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ANTÓNIO FERNANDES

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António Fernandes

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INTRODUÇÃO

Escrever sonetos fora dos pré conceitos dos nossos ilustres letrados é

um desafio enorme.

Desde logo porque tentar contornar aquilo que os citados ajuízam por

regras da escrita e quiçá, da linguística, em que dizem haver princípios

elementares a respeitar, condição que, a meu ver, condiciona a capaci-

dade criativa em toda e qualquer forma de escrever com enfoque espe-

cial na poesia.

Mas também, porque este arrojo em desafiar uma classe corporativa

que em regra constitui os júris de avaliação, é um exercício de alto ris-

co por ser motivo de exclusão simples.

Ora, a poesia é, no domínio da escrita, a forma mais sublime de che-

gar ao leitor.

Como todos sabemos, a melhor forma que o ser Humano tem para

assimilar um texto, é na letra de uma canção.

A música é, por motivos vários, uma condicionante do comportamen-

to Humano sobre o qual influi de forma decisiva. Música essa que para

atingir um vasto universo de ouvintes teve necessidade de se fazer

acompanhar de uma letra. Um poema. Combinação que conseguiu ex-

ponenciar a projeção mundial de ambas. A música e a letra.

Este exercício que ora vos apresento, é um exercício que nos é co-

mum. Não fora assim e, não faria qualquer sentido.

Por isso, estas são as palavras que nos acompanham e marcam a cavi-

dades das pegadas que deixamos nos caminhos!

Braga, ano de 2017, mês de dezembro

António Fernandes

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SONETO 1/2017

Quando o que amamos perdemos

Queremos saber a verdade.

Preencher o que não soubemos

De que só nos resta, a saudade.

Queremos deixar de chorar

No silêncio de cada noite,

Aquilo que não soubemos dar

Em tempo útil, bafejados pela sorte.

Quando o que amamos perdemos

E não encontramos razão

Que justifique o motivo,

É porque nunca soubemos

Que a única condição

Era darmo-nos, quando foi preciso!

Braga, 2017, Janeiro, dia 2

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SONETO 2/2017

Não vale a pena culpar o janeiro

Pela tristeza, pela chuva, ou pelo frio.

Nem sequer por ser o primeiro

De mais um ano. De mais um desafio.

Não vale a pena louvar o janeiro

De alegrias vindouras também,

Só porque é o primeiro

De mais um, que pela frente se tem.

Não vale a pena abrir o postigo

Da culpa, da razão, ou da esperança.

Da tristeza, da alegria, ou somente do riso,

Sempre que se encontra um Porto de abrigo

Longe das vagas, aonde paira a bonança,

De janeiro a dezembro. Porque é preciso!

Braga, janeiro, ano de 2017, dia 04

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SONETO 3/2017

No colo de cada um

Há uma ternura imensa,

Do tamanho, sem tamanho algum,

Aonde arde uma chama imensa.

De um fogo incolor

Com brasume, sem madeira,

De que só se sente a dor

De saltimbanco, sem eira nem beira.

Que no colo de cada um

Se dá o aconchego necessário

A quem dele necessita

A todo o tempo sem tempo nenhum

Para ele que é sacrário

E para os outros guarida.

Braga, janeiro de 2017, dia 04

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SONETO 4/2017

Nunca dizer adeus

A quem parte, para parte incerta,

Aonde só estão os seus,

Mais uma flor que desponta.

É de todo conveniente

Por maioria de razão

Que por ser a sombra da gente

Será sempre, a nossa mão.

Porque motivo afinal

Nascem as flores no campo

E as do mato no monte?

… Há no limbo um madrigal

Sobre nuvem, sobre manto,

E brota a agua na fonte.

Brega, janeiro de 2017, dia 05

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SONETO 5/2017

Hoje é o dia dos Reis

Que foram ver o menino

De janeiro, o dia seis,

E dizem, estava nuzinho.

Seguiram estrela cadente

Que lhes indicou o caminho

Deixando um rasto ardente

E assim os levou ao destino

Eram três, os Reis Magos:

Gaspar, Baltasar e Belchior,

Cansados de cavalgar,

Chegaram bem mais magros.

Dizem, um de cada cor,

Ouro, incenso e mirra, ao menino foram dar.

Braga, ano de 2017, mês de janeiro, dia 6 (dia de Reis)

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SONETO 6/2017

Gentes que me escutais,

Os Reis vos venho lembrar,

Para que não esqueçais,

De aqui os euros deixar.

Nesta boa terra, Real,

Da realeza nascida.

Que celebra no Natal,

Jesus menino, e a vida.

Na União de freguesias,

De Dume, Real e Semelhe,

Aonde há este Centro de Seniores.

Que abre todos os dias,

Quer chova, neve ou orvalhe,

E junta, todos estes Senhores!

Centro Sénior de Real, 28/01/17 (Cantar de Reis)

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SONETO 7/2017

Partiu.

Partiu, Simplesmente.

Sorriu.

Bonacheirão, como sempre.

Não acenou

Como era seu costume

Mas deixou

No Pais, o seu perfume!

De um aroma intenso

A liberdade e democracia

E também de Irreverência

Num querer que foi imenso

Em ver no povo a alegria

De poder ter esperança!

Braga, Janeiro, 09 (Mário Soares, morreu)

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SONETO 8/2017

Estivemos lá. Todos nós.

Uns, fisicamente, outros não

Fazendo ouvir o som da voz

Da História. Da luta. Da razão.

Inconfundível na sonoridade

Ecoou pelas ruas de Lisboa

Num grito pleno, liberdade!

Sobre o Tejo aonde gaivota voa.

Nas avenidas o povo aclama

O homem que se despede:

Até sempre!

Deixando acesa a chama

Que aquece ao de leve,

O coração da gente!

Lisboa, Janeiro, dia 10

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SONETO 9/2017

Seguia a jovem caminho

Protegendo sua barriga

Por onde não havia carinho,

Perdido, numa simples briga

Cuidava assim do bebé

Que haveria de nascer

Protegido por São José

E todos os Santos que houver

Que o que lhe importa afinal

É que nasça com saúde e perfeito na formação

Porque amor, lho dará eternamente

Mesmo que para tal

No rigor da educação

Substitua quem está ausente!

Braga, 2017, janeiro, dia 24

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SONETO 10/2017

Corre, corre, o menino

Procurando equilíbrio,

Ainda é pequenino

Para pensar no perigo.

Corre, corre, o menino

Procurando sua mãe,

Ainda é pequenino

Não conhece mais ninguém

Já não corre o menino

Para o colo do aconchego

Aonde o choro calava

Deixou de ser pequenino

Deixou de ter sossego

Deixou uma lagrima na entrada!

Braga, 2017, janeiro, dia 24

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SONETO 11/2017

Limpei de ti o orvalho,

Enxuguei-o com um toque

Perdi-me no brilho do cabelo

E tudo o resto, foi sorte.

Luzidia, acetinada,

Pele que se arrepia ao toque

Em uma face corada

E tudo o resto foi sorte.

Ficou a lágrima contida

Vá - se lá saber porquê

Na vontade em não mostrar

Porque há amores na vida

Que estão sempre à mercê

De razões para os calar!

Braga, 2017, janeiro, dia 31

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SONETO 12/2017

Tem tantas cores

A felicidade.

Tem tantos odores

A felicidade.

Tem arco iris

Imensos

Aonde há sentires

Intensos.

Tem o sabor do mel e do sal.

A tremura do toque, da saliva,

O calor no suor da ansiedade.

Tem a descoberta daquilo que vale

A coragem em enfrentar a vida

E dela conquistar a felicidade!

Braga, 2017, fevereiro, dia 3

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SONETO 13/2017

A felicidade é feita

De coisas pequenas

Com a medida certa

Para o que desejarmos.

Um acaso pode ser

Um clique, um aceitar.

Uma onda a romper,

Uma chama a rasgar

Um brilho simples da iris,

Um riso franco, aberto,

De uma leveza sem descrição.

Um medo enorme de partires

Ao primeiro desacerto,

Desta coisa que bate no coração!

Braga, 2017, fevereiro, dia 03

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SONETO 14/2017

Ah!

Se as rosas soubessem..

Ah!

Se as rosas dissessem..

Ah!

Se as rosas cantassem..

Ah!

Se as rosas chorassem.

Não floririam jardins

Nem sequer jarras de adornar.

Cravariam os seus espinhos

Nas almas que de tão ruins,

Ficam eternamente a pairar

Na cruz dos quatro caminhos!

Braga, 2017, fevereiro, dia 5

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SONETO 15/2017

A felicidade é feita

De coisas pequenas

Com a medida certa

Para o que desejarmos.

Um acaso pode ser,

Um clique, um aceitar,

Uma onda a romper,

Uma chama a rasgar.

Um brilho simples da iris

Um riso franco, aberto,

De uma leveza sem descrição,

Um medo enorme de partires

Ao primeiro desacerto,

Desta coisa que bate, no coração!

Braga, 2017, fevereiro, dia 03

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SONETO 16/2017

Todos os dias tropeçamos

Nos encantos e desencantos

Daquilo que hoje guardamos

Só porque não esquecemos

Tudo aquilo que perdoamos

Em circunstancia oportuna

E que por isso deixamos

Que a nostalgia nos consuma

Nos dias que vão passando, devagar,

A espera longa, o percurso sem certezas,

A esperança vazia

O horizonte aonde o Sol vai pousar

A foz aonde o rio perde as veredas

A noite, fim do dia.

Braga, 2017, fevereiro, 4

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SONETO 17/2017

A lágrima corrida

Pela face da tristeza

É sempre a despedida

De algo que era certeza.

E deixa um buraco enorme

No sitio em que se alojava

Aonde a imagem e o nome

Terão sempre uma morada.

Porque a mente não consegue

Apagar o que a lágrima cala

E o sentimento eterniza

Guardando tudo o que deve

Recordações que embala

Em berço feito de vida!

Braga, 2017, fevereiro, dia 05

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SONETO 18/2017

Dobrei a vinco do teu verniz sem o estalar

Rasguei-te um sorriso de uma assentada

Enfunei vela em nuvem sem saber velejar

Pensando assim abrir porta há muito fechada

Arrisquei mar aonde mar não havia

Imaginando poder ser timoneiro

De uma nau em completa deriva

No casco de um sábio nevoeiro

Rasgadas foram as velas e as águas

Por quilha deslizante em colo que aconchega

A imensidão de todos os Oceanos

Que sobre o Universo lavam mágoas

E deixam na aurora boreal todos os medos

Para em liberdade abrir voos planos.

Braga, 2017, fevereiro, dia 9

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SONETO 19/2017

Hoje sonhei contigo

Em sono alvoroçado

Pensando para comigo

Naquilo que está guardado

Nas gavetas mais profundas

Das razões que a razão esconde

Só porque as vidas vividas

Rumaram caminho diferente

Não dando oportunidade

Ao que no tempo se queria

Para sempre por eterno

Porque a grande verdade

É que não aconteceria

O sonho, que é efémero!

Braga, 2017, fevereiro, dia 10

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SONETO 20/2017

Preenchem todos os sentidos,

Todos os cantos da memória,

Todos os segundos vividos,

Os encantos de quem namora.

Não há um momento sequer

Que não sintam a emoção.

A força em tanto querer

Deixar voar o coração.

Ao sabor de qualquer maré,

Dos vendavais que aconteçam,

Mesmo de uma tempestade.

Acreditar com a força de fé

Ser possível que mereçam

Um do outro, ser metade!

Braga, 2017, fevereiro, dia 14 (Dia dos namorados)

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SONETO 21/2017

Ah! Como eu gostava,

De correr pelas ondas

Da linha em cascata

No tempo das mondas.

De me deixar enredar,

Numa vez primeira,

Na ilusão do sonho e voar

Sobre a estação da primavera.

Surfar pele macia brilhante

Dedos compridos com toque

E arfar emocional de satisfação.

Desfalecer num beijo ardente

Em que a chama se enleva forte

E no final, há mutua satisfação.

Braga, 2017, fevereiro, dia 17

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SONETO 22/2017

Encontrei num dia ameno

Um desses acasos que acontecem

E tornam o dia pequeno

Para as arvores que florescem

E de cuja flor se espera fruto

Depois do aroma intenso

E cores finas antes do abrupto

Sacudir inconstante do vento.

Foi assim, algo de novo

Que brotou sem ser esperado

Num dia ameno sem novidade.

Um suspiro que absorvo

Em momento desalmado

De que ficou sentida saudade

Braga, 2017, fevereiro, dia 20

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SONETO 23/2017

Na mão direita tenho uma rosa

Na esquerda tenho um cravo

Que te dou em forma de prosa

Lavrada em jardim que guardo

Em local aonde trago

Os cantos de encanto só

De um cacho são o bago

De uma vide são o pó

Que cobre com muito carinho

A terra que a aconchega

Para a raiz proteger

Vindo de um longo caminho

Por fio de água sem pressa

Em rego, acabado de fazer.

Braga, 2017, fevereiro, dia 23

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SONETO 24/2017

Cansei-me de tanto te amar

Sem um motivo aparente

Não sei se... por me agastar

Esta dor que tenho presente

Não sei se.. por não querer

Palavras rendilhadas elaborar

Ou simplesmente esquecer

A pena para as lavrar

Que esta coisa de dizer

O que é simples, elaborado,

É coisa de gente fina.

Aquela que não quer sofrer

Pelo eleito, muito amado

Na elegância da rima…

Braga, 2017, fevereiro, dia 24

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SONETO 25/2017

Este, não é o final.

Outros, hão-de vir.

De um jeito marginal

Sempre, sempre a rir.

Porque a poesia é assim,

Como as cerejas palavras,

Brotam em qualquer jardim

Terra quente que desbravas.

A poesia é a tua alma

O amor. O riso. A alegria. A tristeza.

As tuas entranhas profundas.

Da tua mão é a palma

Que nos mostra a grandeza

Do colo em que a fecundas!

Braga, 2017, fevereiro, dia 25

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SONETO 26/2017

Das grades desta prisão

Nada se avista por altas estarem,

Somente se vê o chão

Aonde há sulcos por tanto andarem.

Em redor das paredes frias

Rasgadas pelo deslizar

De rijas mãos vazias,

Ficam histórias por contar.

Das grades de uma prisão

Por afetos construída

E com carinho calafetada

No calor de uma mão

Agarrada a uma vida

Está uma rosa encarnada!

Braga, 2017, fevereiro, dia 26

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SONETO 27/2017

Em nuvem vi a forma

Que se desfez com o vento

De algo que me transtorna

E se perde, no vazio do tempo.

De memória dividida

Por cantos do esquecer

Os encantos desta vida

Que temos para viver

Sem que nada saibamos

Sobre o momento seguinte

Ou sequer da nossa vontade

A não ser, aonde erramos,

Aquilo que o corpo sente,

E tudo o mais da saudade.

Braga, 2017, Março, dia 4

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SONETO 28/2017

Há uma nau que transporta

Mar adentro, vaga a vaga,

No sibilar do vento, ou em nota,

As novas que em seu seio traga.

Que não são da maresia,

Nem sequer do encapelado,

São uma sublime sinfonia

De sons, em som entrelaçado.

No acorde do vento vivo

Do despontar da alvorada

Em ondas corridas sobre a areia,

Uma espiga de trigo

Cruelmente arrancada

Da seara, em noite de Lua cheia.

Braga, 2017, Março, dia 5

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SONETO 29/2017

As letras são os desenhos

Das palavras escritas.

As que alimentam os sonhos

Só porque não são ditas.

As letras são um jogo inacabado

Daquilo que no lápis o carvão

Dá por assunto encerrado

Trespassando forte o coração.

As letras quando lidas

Articulam da voz o som

A energia em movimento,

Rasgando diálogo nas feridas,

Uma espécie de raro dom,

Que adoça o sentimento.

Braga, 2017, março, dia 7

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SONETO 30/2017

A cidade são as pessoas

Tudo o resto é acessório,

As coisas más e as boas

O efémero e o transitório.

A casa, a rua, o transporte.

O emprego, a formação.

O azar, o empenho, a sorte.

A mudança de geração.

A cidade são as pessoas

Que a constroem e lhe dão vida

Em crescendo permanente,

Umas más e outras boas

Se organizam na subida

De uma espiral consistente.

Braga, 2017, março, dia 10

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SONETO 31/2017

Hoje vai ser um dia diferente.

Um dia assim, quase igual,

Aos dias de toda a gente

Com quem vivo, afinal.

Ainda não sei como vai ser.

Nem imagino o alinhamento.

Não penso sequer em morrer

E muito menos o invento.

Um dia assim, como soe dizer,

Diferente porque é novo, deslumbrante,

Cheio de cor e vida, com alegria.

Um dia em agonia ao anoitecer.

Nos minutos que são as horas de sempre,

Como se fora algo que se esvazia.

Braga, 2017, março, dia 14

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SONETO 32/2017

Sangue de meu sangue

É sangue de meu pai

Em vida que se expande

Da vida de meu pai.

Desde o primeiro momento

Em que ao colo me pegou

Sempre fui o alimento

Dos sonhos porque lutou.

O motivo das suas lides

A que se deu e entrega

No sorriso com que ainda volta,

Absorvendo tudo o que dizes

Guardo em cada prega

A vida que me deste, sempre solta!

Braga, 2017, março, dia 16, (DIA DO PAI, SIMPLESMENTE!)

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SONETO 33/2017

Escrever, é coisa fácil.

Basta passar para papel

De uma forma versátil

Sem rodilhos de cordel

Tudo aquilo que é a vontade

Mais recôndita ou prosaica

Transformando a ansiedade

Em agua corrente, em fonte seca.

Escrever, é deixar voar a imaginação

Ao sabor do que acontece

E se pensa poder acontecer.

É deixar que a caneta faça a combinação

Das palavras soltas em que mexe

E as misture a seu belo prazer.

Braga, 2017, março, dia 19— (dia da poesia)

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SONETO 34/2017

A poesia é um trabalho de artífice

Desbastando dor escondida

Por entranhas aonde se disse

Ser poiso de crosta empedernida

De tal forma resistente

Ao cinzel que essa dor lavra,

Mascota de poeta persistente,

No uso singelo da palavra.

Tentando com arte inverter

O íngreme caminho da escarpa

Que o fio do pensamento tem,

Julgando assim esquecer

O acorde de uma harpa

Que soou, mas não mais vem…

Braga, 2017, março, dia 21 (dia da poesia)

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SONETO 35/2017

Nunca te direi o estado do tempo,

Nem sequer como me corre a vida,

Na distância que instalou o silêncio

Com tapume de que não vejo saída.

Nunca te direi qual o temor

Que tenho, nem o de o enfrentar.

Nunca te direi: amor.

Que foste a luz do meu caminhar.

Por sinuosos caminhos

Por acentuadas escarpas

Por carreiros entre prados

Tentei tirar os espinhos

Do mato e de todas as farpas

Das rosas e dos cardos.

Braga, 2017, março, dia 26

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SONETO 36/2017

O amor é um sentimento estranho

Cada um tem dele sabor diferente

É algo difícil de dizer o tamanho

Da emoção ou da dor que se sente

Não tem uma cor uniforme

Nem um único tom de o sentir

Jamais terá um único nome

Ou sequer um jeito de se exprimir

O amor, é assim, um vai e vem.

Uma mistura entre o agro e o doce

Num sentimento suspenso

É algo que, ora sabe bem.

Como se o mais desejado fosse,

E se perde num suspiro intenso…

Braga, 2017, abril, 16

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SONETO 37/2017

Foi numa tarde

De uma tarde quente

Em que o Sol arde

Dentro da gente

E se solta num olhar

De brilho intenso

Para desafiar

O medo imenso

De se perder no ocaso

Aonde acaba o mar

Saído de um simples desejo

Que trago guardado

Num toque, de arrepiar.

Que é um gesto, feito beijo.

Braga, 2017, abril, dia 17

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SONETO 38/2017

Seja bem vindo

Amigo meu

Mesmo desavindo

No caminho seu

Por entre vegetação densa

Aonde abundam os espinhos

Naquela vontade imensa

Que ilumina os meninos

Dos carreiros mais estreitos

Nesgas abertas em terra fecunda

Aonde germinarão as sementes

Por estre as pedras dos socalcos

Incrustadas numa fenda

Na tua mão, por estre os dedos

Braga, 2017, abril, 19

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SONETO 39/2017

Passaste e sorriste

Ao virar da rua

Não sei se me viste

De alma nua

Tentando dizer

Aos pombos famintos

Que para comer

Há os labirintos

Por entre as agulhas

Presas aos beirais

Contornando arcos

E também as cornijas

E todos os locais

Passaste. Não me viste

Braga, 2017, abril, dia 20

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SONETO 40/2017

Tenho na mão um cravo

Que deixei morrer

Das pétalas que dele largo

Já quase nada sei dizer

Não sei porque morreu

Ou sequer se o mataram

Só sei que era meu

E do sonho mo arrancaram

E assim, pétala a pétala

Vou percebendo o percurso

Do caule que também murcha

Como papiro de vela

Que seguindo o seu curso

Na cera encontra a cela

2017, abril, dia 25

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SONETO 41/2017

Fez caminho duro

abrindo o horizonte

derrubou muros

em busca da fonte

que sacia a sede

e a fome em saber

como derrubar a rede

que os povos faz sofrer

Fez da descrição forma de estar

da presença física forma de ser

e da conversa franca luta permanente

Foi uma referência exemplar

de uma lucidez rara de ver

Agostinho Domingues, um camarada, sempre!

Braga, 2017, maio, dia 2

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SONETO 42/2017

Sabes, mãe:

Disseram ser hoje o teu dia.

Não percebi muito bem,

Só quero o teu mimo e a tua alegria.

Sabes, mãe:

Não tenho de ti um só dia

Tenho todos os que a vida me dará

Do primeiro ao ultimo e o amor guardará.

Sabes, mãe:

Eu sei que sabes porque sentes

Tudo aquilo que não é necessário dizer

Daquilo que o amor tem

E que me dás em formas constantes

Aonde estar presente é o maio valor.

Braga, 2017, abril, dia 8

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SONETO 43/2017

A poesia

É um sopro

Feito dia

Num gesto solto

A poesia

Dos diversos sons

É a sinfonia

De todos os tons

A poesia

És tu. Somos todos.

É a terra. O mar. E o céu.

É o dia

O Sol. A chuva. Os pingos.

A neblina que lhe faz o véu.

Braga, 2017, maio, dia 9

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SONETO 44/2017

A poesia que tens na mão

E dás aos pombos livres

Como se fora a razão

Dos momentos mais felizes

É a tua força interior

Para o revés encarar

Em cada passo ulterior

Ao do acaso, do azar

A poesia não é um dia

Nem uma forma de estar

Ou alivio para o que se tem

É uma áurea de nostalgia

Sobre o que se quer mudar

Em cada madrugada que vem

Braga, 2017, maio, dia 9

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SONETO 45/2017

Nunca te vou dizer

O que sabes por intuição

Deste duplo sofrer

Que corta a respiração

Aperta o peito e cala a voz

Prende o gesto e a expressão

Cega todos os nós

Do sentir e da emoção

Por isso não saberás

Das razões desta atitude

Tomada com tranquilidade

De que por ventura pensarás

Precipitada e sem virtude

Num qualquer momento de ansiedade

Braga, 2017, maio, dia 12

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SONETO 46/2017

No esburacado muro

feito de pedra sobre pedra

a terra o traz seguro

aonde a era medra

Medra também a raiz

de uma figueira brava

os fetos e o petiz

que por comida aguarda

mamã melro cuidadosa

saltita os ramos temerosa

no bico traz a bicada

atenta ao que em volta

seja uma ponta solta

e ao seu ninho esteja filada

Braga, Junho, dia 12

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SONETO 47/2017

Nos dias longos em que se perde a vista

Perscrutamos o zénite no horizonte

Poisando os sentires em forma de lista

Que estendemos nos picos do monte

E deles fazemos retalhos de manta

De cores esbatidas pelo tempo

Sem os buracos de angustia tanta

Que rasga a sorte em cada momento

E assim lavramos as noites e os dias

Entre o Sol reluzente e a Lua cheia

E os outros dias em que nem um nem outro aparecem

Aonde escondemos as dores e as alegrias

Em castelos de onde caíram as ameias

Encosta abaixo, por revinas e outros obstáculos que aparecem.

Braga, Julho, dia 25

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SONETO 48/2017

Não importa, se fugaz

desde que não seja frio

de forma e cor eficaz

que provoque um arrepio

Daqueles que mexem a sério

e são causa de calor

sangue célere contra o medo

deixando na face o rubor

Rosado em maças macias

aonde as rugas vazias

mostram claro um desejo

no correr do suor que transpiras

sôfrego fica o ar que respiras

anda cá! Dá – me um beijo !

Braga, Setembro, dia 13

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SONETO 49/2017

A minha menina está doente,

Está doente a minha menina

Tenho uma lagrima corrente

Em uma face que é a minha.

A minha menina está doente

Não a entendo, ela ri,

Um riso lindo, um riso quente,

Tónico para a alma, o senti.

Olha em redor e aponta

A janela, o Sol, o dia

Sempre alegre. Sempre rindo.

Penso que não se dá conta

Da mágoa que em mim porfia

Em cada dia que é findo.

Braga, Dezembro, dia 8

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SONETO 50/2017

A minha menina é o meu Sol.

O meu ar. O meu ser. A minha vida.

Agua que cai em pedra mole,

Sempre em busca de uma saída.

Sempre pronta a correr

Nas asas do vento norte,

Que ma leva p'ra viver

Aonde haja melhor sorte.

A minha menina é uma estrela

Que brilha em permanência

Sobre o meu imaginário

Com é linda! Como é bela!

Como é forte! Como é imensa!

O meu coração é o seu sacrário!

Braga, Dezembro, dia 8

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Um dia te direi… “António Fernandes”