Andre Green O Silencio Do Psicanalista

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    O silncio do psicanalista 1, 2

    Andr Green

    Resumo

    O presente trabalho uma traduo feita do artigo de Andr Green, Le silence du

    psychanalyste, publicado na revistaTopique

    em maio de 1979 (e depois integrado aolivro La folie prive de 1990), no qual o autor, a partir de uma discusso com colegas,trabalha com duas perguntas: 1) qual o estatuto metapsicolgico do silncio do psicanalistadurante as sesses?; 2) o silncio do psicanalista existe? Compreendendo esse silnciocomo fazendo parte do enquadre analtico, o autor discute as vrias significaes que elepode comportar.

    Unitermos

    Silncio do psicanalista; metapsicologia e tcnica psicanaltica; enquadre analtico; trans-ferncia; interpretao; inconsciente e pulso; casos limites.

    I

    urante o ltimo outono discutimos, com um grupo de amigos psicana-listas, sobre o silncio do psicanalista. A discusso mostrou que dva-mos ao silncio interpretaes diferentes. No posso relatar aqui todos

    os argumentos que foram sustentados no debate 3 . No entanto, duas questescontinuaram em minha memria.

    A primeira : podemos dar ao silncio do psicanalista um estatutometapsicolgico?.

    A segunda: o silncio do psicanalista existe?.

    Como se pode imaginar, no foi fcil responder primeira. Quanto segunda, a existncia do silncio foi colocada em questo pelo fato de que, se

    verdade que o psicanalista silencioso, s vezes at mesmo mudo, essesilncio , no entanto, vivo, habitado pelas associaes do analista. Era preciso

    D

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    distinguir, ento, entre o silncio como figura do vazio e o silncio advindo deuma estratgia do calar. Sabemos que Bion recomendou aos analistas serem sem memria, e sem desejo e aproximarem-se, tanto quanto fosse possvel, deum estado de vazio interno, para deixar surgir os pensamentos suscitadospelo discurso do paciente. Esta observao ganha valor por ter sido colocadapor um representante de um grupo de analistas conhecidos pelo fato de serem pouco silenciosos. E de resto, a recomendao de Bion no a de ser silencioso,mas de mostrar-se, a cada comeo de sesso, to disponvel quanto possvelpara escutar o que o paciente tem a dizer de novo.

    Se o silncio recobre duas acepes a do vazio e a da abstinnciaverbal , estas devem ser, em todos os casos, colocadas em relao com ointenso trabalho de elaborao ao qual se lana o analista durante sua escutasilenciosa. No caso, para Bion, o vazio somente um ponto mtico de origem.

    No grupo de colegas que participaram da discusso, duas tendnciasforam colocadas. A primeira, claramente majoritria, permanecia fiel regrade ouro do silncio, por todos os tipos de razes tcnicas, que eu no precisorelembrar aqui, pois so aquelas classicamente ensinadas na formao psica-naltica. Os analistas que sustentaram essa posio tinham em comum seuceticismo quanto ao valor da interpretao como mola fundamental da anlise.Muitos insistiam sobre a parte maternal, a relao fusional, o nunca vivido, oindizvel em resumo, o silncio da me , como vetor de mudana. A inter-pretao seria aprisionante segundo eles. Lembrou-se, alm disso, a prop-sito do Tema dos trs escrnios, a equivalncia silncio-morte, e a propsitoda Inquietante estranheza, que do silncio no se podia nada dizer.

    Os partidrios do silncio defendiam o valor de um mutismo estratgicocobrindo uma massa de pensamentos para no se comunicar, para deixar oanalisando fazer sua anlise, segundo a frmula consagrada. como se as vir-tudes do silncio repousassem sobre a idia de que este (silncio do analista) sinal de aceitao tcita e de comunicao infra-verbal de sua parte, essepr-verbal tendo a funo de um catalisador que agiria invisivelmente, de talmaneira que o paciente compreenderia sozinho a significao do materialcomunicado. Observamos, alm disso, que Lacan e Nacht (o Nacht de antesdo perodo terminal) para citar somente eles concordavam em exaltar osilncio. A posio de Nacht parecia mais coerente sobre este ponto, pois elecolocava o acento sobre a relao pr-verbal e a virtude reparadora do

    silncio, enquanto Lacan, defendendo a cadaverizao (mortificao) doanalista, orientava sua teoria sobre a linguagem, como se o trabalho sobre

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    a linguagem na relao do sujeito ao significante se fizesse dentro e pelaenunciao na transferncia. Certamente o analista silencioso no deixa deinterpretar. Mas ento est claro que a economia de interpretao, que reco-mendamos seja rara, concisa e breve, advm de uma concepo oracular.Estamos aqui do lado oposto de Winnicott, que nos lembra que com certospacientes somos utilizados por nossas carncias, na medida em que elasrepresentam as carncias iniciais do ambiente.

    As coisas no so simples assim, pois ao contrrio, insistiu-se em outromomento sobre a necessidade de frustrar o paciente. De fato, a questo deveser colocada de outra maneira: silncio de qual analista, atrs de qual anali-sando, em qual sesso e em qual fase da anlise?.

    Uma outra tendncia apareceu dentro do grupo, que colocava em questoesta regra de ouro sobre os seguintes argumentos:

    1) Pode-se dizer que esta regra nunca foi enunciada por Freud nos seusescritos tcnicos. O que sabemos de sua prtica mostra que em geralele era muito pouco silencioso, se bem que o tenha sido com certospacientes: o grupo de analistas ingleses que estavam em anlise com ele na mesma poca de Kardiner (1978) o informante que nos contou

    sobre isso. Ademais, aqueles que trabalharam com os analistasvienenses podem testemunhar que eles no eram nem muito silencio-sos nem muito neutros.

    2) No se pode pretender que esta regra seja objeto de um consenso,posto que os encontros com os analistas ingleses mostram que eles inter-vm com freqncia, independentemente da corrente a que esto ligados(grupo de Anna Freud, de Mlanie Klein, ou grupo independente).

    3) Na prtica analtica contempornea as neuroses clssicas so raras.Quando se tem a sorte de encontr-las entre nossos analisandos, elasmostram-se difceis de analisar. Por outro lado, os casos em que domi-nam os traos narcsicos, que pertencem aos estados limites ou queapresentam srios problemas de carter, mostram que o silncio doanalista improdutivo, seja porque os pacientes o suportam mal, sejaporque se instalam em uma posio de falso- self analtico. O problema ento rejeitar esses candidatos anlise entre os no-analisveis(quando os reconhecemos antes que esta comece), ou o analista, tendo

    aceito a anlise, tem de interromp-la ou ainda suport-la, em umacumplicidade mais ou menos consciente, em uma falsa anlise. Resta

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    ainda a possibilidade de modificar a tcnica. Neste ltimo caso, a ques-to seria: o que estamos fazendo? Psicanlise? Psicoterapia? Improvi-sao artesanal? Manipulao?.

    No entanto essas objees, que compartilho, deixam pendente a questodo estatuto metapsicolgico do silncio.

    II

    A posio terica e axiomtica que escolhi define-se assim: o silncio do analista s compreendido como parte do enquadre psicanaltico. Seu sentido

    s se elucida se estiver includo no conjunto das condies que o definem, e que constituem o a priori da psicanlise, ou da aplicao do mtodo psicanal- tico ao tratamento psicanaltico.

    Sobre a questo do enquadre psicanaltico, convm referirmo-nos aostrabalhos de Winnicott, Bleger, J.L. Donnet e aos meus (meu relatrio deLondres, em particular). No retomarei esses argumentos aqui.

    Observemos desde j que o silncio do analista solidrio dos outros

    parmetros que definem a situao analtica. Assim, o analista visvel no come-o da sesso cessa de s-lo ao longo dela para tornar a s-lo no final; o pacienteem anlise suporta esse silncio na posio deitada, na qual sua motricidadeest restrita; este conjunto de condies, do qual o silncio faz parte, indutorde movimentos de pensamentos endereados a esse objeto inacessvel, queretornam sobre o analisando, encadeando-se a outros, sem relao aparentecom os precedentes; esse silncio torna-se, ento, como a tela de fundo sobre aqual se desenrola um pensamento associativo que imita o regime fluente deenergia livre; se o discurso do paciente mesmo linguagem, ele desperta noanalista um enxame de representaes. Todos esses traos, os mais familiaresda experincia cotidiana do analista, a ponto de nem pensar mais neles, evocam a comparao com o sonho. Retomarei mais frente a justificao deste parale-lo, em uma tentativa de articular o modelo da prtica com a teoria. No momentoeu me autorizarei a fazer esta aproximao para enunciar uma frmula: assim como o sonho o guardio do sono, o analista o guardio do enquadre, cujo silncio o principal parmetro . As formulaes tericas feitas por Winnicottsobre o enquadre so incompletas, pois ele muito mais que a metfora dos

    cuidados maternos. O enquadre seria como uma matriz simblica, um continenteele prprio contido, uma condio do sentido que depende de um outro sentido.

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    A primeira idia que eu gostaria de defender que a funo silenciosado analista independente da quantidade de palavras (ou de informao) queele introduz no enquadre analtico. De fato, essa funo depende do silncioque o analista mantm na sua resposta interpretativa quanto ao contedomanifesto do discurso. porque, por mais prolixo que o analista seja, o ana-lisando tem quase sempre o sentimento de que ele (o analista) no diz osuficiente e, sobretudo, que no responde s questes que lhe so colocadas,que em considerao ao contedo manifesto, ficam sem resposta. Quando oanalisando tem o sentimento de que o analista disse muito, isto sempre querdizer que o analista disse o que o analisando no deseja escutar. preciso opordo lado do analista, assim como para o analisando, a palavra plena palavra

    vazia. Um analista pouco falante pode abrir a boca s para dizer uma palavravazia. A palavra plena sempre interpretante (direta ou indiretamente), epode tomar a forma do silncio.

    Porque o referente da anlise a relao da pulso com o inconsciente,a finalidade do discurso inconsciente do analisando provocar a ao espec-fica (Freud). A palavra do analista metfora de ao. Mas esta e deve ser somente uma metfora. O que implica que o contedo manifesto seja desvia-do, subvertido. O que explica a insatisfao, algumas vezes, de certos

    analisandos que respondem a esse desvio imposto ao especfica, isto ,da ao suscetvel de fornecer pulso sua satisfao: mas ento o quedevo fazer ?. Esta questo normalmente includa no contedo do que euchamo de contra-interpretao (locuo formada sobre o modelo decontratransferncia), que designa a rplica do analisando no importa qualseja interpretao do analista.

    Alm disso, a interpretao no se ope ao silncio, na medida em queo silncio interpretao. H apenas modelos diferentes no enquadre anal-tico. Como me dizia uma paciente: num consultrio de psicanlise a genteno pode tropear no tapete sem que isto queira dizer alguma coisa. Vocno ficaria surpreso de saber que algumas sesses depois ela tropeou 4 (outropeou de propsito) no meu tapete. Que eu me cale ou que eu fale, istosempre quer dizer algo. A questo vale tanto para o analista como para oanalisando: dado que isto quer necessariamente dizer alguma coisa e queeu tenho a escolha entre vrios sentidos possveis, qual o melhor?. Do mes-mo modo, o silncio pode significar vrias coisas para o analisando, depen-

    dendo dos momentos de uma anlise ou de uma sesso: fuso, interesse,cuidado atento, cumplicidade, respeito ao discurso, consentimento (quem

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    mesmo da ligao do ato de enunciao que re-inclui e rene o que os brancosapagaram e dissociaram. Um analista que formulasse suas interpretaes cla-ramente para si antes de diz-las estaria atormentado por uma obsessividadeque ignoraria a mensagem do inconsciente (o seu), incluindo os riscos dos lapsos , sem reajuste possvel. Notei que algumas de minhas interpretaeseram agramaticais e pensei: tanto melhor, pois eu forneceria assim materialao meu paciente sobre minha contratransferncia, mantendo um discursovivo que no estava separado de suas razes inconscientes por meio da ela-borao pr-consciente. Toda interpretao advm do pr-consciente, por-que a interpretao o duplo resultado de uma formao de pensamentos ede colocao em palavras, assim como o inconsciente colocao em cadeia

    de representao e afetos.A funo estruturante do silncio do analista no duvidosa. O silncio

    constitui a tela de fundo sobre a qual as figuras projetivas do paciente vo semover (ou se emocionar), desenhar, escrever, compor. Seria como um a priori da interpretao. Resta dizer que desde sempre os analistas tiveram que reco-nhecer que existiam pacientes que no suportavam o silncio. As conclu-ses que foram tiradas da so bem discutveis. Certamente, diante dainadequao da tcnica dita clssica, relegamos esses pacientes para as trevas

    externas da psicoterapia. Eles no seriam dignos do silncio de ouro do psica-nalista. Mereciam somente o desprezvel chumbo da palavra do psicoterapeuta.A escola inglesa toma um outro partido, inventa sua prpria tcnica analtica.Mlanie Klein contribuiu muito para essa mudana. Mas Winnicott foi o pri-meiro a denunciar a cumplicidade entre analista e paciente, ponto sobre oqual ambos tm o sentimento de que a anlise, bem ou mal, avana, at o diaem que chegam concluso de que a anlise deslizou sobre o analisando comogua sobre as penas de um pato. Winnicott diz: nem todos podem se permitirfazer uma crise psictica. Essa observao sobre a cumplicidade da qual eumesmo fui cmplice durante muito tempo intrigou-me. Como a criana, oanalisando tem uma grande capacidade de adaptao, mesmo quando ele muito perturbado. Como a criana, ele tambm capaz de durante longosanos constituir silenciosamente sua neurose ou sua psicose, at o momentoem que a descompensao brutal intervm. Como a criana com seus pais, elebrinca de perde-e-ganha, fazendo fundo sobre (ou com) as defesas de seuanalista, do qual conseguiu fazer um comparsa involuntrio para o no-desen-volvimento de uma neurose de transferncia; talvez precisamente porque o

    paciente no tenha uma neurose para transferir, mas talvez uma psicose, umapr-psicose, uma depresso, um estado limite de transferncia.

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    Essas estruturas so transferveis e analisveis? Muitos analistas res-pondem negativamente (ver sobre isto a discusso de Anna Freud de meurelatrio de Londres, Int. J. of Psychoanal., 1976). O que me parece certo que elas colocam prova a contratransferncia do analista, precisamentesobre a questo do silncio. O silncio do analista pode dar incio absorodesses estados no tratamento, isto , a interromper a anlise sobre umanon-liquet (no-soluo) que deixar no analisando uma potencialidadepatognica, que o expor a outras descompensaes, e da esses casos a npedaos, com o mesmo ou com um outro.

    A coerncia triangular (neurose infantil, neurose adulta, neurose de trans-ferncia) satisfatria para a mente que observa do exterior o desenrolar dasoperaes o caos psictico no estruturado, desestruturante ; o nada objetal,as duplicaes narcsicas, a carapaa esclerosada, a esfera dos casos limites,no so suscetveis de se desvelarem sobre a tela de fundo do silncio dopsicanalista. Os vnculos (Bion) no se fazem espontaneamente, a relao ener-gia livre-energia ligada, cuja linguagem o lugar de transformao, do me-lhor acesso s metforas vulcnicas ou desrticas, a carga pesando sobre osignificante, suscetvel de produzir fenmenos de fisso nuclear semntica.Essas imagens apocalpticas podem nos dar uma idia daquilo de que o analista

    se protege para assegurar sua tranqila existncia. Afinal, o paciente vem ssesses, paga regularmente, e se suicida com pouca freqncia; raro que eletermine em um hospital psiquitrico. Isto o que eu chamo de loucura privada que somente a situao analtica revela, nos momentos em que ela corre orisco de se despedaar, de se fissurar, de se cindir, como o Eu ( Moi ) do qualFreud fala em seu artigo Neurose e psicose , de 1924.

    Essa capacidade de se adaptar, quando o paciente no interrompe a an-lise pela fuga ou atuao danosa anlise , tal que o paciente, tendo visto

    outros, organiza-se no silncio do analista, por um silncio vingativo, escondidosob o jogo do que Lacan chama de palavra vazia. A anlise permanece entoletra morta , e a dupla se entedia. Ora, no h nada mais mortfero para aanlise que o tdio silencioso do analista. Os julgamentos de valor intervm ento: o paciente no merece a anlise; ele ou ela no compreende nada!.Seria timo ver o que o prprio analista compreende.

    O silncio do analista, nesses casos, no mais a condio favorvel ecloso da neurose de transferncia, mas a constatao de seu no-lugar.

    recusando-me a esta situao, mortificante para mim e para meu paciente,que decidi colocar em questo a regra de ouro do silncio do analista.

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    III

    surpreendente ler sob a pena de Freud, em Construes em anlise

    escrito que parece revelar uma reflexo atrasada em relao a Anlise terminvel e interminvel , uma observao bem tardia:

    (...) o trabalho de anlise consiste em duas partes inteiramente diferentes, isto ,ele levado a cabo em duas localidades separadas, envolve duas pessoas, a cadauma das quais atribuda uma tarefa distinta. Pode, por um momento, parecerestranho que um fato to fundamental no tenha sido mencionado antes, maslogo se perceber que nada estava sendo retido nisso, que se trata de um fatouniversalmente conhecido e, por assim dizer, auto-evidente, e que simplesmente colocado em relevo aqui e examinado de modo isolado para um propsito espe-

    cfico (1976, p. 292).

    Essas precaues estilsticas no so de forma alguma usuais na escri-ta de Freud. Elas deixariam antes pensar que mascaram mal uma tomada deconscincia bem tardia. Antes tarde do que nunca. Para entender o longoespao de tempo que foi necessrio para essa constatao evidente, neces-srio voltar.

    Uma questo fundamental da psicanlise a das relaes entre os mo-

    delos tericos e a prtica clnica. Estas relaes no so sempre claras na obrade Freud. Esboarei em linhas gerais um afresco imaginrio dessa obra, em que distinguirei quatro perodos.

    H um primeiro perodo, que chamarei de tateamento. Ela estende-sedesde Estudos sobre histeria at A interpretao dos sonhos . Os trabalhosclnicos incitam Freud a construir o primeiro modelo terico. o Projeto de1895 e seu fracasso. Com A interpretao dos sonhos inaugura-se o segundoperodo, de formao de um modelo terico e clnico. So colocados nessa

    poca quatro eixos: os sonhos ( A interpretao dos sonhos ), a transfernciadas psiconeuroses de transferncia ( Dora ), a sexualidade infantil ( Os trs ensaios sobre a teoria da sexualidade ) e a linguagem (Os chistes e sua relao com o inconsciente ). Em cinco anos o jogo est completo.

    O que preciso reter da ruptura entre O projeto e A interpretao dos sonhos que, com esta obra, implicitamente, Freud forneceu um modelo no somente de um aparelho psquico mas tambm do enquadre analtico . comum observar que o enquadre analtico, do qual Freud o descobridor, da mesma

    forma que o descobridor do inconsciente, somente foi objeto de justificati-vas pragmticas, enquanto, na verdade, institui uma relao absolutamente

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    original e inteiramente nova entre dois seres humanos. Proporei ento aseguinte hiptese: o modelo do Projeto foi abandonado porque era um mo-delo aberto a todos os ventos. Ele inclui o sistema nervoso perifrico e cen-tral, cujo conjunto caracteriza o sistema da vida de relao com seus doisandares, primrio e secundrio; Freud acrescenta a sua originalidadepresente desde essa etapa o sistema pulsional, que eu compreendo comotransformao do sistema nervoso vegetativo ou autnomo, nas refernciasneurolgicas de seu tempo, em sistema significante do corpo pulsional, eenfim, sistema da linguagem. Cada um desses sistemas fundado sobre oarco-reflexo ao qual Freud referir-se- ainda em A interpretao dos sonhos ,com um plo receptor e um plo motor: assim, sensibilidade e motricidade

    para o sistema perifrico, percepo e ao para o sistema central, pulso eafeto para o sistema precursor da vida pulsional, emisso e recepo para alinguagem. A cincia da poca v na conscincia o estado supremo deintegrao, porque ela s considera os dois sistemas da vida de relao,centrando a atividade psquica sobre as relaes entre organismo e meioambiente. Freud compreende, ento, que essa viso demasiadamente vas-ta para captar a referncia essencial que ele procura: aquela que governa aatividade psquica interna.

    Esse descentramento da psique na direo do sistema pulso-repre-sentao-ao especfica solicita que Freud opere uma reduo do modelodo Projeto , sacrifique o modelo relacional em relao com o mundo exte-rior, aceite a colocao da conscincia fora de circuito e consinta em ter domundo interior somente uma viso retrospectiva e indireta. isto que omodelo do captulo VII teoriza. Freud fecha o plo perceptivo (o sujeitofecha os olhos e alucina no sono), fecha o plo motor (o sujeito parali-sado quando dorme) e deixa desenrolar os acontecimentos psquicosreordenados pelo trabalho do sonho. Coloco de lado os detalhes que soconhecidos por todos. Fazendo isso Freud fecha-se na caixa preta do sono,mas ao contrrio dos behavioristas, e concordando mais com os platnicos(mito da caverna), ele reconhece em seu seio a verdadeira vida psquica.Tomado nos limites do sonho, heri e testemunha deste, ele viveu o sonhosem compreend-lo; em seguida, no tempo do despertar, lembra, associa,faz as ligaes entre restos diurnos, pensamentos latentes, desejo do so-nho, em uma perspectiva interpretativa conjectural. Tudo se passa no a

    posteriori do j sonhado, na apreenso indireta para tentar alcanar o lu-

    gar onde estava (ou isso estava), como o analisando procura reencontraro passado perdido.

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    Ora, o fato essencial a homologia implcita do modelo do sonho e domodelo do enquadre analtico. No interior da sesso no existe fechamento doplo perceptivo, mas o analista oferece ao analisando uma percepo constante(esta que se v de seu div) e se coloca fora da vista do analisando. No htampouco fechamento do plo motor, mas a motricidade restrita pela posi-o deitada. entre esses dois plos que se desenrola o discurso associativo, aconscincia estando conservada, mas a censura moral e intelectual suposta-mente suspensa, da mesma forma como diminuda no interior do sonho. A concordncia entre os dois modelos funda a articulao entre teoria e prti-ca. A leitura atenta de A interpretao dos sonhos j indica os delineamentosdos outros constituintes do modelo completo, a saber: a transferncia, a sexua-

    lidade infantil e a linguagem, que sero ulteriormente elaborados por Freudnos trabalhos que citamos.

    O terceiro perodo se abrir com Alm do princpio do prazer , no qual osremanejamentos da ltima teoria das pulses apenas anunciam a segunda tpi-ca, absolutamente solidria do dualismo pulso de vida/pulso de morte, esteque se deixa freqentemente de definir. Mas o que me intriga a reavaliaoparalela da transferncia e do sonho. A primeira explcita (compulso repe-tio), a segunda implcita atravs dos pesadelos da neurose traumtica. Enfim,

    Freud anuncia Winnicott, introduzindo a importncia do jogo, e Lacan pelateoria da linguagem, que a oposio fontica que -da ilustra. Mlanie Klein j no est no horizonte, se compreendermos o jogo como destruio-reparao quer dizer, processo de luto? Mas no que me concerne, sobre a introduo dosilncio na teoria as pulses de morte agem em silncio, todo o rudo da vidavem de Eros que acho til sublinhar a importncia.

    Na articulao entre os captulos II e III de O ego e o id , um momentoterico decisivo pode ser destacado. No captulo II Freud debrua-se com aten-o sobre as relaes Cs-Pcs-Ics, vistos sob o ngulo dos vnculos entre repre-sentaes de coisa e representaes de palavra: apoiando-se sobre os processosobservveis da anlise finaliza o captulo sobre o Eu como superfcie ouprojeo de uma superfcie e como Eu corporal. Quando aborda o captuloseguinte, ele rompe essa linha de reflexo para entrar em um novo campoterico que introduz a referncia ao objeto. a partir de uma estrutura emi-nentemente afetiva a melancolia que Freud descreve as relaes da incor-porao e da identificao, e no por acaso que ele se volta em direo a esta

    afeco, pura cultura de pulses de morte. Podemos pensar, ento, que sobreum fundo de silncio que se passam os processos descritos.

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    Chego enfim ao ltimo perodo. Terei a audcia de dizer que aquele daconstatao de fracasso ou no mnimo um convite humildade. Fao alusoaqui s ltimas obras que so, por assim dizer, seu legado psicanlise e histria do pensamento no ocidente: Anlise terminvel e interminvel , Moiss e o monotesmo , Esboo de psicanlise . Se teoricamente o resultado decisivo,sobre o plano da prtica o balano incita antes modstia. O modelo evolui em direo ao constitucionalismo pulsional, aos traumas precoces e suas defesas, sdistores quase irreversveis do Eu. O interesse desloca-se do recalcamentoem direo clivagem. A psicose est no horizonte. O campo psicanaltico tendea se estreitar sobre bases mais seguras. E contudo Freud recusa todo compro-metimento tcnico. Vide suas controvrsias com Ferenczi e Rank.

    Conhecemos o resto: Anna Freud, apoiada por Hartmann, Mlanie Klein(pupila de Abraham e de Ferenczi); o neo-kleinismo de Bion (que tenta reunirM. Klein e S. Freud sem passar por Anna Freud); a mediao de Winnicott; e oneo-freudismo de Lacan.

    Na verdade, parece-me que se a hiptese da articulao entre sonho-setting legtima, como eu defendo, a preocupao pela coerncia deveriaincitar Freud a entender que a oposio heuristicamente fecunda aquela da

    vida psquica diurna e noturna. Isto que Denise Braunschweig e Michel Faintm, em uma perspectiva diferente da minha, sustentado em La nuit, le jour (A noite, o dia )5 . E no h dvida de que esse ensaio, centrado sobre o funcio-namento mental, indica a trilha a seguir.

    Em minha opinio, o sonho no a nica atividade psquica do adorme-cido, como poderamos pensar com Freud, discpulo de Aristteles nesse ponto.A noite psquica mais vasta e mais diversa, j que ela compreende, alm dosonho, o pesadelo, os sonhos ditos do estado IV (cf. S. Furst,1978), a rumina-

    o mental da insnia, o sonambulismo, e enfim, o sonho branco de B. Lewin,que eu entendo sob o ngulo de alucinao negativa. De onde um novo mode-lo de relaes entre o desperto e o adormecido, para evocar a lembrana deHerclito, e paralelamente um novo modelo de relaes neurose-psicose (esteltimo termo sendo tomado em sentido amplo). Da mesma maneira, a sexua-lidade no mais a referncia essencial da criana. Ela deve ser reavaliada em relao dupla que forma com as pulses de destruio, e certamente em relao ao objeto e ao Eu.

    De qualquer maneira parece-me capital, se quisermos fazer a teoria daclnica na perspectiva de articulao prtico-terica, substituir a lgica unitria

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    pela lgica do par. A dupla analtica no setting homloga da dupla formadapela criana- infans e pelos pais falantes. Podemos aproxim-la da dade criana-me, com a condio de situar o pai na ausncia dessa relao. O dipo perma-nece, como disse Lacan, sendo a condio estruturante-estruturado da teoria eda prtica 6 . O pr-dipo uma noo teoricamente insustentvel. Posso agoravoltar situao psicanaltica, abordando-a no mesmo nvel.

    IV

    Nas trocas entre paciente e analista, no seio do enquadre analtico,podemos distinguir:

    1. O dito do paciente

    2. O calado no-dito e sabido do paciente

    3. O calado no-dito no sabido do paciente

    4. O inaudvel e o nunca ouvido do paciente

    5. O dito do analista

    6. O calado no-dito e sabido do analista

    7. O calado no-dito no sabido do analista

    8. O inaudvel e o nunca ouvido do analista.

    Esta maneira de descrever tem, acredito, certas vantagens heursticas:

    1) Silncio e palavra so solidrios e conjuntos em cada parceiro.

    2) Se a palavra veicula, sem sab-lo, um sentido inconsciente, o silncio certamente ambguo, sendo que encobre o escondido (a reticncia), ono sabido do paciente e do analista, e o inaudvel e o nunca ouvido decada um deles.

    O silncio no somente estratgia. O silncio pode, de fato, ser repletode palavras silenciosas, portadoras do sentido consciente e inconsciente: pode,igualmente, estar cheio de outras coisas alm de palavras. Mas pode tambm

    ser o inaudvel do nunca ouvido. No se trata mais neste caso de mal-ouvido7

    ,mas de um negro (ou de um branco) auditivo. Isso pode levar-nos at o no-

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    sentido, ou at um sentido no-verbalizvel que deve estar operante, mesmoque em uma forma em que o sentido reveste a aparncia de um no-sentido 8 ,em todos os sentidos da expresso, ou seja, no de uma incoerncia, mas deum sentido que as leis do sentido no compreendem.

    Se optamos por ligar o sentido e a palavra (e o significante no verbal), preciso acrescentar que a qualidade e a funo do silncio variam de acordocom o tipo de discurso emitido. Isso a partir do duplo ponto de vista do anali-sando e do analista. Quer dizer que o que o analista sente do discurso dopaciente, ou nele mesmo como silncio fecundo, estruturante, generativo(no sentido em que se fala de uma gramtica generativa), ou silncio pesado,pulsionalmente sobre-investido, fortemente projetivo ou fusional, ou enfim,silncio inerte, degenerativo, silncio de morte est em estreita relaocom os aspectos do funcionamento mental e dos temas que ele deve elaborar.Da mesma forma, o analisando pode sentir o silncio do analista de maneiracorrespondente, segundo sua atitude interpretativa.

    Descrevi no meu relatrio de Londres as situaes borderlines , em queo discurso do paciente impunha ao analista emoes afetivas, em um primeiromomento no representativas, mas das quais uma representao ou um com-plexo de representaes emergia (no sentido dado por bilogos a este termo)na mente do analista, como fruto de um trabalho, exigncia de trabalhoimposta ao psiquismo em conseqncia do seu lao com o corporal. Acreditoque poder-se-ia comparar esse trabalho quele que est na origem das teoriassexuais infantis: a sexualidade pode no ser terica? Eis uma questo inte-ressante de se debater. De todo modo, o silncio a condio a priori paraestabelecer os laos entre os diferentes tipos de significantes, ou entresignificantes da mesma natureza. Isto para dizer que o silncio o espaopotencial de trabalho do analista, mas que no serve para nada prescrev-lo

    de forma forada, e que ele no desaparece quando a quantidade de palavrasemitidas pelo analista perpassa a dose codificada.

    Ele me incentiva a falar um julgamento de supervisando recitandosua lio que me leva a sorrir. E quando algum me diz: falei demais, ouno o suficiente, eu me pergunto: falou de modo justo ou no?. O que anica questo pertinente. Ou ainda: no teria sido melhor dizer aquilo deoutro modo?. Existe uma lgica da interpretao que passa por seu condicio-namento, mais do que pela referncia econmica da raridade. O silncio,

    seja ele de ouro, pode custar muito caro, se no ao analista que recebe seushonorrios de qualquer modo, ao menos anlise que se desenrolara no

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    contrato: sobretudo no diga nada, prometo que no direi nada e no odiremos a ningum. Forma de fechar o campo do no-analisado.

    O silncio do analista no uma meditao, uma escuta, mas isto insuficiente. A ateno flutuante d somente uma dimenso parcial da atitudedo psicanalista. Pode-se dizer que o silncio o equivalente, na viglia, dosono do analista, no qual ele se escuta escutar, enquanto na cena do discursoouvido formam-se as associaes do analista, tempo prvio formao edepois formulao interpretativa. Isto deveria incitar-nos a cercar melhor odiscurso interior do analista.

    Na medida em que a condio necessria para o discurso interior odiscurso do analisando, direi que o trabalho discursivo do analisando querege o silncio do analista. Isto quer dizer que esse discurso determina se osilncio que enquadra o discurso interior do analista estril ou fecundo,criador de sentidos novos ou repetitivos, desvelador ou parafrsico, quandoo analista no consegue estabelecer as pontes semnticas que permitam de-colar do contedo manifesto para chegar ao contedo latente. Aqui a questo saber se o singular mais apropriado que o plural, porque uma polissemia,uma pluralidade de sentidos se oferece a todo instante sentidos mltiplos,

    entre os quais o analista escolhe segundo suas opes tericas. Ou seja, se-gundo ele adote a regra da superficialidade ou prefira compreender e inter-pretar diretamente na lngua fundamental do paciente. Ele pode ento encon-trar-se frente fragmentao associativa do histrico, s rupturas permanen-tes do discurso e ao isolamento afetivo do obsessivo, monotonia depressiva, racionalizao paranica, incoerncia esquizofrnica, que o obriguem aescolher estratgias interpretativas apropriadas. mais indicado, em cer-tas situaes em que a comunicao testemunha ataques sobre os laos(Bion), tentar constituir uma trama discursiva de dois sentidos, em um fio a fio verbal em que o discurso do analisando e o do analista tecem o tecido de um discurso reticulado . O risco dessa atitude interpretativa a introdu-o de termos algenos aos contedos do paciente. aqui que o analistadeve usar a imaginao psicanaltica, e sobretudo esforar-se mais do queem traduzir contedos, em usar os restos dos fragmentos do discurso dopaciente, os esquecidos da sesso as palavras destinadas a cair no ouvidode um surdo , para reuni-los em um novo espao potencial (Winnicott),em uma forma freqentemente paradoxal. Isso significa que o silncio do

    analista um silncio laborioso, para o qual seu aparelho psquico cha-mado a contribuir.

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    Devo precisar que as crticas que enderecei a uma prtica lingistisanteda anlise, devidas a uma teoria da linguagem insatisfatria para a qual acabode propor uma alternativa que me parece mais adaptada psicanlise (cf.Critique , fev/1979, n. 381) 9 , levam-me hoje a dizer que de qualquer maneira,a ateno s palavras dos pacientes deve ser extremamente rigorosa, sendoque [essas palavras] 10 indicam o limite de conteno pelo verbalizvel e cons-tituem uma outra forma de complexidade em relao fantasia.

    Com tal procedimento recolhe-se tudo que verbalizvel no discursoinconsciente. Nem mais, nem menos. Isso exige uma produo interpretativaem que a explorao da linguagem deve ser levada muito longe. Mas issosomente admissvel sob a condio de propor um modelo da linguagem do psicanalista . Direi apenas que as transformaes do cdigo antilingsticodo inconsciente no cdigo lingstico do pr-consciente exigem um traba-lho silencioso, em que a funo auto-referente da linguagem est operando.De fato essa atitude no deve ser sistemtica, varia segundo as possibilida-des do paciente , e obviamente, segundo as possibilidades do analista. Existe,na minha opinio, somente uma regra em relao interpretao. Estaregra de aplicao simples e difcil. Tudo se resume em saber o que opaciente pode ouvir do analista. Ouvir no significa compreender ou opi-

    nar tacitamente, porque de pouca importncia se temos a confirmao oua invalidao do analisando sobre a interpretao do analista, como dizFreud. Por outro lado, do mais alto interesse observar o que chamei acontra-interpretao, ou seja, a resposta imediata do analisando inter-pretao do analista.

    O efeito mais positivo da interpretao cabe em quatro frases:

    Pensei nisso (mas o calei)

    Estava pensando nisso

    Jamais tinha pensado nisso (sempre soube disso)

    Isso me faz pensar em ...

    As duas primeiras respostas so um ponto-chave, um encontro entreanalista e analisando. Significam somente uma coisa: o analista e o analisandoesto na mesma freqncia, sem que haja supresso do recalcamento. Da

    mesma forma a quarta frase significa que h supresso de um recalcamentona perseguio dos processos associativos em direo a um ncleo semntico

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    recalcado. Somente o jamais tinha pensado nisso (sempre soube isso) assi-nala a supresso do recalcamento em relao ao passado (jamais, assinalan-do a atemporalidade do inconsciente). Essa ltima frase quer dizer muitascoisas, e um dos seus sentidos : aquilo estava encoberto pelo silncio quesua interpretao descobriu nos dois sentidos do termo: despido e encontra-do. O que preciso acrescentar que no caso em que a interpretao exata, o analista tambm o , mesmo que o material tenha sido apresentadoa ele vrias vezes como jamais tinha pensado nisso. Um dos meus pacien-tes ofereceu-me como interpretao: puxa! E s agora que me diz isso! Iguala uma moa que se deita com um cara h vrios meses, e que quando vaicontar para a me ela lhe responde: e agora que me diz isso!. Em suma,

    ele sempre soube isso.Gostaria de acrescentar uma observao sobre a polissemia. Sabemos

    por experincia que um material pode ser interpretado segundo diversas cate-gorias sub-referenciais (o referente sendo o inconsciente). Longe de precisarescolher uma dessas sub-referencias em relao a uma outra (um dialeto doinconsciente, como diria Freud) o que preciso entender que a estruturainconsciente reverberada-reverberante . Isto significa que as diferentesposies fazem eco umas s outras. isso que nos permite falar em castrao

    flica, anal, oral, e que nos permite dizer que a fantasia da me flica signi-fica, em alguns casos, a necessidade de negar a castrao pela fantasia do oudos pnis maternos (cf. A cabea da Medusa), e em outros casos, essa meflica efetivamente penetrante para o sujeito (por qualquer orifcio, ou portodos ao mesmo tempo). Essa a razo pela qual podemos interpretar omesmo material sob o ngulo da imago paterna ou da imago materna. A reverberao expressa-se melhor ainda quando o desejo o faz somente pormeio da identificao. Logo o dipo destrudo, reduzido ao silncio; so-mente o silncio permite, atravs de seus vestgios, reparar o jogo de espe-lhos aos quais ele deu lugar.

    preciso acabar com o realismo gentico e mesmo aquele da crnicadas figuras fantasmticas, que se apia em um historicismo ingnuo, e sobre-tudo sem nenhuma prova sustentvel. A imagem de uma temporalidadeespiralar impe-se aqui, em que a iluso de continuidade menos importantedo que os desenhos que se podem traar cruzando espirais que pertencem anveis diferentes. Uma coisa certa: no h possibilidade de trazer um para

    cima do outro, o contedo manifesto e o contedo latente. Esta verdade noentanto negligenciada em todas as formas de interpretaes simultneas, que

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    so somente parfrases do discurso do paciente em um jargo psicanaltico.O que falta decidir so as figuras do recalcamento em pauta (recalcamento,denegao, desmentido, forcluso) e os aspectos especficos deste.

    nesse sentido que falo do silncio como espao potencial no analis-ta. O que quero dizer que a ordenao do universo inconsciente do pacien-te, segundo as diferentes sub-referncias indicadas, supe sua no-comu-nicao, a forma mais grave sendo a clivagem, que faz passar o silncioentre duas posies por meio de uma digresso disjuntiva sem gerar nada.Esta disjuno (que, todavia, supe a conjuno negativa metafrica des-sas posies), ou seja, esta separao, pede uma re-unio sob a nova formada interpretao que uma simbolizao. O silncio o tempo prvio em que a sucessividade transforma-se em simultaneidade, a reverberao con-cluda permitindo ao reverberado traduzir-se em uma outra sucessividade.Em outras palavras, o silncio o lugar do apagamento do manifesto de forma que possa revelar o latente. O silncio a ausncia pela qual o ma-nifesto cai no vazio para ressurgir sob a forma de latente. O silncio condio, tempo no futuro do pretrito, governado pelo pensamentoimplicativo. Se ... ento. Ou seja, se escuto o desejo do discurso, ento odiscurso do desejo seria aquele. Se uma condio suspensiva, um

    suspenso analtico, em que o desejo falvel espera do analista que este nolhe faa falta. Um paciente diz em uma sesso: quando penso que h so-mente um analista que fala em Paris e precisava cair neste!. Mas no finalda sesso ele dir, antes de me deixar: eu te agradeo. Era, talvez, umaforma de me mandar embora, mas no podia deixar de admitir que essasdelcias masoquistas escondiam um conflito identificatrio com um pai s-dico e sedutor, odiado por ter forado sua me a abandon-lo seis mesesaps seu nascimento, mandando-o para o campo porque o ar melhor ali,e um av bom e generoso, mas em relao ao qual descobriu cultivarimpulses assassinas culpveis. Na transferncia ele usava da projeo al-ternada dessas duas imagens no meu lugar, sem obviamente ter a mnimaidia desse conflito. Meu silncio tinha caucionado nele a resistncia da ex-ceo, ou seja, seu sado-masoquismo profundo parecia uma retorso legti-ma do mal que tinha sido feito a ele.

    Isto mostra at que ponto o silncio do analista, silncio de acolhimentode suas prprias associaes, silncio de espera, silncio povoado, sobre-

    tudo silncio de uma exigncia de trabalho do psiquismo do analista em conseqncia de seu lao com o corporal do analisando.

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    A idia que deve prevalecer doravante aquela da lgica do par analtico representado pela conexo de dois aparelhos psquicos, um sobre o outro,separados por uma significativa diferena de potencial.

    Estou, assim, somente divulgando a verso frutfera do trabalho analtico. preciso tambm considerar os bloqueios associativos devidos contratransferncia (no sentido clssico do termo) e sobretudo, parece-me,aos aspectos mais loucos do analisando. Por loucura particular no entendonecessariamente a psicose fantstica (digo fantstica, sim) do analisando, ima-gem de um universo boshiano 11 , cujo pitoresco s vezes comum. Essa lou-cura tambm uma linguagem louca, um corpo louco, uma sexualidade loucaetc. O sucesso da anlise depende sobretudo da tolerncia do analista em re-lao a essa loucura particular. O silncio do analista pode, nesses casos, serum silncio de defesa, de recusa ou de refgio para salvaguardar sua sadepsquica. Nada o obriga a viver esses ordlios, e se o analista sente-se indis-posto por causa desses extravasamentos pulsionais, melhor que permaneaum analista clssico. melhor ser um bom analista de neuroses clssicas, se que existem ainda, do que um mau analista de estados limites. Acrescenta-rei, finalmente, que ser um analista de borderlines no nos deve levar ce-gueira frente s ressonncias edipianas de todo material. Pois o dipo est em

    todo lugar e sempre, desde a concepo do sujeito.

    V

    Por que as neuroses prestam-se tcnica analtica enquanto as outrasestruturas so refratrias a essa tcnica? Invocar a regresso parece-me noser nada mais do que um tapa-misria terico. A relao das neuroses com asperverses poderia explicar a adequao das neuroses analise. A neurosecomo negativo da perverso seria compatvel com as exigncias que definem o enquadre analtico, pelo fato de que as perverses colocam em jogo pulsesparciais no seio de um Eu-enquadre (ou estrutura enquadrante), que conse-guira manter sua unidade narcsica por meio da erotizao das pulses dedestruio. O perverso teria, em suma, procedido narcisizao de seu Eupara remediar um risco de desmembramento frente ao insuportvel da dife-rena dos sexos, sacrificando a integrao das pulses sob a primazia dagenitalidade. Ou seja, ele teria escolhido o narcisismo unificador do Eu con-

    tra a fuso das pulses para com o objeto. Ameaado pelas pulses de des-truio, teria conseguido lig-las por meio da libido ertica (o que origina o

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    a soluo passa pela narcisizao prvia do Eu. A fim de prosseguir com acomparao, direi que o neurtico sonha e os casos-limites procuram sonhar,mas se encontram de fato atormentados pelo pesadelo, pelo sonambulismo epelo sonho branco, mesmo quando parecem conseguir fazer uma coisa pare-cida com o sonho!

    O que me parece importante entender que o Eu desmembrado, aspulses parciais e os objetos parciais no combinam sempre, e que agrupa-mentos limitados so possveis. Assim a perverso, expresso das pulsesparciais, compatvel com o Eu unificado e um objeto relativamente unifica-do, excluindo entretanto a vagina. Da mesma forma o caso-limite possui um Eu menos unificado do que o perverso, co-existente com as pulses parciaismais unificadas (pelo menos superficialmente) que o Eu.

    Essa distino entre pulso e objeto importante porque acredito queela possa ser a fonte de conflitos essenciais. preciso saber estabelecer adiferena entre o que pertence a uma e a outra na sesso.

    Como a tcnica no silenciosa atua frente situao? Como operar anarcisizao do Eu? Pela operao da ligao, a Bindung freudiana. O analista,em vez de deixar o filme ou o fio associativo desenrolar-se, pontuar odiscurso de suas intervenes que no so todas elas interpretaes. Eleligar os farrapos do discurso, porque a est a armadilha: o analista pode sertentado a pensar que esses trapos associativos, por meio de suas inseres nodiscurso, so contidos por um Eu cujo revestimento mental suficiente. Defato, a clivagem processa-se entre cada fragmento associativo , justaposto aosanteriores e aos seguintes sem nenhuma relao entre eles. Dito de outromodo, a simbolizao que est em causa. A ligao operada pelo analistatem por meta re-ligar os elementos desligados para poder, em um determi-

    nado momento, interpretar e no mais somente intervir. Dois tempos dasimbolizao: o primeiro rene, o segundo usa as ligaes estabelecidas parareatar com o inconsciente clivado.

    Acrescento que esse trabalho de ligao e re-ligao ope-se ao traba-lho das pulses de destruio. Para ser eficaz, direi que precisa ser superficial .As interpretaes profundas, insistentes ou sistematicamente transferenciaissomente tm, a meu ver, o poder de reforar a clivagem. Esse trabalho na superfcie , na base das associaes, tem por objetivo constituir um pr-cons-

    ciente que geralmente no cumpre sua funo de mediador ou de filtro nosdois sentidos, entre consciente e inconsciente.

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    Uma reflexo mais aprofundada guiar-nos-ia talvez a reconhecer a so-lidariedade entre trabalho de ligao erotizao das pulses de destruio narcisizao secundria do Eu recalcamento e pr-consciente. Isso implicaque ao mesmo tempo seja teorizada a angstia dos casos-limites e a angs-tia das neuroses, em que a angstia de castrao, junto com a angstia depenetrao, reverbere no par de angstia de separao e de angstia deintruso. Aqui o conceito de distncia devido a Bouvet poderia ser repensa-do. Digamos apenas que a distncia em relao ao objeto somente relevan-te para o analista, na medida em que permite avaliar o que o analisandopode entender do recado do Outro, que retornado sob sua forma invertida,segundo a frmula bem conhecida de Lacan.

    O trabalho do analista situa-se no campo transicional descrito porWinnicott, que pode ser definido como uma categoria simblica. a via inter-mediria do smbolo como um talvez, e no como algo que ou no , mascomo algo que pode ser, sem que essa esperana de realizao se encontre

    jamais realizada.

    VI

    O trabalho do analista conflituoso . o produto de uma luta constanteentre o ouvir, o mal-ouvido, o no-ouvido, o nunca ouvido, o inaudvel porqueno perceptvel e o horror provocado pela audio.

    No fluxo associativo do discurso do analisando, a linearidade desse dis-curso engendra, medida que progride, efeitos retroativos ( feedbacks semn-ticos), que estruturam a progresso da formulao verbal. A escuta analtica progressiva-regressiva. O inconsciente no segregativo ele expressa-secomo pode e faz uso de qualquer recurso. Toda aproximao exclusiva de um s tipo de significantes (verbais, representativos, afetivos, corporais, ativos) um corte sombrio na polissignificncia (equivalente da polissemia para apluralidade dos significantes). O analista poliglota e ouvinte da linguagem do sonho, da fantasia, do lapso, do ato falho e de tudo de que o estilo inconscien-te se alimenta. Sem dvida, o silncio o fundo sobre o qual se desenvolvem as figuras das harmonias significantes (e suas dissonncias). Essa codificao,decodificao, recodificao remete sempre ao outro lugar (da sesso) e ao ou- trora (da anlise). Seria preciso, aqui, em relao a essa intemporalidade do

    silncio, dar algumas precises sobre o tempo em psicanlise e a heterocroniafundamental que a habita. Mas justamente o tempo que nos falta para faz-lo.

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    O poliglotismo do analista, o entendimento dos idiomas, dos dialetos doinconsciente impe-nos tambm uma concepo plurifuncional das formaesdo inconsciente. Acabo de falar da linguagem, do sonho, da fantasia etc. A clnica psicanaltica moderna mostra que no podemos mais aceitar sem crti-ca as proposies recebidas de modo to geral quanto esta: o sonho a tenta- tiva de realizao de um desejo. Ainda que esta frmula de 1932, de Freud ( A interpretao dos sonhos fala somente de realizao de um desejo de maneiramais complexa e mais matizada, verdade, mas sem introduzir a clusularestritiva indicada pela palavra tentativa), testemunhe uma evoluo dopensamento do primeiro psicanalista. Bion disse que o sonho podia ter umafuno evacuatria: livrar-se do desejo por meio do sonho, em vez de elabo-rar os desejos que gostariam de se realizar. Winnicott mostrou que afantasmatizao hiperativa era o meio de se imaginar fazendo uma srie decoisas, enquanto se deseja nada fazer. B. Lewin falou em artigos pouco lidos emeditados, do profundo desejo de dormir na sesso de anlise repleta de pala-vras. Tantas reavaliaes impem uma nova viso dos conceitos fundamentais.Ora, somente o silncio propcio elaborao que revela as mscaras dodiscurso. Acrescentarei que esse desmascaramento silencioso faz-se pelo afetodo analista, desarmnico com as mensagens do discurso. Felizmente o disfarce trado por ndices mnimos, s vezes unicamente estilsticos, que ajudam o

    analista a entender o inaudvel.De todo modo, o fundamento do silncio em anlise a emergncia (da

    a renovao) da representao . O trabalho analtico consiste na anlise dasrepresentaes do paciente (no sentido conceptual mais amplo) para lhes subs-tituir um outro sistema representativo , por meio do qual advm o sujeito. arazo porque o silncio do analista somente o meio pelo qual ele recusa apercepo do manifesto, absorvendo-se no silncio para fazer emergir arepresentao psquica da pulso.

    Um modelo geral da atividade psquica proposto, ento: organiza-o, desorganizao/apagamento, reorganizao. Este modelo aplicvel atoda forma de atividade psquica. Ele reformula noes que so familiarespara ns: desejo/recalcamento/retorno do recalcado. Na sesso, o silnciocorresponde ao tempo mediano, a interpretao testemunhando o terceirotempo. importante relembrar a no-linearidade do trabalho psquico, suapolifonia. o sentido da associatividade analtica. A linha rompida das associa-es corresponde s resistncias acordadas em cada ponto da rvore associativa,

    que obrigam as trilhas a pegar outros caminhos, a se deslocar, a se condensar.A interpretao consiste em adivinhar a via barrada, escondida pelo estudo

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    Notas

    1. Artigo publicado na Revista Topique (mai/1979), com o ttulo original: Le silence du

    psychanalyste, assim como no livro La folie prive (1990, p. 317-346).2. Traduo: Marcelo SantAnna Pereira e Myriam Anne Mascaux, que agradecem a Ana

    Ceclia Carvalho e Maria Teresa de Melo Carvalho, professoras do Curso de Especializaoem Teoria Psicanaltica da UFMG, por revisarem partes importantes deste texto.

    3. As opinies aqui mencionadas s envolvem evidentemente a mim mesmo.

    4. No francs, o autor diferencia: se prit le pied de prit son pied , dando assim um nvel maiorde comprometimento do ato para a segunda expresso (N. do T).

    5. P.U.F, 1975.

    6. Pena que logo depois ele o renegou.7. Mal-entendu no texto original. Expresso que se presta ao mal-entendido, sendo que no

    presente texto a questo voltada tanto para a prpria audibilidade das coisas como para oentendimento em termos interpretativos (N. do T.).

    8. Idem nota anterior.

    9. Teses que desenvolvi mais tarde (1983) no livro La Langage dans la psychanalyse .

    10. Acrscimo do tradutor para maior clareza no texto (N. do T.).

    11. Referncia a Jrme Bosh (1462-1516), pintor holands (N. do T).

    12 . Jeu dchecs significa tambm jogo de fracasso (N. do T.).

    13. Termo de Aristteles, utilizado por Freud na II parte do Projeto de uma psicologia (1895),para a representao enganadora da histeria no caso Emma (N. do Ed.).

    Referncias Bibliogrficas

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    The Silence of the Psychoanalyst

    Abstract

    This paper is a translation of Andr Greens article Le silence du psychanalyste, firstpublished in Topique , May of 1979, and secondly, in his book La folie prive de 1990,Paris, Galimard. In a discussion with his psychoanalyst colleagues, the author works withtwo major questions: 1) What is the metapsychological status of the psychoanalystssilence during the clinical sessions?; 2) Does the silence of the psychoanalyst exist?Understanding this silence as part of the clinical setting, the author discusses the variousmeanings it might have.

    Keywords

    Psychoanalysts silence; metapsychology and psychoanalytic technique; clinical setting;transference; interpretation; inconscient and drives; borderline cases.

    Andr Green

    Membro Titular da Sociedade Psicanaltica de Paris.

    9, av. de lObservatoire 75006 Paris/France

    e-mail: [email protected]

    Marcelo SantAnna Pereira

    Graduado em Psicologia pela UFMG; Aluno do Curso de Especializao em TeoriaPsicanaltica (FAFICH/UFMG)

    Rua Irmos Kennedy, 165/102 31170-130 Cidade Nova Belo Horizonte/MGtel: (31) 3484-3994e-mail: [email protected]

    Myriam Anne Mascaux

    Graduada em Letras pela UNI-BH; Aluna do Curso de Especializao em Teoria Psica-naltica (FAFICH/UFMG)

    Rua Muzambinho, 301/303 30310-280 Anchieta Belo Horizonte/MGtel: (31) 3227-9778e-mail: [email protected]

    recebido em 25/08/04aprovado em 02/10/04