Análise Psicossomática Da Anorexia a Partir Do Conceito de Objeto - Taynara

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Análise psicossomática da anorexia a partir do conceito de objeto ‘a’ em uma perspectiva Lacaniana Taynara Gomes do Vale RA: 209246233

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Análise psicossomática

da anorexia a partir do

conceito de objeto ‘a’

em uma perspectiva

Lacaniana

Taynara Gomes do Vale – RA: 209246233

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O ser humano em comparação com todas as espécies animais

existentes é considerado o mais frágil e o que requer mais cuidados, por

parte da mãe, para poder sobreviver aos primeiros anos de vida. O bebê

precisará de constantes cuidados e proteção. Um desses cuidados é

quanto à alimentação. A mãe ao tentar satisfazer a demanda do bebê

pelo alimento também estabelece uma troca de amor e de realização do

desejo da criança. Porém, conforme explicitado por Simão (2001):

Aconchegado no colo materno e levado ao seio para se alimentar,

mais que saciada a fome, ele [o bebê] experimentará um momento

pleno de satisfação que, a partir de então, tentará repetir

inúmeras vezes, contudo sem jamais consegui-lo. Aquele primeiro

momento único e irremediavelmente perdido e é denominado por

Freud de primeira experiência de satisfação (p.13).

Porém, em um certo momento da vida, de algumas pessoas, essa

busca pela satisfação através da alimentação é quebrada, surgindo,

então, a anorexia como oposição a tudo aquilo que o bebê tentou

conquistar desde o nascimento.

Cabe ressaltar que a anorexia, vista pelo senso comum, é um

distúrbio causado principalmente pela mídia, a qual exalta a valorização

do corpo a qualquer custo e faz com que inúmeras adolescentes deixem

de se alimentar para conseguir atingir a perfeição escultural que a

“sociedade” impõe.

A opinião popular muitas vezes simplifica e tenta obter respostas

objetivas e diretas para situações que são extremamente complexas,

multifatoriais e multideterminantes. Logo, esta pesquisa tentará

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compreender a anorexia como uma doença psicossomática de fundo

psíquico e social que causam graves conseqüências para a vida do sujeito.

Sendo assim o objetivo principal desse trabalho é relacionar a anorexia e

o desejo pelo nada, a partir de uma ideologia psicossomática, com base

na análise do discurso e levando-se em consideração os pressupostos de

Jacques Lacan. Tendo ainda como objetivos secundários apontar os

métodos utilizados pelas personagens do filme “Maus Hábitos” a fim de

proteger o seu desejo pelo nada e relacionar o desejo pelo nada como

objeto ‘a’ e as situações vivenciadas pelas personagens do filme “Maus

Hábitos”.

Referencial teórico

Partindo-se do princípio que a anorexia é uma doença

psicossomática, cabe fazer uma breve consideração sobre o tema a partir

do que Lacan apud Merlet (1987) comenta no capítulo VIII do

Seminário11

“Tudo que está no organismo como órgão se apresenta sempre

com uma grande multiplicidade de funções. (...) Essas funções

do olho não esgotam o caráter do órgão no que ele surge sobre

o divã, e que determina aquilo que todo órgão determina –

deveres” (p. 17).

Desta forma “(...) o organismo fica doente da linguagem e sofre,

pelo fato da quadriculação significante, um desperdício de gozo em

virtude de a atividade pulsional limitar o gozo aos órgãos enquanto zonas

erógenas” (Merlet, 1987 p.18).

Lacan apud Merlet (1987) em sua conferência de Genebra, em 1975:

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“explica essa fixação do gozo pela interferência de uma necessidade sobre o desejo,

isto é, de uma espécie de curto-circuito corpo-organismo no ponto de não-clivagem,

que explicaria essa fixação de gozo à qual se deixa levar o psicossomático para o

qual, portanto, todo órgão nem sempre determina deveres” (p.19).

Merlet (1987) assinala, ainda, que:

“Afetado pela linguagem, o corpo subtraído ao organismo,

sofre uma dupla perda por se verificar sexuado e mortal. O

órgão do corpo assim clivado do organismo pela atividade

pulsional fica subvertido pelo enxerto de um outro órgão

incorpóreo, a libido, cujos representantes não são outros senão

os objetos em torno dos quais a pulsão roda. Constitui-se,

portanto, um objeto impossível, que irá causar a divisão do

sujeito” (p.18).

A fim de esclarecer melhor o seu,

“ponto de vista clínico, Lacan distingue as reações

psicossomáticas, os fenômenos psicossomáticos e o

psicossomático. Qualquer pessoa, em qualquer ocasião, pode

ser afetada por um fenômeno que se denominará

psicossomático porque acarreta uma qualquer lesão

orgânica, e sua etiologia escapa ao saber médico” (Merlet,

1987 p.19).

Lacan situa, ainda, “os fenômenos psicossomáticos fora das

construções neuróticas, o narcisismo constituindo uma linha divisória. Ele

considera que esses fenômenos estão no limite de nossas elaborações

teóricas. Estão no nível do real” (Valas, 1987 p.78).

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A reação psicossomática seria o “modo de responder a uma situação

definida que exija um trabalho de simbolização, por exemplo, luto ou

separação”. Sendo que, “Por outro lado, certos indivíduos não têm outra

maneira de viver senão apresentando um modo de resposta permanente

ou surtos de tipo psicossomático” (Merlet, 1987 p.19).

De acordo com os pressupostos, apresentados acima, considera-se a

anorexia nervosa como um fenômeno psicossomático, assim como afirma

Wartel (1987)

“Notemos ainda que a anorexia mental – contrariamente à

nossa posição – pôde fornecer modelo ilustrativo de “psico-

somática”: a revolta, o malquerer acabam alterando os centros

e as glândulas endócrinas, a ponto de não ser mais possível o

retorno a um bem-querer, por não mais achar seu caminho”

(p.11).

Corrêa (2010) considera ainda que “existem conteúdos

inconscientes mobilizando a posição do sujeito que recusa alimentar-se

(ou ser alimentado), estando sempre insatisfeito com sua imagem

corporal e com seu peso” (p.15).

Cabe então definir o significado de Sintoma na concepção Lacaniana

o qual, de acordo com Miller (1987),

“trata-se de uma formação do inconsciente que tem estrutura

de linguagem, que supõe uma substituição, a qual chamamos de

metáfora, em linguagem retórica, e que, por ai, fica aberta ao

deslocamento retroativo por reformulação, e a uma

modificação pelo fato da emergência de efeitos de verdade”

(p.87).

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Valas (1987) comenta, ainda, que:

“as lesões psicossomáticas são traços escritos no corpo, não

porém da ordem dos signum1 e sim, antes, da signatura,

semelhantes a verdadeiros hieróglifos que ainda não podemos

ler. Seriam, portanto da ordem da escrita – que Lacan concebe

como “para-não-ler” – traços não inscritos, mas pré

significantes. Com efeito, (...) ele diz: ‘O corpo se deixa levar a

escrever qualquer coisa da ordem do número’. É questão,

portanto de um ciframento que não passa pela significação da

letra, pela subjetivação do desejo, mas que está do lado do

número, como uma contagem absoluta do gozo do que seriam

prova os fenômenos subjetivos” (p.84).

O sintoma anoréxico está constituído no binômio demanda e desejo

o qual é compreendido por Lacan apud Carvalho (2010) como

fundamental na constituição do sujeito:

“(...) o que é demandado pelo sujeito, ou seja, o dom do

amor, é oferecido pelo Outro sob o equivoco do objeto da

necessidade, o alimento, suprimindo o desejo do sujeito. Como

nos aponta Lacan (1960-1961/1992), há um ponto de

ambigüidade na demanda, pois ao mesmo tempo em que ela

pede para ser atendida, caímos numa armadilha quando a

atendemos a partir de um discurso concreto, visto que o que a

demanda traz do desejo inconsciente só sobrevive na não

1 Em seu Curso de linguística geral, Ferdinand de Saussure divide o signo linguístico em duas partes. Denomina de

significante a imagem acústica de um conceito e chama de significado o conceito em si. (...) Por outro lado, o signo faz parte

de um sistema de valores. O valor de um signo se mede por sua relação com todos os outros signos e resulta, negativamente,

da presença simultânea deles na língua, que é concebida como a totalidade sincrônica (ou seja, estrutural) de todos os signos

que nela se encontram. Diferentemente do valor, a significação se deduz da ligação que existe entre um significante e um

significado (Roudinesco & Plon, 1998 p.550 e 551).

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satisfação. Para Lacan, a demanda não é passível de ser

compreendida e respondida de forma direta, já que o que ela

comporta está além e aquém dela mesma, ou seja, o desejo”

(p.31).

O Outro para Lacan tem uma influência primordial no aparecimento

da demanda do sujeito, já que isto “só é possível a partir da entrada do

Outro como sendo o campo dos significantes, introduzindo o sujeito no

mundo simbólico de maneira irreversível, marcando o sujeito com a

linguagem e possibilitando sua passagem do campo da necessidade para

o mundo simbólico. Nesse sentido, o sujeito encontra-se alienando no

campo do Outro” (Carvalho, 2010 p.31).

Lacan em “Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise (1979)”

apud Chaves (2001 p. 82) diz que “As reações psicossomáticas estão no

nível do real” e “O que foi rejeitado do simbólico volta no real sob a

forma de uma lesão de órgão”. Para melhor esclarecer a afirmação acima,

apresenta-se a definição dos três registros que estruturam o

funcionamento humano:

Real:

“O real, do ponto de vista da psicanálise, é um conceito (um

significante) que produz uma significação diferente daquela que

se refere à realidade2. O campo real é o campo da coisa (“Das

Ding”), daquilo que não é nomeável (o inominável), daquilo que

escapa à simbolização, isto é, a uma representação que escapa

2 Real não significa a mesma coisa que realidade. A realidade precisa de cada um desses três campos para existir; o real

não precisa de nenhum desses campos, pois ele basta a si mesmo. (...) O que faz com que a realidade percebida pelas pessoas

tenha um ponto de referência comum, ou seja, um consenso de objetividade concreta e universal, se podemos dizer assim, é a

função do laço que o imaginário e o simbólico tem com o real (Chaves, 2001 p.26)

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do campo do simbólico. (...) O real é o registro daquilo que é por

si mesmo e que escapa à subjetividade humana. Portanto,

escapa ao desejo de o ser humano ter domínio sobre si mesmo.

O real é que domina completamente o ser humano. Dizemos que

a morte é o alcance máximo do real. (...) Os automatismos de

repetição, por coerência teórica, também fazem parte do campo

do real. (...) As pulsões (instintos) são, também, exemplos

simples e palpáveis dessa dimensão do real. (...) O real existe

fora da linguagem, portanto, fora do simbólico. Existe significa

que ele insiste o tempo todo do lado de fora da linguagem. Ele

pressiona fora do campo do simbólico, escapando a qualquer

tentativa de uma simbolização completa. Do real, só podemos

falar, bordejá-lo com palavras, tentar apreendê-lo no nível das

idéias. Contudo, ele sempre escorrega, escapa, insiste em não se

inscrever (ou escrever)” (Chaves, 2001 p.26 e 27).

Imaginário:

“Como a própria palavra diz, o imaginário é feito de imagens,

de fantasias, de crenças, de sentimentos. Numa visão clara e

simples, podemos dizer que, algum tempo após o nascimento,

toda imagem de objeto ou coisa que é captada pelo bebê por

meio do olhar será inscrita e registrada como imagem,

formando, assim, o campo do imaginário. (...) o campo do

imaginário vai se constituindo a partir da maneira como o ser

humano vê o mundo a sua volta, a partir da imagem que tem de

si mesmo, dos próprios sentimentos e de sua história. Estão

presentes, ao mesmo tempo, a projeção da imagem de si

mesmo e a introjeção da imagem do outro como sendo a

imagem de si mesmo. Há um entrelaçamento do imaginário e

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do simbólico, este se fazendo funcionar pela presença da falta

do outro” (Chaves, 2001 p. 28 a 30).

Cabe ressaltar que o imaginário está relacionado à fase do espelho a

qual corresponde:

“A primeira constituição, ou estruturação desse imaginário” se

dá “(...) por volta dos seis meses de idade, quando há pela

primeira vez uma apreensão total da imagem desse outro-si

mesmo. Por isso, ele é contemporâneo à formação do

narcisismo, ou seja, inicia-se, ao mesmo tempo, a formação do

Eu, do Eu ideal e do ideal do Eu. (...) Daí o imaginário ser da

ordem do engano e da fraude. O simbólico está ai como função

de falta, e o imaginário está ai como função de engano, pois o

outro que está lá no espelho não é o outro separado de si

mesmo, mas a projeção da própria imagem num outro que falta

lá” (Chaves, 2001 p.28 e 29).

Simbólico:

“É o campo da linguagem, escrita e falada. Campo do

símbolo. Dizendo de maneira clara e simples, todos os sons,

ruídos, palavras e conceitos que entra pelo ouvido da criança,

desde pequena, vão se constituir e se estruturar como campo de

linguagem. Campo, dimensão ou registro do simbólico. Letras,

sílabas, palavras, fonemas, números, signos, ícones etc. se

constituem em significantes presentes na cadeia associativa,

cujo efeito de significação (ou sentido, ou significado, ou saber)

só aparecerá em razão das ligações contingenciais entre uma

palavra e outra. Quer dizer, é na contingência ou no

entrechoque da proximidade da palavra (significante) com outra

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(outro significante) que o sujeito do inconsciente, portando a

verdade do seu desejo, se revelará no exercício da fala, discurso

do sujeito, emergindo de outra cena, antes oculta ou

imperceptível para o indivíduo” (Chaves, 2001 p.30)

Uma vez definido os três registros que estruturam o funcionamento

humano, cabe, então, situar o movimento dialético da sua estrutura

binária.

“Do lado do Real, nós temos o que é da ordem da necessidade

e, consequentemente, pelo seu par oposto, o que é da ordem da

privação. (...) Do lado do Imaginário, temos a demanda e,

consequentemente, pelo seu par oposto, o que é da ordem da

frustação. (...) Do lado do Simbólico, temos o que é da ordem do

Desejo e, consequentemente, pelo seu par oposto, o que é do

registro da castração” (Chaves, 2001 p. 34 e 35).

Outros dois termos básicos que ajudarão entender a concepção da

anorexia são a alienação e a separação, os quais, de acordo com Valas

(1987, p.81), têm-se a seguinte definição:

“A Alienação. A inscrição do sujeito em instância no lugar do

Outro por invocação do significante não deixa de admitir sua

afânise, isto é, seu apagamento, sua divisão da qual se constitui,

pela queda do significante, o sujeito do inconsciente”.

“A separação. É a operação pela qual o sujeito se libera do

efeito afanísico do discurso do Outro, excluindo-se da cadeia

significante pelo acionamento de seu ser de sujeito sob a forma

de objeto a. A separação é modo de resposta do sujeito ao

desejo do Outro, com a qual ele tem relações nas suas faltas,

para se constituir como ser desejante”.

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Ressaltando, ainda o termo afânise, o teórico Miller (1987 p.92)

define-o da seguinte maneira: “separação do corpo e do gozo, princípio a

que se pode chamar sua evacuação, seu esvaziamento o fato deste gozo

estar reservado a certas zonas do corpo, ditas erógenas”.

Como um dos objetivos deste trabalho é relacionar o desejo pelo nada

com o objeto ‘a’, segue abaixo a definição proposta por Chaves (2001)

sobre esses dois campos da pesquisa.

O objeto a

“escapa ao campo imaginário, remetendo radicalmente à

falta no Outro, ponto no qual nada aparece no espelho, pois o

objeto a carece de imagem especular. O Ego se limita a vestir

esse nada que é o lugar do objeto perdido. Segundo

Rabinovich3, ‘Entre o a e o e o desejo existe uma relação de

causa, de provocação: o objeto a está no antes do desejo, não

em sua satisfação, não em seu objeto-fim, não é a sua meta. O

objeto a desperta o desejo e, enquanto objeto metonímico que

circula entre os significantes, escapa a toda captura... Para advir

como causa ele deve constituir-se. É um objeto produto, resto,

desfecho de uma operação: a do surgimento do sujeito pela

ação do sistema significante. Não se trata de um objeto natural,

dado, mas de um objeto-efeito da ordem simbólica’”.

“Na topologia dos três registros, pode-se situar o lugar desse

objeto a no centro do nó, esse espaço central da confluência dos

três círculos fazendo laço e formando e estrutura (...)”,

conforme ilustrado na figura 1, abaixo. “Pode-se pensar

3 Rabinovich D.S. El Psicoanalista entre El Amo y El Pedagogo. Capítulo xerocado de um livro. Sem referências.

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este a no centro representando o objeto causando o desejo e

mantendo a estrutura funcionando. Sempre a falta remetendo

ao desejo e o desejo remetendo a outra falta” (Chaves, 2001

p.43).

Segundo Lacan, será o objeto “a” que fará o sujeito ter a falta e identificar-se

com ela, fundamentando, assim, o conceito de desejo na teoria lacaniana. O desejo

do nada na anorexia é perpassado por essa questão, afinal, querer nada implica que

se quer algo, que se deseja.

Figura 1

Metodologia

Corpus

Este trabalho irá utilizar o filme “Maus Hábitos” (2007) a fim de

obter os dados empíricos necessários para a realização da presente

pesquisa.

A escolha deste material se deu a partir de pesquisa via rede

mundial de computadores, por meio de site de pesquisa, o qual apontou

o referido filme como o mais especifico sobre o fenômeno psicossomático

da anorexia.

O filme conta a história de “Matilde (Ximena Ayala), uma jovem

freira que inicia um jejum místico para impedir uma inundação, que

acredita estar por vir. Elena (Elenia de Haro) é uma mulher linda e magra,

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que tem vergonha do peso de sua filha, Linda (Elisa Vicedo), e pretende

fazer de tudo para que ela emagreça até sua 1ª comunhão. Ao mesmo

tempo o pai de Linda, Gustavo (Marco Antonio Treviño), redescobre o

amor nos braços de uma estudante chamada Gordinha (Milagros Vidal),

que também é apaixonada por comida”.

A análise do filme se dará com as personagens: Matilde e Elena,

uma vez que estas retratam a anorexia como um fenômeno

psicossomático, pois ambas se recusam a comer a fim de obter a

satisfação dos seus desejos.

A análise do discurso francesa é o método utilizado para se colher os

dados necessários para a realização da pesquisa. Este método, segundo

Orlandi (2001)

“têm a noção de funcionamento central, levando o

analista a compreendê-lo pela observação dos processos

e mecanismos de constituição de sentidos e de sujeitos,

lançando mão da paráfrase e da metáfora como

elementos que permitem um certo grau de

operacionalização dos conceitos (p. 77)”

A análise de dados terá como embasamento teórico, os seguintes

conceitos:

A posição do sujeito de acordo com Orlandi (2001) “é ao mesmo

tempo livre e submisso. Ele é capaz de uma liberdade sem limites e uma

submissão sem falhas: pode tudo dizer, contanto que se submeta à língua

para sabê-la. Essa é a base do que chamamos assujeitamento (p.50)”.

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O recorte (Orlandi apud Laureano, 2008) que se define como:

“uma unidade discursiva: fragmento correlacionado de

linguagem – e – situação (...) A idéia de recorte remete a

noção de polissemia e não à informação. Os recortes

são feitos na (e pela) situação de interlocução, aí

compreendido um espaço menos imediato, mas também

de interlocução, que é o da ideologia” (sic) (p.44).

O interdiscurso ‘compreende a memória que antecede o dizer do

sujeito, o pré construído que atravessa todo discurso’ (Laureano, 2008

p.72). E ainda, segundo Orlandi (2001) “O interdiscurso é todo o conjunto

de formulações feitas e já esquecidas que determinam o que dizemos

(p.33)”.

Segundo M. Pêcheux (1975) apud Orlandi,

“podemos distinguir duas formas de esquecimento no

discurso. O esquecimento número dois, que é da ordem

da enunciação: ao falarmos, o fazermos de uma

maneira e não de outra, e, ao longo do nosso dizer,

formam-se famílias parafrásticas que indicam que o

dizer sempre podia ser outro. (...) O outro esquecimento

é o esquecimento número um, também chamado

esquecimento ideológico: ele é da instância do

inconsciente e resulta do modo pelo qual somos

afetados pela ideologia” (p.34 e 35) (grifo meu).

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“A formação discursiva se define como aquilo que numa formação

ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma

conjuntura sócio-histórica dada – determina o que pode ou não ser dito

(Orlandi, 2001 p. 43)”. Assim, a partir da eleição de recortes e

mapeamento das posições sujeito e formações discursivas, buscaremos

entender de que modo o desejo pelo nada se apresenta na construção

das personagens do filme que propomos analisar.

Cronograma de execução

O trabalho será realizado no período de 12 (doze) meses, com início

previsto em Junho de 2011 até Maio 2012. Segue abaixo, a tabela

ilustrativa das fases em que serão realizadas cada momento da pesquisa e

o respectivo mês para a sua realização.

Fases Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai

Pesquisa

bibliográfica

X X X X

Coleta de

dados

X X

Transcrição

de dados

X

Eleição de

recortes

X

Análise dos

recortes

X X X

Produção

de relatório

X X

Apresentação

em congresso

X

Publicação de

artigo

X

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Custos

Esta pesquisa terá o seu valor custeado no total de R$ 164,00. Os quais

serão distribuídos da seguinte maneira:

a) aluguel do filme “Maus Hábitos”: mínimo de 3 locações no valor

unitário de R$: 6,00 reais o dia, totalizando R$ 18,00.

b) Compra de livros, que totaliza R$ 146,00:

- Psicossomática e psicanálise (Roger Wartel e contribuidores) no valor

de R$ 27,00.

- Psicossomática teoria e prática (Geraldo e Caldeira e contribuidores)

no valor de R$ 96,00.

- Análise do discurso (Eni Orlandi) no valor de R$ 23,00.

Posteriormente estes livros serão doados a uma biblioteca pública para a

consulta da população local.

Referências bibliográficas

Carvalho, R.C. (2010). O estatuto do desejo na anorexia. Uma leitura

psicanalítica.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

Pontifícia

Universidade Católica. Minas Gerais – MG.

Chaves, M. E. (2001). O fenômeno psicossomático à luz da psicanálise. Em

Caldeira, G.

e Martins, J. D. (Org.), Psicossomática Teoria e Prática (2ª ed.) (pp. 82). Rio de

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Chaves, M. E. (2001). O real, o simbólico e o imaginário. Em Caldeira, G. e

Martins, J.

D. (Org.), Psicossomática Teoria e Prática (2ª ed.) (pp. 26 a 30; 34, 35 e 43).

Rio de

Janeiro/RJ: Editora Médica e Científica ltda.

Laureano, M. M. M. (2008). A interpretação (revelar e esconder sentidos):

articulações

entre análise do discurso e psicanálise lacaniana. Tese de doutorado

apresentada à

Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de

São Paulo,

SP.

Merlet, A. (1987). Todo órgão determina deveres. Em Wartel R. (Org.),

Psicossomática e

psicanálise. (pp. 17 a 19). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Miller, J. A. (1987). Algumas reflexões sobre o fenômeno psicossomático. Em

Wartel R.

(Org.), Psicossomática e psicanálise. (pp. 82). Rio de Janeiro: Jorge Zahar

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Orlandi, E. P. (2001). Análise de discurso (3ª edição). Campinas, SP: Pontes.

Simão, Y.D. (2001). A construção do corpo e seus destinos. Uma visão

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Rio de Janeiro/RJ: Editora Médica e Científica ltda.

Roudinesco, Elisabeth e Plon, Michel (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de

Janeiro/RJ: Editora Jorge Zahar Editor.

Valas, P. (1987). Horizontes da Psicossomática. Em Wartel R. (Org.),

Psicossomática e

psicanálise. (pp. 78, 81 e 84). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Wartel, R. (1987). Que esperam de nós médicos? Em Wartel R. (Org.),

Psicossomática e

psicanálise. (pp. 11). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Sinopse do filme “Maus Hábitos” retirado dia 20/03/2011, do sitio eletrônico:

http://www.adorocinema.com/filmes/maus-habitos/

Figura 1 sobre a representação do objeto a, retirado dia 24/03/2011, do sitio

eletrônico:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S2072-

06962002000100011&script=sci_arttext

ok! Só faça as pouquíssimas correções e tá prontinho! Parabéns!