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ANÁLISE DO USO DE INDICADORES SOCIAIS PELAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DA CADEIA PRODUTIVA DE PETRÓLEO EM MACAÉ: UM ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO
Walter Luiz de Mello Loureiro, Júlio Vieira Neto, Romeu e Silva Neto, Sergio Ricardo
da Silveira Barros (Universidade Federal Fluminense; Instituto Federal Fluminense)
Resumo: No final dos anos 70, a região norte do Estado do Rio de Janeiro passou a desenvolver-se rapidamente com a descoberta e início das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na Bacia de Campos. Macaé, escolhida para servir como base de operações da Petrobras, recebeu a influência direta desse novo ordenamento econômico, refletindo os seus efeitos no cotidiano da população e nos empreendimentos corporativos locais. O presente trabalho objetiva verificar a adoção e utilização de alguns indicadores sociais pelas Pequenas e Médias Empresas (PMEs) integrantes da cadeia produtiva do petróleo e gás na Bacia de Campos. O método de investigação está baseado na pesquisa exploratória e no estudo de caso múltiplo envolvendo cinco empresas da Rede Petro-BC instaladas em Macaé. Os critérios de avaliação adotados baseiam-se na proposição de uma linha de indicadores sociais, desenvolvida a partir das diretrizes do GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, sob a ótica da dimensão social da Responsabilidade Social Empresarial - RSE. Os resultados apresentam as estratégias de gestão empreendidas pelas empresas entrevistadas quanto aos Graus de Importância e de Utilização dos indicadores sociais propostos, mediante análise intracasos e intercasos.
Palavras-chaves: Indicadores Sociais. Responsabilidade Social Corporativa. Pequenas e
Médias Empresas. Indústria Petrolífera.
ISSN 1984-9354
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1 INTRODUÇÃO
No final dos anos 70, a economia da região Norte do Estado do Rio de Janeiro começou a
se expandir fortemente com a implantação da indústria de exploração e produção do petróleo na
Bacia de Campos.
Com a chegada da Petrobras, instalando sua sede na cidade de Macaé, o município e toda a
região do seu entorno passaram a sofrer as consequências dessa nova fase de crescimento
econômico, transformando de forma significativa o ambiente social, político e a produção de
riqueza local.
É notório que esse novo ciclo econômico vem trazendo consequências positivas na geração
de emprego e renda para a população, novas oportunidades de negócios e atraindo novos
investimentos públicos e privados. Mas traz a reboque, por outro lado, consequências
socioambientais negativas, com impactos diretos na ocupação desordenada do solo, afetando a
flora e a fauna de suas florestas, restingas e lagoas costeiras, poluindo rios e praias da região.
Como afirmam Binsztok e Ramos (2011):
Percorrendo o interior do município verificamos como o desenvolvimento de tecnologias de ponta utilizadas na exploração de petróleo convive com o quadro de estagnação dos espaços agrários. O quadro pode ser acrescentado pela forte depredação dos recursos naturais, representados pelas extensas áreas desmatadas, intensos processos erosivos, ‘voçorocas’, ocasionando inúmeros locais de riscos sujeitos a desmoronamentos de encostas e enchentes dos cursos d’água. (BINSZROK; RAMOS, 2011, p. 1)
Além desses fatores negativos, cabe ressaltar a exclusão de boa parte da sociedade do
processo de produção de riqueza, seja pela dinâmica capitalista caracterizada pela alta
concentração de renda do setor ou pela falta de qualificação profissional, colocando essas pessoas
à margem dos benefícios do desenvolvimento econômico.
Neste sentido, segundo Pizzol (2008, p. 15): “a promessa de melhorias dos níveis de
qualidade de vida da população é praxe nos países produtores de petróleo, criando expectativas no
povo, que raramente são cumpridas”. Fica então, como consequência, a ilusão da riqueza fácil,
proveniente da produção do petróleo e a perversa realidade do seu desempenho como fator indutor
econômico-social.
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A partir do final nos anos 90, com a flexibilização do monopólio de extração e produção
nacional de petróleo, há um recrudescimento do processo expansionista local, aumentando
também as desigualdades sociais.
Verifica-se, nesta nova situação, que as alterações sócio-espaciais, iniciadas com a chegada
da indústria petrolífera em 1977, foram potencialmente aceleradas com a quebra do monopólio da
Petrobras, em 1995, motivando ainda mais a instalação de numerosas empresas, nacionais e
estrangeiras, atuando nesse ramo, sejam unidades de exploração dos blocos leiloados pela ANP,
sejam estabelecimentos de serviços industriais subcontratantes ou fornecedores de bens e serviços
destinados à cadeia produtiva. (FAURÉ, 2008)
Por outro lado, estudos têm procurado demonstrar, através do uso de indicadores, o
comportamento das principais variáveis relacionadas ao processo evolutivo do desenvolvimento
local sustentável.
Esses indicadores refletem principalmente as transformações econômicas, sociais e
ambientais que, de alguma forma, exercem influência sobre as corporações, os indivíduos e o
ambiente físico (espaço territorial) em que vivem.
Segundo Van Bellen (2006), a grande questão no desenvolvimento e aplicação de sistemas
de indicadores e ferramentas de mensuração de sustentabilidade está relacionada à complexidade
do conceito de desenvolvimento sustentável, em função de suas múltiplas dimensões e
abordagens.
Para Martins e Caldas (2009), o local deve ser valorizado como instância privilegiada para
o planejamento e execução de projetos desenvolvimentistas, e, neste sentido, Scipioni et al. (2009)
reforçam que as dimensões local e urbana estão se tornando objeto de grande interesse na
literatura internacional na formulação e definição de indicadores de desempenho sustentável.
Vianna et al. (2009) afirmam, no entanto, que foi somente a partir dos anos 1980 que a
temática relacionada ao desenvolvimento sustentável emergiu na indústria, desencadeando
discussões sobre o passivo ambiental e suas consequências produzidas pelo modelo econômico
ainda vigente.
Pressionados, em face dos problemas sociais e ambientais provocados pelo
desenvolvimento econômico, em escala global, empresários, governos e investidores passaram a
incorporar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) como tema relevante para a estratégia de
gestão e manutenção dos seus negócios.
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Não é rara, na atualidade, a formação de parcerias estratégicas entre empresas e
comunidades associando-se a programas sociais que estabeleçam vínculos formais entre a
atividade empresarial e o interesse social, que contribuam para a sustentabilidade local e regional
(ESTEVES e BARCLAY, 2011),
Van Bellen (2006, p. 24) adverte para o fato de que “os indicadores sociais são
considerados especialmente controversos, pois refletem contextos políticos e julgamento de
valor”, o que torna extremamente difícil avaliar e medir o desempenho da componente social no
desenvolvimento sustentável.
Percebe-se, no entanto, que as experiências mais bem sucedidas para o desenvolvimento
local sustentável são aquelas estabelecidas com a maior participação possível das comunidades,
em que são debatidos e conhecidos os principais aspectos ambientais, econômicos e sociais que
envolvem os negócios corporativos e as características dos seus impactos sobre o meio ambiente e
as atividades humanas lá existentes (MORI; CHRISTODOULOU, 2012).
No caso da indústria do petróleo em Macaé, muito embora a componente ambiental receba
especial atenção devido aos impactos e riscos de suas atividades, as consequências mais visíveis,
todavia, podem ser verificadas através das contradições inerentes ao desenvolvimento econômico
estabelecido pela dinâmica da produção petrolífera. Empresas como a Petrobras e várias
multinacionais que utilizam alta tecnologia convivem com “bolsões de pobreza representados pelo
intenso processo de favelização e segregação espacial, depredação dos recursos naturais,
migrações pendulares, saúde e educação públicas de má qualidade e esvaziamento do campo”
(BINSZTOK, WASSERMAN; ROMEU, 2010, p. 2).
Dado o contexto seletivo e competitivo da indústria de exploração e produção de petróleo e
gás natural, sob o comando da Petrobras na Bacia de Campos, o nível de exigência para
qualificação das redes fornecedoras de bens e serviços se constitui em forte barreira à entrada de
empresas locais (DIAS, 2011), com a consequente exclusão de parte da mão de obra disponível.
Com o apoio da Petrobras, Sebrae, Prefeitura, Onip e Firjan, a criação da Rede Petro-BC,
em 2003, possibilitou o fortalecimento da participação de pequenas e médias empresas no
mercado local (FAURÉ, 2008), o que torna o seu papel fundamental para a cadeia produtiva na
medida em que favorece a geração de trabalho e renda e a diminuição da pobreza.
Nesse aspecto, o papel das PMEs tem sido de suma importância na dimensão
socioeconômica, em função de sua capacidade de absorção de força de trabalho a baixo custo e
menor exigência de qualificação, da sua contribuição na solução de desequilíbrios regionais e da
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sua atuação complementar às atividades das grandes empresas, fortalecendo o processo econômico
como um todo. (LUNA, 1983)
A inserção dessas empresas no mercado offshore supre, em parte, a necessidade da
demanda da indústria por bens e serviços, além de possibilitar o acesso a novas tecnologias e
regras empresariais de controle e respeito às diretrizes da RSE.
Decorrente dos efeitos propugnados pelo desenvolvimento produzido pela indústria
petrolífera no cotidiano de moradores e nas atividades empresariais, em face das transformações
socioambientais observadas, o problema que originou a perspectiva do trabalho pode ser expresso
pelo seguinte questionamento: quais são as ações e/ou programas sociais empreendidos pelas
PMEs da cadeia produtiva do petróleo, à luz da dimensão social da responsabilidade social
empresarial?
Diante da problemática descrita, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a adoção e
implementação pelas pequenas e médias empresas da Rede Petro-BC, integrantes da cadeia
produtiva do petróleo em Macaé, de práticas relacionadas à dimensão social da Responsabilidade
Social Empresarial.
Para tanto, adotou-se a pesquisa exploratória e o estudo de caso múltiplo através da
proposição de uma linha de indicadores sociais baseada nas diretrizes GRI, ISE&FBOVESPA e
IBASE. Como instrumento investigatório, criou-se um questionário que foi aplicado em cinco
empresas selecionadas da Rede Petro-BC, com o propósito de verificar os graus de importância e
utilização empregados em práticas e programas sociais alinhados à dimensão social da RSE.
2. Revisão da Literatura
As principais definições de Responsabilidade Social Empresarial revelam que o seu
conceito está ligado à capacidade que as empresas possuem para satisfazerem as três dimensões do
negócio (Triple Botton Line), ou seja, a econômica, a social e a ambiental (FONT et al., 2012).
Atuando a partir deste conceito e de uma nova ótica de gestão, espera-se que as empresas
com responsabilidade socioambiental adquiram uma vantagem competitiva em relação às que
deixam de adotá-la em suas agendas. Para Rego et al. (2006), há um claro amadurecimento neste
sentido, visto que é cada vez maior o número de investidores institucionais, como fundos de
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pensões e companhias de seguros, acreditando na valorização das empresas socialmente
responsáveis.
Porter e Kramer (2006) apontam para a necessidade de uma visão mais holística do
negócio. As empresas devem direcionar suas estratégias para melhorar o seu relacionamento com
a sociedade, de modo a se alcançar o máximo benefício social, bem como ganhos para o negócio.
Surge, então, o conceito de valor compartilhado, ou seja, que é a obtenção de benefícios tanto para
a sociedade como para a competitividade empresarial.
Nos estudos produzidos por Esteves e Barclay (2011), a respeito das estratégias
corporativas na indústria de mineração, verificou-se uma forte tendência para a realização de
parcerias empresa-comunidade, através de programas que contribuam para a sustentabilidade local
e regional.
Quelhas e Vieira Neto (2012) vão além. Eles argumentam que as ações da RSE, no campo
da gestão organizacional, se irradiam por toda a cadeia produtiva, envolvendo todos os atores
econômicos, políticos e sociais.
Segundo Font et al. (2012), a origem da RSE está no reconhecimento de que as empresas
têm responsabilidades com a sociedade que vão além da maximização da riqueza do acionista.
Esse entendimento passa, então, a ser uma crença amplamente aceita e, portanto, exige certo grau
de compreensão mútua de seu significado comum.
É necessário, não obstante, distinguir dois aspectos importantes: i) o que realmente pode
levar as empresas ao exercício da atividade de RSE; e ii) em que medida estão sendo observados e
divulgados os resultados efetivos dessa atividade.
No primeiro caso, deve-se ter em mente que, de início, tinha-se como pressuposto que a
lógica da economia de mercado, que refletia o interesse próprio do negócio, contribuía para o
desenvolvimento do homem e para a manutenção de uma sociedade estável. Entretanto, verificou-
se, posteriormente, que o objetivo do mercado concentrava-se demasiadamente no lucro,
colocando a condição humana em segundo plano. “O Estado passa então, a ser a grande fonte
provedora do bem-estar social” (SCHROEDER e SCHROEDER, 2004, p. 5).
No entanto, a crise de confiança, decorrente da baixa capacidade do Estado em prover com
eficiência as necessidades sociais e humanas, leva as empresas a exercerem outro papel
diferenciado do tradicional, passando a participar e influenciar diretamente no contexto social,
abrindo “espaço e necessidade para o fenômeno responsabilidade social corporativa”.
(SCHROEDER e SCHROEDER 2004, p. 5)
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Costa (2006), ao analisar o envolvimento das empresas com a comunidade, menciona o
fato de que alguns cientistas sociais alertam que a corporação precisa ser observada como “objeto
sociológico”, e afirma:
Esse novo olhar possibilitou ver as empresas como um fato social, com dimensão própria que ultrapassa a ideia de locus central do capitalismo e, portanto, de conflito social e de exploração do trabalhador. A nova proposta busca explicar a empresa como uma microssociedade, com autonomia capaz de influenciar representações e estruturas sociais. (COSTA, 2006, p. 75)
O segundo aspecto está relacionado ao investimento social privado. O entendimento
vigente até então indicava que o público-alvo era a fábrica e o operariado, e agora o foco está
mudando para o desenvolvimento de projetos sociais para comunidades de baixa renda (COSTA,
2006).
A autora observa que, inicialmente, a responsabilidade social ficava limitada ao ato
filantrópico, de natureza essencialmente assistencialista e temporária, mas que, com as pressões da
sociedade e do Estado, “a ação filantrópica passou a ser promovida pela própria empresa,
simbolizando o início da incorporação da temática social na gestão empresarial”. (COSTA, 2006,
p. 90).
Rego et al. (2006) afirmam que o Investimento Socialmente Responsável (ISR) pode advir
de ações individuais ou de uma atuação institucionalizada, como forma de incentivar as
organizações que coadunam suas atividades com determinados objetivos sociais (respeito aos
direitos humanos, desenvolvimento de comunidades desfavorecidas; redução da poluição
ambiental, entre outros).
A dúvida recorrente na literatura se estabelece quando são avaliados os modelos de
relatórios e/ou indicadores de aferição dos investimentos das empresas em programas e atividades
de RSE. Estudos realizados por Belal e Cooper (2011), indicam a ausência de relatórios de RSE
e/ou pesquisas em grande parte dos países em desenvolvimento se comparado com os estudos e
relatórios presentes nos países ocidentais desenvolvidos. Analisando em particular o caso de
Bangladesh, eles apontam a falta de relatórios e de informações relativas a três questões
fundamentais: o trabalho infantil, a igualdade de oportunidades e a redução da pobreza.
Para Belal e Cooper (2011), a ausência de divulgação dessas informações pelas empresas é
motivada pelos seguintes fatores: a falta de recursos, o imperativo do lucro, a inexistência de
requisitos legais, a falta de conhecimento/consciência, o mau desempenho socioeconômico e o
medo da má publicidade.
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Segundo Serra Sêca (2008), a falta de transparência nas informações a respeito das práticas
de RSE pode influenciar negativamente na imagem das empresas, motivo pelo qual há grande
interesse na divulgação de relatórios que ensejam credibilidade em suas ações.
Os critérios e indicadores de sustentabilidade, de muitos relatórios – ISE-BOVESPA, GRI, DSJI, FTSE4Good, Balanço Social do IBASE, Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, Pacto Global etc. – trazem uma preocupação em relação à discriminação, à valorização da diversidade, assédios (moral e sexual). A falta de transparência nessas questões pode ocasionar a perda de credibilidade e influenciar negativamente na imagem das empresas. (SERRA SÊCA, 2008, p. 15)
Segundo Chaouch, Wild e Owens (2009), em seus estudos sobre RSE na indústria de
petróleo e gás, observa-se o tácito reconhecimento pela indústria de que o debate entre ela, os
representantes da sociedade civil e os governos, sobre os papéis de cada um, responsabilidades e
prestações de contas, deve ser contínuo.
Contudo, é muito comum verificar que esses atores se encontram em posições divergentes,
o que leva a soluções meramente cosméticas, sem realmente encontrar respostas positivas para
essas questões. Segundo Bohm (2005), somente quando uma consciência coletiva for concebida
através do Diálogo, haverá uma corresponsabilidade entre os atores econômicos e resultados
efetivamente compartilhados.
Levando-se esse entendimento para o nível da empresa, é fundamental que ela reconheça
os impactos socioambientais de suas atividades. E, neste sentido, deverá procurar maior
aproximação com os stakeholders, ouvi-los e entender os seus interesses, de forma a adotar uma
agenda de Responsabilidade socioambiental que busque uma melhor qualidade de vida para a
sociedade e a sustentabilidade do seu negócio, com benefícios para ambas as partes (PORTER;
KRAMER, 2006).
O conceito de sustentabilidade tem sido amplamente discutido, apresentando controvérsias
e resultados que muitas vezes não correspondem às expectativas geradas nas tentativas de sua
aplicabilidade.
Segundo Polaz e Teixeira (2008), o uso e avaliação de indicadores de sustentabilidade
podem colaborar para se alcançar resultados mais objetivos, além de se constituírem em uma
ferramenta indicativa da realidade insustentável dos nossos ambientes e das relações sociais,
econômicas, políticas e culturais.
No entanto, Lourenço (2006) alerta sobre a grande dificuldade de mensuração dos
resultados, não apenas para se avaliar cada uma das dimensões envolvidas, mas em razão da
complexidade que envolve a interação entre as dimensões econômica, social e ambiental atreladas
à sustentabilidade do desenvolvimento.
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Lourenço (2006) acrescenta que a evolução do conceito de sustentabilidade requer, além
dos tradicionais indicadores econômicos, a inclusão de dimensões até então não consideradas,
verificando a necessidade de adaptar as ferramentas existentes e/ou criar novas ferramentas de
avaliação.
Van Bellen (2006) menciona cinco dimensões relacionadas com a sustentabilidade:
a) Dimensão sob a perspectiva econômica – como sendo aquela que abrange alocação e
distribuição dos recursos naturais dentro de uma escala apropriada, observado o
conceito de desenvolvimento sustentável a partir de uma visão econômica mais ampla,
que considere o capital monetário associado ao capital ambiental, ao capital humano e
ao capital social;
b) Dimensão sob a perspectiva social – que prioriza a presença do ser humano na
ecosfera, com ênfase no bem-estar humano, na condição humana e nos meios
utilizados para aumentar a qualidade de vida dessa condição;
c) Dimensão sob a perspectiva ambiental – está relacionada aos impactos das atividades
humanas sobre o meio ambiente, cuidando do uso racional do capital ambiental;
d) Dimensão sob a perspectiva geográfica – que aponta para uma melhor distribuição dos
assentamentos humanos e das atividades econômicas, com o objetivo de se obter uma
configuração rural-urbana mais adequada, de modo a proteger a diversidade biológica e
melhorar a qualidade de vida das pessoas;
e) Dimensão sob a perspectiva cultural – que está relacionada ao processo de
modernização sem o rompimento da identidade cultural dentro de contextos espaciais
específicos.
Segundo Guimarães e Feichas (2009), os indicadores voltados para o conceito de
desenvolvimento sustentável devem ter características que possam mensurar as diferentes
dimensões de forma a compreender a complexidade dos fenômenos sociais; possibilitar a
participação da sociedade no processo de definição do desenvolvimento requerido; e comunicar
tendências, como subsídios ao processo de tomada de decisões.
Um dos principais desafios para as organizações e pesquisadores se constitui na verificação
da eficácia dos resultados produzidos nos modelos de relatórios e/ou indicadores de aferição dos
investimentos em programas sociais e atividades de RSE. (BELLAL; COOPER, 2011; ESTEVES;
BARKLAY, 2011).
Neste sentido, verifica-se que os critérios e indicadores de sustentabilidade contidos em
muitos relatórios - ISE Bovespa, GRI, FTSE4Good, Balanço Social do IBASE, Indicadores Ethos
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de Responsabilidade Social, dentre outros – preocupam-se em abordar questões relacionadas à
discriminação, à valorização da diversidade, assédios moral e sexual, que podem ocasionar a perda
de credibilidade e prejudicar o nome das empresas. (SERRA SÊCA, 2008).
Ressalta-se que a literatura oferece uma gama valiosa de estudos sobre diferentes
indicadores e índices de sustentabilidade, que podem ser vistos nos trabalhos empreendidos por
Van Bellen (2006), Castka e Bazarova (2006), Fraser et al (2006), Lourenço (2006), Polaz e
Teixeira (2008), Serra Sêca (2008), Guimarães e Feixas (2009), Mori e Cristodoulou (2012).
No presente trabalho, optou-se por arriscar um caminho diferenciado, de modo a
possibilitar uma investigação teórico-empírica sobre o uso e a implementação de práticas e
programas sociais dentro de uma realidade empresarial, compreendida entre as organizações de
pequeno e médio porte da Rede Petro-BC, de acordo com uma linha de indicadores sociais pré-
determinada, baseada nas diretrizes GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, que está destacada no
capítulo seguinte.
3. Método de Pesquisa Adotado
Para cumprimento do objetivo proposto, adotou-se como metodologia a pesquisa
exploratória associada ao estudo de caso múltiplo, envolvendo uma amostra de cinco empresas da
Rede Petro-BC, da cadeia produtiva de petróleo e gás da Bacia de Campos.
A estratégia metodológica do estudo de caso múltiplo foi utilizada como a melhor opção
para se conhecer como as pequenas e médias empresas da Rede Petro-BC incorporam e
implementam a dimensão social do conceito triple botton line na gestão empresarial.
De acordo com Gil (2011, p.27), as pesquisas exploratórias “habitualmente envolvem
levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso”.
Dentro dessa perspectiva, realizou-se um estudo de caso mediante a aplicação de um
questionário estruturado, com o propósito de investigar o comportamento de cinco empresas
selecionadas (PMEs), em relação à importância e utilização por cada uma delas de indicadores
sociais na estratégia de gestão empresarial, no contexto da indústria petrolífera da Bacia de
Campos.
Para a coleta de dados utilizou-se a técnica de pesquisa qualitativa e quantitativa (método
misto), com base em perspectivas construtivistas, adequando e integrando ao conteúdo analítico da
pesquisa os dados de significado social e histórico, à medida que foi sendo desenvolvido o estudo
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das práticas corporativas implementadas no ambiente social e empresarial de cada uma das
empresas pesquisadas.
Segundo Creswell (2007), verificam-se três técnicas de pesquisa: a quantitativa, a
qualitativa e a de métodos mistos. De acordo com o autor, os métodos mistos, conforme aqui
empregados, contemplam todas as possibilidades de coletas de dados, admitindo-se questões
abertas e fechadas, a análise estatística e textual.
Com o propósito de se dar maior consistência aos resultados obtidos no presente trabalho,
optou-se pela aplicação do estudo de casos múltiplos, permitindo uma ampla coleta de dados e o
tratamento mais objetivo e menos vulnerável das análises das observações.
3.1 O Instrumento de Pesquisa
Como instrumento de pesquisa foi elaborado um questionário com o objetivo de se obter os
dados necessários para ampliar e dar confiabilidade às informações coletadas junto a 5 (cinco)
empresas selecionadas dentre as componentes da Rede Petro – BC.
A entrevista, segundo Gil (2008), é uma ferramenta de pesquisa utilizada em grande escala,
em função dos seguintes fatores:
a) possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social;
b) pode ser considerada como uma técnica muito eficiente para a coleta de dados em
profundidade, sobre o comportamento humano;
c) proporciona a classificação e a quantificação dos dados obtidos.
Na parte I do questionário, apresentou-se a proposta da pesquisa, em função dos objetivos
geral e específico, de modo a proporcionar ao entrevistado um entendimento mais fácil do
presente trabalho.
Na parte II, buscou-se conhecer as características das empresas pesquisadas quanto a sua
razão social, localização, tempo de existência no mercado, porte da empresa, principal produto ou
atividade, número de funcionários, participação no mercado local, estrutura organizacional e, por
fim, o segmento específico de atuação no mercado.
Na parte III, buscou-se coletar os dados referentes aos graus de importância e de utilização
dos indicadores sociais, que foram informados pelo entrevistado. Neste sentido, a estrutura das
perguntas do questionário foi elaborada com base na linha de indicadores estruturada de acordo
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com os quatro critérios estabelecidos, de onde derivam seus requisitos e os indicadores sociais
correspondentes, que receberam os graus a seguir:
- Grau de Importância:
O grau de importância atribuído aos requisitos dos critérios e indicadores representa o
quanto a empresa os considera importantes, em função da sua estratégia de gestão corporativa. Os
graus estão dispostos através de cinco valores dentro de uma escala variável de 1 a 9, de acordo
com o seguinte escopo:
1 – nenhuma importância; 3 – pouca importância; 5 – média importância; 7 – importância; e, 9 –
grande importância.
- Grau de Utilização:
O grau de utilização atribuído aos requisitos dos critérios e indicadores representa o quanto
a empresa os utiliza na prática, dentro de sua estratégia de gestão, com base no modelo
apresentado. Os graus de utilização também obedecem a uma escala variável de 1 a 9, cujos
valores atribuídos pelo entrevistado atendem ao seguinte escopo:
1 – não existe a prática; 3 – não existe a prática, mas será implementada dentro de um período de
5 anos; 5 – eventualmente praticado; 7 – rotineiramente praticado, porém não documentado; e, 9 –
rotineiramente praticado e documentado.
Na parte IV, o questionário teve por finalidade possibilitar ao entrevistado descrever outros
critérios ou práticas utilizadas pela empresa, se necessários e importantes para a pesquisa.
Esta parte do questionário possibilitou, ainda, o aprimoramento do trabalho na medida em
que forneceu elementos de avaliação sobre quais os critérios e indicadores que estão sendo
efetivamente utilizados e/ou que podem ser adotados por PMEs, que atuam no mercado offshore.
3.2 Indicadores Propostos – Dimensão Social da RSE
A linha de indicadores propostos foi desenvolvida adotando-se quatro critérios básicos de
avaliação, de acordo com as diretrizes contidas no GRI, ISE BM&BOVESPA e IBASE.
Para cada um dos critérios derivam-se os requisitos e os respectivos indicadores sociais,
que formam o conjunto de elementos de análise no contexto das PMEs da cadeia produtiva do
petróleo em gás na Bacia de Campos, que estão estabelecidas formalmente na cidade de Macaé.
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) – BM&Fbovespa
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Iniciado a partir de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi criado com o
objetivo de proporcionar um ambiente de investimento compatível com as demandas de
desenvolvimento sustentável provenientes da sociedade contemporânea e como forma de estímulo
à responsabilidade ética das corporações.
De acordo com a proposição da BM&BOVESPA, o ISE se constitui em uma ferramenta de
análise comparativa, existente a Bolsa de Valores oficial do Brasil, que mede a perfomance das
empresas listadas sob o aspecto da sustentabilidade corporativa.
Global Reporting Initiative (GRI) – Diretrizes para relatórios de sustentabilidade
Fundada em Boston, em 1997, a Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização
internacional sem fins lucrativos, que conta com o apoio de milhares de profissionais e
organizações de vários setores, grupos e regiões em nível mundial.
A GRI foi pioneira no desenvolvimento de uma abrangente Estrutura de Relatórios de
Sustentabilidade que é amplamente adotada no ambiente empresarial de todo o mundo.
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) – Balanço Social (BS)
Fundado em 1981 pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, o Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (IBASE) é uma organização da sociedade civil que tem como
objetivo a radicalização da democracia e a afirmação de uma cidadania mais ativa e fortalecida.
Sua atuação ganha destaque, a partir de 1997, com a elaboração e edição do Balanço Social
do IBASE, destinado a “demonstrar qualitativamente o papel desempenhado pelas empresas no
plano social, tanto internamente quanto na sua atuação na comunidade”. (IBASE, 2004).
O Quadro 1, a seguir, apresenta a composição dos indicadores selecionados, de acordo com
os critérios de avaliação e requisitos estabelecidos para a dimensão social da RSE, bem como a
fundamentação teórica que lhes deu origem.
Critérios de Avaliação (CA) Requisitos Indicadores Sociais (IS) Fundamentos
1. Práticas Trabalhistas na Organização
Saúde e Segurança no Trabalho
1. Representação de empregados em comitês formais de segurança e saúde.
2. Acompanhamento, controle e prevenção de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, absenteísmo.
3. Programas de educação, treinamento e controle de risco para assistência a empregados, seus familiares e aos membros da comunidade.
GRI, ISE Bovespa, IBASE
GRI, IBASE
GRI, ISE Bovespa
Treinamento e Educação
4. Programas de capacitação e treinamento permanentes, desenvolvimento pessoal e profissional;
5. Avaliação de desempenho e desenvolvimento na carreira;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
GRI, ISE Bovespa, IBASE
6. Promoção e respeito à diversidade, combate à discriminação de empregados, de acordo
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Diversidade e Igualdade de Oportunidades
com gênero, faixa etária e minorias;
7. Equidade de tratamento, salariais e condições de trabalho;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
GRI, ISE Bovespa, IBASE
2. Direitos Humanos
Práticas de Investimento e Controle de Fornecedores
8. Contratação de Empresas e fornecedores submetidos à avaliações de respeito a direitos humanos;
9. Treinamento para empregados em políticas e procedimentos relativos a aspectos de direitos humanos;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
GRI, ISE Bovespa
Liberdade de Associação e Negociação Trabalhista
10. Respeito ao direito de liberdade de associação e negociação coletiva;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
Trabalho Forçado ou Escravo
11. Verificação e controle de ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e medidas tomadas para abolir esta prática;
GRI, ISE Bovespa
3. Sociedade e Apoio às Comunidades
Comunidade
12. Programas e práticas para avaliar e gerir os impactos das atividades corporativas nas comunidades;
13. Seleção e contratação de pessoas da comunidade;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
GRI, ISE Bovespa, IBASE
Políticas Públicas 14. Posicionamento e participação na elaboração das políticas públicas;
GRI, ISE Bovespa
Conformidade 15. Cumprimento da legislação e regulamentos relativos aos aspectos sociais e corporativos;
GRI, ISE Bovespa, IBASE
4. Responsabilidade do Produto
Saúde e Segurança do Cliente
16. Controle e avaliação do ciclo de vida dos produtos e serviços e seus impactos na saúde e segurança dos clientes e consumidores;
GRI, ISE Bovespa
Rotulagem de Produtos e Serviços
17. Fornecimento de informações sobre produtos e serviços por procedimento de rotulagem;
18. Práticas de relacionamento e pesquisa de satisfação dos clientes;
GRI, ISE Bovespa
GRI, ISE Bovespa
Comunicação e Marketing
19. Programas de adesão às leis, normas e códigos relacionados a publicidade, promoção e patrocínio.
GRI, ISE Bovespa
Quadro 1 - Indicadores Sociais (IS) – GRI, ISE BM&BOVESPA e IBASE (Análise da Dimensão Social)
Fonte: Elaborado pelo autor
3.3 A Rede Petro-BC Fundada em 2003, a Rede Petro – Bacia de Campos (Rede Petro-BC) tem como objetivo
principal estreitar o relacionamento de colaboração entre clientes e fornecedores da Bacia de
Campos, com o foco estratégico direcionado ao fomento da geração de negócios entre as empresas
associadas.
Com dez anos de existência, a Rede Petro-BC já reúne mais de 60 empresas fornecedoras
de bens e serviços para a cadeia produtiva de petróleo, gás e energia na Bacia de Campos.
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De acordo com a Rede Petro – BC (2013), trata-se de “uma organização sem fins
lucrativos com o objetivo de promover, articular e fomentar a geração de negócios entre os atores
da cadeia produtiva de petróleo, gás e energia da Bacia de Campos”, contando com o fundamental
apoio e participação das organizações instituidoras e empresas parceiras.
A Rede Petro-BC tem como missão e visão o seguinte:
Missão - articular fornecedores e clientes da cadeia de petróleo, gás e energia e agentes
de desenvolvimento e pesquisa da Bacia de Campos em uma rede de relacionamentos
para gerar oportunidades de negócios para seus associados.
Visão - ser referência nacional na capacidade de propiciar uma ambiência favorável à
geração de negócios na cadeia de petróleo, gás e energia, contribuindo para o
desenvolvimento regional.
As atividades e estratégias da Rede Petro-BC são coordenadas e articuladas através de um
Comitê Gestor, composto de um grupo de empresários representantes das empresas associadas.
Esse trabalho é compartilhado com as organizações instituidoras e um grupo de parceiros da Rede,
integrado por instituições como o Banco de Brasil, CREA-RJ, Instituto Federal Fluminense - IFF,
UFF, UENF, Viva Rio, Prefeituras da região, dentre outros.
3.4 Tratamento dos Dados Para o tratamento dos dados coletados, utilizou-se os conceitos transmitidos por Miles e
Huberman (1994), para a análise intracasos, e por Yin (2005) para o cruzamento dos resultados
mediante a análise intercasos.
Com o objetivo de se avaliar de forma mais efetiva as informações fornecidas pelas
empresas pesquisadas, realizou-se primeiramente uma análise intracasos, de modo sistêmico e
padronizado, possibilitando verificar as características peculiares de cada uma delas, em função
dos Graus de Importância e de Utilização relacionados a cada um dos indicadores sociais
propostos, de acordo com cada um dos critérios estabelecidos na pesquisa.
A seguir, aplicou-se o outro tratamento de dados indicado na literatura, que se consistiu na
análise intercasos. A sua utilização possibilitou a comparação dos dados coletados, com o intuito
de se buscar convergência ou não entre as empresas pesquisadas, de modo a se estabelecer
similaridades e/ou tendências entre o conjunto analisado em face do universo da pesquisa (YIN,
2005).
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4 Análise dos Resultados
Com base na aplicação do questionário foram analisadas as características organizacionais
das empresas pesquisadas e a sua estratégia de RSE em relação aos graus de importância e
utilização dos indicadores sociais propostos.
Os resultados obtidos quantos às características organizacionais estão sintetizados no
Quadro 2, a seguir.
CARACTERÍSTICAS DA ORGANIZAÇÃO
EMPRESA
A B C D E
Local do Estabelecimento Macaé Macaé Macaé Macaé Macaé
Tempo no Mercado 30 anos 13 anos 22 anos 26 anos 2anos
Porte da Empresa Média Média Média Média Pequena
Número de Funcionários 67 100 16 52 30
% de Participação de Mercado 10 17,5 70 NI 100
Principal Produto ou Atividade
Comércio e Serviços em TIC
Locação de contentores
Comércio de produtos
siderúrgicos, hidráulicos e
navais
Serviços de Montagem e Manutenção
Industrial
Fornecimento de Escritórios
Mobiliados com infraestrutura
Segmento Específico
Tecnologia da Informação e Comunicação
Embalagem Estratégica
para Produtos
Produtos Siderúrgicos
Serviços
Industriais
Escritórios corporativos
NI – Não informado Quadro 2 - Resumo das Características das Empresas Pesquisadas
Fonte: Elaborado pelo autor A análise intracasos apontou como resultados: i) um forte indicativo de que a maioria das
empresas considera como de grande importância para sua gestão corporativa a adoção dos
indicadores sociais propostos, para todos os quatro critérios de avaliação; ii) que, em alguns casos,
deixam de utilizar as práticas relacionadas principalmente aos critérios de avaliação CA2 (Direitos
Humanos) e CA3 (Sociedade e Apoio às Comunidades); iii) a constatação de utilização de outras
práticas socioambientais, de acordo com cada público alvo definido, através de programas
corporativos individualizados.
O Quadro 3 sintetiza os resultados obtidos.
Práticas de RSE – Programas Sociais e Ambientais
Público-Alvo
Empresa Pesquisada
Critério de Avaliação
A B C D E
Incentivo à educação e formação profissional (ensino fundamental, médio ou superior)
Funcionários
EP
EP
NEP
EP
NEP
CA1
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Incentivo à leitura, com distribuição de livros
Funcionários, filhos dos funcionários e/ou escolas
públicas
NEP
EP
EP
NEP
NEP
CA4
Incentivo a doações de brinquedos e ações filantrópicas, envolvendo funcionários e clientes
Crianças de escolas públicas e da comunidade; e entidades
filantrópicas
NEP
NEP
EP
EP
EP
CA4
Incentivo ao uso de EPIs e promoção dos conceitos de SMS
Funcionários
EP
EP
EP
EP
NEP
CA1
Incentivo à cultura, esporte, lazer e integração social
Funcionários e sua família; relação empresa-comunidade
NEP
EP
EP
EP
EP
CA4
Incentivo à redução do consumo de energia e de materiais; uso racional da água; coleta seletiva, reciclagem e descarte correto de material; e preservação ambiental
Funcionários e comunidade
NEP
EP
EP
EP
EP
-
EP – existe a prática NEP – não existe a prática ou não informado Quadro 3 - Outros Critérios ou Práticas Utilizadas pelas Empresas A,B,C,D,E relacionadas à RSE
Fonte: Elaborado pelo autor
Os resultados demonstram que as iniciativas e programas sociais corporativos estão mais
firmemente associados aos critérios de avaliação CA1 (Práticas Trabalhistas na Organização) e
CA4 (Responsabilidade do Produto).
Na análise intercasos utilizou-se duas matrizes indicativas dos valores atribuídos a cada um
dos indicadores, comparando-se os resultados obtidos entre as empresas pesquisadas quanto ao
grau de importância e de utilização dos indicadores sociais propostos, assinalando-se em destaque
as maiores divergências encontradas.
Neste sentido, considerou-se como divergência significativa o grau 1 (nenhuma
importância) e o grau 3 (pouca importância), para a avaliação do Grau de Importância; e o grau 1
(não existe a prática) e o grau 3 (não existe a prática, mas deverá ser implementada dentro de um
período de cinco anos), para a avaliação do Grau de Utilização.
A tabela 1 representa a matriz Grau de Importância X Indicadores Sociais IS1 a IS19,
enquanto a tabela 2 sintetiza os resultados da matriz Grau de Utilização X Indicadores Sociais IS1
a IS19.
Tabela 1 - Matriz Grau de Importância X Indicadores Sociais IS1 a IS19, Empresas A, B, C, D e E
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Fonte: Elaborado pelo autor Tabela 2 - Matriz Grau de Utilização (GU) X Indicadores Sociais IS1 a IS19, Empresas A, B, C, D e E
NI – Não Informado Fonte: Elaborado pelo autor
5 Conclusões
Diante da problemática que originou a pesquisa, adotou-se uma ampla revisão bibliográfica
com o objetivo de levantar dados e informações em fontes nacionais e internacionais, de modo a
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fundamentar o estudo investigatório e que estivessem relacionados aos aspectos conceituais de
desenvolvimento sustentável e de responsabilidade social empresarial.
Durante a realização do procedimento investigatório, além da pesquisa exploratória,
utilizou-se a metodologia do estudo de caso múltiplo, que se configurou fundamental para se
identificar o comportamento da estratégia empresarial de cinco PMEs da Rede Petro-BC,
integrantes da cadeia produtiva de petróleo e gás instaladas em Macaé.
Como instrumento de pesquisa, optou-se por estabelecer uma linha de indicadores sociais
baseada nas diretrizes do GRI, ISE BM&FBOVESPA e IBASE, que serviu para a construção de
um questionário de avaliação das práticas utilizadas pelas empresas pesquisadas.
Nota-se que a criação do APL da Rede Petro-BC, além das características de um forte
conglomerado de PMEs da indústria petrolífera, indica uma cultura estabelecida quantos aos
aspectos sociais no âmbito empresarial, o que denota sua irradiação por toda a cadeia produtiva.
Os resultados obtidos nas análises intra e intercasos apontam nesse sentido, quando
observadas às práticas sociais assinaladas no Quadro 2 e os números constantes nas matrizes Grau
de Importância X Indicadores Sociais e Grau de Utilização X Indicadores Sociais, retratadas nas
Tabelas 1 e 2.
Neste sentido, pode-se inferir que as empresas entrevistadas incorporam e promovem ações
e práticas sociais relacionadas à dimensão social da RSE, muito embora de iniciativas isoladas e,
em sua maioria, visando o seu público interno.
De um modo geral, verifica-se que maioria das empresas converge para um alto grau de
importância e de utilização relacionados aos indicadores sociais dos critérios de avaliação CA1
(Práticas Trabalhistas na Organização) e CA4 (Responsabilidade do Produto), ficando as maiores
divergências observadas em relação aos indicadores sociais dos critérios de avaliação CA2
(Diretos Humanos) e CA3 (Sociedade e Apoio às Comunidades).
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