ANKING O diferencial da melhor do Rio no IGC -...

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FOLHA DIRIGIDA 6 a 12 de janeiro de 2015 16 EDUCAÇÃO O diferencial da melhor do Rio no IGC RANKING | Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) foi também a segunda melhor no país FOLHA DIRIGIDA — MAIS UMA VEZ, A EPGE FOI A INSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO COM MAIOR IGC. O QUE FOI FUNDAMENTAL PARA MAIS UM BOM RESULTADO? Rubens Penha Cysne —Existe um processo histórico. A EPGE foi fundada há 53 anos e logo depois os professores da instituição de- senvolveram as contas nacionais e os índices de preços e inflação. Portanto, eram profissionais muito experientes e contribuíram demais para o Brasil. Além da tradição, mais de 50 anos de desenvolvi- mento institucional, porque não se faz sucesso da noite para o dia, há uma disposição no sentido de atração de talentos. Temos um ele- vado número de bolsas para os pri- meiros lugares no vestibular e para alunos que não foram tão bem, mas se destacam posteriormente. A escola, como um todo, é altamen- te deficitária, é sustentada por trans- ferências da FGV. Nosso objetivo é atrair os melhores alunos, que muitas vezes não podem pagar, então damos esse incentivo. Um terceiro fator é o incentivo à pes- quisa e a internacionalização da EPGE. Ou seja, incentivamos nos- sos professores e alunos a fazerem publicações em revistas de primei- ra linha do exterior. Assim, estão sempre na fronteira do conhecimen- to científico. Ao invés de aprender coisas desenvolvidas há 30 anos, como acontece em lugares onde não há pesquisa, aprendem o que existe de mais novo e atual. O quarto e último fator é buscar sem- pre os melhores, seja no corpo dis- cente ou docente. Ninguém entra aqui por ser apadrinhado. EM LINHAS GERAIS, QUAL É A DI- RETRIZ DE FORMAÇÃO DA EPGE? COMO É O TRABALHO COM OS ALUNOS? Na graduação, temos uma diretriz bem ampla. Diria até renascentis- ta e humanista, pois os alunos es- tudam não só componentes de matemática, estatística, macroeco- nomia e microeconomia, por exemplo, mas também história, filosofia e sociologia. Hoje em dia é difícil, pois as escolas se concen- tram em especializações. Se for para determinada instituição, verá derivativos do mercado financei- ro, em outra apenas política eco- nômica. A ideia aqui é que a gra- duação seja um estudo geral. Tam- bém nos caracterizamos por mé- todos científicos escritos. Ou seja, você tem um determinado fenô- meno e pressupõe que os indiví- duos tenham determinada racio- nalidade econômica. Com base nisso, chega a previsões e testa se os fatos as amparam ou não. A partir daí renova ou confirma as hipóte- ses. Tudo isso sempre com méto- dos avançados que estão nas fron- teiras do conhecimento. EM RELAÇÃO AO CORPO DOCEN- TE, O QUE O SENHOR PODERIA FALAR DE SUA COMPOSIÇÃO? Nosso corpo docente é composto basicamente por doutores. Há tam- bém alguns especialistas, pois nos programas de mestrado profissio- nal precisamos de gente do mer- cado, não só acadêmicos. Porém, a principal característica, principal- mente entre aqueles que ficam em tempo integral, seja no mestrado, doutorado ou graduação, é a pes- quisa. Para serem professores, su- põe-se que estejam pesquisando durante boa parte de seus tempos. Isso possibilita que estejam na ponta do conhecimento. O aluno que vem para cá aprenderá coisas que só chegarão às instituições sem pesquisa daqui a 10 ou 15 anos. Portanto, nossos estudantes têm uma grande vantagem, até porque participam das pesquisas. Temos discentes publicando nas mais res- peitadas revistas internacionais de economia. Aqui todos são insta- dos a praticar pesquisa, publicação e conhecimento de ponta. A EPGE FORMOU QUADROS IMPORTANTES PARA O PAÍS. O SENHOR PODERIA CITAR ALGUNS DOS MAIS CONHECIDOS? Para começar, o atual ministro da Fazenda Joaquim Levy, que está com a responsabilidade de fazer uma política bem forte, foi nos- so aluno da turma de 1986. Má- rio Henrique Simonsen, Eugênio Gudin e Otávio Gouveia de Bu- lhões, são ex-ministros da Fazenda que nós formamos. Dorothea Werneck, ex-ministra do Trabalho e ex-ministra da Indústria e do Comércio; João Paulo dos Reis Veloso, ex-ministro do Planeja- mento; e Carlos Hamilton, atual diretor do Banco Central; além de outros nomes importantes no BC, como Antônio Carlos Lemgruber, Roberto Castelo Branco, José Jú- lio Senna; também passaram pela EPGE. Estas são apenas algumas figuras que contribuíram para a política econômica no Brasil. A es- cola tinha muita participação nes- sa área, mas partir dos anos 90 pas- sou a focar mais na formação ci- entífica e acadêmica dos alunos e a política econômica passou para outro organismo da FGV, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Estamos esperançosos que as ideias que o Joaquim Levy aprendeu aqui sejam colocadas em prática, com austeridade fis- cal e uma política que faça sen- tido no longo prazo. O SENHOR CONSIDERA O IGC COMO UM INDICADOR CAPAZ DE ATESTAR A QUALIDADE DO ENSINO DE UMA INSTITUIÇÃO? Nenhum critério é perfeito. A di- ferença de pontuação na classifi- cação de primeiro, segundo ou terceiro lugar está nas casas deci- mais. Portanto, é uma linha mui- to tênue. Diria que as avaliações feitas pelo MEC têm gerado, prin- cipalmente nos cursos mais novos e sem muita tradição, uma melho- ra bem grande. Na medida que a Coordenação de Aperfeiçoamen- to de Pessoal de Nível Superior (Ca- pes) começa a avaliar os cursos com base em pesquisa, as faculda- des e universidades dão maior im- portância na contratação de pesqui- sadores, o que é extremamente positivo para o país. Ainda assim, diria que o IGC pode ser melhora- do, apesar de ter gerado progres- sos na avaliação, principalmente dos centros mais incipientes. Não falo isso apenas com base em achis- mos, mas sim por apontar resul- tados semelhantes ao de outros índices. No nosso caso, compara- mos o IGC com o Índice de Tilburg e vemos que está coerente. Na parte da empregabilidade, não temos nenhum aluno que chega ao segun- do ano sem ser assediado pelas empresas. Isso, inclusive, gera di- ficuldade para termos estagiários. Outro parâmetro que podemos considerar é a contribuição para a política econômica do Brasil, com todos os nomes que já citei. Por- tanto, ele traduz uma excelência que também aparece quando olha- mos outros fatores. Nesse sentido, o IGC é um bom índice. NA SUA VISÃO, QUAL CRITÉRIO DE ELABORAÇÃO DO IGC PODERIA SER APERFEIÇOADO? Há um ponto que dificulta, que é a avaliação da graduação se basear no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Essa nota não consta no currículo dos estu- dantes que participam da prova. Se o aluno vai muito mal ou não ana- lisa as questões com maior perti- nência, isso não faz diferença para ele, mas faz para a instituição de en- sino. Então, deve ser discutida a possibilidade de o Enade fazer parte da vida escolar do aluno. A princí- pio, pelo que tenho analisado, po- deria ser uma vantagem, porque colocaria o esforço do aluno mais observável. A título de melhora, que parece interessante e bem defensá- vel sob o ponto de vista do aperfei- çoamento, é a utilização da nota na parte discente, mas precisa ser dis- cutido, porque evidentemente exis- tem pontos contrários que devem ser levados em consideração. COMO O SENHOR AVALIA O ANO DE 2014 PARA A EDUCAÇÃO BRA- SILEIRA? FOI POSSÍVEL CONSTA- TAR PROGRESSOS CONSIDERÁ- VEIS OU O AVANÇO FOI POUCO SIGNIFICATIVO? A educação brasileira deve ser avaliada de forma criteriosa em cima do gasto per capita do alu- no universitário em comparação com quem está no ensino funda- mental e médio. As estatísticas mostram que os gastos no ensi- no superior costuma ser, na mé- dia dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimen- to Econômico (OCDE), algo em torno de duas vezes maior, en- quanto no Brasil é cinco vezes maior. Sabemos que educação fundamental e de nível médio são importantíssimas, principalmente a infantil, entre 0 e 3 anos. Diria que precisamos avaliar com muita determinação esse fato: será que estamos dando a atenção devida aos mais jovens? Será que os nú- meros mostram que gastamos pouco? E não basta olhar o inves- timento, mas também os resulta- dos. Ao pegarmos os exames in- ternacionais, fica claro que ainda há muito para ser feito. E, NA SUA OPINIÃO, QUAL É A RES- POSTA PARA ESTES QUESTIONA- MENTOS QUE O SENHOR ACABOU DE COLOCAR? Isso acontece pela falta de uma es- colha social que reflita o efetivo retorno dos recursos. Aparentemen- te, ao colocar R$1 na educação média e fundamental, o retorno para o país é maior do que se investir- mos no ensino superior. Quando isso acontece na economia, passa- mos os recursos para o que dá mai- or retorno. E na educação não faze- mos isso porque existem forças políticas que direcionam os recur- sos para caminhos já estabelecidos. Há uma grande dificuldade de que- brar a inércia em nosso país. É um ponto que necessita de profunda dis- cussão e mobilização. Só assim po- deremos atingir um equilíbrio na distribuição dos recursos e aumentar o investimento onde há maior re- torno social. NA SUA OPINIÃO, QUAIS OS PRIN- CIPAIS PROBLEMAS DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO E COMO PODEM SER SOLUCIONADOS? Vejo que existem ilhas de excelên- cia. Algumas instituições não de- vem nada para as do hemisfério norte, algumas até ultrapassam a média de países desenvolvidos. No ensino público, a questão não é só o montante investido, mas sim estabelecer alguns critérios. Po- demos pensar, por exemplo, em melhores remunerações para os docentes mais dedicados. Se to- dos ganham a mesma coisa, in- dependente do que fazem, não existe incentivo. Portanto, vejo uma necessidade de criar sistemas de incentivo gerenciais. No ensi- no privado, é preciso ficar atento para ver se as faculdades e univer- sidades estão compatíveis com a seriedade do setor que operam, porque educação não é brincadeira. “Nosso corpo docente é composto basicamente por doutores. Há também alguns especialistas, pois nos programas de mestrado profissional precisamos de gente do mercado, não só acadêmicos. Porém, a principal característica, principalmente entre aqueles que ficam em tempo integral, seja no mestrado, doutorado ou graduação, é a pesquisa. Para serem professores, supõe-se que estejam pesquisando durante boa parte de seus tempos. Isso possibilita que estejam na ponta do conhecimento. O aluno que vem para cá aprenderá coisas que só chegarão às instituições sem pesquisa daqui a 10 ou 15 anos.” Para Rubens Penha Cysne, diretor da EPGE, nas universidades, é preciso criar meios de valorizar os docentes que apresentam maior grau de dedicação JADE NUNES THIAGO LOPES [email protected] Tradição, atração de talentos, corpo docente altamente quali- ficado, estímulo à pesquisa e formação ampla. Estes são os segredos que, segundo Rubens Penha Cysne, diretor da Escola Brasileira de Economia e Finan- ças (EPGE) da Fundação Getú- lio Vargas (FGV), levaram a ins- tituição, mais uma vez, aos pri- meiros lugares no Índice Geral de Cursos (IGC), indicador de do Ministério da Educação (MEC) referente à qualidade das faculdades, centros universitá- rios e universidades brasileiras. Na última avaliação, a EPGE obteve o melhor resultado do estado do Rio de Janeiro e o se- gundo melhor do país. A melhor foi a a Escola de Economia de São Paulo (EESP). A terceira co- locada também integra a FGV: trata-se da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape). A EPGE, há anos, se destaca no ranking do IGC. Por sinal, o resul- tado de 2013 nem é o melhor no histórico recente da instituição. Nos últimos cinco anos, ela alcan- çou o melhor desempenho do país três vezes (2011, 2010 e 2009) e o segundo lugar nacional e primei- ro estadual em 2012 e 2013. “Uma coisa importante é sa- ber se a ordem se mantém em outras avaliações. Felizmente, nesse caso, sim. Se pegarmos o Índice Internacional de Tilburg, com todos os departamentos de economia do mundo, a EPGE figura em primeiro lugar na América Latina. A mensuração é bem diferente do IGC. Anali- sam, por exemplo, a capacida- de de contribuir com novas idei- as na área da economia ao re- dor do mundo, ao passo que o IGC é centrado na graduação, mestrado profissional e acadê- mico e doutorado. São coisas distintas, mas que permitem dizer que há certa robustez nos resultados, ainda que nenhum índice seja perfeito”, comentou Rubens Penha Cysne. Diretor da EPGE, da FGV, Rubens Penha Cysne fala sobre a proposta de ensino

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FOLHA DIRIGIDA6 a 12 de janeiro de 2015

16 EDUCAÇÃO

O diferencial da melhor do Rio no IGCRANKING | Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) foi também a segunda melhor no país

FOLHA DIRIGIDA — MAIS UMAVEZ, A EPGE FOI A INSTITUIÇÃODO ESTADO DO RIO COM MAIORIGC. O QUE FOI FUNDAMENTALPARA MAIS UM BOM RESULTADO?Rubens Penha Cysne — Existe umprocesso histórico. A EPGE foifundada há 53 anos e logo depoisos professores da instituição de-senvolveram as contas nacionaise os índices de preços e inflação.Portanto, eram profissionais muitoexperientes e contribuíram demaispara o Brasil. Além da tradição,mais de 50 anos de desenvolvi-mento institucional, porque nãose faz sucesso da noite para o dia,há uma disposição no sentido deatração de talentos. Temos um ele-vado número de bolsas para os pri-meiros lugares no vestibular e paraalunos que não foram tão bem,mas se destacam posteriormente.

A escola, como um todo, é altamen-te deficitária, é sustentada por trans-ferências da FGV. Nosso objetivoé atrair os melhores alunos, quemuitas vezes não podem pagar,então damos esse incentivo. Umterceiro fator é o incentivo à pes-quisa e a internacionalização daEPGE. Ou seja, incentivamos nos-sos professores e alunos a fazerempublicações em revistas de primei-ra linha do exterior. Assim, estãosempre na fronteira do conhecimen-to científico. Ao invés de aprendercoisas desenvolvidas há 30 anos,como acontece em lugares ondenão há pesquisa, aprendem o queexiste de mais novo e atual. Oquarto e último fator é buscar sem-pre os melhores, seja no corpo dis-cente ou docente. Ninguém entraaqui por ser apadrinhado.

EM LINHAS GERAIS, QUAL É A DI-RETRIZ DE FORMAÇÃO DAEPGE? COMO É O TRABALHOCOM OS ALUNOS?Na graduação, temos uma diretrizbem ampla. Diria até renascentis-ta e humanista, pois os alunos es-tudam não só componentes dematemática, estatística, macroeco-nomia e microeconomia, porexemplo, mas também história,filosofia e sociologia. Hoje em diaé difícil, pois as escolas se concen-tram em especializações. Se forpara determinada instituição, veráderivativos do mercado financei-ro, em outra apenas política eco-nômica. A ideia aqui é que a gra-duação seja um estudo geral. Tam-bém nos caracterizamos por mé-todos científicos escritos. Ou seja,você tem um determinado fenô-meno e pressupõe que os indiví-duos tenham determinada racio-nalidade econômica. Com basenisso, chega a previsões e testa seos fatos as amparam ou não. A partirdaí renova ou confirma as hipóte-ses. Tudo isso sempre com méto-dos avançados que estão nas fron-teiras do conhecimento.

EM RELAÇÃO AO CORPO DOCEN-TE, O QUE O SENHOR PODERIAFALAR DE SUA COMPOSIÇÃO?

Nosso corpo docente é compostobasicamente por doutores. Há tam-bém alguns especialistas, pois nosprogramas de mestrado profissio-nal precisamos de gente do mer-cado, não só acadêmicos. Porém,a principal característica, principal-mente entre aqueles que ficam emtempo integral, seja no mestrado,doutorado ou graduação, é a pes-quisa. Para serem professores, su-põe-se que estejam pesquisandodurante boa parte de seus tempos.Isso possibilita que estejam naponta do conhecimento. O alunoque vem para cá aprenderá coisasque só chegarão às instituições sempesquisa daqui a 10 ou 15 anos.Portanto, nossos estudantes têmuma grande vantagem, até porqueparticipam das pesquisas. Temosdiscentes publicando nas mais res-peitadas revistas internacionais deeconomia. Aqui todos são insta-dos a praticar pesquisa, publicaçãoe conhecimento de ponta.

A EPGE JÁ FORMOU QUADROSIMPORTANTES PARA O PAÍS. OSENHOR PODERIA CITAR ALGUNSDOS MAIS CONHECIDOS?Para começar, o atual ministro daFazenda Joaquim Levy, que estácom a responsabilidade de fazeruma política bem forte, foi nos-so aluno da turma de 1986. Má-rio Henrique Simonsen, EugênioGudin e Otávio Gouveia de Bu-lhões, são ex-ministros da Fazendaque nós formamos. DorotheaWerneck, ex-ministra do Trabalhoe ex-ministra da Indústria e doComércio; João Paulo dos ReisVeloso, ex-ministro do Planeja-mento; e Carlos Hamilton, atualdiretor do Banco Central; além deoutros nomes importantes no BC,como Antônio Carlos Lemgruber,Roberto Castelo Branco, José Jú-lio Senna; também passaram pelaEPGE. Estas são apenas algumasfiguras que contribuíram para apolítica econômica no Brasil. A es-cola tinha muita participação nes-sa área, mas partir dos anos 90 pas-sou a focar mais na formação ci-entífica e acadêmica dos alunose a política econômica passou

para outro organismo da FGV, oInstituto Brasileiro de Economia(Ibre). Estamos esperançososque as ideias que o Joaquim Levyaprendeu aqui sejam colocadasem prática, com austeridade fis-cal e uma política que faça sen-tido no longo prazo.

O SENHOR CONSIDERA O IGCCOMO UM INDICADOR CAPAZ DEATESTAR A QUALIDADE DO ENSINODE UMA INSTITUIÇÃO?Nenhum critério é perfeito. A di-ferença de pontuação na classifi-cação de primeiro, segundo outerceiro lugar está nas casas deci-mais. Portanto, é uma linha mui-to tênue. Diria que as avaliaçõesfeitas pelo MEC têm gerado, prin-cipalmente nos cursos mais novose sem muita tradição, uma melho-ra bem grande. Na medida que aCoordenação de Aperfeiçoamen-to de Pessoal de Nível Superior (Ca-pes) começa a avaliar os cursoscom base em pesquisa, as faculda-des e universidades dão maior im-portância na contratação de pesqui-sadores, o que é extremamentepositivo para o país. Ainda assim,diria que o IGC pode ser melhora-do, apesar de ter gerado progres-sos na avaliação, principalmentedos centros mais incipientes. Nãofalo isso apenas com base em achis-mos, mas sim por apontar resul-tados semelhantes ao de outrosíndices. No nosso caso, compara-mos o IGC com o Índice de Tilburge vemos que está coerente. Na parteda empregabilidade, não temosnenhum aluno que chega ao segun-do ano sem ser assediado pelasempresas. Isso, inclusive, gera di-ficuldade para termos estagiários.Outro parâmetro que podemosconsiderar é a contribuição para apolítica econômica do Brasil, comtodos os nomes que já citei. Por-tanto, ele traduz uma excelênciaque também aparece quando olha-mos outros fatores. Nesse sentido,o IGC é um bom índice.

NA SUA VISÃO, QUAL CRITÉRIO DEELABORAÇÃO DO IGC PODERIASER APERFEIÇOADO?Há um ponto que dificulta, que é aavaliação da graduação se basear noExame Nacional de Desempenhode Estudantes (Enade). Essa notanão consta no currículo dos estu-dantes que participam da prova. Se

o aluno vai muito mal ou não ana-lisa as questões com maior perti-nência, isso não faz diferença paraele, mas faz para a instituição de en-sino. Então, deve ser discutida apossibilidade de o Enade fazer parteda vida escolar do aluno. A princí-pio, pelo que tenho analisado, po-deria ser uma vantagem, porquecolocaria o esforço do aluno maisobservável. A título de melhora, queparece interessante e bem defensá-vel sob o ponto de vista do aperfei-çoamento, é a utilização da nota naparte discente, mas precisa ser dis-cutido, porque evidentemente exis-tem pontos contrários que devemser levados em consideração.

COMO O SENHOR AVALIA O ANODE 2014 PARA A EDUCAÇÃO BRA-SILEIRA? FOI POSSÍVEL CONSTA-TAR PROGRESSOS CONSIDERÁ-VEIS OU O AVANÇO FOI POUCOSIGNIFICATIVO?A educação brasileira deve seravaliada de forma criteriosa emcima do gasto per capita do alu-no universitário em comparaçãocom quem está no ensino funda-mental e médio. As estatísticasmostram que os gastos no ensi-no superior costuma ser, na mé-dia dos países da Organização paraa Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE), algo emtorno de duas vezes maior, en-quanto no Brasil é cinco vezesmaior. Sabemos que educaçãofundamental e de nível médio sãoimportantíssimas, principalmentea infantil, entre 0 e 3 anos. Diriaque precisamos avaliar com muitadeterminação esse fato: será queestamos dando a atenção devidaaos mais jovens? Será que os nú-meros mostram que gastamospouco? E não basta olhar o inves-timento, mas também os resulta-dos. Ao pegarmos os exames in-ternacionais, fica claro que aindahá muito para ser feito.

E, NA SUA OPINIÃO, QUAL É A RES-POSTA PARA ESTES QUESTIONA-MENTOS QUE O SENHOR ACABOUDE COLOCAR?Isso acontece pela falta de uma es-colha social que reflita o efetivoretorno dos recursos. Aparentemen-te, ao colocar R$1 na educaçãomédia e fundamental, o retorno parao país é maior do que se investir-mos no ensino superior. Quandoisso acontece na economia, passa-mos os recursos para o que dá mai-or retorno. E na educação não faze-mos isso porque existem forçaspolíticas que direcionam os recur-sos para caminhos já estabelecidos.Há uma grande dificuldade de que-brar a inércia em nosso país. É umponto que necessita de profunda dis-cussão e mobilização. Só assim po-deremos atingir um equilíbrio nadistribuição dos recursos e aumentaro investimento onde há maior re-torno social.

NA SUA OPINIÃO, QUAIS OS PRIN-CIPAIS PROBLEMAS DO ENSINOSUPERIOR BRASILEIRO E COMOPODEM SER SOLUCIONADOS?Vejo que existem ilhas de excelên-cia. Algumas instituições não de-vem nada para as do hemisférionorte, algumas até ultrapassam amédia de países desenvolvidos.No ensino público, a questão nãoé só o montante investido, massim estabelecer alguns critérios. Po-demos pensar, por exemplo, emmelhores remunerações para osdocentes mais dedicados. Se to-dos ganham a mesma coisa, in-dependente do que fazem, nãoexiste incentivo. Portanto, vejouma necessidade de criar sistemasde incentivo gerenciais. No ensi-no privado, é preciso ficar atentopara ver se as faculdades e univer-sidades estão compatíveis com aseriedade do setor que operam,porque educação não é brincadeira.

“Nosso corpodocente é composto

basicamente pordoutores. Há

também algunsespecialistas, pois

nos programasde mestradoprofissional

precisamos de gentedo mercado, nãosó acadêmicos.

Porém, a principalcaracterística,principalmenteentre aquelesque ficam em

tempo integral,seja no mestrado,

doutorado ougraduação, é apesquisa. Para

serem professores,supõe-se que estejam

pesquisandodurante boa

parte de seustempos. Isso

possibilita queestejam na ponta

do conhecimento. Oaluno que vem paracá aprenderá coisasque só chegarão às

instituições sempesquisa daqui a10 ou 15 anos.”

Para Rubens Penha Cysne, diretor da EPGE, nas universidades, é preciso criar meios de valorizar os docentes que apresentam maior grau de dedicação

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Tradição, atração de talentos,corpo docente altamente quali-ficado, estímulo à pesquisa eformação ampla. Estes são ossegredos que, segundo RubensPenha Cysne, diretor da EscolaBrasileira de Economia e Finan-ças (EPGE) da Fundação Getú-lio Vargas (FGV), levaram a ins-tituição, mais uma vez, aos pri-meiros lugares no Índice Geralde Cursos (IGC), indicador dedo Ministério da Educação(MEC) referente à qualidade dasfaculdades, centros universitá-rios e universidades brasileiras.

Na última avaliação, a EPGEobteve o melhor resultado doestado do Rio de Janeiro e o se-gundo melhor do país. A melhorfoi a a Escola de Economia deSão Paulo (EESP). A terceira co-locada também integra a FGV:trata-se da Escola Brasileira deAdministração Pública e deEmpresas (Ebape).

A EPGE, há anos, se destaca noranking do IGC. Por sinal, o resul-tado de 2013 nem é o melhor nohistórico recente da instituição.Nos últimos cinco anos, ela alcan-çou o melhor desempenho do paístrês vezes (2011, 2010 e 2009) e osegundo lugar nacional e primei-ro estadual em 2012 e 2013.

“Uma coisa importante é sa-ber se a ordem se mantém emoutras avaliações. Felizmente,nesse caso, sim. Se pegarmos oÍndice Internacional de Tilburg,com todos os departamentos deeconomia do mundo, a EPGEfigura em primeiro lugar naAmérica Latina. A mensuraçãoé bem diferente do IGC. Anali-sam, por exemplo, a capacida-de de contribuir com novas idei-as na área da economia ao re-dor do mundo, ao passo que oIGC é centrado na graduação,mestrado profissional e acadê-mico e doutorado. São coisasdistintas, mas que permitemdizer que há certa robustez nosresultados, ainda que nenhumíndice seja perfeito”, comentouRubens Penha Cysne.

Diretor da EPGE, da

FGV, Rubens Penha

Cysne fala sobre a

proposta de ensino