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ANDRÉIA PERRELLA AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DOS PROTOCOLOS DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA IDENTIFICAÇÃO DE LESÕES NA MANDÍBULA COM INTERFERÊNCIA DE ARTEFATOS METÁLICOS DENTÁRIOS São Paulo 2006

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ANDRÉIA PERRELLA

AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DOS PROTOCOLOS DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA IDENTIFICAÇÃO DE LESÕES NA

MANDÍBULA COM INTERFERÊNCIA DE ARTEFATOS METÁLICOS DENTÁRIOS

São Paulo 2006

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Andréia Perrella

Avaliação da eficácia dos protocolos de tomografia computadorizada

na identificação de lesões na mandíbula com interferência de

artefatos metálicos dentários

Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Mestre, pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Odontológicas . Área de Concentração: Clínica Integrada Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Gusmão Paraíso Cavalcanti

São Paulo

2006

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Perrella A. Avaliação da eficácia dos protocolos de tomografia computadorizada na identificação de lesões na mandíbula com interferência de artefatos metálicos dentários [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.

São Paulo: ___/___/___

Banca Examinadora

1) Prof(a). Dr (a).:___________________________________________________________

Titulação:__________________________________________________________________

Julgamento:_______________________Assinatura:________________________________

2) Prof(a). Dr (a).:___________________________________________________________

Titulação:__________________________________________________________________

Julgamento:_______________________Assinatura:________________________________

3) Prof(a). Dr (a).:___________________________________________________________

Titulação:__________________________________________________________________

Julgamento:_______________________Assinatura:________________________________

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Prof. Dr. Marcelo de Gusmão Paraíso Cavalcanti, por fazer

juz à palavra orientador, guiando-me pelos caminhos do mundo científico desde as

minhas bases. Por ser exemplo de conhecimento, garra e dedicação.

Ao Diretor do Departamento de Imagem do Hospital do Câncer AC Camargo, Dr.

Rubens Chojniak, por nos ter permitido realizar parte dessa pesquisa em tão

conceituada instituição; e às biomédicas Adriana, Rejane e Sandra pela colaboração

no processo de aquisição das imagens.

A todos os professores da Disciplina de Clinica Integrada da Faculdade de

Odontologia da Universidade de São Paulo, pelos ensinamentos profissionais e pela

convivência.

À secretária Vilma, da Disciplina de Clinica Integrada, por toda a colaboração,

dedicação e carinho.

Aos meus colegas de curso: Anna, Irineu, Kazue, Leopoldo, Maurício e Renata,

pela amizade e apoio.

Aos amigos do LABI 3D: Adriana, Adriana Paula, Ana Cláudia, Bruno, Carla,

Estevam, Luciana, Marco, Nicole, Patrícia, Sara e em especial a Dra. Denise

Takehana dos Santos, por todo o carinho, colaboração e por ser um exemplo de

conhecimento e dedicação.

À bibliotecária Vânia Funaro, não apenas pela correção da tese mas pela

presteza e gentileza.

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À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior, pela

bolsa de Mestrado.

A toda minha família, por todo o apoio e, principalmente, por ser este o conceito

que eu mais prezo na vida.

A todos os meus pacientes pela paciência em todo esse período de ausências. É

pensando neles que trilho este caminho na busca de conhecimento.

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Perrella A. Avaliação da eficácia dos protocolos de tomografia computadorizada na identificação de lesões na mandíbula com interferência de artefatos metálicos dentários [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.

RESUMO

A tomografia computadorizada (TC) é a técnica de escolha para o exame de afecções

da cavidade bucal e estruturas anexas, pois permite visualização de tecidos moles e

duros em um único exame sem sobreposição de imagens. Este exame oferece um

significativo avanço no que se refere à definição de lesões maxilo-faciais,

apresentando uma excelente resolução anatômica. Porém um dos problemas que

ocorre com a TC, é o aparecimento de artefatos devido a restaurações metálicas

dentárias, Estes artefatos atrapalham a interpretação das imagens, dificultando a

visualização de lesões. O propósito deste estudo foi avaliar a validade de dois

protocolos de TC, em cortes axiais, na observação de lesões simuladas na mandíbula

e a influência dos artefatos dentários metálicos. Foram realizadas TCs, em dois

protocolos, de mandíbulas secas, nas quais foram executadas perfurações simulando

lesões. As imagens foram realizadas em dois momentos: na presença e na ausência

de restaurações dentárias metálicas. Dois observadores, previamente calibrados,

observaram as imagens de acordo com diversos critérios. Como resultado observou-

se que a sensibilidade e a especificidade para detecção de lesões foram de 100% nos

dois protocolos, porém a detecção do número de lojas das lesões multiloculares e a

determinação da localização precisa e invasão precoce para medular, obteve valores

menores na determinação de sua validade, sendo estes significativamente

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influenciados pela presença de artefatos e a espessura de corte da aquisição da

imagem.

Palavras-chave: tomografia computadorizada, artefatos metálicos, lesões ósseas

mandibulares.

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Perrella A. Efficacy evaluation of computed tomography protocols in mandibular lesions assessment with metallic artifacts interference [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.

ABSTRACT

Computed tomography is the choice technique to access oral and maxillofacial lesions,

because it provides hard and soft tissues visualization in one examination without

superimposition of surrounding structures. This examination offers a significative

advance in maxillofacial lesions definition, with an excellent anatomic resolution.

However, dental metal artifacts can be a problem in the interpretation of CT images.

These artifacts lead to misinterpretations of the images, making difficult to visualize

lesions in these areas. The aim of this research was to evaluate the validity of two

protocols, in axial sections, in simulated mandibular lesions assessment, and the

influence of dental metallic artifacts in these observations. Two CT protocols were

obtained from dry mandibles in which perforations were done simulating lesions. CT was

performed in two moments: With and without metallic dental restorations. Two

observers, previously calibrated, evaluated the images according different parameters.

As results we can observe that the sensibility and specificity in lesion detection were

100% for both protocols, but the detection of loci number of multilocular lesions; location

and detection of medular invasion, obtained reduced values in their validity, and this

values were significantly influenced by the artifacts presence and the slice thickness of

image acquisition.

Key words: computed tomography, mandibular bone lesions, metallic artifacts.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................... ............................................................9

2 REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................................11 2.1 DESENVOLVIMENTO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC).............................................11

2.2 APLICABILIDADE DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM LESÕES DOS MAXILARES........12

2.3 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E ARTEFATOS DE OBJETOS METÁLICOS........................14

3 PROPOSIÇÃO .........................................................................................................20

4 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................21

5 RESULTADOS ........................................................................................................27

6 DISCUSSÃO............................................................................................................35

7 CONCLUSÕES.......................................................................................................42

REFERÊNCIAS .........................................................................................................43

ANEXOS ......................................................................................................................49

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1 INTRODUÇÃO

O estudo das afecções dos maxilares é de fundamental importância na

odontologia, uma vez que o cirurgião-dentista desempenha um papel relevante tanto no

diagnóstico como no planejamento terapêutico dos casos. Embora estas alterações não

representem o universo das patologias observadas, com freqüência, pelos cirurgiões-

dentistas, são de grande significado, pois podem pôr em risco a saúde e a longevidade

do paciente. O diagnóstico precoce é decisivo na conduta terapêutica a ser seguida e

na morbidade do paciente.

Os métodos de imagem permitem o estudo mais eficaz destas patologias. A

associação do exame clínico a uma variedade de exames complementares por imagem,

como a radiografia convencional, tomografia computadorizada (TC), ultra-sonografia,

imagem por ressonância magnética (RM), cintilografia e PET (Positron Emission

Tomography). Estes têm sido utilizados para avaliar a localização primária, extensão da

afecção, e a invasão para estruturas adjacentes. A radiografia convencional pode ser

utilizada em casos de lesões de desenvolvimento intra -ósseo ou lesões extra-ósseas

extensas com visível invasão do tecido ósseo, porém, é limitada nos casos de

pequenas invasões na superfície cortical da mandíbula. A RM é indicada para avaliar a

extensão do tumor para os tecidos moles, e é o exame de escolha para determinar

invasão perineural, porém apresenta pouca sensibilidade na determinação de

destruição óssea por lesões malignas ou benignas. A TC é a técnica de escolha para o

exame de neoplasias malignas da região de cabeça e pescoço, pois permite a

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visualização de tecidos moles e duros em um único exame.Os recentes avanços da

tomografia computadorizada servem como uma importante ferramenta diagnóstica na

interpretação de patologias do complexo maxilo -facial. A TC espiral foi inicialmente

introduzida em 1990, com o objetivo de desfazer diversas limitações da TC

convencional, como o grande tempo de aquisição e processamento de imagens,

diminuição dos artefatos, da exposição à radiação ao paciente e diminuição da

quantidade de contraste endovenoso administrado nos exames. Ainda assim a

presença de restaurações metálicas dentárias, amplamente usadas no passado e ainda

presentes nos indivíduos ou de sistemas de implantes osseointegrados, constitui um

problema no tocante ao exame de TC. Isso porque devido ao número atômico elevado

dos metais, os mesmos atenuam os raios X, muito mais que os tecidos moles e o osso.

O efeito mais severo dos metais sobre a imagem é a perda de dados. O feixe de raios X

é atenuado tão fortemente que os fótons quase não chegam aos detectores. O

resultado da imagem realizada em pacientes com trabalhos metálicos é a presença de

pronunciadas faixas radiopacas e brilhantes, gradientes marginais não lineares e erros

nas amostras da superfície de um implante ou restauração.

Diversos trabalhos na literatura foram desenvolvidos com o objetivo de demonstrar a

interferência de artefatos metálicos na interpretação da TC, dificultando a interpretação

e o planejamento terapêutico e acompanhamento do tratamento, bem como a busca de

maneiras de reduzi-los; porém, não encontramos na literatura algum experimento

determinando a precisão, sensibilidade e especificidade da TC para lesões ósseas na

mandíbula correlacionando com este tipo de interfe rência metálica, tornando–se este,

então, o objetivo do trabalho.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Este trabalho avaliou a influência de artefatos metálicos em diferentes protocolos

de tomografia computadorizada para a detecção de lesões. Para facilitar a

compreensão e a leitura, o capítulo de Revisão de Literatura foi subdividido.

2.1 DESENVOLVIMENTO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

A tomografia computadorizada é uma técnica radiográfica que consiste na

aquisição volumétrica de imagens e que possibilita a interpretação tridimensional da

região de interesse por meio de conjuntos de cortes(GOULD, 1994; MAHESH 2002).

Desde sua introdução por Hounsfield nos anos 70 anos a tecnologia da TC tem feito

grandes avanços, revolucionando não só a prática da radiologia diagnóstica como

também todo o campo da medicina (GOULD, 1994; HOUNSFIELD, 1980; KALENDER

et al., 1990; MAHESH, 2002). Falk, Gielen e Heuser (1995) referiram alguns parâmetros

responsáveis para a qualidade da imagem. A espessura do corte é um deles. Um corte

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de menor espessura diminui o volume do pixel no plano axial e por isso aumenta a

resolução geométrica. Em relação ao número de projeções, basicamente 180 projeções

são necessárias para criar uma imagem tomográfica. Para uma imagem de boa

qualidade são necessárias 360 projeções e para uma de alta resolução são 720. Em

relação à matrix, ela pode variar (256X256, 512X512, 1024X1024) e assim definir o

número de pixels. A dose de radiação depende do movimento do tubo e do tempo de

exame. O tempo de exame pode influenciar na imagem resultante em função das

estruturas móveis. No que refere ao campo de visão, um campo menor reduz o

tamanho do pixel e aumenta a resolução; e sobre o processamento da imagem, este

requer ajustes de acordo com o objeto de interesse.

2.2 APLICABILIDADE DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM LESÕES DOS MAXILARES

A TC tem sido utilizada para avaliar a localização primária, extensão da afecção,

e a invasão para estruturas adjacentes, principalmente com relação à infiltração da

lesão para a cortical óssea mandibular, como também possibilita a avaliação do grau de

infiltração do tumor nos tecidos moles e o envolvimento de estruturas adjacentes (ex:

glândulas, nervos, vasos, ossos) (BAHADUR, 1990; BROWN et al., 1994; CLOSE et al.,

1986; HUNTLEY et al., 1996; MILLESI et al., 1990; SHAHA, 1991; SIGAL et al., 1996;

VAN DEN BREKEL et al., 1998).

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Close et al. (1986) afirmaram que um fator crítico na avaliação pré-tratamento de

pacientes com carcinomas intra -orais é a presença ou ausência de invasão óssea. Em

estudo prospectivo com radiografias convencionais e tomografia computadorizada,

encontraram uma especificidade de 92% da TC com relação à infiltração tumoral de

lesões malignas de tecidos moles, em tecido ósseo da cavidade bucal.

Lehrman et al. (1991) observando tomografias computadorizadas, com 1,2 mm

de espessura de corte, de queratocistos odontogênicos, afirmaram que a TC de alta

resolução pode determinar precisamente a extensão de lesões, pontos com

rompimento de corticais, multilocularidade, assim como o envolvimento de dentes.

Estas informações são essenciais para a excisão dessas lesões.

Weber (1993) descreveu que a TC demonstrou corretamente os contornos de

cistos e tumores da maxila e mandíbula, sobretudo em lesões que se estendem da

cortical óssea invadindo tecidos moles adjacentes ou cavidade sinusal e nasal. Secções

axiais são comumente usadas para demonstrar as superfícies curvas vestibular e

lingual, da sínfise, corpo e ramo ascendente da mandíbula.

Bodner, Bar-Ziv e Kaffe (1994) compararam a eficácia de imagens convencionais

com tomografia computadorizada na análise da configuração tridimensional e da

estrutura de lesões císticas da mandíbula. Seus resultados demonstraram a

superioridade da tomografia na delimitação das margens ósseas e da proximidade das

estruturas contíguas vitais. Concluíram que a TC pode ser utilmente aplicada no

diagnóstico e plano de tratamento de lesões císticas mandibulares.

Krenmair e Lenglinger (1995) analisaram cistos mandibulares com radiografias

panorâmicas, tomografia convencional e tomografia computadorizada. A TC se mostrou

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bastante superior na visualização da anatomia mandibular, no delineamento do canal

mandibular, na detecção do envolvimento da cortical óssea e no volume cístico. A

espessura de corte utilizada foi de 1mm. Concluíram que a TC é um excelente método

complementar no diagnóstico de cistos mandibulares.

Toller, Sipahier e Acikgoz (1995) concluíram que a capacidade da TC em

demonstrar mudanças em tecidos ósseos e moles em diversos p lanos, sugere que esta

técnica deve ser utilizada em lesões ósseas benignas dos maxilares.

Cavalcanti e Vannier (1998) analisaram a TC no estudo de metástases maxilo-

faciais de tumores. A TC demonstrou a extensão da lesão, tamanho, contorno e relação

a importantes estruturas anatômicas adjacentes; importantes no planejamento do

tratamento; além de permitir uma melhor definição das áreas de invasão do tumor, sua

destruição e extensão.

Em trabalho de Pereira et al (2001) foram avaliados 48 pacientes com câncer de

boca por meio da TC, com o objetivo de analisar a sensibilidade deste exame quanto à

localização primária da doença, assim como a presença de destruição cortical

provocada pela neoplasia. Com relação à detecção da lesão primária a sensibilidade foi

de 87,5%, e com relação à detecção de destruição cortical a sensibilidade foi de 100%.

2.3 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA E ARTEFATOS DE OBJETOS METÁLICOS.

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Quando se realiza um exame de TC que envolve a cavidade bucal e estruturas

adjacentes, ocorre o problema do aparecimento de artefatos na imagem em indivíduos

que possuem restaurações metálicas (BRINK et al. 1994; SEOANE et al., 2004;

SVENDSEN; QUIDING; LANDHL, 1980). Isso ocorre devido ao número atômico

elevado dos metais, que, portanto atenuam os raios X, muito mais que os tecidos moles

e o osso. O resultado na imagem é a presença de pronunciadas faixas radiopacas e

brilhantes em forma de “raios”, gradientes marginais não lineares e erros nas amostras

da superfície de um implante ou restauração. Adicionalmente, a forte atenuação dos

coeficientes lineares dos metais, resulta em dados errados no que diz respeito aos

números normais da TC. O efeito mais severo dos metais sobre a imagem é a grande

dificuldade de localizar e conseqüentemente interpretar a área envolvida pelas imagens

dos artefatos (BAUM et al., 2000; GOERRES et al., 2002; LINK et al., 2000; MILLER;

TROUGHTON, 1997; SVENDSEN; QUIDING; LANDHL, 1980; SUOJANEM; REGAN,

1995; WANG; VANNIER, 1994; WANG; FREI; VANNIER, 2000).

Avaliando a presença dos artefatos metálicos na imagem, muitas técnicas foram

idealizadas para minimizar este problema.

Svendsen, Quiding e Landhl (1980) estudaram experimentalmente os artefatos

causados por materiais restauradores dentais, para tanto executaram cavidades em um

fantoma circular de polietileno e fixaram pinos de amálgama de diferentes diâmetros

em uma ou mais cavidades. Submeteram o fantoma à TC convencional com espessura

de 5 mm e 10 mm de corte. Foram observados cinco tipos de artefatos produzidos por

elementos metálicos: a emissão de faixas radiopacas (starburst), blackout, artefato de

colimação, artefato de conexão em linhas e o artefato em forma de bifurcação (ou

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garfo). No protocolo de 10 mm foi considerada impossível a observação das cavidades.

No protocolo de 5 mm a interferência foi considerada significante, porém com valores

inferiores aos encontrados no protocolo de 10 mm.

O estudo de Glover e Pelc (1981) buscou a origem dos artefatos e a intenção de

reduzi-los ou eliminá-los. Usou-se a hipótese de que a movimentação seria a causa dos

artefatos para se compreender a correção algorítmica. Eliminando matematicamente as

sombras do objeto em cada imagem, obtemos uma imagem estimada, contudo livre de

artefatos.

O propósito do trabalho de Moström e Ytterbergh (1986) foi analisar a luminosidade

interpetrosa e outros artefatos ósseos correlatos nas imagens de TC da fossa posterior

e determinar sua dependência da espessura do corte. Exames simulados de TC da

fossa posterior foram feitos em oito aparelhos diferentes em um crânio, usando

parâmetros tomográficos normais como recomendados pelos fabricantes para estudos

da cabeça. A mesma região foi examinada com as seguintes espessuras de corte: 1,5 –

2 e 3 – 5 mm. A técnica com cortes mais finos não reduziu substancialmente a

luminosidade interpetrosa, contudo outros artefatos como faixas que emanavam de

ossos com ângulos agudos eram menos pronunciados com seções de cortes mais

finos.

Fiala, Novelline e Yaremchuk (1993) avaliaram os artefatos da TC produzidos por

vários elementos metálicos usados em cirurgia crânio-maxilo-facial. Foram avaliados

vários materiais e sistemas de fixação basicamente constituídos de titânio, Vitallium e

aço inoxidável. A severidade de artefatos do tipo starburst foi relacionada com o

tamanho da peça metálica e também com sua composição. A proximidade do material

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de implante à área de interesse deve ser considerada. Os implantes de titânio

produzem menos artefatos do que os implantes de Vitallium e de aço inoxidável.

Wang e Vannier (1994) investigaram a origem e as características dos artefatos

em TC espiral (TCE), associando-os com superfícies inclinadas no plano de corte

longitudinal. Eles estudaram a presença de artefatos em fantomas e crânio seco nestas

tomografias, variando a colimação, o incremento de mesa, e o intervalo de reconstrução

e utilizando um algorítmo de interpolação. Segundo os autores os artefatos derivaram

de duas fontes: grandes intervalos de reconstrução e interpolação helicoidal

assimétrica. Eles ainda afirmaram que, para eliminar estes artefatos, tanto a colimação

quanto o incremento de mesa devem ser inferiores à dimensão longitudinal em

superfícies inclinadas, e o intervalo de reconstrução deve ser menor que o incremento

de mesa.

Vannier et al. (1997) utilizaram a TCE para um estudo quantitativo dos tecidos

duros da cavidade bucal, na presença de restaurações metálicas. O exame de TCE

foi realizado em dentes extraídos, mandíbula seca e espécimes de cadáveres. Foi

usado um software de redução de artefatos metálicos (RAM). Os artefatos em forma

de faixas foram causados pela atenuação do metal dentro do campo de visão. Este

trabalho demonstrou que os programas de redução dos artefatos metálicos são

eficazes podendo remover totalmente os artefatos da imagem.

Lakits et al. (2000) tiveram como objetivo comparar a TCE com a TC

convencional na observação de corpos estranhos metálicos intra -oculares, com relação

à qualidade da imagem, acurácia na localização, exposição à radiação e tempo

tomográfico. Em três cabeças de cadáveres foram colocados fragmentos de aço

estandardizados no interior dos olhos. A TCE mostrou melhores resultados com relação

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aos artefatos em forma de faixas devido aos objetos metálicos. Com relação à

localização dos corpos estranhos, a TCE também mostrou melhor desempenho.

Transportando a mesma situação para a prática clínica, foram incluídas cabeças de

cadáveres que continham restaurações dentárias metálicas. Os artefatos provenientes

de restaurações metálicas dentárias que atrapalham os detalhes da imagem são

causadores de uma das deficiências da TC convencional quando se realiza tomografia

de secção coronal.

Link et al. (2000) relataram que existem várias técnicas que tentam diminuir ou

eliminar a presença de artefatos em TC de regiões que contenham algum elemento

metálico; Eles propuseram uma técnica de reformatação à qual denominaram “Escala

Extensa de TC” (EETC) e a aplicaram realizando tomografia computadorizada em

vários protocolos (com diferentes espessuras de cortes e intervalo de reconstrução - de

2 mm a 5 mm) em fêmures secos de suínos submetidos a osteotomias, e posteriores

fixações externas usando placas de aço e parafusos corticais com base de cobalto

(Vitallium). Também foram simuladas lesões artificiais. A qualidade da imagem e os

artefatos foram estimados de acordo com uma escala de cinco níveis arbitrários,

gerenciados por 03 observadores. A técnica da EETC provou ser significantemente

melhor para avaliar imagens em TC e foi mais eficiente quando os cortes mais finos

foram utilizados.

Baum et al. (2000) afirmaram que em pacientes com restaurações metálicas,

pode-se reduzir os artefatos e melhorar o valor diagnóstico da TC com uma incidência

adicional paralela ao corpo da mandíbula, com o plano oclusal paralelo ao plano do

gantry. As falhas que possam ocorrer na série de imagens resultantes destes artefatos

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podem ser compensadas por meio da aquisição de algumas seções de um modo mais

apropriado, em um ângulo de incidência levemente diferente. O autor sugere que, em

pacientes com restaurações metálicas, especialmente aqueles com tumores da

cavidade oral, uma nova aquisição deve ser obtida paralela ao corpo da mandíbula.

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3 PROPOSIÇÃO

3.1 Avaliar a validade (especificidade e sensibilidade) do exame de tomografia

computadorizada na identificação de lesões em mandíbulas de acordo com diferentes

protocolos de aquisição de imagens em TC.

3.2 Analisar a interferência dos artefatos metálicos dentários na interpretação de

patologias que proporcionam destruição óssea na mandíbula, nos diferentes protocolos

em TC.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

Com a aprovação do comitê de Ética em Pesquisa da FOUSP (Anexo A) foram

utilizadas, no presente estudo, um total de 15 mandíbulas dentadas maceradas do

acervo do Departamento de Morfologia da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP). Por

meio de uma caneta de alta rotação e pontas diamantadas de uso odontológico (1014 –

1,1mm de diâmetro), foram confeccionadas perfurações nas mandíbulas na cortical

lingual e/ou vestibular e, em alguns casos na região medular (Fig.4.1). Estas

perfurações apresentaram diferentes formatos e dimensões, simulando lesões dos

maxilares uni e multiloculares, com ou sem envolvimento medular.

Figura 4.1 – Mandíbula seca na qual se pode observar perfurações na cortical lingual de seu corpo (seta)

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Nos dentes destas mandíbulas foram confeccionadas restaurações dentárias

com amálgama de prata e a colocação de próteses fixas metálicas (fixadas com cera

utilidade) bilateralmente, com intuito de formar artefatos metálicos durante o

escaneamento das mandíbulas.

Posteriormente todas as mandíbulas foram submetidas à tomografia

computadorizada espiral (HiSpeed, GE Medical Systems, Milwakee, WI, EUA) no

Departamento de Imagem do Hospital do Câncer A.C. Camargo na cidade de São

Paulo. As peças foram escaneadas por meio de cortes axiais, desde a sua base até a

região de côndilo. Após a obtenção do Scout o plano de corte axial foi posicionado

paralelo à base da mandíbula até a região do côndilo mandibular. A angulação do

gantry variou de acordo com a angulação da base da mandíbula.

Da maneira supra-exposta, as aquisições das imagens seguiram dois diferentes

protocolos:

PROTOCOLO 1:

Espessura de corte: 1 mm

Incremento de mesa: 1 mm

Intervalo de reconstrução: 1 mm

Tempo: 01 segundo

Matrix: 512x512

Regime de trabalho: 80 kVp e 130 mA

Campo de visualização (FOV): 18 cm

PROTOCOLO 2:

Espessura de corte: 3 mm

Incremento de mesa: 3 mm

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Intervalo de reconstrução: 3 mm

Tempo: 01 segundo

Matrix: 512x512

Regime de trabalho: 80 kVp e 130 mA

Campo de visualização (FOV): 18 cm

Na sequência, todas as restaurações metálicas foram removidas e as mandíbulas

novamente submetidas ao exame de TC seguindo os mesmos parâmetros supra-

descritos nos protocolos preconizados.

Todas as imagens axiais, obtidas pelos dois diferentes protocolos com e sem a

presença de artefatos metálicos, foram enviadas eletronicamente em formato DICOM

(Digital Imaging Comunication in Medicine) para uma estação de trabalho independente

(RA600 Workstation, GE Medical Systems, EUA) localizada no Departamento de

Imagem do Hospital do Câncer de São Paulo. Estes dados foram então gravados em

um CD-ROM-R e transferidos para um computador Pentium 4, 60 GB, 256 memória

RAM, contendo o programa de visualização de imagens volumétricas originais

denominado eFilm (versão 1.5.3, Merge Healthcare, eFilm, Milwaukee, WI, EUA) (Fig.

4.2), localizado no Laboratório de Imagem em 3D (LABI-3D) (www.fo.usp.br/labi3d) da

Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FOUSP, onde as imagens

foram analisadas.

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24

Figura 4.2 – Tela do programa de visualização de imagens e-film

Dois examinadores, previamente calibrados, analisaram as imagens de forma

independente e em momentos diferentes, em duas ocasiões cada um, no Laboratório

de Imagem em 3D, sem o conhecimento prévio de qual protocolo foi realizado, nem

tampouco de quaisquer informações sobre as lesões simuladas. As imagens foram

dispostas de acordo com a orientação do responsável pela confecção das lesões,

alternando aleatoriamente os protocolos observados (princípio de randomização),

utilizando o filtro ósseo e ajustando o HU (Unidades Hounsfield). Os examinadores

interpretaram as perfurações ósseas artificiais e os possíveis efeitos indesejados

provocados pelas restaurações metálicas presentes nos dentes, seguindo os critérios

que serão expostos a seguir: Inicialmente foram analisadas as imagens com a presença

dos artefatos metálicos (Fig.4.3a) e posteriormente as imagens sem os artefatos

metálicos dentários (Fig.4.3b).

a

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25

Figura 4.3 – Imagem de TC. em secções axiais. a) Imagem axial de mandíbula, mostrando o efeito do

artefato metálico (faixas brancas).b) imagem axial de mandíbula sem artefato, mostrando lesões nas corticais e invasão medular (setas)

A. Critérios para análise das lesões na TC versus o padrão ouro (mandíbula macerada):

I. Se as lesões possuem aspectos uniloculares (U) e/ou multiloculares (M). E, em

caso de lesões multiloculares, o número de lojas presentes.

II. A destruição é na cortical lingual (L) e/ou vestibular (V), e/ou envolvimento da

medular (M).

B. Critérios para análise da interferência dos artefatos dentários metálicos nas 15

mandíbulas com os 02 protocolos com e sem a presença do artefato dentário, em

relação à delimitação (localização) da lesão.

I. Análise subjetiva: Escores

1. Sério (grave)- tornando difícil de se realizar diagnóstico;

2. Significante (Com substancial limitação do diagnóstico);

a b

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26

3. Aceitável (Presença pronunciada dos artefatos com leve e limitada performance

diagnóstica)

4. Insignificante (Presença moderada)

5. Invisível (nenhum artefato).

Na análise estatística foram usados o método ANOVA (Análise de Variância),

Estatística de Kappa, teste de Validade (especificidade e sensibilidade) e Teste do Qui-

quadrado, por meio do programa denominado SPSS versão 12.0 para WINDOWS

(Statistical Package for Social Science, Chicago, ILL). Foram utilizados os testes de

concordância e razão do teste kappa para analisar os índices de positividade para

comparação entre dois examinadores. Calculou-se a porcentagem global de

concordância e o índice kappa. Percentagem global de concordância é a porcentagem

de diagnósticos positivos e negativos em concordância com os dois examinadores. O

índice kappa é o parâmetro de concordância que leva em conta a concordância ao

acaso. Kappa varia de -1 a +1. O valor zero representa concordância casual, valores

positivos representam índice de concordância além da concordância casual. Foi

utilizado o teste qui-quadrado para analisar a proporção de concordância e discordância

total entre os dois examinadores nos dois protocolos.

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5 RESULTADOS

A análise dos observadores quanto à presença de lesão, e, em caso positivo, ao

número de lojas, isto é, se as mesmas possuem aspectos uniloculares (U) ou

multiloculares (M), está demonstrada nas tabelas 5.1 e 5.2, sendo que estas

correspondem, respectivamente, às amostras com e sem artefato. No caso destas

serem multiloculares, o número de lojas presente foi determinado (Por exemplo: M6

significa uma lesão multilocular com 6 lojas).

Tabela 5. 1- Análise quanto à presença de lesão e se as mesmas são uni ou multiloculares, nas amostras com artefato. Em caso de multiloculares, o número de lojas foi determinado

mandíbula

Protocolo1

Obsevador

1

Protocolo1

Obsevador

1

observação

Protocolo1

Obsevador2

Protocolo1

Obsevador

2

observação

Protocolo2

Obsevador

1

Protocolo2

Obsevador

1

observação

Protocolo2

Obsevador

2

Protocolo2

Obsevador

2

observação

Padrã

o Ouro

1 U U U U U U U U U

2 U U U U U U U U U

3 M3 M3 M3 M2 M3 M4 U M2 M6

4 U U U U U U U U U

5 M6 M5 M5 M5 M8 M6 M6 M6 M9

6 M2 M2 M2 M2 M2 U U U M4

7 U U U U U U U U U

8 M 4 M4 M4 M4 M2 M4 M4 M4 M6

9 U U U U U U U U U

10 M4 M4 M3 M3 M3 M4 M3 M3 M6

11 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M2 M5

12 M3 M5 M2 M3 M3 M3 M2 M2 M5

13 U U U U U U U U U

14 M2 M2 M2 M2 M2 M2 U M2 M3

15 U U U U U U U U U

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Tabela 5.2- Análise quanto à presença de lesão e se as mesmas são uni ou multiloculares, nas amostras sem artefato. Em caso de multiloculares, o número de lojas foi determinado

mandíbula

Protocolo1

Obsevador1

Protocolo1

Obsevador1

2ª observação

Protocolo1

Obsevador2

Protocolo1

Obsevador2

observação

Protocolo2

Obsevador1

Protocolo2

Obsevador1

observação

Protocolo2

Obsevador2

Protocolo2

Obsev ador2

observação

Padrão

Ouro

1 U U U U U U U U U

2 U U U U U U U U U

3 M4 M4 M3 M2 M3 M4 U M2 M6

4 U U U U U U U U U

5 M8 M8 M8 M6 M9 M5 M4 M5 M9

6 M2 M2 M2 M2 U M2 U U M4

7 U U U U U U U U U

8 M4 M4 M4 M4 M4 M4 M4 M4 M6

9 U U U U U U U U U

10 M6 M7 M4 M4 M4 M4 M3 M4 M6

11 M2 M4 M2 M2 M2 M5 M2 M2 M5

12 M5 M5 M3 M3 M3 M5 M3 M3 M5

13 U U U U U U U U U

14 M2 M2 M2 M2 U M2 M2 M2 M3

15 U U U U U U U U U

Comparando os resultados obtidos nos diferentes protocolos com o valor do

padrão ouro (ambos dados nas tabelas acima), temos que todas as lesões foram

detectadas. Também pudemos calcular o número de falso-negativos e falso-positivos

para detecção do número de lojas, considerando-se que perfurações de tamanho muito

pequeno foram realizadas com uma ponta diamantada tamanho 1014. Dessa maneira

obtivemos os valores de sensibilidade e especificidade da tomografia computadorizada

para essas análises. Estes valores estão demonstrados nas tabelas 5.3 e 5.4

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Tabela 5.3 – Sensibilidade e Especificidade para detecção de lesões ósseas nos diferentes protocolos, com e sem a presença de artefato

Protocolo 1

Sensibilidade

Protocolo 2

Sensibilidade

Protocolo 1

Especificidade

Protocolo 2

Especificidade

Com artefato 100% 100% 100% 100%

Sem artefato 100% 100% 100% 100%

Tabela 5.4- Sensibilidade e Especificidade para detecção do número de lojas ósseas, nos diferentes protocolos, com e sem a presença de artefato. (p<0,01)

Protocolo 1

Sensibilidade

Protocolo 2

Sensibilidade

Protocolo 1

Especificidade

Protocolo 2

Especificidade

Com artefato 64% 58% 100% 100%

Sem artefato 75% 64% 100% 100%

A observação quanto ao envolvimento de corticais e invasão para medular está

demonstrada nas tabelas 5.5 (com artefato) e 5.6 (sem artefato). Observou-se se a

destruição causada era na cortical lingual (L) e/ou vestibular (V), e se havia ou não

envolvimento da medular (M).

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Tabela 5.5 – Localização da lesão nas corticais lingual (L) e vestibular (V) e presença de invasão para medular (M). Amostra com artefato

mandíbula

Protocolo1

Obsevador1

Protocolo1

Obsevador1

observação

Protocolo1

Obsevador2

Protocolo1

Obsevador2

observação

Protocolo2

Obsevador1

Protocolo2

Obsevador1

observação

Protocolo2

Obsevador2

Protocolo2

Obsevador2

observação

Padrão

Ouro

1 LM LM L LM LM L L L LM

2 LM LM L LM LM L L L LM

3 L L LM L LM LM LM L L

4 L L LM LM LM L L L LM

5 LV LV LV LV LV LV L LV LMV

6 L L LM LM L LM LM L LM

7 LM LM LM LM L L L L LM

8 LV LMV LMV LMV LMV LV LMV LMV LVM

9 LM LM LM LM LM LM LM LM LM

10 LM LM LM LM LM LM LM LM LM

11 L L L LM L L LM L LM

12 LM LM LM LM LM L L L LM

13 M M LM LM L L LM L LM

14 L L LM LM LM L L L LM

15 LM LM LM LM LM LM LM L LM

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Tabela 5.6 – Localização da lesão nas corticais lingual (L) e vestibular (V) e presença de invasão para

medular (M). Amostra sem artefato

mandíbula

Protocolo1

Obsevador1

Protocolo1

Obsevador1

observação

Protocolo1

Obsevador2

Protocolo1

Obsevador2

observação

Protocolo2

Obsevador1

Protocolo2

Obsevador1

observação

Protocolo2

Obsevador2

Protocolo2

Obsevador2

observação

Padrão

Ouro

1 LM L L LM L L L L LM

2 L L L L L L L L LM

3 L LM L L ML LM L L L

4 L LM LM LM L L L L LM

5 LV LMV LV LV LV LV LV LV LMV

6 LM L LM LM LM L L L LM

7 LM LM LM LM L L L L LM

8 LV LMV LMV LMV LV LMV LMV LV LVM

9 LM LM LM LM LM LM LM LM LM

10 L L LM L L L L L LM

11 L L L LM LM L L L LM

12 LM L LM LM L LM LM L LM

13 LM LM LM LM L LM L LM LM

14 L L L LM L L L L LM

15 LM LM LM LM LM LM LM LM LM

Também comparando os valores obtidos nos dois protocolos das tabelas 5.5 e

5.6 com os valores do padrão ouro, pudemos determinar os valores de sensibilidade e

especificidade da tomografia computadorizada na determinação da invasão das lesões

para medular, simulando lesões em estágios muito precoces de invasão. Estes valores

estão descritos na tabela 5.7.

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Tabela 5.7- Sensibilidade e especificidade dos protocolos 1 e 2 de TC, para determinação invasão medular precoce (devido ao tamanho das lesões simuladas), em casos com e sem artefato

Protocolo 1

Sensibilidade

Protocolo 1

Especificidade

Protocolo 2

Sensibilidade

Protocolo 2

Especificidade

Com artefato 60% 99% 43% 95%

Sem artefato 72% 99% 50% 97%

Utilizando-se ANOVA encontramos que o protocolo de aquisição e a presença

de artefato influenciaram a interpretação das lesões simuladas a um nível de confiança

de 99.9% (p<0,01), a variação inter e intra-examinadores não teve significância

estatística (p>0,05). A análise qualitativa foi realizada por meio de verificações da

concordância dos resultados com o padrão ouro, do número de falsos positivos (FP) e

de falso negativos (FN) obtidos após as interpretações. Os valores de Kappa

mostraram-se positivos (acima de 0,72).

A tabela 5.8 mostra a análise subjetiva dos observadores, nos diferentes

protocolos, quanto à interferência dos artefatos na observação das lesões.

Seguindo os seguintes escores:

1. sério (grave)

2. significante

3. aceitável

4. insignificante

5. invisível (nenhum artefato).

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Tabela 5.8 – Análise subjetiva da interferência do artefato na interpretação das lesões nos dois protocolos

mandíbula

Protocolo1

Obsevador1

Protocolo1

Obsevador1

observação

Protocolo1

Obsevador2

Protocolo1

Obsevador2

observação

Protocolo2

Obsevador1

Protocolo2

Obsevador1

observação

Protocolo2

Obsevador2

Protocolo2

Obsevador2

observação

1 1 1 2 1 3 2 3 2

2 4 5 5 5 3 4 2 4

3 4 4 5 4 3 4 4 4

4 4 4 4 4 4 4 4 4

5 4 4 4 4 2 4 5 4

6 2 2 3 2 3 1 2 1

7 5 5 5 5 5 4 5 4

8 5 5 5 5 4 4 5 4

9 4 5 5 5 5 5 5 5

10 5 5 5 5 5 5 5 5

11 5 4 5 5 4 5 5 5

12 4 4 4 4 4 4 5 4

13 4 4 3 3 4 3 4 3

14 2 2 3 3 3 5 5 5

15 4 5 5 5 4 5 5 5

As freqüências obtidas em cada escore, com a tabela 5.8 nos diferentes protocolos

estão discriminados na tabela 5.9.

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Tabela 5.9 – Percentuais dos escores obtidos na análise subjetiva, pelos observadores nos protocolos 1

e 2

Escore Protocolo 1 Protocolo 2

1 0,5% 0,1%

2 10% 8,5%

3 8,5% 13,5%

4 40% 38,3%

5 41,5% 36,6%

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6 DISCUSSÃO

A TC é a técnica de escolha para o exame de afecções da cavidade bucal e

estruturas anexas, pois permite visualização de tecidos moles e duros em um único

exame sem sobreposição de imagens. Este exame oferece um significativo avanço no

que se refere à definição de diversos tumores maxilo-faciais, apresentando uma

excelente resolução anatômica e redução de possíveis artefatos que dificultariam o

diagnóstico final (BRINK et al., 1994; BROWN et al., 1994; BROWN; BROWNE, 1995;

CAVALCANTI; VANNIER, 2000). Até porque a configuração anatômica curva da

mandíbula dificulta sua observação radiográfica, além disso, a superposição de dentes

e raízes pode obscurecer os tecidos circunvizinhos (ABRAHAMS, 2001). Kalavrezos et

al. (1996), Cavalcanti, Ruprecht e Quest (1999), afirmam que devido à forma irregular

do osso mandibular e as limitações causadas por artefatos das restaurações metálicas,

a determinação de infiltração óssea do tumor fica dificultada.

A sensibilidade de um exame refere-se à capacidade de se determinar a

ausência de uma lesão. Diz-se que um exame é mais sensível quanto menor foro

número de resultados falso-negativos. Alguns trabalhos (BAHADUR, 1990; BAUM et al.,

2000; CLOSE et al., 1986; PEREIRA et al., 2001; SHAHA, 1991; SIGAL et al., 1996;

TSUE et al., 1994; VAN DEN BREKEL et al., 1998; WIENER et al., 2005) têm relatado

que a TC apresenta uma sensibilidade variando de 64 a 100% com relação à destruição

óssea causada por neoplasias malignas. A especificidade de um exame refere-se à

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capacidade de se determinar a presença de uma determinada lesão. Diz-se, então, que

um exame é mais específico quanto menor for o número de falso-positivos.

Shaha (1991) destacou que a avaliação da presença de infiltração de cânceres

de boca para a mandíbula influi decisivamente na escolha terapêutica. Avaliando as TC

de pacientes com carcinomas epidermóides de assoalho bucal (com espessura de corte

de 5mm) obteve especificidade e sensibilidade de 86,1% e 81,6%, respectivamente.

Tsue et al. (1994) também destacaram algumas limitações da TC na detecção pré

cirúrgica de invasão carcinomatosa para a mandíbula. Avaliando 64 pacientes com

carcinomas epidermóides de boca e orofaringe os autores detectaram por meio do

exame anatomopatológico 73% de sensibilidade 69% de especificidade da TC. Nossos

resultados encontraram sensibilidade e especificidade de 100% quanto à presença de

lesão, isto provavelmente se dê pelos protocolos de aquisição utilizados, com

espessura de corte e reconstrução de 1mm X 1mm e 3mm X 3mm, respectivamente.

Huntley et al. (1996), por exemplo, avaliaram 14 amostras de osso mandibular

adjacente a carcinomas espino-celulares, radiográfica (TC, com espessura de corte de

1,5mm) e histologicamente, mostrando boa correlação entre ambos. Van den Breckel

et al. (1998), estudando 24 pacientes com carcinoma epidermóide de boca, em cortes

com 5 a 6 mm de espessura, afirmaram que a TC tem baixa sensibilidade(64%) e alta

especificidade (89%). Os resultados encontrados por ele foram muito inferiores a

trabalhos publicados anteriormente. Admite-se que a diferença encontrada na

sensibilidade e especificidade da TC deve-se, particularmente, à técnica de obtenção

das imagens, visto que a espessura de corte é variável e pode detalhar muito ou pouco

a área patológica. Estudos com espessura de corte para a análise das patologias em

mandíbula de 5 mm, podem proporcionar pouco detalhamento, dificultando a detecção

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precisa da infiltração tumoral. Para a realização de estudos de alta resolução é

necessária a realização de cortes com 2 mm a 3 mm de espessura, fornecendo, desta

forma, um melhor detalhamento das estruturas e aumentando, conseqüentemente, a

sensibilidade deste exame. Segundo Baxter e Sorenson (1981) os controles utilizados

na aquisição das imagens em TC podem ter uma influência significativa no tamanho e

número aparente das estruturas em uma imagem. Ney et al. (1991), estudando

parâmetros de aquisição e seus efeitos na qualidade da imagem produzida, usando um

modelo ósseo, concluíram que as imagens resultantes de aquisições com colimação

mais fina e incrementos de mesa menores atingiam os melhores valores na percepção

de qualidade de imagem. Covino et al. (1996) avaliando a acurácia e a reprodutibilidade

de medidas lineares obtidas em 3D obtidas com cortes de 0,5, 1,5e 3,0 mm

observaram que usando o protocolo de 3mm havia inconsistência nas medidas entre

os pontos de referência, o mesmo não ocorrendo quando as aquisições foram de 1,5 ou

0,5mm. Van den Brekel et al. (1998) afirmaram que resultados obtidos em seu trabalho

teriam sido melhores mudando-se o protocolo de aquisição de imagens, rendendo-se

cortes mais finos de 2 ou 3 mm.

Por outro lado, no delineamento da lesão, isto é, em avaliar sua localização

exata, número de lojas e invasão medular, nossos resultados de sensibilidade e

especificidade foram inferiores, isto é, nas amostras sem artefato, a detecção da

localização e invasão medular obtiveram sensibilidade de 72% e 50% nos protocolos 1

e 2 respectivamente e especificidade de 99% e 97%. Brown et al. (1994) avaliou a

capacidade da TC em predizer a extensão da invasão tumoral na mandíbula . A TC

subestimou a largura de invasão em 5mm e superestimou a profundidade em 3mm, seu

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trabalho também utilizou cortes de 4 mm de espessura. Nossos resultados também

discordam em parte de Lehrman et al. (1991) que afirmaram que a TC de alta resolução

pode determinar precisamente a extensão de lesões, pontos com rompimento de

corticais, multilocularidade assim como o envolvimento de dentes. Isso por que a TC

apresentou alta validade para detecção das lesões (pontos de rompimento de corticais),

mas obteve sensibilidade inferior quanto à extensão das lesões para medular, e quanto

à multilocularidade ( 75% no protocolo 1 e 64% no protocolo 2, com relação à

multilocularidade e 72% e 50% respectivamente com relação à detecção da invasão

medular). Os valores encontrados nesta pesquisa são reduzidos com relação a

trabalhos anteriormente publicados, pois avaliou-se o número exato de lojas das lesões

multiloculares, essas lojas foram confeccionadas em tamanhos bastante reduzidos (a

maioria em torno de 1,1mm, que é o diâmetro da broca utilizada,) dessa maneira

também, os septos ósseos restantes entre as lojas podiam estar localizados entre as

secções da tomografia levando a uma interpretação errônea do número de lojas.

Quanto à invasão medular, foi simulada uma destruição muito precoce (invadindo

pouco, menos de 1mm em muitos casos, levando assim a valores reduzidos de

sensibilidade e especificidade nos protocolos utilizados. Segundo Baxter e Sorenson

(1981) em trabalho utilizando um fantoma com esferas diversas ele concluíram que o

número de esferas na TC pode ser inacurado quando seu diâmetro é equiparado ou

inferior à espessura de corte, e, conseqüentemente seus diâmetros não podem ser

medidos acuradamente; assim na investigação de lesões de tamanhos reduzidos e/ou

precoces, aespessura de corte mais fina possível deve ser usada como parâmetro de

aquisição.

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Sigal et al. (1996), revisaram algumas discussões relacionadas com o

diagnóstico e classificação do estágio de tumores da cavidade bucal. Os exames de

TC e RM foram utilizados na avaliação de carcinoma de células escamosas, que é o

tumor mais freqüente na cavidade bucal. A TC tem a vantagem de ter uma

representação bem estabelecida dos tumores da cavidade bucal e uma ótima detecção

da invasão da cortical, mas podem ocorrer artefatos na imagem devido a restaurações

metálicas existentes. Segundo Shaha (1991) as diferenças de especificidade e

sensibilidade da TC, decorrem do formato irregular da mandíbula, dificultando a

determinação da presença de invasões mínimas para a cortical desse osso. Outras

limitações desta técnica, segundo o autor são: a presença de restaurações de

amálgama e resultados falso-positivos com relação a alvéolos pós-cirúrgicos.

Diversos autores afirmam que os artefatos prejudicam a interpretação das

imagens como (ABRAHAMS, 2001; FIALA; NOVELINE; YARENCHUK, 1993;

GLOVER; PELC, 1981; LAKITS et al., 2000; MILLER; TROUGHTON, 1997; VANNIER

et al., 1997; WANG; FREI; VANNIER, 2000). Também pudemos observar tal fato em

nossos resultados, já que na presença de artefatos a sensibilidade foi reduzida para

64% no protocolo 1 e 58% no protocolo 2,quanto ao número de lojas. Quanto à

interpretação da invasão medular e localização a sensibilidade foi para 60% e 43%, nos

protocolos 1 e 2, bem como a especificidade do protocolo 2 foi reduzida para 95%.

Existem várias técnicas que tentam diminuir ou eliminar a presença de artefatos

em TC de regiões que contenham algum elemento metálico. Dentre elas, técnicas de

reformatação que tentam eliminar os artefatos presentes, aumento da dose de radiação

para diminuir a atenuação do feixe de raios X, técnicas matemáticas mais elaboradas

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que requerem processamento da imagem e posterior reconstrução com os dados

perdidos na projeção por meio da interpolação linear (KALENDER; POLACIN; SUSS,

1994; LINK et al., 2000). Diferentes autores (LINK et al., 2000; SVENDSEN; QUIDING;

LANDHL, 1980) afirmaram que a espessura de corte da TC determina a interferência

causada pelos artefatos na imagem o que também pode ser observado em nossos

resultados, em que quanto menor a espessura de corte melhor foi a sensibilidade,

mesmo na presença de artefatos, embora ainda se tenha uma sensibilidade menor que

na ausência de artefatos. O mesmo se repete na interpretação subjetiva da

interferência dos artefatos: Pode-se observar que no protocolo 1 a interferência do

artefato sobre a lesão foi considerada subjetivamente invisível ou insignificante em 77%

dos casos e no 2 em 75%. Isso porque o efeito mais severo dos metais sobre a imagem

é a grande dificuldade de localizar e conseqüentemente interpretar a área envolvida

pelas imagens dos artefatos (SVENDSEN; QUIDING; LANDHL, 1980). Lesões

pequenas e superficiais, principalmente se estiverem próximas a implantes dentários ou

restaurações metálicas, podem dificultar a interpretação (GOERRES et al., 2002).

Os recentes avanços da TC servem como uma importante ferramenta

diagnóstica na interpretação de patologias do complexo maxilo -facial. A TC espiral foi

inicialmente introduzida em 1990, com o objetivo de desfazer diversas limitações da TC

convencional, como o grande tempo de aquisição e processamento de imagens,

diminuição dos artefatos, da exposição à radiação ao paciente e diminuição da

quantidade de contraste endovenoso administrado nos exames. Com o aprimoramento

da TC singleslice e mais ultimamente com TC multislice, na qual se obtém imagens com

espessuras de corte de 0.5 mm de espessura com intervalo de reconstrução de

0.3mm, foi possível obter um melhoramento na qualidade das imagens (CAVALCANTI;

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VANNIER, 2000). Mehnert et al. (2000) compararam a qualidade de imagens de um

tomógrafo espiral de alta resolução single slice com um multislice. As impressões gerais

de qualidade de imagem, ruído, veias centrais e todas as condições patológicas não

foram diferentes entre os dois métodos de tomografia. A relevância diagnóstica é que o

multislice produz menos artefatos que o singleslice. Além de aumentar o número de

detectores e conseqüentemente a resolução das imagens, o multislice proporciona

espessura de cortes e do intervalo de reconstrução mais finos, possibilitando um

aumento considerável da qualidade das reconstruções. Dessa maneira, novos estudos

devem ser conduzidos, utilizando a técnica de multislice para avaliação da validade da

TC quanto à multilocularidade e à invasão medular, e quanto à interferência de

artefatos de restaurações metálicas nessas observações, sobretudo em lesões tão

precoces e diminutas quanto as simuladas neste trabalho. Assim, de acordo com Baxter

e Sorenson (1981) a espessura de corte deve ser menor que o diâmetro esperado da

lesão; assim, em lesões de diâmetros reduzidos, secções com espessura de corte de

0,5mm como as proporcionadas em multislice, podem apresentar resultados melhores.

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7 CONCLUSÕES

7.1 Foi estabelecida a validade da TC na detecção de lesões em mandíbulas para os

dois protocolos de aquisição de imagens. Porém, a caracterização da lesão com

relação à localização, invasão de medular e número de lojas nas lesões multiloculares

obteve valores de sensibilidade reduzidos, sobretudo no protocolo com espessura de

corte e intervalo de reconstruções menores.

7.2 A interferência dos artefatos metálicos dentários prejudicou a interpretação das

lesões simuladas nos diferentes protocolos em TC, o que foi perceptível objetiva e

subjetivamente, sendo, porém, menos prejudicial no protocolo 1.

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ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa