ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha...

76
79 NÚMERO 79 ANO XXIV BRASÍLIA DF ISSN 1517-6959 PARTICIPAÇÃO EM ÓRGÃOS NACIONAIS E ESTRANGEIROS VALORIZA AS PROFISSÕES ÉTICA E LEGISLAÇÃO: A POSTURA DE VETERINÁRIOS EM CATÁSTROFES RESOLUÇÃO DO CFMV VEDA INSCRIÇÃO A EGRESSOS DE EAD Especialistas revelam como profissionais de Medicina Veterinária e Zootecnia podem se destacar em nove áreas O QUE OS EMPREGADORES QUEREM?

Transcript of ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha...

Page 1: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

79

REV

ISTA

CFM

V -

AN

O X

XIV

N

º 79

OU

TUBR

O A

DEZ

EMBR

O 2

018

NÚMERO 79ANO XXIV

BRASÍLIA DFISSN 1517-6959

PARTICIPAÇÃO EM ÓRGÃOS NACIONAIS E ESTRANGEIROS

VALORIZA AS PROFISSÕES

ÉTICA E LEGISLAÇÃO: A POSTURA DE VETERINÁRIOS

EM CATÁSTROFES

RESOLUÇÃO DO CFMV VEDA INSCRIÇÃO A EGRESSOS DE EAD

Especialistas revelam como profissionais de Medicina Veterinária e Zootecnia podem se destacar em nove áreas

O QUE OS EMPREGADORES QUEREM?

Page 2: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF
Page 3: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

nº 79Outubro a Dezembro 2018

CAPA10 Vagas abertas

5 ENTREVISTAArnaldo Borges, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ)

8 CFMV presente

19 Com inscrições abertas, Congresso Brasileiro da Anclivepa será em Brasília

20 Revista CFMV: versão digital é a mais prática para 40% dos leitores

CRMVS EM PAUTA22 Em dois anos, CRMV-MS autuou 1.520 empresas

23 Roraima recebe formandos de Medicina Veterinária e Zootecnia

24 CRMV-RS auxilia a elaboração de editais de concursos na área da saúde

25 CRMV-CE lança ferramenta #WhatsAppdoSetordaCobrança

26 Formulário do CRMV-GO ajuda a analisar com mais eficiência projetos de castração

27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC

28 CFMV proíbe inscrição de egressos de cursos a distância

ARTIGOS TÉCNICOS30 Ainda sobre o ensino a distância para o curso de Medicina Veterinária

34 Diagnóstico de tuberculose bovina

40 Programas de Residência e Aprimoramento Profissional em Medicina Veterinária

44 Resistência antimicrobiana e bem-estar animal: existe relação entre os temas?

47 Novos avanços da Medicina Veterinária Legal

49 Suplemento científico

74 Ética e legislação

SUMÁRIO

44

10

20

34

40

22

Foto

: Ton

inho

Tav

ares

- Ag

ênci

a Br

asíli

aFo

to: J

osem

ar A

ragã

o - D

ecom

/CFM

VFo

to: A

gênc

ia P

ará

- Ant

onio

Silv

aFo

to: P

rof

Cláu

dia

Repe

tti -

Div

ulga

ção

Uni

mar

Foto

: Pix

abay

.com

Foto

: Div

ulga

ção/

Asse

ssor

ia d

e Co

mun

icaç

ão d

o CR

MV-

MS

Page 4: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Conselho Federal deMedicina VeterináriaSIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília-DF – CEP 71205-060Fone: (61) [email protected] ExecutivaPresidenteFrancisco Cavalcanti de AlmeidaCRMV-SP nº 1012Vice-PresidenteLuiz Carlos Barboza TavaresCRMV-ES nº 0308Secretário-GeralHelio BlumeCRMV-DF nº 1551TesoureiroWanderson Alves FerreiraCRMV-GO nº 0524ConselheirosConselheiros EfetivosCícero Araújo PitomboCRMV-RJ nº 3562Francisco Atualpa Soares JúniorCRMV-CE nº 1780João Alves do Nascimento JúniorCRMV-PE nº 1571José Arthur de Abreu MartinsCRMV-RS nº 2667Therezinha Bernardes PortoCRMV-MG nº 2902Wendell José de Lima MeloCRMV-PB nº 252/ZConselheiros SuplentesAntonio Guilherme Machado de CastroCRMV-SP nº 3257Fábio Holder de Morais Holanda CavalcantiCRMV-AM nº 41/ZIrineu Machado Benevides FilhoCRMV-RJ nº 1757Nestor WernerCRMV-PR nº 0390Paula Gomes RodriguesCRMV-SE nº 047/ZDiretora de ComunicaçãoFlávia LôboRevista do CFMVEditorCícero Araújo PitomboCRMV-RJ nº 3562Subeditora e Jornalista ResponsávelViviane MarquesMTb [email protected] EditorialEmanoel Elzo Leal de Barros CRMV-DF 240/ZLigia Maria Cantarino da Costa CRMV-DF nº 0981Marcelo Hauaji de Sá Pacheco CRMV-RJ nº 4034 Capa/DiagramaçãoBonach ComunicaçãoE

XP

ED

IEN

TE

A Revista CFMV é trimestral e se destina a divulgar ações do CFMV, promover

educação continuada e valorizar a Medicina Veterinária e a Zootecnia. Distribuída

gratuitamente em repartições públicas, instituições de ensino e Conselhos Regionais

de Medicina Veterinária (CRMVs), encontra-se disponível em formato PDF para ser

lida diretamente on-line ou para download, no endereço cfmv.gov.br.

AGRIS L70 CDU619 (81)(05)

O conteúdo dos artigos técnicos e científicos é de inteira responsabilidade de seus autores e não representa, necessariamente, a opinião do CFMV e do jornalista responsável pela revista. Não há retribuição financeira pelos artigos enviados, cujas assinaturas configuram declaração de autoria. Parte ou resumo das pesquisas publicadas, quando enviados a outros periódicos, deverão assinalar, obrigatoriamente, a fonte original. As fotos enviadas, com os devidos créditos, serão indexadas ao banco de imagens do CFMV.

Sopro de renovação

Francisco Cavalcanti de AlmeidaPresidente do Conselho Federal de

Medicina Veterinária (CFMV)

EDITORIAL

Após um ano da gestão 2017-2020 do Conselho Federal de Medici-na Veterinária (CFMV), posso dizer que muito trabalho se fez e mais ainda há a fazer, interna e externamente. Mudanças não ocorrem da noite para o dia e, sim, por meio de um processo às vezes doloroso, em alguns casos lento, porém necessário ao crescimento e à melhoria da instituição. Com transparência e inovação, ao lado da diretoria, atuo visando à excelência na prestação de serviços aos médicos-veterinários e zootecnistas inscri-tos no conselho, com reflexo na sociedade.

O sopro de renovação que envolve o CFMV passa também por esta revista. Como prioridade, foi definido o meio digital e gratuito para disse-miná-la, logo no início da atual gestão. Essa decisão gerou imensa econo-mia de recursos financeiros e naturais, devido à redução no número de exemplares impressos. Isso é positivo não só para o conselho, mas para toda a sociedade. Estamos sempre atentos e em busca de meios para chegar da forma mais simples e rápida aos leitores.

Recentemente instituído, o Conselho Editorial terá ainda o objeti-vo de modernizar e melhorar a comunicação com os leitores da revista, trazendo para leitura informações relevantes e conteúdo de qualidade. Como disse, as mudanças são parte de um processo e serão vistas de forma gradual.

Nesta edição, por exemplo, estreia na última página uma seção fixa, dedicada ao tema Ética e Legislação, assinada pelo Dr. Ismar Araújo de Moraes, presidente da Comissão Nacional de Ética e Le-gislação (Conel/CFMV). E se é para trazer conteúdo útil, a reportagem de capa reúne depoimentos de profissionais renomados contando o que o merca-do de trabalho exige atualmente de médicos-vete-rinários e zootecnistas. Boa leitura!

Page 5: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ENTREVISTA

Arnaldo Borges, presidente da

Associação Brasileira de Criadores de Zebu

Descreva a ABCZ de cem anos atrás e a de hoje. O que

mudou de lá para cá?

A ABCZ de 1919 era baseada no sonho de um peque-no grupo de visionários que buscavam o registro dos animais e o reconhecimento internacional. A ABCZ de hoje é a realização daquele sonho e de outros milhares acumulados nesses cem anos. Naquela época, baseá-vamo-nos em pequenas reuniões na casa dos funda-dores da então Sociedade do Herd Book Zebu. Hoje, somos mais de 22 mil associados em todo o Brasil, que unidos representamos um setor forte, em crescimen-to, com um rebanho geneticamente melhorado. Temos, hoje, voz que ecoa internacionalmente, com muito res-peito. Somos o resultado das lutas de 1919 até hoje.

Qual é a importância do gado zebu para o Brasil, hoje,

em termos econômicos e sociais?

Gigante! Estima-se que, atualmente, 80% do rebanho nacional seja formado por zebu ou animais “azebua-dos”; com isso, consequentemente, a raça é responsá-vel por grande parte da produção de carne e leite no Brasil. Suas características de adaptabilidade e rustici-dade garantem a produção na nossa região tropical. O zebu é a raça do Brasil. E o Brasil é um país de pecuária.

A que atribui a longevidade e a relevância da

associação?

À dedicação e à persistência dos pioneiros; ao instinto e ao empenho das equipes diretiva e de colaboradores ao longo dos anos; à luta, ao sonho e, principalmente, à vocação em produzir carne e leite para alimentar o mundo. A ABCZ é e sempre foi formada pela paixão de produtores que conhecem e acreditam no zebu.

Em seu site, a associação informa que “[...] além do re-

gistro genealógico, do melhoramento genético e da

promoção das raças zebuínas, a ABCZ atua também no

apoio à pesquisa científica, ensino superior e inovação

tecnológica; no fomento ao ambiente de negócios e à

prospecção de novos mercados; na articulação da pe-

cuária com os demais elos da cadeia produtiva da carne

e do leite; no suporte técnico aos associados e na repre-

Em 2019, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ)

completa cem anos e vai promover uma grande comemoração

durante a 85ª ExpoZebu, de 27 de abril a 5 de maio. Com 22

mil associados e atuando no Brasil e no exterior, a ABCZ tem

nesse o maior de seus eventos, mas quando surgiu, com o nome

Sociedade do Herd Book Zebu, em Uberaba (MG), era uma

iniciativa de criadores para garantir a origem dos filhos dos

animais de raça importados. Com dezenas de atividades, hoje,

presta assistência técnica, representa politicamente os criadores

e, entre outras iniciativas, mantém as Faculdades Associadas

de Uberaba (Fazu), antiga Faculdade de Zootecnia, criada em

1975 para formar profissionais especializados em zebutecnia.

Presidente da ABCZ, o médico-veterinário Arnaldo Borges afirma

que 80% do rebanho nacional é composto por zebu ou animais

“azebuados” e que a genética impulsiona os avanços da pecuária.

Foto

: Div

ulga

ção/

Alys

son

Oliv

eira

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 55

Page 6: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

sentação dos produtores rurais

junto ao governo e à sociedade”.

Como isso ocorre, na prática?

Na área acadêmica, atuamos por intermédio da Fazu, referência no ensino superior, em especial, de cursos ligados às ciências agrá-rias. O fomento de ambientes de negócios é feito por meio de parcerias com várias entidades, participação efetiva em eventos pelo país e, em especial, do nos-so departamento internacional e do projeto Brazillian Cattle, em parceria com a Agência Brasilei-ra de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), pelo qual promovemos novos mercados externos. A articulação política e suporte aos nossos as-sociados são feitos em reuniões constantes com entidades repre-sentativas do setor e lideranças governamentais. Estamos cons-tantemente utilizando a força dos nossos associados para ma-nifestações em prol do setor.

A pecuária de corte e a de leite

representam um vasto campo de

trabalho para médicos-veteriná-

rios e zootecnistas. De que forma

a ABCZ e seus associados valori-

zam esses profissionais?

Não conseguimos falar em ABCZ e no serviço que ela oferece sem falar nesses dois profissionais. A maior parte do corpo técnico da entidade é formada por veteri-

nários ou zootecnistas, uma vez que são eles que têm o conheci-mento e a formação técnica para atuar no desenvolvimento das provas zootécnicas e nos traba-lhos de classificação dos animais durante as feiras. Além disso, o registro definitivo de um animal só pode ser feito por um desses profissionais, ou seja, estamos falando de dois perfis extrema-mente importantes para a asso-ciação e essa valorização é uma

consequência. Minha formação, aliás, é em Medicina Veteriná-ria e minha posição hoje, como presidente da ABCZ, também é uma consequência do trabalho que desenvolvo há cerca de 40 anos na entidade, inclusive como membro efetivo do seu Colégio de Jurados das Raças Zebuínas.

Em termos de tecnologia e co-

nhecimento do ramo da produ-

ção de carne e de leite, que com-

T Arnaldo Borges avalia um animal durante uma ExpoZebu, maior evento promovido pela ABCZ. Neste ano, a 85ª edição ocorrerá no fim de abril

ENTREVISTA

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 20186

Page 7: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

petências os médicos-veterinários e zootecnistas que trabalham – ou

querem trabalhar – na área devem desenvolver? Qual é o perfil do pro-

fissional desejado?

A exigência cada vez maior é de um profissional antenado, sempre conec-tado às novidades do mercado. Atualmente, vivemos a era genômica e os caminhos que ela oferece são vários e longos.

Como projeta o futuro da ABCZ e da pecuária nacional?

Acreditamos na ABCZ. Acreditamos na nossa pecuária. O futuro, sem dú-vida, será marcado por crescimento e melhoramento genético do nosso rebanho. A pecuária tende a reduzir cada vez mais seu ciclo de produção, entregando um produto de mais qualidade ao mercado. É fato. É reflexo desses cem anos de história.

“A maior parte do corpo técnico da entidade é formada por veterinários ou zootecnistas, uma vez que são eles que têm o conhecimento e a formação técnica para atuar no desenvolvimento das provas zootécnicas e nos trabalhos de classificação dos animais durante as feiras. Além disso, o registro definitivo de um animal só pode ser feito por um desses profissionais.”

ENTREVISTA

Foto

: Arn

aldo

Borg

es A

BCZ

- Div

ulga

ção

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 7

Page 8: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ATUALIZAR

LEGISLAÇÃO EM PAUTA

Em dezembro, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou a Recomendação nº 61 ao Mi-nistério da Saúde, para que consultórios, clíni-

cas, ambulatórios e hospitais veterinários sejam re-gistrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e submetidos, obrigatoriamente, ao licenciamento e fiscalização pelos órgãos de vigilância sanitária. Assim, esses estabelecimentos passaram a ser reconhecidos como serviços de saúde.

A medida contou com a contribuição primordial do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que está presente em mais de uma dezena de comissões, câmaras técnicas e fóruns nacionais e internacionais, discutindo, contribuindo e propondo matérias de interesse nas áreas de Medicina Veterinária e Zootecnia. A maioria das repre-sentações está nos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Saúde e da Educação (MEC).

No caso do CNS, a representante da autarquia é a médica-veterinária Adolorata Bianco Carvalho, que atuou diretamente para tornar realidade a recomenda-ção. Segundo ela, não havia uma norma nacional com exigência de licenciamento e fiscalização sanitários para os serviços de assistência médico-veterinária. O registro no CNES reconheceu a importância do licen-

CFMV PRESENTE

ciamento sanitário das unidades de tratamento, as quais podem oferecer perigo à saúde humana, animal e ambiental devido à manipulação de substâncias e geração de resíduos tóxicos.

“Em muitos locais, esses estabelecimentos são negligenciados, o que aumenta os riscos à saúde de profissionais, trabalhadores, tutores e meio ambiente”, destaca a médica-veterinária, que também represen-ta o CFMV na Comissão Intersetorial de Vigilância em Saúde (CIVS) e no Fórum das Entidades Trabalhadoras da Área de Saúde (Fentas).

VOZ ATIVAA atual gestão do CFMV (2017-2020) tem se dedi-

cado a reforçar as relações da entidade com os regio-nais, outras entidades e os profissionais da Medicina Veterinária e Zootecnia. Vale destacar a volta ao con-selho diretivo da Associação Panamericana de Ciências Veterinárias (Panvet), após dez anos. Cícero Pitombo foi eleito para a diretoria da associação, na qual tam-bém são delegados José Arthur de Abreu Martins e João Alves – os três são conselheiros efetivos do CFMV.

Com 16 países-membros, a Panvet é considerada a principal associação de ciências veterinárias das Amé-ricas. Durante encontro realizado em novembro, no Chile, o CFMV apresentou a “Moção de preocupação em relação ao número de cursos de Medicina Veteri-nária e de posição contrária aos cursos de educação a distância na área da saúde”, documento aprovado por todos os presentes. “Sugerimos também a criação de grupos de trabalho que tratem de sanidade e mercado. Com isso, pretendemos levar à Panvet temas estraté-gicos para a atividade profissional”, afirma Martins.

Foto

: arq

uivo

pes

soal

Foto

: arq

uivo

pes

soal

T Conselheiros do CFMV com a presidente da Panvet, Macarena Vidal Ogueta: Cícero Pitombo (esq.), José Arhur Martins e João Alves

T A médica-veterinária Adolorata Carvalho representa o CFMV no CNS

Representatividade da autarquia em comissões, câmaras técnicas e fóruns nacionais e internacionais contribui para valorizar as profissões

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 20188

Page 9: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Foto

: Div

ulga

ção/

Gab

inet

e D

ep. R

uy C

arne

iro

T Em reunião no gabinete do deputado Ruy Carneiro (ao centro), da esquerda para a direita: Rodrigo Montezuma, Francisco Cavalcanti, o assessor Lucas Almeida e Napoleão Salles

TIME REFORÇADO NO CONGRESSO NACIONAL

Para trabalhar os interesses das profissões jun-to aos legisladores do país, a presença do CFMV no Congresso Nacional ganhou um reforço neste ano: o assessor parlamentar Napoleão Salles passa a ter companhia do advogado Rodrigo Montezuma, que também é médico-veterinário e, desde 2018, era chefe do Departamento Jurídico do CFMV.

Salles e Montezuma vão acompanhar e analisar as tramitações de projetos de lei no Executivo e no Congresso Nacional, reunindo-se com deputados e senadores e, se necessário, auxiliando e orientando na redação. Reportagem publicada na Agência Câ-mara assinala que, em apenas uma semana da nova legislatura, foram apresentadas na Câmara dos De-putados pelo menos 25 propostas relativas à defesa ou proteção dos animais.

Para Francisco Cavalcanti de Almeida, presiden-te do CFMV, é papel da instituição contribuir para a valorização e melhoria da Medicina Veterinária e Zootecnia. “Precisamos estar presentes de forma ativa e efetiva, atuando de forma próxima com o Poder Executivo, propondo e discutindo projetos no Legislativo e tendo voz ativa em associações de alta relevância nacional ou internacional que debatam, proponham e regulamentem o exercício profissio-nal”, assinala.

ONDE HÁ REPRESENTANTES DO CFMV

» Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Animais de Estimação (Câmara Pet) » Câmara Temática de Agricultura Sustentável e Irrigação

» Câmara Setorial de Alimentos (Anvisa) » Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC/Anvisa) » Comissão Intersetorial de Vigilância Sanitária e Farmacoepidemiologia (CIVSF) » Grupo de Trabalho do Comitê Codex sobre Resíduos de Medicamentos Veterinários (GTRVDF) » Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas (Conselhão) » Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS ou Conselhinho) » CNS, no qual estão inseridas:

• Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente (Cisama/CNS)• Comissão Intersetorial de Comunicação e Informação em Saúde (Cicis/CNS)

» Fentas » Fórum Permanente do Mercosul para o Trabalho em Saúde

» Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS/MEC), na qual es-tão inseridas:• Câmara Técnica nº 01 – Apoio Diagnóstico e Terapêutico, Especialidades Clínicas e Cirúrgicas • Câmara Técnica nº 03 – Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade/Saúde Coletiva• Câmara Técnica nº 06 – Saúde Animal e Ambiental

» Panvet » Comissão de Saúde Animal (CSA) do Comitê Veterinário Permanente do Cone Sul » Comissão ad hoc de Educação Veterinária da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE)

Mapa

Ministério da Saúde

MEC

Internacional

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 9

Page 10: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201810

CAPA – PROFISSÃO

VAGAS ABERTASCompetitivo, mercado exige dedicação aos estudos, sintonia com as novas tecnologias e busca por especialização. Genética, bem-estar animal e vendas são áreas promissoras

Destacar-se profissionalmente no mercado de Medicina Veteri-nária é, hoje, um dos grandes desafios da profissão, em meio a mais de 350 cursos de graduação em atividade, segundo

dados do Ministério da Educação (MEC). Na Zootecnia, embora o crescimento no número de cursos ainda não seja preocupante, a concorrência é crescente. Ana Cláudia Ambiel, presidente da Comissão Nacional de Ensino de Zootecnia do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNEZ/CFMV), lembra que, em 2000, ha-via 39 cursos de graduação no país – atualmente, são mais de 120 ativos. “As áreas de nutrição, produção e melhoramento animal são as mais demandadas e promissoras”, assinala.

É possível tecer algumas conclusões a partir do relato dos nove especialistas que a Revista CFMV entrevistou para reunir, a seguir, alguns caminhos para os profissionais se desta-carem no mercado de trabalho. O médico-veterinário ou zootecnista não pode adquirir conhecimento de modo superficial; é preciso estudar muito e sempre, perma-necendo antenado no que há de mais moderno em termos tecnológicos; e, desde o início da gradua-ção, deve buscar estágios e abrir o leque de possibilidades de atuação profissional. Gené-tica, bem-estar animal e vendas, por exem-plo, surgiram como ramos promissores e em expansão. São orientações que valem para as profissões como um todo, mesmo para quem atua em áreas não abordadas nesta reportagem – como piscicultura, apicultura e biotérios, por exemplo. Para a sorte dos profissionais, Medicina Veterinária e Zootecnia despontam como mercados de trabalho dos mais abrangentes.

Viviane Marques

Page 11: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 11

AVES E SUÍNOSFonte: Ariel Antonio Mendes, mé-dico-veterinário, diretor de Rela-ções Institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

D Segurança alimentar D Programas de boas práticas e controle de qualidade

D Legislação ambiental e trabalhista D Bem-estar animal D Epidemiologia (doenças de notificação obrigatória)

D Recomendações internacionais para controle de resíduos (OIE, Codex Alimentarius)

Na área de aves e suínos, é preciso preparar médi-cos-veterinários e zootecnistas para o “pós-porteira”, ou seja, uma atuação mais voltada ao setor produtivo. Nes-se caso, alguns MBAs e pós-graduações complementam a formação dos profissionais que anseiam trabalhar nes-se ramo. Embora, pela própria formação, zootecnistas sejam mais requisitados no campo, eles acabam ocu-pando um espaço que seria dos veterinários, pela falta de mão de obra interessada em atuar no setor produti-vo. É importante buscar um curso atualizado, porque as empresas precisam e não há gente capacitada.

Há uma grande preocupação com a segurança ali-mentar na indústria. Também é fundamental produzir com eficiência, tirando proveito dos programas de ge-renciamento e redução de perdas para que a empresa seja competitiva num mercado cada vez mais globaliza-do. Para que isso ocorra, o profissional deve conhecer a fundo programas como Boas Práticas de Produção (BPP), Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Riscos e Pontos Críticos de Controle (HACCP), entre outros. Do-minar as legislações ambiental e trabalhista, além de

temas como segurança alimentar, etologia e bem-estar animal, administração, técnicas de gerência e comercia-lização, também torna o profissional diferenciado.

O médico-veterinário, especificamente, deve ter sólidos conhecimentos sobre risco e necessidade de notificação obrigatória de enfermidades emergentes de rápida difusão, como influenza aviária e doença de Newcastle; epidemiologia e elaboração de planos de contingência; técnicas moleculares e interpretação de resultados de análises de laboratório; métodos de sacrifício emergencial eficientes, seguros e que cum-pram as exigências de bem-estar animal; assim como usar medicamentos de forma responsável e adequada e saber fazer o controle de resíduos, seguindo as reco-mendações da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e do Codex Alimentarius, bem como das demais organizações internacionais ligadas à produção e co-mercialização de alimentos: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Orga-nização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Mun-dial do Comércio (OMC).

Foto

: Pix

abay

.com

Page 12: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201812

PRODUTOS PARA SAÚDE ANIMAL

Fonte: Elcio Inhe, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan)

D Cadeia de produção D Inteligência de mercado D Regulação e legislação D Pesquisa e desenvolvimento D Comercialização e marketing D Sustentabilidade e meio ambiente D Bem-estar animal

Médicos-veterinários e zootecnistas desempe-nham papéis decisivos na qualidade dos produtos de origem animal consumidos pela população. Uma boa base programática na graduação, associada à dedicação e ao espírito de liderança e de equipe, é uma característica desejada no mercado profissio-nal. Especificamente na indústria de produtos para a saúde animal, os profissionais podem atuar na ca-deia de produção, no desenvolvimento e pesquisa, na comercialização e marketing de alimentos e me-dicamentos, bem como prestar assistência técnica ao cliente. Inteligência de mercado e área regula-tória são nichos cada vez mais relevantes para os empregadores da indústria.

O respeito à qualidade de vida dos animais nunca foi tão necessário e os novos profissionais precisam contribuir com esse trabalho no campo, nos centros de pesquisas e escritórios para a produção sustentável. O conforto e bem-estar animal têm cada vez mais impor-tância para os resultados zootécnicos dos rebanhos.

Sustentabilidade é outro tema que deve estar no radar. A Medicina Veterinária e a Zootecnia têm uma imensa responsabilidade por dar respostas mais ajus-tadas em tempos em que se requerem menor impacto ambiental na produção de alimentos, preservação dos recursos naturais e sustentabilidade dos sistemas de produção, racionalidade do uso da energia, da água e dos solos, diminuição da emissão de carbono na at-mosfera, entre outros.

Foto

: Dio

go-F

ranç

a - D

ivul

gaçã

o/Si

ndan

Page 13: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 13

EQUINOS

Fonte: Henrique de Melo Macha-do, zootecnista e superintenden-te do Setor de Registro Genealó-gico da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM)

D Registro genealógico dos animais D Julgamento em provas oficiais D Técnicas reprodutivas ou assistência nutricional D Manejo ou assistência técnica na seleção e

melhoramento genético do criatório D Instrução técnica em cursos de formação e

especialização de mão de obra D Atendimento clínico e controle sanitário no haras D Manejo e produção de forrageiras D Preparo e treinamento de animais para

competições

Os zootecnistas e médicos-veterinários de equinos devem ter perfil para trabalhar diretamente com o pro-dutor, além de facilidade de relacionamento com fun-cionários e disponibilidade para viagens. A formação precisa ser voltada às áreas de reprodução, nutrição, clí-nica e melhoramento genético de equinos. É desejado também conhecimento geral em manejo de haras, pas-tagens e produção de forrageiras em geral, além de co-nhecimento específico do padrão das raças de equinos com as quais trabalha e dos estatutos e regulamentos que regem as associações.

Certos conhecimentos tornaram-se obrigatórios nos últimos anos, com destaque para, na área de gené-

tica, congelamento e sexagem de sêmen, sexagem de embriões e técnicas de transferência destes, além da clonagem, na área de reprodução. Em nutrição, alter-nativas, preparo e armazenamento de alimentos, bem como desenvolvimento de técnicas de preparo do ca-valo atleta para competições oficiais, são outros temas que devem estar no foco do profissional, que tende a ter seus conhecimentos cada vez mais exigidos. A es-pecialização e o acompanhamento de novas técnicas serão cada vez mais cobrados, pois o principal desafio é adaptar as associações de raças a elas, principalmente na área de reprodução. Isso deve ser feito sem afetar a seleção genética e o mercado ligado ao cavalo.

Foto

: Ace

rvo

ABCC

MM

Page 14: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201814

CLÍNICA E CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS

Fonte: Roberto Luiz Lange, diretor do Hospital Veterinário Santa Mônica (HVSM), em Curitiba (PR), secretário e diretor distrital da Associação Brasileira dos Hospitais Veterinários (ABHV)

D Especialização D Empreendedorismo e gerenciamento de carreira

D Boa relação interpessoal e empatia D Diagnóstico por imagem D Células-tronco

O aumento de visibilidade e importância no bem-estar familiar dos animais de companhia, nos últimos anos, deixou os médicos-veterinários dessa área em evidência. No entanto, o profissional “faz--tudo” não é mais aceito, pois o grau de exigência é elevado e se requer o máximo comprometimento com o tema em que o veterinário se especializar. Também é preciso pensar como empreendedor, mes-mo atuando dentro de uma empresa. Infelizmente, a quantidade de médicos-veterinários no mercado supera as necessidades e, com a concorrência mais acirrada, são imperativos o gerenciamento de carrei-ra e a especialização. Vale ressaltar a importância de, em médio prazo, traçar um plano de carreira, inde-pendentemente de se atuar como empreendedor ou prestador de serviço.

Desde a Resolução CFMV nº 935/2009, houve uma procura e dedicação maiores dos veterinários para as áreas aptas à obtenção do título de especia-lista: clínica geral de pequenos animais, acupuntura, dermatologia, patologia, Medicina Veterinária Intensi-va, patologia, anestesiologia e homeopatia. A dermato-logia veterinária corresponde a algo em torno de 80% dos atendimentos em clínicas e hospitais veterinários, mas praticamente todas as especialidades da medici-na humana estão presentes na Medicina Veterinária de animais de companhia.

Novas tecnologias estão surgindo, como a terapia celular por células-tronco, que promete uma revolução no tratamento das mais diversas patologias em cães e gatos, e se tornou mais acessível a aquisição de equi-pamentos modernos, especialmente no diagnóstico por imagem para uso na cardiologia e no abdome.

O mercado veterinário vem crescendo em torno de 5% ao ano, segundo o Carecadata, índice criado

Foto

: Pix

abay

.com

pela Associação Brasileira de Hospitais Veterinários (ABHV). Diferentemente das estatísticas tradicionais, que consideram tudo o que é produzido para animais de companhia, a pesquisa aborda apenas serviços ve-terinários, que é onde o profissional se insere. Esses dados servirão para traçar estratégias de crescimento e melhorias do setor.

Page 15: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 15

BOVINOCULTURA E PECUÁRIA LEITEIRA

Fonte: João Gilberto Bento, gerente comercial da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ)

D Ética D Genética D Manejo nutricional D Profilaxia de doenças D Bem-estar animal D Gestão D Legislação sanitária e ambiental D Conhecimento de mercados futuros e bolsa de

valores

Em termos comportamentais, é fundamental ser éti-co, no sentido amplo da palavra. Já na formação, o mé-dico-veterinário e o zootecnista que atuam na pecuária de corte ou leiteira devem ultrapassar o conhecimento específico da profissão, obtendo noções de gestão – in-clusive, conhecendo o mercado e suas tendências – e se aprofundando em genética e manejo nutricional. O bem-estar animal é uma demanda em ascensão, assim como as exigências ambientais, que influenciam a co-mercialização de produtos.

A produção de carne e leite se baseia no tripé ge-nética, nutrição e manejo sanitário. O profissional que se interessa por genética precisa estar por dentro da evolução das tecnologias de reprodução – Fertilização In Vitro (FIV), transferência de embriões e, principal-mente, genômica, ciência surgida recentemente. Deve entender a adaptação das raças a cada atividade, sobre cruzamentos industriais e temas correlatos. Na nutrição, precisa estar antenado no uso de novas tecnologias de arraçoamento e na percepção das instalações e buscar produtos que gerem menos custos de produção. Na pro-filaxia, é obrigatório conhecer as doenças básicas e fa-zer o controle orientado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), tomando os cuidados necessários no confinamento.

Saber trabalhar a relação custo-receita é um desafio para os profissionais. Hoje, devem entender de forma-ção de preço e como o aumento da escala reduz a mar-gem; dominar planilhas, sabendo negociar a produção, em que mercados atuar e até fazer hedge (contratos fu-turos para proteção) na bolsa de valores, o que antes era feito por administradores e economistas.

Trata-se de um mercado em expansão, principal-mente o internacional, pois hoje o Brasil é o maior ex-portador mundial de carne bovina (mais de dois milhões

de toneladas em 2018), enquanto de importador de lei-te já somos o quinto maior produtor – com tendência de crescimento, a partir da introdução de tecnologias que facilitem a exportação de produtos lácteos. A expansão será mais voltada à produtividade do que à ampliação das áreas de produção, com demanda por produtos de alta qualidade, como exigem Ásia e Europa.

Foto

: Fre

epic

k.co

m

Page 16: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201816

SAÚDE PÚBLICA

Fonte: Jonas Brant, médico--veterinário, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB)

D Análise de base de dados e geoprocessamento D Vigilância epidemiológica, sanitária e em saúde ambiental

D Controle de vetores e zoonoses D Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e atenção primária à saúde

D Meio ambiente e sustentabilidade D Resistência antimicrobiana

O médico-veterinário é um profissional estratégico e hoje reconhecido como parte das equipes de apoio à saúde da família nos Nasfs. Nas Secretarias Municipais de Saúde, apoia ações como vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vigilância em saúde ambiental, con-trole de vetores, controle de zoonoses e promoção da saúde. Em cada uma dessas áreas, há uma grande quan-tidade de atividades específicas a ser desenvolvidas.

Na saúde pública, as competências desejadas são: conhecimento generalista, com bons fundamentos em ecologia, sociologia, epidemiologia e doenças infec-ciosas, além de capacidade para liderar e coordenar equipes multiprofissionais. Atua-se, fundamentalmente, para o desenvolvimento sustentável, da saúde da comu-

nidade e da segurança alimentar, apoiando o equilíbrio do meio ambiente e a interação entre humanos e outros animais.

A formação do médico-veterinário, no entanto, ainda é muito voltada à atuação clínica ou em ciências agrárias, com pouca interação com serviços de saúde pública. É preciso romper esse entendimento e pro-mover reformas curriculares, valorizando áreas como Medicina Veterinária do Coletivo. Mudanças climáticas, resistência antimicrobiana, emergência de novas doen-ças e atenção primária em saúde são áreas que podem expandir as frentes de atuação – faculdades e profissio-nais que primeiro olharem para esse mercado tomarão a dianteira.

Foto

: Dên

io S

imõe

s - A

gênc

ia B

rasí

lia

Page 17: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 17

ENSINO

D Didática, comunicação e bom relacionamento interpessoal D Compromisso com o aprendizado D Mestrado/doutorado e conhecimentos de técnicas pedagógicas D Atualização profissional D Áreas promissoras: nutrição, produção e melhoramento animal

ZOOTECNIA Fonte: Ana Cláudia Ambiel, coorde-nadora do curso de graduação em Zootecnia e de pós-graduação lato sensu em Bovinocultura de Corte e Confinamento da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), presidente da CNEZ/CFMV

Na área acadêmica, é possível dar aulas em cursos técnicos e profissionalizantes de nível médio voltados ao agronegócio, na graduação e pós-graduação.

O bom professor é capaz de transmitir o conhe-cimento de forma clara, simples e objetiva e de ser compreendido. Gosta de se relacionar com as pessoas, compreende as necessidades dos alunos e tem em-patia, além de cultivar valores como dedicação, ética, respeito, carisma, dinamismo e sensibilidade. É preci-so ter compromisso com o aprendizado. E, claro, vale destacar a importância da pós-graduação (mestrado e doutorado) e da realização de cursos e disciplinas de Pedagogia e didática para se capacitar.

Um grande desafio é ensinar de forma diferente, adequando o processo de ensino-aprendizagem às no-vas gerações. Recursos tecnológicos, docência transdis-ciplinar e multiprofissional e o ensino a distância são temas obrigatórios. Outra questão é atualizar constan-temente projetos pedagógicos e infraestrutura da gra-duação para atender ao perfil do profissional requerido pelo mercado de trabalho, no qual as áreas de nutrição, produção e melhoramento animal são as mais deman-dadas e promissoras atualmente.

Fonte: Rafael Mondadori, professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e presidente da Comissão Nacional de Educação em Medicina Veterinária do CFMV

Antes de se tornar docente, o exercício prévio da profissão, aprofundando-se em uma área, auxilia o mé-dico-veterinário a ter uma visão ampla. Ter a curiosida-de de pesquisador não é suficiente. É preciso saber se expressar, compreender mais de um idioma, ser bom em relacionamento, saber liderar, ser liderado e, princi-palmente, gostar de lidar com estudantes. Não se nasce sabendo dar aula e, embora o bom professor não preci-se estudar teorias pedagógicas, deve compreender as técnicas para dar uma aula melhor e entender, em sua área de expertise, o que deve ser passado ao estudante.

Temos que ser diferentes do que foram nossos do-centes e ensinar de modo diverso ao que aprendemos, por isso o desafio é ter coragem de ir além da aula mera-mente expositiva e “pensar fora da caixa”. Afinal, a infor-mação não está mais com o professor, está na internet. O papel do docente é trabalhar para gerar conhecimento e pensamento crítico sobre as informações disponíveis – a técnica pedagógica é o que o leva a isso.

O mercado de ensino, hoje, está em expansão – mas de forma negativa. A busca é por mão de obra barata para lecionar para estudantes que estão sofrendo este-lionato intelectual, fruto de um pobre sistema de avalia-ção da educação superior no país.

MEDICINA VETERINÁRIA

Foto

: Ton

y W

inst

on -

Agên

ciaB

rasí

lia

Foto

: Pix

abay

.com

Page 18: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201818

INDÚSTRIA DE SUPLEMENTOS

Fonte: Ademar Leal, diretor da Campo Rações e presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram)

D Motivação, dedicação e conhecimento técnico D Responsabilidade técnica D Terminação Intensiva a Pasto (TIP) D Bem-estar animal D Desenvolvimento de produtos D Marketing e vendas (disseminação)

Não existe indústria de nutrição e suplementos sem médico-veterinário e zootecnista. Esses profis-sionais, nessa área, atuam de forma muito semelhante quando usam, informam, treinam e fazem o atendi-mento técnico no campo. A área de vendas, apesar de ainda vista com algum preconceito nas universidades, é importantíssima e de sucesso. Em qualquer caso, é preciso que o profissional cultive valores pessoais, como ética e dedicação, sempre se antecipando às no-vidades e buscando conhecimento a todo vapor para se diferenciar dos demais.

O mercado de suplementos cresceu 1,8% em 2018, comparado a 2017, e pode crescer ainda mais, porque a subdosagem é frequente. O montante em vendas seria suficiente para atender, aproximadamen-te, a 35% do rebanho nacional, de cerca de 200 mi-lhões de cabeças. No entanto, sabe-se que cerca de 70% têm acesso à suplementação – isso indica que muitos animais usam doses mais baixas que o neces-sário. Se todos os animais consumissem os produtos corretamente, as vendas triplicariam.

O profissional também precisa se atualizar cons-tantemente, pois a tecnologia no campo surge e en-velhece muito rápido. Vale destacar, atualmente, a TIP, um confinamento a pasto que pode ser usado até por pecuaristas de menor porte e se difundiu rapidamente pelo país. Nessa situação, são neces-sários altos níveis de concentrados. Outras áreas relevantes para a indústria são a suplementação de fêmeas para gado de cria e o bem-estar animal, principalmente no que se refere ao conforto térmi-co. Esses são apenas alguns exemplos de iniciativas que aumentam a produtividade e geram retorno ao produtor. Fo

to: D

ivul

gaçã

o/Be

rran

te C

omun

icaç

ão

Page 19: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

EVENTO

COM INSCRIÇÕES ABERTAS, CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA SERÁ EM BRASÍLIA

Evento terá mais de 60 palestrantes, duas feiras e iniciativas voltadas à responsabilidade socioambiental

De 16 a 18 de maio de 2019, a Associação Na-cional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Distrito Federal (Anclivepa-DF)

realizará, em Brasília, o 40º Congresso Brasileiro da Anclivepa (CBA). O evento está com inscrições abertas para quem quiser assistir às palestras e visitar as duas feiras programadas. Médicos-veterinários e estudantes apresentarão trabalhos científicos – os selecionados serão divulgados em 15 de abril.

O CBA é um dos principais eventos científicos de clí-nica veterinária de pequenos animais do país. Realizado anualmente, em 2019, contará com mais de 60 palestran-tes de diversas especialidades, como o geriatra brasileiro Hélio Autran, radicado nos Estados Unidos; o dermatolo-gista argentino Pablo Manzuc; e a americana Lauren Tre-panier, especialista em Farmacologia Clínica, entre outros profissionais de destaque no Brasil e no mundo.

“Além da qualidade dos profissionais que se apre-sentarão, solicitamos que todos trouxessem novidades ao evento, com temas atuais e voltados para o dia a dia da clínica de pequenos animais, de modo que os profis-sionais presentes possam aplicar o que aprenderem no seu cotidiano”, afirma Andréa Carneiro, presidente da Anclivepa-DF, responsável pela organização do evento.

Com previsão de receber três mil participantes, uma das novidades em relação às edições anteriores são as iniciativas de responsabilidade socioambiental, do pré ao pós-evento: localização central, para que os inscritos se desloquem o mínimo possível; separação de resíduos sólidos e destinação certificada; parceria

com o projeto Mini Gentilezas, para recolher produtos oferecidos como amenities nos hotéis e não usados pe-los participantes do congresso, destinando-os a pes-soas em situação de rua; e confecção das bolsas com material reciclado, produzido por cooperativa local, entre outras medidas.

Além do site, o 40º CBA disponibilizou um aplica-tivo para iPhone e Android, no qual é possível acessar o mapa do evento e antecipar a adesão a palestras de seu interesse, por exemplo.

FEIRAS, SIMPÓSIO E SHOWEmbora a programação oficial tenha início no dia 16

de maio, estão previstos cursos pré-congresso no dia 15, que ocorrerão no Centro Universitário de Brasília (Uni-CEUB), na Asa Norte. As inscrições estão abertas e os te-mas são: cirurgia, dermatologia, emergência, odontologia, células-tronco e mecanoterapias para pequenos animais.

Paralelamente à programação científica, ocorrem duas feiras. A principal é a ExpoAnclivepa, com cerca de 70 expositores de todo o país, entre fabricantes de medicamentos, rações e prestadores de serviços diver-sos; já a Vila Brasília foi pensada para os médicos-vete-rinários de Brasília, com produtos e serviços direciona-dos ao público local.

A agenda terá ainda um simpósio sobre a sín-drome de burnout (estresse crônico provocado por sobrecarga ou excesso de trabalho), mesas-redondas intituladas “Converse com as feras”, nas quais será possível tirar dúvidas com especialistas, e uma loja – já funcionando on-line – para a aquisição de lem-branças do evento, como pelúcias das mascotes Au-rora (gata) e Cliveto (cão), kit viagem e outros itens. Pela primeira vez, haverá cerimônia de encerramento, com premiações e show do grupo de humor Melhores do Mundo.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 19

Page 20: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

REVISTA CFMV: VERSÃO DIGITAL É A MAIS PRÁTICA PARA 40% DOS LEITORES

Publicação ganhou Conselho Editorial, que planeja uma série de mudanças,

tornando-a mais voltada ao dia a dia do profissional

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) realizou, no fim de 2018, uma pesquisa por meio das mídias sociais e da newsletter semanal que

recebeu respostas voluntárias de 757 profissionais sobre a Revista CFMV. Um dos destaques do levantamento diz respeito às versões impressa e digital. Embora a revista fí-sica ainda seja a forma de leitura apontada por 75% dos entrevistados, 40% opinaram que é mais prático acessar o conteúdo via web ou dispositivos móveis.

Os entrevistados contribuíram preenchendo um formulário da ferramenta Google Forms com opiniões sobre a publicação e sugestões diversas. Para 81% dos respondentes, a qualidade do conteúdo é boa ou óti-ma, porém houve muitas sugestões para a elaboração de pautas voltadas à realidade do mercado de trabalho, inovação e tecnologia. Os temas técnicos e científicos são os favoritos de 85% dos leitores, seguidos de en-trevistas e reportagens (41%) e legislação (36%) – era possível optar por mais de uma resposta nesta questão.

INSTITUCIONAL

T Conselho Editorial na sede do CFMV. A partir da esquerda: Emanoel de Barros, Flávia Lôbo, Marcelo Hauaji, Viviane Marques, Cícero Pitombo e Lígia Cantarino

Foto

: Jos

emar

Ara

gão

- Dec

om/C

FMV

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201820

Page 21: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

“A partir da realização da pesquisa e da nossa per-cepção como profissionais, queremos tornar a Revista CFMV um veículo relevante, que desperte o interesse e prazer pela leitura para médicos-veterinários e zoo-tecnistas, sejam eles profissionais ou em formação”, afirma o editor, Cícero Pitombo.

MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL ATÉ 1968

MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL ATÉ 1968

Poder acessar a publicação por um meio digital e on-line foi um pedido de 43,6% dos responden-tes, enquanto a criação de um aplicativo persona-lizado foi sugerida por 33,0%, o que indica uma demanda pela facilitação da portabilidade do con-teúdo. Os temas tecnologia e inovação e notícias sobre a atuação institucional do CFMV ficaram em segundo lugar nas sugestões de melhoria, tecni-camente empatados com cerca de 39,0% – nessa questão, intitulada “O que falta na revista?”, tam-bém era possível optar por mais de uma resposta.

Uma das primeiras decisões do novo Con-selho Editorial foi suspender, temporariamente, o recebimento de novos artigos de investigação científica, revisão e educação continuada, básica e profissionalizante. Estão em preparação novas normas para recebimento dos textos, de modo a contemplar os anseios atuais dos profissionais de Medicina Veterinária e Zootecnia. Os artigos em fase de submissão e avaliação seguirão o proces-so previamente estipulado e, logo que tiverem a tramitação concluída, seus autores serão avisa-dos por e-mail.

AS PREFERÊNCIAS DO LEITOR

RECEBIMENTO DE ARTIGOS ESTÁ SUSPENSO

A tiragem impressa, que antes era de mais de cem mil exemplares entregues pelos Correios a médicos-ve-terinários e zootecnistas inscritos nos seus respectivos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs), foi reduzida para dez mil unidades, encaminhadas aos regionais, instituições de ensino, órgãos públicos e bibliotecas de todo o país. Essa mudança gerou uma redução de mais de 80% nos custos por edição – o percentual exato ainda está sendo calculado, a partir da economia feita com o pagamento de fornecedores e outras despesas ao longo do ano de 2018.

Além das medidas de economia já em vigor, mu-danças editoriais vêm sendo implementadas grada-tivamente. O Conselho Editorial da Revista CFMV já realizou duas reuniões, com o objetivo de reformular a publicação. O corpo editorial ganhou nova composição após o falecimento do editor-chefe, Nivaldo da Silva, em novembro de 2018. O grupo é formado pelo edi-tor, Cícero Pitombo, médico-veterinário, assim como Marcelo Hauaji e Lígia Cantarino, além do zootecnista Emanoel de Barros. As jornalistas Viviane Marques, su-beditora da publicação, e Flávia Lôbo, diretora de Co-municação, completam o grupo que cuidará das próxi-mas edições da revista.

“O grupo está entrosado e empenhado em fazer uma revista que atenda melhor aos médicos-veteriná-rios e zootecnistas, com informações mais compatíveis com o dia a dia dos profissionais. Queremos ter repor-tagens e artigos de educação continuada que ajudem a valorizar as profissões, além de fazê-la um instrumento de transparência do CFMV”, destaca Pitombo.

MUDANÇAS EM ANDAMENTOVeículo de educação continuada publicado trimes-

tralmente pelo conselho, a revista vem sofrendo uma série de mudanças. Desde a edição 77, seu conteúdo é mais facilmente acessado por meios on-line, nos quais está disponível de forma gratuita a todos os interessa-dos, via Portal CFMV, cujo link também é divulgado nas mídias sociais e na newsletter enviada semanalmente aos inscritos na autarquia.

40%Na tela do computador

Outra

59,3%

0,7%

Impressa

1 - FORMATO MAIS PRÁTICO PARA LER A REVISTA

2 - COMO VOCÊ CLASSIFICA A QUALIDADE DO CONTEÚDO?

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 21

47,6%Bom

16,5%Regular

33,2%

0,8%

2%

Ótimo

Ruim

Péssimo

Page 22: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

EM DOIS ANOS, CRMV-MS AUTUOU 1.520 EMPRESAS

Levantamento feito pela Gerência Técnica estima que a regularização da situação representou a criação de cerca de 1.200 vagas de emprego no estado

De janeiro de 2016 a dezembro de 2018, o se-tor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul

(CRMV-MS) autuou 1.520 empresas que funcionavam sem a presença de um profissional Responsável Téc-nico (RT) e por não estarem registradas na autarquia. Desse total, cerca de 80% regularizaram a situação e contrataram um médico-veterinário, o que representou a criação de 1.200 vagas de trabalho.

O levantamento foi realizado pela gerente téc-nica do CRMV-MS, a médica-veterinária Ana Carolina Gonçalves. Nesse período, foram aplicadas 752 mul-tas, das quais 451 foram canceladas devido à regu-larização da situação dentro do prazo estabelecido pela autarquia.

Ana Carolina ainda constatou que 384 novas empresas que desenvolvem atividades relacio-nadas à Medicina Veterinária e à Zootecnia não estavam inscritas no conselho, além de atuarem

sem o RT. Dessas, 251 regularizaram a situação no CRMV-MS.

FISCALIZAÇÃO É FUNÇÃO ATRIBUÍDA PELA LEI Nº 5.517A fiscalização dos estabelecimentos em que a ati-

vidade básica está ligada à Medicina Veterinária e/ou à Zootecnia é a principal atribuição dos CRMVs, con-forme Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Ainda segundo a lei, as empresas devem registrar um RT, o qual deve ser um médico-veterinário ou zootecnista, e, dependendo do tipo de estabelecimento, realizar a inscrição no conselho de sua jurisdição.

A fiscalização realizada pela autarquia procura ga-rantir o cumprimento das normas estabelecidas pelo Sistema CFMV/CRMVs, além de assegurar a qualidade dos produtos fabricados e/ou comercializados, o bem--estar dos animais e a segurança alimentar, protegendo a sociedade contra qualquer abuso ou agravo, garan-tindo a manutenção da saúde pública.

CRMVsEM PAUTA

Assessoria de Comunicação do CRMV-MS

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201822

Foto

: Div

ulga

ção/

Asse

ssor

ia d

e Co

mun

icaç

ão d

o CR

MV-

MS

Page 23: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

RORAIMA RECEBE FORMANDOS DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

Pela primeira vez, CRMV-RR abriu as portas para novos profissionais, com a presença da diretoria

“As minhas mais sinceras boas-vindas a essa profissão maravilhosa, meus novos cole-gas”, afirmou o presidente do Conselho Re-

gional de Medicina Veterinária de Roraima (CRMV-RR), Francisco Edson Gomes, ao abrir o órgão, pela primeira vez, para um café da manhã com formandos de Medici-na Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Roraima (UFRR). O evento ocorreu em janeiro, durante a semana das solenidades de formatura.

O encontro inédito teve como objetivo mostrar aos novos profissionais a importância do Sistema CFMV/CR-MVs, os trabalhos que são realizados, as fiscalizações da conduta ética de profissionais e os planos futuros.

“Queríamos que conhecessem e se familiarizas-sem com a nossa casa, que será o órgão de classe deles, e mostrar-lhes a valorização do profissional, enfatizando que o conselho é muito importante para os profissionais e devemos caminhar juntos, pois sabemos que os médicos-veterinários e zoo-tecnistas fortalecem o agronegócio e são direta-mente responsáveis pela saúde e bem-estar da população, dos animais e do meio ambiente”, co-mentou o presidente.

Em seu discurso, Gomes reforçou ainda que o pa-pel da entidade é ajudar os profissionais a cumprir suas tarefas diárias com ética, legalidade, zelo e com-petência. “Só temos que nos orgulhar, ao longo desses 50 anos do Sistema CFMV/CRMVs, pelo reconhecimen-to e valorização conseguidos. Apresentamos todo o trabalho realizado pelo CRMV-RR até agora e as me-tas a serem alcançadas. Desejamos, para os próximos anos, que continuemos trabalhando com transparência pública, responsabilidade e inovação para o bem do nosso estado e do país”, acrescentou.

Os novos profissionais – 29 de Medicina Veteri-nária e cinco de Zootecnia – receberam das mãos da diretoria brindes e uma pasta contendo a história do CRMV-RR e as resoluções do Código de Ética das res-pectivas profissões. Os recém-formados demonstra-ram emoção e destacaram a importância do evento.

Priscila Fantinato Brito, da turma de Zootecnia, revelou que o encontro foi um marco pessoal importante. “É um meio de agregar valor e unir a categoria. Ficamos mais am-parados sabendo que podemos chegar ao conselho, tirar todas as dúvidas e obter a ajuda necessária”, afirmou.

A médica-veterinária Fernanda Almeida Pereira completou: “Além de nos aproximarmos mais dos ou-tros profissionais, ficamos sabendo a visão e missão do Sistema CFMV/CRMVs. Isso nos dá mais ânimo para o engajamento profissional no estado de Roraima”.

Estiveram presentes, ainda, o secretário-geral do CRMV-RR, Alessandro Henrique G. G. Carvalho; o te-soureiro, Sergio Alberto Nascimento Melo; o conselhei-ro efetivo Jalison Lopes, além de José Wilker, professor de Zootecnia da UFRR. Scheila Muller

CRMVsEM PAUTA

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 23

Page 24: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

CRMV-RS AUXILIA A ELABORAÇÃO DE EDITAIS DE CONCURSOS NA ÁREA DA SAÚDE

Objetivo é evitar equívocos na descrição de vagas cujas funções constem na regulamentação profissional de médicos- -veterinários e zootecnistas

T Axxxxxxxxxx

Editais de concursos que englobam a área da saúde nem sempre são elaborados por quem tem conhe-cimento amplo da legislação vigente que assegura

as atividades privativas de cada profissão. Devido a essa necessidade, o Conselho Regional de Medicina Veteriná-ria do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) colocou-se à dispo-sição de prefeituras gaúchas e do governo do estado, a fim de prestar auxílio na preparação dos textos de editais que tenham cargos destinados à área da saúde, especi-ficamente aqueles que contenham vagas cujas funções estejam previstas nas Leis nº 5.517/1968, que defi-ne o exercício da profissão de médico-veterinário, e nº 5.550/1968, que regulamenta a profissão de zootecnista.

O objetivo é evitar equívocos recorrentes quanto à determinação das atribuições descritas em vagas dire-cionadas à saúde pública. “Notificamos um município, recentemente, por apresentar, no edital de um concur-so de nível médio para vaga de fiscal sanitário, exigên-cias para o cargo que continham funções de exercício privativo do médico-veterinário”, destaca a presidente da entidade, Lisandra Dornelles.

O ofício encaminhado à prefeitura solicitou a reti-ficação do edital, sob pena de caracterizar descumpri-mento da legislação de regulamentação profissional.

CRMVsEM PAUTA

Diz o texto: “A Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, que dispõe sobre o exercício da profissão de médico--veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária, determina, em seu art. 5º, alínea f, que é da competência privativa do médico-veterinário o exercício das seguintes atividades e funções, a cargo da União, dos estados, dos municípios, dos territórios federais, entidades autárquicas, paraestatais e de eco-nomia mista e particulares, a inspeção e a fiscalização sob o ponto de vista sanitário, higiênico e tecnológico dos matadouros, frigoríficos, fábricas de conservas de carne e de pescado, fábricas de banha e gorduras em que se empregam produtos de origem animal, usinas e fábricas de laticínios, entrepostos de carne, leite, pei-xe, ovos, mel, cera e demais derivados da indústria pe-cuária e, de um modo geral, quando possível, de todos os produtos de origem animal nos locais de produção, manipulação, armazenagem e comercialização”.

Ao auxiliar na redação desses editais, espera-se que erros dessa natureza não voltem a acontecer, evitando que o CRMV-RS solicite alterações pelo descumprimen-to da legislação que regulamenta essas duas atividades profissionais. “Os órgãos públicos que optarem por tra-balhar em conjunto com o conselho irão se resguardar da necessidade de ter que alterar o edital, o que, além do transtorno, acabaria gerando novos gastos ou, na pior das hipóteses, anulação do concurso”, afirma Lisandra.

Para solicitar o auxílio ou a revisão de editais, o responsável pela instituição interessada deve entrar em contato pelo e-mail [email protected]. Cristine Pires

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201824

Page 25: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

CRMV-CE LANÇA FERRAMENTA #WHATSAPPDOSETORDACOBRANÇA

Contato por meio do aplicativo dá mais agilidade ao atendimento e promove a aproximação entre profissional e conselho

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Ceará (CRMV-CE) começou o ano de 2019 ofe-recendo uma ferramenta para facilitar a vida

de seus inscritos. O #WhatsAppdoSetordaCobrança é um canal exclusivo para que médicos-veterinários e zootecnistas tirem dúvidas relativas a dívidas com o conselho. Por meio dele, é possível pedir orientações e fazer questionamentos sobre débitos, proporcionando mais comodidade e privacidade àqueles que desejam negociar pendências.

“A ferramenta aproxima o profissional do conselho, além de dar celeridade ao serviço. Para tal, disponibili-zamos equipamento telefônico específico com aplica-tivo em total funcionamento, para que os colegas te-nham acesso à novidade quando desejarem”, declarou o presidente do CRMV-CE, Célio Pires Garcia.

O médico-veterinário Igor Gurgel, fiscal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), sempre resolvia seus problemas de forma presencial na sede do órgão. Ele comemorou a novidade. “É uma ferramenta superválida. Traz retorno mais rápido e tem também a questão de dar mais privacidade. Parabeni-zo a ação, pois todo e qualquer avanço que agilize o

atendimento será sempre bem-vindo”, elogiou Gurgel, profissional que também atua como cirurgião de pe-quenos animais.

Para usar o #WhatsAppdoSetordaCobrança, bas-ta adicionar o número (85) 99137-6227 à sua lista de contatos do celular e mandar mensagem de texto ou de voz, por meio do aplicativo WhatsApp, no horário de expediente do órgão: das 8h às 12h e das 13h às 17h. Já para quem prefere o contato telefônico ou presen-cial, o CRMV-CE continua atendendo pelo número fixo (85) 3272-4886 e na sede, localizada na rua José Lou-renço, nº 3.288, bairro Dionísio Torres, Fortaleza (CE).

CRMVsEM PAUTA

“Todo e qualquer avanço que agilize o atendimento será sempre bem-vindo”, Igor Gurgel, médico- -veterinário atendido pelo Whatsapp do CRMV-CE

Hugo Acácio

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 25

Page 26: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

FORMULÁRIO DO CRMV-GO AJUDA A ANALISAR COM MAIS EFICIÊNCIA PROJETOS DE CASTRAÇÃO

Pedidos devem ser feitos com, pelo menos, 60 dias de antecedência

A Comissão Estadual de Bem-Estar Animal de Goiás (CRMV-GO) criou um formulário especí-fico para a solicitação de análise de projetos

de castração realizados no estado. Os interessados em executar programas de esterilização em massa deve-rão protocolar o formulário, devidamente preenchido e assinado, com pelo menos 60 dias de antecedência da ação, para apreciação da autarquia.

Os projetos de castração, em sua maioria, são programas oferecidos por Organizações Não Gover-namentais (ONGs) e prefeituras. A normatização dos procedimentos de contracepção de cães e gatos – em programas de educação em saúde, guarda responsável e esterilização cirúrgica ou não – existe para oferecer ao animal o mesmo grau de eficiência, segurança e bem-estar de uma clínica veterinária privada.

INICIATIVA PRECISA TER BASE EM RESOLUÇÃO DO CFMVO formulário contém informações sobre o médico-

-veterinário responsável pela ação, com detalhamento sobre o profissional encarregado de anestesia, cirurgia

e colaboradores, além de dados sobre os animais, con-dições de manutenção do animal no local e um crono-grama completo da ação, com termo de responsabili-dade do médico-veterinário coordenador do projeto.

O pedido deve ser embasado na Resolução CFMV nº 962, de 27 de agosto de 2010, que normatiza os procedimentos de contracepção de cães e gatos em programas de educação em saúde, guarda responsá-vel e esterilização cirúrgica, com a finalidade de con-trole populacional.

A presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do CRMV-GO, Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera, e a coordenadora técnica do regional, Raquel de Sou-sa Braga, explicam que muitos projetos de castração chegavam à entidade com informações insuficientes, o que inviabilizava a homologação do programa, ge-rando frustração por parte das instituições promotoras. “Com o novo formulário, o médico-veterinário respon-sável pela ação preenche os dados exatos solicitados pelo CRMV-GO, fato que agiliza todas as etapas do pro-cesso”, informa Ekaterina. Denise Duarte

CRMVsEM PAUTA

Foto

: Val

deci

r Gal

or-S

MCS

Cur

itiba

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201826

Page 27: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

CAMPANHA ORIENTA BANHISTAS A NÃO LEVAR CÃES À PRAIA EM SC

Pelo segundo ano consecutivo, o Conselho Re-gional de Medicina Veterinária de Santa Catari-na (CRMV-SC) realizou a Ação Verão, no mês de

janeiro. Banhistas da Praia Alegre, em Penha, e da Praia da Pinheira, em Palhoça, tiraram dúvidas e ganharam material explicativo sobre a importância de não levar animais à praia – prática proibida em boa parte do li-toral catarinense. A iniciativa contou com parceria do Serviço Social do Comércio (Sesc), que ofereceu in-fraestrutura, além de presença de assessores técnicos e membros da diretoria do CRMV-SC.

Segundo o presidente da entidade, Marcos Viní-cius de Oliveira Neves, a falta de fiscalização do po-der público e de conhecimento da população dificulta a aplicação da lei. “Nas abordagens, percebemos que falta informação. Muitos veranistas que levam o animal à praia acreditam que estão fazendo o melhor para ele. Orientamos os adultos e ensinamos as crianças de for-ma lúdica. A receptividade foi excelente. Precisamos deixar claro que os animais têm outras necessidades, diferentes das nossas”, afirmou.

A argentina Belén Galván, da cidade de Misiones, elogiou a ação. “Há muitos anos, passo férias nas praias catarinenses e nunca tinha visto uma ação assim, com a presença de médicos-veterinários fazendo um alerta tão importante. Tenho filho pequeno e vou repassar a ele o que aprendi”, disse.

A médica Elis Jordana, da cidade de Jaraguá do Sul, também apoiou a iniciativa. “Parabéns aos profis-sionais do conselho, que, além de atuar na educação,

estão trabalhando na prevenção. Como médica, conhe-ço os riscos das zoonoses, mas uma minoria tem essa noção”, comentou.

O carro-chefe da ação foi o gibi “Prevenção – a fiel companheira da saúde”, produzido pelo CRMV--SC. Os quadrinhos contam a história de uma criança que aprende com um médico-veterinário por que não deve levar seu animal à praia. Na ocasião, as crianças receberam outras três cartilhas do conselho sobre os temas: posse responsável, bem-estar animal e tráfico de animais silvestres.

Segundo os médicos-veterinários da Ação Ve-rão, a presença de animais no litoral pode trazer doenças para adultos e, principalmente, crianças, pois elas têm maior contato com a areia, pela qual podem ser transmitidas micoses de pele, outros fungos e alguns parasitas.

A saúde do animal de estimação também é posta em risco, pela chance de contrair viroses, possivelmen-te de animais de rua e sem vacinação. Para completar, as altas temperaturas podem provocar queimaduras nas patas e na pele, além de desequilíbrio no sistema termorregulador dos animais. “Cães possuem mecanis-mos de regulação da temperatura corporal e transpi-ração diferentes dos seres humanos. Essa questão fi-siológica faz com que troquem calor com o ambiente de outras formas, o que muitas vezes é dificultado em ambientes como a praia, acarretando transtornos que podem, em casos mais graves, levar à morte do ani-mal”, enfatizou Neves. Patrícia Rodrigues

CRMVsEM PAUTA

Crianças receberam cartilhas e adultos tiveram informação sobre zoonoses, viroses e outras ameaças à saúde dos animais

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 27

Page 28: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

CFMV PROÍBE INSCRIÇÃO DE EGRESSOS DE CURSOS A DISTÂNCIA

Em decisão unânime, plenária aprovou a Resolução nº 1.256 e impedirá o exercício

profissional de quem se formar fora dos padrões estabelecidos pelo MEC

Em decisão tomada na 321ª Reunião Plenária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), foi aprovada por unanimidade a Reso-

lução nº 1.256, que proíbe a inscrição profissional de egressos de cursos de Medicina Veterinária realizados na modalidade de Ensino a Distância (EaD).

Sem a inscrição no Conselho Regional de Medici-na Veterinária (CRMV), quem tiver concluído o curso a distância ficará impedido de exercer a profissão de médico-veterinário em todo o país. Já os profissionais que ministrarem disciplinas ou estiverem envolvidos na gestão desses cursos estarão sujeitos à responsabi-lização ético-disciplinar.

O CFMV não possui competência para evitar a proliferação da metodologia a distância em Medicina Veterinária, pois a autorização para funcionamento de cursos de graduação é uma atribuição do Minis-tério da Educação (MEC). No entanto, a plenária do conselho – formada por diretores e conselheiros da

EDUCAÇÃO

T A 321ª Reunião Plenária do CFMV, em fevereiro, aprovou resolução que impede a inscrição de profisisonais formados em cursos a distância

Melissa Silva

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201828

Page 29: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

entidade – entende que a modalidade impede a rea-lização de aulas práticas essenciais para preparar o bom profissional.

Atualmente, as diretrizes curriculares do MEC ad-mitem que 20% da grade horária da graduação de Me-dicina Veterinária seja realizada por aulas on-line, des-de que restritas aos conteúdos meramente teóricos. O CFMV defende que os outros 80% das aulas sejam ministrados exclusivamente sob a modalidade presen-cial, inclusive, com estágio profissional.

O presidente da autarquia, Francisco Cavalcanti de Almeida, destaca que o curso de Medicina Veterinária de-manda inúmeras atividades práticas e de campo, como anatomia, fisiologia, clínica, cirurgia, patologia, análises laboratoriais, entre outras operacionais e de manejo téc-nico, cuja aprendizagem só ocorre por meio de aulas pre-senciais, conforme prevê a Resolução nº 595/1992.

Ainda de acordo com ele, os estudantes de Medi-cina Veterinária passam por árduo treinamento para aprender a identificar as queixas de pacientes que não falam e não podem comunicar verbalmente o que sentem.

“Já é um processo complexo de aprendizagem em aulas presenciais. Imagine como seria aprender isso virtualmente? Como seriam aulas on-line de auscul-tação do coração ou dos movimentos estomacais?”, exemplifica, para demonstrar que a formação requer prática e contato direto com os animais.

Para Cavalcanti, a educação inadequada gera pre-juízos à formação profissionalizante e impacta direta-mente os serviços prestados à sociedade. “Como órgão que fiscaliza o exercício profissional, queremos zelar pela qualidade do mercado de trabalho e pela saúde da população”, afirma.

Ele garante que a preocupação do conselho não está restrita ao mercado de trabalho, mas também ao investimento do aluno em uma educação que não vai prepará-lo de forma adequada.

“É um curso caro, o aluno tem a expectativa de uma sólida formação, mas acaba sendo vítima de um sistema de educação meramente mercantilista, que não garante formação de qualidade”, alerta Cavalcanti.

MEDIDA REPERCUTE NAS MÍDIAS SOCIAIS

O EaD é um tema que sempre desperta rea-ções acaloradas nas mídias sociais – e não foi diferente com as publicações relacionadas à de-cisão do CFMV de vetar a inscrição no CRMV de quem se forma nessa modalidade de graduação.

A hashtag #EADNÃO deu o tom dos posts. Só no Facebook, foram mais de 150 mil visualizações, com mais de oito mil envolvimentos, isto é, rea-ções como “Curti” e “Amei”, além de comentários e compartilhamentos. No Instagram, 2,3 mil pessoas curtiram o post relativo à Resolução nº 1.256, en-quanto no Twitter a participação dos seguidores as interações ficaram bem acima da média das publi-cações diárias.

O seguidor Edino Camoleze, por exemplo, comentou no Facebook: “Muito bem! A Medicina Veterinária é uma profissão muito difícil na sua formação presencial, com muitas horas de ana-tomia e laboratórios. O propósito é formar profis-sionais competentes e não amadores e aprendi-zes”. Já Gláucio Maracajá abriu sua opinião com uma hashtag e prosseguiu: “#CERTÍSSIMO A gran-de maioria dos procedimentos técnicos não têm condições de praticar e aprender (sic) a distância, desde a clínica médica, passando pela cirurgia até a inspeção sanitária. Cursos da área da saúde e engenharias só presenciais. Médico-veterinário a distância só se for para atender urso de pelúcia”.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 29

Page 30: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

AINDA SOBRE O ENSINO A DISTÂNCIA PARA O CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

A formação do bom profissional depende, além da formação teórica, de prática desde o início da vida acadêmica

A criação de cursos de graduação em Medicina Veterinária na modalidade de Ensino a Dis-tância (EaD) tem provocado reação negativa

no meio veterinário, bem como na sociedade em ge-ral, além de vários questionamentos aos Conselhos Regionais (CRMVs) e ao Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) sobre o que fazer com relação à sua abertura. Embora os conselhos profissionais de Medi-cina Veterinária no Brasil não possuam a atribuição de autorizar, reconhecer, fiscalizar e regulamentar cursos de graduação, o CFMV é totalmente contra a oferta de cursos de Medicina Veterinária na modalidade a dis-tância, bem como de cursos presenciais que não ofe-reçam as condições mínimas para o desenvolvimento

Textos de autoria de médicos-veterinários e

zootecnistas

T Apesar das exigências para a autorização de novos cursos superiores, o número de graduações em Medicina Veterinária cresceu de cem cursos autorizados, em 2001, para, atualmente, mais de 360 cursos registrados no MEC, totalizando cerca de 70 mil vagas

ARTIGOSTÉCNICOS

das habilidades e competências necessárias para o atendimento das demandas sociais da profissão. Seu posicionamento baseia-se no entendimento de que esses cursos não atendem às necessidades específicas da formação do profissional médico-veterinário, posi-ção explicitada na página oficial do conselho no dia 25 de outubro de 2018, sob o título “CFMV repudia ensino a distância para os cursos de graduação em Me-dicina Veterinária”.

Mas por que algo que é tão claro entre aqueles que se dedicam a zelar pela qualidade da profissão não en-contra eco dentro do órgão responsável pela formação dos futuros profissionais, o Ministério da Educação (MEC)? Para responder a essa pergunta, devem ser ana-lisados os motivos que levaram o governo federal, por meio do MEC, a expandir o ensino superior, em um pri-meiro momento por meio de cursos presenciais e ago-ra pelo EaD. Inicialmente, a justificativa para promover essa expansão era o baixo percentual de pessoas com educação superior no país, em especial na faixa etá-

Foto

: Pix

abay

.com

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201830

Page 31: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ria de 18 a 34 anos de idade. O Brasil possui apenas 16% desses jovens com ensino superior concluído, um percentual reduzido quando comparado com o de outros países. O Chile, por exemplo, possui 27% e a Colômbia, 28%. A diferença fica ainda maior quando a comparação é feita com países como Estados Unidos, França e Inglaterra, que possuem índices de concluin-tes do ensino superior de 50% na faixa etária descrita.

Entretanto, mesmo que seja assumida, com base nesses dados, a legítima necessidade de aumentar o percentual da população com formação superior, é pre-ciso considerar como deveria ser feita essa expansão. Na solução desse problema, algumas variáveis devem ser consideradas e a primeira é a condição dos ingres-santes. O acesso de jovens a um curso de graduação é dependente da qualidade do processo de educação nas etapas anteriores. Afinal, na ausência de um ensino básico e médio de qualidade, é difícil garantir a chega-da de ingressantes ao ensino superior aptos a usufruir plenamente das oportunidades ofertadas durante essa etapa da formação.

O problema com a educação básica já era conheci-do no momento em que essa política de expansão foi levada a cabo. Segundo dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do próprio MEC, estudantes oriundos da educação bási-ca e ensino médio, tanto público quanto privado, não dominam aspectos básicos da linguagem formal e do conteúdo de matemática. Esse é um dado preocupan-te, levando em consideração que se trata apenas de dois conteúdos, ficando o domínio dos demais, como biologia, química, física e uma língua estrangeira, um sonho de longo prazo.

A condição descrita prejudica diretamente a quali-dade dos egressos do ensino médio e, por consequên-cia, dos ingressantes no ensino superior, bem como a capacidade de eles concluírem um curso de graduação. A consequência dessa política é o aumento sistemático do número de vagas ociosas. Para ter uma ideia, dados do último Censo da Educação Superior realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do MEC, demonstram que o percentual de vagas não ocupadas chega próximo dos 50%. A con-clusão lógica, a partir dos dados governamentais, é que aumentar o número de vagas no ensino superior não ga-rante que sejam preenchidas e muito menos que, após sua ocupação inicial, ocorrerá a conclusão da graduação por quem nela ingressou.

Mesmo assim, nos últimos anos, a abertura de cursos de graduação persiste e a Medicina Veteriná-ria não é uma exceção à regra. Uma das razões pelas quais isso acontece é a relativa facilidade para obter a autorização para criação de um novo curso. Embora tenha sido construído um aparato governamental para avaliar as propostas de ampliação de vagas e exista até a alegação de que há uma excessiva complexidade no processo de autorização por parte de alguns gestores de instituições privadas de ensino, isso não impede a abertura de novas graduações, ampliando o número de vagas. Apenas como exemplo, o número de cur-sos de Medicina Veterinária autorizados no Brasil em 2001 era cem; atualmente, esse número chega a mais de 360 registrados no MEC, mais que o triplo em um intervalo de 16 anos, com aproximadamente 70 mil va-gas autorizadas. Isso ocorre em função da própria pos-tura adotada pelos órgãos responsáveis por avaliar as propostas de novos cursos, pois boa parte dos requi-sitos para a autorização envolve apenas a elaboração de proposta documental, sendo a adoção de quesito, como infraestrutura necessária à formação específica, relativamente negligenciada.

Na verdade, a ineficiência do processo avaliati-vo dos cursos de graduação realizado pelo MEC foi confirmada por órgãos do próprio governo federal. O documento intitulado Relatório de auditoria sobre a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Su-perior do Ministério da Educação – SERES/MEC, elabo-rado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em maio de 2018, explicita a fragilidade do atual sistema de avaliação, tanto dos processos de autorização quanto de reconhecimento, Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e da própria forma de analisar e interpretar os resultados desses processos. Especi-

Foto

: Pix

abay

.com

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 31

Page 32: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ficamente, a mensuração da qualidade dos cursos de Medicina Veterinária sofre com essa fragilidade. Afi-nal, é difícil de entender, por exemplo, na avaliação da infraestrutura desses cursos, o hospital veterinário de ensino e a fazenda de ensino serem considerados apenas um item, dentro do indicador “Laboratórios de formação específica”, colocando essas estruturas no mesmo patamar de um laboratório para atendimento de uma única disciplina.

Obviamente, essas questões foram parcial ou to-talmente desconsideradas e o objetivo de expandir as vagas do ensino superior foi mantido. A aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2014-2024, na forma da Lei nº 13.005/2014, não deixa dú-vidas sobre isso, pois a intenção de expandir o acesso ao ensino superior foi claramente manifestada. No en-tanto, existia a dificuldade imposta pelo próprio aparato burocrático do MEC e dos seus órgãos assessores para a realização dessa expansão, na forma de limitações le-gais e instrumentais presentes na estrutura do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes), que impossibilitavam tal ação de imediato. A maior delas era os instrumentos para autorização, reconhecimento e re-novação de reconhecimento, documentos que, mesmo sendo alvo de críticas, apontavam de forma minima-mente objetiva os critérios de qualidade para abertura e manutenção dos cursos de graduação. Tais empeci-lhos foram removidos no primeiro semestre de 2018, com a aprovação de novos instrumentos de avaliação, os quais se caracterizam por uma maior subjetividade e possibilidade de as instituições avaliadas recorrerem com maior facilidade em caso de uma avaliação insu-ficiente. Houve também total renovação do corpo de avaliadores, que passaram a ser treinados dentro dessa nova lógica.

Porém, quanto ao tema qualidade, o mes-mo PNE é extremamente pobre. Nele, a meta estabelecida para esse quesito foi apenas am-pliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício, proposta extremamente tímida, pois contemplou apenas um item de uma das três dimensões utilizadas para avaliar a qualidade dos cursos de graduação, ignorando a organização didático--pedagógica e os indicadores de infraestrutura, segun-do os próprios documentos utilizados pelos avaliadores do Inep para fins de autorização e reconhecimento.

Outro passo dado para a realização da expansão das vagas do ensino superior foi a aprovação do De-

creto nº 9.057, de 25 de maio de 2017, que, na sua ementa, se propunha a regulamentar o art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Embora a intenção declarada fosse essa, o que de fato ocorreu foi uma liberação indiscriminada para os cursos EaD, em especial para o setor privado, ficando apenas a promessa de que sua regulamentação ocor-reria a posteriori. Pelo menos é o que se entende com a leitura do art. 3º do documento: “[...] a criação, a or-ganização, a oferta e o desenvolvimento de cursos a distância observarão a legislação em vigor e as nor-mas específicas expedidas pelo Ministério da Educa-ção [...]”. Mais de um ano transcorreu desde a sanção do decreto e nenhuma norma “específica” foi feita, ou seja, abriu-se uma ave-nida larga na educação superior para abertura de cursos EaD.

Ao analisar as ca-racterísticas de tal expansão e a lista da-queles que serão dire-tamente beneficiados em um primeiro mo-

Foto

: Fre

epic

k.co

m

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201832

Page 33: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

mento, fica no mínimo distante a ideia de que o objetivo seja oferecer um ensino de qualidade aos jovens brasileiros que ingressam nas instituições de ensino superior, na perspectiva de ter uma melhor qualificação e a realização de seus sonhos de vida profissional. Mesmo se houvesse a necessidade de expansão dos números de cursos de Medicina Vete-rinária, premissa que pode ser refutada apenas com a comparação com todos os outros países do mundo, não se justificaria em nenhuma hipótese a expansão no formato EaD.

Poderíamos reafirmar esse posicionamento pelo argumento da importância que a Medicina Veterinária possui para a sociedade brasileira, uma vez que ela é uma das profissões diretamente envolvidas na estru-turação do agronegócio brasileiro. Outro aspecto é que o cuidado na formação de novos profissionais deve ser uma preocupação contínua, sob o risco de comprome-ter todo o esforço feito ao longo de décadas para o desenvolvimento técnico e comercial das cadeias pro-dutivas da carne e do leite. Isso sem citar a importância da profissão na saúde única, que, atuando na inspeção de produtos de origem animal e no controle de zoono-ses, garante o fornecimento de alimentos seguros e a prevenção de doenças para a população, bem como a preservação ambiental.

Numa lógica de desenvolvimento nacional estra-tégico de médio e longo prazo, isso já seria motivo suficiente para nunca se permitir a abertura de cur-sos de Medicina Veterinária na modalidade a distân-cia. Mas também devem ser consideradas as limita-ções em desenvolver, durante a graduação, diversas habilidades e competências imprescindíveis para o exercício profissional. Afinal, como esperar que esse egresso esteja plenamente capacitado para trabalhar em equipe com outras pessoas se o grau de interação humana durante sua formação foi reduzido? Para di-mensionar esse prejuízo, basta lembrar que, desde o ano de 2010, médicos-veterinários foram incluídos na atenção básica à saúde da família, cujo trabalho é extremamente dependente da capacidade de inte-ragir com a população e com outros profissionais da área da saúde.

Todos os motivos expostos, contrários ao EaD em Medicina Veterinária, acabam ficando em segundo plano quando são consideradas as características da formação para a profissão. Além da formação teórica, existe uma grande necessidade de formação prática

desde o início da vida acadêmica, entendida como um cenário que permite ao aluno vivenciar de forma con-trolada sua futura vida profissional, não apenas com o sentido da visão, mas com todos os demais. O ambiente de aprendizagem prática deve obrigatoriamente forne-cer condições para o desenvolvimento psíquico e mo-tor dentro da profissão. Isso ocorre porque a Medicina Veterinária possui um aspecto de arte, que depende da destreza adquirida, o que popularmente denomina-se experiência. A necessidade dessa experiência durante a graduação é que torna o processo de formação de um novo médico-veterinário tão desafiador e, por isso, ele deve ser acompanhado de forma tão próxima por alguém que já possua essa vivência.

Por mais que a realidade possa ser simulada em um ambiente virtual, contendo um número considerá-vel de variáveis, ele nunca substituirá a complexida-de da própria realidade do exercício profissional. Isso acontece pelo simples fato de que pode existir uma variável que não tenha sido considerada anteriormen-te ou surgir uma nova, fruto da própria dinamicidade do real, algo muito comum quando se trabalha com seres vivos. Por mais que um futuro médico-veteriná-rio leia e veja vídeos, não será a ele possível adquirir segurança sem a experiência prática, a vivência simul-tânea dos vários aspectos envolvidos na sua atuação profissional. E é por isso que o ensino na modalidade a distância não deve ser praticado para a graduação em Medicina Veterinária.

AUTORES

COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA (CNEMV/CFMV) - [email protected]

RAFAEL GIANELA MONDADORIMédico-veterinárioCRMV-RS nº 5672

ADOLFO FIRMINO SILVA NETOMédico-veterinárioCRMV-MG nº 5486

EUGÊNIO GONÇALVES DE ARAÚJOMédico-veterinárioCRMV-GO nº 2022

ADRIANO FERNANDES FERREIRAMédico-veterinárioCRMV-PB nº 0681

MASAHIKO OHI Médico-veterinárioCRMV-PR nº 0664

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 33

Page 34: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE

BOVINAA tuberculose bovina é uma zoonose

crônica e debilitante com impactos negativos na pecuária e potenciais

riscos à saúde pública. Seu controle baseia-se na identificação de

animais infectados e na eliminação tempestiva. Como não apresenta

quadro clínico patognomônico e, frequentemente, possui curso assintomático, seu diagnóstico baseia-se no emprego de testes

diagnósticos auxiliares

A tuberculose bovina é uma zoonose de evo-lução crônica e debilitante causada por Mycobacterium bovis. Trata-se de uma enfer-

midade de distribuição mundial que oferece consi-derável risco à saúde pública e provoca reconhecido impacto econômico negativo na atividade pecuária (BOVINE..., 2013).

Considerando os aspectos relacionados à saú-de pública e à economia, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tubercu-lose Animal (PNCEBT) foi instituído, em 2001, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o objetivo de reduzir a prevalência e a incidência de novos focos de brucelose e tuber-culose no país e criar um significativo número de propriedades livres, de modo que possam oferecer produtos de origem animal de baixo risco, contri-buindo para diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na saúde humana e animal e promover a competitividade da pecuária nacional.

Segundo o PNCEBT, o controle da tuberculose bovina se baseia na identificação de animais infec-tados e sua tempestiva eliminação do rebanho, além da restrição da movimentação de animais, vigilância ativa em frigoríficos e adoção de medidas sanitárias

Textos de autoria de médicos-veterinários e

zootecnistas

T O PNCEBT do Mapa tem como objetivo diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na saúde humana e animal e promover a competitividade da pecuária nacional

ARTIGOSTÉCNICOS

Foto

: Agê

ncia

Par

a - A

nton

io S

ilva

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201834

Page 35: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

baseadas nas análises de risco para a enfermidade (BRASIL, 2017).

O processo de diagnóstico de enfermidades infec-ciosas nem sempre é linear, podendo ser necessário o uso simultâneo ou sequencial de mais de uma técnica diagnóstica. Assim sendo, é importante a determinação de parâmetros, como sensibilidade e especificidade dos testes, para que se possa avaliá-los e estabelecer sua melhor utilização.

DIAGNÓSTICO ANTE MORTEMAs técnicas diagnósticas ante mortem têm como

principal objetivo auxiliar na identificação de animais vivos infectados pelo M. bovis e são de fundamental importância nas estratégias de erradicação e controle da enfermidade. Eventualmente, algumas dessas téc-nicas podem ser empregadas também para amostras colhidas de animais mortos ou abatidos, a fim de au-xiliar o diagnóstico realizado post mortem.

TuberculinizaçãoA tuberculinização (Figura 1) é baseada na inocu-

lação intradérmica de quantidades determinadas de tuberculoproteínas com conhecida atividade biológica e na observação ou quantificação da reação de hiper-sensibilidade tipo IV, aproximadamente três dias após a inoculação (BRASIL, 2006).

Apesar de antiga, não é um método desatualizado e é a prova diagnóstica indireta da tuberculose reco-mendada pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), constituindo a base de vários programas sanitá-rios de combate à tuberculose bovina (SCHILLER et al., 2010; BOVINE..., 2013).

Atualmente, a inoculação da prega caudal (TPC), a Tuberculinização Cervical Simples (TCS) e a Tuberculi-nização Cervical Comparativa (TCC) são as três formas de realização de tuberculinização, de acordo com a legislação vigente (BRASIL, 2017). Com o advento do PNCEBT, os critérios de execução das provas e inter-pretação de resultados foram atualizados, permitindo maior padronização e aumento da especificidade das tuberculinizações cervicais, na medida em que o ponto de corte passou de 3 mm para 4 mm (BRASIL, 2017).

O desempenho diagnóstico da tuberculinização varia conforme o local de inoculação, diferenças nas doses de tuberculinas, preparação dos deriva-dos proteicos purificados (PPDs) e critérios de inter-pretação de resultados (SCHILLER et al., 2010; AL-

VAREZ et al., 2012). Reações falso positivas podem ocorrer em decorrência de infecção e sensibilização dos animais por Mycobacterium tuberculosis e mico-bactérias ambientais não tuberculosas, como, por exemplo, Mycobacterium avium subsp. paratubercu-losis, além de outras micobacteriáceas, como as do gênero Nocardia. Reações falso negativas podem ser decorrentes da fase pré-alérgica da enfermidade (três a seis semanas pós-infecção), anergia, imuno-depressão causada por viroses concomitantes, uso de drogas ou período de transição, baixa potência da tuberculina bovina ou elevada potência da tu-berculina aviária, erros de inoculação, localização de lesões somente na glândula mamária etc. (DE LA RUA-DOMENECH, 2006).

Os valores reportados para a sensibilidade e a especificidade dos testes variam bastante. Dados brasileiros indicam sensibilidade igual a 79,4%, va-riando entre 60,9% e 93,8%, e especificidade de 97,7%, variando entre 95,5% e 98,9% (LOPES et al., 2012).

O uso de peptídeos sintéticos é uma alternativa ao PPD bovino para aumentar a especificidade das tuber-culinizações simples (MELO et al., 2015). Comparando o desempenho de tais produtos ao do PPD bovino e do teste cervical comparativo, não é possível verificar ganho significativo para o diagnóstico da tuberculose bovina. Além disso, a utilização de tais peptídeos ou uma mistura deles na tuberculinização implica a ne-cessidade de padronização do teste e, principalmente, de definição de novos pontos de corte para cada tipo de antígeno utilizado (MON et al., 2014).

T Figura 1. Tuberculinização cervical comparada

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 35

Page 36: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Elisa

A partir da década de 1980, alguns testes basea-dos no ensaio imunoenzimático adsorvente (Elisa) foram desenvolvidos, utilizando como antígeno o próprio PPD ou células de M. bovis sonicadas. Os re-sultados demonstraram baixa sensibilidade e espe-cificidade. Entretanto, ficou evidente a capacidade desse teste, baseada na resposta imunológica humo-ral, de detectar animais que a tuberculinização não detectava. Tal condição é explicada pela patogenia da tuberculose, em que há predomínio da resposta imune celular e uma baixa produção de anticorpos no início da enfermidade. Com a evolução da doença, há uma predominância da resposta imune humoral, em detrimento da celular, chegando ao ponto de al-guns animais anérgicos à tuberculinização obterem resultado reagente nos testes sorológicos (PLACKETT et al., 1989).

Dentre os testes sorológicos para o diagnóstico da tuberculose bovina, destacam-se Elisas com pro-teínas recombinantes, com proteínas quimeras, com mistura de antígenos sintéticos e multiplex (FARIAS et al., 2012; SOUZA et al., 2012). As estimativas dos parâmetros de desempenho dos testes são, contudo, bastante variáveis.

É importante ressaltar que o desempenho diag-nóstico dos testes sorológicos é suscetível à resposta anamnésica induzida por tuberculinizações prévias em animais infectados com pico aos 15 dias após as inoculações e predominância de IgG1. Em tais situa-ções, observa-se aumento considerável da sensibi-lidade do teste (CASAL et al., 2014). Outro aspecto relevante a respeito dos testes sorológicos é a cons-

tatação de que eles são capazes de detectar animais que as tuberculinizações não detectam, o que foi evi-denciado pelos achados de necropsia, isolamento e identificação do agente em animais considerados po-sitivos na sorologia e negativos na tuberculinização e baixos índices de concordância com esse teste. As-sim, fica evidente o potencial dos testes sorológicos, mesmo aqueles de baixa sensibilidade, no controle da tuberculose bovina, em complemento à tuberculi-nização (HIRPA et al., 2014).

Testes de detecção de interferon gamaMétodo de medida indireta da resposta imune

celular in vitro, o teste do interferon gama é baseado na detecção de interferon gama no plasma previa-mente sensibilizado com PPD bovino, PPD aviário e tampão fosfato-salino (PBS). Os linfócitos T do plasma de animais infectados por M. bovis são estimulados a produzir interferon gama quando apresentados a antígenos presentes no PPD bovino, que é detecta-do por Elisa específico para essa finalidade (WOOD; ROTHEL, 1994). Trata-se de um teste de fácil e rápida execução, que pode ser realizado em intervalos cur-tos de tempo, pois, ao contrário da tuberculinização, nenhum reagente é inoculado no animal. Sua maior limitação refere-se ao tempo decorrente entre a co-leta do sangue e seu processamento, que deve ser de oito a 12 horas. A sensibilidade da prova é compro-vadamente reduzida pela alteração desse intervalo de tempo (LOPES et al., 2012). Em relação à avalia-ção, esse teste, quando comparado à tuberculinização anocaudal, apresentou valores de sensibilidade e especificidade de, respectivamente, 93,6% e 96,3%

T Figura 2. A: Lesão granulomatosa em linfonodo de bovino. B: Tuberculose óssea em costela de bovino.

A B

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201836

Page 37: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

(WOOD; ROTHEL, 1994), de 91,3% e 88,0% quando comparado à tuberculinização cervical comparativa e de 98,2% e 86,3% quando usados em paralelo (LO-PES et al., 2012).

DIAGNÓSTICO POST MORTEMA vigilância em frigoríficos consiste na identifi-

cação de lesões sugestivas de tuberculose em car-caças de bovinos abatidos e no rastreamento nos rebanhos de origem (Figura 2). É uma prática adota-da, principalmente, nas fases finais de erradicação da enfermidade, devido ao melhor custo-benefício desse tipo de ação em relação à vigilância ativa por meio de teste e sacrifício de animais (KOLLER-JONES et al., 2006).

A inspeção sanitária é capaz de detectar aproxima-damente 47% das lesões tuberculosas, se comparada à necropsia. De qualquer forma, as lesões sugestivas da doença devem ser confirmadas por histopatolo-gia, biologia molecular ou isolamento e identificação do agente, com o principal objetivo de evitar reações falso positivas e falso negativas que implicam ações de controle desnecessárias em rebanhos saudáveis e, por outro lado, a manutenção de rebanhos infectados não detectados (CORNER et al., 2012; COURCOUL et al., 2014; HUMPHREY et al., 2014).

HistopatologiaA histopatologia é um diagnóstico presuntivo,

realizado normalmente a partir de lesões sugestivas encontradas em necropsias ou na inspeção sanitária (BOVINE..., 2013). O método baseia-se na visualização de lesões microscópicas caracterizadas por necrose de caseificação central, com ou sem mineralização, cir-cundada por células gigantes de Langhans, células epi-telioides, macrófagos e linfócitos (Figura 3). Em alguns casos, também podem estar presentes neutrófilos e tecido conjuntivo (VARELLO et al., 2008).

O diagnóstico histopatológico tem boa sensibili-dade e é mais barato, rápido, seguro e simples de ser executado que o isolamento bacteriano e as reações em cadeia da polimerase (PCRs). Entretanto, as lesões granulomatosas não são patognomômicas de tuber-culose, o que reduz a especificidade do teste e sus-cita a utilização de outros métodos histológicos para confirmação do diagnóstico presuntivo (COURCOUL et al., 2014). Devido ao fato de as lesões granuloma-tosas causadas pelo M. bovis serem paucibacilares, os

métodos que buscam a demonstração do agente cau-sal em cortes histológicos carecem de sensibilidade, apesar da sua alta especificidade (BOVINE..., 2013).

Biologia molecularTécnicas de biologia molecular são aplicadas para

identificação e genotipagem de isolados bacteria-nos e para diagnóstico post mortem da tuberculose bovina a partir de tecidos com e sem lesões visíveis (COURCOUL et al., 2014). As principais vantagens do diagnóstico molecular são a rapidez na obtenção de resultados, a detecção de material genético do M. bo-vis em amostras contaminadas e amostras autolisadas das quais não seria possível recuperar o microrganis-mo, a possibilidade de automação, o menor risco bio-lógico e o menor custo (ISSA et al., 2016). No entanto, a comparação de resultados obtidos em diferentes estudos é bastante complexa, devido às distintas téc-nicas de PCR empregadas pelos autores, às modifica-ções pontuais em técnicas semelhantes, ao material biológico utilizado no estudo, aos critérios de avalia-ção de resultados, ao uso de padrões de referência ou padrão-ouro, entre outros (ARAÚJO et al., 2014b; COURCOUL et al., 2014).

A extração do material genético microbiano é o fator crítico mais relevante no que diz respeito à sen-sibilidade das PCRs, notadamente em amostras com lesões visíveis, sendo alguns kits e protocolos de ex-tração, como a lise mecânica dos tecidos, mais adequa-

T Figura 3. Linfonodo bovino mostrando dois bacilos álcool-ácido resistentes no citoplasma (setas) de uma célula gigante multinucleada do tipo Langhans.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 37

Page 38: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

dos que outros. Ao que tudo indica, as nested PCRs são mais sensíveis que as PCRs em tempo real e as tradi-cionais, apesar do maior risco de contaminação cruza-da, especialmente quando há rotina de processamento de muitas amostras (ARAÚJO et al., 2014a).

É consenso entre os autores que as PCRs são bas-tante específicas, com valores muito próximos a 100% para esse parâmetro. Algumas são capazes de detectar como positivas amostras não detectadas no diagnósti-co bacteriológico (ARAÚJO et al., 2014a).

Isolamento e identificaçãoO isolamento do agente etiológico é considerado

o padrão-ouro e o diagnóstico definitivo da tubercu-lose bovina (ISSA et al., 2016). No entanto, somente o resultado positivo é conclusivo. A técnica é baseada na recuperação de células viáveis de M. bovis a partir de tecidos ou secreções e na sua identificação a partir de provas bioquímicas ou de biologia molecular (Figura 4). O isolamento apresenta especificidade de 100%, uma vez que o microrganismo isolado é identificado, permitindo definir com certeza se se trata de M. bovis ou não (COURCOUL et al., 2014). Algumas desvanta-gens que limitam seu emprego são o alto custo, o risco biológico e, principalmente, a demora na obtenção de resultados (ARAÚJO et al., 2014a). Comparando as ta-

T Figura 4. Colônias de Mycobacterium bovis isoladas em meio Stonebrink.

xas de recuperação de M. bovis, há grande variabilida-de entre técnicas e autores (ISSA et al., 2016).

O isolamento primário de M. bovis a partir de amostras clínicas é particularmente dependente dos meios de cultura utilizados, dos processos de des-contaminação das amostras e das condições de in-cubação (CORNER, 1994). Os descontaminantes não devem ser tóxicos ou, quando muito, devem apre-sentar toxidez mínima para o M. bovis (CORNER et al., 2012) e a definição de qual descontaminante é o mais indicado é particularmente difícil, devido à falta de padronização de metodologias utilizadas na avaliação desses produtos (ISSA et al., 2016). Ade-mais, o grau de contaminação e os contaminantes encontrados em amostras clínicas encaminhadas rotineiramente ao diagnóstico bacteriológico variam consideravelmente, de acordo com a localização anatômica do espécime, sua origem geográfica e a forma como foram coletadas e estocadas as amos-tras (CORNER et al., 1995). Deve-se considerar tam-bém o uso de mais de um meio de descontaminação de amostras (MEDEIROS et al., 2012).

Meios à base de ágar e meios líquidos permitem o isolamento primário de M. bovis mais rapidamen-te que meios à base de ovos; no entanto, podem ser mais suscetíveis à contaminação (ISSA et al., 2016).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201838

Page 39: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

REFERÊNCIAS

ÁLVAREZ, J.; PEREZ, A.; BEZOS, A. et al. Evaluation of the sensitivity and specificity of bovine tuberculosis diagnostic tests in naturally infected cattle herds using a Bayesian approach. Veterinary Microbiology, v.155, n.1, p.38-43, 2012.

ARAÚJO, C.P.; OSÓRIO, A.L.A.R.; JORGE, K.S.G. et al. Detection of Mycobacterium bo-vis in bovine and bubaline tissues using nested-PCR for TbD1. PLOS One, v.9, n.3, e91023, 2014a.

ARAÚJO, C.P.; OSÓRIO, A.L.A.R.; JORGE, K.S.G. et al. Direct detection of Mycobac-terium tuberculosis complex in bovine and bubaline tissues through nested-PCR. Brazilian Journal of Microbiology, v.45, n.2, p.633–640, 2014b.

BOVINE tuberculosis. Manual of diagnostic tests and vaccines for terrestrial anim-nals. Paris: World Organization for Animal Health, 2013. Disponível em: <http://www.oie.int/fileadmin/Home/eng/Health_standards/tahm/2.04.07_BOVINE_TB.pdf.> Acesso em: 21 Set. 2016.

BRASIL. Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. 2006. Dis-ponível em: <http://www.adapar.pr.gov.br/arquivos/File/GSA/PECEBT/MANUAL_PNCEBT.pdf> Acesso em: 13 Set. 2017.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa SDA Nº. 10, de 03 de Março de 2017. Regulamento Técnico do Programa Nacio-nal de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal – PNCEBT. 2017. Disponível em: <https://lex.com.br/legis_27447344_INSTRUCAO_NORMA-TIVA_N_10_DE_3_DE_MARCO_DE_2017.aspx> Acesso em: 13 Set. 2017.

CASAL, C.; DIÉZ-GUERRIER, A.; ÁLVAREZ, J. et al. Strategic use of serology for the diagnosis of bovine tuberculosis after intradermal skin testing. Veterinary Micro-biology, v.170, n.3-4, p. 342-351, 2014.

CORNER, L.A. Post mortem diagnosis of Mycobacterium bovis infection in cattle. Ve-terinary Microbiology, v.40, n.1-2, p.53-64, 1994.

CORNER, L.A.; TRAJSTMAN, A.C.; LUND, K. Determination of the optimum concen-tration of decontaminants for the primary isolation of Mycobacterium bovis. New Zealand Veterinary Journal, v.43, n.4, p.129-133, 1995.

CORNER, L.A.; GORMLEY, E.; PFEIFFER, D.U. Primary isolation of Mycobacterium bovis from bovine tissues: conditions for maximizing the number of positive cultures. Veterinary Microbiology, v.156, n.1-2, p.162-171, 2012.

COURCOUL, A.; MOYEN, J.L.; BRUGÈRE L. et al. Estimation of sensitivity and speci-ficity of bacteriology, histopathology and PCR for the confirmatory diagnosis of bovine tuberculosis using latent class analysis. PLOS One., v.9, n.3, e90334, 2014.

DE LA RUA-DOMENECH, R. Human Mycobacterium bovis infection in the United Kingdom: incidence, risks, control measures, and review of zoonotic aspects of bo-vine tuberculosis. Tuberculosis, v.86, n.2, p.77-109, 2006.

FARIAS, T.A.; ARAÚJO, F.R.; OSÓRIO, A.L.A.R. et al. ELISA based recombinant MPB70 and P27 for detection of antibodies against Mycobacterium bovis. Revista de Pato-logia Tropical, v.41, n.2, p.155-162, 2012.

HIRPA, E.; AMENI, G.; LAWRENCE, J.C. et al. Performance evaluation of Mycobacte-rium bovis antibody test for the diagnosis of bovine tuberculosis in Ethiopia. Aca-demic Journal of Animal Diseases, v.3, n.3, p.33-38, 2014.

AUTORES

PAULO MARTINS SOARES FILHOMédico-veterinárioCRMV-MG nº 5633Doutor em Ciência Animal, auditor fiscal federal agropecuário – Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (Lanagro-MG)[email protected]

LEANDRO DO CARMO REZENDE Médico-veterinárioCRMV-MG nº 12463Mestre em Ciência Animal, auditor fiscal federal agropecuário – Lanagro-MG

MARINA DE AZEVEDO ISSA Médica-veterináriaCRMV-MG nº 9771Mestra em Ciência Animal, auditora fiscal federal agropecuária – Lanagro-MG

PATRÍCIA GOMES DE SOUZAMédica-veterináriaCRMV-MG nº 3857Mestra em Medicina Veterinária, auditora fiscal federal agropecuária – Lanagro-MG

MIKAEL ARRAES HODON Médico-veterinárioCRMV-MG nº 11567Auditor fiscal federal agropecuário – Lanagro-MG

RÔMULO CERQUEIRA LEITEMédico-veterinárioCRMV-MG nº 1615Doutor em Ciências Veterinárias

Por isso, é recomendável que se utilizem dois ou mais tipos de meio para o isolamento primário, a fim de obter isolamentos mais rapidamente e aumentar a sensibilidade ou a taxa de isolamento do método (CORNER et al., 2012).

Para as condições brasileiras, recomendam-se a descontaminação com NaOH a 2% ou H2SO4 a 5%-6% e uso de meios sólidos à base de ovos e suplemen-tados com piruvato, Stonebrink, meios à base de ágar suplementados com ácido oleico, albumina, dextrose e catalase e ágar 7H11 suplementado com OADC (ISSA et al., 2016).

HUMPHREY, H.M.; ORLOSKI, K.A.; OLEA-PPELKA; J. Bovine tuberculosis slaughter surveillance in the United States 2001-2010: assessment of its traceback investi-gation function. BMC Veterinary Research, v.10, n.1, p.182-192, 2014.

ISSA, M.A.; SOARES FILHO, P.M.; FONSECA JÚNIOR, A.A. et al. Comparative study of Mycobacterium bovis primary isolation methods. Brazilian Journal of Mycrobiolo-gy, v.48, n. , p.139-144, 2016.

KOLLER-JONES, M.A.; TURCOTTE, C.; LUTZE-WALLACE, C. et al. Effect of bovine tu-berculosis in wildlife on a national eradication program - Canada. In: THOEN, C.O; STEELE, J.H.; GILSDORF, M.J. Mycobacterium bovis infection in animals and hu-mans. Iowa, USA: Blackwell, 2006. p.226-237.

LOPES, L.B.; ALVES, T.M.; STYNEN, A.P.R. et al. Parameter estimation and use of gam-ma interferon assay for the diagnosis of bovine tuberculosis in Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.32, n.4, p.279-283, 2012.

MELO, E.S.P.; SOUZA, I.I.F.; RAMOS, C.A.N. et al. Evaluation of the use of recombinant proteins of Mycobacterium bovis as antigens intradermal tests for diagnosis of bo-vine tuberculosis. Archivos de Medicina Veterinaria, v.47, n.3, p.273-280, 2015.

MON, M.L.; MOYANO, R.D.; VIALE, M.N. et al. Evaluation of cocktails with recombi-nant proteins of Mycobacterium bovis for a specific diagnosis of bovine tuberculo-sis. BioMed Research International, p.1-12, 2014.

PLACKETT, P.; RIPPER, J.; CORNER, L.A. et al. An ELISA for the detection of anergic tuberculous cattle. Autralian Veterinary Journal, v.66, n.1, p.15-19, 1989.

SCHILLER, I.; OESCH, B.; VORDERMEIER, H.M. et al. Bovine tuberculosis: a review of current and emerging diagnostic techniques in view of their relevance for disease control and eradication. Transboundary and Emerging Diseases, v.57, n.4, p.205-220, 2010.

SOUZA, I.I.F.; MELO, E.S.P.; RAMOS, C.A.N. et al. Screening of recombinant proteins as antigens in indirect ELISA for diagnosis of bovine tuberculosis. Springer Plus, v.1, n. 1, p.77-83, 2012.

VARELLO, K.; PEZZOLATO, M.; MASXARINO, D. et al. Comparison of histologic tech-niques for the diagnosis of bovine tuberculosis in the framework of eradication programs. Veterinary Diagnostic Investigation, v.20, n.2, p.164-169, 2008.

WOOD, P.R.; ROTHEL, J.S. In vitro immunodiagnostic assays for bovine tuberculosis. Veterinary Microbiology, v. 40, n.1-2, p. 125-135, 1994.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 39

Page 40: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA E APRIMORAMENTO PROFISSIONAL EM MEDICINA VETERINÁRIA: CONSTRUINDO QUALIDADE

CFMV implementará Sistema de Acreditação para avaliar e reconhecer a qualidade e competência desses cursos de pós-graduação

Com o crescimento exponencial dos cursos de Medicina Veterinária no Brasil e a necessida-de de qualificação para atender a um merca-

do exigente, os Programas de Residência e Aprimo-ramento Profissional em Medicina Veterinária vêm se tornando uma das modalidades de pós-graduação mais procuradas pelos egressos das Instituições de Ensino Superior (IESs) no país. Essa é uma das mais importantes modalidades de pós-graduação, por pos-sibilitar a oportunidade de desenvolver intimidade com a rotina e desenvolver o senso crítico necessário para o desempenho de atividades nas mais diversas

Textos de autoria de médicos-veterinários e

zootecnistas

T A pós-graduação permite ao estudante desenvolver a intimidade com a rotina e o senso crítico necessário para o exercício da profissão de forma geral

ARTIGOSTÉCNICOS

Foto

s: Pr

ofª.

Clá

udia

Rep

etti/

Div

ulga

ção

Uni

mar

especialidades veterinárias a ser empregadas em clí-nicas, hospitais veterinários, assim como no exercício da profissão de forma geral. No entanto, a criação dos programas, muitas vezes de forma desordenada e não devidamente institucionalizada, pode colocar em ris-co a efetividade do treinamento e o aprendizado de quem almeja qualificação.

A Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV/CFMV), criada em 2003, tem hoje essa finalidade, ou seja, envidar esforços no sentido de proporcionar melhores programas comprometidos com o aspecto qualitativo, por meio de assessoria pedagó-gica na sua implantação, visitas técnicas orientadoras e, atualmente, trabalhando ativamente no Sistema de Acreditação deles junto ao Conselho Federal de Medi-cina Veterinária (CFMV), o que significará reconhecer a qualidade e competência dos melhores programas, avaliando os cursos de acordo com os critérios de ex-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201840

Page 41: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Entre as várias ações que a comissão vem desenvol-vendo e visando a obter parâmetros no conhecimento do panorama atual dos Programas de Residência e Aprimoramento em Medicina Veterinária ofertados no país, instituiu-se, já no início desta gestão, um questio-nário, enviado a todas as IESs que ofertavam o curso de Medicina Veterinária, encaminhado por link diretamen-te aos coordenadores de curso via correio eletrônico. Nesse censo, buscou-se conhecer, além das IESs que ofertam essa modalidade de pós-graduação, a siste-matização de valores referentes à bolsa, recolhimento do INSS, número de egressos e nomenclatura estabe-lecida para a área ofertada. Os dados foram analisados como uma amostragem parcial, uma vez que não se ob-teve a totalidade de respostas esperadas. Das 111 IESs que responderam, 56 (50,45%) declararam oferecer Programas de Residência e/ou Aprimoramento Profis-sional. Destas, seguindo o parâmetro de esfera admi-nistrativa, 22 (39,29%) eram federais, sete (12,50%), estaduais e 27 (48,21%), privadas, conforme ilustrado no Gráfico 1.

Pública Federal

Pública Estadual

Privada

48,21%39,29%

12,50%

T Gráfico 1. IESs com Programas de Residência ou Aprimoramento Profissional em Medicina Veterinária, de acordo com sua esfera administrativa.

Quando se analisou a configuração dos programas ofertados por essas IESs, vislumbrou-se que 29 ofere-cem como modalidade Residência, com destaque às federais (72,41%), e 27, como Aprimoramento, sendo, neste caso, a maioria instituições privadas (85,18%),

celência, auxiliando, assim, as IESs a alcançar os mais conceituados padrões de ensino.

Em 30 de junho de 2005, pela Lei nº 11.129, o Mi-nistério da Educação (MEC), em associação com o Mi-nistério da Saúde, criou a Comissão Nacional de Resi-dência Multiprofissional em Área da Saúde (CNRMS) e, por meio dela, estabeleceu critérios de funcionamento para que os Programas de Residência em Medicina Ve-terinária pudessem ser reconhecidos, entre eles: dura-ção de dois anos; carga horária de 5.760 horas; valor da bolsa com isonomia à residência médica; e articulação com as políticas do Sistema Único de Saúde (SUS). A inserção da Medicina Veterinária, de forma efetiva e le-gal, nesse sistema a partir de 2011 fez com que geras-se até o momento inúmeros programas reconhecidos, abrindo espaço para os profissionais se aproximarem da saúde básica e contribuindo para a formação de um profissional altamente qualificado e com olhar crítico para a saúde coletiva, promovendo, assim, a sistemati-zação da saúde única.

Com isso, aquelas instituições que não consegui-ram se adequar às diretrizes do MEC, tendo sua auto-nomia na criação de cursos de especialização, man-tiveram seus programas de treinamento em serviço, porém utilizando-se de denominação que não Resi-dência, tendo no Aprimoramento a mais recomendada, sem alterar sua qualidade e excelência. Sendo assim, os termos “residência” e “aprimoramento”, embora sir-vam para designar o mesmo treinamento em serviço, já não são mais sinônimos, pois, com o reconhecimen-to pelo MEC, passaram a ter características distintas. Nesse sentido, ressalta-se que a CNRMV/CFMV tem mantido permanente articulação com o MEC, se dispo-nibilizando e colaborando de forma conjunta na busca por critérios que visem sempre ao desenvolvimento qualitativo dos programas.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 41

Page 42: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

tendo ainda duas IESs de caráter estadual que ofere-cem os programas nas duas configurações (Tabela 1).

CATEGORIA DA IES

RESIDÊNCIAAPRIMORAMENTO

PROFISSIONALAMBOS

Federal 21 01 00

Estadual 04 03 02Privada 04 23 00

Total 29 27 02

T Tabela 1. Número de Programas de Residência, Aprimoramento Profissional ou ambos nas diferentes categorias de IES.

Outra variável que se buscou levantar no censo envolveu os valores da bolsa de estudos praticados, que variaram de R$ 600,00 a R$ 3.343,43, bem como se as IESs cumprem a legislação vigente quanto à obrigatoriedade do recolhimento de INSS sobre as bolsas pagas, que, quando se vê deduzido da bolsa do residente ou aprimorando, é de 11%, exceção para as IESs filantrópicas, cujo índice passa a 20%. Em relação a esse quesito, ficou evidente que 37,5% não possuem conhecimento ou simplesmente não procedem a tal recolhimento, ressaltando-se ainda que, quando ocorre, se percebe uma inconformidade nos índices praticados.

Quanto ao número de egressos gerados pelos programas, identificou-se que 3.772 médicos-veteri-nários concluíram o treinamento supervisionado, sen-do 1.148 (30,44%) em IESs federais, 960 (25,45%) em estaduais e 1.664 (44,11%) em instituições pri-vadas (Gráfico 2), o que dá a percepção de que a so-ciedade vem recebendo de forma contínua um profis-sional mais qualificado e preparado para o mercado

Federal

Estadual

Privada

44,11%

30,44%

25,45%

T Gráfico 2. Ocorrência de egressos de Programas de Residência ou Aprimoramento em Medicina Veterinária de IESs federais, estaduais e privadas.

de trabalho; ainda, sua origem é principalmente das instituições privadas, que, além de terem sido maio-ria nesse censo em ofertar os programas, são conse-quentemente as que mais possuem egressos, prova-velmente pelo número de vagas ofertadas. Por essa razão, as IESs precisam ser incentivadas a ofertar es-sas modalidades de treinamento, porém devem ser acompanhadas e acreditadas quanto à excelência do serviço prestado.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201842

Page 43: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Por fim, identificaram-se 91 diferentes nomen-claturas empregadas para as áreas ou subáreas nos Programas de Residência e Aprimoramento Profis-sional, fato que aponta a necessidade urgente de uma padronização. Somente na área de clínica e ci-rurgia de pequenos animais, 18 denominações dis-tintas foram relatadas pelos programas. A ausência de uniformidade poderá vir a dificultar a avaliação de alguns programas durante o processo de acredi-tação pelo CFMV, bem como confundir alguns egres-sos dos cursos de graduação em Medicina Veteriná-ria, quando estiverem buscando as IESs que ofertam vagas em áreas que atendam aos seus anseios de qualificação profissional.

De forma geral, destaca-se a necessidade de maior interação por parte dos gestores, principal-mente dos coordenadores dos programas, quanto ao pleno entendimento das diretrizes para Residência e

AUTORES

COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA VETERINÁRIA (CNRMV/CFMV) [email protected]

FABIO FERNANDO RIBEIRO MANHOSOMédico-veterinárioCRMV-SP nº 6983

CARMEN ESTHER SANTOS GRUMADASMédica-veterináriaCRMV-PR nº 1683

FRANCISCO LIMA SILVAMédico-veterinárioCRMV-PI nº 0162

MARCO AUGUSTO GIANNOCCARO DA SILVAMédico-veterinárioCRMV-TO nº 0927

RITA DE CÁSSIA CAMPEBELLMédica-veterináriaCRMV-DF nº 1078

VALDEMIRO AMARO DA SILVA JÚNIORMédico-veterinárioCRMV-PE nº 1931

VIRGINIA BOCORNY LUNARDIMédica-veterináriaCRMV-RS nº 5258

Aprimoramento e todas as ações que são inerentes a cada uma, seja pedagógica, seja organizacional ou até mesmo tributária. Nesse sentido, as ações inerentes ao MEC e CNRMV/CFMV serão fundamentais, visando a mitigar as dúvidas e convergir para um plano padro-nizado, chamando atenção para as inúmeras nomen-claturas aplicadas aos programas que nesse censo foram identificadas.

Enfim, com tudo isso se tem a certeza de que o Sistema de Acreditação dos Programas representa um marco essencial, que objetiva justamente o que-sito qualidade, destacando que o acesso a ele será voluntário e o Programa de Residência ou Aprimo-ramento que desejar participar desse crivo deverá atender aos critérios preestabelecidos nas Resolu-ções CFMV nº 1.076/2014 e nº 1.094/2015, sendo esse o foco central da CNRMV/CFMV nesta gestão, direcionando todo o seu esforço no sentido da ma-nutenção e garantia da qualidade dos programas, elevando a qualidade dos serviços prestados à so-ciedade justamente pela plena formação do profis-sional egresso, construindo, assim, uma melhor Me-dicina Veterinária para um melhor país.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 43

Page 44: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA E BEM-ESTAR ANIMAL: EXISTE RELAÇÃO ENTRE OS TEMAS?

Probióticos, vacinas e novas moléculas reduzem o uso de antibióticos e melhoram a qualidade de vida dos animais, principalmente os de produção

É essencial que médicos-veterinários e zootecnis-tas estejam atualizados em conceitos e práticas para melhor assessorar a produção e a clínica

de animais no Brasil, defendendo os interesses da so-ciedade e protegendo os animais. É importante que possuam uma visão ampla e holística da relação entre saúde animal e humana, bem como da relação do bem--estar dos animais e da qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, o tema resistência antimicrobiana vem ocupando espaço nas publicações técnicas do mundo todo e é fundamental que os profissionais percebam sua relevância e, ainda, que o bem-estar dos animais está diretamente relacionado com estratégias para mi-tigação de seus riscos.

Textos de autoria de médicos-veterinários e

zootecnistas

T A Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), que elabora diretrizes aos países exportadores inseridos no mercado de alimentos, afirma que o uso de agentes antimicrobianos deve ser preservado para situações em que o tratamento clínico é necessário

ARTIGOSTÉCNICOS

A RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA COMO CRISE GLOBAL

Os antibióticos são fármacos essenciais para o tratamento de infecções causadas por bactérias em seres humanos e animais. Entretanto, naturalmente e de maneira constante, as bactérias buscam se adaptar aos seus efeitos, de modo a encontrar novas formas de sobreviver aos efeitos desses fármacos. Esse pro-cesso é chamado resistência microbiana, que é acele-rado pelo uso indiscriminado dessas drogas.

A evidência científica atual sugere que a ocor-rência de resistência aos antibióticos em animais é decorrente do uso veterinário desses fármacos e que nas pessoas é, principalmente, relacionada ao uso dessas drogas na medicina humana. No entanto, sabemos que existem formas diretas e indiretas de transferência de bactérias resistentes entre pessoas, animais e ambiente, além da possibilidade de inter-câmbio de material genético entre bactérias diferen-tes, o que cria uma inter-relação de efeitos capaz de afetar a saúde de todos.

Foto

: Pix

abay

.com

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201844

Page 45: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Pelo fato de muitos antibióticos pertencerem à mesma classe de medicamentos, a resistência a um antibiótico específico pode levar à resistência a uma classe inteira relacionada. Além disso, soma-se o fato de que há pouco desenvolvimento de novas classes de antibióticos para o curto prazo, o que faz da re-sistência antimicrobiana um risco real à saúde cole-tiva. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a resistência antimicrobiana é uma crise que deve ser gerida com a maior urgência, em especial se quisermos alcançar uma nova era de desenvolvimento sustentável.

DIRETRIZES NACIONAIS E INTERNACIONAISEm maio de 2015, na 68ª Assembleia Mundial

da Saúde, foi elaborado um plano de ação global so-bre a resistência antimicrobiana. Nesse encontro, os Estados-membros acordaram em desenvolver pla-nos de ação nacionais alinhados com o plano global, incorporando objetivos estratégicos comuns. Certa-mente, esse novo direcionamento trará necessida-des de ajustes ao setor produtivo, especialmente no que tange ao uso racional de antimicrobianos em animais por meio de intervenções regu-latórias estratégicas dos governos.

A Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), que elabora diretrizes aos países exportadores inseridos no mercado de alimentos, afirma que o uso de agen-tes antimicrobianos deve ser preservado para situações em que o tratamento clínico é necessário. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), seguindo suas diretrizes, já publicou seu plano de miti-gação à resistência antimi-crobiana, em que reforça a importância das boas práti-cas para prevenir doenças. Recentemente, foi publi-cada a Portaria nº 171, de 13 de dezembro de 2018,

que apresenta a intenção do órgão de proibir o uso de agentes antimicrobianos como melhoradores de desempenho no país, alinhando suas políticas às diretrizes internacionais.

INDÚSTRIAS E MERCADO CONSUMIDOREmbora ainda seja um nicho de mercado, o nú-

mero de consumidores atentos e que buscam com-preender melhor o que consomem cresce com muita rapidez e de forma consistente. Buscando atender a esse novo público, estamos vendo surgir aqui no Bra-sil algumas certificações privadas, que buscam audi-tar os processos de produção e comunicar ao público a garantia de produtos livres de antibióticos por meio de selos em embalagens. Dessa forma, é provável que toda essa movimentação de mercado e poder público faça com que o produto-conceito de hoje se torne um produto regular no médio prazo.

Com relação à indústria, é momento de adapta-ção, em especial para os sistemas convencionais de produção. Todos nós sabemos da importância que

os melhoradores de desempenho tive-ram no passado ao garantir

bons índices zootécni-cos e controle sanitá-rio. Entretanto, hoje,

estamos diante de uma pressão muito forte da so-

ciedade no sentido de banir o uso dos antibióticos como fer-ramenta de rotina na produ-ção de alimentos.

Algumas empresas estão sensíveis a esse movimento e buscam novos direciona-

mentos. Qualquer mudança, porém, gera insegurança, sobre-

tudo quando a questão central envolve os avanços produtivos e sanitários conquistados ao lon-

go de décadas. Nesse cenário de adaptação, as empresas têm busca-do alternativas capazes de ganhar a simpatia do consumidor, sem abrir mão do desempenho produtivo e de sanidade. Aos poucos, estamos con-seguindo consolidar novas estraté-

gias de produção.Foto: Pixabay.com

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 45

Page 46: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

E O BEM-ESTAR ANIMAL?

É preciso considerar que os animais de produção estão em constante estresse quando observamos os sistemas convencionais – ambientes pobres, com alta densidade, estresse térmico, manejos dolorosos e in-teração humano-animal precária, pouco existente ou negativa, para citar alguns dos problemas ainda co-mumente encontrados. Também sabemos do efeito do estresse na competência imunológica de humanos e animais, afetando sua capacidade de responder ade-quadamente aos desafios ambientais, além de que o uso de antimicrobianos de forma preventiva está re-lacionado aos problemas respiratórios e gastrintesti-nais, especialmente em animais jovens em situações de estresse agudo de manejo, como desmame.

O estado mental dos animais é um dos domínios que compõem o conceito do bem-estar animal, defi-nido pela OIE como “o estado físico e mental de um animal em relação às condições em que vive e morre”. Segundo o órgão, um animal desfruta de um bom grau de bem-estar quando está sadio, bem nutrido, seguro, confortável, com liberdade para expressar comporta-mentos naturais e sem sofrer com estados mentais negativos, como dor e medo.

Dessa forma, os profissionais precisam conside-rar como os animais estão se sentindo nos ambien-tes produtivos e durante práticas de manejo, assim

T É importante orientar produtores e trabalhadores rurais e da agroindústria para proporcionar estados mentais positivos, como redução da dor, aumento das interações afiliativas com outros animais e contato positivo com as pessoas, além de permitir que expressem pelo menos um pouco do seu repertório comportamental natural

AUTORES

COMISSÃO NACIONAL DE BEM-ESTAR ANIMAL (COBEA/CFMV)[email protected]

CÁSSIO RICARDO RIBEIROMédico-veterinárioCRMV-DF nº 1171

LEONARDO THIELO DE LA VEGA Médico-veterinárioCRMV-SP nº 32023

MATEUS JOSÉ RODRIGUES PARANHOS COSTA ZootecnistaCRMV- SP nº 0333-Z

ROSANGELA RIBEIRO GEBARA Médica-veterináriaCRMV-SP nº 9264

LIZIÈ PEREIRA BUSSMédica-veterináriaCRMV-DF nº 3107

MARIA DO ROSÁRIO RAMALHO GARCIA Médica-veterináriaCRMV-CE nº 1620

ELIANA RENUNCIO Médica-veterináriaCRMV-SC nº 1793

REFERÊNCIAS

Capítulo 6.7 do Código Terrestre da OIE. Introdução as recomendações para o controle da resistência antimicrobiana. Tradução livre. http://www.agricul-tura.gov.br/assuntos/boas-praticas-e-bem-estar-animal/CAPTULO6.7.INTRO-DUOAOUSOATB.pdf

Capítulo 6.10 do Código Terrestre da OIE. Uso responsável e prudente de agentes antimicrobianos na medicina veterinária. Tradução livre. http://www.agricultura.gov.br/assuntos/boas-praticas-e-bem-estar-animal/CAPTULO6.10.USORESPONSVELEPRUDENTEDEAGENTESANTIMICROBIANOS.pdf

MAPA. Resistência aos Antimicrobianos. http://www.agricultura.gov.br/assun-tos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/programas-especiais/resis-tencia-antimicrobianos

Portaria nº 171 de 13 de dezembro de 2018. Informa sobre a intensão de proi-bição de uso de antimicrobianos com a finalidade de aditivos melhoradores de desempenho de alimentos e abre prazo manifestação. http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/55878469

Foto

: Pix

abay

.com

como orientar produtores e trabalhadores rurais e da agroindústria para evitar estados mentais ne-gativos e proporcionar estados mentais positivos, como redução da dor, aumento das interações afi-liativas com outros animais e contato positivo com as pessoas, além de permitir que expressem pelo menos um pouco do seu repertório comportamen-tal natural.

É importante que os profissionais percebam que elevar o grau de bem-estar dos animais de produção, as-sim como buscar alternativas, a exemplo de probióticos, vacinas e novas moléculas, é fundamental para mitigar a resistência antimicrobiana, consolidar a agropecuária nacional nos mercados futuros e, ainda, mantê-la alta-mente correlacionada com a sustentabilidade.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201846

Page 47: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

NOVOS AVANÇOS DA MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL Expansão dos campos de atuação da profissão e maior acesso à tutela jurídica geram demanda crescente pela perícia médico-veterinária em processos judiciais

A prova pericial é a modalidade de prova que requer o emprego de conhecimentos técnico--científicos específicos para o esclarecimento

de fatos sob análise em determinado processo judicial. Nesse sentido, o perito é um assessor do juiz, com a função de fornecer dados instrutórios de ordem téc-nica na análise de situações de direito. Tal constatação reveste-se de importância crescente, principalmente em razão do maior acesso da população ao Poder Ju-diciário. Assim, pode-se dizer que a perícia contribui para assegurar os fundamentos do Estado Democrático de Direito, previstos na Constituição Federal de 1988.

Em relação à Medicina Veterinária, vemos a am-pliação de suas áreas de atuação a campos de conhe-cimento como Medicina Veterinária Legal, bem-estar animal, direito animal, Medicina Veterinária do Coleti-vo, proteção ao meio ambiente e saúde pública. Essa expansão, aliada ao maior acesso à tutela jurídica, tem

T O médico-veterinário pode atuar como perito em ações judiciais e extrajudiciais

como consequência uma demanda crescente pela pe-rícia médico-veterinária em processos judiciais, envol-vendo animais e produtos de origem animal.

A Lei nº 5.517/1968, que dispõe sobre o exercício da profissão de médico-veterinário, elenca entre suas competências a peritagem sobre animais, identifica-ção, defeitos, vícios, doenças, acidentes e exames téc-nicos em questões judiciais; as perícias, os exames e as pesquisas em casos de fraudes envolvendo animais em competições desportivas ou nas exposições pecuá-rias; a avaliação e peritagem relativas aos animais para fins administrativos de crédito e de seguro; os exames periciais tecnológicos e sanitários dos subprodutos da indústria animal. O Código de Ética Profissional do Mé-dico-Veterinário – aprovado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) por meio da Resolução nº 1.138, de 16 de dezembro de 2016 –, em seu Capítulo XII, prevê ainda algumas obrigações do médico-veteri-nário na função de perito, sendo-lhe vedado deixar de atuar com absoluta isenção, ser perito de cliente, fami-liar ou de qualquer pessoa cujas relações influam em seu trabalho ou intervir nos atos profissionais de outro médico-veterinário. O profissional pode atuar como perito em ações judiciais e extrajudiciais, elaborando laudos, informações e pareceres técnicos em exames

Textos de autoria de médicos-veterinários e

zootecnistas

ARTIGOSTÉCNICOS

"A Medicina Veterinária Legal consiste nos princípios, conhecimentos, tecno-logia e métodos próprios da Medicina Veterinária, somados às ciências afins, aplicados ao esclarecimento de questões judiciais, à formulação de normas e em auxílio ao Direito e à Justiça" (TOSTES; REIS, 2017).

Foto

: Ped

ro V

entu

ra -

Agên

cia

Bras

ília

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 47

Page 48: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

de animais e produtos de origem animal, visando ao estabelecimento da justiça. Para tanto, deve possuir formação acadêmica, conhecimentos forenses especí-ficos e atender a requisitos legais e éticos da atividade. O CFMV habilitou a Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal (ABMVL) para conceder título de es-pecialista em Medicina Veterinária Legal. O credencia-mento foi oficializado por meio da Resolução CFMV nº 1.179, de 17 de outubro de 2017. O título propicia maior segurança aos que buscam um serviço diferen-ciado e com melhor embasamento técnico.

As perícias médico-veterinárias podem objetivar a identificação de espécies, diagnóstico de lesões, defi-nição da causa mortis, entre outros, podendo, inclusive, auxiliar na investigação de casos com vítimas humanas. Apesar de menos comuns do que em humanos, as perí-cias em animais podem ser importantes elementos pro-batórios. O incremento das bases da Medicina Veterinária Legal é pressuposto para aumento no número e quali-dade das perícias envolvendo animais. Como forma de garantir a qualidade da prova pericial, devem-se utilizar tecnologia e rigor nos procedimentos, seja no tratamento dos vestígios, seja por meio de uma cadeia de custódia que garanta a autenticidade, a idoneidade e a cronolo-gia do acesso ao objeto de exame. O exame em casos de maus-tratos a animais, assim como o diagnóstico e trata-mento de qualquer doença, exige do perito médico-vete-rinário conhecimentos técnicos sobre a patologia animal, bem-estar animal, anatomia, fisiologia, etologia e tera-pêutica, entre outros. O desenvolvimento de novas técni-cas periciais tem permitido a aplicação de metodologias avançadas no diagnóstico de maus-tratos, representando ganho de qualidade na análise técnico-científica de cri-mes contra a fauna. Atualmente, esse tema tem assumido grande importância, principalmente em função do cres-cente número de processos judiciais que demandam o emprego de conhecimentos da Medicina Veterinária.

A Medicina Veterinária Legal apresenta caráter multidisciplinar, de forma que várias áreas das ciências veterinárias contribuem para seu estudo. Essa espe-cialidade vem ganhando relevância no Brasil, espe-cialmente a partir da sua introdução como disciplina obrigatória no currículo da graduação na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu, no ano de 1988, e da fundação da ABMVL, em 2009.

Mais recentemente, outro importante marco para a área foi a publicação da Portaria CFMV nº 94, de 13 de agosto de 2018, que criou a Comissão Nacional de Me-

dicina Veterinária Legal (CNMVL/CFMV), que tem como atribuições propor diretrizes para a regulamentação da Medicina Veterinária Legal, revisar e propor a atualização e harmonização da legislação sobre o tema, apresentar posicionamento técnico, bem como analisar as deman-das e necessidades dos Conselhos Regionais de Medici-na Veterinária (CRMVs) e desempenhar outras atribuições designadas pelo presidente do CFMV. A iniciativa vem sendo replicada nos CRMVs com a criação das comissões estaduais da especialidade. Como primeira atividade após a posse, em 10 de outubro de 2018, a comissão, por solicitação do presidente do CFMV, emitiu parecer sobre a Resolução CFMV nº 1.236/2018, que define as condu-tas de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais.

A perícia veterinária pode envolver identificação de animais, patologia forense, diagnóstico de bem-estar ani-mal, maus-tratos a animais, comércio de animais, caça ilegal, avaliação de animais, evolução e avaliação de re-banho, identificação de animais, identificação de fraudes, determinação de sexo, idade, raça, espécie, inventário, seguro animal, identificação de produtos e subprodutos de origem animal, determinação de erro médico, verifica-ção de parentesco, revelação de fraudes dolosas, abuso sexual, intoxicações e envenenamentos, trânsito interna-cional e nacional de animais, exames de indústrias, pro-dutos e medicamentos de uso animal, entre outros. Dian-te de tais desafios, são fundamentais as capacitações dos profissionais e a produção de literatura especializada em Medicina Veterinária Legal, seja para sua atuação como peritos ou assistentes técnicos, seja para sua prevenção em relação a processos judiciais.

AUTORES

COMISSÃO NACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL (CNMVL/CFMV) - [email protected]

REFERÊNCIA

TOSTES, R. A.; REIS, S. T. J. História da medicina veterinária no Brasil. In: TOSTES, R. A.; REIS, S. T. J.; CASTILHO, V. V. Tratado de medicina veterinária legal. Curi-tiba: MEDVEP, 2017.

SÉRVIO TÚLIO JACINTO REIS Médico-veterinárioCRMV-PR nº 8903

INGRID BUENO ATAYDE Médica-veterináriaCRMV-GO nº 2738

LOREN D’APRILE Médica-veterináriaCRMV-SP nº 43707

LUCIANA VARGAS SANT’ANA Médica-veterináriaCRMV-SP nº 38409

MARA RITA RODRIGUES MASSAD Médica-veterináriaCRMV-SP nº 7223

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201848

Page 49: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Suplementocientífico

50 Candidíase em espécime de calopsita

(Nymphicus Hollandicus) – relato de caso

55 Medicina Veterinária de megacatástrofes:

um panorama do maior desastre antropogênico na história do Brasil

62 Lesões oculares em cães e gatos hipertensos:

estudo retrospectivo (2012-2016)

69 Tuberculose bovina: prevalência e principais

órgãos acometidos em um abatedouro do município de Iranduba, Amazonas

A SUBMISSÃO DE NOVOS ARTIGOS ESTÁ TEMPORARIAMENTE SUSPENSA. EM BREVE, DIVULGAREMOS, EM NOSSO PORTAL E MÍDIAS SOCIAIS, NOVAS NORMAS PARA APRESENTAÇÃO.

Revista CFMV Brasília DF

Ano XXIVOutubro a Dezembro

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 49

Page 50: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

CANDIDÍASE EM ESPÉCIME DE CALOPSITA (NYMPHICUS HOLLANDICUS) – RELATO DE CASO CANDIDIASIS IN SPECIMEN OF COCKATIEL (NYMPHICUS HOLLANDICUS) - CASE REPORT

A Candida spp é um fungo presente na microbiota do trato gastrintestinal das aves, que afeta também outras espécies, como os seres humanos. Pode tornar-se oportunista em situações de imunossupressão e patogênica em casos de fômite ou alimentos contaminados. Os sinais clínicos mais comuns incluem hiporexia, apatia e placas esbranquiçadas, com presença de muco no bico e na boca. Seu diagnóstico definitivo dá-se por cultura micológica e exame histopatológico. Por se tratar de uma zoonose, é necessário ter um cuidado especial no manuseio das aves, principalmente as domésticas, como as calopsitas.

Palavras-chave: Calopsita. Fungo. Candidíase. Aves.

Candida spp, is a fungus present in the microbiota of the gastrointestinal tract of birds and affects other species such as humans. It may become opportunistic in situations of immunosuppression, and pathogenic in cases of fomites or contaminated food. The most common clinical signs include hyporexia, apathy and whitish plaques with the presence of mucus in the beak and mouth. Its definitive diagnosis is given through mycological culture and histopathological examination. Because it is a zoonosis, it is necessary to have special care in the handling of poultry, especially the domestic as the cockatiels.

Keywords: Cockatiel. Fungus. Candidiasis. Birds.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

A candidíase, comumente titulada de “sapinho”, é uma das enfermidades mais comuns na clínica de psitacídeos, incluindo as calopsitas (Nymphicus hol-landicus), que atualmente são a segunda espécie de psitaciforme mais criada no mundo como ave de es-timação e, desde 1998, foi classificada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (Ibama) como pertencente à fauna do-méstica (MAIA, 2009).

Segundo Cubas et al. (2010), candidíase é o ter-mo atribuído a processos micóticos causados por fungos do gênero Candida spp, que afetam várias espécies de animais, incluindo as aves e o homem. O principal agente envolvido na candidíase em aves

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201850

Page 51: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

é a Candida albicans, mas outras espécies de leve-duras, como C. humicola, C. parapsilosis, C. guillier-mondii e C. famata, já foram isoladas. As diferen-tes espécies de cândida tem distribuição mundial (SWAYNE et al., 2013).

Todas as cinco espécies anteriormente citadas já foram relatadas no ser humano e, dessa forma, as aves poderiam servir como fonte de infecção não apenas para outros animais, mas também para o ser humano em situações de imunodepressão (VIEIRA; COUTINHO, 2009).

A Candida albicans faz parte da microbiota en-térica normal das aves, mas pode se tornar opor-tunista em animais imunossuprimidos. Segundo Rupley et al. (2010), acomete principalmente aves jovens, devido ao fato de o sistema imune dos fi-lhotes ainda ser imaturo e a microflora gastrintesti-nal estar em processo de formação. De acordo com Bauck (1994), a Candida spp pode ser aparente-mente a causa primária de infecções do inglúvio ou o patógeno secundário que tomou vantagem a par-tir de uma lesão primária na mucosa do esôfago ou a partir de um atraso no tempo de esvaziamento do papo, órgão mais afetado em aves jovens (VIEIRA; COUTINHO, 2009).

Ainda, em filhotes alimentados artificialmente, alimentos muito quentes podem causar microlesões na mucosa e facilitam o crescimento das leveduras (REAVILL, 1996). Em aves adultas, a microbiota gas-trintestinal normal tem efeito inibitório no cresci-mento de Candida spp. Entretanto, a mudança desse meio pelo uso indiscriminado de antibióticos ou alte-rações no pH pode favorecer a proliferação de fungos. A infecção por vírus ou bactérias e lesões acarretadas pela hipovitaminose A podem facilitar a invasão do trato gastrintestinal por leveduras (OGLESBEE, 1997); sendo assim, o aparecimento da doença dá-se pelo desequilíbrio populacional da Candida spp, levando ao aparecimento da doença no sistema digestório dessas aves, podendo acometer também os olhos e o sistema reprodutivo e, de forma ainda mais grave, tornar-se sistêmica.

Tal desequilíbrio pode também ocorrer devido a mudanças de ambiente, alimentação, grupo de ani-mais e subnutrição, uma vez que esses fatores levam ao estresse e, consequentemente, à baixa imunidade (MORETTI et al., 2000). O equilíbrio entre a boa funcio-nalidade do sistema imune (imunocompetência) e os desafios de campo é o fator determinante da saúde de um animal (VIEIRA et al., 2015).

De acordo com Berchieri e Macari (2000), a infecção pode ocorrer pela ingestão de água, ali-mentos e fômites contaminados, acarretando pro-blemas no trato digestório, assim como pelo uso de sondas oroesofágicas contaminadas (MORETTI et al., 2000). Em alguns casos, os sinais podem não ser específicos, de difícil diagnóstico, resultando na morte do animal (SWAYNE et al., 2013). Entretanto, como apontado por vários autores, como Rupley et al. e Ettinger et al., o animal pode apresentar um ou mais sinais clínicos, incluindo: acúmulo de muco no papo, diarreia, perda de peso, depressão, regurgi-tação, apatia, anorexia, esofagite, espessamento da parede do esôfago, retardo do esvaziamento inglu-vial e, ocasionalmente, impactação ingluvial; nos adultos, é mais comum o aparecimento de lesões visíveis, com aparência de placas brancas e salien-tes, recobertas por muco esbranquiçado e viscoso, localizadas isoladamente no papo, boca, proventrí-culo e ventrículo ou em uma combinação de luga-res. Quando a infecção é crônica, podem aparecer áreas com muitas placas elevadas, semelhantes a um tecido felpudo. Alguns animais apresentam

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Em aves adultas, a microbiota gastrintestinal normal tem efeito inibitório no crescimento de Candida spp.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 51

Page 52: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

também lesões cutâneas, anormalidades no bico, necrose lingual, infecções cloacais e anais e lesões nos pés (JUNIOR et al., 2009).

O diagnóstico de candidíase baseia-se, princi-palmente, nos sinais clínicos e nos achados de es-fregaços de swabes na cavidade oral ou na coloração das fezes pelo método de Gram. No entanto, o diag-nóstico definitivo é feito pela cultura micológica e exame histopatológico, sendo indicado diagnóstico diferencial com tricomoníase e poxvirose (CUBAS et al., 2010).

Segundo Cubas et al. (2010), as lesões ocasiona-das pela C. albicans podem ser confundidas com as de outras enfermidades, como a vitaminose A, mico-toxicoses e bouba aviária, devendo receber atenção o diagnóstico diferencial. Ainda, ao examinar as fezes, deve-se atentar ao diferenciar leveduras patogênicas de leveduras presentes em alimentos recém-ingeri-dos, que permanecem inteiros nas fezes. Para afirmar que as leveduras têm ação patogênica, é preciso con-siderar o estado clínico, idade, sexo e condição física do paciente.

O tratamento inclui terapia antifúngica e eli-minação das causas predisponentes. As terapias antifúngicas disponíveis para o tratamento da can-didíase nas aves incluem nistatina, cetoconazol, que-toconazol, fluconazol e itraconazol. O fluconazol e o cetoconazol são antifúngicos sistêmicos comumente utilizados no caso de candidíase refratária (CUBAS; GODOY, 2008). Para o ambiente e equipamentos, de-sinfetantes à base de iodo, fenol, formaldeído, entre outros, são indicados para o processo de sanitização (MACARI, 2000).

Uma vez que o agente etiológico é um fungo ambiental e oportunista, alerta-se quanto à neces-sidade de orientação veterinária dos proprietários de aves de companhia acerca de medidas preven-tivas na sua criação (VASCONCELOS et al., 2011), pois podem representar um perigo para a saúde humana, especialmente para indivíduos imuno-comprometidos, como crianças e idosos (BRILHAN-TE et al., 2010).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

No dia 2 de junho de 2016, foi realizado o aten-dimento clínico de uma calopsita (Nymphicus hol-landicus), da família Cacatuidae, da ordem Psittaci-formes, sem sexo definido, de dois meses de idade. O animal apresentava apatia, hiporexia há dois dias, prostração, regurgitação e lesões com placas bran-cas no bico e muco esbranquiçado na boca, com-patíveis com o diagnóstico de infecção fúngica por candidíase. A temperatura corporal encontrava-se em 41 °C.

O proprietário relatou ter adquirido o animal há duas semanas, efetuando a mudança de ambiente e de alimentação e separação de outras aves.

Foi solicitada a coleta de fezes para exame copro-parasitológico, de acordo com Urquhart (1998), nos métodos de Willis-Mollay (flutuação em solução satu-rada de cloreto de sódio) e Sheater (centrifugoflutua-ção em solução saturada de sacarose); no último, foi observada a presença de leveduras compatíveis e su-gestivas de Candida spp. Iniciou-se, então, tratamento com antifúngico à base de cetoconazol 20%, na dose de 30 mg/kg/VO/BID por 14 dias, além de suplemen-tação aminoácida e vitamínica.

No retorno ao hospital, o animal já apresenta-va melhoras clínicas evidentes, bem como retorno normal à alimentação e coloração normal de bico e boca. Uma nova coleta de fezes foi realizada e novamente feitos os métodos de Willis-Mollay e Sheater, em que já não constava mais presença de leveduras suspeitas de Candida spp. O animal con-tinuou com o tratamento com cetaconazol por mais sete dias, totalizando 21 dias de tratamento até sua cura completa.

O tratamento inclui terapia antifúngica e eliminação das causas predisponentes.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201852

Page 53: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

T Figura 1. Calopsita atendida no hospital veterinário.

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

RESULTADOS E DISCUSSÃOSabe-se, por meio de publicações, que a Can-

dida spp é um fungo comumente encontrado na microbiota das aves, principalmente na espécie calopsita (Nymphicus hollandicus), da ordem Psit-taciformes. Este relato, de uma ave jovem subme-tida a estresse por mudança de ambiente, vem ao encontro das informações relatadas por Moretti et al. (2000).

Com o aumento do comércio de pets exóticos, as calopsitas têm estado cada vez mais próximas do homem, como citado por Maia (2009), sendo por ele alimentadas e criadas, seja pelo criador, seja pelo comprador. Essa mudança de habitat repentina, acompanhada de alimentação artificial e aproxima-ção com outras espécies de animais, faz com que o equilíbrio e a funcionalidade do sistema imune fi-quem alterados, agravando-se em aves jovens, que ainda estão em processo de desenvolvimento do sis-tema gastrintestinal, local onde ocorre a proliferação fúngica, como afirmado por Cubas e Godoy (2008). A correção alimentar, para a diminuição do estado de subnutrição, faz-se necessária, uma vez que, em situações como essa, as reservas de energia são utilizadas para que o animal enfrente as situações constantes de estresse.

Foto

: Arq

uivo

pes

soal

Infecções também podem ocorrer pela transmis-são do fungo por fômites ou alimentos contamina-dos, podendo haver, em casos mais severos, sinais respiratórios.

Para a ave atendida, foi aconselhado o acréscimo de frutas frescas na alimentação de sementes comer-ciais e suplemento aminoácido vitamínico, para fins de correção da subnutrição, um dos fatores desenca-deantes da baixa imunidade. Já o antifúngico de es-colha foi o cetoconazol, na dose de 30 mg/kg/VO/BID. Tanto o medicamento quanto o suplemento alimentar foram oferecidos diretamente no bico, devido à baixa procura por alimento e por se tratar de um único ani-mal de fácil manuseio. Para grandes plantéis, podem ser oferecidos junto à ração, caso as aves ainda este-jam se alimentando.

Quanto ao ambiente, foi recomendado o uso de desinfetantes em toda a gaiola e equipamen-tos, a fim de eliminar a presença dos fungos nos ambientes e futuras contaminações de outros ani-mais (MACARI, 2000) e até mesmo do proprietário, por se tratar de uma zoonose (BRILHANTE et al., 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A Candida spp faz parte da microbiota normal do

trato digestivo das aves e, principalmente, em filho-tes, em que o sistema imune é imaturo e a microflo-ra está em formação, qualquer situação de estresse pode atrapalhar e predispor à multiplicação fúngica, causando uma patologia. O diagnóstico rápido é es-sencial no prognóstico do tratamento, uma vez que a candidíase pode ser mortal, principalmente para as aves jovens. O tratamento faz-se com a retirada da situação que predispôs o aparecimento e desenvol-vimento do fungo e o uso de antifúngicos, como o ce-toconazol, itraconazol e fluconazol.

Atenção deve ser dada, por se tratar de uma zoo-nose e por ser crescente o número de indivíduos ob-tidos para fins domésticos, aproximando os laços com os seres humanos.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 53

Page 54: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

BRILHANTE, R.S.N et al. Characterization of the gas-trointestinal yeast microbiota of cockatiels (Nym-phicus hollandicus): a potential hazard to human health. Journal of Medical Microbiology (2010), 59, 718–723. Disponível em: http://www.microbiolo-gyresearch.org/docserver/fulltext/jmm/59/6/718.pdf?expires=1471625770&id=id&accname=-guest&checksum=7E9E2CB5CADE105A31E-111330FB08744> Acesso em: 10/08/2016

BAUCK, L. Mycoses In: RITCHIE, B. W. et al (eds.) Avian Medicine: Principles and Application. Win-gers Publishing, Inc (Flórida). 1994. p. 997-1006.

BIRDS IN BACKYARDS. COCKATIEL (Nymphicus hol-landicus). Desenvolvido por Australian Museum, 2006. Apresenta informações sobre as aves na-tivas da Austrália. Disponível em: < http://www.birdsinbackyards.net/species/Nymphicus-hollan-dicus> Acesso em: 22/07/2016

GRESPAN, André; RASO, Tânia de Freitas. Psittacifor-mes (Araras, Papagaios, Periquitos, Calopsitas e Ca-catuas). In: CUBAS, Zalmir Silvino; SILVA, Jean Carlos

GRÜNDER, S.; MAYSER, P.; REDMANN, T.; KALETA, E. F. Mycological examinations on the fungal flora of the chicken comb. Mycoses, v. 48, p. 114-119, 2005. Disponivel em: < http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1439-0507.2004.01074.x/abstract;jsessionid=C48E1B5A0CD49A36F43D-50654013F15D.f03t04> Acesso em: 30/07/2016

KINDLOVITS, A. Patologias de Aves Silvestres: Parte 4. 2005. Disponível em: <http://www.vete-rinariadrattila.com/crbst_102.html>. Acesso em: 17/08/2016

MAIA, Débora Castelo Branco De Souza Collares. Leveduras isoladas do trato gastrintestinal de calopsitas (Nymphicus hollandicus): determi-nação da microbiota e análise fenotípica. 2009. 02p. Trabalho de obtenção de título de mestre. (Ciências Veterinárias). Programa de Pós-Gradua-ção em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. 2009.

MELVILLE, P. A.; COGLIATI, B.; MANGIATERRA, M. B. B. C. D.; PERES, M. R.; MOURA, S. C. A.; MATSUDA, L.; KIM, A.; BENITES, N. R. Determinação da microbiota pre-sente na cloaca e orofaringe de avestruzes (Struthio camelus) clinicamente sadios. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 6, p. 1871-1876, nov-dez. 2004. Dis-ponivel em: < http://www.scielo.br/scielo.php?scrip-t=sci_arttext&pid=S0103-84782004000600031> Acesso em12/07/2016

MORETTI, A.; FIORETTI, D. P.; BONCIO, L.; PASQUALI, P.; DEL ROSSI, E. Isolation of Candida rugose from turkeys. Journal of Veterinary Medicine, v.47,p. 433-439, 2000. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11014064> Acesso em: 19/07/2016

PFALLER, M. A; DIEKEMA, D. J. Epidemiology of invasive candidiasis, a persistent public health problem. Clinical Microbiology Reviews, v. 20, n. 1, p. 133-163, jan. 2007. Disponível em: < http://cmr.asm.org/content/20/1/133.long> Acesso em: 16/07/2016

Ramos; CATÃO-DIAS, José Luiz. Tratado de Animais Selvagens. 2. ed. São Paulo: Roca, 2014. Cap. 28. p. 614-656.

RUPLEY, E. A.; Manual de Clínica Aviária, São Paulo: ed Roca, 1999. p. 305.

SAMOUR, J. H.; NALDO, J. L. Diagnosis and therapeu-tic management of candidiasis in falcons in Saudi Arabia. Journal of Avian Medicine and Surgery, v. 16, n. 2, p. 129-132, 2002. Disponível em: < http://www.jstor.org/stable/30135261?seq=1#page_scan_tab_contents> Acesso em: 12/07/2016

SOUBHIA, C.B. et al. Candidíase: Revisão de Literatura. Revista científica eletônica de medicina veterinária, Ano VI – Número 11, 2008. Disponível em: < http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_desta-que/UiNptHccCaH7Sm0_2013-6-14-14-42-26.pdf> Acesso em 18/08/2016SWAYNE, David. E. Diseases of poutry, 13th. AAAP, 2013. USA. 1408p.

TAMURA, N. K.; NEGRI, M. F. N.; BONASSOLI, L.A.; SVID-ZINSKI, T. I. E. Fatores de virulência de Candida spp. isoladas de cateteres venosos e mãos de servidores hospitalares. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 40, n. 1, p. 91-93, 2007. Dispo-nível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v40n1/a21v40n1.pdf> Acesso em: 22/07/2016

TSAI, S. S.; PARK, J. J.; HIRAI, K.; ITAKURA, C. Asper-gillosis and candidiasis in psittacines and passeri-formes birds with particular reference to nasal le-sions. Avian Pathology, v. 21, n. 4, p. 699-709, dez. 1992. Disponivel em: < http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03079459208418892> Acesso em: 12/07/2016

VASCONCELOS, T.C.B et al. Aspectos clínicos e ana-tomopatológicos de aspergilose e candidíase em calopsita (Nymphicus hollandicus): relato de caso. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias v. 106, n. 577-580, p.109-112, 2011. Disponível em: < http://www.fmv.ulisboa.pt/spcv/PDF/pdf12_2011/109-112.pdf> Acesso em 20/07/2016.

VIEIRA, D. V. G et al. Principais aspectos da inter-re-lação nutrição e imunidade em aves sob estresse. Revista Eletrônica Nutritime, Revista Eletrônica Vol. 12, Nº 06, nov/dez de 2015. Disponível em: < http://www.nutritime.com.br/arquivos_inter-nos/artigos/342_-_4400-4410_-_NRE_12-6_nov--dez_2015.pdf> Acesso em 10/07/2016

VIEIRA, R.G., COUTINHO, S.D.A. Phenotypical cha-racterization of Candida spp. isolated from crop of parrots (Amazona spp.). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, n. 6, p. 452-456. 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-ci_arttext&pid=S0100-736X2009000600002> Acesso em: 22/07/2016

URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN,J.L. et al. Parasitologia Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, p.239-247.

JUNIOR, A.B.; SILVA, E.N.; FÁBIO, J.; SESTI, L.; ZUA-NAZE, M.F.; Doença das Aves, Campinas:2ª ed Fac-ta, 1104 p. 2009.

REFERÊNCIAS

LAURA TONONMédica-veterináriaCRMV-SC nº 7431Mestranda em Ciência Animal na Universidade do Estado de Santa Catarina (Unidesc)[email protected]

LIVIA GONÇALVES VALENTEMédica-veterináriaCRMV-SC nº 3817Doutoranda em Ciência Animal na Unidesc

AUTORAS

CARLA CANCELIERMédica-veterináriaCRMV-SC nº 7543Doutoranda em Ciência Animal na Unidesc

VITÓRIA VARGASMédica-veterináriaCRMV-SC nº 8322Clínica de pequenos animais

LARISSA AMÉRICOEstudante de Medicina Veterinária no Centro Universitário Barriga Verde

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201854

Page 55: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

MEDICINA VETERINÁRIA DE MEGACATÁSTROFES: UM PANORAMA DO MAIOR DESASTRE ANTROPOGÊNICO NA HISTÓRIA DO BRASIL* MEGA CATASTROFE VETERINARY MEDICINE: A PANORAMA OF THE LARGEST ANTHROPOGENIC DISASTER IN THE HISTORY OF BRAZIL

A Medicina Veterinária de Catástrofes ainda é muito incipiente em nosso país e, por esse motivo, todas as informações geradas a respeito de intervenções pós-catástrofes devem ser publicadas, a fim de mitigar com maior eficiência outras calamidades que poderão acontecer. O Brasil sofre com frequência desastres, sejam eles de origem natural ou ocasionados pelo homem, que afetam tanto o ser humano quanto os animais de produção, os animais de companhia e a fauna selvagem. Uma situação de emergência ocasionada por uma catástrofe pode ser definida como qualquer circunstância que provoque danos, alterações ecológicas, sofrimentos, enfermidades e mortalidades em níveis que requerem uma intervenção na(s) comunidade(s) afetada(s). De modo geral, tais situações acontecem de forma abrupta, advindas de um fenômeno adverso previsível ou não para o ser humano, os animais e o meio ambiente, e requerem ações imediatas para evitar ou atenuar os efeitos negativos. O papel do homem na origem das catástrofes se sustenta no conceito de que uma catástrofe é uma vulnerabilidade existente ante uma ameaça ou perigo específico e cujo resultado pode ser físico, estrutural, funcional, social, entre outros. É necessário realizar a divulgação de experiências com ocorrências prévias, com o objetivo de mitigar catástrofes potenciais futuras, com base em uma análise de riscos pertinentes.

Palavras-chave: Mariana – MG. Samarco. Barragem de rejeitos. Medicina de catástrofe. Desastres.

The veterinary medicine of catastrophe is still very incipient in our country, and for this reason, all the information generated concerning post-disaster interventions should be published in order to mitigate more effectively other calamities that may occur. Brazil frequently suffers from disasters, whether caused by nature or man, which affect human beings as well as production animals, companion animals and wildlife. An emergency situation caused by a catastrophe can be defined as any circumstance that causes damage, ecological change, suffering, disease and mortality to levels that require intervention in the affected community (ies). In general, such situations occur abruptly due to an adverse phenomenon that is foreseeable or not, for humans, animals and the environment, which require immediate action to avoid or mitigate the negative effects caused by it. The man´s role at the origin of catastrophes is based on the concept that a catastrophe is an existing vulnerability to a specific threat or danger, and the result of it can be physical, structural, functional, and social, among others. It is necessary to carry out the dissemination of experiences with previous occurrences in order to mitigate potential future disasters, based on a pertinent risk analysis.

Keywords: Mariana – MG. Samarco. Tailings dam. Catastrophe medicine. Disasters.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 55

Page 56: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

Os desastres, ao longo dos anos, influenciaram o panorama mundial. Dentre eles, os decorrentes de ações humanas com consequências para os animais são historicamente conhecidos desde o início das guerras, em que principalmente os equinos eram uti-lizados na condução de equipamentos e mantimentos para os exércitos, além de conferir poderio militar. Isso tornou os animais, tal como o homem, vítimas das ad-versidades, sendo atingidos por projéteis, sofrendo com a escassez de forragens, padecendo de cansaço extremo e muitos acabando mesmo por falecer, todos vítimas fáceis e “invisíveis” desses desastres antropo-gênicos (VIEIRA, 2016).

A própria Medicina Veterinária surgiu numa Europa dominada por desastres biológicos. Foi Claude Bour-gelat, com uma corte francesa com 5.000 cavalos de uso militar que poderiam necessitar de cuidados mé-dicos, numa França afetada por surtos de peste bovina nos anos de 1710 a 1714, seguidos por outro surto em 1750, em conjunto com a pleuropneumonia contagio-sa e o carbúnculo hemático nos bovinos, além da pre-sença da raiva, que propôs ao rei Louis XV a fundação do que viria a ser a primeira faculdade de Medicina Ve-terinária, em Lyon, em 1762 (JONES et al., 2004).

Entender os conceitos de “desastre” e “catástrofe” é fundamental para a compreensão das suas conse-quências, porém não são conceitos fáceis de definir. Serra (2006) manifesta seu desagrado relativamente à confusão semântica que nos dicionários envolve os ter-mos “acidente”, “desastre”, “cataclismo” e “catástrofe”, apesar de poder apreciar-se que estão associados a di-ferentes graus de negatividade. O autor realça também a diferença qualitativa existente: enquanto os acidentes e desastres se tratam de acontecimentos limitados em termos de espaço, de pessoas envolvidas e de efeitos, os cataclismos e as catástrofes referem-se a aconteci-mentos tão extensos que são, à partida, incalculáveis.

A medicina de catástrofe, não sendo uma especia-lidade médica no seu sentido mais estrito, é um ramo específico da medicina que lida com emergências ex-tremas, em que todos os minutos contam. Esse ramo

é praticado em cenários difíceis e envolve riscos, com quantidades maciças de vítimas que necessitam de triagem e tratamento rápidos (AL-SLEIBI, 2010).

Chamam-se desastres de massa os acidentes co-letivos nos quais se verifica grande número de vítimas graves ou fatais. Tais acidentes são, na maioria das ve-zes, decorrentes da forma de convivência humana, le-vada a habitar áreas geográficas reduzidas e com alto índice de concentração demográfica. Somado a esse quadro, o avanço incontrolável das disponibilidades tecnológicas, com a criação do que se rotulou de “risco proveito” ou “risco criado”, conhecido e avaliado, mas de que ninguém abre mão, criou uma “tecnologia de catástrofe”. Assim, a conveniência humana em grandes edificações, os deslocamentos em transportes cole-tivos cada vez mais rápidos, o uso indiscriminado de algumas modalidades de energia e o emprego assus-tador das substâncias nocivas podem trazer para o ho-mem, na sua necessidade gregária ou na sua ânsia de vencer distâncias, a possibilidade amarga das grandes tragédias e, assim, pode-se dizer que o homem atual vive a “era do risco” (FRANÇA, 2009). Já o termo “antro-pogênico” refere-se a um fenômeno artificial causado pela ação ou inação do homem, que pode ser fruto de motivação humana direta, da sua negligência ou erros (SILEI, 2014).

A história ensina que as catástrofes irão acontecer, desconhecendo-se apenas quando, onde e com que características, não sendo previsível a forma do “cisne negro”; assim, o planejamento tem por base o passado conhecido e as lições aprendidas. A teoria desenvolvi-da por Nassim Taleb, no seu livro O cisne negro, delonga acerca de acontecimentos altamente improváveis que reúnem três características principais: a imprevisibilida-de, porque são estatisticamente improváveis; o enorme impacto; e, após sua ocorrência, a arquitetura de uma explicação que os faz parecer menos aleatórios e impre-visíveis do que são na realidade (SANTOS, 2013).

Kresja (1997) considera que foi entre os séculos XIX e XX, com os avanços tecnológicos e a industrialização, que o conceito de “desastre tecnológico” ganhou im-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201856

Page 57: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

portância. O aumento do número de substâncias e ma-teriais perigosos, inerentes ao desenvolvimento huma-no, foi determinante na escalada desse tipo de desastre.

Quando se trata de emergências ou desastres, fa-la-se na importância da sobrevivência física e psíquica dos sujeitos. De um ponto de vista energético e estru-tural, a experiência traumática decorrente desse tipo de incidente pode ser considerada um desabamento da organização simbólica do funcionamento psíquico, constituindo uma modalidade de “morte” própria ao psiquismo (PEREIRA, 2008). Nos desastres, pode dar-se a ruptura da relação homem-animal, porque, por um lado, é negada a evacuação conjunta dos animais com seus tutores e, por outro, tem-se a consequência da eventual morte ou perda do animal (HUNT et al., 2008).

Se tivermos em conta que muitos tutores enxergam seus animais como um membro da família (BERNSTEIN, 2007), então será expectável que cometam ilegalida-des e ignorem os avisos das autoridades quando em causa estiver a saúde e o bem-estar dos seus animais (IRVINE, 2004). Em sentido contrário, uma relação fraca entre o tutor e o seu animal pode levar ao abandono e está normalmente vinculada a um histórico anterior ao evento de poucas idas ao veterinário, falta de regis-tro do animal ou animal não esterilizado (HEATH et al., 2001). Negligenciar o valor intrínseco dessa relação e os riscos da sua ruptura originará problemas para os quais

a sociedade pode não estar preparada para responder. Cabe então, entre outros, aos responsáveis políticos e às comunidades veterinárias desenvolver soluções para evitar e atenuar sua ruptura (SCHAFFER, 2011).

Slaikeu (1999), que trabalha com o conceito de intervenção em crise, diferencia as crises em vitais (relacionadas aos ciclos do desenvolvimento huma-no) e circunstanciais (repentinas, precipitadas por al-gum evento extremo e imprevisível). Por representar graves ameaças à saúde física e mental, as crises com frequência requerem ações imediatas de assistência. Alguns autores (GARCIA-RENEDO et al., 2007; PATRO-NATO PROVINCIAL DE SERVICIOS SOCIALES DE CÓR-DOBA, 2005) diferenciam conceitualmente desastre de catástrofe, tendo em vista suas proporções ou mes-mo o caráter transgeracional dos danos causados à co-munidade. A catástrofe produziria ainda mais estresse coletivo do que o desastre, devido à ruptura de todas as estruturas sociais da comunidade afetada.

Afinal, quanto menos atentas as instituições do Es-tado estiverem com o dever de proteção da pessoa hu-mana, pela adoção de políticas compensatórias quando as circunstâncias assim o exigirem, maior será a neces-sidade de prover aportes humanitários aos grupos des-validos, anônimos e impotentes, gerando a aparência de grande compaixão e solidariedade onde, estruturalmen-te, paira a indiferença social (VALÊNCIO, 2011).

T Figura 1. Resgate de um cão que estava atolado em rejeito de minério, no distrito de Bento Rodrigues, Mariana, Minas Gerais, Brasil. A: Equipe de resgate formada por voluntários (bombeiro civil). Nota-se que a equipe tem que se movimentar agachada sobre a lama para evitar o atolamento. B: Cão resgatado que passou por um processo de banho para retirar a lama agarrada ao corpo.

A B

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 57

Page 58: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

O objetivo deste trabalho é relatar as ações que foram executadas durante os resgates dos animais no incidente do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, no muní-cipio de Mariana, Minas Gerais, Brasil.

RELATO DE CASOO complexo minerário denominado Mina Germano

é formado por várias barragens, que foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro. É controlado pela Samarco Minera-ção S.A., em parceria com a brasileira Vale S.A. e a an-glo-australiana BHP Billiton. A barragem de rejeitos de Fundão se localizava no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do munícipio brasileiro de Mariana, e seu rompimento ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015, por volta das 16h20. O rompimento dessa estru-tura provocou o vazamento de rejeitos que transpuse-ram a barragem de Santarém, sem, no entanto, rompê-la.

Tal rompimento foi considerado o maior desastre socioambiental da história brasileira e o maior do mun-do envolvendo barragens de rejeitos. Um agravante da situação foi que o empreendimento e as comunidades do entorno à barragem não possuíam um plano de contingência, nem rotas de fuga que permitissem aos moradores e aos animais se deslocar a tempo para re-giões seguras. Graves deficiências foram constatadas, das quais se salientam a ausência de plano de socor-

ros, dificultando a movimentação das equipes de vo-luntários, e a falta de articulação com as autoridades locais. Dessa intervenção, destacam-se ainda, como fraquezas diagnosticadas, a inexistência de comunica-ções oficiais, em tempo real, e as carências logísticas.

Desde o rompimento da barragem, voluntários, dentre eles, médicos-veterinários, se mobilizaram para realizar o resgate e prestar socorro aos animais atingi-dos pelo incidente. Do rompimento da barragem até o fim de dezembro, foram resgatados em torno de 1.100 animais, sendo 99% de animais domésticos e apenas 1% de animais selvagens. Dos animais domésticos, a grande maioria era composta por aves (galinhas), se-guidas por cães (Figuras 1 e 2), equinos, suínos e bo-vinos (Figura 3). Dezenas de animais atendidos não foram resgatados e destinados ao Centro de Recolhi-mento Avançado Animal (CRA), por não existirem pos-sibilidades de acesso e meios de transporte ou por simples preferência dos proprietários.

Foram atendidos seis animais selvagens, sendo um ca-racará (Ploryborys plancus), uma coruja-buraqueira (Athene cunicularia), dois cágados-de-barbicha (Phrynops sp.), um frango-d’água (Gallinula galeata) e um sagui-de-tufo-preto (Callithrix penicillata). As duas aves foram a óbito e as de-mais espécies foram destinadas ao Centro de Triagem de Animais Silvestres de Belo Horizonte (Cetas).

Foram constatados aproximadamente 160 óbitos, sendo 62% de aves (galinhas), seguidas por bovinos (15%), suínos (10%), equinos (8%), cães (4%) e ani-mais selvagens (1%). Os números apresentados são subestimados, uma vez que vários animais soterrados não foram contabilizados e pelo fato de o sistema de contagem oficial ter se iniciado após vários dias do princípio dos resgates. Do percentual de animais enca-minhados ao CRA, 40% eram de galinhas, 37%, cães, 15%, equídeos, 5%, patos e 3%, porcos, números também estimados por não existir um sistema de con-tagem oficial no início dos resgates. A grande maioria desses animais era proveniente de Bento Rodrigues, Camargos, Paracatu de Baixo e Paracatu de Cima. Hou-ve resgates em menores proporções em Pedras, Barre-tos, Ponte do Gama, Campinas, Barra Longa, Gesteira,

T Figura 2. Resgate de uma cadela realizado por um voluntário (bombeiro civil), no dia 9 de novembro de 2015, em Paracatu, Mariana, Minas Gerais, Brasil. A, B e C: Imagens capturadas durante o momento do resgate. D: Cade-la após receber todos os cuidados médico-veterinários.

A B

C D

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201858

Page 59: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Santa Cruz do Descalvado, Novo Soberbo, Bandeiran-tes, São Gonçalo, Caxambú e Rio Doce.

O Núcleo de Atenção Médico-Veterinário foi consti-tuído por veterinários voluntários, organizações não go-vernamentais, entre outras entidades públicas, privadas e do terceiro setor, realizando resgates, atendimentos in-dividuais, por grupos, em visitas a propriedades afetadas e com encaminhamentos para internação. Essas e outras atividades se deram a partir da organização de frentes ou grupos de trabalho, compostos por equipes mistas.

A estrutura física possuía 147 baias modulares, um hospital de campanha (Figura 4), um gatil, um canil (Figura 5), tronco para grandes animais, 15 piquetes com uma baia anexa, um piquete-maternidade com maiores dimensões, dois almoxarifados, dois banhei-ros, uma cozinha, uma copa, dois contêineres-dormi-tório com banheiro e setor administrativo, composto por três contêineres.

Após a chegada dos animais ao CRA, eles passavam por uma avaliação clínica minuciosa e eram realizados todos os procedimentos clínicos possíveis para a es-tabilização (Figuras 6 e 7). Animais que apresentavam quadro clínico que suplantava as capacidades de aten-dimento eram encaminhados para clínicas veterinárias conveniadas. Posteriormente, realizava-se o cadastro em uma ficha clínica e, quando possível, a identificação do proprietário. Todos os cães receberam coleira repe-lente e foram submetidos a testes rápidos para detec-ção de leishmaniose e de cinomose, enquanto os gatos foram avaliados por meio de teste rápido de detecção do vírus da imunodeficiência felina (FIV) e da leucemia viral felina (Felv). Os cães e gatos, sem exceção, ainda foram vermifugados, vacinados (NOBIVAC®PUPPY DP, NOBIVAC CANINE 1 – DAPPvL2+Cv, NOBIVAC®RAIVA e NOBIVAC®FELINE 1 – HCPCL – MSD Saúde Animal – São Paulo – SP – Brasil), chipados e receberam produtos para o controle de ectoparasitos.

T Figura 4. Hospital de campanha. A: Sala de preparo e retorno cirúrgico. B: Bloco cirúrgico. C e D: Farmácia.

T Figura 3. Resgate de um bovino coordenado por um médico-veterinário, com o auxílio de bombeiros militares e bombeiro civil. A e B: Imagens capturadas durante o momento do resgate. C: Equipe reunida após a conclusão do resgate.

T Figura 5. Contêineres utilizados como setor de internamento para peque-nos animais. A e B: Contêiner destinado aos felinos. C: Contêiner destinado aos cães. D: Maternidade destinada aos cães.

A B C

AA

B C D

B

C D

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 59

Page 60: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Por último, os animais eram conduzidos às insta-lações para a continuidade do tratamento (Figura 8). Após a finalização, eram devolvidos aos seus proprie-tários ou encaminhados para adoção, caso não houves-se procura em um prazo de 30 dias. Só foram encami-nhados para adoção os cães e os gatos, visto que os demais possuíam um tutor.

T Figura 6. Avaliações clínicas realizadas durante a admissão dos animais no CRA. A: Médicas-veterinárias realizando a avaliação de uma ave (galinha). B: Filhote canino passando por procedimento de medicação após avaliação clínica. C: Cão sendo identificado após finalizar todos os procedimentos de admissão. D: Acompanhamento de um cão durante o período de internação.

T Figura 7. Animal resgatado apresentando uma laceração na região escapu-lar do membro anterior direito. Após passar pelo banho e desinfecção da ferida, foi preparado para a redução da ferida. A: Processo de canulação da veia cefálica. B: Cão anestesiado e campo cirúrgico preparado para o pro-cedimento. C: Sutura sendo realizada para redução da ferida traumática. D: Retorno anestésico.

T Figura 8. Monitoramento de equinos durante o período de internação. A: Equinos nas baias recebendo administração de fármacos por via endoveno-sa. B: Curativo sendo feito após animal apresentar escoriações na região da cabeça. C: Suplemento sendo oferecido a um neonato equino.

T Figura 9. Procedimentos de castração realizados nos cães e gatos dispo-níveis para adoção. A: Cadela em procedimento anestésico e cirúrgico. B: Procedimento cirúrgico de ovário-histerectomia. C: Cadela sendo monitora-da no pós-cirúrgico imediato. D: Equipe responsável pela primeira feira de adoção realizada na cidade de Mariana, Minas Gerais, Brasil.

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

No fim de todo o processo, foi instituído um progra-ma denominado “Programa de Reconhecimento e Ado-ção de Animais Cativos”. Em um primeiro momento, foi solicitada a presença da comunidade atingida para o re-conhecimento daqueles animais que ainda não tinham sido identificados pelos proprietários. Para aqueles iden-tificados e sob alta médica, o tutor assinava um termo e levava o animal imediatamente. Os animais que não foram procurados sob nenhuma hipótese foram encami-nhados para adoção. Os que não foram adotados ficaram sob a tutela da mineradora. Todos os cães e gatos subme-tidos à adoção foram previamente castrados (Figura 9).

A

A

A

C D

B

A

B

C

C D

B

C D

B

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201860

Page 61: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

CONCLUSÕES

Embora as catástrofes de origem natural ou an-tropogênica sejam fenômenos imprevisíveis, exis-tem padrões que se repetem e permitem, de certa forma, prever as necessidades que irão surgir, princi-palmente no que tange à assistência médico-veteri-nária aos animais e ao modo como essas necessida-des irão evoluir.

Das lições aprendidas com o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, salientam-se as dificuldades das equipes nos aspectos logísticos, ligados à busca, resgate, transporte, instalações, cuidados dos animais afetados e com os funcioná-rios da mineradora. Destaca-se ainda, como fraque-za diagnosticada, a inexistência de contato entre a equipe de campo e do CRA, visto que os rádios de comunicação não funcionaram ao longo de todo o período de trabalho e não existiam possibilidades de comunicação alternativas. Só se podia planejar ações para poucas horas, uma vez que o cenário se modificava rapidamente.

Desse modo, foi possível concluir a existência de uma necessidade real de aperfeiçoar de forma con-tinuada os profissionais médicos-veterinários e da interação com outras áreas afins e com as estruturas civis, públicas ou não governamentais, com o intuito de articular melhor o apoio aos animais em situações de catástrofe. Esse conhecimento permitirá planejar os meios para mitigar as consequências sobre a saúde das populações de animais afetadas.

* Nota da subeditora: Infelizmente, após a aprovação deste artigo, ocorreu o desastre da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro de 2019, o qual superou o de Mariana em volume de rejeitos e número de vítimas.

MARCOS VINÍCIUS DE SOUZAMédico-veterinárioCRMV-MG nº [email protected]

AUTOR

AL-SLEIBI, N. (2010) Excerto da Mensagem do Secretário-Geral da Organização Internacional de Proteção Civil. Acesso em: 07 março de 2016, disponível em: http://www.proteccaocivil.pt/List/Foco/Attachments/49/OIPC%20-%20DIA%20PC%202010%20(2).pdf.

BERNSTEIN, P. L. The Welfare of Cats: the human--cat relationship. Dordrecht: Springer, 2007.

FRANÇA, G. V. (2009) Desastres de Massa – Su-gestões para um itinerário correto de auxílios. Acesso em: 06 março de 2016, disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/re-vista_bioetica/article/view/471, 1994.

GARCIA-RENEDO, M. GIL BELTRÁN, J.M. VALERO VALERO, M. Psicología y desastres: aspectos psi-cosociales. Castelló de la Plana: Publicacions de la Universitat Jaume I, 2007.

HEATH, S. E., BECK, A. M., KASS, P. H., & GLICKMAN, L. T. Risk factors for pet evacuation failure after a slow-onset disaster. Journal of the American Veterinary Medical Association, 218(12), p. 1905-1910, 2001.

HUNT, M. G., AL-AWADI, H., & JOHNSON, M. Psychological sequelae of pet loss following Hurricane Katrina. Anthrozoös, 21(2), p. 109-121, 2008.

IRVINE, L. (2004) Providing for Pets During Di-sasters: Na Exploratory Study. Natural Hazards Center. Acesso em: 06 março de 2016, disponí-

vel em: https://www.academia.edu/5835090/Providing_for_Pets_during_Disasters_An_Ex-ploratory_Study.

JONES, K. E., DASHFIELD, K., DOWNEND, A. B., & OTTO, C. M. Search-and-rescue dogs: an over-view for veterinarians. Journal of the American Veterinary Medical Association, 225(6), p. 854-860, 2004.

KREJSA, PET. (1997) Report on early warning for technological hazards. Acesso em 15 de julho de 2018, disponível em: https://www.unisdr.org/2006/ppew/whats-ew/pdf/report-on-ew--for-technological-hazards.pdf.

PATRONATO PROVINCIAL DE SERVICIOS SO-CIALES DE CÓRDOBA. Protocolo de interven-ción psicológica em crisis ante situaciones de emergências y desastres. Espanha: Córdoba, 2005. Acesso em: 06 de março de 2016, dispo-nível em: http://www.sisman.utm.edu.ec/libros/FACULTAD%20DE%20CIENCIAS%20DE%20LA%20SALUD/CARRERA%20DE%20PARAM%-C3%89DICO/03/Psicolog%C3ADa%20en%20situaciones%20de%20emergencia/Interven-ci%C3%B3n%20psicol%C3%B3gica.pdf.

PEREIRA, M. E. C. Pânico e desamparo: um estudo psicanalítico. São Paulo: Editora Escuta, 2008.

SANTOS, N.O.C.L. A medicina de catástrofes na marinha. A resposta da medicina naval em caso de catástrofe. Pedrouços, 2013. Trabalho de in-

vestigação individual do curso de promoção de oficial general. Instituto de Estudos Superiores Militares.

SCHAFFER, C.B. (2011) Human-animal bond considerations during disasters. Acessado pela última vez em 06 março de 2016, disponível em: http://virginiasart.org/wordpress/wp-content/uploads/2012/05/Human-animal_bond_consi-derations_during_disasters_-_schaffer_caroli-ne.pdf.

SERRA, P. (2006) Cataclismos e catástrofes: re-flexões acerca da relação entre sistema política e sistema mediático. Acesso em: 15 de julho de 2018, disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-cataclismos-catastrofes.pdf.

SILEI, G. (2014) History of technological ha-zards, disasters and acidentes. Acesso em: 06 março de 2016, disponível em: http://www.eol-ss.net/sample_chapters/c09/e6-156-12-00.pdf.

VALÊNCIO, N. A sociologia dos desastres: pers-pectivas para uma sociedade de direitos. In: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Psicologia de emergências e desastres na América Latina: promoção de direitos e construção de estraté-gias de atuação. Brasília: CFP, 2011.

VIEIRA, J.F.M. Medicina veterinária de desastres e catástrofes. Lisboa, 2016. 84p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária. Universidade de Lisboa.

REFERÊNCIAS

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 61

Page 62: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

LESÕES OCULARES EM CÃES E GATOS HIPERTEN-SOS: ESTUDO RETROSPECTIVO (2012-2016)OCULAR LESIONS IN HYPERTENSIVE DOGS AND CATS: RETROSPECTIVE STUDY (2012-2016)

Este estudo objetivou caracterizar as lesões oculares de cães e gatos hipertensos, identificar as causas da hipertensão arterial sistêmica e verificar a existência de correlação entre o número de lesões observadas e o valor da pressão arterial sistólica. Dados de 67 animais hipertensos (59 cães e oito gatos) com lesões oculares foram analisados quanto aos valores da pressão arterial no momento do exame oftálmico, às lesões detectadas e à ocorrência de doenças primárias correlacionadas à hipertensão arterial sistêmica. A pressão arterial média foi de 203,4 ± 27,0 mmHg, nos cães, e 230 ± 41,8 mmHg, nos gatos. A lesão ocular mais frequente, em ambas as espécies, foi a hemorragia retiniana (52,5% dos cães e 75% dos gatos). A doença primária mais comumente diagnosticada foi a doença renal crônica (42,4% dos cães e 50% dos gatos). Entre os cães, não houve correlação estatística entre número de lesões e pressão arterial sistêmica; quanto aos gatos, o número amostral baixo não possibilitou a aplicação dos testes estatísticos. Os dados analisados sugerem a ocorrência de lesões oculares importantes e potenciais causadoras de comprometimento ou perda de visão, em cães e gatos com hipertensão. Portanto, pacientes hipertensos ou portadores de condições associadas à hipertensão devem ser monitorados para detecção de alterações nos olhos, um dos órgãos-alvo de lesões na doença. Nesse aspecto, o exame oftálmico possui fundamental importância, uma vez que as lesões oculares tendem a se manifestar precocemente na evolução da doença e podem ser detectadas por exames não invasivos, como a oftalmoscopia.

Palavras-chave: Hipertensão. Oftalmoscopia. Retinopatia hipertensiva. Cão. Gato.

The objectives of this study were to describe the ocular lesions of hypertensive dogs and cats, to identify the causes of systemic arterial hypertension and to verify any relation between the number of ocular lesions and the values of the systolic arterial pressure. Data from 67 hypertensive animals (59 dogs and eight cats) with ocular lesions were studied for blood pressure values at the time of the ophthalmic examination, the lesions detected and the occurrence of primary diseases correlated to systemic arterial hypertension. Dogs mean blood pressure was 203.4 ± 27.0 mmHg and that of cats was 230 ± 41.8 mmHg. The most frequent ocular lesion in both species was retinal hemorrhage (52.5% in dogs and 75% in cats). The most commonly diagnosed baseline disease was chronic renal disease (42.4% in dogs and 50% in cats). Among dogs, there was no statistical correlation between number of lesions and systemic arterial pressure; for cats, due to the low sample, it was not possible to apply the statistical tests. The data analyzed suggests the occurrence of important ocular lesions potentially causing vision impairment or loss in dogs and cats with hypertension. Therefore, hypertensive patients or those with conditions associated with hypertension should be monitored for eye lesions, one of the target organs of the disease. Ophthalmic examination is a helpful tool, since ocular lesions tend to manifest early in the course of the disease and can be detected by non-invasive examination, such as ophthalmoscopy.

Keywords: Hypertension. Ophthalmoscopy. Hypertensive retinopathy. Dog. Cat.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201862

Page 63: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

Hipertensão arterial sistêmica consiste em aumen-tos sustentados na pressão arterial sanguínea, sendo geralmente categorizada em três tipos, de acordo com a etiologia: causada por artefato de medição, como na hipertensão induzida pelo estresse ou síndrome do jaleco branco; resultante da associação com outras doenças (hipertensão secundária); e não relaciona-da a outros processos potencialmente causadores da doença (hipertensão idiopática) (BROWN et al., 2007; TAYLOR et al., 2017).

Ao contrário do que ocorre em humanos, nos cães e gatos, a hipertensão é normalmente secundária a doenças sistêmicas, como doença renal crônica e in-júria renal aguda (ANDERSON; FISHER, 1968; KOBA-YASHI et al., 1990; TAYLOR et al., 2017), hiperadreno-corticismo (RAPOPORT; STEPIEN, 2001; BROWN et al., 2012), diabetes melito (STRUBLE et al., 1998; SENELLO et al., 2003; TAYLOR et al., 2017), hiperaldosteronismo (BREITSCHWERDT et al., 1985; TAYLOR et al., 2017), feocromocitoma (BARTHEZ et al., 1997; HENRY et al., 1993; TAYLOR et al., 2017), hipertireoidismo (SAN-DER et al., 1998; TAYLOR et al., 2017), hipotireoidis-mo (GWIN et al., 1978) e obesidade (BODEY; SANSOM, 1998; DWYER et al., 2000).

Diversos estudos vêm tentando definir valores de referência para pressão arterial sistólica, com valores oscilando de 145 ± 23 (CHALIFOUX et al., 1985) a 151 ± 27 mmHg (STEPIEN; RAPOPORT, 1999), em cães, e de 118 ± 11 (KOBAYASHI et al., 1990) a 162 ± 19 mmHg (SPARKES et al., 1999), em gatos, na medição com apa-relho Doppler ultrassonográfico (TAYLOR et al., 2017).

A hipertensão sistêmica é preocupante, uma vez que elevação cronicamente sustentada na pressão arterial causa lesões em órgãos-alvo. O tratamento objetiva a prevenção dessas lesões, o que muitas ve-zes não é possível, em decorrência da evolução silen-ciosa da doença (BROWN et al., 2007; TAYLOR et al., 2017). Lesões em órgãos-alvo, como as oculares, são frequentemente o primeiro sinal aparente da doença em cães e gatos (LITTMAN, 1994; SANSOM et al., 1994; SANSOM; BODEY, 1997; MAGGIO et al., 2000; TAYLOR

et al., 2017). Além dos olhos, outros órgãos podem ser afetados, como coração, rins e sistema nervoso central (BROWN et al., 2007; TAYLOR et al., 2017).

A hipertensão pode provocar alterações importan-tes na estrutura e função dos olhos (CHATTERJEE et al., 2002), sendo as lesões decorrentes principalmente de falha na autorregulação da circulação sanguínea ocular (LA CROIX, 2005). Elevação da pressão arterial suficiente para ultrapassar o limiar do mecanismo in-trínseco de autorregulação resulta em incapacidade de manutenção do fluxo sanguíneo estável. A ineficiência desse mecanismo causa dilatação de arteríolas, que-bra da barreira sangue-retina (ou hematorretiniana) e aumento de permeabilidade vascular com presença de transudatos periarteriolares focais (CRISPIN; MOULD, 2001). Alterações vasculares na coroide podem re-sultar em acúmulo de fluido sub-retiniano e potencial descolamento de retina (KEYES, 1937). Esses mecanis-mos interferem na distribuição de nutrientes à retina, o que pode provocar danos irreversíveis à visão, por tratar-se de um órgão com elevada demanda de ener-gia e oxigênio para seu adequado funcionamento (KO-MÁROMY et al., 2004).

As alterações secundárias à hipertensão ocorrem especialmente na coroide, na retina e no nervo óptico, sendo denominadas, respectivamente, coroidopatia, retinopatia e neuropatia óptica hipertensivas (CHAT-TERJEE et al., 2002; TAYLOR et al., 2017). Diversos sistemas de classificação dessas alterações, observa-das à oftalmoscopia, são descritos na medicina, com o intuito de quantificar a severidade da hipertensão e prever índices de mortalidade. Alguns exemplos são os sistemas: Keith, Wegener e Barker, Scheie e Wong e McIntosh (DELLACROCE; VITALE, 1953). No entanto, em Medicina Veterinária, as alterações vistas no exame de fundo do olho não se enquadram nesses sistemas de classificação, sendo as lesões somente descritas, po-rém não classificadas (CRISPIN; MOULD, 2001).

OBJETIVOSOs objetivos deste estudo foram descrever as le-

sões oculares presentes em cães e gatos hipertensos,

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 63

Page 64: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

identificar as causas da hipertensão arterial sistêmica e verificar qualquer relação existente entre o número de lesões oculares encontradas e o valor da pressão arterial sistêmica.

MATERIAL E MÉTODOSForam selecionados, para análise, 109 prontuários

de cães e gatos com diagnóstico de lesões oculares possivelmente secundárias à hipertensão arterial sis-têmica, considerando-se pressão arterial sistólica su-perior a 160 mmHg para cães (LEBLANC et al., 2011) e 170 mmHg para gatos (MAGGIO et al., 2000). Os pa-cientes foram atendidos em um Serviço de Oftalmo-logia, no período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2016, tendo sido admitidos diretamente no referido serviço por queixas relacionadas à visão ou encaminhados pelo Serviço de Cardiologia por detec-ção de pressão arterial elevada.

Como critérios de exclusão, foram estabelecidos ausência de mensuração da pressão arterial sistólica na data da oftalmoscopia e diagnóstico concomitante de uveíte ou doenças sistêmicas que pudessem de-sencadear lesões oculares similares às observadas na hipertensão, como hemoparasitoses, coagulopatias, mieloma múltiplo e linfoma.

Os dados compilados dos registros foram os relati-vos às alterações oculares de segmento anterior e pos-terior, ao valor da pressão arterial sistólica mensurada na data do exame oftálmico e ao histórico de afecções primárias causadoras da hipertensão.

Quanto ao exame oftálmico registrado no pron-tuário, a fundoscopia foi realizada com oftalmoscópio binocular indireto e lente de 20 dioptrias. Procedimen-tos adicionais, como teste da lágrima de Schirmer, to-nometria de aplanação, teste da fluoresceína, exame com biomicroscópio com lâmpada em fenda e ultras-sonografia ocular (quando necessário), também foram realizados.

A pressão arterial sistólica dos pacientes foi men-surada com aparelho Doppler ultrassonográfico com manguito colocado na base da cauda, no membro pél-vico (acima do tarso) ou membro torácico (acima do

carpo). O transdutor foi colocado distalmente sobre a artéria coccígea na base da cauda, a artéria tibial ante-rior ou a artéria ulnar na face plantar do pé. A pressão arterial foi medida com contenção manual mínima, du-rante um período de cinco a dez minutos, até várias leituras semelhantes serem obtidas. As três ou quatro leituras mais consistentes foram usadas para determi-nar o valor médio da pressão arterial sistêmica.

Visando a verificar a ocorrência ou não de rela-ção entre o número de lesões oculares observadas e a pressão arterial sistólica, utilizou-se o coeficiente de correlação de Spearman, com nível de significância de 0,05%. Para análise dos demais dados, foi aplicada a estatística descritiva.

RESULTADOSCento e nove casos encaixaram-se, inicialmente,

nos critérios para a seleção dos pacientes neste es-tudo retrospectivo. Destes, 42 foram posteriormente excluídos em decorrência da apresentação de um ou mais dos critérios de exclusão estabelecidos, perma-necendo compilados os dados de 67 casos, dos quais 59 eram cães (88%) e oito, gatos (12%), correspon-dendo a 1,8% e 2% da casuística atendida no Serviço de Oftalmologia nesse período, respectivamente.

Entre os cães, 17 não apresentavam padrão racial definido e 42 tinham raça definida, sendo 15 Poodles, seis Yorkshires, três Schnauzers, três Pitbulls, três Tec-kels e 12 de outras raças. Entre os gatos, havia seis sem raça definida e dois Siameses.

A média de idade dos cães atendidos foi de 10,9 ± 3,5 anos, variando de um a 17 anos; nos gatos, foi de 13,3 ± 1,8 anos, variando de dez a 15 anos.

Quanto ao sexo, entre os cães, houve uma distri-buição de 62% de machos e 38% de fêmeas e, entre os gatos, 55% de machos e 45% de fêmeas.

A média da pressão arterial sistólica dos cães foi de 203,4 ± 27,0 mmHg e a dos gatos, de 230 ± 41,8 mmHg.

Em relação às lesões oculares presentes nos exa-mes oftálmicos, constataram-se alterações como ede-ma, descolamento e hemorragia de retina, aumento

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201864

Page 65: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Tabela 1. Distribuição das lesões oculares registradas nos prontuários de 59 cães e oito gatos hipertensos atendidos no Serviço de Oftalmologia (HOVET-FMVZ/USP), no período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2016, de acordo com o número de animais por tipo de lesão e respectivos percentuais.

T Gráfico 1. Verificação da ocorrência ou não de correlação entre o número de lesões oculares e a pressão arterial sistêmica em 59 cães hipertensos atendidos no Serviço de Oftalmologia (HOVET-FMVZ/USP), no período de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2016.

da tortuosidade das arteríolas da retina, hiperreflexia perivascular e hifema. A distribuição das lesões, nos cães e gatos, está apresentada na Tabela 1. Entre os cães, 44% apresentaram apenas uma dessas lesões

ESPÉCIE

LESÃO

Hifema Tortuosidade de vasos

Hemorragiade retina

Descolamento de retina

Hiperreflexia perivascular

Edema sub-retiniano

Canina 31 (52,5%) 24 (40,7%) 14 (23,7%) 12 (20,3%) 11 (18,6%) 5 (8,5%)

Felina 1 (12,5%) 1 (12,5%) 6 (75%) 3 (37,5%) 2 (25%) 3 (37,5%)

oculares, 44%, dois tipos de lesão, 10%, três tipos e 2%, quatro tipos de lesão. Quanto aos gatos, 33,3% apresentaram apenas uma lesão ocular, 55,6%, dois tipos de lesão e 11,1%, três tipos.

Fonte: Serviço de Oftalmologia (HOVET-FMVZ/USP), 2017.

As causas da hipertensão não foram identificadas em 27% dos cães incluídos no estudo; doença renal crônica foi diagnosticada em 42,3%, hiperadrenocor-ticismo, em 29% e hipotireoidismo, em 1,7%. Entre os gatos, 50% não tiveram a causa de base identificada e os outros 50% eram doentes renais crônicos.

Nos cães, não foi encontrada correlação esta-tisticamente significativa entre o aumento do nú-mero de lesões e o aumento da pressão arterial sistêmica (coeficiente r = 0,159 e p = 0,233), como pode ser visto no Gráfico 1. Nos gatos, não foi pos-sível realizar testes estatísticos, devido ao número amostral obtido.

300

200

100

00 1 2 3 4 5

N Lesões

PAS

DISCUSSÃO

A prevalência de hipertensão arterial sistêmica em cães e gatos ainda não é bem determinada (BROWN et al., 2007). Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, com cães aparentemente normais, identificaram hipertensão em 0,5% de 400 animais em Ohio (MCCUBBIN; CORCO-RAN, 1953), em 0,9% de mil cães jovens em Illinois (KATZ et al., 1957) e em 2% de 215 cães no estado da Geor-gia (HAMILTON et al., 1940). Em um relato com 104 ga-tos aparentemente saudáveis, 2% apresentaram pressão sistólica acima de 170 mmHg (BODEY; SANSOM, 1998). Carter et al. (2014) mensuraram a pressão arterial sistê-mica de 73 gatos idosos, em Auckland, verificando hiper-tensão em 17,8% deles. Neste estudo, encontrou-se uma prevalência de 1,9% de cães e 2% dos gatos hiperten-sos com alterações oculares, dentre os animais atendidos no Serviço de Oftalmologia, no período analisado. Apesar de as taxas de incidência serem similares à maioria das referidas na literatura, existe um viés na população estu-dada, uma vez que são pacientes diagnosticados em um grupo de animais com queixas oculares gerais ou enca-minhados para exame de fundo de olho para auxílio no diagnóstico da hipertensão. Ainda, a falta de mensuração uniforme do parâmetro, os critérios de inclusão variáveis e valores de referência inconsistentes para o diagnóstico da doença na Medicina Veterinária dificultam a interpre-tação dos dados de prevalência (BROWN et al., 2007) e sua comparação com outros estudos.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 65

Page 66: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Em relação às lesões oculares registradas em cães, a hemorragia retiniana foi a mais frequente (52,5%), con-dizendo com estudo de LeBlanc et al. (2011) em 42 cães hipertensos com alterações oftálmicas, no qual também foi a mais prevalente, tendo sido observada em 40% dos animais. Hemorragias retinianas variam de discre-tas hemorragias intrarretinianas em forma de pontos a grandes hemorragias pré-retinianas dos vasos retinia-nos; alguns destes são o resultado de ruptura de aneu-rismas (CRISPIN; MOULD, 2001; HAYAREH et al., 2005).

A segunda alteração mais observada foi a tor-tuosidade de vasos, em 40,7% dos cães atendidos, a qual foi superior à taxa de apenas 5% mencionada no estudo de LeBlanc et al. (2011). A tortuosidade de vasos por fundoscopia é uma avaliação subjetiva, de-pendente da experiência do avaliador. Na medicina humana, existem programas computadorizados que minimizam essa subjetividade (CHEUNG et al. 2010). Além disso, fatores como idade, raça e doenças con-comitantes podem interferir no grau de tortuosidade vascular (HAN, 2012).

Confrontando os dados dos dois estudos, verifi-cou-se que o hifema correspondeu à terceira ocorrên-cia em ambos, ocorrendo em 23,7% dos animais neste estudo e 19% no outro. Deve-se pontuar que o hifema, em muitos casos, impede ou dificulta a avaliação do fundo de olho, podendo diminuir a prevalência das le-sões retinianas.

O percentual de descolamento de retina, na quarta posição relativa à incidência (20,3%), foi similar ao da referida publicação (24%), mas os autores verificaram--no como segunda lesão mais comum. Já o edema sub--retiniano foi detectado em 8,5% dos cães deste estudo (lesão menos observada) e 12% (lesão só menos notada que a tortuosidade de vasos) no de LeBlanc et al. (2011).

Nos gatos incluídos nesta pesquisa, a ocorrência de hemorragia retiniana também foi a lesão mais fre-quente (75% dos animais), seguida por descolamento (37,5%) e edema sub-retiniano (37,5%). Esses resul-tados diferem dos achados de Maggio et al. (2000), ao avaliar 69 gatos hipertensos e observar, como principal lesão, o descolamento de retina (62,3% dos animais).

Também divergem dos de Carter et al. (2014), que re-feriram a prevalência de edema retiniano (61,5%) e hiperreflexia (53,8%), em 13 gatos hipertensos com lesões oculares; esses autores registraram hemorragias retinianas em 38,5% dos animais.

As lesões efusivas observadas neste estudo (ede-ma, hemorragia e descolamento da retina) são comuns na retinopatia hipertensiva, em decorrência de altera-ções das arteríolas retinianas, como diminuição da con-tratilidade e outras mudanças degenerativas progressi-vas na parede do vaso que levam à ruptura de células endoteliais, com extravasamento de sangue e soro no tecido retiniano (LEBLANC et al., 2011). O acúmulo de fluido sub-retiniano, outra lesão observada neste estu-do, pode ser decorrente também da coroidopatia hiper-tensiva, que se caracteriza clinicamente por descola-mentos de retina focais a generalizados, resultantes de exsudato dos vasos coriocapilares no espaço sub-reti-niano (MACCUMBER et al., 1993; BELEW et al., 1999). Se-gundo Sansom e Bodey (1997), que realizaram exames histopatológicos nos olhos de quatro gatos hipertensos, a retinopatia bolhosa foi a primeira alteração constata-da, precedendo o descolamento seroso.

A hiperreflexia, observada em 18,5% dos cães e 25% dos gatos deste levantamento, pode ser uma le-são cicatricial em áreas nas quais houve descolamen-tos de retina, ocasionando sua degeneração (BODEY; SANSOM, 1998). Outras sequelas não observadas nes-te estudo, como neovascularização e distúrbios pig-mentares, também foram citadas por esses autores.

No estudo de LeBlanc et al. (2011), 31% dos cães apresentaram somente um tipo de lesão ocular se-cundária à hipertensão, enquanto, neste estudo, 44% apresentaram apenas uma dessas lesões. Ainda, 44% dos cães apresentaram dois tipos de lesão, enquanto LeBlanc et al. (2011) referiram duas ou mais lesões em 31% dos animais. Neste levantamento, 10% dos cães apresentaram três tipos de lesão e 2%, quatro ti-pos. Ainda, não foram incluídos cães hipertensos sem lesões oculares, diferindo do estudo de LeBlanc et al. (2011), que reportou ausência de lesões em 38% dos cães hipertensos.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201866

Page 67: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Em gatos, Carter et al. (2014) observaram somente um tipo de lesão em dois (15,4%) de 13 animais hi-pertensos e, nos demais, três tipos ou mais (84,6%). Tais resultados divergem bastante dos desta pesquisa, em que 33,3% tinham apenas um tipo de lesão ocular, 55,6% apresentavam dois tipos de lesão e 11,1% ma-nifestaram três tipos.

Em relação à etiologia da hipertensão arterial sistê-mica, em 25,4% dos cães, não foram identificadas pos-síveis causas, não significando que a hipertensão fosse idiopática, uma vez que, muitas vezes, devido à não rea-lização de exames complementares, resultados de exa-mes inconclusivos ou não comparecimento aos retornos, não é possível estabelecer um diagnóstico. Em 42,4% dos cães, foi diagnosticada doença renal crônica, a qual foi também a principal causa reportada por LeBlanc et al. (2011) em 26% de 65 cães hipertensos (destes, 7% tinham hiperadrenocorticismo, índice inferior ao desta pesquisa, que foi de 28,8%). Quanto aos gatos, em 50% dos animais, foi identificada insuficiência renal crônica em graus variáveis, condizendo com a associação clara entre insuficiência renal crônica e hipertensão sistêmica referida em gatos (BARTGES et al., 1996; BODEY; SAN-SOM, 1998) e que, devido à sua alta prevalência em hi-pertensos, tem sido considerada a causa predominante de hipertensão nessa espécie (MORGAN, 1986; HENIK et al., 1997; SNYDER, 1998; CARTER et al., 2014). No restan-te dos gatos, não foram identificadas as possíveis causas primárias para hipertensão. Assim como nos cães, deve--se considerar que podem não ter sido realizados todos os exames complementares ou acompanhamento clínico necessários para o diagnóstico.

Na análise dos dados relativos aos cães, a ausência de correlação linear entre a pressão arterial sistólica e o número de lesões oculares poderia ser justifica-da pelo fato de elevações da pressão arterial de forma crônica ou aguda terem consequências diferentes na fisiologia ocular: nas elevações crônicas de pressão, há uma acomodação vascular mais eficiente do que nas lesões agudas, resultando em lesões menos relevan-tes (CRISPIN; MOULD, 2001; HAYAREH et al., 2005; LA CROIX, 2005). Outro fator a ser considerado é a ocor-

rência da síndrome do jaleco branco, pois o estresse e a ansiedade do animal no momento da mensuração da pressão arterial podem gerar variações de pressão na magnitude de até 20 mmHg (BELEW et al., 1999).

Mishna et al. (1998) mostraram que existe um rit-mo diurno com grandes flutuações na pressão de cães, como ocorre em humanos. Devido às flutuações da pressão arterial, é possível que um erro seja gerado na avaliação da pressão medida em um único ponto no curso das flutuações de um dia. Considerando que as medidas deste estudo foram feitas em diferentes pe-ríodos do dia, poderia considerar-se outra justificativa para a falta de correlação linear entre a pressão arterial sistólica e o número de lesões oculares.

CONCLUSÕESA hipertensão arterial deve ser considerada prová-

vel etiologia em pacientes com lesões oculares, como hemorragia, edema e descolamento de retina, aumen-to de tortuosidade de arteríolas retinianas e hifema. De forma análoga, essas lesões devem ser procuradas em pacientes com suspeita ou diagnóstico de hiper-tensão arterial sistêmica.

Considerando que hipertensão secundária é a forma mais comum de hipertensão, pacientes diagnosticados com hipertensão arterial sistêmica devem passar por in-vestigação diagnóstica em busca de doenças primárias.

THAIS ALMADA NOBRE DE MELLOMédica-veterináriaCRMV-SP nº 37431Serviço de Oftalmologia – VCI e HOVET-FMVZ/USP

ANA RODRIGUES EYHERABIDEMédica-veterináriaCRMV-SP nº 27077Serviço de Oftalmologia – VCI e HOVET-FMVZ/USP

ANGÉLICA DE MENDONÇA VAZ SAFATLEMédica-veterináriaCRMV-SP nº 5233Serviço de Oftalmologia – VCI e HOVET-FMVZ/USP

ALINE ADRIANA BOLZANMédica-veterináriaCRMV-SP nº 8025Docente do VCI e responsável pelo Serviço de Oftalmologia – HOVET-FMVZ/USP

AUTORAS

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 67

Page 68: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ANDERSON, L.J.; FISHER, E.W. The blood pressure in canine interstitial nephritis. Research in Veteri-nary Science, v. 9, p. 304-313, 1968.

BARTGES, J.W.; WILLIS, A.M.; POLZIN, D.J. Hyperten-sion and renal disease. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 26, p. 1331-1345, 1996.

BARTHEZ, P.Y.; MARKS, S.L.; WOO, J. et al. Pheochro-mocytoma in dogs: 61 cases (1984-1995). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 11, p. 272-278, 1997.

BELEW, A.M.; BARLETT, T.; BROWN, S.A. et al. Evaluation of the whitecoat effect in cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 13, p. 134-142, 1999.

BODEY, A.R.; SANSOM, J. Epidemiological study of blood pressure in domestic cats. Journal of Small Animal Practice, v. 39, p. 567-573, 1998.

BREITSCHWERDT, E.B.; MEUTEN, D.J.; GREENFIELD, C.L. et al. Idiopathic hyperaldosteronism in a dog. Journal of American Veterinary Medical Associa-tion, v.187, p. 841-845, 1985.

BROWN, S.; ATKINS, C.; BAGLEY, R. et al. Guidelines for the identification, evaluation, and manage-ment of systemic hypertension in dogs and cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 21, p 542-558, 2007.

BROWN, A.L.; BEATTY, J.A.; LINDSAY, S.A. et al. Severe systemic hypertension in a cat with pi-tuitary-dependent hyperadrenocorticism. Jour-nal of Small Animal Practice, v. 53, p. 132-135, 2012.

CARTER, J.M.; IRVING, A.C.; BRIDGES, J.P. et al. The prevalence of ocular lesions associated with hypertension in a population of geriatric cats in Auckland, New Zealand. New Zealand Veterinary Journal, v. 62, n. 1, p. 21-29, 2014.

CHALIFOUX, A.; DALLAIRE, A.; BLAIS, D. et al. Evaluation of the arterial blood pressure of dogs by two noninvasive methods. Canadian Journal of Comparative Medicine, v. 49, p. 419-423, 1985.

CHATTERJEE, S. CHATTOPADHYAY, S.; HOPE-ROSS, M. et al. Hypertension and the eye: changing pers-pectives. Journal of Human Hypertension, v. 16, n. 10, p. 667-675, 2002.

CHEUNG, C. Y; ZHENG, Y; HSU, W. et al. Retinal Vas-cular Tortuosity, Blood Pressure, and Cardiovascu-lar Risk Factors. Ophtalmology, v. 118, n 5, p 812 a 818, 2011.

CRISPIN, S.M.; MOULD, J.R.B. Systemic hypertensi-ve disease and the feline fundus. Veterinary Oph-thalmology, v. 4, n. 2, p. 131-140, 2001.

DELLACROCE, J.T.; VITALE, A.T. Hypertension and the eye. Current Opinion in Ophthalmology, v. 19, n. 6, p. 493-498, 2008.

DWYER, T.M.; BANKS, S.A.; ALONSO-GALICIA, M. et al. Distribution of renal medullary hyaluronan in lean and obese rabbits. Kidney International, v. 58, p. 721-729, 2000.

GARNER, A.; ASHTON, N.; TRIPATHI, R. et al. Patho-genesis of hypertensive retinopathy, an experi-

mental study in the monkey. British Journal of Ophthalmology, v. 59, p. 3-44, 1975.

GWIN, R.M.; GELATT, K.N.; TERRELL, T.G. et al. Hypertensive retinopathy associated with hypo-thyroidism, hypercholesterolemia, and renal failu-re in a dog. Journal of the American Animal Hospi-tal Association, v. 14, p. 200-209, 1978.

HAMILTON, W.F.; PUND, E.R.; SLAUGHTER, R.F. et al. Blood pressure values in street dogs. American Journal of Physiology, v. 128, p. 233-237, 1940.

HAN HC. Twisted Blood Vessels: Symptoms, Etio-logy and Biomechanical Mechanisms. Journal of vascular research, v. 49, n. 3, p. 185-197, 2012.

HAYREH, S.S.; SERVAIS, G.E., VIRDI, P.S. et al: Fun-dus lesions in malignant hypertension. III. Arterial blood pressure, biochemical, and fundus changes. Ophthalmology, v. 93, p. 45-59, 1986.

HENIK, R.A.; SNYDER, P.S.; VOLK, L.M. Treatment of systemic hypertension in cats with amlodipine besylate. Journal of the American Animal Hospi-tal Association, v. 33, p. 226-234, 1997.

HENRY, C.J.; BREWER, W.G.; MONTGOMERY, R.D. et al. Clinical vignette. Adrenal pheochromocytoma. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 7, n. 3, p. 199-201, 1993.

KATZ, J.I.; SKOM, J.H.; WALKERLIN, G.E. et al. Patho-genesis of spontaneous and pyelonephritic hyper-tension in the dog. Circulation Research, v. 5, n. 2, p. 137-143, 1957.

KEYES, J.E. Experimental hypertension. IV. Clinical and pathological studies of the eyes: a preliminary report. Archives of Ophthalmology, v. 17, p. 1040-1054, 1937.

KOBAYASHI, D.L.; PETERSON, M.E.; GRAVES, T.K. et al. Hypertension in cats with chronic renal failure or hyperthyroidism. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 4, n. 2, p. 58-62, 1990.

KOMÁROMY, A.M.; ANDREW, S.E.; DENNIS, H.M. et al. Hypertensive retinopathy and choroidopathy in a cat. Veterinary Ophthalmology, v. 7, n. 1, p. 3-9, 2004.

LA CROIX, N.C. Ocular manifestations of systemic disease in cats. Clinical Techniques In Small Ani-mal Practice, v. 20, n. 2, p. 121-128, 2005.

LEBLANC, N.L.; STEPIEN, R.L.; BENTLEY, E. Ocular lesions associated with systemic hypertension in dogs: 65 cases (2005-2007). Journal of the Ame-rican Veterinary Medical Association, v. 238, n. 7, p. 915-921, 2011.

LITTMAN, M.P. Spontaneous systemic hyperten-sion in 24 cats. Journal of Veterinary Internal Me-dicine, v. 8, n. 2, p. 79-86, 1994.

MACCUMBER, M.W.; FLOWER, R.W.; LANGHAM, M.E. Ischemic hypertensive choroidopathy. Fluorescein angiography, indocyanine green videoangiogra-phy, and measurement of pulsatile blood flow. Archives of Ophthalmology, v. 111, n. 5, p. 704-705, 1993.

MAGGIO, F.; DEFRANCESCO, T.C.; ATCKINS, C.E. et al. Ocular lesions associated with systemic hyperten-sion in cats: 69 cases (1985-1998). Journal of the

American Veterinary Medical Association, v. 217, p. 695-702, 2000.

MCCUBBIN, J.W.; CORCORAN, A.C. Arterial pres-sures in street dogs: Incidence and significance of hypertension. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine, v. 84, p. 130-131, 1953.

MISHINA, M.; WATANABE, T.; MATSUOKA S. et al. Diurnal variations of blood pressure in dogs. Jour-nal of Veterinary Medical Science, v.61, p. 643-647, 1999.

MORGAN, R.V. Systemic hypertension in four cats: ocular and medical findings. Journal of the Ameri-can Animal Hospital Association, v. 22, p. 615-621, 1986.

RAPOPORT, G.S.; STEPIEN, R.L. Direct arterial blood pressure measurement in 54 dogs presented for systemic hypertension screening 1998-2001. In: EUROPEAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE ANNUAL CONGRESS, 11, Dublin, 2001. Anais… Dublin, 2001, ECVIM. p. 62.

SANDER, C.; HORAUF, A.; REUSCH C. Indirect blood pressure measurement in cats with diabetes mellitus, chronic nephropathy and hypertrophic cardiomyopathy. Tierarztliche Praxis. Ausgabe K, Kleintiere/Heimtiere, v. 26, p. 110-118, 1998.

SANSOM, J.; BARNETT, K.C.; DUNN, K.A. et al. Ocular disease associated with hypertension in 16 cats. Journal of Small Animal Practice, v. 35, n. 12, p. 604-611, 1994.

SANSOM, J.; BODEY, A. Ocular signs in four dogs with hypertension. Veterinary Record, v. 140, p. 593-598, 1997.

SENNELLO, K.A.; SCHULMAN, R.L.; PROSEK, R. et al. Systolic blood pressure in cats with dia-betes mellitus. Journal of the American Ve-terinary Medical Association, v. 223, n. 2, p. 198-201, 2003.

SNYDER, P.S. Amlodipine: a randomized, blinded clinical trial in 9 cats with systemic hypertension. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 12, n. 3, p. 157-162, 1998.

SPARKES, A.H.; CANEY, S.M.; KING, M.C. et al. Inter- and intraindividual variation in Doppler ultrasonic indirect blood pressure measurements in healthy cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 13, n. 4, p. 314-318, 1999.

STEPIEN, R.L.; RAPOPORT, G.S. Clinical comparison of three methods to measure blood pressure in nonsedated dogs. Journal of the American Vete-rinary Medical Association, v. 215, p. 1623-1628, 1999.

STRUBLE, A.L.; FELDMAN, E.C.; NELSON, R.W. et al. Systemic hypertension and proteinuria in dogs with diabetes mellitus. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 213, n. 6, p. 822-825, 1998.TAYLOR, S.S.; SPARKES, A.H.; BRISCOE, K. et al. ISFM Consensus guidelines on the diagnosis and management of hypertension in cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 19, n. 3, p. 288-303, 2017.

REFERÊNCIAS

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201868

Page 69: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

TUBERCULOSE BOVINA: PREVALÊNCIA E PRINCI-PAIS ÓRGÃOS ACOMETIDOS EM UM ABATEDOU-RO DO MUNICÍPIO DE IRANDUBA, AMAZONAS BOVINE TUBERCULOSIS-PREVALENCE AND MAIN ORGANS AFFECTED IN A SLAUGHTERHOUSE OF THE MUNICIPALITY OF IRANDUBA, AMAZONAS

A tuberculose bovina é uma zoonose infectocontagiosa crônica, causada por Mycobacterium bovis, que aco-mete principalmente bovinos e bubalinos. Possui como característica o desenvolvimento de lesões nodulares, denominadas tubérculos, que podem ser encontradas em qualquer órgão ou tecido. Apresenta distribuição mundial, sendo sua prevalência mais marcante nos países em desenvolvimento. O objetivo deste trabalho foi estimar a prevalência de tuberculose bovina e identificar os principais órgãos afetados no Abatedouro Frigorífico SIE/001, de Iranduba (AM), no período de maio de 2016 a julho de 2017. As informações para a construção do trabalho foram retiradas dos registros de condenações do abatedouro frigorífico. Os dados de condenações foram tabulados e organizados em planilha do Excel, sendo estabelecidos o somatório e a por-centagem dos casos de condenações e os órgãos que apresentavam lesões de tuberculose. O resultado obtido foi uma prevalência de 0,61% de lesões sugestivas de tuberculose, sendo os principais órgãos acometidos os pulmões (17,65%), fígado (11,76%), estômago (9,66%), rins (7,98%), intestino (6,72%) e coração (4,40%). A tuberculose bovina traz prejuízos à região, pois ficam evidenciadas uma alta prevalência e ampla disseminação da doença no rebanho, fazendo-se necessário reforçar as medidas de controle e diagnóstico, com o intuito de reduzir as perdas econômicas e o impacto negativo na saúde pública no estado do Amazonas.

Palavras-chave: Mycobacterium bovis. Zoonose. Perdas econômicas. Amazonas.

Bovine tuberculosis is a chronic infectious contagious zoonosis, caused by Mycobacterium bovis, which mainly affects cattle and buffaloes. It has as a characteristic the development of nodular lesions called tubers, which can be found in any organ or tissue, has a worldwide distribution, and its prevalence is more pronounced in developing countries. The objective of the study was to estimate the prevalence of bovine tuberculosis and to identify the main organs affected in the Irrigation Sieve / Irrigation slaughterhouse of Iranduba AM from May 2016 to July 2017. The information for the construction of the work was taken from the records of condemnations of slaughterhouse frigorifico. The conviction data were tabulated and organized into an Excel® worksheet, and the sum and percentage of the conviction cases and the organs that had tuberculosis lesions were established. The results obtained in the research were a prevalence of 0.61% of lesions suggestive of tuberculosis, where the main organs involved were the lungs 17,65%, liver 11,76%, stomach 9,66%, kidneys 7,98% intestine 6.72% and heart 4.40%. Bovine tuberculosis causes damage to the region, as it is evidenced by a high prevalence and wide dissemination of the disease in the herd, making it necessary to reinforce the control and diagnosis measures, in order to reduce economic losses and negative impact on Public Health in the state of Amazonas.

Keywords: Mycobacterium bovis. Zoonosis. Economic losses. Amazon.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 69

Page 70: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

A tuberculose bovina é uma zoonose infectoconta-giosa crônica, causada por Mycobacterium bovis, que aco-mete principalmente bovinos e bubalinos. Possui como característica o desenvolvimento de lesões nodulares, denominadas tubérculos, que podem ser encontradas em qualquer órgão ou tecido (FURLANETTO et al., 2012a; BRASIL, 2006; BROSCH et al., 2002). Apresenta distribui-ção mundial, sendo sua prevalência mais marcante nos países em desenvolvimento (MEDEIROS et al., 2010; FUR-LANETTO et al., 2012b). Dados do Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informam que, no ano de 2016, foram notificados 4.311 casos e 775 focos de tuberculose no Brasil (BRASIL, 2017a).

Em 2001, foi instituído pelo Mapa o Programa Na-cional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuber-culose Animal (PNCEBT), que tem como objetivo baixar a prevalência e a incidência dessas enfermidades, vi-sando à sua erradicação (BRASIL, 2017b). Os abatedou-ros fazem parte desse controle por meio do diagnósti-co presuntivo da tuberculose, com base na observação de lesões macroscópicas típicas em carcaças e órgãos (DIGUIMBAYE-DJAIBE et al., 2006).

O impacto econômico atribuído a essa enfermi-dade em bovinos baseia-se nas perdas diretas de-correntes da diminuição da produção de leite, morte dos animais, queda no ganho de peso, condenação de carcaças no abate, descarte precoce e eliminação de animais de alto valor zootécnico (BRASIL, 2006). Além dos prejuízos econômicos, a tuberculose tem grande impacto na saúde pública. Em 2010, cerca de 4,6 mil pessoas foram acometidas pela doença, registrando uma taxa de mortalidade de 2,4 para cada cem mil ha-bitantes (BRASIL, 2013).

No ano de 2016, foram abatidas no Brasil 29,67 milhões de cabeças de bovinos, com produção de 7,35 milhões de toneladas de carcaças. Nesse mesmo ano, foram abatidas no Amazonas 253.446 mil cabeças de gado, com produção de 55.183 toneladas de carcaças (BRASIL, 2017a).

Na inspeção post mortem, as características suges-tivas da doença são tubérculos com aspecto nodular

firme, coloração variando entre branco, amarelo e cinza, podendo ser encontrados em tecidos moles, como no parênquima do pulmão, ou na superfície de mucosas. Ao corte, esses nódulos podem apresentar um centro de necrose seco de cor amarelada, com sensação arenosa e ranger no momento da incisão (FREITAS et al., 2001).

Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial de Produtos de Origem Animal (Riispoa) (2017), as le-sões de tuberculose são consideradas generalizadas quando, além de presentes no aparelho respiratório, digestório e linfonodos correspondentes, são encon-trados tubérculos em grande quantidade distribuídos em ambos os pulmões ou identificadas lesões no baço, nos rins, no ovário, no útero, nos testículos, nas cápsulas suprarrenais, na medula espinhal, no cére-bro ou nas suas membranas; nesses casos, é feita a condenação total da carcaça. Em casos específicos, pode haver o aproveitamento condicional desta, de-pois de removidas e condenadas as áreas atingidas, podendo ser destinadas à esterilização pelo calor (BRASIL, 2017c).

A prevalência da doença varia muito entre os tra-balhos; em geral, eles demostram que a tuberculose encontra-se disseminada em todo o país, com alguns estados apresentando índices menores da doença, em decorrência de medidas de controle e erradica-ção adotadas pelo governo e pecuaristas. Estados pioneiros na criação de gado, que adotam manejos, tecnologias de produção e medidas sanitárias que visam ao menor tempo de abate e baixa lotação de pastagens, também são propensos a ter menor pre-valência da doença (CARVALHO et al., 2010; ABRAH-ÃO, 1999).

Este estudo teve por objetivo estimar a prevalên-cia de tuberculose bovina no Abatedouro Frigorífico de Manaus Frig SIE 001, em Iranduba (AM), e identificar os principais órgãos afetados, no período de maio de 2016 a julho de 2017.

MATERIAL E MÉTODOSOs dados para o estudo foram coletados do re-

gistro de condenações do abatedouro frigorífico ci-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201870

Page 71: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

tado, referentes ao período de abate do mês de maio de 2016 a julho de 2017. O local tem capacidade para abater 270 animais/dia, sendo todas as etapas acompanhadas por agentes de inspeção treinados e pelo médico-veterinário credenciado pelo estado, desde a chegada, inspeção ante mortem e post mor-tem dos animais, conforme legislação vigente (BRA-SIL, 2017).

As informações referentes às condenações estavam organizadas em duas tabelas diferentes. A primeira, de-nominada Controle de Recebimento de Bovinos, conti-nha as informações referentes à quantidade de animais abatidos, espécie, raça, município e sua respectiva uni-dade federativa, proprietário e número do Guia de Trân-sito Animal (GTA). A segunda tabela, denominada Con-denação e Destinação de Carcaça/Vísceras de Bovídeos, possuía informações das condenações, destinação de vísceras e carcaças e causa das condenações.

Durante o período de levantamento dos dados, foram feitas a análise e contagem das informações presentes no registro de condenações, com o obje-tivo de identificar o sexo e a quantidade de animais abatidos, o número de condenações de carcaças e vísceras acometidas por tuberculose bovina e a pro-cedência dos animais.

Os dados de condenações foram tabulados e organizados em planilha do Excel, sendo estabe-lecidos o somatório e a porcentagem dos casos de condenações e os órgãos que apresentavam lesões de tuberculose.

RESULTADOSNo total, foram examinados pelo Serviço de Ins-

peção Estadual do abatedouro 54.797 animais abati-dos, entre machos e fêmeas das espécies Bos taurus e Bubalus bubalis, no período de maio de 2016 a junho de 2017. Observa-se, na Tabela 1, o efetivo de bovinos abatidos, por espécie e sexo.

Dos 54.797 animais abatidos, 336 apresentavam lesões sugestivas de tuberculose, correspondendo a uma prevalência de 0,61% dos animais. Do total de 336 (0,61%) condenações, 238 (70,83%) receberam

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

condenação parcial da área afetada, sendo o restante da carcaça liberado ao consumo in natura, conforme legislação vigente (BRASIL, 2017), e 98 (29,17%) das carcaças foram condenadas totalmente. Nos animais que sofreram condenação total, não foi possível de-tectar quais órgãos foram mais acometidos, devido à grande generalização das lesões encontradas; esses animais foram classificados apenas como condenação total da carcaça. Na condenação parcial, realizou-se a notificação do órgão ou tecido em que se encontrava a lesão. Foram observadas lesões em regiões do pulmão, coração, fígado, rins, pâncreas, baço, estômago, intes-tino, bexiga, útero, patas, cabeça e língua, conforme a Tabela 2.

T Tabela 1. Efetivo de bovinos abatidos, por espécie e sexo, no Abatedouro Frigorífico de Manaus Frig SIE 001, Iranduba-AM, no período de maio de 2016 a junho de 2017.

T Tabela 2. Principais órgãos acometidos por lesões de tuberculose, em ani-mais abatidos no estabelecimento SIE 001, Iranduba-AM, no período de maio de 2016 a julho de 2017.

Notas: M = macho; F = fêmea; N = número de animais abatidos.

Nota: N = número de órgãos acometidos por lesões sugestivas de tuberculose.

ESPÉCIE SEXO N %

Bos taurus M 39.080 71,32

Bos taurus F 14.724 26,87

Bubalus bubalis M 778 1,42

Bubalus bubalis F 215 0,39

Total 54.797 100,00

ÓRGÃO ACOMETIDO N %

Pulmões 42 17,65

Fígado 28 11,76

Estômago 23 9,66

Rins 19 7,98

Intestino 16 6,72

Coração 10 4,20

Outros 100 42,03

Total 238 100,00

Os animais abatidos nesse período eram provenien-tes de três estados, sendo 15 municípios do estado do Amazonas, 14 municípios do estado do Pará e nove mu-nicípios do estado de Roraima, conforme o Quadro 1.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 71

Page 72: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

ESTADO MUNICÍPIOS

Amazonas Careiro da Várzea, Maués, Apuí, Urucará, Iranduba, Careiro, Autazes, Manicoré, Manaus, São Sebastião do Atumã, Manaquiri, Presidente Figueiredo, Novo Aripuanã, Manacapuru, Itacoatiara.

Pará Itaituba, Alenquer, Monte Alegre, Trairão, Oriximiná, Uruará, Ulsa Tucuruí, Novo Progresso, Juriti, Prainha, Santarém, Aveiro, Altamira, Placas.

Roraima Mucajaí, Iracema, Cantá, Boa Vista, Cametá, Rorainópolis, Bonfim, Alto Alegre, São Luiz.

T Quadro 1. Estados e municípios de origem dos bovinos abatidos no abatedouro de Iranduba-AM, no período de maio de 2016 a julho 2017.

DISCUSSÃO

A prevalência de 0,61% de lesões com caracte-rísticas sugestivas de tuberculose encontrada neste trabalho é maior que a indicada em outros estudos realizados em diferentes estados brasileiros (MENDES et al., 2013; FIGUEIREDO et al., 2010; LAVAGNOLI et al., 2010; PIGNATA et al., 2010). Em uma pesquisa no Sudoeste da Bahia, foi verificada uma prevalência de 0,12%, de um total de 58.268 animais abatidos, de-monstrando uma prevalência menor que a encontrada neste estudo (FRANÇA et al., 2013).

Estudos realizados no Mato Grosso identificaram uma prevalência de 0,007% e 0,48%, demonstrando uma baixa prevalência para essa enfermidade, devido provavelmente a ser uma região que historicamente é uma grande produtora e ao fato de o sistema de vigi-lância sanitária ser bastante ativo e efetivo (CARVALHO et al., 2015; FURLANETTO et al., 2012a).

No Amapá, encontrou-se uma prevalência maior que a deste estudo: foram inspecionados 39.972 bubalinos, apresentando uma taxa de 2,95%, demons-trando o maior risco de os bubalinos adquirirem essa enfermidade, provavelmente devido ao sistema de criação, que é um fator de risco para a tuberculose (SILVA et al., 2014a).

Com isso, observa-se uma grande variação nos resul-tados encontrados em diferentes regiões do Brasil, de-monstrando prevalências maiores e menores do que as deste artigo, provavelmente correlacionadas com os índi-ces de desenvolvimento da pecuária da respectiva região.

Estudos produzidos em outros países demostraram resultados semelhantes aos detectados neste trabalho, como a pesquisa elaborada na Ismaília, Egito, onde se

observou a prevalência de 0,6% (YOUSSEF et al., 2014). Em contrapartida, estudos realizados em Uganda e Nigé-ria detectaram no exame post mortem uma prevalência de 9,7% e 9,1%, respectivamente, superior à encontrada nesta pesquisa (NALAPA et al., 2017; OKEKE et al., 2016).

Existe grande variação de achados sugestivos de tu-berculose bovina entre os estados brasileiros. Essa osci-lação ocorre devido a diversos fatores, como condições técnicas e matérias de cada abatedouro, sistemas de cria-ção, desenvolvimento do sistema de defesa agropecuária de cada estado, origem dos animais, idade, sexo, aptidão zootécnica, interferindo na prevalência dessa enfermida-de nos estados estudados (BAPTISTA et al., 2004).

Verificou-se que, em 29,17% dos animais pesqui-sados, se encontraram lesões sugestivas de tuberculose generalizada, ocasionando condenação total da carca-ça; em contrapartida, estudo semelhante realizado no estado do Amapá constatou que, num total de 39.972 bubalinos examinados no exame post mortem, 8,56% dos casos revelaram lesões generalizadas na carcaça, implicando sua condenação total (SILVA et al., 2014b).

Do total de condenações parciais encontradas neste trabalho, notou-se que os principais órgãos aco-metidos foram os pulmões (17,65%), fígado (11,76%), estômago (9,66%), rins (7,98%), intestino (6,72%) e coração (4,40%). Resultado diverso foi encontrado em um trabalho realizado no estado de Minas Gerais, de-mostrando uma maior prevalência de lesões macros-cópicas sugestivas de tuberculose no fígado (28%), seguido do pulmão (14%) (SOUZA et al., 2014).

Estudos realizados no estado de São Paulo obser-varam que o órgão mais acometido foi o pulmão, apre-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201872

Page 73: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

sentando 86,7% e 7,4% das lesões. Citam, ainda, que na maioria das vezes os órgãos mais acometidos são os pulmões e o fígado, em consonância com o encontrado neste estudo (SILVA et al., 2014b; NASSAR et al., 2007).

CONCLUSÃOA tuberculose bovina traz prejuízos à região, pois

fica evidenciada por uma alta prevalência e ampla dis-seminação da doença no rebanho, fazendo-se necessá-rio reforçar as medidas de controle e diagnóstico, com o intuito de reduzir as perdas econômicas e o impacto negativo na saúde pública no estado do Amazonas.

PAULO CESAR GONÇALVES DE AZEVEDO FILHOMédico-veterinárioCRMV-AM nº 0788Instituto Federal do Amazonas (Ifam)[email protected]

DANILO MENDES HORTÊNCIO DA SILVAMédico-veterinárioCRMV-AM nº 0759Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf)

PAULO HENRIQUE RIBEIRO DOS SANTOSGraduando em Medicina Veterinária – Universidade Nilton Lins

AUTORES

ABRAHÃO, R. M. C. L. Tuberculose humana causada pelo Mycobacterium bovis: considerações gerais e a importância dos reservatórios animais. Arch. Vet. Scienc., v. 4, p. 5-15, 1999.BAPTISTA, F.; MOREIRA, E. C.; SANTOS, W. L. M.; NA-VEDA, L. A. B. Prevalência da tuberculose em bovi-nos abatidos em Minas Gerais. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 56, n. 5, p. 577-580, 2004.BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento. Programa Nacional de Controle e Erradi-cação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). Secretaria de Defesa Agropecuária. Departamento de Saúde Animal. Brasília: MAPA/DAS/DAS, 2006.BRASIL. Portal Brasil. Teste rápido para diagnosticar tuberculose será oferecido pelo SUS. 2013. Disponí-vel em: ˂http://www.brasil.gov.br/saude/2013/03/teste-rapido-para-diagnosticar-tuberculose-sera-o-ferecido-no-sus˃. Acesso em: 30 out. 2017.BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento. Coordenação de Informação e Epide-miologia-Saúde Animal. Disponível em: ˂ http://www.indicadores.agricultura.gov.br/saudeanimal/index.htm ˃. Acesso em: 01 nov. 2017a.BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento. Instrução Normativa SDA nº 10, de 3 de março de 2017. Secretaria de defesa Agropecuária. Brasília, 2017.BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica. Indicadores do IBGE/ Estatística da Produção Pecuária, 2017b.BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento. Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezem-bro de 1950 e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõe sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, 2017c.BROSCH, R.; GORDON, S. V.; MARMIESSE, M.; BRO-DIN P.; BUCHRIESER, C.; EIGLMEIER, K.; GARNIER, T.; GUTIERREZ, C.; HEWINSON, G.; KREMER, K.; PAR-SONS, L. M.; PYM, A. S.; SAMPER, S.;VAN SOOLINGEN, D.; COLE, S.T. A new evolutionary scenario for the Mycobacterium tuberculosis complex. Proc Natl Acad Sci U S A, v. 99, n.6, p. 3684-3689, 2002.CARVALHO, T. B.; FURLANETTO, L. V.; ZEN, S.; RIBEI-RO, G. G. Potencial produtivo e rentabilidade da pecuária de corte no Mato Grosso. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONO MIA ADMI-NISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 48, 2010, Campo Grande. Anais... Campo Grande, 2010.

CARVALHO, R. C. T.; FURLANETTO, L. V.; MARUYAMA, F. H.; ARAÚJO, C. P.; BARROS, S. L. B.; RAMOS, C. A. N.; DUTRA, V. ARAÚJO, F. R.; PASHOALIN, V. M. F.; NAKAZATO, L.; FIGUEIREDO, E. E. S. Evaluatoin of the efficiency of nested q-PCR in the detection of Mcobacterium tuberculosis complex directly from tuberculosis-suspected lesions in post-mortem ma-croscopic inspections of bovine carcasses slaughte-red in the state of Mato Grosso, Brazil. Meat Scien-ce, v. 106, p. 11-15, 2015.DIGUIMBAYE-DJAIBE, C.; HILTY, M.; NGANDOLO, R.; MAHAMAT, H. H.; PFYFFER, G. E.; BAGGI, F.; HEWIN-SON, G.; TANNER, M.; ZINSSTAG, J.; SCHELLING, E. Mycobacterium bovis Isolates from Tuberculous Le-sions in Chadian Zebu Carcasses. Emerg Infect Dis, v. 12, n. 5, p. 769-71, 2006.FIGUEIREDO, S. M.; ROCHA, V. C. M.; HIGINO, S. S. S.; BATISTA, C. S. A.; ALVES, C. J.; CLEMENTINO, I. J.; AZE-VEDO, S. S. Tuberculose bovina no Estado da Paraí-ba: estudo retrospectivo. Pesq. Vet. Bras., v. 30, n. 9, p. 712-716, 2010.FRANÇA, L. R.; CRUZ, J. F.; NEVES, V. B. F.; CERQUEIRA, R. B. Prevalência e histopatologia de lesões sugesti-vas de tuberculose em carcaça de bovinos abatidos no Sudoeste da Bahia. Rer. Bras. Saúde Prod. Anim., Salvador, v. 14, n. 4, p. 721-733, 2013.FREITAS, J. A.; GUERRA, J. L.; PANETTA, J. C. Caracte-rística da tuberculose observada em búfalos abati-dos para consumo: aspectos patológicos e identifi-cação de micobactérias. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 38, n. 4, p. 170-176, 2001.FURLANETTO, L. V.; FIGUEIREDO, E. E. S.; CONTE JÚ-NIOR, C. A.; SILVA, F. G. S.; DUARTE, R. S.; SILVA, J. T.; LILENBAUM, W.; PASHOALIN, V. M. S. Prevalência de tuberculose bovina em animais e rebanhos abatidos em 2009 no Estado de Mato Grosso, Brasil. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 64, n. 2, p. 274-280, 2012a.FURLANETTO, L. V.; FIGUEIREDO, E. E. S. JÚNIOR, C. A. C.; CARVALHO, R. C. T.; SILVA, F. G. S.; SILVA, J. T.; LILENBAUM, W.; PASCHOALIN, V. M. F. Uso de méto-dos complementares na inspeção post mortem de carcaças com suspeita de tuberculose bovina. Peq. Vet. Bras., v. 32, n. 11, p. 1138-1144, 2012b.LAVAGNOLI, M. R., AMORIM, B. M.; MACHADO, G. P.; DEMONER, L. C.; ZANINI, M. S.; ANTUNES, J. M. A. P. Tuberculose em bovinos no Estado do Espírito San-to. Vet. Zootec., v. 17, n. 1, p. 71-78, 2010.MEDEIROS, L. S.; MARASSI, C. C.; FIGUEIREDO, E. E. S.; LILENBAUM, W. Potential application of new

diagnostic methods for controlling bovine tuber-culosis in Brazil. Braz. J. Microbiol., v. 41, p. 531-541, 2010.MENDES, R. E.; SCHNEIDER, A. F.; WERLICH, D. E.; LUCCA, N. J.; LORENZETT, M. P.; PILATI C. Estudo anatomopatológico em tecidos condenados pelo serviço de inspeção federal (SIF) por suspeita de tuberculose. Cienc. Anim. Bras., Goiânia, v. 14, n. 4, p. 448-453, 2013.NALAPA, D. P.; MUWONGE, A.; KANKYA, C.; OLEA-PO-PELKA, A. D. Prevalence of tuberculous lesion in catt-le slaughtered in Mubend district, Uganda. BMC. Vet. Res., DOI 10.1186/s12917-017-0991-x, 2017.NASSAR, A. F. C.; MIYASHIRO, S.; OLIVEIRA, C. G.; PA-CHECO, W. A.; OGATA, R. A. Isolation and identifica-tion of bovine tuberculosis in a Brazilian herd (São Paulo). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 102, n. 5, p. 639-642, 2007.OKEKE, L. A.; FAWOLE, O.; MUHAMMAD, M.; OKEKE, I. O.; NGUKU, P.; WASSWA, P.; DAIRO, D.; CADMUS, S. Bovine tuberculosis: a retrospective study at Jos abattoir, Plateau State, Nigeria. Pan Afr Med J., v. 202, n. 25, 2016.PIGNATA, W. A.; ALVES, C. J.; AZEVEDO, S. S.; PINHEI-RO, S. R.; VASCOCELLOS, C. A.; ALMEIDA, C. A, S.; DANTAS, A. F. M.; REMÍGIO, F. R. Tuberculose em ca-prinos do semiárido Brasileiro. Arq. Inst. Biol.; São Paulo, v. 77, n. 2, p. 339-342, 2010.SILVA, L. B. A.; ESTEVES, C.; FARIA, P. B.; TEXEIRA, J. T.; ARAÚJO, T. S. Prevalência de lesões sugestivas de tuberculose em bubalinos abatidos no Amapá, Brasil. PUBVET, Londrina, v. 8, n. 12, Ed. 261, Art. 1732, 2014a.SILVA, D. A. V.; BURGER, K. P.; MARTINS, A. M. C. V.; PROVIDELLO, A. Identificação de lesões macroscó-picas sugestivas de tuberculose bovina. RBHSA,, v. 8, n. 2, p. 149-160, 2014b.SOUZA, M. A.; BOMBONATO, M. G.; SOARES, P. M.; RAMOS, G. B.; SANTOS, M. P.; GANDA, M.R.; LIMA-RI-BEIRO, A. M. C. Frequência de lesões macroscópicas em carcaças de bovinos reagentes ao teste tuber-culínico. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 81, n. 4, p. 363-367, 2014.YOUSSEF, A. I.; AHMED, A. M. Bovine tuberculosis survey based on meat inspection and microsco-pic examination in central city abattoir in Ismailia, Egypt and its hazards to the abattoir workers. Int J Environ Res Public Health.., v. 21, n. 2, p. 577-582, 2014.

REFERÊNCIAS

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 2018 73

Page 74: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

ATUAÇÃO DOS VETERINÁRIOS MERECE RESPEITO

Qual deve ser a postura dos profissionais em situações de catástrofes naturais e desastres ambientais?

Não é incomum a ocorrência de catástrofe natural ou desastre ambien-tal como o recentemente ocorrido com o rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho (MG). São momentos de muito

sofrimento humano e animal, pois provocam ferimentos, dor e angústia. Nessas situações, qual deve ser o comportamento ético do médico-veterinário? Como ser humano, cabe-lhe a ética de cidadão de prestar apoio solidário, quando possível; como profissional, o que prevê seu Código de Ética – atualmente, a Resolução CFMV nº 1.138, de 16 de dezembro de 2016?

O Código de Ética do Médico-Veterinário, além de regular os direitos e de-veres do profissional em relação ao cliente e ao paciente, estende-os à comuni-dade, outros profissionais e meio ambiente, todos envolvidos nas situações de catástrofe e desastres.

Quando o formando em Medicina Veterinária presta seu juramento, na solenidade de colação de grau, assume um compromisso com a sociedade de sempre agir em benefício da saúde única e do bem-estar dos animais. A partir disso, faz seu registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) e é obrigado a cumprir as normas do seu Código de Ética, que conta com princípios fundamentais que novamente indicam a obrigação de empenhar-se em melho-rar as condições de bem-estar e a saúde animal, humana e ambiental. Nessas tragédias, esperam-se atitudes embasadas em tudo isso, indicando que a classe é formada por veterinários éticos e naturalmente conscientes de seu papel de cidadãos e profissionais da saúde.

Espera-se que, nessas ocasiões, seja atendido o princípio ético do respeito mútuo entre colegas. Discordâncias sobre tratamentos e técnicas estarão natural-mente presentes nos momentos de crise, mas ainda assim nenhum profissional pode deixar de atender ao que prevê o Código de Ética. Por exemplo, ele veda co-mentários desabonadores sobre a conduta profissional ou pessoal de colega (art. 10, inciso VI) e obriga-o a relacionar-se com os demais profissionais, valorizando o respeito mútuo e a independência profissional de cada um, buscando sempre o bem-estar social (art. 6º, inciso V). O médico-veterinário deverá também se abster de aproveitar-se do momento para adotar práticas mercantilistas (art. 6º, inciso II), assim como de fazer divulgação de informações sobre assuntos profissionais de forma sensacionalista, promocional ou, ainda, de conteúdo inverídico (art. 8º, inciso VIII). Não poderá negar atendimento a animal, salvo se em perigo imediato para a vida ou se não for competente ou capacitado para tal.

Para as situações citadas, havendo condenação em processo ético discipli-nar, o profissional envolvido poderá sofrer penalidades que variam da censura confidencial ou pública à suspensão do exercício profissional por até 90 dias. A sociedade e o Sistema CFMV/CRMVs sempre esperam dos médicos-veterinários o melhor de si e isso implica um comportamento tão solidário quanto ético.

ÉTICAE LEGISLAÇÃO

Ismar Araújo de Moraes Presidente da Comissão

Nacional de Ética e Legislação (Conel/CFMV)

Revista CFMV Brasília DF Ano XXIV nº 79 Outubro a Dezembro 201874

Page 75: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF
Page 76: ANO XXIV BRASÍLIA DF 79 - CFMVcertidao.cfmv.gov.br › revistas › edicao79.pdf · 27 Campanha orienta banhistas a não levar cães à praia em SC ... Revista CFMV Brasília DF

Centro de Convenções Ulysses Guimarães

C B A B R A S I L I A 1 9 . C O M . B R

FAÇA A DIFERENÇAPARTICIPE DO MAIOR CONGRESSO

DA MEDICINA VETERINÁRIA

PRÉ- CONGRESSOSEIS CURSOS - 15/05INSCRIÇÕES LIMITADAS

SUBMISSÃO DE TRABALHOSNÃO PERCA O PRAZO INSCRIÇÕES ABERTAS

BRASÍLIA2019C a p i t a l V E T e P E T

40º

EVENTO CIENTÍFICOMAIS DE 60 PALESTRANTESMAIS DE 200 PALESTRAS

FEIRASEXPO ANCLIVEPAVILA BRASÍLIA

SALAS VIPCONVERSE COMAS FERAS EMESAS-REDONDAS

Apoio InstitucionalRealização e Organização

CBA 2019SUSTENTABILIDADEINCLUSÃO SOCIALINOVAÇÃO

16 a 18 de maio de 2019