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Análise organizacional e proposta de implantação de práticas de sustentabilidade em uma organização da sociedade civil: o caso do Bloco Daniel Ferreira Candiotto (LATEC / UFF) Resumo: O presente estudo analisa os desafios e oportunidades de incorporação de práticas de sustentabilidade em uma organização da sociedade civil com notada atuação no carnaval do Rio de Janeiro: a Associação e Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném. Nesse sentido, realizam-se investigações de campo, baseadas em técnicas de pesquisa social, junto a todo corpo de colaboradores das distintas “unidades de negócio” da referida organização. Adicionalmente, o estudo baseia-se em revisão da literatura sobre conceitos e práticas de sustentabilidade, além de adotar técnicas de benchmarking para fins de identificação das melhores práticas de outras organizações sociais e do mercado, visando ao estabelecimento de possíveis parcerias para a organização analisada. Como conclusões, destaca-se, entre outros que: a cultura organizacional é um fator crítico para o sucesso da implantação da sustentabilidade organizacional; com pequenos ações, pode-se alcançar resultados significativos em termos de exemplo; e que as organizações sociais de caráter cultural podem ser inspiradoras para a transformação da realidade e empoderamento de grupos menos favorecidos. Palavras-chaves: Sustentabilidade organizacional; Bloco de Carnaval; Práticas de Sustentabilidade; Cultura Organizacional ISSN 1984-9354

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Análise organizacional e proposta de implantação

de práticas de sustentabilidade em uma

organização da sociedade civil: o caso do Bloco

Daniel Ferreira Candiotto

(LATEC / UFF)

Resumo: O presente estudo analisa os desafios e oportunidades de incorporação de práticas de

sustentabilidade em uma organização da sociedade civil com notada atuação no carnaval do Rio

de Janeiro: a Associação e Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném. Nesse sentido,

realizam-se investigações de campo, baseadas em técnicas de pesquisa social, junto a todo corpo

de colaboradores das distintas “unidades de negócio” da referida organização. Adicionalmente, o

estudo baseia-se em revisão da literatura sobre conceitos e práticas de sustentabilidade, além de

adotar técnicas de benchmarking para fins de identificação das melhores práticas de outras

organizações sociais e do mercado, visando ao estabelecimento de possíveis parcerias para a

organização analisada. Como conclusões, destaca-se, entre outros que: a cultura organizacional é

um fator crítico para o sucesso da implantação da sustentabilidade organizacional; com pequenos

ações, pode-se alcançar resultados significativos em termos de exemplo; e que as organizações

sociais de caráter cultural podem ser inspiradoras para a transformação da realidade e

empoderamento de grupos menos favorecidos.

Palavras-chaves: Sustentabilidade organizacional; Bloco de Carnaval;

Práticas de Sustentabilidade; Cultura Organizacional

ISSN 1984-9354

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1. Considerações iniciais

Tratativas, ainda que incipientes, acerca da temática da sustentabilidade vêm sendo envidadas

desde meados da década de 1950, quando da publicação do relatório The Limits of Growth, do

Clube de Roma. Nas décadas seguintes novas rodadas de discussão são provocadas e outros atores

somam-se aos intelectuais do Clube de Roma, dilatando as reflexões para distintos âmbitos da

sociedade civil, entre empresas, organizações sociais e academia. Nesse ínterim, observa-se que,

em 2013, a sustentabilidade, em certa medida, tem extrapolado distintas fronteiras e se

disseminado, ainda que com oportunidades de adensamento, por multifacetadas frentes.

Segundo Almeida (2002), em seu livro O Bom Negócio da Sustentabilidade, as dúvidas sobre

como conciliar a atividade econômica e a conservação do meio ambiente estavam bastante

evidentes no início da década de 1980. Nesse contexto paradoxal entre o crescimento da atividade

industrial e um maior enfoque na preservação ambiental foi realizada em Nova Iorque, a

Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominada de Comissão de

Brundtland, com o objetivo de refletir acerca de uma agenda global para a discussão da

sustentabilidade.

Como desdobramento da Comissão Brundtland, o Brasil teve a oportunidade de, em 1992, sediar a

Conferência do Clima da ONU, ocasião singular que culminou com a sistematização de uma

agenda global, intitulada de Agenda 21, contemplando um conjunto de compromissos a serem

assumidos pelos países e suas empresas, como: superar a desigualdade, reduzir o desmatamento e

as emissões de CO2, oferecer dignidade às minorias, entre outras indicações.

Para Almeida (2002), ainda em 1992, a participação empresarial ainda era tímida, sobretudo por

que “a dimensão ambiental era vista, na melhor das hipóteses, como um mal necessário”. O não

engajamento empresarial, segundo o autor, começou a afetar diretamente nas questões financeiras

da empresa. Em geral, a sustentabilidade era vista como uma forma de marketing por parte das

empresas para diminuir a pressão pública.

Diante destas perspectivas, outras linhas de pensamento foram criadas visando à conciliação

equilibrada das dimensões econômica, ambiental e social. Nesse contexto, a postulação do Triple

Bottom Line, de John Elkington, visou a reconhecer a relevância e a interdependência entre

variáveis tidas como isoladas, em âmbito organizacional, para a sustentabilidade do negócio.

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Na visão de Lins & Silva (2009), “para as empresas com visão estratégica de longo prazo, a

questão ambiental deixou de ser encarada apenas como uma exigência legal e passou a ser

considerada como uma importante variável dentro da competitividade empresarial, sendo, em

algumas empresas, inseridas definitivamente nos mais altos níveis hierárquicos do planejamento

estratégico”.

1.1. Descrição da situação-problema

Embora se trate de assunto central na agenda de organizações, a materialização de ações

orientadas à sustentabilidade ainda apresenta fragilidades no que concerne à identificação de

oportunidades para o desenvolvimento de práticas específicas, ajustadas à natureza técnica e à

cultura da organização.

Em especial, o presente estudo analisa o caso da Associação e Grêmio Recreativo Bloco

Carnavalesco Spanta Neném, uma ONG – Organização Não Governamental que deseja ser

protagonista na incorporação da cultura da sustentabilidade como uma meta diretriz de suas ações

institucionais.

O Spanta Neném possui atuação destacada no setor de cultura popular na zona sul da Cidade do

Rio de Janeiro, notadamente, com a promoção de bailes e desfiles no período carnavalesco, além

de desenvolvimento de ações junto a comunidades carentes orientadas à formação musical e

criação de fantasias.

1.2. Objetivos

O presente estudo tem como objetivo analisar o ambiente organizacional da Associação e Grêmio

Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném, identificando, de um lado, um conjunto de práticas

alinhadas às premissas de sustentabilidade e, de outro, oportunidades internas para adoção das

referidas práticas, reconhecendo as particularidades da ONG.

Em termos específicos, o estudo tem o objetivo de identificar as alternativas estratégicas de

organizações capazes de apoiar no processo de revisão cultural, alinhamento e práticas e quais são

os fatores críticos para o sucesso das práticas sustentáveis e destacar no âmbito da organização

quais são os esforços necessários para o alcance dos resultados esperados, evidenciando os fatores

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críticos de sucesso para que a implantação de uma cultura sustentável se estabeleça neste tipo de

organização.

1.3. Questões-Problema

Considerando a problemática em tela, o presente estudo persegue respostas às seguintes questões:

– Seria possível introduzir práticas de sustentabilidade no âmbito da sociedade civil? Em caso

positivo, quais são os fatores críticos para o sucesso deste processo?

– Quais são os caminhos e obstáculos impostos pela cultura organizacional da organização?

– Há barreiras internas em relação às práticas de sustentabilidade? Se sim, quais são?

1.4. Relevância do estudo

O presente estudo apresenta-se como relevante na medida em que se propõe a investigar um caso

de uma organização da sociedade civil que deseja ser protagonista e inspiradora à outras

organizações, ao envidar esforços para incorporar a sustentabilidade em sua estratégia e nas suas

rotinas e projetos.

1.5. Organização do estudo

O presente estudo está organizado em 5 seções. Na primeira são apresentados o contexto da

situação de estudo, evidenciado o problema da pesquisa, bem como as questões e a relevância da

investigação. Na segunda seção são discutidos os principais fundamentos que suportam a

pesquisa, notadamente, sustentabilidade e gestão estratégica. A seção 3 contém a metodologia

adotada para o desenvolvimento do estudo. Na seção 4, o caso da organização social é descrito de

maneira detalhada e na quinta e última seção são indicadas as conclusões e sugestões de pesquisas

futuras.

2. Revisão da literatura

O Triple Bottom Line se baseia na premissa de que a sustentabilidade emerge da interseção entre

três dimensões: Ambiental, Social e Econômico como é representado pela Figura 1.

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Figura 1

Fonte: Alledi (2003)

Segundo Almeida (2002) a dimensão econômica inclui não só a economia formal, mas também as

atividades informais que provêm serviços para os indivíduos e grupos e aumentam, assim, a renda

monetária e o padrão de vida dos indivíduos. A dimensão ambiental estimula empresas a

considerarem o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, na forma de utilização dos

recursos naturais, e contribui para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho.

A dimensão social consiste no aspecto social relacionado às qualidades dos seres humanos, como

suas habilidades, dedicação e experiências, abrangendo tanto o ambiente interno da empresa

quanto o externo. Nesse contexto as empresas necessitam manter contato com diversos

stakeholders como: colaboradores, ONGs, mercados consumidores, concorrentes, parceiros e

órgãos governamentais (CLARO, CLARO & AMÂNCIO, 2008).

Segundo Bezerra (2004), é crescente o número de organizações da sociedade civil que em parceria

com a iniciativa privada estabelecem alianças buscando soluções inovadoras para grandes

demandas sociais existentes.

Em particular, o presente estudo, proveniente de uma intervenção de uma empresa júnior

constituída pelas engenharias de produção, civil, mecânica, elétrica e telecomunicações da

Universidade Federal Fluminense, é contributivo para evidenciar questões acerca das questões que

são inerentes a um processo de desenvolver práticas sustentáveis dentro das organizações.

Não se pode pensar na introjeção de novas propostas, modelos e/ ou práticas de gestão de uma

organização sem observar e cuidar dos aspectos inerentes à sua cultura organizacional. Segundo

Smith (2003), a cultura organizacional é um dos principais fatores associados ao fato de algumas

empresas desempenharem melhor do que outras.

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No presente estudo é dado enfoque na capacidade da organização dentro de sua cultura incorporar

o conceito destacado pelo Instituto Ethos (2001) para responsabilidade social corporativa, a

empresa socialmente responsável vai “além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e

observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores”.

No entanto, é necessário um engajamento da organização. Segundo estudos de Hunt & Auster

(1990) e de Nonaka & Toyama (2005) este engajamento parte, sobretudo, do comprometido da

alta administração no processo. Segundo os referidos autores, em geral as iniciativas em prol de

atividades socioambientais corretas são provenientes da média gerência e acabam por não gerarem

o resultado esperado quando não há engajamento suficiente. Segundo os estudos a participação

por parte dos níveis mais altos da empresa na melhoria de processos geram resultados mais

significativos.

Segundo Claro, Claro & Amâncio (2008) existem duas formas de se alcançar as mudanças

necessárias de forma participativa e impositiva, a primeira capaz de “orientar a cultura

organizacional para a sustentabilidade por meio da inclusão e da cooperação na tomada de

decisão”, a segunda pode “influenciar mudanças no curto prazo sem necessariamente mudar a

cultura organizacional, o que pode influenciar negativamente a adoção de sustentabilidade como

norteador da estratégia, dos processos e dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas”.

Esse engajamento e mudança na cultura organizacional, alinhados aos preceitos de

sustentabilidade são favoráveis não só ao ambiente no qual a organização se insere como também

nos resultados gerados pela empresa.

Na percepção de Araujo (2005), o engajamento às práticas de sustentabilidade pode ser “entendido

como principal agente fortalecedor de opinião pública sobre a reputação organizacional, o corpo

de funcionários que enxerga em sua organização uma atuação ética e compromissada com o

empoderamento social, desenvolve o seu orgulho de fazer parte e contribuir para o bem coletivo,

sendo agente multiplicador de uma imagem corporativa positiva”.

Nesse contexto, a Associação e Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném, uma

associação civil sem fins lucrativos e com atuação no ramo de produção cultural e entretenimento

desde 2002 na cidade do Rio de Janeiro, se faz presente. Conhecido como Spanta, o bloco possui

um cunho social e a busca pelo pioneirismo bem forte dentro da organização. Isso levou a

organização a buscar dentro de suas estratégias de atuação, formas de inovar baseado nos

conceitos da sustentabilidade.

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3. Metodologia

A presente pesquisa é um dos produtos mais relevantes orientados ao mapeamento e gestão do

conhecimento de lições aprendidas, proveniente da relação estabelecida pela Empresa Júnior Meta

Consultoria – de Engenharia e Gestão de Negócios da UFF – com a Associação e Bloco

Carnavalesco Spanta Neném.

Em termos de processo, foram realizadas investigações exploratória através de entrevista direta

com os colaboradores, de distintos níveis hierárquicos e funções na organização. Adicionalmente,

foram promovidos workshops de sensibilização para as práticas de sustentabilidade, buscando

entender os reais objetivos e entendimento do tema por parte dos membros da organização.

No sentido de oferecer uma base para inspiração, foram feitos benchmarks com outras

organizações da sociedade civil e também da iniciativa privada de um robusto rol de práticas de

sustentabilidade, desde aproveitamento da água, até alimentação saudável e dicas de boa

convivência, sendo priorizadas para o caso investigado, as práticas com maior impacto

socioambiental e menor custo para implementação.

Além destas formas de abordagem foram realizadas visitas a campo nos eventos promovidos pelo

Spanta Neném buscando informações a partir da observação do comportamento não só dos

membros da associação como também dos participantes do evento.

Em paralelo, o estudo lançou mão da pesquisa bibliográfica em artigos de periódicos, livros,

dissertações e teses para amparar as propostas técnicas apresentadas à organização e ampliar o

acervo de conhecimento da Empresa Júnior.

4. Estudo de caso

4.1. A Associação e Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném

A Associação e Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Spanta Neném surgiu como um bloco de

Carnaval no Rio de Janeiro, no ano de 2003, sem a pretensão de se tornar uma organização da

sociedade civil formalizada. A rápida adesão de foliões e o consequente crescimento do bloco, ano

a ano, culminou com a formalização da associação quatro anos mais tarde.

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Em sua trajetória, o Spanta sempre procurou incorporar o pioneirismo em seus princípios. No

âmbito do carnaval carioca foi o primeiro bloco a se utilizar de banheiros químicos, visando à

maior preservação da cidade e maior conforto dos foliões.

Adicionalmente, procurou incorporar na sua cadeia produtiva do carnaval, percussionistas

formados em suas próprias oficinas de música, oriundos prioritariamente de comunidades

carentes, como do Morro Dona Marta, situado no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro.

A organização apoia ainda a geração de trabalho & renda na referida comunidade, oferecendo

capacitação para costureiras desenvolverem, a partir de materiais reciclados ou reaproveitados, as

fantasias e alegorias para as atividades do bloco.

Em termos de sua estrutura, o Spanta Neném é dividia em três distintas unidades:

– Spanta Carnaval: Setor responsável por toda a administração da organização;

– Spanta Eventos: Setor responsável pelos eventos realizados pela organização como “Spantinha”,

“Baile de Máscaras”; “Morro de Alegria”, entre outras ações;

– Spanta Social: Setor responsável pelos projetos sociais da organização como a Escola de música.

Assim a organização, em um curto espaço de tempo, obteve grande reconhecimento tanto dos

foliões, quanto da sociedade em geral e do poder público, sobretudo por meio da realização de

diversos eventos no período do carnaval, em sua maioria realizados na Lagoa Rodrigo de Freitas,

cidade do Rio de Janeiro.

Diante da busca contínua da profissionalização do carnaval produzido pela associação, foi traçado

um Planejamento Estratégico que tinha como objetivo estratégico a incorporação dos conceitos da

sustentabilidade.

Nesse planejamento, a alta direção da organização entendeu que era importante que fosse

colocado explícito nas premissas da organização pontos que incorporassem também as práticas de

sustentabilidade no âmbito interno da organização e que essas práticas pudessem ser observadas

nas atividades sociais e culturais da associação.

Nesse sentido, as premissas da organização e de suas unidades “de negócio” foram revisadas

segundo as postulações observadas no Quadro 01.

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Quadro 01 – As Premissas Estratégicas do Spanta Neném e Suas Unidades

Premissas Spanta Neném Spanta Eventos Spanta Social

Missão

“Estimular e desenvolver iniciativas de construção de uma cidade com melhores oportunidades socioculturais”

“Dar alegria e diversão aos foliões o ano inteiro através de eventos que valorizem a cultura popular e tenham propósito social”

“Participar na formação de pessoas através da valorização de suas potencialidades de forma lúdica para que sejam capazes de, por si mesmas, encontrar propósito e direção para suas vidas”.

Visão

“Ser ponto de encontro de corações e mentes comprometidas com resultados sustentáveis, ações de transformação social e valorização da cultura popular”

“Integrar diferentes realidades e públicos através da causa popular”

“Ser uma instituição que apoia a formação de indivíduos que tenham domínio sobre a própria vida e sejam atuantes socialmente”

Valores

Acesso à inclusão e

oportunidade;

Respeito aos valores da

comunidade;

Promoção da mudança

social;

Responsabilidade na

aplicação dos recursos;

Alegria e diversão;

Excelência

Acesso, inclusão e

oportunidade para novos

talentos;

Respeito aos valores da

comunidade;

Promoção da cultura

popular;

Responsabilidade na

aplicação dos recursos;

Alegria e diversão;

Excelência

Princípios e Valores:

Solidariedade;

Excelência;

Respeito

Fonte: Spanta Neném (2013)

4.2. Práticas favoráveis ao processo

Em um primeiro momento foi importante se fazer um levantamento das práticas já adotadas

instintivamente pelo Spanta Neném onde os preceitos da sustentabilidade estavam incorporados de

maneira inconsciente.

Dessa forma, com base na análise do ambiente organizacional, algumas práticas foram destacadas

como:

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– Escola de música para pessoas da comunidade Santa Marta: são oferecidas aulas de percussão,

instrumentos de cordas entre outros. Buscando incluir esses moradores na comunidade a escola de

música estabelece um processo claro dentro desse caminho de aprendizado onde o aluno pode se

transformar em um músico do carnaval do Spanta.

– Eventos realizados na comunidade Santa Marta: eventos como o Morro de Alegria estabelecem

um contato com a comunidade buscando integração entre as diversas realidades cariocas através

do movimento de celebração da cultura das comunidades.

– Atitude inovadora dentro do Carnaval: estabelecimento de parceria com o poder público

municipal visando à adoção de práticas como a colocação de banheiros químicos para os foliões

(evitando a degradação da cidade e maior conforto dos cidadãos); a inclusão dos catadores de

latinhas; a formalização dos vendedores ambulantes, entre outros.

5. Processo de Levantamento e Proposição de Práticas de Sustentabilidade para

o Spanta Neném

A organização se encontrava em uma situação que necessitava de apoiadores dentro deste

processo. Nesse contexto o Spanta Neném optou por escolher uma Empresa Júnior por entender

que os valores inerentes a estas organizações estão alinhados aos da Sustentabilidade.

Nesse sentido, realizou-se um levantamento de organizações da sociedade civil que carreassem em

seus valores práticas e modelos de gestão próximos aos pretendidos pelo Spanta Neném visando o

estabelecimento de redes solidárias de cooperação no processo de amadurecimento da sua

sustentabilidade organizacional.

Considerando o diagnóstico das premissas e da cultura do Spanta Neném foram selecionadas

organizações que pudessem cooperar com direcionamento de resíduos sólidos e práticas sociais da

organização.

5.1. Colaboradores e Direção

A partir dos resultados obtidos pelos instrumentos de pesquisa percebeu-se o interesse por parte

dos colaboradores acerca do tema. Entretanto, alguns óbices foram apontados:

– Apesar do interesse, os colaboradores não se sentiam parte do processo com um todo, não era

visível para os mesmos as etapas desse processo.

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– A chegada de eventos não permitia o engajamento total por parte dos colaboradores.

– A direção apesar de patrocinador do projeto não participou do processo de construção do tema.

5.2. Definição de políticas

Conforme suportado pela revisão da literatura, é necessário que haja por parte da organização

conhecimento das diretrizes de sustentabilidade da organização para tal foram criadas políticas

buscando uma visão compartilhada por parte dos colaboradores frente aos distintos stakeholders.

5.3. Clientes

Estimular e disseminar valores sustentáveis por meio de eventos e demais iniciativas

desenvolvidas e/ ou apoiadas pelo Spanta Neném.

5.4. Fornecedores

Priorizar contratos com fornecedores que tenham preocupação socioambiental para desta forma,

fomentar a sustentabilidade junto a estas frentes.

5.5. Parceiros

Adotar parcerias que permitam a concretização da sustentabilidade dentro da organização e ainda

associar-se a parceiros que permitam ao Spanta Neném, ser agente disseminador do conceito.

5.6. Pessoas

Desenvolver em todos incluídos na esfera de atuação do Spanta o desejo de ser agente

transformador.

6. Considerações finais e sugestões de estudos futuros

Diante do estudo realizado pode-se concluir que é possível e cada vez mais natural que

organizações da sociedade civil venham a buscar incorporar práticas sustentáveis dentro de suas

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estratégias de crescimento. Tais atitudes são importantes e devem trabalhar de forma conjunta, se

possível, em articulação com outras instituições, tanto da iniciativa privada quanto outras

organizações da sociedade civil. Assim tendem a aumentar o impacto e criar uma relação de

sinergia positiva dentro do processo, buscando uma cooperação com benefícios mútuos.

No entanto, esse processo com visto ao longo do estudo não pode ser considerado simples e

“tercerizável”. Todos os componentes da organização – desde a alta administração até o nível

operacional – precisam estar alinhados, participarem e entenderem a relevância, os benefícios e os

desafios de se incorporar os preceitos e práticas de sustentabilidade na organização. Significa

dizer que não é possível para que os resultados esperados sejam alcançados que não exista

princípio de cooperação por parte de todos.

Como sugestões de estudos futuros, recomenda-se o desenvolvimento dessa investigação para

outras organizações da sociedade civil organizada, analisando os pontos de convergência e

distinção em relação aos resultados obtidos no estudo em tela.

Referências

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