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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE” CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR ANÁLISE VOCACIONAL, BASEADA NA MODALIDADE CLÍNICA, ATUANDO COMO FACILITADORA NA ESCOLHA PROFISSIONAL DO ADOLESCENTE. LÚCIA MARA DE MELLO SERRA SANTOS Rio de Janeiro, janeiro de 2002.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

ANÁLISE VOCACIONAL, BASEADA NA MODALIDADE CLÍNICA, ATUANDO COMO FACILITADORA NA ESCOLHA PROFISSIONAL DO ADOLESCENTE.

LÚCIA MARA DE MELLO SERRA SANTOS

Rio de Janeiro, janeiro de 2002.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

ANÁLISE VOCACIONAL, BASEADA NA MODALIDADE CLÍNICA, ATUANDO COMO FACILITADORA NA ESCOLHA PROFISSIONAL DO ADOLESCENTE.

LÚCIA MARA DE MELLO SERRA SANTOS

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito parcial da realização do curso lato sensu em docência do ensino superior, sob a orientação da professora Maria Esther de Araújo Oliveira.

Rio de Janeiro, janeiro de 2002

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Dedico com muito carinho ao meu irmão, LUIZ FERNANDO, que me motivou a buscar novos caminhos.

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“quando eu tiver setenta anos

então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca

e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer

começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja

aproveitar as oportunidades

de virar um pilar da sociedade

e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência

quando acabar esta adolescência”

Paulo Leminsky

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AGRADEÇO ADEUS, À orientadora e a todos os instrutores do curso de Pós-graduação de Docência do Ensino Superior, que ajudaram na minha especialização profissional, promovendo através de suas experiências, o alicerce que necessitava para alcançar o meu crescimento profissional.

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RESUMO

A dificuldade do jovem em escolher uma profissão, ocupa um lugar de destaque nos conflitos vividos pelos adolescentes. É um momento crucial, em que o jovem tem que definir uma profissão, ao mesmo tempo em que está definindo sua identidade. O ato de escolher, às vezes, é tão complexo, que o jovem sente-se desorientado e com dificuldade de fazer uma escolha que lhe dê uma satisfação pessoal. Diante dessa complexidade vocacional, o presente trabalho pretende comprovar, através de pesquisas bibliográficas, que a análise Vocacional é uma atividade que visa facilitar esse processo de escolha, baseada em técnicas e aliada a um conjunto de informações sobre o mundo do trabalho, promove a elaboração de conflitos, possibilitando o jovem de encontrar sua identidade ocupacional. Para tanto, salienta conceitos e esclarecimentos sobre o que é Análise Vocacional e as diferentes modalidades de atuação, bem como sua importância como atividade individual ou em grupo no processo de escolha profissional do adolescente. Compreendendo ainda, que a identidade ocupacional é um aspecto da identidade do sujeito, apresenta uma abordagem sobre adolescência, suas crises e seus conflitos, associados a um estudo sobre vocação, reparação e luto a fim de esclarecer melhor a dinâmica da personalidade do adolescente. Ressalta também as influências do grupo familiar, do grupo de pares e as influências do sistema produtivo, já que conforme o processo de identificações, o adolescente fará seu engajamento profissional. Devido a importância desse engajamento profissional esclarece de forma mais detalhada o que a literatura apresenta sobre a identidade ocupacional e a identidade vocacional. Desses estudos considera fundamental o adolescente perceber a necessidade de ser sujeito ativo de sua escolha profissional e que lhe proporcionará uma satisfação pessoal a medida que ele conseguir relacionar seus gostos e interesses com o mundo externo. Como conclusão, fica evidenciado que a Análise Vocacional facilita o autoconhecimento do jovem, ajuda-o a perceber o que está impedindo-o de escolher e assim, sem impor solução, auxilia o adolescente a viabilizar uma escolha profissional com liberdade de mudá-la. Visto dessa forma, a vocação não é inata e pode sofrer alterações ao decorrer do tempo, logo a Análise Vocacional deve estar baseada na modalidade clínica, no sentido de promover atividades que ajudem o jovem a aprender a escolher. O adolescente que consegue perceber o seu mundo interno e suas relações com o mundo externo e elaborar de forma positiva os seus conflitos, é um adolescente que adquiriu uma identidade pessoal e, por conseguinte, terá possibilidades de fazer uma escolha profissional de forma madura e ajustada.

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SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO......................................................................................................07

1 – ANÁLISE VOCACIONAL – UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA............09

1.1 – Diferenciação entre Modalidade Clínica e Modalidade Estatística.....11

1.2 – Atendimento individual ou em grupo.....................................................12

2 – ADOLESCÊNCIA............................................................................................14

2.1 – Identidade e Crise....................................................................................15

2.2 – Vocação – Reparação – Luto..................................................................18

3 – INFLUÊNCIAS NO PROCESSO DE ESCOLHA........................................22

3.1 - Influência do Sistema Produtivo.............................................................22

3.2 - Influência do Grupo Familiar e do Grupo de Pares.............................24

4 – IDENTIDADE OCUPACIONAL E IDENTIDADE VOCACIONAL........26

CONCLUSÃO........................................................................................................27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................29

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INTRODUÇÃO

A velocidade dos acontecimentos e das mudanças atuais, associadas a um contexto

socioeconômico de instabilidade, desemprego e alta competitividade, exigem pessoas mais

preparadas, tendo um compromisso consigo mesma e com a profissão que venha a

escolher.

A contemporaneidade do mercado de trabalho leva o indivíduo a ganhar ou a

perder prestígio e condiciona a inserção dele na sociedade. O jovem diante dessa realidade

vive um verdadeiro dilema, tendo que construir seu projeto de vida, atendendo à

subsistência e ao mesmo tempo à realização e satisfação pessoal.

Esse momento torna-se ainda mais difícil por coincidir com a fase de definição de

si mesmo, em que o jovem está se descobrindo. É o momento em que ele está definindo a

sua identidade.

Definir uma profissão que preencha o adolescente em sua totalidade é

extremamente complexo. A problemática vocacional envolve fatores que por vezes geram

conflitos frente à situação de escolha. Esses fatores se referem ao próprio processo de

desenvolvimento do adolescente, numa confluência de vivências pessoais e socioculturais.

O jovem, naturalmente em crise, devido a mudanças corporais, sociais e cognitivas,

depara-se com as exigências do mundo adulto que lhe cobra uma realização profissional e

se vê diante de um leque de profissões que muitas vezes desconhece o campo de atuação.

Sendo assim, diante da complexidade que uma escolha exige associada a

instabilidade entre o que se é e o que quer ser, o adolescente sente-se desorientado,

interessando-se por várias profissões ou sem ligar-se a nenhuma delas, apresentando

dificuldades de discriminação tanto de objetos externos como internos, com dificuldades

no processo decisório de elaborar uma escolha autônoma em relação a seu futuro

profissional.

Às vezes, a escolha se torna tão conflitiva para o jovem, que se faz necessário a

intervenção de um profissional especializado para ajudá-lo no processo de escolha. O ato

de escolher torna-se menos sofrido, quando o jovem, consegue elaborar seus conflitos e

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assim chegar a uma escolha mais autêntica e acertada, buscando uma profissão que terá o

seu perfil, trazendo uma maior satisfação pessoal.

Acreditando que a escolha profissional, não é somente decidir o que fazer, mas,

principalmente quem ser, e reconhecendo que o período de crise e de conflito emocionais

próprios da fase da adolescência dificulta o processo de escolha, o presente trabalho

pretende abordar a importância da Análise Vocacional como facilitadora do processo

decisório.

A Análise vocacional é uma atividade desenvolvida para ajudar o jovem nesse

processo, através de técnicas e aliada a um conjunto de informações sobre o mundo do

trabalho, aborda a problemática da questão da vocação e do processo decisório e sem

impor soluções auxilia o jovem no processo de escolha, despertando a vontade de realizar,

de fazer uma escolha consciente sobre si mesmo e sua vida.

A proposta é desenvolver uma abordagem através da modalidade clínica, com

enfoque psicodinâmico da personalidade do adolescente, levando em conta os aspectos

cognitivos, afetivos e socioculturais, buscando desenvolver atividade que ajudem o

adolescente aprender a escolher, a descobrir suas potencialidades, de forma a interagir seu

mundo interno com o mundo externo, superando obstáculos com maturidade, elaborando

seus conflitos e ansiedades em relação ao futuro.

E assim, comprovar que a Análise vocacional, baseada na modalidade clínica, atua

como facilitadora diante do processo de escolha, auxiliando o adolescente a buscar o

autoconhecimento, como também a autonomia e a responsabilidade de uma escolha

profissional que poderá realizá-lo como indivíduo.

Para tanto, a Análise Vocacional deve ser vista como uma etapa natural incorporada

ao processo de ensino-aprendizagem-formação do indivíduo.

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1 -ANÁLISE VOCACIONAL – UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA

O mundo contemporâneo dominado pela tecnologia e globalização, busca uma

nova visão onde tudo interage e nada fica estagnado. Diante da atual conjuntura, onde a

palavra chave é empreendimento e criatividade, conforme relato de consultores atuais, não

se concebe mais um ser passivo, recebendo pronto o caminho que deverá percorrer.

Assim também, a abordagem no campo vocacional, com o decorrer da história sofre

avanços e transformações. A Orientação Vocacional, a partir de teste de aptidão e interesse

que se propõe a dar uma resposta pronta, definitiva para o indivíduo, vai cedendo lugar a

uma abordagem mais dinâmica, com conceitos psicanalíticos e uma postura existencialista,

reconhecendo o jovem como um ser ativo em processo, capaz de decidir seus caminhos.

Essas mudanças ocorreram inicialmente na Argentina, por psicólogos como

Bohoslavsky, Marina Müller, entre outros. A nova proposta tem seu embasamento na

modalidade clínica e acredita que o jovem pode chegar a uma decisão profissional pela

elaboração de sua identidade vocacional-ocupacional e ser capaz de uma decisão

autônoma.

A Análise Vocacional (muitas vezes usada com outras nomenclaturas) é um dos

campos de atuação do psicólogo em que o cliente busca uma resposta para suas dúvidas

pertinentes a uma escolha profissional, normalmente jovens que enfrentam a passagem de

um ciclo educativo a outro.

Segundo Bohoslavsky (1977, p.32), usando a terminologia Orientação Vocacional,

define como: “Colaboração não diretiva com o cliente, no sentido de restituir-lhe uma

identidade e/ou promover o estabelecimento de uma imagem não conflitiva de sua

identidade profissional”. Assim, definido, quem se dedica deve ser um psicólogo

devidamente treinado no emprego da Estratégia Clinica.

O psicólogo, fazendo uso da estratégia clínica, busca desenvolver atividades que

ajudam o jovem a aprender a escolher, a descobrir suas potencialidades, considerando os

aspectos cognitivos, afetivos e culturais, de forma que ele possa elaborar seus conflitos,

interagindo seu mundo interno com seu mundo externo, superando dificuldades e fazendo

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uma escolha profissional com autonomia, responsabilidade e maturidade.

Aplicar a Estratégia Clínica é compreender o outro, é perceber e fazer o outro se

perceber. Aborda como objeto de estudo o Comportamento Humano no sentido de

promover benefícios a ele, favorecendo mudanças, prevenindo dificuldades.

Essa abordagem contribui para que o indivíduo possa refletir sobre a

responsabilidade de traçar o seu caminho, tornando-se sujeito ativo da sua escolha

profissional.

Como sujeito da escolha, o adolescente aprende a escolher uma profissão de forma

mais consciente que possa realizá-lo como pessoa, rompendo com o determinismo que

impõe um futuro pré -definido.

Para tanto, é necessário, eliminar a idéia que a vocação é inata, que o jovem será

dotado de determinadas aptidões para o resto da vida. É perfeitamente natural, o

adolescente, ao longo do tempo identificar-se com outras profissões, ter novos interesses.

Diante dessa abordagem contemporânea, o psicólogo que atuar no campo de

Análise Vocacional, enquanto prática psicológica, não deve ter uma postura diretiva, e sim

analítica, daí o termo Análise Vocacional ter sido empregado ao invés de Orientação

Vocacional.

O psicólogo com uma postura analítica passa de orientador a facilitador do processo

de escolha profissional. Facilita na busca de informação sobre profissões e mercado de

trabalho, como principalmente auxilia o jovem no processo de autoconhecimento,

promovendo o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade de uma profissão.

Há de ressaltar, que alguns profissionais utilizam-se da terminologia “Orientação

Vocacional” ou “Orientação profissional”, mas não aborda a modalidade tradicional que

orienta o jovem, informando de forma diretiva o caminho que deverá seguir.

Lucchiari (1993) aborda, de forma bastante esclarecedora, essa quebra do aspecto

diretivo ou quase impositivo, transformando essa atividade em mecanismo auxiliador do

jovem.

Diante do vocacional, a postura de quem faz uso da modalidade clínica é atuar

como facilitadora, ajudando o adolescente a conhecer e a conhecer-se, para uma escolha

profissional consciente e acertada.

É na integração do mundo interno com o mundo externo e na elaboração de seus

conflitos que o adolescente conseguirá alcançar sua identidade.

1.1 – Diferenciação entre Modalidade Clínica e Modalidade Estatística

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Para melhor entender o procedimento da Análise Vocacional numa visão mais

atual, faz-se necessário uma melhor compreensão da abordagem da modalidade clínica e

da modalidade estatística conforme relato de Bohoslavsky (1977).

A importância dessa diferenciação reside no fato de que a aplicação, dessa ou

daquela modalidade, corresponderá numa postura diferente de atuação profissional. Há de

se ressaltar, contudo, que a tendência atual, segundo pesquisas, é a modalidade clínica.

A Modalidade Estatística é uma prática tradicional em Orientação Vocacional.

Utiliza-se de testes como instrumentos fundamentais para conhecer as aptidões, os

interesses do sujeito, acrescido de informações profissionais e entrevistas psicológicas.

Como resultado faz-se um prognóstico conclusivo que orienta a profissão ou campo de

atuação mais compatível com o perfil do sujeito.

Nessa prática tradicional, acredita-se que há um homem certo para o lugar certo.

Considera que cada carreira ou profissão requer aptidão específica que pode ser definida a

priori e medida, se o sujeito se ajusta, fará uma carreira bem sucedida.

O psicólogo deve desempenhar um papel ativo, aconselhando o jovem na sua

decisão, pois estes não são capazes de fazer suas próprias escolhas.

Sendo assim, essa modalidade concebe o indivíduo como ser passivo e que deverá

receber pronto o caminho a percorrer para ser bem sucedido profissionalmente. Não leva

em conta as transformações socioculturais e parte da idéia que as profissões não mudam.

Conhecendo a situação atual pode-se predizer o desempenho futuro.

A Modalidade Clínica, diferente da modalidade Estatística, vê o homem como um

ser ativo em processo, capaz de decidir seus caminhos.

Enfatiza a dinâmica da personalidade e acredita que as carreiras e profissões

requerem potencialidades e que estas não são específicas, logo não podem ser definidas a

priore e nem mensuráveis. Essas potencialidades modificam-se, assim como a realidade

sóciocultural. Acredita no surgimento de carreiras novas e de especialidades que estão

sempre mudando.

Embora alguns profissionais possam utilizar-se da aplicação de teste, não é

utilizado como instrumento fundamental. Seu principal instrumento é a entrevista e

técnicas psicológicas que possam auxiliar o jovem a compreender os aspectos internos e

externos, contribuindo para uma decisão madura e consciente.

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Na modalidade clínica, a comunicação é fundamental, na medida que promove um

maior conhecimento do sujeito, permitindo alterações que sejam favoráveis ao processo

decisório.

A preocupação não é com o que se escolhe, e sim, como se escolhe. A tarefa do

psicólogo é esclarecer e informar, sem impor soluções, participando como facilitador do

processo criativo.

A idéia principal é que a identidade ocupacional se desenvolve como um aspecto da

identidade pessoal e sendo assim, não deve ser considerada como algo definido, mas como

um processo submetido às mesmas leis e dificuldades que ocorrem na busca da identidade

pessoal. Para o adolescente definir o futuro, não é somente definir o que fazer, mas

fundamentalmente, definir quem ser, ao mesmo tempo quem não ser.

Para reforçar a importância dessa modalidade, Bohoslavsky (1977) aborda a

importância da questão ética no processo de escolha. A ética surge do fato de que o homem

é sujeito da escolha e nenhum profissional por mais capacitado tem o direito de expropriar.

O profissional diante da modalidade clínica não deve fazer uso de uma postura

diretiva. Os conflitos vocacionais deverão ser compreendidos como processo normal da

adolescência e, que apesar da crise, o jovem poderá ser sujeito ativo de sua escolha

profissional.

Do resultado da elaboração da crise em o jovem que vive, associada aos

mecanismos empregados para superá-la ocorrerá o desenvolvimento de novas formas de

relação com o seu mundo interior e seu mundo exterior, o que possibilitará a formação de

uma identidade ocupacional.

1.2 – Atendimento Individual ou em Grupo

O processo de escolha profissional pode ser individual ou em grupo. Contudo

autores contemporâneos preferem trabalhar a questão da vocação em grupo.

Lucchiari (1993) relata que o trabalho em grupo alcança maiores resultados porque

é próprio do adolescente o convívio em grupo e turmas. No momento em que ele busca sua

identidade é importante sentir-se igual aos outros, de forma a possibilitar uma troca, em

que cada participante torne-se um facilitador do outro, auxiliando no conhecimento que

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cada membro busca de si mesmo ao compartilhar sentimentos de dúvidas e inseguranças

em relação à escolha profissional.

Rappaport (1998) argumenta que, apesar do estudo das vocações realizadas

individualmente possibilitar um maior aprofundamento das questões da vida do jovem, a

abordagem grupal possibilita o atendimento de um número maior de jovens e propicia um

maior entrosamento. Acrescenta que a diversidade de visões dos participantes enriquecem

cada indivíduo, que em geral, apresentam para o grupo aspectos da realidade que

costumam influenciar na escolha profissional.

Cabe ressaltar que a Análise Vocacional empregada em grupo ou individual, não

contempla uma proposta diretiva. O jovem é responsável por sua escolha e mesmo que não

chegue a fazer uma escolha no final do processo, algo terá mudado dentro dele. O processo

decisório continua, não termina quando acaba a análise, pois ele terá aprendido a refletir

sobre a questão da vocação e mais tarde quando ele conseguir elaborar seus conflitos, a

escolha acontecerá.

De todo modo, a Análise vocacional pretende levar o adolescente a conhecer-se,

através de processos dinâmicos, refletindo sobre as expectativas e conflitos que envolvem

a personalidade de cada um, ligando o crescimento pessoal com o crescimento vocacional,

fortalecendo-o e dando-lhes condições de fazer sua escolha profissional de forma mais

consciente.

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2 – ADOLESCÊNCIA

É no período da adolescência que ocorre a maior dificuldade em relação a uma

escolha profissional por coincidir com o momento em que o jovem está buscando a sua

identidade pessoal. Faz-se necessário então, um estudo sobre a adolescência, seu

significado e sua implicação perante um engajamento profissional.

A tendência atual é assinalar a adolescência como um processo evolutivo que

compreende os aspectos biológicos, psicológicos, sociais ou culturais que são peculiares ao

jovem, e não apenas como um momento de transição entre a infância e a idade adulta,

como se pensava até a algum tempo atrás. É na adolescência que ocorre o ápice da

maturação biopsicossocial do indivíduo.

Segundo Osor (1989, p.21), a adolescência deve ser entendida:

“Como um conjunto de transformações psicológicas que acompanham o fenômeno

biológico da puberdade – é a resultante de um paralelogramo de forças, onde os fatores

intrapsíqiuicos e socioculturais constituem os vetores que a compõem”.

Ainda conforme Osor, embora alguns autores caracterizem a puberdade como uma

fase inicial da adolescência, predomina a concepção universal que ela pode precedê-la ou

sucedê-la. O que caracteriza a puberdade são modificações biológicas dessa faixa etária,

enquanto que a adolescência caracteriza-se por transformações psicossociais.

Knobel (1981) adverte que as mudanças físicas da puberdade influenciam no

processo da adolescência, a medida que essas modificações biológicas, própria da

puberdade, provocam no jovem uma série de situações psicológicas que culminam com a

sua identidade sexual.

Vale dizer que o fenômeno puberdade é universal e seu início é cronológico se

considerarmos a normalidade física, coincide com todos os povos, com raríssimas

exceções como o caso dos Pigmeus, púberes aos oito anos de idade, de acordo com relato

de Osor.

A adolescência, ao contrário, tem características peculiares que se desenvolvem

segundo o ambiente sociocultural em que vive, considerando ainda aspectos biológicos e

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psicológicos do indivíduo, não é um período estagnado e sim um processo, marcado na

maioria das vezes por desequilíbrios e instabilidades.

2.1–Identidade e Crise

A adolescência é um período em que o jovem busca uma individualidade,

procurando torná-se um ser único. Essa busca de identidade do jovem é acompanhada por

transformações no crescimento físico, no amadurecimento sexual e na consciência social.

Generalizando, identidade é o conceito que uma pessoa faz de si mesmo como

indivíduo inserido em seu meio, percebendo-se como uma unidade separada e distinta dos

outros indivíduos.

Erikson (1968) aborda o processo de formação de identidade do adolescente como

uma configuração em evolução, composta por sínteses e resssinteses do ego vividos no

período infantil. Essa configuração corresponde a uma interação gradativa aos dados

constitucionais, à maturação sexual, à identificações significativas, à defesas efetivas, à

sublimações bem sucedidas e à papéis coerentes.

Para ele, a identidade contém uma soma de identificações sucessivas vividas na

infância, quando a criança queria ser como as pessoas de quem dependiam e as crises

vividas vão sendo resolvidas em novas identificações com companheiros da mesma idade e

com figuras líderes fora do ciclo familiar.

Seus valores sociais e éticos estão relacionados com a influência dos pais e dos

pares e é nesse período também que ocorrem transformações na capacidade intelectual,

gerando uma certo absolutismo de suas idéias, para adquirir poderes na maneira de lidar

com o mundo adulto e assim, questionar o meio com a intenção de modificá-lo.

Essa intelectualização é uma defesa para se afastar dos conflitos e envolver-se em

questões filosóficas como forma de negar o reconhecimento de não poder mudar a sua

realidade.

Como resultante de experiências e críticas vivenciadas pelo jovem durante o

período da infância acompanhada por transformações corporais e pela aquisição de novas

capacidades cognitivas, o adolescente vive uma vulnerabilidade, tendo que atender ainda

as expectativas e exigências da família, dos amigos e da sociedade, gerando conflitos e

crises existências que culminam com a formação de sua identidade.

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As transformações em seu corpo, bem como a exigências do mundo adulto criam

conflitos no jovem, fazendo com que ele crie defesas, por se sentir a princípio invadido.

Contudo, ao mesmo tempo em que procura refugiar-se em suas conquistas infantis, onde se

sente protegido, também deseja participar do que o mundo adulto pode lhe proporcionar,

só que na maioria das vezes sente-se despreparado.

É o momento da internalização, em que o adolescente mesmo em crise, tem que

harmonizar-se com aspectos da sua personalidade, no sentido de preparar-se para as tarefas

que o mundo adulto lhe impõe.

Compete ao ego integrar os aspectos psicossociais e psicossexuais e ao mesmo

tempo integrar os novos elementos de identificações com os que já existiam, procurando

superar as descontinuidades que por ventura ocorram.

O jovem para atravessar a crise, deve resolver as questões referentes aos requisitos

do crescimento fisiológico, desenvolver um amadurecimento mental com responsabilidade

social.

Para Osor (1989), o conceito operacional de identidade ocorre a partir dos vínculos

de integração espacial, temporal e social introduzidos na literatura por Grinberg:

O vínculo de integração espacial se faz através da imagem que se tem do próprio

corpo, tornando-o único como indivíduo.

O vínculo de integração temporal está ligado ao fato do indivíduo ser capaz de

recordar-se do passado, projetar o futuro, como sendo capaz de ser o mesmo durante sua

vida, apesar das mudanças internas e externas que venham a ocorrer.

O vinculo de integração social está associado ás inter-relações pessoais, a princípio

com as figuras parentais e depois com todas as figuras envolvidas afetivamente com o

indivíduo ao longo da vida. Acrescenta ainda, que o sentimento de identidade é função de

um equilíbrio dinâmico entre os três vértices de um triângulo, conforme figura abaixo.

O que penso que sou

O que eu penso que os outros pensam que sou

O que os outros pensam que sou

SENTIMENTO DE IDENTIDADE

Figura 1

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A tarefa básica da adolescência, sob a ótica psicológica, é a aquisição desses

sentimentos de identidade. O jovem passa por desequilíbrio para alcançar a vida adulta e é

na elaboração desses desequilibro que o jovem estabelece sua identidade.

O jovem busca uma identidade para definir e redefinir a si próprio e uns aos outros,

entre o que ele percebe de si mesmo e o que ele acha que os outros percebem e esperam

dele.

Diante do crescimento acelerado do biológico, a perda da conduta infantil, que

antes lhe proporcionava segurança, o adolescente se vê diante de um novo papel imposto

pela sociedade e da incerteza dos papéis adulto que o mundo social lhe cobra, mostram-se

preocupados com o que possam parecer aos olhos dos outros, comparando com o que eles

se julgam ser aos protótipos papéis ideais.

Os valores pré-estabelecidos e essa revolução fisiológica acarretam nos

adolescentes sentimentos ambivalentes, na medida que ele deseja o mundo adulto ao

mesmo tempo em que o teme.

Cabe ressaltar em relação à identidade e crise da adolescência, o que Erikson

(1968) chamou de moratória psicossocial. Para ele, moratória social é um momento de

espera nos compromissos adulto, mas não uma espera passiva. Seria uma tolerância da

sociedade e um aprendizado do jovem que se harmoniza com os valores da sociedade. O

que o adolescente internaliza e o “rótulo” que ele adquire é de suma importância para o

processo de formação da identidade.

J. E. Márcia, uma professora adjunta na Universidade da Colúmbia Britânica

(Canadá), segundo relato de Gail Sheehy (1989), fez uma contribuição à obra de Erikson,

ao fazer distinção entre quatro posições “normais” na formação da identidade do indivíduo:

• O grupo da moratória – é o grupo que ainda não fez comprometimentos,

contudo enquanto retarda esses comprometimentos, os jovens estão lutando

ativamente para sua realização;

• O grupo de identidade predeterminada – parece seguro do que pretende ser, mas

fez comprometimento sem crise, aceitando passivamente a identidade dada

pelos pais, sem uma busca ativa;

• o grupo de identidade difusa – esquivou-se de definir o que deseja, os jovens

não questionam os pais, sentindo-se sempre desajustados;

• O grupo de identidade realizada – passou pela crise e superou-a, e em geral os

adolescentes tornam-se adultos bem ajustados.

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Conforme essa concepção e de outros tantos autores, parece ser necessária a crise

pela qual o adolescente passa para que a sua identidade possa ser plenamente realizada.

Esses longos processos na busca de identidade vão sendo construídos na medida em

que o adolescente vivencia as mudanças de seu corpo e é capaz de aceitar seus aspectos de

criança e adulto para sua inserção no mundo adulto, acompanhado de mudanças internas

que vão definindo a sua personalidade, sua ideologia e conseqüentemente sua identidade.

2.2 – Vocação – Reparação – Luto

As teorias para definir o que é vocação são diversas e contraditórias. Alguns autores

acreditam que a vocação nasce com o indivíduo, como uma resposta a um chamado

interior pré -determinado. Outros acreditam que é a soma de experiência vivida pelo

indivíduo de forma consciente ou inconsciente e não determinado pelo destino.

A tendência atual é empregar o termo como uma resultante de processos que estão

vinculados tanto a fatores internos como a fatores externos. Mesmo quando se refere a um

chamamento interior, se faz num sentido mutável, podendo ser transformado conforme a

dinâmica da personalidade.

Wender e outros, de acordo com relatos de Bohoslavsky (1977), mencionam a

hipótese de que vocação estaria relacionada aos chamados interiores danificados que

devem ser reparados pelo ego.

Para Bohoslavsky (1977, p.74), reparação em seu aspecto descritivo, refere-se ao

que Segal, H. descreveu como “comportamentos que expressa o desejo e a capacidade do

sujeito em recriar um objeto bom, exterior e interior destruído”. O termo desejo pode ser

entendido por impulso, instinto ou tendência.

Acredita-se dentro dessa concepção que a reparação, provavelmente seja a

manifestação do instinto de vida que põe fim a destruição que é o instinto de morte. Desta

forma traduz-se uma dialética observada na polaridade destruição e reparação.

Quando se fala em objeto bom destruído, é porque ocorre uma ambivalência, o

objeto além de ser amado é odiado e essa destruição se produz no campo da fantasia.

Um ego forte compreende a realidade, tolera ambivalência e busca uma reparação.

Entretanto, quando o ego não é forte o indivíduo não aceita a perda, devido a própria

agressão do objeto bom, criando comportamentos defensivos de dissociação em que o

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sujeito separa o ego do objeto, como forma de anular a dependência e de negação, que são

denominados pseudo-reparação.

Bohoslavsky relata que as pseudo-reparações determinam comportamentos:

• Maníacos – que são comportamentos: de desprezo, em que se nega aspecto bom

do objeto; de controle, em que se nega a autonomia do objeto; de triunfo, em

que se nega a perda do objeto.

• Compulsivos – que são comportamentos vinculados a uma culpa persecutória e

impõe ao ego atividades exigentes, de forma que o ego funciona de modo

rígido, danificando cada vez mais o objeto e restringindo a autonomia do

indivíduo.

• Melancólico – que são comportamentos de autodestruição, como única forma

de reparar o objeto fosse destruindo a si próprio.

Assim sendo, para compreender a identidade profissional do jovem, deve-se

perceber se a reparação é autentica ou pseudo-reparações. Uma autêntica reparação leva o

indivíduo a reconhecer a culpa e é necessário, que a reparação se dê para atender o “self”,

ou seja, a si próprio.

Quando a reparação é realizada sobre o objeto externo, por exemplo, para atender

os pais, ocorre que desatende ao “self” e com isso o objeto interno continua reclamando.

Para tanto, é fundamental perceber o que o “self” está pedindo para ser reparado, só assim

haverá uma autentica reparação dos objetos.

Bohoslavsky comenta ainda que os diferentes modos de reparação determinará o

tipo de vínculos com as profissões. Para tanto, é importante, estabelecer “com que”

instrumento se repara, em relação a “qual” objeto externo está ocorrendo a reparação e “à

maneira de quem” ocorrerá a reparação, são dados que informarão as razões da escolha de

uma profissão.

O indivíduo ao inserir-se no mundo adulto está escolhendo “com que” quer

trabalhar, “por que” quer fazer, “como fazer”, “quando”. e “onde” trabalhar.

Através dessa dinâmica interna e externa vivenciada pelo jovem, cabe ressaltar

também, os movimentos de avanços e recuos que Osor (1989) considera como processo de

substituição da dependência infantil para a autonomia adulta. Esses movimentos são:

• Redefinição da imagem corporal devido a perda do corpo infantil e

transformação do corpo adulto;

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• Elaboração da perda de uma relação simbiótica de dependência com os pais da

infância através de um processo de separação/individuação.

• Elaboração do luto mediante à perda da condição infantil.

• Surgimento de uma escala de valores ou códigos de ética própria.

• Busca de identificação no grupo de iguais.

• Procedimento de luta/fuga com a geração precedente.

• Aceitação dos ritos de iniciação para alcançar o mundo adulto.

• Aquisição de sua identidade sexual que nem sempre corresponde aquela ao

qual pertence (homossexuais).

Assim, o adolescente marcado por um complexo psicodinâmico, para conseguir sua

inserção na sociedade tem que elaborar perdas. Basicamente ao escolher um papel adulto,

o adolescente está escolhendo quem ser e quem não ser. Ao decidir uma profissão deixa de

ser outro profissional, abandona outros objetos e formas de ser. São verdadeiros lutos

vivenciados pelo jovem e da elaboração desses lutos e da forma como ele interage com o

mundo, que o adolescente conquistará uma identidade.

A. Aberastury (1981) descreve três lutos fundamentais na adolescência.

• Luto pelo corpo infantil – as transformações biológicas próprias da

adolescência, despertam no jovem um sentimento de impotência diante da

realidade que ele não consegue mudar. Por conseguinte caracteriza uma

tendência ao uso onipotente das idéias, o que conduz a ele deslocar sua rebeldia

em direção ao intelecto.

• Luto pela identidade e pelo papel infantil. – o indivíduo, na adolescência, vive

um o dilema de não poder manter a dependência infantil, mas ao mesmo tempo

não pode usufruir à independência adulta, causando uma confusão de papéis,

vivendo o “fracasso de personalização”. Com isso, o adolescente passa a

atribuir para o grupo seus atributos e joga a maioria das suas responsabilidade

para os pais.

• Luto pelos pais da infância – a relação de dependência dos pais começa aos

poucos a ser abandonada. Ocorre uma contradição diante das relações objetais

parentais internalizadas e os pais reais externos, então o jovem elabora o luto,

substituindo as figuras idealizadas dos pais que lhe permite projetar em

professores, ídolos etc.

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Une-se a esses lutos, o luto pela bissexualidade infantil, também perdida. Esses

lutos trazem consigo também a confusão sexual e uma dificuldade temporal que caracteriza

o pensamento nessa faixa etária. É possível falar que o adolescente vive uma

deslocalização do tempo. O que pode ser observado no imediatismo do jovem ou na

relegação do tempo. Conforme as urgências do jovem o tempo “encolhe”ou “estica”

Bohoslavsky (1977) entende que um luto bem elaborado tolera os sentimentos de

culpa diante do objeto e de si mesmo vividos pela separação. A culpa ocorre por que quem

abandona alguma coisa sente perda de seu próprio ego, devido as identificações projetivas.

O que se pretende dizer é que quando se deixa algo é como se estivesse também

abandonando partes de si mesmo que se identificaram projetivamente no que se perde e

também culpa pela perda do objeto, na medida que se fantasia que o abandono do objeto

implica em atitudes retaliativas por parte do objeto, fala-se então, de culpa persecutória.

Como componente manifesto ocorrem a crítica e a autocrítica. Esse tipo de fantasia pode

ser percebida no jovem que teme escolher uma profissão que gosta, com medo de

desagradar seus pais e simbolicamente um ataque aos pais terá como conseqüência ser

atacado por eles.

Ainda conforme Bohoslavsky, uma outra forma de culpa é a culpa depressiva em

que o medo à retaliação é substituía por comportamentos reparatórios. A reparação quando

a culpa é depressiva pode ocorrer sobre o “self” ou sobre o objeto.

Quando os sentimentos de culpa são aceitos pelo indivíduo, bem como a elaboração

do luto, os aspectos do “self” que estão vinculados aos objetos e situações perdidas

poderão ser discriminados, ou seja, o jovem será capaz de separar as partes de si mesmo

que foi depositado no objeto que deixou.

O adolescente que é capaz de desestruturar-se e reestruturar-se, tanto em seu mundo

interno como em suas relações com o mundo exterior é um adolescente que adquiriu uma

identidade pessoal e, por conseguinte, uma identidade ocupacional, com condições de fazer

uma escolha madura.

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3 – INFLUÊNCIAS NO PROCESSO DE ESCOLHA

A escolha profissional é considerada uma das escolhas mais difíceis exigidas pela

sociedade, tem implicação direta na satisfação de vida e bem estar do indivíduo,

conduzindo seu estilo de vida e sua inserção no mercado de trabalho.

O jovem se vê diante de uma encruzilhada tendo que atender as suas necessidades

básicas e a sua realização pessoa. Almeja um lugar na sociedade ao mesmo tempo em que

busca alcançar sua identidade, inicia-se então, a tão falada crise da adolescência.

Como todo indivíduo é um ser peculiar, diferente um dos outros, para melhor

compreende-los é importante analisar como ele se percebe e percebe o meio em que vive.

Faz-se necessário, então, uma compreensão dos fatores que contribuem para a dinâmica da

sua personalidade e que influenciam o processo de escolha.

Diante do processo de escolha, interessa de maneira mais direta a influência do

sistema produtivo, da relação do indivíduo com o grupo familiar e com o grupo de pares.

Um dos grandes desafios do jovem será processar as diversas influências recebidas,

tendo que integrá-las e diferenciar-se delas, projetando-se para o futuro.

Partindo do pressuposto que a identidade ocupacional é um aspecto da identidade

do sujeito, os problemas vocacionais terão de ser entendidos como problemas da

personalidade que estão impedindo o jovem de alcançar uma escolha profissional.

Em síntese, todo processo de escolha depende da elaboração da dinâmica em que o

jovem vive. Uma escolha madura e ajustada é quando o jovem consegue identificar-se com

seus próprios gostos e identificar o mundo exterior, incluindo as profissões.

3.1–Influência do Sistema Produtivo

O mundo contemporâneo vive momentos de grandes transformações engrenadas a

um ritmo tecnológico acelerado que domina a economia mundial, provocando mudanças e

descontinuidades sucessivas no mercado de trabalho. O desenvolvimento do processo de

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informação, das industrias eletrônicas, a robótica são fatos dessa realidade em ritmo

acelerado.

Mais do que nunca em toda a História, é preciso estar atento ao novo. Novos

paradigmas vêm sem se anunciar e se instalam cada vez mais rápido e muitas vezes sem

ser percebidos.

Uma nova concepção na relação capital / trabalho estabelece outras formas de

atuação. O emprego de qualificação fixa, com ocupações bem definidas sofre um processo

de corrosão, enquanto o emprego de qualificação variada vai se reestruturando. Há uma

ampliação tanto horizontal anexando novas atividades, como vertical incorporando numa

mesma profissão tarefas que antes era de outras.

Esses processos de corrosão, desestruturação e reestruturação das ocupações

refletem diretamente na economia mundial que sofre alterações. Observa-se a

recodificação de espaços ocupacionais, onde algumas profissões acabam sendo extintas

enquanto outras são criadas e outras tantas modificadas.

No epicentro dessas transformações está o ser humano com seus medos, desejos e

conflitos, buscando uma realização profissional que possa encontrar “eco” nas mudanças

aceleradas do sistema produtivo, que como uma verdadeira revolução, transforma o

mercado de trabalho e o estilo de vida das pessoas.

O indivíduo ganha ou perde prestígio nessa dinâmica de mercado de trabalho e o

fato da formação do indivíduo se distanciar da realidade deve ser considerada.

Sendo assim, a educação continuada passa a ser vista como necessidade no projeto

de profissionalização do indivíduo para ascensão social, já que a recodificação dos espaços

ocupacionais exige constante atualização. Inicia-se então, um novo ciclo, o do capital

intelectual.

Na sociedade atual, cada vez mais o prestígio sobre as profissões está ligado ao

trabalho intelectual. Do ponto de vista estritamente social, todas as profissões são

importantes por contribuir para a manutenção da sociedade, no entanto na prática percebe-

se que a própria sociedade discrimina algumas profissões, dando prestígio a outras.

O meio sóciocultural tem grande influência na questão vocacional. Quando uma

pessoa obtém êxito na sua profissão e consegue aprovação social, sente-se mais integrado

na sociedade.

Em conseqüência disso, é natural o indivíduo querer trabalhar em alguma profissão

que tenha importância social e que seja bem remunerada. Entretanto a realização total do

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indivíduo só será completa se ele elaborar suas necessidades pessoais, incluindo aqui

aspectos psicológicos, com as possibilidades sociais.

O psicólogo ao atua no campo vocacional não deve perder de vista que a identidade

ocupacional se desenvolve a partir da identidade pessoal. Só assim, terá verdadeiramente

auxiliado o jovem a elaborar seus conflitos para fazer uma escolha profissional satisfatória.

Nessa dinâmica do setor produtivo faz-se necessário que o indivíduo aprenda a

escolher para que ao longo da vida possa sempre elaborar seu projeto de vida

acompanhando as mudanças que já estão acontecendo, bem como as transformações que

poderão vir a surgir no futuro, viabilizando escolhas com liberdade de mudá-las.

3.2 – Influência da Família e do Grupo de Pares.

Baseado na concepção que a vocação não é inata e sim resultante de fatores

individuais e ambientais adquiridos quer de forma consciente ou inconsciente, todas as

experiências vividas desde a infância influenciam o processo de escolha.

O primeiro vínculo que a criança estabelece é com a família, e a medida que ela

cresce esses vínculos aumentam e novos contatos surgem. A criança então, começa a se

relacionar com outras pessoas fora do ambiente familiar, passa a entrar em contato com

grupos, amigos, escolas e vai se socializando. Assim ao se tornar adolescente, já possui

uma soma de experiências adquiridas que associada às transformações físicas vão definir

quem realmente o adolescente é e quem ele quer ser.

No período da adolescência começam a surgir confrontos com os pais, que criam

desejos e expectativas em relação a seus filhos. O jovem, nessa fase, fica confuso sem

conseguir discriminá-los dos seus próprios desejos.

Observa-se que pais mais seguros proporcionam gradativamente a afirmação e

identidade de seus filhos, além de desenvolver a auto-estima. O mesmo não acontece com

pais autoritários ou laissez-faire que segundo pesquisas, desencadeiam nos adolescentes

problemas de ajustamento.

É comum o jovem querer seguir o mesmo caminho profissional de seus pais ou ao

contrário, procurar caminhos opostos dos familiares. Mesmo quando os pais pensam que

não estão influenciando os seus filhos, ainda assim, seus sonhos e desejos são captados

pelos jovens.

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Além dos desejos e de outros aspectos subjetivos, as situações reais vividos dentro

do grupo familiar, influenciam de forma substancial o desenvolvimento do jovem, como

também situações vividas pelo grupo de pares e pela sociedade.

Os grupos que os adolescentes fazem parte estabelecem um padrão normativo e

constituem as bases na maneira do jovem se conduzir

As relações que os adolescentes estabelecem desde o nascimento estão presentes no

momento da opção vocacional e compreender essas relações contribui para perceber

melhor o conflito que impede o jovem escolher uma profissão. Contudo não basta só

conhecer a que grupos pertencem, mas como interioriza, percebe e expressa essa

participação. Esses processos de relação e interiorização dos grupos são mecanismo de

identificação.

Identificações são movimentos realizados pelo jovem em relação às influências

adquiridas pela família, grupos de pares, pela sociedade. Muitas vezes essas identificações

podem não está claramente explicita, sendo necessário um aprofundamento maior da

reflexão desses vínculos com o outro.

Essa compreensão do que está encoberto por identificações inconscientes, torna-se

fundamental para o processo vocacional, assim como perceber se há contradições entre os

valores do grupo familiar e os valores do grupo de pares. De acordo com Bohoslavsky

(1977), havendo uma contradição, haverá uma dissociação da própria identidade, devido às

identificações com os dois grupos que ele não poderá integrar.

Conforme o sucesso e o fracasso das ações vinculadas ao sistema de gratificação ou

frustração no processo de identificação, o adolescente fará o seu engajamento profissional.

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4– IDENTIDADE OCUPACIONAL E IDENTIDADE VOCACIONAL

Bohoslavsky (1977) considera que a identidade ocupacional é a autopercepção em

termos de papéis ocupacionais no decorrer do tempo e o que conduz o jovem a determinar

a identidade ocupacional é a identidade vocacional.

A identidade vocacional, de acordo com essa teoria, determina a escolha do

indivíduo e tem haver com o processo de elaboração de identificação, luto e reparação do

jovem. De suas raízes genética associada as influências do meio ambiente em vivencia suas

experiência, será formada a identidade ocupacional.

Sendo assim, a identidade ocupacional-vocacional é parte do processo da

identidade pessoal e desde o nascimento sofre como estas influências do meio ambiente.

Portanto, não pode ser algo pré-determinado, mas um processo que interage o mundo

interno com o mundo externo do indivíduo.

A identidade Ocupacional compreende o que o jovem quer ser, abrangendo um

“onde”, “como” e “quando”; enquanto as respostas ao “para que” e “por que” que conduz

ao indivíduo a assumir determinado papel é sua identidade vocacional.

É importante considerar, contudo, que nem sempre os “chamamentos” da

identidade vocacional são claros e precisos, muitas vezes torna-se confuso para o jovem

saber que papel pretende assumir na sociedade. Diante do desconhecido, ele vive

momentos de ansiedade, que são as crises da normalidade dos adolescentes. É um período

bastante difícil para o jovem por coincidir com o momento da formação da sua identidade

pessoal.

Sendo assim, a Análise Vocacional só será válida se compreender o processo como

um todo. Deve facilitar o jovem a interagir o mundo interno com o mundo em que vive,

aprofundar seu auto-conhecimento, dar informações e interpretar de forma mais realista o

sistema socioeconômico e cultural em que vive, corrigindo fantasias e distorções das

imagens profissionais. Contribuindo para o crescimento pessoal do adolescente terá

conseqüentemente contribuído para o ajustamento na aquisição de papéis sociais adulto,

ajudando-o a alcançar sua identidade ocupacional.

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CONCLUSÃO

Pela observação dos aspectos apresentados, percebe-se que o adolescente vive um

período crucial, tendo que definir seu projeto de vida no momento que está definindo sua

identidade. Sem dúvida, é uma etapa em que o jovem precisa de ajuda, não só de

profissionais voltados para a questão da vocação, como de seus familiares, de seus amigos

e da sociedade.

O difícil, parece ser ajudar o jovem sem tirar dele o direito de ser autor de sua vida.

Esses são os erros mais comuns dos pais, que na busca de amenizar os conflitos que o

adolescente está vivendo, ou por se projetar nos filhos, querem decidir por eles.

Toda crise é um momento difícil, mas é também através dela que o indivíduo

“arruma” o que está “desarrumado” dentro dele.

O importante é o jovem perceber que nenhuma escolha é definitiva, principalmente

na questão da vocação. É natural, ao longo do tempo, surgir outros interesses.

O que normalmente acontece, é que o adolescente além de não possuir um

autoconhecimento, sente-se confuso diante da diversidade de profissões com dificuldades

de conciliar seus gostos e interesses com o mundo exterior, ou seja, com o mundo do

trabalho, dificultando-o de fazer uma escolha que lhe traga satisfação pessoal.

Explorando o entendimento, suas causa e seus efeitos, a Análise Vocacional

baseada na modalidade clínica, não só promove no adolescente uma busca de si mesmo,

possibilitando uma reflexão sobre o seu mundo intermo, como contribui com informações

sobre o mundo do trabalho, auxiliando-o a perceber e conhecer as soluções para o

problema vocacional.

Seguindo essa concepção, é imprescindível ao profissional atuante no campo

vocacional trabalhar com a integração do tempo, auxiliando o jovem a perceber quem foi,

quem é, que será, superando assim, a descontinuidade que por ventura ocorram.

Quando o jovem consegue associar o que ele foi, no período da infância, com o que

é no presente e o que se tornará no futuro estabelecido, alcançará sua continuidade interna,

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reconciliando o conceito de si mesmo com os valores que a sociedade tem dele e com isso

terá se encontrado como pessoa e encontrado um lugar no mundo em que vive.

É fundamental ainda, considerar as influências do grupo familiar e do grupo de

pares; esclarecer sobre o sistema produtivo, ajudar o jovem a elaborar seus lutos; bem

como aprofundar com ele questão da vocação, da reparação, percebendo se está havendo

uma autêntica reparação ou uma pseudo-reparação.

Uma escolha ajustada depende de uma integração do mundo interno com o mundo

externo na busca de uma identidade. Definir o que fazer é antes de tudo definir quem ser e

se o adolescente continuar com dúvidas após o processo de Análise Vocacional, é por que

ainda não conseguiu essa integração.

Contudo, a Análise Vocacional terá contribuído para o jovem aprender a escolher e

a medida que o jovem vai vivenciando as influências adquiridas pelo mundo externo e

integrando com seu mundo interno fará uma escolha acertada.

A idéia básica é que o jovem aprenda a elaborar seus conflitos e não negá-los. Do

resultado da elaboração da crise, associada a forma de superá-la é que o indivíduo formará

sua identidade pessoal e por conseguinte terá possibilidades de alcançar sua identidade

ocupacional.

Em conseqüência de tudo que foi analisado, é inquestionável a importância da

Análise Vocacional como facilitadora do processo de escolha profissional vivenciada

principalmente pelos adolescentes na busca de sua inserção social.

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