ANS_ABEM_X Encontro Regional Nordeste (2011)

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A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL DO SÉCULO XXI: A RELAÇÃO COM O SABER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Tema ANAIS X Encontro Regional Nordeste I ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DE PROFESSORES DE ARTES / MÚSICA DOS IF’s I FORUM PERNAMBUCANO DE EDUCAÇÃO MUSICAL 2 a 4 junho 2011 Recife - PE Realização 2 O A N O S abem Associação Brasileira de Educação Musical Apoio PROEXT PROPESO PROACAD

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  • A EDUCAOMUSICALNOBRASIL DOSCULOXXI:A RELAOCOMOSABERNA SOCIEDADECONTEMPORNEA

    Tema

    ANAIS

    XEncontroRegionalNordesteIENCONTROREGIONAL NORDESTEDEPROFESSORESDE ARTES/MSICA DOSIFs

    IFORUMPERNAMBUCANODEEDUCAOMUSICAL

    2a4junho2011Recife-PE

    Realizao

    2 OA NO S

    abemAssociaoBrasileiradeEducaoMusical

    Apoio

    PROEXT PROPESO PROACAD

  • X ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DA ABEM I ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DE PROFESSORES DE

    ARTES/MSICA DOS IFS I FRUM PERNAMBUCANO DE EDUCAO MUSICAL

    A EDUCAO MUSICAL NO BRASIL DO SCULO XXI: a relao com o saber na sociedade contempornea

    ANAIS

    RECIFE 2011

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    Reitor Prof. Amaro Henrique Lins Vice-Reitor Prof. Gilson Edmar Pr-Reitora para Assuntos Acadmicos Profa. Ana Cabral Pr-Reitor para Assuntos de Pesquisa e Ps-Graduao Prof. Ansio Brasileiro Pr-Reitora de extenso Profa. Solange Coutinho Diretora do Centro de Artes e Comunicao Profa. Virgnia Leal Chefe do Departamento de Msica Prof. Paulo Lima INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO Reitor Prof. Srgio Gaudncio Portela de Melo Vice-reitora Cludia da Silva Santos Pr-Reitora de Ensino Edilene Rocha Guimares Pr-Reitora de Pesquisa Ana Patrcia S. T. Falco Pr-Reitora de Extenso Cludia da Silva Santos

    Diretoria da ABEM (2009-2011) Presidente Profa. Dra. Magali Oliveira Kleber UEL, PR Vice-presidente Profa. Dra. Jusamara Souza UFRGS, RS Tesoureira Profa. Dra. Cristiane Almeida UFPE, PE Segunda Tesoureira Profa. Ms. Vnia Malagutti Fialho UEM, PR Secretrio Prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz UFPB, PB Segunda Secretria Profa. Ms. Flvia Narita UNB, DF CONSELHO EDITORIAL Presidente Profa. Dra. Luciane Wilke Freitas Garbosa UFSM, RS Editora Profa. Dra. Maria Ceclia Torres IPA, RS Membros Prof. Dr. Carlos Kater UFSCar, SP Profa. Dra. Cssia Virginia Coelho de Souza UEM, PR Profa. Dra. Lilia Neves UFU, MG DIRETORIA REGIONAL Norte Prof. Dr. Ruy Henderson Filho UEPA PA Nordeste Prof. Ms. Vanildo Marinho UFPB, PB Centro-oeste Profa. Ms. Flavia Maria Cruvinel UFG, GO Sudeste Profa. Dra. Ilza Zenker Joly UFSCar, SP Sul Profa. Dra. Cludia Ribeiro Bellochio UFSM, RS

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  • X Encontro Regional Nordeste da ABEM Associao Brasileira de Educao Musical I Encontro Regional Nordeste dos Professores de Msica dos IFs

    I Frum Pernambucano de Educao Musical

    Coordenadora Geral: Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE)

    Comisso Organizadora: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)

    Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE) Prof. Ms. Jos Davison da Silva Jnior (IFPE)

    Prof. Ms. Srgio Ricardo de Godoy Lima (UFPE)

    Coordenao Cientfica: Prof. Dr. Paulo David Braga (UFPE/CAA)

    Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE)

    Atividades Artstico-Culturais: Prof. Ms. Flvio Gomes Tenrio de Medeiros (UFPE)

    Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE)

    Infra-Estrutura: Prof. Ms. Srgio Ricardo de Godoy Lima (UFPE) Prof. Ms. Leonardo Pellegrim Sanchez (UFPE)

    Manasss Bispo da Silva (UFPE)

    Financeiro e Secretaria Geral: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)

    Profa. Adilza Raquel Cavalcanti dos Santos (SE-PE) Prof. Ms. Jos Davison da Silva Jnior (IFPE)

    Documentao e Comunicao: Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE) Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE)

    Natlia Dantas de Oliveira Duarte (UFPE) Crislany Viana da Silva (UFPE)

    Programao Visual, Digital e Informtica:

    Manasss Bispo da Silva (UFPE) Jadiel Mendona de Vasconcelos (UFPE)

    Jadson Felipe Dias (UFPE) Paulo Henrique Lopes de Alcntara (UFPE)

    Gleice Kelly Luiz da Silva (UFPE)

    Apoio aos Participantes: Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE)

    Leonardo Ferreira da Silva (UFPE Priscila Daniele da Silva (UFPE)

    Rebeca Juliana Farias da Costa (UFPE)

    PROFESSORES PARECERISTAS

    Profa. Ms. Ana Carolina Nunes do Couto (UFPE) Prof. Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz (UFPB) Profa. Dra. Ana Cristina Tourinho (UFBA) Prof. Ms. Marcos dos Santos Moreira (UFAL) Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE) Profa. Dra. Maria Cristina Carvalho Cascelli de Azevedo (UnB) Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida (UFPE) Profa. Dra. Maria Guiomar de Carvalho Ribas (UFPB) Prof. Ms. Danilo Guanais (UFRN) Profa. Dra. Maria Isabel Montandn (UnB) Prof. Dr. Elvis de Azevedo Mattos (UFC) Prof. Dr. Paulo David Amorim Braga (UFPE) Profa. Dra. Flvia Candusso (UFBA) Prof. Dr. Srgio Luiz Ferreira de Figueiredo (UDESC) Prof. Ms. Giann Mendes Ribeiro (IFRN) Prof. Ms. Tarcsio Gomes Filho (UFRN) Prof. Ms. Henderson de Jesus Rodrigues dos Santos (UERN) Profa. Dra. Valria Lzaro de Carvalho (UFRN) Profa. Ms. Juciane Araldi (UFPB) Prof. Ms. Vanildo Mousinho Marinho (UFPB)

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  • Apresentao Prezados(as) colegas, com muita alegria que damos as boas-vindas a todos(as) que vieram partilhar conosco suas experincias educativas no X Encontro Regional Nordeste da ABEM/ I Encontro Regional Nordeste dos Professores de Artes/Msica dos IFs/ I Frum Pernambucano de Educao Musical. Desejamos que o Encontro, alm de produtivo em sua proposta de refletir sobre os diversos aspectos da Educao Musical Brasileira, seja tambm festivo. Dentre os motivos para comemorao, destacamos o incio dos dois outros eventos que se unem ao Encontro Regional Nordeste da ABEM, ampliando os espaos de trocas entre aqueles(as) que querem discutir o ensino de msica e seus desdobramentos. Agradecemos aos que, nesses dez anos, contriburam para a continuidade dos Encontros, como integrante da equipe organizadora ou como participante que vem somar com os demais para a realizao desse momento de construo coletiva de conhecimentos. Um evento especial para todos(as)! Ana Carolina Nunes do Couto, Cristiane Maria Galdino de Almeida, Jos Davison da Silva Jnior e Srgio Ricardo de Godoy Lima

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  • AGRADECIMENTOS Assessoria de Comunicao do IFPE Centro de Artes e Comunicao da UFPE Centro de Filosofia e Cincias Humanas da UFPE Coordenao de Comunicao e Design do CAC-UFPE Editora Universitria UFPE Centro de Educao Musical de Olinda Conservatrio Pernambucano de Msica Escola Tcnica Estadual de Criatividade Musical Pr-Reitoria de Extenso do IFPE Pr-Reitoria de Extenso da UFPE Pr-Reitoria para Assuntos Acadmicos da UFPE Pr-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Ps-Graduao da UFPE Professores(as) ministrantes de cursos Professores(as) coordenadores de GT's Professores(as) palestrantes Professores(as) pareceristas Funcionrios(as) e alunos(as) do Departamento de Msica da UFPE

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  • A educao musical dos cantores de Renovao: herana vocal da cultura

    religiosa de Juazeiro do Norte - CE

    Juliany Ancelmo Souza Universidade Federal do Cear Campus Cariri

    [email protected]

    Josemeire Medeiros Silveira de Melo Universidade Federal do Cear Campus Cariri

    [email protected] Resumo: O presente trabalho apresenta informaes resultantes de uma pesquisa em andamento, sobre a aprendizagem emprica dos cantores de Renovao de Juazeiro do Norte-CE. Os cnticos entoados por ocasio desta festa religiosa caracterizam-se como herana cultural, visto que so transmitidos pelas geraes mais velhas para as mais novas. Trata-se de um aprendizado informal, imitativo, que ocorre mediante observao da sonoridade do coro nas cerimnias religiosas ou nas experincias de ouvir-cantar do dia a dia. As vozes, predominantemente femininas, produzem sonoridade original, utilizam o vibrato e so executadas em unssono ou em primeira e segunda voz, alternando-se entre sopranos, contraltos e tenores. No h acompanhamento com instrumentos musicais. Esta manifestao cultural muito importante, pois consegue penetrar no ntimo das pessoas atravs da vitalidade e potncia vocal, bem como propicia a valorizao do saber popular e fortalecimento da identidade do povo caririense.

    Palavras-chave: Educao musical, herana vocal, Renovao.

    Introduo

    Este artigo apresenta algumas consideraes iniciais acerca do processo de educao

    informal dos cantores de Renovao.

    Resulta de pesquisa em andamento, de cunho qualitativo, caracterizada como estudo

    de caso. A inteno deste estudo conhecer o processo de ensino e aprendizagem dos cantores

    de Renovao da cidade de Juazeiro do Norte, identificando as caractersticas da educao

    musical que permeiam sua formao. Neste contexto, faz-se necessrio: entender as

    metodologias e estratgias vocais utilizadas; analisar a forma de transmisso e assimilao

    dos cnticos; identificar a relao entre a msica e a religiosidade; perceber a presena

    significativa das msicas de Renovao na trajetria de vida dos cantores; e compreender a

    importncia desta manifestao artstico-religiosa, para a valorizao da cultura caririense.

    Renovao: uma celebrao religiosa

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  • Denomina-se de Renovao a celebrao religiosa da Igreja Catlica Apostlica

    Romana, em louvor ao Sagrado Corao de Jesus e ao Sagrado Corao de Maria

    consagrando a famlia no lar. Ocorre em geral por ocasio dos festejos do aniversrio de

    casamento, natalcio ou outra data especial, escolhida pelos donos da casa. A partir da

    entronizao - cerimnia inicial em que se abenoa residncia, imagens e quadros de devoo

    - todos os anos vindouros, nesta mesma data se renovar esse compromisso religioso.

    Essa cerimnia foi criada pelo Papa Pio X, em 1908 (documento da Sagrada

    Penitenciria Apostlica sobre a consagrao das famlias ao Sagrado Corao de Jesus). Com

    efeito, no Brasil, desde o princpio a consagrao promovida pelo Apostolado foi acolhida

    com ardor. Em 17 de fevereiro de 1918, a Unio trazia a bela soma de 6.617 famlias, que

    ao mesmo jornal mandavam participar que se haviam oferecido ao Corao Divino, colocando

    tambm a imagem no lugar de honra da casa (GENTIL, 1948, p. 56).

    Nesta poca, era comum o costume de construir capelas e igrejinhas nos povoados.

    Nas cerimnias de benzimentos de capelas, nos stios e fazendas, ou ento durante as festas

    de padroeiro, o povo das redondezas comparecia com fervor (PAZ, 2004, p. 12). Contudo, o

    contato dessas pessoas com as celebraes da Igreja, com os padres e sacramentos, era muito

    escasso devido ao nmero reduzido de sacerdotes para atender a populao com servios

    religiosos. Ento surgiram celebraes paralitrgicas de carter devocional realizadas

    coletivamente, tais como festas, procisses, novenas e renovaes (PAZ, 2004, p. 12).

    A Renovao foi incentivada pelo Padre Ccero Romo Batista, no incio do sculo

    XX, na pequena vila de Juazeiro do Norte, Estado do Cear. Cheio de disposio comeou a

    evangelizar todos os dias na capelinha de Nossa Senhora das Dores e a comunidade foi se

    habituando e aceitando tudo que o vigrio ordenava.

    As bases da trajetria eclesistica de padre Ccero tiveram como fundamento as Misses Populares ou Santas Misses, que atuaram no Brasil a partir do sculo XVII, numa tradio iniciada pelos jesutas, franciscanos e lazaristas. (...) Nestas misses a participao de leigos era estimulada pelos padres (...) (MELO, 2004, p. 31).

    Ele estava sempre pronto a ajudar aquele povo, como tambm os visitantes. Ento

    sua credibilidade foi aumentando a cada dia. Famlias de outros estados do nordeste vinham

    para Juazeiro em busca de auxlio e palavra de conforto. O sacerdote os ajudava no intuito de

    resolver seus problemas, e ele sempre tinha uma resposta produtiva para aqueles que

    necessitavam. Evangelizava a todo o momento.

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  • No h romeiro ou devoto do Padre Ccero, que no traga um rosrio pendente ao pescoo, e os de classe social mais sofisticada trazem no bolso ou na bolsa um tero que, invariavelmente, rezado todos os dias. Nas casas de famlia, alm da reza do rosrio em comum, recita-se piedosamente o ofcio de Nossa Senhora, que todo romeiro e devoto de brio sabe decorado. (VIEIRA, 1988, p. 117)

    O sacerdote orientava as mulheres a rezar nas residncias, convocava todos para

    rezar o rosrio da Me de Deus pedindo para minimizar as dificuldades: a seca, a guerra e

    todas as doenas que assolavam a regio. O binmio orao e trabalho era o seu lema.

    Juazeiro o seu grande e incontestvel milagre (BEM FILHO, 2002, p. 41).

    Ao tempo em que iniciava um intenso trabalho missionrio, ao instigar a obedincia e a devoo dos fiis, padre Ccero, espelhando-se na ao missionria de padre Ibiapina, organizou um grupo de mulheres que passou a acompanhar os seus passos, dedicando-se aos rituais, s oraes e s missas de maneira cada vez mais intensa (MELO, 2004, p. 32).

    nesta cidade onde atualmente, se verifica maior quantidade de adeptos a este ritual

    religioso, mas ele ocorre tambm em outras cidades do Cariri cearense e pernambucano.

    em alguma espcie de forma cerimonial () que as disposies e motivaes induzidas pelos smbolos sagrados nos homens e as concepes gerais da ordem da existncia que eles formulam para os homens se encontram e se reforam umas s outras. Num ritual, o mundo vivido e o mundo imaginrio fundem-se sob a mediao de um nico conjunto de formas simblicas () (GEERTZ, 2008, p. 82).

    Para a realizao dessa atividade religiosa faz-se necessrio ornamentar a sala de

    visitas da casa com um altar, montado sobre uma pequena mesa (situada abaixo do quadro do

    Sagrado Corao de Jesus e Sagrado Corao de Maria), coberta por uma toalha de seda e

    renda branca, um jarro com flores artificiais de papel crepom ou plstico, um ou dois castiais

    com velas, uma Bblia, esculturas de santos de devoo da famlia e cortinas de vrias cores.

    Baseadas na devoo e cultos aos santos e almas, as crenas e prticas desta forma de catolicismo viabilizam a relao direta entre santo e fiel, sem a necessidade de interferncia de sacerdotes. Os devotos estabelecem com os santos uma relao afetizada, familiar, como um modo de marcar o lugar da religio em suas vidas, trazendo para a sua intimidade estes intercessores prximos, capazes de resolver questes cotidianas (PAZ, 2004, p. 14).

    O turno em que ocorre esta festividade geralmente noite, para viabilizar a

    presena dos convidados (familiares e vizinhos) que trabalham durante o dia. A cerimnia

    inicia-se com msica, leitura do evangelho e segue alternando com oraes, realizadas pelos

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  • rezadores e rezadeiras (pessoas que memorizam a sequncia das falas e cnticos deste ato

    religioso). O tempo de durao desta reza de, aproximadamente, uma hora e meia. No

    final, a famlia oferece um lanche aos participantes com bolo de mandioca, batata, milho,

    sequilhos (biscoitos feitos com goma), caf, ch de ervas medicinais, alu (bebida feita a

    partir da fermentao do abacaxi), refrigerantes e s vezes, um jantar. Alm do louvor a Deus,

    essa uma das formas de aproximao entre famlias.

    A msica presente nessa celebrao so cnticos, oraes, salmos, poemas meldicos

    e benditos. executada por coro formado predominantemente por mulheres, sem auxlio de

    instrumentos musicais. Uma singela forma de transmitir o amor fraterno, como relata Vieira:

    para mim, a msica e a sua irm poesia nasceram dos lbios perfumados das mes, cantando

    acalentos primorosos e melodiosos para adormecerem os seus filhos (...) (VIEIRA, 1988,

    p.87).

    Os cantores entoam as msicas da celebrao com uma sonoridade marcante

    preenchendo toda a dimenso da residncia sem necessidade de amplificao sonora. Uma

    capacidade singular de extenso e potncia vocal. Sabem conduzir os procedimentos da

    celebrao com seus cnticos dinmicos, compartilhando e envolvendo todos os presentes

    num momento de adorao crist.

    Assim acontece com Juazeiro, com o seu povo, que com uma das mos faz deslizar as do seu rosrio e com a outra maneja o instrumento de trabalho, e os acordes intermitentes dos hinos, benditos, e canes religiosas dos seus romeiros a cidade distende os seus msculos gigantescos para crescer e oferecer condies humanas de conforto, de bem-estar (VIEIRA, 1988, p. 102).

    Atravs da voz essas cantoras de renovao despertam emoes, sentimentos

    profundos e ao mesmo tempo conseguem transmitir uma agradvel sucesso de sons.

    impressionante a extenso vocal desse pessoal que canta em harmonia, sem medo de errar,

    cantando por mais de uma hora em cada residncia, conseguindo tessituras vocais com

    segurana e dinamismo. Nenhum instrumento comparvel voz, ela a nica que tem o

    privilgio de unir o texto msica. Mas, s emociona dependendo da sensibilidade e da musicalidade

    do intrprete (DINVILLE, 1993, p.3).

    O aprendizado das msicas de Renovao

    O aprendizado dos cnticos consiste numa transmisso oral, realizada sem

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  • conhecimento sistematizado, nem saber especfico na rea de msica e tcnica vocal. Mesmo

    diante desta constatao, o que se verifica um processo de ensino e aprendizagem que

    resulta na formao dos cantores de Renovao, que executam as msicas de maneira afinada,

    com segurana e estratgia vocal que os possibilita cantar por longo tempo, sem irritar as

    cordas vocais.

    Os cantores de Renovao ensinam as msicas da maneira que aprenderam, de forma

    oral e emprica, a seus familiares e vizinhos mais novos. Eles cantam juntos nas residncias e

    tambm levam as crianas para as celebraes, no intuito delas ingressarem nesse mesmo

    grupo, pois quando no puderem comparecer, j tero alguns preparados para substitu-los.

    A educao est presente durante toda a vida do indivduo. Ela consiste na ao exercida pelas geraes mais velhas sobre as mais novas, suscitando o desenvolvimento dos aspectos fsico, intelectual e moral, reclamados pela sociedade poltica, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a pessoa, particularmente, se destine (DURKHEIM, 1978 apud PILETTI, 2002, p. 111).

    Muitos dos cantores de Renovao tm pouco ou nenhum conhecimento de leitura e

    escrita. So, em geral, pertencentes camada pobre da populao. Manifestam grande fervor

    religioso, tambm aprendido com seus antepassados. Assumem com responsabilidade o

    compromisso de cantar em louvor a Deus, sem receber nenhum pagamento por esse ato. Dona

    Maria Neuza1, cantora de Renovao de Juazeiro do Norte, revela como aprendeu os cnticos:

    Nasci os dente ouvindo a minha me cantando. Ela me levava pra Renovao, pra Igreja que s tinha missa de oito em oito dias. Eu sempre fui rude pra aprender a ler e escrever - leio um pouquinho e mal sei assinar meu nome - mas decorei as msicas. Aprendi com minha me e minhas irms tambm (...).

    Ela tambm faz referncia a Dona Quiterinha cantora de Renovao, j falecida,

    que teve a oportunidade de conviver com Padre Ccero Romo Batista. Esta senhora marcou a

    trajetria de vida de Dona Maria Neuza, pela devoo divina e fervor religioso que transmitia

    ao cantar.

    Tinha uma velhinha, Dona Quiterinha que era cantora de Renovao. Meu padrinho Cio dizia a ela: - No tenha preguia Quiterinha, que cantora na terra cantora no cu. O canto do Corao de Jesus o que sai da alma, com alegria, cantando a vida Dele.

    1 Entrevista concedida por Dona Maria Neuza, cantora de Renovao, 21 de maro de 2011 em Juazeiro do Norte-CE.

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  • Dona Maria Neuza j ensinou s sobrinhas os cnticos de Renovao. Atualmente

    assumiu a incumbncia de ensinar tambm para sua irm mais nova, que sabe ler e escrever

    muito bem e j canta nas igrejas.

    O que se observa que o aprendizado dos cnticos de renovao se inicia na

    infncia. Neste perodo de desenvolvimento humano, a msica pode suscitar na criana

    emoes originais capazes de provocar ao motora e facilitar a compreenso do mundo

    exterior, promovendo assim, a interrelao entre as dimenses individuais e sociais.

    possvel tambm perceber a facilidade de familiarizao dos pretensos rezadores

    com a msica. Mesmo sem domnio do cdigo lingustico, conhecimento de teoria musical e

    tcnicas vocais, so capazes de compreender a melodia e memoriz-la. H, portanto,

    sensibilidade musical e aguamento da percepo auditiva.

    (...) a msica a relao entre os sons e no o prprio som, qualquer que seja o grau de artifcio e de complexidade de sua sucesso. Ou melhor ainda: compreender e fazer msica primeiro ser dotado da faculdade de perceber intervalos e de estabelecer relaes entre eles.(...) O intervalo um movimento entre as alturas sonoras.(HOWARD, 1984, p. 63)

    No existe uma seleo prvia nem argumentos de falta de dom que impeam as

    pessoas de serem cantoras de Renovao. Para cantar, basta sentir o despertar de forte emoo

    psquica e tenso motora capaz de gerar esta ao. (...) Em princpio, todas as crianas

    manifestam profundo interesse pela msica e, possivelmente mais profundo ainda, pelo seu

    exerccio (HOWARD, 1984, p. 101).

    A capacidade de cantar tambm propicia a elevao da auto-estima na medida em

    que as pessoas tomam conscincia do seu potencial e ao mesmo tempo, assumem a funo de

    mensageiras da Palavra de Deus. Na execuo da msica em coro, por ocasio da cerimnia

    da Renovao, esta atividade coletiva assume a expresso de identidade popular, porque se

    caracteriza como manifestao prpria do povo e da sociedade que integram.

    Diante do exposto possvel afirmar que a formao de cantores decorre de um

    processo emprico, informal que valoriza movimentos de execuo espontneos, possui

    caractersticas prprias e beleza singular, que perpassa por uma corrente contnua de

    aprendizagem dinmica e consciente em relao habilidade vocal.

    Consideraes finais

    As msicas cantadas nas Renovaes apresentam forte carter religioso, expresso

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  • singular da sociedade caririense, em que a base a manifestao da f em Deus.

    A experincia informal e cotidiana gerou, ao longo do tempo, um saber popular que

    vem sendo repassado das geraes mais antigas para as mais jovens. Esse tipo de

    conhecimento envolve tanto a forma de cantar, como tambm a desenvoltura da voz no

    momento da cerimnia.

    As msicas de Renovao propiciam o vnculo entre a satisfao pessoal e social,

    bem como promove a valorizao cultural da regio. Esta afirmao evidenciada na fala de

    Dona Maria Neuza, em que se percebe a alegria e honra de participar do grupo que foi

    iniciado pelo Padre Ccero, que at hoje mantm e tambm visa perpetuar esta tradio.

    Este trabalho revela que a preocupao puramente mecnica e tcnica do canto, no

    garante a qualidade esttica. preciso considerar a presena da emoo e a autenticidade da

    manifestao artstica.

    Pretende-se com este estudo, possibilitar o conhecimento, reflexo e anlise crtica

    acerca do ensino dos cnticos religiosos de Renovao. Para tanto, faz-se necessrio

    aprofundar e concluir esta pesquisa para que se obtenham informaes mais precisas sobre a

    qualidade esttica, processo de ensino e aprendizagem e implicaes scio-culturais desta

    celebrao religiosa para o povo da regio do Cariri.

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  • Referncias

    BEM FILHO, Mario. Formao Religiosa de Juazeiro do Norte. Fortaleza: ABC, 2002. DINVILLE, Claire. A tcnica da voz cantada. Traduo Marjorie B. Couvoisier Hasson. 2a. ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993. GEERTZ, Clifford. A interpretao das culturas. Traduo The Interpretation of Cultures. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GENTIL, P. Josephus da Frota. Manual do Corao de Jesus. Rio de Janeiro: Mensageiro do Corao de Jesus, 1948. HOWARD, Walter. A msica e a criana. Traduo Norberto Abreu Silva Neto. So Paulo: Summus, 1984. MELO, Rosilene Alves de. O outro Juazeiro: Histrias das crenas e prticas ocultas na cidade sagrada. Tendncias: Caderno de Cincias Sociais da Universidade Regional do Cariri, Crato, v. 2, n. 1, p. 29-40, jul. 2004. PAZ, Renata Marinho. Cariri, campo frtil da religiosidade popular. Tendncias: Caderno de Cincias Sociais da Universidade Regional do Cariri, Crato, v. 2, n. 1, p. 9-27, jul. 2004. PILETTI, Nelson. Sociologia da Educao. 18a. ed. So Paulo: tica, 2002. VIEIRA, Padre Antnio. Roteiro Lrico e Mstico sobre Juazeiro do Norte. Fortaleza: Imprensa Oficial do Cear IOCE,1988.

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  • A formao dos professores de Arte/Msica da Rede Municipal de

    Ensino de Mossor

    Elder Pereira Alves Conservatrio de Msica Dalva Stella Nogueira Freire/UERN

    [email protected]

    Resumo: Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa concluda em nvel de mestrado, desenvolvida na cidade de Mossor-RN. O estudo teve como objetivo apresentar, analisar e refletir acerca da realidade do ensino da msica, enquanto contedo obrigatrio do componente curricular Arte, em escolas municipais de Mossor. O trabalho buscou identificar: 1) qual a formao do professor de Arte desse contexto; 2) quais dentre esses profissionais trabalham com o ensino da msica; 3) que prticas de educao musical so desenvolvidas por esses profissionais e que concepes norteiam suas prticas. Esse estudo possui uma metodologia quantitativo-qualitativa, pois alm de ter buscado realizar um levantamento sobre o ensino da msica e a formao dos professores de Arte, procurou tambm analisar concepes e prticas de educao musical desenvolvidas nesse contexto. Este artigo, especificamente, se prope a apresentar os dados referentes formao dos docentes de Arte da Rede Municipal de Ensino de Mossor.

    Palavras-chave: formao de professores, ensino de msica, professor de arte.

    Introduo

    As discusses sobre o ensino da msica na educao bsica tm sido bastante

    enfatizadas nas ltimas dcadas, tendo em vista, principalmente, a significativa ausncia da

    msica nos currculos escolares. Diversos aspectos tm contribudo para essa ausncia, tais

    como a formao dos professores de arte/msica atuantes nesse contexto, os problemas

    relacionados legislao educacional brasileira, concepes equivocadas sobre o ensino de

    msica, entre tantos outros. No entanto, no ano de 2008, atravs da Lei 11.769 que altera a

    atual LDB - Lei n 9.394/96, a msica foi instituda como contedo obrigatrio do

    componente curricular Arte, devendo estar efetivamente presente na educao bsica

    brasileira at agosto de 2011. Tendo em vista esse cenrio, senti o interesse de investigar

    como se encontra o ensino da msica nas escolas da cidade de Mossor-RN, especificamente

    na rede municipal de ensino da cidade.

    Partindo dessa perspectiva, como objetivo geral o estudo buscou apresentar, discutir

    e analisar a atual situao do ensino da msica, enquanto contedo obrigatrio do componente

    curricular Arte, em escolas da Rede Municipal de Ensino de Mossor-RMEM. Com vistas a

    contemplar o objetivo geral, o trabalho de pesquisa realizado teve os seguintes objetivos

    especficos: identificar a formao dos professores que atuam na disciplina de Arte, a

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  • quantidade desses docentes que trabalham com msica e aspectos relacionados formao e

    experincia musical desses professores; analisar as concepes e prticas de educao musical

    desenvolvidas por esses profissionais. Nesse trabalho, apresento apenas os resultados relativos

    formao do corpo docente de Arte/Msica da RMEM1.

    Na Educao Musical, os estudos brasileiros que giram em torno do ensino da

    msica na educao bsica tem se intensificado cada vez mais, e essa temtica tornou-se um

    dos principais focos das discusses na rea nos ltimos anos. Vrios estudiosos vm se

    dedicando a essa questo, desenvolvendo investigaes nesse contexto sob diversas

    abordagens, o que tem nos ajudado a compreender melhor essa realidade. Para fundamentar

    essa investigao, selecionei dois aspectos fundamentais no que diz respeito ao ensino da

    msica na educao bsica: a formao de professores (BELLOCHIO, 2003; DEL BEN,

    2003b; MATEIRO, 2003; SANTOS, 2005; PENNA, 2007; FIGUEIREDO, 2004; QUEIROZ;

    MARINHO, 2007) e a anlise das politicas educacionais e termos normativos (PENNA, 2001;

    2004a; 2004b; 2008a; ARROYO, 2003; FERNANDES, 2004; SOBREIRA, 2008).

    Procedimentos metodolgicos

    O trabalho possui uma abordagem metodolgica quantitativo-qualitativa,

    proporcionando uma viso ampla da realidade estudada, atravs de um levantamento

    quantitativo que investiga a formao dos professores de Arte e sua atuao no ensino da

    msica, assim como uma anlise mais aprofundada, por meio de uma apreciao qualitativa

    que analisa as concepes e prticas de educao musical desses profissionais. Como

    comentei anteriormente, apresentarei nesse trabalho parte do levantamento quantitativo,

    focando na formao dos professores.

    O universo da pesquisa foi constitudo pelas escolas da RMEM, de maneira mais

    especfica, foi selecionado o Ensino Fundamental II (6 ao 9 ano) como alvo da investigao.

    Atualmente essa rede de ensino conta com 72 escolas2, sendo 35 localizadas na regio urbana

    e 37 pertencentes zona rural da cidade. O foco do estudo foi na zona urbana do municpio,

    procurando abranger os professores de Arte que atuam nas escolas existentes nessa regio.

    Das 35 escolas da zona urbana, apenas 18 atendem aos anos finais do ensino fundamental.

    1 Em Alves (2010), foram apresentados alguns resultados parciais dessa pesquisa, referentes formao e atuao desses profissionais. 2 Dados da Gerncia Executiva da Educao rgo da prefeitura responsvel pela educao no municpio - no incio de 2010

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  • Deste modo, o universo da pesquisa foi constitudo pelos professores de Arte que atuam

    nessas 18 escolas.

    A fase quantitativa da pesquisa de campo foi concretizada atravs da aplicao de

    questionrios. Esse instrumento , geralmente, empregado em pesquisas desta natureza por

    alcanar um grande pblico. Foi aplicado com todos os professores de Arte das 18 escolas

    municipais, localizadas na zona urbana da cidade, com o objetivo de identificar,

    principalmente, a formao dos professores de Arte e a quantidade desses docentes que

    trabalham com msica.

    Resultados obtidos

    Por meio da pesquisa de campo foi possvel verificar que, atualmente, nas 18 escolas

    onde h o Ensino Fundamental II, existem 24 professores atuando na disciplina Ensino da

    Arte. Vale ressaltar que na poca da pesquisa de campo, iniciada nas primeiras semanas do

    ano letivo de 2010, uma dessas 18 escolas ainda encontrava-se sem professor de Arte. Dos 24

    professores identificados, somente um se recusou a responder o questionrio, alegando que

    estava assumindo a disciplina h pouco tempo e que, por esse motivo, no gostaria de

    participar. Apenas trs professores no devolveram os questionrios. Portanto, consegui

    receber 20 questionrios respondidos, o que corresponde a um percentual de 83,33%, um

    ndice significativo para uma pesquisa dessa natureza.

    Desse universo, composto por 20 professores, h uma predominncia de mulheres,

    15 professoras e apenas cinco professores. De uma forma geral, essa uma realidade

    fortemente encontrada na educao bsica brasileira, confirmando a existncia da feminizao

    do magistrio (Ver: DEL BEN, 2005; DINIZ, 2005; HIRSCH, 2007).

    A faixa etria desses profissionais est entre 31 e 55 anos, com mdia de 44 anos. No

    estudo desenvolvido por Del Ben (2005), encontrou-se uma faixa etria semelhante, no qual

    Um percentual de 41,38% dos professores est acima dos 45 anos. Esse dado pode indicar que os jovens professores de msica ou das demais modalidades artsticas no tm se sentido atrados para atuar como docentes nas escolas pblicas estaduais de educao bsica. Ou, ainda, que tm sido escassos os concursos para professores nessas reas (p. 73).

    Portanto, parece haver um nmero reduzido de jovens professores de arte/msica

    atuando como docentes nas escolas pblicas.

    Atravs dessa pesquisa, procuro apresentar um panorama geral sobre a formao

    inicial dos professores de Arte da RMEM, para que assim, atravs do conhecimento dessa

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  • realidade, seja possvel verificar quem o profissional que atua na disciplina Ensino da Arte,

    pois, at bem pouco tempo no existiam cursos de formao de professores de arte na cidade

    de Mossor e regio. O primeiro criado foi a Licenciatura em Msica da Universidade do

    Estado do Rio Grande do Norte UERN, no ano de 2004.

    Primeiramente, importante destacar que todos os professores participantes da

    pesquisa so licenciados, estando assim em consonncia com a atual LDB, que exige

    formao superior na modalidade de licenciatura para a atuao no Ensino Fundamental e

    Mdio. A TAB. 1 apresenta dados referentes graduao desses docentes:

    TABELA 1

    Graduao dos professores de Arte da RMEM

    GRADUAO QUANTIDADE PERCENTUAL

    Letras 10 50% Histria 4 20% Teologia 2 10%

    Educao Artstica 1 5% Geografia 1 5%

    Cincias Sociais 1 5% No respondeu 1 5%

    Como se pode observar, apenas um entre os 20 professores possui formao na rea

    de Arte, especificamente, no curso de Educao Artstica com Habilitao em Msica. Uma

    realidade diferente da encontrada em outras cidades brasileiras, como em Porto Alegre, onde

    60,34% de todos os 58 professores participantes da pesquisa possuem formao especfica

    para atuar na rea de artes (DEL BEN, 2005, p. 75), e Joo Pessoa, onde a grande maioria

    dos professores tem formao especfica: 86% (160 em 186) dos entrevistados informam ter

    cursado ou estar cursando uma licenciatura em Educao Artstica (PENNA, 2002b, p. 22)3.

    Constatei tambm que a metade dos professores que atua na disciplina de arte possui

    formao na rea de Letras. Esse fato parece ter relao com o ttulo que o Curso de Letras da

    UERN possua at pouco tempo, denominado de Letras e Artes. Esse Curso funcionava

    oferecendo uma ou duas disciplinas optativas na rea de Arte e talvez passasse a impresso de

    habilitar, efetivamente, o professor para atuar nessa rea4. Como aponta um dos professores

    de arte da RMEM, apesar de ser chamado de Letras e Artes, o curso no traz essa formao

    3 Ver tambm: (ARAJO, 2002; ALMEIDA, 2006; HIRSCH, 2007). 4 Informao dada pelos professores formados nesse Curso.

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  • especificamente (P8)5. No entanto, outro professor acredita que o Curso de Letras e Artes,

    habilita para ensinar Portugus, Ingls e Artes (P5). Pelo o que se pode perceber, com a

    falta de cursos especficos para a formao de professores de Arte na cidade, esse parece ter

    sido o curso que, durante algum tempo, assumiu o papel dos cursos formadores de professores

    da rea na regio, talvez por causa desse ttulo. Inclusive, um dos docentes participantes da

    pesquisa afirmou que assumiu o cargo de professor de Arte na RMEM atravs de concurso

    pblico para a rea. Ou seja, j existiram concursos pblicos no Municpio, nos quais,

    professores sem formao especfica puderam concorrer e assumir o cargo.

    Os demais professores possuem formaes diversas: quatro em Histria, que tambm

    uma quantidade significativa (20%); dois em Teologia; um em Geografia; um em Cincias

    Sociais; e apenas um no respondeu a essa questo. Apesar de existirem alguns contextos

    diferenciados, como os apontados anteriormente, essa ainda a realidade do ensino de arte

    encontrada em grande parte das escolas brasileiras, nas quais a grande maioria dos professores

    no possui formao para atuao na rea de Arte:

    De acordo com o trabalho, baseado no Censo Escolar da Educao Bsica 2007, o Brasil possui cerca de 124 mil professores de Artes. A grande maioria (92%) tem licenciatura. Mas o dado preocupante que Artes a disciplina com menor proporo de docentes com formao na rea especfica de atuao: 25,7%, nos anos finais do ensino fundamental. Destes, s 2,4% lecionam a disciplina correspondente ao curso em que se formaram na graduao. O trabalho do MEC informa ainda que 50,2% dos professores que lecionam Artes so formados em outras reas (BOLETIM ARTE NA ESCOLA, 2010, p. 6).

    Em Mossor, a situao ainda mais complicada, pois, s existe um profissional

    com formao especfica para trabalhar na rea de Arte em toda a rede municipal.

    Atualmente, de acordo com o EDUCACENSO6, a RMEM atende a uma demanda de mais de

    21 mil alunos matriculados da educao infantil ao ltimo ano do ensino fundamental.

    Outro aspecto importante que, dos 20 professores identificados, apenas dois atuam,

    exclusivamente, na disciplina de Arte: o professor formado em Educao Artstica e o que

    formado em Letras concursado na rea de Arte. Os demais professores tambm ministram

    aula de outras disciplinas, geralmente, relacionadas a seu campo de formao.

    Nesse contexto, o que tem levado a maioria desses professores de outras reas a

    trabalharem com o ensino de arte a necessidade da complementao de suas cargas horrias.

    5 P Refere-se a uma numerao utilizada nesse trabalho para identificao dos 20 Professores. 6 Censo Escolar realizado pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP).

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  • Dez professores (50%) apontaram que esse o principal motivo que os levaram a trabalhar

    com essa disciplina, como se pode verificar na TAB. 2:

    TABELA 2

    Motivao dos professores para trabalhar com Arte

    MOTIVOS QUANTIDADE PERCENTUAL

    Complementao de carga horria

    10 50%

    Se sentem preparados 3 15% No responderam 3 15%

    Identificao com a rea 2 10% Necessidade da escola 1 5%

    Aprovao em concurso pblico na rea

    1 5%

    Total 20 100%

    Apenas trs assinalaram que se sentem preparados para ensinar na rea (incluindo o

    professor que tem formao especfica) e dois que possuem, de fato, alguma identificao

    com a disciplina. Esses dados so preocupantes, primeiramente, porque os profissionais no

    possuem formao para a atuao, mas como j apontei essa no a realidade apenas de

    Mossor, mas de boa parte do pas. E segundo, porque a maioria assume a disciplina em

    funo de uma circunstncia empregatcia e no por se sentir preparada ou pelo menos

    identificar-se com a rea.

    Com o intuito de conhecer detalhadamente a atuao desses professores, procurei

    verificar em quais das quatro modalidades artsticas eles se sentem melhor preparados para

    trabalhar. A maioria dos professores apontou mais de uma modalidade7. Como era de se

    esperar, a maior parte afirmou que se sente preparada para atuar com Artes Visuais, num total

    de 15 professores. Essa tendncia, aps a LDB de 1971, tem sido muito forte nas aulas de

    Arte, chegando ao ponto de poder configurar-se apenas como Ensino de Artes Visuais (ver:

    PENNA, 2008b). Dos 20 professores, 12 acreditam tambm estarem preparados para trabalhar

    com Msica, 13 com Teatro e apenas cinco com Dana.

    Por terem sua formao fundada em outras reas, interessante observar que esses

    professores demonstram sentirem-se preparados para atuarem nas diversas modalidades

    artsticas, alguns chegando a apontar as quatro modalidades. So dados que nos levam a

    7 Essa questo era de mltipla escolha, na qual os professores poderiam eleger quantas modalidades quisessem, entre as quatro existentes (Artes Visuais, Msica, Teatro ou Dana).

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  • refletir acerca das concepes dessas aulas de Artes desenvolvidas por esses profissionais,

    pois, essas prticas educativas parecem estar baseadas numa concepo polivalente.

    Para verificar essa situao, solicitei aos professores que apontassem quais as

    modalidades artsticas que eles, efetivamente, trabalham em sala de aula. Suas respostas

    confirmaram a concepo da atuao polivalente, que parece acontecer em grande parte das

    aulas de arte, como podemos verificar na TAB. 3:

    TABELA 3

    Modalidades artsticas trabalhadas pelos professores

    MODALIDADES QUANTIDADE PERCENTUAL

    Msica e outras modalidades (Artes Visuais, Teatro e

    Dana)

    13

    65%

    Outras modalidades (Artes Visuais, Teatro e Dana)

    3

    15%

    Somente Artes Visuais 3 15%

    Somente Msica 1 5% Somente Teatro 0 0% Somente Dana 0 0%

    Total 20 100%

    Somente trs professores trabalham exclusivamente com Artes Visuais e um com

    Msica, o restante atua ensinando mais de uma modalidade artstica. Um aspecto positivo que

    ressalto nesses dados que 14 professores afirmam trabalhar com Msica, 13 de forma

    polivalente e um de forma exclusiva.

    Como possvel perceber, a influncia da polivalncia nas aulas de Arte ainda

    muito forte atualmente. Pude verificar tambm que, em diversos estudos realizados em

    escolas brasileiras, a influncia da formao e da concepo polivalente esteve presente em

    grande parte deles. No estudo desenvolvido por Del Ben (2005) em Porto Alegre, os dados

    indicam que a maioria dos professores investigados atua concomitantemente nas reas de

    artes plsticas, artes cnicas e msica (p. 77). Do mesmo modo, na regio Sul do Rio

    Grande do Sul,

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  • Nota-se que ainda h a presena de uma atuao polivalente, quando o somatrio de 33,1% dos professores afirma trabalhar com mais de uma modalidade artstica, contra o somatrio de 59,0% dos professores que declaram trabalhar com apenas uma modalidade artstica (HIRSCH, 2007, p. 48).

    Na pesquisa realizada em Belo Horizonte, pde-se evidenciar que ainda h

    influncia da formao polivalente (cursos de Educao Artstica) sobre a prtica pedaggica

    e as concepes docentes sobre o ensino de msica (MARINO, 2005, p. 5). Em Joo Pessoa,

    foi possvel verificar

    Uma forte tendncia atuao polivalente, comprovada pelos dados coletados. [...] 85 (45,7%) professores trabalham apenas uma linguagem artstica em sala de aula, enquanto 43 (23,1%) trabalham com duas, 34 (18,3%) com 3 linguagens e os demais trabalham com 4 (PENNA, 2002b, p. 27).

    Todo esse cenrio reflete, no mnimo, que os profissionais que esto sendo formados

    nas novas licenciaturas (Licenciatura em Artes Visuais, Msica, Dana e Teatro), ainda no

    esto presentes, efetivamente, na educao bsica, pelo menos o que se pode evidenciar na

    realidade de Mossor.

    Aproveitando essa rpida discusso sobre as concepes dos professores de arte,

    procurei verificar se esses profissionais conhecem ou, pelo menos j ouviram falar, da Lei

    11.769/08, para ter uma ideia da repercusso e discusso dessa Lei nesse contexto

    educacional. Apenas quatro professores afirmam conhec-la, sendo que um deles desconhece

    o seu texto. Portanto, os demais 16 professores de Arte da RMEM (80%) nunca ouviram falar

    das discusses sobre a obrigatoriedade do ensino da msica na educao bsica, aps mais de

    um ano da promulgao dessa Lei8.

    Essa realidade no deixa de ser impactante, e por mais que esses profissionais no

    possuam formao nas reas de Arte e Msica, seria importante que estivessem atentos s

    discusses que envolvem suas reas de atuao, das quais a Msica faz parte. Portanto, se os

    professores de arte, potenciais professores de msica desse contexto, desconhecem as

    discusses que tratam da obrigatoriedade do ensino da msica na educao bsica, provvel

    que, praticamente, no existam reflexes e aes a respeito desse aspecto no mbito da

    RMEM.

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  • Concluses

    Na cidade de Mossor e na Rede Municipal de Ensino, especificamente, at o

    presente momento, pouco se sabia a respeito de quem vem atuando com o ensino de

    arte/msica, uma vez que, at ento, nenhum estudo dessa natureza fora desenvolvido nesse

    contexto. Atravs desse trabalho, procurei apresentar um breve levantamento sobre a

    formao dos professores que atuam na disciplina Arte na RMEM.

    Foi possvel identificar que apenas um professor possui formao na rea de Artes,

    no extinto curso de Educao Artstica. Verifiquei tambm que a metade dos professores de

    Arte possui formao na rea de Letras, e que o curso de Letras da UERN, at bem pouco

    tempo denominado de Letras e Artes, parece ter assumido o papel dos cursos formadores de

    professor de Arte na regio. Esse curso funcionou oferecendo umas duas disciplinas optativas

    na rea de Arte e acabou passando a impresso de formar, efetivamente, os professores para

    atuarem na rea.

    Contudo, a maior parte dos professores de Arte da RMEM tem assumido a disciplina

    de Arte por causa de uma circunstncia empregatcia, ou seja, por necessitarem complementar

    suas cargas horrias. Assim, essa formao oferecida nesse curso de Letras e Artes parece

    no ter exercido tanta influencia na atuao desses professores.

    De forma geral, a partir da realizao desse estudo, foi possvel verificar que a

    grande maioria dos professores de Arte atuantes nesse contexto no possuem formao nas

    reas de Arte e Msica. Portanto, o que se pode evidenciar, a partir de todo o exposto, a

    urgente necessidade de formao existente nesse contexto educacional, tanto na rea de Arte,

    quanto em Msica especificamente, pois, praticamente no h profissionais especializados

    atuando nessas reas.

    8 Ressaltando que esses dados foram coletados no incio de 2010.

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  • Referncias

    ALMEIDA, Poliana Carvalho de. A educao musical nas escolas pblicas: mapeando a realidade de Salvador. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 15., 2006, Joo Pessoa. Anais... Joo Pessoa: ABEM, 2006. p. 55-63. ALVES, Elder. A formao dos professores de Arte das escolas municipais de Mossor-RN e a sua atuao no ensino da msica. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 19., 2010, Goinia. Anais... Goinia: ABEM, 2010. p. 210-219. ARAJO, Rosane Cardoso de. O ensino da msica nas escolas da rede municipal de Curitiba. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 11., 2002, Natal. Anais... Natal: ABEM, 2002. p. 624-633. ARROYO, Margarete. Polticas educacionais, arte-educao e educao musical: um estudo na cidade de Uberlndia. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 12., 2003,Florianpolis. Anais... Florianpolis: ABEM, 2003. p. 586-594. BELLOCHIO, Cludia Ribeiro. A formao profissional do educador musical: algumas apostas. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 8, 17-24, 2003. BOLETIM ARTE NA ESCOLA. n. 57, 2010. ISSN 1809-9254. DEL BEN, Luciana. Mltiplos espaos, multidimensionalidade, conjunto de saberes: idias para pensarmos a formao de professores de msica. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 8, 29-32, 2003. _____. Um estudo com escolas da Rede Estadual de Educao Bsica de Porto Alegre/RS: Subsdios para a elaborao de polticas de Educao Musical. Revista Msica Hodie. Goinia, V.5, n 2, p. 65-89, 2005. DINIZ, Llia Negrini. Msica na Educao Infantil: Um Survey com professoras da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre-RS. Porto Alegre, 2005. 115f. Dissertao (Mestrado em Msica) Programa de Ps-Graduao da UFRGS, Porto Alegre, RS, 2005. FERNANDES, Jos Nunes. Normatizao, estrutura e organizao do ensino da msica nas escolas de educao bsica do Brasil: LDBEN/96, PCN e currculos oficiais em questo. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 10, 75-87, 2004. FIGUEIREDO, Srgio. A preparao musical de professores generalistas no Brasil. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 11, 55-61, 2004. HIRSCH, Isabel Bonat. Msica nas sries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Mdio: Um Survey com professores de Arte/Msica de escolas estaduais da Regio Sul do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007. 105f. Dissertao (Mestrado em Msica) Programa de Ps-Graduao da UFRGS, Porto Alegre, RS. 2007.

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  • MARINO, Gislene. Educao musical escolar: anlise do ensino de msica nas escolas municipais de Belo Horizonte. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL, 14., 2005, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ABEM, 2005. p. 1-7. MATEIRO, Teresa da Assuno Novo. O comprometimento reflexivo na formao docente. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 8, 33-38, 2003. PENNA, Maura. Msica na escola: analisando a proposta dos PCN para o ensino fundamental. In: PENNA, Maura (Coord.). este o ensino de arte que queremos?: uma anlise das propostas dos parmetros curriculares nacionais. Joo Pessoa: Editora Universitria, 2001. p. 113-134. ______. A arte no ensino fundamental: mapeamento da realidade nas escolas pblicas da Grande Joo Pessoa. Relatrio de pesquisa. Joo Pessoa: DARTES/UFPB, 2002. Disponvel em: http://www.cchla.ufpb.br/pesquisarte/Masters/relatorio_ensino_fundamental.pdf ______. A dupla dimenso da poltica educacional e a msica na escola: I analisando a legislao e termos normativos. Revista da ABEM, v. 10, p. 19-27, 2004a. ______. A dupla dimenso da poltica educacional e a msica na escola: II da legislao prtica escolar. Revista da ABEM, v. 11, p. 7-16, 2004b. ______. No basta tocar? Discutindo a formao do educador musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 16, p. 49-56, 2007. ______. Caminhos para a conquista de espaos para a msica na escola: uma discusso em aberto. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 19, p. 57-64, 2008a. ______. Msica(s) e seu Ensino. Sulina: Porto Alegre, 2008b. QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Educao musical nas escolas de educao bsica: caminhos possveis para a atuao de professores no especialistas. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 17, p. 69-76, 2007. SANTOS, Regina Marcia Simo. Msica, a realidade nas escolas e polticas de formao. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 12, p. 49-56, 2005. SOBREIRA, Slvia. Reflexes sobre a obrigatoriedade da msica nas escolas pblicas. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 20, p. 45-52, 2008.

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  • A informalidade construindo a formao musical dos adolescentes

    frequentadores da Praa Verde Historiador Raimundo Giro (Centro

    Drago do Mar de Arte e Cultura)

    Yure Pereira de Abreu Universidade Federal do Cear

    [email protected]

    Luiz Botelho Albuquerque Universidade Federal do Cear

    [email protected]

    Resumo: O presente artigo um relato de pesquisa que teve como objetivo identificar e compreender como est se estruturando a formao musical, formal e informal, dos adolescentes entre 12 18 anos frequentadores da Praa Verde Historiador Raimundo Giro, espao pertencente ao Centro Drago do Mar de Arte e Cultura e mantido pelo Instituto de Arte e Cultura do Cear (IACC), situado na Rua Drago do Mar, n 81, Praia de Iracema. Entender a formao musical destes adolescentes de certa forma, compreender os contextos scio-culturais em que esto inseridos. Sob essa perspectiva foi realizado estudo de caso sobre o impacto que as mdias e grupamentos jovens exercem sobre a formao musical dos indivduos que freqentam o centro, vislumbrado apontar um panorama acerca da formao musical, em carter formal e informal, e repensar estratgias de incentivar uma dissipao igualitria ao acesso msica.

    Palavras-chave: Adolescentes, Grupamentos Jovens, Formao Musical.

    Introduo

    Compreender o processo de construo da formao musical de certa forma

    compreender o contexto scio-cultural no qual a juventude est inserida. em meio

    sociedade moderna com o advento da cultura de massas, vinculada s mdias, que a

    educao musical se torna ainda mais dinmica e interativa. No entanto a educao

    passa a operar tanto na formalidade quanto e principalmente em uma mescla entre a

    formalidade e informalidade. neste contexto que a educao musical informal cresce,

    sendo acentuada pelas mdias e grupamentos jovens.

    Graduando em Msica (licenciatura) pela Universidade Federal do Cear. bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia MEC/CAPES UFC e integrante do grupo de pesquisa Ensino de Msica, atuando na linha de Culturas Contemporneas e Educao Escolar, sob a orientao do Prof. Dr. Luiz Botelho Albuquerque.

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  • Atualmente a cidade de Fortaleza no oferece educao musical em carter

    formal acessvel a toda populao, pelo simples fato de no ofertar nenhuma disciplina

    de msica nas matrizes curriculares das escolas pblicas de ensino bsico nem escolas

    de msica ou conservatrios pblicos, deixando a formao musical por conta da

    informalidade e, em nvel superior, as universidades que ofertam cursos de licenciatura,

    bacharelado e de nvel tcnico.

    O presente trabalho visa refletir sobre um processo da formao musical dos

    adolescentes entre 12 18 anos, de carter informal e a educao musical de carter

    formal, vislumbrando apontar os mecanismos formativos presentes no cotidiano dos

    adolescentes que freqentam a Praa Verde Historiador Raimundo Giro (Praa Verde).

    Espero que este artigo venha a contribuir com a comunidade cientfica,

    educadores musicais, bem como toda a comunidade educacional ao apresentar um

    panorama da formao musical, formal e informal, dos adolescentes acima citados,

    repensando estratgias e fazendo reflexes acerca da formao musical no que diz

    respeito implementao do ensino de msica na educao bsica, o que j est

    previsto na Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008.

    Metodologia

    A pesquisa foi realizada a partir da observao do local e suas especificidades

    com 21 sujeitos freqentadores da Praa Verde, numa tentativa de identificar elementos

    e concepes acerca dos processos formativos em msica, na busca de responder a

    pergunta: como ocorre o processo de formao musical dos adolescentes de Fortaleza na

    contemporaneidade.

    Um estudo de caso foi realizado com o intuito de compreender certas nuances

    acerca da formao musical dos jovens e o modo como os grupamentos jovens e as

    mdias tendem a influenciar nesse processo, colaborando para uma padronizao.

    Dessas fontes empricas extraram-se dados importantes sobre o assunto, de observao

    do cotidiano e do entendimento que os adolescentes freqentadores da Praa Verde tm

    sobre a sua formao musical, relacionando-as com suas prprias experincias. Segundo

    Gil (2009), estudos de casos: Caracterizam-se pelo estudo profundo e exaustivo de um

    dos poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.

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  • Com o intuito de recolher informaes acerca da formao musical dos

    adolescentes que freqentam a Praa Verde, eu confeccionei e apliquei um questionrio

    contendo 11 perguntas, dentre abertas e fechadas, direcionadas a temtica do artigo, tais

    como: se os entrevistados j haviam estudado msica, formalmente ou informalmente

    (autodidata); Em qual instituio e/ou local tiveram acesso ao conhecimento musical; Se

    os entrevistados cantam ou tocam algum instrumento musical e se participam de

    formaes artsticas (corais, bandas, etc.); quais meios de comunicao os entrevistados

    mais utilizam; quais os gneros musicais, artistas ou bandas favoritas e quais meios

    culturais mais freqentam; na busca de responder a pergunta supracitada.

    A Praa Verde Historiador Raimundo Giro: um espao de lazer,

    formao e encontros.

    A Praa Verde Historiador Raimundo Giro, ou simplesmente Praa Verde

    como dizem s pessoas que ali freqentam, um dos mais amplos espaos pertencente

    ao Centro Drago do Mar de Arte e Cultura, o qual tem por finalidade promover

    atividades artsticas, culturais e recreativas visando propagar e preservar as culturas

    locais, bem como auxiliar no desenvolvimento artstico, educacional, cultural e

    cognitivo das crianas que participam dos projetos do local. O espao tambm tem por

    proposta abrigar espetculos, shows e eventos de grande porte como, por exemplo, a

    Feira da Msica de Fortaleza; ainda conta com um espao anexo, o Ateli das Artes,

    que um espao voltado para a realizao de cursos, oficinas, debates, dentre outras

    atividades.

    No entanto durante as noites de sbado que o local recebe o pblico alvo

    deste trabalho, visto que esse o dia escolhido pelos jovens para realizarem as reunies

    de seus grupos e encontrarem seus amigos, com inmeros objetivos, tais como: divertir-

    se, namorar, trocar idias, fazer msica, etc. Porm as atividades realizadas por esses

    jovens no possuem ligao com as atividades ofertadas pela instituio, visto que esta

    uma atividade que no compe a programao do local. Assim as aes realizadas

    nestes encontros no possuem nenhum direcionamento especfico, o que as torna

    bastante diversificadas e heterogneas, atendendo a diversos campos e interesses como

    dana, msica, pintura, teatro, dentre outras.

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  • A influncia das mdias e dos grupamentos jovens e os impactos na

    formao musical

    No decorrer do sculo XX as sociedades passaram por significativas mudanas

    estruturais que influenciaram os campos social, ideolgico e cientfico-tecnolgico

    colaborando para o surgimento de uma nova cultura que Morin (1997) define como a

    terceira cultura, originria das mdias novas e antigas como cinema, rdio, televiso,

    jornal, projetando-se ao lado das culturas tradicionais. Esta cultura de massas que tem

    como objetivo a padronizao, criando uma cultura dita Universal, que uma juno

    de crenas, costumes, mitologias, etc.

    no decorrer do desenvolvimento industrial que a mdia se apresenta como

    uma grande ferramenta de propagao da lgica do consumo, proporcionando estmulos

    de massificao social de uma cultura universal, incorporado pelos grupamentos

    jovens que associam elementos da cultura universal aos hbitos intimamente

    relacionados ao modo como esses grupamentos se organizam.

    Para tanto, em meio ao desenvolvimento miditico, surgem diversas prticas

    correntes, que muitas vezes no emergiam com o propsito de educao, mas ao final,

    constituem um imenso mecanismo educacional. Ento, tomando por base que a

    educao um processo dinmico e que a educao ocorre em todos os locais e com

    todas as coisas, a mdia com certeza auxilia no desenvolvimento educacional dos

    jovens.

    Para analisar a formao musical dos adolescentes que freqentam a Praa

    Verde, ressaltando as contribuies do local que aos sbados congrega jovens de toda a

    cidade de Fortaleza e regio metropolitana, o que favorece a criao de grupamentos

    jovens, surge a necessidade de compreenso dos processos de formao dos

    grupamentos jovens e de interao entre os adolescentes que compem o grupo, ao

    entender que ambos exercem influncias sobre a formao musical dos jovens que ali

    freqentam. Para Janotti Jr. (2003) o conceito de grupamento jovem est intimamente

    relacionado perspectiva das:

    Agremiaes de indivduos que partilham interesses comuns, vivenciam valores, gostos, afetos, privilegiam determinadas produes

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  • de sentido em espaos desterritorializados, atravs de processos miditicos que se utilizam de referenciais globais.

    Levando em conta que a adolescncia um perodo instvel e conturbado, que

    Pfromm Netto (1976) define como inquietao, pode-se afirmar que nessa fase da vida

    que as pessoas sofrem mais influncias, pelo simples fato de ainda estar constituindo

    seus valores e hbitos, sua identidade. Assim foi possvel perceber que a formao

    musical dos jovens que freqentam a Praa Verde influenciada pela mdia e

    grupamentos jovens.

    Resultados e discusses

    Aps coleta dos dados ficou constatado que a maioria dos jovens entrevistados

    no havia estudado msica de forma mais sistemtica, em carter formal, ou seja, ligada

    a uma instituio de ensino, seja ela pblica ou privada, como, por exemplo,

    conservatrios, escolas de msica, escolas de educao bsica, etc. Segundo Arroyo

    (2000, apud WILLE, 2005):

    Ao utilizarmos o termo formal para qualificarmos a educao musical diferentes significados podero ser destacados, pois esse termo pode ter significao como escolar, oficial, ou dotado de uma organizao.

    Eu acredito que o fato da maioria dos jovens no terem estudado msica

    formalmente esteja intimamente ligado ao fato da carncia de escolas ou conservatrios

    de msica pblicos e tambm pela ausncia de msica na matriz curricular da rede

    publica de ensino bsico.

    Deste modo pude constatar uma predominncia dos estudos musicais

    informais, o que podemos denominar de autodidatismo, ou seja, no ligado a nenhuma

    instituio, o que contribui para uma maior fragilidade no aprendizado musical. Eu

    entendi tambm que o estudo autodidata pode afetar a sade fsica dos adolescentes, j

    que nem sempre ao se tocar um instrumento musical ou cantar os alunos tomam cuidado

    com postura, tcnicas, dentre outras coisas.

    Dentre os jovens que afirmaram ter estudado msica formalmente, alguns

    afirmam possuir habilidades como cantar e/ou tocar um instrumento musical. Entre os

    instrumentos mais citados esto o violo, o teclado e a bateria. Porm, a maioria dos

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  • entrevistados dizem saber tocar algum instrumento e/ou cantar, mesmo sem haver

    estudado msica formalmente.

    Consideraes Finais

    A partir de minha pesquisa pude constatar como est se estruturando a

    formao musical dos adolescentes freqentadores da Praa Verde Historiador

    Raimundo Giro, e que tal formao est bastante implicada na informalidade, ao passo

    que os grupamentos jovens e as mdias vm intensificando suas influncias sobre o

    processo de formao musical dos jovens que ali freqentam e que, apesar de algumas

    aes isoladas que tm sido realizadas no municpio, na tentativa de promover um

    acesso mais igualitrio ao ensino de msica, analiso que esto sendo insuficientes e

    deficitrias, j que a maioria dos jovens ainda no possuem acesso ao conhecimento

    musical formalmente.

    Tambm foi possvel constatar como est ocorrendo a formao musical

    informal, sendo realizada atravs de amigos, livros, mtodos, vdeos-aula, revistas,

    dentre outros.

    Por fim podemos concluir que a mdia juntamente com os grupamentos jovens

    e a carncia de educao musical em carter formal na cidade de Fortaleza colaboram

    na dissipao da cultura educacional informal.

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  • Referncias

    GIL, Antonio Carlos. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. 6 Edio. So Paulo: Atlas, 2009. JANOTTI JUNIOR, Jeder Silveira. Mdia, cultura juvenil e rock and roll: comunidades, tribos e grupamentos urbanos. Disponvel em: . Acessado em 28 de outubro de 2010. MORIN, Edgar. Culturas de massas no sculo XX: Neurose. Traduo de Maura Ribeiro Sardinha. 9 Edio. Rio de Janeiro: Forense Universitria,1997. PFROMM NETTO, Samuel. Psicologia da adolescncia. 5. Edio. So Paulo, Pioneira; Braslia, INL, 1976. WILLE, Regiana Blank. Educao musical formal, no formal ou informal: um estudo sobre processos de ensino e aprendizagem musical de adolescentes. Disponvel em: . Acessado em 28 de maro de 2011.

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  • A Licenciatura em Msica da UFPI: dilogo entre a formao oferecida e a formao almejada

    Juliana Carla Bastos Universidade Federal do Piau (UFPI)

    [email protected] Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar e identificar as caractersticas inerentes ao perfil de curso traado pelo Projeto Poltico-Pedaggico da Licenciatura em Msica da Universidade Federal do Piau, bem como compreender de que maneira(s) essa caracterizao est sendo recebida pelos alunos e trabalhada pelos professores. Com base no referencial terico e na reviso bibliogrfica j constitudos, a discusso inicial aqui apresentada servir de base para a fase prtica da pesquisa, que ser de aplicao de questionrios e realizao de entrevistas com o intuito de conseguir informaes efetivas sobre a opinio de alunos e professores com respeito ao caminho que o curso vem trilhando. Palavras-chave: educao musical, UFPI, formao do professor.

    Apresentao

    Como professora do curso de Licenciatura em Msica da Universidade Federal do

    Piau desde janeiro de 2011, alguns aspectos me chamaram a ateno no que diz respeito ao

    perfil profissional que o curso salienta como ideal para seus egressos. Interessei-me,

    especialmente, em investigar de que maneira(s) esse ensino est aliado ao conhecimento

    extra-sala de aula, relacionando-o no s com o perfil dos licenciandos, mas tambm

    observando a interao destes com o mercado de trabalho musical em Teresina. O impulso

    inicial de pesquisa surgiu de conversas com alunos e professores do curso, nas quais se

    menciona uma desconexo de usos entre o que se ensina na universidade e o que se aplica

    efetivamente no cotidiano profissional dos licenciandos. Alm de procurar compreender os

    possveis motivos geradores e/ou intensificadores desse descompasso, julgo necessrio

    tambm perguntar o que os docentes esperam e pretendem fazer no/com o curso. Com base

    nessas informaes, o objetivo do trabalho, ainda em fase inicial, realizar uma pesquisa

    bsica com a inteno de levantar dados sobre essa realidade, compreendendo aspectos

    caractersticos do contexto.

    O referencial terico est sendo construdo com base nas idias de educadores

    musicais consolidados nacionalmente e que apresentam, a cada trabalho, contribuies

    significativas para a rea (PENNA, 2007, 2008; MARINHO; QUEIROZ, 2005; MATEIRO,

    2009; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007). Para constituir o quadro de reviso bibliogrfica,

    busquei trabalhos sobre Educao Musical que contemplem a cidade de Teresina ou o Estado

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  • do Piau, percebi que as questes tratadas em quase todos os exemplos encontrados giram em

    torno ensino fundamental e mdio, como questes oriundas da normatizao e estruturao do

    ensino da msica nas escolas (FERNANDES, 2004)1, ou fazendo meno aos processos de

    cognio envolvidos na formao musical das crianas e jovens participantes bandas de

    msica (BENEDITO, 2008)2. A exceo, nesse sentido, o trabalho de Ferreira Filho (2009),

    que contempla o assunto da pesquisa ao traar um panorama histrico da Educao Musical

    no Piau, englobando atores do ensino fundamental ao superior. Completando as bibliografias,

    utilizo tambm trs outros escritos que versam sobre anlise de projetos poltico-pedaggicos

    (PPP) em licenciaturas em msica no Brasil (MATEIRO, 2009); saberes e competncias

    compartilhados entre o professor de msica e o aluno que pretende ser um professor de

    msica (REQUIO, 2002); e um artigo que fala sobre o perfil dos graduandos em msica da

    Universidade Federal da Paraba e procura discutir definies sobre a significao de valores

    e concepes musicais para esses discentes (BASTOS, 2009).

    A Educao Musical para educar o... professor!

    A Educao Musical, como rea em ampla consolidao no Brasil, sobretudo nas

    ltimas trs dcadas, aponta aspectos com relao ao ensino da msica e formao do

    educador musical quase sempre relacionando o contexto social com a sala de aula - e quem

    foi que disse que esses dois universos deveriam, algum dia, ter sido dissociados? Certamente,

    devemos sistematizar os processos ocorrentes em nossa sociedade para que seja possvel

    aplic-los, mas talvez tenhamos nos equivocado quanto definio sadia da palavra

    organizao, resultando, em parte, na fragmentao presente por muito tempo no ensino

    brasileiro algo como um conjunto de gavetas, cada qual com seu assunto; cada assunto a ser

    tratado separadamente. Atualmente, com base nas falas dos estudiosos sobre o assunto

    (PENNA, 2007; MATEIRO, 2003), a constatao de que essa fragmentao no assim to

    benfica bastante bvia, j que no podemos compartimentar a vida. Sendo assim,

    compartimentar o ensino tambm no deveria fazer sentido.

    1 FERNANDES, Jos Nunes. Normatizao, estrutura e organizao do ensino da msica nas escolas de educao bsica do Brasil: LDBEN/96, PCN e currculos oficiais em questo. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 10, p. 75-87, 2004.

    2 BENEDITO, Celso. Curso de capacitao para Mestres de Filarmnicas: o prenncio de uma proposta curricular para formao do mestre de bandas de msica. In: CONGRESSO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO, 18., 2008, Salvador. Anais... Salvador: 2008. Disponvel em: http://www.anppom.com.br/anais/. Acesso em: 22 abr. 2001.

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  • Quer dizer que, nessa conversa de convergir e aliar, a discusso sobre a extino do

    ensino polivalente de artes caminha na direo contrria ao querer separar seus contedos? De

    maneira alguma. O caso do ensino das artes demonstra, historicamente, a gradativa predileo

    por uma das frentes, que no a msica, em detrimento das demais. O que a Lei 11.769/083

    ordena, ao colocar a msica como contedo obrigatrio, porm no exclusivo, na aula de

    artes, apenas uma luz no fim desse tnel, uma primeira vitria que deve ser comemorada,

    certamente, mas que no pode desviar-nos do foco, que a delimitao da disciplina de

    msica. Cada frente de conhecimento deve demonstrar sua autonomia dentro do sistema de

    ensino, j que so reas delimitadas. No entanto, e to importante quanto, compreender que as

    fronteiras entre elas no so estanques parece ser o cerne desse processo de entendimento

    sobre aliar sala de aula o contexto social e do cuidado para no fazer confuses sobre o uso

    da polivalncia.

    No ensino superior, a crescente migrao das habilitaes em msica presentes no

    curso de educao artstica para a transformao em cursos especficos de msica

    (MATEIRO, 2009, p.59) demonstra que as discusses sobre a reconfigurao da rea de

    Educao Musical esto atingindo um dos degraus iniciais de todo esse processo educacional:

    a formao do professor de msica.

    Panorama atual do curso de Msica da UFPI

    Assim como presenciamos, atualmente, as discusses acerca da Lei 11. 769/08,

    algumas leis anteriores implementaram justamente o que ela procura modificar. Em 1971, a

    disciplina de Educao Artstica foi definida como obrigatria nos ensinos fundamental (atual

    educao bsica) e mdio pela Lei 5692/71. Data dessa poca a criao de cursos de

    Licenciatura em Educao Artstica com habilitaes em quatro frentes de conhecimento

    artstico: Artes Cnicas, Artes Plsticas, Desenho e Msica.

    Na Universidade Federal do Piau, a Licenciatura em Educao Artstica nasceu em

    19774 e, tal como referido acima, oferecia a habilitao em msica at 2008 (PROJETO

    POLTICO PEDAGGICO, 2009, p. 6). As turmas remanescentes dessa grade curricular5

    encontram-se em fase de concluso de curso e alguns estudam a possibilidade de migrao

    para a grade curricular atual, da qual falarei adiante.

    3 Altera a LDB 9394/96, que, no 2 do Art. 26., diz que a arte deve ser componente obrigatrio na educao bsica, a fim de promover o desenvolvimento cultural dos alunos, sem especificao de contedo.

    4 Resoluo n 01/77 CCE/UFPI, CONSUM. 5 A ltima ingressou em 2008.1, portanto, forma-se, no mnimo, em 2011.2 e, no mximo, em 2012.2.

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  • O recorte do presente estudo se ater s caractersticas do curso a partir do primeiro

    semestre de 2009, quando os aprovados no vestibular passaram a ingressar num curso de

    Msica, e no mais em Educao Artstica com habilitao em Msica. O PPP desse novo

    curso, aprovado em 22 de junho de 2009, apresentava, como titulao acadmica dos

    egressos, a formao de Licenciado em Msica. O ensino superior em msica no Estado

    acontece apenas na UFPI, e atende a demanda de Teresina e da Regio Integrada de

    Desenvolvimento da Grande Teresina6.

    A aprovao do referido projeto demonstrou que o curso j havia iniciado sua

    trajetria em direo a um delineamento condizente com as discusses atuais da Educao

    Musical. Nesse nterim, h, ainda, outro importante aspecto a ser mencionado: na UFPI, e a

    exemplo do que acontece em outras licenciaturas em msica, como a da UFPB (QUEIROZ;

    MARINHO, 2005), a UFG e a UFMG (MATEIRO, 2009, p. 65), observa-se que a formao

    oferecida tem procurado aliar ao embasamento musico-pedaggico da licenciatura a

    habilitao em instrumento. Isso se deve a vrios fatores, grande parte justificados pelo

    remodelamento do campo de atuao profissional do msico que, cada vez mais, abrange

    aspectos alm dos inerentes a saber dar aulas de msica ou dominar um instrumento. O que

    vrios autores demonstram em suas falas que tanto as possibilidades quanto os deveres

    aumentaram significativamente (REQUIO, 2002; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007;

    BASTOS, 2009).

    Observando essas mudanas, o PPP (2009) de Msica da UFPI d ao aluno a opo

    de escolher um dos instrumentos contemplados pelas titulaes do corpo docente violo,

    piano, violino, canto. Composio e regncia tambm esto entre as titulaes dos

    professores, mas no so oferecidas como habilitaes.

    O que se constata, contudo, que o perfil das pessoas que ingressam no curso

    variado: apenas uma parcela se dedica exclusivamente a um dos instrumentos contemplados

    pelas habilitaes. Noutros casos, o estudante toca dois instrumentos o da habilitao e

    outro, fora da universidade. Existe, ainda, o grupo que no toca nenhum instrumento dos

    ofertados pela universidade, relegando o estudo deste somente aos momentos restritos aos

    muros universitrios, e, fora deles, toca outro(s) instrumento(s), como o caso de alguns

    bateristas, percussionistas, trompetistas, trombonistas, guitarristas, baixistas e cavaquinistas,

    por exemplo. Essa vida dupla gera um sentimento de insatisfao em alguns estudantes.

    Segundo relatos informais de alguns deles, a prtica do instrumento de universidade fica em

    6 Composta pelos municpios de Altos, Beneditinos, Coivaras, Curralinhos, Demerval Lobo, Jos de Freitas,

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  • segundo plano porque em seu trabalho pela cidade e em seu interesse pessoal, o(s) outro(s)

    instrumento(s) (em geral, executado a mais tempo) o que, de fato merece sua ateno e

    dedicao. Tem-se, ento uma problemtica dupla: o instrumento de universidade, para

    alguns, significar um aprendizado no prazeroso e, por vezes, at prejudicial s suas carreiras

    musicais. Alm disso, o fato de no se ter um ensino superior no instrumento de real interesse

    faz com que o aproveitamento do curso seja reduzido, haja vista que as disciplinas prticas

    tero um foco diferente do almejado pelo estudante.

    Frente necessidade eminente de ampliao desse quadro, o PPP foi reformulado em

    2010 e tem previso de implantao ainda em 2011. Revisto pela mesma equipe docente, ele

    prev, alm das habilitaes j mencionadas, tambm titulao em: viola, violoncelo,

    contrabaixo, saxofone, flauta doce, trompete, trompa, trombone, bombardino, tuba, flauta

    transversal, obo, clarinete, fagote e percusso. Funcionar da seguinte forma: por ano, so

    disponibilizadas quarenta vagas, distribudas entre as quatro habilitaes contempladas no

    curso. Caso nem todas sejam preenchidas, o PPP prev que

    [...] as vagas [...] [que sobrarem] sero redistribudas conforme a oferta de prticas instrumentais em novos instrumentos; isto , as 40 vagas se dividiro igualmente pelo nmero total dos instrumentos cujo ensino possa ser oferecido. Por exemplo, se houver a possibilidade de se disponibilizar prticas instrumentais em 8 instrumentos diferentes, as vagas sero distribudas na proporo de 5 para cada opo instrumental. A oferta de ensino em instrumentos diferentes daqueles ora realizada (piano, canto, violo e violino) estar, claro, condicionada contratao de novos professores especializados nos novos instrumentos (PROJETO POLTICO-PEDAGGICO, 2010, p. 35).

    Ou seja: no PPP prestes a entrar em vigor, novas habilitaes esto previstas;

    contudo, seu implemento depende da contratao dos referidos professores. A titulao do

    egresso desse curso ser, ainda, a de Licenciado em Msica, com a diferena de acrescer ao

    ttulo a frase com habilitao em [instrumento].

    Procedimentos metodolgicos

    Alm da pesquisa bibliogrfica, j referida anteriormente; a metodologia conta

    tambm com a pesquisa documental, dando nfase ao PPP do curso; e com a observao

    Lagoa Alegre, Lagoa do Piau, Miguel Leo, Monsenhor Gil e Unio, no Piau; e por Timon, no Maranho.

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  • participante, tanto nos momentos em que eu estiver em sala com os discentes, quanto quando

    realizar a coleta dos dados diretamente com eles e com os professores.

    Os dados a serem informados pelo corpo docente (7 professores efetivos e 1

    substituto no contando comigo) sero obtidos por meio de entrevistas individuais,

    esclarecendo aspectos fundamentais do curso e andamento dos implementos. A administrao

    est contemplada no corpo docente na figura do Professor Cssio Martins que tambm o

    coordenador do curso.

    A amostragem do corpo discente pretende contemplar 20 alunos por ano de ingresso

    (50% do total), totalizando 80 pessoas. A fim de investigar as relaes entre os diversos

    mundos musicais presentes no contexto, a coleta de dados acontecer da seguinte forma:

    Entrevista com 5 alunos de cada grupo de 20;

    Questionrio para os 60 indivduos restantes.

    As entrevistas sero utilizadas para que dados qualitativos delineadores dos grupos

    sejam cruzados com dados quantitativos do panorama geral extrado dos questionrios,

    fornecendo, dessa maneira, resultados rigorosamente mais fiis ao contexto.

    Os questionrios a serem aplicados so divididos em trs partes: dados quantitativos

    a respeito do curso e da habilidade escolhida; opinio dos graduandos sobre gneros musicais

    e sua utilizao dentro e/ou fora do contexto acadmico atravs da indicao de adjetivos; e,

    por fim, compreenso dos estudantes sobre elementos musicais diversos encontrados em

    obras musicais de diferentes perodos.

    Em suma, sero 28 pessoas investigadas atravs de entrevistas e 60 pessoas

    investigadas por questionrio.

    A fase de anlise dos dados contemplar a catalogao do material coletado. A partir

    de ento, os dados dos questionrios sero quantificados a fim de obter, ainda que de maneira

    panormica, o delineamento do pensamento ocorrente entre os estudantes; e as entrevistas

    passaro por transcrio e posterior anlise, a qual utilizar como base a anlise da

    conversao e da fala7 (MYERS, 2002), e a anlise de discurso8 (GILL, 2002).

    7 Tipo de anlise na qual procuram-se decifrar os padres comportamentais, bem como afirmaes atribudas a grupos e tipos de atividade especficos.

    8 Tipo de anlise que procura revelar aspectos fundamentais que constituem a dimenso ideolgica e poltica das

    argumentaes consolidadas no processo discursivo de pessoas num determinado contexto.

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  • Outro aspecto importante a ser mencionado no cruzamento dessas informaes a

    atuao que a prpria IES9 possui no processo de consolidao de um curso de formao

    superior. Devemos lembrar que uma parcela considervel de decises tomadas dentro de uma

    coordenao de curso passa por instncias outras que vo alm da reunio de professores ou

    da reivindicao dos discentes. Espero compreender o perfil do curso de Licenciatura em

    Msica da UFPI atravs da observao da atuao conjunta dessas trs frentes professores,

    alunos, administrao.

    Consideraes

    Observar e analisar os processos de interao entre o PPP e a realidade do curso

    universitrio de msica da UPFI significa no s compreender alguns valores e concepes

    inerentes ao processo de formao, mas tambm se configura em mais uma opo para

    vislumbrar possveis adequaes que visem a melhoria do ensino oferecido e/ou para dar

    nfase a aspectos que j funcionam nesse contexto. O curso bastante jovem, e o caminho

    de sua consolidao qualitativa deve ser o mesmo a ser trilhado pela aplicabilidade efetiva na

    carreira dos indivduos que o buscam como alternativa de formao musical profissional no

    Estado do Piau.

    9 Instituto de Ensino Superior.

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  • Referncias

    BASTOS, Juliana. A viso dos estudantes da graduao em msica da UFPB sobre concepes e valores musicais. In: FRUM PARAIBANO DE EDUCAO MUSICAL, 2., 2009, Joo Pessoa. Anais... Joo Pessoa: 2009. Disponvel em: http://ufpi.academia.edu/JulianaCarlaBastos/. Acesso em: 22 abr.2011. BRASIL. Presidncia da Repblica. Lei no 5.692, de 11 de agosto de 1971. Estabelece diretrizes para o ensino de 1 e 2 graus. Braslia, 1971. Disponvel em: . Acesso em: 22 abr. 2011. ______. Presidncia da Repblica. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. Braslia, 1996. Disponvel em: . Acesso em: 22 abr. 2011. CAJAZEIRA, Regina; OLIVEIRA, Alda. Educao Musical no Brasil. Salvad