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APROXIMAÇÃO AO PROBLEMA Os estilos de vida e a saúde estão intimamente ligados, sendo os factores ambientais, os hábitos alimentares, o hábito de fumar, o uso e abuso de álcool e drogas, a actividade sexual desregrada, influenciadores de um desenvolvimento integral harmonioso e saudável. A aquisição e sedimen- tação de muitos dos comportamentos e hábitos, nem sempre os mais salutares, determinantes pa- ra a saúde na idade adulta, ocorrem durante a in- fância e a adolescência. A juventude é o reflexo, da sociedade em que se insere, culturalmente he- terogénea, marcada pela discriminação, pelas desigualdades económicas e sociais, pela exis- tência de sistemas culturais diferenciados e hie- rarquizados – um que domina e outros minoritá- rios. Os jovens oriundos de grupos étnico-culturais minoritários, pela peculiaridade das pressões, a que estão sujeitos – aculturação, discriminação, racismo, desenraizamento, preconceito – pode- riam evidenciar prevalência de condutas proble- máticas, mas na verdade, e apesar de viverem em condições essencialmente adversas, estes jovens não se envolvem ou envolvem-se com menor frequência em comportamentos-problema (Bach- man et al., 1991; Wallace & Bachman, 1994). *** A adolescência caracteriza-se por um proces- so de transformação, com mudanças rápidas ao nível físico, psicológico, cognitivo e sociocultu- ral, confrontando-se o jovem com a definição da própria identidade e autonomia. Frasquilho (1996, p. 91) refere a relevância daqueles facto- res, mencionando a existência de domínios de homogeneidade, mas sublinha que «a heteroge- neidade decorrente dos tecidos socioculturais não pode ser negada. Neste sentido a adolescên- cia não é um fenómeno universal». Para a autora os adolescentes são «os actores principais de 345 Análise Psicológica (2001), 3 (XIX): 345-364 Diversidade e comportamentos juvenis Um estudo dos estilos de vida de jovens de origens étnico-culturais diferenciadas em Portugal ISABEL RESGATE (*) (*) Escola Secundária Elias Garcia.

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APROXIMAÇÃO AO PROBLEMA

Os estilos de vida e a saúde estão intimamenteligados, sendo os factores ambientais, os hábitosalimentares, o hábito de fumar, o uso e abuso deálcool e drogas, a actividade sexual desregrada,influenciadores de um desenvolvimento integralharmonioso e saudável. A aquisição e sedimen-tação de muitos dos comportamentos e hábitos,nem sempre os mais salutares, determinantes pa-ra a saúde na idade adulta, ocorrem durante a in-fância e a adolescência. A juventude é o reflexo,da sociedade em que se insere, culturalmente he-terogénea, marcada pela discriminação, pelasdesigualdades económicas e sociais, pela exis-tência de sistemas culturais diferenciados e hie-rarquizados – um que domina e outros minoritá-rios.

Os jovens oriundos de grupos étnico-culturaisminoritários, pela peculiaridade das pressões, a

que estão sujeitos – aculturação, discriminação,racismo, desenraizamento, preconceito – pode-riam evidenciar prevalência de condutas proble-máticas, mas na verdade, e apesar de viverem emcondições essencialmente adversas, estes jovensnão se envolvem ou envolvem-se com menorfrequência em comportamentos-problema (Bach-man et al., 1991; Wallace & Bachman, 1994).

***

A adolescência caracteriza-se por um proces-so de transformação, com mudanças rápidas aonível físico, psicológico, cognitivo e sociocultu-ral, confrontando-se o jovem com a definição daprópria identidade e autonomia. Frasquilho(1996, p. 91) refere a relevância daqueles facto-res, mencionando a existência de domínios dehomogeneidade, mas sublinha que «a heteroge-neidade decorrente dos tecidos socioculturaisnão pode ser negada. Neste sentido a adolescên-cia não é um fenómeno universal». Para a autoraos adolescentes são «os actores principais de

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Diversidade e comportamentos juvenisUm estudo dos estilos de vida de jovens de origens étnico-culturais

diferenciadas em Portugal

ISABEL RESGATE (*)

(*) Escola Secundária Elias Garcia.

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múltiplas “epidemias” que grassam na actualida-de: abuso de drogas, doenças sexualmente trans-mitidas, violência social, suicídio, acidentes deviação».

Bachman et al. (1991), Wallace e Bachman(1994) referem que os jovens de origem africananão se envolvem – ou envolvem-se com menorfrequência – em comportamentos-problema,apesar de apresentarem características associadasa estilos de vida que envolvem perigosidade(normalmente são mais pobres, provêm defamílias mono-parentais, e são sujeitos a pres-sões específicas – aculturação, desenraizamento,preconceito). Sugere-se a existência nestesgrupos, de factores que influenciam positiva-mente o comportamento dos jovens: a existênciade laços familiares fortes, a religiosidade e o en-volvimento em organizações sociais, que au-mentam a coesão social e o apoio mútuo (Gibbs& Hines, 1989; Amey, Albrecht & Miller, 1996).

São aplicáveis aos estudos dos comportamen-tos juvenis e aos seus contextos, alguns modelosteóricos gerais, entre os eles o Modelo de Influ-ência Social e O Modelo de DesenvolvimentoSocial. O Modelo de Influência Social, inspira-sefortemente em várias teorias anteriores como aTeoria de Aprendizagem Social, a Teoria daAcção Racional, a Teoria de Controlo Social e aTeoria do Grupo de Pares. O seu foco primordialé a influência das forças sociais (pares, pais emedia) nos indivíduos, nas suas interacções si-tuacionais e as suas percepções sobre as normasrelacionadas com o uso e abuso de substâncias(Flay, 1985; Hansen, 1988). O Modelo de De-senvolvimento Social, incorpora o conjunto dosvários domínios, interrelacionados, relevantes epotencialmente influenciadores do comporta-mento, que vão desde a vulnerabilidade bioquí-mica e genética no plano individual, às normas eàs leis na área societal. Estes determinantes ne-gativos constituem padrões etiológicos similarespara os comportamentos perigosos, tendo sidosistematizados por Hawkins, Catalano e Miller(1992).

Numerosos factores são susceptíveis de influ-enciar os comportamentos juvenis: factores denatureza individual – auto-conceito, depressão e«stress» «locos de controlo» – e factores sócio-culturais – a família, a escola, o grupo de pares,as actividades de ocupação de tempos livres, as

tensões inerentes às situações de aculturação e aetnicidade.

Quanto à família, a qualidade dos laçosfamiliares e das normas transmitidas, a modela-ção parental, a disfunção familiar, a natureza daestrutura familiar e os estilos educativos, são re-levantes no envolvimento no uso e abuso desubstâncias (Andrews et al., cit. por E. R. Oet-ting, & J. F. Donnermeyer, 1998; Hawkins &Fitzgibbon, 1993); Relativamente às diferençasétnicas, os jovens de origem africana relatam queas suas famílias têm mais influência no seu usode substâncias do que os de origem europeia(Catalano et al. e Swaim et al., cit. por E. R.Oetting, & J. F. Donnermeyer, 1998).

No que diz respeito à escola, esta é respon-sável pela transmissão de normas e padrõescomportamentais. Esta função é comprometidapela existência de laços ténues e pelo abandonoescolar precoce que facilitam o desenvolvimentode condutas perigosas como o consumo de subs-tâncias (Fagan & Pabon e Tildesley et al., cit.por E. R. Oetting & J. F. Donnermeyer, 1998).Quanto aos grupos étnicos, a actuação da escolaé mais reduzida por serem os seus jovens aquelesque apresentam maiores dificuldades de adapta-ção e índices mais elevados de abandono.

Relativamente ao grupo de pares, podemosconcluir que, na generalidade, para os jovens, aconvivialidade com os amigos se reveste de ex-trema importância, e que os comportamentos in-dividuais são influenciados pelas normas gru-pais. O facto de a socialização dos jovens decor-rer distante da supervisão dos adultos e dasinstituições centralizadas, possibilita o desenvol-vimento de normas e valores que podem condu-zir à emergência de comportamentos desviantes(B. Detry, & A. Cardoso, 1996, p. 68). Conside-rando as diferenças étnicas, as correlações entrecomportamentos desviantes e influência de paressão menores nos grupos minoritários (Newcomb& Bentler; Gottfredson & Koper, cit. por E. R.Oetting & J. F. Donnermeyer, 1998).

Reportando-nos aos tempos livres, quando osjovens ocupam os tempos de lazer construtiva-mente raramente se envolvem em actividadesprejudiciais. Nomeadamente, na prática de des-porto, o jovem assume um papel activo adqui-rindo e desenvolvendo valores como o auto-controlo, a resistência, o cumprimento de regras,a solidariedade, a responsabilidade. A diversida-

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de de situações sociais e culturais tornam hete-rogénea a experiência de ser jovem, mesmo noâmbito das práticas de lazer.

Considerando as questões inerentes à acultu-ração, para Segal (1997) no processo de adapta-ção a uma nova cultura o indivíduo poderá reagirde três formas: a) estabelecer ou manter vínculoscom o grupo cultural a que pertence, de modo arestabelecer ou dar continuidade à cultura tradi-cional no novo contexto; b) comportar-se comose permanecesse na sua cultura tradicional,apesar do contexto, e dar a entender aos outrosque serão seles que têm que se adaptar a ele; c)aceitar os novos valores e padrões de comporta-mento. Qualquer das escolhas terá consequênciaspara a saúde física e mental, reflectindo-se na es-trutura da personalidade.

O jovem na adolescência passa por um pro-cesso complexo de desenvolvimento. O processode aculturação intensifica os problemas típicosdesta fase de desenvolvimento, como a (re)cons-trução da identidade pessoal. Berry e Annis(1974) consideraram a mudança cultural, a que-bra dos laços familiares, a mudança brusca deambiente, as barreiras linguísticas e a discrimi-nação como factores indutores de pressão entreos jovens.

Em relação à etnicidade, investigações efec-tuadas nos EUA, tendo em conta subgruposétnico-culturais diferenciados, revelaram aexistência de padrões mais elevados de bebida ede consumo de drogas ilícitas entre os jovens deorigem europeia, comparativamente aos de ori-gem africana e asiática (Barnes & Welte, 1986;Bachman et al., 1991; Wallace & Bachman,1994; Wallace, Bachman, O`Malley & Johnston,1995).

No que se refere à religião e religiosidade, adenominação religiosa está apenas relativamenterelacionada com o uso de substâncias, a delin-quência e a actividade sexual precoce. A religio-sidade, avaliada pela frequência regular da igrejae pelo valor subjectivo da religião para o indiví-duo, está fortemente relacionada com o não con-sumo de substâncias, enquanto que a inexistên-cia de actividade ou afiliação religiosa, está cor-relacionada com o seu uso (Irwin et al., cit. porIgra et al., 1996; Donovan, Jessor & Costa,1988, 1991).

Considerámos como temáticas de abordagemmais pertinente: os hábitos alimentares, o consu-

mo de álcool, tabaco e outras drogas e o VIH//SIDA. As necessidades nutricionais do adoles-cente são específicas, sendo no entanto as influ-ências de natureza psicológica, familiar e cultu-ral as principais modeladoras dos consumos ali-mentares nesta faixa etária. O consumo de álcoolem crianças e adolescentes constitui um proble-ma grave, tanto mais que está na origem de bai-xo rendimento e abandono escolar, atitudes vio-lentas, suicídios, homicídios, formas de mortali-dade juvenil, passagem ao uso de substânciasilícitas, e contracção de SIDA (Boruch et al.,1991). Um número significativo de jovens, con-tinua a iniciar o uso de tabaco na adolescência,merecendo o seu consumo atenção especial, pe-las consequências adversas na saúde, a médio elongo prazo. A insatisfação generalizada do jo-vem relativamente ao seu presente imediato,acrescida da não perspectivação de um futuroanimador, constitui factor determinante para oinício do consumo de drogas ilícitas. A infecçãopelo VIH/SIDA é actualmente, segundo aO.M.S, o problema de saúde de maior gravidadea nível mundial. Verifica-se que a maior partedos casos de VIH/SIDA não ocorrem na adoles-cência, mas que alguns deles são contraídosnessa faixa etária. Sendo a maior parte dos com-portamentos associados ao VIH de naturezainterpessoal, a SIDA só pode ser combatidaatravés da promoção de comportamentos e ati-tudes sociais ajustadas. É importante referir-seque os adolescentes não são uma população ho-mogénea, dependendo a eficácia de medidas atomar da sua adequação às necessidades especí-ficas dos subgrupos. Impõe-se assim que as in-tervenções sejam culturalmente sensitivas eapropriadas ao nível de desenvolvimento, bemcomo relevantes para ambos os sexos.

TRABALHO DE CAMPO

O nosso estudo da realidade portuguesa, temcomo finalidade contribuir para um conheci-mento mais aprofundado de uma população ado-lescente de origens diferenciadas – africana,asiática e portuguesa –, através da detecção ecompreensão de algumas das suas diferençasmais significativas. Tal finalidade operaciona-lizou-se nos seguintes objectivos:

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- Identificar o que mais acentuadamente dis-tingue os jovens de diferentes contextosétnico-culturais nos domínios: familiar, es-colar, pessoal e social, religioso, relativos àidentidade, aos hábitos de lazer e de saúde,bem como a opinião dos jovens quanto àsrazões que determinam os consumos pre-judiciais e possíveis soluções.

- Estabelecer eventuais relações entre o quedistingue o jovens e o surgimento e/ouconsolidação de comportamentos perigo-sos.

- Identificar os consumidores de substânciasnocivas (essencialmente de álcool, tabaco edrogas ilícitas) e relacionar o seu uso/con-sumo com factores de natureza psicossocial(intrapessoal, familiar, relacional e escolar).

O estudo baseou-se na aplicação de um ques-tionário de auto-aplicação a uma população deadolescentes. O questionário foi construído em13 blocos: A. Vida Social e Escolar; B. Perspec-tivas de Futuro; C. Hábitos Alimentares; D.Consumo de Álcool; E. Consumo de Tabaco; F.Consumo de Droga; G. HIV/SIDA: I. Conheci-mentos, II. Atitudes e III. Aquisição de Conheci-mentos; H. Envolvimento Religioso; I. DadosPessoais; J. Dados Familiares; L. Condições deHabitabilidade; M. Ambiente Familiar e N. Au-

to-Conceito. O lançamento do inquérito teve lu-gar, em horário escolar e em ambiente de sala deaula, durante 55 minutos.

Foi realizado um primeiro pré-teste que con-sistiu na aplicação do inquérito a uma populaçãodiversificada, em faixa etária e ocupação pro-fissional. O questionário foi aplicado, em segun-do pré-teste, a 12 alunos da Escola dos 2.º e 3.ºCiclos do Monte de Caparica (integrada no Con-selho de Almada), sendo estes jovens de origemétnico-cultural diferenciada e de idades compre-endidas entre os 10 e os 14 anos (de ambos ossexos). Após o segundo pré-teste foram feitas asalterações necessárias. O inquérito foi depoisaplicado numa turma de 30 alunos, também deorigens étnico-culturais diferenciadas, e dentrodo nível etário da população sobre a qual iria in-cidir o estudo, não tendo resultado quaisqueralterações. Seguidamente foi aplicado à popula-ção a estudar.

Os dados foram introduzidos num programaestatístico (SPSS). Os resultados decorrem daanálise de tabelas de contingência, em que a va-riável origem é cruzada com as restantes variá-veis. Os quadros de dupla entrada referentesaos cruzamentos, são acompanhados dos testesestatísticos necessários à interpretação de signi-ficância dos seus resultados. O grau de signifi-

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FIGURA 1Distribuição dos elementos da amostra em função da origem

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cância estatística, obteve-se efectuando o testede «chi-square».

A amostra é constituída por 288 elementos,alunos de escolas seleccionadas por conterem omaior número de jovens de origem diferenciadae situadas em zonas limítrofes dos distritos deSetúbal e Lisboa. Destes 288 jovens, 68 são An-golanos, 49 Cabo-Verdianos, 22 Guineenses, 20Indianos, 14 Moçambicanos, 78 Portugueses,34 S. Tomenses, e 12 Timorenses. As idades si-tuam-se entre os 10 e os 19 anos.

Apesar da relevância dos dados obtidos, as li-mitações inerentes à construção de um artigoapenas permitem uma apresentação sintética erepresentação gráfica de alguns dos dados dis-poníveis. O grau de significância estatística,efectuado o teste de «chi-square», em que se tema diferença indicada por: ** altamente signifi-cante (P = < 0,01) e * significante (P = < 0,05), éassinalado junto de algumas variáveis.

Dos dados obtidos podemos concluir que osjovens de origem portuguesa e angolana se en-contram representados maioritariamente e empercentagens muito idênticas, respectivamentecom 26.4% e 23.6%. Seguidamente temos osCabo-Verdianos com 17.4%, e por fim os grupos

com percentagens inferiores a 10%: 9.7% S.Tomenses, 7.3% Guineenses, 5.9% Indianos,4.9% Moçambicanos, 4.2% Timorenses (Figura1).

No que se refere aos aspectos socio-demográ-ficos, salienta-se a reduzida representatividadedas jovens de origem indiana. A maioria dosadolescentes tem idade compreendida entre os10 e os 14 anos, exceptuando-se os Angolanos ePortugueses, cuja idade predominante, se situaentre os 15 e os 19 anos (Figuras 2 e 3).

O grau de escolaridade dos pais situa-sepredominantemente no nível básico, registando-se contudo, um elevado grau analfabetismo nasmães Cabo-Verdianas. A profissão dominante é ade operário especializado e não especializado, nocaso do pai. Distinguem-se os Angolanos porneles se verificar, mais no que diz respeito aopai, a existência de profissões de nível médio. Aprofissão de doméstica prevalece no que serefere à mãe.

Quanto ao vector familiar, a presença da mãepoderá estar relacionada com o facto de amaioria dos jovens assinalarem ter facilidade emconversar com ela sobre as suas preocupações,enquanto que com o pai essa capacidade de diá-

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FIGURA 2Representação da amostra por sexo

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logo é difícil. Reforça esta nossa conclusão ofacto do maior o número de mães trabalhadorasse verificar no grupo dos Portugueses, nos quaisconcomitantemente predomina a não existênciade «alguém com quem falar». Para os jovens, écontudo, entre os irmãos e os amigos que maisfacilmente dialogam sobre os seus problemas,como resulta da interpretação dos dados do in-quérito que elaborámos. A família nuclear pre-domina nos diversos grupos, excepto nos S.Tomenses, nos quais sobressai a existência da fa-mília monoparental, podendo este fenómenoestar relacionado com o facto dos jovens S. To-menses se destacarem por sentirem sempre faltade apoio e falta de confiança em si próprios, oque certamente dificulta a sua sociabilização. Oambiente familiar, o tipo de autoridade e a capa-cidade de transmissão de normas comportamen-tais e sociais por parte dos familiares é umelemento predominante para o favorecimentoou desincentivo de consumo de substancias no-civas entre os adolescentes. A disponibilidadedos pais a nível do seu acompanhamento pre-sencial, e da sua preparação cultural, é segundo onosso estudo um elemento importante, visto queos jovens Portugueses são os que menos acom-panhamento possuem por parte dos familiares e

logicamente aparecem no nosso inquérito comoos que revelam comportamentos de maior con-sumo de substâncias nocivas (álcool e tabaco).Confirmamos assim que o grupo dos jovensAfricanos revelam que os familiares têm maisinfluência no seu uso de substâncias, ao contrá-rio do que acontece com os de origem europeia.Constata-se ainda a existência de pouca severi-dade por parte dos pais/familiares dos jovensPortugueses contrastando com a muita severi-dade nos jovens não Portugueses: Cabo-Verdia-nos, S. Tomenses, Guineenses e Indianos.

No que diz respeito a si próprios, os adoles-centes portugueses são aqueles que mais gostamde se parecer com figuras mediáticas, e apenasuma reduzida percentagem, gosta de se parecerconsigo próprios ou com os seus antepassados,ao contrário do que se verifica nos adolescentesnão Portugueses, essencialmente nos Angolanose nos Cabo-Verdianos. O facto de os jovensPortugueses terem como modelo predominantefiguras dos Media e não elementos da sua famí-lia, indicia até que ponto se verifica a intromis-são dos meios de comunicação sociais em detri-mento da influência modelar da família. Gosta-ríamos ainda de destacar a tendência dos Afri-canos para valorizarem a sua evolução pessoal,

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FIGURA 3Representação da amostra por idade

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consentânea com os modelos sociais decorrentesdas suas raízes e identidade étnico-cultural. Osentimento de marginalização, falta de apoio efalta de confiança em si próprio é marcante nosjovens não Portugueses, em especial nos S.Tomenses, Cabo-Verdianos e Angolanos. Estaconstatação vem corroborar o que Gibbs (1984),salienta: que os jovens de origem africana vivemmais frequentemente situações de marginaliza-ção e discriminação.

Na ocupação dos tempos livres e convívio,concluímos que os adolescentes dedicam as suashoras de lazer sobretudo a ver a televisão. A pre-dominância da televisão é uma constatação donosso trabalho já salientada por Schmidt em1993 (cit. por B. Detry, & A. Cardoso, 1996).Para aquele autor, «os tempos livres dos Portu-gueses são fortemente marcados pela exposiçãoà televisão». Depois daquela actividade ouvirmúsica e passear no centro comercial, são asocupações preferenciais. Os jovens Portuguesesdistinguem-se por serem os que em maior núme-ro frequentam cafés e casas de jogos (Figura 4).

O grupo dos adolescentes Portugueses apre-senta igualmente a percentagem mais elevada defamiliares que frequentam bares e discotecas. Éde destacar que apesar de os jovens não Portu-gueses, em especial os Angolanos, possuíremuma elevada percentagem de amigos que fre-quentam bares e discotecas, não se revelam co-

mo o grupo que apresenta, no nosso relatório, omaior consumo de álcool e tabaco. Os Indianosdestacam-se pelo hábito de frequentar centroscomerciais e viverem mais circunscritos ao seuhabitat, mantendo predominantemente contactoscom a família. O convívio, independentementeda origem, desenvolve-se preferencialmente comos amigos dos jovens.

O estudioso destas questões deve contudo terem conta dois factores, por um lado o facto de asrespostas dos jovens se relacionarem intima-mente com o respectivo estatuto socio-económi-co, o qual está em dialéctica interacção com oshábitos sócio-culturais que lhe são próprios; poroutro lado é patente que em qualquer resposta deum adolescente, e para além dos elementos ex-plicitamente referidos pelo jovem, deveremos terem conta a subjectividade e as próprias condi-cionantes decorrentes do enquadramento psicos-social do jovem.

Relativamente à identidade e aculturação,concluímos que a origem dos jovens se relacionasignificativamente com o seu envolvimento emactividades de natureza cultural específica. Con-trastando com os adolescentes Portugueses, amaioria dos jovens de origem não portuguesa,Angolanos, Cabo-Verdianos, Guineenses, S. To-menses, Indianos e Moçambicanos participamem actividades ligadas a aspectos culturais quelhe são próprios, nomeadamente dança, festas

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FIGURA 4Distribuição dos diferentes grupos em função de locais de lazer

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FIGURA 5Distribuição dos diferentes grupos em função de actividades de natureza cultural

FIGURA 6Distribuição dos diferentes grupos segundo a aprendizagem da língua-mãe

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tradicionais e aprendizagem da língua-mãe(Figuras 5, 6 e 7).

A defesa e manutenção da identidade quesentem como sua manifesta-se ainda na prefe-rência em ir viver no seu país de origem, sendotambém relevante o facto de serem os jovens nãoPortugueses, essencialmente os Cabo-Verdianose Angolanos, que mais manifestam gostar de separecer com os seus antepassados, distinguindo-se também neste aspecto dos Portugueses. Nasactividades mencionadas, estão também signifi-cativamente envolvidos os familiares e os ami-gos dos adolescentes não Portugueses. O estabe-lecimento e manutenção de vínculos com o gru-po cultural de pertença, dando continuidade àcultura tradicional, são assim consentâneos comas teorias de Segal (1997).

O jovem adolescente está naturalmente numafase de reconstrução da sua identidade. No casode adolescentes de grupos étnico-culturais mino-ritários, este processo de reconstrução da identi-dade é ainda mais difícil e complexo, significan-do um agravamento das pressões e tensões psi-cossociais a que estão sujeitos. Coerentementecom o postulado que acabámos de referir, cons-tatámos igualmente no nosso estudo, que ado-lescentes não Portugueses resistiam de alguma

forma à aculturação, por parte da sociedade por-tuguesa que os acolheu. Neste contexto se en-quadra a participação dos jovens não Portugue-ses nas actividades tendentes a dar continuidadeaos modelos culturais ancestrais, nomeadamentea música e a dança.

Quanto ao âmbito escolar, não podemos dei-xar de referir que o fenómeno de marginalizaçãoou de sentimento de pertença a um grupo mino-ritário é factor agravante do insucesso escolar.Existem diferenças significativas entre a origeme o ano de escolaridade, verificando-se menorfrequência no 9.º ano, em todos os grupos de jo-vens excepto no caso dos Angolanos. Quanto aosjovens Cabo-Verdianos, eles são o terceiro grupocom a taxa mais elevada de insucesso escolarimediatamente após os Angolanos e Portugueses,registando-se nestes últimos o número mais ele-vado de duas ou mais repetências. Mais uma veza aculturação e a marginalização se apresentamcomo duas faces da mesma moeda, exercendo assuas pressões e tensões contraditórias, segundo asensibilidade de cada indivíduo e do seu grupoétnico. Neste sentido se podem também inter-pretar as razões de interrupção dos estudos oumesmo de abandono da escola, em relação com aorigem dos adolescentes do nosso estudo. É as-

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FIGURA 7Distribuição dos diferentes grupos em função da origem sentida

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sim que os jovens Cabo-Verdianos são os únicosque apresentam como argumento para o abando-no escolar o facto de se sentirem desintegrados ediferentes dos outros (Figura 8).

Observam-se igualmente elementos queafectam transversalmente (independentementedas suas origens) os grupos étnico-culturais ado-lescentes do universo escolar, alvo do nosso es-tudo, como o caso da dificuldade generalizadacom o domínio da língua portuguesa. Pese em-bora o facto de os adolescentes terem um conhe-cimento satisfatório da língua portuguesa, estasurge como motivo de interrupção dos estudos

em todos os grupos, incluindo o dos Portugue-ses, constituindo apenas excepção nos adoles-centes Indianos (Figura 8).

A função da sociabilização da escola, apesarde estar bem patente nos comportamentos dosadolescentes, não abarca de forma uniforme euniversal todos os seus grupos étnico-culturais.Assim é que, esse nível de sociabilização é con-dicionado pela sensibilidade individual do ado-lescente, pelas suas raízes étnico-culturais parti-culares, bem como pelo grupo de amigos dentrodo qual o jovem se insere, e o qual por si só cor-poriza um determinado nível de resistência à ho-

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FIGURA 6Distribuição dos diferentes grupos segundo a aprendizagem da língua-mãe

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mogeneização, inerente a uma estrutura escolar.Para os jovens do nosso estudo, a escola é umlocal importante porque os prepara para a vida,lhes dá formação, viabiliza o emprego futuro epropicia os amigos. Este último aspecto é mar-cante para os jovens Moçambicanos e Timoren-ses, enquanto que os adolescentes Angolanos eCabo-Verdianos se distinguem por significativa-mente não considerarem a escola um lugar ondefazem amigos. Relacionada com esta constataçãopoderá estar o facto de estes dois últimos gruposconsiderarem que a escola é difícil, por se sen-tirem marginalizados (Figura 9).

Paralelamente gostaríamos de realçar comoelemento positivo o interesse e sensibilidade damaioria do corpo docente, visto os jovens consi-derarem que os professores se interessam semprepor eles como pessoas, embora tenham dificul-dade em dialogar com aqueles sobre os seus pro-blemas (Figura 10).

Quanto às aspirações académicas dos jovensverificámos que estas estão condicionadas pelasua ascendência étnico-cultural: os Angolanosdestacam-se por pretenderem atingir um nível deformação superior, os Portugueses uma formaçãotécnico-profissional e os Indianos por somente18.8% pretender obter um grau superior e 50%pretender atingir apenas a escolaridade básica.Estes dados poderão ser interpretados pelas teo-

rias de autores como Flewelling & Bauman(1990), que consideram que o percurso educati-vo dos jovens depende do estatuto socio-econó-mico e cultural da família (Figura 11).

O futuro é por definição o tempo da juven-tude. São os jovens que construirão o seu e onosso futuro, no sentido de futuro da comunida-de em que se inserem. O nosso inquérito teve apreocupação de auscultar os jovens quanto aquestões que nos ajudassem a compreender o seupresente, mas que igualmente nos pudessem darindicações de como antevêem ou perspectivam oseu futuro. Seria de esperar que no nosso univer-so de estudo, estes adolescentes definissem co-mo infeliz o seu quotidiano. Contudo (e surpre-endentemente ou não) não só não é assim, comoa maioria dos jovens respondeu considerar-sefeliz (dentro do reduzido e estatisticamente pou-co significativo número de jovens que se consi-dera pouco feliz, 31% são Angolanos).

Pensamos que para os gestores escolares, bemcomo para todas as instituições que intervêm nadefinição das políticas estratégicas/educativas eformação profissional, assume grande relevânciaconstatar, que a maioria dos jovens dos diferen-tes grupos tem ideias bem definidas em relaçãoao que gostaria de vir a fazer, ambicionando teruma boa profissão – diferente da dos seus pro-genitores – e mostrando por isso a intenção de

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FIGURA 9Distribuição dos diferentes grupos segundo a opinião quanto à escola

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FIGURA 10Distribuição dos diferentes grupos segundo o diálogo com os professores

FIGURA 11Distribuição dos diferentes grupos segundo as aspirações académicas

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continuar os seus estudos. Este facto, revela queestes grupos não encaram passivamente o seufuturo mas, pelo contrário, estão dispostos aagir e intervir na sociedade portuguesa para pro-moverem o seu progresso económico e social,uns através de uma formação académica superiore outros prosseguindo uma formação técnico--profissional. E desta forma sublimam o estigmada marginalização.

A obtenção de um curso e procurar empregoapós a escolaridade é importante para conseguira vida que desejam, sendo-o para a totalidadedos Guineenses, Moçambicanos e Timorenses.Os Angolanos e Cabo-Verdianos detêm a percen-tagem mais elevada dos que consideram que asua vida será igual à dos seus pais, mostrandoum certo grau de conformismo e passividade econtrastando neste aspecto com os adolescentesdos outros grupos (Figura 12).

O apoio da família e amigos é relevante para atotalidade dos Moçambicanos e Timorenses, mascontar com aquele suporte não é importante paraa maioria dos Angolanos e S. Tomenses. Os jo-vens têm uma perspectiva positiva e actuante dasua vida futura, atribuindo-se a capacidade de se-rem agentes do seu futuro – o que está de acordocom o «ocus de controlo interno» de Rotter em1966 e Weiner em 1974 (cit. por B. Detry, & A.Cardoso, 1996).

Um leque variado de problemas de saúde doadulto e consequentes repercussões na duração equalidade de vida surge como resultado de há-bitos alimentares incorrectos – hábitos essesadquiridos, em fases anteriores de desenvolvi-mento, nomeadamente na infância e na adoles-cência. A adopção de comportamentos no âmbitoalimentar faz parte integrante da educação dosjovens e mais largamente da sua sociabilização,sendo mais fácil e eficaz a indução de hábitospositivos nesta fase de adolescência, do que amodificação posterior, na fase adulta, de com-portamentos já sedimentados. A modelação doshábitos alimentares é ainda influenciada porcondicionantes familiares e com particular per-tinência para o nosso estudo, de natureza cultu-ral. Assim no que se refere aos jovens por nósestudados, a ingestão de carne de vaca é quaseinexistente entre os Indianos, estando de acordocom a sua cultura. Estes dados são consentâneoscom a análise bibliográfica efectuada. De acordocom Michaud et al. (1991, cit. por B. Águas, etal., 1996), as influências de natureza familiar ecultural são as principais modeladoras dos con-sumos alimentares dos jovens. Adquire estaquestão especial acuidade se considerarmos aimportância de que se reveste para o adolescentea sua imagem, em fase marcada por alterações anível biológico e psicossocial. Aspecto este evi-

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FIGURA 12Distribuição dos diferentes grupos em função de perspectivas futuras

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denciado pelo facto de, no que se refere ao auto--conceito, os jovens do nosso estudo se sentiremmaioritariamente satisfeitos consigo próprios,mas quando se verifica insatisfação esta dizerrespeito ao aspecto físico (gordura). Os jovensque estudámos, independentemente da origem,parecem ter uma ingestão diária adequada no quese refere a fruta, cereais e leite. Para além da járeferida influência cultural do enquadramentoétnico-cultural específico dos adolescentes inqui-ridos, o nosso estudo permitiu-nos detectar algu-mas outras correlações entre os hábitos dessesjovens e a sua elevada exposição à televisão. Nocontexto televisivo proliferam os produtos alvode uma publicidade ofensiva e mesmo agressiva,senão tantas vezes enganosa, tendente a incutir emoldar os comportamentos «de moda» entre osjovens (como é no caso do consumo generaliza-do de determinadas marcas, sejam elas de refri-gerantes, ou de batatas fritas).

Constata-se um consumo diário significativode refrigerantes e doces em todos os grupos e decafé nos Cabo-Verdianos, Portugueses e Angola-nos (Figura 13), bem como uma ingestão maiselevada de hamburgers e salsichas entre os Por-tugueses, S. Tomenses e Timorenses. Os Portu-gueses distinguem-se ainda pelo consumo diáriomais elevado de batatas fritas e carne de porco.O facto de os refrigerantes, doces, hamburgers e

salsichas serem consumidos predominantementepelos amigos, sugere a sua disponibilidade noespaço escolar.

A ingestão de álcool, tabaco e drogas ilícitas(Figuras 14, 15 e 16), constitui um problema dereconhecida gravidade, tanto mais que o seuconsumo pontual tem frequentemente início naadolescência, transformando-se depois, porvezes, num fenómeno habitual. O consumo deálcool reveste-se de especial importância poisconstitui o primeiro e mais usado destes produ-tos, estando ainda o seu consumo associado àocorrência de acidentes, ao despoletar de atitu-des violentas e à passagem sequencial ao uso deoutras substâncias.

Concluímos que nos jovens estudados, paraqualquer das substâncias nocivas, os valorespercentuais decrescem, conforme dizem respeitoa uma primeira experiência ou ao consumo re-cente – o que permite deduzir o predomínio daexperimentação e cessação de consumo. Consta-támos a existência de consumo regular de álcoolem 5.8% (sendo a bebida de consumo predomi-nante a cerveja, seguida pelas bebidas espirituo-sas), de tabaco em 4%, e de drogas ilícitas em1.4%.

Vários factores concorrem para influenciar oconsumo de substâncias nos jovens, sejam de na-tureza individual, familiar, social ou cultural.

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FIGURA 13Distribuição dos diferentes grupos segundo o consumo de café

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FIGURA 14Distribuição dos diferentes grupos por experiência com álcool e consumo de cerveja

FIGURA 15Distribuição dos diferentes grupos por experimentação de tabaco e idade da primeira

experiência

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Presumir-se-ia que os jovens oriundos de gru-pos étnico-culturais minoritários, pelo facto deestarem sujeitos a condicionalismos mais parti-culares – desenraízamento, discriminação, acul-turação – deveriam evidenciar predominância decomportamentos perigosos, nomeadamente deconsumo de álcool e tabaco. No entanto, a in-fluência das práticas e modelos parentais, a exis-tência de normas e a selecção de pares, parecemser factores influenciadores dos consumos, le-vando os jovens de grupos minoritários a seremos que menos consomem estas substâncias no-civas. Nos jovens do nosso estudo a experimen-tação e consumo regular de álcool e tabaco rela-ciona-se significativamente com a idade e com osexo dos jovens, predominando nos Portuguesese Angolanos cuja faixa etária se situa entre os15-19 anos e nomeadamente no sexo masculino.O início do consumo regular de álcool verifica--se entre os 10-14 anos nos dois grupos. Já noque se refere ao tabaco, para os Portugueses si-tua-se naquele nível etário, enquanto que nosAngolanos se verifica a iniciação mais tardia, en-tre os 15-19 anos.

Nos Portugueses verifica-se o consumo regu-lar de álcool e tabaco em percentagem maiselevada comparativamente aos adolescentes

Angolanos. Verificámos ainda que nos jovensPortugueses o consumo se verifica predominan-temente com os amigos, e em segundo lugar comos pais, sendo também no agregado doméstico//familiar destes jovens, que se constata a maiorpercentagem de consumidores de álcool, e umapredominância dos fumadores. Relativamenteaos jovens Angolanos, pode constatar-se umapercentagem mais significativa de elementos doagregado familiar não consumidores de álcool, epredominância dos não fumadores.

Também há uma distinção entre ambos osgrupos no que respeita à frequência de discote-cas, bares cafés e casas de jogos. Os Portuguesessão os adolescentes que mais se envolvem emestados de embriaguez e detêm a predominânciade envolvimento em episódios violentos. Acres-ce ainda que é neste grupo, que a maioria dosfamiliares e amigos aprova o consumo de subs-tâncias sendo a aquiescência essencialmente re-lativa ao álcool, depois ao tabaco, e por fim àdroga.

As teorias dos autores a seguir referidos po-dem oferecer uma explicação para estes dadospor nós obtidos. Por exemplo Barnes e Welte(1986), Bachman et al. (1991) e Johnston et al.(1994), opinam que os jovens oriundos de gru-

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FIGURA 16Distribuição dos diferentes grupos por experimentação e consumo de drogas ilícitas

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pos minoritários se envolvem menos em com-portamentos-problema; Catalano, et al. (1992) eSwaim et al. (1993) (cit. por E. R. Oetting, & J.F. Donnermeyer, 1998), concluíram existiremdiferenças étnicas, na influência familiar, tendoas famílias de origem africana mais influência nouso de substâncias nos jovens do que as de ori-gem europeia; Hawkins, Catalano e Miller(1992), verificaram que a influência da modela-ção de papéis familiares, e da selecção de paresconsumidores determina comportamentos-pro-blema; Hawkins e Fitzgibbon (1993), deduzemque os comportamentos do jovem podem seraprendidos pela observação dos comportamentosdos pais.

Na nossa análise verificámos que, quer a ex-perimentação quer o consumo regular de drogasilícitas, predomina entre os jovens não Portu-gueses. A idade de iniciação situa-se entre os 13--15 anos, sendo a substância normalmente o ha-xixe, a erva e o chamon. Nestes grupos que to-mam drogas ilícitas verifica-se a predominânciade alguns amigos e familiares consumidores.Ora estas conclusões não estão em consonânciacom a revisão bibliográfica efectuada: Por exem-plo nos EUA, Johnston (1994) concluiu a inexis-tência ou existência reduzida de consumos dedrogas ilícitas nos jovens de origem africana,comparativamente aos de origem europeia.

No que respeita ao VIH/SIDA, concluímos quea maior parte dos jovens tem um nível de conhe-cimento mediano sobre a doença e do seu modode contágio. Todavia subsistem ainda respostasque indiciam dúvidas. Nomeadamente, a maioriados jovens Indianos e S. Tomenses desconhece apossibilidade de contágio através de objectospessoais.

A atitude face à doença e pessoas com SIDA éna globalidade positiva embora algumas res-postas sugeriram a persistência de medos: umnúmero reduzido de jovens considera que não sedeve sentar ao lado de pessoas com SIDA, masem valor percentual igual ou superior 50%, sãode opinião que não podemos partilhar casas debanho e vestiários com pessoas contaminadas.Verificam-se ainda nalguns grupos atitudes nega-tivas face à doença e às pessoas contaminadas:Os Indianos consideram que o contágio podeocorrer por contactos sociais (tocar numa pessoacom SIDA) e a sua simpatia para com os doentesdepende da forma como contraíram a doença(concordam com o facto de os homossexuais edrogados terem o que merecem ao contrair adoença – Figura 17). O aspecto religioso é tam-bém diferente neste grupo. Consideram signifi-cativamente que a SIDA é um castigo divino,para punir as más acções das pessoas, podendoesta diferença estar relacionada com aspectos

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FIGURA 17Distribuição dos diferentes grupos segundo atitudes face a doentes com SIDA

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inerentes à cultura destes jovens de origem in-diana. Apesar de tudo, a informação é insufici-ente, pela percentagem significativa de respostas«Não Sei» e pelo facto de os conhecimentossobre SIDA serem adquiridos primeiro entre osamigos e só depois com os professores, seguin-do-se os meios de comunicação e por fim a famí-lia. Estes resultados vêm corroborar as posiçõesde vários autores: de Airhihenbuwa, Wingwood,e Lowe (1992), os quais acentuam que deve sertida em consideração a heterogeneidade dosadolescentes, com valores e normas subculturaisdiversas, e a adequação ao nível de desenvolvi-mento; das pessoas que redigiram o texto daSIDA-Comissão Nacional de Luta Contra aSIDA (1997), segundo as quais «É fundamentalmanter um bom nível de informação junto àpopulação em geral, adaptando os dispositivos àspessoas e às situações particulares encontradas»;e de Ayres (1991), segundo a qual a estigmatiza-ção e o medo têm como razão fundamental«uma informação insuficiente, não em termos dequantidade, porque ela tem sido bastante, masinsuficiente em termos de qualidade».

Relativamente à religião, constata-se que pre-domina em larga maioria o Catolicismo, essen-cialmente nos jovens Timorenses, Cabo-Verdia-nos, Portugueses, Guineenses e Angolanos. Estesjovens, consideram que a sua religião não aprovao consumo de álcool, tabaco ou drogas. Do pon-to de vista sociológico é interessante salientarque os adolescentes indianos hindus por nósconsultados, consideram que a sua religião nãodiscorda do consumo de álcool e tabaco, sendomais permissiva relativamente ao primeiro.

Em relação à opinião dos jovens sobre osmotivos que determinam o consumo de substân-cias nocivas, concluímos que as razões depen-dem da substância e, nalguns casos, os motivossão inerentes às situações particulares vividaspelos grupos de jovens não Portugueses. O con-sumo de álcool tem como razões predominanteso estar associado a ocasiões festivas e a um sen-timento de felicidade, ao consumo por familia-res, a problemas financeiros e familiares, ao in-sucesso escolar e à disponibilidade nos locaisque as pessoas frequentam. São ainda razões deimportância significativa para os jovens S.Tomenses, Angolanos, Cabo-Verdianos o senti-mento de marginalização, e para os Timorenses eAngolanos o sentir-se diferente dos outros. O

consumo habitual de tabaco, segundo os adoles-centes alvo do nosso estudo, decorre de uma pri-meira experiência, de pretender mostrar adulteze ser mais considerado pelos outros, da influên-cia do consumo por familiares (essencialmentepara os jovens Portugueses), e amigos, da suaexistência nos locais frequentados, dos efeitos edo sabor, e ainda de sentir-se diferente e posto delado.

Para o consumo de drogas ilícitas, as razõesmais evocadas são: gostar dos efeitos, desconhe-cer a perigosidade, sentir-se posto de lado, sen-tir-se diferente, a primeira experiência e os pro-blemas familiares. Podemos assim afirmar queas razões evocadas pelos jovens do nosso estudopara o consumo das diversas substâncias nocivassão consentâneas com os factores e influênciasconstantes da bibliografia analisada.

Para os adolescentes do nosso estudo a reso-lução dos problema de consumo e abuso desubstâncias lícitas e ilícitas cabe, primeiramente,a cada um de nós e depois ao governo, devendoser utilizados como meios: mais e melhor infor-mação através dos meios de comunicação, maisamizade e solidariedade entre as pessoas (no quesobressaem os Cabo-Verdianos, grupo que maisse salientou por manifestar ser alvo de margina-lização), mais e melhor informação nas escolas epor último revalorização dos laços familiares.

REFLEXÃO FINAL

A diversidade inerente à juventude determinaa necessidade de abordagens especificas para osvários grupos culturais por parte dos agentes res-ponsáveis pelo acompanhamento e formaçãodos jovens, bem como dos investigadores desteobjecto de estudo. Os estudos para a avaliaçãodos comportamentos e ulterior prevenção deeventuais situações de risco, em diferentesgrupos étnico-culturais, necessitam ter em consi-deração vários factores básicos para obtenção deresultados efectivos. Entre estes factores inclu-em-se o desenvolvimento da sensibilidade cultu-ral e respeito pela personalidade individual, atra-vés do conhecimento e valorização dos diferen-tes saberes, crenças e comportamentos da popu-lação em causa. Quer o processo, quer o conteú-do das intervenções, têm que ser objectivados deacordo com as necessidades específicas e expe-

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riências culturais desse grupo particular. Sendoassim os conhecimentos adquiridos podem influ-enciar as estratégias de actuação face a outrosgrupos étnico-culturais.

Com uma população estudantil de grande he-terogeneidade cultural e linguística, a escola de-ve desempenhar funções de democratização,sendo o garante da igualdade de oportunidadesao favorecer a integração de jovens oriundos degrupos minoritários, desenvolvendo o espíritodemocrático e pluralista respeitador dos outros edas suas ideias, valorizando a diferença e promo-vendo simultaneamente o desenvolvimento pes-soal e social dos educandos. O papel do profes-sor é fundamental na promoção, nos jovens, dodesenvolvimento das capacidades de decisão ede escolha de estilos de vida saudáveis. Sequen-cialmente ligada à função docente, a formaçãode professores será uma pólo de intervençãofulcral, devendo ter como objectivo uma forma-ção pluricultural que contemple a valorizaçãodas características e culturas das várias popula-ções.

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RESUMO

Estudo dos comportamentos de jovens adolescen-tes, de origem étnico-cultural diferenciada, nas áreasfamiliar, escolar, pessoal, social e religiosa, relativas àidentidade, aos hábitos de lazer, aos hábitos alimen-tares e ao consumo de substâncias tóxicas e factoresàquele associados, bem como a opinião dos jovensquanto às razões que determinam os consumos preju-diciais e possíveis soluções.

Palavras-chave: Adolescentes, minorias étnicas,estilos de vida.

ABSTRACT

Study of the lifestyles of adolescents from differentethnic and cultural origins concerning the areas – fa-mily, school, individual and societal, religion, identity,leisure, eating habits, substance use and influencingfactors – as well as the youngsters’ opinions regardingthe reasons which determine substance use and alsopossible solutions for the problem.

Key words: Adolescents, ethnic minorities, lifesty-les.

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