A mídia opina, procura ir ao encontro dos

interesses do público leitor, e sempre, pelo menos aparentemente, busca

defender tais interesses. Essa estratégia é utilizada como uma forma de

estreitar os laços com o leitor, buscando manter uma relação amigável.

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Assim, atrás da defesa de interesses do bem comum, pode haver

uma defesa de interesses cooperativos ou até mesmo político-partidários

(por exemplo, na época das eleições).

Para FAIRCLOUGH (idem), a linguagem comum e a solidariedade é

um fenômeno ligado ao consumismo, de modo a encaixar os ‘produtos’

jornalísticos nos estilos de vida dos leitores e a recrutar esses leitores, ao

mesmo tempo em que molda certos estilos de vida.

Como os editoriais procuram ditar normas e procedimentos, visando

influir na manutenção ou na alteração de comportamentos, os textos dos

editoriais podem ser caracterizados como exemplares do discurso exortativo.

3.3 Estruturação argumentativa em editoriais: TEXTO

O editorial pode ser visto como um texto em que o escritor6 tem a

função de argumentador, pois organiza a estrutura argumentativa de seu

texto com a intenção de persuadir o leitor. Assim, revelam-se os

participantes desse ato lingüístico: o autor do editorial e os leitores, que

interagem num dado momento que reflete os fatores sociais e históricos da

sociedade. A comunicação que se estabelece entre tais participantes

obedece a um contrato em que o leitor espera que o editorialista manifeste a

opinião da instituição sobre um fato de certa repercussão social no

momento.

Como subtipo do discurso comportamental, o discurso exortativo dos

editoriais, conforme já exposto, objetiva reforçar ou alterar certas condutas

do leitor (LONGACRE,1992, p.109), exortando o leitor a tomar uma atitude e

agir da forma que está sendo determinada ou sugerida.

O discurso exortativo, conforme o modelo de LONGACRE (idem),

apresenta uma estrutura composta por quatro movimentos, que podem

ocorrer, às vezes, de forma subseqüente, o que significa que o movimento

6Quando se estiver tratando de editoriais, pode-se utilizar, para substituir a palavra editorialista, escritor.

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posterior complementa o anterior. Nesse modelo, o movimento 1 estabelece

autoridade e credibilidade para o produtor do texto; o movimento 2 apresenta

a situação e ou o problema que será discutido; o movimento 3 apresenta

comandos, que podem ser dissimulados em sugestões, e o movimento 4

propõe resultados desejáveis ou não (ver seção 2.2.2). O movimento 3 é

considerado básico no discurso exortativo, pois é através de comandos e

sugestões que o leitor pode ser exortado a agir da maneira que o escritor

determinar.

Percebe-se que todos os movimentos são importantes para construir

um discurso que tenha a intenção de persuadir/exortar7, pois um movimento

pode complementar o outro; por exemplo: o movimento de comando

depende da apresentação de uma situação e/ou o problema sobre a qual o

autor possa propor sugestões e apresentar dados. Da mesma forma, a

conclusão ou motivação se efetiva em função de uma situação que já terá

sido discutida no texto e justifica o comando ou sugestão produzido pelo

editorialista.

A seguir, busca-se levantar, nos textos em análise, o modo como as

três instituições constroem o seu argumento, servindo-se ou não dos quatro

movimentos que perfazem um discurso exortativo. Para isso, analisa-se a

constituição de cada movimento em separado.

3.3.1 Movimento 1 – uso da autoridade e da credibilidade do

editorialista

Esse estágio tem como ponto central a utilização da autoridade, do

poder de quem escreve. Nessa etapa, o editorialista faz uso de argumentos

que revelam o seu conhecimento, bem como o conhecimento de suas

fontes. Para tanto, faz alusão a dados numéricos que respaldam o seu

discurso, terminologia técnica, citações e alusão ao poder instituído. A

demonstração da autoridade nem sempre está explicitamente demarcada,

7 LONGACRE (1992) atribui algumas diferenças tênues para os atos de ‘persuadir’ e ‘exortar’, neste trabalho, porém, consideram-se como sinônimos.

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pode também estar implícita em outros movimentos que constituem o

editorial, ou apresentar-se intercalada entre os outros blocos do texto. Essa

ocorrência se deve ao fato de o editorial, como um todo, ter a intenção de

fazer o seu leitor ‘agir’ ou ‘pensar’ em uma direção. Necessita, portanto, de

elementos que credenciem a presença do escritor no texto. Dessa forma, o

editorialista utiliza artifícios para assegurar a sua credibilidade, tentando

aumentar assim o seu poder de convencimento. Um dos artifícios para

assegurar a autoridade é a citação e referência a pessoas conhecedoras do

assunto tema e a políticos, ministros, economistas, conforme o Exemplo 3.1.

Exemplo 3.1:

a- Há também informações de que a McLaren quer instalar uma fábrica no Estado, provavelmente em Vacaria. É hora, mais uma vez, como observou recentemente o presidente da Assembléia Legislativa, João Luiz Vargas, de Santa Maria entrar nessa luta. Se Vacaria pode por que não podemos? (AR# 1,§ 7)

b- A perspectiva de que teremos um Natal de poucas vendas, conforme prevêem as

principais federações empresariais da indústria e do comércio do país não pode ser argumento para desistir.(AR# 3,§ 3)

c- Ao participar esta semana da Convenção Nacional do Comércio Lojista, em Belo

Horizonte, o presidente da Câmara dos deputados fez afirmações surpreendentes. Disse o senhor Michel Temer que a reforma tributária só entrará na pauta do Congresso em 1998. E não esqueceu de advertir que aquele poder só vai trabalhar até maio ou junho do ano que vem.[...] fica patente que a emenda só será apreciada em 1999, apesar de vir sendo proclamada alta prioridade nacional desde 1995. (ZH# 1,§ 1)

d- Além disso, o Brasil conta com recursos que nem todos os países têm. Como bem

lembrou, ontem o presidente da Confederação Nacional da Indústria, senador Fernando Bezerra, o país está enfrentando a crise com suas próprias reservas, sem pedir socorro a entidades internacionais. (ZH# 2, § 2)

e- Antecipando as linhas gerias do pacote, o ministro do Planejamento advertiu que o

mundo financeiro é agora diferente de antes da crise e supõe “maiores riscos”. O déficit crescente nas contas externas e internas do país deverá ser menos tolerado. Segundo o senhor Antônio Kandir, o objetivo do ajuste será de criar uma “couraça fiscal” para garantir o real contra futuras turbulências.(ZH# 3,§ 2)

f- No varejo, repete cenas típicas de pacotes, em que deslizes e medidas de impacto

apenas psicológico misturam-se a decisões acertadas. Um exemplo de deslize os pronunciamentos contraditórios da Fazenda sobre a

fixação de preços em operações com cartões de crédito. Além do “saco de maldades” citado pelo presidente do BC, Gustavo Franco, há

também um “saco de improvisos” que só atrapalham. (FSP# 4, § 1;2;3)

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g- As empresas foram autorizadas a dobrar a quantidade de títulos que podem recomprar. E o BNDS ofereceu um crédito de R$ 1 bilhão para financiar tais recompras a juros favorecidos. (FSP# 4,§ 4)

Esses exemplos do Movimento 1 retratam a utilização da autoridade

como forma de proporcionar maior credibilidade ao discursos de editorialista

e, portanto, maior poder de persuasão/exortação.

No exemplos 3.1 ‘a’, o editorialista considera-se como alguém que

‘sabe’ do que está tratando e, como conhecedor, procura motivar as pessoas

a pensar da forma que ele está sugerindo. A sua autoridade é expressa em

dois momentos: quando o editorialista se mostra como bem informado, por

exemplo, na vinda de fábricas para o Estado e quando usa o discurso do

presidente da Assembléia Legislativa, o deputado João Luiz Vargas (ex-

prefeito de São Sepé, cidade vizinha de Santa Maria), para dar maior

respaldo a sua posição, ou seja, a necessidade de Santa Maria se mostrar

no cenário das cidades que possuem potencial. Essa posição parece ser

compartilhada por ambos – a instituição jornalística e o presidente da

Assembléia Legislativa. No exemplo ‘b’, também do jornal A Razão,

novamente o editorialista utiliza o que já foi dito por outrém, para a partir

desse discurso, ressaltar uma posição. Nesse caso, ela é contrária, ou seja,

eles prevêem ‘x’, mas em função disso novos artifícios têm que ser criados

para superar essa situação desfavorável.

O editorialista, no exemplo ‘c’, toma o discurso do presidente da

Câmara dos Deputados para tecer comentários em tom de contrariedade,

deixando claro para o leitor que as críticas do editorialista surgem em função

de um pronunciamento do senhor Michel Temer. Usando essa informação

para mostrar que as suas críticas têm uma origem que proporcionam

credibilidade ao seu posicionamento e poder de convencimento. Nos

exemplos ‘d’ e ‘e’, o recurso da autoridade está presente nas referências a

pessoas influentes do governo (Fernando Bezerra e Antônio Kandir) que são

usadas, nos dois exemplos, após o Movimento 2, ou seja, utiliza as marcas

de autoridade para melhor situar o leitor na informação contida no texto.

No exemplo ‘f’, o escritor deseja criticar o sistema financeiro brasileiro,

e a autoridade a essas críticas parte dos pronunciamentos do presidente do

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Banco Central, os quais ele considera como ‘contraditórios’. Observando que

além do “saco de maldades” citado por Gustavo Franco, há um “saco de

improvisos”. Assim, o ‘saco de maldades’ faz parte das ações contraditórias

do governo e o ‘saco de improvisos’ corresponde às medidas de impacto

que não surtem os efeitos almejados.

O exemplo ‘g’, revela os conhecimentos do escritor em relação ao fato

que aborda, em função deles tece suas opiniões e busca dar credibilidade

ao assunto. A revelação de que é sabedor de mais dados sobre o que está

tratando é demonstrada na primeira sentença ‘empresas autorizadas a

dobrar a quantidade de títulos’ e na segunda sentença ‘o BNDS ofereceu um

crédito de R$ 1 bilhão’.

A partir dos exemplos, observa-se que o recurso da autoridade pode

ser considerado eficaz para dar respaldo àquilo que o editorialista aborda, o

que resulta em maior credibilidade ao texto e, conseqüentemente, contribui

para uma aceitação por parte do público leitor. A autoridade e a credibilidade

são dadas ao texto também pela nominata institucional que se localiza acima

dos editoriais. Cada uma das instituições em análise, possui um espaço

consagrado nos contextos em que atuam (regional, estadual ou nacional).

Esse fator dá credibilidade ao editorialista e autoridade para tratar de

assuntos da forma que a instituição julgue adequado.

Em relação à autoridade invocada, pode-se dizer que a instituição A

Razão, como aborda temas locais e regionais, tem como uma das fontes de

manifestação da autoridade o presidente da Assembléia Legislativa do RGS

(João Luiz Vargas). O jornal Zero Hora, com direcionamento a temas

nacionais, usa como fontes de autoridade o presidente da Câmara dos

deputados (Michel Temer), o presidente da Confederação Nacional da

Indústria (Fernando Bezerra) e o ministro do Planejamento (Antônio Kandir).

A Folha de S. Paulo faz referência a presidente do Banco Central (Gustavo

Franco). Dessa forma, percebe-se que o recurso de autoridade está

relacionado à abrangência dos assuntos em cada instituição, se o assunto

se dá em nível nacional, usa-se como manifestação de autoridade, por

exemplo, o senhor Antônio Kandir. Já quando se trata de assuntos regionais,

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pode-se considerar que a invocação da autoridade de um deputado estadual

é suficiente para fornecer mais força argumentativa ao editorial. Assim, cada

instituição sabe quais as fontes que podem ser utilizadas de acordo com

suas posições e valores para assegurar veracidade ao seu discurso.

As ideologias estão encaixadas nas práticas discursivas e são mais

efetivas quando elas se tornam naturalizadas, ou seja, quando são

transmitidas como se fossem senso comum (FAIRCLOUGH,1992a, p.87).

Muitas vezes, o editorialista pode marcar a sua autoridade e o seu poder,

sem que isso seja percebido pelo leitor. Para exemplificar, pode-se citar um

excerto do jornal A Razão:

Exemplo 3.2

Nessa época (Natal) é natural que se compre mais, pois presentear significa dar um pouco de si ao outro – a essência do pensamento cristão e de todas as religiões (AR#3, §6).

No exemplo, para melhor convencer os comerciantes e o público em

geral sobre as expectativas de vendas no período do Natal, o editorialista

considera que é natural que as pessoas comprem mais, e relaciona o ato de

trocar produtos com uma forma de compartilhar sentimentos. Assim,

promove a fusão de atos muitas vezes dissonantes: a troca de sentimentos e

a de mercadorias. Como, porém, de certa forma, a idéia já está enraizada na

cultura ‘capitalista’, ela passa a ser vista com status de senso comum, como

se a troca de sentimentos pudesse, de fato, estar no mesmo plano da troca

de mercadorias. Essa visão que a instituição tenta imprimir, pode ser

justificada, a partir da ideologia da empresa, ou seja, da ideologia do livre

mercado, da competição. Dessa forma, o enfoque na necessidade de

incrementar a vendas corresponde a essa ideologia.

3.3.2 Movimento 2 – apresentação da situação e/ ou problema

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O Movimento 2 pode ser considerado, nos textos em análise, como

aquele que desencadeia os três demais movimentos que perfazem o texto

do editorial. Em função de uma situação e/ou de um dado problema, o

editorialista pode usar sua autoridade, utilizar comandos e sugestões e

propor resultados.

Exemplo 3.3:

a- Natal no coração Na próxima quinta-feira, entidades e empresas estarão lançando a programação do projeto Natal no Coração, uma iniciativa que já vinha sendo desenvolvida antes da crise nas bolsas de valores e do lançamento do pacote de novembro com medidas de ajuste destinadas a manter a estabilidade. A partir do anúncio de aumento nas taxas de juros e uma série de outras medidas que atingem sobretudo a classe média, a realização do Natal no Coração passou a ser um desafio...Os empreendedores ...desconhecem a palavra problema, esta, aliás, abominada por todos aqueles que alcançam as suas metas e vencem na vida.(AR# 3, § 1;2) b- Grandes possibilidades A semana foi promissora em termos de eventos em Santa Maria e em alguns municípios vizinhos com a realização dos Seminários RS: Uma vocação Plástica e Construbusiness. Embora distintos e realizados por entidades por entidades diferentes, as promoções trouxeram novas informações e possibilidades para que atuais e futuros empresários melhor direcionem seus investimentos. O seminário sobre vocação plástica procurou esclarecer as oportunidades no setor... O mais importante foi o anúncio de que nos próximos meses Santa Maria deverá contar com pelo menos três empresas do setor... Já o Construbusiness, entre outras realizações, alertou para uma exigência vital em tempos de globalização: a qualidade... . A campanha da Ascon se propõe a conscientizar o consumidor da necessidade de escolher bem serviços e produtos...Oferece, assim, a entidade, uma garantia a sua clientela. (AR# 4, §1;2;3;4;5) c- Enfrentando o terremoto O governo brasileiro está empreendendo um grande esforço para defender o real, o modelo cambial e a estabilidade do turbilhão especulativo gerado em Hong Kong e que atinge mais fortemente as economias emergentes. Para isso, viu-se obrigado a elevar as taxas de juros, provocando reações controversas do mercado: ao mesmo tempo em que a medida atenuou o nervosismo, fazendo inclusive com que a Bolsa de São Paulo fechasse em alta ontem, também provocou o temor de recessão. É uma aposta arriscada, mas que precisava ser feita, até para confirmar a convicção na atual política econômica. (ZH# 2, § 1) d- Dupla responsabilidade As bolsas de São Paulo e Rio de Janeiro caíram ontem a ponto de terem os pregões suspensos pelo circuit breaker, um sistema de segurança que é acionado quando o valor das ações cai em excesso. No caso da Bovespa o pregão foi suspenso quando a baixa chegou a 10%. As quedas generalizadas de ontem nos mercados mundiais foram puxadas pela Ásia: Hong Kong caiu 2,9 % enquanto Tóquio fechou o pregão com queda de 4,22%. Os números mostram que a crise das bolsas perdura e que a situação dos mercados exige cautela. A persistência da instabilidade mundial e nacional fará o

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governo brasileiro lançar um conjunto de medidas de aperto fiscal, com cortes nos gastos e aumentos tributários. (ZH# 3, § 1) e- A riqueza do subsolo A venda de direitos para lavra de jazidas já identificadas deve permitir que a iniciativa privada produza riqueza com base em recursos hoje ociosos. Mas, se a intenção de retirar o Estado da esfera produtiva é acertada, vender tais direitos a preço fixo – como pretende o governo – talvez não seja a melhor forma de fazê-lo. (FSP# 1, § 1) f- Receita contra fundos A Receita Federal elegeu como um de seus alvos os fundos de previdência privada. São 348 instituições, com patrimônio de US$ 82 bilhões, que não pagam impostos. Amparados numa interpretação discutível da Constituição, que isentaria entidades de assistência social, os fundos nem depositam em juízo o montante do débito, estimado pela receita em R$ 8 bilhões... Trata-se de mais uma evidência da falta de regras legítimas e transparentes no sistema financeiro brasileiro... Há vários equívocos nessa situação. Primeiro é condenável que a receita ameace fazer devassa para persuadir contribuintes... Os fundos de pensão estão, entretanto, abusando de uma brecha constitucional...Mas os fundos administram recursos dos que têm renda até para poupar. (FSP# 3, § 1;2;3;4;5)

É através do Movimento 2- a situação e/ou o problema, que o leitor

fica a par do que tratará o texto, são essas informações preliminares que

têm substancial relevância na continuidade do texto. Esse movimento pode

ser considerado o ponto de maior tensão no texto, tendo em vista que a

partir de um problema ou situação é que são propostas as saídas ou

soluções. O título pode fornecer pistas sobre a informação que o texto

contém.

No exemplo ‘a’, a situação é manifestada no título e, também, nos

dois primeiros parágrafos, que tratam da campanha que as entidades do

comércio de Santa Maria promovem ‘Natal no Coração’. Assim, a discussão

concentra-se nesse tema. No entanto, na segunda sentença, o editorialista

evidencia problemas que poderão interferir no sucesso da campanha: como

o ‘aumento das taxas de juros e outras medidas de ajuste...’. Sendo que

esses problemas são vistos pelo editorialista como um obstáculo a ser

superado, pois representam um ‘desafio’ para que os empresários se

empenhem ainda mais para superar a atual situação. Os argumentos

posteriores serão construídos em função dessa situação e dos problemas já

evidenciados.

Nos exemplos ‘c’ e ‘d’, o primeiro parágrafo de cada texto coloca o

leitor a par das dificuldades que o governo está enfrentando para defender a

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economia brasileira dos problemas que foram originados com a queda das

bolsas. No caso do primeiro exemplo, ‘Enfrentando terremoto’, o editorialista

repassa para o leitor uma situação que é a defesa do real que o governo

está tentando fazer e noutra sentença considera que a atitude representa

uma ‘aposta arriscada’, mas que precisa ser feita. O uso verbo ‘enfrentar’

que serve para demonstrar que o governo está fazendo a coisa certa, pois

está ‘empreendendo um grande esforço para defender o real’. Assim, ao

mesmo tempo em que apresenta o problema, o escritor declara que ele está

sendo bem contornado pelo governo. O restante do texto é o desdobramento

dessa ‘situação problemática’, sempre ressaltando atitudes do governo

consideradas positivas. Assim, apesar de haver um problema, o governo

está sabendo contorná-lo, portanto, o ‘problema’ é apresentado sob uma

ótica otimista. O exemplo ‘d’, com o título ‘Dupla responsabilidade’, retrata

uma situação de crise que o país está passando e que, para resolvê-la,

várias medidas devem ser tomadas. Essas medidas são evidenciadas no

decorrer de todo o texto e a explicitação do que seja a ’Dupla

responsabilidade’ não ocorre no Movimento 2, mas sim no Movimento 3 (§3).

A situação e/ou o problema, nos exemplos ‘e’ e ‘f’, também é

evidenciada, em parte, no primeiro parágrafo. A situação e o problema

(exemplo ‘f’) podem ser observados nas sentenças: “A Receita Federal

elegeu...os fundos de previdência privada”(situação). “São 348

instituições...que não pagam impostos” (problema). “Trata-se de mais uma

evidência de falta de regras legítimas e transparentes...”. “Há vários

equívocos nessa situação”. No exemplo ‘e’, há, primeiro, uma situação:

“...venda de direitos para a lavra de jazidas...produza riqueza...” e, logo

após, um problema: “vender tais direitos a preço fixo...talvez não seja a

melhor forma de fazê-lo”. A situação e o problema de que tratam esses

textos são demonstrados, principalmente, no primeiro parágrafo.

A partir dos exemplos apresentados, pode-se apresentar alguns itens

lexicais que ressaltam o problema/situação de que trata o editorialista:

‘crise’, ‘problema’, ‘turbilhão especulativo’, ‘reações controversas’, ‘temor de

recessão’, ‘instabilidade’, ‘cai em excesso’, ‘cortes’, ‘aumentos’, ‘não’, ‘falta

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de regras’. Todos esses itens, mesmo que apresentados de forma isolada, já

informam para o leitor a existência de algum tipo de problema. Sendo que

inseridos no contexto do texto situam o leitor sobre a existência de um

problema, fornecendo argumentos em relação a melhor maneira de

solucioná-lo.

O movimento situação e/ou problema encontra-se presente em todos

os editoriais analisados, porque tem a função de situar, de localizar o leitor

naquilo que trata o texto. A apresentação de uma situação ou de um

problema (ou de ambos), nos textos em análise e em outros de modo geral,

é de suma importância para que se construa um texto de forma coerente,

pois a partir desse estágio os outros serão desenvolvidos, e a argumentação

e a ação de exortar serão estabelecidas. Pode-se dizer que, nesse estágio,

o escritor introduz o seu tema e dá pistas para o leitor de como esse tema

será conduzido no decorrer do texto, ou seja, sinaliza para o leitor qual é a

posição que será adotada em relação ao assunto em questão.

3.3.3 Movimento 3 – utilização de comandos e sugestões

Por meio deste movimento, são apresentados vários comandos e

sugestões que procuram levar o leitor a aceitar os argumentos defendidos

pelo editorialista e ver os fatos do modo desejado pela instituição. Tais

comandos/sugestões podem ser explicitados (marcas em itálico dos

exemplos que seguem) por verbos que sugerem, ordenam, comandam, bem

como por alguns verbos modais e por palavras ou expressões que indiquem

uma maneira enfática do escritor demonstrar seu modo de ver os fatos.

Exemplo 3.4:

a- Essa motivação, cujo combustível é a esperança, deve ser potencializada para outros objetivos. Hoje em dia não se pode ver o espiritual separado do material. Antes de vermos a parte, temos que ver o todo. Por isso achar que o Natal não pode ser uma data comercial é um equívoco já que as pessoas vivem melhor se conseguirem atender suas necessidades materiais. (AR# 3, § 4)

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b- A realização dos dois eventos, contudo, não basta por si só. É preciso

que, a partir de agora, também o Poder Público cumpra com sua parte, qual seja a de se integrar às ações que virão pela frente. (AR #4, § 6)

c- Evidentemente, outros fatores precisam ser considerados, entre os quais a

necessidade de dar andamento às reformas constitucionais... A elevação dos juros é, sem dúvida, uma medida drástica que deve vigorar apenas pelo período necessário para evitar a fuga de capitais. (ZH#2, § 2;3)

d- É preciso, no entanto, reconhecer que o conjunto de medidas fiscais

proposto pelo governo representa uma tomada de posição diante da crise dos mercados. [...] Neste sentido...o ajuste precisa ser mantido num nível que lhe garanta eficácia.

Este objetivo – que não é apenas do governo, mas do país – deve presidir as preocupações dos parlamentares que, a partir de quarta-feira, começam a votar as medidas provisórias do ajuste fiscal.[...] a aprovação do pacote é uma arma decisiva. (ZH#4, § 2;3)

e- Contratos de acordo com o rendimento da mina parecem mais

apropriados. Trata-se de uma riqueza que o setor privado pode explorar não só em benefício próprio, mas principalmente da nação. É preciso privatizá-la com critério.(FSP#1, §1;7)

f- ...Agora é preciso ir além desse debate, privilegiando ações conjuntas

voltadas para a promoção da tecnologia. (FSP#2, § 4)

g- Devem-se buscar apenas, como aliás já ocorre em todos os países civilizados, esquemas de apoio à formação da poupança que incluam seja isenções fiscais limitadas, seja o pagamento posterior de tributos. Modelos não faltam. Mas, no Brasil, cuja legislação é capenga, os fundos não recolhem impostos e ainda não há meios de cobrá-los. (FSP#3, §6)

Com os exemplos acima, pode-se constatar por que este movimento

é considerado básico no discurso exortativo. É através dos comandos ou

das sugestões que o editorialista se expõe, de forma clara ou dissimulada, e

apresenta as soluções, que entende como as melhores ou as mais viáveis,

para o tema sobre o qual se discute, em busca de adesão as suas idéias.

Para isso, utiliza as formas modais enfatizando as suas recomendações tais

como ‘essa motivação [...] deve ser potencializada para outros objetivos’

(exemplo ‘a’), ‘É preciso que...’ (exemplo ‘b’). No exemplo ‘a’, o editorialista

estabelece uma condição única para que o comércio de Santa Maria tenha

êxito: ‘só terá êxito se souber aproveitar como oportunidade ímpar a

motivação que, mesmo diante da crise, toma conta das pessoas a cada final

de ano’.

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Como esse movimento caracteriza-se pela exortação, é nele que o

editorialista posiciona-se a favor ou contra uma dada medida ou emite seu

juízo sobre um dado problema que venha ocorrendo, buscando direcionar o

leitor para a medida que entende ser adequada para o problema (o exemplo,

‘f’).

O editorialista procura demonstrar que é um conhecedor do assunto já

que, quanto mais o for, mais possibilidade terá sua proposta de solução de

convencer o seu interlocutor. Concebendo-se como um conhecedor do

assunto em questão, ele cria com o leitor uma relação que pode ser assim

traduzida: quem escreve tem o poder do conhecimento, por isso sabe

argumentar, sugerir e dar conselhos; por outro lado, o leitor que é o que se

submete, precisa ser informado, porque, muitas vezes é ‘desconhecedor’ do

assunto em tese (como no exemplo ‘e’).

A função primordial do editorial de exortar o leitor a posicionar-se de

uma certa forma só se materializa se o leitor, além de compreender o texto,

o aceita, ou seja, acredita na mensagem apresentada e concorda com o que

nela está expresso. Assim, aderindo às idéias do editorialista, o leitor poderá

tomar uma de duas atitudes: ou reforçará e manterá um posicionamento

prévio condizente com o editorial ou adequará seu ponto de vista a ele. O

movimento 3 cumpre um papel de destaque, pois se os comandos e

sugestões forem eficazes, poderão atingir a persuasão/exortação do

receptor da mensagem.

3.3.4 Movimento 4 – sinalização dos resultados desejáveis ou não

desejáveis

Pode-se dizer que, nos textos analisados, o Movimento 4 pode estar

interligado com os comandos e sugestões do Movimento 3, na forma de uma

projeção dos resultados esperados. No Movimento 4, o escritor avalia os

resultados ou efeitos que podem ser conseguidos com a realização de uma

ação. Esse movimento é importante, pois corresponde ao fechamento de

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todos os argumentos apresentados, conforme as marcas em itálico nos

exemplos que seguem:

Exemplo 3.5:

a- ...É necessário, portanto, que saiba “vender” o seu peixe; mostrar exaustivamente porque é melhor investir neste e não naquele outro lugar, criando, desse modo, condições favoráveis para uma parceria com novos empreendedores. (AR# 1, § 6)

b- É com esse novo discurso e ações integradas, planejadas e bem articuladas politicamente que construiremos a Santa Maria do futuro. (AR# 2, § 7)

c- ... Em matéria de tributos, o país precisa é de uma reforma séria e profunda que

amplie a base de contribuição, reduza o número de impostos e simplifique as relações entre os contribuintes e o Fisco.(ZH# 3, § 4)

d- ...No momento em que ainda vigora em todo mundo uma visão pessimista quanto às

possibilidades de os países emergentes enfrentarem a conjuntura adversa, presteza com que o Brasil adotou decisões importantes tende a provar o contrário. Nesse contexto, a decisão presidencial de dar flexibilidade ao pacote fiscal não deve ser encarada como um gesto de fraqueza ou uma demonstração de insegurança. Antes deve ser uma prova de que as instituições têm força e que o país tem condições de escolher seus caminhos. (ZH# 4, § 3;4)

e- Desenvolver a capacitação científica pode significar a defesa de reservas

cambiais, por exemplo, já que a praga do amarelinho atinge uma das principais culturas de exportação.

Recursos públicos destinados a programas inteligentes e sintonizados com as necessidades da economia e diálogo entre cientistas e empresários: essa a receita para que alguém depois possa dizer “eureca ”. (FSP#2, § 5;7)

O Movimento 4, como se pode observar nos exemplos, está

concentrado nos últimos parágrafos do texto, tendo a função de concluir e

fechar os argumentos apresentados anteriormente e de motivar o leitor a ver

certas ações de forma positiva.

No exemplo ‘b’, o editorialista retoma os argumentos utilizados nos

Movimentos 2 e 3, propondo que as lideranças políticas destaquem

qualidades ‘geográficas, climáticas e recursos humanos’. O ‘novo discurso’

que o escritor sugere como solução para que a cidade seja vista de forma

diferente advém dessas qualidades.

No exemplo ‘d’, o editorialista reforça o argumento de que sua

sugestão (“a aprovação do pacote é uma arma decisiva”) é adequada por

intermédio de uma projeção dos resultados, nesse caso, desejáveis: [a

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rapidez em adotar o pacote] tende a provar [que o Brasil tem possibilidade

de enfrentar a conjuntura adversa].

Uma característica pode ser percebida de modo semelhante em todos

os textos tomados para análise: o movimento de estabelecimento da

autoridade (Movimento 1) apresenta-se interligado com os outros

movimentos, sem um lugar fixo, e, às vezes, diretamente atrelado ao

movimento de comando ou de sugestão.

As diferenças entre esses textos devem-se ao fato deles serem

produzidos por diferentes instituições, por diferentes editorialistas,

representando domínios sociais específicos e visões de mundo peculiares

de cada instituição e escritor.

No entanto, em todos os textos examinados, há características

argumentativas recorrentes: os editorialistas partem de um situação e/ou o

problema e procuram propor soluções para esse problema; possuem, pois,

um caráter normativo e de autoridade, pois buscam interferir no

procedimento das pessoas.

A seguir, busca-se analisar, na Tabela 3.2, a freqüência com que os

movimentos do discurso exortativo aparecem nos editoriais analisados.

Tabela 3.2 Freqüência de movimentos do discurso exortativo.

A Razão

Zero Hora

Folha de S.

Paulo

Total

Movimento 1 sim - 4 textos sim - 4 textos sim - 4 textos 12 textos

Movimento 2 sim - 4 textos sim - 4 textos sim - 4 textos 12 textos

Movimento 3 sim - 4 textos sim - 4 textos sim - 4 textos 12 textos

Movimento 4 sim - 4 textos sim - 4 textos sim - 3 textos 11 textos

Reforça-se, com essa análise, a idéia de que os textos dos editoriais

apresentam uma configuração que os identificam como pertencentes ao

discurso exortativo. Percebe-se, na Tabela 3.2, que os textos das três

instituições apresentam consistentemente os quatro movimentos.

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A Tabela 3.3 a seguir demonstra a sistematicidade dos editoriais em

que cada movimento sucede o outro, em seqüência crescente, a partir do

Movimento 2.

Tabela 3.3 Sistematicidade nos textos dos editoriais.

A Razão

Zero Hora

Folha de S.

Paulo

Total

Movimentos

sistemáticos

4 textos

4 textos

4 textos

12 textos

O Movimento 1 não se enquadra nessa sistematicidade porque, na

maioria das vezes, encontra-se intercalado nos outros movimentos. Deve-se

ressaltar que em alguns textos essa seqüência (Movimento 2; 3; 4) pode se

repetir em ciclos como, por exemplo, em FSP#1, ZH#1;3.

Com essa análise, observa-se que o argumento é construído de

maneira sistemática em exemplares das três instituições. Essa característica

confirma nos editoriais a estrutura do discurso exortativo, na medida em que

se encaixam no modelo de LONGACRE (1992) e possuem o Movimento 3,

considerado essencial.

Tanto a construção sistemática do texto, como a presença dos

movimentos congregam na ação de persuadir no discurso do editorialista.

Acredita-se que as variações que possam ocorrer no gênero editorial,

localizam-se em nível de microestrutura, ou seja, na forma como cada

editorialista utiliza instrumentos lingüísticos para chamar atenção e exortar o

leitor.

Fatores microestruturais, podem afetar a construção do argumento,

em diferentes editoriais, em função do modo como sinalizam a estrutura

textual e a interação do escritor com o leitor. A utilização desses recursos

tem a função de reforçar o argumento do escritor e o potencial persuasivo

numa dada direção. Esses elementos serão abordados a seguir, como

elementos auxiliares na construção do discurso exortativo.

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3.4 Recursos metadiscursivos de construção da retórica exortativa:

DISCURSO

O ato de exortar ou persuadir é realizado por meio de um conjunto de

recursos lingüísticos que são utilizados pelo escritor para sustentar sua tese.

Com tais recursos, o escritor visa obter alguns efeitos, como esclarecer e

exemplificar, para persuadir o leitor de seu ponto de vista. Nesse sentido, a

construção do ato de argumentar, no caso dos editoriais, busca a adesão do

leitor à tese do editorialista. Esses recursos têm a finalidade retórica, pois

têm seu emprego determinado em função das intenções do escritor.

Para OSAKABE (1979, p.82), “o ato de argumentar constitui uma

espécie de operação que visa fazer com que o ouvinte não apenas se inteire

da imagem que o locutor faz do referente, mas principalmente que o ouvinte

aceite essa imagem”. Dessa forma, o ato de argumentar objetiva um

engajamento do ouvinte/leitor em relação àquilo que está sendo apresentado

pelo locutor/escritor.

A força argumentativa é assegurada pela autoridade, pelos dados,

pelos comandos ou pelas sugestões, bem como por recursos lingüísticos,

que apontam para a direção sinalizada pelo produtor do texto. É através da

força argumentativa que o editorialista pode exortar o leitor a agir de uma ou

de outra forma. Persuadir é sinônimo de submeter, daí a sua vertente

autoritária, pois quem persuade leva o outro à aceitação de uma dada idéia.

(CITELLI,1995, p.13).

Para que o editorialista construa um argumento que consiga

persuadir, necessita utilizar determinados recursos que colaborem para a

coerência de seu discurso. Dentre os recursos que podem contribuir para

esse fim, destacam-se os elementos metadiscursivos que asseguram a

tessitura do texto, propiciam a ligação das partes do texto, contribuem para

sua força retórica e imprimem um caráter mais convincente ao discurso do

editorialista.

Na visão de VANDE KOPPLE (1985), o metadiscurso corresponde

àquela parte que se adiciona ao texto, mas que não expande o conteúdo

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proposicional, contribuindo para que o leitor avalie, reaja, interprete e

classifique o conteúdo do texto. Portanto, o metadiscurso abrange duas

funções da linguagem interpessoal e textual, pois ajuda o escritor a interagir

com a sua audiência e organizar o que expressa de forma coesa e coerente.

Já na função ideacional, não se relaciona o metadiscurso, porque ela

representa o próprio conteúdo da mensagem (p.83-5) (ver também seção

1.4.4).

Os marcadores metadiscursivos apresentam-se distribuídos em até

sete tipos, conforme a classificação de VANDE KOPPLE (1985), mais tarde

reelaborada por CRISMORE (1989). Dentre esses, foram tomados três tipos

que parecem mais adequados para a análise microestrutural dos editoriais:

os marcadores de validade, de atitude e de estrutura textual. Os dois

primeiros marcadores caracterizam-se pela função interpessoal da

linguagem, enquanto que o terceiro, marca a função textual da linguagem.

3.4.1 Marcadores de validade

O conceito de marcador de validade está essencialmente ligado

àquele de modalidade, conforme já explicitado na seção 2.2.3.2. Através

desses marcadores, expressa-se a idéia de modalidade, que é definida a

partir da maior ou menor certeza do conteúdo da proposição expressa.

Assim, a modalidade pode ser examinada para se determinar o grau de

assertividade de um conteúdo proposicional.

Sabe-se que a questão da modalidade é um assunto muito difundido,

pois é abordada em dissertações (AYRES 1996; SILVA,1992,

PINHEIRO,1998), em teses (KRIEGER,1990; HEBERLE,1997) e em livros

(FOWLER, 1991, FAIRCLOUGH,1992a, HODGE & KRESS,1993,

KOCH,1993 HALLIDAY,1994,). Mas apesar da dedicação desses e de

outros autores em relação ao assunto, há muito pouco consenso sobre o

mesmo. Autores como os três últimos citados adotam terminologias

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diferentes para os mesmos referentes. Assim, por mais que estudos sejam

feitos, sempre haverá pontos a levantar e, certamente, dissensões existirão.

O presente estudo não poderia deixar de lado a questão da

modalidade, já que a sua análise é relevante em se tratando de textos como

os editoriais, que se utilizam dos recursos de modalização para construir a

argumentação. É certo, porém, que o assunto não se esgotará neste

trabalho.

A modalidade é definida como fazendo parte de um nível

intermediário entre o ‘sim’ e o ‘não’, ou seja, ao utilizá-la o escritor situa o

seu discurso ao longo de uma escala que pode variar entre probabilidade e

usualidade – obrigação e inclinação (HALLIDAY, 1994, p.357).

Cabe destacar, entretanto, que, através dos auxiliares modais, pode

ser expressa uma intenção ambígua, ou seja, aquele que enuncia pode estar

querendo se manifestar tanto abertamente quanto de maneira encoberta.

Por outro lado, inserida numa forma que “parece” pouco incisiva, pode estar

disfarçada uma opinião que busca arquitetar o convencimento justamente

pela maneira branda de expressar-se. Isso significa que o escritor não

conduz o enunciado assertivamente, dando-lhe um “tom” não autoritário,

dissimulando, portanto, sua intenção.

Esse caráter ambíguo da modalidade é proposto por HODGE &

KRESS (1993, p.123-5). Para eles, a modalidade, em geral, estabelece os

graus de autoridade em um enunciado, através dos auxiliares modais

(‘poder’, ‘dever’) que servem para realizar essa função. Sendo que é a partir

dos discursos produzidos com esses verbos que se pode distinguir o grau de

assertividade impresso.

Para distinguir os tipos de marcas de validade, aqui foi adotada a

terminologia proposta de HALLIDAY (1994, p.357) e KOCH (1993, p.74-8),

que subdividem a modalidade em dois enfoques: o da modalidade deôntica

e o da modalidade epistêmica. A modalidade epistêmica pode expressar

permissão: ‘Ela pode falar’; e capacidade em: ‘Ela é capaz de falar. A

modalidade deôntica expressa prognóstico: ‘Ela deve falar’; e obrigação em:

‘É dever dela falar’.

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3.4.1.1 Modalidade deôntica

Essa modalidade refere-se ao eixo da conduta, isto é, à linguagem

das normas, àquilo que se deve fazer. Apresenta-se numa escala que varia

entre o que é obrigatório, proibido, ou ordenado e aquilo que é permitido ou

facultativo fazer (KOCH,1993, p.78).

Pode-se perceber, conforme proposto por HALLIDAY (1994, p.88-9),

que a modalidade deôntica manifesta-se através de comandos, ofertas e

sugestões do falante/escritor para buscar estabelecer relações com o

interlocutor. Essa relação se dá através da função interpessoal, impressa na

força e no poder que o escritor quer exercer sobre o leitor, quer seja na

forma de uma sugestão, quer seja na forma de uma ordem. Neste tipo de

modalidade, o editorialista salienta aquilo em que ele acredita ou gostaria

que o seu leitor acreditasse, manifestando-se de forma enfática, pois tenta

assegurar a veracidade do seu texto.

Apesar de haver uma escala entre o que é apresentado como

obrigação e o que é sugerido, o discurso marcado pela modalidade deôntica

é autoritário, na medida em que o escritor procura manifestar um saber

(explícito ou implícito) e levar o leitor a aderir ao seu discurso, aceitando-o

como verdadeiro. Através da modalidade deôntica, institui-se um grau

máximo de engajamento entre quem produz o texto e a intenção de impor ao

leitor os seus argumentos, apresentando-os como incontestáveis (‘eu sei,

portanto, é verdade’) (KOCH,1993, p.87).

A modalidade deôntica pode ser representada através dos verbos

modais ‘dever, ‘precisar’, ‘necessitar, ‘permitir’, bem como através de outras

formas verbais que possuem caráter normativo. Há também advérbios que

demonstram esse aspecto (‘realmente’, ‘obrigatoriamente’,

‘necessariamente’).

Para a análise dos exemplos coletados desse tipo de modalidade,

utiliza-se a escala proposta por HALLIDAY (1994, p.357), já exposta no

Capítulo 2 da Metodologia (Figura 2.1). Nessa escala, o uso da modalidade

deôntica pode ser divido em três níveis: necessário, previsto e permitido.

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Essa divisão permitirá distinguir qual instituição a utiliza de forma mais

enfática.

Conforme foi enfatizado no Capítulo 2 da Metodologia, será

considerada como modalidade deôntica, nos exemplos a seguir, aquela que

permitir a substituição da expressão em negrito por: ‘é preciso que x...+

(não) verbo alterado para forma de subjuntivo. Assim, uma sentença como –

‘Não podemos esquecer o passaporte’ – pode ser transcrita como – ‘É

preciso que [nós] levemos o passaporte’. Os exemplos que seguem

abrangem todas ocorrências, em cada editorial, de sentença que possa ser

substituída pela fórmula ressaltada acima.

Exemplo 3.6:

A RAZÃO

a- Não há também como negar que a influência de fatores políticos e econômicos somados e lideranças em conjunto podem determinar decisões (AR#1, § 3)

b- [...]as lideranças políticas e empresariais precisam envidar todos os esforços para mostrar que investimentos de porte têm viabilidade econômica na região. (AR#1, § 4)

c- Mas é sempre bom salientar que não adianta ter determinadas vantagens sobre

outros sem que isso seja potencialmente divulgado. É necessário, portanto, que saiba “vender” o seu peixe; ou seja, mostrar exaustivamente porque é melhor investir neste e não naquele lugar [...] (AR#1, § 6)

d- É hora, mais uma vez,[...] de Santa Maria também entrar nessa luta. (AR#1,§ 7) e- Não podemos esquecer que Santa Maria está incluída, agora, na rede de

Mercocidades. (AR#1, § 8) f- E são essas qualidades que nossas lideranças devem destacar toda vez que forem

negociar a vinda de investimentos ou reivindicar algo para a região. (AR#2, § 5) g- A perspectiva de que teremos um Natal de poucas vendas [...] não pode ser argumento

para desistir. (AR#3, § 3) h- Essa motivação, cujo combustível é a esperança, deve ser potencializada para outros

objetivos. (AR#3, § 5) i- As pessoas se sentirão mais felizes se puderem presentear parentes e amigos. E é

nessa qualidade humana que os participantes do Natal do coração devem apostar e espantar a crise (AR#3, § 6)

j- A realização dos dois eventos não basta por si só. É preciso que, a partir de agora,

também o Poder Público cumpra com a sua parte, qual seja a de se integrar as ações que virão pela frente. Cabe ao Município incentivar a geração de novas indústrias e empregos e, da mesma forma, cumprir o seu papel o seu papel fiscalizador em relação a todo o tipo de obra, imitando os bons exemplos como o da Ascon. (AR#4, § 6)

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ZERO HORA a- Um pleito como o do ano que vem reveste enorme importância, pois nele serão

escolhidos, o presidente da República, os governadores de Estado, os senadores e os deputados. Mas por maior que seja sua relevância não pode paralisar o Congresso e o país. (ZH#1, § 2)

b- No que toca a um novo retardamento da apreciação da esquecida reforma tributária,

perderão desde logo os contribuintes, que continuarão às voltas com um sistema complexo, extremamente regulamentado, formado por 59 ônus diversos. Há muito se deveria ter reduzido esse número despropositado. (ZH#1, § 2)

c- É uma aposta arriscada, mas que precisava ser feita, até para confirmar a convicção

na atual política econômica. (ZH#2, § 1) d- ...Evidentemente, outros fatores precisam ser considerados, entre os quais a

necessidade de dar andamento às reformas constitucionais e a continuidade do programa de privatizações.

A elevação dos juros é, sem dúvida, uma medida drástica, que deve vigorar apenas pelo período necessário para evitar a fuga de capitais. Se demorar demais, fatalmente empurrará o país para uma recessão...(ZH#2, § 2,3)

e- Será preciso conduzir reajustes milimétricos que mantenham a força da moeda

nacional sem gerar, de outra parte, efeitos demasiadamente recessivos. (ZH#3, § 2) f- ... A repercussão dos juros altos sobre o ritmo da economia e sobre a dívida pública –

alguns papéis estaduais e municipais pagam juros pós-fixados – deverá ser monitorada com extrema competência. (ZH#3, § 2)

g- Acima de tudo, o governo não deverá lançar a conta da crise somente sobre o setor

privado. Por mais que as reduções dos gastos públicos venham a doer politicamente, será indispensável fazer cortes cirúrgicos nas despesas dos ministérios e solicitar ao Legislativo e ao Judiciário que colaborem na mesma medida. (ZH#3, § 3)

h- Se a ampliação da carga tributária for inevitável, que seja praticada num cenário de

respeito à cidadania, fixando-se com clareza o caráter transitório da doença e da terapêutica aplicada. Nada de aumentos que venham a sobreviver às carências específicas às quais se destinam. Em matéria de tributos, o Brasil precisa é de uma reforma séria e profunda, que amplie a base de contribuição, reduza o número de impostos e simplifique as relações entre os contribuintes e o Fisco. (ZH#3, § 4)

i- É preciso, no entanto, reconhecer que o conjunto de medidas fiscais proposto pelo

governo representa uma tomada de posição diante da crise dos mercados. Houve e continua havendo a necessidade se fortalecer a economia do país. Neste sentido, mesmo fazendo concessões aos parlamentares ou à opinião pública, o ajuste precisa ser mantido num nível que lhe garanta a eficácia. (ZH# 4, § 2)

j- Este objetivo – que não é apenas do governo, mas do país – deve presidir as

preocupações dos parlamentares que, a partir de quarta-feira, começam a votar as medidas provisórias do ajuste fiscal. O esforço do governo e do Congresso para dotar o país desses novos instrumentos integra as estratégias de superação da crise.(ZH#4,§ 3)

k- Nesse contexto, a decisão presidencial de dar flexibilidade ao pacote fiscal não deve

ser encarada como um gesto de fraqueza ou uma demonstração de insegurança. Antes deve ser uma prova de que as instituições têm força e que o país tem condições de escolher seus caminhos. (ZH#4, § 4)

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FOLHA DE S. PAULO a- É preciso privatizá-la com critério. (FSP#1, § 7) b- Há várias lições nessa iniciativa. Primeiro, é importante submeter a comunidade

científica a pressões externas, de natureza econômica. Não é sempre que a ciência avança com base apenas na inspiração desinteressada dos sábios. (FSP#2, § 3)

c- Há séculos, Estado e mercado aparecem falsamente como antagonistas. Agora é

preciso ir além desse debate, privilegiando ações conjuntas voltadas para a promoção da tecnologia. ( FSP#2, § 4)

d- Devem-se buscar apenas, como aliás já ocorre em todos os países civilizados,

esquemas de apoio à formação de poupança que incluam seja isenções fiscais limitadas, seja o pagamento posterior de tributos. Modelos não faltam. (FSP#3, § 6)

e- É de todo modo inevitável reconhecer que a crise de confiança, a essa altura tem

causas predominantemente macroeconômicas. (FSP#4, § 5)

A partir dos exemplos acima, verifica-se que as instituições Zero Hora

e A Razão utilizam esse tipo de modalidade em um número maior de textos

do que Folha de S. Paulo.

A utilização bastante significativa da modalidade deôntica evidencia,

portanto, o caráter normativo, desses editoriais. Ou, como postula CHAUÍ

(1989, p.10), o discurso exortativo é proferido no lugar de autoridade,

constituindo-se em discurso legislador, que faz questão de distinguir para os

seus leitores o que é certo do que é errado e determina o que deve ser feito.

Assim, observa-se que Zero Hora e A Razão têm expresso no seu discurso

a demonstração de sua autoridade, pois ditam a maneira como certas ações

devem ser conduzidas pelo cidadãos. Por outro lado, Folha de S. Paulo não

faz uso, na mesma proporção, da modalidade deôntica para explicitar a sua

posição. Dessa forma, percebe-se que o modo como o discurso é expresso

varia entre as instituições, mas esse não é um fator suficiente para

determinar que os editoriais da Folha de S. Paulo sejam menos normativos

que os das outras instituições.

Propõe-se uma escala para determinar, em que medida os exemplos

coletados desse tipo de modalidade, nos textos de cada instituição se

encaixam no nível da necessidade (mais enfático), previsão (mais ou menos

enfático) ou da permissão (menos enfático). Esse fator permitirá observar a

posição marcada do escritor, através do comprometimento com aquilo que

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diz, fornecendo, portanto, indicações de um caráter mais ou menos assertivo

do texto.

7 exemplos A Razão 3 exemplos A Razão

10 exemplos Zero Hora 1 exemplo Zero Hora

5 exemplos Folha de

S. Paulo

+ ênfase +/- ênfase - ênfase

necessidade previsão permissão

2 exemplos A Razão

6 exemplos Zero Hora

Observa-se pelos exemplos que a instituição Zero Hora usa a

modalidade deôntica numa escala entre o que é ‘necessário se fazer’ e o

que é ‘previsto que se faça’. Os seus dezesseis exemplos, que se encaixam

nessa perspectiva, permitem que se determine os editoriais dessa instituição

como mais os assertivos, em se tratando do uso da modalidade deôntica,

para fazer comentários mais explícitos no texto. Esse fator possibilita que se

estabeleça para os editoriais dessa instituição um fator prescritivo, ou seja, o

editorialista visa determinar a maneira como certos assuntos devem ser

tratados, repassando isso para o leitor através do seu discurso. Ao fazer uso

modalidade deôntica, o escritor destaca aquilo que acredita e que gostaria

que o seu leitor também acreditasse. Assim, os textos demonstram que o

editorialista da Zero Hora considera que a modalidade deôntica seja mais

significativa, para retratar o seu comprometimento e a sua afinidade em

relação à veracidade dos fatos que trata. Em seguida A Razão se constitui

na instituição que mais explicitamente defende suas posições e em terceiro

lugar, está a Folha de S. Paulo.

Os exemplos dessa modalidade, que permitiram que se determinasse

a assertividade dos textos analisados, enquanto alguns prescrevem a forma

como certas ações ‘devem’ ser conduzidas; outros, prestam-se a fazer

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prognósticos sobre a conduta futura. Os textos que se encaixam nessa

modalidade são, principalmente, os da Zero Hora e também d’A Razão.

A modalidade deôntica revela a autoridade do escritor à medida que

este a utiliza para sustentar asserções, constituindo-se em uma forma

implícita de relação de poder (FAIRCLOUGH, 1989, p.127). Essa relação é

de poder porque o editorialista demonstra não só a visão dos fatos, mas a

maneira como uma instituição se posiciona ante esses fatos. Posição essa

constituída a partir da perspectiva de um pequeno grupo que repassa tal

opinião que, por sua vez, irá influenciar a vida de inúmeros cidadãos.

É por meio das formas de materialização da modalidade deôntica que

o produtor do texto revela seu engajamento no assunto discutido, buscando

levar o leitor a aceitar as idéias e sugestões defendidas, mesmo que esse

engajamento possa ser apresentado de maneira dissimulada (por exemplo,

na forma de prognósticos).

Há certos textos em que a modalidade do tipo deôntica é quase

inexistente como, por exemplo, os textos técnicos e artigos acadêmicos, pois

empregam uma linguagem mais objetiva, onde não se manifesta a posição

enfática do escritor. Já nos editoriais, pela própria característica de ter um

produtor que se coloca no texto, isso é princípio fundamental

(FAIRCLOUGH, 1992a, p.161).

O outro tipo de modalidade proposta por HALLIDAY (1994) é a

modalidade epistêmica, que também se faz presente nos editoriais

analisados e será tratada a seguir.

3.4.1.2 Modalidade epistêmica

A modalidade epistêmica é expressa por meio de graus intermediários

de possibilidade das asserções serem verdadeiras, que variam entre a

probabilidade e a usualidade. O grau da probabilidade é expresso por meio

de advérbios como ‘certamente’, ‘provavelmente’ e ‘possivelmente’. O grau

da usualidade é dado por expressões como ‘freqüentemente’, ‘usualmente’ e

‘algumas vezes’ (HALLIDAY, 1994, p.356-7). O que se percebe, nesse tipo

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de modalidade, é que as possibilidades não estão limitadas à polaridade do

sim ou não, mas que há um grau intermediário entre os pólos positivo e

negativo.

Nesse tipo de modalidade, o escritor não impõe explicitamente sua

opinião. Pode tratar-se, pois, de uma manobra discursiva, pela qual aquele

que escreve tenta mostrar que não está impondo ao seu interlocutor a

aceitação dos argumentos apresentados (KOCH,1993, p.88). Assim, vale

reforçar a alegação anterior de que a ambigüidade pode se fazer presente

nas modalidades em análise.

A modalidade epistêmica é utilizada quando quem escreve quer

manter um certo distanciamento em relação ao assunto que aborda. Esse

procedimento dá ao texto um caráter menos impositivo, embora não lhe

assegure um cunho menos normativo. No caso do editorial, sabe-se que, por

trás de quem escreve, há um conjunto de interesses envolvidos, que

determinam o que será dito e de que maneira deve ser visto.

A seguir, apresentam-se os exemplos coletados nas três instituições,

com a totalidade do que se pôde destacar como representativo da

‘modalidade epistêmica’. Da mesma forma que na modalidade anterior,

adotou-se um critério de substituição para melhor identificar essa

modalidade. Assim, a expressão grifada pode ser substituída pela

expressão: ‘é provável que x... + (não) verbo alterado para a forma de

subjuntivo’.

Exemplo 3.7:

A RAZÃO

a- Pelo contrário, sabemos que por trás dos megainvestimentos há uma acirrada guerra fiscal e muitos fatores de mercado em jogo e, nem por isso, deixamos de sonhar com novas possibilidades. Não há também como negar que a influência de fatores políticos e econômicos somados e lideranças em conjunto podem determinar decisões. (AR#1, § 3)

ZERO HORA

a- Em primeiro lugar, sequer se considera a eventualidade de que a tramitação da matéria avance nos três meses restantes de atividade legislativa do corrente ano. Parece evidente que, em tal caso, poderia ser ela perfeitamente aprovada no primeiro semestre do próximo ano. (ZH#1, § 2)

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b- E a descomplicação das relações entre o fisco e os cidadãos mais do que nunca parece ser objetivo de baixíssimo grau de prioridade. Perderá também seguramente a nação que, hoje atraindo bom volume de investimentos externos, poderia expandi-los substancialmente se tivesse regras mais simples e mais claras. ( ZH#1, § 3).

c- ...ministro do Planejamento advertiu que o mundo financeiro é agora diferente de antes

da crise e supõe “maiores riscos”. O déficit crescente nas contas externas e internas do país deverá ser menos tolerado. (ZH#3, § 1)

d- Infelizmente, as reformas previdenciária e administrativa, que já poderiam ter

contribuído de forma expressiva na redução dos gastos governamentais, permanecem fora de combate por responsabilidade tanto da oposição quanto de parcelas da base parlamentar do Planalto. (ZH#3, § 3)

FOLHA DE S. PAULO

a- A venda de direitos para a lavra de jazidas já identificadas deve permitir que a iniciativa

privada produza riqueza com base em recursos hoje ociosos. Mas se a intenção de retirar o Estado de esfera produtiva é acertada, vender tais direitos a preço fixo – como pretende o governo – talvez não seja a melhor forma de fazê-lo. Contratos com pagamentos de acordo com o rendimento da mina parecem mais apropriados. ( FSP# 1, § 1)

b- A estatal do setor pretende vender direitos de exploração de reservas conhecidas, que

podem produzir por até dois séculos. (FSP#1, § 2) c- Além da possível descoberta de riquezas insuspeitadas, novos usos para as matérias-

primas e mudanças tecnológicas podem multiplicar o valor da jazida ou anulá-lo. O surgimento de novos concorrentes, por outro lado, pode derrubar seu valor. (FSP#1, § 3)

d- Por fim, essa venda pode expor os cofres públicos à conjuntura. Uma autoridade do

setor chegou a reconhecer que a reserva de turfa de São Paulo está sendo oferecida a “preço de banana” devido as más condições do mercado.(FSP#1, § 6)

e- Trata-se de uma riqueza que o setor privado pode explorar não só em benefício próprio, mas principalmente da nação. (FSP#1,§ 7)

f- No caso da biotecnologia, há o mérito adicional de se estimular tanto as pesquisas com

aplicação quanto as puras, que no futuro poderão gerar projetos em outras áreas. (FSP#2, § 4)

g- Desenvolver capacitação científica pode significar a defesa de reservas cambiais, por

exemplo, já que a praga do amarelinho atinge uma das principais culturas de exportação. (FSP#2, § 5)

h- Os fundos de pensão, entretanto, estão, ao que parece, abusando de uma brecha

constitucional, pois é no mínimo polêmico afirmar que um fundo de previdência complementar – isto é, uma instituição que visa ganhos para seus cotistas – é uma entidade de assistência social. (FSP#3, § 5)

Nos exemplos apresentados, observa-se um baixo índice do emprego

da modalidade epistêmica, principalmente pelas instituições A Razão e Zero

Hora. Já a Folha de S. Paulo tem preferência pela modalidade epistêmica (o

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que pode ser verificado não somente nos exemplos analisados, como

também em textos de editoriais que não fazem parte do corpus). O escritor

provavelmente adota essa forma de modalidade com alguma intenção, que

pode ser: dar liberdade ao leitor, tentar distanciar-se do assunto, ou dar uma

caráter menos autoritário ao editorial. O exemplo ‘a’ acima representa esse

caráter variável: “A venda de...jazidas já identificadas deve permitir que a

iniciativa privada produza riqueza...” Ao dizer que deve permitir, o

editorialista pode estar fazendo uma previsão (substituindo a sentença por:

‘... é provável que permita a produção de riqueza...’ ), como também pode

estar fazendo uma afirmação (substituindo: ‘...é preciso que permita...’).

Nesse exemplo, a utilização da modalidade é ambígua, pois editorialista,

para não impor a sua posição, encontra essa maneira sub-reptícia de

manifestar-se, “escondendo-se” através de artifícios do texto, já que este

exemplo de modalidade pode circular tanto como modalidade epistêmica (‘é

provável que...’), como modalidade deôntica (‘é preciso que...’).

O recurso da modalidade permite ao escritor marcar uma distância

relativa em relação ao enunciado que produz, demonstrando um maior ou

menor grau de comprometimento com a veracidade das proposições

expostas. Também possibilita ao escritor deixar claro os atos que deseja ver

realizados, fornecendo “pistas” das suas intenções ao produzir um dado

enunciado (KOCH, 1993, p.88).

Apresenta-se uma escala, a seguir, com a finalidade de precisar, em

se tratando de modalidade epistêmica, o grau que varia entre certeza (mais

ênfase), probabilidade (mais ou menos ênfase) e a possibilidade (menos

ênfase).

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1 exemplo A Razão 2 exemplos Zero Hora

3 exemplos Folha de 4 exemplos Folha de

S. Paulo São Paulo

+ênfase +/- ênfase - ênfase

certeza probabilidade possibilidade

3 exemplos Zero Hora

4 exemplos Folha de S. Paulo

Os exemplos reforçam a instituição Zero Hora como mais assertiva

em suas colocações, uma vez que nem A Razão, nem a Folha de S. Paulo

utilizam a modalidade epistêmica de forma enfática. A Folha de S. Paulo,

apesar de ter preferência por essa modalidade, a utiliza de forma menos

enfática, numa escala que varia entre probabilidade e a possibilidade.

A análise da modalidade epistêmica confirma que na mídia estudada,

em textos de opinião, verifica-se consistentemente a modalidade deôntica,

porque através dela delimitam-se posicionamentos, deixando-se explícita a

perspectiva adotada. Esse tipo de modalidade revela tomada de posição do

escritor, pois faz uso de um editorial para dizer que medidas ‘devem ser

adotadas’ ou que ‘agir dessa ou daquela forma é necessário’, sendo que

isso é expresso dependendo do tipo de modalidade usada.

Assim, por meio do texto, o editorialista repassa para o leitor o modo

como a instituição quer que os assuntos sejam tratados. Dessa forma, uma

dada instituição pode considerar que a modalidade epistêmica representa a

forma mais adequada de tratar os assuntos, enquanto outra instituição pode

achar que a relevância de certos temas merece um posicionamento mais

enfático, utilizando, então, a modalidade deôntica.

Conforme os dados que foram analisados, em relação ao uso do dois

tipos de modalidade, nos editoriais, percebe-se que Zero Hora usa a

modalidade deôntica como um instrumento para demonstrar de forma

explícita a sua posição, estabelecendo um tipo de negociação entre a

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instituição e o público leitor, quem diz abertamente o que pensa pode ser

mais convincente do que aquele que não o faz.

Cabe ainda ressaltar que a utilização da modalidade é um instrumento

que auxilia o leitor a perceber a maneira como cada instituição marca suas

posições, através dos discursos apresentados. Residindo aí a necessidade

de uma leitura crítica que identifique o uso de certos artifícios lingüísticos,

pela mídia, para expressar seu poder, tanto de forma explícita como de

forma encoberta. A leitura crítica contribui para que o leitor perceba tais

marcas no discurso e não aceite as idéias como verdadeiras, sem antes

refletir sobre elas.

Além das marcas de modalidade, há outros recursos metadiscursivos

que possibilitam a interação entre editorialista e leitor. Tais recursos podem

ser expressos através de palavras que demonstrem a atitude avaliativa de

quem escreve.

3.4.2 Marcadores de atitude

As marcas de atitude permitem ao escritor fazer avaliações do

conteúdo proposicional do texto em termos de conceitos como ‘bom’ e ‘ruim’

ou ‘positivo’ e ‘negativo’ (ver seção 1.2.2). Nos editoriais, essas marcas são

fornecidas por adjetivos, substantivos, expressões atitudinais (por exemplo,

‘é inaceitável’, ‘é um equívoco’, ‘é inadmissível’) ou advérbios. Os

marcadores de atitude permitem ao escritor demonstrar o juízo de valor que

faz em relação ao se discute, manifestando sua posição. Nesse sentido,

portanto, esses marcadores fazem parte da função interpessoal. A seguir,

demonstram-se alguns exemplos da utilização desses elementos pelas três

instituições analisadas.

Exemplo 3.8:

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A Razão

a- A semana foi promissora para Santa Maria e municípios da região. (AR#1, §1)

b- Por isso, achar que o Natal não pode ser uma data comercial é um equívoco já que as pessoas vivem melhor se conseguirem atender suas necessidades materiais. (AR #3, § 5)

ZERO HORA

a- Ao participar esta semana da Convenção Nacional do Comércio Lojista, em Belo Horizonte, o presidente da Câmara dos Deputados fez afirmações surpreendentes. Disse o senhor Michel Temer que a reforma tributária só entrará na pauta do Congresso em 1998. (ZH#1, § 1)

b- É lamentável que isso ocorra. Em primeiro lugar, sequer se considera a eventualidade

de que a tramitação da matéria avance nos três meses restantes de atividade legislativa do corrente ano. (ZH#1, § 2)

c- Mas o mais deplorável é que não sejam levados em conta os prejuízos que disso

advirão para o país. Um pleito como o do ano que vem reveste enorme importância, pois nele serão escolhidos o presidente da República, os governadores de Estado, os senadores e os deputados. (ZH#1, § 2)

d- Mas tudo indica que não é apenas o Legislativo que se desinteressa da questão. Os

esforços do Planalto se voltam para reformas administrativa e previdenciária, que ainda assim trafegam em lentidão exasperante e com propostas já bastante desfiguradas. (ZH#1, § 4)

e- No campo tributário, o poder central se inclina pelas soluções de meia-sola, de que são

exemplos clássicos a dança das alíquotas e a prorrogação da polêmica Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira por mais um par de anos. (ZH#1, § 4)

f- É uma aposta arriscada, mas que precisava ser feita, até para confirmar a convicção

na atual política econômica. (ZH#2, §1) g- [...] o país está enfrentando a crise com suas próprias reservas, sem pedir socorro a

entidades internacionais. Só este indicador já é suficiente para mostrar aos investidores externos que nossa economia é confiável. (ZH#2, § 2)

h- Será preciso conduzir reajustes milimétricos que mantenham a força da moeda nacional

sem gerar, de outra parte, efeitos demasiadamente recessivos. (ZH#3, § 2) i- Infelizmente, as reformas previdenciária e administrativa, que já poderiam ter

contribuído de forma expressiva na redução dos gastos governamentais, permanecem fora de combate [...]. (ZH#3, § 3)

j- Quanto ao aumento de impostos – fala-se em acréscimos nas alíquotas do Imposto de

Renda e da CPMF –, é lamentável que mais uma vez o quadro tributário do país venha a ser tratado como uma colcha de remendos. (ZH#3, § 4)

k- Em matéria de tributos, o Brasil precisa é de uma reforma séria e profunda, que

amplie a base de contribuição, reduza o número de impostos e simplifique as relações entre contribuintes e o Fisco. (ZH# 3, § 4)

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l- É salutar que num processo caracterizado pela sensibilidade para os desejos da sociedade, haja a oportunidade política de negociar e de eventualmente, transigir. (ZH#4, § 2)

m- No momento em que ainda vigora em todo mundo uma visão pessimista quanto às

possibilidades de os países emergentes enfrentarem a conjuntura adversa, a presteza com que o Brasil adotou decisões importantes tende a provar o contrário. O teor das medidas e os procedimentos democráticos que cercam sua aprovação são alguns de nossos fatores diferenciais em relação, por exemplo, aos países asiáticos em crise. (ZH# 4, § 3)

FOLHA DE S. PAULO

a- Mas se a intenção de retirar o Estado da esfera produtiva é acertada, vender tais direitos a preço fixo – como pretende o governo – talvez não seja a melhor forma de fazê-lo. Contratos com pagamentos de acordo com o rendimento da mina parecem mais apropriados. (FSP#1, § 1)

b- São evidentes as dificuldades para determinar o valor atual de um investimento tão

longo. (FSP#1, § 2) c- Ao exigir um preço fixo para negócio com resultados tão imprevisíveis, o governo

aparentemente receberá menos do que se tivesse participação sobre o rendimento da mina. (FSP#1, § 4)

d- No Brasil, além de verbas limitadas e desperdiçadas, não há tradição de pesquisa

nas empresas. É portanto oportuna a iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que anunciou um projeto de decodificação genética da praga do amarelinho, que ataca laranjais em São Paulo, investimento conjunto do governo, setor privado e academia. (FSP#2, § 2)

e- Ou seja, a “âncora científica” é tão importante quanto outras âncoras mais

conhecidas, como a cambial, a fiscal ou a monetária. Aliás, a formação de recursos humanos avançados é, no médio prazo, a mais fundamental das âncoras. (FSP#2, § 6)

f- Trata-se de mais uma evidência da falta de regras legítimas e transparentes no

sistema financeiro brasileiro. (FSP#3, § 3) g- Há vários equívocos nessa situação. Primeiro é condenável que a receita ameace

fazer “devassa” para persuadir contribuintes. É uma demonstração clara da falta de capacidade de fiscalizar. (FSP#3, § 4)

h- ...Mas, no Brasil cuja a legislação financeira é capenga, os fundos não recolhem

impostos e ainda não há meios de cobrá-los. (FSP#3, § 6) i- O governo agora acerta no atacado e tenta evitar o pior. No varejo, repete cenas

típicas de pacotes, em que deslizes e medidas de impacto apenas psicológico misturam-se a decisões acertadas. (FSP#4, § 1)

j- Um exemplo de deslize foram os pronunciamentos contraditórios da Fazenda sobre

a fixação de preços em operações de cartões de crédito. (FSP#4, § 2) k- Além do “saco de maldades” citado pelo presidente do BC, Gustavo Franco, há também

um “saco de improvisos” que só atrapalham. (FSP#4, § 3)

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100

l- Registrem-se igualmente esforços louváveis. São positivas algumas medidas para atenuar a fuga de capitais das Bolsas. (FSP#4, § 4)

m- Nesse sentido, é eloquente a decisão de reduzir de 3 anos para 6 meses o prazo de

captação de recursos no exterior. (FSP#4, § 6)

Os exemplos demonstram que as marcas de atitude são um forte

apoio na construção do argumento na Zero Hora e na Folha de S. Paulo.

Essas marcas podem apresentar uma avaliação como ‘positiva’ ou ‘boa’,

com baixa incidência, somente nos exemplos: ‘foi promissora’ (AR, ‘a’); ‘é

salutar’ (ZH, ‘l’); ‘procedimentos democráticos’( ZH, ‘m’); ‘é acertada’ (FSP,

‘a’); ‘é oportuna’ (FSP, ‘e’); ‘são positivas’ (FSP, ‘n’).

Essas marcas podem apresentar uma avaliação como ‘negativa’ ou

‘ruim’ como em: ‘é um equívoco’ (AR ‘b’); ‘é lamentável’ (ZH ‘b’); ‘lentidão

exasperante’ (ZH ‘d’); ‘aposta arriscada’ (ZH ‘f’); ‘equívocos’, ‘é condenável’

(FSP ‘h’), ‘saco de improvisos’ (FSP ‘m’).

Com base nesses dados, pode-se apresentar uma escala que

demonstre a utilização dessas marcas no discurso do editorialista. Essa

escala varia entre avaliações ‘positivas’ e ‘negativas’.

1 exemplo- A Razão 1 exemplo- A Razão

9 exemplos- Zero Hora 14 exemplos- Zero Hora

8 exemplos- Folha de 16 exemplos- Folha de

S. Paulo São Paulo

‘positiva’ ‘negativa’

‘é positiva’ ‘ é condenável’

Pelo número mais significativo de emprego de marcas de atitude,

pode-se concluir que os editorialistas dos jornais Zero Hora e Folha de S.

Paulo tendem a fazer avaliação explícita mais freqüentemente que n’A

Razão. Esse fator permite que, em relação ao uso de marcas que denotem

atitude como força persuasiva, determine-se os textos de Zero Hora e Folha

de S. Paulo como mais persuasivos.

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Entre as asserções que indicam atitude positiva e negativa, nessas

instituições, a preferência é substancial por aquelas que denotam avaliações

negativas. O uso das marcas de atitude dão a texto um ‘tom’ pessoal, pois

ao contrário da modalidade deôntica e epistêmica não utilizam verbos que

modalizem o discurso. Esses recursos são tão, ou até mais, adotados que

as marcas de validade. Esse fato pode ocorrer porque o marcador de atitude

não representa uma forma estática de argumentar, ou seja, através desse

marcador o escritor não sugere ao leitor que certa ação ‘deve ou pode ser

feita de tal forma’. Ele vai além, pois revela sua atitude tanto na forma de

advérbios, de adjetivos, como de expressões que possibilitam indicar, de

forma direta, ao leitor, o que se pensa sobre o que se discute.

Apesar de, nos demais gêneros jornalísticos, o uso do adjetivo não

ser de todo indicado (Novo Manual da Redação Folha de S. Paulo,1992,

p.50), pois dá ao texto um caráter pessoal e subjetivo, nas marcas de atitude

usadas no editorial, ele se faz presente de forma bem nítida. Esse pode ser

um dos fatores que permitem a diferenciação do gênero editorial como

exortativo e opinativo em relação aos demais gêneros jornalísticos.

A instituição Folha de S. Paulo manifesta-se quanto ao uso dos

adjetivos para ela deve-se evitar, em textos noticiosos, adjetivos que

impliquem juízo de valor. Já nos editoriais, há maior liberdade para o seu

emprego que deve ser feito com sobriedade. A instituição considera que, nas

notícias, o uso de argumentos baseados em fatos podem ser mais

convincentes do que em juízos de valor (idem).

Os marcadores de atitude podem ter a finalidade de conduzir o leitor a

determinado tipo de conclusão em detrimento de outros, possibilitando que

mude ou mantenha o seu comportamento, pois, no momento em que

determinado editorialista considera uma medida como ‘equívoco’, o leitor

certamente buscará mais informações sobre ela, podendo vir a considerá-la

da mesma forma. Observa-se assim que o metadiscurso ao mesmo tempo

que expressa sentimentos, atitudes e crenças dos escritores, pode interferir

sobre esses mesmos aspectos no comportamento do leitor.

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A análise permite perceber que as marcas de validade e de atitude

estão presentes nos textos dos editoriais como um recurso de persuasão

que pode variar em intensidade de mais ou menos necessidade (marcador

de validade – deôntica), probabilidade (marcador de validade – epistêmica)

ou qualidade (marcador de atitude).

Segundo FAIRCLOUGH (1992a, p.161), na mídia, há predileção por

modalidade categóricas e por asserções positivas e negativas Essa

afirmação é constatada na análise dos marcadores de validade e de atitude,

em que se destacam a modalidade enfática e os termos que denotam a

atitude do escritor, principalmente através de avaliações negativas que

demonstram insatisfação com certos assuntos. Assim, observa-se que há

preferência, no discurso do editorialista, por instrumentos que revelem a sua

autoridade e o poder que lhe é facultado pela instituição jornalística. A

avaliação e a determinação de procedimentos a serem adotados são

recursos que revelam esse poder. A instituição que se destaca, nessas duas

categorias é Zero Hora.

Para KOCH (1993, p.86-7), importa ressaltar o fato de que o autor

manifesta seu ponto de vista e intenções através de sucessivas

modalizações e também de itens lexicais específicos que são utilizados no

ato de argumentar.

Os recursos metadiscursivos, como se percebeu até aqui, são aliados

dos escritores e dos leitores. Dos primeiros, porque auxiliam no seu querer-

dizer, seja de forma enfática ou não. Dos segundos, porque auxiliam no

entendimento do texto e na captação das intenções subjacentes ao discurso,

indo além das palavras impressas no papel. Para o estabelecimento de

relações entre as sentenças, e entre as partes e o todo textual, escritores

utilizam ainda um terceiro tipo de marcador metadiscursivo: os conectores

textuais.

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3.4.3 Conectores textuais

Conectores textuais são marcadores metadiscursivos que contribuem

para construção do texto, pois relacionam uma parte a outra, evitando

repetições, ajudando na compreensão do leitor e contribuindo para o

processo argumentativo.

VANDE KOPPLE (1985, p.83-4) propõe cinco categorias de

conectores textuais (ver seção 1.4.4.1), dentre as quais, analisam-se as

seguintes: conectores lógicos e temporais, seqüencializadores e

topicalizadores.

Esses conectores são elementos responsáveis pela estrutura textual,

pois sinalizam o percurso seguido pelo escritor. Devido à organização que

conferem ao texto, marcadores da estrutura textual são responsáveis pela

textualidade, contribuindo para conexão entre as idéias, através da relação

que se estabelece entre as unidades lingüísticas (KOCH,1993, p.22).

Assim, os conectores textuais são utilizados como artifícios coesivos,

que podem funcionar dentro das orações e entre elas. Sem tais marcadores,

as relações entre as orações não seriam estabelecidas de pronto e,

portanto, não haveria a rigor um texto e sim uma lista de palavras, frases ou

argumentos desconectados, dificultando a persuasão do leitor. Apresentam-

se, a seguir, alguns exemplos, que demonstram como as relações

argumentativas são estabelecidas entre as partes do texto.

Exemplo 3.9: A venda de direitos para a lavra de jazidas já identificadas deve permitir que a iniciativa privada produza riqueza com base em recursos hoje ociosos. Mas, se a intenção de retirar o Estado da esfera produtiva é acertada, vender tais direitos a preço fixo - como pretende o governo - talvez não seja a melhor forma de fazê-lo. (FSP#1, § 1) Têm-se, neste exemplo, dois tipos de conectores textuais que

determinam relações lógicas de oposição entre as sentenças. O conector

mas estabelece relação de oposição entre o argumento anterior e o que se

segue. A utilização desse marcador introduz uma ressalva, ao mesmo tempo

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um caminho para essa situação “...mas, se a intenção...é acertada, vender

tais direitos a preço fixo ... talvez não seja a melhor forma de fazê-lo.”

O conector textual se, com sentido de ‘embora’ introduz duas

orientações ou duas avaliações: uma positiva (“se a intenção de retirar o

Estado da esfera produtiva é acertada”), e a outra negativa ( “...vender tais

direitos a preço...talvez não seja a melhor forma de fazê-lo”.).

Exemplo 3.10:

Além da possível descoberta de riquezas insuspeitadas, novos usos para matérias-primas e mudanças tecnológicas podem multiplicar o valor da jazida ou anulá-lo. (FSP# 1,§ 3) A utilização do conector além de estabelece uma relação lógica de

adição, pois tem a função de sinalizar a presença de mais de um elemento,

pertencente a uma mesma categoria. No exemplo FSP#1, § 3, além de

alinha ‘possível descobertas de riqueza insuspeitadas’ e ‘novos usos para

matérias-primas e mudanças tecnológicas’ como fatos que podem multiplicar

ou anular o valor da jazida.

Exemplo 3.11:

Está em processo de venda, por exemplo, uma jazida de caulim com vida útil estimada em 200 anos. Só que os cálculos de valor atual chegam normalmente a apenas 30 anos. (FSP#1, § 5)

Nesse exemplo, tem-se dois tipos de conectores textuais um

topicalizador e um conector que estabelece relação lógica de restrição. O

topicalizador por exemplo conecta a informação nova com a informação já

apresentada antes, dirigindo o foco para o que se segue. Esse conector, no

texto, tem a função de esclarecer ou precisar a que tipo de ‘outros

problemas’ o editorialista se refere. O conector só que faz uma restrição ao

cálculo da ‘vida útil’ estimada em 200 anos, introduzindo um argumento (‘os

cálculos de valor atual chegam normalmente a apenas 30 anos’) que

desautoriza a acuidade da proposição anterior (‘uma jazida de caulim [que

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tem] vida útil estimada em 200 anos’). Apenas complementa o argumento

introduzido pelo só que, indicando quão limitado é o prazo de 30 anos.

Exemplo 3.12:

Mas é sempre bom salientar que não adianta apenas um município ter determinadas vantagens sobre outros sem que isso seja potencialmente divulgado. É necessário, portanto, que saiba “vender” o seu peixe; ou seja, mostrar exaustivamente porque é melhor investir neste e não naquele outro lugar, criando, desse modo, condições favoráveis para uma parceria com novos empreendedores. (AR#1, § 6)

O segmento contém quatro relações lógicas que mantêm a unidade

do texto: 1- oposição; 2- conclusão lógica; 3- alternativa; 4- demonstrativa. O

conector mas estabelece, entre as sentenças, relação lógica de oposição

com a função de advertir e conduzir a sentença para uma conclusão, ou

seja, que a cidade tem potencial, mas que ele precisa ser divulgado. O

conector de conclusão lógica portanto tem sua utilização vinculada aos

argumentos anteriores, àquele introduzido pelo mas e também ao posterior:

‘É necessário... que saiba “vender” seu peixe’. A função do conector

portanto é encaminhar o argumento para a conclusão, ou seja, ‘“vender”

seu peixe’. O conector textual de relação lógica de alternativa ou seja é um

topicalizador que tem a função de esclarecer o que seja ‘vender seu peixe’,

expresso na sentença anterior: “mostrar exaustivamente porque é melhor

investir neste e não naquele outro lugar”. O conector desse modo, relação

lógica de demonstração, indica que, se tudo o que foi sugerido na sentença

anterior for feito, é possível ‘criar condições favoráveis para uma parceria

com novos empreendedores’; e, portanto, alcançar o sucesso desejado.

Exemplo 3.13

...o presidente da Câmara dos Deputados fez afirmações surpreendentes. Disse o senhor Michel Temer que a reforma tributária só entrará na pauta do Congresso em 1998. E não esqueceu de advertir que aquele poder só vai trabalhar até maio ou junho do ano que vem. Ora, como no segundo semestre cada parlamentar só terá um pensamento a própria reeleição, fica patente que a emenda só será apreciada em 1999, apesar de vir sendo proclamada alta prioridade nacional desde 1995 (ZH #1,§1)

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Nesse exemplo, tem-se uma relação lógica de restrição. O

editorialista faz uso de repetição lexical que tem função basicamente

argumentativa, já que emprega, num mesmo parágrafo, quatro vezes a

palavra só. Referindo-se ao pronunciamento do presidente da Câmara dos

Deputados, o editorialista demonstra sua indignação com o descaso dos

parlamentares para com a reforma tributária. Ao usar a palavra só o

editorialista dá uma idéia de exclusão, ou seja, sinaliza para o leitor que algo

deixará de ser feito. O uso do marcador ora sinaliza a relação do argumento

introduzido por ele (‘como no segundo semestre cada parlamentar só terá

um pensamento...fica patente que a emenda...’) com a da declaração feita

pelo presidente da Câmara dos Deputados. Essa relação pode ser vista

como de incredulidade (ROCHA LIMA, 1979, p.165), mas, nesse caso

específico, a interjeição ora sugere impaciência, menosprezo, contrariedade

(Novo Dicionário Aurélio, 1975, p.1002) em relação ao enunciado anterior.

Interjeições são consideradas elementos afetivos da linguagem que

exprimem sentimentos (idem, ibidem).

Exemplo 3.14 Mas tudo indica que não é apenas o Legislativo que se desinteressa da questão. Os esforços do Planalto se voltam para as reformas administrativa e previdenciária, que ainda assim trafegam em lentidão exasperante e com propostas já bastante desfiguradas.(ZH#1,§ 4)

Os argumentos introduzidos pelos conectores grifados estabelecem

uma relação lógica de adição. A expressão ‘mas...não é apenas’ sinaliza que

embora todas as evidências apresentadas até este ponto apontem os

culpados pela falta de reformas, há outros que poderão ser nomeados a

seguir. Evidencia-se assim a existência de culpados não ‘apenas’ no

Legislativo, pois no Planalto (Executivo) também há uma lentidão nessas

questões.

Exemplo 3.15:

É lamentável que isso ocorra. Em primeiro lugar, sequer se considera a eventualidade de que a tramitação da matéria avance nos três meses restantes da

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atividade legislativa do corrente ano [...] Desde já, contudo, se tem 1998 como perdido e o primeiro a reconhecê-lo implicitamente é o máximo dirigente de uma das casas do parlamento. (ZH#1, § 2) Os conectores grifados têm a função de seqüencializador e indicador

de relação temporal. O demonstrativo ‘isso’ retoma o referente das

sentenças anteriores que é ‘o atraso na reforma tributária’, considerando tal

atraso como lamentável. Em função dessa avaliação, os argumentos

posteriores vêm para explicar porque esse atraso é lamentável. O primeiro

argumento é introduzido pelo seqüencializador em primeiro lugar; esse

argumento pode ser considerado como o mais forte, pois apresenta do

advérbio ‘sequer’ para indicar o descontentamento do editorialista em

relação a essa situação (que é o descaso dos parlamentares em relação à

reforma tributária). O segundo argumento é introduzido pelo conector de

relação temporal, desde já que indica que a projeção feita no momento

presente (agosto – 97) para o futuro ‘1998 como perdido’ - é uma realidade

desde agora. Dessa forma, desde o momento atual o editorialista não

consegue vislumbrar nenhuma probabilidade de mudança no

posicionamento dos parlamentares. O conector lógico contudo expressa

uma relação de concessão entre a proposição anterior ‘...sequer se

considera ...corrente ano...’ e aquela que o conector introduz ‘se tem 1998

como perdido’, prevalecendo essa última.

O uso dos conectores são relevantes na organização textual e para a

compreensão do leitor e, conseqüentemente, pode contribuir para o

processo de persuasão. Como seria repetitivo detalhar cada vez que

aparece um tipo de conector de relação lógica ou temporal, seqüencializador

ou topicalizador, apresenta-se um quadro demonstrativo da sua ocorrência,

nos doze editoriais analisados, através da Tabela 3.4.

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108

Tabela 3.4 Freqüência dos conectores textuais nos editoriais por instituição

conectores

lógicos

conectores

temporais

seqüencializa

dores

topicalizado

res

total

A Razão

45 11 ---- 2 58

Zero Hora

64 13 1 1 79

Folha de S.

Paulo

44 10 2 4 60

A incidência de conectores textuais evidência uma preocupação dos

autores em serem ‘bem entendidos’ pelo seu público, visando a uma

argumentação clara, que facilite a interpretação da audiência-alvo. Tais

elementos contribuem para que um texto seja bem sinalizado e

compreendido mais facilmente pelo leitor.

Os textos coletados de Zero Hora, que fazem parte do corpus, são

aqueles mais extensos. Assim, esses textos apresentaram maior número de

conectores, indicando a necessidade de um maior números de conectores

para manter uma seqüência mais longa de argumentos, indicar as relações

que se estabelecem entre tais sentenças e sinalizar os procedimentos

argumentativos que o editorialista faz uso.

Já os editoriais de A Razão e Folha de S. Paulo empregaram na

mesma proporção os recursos de conexão textual (conforme demonstra a

tabela). Sabe-se que os conectores textuais contribuem para a coesão e

coerência textuais, auxiliando para que, num nível além da sentença, ações

retóricas sejam estabelecidas. Deve-se ainda observar que nem sempre

uma boa sinalização textual assegura uma argumentação efetiva, pois

alguns textos d’A Razão (por exemplo, Potencial à mostra e O novo

discurso) e da Zero Hora (por exemplo, Dupla responsabilidade), apesar de

apresentarem vários conectores, não possuem uma relação

satisfatoriamente coerente de seus argumentos. Isso talvez se deva em

função do editorialista abordar, num mesmo editorial, vários temas, fato que

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109

se não for bem sinalizado gera incoerência entre os argumentos. Assim,

esses textos usam conectores que não contribuem para o relacionamento de

suas partes, pois, alguns textos, não apresentam um elo de ligação que dê

unidade ao texto e que auxilie na compreensão do mesmo pelo leitor. Por

isso, a falta de uma estrutura unitária do texto não contribui para

identificação dos elos de ligação em termos de sentença.

Considerando-se que os conectores textuais são importantes para

manutenção da unidade textual, para seqüência dos argumentos, pois

‘tecem’ as relações entre as partes do texto, contribuindo para que o leitor

siga um percurso argumentativo, pode-se tomar os editoriais da Folha de S.

Paulo como aqueles que mantêm unidade entre os seus argumentos e que

apresentam um nível maior de textura. O uso dos conectores, nesses textos,

contribui para a organização geral dos mesmos. A unidade é mantida devido

ao tratamento preciso do tema e da exposição de argumentos que se

conectam uns aos outros, possibilitando, de forma clara, ao leitor tomar o ‘fio

condutor’ de tais argumentos desde a situação inicial até a avaliação final.

Assim, essa característica peculiar dos textos da Folha de S. Paulo e não é

tão freqüente nas outras instituições analisadas.

Os conectores textuais, apesar de estarem mais relacionados à

função textual da linguagem, também contribuem para que interações se

estabeleçam entre os participantes do discurso, ou seja, para a função

interpessoal da linguagem, já que um texto com argumento claro é mais fácil

de compreender de desencadear reações do que um texto em que as

relações entre as várias partes são obscuras.

Outras categorias contribuem, em termos de estrutura textual e

relação interpessoal, apontando o percurso do escritor na condução do

argumento com a intenção de persuadir. Nessas categorias, podem-se

incluir os substantivos anafóricos e o pronome ‘nós’. Conforme observou-se

na Metodologia, essas categorias não se incluem naquelas que VANDE

KOPPLE (1895) e CRISMORE (1989) propõem, mas foram incluídas aqui

devido à presença deles nos textos analisados e a sua contribuição na

sinalização da construção persuasiva dos editoriais.

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3.5 Substantivos anafóricos

A análise revela que, nos editoriais, há substantivos freqüentemente

adotados como elemento de coesão textual, pois evitam a repetição de uma

expressão ou um trecho utilizado anteriormente no texto, retomando-o.

Como, por exemplo, em:

Exemplo 3.16:

Desde que os alemães da Mercedes-Benz sondaram o município como possível sede da sua montadora, há dois anos, a cidade passou a ser vista sob outro prisma pelos investidores. O prisma dos que têm qualidades destacadas, sejam elas geográficas, climáticas e de recursos humanos. E são essas qualidades que nossas lideranças devem destacar toda vez que forem negociar a vinda de investimentos... (AR#2 § 4;5)

No exemplo, observa-se que o substantivo anafórico qualidades evita

a repetição das qualidades que já foram referidas na sentença anterior,

contribuindo para uma construção mais clara e precisa do argumento.

Além dessa função referencial, há ainda substantivos que têm função

avaliativa em relação ao referente retomado. Na visão de FRANCIS (1994,

p.83-5), os substantivos anafóricos, desse último tipo, conectam e organizam

o discurso de forma retrospectiva, encapsulando uma certa extensão do

texto, ao mesmo tempo em que revelam a interpretação do escritor em

relação a esse trecho (idem, p.87). Assim, ao mesmo tempo em que se

encapsula um segmento do texto, pode-se rotulá-lo de uma certa maneira

(HEBERLE, 1997, p.157), como ser verificado no exemplo a seguir.

Exemplo 3.17:

No que toca a um novo retardamento da apreciação da esquecida reforma tributária, perderão desde logo os contribuintes, que continuarão às voltas com um sistema extremamente regulamentado de 59 ônus diversos. Há muito se deveria ter reduzido esse número despropositado. (ZH#1, § 3)

Ao utilizar o demonstrativo esse, o substantivo anafórico número e o

adjetivo despropositado, o escritor, além de conectar um argumento ao

outro com a utilização do anafórico número, evita a repetição do 59 ônus da

sentença anterior. O adjetivo despropositado constitui-se em uma forma de

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avaliar negativamente ’59 ônus’. Nesse exemplo, as palavras ’retardamento’

e ‘despropositado’ têm função eminentemente argumentativa, pois sinalizam

para o leitor a forma como o escritor vê a analisa a ‘reforma esquecida’ pelos

parlamentares.

No nível retrospectivo, os substantivos anafóricos estão sempre

acompanhados por um dêitico específico – artigo ou pronome demonstrativo

– podendo ter outros modificadores ou qualificadores. Esses dêiticos

contribuem para indicar para o leitor exatamente qual extensão do texto está

sendo referida e possibilitam um esquema de referência dentro do

argumento subseqüentemente desenvolvido (FRANCIS, 1994, p.85).

Em termos interativos, os substantivos anafóricos são altamente

informativos, contribuindo para dar ao leitor um esquema que possibilite

entender as intenções do escritor. Esses substantivos também são

importantes para a argumentação, já que eles podem ser utilizados para

indicar e dar ênfase a pontos chave do argumento, ajudando a sinalizar os

sinais organizacionais que indicam a opinião do escritor (FRANCIS, 1986, p.

39;41). Os substantivos anafóricos funcionam como estratégias

argumentativas que contribuem para a construção do discurso persuasivo,

pois ao utilizá-los o escritor pode estar sinalizando bem mais que a

organização textual, pode estar sinalizando a sua atitude ante o leitor.

Exemplo 3.18 Ao exigir um preço fixo para negócios com resultados tão imprevisíveis, o governo aparentemente receberá menos do que se tivesse a participação sobre o rendimento da mina.

A ausência de cláusulas de desempenho traz ainda outros problemas. Está em processo de venda, por exemplo, uma jazida de caulim com vida útil estimada em 200 anos. Só que os cálculos chegam normalmente a apenas 30 anos. (FSP# 1, § 4, 5) O exemplo possui dois conectores textuais. ‘Ainda’ é empregado para

indicar que, além dos argumentos já expostos (‘o governo aparentemente

receberá menos do que...’), há outros problemas que podem e serão

apresentados. O substantivo problemas é catafórico e anafórico, porque

conecta o argumento anterior (‘o governo aparentemente receberá menos’)

ao posterior (‘a licitação não... prevê pagamento de roaylties ao longo

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tempo’), avalia-os negativamente (problema). Dessa forma, o editorialista

nomeia a situação mencionada anteriormente como problema, ao mesmo

tempo que antecipa apresentação de que existe mais de um problema. Com

essa nomeação, o editorialista já sinaliza para o leitor como deve ser visto

essa situação de venda das jazidas de caulim.

Os substantivos anafóricos são importantes para a função

organizacional do texto, pois sinalizam como o escritor se move de um

estágio para outro do argumento. As orações que contêm elementos que

funcionam retrospectivamente, geralmente, encontram-se no início dos

parágrafos (FRANCIS, 1994, p.86-7).

Exemplo 3.19 ...achar que o Natal não pode ser uma data comercial é um equívoco já que as pessoas vivem melhor se conseguirem atenderem as suas necessidades materiais. Nessa época, é natural que se compre mais, pois presentear significa dar um pouco de si ao outro – essência do pensamento cristão e de todas as religiões. E a melhor forma de representação desse sentimento é dar presentes. (AR#3 ,§ 5, 6)

Com a utilização do conector nessa época, o escritor retoma o

assunto que está sendo discutido em todo o texto, ou seja, o Natal. O

conector pois é empregado para explicar que, para o editorialista, o ato de

comprar mais significa presentear, o que, por sua vez, é uma forma de

compartilhar e de retribuir sentimentos entre as pessoas. O uso do e aglutina

o argumento anterior com aquele por ele introduzido, encaminhando a

assunto para conclusão ‘que a melhor forma de se demonstrar sentimentos

é dando presentes’. O substantivo anafórico ‘[esse] sentimento’ ocorre em

substituição à expressão ‘dar um pouco de si ao outro’, evitando a sua

repetição, ao mesmo tempo que orienta o leitor em relação ao percurso

argumentativo do escritor.

Os substantivos anafóricos são elementos que auxiliam na construção

da retórica persuasiva do editorial, porque, ao utilizá-lo, o escritor manifesta

sua atitude, posicionando-se ante o leitor, evocando neste uma reação.

Nesse sentido, o substantivo anafórico é um mecanismo da relação

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interpessoal do escritor com o leitor e de manifestação da sua força

persuasiva.

Muitos exemplos ainda poderiam ser relacionados, já que as três

instituições utilizam de forma marcante esse instrumento, com função

metadiscursiva encapsuladora. A Tabela 3.5 apresenta a totalidade do uso

de substantivos anafóricos em cada instituição.

Tabela 3.5 Emprego dos substantivos anafóricos nos textos de cada

instituição.

A Razão

Zero Hora

Folha de S.

Paulo

substantivos

anafóricos

16 vezes: essa

demonstração, esse

aparente fracasso, essa

consciência, nessa luta;

o empreendimento,

desse porte, essas

qualidades, esse novo

discurso; uma iniciativa,

essa motivação, nessa

época, desse

sentimento, nessa

qualidade humana; as

promoções, essa resina,

os bons exemplos.

11 vezes: a emenda,

tal caso, um novo

retardamento; uma

aposta arriscada, este

indicador, outros

fatores. uma medida

drástica; os números;

este objetivo, desses

novos instrumentos,

alguns fatores

diferenciais.

7 vezes: outros

problemas, essa

venda; nessa

iniciativa, desse

debate; dessas

instituições

financeiras, nessa

situação; tais

recompras.

Pela análise realizada, nos referidos substantivos anafóricos,

observou-se que alguns contribuem para organizar e para avaliar um trecho

anterior do texto. Outros substantivos, porém, contribuem, mais

precisamente, para a organização textual, fazendo referencias à certa

extensão do discurso citado.

Partindo-se dessa constatação, para determinar qual das instituição

analisadas utiliza os substantivos anafóricos de forma mais enfática, adotou-

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se a seguinte escala: avaliação e organização textual (mais ênfase) e

organização textual (menos ênfase).

4 exemplos - A Razão 11 exemplos - A Razão

5 exemplos - Zero Hora 6 exemplos- Zero Hora

1 exemplo - Folha de 7 exemplos- Folha de

S. Paulo S. Paulo

Avaliação retrospectiva Organização textual

e organização textual

+ ênfase - ênfase

‘outros problemas’................................................. ‘nessa iniciativa’

Quanto ao uso de substantivos anafóricos para avaliar uma extensão

de discurso já abordado, a partir dos dados acima, percebe-se que Zero

Hora e A Razão utilizam esse recurso de modo semelhante. O emprego dos

substantivos anafóricos para ajudar na organização textual, evitando

repetições de termos já utilizados, é mais freqüente n’A Razão.

Considerando-se os substantivos anafóricos que avaliam

retrospectivamente e organizam o texto e que contribuem somente para

organização textual, os editoriais do jornal A Razão apresentam esses

elementos em maior número e a sua presença tem função decisiva para

delimitar a que extensão do texto o escritor se refere, bem como avaliá-la,

portanto, esses editoriais podem ser considerados mais persuasivos em

relação ao emprego do substantivo anafórico.

Outro recurso que demonstra a maneira como o editorialista se

posiciona no texto, contribuindo para a construção retórica, é o uso do

pronome pessoal ‘nós’, conforme o que segue.

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3.6 Pronome pessoal ‘nós’

O uso do ‘nós’ pode ser muito complexo, uma vez que, ao usá-lo, o

escritor alega que não fala somente em seu nome, mas também no nome de

outros (que podem ser especificados no texto ou não) (FIGUEIREDO, 1995,

p.124-5).

De acordo com FOWLER et al.(1979), os pronomes pessoais de

primeira pessoa do plural podem ter duas formas de utilização: ‘nós

inclusivo’ e ‘nós exclusivo’. Por ‘nós exclusivo‘, o escritor refere-se a si

mesmo e a outras pessoas (editores, acionistas, etc.), mas não inclui o leitor.

Ao empregar o ‘nós inclusivo’, o escritor envolve o leitor no conteúdo do

discurso, trabalhando assim para estabelecer uma relação de solidariedade

e proximidade entre ele e o leitor (p.201).

A relação instituída com o uso desses pronomes (que pode ser na sua

forma expressa ou elíptica) pode ser de simetria ou de assimetria. No

primeiro caso, a simetria se evidencia quando o escritor inclui o leitor no seu

discurso e dialoga com ele, mantendo uma relação de cumplicidade e de

intimidade (FIGUEIREDO, idem), pois não estabelece diferenças entre quem

escreve e que lê. Nesse tipo de relação, com o uso de ‘nós inclusivo’, o

poder fica encoberto, mas isso não quer dizer que ele não exista. O escritor

pode ‘fingir’ compartilhar das mesmas opiniões do leitor para tornar-se mais

persuasivo. Já o uso do ‘nós exclusivo’ marca uma relação assimétrica entre

quem conhece uma situação, tem o poder de falar sobre ela e o outro que

desconhece o assunto e precisa ser informado. Nesse caso, o nós inclui a

instituição, os editorialistas, os proprietários, os acionistas, porém o leitor

não está incluído no discurso.

O emprego desse pronome, nas formas acima sugeridas, é

denominada por FAIRCLOUGH (1992a, p.98) como personalização sintética.

Para esse autor, as mudanças que estão sendo criadas na relação entre

escritor e leitor, como, por exemplo, as relações simétricas, são sinônimas

da democratização do discurso. Essa democratização envolve a redução

das marcas explícitas de controle e de manifestação de poder.

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Essa tendência de diminuir as relações de poder já podem ser

observadas em outros textos da mídia, por exemplo, na revista Capricho,

conforme constatou a pesquisa de PINHEIRO (1997).

O pronome ‘nós’ ocorre de forma explícita na instituição A Razão

(total de 12 vezes), na Zero Hora (total de 2 vezes) e não ocorre na Folha de

S. Paulo.

Exemplo 3.20

A Razão a- A notícia de que uma empresa da cidade paulista de Embu está interessada em

montar, possivelmente em Boca do Monte, um frigorífico para abate de 60 mil aves por dia, nos faz sonhar novamente com melhores dias. Essa demonstração de interesse por parte dos investidores de fora não ocorre por acaso. É a prova de que nossas potencialidades estão sendo vistas além do Arroio Cadena e do Vacacaí-Mirim. (AR#1,§ 1)

b- Esse aparente fracasso praticamente não frustou a cidade. Pelo contrário,

sabemos que por trás dos megainvestimentos há uma acirrada guerra fiscal e muitos fatores de mercado em jogo e, nem por isso deixamos de sonhar com novas possibilidades. (AR#1,§ 3)

c- E são essas qualidades que as nossas lideranças devem destacar toda vez

que forem negociar a vinda de investimentos ou reivindicar algo para a região. (AR#2,§ 5)

d- A perspectivas de que teremos um Natal de poucas vendas, conforme prevêem

as principais federações empresariais da indústria e do comércio do país não pode ser argumento para desistir.(AR#3, § 3)

e- Essa motivação, cujo combustível é a esperança, deve ser potencializada para

outros objetivos. Hoje em dia não se pode ver o espiritual separado do material. Antes de vermos a parte, temos que ver o todo. (AR#3,§ 5)

Os exemplos acima não representam a totalidade do que foi coletado

no jornal A Razão, pois seria repetitivo relacionar todos. Assim, esses

exemplos demonstram que o escritor, ao usar o pronome ‘nós’ na sua forma

inclusiva (expressa ou elíptica), visa falar em seu nome, da empresa

jornalística, do leitor em potencial e, portanto, da coletividade. Conforme

abordou-se acima, o uso desse pronome serve para marcar um menor

distanciamento entre os participantes do discurso, estabelecendo uma

relação menos formal. O editorialista dirige-se a sua audiência ao mesmo

tempo que a inclui no discurso, estabelecendo uma aproximação entre

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ambos. Considera-se que a personalização sintética seja utilizada pelo jornal

A Razão, em virtude de que o jornal pretende ser um órgão a serviço da

comunidade. Dessa forma, argumenta em nome dessa comunidade, ou seja,

defende posições que ‘acredita’ que a comunidade também defenderia.

A forma como o discurso é construído com o uso da personalização

sintética, na instituição A Razão e algumas vezes na Zero Hora, representa

a construção de uma hegemonia, ou seja, o escritor visa construir alianças

entre forças sociais diferentes (mídia, empresários, comerciários, políticos),

procurando, ao invés de imprimir uma dominação de um grupo sobre outro,

demonstrar uma aliança como se todos possuíssem as mesmas posições

ideológicas (FAIRCLOUGH, 1992a, p.92). Esse é um artifício que o

editorialista adota para não entrar em choque com grupos que tenham

visões diferentes, e para conquistar a audiência, através de um discurso que

exprime um consenso entre os participantes. A hegemonia que o escritor

visa construir, a partir do seu discurso, é uma forma disfarçada de

perpetuação do poder que a mídia possui para construir alianças e reforçar

uma posição institucionalizada.

O emprego do ‘nós inclusivo’ também pode ser considerado como

uma forma ‘disfarçada’ de persuasão, tendo em vista que o editorialista

defende suas idéias, mas coloca-as de forma que pareçam suas e da

comunidade. Ao ‘naturalizar’ um ponto de vista específico, o discurso se

reveste de ideologia (FAIRCLOUGH,1989).

A instituição Zero Hora, emprega o pronome ‘nós’ de modo pouco

freqüente. Isso é evidenciado pelos dois únicos exemplos, apresentados

abaixo, retirados dos quatro textos analisados.

Exemplo 3.21 Zero Hora a- ...o país está enfrentando a crise com suas próprias reservas, sem pedir socorro

a entidades internacionais. Só este indicador já é suficiente para mostrar aos investidores externos que nossa economia é confiável. (ZH#2, § 2)

b- ...a presteza com que o Brasil adotou decisões importantes tende a provar o

contrário. O teor das medidas e os procedimentos democráticos que cercam

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sua aprovação são alguns de nossos fatores diferenciais em relação, por exemplo, aos países asiáticos em crise. (ZH#4, § 3)

Esses dois exemplos também retratam o uso do ‘nós inclusivo’, na

medida em que o editorialista não exclui o leitor de seu discurso. Procura

inseri-lo e manifestar que o que é bom para o país também é para mim

(escritor, instituição) e para você (leitor).

A instituição Folha de S. Paulo, em todos os editoriais analisados, não

se utiliza da personalização sintética. Emprega a terceira pessoa, às vezes,

com verbo na voz passiva. A não utilização do ‘nós’ talvez ocorra em função

do desejo da instituição de ser um jornal “crítico, apartidário e pluralista”

(Novo Manual da Redação Folha de S. Paulo, 1992, p.13) e o uso da

personalização sintética poderia incluir ou excluir determinados segmentos

da sociedade e esse não seria o seu intento.

O uso ou não da personalização sintética pode estar relacionado à

ideologia de cada instituição, já que cada uma possui, em seu regulamento

interno, normativas para produção de textos nos diferentes gêneros. Mas,

tomando os textos analisados, observa-se que a personalização sintética é

usada como aliada na ‘conquista’ do leitor em relação às idéias defendidas.

Assim, o jornal A Razão que mais utilizou tais elementos pode ser

considerado como mais persuasivo, do que um texto que foi escrito somente

na forma impessoal.

Considerações finais

O percurso de análise que foi adotado procurou de forma macro e

microestrutural observar como o editorialista, de diferentes instituições,

constrói o seu discurso com o intuito de persuadir/exortar.

O levantamento macroestrutural, no gênero editorial, permitiu que se

revelasse uma construção argumentativa disposta na forma de blocos de

argumentos dentro do texto, em que um bloco complementa o outro para

que no conjunto constituam esse gênero que é a forma de manifestação da

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opinião das instituições jornalísticas. Assim, os textos apresentam

características que os identificam com a instituição produtora, na veiculação

do ponto de vista particular dessa instituição sobre determinados fatos que

fazem parte da vida da sociedade na qual esta inserida. Por outro lado,

como se constituem em um gênero, todos os textos analisados apresentam

características comuns, pois se configuram na forma de uma situação e/ou

problema e os argumentos posteriores vêm em conseqüência dessa

situação e/ou problema. Assim, o editorialista arquiteta o seu discurso com a

intenção de propor saídas, demonstrando-se conhecedor da situação, o que,

ao mesmo tempo, legitima o seu poder de opinar. A análise dos editoriais

permitiu que se considerasse esses textos como materializações do discurso

exortativo, pois todos apresentavam comandos ou sugestões, estágio

essencial desse discurso (LONGACRE, 1992).

Além da própria constituição do gênero editorial, outros recursos se

aliam a tal constituição e colaboram para que o escritor consiga

persuadir/exortar o leitor. Dentre tais recursos retóricos, foram analisados: os

marcadores metadiscursivos, os substantivos anafóricos e a personalização

sintética.

A partir da análise dos elementos metadiscursivos, quer seja pelos

marcadores de validade e de atitude ou pelos conectores textuais, percebe-

se que tais elementos são responsáveis pelo encadeamento das diferentes

partes do texto, propiciando a construção do argumento, estabelecendo

interações entre os participantes e, conseqüentemente, contribuindo para os

processos persuasivos/exortativos.

Pelo emprego efetivo da modalidade deôntica e dos marcadores de

atitude, que foi constatado pela análise desses editoriais, observa-se que a

instituição Zero Hora foi aquela que empregou tais recursos de forma mais

assertiva e enfática do que as outras duas instituições. Em função dessa

utilização, ela pode ser considerada como aquela que mais explicitamente

tenta persuadir a respeito das posições que defende. Analisando-se as

categorias de modalidade epistêmica e conectores textuais, percebeu-se

que possuem destaque na Folha de S. Paulo. Entretanto, somente esses

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marcadores não permitiriam destacar tal instituição como mais persuasiva, já

que a modalidade epistêmica não foi utilizada de forma enfática, e os

conectores textuais, se comparados com as marcas de atitude, são menos

enfáticos na persuasão. A Razão empregou do forma significativa a

modalidade deôntica, mas em uma menor escala que Zero Hora. Assim,

Zero Hora foi considerada como mais persuasiva.

É importante chamar atenção, entretanto, para o uso de substantivos

anafóricos e da personalização sintética pel’A Razão. Esses elementos

contribuem para uma aproximação entre escritor e audiência, ajudando na

conquista do leitor e na persuasão. O uso da personalização sintética pela

instituição, em seus editoriais, contribui para o estabelecimento de relações

simétricas entre escritor e leitor, pois o escritor constrói o texto de forma a

sugerir que ambos compartilham os mesmos valores, posições e crenças,

simulando uma relação sem barreiras, que funciona como um artifício para

conquistar o leitor. Os substantivos anafóricos auxiliam no processo

interpretativo do leitor e na manifestação de avaliações do editorialista, pois

esses elementos podem funcionar como retomadas avaliativas de trechos do

texto.

Assim, esses elementos aliados e inseridos nos blocos que

constituem cada movimento do texto, fazem com que se configure esse

gênero que congrega um objetivo comunicativo (persuadir/exortar), uma

audiência (público alvo/leitores em geral), e uma instituição que se insere em

um dado contexto de produção e consumo (A Razão, Zero Hora, Folha de S.

Paulo).

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4 CONCLUSÃO, LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES PARA

FUTURAS PESQUISAS

4.1 Resumo dos resultados

Nesta análise, procurou-se traçar um perfil dos editoriais nas

diferentes instituições em estudo. Para isso, analisou-se os mesmos

aspectos nas três instituições, para que assim pudesse se entender um

pouco mais sobre o processo de produção de editoriais jornalísticos.

Parte-se do primeiro elemento que possibilitou a comparação entre as

três instituições, o contexto. Tendo por base a visão de HALLIDAY (1985) de

que o contexto determina o texto. Esse fator, permite que cada uma das

instituições analisadas possua um tipo de texto, por ela determinada.

Assim, os textos do jornal A Razão que são produzidos, como se

sabe, no interior do estado, destacam certos itens lexicais que se referem a

esse meio de produção, bem como a posição que essa instituição defende.

Podem-se destacar os itens como: potencial, lideranças políticas e

empresariais, investidores, potencialidades, investidores de médio e grande

porte, Santa Maria, municípios da região, Boca do Monte, frigorífico,

Universidade Federal de Santa Maria, cultura regional, novos

empreendedores, presidente da Assembléia Legislativa, Rede de

Mercocidades, feira agropecuária, lideranças locais, BR 158, investimento de

R$17 milhões. Essas são algumas das palavras usadas pelo editorialista e

que refletem o seu foco de atenção Santa Maria, mas também o alcance

regional de sua informação. Direcionam-se basicamente para temas locais e

alguns regionais em torno da cidade de Santa Maria. A limitação do texto

não pode ser atribuída somente à cidade, mas sim à posição que a

instituição tenha ou que pretenda ter e ao público que vise atingir. Mas, se

os seus assuntos se referem a um domínio limitado, certamente o público

que poderá atingir também será mais limitado. Por outro lado, considerando-

se que essa instituição defende os interesses dos cidadãos locais dentro de

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uma perspectiva econômica e política, o seu texto está coerente como a sua

posição ideológica.

Os textos do jornal Zero Hora, como são produzidos num contexto

institucional e social mais amplo, refletem essa condição. Os textos da

instituição tanto podem tratar de assuntos do interior do Estado, como da

Ásia e da crise nas bolsas. Dedicando-se a temas que atinjam domínios

mais amplos, o jornal, apesar de ser produzido em Porto Alegre, pode

discutir notícias de todo o país. Alguns itens lexicais permitem constatar

essa característica: Michel Temer, reforma esquecida, parlamentar, pleito,

presidente da República, governadores de Estado, senadores e deputados,

campo tributário, Brasília, Hong Kong, circuit breaker, Bolsa de São Paulo,

Antônio Kandir, Bovespa, Fisco, 20 bilhões, Brasil. Esses são alguns dos

itens lexicais utilizados pelo editorialista de Zero Hora, que demonstram a

predisposição da instituição em atingir um público bem mais amplo do que o

da cidade de Porto Alegre e do Estado. Assim, esse jornal, apesar de

sediado num dado contexto, não se restringe a assuntos somente desse

meio, pois a variedade e amplitude dos assuntos tratados também amplia o

público atingido.

A Folha de S. Paulo, assim como Zero Hora, dedica-se a assuntos

locais e estaduais (capital e Estado de São Paulo), como também àqueles

do país ou do exterior. Seus textos percorrem vários domínios do país ou

fora dele, como pode ser observado pelos itens: riqueza do subsolo, esfera

produtiva, valor da jazida, cláusulas de desempenho, privatizar, economia,

tecnologia, decodificação genética, biotecnologia, 82 bilhões, Receita,

Fazenda, BNDS. Percebe-se, pelos itens acima, que o texto se insere em

vários âmbitos, quer seja da tecnologia, da economia ou da política, esse

fator possibilita que aos assuntos dessa instituição, atinjam um público mais

específico (biotecnologia) ou irrestrito (privatização). Contata-se que os

editorialistas da Folha de S. Paulo, para poderem argumentar com

segurança, devem ser pessoas bem informadas sobre os mais diferentes

assuntos que são veiculados nos seus editoriais.

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A partir dos itens lexicais destacados das três instituições, observa-se

que cada uma delas tem um interesse e seus textos demonstram tais

interesses. Assim, constata-se que uma leitura atenta em relação a esses

itens revela o domínio ocupado pela instituição, os assuntos de sua

preferência e as diferenças entre as instituições jornalísticas.

Para BOLIVAR (1994, p. 292), as diferenças entre os editoriais de

cada instituição depende do modo como as instituições avaliam o mundo, ou

seja, suas posições ideológicas e as previsões que fazem sobre os

conhecimentos dos leitores. Essa citação reforça os argumentos

anteriormente apresentados, pois cada instituição tem sua maneira de

construir seu discurso em função do público que vise atingir.

Os editoriais, por sua característica normativa, procuram interferir na

conduta de seus leitores, o que é peculiar ao discurso exortativo. Para atingir

o objetivo de exortar, há procedimentos que são adotados, como a

estruturação do argumento em blocos dentro do texto, aqui, chamados de

movimentos, que correspondem a quatro no total. Assim, nesses

movimentos são manifestados a autoridade do editorialista, a situação e/ou

problema do texto, os comandos e as sugestões que o editorialista utiliza

para ser mais enfático no convencimento dos leitores e os resultados que ele

espera que sejam obtidos, como persuadir. Os textos analisados são

considerados como pertencentes ao discurso exortativo, pois apresentam

uma estrutura dividida em movimentos e, principalmente, porque

apresentam o movimento de comando e de sugestão que caracteriza o

discurso exortativo e que apela para ação do leitor.

A maioria dos movimentos está presente nos editoriais, embora, às

vezes, ocorra a supressão daquele que apresenta os resultados desejáveis

ou não. Ainda pode aparecer, de forma não delimitada, o movimento que

visa demonstrar a autoridade de conhecedor do assunto, podendo estar

encaixado em outros blocos de argumentos. O que se observa é que as

instituições procuram manter nesses textos uma seqüência de argumentos

que apresentam relação um com o outro e conduzem as intenções do

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editorialista. Esse fator assegura uma ordem sistemática da ocorrência dos

movimentos em todas as instituições, característico ao gênero editorial.

Entre os recursos lingüísticos analisados, estão os marcadores

metadiscursivos, cuja função é auxiliar no querer-dizer do editorialista; os

substantivos anafóricos, responsáveis pela estrutura do texto e pela

argumentação; e a personalização sintética que demonstra relações

simétricas entre escritor e leitor. Tais recursos permitiram a determinação de

qual instituição produziu os textos mais persuasivos.

CRISMORE (1989, p.108) considera que atualmente o escritor tem

um papel de comunicador. A investigação do metadiscurso é necessária

para localizar o escritor como uma voz que se manifesta através de

elementos lingüísticos. Assim, o levantamento de tais elementos é

importante para revelar a maneira como cada editorialista busca manter

contato com seu leitor, pois esses elementos contribuem para estabelecer

relações entre os argumentos e para indicar os passos seguidos pelo

escritor no texto. Portanto, o metadiscurso é um recurso responsável tanto

pela coesão entre as sentenças e os parágrafos, como pela coerência, pois

auxiliam no entendimento global do texto e no processo de persuasão.

Os três tipos de marcadores metadiscursivos analisados – as marcas

de validade, as marcas de atitude e os conectores textuais – apresentaram

maior incidência em uma outra instituição, pois auxiliam na tomada de

posição do editorialista e fornecimento de pistas ao leitor sobre isso.

4.2 Conclusões

Com a análise macroestrutural dos textos dos editoriais, pôde-se

perceber que, de modo geral, apresentam uma estruturação que permite

identificá-los como pertencentes a um gênero. Isso ocorre porque os textos

analisados apresentam a mesma configuração genérica que é recorrente em

todos os textos analisados, ou seja, apresentam uma situação e/ou

problema e a partir dele(s) é que são desenvolvidos os demais argumentos.

Assim, o gênero editorial apresenta essa estrutura.

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Já os marcadores de validade e de atitude auxiliam no modo como o

editorialista se posiciona no texto e podem ser considerados o ponto de

contato mais explícito entre escritor e seu público, fazem parte da função

interpessoal. Assim, a utilização de forma enfática desses elementos por

Zero Hora permitiu que se considerasse essa instituição como a mais

persuasiva em relação à utilização de tais marcadores metadiscursivos. O

levantamento de marcas de modalidade e de atitude, permite a observação

de que o discurso dos editoriais contém com um ‘tom’ de autoridade, que

dita normas de conduta aos seus leitores.

Os conectores textuais têm a sua presença garantida em todos os

textos analisados, principalmente na ligação entre os blocos de argumento,

característica que auxilia no encadeamento das partes do texto e no

estabelecimento da função textual. Percebeu-se que a ocorrência desses

conectores, em alguns textos de A Razão (Potencial à mostra, O novo

discurso) e Zero Hora (Dupla responsabilidade), não contribuiu para conexão

das idéias propostas e para manutenção da unidade textual. Assim, dos os

textos que fazem parte do corpus, os da Folha de S. Paulo são aqueles que

mantêm a unidade textual e que o uso dos conectores contribui para um

desenvolvimento coerente dos argumentos apresentados. Considerando-se

esses fatores, essa instituição é aquela que melhor congrega o uso de

elementos lingüísticos coesivos, a apresentação de uma argumentação

consistente e a constituição textual em um todo único .

Quanto ao uso de substantivos anafóricos e a personalização

sintética, percebe-se que esses instrumentos são aliados dos editorialista

d’A Razão para marcar a sua voz e estabelecer relações (escritor/leitor). O

uso, da personalização sintética, na forma de ‘nós inclusivo’, permite

observar que o editorialista insere vários segmentos da sociedade em seu

discurso, como se todos compartilhassem dos mesmos posicionamentos.

Esse recurso é uma forma de estabelecer proximidade e afinidade entre os

participantes, possibilitando a conquista do leitor em relação a um discurso

no qual ele se insere. O uso do substantivo anafórico permite a coesão entre

as partes do argumento, mas também auxilia ao escritor para que ele possa

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demonstrar a forma como avalia uma certa extensão retrospectiva do

discurso. Assim, esses dois elementos auxiliaram no procedimento

persuasivo dos editoriais d’A Razão.

Assim, no gênero editorial, são vários os recursos que o editorialista

têm em mãos para exercer poder sobre o seu leitor. Aqui foi evidenciado

desde a construção do argumento num nível macroestrutural, até as

questões microestruturais, como o emprego do metadiscurso. Assim, apesar

de reformulações que possam sofrer os textos da mídia, o editorial tem uma

característica que lhe é peculiar, ou seja, é um gênero que tem a função de

apresentar à sociedade o que a instituição pensa e deseja que o seu leitor

acredite.

Independente do contexto em que seja produzido o editorial, o que se

deve ressaltar é que a mídia constrói o seu discurso com a intenção de

perpetuar posições que possui. Os interesses que a mídia defende são os

seus, embora tente demonstrar que são os interesses de seu público (por

exemplo, com o uso da personalização sintética). Vários caminhos podem

ser propostos para se entender como esse discurso se constitui. Um deles,

foi adotado aqui, permitindo que se considerasse esse discurso como

exortativo, bem como aquele que possibilitou determinar quais textos eram

mais persuasivos. Os recursos metadiscursivos são empregados para

persuadir o leitor a agir da forma que a instituição está determinando, para

que o leitor se alie a posição da instituição e passe a compartilhar dela.

Assim, ele pode repassá-la para outras pessoas, o que permitiria alastrar

ainda mais o poder de que os fatos sejam vistos sob a ótica que instituição

deseja.

Esses recursos evidenciam a necessidade de que se leia criticamente

um texto, não aceitando prontamente as idéias defendidas pelo escritor,

avaliando e procurando identificar as reais intenções e tendências adotadas

pelo escritor (CRISMORE, 1989, p.137-8).

Pode-se ainda destacar que a congregação do uso adequado de

elementos lingüísticos, em termos de microestrutura (tais como: recursos

metadiscursivos, substantivos anafóricos e personalização sintética), e da

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organização textual, na forma de blocos de argumentos, podem auxiliar em

uma melhor compreensão, por parte do leitor, das idéias que o escritor

deseja manifestar.

Assim, a análise do gênero editorial, através de sua estrutura textual e

dos elementos lingüísticos, neste estudo, é de significativa relevância, em se

tratando do ensino de Língua Portuguesa, no sentido de explicitar

mecanismos lingüísticos que corroboram para a persuasão do leitor e que

podem ser explorados e praticados na sala de aula pelos alunos em

construções coletivas de cartas para jornais e revistas, jornais da escola, etc.

Espaço em que os alunos poderão definir seus pontos de vista, defenderem-

no e tentar persuadir leitores que seu modo de tomar posição é adequado.

Ao mesmo tempo em que essa análise comprova a necessidade de

que o professor incentive o aluno da importância de uma leitura crítica, que

procura demonstrar algo mais que as marcas gráficas deixadas pelo escritor

no texto. Assim, quando o aluno perceber a importância de certos

mecanismos na construção do texto, ele poderá se tornar um leitor mais

atento e um indivíduo mais consciente das idéias que defende.

Por outro lado, a análise, da forma como se configura o gênero

editorial, a construção na forma de blocos de argumentos dentro dos textos,

é relevante para o ensino de Redação, pois demonstra a necessidade de

que os argumentos sejam construídos de forma paulatina, onde um trecho

do argumento é utilizado em complementação ao outro. Assim, o conjunto

dos argumentos se aliam para atingir o objetivo pretendido pelo escritor.

É crescente, atualmente, a necessidade de que os professores

trabalhem de forma diferenciada em suas aulas de Língua Portuguesa.

Nesse âmbito, os textos da mídia, como os editoriais, podem ser

instrumentos que demonstrem, para os alunos, a forma como os textos são

construídos e os traços lingüísticos que nele se associam, não de forma

aleatória, mas para demonstrar propósitos do escritor. O aluno, no momento

que perceber os traços discursivos e lingüísticos, nos textos que lê, bem

como sua finalidade, poderá, então, construir sua própria autonomia,

produzindo textos com argumentos precisos e com objetivos bem definidos.

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4.3 Limitação da pesquisa

Pode-se dizer ainda que em um trabalho de mestrado sempre é

possível que ocorram falhas na sua elaboração, pois o tempo é exíguo e

temos de adotar um caminho para procurar solucionar nossas

inquietações iniciais que levaram à execução do mesmo. Considero como

limitações um contato mais próximo com as instituições às quais

pertencem os textos analisados, uma vez que somente conseguimos

entrevistar pessoalmente o editorialista d’A Razão, enquanto que com a

Zero Hora o contato foi feito via e-mail e telefone e não se conseguiu

obter informações do editorialista da Folha de S. Paulo. Outro aspecto

que pode limitado a pesquisa foi com relação ao processo de consumo

desses textos, ou seja, não se abordou na pesquisa a receptividade dos

mesmos pelo leitor.

4.4 Sugestão para futuras pesquisas

Consideramos que seria interessante um estudo que abordasse os

aspectos citados que limitaram esta análise. Ainda seria relevante um tipo de

análise que comparasse editoriais dos jornais com os das revistas Veja, Isto

é, Época, chamados de carta do editor e que funcionam como um ‘bate

papo’ com o leitor, estabelecendo-se assim uma comparação entre textos

que, embora pertencentes ao mesmo gênero, possuem suas

especificidades. Tal comparação poderia evidenciar traços importantes do

discurso exortativo que podem ser explicitados e interpretados, trazendo

contribuições para o entendimento que temos do funcionamento da

linguagem para medir relações sociais.

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