Análise térmica em ovinos no semiárido
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
NÚCLEO TEMÁTICO:
Projeto:
INDICADORES DE ESTRESSE TÉRMICO EM OVELHAS LANADAS E DESLANADAS MANTIDAS SOB CONFINAMENTO EM REGIÃO SEMIÁRIDA.
Denael Coelho Da SilvaGraduando em Engenharia Mecânica
David Ramos da RochaProf.Orientador
Outubro/2014
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................3
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................................4
2.1. Clima Semiárido...........................................................................................................4
2.2. Termorregulação Corporal...........................................................................................5
2.3. Estresse Térmico Em Ovinos........................................................................................6
3. OBJETIVOS...........................................................................................................................7
3.1. Geral:................................................................................................................................7
3.2. Específicos:........................................................................................................................7
4. METODOLOGIA....................................................................................................................8
4.1. Local do Experimento..................................................................................................8
4.3. Delineamento experimental............................................................................................8
4.3.1. Procedimento geral.................................................................................................8
4.3.2. Medições dos parâmetros ambientais:...................................................................9
4.3.3. Medições nos parâmetros de e temperatura retal, frequência respiratória e batimentos cardíacos:.............................................................................................................9
4.3.4. Cálculo do índice de temperatura e umidade (ITU) e do índice de tolerância ao calor (ITC).................................................................................................................................9
4.3.5. Análise Estatística..................................................................................................10
5. RESULTADOS E DISCURSSÃO..............................................................................................116. CONCLUSÃO........................................................................................................................167. REFERÊNCIAS.....................................................................................................................17
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1. INTRODUÇÃO
Para obter resultados expressivos na produtividade da pecuária torna-se
importante considerar a relação animal x ambiente, considerando que o animal pode
responder a diferentes variações climáticas. Tanto a produtividade ou mesmo a
sobrevivência animal, depende principalmente da sua capacidade em manter a
temperatura corporal dentro de certos limites. Este processo denomina-se
homeotermia, ou seja, a manutenção da temperatura corporal em níveis constantes,
independentemente de variações da temperatura ambiente (JOHNSON, 1987).
PÁDUA & SILVA (1996) relatam que ao se optar pela criação de determinadas
raças ovinas, para produção nos trópicos, deve-se levar em conta sua adaptação a este
ambiente e os efeitos deste sobre as características fisiológicas e de desempenho dos
animais. Os critérios de tolerância e adaptação dos animais são determinados por
medidas fisiológicas, tais como temperatura corporal, frequência respiratória e
batimento cardíaco (ABI SAAB & SLEIMAN, 1995). Quando os mecanismos de
dissipação de calor não estão sendo eficientes ou estão ocorrendo de forma
desordenada provoca-se um aumento na temperatura retal, assim como a frequência
respiratória. Tais fatores acarretam em interferências como na ingestão de alimentos,
ruminação e desvio de energia dos processos metabólicos.
Esses parâmetros fisiológicos variam de acordo com a região, o clima, sua
alimentação, bem como as diferentes raças. Animais de raças diferentes submetidos às
mesmas condições podem apresentar resultados diferentes nos parâmetros
fisiológicos. Ovinos lanados possuem um isolamento térmico, ou seja, uma barreira a
mais para a dissipação de calor, que pode ser prejudicial em condições climáticas
adversas. .
Dessa forma se torna necessário o estudo das variações fisiológicas desses
animais buscando os melhores manejos para amenizar os impactos climáticos, bem
como promover conforto térmico, principalmente nas épocas mais quentes do ano.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Clima Semiárido
A região semiárida encontrada no brasil representa 86% do território
nordestino, compondo-se ainda do norte de minas gerais (MARENGO, 2008). Toda
essa área é caracterizada pela vegetação da caatinga, que constitui o sertão, é coberta
por solos rasos e de baixa fertilidade, devido ao seu clima seco e quente, com chuvas
abaixo de 800 mm por ano concentrando-se nas estações de verão e outono
(SUASSUNA, 2002).
Apesar de existir um período chuvoso, as estações de chuvas, a sua distribuição
ao longo da região não é uniforme, uma vez que fatores climáticos como, massas de ar
convergentes, proximidades com a linha equatorial, e fenômenos como El Niño,
tornam instável a precipitação de chuvas em alguns lugares. Dessa forma, mesmo que
haja incidência de chuva numa determinada região não implica afirmar que esta
recorrerá. Tais fatores tornam a região desfavorável, comprometendo todo o seu
desenvolvimento agropecuário, bem como o armazenamento de água.
As baixas latitudes condicionam à região temperaturas elevadas (média de 26°
C), número também elevado de horas de sol por ano (estimado em cerca de 3.000) e
índices acentuados de evapotranspiração, devido à incidência perpendicular dos raios
solares sobre a superfície do solo (no semiárido, a evapotranspiração, em média está,
cerca de 2.000 mm/ano, e em algumas regiões a evapotranspiração pode atingir cerca
de 7 mm/dia (SUASSUNA, 2002). Por ter essas características, a região tem um ganho
considerável dos efeitos do aquecimento global, contribuindo para o processo de
desertificação. De acordo com o IPCC (2007), para as próximas duas décadas, projeta-
se um aquecimento de cerca de 0,2ºC por década para uma faixa de cenários de
emissões do RECE (Relatório Especial sobre Cenários de Emissões), baseados em
análises de séries históricas de variáveis meteorológicas.
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O clima é o principal fator que atua interferindo sobre a vida dos animais,
podendo ser favorável ou não a sua sobrevivência. Portanto, a capacidade dos animais
em se adaptar a um determinado ambiente depende de um conjunto de ajustes
fisiológicos (SILVA, 2005). O conhecimento dos fatores ambientais que modificam o
desempenho dos animais, bem como a escolha de genótipos adaptados às condições
climáticas que lhes são impostas é um ponto que deve ser considerado em um sistema
de exploração pecuária (MARQUES, 2001).
2.2. Termorregulação Corporal
Para assegurar o bom funcionamento das reações bioquímicas e enzimáticas o
homem, assim como, todos os animais homeotérmicos necessitam de regulação
térmica. Esses mecanismos reguladores afetam a produção de calor celular, a
condutância de calor pelas células e a perda ou ganho de calor pelas superfícies
corporais. Quando não funcionam corretamente eles podem provocar à destruição
celular.
A temperatura corporal pode ser medida de forma oral, retal e/ou auxiliar,
sendo que na retal tem-se uma maior efetividade em relação as outras, devido a não
ter variação com o ambiente e de estar próximos aos órgãos que produzem 75% do
calor quando em repouso e 25% em atividade física. A pele possui uma característica
de poder suportar temperaturas elevadas até 45°, sendo que a dissipação de calor na
superfície é praticamente uniforme, sendo que nas as extremidades atuam como áreas
principais de dissipação. A temperatura corporal varia bastante ao longo do dia, sendo
mais baixa pela manhã, aumentando nas primeiras horas do dia até atingir seu valor
máximo pela tarde ou no final, considerando que o individuo não tenha passado por
exposição a elevadas temperaturas. Para manter a homeostase, o corpo tende a
manter um equilíbrio com o meio seja absorvendo ou dissipando calor, usando
também os dispositivos como as reservas corporais como isolantes térmicos. A
condução do calor que produzido internamente, necessária para evitar a destruição
celular, é lenta, porém essa condução é melhor nas regiões de junções onde há a
circulação sanguínea, que por condução transfere o calor para pele. É nesta que ocorre
as demais transferências de calor: condução, convecção e irradiação.
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Quando o corpo precisa manter-se em conforto térmico ele dispõe do seu
sistema de termorregulação, ou seja, busca mecanismos para regular sua temperatura.
Ele é constituído por receptores sensitivos que transmitem a informação da
temperatura da pele e/ou do corpo para o integrador central que processa a
informação a partir de um valor padrão e envia a ordem para o sistema de órgão
efetores produzir ou dissipar calor. Há também dois tipos de termorregulação, a
fisiológica, na qual há mudanças orgânicas fisiológicas decorrentes do estresse térmico
e a chamada termorregulação comportamental, em que os animais utilizam métodos
comportamentais para equilibrar sua temperatura, como abrigar-se à sombra.
2.3. Estresse Térmico Em Ovinos
Considera-se que os animais estão expostos a estresse térmico quando a
temperatura ambiente estiver acima da zona de conforto térmico e a energia for gasta
para manter a temperatura corporal, por termorregulação (FUQUAY, 1981). Segundo
MOBERG (2000) estresse é definido como a resposta biológica ou conjunto de reações
obtidas quando um indivíduo percebe uma ameaça à sua homeostase.
Quando sob efeito do estresse térmico verifica-se variações em alguns
parâmetros fisiológicos, são eles: o aumento da frequência respiratória e da frequência
cardíaca, e o aumento da temperatura retal. A temperatura retal nos permite avaliar
se em condições de estresse térmico esses animais estão conseguindo manter sua
temperatura dentro dos limites normais, que segundo SWENSON (1988) os ovinos
apresentam uma temperatura retal média de aproximadamente 39,1°C. As alterações
nas frequências cardíaca e respiratória permitem saber quais raças toleram melhor o
calor dessa região. Esses parâmetros evidenciam tentativas orgânicas de sair da
condição de estresse térmico a que esses animais estão submetidos. HALES E BROWN
(1974) reportam que a taxa de respiração basal da espécie ovina é cerca de 25 a 30
mov/min (movimentos/minuto), podendo subir. Alem desses fatores o trato
respiratório também contribui para perda de calor e água; em condições ideais de
temperatura (12°C) perdem 20% do calor corporal através da respiração. Quando
expostos a altas temperaturas (35°C), esta perda de calor latente via respiração chega
até 60% do calor total perdido (YOUSEF, 1985).
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3. OBJETIVOS
3.1. Geral:- Avaliar e comparar a tolerância ao calor de ovelhas lanadas e deslanadas mantidas
em confinamento durante o mês de outubro no semiárido pernambucano.
3.2. Específicos:
- Avaliar os parâmetros fisiológicos (frequência respiratória, frequência cardíaca e
temperatura retal) dos animais em diferentes momentos de coleta durante o dia;
- Avaliar a variação dos parâmetros de temperatura do ar e umidade relativa nos
momentos de coleta;
- Calcular o índice de temperatura e umidade (ITU) e de tolerância ao calor (ITC) dos
animais nos diferentes momentos de coleta durante o dia;
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4. METODOLOGIA
4.1. Local do Experimento
O experimento foi conduzido no setor de ovino-caprinocultura, situado no
campus de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco
(UNIVASF), localizada no município de Petrolina-Pe, localizado à latitude de 9°19'28''
Sul e longitude de 40°33'41'' Oeste e classificação climática de Koeppen do tipo Bsh.
4.2. Animais Experimentais
Neste estudo foram utilizadas 06 fêmeas ovinas adultas mestiças, três lanadas e
três deslanadas, com idade média de 03 anos, pesando em média 55 Kg ± 1,2 Kg e não
lactantes. Os animais deslanados possuem pelagem preta com pele pigmentada e os
lanados possuem lã de cor clara e pele despigmentada. Os animais serão mantidos em
sistema de confinamento total, permanecendo à sombra em instalação de alvenaria
coberta por telhas de barro. A dieta dos animais é composta de uma porção volumosa
(capim elefante) e uma porção concentrada à base de milho e farelo de soja,
adicionada de sais, com livre acesso à água.
4.3. Delineamento experimental
4.3.1. Procedimento geral
As coletas de dados e amostras ocorreram no mês de outubro durante duas
semanas. Neste estudo, os dados e amostras foram obtidos três vezes por semana nos
horários de 10, 12 e 14h. Para o estudo e avaliação do conforto térmico da instalação,
as variáveis ambientais (temperatura do ar e umidade relativa) e o índice de conforto
térmico foram obtidos e calculados diariamente, nos horários supracitados. Para
obtenção dos parâmetros fisiológicos (frequência respiratória e cardíaca e
temperatura retal) e cálculo dos índices de tolerância ao calor (ITC).
4.3.2. Medições dos parâmetros ambientais:
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Neste estudo, os dados climáticos referentes aos parâmetros de temperatura
do ar e umidade relativa dentro do aprisco foram obtidos por meio de um termo-
higrômetro digital, localizado na parte interna do aprisco e de um anemômetro portátil
digital, respectivamente.
4.3.3. Medições nos parâmetros de e temperatura retal, frequência respiratória
e batimentos cardíacos:
A temperatura retal foi medida usando um termômetro clínico veterinário
digital (Incoterm, São Paulo, Brasil), inserido no reto do animal até uma profundidade
de 07 (sete) centímetros de forma que o bulbo esteja em contato com a mucosa do
animal por dois minutos (SOUZA et al., 2013). A frequência respiratória foi
determinada por meio de avaliações visuais, observando-se os movimentos de flanco,
contados durante 15 segundos e multiplicando por quatro, determinando assim os
movimentos por minuto (COSTA, et al., 2014). A frequência cardíaca foi mensurada por
auscultação dos batimentos cardíacos com o auxílio de um estetoscópio flexível,
diretamente da região torácica esquerda, contando o número de batidas durante
quinze segundos e multiplicando por quatro, determinando o batimento por minuto
(SOUZA et al., 2013).
4.3.4. Cálculo do índice de temperatura e umidade (ITU) e do índice de
tolerância ao calor (ITC)
Com os dados climáticos obtidos, determinou-se o índice de conforto térmico:
índice de temperatura e umidade (ITU) o qual foi calculado a partir do modelo definido
por THOM, (1959): ITU: (0,8 x T + (UR /100) x (T-14,4) + 46,4), onde: T = temperatura
do ar (oC) e UR = umidade relativa do ar (%); Para se obter a tolerância ao calor dos
animais foi calculado o índice de tolerância ao calor (ITC) de Benezra, onde foi
calculado de acordo com MULLER (1989) pela fórmula: CA = TR/38,33 + FR/23, onde:
TR: temperatura retal; FR: frequência respiratória, durante os dias de coleta.
4.3.5. Análise Estatística
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As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa SYSTAT (v. 12,
USA, 2012). Os parâmetros fisiológicos (frequência respiratória, cardíaca e
temperatura retal), climáticos (temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do
vento), índice de conforto térmico e de tolerância ao calor, foram expressos em
médias e erro-padrão, nos horários e dias de coleta, sendo avaliados por ANOVA
utilizando o modelo GLM (General Linear Model). Em seguida as médias das variáveis
mensuradas foram comparadas entre os horários e os dias, pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
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A capacidade dos animais em se adaptar a um determinado ambiente depende de um conjunto de ajustes fisiológicos (SILVA et al., 2005). Conforme mostrado na Figura 1, pode-se observar que os animais apresentaram alterações na frequência respiratória, com leve aumento na frequência respiratória no período de 10 às 12 horas. Já no período de 12 às 14 horas houve um aumento significativo, nesta variável fisiológica, o que pode ser justificado pela maior radiação solar incidente no horário de 12h e pelo maior valor de temperatura do ar no horário de 14h (TUBELIS, 1982), associado aos baixos valores de umidade relativa (29%) durante o experimento. Observa-se ainda que os animais lanados gastam mais energia com o processo de termorregulação do que os animais deslanados, e que poderia estar sendo destinado aos processos produtivos dos animais. Além disso, nota-se que na fase inicial do dia as deslanadas conseguem manter uma frequência mais baixa do que as lanadas, porém no horário das 14h seus resultados são próximos, evidenciando assim que para ambas esse é o período mais critico.
10 12 1440
50
60
70
80
LANADODESLANADO
Horários
Freq
uênc
ia R
espi
rató
ria (m
ovi-
men
tos/
min
)
Figura 1. Variação da frequência respiratória de animais lanados e deslanados nos diferentes horários de coleta, no mês de outubro, mantidos em confinamento no semiárido pernambucano.
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10 12 1480
90
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LANADODESLANADO
Horários
Freq
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ati-
men
tos/
min
)
Figura 2. Variação da frequência cardíaca de animais lanados e deslanados nos diferentes horários de coleta, no mês de outubro, mantidos em confinamento no semiárido pernambucano.
Com relação a frequência cardíaca (Figura 2) observa-se o mesmo padrão de comportamento, da frequência respiratória, salientando a notável diferença entre os tipos, onde as ovelhas lanadas tem uma frequência bem maior, de aproximadamente 35% em relação as deslanadas o que mostra o quão desconfortável está o ambiente para estes animais. Comparando os horários estudados, observa-se que ambas tendem a aumentar a frequência cardíaca com o passar do tempo, sendo que no horário das 14 horas ocorre o maior valor mensurado. Essas variáveis (FR e FC) estão alteradas com o intuito de manter a temperatura corpórea dentro da normalidade. Entretanto, observa-se que a temperatura retal (Figura 3) de ambos os tipos seguem um padrão similar, no qual o período da manha tende a ser constante e das 12 as 14h ocorre um aumento linear. Nota-se que já no horário de 10h, os animais encontram-se com a temperatura corporal elevada, uma vez que para a espécie ovina, a temperatura corporal normal é de 38,50C (HAFEZ, 1973). Segundo HANSEN (2005), acréscimos de 0,50C provocam declínio na taxa de concepção de 12,8%, reduzindo o consumo de alimentos (CONSTANZO et al., 1997). Já DHIMAN & ZAMAN, (2001) consideram que a TR com valor superior a 39,2°C já é um indicativo de estresse por calor. Assim sendo, ao se comparar com os resultados mostrados neste estudo, verifica-se que as temperaturas retais principalmente para animais lanados ,encontram-se acima da faixa ideal em todos os horários estudados.
Este comportamento diário concorda com os dados encontrados por PERISSINOTO, (2003), NÄÄS & ARCARO JÚNIOR, (2001), DAMASCENO et al., (1998) e MARTELLO (2002), que relatam que a TR sofre interação com a hora do dia apresentando maiores valores no período da tarde em relação à manhã. Segundo classificação de BIANCA (1961) os valores médios de TR apresentados indicam que os animais não se encontravam em situação de normalidade, estando em situação de estresse severo no
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qual as reservas funcionais dos mecanismos termorregulatórios vão se exaurindo, e a temperatura corporal aumenta. De fato, mesmo com os processos termorregulatórios elevados, principalmente para animais deslanados, estes não foram suficientes em manter a homeotermia dos mesmos, lavando a um situação de estresse térmico, mesmo em condições de confinamento total.
10 12 1438.0
38.5
39.0
39.5
40.0
LANADODESLANADO
Horários
Tem
pera
tura
reta
l (oC
)
Figura 3. Variação da temperatura retal de animais lanados e deslanados nos diferentes horários de coleta, no mês de outubro, mantidos em confinamento no semiárido pernambucano.
O conforto térmico dos animais de muitas espécies não depende somente de variáveis ambientais, ou mesmo de avaliações isoladas da temperatura ambiente, umidade relativa e radiação, entre outros (SILVA, 2000). O efeito combinado destes parâmetros é auxiliar a predizer o nível de conforto ao qual os animais estarão submetidos, conforme apresentado na Figura 4. Neste caso, observa-se que este aumentou ao dos horários estudados, atingindo maior valor médio de ITU as 14h. O menor valor médio de ITU foi registrado no horário de 10h diferindo (P<0,05) de todos os horários subsequentes. Pode ser visto ainda que ocorre um aumento gradativo do valor de ITU, fato que pode ser explicado pelo aumento da temperatura no mesmo período. Tal resultado concorda com ROCHA et al., (2012), os quais também observaram a mesma relação do ITU com a temperatura do ar.
14
10 12 1469
70
71
72
73
74
Horários
[Índi
ce d
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ratu
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U)
Figura 4. Variação do índice de temperatura e umidade de animais lanados e deslanados nos diferentes horários de coleta, no mês de outubro, mantidos em confinamento no semiárido pernambucano.
Segundo HAHN (1985), os valores de ITU apresentados na Figura 4, mostram uma condição de ambiente crítica (71-78) a partir de 10h, seguindo assim até as 14h. Entretanto, segundo JOHNSON (1987), os valores médios encontrados estão dentro do limite de ITU como condições ambientais amenas (72-79). Nos horários estudados a condição ambiental foi de conforto, segundo os autores citados acima. Já segundo FUQUAY (1981) valores do ITU abaixo de 72 consideram sem risco da ocorrência de estresse térmico, entre 73-77 em estresse térmico leve, entre 78-89 em estresse térmico moderado e acima de 90, como estresse térmico grave. Os resultados mostram que das 10 h até antes das 12horasos animais não sofreriam nenhum risco de estresse térmico, porém a partir das 12h até o horário das 14horas os animais já estariam sobre efeito de estresse térmico leve. Nota-se, portanto, claramente o aumento do ITU e mesmo nessas condições, os animais sofrem o efeito das elevadas temperaturas ambientais que neste estudo foi de 30, 33,4 e 35 0C, para os horários de 10, 12 e 14h, respectivamente. Estes resultados mostram que existe uma grande variação de interpretações das ideais condições ambientais para os animais. Dessa forma, o fornecimento de sombra natural ou artificial, com instalações adequadamente planejadas, água em abundância e de boa qualidade, o não fornecimento de alimentos nas horas mais quentes do dia são estratégias de manejo que podem ser sugeridas, principalmente quando as condições ambientais forem de emergência (PEREIRA, 2005).
Com relação ao ITC (Figura 5), os resultados obtidos através deste índice determinam o quão tolerante é o animal frente às adversidades do meio. O animal é considerado tolerante ao calor quando o mesmo não utiliza de seu dispositivo
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termorregulatório para manter sua temperatura em equilíbrio com a temperatura ambiental, e quanto mais próximo de 2, mais adaptado é o animal as adversidades climáticas. Através dos dados obtidos foi possível observar que ambos os tipos apresentaram baixas tolerâncias ao calor. Entretanto, os animais lanados apresentaram menores valores de tolerância em todos os horários esudados, observando-se o momento de menor tolerância no horário de 14h. Estes achados estão de acordo com os parâmetros de temperatura retal, ITU e temperatura do ar.
10 12 140.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
LANADODESLANADO
Horários
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C)
Figura 5. Variação do índice de tolerância ao calor de animais lanados e deslanados nos diferentes horários de coleta, no mês de outubro, mantidos em confinamento no semiárido pernambucano.
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6. CONCLUSÃO
Durante o dia, os animais estão sujeitos a diversas condições de ambiente, onde os animais lanados apresentaram menor eficiência na termólise em comparação aos animais deslanados estando em condição de estresse térmico, mesmo em condição de confinamento total.
Portanto, o uso de animais adaptados as condições tropicais se faz necessário, uma vez que genótipos de clima temperado terão suas características produtivas e reprodutivas suprimidas em função da sua sobrevivência.
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