ANO 2016 - FAAL8 | MultiFAAl , limeira, v.2, p. 7-8, 2016 Editorial problemática, do ponto de vista...

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ADMINISTRAÇÃO ARTES VISUAIS DESIGN INTERIORES DESIGN DE MODA DESIGN DE PRODUTO DESIGN GRÁFICO MARKETING MATEMÁTICA PROCESSOS GERENCIAIS RECURSOS HUMANOS CADERNO MULTIDISCIPLINAR DA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E ARTES DE LIMEIRA VOLUME Nº 2 ANO 2016

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A D M I N I S T R A Ç Ã O

A R T E S V I S U A I S

D E S I G N I N T E R I O R E S

D E S I G N D E M O D A

D E S I G N D E P R O D U T O

D E S I G N G R Á F I C O

M A R K E T I N G

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In memorian

Prof. Dr. Sebastião Orlando da Silva

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ISSN 2318-888X

Apresentação .................................................................................................................... 5Silvia Helena Orlandelli da Silva

Editorial ............................................................................................................................ 7Adriana Pessatte Azzolino

Artigos

ESCREVENDO, GRAVANDO, NARRANDO: UMA COMPOSIÇÃO A PARTIR DE NARRATIVAS VISUAIS E LITERÁRIAS ....................................................................................................................... 9Boris Faria MorenoSimone de Arruda Peixoto

MODA INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN DE MODA PARA O PROGRAMA DE EQUOTERAPIA ................................................................................................................... 25Antonia Aparecida Mendes Mancini Kledir Salgado

A MEMÓRIA DA ÁFRICA NO BRASIL E A RELIGIÃO: UM ESTUDO SOBRE O ORIXÁ OGUM EM DOIS TERREIROS DE CAMPINAS – SP ............................................................................ 45Mateus Guimarães da SilvaIara Rolim

O ENCONTRO NA CIDADE: O DESIGN COMO UM AGENTE FACILITADOR DA CIDADANIA ........................................................................................................................ 61Amanda Carolina Moreira de AndradeAnderson Ricardo Bortolin

UM ESTUDO DOS POLIEDROS DE PLATÃO COM MATERIAIS MANIPULÁVEIS E TECNOLOGIAS DIGITAIS ..................................................................................................... 75Wellington Rodrigues de Aguiar Nilton Silveira Domingues

O ATENDIMENTO LOGÍSTICO E A SATISFAÇÃO DO CLIENTE ................................................. 89Josélia Nogueira VazAdriana Pessatte Azzolino

PROCESSOS GERENCIAIS E SEUS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL............................................................................................................... 103Nilson MarquesAdriana Pessatte Azzolino

MultiFAAl, limeira, v.2, p. 1-126, 2016

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MultiFAAl, limeira, v.2, p. 5-6, 2016 | 5Silva, S.H.O.

APRESENTAÇÃO

Este é um ano que poderíamos chamar, no mínimo, de impactante para todos nós. Dia por dia vemos certezas virarem incertezas, caminhos em descaminhos, perso-nalidades em figuras de manchetes policiais. Não serão fáceis os caminhos a serem trilhados para a reconstrução de um país que chega, em 2016, ao fundo do poço.

No entanto, este é o ano em que nossa Instituição comemora 15 anos de exis-tência em favor de uma educação superior de qualidade. E para comemorar, lança-mos mais uma edição de nossa revista acadêmica, a MultiFaal, resultado de esforços conjugados de muitos profissionais que fazem parte desse grande projeto chama-do Faal. Projeto iniciado da vontade de um grupo de professores universitários que queria fazer mais e melhor, com uma boa ideia na cabeça, mas nenhum dinheiro no bolso. Bons projetos nascem assim também. Foi se fazendo e se construindo pelas mãos do Prof. Sebastião Orlando da Silva, o Prof. Orlando, que nos deixou há cinco anos e a quem dedicamos esta revista. Bom ouvinte e bem-falante, na sua mineirice, foi abrindo as trilhas, buscando respostas, proseando aqui e ali, usando de todo co-nhecimento que a vida tinha lhe dado até ali para transformar a ideia em projeto e o projeto em realidade, fazendo acontecer.

É nesse espírito investigativo, que entende que nada está acabado e que ideias e projetos são a mola para um mundo melhor, que a Faal e a MultiFaal têm a razão de sua existência. É assim que queremos que cada um dos nossos alunos seja tocado pela vontade de aprender.

O PIC – Programa de Iniciação Científica da Faal, é um primeiro passo para que, vencendo as dificuldades de um curso noturno e de alunos que cumprem longas jornadas de trabalho, ainda assim, se desperte o interesse no manejo de obras cien-tíficas, estatísticas, depoimentos e se produza saber, novos saberes. E tem sido com muita qualidade que estamos realizando este, que é um antigo sonho da Instituição de Ensino. Assim como o programa, procuramos sempre em nossa metodologia de ensino, transformar o empírico, o meramente observável, em conhecimento científi-co e há, sem dúvidas, muitas formas de se fazer esse percurso.

Creio que esta revista traduz maturidade, traduz nossa forma de contribuir para a construção e reconstrução deste Brasil de 2016. Pela nossa crença de que não há caminho senão pela educação, num esforço constante em pensar os diferentes nu-ances da realidade na gestão, nas artes, nas relações humanas, na inovação, na tec-nologia. Quem dera tivéssemos respostas para todos os problemas, mas é assim que se faz o saber, amassando o barro.

Agradeço aos Diretores da Faal, aos Coordenadores, aos professores, aos fun-cionários e alunos que dedicam seus dias ao cuidado com esta Instituição de Ensino. Agradeço ao Orlando, pelos anos ao lado, que me ensinou que tudo é possível.

Profa. MSc. Silvia Helena Orlandelli da SilvaDiretora Geral – FAAL

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EDITORIAL

Os artigos desta segunda edição da Revista Multidisciplinar - MULTIFAAL , consoli-dam duas ambiciosas propostas acadêmico-pedagógicas da instituição: o Programa de Iniciação Científica-PICFAAL e o Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, ambos implantados nos últimos anos. Desta forma, a Revista Multidisciplinar - MULTIFAAL, cumpre a importante função de divulgar o resultado dos processos de investigação realizados pelos nossos alunos neste período, quer sejam nos primeiros passos pelos caminhos da iniciação na pesquisa, ou na reflexão de temas especializados, que de-monstram amadurecimento profissional daqueles que apostam na formação conti-nuada, sempre orientados pelos seus mestres. Oportunamente, destaco e agradeço a contribuição do Prof. Dr. Jorge Henrique Silva, que no período que fez parte do nosso corpo docente, esteve à frente da implantação do Programa PICFAAL, deixando em nossos trabalhos acadêmicos sua marca de qualidade e rigor, registrados nos proce-dimentos que ora seguimos. Os artigos que apresentamos, portanto, demonstram o esforço, a dedicação e a qualidade dos estudos de discentes e docentes, bem como evidenciam o viés criativo e empreendedor dos cursos de graduação e pós-gradua-ção da Faculdade de Administração e Artes de Limeira.

No primeiro artigo GRAVANDO, NARRANDO: UMA COMPOSIÇÃO A PARTIR DE NARRATIVAS VISUAIS E LITERÁRIAS, o texto nos remete à compreensão de alguns as-pectos e elementos que definem ou caracterizam uma imagem enquanto narrativa visual ao relacioná-las com a produção artística.

Em MODA INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN DE MODA PARA O PRO-GRAMA DE EQUOTERAPIA a preocupação com a inclusão é o motor do desenvol-vimento da pesquisa. Trata-se de uma inovação em vestimenta para praticantes de Equoterapia, um acessório vestível para pacientes e auxiliar para fisioterapeu-tas nas sessões de terapia.

A MEMÓRIA DA ÁFRICA NO BRASIL E A RELIGIÃO: UM ESTUDO SOBRE O ORIXÁ OGUM EM DOIS TERREIROS DE CAMPINAS-SP resgata, a partir de uma análise dos orixás, neste caso, à Ogum, a memória coletiva, ao ser africano, mantidos através das religiões afro-brasileiras, especificamente o Candomblé.

Cidadania e o uso do espaço público nas cidades são os temas contemplados no artigo O ENCONTRO NA CIDADE: O DESIGN COMO UM AGENTE FACILITADOR DA CIDADANIA . A investigação segue sob a ótica do lazer e da descontração, em torno do mobiliário urbano e o trabalho do designer em pensar e solucionar esta

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problemática, do ponto de vista da qualidade de vida e do melhor no uso dos espaços urbanos compartilhados.

O artigo intitulado UM ESTUDO DOS POLIEDROS DE PLATÃO COM MATERIAIS MA-NIPULÁVEIS E TECNOLOGIAS DIGITAIS relata a aplicação dos conceitos matemáticos.

Trata dos desafios enfrentados na rotina diária de trabalho e o quanto estes de-pendem de conceitos matemáticos.

Os artigos O ATENDIMENTO LOGÍSTICO E A SATISFAÇÃO DO CLIENTE e o artigo intitulado PROCESSOS GERENCIAIS E SEUS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO OR-GANIZACIONAL demonstram, de forma positiva, a aplicação prática dos conceitos teóricos apreendidos no decorrer dos estudos e confirmam, mais uma vez, que os desafios do cotidiano profissional e a busca de alternativas para a maximização dos resultados organizacionais podem ser pensados à luz de estudos acadêmicos.

Profa. Dra. Adriana Pessatte Azzolino Editora Chefe MultiFAAL

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ESCREVENDO, GRAVANDO, NARRANDO: UMA COMPOSIÇÃO A PARTIR DE NARRATIVAS VISUAIS E LITERÁRIAS

WRITING, ENGRAVING, NARRATING: A COMPOSITION MADE THROUGH

VISUAL AND LITERARY NARRATIVES

Boris Faria Moreno1 Simone Arruda Peixoto2

Resumo

O presente trabalho trata de uma pesquisa teórico/prática que aborda a produção ar-tística e literária apoiadas entre si. A partir da escrita de um conto, inspirado por uma temática existencialista e que compreende os relatos de um personagem na busca pelo sentido de sua vida e condição existencial, foi proposto o desenvolvimento de ilustra-ções, adaptadas para a xilogravura (técnica para realizar gravuras em relevo sobre uma matriz de madeira), resultando em gravuras policromáticas, que por sua vez complemen-tam o conto por meio de uma narrativa visual. Interligados de forma independente, texto e imagem se complementam sem necessariamente estabelecer uma relação hierárquica, no entanto, construindo um diálogo que compartilha características e significações em comum. Buscando compreender alguns aspectos e elementos que definem ou carac-terizam uma imagem enquanto narrativa visual, bem como, relacionando tais questões e reflexões com a produção artística, foi possível vislumbrar possíveis aproximações com o conceito de narrativa oral proposto por Walter Benjamin, especificamente acerca da comparação entre narrativa oral e o processo de trabalho artesanal, aproximando a figura do narrador a do artesão à medida em que ambos desenvolvem suas funções deixando uma marca, contando e transmitindo uma história enquanto experiência, distinguindo-se, deste modo, dos meios informativos.

Palavras-chave: gravura; literatura; processo criativo; narrativas visuais.

1 Aluno do curso de Artes Visuais da Faculdade de Administração e Artes de Limeira (FAAL). Bolsista do Programa PICFAAL

2 Profa. MSc do Curso de Artes Visuais da Faculdade de Administração e Artes de Limeira. Professora-Orientadora do Programa PICFAAL

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Abstract

The present work is a research theoretical/practical that approach de artistic and literary produc-tion supported between each other. Through the writing of a short story, inspired by an existentia-list theme that comprehends the narration of a character who search the meaning of his life and existential condition, it was proposed the development of illustrations adapted to woodcut (a te-chnic to execute engraving in relief on a wooden matrix), resulting in polychromatic pictures, what complete the short story through a visual narrative. Independently interconnected, text and ima-ge complete each other without the establishment of a hierarchical relationship, however, they build a dialogue that share qualities and significations in common. Seeking to comprehend some aspects and elements that defines or characterizes image as visual narrative, as well connecting these questions and reflections with artistic productions, it was possible to glimpse possible appro-ximation with the Walter Benjamin’s concept of oral narrative, specifically about the comparison of oral narrative and artisanal work, approaching the storyteller to the artisan insofar both develops their functions leaving a mark, telling and transmitting a story as an experience, distinguishing, in that way, of the informative media.

Keywords: engraving; literature; creative process; visual narratives.

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MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 9-24, 2016 | 11moreno, B.F.; peixoto, S.A.

1 INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre a conceituação e a classificação das narrativas vi-suais. O que são? Quais são os elementos que as definem? Em quais meios e como elas estão presentes? Elas podem se configurar de forma independente a elemen-tos das narrativas literárias e orais? Estes são alguns dos muitos questionamentos acerca da narrativa, que prossegue sendo um tema pertinente na atualidade modi-ficando-se de acordo com os mais diversos meios nos quais se apresenta.

Retomando o conceito clássico de narrativa proposto por Benjamin (1994, p.198), a partir do qual podemos observar que o principal elemento que carac-teriza e define essencialmente uma narrativa é a oralidade, neste trabalho surge a reflexão em torno das possíveis configurações que a narrativa toma numa dada dimensão. Dimensão essa compreendida pela produção artística e literária de um conto ilustrado.

Para tanto, diante de uma série de experimentações técnicas e processuais, foi desenvolvida a produção de uma ilustração a partir do método da xilogravura em policromia, representando uma paisagem fictícia, buscando complementar a nar-rativa literária por meio de uma narrativa visual. O conto e a produção da gravura estão interligados de forma independente, no sentido de que o desenvolvimento de ambos os processos ocorre paralelamente e compartilha características e signi-ficações em comum. À medida que estes processos são desenvolvidos, afetam-se, constroem-se e modificam-se um ao outro por meio dessa relação, resultando em uma narrativa visual.

Fundamentado em autores que discutem as especificidades da narrativa, bem como do diálogo entre texto e imagem, neste trabalho busca-se compre-ender alguns aspectos e elementos que definem ou caracterizam uma imagem enquanto narrativa visual, relacionando tais questões e reflexões com a produção literária e artística desta pesquisa.

2 REfERENCIAIS TEóRICOS

2.1 Xilogravura e Arte digital

Historicamente a produção e o desenvolvimento das diferentes técnicas de gravura

desenvolvem-se através de diversos meios. Cada técnica (como a xilogravura, a gravura

em metal, a litografia, etc.) apresenta um conjunto de aspectos e características técnicas,

diferenças, limitações, avanços, e consequentemente, novas possibilidades. Apoiando-se

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no mais antigo processo de reprodução de imagens – a xilogravura – a produção artística

deste trabalho engloba seu processo experimental, técnico e prático.

A xilogravura é a forma mais antiga de reprodução de imagens, sendo posteriormen-

te substituída por outros processos modernos e mais rápidos e, atualmente, tratando-se

quase que exclusivamente de uma linguagem artística na qual se exploram métodos e

técnicas a fim de obter resultados específicos.

Etimologicamente, a palavra xilogravura é composta pelos termos gregos “xilon” e

“grafó”, que respectivamente significam “madeira” e “gravar”. Desta forma, o termo xilo-

gravura é definido como a “arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira”

(HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2009, p. 1967).

Pode-se dizer que a xilogravura teve início em diferentes momentos históricos, com

diferentes propósitos e por sua vez com diferentes técnicas. No ocidente a técnica da

xilogravura, de acordo com Gombrich (2000), surgiu na Alemanha em meados do século

XV, inicialmente com o propósito de ilustrar folhetos com orações, imagens de santos e

panfletos religiosos.

Na figura 1 são apresentadas xilogravuras que datam do fim do século XV e demons-

tram o uso em geral das xilogravuras da época. Neste caso, foram desenvolvidas para o

livro Flores Albumasaris, um manual para astrólogos, impresso por Erhard Ratdolt.

Figura 1 – Xilogravura ocidental do século XV, de Erhard Ratdolt, 1488.

Fonte: Disponível em: <http://www.wdl.org/pt/item/2997/> Acesso em: 07 de julho de 2015.

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Cabe aqui ressaltar que no ocidente as xilogravuras, assim como as outras técni-cas de gravura, inicialmente não apresentavam finalidade artística, mas de comuni-cação. Criadas como estratégias de reprodução de imagens, surgiram, portanto, re-lacionadas diretamente com a produção de livros e textos, servindo como ilustração, ornamento e apoio a produção textual. (COSTELLA, 2006).

A técnica da xilogravura, no ocidente, tratava-se de um processo no qual se uti-lizava uma faca para retirar partes de um bloco de madeira, chamado de matriz. Por sua vez, por meio dessa técnica a matriz é entalhada criando áreas que ficam em branco e deixando áreas em relevo que aparecem em preto após a impressão. Utili-zando uma tinta à base de óleo e fuligem para cobrir o bloco, as áreas salientes eram impressas no papel pressionado pelo bloco de madeira da mesma forma como são utilizados os carimbos de borracha atualmente. (GOMBRICH, 2000).

No ocidente, a xilogravura foi resgatada no modernismo como linguagem artís-tica por suas características expressivas. Primeiramente pelos expressionistas, mas mais contemporaneamente a xilogravura é explorada de diversas formas levando em conta os conceitos que envolvem a própria técnica, tais como a reprodutibili-dade, o caráter gráfico e as particularidades formais e expressivas dessa técnica. A seguir apresentamos duas xilogravuras de artistas e naturezas diferentes no mo-dernismo, o artista expressionista, Erich Heckel, e Pablo Picasso (figuras 2 e 3).

Figura 2 - Nordsee Kuste, de Erich Heckel, 1955. Técnica: xilogravura, 37 x 50.5 cm.

Fonte: Disponível em: <http://www.icollector.com/ERICH-HECKEL-H-S-Woodcut-Expressionism_i9300856> Acesso em: 07 de julho de 2015.

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Figura 3 - Still Life under the Lamp, de Pablo Picasso, 1962. Técnica: gravura em linóleo1.

Fonte: Disponível em: <http://www.artfund.org/news/2014/01/07/unique-picasso-linocuts-bought-for-british-museum> Acesso em: 07 de julho de 2015.

A partir de um recorte histórico/temático no que diz respeito à construção grá-fica de imagens, destacamos as obras de tradição moderna enquanto importantes referências para a produção artística realizada neste trabalho. As gravuras do artista Livio Abramo, por exemplo, apresentam aspectos (1) técnicos: a utilização de linhas, padrões e a repetição destes elementos na construção de imagens que possuem cer-ta geometrização de algumas formas, (2) temáticos: a linguagem utilizada por Livio Abramo aborda temas humanos e sociais em várias de suas obras. Na figura 04 apre-sentamos uma das gravuras que Livio Abramo realizou para a tradução Noites bran-cas de Fiódor Dostoiévski. O conjunto de gravuras produzidas como ilustrações desta obra tratam-se de uma referência muito importante para o desenvolvimento deste trabalho em termos estéticos, mas também como referência de imagens que foram produzidas na relação de um texto, sendo esta relação entre a gravura e a literatura histórica e tradicional. Neste trabalho embora a relação criada seja de natureza dife-rente, já que texto e imagem são produzidos pelo mesmo autor, simultaneamente e sem que uma seja mais importante que a outra, aqui também vemos um vínculo entre essas duas linguagens.

1 Linóleo é um material moderno que pode ser gravado com as placas de madeira para a produção de gravuras em relevo. A técnica é exatamente igual a da xilogravura. A única diferença é a resistência do material, que é mais macio e flexível do que a madeira, permitindo mais detalhes e linhas sinuosas.

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Figura 4 - Gravura de Livio Abramo para o livro Noites Brancas.

Fonte: Imagem editada a partir da capa do livro Noites Brancas disponível em: <http://www.editora34.com.br/livro.asp?id=324> Acesso em: 13 de julho de 2015.

2.2 Narrativas Visuais

Retomando o conceito clássico de narrativa proposto por Benjamin (1994, p.198) podemos observar que o principal elemento que caracteriza e define essencialmen-te uma narrativa é a oralidade. Diante disso, Benjamin ressalta a importância da ex-periência enquanto fator essencial para que existam boas narrativas: “A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”. Nesse sentido, Benjamin (1994, p.205) também compara a narrativa oral com um processo de trabalho artesanal, no qual o narrador assemelha-se ao artesão à medida que deixa sua marca naquela his-tória, contando e transmitindo aquilo enquanto uma experiência, distinguindo-se, desse modo, dos meios informativos.

Contudo, também nos alerta logo no início de seu texto O Narrador sobre o pos-sível desaparecimento da arte de narrar, um fenômeno que em sua época já indicava certa preocupação com o rumo das ações da experiência, segundo Benjamin, cada vez mais baixas e possivelmente fadadas a seu total desaparecimento. O autor apon-ta o surgimento do romance como o primeiro acontecimento que contribuiu para o desaparecimento da narrativa oral. Dependente da imprensa, o romance trata-se de uma narrativa literária, publicada em livros. Deste modo, difere-se da narrativa oral considerando-se o meio no qual a narrativa se apresenta, bem como o seu conteúdo e a forma como é desenvolvida. (BENJAMIN, 1994). Nesse sentido, a experiência que envolvia narrador e ouvinte toma uma nova dimensão, na qual a narrativa é transmi-tida na relação entre escritor e leitor. Diferentemente da narrativa oral, a dimensão do romance é inerente à experiência do autor, resultando na transmissão de uma

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narrativa pronta e acabada, na qual a experiência do ouvinte não se faz mais pre-sente. Ou seja, o ouvinte encontra-se em uma nova posição – a de leitor – na qual se estabelece uma relação passiva diante da experiência da obra, limitando de certa forma a ressignificação da narrativa a partir da experiência do leitor.

Mas se o romance já era um indício de que a narrativa oral estava desapa-recendo, o autor destaca um meio de comunicação que seria ainda mais ame-açador, tanto para a narrativa clássica, marcada pela oralidade, quanto para o próprio romance: a informação1. Benjamin (1994, p.203) é enfático quando afirma que “se a arte da narrativa é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio”.

Nesse sentido a atual transmissão de informação em nossa sociedade acon-tece de modo bastante diferente da narrativa oral, já que não possibilita a expe-riência do leitor ou ouvinte, assim como retira a própria experiência da figura de um narrador quando informa um acontecimento ou uma notícia, por exemplo. Ou seja, considerando sua composição pode-se dizer que a informação é pronta, direta e interpretada.

Assim como os meios de comunicação que surgem, modificam-se e reestrutu-ram-se, a narrativa – talvez de forma inevitável – acaba passando por esses mesmos processos, reinventando-se por meio de uma evolução metamórfica, que não resulta necessariamente em uma narrativa mais pobre ou mais rica, mas em uma narrativa que proporcionará ao leitor/ouvinte/expectador um tipo de experiência diferente daquela que outrora a narrativa oral proporcionou.

Partindo dessa ideia, ressalto especificamente a possibilidade narrativa em pro-duções artísticas como ilustrações, gravuras, pinturas, desenhos e fotografias. Ou seja, produções que são definidas pela visualidade apresentada em uma só imagem, estática. Considerando a narrativa visual em livros e apoiando-se em conceitos que surgem no meio literário, Rodrigues (2011, p.77) destaca que:

As imagens da arte ou da fotografia, por exemplo, podem possuir grau narrativo, porém na maioria das vezes não têm a sequência nem todos os elementos que constituem uma narrativa, com começo, meio e fim. Uma imagem única fornece índices capazes de ser transformados em um texto narrativo ou em um enredo construído por meio da descrição verbal de uma imagem. Já a narrativa visual é um texto completo e não necessita de reforço verbal, mas de interpretação, como qualquer texto literário.

1 Benjamin não utiliza um termo específico para definir informação. No entanto, fica evidente que o autor se refere às notícias e suas formas de divulgação por meio da imprensa.

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Desta forma, destaco estes meios imagéticos pela maior proximidade com a pro-dução artística: a gravura/ilustração vinculada a um texto. Sendo assim, ao tratar da narrativa visual, faz-se necessário buscar ideias e conceitos que se adequem melhor à proposta deste trabalho.

Trazendo essa discussão para a produção artística, considera-se a narrativa visual enquanto parte estrutural de uma narrativa literária, já que as ilustrações desenvolvi-das se inspiram na narrativa de um conto. No entanto, compreendendo a ilustração enquanto narrativa visual, é importante refletir sobre qual papel narrativo ela exerce de forma independente ao meio que possibilitou ou inspirou o seu desenvolvimen-to. Ou seja, é preciso primeiramente estabelecer alguns critérios para comparar a narrativa textual/literária com a narrativa visual.

De acordo com Rodrigues (2011, p.78) a narrativa visual em livros trata de um con-ceito amplo e muito aberto, dada as suas “diferenças sutis em relação a qualquer ou-tra imagem de cunho narrativo”. Nesse sentido, a autora destaca que, justamente por apresentar essa abertura, a narrativa visual em livros trata-se de algo muito particu-lar. “Poder-se-ia dizer que ela carrega uma especificidade que em vários meios sociais e culturais vem alterando o sentido de relações e verdades absolutas: o hibridismo”.

Sendo assim, ainda que exista um conteúdo narrativo evidente em uma imagem, se essa imagem se faz presente em um meio que também abarca a linguagem textu-al, isso pode oferecer uma possibilidade de leitura mais aberta ou mais fechada, de acordo com o objetivo dessa imagem e da relação estabelecida com o texto. Rodri-gues (2011, p. 80) aponta que:

No caso da escrita e da oralidade, o narrador descreve uma cena em palavras. Já na imagem a história será narrada na sequência das cenas e poderá ser oralizada, conforme o universo particular do leitor. Porém nem todas as histórias presentes nos livros possuem grau de narratividade equivalente. Há histórias que se caracterizam pela leitura fechada, isto é, o autor não permite interpretações abertas, e outras oferecem grandes possibilidades de leitura: linear, aos saltos, de trás para frente; gama quase inesgotável de possibilidades que perpassam todos os tipos de leitores.

Ou seja, se existem inúmeras possibilidades narrativas nos livros, isso não é di-ferente com as imagens. Rodrigues (2011, p.75) cita o “livro sem texto, história sem palavras, livro de imagem, história muda, livro de ilustração e álbum de figuras” como alguns dos vários conceitos utilizados para tratar das narrativas visuais em livros.

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2.3 Prática de ateliê

A ideia para a produção das xilogravuras consistiu no desenvolvimento da ilustra-ção em plataforma digital para a posteriormente adaptação e gravação das matrizes respeitando alguns aspectos dessa estética. Ou seja, o objetivo inicial buscado no processo de gravação foi aproximar-se à ilustração digital.

Para tanto, primeiramente, desenvolvi as ilustrações em plataforma digital e por meio de softwares gráficos (Aseprite e Photoshop), atendendo a algumas caracterís-ticas de composição e temática. A ilustração apresenta como tema paisagens fictícias e compreende uma dimensão narrativa e subjetiva. Posteriormente ao desenvolvi-mento das imagens, foi realizada a adaptação destas para a xilogravura, compreen-dendo uma série de testes e experimentações que, por fim, resultaram na escolha de uma ilustração.

Na figura 5 apresento a ilustração que realizei tendo como base a transposição para a xilogravura.

Figura 5 - Ilustração digital, realizada por meio do software Aseprite, utilizando as cores: vermelho, azul, amarelo, lilás, laranja, branco e preto.

Fonte: o autor (2016).

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As xilogravuras foram feitas a quatro cores, o preto e as cores primárias: azul, ama-relo e magenta. Essas cores, por sua vez, foram utilizadas de duas formas: puras e com máxima saturação; misturadas com a base transparente (somando-se em so-breposição e gerando cores secundárias: laranja, verde e roxo). Para a produção de imagens a tantas cores, e considerando-se ainda que as cores tiveram grande impor-tância nessa pesquisa, propus a investigação das técnicas de gravação e impressão da xilogravura ocidental e oriental, com o intuito de relacionar o conhecimento e as estratégias de cada uma.

Dessa forma, utilizando o padrão de cor CMYK (no qual a soma de cores ocorre pela separação em canais de cores) realizei alguns testes digitais e iniciei a adaptação da ilustração desenvolvida em plataforma digital para a xilogravura. A figura 6 com-preende o início desse processo, apresentando a ilustração original e seus respecti-vos canais de cores separados e reticulados posteriormente no Photoshop.

Figura 6 - Canais em CMYK e reticulados. Cada canal representa uma matriz gravada para cada cor.

Fonte: o autor (2016).

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Após o desenvolvimento da ilustração digital e a geração dos canais em CMYK realizei a gravação de cada canal reticulado em matrizes de madeira (cedro rosa) no tamanho aproximado A3. As figuras 7 e 8 compreendem as matrizes prontas e já en-tintadas uma vez para a gravação.

Figura 7 – Matrizes nas cores amarelo e preto.

Fonte: o autor (2016).

Figura 8 – Matrizes nas cores ciano e magenta.

Fonte: o autor (2016).

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3 METODOLOGIA

A metodologia adotada nesta pesquisa abarca, inicialmente, uma dimensão teó-rica, na qual foi realizado o levantamento bibliográfico a fim de compreender o pro-cesso da xilogravura por meio de um recorte histórico e técnico, evidenciando sua utilização, materiais, técnicas e linguagens. Também foi realizado o levantamento de dados sobre as narrativas, suas características e especificidades, bem como a relação destas com as ilustrações. No que concerne a dimensão prática, destaca-se a escrita de um conto e o desenvolvimento de gravuras coloridas a partir da realização de experimentos técnicos em ateliê.

Tratando-se de imagens coloridas considero tanto a quantidade de cores quanto a qualidade destas como aspectos de grande importância estética e simbólica nes-te trabalho. Principalmente no que diz respeito à dimensão narrativa, tratam-se de paisagens que não fazem parte da realidade. Ou seja, além da criação de elementos fictícios (que podem ou não compartilhar de atributos estéticos reais), o uso de cores saturadas, distanciando-se de uma representação naturalista, é um aspecto impor-tantíssimo na transmissão da ideia de uma narrativa e de um contexto fictício. Essa escolha resulta em imagens que embora apresentem elementos da realidade, ao mesmo tempo abordam a ficção e o imaginário, presentes na escolha destas cores.

Tanto a dimensão teórica quanto a prática foram desenvolvidas de forma con-junta à medida que tais processos se influenciaram diretamente diante de novas possibilidades, experimentações, limitações e outros fatores que surgiram durante a trajetória da pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante de tantos termos e definições acerca das narrativas visuais, torna-se ex-

tremamente difícil adotar um único que seja capaz de descrever a produção visu-

al proposta neste trabalho. Nesse sentido cabe o questionamento apresentado por

Sueli de Souza Cagneti (2001 apud RODRIGUES 2011, p.84) acerca do termo “livro

de ilustração”, utilizado para definir as narrativas visuais presentes em alguns livros:

“Como chamar livro de ilustração uma obra que se conta através de imagens, ou seja,

quando elas – as imagens – em vez de ilustrar uma história contam uma história?

Sem dúvida, a nomenclatura correta para esse tipo de criação é narrativa visual”.

Tal questionamento está intimamente relacionado com minha produção artística,

já que o objetivo da ilustração é justamente se somar a história tendo um papel nessa

narrativa, e não apenas retratar um momento específico que está presente no texto.

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A princípio isso se aproxima de uma ideia de libertação da narrativa visual em re-lação ao texto, no sentido de que se ambos podem se complementar quando juntos, podem também narrar e proporcionar experiências quando separados. Com isso, não se está buscando uma hierarquia em relação às duas formas narrativas, mas sim refletindo sobre a possibilidade narrativa existente na imagem, considerando a expe-riência envolvida em seu processo. Experiência essa proporcionada pelo texto, mas que agora configura-se de outro modo, por sua vez, reinterpretando experiências vividas e proporcionando novas experiências.

Deste modo, proponho uma aproximação da narrativa oral, apresentada por Ben-jamin (1994), tendo em vista a alusão ao trabalho artesanal feita por ele. Se para Ben-jamin a narrativa oral aproxima-se do trabalho artesanal à medida em que apresenta aspectos da experiência do narrador como uma marca impressa na narrativa, penso que o processo no qual desenvolvo minha ilustração também pode partilhar algu-mas semelhanças quando deixa a marca de um processo artesanal no resultado final da gravura – de modo literal e subjetivo – já que, de fato, trata-se de um processo artístico que envolve o trabalho, a experimentação e o amadurecimento ao longo do tempo e, por outro lado, resulta em uma gravura que não ilustra a narrativa textual de modo informativo, mas sim muito subjetivo, procurando retratar as sensações. Ou seja, a ilustração deixa de ser informativa à medida que se torna independente do texto. Ela possui uma dimensão narrativa e uma marca que são características exclu-sivas dela, da liberdade de experiência e sensações que ela pode proporcionar ao ser apreciada. E é justamente esse distanciamento do caráter informativo que destaco como elemento fundamental para refletir sobre a narrativa visual. Embora exista um texto que alimente o processo de desenvolvimento e construção da imagem, a par-tir do momento em que essa imagem é finalizada torna-se independente do texto que inspirou sua geração. Ela por si só apresenta múltiplas possibilidades de inter-pretações narrativas diante das experiências envolvidas em seu processo. Tal qual a experiência do narrador que deixa a sua marca em uma narrativa oral, poder-se-ia comparar à experiência do artista, que deixa a sua marca em uma narrativa visual.

Para complementar o entendimento da narrativa proposta na associação entre texto e imagem neste trabalho, é importante tratar brevemente da ideia que per-meia a narrativa criada no conto.

Apoiando-me em uma temática existencialista como princípio, no desenvolvi-mento do conto busco delimitar-me aos questionamentos do ser humano diante do sentido da vida e evidenciar características como o isolamento, o sofrimento e a alienação sobre si, como formas de sobreviver ao modo de vida contemporâneo. A partir disso, a narrativa busca representar, sem interferências, aquilo que se passa na consciência do personagem central, que inicia uma jornada turbulenta à medida que confronta seus pensamentos e idealizações de mundo com a realidade da vida.

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Diante disso, o personagem começa a perder os seus sentidos; e isso ocorre de forma literal e metafórica, já que procuro desenvolver uma atmosfera que transita entre a vida consciente e uma realidade atormentada, quase onírica, com sensações que colocam em cheque a sanidade do protagonista.

Por meio desse contexto, busco na ilustração a possibilidade de narrar a jornada que se inicia na consciência desse personagem. Jornada essa, compreendida pelo diálogo consigo mesmo e pelo recolhimento aos próprios questionamentos. O início de um ca-minho que será trilhado em um mundo que pertence exclusivamente ao personagem.

Nesse sentido, o texto não apresenta descrições de espaço ou características vi-suais que sirvam como referências para construção da imagem. Na verdade, texto e imagem apresentam diferentes informações que se complementam. Ou seja, en-quanto o texto descreve as sensações e sentimentos da personagem em um mundo real, a ilustração é constituída por uma linguagem que, embora possua algumas ca-racterísticas figurativas, busca abstrair essas descrições textuais e transformá-las em uma realidade fictícia, quimérica ou até mesmo onírica.

Desse modo, a ilustração final (figura 9) tem o sentido de concretizar essa jornada que não é narrada em vias textuais.

Figura 9 – Gravura final com elementos inseridos digitalmente.

Fonte: o autor (2016)

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5 CONSIDERAÇõES fINAIS

Avaliando o panorama geral da pesquisa, no que concerne a produção prática de ateliê, a pesquisa técnica e histórica e as investigações relativas a relação texto literário e imagem, foi possível refletir sobre a relevância de cada um dos aspectos elegidos para compor este trabalho.

Em relação a dimensão teórica desta pesquisa, destacamos as diferentes técnicas de xilogravura e buscamos importantes referências no que diz respeito ao diálogo entre linguagens artísticas distintas com o objetivo de adequar a pesquisa à dimen-são prática. Com isso desenvolvemos um processo técnico que incorporou aspectos da xilogravura ocidental e oriental, bem como características estéticas e temáticas, apresentando a relação entre texto e imagem enquanto narrativa visual.

Considerando a narrativa visual, abordamos algumas questões que foram de-senvolvidas no conto que foi escrito paralelamente a produção plástica, ou seja, às gravuras produzidas neste trabalho. Relacionando-os destacamos a importân-cia da temática que foi trabalhada, as referências e inspirações para a produção do conto, apoiando a pesquisa especialmente na ideia de experiência do narra-dor, proposta por Walter Benjamin. Deste modo, a produção textual e artística re-mete à ideia de um processo artesanal à medida que atingem um fim experimen-tal e subjetivo, distanciando-se de uma dimensão puramente informativa. Em outras palavras, texto e imagem retomam características das antigas narrações à medida em que incorporam tanto a experiência do autor quanto a do leitor, pos-sibilitando que este também ressignifique a história por meio dessa experiência diante da leitura e apreciação da narrativa visual.

6 REfERêNCIAS bIbLIOGRÁfICAS

BENJAMIN, Walter. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

COSTELLA, A. F. Introdução à gravura e sua história. Campos do Jordão: Ed. Mantiqueira, 2006.

GOMBRICH, Ernst Hans. A História da Arte. São Paulo: LTC, 2000.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

RODRIGUES, Maria Lúcia Costa. A Narrativa Visual em Livros no Brasil: Histórico e Leituras Analíticas. 2011. 192 f. Dissertação (Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade) - Universidade da Região de Joinville (Univille), Joinville. Disponível em: <http://vdisk.univille.edu.br/community/mestradopcs/get/Dissertacoes/Maria_Lucia.pdf> Acesso em: 27 de abril de 2016.

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MODA INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN DE MODA PARA O PROGRAMA DE EQUOTERAPIA

InclusIve fashIon: fashIon desIgn contrIbutIons to hIppotherapy program.

Antonia Aparecida Mendes Mancini1 Kledir Salgado2

RESUMO

Em uma sociedade onde a moda e a inclusão social não costumam andar na mesma direção, o projeto de moda inclusiva traz uma contribuição essencial para a Equoterapia em geral. O projeto, realizado em parceria com a Associação de Equoterapia Daoud, apresenta um novo acessório de moda vestível que auxilia tanto os pacientes que necessitam da equoterapia quanto aos fisioterapeutas que possuem problemas em aplicar uma terapia de uma maneira eficaz. O colete, desenvolvido para crianças entre 4 e 14 anos, proporcionou diversas melho-rias em relação aos coletes já disponíveis no mercado, dando um maior conforto, segurança, estabilidade e até independência ao praticante, mantendo ainda assim a elegância e a acessi-bilidade do produto. Este projeto tem como objetivo não só ajudar os pacientes que necessi-tam da equoterapia para sua reabilitação, mas também aos fisioterapeutas, que possuem um grande desgaste físico posicionando e garantindo a segurança do praticante sobre o cavalo.

Palavras chave: moda inclusiva, equoterapia, vestível.

ABSTRACT

In a society where fashion and social inclusion do not usually go in the same direction, this inclu-sive fashion design brings an essential contribution to the riding therapy in general. The project, conducted in partnership with the Association of Riding Therapy Daoud, features a new weara-ble fashion accessory that helps both patients in need of hippotherapy as the physiotherapists who have trouble applying an effective therapy. The vest, designed for children between 4 and 14 years, provides a number of improvements compared to those already available on the market, giving greater comfort, security, stability and independence to the practitioner, still maintaining the elegance and accessibility of the product. This project aims not only help patients in need of hippotherapy for their rehabilitation, but also to physiotherapists, who have great physical stress positioning and ensuring the safety of the practitioner on the horse.

Keywords: inclusive fashion, hippotherapy, wearable

1 aluna do Curso de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Administração e Artes de Limeira, Bolsista do Programa PIC FAAL.

2 Prof. MSc. do Curso de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade de Administração e Artes de Limeira/Professor-Orientador no Programa PICFAAL

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1 INTRODUÇÃO

A moda surgiu em meados do século XV no início do Renascimento europeu. A variação da característica das vestimentas surgiu para diferenciar o que antes

era igual. A partir da Idade Média, as roupas eram diferentes seguindo um padrão que aumentava segundo a classe social, onde existiam leis que restringiam tecidos e cores somente aos nobres. Essa necessidade de roupas diferentes de um padrão trouxe com o tempo uma nova atividade, a de designer de moda, sendo o profissio-nal que tem como fundamento gerir todo o processo criativo e produtivo de ves-tuário em geral. Este designer de moda tem um papel social, que é o de atender as demandas do mercado de vestuário e do sujeito que interage com a roupa.

O desenvolvimento de peças do vestuário para atividades de equoterapia visa, além de ajudar no tratamento de crianças que não conseguem permanecerem ere-tas em cima dos cavalos durante a terapia, rever o conceito de moda e design, fazen-do ambas serem acessíveis a qualquer pessoa. Chamamos isso de moda inclusiva.

A moda inclusiva propõe incluir todos os tipos de corpos como variáveis pro-jetuais, assim a moda convencional é embasada em padrões estéticos extrema-mente rígidos e inalcançáveis e que muitas vezes não busca funcionalidade em seus produtos e sim os valores simbólicos. A moda inclusiva nasce assim como uma paridade com o design de produto, sendo funcional e auxiliando as pessoas com algum tipo de deficiência.

Com tudo isso, contribuir com a intenção de divulgar o movimento da moda in-clusiva, que é pouco comentado na mídia, apesar de ser de extrema importância para a população, não apenas no Brasil, mas mundial. Com esta pesquisa se objeti-vou elaborar o re-design de produtos têxteis e de vestuário voltados para a reabilita-ção de pessoas portadoras de necessidades especiais a fim de facilitar o trabalho dos profissionais envolvidos com essa terapia que busca melhoria da qualidade de vida para estes usuários.

Foram desenvolvidas competências como : o conhecimento de métodos de reso-lução de problemas; normas técnicas da ABNT para a área acadêmica e produto de moda, elaborar pesquisa do público alvo, aplicar técnicas de entrevista para a capta-ção de dados na elaboração do re-design, conhecer a metodologia do processo cria-tivo de design do produto, aplicar técnicas de modelagem e vestuário e tecnologias de corte e costura e confecção.

O projeto visa criar uma alternativa mais acessível e tornando-o mais viável ao nosso público alvo que muitas vezes não é olhado pelo mercado de moda e não encontra soluções para suas necessidades especias.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 EQUOTERAPIA

A sociedade deve reconhecer o portador de necessidades especiais como um ser humano com os mesmos direitos e obrigações dos demais, que deve ser inte-grado e acolhido pela família, de maneira que se sinta capaz e preparado para a educação e o trabalho.

A partir da escolarização, os vínculos com alguém de fora da família começam a existir; pois até então, a criança se relaciona apenas com seus cuidadores. Esses re-lacionamentos são de suma importância, pois ajudam na socialização posterior dos portadores de necessidades especiais. Porém, suas limitações o impedem de expan-dir a relação para além do ambiente escolar, mas a amizade é sim possível em vários casos, visto que existem deficientes que mantém parceiros por toda a vida.

Segundo ANDE Brasil, a equoterapia foi criada justamente para ajudar esses de-ficientes a ter uma vida mais amena e com o maior estímulo possível de todos seus membros, ajudando-os cada vez mais a cada terapia. Todos os praticantes fazem uso da sela para montaria (a sela australiana, que possui um assento mais amplo) e da alça anterior, o que permite uma maior estabilidade para a montaria3.

Cada sessão de equoterapia consiste das seguintes etapas:

1. Com o intuito de facilitar a montaria, o praticante utiliza uma plataforma

para estratégia de montar e apear

2. Aproximação: o praticante aproxima-se do cavalo demonstrando intimida-

de, afeição e o acariciava;

3. Alongamento e relaxamento muscular: ao início de cada sessão, o terapeuta

orienta os praticantes a relaxarem e sentirem o movimento rítmico do cavalo

alongando coluna vertebral, membros inferiores e superiores;

4. Consciência corporal e sensibilização: os praticantes são posicionados em

frente à um espelho para percepção da imagem corporal.

5. Realização de alinhamento postural e sentado. Para isso, é solicitado ao pra-

ticante que: solte as mãos da alça da sela e feche os braços;

6. Exercícios ativos do tronco e extremidades (flexão e extensão);

3 BAXTER, M. Projeto de produto : guia prático para desenvolvimento de novos produtos . São Paulo: Edgard Blücher, 1998

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7. Movimentação do cavalo em serpentina, círculo, aclive e declive;

8. Despedida: término da atividade sobre o dorso do cavalo, na qual o pratican-

te acaricia e despedia-se afetivamente do cavalo4.

Essas etapas estimulam todos os movimentos do praticante. Junto a isso, traz também benefícios enormes para a coluna e para as pernas, assim como a parte psi-cológica, pois a oportunidade de ter contato direto com os animais acaba refletindo no psicológico. Ao fazer a terapia, percebe-se grande melhora humor, na vontade de fazer os afazeres do dia-a-dia e no ritmo de vida do paciente.

2.2 MODA INCLUSIVA

Quando se fala em garantir os direitos das pessoas com deficiência, deve-se sem-pre pensar da maneira mais abrangente possível. Atender às suas necessidades não se restringe, apenas, a construir uma rampa para o acesso de cadeirantes, ou a ga-rantir uma prótese para quem precisa. A inclusão total depende de um conjunto de ações que permita às pessoas com deficiência se sentirem, de fato, integradas à so-ciedade. Isso significa, sim, que haja rampas, que órteses e próteses sejam oferecidas. Mas significa, também, dar a possibilidade para que as pessoas façam suas opções. Possam escolher, por exemplo, para onde ir e quando ir. E, claro, escolher como as pessoas sem deficiência as vestimentas adequadas para cada ocasião.

A par de trabalhar a autoestima das pessoas com deficiência é de grande impor-tância a autonomia que as pessoas adquirem quando encontram roupas onde con-seguem se vestir sozinhas, com soluções que facilitem o seu dia a dia, como mode-lagens diferenciadas. Por exemplo, para uma pessoa com deficiência visual comprar uma peça onde existe uma etiqueta em Braile com todas as informações que ela pre-cisa saber e com detalhes como, por exemplo, bordado em Braile é uma conquista5.

Com a maior inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na sociedade como um todo, a questão do vestuário torna-se de grande importância, com potencial para que sua cadeia de valor crie um novo segmento no mercado de moda, o projeto também tem como objetivo estimular alunos e profissionais de moda a se especializarem nesse segmento, além de levar a discussão no contexto da Responsabilidade Social, chamando a atenção para o tema de uma forma lúdica, ajudando na promoção de uma sociedade mais inclusiva.

4 ANDE BRASIL. Apostila do Curso Básico de Equoterapia. Brasília: 20015 CONCURSO MODA INCLUSIVA. Moda Inclusiva. Disponível em: <http://modainclusiva.sedpcd.sp.gov.br/>.

Acesso em: 02 de Dez. . 2014

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2.3 DESIGN E ESTRATÉGIA

Para Mozota (2014), gerenciar o design em um nível estratégico é conseguir esta-belecer elos entre design, comunicação corporativa e alta administração de buscan-do oportunidades de inovação.

Um modelo inato de design surgiu em organizações que vem o design como competência da empresa desde sua fundação todas essas empresas tem a mesma estratégia de design global que visa distribuir de maneira global seu trabalho.

Já o modelo de experiência mostra a valorização do design da empresa de ma-neira progressiva. Esse centro de design se organiza de acordo com a necessidade do consumidor e não por categorias de produtos.

3 METODOLOGIA

Primeiramente foi feito o levantamento bibliográfico, que segundo Fachin (2006,

p.122) é a busca por obras escritas sobre assunto. Uma das etapas da pesquisa biblio-

gráfica é o levantamento de livros e periódicos e demais materiais de origem escrita

que servem como fonte de estudo ou leitura. Outro tipo de material que merece ser

destacado são as publicações periódicas, que em geral são revistas editadas com

intervalos regulares, publicações sobre os assuntos relacionados. Na primeira etapa

da pesquisa pretende-se fazer este levantamento em busca do estado da arte sobre

temas como: moda inclusiva, design de produto, modelagem de vestuário para por-

tadores de necessidades especiais, tecnologia têxtil e normas ABNT para produtos de

saúde e equoterapia.

Posteriormente houve uma pesquisa de campo a fim de conhecer os fisiotera-

peutas do grupo de equoterapia de Limeira que são 6 (seis) profissionais que atuam

nesta terapia. Esta amostra dar-se pelo número de profissionais que atuam com esta

prática e pelo número de pacientes menores de 14 anos que fazem este tipo de te-

rapia. O instrumento de pesquisa utilizado o questionário com os atores envolvidos

com questões abertas.

Para Fachin (2006, p.163), questões abertas são aquelas que dão condições

ao pesquisado de discorrer espontaneamente sobre o que se está sendo ques-

tionando. As respostas são de livre deliberação, sem limitações e com linguagem

própria. Com estas respostas pode-se detectar melhor atitudes e as opiniões do

pesquisado. Para concepção de produtos de design de moda, acredita-se ser um

caminho confiável a fim de conhecer minuciosamente as necessidades do públi-

co-alvo de determinado produto.

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Durante a análise de dados foram utilizados métodos comparativos de pesquisa

entre os produtos de vestuário utilizados na terapia a fim de propor melhorias nas

variáveis projetuais do re-design de produto de moda. Para Fachin (2006, p.40), o

método comparativo, consiste em investigar coisas ou fatos e explica-los segundo

suas semelhanças e suas diferenças.

Geralmente, o método comparativo aborda duas séries ou fatos de natureza aná-

loga, tomando de meios sociais ou de outra área do saber, a fim de detectar o que é

comum a ambos. A metodologia projectual do re-design se afina a esta perspectiva,

pois como no método comparativo, o re-design compara semelhanças e divergên-

cias a fim de encontrar o aperfeiçoamento do objeto estudado.

A etapa seguinte foi a aplicação metodologia do processo criativo de design de

moda que se resume em:

•Desenvolvimento de croquis e fichas técnicas;

•Pesquisa de materiais e técnicas produtivas;

•Aplicação das melhorias encontradas no processo de re-design;

•Confecção do protótipo;

•Prova do protótipo;

•Testes de uso;

•Confecção da peça final.

Houve um momento de uma intervenção que chamamos de pequena etnogra-

fia. Etnografia é a metodologia de pesquisa que busca a coleta de dados através do

ambiente, utilizando os diversos materiais disponíveis. É uma tendência para todos

que buscam novos processos de pesquisa e aprendizagem. Por isso esta intervenção

etnográfica foi realizada: para conhecer as variáveis do projeto.

3.1 PEQUENA ETNOGRAFIA

O projeto foi realizado na Sociedade Hípica de Limeira e Equoterapia, com ajuda

dos fisioterapeutas que lá trabalham. A hípica em questão trabalha com vários pa-

cientes de diversas idades, e não apenas com crianças, que são o foco deste projeto.

Após diversas visitas ao ambiente nos meses de maio e junho, surgiu a oportunidade

de firmar uma parceria com o centro de tratamento para que o projeto pudesse ser

aplicado com os seus pacientes.

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MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 25-44, 2016 | 31Mancini, a.a.M.; Salgado, W.

Durante a pesquisa de campo, foi solicitada uma intervenção pela equipe tera-

pêutica em um colete pré-existente que precisava deuma melhora estrutural. Para

conhecer o problema e sob a autorização do orientador, decidiu-se fazer está inter-

venção para assim conhecer a problemática real e, após esta etapa, elaborar a meto-

dologia com um caráter mais específico.

Houve então um levantamento das necessidades de cada pessoa, para destacar

as maiores dificuldades dentro desta terapia. Foi possível distinguir o paciente R.

L. B. L., de 26 anos, que sofreu um acidente vascular encefálico do tipo isquêmico

em junho de 2011, que fez com que ele apresentasse hemiparesia espástica a direta

e afasia de predomínio motor. Ele participa das atividades na Associação Equoterapia

Daoud desde maio de 2015, onde o cavalo é utilizado como instrumento terapêutico

e educacional. Foi possível notar a dificuldade no equilíbrio de R. L. B. L. em cima do

cavalo durante a terapia devido a sua paralisia. Mesmo ele não pertencendo a faixa

etária planejada para o projeto, era visível a necessidade de uma intervenção em seu

tratamento de forma a melhorar a sua reposta aos benefícios da terapia.

Antes da intervenção, existia um colete com o propósito apenas garantir

a segurança do utilizador quando montado no cavalo. Nele, existem duas abas na

parte inferior do colete com faixas de velcro costuradas em suas pontas de tal forma

que o fechamento dele no corpo da pessoa seja ajustável, deixando-o mais seguro.

Este colete ajudava o paciente R. L. B. L., a se manter em cima do cavalo, porém, de-

vido a sua atual condição, ele não possui domínio sob seu braço direito, o que faz com

que ele não fique fixo durante o trote e galope, desequilibrando-o constantemente.

Foi então desenvolvido uma braçadeira que segura o braço do usuário do-

brado em frente a sua barriga (Imagem 1). Essa braçadeira tem 10 cm de largura por

40 cm de comprimento, ajustável com velcro e foi confeccionada em sarja 2x1, com-

posta 100% em algodão de gramatura 200g/m² / 5,9 OZ / JD2, revestido com uma

manta acrílica para o maior conforto do paciente. Este equipamento foi alinhavado

com pontos soltos, com o intuito de testar a sua posição, porém, ainda houveram

dificuldades em relação ao seu equilibro, pois,a posição em que seu braço estava

deslocava seu centro de massa para a esquerda, onde o braço estaria livre, impossibi-

litando o equilíbrio sobre o cavalo.

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Imagem 1 - Primeira adaptação no colete

Fonte: Elaborado pela autora

Então, em uma última alteração, a braçadeira foi apenas reposicionada na lateral do colete, deslocando seu centro de massa novamente para o centro de seu corpo, fazendo com que seu equilíbrio fosse restaurado e seu braço inerte. Após realizados testes com esse protótipo, foi visível a melhora no equilíbrio e na postura de R. L. B. L.,, então, a braçadeira foi costurada de maneira fixa ao colete (Imagem 2).

Imagem 2 – Ultima adaptação no colete

Fonte: Elaborado pela autora

Segundo os relatos dos pais e do próprio praticante, com pouco tempo de início da terapia, pode-se observar uma melhora no auto estima e maior controle das mãos, braços e pernas. Sendo assim, a confecção da adaptação ao colete de prote-ção do praticante Rodolfo foi de extremo auxilio durante a atividade realizada com o mesmo. (Imagem 3)

Tendo como ponto de partida essa intervenção – que chamamos de peque-

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na etnografia- , foi possível constatar o quão carente é a moda inclusiva na socie-dade atual e o quanto ela pode ser melhorada com apenas simples operações em materiais já existentes.Esta simples operação mostrou e delimitou a realidade que a terapia tem em relação aos vestíveis. A partir do conhecimento desta realidade que podemos chamar de pequena etnografia que foi possível a elaboração do questionário com maior objetividade.

Imagem 3 – Paciente R. L. B. L., utilizando o novo colete

Fonte: Portfólio da autora

3.2 ANÁLISE DOS DADOS

Analisando o questionário, é possível relatar que o trabalho dos fisioterapeutas durante a equoterapia é o de acompanhar o praticante em todo o percurso, posicio-nando-o em cima do cavalo de forma a adequar a sua postura, alongando e aplican-do exercícios globais que ajudam na melhora da qualidade de vida do paciente, e também mantem a atenção e o foco do mesmo na terapia, especialmente nas crian-ças, que tendem a perder a concentração devido a diversão que o trote e o galope pode proporcionar. Essa terapia traz diversos benefícios ao praticante, como a me-lhora no equilíbrio, na postura e na coordenação motora global, gerando também um aumento do tônus muscular. A criação do colete que o projeto propõe seria de grande ajuda aos fisioterapeutas, pois a maior dificuldade apontada por eles seria a dificuldades em realizar a manutenção da postura frequentemente, que seria corrigi-da constantemente com o uso de um colete.

Esse colete deve oferecer sustentação para o tronco do praticante, e caso neces-sário, ele deve posicionar o membro superior corretamente. Ele também não pode limitar os movimentos do paciente para não atrapalhar os benefícios da equoterapia. Atualmente na equoterapia, é utilizado um colete que protege o praticante em caso

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de quedas, junto com um capacete, porém, não é utilizado nenhum equipamento de suporte que auxilie as necessidades de cada paciente.

Na visão dos fisioterapeutas, a construção de um colete que ajude na terapia seria utilizando faixas de velcro, que facilitem ou proporcionem regulagem, especialmen-te para crianças, que estão constantemente sofrendo mudanças drásticas em sua es-trutura corporal. A melhor alternativa para conseguir esse encaixe perfeito em cada pessoa será fazendo-o ajustável, pois em tamanho único ou P/M/G não possui essa exatidão que é necessária para obter melhores resultados na equoterapia. A partir destes dados, serão criados os padrões para a próxima fase da pesquisa que será o desenvolvimento de um vestível, segundo os parâmetros levantados.

4 DESENVOLVIMENTO

A partir de todos os dados coletados e analisados, inicia-se o processo de con-fecção do colete que será utilizado por crianças durante as sessões de equoterapia. Com o auxílio das fisioterapeutas que trabalham no local, foi decidido o que seria ne-cessário para que o colete proporcionasse benefícios a quem o utiliza. Primeiramen-te, o colete deverá ser construído sobre um tecido espesso o suficiente para manter o praticante estável sobre o cavalo, porém maleável ao ponto de não o forçar em nenhuma posição que possa causar algum incomodo ou dor, diminuindo a qualida-de da terapia. Para tal resultado, foi escolhido um ligamento de Sarja Pesada 100% algodão cru.

O colete também deve possui faixas ajustáveis com velcro em suas extremidades tanto no ombro quanto na cintura, pois dessa maneira ele pode ser ajustável tanto em sua altura quanto na largura, ampliando a gama de pessoas que poderão utiliza-lo confortavelmente. O velcro foi sugerido pelos fisioterapeutas para que o paciente não fique completamente imobilizado sobre o cavalo, mas ainda proporcione segu-rança e mobilidade durante a terapia. O velcro escolhido foi o Velthor de 2,5cm de largura, cosposto de 70% poliéster e 30% nylon.

Além das faixas ajustáveis, o colete irá possuir uma única faixa não elástica com um fecho de engate rápido, construído com poliamida e medindo 35mm em cada uma de suas pontas. Essa faixa será ajustável a partir de duas fivelas reguláveis de mesma medida e material do engate, passando pelas costas do colete e fechando em sua frente.

O objetivo da inserção desta faixa é o de dar um controle maior para os fisiotera-peutas que acompanham o praticante sobre um cavalo em movimento; adicional-mente, foram posicionadas duas faixas verticais na parte frontal da peça. Anterior a

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criação do colete era necessário segurar o praticante pelo seu corpo, não havendo uma boa maneira de mantê-lo na posição ideal enquanto se movimenta. Com estas faixas adicionais (Imagem 4), será possível segura-lo em cima do cavalo em qualquer um dos lados, assegurando que a terapia seja feita de maneira ideal.

Imagem 4 - Faixas frontais

Fonte: Elaborado pela autora

Foi então procurado um material que, quando adicionado ao colete, poderia deixa-lo mais espesso e resistente. O EVA foi escolhido como tal e, conforme lau-do técnico, ele possui as seguintes características:

Tabela 1 - Características do EVA

Dureza 25 + - SHORE A

Densidade 0,150 + - 0,003 g/cm³

Resistência ao Rasgo 2,75 kgf/cm

Encolhimento Máximo 8% (Medido PFI – 4hrs 70ºC)

Deformação Permanente 25% (DIN 53517 – 23ºC)

Permeabilidade ao vapor 6,2 g/m² (DIN 53429-24H)

Absorção de água 2,3 Vol % (DIN 5428-28H)

Temperatura de uso +80ºC / -50ºC (Máximo e mínimo)

Fonte: Laudo técnico

A placa de EVA inserida possui uma espessura de 0.5 cm e fica localizada na parte central das costas do colete, com o intuído de dar uma maior segurança para quem

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utilizar o colete. Essa placa pode ser removida por uma abertura selada com velcro na parte interna, dando liberdade aos fisioterapeutas quanto ao uso do mesmo. Além da remoção da placa, a abertura dá também a possibilidade de melhorias na placa, mudando seu material e/ou sua espessura conforme a necessidade. (Imagem 5)

Imagem 5 - Abertura e molde do EVA

Fonte: Elaborado pela autora

Confeccionado o colete, o mesmo foi enviado para a Hípica em questão para que testes pudessem ser realizados. Durante uma semana, vários pacientes puderam tes-tar a qualidade do colete e avaliar se o colete teria ajudado de alguma forma em sua terapia. Após este pequeno período de testes, foram apontados pelos fisioterapeutas algumas melhorias que poderiam ser feitas no colete.

4.1 MELHORIAS SOLICITADAS

A primeira melhoria foi o tamanho do colete. Ficou evidente que o colete, mesmo possuindo diversas maneiras de ajuste de tamanho, não poderá ser construído sobre um molde universal, pois a estrutura corporal de uma criança se desenvolve muito rapidamente com o passar dos anos, impossibilitando que um mesmo colete seja utilizado por uma criança de 4 anos e outra de 14, por exemplo. Por isso foi feito a graduação de modelagem em P/M/G.

Para que a criação dos coletes seja de maneira uniforme e bem estruturada, foi necessário utilizar da padronização oferecida pela ABNT. Baseado na faixa etária dos pacientes da Hípica e nos dados da tabela abaixo (Tabela 2), foi definido que devem existir 3 coletes ajustáveis baseados nos dados da mesma, destacados no quadro. O primeiro colete (P) será baseado na medida estipulada para crianças de 6 anos; o se-

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gundo (M) para crianças de 10 anos e, o último (G), para jovens de 14 anos. Utilizando de todas as faixas ajustáveis existentes em diversos pontos do colete, será possível ajustar seus devidos tamanhos para que seus encaixes vistam de maneira confor-tável em crianças próximas à idade pré-estabelecida na confecção dos coletes. Isso quer dizer que o colete construído para crianças de 6 anos, após ajustado, pode servir em crianças de 4 a 8 anos, e o mesmo se dá para os coletes subsequentes.

Tabela 2 - Tabela de Medidas do Corpo

Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas

Além da confecção de novos tamanhos para os coletes, todas as faixas de velcro foram estendidas para que o ajuste, naqueles que se qualificam para tal tamanho, seja ainda maior.

A segunda melhoria sugerida pelos fisioterapeutas seria adicionando uma faixa de suportena parte frontal e duas faixas de suporte na parte traseira do colete, simila-res as anteriormente posicionadas no colete. Essas faixas, dispostas horizontalmente, cumprem o mesmo propósito das demais, garantindo uma melhoria na qualidade da equoterapia.

A última melhoria neste protótipo foi a mudança da espessura da placa de EVA, que agora possui uma espessura de 1 cm, mantendo ainda seu formato e composi-ção original. Essa mudança foi sugerida pelos fisioterapeutas, alegando que placa de 0.5 cm, ainda que auxilie na posição do praticante, pode ter seus benefícios amplia-dos com uma placa ligeiramente mais rígida (Imagem 6).

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Imagem 6 - Segundo Protótipo

Fonte: Elaborado pela autora

4.2 APRIMORAMENTO TÉCNICO

Em seu terceiro estágio, o colete não sofreu alterações diretas, mas algumas me-lhorias externas foram sugeridas. A primeira foi a criação de uma faixa com velcro po-sicionada na parte central inferior do colete que, quando utilizada, será presa na cela do cavalo. A segunda são duas longas faixas laterais com velcro em sua extensão que serão presas no silhão do cavalo.Essas faixas irão segurar paciente na cela (Imagem 7 e Imagem 8), diminuindo o desgaste físico que ofisioterapeuta sofre ao decorrer da terapia (o fisioterapeuta ainda segura o paciente, porém o esforço é menor).

Imagem 7 - Fisioterapeuta utilizando das faixas de suporte

Fonte: Elaborado pela autora

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Imagem 8 - Terceiro Protótipo

Fonte: Elaborado pela autora

Após realizados testes com o terceiro protótipo, foi visto que com a utili-zação da faixa central, o colete é “puxado” para frente, deixando uma folga entre o colete e o paciente. Essa folga foi então solucionada com a adiçãode uma placa de EVA similar a anteriormente utilizada nas costas do colete (Imagem 9 e Imagem 10).

Imagem 9 - Produto Final

Fonte: Elaborado pela autora

Imagem 10 - Uso do colete durante a terapia

Fonte: Elaborado pela autor

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4.3 FINALIZAÇÃO E CONFECÇÃO FINAL

Esta última versão do colete foi então apresentada à Hípica. Após aproximada-mente 3 semanas de testes com os pacientes do local, foi decidido pelos profissionais que o colete não precisaria de nenhuma alteração adicional para alcançar o propósi-to do projeto. Visto que essa seria a forma definitiva do colete, foi então confecciona-do um modelo final, deixando de usar o algodão cru como base e passando a utilizar Sarja Santanense 100% algodão de cor preta.

Analisando pessoalmente os testes realizados, foi possível identificar pontos do colete onde pode ocorrer fadiga da costura devido ao seu intenso uso. Esses pontos estão representados em vermelho na imagem a seguir (Imagem 11) e podem oca-sionar perda de controle do fisioterapeuta sobre o paciente ou até mesmo acidentes caso alguma parte venha a se romper durante a terapia. Para evitar tais possíveis eventos, foi necessário reforçar tais pontos com duas técnicas diferentes.

Para todas as travas, foi utilizado a técnica de travete, método utilizado em con-fecção para suportar impacto e desgate. Nela, a costura é reforçada e os pontos por centímetro da costura são aumentados, como se pode ver na Imagem 11, detalhe1.Dessa maneira as travas se manterão fixasem suas devidas posições, impedindo que se movimentem. Nas faixas de segurança que são utilizadas pelos fisioterapeutas para manter o paciente estável em cima do cavalo, foi utilizado o ponto em X, onde um “X” é traçado em costura, como podemos ver em evidencia na Imagem 11, deta-lhe 2. Tal técnica é utilizada para distribuir a força a aplicada em uma certa área do tecido, diminuindo as chances da costura eventualmente se soltar do colete devido a fadiga. Todas as costuras foram realizadas em uma máquina industrial, utilizando uma agulha nº 20 e de uma linha 50C composta de 100% poliéster, passando no te-cido em 3 pontos por centímetro, dando ao colete uma maior resistência, mas ainda mantendo o seu conceito de produto de moda.

Imagem 11 - Detalhe das técnicas de costura

Fonte: Elaborado pela autora

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Uma ficha técnica do colete foi elaborada para que detalhes da construção pos-sam ser analisados. Nessa ficha, estão expostas tanto os materiais e suas respectivas quantidades utilizadas na elaboração do projeto, assim como os detalhes técnicos das costuras empregadas.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após todo o processo de desenvolvimento e análise do produto, é possível obter uma conclusão final sobre todos seus aspectos com ajuda das fisioterapeu-tas responsáveis na Associação de Equoterapia Daoud. Segundo o relatório for-mulado pelos profissionais da Associação, o colete cumpre com a sua proposta de proteger e preservar a segurança do praticante durante as sessões, auxiliando as atividades realizadas pelas terapeutas e, também, ajudando na correção da postura em alguns casos.

As placas de EVA inseridas tanto na parte anterior quanto posterior do colete não possuem intuito de substituir qualquer tratamento ou método de correção da pos-tura do usuário. Seu propósito é de firmar e estabilizar o utilizador que, por vezes, não consegue se manter sobre ginete. Se em uma eventualidade alguma das placas chegue a causar algum incomodo no usuário, elas podem ser facilmente retiradas e recolocadas posteriormente, evitando a necessidade da confecção de diversos cole-tes com pequenas variações entre si.

Durante o uso do produto, todas suas alças (posteriores, anteriores, laterais e fron-tal) foram utilizadas sem nenhuma adversidade ou desconforto, tanto para o pacien-te quanto para a pessoa que o auxiliava. As alças frontais e anteriores também se mostraram muito eficientes quanto ao seu propósito, tornando a operação de segu-rar o paciente sobre o cavalo extremamente menos cansativa e mais eficaz.

Tanto as faixas laterais e quanto afrontal conseguiram, em alguns casos, man-ter um paciente na postura correta, não se fazendo necessário a permanência de um terapeuta estabilizando o praticante durante todo o percurso, como atestado no relatório.

É também relevante ressaltar que a fixação das faixas do colete por velcro é extre-mamente eficaz durante seu uso, mesmo o material não sendo comumente utilizado para fixar objetos. Isso se dá ao fato de existirem de 4 a 7 faixas ajustáveis que distri-buem entre si o peso feito pelo praticante; isso faz com que as longas faixas de velcro sejam extremamente seguras para o uso contínuo.

O projeto também atendeu com um de seus objetivos, criando um produto mais acessivel para o mercado; podemos analisar isto estudando o valor dos materiais do protótipo. Os materiais, detalhados na ficha técnica, podem ser adquiridos por me-

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nos de R$ 50,00 em lojas especializadas, fazendo com que este colete seja mais aces-sível e, por vezes, mais eficaz que outros modelos disponíveis no mercado, sendo uma ótima opção para Associações que possuam equoterapia em suas sessões.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, o colete atendeu a todas as expectativas da Associação de Equotera-pia, criando uma alternativa com melhorias aos coletes que já estão no mercado. O colete facilitou o desenvolvimento de atividades terapêuticas pelas terapeutas que, por vezes, não necessitam mais acompanhar o cavalo junto ao paciente, pois agora os mesmos conseguem se manter na posição ideal sozinhos. Ele também trouxe mais segurança durante a equoterapia, tendo em vista que antes do cole-te, aconteciam acidentes esporádicos com os pacientes, que podiam cair do ca-valo durante a prática; com o colete, esse problema foi minimizado com possibi-lidade até de ser extinguido, uma vez que o colete consegue manter firmemente uma criança sobre ocavalo.

O trabalho atendeu as premissas do PIC FAAL no que tange pesquisa e inovação, além de ser um projeto de responsabilidade social, pois utiliza da metodologia de processo criativo do design de moda para atender a uma demanda solicitada pela comunidade externa.

Para a pesquisadora, o objetivo deste projeto é introduzir mudanças positivas no funcionamento psicológico e social do indivíduo, nas suas famílias, grupos e ambien-tes, de forma a diminuir as vulnerabilidades existentes e a providenciar oportunida-des parar a existência de uma vida social mais satisfatória.

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A MEMÓRIA DA ÁFRICA NO BRASIL E A RELIGIÃO: UM ESTUDO SOBRE O ORIXÁ OGUM EM DOIS TERREIROS DE CAMPINAS – SP

THE MEMORY OF AFRICA IN BRAZIL AND RELIGION: A STUDY OF ORISHA OGUN IN TWO TEMPLES IN CAMPINAS-SP

Mateus Guimarães da Silva1 Iara Cecília Rolim2

Resumo

Este artigo é sobre a construção da memória da África no Brasil a partir de um recorte pontual que se direcionou para a pesquisa sobre como se deu este fato dentro das religiões afro-bra-sileiras, mais especificamente do candomblé, dando ênfase para as formas de sobrevivência e de manutenção desta memória por meio dos orixás. A pesquisa foi feita em dois terreiros da cidade de Campinas (SP) e obteve como um dos resultados a concretização de duas obras em ferro baseadas no Orixá Ogum.

Palavras-chave: Memória, Identidade, Afro-brasileiro, Ogum.

Abstract

This paper is about the construction of the memory of Africa in Brazi, from one sample, that aims the study of how this fact occurred within the afro-brazilian religions, more specifically the Can-domble, emphasizing the ways of survival and maintenance of this memory through the Orisha. The research was conducted in two temples in the city of Campinas (São Paulo state) and abtained as a result, the construction of two works made in iron based on Orisha Ogun.

Key-words: Memory, Identity, Afro-Brazilian, Ogun.

1 Aluno do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Administração e Artes de Limeira, Bolsista do programa PICFAAL.

2 Profa. Dra.do curso de Artes Visuais da Faculdade de Administração e Artes de Limeira/Professora-Orientadora do Programa PICFAAL.

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1 INTRODUÇÃO

Desde o início do regime escravocrata, é possível perceber a presença de escra-vos africanos no Brasil. O comércio transatlântico de negros foi um dos atos mais desumanos já cometidos em nossa história, e Munanga (2009) afirma que: “O tráfico negreiro é considerado por sua amplitude e duração uma das maiores tragédias da humanidade”. O tráfico de escravos da África se estendeu por séculos, causando uma gama de efeitos impactantes, tanto na África como também na vida do negro esta-belecido no Novo Mundo3 . O negro, sem saber o seu destino, era embarcado con-tra sua vontade em uma viagem de longa duração na qual muitos não sobreviviam. Os que aqui chegaram desenvolveram formas de resistência ao regime escravocrata, sendo a religião uma de suas mais importantes estratégias. Pela repetição dos ritos e a reelaboração das tradições e crenças, o negro foi recriando sua memória e identi-dade como maneira de sobrevivência.

Diante deste quadro, este artigo é resultado da investigação de como a memória da África que foi trazida pelos escravos para o Brasil, sobreviveu na religião afro-brasileira, principalmente no Candomblé, uma de suas vertentes. Como forma de aprofundamento da pesquisa e fonte para o trabalho prático, a aná-lise principal dos orixás foi direcionada estritamente à Ogum.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

Diante da situação colonial a questão da memória e da recriação da identidade passou a ser um dos temas principais quando se trata do contexto histórico da escra-vidão no Novo Mundo. A memória da África precisou ser preservada e reconstituída, de acordo com a pluralidade dos costumes que as diferentes nações de escravos afri-canos trouxeram consigo. Ao conviverem juntos nos locais da diáspora, os diversos costumes, em algum momento, tornaram-se uma unidade, nascendo então uma me-mória em comum, a memória coletiva, o ser africano. Contudo, cada homem, mulher e criança vivenciaram experiências diferentes, em sua terra de origem, tendo então, sentimentos e lembranças únicos, de uma África vista pelo indivíduo, ou seja, além da memória coletiva, de uma nação africana, existe a memória individual, particular e intransferível.

Memória e identidade estão indissoluvelmente ligadas, e para que a identidade se fortificasse, foi preciso existir uma memória, uma raiz, uma visão ou mito originá-rio da terra natal, uma herança cultural. Foi por meio da memória, da identidade, e da herança cultural africana que o negro, na condição de escravo, conseguiu finalmente resistir e reivindicar os seus direitos, através das mais diversas estratégias, lutando contra a escravidão.

3 Termo criado pelos europeus para designar o continente americano (RAMOS, 1979, p.51).

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Segundo Hall (2006, p. 20) a identidade é definida pelas vivências históricas, por um passado construído, ou seja, ela é definida historicamente e não biologicamente. O sujeito assume diversas identidades em momentos distintos da vida, identidades essas que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente.

A identidade e herança cultural caminham juntas. A manutenção e fortificação desta herança eram feitas diariamente, através da culinária, dos mais variados cantos africanos, dos resgates de dialetos, da língua falada e também da religião, entre ou-tros. As práticas cotidianas ligadas à cultura africana, respondiam como uma reafir-mação da identidade e de sua memória, dos motivos para resistir à opressão.

Nos estudos sobre o Novo Mundo, existem várias relações importantes, mas, uma das que mais persistiu durante bastante tempo, caracterizada como fundamental é a relação entre passado e presente. Neste complexo, um dos elementos centrais de estudo são, as “narrativas de continuidades”.

Segundo Scott (1991, apud ROLIM, 2002, p. 89), “estas continuidades, que se es-tabelecem entre o velho e o novo, entre o original e o pós-trauma (abolição), e al-guns antropólogos se empenharam em comprovar a ideia deste passado autêntico, tentando demonstrar o grau de integridade, de preservação – o quão intacta essa raiz ainda permanece, apesar de todas as mudanças, o velho no novo, a tradição na modernidade. Duas figuras são fundamentais neste processo de busca da origem, de “medição” do passado no presente: a escravidão e a África”.

Com o intuito de trabalhar as questões postas pela pesquisa, o referencial teórico contou com autores que trabalham com os temas abordados, tais como escravidão, abolição, a presença da África no Brasil, memória, identidade e Candomblé. Os prin-cipais autores utilizados foram Pierre Verger, Arthur Ramos, Kabengele Munanga, Gil-berto Freyre, Nina Rodrigues, Lopes, Michael Pollak, Vagner Silva e Rita Amaral.

As obras incluídas nesta pesquisa analisam as questões postas pela situação colonial e suas consequências dentro de áreas como a História, a Antropologia, a Sociologia e a Arte.

2.1 Da África para o Brasil

O Novo Mundo, região que apresenta uma estreita ligação com o imperialismo, capitalismo, e também, com o colonialismo, teve como mão de obra, primeiramente, escravos indígenas4 , que mais tarde foram substituídos por escravos negros africanos.

Trazidos à força, os africanos eram classificados e vendidos como mercadoria, através de um esquema de troca com objetivos bem resolvidos, sendo eles: fonte de renda para os traficantes, papel moeda para os europeus, ou ainda, solução para problemas econômicos e de mão-de-obra de vários países.

4 Para mais informações sobre escravidão indígena, ler: (VAINFAS, 2007, p. 37-59)

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O tráfico de escravos da África se estendeu por mais de 300 anos, e durante esse extenso período, os europeus foram os maiores comerciantes de escravos africanos, cerca de 40 a 100 milhões de homens e mulheres foram comprados na África, sem saberem se quer para onde iam, eram deportados para os con-tinentes: Europa e América5 – sendo que destes, cerca de 50% vieram a óbito (MUNANGA, 2009, p. 80-81). A África (ou sua essência) foi “trazida” para os locais da diáspora6, de forma forçada e a preservação e sobrevivência de suas distintas culturas ajudou a manter a dignidade de várias gerações de afro descendentes, reelaborando costumes e crenças, por meio de práticas cotidianas, que foi o com-bustível de resistência para o cativo, no local da diáspora.

Todos os africanos levados para o Brasil vieram pela rota transatlântica. Isso envolveu povos de três regiões geográficas: África ocidental, de onde foram trazidos homens e mulheres dos atuais Senegal, Mali, Níger, Nigéria, Gana, Togo, Benim, Costa do Marfim, Guiné-Bussau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné e Camarões; África centro-ocidental, envolvendo povos do Gabão, Angola, República do Congo, República Democrática do Congo (ex-Zaire) e República Centro-africana e África austral, envolvendo povos de Moçambique, da África do Sul e Namíbia.

Na literatura e nos textos escritos sobre o assunto, diz-se geralmente que os africanos escravizados no Brasil foram trazidos do litoral de Angola, do litoral de Moçambique e do Golfo de Benim, de onde embarcaram rumo ao Brasil. Mas de fato teriam vindo do interior das áreas citadas e dos países e grupos étnicos cuja documentação foi grande parte queimada sob as ordens de Rui Barbosa, então ministro das Relações Exteriores do Brasil (MUNANGA, 2009, p. 87).

Na formação cultural do Brasil, três vertentes tiveram um papel importante: afri-cana, indígena e portuguesa, que geraram a base da cultura, idioma, miscigenação étnica e religião. Tais vertentes étnicas deram corpo, forma e vivacidade para ma-nifestar o que hoje conhecemos por alguns traços característicos de manifestações referentes à cultura que permeia o Brasil. A herança africana ocupa grande parte da estrutura da constituição do Brasil. (VAINFAS, 2007, p. 48) (REIS, 2007, p. 90-91).

Deste 1547 existem relatos de navios negreiros saindo carregados de escravos do Congo para o Novo Mundo, isso devido à um acordo feito entre a soberania portu-guesa e o rei do Congo, fechando um negócio de fornecimento de escravos Bantos para o Brasil (RAMOS, 1951, p. 354).

5 Segundo o autor Luiz Felipe de Alencastro, o número de escravos transferidos para a Europa e América é de 10.200,1, sendo para o Brasil cerca de 40% deste valor total, aproximadamente 4 milhões de africanos (ALENCASTRO, 2000, p. 69).

6 Diáspora: Palavra de origem grega significando dispersão. Nesse contexto a diáspora refere-se ao tráfico de escravos africanos trazidos da África para as Américas (LOPES, 2004, p. 236).

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Figura 1 - Mapa da rota transatlântica.

Fonte: (MUNANGA e GOMES, 2004, p. 19).

Do outro lado do atlântico, no Brasil, a exploração da cana-de-açúcar e o esta-belecimento de um sistema de plantation7 fez com que o tráfico de escravos se dis-seminasse cada vez mais. A princípio, os primeiros africanos – Bantos – trataram de cuidar do engenho do Recôncavo Baiano, região pioneira na economia açucarei-ra. Em meados do século XVII, ressalto dois marcos históricos importantes: primeiro, os africanos foram tomando protagonismo nas atividades escravas, chegando qua-se a extinção da escravidão indígena. Segundo Reis, os nigerianos dogomés, jejes, ussás, bornos, tapas e nagôs tornaram-se as vítimas preferidas dos traficantes – atu-ando como cativos no Novo Mundo até os 20 últimos anos do tráfico ilegal de escra-vos – sem contar com as estimativas do transporte clandestino que ainda perdurou alguns anos após a proibição do tráfico, em 1850 (REIS, 2007, p. 82).

A descrição – eurocêntrica – do nativo indígena e africano pelos intelectuais da época, passava a imagem que tais etnias fossem feras horrendas e indomáveis, viven-do no pecado e na ignorância, onde a escravidão seria a solução, e consequentemente, a colonização (FREYRE, 2006, p. 17) (MUNANGA, 2012, p. 31).

7 Termo técnico da língua inglesa, de uso internacional. Designa estabelecimento agrícola que, em regime de monocultura e sob direção centralizada, combina as atividades de cultivo e beneficiamento em larga escala e com grande emprego de capitais, máquinas e pessoas. Na época escravista, designava as fazendas e os engenhos de cana-de-açúcar, café, algodão etc. que, comandados por um único proprietário, exploravam a mão-de-obra escrava (LOPES, 2004, p. 536).

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O enfrentamento psicológico-resistente do escravizado, contra a imposição mo-ral de inferioridade imposta pelo senhor do engenho, foi o fator importante para manter e reavivar a sua memória de África, assim como a aceitação de seus atributos físicos foram primordiais para não deixarem a autoestima ser corrompida pela infe-riorização, não se tornando vulneráveis psicologicamente, perante o regime escravo-crata (MUNANGA, 2012, p. 11-12).

O afastamento e a destruição da consciência histórica dos cativos foram estraté-gias que a escravidão se utilizava para apagar a memória coletiva dos escravos, pois essa memória os tornavam solidários uns para com os outros, classificando-os como grupo de identidade distinta, no local da diáspora (MUNANGA, 2012, p. 13). Portanto, a memória trabalha na busca de resquícios do passado, construindo uma narrativa dessa história, apropriando-se dela, preenchendo as lacunas, para dar sustentação em algo mais sólido que é a identidade.

O autor Pollak discorre sobre a temática:

Podemos portando dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p. 5).

A memória “[...] vem fortalecer a identidade, tanto no nível individual quanto co-letivo: assim, restituir a memória desaparecida de uma pessoa é restituir sua identi-dade” (CANDAU, 2011, p. 16).

O pesquisador e fotógrafo Pierre Verger aponta a reconstrução de uma nova iden-tidade que mantinha em comum a origem, mas foi reorganizada com base nas con-dições a que os africanos foram expostos no Novo Mundo:

No início de sua permanência forçada nas Américas, tudo os separava, tudo os afastava uns dos outros: as línguas, os costumes, as religiões. Acontecia algumas vezes de povos de “nações” outrora inimigas se virem obrigados a viver juntos, lado a lado, nas mesmas fazendas e engenhos. No entanto, a infelicidade do exílio e da escravidão, suportados em comum, e a vida regrada que levavam davam a todos eles os mesmos hábitos. Esse novo modo de vida criava entre eles o sentimento de solidariedade contra aqueles que os mantinham no cativeiro (VERGER, 2012, p. 20).

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Na prática, a memória coletiva constituiu em reviver e reinventar ilhas de afri-

canismo8 nos locais da diáspora. Os terreiros9 de religiões de matriz africana são

exemplos dessas ilhas de africanismo, onde aspectos culturais eram rememorados,

reinventados e revividos. A culinária, a dança, os canto, o idioma e a religião, eram

utilizados como ferramentas de reafirmação de identidade. Foi por meio da memó-

ria, que se possibilitou fazer uma ponte, onde o passado fosse revivido no presente,

fortificando os cativos, como unidade de uma mesma memória e identidade.

2.2 A África no Brasil e a pós-abolição

Os africanos no Brasil Colônia, não viveram sob o regime escravocrata – na con-

dição de escravos – de uma forma pacífica. Muitas foram as revoltas como a rea-

lizada pelos Malês10, a criação dos quilombos, as articulações para prejudicarem

o capataz ou senhor de engenho. Alguns negros escravizados que não conseguiram

se fortificar por meio da recriação da memória de África, foram vítimas do banzo11,

que muitas vezes, levou à morte. Mesmo com o a lei do fim do tráfico no Brasil –

1850, Lei Eusébio de Queirós – o fim da escravidão aconteceu gradativamente, com

o surgimento de novas leis, sendo elas “[...] 1871, Lei Rio Branco (Lei do Ventre Livre),

libertando os nascidos de escravas, a partir de então; 1885, Lei Saraiva-Cotegipe (Lei

dos Sexagenários), libertando os escravos idosos; 1888, Lei Áurea, abolindo a escravi-

dão” (RODRIGUES, 1997, p. 56).

A lentidão dos processos de Leis – desde 1850, partindo da Lei Eusébio de Queirós

– para até então chegar à Lei Áurea, foi uma articulação dos senhores de engenho,

sendo pensada para adiar a abolição da escravidão. Posteriormente, pós abolição,

o Brasil, com um grande movimento romântico, tenta apagar a “mancha negra” que

a escravidão deixou no País, lançando o decreto de 14 de dezembro de 1890 pro-

mulgado por Rui Barbosa, que mandava queimar os documentos históricos sobre

a escravidão (RAMOS, 1979, p. 178-179).

8 Neste contexto, o termo ilhas de africanismo refere-se à grupos étnicos fechados, onde os costumes, tradições e crenças eram praticados da forma mais fidedigna rememorada – frutos de narrativas históricas – com o objetivo de manterem-se mais puramente africanos (LOPES, 2004, p. 37).

9 Designação genérica do espaço físico onde se sediam as comunidades religiosas afro-brasileiras. No Rio de janeiro, o nome terreiro também era utilizado para referir-se às “quadras” das escolas de samba, onde, assim como nos espaços religiosos, também tinham um número maior de mulheres (LOPES, 2004, p. 646).

10 Para informações históricas: (MUNANGA e GOMES, 2004, p. 90-98).11 Estado psicopatológico, espécie de nostalgia com depressão profunda, quase sempre fatal, em que caíam

alguns africanos escravizados nas Américas. O termo ou no quicongo mbanzu, “pensamento”, “lembrança”, ou no quimbundo mbonzo, “saudade”, “paixão”, “mágoa”. Fonte: (LOPES, 2014, p. 99).

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Mesmo com a intenção “benéfica” de tentar apagar o passado da escravidão, o futuro continuou com a “mancha negra”. Mancha essa que carrega o peso da inferioridade para com os afrodescendentes, dificultando a sua reintegração na sociedade, no período pós-abolicionista e acarretando em preconceitos até hoje

em nossa sociedade12.

3 O CANDOMBLé E O ORIXÁ OGUM

O Candomblé, assim como toda a herança trazida pelos africanos, foi reconstru-ído a partir de narrativas históricas das etnias que compuseram o grupo étnico do terreiro, pois nem sempre em um mesmo grupo, estavam cativos da mesma etnia e tradições religiosas13. Ou seja, foi um processo de rememoração e reterritorialização dos africanos e afrodescendentes, nos locais da diáspora. No Brasil, o candomblé foi proibido do período colonial, portanto, o desenvolvimento de um sincretismo reli-gioso foi realizado para cultuar as divindades (VALENTE, 1976, p. 10). No contexto de culto, existem diferenças dos nomes14 – e tradições religiosas – das divindades e entidades cultuadas, de acordo com a nação de Candomblé:

Nação de Candomblé Classificação de divindade Nome da divindade

Ketu Orixá Ogun

Congo-Angola Inkice Gun

Gêge Vôdún Macumbe, Sumbo, Nkôce

Caboclo Encantado Incôse Cacumbe

Ogum é o regente da guerra, a divindade do ferro. Segundo a mitologia, Ogum é

o pai de Oxóssi e Oranian, além de ser o primeiro marido de Oiá, teve relações com Oxum, com Obá e a esposa atual de Oko, a Eléfunlósunlórí: “Aquela-que-pinta-sua-cabeça-com-pós-branco-e-vermelho”.

Como tal, na África, o Orixá oferece estreitas ligações a todos que utilizam o ferro, como os agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros, marceneiros e carpinteiros.

12 Esta discussão é muito complexa e não faz parte o recorte da pesquisa. Para aprofundamento, indico leituras que constarão nas referências bibliográficas: (ADORNO, 1995), (CASTRO, 1993), (FERNANDES, 1955), (GUIMARÃES, 1998), (HASENBALG, 1979) e (ROLIM, 2002).

13 Etnias indígenas, no caso do culto aos caboclos, no Candomblé Congo-angolano, conhecido também como Candomblé Banto. Os Congo-angolanos tiveram contato com os indígenas no começo do tráfico de escravos e foram vendidos principalmente para senhores de engenho de Minas Gerais, Espirito Santo e Rio de Janeiro e quase todo litoral (SILVA e AMARAL, 1996, p. 197).

14 (LODY, 1974, p. 17).

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A sua importância é grande, devido a ser um dos Orixás mais antigos do panteão

africano e também por proteger os que utilizam o ferro (VERGER, 2002, p. 87).

Segundo a mitologia15, a cidade de Ogum chama-se Irê, e esta cidade existe até

os dias atuais, localizando-se no Estado de Ekiti, na Nigéria.

No Brasil, o Orixá perdeu sua posição de protetor dos agricultores, pelo fato de

os escravos não terem o desejo de abundância na colheita – seria um desejo dos

senhores do engenho – por conta disso o Orixá Oko16 não é popular no Brasil. Ogum

continuou sendo o protetor dos ferreiros, abrangendo para o protetor dos “[...] me-

cânicos, os condutores de automóveis, ou de trens, os reparadores de velocípedes e

de máquinas de costura vieram juntar-se ao grupo de seus fiéis (VERGER, 2002, p. 87).

Segundo Risério (1996, p. 168-171) Ogum é o deus da modernidade, o senhor da re-

volução industrial e de todas as tendências tecnológicas do mundo contemporâneo17.

No Brasil, a representatividade do Orixá se assemelha às tradições africanas sendo

“[...] representado por sete instrumentos de ferro, pendurados numa haste do mesmo

metal, e por franjas de folhas de dendezeiro desfiadas, chamadas màrìwò (VERGER,

2002, p. 94). Esta franja de folhas de dendezeiros, colocadas em cima de portas e ja-

nelas, determina proteção para o espaço interior da casa, sendo barreiras contra más

energias. Nos terreiros elas além de protegerem, determinam que, o espaço interior

– das portas e janelas – onde o màrìwò é colocado, é sagrado (VERGER, 1993, p. 217)

4 A DANÇA DE OGUM E O TRABALhO POéTICO

Como um tradicional guerreiro a dança de Ogum apresenta ações marciais, sal-

tando e cortando a espada para ambos os lados, como se estivesse a procurar um

adversário para decapitá-lo – como conta a sua mitologia (VERGER, 2011, p. 17-20).

Segundo a pesquisa de campo realizada nos terreiros “Ilê Axé Ifé Ogum Orami-

nan”, e ”Comunidade da Tradição e Culto Afro Ilesin Ogum Lakayie Osinmole”, pude

observar que sua manifestação é acompanhada do toque frenético dos atabaques

e também do agogô, o instrumento que chama Ogum para a terra. Segundo Nina

Rodrigues (1935, p. 11 apud SPARTA, 1970, p. 57) “Todos os negros que tenho visto

cair de santo nestas condições e a quem tenho podido consultar são unânimes em

declarar que é a música que os impele para a dança e daí para o santo”.

15 Para ler o mito: (VERGER, 2011, p. 17-20).16 Orixá da agricultura (VERGER, 2002, p. 94).17 Para mais informações sobre a relação de Ogum com a tecnologia, ler a obra: (RISÉRIO, 1996).

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Na festa de Candomblé, o sobrenatural é recebido com respeito e muita festa pe-

los devotos18. Notei que, o médium, ao estar incorporado pelo Ogum, assume uma

postura mais rígida, dando socos no peito e dançando de uma forma intimista, mos-

trando ser de um caráter agressivo e impiedoso para com os adversários, contra os

quais, simula golpear. Dependendo do médium, o Ogum mostrava-se mais agitado e

agressivo, ou mais calmo, porém ainda com uma postura marcial. Em certos momen-

tos, Ogum fez um gesto simbólico, vestindo-se para a guerra, simbolizando o ato de

colocar sua armadura, articulando-se no barracão enquanto os membros do terreiro,

gritavam “Ogum iêêê”, que significa “Salve, Ogum” (VERGER, 2002, p. 94).

Em um segundo momento, Ogum dança de uma forma como se estivesse a des-

matar uma floresta, cortando com sua espada, abrindo os caminhos para os outros

passarem. No culto, o Orixá é o segundo a dar continuidade no Xirê19, depois de Exu.

Portanto, Exu estabelece a comunicação entre os dois mundos, é despachado, e, se-

gundo a crença, vigia o barracão enquanto a festa acontece (SIQUEIRA, 1998, p. 56).

Dos dois médiuns de Ogum pesquisados, a manifestação de um deles apresentou

uma agressividade e inquietude maior, onde a dança variava entre o plano baixo e

alto, rodopios e corridas dentro do espaço, esse é o Ogum Oraminan.

A composição das escultórica mostra a forma que eu observei a dança dos mé-

diuns de Ogum nos terreiros, em seu ritmo rápido e lento, ora saltitante e brusco,

ora com o corpo mais rígido e movimentos marciais e lentos. O material utilizado

é o ferro vergalhão, que justamente faz jus a “modernidade” de Ogum nas cidades,

mantendo-se o elemento ferro do Orixá, mas trazendo-o para o contexto da contem-

poraneidade, onde, o vergalhão, é usado em construções de casas.

As produções poéticas estão ligadas à mitologia africana, onde a dança refe-

re-se às passagens mitológicas do Orixá Ogum, sempre revividas nos terreiros,

por meio do transe. As esculturas evidenciam aspectos da memória e identidade,

onde a dança mitológica narra os feitos – caminhos – de Ogum, na época em que

o guerreiro Ogum vivia na África, antes de fincar sua espada no chão, tornando-

se um Orixá (VERGER, 2011, p. 17-20).

18 O transe é um fenômeno religioso, é o chamado êxtase, que se dá pelas interferências e manifestações de “potências invisíveis”, durante as cerimônias (LAGENEST, 1976, p. 35).

19 Festa pública nos candomblés, na qual se executam os cânticos invocatórios dos orixás. Por extensão, o termo designa também o conjunto ordenado dos toques, cantigas e danças com os quais os orixás são invocados (LOPES, 2004, p. 689).

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Figura 2 - Ogum Oraminan.

Fonte: do autor.

Figura 3 - Ogum Onirê.

Fonte: do autor.

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O Ogum Oraminan, como já foi descrito, foi muito enérgico, rodopiante e explorou ambos os planos, onde, em sua escultura, os ferros envergados não se voltam para dentro, indicando a dispersão da manifestação e a diversidade na dança. As pontas nos ferros representando o caráter agressivo do orixá e bélico de suas armas.

A composição de cada escultura refere-se especificadamente ao ritmo em que este ogum dançou e a forma que o mesmo se articulou no terreiro. A técnica utiliza-da – a forja – faz referência à mitologia de Ogum, onde o Orixá era um hábil ferreiro (VERGER, 2002, p. 87).

Já o Ogum Onirê, o Ogum contido, apresenta os ferros envergados voltados para dentro, como se formassem uma unidade, um padrão de movimentos, onde sua ma-nifestação foi mais contida, embora ainda com os elementos de caráter bélicos: as pontas. Este Ogum também dançou, em certo momento, como se estivesse abrindo um caminho – assim como o Ogum Oraminan – de uma forma mais rápida, nesta sequência de movimentos que golpeava durante a dança. Porém, como já foi dito, a manifestação observada de Ogum Onirê, em um panorama geral, foi mais calma.

5 METODOLOGIA

Esta pesquisa foi realizada em três fases. A primeira foi um extenso levantamento bibliográfico, leitura, sistematização das ideias e produção de texto sobre o os temas da religião africana no Brasil. A segunda parte se deu por meio de uma pesquisa de campo em terreiros de candomblé, sendo eles: Comunidade da Tradição do Culto Afro Ilesin Ogun Lakayie Osinmole, do Babalorixá Toloji e o terreiro do Babalorixá Mário D’Ogum Tónykã, o Ilê Axé Ifé Ogum Oraminan, que estão localizados entre Campinas e Barão Geraldo. As descrições do orixá foram analisadas e comparadas, e desta forma detectou-se as diferenças e semelhanças dos Oguns observados nestes terreiros, bem como foi possível analisar como a construção deste orixá se relaciona com a África e com o Brasil. Na terceira etapa foram realizadas visitações às festas de santo, que foram momentos de observações dos Oguns – Onirê e Oraminan –, que se manifestaram por meio dos transes. As danças tiveram como finalidade conceituar os trabalhos poéticos.

E para tanto realizou-se uma fusão conceitual entre a pesquisa bibliográfica – os arquétipos de Ogum definidos por autores como Pierre Verger, Antônio Risério e Ar-thur Ramos – e as observações dos Oguns nos terreiros. A técnica utilizada para a produção das esculturas foi a forja, que se relacionou diretamente com o arquétipo de Ogum, sua mitologia e manifestações.

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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A religião dos Orixás se relaciona com a África por meio da memória e identidade, onde os ritos e tradições são reinventados e revividos, para manter esta África no Brasil, viva, desde o regime escravocrata.

A hipótese inicial era de que as manifestações do Orixá Ogum (de uma mesma nação) se distinguiam umas das outras por conta do que cada casa de Candomblé ensinava: a tradição. Porém, não havia sido cogitado o fato de que numa mesma casa de santo é comum existirem mais de um filho espiritual do mesmo Orixá, - vários filhos de Ogum - e que as danças poderiam ser diferentes. A tradição não é o fator predominante para distinguir uma dança de outra - do mesmo Orixá - mas sim o que influencia é a nação do Candomblé cultuado.

Após o trabalho de campo, foi possível averiguar que as manifestações de cada médium são definidas também de acordo com os Oloris (olo = dono, senhor; ori = cabeça) e os Eledás (eledá = protetor), que são parte do Odu de cada pessoa. O Odu juntamente com a nação de candomblé e personalidade do indivíduo influenciam na manifestação do Orixá. Pode-se afirmar que a dança mitológica do Orixá Ogum conta com fatores importantes que determinam a sua velocidade, articulação dos movimentos e golpes.

Se um médium que entra em transe com Ogum (Ogum no Olori) e tem um outro Orixá “quente, nervoso” em seu Eledá, a sua manifestação tende a ser mais rápida e agitada, sendo uma dança de movimentos fortes, firmes e ágeis. Exemplo: uma pessoa que teria Ogum em seu Olori e Iansã em seu Eledá20.

Portanto, cada pessoa é única, o Orixá de cada indivíduo é único, cada filho de santo ao ser iniciado no candomblé “faz o seu santo”, santo esse que é diferente dos outros - mesmo sendo o “mesmo Orixá” - podendo fugir um pouco do arquétipo de manifestação (no caso de Ogum, a observada) como o Ogum Oraminan com sua manifestação articulada e rápida e o Ogum Onirê com sua dança mais lenta, porém, mantendo o arquétipo de guerreiro, cortando sua espada no ar.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que durante a escravidão, o regime escravocrata fez com que os negros se mobilizassem, resistissem e preservassem sua memória e identidade. Para que isso se concretizasse o cativo reelaborou sua memória de África no local da diáspora, criando pequenas ilhas de africanismos, guetos onde os costumes, dialetos, cantos, danças e religião fossem reelaborados e revividos cotidianamente.

20 Informação fornecida por Babalorixá Mário D’Ogum Tónykã no seu terreiro, “Ilê Axé Ifé Ogum Oraminan”, em Barão Geraldo, SP, em julho de 2015. Babalorixá é carioca, filho adotivo e espiritual da saudosa Ialorixá francesa, Gisele Cossard (Omindarewa) e segue a tradição do “Ilê Axé Opô Afonjá”, que embora seja de nação Ketu (que é de Oxóssi), Xangô é “o dono da bandeira”.

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58 | MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 9-25, 2016 A MEMÓRIA DA ÁFRICA NO BRASIL E A RELIGIÃO

Neste processo de reelaboração de um passado, um dos fatores primordiais foi a relação indissolúvel entre o passado e o presente que se deu na religião, mais especi-ficadamente o Candomblé e suas divindades, os Orixás, Vôdúns e Inkices. É a tradição religiosa que faz essa ligação entre a prática milenar, arcaica e o presente, ocasionan-do então uma manutenção diária dessa memória de África e consequentemente da identidade africana.

Pode-se concluir que a memória de África e a identidade que sobreviveram até hoje são senhoras de causa e efeito na resistência da herança afro-brasileira até a atualidade. Dentro da cultura, a religião, a preservação dos seus dialetos, costumes, crenças e tradições litúrgicas contribuíram para que a informação necessária que essa pesquisa foi buscar fosse encontrada, como aconteceu.

A religião sobreviveu ao regime escravocrata graças às suas reinvenções nos lo-cais da diáspora, e as experiências vivenciadas durante as visitas aos terreiros fazem parte delas, reinvenções com um extenso passado histórico.

Essa produção poética está ligada à memória mitológica do Orixá, que é sempre revivida no terreiro, fazendo com que o espectador esteja próximo desse contexto religioso ligado aos caminhos de Ogum, que narram os episódios vividos pelo Orixá na Terra. As esculturas colocam o espectador para pensar sobre a força do Orixá den-tro da tradição religiosa, sua continuidade e todo o caminho percorrido para que a religião africana resistisse até os dias atuais.

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O ENCONTRO NA CIDADE:O DESIGN COMO UM AGENTE FACILITADOR DA CIDADANIA

THE ENCOUNTER IN THE CITY: DESIGN AS A FACILITATOR OF CITIZENSHIP

Amanda Carolina Moreira de Andrade1 Anderson Ricardo Bortolin2

RESUMO

A cidade e o espaço público considerados pontos de encontro e de socialização, vêm sofren-do mudanças com o passar dos anos. A insegurança e a vida corrida transformaram o modo com que a população usufrui dos locais reservados para lazer e descontração. Hoje, tais es-paços são usados apenas como passagem, e é a partir dessa problemática que foi buscado entender nessa pesquisa de que maneira o designer pode influenciar na cidadania, transfor-mando o mobiliário urbano de maneira que o espaço público possa ser aproveitado como um todo e para todos. Para tal compreensão, o presente trabalho de pesquisa parte de um comparativo entre duas praças, localizadas em cidades distintas que possuem similaridades entre si, são elas o Centro de Convivência de Campinas em Campinas/SP, e o Bryant Park em Nova Iorque/EUA. No processo de comparação foram recolhidos dados históricos, fotografias do mobiliário, fluxo de pedestres e análises de uso e aproveitamento. Sendo a pesquisadora usuária dos locais, também foi possível fazer a análise crítica sob o olhar do designer nos espaços urbanos e sua utilização. Dessa maneira, para que seja possível que o espaço urbano facilite a cidadania, é necessário que seu mobiliário seja adequado, e que promova ações de inclusão da população, pontos em que o Bryant Park se torna referencial, ao contrário do Centro de Convivência de Campinas, que possui deficiências em sua infraestrutura, como materiais quebrados ou a total falta deles. É de acordo com a definição de que praça deve ser um local de descanso e lazer para a população, que foram analisados os espaços, seu entorno e objetos, procurando entender de que maneira o designer deve projetar objetos para os espaços públicos em questão, procurando sempre promover o incentivo a cidadania, o design universal e a interação social.

Palavras-chave: mobiliário urbano, praça, design universal, cidadania, Centro de Convivência de Campinas, Bryant Park.

1 Aluna do Curso de Bacharelado em Design Gráfico da Faculdade de Administração e Artes de Limeira, Bolsista do Programa PICFAAL.

2 Prof. MSc. do Curso de Bacharelado em Design de Produto da Faculdade de Administração e Artes de Limeira/Professor-Orientador no Programa PICFAAL

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ABSTRACT

A City and a public space, considered points of encounter and socialization, has been receiving changes with the years. The insecurity and fast paced life-style transformed the way that the popu-lation use this places that were reserved to recreation and casualness. Today, these spaces are used just as path to another place, and starting with this problem that was searched to understand in this research in what way that the designer can influence in the citizenship, transforming the urban furniture in a way that the public space can be enjoyed as itself and for everyone. For this understanding, the present work of research starts with a comparative between two parks, located in different cities with similarities among each other, are they the Centro de Convivência de Campi-nas in Campinas/SP, and Bryant Park in New York/USA. In the comparative process, were collected historic data, photographs of the furniture, pedestrians flow and analysis about the usage. Being the researcher a user of the places, was also possible to do a critical analysis from the perspective of the designer in urban areas and their use. Thus, to be possible that the urban space facilitates citizenship, it is necessary that their furniture be appropriate, and to promote inclusion of the po-pulation, spots that the Bryant Park becomes reference, unlike the Community Center of Campi-nas which has deficiencies in its infrastructure such as broken materials or total lack of them. Is according with the definition that park must be a place to rest and recreation for the population, that were analyzed the places, the surroundings and objects, trying to understand in what way the designer has to plan objects to the public spaces in question, searching always to promote the encouragement of citizenship, universal design and social interaction.

Keywords: Urban Furniture, Park, Universal Design, Citizenship, Centro de Convivência de Campi-nas, Bryant Park.

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1 INTRODUÇÃO

A cidade como um fenômeno moderno, lugar de encontros e casualidades, vem sofrendo uma polaridade presente em todos os lugares do planeta. Por um lado, há os que induzem uma cidade cada vez mais segmentada, ou seja, pulverizada de grandes bolsões de segurança e lazer como shopping centers, condomínios fecha-dos, clubes privados, entre outros. Essa certa previsibilidade pode amparar emocio-nalmente alguns de seus habitantes, mas simplesmente pelo fato de eleger a fre-quentadores ou selecionar quem entra e quem não entra, já impede a construção de uma cidadania mais próxima de um bem-estar universal, como a promovida por Santos (2001) em “Por uma outra globalização”.

O ato de se socializar com diferentes pessoas é um dos atrativos das cidades e enquanto o contraste cultural e intelectual entre cidadãos e cidade aumenta, pro-porciona uma maior aceitação à diferença. Como foi dito pelo filósofo Bauman (2009, p. 47) “Quanto maior e mais heterogênea for uma cidade, maiores serão os atrativos que pode oferecer”. Essa aceitação da heterogeneidade se dá no conviver de pesso-as de outros nichos econômicos, países e culturas, trazendo benefícios em todas as áreas humanas e sociais.

2 OBJETIVO

A pesquisa tem como objetivo principal identificar como o mobiliário da ci-dade pode interferir na socialização dos cidadãos, sendo a socialização o princí-pio da cidadania. Não é raro encontrar locais públicos desprovidos de qualquer equipamento, enquanto em outros locais, vemos equipamentos destinados ao descanso, a espera e ao lazer.

3 HIPÓTESES

É a partir de questionamentos e comparações dos locais observados que se é possível observar em quais aspectos o mobiliário urbano pode melhorar o conví-vio e usabilidade de locais utilizados por moradores e visitantes de determinado espaço no tocante à cidadania.

Também espera-se entender como que o papel do designer pode modificar o espaço, de maneira que proponha o incentivo ao convívio, a liberdade e a me-lhor qualidade de vida aos usuários que frequentam os espaços determinados, fazendo com que o profissional observe, avalie e compare o verdadeiro contexto social e produza respostas alinhadas com os anseios democráticos por meio de artefatos para os espaços da cidade.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

Não por acaso, a presente pesquisa se fundamenta principalmente no texto “De-sign e Democracia”, que é o primeiro capítulo do livro “Design, Cultura e Sociedade”, do designer/crítico/teórico Gui Bonsiepe (2013). Nesse texto, o autor discorre sobre a necessidade do designer se inserir novamente na utopia humanista de solucionar os problemas da sociedade por meio do projeto. Como explica em seu texto:

“O design se distanciou cada vez mais da ideia de ‘solução inteligente de problemas’ e se aproximou do efêmero, da moda, do obsoletismo rápido – a essência da moda é a obsolescência rápida –, do jogo estético-formal, da glamourização do mundo dos objetos. Frequentemente, hoje em dia, design é associado a objetos caros, pouco práticos, divertidos, com formas rebuscadas e gamas cromáticas chamativas” (BONSIEPE, 2013, p. 18).

Em uma sociedade cada vez mais dominada pelo branding corporativo, pelo li-fe-style-design, pela competição empresarial no mundo globalizado e pelo reduzi-do hall do exclusivismo e do luxo tecnológico dos aparatos de consumo, Bonsiepe (2013), lança um pequeno manifesto em favor de um despertar, por parte do de-signer, para a responsabilidade que o Design deve exercer na construção de uma sociedade mais democrática.

Com o desgaste do termo democracia, que o autor alerta que seja usado com cautela já que em nome de uma pseudodemocracia o sistema neoliberal em voga continua a recriar mais e mais pobres, chegamos então a uma própria conceituação de espaço democrático definida por Bonsiepe (2013):

“Utilizo uma interpretação simples de democracia, no sentido de possibilitar a participação dos dominados, para criar um espaço de autodeterminação. Isso signi-fica criação do espaço para um projeto próprio, para um design próprio. Em outras palavras: a democracia vai muito além do direito formal de votar, assim como o con-ceito de liberdade vai muito além da possibilidade de escolher entre centenas de modelos de telefones celulares ou uma viagem a Orlando para visitar a Disneylândia, ou a Paris para visitar o Museu do Louvre” (BONSIEPE, 2013, p.20).

Quando é mencionado “criar um espaço de autodeterminação”, é nada mais do que a vontade de criar espaços que sejam da utilização de todos, onde possam con-viver cidadãos participando da vida pública. Vida pública, para nós entendida como a vida nas ruas, nas praças, nas calçadas, e não há nada mais público do que o encontro na cidade, o casual que permite uma troca de experiência que fortalece a cidadania.

Embora os padrões de uso tenham variado no curso da história, apesar das diferenças sutis e variadas, o espaço público sempre foi lugar de encontro, de comércio e de circulação.

Como explica Ghel (2002), a cidade sempre foi o lugar de encontro e reunião das pessoas, lugar onde trocavam informações sobre a cidade e a sociedade, lugar onde

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eventos importantes foram encenados: coroações, revoluções, procissões, festas e festivais, para mencionar alguns. No entanto, no século XX, em particular nas nações industrializadas, as condições para os três usos principais do espaço mudaram.

Como mobiliário urbano, podemos entendê-lo como “coleção de artefatos im-plantados no espaço público da cidade, de natureza utilitária ou de interesse urba-nístico, paisagístico, simbólico ou cultural” (BARROS, 2012 p. 1), de modo que o De-sign é a interface entre o usuário e a utilização. Dessa maneira, destacamos o valor de um Design Universal, compreendido como o “design de produtos e de ambientes para serem usados por todas as pessoas, na maior extensão possível, sem a neces-sidade de adaptação ou Design especializado” (Center for Universal Design, North Caroline State University, EUA, Tradução Livre).

A partir desse pensamento, foram escolhidos espaços públicos diferentes para que a análise e comparação abrangesse uma percepção diferente de como os lo-cais e seu mobiliário urbano influenciam na cidadania. Dessa maneira, o início desse diagnóstico dos lugares escolhidos se dá na origem, construção, motivos e datas dos espaços, que já se diferem, sendo eles o Centro de Convivência em Campinas, e o Bryant Park em Nova Iorque.

5 METODOLOGIA

O Método adotado neste trabalho comparativo entre dois espaços públicos, iniciou-se com a identificação e busca conteúdos importantes para a presente pesquisa, através de revisões bibliográficas e pesquisa exploratória na internet.

Outra parte foi realizada através de visita “in loco” pela autora, onde foi possível observar e fotografar pontos fundamentais desta pesquisa, como os usuários, mobi-liários, etc. Sendo feita após esse levantamento de dados, uma análise crítica compa-rativa dos pontos observados em cada espaço público.

A pesquisa foi realizada em 12 meses, contando com as seguintes ações e materiais:

•Etapa 1 - Identificar o mobiliário atual dos locais de estudo* (duração: 6 meses)

•Etapa 2 – Leitura crítica da realidade* (duração: 4 meses)•Etapa 3 – Comprovação da Hipótese / Conclusão (duração: 2 meses)•Publicação do artigo final (após a conclusão da pesquisa)•Participação e apresentação do pesquisador com o professor em evento

de Iniciação Científica (após a conclusão da pesquisa)

5.1 Identificar o mobiliário atual dos locais de estudo

Primeiramente, nos centraremos nos espaços públicos que serão os nossos estudos de caso: Centro de Convivência Cultural, em Campinas/SP e o Bryant Park em Nova Iorque/EUA.

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Ambas cidades consideradas metrópoles em proporções diferentes, encontram-se em países distintos, sendo possível uma análise mais ampla do espaço urbano. Campinas situa-se no interior do estado de São Paulo e conta com aproximadamente 1.155.000 habitantes, já Nova Iorque, considerada a cidade mais populosa dos Esta-dos Unidos, conta com aproximadamente 8.406.000 de habitantes.

Os locais escolhidos, apesar de estarem situadas em cidades com distintos fluxos populacionais, possuem similaridades entre si: estão localizadas na região central de suas cidades, são utilizadas para eventos culturais promovidos pelo Poder Público e Privado, como carnaval (Brasil), shows e feiras, manifestações po-pulares, além de serem uma referência para os habitantes locais e turistas como ponto de encontro e lazer.

Com a definição das cidades e dos espaços públicos escolhidos como objetos de análise, faremos um levantamento do mobiliário urbano presente em cada local. Esse é o primeiro momento e compreende 50% da pesquisa. Esse levantamento se deu da seguinte forma:

A pesquisadora, munida de uma planta de apoio com uma foto aérea do google-maps, fez o registro fotográfico de cada objeto: banco, lixeira, poste de iluminação, mesa de jogo, cinzeiro e toda a classe de artefato urbano. Tendo em mãos o registro feito, realizou-se a classificação do mobiliário.

Com esse primeiro material em mãos, já teremos uma dimensão do que estamos pesquisando, de sua história e seu real valor.

O momento seguinte, compreende o uso de cada artefato registrado. De acordo com Cardoso (2013, p. 63), “uso é uma palavra que abrange as noções interligadas de operacionalidade, funcionamento e aproveitamento”, ou seja, é a função do objeto que estudaremos, relacionando-a com a utilização que se faz dele.

Nesse momento, o pesquisador adentrará no espaço urbano estudado como um observador passivo, sendo o mobiliário observado através de visitas, em três mo-mentos distintos: dia de semana, fim de semana e evento especial, sendo cada perí-odo, observados durante o dia, durante a tarde e durante a noite.

Dessa maneira, foi definido a primeira etapa da pesquisa apoiada por fotogra-fias e croquis esquemáticos, onde os objetos serão classificados destacando-os por sua tipologia (operacionalidade), explicitando como funciona cada um na dinâmica urbana em seu respectivo momento (funcionamento) e sua eficácia de utilização re-lacionando-o com sua materialidade (aproveitamento) para cada período estudado.

Em seguida, o pesquisador elaborará um texto discursivo que sintetizará o tra-balho do registro inicial dos objetos urbanos, sua história, a observação realizada in loquo e as primeiras impressões desses objetos no espaço urbano estudado.

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5.2 Leitura crítica da realidade

A segunda parte da pesquisa, compreendendo 30% do processo, é uma leitura crítica da realidade existente. Nessa etapa, será realizada (nas maneiras descritas à se-guir) uma interpretação dos espaços estudados e das dinâmicas sociais identificadas a partir do mobiliário urbano de cada local. O pesquisador, adentrará novamente no espaço urbano, dessa vez como observador participativo.

5.3 Comprovação da hipótese

O pesquisador, após a elaboração das duas primeiras partes, poderá então colo-car a hipótese em análise, buscando concluir a pesquisa com os argumentos neces-sários para comparar como o Design presente nos dois locais de estudo (Campinas e Nova Iorque) é um agente da cidadania, favorecendo o encontro na cidade. Essa etapa conclusiva corresponde aos 20% restantes da pesquisa.

Os custos referentes a deslocamentos do pesquisador, bem como a compra de livros ou material de suporte correrão por conta da mesma, e perto do que propõe a pesquisa, não é um valor fechado, muito menos relevante a ponto de ser considera-do um investimento a ser declarado.

A pesquisa foi realizada entre os meses de janeiro de 2015 e setembro de 2016, com duração de 12 meses (interrompida durante os meses de julho de 2015 a março de 2016), e foi segmentada conforme (Quadro 1).

Quadro 1 - Cronograma de Execução

Fonte: Da Autora

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6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O objetivo da pesquisa, de buscar compreender como o Design - representa-do pelo mobiliário urbano - pode ser um facilitador da cidadania na sociedade, iniciou-se no primeiro semestre de 2015. Analisou-se por meio de levantamento de material gráfico/informativo e observação participativa, quais são os pontos positivos, deficiências, as possibilidades e a usabilidade dos artefatos nos espa-ços que são objetos de estudo.

De acordo com Cardoso (2013 p. 47), “artefato é um objeto feito pela incidência da ação humana sobre a matéria-prima: em outras palavras, por meio de fabricação”, sendo que o mobiliário urbano é considerado um artefato público por estar em um espaço público na cidade.

A partir da definição de Praça “ 1. Lugar largo e espaçoso, ordinariamente ro-deado de edifícios” (DICIONÁRIO AURÉLIO, Praça), e da definição de Park “Uma área de uso público em uma cidade onde as pessoas vão para caminhar, jogar ou relaxar” (OXFORD DICTIONARIES, Park, Tradução Livre), os espaços analisados foram o Centro de Convivência Cultural em Campinas no estado de São Paulo (Figura 1), com cerca de 1.150.000 habitantes, e o Bryant Park na cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos (Figura 2), com cerca de 8.400.000 habitantes. Lugares que possuem uma grande diferença populacional, de infraestrutura e de arqui-tetura como mostram a vista aérea nas figuras abaixo, o que proporcionou uma analise crítica diferente sobre cada um desses espaços.

Figura 1 - Vista aérea da Praça Centro de Convivência Cultura, Campinas/SP/Brasil.

Fonte: Google (2016)

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Figura 2 - Vista aérea do Bryant Park, Nova Iorque/NY/EUA.

Fonte: Google (2016)

6.1 Centro de Convivência Cultural de Campinas

Construído com um intuito específico de servir como teatro a céu aberto e em seu subterrâneo como um museu, o Centro de Convivência Cultural de Campinas, infe-lizmente não funciona dessa forma. Localizado em um bairro de classe média-alta na cidade, o local é cercado por comércios e residências, ocorrendo todos os sábados a tradicional feira hippie. Seu teatro a céu aberto com dimensões gigantescas e seu subterrâneo encontram-se lacrados para que o público não entre devido à resistên-cia do lugar, que está em estado de risco. No local há uma placa onde está descrito que o lugar está sendo reformado, e embora a pintura seja nova, não há sinal de máquinas ou de pessoal especializado no local.

Ao redor do teatro a céu aberto, o local é equipado para que possa ser usado como uma praça e é frequentado por público de todas as idades. Há famílias que levam os filhos para brincar, jovens que passam o tempo conversando ou tocando violão, os feirantes e hippies aos sábados e pessoas caminhando ou levando os cães para passear. Embora o local seja agradável, e localizado perto do centro, é difícil ver pessoas passando grandes períodos de tempo na praça além dos hippies que ficam após as feiras. A praça é mais usada para que as pessoas passem dos comércios para suas casas, especialmente do mercado que se encontra ao lado.

A praça está equipada com os itens essenciais que a população necessita, como telefones públicos, embora em pouca quantidade, luminárias altas, que mesmo com

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sua estética diferente, algumas não funcionam, lixeiras padronizadas espalhadas por todo o local e bancos de madeira e cimento, onde alguns estão sem condição de uso devido a estarem quebrados. Possui um banheiro masculino e um feminino.

Alguns detalhes dão um visual diferente e agradável ao local, como luzes colori-das que se acendem a noite embaixo das árvores viradas para suas copas, ou arbus-tos, porém em grades para evitar o vandalismo, e pequenos tocos de madeiras com códigos QR Codes para a detecção do tipo de árvore. Possui também um balanço infantil quebrado, sem condições de uso.

Portanto, a partir da análise dos objetos e do espaço (Figura 3), pode-se perceber que possui vários problemas infra estruturais no mobiliário urbano. Há o necessário, mas às vezes em pequenas quantidades ou deformados. Alguns objetos que são es-senciais para que a população possa aproveitar o local não existem, como um bicicle-tário e bebedouros. Não possui objetos que façam a população permanecer por um tempo considerável no local, por isso muitos apenas passam por ela.

Figura 3 - Objetos analisados no Centro de Convivência Cultural, Campinas/SP.

Fonte: Da autora

6.2 Bryant Park em Nova Iorque/EUA

Mesmo sendo parte do Departamento de Parques e Recreação de Nova Iorque (New York City Department of Parks and Recreation), o Bryant Park é administrado pela iniciativa privada sem fins lucrativos Bryant Park Corpora-tion, sendo dessa maneira visto como um modelo de sucesso entre a parceria de administração pública e privada.

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Localizado em Midtown Manhattan, bairro conhecido pelo grande número de empresas, lojas e turistas, o parque é conhecido pelo alto fluxo de pessoas. Possui estação de metrô em seu subterrâneo, onde passam as linhas laranja (B, D, F, M) e roxa (7) (MTA - Metropolitan Transportation Authority. Subway Map. 2016), ligando Manhattan aos bairros de Queens, Brooklyn e Bronx, e ponto de ônibus. Anexo ao parque, encontra-se a Biblioteca Pública de Nova Iorque (New York Public Library) que funciona de segunda a domingo a partir das 10h.

Como entretenimento, o parque possui atrações que funcionam o ano todo, como o Le Carrousel, um carrossel para crianças pelo valor de três dólares cada participa-ção, que pode ser alugado para festas infantis. Já como programa sazonal, o parque possui no período do verão exibição de filmes patrocinados pela HBO, e no inverno rinque de patinação pago oferecido pelo Bank of America. Também possui outras ati-vidades grátis, variando a cada ano, como a sala de leitura, área de jogos de tabulei-ro, mesa de pingue pongue, bingo, aulas fitness, material de desenho para crianças, aulas de esgrima, apresentações de teatro e música. Dentro do espaço do parque, se encontra dois grandes restaurantes e cafés, e alguns quiosques de comidas.

O parque é equipado com objetos necessários para que a população possa usu-fruí-lo e aproveitar o tempo com qualidade e liberdade, como bancos de cimento ou madeira, mesas e cadeiras móveis (que são colocadas às 7h e retiradas após as 22h), guarda-sóis, lixeiras de orgânicos e recicláveis com sua devida sinalização de acordo com o sistema de reciclagem de Nova Iorque, bebedouros, luminárias, tomadas, si-nalização e banheiros. Embora seja um local de grande circulação de pessoas, não possui objetos quebrados e/ou pixados.

Possui sua identidade visual própria, contida em quase todo o mobiliário urbano e sinalização (exceto bancos e vasos de cimento, fontes, etc.). Cada seção de entrete-nimento também possui sinalização, que contém informações como modo de uso e horário de funcionamento, também possuindo uma identidade visual própria, sen-do essa coerente com a do parque. O parque conta com uma sinalização geral, que conta com mapas, história e agenda de atividades, todas elas com o logo do local, e aviso para as mídias sociais. As mesas, cadeiras, cadeiras universitárias e guarda-sóis também contam com o logo. O local também possui Wi-Fi gratuito.

Pensando no princípio de que o espaço urbano favorece a cidadania, o Bryant Park cumpre sua função. Sua estrutura (Figura 4), supre as necessidades da popula-ção, e garante que o espaço não seja usado apenas como rota, e sim como um lugar para entretenimento, que pode servir de inspiração para outros projetos.

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Figura 4 - Objetos analisados no Bryant Park, Nova Iorque/EUA.

Fonte: Da autora

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir conceituação do termo objeto “Todo e qualquer ambiente, produto, sis-tema de produtos e sistema de informações que mantém com o homem uma efetiva relação de utilização em nível intelectual, físico ou sensorial.” (GOMES FILHO 2012, p. 24) pode ser feito análises específicas nos lugares de acordo com o objetivo proposto na pesquisa, dessa maneira, foi possível criar um comparativo entre os pontos obser-vados, e ressaltar aspectos em que o Design influencia a cidadania.

De acordo com a percepção histórica, uma praça deve ser um local onde as pes-soas passem tempo descansando e se divertindo com a família ou amigos, um am-biente de lazer e não um local de passagem. Com esse pensamento e com essa pro-blemática que foram analisados os espaços, seu entorno e objetos, observando de que maneira o designer deve pensar e projetar objetos para o espaço em questão atendendo a necessidade da população, de modo que a cidadania e interação se-jam promovidos no ambiente, pois pode ser observado que a essa interação entre a sociedade em espaços públicos deficientes de objetos que promovam esse envolvi-mento, é quase nula.

Portanto, cabe ao designer repensar e projetar esses aspectos nos ambien-tes para o incentivo à cidadania, trazendo ao usuário a liberdade e vontade de pertencer e usufruir do espaço público. O designer deve sempre ter em mente

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princípios do Design universal em casos como esse, que se torna indispensável para o aperfeiçoamento do projeto, pois é tendo como propósito a integração e interação de todos no espaço, independente de quaisquer fatores, que será pos-sível a promover a interação social que se encontra tão rara hoje em dia, e que só tem a enriquecer o indivíduo como pessoa e cidadão.

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UM ESTUDO DOS POLIEDROS DE PLATÃO COM MATERIAIS MANIPULÁVEIS E TECNOLOGIAS DIGITAIS

STUDYING PLATONIC SOLIDS THROUGH MANIPULATIVE OBJECTS AND DIGITAL TECHNOLOGIES

Wellington Rodrigues de Aguiar1 Nilton Silveira Domingues2

Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar a pesquisa realizada pelo Licenciando em Matemática que também trabalha na área metalúrgica, como caldeireiro. Os desafios en-frentados na rotina diária de trabalho dependem muito de conceitos matemáticos, fato que permitiu que o investigador reconhecesse o quanto a teoria matemática auxilia em seu dia-a-dia. Desta forma, realizou uma pesquisa em que pudessem ser conciliados os estudos teóri-cos e práticos. Optando pela metodologia qualitativa o pesquisador elaborou uma atividade investigativa por meio de um plano de aula, a qual foi aplicada junto à turma do 4° semestre do curso de Licenciatura Plena em Matemática da FAAL durante duas aulas cedidas pelo Professor Ms. Tiago Giorgetti Chinellato, na disciplina de Geometria Espacial. Referido plano de aula propôs o estudo dos Poliedros de Platão com o auxílio de materiais manipuláveis e o software GeoGebra. A aplicação da atividade permitiu o pesquisador investigar o contato dos envolvidos com a atividade, bem como as reflexões sobre as vantagens e desvantagens da atividade frente à realidade vivenciada na prática ou estágio dos licenciandos.Palavras chave: Educação Matemática. Geometria Espacial. Ensino Médio. Livro Didático.

Abstract

This article aims to present a research carried out by a Mathematics pre-service teacher who works in the metallurgical area, as a coppersmith. The challenges faced in daily work routine rely strongly on mathematical concepts, a fact that allowed the researcher to realize how mathematical the-ory assists his work. Thus, we decided carry out a research related with theoretical and practical studies, using qualitative methodology. The researcher prepared an investigative activity through a lesson plan, which was applied in a 4th semester Mathematics pre-service teacher Education class at Faal. The professor of the Spatial Geometry classes was Ms. Tiago Giorgetti Chinellato. The lesson plan proposed an activity on GeoGebra about Platonic Solids. The activity`s development allowed the researcher to observe how FAAL`s pre-service Mathematics teachers used technolo-gical resources, as well as the advantages and disadvantages of the activity towards its practice.

Keywords: Mathematics Education. Spatial Geometry. High school. Textbook.

1 Aluno do Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Administração e Artes de Limeira-FAAL, Bolsista do Programa PICFAAL

2 Prof. MSc. do Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Administração e Artes de Limeira/Professor-Orientador no Programa PICFAAL

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1 INTRODUÇÃO

O interesse pelo estudo deste tema surgiu a partir das minhas3 rotinas de traba-lho em que a Matemática se faz presente. Durante a minha vida escolar, bem como nas oportunidades que tive de realizar alguns estágios, era comum ouvir os alunos questionarem o porquê de se estudar essa ou aquela matéria da disciplina de Mate-mática, pois, segundo eles, isso não teria qualquer utilidade na vida após o término do período escolar.

Após iniciar o curso de Licenciatura Plena em Matemática da Faculdade de Admi-nistração e Artes de Limeira – FAAL - comecei observar o quanto o aprendizado de algumas disciplinas contribuíam no desenvolvimento do meu trabalho, a Matemá-tica e especialmente a Geometria são essenciais, isto porque, em diversas ocasiões participo da fabricação de peças que sem a utilização de elementos geométricos, tais como: área, perímetro, ângulo, diâmetro, dentre outros, não seriam possíveis os resultados desejados.

Observei que as peças confeccionadas no meu serviço, fabricadas com chapas de carbono e materiais similares, possui a presença da Geometria nos mínimos detalhes, especialmente quando fabricamos as peças em formato cilíndricas, re-tangulares, circulares ou até mesmo peças especiais com base quadrada reduzin-do para uma boca circular.

Diante desta situação comecei a questionar: Os alunos estão sendo orientados quanto à importância do estudo da Matemática além da sala de aula? Pois se eles questionam o professor o porquê de se estudar este ou aquele conteúdo.

Assim, surgiu a ideia de estudar os Poliedros de Platão, eles são cinco no total: cubo, o tetraedro, octaedro, dodecaedro e o icosaedro, mas estudá-los não só com a análise bibliográfica do tema, meu objetivo foi estudá-los de forma que pudesse realizar uma pesquisa qualitativa, e desenvolver uma atividade investigativa na qual estudaríamos esse material concretamente.

Confeccionei o cubo, o tetraedro, octaedro, dodecaedro e o icosaedro, a partir de chapas inoxidáveis, com os recursos provenientes da minha profissão. Com isso pude estudar melhor cada um deles, entendendo suas relações, compreendendo como cada um é formado. Eles também foram utilizados posteriormente na aplicação da atividade investigativa principalmente com a finalidade do estudo da área e volume.

Os materiais manipuláveis utilizados na aplicação da atividade foram: os Polie-dros confeccionados com chapas de inox, bem como os confeccionados com papel 3 Em pesquisas qualitativas é comum realizar textos em primeira pessoa, uma vez que a subjetividade do

pesquisador se faz presente na produção e análise dos dados. Ressalto ainda que mesmo estando em primeira pessoa todas as etapas desta pesquisa foram desenvolvidas, acompanhadas e revisadas em conjunto com o segundo autor desse artigo, que orientou todo esse processo.

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cartão, tesoura, grampeador, régua, caneta, sendo que estes últimos foram criados pelos participantes durante a aplicação da atividade. Esse processo de criação permi-tiu a interação do participante durante a aplicação da atividade, e também possibili-tou a percepção sobre o tema estudado.

O uso da tecnologia na aplicação da atividade surgiu como ideia, pois existem softwares matemáticos que auxiliam no aprendizado da Matemática. O software Ge-oGebra, utilizado na pesquisa, é disponibilizado para download diretamente em seu site4 e possibilita que se construa os Poliedros de Platão no ambiente virtual do sof-tware, além de permitir a interação do usuário quanto ao visual possibilitando tam-bém a realização dos cálculos da área e do volume o que, a meu ver dá um sentido mais concreto e facilita o estudo durante a aplicação da aula.

Atualmente, as atividades propostas nos livros didáticos analisados (Coleção para o Ensino Médio Dante – e Coleção de Apostilas do Método Objetivo) se limitam em aplicar a relação de Euler, e ensinar os alunos a identificar, quantidades de vértices e arestas, tudo abstratamente.

Assim, a proposta da atividade é inovadora no sentido de se estudar os Poliedros de Platão com a utilização dos materiais manipuláveis e da tecnologia – especial-mente o software GeoGebra.

Um dos objetivos de se aplicar esta atividade para os alunos do curso Licenciatura Plena em Matemática é que diversas escolas possam ser alcançadas. Se os participan-tes da atividade também visualizarem a potencialidade da utilização de materiais para o ensino de conteúdos matemáticos, mais precisamente quando se trabalha com os poliedros o que se espera é que eles também aplicarão esse modelo de ativi-dade junto aos seus alunos.

2 DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE INVESTIGATIVA

O primeiro passo no desenvolvimento da pesquisa foi a criação dos cinco Poliedros de Platão com chapas de inox, tendo por finalidade de conhecê-los melhor e entender como cada um é formado.

Foram utilizadas chapas de aço inoxidável, para a confecção dos cinco Poliedros de Platão. Para se determinar as medidas dos cortes para a confecção das peças, fo-ram utilizados os conceitos matemáticos apoiados nos conhecimentos adquiridos durante o curso de Matemática. Foi ainda utilizado o software GeoGebra, com o qual pude planificar cada um dos Poliedros, o que me ajudou realizar a correta montagem de cada face do Poliedro.

4 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4sTRgOPoqdk>. Acesso em junho. 2015.

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O primeiro Poliedro platônico desenvolvido foi o icosaedro:

Figura 1: Icosaedro, desenvolvido por Wellington Rodrigues de Aguiar.

Fonte: Arquivo Próprio.

Figura 2: Icosaedro

Fonte: Construção Própria. GeoGebra.

Para construção do Poliedro platônico icosaedro gastou-se 3 (três) horas destina-das para os cortes de 20 (vinte) triângulos equiláteros de chapas inoxidáveis cada um com as arestas de 8 cm, sendo necessária a utilização da , para se obter a área total do iosaedro, e para a obtenção do volume utilizá-se a;

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O segundo Poliedro platônico desenvolvido foi o dodecaedro:

Figura 3: Dodecaedro, desenvolvido por Wellington Rodrigues de Aguiar.

Fonte: Arquivo Próprio.

Figura 4: Dodecaedro

Fonte: Construção Própria. GeoGebra.

Para construção do dodecaedro foram destinadas 3 (três) horas para o corte de 12 (doze) faces pentagonais de chapa inoxidável, cuja as arestas ;

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O terceiro Poliedro platônico desenvolvido foi o Tetraedro.

Figura 5: Tetraedro, desenvolvido por Wellington Rodrigues de Aguiar.

Fonte: Arquivo próprio.

Figura 6: Tetraedro

Fonte: Construção Própria. GeoGebra.

Para construção do tetraedro foram destinadas 2 (duas) horas para o corte de 4 (quatro) triângulos equiláteros de chapa inoxidável, com arestas de 13 cm.

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O quatro Poliedro platônico desenvolvido foi o Octaedro.

Figura 7: Octaedro, desenvolvido por Wellington Rodrigues de Aguiar.

Fonte: Arquivo Próprio.

Figura 8: Octaedro

Fonte: Construção Própria. GeoGebra.

Para construção do octaedro foram destinadas 3 (três) horas para o corte de 8 (oito) triângulos equiláteros de chapa inoxidável, com arestas de 9,5 cm.

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E por fim o Hexaedro ou Cubo

Figura 9: Hexaedro ou Cubo, desenvolvido por Wellington Rodrigues de Aguiar.

Fonte: Arquivo próprio.

Figura 10: Hexaedro ou Cubo

Fonte: Construção Própria. GeoGebra.

Para construção do octaedro foram destinadas 2 (duas) horas para o corte de 6 (seis) quadrados de chapa inoxidável, com aresta de 12 cm. Para se calcular;

O segundo passo da pesquisa foi desenvolver os Poliedros de Platão a partir do GeoGebra. O software possui várias ferramentas que torna dinâmica as figuras cria-das, é possível interagir com o software, pode-se movimentar as figuras, planificar, reduzir e aumentar e animar.

A atividade investigativa foi desenvolvida com um plano de aula composta inclu-sive de um questionário, por meio do qual se coletou os dados para análise da apli-cação da atividade. A elaboração da atividade se deu durante a realização do Projeto de Iniciação Científica da Faculdade de Administração e Artes de Limeira – PicFAAL, com o auxílio do Professor orientador.

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E foi aplicada junto a turma do Curso de Licenciatura Plena em Matemática da FAAL durante as aulas do Professor Ms. Tiago Giorgetti Chinellato, da disciplina de Geometria Espacial, referido professor cedeu dois dias de suas aulas para aplicação da atividade desenvolvida, haja vista que em um único dia não foi suficiente para aplicação de toda a atividade.

Houve a participação de 18 alunos do curso de Licenciatura Plena em Matemáti-ca, mais a participação do Professor Ms. Tiago e Professor Ms. Nilton (orientador), no primeiro dia da atividade, no segundo dia houve a participação de apenas 15 alu-nos, assim o questionário aplicado no segundo dia foi respondido apenas por estes. A turma foi dividida em 5 grupos, conforme demostrado na tabela abaixo:

Grupo Participante

Grupo 1: IcosaedroRonaldoMarianaRicardo

Grupo 2: DodecaedroSueliBrunoPaula

Grupo 3: Octaedro

DanielAnaFábio

Grupo 4: TetraedroInajaraHenrique

JoséKátiaLeandroVanessa

Grupo 5: CuboRicardoNaiaraWillian

Essa tabela apresenta nomes fictícios para manter o sigilo dos envolvidos, de modo a não considerar distinção de genero. Cada grupo trabalhou com um Polie-dro, a atividade investigativa contou com a fase em que os participantes desvenda-ram os sólidos confeccionados com chapa inox, momento em que puderam contar as faces, os vertices, as arestas. Num segundo momento confeccionaram os seus pró-prios Poliedros com o uso de papel cartão, e numa fase seguinte puderam calcular o volume de cada Poliedro e assim foi possível comprovar se o volume encontrado com o uso das fórmulas foi o mesmo obtido ao encher os Poliedros confeccionados com as chapas de inox.

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A atividade conforme mencionada também explorou o uso da tecnologia, espe-cificamente o software GeoGebra. Os participantes da atividade puderam criar os Poliedros no ambiente virtual, com os recursos que o software apresenta é possível escolher as medidas dos sólidos e perceber a alteração de cada dado que o compõe, eles são projetados de forma planificada, bem como é possivel optar pelas anima-ções em que se percebe o encaixe e fechamento de todos os lados do Poliedro.

Essa pesquisa tem um viés qualitativo, na medida em que se preocupa com as particularidades vivenciadas a partir da aplicação da atividade elaborada (GOL-DENBERG, 2004), buscando entender a maneira como ocorreu o desenvolvimento da atividade por esse grupo de alunos licenciandos em matemática. Ao fim desta etapa, os participantes foram convidados a responder a um questionário individualmente.

3 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS COM O USO DO QUESTIONÁRIO

Para analisar os dados obtidos das entrevistas, foram realizadas categorias de co-dificação (BOGDAN, BIKLEN, 1994), de modo a criar discussões em torno de catego-rias comuns emergentes em falas de distintos participantes. Nesse artigo são reali-zadas discussões por meio de um recorte das respostas em cinco tópicos. São eles:

1. Você teve alguma dificuldade nos passos da atividade? Quais dos passos? Tem alguma sugestão de melhoria? Qual?

Oito participantes responderam que sentiram dificuldade principalmente ao ana-lisar os dados dos Poliedros com os dados gerados pelo GeoGebra, especialmente quanto a medida das aresta. Todavia, os 8 participantes disseram que após as minhas explicações a atividade foi concluída com facilidade.

Os outros 7 participantes responderam não terem encontrado dificuldade nos passos da tarefa, quanto a sugestões de melhoria responderam não haver, pois gos-taram do desenvolvimento da atividade bem como da didática aplicada.

Com relação as dificuldades de responder uma atividade que relaciona o número de vértices, faces e arestas, destaca-se as respostas de 2 alunos, a saber:

Bruno: “ter em mãos algo para marcar as faces e os vértices”.Ronaldo: ”dar a dica de pintar com caneta hidrográfica os pontos já contados”Por meio dessas respostas, notei que ter os sólidos construídos em inox facilitou a

contagem e o entendimento dos vértices, arestas e faces dos poliedros investigados, uma vez que os alunos foram marcando os vértices para contar, bem como enume-raram as faces, fator que representou de maneira distinta os poliedros se comparado as figuras estáticas de um livro marcadas por retas e linhas tracejadas.

2. O que achou do processo de construção por meio do material manipulativo? Em sua opinião, o estudo da planificação desses poliedros é viável no ambiente escolar? Por quê?

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Várias discussões emergiram sobre o uso de materiais manipulativos em sala de aula e a viabilidade das mesmas no dia-a-dia das escolas. Destaca-se algumas respos-tas dos alunos em particular sobre a atividade proposta, são elas:

Willian: “acredito que deve ser utilizado no ambiente escolar sim, pois facilita o entendimento de conceitos como aresta, vértice, face, volume, área, formas geomé-tricas, de uma forma mais leve e agradável”.

Daniel: “é produtivo no ambiente escolar, porque é uma maneira diferente de se trabalhar com os alunos transformando a aula mais interessante e o entendimento do aluno muito melhor”.

Naiara, disse que é muito produtivo no ambiente escolar e ainda sugeriu: “poderia até fazer o processo desde o início, colocando os alunos para fazer o recorte mesmo”.

Em resposta a esta questão todos os participantes disseram ter sido ótima a aula com a utilização do material manipulativo. Quanto a inclusão dessa atividade no am-biente escolar as respostas também foram positivas, no sentido de que esse modelo auxilia o aprendizado do aluno, conforme acima exposto. Nota-se ainda que mesmo enfrentando a barreira do tempo em sala de aula, Naiara chega a propor a construção dos alunos passo a passo a partir do recorte das figuras planificadas.

3. O compartilhamento dos dados com os outros grupos, durante o desenvol-vimento das atividades, é válido em sua opinião? Por quê?

A resposta foi unânime os 15 participantes responderam ser válido o comparti-lhamento de dados, e a justificativa foi no sentido de que o compartilhamento entre os grupos é uma troca de experiências e conhecimentos que cada indivíduo possui uma visão diferente sobre o que se está aprendendo.

Leandro: “Sim, porque são nesses momentos que podemos trocar experiências. Muitos de nossos colegas já estão lecionando e desta forma possuem conhecimento do conteúdo bem como do tempo necessário para se aplicar as atividades. Se dá para ser trabalhado, em que série/ano...”.

Essa fala destacada evidencia a troca de experiência entre um aluno que não iniciou sua carreira em sala de aula, tendo como preocupação o tempo deman-dado para se trabalhar essa atividade. Notei ainda, que todos aprenderam em sala de aula por meio da troca de experiências, de modo que mesmo os mais “novatos” acabavam por ensinar diferentes técnicas aos mais “experientes” ao ex-plicarem a maneira que conduziram seus raciocínios. Por isso julgo importante a troca de experiência entre grupos.

4. O que você achou da experiência ser realizada com o software? Você já havia trabalhado esse conteúdo relacionando-o com o GeoGebra? Qual é a diferença, na sua visão, da utilização do software quando comparado com outros métodos?

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Todos os 15 participantes gostaram da experiência de se trabalhar com o GeoGe-bra, no entanto, só haviam trabalhado com o GeoGebra durante algumas disciplinas do curso de Licenciatura Plena em Matemática.

Com relação a diferença da utilização do softwares e outros métodos de ensino o Willian respondeu: “tudo que foge do ensino tradicional é válido pois desperta maior interesse, curiosidade e maior aprendizado”.

Naiara contribuiu dizendo: “os softwares estão presentes em tudo hoje em dia é de enorme ajuda com demonstrações em sala”.

Há uma tendência no ensino de se trabalhar com tecnologias, a Naiara visualizou o panorama atual de forma que realmente contribui para a aprendizagem dos alu-nos, pois a literatura a respeito diz que os recursos tecnológicos tem o potencial de atrair mais a atenção dos alunos e assim permitir que estes estejam mais motivados. Moran (2005) comenta que a tecnologia pode facilitar a motivação dos alunos pois com internet, por exemplo, se tem inúmeras possibilidades sendo uma novidade, além de proporcionar vasto campo para pesquisas.

5. Qual a sua opinião sobre a atividade? Você aplicaria essa atividade em sua sala de aula? Por quê? Você realizaria algumas adaptações? Quais?

Realizei essas perguntas para buscar melhorias da atividade e entender como os alunos julgaram a mesma. A resposta do Willian resume bem a opinião da turma quanto aos motivos para se aplicar esta atividade em sala de aula, “Sim, eu aplicaria, porque faz o aluno entender melhor os desenhos geométricos ao seu redor”.

Nesse mesmo sentido de melhorar o entendimento, Kátia relata que “com certeza eu aplicaria a atividade, pois ajuda o aluno a calcular área, volume com mais clareza, o software e os poliedros manipuláveis enriquecem muito a aula”. Essa fala remete a importância de trabalhar cálculos de área e volume, que são deixados de lado na maior parte dos livros didáticos ao abordarem esse tópico, além de realçar a ideia de que a verificação dos valores das contas por meio da comprovação por meio do material de inox e no software enriquecem a aula.

Os 18 participantes responderam que a atividade foi muito produtiva e que apli-cariam sim a atividade, pela visão prática que ela pode proporcionar ao aluno. E a maioria respondeu que no momento não realizaria qualquer adaptação, somente a Mariana propôs: “talvez usaria o celular dos alunos se fosse permitido na escola e também criaria grupos para fazer uma competição entre eles visando as descobertas e reflexões de conteúdos anteriores presentes no contexto”.

Tal adaptação pode ensejar uma nova pesquisa. O que também ressalta a impor-tância da atividade investigativa aplicada uma vez que esta gerou nos participantes ideias inovadoras para os estudos dos Poliedros de Platão.

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4 CONSIDERAÇõES fINAIS

A proposta foi criar uma atividade investigativa do tema, partindo-se de tendên-cias atuais de ensino, para integrar às aulas o estudo com materiais manipuláveis, e também a utilização dos recursos tecnológicos.

A atividade investigativa é uma tendência de metodologia de ensino, estando inclusive apontada como objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e das Orientações curriculares.

Ao analisar alguns livros didáticos para se investigar como o conteúdo esta sendo ensinado nas escolas públicas, o pesquisador percebeu que os Poliedros são estuda-dos apenas de forma estática, com no máximo a planificação das figuras.

Contudo, acredito que o aluno deve interagir com o conteúdo podendo inclusive desenvolver técnicas próprias para resolução de problemas, e que as atividades de-senvolvidas com os alunos devem apresentar situações problemas do seu cotidiano.

Após a realização desta pesquisa pude entender que deve haver sim a integra-ção do estudo da teoria com a aplicação prática dos conteúdos estudados e que uma opção para essa integração é a utilização de materiais manipulativos, pois a mera conjectura que me levou a inquietação no início da pesquisa foi confirmada com a realização desta. Durante a aplicação da aula um dos participantes relatou acreditar que quando se trabalha com material manipulativo o aluno compreen-de melhor o conteúdo ensinado, do que se comparado apenas ao ensino com mera aplicação de formulas matemáticas, e se o aluno trabalha com o manipula-tivo o ganho é atual e também futuro, pois se questionado futuramente o parti-cipante acredita que o aluno lembrará.

Por outro lado, a tecnologia está presente no dia a dia dos estudantes bem como de toda a sociedade, e como a tendência de ensino é aproximar o aluno ao seu coti-diano a tecnologia também deve se fazer presente, assim a atividade trouxe o estudo com o software GeoGebra.

Na pesquisa o recurso tecnológico utilizado foi o software GeoGebra, isto porque é um software que permite o estudos dos Poliedros de Platão, é gratuito o que facilita o acesso dos alunos, e a visualização que o software proporciona vai além da visuali-zação que se tem do Poliedro manipulável.

O uso dos materiais manipuláveis na minha visão apresentam resultados po-sitivos uma vez que os alunos desenvolvem uma melhor percepção geométrica proporcionada pelo contato direto com o material. O ponto de maior importân-cia é o aluno associar o material manipulável ao cotidiano. Tal percepção é adqui-rida a partir do momento que passa a relacionar a teoria com a prática, inclusive acrescentando experimentos.

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Também sou a favor do uso da tecnologia como recurso para o estudo da Ma-temática, No que se refere a disposição dos alunos do curso de Licenciatura Plena em Matemática o que se pode perceber é que todos interagiram com as atividades propostas, se mostrando interessados em realizar esse modelo de aula com os seus futuros alunos, reconhecendo inclusive as vantagens dos métodos empregados.

5 REfERÊNCIAS BIBLIOGRÁfICAS

BARROSO, J. M. (Ed.). Conexões com a Matemática. São Paulo: Moderna, 2010. 440 p.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto, 1994

GOLDENBERG, M. A arte de Pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004 p. 27.

MORAN, J. M. Atividades & Experiências: As múltiplas formas do aprender, p. 11-13. São Paulo: 2005.

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O ATENDIMENTO LOGÍSTICO E A SATISFAÇÃO DO CLIENTE

CALL LOGISTICS AND CUSTOMER SATISFACTION

Josélia Nogueira Vaz1 Adriana Pessatte Azzolino2

Resumo

Com as exigências e os concorrentes que existem no mercado, as empresas estão sendo obrigadas, cada vez mais, ter gerenciamento estratégico em todos os processos ao longo da cadeia de suprimentos. Um ponto que se destaca em uma empresa é o impacto da logística na satisfação do cliente, pois é através de um bom atendimento nesta área, em regime de parceria, que a empresa consegue entregar o que o cliente deseja, no momento certo, com o menor custo. Para a elaboração deste artigo foi feito o estudo de caso e revisão bibliográfica. O objetivo deste artigo foi destacar o a importância do atendimento logístico.

Palavras-chave: Logística. Atendimento ao cliente, Custos.

Abstract

With the demands and competitors that exist in the market, companies are being forced to incre-asingly have strategic management in all processes to immediately supply chain. One point that stands out in a company is the impact of logistics on customer satisfaction, it is through a good service, creating partnerships that the company can deliver what the customer wants at the right time , at the lowest cost . For the preparation of this article was made the case study and literature review . The purpose of this article was to highlight the importance of logistics service.

Keywords: Logistics. Customer service, Costs.

1 Aluna do Programa de Pós Graduação Latu Sensu/MBA em Gestão Empresarial da Faculdade de Administração e Artes de Limeira-FAAL

2 Profa. Dra. ( orientadora) no Programa de Pós Graduação Lato Sensu/MBA em Gestão Empresarial da Faculdade de Administração e Artes de Limeira-FAAL

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem o objetivo de mostrar o impacto do atendimento logístico na sa-tisfação do cliente. Afinal, para a empresa se manter competitiva no mercado, se faz necessário desenvolver atendimentos logísticos específicos para os clientes, enten-der quais são suas necessidades. Com a concorrência cada vez mais acirrada, fidelizar os clientes é uma necessidade nos dias atuais. Desta forma, com a grande oferta de produtos, um dos meios para a fidelização dos clientes é por meio do atendimento logístico, sendo um diferencial para a empresa.

Este artigo traz um estudo de caso e a solução, na medida do possível, de alguns problemas, apresentados no dia a dia da atividade empresarial no tocante à logística.

1.1 A Caracterização do ambiente de pesquisa

A empresa objeto deste estudo foi fundada em 1967 pelo Sr. João, para atuar no ramo de instalações elétricas e após nove anos começa a atuar na montagem de painéis elétricos na cidade de Limeira/SP.

Em 1986 os filhos se unem ao Sr. João trazendo novas ideias. Com origens na tra-dição familiar e com 100% de capital nacional, tornou-se uma das principais empre-sas de distribuição de materiais elétricos, EPI’s, automação e serviços do país.

A primeira unidade de negócios foi a Service, especializada em reparos em au-tomação, que nasceu em 1997. Dois anos após surge a Supply, unidade criada para comercializar materiais elétricos.

Em 1998 inaugura-se, na cidade de Bauru interior de SP, a primeira extensão, seguida por Ribeirão Preto. Ao longo dos anos e com o crescimento do mercado, outras unidades foram surgindo:- Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.

Em 2007 associou-se a multinacional francesa, considerada a maior distribuidora do segmento no mundo. Com isso, potencializou a infraestrutura existente, aperfei-çoou o corpo técnico e comercial para garantir a satisfação do cliente.

Atualmente, no Brasil, é a empresa mais rentável desse grupo. Os programas e customizações realizados por sua equipe de TI estão sendo utilizados como exemplo para as demais empresas do grupo.

A empresa tem como seus principais fornecedores a Siemens, Schneider, ABB, Philips, Osram, Weg, Kanaflex, Nexans, Carbinox, MSA, Tramontina, entre outros do ramo de EPI’s, material elétrico e automação.

Seus principais clientes são: Ericsson, Gerdau, Saint Gobain, Kimberly, Alston, Gru-po JBS, Lojas Renner, entre outros.

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1.2 Problema

Existe uma questão a ser resolvida: a empresa possui um contrato de forne-cimento com uma empresa de telecomunicação para fornecimento de materiais diversos e específicos, mas esse contrato de fornecimento esta sendo compro-metido por problemas logísticos, como:

•Falta ou sobra de materiais;•Problemas com embalagens avariadas na entrega, ficando assim inade-

quadas para a movimentação interna na empresa de telecomunicação;•Caixas de diversos tamanhos para o mesmo item;•Produto em desacordo com o pedido de compra;•Problemas com os códigos informados: código empresa x código cliente•Etiqueta não atende a necessidade do cliente;•Atrasos nas entregas, devido a falta de janela de recebimento, gerando

com isso taxas (TDE) de dificuldade de entrega.•Custos com devoluções devido aos problemas.•Com todos esses problemas a empresa de material elétrico estava corren-

do o risco de ser multada ou ter o contrato de fornecimento cancelado, caso a linha de produção da empresa de telecomunicação parasse.

1.3 Objetivo(s)

Objetivo Geral: Redução dos problemas causados no fornecimento de materiais através de um processo de qualificação e de desenvolvimento dos fornecedores, pro-pondo um plano de ação para corrigir os erros logísticos e verificar a melhor forma de transporte para atender as necessidades do cliente, garantindo, assim, o contrato de fornecimento.

Objetivos Específicos:

•Realizar um levantamento bibliográfico sobre atendimento logístico e sa-tisfação do cliente;

•Rever os processos internos da área de compras, suprimentos e logística;•Criar juntamente com a equipe de T.I. Uma etiqueta que atenda a necessi-

dade do cliente;•Fazer uma proposta de plano de ação corretivo para a diretoria.

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1.4 Justificativa

A satisfação total do cliente esta ligada diretamente ao bom atendimento logístico

e suas implicações, portanto, o sucesso de uma negociação não esta apenas ligada

com o setor de vendas. Não adianta este setor conseguir excelentes negócios se o

atendimento logístico não atender os requisitos do cliente.

Atualmente os clientes estão cada vez mais exigentes, querem atendimento di-

ferenciado de acordo com suas necessidades. Não se trata simplesmente de vender

um produto e entregá-lo, como antigamente. Hoje, para se ter sucesso nos negócios,

é preciso, também, prestar um serviço logístico diferenciado. Portanto, é oportuno

explanar sobre alguns problemas que prejudica o bom atendimento, problemas que

estão relacionados diretamente ao atendimento logístico e que vêm causando im-

pactos negativos para o negócio.

1.5 Procedimentos Metodológicos

Para elaboração desse trabalho, será feito o levantamento bibliográfico sobre lo-

gística e satisfação do cliente.

Para Fachin (2006, p. 122) “Entende se por levantamento bibliográfico todas as

obras escritas, bem como a matéria constituída por dados primários ou secundários

que possam ser utilizados pelo pesquisador”.

Será feito o estudo de caso, no qual serão expostos os problemas enfrentados

pela empresa de equipamentos elétricos, buscando por meio do levantamento bi-

bliográfico as possíveis soluções.

Para Yin (2015, p.4): “O estudo de caso é um método de pesquisa comum na psi-

cologia, sociologia, ciência, política, antropologia, assistência social, administração,

educação e planejamento comunitário”.

Segundo Fachin (2006, p. 45) “Este método é caracterizado por ser um estudo

intensivo. No método do estudo de caso, leva-se em consideração, principalmente, a

compreensão como um todo, do assunto investigado”.

De acordo com Severino (2007, p. 121) “O caso escolhido para a pesquisa deve ser

significativo e bem representativo”. Para a escolha do caso, foi levando em conside-

ração os reflexos positivos que esse estudo causaria na empresa de equipamentos

elétricos e na satisfação e fidelização do cliente.

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2 REFERENCIAIS TEÓRICOS

2.1 Logística e o Supply Chain

Há varias definições para logística, mas no geral pode-se dizer que logística é o processo de gerenciamento estratégico de todas as atividades de uma empresa, des-de o desenvolvimento dos fornecedores até o produto acabado para seus clientes, com o menor custo possível.

Christopher (2009, p. 3) define logística como:O processo de gerenciamento estratégico da compra, do transporte e da armazenagem de matérias-primas, partes e produtos acabados (além dos fluxos de informação relacionados) por parte da organização e de seus canais de marketing, de tal modo que a lucratividade atual e futura seja maximizada mediante a entrega de encomendas com menor custo associado.

Para Ballou (2001, p.25) “a logística deve criar valor para seus fornecedores, clien-tes e acionistas da empresa, através da entrega do produto certo, na hora em que o cliente deseja”.

Para Bowersox (2007, p. 24), “o objetivo da logística é apoiar as necessidades ope-racionais de compras, produção e atendimento às expectativas do cliente”. E para Christopher (2009, p. 14) “a logística deve ser vista como o vínculo entre o mercado e a base de suprimentos”.

Com esse vínculo, é possível satisfazer as necessidades de seus clientes de ma-neira eficiente, pois a logística passa desde o gerenciamento da matéria-prima até o produto acabado entregue ao cliente. Conforme observa-se na figura 1:

Figura 1- Processo de gerenciamento logístico

Fonte: Christopher (2009, p. 15)

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2.2 Gerenciamento da cadeia de suprimentos

Para Bertaglia (2003, p.4), a cadeia de abastecimento é um conjunto de pro-cessos, ou seja,

A cadeia de abastecimento corresponde ao conjunto de processos requeridos para obter materiais, agregar-lhes valor de acordo com a concepção dos clientes e consumidores e disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os clientes e consumidores os desejarem.

Para Christopher (2009, p.16) “a cadeia de suprimentos é a rede de organizações envolvidas, por meio de vínculos a montante e a jusante, nos diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produtos e serviços destinados ao con-sumidor final”.

O autor afirma que a cadeia de suprimentos abrange desde os fornecedores dos fornecedores, passando pela empresa foco e chegando até o cliente final, ou seja, como o próprio nome já diz “cadeia”, pois envolve tudo dentro da produção de um bem ou serviço.

Para Bertaglia (2003, p.9) “uma boa administração da cadeia de abastecimento pode representar para a organização, uma vantagem competitiva em termo de servi-ço, redução de custos e velocidade de resposta ás necessidades do mercado”. Defen-de que nos dias atuais, para uma empresa se manter competitiva no mercado, é ne-cessário que sua cadeia de abastecimento tenha uma administração estratégica, pois existem várias forças que afetam a cadeia de abastecimento, como mostra figura 2:

Figura 2- Forças que afetam a cadeia de abastecimento

Fonte: Bertaglia (2003, p. 13)

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2.3 Embalagem para bens industriais

Para Friedman (1968, p. 38):

A administração de marketing continua a encarar a embalagem estritamente do ponto de vista de vendas. Engenheiros de embalagens, frequentemente subordinados a Compras ou manufatura, consideram a embalagem apenas dispositivo de proteção. Somente administrador de distribuição física pode observar a embalagem de forma ampla e, portanto, conceber alterações no projeto, dimensões, modo de transporte etc., que contribuam para a eficácia do sistema de distribuição.

Figura 3- Objetivos (anel externo) e interações da função de embalamento no sistema global de

distribuição da companhia.

Fonte: Friedman (1968, p. 38)

Conforme demonstra a figura 3, umas das funções da embalagem é arma-zenar e proteger o material durante o transporte ou outras movimentações que o material vá sofrer. Para isso é necessário à utilização de embalagem correta para cada tipo de material. A embalagem deve estar de acordo com o peso, dimensões e fragilidade do material.

Seguem alguns tipos de embalagens:

•Caixa de papelão – sua resistência varia de acordo com sua ondulação e paredes simples ou duplas. É uma das embalagens mais utilizadas na in-dústria e comércio.

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•Tambores – eles podem ser de plástico ou metal. Utilizado para transporte de líquidos em geral.

•Fardos•Recipientes plásticos

2.4 Frete Fracionado e Dedicado

Para os dias atuais o estoque é dinheiro parado, as compras estão sendo cada vez mais fracionadas, com isso é muito comum se falar em frete fracionado ou de um para muitos, ou seja, é aquele transporte que o veículo carrega diversos volumes para diversos clientes, com isso o frete é cobrado de acordo com o destino, peso, volume e valor do material.

Para Novaes (2007, p. 255) “a distribuição ‘de um para muitos’ é aquela em que o veículo é carregado no Centro de Distribuição do varejista com mercadorias desti-nadas a diversas lojas ou clientes e executa uma rota predeterminada”. No frete fra-cionado, muitas vezes não se consegue aproveitar todo espaço físico do veículo, por conta dos diversos tipos e endereços de entregas.

O prazo para entrega é mais longo e o material sofre diversas movimentações/ transferências durante o seu percurso até ser entregue em seu destino.

No frete dedicado ou de um para um, o veículo carrega em um único local/ cliente e entrega em um único local/ cliente. Esse tipo de frete é mais caro, pois é cobrado pelo veículo utilizado, independente do peso ou volume.

Para Novaes (2007, P. 255) a “distribuição de ‘um para um’, o veículo é totalmente carre-gado em um único depósito e transporta a carga para um outro ponto de destino”.

No frete dedicado tem-se melhor aproveitamento do espaço físico do veículo. O material não sofre transferências de um veículo para outro. O prazo para en-trega é mais curto, pois o veículo coleta em um ponto e vai direto para o ponto onde é o local de entrega.

3 ANÁLISE DA SITUAÇÃO E SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS

3.1 Empresa de Equipamentos Elétricos X Empresa de Telecomunição: um caso a ser relatado

A empresa de equipamentos elétricos possui um contrato de fornecimento de materiais com a empresa de telecomunicações, porém, há algum tempo passaram a ter alguns problemas com o fornecimento, tais como avarias nas embalagens, falta de material e atrasos nas entregas.

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As entregas eram realizadas por meio de frete fracionado, no qual as caixas sofriam diversas movimentações em transferências de um caminhão/ centro de distribuição para outro. O prazo para entrega era de 1 a 2 dias úteis, não contado o dia da coleta.

A transportadora cobrava uma taxa de valor consideravelmente alta de TDE (taxa de dificuldade de entrega), pela demora de até 6 horas para o recebimento de materiais.

A conferência física do material era muito demorado devido ao fato dos códigos de identificação da empresa de material elétrico ser diferente dos códigos da empre-sa de telecomunicação.

Outro motivo da demora era a conferencia física, pois era necessário que o rece-bedor separasse os materiais em quantidades diferentes das enviadas nas embala-gens impossibilitando fazer a identificação correta.

A embalagem fornecida pelo fornecedor mostrava-se inadequada para o tipo e peso do material, e como o material sofria diversas transferências de um caminhão para outro até chegar na empresa de telecomunicações, as embalagens acabavam se rompendo e ficando impossível o manuseio interno na empresa de telecomuni-cações. Devido a essas avarias, o cliente recusava os materiais, gerando custos extras com fretes de devolução e retrabalho.

Outro problema acusado pelo cliente era a falta de material nas embalagens, pois a conferencia no recebimento era por amostragem (10%).

Assim, decidiu-se inspecionar, durante 30 dias, o recebimento de material e com a conferencia de 100% dos materiais entregues. Foram recebidas 203 caixas do produ-to 364AE753, sendo que 18 caixas apresentaram faltas ou sobras, representando um erro de 9%/ mês, conforme mostra o gráfico 1.

Gráfico 1: Recebimento de materiais/ sobras e faltas

Fonte: Empresa de Equipamentos Elétricos

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No momento da separação e conferência dos itens, caixas que vinham lacradas do fornecedor não eram abertas para conferir a quantidade.

Todos esses problemas com entregas, avarias, faltas, atrasos, estavam impactan-do diretamente os índices e metas do sistema de gestão da qualidade da empresa de telecomunicação que indicava a performance de atendimento de seus fornecedores, conforme mostra o gráfico 2.

Gráfico 2: Performance - Quantidade de pedidos x problemas

Fonte: Empresa Telecomunicação

Diante de todos os problemas apresentados a empresa de equipamentos elétri-cos teve que tomar várias ações para não perder o contrato de fornecimento.

Para os problemas de embalagens fracas para o tipo de material, foi feito um tra-balho de compras juntamente com o fornecedor da empresa de materiais elétricos para melhorar a embalagem. Decidiu-se por padronizar a quantidade de materiais por caixa, por parte do fornecedor, e o mesmo garantiu que seria realizada a con-ferencia da quantidade de materiais, antes de enviar as caixas para a empresa de telecomunicação.

A conferência no recebimento de materiais por amostragem passou de 10 para 20% e caso fosse encontrado algum divergência todo o lote seria devolvido para o fornecedor.

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Foi desenvolvido em conjunto com a equipe de TI da empresa de materiais elé-tricos a etiqueta exigida pela empresa de telecomunicação. Esta passou a conter o número do item e código de barras, nome do produto, quantidade e código de bar-ras e o número do item da empresa de equipamentos elétricos. Essa etiqueta vem colada na extremidade superior da caixa para facilitar a visualização e armazenagem na empresa de telecomunicação.

A equipe logística foi orientada sobre a importância do bom atendimento para que o contrato fosse mantido e o bom nível de serviço garantido.

Na conferência dos itens na empresa de equipamentos elétricos, todas as caixas, independente de estarem lacradas pelo fornecedor ou não, são abertas e conferidas, garantindo, assim, que não haverá falta ou sobras.

Quando são despachadas diversas caixas do mesmo item, estas são identificadas, caixa a caixa, com as etiquetas desenvolvidas pela TI e depois as mesmas são mon-tadas/ empilhadas em paletes de madeira. Para proteção são colocadas cantoneiras, lacrados com filme stretch e por último passa-se a fita personalizada da empresa de equipamentos elétricos, garantindo o lacre.

As entregas que eram feitas por meio de frete fracionado com uma transportado-ra terceirizada, passou a ser feita por um veículo e motorista da empresa, com isso as caixas não sofrem as transferências de um caminhão/ centro de distribuição para outro, evitando as avarias por manuseio.

Outra dificuldade identificada era a demora no recebimento da empresa de te-lecomunicação. Então, decidiu-se que as entregas seriam realizadas de terça-feira e quinta-feira com um intervalo/janela de recebimento das 10 às 11 horas, onde o mo-torista da empresa de equipamentos elétricos teria que chegar às 10h e, a empresa de telecomunicação, teria até as 11horas para fazer o recebimento e liberar o veículo.

Para atender essa janela, a empresa de telecomunicação deveria enviar o pedido na terça-feira até às 18 horas para o material ser entregue na quinta-feira e enviar na sexta-feira para o pedido ser entregue na terça-feira.

E, finalmente, a empresa de equipamentos elétricos faria o faturamento dos pe-didos, enviando as notas fiscais por e-mail um dia antes das entregas, para que o lançamento fiscal (nota) pudesse ser adiantado.

Com estes acordos e novos procedimentos, o nível de serviço logístico da empre-sa de equipamentos elétricos foi considerado “excelente” pelo cliente (empresa de telecomunicação.), conforme mostra o gráfico 3:

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Gráfico 3: Performance - Quantidade de pedidos x problemas

Fonte: Empresa Telecomunicação

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Ballou (1993, p. 76) ”Uma visão mais moderna reconhece que a escolha do cliente é influenciada pelos vários níveis de serviços logísticos oferecidos”.

O mercado evolui constantemente e as empresas para se manterem competitivas precisam acompanhar essa evolução. As concorrências cada vez mais acirradas, com os consumidores finais cada vez mais exigentes, fazem com que as empresas bus-quem cada vez mais trabalhar de maneira eficiente. Para conseguirem manter seus clientes e gerar lucros.

Com base na análise dos dados apresentados, considera-se que a empresa de equipamentos elétricos conseguiu de forma eficiente e eficaz corrigir os erros e atender as solicitações de seu cliente. Garantindo um excelente atendimento logístico e se manter competitiva no mercado, e, acima de tudo, a satisfação e fidelidade do cliente.

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PROCESSOS GERENCIAIS E SEUS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

MANAGEMENT AND ITS IMPACTS ON THE ORGANIZATIONAL DEVELOPMENT PROCESSES

Nilson Marques1 Adriana Pessatte Azzolino2

RESUMO

A busca pela sobrevivência das empresas no Brasil tem levado os empresários e gestores de todos os setores a se inovarem cada vez mais num cenário altamente competitivo. Uma das formas de inovação tem sido a adoção de várias empresas a uma Gestão mais eficiente por Processo Gerencias com o objetivo de obter maior desempenho de suas organizações na busca por resultados mais vantajosos e com um foco mais assertivo nas necessidades dos clientes. Baseado em pesquisas e casos de sucessos referenciados por órgãos importantes, bem como literaturas que tratam deste tema, este artigo tem por objetivo justificar a impor-tância da implantação de gestão por processos e sua contribuição no desenvolvimento das organizações. O procedimento investigativo utilizado apresenta um caso real de uma empre-sa de médio porte e a adoção do modelo de gestão por processos.

Palavras-Chave: Organização, Processos, Gestão.

Abstract

The search for the survival of companies in Brazil has led business owners and managers from all sectors to increasingly innovate in a highly competitive scenario. One way of innovation has been the adoption of several companies more efficient management process for managers in order to obtain higher performance of their organizations in the search for more advantageous results and a more assertive focus on customer needs. Based on research and success stories referenced by major organs as well as literature dealing with this subject, this article aims to justify the importan-ce of implementation of process management and its contribution to the development of orga-nizations. The investigative procedure used has a real case of a medium-sized company and the adoption of the management model for processes.

Keywords: Organization, Processes, Management.

1 Aluno do Programa de Pós Graduação Lato Sensu/MBA em Gestão Empresarial da Faculdade de Administração e Artes de Limeira.

2 Profa Dra. (orientadora) do Programa de Pós Graduação/MBA em Gestão Empresarial da Faculdade de Administração e Artes de Limeira

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1 INTRODUçãO

É interessante pensar que no Brasil de duas décadas atrás havia produtos que

não expressavam a qualidade competitiva com o mundo moderno, mais interessan-

te ainda é que, atualmente, cada vez mais, as empresas se organizam com processos

que definem a qualidade de seus produtos ou serviços, a fim de participarem de

uma concorrência onde as organizações se obrigam a um posicionamento agressivo

dentro de um cenário completamente competitivo.

A saber, este tempo presente tem tudo a ver com a história de inovação do nosso

país, impulsionada por um momento político que marcou o início de abordagens a

temas relacionados à qualidade de produtos e serviços, assim como implantações de

processos de melhorias contínuas nas empresas nacionais, com o objetivo de serem

mais competitivas no mercado nacional e internacional, como relata a jornalista Mi-

chele Loreiro da revista Exame, em relação ao setor automobilístico no Brasil daquela

época. Em um artigo da revista Exame de 23 de março de 2013, a jornalista Michele

Loreiro registrou o seguinte:

Há pouco mais de 20 anos, uma frase dita pelo então presidente da República, Fernando Collor de Mello, marcou a indústria automotiva nacional. Durante uma viagem à Europa, depois de dirigir os carros do Velho Continente, Collor tascou: “Comparados com os carros do mundo desenvolvido, os carros brasileiros são verdadeiras carroças”. A frase de Collor deixou empresários do setor enfurecidos. Mas fazia muito sentido.

Este foi o momento marcante para Brasil onde a frase do ex-Presidente da Repú-

blica, Fernando Collor de Melo colocou a nossa nação em cheque quanto à quali-

dade dos nossos produtos, dando início a um novo conceito de produto e serviço,

atendendo ás exigências de um mercado internacional, em pleno processo de glo-

balização e cada vez mais competitivo.

Restam as perguntas: Qual o valor agregado às empresas que se moldaram a es-

tes novos padrões de qualidade? Para onde as remeteram os novos processos imple-

mentados? E, por que ainda há resistência ao modelo de gestão por processos pelas

empresas de pequeno e médio porte? Sabe-se, entretanto, que a falta de modelo de

gestão desta natureza tem sido um dos principais fatores que contribui para o não

desenvolvimento das empresas deste porte no país.

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2 REfERENCIAL TEóRICO

2.1 Gestão Por Processos

2.1.1 Definição

Gestão por Processos tem por objetivo o realinhamento das informações que compõem uma área destinada a um meio de produção, tendo como meta o ganho de produtividade alinhado ao resultado da excelência na entrega do produto ou serviço. Controles, métodos, indicadores de desempenho, medições de indicado-res seguidos de suas análises, entre outros elementos de medição no processo de qualidade, definem claramente a importância de uma gestão por processos em uma organização. Segundo Deming (apud Macieira, M. e Maranhão M, 2014, p.140) “não gerencia o que se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, não há sucesso no que não se gerencia”.

2.1.2 Resistências

Alguns motivos imperam na cultura empresarial. Existem aqueles que resistem à implantação da Gestão por Processos e seus efeitos no desenvolvimento de uma organização, diferenciando, assim, da visão dos empresários e gestores que se pre-ocupam com uma gestão mais moderna Para Macieira e Maranhão (2014) estas em-presas se enquadram em um ou mais dos tópicos abaixo relacionados:

•Mercado pouco competitivo e pouco exigente, sendo possível conviver com processos com baixa eficiência, especialmente quando há baixa ex-posição à competição internacional, no caso das economias fechadas;

•Paradigma da visão hierárquica e funcional da estrutura organizacional;•Ausência de visão estratégica do negócio;•Desconhecimento de quem são os clientes dos processos e das suas res-

pectivas necessidades;• Inexistência de uma cultura de processo, seja por desconhecimento, seja

por falta de convicção;•Processos monopolistas (tanto da iniciativa privada quando do serviço pú-

blico).( MACIEIRA, M e MARANHÃO, M, 2014, p.14) Todos os gestores precisam de um choque de realidade e se posicionarem em sua

função como geradores de resultados, bem como aprimorarem suas técnicas e uma visão mais sistêmica em todos os processos produtivos de uma organização. Afinal, “as pressões nas organizações geram dificuldades, mas também podem ser excelen-tes oportunidades para a gestão explorar”.( MACIEIRA, M e MARANHÃO, M 2014, p.3)

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2.2 GESTÃO POR PROCESSO, ESTE É O CAMINHO.

2.2.1 Falta de Processos e Qualidade gera “Causa Mortis”

As empresas estão adotando métodos, processos e estratégias mais eficientes para atrair e conquistar seus clientes e obterem mais lucros em mercados mais con-corridos e exigentes. Certamente, numa visão nada contemporânea, os especialistas em gestão já nos alertávamos o que haveria de vir. O consultor de empresas Philip Crosby, um dos pioneiros dos processos de melhoria de qualidade nos EUA, já dizia:

O século 21 oferecerá a maior chance já vista para o êxito planejado. Não será preciso descobrir petróleo, desenvolver o telefone ou a lâmpada elétrica para obter riqueza e influência. A única característica administrativa essencial será adquirir a capacidade de dirigir uma organização que oferece deliberadamente aos seus clientes exatamente o que esperavam receber e o faz com eficiência (CROSBY, 1995, p.3).

Os empresários de hoje jamais podem fugir da responsabilidade que é tão so-mente deles, serem competitivos. Afinal, adotar processos organizados passa a ser uma direção em tempos de globalização, onde as pessoas têm facilidades para bus-carem alternativas cada vez mais vantajosas.

Quando nos damos conta já inventaram um novo produto, e mais um pouco, já in-crementaram este mesmo produto, com vantagens que simplesmente nem foi perce-bido no processo inicial. E, não somente isso, estamos diante de um outro grande vilão, o concorrente, oferecendo um produto mais eficiente e com preço mais competitivo.

A falta de organização em diversos níveis certamente é a grande vilã no insucesso de empreendimentos mal sucedidos, o que aponta a pesquisa “Causa Mortis”, reali-zada pelo SEBRAE em 2013, que teve como principal objetivo conhecer o perfil dos empreendedores das empresas “jovens” (com cerca de cinco anos), bem como iden-tificar os fatores que contribuem para as chances de sucesso e sobrevivência dessas empresas do primeiro ao quinto ano de atividade, no estado de São Paulo. Esta pes-quisa aponta dados que intensifica a necessidade de uma Gestão por Resultados. Na sequência as bases da Pesquisa:

•Rastreamento (de abril/13 a nov/13) de uma amostra planejada de 2.800

empresas abertas nos anos de 2007 a 2011;

•Entrevistas efetivadas: foram realizadas 1.846 entrevistas com sócios pro-

prietários e ex-sócios proprietários;

• Identificar os fatores que contribuem para as chances de sucesso (sobrevi-

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vência) das empresas, do primeiro ao quinto ano de atividade, no estado

de São Paulo;

•Conhecer o perfil dos empreendedores e das empresas “jovens” (de um a

cinco anos) do estado de São Paulo.

•Os principais resultados estão relacionados à Gestão Empresarial e Com-

portamento do Empreendedor.

•As três principais causas de mortalidade de empresas são: 1) planejamen-

to prévio; 2) gestão empresarial e 3) comportamento empreendedor;

•As empresas que costumam, com frequência, aperfeiçoar produtos e ser-

viços, estar atualizadas com respeito às tecnologias do setor, inovar em

processos e procedimentos e investir em capacitação, tendem a sobrevi-

ver mais no mercado;

•Se antecipar aos fatos, buscar intensamente informações e persistir

nos objetivos são comportamentos que distinguem os empreende-

dores de sucesso.

Figura 01 – Pesquisa Sebrae – Inovar em Processo

Fonte: Sebrae-SP. Adaptado pelo aluno (2016)

É importante se organizar e desenvolver tarefas de forma a facilitar a constru-

ção dos novos produtos ou serviços, desta forma a pesquisa acima aponta que 55%

das empresas de sucesso foram as que investiram em processos e permanecem ati-

vas e 45% estão desativadas, ou seja, formam empresas, que entre outros pontos da

pesquisa, não se preocuparam em se organizarem com um modelo de gestão atual.

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2.2.2 Caso Dimetal: processos gerando benefícios

Inspirado por inovações tecnológicas e indústria de transformação, um jovem

empreendedor no ano de1992 dá início aos seus primeiros projetos tecnológicos na

criação de ferramentas, atendendo aos pedidos de diversos clientes da indústria local.

No início do ano de 1997, é constituída na cidade de Limeira SP, com sede pró-

pria, a Empresa Dimetal Indústria de Artefatos de Metal. Mais equipada, com tec-

nologia de ponta, a Dimetal amplia seus atendimentos a mercados mais promis-

sores e de inovação. O sonho não parou por aí, após longa pesquisa de produtos

percebeu mais um nicho de mercado e desenvolveu um centro tecnológico para

fabricação de chaves e produtos relacionados ao setor de ferragens, tendo como

premissa, apresentar aos profissionais do setor o mais perfeito produto com toda

qualidade que pudesse ser percebida.

Voltada a grandes avanços tecnológicos, a DIMETAL projeta seu crescimento para

o futuro, com vistas à construção da sua nova fábrica, agora mais ampla e moderna,

a fim de ampliar o atendimento dos seus clientes, oferecendo-lhes novos produtos e

melhorando seu posicionamento neste mercado tão competitivo.

Para HALL (2004, p.04) “temos organizações para realizar tarefas que indivíduos

não podem desempenhar sozinhos”. Assim, baseado em Hall e nos resultados da pes-

quisa SEBRAE a DIMETAL considerou os benefícios da implantação de tais conceitos

no seu processo para a busca de melhorias internas.

Toda empresa visionária se preocupa em traçar um plano de melhoria e im-

plantação de um modelo de gestão por processos, estabelece premissas que

apontam o sucesso numa visão mais sistêmica de suas operações. Com a DIME-

TAL não foi diferente, percebendo a necessidade de melhoria nos processos de

qualidade e industrialização de seus produtos, adotou novos conceitos e incre-

mentou métodos e processos mais atuais para alavancar uma nova etapa de cres-

cimento na organização. Desta forma, ao perceber que passa por um processo de

transição dentro de um novo cenário, optou por se organizar melhor e investiu

na Gestão por Processos, dando início a um novo ciclo de desenvolvimento na

empresa. Conforme afirma Falconi (1994, p.17):

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•Para arrumar a casa, concentre sua mente e suas ações no seguinte:

• Implante o 5S;

•Elimine as anomalias;

•Padronize todo o trabalho repetitivo, crítico ou prioritário;

•Organize seu gerenciamento, estabelecendo alguns itens de controle e

inicie a prática do PDCA.

2.2.3 Organograma - Quem faz o que faz.

A criação e adoção de um organograma funcional para a empresa vêm nortear a

implantação dos processos gerenciais. Esta foi uma das primeiras ações tomadas na

empresa no sentido de iniciar a nova fase de implantação dos processos em sua or-

ganização. Crosby (1995, p.02) aponta para a importância da definição dos objetivos

e a descrição das funções específicas que cada um vai desempenhar na organização.

A importância desta etapa tem como finalidade esclarecer as funções de cada indiví-

duo na organização, bem como direcioná-los às responsabilidades confiadas à cada

cargo ocupado. Antes, na empresa, as funções não estavam claras, sendo os assun-

tos, em geral, centralizados no proprietário, gerando perda de tempo e causando

impacto negativo de forma direta na gestão administrativa da empresa.

Foi necessário, a princípio, a elaboração do organograma, que tornou claro a divi-

são das tarefas e o grau de responsabilidade por função. É certo que uma organiza-

ção hierárquica pode e deve mudar por algumas razões, como aponta o especialista

na Gestão de Qualidade Vicente Falconi Campos (1994, p.6):

1. Pelas modificações do mercado;

2. Pelo crescimento dos seus empregados através da educação e treinamento;

3. Pela influência da tecnologia da informação;

4. Pelas mudanças tecnológicas;

5. Pela influência da cultura local;

6. Pela influência das pessoas,

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Figura 02 – Organograma Funcional

Fonte: O autor (2016)

Em relação à abordagem funcional sugerida pelo organograma inicialmente im-plantado, cabe registrar algumas preocupações quanto à necessidade de ter cada vez mais foco no cliente, com ênfase em abordagens aos temas relacionados ao de-senvolvimento dos líderes e seus liderados, no que diz respeito aos assuntos voltados a comunicação, fluxo das tarefas ou processos com eficiência, agilidade de operação e principalmente a integração dos processos.

Torna-se importante levar a equipe a pensar na necessidade de uma relação com o cliente, onde todos os processos executados têm como principal objetivo a plena satisfação do cliente, seja ele interno ou externo, tendo assim um melhor desempenho nesta relação.

Quando entendemos o conceito “efeito silo” ou “efeito chaminé”, que explica o quanto a comunicação fica restrita às “paredes” e não há uma evolução transversal

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necessária para o entendimento de todos, temos a chance de elevar o nível de comu-nicação na organização, evitando, assim, os possíveis defeitos de um organograma funcional verticalizado, o que permite transmitir para a equipe uma visão mais trans-versal, que promove a prioridade no atendimento ao cliente. Como efeito, temos uma visão melhor em pontos de interesses e motivação das pessoas no interesse do cliente, mediante a oferta de produto ou serviço para solucionar suas necessidades e, sustentação do cliente, do ponto de vista não somente dos gestores, mas também dos colaboradores dos processos.

A combinação de tais defeitos (inadequação para uso) da estrutura funcional das organizações gera um defeito maior para a gestão, conhecido como “efeito silo” ou “efeito chaminé”. Na operação de silo, os materiais entram por cima, ficam confinados pelas paredes na sua viagem pelo interior do silo e somente “reaparecem” quando chegam na comporta de saída, embaixo. Similarmente, nas chaminés os gases e matérias arrastados viajam para cima, também confinados pelas paredes, sendo liberados para a atmosfera (para o infortuno da qualidade de vida!), apenas, na “boca” de saída da chaminé. Em ambos os casos, a troca de energia lateral é mínima. Essa forma de gestão implica fortes danos para a comunicação transversal, indispensável em qualquer organização. (MACIEIRA e MARANHÃO, 2014.p.37).

Sendo assim, podemos entender a importância de modificar um cronograma funcional para uma versão mais transversal, considerando os valores hierárquicos de uma organização, bem como os interesses dos clientes, onde cabe sempre uma boa negociação das ações, entre as partes hierárquica e funcional, para que não se rompa as regras estabelecidas e melhore, cada vez mais, a linha de comunicação no ambiente organizacional.

3 METODOLOGIA

A metodologia adotada foi partir para uma revisão bibliográfica sobre o tema

parametrizando com um estudo de caso. Segundo Fachin (2006, p. 120), “enten-

de-se que a pesquisa bibliográfica, em termos genéricos, é um conjunto de co-

nhecimentos reunidos em obras de toda natureza. Tem como finalidade conduzir

o leitor ao assunto”.

O desdobramento do tema abordado teve como proposta ressaltar a importân-

cia da adoção de uma gestão por processos, objetivando resultados mais assertivos

e com um controle de fácil manejo, para os empresários e gestores das empresas

de pequena e médio portes. Desta forma, foram adotadas algumas bases para esta

afirmação, tendo como maior parâmetro a pesquisa “Causa Mortis”, realizada pelo

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SEBRAE em 2013. Para uma resposta a pesquisa, foi acompanhado a implantação

de alguns processos na área de produção da empresa, observando os benefícios da

implantação na organização de um modelo de Gestão por Processos.

Este trabalho foi realizado analisando uma única empresa, a partir de um diagnós-

tico da situação do ambiente organizacional interno, da direção à linha de produção,

a fim de adotar procedimentos de gestão por processos. O método de estudo de

caso, também adotado, é uma estratégia que objetiva o entendimento da dinâmica

presente em determinados grupos. O estudo de caso permite aprofundar e tratar

uma multiplicidade de dimensões (MARTINS, 2006). Esse tipo de estudo é considera-

do apropriado para explorar a situação problema e seus resultados utilizados como

pontos de partida para uma pesquisa adicional (YIN, 2001), se necessário.

A pesquisa dos documentos e registros são dos arquivos disponibilizados pela

própria empresa. Adicionalmente, foram feitas entrevistas com funcionários e pro-

prietário e suas percepções inseridas no decorrer do trabalho. Mas, também houve

observações diretas no ambiente estudado, com utilização do recurso fotográfico. A

coleta das informações vem ocorrendo ao longo do processo de estudo e de inter-

venção no ambiente organizacional. Desta forma, procura-se contribuir com a área

de processos, a fim de que um gestor possa programar e ou implementar uma gestão

por processos em uma organização, ao elaborar um quadro indicador de modelos e

referências em processos.

3.1 Caso Positivo de adoção da Gestão por Processo

3.1.1 DIMETAL Indústria de Artefatos de Metal

A grande preocupação sempre foi não impor algo burocrático e sim produtivo

com qualidade na entrega do produto final, bem como a satisfação do cliente, em

uma empresa familiar e centralizadora. Eis o grande desafio.

Os benefícios apresentados por empresas que já adotam a abordagem por

processos, assim como os resultados da pesquisa apresentada, apontam para a

necessidade das organizações em se ajustarem a este novo modelo. Tais benefí-

cios convenceram o proprietário a implantar um modelo de gestão por processos

em sua empresa.

Entende-se que a implantação de processos tem como maior desafio a integração

de todo o “time”, a preocupação de uma busca mais inteligente de trabalho do ponto

de vista do cliente quanto a qualidade do produto entregue.

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Os processos são a estrutura pela qual uma organização faz o necessário para produzir valor para seus clientes. Em consequência, uma importante medida de um processo é a satisfação do cliente com o produto desse processo. (DAVENPORT, apud MACIEIRA e MARANHAO, 1994, p.8.)

3.1.2 Gestão de Prioridades – Etapa 01 Linha de Produção

O primeiro passo para a implantação do programa de Gestão por Processos na empresa DIMETAL foi a realização de um diagnóstico ddo ambiente interno, listando as necessidades primárias de melhorias e, em seguida, criou-se uma a lista de priori-dades das ações a serem executadas conforme planejamento.

Figura 03 – Gestão de Prioridades

Fonte: o autor (2016)

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3.1.3 Reorganizar – Implantando o 5S

Em paralelo às novas orientações quanto aos processos priorizou-se a implanta-

ção de uma das ferramentas da qualidade, a ferramenta 5 S, com objetivo de dar as

primeiras orientações para a equipe de trabalho, no que se refere às práticas de orga-

nização, limpeza e padronização de ações dentro de uma rotina de trabalho.

A ferramenta 5S é muito conhecida nos processos de qualidade, imprescindível

para o início de qualquer mudança de ordem comportamental e física em empresas

que passam por uma nova etapa de reorganização.

Figura 4 – Conceito 5 S (cinco esse)

Fonte: http://www.interfile.com.br/interfilenews/5s.html

É certo que esta ferramenta tem como propósito não somente a implantação, mas também a gestão do aprendizado da equipe, com vistas à uma manutenção contínua dos sensos na organização. Nesta etapa, incrementou-se nas empresas os 03 primeiros sensos:

•Senso de Utilização – Reorganizar o ambiente de trabalho dando destino certo aos itens considerados desnecessário para as tarefas diárias;

•Senso de Ordenação – Os itens que foram eleitos necessários para nossa tarefa diária já estão devidamente colocados em lugares de fácil localiza-ção com seus indicativos visuais;

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MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 103-122, 2016 | 115Marques, N.; azzoliNo, a.P.

•Senso de Limpeza – Os ambientes encontram-se organizados com ins-truções de limpeza e o pessoal orientado sobre a facilidade de trabalho num ambiente limpo.

Figura 5 – Implantação do Kanban, antes e depois.

Fonte: o autor (2016)

A Senso de Ordenação, item obrigatório na readequação da área de expe-

dição, foi adotado com a finalidade de dar visibilidade ao estoque e produção

da empresa. Foi implantado o sistema Kanban3 , técnica aplicada que controla o

fluxo de produção da empresa, que aponta visualmente o estoque de forma ideal

e as prioridades de produção.

3.1.4 Direcionamento - Política de Gestão de Processos

Para esta etapa foram feitas algumas reuniões com o objetivo de implantar uma

Política de Gestão de Processos, a fim de introduzir os novos conceitos e processos,

sem atrapalhar a rotina já existente na empresa.

É importante conceituar cada etapa dos processos a serem tratados dentro da or-

ganização, para que se classifique e se observe quais das linhas de abordagem ele se

encaixa, daí eleger as prioridades, bem como entender o verdadeiro impacto na or-

ganização, evitando, assim, desperdício de tempo e energia sobre um determinado

assunto. Com isso é possível classificar os processos dentro da organização, a saber:

estratégicos, gestão da qualidade, críticos e demais (outros), de menor complexidade.

3 Kanban é um termo de origem japonesa e significa literalmente “cartão” ou “sinalização”. Este é um conceito relacionado com a utilização de cartões (post-it e outros) para indicar o andamento dos fluxos de produção em empresas de fabricação em série. Disponível em https://www.significados.com.br/kanban/ Acesso em 23/09/2016,18h59

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116 | MULTIFAAL, Limeira, v.2, 103-122, 2016 PROCESSOS GERENCIAIS E SEUS IMPACTOS

Figura 06 – Processos - Conceitos das Classificações

Fonte: o autor (2016)

3.1.5 Processos - Fluxograma de implantação de indicadores

Quanto à implantação dos processos foi estabelecido um fluxograma para direcio-namento dos indicadores e um outro fluxograma apontando as etapas de implantação para a linha de produção e cadastro dos Processos Operacionais Padronizados (P.O.P.)4

Figura 07 – Processos - Implantação de Indicadores Fluxograma Funcional

Fonte: O autor (2016)

3.1.6 Implantando os Processos de Trabalho Para iniciar a etapa de implantação dos processos, foram eleitos, a princípio, os

processos mais significativos cujas melhorias resultam em grande impacto junto aos clientes. Os critérios básicos para essa seleção são:

4 O Procedimento Operacional Padrão (POP) é um documento organizacional que traduz o planejamento do trabalho a ser executado. É uma descrição detalhada de todas as medidas necessárias para a realização de uma tarefa In: GOUREVITCH, Philip. MORRIS, Errol. Procedimento operacional padrão: uma história de guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. Disponível em http://www.blogdaqualidade.com.br/procedimento-operacional-padrao-pop/ Acesso em 23/09/2016

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MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 103-122, 2016 | 117Marques, N.; azzoliNo, a.P.

•Criar critérios de recepção e avaliação de entrada da matéria prima den-tro da organização, guiados por documentos padronizados da Gestão da Qualidade, como Procedimento Operacional Padronizado (P.O.P.);

•Criar critérios de produção na área de produção da organização guiados por documentos padronizados da Gestão da qualidade, como Procedi-mento Operacional Padronizado (P.O.P.);

•Criar critérios na área de expedição (armazenamento) da organização guiados por documentos padronizados da Gestão da Qualidade, como Procedimento Operacional Padronizado (P.O.P.);

•Criar critérios na área de expedição (Transportes) dentro da organização guiados por documentos padronizados da Gestão da Qualidade, como Procedimento Operacional Padronizado (P.O.P.).

Figura 08 – Processos - Fluxograma Funcional

Fonte: o autor (2016)

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Nesta etapa do projeto, mais uma vez, deve-se alinhar a cultura da empresa e os seus objetivos com o respectivo plano e, estabelecer parâmetros de indicadores para buscar uma melhoria contínua nos processos.

Para que este objetivo seja alcançado, o gestor deve buscar nos modelos de ges-tão parâmetros para que o projeto se enquadre nos requisitos dos processos e ferra-mentas da qualidade, para maior chance de êxito na busca por resultados.

Ao iniciar esta etapa, há de se verificar e alinhavar os objetivos da empresa com a real capacidade de produção, verificando o preparo dos profissionais com as condi-ções das máquinas, bem como observar os métodos atuais praticados no processo de produção. Nesta etapa, se conhecem e se elegem as principais dificuldades da empresa no atual processo, suas necessidades mais urgentes, as ações que devem ser tomadas e a criação de indicadores de desempenho. O foco é sempre a busca dos melhores resultados para a organização com participação de todos, desde o alto escalão até ao pessoal da limpeza.

O gestor deve ter em mente as novas práticas e uma visão sistêmica dentro do novo conceito de Gestão por Processos, facilitando, assim, a evolução das ações de melhorias na organização.

Os primeiros passos para uma implantação eficaz de Gestão por Processos têm início no planejamento adequado para compreensão dos documentos a serem cria-dos e implantados na produção e sua manutenção pelo processo de Qualidade.

Figura 09 - Controle de Indicador de desempenho - Medição

Fonte: O autor (2016)

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Figura 10 - Indicador de Desempenho - Metas

Fonte: O autor (2016)

3.1.7 Acompanhamento dos Processos Implantados

Após a criação dos Indicadores de Desempenho e comunicado as obrigações aos envolvidos no processo, o gestor acompanha de forma atenta o planejamen-to, tendo como ferramenta de avaliação o P.D.C.A., para o acompanhamento e o desdobramento das ações criadas para a implantação dos processos gerenciais.

•P (Plan) – Planejar o trabalho a ser executado.

•D (Do) – Executar o trabalho planejado.

•C (Check) – Medir ou avaliar o que foi feito, assim identificando a diferença

entre o que foi feito, em relação ao que foi planejado.

•A (Action) – Aprender a atuar corretamente sobre a diferença identificada.

A atuação corretiva pode ocorrer sobre o que foi feito (retrabalho, reparo e

etc.) ou sobre o planejamento. (MACIEIRA,e MARANHÃO, 2014,p.232)

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Figura 11 – Ciclo PDCA

Fonte: MACIEIRA e MARANHÃO, 2014,p.232

A criação dos indicadores permitiu a continuidade da adoção da metodologia de avaliação dos processos de trabalho, onde foram medidos o desempenho das má-quinas e a média de produção. As medições para criação do indicador foram feitas com vários colaboradores, estabelecendo, assim, a medida aceitável da produção da máquina e do operador.

As medições são de extrema importância, já que são as responsáveis pelos resul-tados das operações na organização. Toda medição resulta da análise dos indicado-res, a fim de dar condições aos gestores de tomarem decisões junto com a direção, diante do cenário apresentado.

4 RESULTADOS

Este estudo permitiu relatar os benefícios gerados com a implantação de um mo-delo de gestão para uma empresa de médio porte em desenvolvimento, momento considerado oportuno para implantação de uma Gestão por Processos. No decorrer da implantação do novo modelo foi possível observar melhorias significativas, tanto no ambiente interno, bem como no ambiente externo da organização:

4.1 Ambiente interno:

•Todo processo de reorganização da fábrica com a implantação da fer-ramenta 5S, trouxe um ambiente extremamente agradável e produtivo para a organização, elevando o conceito de produção da empresa e sinergia com os colaboradores;

•A implantação do Kanban colocou a empresa em contato com os funda-mentos da logística, tanto para os clientes internos como externos;

•Criação dos P.O.P - Procedimento Operacional Padronizado, proporcionou

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MULTIFAAL, Limeira, v.2, p. 103-122, 2016 | 121Marques, N.; azzoliNo, a.P.

à direção da empresa visão sistêmica no nível de controle de produção e conhecimento sobre produtividade dos operadores;

4.2 Ambiente externo

Todas as ações apontadas têm despertado mais confiança nos clientes externos, permitindo à empresa reposicionar-se, tornar-se mais expressiva no mercado, per-mitindo-lhe abordar de forma mais profissional e qualificada sua busca por novos contratos de serviço e desenvolvimento de novos produtos.

5 CONSIDERAçõES fINAIS

Num mundo globalizado, onde as informações correm em alta velocidade, as em-presas precisam de atualização e posicionarem-se de modo mais assertivo no tocan-te aos atuais modelos de gestão.

Os indicadores que apontam fragilidades das empresas devem ser avaliados constantemente e merecem atenção. É dever das empresas, cada vez mais, o com-promisso com a total satisfação dos clientes.

Se há o compromisso em construir algo, que seja feito de um modo que se possa medir o desempenho, a lucratividade.

A pesquisa “Causa Mortis”, realizada pelo SEBRAE, leva a uma reflexão de quanto as empresas de pequeno e médio portes no Brasil, sendo elas um grande número na cadeia produtiva nacional, precisam de orientações, quebra de paradigmas e aceita-ção por processos mais organizados.

O Brasil tem urgência em desenvolver estas empresas, a fim de que possam contribuir de maneira eficiente e eficaz para o crescimento da economia nacio-nal, para que possam contribuir com o desenvolvimento e aprimoramento da mão de obra e da aplicação dos novos conceitos em gestão, para que se tornem competitivas frente aos demais países.

6 REfERÊNCIAS BIBLIOGRÁfICAS

CAMPOS, V. TQC: Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Rio de Janeiro, QFCO, 1994.

FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São Paulo: Saraiva, 2006.

FOLHA Management nº 17. FOLHA DE S.PAULO, 1995, p.3-4, dez. 1995

HALL, R. Organizações: estruturas, processos e resultados. 8ª Ed. São Paulo: Pearson, 2004.

LOREIRO, Michele . ADEUS À CARROÇA, Exame, São Paulo, 23.mar.2013.

MACIEIRA, Maria Elisa Bastos e MARANHÃO, Mauriti. O Processo Nosso de Cada Dia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2014.

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SEBRAE-SP. Adaptado de FNQ. Prêmio MPE Brasil. Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1037/noticias/adeus-carroca. Acesso em 22 de junho de 2016. http://www.sebraesp.com.br/arquivos_site/biblioteca/EstudosPesquisas/mortalidade/causa_mortis_2014.pdf. Acesso em: 23 junho de 2016

http://www.interfile.com.br/interfilenews/5s.html. Acesso em: 26 de junho de 2016.

http://www.blogdaqualidade.com.br/procedimento-operacional-padrao-pop/ Acesso em 23/09/2016

https://www.significados.com.br/kanban/ Acesso em 23/09/2016,18h59

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Diretrizes para Apresentação e Publicação de Manuscritos

O Caderno Multidisciplinar da FAAL, o MultiFAAL, publica manuscritos relevantes para o enriquecimento nas diversas áreas do conhecimento.

Dentre estes manuscritos, se enquadram:

Artigos: Os mesmos podem ser elaborados mediante pesquisa experimental (apresen-tando resultados e discussão) ou, através de ampla revisão bibliográfica sobre determina-do tema, apresentando discussão e considerações finais com base no objetivo do mesmo;

Estudos de Caso: abordado através de referencial bibliográfico, revelando e discutindo a metodologia e ferramentas utilizadas para solucionar problemas, apresentando ao final discussão crítica e considerações sobre os resultados obtidos;

Resenhas: revisão crítica de obra recém publicada, orientando o leitor quanto a suas ca-racterísticas e usos potenciais;

Ensaios: com abordagens inovadoras, com novos enfoques que induzam os leitores à reflexão sobre o tema focado.

Os manuscritos deverão ser elaborados em, no máximo, 20 páginas, considerando as di-retrizes a seguir.

Folha de Rosto

Folha: branca, tamanho A4 (21 x 29,7 cm - vinte e um por vinte e nove vírgula sete cen-tímetros), com as margens superior e esquerda de 3 cm (três centímetros) e margens inferior e direita de 2 cm (dois centímetros);

Título do Manuscrito: em português e, a seguir, em inglês, em fonte Times New Roman, corpo 14 (quatorze) pontos, caixa alta (letras maiúsculas), negrito, espaço 1,5 (um e meio) entre as linhas e texto centralizado;

Categoria do Manuscrito: indicar, após o título, a respectiva categoria em que o manus-crito se enquadra (Artigos, Estudos de Caso, Resenhas, ou Ensaios). Em fonte Times New Roman, corpo 14 (quatorze) pontos, caixa alta (letras maiúsculas), negrito, espaço simples entre as linhas e alinhamento do texto à direita;

Nome(s) do(s) Autor(es): nome(s) completo(s), fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, espaço simples entre as linhas e texto centralizado;

Afiliação do(s) Autor(es): para cada Autor, inserir nota de rodapé, indicando, para cada um, titulação, instituição, departamento, curso e, o endereço eletrônico (e-mail). Em fonte Times New Roman, corpo 10 (dez) pontos e alinhamento do texto no formato justificar.

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Formatação dos Manuscritos

Folha: branca, tamanho A4 (21 x 29,7 cm - vinte e um por vinte e nove vírgula sete cen-tímetros), com as margens superior e esquerda de 3 cm (três centímetros) e margens in-ferior e direita de 2 cm (dois centímetros) e espaçamento entrelinhas de 1,5 (um e meio);

Título do Manuscrito: em português, seguido da tradução do mesmo para a língua in-glesa. Em fonte Times New Roman, corpo 14 (quatorze) pontos, caixa alta (letras maiúscu-las), negrito, espaço 1,5 (um e meio) entre as linhas e texto centralizado;

Resumo: de maneira sucinta (breve) com, no máximo, 250 palavras, num só parágrafo, apresentando o quê foi feito (objetivo; hipótese, metodologia, resultados e discussão, considerações finais), em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, espaço sim-ples entre as linhas e alinhamento do texto no formato justificar;

Palavras-chave: indicar até 4 (quatro) palavras ou expressões que identifiquem o con-teúdo do trabalho, em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, espaço simples entre as linhas e alinhamento do texto no formato justificar;

Abstract: tradução do resumo para a língua inglesa. Em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, espaço simples entre as linhas e alinhamento do texto no formato jus-tificar;

Keywords: tradução das palavras-chave para o inglês. Em fonte Times New Roman, cor-po 12 (doze) pontos, espaço simples entre as linhas e alinhamento do texto no formato justificar;

Elementos Textuais: os manuscritos do tipo Artigo deverão apresentar os seguintes tópicos: Introdução (contextualizando e relevando a importância do tema e, no final, apresentando os objetivos do manuscrito); referencial teórico; metodologia; resultados e discussão, considerações finais e referências bibliográficas. No caso de Ensaios, Resenhas e, ou, de Estudos de Caso, os manuscritos deverão apresentar os seguintes tópicos: intro-dução (contexto e relevância do tema e, no final, o objetivo do manuscrito), desenvolvi-mento (com subseções, se necessário), considerações finais e referências bibliográficas. Os textos deverão ser formatados em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, espaço 1,5 (um e meio) entre as linhas e alinhamento do texto no formato justificar;

Numeração das Seções: a numeração progressiva dos títulos das seções (introdução, re-ferencial teórico, metodologia, resultados e discussão, considerações finais e referências bibliográficas) e de suas respectivas subseções, deverá seguir as diretrizes da ABNT NBR 6.024:2012;

Citações: As citações das fontes bibliográficas, necessárias ao longo dos manuscritos, de-verão seguir as diretrizes da ABNT NBR 10.520:2002;

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Ilustrações: figuras, gráficos, fluxogramas, mapas, organogramas, plantas, quadros, de-vem ser chamados previamente no texto e inseridos, centralizados, o mais próximo pos-sível do trecho a que se refere. Os gráficos devem ser enviados no formato de origem, ou seja, onde foi feito (Excel - .xls; Word - .doc). As imagens deverão ser enviadas no formato .TIF, com, no mínimo, 300 (trezentos) pontos por polegada (dpi) de resolução com mais ou menos 10 cm (centímetros) de largura no sistema de cores  em CMYK (Ciano,  Ma-genta, Amarelo e Preto) ou em grayscale (tons de cinza). As identificações das ilustrações devem aparecer na parte superior das mesmas, precedida da palavra designativa (em ne-grito), seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto em algarismos arábicos (em negrito) e do respectivo título explicativo (de forma breve e clara) – em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, com texto alinhado dentro das margens esquerda e direita da ilustração (Figura 1 – Título). Abaixo da ilustração, apresentar a fonte bibliográ-fica de onde a ilustração foi extraída. Em fonte Times New Roman, corpo 10 (dez) pontos, com texto alinhado dentro das margens esquerda e direita da figura - Fonte: Autor (ano).

Tabelas: devem ser chamadas previamente no texto e elaboradas seguindo as diretrizes da ABNT NBR 6.022:2003 e das Normas de Apresentação Tabular do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – (disponível em <http://biblioteca.ibge.gov.br/visuali-zacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/normastabular.pdf>.). As tabelas devem ser envia-das no formato de origem, ou seja, onde foi feito (Excel - .xls; Word - .doc). As mesmas, devem, ainda, ser inseridas, centralizadas, o mais próximo possível do trecho a que se refere. A identificação deve aparecer na parte superior da tabela, precedida da palavra designativa (em negrito), seguida de seu número de ordem de ocorrência no texto em algarismos arábicos (em negrito) e do respectivo título explicativo, de forma breve e clara (Tabela 1 – Título). Em fonte Times New Roman, corpo 12 (doze) pontos, com texto alinha-do dentro das margens esquerda e direita da tabela. Logo após a tabela, em fonte Times New Roman, corpo 10 (doze) pontos, com texto alinhado dentro das margens esquerda e direita da tabela, apresentar a fonte bibliográfica - Fonte: Autor (ano).

Palavras Estrangeiras: estas deverão ser digitadas em itálico;

Siglas, Fórmulas e Abreviações: estas representações gráficas deverão seguir as diretri-zes da ABNT NBR 6.022:2003;

Unidades de Medida: estas deverão seguir os padrões do Sistema Internacional de Uni-dades (SI), elaborados pelo Bureau Internacional de Pesos e Medidas (www.bipm.org);

Numeração de Páginas: deverá ser inserida no canto inferior direito. Em fonte Times New Roman, corpo 10 (dez) pontos, em negrito;

Referências Bibliográficas: a listagem, em ordem alfabética, de todas as referências bi-bliográficas, em consonância com citações feitas ao longo do manuscrito, deverá ser em fonte Times New Roman, corpo 10 (doze) pontos, espaço simples entre as linhas e espaço duplos entre cada Referência, com alinhamento do texto à esquerda e seguir as diretrizes da ABNT NBR 6.023:2002.

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Envio dos Manuscritos

Os manuscritos deverão ser encaminhados, via e-mail ([email protected]), ao Editor Chefe do MultiFAAL, juntamente com uma Carta de Submissão.

Cada manuscrito deve ser dividido em dois documentos / arquivos (.doc). Um dos do-cumentos deverá apresentar apenas a Folha de Rosto e o outro, sem identificação de autores, as demais estruturas do manuscrito descritas no item acima (Formatação dos Manuscritos).

Processo de Análise dos Manuscritos

Após o recebimento dos manuscritos, os mesmos serão, primeiramente, submetidos à apreciação dos Editores, para se verificar se estão atendidas as especificações formais. Na sequência, estando de acordo com as diretrizes e normas do MultiFAAL, os manuscritos entrarão em processo de avaliação de mérito, durante o qual serão submetidos aos pare-ceres de Professores membros do Comitê Científico, podendo, este, se considerar neces-sário requisitar, ainda, a apreciação de Pareceristas ah doc (especialistas na área ou temas em questão). Em todo este processo será resguardado o anonimato entre Avaliadores/Pareceristas e Autores.

Os Avaliadores e, ou, Pareceristas ad hoc, julgarão a originalidade e relevância do assunto ou tratamento apresentado ao mesmo, a clareza da redação e a normalização dos pa-drões gráficos e das citações e referências bibliográficas. Dessa avaliação, resultará um dos seguintes pareceres: aceito (parecer positivo); aceito com orientações de modificação (parecer positivo, condicionada às alterações sugeridas) e; negado (parecer negativo).

O Editor Chefe enviará aos Autores, em até 90 (noventa) dias após o recebimento dos manuscritos, o resultado dos pareceres. Se aceito, ao Autor será informado, ainda, sobre o número da edição e o ano em que seu manuscrito será publicado.

Caso o manuscrito receba o parecer “aceito com orientações de modificação”, as críticas, sugestões e comentários dos Avaliadores/Pareceristas serão encaminhados ao Autor, que terá o prazo de 30 (trinta) dias para apresentar uma nova versão do manuscrito. Este, após reenvio, será avaliado, novamente, tanto pelo Editor Chefe quanto por Professores Mem-bros do Comitê Científico e ou Pareceristas ad hoc (os mesmos que avaliaram e sugeriram as alterações para a primeira versão apresentada), podendo ou não, ainda, ser aceito.

Ao enviarem seus manuscritos, os Autores assumem o compromisso de não remetê-lo à outra fonte de publicação (impressa ou eletrônica), assim, como total responsabilidade sobre o seu conteúdo. As opiniões e julgamentos neles contidos não expressarão, neces-sariamente, as posições do Comitê Científico.

Os manuscritos originais, enviados, mesmo quando não aceitos para a publicação, não serão devolvidos. O MultiFAAL terá os direitos autorais reservados sobre o trabalho publi-cado, sendo permitida a sua reprodução ou transcrição com a devida citação dos Autores.

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EDITORA CHEFE

Profa. Dra. Adriana Pessatte Azzolino

CONSELHO CIENTÍFICO

Prof. Dr. Antonio Carlos Vian - USPProfa . Dra. Célia Regina Orlandelli Carrer - USPProf. Dr. Celso da Costa Carrer -USPProfa. Dra. Mara Jaqueline de Oliveira - ELLProfa. Dra. Odaléia Telles Marcondes Queiroz - USPProf. Dr. Romualdo Dias-UNESPProfa. Dra. Sandra Regina Giraldelli Ulrich -FAM

CONSELHO CIENTÍFICO

Profa. MSc. Flávia de Almeida Fabio Garboggini Profa. Dra.Renata La Rocca Prof. MSc. Tomas Guner Sniker Prof. MSc. Fernando Jerônimo NetoProf. MSc. Tiago Giorgetti Chinellato Prof. MSc. Kledir Salgado Prof. MSc. Anderson Ricardo BortolinProfa. MSc. Fabiane Rodrigues FernandesProf. Dr. Ivan Santo Barbosa-UnicampProfa. Dra. Priscila Rossinetti Rufinoni-UnB

CAPA

Amanda Caroline Rodrigues (Aluna do Curso de Design Gráfico - FAAL)Imagem: www.shutterstock.com

PROJETO GRÁFICO

Profa. Esp. Fabiana Grassano Jorge - FAAL

Profa. MSc. Flávia Fábio Garboginni - FAAL

DIAGRAMAÇÃO

Carolina Macedo de Faria Leal

REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E INGLESA

Profa. MSc. Julita Del Bianco - FAAL

FICHA CATALOGRÁFICA

Cristiane Armbruster Marson - CRB 5478

DIREÇÃO GERAL

Profa. Msc. Silvia Helena Orlandelli da Silva

DIREÇÃO ACADÊMICA

Profa. Dra. Adriana Pessatte Azzolino

DIREÇÃO ADMINISTRATIVA

Reinaldo Fernandes

SECRETARIA ACADÊMICA

Kênia de Souza Lyra Silva

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

Os manuscritos deverão ser enviados seguindo as diretrizes de publicação descritas no final. A responsabilidade pelos manuscritos é exclusiva dos Autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento dos Editores e/ou do Comitê Científico.

CONTATOS

End.: Av. Eng. Antonio Eugênio Lucatto, n. 2515 / Vila Camargo / Limeira - SP / CEP 13.486-083 Fone: (19) 3444 3239 / 0800 [email protected]

MULTIFAAL: CADERNO MULTIDISCIPLINAR DA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E ARTES DE LIMEIRA. Vol. 2, 2016. Limeira, FAAL, 2016.

Anual.ISSN: 2318-888X

1. Administração de empresas. 2. Artes visuais. 3. Design de interiores. 4. Design de moda. 5. Design de produto. 6. Design gráfico. 7. Marketing. 8. Matemática. 9. Processos gerenciais. 10. Recursos humanos.

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