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ANÁLISE DO USO DE INDICADORES SOCIAIS PELAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRÓLEO EM MACAÉ: UM ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO Walter Luiz de Mello Loureiro, Júlio Vieira Neto, Romeu e Silva Neto, Sergio Ricardo da Silveira Barros (Universidade Federal Fluminense; Instituto Federal Fluminense) Resumo: No final dos anos 70, a região norte do Estado do Rio de Janeiro passou a desenvolver- se rapidamente com a descoberta e início das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos. Macaé, escolhida para servir como base de operações da Petrobras, recebeu a influência direta desse novo ordenamento econômico, refletindo os seus efeitos no cotidiano da população e nos empreendimentos corporativos locais. O presente trabalho objetiva verificar a adoção e utilização de alguns indicadores sociais pelas Pequenas e Médias Empresas (PMEs) integrantes da cadeia produtiva do petróleo e gás na Bacia de Campos. O método de investigação está baseado na pesquisa exploratória e no estudo de caso múltiplo envolvendo cinco empresas da Rede Petro-BC instaladas em Macaé. Os critérios de avaliação adotados baseiam-se na proposição de uma linha de indicadores sociais, desenvolvida a partir das diretrizes do GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, sob a ótica da dimensão social da Responsabilidade Social Empresarial - RSE. Os resultados apresentam as estratégias de gestão empreendidas pelas empresas entrevistadas quanto aos Graus de Importância e de Utilização dos indicadores sociais propostos, mediante análise intracasos e intercasos. Palavras-chaves: Indicadores Sociais. Responsabilidade Social Corporativa. Pequenas e Médias Empresas. Indústria Petrolífera. ISSN 1984-9354

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ANÁLISE DO USO DE INDICADORES SOCIAIS PELAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRÓLEO EM MACAÉ: UM ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO

Walter Luiz de Mello Loureiro, Júlio Vieira Neto, Romeu e Silva Neto, Sergio Ricardo

da Silveira Barros (Universidade Federal Fluminense; Instituto Federal Fluminense)

Resumo: No final dos anos 70, a região norte do Estado do Rio de Janeiro passou a desenvolver-se rapidamente com a descoberta e início das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos. Macaé, escolhida para servir como base de operações da Petrobras, recebeu a influência direta desse novo ordenamento econômico, refletindo os seus efeitos no cotidiano da população e nos empreendimentos corporativos locais. O presente trabalho objetiva verificar a adoção e utilização de alguns indicadores sociais pelas Pequenas e Médias Empresas (PMEs) integrantes da cadeia produtiva do petróleo e gás na Bacia de Campos. O método de investigação está baseado na pesquisa exploratória e no estudo de caso múltiplo envolvendo cinco empresas da Rede Petro-BC instaladas em Macaé. Os critérios de avaliação adotados baseiam-se na proposição de uma linha de indicadores sociais, desenvolvida a partir das diretrizes do GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, sob a ótica da dimensão social da Responsabilidade Social Empresarial - RSE. Os resultados apresentam as estratégias de gestão empreendidas pelas empresas entrevistadas quanto aos Graus de Importância e de Utilização dos indicadores sociais propostos, mediante análise intracasos e intercasos.

Palavras-chaves: Indicadores Sociais. Responsabilidade Social Corporativa. Pequenas e

Médias Empresas. Indústria Petrolífera.

ISSN 1984-9354

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1 INTRODUÇÃO

No final dos anos 70, a economia da região Norte do Estado do Rio de Janeiro começou a

se expandir fortemente com a implantação da indústria de exploração e produção do petróleo na

Bacia de Campos.

Com a chegada da Petrobras, instalando sua sede na cidade de Macaé, o município e toda a

região do seu entorno passaram a sofrer as consequências dessa nova fase de crescimento

econômico, transformando de forma significativa o ambiente social, político e a produção de

riqueza local.

É notório que esse novo ciclo econômico vem trazendo consequências positivas na geração

de emprego e renda para a população, novas oportunidades de negócios e atraindo novos

investimentos públicos e privados. Mas traz a reboque, por outro lado, consequências

socioambientais negativas, com impactos diretos na ocupação desordenada do solo, afetando a

flora e a fauna de suas florestas, restingas e lagoas costeiras, poluindo rios e praias da região.

Como afirmam Binsztok e Ramos (2011):

Percorrendo o interior do município verificamos como o desenvolvimento de tecnologias de ponta utilizadas na exploração de petróleo convive com o quadro de estagnação dos espaços agrários. O quadro pode ser acrescentado pela forte depredação dos recursos naturais, representados pelas extensas áreas desmatadas, intensos processos erosivos, ‘voçorocas’, ocasionando inúmeros locais de riscos sujeitos a desmoronamentos de encostas e enchentes dos cursos d’água. (BINSZROK; RAMOS, 2011, p. 1)

Além desses fatores negativos, cabe ressaltar a exclusão de boa parte da sociedade do

processo de produção de riqueza, seja pela dinâmica capitalista caracterizada pela alta

concentração de renda do setor ou pela falta de qualificação profissional, colocando essas pessoas

à margem dos benefícios do desenvolvimento econômico.

Neste sentido, segundo Pizzol (2008, p. 15): “a promessa de melhorias dos níveis de

qualidade de vida da população é praxe nos países produtores de petróleo, criando expectativas no

povo, que raramente são cumpridas”. Fica então, como consequência, a ilusão da riqueza fácil,

proveniente da produção do petróleo e a perversa realidade do seu desempenho como fator indutor

econômico-social.

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A partir do final nos anos 90, com a flexibilização do monopólio de extração e produção

nacional de petróleo, há um recrudescimento do processo expansionista local, aumentando

também as desigualdades sociais.

Verifica-se, nesta nova situação, que as alterações sócio-espaciais, iniciadas com a chegada

da indústria petrolífera em 1977, foram potencialmente aceleradas com a quebra do monopólio da

Petrobras, em 1995, motivando ainda mais a instalação de numerosas empresas, nacionais e

estrangeiras, atuando nesse ramo, sejam unidades de exploração dos blocos leiloados pela ANP,

sejam estabelecimentos de serviços industriais subcontratantes ou fornecedores de bens e serviços

destinados à cadeia produtiva. (FAURÉ, 2008)

Por outro lado, estudos têm procurado demonstrar, através do uso de indicadores, o

comportamento das principais variáveis relacionadas ao processo evolutivo do desenvolvimento

local sustentável.

Esses indicadores refletem principalmente as transformações econômicas, sociais e

ambientais que, de alguma forma, exercem influência sobre as corporações, os indivíduos e o

ambiente físico (espaço territorial) em que vivem.

Segundo Van Bellen (2006), a grande questão no desenvolvimento e aplicação de sistemas

de indicadores e ferramentas de mensuração de sustentabilidade está relacionada à complexidade

do conceito de desenvolvimento sustentável, em função de suas múltiplas dimensões e

abordagens.

Para Martins e Caldas (2009), o local deve ser valorizado como instância privilegiada para

o planejamento e execução de projetos desenvolvimentistas, e, neste sentido, Scipioni et al. (2009)

reforçam que as dimensões local e urbana estão se tornando objeto de grande interesse na

literatura internacional na formulação e definição de indicadores de desempenho sustentável.

Vianna et al. (2009) afirmam, no entanto, que foi somente a partir dos anos 1980 que a

temática relacionada ao desenvolvimento sustentável emergiu na indústria, desencadeando

discussões sobre o passivo ambiental e suas consequências produzidas pelo modelo econômico

ainda vigente.

Pressionados, em face dos problemas sociais e ambientais provocados pelo

desenvolvimento econômico, em escala global, empresários, governos e investidores passaram a

incorporar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) como tema relevante para a estratégia de

gestão e manutenção dos seus negócios.

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Não é rara, na atualidade, a formação de parcerias estratégicas entre empresas e

comunidades associando-se a programas sociais que estabeleçam vínculos formais entre a

atividade empresarial e o interesse social, que contribuam para a sustentabilidade local e regional

(ESTEVES e BARCLAY, 2011),

Van Bellen (2006, p. 24) adverte para o fato de que “os indicadores sociais são

considerados especialmente controversos, pois refletem contextos políticos e julgamento de

valor”, o que torna extremamente difícil avaliar e medir o desempenho da componente social no

desenvolvimento sustentável.

Percebe-se, no entanto, que as experiências mais bem sucedidas para o desenvolvimento

local sustentável são aquelas estabelecidas com a maior participação possível das comunidades,

em que são debatidos e conhecidos os principais aspectos ambientais, econômicos e sociais que

envolvem os negócios corporativos e as características dos seus impactos sobre o meio ambiente e

as atividades humanas lá existentes (MORI; CHRISTODOULOU, 2012).

No caso da indústria do petróleo em Macaé, muito embora a componente ambiental receba

especial atenção devido aos impactos e riscos de suas atividades, as consequências mais visíveis,

todavia, podem ser verificadas através das contradições inerentes ao desenvolvimento econômico

estabelecido pela dinâmica da produção petrolífera. Empresas como a Petrobras e várias

multinacionais que utilizam alta tecnologia convivem com “bolsões de pobreza representados pelo

intenso processo de favelização e segregação espacial, depredação dos recursos naturais,

migrações pendulares, saúde e educação públicas de má qualidade e esvaziamento do campo”

(BINSZTOK, WASSERMAN; ROMEU, 2010, p. 2).

Dado o contexto seletivo e competitivo da indústria de exploração e produção de petróleo e

gás natural, sob o comando da Petrobras na Bacia de Campos, o nível de exigência para

qualificação das redes fornecedoras de bens e serviços se constitui em forte barreira à entrada de

empresas locais (DIAS, 2011), com a consequente exclusão de parte da mão de obra disponível.

Com o apoio da Petrobras, Sebrae, Prefeitura, Onip e Firjan, a criação da Rede Petro-BC,

em 2003, possibilitou o fortalecimento da participação de pequenas e médias empresas no

mercado local (FAURÉ, 2008), o que torna o seu papel fundamental para a cadeia produtiva na

medida em que favorece a geração de trabalho e renda e a diminuição da pobreza.

Nesse aspecto, o papel das PMEs tem sido de suma importância na dimensão

socioeconômica, em função de sua capacidade de absorção de força de trabalho a baixo custo e

menor exigência de qualificação, da sua contribuição na solução de desequilíbrios regionais e da

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sua atuação complementar às atividades das grandes empresas, fortalecendo o processo econômico

como um todo. (LUNA, 1983)

A inserção dessas empresas no mercado offshore supre, em parte, a necessidade da

demanda da indústria por bens e serviços, além de possibilitar o acesso a novas tecnologias e

regras empresariais de controle e respeito às diretrizes da RSE.

Decorrente dos efeitos propugnados pelo desenvolvimento produzido pela indústria

petrolífera no cotidiano de moradores e nas atividades empresariais, em face das transformações

socioambientais observadas, o problema que originou a perspectiva do trabalho pode ser expresso

pelo seguinte questionamento: quais são as ações e/ou programas sociais empreendidos pelas

PMEs da cadeia produtiva do petróleo, à luz da dimensão social da responsabilidade social

empresarial?

Diante da problemática descrita, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a adoção e

implementação pelas pequenas e médias empresas da Rede Petro-BC, integrantes da cadeia

produtiva do petróleo em Macaé, de práticas relacionadas à dimensão social da Responsabilidade

Social Empresarial.

Para tanto, adotou-se a pesquisa exploratória e o estudo de caso múltiplo através da

proposição de uma linha de indicadores sociais baseada nas diretrizes GRI, ISE&FBOVESPA e

IBASE. Como instrumento investigatório, criou-se um questionário que foi aplicado em cinco

empresas selecionadas da Rede Petro-BC, com o propósito de verificar os graus de importância e

utilização empregados em práticas e programas sociais alinhados à dimensão social da RSE.

2. Revisão da Literatura

As principais definições de Responsabilidade Social Empresarial revelam que o seu

conceito está ligado à capacidade que as empresas possuem para satisfazerem as três dimensões do

negócio (Triple Botton Line), ou seja, a econômica, a social e a ambiental (FONT et al., 2012).

Atuando a partir deste conceito e de uma nova ótica de gestão, espera-se que as empresas

com responsabilidade socioambiental adquiram uma vantagem competitiva em relação às que

deixam de adotá-la em suas agendas. Para Rego et al. (2006), há um claro amadurecimento neste

sentido, visto que é cada vez maior o número de investidores institucionais, como fundos de

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pensões e companhias de seguros, acreditando na valorização das empresas socialmente

responsáveis.

Porter e Kramer (2006) apontam para a necessidade de uma visão mais holística do

negócio. As empresas devem direcionar suas estratégias para melhorar o seu relacionamento com

a sociedade, de modo a se alcançar o máximo benefício social, bem como ganhos para o negócio.

Surge, então, o conceito de valor compartilhado, ou seja, que é a obtenção de benefícios tanto para

a sociedade como para a competitividade empresarial.

Nos estudos produzidos por Esteves e Barclay (2011), a respeito das estratégias

corporativas na indústria de mineração, verificou-se uma forte tendência para a realização de

parcerias empresa-comunidade, através de programas que contribuam para a sustentabilidade local

e regional.

Quelhas e Vieira Neto (2012) vão além. Eles argumentam que as ações da RSE, no campo

da gestão organizacional, se irradiam por toda a cadeia produtiva, envolvendo todos os atores

econômicos, políticos e sociais.

Segundo Font et al. (2012), a origem da RSE está no reconhecimento de que as empresas

têm responsabilidades com a sociedade que vão além da maximização da riqueza do acionista.

Esse entendimento passa, então, a ser uma crença amplamente aceita e, portanto, exige certo grau

de compreensão mútua de seu significado comum.

É necessário, não obstante, distinguir dois aspectos importantes: i) o que realmente pode

levar as empresas ao exercício da atividade de RSE; e ii) em que medida estão sendo observados e

divulgados os resultados efetivos dessa atividade.

No primeiro caso, deve-se ter em mente que, de início, tinha-se como pressuposto que a

lógica da economia de mercado, que refletia o interesse próprio do negócio, contribuía para o

desenvolvimento do homem e para a manutenção de uma sociedade estável. Entretanto, verificou-

se, posteriormente, que o objetivo do mercado concentrava-se demasiadamente no lucro,

colocando a condição humana em segundo plano. “O Estado passa então, a ser a grande fonte

provedora do bem-estar social” (SCHROEDER e SCHROEDER, 2004, p. 5).

No entanto, a crise de confiança, decorrente da baixa capacidade do Estado em prover com

eficiência as necessidades sociais e humanas, leva as empresas a exercerem outro papel

diferenciado do tradicional, passando a participar e influenciar diretamente no contexto social,

abrindo “espaço e necessidade para o fenômeno responsabilidade social corporativa”.

(SCHROEDER e SCHROEDER 2004, p. 5)

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Costa (2006), ao analisar o envolvimento das empresas com a comunidade, menciona o

fato de que alguns cientistas sociais alertam que a corporação precisa ser observada como “objeto

sociológico”, e afirma:

Esse novo olhar possibilitou ver as empresas como um fato social, com dimensão própria que ultrapassa a ideia de locus central do capitalismo e, portanto, de conflito social e de exploração do trabalhador. A nova proposta busca explicar a empresa como uma microssociedade, com autonomia capaz de influenciar representações e estruturas sociais. (COSTA, 2006, p. 75)

O segundo aspecto está relacionado ao investimento social privado. O entendimento

vigente até então indicava que o público-alvo era a fábrica e o operariado, e agora o foco está

mudando para o desenvolvimento de projetos sociais para comunidades de baixa renda (COSTA,

2006).

A autora observa que, inicialmente, a responsabilidade social ficava limitada ao ato

filantrópico, de natureza essencialmente assistencialista e temporária, mas que, com as pressões da

sociedade e do Estado, “a ação filantrópica passou a ser promovida pela própria empresa,

simbolizando o início da incorporação da temática social na gestão empresarial”. (COSTA, 2006,

p. 90).

Rego et al. (2006) afirmam que o Investimento Socialmente Responsável (ISR) pode advir

de ações individuais ou de uma atuação institucionalizada, como forma de incentivar as

organizações que coadunam suas atividades com determinados objetivos sociais (respeito aos

direitos humanos, desenvolvimento de comunidades desfavorecidas; redução da poluição

ambiental, entre outros).

A dúvida recorrente na literatura se estabelece quando são avaliados os modelos de

relatórios e/ou indicadores de aferição dos investimentos das empresas em programas e atividades

de RSE. Estudos realizados por Belal e Cooper (2011), indicam a ausência de relatórios de RSE

e/ou pesquisas em grande parte dos países em desenvolvimento se comparado com os estudos e

relatórios presentes nos países ocidentais desenvolvidos. Analisando em particular o caso de

Bangladesh, eles apontam a falta de relatórios e de informações relativas a três questões

fundamentais: o trabalho infantil, a igualdade de oportunidades e a redução da pobreza.

Para Belal e Cooper (2011), a ausência de divulgação dessas informações pelas empresas é

motivada pelos seguintes fatores: a falta de recursos, o imperativo do lucro, a inexistência de

requisitos legais, a falta de conhecimento/consciência, o mau desempenho socioeconômico e o

medo da má publicidade.

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Segundo Serra Sêca (2008), a falta de transparência nas informações a respeito das práticas

de RSE pode influenciar negativamente na imagem das empresas, motivo pelo qual há grande

interesse na divulgação de relatórios que ensejam credibilidade em suas ações.

Os critérios e indicadores de sustentabilidade, de muitos relatórios – ISE-BOVESPA, GRI, DSJI, FTSE4Good, Balanço Social do IBASE, Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, Pacto Global etc. – trazem uma preocupação em relação à discriminação, à valorização da diversidade, assédios (moral e sexual). A falta de transparência nessas questões pode ocasionar a perda de credibilidade e influenciar negativamente na imagem das empresas. (SERRA SÊCA, 2008, p. 15)

Segundo Chaouch, Wild e Owens (2009), em seus estudos sobre RSE na indústria de

petróleo e gás, observa-se o tácito reconhecimento pela indústria de que o debate entre ela, os

representantes da sociedade civil e os governos, sobre os papéis de cada um, responsabilidades e

prestações de contas, deve ser contínuo.

Contudo, é muito comum verificar que esses atores se encontram em posições divergentes,

o que leva a soluções meramente cosméticas, sem realmente encontrar respostas positivas para

essas questões. Segundo Bohm (2005), somente quando uma consciência coletiva for concebida

através do Diálogo, haverá uma corresponsabilidade entre os atores econômicos e resultados

efetivamente compartilhados.

Levando-se esse entendimento para o nível da empresa, é fundamental que ela reconheça

os impactos socioambientais de suas atividades. E, neste sentido, deverá procurar maior

aproximação com os stakeholders, ouvi-los e entender os seus interesses, de forma a adotar uma

agenda de Responsabilidade socioambiental que busque uma melhor qualidade de vida para a

sociedade e a sustentabilidade do seu negócio, com benefícios para ambas as partes (PORTER;

KRAMER, 2006).

O conceito de sustentabilidade tem sido amplamente discutido, apresentando controvérsias

e resultados que muitas vezes não correspondem às expectativas geradas nas tentativas de sua

aplicabilidade.

Segundo Polaz e Teixeira (2008), o uso e avaliação de indicadores de sustentabilidade

podem colaborar para se alcançar resultados mais objetivos, além de se constituírem em uma

ferramenta indicativa da realidade insustentável dos nossos ambientes e das relações sociais,

econômicas, políticas e culturais.

No entanto, Lourenço (2006) alerta sobre a grande dificuldade de mensuração dos

resultados, não apenas para se avaliar cada uma das dimensões envolvidas, mas em razão da

complexidade que envolve a interação entre as dimensões econômica, social e ambiental atreladas

à sustentabilidade do desenvolvimento.

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Lourenço (2006) acrescenta que a evolução do conceito de sustentabilidade requer, além

dos tradicionais indicadores econômicos, a inclusão de dimensões até então não consideradas,

verificando a necessidade de adaptar as ferramentas existentes e/ou criar novas ferramentas de

avaliação.

Van Bellen (2006) menciona cinco dimensões relacionadas com a sustentabilidade:

a) Dimensão sob a perspectiva econômica – como sendo aquela que abrange alocação e

distribuição dos recursos naturais dentro de uma escala apropriada, observado o

conceito de desenvolvimento sustentável a partir de uma visão econômica mais ampla,

que considere o capital monetário associado ao capital ambiental, ao capital humano e

ao capital social;

b) Dimensão sob a perspectiva social – que prioriza a presença do ser humano na

ecosfera, com ênfase no bem-estar humano, na condição humana e nos meios

utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condição;

c) Dimensão sob a perspectiva ambiental – está relacionada aos impactos das atividades

humanas sobre o meio ambiente, cuidando do uso racional do capital ambiental;

d) Dimensão sob a perspectiva geográfica – que aponta para uma melhor distribuição dos

assentamentos humanos e das atividades econômicas, com o objetivo de se obter uma

configuração rural-urbana mais adequada, de modo a proteger a diversidade biológica e

melhorar a qualidade de vida das pessoas;

e) Dimensão sob a perspectiva cultural – que está relacionada ao processo de

modernização sem o rompimento da identidade cultural dentro de contextos espaciais

específicos.

Segundo Guimarães e Feichas (2009), os indicadores voltados para o conceito de

desenvolvimento sustentável devem ter características que possam mensurar as diferentes

dimensões de forma a compreender a complexidade dos fenômenos sociais; possibilitar a

participação da sociedade no processo de definição do desenvolvimento requerido; e comunicar

tendências, como subsídios ao processo de tomada de decisões.

Um dos principais desafios para as organizações e pesquisadores se constitui na verificação

da eficácia dos resultados produzidos nos modelos de relatórios e/ou indicadores de aferição dos

investimentos em programas sociais e atividades de RSE. (BELLAL; COOPER, 2011; ESTEVES;

BARKLAY, 2011).

Neste sentido, verifica-se que os critérios e indicadores de sustentabilidade contidos em

muitos relatórios - ISE Bovespa, GRI, FTSE4Good, Balanço Social do IBASE, Indicadores Ethos

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de Responsabilidade Social, dentre outros – preocupam-se em abordar questões relacionadas à

discriminação, à valorização da diversidade, assédios moral e sexual, que podem ocasionar a perda

de credibilidade e prejudicar o nome das empresas. (SERRA SÊCA, 2008).

Ressalta-se que a literatura oferece uma gama valiosa de estudos sobre diferentes

indicadores e índices de sustentabilidade, que podem ser vistos nos trabalhos empreendidos por

Van Bellen (2006), Castka e Bazarova (2006), Fraser et al (2006), Lourenço (2006), Polaz e

Teixeira (2008), Serra Sêca (2008), Guimarães e Feixas (2009), Mori e Cristodoulou (2012).

No presente trabalho, optou-se por arriscar um caminho diferenciado, de modo a

possibilitar uma investigação teórico-empírica sobre o uso e a implementação de práticas e

programas sociais dentro de uma realidade empresarial, compreendida entre as organizações de

pequeno e médio porte da Rede Petro-BC, de acordo com uma linha de indicadores sociais pré-

determinada, baseada nas diretrizes GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, que está destacada no

capítulo seguinte.

3. Método de Pesquisa Adotado

Para cumprimento do objetivo proposto, adotou-se como metodologia a pesquisa

exploratória associada ao estudo de caso múltiplo, envolvendo uma amostra de cinco empresas da

Rede Petro-BC, da cadeia produtiva de petróleo e gás da Bacia de Campos.

A estratégia metodológica do estudo de caso múltiplo foi utilizada como a melhor opção

para se conhecer como as pequenas e médias empresas da Rede Petro-BC incorporam e

implementam a dimensão social do conceito triple botton line na gestão empresarial.

De acordo com Gil (2011, p.27), as pesquisas exploratórias “habitualmente envolvem

levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso”.

Dentro dessa perspectiva, realizou-se um estudo de caso mediante a aplicação de um

questionário estruturado, com o propósito de investigar o comportamento de cinco empresas

selecionadas (PMEs), em relação à importância e utilização por cada uma delas de indicadores

sociais na estratégia de gestão empresarial, no contexto da indústria petrolífera da Bacia de

Campos.

Para a coleta de dados utilizou-se a técnica de pesquisa qualitativa e quantitativa (método

misto), com base em perspectivas construtivistas, adequando e integrando ao conteúdo analítico da

pesquisa os dados de significado social e histórico, à medida que foi sendo desenvolvido o estudo

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das práticas corporativas implementadas no ambiente social e empresarial de cada uma das

empresas pesquisadas.

Segundo Creswell (2007), verificam-se três técnicas de pesquisa: a quantitativa, a

qualitativa e a de métodos mistos. De acordo com o autor, os métodos mistos, conforme aqui

empregados, contemplam todas as possibilidades de coletas de dados, admitindo-se questões

abertas e fechadas, a análise estatística e textual.

Com o propósito de se dar maior consistência aos resultados obtidos no presente trabalho,

optou-se pela aplicação do estudo de casos múltiplos, permitindo uma ampla coleta de dados e o

tratamento mais objetivo e menos vulnerável das análises das observações.

3.1 O Instrumento de Pesquisa

Como instrumento de pesquisa foi elaborado um questionário com o objetivo de se obter os

dados necessários para ampliar e dar confiabilidade às informações coletadas junto a 5 (cinco)

empresas selecionadas dentre as componentes da Rede Petro – BC.

A entrevista, segundo Gil (2008), é uma ferramenta de pesquisa utilizada em grande escala,

em função dos seguintes fatores:

a) possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social;

b) pode ser considerada como uma técnica muito eficiente para a coleta de dados em

profundidade, sobre o comportamento humano;

c) proporciona a classificação e a quantificação dos dados obtidos.

Na parte I do questionário, apresentou-se a proposta da pesquisa, em função dos objetivos

geral e específico, de modo a proporcionar ao entrevistado um entendimento mais fácil do

presente trabalho.

Na parte II, buscou-se conhecer as características das empresas pesquisadas quanto a sua

razão social, localização, tempo de existência no mercado, porte da empresa, principal produto ou

atividade, número de funcionários, participação no mercado local, estrutura organizacional e, por

fim, o segmento específico de atuação no mercado.

Na parte III, buscou-se coletar os dados referentes aos graus de importância e de utilização

dos indicadores sociais, que foram informados pelo entrevistado. Neste sentido, a estrutura das

perguntas do questionário foi elaborada com base na linha de indicadores estruturada de acordo

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com os quatro critérios estabelecidos, de onde derivam seus requisitos e os indicadores sociais

correspondentes, que receberam os graus a seguir:

- Grau de Importância:

O grau de importância atribuído aos requisitos dos critérios e indicadores representa o

quanto a empresa os considera importantes, em função da sua estratégia de gestão corporativa. Os

graus estão dispostos através de cinco valores dentro de uma escala variável de 1 a 9, de acordo

com o seguinte escopo:

1 – nenhuma importância; 3 – pouca importância; 5 – média importância; 7 – importância; e, 9 –

grande importância.

- Grau de Utilização:

O grau de utilização atribuído aos requisitos dos critérios e indicadores representa o quanto

a empresa os utiliza na prática, dentro de sua estratégia de gestão, com base no modelo

apresentado. Os graus de utilização também obedecem a uma escala variável de 1 a 9, cujos

valores atribuídos pelo entrevistado atendem ao seguinte escopo:

1 – não existe a prática; 3 – não existe a prática, mas será implementada dentro de um período de

5 anos; 5 – eventualmente praticado; 7 – rotineiramente praticado, porém não documentado; e, 9 –

rotineiramente praticado e documentado.

Na parte IV, o questionário teve por finalidade possibilitar ao entrevistado descrever outros

critérios ou práticas utilizadas pela empresa, se necessários e importantes para a pesquisa.

Esta parte do questionário possibilitou, ainda, o aprimoramento do trabalho na medida em

que forneceu elementos de avaliação sobre quais os critérios e indicadores que estão sendo

efetivamente utilizados e/ou que podem ser adotados por PMEs, que atuam no mercado offshore.

3.2 Indicadores Propostos – Dimensão Social da RSE

A linha de indicadores propostos foi desenvolvida adotando-se quatro critérios básicos de

avaliação, de acordo com as diretrizes contidas no GRI, ISE BM&BOVESPA e IBASE.

Para cada um dos critérios derivam-se os requisitos e os respectivos indicadores sociais,

que formam o conjunto de elementos de análise no contexto das PMEs da cadeia produtiva do

petróleo em gás na Bacia de Campos, que estão estabelecidas formalmente na cidade de Macaé.

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) – BM&Fbovespa

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Iniciado a partir de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi criado com o

objetivo de proporcionar um ambiente de investimento compatível com as demandas de

desenvolvimento sustentável provenientes da sociedade contemporânea e como forma de estímulo

à responsabilidade ética das corporações.

De acordo com a proposição da BM&BOVESPA, o ISE se constitui em uma ferramenta de

análise comparativa, existente a Bolsa de Valores oficial do Brasil, que mede a perfomance das

empresas listadas sob o aspecto da sustentabilidade corporativa.

Global Reporting Initiative (GRI) – Diretrizes para relatórios de sustentabilidade

Fundada em Boston, em 1997, a Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização

internacional sem fins lucrativos, que conta com o apoio de milhares de profissionais e

organizações de vários setores, grupos e regiões em nível mundial.

A GRI foi pioneira no desenvolvimento de uma abrangente Estrutura de Relatórios de

Sustentabilidade que é amplamente adotada no ambiente empresarial de todo o mundo.

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) – Balanço Social (BS)

Fundado em 1981 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, o Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas (IBASE) é uma organização da sociedade civil que tem como

objetivo a radicalização da democracia e a afirmação de uma cidadania mais ativa e fortalecida.

Sua atuação ganha destaque, a partir de 1997, com a elaboração e edição do Balanço Social

do IBASE, destinado a “demonstrar qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas no

plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade”. (IBASE, 2004).

O Quadro 1, a seguir, apresenta a composição dos indicadores selecionados, de acordo com

os critérios de avaliação e requisitos estabelecidos para a dimensão social da RSE, bem como a

fundamentação teórica que lhes deu origem.

Critérios de Avaliação (CA) Requisitos Indicadores Sociais (IS) Fundamentos

1. Práticas Trabalhistas na Organização

Saúde e Segurança no Trabalho

1. Representação de empregados em comitês formais de segurança e saúde.

2. Acompanhamento, controle e prevenção de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, absenteísmo.

3. Programas de educação, treinamento e controle de risco para assistência a empregados, seus familiares e aos membros da comunidade.

GRI, ISE Bovespa, IBASE

GRI, IBASE

GRI, ISE Bovespa

Treinamento e Educação

4. Programas de capacitação e treinamento permanentes, desenvolvimento pessoal e profissional;

5. Avaliação de desempenho e desenvolvimento na carreira;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

GRI, ISE Bovespa, IBASE

6. Promoção e respeito à diversidade, combate à discriminação de empregados, de acordo

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14

Diversidade e Igualdade de Oportunidades

com gênero, faixa etária e minorias;

7. Equidade de tratamento, salariais e condições de trabalho;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

GRI, ISE Bovespa, IBASE

2. Direitos Humanos

Práticas de Investimento e Controle de Fornecedores

8. Contratação de Empresas e fornecedores submetidos à avaliações de respeito a direitos humanos;

9. Treinamento para empregados em políticas e procedimentos relativos a aspectos de direitos humanos;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

GRI, ISE Bovespa

Liberdade de Associação e Negociação Trabalhista

10. Respeito ao direito de liberdade de associação e negociação coletiva;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

Trabalho Forçado ou Escravo

11. Verificação e controle de ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e medidas tomadas para abolir esta prática;

GRI, ISE Bovespa

3. Sociedade e Apoio às Comunidades

Comunidade

12. Programas e práticas para avaliar e gerir os impactos das atividades corporativas nas comunidades;

13. Seleção e contratação de pessoas da comunidade;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

GRI, ISE Bovespa, IBASE

Políticas Públicas 14. Posicionamento e participação na elaboração das políticas públicas;

GRI, ISE Bovespa

Conformidade 15. Cumprimento da legislação e regulamentos relativos aos aspectos sociais e corporativos;

GRI, ISE Bovespa, IBASE

4. Responsabilidade do Produto

Saúde e Segurança do Cliente

16. Controle e avaliação do ciclo de vida dos produtos e serviços e seus impactos na saúde e segurança dos clientes e consumidores;

GRI, ISE Bovespa

Rotulagem de Produtos e Serviços

17. Fornecimento de informações sobre produtos e serviços por procedimento de rotulagem;

18. Práticas de relacionamento e pesquisa de satisfação dos clientes;

GRI, ISE Bovespa

GRI, ISE Bovespa

Comunicação e Marketing

19. Programas de adesão às leis, normas e códigos relacionados a publicidade, promoção e patrocínio.

GRI, ISE Bovespa

Quadro 1 - Indicadores Sociais (IS) – GRI, ISE BM&BOVESPA e IBASE (Análise da Dimensão Social)

Fonte: Elaborado pelo autor

3.3 A Rede Petro-BC Fundada em 2003, a Rede Petro – Bacia de Campos (Rede Petro-BC) tem como objetivo

principal estreitar o relacionamento de colaboração entre clientes e fornecedores da Bacia de

Campos, com o foco estratégico direcionado ao fomento da geração de negócios entre as empresas

associadas.

Com dez anos de existência, a Rede Petro-BC já reúne mais de 60 empresas fornecedoras

de bens e serviços para a cadeia produtiva de petróleo, gás e energia na Bacia de Campos.

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15

De acordo com a Rede Petro – BC (2013), trata-se de “uma organização sem fins

lucrativos com o objetivo de promover, articular e fomentar a geração de negócios entre os atores

da cadeia produtiva de petróleo, gás e energia da Bacia de Campos”, contando com o fundamental

apoio e participação das organizações instituidoras e empresas parceiras.

A Rede Petro-BC tem como missão e visão o seguinte:

Missão - articular fornecedores e clientes da cadeia de petróleo, gás e energia e agentes

de desenvolvimento e pesquisa da Bacia de Campos em uma rede de relacionamentos

para gerar oportunidades de negócios para seus associados.

Visão - ser referência nacional na capacidade de propiciar uma ambiência favorável à

geração de negócios na cadeia de petróleo, gás e energia, contribuindo para o

desenvolvimento regional.

As atividades e estratégias da Rede Petro-BC são coordenadas e articuladas através de um

Comitê Gestor, composto de um grupo de empresários representantes das empresas associadas.

Esse trabalho é compartilhado com as organizações instituidoras e um grupo de parceiros da Rede,

integrado por instituições como o Banco de Brasil, CREA-RJ, Instituto Federal Fluminense - IFF,

UFF, UENF, Viva Rio, Prefeituras da região, dentre outros.

3.4 Tratamento dos Dados Para o tratamento dos dados coletados, utilizou-se os conceitos transmitidos por Miles e

Huberman (1994), para a análise intracasos, e por Yin (2005) para o cruzamento dos resultados

mediante a análise intercasos.

Com o objetivo de se avaliar de forma mais efetiva as informações fornecidas pelas

empresas pesquisadas, realizou-se primeiramente uma análise intracasos, de modo sistêmico e

padronizado, possibilitando verificar as características peculiares de cada uma delas, em função

dos Graus de Importância e de Utilização relacionados a cada um dos indicadores sociais

propostos, de acordo com cada um dos critérios estabelecidos na pesquisa.

A seguir, aplicou-se o outro tratamento de dados indicado na literatura, que se consistiu na

análise intercasos. A sua utilização possibilitou a comparação dos dados coletados, com o intuito

de se buscar convergência ou não entre as empresas pesquisadas, de modo a se estabelecer

similaridades e/ou tendências entre o conjunto analisado em face do universo da pesquisa (YIN,

2005).

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4 Análise dos Resultados

Com base na aplicação do questionário foram analisadas as características organizacionais

das empresas pesquisadas e a sua estratégia de RSE em relação aos graus de importância e

utilização dos indicadores sociais propostos.

Os resultados obtidos quantos às características organizacionais estão sintetizados no

Quadro 2, a seguir.

CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO

EMPRESA

A B C D E

Local do Estabelecimento Macaé Macaé Macaé Macaé Macaé

Tempo no Mercado 30 anos 13 anos 22 anos 26 anos 2anos

Porte da Empresa Média Média Média Média Pequena

Número de Funcionários 67 100 16 52 30

% de Participação de Mercado 10 17,5 70 NI 100

Principal Produto ou Atividade

Comércio e Serviços em TIC

Locação de contentores

Comércio de produtos

siderúrgicos, hidráulicos e

navais

Serviços de Montagem e Manutenção

Industrial

Fornecimento de Escritórios

Mobiliados com infraestrutura

Segmento Específico

Tecnologia da Informação e Comunicação

Embalagem Estratégica

para Produtos

Produtos Siderúrgicos

Serviços

Industriais

Escritórios corporativos

NI – Não informado Quadro 2 - Resumo das Características das Empresas Pesquisadas

Fonte: Elaborado pelo autor A análise intracasos apontou como resultados: i) um forte indicativo de que a maioria das

empresas considera como de grande importância para sua gestão corporativa a adoção dos

indicadores sociais propostos, para todos os quatro critérios de avaliação; ii) que, em alguns casos,

deixam de utilizar as práticas relacionadas principalmente aos critérios de avaliação CA2 (Direitos

Humanos) e CA3 (Sociedade e Apoio às Comunidades); iii) a constatação de utilização de outras

práticas socioambientais, de acordo com cada público alvo definido, através de programas

corporativos individualizados.

O Quadro 3 sintetiza os resultados obtidos.

Práticas de RSE – Programas Sociais e Ambientais

Público-Alvo

Empresa Pesquisada

Critério de Avaliação

A B C D E

Incentivo à educação e formação profissional (ensino fundamental, médio ou superior)

Funcionários

EP

EP

NEP

EP

NEP

CA1

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Incentivo à leitura, com distribuição de livros

Funcionários, filhos dos funcionários e/ou escolas

públicas

NEP

EP

EP

NEP

NEP

CA4

Incentivo a doações de brinquedos e ações filantrópicas, envolvendo funcionários e clientes

Crianças de escolas públicas e da comunidade; e entidades

filantrópicas

NEP

NEP

EP

EP

EP

CA4

Incentivo ao uso de EPIs e promoção dos conceitos de SMS

Funcionários

EP

EP

EP

EP

NEP

CA1

Incentivo à cultura, esporte, lazer e integração social

Funcionários e sua família; relação empresa-comunidade

NEP

EP

EP

EP

EP

CA4

Incentivo à redução do consumo de energia e de materiais; uso racional da água; coleta seletiva, reciclagem e descarte correto de material; e preservação ambiental

Funcionários e comunidade

NEP

EP

EP

EP

EP

-

EP – existe a prática NEP – não existe a prática ou não informado Quadro 3 - Outros Critérios ou Práticas Utilizadas pelas Empresas A,B,C,D,E relacionadas à RSE

Fonte: Elaborado pelo autor

Os resultados demonstram que as iniciativas e programas sociais corporativos estão mais

firmemente associados aos critérios de avaliação CA1 (Práticas Trabalhistas na Organização) e

CA4 (Responsabilidade do Produto).

Na análise intercasos utilizou-se duas matrizes indicativas dos valores atribuídos a cada um

dos indicadores, comparando-se os resultados obtidos entre as empresas pesquisadas quanto ao

grau de importância e de utilização dos indicadores sociais propostos, assinalando-se em destaque

as maiores divergências encontradas.

Neste sentido, considerou-se como divergência significativa o grau 1 (nenhuma

importância) e o grau 3 (pouca importância), para a avaliação do Grau de Importância; e o grau 1

(não existe a prática) e o grau 3 (não existe a prática, mas deverá ser implementada dentro de um

período de cinco anos), para a avaliação do Grau de Utilização.

A tabela 1 representa a matriz Grau de Importância X Indicadores Sociais IS1 a IS19,

enquanto a tabela 2 sintetiza os resultados da matriz Grau de Utilização X Indicadores Sociais IS1

a IS19.

Tabela 1 - Matriz Grau de Importância X Indicadores Sociais IS1 a IS19, Empresas A, B, C, D e E

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Fonte: Elaborado pelo autor Tabela 2 - Matriz Grau de Utilização (GU) X Indicadores Sociais IS1 a IS19, Empresas A, B, C, D e E

NI – Não Informado Fonte: Elaborado pelo autor

5 Conclusões

Diante da problemática que originou a pesquisa, adotou-se uma ampla revisão bibliográfica

com o objetivo de levantar dados e informações em fontes nacionais e internacionais, de modo a

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19

fundamentar o estudo investigatório e que estivessem relacionados aos aspectos conceituais de

desenvolvimento sustentável e de responsabilidade social empresarial.

Durante a realização do procedimento investigatório, além da pesquisa exploratória,

utilizou-se a metodologia do estudo de caso múltiplo, que se configurou fundamental para se

identificar o comportamento da estratégia empresarial de cinco PMEs da Rede Petro-BC,

integrantes da cadeia produtiva de petróleo e gás instaladas em Macaé.

Como instrumento de pesquisa, optou-se por estabelecer uma linha de indicadores sociais

baseada nas diretrizes do GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, que serviu para a construção de

um questionário de avaliação das práticas utilizadas pelas empresas pesquisadas.

Nota-se que a criação do APL da Rede Petro-BC, além das características de um forte

conglomerado de PMEs da indústria petrolífera, indica uma cultura estabelecida quantos aos

aspectos sociais no âmbito empresarial, o que denota sua irradiação por toda a cadeia produtiva.

Os resultados obtidos nas análises intra e intercasos apontam nesse sentido, quando

observadas às práticas sociais assinaladas no Quadro 2 e os números constantes nas matrizes Grau

de Importância X Indicadores Sociais e Grau de Utilização X Indicadores Sociais, retratadas nas

Tabelas 1 e 2.

Neste sentido, pode-se inferir que as empresas entrevistadas incorporam e promovem ações

e práticas sociais relacionadas à dimensão social da RSE, muito embora de iniciativas isoladas e,

em sua maioria, visando o seu público interno.

De um modo geral, verifica-se que maioria das empresas converge para um alto grau de

importância e de utilização relacionados aos indicadores sociais dos critérios de avaliação CA1

(Práticas Trabalhistas na Organização) e CA4 (Responsabilidade do Produto), ficando as maiores

divergências observadas em relação aos indicadores sociais dos critérios de avaliação CA2

(Diretos Humanos) e CA3 (Sociedade e Apoio às Comunidades).

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