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Angola Números-chave Superfície, em milhares de km 2 : 1 247 • População, em milhares de habitantes(2004): 14 078 • PIB per capita, em dólares (2003): 1 015 • Esperança de vida (2000-2005): 40.1 Luanda

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Angola

Números-chave• Superfície, em milhares de km2: 1 247• População, em milhares de habitantes(2004): 14 078• PIB per capita, em dólares (2003): 1 015• Esperança de vida (2000-2005): 40.1

Luanda

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Perspectivas Económicas na África 2004/2005 Em inglês: www.oecd.org/dev/aeo Em francês: www.oecd.org/dev/pea
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ANGOLA TEM VIVIDO DIAS DE PAZ desde que foidecretado o cessar-fogo entre as forças armadas e osrebeldes, em Abril de 2002, que pôs termo a mais de25 anos de guerra civil ininterrupta. O país enfrentaagora a árdua tarefa de canalização de fundos para areconstrução de infra-estruturas e a redução da pobreza.Os diamantes e, em especial, o petróleo offshoredominam a economia nacional, sendo responsáveispela quase totalidade das receitas. No entanto, estessectores estão muito pouco articulados com o resto daeconomia. A agricultura e as indústrias manufatureirasainda sofrem com o legado deixado pela guerra civil –infra-estruturas arruínadas, falta de capital físico efinanceiro, governos pobres e a presença alastrada deminas em algumas regiões – sem contar a necessidadede realojar 4 milhões de pessoas desalojadas pelo conflito.

Apesar do aumento dos preços do petróleo, ocrescimento real do PIB em 2003 foi de apenas 3.5 por

cento, devido à queda da produção dos campos depetróleo existentes1. Em 2004, houve uma retoma docrescimento, que atingiu os 11 por cento, devido aexploração de novas jazidaspetrolíferas. O crescente aumentoda produção de petróleo deveriapermitir que se atinja os 15 porcento em 2005 e os 25 por centoem 2006. Nas ocasiõesprecedentes de crescimento importante devido aopetróleo, as autoridades mostraram uma certacomplacencia com relação às políticas, em detrimentoda estabilidade económica e de uma melhoria dagovernação, como mostra o abandono de 2 programasdo FMI (SMPs - staff-monitored programmes). Contudo,dessa vez, observa-se um reforço das políticas, a lutacontra a inflação assumindo agora um importantepapel, já que Angola se esforça arduamente para chegara um acordo com o FMI com relação a um terceiro

Recursos colossais devem ser canalizados para a reconstrução de infra-estruturas e a redução da pobreza.

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Figura 1 - Crescimento do PIB real

Fonte: Dados do FMI e do Instituto Nacional de Estatística; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

programa SMP. A inflação caiu abaixo dos 35 por centoem 2004, pela primeira vez em várias décadas, e amoeda local, o quanza, permaneceu estável face aodólar.

Como outros países recentemente saídos de umconflito, Angola entrenta desafios enormes, querequerem um compromisso forte da parte do Governopara beneficiar do apoio da Comunidade Internacional.

1. As estatísticas são claramente insuficientes, tanto em termos de quantidade como de qualidade, o que impede uma análise credível

da situação económica, assim como a definição de prioridades entre necessidades concorrentes e a adopção de medidas adequadas.

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Esta última preocupa-se principalmente com a faltade transparência na gestão das receitas provenientes dopetróleo, com as despesas extra-orçamentais e osempréstimos comerciais garantidos pelo petróleo, ecom o consequente peso da dívida externa. Os esforçospara reduzir a inflação, ainda que necessários,representam um custo social considerável, tendo emconta a falta de redes de segurança e a desintegraçãodo tecido social provocada pela guerra civil. Nessecontexto, espera-se que a conclusão da Estratégia paraa Redução da Pobreza lançada em 2000 e adoptada emDezembro de 2003 estabeleça objectivos políticos claros,mais necessários do que nunca, e crie um quadromacroeconómico compatível com a realização dosreferidos objectivos.

Progressos EconómicosRecentes

A economia angolana continua a dependerfortemente do petróleo, um sector de capital intensivomuito pouco articulado com outros sectores daeconomia e com pouco impacto no emprego. Norescaldo da guerra civil, a diversificação da economiaé travada por infra-estruturas físicas inadequadas, fracagovernação e corrupção.

Desde o início da produção em grande escala, nofinal dos anos 70, o petróleo tem dominado a economia

angolana. As reservas dos campos de petróleo offshore,principalmente ao largo da bacia do rio Congo, emfrente ao enclave de Cabinda, são estimadas em 12 milmilhões de barris. Protegido da guerra civil, o sectorpetrolífero continuou a crescer, duplicando a suaprodução entre 1990 e 2003, atingindo quase 1 milhãode barris/dia. Em 2003, o petróleo era responsável pormais de 45 por cento do PIB, por 75 por cento dasreceitas do Governo e por 90 por cento das exportações.A empresa estatal Sonangol, única proprietária doscampos, participa da extracção e da exploração dopetróleo e é responsável por 35 por cento das vendasde petróleo do país. A empresa assinou contratos derepartição de produção com as maiores empresaspetrolíferas ocidentais, lideradas pela ChevronTexacoe pela Total, responsáveis respectivamente por 61 e 27por cento da produção total.

A recente renovação de interesse pela importânciageopolítica do Golfo da Guiné como fonte deabastecimento de petróleo conduziu à uma intensificaçãodas actividades de exploração e à descoberta de novasjazidas. Com o pleno funcionamento do campoXicomba em 2004, a produção diária atingiu pelaprimeira vez 1 milhão de barris e deveria ultrapassar1.3 milhões em 2005 e 1.6 milhões em 2006. Nessecontexto, o papel da Sonangol, como franchisada eexploradora, suscita preocupações quanto à possívelfalta de eficácia económica e aos conflitos de interesse.As análises do sector petrolífero divulgadas em Maio

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■ África ■ Angola

Figura 2 - PIB per capita em Angola e na África (em dólares actuais)

Fonte: FMI.

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■ Volume

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Agricultura, silvicultura e pesca

Petróleo e gás

Diamantes

Indústrias manufactureiras

Construção

Comércio grossista e retalhista

Outros serviços

PIB a preços de mercado

Figura 4 - Contribuições sectoriais para o crescimento do PIB em 2003 (percentagem)

Fonte: Estimativas dos autores baseadas em dados do Instituto Nacional de Estatística.

Petróleo e gás

Diamantes

Agricultura, silviculturae pescaOutros serviços

Comércio grossistae retalhista

Indústrias manufactureirasConstrução 49%

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Figura 3 - PIB por sector em 2003 (percentagem)

Fonte: Estimativas dos autores baseadas em dados do Instituto Nacional de Estatística.

de 2004 revelaram a opacidade que ainda envolve asdeclarações financeiras da empresa e sua gestão dossubsídios do Estado.

As minas de diamantes são a segunda maior fontede receitas de exportação (cerca de 10 por cento do total).Tal como acontece noutros países, os dados oficiais

sobre o comércio de diamantes são imprecisos, devidoao contrabando. Além disso, a maior parte das reservasnão foram contabilizadas nas estatísticas do Governo,pois estavan localizadas em províncias sob controlo daUnião Nacional para a Independência Total de Angola(UNITA). A única mina de kimberlite que resta no país,que é também a quarta maior mina de diamantes do

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mundo, é a mina de Catoca, situada na província deLunda Sul. Trata-se de um consórcio entre Endiama,a empresa russa Alrosa, a sociedade brasileira Odebrechte o empresário israelo-russo Lev Leviev. Existem tambémvários projectos, formais e informais, para os aluviõesauríferos.

O crescimento da economia interna dos sectores nãomineiros tem sido lento e só recentemente recuperouo nível que tinha no início da década de 90. As terrascultivadas representam apenas 3 por cento do total dasterras cultiváveis, que beneficiam de chuvas regularese são ideais para culturas de exportação, como o café(Angola já foi um dos quatro maiores produtores decafé do mundo), sisal, tabaco, algodão, palma, açúcar,frutos cítricos e sésamo. A agricultura foi severamenteafectada pelo forte clima de insegurança do país, devidoà crescente dificuldade dos agricultores para conseguirsementes, fertilizantes e outros factores de produção,como também para vender o que produziam aosconsumidores das zonas urbanas. A agricultura tambémé limitada pela presença de minas por todo o país, umgrande obstáculo que foi apenas resolvido parcialmentedesde o fim das hostilidades. Outrora auto-suficientecom relação às principais culturas de base (milho,mandioca, sorgo), Angola atingiu um défice alimentarenorme tendo que recorrer à assistência humanitáriado Programa Alimentar Mundial. O fim das hostilidadese a constatação de que a ajuda alimentar está a impediro desenvolvimento dos fornecedores locais poderãofazer com que os doadores interrompam esse apoio nofinal de 2005. A situação é ligeiramente mais favorável

com relação à pecuária, já que o gado não foi destruídodurante a guerra.

O país podia se orgulhar também de um sectormanufactureiro próspero antes da guerra civil,responsável por 18 por cento do PIB em 1973, sectorprovalmente pouco eficaz, devido à forte protecçãoaduaneira. Esse sector é actualmente composto porpequenas indústrias (agroalimentar, bebidas e têxtil) ea sua participação ao PIB caiu abaixo dos 4 por cento.Quanto às indústrias pesadas, ou elas funcionam à umnível bem inferior à sua capacidade máxima (cimentoe refinaria petrolífera), ou são inoperantes (aço). Arecuperação de infra-estruturas ainda está sendoefectuada a um ritmo lento, sendo dada prioridade àsestradas (incluindo uma nova ponte de pedágio sobreo rio Kwanza). Essas actividades, conjuntamente comuma mini-explosão da construção de imóveisresidenciais em Luanda, têm sustentado o sector daconstrução, que cresceu 12.6 por cento em 2003. Nosector dos serviços, o sub-sector das comunicaçõescresceu 35 por cento no primeiro semestre de 2004,depois do lançamento de uma segunda operadora detelefones móveis e do aumento do volume do tráfego.

A Tabela 1 realça a dependência da economiaangolana com relação às suas exportações (de recursosnaturais) e às suas importações (da maioria dos bensde consumo), uma consequência natural da fracasituação da indústria nacional. Espera-se que o volumedas exportações e importações cresça em 2005 e 2006,paralelamente a um aumento do investimento privado

Tabela 1 - Componentes da Procura (percentagem do PIB)

Fonte: Dados do FMI e do Instituto Nacional de Estatística; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004(e) 2005(p) 2006(p)

Formação bruta de capital 34.5 39.5 35.6 40.2 33.4 30.2 29.2Público 13.1 3.6 3.3 6.3 5.2 4.9 5.1Privado 21.4 35.9 32.4 33.9 28.1 25.3 24.1

Consumo final 52.4 76.4 66.3 64.2 54.9 48.8 47.5Público 33.3 32.8 30.8 30.8 26.1 22.4 20.7Privado 19.0 43.6 35.4 33.4 28.8 26.4 26.8

Saldo externo 13.1 -15.9 -1.9 -4.4 11.8 21.0 23.3Exportações 82.1 73.5 79.1 73.9 73.4 71.6 66.9Importações -69.0 -89.3 -81.0 -78.3 -61.6 -50.6 -43.6

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(na sua maioria estrangeiro), concentrado na exploraçãomineira. Apesar de ainda ser muito fraco, o investimentopúblico aumentou, tendo a sua participação no PIBduplicado entre 2002 e 2003, graças aos programas deredução da pobreza e aos esforços de reconstrução dasinfra-estruturas.

Política Macroeconómica

Política Fiscal e Monetária

Enquanto durou a guerra civil, que terminou em2002, Angola registou taxas de inflação anuais superioresa 100 por cento. O nível permaneceu elevado mesmodepois de 1987, quando o país abandonou oplaneamento centralizado, abraçou a liberalizaçãoeconómica e criou uma série de programas paracombater a inflação. Os enormes desequilíbriosorçamentais, juntamente com os consideráveis déficesdas operações do banco central, minaram a estabilizaçãodos preços. Numa conjuntura de preços mundiaisfirmes e um aumento da extracção, as receitasprovenientes do petróleo e os elevados empréstimosgarantidos pelo petróleo, contraídos junto a bancoscomerciais internacionais, serviram para financiar oaumento constante das despesas (salários de grandesefetivos de militares e funcionários públicos, comprasde armas e subsídios ao consumo), situação essa queserá difícil de inverter nos períodos de baixa dos preçosdo petróleo e/ou de baixa de reservas petrolíferas. Essaspolíticas conduziram a enormes défices públicos (sectoresoutros que o petrolífico) e à baixa das reservas de divisas.Além disso, não existia em Angola o instrumento deancoragem política que é o Documento Estratégico deRedução da Pobreza (DERP): embora tenha sidolançado há cinco anos, o processo DERP ainda não seconcretizou.

Após a introdução de medidas enérgicas deestabilização em Setembro de 2003, a inflação caiupara 77 por cento no final de 2003 e para 31 por centono final de 2004. Em 2003, o défice orçamentalpermaneceu relativamente elevado (7.9 por cento doPIB). Contudo, pela primeira vez, as operaçõesorçamentais incluíram a maior parte das despesas extra-

orçamentais, inclusive transferências extra-orçamentaispara o exército, operações quase-orçamentais efectuadaspela Sonangol em nome do Governo e o défice dasoperações do banco central, que representou cerca de1 por cento do PIB. O défice orçamental foi financiadoatravés do recurso intensivo aos empréstimos e donativosprovenientes do exterior, assim como a utilização dosbónus de assinatura das companhias petrolíferas.

Em 2004, o défice público desceu a 3.5 por centodo PIB, devido a um aumento das receitas petrolíferase à aplicação de medidas visando melhorar a fiscalizaçãoe o processo de execução do orçamento. Por outro lado,as receitas provenientes de impostos sobre as transaçõesinternacionais não aumentaram, apesar da transferênciada gestão alfandegária de Luanda à empresa CrownAgents.

O orçamento de 2005 apóia-se em esforçoscontínuos no sentido de conter as despesas e assegurara sua fiscalização, nomeadamente através da eliminaçãoprogressiva dos preços subsidiados da gasolina e deserviços públicos, e de um corte substancial nas despesascorrentes, exceptuando os salários. A eliminaçãoprogressiva do subsídio ao petróleo teve início em Maioe Novembro de 2004, com aumentos consideráveisdos preços de venda a retalho dos produtos petrolíferos.O referido subsídio deveria passar de 4.5 por cento doPIB em 2004 para 1.1 por cento em 2005. Apesar doaumento substancial da produção de petróleo em 2005e 2006, prevê-se um fraco aumento das receitaspetrolíferas devido à amortização dos pesados custosoperacionais e de desenvolvimento relativos à exploraçãode novas jazidas de petróleo em águas profundas.

As medidas de estabilização implementadas desde2003 conseguiram manter a inflação numa médiaestimada de 40 por cento em 2004, prevendo-se quedesça a 31 por cento em 2005 e a 26 por cento em2006. Para que esse processo seja sustentável, énecessária uma gestão prudente do défice orçamentalnão-petrolífero (definido como défice orçamentalglobal excluindo as receitas provenientes do petróleo– um indicador-chave para avaliar a viabilidadeorçamental em países ricos em recursos naturais) e apoupança dos lucros inesperados provenientes dos

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aumentos dos preços do petróleo, os quais constituirãouma riqueza financeira para as gerações futuras. Nocaso da continuação desses enormes desequilíbriosorçamentais, o resultado seria uma transferência doscustos do ajustamento às gerações futuras, que, porsua vez, deverão também enfrentar o empobrecimentodas reservas petrolíferas. Além disso, as fatias doorçamento destinadas à saúde e à educação são muitopequenas, representando respectivamente 7.3 e 4.6 porcento do total das despesas para 2005, enquanto quea defesa contou com 12.5 por cento e a segurança com7.9 por cento. Finalmente, apesar de algumasmelhorias, enormes progressos são necessários emmatéria de transparência das receitas petrolíferas.Actualmente, a monitorização insuficiente e a falta decontrolo da despesas públicas fazem com que sejadifícil elaborar uma avaliação detalhada da situaçãoorçamental do país, avaliação essa que é extremamentenecessária para a obtenção por Angola do apoio dacomunidade internacional (incluindo a assinatura deum SMP).

Em 2003, o quanza sofreu uma depreciação de 37por cento face ao dólar, provocando uma forte apreciaçãoem termos reais que travou as perspectivas decrescimento do sector não-petrolífero. O plano deestabilização, em prática desde Setembro de 2003,incluiu a unificação das taxas de câmbio, o lançamentodas vendas semanais de divisas, um controlo reforçadoda liquidez dos bancos comerciais (através da aplicação

de novos regulamentos relativos a reservas obrigatóriase a posição do câmbio) e uma coordenação de políticasmais estreita entre o Tesouro Nacional e o BancoNacional de Angola (BNA). Os dados do BNA sobretransacções em divisas são opacos, por que não levamem conta as importações financiadas por linhas decrédito (do Brasil, China e Israel). Isso impede a avaliaçãodo nível necessário de intervenção sobre as transacçõesem divisas para que a taxa de câmbio nominal sejamantida.

Posição face ao Exterior

Desde 1999, Angola tem reduzido substancialmenteos seus direitos de importação e racionalizado a suaestrutura. Os direitos aduaneiros máximos foraminicialmente reduzidos de 110 para 35 por cento, eem seguida para 30 por cento nesses últimos meses. Alémdisso, o número de direitos foi também reduzido paraapenas cinco intervalos pautais ad valorem entre 2 e 30por cento. Essa estrutura aduaneira simplificada reduzconsideravelmente as distorções causadas peloproteccionismo, apesar da lista de isenções pautaisainda ser longa e apresentar diversas falhas que permitema fuga aos direitos de importação. Os regulamentosaduaneiros permanecem opacos e frequentementeconfusos após décadas de alterações progressivas eactualizações descoordenadas. Uma novaregulamentação aduaneira está sendo preparada, masainda não se sabe quando entrará em vigor. Angola

Tabela 2 - Finanças Públicas (percentagem do PIB)

a. Apenas os mais significativos constam do relatório.Fonte: Dados do FMI e do Ministério das Finanças; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004(e) 2005(p) 2006(p)

Total das receitas e donativosa 46.5 47.1 40.5 37.3 35.9 35.7 33.7Receitas fiscais 3.8 7.3 7.9 7.8 6.8 6.2 6.1Receitas petrolíferas 40.8 36.9 31.1 28.2 28.7 28.8 27.2

Total das despesase empréstimos líquidosa 57.5 49.4 49.8 45.1 39.4 33.9 31.9

Despesas correntes 52.9 36 37 36.7 32.6 27.9 25.6Sem pagamentos de juros 41.3 30.7 33.6 34.9 30.2 26 24.1

Salários e remunerações 8.8 8.1 11.3 12.5 11.7 9.2 8.4Pagamentos de juros 11.5 5.2 3.3 1.8 2.4 1.9 1.6

Despesas de capital 4.9 6.3 7.1 7.7 6.2 5.8 6

Saldo primário 0.6 2.9 -6 -6.1 -1.1 3.7 3.4Saldo global -11.0 -2.3 -9.3 -7.8 -3.5 1.8 1.8

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não é muito dependente dos impostos sobre astransacções internacionais (responsáveis por 5.5 porcento do total das receitas em 2002), o que deveriafacilitar a sua futura participação em iniciativasmultilaterais e regionais.

Angola aderiu formalmente ao Protocolo Comercialda Comunidade de Desenvolvimento da África Austral(SADC) em Março de 2003 e encontra-se actualmentea preparar um calendário para a respectiva aplicação.A maior parte das medidas da SADC relativas àliberalização do comércio serão introduzidas até 2008.Para esse efeito, os estados membros estão nessemomento a fazer uma avaliação intercalar do protocolocomercial, processo no qual se espera que Angoladesempenhe um importante papel como membro docomité directivo.

Foi só em Dezembro de 2003 que Angola passoua ser elegível para beneficiar da Lei norte-americanarelativa ao crescimento e oportunidades em África(AGOA), contudo, tem sido a principal beneficiária doSistema de Preferências Generalizadas (SPG) desde1999. Ao abrigo do programa, mais de 93 por centodos produtos angolanos elegíveis para o SPG,predominantemente petróleo e produtos petrolíferos,entrarão no mercado isentos de direitos aduaneiros.

A exploração de petróleo influencia fortemente abalança comercial. As exportações de petróleo foramresponsáveis por 90 por cento do total das exportaçõesnos últimos cinco anos e estima-se que aumentarão 40por cento em 2004. As exportações de diamantesocupam o segundo lugar e registam também um fortecrescimento.

Os Estados Unidos são o principal destino dessasexportações (mais de 40 por cento nos últimos cincoanos), seguidos pela China. Os países da União Europeiasão a única grande fonte de importações, sendoresponsáveis por cerca de metade das compras angolanasao exterior. Por exemplo, os produtos alimentares frescose transformados são importados da África do Sul e dePortugal, respectivamente, e equipamento e maquinariacorrespondem à principal parcela de importaçõesprovenientes dos Estados Unidos.

Os elevados preços do petróleo associados a umaumento da produção fizeram disparar as exportaçõesem 2004, o que resultou num excedente comercialenorme. Espera-se que o contínuo crescimento daprodução de crude de petróleo faça aumentar maisainda os volumes de exportação em 2005 e 2006. Oque por sua vez conduzirá a um aumento dasimportações de bens de equipamento.

Três fenómenos relacionados atraem o investimentodirecto estrangeiro (IDE): a descoberta de novos camposde petróleo, a melhoria da rentabilidade das exploraçõesem águas profundas num contexto de preços de petróleoelevados, e o interesse estratégico do potencial energéticodo Atlântico Sul para as empresas americanas. AChevronTexaco, em particular, afectou 11 mil milhõesde dólares para investimento nos próximos cinco anos.Apesar da sua contribuição positiva para o PIB e paraas exportações, os projectos petrolíferos implicamintensas importações, mas têm pouca articulação comempresas locais. Ainda que o número de articulaçõesascendentes e descendentes tenha começado a crescer(as empresas estrangeiras têm programas ad hoc paradesenvolver os componentes locais), a integração entre

Tabela 3 - Conta Corrente (percentagem do PIB)

Fonte: Dados do FMI e do Banco Nacional de Angola; cálculos dos autores para as estimativas (e) e as projecções (p).

1996 2001 2002 2003 2004(e) 2005(p) 2006(p)

Balança comercial 46.6 37.5 42.3 29.2 38.6 43.3 42.9Exportação de produtos (f.o.b.) 77.5 73.1 77.2 68.8 70.0 69.2 65.1Importação de produtos (f.o.b.) -31.0 -35.6 -34.9 -39.6 -31.4 -25.9 -22.2

Serviços -33.7 -37.1 -28.9 -22.6Rendimento dos factores -20.8 -17.5 -15.1 -12.5Transacções correntes 3.4 1.0 0.3 0.7

Saldo da conta corrente -4.4 -16.0 -1.4 -5.2

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empresas nacionais e estrangeiras limita-se a actividadesmuito pouco especializadas, como restauração e serviçosde limpeza.

O resto da economia atrai muito pouco IDE. Osinvestidores sentem que correm um risco elevado,apesar dos incentivos especiais e das isenções de impostosque visam modular a liberalização comercial de acordocom os diferentes sectores. Para acrescentar valor àindústria de diamantes local, o Governo aprovou emAbril de 2003, um plano para acabar com o monopóliosobre a compra de diamantes da Ascorp (Angola SellingCorporation, um consórcio entre o Estado e váriosinvestidores estrangeiros, incluindo o Grupo Leviev).O Grupo Leviev está actualmente a construir umafábrica de lapidação de 3 milhões de dólares.

As autoridades não revelam dados sobre a dívidaexterna desde 2001. Segundo estimativas do FMI, adívida de Angola atingiria no final de 2004 os 9.6 milmilhões de dólares (incluindo juros vencidos e juros demora), o equivalente a 50 por cento do PIB, ou a 120por cento das exportações líquidas (excluindo despesaspetrolíferas). Embora esse rácio esteja abaixo do limiteimposto pela iniciativa PPAE (Países Pobres Altamente

Endividados), o problema reside na estrutura da dívidaexterna e na forte dependência quanto aos onerososempréstimos de curto prazo garantidos pelo petróleo,que acentuam a vulnerabilidade do país face ao exterior.Angola está em dia quanto às suas obrigações para comcredores multilaterais, bancos comerciais e credoresbilaterais fora do Clube de Paris, incluindo Brasil ePortugal, mas tem dívidas vencidas com a maior partedos credores do Clube de Paris.

Questões Estruturais

O legado de mais de duas décadas de guerra e deum sistema político unipartidário, juntamente com aforte dependência quanto ao petróleo e aos diamantes,têm afectado profundamente a qualidade da governação,daí que a sua melhoria seja o grande desafio para Angola.

Desde 1988, têm sido promulgadas novas leis pararegular actividades económicas, organizar as actividadesdos mercados financeiros, da exploração mineira e daspescas; formalizar a primeira leva de privatizações eintroduzir incentivos ao investimento estrangeiro nossectores não-petrolíferos. Ainda assim, em virtude dos

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Figura 5 - Montante do Total da Dívida Externa (percentagem do PNB)e Rácio do Serviço da Dívida sobre as exportações (percentagem)

Fonte: Banco Mundial.

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resultados mitigados das privatizações e dos fracosprogressos na resolução do problema da vulnerabilidadedo sistema financeiro, essas medidas não conseguiramdar aos investidores os incentivos adequados para quese lancem em actividades arriscadas e de criação deempregos. As relações empresariais têm sidocaracterizadas pelos chamados comportamentos de“procura de renda” e muitos investidores achamextremamente difícil competir com um pequenonúmero de empresas bem relacionadas e com forteinfluência política (os chamados empresários deconfiança).

Paralelamente aos esforços para estabilizar oambiente macroeconómico, têm sido adoptadas novasiniciativas para encorajar o desenvolvimento do sectorprivado, entre as quais: uma nova lei sobre osinvestimentos, que prevê a igualdade de tratamentoentre empresas angolanas e estrangeiras (com poucasexcepções); o novo código comercial adoptado no iníciode 2004 (em substituição ao código comercial de 1888e à lei relativa às sociedade anónimas de 1901); e acriação da Agência Nacional para o Investimento Privado(ANIP), que serve de plataforma única para o registodas empresas. Serão precisas mais disposições para aaplicação efetiva do novo código comercial. Além disso,a lei sobre os investimentos é vaga quanto aorepatriamento de lucros e não contém garantias legaisfortes para proteger os investidores estrangeiros. Foiaprovada uma lei de regime de propriedade em 2004com o objectivo de esclarecer a questão dos direitos depropriedade e direitos consuetudinários. Os grandesproblemas permanecem, já que em muitos casos osregistos coloniais foram destruídos e o registo detransmissão de propriedade, ocupação e concessões écaótico devido ao facto das jurisdições ministeriaisestarem mal definidas e frequentemente sobrepostas.

Uma legislação específica continua a reger osinvestimentos nos sectores do petróleo, dos diamantese financeiro. No caso do petróleo, foi apresentado umcontrovertido projecto de lei a investidores estrangeiros,em meados de 2004. Segundo esse texto, as companhiaspetrolíferas internacionais deveriam canalizar as receitasprovenientes da exportação através do sistema bancárionacional. Os investidores estrangeiros alegam que os

bancos nacionais não estão preparados para acolher egerir eficazmente grandes fluxos de divisas. Argumentamainda que certas disposições para o regulamento doemprego de cidadão angolanos e do repatriamento delucros constituem uma violação das obrigaçõescontratuais. O projecto de lei da concorrência ainda nãofoi apresentado ao Parlamento.

As empresas públicas desempenham um importantepapel na economia. O processo de privatização foisuspenso em 2001, na sequência das preocupaçõessuscitadas quanto à sua situação e sucesso. Muitasindústrias públicas industriais e manufactureiras registamperdas substanciais, que, em muitos casos, acabaramcom o fundo de maneio. Os serviços públicos básicos(em especial água e electricidade) são muito deficientes,o que foi agravado pelo deslocamento de uma populaçãosem recursos que fugiu à guerra civil. A rede não chegaa 20 por cento da população e os cortes são muitofrequentes. Apesar de o potencial da rede hidroeléctricaser elevado, a tecnologia está desactualizada e pouco setem investido, desde o início da década de 90, paramanter as centrais eléctricas e as redes de transmissãoe distribuição. Algumas empresas, tais como a AngolaTelecom, a companhia dos caminhos-de-ferro e atransportadora aérea nacional, a TAAG, têm sido alvode reestruturações ao nível administrativo, de forma aatrair o interesse estrangeiro. Em Luanda, alguns serviçospúblicos seleccionados, tais como os transportes urbanose a gestão de resíduos, já estão a funcionar sob concessão.Desde meados de 2003, está em funcionamento asegunda operadora de telefones móveis, que possueactualmente uma quota de mercado de 55 por cento.Os progressos realizados para atrair investimentosprivados são travados pela falta de garantias judiciais,incluindo organismos de fiscalização independentes.

Segundo dados do censo de 2002, conduzido peloInstituto Nacional de Estatística, o sector privado,excluindo a agricultura, engloba 19 000 empresas eemprega 341 000 pessoas. A maioria dessas empresasencontra-se na zona de Luanda. Esses númerossubestimam a dimensão do sector privado, já que umaparte substancial da actividade económica funcionano sector informal, para o qual não existe uma estimativafiável. Mais de 70 por cento dos depósitos e 70 por cento

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dos empréstimos são feitos em divisas devido aoambiente há muito caracterizado pela fragilidade deacordos de paz sucessivos, por uma taxa de inflaçãoelevada, uma taxa de câmbio volátil e baixos rendimentosdos depósitos em quanzas. Essa situação limita o acessoao crédito, especialmente para as empresas pequenas.Os requisitos de garantia são rígidos, mas praticamentequase não existem sistemas de registo de títulos depropriedade. A propriedade continua a ser umaprerrogativa do Estado e os direitos de usufruto, bastanteincertos, não podem ser utilizados como garantia, o quelimita muito os empréstimos aos agricultores. Os bancoscomerciais revelam uma preferência evidente porempresas grandes com longos registos de actividade efortes ligações com o poder instituído.

Em 2000, as autoridades criaram o Fundo deDesenvolvimento Económico e Social (FDES),instituição de crédito que visa canalizar parte dasabundantes receitas petrolíferas para o apoio aoinvestimento no sector privado. Os alvos do FDES sãona sua maioria pequenas e médias empresas, com

empréstimos que vão dos 10 000 aos 500 000 dólares,canalizados através de bancos comerciais. Segundo oplano inicial, o FDES deveria receber 150 milhões dedólares de “bónus do petróleo” em 2000, mas apenas30 milhões haviam sido desembolsados em meados de2004. O FDES financiou 170 projectos, principalmenterelacionados com transportes e pescas, com ummontante médio de financiamento por projecto decerca de 20 000 dólares, criando mais de 4 500empregos. A sua actividade tem sido prejudicada pelaescassez de recursos financeiros e pelo fraco sistemafinanceiro através do qual funciona. Os bancosintermediários não proporcionaram umacompanhamento adequado aos projectos financiados,devido à falta de informações e análises relativas aoscréditos. Os empréstimos eram garantidos por hipotecade imobilizações e cauções.

Só recentemente, com o estabilizar da situaçãopolítica, é que têm sido desenvolvidas outras iniciativaspara satisfazer a procura não-satisfeita de serviçosfinanceiros, tais como: a criação de um quadro

Os Bancos de Micro-Financiamento oferecem Fórmulas Flexíveis para contornar a burocracia

O Novobanco, um banco de micro-financiamento em actividade também noutros países da ÁfricaAustral, desenvolveu instrumentos financeiros e um sistema de linhas de crédito que permite às empresasestabelecidas de contornar a burocracia obstrutiva ao acesso ao financiamento. Nos três meses seguintes àsua abertura em Luanda, em Setembro de 2004, o banco concedeu mais de 120 linhas de crédito, de ummontante total de 600 000 dólares (com uma média de empréstimos de 5 000 dólares, prazos de 3 a 5 anose uma taxa de juro mensal de 4 por cento). A maior parte dos seus clientes operam no sector do comércio.

Esse sucesso, que excedeu em muito as expectativas do Novobanco, deveu-se à flexibilidade da fórmula oferecidaaos pequenos empresários: uma conta livre de encargos, sem saldo mínimo, garantias informais (bensimobiliários e fiador) e uma relação continuada com os responsáveis do empréstimo. Estes últimos, os quaissão agrupados numa rede e pagos de acordo com o desempenho, encarregam-se de avaliar a qualidade dacarteira de clientes e de os acompanhar. Falta ao esquema financiado pela USAID, contudo, uma vertenterelativa à assistência técnica, considerada como um dos requisitos fundamentais para o desenvolvimento daspequenas empresas.

Outras iniciativas bem sucedidas foram introduzidas recentemente para favorecer o desenvolvimentodas pequenas empresas. Elas combinam linhas de crédito, formação e assistência técnica. Um bom exemploé o do Banco Sol, um banco local que no início concedia empréstimo somente a grupos, mas que passougradualmente a financiar negócios individuais dos seus clientes tradicionais. Aproveitando as relações sólidasque mantinha com os seus clientes e a sua vasta cobertura geográfica, o banco usou uma estratégia eficaz,aceitando garantias informais e confiando a ONGs internacionais o acompanhamento e a assistência ao cliente.

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normativo relativo ao micro-crédito; o desenvolvimentode competências humanas necessárias; a criação deagências de informações comerciais e serviços dedesenvolvimento empresarial para reduzir a falta deinformação; o desenvolvimento de instrumentosfinanceiros mais direccionados para as necessidadesempresariais da comunidade angolana; e a extensãodos serviços até as zonas ainda mal servidas do país. Aimplementação foi confiada a diversos parceiros públicose privados, incluindo agências governamentais, doadorese organizações internacionais e companhias petrolíferas,as quais são obrigadas por contrato a ceder parte doslucros para financiar actividades relacionadas com aresponsabilidade social da empresa. Os resultados têmsido encorajadores (Caixa 1). Isso prova que existe umaprocura de serviços financeiros não-satisfeita por partedas empresas de médio porte, que normalmente nãotêm accesso aos bancos comerciais e para as quais omicro-financinanciamento não é suficiente.

Contexto Social e Político

Angola entrou numa nova era no dia 4 de Abril de2002, com a assinatura do cessar-fogo entre as forçasarmadas e os rebeldes, seis semanas após a morte de JonasSavimbi, líder da UNITA. Após a enorme derrotamilitar face às forças governamentais, mais bem armadase organizadas, a UNITA tinha batido em retirada. Alémdisso, os rebeldes encontravam-se isolados politicamenteem ambas as frentes, a nacional e a internacional. Desdeentão, a nova liderança da UNITA tem lutado para gerira difícil transição que faria desse movimentofragmentado um partido político unido.

As autoridades têm enfrentado desafiosconsideráveis, e os progressos têm sido desiguais. Hápequenos sinais do retorno à paz e à democracia, comoa emergência de uma imprensa independente e deorganizações da sociedade civil, mas ainda não serespondeu de forma adequada às necessidades dosdesalojados dentro do país (4 milhões no fim da guerra)e dos ex-insurgentes da UNITA, devido ao efeitocombinado das desigualdades étnicas e regionais e daresposta inadequada por parte do Governo. Estima-seque mais de 300 000 pessoas ainda vivem fora da sua

zona de origem, 5 a 7 milhões de minas ainda estão pordesactivar, a assistência médica às vítimas dorebentamento de minas é muito limitada e têm sidorelatados inúmeros episódios de violência contra osapoiantes da UNITA, aquando do regresso destes àszonas de origem.

Décadas de atrocidades, incluindo enormes violaçõesdos direitos humanos dos não-beligerantes, tornam areconciliação extremamente difícil. Os interessesenraizados minam as reformas, e após três décadas deintervenção externa, o Governo de Angola resiste àscondições prévias que a comunidade internacionalimpõe para a sua participação e ajuda. As eleiçõespresidenciais e legislativas estão agendadas para 2006,as primeiras em 12 anos. Embora o Governo desejeprimeiro chegar a um acordo quanto a uma novaConstituição, a UNITA está fazendo pressão para obtereleições antecipadas regidas pela Constituição actual.Enquanto a oposição parece dividida, o partido nopoder, o Movimento Popular para a Libertação deAngola (MPLA), ainda goza da confiança internacionale do prestígio popular, devido ao seu estatuto de herdeirodos heróis da independência.

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humanode 2004, Angola ocupa o 166.º lugar, em 177 países,com 68 por cento da população a viver abaixo do limiarda pobreza de 1.7 dólares por dia. De facto, apesar doboom do petróleo, a maioria dos angolanos vive emsituação de extrema pobreza. A incidência da pobrezaé mais elevada nas zonas rurais, onde afecta 94 porcento da população, contra 57 por cento nas zonasurbanas. Essa situação se explica pela dificuldade queos agricultores têm de obter terras férteis e aceder aosmercados, pelas más condições das infra-estruturasrodoviárias e pela migração dos habitantes das zonasrurais para os centros urbanos, menos afectados peloconflito armado do que as zonas rurais. O últimoinquérito às famílias (2001) revelou que 40 por centodos chefes de família estavam desempregados e que odesemprego nas zonas urbanas se situava nos 46 porcento. Indicava ainda que um quinto das crianças, comidades compreendidas entre os 5 e os 14 anos, tinhamvários empregos e que 42 por cento das crianças defamílias pobres participavam no trabalho familiar.

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Os indicadores sociais mais relevantes, tais como:esperança de vida, subnutrição e acesso a água esaneamento básico decaíram a pique durante a guerrae encontram-se ainda em níveis muito alarmantes. Nadécada de 90, a Comunidade Internacional estavaprofundamente envolvida no alívio da crise humanitáriaangolana, fazendo com que o país recebesse umaassistência considerável, incluindo ajuda alimentar. Aestratégia actual dos doadores é passar de umaintervenção de emergência para uma abordagem quefavorize o desenvolvimento, visando atingir osObjectivos de Desenvolvimento do Milénio e promoveruma governância democrática. Com esse fim, osdoadores estão a pressionar as autoridades para queestas acelerem a luta contra a corrupção, promovam atransparência na utilização das receitas petrolíferas eaumentem, em quantidade e qualidade, as despesaspara reduzir a pobreza.

O Conselho de Ministros aprovou o DocumentoEstratégico de Redução da Pobreza (DERP) emDezembro de 2003, e um subsequente processo derevisão está praticamente completo. Segundo acomunidade de doadores, falta clareza quanto àprioridade de objectivos, de acções, de prazos e defontes de financiamento. Além disso, as ONGs alegamque as consultações da fase de preparação foraminsuficientes. A conclusão oficial do DERP está assimsujeita à inclusão dos comentários dos doadores e àintensificação do processo de consultações com asociedade civil, sob a liderança de um grupo de trabalhodos doadores do DERP. Existem preocupações quantoà capacidade do país para implementar um sistema demonitorização e avaliação dos progressos relativos aoDERP. O inquérito às famílias de 2001, que estádesactualizado e não representa todo o país, não podeser utilizado para avaliar o impacto da aplicação doDERP.

Dois anos após o fim das hostilidades, os esforçospara reconstruir e aumentar a disponibilidade dosserviços de saúde quase não avançaram. Apenas 30 porcento da população tem acesso a serviços básicos desaúde num raio de 5 quilómetros do sítio onde mora.A taxa de mortalidade materna é uma das mais altasdo mundo, (1 700 por cada 100 000 nascimentos).

Segundo a UNICEF, Angola tem a terceira taxa demortalidade infantil mais elevada, 250 mortes por cada1 000 crianças, devido à malária, infecções respiratórias,diarréia, sarampo e tétano néo-natal. A subnutrição éuma importante condição subjacente, estima-se queafecte quase metade das 7.4 milhões de criançasangolanas. Nos próximos dois anos, espera-se que o paísreceba 25 milhões de dólares do Fundo Global paraaplicar medidas de combate à malária. Contudo, o paísainda não dispõe de uma política nacional com relaçãoaos serviços de saúde e as instituições médicas devemlutar para assegurar os tratamentos adequados até paraas doenças mais comuns.

Uma das causas profundas da reduzida taxa deacesso a serviços de saúde e da fraca qualidade dessesserviços é a insuficiente fatia orçamental destinada adespesas sociais. Os parcos fundos destinados ao sectorda saúde são fragmentados em unidades orçamentaisdistintas ao nível das províncias e dispersos por umvasto número de políticas, programas e planos sub-sectoriais, sem que haja um plano de acção que abranjatodo o sector. Existe uma enorme escassez de médicos,apenas um para cada 13 000 pessoas. O Governoanunciou um vasto pacote de medidas com incentivosaos profissionais de saúde que forem trabalhar nasprovíncias, mas a implementação dessas medidas temsido lenta.

A taxa de prevalência do HIV/SIDA, estimada em4.1 por cento em 2003, é relativamente baixa quandocomparada com os dramáticos números da ÁfricaAustral, a sub-região do mundo mais afectada pelaepidemia. Um novo inquérito da UNICEF, baseado nostestes efectuados em 12 000 mulheres que frequentaramos serviços de consultas médicas pré-natais nas 18províncias do país, concluiu que apenas 2.8 por centoestavam infectadas, o que implica uma taxa total deadultos infectados pelo HIV de cerca de 5 por cento.A taxa relativamente baixa de prevalência do HIV,infelizmente conduziu a um atraso na resposta médicaà pandemia e ao planejamento de fatias orçamentaisextremamente reduzidas nos últimos três anos. Umpasso importante na luta contra a doença foi olançamento do Plano Nacional do Combate aoHIV/SIDA em Janeiro de 2004. O plano estratégico

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quinquenal de 160 milhões de dólares, concebido emcolaboração com as Nações Unidas, centra-se naprevenção, no reforço das capacidades institucionais ena ajuda à população seropositiva. No entanto, existempreocupações quanto ao lento progresso na aplicaçãodo plano, especialmente no que se refere à criação deinstalações para tratamento na capital.

Com uma taxa de analfabetismo de 58 por cento(contra os 38 por cento no resto do continente africano)e com cerca de um terço das crianças de 5 a 11 anossem instrução, os indicadores relativos à educação emAngola encontram-se entre os mais baixas do mundo.Durante a década de 90, o sector da educação angolanoregistou um sério declínio nas inscrições, em partedevido às hostilidades mas também à incapacidade dosistema quanto à formação e à colocação de um númeroadequado de professores, com material pedagógicosuficiente. No fim da década de 90, a inscrição noensino primário decresceu para 1 milhão. Segundo asúltimas estatísticas nacionais disponíveis, os ráciosbrutos de inscrições para rapazes e raparigas era de 78e 69 por cento, respectivamente, e os rácios líquidosde inscrições no ensino primário eram de 39 e 35 porcento, respectivamente. Além disso, 35 por cento dototal das crianças que se inscreve no primeiro ano, nãochega a concluir a escola primária. Essa situação reflecteas elevadas taxas de desistências em todos os anos doensino primário, que atinge em média 24 por cento dosalunos nos primeiros quatro anos. Os números brutosde inscrições no ensino secundário são também muito

baixos, 18 por cento de rapazes e 13 por cento deraparigas. Os baixos salários e atrasos nos pagamentostornaram o ensino público uma profissão poucoatractiva. Os professores têm de exercer profissõesparalelas e frequentemente recorrer às gasosas (subornos),o que dificulta ainda mais o acesso à educação dascrianças mais carentes. O número de alunos por sala émuito elevado (64) e a escassez de manuais éimpressionante.

O Ministério da Educação reformulou o Plano-Quadro de Reconstrução do Sistema Educativo, definindonovos objectivos a alcançar até 2015. Os desafioscontinuam enormes: para atingir os números universaisde inscrições e de conclusões do ensino primário, e aomesmo tempo acompanhar o rápido crescimento dapopulação em idade escolar, o número de alunosinscritos no ensino primário tem de crescer dos 1.2milhões estimados em 2002 para 5 milhões em 2015.O resultado dos esforços recentes foi um aumento emmassa no número de inscrições, com quase 2 milhõesde crianças na escola primária, no ano lectivo de 2004.Além disso, de forma a melhorar a disponibilidade e aqualidade do ensino primário, o Ministério da Educaçãoe a UNICEF delinearam recentemente um plano dedesenvolvimento da capacidade nacional. Nesse sentido,e visando a melhoria das suas competências pedagógicas,alguns dos 29 000 novos professores recrutados no anopassado trabalharão com os módulos de ensino maisrecentes.

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