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Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 994
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DOS CLIENTES DO AGROAMIGO NA
CIDADE DO CRATO-CE.
Iran Pinheiro Teles Filho1
Pedro Jose Rebouças Filho2
RESUMO
O presente trabalho aborda o programa de microcrédito rural Agroamigo operacional pelo
Banco do Nordeste do Brasil (BNB), como alternativa de geração e elevação de renda e
melhorias socioeconômicas dos participantes. O trabalho apresenta revisão de literatura
sobre microfinanças e microcrédito além de fazer demonstração da teoria econômica de
Kalecki e Schumpeter relacionando o crédito como fator motivador e responsável pela
evolução, manutenção e desenvolvimento de atividades empreendedoras na zona rural. A
pesquisa de campo foi realizada na cidade do Crato Ceará, através da coleta de dados na
amostra definida conforme metodologia aplicada em questionário objetivo e qualitativo
que foi tabulado com auxilio da estatística descritiva. A avaliação dos resultados aponta
que houve uma elevação nos rendimentos dos participantes, e que este aumento está
representado pela metade da amostra definida na pesquisa. Ainda foi verificado que esta
evolução não foi convertida totalmente em melhorias socioeconômicas para a maioria dos
clientes entrevistados na pesquisa.
PALAVRAS CHAVES: microcrédito, renda, Agroamigo.
1 INTRODUÇÃO
Na visão de dois importantes teóricos do pensamento econômico recente
(Schumpeter e Kalecki), é demonstrada a relação entre crédito bancário como fator
incentivador na geração e manutenção de investimentos em setores produtivos da
economia.
Nesta pesquisa será abordada a forma de atuação do microcrédito produtivo e
orientado, na zona rural como alternativa para a geração de emprego, renda e
fortalecimento da renda familiar no meio rural. Com destaque para o Agroamigo do
Banco do Nordeste do Brasil.
1 Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri URCA, Crato-Ce Brasil,
2 Prof. Mestre do departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri URCA, Crato-
Ce/Brasil, [email protected]
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O microcrédito está inserido no contexto das microfinanças, sendo considerado
um dos produtos oferecidos aos beneficiários das microfinanças. O microcrédito é
definido como uma iniciativa desenvolvida principalmente por bancos, sem o caráter
assistencialista e utilizando uma metodologia própria, baseada na concessão de pequenos
financiamentos com juros reduzidos e destinados a pequenos empreendedores sem acesso
a linhas tradicionais de crédito.
Este trabalho foi realizado com clientes do Programa Agroamigo na cidade do
Crato-Ce. Sendo o objeto de estudo da pesquisa: constatar se o microcrédito rural pode
ser apontado como ferramenta de geração de renda, e se esta renda esta sendo revertida
para melhorias nas condições de habitação, nutricionais e sanitárias do cliente e seus
familiares. O ponto de partida da pesquisa é o questionamento: a utilização do
microcrédito rural é responsável pela elevação na renda do participante?
Atualmente na literatura existem poucas publicações, estudos e pesquisas
acadêmicas sobre o Programa Agroamigo. Logo é esperado que este trabalho contribua
para a realização de debates e discussões sobre a temática.
2 METODOLOGIA
A área de estudo escolhida para a realização da pesquisa é a cidade do Crato-Ce.
Este município se encontra localizado na região metropolitana do Cariri no Sul do Estado
do Ceará.
A pesquisa trata-se de um estudo de campo com abordagem qualitativa para a
coleta de informações socioecômicas dos clientes do Agroamigo no Crato-Ce.
O procedimento utilizado foi à realização de uma pesquisa de campo, mediante
a aplicação de um questionário objetivo contendo quinze perguntas. Com uma amostra
definida para obtenção de dados primários. O questionário inicialmente aborda questões
referentes ao perfil social, e em seguida questões relacionadas aos rendimentos e sua
utilização pelos clientes do Agroamigo.
O público alvo do trabalho são homens e mulheres participantes do programa de
microcrédito produtivo e orientado rural do Banco do Nordeste do Brasil, o Agroamigo.
Com um universo de 2120 clientes ativos na cidade do Crato-Ce, considerando a posição
de fevereiro de 2015. Baseado neste universo e aplicando a metodologia estatística tem-
se a determinação da amostra, que para esta pesquisa representa 241 questionários. Os
dados desta pesquisa foram tratados considerando uma margem de erro de 5%, o nível de
confiança em 90% da pesquisa, está foi realizado entre os dias 20 e 27 de abril de 2015.
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Os questionários da amostra foram aplicados na cidade do Crato-Ce no período acima
descrito, aleatoriamente entre os clientes do Programa Agroamigo do Banco do Nordeste
do Brasil.
Os dados obtidos na pesquisa foram tratados e analisados, baseados em conceitos
da estatística descritiva, e a amostragem realizada na pesquisa foi escolhida de forma
aleatória na qual cada elemento do universo tinha a mesma chance de ser escolhido.
HOFFMANN, 2006.
3 TEORIA ECONÔMICA COM RELAÇÃO AO CRÉDITO
Esta etapa do trabalho propõe inicialmente fazer uma abordagem teórica sobre
alguns conceitos da Escola Fisiocrata, enfatizando a importância da agricultura para a
economia. Em seguida serão apresentadas as teorias de Kalecki e Schumpeter sobre a
relevância do crédito para os investimentos produtivos. Ressaltando o papel
desempenhado pelo o crédito bancário no financiamento deste setor da economia.
Os Fisiocratas são considerados uma escola da Teoria Econômica, originada na
França no século XVIII, eles afirmavam e defendiam que a riqueza de uma nação
dependia mais da produção e que o ganho produtivo vinha exclusivamente da agricultura
e não de outros setores da economia. Ainda conforme esta teoria o valor dos produtos
agrícolas era maior do que o valor dos insumos, por isso era capaz de gerar excedentes de
produção.
Para os fisiocratas, a riqueza consistia em bens produzidos com a ajuda
da natureza, em atividades econômicas como a lavoura, pesca e a
mineração. Portanto, encorajava-se a agricultura. [...] Em um mundo
constantemente ameaçado pela falta de alimentos, com excesso de
regulamentação e intervenção governamental, [...] só a terra tinha
capacidade de multiplicar a riqueza. (VASCOCELLOS e GARCIA,
2009, p.16).
Para Souza (1999), as propostas dos Fisiocratas se baseavam em torno da
produção da agricultura, modernização do setor e o aumento de sua produção, vendas e
receitas. Afirmavam também que o aumento do excedente agrícola teria o efeito de
realimentar toda a economia.
A terra produz valor por sua fertilidade seguindo leis físicas, ou uma
ordem natural e providencial desejada por Deus para o bem da
humanidade. A produtividade natural da terra poderia contribuir ainda
mais com desenvolvimento, ao proporcionar maior crescimento da
agricultura. (SOUZA, 1999, p.91-92).
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Segundo Souza (1999), as atividades agropecuárias mais produtivas não se
desenvolviam naturalmente, seria necessária a criação de condições para aumentar os
investimentos na atividade agrícola. Ainda conforme Souza (1999) em suma os
Fisiocratas propunham que o aumento dos investimentos na agricultura eleva a
produtividade agrícola. Assim como também a redução da carga tributária deste setor
evitaria uma elevação de preços destes produtos, mantendo os níveis de demanda e
estimulando a agropecuária e a economia.
O polonês Michael Kalecki escreveu em suas principais obras sobre a dinâmica
das economias capitalistas, trazendo uma abordagem dos problemas relacionados à
produção e a comercialização de mercadorias especifica, assim como conceitos acerca do
financiamento do setor produtivo da economia. Algumas de suas principais obras foram
publicadas em 1933, Esboço de Teoria do Ciclo Econômico, mais adiante em 1943
publicou Estudos da Dinâmica Econômica, e no ano de 1954 publicou uma versão mais
completa de suas ideias com a Teoria da Dinâmica Econômica.
Para Souza (1999, p. 165), segundo a teoria de Kalecki o nível de investimento
do setor empresarial depende dos recursos próprios, nível de lucros e variação do estoque
de capital fixo. Porém para ele a quantidade de investimentos realizados em um
determinado período pode ser superior ao volume de recursos próprios, se os empresários
utilizarem créditos de fontes internas e externas.
Dado certo nível de consumo constante o capitalista investirá o restante
do seu lucro corrente para obter lucros ainda maiores no período
seguinte. O capitalista decide quanto irá consumir e investir [...].
Desejando um volume maior de investimento, ele recorre a fundos
próprios acumulados ou ao crédito bancário. (SOUZA, 1999, p.166).
Ainda conforme (SANTOS 1999, p. 166), se os investimentos forem financiados
pelo o crédito bancário, ou reservas das próprias empresas acumuladas no passado,
poderão criar uma contrapartida de renda. Sendo que está renda será convertida em
poupança, para pagar os empréstimos contraídos além de realizar novos investimentos.
Para Kalecki a variável estratégica na explicação do nível da atividade econômica, é o
investimento que através do seu efeito multiplicador determina o volume geral dos gastos,
ou seja, a demanda efetiva.
Para Kalecki, portanto a poupança prévia não é uma restrição à
realização dos investimentos produtivos, mas a existência de crédito.
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“Para o volume de investimentos não há limites financeiros no sentido
formal.” (KALECKI, 1977, p. 143, apud SOUZA, 1999, p. 166).
Em conclusão a analise da Teoria Kaleckiana apresenta que o crédito bancário
se torna um elemento indispensável ao crescimento da economia, e este crédito deve ser
concedido de forma racional e criteriosa aos empresários do sistema produtivo.
Conforme (SOUZA 1999, p.175-176) para Schumpeter o desenvolvimento
econômico é definido como uma mudança espontânea e descontinua no fluxo circular,
uma alteração definitiva do equilíbrio já existente anteriormente. Este fluxo circular
constitui uma economia em desenvolvimento, na qual as relações entre as variáveis
ocorrem de forma equilibrada, neste caso a demanda sempre é determinada pela expansão
demográfica.
Ainda de acordo com Souza (1999), neste modelo de economia não havia
investimento além do necessário para manter o crescimento econômico acompanhando a
evolução na quantidade de consumidores. Para Schumpeter o desenvolvimento
econômico pode ser considerado uma mudança espontânea no fluxo circular e esta
alteração é chamada de destruição criadora. Introduzindo novas combinações de meios
produtivos, com ênfase ao fator inovação tecnológica de processos produtivos lançados
no mercado.
Em meio a este processo o papel do empresário inovador esta representado por
aquele homem que está disposto a ousar, para adotar as inovações tecnológicas no setor
produtivo. Logo sua função é adotar as novas combinações.
O empresário é quem adota novas combinações produtivas. Na verdade,
o empresário é definido por sua função, a de pôr em prática inovações,
podendo acumular outras funções econômicas enquanto individuo.
(POSSAS, 1987, p. 175, apud SOUZA, 1999, p.178).
O banqueiro é o intermediário entre o empresário e os proprietários dos
meios de produção, isto é, os capitalistas. O banqueiro amplia os meios
de pagamento ao criar crédito, [...] fornece poder de compra ao
empresário e torna possível a realização de novas combinações.
(SOUZA, 1999, p. 179).
Outro ponto que merece destaque na teoria de desenvolvimento na visão
Schumpeteriana, conforme Souza (1999). O crédito bancário é gerado através da criação
de moeda escritural, constituída pela poupança depositada nos bancos e pelo afluxo de
dinheiro do exterior. Logo os bancos emprestam para os tomadores e empresários, em
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função da pontualidade de reembolso, que depende da capacidade empresarial do
investimento gerar um retorno financeiro, assim como também das garantias que o
empresário possa oferecer. Neste contexto para Souza (1999), os empresários deverão ser
capazes de retirar do fluxo circular elementos para reprodução do período seguinte, e os
novos créditos serão oferecidos para novos processos de produção, fabricação de novos
produtos, abertura de novos mercados, ou seja, adoção de novidades no processo de
produção.
Ninguém além do empreendedor necessita de crédito. Ele precisa de
crédito para se tornar empreendedor com isso é o devedor típico da
sociedade capitalista. O empresário cavalga sobre as dividas em direção
ao sucesso. Ao conceder crédito, o banqueiro constitui um fenômeno
do desenvolvimento, porque permite a realização de novas
combinações. (SCHUMPETER, 1982, p. 53 e 71, apud SOUZA, 1999,
p. 180 e 182).
Na analise da economia Schumpeteriana, o mercado monetário exerce a função
de fornecer crédito para o desenvolvimento, ressaltando que sua teoria enfatiza
fundamentalmente o lado da oferta, por coseguinte os consumidores exercem papel
secundário.
4 MICROCRÉDITO
Na área das microfinanças está inserido o microcrédito, que oferece pequenos
empréstimos a empreendedores informais para a aplicação em atividades produtivas da
economia. Apresentando como grande diferencial o seu aspecto social, gerando
incentivos para que o cliente desenvolva as atividades produtivas, fazendo com que o
mesmo tenha capacidade de aumentar sua renda e pagar os empréstimos.
Conforme Barbosa, Teixeira e Damasceno (2012), o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), em seu manual de princípios e práticas regulamentares, define
o microcrédito como pequeno crédito concedido em larga escala por uma entidade
financeira, a micro e pequenos empreendedores localizados principalmente no setor
informal da economia, e que possuem sua principal fonte de renda através do
desenvolvimento de suas vendas ou realização de atividades empresariais nos segmentos
de serviços e produção de bens.
Conforme Santos e Gois (2011), são enfatizadas as principais diferenças
existentes entre microfinanças e microcrédito. Ressaltando que esta diferenciação busca
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fazer uma separação entre o crédito oferecido sem destinação específica, incluindo
também a parcela de crédito para o consumo, sendo que do outro lado existem as
modalidades de créditos destinados ao financiamento de negócios produtivos com
potencial de geração de renda e trabalho. Segundo esses dois autores o termo
microfinanças refere-se a prestação de serviço financeiro para a população de baixa renda,
historicamente excluída do sistema financeiro tradicional. A atividade de microcrédito é
definida por aquela que está inserida no contexto de microfinanças e se dedica
exclusivamente a prestação de serviços financeiros para empreendimentos produtivos de
pequeno porte. Apresentando como principal diferença a utilização de uma metodologia
especifica. O microcrédito pode ser apontado como uma atividade do setor de
microfianças, pelo o impacto social gerado assim como também pelas políticas publicas
de superação da pobreza e geração de trabalho e renda.
Para Monzoni (2006) é abordado o conceito de microfinanças como sendo o
conjunto de serviços financeiros incluindo poupança, empréstimos e seguros, prestados
por instituições financeiras ou não, para pessoas de baixa renda ou pequenos
empreendimentos, excluídos ou com acesso restrito ao sistema bancário tradicional.
Enquanto que neste contexto Monzoni, ressalta que o microcrédito é apenas um dos
serviços prestados pela instituição de microfinanças.
Na sequência é apresentado por (SANTOS e GOIS, 2011, p. 24) uma definição
resumida destes conceitos; microfinanças engloba todos os serviços financeiros créditos,
poupança, seguros e penhor, direcionados a população de baixa renda. Para eles
microcrédito são todos os serviços de credito voltados para microempreendedores e não
financia o consumo. O microcrédito produtivo trata dos serviços de credito voltados às
micro e pequenas atividades produtivas. Por fim tem o microcrédito produtivo e orientado
como um serviço de crédito e orientação empresarial direcionado aos empreendimentos
produtivos, com o uso de metodologia baseada na ação de agentes de créditos, garantias
solidárias, prazos curtos e valores crescentes. Os autores também destacam outra
particularidade presente na personalização dos serviços através da atuação agentes de
créditos, que incluem visitas periódicas aos empreendimentos.
Também podemos citar uma iniciativa do governo federal que instituiu através
da lei nº 11.110, de 25 abril de 2005. O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e
Orientado (PNMPO), que define o microcrédito produtivo e orientado como sendo; o
crédito concedido para o atendimento das necessidades financeiras de pessoas físicas e
jurídicas empreendedoras de atividades produtivas de pequeno porte utilizando
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metodologia baseada no relacionamento direto com os empreendedores no local onde é
executada a atividade econômica.
O atendimento ao empreendedor deve ser feito por pessoas treinadas
para efetuar o levantamento socioeconômico e prestar orientação. O
contato com o empreendedor deve ser mantido durante o período do
contrato de credito, visando o melhor aproveitamento e aplicação. O
valor e as condições do crédito devem ser definidos após a avaliação da
atividade e capacidade de endividamento do tomador final dos recursos.
(MONZONI, 2006, p.25-26).
A primeira experiência com microcrédito para o setor informal urbano ocorreu
em Recife e Salvador. Em 1973, através da participação de entidades privadas e bancos
de Pernambuco e Bahia, foi criada a União Nordestina de Assistência a pequenas
Organizações que ficou conhecido como programa Uno. Conforme os autores Santos e
Gois (2011), a Uno era uma associação civil sem fins lucrativos, que realizou a
capacitação dos clientes em temas gerenciais, além da liberação de créditos individuais,
com a garantia de aval solidário. Outra característica da Uno foi à profissionalização dos
seus colaboradores. Financiou milhares de empreendimentos em Pernambuco e Bahia e
formou vários profissionais especialistas em crédito para o setor informal.
No Brasil o microcrédito demorou a se fortalecer devido algumas razões
existentes; as altas taxas de inflação, a tradição de crédito governamental subsidiado a
programas sociais e uma legislação estrita a qual dificultava ações de concorrência entre
as instituições financeiras.
Ainda de acordo com Barbosa, Teixeira e Damasceno (2012), podemos citar
outras experiências com microcrédito no Brasil. Em 1986 foi criado o Banco de
Microcrédito, no Paraná. E o Promicro, no Distrito Federal, em 1987 foi trazido para o
Brasil à experiência e metodologia de utilização dos grupos solidários e aval solidário.
Na década de 1990 inicia o processo de expansão das microfinanças no Brasil,
impulsionado pela estabilização monetária ocorrida com o Plano Real contribuindo para
aumento na demanda por microcrédito. Nesta década houve um acordo bilateral entre o
governo alemão e o governo do Ceará para a criação de uma ação publica de microcrédito
produtivo e orientado, denominado Prorenda-Ce.
Ainda no ano de 1994 foi criado pelo conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao trabalhador (CODEFAT), o Programa de Geração de Emprego e Renda
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(PROGER), que tinha como objetivo principal conceder crédito e oferecer capacitação e
acompanhamento técnico para os empreendimentos formais e informais.
No ano de 1995 foi criado o sistema Cresol, para atender exclusivamente
agricultores familiares da região Sul do Brasil, sua área de atendimento era composta por
220 municípios nos três estados da Região Sul. Os objetivos do Cresol eram
fortalecimento e o estimulo de atividades da agricultura familiar.
Para Barbosa, Teixeira e Damasceno (2012), destaca outra experiência com o
microcrédito que foi criado em 1996, o VivaCred, na favela da Rocinha no Rio de Janeiro.
Cujo objetivo era oferecer financiamentos a micro e pequenos empresários da região.
Neste mesmo ano o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
entrou neste mercado para criar o Programa de Crédito Produtivo, com o objetivo de
disponibilizar linhas de crédito baratas de longo para as instituições de microcrédito.
Conforme destaca Monzoni (2006), em seu trabalho o modelo mais exitoso e
que serve de inspiração para outras iniciativas neste setor, foi o caso desenvolvido no
Grameen Bank em Bangladesh. Idealizado pelo professor Muhanmad Yunnus na década
de 1970, que instituiu um banco popular para realizar empréstimos de baixo valor às
pessoas carentes. Essa experiência proporcionou que outras instituições ao redor do
mundo desenvolvessem também programas de microcrédito, o autor ainda cita outros
exemplos na Ásia, América Latina e África.
Em Monzoni (2006), são apresentadas experiências com microcrédito na Bolívia
através do Banco Sol, no Peru com o destaque da instituição de microfinanças, Banco Del
Tralajo. Outra instituição que possui uma rede de agências em todo o país é a Caja
Municipal de Ahorro y Credito. Na Colômbia existem quatro Organizações não
governamentais (ONGs) com atendimento ao mercado de microfinanças. Enquanto que
no Equador duas instituições se destacam, o Banco Solidário e o Cred Fé. Por fim é
apresentado o exemplo do México com programas voltados a agricultura e artesanato.
Representados pela Caja Popular Mexicana com mais de 50 anos de história e a
Copartamos uma ONG fundada em 1990.
Ainda conforme Monzoni (2006), também existem outras experiências com o
microcrédito em países da América Central e no Caribe, como é o caso da Nicarágua,
República Dominicana, Guatemala, El Salvador e Honduras. Todos com altos índices de
penetração de mercado e atuação de várias instituições de microfinanças. Neste contexto
internacional as microfinanças estão presentes na Ásia, no Sul e Sudeste principalmente
em Bangladesh. Na Índia e Indonésia possuem juntas 12 milhões de clientes ativos.
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Em Monzoni (2006), são apresentadas algumas características dos padrões
regionais bem marcantes. Na Ásia atendeu populações de extrema pobreza localizadas
predominante na zona rural. Já no Sul e Sudeste da Ásia principalmente em Bangaldesh
na Índia e Indonésia são realizadas as maiores operações de crédito deste setor. Por último
o Leste Europeu apresenta como singularidade a presença de uma instituição bancária
forte com valores médios de empréstimos altos.
Para Neri (2008), o Grameen Bank ajudou a revelar importantes contribuições
para o campo das microfinanças, como foi o caso dos empréstimos solidários, seleção dos
melhores clientes, liberação de valores com base na sazonalidade das atividades e
empreendimentos dos clientes. Ainda no seu trabalho Neri (2008), elenca iniciativas
pioneiras com microcrédito na América Latina, como foi o caso do Banco Sol, Cajas Las
Andes, Proden e a Caja Social na Colômbia. Adopen na República Dominicana e a
Financeira Calpiá em El Salvador. No México a Compartamos, no Peru o Mi Banco, e
por fim o Crediamigo do Banco do Nordeste do Brasil.
4.1 O Agroamigo
Santos e Gois (2011) apontam que o funcionamento do sistema financeiro
tradicional exclui algumas categorias, como por exemplo; a população de baixa renda,
microempresas e os pequenos produtores rurais. E que a intervenção pública através de
seus bancos oficiais não resolve o problema. Assim eles citam que a imperfeição dos
mercados causa uma série de problemas como a exclusão e o racionamento do crédito por
parte destes bancos.
O problema da assimetria de informações é agravado no meio rural por
uma serie de aspectos, a população rural seja mais pobre do que a
urbana baixa densidade populacional, operações de pequena escala,
ausência de colateral, mercado fragmentado e isolamento. (SANTOS e
GOIS, 2011, p. 137).
Neste contexto o microcrédito para Santos e Gois (2011), surgiu como tentativa
de combater a pobreza, provimento de serviços financeiros para famílias de baixa renda
excluídas do sistema bancário tradicional. Com o crédito pessoas de baixa renda e os
microempreendedores se encorajaram para o empreendedorismo, proporcionando as
condições necessárias para adquirirem fatores de produção que seriam empregados na
geração de emprego e renda.
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Alguns desafios do microcrédito rural podem ser exemplificados e estão
presentes na informação assimétrica, custos de transação, racionalidade limitada e
oportunismo dos agentes, sendo que os custos de transação e os de provisão dos serviços
financeiros tendem a ser mais elevados, pois correspondem a pequenos valores dos
recursos emprestados com renovações frequentes. (TORNETO e GREMAUD, 2002,
apud SANTOS e GOIS, 2011, p.144).
Conforme dados do Banco do Nordeste, o Agroamigo iniciou as suas
atividades em 2005, utilizando fonte de recursos do Fundo Constitucional de
Financiamento do Nordeste (FNE). O Agroamigo é o Programa de Microfinanças Rural
do Banco do Nordeste, operacionalizado em parceria com o Instituto Nordeste Cidadania
(INEC), e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O projeto piloto foi realizado nas
agências de Oeiras e Floriano no Estado de Piauí. Na posição de março de 2015, o
programa Agroamigo aplicou mais de R$ 6,6 bilhões desde a sua criação, totalizando 2,8
milhões de operações contratadas. Possui mais de 980 mil clientes ativos e uma carteira
ativa de R$ 2,86 bilhões. Está presente nas agências do Banco do Nordeste do Brasil,
atendendo a municípios do Nordeste brasileiro e Norte de Minas Gerais. (Disponível em
https://www.bnb.gov.br/agroamigo. Acesso em 10/05/15).
Para operacionalizar o Agroamigo, o Banco do Nordeste firmou uma
parceria com o Instituto Nordeste Cidadania, uma entidade classificada como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). A qual ficou responsável
pela operacionalização do programa através da contratação de profissionais com
qualificação de técnico em agropecuária ou áreas afins. Além de outros profissionais para
cargos administrativos e de gestão. (Disponivel em https://www.bnb.gov.br/publico-
alvo1.Acesso em 08/05/15).
Ainda de acordo com o banco, o Agroamigo tem o objetivo principal de
expandir o atendimento aos agricultores familiares, que antes eram beneficiários do
Programa Nocional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), do grupo B.
Neste caso mediante a liberação de créditos produtivos e orientados.
O Pronaf é entendido como um programa de crédito à produção e ao
investimento com foco na agricultura familiar e nos assentamentos da
reforma agrária, [...] a uma larga porção de agricultores que não
encontra mecanismos de em iguais condições e oportunidades.
(SANTOS e GOIS, 2011, p. 145).
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Ainda para Santos e Gois (2011), a justificativa e inspiração filosófica para
criação do Pronaf, está na característica fundamental de fazer uma distribuição de renda
por meio da expansão do acesso a linhas de crédito formais às pessoas que até então não
tinham oportunidades acessíveis no sistema bancário tradicional. É ressaltada por estes
autores que o Pronaf B é uma linha de microcrédito rural destinada a famílias de baixa
renda no meio rural, cujo objetivo é a produção e geração de renda. Esta modalidade de
empréstimos disponibiliza recursos que podem ser investidos nas atividades agrícolas ou
não da zona rural, exemplificando; a compra de animais, produção de artesanatos,
implementos e utensílios que viabilizem a fabricação de alimentos, assim como também
pequenas manutenções na propriedade familiar.
Um requisito básico para ter acesso ao Pronaf B, além da apresentação de um
conjunto de documentos específicos à instituição financeira. Também é necessário que a
família possua uma Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que enquadra aquela família
como público alvo do Pronaf grupo B. Esta declaração é obtida de forma gratuita nos
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais ou na Empresa Estadual de Assistência Técnica e
Extensão Rural.
O público alvo do grupo B compreende aquelas famílias de produtores
rurais mais carentes, em sua maioria com acesso limitado aos meios de
produção, com pouca terra ou ocupando de forma precária, alto índices
de analfabetismo e dependência de Programas Assistenciais. (SANTOS
e GOIS, 2011, p.156).
O Banco do Nordeste pode ser considerado o maior operador do Pronaf na região
Nordeste, esse desempenho decorre da prioridade estratégica do Banco para o setor,
conforme apontam Santos e Gois (2011), em seu trabalho. Em 2005 o banco realizou uma
série de medidas com objetivo de facilitar o acesso ao Pronaf, agilizando o processo de
concessão ao crédito. Também modificou vários normativos e incentivou o acesso das
mulheres aos financiamentos. Ainda neste ano foi criado o Programa Agroamigo como
uma modalidade de microcrédito rural que atende também a mulher e os demais membros
da família, inseridos nas comunidades rurais, e o processo de prospecção e concessão dos
empréstimos seriam realizados através de palestras e reuniões.
Em 2005, o Agroamigo foi implantado em 78 agências do BNB, tendo
sua operacionalização baseada na metodologia utilizada pelo programa
de microcrédito produtivo e orientada do Banco, o Crediamigo. O BNB
elaborou manuais de operacionalização e realizou treinamento para 170
assessores de microcrédito rural. (SANTOS e GOIS, 2011, p. 179-180).
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Como já apresentado anteriormente o Agroamigo teve inicio em 2005, e foi
implantado inicialmente para a realização de testes nas agências de Floriano e Oeiras, no
Piauí. O programa de microcrédito rural do Banco do Nordeste do Brasil teve sua
inspiração e criação através do modelo e metodologia do Programa Crediamigo do
próprio banco. O Agroamigo é voltado especificamente para o público do grupo B do
Pronaf, constituindo maior parcela de beneficiários neste segmento.
Para Santos e Gois (2011), o microcrédito rural do Banco do Nordeste,
Agroamigo tem como objetivo principal melhorar o perfil socioeconômico e social do
agricultor familiar de baixa renda dos estados do Nordeste e Norte de Minas Gerais e
Espírito Santo. Através da orientação empresarial, gerencial, técnica e concessões de
empréstimos.
Conforme Santos e Gois (2011), para obter um financiamento o cliente precisa
procurar o assessor de crédito de área de atuação, além de atender aos requisitos. Possuir
a maioridade, estar quite com a Justiça Eleitoral, não ter restrições cadastrais, apresentar
cópias do documento de identidade e cadastro de pessoa física (CPF), e declaração de
aptidão ao Pronaf (DAP).
O Banco do Nordeste relaciona algumas vantagens para os clientes do
Agroamigo; crédito orientado e acompanhado, atendimento personalizado na própria
comunidade em ambos os casos pelo assessor do Agroamigo, também apresenta juros
mais baixos e bons índices de adimplemento. Ainda de acordo com o Banco do Nordeste
este programa de microcrédito se propõe a atingir alguns objetivos; conceder crédito
orientado e acompanhado aos agricultores, aumentar a renda familiar e criar empregos no
meio rural, aumentar a oferta de alimentos para a população do campo e das cidades,
melhorar a qualidade de vida da zona rural, e apoiar atividades agropecuárias e não
agrícolas.
5 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
5.1 Dados socioeconômicos
5..1.1 Dados referentes ao gênero dos beneficiários
O gráfico 01 apresenta os dados relacionados ao gênero dos clientes do
Agroamigo entrevistados na pesquisa de campo. Com relação ao sexo feminino apresenta
53,94% e 46,06% são do sexo masculino. Assim como no Programa Crediamigo, em que
há uma maior participação do público feminino. Conforme Souza (2010, p.125) a
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1007
21,16%
30,70%
21,99%26,14%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
entre 18 e 25 anos entre 26 e 40 anos entre 41 e 60 anos acima de 60 anos
Faixa etária
participação dos homens no mercado informal é expressiva no entanto no Crediamigo a
uma predominância do sexo feminino, uma vez que as mulheres 64% do total de clientes
desta modalidade de microcrédito.
Para o BNB (2015) no período entre 2005 e 2015 a quantidade de operações
contratadas por gênero, representa 52% para o sexo masculino e 48% para o sexo
feminino. Sendo assim no acumulado total de operações contratadas pelo Agroamigo,
apresenta uma superioridade do sexo masculino.
Gráfico 01- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação a gênero, Crato-Ce, 2015.
Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.3 Idade dos beneficiários
Com relação à idade dos participantes do Agroamigo, a maior concentração está
na faixa entre 26 e 40 anos, representando 30,70% dos entrevistados. Nas demais faixas
de intervalo de idade houve um equilíbrio, conforme apresentado a seguir; 21,16% dos
entrevistados possuem entre 18 e 25 anos de idade, assim como 21,99% estão
representados no intervalo entre 41 e 60 anos. Por fim 26,14% representam os
participantes acima de 60 anos.
Gráfico 02- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação a idade, Crato-Ce, 2015. Fonte:
Dados da pesquisa 2015.
0
10
20
30
40
50
60
Masculino Feminino
Participação por gênero46,06%
53,94%
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1008
5.1.3 A escolaridade dos beneficiários
O gráfico 03 apresenta os intervalos de escolaridade dos beneficiários do
Agroamigo. Pode-se perceber que a maior concentração de clientes está representados
por analfabetos com 19,91%, seguido de perto pelos que possuem o ensino fundamental
incompleto com 18,25%. Aqueles que são considerados alfabetizados representam
13,27% dos entrevistados, mesmo número de clientes que possuem o ensino fundamental
completo.
Esta é uma característica presente no meio rural, uma baixa escolaridade da
população, e como este programa é operacionalizado na zona rural retrata a mesma
realidade na pesquisa. Ou seja, apenas 35,25% dos beneficiários estão matriculados no
ensino médio ou ensino superior no meio rural.
Gráfico 03- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à escolaridade, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.4 Estado civil
Conforme os dados apresentados no gráfico 04 existem um equilíbrio entre os valores
apresentados na pesquisa, referente ao estado civil dos beneficiários. Os maiores valores
estão representados pelos clientes que responderam que possuem união estável ou são
divorciados com 29,87% e 24,48% respectivamente. Houve uma igualdade de valores
para aqueles que responderam serem solteiros e casados com 22,82%.
19,91%
13,27%
18,25%
13,27%15,35% 15,35%
2,07% 2,48%0
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00% Escolaridade
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1009
Gráfico 04- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação ao Estado civil, Crato-Ce,
2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.5 Quantidade de filhos dos beneficiários
Com relação ao número de filhos dos clientes entrevistados 67 responderam que
ainda não tem filhos, representando 27,80%, seguido de perto pelas faixas de clientes que
possuem entre 4 e 10 e a faixa acima de 10 ambas com um total de 123 participantes, com
uma representação de 51,03% do total de entrevistados. Ainda é apresentado a faixa de
clientes que possuem entre 1 e 3 filhos com 51 clientes contemplando 21,16% da
pesquisa.
Gráfico 05- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à quantidade de filhos, na cidade
do Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.6 Rendimentos do conjugue
Com relação à renda extra do conjugue 57,26% dos beneficiários responderam
que seus conjugues ou companheiros não possuem rendimentos extras, provenientes de
22,82% 23%
29,87%
24,48%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
solteiro casado união estável divorciado ou
separado
Estado civil
27,80%
21%
25,31% 25,72%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
não tem filhos entre um e três filhos entre quatro e dez
filhos
acima de 10 filhos
Quantidade de filhos dos beneficiários
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1010
outras atividades. Enquanto que 42,73% dos entrevistados responderam que possuem
algum tipo de renda extra.
Ou seja, a grande parte dos beneficiários não recebe ou possuem rendimentos
extras, logo para esses beneficiários a única fonte de renda familiar está presente na
atividade desenvolvida com o apoio do Agroamigo.
Gráfico 06- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à renda extra do conjugue, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.7 Segmento de atividade
O gráfico 07 mostra os dados dos clientes do Agroamigo, em relação ao setor de
atividade. No qual se pode perceber um equilíbrio entre os setores de serviço e pecuária
com respectivamente 89 e 88 participantes do Agroamigo, representados por 36,92% e
36,51% do público entrevistado. Por ultimo aparecem aqueles que possuem a agricultura
familiar como atividade principal com 25,55%.
Conforme o relatório de resultados do Agroamigo apresentado pelo BNB (2015).
A quantidade de operações contratadas acumuladas por setor de atividade, 80% está
representada pela pecuária, 11% agricultura e 17% pelos serviços e por último 2%
extrativismo.
42,73%
57,26%
0 0 0 0 0 0 0 00,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
sim não
Renda extra do conjugue
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1011
Gráfico 07- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo, em relação ao
segmento de atividade, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
5.1.8 Estrutura dos negócios
Quanto à estrutura física dos negócios o gráfico 08 contempla os respectivos valores. As
atividades desenvolvidas na própria casa representam 28,63%, assim como também os
que já possuem já possuem ponto comercial com o mesmo valor. Por último estão
representados aqueles que possuem barraca e unidade móvel com respectivamente
19,91% e 22,82%, do público entrevistado na pesquisa.
Gráfico 08- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à
estrutura dos negócios, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.9 Faixa de renda mensal após o Agroamigo
O gráfico 09 apresenta os intervalos renda dos beneficiários do Agroamigo, após
receberem o microcrédito. O primeiro intervalo entre 500 e 1000 representa 36,92%, o
segundo entre 501 e 1000 representa 11,61%, o terceiro compreendido entre 1001 e 2000
representa 17,84%. Por último aparece o intervalo de beneficiários com rendimentos
acima de R$ 2000,00 com 33,60%.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
agricultura serviço pecuária
Segmento de atividade
26,55%
36,92% 36,51%
28,63%
23%19,91%
28,63%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
atividade na própria
casa
unidade móvel barraca ou banca ponto comercial
Estrutura dos negócios
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1012
No gráfico pode ser verificado que a maior concentração de clientes da pesquisa
recebe como renda mensal um valor inferior ao salário mínimo vigente no Brasil em 2015,
representado por 36,92% dos entrevistados.
Gráfico 09- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo com relação à
faixa de renda mensal, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.10 Valores dos empréstimos no Agroamigo
O gráfico 10 apresenta os valores dos empréstimos realizados no Agroamigo
pelos beneficiários. As faixas de valores compreendidos entre 1001 e 5000 e a faixa que
está entre 5001 e 10000 representam respectivamente 34,43% e 33,19%. O valor dos
empréstimos da faixa entre 10001 e 15000 representa 22,40% do total de entrevistados.
Os valores de empréstimos localizados na faixa de abaixo de 1000,00 apresentam 9,95%
do público total da pesquisa de campo.
36,92%
12%
17,84%
33,60%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
entre 100,00 e 500,00 entre 501,00 e
1000,00
entre 1001,00 e
2000,00
acima de 2000,00
Faixa de renda mensal após o Crediamigo
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1013
Gráfico 10- Dados socioeconômicos dos beneficiários dos Agroamigo em relação aos
valores dos empréstimos, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.11 Elevação de renda
Este gráfico demonstra que 57,26% dos beneficiários declararam que houve uma
elevação na renda após a contratação do microcrédito. Outros 42,73% dos entrevistados
responderam na pesquisa que não houve uma elevação de renda significativa após a
contratação do Agroamigo.
Para Souza (2010, p.132), com relação a renda média familiar dos clientes,
constatou-se que estes apresentaram acréscimos em todos os níveis de acumulação
evidenciando maiores incrementos de renda à medida que aumenta o número de
empréstimos.
Gráfico 11- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à elevação de renda dos participantes, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
9,95%
34% 33,19%
22,40%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
até 1.000,00 entre 1.001,00 e
5.000,00
entre 5.001,00 e
10.000,00
entre 10.001,00 e
15.000,00
Valores dos empréstimos
57%
43%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
sim não
Elevação da renda
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1014
5.1.12 Melhoria nas condições de habitação
O gráfico 12 apresenta os valores referentes a melhorias na habitação dos
participantes do Agroamigo. Ele mostra que 46,88% dos beneficiários tiveram mudanças
significativas nas condições de habitação, enquanto que 53,12% dos entrevistados
responderam que houve evolução neste segmento.
Gráfico 12- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo referente à
melhoria nas condições de habitação, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.13 Melhoria nutricional da família
O gráfico 13 apresenta os valores referentes às melhorias da nutrição do cliente
e sua família, após a contratação do empréstimo. E para esta questão 56,43% responderam
que não houve nenhuma melhoria nutricional sua ou dos familiares, enquanto que 43,57%
dos beneficiários afirmam que houve mudanças positivas nas condições nutricionais após
a contratação do Agroamigo.
Para Santos e Gois (2011, p.35), “Famílias pobres usam as microfinanças para
mover-se além da subsistência diária, fazendo provisões; investem em melhor nutrição,
em habitação, saúde e educação”. As microfinanças são um instrumento poderoso de
combate a pobreza extrema, pois quando os pobres tem acesso a serviços financeiros seus
rendimentos aumentam significativamente.
47%
53%
42,00%
44,00%
46,00%
48,00%
50,00%
52,00%
54,00%
sim não
Melhoria nas condições de habitação
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1015
Gráfico 13- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo em relação à melhoria nutricional da
família, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.14 Melhoria nas condições sanitárias
O gráfico 14 apresenta melhoria nas condições sanitárias dos beneficiários do
Agroamigo, e 73,85% dos clientes entrevistados responderam que não houve alteração
nesta variável. Enquanto que apenas 26,14% dos participantes afirmam que houve
melhorias nas condições sanitárias após a participação no Programa Agroamigo.
Gráfico 14- Dados socioeconômicos dos beneficiários do Agroamigo, referente a
melhorias nas condições sanitárias, Crato-Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
5.1.15 Participação em programas de transferência de renda
O gráfico 15 apresenta os valores referentes à participação dos clientes em
programas de transferência de renda, de caráter assistencialista. Os clientes entrevistados
que ainda são beneficiários de programas sociais, representam 51,45% do público total
entrevistado na pesquisa. Enquanto que 117 clientes no período da pesquisa não estão
recebendo benefícios sociais destes programas, com isso representado por 48,54% do
público da pesquisa.
46,88%
53,11%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
sim não
Melhoria nutricional da família
26,14%
74%
0,00%
20,00%
40,00%
60,00%
80,00%
sim não
Melhoria nas condições sanitárias
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1016
Gráfico 15- Dados socioeconômicos dos beneficiários em relação a programas de transferência de renda, Crato-
Ce, 2015. Fonte: Dados da pesquisa 2015.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O microcrédito produtivo e orientado pode ser apontado como ferramenta capaz
de gerar renda e melhorar os aspectos socioeconômicos dos participantes. Analisando que
a pobreza no Brasil e principalmente na região Nordeste não está relacionada apenas a
características históricas das desigualdades sociais, econômicas e culturais das
populações.
Este trabalho revela que o Programa Agroamigo do Banco do Nordeste, ao
oferecer microcrédito produtivo e orientado no meio rural é capaz de gerar rendimentos
entre os participantes. Conforme apresenta o gráfico 11, houve uma elevação nos
rendimentos dos clientes após a contratação do microcrédito. Ainda na variável renda o
gráfico 09, mostra que 51,44% dos entrevistados recebem renda mensal acima de R$
1.000,00. Esse dado merece destaque ao passo que os beneficiários estão localizados na
zona rural, e que as oportunidades nesta região são escassas e desiguais.
Outra conclusão extraída do trabalho está na existência de um equilíbrio no
resultado demonstrado no gráfico 15, o qual representa a participação dos beneficiários
em programas sociais de transferência de renda. Na pesquisa de campo 49% dos clientes
entrevistados responderam que não participam de programas assistencialistas. Esse dado
pode ser considerado positivo, quando é analisado também o cenário geográfico e social
no qual o público entrevistado está inserido.
Ainda esperamos que os resultados obtidos nesta análise socioeconômica dos
clientes do Agroamigo, possam ser utilizados na realização de debates e novos estudos,
51,45%
49%
47,00%
48,00%
49,00%
50,00%
51,00%
52,00%
sim não
Programas de transferência de renda
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1017
proporcionando contribuições relevantes sobre alternativas de políticas públicas de
geração de emprego e renda na zona rural.
REFERÊNCIAS
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Agroamigo ( Disponível em https://www.bnb.gov.br/forma-de-acesso1.Acesso em
10/05/15). Agroamigo( Disponivel em https://www.bnb.gov.br/publico-alvo1.Acesso
em 08/05/15).
BARBOSA, Cristiane Garcia, TEIXEIRA, Marcelo Azevedo e Damasceno, Wellington
Santos. A Experiência dos Programas de Microcrédito do Banco do Nordeste.
Fortaleza: BNB, 2012.
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Projeto Inclusão Financeira. Perspectivas e desafios para inclusão financeira no
Brasil: visão de diferentes autores. Brasília 2009.
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SCHUMPETER, Joseph Alois. Teoria do Desenvolvimento Econômico: uma
investigação sobre lucros, capital, crédito, juros e o ciclo econômico; introdução de
Rubens Vaz da Costa; tradução de Maria Silva Possas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento Econômico. 4ª Ed. São Paulo: Editora Atlas,
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SOUZA, Maria Célia Garcia Ferreira. O desenho do Programa Crediamigo do Banco
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VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de, e GARCIA, Manoel E.
Fundamentos de Economia. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1018
DINÂMICA DO EMPREGO FORMAL DA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO CEARENSE NO PERÍODO DE 1995-2010
Maria de Fátima Diógenes Fernandes1
Assuero da Costa e Silva2
Resumo
Este trabalho investiga a dinâmica do emprego da indústria de transformação cearense
frente às mudanças observadas na economia nacional e regional no período 1995-2010,
enfocando a estrutura ocupacional industrial, a distribuição municipal do emprego e perfil
dos trabalhadores. Para tanto, além de pesquisa bibliográfica, utilizou-se dados de
emprego da RAIS e as estatísticas espaciais I de Moran e LISA para medir a distribuição
regional deste. Os resultados indicam alteração na estrutura ocupacional industrial, com
incrementos na participação do segmento intensivo em trabalho. Também se verificou
que o emprego tem se deslocado para o interior, principalmente para municípios próximos
à Região Metropolitana de Fortaleza. Sobre o perfil do trabalhador, contatou-se que este
tem aumentado sua escolaridade, embora o salário tenha reduzido; o emprego é
concentrado no gênero masculino, que é mais bem remunerado do que o feminino;
reduziu a participação dos jovens com até 17 anos, enquanto o maior aumento foi na faixa
de 40 a 64 anos. Com base no exposto, recomenda-se uma atuação efetiva dos governos
estadual e municipais para expandir a indústria em direção ao interior a fim de amenizar
as desigualdades regionais; além disso, medidas também devem ser tomadas para
melhorar as condições de trabalho neste setor.
Palavras-chave: Emprego industrial. Distribuição regional do emprego. Perfil do
trabalhador.
1 Introdução
O último quartel do século XX foi marcado por várias transformações de ordem
econômica, tecnológica, política e social iniciadas nos países centrais, mas que logo
ganharam força nas demais economias que tinham o Capitalismo como sistema
econômico dominante.
O esgotamento do fordismo, enquanto modelo de organização do trabalho e da
produção, e a crise que se estabelecera na economia mundial no alvorecer da década de
1970 exigiram do capital estratégias voltadas à recuperação dos antigos padrões de
crescimento e lucratividade. Inicia-se, assim, o que Harvey (2006) chamou de “a era da
acumulação flexível” e com ela um novo regime de expansão capitalista, marcado pelo
1 Professora do Departamento de Economia (DEC) do Campus Avançado “Profa Maria Elisa de Albuquerque Maia”
(CAMEAM), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Pau dos Ferros-RN. Email:
2Graduado em Economia, DEC/CAMEAM/UERN, Pau dos Ferros-RN. Email: [email protected].
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1019
retorno das ideias liberais na condução das políticas econômicas de boa parte dos países,
inclusive naqueles que tinham o Estado como o seu principal agente de desenvolvimento.
O resultado foi o alargamento das fronteiras nacionais, uma vez que a abertura
econômica de vários países, as inovações nos meios de transporte e comunicação e a
adoção de mecanismos mais flexíveis de acumulação permitiram ao capital se deslocar
sem qualquer barreira, sempre que a lógica da concentração e centralização lhe aprouver.
Tornou-se comum os investimentos de transnacionais nos países em desenvolvimento,
seja em busca de novos mercados consumidores, mão de obra barata ou recursos naturais
abundantes, capazes de reduzir custos e dá mais competitividade aos produtos por elas
ofertados em um momento de intensificação da concorrência internacional, em virtude da
globalização da produção e da consolidação da financeirização como padrão sistêmico de
riqueza.
No Brasil, essa nova lógica de acumulação teve início de uma forma mais efetiva
no início da década de 1990, quando o governo federal, objetivando superar os gargalos
macroestruturais que entravavam o crescimento da economia nacional, rompeu com o
modelo de desenvolvimento adotado desde 1930 e passa a abraçar os pressupostos
estabelecidos no Consenso de Washington na elaboração e condução das políticas
econômicas e sociais.
Neste sentido lançou mão de uma série de medidas voltadas a intensificar a
abertura comercial e financeira da economia nacional, como: desregulamentação dos
mercados financeiro, de bens e serviços e de trabalho; redução de barreiras protecionistas,
através da diminuição/eliminação das tarifas de importação, revogação da Lei dos
Similares e adoção de um câmbio fixo e valorizado a partir de 1994; estreitamento das
relações com países do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), dentre outras ações.
Medidas também foram adotadas a fim de reduzir a intervenção do Estado na
economia, como o corte de gastos públicos e transferência de parcela significativa do
parque industrial estatal para o capital privado, em parte formado pelo capital estrangeiro
que passou a ver no país uma fonte de maximização de lucros, dado o grande contingente
de mão de obra barata aí existente, abundância de recursos naturais, ineficiência da
atuação sindical e concessões feitas pelo governo federal para atrair as transacionais.
Tais ações foram fundamentais para inserir o país no comércio internacional, ao
mesmo tempo em que expôs o produto doméstico à concorrência mundial, obrigando o
setor industrial a adotar estratégias voltadas a aumentar seu grau de competitividade. Na
busca de uma produção enxuta, flexível e de qualidade, o parque industrial brasileiro
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1020
passou por um processo de modernização tecno-organizacional; a produção em larga
escala, homogênea e verticalizada deu lugar a de pequena escala, diversificada e
horizontalizada, o que possibilitou uma redução no tamanho das plantas industriais.
Medidas essas que, associadas aos novos métodos de organização da produção foram
fundamentais para reduzir o “tempo morto do processo produtivo” e atender com maior
rapidez uma demanda cada vez mais exigente.
Outra estratégia adotada pelas empresas para reduzir os custos e preços finais
dos seus produtos foi a flexibilização nas formas de remuneração e contratação dos
trabalhadores e uma alteração no perfil de trabalhador requerido, no qual a parcialização
na execução das tarefas deu lugar a polivalência e a qualificação profissional se tornou
um dos requisitos essenciais ao ingresso em um mercado de trabalho cada vez mais
exigente e competitivo.
Essas medidas contribuíram para elevar a produtividade do trabalhador em um
momento marcado por baixas taxas de investimento e crescimento, em virtude das
políticas monetárias e fiscais contracionistas adotadas pelo governo para estabilizar a
moeda e de uma conjuntura internacional marcada por crises financeiras. O resultado foi
uma perda de qualidade do empego criado na década de 1990, uma vez que foram
eliminados postos de trabalhos na indústria, caracterizada por um alto grau de
formalização nas suas relações de trabalho e por pagar relativamente bons salários aos
seus operários, sendo parte recriada no setor de serviços, sobretudo naqueles ramos mais
tradicionais nos quais se evidenciam condições de trabalho extremamente precárias3.
Somado a isso, cabe destacar que, além de uma relocação setorial das ocupações,
esse período também vivenciou a definição de uma nova territorialização dos
investimentos, da produção e do emprego industrial, já que a busca por menores custos e
ganhos de competitividade levou várias empresas a deslocarem seus investimentos para
outras regiões que não o Sudeste. Contudo, conforme Fernandes (2012), essa imposição
de novos padrões locacionais não foi um processo uniforme, nem para as regiões e nem
para o conjunto das atividades industriais, isso porque, enquanto os ramos intensivos em
capital passaram por uma desconcentração-concertada em torno do Centro-Sul do país,
os segmentos intensivos em recursos naturais e em trabalho evidenciaram um processo
de desconcentração mais amplo. O primeiro teve como principais destinos o Norte e
3 Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, 2014) mostram que em 1990 a indústria respondia por
27,59% do número de emprego formal existente naquele ano no país, enquanto o setor de serviços e comércio
participavam com 66,20%; em 2000, esses percentuais se alteram para 20,15% e 71,59%, respectivamente,
evidenciando assim, um processo de relocação setorial das ocupações em favor do setor terciário.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1021
Centro-Oeste dada a expansão das suas fronteiras agrícolas e minerais; já o segundo se
deslocou para o Nordeste em virtude da abundância de mão de obra barata aí existente e
dos incentivos fiscais.
De acordo com a RAIS (2014), em 1990 o Nordeste, Norte e Centro-Oeste juntas
responderam por 15,43% do empego formal existente na indústria de transformação
nacional; em 2000 essa participação chegou a 19,12%. Em 2010, esse percentual subiu
para 22,06%, sugerindo a continuidade da desconcentração dos investimentos e empregos
industriais em favor das regiões menos dinâmicas, em função das obras de infraestrutura
nelas realizadas pelo governo federal, que tem permitido uma maior integração entre os
mercados regionais, bem como, do fato destas regiões estarem crescendo acima da média,
o que se configura em ampliação do mercado consumidor e das expectativas de maiores
lucros, atraindo novos investimentos para essas áreas, sobretudo o Nordeste – que entre
1995 e 2010 viu o número de emprego formal da sua indústria de transformação crescer
94,39% e os estabelecimentos em 116,23%, valores acima da média nacional (60,72% e
61,75%, respectivamente).
Dentre os estados nordestinos merece destaque o Ceará, um dos principais
receptores dos investimentos industriais direcionados à região durante o período 1995-
2010 e o principal absorvedor da mão de obra empregada na indústria de transformação
do Nordeste em 20104. Segundo Teixeira (1999) e Valois e Alves (2006) esse bom
desempenho apresentado pela indústria cearense foi resultado do novo modelo de
desenvolvimento implementado desde a segunda metade dos anos 1980, o qual se
caracterizou pela adoção de uma política de redução de gastos públicos e de estratégias
voltadas à atração de investimentos para o setor industrial do estado, como a realização
de obras de infraestrutura e a concessão de incentivos fiscais. Tais medidas, associadas
às transformações em curso na economia brasileira, não apenas alteraram a estrutura
produtiva e ocupacional do estado como também impuseram uma nova configuração ao
mercado de trabalho cearense, em especial o industrial.
Diante destas constatações, o presente trabalho busca traçar um panorama do
emprego formal da indústria de transformação do Ceará frente às principais mudanças
observadas na economia nacional e regional no período de 1995-2010, focalizando os
4 Conforme a RAIS (2014), em 2010 o Ceará respondeu por 24,10% do emprego existente na indústria de transformação
nordestina, seguido pela Bahia (21,10%) e Pernambuco (20,48%). Em termos setoriais, a maior participação do Ceará
é no segmento intensivo em trabalho, sendo este responsável por 41,18% das pessoas aí empregadas em 2010; já a
Bahia é no intensivo em capital, respondendo por 27,18% dos empregados em 2010; enquanto Pernambuco se destaca
como principal absorvedor dos empregados no segmento intensivo em recursos naturais, ao concentrar 26,64% dos
postos de trabalho existentes neste setor em 2010.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1022
seguintes pontos: a estrutura ocupacional industrial; a distribuição espacial do emprego
industrial entre os municípios cearenses; o perfil dos trabalhadores empregados no setor
industrial.
Quanto à estrutura do trabalho, o mesmo está dividido em mais seis tópicos, além
desta introdução. O segundo retrata brevemente o processo de industrialização do Ceará;;
o terceiro aborda a metodologia da pesquisa; o quarto, quinto e sexto discutem os
resultados. Por fim, no sétimo tópico traz as considerações finais à cerca do que foi
discutido.
2 Considerações Sobre o Processo de Industrialização do Ceará
Para compreender o processo de industrialização do Ceará é necessário retornar
a década de 1960, quando o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
(GTDN) e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) colocaram
em prática diversos projetos voltados a desenvolver a indústria cearense, dentre os quais
se destaca a formação do Polo Têxtil e de Confecções de Fortaleza, contribuindo para que
este estado se tornasse o terceiro polo industrial do Nordeste (ARAÚJO; SOUZA; LIMA,
1997).
No final dos anos 1980, com o governo de Tasso Jereissati, surgiram novas
formas de administrar, com políticas públicas inovadoras que visavam desenvolver o
setor industrial, através de investimentos em infraestrutura, concessão de incentivos
fiscais que, associados à existência de mão de obra barata, funcionariam como força
centrípeta ao atrair investimentos para o estado. Medidas também foram tomadas no
sentido de deslocar a indústria em direção ao interior, o que gerou conflitos com os aliados
que não aceitavam a nova forma de governar, onde o Estado passou a ser administrado
como uma empresa em busca de superar o atraso deixado por gestões anteriores
(ARAGÃO, 2005; FUNARI, 2009; VALOIS; ALVES, 2006).
O efeito de tais ações foi uma ampliação nos postos de trabalho existentes na
indústria deste estado na década de 1990. Como indica a Tabela 01, entre 1990 e 2000, o
número de pessoas empregadas nesse setor cresceu 46,27%, superando a média, que foi
de 33,67%. O resultado foi um aumento na participação da indústria na estrutura
ocupacional cearense. O comércio também ampliou sua participação, embora não o
suficiente para impedir a retração apresentada pelo setor terciário (comércio e serviços)
que, em virtude do baixo desempenho mostrado pelo setor de serviços, viu sua
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1023
participação sair de 73,47 % em 1990 para 72,37% em 2000, contrariando, portanto, o
que vinha sendo apresentado pelo Nordeste e Brasil.
Tabela 01: Desempenho do emprego formal por setor de atividade - Ceará (1990-2010)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Ainda com base na Tabela 01, verifica-se que na década de 2000 o setor
industrial continua a gerar emprego, inclusive com taxas superiores as apresentadas na
década anterior (entre 2000 e 2010 seus postos de trabalho se ampliaram em 71%).
Contudo, apesar de apresentar uma taxa de crescimento 7,10% a.a., a indústria cearense
perdeu participação na estrutura ocupacional do estado nos anos 2000, ao crescer em
proporções menores que o estoque de emprego formal total, que se expandiu em 9,18%
a.a. Por sua vez, o setor terciário ampliou levemente sua participação, chegando a 72,89%
em 2010, graças ao bom desempenho apresentada pelo comércio que aumentou em
124,71% seus postos de trabalho.
Quanto aos demais setores, observou-se que a construção civil aumentou sua
quantidade de empregos formais em 268,85% no período 1990-2010, sendo este a
apresentar a maior expansão relativa entre todos os setores, o que contribuiu para ampliar
sua participação para 5,73% em 2010, enquanto em 1990 era de 3,98%. Já a agropecuária
foi o que apresentou a menor taxa de crescimento, reduzindo sua participação para 1,68%.
Os dados expostos mostram que o desempenho do emprego formal no Ceará foi
bastante positivo, crescendo 156,43% ao longo das duas décadas, sendo o setor industrial
um dos principais responsáveis por esse incremento. Desta forma, diante da importância
assumida pala indústria na geração de emprego no estado, faz-se necessário avaliar as
principais mudanças na sua estrutura ocupacional, na distribuição do seu estoque de
emprego entre os municípios cearenses e no perfil do trabalhador aí empregado, o que
são focos do quarto, quinto e sexto tópicos. Contudo, antes convém destacar a
metodologia adotada na pesquisa.
Emp. % Emp. % Emp. % Emp. % Emp. %
Indústria 104.455 20,2 115.387 19,66 152.789 22,11 190.027 20,65 261.198 19,7
Const. Civil 20.597 3,98 31.708 5,4 27.746 4,01 28.372 3,08 75.973 5,73
Comércio 62.478 12,08 71.180 12,13 93.253 13,49 133.354 14,49 209.548 15,81
Serviços 317.407 61,39 358.565 61,11 406.868 58,87 547.421 59,49 756.793 57,08
Agropecuária 12.091 2,34 9.958 1,7 10.434 1,51 20.987 2,28 22.280 1,68
Total 517.028 100 586.798 100 691.090 100 920.161 100 1.325.792 100
Grande Setor1990 1995 2000 2005 2010
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1024
3 Metodologia
Na tentativa de alcançar os objetivos propostos neste trabalho, além de uma
pesquisa bibliográfica em autores que tratam do tema em questão, utilizaram-se dados
secundários sobre estoque de emprego formal disponibilizados pela RAIS (2014).
Somado a isso, destaca-se que para uma melhor compreensão da dinâmica
apresentada pelo emprego industrial do Ceará entre 1995 e 2010 e, particularmente, das
mudanças na sua estrutura ocupacional, é necessário, além de considerar a indústria de
transformação, desagregá-la em divisões, classificadas conforme intensidade do fator de
produção utilizado. A seguir, a lista dos três segmentos que integram a indústria de
transformação, com suas respectivas divisões (CNAE 95), segundo critério adotado por
Moreira e Najberg (1998):
Segmento Intensivo em Capital: fabr. de produtos têxteis (div. 17); fabr. de
coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares (div. 23); fabr. de
produtos químicos (div. 24); metalurgia básica (div. 27); fabr. de produtos em metal -
exclusive máquinas e equipamentos (div 28); fabr. de máquinas de equipamentos (div.
29); fabr. de máquinas para escritório e equipamentos de informática (div. 30); fabr. de
máquinas, aparelhos e materiais elétricos (div. 31); fabr. de material eletrônico e de
aparelhos e equipamentos de comunicações (div. 32); fabr. de equipamentos de
instrumentações médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos
para automação industrial, cronômetros e relógios (div. 33); fabr. e montagem de veículos
automotores, reboques e carrocerias (div 34); fabr. de outros equipamentos de automóveis
(div. 35); reciclagem (div. 37).
Segmento Intensivo em Trabalho: confecção de artigos de vestuário e acessórios
(div. 18); preparação de couros e fabr. de artefatos de couro, artigos de viagem e calçados
(div. 19); fabr. de celulose, papel e produtos de papel (div. 21); edição, impressão e
reprodução de gravações (div. 22); fabr. de móveis e industrias diversas (div. 36);
Segmento Intensivo em Recursos Naturais: fabr. de alimentos e bebidas (div.
15); fabr. de produtos de fumo (div 16); fabr. de produtos de madeira (div 20); fabr. de
borracha e plástico (div 25); fabr. de produtos de minerais não metálicos (div 26).
No que tange a avaliação da distribuição do emprego industrial entre os
municípios cearenses nos anos de 1995 e 2010, além da taxa de participação (dada pela
razão entre o emprego existente na indústria do i-ésimo município cearense e o total
existente do estado), adotou-se dois índices de análise regional que vêm sendo muito
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1025
utilizadas em estudos voltados a medir a concentração espacial de uma determinada
variável: I de Moran e LISA.
3.1 Medidas de Análise Espacial: I de Moran e LISA
As medidas de análise espacial têm por finalidade avaliar como os dados estão
correlacionados no espaço. Neste trabalho optou-se por adotar dois índices bastante
difundidos entre os estudiosos da área: o I de Moran Global e o I de Moran Local (LISA).
A matriz de contiguidade adotada foi a do tipo Queen, que considera como vizinhos os
municípios que possuem em comum as fronteiras e/ou os vértices.
De uma forma geral, o I de Moran fornece um valor único como medida de
associação espacial para o conjunto de dados, sendo sua fórmula funcional expressa por:
n
i i
ji
n
i
n
j ij
y
yywI
1
2
1 1 (1)
Onde n é o número de observações; wij os elementos da matriz de pesos
espaciais e yi e yj os valores das variáveis em estudo medidas em desvios em torno da
média.
Pela equação (1), verifica-se que o I de Moran, quando significativo (p-valor
menor que o nível de significância de 5%), pode assumir qualquer valor pertencente ao
intervalo [-1,1]. Sendo que valores entre 0 e 1 indicam correlação espacial positiva, onde
municípios com alto (baixo) estoque de emprego são vizinhos de outros com valores
similares; já valores entre -1 e 0 indicam correlação espacial negativa, municípios com
altos níveis de emprego que possuem vizinhos com baixos estoques de emprego e vice-
versa. Já quando o I de Moran for igual a 0 ou não significativo, a hipótese nula (H0)
prevalece, evidenciando a ausência de dependência espacial entre o conjunto de dados
(ANSELIN, 1995).
Contudo, embora se destaque a importância do I de Moran para caracterização
de toda a área de estudo, às vezes é desejável verificar se a hipótese de associação espacial
também se verifica localmente. Para tanto, é preciso utilizar indicadores que avaliem a
significância local dos processos espaciais, dentre os quais está LISA. Por se tratar de um
indicador local, o LISA fornece um valor específico de correlação para cada área,
permitindo assim a identificação de clusters (aglomerações) e de outliers (observações
atípicas).
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1026
Segundo Anselin (1995), a equação do LISA é semelhante a do I de Moran
global, diferenciando-se quanto a unidade de análise. O global considera todas as
observações e o local somente as que ocorrem a determinada distância considerada
significante, veja:
n
i i
n
j iijj
l
y
ywyI
1
2
1 (2)
Assim como o I de Moran, o LISA testa a hipótese nula (Ho) de não dependência
espacial local e a hipótese alternativa (HA) de dependência espacial local. Ressalta-se que
esse último indicador pode ser visualizado pelo Mapa de Significância, sendo quatro
resultados possíveis: i) AA (alto-alto), municípios com alto nível de emprego cujos
vizinhos também possuem um alto valor para a variável; ii) BB (baixo-baixo), municípios
com baixo nível de emprego com vizinhos na mesma situação; iii) BA (baixo-alto),
municípios com baixo estoque de emprego, cercados por vizinhos que apresenta alto valor
para a variável; e iv) AB (alto-baixo), municípios com elevado nível de emprego com
vizinhos em situação oposta. As duas primeiras situações correspondem a clusters
espaciais e as duas últimas a outliers.
Sendo que, dentre todas as quatro combinações possíveis, a de maior interesse
para o presente estudo é a do tipo AA, pois é ela que mostrará em quais municípios
cearenses o emprego industrial está concentrado. Um comparativo dos LISA de 1995 e
2010 permitirá avaliar se tem havido (ou não) um deslocamento do emprego em direção
as áreas interioranas.
4 Estrutura do Emprego Industrial no Estado do Ceará (1995-2010)
Buscando melhor compreender o comportamento do emprego industrial no
período 1995-2010, analisou-se o desempenho deste segundo cada divisão da indústria
de transformação, sempre comparando o Ceará com o Nordeste, como mostra a Tabelas
02 que traz o emprego existente, em 1995 e 2010, por divisão e a participação de cada
uma no total de emprego da indústria de transformação cearense e nordestina.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1027
Tabela 02: Desempenho do emprego industrial segundo cada divisão (ramo) de atividade
- Ceará e Nordeste (1995 e 2010)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Com base nos dados apresentados na Tabela 02 verifica-se que, tanto na indústria
de transformação, quanto nos seus segmentos industriais, à exceção do intensivo em
recursos naturais, a ampliação do emprego no Ceará foi mais intensa do que no Nordeste,
o que faz desse estado um dos principais beneficiados pelos investimentos industriais que
chegaram na região nesse período. Entre as divisões, apenas em oito a taxa de crescimento
do emprego no Ceará foi menor do que no Nordeste: fabr. de produtos em metal (div 28);
fabr. de máquinas e equipamentos (div 29); fabr. de máquinas, aparelhos e materiais
elétricos (div 31); fabr. de material eletrônico e aparelhos e equipamentos de comunicação
(div 32); fabr. de outros equipamentos de transportes (div 35); confecções de artigos de
Emp. % Emp. % Emp. % Emp. %
Intensivo de
capital27.781 27,22 52.942 21,39 90,57 143.398 26,64 254.728 24,8 77,64
Div. 17 15.168 14,86 18.001 7,27 18,68 52.942 9,84 58.845 5,73 11,15
Div. 23 288 0,28 1.109 0,45 285,07 19.533 3,63 8.805 0,86 -54,92
Div. 24 2.942 2,88 7.025 2,84 138,78 26.036 4,84 62.563 6,09 140,29
Div. 27 1.179 1,16 3.589 1,45 204,41 11.805 2,19 15.504 1,51 31,33
Div. 28 4.437 4,35 10.647 4,3 139,96 12.472 2,32 42.288 4,12 239,06
Div. 29 1.088 1,07 4.039 1,63 271,23 4.235 0,79 21.649 2,11 411,19
Div. 30 153 0,15 644 0,26 320,92 1.182 0,22 3.242 0,32 174,28
Div. 31 1.296 1,27 1.895 0,77 46,22 7.750 1,44 11.502 1,12 48,41
Div. 32 89 0,09 76 0,03 -14,61 615 0,11 1.419 0,14 130,73
Div. 33 431 0,42 855 0,35 98,38 2.044 0,38 2.791 0,27 36,55
Div. 34 349 0,34 2.255 0,91 546,13 3.022 0,56 13.400 1,3 343,41
Div. 35 311 0,3 1.938 0,78 523,15 1.325 0,25 9.157 0,89 591,09
Div. 37 50 0,05 869 0,35 1.638,00 437 0,08 3.563 0,35 715,33
Intensivo em
trabalho33.005 32,34 135.953 52,94 311,92 94.059 17,47 330.174 32,14 251,03
Div. 18 19.399 19,01 52.916 21,38 172,78 40.109 7,45 121.160 11,79 202,08
Div. 19 7.064 6,92 66.881 27,02 846,79 18.934 3,52 134.764 13,12 611,76
Div. 21 501 0,49 2.847 1,15 468,26 6.939 1,29 15.839 1,54 128,26
Div. 22 3.442 3,37 5.593 2,26 62,49 16.944 3,15 25.874 2,52 52,7
Div. 36 2.599 2,55 7.716 3,12 196,88 11.133 2,07 32.537 3,17 192,26
Intensivo em
recursos
naturais
41.267 40,44 58.631 23,69 42,08 300.827 55,89 442.366 43,06 47,05
Div. 15 32.987 32,32 38.488 15,55 16,68 241.668 44,9 312.304 30,4 29,23
Div. 16 63 0,06 127 0,05 101,59 4.190 0,78 1.831 0,18 -56,3
Div. 20 988 0,97 1.750 0,71 77,13 10.213 1,9 8.092 0,79 -20,77
Div. 25 3.290 3,22 6.230 2,52 89,36 15.382 2,86 42.126 4,1 173,87
Div. 26 3.939 3,86 12.036 4,86 205,56 29.374 5,46 78.013 7,59 165,59
Total 102.053 100 247.526 100 142,55 538.284 100 1.027.268 100 90,84
Setor de
Atividade
Ceará Nordeste
1995 2010Tx. Cresc.
do emp.
(%)
1995 2010Tx. Cresc.
do emp.
(%)
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vestuário e acessórios (div 18); fabr. de alimentos e bebidas (div 15) e fabr. de artigos de
borracha e plástico (div 25).
A Tabela 02 ainda mostra que no Ceará, assim como no Nordeste, o segmento
que mais gerou emprego foi o intensivo em trabalho que, ao crescer acima da média,
elevou sua participação na estrutura ocupacional industrial, tanto do estado quanto da
região. Segundo Antunes (2008), isso foi reflexo da reestruturação produtiva em curso na
economia nacional e da intensificação da concorrência internacional, advinda com a
abertura comercial, que obrigaram muitas indústrias que atuam neste ramo a deslocarem
seus investimentos para essas áreas, atraídas pelos baixos salários, fraco poder sindical e
incentivos fiscais aí existentes.
Um dos maiores exemplos desse processo de desconcentração produtiva rumo
ao Nordeste foi o ramo calçadista (div. 19), quando várias fábricas transferiram-se da
região de Franca (São Paulo) ou do Vale dos Sinos (Rio Grande do Sul) para a Bahia e,
principalmente, o Ceará. Justificando, assim, a explosiva taxa de crescimento de 850%
nas ocupações geradas neste ramo de atividade entre 1995 e 2010, o que o tornou o
principal empregador da mão de obra que atua na indústria cearense, posto antes
pertencente ao de fabricação de produtos alimentícios e bebida (div. 15), como indica a
Tabela 02.
Já os segmentos intensivos em capital e em recursos naturais, do Ceará e do
Nordeste, ao apresentarem taxas de expansão do emprego menor que a média, viram
reduzir suas participações na estrutura ocupacional industrial. Como consequência, no
Ceará, o segmento intensivo em trabalho, ao gerar emprego acima da média, assumiu o
posto antes pertencente ao de recursos naturais e destacou-se como o principal absorvedor
da mão de obra empregada na sua indústria de transformação em 2010, seguido de longe
pelo intensivo em recursos naturais e capital – tal evidencia sugere um aumento no grau
de especialização da estrutura produtiva da indústria cearense em atividades/ramos
ligados a este segmento. Já para o Nordeste, apesar do decréscimo de participação
apresentado pelo segmento intensivo em recursos naturais, este ainda continuou em 2010
a deter a maior participação no emprego industrial dessa região; o segmento intensivo em
trabalho passa a ocupar o segundo lugar, invertendo, assim, a posição com o intensivo em
capital.
Quanto aos ramos de atividade, a Tabela 02 mostra que as maiores ampliações
de participação na estrutura de emprego industrial cearense ficaram a cargo dos seguintes
ramos: fabr. de máquinas e equipamentos (div 29); fabr. e montagem de veículos
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automotores (div 34); confecções de artigos de vestuário (div 18); fabr. de calçados (div
19); fabr. de celulose, papel e produtos do papel (div 21); fabr. de móveis e indústrias
diversas (div 36) e o de fabr. de produtos minerais não metálicos (div 26). Já os maiores
decrescimentos de participação foram vistos nos gêneros de fabr. de produtos têxteis (div
17); fabr. de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (div 31); edição, impressão e
reprodução de gravações (div 22); fabr. de alimentos e bebidas (div 15), sendo o que mais
decresceu sua participação, ao apresentar uma taxa de crescimento no emprego muito
inferior à média; fabr. de artigos e borrachas (div. 25).
Já para o Nordeste, os gêneros que mais ampliaram suas participações no
emprego industrial foram: o de fabr. de produtos químicos (div 24); fabr. de produtos em
metal (div 28); fabr. de máquinas e equipamentos (div 29); fabr. e montagem de veículos
automotores (div 34); fabr. de outros equipamentos de transporte (div 35); confecções
(div 18); calçados (div 19) que, assim como observado para o Ceará, foi o que apresentou
o maior acréscimo em participação; fabr. de móveis e indústrias diversas (div 36); fabr.
de artigos de borracha e plástico (div 25) e o de fabr. de produtos minerais não metálicos
(div 26). Já as maiores perdas ficaram a cargo do ramo de fabr. de produtos têxteis (div
17); fabr. de coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares e produção
de álcool (div 23); metalurgia básica (div 27); edição, impressão e reprodução de
gravações (div 22); fabr. de alimentos e bebidas (div 15); fabr. de produtos de fumo (div
16); fabr. de produtos de madeira (div 20).
Com base nestes dados, observa-se que os maiores aumentos de participação no
emprego industrial, para o Ceará e o Nordeste, se deram nos ramos tradicionais que,
segundo Fernandes (2012), são caracterizados por baixos salários e não requerem
trabalhadores altamente qualificados. O que permite sugerir que a migração de
investimentos industriais para essas áreas não foi acompanhado de melhores condições
de trabalho, isso porque as empresas que aí chegaram se apropriaram da mão de obra
barata e dos incentivos ficais existentes, sem que qualquer ganho fosse revertido em
melhores salários os operários.
5 Distribuição do Emprego Industrial Entre os Municípios Cearenses (1995-2010)
A Tabela 03 traz a distribuição do emprego industrial segundo a região
metropolitana, capital e demais municípios, para o Ceará e Nordeste, considerando os
anos de 1995 e 2010.
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Tabela 03: Emprego industrial segundo região metropolitana, capital e demais municípios
- Ceará e Nordeste (1995 e 2010)
Unidade
Geográfica
Ceará Nordeste
1995 2010 1995 2010
Emp. % Emp. % Emp. % Emp. %
Região
Metropolitana 86.236 84,26 172.741 68,72 305.105 58,42 524.750 51,91
Capital 59.561 58,20 88.583 35,24 173.063 33,14 255.781 25,30
Demais
Municípios 16.105 15,74 78.616 31,28 217.179 41,58 486.217 48,09
Total 102.341 100,00 251.357 100,00 522.284 100,00 1.010.967 100,00
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Como indicado na Tabela 03, no Nordeste e, principalmente, Ceará, a maior
parte do emprego industrial está concentrada nas regiões metropolitas. Tal resultado vai
ao encontro das teorias que versam sobre os determinantes da localização espacial das
atividades, como os trabalhos de Hirschman (1977), Krugman (1991), Marshall (1985),
Myrdal (1972) e Perroux (1977), segundo as quais a distribuição das atividades e do
emprego não se dá de forma uniforme, mas se concentram nas poucas áreas que
apresentem vantagens locacionais, como infraestrutura qualificada, boas instituições de
pesquisas, mão de obra especializada e amplo mercado consumidor e fornecedor –
geralmente encontradas nas capitais e seu entorno.
Contudo, apesar das regiões metropolitanas deterem a maior parte do emprego
industrial do estado e da região, parece haver uma desconcentração do emprego em
direção ao interior, quando se compara os anos polares 1995 e 2010.
Notemos que para o Ceará há uma redução relativa de 39,45% da participação
das capitais no emprego industrial; para a região metropolitana essa redução foi de
18,44%. O fato do percentual de redução da capital ter sido maior do que o da região
metropolitana pode indicar que parte do emprego perdido por Fortaleza tenha se
deslocado para municípios próximos, embora também se note fuga de emprego das
regiões metropolitanas para os demais municípios que, entre 1995 e 2010, quase dobrou
sua participação.
Também para o Nordeste se observa perdas de participação da capital e das
regiões metropolitanas no estoque de emprego, respectivamente, queda de 23,65% e
11,15%, proporções menores do que as observadas no Ceará; já os demais municípios
ampliaram sua participação em 15,66%. O que pode ser um indicativo de que o processo
de desconcentração do emprego em direção as áreas interioranas tem se dado de forma
mais intensa para o Ceará do que no Nordeste, embora esse estado continue a apresentar
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1031
taxas de participação das regiões metropolitanas e da capital no emprego industrial
maiores que as da região.
Entre os fatores responsáveis por este deslocamento do emprego em direção ao
interior, Cano (2008) destaca que além da atuação de alguns prefeitos, através de
incentivos fiscais e financeiros e investimentos em infraestrutura, outro fator que pode
contribuir para tal processo é o fato de no interior os salários serem mais baixos do que
nas capitais e nas regiões metropolitanas, o que é facilmente verificado no Ceará e
Nordeste5.
Para um melhor mapeamento deste processo de desconcentração do emprego
industrial utilizou-se, no próximo subtópico, indicadores de análise espacial, I de Moran
e LISA, que permitiram verificar a dependência espacial nos dados, isto é, se o estoque
de emprego de um município influencia o comportamento dos seus vizinhos; além de
mapear as aglomerações de emprego industrial no Ceará, nos anos de 1995 e 2010.
5.1 Análise Espacial
Antes de apresentar os resultados da análise espacial, convém destacar os vinte
municípios que tiveram as maiores participações no emprego industrial do estado do
Ceará nos anos de 1995 e 2010, o que é objeto de estudo da Tabela 04.
Tabela 04: Participação dos 20 primeiros municípios no emprego da indústria de
transformação cearense (1995 e 2010)
Município 1995 Município 2010
Emprego % Emprego %
Fortaleza 59.561 57,09 Fortaleza 88.583 34,96
Maracanau 14.253 13,66 Maracanau 28.876 11,40
Sobral 4.242 4,07 Sobral 21.992 8,68
Caucaia 3.482 3,34 Horizonte 16.613 6,56
Eusébio 3.214 3,08 Eusébio 11.224 4,43
Cascavel 1.859 1,78 Juazeiro do Norte 10.244 4,04
Barbalha 1.797 1,72 Caucaia 7.851 3,10
Maranguape 1.759 1,69 Maranguape 6.526 2,58
Juazeiro do Norte 1.732 1,66 Russas 5.696 2,25
Horizonte 1.561 1,50 Crato 4.571 1,80
Pacajus 1.490 1,43 Iguatu 3.799 1,50
Crato 763 0,73 Aquiraz 3.691 1,46
Aquiraz 530 0,51 Pacatuba 3.067 1,21
Acarapé 510 0,49 Barbalha 2.974 1,17
Aracati 490 0,47 Cascavel 2.833 1,12
Itapipoca 477 0,46 Pacajus 2.828 1,12
Iguatu 475 0,46 Itapipoca 2.675 1,06
5 Segundo a RAIS (2014), em 2010 a remuneração dos trabalhadores industriais que atuaram na capital cearense foi de
1,63 salários mínimos (SM), na região metropolitana foi de 1,67 SM e no interior apenas 1,31 SM; para o Nordeste
esses percentuais foram de 2,21 SM, 2,35 SM e 1,06 SM, respectivamente.
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(Continua)
Município 1995 Município 2010 1995 Município
Emprego % Emprego %
Uruburetama 409 0,39 Itapagé 2.236 0,88
Forquilha 377 0,36 São Gonçalo do
Amarante 1.340 0,53
Russas 256 0,25 Aracati 1.288 0,51
Subtotal 92.237 96,97 Subtotal 228.907 91,07
Demais municípios 3.104 3,03 Demais municípios 22.450 8,93
Total 102.341 100,00 Total 251.357 100,00 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Como base nesta tabela, verifica-se que, apesar do Ceará possuir um total de 184
municípios, em 1995 apenas vinte destes concentravam 96,97% dos empregos industriais
do estado. Dentre os quais se destacou sua capital, Fortaleza, que sozinha respondia por
mais da metade do emprego industrial. Também se verifica que nove, dos quinze
municípios que integram a região metropolitana de Fortaleza, estão nesta lista, geralmente
entre os primeiros colocados, como Fortaleza, Maracanaú, Caucaia, Eusébio, Cascavel e
Maranguape que ocupam, respectivamente, a primeira, segunda, quarta, quinta, sexta e
oitava posição.
Para o ano de 2010 verificou-se uma redução na participação dos vinte primeiros
municípios (apesar de ainda continuar concentrada, 91,07%), enquanto os demais
municípios ampliaram suas participações em mais de 194%. Fortaleza e Maracanaú,
apesar de continuem ocupando as duas primeiras posições, perderam participação,
quando deixaram de responder por 70,75% do total de emprego existente em 1995 para
46,36%. Por outro lado, municípios como Sobral e Juazeiro do Norte, localizados no
interior, ampliaram suas participações.
Os municípios de Acarapé, Uruburetama e Forquilha, que se encontravam entre
os vinte com maiores participações em 1995, não faziam mais parte deste grupo em 2010,
dando lugar aos municípios de Itapagé, Pacatuba e São Gonçalo do Amarante, estes dois
últimos fazem parte da região metropolitana de Fortaleza.
Tais dados vêm a reforçar os resultados apresentados na Tabela 03, sugerindo uma
desconcentração do emprego para o interior, principalmente para aqueles municípios
próximos à região metropolitana de Fortaleza, embora também se observe o crescimento
do emprego em áreas mais afastadas, como Sobral e Juazeiro do Norte, já citados.
No intuito de melhor entender esta desconcentração do emprego, utilizou-se os
indicadores espaciais I de Moran e LISA, cujos resultados estão descritos a seguir.
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Tabela 05: Índice I de Moran global para indústria de transformação – Ceará (1995-2010)
Setor
1995 2010 Taxa de crescimento
do I de Moran 1995-
2010 (%) Valor do
índice p-valor
Valor do
índice p-valor
Indústria de
transformação 0,124633 0,01 0,200355 0,04 60,76
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Como se pode verificar tanto em 1995 quanto em 2010 os I de Moran
apresentaram valores positivos e significantes ao nível de 5%, já que o p-valor foi menor
do que esse nível. Tal resultado, permite aceitar a hipótese alternativa, indicando a
existência de correlação espacial positiva entre o conjunto de dados. Ou seja, verifica-se
que municípios cearenses que possuem alta participação no emprego geralmente têm
como vizinhos municípios que apresentam a mesma situação; e municípios com baixa
participação no emprego tendem a ser rodeados por municípios que também apresentam
baixa participação.
Outra observação a ser feita é que o índice em 2010 foi mais alto do que em
1995, indicando que em 2010 existia uma correlação espacial mais intensa. Isso significa
que os municípios com alto estoque de emprego estavam influenciando mais fortemente
o emprego nos municípios vizinhos, contribuindo para a formação de novas aglomerações
de emprego industrial no estado. Tal fato, juntamente com as informações da Tabela 04,
sugere que a desconcentração do emprego no Ceará tem como direção municípios
próximos daqueles que já possuíam um alto volume de ocupações. Esta mesma conclusão
chegou Fernandes, Araújo e Moreira (2011) ao estudar a distribuição do emprego entre
os municípios nordestinos.
Contudo, embora se destaque a importância do I de Moran para se verificar o
grau de dependência espacial global para um conjunto de dados, Anselin (1995) ressalta
que este pode encontrar dificuldade em identificar padrões de dependência espacial local.
Para tanto, utilizou-se o LISA a fim de avaliar a significância local dos processos
espaciais e identificar os clusters e outliers de participação municipal no emprego
industrial do Ceará nos anos de 1995 e 2010, conforme traz os Mapas 01 e 02.
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Mapa 01: LISA para participação dos municípios no emprego industrial do Ceará em
1995.
Fonte: Elaboração própria com uso do programa Terraview.
LEGENDA
Não significativo Alto-alto Baixo-baixo Alto-baixo Baixo-alto
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Mapa 02: LISA para participação dos municípios no emprego industrial do Ceará em
2010
Fonte: Elaboração própria com uso do programa Terraview.
Os mapas LISA vêm a confirmar os resultados apresentados anteriormente,
mostrando que o emprego industrial cearense está concentrado preponderantemente na
região metropolitana de Fortaleza. As economias de aglomeração geradas via
concentração, tais como, externalidades tecnológica, mercado de trabalho especializado,
amplo mercado fornecedor e consumidor podem ajudar a explicar essa aglomeração em
torno da Região Metropolitana, conforme sugerem Hirschman (1977), Krugman (1991)
e Marshall (1985).
LEGENDA
Não significativo Alto-alto Baixo-baixo Alto-baixo Baixo-alto
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Em 1995, dos sete municípios identificados como AA, seis estão na região
metropolitana de Fortaleza. Foram eles: Aquiraz (644 empregos); Maranguape (2.027);
Eusébio (2.819); Fortaleza (60.873); Maracanaú (15.037); Caucaia (3.422). Apenas
Forquilha (650) se encontra um pouco mais afastada.
Por seu turno, a maior parte das associações do tipo BB foi encontrada no
interior: Moraújo (0 empregos); Pacujá (0); Ipu (50); Canindé (37); Crateús (50);
Independência (0); Tauá (5); Acopiara (67); Tarrafas (0); Campos Sales (32).
Para os outliers do tipo AB não houve nenhuma observação significativa. Já as
observações do tipo BA apareceram cinco municípios: Meruoca (0 empregos); Groaíras
(0); Pacatuba (171); Itaitinga (4); Pindoretama (0). Os dois primeiros apresentam fronteira
com o município de Sobral que, embora considerado não significativo, apresenta alto
estoque de emprego. Já os três últimos fazem parte da região metropolitana de Fortaleza.
Para 2010 observaram-se poucas modificações. Novamente seis dos sete
municípios identificados como AA estão na região metropolitana, embora tenha havido
algumas permutas: Aquiraz (3.691 empregos); Eusébio (11.224); Fortaleza (88.583);
Maracanaú (28.876) e Caucaia (7.851) permaneceram, enquanto, Maranguape deu lugar
ao município de Pacatuba (3.067). Contudo, apesar de indicar forte concentração do
emprego em torno da capital, este mapa, quando comparado ao de 1995, sugere um
deslocamento do emprego, ainda que modesto, em direção ao interior, com o
aparecimento de Barbalha (2.974) como AA, sendo este município situado na Região
Metropolitana do Cariri, instituída em 2009. As políticas de atração de investimento
adotadas pelo governo do referido município e os baixos salários aí pagos podem explicar
o bom desempenho do seu emprego industrial em 2010.
Novamente, os municípios identificados como BB continuam, em sua grande
maioria, localizados no interior: Ipu (94 empregos); Ipueiras (16); Nova Russas (12);
Tamboril (0); Crateús (135); Independência (9); Tauá (58); Aiuaba (0); Antonina do
Norte (0); Potengi (3); Araripe (0); Várzea Alegre (114); Lavras da Mangabeira (1);
Ipaumirim (37); Ererê (0); Campos Sales (33).
Também em 2010 não se observou nenhuma associação do tipo AB. Já as do
tipo BA foram encontradas em sete municípios: Coreaú (5 empregos), Irauçuba (358),
Forquilha (407), essas três em torno do município de Sobral que, embora não identificado
significante como AA, é o terceiro município cearence em termo de emprego industrial;
Groaíras (23); Itaitinga (920); Guaiúba (293) e Pindoretama (760) na região
metropolitana de Fortaleza.
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Por fim, tem-se o mapa LISA para o crescimento da participação dos municípios
no emprego da indústria de transformação do Ceará entre 1995 e 2010.
Mapa 03: LISA para o crescimento da participação dos municípios no emprego da
indústria de transformação do Ceará entre 1995 e 2010
Fonte: Elaboração própria com uso do programa Terraview.
Com base no LISA de crescimento, verificou-se apenas um município
identificado como AA. Este foi o município de Barreiras que fez crescer em mais de
2771% sua participação no volume de emprego da indústria de transformação cearense.
Tal resultado corrobora o que já vinha sendo apontado ao longo deste tópico: o processo
LEGENDA
Não significativo
Alto-alto
Baixo-baixo
Alto-baixo
Baixo-alto
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de interiorização do emprego industrial tem se dado principalmente para municípios
próximos daqueles onde já exista um alto estoque de emprego.
As observações Baixo-Baixo – (BB) continuam localizadas principalmente no
interior, embora se observe o aparecimento de umas poucas próximas à região
metropolitana de Fortaleza: Várzea Alegre (acrescentou 19,04% em sua participação no
emprego); Lavras da Mangabeira (-86,43%); Ererê (0%); Jaguaribe (130,12%); Icó
(36,17%); Baixio (0%); Ipaumirim (-80,43%); Aurora (-96,30%); Barro (-35,32%);
Milagres (-30,89%); Pacoti (0%).
Também para o LISA de crescimento não se observou nenhum outliers do tipo
AB. Já as do tipo BA, encontram-se espalhadas entre a região metropolitana de Fortaleza
e o interior: São Luis do Curu (0%); Forquilha (-74,50%); Groaíras (0%); Cariré (0%);
Varjota (0%); Pires Ferreira (0%); Catunda (0%); Pedra Branca (0%); Piquet Cameiro (-
100%); São João do Jaguaribe (0%); Potiretama (0%); Ocara (0%); Cascavel (-33,31%);
Pacajus (-32,53%); Acarapé (-17,34%).
Os resultados apresentados nos dois últimos tópicos indicam que as
transformações macroestruturais observadas na economia brasileira nas duas últimas
décadas tiveram forte rebatimento sobre a estrutura ocupacional e a organização espacial
do emprego industrial do Ceará. A oferta de baixos salários, os incentivos fiscais e as
obras de infraestrutura realizadas pelo governo desse estado atraíram vários dos
investimentos que migraram para o Nordeste, sobretudo os relacionados ao segmento
intensivo em trabalho que se consagrou, em 2010, como o principal absorvedor da mão
de obra empregada na indústria de transformação cearense. Além de mudanças na
estrutura ocupacional, também se verificou uma alteração na localização espacial do
emprego, com direção ao interior, principalmente para aqueles municípios próximos a
região metropolitana. O próximo tópico enfoca o emprego industrial cearense na ótica do
perfil do trabalhador, considerando os anos de 1995 e 2010.
6 O Perfil do Trabalhador da Indústria de Transformação do Ceará (1995-2010)
A descrição do perfil do trabalhador que atua na indústria de transformação
cearense e nordestina se pautará em quatro variáveis: remuneração, escolaridade, gênero
e faixa etária, conforme retrata as próximas quatro tabelas, respectivamente.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1039
Tabela 06: Distribuição do emprego por faixa de remuneração-Ceará e Nordeste (1995-
2010)
Faixa Salarial
Ceará Nordeste
1995 2010 1995 2010
Emp. % Emp. % Emp. % Emp. %
Até 0,5 SM 62 0,06 1.043 0,43 1.066 0,21 3.613 0,37
0,51 a 1,00 SM 6.644 6,75 24.456 10,16 35.167 7 89.050 9,01
1,01 a 2,00 SM 61.231 62,25 188.410 78,25 237.030 47,2 695.656 70,37
2,01 a 5,00 SM 22.424 22,89 20.272 8,42 154.647 30,8 147.445 14,91
5,01 a 10,00 SM 4.834 4,91 4.469 1,86 41.410 8,25 30.913 3,13
10,01 a 20,00 SM 2.078 2,11 1.598 0,66 20.716 4,13 15.287 1,55
Acima de 20,00
SM 1.086 1,1 539 0,22 12.129 2,42 6.605 0,67
Total 98.358 100 240.787 100 504.160 100 988.569 100 Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Pela Tabela 06, verifica-se que no período estudado, tanto no Ceará quanto no
Nordeste, houve um aumento na participação dos trabalhadores que recebiam até 2
salários mínimos (SM) no total do emprego industrial existente. Em 2010, os empregados
com até 2 SM representavam quase 89% da mão de obra da indústria cearense; enquanto
em 1995 essa participação foi de 69,06% - ampliação de 28,64%. Para o Nordeste, esses
percentuais foram: 54,41% em 1995 e 79,75% em 2010 – aumento de 31,77%.
Esses dados mostram que, no período considerado, o Ceará pagou salários
menores do que a própria região em que está inserido, o que pode justificar o fato desde
ter sido um dos principais destinos dos investimentos que chegaram ao Nordeste.
Ademais, os dados também apontam para uma deterioração nos salários pagos aos
trabalhadores industriais do Ceará e do Nordeste, sugerindo que a expansão do emprego
não foi acompanhada de melhores condições de trabalho e de remuneração. Uma provável
explicação para essa retração nos salários é a ampliação da participação das micro e
pequenas empresas no total de emprego, sendo estas caracterizadas por pagarem salários
mais baixos que as médias e grandes empresas. Outro fator pode estar relacionado ao fato
de que a maioria dos postos gerados foi em ramos tradicionais, que pagam baixos salários.
Em relação ao grau de instrução, apresenta-se a Tabela 07.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1040
Tabela 07: Distribuição do emprego segundo grau de instrução-Ceará e Nordeste (1995-
2010)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS (2014).
Com base na Tabela 07, verifica-se que no Ceará ocorreu um crescimento no
grau de instrução dos trabalhadores, visto que no ano de 1995 quase 78% dos
trabalhadores tinham até o ensino fundamental completo e um pouco mais de 22%
estavam entre os que tinham ensino médio incompleto a doutorado; enquanto que no ano
de 2010 a participação dos trabalhadores com até o ensino fundamental completo foi
reduzida para 34,61% e os demais aumentaram.
Esta mesma tendência é vista no Nordeste, onde em 1995 os trabalhadores que
tinham até o ensino fundamental representavam 75,26% e em 2010 reduziram sua
participação para 42,83%; já aqueles enquadrados entre médio incompleto a doutorado
em 1995 tinham uma participação de 24,74% e a ampliaram para 57,17% em 2010. Entre
os fatores que podem ter contribuído para incrementar o grau de instrução do trabalhador,
destacam-se: as exigências do mercado de trabalho por um profissional qualificado; as
políticas de qualificação da mão de obra adotadas pelo governo federal e estaduais; a
ampliação das vagas em universidades; criação de cursos técnicos e da expansão no
crédito educativo.
A Tabela 07 ainda mostra que, apesar do aumento de escolaridade dos
trabalhadores industriais do Nordeste e do Ceará, houve uma redução nos salários pagos.
Sendo que esse decréscimo salarial foi visto de forma significativa e em todos os graus
de instrução, sobretudo naquelas categorias que apresentavam uma maior escolaridade, o
que contribuiu para reduzir as disparidades entre os salários pagos aos trabalhadores mais
e menos escolarizados – no Ceará, por exemplo, em 1995 a remuneração paga aos
trabalhadores sem instrução correspondia a 12,6% do que era pago aos que tinha mestrado
e/ou doutorado; em 2010 esse percentual cresce para 16,71%.
Emp. % SM Emp. % SM Emp. % SM Emp. % SM
Analf. 4.517 4,46 1,26 1568 0,62 1,16 75781 14,47 1,64 34956 3,32 1,27
F. Incom. 56247 55,5 1,74 41760 16,61 1,24 259508 49,54 2,27 284412 27,02 1,43
F. Comp. 17920 17,98 2,11 43696 17,38 1,26 58944 11,25 2,95 131316 12,48 1,47
M. Incom. 7431 7,33 2,52 31137 12,39 1,23 35548 6,79 3,37 111927 10,64 1,41
M. Comp. 11908 11,75 4,66 119999 47,74 1,46 71359 13,62 6,6 428474 40,71 1,99
Sup. Incom. 1410 1,39 7,56 5472 2,18 3,13 8747 1,67 9,63 22259 2,11 4
Sup. Comp. 1887 1,86 8,43 7500 2,98 6,77 13829 2,64 10,43 38441 3,65 8,34
Mest. e
Dout.18 0,02 10 224 0,09 6,94 138 0,03 14,63 655 0,06 9,89
Total 101338 100 2,52 251356 100 1,57 523854 100 3,5 1052440 100 2,01
Grau de
instrução
Ceará Nordeste
1995 2010 1995 2010
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1041
Tal resultado confirma o pensamento de Antunes (2007) segundo o qual as
exigências das firmas por um trabalhador polivalente e qualificado nada mais foi que uma
forma de intensificar a exploração da força de trabalho pelo capital, uma vez que os
ganhos de produtividade obtidos com o aumento da qualificação não foram transformados
em aumentos salariais para os empregados, mas repassados na forma de lucro para o
capitalista.
Em relação à distribuição dos postos de trabalho por gênero, a Tabela 08, abaixo,
mostra que durante o período considerado não houve modificações significativas, uma
vez que continua evidente a predominância masculina no emprego industrial. No estado
do Ceará ocorreu apenas um leve crescimento na participação masculina chegando a
60,93% em 2010, enquanto no Nordeste os homens reduziram brandamente sua
participação no total da mão de obra empregada na indústria da região. Contudo, cabe
destacar que, apesar de nesta região ter havido um pequeno decréscimo na participação
da mão de obra masculina, a disparidade da distribuição do estoque de emprego entre os
gêneros ainda permanece bem maior no Nordeste do que no Ceará, veja:
Tabela 08: Distribuição do emprego industrial por gênero - Ceará e Nordeste (1995 e
2010)
Ano/ Região e
Estado
Masculino Feminino
Emprego % SM Emprego % SM
1995
Ceará 62.208 60,77 3,00 40.151 39,23 1,75
Nordeste 406.911 76,74 3,84 123.348 23,26 2,31
2010
Ceará 153.163 60,93 1,71 98.194 39,07 1,32
Nordeste 769.575 73,13 2,18 282.869 26,88 1,56
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE.
Somado a isso, cabe destacar que a desigualdade entre gêneros não se limita
apenas à distribuição do estoque de emprego, também se estende ao nível salarial
recebido. Com base na Tabela 08, constata-se que tanto no Ceará quanto no Nordeste,
nos dois anos considerados, os homens receberam melhores salários do que as mulheres,
apesar destas apresentarem uma maior escolaridade6. Contudo, cabe destacar que essa
6Segundo a RAIS (2014), no Nordeste, por exemplo, em 1995 o grau de escolaridade médio dos homens
que atuavam na indústria de transformação era de 5,66 anos de estudo, enquanto o das mulheres era de 7,45
anos. Em 2010, esses valores foram de 9,51 anos e 11,18 anos.
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diferença salarial foi reduzida, embora não signifique uma melhora nos salários pagos as
mulheres, mas sim, ocorreu em virtude da diminuição nos salários pagos aos homens ter
sido mais intensa.
No que diz respeito à idade, verifica-se que no Ceará a faixa etária de até 17 anos
teve uma diminuição de aproximadamente 45,31% no seu número de empregados,
enquanto e todas as demais apresentaram um crescimento, sendo que as faixas entre 25 a
39 anos e acima de 65 anos obtiveram um crescimento proporcional menor do que aquele
apresentado pela média, reduzindo assim, suas participações no total de emprego
industrial cearense. Já a faixa etária de 18 a 24 anos, ao crescer seu volume de emprego
próximo à média, manteve praticamente inalterada sua participação no emprego
industrial. A faixa entre 40 e 64 anos foi a que apresentou as maiores taxas de crescimento,
ampliando sua participação no volume de mão de obra empregada na indústria de
transformação do referido estado, como pode ser visto na Tabela 09, abaixo. Tal resultado
mostra-se consistente com as novas exigências do mercado de trabalho, no qual, a
experiência, conhecimento e produtividade tornaram-se requisitos indispensáveis para a
inserção do trabalhador neste mercado.
Já a redução na participação das faixas etárias de até 17 anos e de 65 ou mais
pode ter ocorrido em virtude das restrições e regulamentação do trabalho infantil, no
primeiro caso, e da provável aposentadoria, no segundo caso.
No tocante ao Nordeste, seguindo o exemplo do Ceará, também houve um
decréscimo no número de trabalhadores com até 17 anos, o que implicou em retração na
participação desta faixa no total de emprego industrial. Por outro lado, observou-se um
aumento na participação de três faixas etárias: entre 25 e 29 anos, 40 e 49 anos e 50 a 64
anos, com destaque para a última que, assim como no Ceará, foi a que apresentou o maior
crescimento relativo no seu número de empregados. Contudo, apesar destas mudanças,
verifica-se para os dois anos polares, nas duas áreas analisadas, que a maior parte dos
trabalhadores continua concentrada na faixa que tem entre 30 a 39 anos, como apontado
na Tabela 09.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1043
Tabela 09: Distribuição do emprego industrial por faixa etária-Ceará e Nordeste (1995-
2010)
Faixa Etária
Ceará Nordeste
1995 2010 1995 2010
Emp. % SM Emp. % SM Emp. % SM Emp. % SM
Até 17 anos 1280 1,25 1,24 700 0,28 0,83 9716 1,84 1,25 2930 0,28 0,85
18 a 24 anos 26457 25,91 1,63 65469 26,05 1,17 120769 22,84 1,88 237999 22,61 1,31
25 a 29 anos 23772 23,28 2,24 57832 23,01 1,41 109258 20,66 2,85 230339 21,89 1,69
30 a 39 anos 32047 31,38 2,89 75613 30,08 1,67 164363 31,08 4,15 325764 30,95 2,04
40 a 49 anos 13614 13,33 3,65 37892 15,08 1,93 87352 16,52 5,29 176171 16,74 2,61
50 a 64 anos 4728 4,63 3,32 13381 5,32 2,33 35202 6,66 3,92 76653 7,28 3,66
65 ou mais
anos 229 0,22 3,87 469 0,19 3,29 2188 0,41 4,26 2584 0,25 3,93
Total 102127 100 2,52 25135
6 100 1,57 528848 100 3,58 1052440 100 2,01
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS/MTE.
Ainda com base na Tabela 09, verifica-se que os trabalhadores localizados nas
faixas etárias mais elevadas são mais bem remunerados. Fatores como o aumento de
produtividade, ganhos de experiências e adicionais salariais podem contribuir para
explicar tal situação. Embora se registre redução no salário médio pago em todas as faixas
etárias.
Os dados apresentados sugerem não ter havido melhorias nas condições de
trabalho. Já que a maioria dos postos foi gerada em ramos tradicionais e apesar dos
trabalhadores se tornaram mais instruídos, os salários declinaram, indicando que os
ganhos de produtividade não foram repassados para os trabalhadores, mas transferidos
aos empregadores.
7 Considerações Finais
O presente estudo teve como objetivo traçar um panorama do emprego formal
da indústria de transformação do Ceará no período de 1995-2010, sob três enfoque: as
mudanças ocorridas na estrutura do emprego industrial; descrição dos níveis e padrões de
concentração do emprego industrial segundo os municípios cearenses e o perfil do
trabalhador.
Para atingir tal objetivo, além de pesquisa bibliográfica em autores que tratam
do tema, foram utilizados a RAIS como banco de dados e indicados de análise espacial, I
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1044
de Moran e LISA, que permitiram verificar a correlação espacial entre os dados de
emprego.
Os resultados indicaram que entre 1995 e 2010 houve um considerável
incremento no emprego gerado na indústria de transformação do Nordeste e,
principalmente, na do Ceará, que se tornou o principal absorvedor da mão de obra
empregada na indústria da região. Esse bom desempenho pode ser atribuído às medidas
adotadas pelo governo do estado que objetivavam atrair investimentos industriais por
meio da realização de obras de infraestrutura, dos incentivos fiscais que, juntamente com
a existência de mão de obra barata, atraíram firmas que buscavam redução de custos e
aumentos na competitividade.
Como consequência, os maiores incrementos de ocupações se deram no
segmento intensivo em trabalho que, ao crescer acima da média, ampliou sua participação
na estrutura do emprego industrial tanto do Ceará quanto na da região, enquanto os demais
reduziram.
Quanto à distribuição espacial do emprego industrial entre os municípios
cearenses, a taxa de participação e as estatísticas de análise espacial apontam para uma
desconcentração do emprego em favor das áreas interioranas, sobretudo, aquelas
próximas à região metropolitana de Fortaleza, embora também tenha sido observado o
crescimento do emprego em áreas mais afastadas, como Sobral e Juazeiro do Norte, e a
formação de clusters do tipo AA em áreas mais distantes da capital, como é o caso do
município de Barbalha, localizado na Região Metropolitana do Cariri.
Em relação ao perfil do trabalhador, verificou-se para a variável faixa etária que
tanto no Ceará quanto no Nordeste os maiores ganhos de participação se deram na faixa
de 40 a 64 anos. Reflexo das novas exigências do mercado de trabalho, no qual
experiência, conhecimento e produtividade são requisitos essenciais para uma melhor
inserção neste.
Para à variável gênero contatou-se que não houve mudanças significativas. No
Ceará e, principalmente no Nordeste, os homens continuam representando a maior parte
dos empregados industriais, como também são mais bem remunerados do que as
mulheres.
Quanto ao grau de instrução do trabalhador verificou-se que houve uma
diminuição na participação daqueles com até o ensino fundamental completo, sugerindo
um aumento no nível de escolaridade na mão de obra que atua na indústria cearense e
nordestina. Contudo, apesar do incremento no nível de escolaridade, houve redução nos
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salários médios, isso porque a maioria dos postos de trabalho criados foi nos segmentos
de baixa remuneração e cujas relações de trabalho não são estáveis quanto às do segmento
intensivo em capital.
Tais constatações permitem concluir que a expansão do emprego no Ceará e no
Nordeste não foi acompanhada de melhores condições de trabalho, sendo os ganhos de
produtividade obtidos com o aumento de qualificação dos operários convertidos em lucro
para os proprietários dos meios de produção.
Diante do exposto, sugere-se uma maior atuação por parte do governo estadual,
em parcerias com governos municipais, no sentido de adotar medidas mais rígidas
voltadas a expansão da atividade industrial para as áreas interioranas mais distantes da
capital, no sentido de criar fontes alternativas de emprego, renda e reduzir as disparidades
existentes entre interior e capital. Também devem ser direcionadas medidas voltadas a
melhorar as condições de trabalho e remuneração da classe trabalhadora já que, apesar da
expansão do emprego industrial no Ceará e no Nordeste, houve redução nos salários
pagos.
Além destas, o governo estadual, em parceria com os municípios, também
devem atuar visando criar um cenário atrativo para investimentos industriais em ramos
mais dinâmicos e que melhor remuneram, como os segmentos intensivos em capital, o
que consequentemente criará novos campos de emprego e dará mais dinamismo e
competitividade a economia do Ceará. Desta forma, devem ser priorizados investimento
em infraestrutura competitiva, em educação, criação de boas instituições de pesquisa,
programas de qualificação da mão de obra, concessão de incentivos fiscais e financeiros,
ampliação do seu mercados fornecedores e consumidores (através da redução na carga
tributária), dentre outros.
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Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1048
EMPREGADOS FORMAIS NA INDÚSTRIA TÊXTIL CEARENSE: ESTUDO
EMPÍRICO DE INSERÇÃO SOCIOECONÔMICA NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS VIS-À-VIS MÉDIA E GRANDES EMPRESAS- 2005/2010
José Ediglê Alcantara Moura1
Maria Jeanne Gonzaga de Paiva2
Erivan de Sousa Lima3
RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo comparar, entre 2005 e 2010, o perfil dos
empregados formais nas Micro e Pequenas Empresas (MPEs) vis-à-vis Médias e Grandes
Empresas (MGEs) industriais do setor têxtil instaladas no Ceará, bem como comparar o
perfil socioeconômico dos trabalhadores em ambos os portes analisados. Para tanto serão
analisadas as seguintes variáveis: evolução dos estabelecimentos por porte, na indústria
de transformação; evolução do emprego formal por porte na indústria de transformação;
número de empregados nas MPEs e MGEs do setor têxtil quanto ao sexo; faixa etária;
grau de instrução; tempo de serviço e faixa de remuneração. Os dados são da Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os
principais resultados mostram que o setor têxtil é que possui maior quantidade de
estabelecimentos e gera o maior número de postos de trabalho. Alguns resultados
apontam a elevação da faixa etária dos trabalhadores e o considerável amento no nível de
escolaridade. Além da maior predominância em ambos da mão de obra feminina e a
variação no nível de salário, notadamente entre um e dois salários mínimos.
Palavras- chaves: Indústria têxtil; Emprego formal; Empresas.
1 INTRODUÇÃO
O processo de desenvolvimento das economias periféricas foi marcado por um
lado pelos reflexos da corrente cepalina que pregava a industrialização como ferramenta
capaz de alavancar o desenvolvimento econômico através de ganhos de competitividade,
pois ao contrário dos outros setores da economia é o que possui uma maior produtividade
dos fatores de produção, uma vez que impulsiona o crescimento do produto potencial
nacional. Por outro lado, a industrialização desses países trouxe consequências
1 Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri- URCA. Crato/Brasil. Email:
2 Docente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri- URCA. Crato/Brasil. Email:
3 Graduando em Ciências Econômicas pela Economia da Universidade Regional do Cariri- URCA.
Crato/Brasil. Email: [email protected].
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socioeconômicas diversas a exemplo das altas taxas de endividamento externo,
desigualdades regionais, subordinação aos capitais externos além de elevada
concentração fundiária. No entanto o processo de industrialização brasileiro mostrou-se,
dinâmico quanto ao processo de inversão de capitais, resolução de problemas como
infraestrutura básica, concentrando seus capitais produtivos em uma área restrita do
território, a exemplo do Sudeste brasileiro. No entanto as políticas de desenvolvimento
regional pautadas na transferência de capitais produtivos mediante ação do Estado, a
exemplo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), promoveram
uma modernização do parque industrial nordestino, tendo como base a indústria têxtil. As
políticas de desconcentração industrial tiveram êxito através do das ações do II Plano
Nacional de Desenvolvimento (II PND), elaborado na segunda metade da década de 1970
no governo Geisel que estimulava a viabilização de um centro autônomo de produção
industrial notadamente na região Nordeste do país e que passou a ter um suporte maior a
enfrentar os problemas físicos (secas) que atingira a região.
Nesse momento, através Processo de Substituição de Importações (PSI), as
cadeias produtivas começaram a se condensar com elevada produção industrial e
integração regional entre os bens intermediários produzidos no Nordeste que eram
enviados para o Sudeste brasileiro a fim de tornar produtos finais destinados ao mercado
externo, como forma de contrabalançar os efeitos negativos na balança comercial.
O resultado mais perverso desse modelo foi a indução de uma economia
extremamente fechada, tecnologia de baixo valor agregado quando não obsoleta, o que
prejudicava a competitividade dos produtos nacionais vis-à-vis os importados. Era
necessário ressaltar a presença de grandes monopólios que aumentavam os preços
indiscriminadamente, mediante o modelo desenvolvimentista que se mostrou sensível ao
ambiente de instabilidade e choques econômicos devido a crise do petróleo 1973/79, pois
grande parte de suas decisões econômicas vinham do mercado externo.
Dessa forma a economia brasileira ingressou nos anos 1990 em uma fase crescente
de abertura comercial, com desequilíbrio nas contas públicas, o programa de estabilização
de preços (Plano Real) que esteve paralelo ao elevado nível de desemprego somado ao
redimensionamento do papel do Estado na economia, teve acentuados impactos na
indústria brasileira que para tornarem-se mais competitivas diante do aniquilamento das
políticas de desenvolvimento nacional migraram para o Nordeste em busca de benefícios
fiscais, financeiros, mão de obra barata e abundante e proximidade com os mercados
americano e europeu.
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A escolha da análise das empresas industriais por porte no Ceará foi em parte pelo
seu grau de polarização para atração de indústrias intensivas em mão de obra ( SILVA
FILHO; QUEIROZ, 2009), no entanto o fator atrativo de desconcentração industrial foi
através da isenção da principal receita do estado, o Imposto de Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS) para atrair grandes empresas que ofertam emprego precário (ARRAIS,
2003) e comprometem parcela de suas arrecadações em políticas de atração de
investimentos que não necessariamente conseguem romper com a tendência
concentradora da indústria (CANO, 1997), escoam a produção para outros estados
inclusive o exterior, dada a aproximação da Região Metropolitana de Fortaleza com os
grandes mercados consumidores internacionais. Em contramão as micro e pequenas
empresas industriais representam importante papel principalmente no interior do estado
gerando ICMS aos municípios, uma vez que são intensivas em trabalho e colaboram para
o desenvolvimento local4, com número vasto de empresas desconcentradas
geograficamente, não gera custos aos municípios e diversificam a produção para o
mercado interno.
A escolha da indústria têxtil cearense para o estudo é motivado por apresentar
como importante pólo têxtil no Brasil, no que se refere ao consumo de algodão em pluma,
ficando atrás somente do estado de São Paulo, o Ceará detém, ainda, o segundo lugar na
produção de fios, atividade também liderada por São Paulo. Dentro da cadeia produtiva,
o Ceará ocupa quarto lugar em volume de produção, depois de São Paulo, Santa Catarina
e Minas Gerais. Introduzida a discussão, objetiva-se com a pesquisa comparar o emprego
formal industrial (por porte de indústria) no estado do Ceará nos anos de 2005 e 2010,
considerando a importância da redução da informalidade5 refletida através de ganhos de
produtividade, haja vista a facilidade na elaboração de políticas públicas em benefício das
empresas formais, uma vez que reduz o custo do capital físico e incrementa valor ao
capital humano. Assim, as partes constitutivas desse trabalho além da introdução, aborda:
a metodologia utilizada, dando informações sobre a área de estudo, banco de dados e
método de análise, seguido do referencial teórico que aborda sucintamente no primeiro
capítulo: uma breve exposição acerca do pensamento econômico sobre o fator de
produção trabalho, procurando interpretar fenômenos econômicos no âmbito de produção
4 Segundo Urani (2003) a territorialização econômica se caracteriza pela articulação de empresas e pelo
relacionamento/articulação com outros agentes do local.
5 Ver Pinheiro (2003).
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capitalista. O segundo capítulo procura ressaltar a dinâmica das indústrias intensivas em
mão-de-obra (com ênfase nas micro e pequenas) desde o Processo de Substituição de
Importações (PSI) à abertura comercial dos anos 1990, na terceira parte mostram-se os
resultados e discussão dos dados. Por fim, as conclusões e referencias.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1 Sobre a área de estudo
O estado do Ceará está localizado na região Nordeste do Brasil, limitando-se ao
norte com o oceano atlântico, ao sul com o estado do Pernambuco, a leste com os estados
do Rio Grande do Norte e Paraíba e a oeste com o estado do Piauí (IPECE, 2012). Tem
uma área geográfica de aproximadamente 148.825,6 km2, que corresponde a 9,57% da
área total da região Nordeste e a 1,74% da total do Brasil (IBGE, 2010). Segundo os
dados demográficos de 2010, o Ceará possui um total de 8448.054 pessoas (4.118.065
homens e 4329.989 mulheres) distribuídos em uma densidade demográfica de 56,76
hab/km2 e taxa de urbanização de 75,09% da área total ocupada (IPECE, 2012).
2.2 Sobre o banco de dados
Esta pesquisa é classificada como sendo descritiva e explicativa. Os dados
utilizados são de origem secundária, extraídos da Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS), obtidas por acesso online ao site do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
referentes aos anos de 2005 e 2010. Apesar das limitações, uma vez que cobre apenas o
mercado de trabalho formal, a base de dados é bem mais abrangente podendo ser
focalizada informações desde nível nacional, regional, subnacional, mesorregional,
microrregional, região metropolitana e municipal.
2.3 Sobre o método de análise
Na realização deste trabalho, fez-se necessário a utilização de dois métodos: o
descritivo e o explicativo. O primeiro trabalha com a descrição das características do
mercado de trabalho formal industrial no Ceará. O segundo analisa as características das
indústrias (por porte) instaladas no Ceará e traça o perfil socioeconômico de seus
trabalhadores. Faz-se indispensável a utilização de sete variáveis, sendo duas para
analisar as características do porte de indústria e cinco para traçar o perfil do trabalhador
empregado na indústria cearense. Para analisar as características da indústria, se fez
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essencial o estudo das seguintes variáveis: número de estabelecimentos industriais por
porte no Ceará, número de trabalhadores na indústria por porte.
A segunda parte, procura analisar o perfil socioeconômico do trabalhador na
indústria formal, utilizam-se as seguintes variáveis: número de empregados na indústria
por porte segundo sexo, faixa etária, grau de instrução, tempo de serviço e remuneração
por salário mínimo. Para classificação do porte de empresas utilizou-se o critério
desenvolvido pelo SEBRAE, a partir do número de empregados que está expresso na
Tabela 1.
TABELA 1: Classificação das empresas por porte, segundo número de
empregados
Porte/ Setor Indústria Comércio e Serviços
Micro
Pequenas
Médias
Grandes
Até 19 Até 09
De 20 a 99 De 10 a 49
De 100 a 499 De 50 a 99
500 ou mais 100 ou mais
Fonte: SEBRAE. Elaboração Própria.
Dado os procedimentos metodológicos, os resultados do estudo serão expostos
através de tabelas, seguidas das respectivas análises.
3 PENSAMENTO ECONÔMICO SOBRE O FATOR DE PRODUÇÃO
TRABALHO EM MPE VERSUS MGE:
Existe um relativo consenso clássico que a divisão do trabalho é propulsora no
processo de desenvolvimento econômico, uma vez que as firmas ganham
consideravelmente aumento de produtividade, no entanto teóricos como Marx e
Schumpetter analisam que a questão reside no peso da divisão do trabalho como maior
gerador de riqueza em aumentos expressivos na acumulação de capital (CERQUEIRA,
2000). Conforme Smith (1996) dado o aumento da capacidade produtiva do próprio
trabalho, enfatiza a importância do setor industrial na economia, ao afirmar que as
atividades de serviços são de baixa rentabilidade, alijadas ao curso e especialização
crescente do trabalho, são incapazes de gerar lucro suficiente para manutenção e
expansão. Sendo assim, grande parte dessas atividades são realizadas pelo governo.
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Ricardo (1996)6 faz um paralelo às concepções de Smith (1996) e ressalta importantes
contribuições para Marx (1971) ao afirmar a demanda por parte das indústrias por
máquinas e equipamentos incrementem a cadeia produtiva com rendimentos líquidos
crescentes, porém a substituição do trabalho humano pela maquinaria é prejudicial aos
interesses da classe trabalhadora, provocando um fenômeno denominado de desemprego
tecnológico. Diante de tais preposições Marx (1971) vem a diferenciar pequena e grande
indústria, segundo ele os incrementos de bens de uso, máquinas e equipamentos refletem
modificações na composição técnica do capital, em que evolução tecnológica gera no
processo de crescimento econômico, aumento do capital constante em relação em relação
ao capital variável, elevando a composição orgânica, que expande o número de
desempregados reduzindo a massa salarial paga, o que provoca intensa precarização do
mercado de trabalho. Em contramão às pequenas empresas que possuem maior proporção
de trabalho por unidade de capital investido, absorvem parcela da mão-de-obra ociosa,
gerando emprego e renda. Existe dessa forma uma relação de complementação das
empresas, por porte, na lógica de acumulação capitalista. Percebe-se que às MPEs são as
maiores geradoras de emprego, pela lógica do pensamento neoclássico no que tange à
maximização do lucro pela firma afirmando que incrementos maiores no emprego e
função direta com diminuições salariais. Diante de tais análises torna-se evidente que
vários empregos foram destruídos pelas inovações tecnológicas, mas que essas perdas
poderão ser compensadas por ganhos de empregos nos novos setores mais dinâmicos. No
entanto, observa-se o modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, os ganhos de
produtividade resultante da introdução de novas tecnologias poupadoras de tempo e mão-
de-obra, significam um declínio nas taxas de emprego. Pois, sabe-se que havendo uma
rápida acumulação de capital, as inovações tecnológicas poderão contribuir para um
aumento virtuoso do crescimento econômico, criação de empregos e incremento de
produtividade. Mas de a demanda global é deficiente e a acumulação de capital for lenta,
o aumento do progresso técnico pode elevar o desemprego. A relação trabalhista do
sistema de Acumulação Flexível é baseada na máxima extração de lucro do trabalho vivo,
tendo como base de sustentação e extinção do sindicalismo combativo em que a inovação
e flexibilidade das novas formas de organização do trabalho acabaram beneficiando às
empresas de menor porte, haja vista estarem mais integradas ao mercado nacional e ao
6 Na sua obra Príncipios da Economia Política e Tributação (1817) é analisada o papel da indústria que
migra para regiões que ofereçam vantagens comparativas de custos, Como melhor forma de proliferação
da acumulação de capital e das escalas de produção.
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próprio processo produtivo. Com o processo de abertura comercial e financeira o
mercado de trabalho passou por reestruturação e novas formas de gestão/produção foram
ajustadas no mundo do trabalho, em que com o enfraquecimento dos sindicatos e a
imposição de contratos de trabalho mais compatíveis às necessidades de reduzir custos
por parte das empresas, criando uma relação direta entre trabalhos flexíveis e precarização
das condições de trabalho que é reflexo do Modelo de Acumulação Flexível, em que a
inovação das relações de trabalho favorecem às pequenas empresas, uma vez que
exploram diversos nichos de mercado e de pequena escala (HARVEY, 2004). Valois
(2007) ressalta que o princípio da acumulação flexível ressalta-se na idéia de que para as
empresas permaneçam no mercado deveriam contrapor às características fordistas como
rigidez salarial e a estabilidade do emprego, dando lugar às subcontratações, terceirização
e trabalhos temporários como mecanismo de eficiência técnica por parte das
organizações.
4 DA SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES AO INGRESSO NO MERCADO
INTERNACIONAL: COMO SE COMPORTOU A INDÚSTRIA BRASILEIRA?
Com a falência do modelo agroexportador de 1929-1930 ao contrário do que
exposto por Rezende (2002) que ressalta os efeitos depressivos da crise no mundo
capitalista, em especial o Brasil com elevadas taxas de desemprego, déficit na balança
comercial, uma vez que as exportações de café foram paralisadas. Rego e Marques (2006)
vai além do autor supracitado afirmando que pós-crise de superprodução, a economia
brasileira reagiu conforme os ideais de Keynes, praticado através da forte intervenção do
estado na economia. Paralelo a tais situações em um cenário de desvalorização cambial,
criaram condições para instalações de indústrias de bens de capital, uma vez que foi
importado equipamentos de baixo valor que estavam ociosos diante do fechamento de
milhares de fábricas. Cria-se dessa forma um processo de Substituição de Importações
(PSI), com grandes elevações no produto nacional, uma vez que era necessário produzir
internamente o que antes importava. Lipietz (1988) avalia que o processo de Substituição
de Importações daria um sucesso parcial ao processo de desenvolvimento econômico do
país, uma vez que a desqualificação da mão-de-obra gerava bens de baixo valor agregado
que tornava incompatível competir com o mercado externo e incrementando a análise o
processo de industrialização fora atingido mediante um alto nível de passivo externo que
desequilibrava a longo prazo a balança de pagamentos do país. Dessa forma é necessário
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ver os comentários de Urani (2003, pag. 509) acerca do modelo desenvolvimentista
implantado no país:
É importante ressaltar que o aumento da desigualdade era um
resultado esperado das intervenções do Estado Nacional nos
mais diferentes mercados para favorecer o grande capital que
caracterizara o modelo substituto de importações. Na lógica
deste modelo, a pobreza se reduziria com o crescimento
econômico, na medida em que os setores dinâmicos da economia
se mostrassem capazes de absorver todos aqueles que se
aglomeravam em suas sobras.
Como a indústria nacional não podia aumentar sua capacidade produtiva
importando bens de capital, dado o alto custo em decorrência da desvalorização cambial,
utilizou-se inicialmente a capacidade ociosa preexistente, a exemplo da indústria têxtil,
depois foi possível importar equipamentos de baixo valor proveniente das fábricas
fechadas pós-crise, têm-se dessa forma um realinhamento dos preços relativos e
paulatinamente uma indústria capaz de substituir importações (FURTADO, 2003).
Na verdade o modelo desenvolvimentista impôs grandes custos à população
brasileira, reduzindo os recursos externos destinados a investimentos no país, uma vez
que a recessão os países centrais (1979-82) que impactou em elevação da dívida externa,
redução das reservas cambiais, altas taxas de inflação com queda acentuada no produto
potencial da economia pressionando o governo nacional elaborar reformas estruturais
(DINIZ, 1995). Em consequência da hegemonia do pensamento neoliberal e da elevada
reestruturação produtiva de caráter toyotista, a economia brasileira passou a conviver com
uma abrupta abertura comercial e financeira, elevada taxa de juros doméstica,
crescimento econômico pífio, desemprego e crescente precarização do mercado de
trabalho (HELOANI, 2002). Diante de tais mudanças implementadas no final da década
de 1980 e em especial no início dos anos 1990, as grandes empresas passaram a adotar
estratégias de sobrevivência, assentada em ganhos de produtividade mediante economias
de escala em que para manterem-se mais competitivas passaram a enxugar o número de
funcionários diretos, terceirizou funções, desverticalizou a produção através de inovações
organizacionais que primavam a eficiência econômica no paradigma da grande indústria
(GUIMARÃES NETO, 1993).Diante das conseqüências das mudanças estruturais e do
ajuste econômico adotado pelo país provocou uma retração do mercado de trabalho
formal, conjugado com a tríade- globalização, políticas neoliberais e reestruturação
produtiva impacta na oferta e qualidade dos postos de trabalho do setor secundário com
mobilidade de seus trabalhadores para o setor terciário, o subemprego e a informalidade
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(QUEIROZ & TARGINO, 2003). A partir desse momento às pequenas empresas
industriais passaram a absorver parte da mão-de-obra desempregada a baixo custo, uma
vez que segundo Dedecca (1999) a globalização e a concorrência internacional tiveram
sérias consequências como financeirização do capital produtivo, que numa conjuntura de
elevação da taxa de juros, acarretou um aumento desproporcional do retorno não-
operacional dos capitais produtivos. Diante da tal conjuntura a indústria têxtil brasileira
passou por diversas mudanças, tanto na essência de produção quanto na conjuntura. Na
década de 1980, ocorreu aumento da concorrência mundial através da abertura comercial
em que novas fibras artificiais sintéticas surgiram, além de constantes inovações,
aumentando a capacidade produtiva. Além disso, no Brasil, no começo dos anos 1990,
começou o processo de abertura comercial que implicou em aumento da concorrência,
com redução de tarifas para importação de produtos têxteis e com entrada de outros
concorrentes no mercado nacional (CLEMENTINO, 2015).
Para enfrentar a conjuntura econômica no final dos anos 1980 e principalmente
no início dos anos 90, além da verticalização, a indústria têxtil passou por um processo
de relocalização, sendo essas, uma das principais estratégias de custo. Empresas
localizadas no Sudeste do País transferiam suas plantas para o Nordeste, especificamente
para os estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Na região Sul ocorreu expansão
das empresas já instaladas na região. A estratégia era buscar lugares que
disponibilizassem mão-de-obra barata, abundante e disciplinada, incentivos fiscais,
proximidade com os grandes mercados consumidores internacionais com intuito de
melhorar a competitividade e estimular a “guerra fiscal” entre os estados brasileiros,
particularmente do Nordeste (NEGRI, 1992). Outro fato importante foi a implantação foi
a implantação do Plano Real, em 1994, que por um lado, eliminou a hiperinflação, mas
por outro lado, com a sobrevalorização da taxa de câmbio, prejudicou as empresas
nacionais com o favorecimento das importações e com elevada taxa de juros doméstica
(COUTINHO e FERRAZ, 1994). O processo de abertura do comércio exterior veio
marcar alterações na estrutura produtiva, uma vez que ALVES (2003) contraria à idéia
de Markwald (2005) ressaltando que os bens intensivos nos fatores que são abundantes
no Brasil (trabalho e recursos naturais) obtiveram perdas relativas do produto potencial,
que causaram decomposição da variável emprego, bem como queda na participação em
menor grau, dos setores intensivos em tecnologia.
Cano (1997), ressalta que a abertura pode ter um papel importante no estímulo
ao crescimento da produtividade e na redução do custo do investimento, porém para que
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tais efeitos sejam expressados, é necessário um contexto macroeconômico e institucional
favorável. Dessa forma expande-se o número de micro e pequenas empresas industriais,
seguindo em contramão ao processo vivenciado na grande empresa que passou a enxugar
funcionários, adotar tecnologia microeletrônica com desregulamentação das relações de
trabalho mediante demanda por trabalhadores mais qualificados oferecendo-os estágios,
contratos temporários ou subcontratações (VALOIS, 2007). Ainda ressaltando a questão
macroeconômica do Brasil e os impactos sobre o desenvolvimento das empresas de
menor porte, vale-se destacar as baixas taxas de crescimento e dívida pública crescente,
expõe a fragilidade interna às crises internacionais e imprime ao país um ambiente de
avessos à ampliação do crédito bancário ás empresas face a insegurança dos agentes
econômicos quanto a evolução dos negócios em um cenário sujeito a volatilidade e
intervenções do governo nos controles monetários (REZENDE, 2002). Historicamente, o
Nordeste caracterizava-se por uma região que acomodava-se às transformações da
economia brasileira assumindo função de fornecedora de insumos primários para a
indústria de bens de consumo não duráveis, formando um processo de integração no
mercado nacional (LIMA, 2005). Como os produtores nordestinos não conseguiam
acompanhar a dinâmica da região Sudeste, dado possuir uma maior infraestrutura e
acúmulo de capital adquiridos principalmente com o café. No entanto com o processo de
abertura comercial e financeira, altos índices de inflação, intensificados pela elevação das
taxas de juros no mercado internacional ocasionou baixo crescimento econômico como
conseqüência do declínio do nível de investimento que repercutiu de forma negativa no
setor industrial que eliminou postos de trabalho formais (REZENDE, 2002).
Dessa forma, com o processo de ajustes fiscais e reestruturação dos estados
nacionais, as micro e pequenas empresas passaram a ser uma alternativa à absorção de
mão-de-obra, uma vez que são mais intensivas em fator trabalho e requerem menor
inversão de capitais. Durante à década de 1990 em virtude dos efeitos da crise e das
deseconomias de aglomeração nas áreas industrializadas, as médias e grandes empresas
industriais migram para o Nordeste brasileiro em função dos benefícios fiscais e
infraestrutura concedida pelos governos estaduais7. Na década de 2000 percebe-se um
movimento mais diferenciado, em que a desconcentração da atividade produtiva vai
7 De acordo com Negri (1996), entende-se por deseconomias de aglomeração o conjunto de variáveis como:
maiores custos de transportes, terrenos, serviços de infraestrutura, ampliação do poder sindical da classe trabalhadora, questões ambientais, redução da produtividade e condições de vida nos grandes centros
urbanos.
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perdendo o fôlego. Têm-se notadamente no Governo Lula (2003-2010) uma expansão das
exportações, do crédito e do consumo, o que diminuiu a vulnerabilidade externa do Brasil
e propiciou um cenário mais propício à reprodução do capital, com abertura significativa
de micro e pequenos estabelecimentos que viabilizaram o desenvolvimento local e
regional principalmente das áreas periféricas (REGO e MARQUES, 2006). As micro e
pequenas empresas independem do setor, contribuem para a descentralização da atividade
econômica, uma vez que estão mais acessíveis a população, sendo capazes de atender
mercados pequenos e especializados, porém tais unidades produtivas enfrentam uma série
de dificuldades no que tange à políticas econômicas restritivas, descontrole do fluxo de
caixa, ausência de financiamentos de longo prazo, bem como escassez de capital de
giro(MONTAÑO, 1999; MORELLI, 1994).
5 ANÁLISE EMPÍRICA DO COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL
NAS MICRO, PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES INDÚSTRIAS TÊXTEIS
FORMAIS CEARENSE NOS ANOS 2005/2010
5.1 Evolução do número de MPE e MGE na indústria de transformação. Ceará-
2005/2010
Segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais- RAIS, destaca-se
na tabela 2, o crescimento na quantidade de indústrias formais abertas entre 2005 e 2010
com destaque para as MPE que passaram de 7184 unidades produtivas para 9653 no
período analisado, sofrendo variação de 34,39%. No caso das MGE industriais percebe-
se um aumento em números absolutos de 246 firmas para 336 em 2010, implicando
variação de 36,59%.
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TABELA 2: Número de estabelecimentos por porte na indústria de transformação
no Ceará- 2005/2010
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
No tocante à evolução relativa do número de estabelecimentos industriais de
micro e pequeno porte, percebe-se aumento da participação percentual do número de
indústrias têxteis que passa de 32,36% em 2005 para 34,31% em 2010, sofrendo variação
de 41,72%, enquanto às médias e grandes empresas registram um tímido aumento de
participação, passando de 26,42% para 26,79% no período analisado, sofrendo variação
de 38,46%. O Ceará registra no ano de 2010, 3385 indústrias do setor têxtil, sendo que
SETOR DA
INDÚSTRIA
N- ABS (% ) N- ABS. (% ) N- ABS (% ) N- ABS. (% )MPE VAR
(% )
MGE VAR
(% )
EXTRATIVA
MINERAL119 1,66 1 0,41 142 1,47 4 1,19 19,32 30
INDÚST.
MINERAIS NÃO
METAL.
484 6,74 9 3,65 647 6,7 15 4,46 33,68 66,67
INDÚSTRIA
METALÚRGICA469 6,53 11 4,47 715 7,41 13 3,87 52,45 18,18
INDÚSTRIA
MECÂNICA126 1,75 6 2,44 268 2,77 9 2,68 112,69 50
INDÚST.MAT.E
LÉT.COMU.45 0,63 4 1,62 59 0,61 5 1,48 31,12 25
INDÚST.MATER
IAL.TRANSP.85 1,18 4 1,62 115 1,19 10 2,97 35,29 150
IND.MADEIRA/
MOBILIÁRIO504 7,01 11 4,47 663 6,87 12 3,57 31,55 9,09
IND.PAPEL,PAP
ELÃO,GRÁF.471 6,55 8 3,25 650 6,73 14 4,17 38 75
IND.BOR,FUMO,
COUROS,PELES314 4,37 9 3,66 430 4,45 10 2,97 36,94 11,12
INDÚSTRIA
QUÍMICA386 5,37 13 5,28 504 5,22 25 7,44 30,57 92,31
INDÚSTRIA
TÊXTIL2325 32,4 65 26,4 3295 34,1 90 26,8 41,72 38,46
INDÚSTRIA DE
CALÇADOS196 2,73 25 10,2 305 3,16 46 13,7 55,61 84
IND.PROD.ALIM
ENTÍCIO,BEBID
AS
1546 21,5 67 27,2 1714 17,8 72 21,4 10,87 7,46
SERVIÇO
INDUSTRIAIS
DE UTILIDADE
PÚBLICA
114 1,59 13 5,28 148 1,53 11 3,27 29,82 -0,15
TOTAL 7184 100 246 100 9655 100 336 100 34,39 36,59
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1060
2977 (87,95%) estão localizados na Região Metropolitana de Fortaleza, sendo que
97,11% se enquadram como micro e pequenas empresas, enquanto 2,89% se configuram
como média e grande indústria. No tocante ao interior cearense é composto por 408
(12,05%) indústrias têxteis, sendo que 99,02% se encaixam como MPEs enquanto que só
0,98% podem ser consideradas MGEs8. Diante de tal situação fica claro a ineficácia do
Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) implementada com maior nitidez em 1995,
que buscava distribuir de forma equânime a atividade industrial no Ceará, uma vez que a
economia cearense ainda é marcada por acentuadas disparidades econômicas dentro do
território. No tocante à indústria metalúrgica que se configura como intensiva em capital,
as MPEs aumentam participação relativa de 6,53% em 2005 para 7,41% em 2010,
sofrendo variação de 52,45%, enquanto às MGEs enfrentaram queda na participação
percentual do total de estabelecimentos passando de 4,47% para 3,87%, implicando
variação de 18,18%. Têm-se dessa forma uma seletividade na localização da indústria
têxtil no território cearense9. Os dados vão ao encontro da tese de Pacheco (1998) ao
afirmar que ainda existe o processo de desconcentração industrial (mesmo em ritmo lento)
que se manifesta sob a forma de fragmentação da economia nacional e surgimento de
“ilhas de produtividade” em cada região.
Na indústria de produtos alimentícios, percebe-se queda em termos percentuais
na participação do total de estabelecimentos industriais em ambos os portes analisados, o
que vai ao encontro da ideia de Haguenauer et al. (2001) que ressalta o papel da indústria
alimentícia em diminuir sua produção mediante função da elevação dos salários reais
através do sucesso na estabilização dos preços (Plano Real), em que a demanda por
alimentos tende a ser mais elástica com expansão da renda, uma vez que os consumidores
demandarão maior quantidade diversificada de bens e serviços.
Cano (1997), mantém-se parcialmente correto ao afirmar que os setores
industriais intensivos em tecnologia tendiam a reconcentrar-se para as áreas mais
desenvolvidas do país. Para a indústria de material elétrico percebe-se queda relativa do
número de estabelecimentos, por outro lado, o setor de material de transporte apresenta
aumento relativo nas MPEs passando de 1,18% para 1,19% no período em estudo, já as
MGEs que apresentam uma participação relativa maior de 1,62% em 2005 para 2,97%
8 Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais RAIS (2010). 9 Segundo Baer (2005) os principais entraves para o desenvolvimento econômico do interior do estado do
Ceará são: o nível de capital humano demasiadamente baixo, nível de tecnologia escasso, conhecimento
empresarial insatisfatório e falta de economias de escala.
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em 2010. A indústria química apresenta queda na participação relativa nas empresas de
menor, sendo que em 2005 contava com 5,37% do total de estabelecimentos, vindo a cair
em 2010 para 5,22, no entanto às MGEs apresentam situação diferenciada ao passar de
5,28% para 7,44% no período analisado. O que fica claro é que a estrutura industrial
cearense está cada vez mais diversificada, contrariando a idéia de autores como Rolim
(2002), Galvão e Vasconcelos (1999) e até mesmo Cano (1997) que afirmam que as
indústrias intensivas em capital e tecnologia tendiam fugir das regiões periféricas e
concentra-se especialmente na metrópole paulista. Os fatores que atraem as indústrias
para o Ceará, notadamente sua Região Metropolitana está em função dos incentivos
fiscais (para as MGEs), mão-de-obra barata, abundante e disciplinada e aproximação
geográfica com o mercado consumidor americano e europeu.
5.2 Evolução do emprego formal na indústria de transformação. MPE e MGE-
Ceará- 2005/2010
Ao analisar a evolução do emprego formal na indústria de transformação, observa-
se na tabela 3 que em 2005 a indústria têxtil participa com 35,98% de empregos formais
registrados nas MPE e esses números tendem relativos tendem a se reduzir para 33,73%
em função do crescimento de setores intensivos em capital como a indústria mecânica
que tem maior crescimento auferido de 103,37% e metalúrgica 80,52%. Mesmo diante da
expansão de Micro e Pequenas industriais de maior valor tecnológico, a do setor têxtil
obteve variação ao longo do período em estudo de 30,55%.
TABELA 3: Número de trabalhadores por setor da indústria de transformação,
segundo o porte, no Ceará- 2005/2010
SETOR DA
INDÚSTRIA
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N-
BS
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) MPE
VAR
(%)
MGE
VAR
(%)
EXTRATIVA
MINERAL
1463 2,01 173
0,15
2042 2,02 612 0,38 39,58 253,38
INDÚSTRIA
MINERAIS.NAO.M
ETALICOS
5784 7,97 1711 1,46 9251 9,16 2790 1,74 59,94 63,06
INDÚSTRIA
METALÚRGICA
3616 4,98 3985 3,39 6524 6,46 7901 4,93 80,52 98,27
INDÚSTRIA
MECÂNICA
1131 1,56 1645 1,40 2304 2,28 2379 1,48 103,3
7
110,34
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1062
(Continua)
SETOR DA
INDÚSTRIA
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N-
AB
S
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) MPE
VAR
(%)
MGE
VAR
(%)
INDÚST.DO
MAT.ELÉTRICO E
COMUNICAÇÕES
403 0,55 1646 1,41 537 0,53 1358 0,85 33,25 (17,50)
INDÚST.MAT.TRAN
SPORTE
974 1,34 1238 1,54 1242 1,23 2951 1,84 27,52 138,37
INDÚST.MADEIRA/
MOBILIÁRIO
383
7
5,29 1782 1,52 5707 5,65 2359 1,47 48,74 32,38
INDÚST.PAPEL,PAP
ELÃO,EDITOR E
GRÁFICA
369
3
5,09
0
2169 1,85 5361 5,31 2998 1,87 45,17 38,22
IND.BOR,FUMO,CO
UROS,PELES
312
0
4,30 2889 2,46 4496 4,45 3210 2,00 44,10 11,11
INDÚSTRIA
QUÍMICA
530
3
7,31 3981 3,39 6535 6,47 6555 4,09 23,23 64,66
INDÚSTRIA TÊXTIL 260
95
35,9
8
2635
4
22,4
3
3406
6
33,7
3
3694
0
23,0
6
30,55 40,17
INDÚSTRIA DE
CALÇADOS
262
1
3,61 4164
7
35,4
5
3792 3,75 5977
0
37,3
1
44,68 43,52
IND.PROD.ALIMENT
ÍCIO E BEBIDAS
120
92
16,6
7
2354
9
20,0
4
1630
1
16,1
3
2603
0
16,2
5
34,81 10,54
SERVIÇOS
INDUSTRIAIS DE
UTILIDADE
PÚBLICA
222
2
3,06 4724 4,02 2849 2,82 4338 2,71 28,22 (8,17)
TOTAL 725
34
100,
00
1174
93
100,
00
1010
07
100,
00
1601
91
100,
00
39,25 36,34
Fonte:RAIS/MTE.Elaboração Própria.
No que tange às MGEs do setor têxtil, percebe-se aumento na participação relativa
ao passar de 22,43% para 23,06% no período em estudo, sofrendo variação de 40,17%
(superior às MPEs). Os postos de trabalho formal industrial estão cada vez mais
dinâmicos com queda na participação relativa de setores tradicionais e aumento da
participação de setores intensivos em capital e tecnologia (exceto material eletrônico).
Percebe-se um aumento dos postos de trabalho do setor calçadista em ambos os portes
analisados, mesmo assim as MPEs desse setor enfrentam várias dificuldades, que segundo
Lemos (2008) em Juazeiro do Norte, maior cidade do interior do estado em número de
habitantes, os principais problemas enfrentados pelas micro e pequenas empresas dessa
municipalidade tange a baixa qualificação dos microempresários, dificuldades as linhas
de crédito, falta de incentivo por parte das instituições de fomento e pouca interação entre
os microempresários.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1063
A menor participação do setor industrial no emprego total é descrito por Bresser
Pereira (2010) como um processo de “desindustrialização” precoce no Brasil através do
setor industrial em favor do setor terciário, pois com a elevação da renda per- capita
mediante estabilização de preços alcançada em 1994 e política de valorização do salário
mínimo, a elasticidade-renda por manufaturados tende a cair em detrimento de setores
que possuem menor produtividade do trabalho.
5.3 Perfil Socioeconômico dos Empregados nas MPE e MGE da indústria formal
têxtil Cearense
5.3.1 Gênero dos Trabalhadores
A análise desagregada por gênero mostra que em 2005 havia 26095
trabalhadores empregados nas MPE têxteis, sendo que 26,81% do gênero masculino e
73,19% do gênero feminino. Em 2010 a participação das mulheres empregadas na MPE
cai levemente para 68,16% e dos homens aumenta para 31,84% na indústria formal têxtil
cearense. A MGE contava em 2005 com um total de 26354 trabalhadores na indústria
têxtil, dos quais 54,71% são do gênero masculino contra 45,29% do gênero feminino, e
em 2010 tem movimento contrário às MPE, uma vez que apresenta redução na
participação do gênero masculino (48,29%) e aumento na participação feminina
(51,71%).
TABELA 4: Número de empregados na indústria têxtil (por porte) segundo
gênero, Ceará-2005/2010
GÊNERO
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%)
MASCULINO 6997 26,81 14419 54,71 10846 31,84 17841 48,29
FEMININO 19098 73,19 11935 45,29 23220 68,16 19099 51,71
TOTAL 26095 100,00 26354 100,00 34066 100,00 36940 100,00
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração própria.
Apesar do crescimento do número de empregos na indústria formal têxtil período
em estudo, em 2010 prevalece a concentração dos trabalhadores do gênero feminino nas
MPE (68,16%) e nas MGE (51,71%). Em tal contexto, significa que a indústria têxtil,
como intensiva em mão-de-obra, absorve significativa parcela do sexo feminino a fim de
inserir no mercado de trabalho formal.
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5.3.2 Faixa Etária
No tocante à variável idade (Tabela 6), tanto em 2005 nos dois portes de indústria
têxtil em estudo, a maior parte (aproximadamente 29,84%) dos trabalhadores empregados
situava-se na faixa etária de 30 a 39 anos.
TABELA 5: Total de empregados na indústria têxtil (por porte), segundo faixa
Etária, Ceará-2005/2010
FAIXA
ETÁRIA
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N- ABS. (%) N- ABS. (%) N- ABS. (%) N- ABS. (%)
ATÉ 17
ANOS
140 0,54 149 0,57 85 0,23 43 0,12
18 A 24
ANOS
5436
20,83
5663 21,49 8892 24,07 84 0,23
25 A 29
ANOS
5149
19,73
5850 22,19 8476 22,95 8892 24,07
30 A 39
ANOS
8382
32,12
8789 33,35 11435 30,96 8476 22,94
40 A 49
ANOS
5235
20,06
4788 18,17 6287 17,01 11435 30,96
50 A 64
ANOS
1697 6,50 1096 4,15 1723 4,66 6287 17,02
65 OU
MAIS
38 0,15 19 0,07 42 0,11 1723 4,67
IGNORADO 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00
TOTAL 26095
100,00
26354 100,00 34066
100,00
36940 100,00
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
Em 2005, a participação da mão-de-obra na indústria têxtil na faixa de até 17
anos é pouco significativa nas MPE (0,54%) e nas MGE (0,57%), e em 2010 esses
números tendem a se reduzir para 0,23% nas MPE e 0,12% nas MGE. Provavelmente a
explicação para as MPE empregar trabalhadores mais jovens do que as MGE seja em
função da menor demanda por trabalhadores qualificados, uma vez que suas atividades
requerem uma menor inversão de capitais, facilitando a contratação da mão-de-obra a
baixo custo. No que se concerne à média e grande empresa segundo Arrais (2007) a
demanda por trabalhadores jovens decorre da inserção de aprendizes e estagiários no
mercado de trabalho, tendo como intermediadora o Centro de Integração Empresa Escola-
CIEE que atua como elo entre a indústria, escola e o estudante.
A diminuição do trabalho infantil decorre dos instrumentos do Governo Federal
para manter crianças e jovens de 7 a 15 anos na escola, a exemplo do programa Bolsa
Família que tem por objetivo aumentar o investimento das famílias em educação de seus
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membros, principalmente das crianças e jovens pobres, o que reduziria a probabilidade
de que eles permaneçam pobres no futuro.
5.3.3 Grau de Instrução
Com relação ao nível de escolaridade, percebe-se que em 2005, os empregados
nas MPE estavam concentrados no ensino fundamental completo (36,75%), no entanto
para as MGE (33,73%) dos empregados situavam-se na faixa de ensino médio completo.
TABELA 6: Total de empregados na indústria têxtil (por porte), segundo o grau
de instrução, Ceará 2005/2010.
ESCOLARIDADE
2005 2010
MPE
MGE
MPE MGE
N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%)
ANALFABETO 148 0,57 91 0,34 149 0,44 54 0,15
ATÉ 5.INCOMP. 577 2,21 583 2,21 402 1,18 407 1,10
5.COMP.FUND. 1077 4,13 1054 3,99 676 1,98 505 1,36
6 A 9 FUND. 3891 14,91 4360 16,54 2993 8,78 3266 8,84
FUND.COMPLETO 9590 36,75 7160 27,16 8414 24,69 7120 19,27
MÉDIO INCOMP. 3271 12,53 3407 12,93 4506 13,28 4299 11,64
MÉDIO COMP. 7099 27,20 8889 33,73 16016 47,01 19785 53,55
SUPERIOR INCO. 260 0,97 313 11,87 382 1,12 587 1,59
SUPERIOR COMP. 182 0,70 497 1,89 528 1,55 917 2,48
IGNORADO 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00
TOTAL 26095 100,00 26354 100,00 34066 100,00 36940 100,00
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
Em 2010, tanto para as MPE (47,01%) quanto nas MGE (53,35%) a maioria dos
empregados na indústria têxtil formal tinha o ensino médio completo. Tal movimento
indica que as empresas de menor porte estão demandando trabalhadores mais qualificados
vis-à-vis as empresas de maior porte. A explicação de tal situação revela que os micro e
pequenos empresários estão cada vez mais usando ferramentas de aprimoramento
competitivo em função do mercado globalizado e das novas formas de organização do
trabalho. Em 2010, as MGE apresentam pequeno declínio em termos percentuais na
participação de trabalhadores que tinham até o ensino médio incompleto, ao passar de
63,17% em 2005 para 42,36% em 2010. Em termos absolutos, isso representa uma
variação negativa de 6,07% com queda de 16655 empregados em 2005 para 15651 em
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2010. Da mesma forma, nas MPE constata-se declínio em termos percentuais do número
de trabalhadores com nível de escolaridade até o ensino médio incompleto, de 71,1% em
2005 para 50,35% em 2010. Em termos absolutos, verifica-se redução desses
trabalhadores, que passou de 18554 em 2005 para 17140 em 2010, sofrendo variação
negativa de 7,62%.
Percebe-se elevada seletividade por contratação de mão-de-obra por parte da
indústria têxtil ao observar que independente do porte, aproximadamente 50,28%, ou seja,
praticamente a metade dos trabalhadores, mantém-se concentrados no ensino médio
completo. Trabalhadores com ensino superior incompleto apresentam situações
antagônicas nas MPEs e MGEs em estudo: enquanto que nas empresas têxteis de menor
porte houve aumento no percentual desses trabalhadores (de 0,97% em 2005 para 1,12%
em 2010), nas indústrias têxteis de maior porte observa-se ligeira redução deles, de
11,87% em 2005 para 1,59% em 2010.
5.3.4 Tempo de Serviço
Em relação ao tempo de permanência dos trabalhadores empregados na indústria
têxtil cearense, em 2005, 39,82% ficaram empregados por menos de 1 ano nas MPE
aumentando para 42,65% em 2010; e nas MGE eles passam de 23,21% em 2005 para
31,83% em 2010.
TABELA 7: Distribuição dos trabalhadores na indústria têxtil (por porte),
segundo tempo de serviço, Ceará-2005/2010
TEMPO DE
SERVIÇO
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%)
MENOS DE
1 ANO
10393 39,82 6117 23,21 14529 42,65 11758 31,83
1 A MENOS
DE 3 ANOS
9007 34,52 7003 26,57 11551 33,91 11348 30,72
3 A MENOS
DE 5 ANOS
6203 23,77 10377 39,37 6979 20,48 9273 25,10
5 OU MAIS 492 1,89 2857 10,84 1007 2,96 4561 12,35
IGNORADO 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
TOTAL 26095 100,00 26354 100,00 34066 100,00 36940 100,00
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
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Outro dado que se destaca é que os empregados nas MPE estão mais suscetíveis
ao desemprego, ao observar que em 2010, 76,56% deles ficaram empregados a menos de
2 anos contra 62,55% dos trabalhadores nas MGE. Nesse sentido para as pequenas
empresas existe uma relação direta entre empregos em pequenos negócios e
desestruturação do mercado de trabalho formal, uma vez que sua rotatividade é mais
elevada do que as médias e grandes empresas. Nesse sentido é bom relembrar os
comentários de Arrais (2007):
A elevada concentração de trabalhadores com pouco tempo de
serviço na indústria do Nordeste é resultado da reestruturação
produtiva, avanço tecnológico, novos métodos de organização
do trabalho e da produção e dos elevados encargos trabalhistas,
que incentivam os empregadores a utilizarem mão-de-obra
terceirizada, contratos temporários e jovens estagiários com
objetivo de reduzirem custos.
No que tange a quantidade de trabalhadores que estavam empregados 5 anos ou
mais, aumenta lentamente na indústria têxtil. Os dados empíricos contrariam idéias que a
legislação trabalhista torna o mercado de trabalho excessivamente rígido, uma vez que as
empresas determinam os aspectos centrais da relação de trabalho, contrato/demissão10.
5.3.5 Remuneração dos Trabalhadores
Sob a ótica da remuneração (Tabela 8), verificou-se no Ceará empobrecimento
dos trabalhadores no período em estudo, tanto pelo aumento da proporção daqueles que
recebiam até um salário mínimo para as MPE e até dois salários para às MGE, quanto
pela redução dos que estavam localizados nas faixas superiores de rendimentos em ambos
os portes da indústria têxtil.
Em 2010, a precarização aumenta nos dois portes de empresa considerados
(sendo mais intensa para as MPE). O percentual dos trabalhadores que ganhavam até um
salário mínimo amplia-se significativamente de 7,81% em 2005 nas MPE para 15,57%
em 2010, enquanto que nas MGE o percentual de empregados que ganhavam até dois
salários mínimos passa de 81,14% em 2005 para 88,69%.
10 Baltar e Proni (1996) ressalta que o avanço das políticas macroeconômicas contracionistas adotadas no
Governo FHC, elevou o desemprego mediante à estabilidade de preços e criou um cenário adverso à atuação
sindical que foi perdendo seu combate mediante à flexibilização e desestruturação do mercado de trabalho.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1068
TABELA 8: Total de empregados nas MPE e MGE industriais do setor têxtil,
segundo faixa de remuneração, Ceará-2005/2010
RENDA
2005 2010
MPE MGE MPE MGE
N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%)
ATÉ 01
SALÁRIO
2039 7,81 464 1,76 5372 15,77 2330 6,31
MAIS DE 01 A
02 SM
22927 87,86 20921 79,38 27612 81,05 30434 82,38
(Continua)
RENDA 2005 2010
MGE MPE MGE MPE
N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%) N-
ABS.
(%)
MAIS DE 02 A
03 SM
612 2,34 2282 8,66 616 1,81 1855 5,02
MAIS DE 03 A
05 SM
257 0,98 1374 5,21 208 0,61 1228 3,32
MAIS DE 05 A
10 SM
98 0,38 871 3,31 80 0,23 707 1,91
MAIS DE 10 A
20 SM
20 0,08 258 0,98 8 0,02 147 0,39
MAIS DE 20
SM
5 0,02 65 0,25 1 0 32 0,08
SEM
DECLARAÇÃO
77 0,29 119 0,45 169 0,49 207 0,56
TOTAL 26095 100,00 26354 100,00 34066 100,00 36940 100,00
Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
Para aqueles que ganhavam acima de dois salários mínimos houve significativa
redução na proporção de empregados concentrados nas faixas de rendimento mais
elevadas em ambos os portes de empresa analisados, sendo mais intensa para a mão-de-
obra empregada nas MPE do setor têxtil. Considerando às MPE, em 2005, ganhavam
acima de 2 salários mínimos cai de 4,09%em 2005 para 0,51%, e nas MGE eles passam
de 18,86% em 2005 para 11,28% em 2010.
Nas MPE em 2005, encontravam-se ganhando mais de 3 salários mínimos
apenas 1,75% de sua população empregada na indústria formal têxtil , caindo para 1,35%
em 2010. Nas MGE apresentaram dinâmica semelhante às pequenas empresas, ao passar
sob esse aspecto de 10,2% em 2005 para 6,26%. Esse acentuado declínio de rendimentos
dos trabalhadores observados em ambos os portes de empresa analisado, gera ao longo
dos anos um menor gap entre a estrutura de salários com relação ao porte da indústria
têxtil cearense em estudo. Pochmann (2009) atribui esse fenômeno a queda da
participação da renda do trabalho na renda total, que implica intensa desvalorização
salarial e instabilidade no emprego. Essa ótica torna-se conflitante, dado que os
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trabalhadores da indústria têxtil se qualificaram ao longo dos anos em análise, de contra
partida percebe-se um achatamento dos rendimentos desses trabalhadores, o que contraria
a teoria de capital humano. No que se concerne aos baixos salários pode criar uma
situação pouco favorável, pois na medida em que as empresas podem utilizar dessa mão-
de-obra barata e abundante para aumentar sua reserva de lucros, pode-se tornar favorável
a relocalização de grandes indústrias, uma vez que o governo estadual oferece incentivos
fiscais e financeiros11.
As unidades subnacionais, a exemplo do Ceará adotam benefícios fiscais,
financeiros e creditícios que tendem a se anular, deixando atuar como fatores
contribuintes para decisão locacional. Por outro lado, para os estados resta uma perda de
receita fiscal generalizada sem que se tenha, primeiro avaliado o custo e o benefício do
investimento. Ainda ocorre realocação dos investimentos públicos, por meio da abdicação
da receita em favor de setores nem sempre são prioritários, ou seja, os governos estaduais
sofrem agravamento da própria situação financeira e com conseqüente relação dos
investimentos e do atendimento das necessidades básicas da população (CASSIOLATO;
BRITO, 2001). No entanto, as MPEs seguem em contramão à dinâmica observada pelas
médias e grandes empresas, pois sua instalação depende da dinamização do mercado
interno, do baixo custo da intermediação financeira e das políticas macroeconômicas,
especialmente as de caráter monetária expansionista, que reduzem as taxas de juros e
promovem um ambiente de maior estabilidade aos pequenos negócios, uma vez que são
responsáveis pelo processo de territorialização econômica e absorvedor de mão-de-obra
principalmente em épocas de recessão econômica.
Ao contrário das médias e grandes empresas, os pequenos negócios não
deduzem impostos e receitas orçamentárias estaduais. Quando formalizados mediante
auxílio do Super Simples, são capazes de gerar alto nível de arrecadação local propiciando
avanços tanto econômicos quanto sociais, pois não implicam custos aos governos
municipais e estaduais, além de contribuírem para uma menor demanda do emprego
formal no setor público.
11 Cano (1997) ressalta que a guerra fiscal é resultado do processo de desmantelamento do Estado Nacional, iniciado
especialmente no início da década de 1990, em que na ausência de políticas regionais de desenvolvimento entrega-se a
responsabilidade econômica aos governos subnacionais, que passam a usar a incessão do Imposto de Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) para atrair grandes empresas industriais, favorecendo dessa forma o grande capital,
uma vez que o orçamento estadual passa a ser menos eficaz para honrar os compromissos sociais como: saúde,
educação, saneamento, pois esse imposto se configura como a mais importante receita fiscal corrente estadual.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1070
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de acumulação capitalista mediante hegemonia do pensamento
neoliberal impôs diversas consequências no mundo no trabalho, especialmente na grande
empresa industrial que para manter-se competitiva diante da concorrência internacional
adota processos de redução de custos pautados na terceirização de atividades,
relocalização de suas plantas e demissão de funcionários. O setor têxtil que é tradicional
na economia cearense sofreu significativos impactos em virtude de suas estruturas
obsoletas, com baixo capital de giro e mão-de-obra desqualificada, em que diante da
reestruturação industrial restou modernizar seu parque fabril, para melhor competir com
o mercado internacional. Com o cenário macroeconômico e institucional conturbado às
micro e pequenas empresas têxteis passaram a absorver parcela da mão de obra que se
encontrava na informalidade, no subemprego ou até mesmo dispensada pelas grandes
empresas. A indústria têxtil possui o maior número de MPEs em 2005, 2325 passando
para 3225 em 2010, sofrendo variação de 41,72%, enquanto às MGEs passaram de 65
para 90 unidades no período em estudo, sofrendo variação de 38,46%.
Em 2010 predominava nas MPEs do setor têxtil 68,16% dos trabalhadores do
gênero feminino, enquanto que as MGEs participam com 51,71%, o que indica que as
MPEs do setor têxtil colaboram para uma maior inserção socioeconômica das mulheres
no mercado de trabalho formal, sendo que predominavam em 2010, nas MGEs a demanda
por trabalhadores com idade entre 30 a 39 anos, enquanto nas MPEs, eles estão bem
distribuídos entre as faixas etárias. No tocante ao tempo de permanência dos
empregados na indústria têxtil, constata-se elevada rotatividade da mão de obra, sendo
mais intensa para as MPEs. Em 2005 ficaram empregados nas MPEs do setor têxtil por
menos de um ano 39,82% contra 23,21% nas MGEs. Esses números tendem aumentar em
2010, sendo que os trabalhadores empregados por menos de um ano sobe de 42,65% nas
MPEs e para 31,83% nas de médio e grande porte.
Essa elevada rotatividade é provocada por novos métodos de organização da
produção e do trabalho, mão de obra terceirizada, contratos temporários com objetivo de
reduzir custos. Os trabalhadores empregados nas empresas de menor porte estão mais
suscetíveis ao desemprego vis-à-vis as MGEs, em virtude da dificuldade para manterem-
se competitivas no mercado, preferem se tornar flexíveis para reduzir suas taxas de
mortalidade. Outra variável que se destaca é a seletividade por contratação da mão de
obra em ambos os portes analisados. Em 2010, nas MGEs, 53,55% tinham o ensino médio
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1071
completo contra 47,01% nas MPEs. Esses dados revelam que a indústria têxtil está cada
vez mantendo-se competitiva, exigindo trabalhadores mais qualificados, em função da
incorporação do modelo de produção Toyota. Com relação aos rendimentos, verificou-se
nas MPEs e MGEs empobrecimento dos trabalhadores da indústria têxtil cearense que
migraram das faixas de rendimento mais altas para as mais baixas. Em 2010 nas MPEs
96,82% dos seus empregados ganhavam até 2 salários mínimos contra 88,69% nas MGEs.
Estes dados nos revelam que a valorização real do salário mínimo no Governo Lula
(2003-2010) não implicou em transformações concretas no mercado de trabalho, bem
como às mudanças adotadas na década de 1990 desestruturaram o mercado de trabalho
formal industrial têxtil, que mesmo com aumento de suas plantas, os postos de trabalho
estão cada vez mais precários.
O que constatou no presente artigo foi intensa flexibilização do mercado de
trabalho formal nas unidades produtivas do setor têxtil cearense, com precarização mais
intensa nas MPEs, entre 2005 e 2010 ocorreu menor gap entre as unidades produtivas e
o perfil socioeconômico, uma vez que o mercado de trabalho têxtil nas MGEs seguiu,
quanto a esse aspecto, a tendência dos países em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
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rebatimentos na indústria brasileira nos anos 90. João Pessoa: PPGE/UFPB, 2003
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CANO, Wilson. Raízes da Concentração Industrial em São Paulo. 2 ed. Unicamp-
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GRANDES PROJETOS E MUDANÇAS SOCIAIS NA AMAZÔNIA: O CASO
DA VILA SÃO JOSÉ – MARABÁ - PARÁ1
Maria Antonia Gomes de Araújo2
Fernando Michelotti3
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada no âmbito do Curso de
Especialização em “Educação Ambiental, Cidadania e Desenvolvimento Regional”,
promovido pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Campus Marabá. Os objetivos
são: identificar as expectativas de emprego e melhoria de vida esperadas pelos
moradores/as com implantação do empreendimento Aços Laminados do Pará (Alpa) pela
mineradora Vale; elencar e analisar as mudanças socioeconômicas, ambientais e culturais
causadas com a implantação da Alpa para a Vila São José – Marabá - Pará. A intenção é
que este trabalho possa servir de instrumento de reflexão para os/as moradores/as da
referida Vila, de maneira que possa organizar com os órgãos públicos e as empresas
privadas, melhores condições de vida e minimizar os impactos que virão com a
implantação da Alpa para a população local. Os grandes empreendimentos geram
expectativas de emprego e melhoria de vida para a população local, bem como colabora
para intensificação do processo migratório. A instalação desses projetos, além do
propalado “desenvolvimento” causam mudanças socioeconômicas como por exemplos:
aumento da população, expropriação da população local, a “falsa” esperança de
empregos, aumento do custo de vida, aumento da violência, ocupações urbanas e
crescimento desordenado.
Palavras-chave: Grandes Projetos; Migrações; Desenvolvimento.
Introdução
O foco deste trabalho são os impactos da instalação da siderúrgica Aços
Laminados do Pará (Alpa) na Vila São José, vizinha do referido projeto, no município de
Marabá, estado do Pará, na Amazônia brasileira. O empreendimento está sendo
construído no trecho entre os quilômetros 09 e 14 da Rodovia Transamazônica (BR 230),
com previsão de funcionamento para 20134.
1 Artigo apresentado como trabalho de conclusão do Curso de Especialização em “Educação Ambiental, Cidadania e
Desenvolvimento Regional”, UFPA – Campus Marabá. Orientação: Prof. Msc. Fernando Michelotti. Em 25 de janeiro
de 2012.
2 Pedagoga da Secretaria Municipal de Educação de Marabá (SEMED) com atuação no Núcleo de Educação Ambiental
(NEAm) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Marabá – Pará, Amazônia – Brasil.
3 Professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Marabá – Pará, Amazônia – Brasil.
4 Previsão adiada, o projeto parou na terraplanagem da área adquirida pela o Governo do Estado do Pará, segundo a
mineradora Vale aguarda a implantação pelo Governo Federal de infraestrutura, tais como: derrocagem do Pedral do
Lourenço no rio Tocantins, para garantir transporte hidroviário.
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O empreendimento Aços Laminados do Pará (Alpa) pode ser considerado um
grande projeto mineral, sob o controle da empresa Vale, tendo como principal matéria
prima o ferro extraído de Carajás. Este projeto visa à produção de aço para
comercialização no mercado interno. Integrada a esta siderúrgica está prevista a criação
de um pólo metal-mecânico, com sede em Marabá.
Os grandes empreendimentos geram expectativas de emprego e melhoria de vida
para a população local, bem como colaboram para a intensificação do processo
migratório. A instalação desses projetos, além do propalado “desenvolvimento,” causam
mudanças socioeconômicas ou impactos: aumento da população, expropriação da
população local, a “falsa” esperança de empregos, aumento do custo de vida, aumento da
violência, ocupações urbanas e crescimento desordenado.
Os impactos atingem toda a região sudeste do Pará, de diferentes maneiras. Na
Vila São José, em especial, os impactos são grandes, pois é um dos povoamentos mais
próximo do local de instalação do empreendimento, numa a área que não precisou ser
desapropriada pelo Governo do Estado para a instalação do Distrito Industrial, onde
funcionará a Alpa.
O trabalho está organizado em cinco partes/capítulos: primeira parte os grandes
projetos na Amazônia e sua relação com o desenvolvimento regional enfocando os
processos de ocupação; na segunda parte é feita uma descrição do projeto Alpa; na
terceira parte apresentamos a metodologia: como aconteceu a pesquisa; na quarta parte
apresentamos os resultados da pesquisa: as mudanças sociais e mitigações, histórico da
Vila, as expectativas de empregos e propostas de mitigações dos impactos. Incluirmos
uma nova parte uma espécie de breve atualização de informações veiculadas pela
imprensa sobre a Alpa. E encerramos com as considerações finais em relação a pesquisa
como um todo.
1. Os grandes projetos na Amazônia e o desenvolvimento regional
A temática dos Grandes Projetos na Amazônia vem sendo estudada desde a
década de 70 (século XX). Atualmente, permanecem os estudos, com mais experiências
e, em outro momento histórico.
Num trabalho de 1989, numa publicação do Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos (NAEA) da UFPA denominada “Na trilha dos Grandes Projetos:
modernização e conflito” o pesquisador Jean Hébette organiza em três momentos a
ocupação e exploração dos grandes projetos na Amazônia Paraense.
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O primeiro momento caracterizou-se por uma ocupação horizontal – a modo
de uma mancha de óleo que se expande com recursos facilmente mobilizáveis,
prontos para se moverem, sem pré-requisitos técnicos de lenta maturação:
abriu-se a ‘a fronteira agrícola amazônica’. Componente fundamental dessa
abertura foi à implantação dos grandes eixos rodoviários para estimular a
mobilidade e a circulação de pessoas e de mercadorias. A busca de terra por
grandes proprietários e por camponeses iniciou, estimulada pela própria
facilidade de ocupação das terras devolutas (HÉBETTE, 2004, p. 34, grifos do
autor).
Este primeiro momento pode destacar dois acontecimentos que influenciaram a
ocupação desta região: a abertura da Rodovia Belém-Brasília – BR 010 (1956 – 1974) e
Rodovia Transamazônica – BR 230 (1970 - 1973). Inclusive a Vila São José se localiza
a margem desta última rodovia mencionada.
Num segundo momento, as pesquisas de recursos minerais deram seus frutos
e a descoberta de jazidas foi particularmente facilitada pela ocupação de todo
espaço. A garimpagem se expandiu-se com a intensificação dos fluxos
migratórios, em Rondônia (ouro e cassiterita) e no Pará (ouro na região de
Itaituba, no eixo Marabá – Conceição do Araguaia, e no limite norte entre Pará
e Maranhão) (HÉBETTE, 2004, p. 35).
Vale ressaltar que com a descoberta da jazida ferrífera de Carajás, em 1967, pelo
geólogo Breno Augusto dos Santos, o Governo Federal investiu neste setor, que se
consolidou com o fortalecimento Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). A mina de ferro
Carajás se tornou a maior do mundo. A exploração de ouro em Serra Pelada e outros
locais da Amazônia contribuíram no aspecto econômico e com aumento populacional da
região.
O terceiro momento, que em pouco tempo seguiu o segundo, é o da
metalurgia – o momento atual, em fase ainda de desenvolvimento. É fase de
maturação mais demorada e mais difícil, principalmente porque se concentrou
inicialmente na produção de alumínio, que envolve investimentos fixos muito
elevados (HÉBETTE, 2004, p. 35).
No Pará, se concentrou em Barcarena (próximo de Belém) a metalurgia do
alumínio. Aqui na região se limitou a produção de ferro-gusa. Mais recentemente chegou
a Siderúrgica Norte do Brasil S.A. (SINOBRAS), primeira usina integrada de aço das
regiões Norte e Nordeste do Brasil, com previsão para produzir 300 mil toneladas de aço
por ano, e por último a instalação da Alpa.
Caberia, agora, perguntar: haverá um quarto momento? E que surpresas nos
reservará? A maneira como se deu e está se dando a ocupação/exploração da
Amazônia levará ao desenvolvimento? (...) Foram criados empregos nas
fazendas e nas grandes obras de infra-estrutura, é certo; são de grande volume
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mas em grande parte temporários, limitando-se as fases de implantação. Por
quanto tempo durará ainda cada uma dessas fases? E depois? ... (HÉBETTE,
2004, p. 36).
Seguindo essa análise, o primeiro momento se destaca com a abertura da
fronteira agrícola, a busca por terra, pelos/as camponeses/as e latifundiários. Esse
período, marcado por grandes conflitos e embates será à base da atual estrutura agrária
com grandes latifúndios e também com os assentamentos de agricultores/as familiares.
No segundo momento, que é uma espécie de continuidade do primeiro, o Projeto
Grande Carajás e suas infra-estruturas (energia/Tucuruí, ferrovia/Carajás, etc.), e mais as
atividades garimpeira manual, sobretudo, Serra Pelada, contribui fortemente para o
aumento populacional da região, e para o próprio desenvolvimento econômico.
O terceiro momento caracterizado pela “onda” das guseiras (produção de ferro
gusa), o Distrito Industrial de Marabá, triplicou o número de siderúrgica. Atualmente se
vive a expectativa da Alpa, de forma a consolidar um pólo metal-mecânico, muito
esperado pelos empresários.
O que têm acontecido com os governos é uma tendência para investir nos
grandes empreendimentos, como por exemplo: a instalação da Alpa em Marabá. Em
detrimento de uma política governamental de apoio ao desenvolvimento e fortalecimento
da agricultura familiar.
A geração de empregos proporcionada pelas mínero-metalúrgicas, incluídas na
lista dos possíveis impactos positivos decorrentes da operação destas
empresas, também se mostrou pouco significativa no que se refere à
possibilidade de impulsionar processos de desenvolvimento local
(MONTEIRO, 2002, p.200).
A questão do emprego é uma das principais expectativas causadas na população
local e de outras regiões, atraindo uma multidão nas fases de implantação dos grandes
projetos. No entanto, depois se limita a profissionais mais qualificados, ficando uma
grande frustração. A oferta de emprego não se consolida como é alardeado.
2. Aços Laminados do Pará – Alpa: um grande projeto mineral
Descrevemos em que constitui o projeto Alpa a partir de uma pesquisa documental
em um dos principais jornais da região, com a predominância de uma visão positiva sobre
o mesmo. Como contraponto, algumas manifestações de representantes de movimentos
sociais críticos a esses projetos na região.
Marabá foi escolhido para a instalação da Alpa, sobretudo, em função:
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A escolha do município de Marabá como sede da Aços Laminados do Pará
(Alpa), a primeira grande siderúrgica da região Norte do Brasil a ser
implantada pela Vale, foi uma decisão pensada pela direção da empresa para
atender a objetivos bem definidos. ‘a nossa siderúrgica não foi concebida para
exportar produtos semi-acabados, a placa de aço. Ela foi projetada para
produzir chapas de aço destinadas ao consumo interno’ [...].
Ao disponibilizar para o mercado interno a sua produção de chapas de aço, a
Alpa criará condições para a atração de novos empreendimentos. Marabá e
Barcarena, em especial, deverão abrigar já na próxima década grandes pólos
industriais que vão atuar dentro de uma diversificada linha de produtos. As
possibilidades são quase ilimitadas, incluindo desde estruturas metálicas até
vagões ferroviários, passando por carroceria de caminhão, barcaças para
indústria naval, botijões de gás, tubos metálicos e outros. A rigor, nenhuma
possibilidade pode ser descartada – nem mesmo a indústria automobilística
(Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.032, 2010, p. 4).
A principal justificativa da escolha de Marabá baseia na intenção de produzir aço
para mercado interno. Por outro lado, a questão política, também foi decisiva, o então
presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a então governadora Ana Júlia
Carepa (PT) participaram ativamente nas negociações com a direção da empresa Vale,
para garantir a implantação do referido empreendimento na região sul e sudeste no Pará.
A área física da Alpa situada entre KM 09 e 14 da Rodovia Transamazônica (BR
230) foi adquirida pelo Governo do Estado (como contrapartida ao empreendimento da
empresa Vale) a partir da desapropriação de várias propriedades.
A área destinada à Alpa compreende terreno de 1.035 ha, sendo que a planta
siderúrgica ocupará 253,71 ha, incluindo a área destinada diretamente à
produção. O investimento é da ordem de US$ 3,7 bilhões, com capacidade de
produção prevista para 2,5 Mt/ano de placas de aço (Jornal Correio do
Tocantins, Edição n. 2.037, 2010, p.5).
Foto 1
Placa informativa da Alpa
Foto 2
Aspecto da terraplanagem na área de
implantação da Alpa
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A área para instalação da Alpa constitui em uma terceira fase do Distrito
Industrial de Marabá (DIM), localizado na margem da rodovia BR 230 e do Rio Tocantins
(conforme mapa abaixo), implicou em aquisição via desapropriação de áreas rurais com
indenizações milionárias, desvio da rodovia e uma extensão ferroviária. A área da Alpa
fica próxima da Vila São José e de um conjunto de Projetos de Assentamentos Rurais.
Uma breve descrição da Alpa pelo Governo do Estado do Pará:
A licença ambiental para implantação da ALPA – Aços Laminados do Pará
(Alpa), a nova siderúrgica da Vale, é um marco na história de Marabá é um
presente de aniversário de 97 anos de idade da cidade.
Serão R$ 6,8 bilhões investidos pela companhia neste megaprojeto, que vai
produzir aço em placas e bobinas a quente e gerar 16 mil postos de trabalho
durante a fase de implantação, a ser concluída em cinco anos.
Quando a ALPA entrar em operação vai gerar cerca de 5.319 empregos diretos
e mais 16 mil indiretos. Permitirá também a implantação de dezenas de outras
empresas que usem o aço como matéria-prima, gerando mais e mais empregos.
Pessoas que vão mudar suas vidas de verdade e pra melhor. Porque o
compromisso do Governo é desenvolver o Estado para Todos (Jornal Correio
do Tocantins, Edição n. 2.039, 2010, p.1).
Os movimentos sociais têm uma visão critica ao papel desempenhado pelo Estado
em relação à lógica de desenvolvimento adotada na região.
Hoje, o que mais se ouve é as grandes empresas são meios essenciais ao
desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Na propaganda e nos
discursos oficiais de governantes e políticos influentes elas são apresentadas
como símbolo de desenvolvimento, do progresso e da geração de empregos. E
por estarem atreladas a mercados bem mais amplos que os regionais e por
serem estratégias no marketing (PEREIRA, AFONSO e NETO, 2010, p. 63).
Foto 3
Localização da Alpa.
Fonte: Jornal Correio do Tocantins, 05 e 07 de abril de 2010, Edição nº. 2.039.
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Vejamos o ponto de vista do sociólogo Raimundo Gomes da Cruz Neto sobre o
desenvolvimento em curso na região, a partir do artigo denominado: Marabá:
desenvolvimento ou degradação?
Através da imprensa local temos recebido informações de que o município de
Marabá se encontra em avançado ritmo de desenvolvimento, com enfoque na
duplicação da rodovia Transamazônica, ampliação do número de loteamentos
urbanos, construção de prédios pomposos, instalação da ALPA – Aços
Laminados do Pará e outras fantasias.
Usando estes elementos como propulsores do desenvolvimento vários setores
tentam trazer para si os créditos pela implantação destes empreendimentos,
mesmo que de nada tenha feito ou contribuído para tal realização, mas o
importante é que a população possa incorporar o discurso como verdade.
No caso da ALPA, não quero entrar no mérito se vai ser implantada ou não,
mas o certo é que já causou grandes transtornos e prejuízos e ainda irá causar
se a obra for a diante. Trata-se da construção de uma ponte no rio Itacaiúnas
que foi iniciada sem a licença ambiental, outro é o aterramento de nascentes
existentes na área onde já iniciaram serviços de terraplenagem.
Isto é o que nós chamamos da face oculta do desenvolvimento de fachada, a
degradação ambiental e social. As grandes obras, não são para atender as
necessidades do povo, mas para retirar e escoar nossas riquezas. A lógica do
desenvolvimento imposta pela acumulação do capital não chega até a parte da
sociedade desfavorecida, mas a um pequeno grupo que concentra a renda e
privilégios. E esta lógica quando somada a corrupção aumenta de forma
incontrolável, a degradação. É o retrato de Marabá.
Os movimentos sociais têm reinventado as formas de se manter combativos aos
ataques e consequências dos grandes empreendimentos ligados à mineração.
Recentemente o Centro de Educação, Pesquisa, Assessoria Sindical e Popular
(CEPASP), a Comissão Pastoral da Terra (CPT – Regionais: Sul e Sudeste do Pará) e o
Movimento Debate e Ação, com o apoio da Agência Católica para o Desenvolvimento da
Inglaterra e do País de Gales (CAFOD) têm animado um grupo de estudo5 na região.
Em nível interestadual e nacional existem redes como, Fórum Carajás -
http://www.forumcarajas.org.br/; Justiça nos Trilhos - http://www.justicanostrilhos.org/
entre outras organizações, que também realizam denúncias e projetos contra esses grandes
empreendimentos e seus impactos.
Os debates e ações destas redes sobre a mineração têm contado com a
participação de outras organizações: o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB),
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Federação dos
5Entre suas atividades destacam: assessoria aos grupos atingidos; divulgação na internet; formação e
produção de cartilha, revista e diagnóstico sobre os impactos da mineração.
http://mineraçãosudesteparaense.wordpress.com.
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Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (FETAGRI) e do Movimento dos
Trabalhadores em Mineração (MTM).
Por outro lado, o Estado tem se colocado em favor do capital (grandes empresas)
com infraestrutura e subsidio financeiro.
A Amazônia brasileira, grandes empresas do ramo da mineração são
beneficiadas com infra-estrutura (estradas, ferrovias, hidrovias, portos,
energia, etc.) financiadas com dinheiro público, crédito subsidiados, isenção
de impostos, etc. (PEREIRA, AFONSO e NETO, 2010, p. 64).
Na compreensão de militantes sociais, as empresas se aproveitam da conivência
do Estado e passam seu discurso de desenvolvimento, de maneira que a população se
coloca defensora do projeto, sem uma reflexão crítica.
Por outro lado, o impacto da mineração é estruturante ao modo que interessa
às empresas. Elas se aproveitam da conivência e submissão do Estado, das
precárias condições em que vive a maioria da população dos municípios onde
elas se instalam, para através da manipulação da consciência das pessoas, com
o discurso da chegada do desenvolvimento e do progresso, criar um ambiente
favorável para sua implantação e domínio (PEREIRA, AFONSO e NETO,
2010, p. 65).
O Governo do Estado tem participado com a concessão da área através da
ampliação do Distrito Industrial de Marabá (DIM) e facilitação das licenças ambientais,
e por outro lado, tem se assumido como promotor do empreendimento, conforme é
percebido na sua propaganda oficial.
O Governo Federal tem a sua participação desde a articulação com a direção da
Vale até a concessão de financiamento através do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). E, é esperado o patrocínio das seguintes infraestruturas:
Hidrovia Araguaia-Tocantins; ampliação de rodovias (BR – 155 e BR – 230) e duplicação
da ferrovia Carajás; Hidrelétricas entre outras.
Os/as empresários/as através da Associação Comercial e Industrial de Marabá
(ACIM) se postam de forma bem organizada como a principal representação da
sociedade, favorável em defesa da implantação da Alpa.
3. Como aconteceu a pesquisa?
3.1.Os motivos da escolha do local da pesquisa:
Foram vários fatores que levaram a escolher a Vila São José como local para
realização da pesquisa: a importância dessa comunidade para mim, que já residi nesse
local quando trabalhava numa escola para agricultores familiares naquela localidade, o
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bom relacionamento que tenho com os/as moradores/as e a preocupação com o bem estar
social e ambiental dessas pessoas. A possibilidade de aliar estes elementos com o tema
objeto do trabalho de conclusão de curso da especialização em questão consolidou a
decisão.
Quando foi confirmado que a Alpa teria sua instalação implantada nas
proximidades da Vila, logo me fiz esse questionamento: será que isso vai ser bom para
os/as moradores/as? Como eles serão afetados com a implantação de um projeto dessa
grandeza? Através dessa especialização busquei respostas para estas questões.
Morei na Vila São José de julho de 1996 a fevereiro de 2002, na época, uma
população de aproximadamente 380 (trezentos e oitenta) moradores/as. Durante os anos
que estive lá, junto com os moradores/as, conquistamos o primeiro sistema de água
potável denominado de chafariz6e esse sistema contava com um pequeno poço cavado
manualmente que jorrava de uma nascente próxima da Vila, uma caixa de água de cinco
mil litros doada pela Prefeitura. Com esse sistema, foi possível abastecer a comunidade
por bastante tempo, enquanto a população não aumentou.
Outra grande conquista foi o transporte coletivo. Antes, para se chegar a Marabá
os/as moradores/as, assim como os/as alunos/as que estudavam lá, tinham como opção
pedir “carona” na rodovia Transamazônica, ir de bicicleta ou mesmo a pé. Esse transporte
coletivo foi um passo importante para o desenvolvimento da comunidade e redondezas.
Esperamos que o resultado desse trabalho possa colaborar com a comunidade na
busca de resolução de, pelo menos, parte dos problemas da Vila, que se agravaram com
o aumento da população. E que tendem a se ampliarem futuramente, com os possíveis
impactos oriundos da implantação da Alpa.
Em relação ao aspecto científico e acadêmico, o presente trabalho trata sobre os
grandes empreendimentos e seus impactos ou mudanças mais direcionados/as para a
população urbana, nos aspectos socioeconômicos, ambientais e culturais.
3.2. Os principais momentos da pesquisa:
Desenvolvemos uma pesquisa utilizando a abordagem qualitativa, utilizando as
contribuições da pesquisa bibliográficas e da pesquisa de campo.
O presente trabalho buscou se fundamentar na perspectiva sócio-construtivismo
ou teoria crítica conforme sintetiza Sato & Santos (2003, p. 11) Tem como propósito a
6 Local construído (alvenaria/cimento) com torneiras para distribuição de água.
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“emancipação dos atores e das atrizes, através das criticas das desigualdades (práxis para
a transformação)”, entendendo a natureza da realidade (ontologia) como “múltipla,
construída, divergente e comprometida com os assuntos sobre igualdade”, e a natureza
do conhecimento (epistemologia) como “fatos compreendidos dentro de um contexto
econômico e social, com ênfase na postura crítica e na práxis ideológica”. A relação entre
o/a pesquisador/a e a descoberta é “inter-relacionada, comprometida com a emancipação
de sociedades”.
Foram entrevistados/as 40 (quarenta) moradores/as, correspondendo uma
amostra de 2 % (dois porcentos) da Vila. As entrevistas foram gravadas em vídeo em
máquina digital, proporcionando imagem e áudio. Aproximadamente oito pessoas não
aceitaram que as entrevistas fossem gravadas, portanto, foram apenas tomadas notas
(escritas). Utilizamos um roteiro com quatro questões norteadoras.
Também foram realizadas visitas e reuniões com a comunidade local. Na área
em que está sendo instalado a Alpa, especificamente, realizamos três visitas no âmbito da
especialização em questão e desenvolvi uma pesquisa documental em jornais e revistas.
Quando me decidi pelo tema, pensei logo como seria a escolha dos entrevistados.
A Vila São José esta povoada de várias categorias de pessoas, agricultores, empresários,
comerciantes, autônomos, funcionário público, desempregados. Decidi entrevistar uma
pequena amostra de pessoas de cada categoria, de modo que todas fossem ouvidas, mas
selecionei apenas os pioneiros, que residem na Vila há vários anos (alguns com mais de
trinta anos morando nesta localidade) e que têm vivido todas as modificações e
acontecimentos que ocorreram na Vila durante todos esses anos de fundação da
comunidade.
Foto 5
Vista da avenida principal da Vila
Foto 4
Vila São José nas margens da Rodovia
Transamazônica Km. 08
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Fui bem recepcionada pelos/as moradores/as, e o meu primeiro contato com
eles/as para apresentação do projeto aconteceu dia 27/08/2011 em uma reunião onde pedi
o apoio de todos/as. As reuniões aconteciam em pequenos grupos, conforme a
disponibilidade das pessoas.
As perguntas mais frequentes dos/as moradores/as foram: será que eles vão tirar a
gente daqui? Você sabe como anda o processo de desapropriação na justiça? Será que vão
resolver de vez o problema da água aqui? Como esse teu trabalho vai ajudar nós aqui da
Vila?
A pesquisa de campo aconteceu no período de 5 a 26 de setembro de 2011.
Durante esse tempo, mantive contato com moradores da Vila e contei com o apoio total
dos/as moradores/as, da diretora da escola. Após esta etapa recebi as orientações do
professor, realizei a pesquisa bibliográfica, enfim, a sistematização do trabalho.
4. Mudanças sociais e mitigações da Vila José
Retratamos neste item a fala dos/as moradores/as resultado das entrevistas, que
foram baseadas em um roteiro com quatro questões norteadoras:
1. O que é a Alpa?
2. Como era a Vila São José antes da implantação do projeto Alpa?
3. Quais são suas expectativas com a implantação da ALPA?
4. Que mudanças aconteceram ou estão acontecendo na Vila São José,
relacionadas com a implantação da ALPA? Citar as principais.
Foto 6
Aspecto da reunião com as moradoras
na Escola da Vila São José.
Foto 7
Aspecto de entrevista com morador/a
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Realizamos a análise e sistematização dos dados obtidos na pesquisa, separados
em três temas: histórico e mudanças da Vila São José; expectativas dos/as moradores/as
da Vila São José com a Alpa; e propostas de mitigações dos impactos da Alpa à Vila São
José.
4.1.Histórico e mudanças da Vila José
O povoado nasceu em 1977 com aproximadamente 05 cinco famílias com a
denominação de “Quindangues”, e logo depois se transformou em “Centro do Piauí”.
1980, houve a grande cheia (inundação) dos Rios Itacaiúnas e Tocantins, fato
que ajudou com a urbanização da Vila, pois muitas pessoas mudaram-se para lá, embora
não permaneceram por algum tempo, desistindo por falta de água no lugar. A partir de
1982 houve outra grande ocupação (invasão), e dessa vez as pessoas decidiram ficar em
definitivo, foi nesse mesmo ano que a localidade passou a se chamar Vila São José
localizada no Km 08 da Rodovia Transamazônica BR - 230.
Na metade da década de 1980, com o surgimento da Madeireira Itamaraty, e
posteriormente com o surgimento de mais três madeireiras (serrarias), a economia ficou
baseada no trabalho dos/as moradores na extração e beneficiamento da madeira. Este
período contribuiu para o crescimento populacional da localidade.
A partir de 2004 com a falência das serrarias em função de não cumprimento das
exigências ambientais, os empresários se direcionaram para o ramo de cerâmica
(produção de tijolos e telhas). Passando a ser esta a principal fonte de emprego para os/as
moradores/as da Vila.
Com crescimento urbano de Marabá e a necessidade de moradia os arredores da
Vila se tornaram alvo de ocupações pelas pessoas de baixa renda e até especuladores. A
implantação da Alpa atraiu para Vila ou para próximo várias empresas prestadoras de
serviços e loteamentos habitacionais. Todos estes acontecimentos contribuíram para o
aumento populacional significativo, sendo que a Vila São José tem atualmente
aproximadamente 2.000 (dois mil) habitantes7.
A partir da questão: como era a Vila São José antes da implantação do projeto
Alpa? A intenção inicial foi levantar uma espécie de histórico da localidade.
7 Este histórico inicial foi elaborado a partir de informações colhidas em entrevista de uma antiga moradora:
Dorivan Oliveira Silva.
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Tabela 1
VILA SÃO JOSÉ
ANTES ATUALMENTE
Aspectos ambientais: mata e pastagens
próximas da Vila. Balneário no Km. 14.
As propriedades rurais foram adquiridas pelo
Governo do Estado para a área da Alpa;
construção de estádio esportivo e
condomínios imobiliários.
Não existe documentação do
lote/propriedade.
A Prefeitura está regularizando a situação
documental, o suposto proprietário entrou
com um processo na justiça.
Baixo valor dos lotes e casas (imóveis). Valorização financeira dos imóveis.
Ambiente tranqüilo e pacato.
Considerada também como fraca.
Menos populosa.
Aumento do movimento de pessoas,
veículos. Aparenta a Vila está mais forte e
desenvolvida. Aumento da população.
Baixo índice de violência:
roubos/furtos e homicídios. Existência
limitada de prostituição (incluindo a
infantil). Pouco consumo e venda de
drogas.
Aumento da violência: roubos/furtos e
homicídios. Aumento da prostituição
(incluindo a infantil). Aumento do consumo
e venda de drogas.
Água potável. Insuficiência de água potável, em função do
aumento dos/as moradores/as.
Coleta de lixo. Coleta de lixo insuficiente.
Inexistência de pavimentação nas ruas
(com asfalto ou piçarra).
Inexistência de pavimentação nas ruas (com
asfalto ou piçarra).
Pouco comércio (mercearias,
lanchonetes e bares).
Aumento comércio (mercearias, lanchonetes
e bares).
As principais fontes de renda:
madeireiras, cerâmicas e fazendas.
Surgimentos de novas empresas geradoras
de empregos: água mineral, as construções e
empresas ligadas a Alpa.
Pouca atenção política (vereadores/as, e
prefeito e outros).
Maior atenção política (vereadores/as, e
prefeito e outros).
Fonte: pesquisa de campo - entrevistas dos/as moradores/as.
A partir da questão: que mudanças aconteceram ou estão acontecendo na Vila
São José, relacionadas com a implantação da Alpa? Citar as principais.
Nesta questão é retratada a situação atual da Vila, organizamos em positivas e
negativas, a partir da nossa avaliação, considerando que não pedimos os/as
entrevistados/as fazer esta classificação.
As principais mudanças apontadas pelos/as moradores/as são:
Positivas:
Melhoria na escola: desenvolvimento de cursos e projetos. Comprometimento por
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parte da Vale em ampliar as instalações físicas e equipamentos da escola;
Aumento da população, tendo aproximadamente 2.000 (dois mil habitantes),
ocorrendo ocupações de áreas vizinhas, ampliação da extensão territorial;
Geração de novos empregos e renda;
Valorização dos imóveis (casas e terrenos) ocasionando uma espécie de
“especulação imobiliária”;
Regularização fundiária pela Prefeitura (surgimento do suposto proprietário entrou
com um processo na justiça);
Ampliação e diversificação dos estabelecimentos comerciais.
Negativas:
De Vila pacata passou a ser um Bairro movimentado, ampliou a existência de clubes
de festas e bares, aumentando o consumo de bebidas, drogas e as práticas de
prostituição, contribuindo para o aumento da violência;
Aumento do tráfego de veículos, sobretudo de cargas pesadas;
Serviços públicos essenciais: água potável (quantidade insuficiente), coleta de lixo
(precária), segurança pública (não dispõem de policiamento permanente) e
pavimentação das ruas (insuficiente).
Também há pessoas que não conseguem perceber nenhuma mudança ou considera
que mudou pouco em função da fase inicial do empreendimento Alpa: “[...] não tá
acontecendo mudança nenhuma. Não consigo perceber” (entrevista nº. 23). “Não vi
nenhuma mudança” (entrevista nº. 21).
“[...] não aconteceu nenhuma ainda, não ser esses cursos que a
Vale esta mandando. Tá muito é piorando, até a barreira policial
que tinha na estrada tiraram, com ela lá, transmitia segurança,
podia até não resolver nada, mas inibia a bandidagem” (entrevista
nº. 4).
Este estudo constatou que várias mudanças ocorreram na Vila São José, sejam
elas, positivas ou negativas. E o crescimento populacional desordenado pode ocasionar
uma série de problemas.
O que se percebe é que o impacto da mineração é localizado, desestruturante e
ao mesmo tempo estruturante, ao modo que interessa às empresas.
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Desestrutura as comunidades locais (urbanas e rurais), além de provocar a
migração de milhares de pessoas. Diversas são aquela que chegam de outras
regiões do país acreditando que as atividades dessas empresas vão melhorar
suas vidas. É visível o aumento sem controle, da população no entorno dos
projetos mineralógicos. Não só com os núcleos urbanos próximos dessas áreas
passam por rápidas e indesejáveis transformações com o crescimento
populacional, como também surgem outros aglomerados urbanos. O emprego
esperado não aparece. Para sobreviver muitos são aqueles que se enveredam
nos trabalhos temporários e informais. [...] Os efeitos até então incontroláveis,
nessas regiões, têm sido a elevação do índice de violência com destaque para
os homicídios, comércio de drogas, prostituição e acidentes de trânsito
(PEREIRA, AFONSO e NETO, 2010, p. 65).
Faz-se necessário urgentemente à intervenção da Prefeitura, Governo do Estado
e Vale, em parceria com os/as moradores/as para resolver os seguintes problemas: água
potável, coleta do lixo, pavimentação das ruas e segurança pública. Constitui os principais
problemas existentes no momento na Vila São José.
Os empreendimentos minero-metalúrgico e suas infraestruturas (estrutura física,
energia, rodovias, ferrovias e portos) contribuem com as mudanças sociais de uma
localidade, cidade ou região, alterando positivamente ou negativamente, os estudos
demonstram que pouco tem contribuído com um desenvolvimento sustentável.
Além de as atividades minero-metalúrgicas não terem se mostrado capazes de
impulsionar processos de desenvolvimento de base local, por outro, têm
impulsionado mudanças significativas na Amazônia oriental brasileira, de tal
forma que deram novos contornos a algumas estruturas sociais regionalmente
preexistentes, além de edificar outras (MONTEIRO, 2002, p.203).
O aumento da população pode ser um indicador para melhorar as receitas do
município, é um dos lados positivo resultado da migração.
[...] a implantação de um projeto econômico de grande porte – seja infra-
estrutural, seja produtivo – que demanda elevados investimentos de capital e
gera expectativas e/ou cria possibilidades de inúmeros empregos localmente,
atrai, logo de início, para a região na qual se estabelecerá a empresa, um
contingente populacional expressivo, principalmente na fase de construção
civil do projeto, ocasionando uma taxa de crescimento elevada que perdura por
alguns anos. Independentemente do impacto e dos problemas que se processam
no campo social, o importante é que a população constitui um indicador
determinante para a redistribuição de alguns dos principais impostos vigentes
no país. Por conseguinte, os municípios que absorvem essa população passam
a auferir uma maior receita tributária, o mesmo não ocorrendo com os demais
no contexto do seu espaço sub-regional ou estadual (COELHO et al, 2005,
p.85).
A participação da mão de obra local é muito limitada, em função dos processos
industriais utilizados na mineração. De maneira que estes empreendimentos pouco
contribuem com o desenvolvimento local.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1090
A extração e a transformação industrial de minerais na Amazônia oriental
brasileira, em função das características de mercados, necessitam recorrer a
procedimentos industriais padronizados em termos globais, de forma que a
lavra da bauxita, sua transformação em alumina e posteriormente em alumínio
primário; a lavra do minério de ferro, a produção de ferro gusa e, no futuro
próximo, do aço utilizam sistemas industriais homogêneos, ou seja, são
processos produtivos que replicam em outros existentes no mundo. Deste
imperativo decorrem limitações da minero-metalurgia em contribuir com
estabelecimento de processos de desenvolvimento de base local. Estas
atividades, ao demandarem processos produtivos desenvolvidos e
implementados noutros contextos sociais, culturais e ecológicos, passam a ter
dificuldade de interagir com a diversidade regional, pois, a partir desta
diversidade se constituem realidades e atores (índios, camponeses, pequenos
empresários etc.) com os quais a minero-mertalurgia tem enorme dificuldade
de interatuar e, com freqüência, assume uma postura conflitante e antagônica
em relação a estes (MONTEIRO, 2002, p.203).
Neste sentido, faz se necessário a implementação de um programa de qualificação
profissional, formação de jovens e adultos, na área da metalurgia e afins. Investimentos
em universidades, institutos e organizações não governamentais, visando capacitar
pessoas para atuar em todas as fases do empreendimento.
4.2.Expectativas dos/as moradores/as da Vila José com a ALPA
A partir da questão: quais são suas expectativas com a implantação da Alpa? A
maioria das pessoas é unânime em acreditar em possíveis melhorias na localidade e,
sobretudo, geração de empregos.
A maior expectativa das pessoas é pelos os propalados empregos8 anunciados,
pelos governos (municipal, estadual e federal). Vale ressaltar que os governos concedem
uma série de incentivos na perspectiva de que o empreendimento gere empregos e
desenvolvimento econômico.
“De gerar muito emprego, quero trabalhar na contabilidade das empresas que vem
trabalhar em parceria com a Alpa” (entrevista nº. 23).
A expectativa é de melhora, de melhora. Vendo mesmo sobre tudo isso que já
falei a expectativa positiva que a gente trás é de melhora, que venha trazer
realmente o progresso, venha trazer o emprego. Porque sabemos que a cidade
prá crescer, o município prá crescer tem que haver a implantação de grandes
empresas, e a Alpa é uma delas. A Alpa é o sonho de muitos políticos também
prá trazer desenvolvimento prá essa região de Marabá, pro estado do Pará. E
nós esperamos que venha trazer isso: emprego. Porque há muito jovem, há uma
demanda de jovem muito grande na expectativa de arrumar um emprego bom
que venha trazer dignidade prá muitos que buscam essa oportunidade
(entrevista nº. 17).
8 Previsão de 5.319 diretos e 16.000 indiretos.
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Os/as moradores têm expectativas em relação aos serviços públicos:
“Há! Melhoria prá saúde, prá infra-estrutura, cursos, é isso que a gente espera”
(entrevista nº. 14).
Olha a gente espera tudo, tudo mesmo, de bom e de ruim, porque eu acho
quando vem um empreendimento desse existe muita responsabilidade de todos
os lados, dos governos e da empresa. Então a empresa, ela tem se mostrado
preocupada em dá um retorno, em esta presente, em fazer o trabalho junto com
a comunidade, em buscar, em ver o que tá precisando. Por exemplo: essa
questão da regulamentação de terras, foi uma questão que a Vale tomou prá ela
essa briga. Então eu sei muito bem que as pessoas da Vale foram atrás disso,
do Miguelito9 e pediram prá ele, ficaram no ouvido dele, ficaram questionando,
levaram isso pro prefeito, levaram isso prós órgãos, tanto estaduais como
federais, e falaram que é necessário regular a situação fundiária da Vila São
José. Então a Vale tem procurado se aproximar da comunidade (entrevista nº.
3).
Também tem pessoas em dúvidas ou sem expectativas sobre as possíveis
melhorias que poderão surgir influenciadas pela implantação da ALPA.
“Prá falar a verdade, o que penso é que não melhorou nada, é tanto que eu estou
pensando em sair daqui e morar na rua” (entrevista nº. 1).
Das 40 (quarenta) pessoas entrevistadas 77,50% (setenta e sete vírgula cinqüenta
porcentos) sabe o que é a ALPA10. Sendo que 22,50% (vinte e dois vírgula cinqüenta
porcentos) responderam que não sabe o que é o empreendimento.
Figura 1
Considerando que a questão (pergunta) é subjetiva, foram consideradas na
categoria das pessoas que sabem o que é a ALPA, mesmo, aqueles/as que deram uma
resposta vaga significando: emprego, desenvolvimento ou outra significação.
“Acho que vai surgir muitas oportunidades de empregos” (entrevista nº. 2).
A Alpa é Aços Laminados do Pará. Olha, a Alpa vai ser um empreendimento
que vai gerar grande desenvolvimento prá região, não só aqui prá Vila São
9 Miguel Gomes Filho – na época Superintendente da Superintendência Municipal de Desenvolvimento
Urbano (SDU) vinculada a Prefeitura de Marabá.
10 Referente à primeira questão norteadora.
77,50%
22,50%
O que é a Alpa?
Sabe Não sabe
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José. Talvez a Vila São José não se desenvolva tanto, ou melhor assim: como
está hoje, ela não vai ficar, isso ai a gente tem certeza, ela vai ter contornos
diferentes, é a Alpa, é a esperança dos moradores da Vila, de melhorar de vida,
ter uma profissão, ter um trabalho com remuneração melhor. [...] Então, o que
a gente tá esperando é que a Vila São José ela precisa tá preparada, os
moradores precisam esta bem preparados, bem informados, conscientes de que
não é uma coisinha, é uma coisona, é uma coisa muito grande, e que se eles
não tiverem conscientes de tudo isso, eles vão ser sugados. E a intenção da
escola, o papel da escola é de conscientizar os alunos, que é o futuro, e os pais,
conseqüentemente, de que eles precisam se preparar estudando e defendendo
seus direitos naquilo que a Alpa trouxer [..]. (entrevista nº. 3).
A maior expectativa dos/as moradores/as com a implantação da Alpa é a geração
de emprego que consequentemente gerará renda para a localidade. Este empreendimento
é entendido como sinônimo de desenvolvimento.
Podemos levantar algumas preocupações: teremos empregos para todas as pessoas
que serão atraídas pela “propaganda”? A Vila poderá ser um dos refúgios alternativos
para aqueles que não tiverem acesso a Alpa? Além do receio dos problemas (impactos)
que já existentes no momento.
4.3.Propostas de mitigações dos impactos da Alpa à Vila José
Considerando as principais mudanças apontadas pelos/as moradores/as
anteriormente (página 14) apresentamos uma série de propostas de mitigações para os
possíveis impactos atualmente identificados na Vila São José e relacionados com esta
fase inicial de implantação da Alpa.Vale ressaltar que não levamos em conta, possíveis
impactos que poderão vir futuramente na fase de funcionamento propriamente dito da
Alpa. As soluções devem contar com a participação da comunidade, dos órgãos públicos
e com apoio das empresas.
Tabela 2
VILA SÃO JOSÉ
PROBLEMAS POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Água potável Abertura de novos poços artesianos.
Criação de um sistema de captação de água do Rio Tocantins.
Ampliação das ligações para todas as residências.
Coleta de lixo. Coleta do lixo pela Prefeitura.
Implantar coleta seletiva.
Desenvolver projeto de aproveitamento do lixo.
Segurança Pública. Criação de um Posto Policial específico e permanente para a Vila.
Desenvolver ações educativas sobre as drogas e prostituição infantil
Pavimentação das ruas. Asfalto nas principais ruas.
Colocar piçarra nas demais ruas.
Arborização das ruas e criação de uma praça.
Fonte: elaborada pela autora.
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5. Atualização sobre a Alpa11
Começamos com a manchete “Vale desiste de instalar Alpa e prefere o Ceará12”.
Segundo informações da imprensa a mineradora Vale assinou contrato de empréstimo de
2 bilhões de dólares com Export-Import Bank da Coréia do Sul para completar o
investimento de implantação da Siderúrgica de Pecém no Ceará. Na avaliação do
respeitado jornalista Lúcio Flávio Pinto “Para o Pará, fornecedor do minério, e para o
Maranhão, que embarca pelo Porto de São Luís, o empreendimento coreano-brasileiro
significa o fim da ilusão de abrigar uma usina de placas de aços. Durante anos a Vale
manteve os dois estados acalentados pela promessa de beneficiar em seus territórios o
minério agregando valor ao produto.”
Chegou a montar o projeto Alpa (Aços Laminados do Pará), e a ocupar um
vasto lote no Distrito Industrial de Marabá. Quando parecia que o projeto ia se
concretizar ele foi suspenso. O de Pecém, no entanto, prosperou. O sonho do
aço no Pará, pelo visto acabou (Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.819,
2015, p. 5).
Suspensão ou adiamento do projeto Alpa no estado do Pará motiva a ocupação
da área destinada para implantação da planta industrial em Marabá, em vista de resolver
o déficit habitacional da cidade em questão, fruto do processo migratório impulsionado
pela instalação de grandes empreendimentos na Amazônia.
O terreno para a construção da Aços Laminados do Pará (Alpa) foi invadido
no início da manhã de domingo (17) por diversas pessoas boa parte delas
conduzindo carros e motos. Os invasores alegam que a ocupação do terreno é
uma forma de protestar contra a decisão da mineradora de suspender o projeto
em Marabá, mas admitem que também querem um lote na área. Em nota, a
Vale informa que já ingressou com ação de reintegração de posse para
desocupação do imóvel, bem como acionou a polícia para apuração do crime
(Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.825, 2015, p. 5).
Versão da Vale:
Sobre a Alpa, a mineradora esclarece que o cronograma de implantação do
projeto está suspenso porque a empresa aguarda a solução com relação à
infraestrutura logística para a região, como o projeto inicial, a hidrovia estava
prevista como corredor logístico para recebimento de insumo e escoamento da
produção da Alpa (Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.825, 2015, p. 5).
Para a Vale a implantação da Alpa ainda é possível:
11 Elaborada em julho de 2015 a partir de notícias divulgadas pela imprensa. 12 Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.819, Marabá – Pará 5 e 6 de maio de 2015, Caderno 1, p. 5.
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(...) a Vale avançou com o projeto até onde foi possível. As obras de
terraplanagem, por exemplo, foram 85 % concluídas, e os investimentos
somam R$ 332 milhões. A Vale também vem cumprindo as condicionantes
socioambientais do projeto, com investimentos nas áreas de educação, saúde e
saneamento básico, entre outros. A Vale esclarece ainda que o projeto da
Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), não inviabiliza a Alpa, ao contrário
do que se tem alardeado (Jornal Correio do Tocantins, Edição n. 2.825, 2015,
p. 5).
O coordenador local do Sistema Nacional de Emprego (SINE) Daniel de Sá acusa
a Vale pelo crescimento do desemprego em Marabá.
(...) a mineradora Vale é responsável pelo impacto em relação ao desemprego,
uma vez que ela tem de cumprir seu papel social e rever sua posição com a
implantação da Alpa (Aços Laminados do Pará) em Marabá. (...) quando a
mineradora deixou de fazer isso, faliram no mínimo 300 empresas no
município. Outras 200 [ou mais] migraram da região pra outros estados (Jornal
Correio do Tocantins, Edição n. 2.832, 2015, p. 6).
A novela Alpa continua, as próximas cenas estão ligadas a isenção de impostos
para Vale, que precisa ser renovada, a Alpa está como um dos itens da negociação com o
Governo do Estado entre a mineradora acompanhada pela Assembleia Legislativa.
A mineradora Vale deve respostas afirmativas, concretas e de
responsabilidades social e econômica à sociedade de Marabá pela bolha de
expectativas e projeções depois que o projeto Aços Laminados do Pará (Alpa)
foi lançado em 2008. Esse foi o posicionamento do deputado estadual João
Chamon Neto (PMDB) em pronunciamento contundente no plenário da
Assembleia Legislativa do Pará (...). O parlamentar teve apoio dos deputados
Dirceu ten Caten (PT), Sidney Rosa (PSB) e Luiz Sefer (PP). (Jornal Correio
do Tocantins, Edição n. 2.838, 2015, p. 3).
Como parte do enredo, as obras do derrocamento e dragagem Pedral do Lourenço,
no rio Tocantins, data prevista para começar: 2 de maio de 2017. Também é aguardado
o edital de licitação para agosto deste ano.
Considerações finais
Esta pesquisa proporcionou uma significativa experiência, mantivemos contatos
com a comunidade, que se demonstrou receptiva e utilizamos metodologias participativas
(reuniões e diálogos).
Constatamos que a população da Vila São José, tem uma grande expectativa com
a implantação da Alpa, que é entendida como sinônimo de desenvolvimento e geração de
empregos e renda.
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É esperado o apoio da empresa Vale para a Prefeitura e o Governo do Estado
para resolver os seguintes problemas: água potável, coleta do lixo, pavimentação das ruas
e segurança publica. Problemas estes que têm se agravados pelo aumento da população,
influenciado pela implantação da Alpa. Neste sentido, se faz necessário um plano de
mitigação dos impactos advindos do referido empreendimento.
Atualmente a Vale está apoiando o desenvolvimento de projetos educacionais
para minimizar a prostituição infantil e o consumo de drogas. Ações estas que precisam
ser priorizadas e ampliadas. A Vale também tem se disponibilizado em apoiar a Prefeitura
para ampliar as instalações físicas e equipamentos da escola.
Acreditamos que este estudo proporciona ter uma visão critica da implantação
da Alpa, de maneira que a sua leitura traz elementos de pesquisadores/as e militantes
sociais sobre a implantação de outros empreendimentos que servem de exemplos para
entender os impactos e criar alternativas de enfrentamento dos mesmos.
Esperamos que este trabalho possa servir de instrumento para os moradores/as
da Vila São José, se organizar coletivamente em busca da construção de políticas públicas
com os órgãos públicos em parceria com as empresas privadas, visando melhores
condições de vida e mitigação dos impactos/mudanças causados/as com a implantação da
Alpa para a população local.
Até o momento a Alpa tem sido discutida e é esperada como sinônimo de
desenvolvimento, principalmente com geração de empregos. Pouco tem se discutido
sobre os impactos: ambientais, socioeconômicos, ambientais e culturais que serão
causados para a região e principalmente para o município de Marabá. Há uma necessidade
urgente de discutir de forma mais ampla os impactos e as alternativas de como minimizá-
los (mitigar) numa perspectiva sustentável.
Referências
COELHO, M. C. N. et al. Regiões do entorno dos projetos de extração e transformação
mineral na Amazônia Oriental.In: Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 8, n. 2, p. 73 –
107, dez., 2005.
HÉBETTE, J. O grande Carajás: um novo momento da história moderna da Amazônia
paraense. In:____. Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na
Amazônia. Vol. III. Belém: EDUFPA, 2004. p. 31-55.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 18 e 19 de março de 2010.
Edição nº 2.032. Caderno 3, Cidade. p. 4.
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JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 30 e 31 de março de 2010.
Edição nº 2.037. Caderno 3, Geral. p. 5.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 05 e 07 de abril de 2010. Edição
nº 2.039. Encarte Especial, p. 1.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 20 e 21 de setembro de 2011.
Edição nº 2.265. Caderno 1, Artigos, p. 2.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 22 e 23 de setembro de 2011.
Edição nº 2.266. Caderno 2, Geral, p. 5.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 5 e 6 maio de 2015. Edição nº
2.819. Caderno 1, p. 5.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 19 e 20 maio de 2015. Edição
nº 2.825. Caderno 1, p. 5.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 4 e 5 junho de 2015. Edição nº
2.832. Caderno 1, p. 6.
JORNAL CORREIO DO TOCANTINS, Marabá – Pará, 18 e 19 junho de 2015. Edição
nº 2.838. Caderno 1, Política, p. 3.
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INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL: UM ESBOÇO SOBRE AS
DIMENSÕES CONSTITUTIVAS DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL.
Jessica Luanna Cardoso Braz Gonçalves1
Suelen Saraiva da Cruz Alexandre2
Andressa Duarte Feitosa3
Solange Oliveira ferreira4
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar as dimensões que compõem a instrumentalidade
do Serviço Social a partir do exercício profissional dos assistentes sociais no intuito de
compreender as dimensões teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo,
como também o modo de incorporar esses elementos diante das demandas, em busca de
apreender o grau de articulação da instrumentalidade desses profissionais. A metodologia
utilizada possui um caráter, descritivo, explicativo, bibliográfico, os principais autores
que nortearam essa pesquisa foram Yolanda Guerra (2011), que traz uma discussão
aprofundada sobre a instrumentalidade, Lukcás que traz à luz do seu pensando sobre a
ontologia do ser social dentre outros.
Palavras- chave: Instrumentalidade, Serviço Social, atuação profissional.
Abstract
This research aims to analyze the dimensions that make up the instrumentality of Social
Work from the professional practice of social workers in order to understand the
theoretical and methodological dimensions, ethical-political and technical-operative, as
well as how to incorporate these elements before demands, seeking to grasp the degree of
joint instrumentality of these professionals. The methodology has a character, descriptive,
explanatory literature, the main authors that guided this research were Yolanda Guerra
(2011), which brings an in-depth discussion of the instrumentality, Lukcás that brings the
light of its thinking on the ontology of social being among others.
Key words: Instrumentality, Social Services, professional performance.
O Trabalho como categoria fundamental para o Ser Social
Para compreender a instrumentalidade é necessário entender o significado do
trabalho e este como categoria fundamental para o ser social, neste sentido, o trabalho
1 Bacharel em Serviço Social pela Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio Juazeiro do Norte,
2 Bacharel em Serviço Social pela Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio Juazeiro do Norte,
3 Bacharel em Serviço Social pela Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio Juazeiro do Norte,
4 Docente na área de Serviço Social na Faculdade de Ciências Aplicadas Dr. Leão Sampaio Juazeiro do Norte,
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nunca esteve relacionado ao bem-estar, pelo contrário, este era compreendido como
tortura, sofrimento e exploração.
No Antigo Testamento o trabalho era visto como punição pelo pecado original
entende-se a fadiga do trabalho como consequência da desobediência do homem a Deus,
assim nesse contexto representa a obrigação e o dever resultando em uma condição social.
Para a pensadora alemã Hanna Arendt (2008), os gregos possuíam três eixos
distintos no que se refere à categoria do trabalho, são eles, o labor representado pelo
esforço físico sempre ligado á sobrevivência do corpo, já que seu significado corresponde
ao processo biológico do corpo humano produzido quase especificamente pelos escravos;
seguida da apoiesis que se refere à criação de algo ou de algum instrumento, como o
trabalho do artesão e que está diretamente relacionado ao trabalho em si; e por último a
práxis que utiliza o discurso como um meio para buscar discutir soluções que resultem
no bem-estar dos cidadãos, essa prática era quase que exclusivamente realizada pela
burguesia, vale ressaltar que o trabalho escravo era a base material na sociedade greco-
romana, para que os cidadãos não precisassem exercer a função do trabalho.
Com a redução da escravidão e a invasão dos bárbaros, ocasiona uma
metamorfose na relação do trabalho, constituindo assim a sociedade feudal, a terra se
torna o maior meio de produção.
Desse modo, os senhores feudais e o clero viviam do trabalho dos camponeses,
criando uma relação de vínculos particularizados de direitos e deveres, como também de
honra entre os mesmos, podemos destacar que o trabalho já dava os primeiros sinais de
solidariedade por parte da sociedade feudal principalmente pela existência da igreja.
Para a igreja o trabalho era considerado como pecado, uma verdadeira maldição,
ou seja, uma consequência do pecado original, como também uma tortura, em latim
tripalium.
Tripalium era um instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes ainda
munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores bateriam o trigo, as espigas
de milho, o linho para rasga-las e enfiá-los. A maioria dos dicionários, contudo
registra tripalium apenas como instrumento de tortura, o que teria sido
originalmente ou se tornado depois. A tripalium se liga ao verbo do latim
vulgar tripaliare, que significa justamente torturar. (ALBORNOZ, 1988, p.10)
Diante do exposto, o trabalho só poderia permanecer na quantidade necessária
para a manutenção das necessidades. Após a Reforma Protestante, o trabalho passou a ser
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visto positivamente, no que se refere ao seu significado de criação considerando-o como
um meio para a salvação.
A partir do calvinismo, o trabalho se transforma em um meio para alcançar
riqueza, possibilitando ao homem a sensação de ser escolhido por Deus, contudo este
raciocínio protestante oportunizou a ambição por dinheiro nas sociedades absolutistas
modernas.
Para análise sob à luz da teoria social crítica baseada no marxismo o trabalho vai
se caracterizar como categoria fundante do universo dos homens, sendo assim, ao
transformar a natureza para satisfazer suas necessidades o homem produz os bens que
possibilitem sua reprodução.
A partir da idade moderna o homem teria o trabalho pautado na obrigação de
possuir uma vida lucrativa e ativa, paralelo a isso o intenso desenvolvimento capitalista
que torna o trabalho e a produtividade diretamente conectados, dessa forma, contribuindo
para as novas configurações do trabalho.
Nas concepções teórico-metodológicas marxianas, a relação entre natureza e
sociedade encontra-se mediada pelo processo de trabalho. Marx compreende
que o primeiro ato humano se efetiva na relação homem e natureza. Deste
modo, as categorias constituem-se na base das categorias sociais. (Guerra,
2011, p. 81)
Nessa perspectiva o trabalho é a primeira instância para a satisfação das
necessidades, produzida e reproduzida nas relações sociais, o trabalho humano se
diferencia dos outros animais por ser uma operação consciente, ou seja, a finalização do
objeto pré- idealizado pelo homem, possuindo assim uma finalidade resultando na
atividade teleológica, do grego τέλος, finalidade, e - logía, estudo, enquanto os animais
possuem sua atividade pautada no instinto através das leis biológicas.
O trabalho é o esforço e também o seu resultado da construção enquanto
processo e ação, e o edifício pronto. Para muitos o que distingue o trabalho
humano dos outros animais é que neste há consciência e intencionalidade,
enquanto os animais trabalham por instintos programados, sem consciência.
(ALBORNOZ, 1988, p. 12)
Desse modo o trabalho humano diverge do trabalho animal, pela sua capacidade
de raciocínio, pois o homem planeja suas ações carregadas de intencionalidades para em
seguida realiza-las, avalia-las, aperfeiçoando para que posteriormente consiga adquirir
conhecimento.
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O trabalho realizado pelo homem torna-se fonte de ideias, onde
independentemente de outras configurações sociais, ocasiona o processo em que ele
mesmo por meio da sua ação media as mudanças ocorridas na natureza.
Com o surgimento da sociedade capitalista, ocorre um intenso processo de
alteração no conceito do trabalho, a igreja novamente marca presença durante esse
período de transição, nesse momento esta instituição muda seu discurso inicial sobre o
trabalho.
Nessa ótica, o homem viverá do suor do seu rosto, incentivando a prática do
comércio e consequentemente a produção de excedentes, tendo como principal aliado o
Estado e, neste momento, cabe a ele o dever de garantir os objetivos da ordem burguesa,
no que se refere ao desenvolvimento do processo produtivo como também, dar subsídios
para a retirada em grande escala do trabalho da classe operária.
Esse desenvolvimento capitalista foi intensificado no século XIX, o trabalho nas
indústrias tornou-se cada vez mais frequente, diante disso a produção em larga escala
fraciona as etapas do processo distanciando o trabalhador do produto finalizado, neste
momento os trabalhadores iriam ocupar somente uma etapa da produção, resultando na
economia de tempo e elevação da produtividade.
Essa organização do trabalho foi criada e aperfeiçoada por um engenheiro
americano chamando Taylor, sua tese foi denominada de Taylorismo, esse modelo
ocasionou a fragmentação do trabalho e consequentemente a desintegração intelectual e
afetiva, ou seja, os trabalhadores não deveriam perder tempo pensando no que estavam
realizando.
Nessa ótica, é necessário destacar a definição de trabalho manual, que resulta em
algo palpável e o trabalho intelectual, que não produz nada instantaneamente, ao longo
do tempo, buscou-se apenas a valorização das pessoas que possuíam aperfeiçoamento
intelectual, ou seja, no pensar e com isso, resultava na desvalorização do trabalho
executado a partir da força física (trabalho manual).
Portanto, a divisão entre esses dois tipos de trabalho foi manipulada tal qual uma
ferramenta e no mesmo instante uma falsa argumentação para comandar/explorar a classe
trabalhadora.
Esse cotidiano do trabalhador define-se como trabalho alienado, sendo assim, o
indivíduo não se reconhece pelo o que ele é, faz ou sabe, não interessa o seu desempenho
nas relações sociais, mas somente o resultado positivo daquilo que foi produzido.
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Basicamente, a alienação é própria de sociedades onde têm vigência a divisão
social do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção
fundamentais, sociedades nas quais o produto da atividade do trabalhador não
lhe pertence, nas quais o trabalhador é expropriado – quer dizer, sociedades
nas quais existem formas determinadas de exploração do homem pelo homem.
(NETTO, BRAZ, 2006, p. 45).
A alienação não é uma exclusividade do sistema capitalista, esta permeia por
todo o processo das relações sociais, que também se vê afetado pela alienação, dessa
forma, a reprodução social passa discernir uma nova categoria, o individuo começa a
fracionar as relações sociais de exploração, onde passa a produzir a desumanização e
possibilita o retrocesso do ser social.
Diante do exposto, além da transformação da natureza e todo o seu processo que
acarreta também no desenvolver da alienação posta pelo sistema capitalista o trabalho
também traz consigo outro viés fundamental, que a partir da construção e reconstrução
do mundo objetivo, este traz em seu bojo novas necessidades para satisfazê-las, isso
acarreta uma dimensão social, resultando no complexo processo do ser social, no qual
será fundamentado a partir da vertente Lukcasiana nos tópicos a seguir.
A Ontologia do ser Social: A contribuição de Lukács.
Partindo do pressuposto de que o trabalho é o processo de transformação da
natureza, resultando na produção e reprodução da vida material, este se configura como
a categoria fundante do mundo dos homens.
Dessa forma, a partir da teleologia, sendo esta carregada de consciência que o
trabalho evolui para o campo ontológico do ser social, descrita por Karl Marx, como a
categoria singular do mundo dos homens construídos historicamente pelo trabalho.
O filósofo György Lukcás, inicia a corrente de pensamento denominado
Ontologia do Ser Social, caracterizado como o princípio da ação social humana no que
tange o complexo processo do trabalho, é fundamental compreender que esta categoria
só pode ser realizada no interior das relações sociais.
Entende-se que o trabalho é proveniente da prática humana, mas não indica que
toda realização advinda do homem seja direcionada ao trabalho, porém a reprodução
social sem trabalho não poderia existir.
Conforme analisa LESSA (2012, p.35), “Nenhum ato de trabalho em sua
singularidade pode exercer todas as funções sociais que no interior da reprodução de uma
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dada sociedade, em um dado momento histórico, são requeridas do trabalho em sua
totalidade”.
Dessa forma, é a partir da relação homem-natureza que se confirma a veracidade
ontológica do ser social, afinal é a partir do processo de trabalho que o homem irá produzir
os bens necessários a sua reprodução, sendo neste momento habilitado para indicar e
concretizar aquilo que foi idealizado.
A priori, o ser social possui três elementos que o constituem, são eles: o trabalho,
a sociedade e a linguagem.
Dessas três categorias, cabe ao trabalho, segundo Lukács, o momento
predominante no desenvolvimento do mundo dos homens, já que é nele que se
produz o novo que impulsiona a humanidade a patamares sempre superiores
de sociabilidade. (LESSA, 1996, p.10)
A categoria do trabalho possui outro viés fundamental, conforme a teoria de
Lukács a partir da construção e reconstrução do mundo objetivo, este traz consigo novas
necessidades para satisfazê-las, isso acarreta uma dimensão social, que também constitui
o complexo processo do ser social.
Neste caso para a sua compreensão o trabalho se pauta na objetivação que
transforma aquilo que já foi desejado, ou seja, a prévia- ideação que resulta da
necessidade de alguma situação e por ultimo o caráter histórico- social da objetivação do
trabalho.
Todo esse processo se faz a partir das mediações básicas, decisivas e universais
da objetivação- exteriorização, essa mediação se dá como uma ação sensível do vínculo
natureza- sociedade verdadeiramente cotidiana, pois é nessa condição que o homem
exterioriza e realiza as devidas ações no seu espaço então essa prática social dá inicio à
transformação da sociedade.
Esse processo de objetivação-exteriorização, é apresentado na relação homem-
natureza, a partir do trabalho que aparece na emergência de transformar a natureza para a
satisfação das necessidades.
Mas esse processo não faz do trabalho uma exterioridade, pois ele não se origina
de uma ideia, mas de uma historicidade, no caso da objetividade a sua primeira instância
é a natureza, em razão de que o homem é fruto da mesma, como também a produção de
bens para a satisfação, contudo, a objetivação-exteriorização são constitutivo do processo
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de trabalho devido o homem ser operante, caracterizando-se como objetivo que possui
subjetividade nas suas ações.
Nesse âmbito, a junção de todos esses elementos constitui uma totalidade, o ser
social se fundamenta não em fatos específicos ou isolados, mas em conjuntos totalmente
complexos, composto por um leque de relações objetivas.
Por isso o momento principal e relevante da totalidade social permeia no
posicionamento ontológico privilegiado, ou seja, sem ele os elementos que constituem o
ser social não poderiam prevalecer.
Portanto o ser social se transforma e se reproduz em meio a fatores divergentes,
mas que geram novas objetividades e subjetividades, já que o ser social é constituído e
constituinte de todo um processo histórico.
A categoria da totalidade é essencial para a análise da existência social, a
totalidade foi designada por Lukcás de um complexo dos complexos, um modo de
existência composta pela montagem estrutural, por meio de várias outras estruturas.
Neste sentido é possível identificar a complexidade do ser social, no que se refere
a totalidade das relações, como também a variação da conjuntura entre os complexos,
contudo, este método é basicamente essencial para a compreensão do processo histórico
da sociedade.
Ainda na percepção de Lukács, ao que cabe à noção de historicidade, este trouxe
para o seu discurso a instância filosófica da substância e essência, estas primordiais para
toda ontologia, segundo (LUKÁCS, apud LESSA, 2012:44) “[...] todo ser, a natureza,
assim como a sociedade, é entendido como um processo histórico, [...] a historicidade
assim instituída representa a essência de todo o ser”.
Em sua teoria ontológica, Lukács (1978) define que a atividade sensível do
trabalho está paralelamente ligada ao rompimento com a naturalidade do homem, mesmo
estando indissociável da relação com a natureza que se torna imensamente social, Guerra
(2011, p.83) conceitua que “É neste mesmo processo que comparecem determinações de
naturezas diferentes pelas quais o ser social se distingue- se do ser natural”.
O desenvolvimento da autoconstrução do homem é estabelecido por uma dupla
determinação: a particularidade e uma universalidade que são expressas nas
singularidades realizadas no interior das relações causais que consiste na natureza e na
sustentação de complexos sociais.
Seguindo a ideia que tudo existe no interior das relações causais por meio da
totalidade, esta permite dividir com riqueza de detalhes, o instante necessário da
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processualidade do trabalho, passando por etapas de causalidade, em seguida na
totalidade inesperada pela consciência diante da prévia-ideação.
Esse processo mostra como é possível haver consequências que não são previstas
ocasionando resultados inesperados e que retornam em forma de novas necessidades e
possibilidades para a satisfação das mesmas.
Lukács avança nessas considerações ao estabelecer a relação entre causalidade
e teleologia no processo de trabalho. Neste figuram determinações universais,
conexões causais predeterminantes das ações humanas, que se constituem num
sistema de regularidades e obedecem a uma legitimidade tendencial. Deste
modo, os fenômenos posto pelo movimento da realidade no processo de
trabalho, sob os quais a ação humana se plasma, sejam eles naturais ou sociais,
possuem uma legalidade imanente> Ao apreender as leis causais e autônomas
da natureza, pela via do pensamento e submetê-las às suas necessidades, os
homens constroem a história. A história nada mais é do que o resultado da ação
dos homens sobre a realidade, no sentido de concretizar suas finalidades, ainda
que, para isso, devam atuar sobre as relações causais que lhe são impostas, no
sentido de modifica-las. Mais ainda, constroem uma racionalidade enquanto
expressão do pensamento e ação acionados no processo de trabalho, ou como
resultado da tensão entre causalidade e teleologia. (Guerra. 2011, p.83)
Essa associação dialética entre teleologia e causalidade é resultante da essência
do trabalho, onde a teleologia se fundamenta como categoria ontológica objetiva que faz
parte do mundo dos homens.
Diante do que foi exposto compreende-se que a ontologia do ser social é
composta por diversas teorias fundamentais no processo do trabalho e da categoria do ser
social, as categorias ontológicas são frutos do processo histórico, possuindo uma relação
direta com a reprodução social.
Trabalho e Serviço Social
Entendendo que o trabalho é resultante do processo de transformação da natureza
pela ação humana e que este é portador de teleologia caracterizada como a prévia-ideação
da ação naquilo que foi desejado, reafirmado na teoria do ser social que para Lukács
(1978) o trabalho é fundante do ser social e por meio disso que o homem adquire a
capacidade de atingir a sociabilidade.
Nessa perspectiva marxiana, o trabalho só se efetiva a partir dos processos de
trabalho que contém elementos primordiais tais como: matéria-prima, meios e
instrumentos capazes de produzir os bens necessários a sua manutenção.
Contudo vale elucidar se o serviço social na sua intervenção transforma a
natureza, ou seja, pode ser caracterizada como trabalho ou não, essa discussão parcela as
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opiniões tanto dos profissionais como de autores específicos do serviço social, resultando
em duas vertentes distintas.
A primeira vertente a ser aqui discutida, afirma que o serviço social não é
trabalho, tendo como principal mentor Sérgio Lessa, que consolida a visão de Marx que
o trabalho é fundante do mundo dos homens e consequentemente ação transformadora da
natureza.
Em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, porque o Serviço Social não
realiza a transformação da natureza nos bens materiais necessários à
reprodução social, como também, não cumpre a função mediadora entre os
homens e a natureza, pelo contrário, atua nas relações puramente sociais nas
relações entre os homens. (LESSA, 2000, p.52)
Nessa ótica, não é possível considerar o serviço social como trabalho, pois este
não põe em prática a transformação da natureza, e nem produz elementos fundamentais a
reprodução social, dessa forma, não há o processo de mediação entre homem/natureza.
Em contrapartida analisando a teoria marxista, ao que se refere à categoria do
trabalho, percebe-se que não há resquícios de distinção entre transformar direta ou
indiretamente a natureza.
A segunda vertente afirmada pela maioria dos autores tais como Iamamoto, José
Paulo Neto dentre outros, sustentam a tese de que serviço social é considerado trabalho,
pois possui processos de trabalho e transforma a natureza a partir da sua intervenção,
devido o mesmo utilizar-se de instrumentos, meios e força de trabalho para o alcance de
suas finalidades.
De fato o trabalho possui habilidades, técnicas e instrumentos que o homem se
apropria para dominar a natureza, ou seja, controlar as condições naturais, como também
se organiza socialmente, dividindo-se entre funções e tarefas.
O processo de produção e reprodução da vida dos indivíduos, através do trabalho
é para Marx (1983), a principal atividade humana, através dela que são constituídas as
histórias referentes ao social, como também, o fundamento do materialismo histórico
dialético, enquanto método de análise da vida econômica, política, social e intelectual.
Para Marx (1983), tudo está relacionado com o trabalho, as relações sociais
passam a surgir de acordo com as relações de interesses, com ascensão do capitalismo e
este traz consigo a industrialização e urbanização, que provoca um intenso deslocamento
populacional.
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Como consequência desse processo surge um leque de problemas sociais que
vão ser expressas na figura política, econômica, ideológica e social, então denominada
questão social.
Em meio a esse processo o Estado passa a necessitar de uma mão-de-obra
especializada tangível no enfrentamento da questão social.
O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na
divisão social do trabalho, tendo como pano de fundo o desenvolvimento
capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreendidos
sob o ângulo das novas classes sociais emergentes – a constituição e expansão
do proletariado e da burguesia industrial [...] É nesse contexto, em que se
afirma a hegemonia do capital industrial e financeiro, que emerge sob novas
formas a chamada “questão social”, a qual se torna a base de justificação desse
tipo profissional especializado [...] É a manifestação, no cotidiano da vida
social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir
outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. O Estado passa
a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a classe
trabalhadora, estabelecendo não só uma regulamentação jurídica do mercado
de trabalho, através de legislação social e trabalhista especificas, mas gerindo
a organização e prestação de serviços sócias, como um novo tipo de
enfrentamento da questão social. (IAMAMOTO, 2010, p.77)
Dessa forma, o Estado formula um aparato de equipamentos para supervisionar
a classe operária, por meio das políticas sociais que agora passa a obter espaços de
trabalho para o assistente social, que nesse momento passa a ser percebido como trabalho
instituído na divisão social e técnica do trabalho e não mais ligado à caridade.
A ação profissional do assistente social vai independente da sua vontade própria,
pois mesmo estando de encontro com os interesses da classe trabalhadora, a sua função
para a classe burguesa é somente defender os interesses dessa classe minimizando os
conflitos sociais, uma vez que este profissional se caracteriza como vendedor da sua força
de trabalho.
Apoiando-se na tese que o serviço social é trabalho, este requer processos de
trabalho, mas vale ressaltar que não existe um único processo de trabalho para a profissão,
como também não existe uma matéria-prima e instrumentos exclusivos do serviço social,
isto ocorre devido as instituições no qual está inserido possuir vários processos de
trabalho.
Tendo como principal matéria-prima a questão social que aparece fragmentada
em diversas dimensões da vida dos indivíduos, os assistentes sociais constroem o seu
cotidiano profissional, sendo capaz de analisar determinada realidade, criando
mecanismos para a sua ação interventiva idealizando a concretude das suas finalidades.
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A Instrumentalidade e os processos de trabalho do Assistente Social.
A instrumentalidade se pauta como condição necessária para a reprodução
humana, refletida na relação homem/natureza durante todo o processo de transformação
que busca suprir os desejos materiais e espirituais, resultando no processo denominado
trabalho.
A partir do processo de trabalho o homem concretiza a instrumentalidade,
portando é necessário considerar que esta categoria é a capacidade de articular um elevado
número de recursos para realização de tal atividade que seja pertinente aos seus objetivos,
como também os elementos envolvidos na realização do trabalho.
A discussão sobre a prática do serviço social quando voltada para a
instrumentalidade, possibilita uma reflexão sobre os aspectos referente aos valores,
concepções e visões que norteiam a instrumentalidade no seio da prática profissional dos
assistentes sociais.
Acerca do debate instaurado pela instrumentalidade, esta contribuiu para a
absorção de uma perspectiva crítica própria da profissão como também da sociedade na
qual está inserida.
Em um primeiro momento o termo instrumentalidade pode ser definido aos
instrumentos técnicos que o assistente social utiliza no seu fazer profissional, para que
possa alcançar suas finalidades, a partir de resultados propriamente concretos.
Á primeira vista o tema instrumentalidade do Serviço Social para referir-se ao
uso daqueles meios e instrumentos imprescindíveis ao agir profissional,
através dos quais os assistentes sociais podem passar mera intencionalidade
(finalidades, teleologia ou prévia-ideação) para a efetivação de ações
profissionais. Porém, uma reflexão mais acurada sobre o termo
instrumentalidade nos faria perceber que o sufixo “idade” tem a ver com a
capacidade, qualidade ou propriedade de algo. (GUERRA, 2000, p.05)
Desta forma ao incorporar essa capacidade decorrente da instrumentalidade
constitutiva do serviço social, é construída e reconstruída no processo sócio histórico da
profissão, viabilizando o atendimento de demandas objetivando resultados satisfatórios,
constituindo uma condição concreta referente ao reconhecimento social da profissão.
A instrumentalidade do serviço social possibilita o direcionamento diante de
uma perspectiva crítica, pois ao investigar determinada realidade, este se apropria de um
leque de teorias, saberes e instrumentos que possibilitem a esta intervenção um caráter
crítico, tanto do seu fazer profissional, como também das múltiplas manifestações da
questão social.
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Diante da ideia de que, é por meio do processo de trabalho, que o homem
materializa a instrumentalidade, como também a proporção que os profissionais criam e
adequam as circunstâncias que existem no seu espaço de trabalho, transformando em
meios e/ou instrumentos para a concretização das intencionalidades, neste caso, as ações
configuram-se como instrumentalidade.
Nessa ótica, é necessário elucidar que o uso desse suporte técnico no que diz
respeito aos instrumentos não deve definir a atuação do assistente social, pois, dessa
maneira o profissional perde a sua consciência crítica, agindo de um modo superficial
diante da sua prática, regredindo àquelas respostas burocráticas e funcionalistas que
permeavam inicialmente a prática dos assistentes sociais.
É necessário destacar que na prática profissional, o instrumento como principal
instrumental não deve definir a atuação dos assistentes sociais, mas o contrário, a
instrumentalidade é o ponto de partida para a elaboração e concretude dos demais
instrumentais necessários para as respostas demandadas.
A partir do que foi exposto ver-se como a instrumentalidade está presente no
desenvolvimento da profissão do assistente social, a institucionalização do serviço social
surge diante da necessidade do Estado em intervir nas relações de produção e reprodução
da classe trabalhadora por meio do enfrentamento da questão social.
A institucionalização do serviço social se deu como uma estratégia do Estado
com o intuito de controlar a partir da racionalidade os conflitos entre a burguesia e o
proletariado. Como também na questão social.
O processo pela qual a ordem monopólica instaura o espaço determinado que,
na divisão social (e técnica) do trabalho a ela pertinente, propicia a
profissionalização do Serviço Social tem sua base nas modalidades através das
quais o estado burguês se enfrenta com a “questão social”, [...] a natureza da
prática técnica é essencialmente executiva. (NETTO, 2005, p.74)
Dessa forma, a prática dos assistentes sociais é fundamentada por uma razão
conservadora, posta pelo próprio sistema capitalista embasado no positivismo,
pragmatismo e empirismo, tornando sua intervenção totalmente funcionalista tal como
estabelecia a ordem burguesa.
É nesse contexto que o Estado passa a necessitar das práticas profissionais para
alcançar fins totalmente econômicos e políticos, contudo, o serviço social se insere nesse
momento histórico na divisão sócio técnica do trabalho, tendo que vender sua força de
trabalho e diante da sua práxis profissional e executar atividades perante a instituição em
que está inserido.
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Ao que cabe a instrumentalidade nesse período, se fundamenta no projeto da
reforma conservadora organizado pela classe burguesa:
No primeiro caso, a instrumentalidade do Serviço Social remete a sua condição
de instrumento de controle, que serve à manutenção da produção material e
reprodução ideológica da força de trabalho, tendo em vista que sua função de
intervir (planejar, executar, avaliar) nas sequelas da questão social, através das
politicas e/ou serviços sociais. (GUERRA, 2000, p. 23)
Ou seja, o serviço social estaria a serviço da ordem burguesa no que tange o
controle da ordem social por meio das políticas sociais sendo requisitado como um
profissional para operacionalizar essas ações.
Nesse sentido o assistente social não se reconhece enquanto classe trabalhadora,
pois entendia que a sua intervenção demandava apenas os interesses burgueses no
controle da classe trabalhadora.
Com isso compreende-se que esta particularidade contribuiu para a formação do
significado sócio histórico da profissão como também da sua instrumentalidade.
Ao incorporar a instrumentalidade ao seu fazer profissional, os assistentes
sociais modificam as condições objetivas relativas à produção material da sociedade, ou
seja, são aquelas condições postas na realidade material, entre elas os campos de
intervenção e as condições materiais de trabalho.
Ao que cabe às relações subjetivas (Guerra, 2000), está relacionada diretamente
aos sujeitos, dentre eles destaca-se o grau de qualificação e competência dos profissionais,
o preparo técnico e nele está contido o embasamento teórico, metodológicos, éticos e
políticos. Essas condições objetivas e subjetivas existem a partir das relações sociais no
nível do cotidiano.
Ao recolher a particularidade da profissão da divisão sociotécnica do trabalho,
essa forma de compreender o surgimento do Serviço Social contribuiu para a
apreensão do significado sócio histórico da profissão e de sai
instrumentalidade. Permite apreender a instrumentalidade da profissão como
um conjunto de condições que a profissão cria e recria no exercício profissional
e que se diversifica em função de um conjunto de variáveis tais como: o espaço
sócio ocupacional, o nível de qualificação de seus profissionais, os projetos
profissionais e societários hegemônicos, a correlação de forças sociais, dentre
outros. (GUERRA, 2000, p.20)
Neste caso, entende-se a instrumentalidade (GUERRA, 2011) como um
conjunto de condições, ou a propriedade que a profissão adquire dentro das relações
sociais, criando e recriando-a no exercício profissional, diante do confronto entre as
condições objetivas e subjetivas da realidade social.
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Em um segundo momento a instrumentalidade é pautada e requisitada na
peculiaridade operatória, que se traduz no caráter-instrumental- operativo, no que tange
as respostas profissionais a partir das demandas, caracterizando-se como um fio de
passagem para a legitimação da profissão.
No segundo caso, sua instrumentalidade localiza-se no nível de respostas dadas
às demandas: são respostas operativo-instrumentais, de caráter manipulatório,
as quais necessitam transformar as condições imediatamente dadas. Esse tipo
de ação (instrumental) com vistas às situações subsume os meios aos fins [...]
Na imediaticidade dos fatos, no afã de concretizar suas finalidades imediatas,
os sujeitos não superam o estrito nível do particular. (GUERRA, 2000, p.24)
De fato são respostas que possuem uma dimensão manipuladora, caracterizando-
se também como imediata e totalmente particular, que são vistas de forma superficial, se
restringe apenas na eficácia, identificado no projeto racional burguês.
Nesse sentido, essas intervenções realizadas pelos assistentes sociais
requisitavam apenas as funções de execução, operacionalização e a implementação de
políticas sociais, ou seja, no processo de reprodução da força de trabalho.
Portanto a instrumentalidade nesse contexto está diretamente ligada ao serviço
social de caso, pois possui um caráter particular com ações totalmente padronizadas e
repetitivas, desconsiderando as mediações subjetivas e universais. Vale destacar que esses
dois níveis são demarcados como resultado na racionalidade formal- abstrata.
A racionalidade formal-abstrata relaciona-se com a razão instrumental que está
ligada a duas esferas: subordinação, referente ao alcance dos fins individuais e no que
tange a imediaticidade das respostas, como também a funcionalidade relacionada à
estrutura.
Portanto essas dimensões integram um complexo conjunto de ações e funções
que não implicam em corrigir os meios, bem como a legitimidade dos fins,
consequentemente torna-se funcionalista ao capitalismo e sua relevância está atribuída à
perspectiva quantitativa.
No serviço social essa concepção do racionalismo formal-abstrato traz para a sua
instrumentalidade uma forma de intervenção meramente tecnicista, reduzindo a sua
prática a respostas de caráter imediato, servindo apenas aos interesses do estado e capital
no tratamento da questão social.
O tratamento que o Estado dedica às questões sociais, que transita entre
repressão e assistencialismo, e a aparência heterogênea posta na configuração
das politicas sociais, produzem um movimento que se expressa na intervenção
do assistente social por duas determinações complementares: interditam-lhe
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uma visão de totalidade das politicas sociais, exigem-lhe a adoção de
procedimentos instrumentais. (GUERRA, 2011, p.141)
Dessa forma a percepção do serviço social se reduz a particularidades de cada
caso, sem ter em vista a totalidade das relações sociais, pois as políticas sociais se
caracterizam como seletivas e conservadoras no que tange as diversas manifestações da
questão social.
Somente em meados dos anos 1980, que a intervenção profissional dos
assistentes sociais sofre transformações, (Netto, 2011) afirma que nesse período o serviço
social atinge a “maioridade intelectual”, respectivamente foi possível pensar na
possibilidade de romper com as praticas clientelistas e com o tradicionalismo, buscando
novos rumos para a consolidação de uma nova perspectiva pautada na criticidade.
Em seguida a instrumentalidade vai ser requisitada a partir das possibilidades de
emancipação geradas a partir da racionalidade crítico-dialética, que é proposta como uma
mediação, esta possibilita o acesso das observações macroscópicas de traço peculiar
meramente generalizado no que tange a particularidade da prática profissional.
Como uma mediação que permite a passagem das análises macroscópicas,
genéricas e de caráter universalista às singularidades da intervenção
profissional, em contextos, conjunturas e espaços historicamente
determinados. Aqui, a instrumentalidade como categoria constitutiva do
Serviço Social permite pensar nos indicativos teórico-práticos de intervenção
imediata (entendidos como os instrumentos teóricos, políticos e técnicos), bem
como vinculá-los aos objetivos, finalidades e valores profissionais e humano-
genéricos. Em outros termos, permite acionar, potencializar os diversos
elementos que compõem a cultura profissional. (GUERRA, 2000, p.23)
Dessa forma, compreende-se que as mediações se caracterizam como o fio
condutor que visa superar a visão do racionalismo formal-abstrato em direção à
perspectiva crítica-dialética.
Inicialmente para entender a perspectiva critica-dialética, é necessário ter
clareza que a totalidade ao ser desvelada de maneira imediata não seria preciso o uso do
estudo/observação científica para intervir na realidade, pois sua imediaticidade não
expressa sua historicidade.
Portanto nesse processo, cabe elucidar o método designado por Marx, que se
caracteriza como etapas de um processo fundamental, diante do impulso para a
compreensão da realidade, ou seja, o método em Marx é caracterizado como um método
de concretude, tendo por finalidade estabelecer a ontologia da realidade, as diversas
manifestações e relações antagônicas que definem os fenômenos em sua particularidade.
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O método em Marx, embora naturalista e empírico, não é positivista, mas sim
realista. Sua dialética epistemológica leva-o também a uma dialética
ontológica especifica (um conjunto de leis ou princípios que governam um
setor ou a totalidade) e a uma dialética relacional condicional (movimento da
historia). (ALVES, 2010, p.04)
A razão critica-dialética é conceituada a partir dos processos sociais que
possuem objetividade e razão, que podem ser compreendidas mediante a reflexão
(conhecimento) constituindo uma dimensão de totalidade que certamente apresenta
intensas determinações da sociedade.
Assim a instrumentalidade reflete sob suas intervenções, repensando nos
procedimentos tecnicistas e operativos, como também, abrange e adquire ao seu fazer
profissional novas formas de atuar, apropriando-se das dimensões teóricas, políticas,
objetivos e valores.
Resultante desse processo o serviço social traz para o seu interior o debates
acerca do processo de adiantamento do reconhecimento da profissão e a legitimidade do
projeto ético-político.
Neste sentido, cabe a esta última categoria a apropriação do conhecimento a
partir do embasamento teórico-crítico que possibilite uma intervenção profissional
pautada na concretização dos seus objetivos, todo esse processo depende da articulação
entre os instrumentos que venham a dar amplitude ao trabalho social realizado pela
profissão.
As principais dimensões constitutivas da Instrumentalidade do Serviço Social.
Podemos dizer que a categoria da instrumentalidade a partir dos processos de
trabalho do assistente social tem uma relação direta com o campo da mediação, este pode
ser compreendido como uma dimensão própria da teoria crítica marxista, por meio do
método dialético que analisa a dimensão da realidade. Como define (Pontes, 1997, p.55)
“A mediação, enquanto categoria lógica da dialética é necessariamente ontológica,
porque constitui os processos concretamente”.
Desse modo, entende-se que a mediação é muito mais do que a prática de mediar
conflitos, sendo possível no interior da ontologia do ser social, pois carrega duas
dimensões: ontológica vinculada ao real, pois se caracteriza a partir da realidade tal como
ele é independentemente do sujeito e reflexiva desenvolvida pela racionalidade que
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acarreta a dimensão de conhecer e apreender todas as manifestações superando a
perspectiva da aparência.
Diante da afirmativa de que a mediação perpassa o processo de compreensão do
real, também estabelece uma relação entre a prática e a concretização dos objetivos,
portanto a intervenção realizada pelos assistentes sociais está ligada a categoria da
mediação, pois facilita a operacionalização crítica resultando em uma prática
transformadora, no que tange as demandas que surgem para a profissão.
Mas fica a indagação se todos os assistentes sociais atuam na direção de uma
prática transformadora, pois (Martins, 2008) afirma que no processo histórico do serviço
social sua prática pedagógica estava intrinsicamente ligada aos interesses da classe
burguesa que prezava o controle e repressão da classe trabalhadora.
Em contraponto, nas últimas décadas essas ações mudam de sentido, pois a
categoria do serviço social se reconhece enquanto classe trabalhadora, pois entende-se
que a mesma vende sua força de trabalho para o capital que necessita de suas intervenções
junto ao enfrentamento da questão social.
A intervenção profissional tem seus limites pessoais e decorrentes da própria
estrutura institucional em que se articulam as estratégias de intervenção. As
questões postas implicam as relações dos sujeitos com inúmeras determinações
como as culturais, as econômicas, as familiares, as organizacionais, as
politicas, num processo complexo que condiciona, ao mesmo tempo, o ângulo,
o nível da intervenção e a articulação das mediações particulares, possíveis de
transformar a relação de forças em presença. (FALEIROS, 2006, p.57)
Portanto cabe ao profissional desenvolver estratégia possível para a intervenção
que naquele momento se torna necessária, pois as demandas inicialmente não são exibidas
como realmente são, então todas as suas complexidades e por meio da mediação se dá
frequentemente a aproximação com o real pautado na totalidade.
A intervenção profissional articulada pela categoria da mediação contribuiu para
o entendimento aprofundado sobre os acontecimentos não de forma particularizada, mas
como um processo complexo no sentido social, resultante das dimensões econômicas,
ideológicas, politicas, sociais dentre outras. Dessa forma a mediação é constituída da
tríade: singularidade, universalidade e particularidade.
A singularidade compreende-se como uma esfera de fatos isolados que chegam
aos espaços institucionais, são situações particulares de diversos âmbitos como
psicológico, econômico, familiar, dentre outros. Neste caso as respostas são imediatas,
não viabilizam nenhuma transformação na vida dos indivíduos.
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Na singularidade, as mediações, as determinações, enfim, a própria legalidade
social estão inteiramente ocultas. Numa palavra, esse é o plano da
imediaticidade. É exatamente porque a singularidade corresponde à dimensão
da imediaticidade que o sujeito cognoscente apreende as categorias sociais
como formas autônomas de ser. Neste nível, essas categorias emergem
despidas de determinações históricas. (PONTES, 1997, p.85)
É evidente que na singularidade cada caso é particular, que se auto- justifica,
entretanto, resulta no processo de culpabilização do individuo pela condição que o mesmo
se depara. Nesse sentido o assistente social delimitando sua prática ao campo da
singularidade as ações serão fragmentadas e desnudas de mediação.
A universalidade se encontra oposto à singularidade, pois possui um propósito
frente as determinações universais que possibilita uma visão mais aprimorada e
aprofundada da realidade, compreendendo que todas as esferas da vida estão direta ou
indiretamente interferindo nesses casos e/ou fenômenos.
É no plano da universalidade que estão colocadas grandes determinações
gerais de uma dada formação histórica [...] A legalidade social é a expressão
da universalidade do processo. Há uma totalidade social e não partes com
legalidades autônomas. (PONTES, 1997, p.85-86)
A elevação da universalidade garante ultrapassar a perspectiva do aparente,
particular e fracionado de tais fenômenos para alcançar sua essência diante de toda a
totalidade dos fatos, neste caso, o assistente social deve compreender toda a grandeza de
tal situação, ou seja, perceber e analisar as entrelinhas para de fato desvelar a realidade e
concretizar sua intervenção.
Por fim a instância da particularidade equivale ao campo de intervenção do
assistente social, Para Pontes (1997, p. 86) “A particularidade é, em ultima analise, - como
bem exprime a plástica figura usada por Lukács -, um campo de mediações. É um espaço
onde a legalidade universal se singulariza e a imediatidade do singular se universaliza”.
Por meio da reflexão é essencial elevar o singular ao universal, pois não pode
somente considerar os pensamentos, como também deve retornar a realidade, portanto a
particularidade é repleta de mediação por meio da visão critica do assistente social.
A mediação deve ser utilizada pelos assistentes sociais a partir da criticidade e
dialética na sua intervenção profissional, desse modo a mediação existe para compreender
a realidade e adquirir criticidade que conduza a produção de aparato suficiente para
intervir de modo a transformar as demandas postas no cotidiano profissional.
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Afinal o que se entende por cotidiano? Compreende-se que o cotidiano se da a
partir daquilo que é costumeiro ao individuo, então de que se trata o cotidiano do
assistente social.
O cotidiano profissional do assistente social se dá a partir de reflexões sobre a
conjuntura de diversos âmbitos na vida dos usuários sejam eles econômicos, sociais,
políticos, enfim, essa prática precisa estar sistematicamente embasada em teorias para que
possa perceber e articular estratégias para as finalidades desejadas.
O Serviço Social é uma profissão que tem características singulares. Ela não
atua sobre uma única necessidade humana (tal qual o dentista, o médico, o
pedagogo...) nem tampouco se destina a todos os homens de uma sociedade,
sem distinção de renda ou classe. Sua especificidade está no fato de atuar sobre
todas as necessidades humanas de uma dada classe social [...] É por isso que
os profissionais de Serviço Social atuam basicamente na trama das relações de
conquista e apropriação de serviços e poder pela população excluída e
dominada. (CARVALHO et al , 2007, p.52)
Portanto, em seu cotidiano o assistente social é instigado a interpretar os
fenômenos, no qual demanda uma apropriação constante de conhecimento para
desenvolver criticidade e refletir sob aquele trabalho que está sendo realizado e se seus
objetivos estão sendo concretizados.
Desse modo a instrumentalidade do serviço social compreendida como uma
capacidade de impulsionar e desenvolver os instrumentos fundamentais para a resolução
das demandas colocadas pela sociedade, contudo a instrumentalidade é constituída por
embasamento teóricos e metodológicos, princípios, valores e instrumentais técnicos que
possibilitem o estreitamento da relação profissional com a totalidade.
Nesse sentido a instrumentalidade do Serviço social se constitui na capacidade
da profissão para a sua atuação, permitindo a articulação das três dimensões; teórico-
metodológica, ético-politico e técnico- operativo.
Nessa linha de reflexão, enquanto a dimensão mais desenvolvida da profissão,
a instrumentalidade do Serviço Social expressa a legalidade de maior âmbito
de validez, já que a necessidade social da profissão localiza-se nas funções de
controle e integração que desempenha, realizadas pela mediação das politicas
sociais estatais e privadas. [...] À medida que a centralidade da analise se
direciona para a forma de inserção da profissão na divisão social e técnica do
trabalho, vemos que a instrumentalidade, pela qual o Serviço Social consolida
a sua natureza e explicita-se enquanto um ramo de especialização, ao mesmo
tempo em que articula as dimensões instrumental, técnica, ético-politica,
pedagógica, intelectual da profissão possibilita não apenas que as teorias
macroestruturais se (GUERRA, 2011, p.198)
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Entendendo que para uma formação adequada na práxis profissional, este
processo requer a junção e amplitude no que se refere à mediação entre as dimensões,
estas são resultado de uma construção teórica, política e normativa da profissão nos
últimos anos.
Apesar de o serviço social ter sua base fundamentada na dimensão interventiva
da vida social, não se configura como um ramo do saber entre as ciências, dessa forma
não existe teorias e métodos próprios, porém constrói o conhecimento necessário para sua
atuação.
Ao incorporar inicialmente a teoria funcionalista na sua prática, os assistentes
sociais apenas buscavam a resolução imediata dos problemas, referente ao enfrentamento
da questão social, somente com o Movimento de Reconceituação que a prática começa a
toma um rumo diferente adquirindo uma postura baseada na teoria marxista.
Na perspectiva teórico-metodológico integradora funcionalista do Serviço
Social, a estratégia central do profissional contratado por uma instituição tem
sido a do encaminhamento para solução de problemas de acordo com os
recursos disponíveis [...] O movimento de reconceituação contribuiu
significativamente para uma guinada no olhar que boa parte do Serviço Social
vinha dirigindo sobre o seu papel e sobre sua eficácia. (FALEIROS, 2007,
p.77-80)
A partir do desenvolvimento humano, este necessita seguir uma direção que
indique a possibilidade de concretizar suas idealizações, então constituem os
denominados projetos societários, que visam englobar interesses sociais comuns em uma
dada sociedade.
Os projetos profissionais se caracterizam como o espelho da profissão, pois
formula, elege e priorizam objetivos e finalidades que remetem a sua prática profissional.
Os projetos profissionais são indissociáveis dos projetos societários que lhes
oferecem matrizes e valores e expressam um processo de lutas pela hegemonia
entre as forças sociais presentes na sociedade e na profissão. São, portanto,
estruturas dinâmicas, que respondem tanto às alterações das necessidades
sociais decorrentes de transformações econômicas, históricas e culturais da
sociedade, quanto expressam o desenvolvimento teórico e prático da respectiva
profissão e as transformações operadas no perfil de seus agentes. (NETTO,
1999, apud, IAMAMOTO,2004, p.24)
Nesse contexto, o projeto ético-político tem como ponta pé inicial o II Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), mais conhecidos como “congresso da virada”,
nesse sentido durante o processo de redemocratização que vivenciava o país, este projeto
profissional buscava a negação ao conservadorismo junto a prática profissional.
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A construção do projeto ético político do serviço social teve em seu primórdio a
luta pela democracia que foi designada como um dos principais traçados frente ao serviço
social, a certificação dos espaços acadêmicos que possibilitava a ligação direta com as
ciências sociais e sob tudo com a formação profissional pautada no comprometimento
com as conquistas de direitos.
Portanto, este projeto intensifica e legitima a prática profissional, sendo base
para o direcionamento e construção de outras bases necessárias para autenticar a atuação
dos assistentes sociais, sendo também uma das principais dimensões que constituem a
instrumentalidade do serviço social.
A construção projeto ético político do serviço social subsidiou a consolidação
das diretrizes curriculares para os cursos de serviço social, que na atualidade, adotam a
teoria social crítica e o método do materialismo histórico dialético como guia.
Entende-se que o método dialético possibilita o assistente social se apropriar da
dinâmica social, compreendendo suas demandas particulares a partir das determinações
universais da realidade.
Essa apropriação se dá a partir da mediação que permite a entrada nas
complexidades que formam a realidade social, conhecendo as contradições e ocasionando
o avanço para além da aparência e do imediato, este desenvolvimento da investigação do
assistente social se torna relevante para a transformação da realidade a partir da efetivação
das demandas no cotidiano profissional.
A ética em seu sentido filosófico significa a possibilidade do homem buscar
atitudes reflexivas e fundamentos para a vida em sociedade e está diretamente ligada a
moral, que se refere ao individuo, tendo em vista que a história da profissão se insere no
contexto entre o Estado e a sociedade que resulta na luta de classes.
A reflexão ética supõe a suspensão da cotidianidade; não tem por objetivo
responder às suas necessidades imediatas, mas sistematizar a critica da vida
cotidiana, pressuposto para uma organização da mesma para além das
necessidades voltadas exclusivamente ao “eu”, ampliando as possibilidades de
os indivíduos se realizarem como individualidades livres e conscientes.
(BARROCO, 2005, p.55)
Para apreender essa capacidade de intervir com plenitude e transformar a
realidade que foi exposta, é necessário apropriar-se de consciência ética, pois este
elemento torna-se fundamental no decorrer da sua prática.
A dimensão ético-política se constrói a partir da defesa da universalidade do
acesso a bens, serviços, dos direitos, das políticas e principalmente da democracia, esta
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dimensão é norteada pelo Código de Ética Profissional, tendo a liberdade como um dos
princípios fundamentais.
O Código de Ética implica na autonomia e emancipação dos sujeitos, vinculado
ao projeto societário que sugere a elaboração de uma nova ordem social, abolindo a
dominação e exploração de classe, legitimando a defesa intransigente dos direitos
humanos.
Consideram-se como dimensão própria da instrumentalidade do Serviço Social,
as articulações entre ética e politica se colocam a favor da equidade e justiça social,
assumindo um compromisso com a competência baseada na qualificação, diante da
formação acadêmica, sendo capaz de analisar a concretude da realidade social.
A dimensão técnico-operativo se caracteriza como os instrumentos utilizados
para os procedimentos de intervenção do assistente social, no que tange as técnicas, essas
aprimoradas no decorrer da utilização dos instrumentos diante da necessidade e
adequação às exigências das demandas e instituições.
Em qualquer espaço sócio - ocupacional, seja ele, organizacional, sócio –
jurídico, saúde, previdência social, assistência social, criança e adolescente,
habitação, e outras devemos observar, que não existe o instrumental a ser
utilizado em cada ação, mas os instrumentais que se inter-relacionam. De igual
modo, trabalhos com grupos ou individual, plantão social, reuniões palestras,
seminários, elaboração de projetos, planos, programas, estudos, pareceres,
relatórios, laudos, pericias, visita domiciliar ou institucional, entrevista e
outros instrumentais, não podem estar isolados, pois concomitamente a eles
comparecem outros instrumentais tais como: pesquisa investigativa,
observação, escuta qualificada, linguagem, abordagem, sistematização,
avaliação e outros. (FERNANDES, 2008, p.08)
Acerca dessa dimensão, relaciona-se com o campo do cotidiano profissional
resultando na prática, diante disso, percebe-se que no serviço social não existe um
conjunto específico de técnicas, portanto prioriza todos os elementos que conduzem suas
finalidades.
O instrumental técnico deve apoiar-se nos conhecimento científicos que
correspondem a uma escolha consciente e reflexiva, levando em consideração os
determinantes particulares de uma determinada realidade facilitando como também
fortalecendo as ações propostas.
Dessa forma, cabe elucidar a importância da junção entre essas dimensões, pois a
partir do momento em que os todos os instrumentos e técnicas são utilizados pelo
profissional é preciso ter consciência da efetividade dos direitos a serem conquistados.
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Considerações Finais
Há de se considerar que esta pesquisa teve por objetivo analisar a
instrumentalidade do serviço social, a partir de suas dimensões teórico-metodológica,
ético-politica e técnico-operativa diante da prática profissional dos assistentes sociais
As questões que nortearam a pesquisa evidenciaram que mesmo tendo
conhecimento sobre a relevância da instrumentalidade na pratica profissional, muitos
profissionais ainda se deixam levar pelas condições politicas na qual se inserem nos
campos de intervenção, reproduzindo apenas as ações que lhe são colocadas.
Nesse sentido, ainda é cabível de registrar que em muitos casos não há
apropriação das dimensões da instrumentalidade e nem a articulação das mesmas, pode-
se constatar que a dimensão técnico-operativa se torna indispensável e particular frente
às demandas, a acomodação após a graduação faz com que as praticas sejam restringidas
ao fazer e não a constante busca de conhecimento para aprimorar suas estratégias.
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contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CEAD, 1999.
PONTES. Mediação e Serviço Social. 2ed. São Paulo: Cortez, 1997.
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O PAPEL DO BOLSA FAMÍLIA NA INFORMALIDADE DO BRASIL
Laís de Pádua Souza1
Loraine Menêses dos Santos 2
Priscila Michelle Rodrigues dos Santos3
Resumo
O objetivo do presente trabalho é verificar o efeito do Programa Bolsa Família sobre a
probabilidade do indivíduo se inserir no setor informal. Para tanto, utilizando dois
conceitos diferentes de informalidade, será utilizado modelo Logit a partir de microdados
da POF 2008/2009. O principal resultado encontrado no trabalho é que o aumento da
participação do Programa Bolsa Família-PBF na renda total dos domicílios pode reduzir
a probabilidade do indivíduo de se inserir no setor informal.
Palavras-chave: Informalidade; Programa Bolsa Família; Mercado de Trabalho.
1 Introdução
Analisando a evolução recente da economia brasileira, é possível identificar uma
série de transformações que permitiram ao Brasil fazer frente à conjuntura de
agravamento de questões sociais e de baixo dinamismo econômico (com taxas de
crescimentos inferiores à média das economias emergentes) verificada nos anos 1980 e
1990.
Dentre essas transformações pode-se destacar a redução da desigualdade de
renda no Brasil a partir de 2001. Tal redução esteve atrelada à diminuição do hiato da
renda do trabalho existente no país e à implantação/ampliação de programas de
transferências de renda (como Previdência, Bolsa Família, Benefício de Prestação
Continuada) por parte do governo federal.
Dentre os programas de transferências de renda, o programa bolsa família (PBF)
tem ganhado bastante destaque, passando por ampliações desde a sua criação. Implantado
no final de 2003, a partir da fusão de quatro4 programas de transferência de renda, o PBF
é uma estratégia de alívio imediato da pobreza, provendo para famílias pobres uma renda
1 Economista, graduado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra
Talhada. Serra Talhada/PE. E-mail: [email protected]
2 Professora Assistente, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Serra
Talhada/Brasil/[email protected]
3Professora Assistente, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Serra Talhada/Brasil/ E-mail:
4 Bolsa Escola (instituído pela Lei nº 10.219, de abril de 2001), Bolsa Alimentação (instituído pela
Medida Provisória nº 2.206, de 6 de setembro de 2001), Auxílio- Gás (instituído pelo Decreto nº 4.102, de
24 de janeiro de 2002); e Cartão Alimentação (instituído pela Lei nº 10.689, de 13 de junho de 2003).
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mínima. Em contrapartida, o programa tem como condicionalidades: frequência escolar
mínima de 85% para crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos, e mínima de 75% para
adolescentes entre 16 e 17 anos; acompanhamento do calendário vacinal para crianças até
seis anos; pré-natal das gestantes e acompanhamento das nutrizes na faixa de 14 a 44
anos.
Apesar de ser alvo de vários estudos empíricos, ainda não há um consenso sofre
o efeito do PBF sobre o mercado de trabalho. Além de críticas relacionadas à sua
elegibilidade (não beneficiar indivíduos ou famílias elegíveis, ou ainda, beneficiar
aqueles que não atendem aos critérios de elegibilidade do programa), há ainda um
questionamento se esse programa não estaria incentivando ao aumento da informalidade
no país, pois para não perderem o benefício, indivíduos prefeririam trabalharem em
empregos informais.
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é identificar em que medida o
programa Bolsa Família tem induzido os indivíduos beneficiários a ocuparem postos de
trabalhos informais. Além desta introdução e de uma última seção dedicada a
considerações finais, o presente trabalho está organizado em mais duas seções. A próxima
seção trata sobre a questão da informalidade. A terceira seção descreve os procedimentos
metodológicos e a quarta seção são apresentados os principais resultados.
2. Informalidade
O processo de industrialização nos países de economia periférica, no pós-guerra,
teve como resultado a reprodução de uma estrutura produtiva heterogênea, caracterizada
pela convivência de formas modernas de produção com formas atrasadas. O argumento
básico para justificar os esforços desenvolvimentistas, nesses países, era de que o
crescimento industrial e a modernização da agricultura eram tidos como elementos
fundamentais para a homegenização das estruturas produtivas e sociais. Postulava-se que,
com o processo de industrialização, as economias periféricas alcançariam os mesmos
resultados daquelas que se industrializaram no século XIX (BRAGA, 2006; DEDECCA
E MONTAGNER, 1992).
Apesar desses esforços, o que se configurou, entretanto, foi uma sociedade
marcada por profunda heterogeneidade estrutural, que manteve parte considerável de sua
população à margem do emprego nos segmentos modernos da economia. Desse modo, já
a partir dos anos 1960, procurou-se compreender mais intensamente o fenômeno da
exclusão. Segundo Braga (2006, p. 3), a hipótese central “era de que o processo de
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desenvolvimento capitalista implica a existência de excedentes permanentes de
população, e, portanto, incapazes de serem submetidos a exploração capitalista em
mercados organizados”.
Buscando propor estudos sobre estratégias de desenvolvimento econômico que
possibilitassem a criação de empregos nos países de economia atrasada, a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) promoveu o Programa Mundial do Emprego (PME), que
se concretizou em 1969, com o envio de especialistas para analisar a natureza e a extensão
dos problemas de emprego nesses países (CACCIAMALI, 2000).
Logo no primeiro estudo da OIT (o relatório sobre a estrutura produtiva, o
emprego e a renda do Quênia, elaborado por Hart, em 1972), surge o conceito de setor
informal, referindo-se a formas de organização da produção na qual a unidade de análise
é o estabelecimento produtivo. Diante disso, ao longo dos estudos da OIT, o exame da
realidade econômica de um país passa a ser feito dividindo a economia em dois setores
diferenciados, o formal e o informal, em contraposição à antiga terminologia de
segmentos moderno e atrasado. Cabe destacar que os critérios de classificação dos setores
formal e informal constituíam-se no emprego assalariado e na auto-ocupação,
respectivamente (BRAGA, 2006).
Outro aspecto relevante é que, nos primeiros trabalhos da OIT, a questão da
informalidade é tratada apenas como um eufemismo para a pobreza. Além disso, a
definição do setor informal tinha um caráter residual, correspondendo a qualquer
atividade diferente das desenvolvidas no setor formal.
Essa amplitude do conceito de setor informal, ao dificultar sua
operacionalização, fez com que diferentes estudos delimitassem esse setor a partir de
elementos os mais diversos possíveis, como renda, produtividade, tamanho da empresa,
entre outros, causando imprecisão na definição do objeto de estudo (BRAGA, 2006).
Para Tokman (2001), a contribuição desse conceito consistiu em chamar a
atenção acerca de que, nos países menos desenvolvidos, o problema de emprego pode se
concentrar menos nos desempregados, e mais naqueles que estão ocupados recebendo um
rendimento insuficiente, ou seja, trabalhadores pobres que desenvolvem atividades de
baixa produtividade, mas que são importantes para o funcionamento do resto da economia
(CACCIAMALI, 2000).
Na América Latina, a questão da informalidade aparece no início dos anos 1970,
nos trabalhos do Programa Regional de Emprego para América Latina e o Caribe
(PREALC), que fazia parte do PME. No que se refere aos trabalhos do PREALC, a
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questão da falta de emprego nos países latino-americanos, além de ter sido relacionada às
premissas apresentadas nos trabalhos iniciais da OIT, refere-se também ao fortalecimento
do setor informal urbano como alternativa para a alocação do excedente de mão-de-obra
(BRAGA, 2006).
Segundo essa abordagem, a informalidade está relacionada à lógica da
sobrevivência, onde o setor informal é conseqüência da pressão do excedente de mão-de-
obra no mercado de trabalho, resultante do elevado crescimento populacional. Desse
modo, o fluxo contínuo de indivíduos do campo para a cidade provoca o aumento da força
de trabalho urbana acima da capacidade de absorção dos segmentos modernos de
atividade. Na ausência de mecanismos que garantam uma renda mínima, como o seguro-
desemprego, as pessoas não ocupadas buscam suas próprias soluções para sobreviverem,
ocupando atividades de baixa produtividade, fora da relação assalariada e sem proteção
social (FILGUEIRAS, DRUCK e AMARAL, 2004; DEDECCA e MONTAGNER,
1992).
Deve-se destacar que essas atividades, em sua maioria de serviços, fazem parte
do segmento atrasado da economia, que representa o depositório do excedente da mão-
de-obra gerado pelo processo de desenvolvimento econômico que envolve um
crescimento heterogêneo e limitado. Desse modo, o setor informal é o resultado do
excedente de mão-de-obra proveniente da baixa capacidade do setor formal em gerar
postos de trabalho e da ocorrência do processo migratório em direção às cidades
(DEDECCA e MONTAGNER, 1992).
Segundo Melo e Teles (2000), em estudos nos países desenvolvidos, a questão
da informalidade era tratada como um excesso de mão-de-obra transitória na economia e
que, à medida que o crescimento econômico avançasse, essa mão-de-obra retornaria para
a formalidade. Mantendo essa idéia, trabalhos posteriores do PREALC destacam os
vínculos de complementaridade entre os setores formal e informal, resultando em um
avanço em direção à superação da visão dualista da ocupação formal-informal.
A visão por trás desta afirmação é a de que o setor informal é complementar
(funcional) ao setor formal, e devido a essa complementaridade, a tendência
à sua redução frente o avanço progressivo da economia formal não poderia
ser revertida. Desta forma, ainda mantêm-se como traços definitórios do setor
informal, o baixo estoque de capital, a reduzida capacitação da mão-de-obra
nele inserida, e a facilidade de entrada, uma vez que se conserva a tese central
de que o setor informal constitui-se apenas no lócus da inserção da força de
trabalho não absorvida no setor formal. (BRAGA, 2006, p. 5)
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Deve-se perceber que a proposição de interação de forma complementar e
concorrente entre os setores formal e informal afasta-se da visão inicial da OIT, ao rejeitar
a associação da informalidade com a pobreza urbana e a inserção de migrantes, e ao
destacar a dimensão multifacetada do setor informal, marcado pela heterogeneidade das
características das ocupações e das formas de relação entre os agentes econômicos.
Para Kon (2004, p. 3), com base nessa perspectiva, o setor informal é definido
como “agregando um conjunto de formas de organização da produção e distribuição, que
se estabelecem nos interstícios da produção capitalista de forma integrada e subordinada”.
Desse modo, rompe-se com a primeira perspectiva do setor informal, que o visualizava
como sendo composto apenas por empregados sem carteira de trabalho assinada,
empresas que operam com um número pequeno de empregados e trabalhadores que
recebem baixos rendimentos. Além disso, critica-se a definição de setor informal como
sendo caracterizado pelas inerentemente baixas produtividade e renda e como não
pertencente à esfera produtiva auto-criada e independente da produção capitalista.
Nesse sentido, o setor informal pode representar diferentes situações, como, por
exemplo, vendedores ambulantes, mecânicos, advogados e consultores de informática, o
que, conforme Braga (2006), possibilita que certas atividades informais sejam
competitivas em relação às mesmas atividades formais, constituindo até mesmo
alternativa de emprego ao setor formal.
A incorporação da dimensão multifacetada do setor informal nos estudos sobre
essa temática se aproxima mais da realidade verificada nos países desenvolvidos no final
dos anos 1970, marcada por uma crescente flexibilização nas relações de trabalho, que
resultou na redução dos empregos estáveis e em tempo integral.
Vale lembrar que o cenário mundial nos anos 1970 e 1980 foi marcado por um
período de crise econômica e social, que enfatizou o esgotamento do padrão fordista de
produção e do Estado do bem-estar social. É nessa situação de crise que as novas
exigências do mercado - entre as quais se destacam a complexificação da concorrência
intercapitalista, uma nova divisão internacional do trabalho e a tendência em privilegiar
unidades de produção menores com processos de trabalho mais flexíveis - motivaram o
aparecimento de uma série de inovações tecnológicas que, por sua vez, geraram o
aparecimento de um novo modelo chamado de produção flexível.
Nesse contexto, a necessidade de se atender a um público que pedia produtos
diferenciados, em pequenas quantidades, aliado ao acirramento da competição por novos
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mercados, fez as empresas adotarem novos métodos de produção e de organização do
trabalho mais flexíveis. Tal adoção, associada aos processos de concentração e
centralização de capital, permitiu a descentralização produtiva (relativa à subcontratação
de produto e de mão-de-obra), como alternativa para a redução de custos. Percebe-se,
portanto, que, nessa segunda perspectiva, o termo informalidade passou a ser delimitado
a partir das relações do trabalhador com os meios de produção.
Dessa forma, o setor informal se constituiria em um conjunto de atividades e de
formas de produção não tipicamente capitalistas, caracterizadas pelo fato de o principal
objetivo da produção não ser o lucro (é o rendimento total do produtor), e de o produtor,
de posse dos meios de produção, exercer simultaneamente as funções de patrão e
empregado, com a ajuda do trabalho familiar ou de ajudantes (FILGUEIRAS, DRUCK e
AMARAL, 2004).
Durante a década de 1980, surge nos países desenvolvidos um novo enfoque para
a informalidade, diferente do desenvolvido nos países em desenvolvimento. Nele, a
informalidade, denominada agora por economia subterrânea, invisível, paralela ou negra,
passa a se referir a atividades e formas de produção, assim como a relações de trabalho
tidas como ilegais, ou seja, que não cumprem as regulamentações ou legislações fiscais,
trabalhistas e previdenciárias (BISPO FILHO, 2002).
Conforme esse enfoque, a principal causa associada ao aparecimento e ao
crescimento do setor informal é a excessiva regulamentação do Estado, que força as
unidades produtivas a assumirem uma posição defensiva contra a presença das
regulamentações fiscais, trabalhistas e previdenciárias, que emperram as atividades
produtivas.
Deve-se acrescentar ainda que, embora a ilegalidade seja o oposto da legalidade
e que a formalidade possa ser sinônimo da legalidade, nem sempre a ilegalidade é
equivalente à informalidade. Apesar disso, de acordo com Pérez (2005), em muitos
países, sobretudo naqueles em desenvolvimento, falando-se em termos jurídicos, as
atividades que se desenvolvem à margem da lei são comumente chamadas de informais.
Nesse sentido, desde no final dos anos 1990, a discussão a respeito da diferença
entre informalidade e ilegalidade tem sido objeto de muitos estudos, sendo que a idéia
predominante é a de não qualificar como ilegais as unidades produtivas informais,
sobretudo naqueles contextos em que a maioria da população vive em uma situação na
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qual as regras sociais não correspondem às regras legais, que são simplesmente ignoradas
(PÉREZ, 2005).
Perante a existência das diferentes ênfases de interpretações e a falta de
concordância a respeito da composição do setor informal nos trabalhos sobre essa
temática ao longo de pouco mais de 20 anos, desde a sua primeira aparição, foi
estabelecida para efeitos estatísticos, em 1993, na 15.ª Conferência de Estatística do
Trabalho, uma definição internacional do setor informal.
Nessa ocasião, acompanhando a crescente concordância em utilizar o critério de
formas de participação para diferenciar os setores formal e informal, a OIT define o setor
informal em termos das características das “unidades de produção” (empresas), mais do
que em termos das características das pessoas inseridas ou da ocupação por elas exercidas.
Desse modo, o único critério de definição da informalidade refere-se ao tamanho
da empresa, medido pela quantidade de trabalhadores. Assim sendo, o setor informal é
representado pela inexistência de barreiras à entrada, utilização de recursos de origem
doméstica, propriedade individual (não se verifica uma distinção clara entre capital e
trabalho), operação em pequena escala, atuação em mercados competitivos e não
regulados, e, finalmente, processo produtivo intensivo em trabalho, com mão-de-obra
pouco especializada, em que as relações de assalariamento não são uma constante
(DUARTE, 2006; MELO; TELES, 2000).
Por outro lado, o setor formal é caracterizado pela existência de barreiras à
entrada, dependência de recursos externos, propriedade impessoal da atividade (existe
uma nítida separação entre capital e trabalho), atuação da atividade em mercados amplos
e protegidos por cotas e tarifas, produção em larga escala e, por fim, processo produtivo
intensivo em capital, com o uso de tecnologia moderna e de mão-de-obra mais
especializada e assalariada.
Braga (2006) enfatiza que a definição de uma unidade econômica como informal
não depende da ausência de registros, do local onde é desenvolvida a atividade produtiva,
da utilização de ativos fixos, da duração das atividades das empresas (permanente,
sazonal ou ocasional) ou do fato de tratar-se da atividade principal ou secundária do
proprietário da empresa.
Buscando ampliar a delimitação do setor informal, anteriormente baseada na
unidade de produção, em 2002, na Conferência Internacional do Trabalho (CIT), a OIT
apresenta um conceito para o emprego na economia informal, que relaciona o conceito
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do emprego no setor informal, baseado na empresa, com um conceito de emprego
informal mais amplo, focado nos postos de trabalho.
Para Pérez (2005), esse novo conceito permitiria a distinção entre o emprego na
economia informal, o emprego informal, o emprego no setor informal e o emprego
informal fora do setor informal. Assim sendo, o emprego total (em termos de postos de
trabalho) poderia ser dividido por tipo de unidade de produção (empresas do setor formal,
empresas do setor informal, domicílios), pela situação no emprego e pela natureza formal
ou informal do emprego.
Diante disso, a partir da definição do emprego informal estabelecida pela CIT,
na 17ª Conferência Internacional de Estatísticas do Trabalho, realizada em 2003, a OIT
estabeleceu que o emprego informal abrangeria os seguintes empregos: i) trabalhadores
por conta-própria e empregadores donos de suas próprias empresas do setor informal; ii)
trabalhadores auxiliares, independentemente de trabalharem em empresas no setor formal
ou informal; iii) membros de cooperativas de produtores informais; iv) trabalhadores por
contra-própria que produzem bens exclusivamente para o próprio uso final de seu
domicílio; e v) assalariados que tenham empregos informais que já estejam empregados
em empresas do setor formal ou do informal e em domicílios que os empregam como
trabalhadores domésticos assalariados.
No âmbito do Brasil, as definições apresentadas na 15.ª Conferência de
Estatística do Trabalho foram tomadas como base pelo IBGE para sua pesquisa sobre a
Economia Informal Urbana (ECINF), realizada nos anos de 1997 e 2003. Nessa pesquisa,
decidiu-se que pertencem ao setor informal todas as unidades econômicas que
desenvolvem atividades não-agrícolas, de propriedade de trabalhadores por conta própria
e de empregadores com até 5 empregados, moradores de áreas urbanas, sejam elas a
atividade principal de seus proprietários ou atividades secundárias (IBGE, 2003).
Cabe destacar que, em nível nacional, também não há um consenso em torno da
definição de informalidade e, talvez pelo fato da legislação trabalhista exigir que todos os
trabalhadores assalariados possuam carteira assinada, em muitos estudos, essa definição
tenha ficado associada à posse ou não da carteira de trabalho. Contudo, há trabalhos
(MENEZES e BISPO FILHO, 2003) em que o setor informal é definido como o conjunto
de trabalhadores que não contribui para a previdência social, ou mesmo como a soma dos
trabalhadores sem carteira e por conta própria.
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3. Metodologia
3.1 Base de Dados
Os dados utilizados no presente trabalho referem-se aos microdados da Pesquisa
de Orçamento Familiar (POF) 2008-2009. Esta pesquisa visa mensurar as estruturas de
consumo, dos gastos e dos rendimentos das famílias, assim como traçar um perfil das
condições de vida da população brasileira através da análise de seus orçamentos
domésticos (IBGE, 2012).
É importante ressaltar que, nesse trabalho, optou-se em utilizar duas definições
de setor informal. Na primeira emprega-se a variável contribuição para previdência
pública como critério de classificação entre setor formal e informal, sendo incluídos no
setor informal aqueles indivíduos que não contribuem para previdência.
Na segunda definição, a partir da variável posição na composição5, foram
classificados no setor informal: empregado temporário na área rural; conta-própria e
empregador não contribuinte da previdência pública; não-remunerado em ajuda a
membro do domicílio; empregado no setor privado, aprendiz ou estagiário que tenham
reportado que a forma do último rendimento foi somente em benefícios ou não teve;
trabalhador na produção para o próprio consumo, e, por fim, empregado doméstico que
trabalha como diarista e/ou que tenha reportado que a forma do último rendimento foi
somente em benefícios ou não teve. Por outro lado, foram inseridos no setor formal:
empregador e conta-própria contribuinte da previdência pública, empregado público; e
empregado privado que tenham reportado que a forma do último rendimento foi somente
em dinheiro ou dinheiros e benefícios; e, por fim, empregado doméstico que trabalha
como mensalista (SABOIA; SABOIA, 2004).
Para estimar a probabilidade do indivíduo de se inserir no setor informal em
virtude do recebimento do Programa Bolsa Família usou-se um modelo logístico para
5 IBGE (2012) definiu nove categorias de posição na ocupação: Empregado privado - pessoa que trabalhava para um
empregador (pessoa física ou jurídica), geralmente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e
recebendo em contrapartida uma remuneração em dinheiro, mercadorias, produtos ou benefícios (moradia, comida,
roupas etc.). Nesta categoria incluiu-se também, o sacerdote, ministro de igreja, pastor, rabino, frade, freira e outros
clérigos; Empregado público - empregado que trabalhava para o governo, em qualquer esfera: federal, estadual ou
municipal, sob administração direta ou indireta que abrange, além das entidades da administração direta, as fundações,
as autarquias e as empresas públicas e economia mista (estatal). Incluiu-se também a pessoa que prestava o serviço
militar obrigatório remunerado e a pessoa que exercia mandato eletivo; Empregado doméstico - pessoa que trabalhava
prestando serviço doméstico remunerado, inclusive diaristas, em dinheiro ou benefícios (moradia, comida, roupas etc.),
em uma ou mais unidades domiciliares; Empregado temporário na área rural - pessoa que trabalhava uma ou mais vezes
nos estabelecimentos rurais em atividades de curto prazo; Empregador - pessoa que trabalhava explorando o seu próprio
empreendimento, com pelo menos um empregado;
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cada uma das duas definições citadas acima. A amostra selecionada foram de 8.640
indivíduos, beneficiários do PBF. As variáveis utilizadas foram idade, gênero, raça,
condição na família, anos de estudo, pessoa de referência no domicílio posição na
ocupação, forma do último rendimento, espécie do trabalho doméstico (diarista ou
mensalista), e rendimento total do domicílio proveniente do Programa Bolsa Família.
Durante o tratamento da base de dados, foram excluídos todos os casos em que as
variáveis utilizadas não foram declaradas. O Quadro 1 mostra a descrição das variáveis
utilizadas no modelo.
Quadro 1. Descrição das Variáveis
Gênero 1 - Homem
0 - Mulher
Raça 1 - Branca
0 - Não Branca
Pessoa de referência
Identifica o grau de parentesco ou a natureza
da subordinação existente entre o morador e a
pessoa de referência da sua família.
Categorias:
1 - Pessoa de Referência
0 - outros
Experiência Idade ao quadrado
Participação do BF na renda total (BFrend)
A razão do valor do rendimento do código do
item 51001 (bolsa família) do Quadro 54 com
a renda total mensal do domicílio
3.2 Modelo Logit
Para analisar o papel do bolsa família na informalidade no território selecionado,
utiliza-se do modelo Logit para estimar os parâmetros (respostas) das características
socioeconômicas, demográficas, culturais, regionais e comportamentais dos indivíduos
pesquisados. Esta escolha metodológica se faz apropriada, uma vez que a variável
dependente é de natureza qualitativa, isto é, atribui valor igual a 1 se o indivíduo é
informal e 0 caso contrário.
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Segundo Gujarati (2006), a estimativa do modelo Logit é feita, geralmente pelo
método da máxima verossimilhança. Assim, a função de verossimilhança pode expressar-se da
seguinte forma:
Y= 1 se Y*t> 0
Y= 0 se Y*t< 0
O modelo adota uma variável dicotômica Y, para representar a variável não observável
Y*, onde a mesma pode assumir dois valores, que podem variar entre 0 ou 1. Percebe- se que
as probabilidades se mostram limitadas entre os dois valores, mas os logits não. Implicando em
dizer que pode-se acrescentar várias variáveis explicativas ao modelo.
A Função de Probabilidade do modelo é dada por:
Prob (Yt = 1) = Prob (ut> -β’Xt) = 1 – F (-β’Xt) (5)
Dada a função pode- se incluir quantos regressores desejar. Derivando a probabilidade
de resposta de y:
P(y=1/x)= P(y*>0/x)= P[e> -( β0 + xβ)/x] (6)
=1 – G[ -(- β0 + xβ)]
Por sua vez, o vetor (x) de variáveis explicativas é de caráter explicativo, uma vez que
os dados informam em termos qualitativos. Assim tem- se que, ao obter os coeficientes do
modelo Logit por máxima verossimilhança, é possível calcular os efeitos marginais derivados.
O cálculo do efeito marginal é feito a partir da seguinte fórmula:
dp
dx=
𝑑𝐹(𝑡)
𝑑𝑡∙
𝑑𝑡
𝑑𝑥= 𝑓(𝛽1 + 𝛽2𝑥)𝛽2
Os efeitos marginais permitem uma interpretação mais clara dos resultados com
relação ao efeito de cada variável explicativa (independente) sobre a probabilidade do bolsa
família interferir na decisão do indivíduo de está informal ou não. Sendo assim, o efeito
marginal vai depender do coeficiente angular, onde uma variação unitária no valor da variável
independente vai provocar variações na probabilidade de o evento ocorrer ou não (MESQUITA
et al, 2008).
(7)
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4. Resultados
A Tabela 1 mostra as médias e os desvios padrão das variáveis utilizadas a partir dos
dois conceitos de informalidade empregados neste trabalho Pode-se ver que pelo conceito 1,
que emprega a variável contribuição para previdência pública como critério de classificação
entre setor formal e informal, que é maior a participação de trabalhadores informais no mercado
de trabalho, enquanto que, pelo conceito 2, baseado na variável posição na composição, 57,49%
estão empregados no setor formal da economia. Além disso, em ambos os conceitos, os
trabalhadores no setor formal são, em média, mais velhos e mais experientes do que os do
informal, assim como, eles possuem maior participação dos rendimentos do PBF na renda total
mensal dos seus domicílios.
Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis, setor formal e informal, Brasil
Variáveis
Conceito 1 Conceito 2
Informal Formal Informal Formal
Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio
Padrão Média
Desvio
Padrão
Gênero 0,427 0,495 0,483 0,500 0,460 0,498 0,437 0,496
Raça 0,425 0,494 0,404 0,491 0,426 0,495 0,411 0,492
Referência 0,305 0,460 0,462 0,499 0,315 0,464 0,394 0,489
Experiência 1,490 1,000 1,637 1,005 1,410 9,804 1,640 1,011
Idade 3,641 1,281 3,852 1,240 3,533 1,272 3,851 12,527
BFrend 0,121 0,130 0,139 0,129 0,112 0,129 0,139 0,130
Total 5.582 64,61 3.058 35,39 3.673 42,51 4.967 57,49
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados dados da POF 2008/2009.
A Tabela 2 apresenta os coeficientes estimados das variáveis usadas para cada modelo
logit estimado. Pode-se constatar que os coeficientes de todas as variáveis são estatisticamente
significativos a 5%, com exceção apenas da variável gênero no modelo que emprega o conceito
1, que só é significativa a 10%.
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Tabela 2. Média e desvio padrão das variáveis, setor informal, Brasil
Variáveis
Informal I Informal II
Coeficiente
Desvio
Padrão
Robusto
Coeficiente
Desvio
Padrão
Robusto
BFrend -0,7017609 0,1805315 -1,435.238 0,2188649
idade -0,0344159 0,0112828 -0,0495275 0,0107551
experiência 0,0003288 0,0001409 0,0004248 0,0001357
referência -0,6389148 0,0567004 -0,3284245 0,0563083
gênero 0,0907646 0,0539544 0,2479193 0,0520615
raça 0,1173049 0,0469028 0,1200032 0,0451522
_cons 1,622.437 0,2085048 1,013.802 0,196718
Log pseudolikelihood = -5482.2456 Log pseudolikelihood = -5754.512
Wald chi2(6) = 265.25 Wald chi2(6) = 245.51
Pseudo R2 = 0.0236 Pseudo R2 = 0.0233
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados dados da POF 2008/2009.
Além disso, verifica-se uma relação inversa da variável explicativa com as variáveis
idade, participação do valor do rendimento do PBF na renda total mensal dos domicílios, e
pessoa de referência na família. Assim, quanto mais velho o morador ou se ele é a pessoa de
referência da sua família, menor seria a probabilidade deste está inserido no setor informal.
Para avaliar a probabilidade do indivíduo se inserir no mercado informal dada uma
variação nas variáveis explicativas, é mostrado na Tabela 3 o cálculo do efeito marginal. Com
exceção da variável pessoa de referência, é maior o efeito marginal dos parâmetros do modelo
1 sobre a variável explicada. O PBF foi a variável que mais explica a probabilidade do
indivíduo está no setor informal. No primeiro modelo, o aumento da participação do PBF na
renda total dos domicílios pode reduzir a probabilidade do indivíduo se inserir no setor informal
em 35%. Tal resultado contraria a ideia de que pessoas que recebem o benefício do BF optariam
por ocupar empregos informais para não perderem o benefício.
Além disso, verificou-se que, dentre os domicílios brasileiros beneficiados pelo bolsa
família, ser homem (6%no modelo 1 e 2% modelo 2) e branco (2,9%/2,6%) aumenta a
probabilidade de está no setor informal. Tal resultado contraria diversos trabalhos que advogam
que a maioria dos trabalhadores que passam a incorporar a informalidade são negros e mulheres.
Por fim, encontrou-se que, à medida que aumenta a idade, reduz a probabilidade
(1,2%/0,7%) do indivíduo está inserido no setor informal, haja vista que, conforme o indivíduo
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1135
se torna mais velho, ele investe mais em seu capital humano, adquirindo maior conhecimento
e experiência profissional.
Tabela 3. Efeito Marginal
Variáveis Informal I Informal II
BFrend -0.3502413 -0,1595785
Idade -0.0120862 -0.0078261
Experiência 0.0001037 0,0000748
Referência -0.0793779 -0,1479575
Gênero 0.060548 0,0206071
Raça 0.0293204 0,0265911 Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados dados da POF 2008/2009.
5. Considerações Finais
Este artigo se propôs a estudar o efeito do Programa Bolsa Família sobre a probabilidade
do indivíduo se inserir no setor informal, por meio da utilização de um modelo Logit para cada
uma das duas definições de informalidade adotadas.
A primeira definição emprega a variável contribuição para previdência pública como
critério de classificação entre setor formal e informal, sendo incluídos no setor informal aqueles
indivíduos que não contribuem para previdência.
Na segunda definição, a partir da variável posição na composição, foram classificados
no setor informal: empregado temporário na área rural; conta-própria e empregador não
contribuinte da previdência pública; não-remunerado em ajuda a membro do domicílio;
empregado no setor privado, aprendiz ou estagiário que tenham reportado que a forma do último
rendimento foi somente em benefícios ou não teve; trabalhador na produção para o próprio
consumo, e, por fim, empregado doméstico que trabalha como diarista e/ou que tenha reportado
que a forma do último rendimento foi somente em benefícios ou não teve.
Por outro lado, foram inseridos no setor formal: empregador e conta-própria
contribuinte da previdência pública, empregado público; e empregado privado que tenham
reportado que a forma do último rendimento foi somente em dinheiro ou dinheiros e benefícios;
e, por fim, empregado doméstico que trabalha como mensalista.
Com exceção da variável pessoa de referência, o efeito marginal dos parâmetros sobre
a variável explicada foram maiores no modelo com a primeira definição de informalidade.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1136
Verificou-se que o aumento da participação do PBF na renda total dos domicílios reduz a
probabilidade do indivíduo se inserir no setor informal.
Além disso, verificou-se que, dentre os beneficiados pelo bolsa família, ser homem e
branco aumenta a probabilidade de está no setor informal, enquanto ser a pessoa de referência
da família a diminui.
6. Referências
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RELAÇÕES FLEXÍVEIS DE PRODUÇÃO E DE TRABALHO NO SEGMENTO
DE JOIAS E SEMIJOIAS NO JUAZEIRO DO NORTE
Rosemary de Matos Cordeiro 1
Resumo
A flexibilidade e as relações em rede caracterizam as novas estratégias de adaptação do
setor produtivo aos novos determinantes de mercado, iniciadas com a crise do modo de
produção taylorista-fordista, a partir dos anos de 1970. As mesmas são classificadas
como: técnicas de produção e estruturas industriais flexíveis; estrutura de capital e
práticas flexíveis no mercado de trabalho, novos modos de consumo e intervenção
mínima do Estado. O presente trabalho teve por objetivo caracterizar as relações flexíveis
de produção e de trabalho no segmento de joias e semijoias no Juazeiro do Norte – CE.
O estudo adotou como procedimento metodológico as pesquisas bibliográficas e de
campo, sendo entrevistados um total de 46 atores produtivos do setor de folheados e joias
(formais e informais). Alguns dos resultados observados foram: existência de linkages
produtivos, oriundos da divisão social e técnica da produção, presente nas aglomerações;
a externalização de etapas da produção, a qual gera redes de terceirização e
subcontratação; níveis de escolaridade e de remuneração da força de trabalho baixos,
especialmente, nas atividades informais; total flexibilidade das relações de trabalho e de
suas correspondentes remunerações.
Palavras-chave: Flexibilidade; Joias e Semijoias Folheados; Juazeiro do Norte.
1 Introdução
De acordo com Fernandes (2005), o surgimento da produção de folheados em
Juazeiro do Norte se vincula ao “milagre” de Juazeiro do Norte, envolvendo o Padre
Cícero e a beata Maria do Araújo, aos movimentos de romarias, e a consequente expansão
populacional (temporária e permanente) que estimula a demanda por bens simbólicos e
o desenvolvimento de atividades produtivas. O vigário, ao assumir o papel de Conselheiro
(DELLA CAVA, 1985) e/ou o papel de Estado (ARAÚJO, 2005), motiva o surgimento
do empreendorismo, através da montagem de pequenas oficinas produtoras de bens de
consumo leve, conforme destacado por Della Cava (1985). A produção de bens
simbólicos (medalhas, crucificos) cunhados em latão, ouro e prata, iniciou um processo
de acumulação de saberes produtivos neste segmento.
Segundo Lima (2004?), a atração mística exercida por Juazeiro do Norte, através
da figura do Padre Cícero, estimulava casamentos na cidade e, portanto, “[...] incentivava
1 Professora adjunto Universidade Regional do Cariri-URCA / Professora Instituto Federal do Ceará –
IFCE, Crato-CE. [email protected]
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os ourives da região a fabricar e vender alianças” (id ibid., p. 2). Assim, os autores citados
mostram a interação presente no território dos fatores históricos, culturais, os quais
repercutem na formação de atividades produtivas.
Convém enfatizar que a produção de folheados em série constitui-se em um
fenômeno relativamente recente, tendo a atividade industrial do segmento despontado
apenas a partir da década de 1980. Até então, predominava a produção de ourives, no
formato artesanal, conforme denominado anteriormente, ou em oficinas (com um
pequeno número de artesões e aprendizes reunidos, mas também conhecedores do
processo produtivo). A entrada de um produto concorrente com a produção de peças em
ouro e prata, iniciada através da produção de folheados por empreendedores locais, iria,
contudo, afetar sobremaneira o setor de ourivesaria. O baixo custo das peças folheadas, a
possibilidade de produção dos bens simbólicos (medalhas, pingentes) e adereços –
especialmente os femininos (correntes, brincos, pulseiras, anéis, etc.), iria reduzir a
dimensão do setor de ourivesaria; e também iria gerar a migração entre antigos produtores
de joias para a produção de peças folheadas.
Em escala nacional, a década de 1990 se caracteriza pelo processo de
reestruturação da indústria na economia brasileira, advinda da abertura comercial e
financeira, o que representa a introdução do modelo liberal na economia brasileira, em
substituição ao modelo de Estado promotor de investimento, que entrara em crise no
início dos anos de 1980. Decorrente desta abertura, as empresas brasileiras precisam se
adaptar aos padrões de competitividade internacionais, já vigentes a partir do final dos
anos de 1970 e início dos anos de 1980, referentes à utilização de automação
microeletrônica e de novos modelos de organização industrial, baseados em práticas de
flexibilidade da produção e do mercado de trabalho, em formas de desintegração vertical,
e relações entre empresas e novos modelos de gestão.
Outra característica presente em âmbito interno brasileiro é que as unidades
federativas passam a liderar as ações de crescimento econômico, sendo uma das principais
formas de atração de investimentos produtivos à famosa guerra fiscal, adotada pelo Ceará
a partir de 1987. No Cariri cearense, na década de 1990, apesar da entrada de capitais de
outras regiões, no segmento de joias e folheados mantêm-se a tradição local e os atores
endógenos permanecem no mercado, renovando e fortalecendo uma concentração de
produtores, especialmente de pequeno e médio porte. Esta realidade instiga a curiosidade
da pesquisadora. Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar as
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relações flexíveis de produção e de trabalho no segmento de joias e semijoias no Juazeiro
do Norte – CE.
Referencial teórico
O final dos anos 1960 e início dos anos 1970 apresentam diferentes rupturas dos
modelos de desenvolvimento adotados nos anos de ‘ouro’ de crescimento econômico,
baseados no Estado do Bem-Estar Social − crise de produtividade e rentabilidade do
regime fordista de acumulação de capitais; observa-se também o renascimento dos
princípios liberais de organização econômica, baseados nas políticas de Estado mínimo.
Este mesmo período caracteriza-se também pela emergência de novo paradigma
tecnológico, advindo da automação microeletrônica, o qual passa a permitir a oferta de
novos produtos e serviços tecnológicos a serem incorporados nos processos produtivos,
nas décadas subsequentes. Para Castells (1999, p. 141): “Por toda a década de 1980,
houve investimentos tecnológicos maciços na infraestrutura de comunicações/informação
que possibilitaram os movimentos de desregulamentação de mercados e de globalização
do capital”.
Benko (1999) apresenta a análise regulacionista da crise, para quem “[...] a
emergência e a consolidação de um novo regime de acumulação e suas dinâmicas
espaciais devem ser analisadas como mudança qualitativa da organização das forças
produtivas sob as relações de produção do capitalismo” (BENKO, 1999, p. 27).
Segundo esta análise, os anos 1980 já poderiam ser percebidos como um novo
regime de acumulação, fundamentado na flexibilidade, seja do nível econômico, seja do
nível social, sendo chamado por esta corrente de regime de acumulação flexível. A
passagem dos anos 1970 para os anos 1980, associada à saída da crise, exigia que "[...] se
atacassem as austeridades, requeria a desregulamentação, maior flexibilidade e mais
confiança no mercado" (id ibid., p. 116).
Assiste-se à implementação de políticas liberais, de redução do tamanho do
Estado através da desestatização, abertura de mercado e desregulamentação do mercado
de trabalho, bem como receituário de austeridade fiscal. Configura-se a abertura dos
diferentes mercados para permitir a rentabilidade do capital nos âmbitos comercial,
financeiro e no âmbito produtivo.
Essa abertura e a busca de rentabilidade em escala global determinam novos
padrões de competitividade em escala mundial, com adoção de métodos de produção
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flexível, desintegração vertical de unidades produtivas, divisão de etapas produtivas em
diferentes localidades com fins de ampliar a rentabilidade da empresa, associação de
empresas em redes, dentre outras estratégias empresariais, além da adaptação dos
processos produtivos ao novo padrão tecnológico. Somam-se a estratégias de cunho
empresarial políticas locais de abertura ao capital estrangeiro, a desregulamentação de
mercados de trabalho e de políticas de Estado mínimo, caracterizando a nova etapa de
políticas liberais adotadas por diferentes economias.
Selingardi-Sampaio (2009), condensa o pensamento de vários autores,
sintetizando o conjunto de mudanças que caracterizam o cenário internacional (a partir
dos anos de 1980s) como um mix de mudanças socioculturais; mudanças tecnológicas e
informacionais; mudanças no sistema capitalista mundial; mudanças nos sistemas
produtivos industriais; mudanças nas formas de logística e no cenário político,
repercutindo e provocando mutações no espaço geográfico:
a) Mudança sociocultural − mudanças em "[...] hábitos, costumes e comportamentos
sociais, individuais e coletivos, em escala mundial" (SELINGARDI-SAMPAIO,
2009, p. 264);
b) Mudança tecnológica e informacional – revolução tecnológica, através dos sistemas
de comunicação e transportes (através do desenvolvimento da microeletrônica, da
informática e das telecomunicações), gerando sucessivas inovações apropriadas pelos
diferentes setores produtivos;
c) Mudanças no sistema capitalista mundial − a reestruturação do sistema financeiro
internacional (fim do sistema de Bretton-Woods), o que desencadeia a criação do atual
mercado monetário e sistema financeiro global, os quais provocaram mudanças no
comércio internacional, nas técnicas de produção e organização industrial, induzindo
medidas reestruturadoras. Na esfera industrial, destaca-se a implementação dos
sistemas organizacionais flexíveis pela descentralização das unidades produtivas,
redes de produção e gerenciamento em âmbito global; divisão do trabalho com
internacionalização, especialização, interdependência e fragmentação;
d) Mudanças nos sistemas produtivos industriais – instala-se um novo paradigma
técnico-produtivo e organizacional, refletido em formas flexíveis de organização,
acelerando inovação de produtos e giro de capital e reestruturação produtiva, através
da reorganização do trabalho e capital com: introdução de tecnologias flexíveis e
novos métodos gerenciais de organização da produção; desintegração vertical da
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produção, e desenvolvimentos de vínculos produtivos entre grandes e pequenas
empresas; desenvolvimento de redes e cadeias produtivas em diferentes escalas;
redução da estrutura hierárquica das empresas; eliminação da separação entre
concepção e execução; estruturas produtivas com produção ampliada e menor número
de unidades operacionais; fusões e aquisições de empresas; intensificação do uso do
capital, definindo nova relação trabalho-capital com redução dos requerimentos de
postos de trabalho por investimentos realizados, bem como formas flexíveis de
produção;
e) Mudanças na logística – através de melhorias nos sistemas de transportes, envolvendo
as cadeias de logísticas (transporte, processamento, embalagem e armazenamento,
essenciais para intercâmbio com fornecedores, filiais e subcontratados, bem como a
demanda advinda das formas de comércio eletrônico);
f) Mudanças de natureza política – adoção das políticas liberais em muitos Estados,
através da desestatização e da desregulamentação do sistema econômico, para
viabilizar fluxos comerciais e financeiros em escala global. Realça-se também a
presença de outras lideranças na economia internacional, como União Europeia, Japão
e países emergentes, especialmente a China;
g) Mudanças no espaço geográfico – reconfiguração de escalas geográficas,
modificações nos espaços urbanos, reconfiguração do espaço agrário e das interações
das cidades nos sistemas urbanos. As novas técnicas de produção e divisão do trabalho
atuam sobre o território, criando e/ou modificando os espaços industriais, através de
novos fatores locacionais, e não mais apenas os fatores tradicionais.
A autora também realça outro tipo de tendência à aglomeração em determinados
espaços advinda das necessidades de reestruturação produtiva, de apropriação de
economias de aglomeração, pela proximidade de grandes centros, em áreas de
revitalização ou novos espaços industriais.
Dentre as formas de aglomeração se destacam: complexos flexíveis híbridos, com
linkages produtivos em grande unidade produtiva e fornecedores; outras formas de
cooperação entre unidades produtivas e instituições locais (trazendo semelhanças dos
distritos industriais marshallianos); e tecnopolos, com concentração industrial em
atividades inovativas (voltaremos a essa discussão no transcorrer deste trabalho). Os
linkages são associados, por Scott (1983, p. 237), às relações inter-firmas, advindas dos
níveis de integração ou desintegração vertical da produção, presentes nos complexos de
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atividades industriais. Para este autor, os linkages consistem nas conexões de insumo-
produto entre as firmas, sejam elas à montante ou à jusante. Ele também destaca os
linkages oriundos da externalização de etapas produtivas, através de processos de
subcontratação, quer de outras firmas, quer de trabalhadores.
Para vários autores, a flexibilidade e as relações em rede caracterizam as novas
estratégias de adaptação do setor produtivo aos novos determinantes de mercado, sendo
que as novas formas de organização produtiva poderiam ser consideradas formas de
acumulação flexível. Benko (1999) nos explica as características da flexibilidade
assumidas pelo sistema produtivo, através de diversos aspectos como: As técnicas de
produção flexíveis − nas quais a utilização de máquinas e equipamentos baseados na
automação microeletrônica, máquinas inteligentes, permite a rápida adaptação à
instabilidade de mercado;
a) Estruturas industriais flexíveis – entre essas, destaca-se a redução da verticalidade das
empresas provocada pela introdução de novas tecnologias que permitem aumento de
produtividade e desconcentração da produção, favorecendo a redução de porte das
unidades produtivas.
b) A estrutura do capital − enfatizam-se as relações mercantis/não mercantis, materiais
e imateriais, formais e informais entre empresas dos setores industrial e financeiro,
centros de pesquisa, sociedade civil, grupos e os PME’s.
c) Práticas flexíveis na esfera do trabalho – classifica a flexibilidade relativa ao mundo
do trabalho como: flexibilidade na organização do trabalho (flexibilidade funcional)
e flexibilidade no mercado de trabalho. A flexibilidade na organização do trabalho
diz respeito à "[...] capacidade da empresa de modular as tarefas efetuadas por seus
empregados em virtude de mudanças na demanda, na tecnologia ou na política de
marketing" (BENKO, 1999, p. 120). Essas formas de organização do trabalho
requerem trabalhadores qualificados e polivalentes, em tempo integral, capazes de
adaptar-se a diferentes funções e até geograficamente móveis;
d) Flexibilidade do mercado de trabalho − diz respeito a ajuste nos quantitativos de
postos de trabalho e de salários em função das flutuações de mercado, sendo
associados a trabalhadores periféricos. O autor classifica estes em duas categoriais:
a) trabalhadores de empresas subempreitadas, especializados, mas independentes, e
trabalhadores temporários; b) empregados "[...] da empresa desprovidos de estatuto e
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que podem ser contratados e reempregados em virtude das condições econômicas"
(BENKO, 1999, p. 121).
e) Os modos de consumo – o autor aponta o aumento nas diferenças nas rendas entre
famílias e a mudança na estrutura das famílias (maior número e menor tamanho),
colaborando para modificar e ampliar as diversidades de modos de vida, e
consequentemente demanda por produtos diferenciados e por inovações nos mesmos.
f) A intervenção mínima do Estado – a elevação dos déficits fiscais, que caracteriza as
diferentes economias na década de 1970, irá determinar a ascensão de representantes
do ideário liberalizante ao poder político em diferentes países, adotando programas
de redução do tamanho do Estado, tanto nas funções econômicas como nas sociais.
Ressaltam-se algumas medidas como privatizações, subcontratação de atividades,
redução da assistência pública e garantias coletivas, desregulamentação das
atividades, dentre outras.
Percebe-se que o conjunto de formas de flexibilidade adotado pelos agentes do
aparelho produtivo teve o objetivo de dinamizar as unidades produtivas, permitindo-lhes
se adaptarem a um mercado em contínua transformação. A redução de custos
considerados desnecessários, seja pela redução do tamanho de unidades produtivas, seja
pela adaptação rápida de quantitativos de força de trabalho de acordo com objetivos da
empresa, a integração entre unidades produtivas, com fins de reduzir custos de formação
de estoques (em termos de bens intermediários e bens finais) conforme Benko (1999),
consistem em estratégias de sobrevivência e adaptação a um mercado cada vez mais
exigente, dinâmico e competitivo, em escala internacional. Estas estratégias, adotadas por
grandes unidades, bem como por médias e pequenas empresas, serão analisadas como
formas de "especialização flexível".
Vale realçar, contudo, que a produção em massa permanece operante, integrando
modelos híbridos de gestão, adaptando, por exemplo, estratégias de personalização dos
produtos, etc., de forma a permitir a manutenção de mercado e a rentabilidade de grandes
estruturas oligopolizadas, fazendo-nos concordar com Chesnais (1996). Ele defende que
a mundialização compõe-se de concentração e centralização de capitais, nos âmbitos
financeiro e produtivo, e de predominância de grandes grupos oligopolistas na economia
internacional.
Porém, a flexibilidade de mercado, a capacidade de rápida adaptação à
instabilidade, a reduzida verticalidade e a possibilidade de relações horizontais são
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características presentes também na estruturação e forma de inserção de Pequenas e
Médias Empresas no mercado, sendo discutidos por diferentes correntes dos estudos de
aglomerações produtivas.
3 Metodologia
Para consecução do objetivo estabelecido, optou-se pela utilização de dados
primários e secundários. As variáveis investigadas foram: caracterização da produção;
caracterização técnico-produtiva das unidades do setor de joias e semijoias no Juazeiro
do Norte; relações produtivas na cadeia de joias e semijoias folheados de Juazeiro do
Norte; emprego; renda de trabalhadores; relações de trabalho.
A pesquisa secundária utilizou trabalhos científicos sob a discussão de formas
de produção baseadas na especialização flexível. Quanto ao planejamento da pesquisa de
campo, utilizou-se o processo de amostragem aleatória, baseado na tabela de Krejcie e
Morgan (1970 apud GERARDI; SILVA, 1981, p. 19), definindo-se a população de
produtores formais do setor de folheados (de 20 unidades) a partir de cadastro de
produtores do SEBRAE, o que totalizou 19 unidades produtivas entrevistadas.
Dada a grande presença de atores informais, ou “produção invisível” no
segmento e o fato das instituições oficiais não disporem de nenhum cadastro acerca do
mundo da informalidade, com o qual se pudesse definir uma amostragem aleatória,
utilizou-se, para pesquisa desse universo, como procedimento metodológico, a técnica de
“bola de neve”, também adotada por Matushima (2005).
A imersão no território, onde pequenos produtores de fundo de quintal, apesar
de muita desconfiança, informaram sobre outros microprodutores, permitiu efetivar a
pesquisa de campo, obtendo informações do mundo da informalidade. O total de
entrevistas realizada somou, então, um total de 46 produtores, sendo 15 formais e 31
informais.
4 Resultados da Pesquisa
4.1 Unidades produtivas de joias e folheados: caracterização técnico-produtiva
Segundo pesquisa direta, realizada em 2014, os principais produtos fabricados
na aglomeração de folheados são: brincos, correntes, anéis, pulseiras e pingentes.
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Fernandes (2005) também constatou que a produção local era composta dessas linhas de
produção, afora peças brutas para banho ou galvanoplastia.
Os produtores de joias e folheados no CRAJUBAR abrangem duas categorias
empresariais, a saber: empresas formalizadas e empresas informais. As empresas formais
e informais se diferenciam entre si basicamente pela institucionalização das primeiras.
Pequenas, médias e grandes empresas se diferenciam em função do grau de capitalização
das unidades, (dado pelo aporte de investimento em bens de capital), do número de
funcionários e consequente quantitativo de produção. Nas oficinas, geralmente informais,
ou nos casos em que a produção é desenvolvida por um único agente – trabalho
autônomo/artesão, ou por poucos operários –, os trabalhadores conhecem e executam
todo o processo produtivo desenvolvido na unidade, diferentemente de empresas onde a
divisão de tarefas caracteriza o processo de produção, inexistindo domínio deste por parte
dos trabalhadores.
As fábricas formais apresentam, então, equipamentos com maior grau de
modernização e de produtividade, bem como a organização do processo produtivo
envolve a divisão de tarefas de acordo com as etapas sequenciais, e o número de
trabalhadores envolvidos nesse processo é maior.
Assim, o setor caracteriza-se tanto pela presença de empresas capitalizadas, as
quais adotam métodos modernos de produção, quanto, na categoria informal, pela
presença de métodos arcaicos de produção, sendo, assim, incompleto o processo de
modernização setorial. Santos (2009) reconheceu a simultaneidade de técnicas presentes
na composição do espaço produtivo, é possível identificar em CRAJUBAR essa
simultaneidade, pois se tem uma coexistência no setor produtivo, representada entre
técnicas de produção modernas e arcaicas. Oliveira (1981) também destaca, na formação
do capitalismo brasileiro, a presença de setores que se modernizam e da permanência de
métodos tradicionais de produção.
Ao discutirmos as características do setor produtivo sob estudo, observaremos
também a teia de interações existentes entre os mesmos, as quais se expressam também
nos linkages produtivos presentes nas aglomerações, ocorrendo assim uma coexistência
e uma complementariedade entre os produtores presentes no espaço sob estudo.
Um aspecto revelado pela pesquisa de campo é a presença de empreendimentos
informais, caracterizados pela “produção de fundo de quintal, ou produção invisível”,
podendo ser desenvolvida nas oficinas ou mesmo em unidades com maior grau de
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capitalização e divisão de tarefas. A presença de grande número de empresas informais
(ou clandestinas) no segmento pode ser associada a uma questão básica, a busca de
redução de custos produtivos. Como reduzir?
1) Fugindo de maiores custos salariais. Como os processos produtivos são intensivos em
trabalho, constituídos da montagem manual das peças, eles requerem elevada
participação de mão de obra, dado o baixo investimento do setor em automatização,
desestimulando a sua formalização das unidades produtivas.
2) Fugindo da fiscalização na etapa da galvanoplastia ou banho (folheação das peças).
Neste ponto, exige-se a mistura de metais pesados, para os quais, em empresas
devidamente formalizadas, requer-se o acompanhamento e fiscalização dos seguintes
órgãos: Exército, SEMASP, IBAMA, COGERH, CIPA, Polícia Federal e Bombeiros
(informações da pesquisa direta), bem como do conjunto de investimentos necessários
à destinação correta dos resíduos sólidos e líquidos.
Na categoria informal, geralmente a produção deste segmento apresenta também
a figura de um único empreendedor, um trabalhador ou artesão independente, conhecedor
de todas as etapas do processo produtivo. Ele pode ser caracterizado como um artesão,
capaz de produzir “peças brutas” (normalmente, sem a etapa do banho ou galvanoplastia),
podendo oscilar entre a produção de peças brutas folheadas e peças de ouro ou prata, de
acordo com a demanda do mercado. Relaciona-se com o mercado formal do segmento
através da compra de insumos e venda da produção. Os objetos fabricados, após o banho,
serão escoados para o mercado local ou mercados regional e nacional. Com a expansão,
ele pode ter empregados.
Outra característica do segmento de folheados é a presença marcante da relação
de trabalho domiciliar, subordinado a unidades produtivas (algumas formais e outras
informais), constituindo uma relação de subcontratação ou terceirização, através de
processos rudimentares de produção (tesoura e alicate) para montagem de peças, colação
de adereços, fechos, etc. A relação de tais trabalhadores com as unidades produtivas não
apresenta contratos firmados e/ou carteira assinada (não são protegidos pela legislação
trabalhista), sendo a remuneração estabelecida pelo desempenho na produção. Também
se observou a elevada participação do trabalho domiciliar feminino, graças à conciliação
de afazeres domésticos com as atividades de montagem de peças brutas (na maioria dos
casos, peças a serem folheadas). Este vínculo com as unidades produtivas permite às
donas de casa a apropriação de ganhos pecuniários muito baixos, através do
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desenvolvimento de alguma atividade produtiva, com horários flexíveis e compatíveis
com as tarefas do lar, conforme identificado por Peck (1992).
Outras questões investigadas na pesquisa direta sobre as características do setor
de folheados foram as formas de articulação entre as diferentes unidades produtivas,
caracterizando uma divisão social do trabalho e linkages produtivos.
O Quadro 01 descreve as atividades produtivas desenvolvidas por agentes
produtivos formais e informais, segundo os dados da pesquisa. Observa-se que a
montagem das peças sem a folheação, a própria etapa do banho, bem como etapas da
soldagem, do lixamento, podem ser desenvolvidas também pelos pequenos
empreendimentos informais. A principal diferenciação, então, virá da escala de produção
e das técnicas de produção utilizadas entre estes dois segmentos, tendo o setor formal um
aporte de capitalização não encontrado na pequena produção. Também na pequena
produção informal, encontramos o uso do trabalho domiciliar, o uso do trabalho familiar,
a montagem de pequenas oficinas, conforme definido por Cacciamali (1994).
Quadro 01 – Caracterização técnico-produtiva das unidades do setor de joias e semijoias
no Juazeiro do Norte (2014)
Setor Formal Setor Informal
1. Empresas de produção de peças
brutas – anéis, correntes, brincos,
pulseira (sem o banho)
2. Empresas de Galvanoplastia –
banho
3. Empresas de produção de peças
brutas e banho – empresa que
internalizam as duas etapas
produtivas
4. Empresas de produção de joias
1. Unidades produtoras de peças
brutas
2. Unidades de lixamento de peças
3. Unidades de banho ou
galvanoplastia
4. Unidades de soldagem
5. Trabalho a domicilio
6. Unidades de produção de joias
Fonte: Pesquisa direta (2014).
Organização: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
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Conforme o Quadro 01, as etapas da divisão técnica e social do trabalho são
especificadas por:
1. Produção de peças brutas – nestas unidades, tanto formais quanto informais, observa-
se a produção de correntes, brincos, pulseiras, anéis, etc., ainda sem a etapa da
galvanoplastia, ou seja, os lotes de produtos saem das fábricas e/ou oficinas para
serem finalizados em outro estabelecimento, ocorrendo, então, uma divisão técnica e
social do trabalho entre unidades. Estas empresas também podem externalizar
parcelas da montagem, com subcontratação de outras empresas e trabalhadores.
2. Unidades de galvanoplastia – Estas constituem fábricas que trabalham apenas na
etapa do banho, imprimindo beleza e agregando valor às peças brutas recebidas de
outros estabelecimentos. Dados os investimentos requeridos por esta etapa (devidos
aos metais pesados envolvidos na limpeza e banho das peças), e os registros e
acompanhamento do processo produtivo por órgãos oficiais, conforme descrito
anteriormente, constatou-se a existência de unidades que trabalham na
clandestinidade nesta etapa da produção.
3. Produção de peças brutas e banho – neste caso, tem-se uma integralização das
principais etapas produtivas, visto que a produção pode ser desenvolvida, por
completo, na unidade produtiva, requerendo um aporte de capital maior, dadas as
inversões necessárias para montagem das peças de tipos de produtos, colocação de
pedrarias, argolas, etc., soldagem, lixamento e banho. No entanto, para atingir metas
de produção, as empresas podem também subcontratar, quer trabalhadores a
domicilio, quer outros microempreendimentos.
4. Produção de joias – Estas unidades, sejam as mesmas formais ou informais, trabalham
com metais nobres como o ouro e prata, produzindo principalmente artigos como
alianças, anéis de formatura, colares. Podem também realizar concertos em joias, e
são caracterizados pelo trabalho artesanal.
O setor produtor de joias e semijoias folheadas também apresenta unidades cujo
papel representa uma etapa da divisão social e técnica do trabalho (conforme conceito de
SCOTT, 1994, p. 64), sendo empreendimentos e trabalho subcontratados para
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desenvolver uma etapa da produção. As etapas de terceirização observadas na pesquisa
foram:
a) Unidades de soldagem – estes empreendimentos trabalham na etapa de montagem das
peças, variando o tipo de soldagem (a quente ou a frio) em função do tipo de produto.
Observou-se a presença desta unidade, sem produção própria, apenas na
informalidade.
b) Unidades de lixamento de peças – nesta etapa, as peças recebem uma limpeza,
retirando-se das mesmas imperfeições advindas da montagem (e da solda). As
unidades que trabalham com esta etapa são pequenos empreendimentos, com alguns
equipamentos necessários ao desenvolvimento do trabalho e são subcontratados de
outros estabelecimentos.
c) Trabalhadores a domicílio – são trabalhadores subcontratados, sem vínculos
empregatícios formais, os quais desenvolvem a etapa da montagem dos produtos,
constituindo-se em um trabalho artesanal de colação de fechos, pedrarias, etiquetas
das empresas, dando o formato de semijoia a anterior matéria prima. A demanda por
estes trabalhadores ocorre, quer em unidades formais, quer em unidades informais,
como forma de expandir a produção e reduzir custos trabalhistas (forma de
flexibilidade da produção), conforme Benko (1999, p. 22-23), Storper e Scott (1990,
p. 28), Holmes (1986, p. 94), Peck (1992, p. 674-675), dada a produção de folheados
constituir-se de um setor intensivo em trabalho.
4.1.1 Formas de articulação produtiva das empresas do setor de joias e semijoias
folheadas
Observou-se, através da pesquisa direta, a presença de diferentes formas de
linkages no setor de folheados, que provocam, por sua vez, várias relações de produção e
formas de divisão técnica e social do trabalho, conforme definido por Scott (1994). A
presença elevada de unidades produtivas do mesmo segmento estimula a especialização
em etapas produtivas, sendo observadas pela pesquisa as seguintes etapas: a produção de
peças brutas (sem o banho ou etapa da galvanoplastia); a galvanoplastia; e a laminação.
O trabalho domiciliar aparece geralmente na primeira etapa.
A Figura 01 expressa as seguintes formas de articulação entre os
empreendimentos do seguimento de folheados:
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Figura 01- Relações produtivas na cadeia de folheados de Juazeiro do Norte
(2014).
Fonte: Pesquisa Direta (2014)
Organização: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
a) Observou-se, na pesquisa direta, forte presença de unidades produtivas focadas
apenas na elaboração de peças brutas, ou seja, sem o processo posterior de
galvanização, quer entre empresas formais, quer entre empresas formais e informais,
quer entre empresas informais. Na primeira etapa, as peças são produzidas através de
métodos artesanais ou mecanizadas, constituindo uma diversidade de técnicas
produtivas no conjunto fabril em questão. A comercialização dessas peças para o
mercado também pode apresentar diversas composições: a revenda para empresas que
também internalizam uma produção de folheados (o que amplia o quantum colocado
no mercado pela empresa); o fornecimento para empresas que desenvolvem apenas a
etapa da galvanoplastia ou banho, e que, em seguida, ofertam o produto para o
mercado; ou a presença de empresas que atuam apenas com a galvanoplastia,
escoando posteriormente a produção através de outras unidades produtivas
responsáveis apenas pela etapa da comercialização.
Assim, “o caminho” das peças folheadas até o mercado pode envolver a
combinação de diversas etapas de compra e venda (conforme especificado na Figura 01),
havendo repasse ou não para vários agentes, de acordo com as estratégias das empresas
de internalizarem um número maior ou menor de etapas produtivas. Esta interligação
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representa formas de divisão técnica e social do trabalho na aglomeração, visto que as
fábricas podem operar apenas parcela do processo produtivo, e atuando como
fornecedores de peças brutas (anéis, pulseiras, brincos, etc., ainda sem a etapa da
folheação) para outras empresas que trabalham apenas com o banho ou galvanoplastia.
A interligação entre unidades produtivas – formais, informais – e trabalho
terceirizado ou domiciliar. As unidades produtivas formais e informais podem
integralizar toda a etapa produtiva ou subcontratar etapas do processo produtivo que
envolvem elevada participação de trabalho. Esta etapa representa a colocação de
pedrarias, fechos em correntes, brincos, pulseiras e tornozeleiras, o que representa uma
etapa manual do processo, sendo externalizadas por empresas como forma de redução de
custos salariais. As peças são brutas (ainda sem o banho ou galvanoplastia), controladas
por peso e remuneradas em função da quantidade colada, ou peças prontas destinadas ao
empacotamento para o mercado. Assim, dependendo da forma de organização da
produção na unidade produtiva, uma ou várias etapas manuais são desenvolvidas pelo
trabalho domiciliar.
A relação de trabalho desses últimos é totalmente flexível, caracterizando-se
pela inexistência de contratos de trabalho (apenas cadastro nas empresas), horários de
produção definidos por trabalhadores e trabalhadoras e remuneração incerta, oscilando
em função do desempenho da produção. Constitui-se de uma etapa artesanal, que usa
como principais utensílios a tesoura e o alicate. Como são atividades desenvolvidas no
lar, observou-se com frequência, na pesquisa direta, o auxílio de membros da família
(podendo ou não incluir o trabalho infantil). Outra característica desta etapa é a
possibilidade de agente intermediário entre empresa e trabalho domiciliar, o que deprime
ainda mais os preços pela montagem de peças no trabalho domiciliar.
b) A interligação entre empresas formais e informais, através da terceirização de etapas
do processo produtivo. Neste caso, as empresas externalizam etapas produtivas como
a laminação, a soldagem, sendo estas funções desenvolvidas por outras unidades, na
sua maioria informal, através da subcontratação. Após esta etapa, as peças podem
retornar à unidade produtiva inicial, para montagem final, banho ou galvanoplastia,
ou não, e a decorrente ocorrência de relações interindustriais entre fábricas acontece
em função do baixo aporte de capitalização de agentes produtivos. Tem-se, assim,
uma rede local de transações interindustriais.
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A pesquisa de campo não detectou segmentos da cadeia produtiva relacionados
à produção de insumos, como o latão, cobre, strass, pedrarias, etc., nas localidades
estudadas. O fornecimento de matéria-prima, especialmente para a pequena produção, se
faz a partir de representantes do segmento, bem como da comercialização local destes
insumos. A produção em maior escala relaciona-se, para aquisição de insumos, com
mercados extrarregionais, e São Paulo e Limeira os principais centros ofertantes de
matéria-prima nacional ou importada. Outro aspecto da comercialização diz respeito à
presença de lojas especializadas do segmento, bem como de vendedores externos
(vinculados às empresas formais), pessoas físicas e empresas distribuidoras da produção
na maior parte dos Estados brasileiros.
4.1.2 Produção de joias em ouro e prata – papel dos ourives
Afora a produção de peças folheadas, outra característica do setor é a presença
da produção de joias em ouro e prata na aglomeração local. Elas caracterizam uma
tradição presente no mercado local, tendo sido o seu surgimento apontado na literatura
por Della Cava (1985), advinda da demanda por bens simbólicos, bem como ao desejo de
fixação de residências e/ou casamentos na Terra Santa.
Tal tradição perdura até os dias atuais, mantendo-se os moldes da produção
através de processos basicamente artesanais, com baixo grau de capitalização. A pesquisa
de campo constatou três tipos de organização da atividade produtiva: o trabalho
autônomo, oficina (com presença de um número reduzido de trabalhadores), e
ourivesarias constituídas formalmente.
Novamente, a diferenciação entre empresas informais e empresas formais ocorre
em relação à legalidade da unidade produtiva. Outro aspecto de diferenciação entre os
pequenos empreendimentos informais e os empreendimentos formais diz respeito à
subordinação ou não do trabalhador a um proprietário da empresa, bem como ao
conhecimento do processo produtivo.
Nos pequenos empreendimentos informais (sejam oficinas ou trabalhadores
independentes), encontramos um baixo grau de capitalização, porém a propriedade dos
insumos e de equipamentos utilizados é do trabalhador, e há autonomia em relação a
horários de trabalho, metas de produção, etc., sendo a atividade desenvolvida por um só
agente.
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Nas empresas formais, já ocorre à subordinação do trabalhador a um patrão, a
separação entre instrumentos de trabalho e trabalhador, bem como a distribuição do valor
agregado entre patrão e empregado. As empresas formais se diferenciam das informais
em relação ao aporte de capital, ao número de funcionários, aproximando-se dos métodos
tayloristas/fordistas de organização da produção e à formalização, saindo da
invisibilidade que ainda caracteriza a maior parcela das oficinas.
Figura 02 – Produção de joias no CRAJUBAR e rede de vínculos comerciais (2014)
Fonte: Pesquisa direta (2014).
Organização: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
Segundo as entrevistas realizadas, o segmento teve seu auge até à década de
1980, registrando um grande número de oficinas (segundo os entrevistados, de 300 a 400
oficinas) e presença de empresas produtoras de joias. No entanto, o surgimento no
mercado local da produção de peças folheadas, que data deste período, será o grande
concorrente da produção local, devido ao baixo custo, ao acesso de classes populares à
produção, a qual passa a se expandir e reduzir significativamente a presença da produção
de joias em ouro e prata.
Em relação às principais ligações com o mercado local, o trabalhador autônomo/
artesão realiza compras de insumos no mercado local e/ou de representantes
(revendedores de ouro ou prata), bem como fabrica novas joias a partir de peças antigas,
quebradas, reaproveitando assim o metal precioso contido nestas peças. Outra forma de
interligação com o mercado local é a venda da produção, a qual pode ser realizada
diretamente para clientes (através de formas simples de divulgação, como o boca a boca,
placas e cartões) ou revenda da produção para joalherias locais. Nos dois casos, o cliente
estabelece o tipo de produto a ser fabricado, prazos, etc.
Assim, a produção de joias (ouro, prata) se diferencia da produção de folheados,
especialmente pela escala de produção. Enquanto a produção de joias caracteriza-se pela
Trabalhador
Autônomo/Artesão
Oficina
Ourivesarias
Formais
Clientes
Joalherias
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produção totalmente artesanal, e em pequena escala, dado o alto custo da matéria prima
(o metal precioso, pedrarias, etc.), a produção de semijoias e folheados, em virtude do
baixo preço de mercado, requer a produção em larga escala, apesar da elevada exigência
de participação de trabalho.
4.1.3 Sobre as mãos que produzem as joias e folheados, e sua relação com o mercado
de trabalho no Juazeiro do Norte.
O emprego gerado pelos setores produtivos, conforme já citado anteriormente,
consiste em uma das variáveis observadas do impacto gerado no espaço estudado. Os
empreendimentos de joias e folheados, segundo dados do Infojoias (2010, p. 1), geram
um aporte de 4 mil empregos. A pesquisa de campo constatou, nas empresas visitadas,
um total de 606 empregos diretos e terceirizados gerados pelo setor. Desses empregos
detectados pela pesquisa, 129 são originados nas unidades informais e 477 nas empresas
formalizadas.
Os empreendimentos visitados pela pesquisa variam significativamente em
relação ao emprego gerado devido à presença de unidades, naquele segmento, que geram
uma quantidade maior de funcionários, quer em valores absolutos estimados para o
segmento, quer em função do quantitativo por unidade do segmento. A Tabela 01
expressa o comportamento do setor de joias e folheados em relação ao volume de
emprego gerado no segmento.
Tabela 01 – Emprego por estabelecimentos no setor de joias e folheados do CRAJUBAR (2014)
Emprego por
mpreendimento
Setor Formal e Informal
(%)
Setor Formal
(%)
Setor Informal
(%) 0 – 10
10 - 20
20 - 30
30 - 40
40 - 50
50 - 60
60 - 70
70 - 80
80 - 90
90 - 100
100 - 110
110 - 120
120 - 130
Não respondeu
63
13
2
2
2
2
-
-
2
2
-
-
2
7
40
26,7
-
-
6,66
6,66
-
-
6,66
6,66
-
-
6,66
77
7
4
4
-
-
-
-
-
-
-
-
-
8
Total 100 100 100
Fonte: Pesquisa direta (2014).
Elaboração: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
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Os dados revelam a predominância, no setor produtor de joias e folheados do
Juazeiro do Norte, de unidades com até dez empregados, sendo este dado similar àquele
encontrado para o setor de calçados. Também encontramos na informalidade
empreendimentos de até 30 empregados, o que surpreende pela quantidade de pessoas
trabalhando, e o consequente aporte de produção. Neste caso, configura-se a fuga à
legalização e seus custos, haja vista ser o setor, em várias etapas da produção, intensivo
em trabalho, visto que muitas das etapas produtivas são realizadas manualmente.
Visualizou-se também, nos números da pesquisa, a existência de empresas que
empregam acima de 50 funcionários (pertencentes ao setor formal), as quais representam
a produção em maior escala no aglomerado. As fábricas não informaram o número de
empregos indiretos, representados pela subcontratação. O setor de joias e semijoias
folheadas não possui empresas com a grande dimensão, sendo citadas fábricas com
quantum de trabalhadores somente até 120 funcionários. Porém, segundo relatos de
entrevistados, as empresas maiores também subcontratam o trabalho a domicílio, afora
outras etapas da divisão técnica e social do trabalho (de acordo com os conceitos de
SCOTT, 1994; SANTOS, 2009), perfazendo um total de emprego muito maior.
Em relação ao gênero, 64,06% compunham-se de mulheres e 35,94% de homens.
Esta composição de sexo varia em função das atividades desempenhadas, sendo comum
a montagem do produto, etapa normalmente terceirizada pelas unidades produtivas, ser
desenvolvida por mulheres, as quais caracterizam o trabalho a domicilio observado na
pesquisa de campo, conforme já relatado anteriormente. Os dados da pesquisa revelam a
divisão técnica e social de tarefas por gênero em 41% das unidades entrevistadas. 35%
dizem não fazer esta divisão e 24% não respondeu a questão. Constata-se, então, que a
divisão de funções por gênero, no segmento de trabalhadores ourives, constitui-se a partir
do uso da força física, de etapas consideradas “grosseiras”, representadas por banho de
peças, soldagem, lixamento, vulcanização do metal para preparação de pingentes,
caracterizado pelo trabalho masculino, versus aquelas etapas que exigem maior cuidado
e delicadeza, como colocação dos enfeites e pedrarias, acabamento, controle de qualidade,
caracterizados pelo uso do trabalho feminino. Porém, afirma-se que não há uma divisão
exata entre os sexos, mas uma tendência geral desta entre os gêneros.
A renda dos trabalhadores do setor, auferida através da participação nas
atividades de joias e folheados, varia de acordo com o tipo de relação trabalhista que os
vincula às unidades produtivas, podendo ser caracterizada por salário mínimo, acrescido
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de direitos trabalhistas no setor formal, e por remunerações que oscilam conforme o
quantum fabricado, quer por funcionários das pequenas oficinas, quer por trabalhadores
a domicilio. Os dados da pesquisa, expostos na Tabela 02, demonstraram várias escalas
de apropriação de renda por empregados do segmento.
Tabela 02 – Renda média dos trabalhadores do setor de joias e folheados do
CRAJUBAR (2014)
Fonte: Pesquisa direta (2014).
Elaboração: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
Os números da tabela mostram uma baixa remuneração dos trabalhadores do
segmento, haja vista que 21% das respostas apontam pagamento abaixo do salário
mínimo e os rendimentos mais elevadas chegam, segundo as informações prestadas até,
no máximo, a dois. Convêm enfatizar que as informações do setor formal afirmam que a
renda dos seus funcionários encontra-se a partir do salário mínimo praticado na economia
brasileira.
No entanto, às empresas formais vincula-se parcela significativa do mundo da
informalidade, através das relações flexíveis de produção encontradas na pesquisa.
Assim, na verdade, as empresas também pagam baixa remuneração e não apenas os
empreendimentos informais, dado que a renda auferida pelos trabalhadores a domicílio é
totalmente flexível.
Convêm, no entanto, situar a submissão dos trabalhadores à baixa formação de
renda ao contexto histórico e econômico no qual o espaço estudado se encontra inserida.
Remuneração média por mês Unidades (%)
Até R$ 100,00
R$100 a R$200,00
R$200 a R$300,00
R$300 a R$400,00
R$400 a R$500,00
R$500 a R$ 600,00
Salário mínimo
Salário mínimo mais periculosidade
Salário mínimo e meio
Dois salários mínimos
Não respondeu
04
02
04
09
02
-
22
02
11
11
33
Total 100
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O Nordeste do Brasil, no se qual situa o território específico estudado, adentra o século
XX com uma economia estagnada, tendo o surto industrial estimulado pelas políticas
governamentais iniciado, de forma mais intensiva, apenas a partir dos anos 1960 (com a
atuação da SUDENE). Os posteriores ciclos industrializantes, com estímulos à atividade
industrial praticados na unidade federativa do Ceará, também têm maior impacto sobre a
área metropolitana de Fortaleza do que sobre o conjunto do Estado em questão. Também
se deve associar ao inchamento populacional que caracteriza o espaço urbano do Juazeiro,
advindo do fenômeno místico e que, dado o dinamismo deste em relação às demais
localidades do semiárido nordestino, tem-se, então, um fator de atração de população para
o município estudado, o que gera, para os setores produtivos locais, uma acentuada oferta
de mão de obra.
Outro elemento é o uso do trabalho domiciliar, exercido pela mão de obra
feminina, conforme já enfatizado anteriormente, no qual a necessidade de conciliar as
atividades do lar com alguma forma de apropriação de renda gera a submissão à
remuneração baixa e totalmente flexível, apresentadas neste estudo.
Constatou-se, também, através da pesquisa de campo, a presença de menores, no
setor informal, os quais desejam obter alguma remuneração através de aprendizado de
uma profissão, de forma a complementar o rendimento familiar, especialmente em
famílias de baixa renda, observado em algumas das pequenas oficinas visitadas. Esta
opção é preferível por progenitores, sendo citada pelos microempreendedores, como uma
forma de impedir o envolvimento dos adolescentes com problemas sociais,
principalmente com o mundo das drogas e prostituição, comuns em bairros da periferia,
onde estão localizadas as pequenas oficinas.
A escolaridade dos trabalhadores foi investigada pela pesquisa de campo, sendo
uma variável não informada por todas as unidades produtivas, dificultando a análise da
mesma. Os dados obtidos estão expostos na Tabela 03.
As informações apresentadas na Tabela 03 expõem uma baixa escolaridade dos
trabalhadores do setor de joias e folheados, dado que demonstra a maior
representatividade de funcionários na faixa do Ensino Médio, como também pertencentes
a níveis inferiores a esta, o que caracteriza mão de obra não qualificada. Os saberes
desejados advêm dos conhecimentos práticos acumulados e não do conhecimento formal.
No entanto, este dado da baixa escolaridade é representativo do comportamento do
trabalhador industrial brasileiro, sendo que, para o setor de fabricação de artigos
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metálicos, afirmado por De Negri e Freitas (2004, p. 10), varia entre 6,77 a 7,33 anos
(para os setores não exportadores e exportadores), o que representa um baixo percentual
de educação formal.
Tabela 03 – Escolaridade dos trabalhadores do setor de joias e folheados do
CRAJUBAR (2014)
Escolaridade Formal e Informal
Analfabeto
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior Incompleto
Ensino Superior Completo
Pós-Graduados
03
44
55
36
105
19
10
-
Total 272
Fonte: Pesquisa direta (2014).
Elaboração: Rosemary de Matos Cordeiro, 2014.
A especialização da mão de obra produtiva relacionada às atividades exercidas
é citada por apenas 30% das fábricas e oficinas visitadas, o que representa uma pequena
preparação da formação de trabalhadores através de cursos, treinamentos, etc., específicos
para o setor. No caso das empresas formais, para aquelas que citam requerer funcionários
com treinamentos, foram: qualificação especializada em montagem, soldagem, designer,
pedrarias e polimento. No entanto, o aprendizado prático é citado pela maioria das
unidades como uma das formas principais de aquisição de conhecimentos dos
empregados, através das experiências de saberes acumuladas na profissão. Destaca-se,
então, o papel do conhecimento tácito (discutido por COSTA, 2007; LUNDAVALL,
2003), a presença dos empreendimentos produtivos concentrados espacialmente na
localidade sob estudo, como a principal forma de aquisição de conhecimentos para os
trabalhadores.
O regime de trabalho, investigado pela pesquisa de campo, varia de acordo com
o tipo de relação trabalhista a qual se submete a mão de obra. Isto porque se constatou
nos dados da pesquisa que os empregados do setor formal atuam apenas em regime
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diurno, ou seja, com 8 horas, para todas as unidades entrevistadas. Nos empreendimentos
informais, apesar de prevalecer o turno diurno (78%) dos casos, foi também citado o
noturno, dado que neste encontram-se as relações flexíveis de produção. Além dos
rendimentos incertos, observou-se que microempreendedores e trabalhadores
domiciliares citaram o fato de adentrar a noite para ampliarem a produção, de forma a
cumprir pedidos de outras empresas ou para melhorar o rendimento. Assim, as relações
flexíveis de produção impõem jornadas de trabalho para a mão de obra maior do que
aquelas desempenhadas por funcionários regularizados, devida à baixa remuneração
obtida por peças produzidas.
A observação dos limites de idade para contratação de mão de obra mostrou que
20% das unidades entrevistadas dizem contratar apenas a partir da maioridade, tendo por
base a legislação trabalhista e à própria produtividade dos trabalhadores contratados. No
entanto, 59% afirmam não considerar esta faixa etária, e os demais entrevistados não
responderam a questão. Não constatamos, no setor formal, indícios de irregularidade em
relação a estes aspectos, visto que estas unidades são constantemente fiscalizadas pelos
órgãos competentes. No entanto, na informalidade, foi comum encontrar e também ouvir
relatos do uso da força de trabalho menor, o que indica uma atuação fora da regulação
trabalhista.
No caso das etapas de colocação de pedrarias e outros adereços colocados pelo
trabalho domiciliar, observaram-se tarefas desenvolvidas não apenas pelos progenitores,
mas também por adolescentes e, inclusive, crianças, como forma de elevar a renda da
família, mas num claro descumprimento da legislação trabalhista e do Estatuto da Criança
e do Adolescente.
As relações flexíveis de produção, apresentadas no setor, são reafirmadas através
dos percentuais de subcontratação de outras pessoas, além dos empregos regulares, dado
afirmado por 37% dos entrevistados, enquanto 43% dizem não fazê-lo (20% não
responderam à questão). Este número no setor informal é de apenas 23%, e neste caso
empreitam outros trabalhadores de forma ocasional, estabelecendo negociações em
função de peças ou lotes.
O setor formal subcontrata pessoas, afora empregados regulares, em 67%. Isto
significa que essas unidades terceirizam trabalho, gerando a informalidade e a
precarização das formas de contratação apontadas neste estudo, sendo esta uma prática
permanente, em 60% dos casos. Os trabalhadores subempreitados por estas empresas
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trabalham em suas residências em 36% dos casos, com tarefas manuais em 24%, tarefas
mecanizadas em 12% e matéria prima cedida pelo contratante em 28%.
As tarefas subcontratadas à mão de obra “avulsa” são etapas como: corte,
fundição de metal, montagem, empacotamento, o que representa parcela significativa da
divisão técnica do trabalho que caracteriza a produção dos folheados. Os funcionários
externos, conforme já citado, têm também remuneração flexível, estabelecida em 91%
por peças ou lotes produzidos, e somente 9% das empresas subcontratam trabalhadores
por hora de trabalho.
A instabilidade da demanda por força de trabalho, observada para o setor de joias
e folheados do CRAJUBAR, é uma prática adotada por apenas 30% dos
empreendimentos visitados, e 61% das fábricas e oficinas dizem não usar esta política de
ajuste da oferta de postos de trabalho, o que representa uma redução das oscilações da
demanda por mão de obra neste segmento. Nos empreendimentos regularizados este
percentual aumenta para 40% dos entrevistados, enquanto nas unidades não regularizadas
o mesmo representa um montante de 23%. Portanto, apesar de flutuação no número de
empregados não ser um prática dominante, a mesma é maior no setor formal, e decorrente
da sazonalidade do mercado, motivada por períodos de expansão (festivos) e retração da
demanda do segmento.
5 Conclusão
O setor de joias e semijoias folheadas iniciou a partir de eventos históricos de
cunho local, e permanecem com o formato de produção artesanal até a década de 1970,
compondo uma tradição na produção de joias que sobrevive até os dias atuais. As
mudanças, que representam a introdução da indústria propriamente dita, estão situadas
apenas no final do século XX, com a introdução da produção de semijoias folheadas.
Estas raízes da tradição local artesanal na produção de calçados e de joias
somadas aos primeiros empreendimentos efetivamente industriais representam a
coexistência de um setor moderno, que avança e participa do mercado nacional, com um
setor tradicional – que consegue sobreviver, através da disseminação ampla de saberes
produtivos na localidade, por meio da depressão de preços de venda, em função da
ausência de cálculo de custos implícitos como o trabalho familiar, e pela fuga dos custos
fiscais, trabalhistas e ambientais – mas que, ao final, representam formas de ocupação e
geração de renda para muitos trabalhadores, tendo um papel social relevante.
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A intensificação das formas de competição e de reestruturação produtividade,
citadas na literatura, rebatem sobre o segmento, quer através da necessidade de
modernização (CORDEIRO, 2015), quer determinando a necessidade de competir através
do preço, adotando formas de enxugamentos de custos. As unidades produtivas adotam,
assim, a externalização das atividades produtivas, por meio de formas de terceirização de
etapas da fabricação e de contratação de trabalho a domicilio, com remunerações
totalmente flexíveis, e à margem dos direitos trabalhistas. Esta externalização de tarefas,
na maioria das vezes para subcontratados informais, origina um conjunto, uma “teia” ou
rede de interações no território, que gera ativos específicos e linkagens entre os agentes
produtivos.
A divisão social do trabalho no setor de folheados, estimulada pela redução de
custos, constitui-se em uma forma flexível de produção, com as etapas intensivas em
trabalho sendo subcontratadas, deprime a formação de rendimentos para trabalhadores
envolvidos nas etapas externalizadas, bem como determina uma incerteza em relação ao
montante do rendimento a ser auferido.
Esta prática referenda a discussão de Benko (1999) ao demonstrar as
consequências da produção flexível representadas por perdas de direitos sociais,
anteriormente garantidas através do Estado de Bem Estar Social.
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TRABALHO E SOCIABILIDADE NA ÓRBITA DO CAPITAL:
PRESSUPOSTOS AO DEBATE NA ERA DA INFORMAÇÃO.
Rafael Soares1
Shyslâine C. Alves do Nascimento2
Resumo
Este trabalho consiste numa análise acerca da categoria trabalho na sociedade capitalista,
bem como das novas determinações que são postas a esta categoria especialmente no pós-
1970, no momento da chamada reestruturação produtiva. Debruça ainda sobre o processo
globalizatório e o uso das novas tecnologias de comunicação e informação na perpetuação
da sociedade global com sua cultura consumista. Trata-se aqui de forma sucinta a
categoria trabalho, bem como o seu papel enquanto fundante do ser social. Haja visto que
é essa uma categoria de suma importância para o marxismo. Discute-se também o
capitalismo como um sistema em crise, assim como a crise estrutural que o sistema sofre
e o processo de reestruturação produtiva. Esta é uma pesquisa bibliográfica, descritiva
onde a abordagem do tema foi realizada através da leitura extensa de autores que discutem
sobre os processos de trabalho no capitalismo e os que colocam os efeitos das tecnologias
no surgimento da cultura do consumo. Para tanto usou-se enquanto método de pesquisa
o materialismo histórico e dialético, que busca analisar a realidade de forma macro
situando o objeto da pesquisa com o contexto histórico ao qual ele se vincula.
Palavras-chave: Trabalho, Cultura, Globalização
1 INTRODUÇÃO
Adentramos num novo tempo histórico, onde por toda parte pode-se perceber o
avanço tecnológico, bem como as facilidades que dele provém. Não se pode negar que
esse processo que embora traga maior agilidade e rapidez ao sistema produtivo em
contrapartida, ocorre também um endeusamento da técnica, bem como a “unificação” do
mundo que é proposta com o advento das novas tecnologias, em especial as de
comunicação e informação. Passamos a viver num mundo onde quase tudo é
compartilhado, inclusive as inquietações e frustrações da vida cotidiana.
Situamos a década de 1980, que corresponde para a economia a “década
perdida”, mas que é uma década chave para entendermos a modernidade com todas as
suas refrações, especialmente ao que tange no mundo do trabalho, atualmente pode-se
1 Bracharel em Serviço Social e Pós-graduando em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de
Ciências Aplicadas Doutor Leão Sampaio – FALS. Juazeiro do Norte, CE. [email protected]
2 Acadêmica do Curso de Serviço Social pela Faculdade de Ciências Aplicadas Doutor Leão Sampaio –
FALS. Juazeiro do Norte, CE. [email protected]
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verificar novas determinações, configurações, bem como novas formas de inserção e
manutenção do trabalho. Tudo isso surge como alternativas para o enfretamento da crise
no momento de reestruturação produtiva do capital pós-1970.
Com o espraiamento da Internet, bem como das novas tecnologias de
comunicação e informação cria-se uma cultura mundial baseada no consumismo e
disseminada através das redes. É cabível de registro que ao mesmo tempo em que o
progresso tecnológico permite um maior domínio do processo produtivo, o alcance de
novos mercados, etc. Nota-se que também por meio das novas tecnologias passa a imperar
a cultura do consumo, onde o que se faz é perpassar a falácia de que só passa a fazer parte
do processo produtivo quem possui poder de compra, quem usufrui das benesses do
mundo globalizado.
Este trabalho consiste de uma análise deste processo que se inicia nas últimas
décadas do século XX e se cristaliza nos dias atuais. Procuramos assim descrever os
processos de trabalho e alienação, bem como as crises do capitalismo e seu enfrentamento
e posteriormente as tecnologias na contemporaneidade e seus impactos sobre a classe
trabalhadora. Usou-se como método de pesquisa o materialismo histórico e dialético de
Marx, uma vez que o mesmo propõe uma análise sobre a realidade de forma macro, onde
compreende-se o contexto no qual o objeto da análise se insere.
Esta é uma pesquisa bibliográfica, descritiva. Onde a abordagem do tema foi
realizada através da leitura extensa de autores que discutem sobre os processos de trabalho
no capitalismo e os que colocam os efeitos das tecnologias no surgimento da cultura do
consumo. Gil (2009 p. 44) discorre que “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.
Dessa forma, objetivo deste trabalho consiste em discutir o momento atual, bem como
suas refrações na vida cotidiana dos indivíduos com os efeitos das novas determinações
que são lhe são postas, especialmente depois do processo de restruturação produtiva do
capital e a mundialização da economia. Este trabalho torna-se relevante para o
entendimento da categoria trabalho em suas determinações na contemporaneidade em um
momento singular da história onde pode-se perceber a interdependência de setores, e
países que por sua vez proporcionam o surgimento de uma cultura global baseada no
consumismo.
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2 TRABALHO E CAPITALISMO
Numa concepção marxista o trabalho é uma relação entre o homem e a natureza,
relação esta que é mediada pelo uso de instrumentos. Karl Marx fundamenta sua teoria e
dedica uma boa parte de sua vida no estudo dessa categoria onde segundo ele, é o trabalho
que nos humaniza. Quem nos torna únicos e diferentes das outras formas de vida deste
planeta que exercem suas atividades orientados por seu instinto. O próprio Marx define
trabalho como “o processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples
e abstratos, é uma atividade orientada a um único fim, que é para produzir valores de uso,
apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas. ” (Marx 1985a, p.153).
No modo de produção capitalista esta atividade, que antes seu fim era a produção
de valores para necessidades humanas, passa a ter a função de satisfazer necessidades
corporativas. Quando o trabalho adquire um determinado valor de troca e torna-se
mercadoria. Não nos atearemos a este processo porque acabaríamos fugindo de nossa
proposta inicial, no entanto, torna-se cabível de registro que esta é uma categoria que
constitui de importante objeto de análise nos mais variados campos de estudo. Uma vez
que a categoria trabalho “além de indispensável à compreensão da atividade econômica,
faz referência ao próprio modo de ser dos homens e da sociedade” (Netto; Braz. 2011.
p.39). Entendemos assim que a dinâmica da sociedade (desenvolvida) é permeada pelas
condições de trabalho que por sua vez gestam as relações sociais.
O homem na efetivação do trabalho em sua relação dialética ao mesmo tempo
em que modifica a natureza modifica também o próprio homem. O ser social constitui-se
a partir das relações de trabalho que os homens desenvolvem em uma determinada
sociedade. O que se entende é que no modo de produção capitalista o trabalho deixa de
ser edificador do Ser Social, uma vez que as suas características, aquilo que lhe tornava
único lhe é usurpado. É o processo que chamamos de alienação do trabalho.
Em determinadas condições histórico-sociais os produtos do trabalho e da
imaginação humana deixam de se mostrar como objetivações que expressam a
humanidade dos homens – aparecem mesmo como algo que, escapando ao seu
controle, passa a controla-los como um poder que lhes é superior. Nestas
condições, as objetivações, ao invés de se revelarem aos homens como a
expressão de suas forças sociais vitais, impõem-se a eles como exteriores e
transcendentes. (...) entre os homens e suas obras, a relação real, que a relação
entre criador e criatura, aparece invertida – a criatura passa a dominar o
criador. (Netto; Braz. 2011 p.54. Grifos do autor)
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Passa-se a entender a alienação do trabalho como sendo um processo histórico, através
do qual o homem já não é capaz de se reconhecer no produto de seu trabalho, uma vez que o
mesmo já não participa mais de todas as fazes da produção de determinado objeto. Sendo assim,
a alienação torna-se a chave para o desenvolvimento capitalista e isso ocorre devido ao fato de a
produção neste sistema aparecer totalmente voltada ao lucro. Sendo que a ideia do lucro se estende
até à mão de obra, já que o trabalhador passa a vender a forca de seu trabalho, uma vez que o
mesmo não é detentor dos meios de produção e não pode competir com a indústria capitalista.
Sobre a alienação Barroco disserta que
No contexto da alienação, a riqueza humana não é apropriada pela totalidade
dos indivíduos; na ordem capitalista, a coexistência entre a miséria e a pobreza
(material e espiritual) é pressuposto fundamental para a (ré) produção do
sistema, donde o processo de coexistência contraditória, de tensão permanente
e não linear, de afirmação e negação das capacidades do ser social. (Barroco
2009 p.170)
Nota-se assim, a contraditoriedade presente no modo de produção capitalista e que
consiste na dualidade do processo de produção. Ao que Marcuse corrobora, “O mais alto
desenvolvimento das forças produtivas vai coincidir com a totalidade da opressão e miséria.
(Marcuse, apud Barroco 2009 p.170). Ao passo que é exatamente nas contradições do processo
de produção deste sistema, que o mesmo alarga seu laço de exploração. As crises são o modo de
ser o capitalismo e mesmo que uma seja superada, sem demora virá outra. Donde sabe-se que a
cada nova crise o mesmo passa a aumentar suas formas de dominação e exploração. Subjugando
à classe trabalhadora aos efeitos de suas formas de reparação.
3 CRISE A NÍVEL ESTRUTURAL DO CAPITALISMO E REFLEXOS NA
CONTEMPORANEIDADE.
Haja viso que as crises são o modo natural de existência do capitalismo,
dependendo do desenvolvimento da sociedade este sistema gesta crises de intensidade e
alcance variados. Partindo do caráter contraditório do sistema capitalista, temos que a
cada nova crise, o sistema estabelece “novas formas de progredir para além de suas
barreiras imediatas, estendendo com dinamismo cruel sua esfera de operação e
dominação.” (Mészáros 2010 p.69) “Expressando assim, um desequilíbrio entre a
produção e o consumo, comprometendo a realização do capital, ou seja, a transformação
da mais-valia em lucro” (MOTA, 2009, p. 53). Assim sendo, diferentes estágios do
desenvolvimento capitalista emergem devido a sua tentativa de se sobrepor as crises que
ele mesmo cria, de modo que a crise é funcional ao sistema.
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Sob este aspecto de funcionalidade Netto e Braz (2006, p. 162) discorrem que
“as crises são funcionais a este modo de produção, uma vez que se constituem de
mecanismos que determinam restauração das condições de acumulação, sempre em níveis
mais complexos e instáveis, assegurando, assim, a sua continuidade”. De fato, que sendo
o capitalismo um sistema contraditório em sua essência, as crises apresentam-se como
reflexos de tal contradição. E a busca por superação como nos referimos acima acarreta
uma maior exploração, bem como maiores alcances de dominação por parte das classes
dominantes.
Na esteira de pensamento de Mészáros (2010) temos que a crise que se apresenta
na atualidade do capital é fundamentalmente estrutural. Isso porque a mesma atinge toda
a estrutura do sistema, não estando mais ligada a setores isolados e são deflagradas em
determinados momentos históricos afetando assim, sobremaneira, toda a estrutura global.
A forma como o capitalismo reage às crises coloca para a classe trabalhadora a
exigência de adequação aos seus novos padrões. Sobre isso pode-se localizar um
momento especifico da história a dita crise da produção de 1970, onde o modelo de
produção taylorista-fordista começa a dar sinais de esgotamento. Tem-se assim, para o
capitalismo, uma crise em nível estrutural, como pontua Mészáros, esta é uma crise que
afeta todo o sistema, não mais estando ela restrita a uma esfera, um polo particular, mas
sim toda a estrutura em escala global.
Uma crise estrutural afeta a totalidade de um complexo social em todas as
relações com suas partes constituintes ou subcomplexos, como também a
outros complexos aos quais é articulada. Uma crise não estrutural, em vez
disso, afeta apenas algumas partes do complexo em questão e assim, não
importa o grau de gravidade em relação às partes afetadas, não pode pôr em
risco a sobrevivência continua da estrutura global. (Mészáros 2010 p. 71)
E para a superação dessa crise em nível estrutural eis que se gesta o processo
chamado de reestruturação produtiva, que não é nada além do que mais uma tentativa de
superação de crise e que gera significativas alterações no modo de vida do trabalhador.
Estas alterações e mudanças começam a se desencadear a partir da década de 1980.
Década essa que coincide com o dito salto tecnológico que traz para a sociedade de um
modo geral incontáveis avanços a partir da disseminação das novas tecnologias. Antunes
(2010) chama a atenção para o fato que no pós-1970, insere-se nas relações de trabalho
uma gama de categorias até então sem precedentes e que alteraria para sempre as relações
de produção e reprodução da sociedade capitalista.
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Contra a rigidez do modelo taylorista-fordista segue-se um modo de produção
com base na flexibilidade, que se apoia nos moldes flexíveis, uma vez que a produção se
adapta as exigências do mercado, e não o contrário. O processo de acumulação flexível,
como aponta Ricardo Antunes (2010) apoia-se na flexibilização dos processos de
trabalho, bem como dos mercados de trabalho, dos produtos e sobretudo dos modos de
consumo. O que acontece não é o fim da produção em série, mas para que se elevem
novamente as taxas de lucro – que é o fim de toda atividade no capitalismo – surge a
produção voltada para o consumo, a falácia da exclusividade dos produtos como tática
para justificar “itens de série” em determinados produtos, na indústria automobilística,
para citar um exemplo.
Este processo conhecido por reestruturação produtiva que surge, seus efeitos são
devastadores, ao que tange mundo do trabalho esse novo quadro coloca à classe
trabalhadora a exigência de uma formação continuada, um processo de adequação ao
novo modo de trabalho que se segue, outro ponto que merece destaque é a desregulação
sindical, que passa a ocasionar uma grave perda de direitos historicamente conquistados
pela classe trabalhadora.
Numa análise das transformações ocorridas à época da restruturação produtiva e
posteriormente com a introdução do pacto, pode-se perceber que elas impactaram da
forma mais negativa possível na vida do trabalhador. Mota (2009) aponta que na
reestruturação produtiva perde-se, portanto, a centralidade do trabalho, isso porque existe
um duplo movimento na reestruturação do capital pós-crise de 1970, onde coloca que.
[...] 1) a redefinição das bases da economia-mundo através da re-estruturação
produtiva e das mudanças no mundo do trabalho; 2) a ofensiva ideopolítica
necessária à construção de hegemonia do grande capital, evidenciada na
emergência de um novo imperialismo e de uma nova fase do capitalismo,
marcada pela acumulação com predomínio rentista (Harvey, 2004 apud Mota,
2009, p. 58).
Diante disso, o que se tem na prática são os trabalhadores assalariados que
sofrem com essas transformações. Uma vez que ocorrem alterações nas formas de
contratação, que por sua vez ocasionam insegurança nas relações de trabalho. Como foi
dito a pouco, é o tempo da flexibilidade, da terceirização do trabalho, dos contratos
temporários, bem como do trabalhador polivalente, multifuncional, aquele que exerça
mais de uma função dentro da empresa. Uma estratégia que visa o aumento da produção
sem haver, no entanto, um aumento do número de trabalhadores. Alterações que como
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pontua Antunes (1999) trazem consequências e profundas mutações no interior do mundo
do trabalho, na qual podemos mencionar: o desemprego estrutural, aumento do número
de trabalhadores em condições precarizadas, subemprego, terceirizações, bem como o
crescimento de trabalhadores “prestadores de serviços”.
Há um estranhamento no mundo do trabalho especialmente o que reflete na
atualidade, isso porque essas condições refletidas logo acima acarretam um clima de
instabilidade e de medo por parte da classe trabalhadora. Dado ao processo de
segmentação da classe trabalhadora. Ao passo que se exige por parte do trabalhador uma
polivalência, como já foi referido aqui, há um crescente ofensiva ao saber profissional,
de forma que por assim dizer haja uma diminuição do poder destes trabalhadores sobre o
processo produtivo, aumentando assim a produção. Antunes (1999, p. 61)
A crise estrutural do capital, bem como o processo de restruturação produtiva
“vem acompanhada de um ideário que, funcional e adequado às formas pelas quais o
capitalismo enfrenta suas crises, substitui a ideologia do “desenvolvimentismo” pela
“globalização” (Guerra 2005, p. 14). Ao crescimento da ofensiva neoliberal os países
centrais impõem medidas a serem seguidas pelos países periféricos, medidas estas
definidas pelo Consenso de Washington. Que forçavam estes países a seguirem e se
tornarem dependentes do capital estrangeiro.
Maria Carmelita Yazbeck (2008 p. 33) aponta que no momento da reestruturação
produtiva, os impactos são devastadores ao recaírem sobre o mundo do trabalho num
duplo movimento. Em primeiro plano, tem-se as transformações nas relações de trabalho,
onde apresentam-se novas formas de exploração, novos mercados, bem como uma nova
configuração nos postos de trabalho; em um segundo plano, pode-se perceber uma
crescente perda dos padrões de proteção social dos trabalhadores. Acarretando uma
desregulamentação nas formas de proteção da classe que vive do trabalho.
Empresas estatais privatizadas, desregulamentação da economia, corte nos
gastos com o social, bem como a abertura ao capital estrangeiro. A proposta era simples,
o Estado deveria ser mínimo no atendimento à esfera social de tal forma que beneficiasse
o mercado, já que este Estado se voltava ao desenvolvimento mercantil. Institui assim um
novo padrão de acumulação e valorização do capital, tais medidas acarretam a submissão
dos países periféricos pelos países centrais do capitalismo. Num processo continuo de
racionalização, desregulação da economia, novos processos de trabalho, que passam a
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pregar a individualização, bem como uma nova exploração do trabalho nos mais variados
campos.
4 GLOBALIZAÇÃO E A UNIFICAÇÃO DO MUNDO
No bojo das determinações sócio-históricas do capital, bem como suas
estratégias de enfrentamento das crises, que por sinal é o próprio sistema quem as gesta.
Tem-se na atualidade um quadro de espraiamento da economia, o que se nota é que o
movimento do capital contemporâneo se opera em escala global, de forma que setores,
bem e serviços encontram-se interligados proporcionando assim, uma maior acumulação
do lucro (que é a razão de ser deste sistema) e também uma maior exploração por parte
da classe trabalhadora. Operacionaliza-se um movimento desenvolvimentista e
civilizatório de forma a unificar o globo por meio de produtos de alcance mundial.
Um fato inegável que se pode notar é que com o desenvolvimento do
capitalismo, tem-se também o espraiamento das tecnologias, Habermas aponta que os
avanços das tecnologias ocasionavam um aumento dos postos de trabalho, o que
corresponde dizer que as novas tecnologias aliadas ao processo produtivo criavam novos
campos e postos de trabalho, diminuindo o tempo gasto na produção, proporcionado
assim um significativo aumento da produção. No entanto, a partir do século XX o que se
coloca é que o avanço das tecnologias, a implantação da indústria flexível, como
supracitado, exige do trabalhador um maior conhecimento técnico, um trabalhador
polivalente. Gerando assim diminuição nos postos de trabalho, uma vez que um
determinado funcionário deve atuar em mais de uma máquina. Dessas formas aliadas ao
sistema capitalista, as tecnologias na indústria há uma diminuição nos postos de trabalho
sem, no entanto, haver redução na produção.
De fato, economia global coloca todos sob a mesma égide. Iamamoto (2012 p.
21) discorre que “a mundialização do capital impulsiona a generalização das relações de
mercado às mais esconsas esferas e dimensões da vida social, e que passam a afetar
transversamente a divisão do trabalho, as relações entre as classes e a organização da
produção e distribuição de bens e serviços”. Tem-se assim uma nova estratégia de
serviços que passa a influenciar diretamente todo o movimento da sociedade e em todas
as suas determinações. Morin (2013 p.29). aponta que “o crescimento permanente dos
rendimentos do capital em detrimento dos do trabalho aprofunda continuamente as
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desigualdades”. Aos ideais desenvolvimentistas e globalizantes apresenta-se a falácia da
modernidade e a exigência de adequação aos novos moldes que são postos à sociedade.
A chamada globalização expressa “um novo ciclo de expansão do capitalismo,
como modo de produção e processo civilizatório de alcance global” (Ianni 2014 p.11).
Destacando assim, o quadro que vivenciamos hoje, de modernização do mundo que se
pauta numa sociedade global, tanto econômica quanto socialmente, há o surgimento de
uma nova conjuntura político-social.
O atual momento da sociedade capitalista expressa no maior avanço de suas
determinações e coloca a sociedade em um novo tempo histórico. Este processo que será
discutido aqui tem seu início da década de 1980, considerada a “década perdida” para os
países da américa latina devido as baixas taxas de crescimento econômico. No entanto
configura-se como um momento de avanços nos setores de telecomunicações, bem como
do espraiamento das novas tecnologias, especialmente as tecnologias de comunicação e
informação, que por sua vez alterariam para sempre as formas de sociabilidade em todo
o globo.
Há o surgimento de uma nova conjuntura político-social, como referido acima a
partir do enfrentamento da crise que se alastra a nível global e que o sistema se reestrutura
também globalmente e que por sua vez dita as condições necessárias para uma sociedade-
global.
O desenvolvimento industrial traz uma elevação dos níveis de vida com a
produção em massa, com preços mais acessíveis, com seus produtos de uso e
consumo. Mas esse desenvolvimento, que há cinquenta anos ainda parecia
providencial, de agora em diante faz pesar duas ameaças sobre as sociedades e
os seres humanos: uma, exterior, resulta da degradação ecológica dos meios de
vida; a outra, interior, provém da degradação das qualidades de vida. (Morin
2013 p. 67)
Grosso modo, ao passo que gera as condições necessárias à saída da crise, a uma
unificação global de modo de vida fornecendo assim aos homens de todo o globo
determinações de enfrentamento de seus flagelos, com a falácia de acesso irrestrito aos
bens e serviços que o capitalismo dispõe e “distribui com sua benesse”. O próprio sistema
alimenta a desigualdade fornecendo um entendimento de uma sociedade global ilimitada,
onde os homens podem assim efetivar seus desejos, participando do processo produtivo,
bem como a participação nos lucros. Alimentando o imaginário coletivo, forçando a
adequação ao sistema. Tratando de produzir e uma cultura-global.
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5 O PAPEL DAS MÍDIAS E DAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO E
INFORMAÇÃO NA SOCIEDADE-GLOBAL
É inegável a afirmação que de o mundo hoje corresponde a uma ilha, um espaço
onde todos os indivíduos têm em si a ideia de uma continuidade da globalização, que
coloca também outros efeitos além do crescimento econômico como já foi descrito
anteriormente aqui. Há assim uma aproximação entre os continentes, de forma que as
implicações do processo globalizatório acebem levando à concretização da “aldeia
global” como uma vez se referiu o filosofo canadense Marshal McLuhan3 previra.
O atual momento da sociedade capitalista expressa no maior avanço de suas
determinações coloca a sociedade em um novo tempo histórico. Nas últimas décadas o
mundo assiste a um crescimento sem precedentes das tecnologias de comunicação e
informação que atingem de várias formas a vida do homem comum. Configura-se um
momento de avanços nos setores de telecomunicações, bem como do espraiamento das
novas tecnologias, especialmente as tecnologias de comunicação e informação, que por
sua vez alterariam para sempre as formas de sociabilidade em todo o globo.
Desde os anos 1960-1970, cada indivíduo no mundo considerado
desenvolvido, traz em si, sem ter consciência disso, a presença de todo
planetário. Pela manhã, ele toma um café sul-americano ou um chã asiático,
retira frutas de sua geladeira alemã, põe sua camiseta de algodão do Egito ou
da Índia, liga seu rádio japonês para ouvir as notícias internacionais, veste seu
terno de lã da Austrália, tecido em Manchester, dirige seu automóvel coreano
ouvindo um canto flamenco em seu iPhone californiano. (...) O miserável das
periferias empobrecidas da África ou da América do Sul foi expulso de sua
terra pela monocultura industrializada importada do Ocidente, veste uma
camisa estampada com uma inscrição americana, vive dos restos da civilização
ocidental que ele mesmo bricola. (Morin. 2013, p.20-21)
Na esteira de pensamento de Edgar Morin tem-se que com a sociedade-global
onde todos os individuo de certa forma compartilham dos efeitos do capitalismo, em
contrapartida gesta-se a chamada sociedade do consumo, impingindo assim
paulatinamente no modo de vida dos indivíduos uma nova cultura pautada no consumo.
E nesta sociedade de consumidores, onde seus efeitos recaem ainda mais sobre a classe
trabalhadora porque, onde a juventude é um exemplo clássico tende a se condicionar com
3 McLuhan estabelece que o termo Aldeia Global para caracterizar o avanço tecnologias das telecomunicações que à
sua época eram o rádio e a televisão. McLuhan observou que havia uma tendência a um encurtamento das distâncias
que separam os países condicionando-os a um funcionamento semelhante, tal qual como ocorre em uma aldeia.
Havendo assim, uma interação entre os povos a nível planetário. Ver: McLUHAN, Masrshall: Os meios de
comunicação como extensão do homem. Tradução de Décio Pignatari. 9 ed. São Paulo: Cultrix, 1998.
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mais facilidade à cultura consumista que se alastra nas últimas décadas. Como uma forma
de aceitação por parte da sociedade do consumo, como descreve Maffesoli apud Bauman
“Sou o que sou porque os outros me reconhecem como tal” (2008 p.107). A identidade
passa a ser um conceito puramente social, uma vez que o indivíduo no mundo globalizado
tente a seguir padrões socialmente estabelecidos que perpassam a esfera do consumo.
A revolução informacional digital que assistimos na contemporaneidade é marca
de um processo que passa a ser conhecido por pós-modernidade que em suas
determinações apresenta a ideia do novo. A atualidade é configurada como um momento
de incontáveis avanços nos setores de telecomunicações, bem como do espraiamento das
novas tecnologias, especialmente as tecnologias de comunicação e informação, que por
sua vez forneceram alterações nas formas de sociabilidade em todo o globo que passam
a determinar um processo de ruptura com os antigos padrões e exigem por parte de
individuo a exigência de estar acompanhando as mudanças que se processam através das
redes. A modernização do mundo confunde-se com o surgimento do próprio capitalismo,
que necessitava de um padrão de acumulação, já que a sociedade feudal já estava em
pleno declínio, é a modernidade de acordo com o pensamento de Anthony Giddens
O que é modernidade? Como uma primeira aproximação, digamos
simplesmente o seguinte: "modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou
organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que
ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Isto
associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica
inicial. (Giddens, 1991, p.11)
Toda e qualquer mudança que altere significativamente a sociedade passa
primeiro pelo mundo da cultura. Isso ocorre porque a cultura permite que se criem sobre
ela utopias, novas maneiras de ver o mundo, a sociedade como uma forma evoluída que
aprendeu com seus erros e que está em um constante processo de autodescobrimento.
Vilém Flusser (2008 p.14) diz que “a base de toda a cultura é uma tentativa de enganar a
natureza por meio da tecnologia, ou como ele se refere, da maquinação. E fazemos isso
com tamanha engenhosidade que o mundo parece corresponder ao sistema conceitual que
impomos a ele”. O que se vê assim é a incessante busca do homem por novas formas de
afirmação de sua superioridade.
De fato, na contemporaneidade tem-se uma nova determinação cultural e que é
perpassada por meio das tecnologias de comunicação e informação, diante disso há uma
exaltação das tecnologias, tanto pelo fato de agilizar o processo produtivo, bem como na
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disseminação de informações e aproximação de indivíduos geograficamente distantes no
globo.
Morin (2003 p.209) descreve que a Internet provém também uma
democratização dos chamados bens culturais, que antes, até então eram pagos e
reservados apenas às elites, com a cultura veiculada pela mídia e pelas tecnologias de
comunicação e informação, estes bens tornam-se acessíveis a todos. Sobre esse novo
conceito de cultura, Douglas Kellner aponta que os meios de comunicação de massa, bem
como a Internet com as tecnologias de comunicação e informação passam a interferir no
cotidiano do homem comum, como o autor descreve:
Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos ajudam
a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando
opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que
as pessoas forjam sua identidade. (...) Ela também fornece o material com que
muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de
nacionalidade, de “nós” e “eles”. Ajuda a modelar a visão os seus valores mais
profundos: define o que é considerado bom ou mal, positivo ou negativo, moral
ou imoral. (Kellner 2001, p. 9)
A cultura da mídia como refere-se o autor, coloca para o cidadão comum a
exigência de estar sempre conectado, sempre ligado e sempre atrelado ao que se processa
em todo o mundo. O que se vê na prática é que esta nova cultura consumista, ou cultura
da mídia surge para satisfazer as ideias capitalistas, propondo uma sociedade onde os bens
de consumo cheguem a todos indiscriminadamente, onde todos os que se encaixarem no
sistema podem gozar de todas as regalias e benesses que o capitalismo pode fornecer. No
entanto, desprovido de uma maior criticidade este processo acaba endeusando a técnica,
dos processos em que é o homem deixa de ser produtor e acaba sendo ele o produto.
Veloso aponta que este processo acaba “escondendo os homens dos o seu papel principal
de criador das tecnologias, caindo ele numa teia de mistificação ideológica. ( 2011 p.37).
Ao que Manuel Castells corrobora:
A tecnologia não determina a sociedade: é a sociedade. A sociedade é que dá
forma à tecnologia de acordo com suas necessidades, valores e interesses das
pessoas que utilizam as tecnologias. Além disso, as tecnologias de
comunicação e informação são particularmente sensíveis aos efeitos dos usos
sociais da própria tecnologia. (CASTELLS, 2006, p. 17)
Portanto faz-se necessário uma apreensão crítica das tecnologias, especialmente
as de comunicação e informação. Estas que a serviço do capital contemporâneo além de
acarretar transformações societárias, fornecendo uma maior agilidade no processo
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produtivo colocam também para a classe trabalhadora a exigência de estar conectado, isso
porque o quadro que se apresenta é que apenas aqueles que possuem o poder de compra
é que são eficazes neste sistema. Assim sendo, no sistema capitalista os acessos aos
produtos de consumo fornecem também uma satisfação no ato de consumir. Nas palavras
de Benjamim (2003 p.21) “O capitalismo passa a ser entendido como uma religião. Uma
vez que o mesmo oferece as respostas aos problemas mais comuns da vida cotidiana”.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo o capitalismo um sistema em crise, cuja superação lhe permite aumentar
sua dominação e exploração. A crise de 1970, cujos refrações recaem da pior forma
possível sobre a classe trabalhadora tem-se como a reestruturação produtiva a
cristalização das tecnologias aliadas do processo produtivo, bem como a mundialização
da economia. O mundo do trabalho é modificado, bem como as relações provenientes do
mesmo.
A partir das análises expostas, observa-se que no atual momento do
desenvolvimento capitalista há a unificação do mundo, a sociedade para a compartilhar
ideias, anseios, bem como as aflições e problemas que atingem a todos de uma maneira
geral. Se pode notar uma extrema valorização do momento atual da sociedade, onde o
que se ouve é que o avanço tecnológico é marca de período atual, no entanto deve se
saber, que as tecnologias permeiam todo o processo histórico da humanidade. Trata-se da
acumulação de conhecimento que em diversas épocas suscitam de os avanços
tecnológicos de determinadas formas. Podemos citar na antiguidade, a invenção de
utensílios para criar e controlar o fogo, que puderam permitir novas formas de
socialização e organização.
Notamos também que tal exaltação das tecnologias no momento atual,
desfavorecem o trabalho do homem que foi empregado na sua construção. Através da
teleologia, o homem pode de antemão orientar o sentido de seu trabalho, visualizando o
fim antes em sua mente e depois colocar em ação a efetivação de seus planos. Entendemos
que as tecnologias correspondem assim, à capacidade humana de projetar sua ação
visando satisfazer seus anseios através da concretização do que o mesmo planejou antes.
Perpassando a ideia de que a máquina é autônoma. Sendo o indivíduo
expropriado assim da sua força de trabalho. Diante disso, faz-se necessário que se
processe uma rigorosa apreensão crítica do processo de automação da sociedade, uma vez
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que tal processo por vezes é usado para esconder a relação dialética existente no bojo da
sociedade. Em que os produtos que todos os dias são lançados no mercado servem não
somente para a satisfação de necessidades individuais e coletivas, mas imprimem certo
status social a que os consome. Nas palavras de Behring (2008 p.45) esta proposta
perpassada pelo capitalismo caracteriza-se como sendo a fantasia do consumo, como se
o mercado fosse acessível a todos, sendo esta a única possibilidade possível de realização
da felicidade.
E esta realização da felicidade que o sistema tanto se vangloria recai
sobremaneira sobre a classe trabalhadora, que aceita se submeter ao processo produtivo
não somente para satisfação de suas necessidades básicas como ocorrera outrora, mas
somente para fazer parte da cultura midiática, sendo que esta corresponde uma das formas
de alienação do sistema, propor a falácia de que a felicidade é vendida em potes e de
acordo com o seu poder aquisitivo. Assim sendo, fica a perspectiva para trabalhos futuros
evidenciando o aprofundamento nestes temas que são de extrema importância no que
tange o atual momento da sociedade e se tratando de ciências sociais uma pesquisa não
está acabada, uma vez que o próprio movimento da realidade em que se inserem os
sujeitos alteram o terreno do estudo. Tornando-se assim sempre um campo fértil para a
pesquisa.
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Viabilidade dos regimes próprios de previdência social de Pernambuco num
contexto de transição demográfica
Lauro Henrique Rodrigues Santos1
Resumo
O tema previdência vem ganhando espaço nos últimos anos. Isso devido ao déficit
previdenciário que cada dia vem aumentando. Estudos mostram o porquê das contas
previdenciárias estarem se deteriorando. A teoria que vem ganhando mais força é a da
transição demográfica. Ela mostra que as taxas de natalidade e mortalidade estão caindo.
O resultado desse processo é um envelhecimento geral da população. Fator que afeta
diretamente as previdências, pois, o modelo de financiamento mais usado é baseado no
número de pessoas que entram no mercado de trabalho. Esse modelo é conhecido como
regime de repartição. O foco desse trabalho está nas previdências dos servidores públicos
municipais e estaduais do estado de Pernambuco, conhecido como RPPS – regime próprio
de previdência social. O trabalho busca estabelecer critérios para verificar a viabilidade
dos RPPS diante do contexto de transição demográfica. Essa verificação se da pela
relação do número de servidores ativos pelo número de aposentados e pensionistas. Com
essa relação pode-se definir faixas de situação, que vão de crítica até o confortável. Os
resultados mostraram que as previdências que possuem o regime de repartição estão em
maior numa situação crítica e preocupante. Já as previdências que adotam outro modelo
essa situação é contrária.
Palavras-chave: RPPS; Transição demográfica; Viabilidade.
1 Introdução
As aposentadorias pagas aquecem as economias cada vez mais em todo mundo.
É uma renda usada para consumo imediato, pois, depois de trabalharem em toda a sua
vida ativa, os aposentados querem desfrutar do seu merecido descanso. No Brasil, os
benefícios previdenciários contribuem para a redução da desigualdade e são um
importante fator governamental para promover o bem-estar social. Atualmente, os
benefícios concedidos chegam a mais de 394 bilhões e já somam 7,14% do PIB brasileiro,
segundo o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) 2.
No Brasil, existem três tipos de previdência: a previdência geral, para todos os
trabalhadores contratados e regidos pela CLT; a previdência própria, para os servidores
1 Estudante, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE Unidade Acadêmica de Serra Talhada
– UAST, Serra Talhada/Brasil. [email protected].
2 Boletim estatístico da previdência social – março de 2015. Acessado em
http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2015/04/Beps032015_final.pdf no dia 08/05/2015.
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efetivos; e a previdência complementar, para quem deseja aumentar seus ganhos com
aposentadoria quando chegar à idade inativa.
Em 2013, segundo o Ministério da Previdência Social – MPS, a previdência dos
servidores públicos possuía mais de 7,7 bilhões de servidores, ativos, aposentados e
pensionistas. A previdência própria para os servidores públicos é a que mais remunera os
inativos, pois os servidores públicos são os que acumulam mais vantagens ao longo da
vida produtiva, vantagens essas que se incorporarão na aposentadoria. Por outro lado, os
regimes próprios de previdência social são os que mais possuem problemas de
implantação, já que as primeiras fundadas no Brasil possuíam uma realidade totalmente
diferente da existente hoje.
Tendo em vista a importância dos regimes próprios para a economia e para a
população, surge uma dúvida quanto ao modelo de previdenciário adotado no Brasil: esse
modelo é viável nos dias de hoje? É sustentável?
Vários estudos tentam mostrar que a previdência precisa urgentemente passar
por reformas para poder continuar sendo viável para os cofres. Neste trabalho, serão
adotadas como referência as previdências próprias do estado de Pernambuco, para
posterior análise do efeito da transição demográfica e o impacto direto que ela traz no
atual sistema. Tal estudo visa apontar a urgência de reformas no sistema de previdência
a curto, médio e longo prazo.
Exposta a problemática, esse estudo tem como objetivo geral analisar a
viabilidade do modelo previdenciário adotado nos regimes próprios pernambucanos,
frente ao fenômeno da transição demográfica. Para alcançar este objetivo geral, perpassa-
se pelos seguintes objetivos específicos: (I) Identificar os municípios pernambucanos que
adotam regimes próprios de previdência social - RPPS; (II) Caracterizar o sistema de
custeio de todos os RPPS municipais do estado de Pernambuco e do RPPS estadual; (III)
Analisar a viabilidade financeira e atuarial dos regimes próprios de previdência com base
na comparação do número de servidores ativo e inativos.
2 Referencial Teórico
O referencial teórico compreende as teorias que dão suporte ao trabalho, bem
como uma análise da literatura sobre o assunto, com a finalidade de situar o leitor
quanto aos progressos envolvendo o objeto da investigação (MURAMATSU; RACY;
SCARANO, 2011).
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2.1 O surgimento da previdência
As primeiras relações trabalhistas se deram em um estado liberal que seguia os
princípios de Adam Smith, no qual o estado não poderia intervir na relação entre
empregadores e empregados3. Nesse mesmo estado começaram a surgir diversas
manifestações por condições melhores de trabalho. Tais movimentos foram
violentamente reprimidos pelo próprio governo. Diante da insatisfação dos possuidores
do poder no estado para com os trabalhadores que eram oprimidos, Bismarck4 apresenta
as primeiras noções de proteção previdenciária. No início, foi financiada por todos,
trabalhadores, patrões e o estado, por meio de contribuições deduzidas de suas
remunerações. A ideia era de que todos os trabalhadores deveriam entrar na entidade
seguradora a fim de uma ajuda coletiva. Mesmo sendo cara para as empresas e o estado,
esse tipo de proteção era necessária, pois resultava em menos riscos de revoluções
(LUIZETTI; NETO, 2012).
Segundo Bispo (2009), o início da previdência social enquanto seguridade social
se deu na Alemanha no século XIX para proteger os empregados nos casos de doenças e
acidentes de trabalho. Então, através da aprovação de uma série de leis que asseguravam
a proteção do trabalhador, que era o lado mais exposto dentro da relação capital-trabalho,
o governo alemão lança as bases de uma política pública destinada a amparar a população
economicamente inativa, essencialmente com benefícios ou com serviços. Esse modelo
foi seguido pela grande maioria dos países, diferindo apenas em aspectos menos
relevantes, como alíquotas de contribuição, e serviu de base para o desenvolvimento do
estado do bem-estar social.
Posteriormente, na década de 40, surge outro modelo proposto por Beveridge.
Diferentemente do bismarckiano, o modelo beveridgeano tem como objetivo atender de
forma assistencial todos os indivíduos da sociedade, isto é, não ficava restrito apenas aos
trabalhadores do mercado formal, mas abrangia todos de forma essencial para garantir o
bem-estar. O sistema proposto por Beveridge ganhou força e se tornou a base da
seguridade social no mundo e no Brasil (PACHECO FILHO, 2012).
3 ‘’Laissez faire, laissez passer: Le monde va de lui même’’ (deixa fazer, deixa passar: o mundo anda por si mesmo)
Luizetti; Neto (2012, pag. Xiii)
4 Chanceler alemão Otto Von Bismack idealizou o sistema em 1881, e ele entrou em vigor no fim daquela década.
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2.2 Regimes de Previdência no Brasil
O sistema previdenciário nacional, nos seus primórdios, tinha em sua maioria
servidores públicos, pois como o Brasil era um país produtor de produtos agropecuários
voltados para a exportação, e este era um setor com elevados níveis de trabalho informal,
a previdência então atendia principalmente os servidores efetivados em repartições
públicas. A expectativa de vida era baixa e, consequentemente, havia poucos inativos, e
o número de trabalhadores frente ao número de aposentados era muito elevado, ambas as
condições favoráveis para a previdência no que diz respeito à manutenção dos benefícios
(AFONSO, 2004).
O Brasil desenvolveu modelos de previdência social para garantir um melhor
atendimento à população, garantindo agilidade no serviço, comodidade, entre outras
melhorias. Os modelos foram o Regime Geral de Previdência Social – RGPS, instituído
pela União e gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, para proteger os
servidores de instituições privadas e servidores públicos de cargos comissionados e com
contratos firmados de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT. Um
segundo modelo foi o Regime Próprio de Previdência Social – RPPS, criado por unidades
da federação para os servidores públicos de cargo efetivo, da União, estados, municípios
e servidores militares, e gerido por algum órgão ou autarquia criada pelo ente federativo.
Por fim, um terceiro modelo consiste na Previdência Complementar que é uma
previdência para que os trabalhadores, sejam eles da área pública ou privada, consigam
complementar suas aposentadorias por meio de uma contribuição adicional.
A respeito do financiamento para arcar com os valores dos benefícios, despesas
administrativas e outras despesas previdenciárias, podemos destacar, segundo Bianco
(2012), três modelos: 1) o de regime de repartição simples, ou também chamado de
regime de socialização, onde as contribuições dos servidores na atividade são utilizadas
no mesmo período para o pagamento dos servidores inativos; 2) o regime de
capitalização, onde as contribuições recolhidas formam reservas e são aplicadas em
investimentos para que possam se valorizar e, no futuro, quando o indivíduo passa de
ativo para inativo, pode usá-las para a sua manutenção; 3) o sistema de repartição de
capitais de cobertura, que é um sistema que contém característica de repartição e
capitalização, no qual em um primeiro momento as contribuições formam reservas até a
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1185
concessão de um benefício. Quando um benefício é concedido são cobradas contribuições
para mantê-lo até sua extinção.
No que diz respeito à transferência de renda, a previdência pode assumir duas
características: a intergeracional e a intrageracional. A primeira consiste nos recursos que
são transferidos entre pessoas de gerações distintas, sendo a geração ativa aquela que
financia os benefícios recebidos, e a geração inativa a que recebe os benefícios. Na
segunda temos como características a transferência de recursos entre indivíduos de uma
mesma geração, ou seja, um indivíduo se financia por meio de formação de reservas
quando se encontra em idade ativa e as recebe quando chega ao período de inatividade.
Se tratando de reformas na previdência, Afonso (2004) formula o seguinte
conceito:
Reforma da previdência é uma expressão de amplo significado. Refere-se a
quaisquer alterações na forma de organização do sistema previdenciário de um
país. O escopo dessas alterações pode ser bastante extenso, indo desde
mudanças nas alíquotas de contribuição, até mudanças de grande monta, como
a troca de regimes previdenciários [...] (AFONSO, 2004. pag. 397).
Ainda sob a ótica de Afonso (2004), reformas previdenciárias podem assumir o
conceito de paramétricas e não-paramétricas. As reformas paramétricas são reformas
menos impactantes, que mudam apenas alguns parâmetros da previdência, como por
exemplo, o valor da alíquota de contribuição; esses parâmetros visam alcançar princípios
como o de equilíbrio entre receitas e despesas, o de justiça atuarial e ainda garantir a
existência de progressividade. Já a reforma não-paramétrica efetua mudanças mais
bruscas e mais impactantes para a previdência, e podem até mudar leis e o sistema
previdenciário em que o RPPS se encontra.
O regime previdenciário mais utilizado no mundo é o de repartição simples, o
qual tem como característica a transferência de recursos entre indivíduos de gerações
distintas. Isso ocorreu porque, quando o sistema previdenciário estava se consolidando
(pós Segunda Guerra), a taxa de crescimento populacional e os aumentos salariais eram
bastante elevados, fazendo com que a taxa de retorno no regime de repartição fosse mais
elevada do que a obtida no regime de capitalização.
Dados os problemas de implantação dos regimes próprios, o Ministério da
Previdência Social implantou a portaria 403/10. Nessa portaria fala-se, entre outras
coisas, de uma espécie de forma paramétrica que é conhecida como segregação de massas.
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Nessa reforma, o RPPS opta por dividir a massa de segurados em dois grupos: um
chamado de regime segregado e outro de não segregado.
O regime próprio segregado é aquele que optou por fazer uma separação dos
servidores admitidos a partir da data de corte estabelecida em lei. Tal separação é feita
para poder sanar déficits que ocorrem devido a problemas de implantação da previdência
municipal e outros problemas de equacionamento. O Ministério da Previdência Social
estabeleceu, para os RPPS que possuem segregação, como “plano financeiro” ou “fundo
I” o regime de repartição simples, e “plano previdenciário” ou “fundo II” o regime de
capitalização. A portaria MPS nº403, de 10 de dezembro de 2008 (publicada no D.O.U
de 12/12/2008) apresenta o seguinte texto no seu artigo 20:
XIX - Segregação da Massa: a separação dos segurados vinculados ao RPPS
em grupos distintos que integrarão o Plano Financeiro e o Plano
Previdenciário;
XX - Plano Previdenciário: sistema estruturado com a finalidade de
acumulação de recursos para pagamento dos compromissos definidos no plano
de benefícios do RPPS, sendo o seu plano de custeio calculado atuarialmente
segundo os conceitos dos regimes financeiros de Capitalização, Repartição de
Capitais de Cobertura e Repartição Simples e, em conformidade com as regras
dispostas nesta Portaria;
XXI - Plano Financeiro: sistema estruturado somente no caso de segregação
da massa, onde as contribuições a serem pagas pelo ente federativo, pelos
servidores ativos e inativos e pelos pensionistas vinculados são fixadas sem
objetivo de acumulação de recursos, sendo as insuficiências aportadas pelo
ente federativo, admitida a constituição de fundo financeiro. (Portaria MPS
nº403/08 § 2º inciso XIX, XX e XXI).
Os regimes próprios não segregados são aqueles que preferiram não fazer a
separação dos segurados e continuar sendo regime por apenas um sistema de custeio.
2.3 Sistema de repartição simples
No sistema de repartição simples, como já mencionado, o financiamento ocorre
por meio de um fluxo de transferência de renda que ocorre entre gerações diferentes, no
qual a geração que financia são os servidores ativos e a geração financiada são os
servidores inativos. Tais transferências são passadas de uma geração para outra,
estabelecendo, em termos sociais, um contrato implícito, onde a geração que está
financiando os benefícios da geração passada espera que, quando chegue a sua idade
inativa, outra geração faça seu financiamento.
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Segundo Luizetti (1987) e Papassidero Neto (1962), o regime de repartição é
uma reprodução das antigas famílias nas quais os adultos mais fortes e saudáveis
forneciam o sustento para os idosos e doentes e, num período futuro, os papéis se
invertiam, e as crianças, quando crescidas, exerceriam o papel de prover o sustento da
família.
A lógica do sistema de repartição é a contribuição social, a generosidade. Nesse
sistema permite-se que não apenas os aposentados sejam financiados pelas contribuições,
mas também aqueles funcionários ativos afastados sejam em salário maternidade, auxílio
doença, ou aqueles afastados em auxílio reclusão (NETO, 1997).
2.4 Sistema de Capitalização5
No sistema de capitalização, as contribuições dos servidores são recolhidas para
a constituição de capital aplicando em ativos financeiros e, no fim da vida ativa do
contribuinte, esse montante pode ser liquidado em prestações sucessivas, a fim de garantir
o pagamento das aposentadorias.
Nesse sistema, há uma percepção mais clara de que o contribuinte está fazendo
um investimento, e é muito mais fácil combater as informalidades existentes no mercado
de trabalho. A acumulação desse capital induz a algum investimento produtivo e
consequentemente a um aumento da riqueza. A gestão se desenvolve em torno de
aplicações com expectativas positivas e de longo prazo. Outro ponto de vista é que,
mesmo se tratando de uma previdência pública, a gestão é voltada para administração de
investimentos que podem ser diversificados, eliminando diversos riscos associados a
ativos.
Muitas críticas voltadas a esse sistema afirmam não haver um caráter social, pois
as contribuições são utilizadas para manter somente o contribuinte, e não a todos; dessa
forma, não atua na redução das desigualdades sociais. O indivíduo que contribui para o
regime de capitalização tem sua poupança aumentada com base na taxa de retorno do
capital, assim, aqueles que obtiverem rendimentos maiores e acumularem mais capitais
terão maiores benefícios.
A taxa de retorno do regime de repartição é baseada no crescimento
populacional, já a taxa de retorno do regime de capitalização é baseada no crescimento
5 As referencias para construção desse subtópico foram tiradas de Carneiro (2012).
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Taxa Bruta de Natalidade Taxa Bruta de Mortalidade Índice de Envelhecimento
da economia. Então, se a taxa da produtividade da população for maior que a taxa da
produtividade do capital, é preferível o sistema de repartição. Por outro lado, se o inverso
acontecer, é preferível adotar o sistema de capitalização.
Outro ponto fraco da capitalização é o fato de esse sistema também estar sujeito
a falhas do mercado de capitais, então, em economias instáveis, a previdência possuirá
riscos financeiros, além dos riscos previdenciários.
2.5 Transição demográfica
A transição demográfica é um fenômeno indicativo das mudanças na dinâmica de
crescimento populacional de um país. A dinâmica da transição mostra que há mudanças
de comportamento de algumas variáveis, como na taxa de mortalidade e taxa de
natalidade, mostrando, assim, como se encontram as características da população de um
país.
Figura 1 - Taxa Bruta de natalidade, mortalidade e índice de envelhecimento -
projeções de 2000 a 2030.
Fonte: IBGE/IBGE população
Elaboração: Autor
A figura 1 mostra que, segundo dados projetados pelo IBGE, as taxas de
mortalidade e fecundidade estão em queda ao longo tempo, o que evidencia o fato de que
menos crianças estão nascendo e, em contrapartida, o índice de envelhecimento está
aumentando. Para explicar tais mudanças de comportamento há diversos motivos, como
a melhoria na qualidade de vida, no acesso a serviços básicos de saúde, na melhoria do
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1189
saneamento e até na escolaridade. Há teorias que tentam sistematizar tais mudanças, uma
delas é a teoria da modernização dos grandes centros urbanos em sociedades
industrializadas proposta por Warren Thompson no ano de 1929. Porém, como essa teoria
foge da problemática abordada nesse trabalho, não caberia explicá-la aqui. Este trabalho
pretende se concentrar nas mudanças sociais e seus impactos na previdência no Brasil.
Analisando a proporção de faixa etária no Brasil, tem-se: em 2000 a proporção
de pessoas em idade ativa que podiam trabalhar sobre pessoas em idade de se aposentar
era de 11,48. Em 2015 esse índice cai para 8,72, e projeções para 2060 mostram que
chegará a 2,25.
Figura 2 - Projeção percentual dos grupos etários 2010-2060.
Fonte: IBGE/IBGE população
Elaboração: Autor
2.6 O RPPS nesse contexto
Embora ainda seja um país com população predominantemente jovem, o Brasil
é um dos países que mais gasta com a previdência em porcentagem do PIB (VIGNA,
2006).
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O modelo de previdência vigente no Brasil foi criado na década de 1960,
justamente quando o país vinha passando pelo maior nível de crescimento demográfico,
e esse fator foi determinante para moldar as leis que regem a previdência.
Desde os anos 60, à medida que o crescimento da população diminuía e a
expectativa de vida aumentava, a relação de contribuintes por beneficiário ia diminuindo,
o que é péssimo para a previdência.
Fonte: Quantitativo dos servidores, MPAS
Elaboração: autor
Figura 3 - Quantitativo de servidores.
Na figura 3, é perceptível a evolução do número de servidores ativos, servidores
inativos, aposentados e pensionistas, de 2010 a 2013. Apesar de no gráfico não estar bem
visível, houve um decréscimo de 0,66% no quantitativo de servidores ativos durante o
período, e no número de servidores inativos houve um crescimento na ordem de 1,35%,
e um decréscimo de 2,21% no número de pensionistas.
3 Metodologia
Para alcançar os objetivos, fez-se uso da metodologia da pesquisa descritiva, a
qual, segundo Cervo, Bervian, Da Silva (2006, p.60-64), tem a função de observar,
analisar os fatos ou fenômenos sem manipulá-los. Dentro da modalidade da pesquisa
descritiva, o presente trabalho ainda se enquadra na forma de estudos descritivos.
A pesquisa bibliográfica também é fundamental para um trabalho, para obter
fundamentação e discutir o tema. Foram utilizadas pesquisas bibliográficas e documentais
através de livros, artigos científicos, dados oficiais dos órgãos relacionados e planilhas
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Ativos Inativos Pensionistas
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eletrônicas, de forma a realizar pesquisa minuciosa e uma visão crítica sobre o tema em
questão (TEIXEIRA, 2010).
Neste trabalho que agora se apresenta, tentamos buscar características para
definir a viabilidade financeira, atuarial e econômica dos regimes próprios previdência
social dos municípios de Pernambuco e também do estadual. A principal referência aqui
adotada foi o trabalho de Nogueira6 que, com o estudo da relação ativo por inativo,
possibilita a compreensão de como, no futuro, a previdência estará, se a considerarmos
sob a ótica da viabilidade financeira, capacidade de conseguir honrar seus compromissos,
despesas com benefícios, sem necessidade de financiamento, aporte financeiro, ou de
retirada do seu ativo financeiro.
A análise de indicadores é um instrumento que contribui para a melhora dos
RPPS, não somente os municipais mais também estaduais e federais. Vale ressaltar que
esses indicadores não têm somente o objetivo de trazer resultados para os servidores neles
interessados, mas também para a sociedade em geral. (NOGUEIRA, 2012).
Este estudo toma base no trabalho de Narlin Gutierre Nogueira, que elenca os
seguintes méritos para uma boa avaliação:
a) Trabalhar somente com dados oficiais fornecidos pelos RPPS ao ministério da
previdência social e disponível para consulta pública e dados do IBGE;
b) Não considerar fatores que tragam subjetividade ao trabalho, como elementos
jurídicos e operacionais, que poderiam, em tese, reduzir a confiabilidade do
estudo.
3.1 Identificação e Caracterização da população
A identificação foi realizada por meio do relatório disponibilizado pelo
Ministério de Previdência Social – MPS no seu site; tal relatório visa informar a relação
dos entes com o RPPS e mostrar quantos RPPS estão ativos. Mais especificamente, foram
considerados nesta pesquisa os dados do estado de Pernambuco.
A identificação e caracterização da população foram feitas primeiramente pelo
relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, disponibilizado no seu
site oficial, o qual informa o número de habitantes por municípios, e assim tem-se a
população total de Pernambuco. Após essa primeira fase, será utilizado o Demonstrativo
6 NOGUEIRA, Narlin Gutierre. O Equilíbrio financeiro e atuarial dos RPPS: de princípio
constitucional a política de Estado. Brasília: MPS. 2012.
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do Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA de todos os municípios pernambucanos
encontrados da primeira parte, disponibilizado pelo MPS, do período de 2009 a 2010,
documento no qual constam informações sobre todos os funcionários abrangidos pela
previdência municipal, sejam eles ativos, inativos ou pensionistas.
Para a análise comparativa dos municípios foram reunidos cinco grupos de
estudo ou clusters7, formados de acordo com o número de habitantes residentes nos
municípios8. Assim, nos primeiros grupos estão os municípios mais populosos e nos
últimos grupos os menos populosos, de acordo com a seguinte disposição:
a) Grupo 1 – Municípios com mais de 400 mil habitantes;
b) Grupo 2 – Municípios com mais de 100 mil até 400 mil habitantes;
c) Grupo 3 – Municípios com mais de 50 mil até 100 mil habitantes;
d) Grupo 4 – Municípios com mais de 10 mil até 50 mil habitantes;
e) Grupo 5 – Municípios com até 10 mil habitantes.
3.2 Caracterização dos regimes próprios de previdência
Os RPPS serão caracterizados por seu sistema de financiamento9. Como já havia
sido mencionado no subcapítulo 2.3, são três os tipos atuais de regimes de previdências
no Brasil: o regime de repartição, o regime de capitalização e o sistema de repartição de
capitais de cobertura.
Para a caracterização das previdências de Pernambuco foram estabelecidos dois
grupos de estudos: os regimes que possuem segregação de massas e o regime que não
possui segregação de massas. Isso porque foi verificado que todos os regimes que
possuem segregação de massas10 usam como sistema de financiamento o regime de
repartição e capitalização simultaneamente, e os regimes que não possuem segregação
possuem apenas o sistema de repartição. Foram utilizados, ainda, os demonstrativos do
resultado da avaliação atuarial de todos os RPPS, já que neles constam todas as
informações pertinentes ao sistema de custeio das previdências.
12 De acordo com Nogueira (2012) “cluster” é um agrupamento de dados semelhantes para fins de comparação.
8 O agrupamento foi feito com referência no trabalho de Nogueira (2012, pag. 214), onde são separados em clusters
todos os RPPS existentes no Brasil para melhor avaliação da situação em que cada grupo se encontra. No presente
trabalho, a agrupação foi realizada com base no número de habitantes nos municípios de Pernambuco indicado no
censo demográfico de 2010.
9 Forma que as contribuições são recolhidas dos contribuintes e usadas para custear os benefícios e administração.
10 Ver a respeito no subcapítulo 2.3 Regimes de previdência no Brasil.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1193
3.3 Análise dos regimes próprios de previdência social
A análise dos RPPS pesquisados neste trabalho será feita com base na relação
ativo e inativo, mostrando diversos aspectos que servirão como estrutura para a
construção do diagnóstico de viabilidade, e que encaminharão as conclusões deste estudo.
O procedimento de coleta dos dados necessários também se dará com base nos
demonstrativos da avaliação atuarial, mas, nesse caso, em todos os demonstrativos dos
municípios estudados durante o período de 2009 a 2013. Serão coletadas informações
pertinentes ao número de servidores ativos, aposentados e pensionistas. Aposentados e
pensionistas ficarão unificados e classificados como servidores inativos, para que seja
feita uma melhor comparação.
Para Nogueira (2012), pode-se definir a relação ativo por inativo conforme
faixas de situação. As faixas de situação foram estabelecidas de acordo com o seguinte
raciocínio lógico:
a) A alíquota de contribuição total de 33,9%. Essa alíquota foi definida com a média
aritmética de todos os 146 RPPS de Pernambuco, as alíquotas patronais, patronais
suplementares e contribuição de servidores como sendo de 14,61%, 8,20% e
11,09% respectivamente;
b) Foi estabelecido como salário médio de R$ 1.405,62. O salário, assim como a
alíquota, foi definido como a soma dos salários médios de todos os municípios e
fazendo-se uma média aritmética;
c) O valor do benefício médio de R$ 1.053,89, seguindo o mesmo raciocínio do
salário, porém usando os benefícios pagos como base.
Observação: Pode-se notar que, ao fazer o salário médio estabelecido
multiplicado por uma alíquota de contribuição de 33,9% total, obtém-se o valor de R$
476,51. Tal valor divido pelo valor médio de benefícios resulta na determinação de que
são necessárias 2,21 pessoas ativas para manter cada aposentado, porém, como não é
possível comparar número fracionais, esse valor foi arredondado para 3 a fim de
estabelecer a primeira faixa de situação.
Diante do exposto, foram estabelecidas as seguintes faixas de situação:
a) Crítica (até 3,0): Um regime de previdência nessa faixa possivelmente já apresenta
um déficit financeiro, que está sendo suprido pela utilização de recursos do ativo
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1194
líquido acumulado no passado ou por meio de aportes11 mensais repassados pelo
estado ou município.
b) Preocupante (mais de 3,0 até 5,0): Esse RPPS ainda não apresenta déficit
financeiro, mas a relação indica que brevemente a arrecadação das contribuições
se tornará insuficiente para o pagamento das obrigações.
c) Razoável (mais de 5,0 até 10,0): Esse RPPS terá superávit entre a arrecadação e
as despesas por um longo período de tempo, permitindo assim que seu ativo
líquido continue tendo acumulações.
d) Confortável (acima de 10,0): O regime de previdência possui 10 ou mais
servidores ativos por inativos, então se encontra numa situação muito favorável
para acumulação de recursos e para aumento do ativo líquido.
e) Sem informação: Não puderam ser classificados, por deficiência nos dados
informados.
3.4 Caracterização do Estado
No estado de Pernambuco também há um RPPS para os servidores efetivos
contratados: FUNAFIN –Fundo Financeiro de Aposentadoria e Pensões dos Servidores
do Estado de Pernambuco, como é conhecido, é responsável por patrocinar as
aposentadorias e pensões dos servidores do estado, sendo mantido por contribuições do
governo de Pernambuco e de seus funcionários à FUNAPE – Fundação de
Aposentadorias e Pensões dos Servidores do Estado de Pernambuco, que é responsável
por administrar o FUNAFIN (FUNAPE, 2015).
Na caracterização do RPPS estadual serão seguidos os mesmos procedimentos
dos municipais, sendo primeiramente a caracterização da população, a caracterização do
regime de previdência e por fim a análise do regime na relação ativo por inativo.
4 Resultados
Neste capítulo são discutidos os resultados obtidos para atingir os objetivos
específicos propostos. Para tanto, apresentam-se inicialmente as características da
11 A lei nº 9.717/98 no Art. 2º-A, § 1º estabelece que a União, os estados e municípios são responsáveis pela
cobertura de eventuais insuficiências financeiras do respectivo regime próprio, decorrentes do pagamento de
benefícios previdenciários (BIANCO. 2013, pag. 38).
Isso estabelece que os entes responsáveis pelos RPPS devam transferir recursos, caso as arrecadações sejam
inferiores aos pagamentos, para que os regimes próprios de previdência possam pagar seus compromissos.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1195
população abrangida seguindo os aspectos dos RPPS municipais; depois, num segundo
momento, a relação entre servidores ativos e servidores inativos; e por fim a qualificação
da previdência dos servidores estaduais.
4.1 População abrangida
Em 201012, o número de pessoas acobertadas diretamente pelos RPPS
municipais e pelo estadual foi de 358.72113 (trezentos e cinquenta e oito mil setecentos e
vinte e uma). Isso mostra que 4,10% de todas as pessoas do estado de Pernambuco e
4,63% das pessoas dos municípios que possuem previdência própria são dependentes
diretamente dos regimes próprios de previdência social.
Tabela 1 - Percentual população total do estado sobre a população abrangida pelos RPPS
Grupo População total População Abrangida14 Percentual
G1 2.182.324 32.900 1,51%
G2 2.080.908 36.142 1,74%
G3 1.534.175 30.283 1,97%
G4 2.872.263 64.592 2,25%
G5 126.778 5.359 4,23%
Total 8.796.448 169.276 1,92%
Fonte: Censo IBGE 2010 disponível em www.cidades.ibge.gov.br / ministério da previdência
social disponível em www.mpas.gov.br Elaboração: Autor
A tabela 1 mostra a relação da população total de Pernambuco no ano de 2010
sobre a população abrangida pelos regimes próprios de previdência. Percebe-se que no
grupo com menor população (G5) uma maior parcela da população é abrangida. Quanto
maior a relação percentual, maior é o grau de dependência da população com o RPPS, já
que ele é o responsável pelo pagamento dos benefícios previdenciários.
Analisando tal relação com o crescimento da população abrangida ao longo do
tempo, tem-se a seguinte representação.
Tabela 2 - População abrangida ao longo do tempo
12 Foi usado como ano de comparação 2010 porque são deste ano os números oficiais do censo demográfico. 13 A cobertura total direta dos RPPS municipais somam 169.276 pessoas e a cobertura do RPPS estadual soma 189.445.
Fonte: Demonstrativo do resultado da avaliação atuarial – DRAA Ministério da previdência social – MPAS. 14 Pode-se entender como população abrangida todos os servidores ativos, aposentados e pensionistas do município,
pois, no caso dos servidores ativos, sua contribuição será enviada ao RPPS a fim que de seja contabilizada para que um
dia possa se aposentar, e no caso dos aposentados e pensionistas depende-se das contribuições pagas.
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Grupo 2009 2010 2011 2012 2013
Populaç
ão total
Populaç
ão total
População
total
População
total
População
total Tx. Média de
Cresc.15
G1 31.997 32.900 33.630 35.386 35.792 2,267%
G2 30.846 36.142 35.069 36.028 35.653 2,939%
G3 28.741 30.283 32.206 33.267 33.028 2,820%
G4 56.792 64.592 66.177 68.228 69.357 4,078%
G5 5.206 5.359 4.954 5.875 6.004 2,893%
Fonte: Demonstrativo do resultado da avaliação atuarial – DRAA / Ministério da Previdência Social
disponível em www.mpas.gov.br
Elaboração: Autor
Na tabela 2, tem-se o crescimento da população abrangida de 2009 a 2010. É
perceptível que, com o passar do tempo, há um crescimento em todos os grupos de estudo;
a taxa de crescimento médio anual revela que há uma forte tendência de que tal aumento
da população continuará.
No grupo G1, a população passou de 31.997 para 35.792 e teve um crescimento16
de 11,86%. No grupo G2, a população passou de 30.846 para 35.653, o que representa
um crescimento de 15,58% durante esse período. O grupo G3 teve aumento em sua
população, de 28.741 em 2009 para 33.028 em 2013, o que consiste em crescimento de
14,92%. Já no grupo G4, o aumento foi de 56.792 para 69.357, tendo um crescimento de
22,12%, o maior observado. E, por fim, o grupo G5 teve um aumento de 15,33%, onde
sua população de 5.206 passou para 6.004.
4.2 RPPS municipais
Dos 145 RPPS municipais analisados, 42 possuem mais de um regime e por
isso são denominados segregados, enquanto 103 possuem somente um regime
previdenciário, e são chamamos de não segregados.
O regime próprio segregado é aquele que optou por fazer uma separação dos
servidores admitidos a partir da data de corte estabelecida em lei. Tal separação é feita
para poder sanar déficits que ocorrem devido a problemas de implantação da previdência
municipal e outros problemas de equacionamento.
15 Os cálculos foram feitos com base na equação do crescimento médio (população presente /população
passada)1/n - 1. (n = número de anos) 16 ( população Presente) - (população Passada) / (população Passada)
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Quanto à caracterização da população abrangida por esses RPPS municipais,
tem-se a seguinte tabela:
Tabela 3 - Crescimento da população nos regimes próprios que possuem segregação
de massas
Fonte: Demonstrativos do Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA no site do Ministério da Previdência Social
(www.mpas.gov.br)
Elaboração: Autor
Na tabela 3, pode-se observar o crescimento populacional ao longo de 5 anos. A
taxa de crescimento da população no fundo II na população ativa é de 76,4%. A taxa
referente ao crescimento dos servidores inativos não foi obtida, pois, no ano de referência,
não havia funcionários inativos o número de inativos é muito pequeno; isso se dá porque
a maioria dos institutos de previdência optou por segregar os trabalhadores em meados
de 2008.
Já no fundo I tem-se que a taxa de crescimento dos ativos foi de apenas 9,44%
e, em contrapartida, o crescimento dos inativos foi de 40,21%, o que deixa claro que esse
fundo instituído na segregação de massas está atuarialmente desequilibrado.
Os outros 103 municípios até o presente momento optaram por não fazer ou até
não necessitaram, ainda, da segregação de massas.
Nos municípios que não possuem segregação de massas, não foi possível definir
nenhuma relação com aqueles que possuem, pois, em ambos os lados, há cidades de
características variadas, como sendo consideradas grandes e pequenas, além de
apresentarem uma grande variação no PIB per capita.
De volta à análise do crescimento populacional, tem-se a tabela 5, onde são
apresentados os números de servidores ativos e inativos.
Tabela 4 - Crescimento da população que não possuem segregação de massas
Fonte: Ministério da Previdência Social – MPAS demonstrativo do resultado da avaliação atuarial - DRAA
Elaboração: Autor
Ativo Inativo Ativo Inativo Ativo Inativo Ativo Inativo Ativo Inativo Ativo Inativo
Fundo I 40.664 16.217 42.312 18.456 39.893 20.122 39.131 22.141 36.826 22.738 9,44% 40,21%
Fundo II 15.253 - 19.317 65 21.619 93 25.589 123 26.903 179 76,40% -
2009 2010 2011 2012 2013 Tx. Cresci.
Ativo Inativo Ativo inativo ativo inativo ativo inativo Ativo Inativo ativo Inativo
60.900 11.628 66.124 13.252 66.337 14.355 66.445 15.921 66.638 16.868 9,42% 45,06%
2009 2010 2011 2012 2013 Tx. Cresci
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Situação Total
G1 0 0% 0 0% 0 0% 2 100% 0 0% 2
G2 0 0% 0 0% 0 0% 7 100% 0 0% 7
G3 0 0% 0 0% 0 0% 8 100% 0 0% 8
G4 0 0% 0 0% 1 4% 19 79% 4 17% 24
G5 0 0% 1 100% 0 0% 0 0% 0 0% 1
Total 0 0% 1 2% 1 2% 36 86% 4 10% 42
Crítico Preocupante Razoável Confortável Sem informação
Na tabela 4 pode-se notar que, de modo semelhante ao que aconteceu com o fundo I
nos municípios que possuem segregação, os RPPS que não possuem segregação têm uma
taxa de crescimento da população ativa de apenas 9,42%, e a de inativos é de 45,06%, o
que revela que existe um desequilíbrio atuarial.
4.3 Relação entre servidores ativos e servidores inativos
Essa relação mostra o número de servidores existentes nos municípios pelo
número de servidores inativos, aposentados e pensionistas que estejam recebendo
benefício vinculado ao regime próprio.
O resultado dessa relação mostra se o RPPS precisa consumir do ativo líquido
para honrar seus compromissos ou, então, se está gerando superávit financeiro para maior
acumulação desse ativo. Quanto maior esse resultado é, significa que há menos pressão
de consumo do ativo e uma maior possibilidade de acumulação; quando contrário, há uma
forte tendência para utilização do ativo para pagar os inativos.
As tabelas abaixo apresentam o número de RPPS por grupo classificados de
acordo com esse indicador. Serão apresentados dois tipos de tabelas, um com os regimes
próprios que possuem segregação de massas, e outro dos que não possuem segregação.
Tabela 5 - Situação dos RPPS do estado de Pernambuco por grupo de estudo e com segregação de
massas (fundo financeiro)
Fonte: Demonstrativos do Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA no site do Ministério da Previdência Social
(www.mpas.gov.br)
Elaboração: Autor
Tabela 6 - Situação dos RPPS do estado de Pernambuco por grupo de estudo e com segregação de
massas (fundo previdenciário)
Fonte: Demonstrativos do Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA no site do Ministérios da Previdência Social
(www.mpas.gov.br)
Elaboração: Auto
Situação Total
G1 2 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 2
G2 7 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 7
G3 7 88% 0 0% 1 13% 0 0% 0 0% 8
G4 15 63% 8 33% 0 0% 0 0% 1 4% 24
G5 1 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 1
Total 32 76% 8 19% 1 2% 0 0% 1 2% 42
Critico Preocupante Razoável Confortável Sem informação
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Na tabela 5, é possível perceber a situação do fundo I dos RPPS municipais que
possuem segregação de massas: deles, 76% estão numa situação considerada crítica, estão
precisando recorrer ao ativo financeiro para poder honrar seus compromissos; já 19% das
previdências estão numa situação preocupante, caso ainda não estejam usando o ativo
financeiro, logo precisarão usá-lo; já 2% estão em uma situação razoável e ainda não
precisam do ativo financeiro para poder pagar os benefícios.
Já na tabela 6, tem-se a situação do fundo II, que revela outra realidade, pois 86%
dos RPPS estão numa situação confortável, na qual suas contribuições são o suficiente
para pagar seus compromissos e ainda há formação de reservas. Enquanto isso, 2%
encontram-se na situação razoável e 2% na situação preocupante.
Tabela 7 - Situação dos RPPS do estado de Pernambuco por grupo de estudo e sem segregação de
massas
Fonte: Demonstrativos do Resultado da Avaliação Atuarial – DRAA no site do Ministério da Previdência Social
(www.mpas.gov.br) Elaboração: Autor
A situação dos regimes próprios de previdência que não possuem segregação
continua sendo: 25% dos RPPS estão numa situação considerada crítica, 49% estão na
situação preocupante, 18% estão numa situação razoável e apenas 6% estão numa
situação confortável.
4.4 O Estado
A caracterização da população abrangida pelo RPPS estadual se dá de forma
diferente dos municipais. Isso ocorre porque no RPPS estadual os funcionário estão
localizados em diversos municípios pernambucanos.
O crescimento populacional é apresentado na tabela a seguir:
Tabela 8 - Servidores vinculados à FUNAPE
Fonte: Ministério da Previdência Social – MPS, Demonstrativo do Resultado da Avaliação Atuarial - DRAA
Elaboração: Autor
Situação Total
G1 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0
G2 0 0% 1 33% 1 33% 1 33% 0 0% 3
G3 5 45% 3 27% 3 27% 0 0% 0 0% 11
G4 16 22% 36 49% 14 19% 4 5% 3 4% 73
G5 5 31% 8 50% 2 13% 1 6% 0 0% 16
Total 26 25% 51 49% 19 18% 6 6% 3 3% 103
Crítico Preocupante Razoável Confortável Sem informação
Ativo inativo ativo inativo ativo inativo Ativo inativo ativo inativo Ativo inativo
110.856 74.892 112.477 76.968 112.770 78.873 112.625 81.527 110.104 83.921 -0,68% 12,06%
2009 2010 2011 2012 2013 Tx. Cresci.
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Pode-se notar que, com o passar do tempo, os funcionários ativos têm um
decréscimo de 0,68%, já os funcionários ativos crescem na ordem de 12,06%, fato que
consiste em uma tendência clara dos RPPS que não possuem segregação de massas.
A previdência dos servidores estaduais possui como sistema de financiamento o
regime de repartição simples.
O RPPS do estado de Pernambuco tem uma relação de 1,31 funcionários ativos
para cada inativo, ou seja, está numa situação considerada crítica e precisa recorrer a
complemento do ativo financeiro, ou até mesmo do governo do estado como aporte
financeiro.
5 CONCLUSÕES
A previdência social contribui para que os trabalhadores consigam ter uma
velhice estável, com a garantia de uma renda mínima caso haja algum imprevisto que os
impeça de trabalhar. Neste trabalho, buscou-se identificar a viabilidade do modelo de
previdência adotado no estado de Pernambuco frente ao problema que é o financiamento
dos regimes próprios de previdência social, dado por uma realidade totalmente diferente
da ideal para a saúde financeira dessas instituições.
O objetivo primeiro deste trabalho foi o de identificar, qualificar e analisar a
população do estado de Pernambuco e suas previdências. Viu-se que 78% dos municípios
pernambucanos possuem RPPS e que sua cobertura populacional direta é 4,10% de toda
a população do estado. Observou-se, também, a taxa de crescimento populacional, que
mostra que ao longo do tempo a tendência de cobertura populacional das previdências
municipais é de crescimento, o que deixa claro que é preciso tomar alguma decisão sobre
a previdência, caso contrário, esse crescimento trará impactos ainda piores.
Na segunda etapa deste trabalho, buscou-se analisar as previdências municipais
e caracterizá-las a fim de que fosse possível uma comparação. Obtiveram-se como
resultado os seguintes dados: 71% das previdências dos municípios possuem RPPS
definidas pelo regime de repartição simples, e se caracterizam como não tendo segregação
de massas; os outros 29% dos RPPS municipais são regidos por mais de um sistema,
sendo um de repartição e outro de capitalização. Nesse mesmo objetivo, foram
diferenciadas as taxas de crescimento populacional para os servidores ativos e para os
servidores inativos, onde foi observado que a população inativa tende a ter crescimentos
maiores que a ativa. O que resulta como um fato péssimo para o sistema de repartição.
Universidade Regional do Cariri - ISSN 2316-3089 – Crato – Ceará – Brasil - 2015 1201
Nos municípios que optaram pela segregação das massas, foi observado que no fundo II
estão sendo corrigidos problemas de implantação, já que os servidores primeiro estão
ingressando na previdência contribuindo para só depois se aposentarem, o que consiste
em uma realidade totalmente diferente daquela época em que foram implantados os
RPPS.
O terceiro objetivo deste trabalho consistiu em mostrar a relação de funcionários
ativos por inativos e analisá-la como um indicador, a fim de fazer comparações entre os
municípios. As conclusões desse procedimento foram:
a) Em ambos os tipos de municípios, com segregação de massas e sem
segregação, se é utilizado o regime de repartição simples, a avaliação que se
dá dessas previdências, em média, é crítica, preocupante e razoável, sendo
40%, 41% e 14% respectivamente. Tal fato revela que o sistema de repartição
é o regime que mais sofre com a transição demográfica e seus efeitos já estão
trazendo preocupações, pois os RPPS estão usando seu ativo financeiro ou
recorrendo a aportes dos entes para poder honrar seus compromissos.
b) Também temos as previdências municipais que têm o sistema de segregação
de massas, mas são regidos pelo regime de capitalização. Estas, como possuem
um sistema de financiamento diferenciado, não estão sofrendo com a
transição, já que seu sistema visa ao acúmulo e pagamento das contribuições
individualmente.
c) Os grupos de estudos que mais sofreram com efeitos da transição foram os de
maiores população, isto é, G1 e G2, onde 100% dos RPPS estão em um estado
crítico para os municípios que possuem segregação.
Foi realizada, ainda, a caracterização do RPPS dos servidores estaduais, onde se
evidenciou que se trata de uma das previdências com maior número de servidores e é
regida pelo sistema de repartição simples. O crescimento populacional também se mostra
como nos municípios em que os funcionários ativos possuem taxas menores que os
inativos. Por essas razões a previdência estadual está classificada como em situação
crítica, pois, sofre as mesmas consequências dos municípios.
Assim, é possível concluir que a viabilidade atual dos regimes próprios de
previdência social, dentro do contexto de transição demográfica, está, em parte,
comprometida. Isso devido ao sistema de repartição simples não ser o adequado para a
realidade demográfica atual. Os RPPS que optaram pela reforma paramétrica, que é a
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segregação de massas, estão passando por uma transição para a viabilização dos RPPS
em longo prazo, isso por que possuem dois regimes: o fundo financeiro, que está em
déficit porque está sendo regido pelo sistema de repartição, e também o fundo
previdenciário, que é regido pelo sistema de capitalização. A tendência do fundo
financeiro é entrar em extinção, pois não há mais o ingresso de servidores ativos e o RPPS
junto com o ente federativo possuem obrigação de honrar os compromissos até que todos
os servidores vinculados sejam desligados; em contrapartida, o fundo financeiro possui
todos os novos vínculos e é regido por um sistema feito para suportar as mudanças
demográficas.
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