Sequência didática Gabi,perdi a hora.Letramento e Numeramento
ANTÓNIO FERNANDES · Deixou uma lagrima na entrada! Braga, 2017, janeiro, dia 24. 14 SONETO...
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ANTÓNIO FERNANDES
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António Fernandes
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INTRODUÇÃO
Escrever sonetos fora dos pré conceitos dos nossos ilustres letrados é
um desafio enorme.
Desde logo porque tentar contornar aquilo que os citados ajuízam por
regras da escrita e quiçá, da linguística, em que dizem haver princípios
elementares a respeitar, condição que, a meu ver, condiciona a capaci-
dade criativa em toda e qualquer forma de escrever com enfoque espe-
cial na poesia.
Mas também, porque este arrojo em desafiar uma classe corporativa
que em regra constitui os júris de avaliação, é um exercício de alto ris-
co por ser motivo de exclusão simples.
Ora, a poesia é, no domínio da escrita, a forma mais sublime de che-
gar ao leitor.
Como todos sabemos, a melhor forma que o ser Humano tem para
assimilar um texto, é na letra de uma canção.
A música é, por motivos vários, uma condicionante do comportamen-
to Humano sobre o qual influi de forma decisiva. Música essa que para
atingir um vasto universo de ouvintes teve necessidade de se fazer
acompanhar de uma letra. Um poema. Combinação que conseguiu ex-
ponenciar a projeção mundial de ambas. A música e a letra.
Este exercício que ora vos apresento, é um exercício que nos é co-
mum. Não fora assim e, não faria qualquer sentido.
Por isso, estas são as palavras que nos acompanham e marcam a cavi-
dades das pegadas que deixamos nos caminhos!
Braga, ano de 2017, mês de dezembro
António Fernandes
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SONETO 1/2017
Quando o que amamos perdemos
Queremos saber a verdade.
Preencher o que não soubemos
De que só nos resta, a saudade.
Queremos deixar de chorar
No silêncio de cada noite,
Aquilo que não soubemos dar
Em tempo útil, bafejados pela sorte.
Quando o que amamos perdemos
E não encontramos razão
Que justifique o motivo,
É porque nunca soubemos
Que a única condição
Era darmo-nos, quando foi preciso!
Braga, 2017, Janeiro, dia 2
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SONETO 2/2017
Não vale a pena culpar o janeiro
Pela tristeza, pela chuva, ou pelo frio.
Nem sequer por ser o primeiro
De mais um ano. De mais um desafio.
Não vale a pena louvar o janeiro
De alegrias vindouras também,
Só porque é o primeiro
De mais um, que pela frente se tem.
Não vale a pena abrir o postigo
Da culpa, da razão, ou da esperança.
Da tristeza, da alegria, ou somente do riso,
Sempre que se encontra um Porto de abrigo
Longe das vagas, aonde paira a bonança,
De janeiro a dezembro. Porque é preciso!
Braga, janeiro, ano de 2017, dia 04
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SONETO 3/2017
No colo de cada um
Há uma ternura imensa,
Do tamanho, sem tamanho algum,
Aonde arde uma chama imensa.
De um fogo incolor
Com brasume, sem madeira,
De que só se sente a dor
De saltimbanco, sem eira nem beira.
Que no colo de cada um
Se dá o aconchego necessário
A quem dele necessita
A todo o tempo sem tempo nenhum
Para ele que é sacrário
E para os outros guarida.
Braga, janeiro de 2017, dia 04
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SONETO 4/2017
Nunca dizer adeus
A quem parte, para parte incerta,
Aonde só estão os seus,
Mais uma flor que desponta.
É de todo conveniente
Por maioria de razão
Que por ser a sombra da gente
Será sempre, a nossa mão.
Porque motivo afinal
Nascem as flores no campo
E as do mato no monte?
… Há no limbo um madrigal
Sobre nuvem, sobre manto,
E brota a agua na fonte.
Brega, janeiro de 2017, dia 05
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SONETO 5/2017
Hoje é o dia dos Reis
Que foram ver o menino
De janeiro, o dia seis,
E dizem, estava nuzinho.
Seguiram estrela cadente
Que lhes indicou o caminho
Deixando um rasto ardente
E assim os levou ao destino
Eram três, os Reis Magos:
Gaspar, Baltasar e Belchior,
Cansados de cavalgar,
Chegaram bem mais magros.
Dizem, um de cada cor,
Ouro, incenso e mirra, ao menino foram dar.
Braga, ano de 2017, mês de janeiro, dia 6 (dia de Reis)
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SONETO 6/2017
Gentes que me escutais,
Os Reis vos venho lembrar,
Para que não esqueçais,
De aqui os euros deixar.
Nesta boa terra, Real,
Da realeza nascida.
Que celebra no Natal,
Jesus menino, e a vida.
Na União de freguesias,
De Dume, Real e Semelhe,
Aonde há este Centro de Seniores.
Que abre todos os dias,
Quer chova, neve ou orvalhe,
E junta, todos estes Senhores!
Centro Sénior de Real, 28/01/17 (Cantar de Reis)
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SONETO 7/2017
Partiu.
Partiu, Simplesmente.
Sorriu.
Bonacheirão, como sempre.
Não acenou
Como era seu costume
Mas deixou
No Pais, o seu perfume!
De um aroma intenso
A liberdade e democracia
E também de Irreverência
Num querer que foi imenso
Em ver no povo a alegria
De poder ter esperança!
Braga, Janeiro, 09 (Mário Soares, morreu)
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SONETO 8/2017
Estivemos lá. Todos nós.
Uns, fisicamente, outros não
Fazendo ouvir o som da voz
Da História. Da luta. Da razão.
Inconfundível na sonoridade
Ecoou pelas ruas de Lisboa
Num grito pleno, liberdade!
Sobre o Tejo aonde gaivota voa.
Nas avenidas o povo aclama
O homem que se despede:
Até sempre!
Deixando acesa a chama
Que aquece ao de leve,
O coração da gente!
Lisboa, Janeiro, dia 10
12
SONETO 9/2017
Seguia a jovem caminho
Protegendo sua barriga
Por onde não havia carinho,
Perdido, numa simples briga
Cuidava assim do bebé
Que haveria de nascer
Protegido por São José
E todos os Santos que houver
Que o que lhe importa afinal
É que nasça com saúde e perfeito na formação
Porque amor, lho dará eternamente
Mesmo que para tal
No rigor da educação
Substitua quem está ausente!
Braga, 2017, janeiro, dia 24
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SONETO 10/2017
Corre, corre, o menino
Procurando equilíbrio,
Ainda é pequenino
Para pensar no perigo.
Corre, corre, o menino
Procurando sua mãe,
Ainda é pequenino
Não conhece mais ninguém
Já não corre o menino
Para o colo do aconchego
Aonde o choro calava
Deixou de ser pequenino
Deixou de ter sossego
Deixou uma lagrima na entrada!
Braga, 2017, janeiro, dia 24
14
SONETO 11/2017
Limpei de ti o orvalho,
Enxuguei-o com um toque
Perdi-me no brilho do cabelo
E tudo o resto, foi sorte.
Luzidia, acetinada,
Pele que se arrepia ao toque
Em uma face corada
E tudo o resto foi sorte.
Ficou a lágrima contida
Vá - se lá saber porquê
Na vontade em não mostrar
Porque há amores na vida
Que estão sempre à mercê
De razões para os calar!
Braga, 2017, janeiro, dia 31
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SONETO 12/2017
Tem tantas cores
A felicidade.
Tem tantos odores
A felicidade.
Tem arco iris
Imensos
Aonde há sentires
Intensos.
Tem o sabor do mel e do sal.
A tremura do toque, da saliva,
O calor no suor da ansiedade.
Tem a descoberta daquilo que vale
A coragem em enfrentar a vida
E dela conquistar a felicidade!
Braga, 2017, fevereiro, dia 3
16
SONETO 13/2017
A felicidade é feita
De coisas pequenas
Com a medida certa
Para o que desejarmos.
Um acaso pode ser
Um clique, um aceitar.
Uma onda a romper,
Uma chama a rasgar
Um brilho simples da iris,
Um riso franco, aberto,
De uma leveza sem descrição.
Um medo enorme de partires
Ao primeiro desacerto,
Desta coisa que bate no coração!
Braga, 2017, fevereiro, dia 03
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SONETO 14/2017
Ah!
Se as rosas soubessem..
Ah!
Se as rosas dissessem..
Ah!
Se as rosas cantassem..
Ah!
Se as rosas chorassem.
Não floririam jardins
Nem sequer jarras de adornar.
Cravariam os seus espinhos
Nas almas que de tão ruins,
Ficam eternamente a pairar
Na cruz dos quatro caminhos!
Braga, 2017, fevereiro, dia 5
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SONETO 15/2017
A felicidade é feita
De coisas pequenas
Com a medida certa
Para o que desejarmos.
Um acaso pode ser,
Um clique, um aceitar,
Uma onda a romper,
Uma chama a rasgar.
Um brilho simples da iris
Um riso franco, aberto,
De uma leveza sem descrição,
Um medo enorme de partires
Ao primeiro desacerto,
Desta coisa que bate, no coração!
Braga, 2017, fevereiro, dia 03
19
SONETO 16/2017
Todos os dias tropeçamos
Nos encantos e desencantos
Daquilo que hoje guardamos
Só porque não esquecemos
Tudo aquilo que perdoamos
Em circunstancia oportuna
E que por isso deixamos
Que a nostalgia nos consuma
Nos dias que vão passando, devagar,
A espera longa, o percurso sem certezas,
A esperança vazia
O horizonte aonde o Sol vai pousar
A foz aonde o rio perde as veredas
A noite, fim do dia.
Braga, 2017, fevereiro, 4
20
SONETO 17/2017
A lágrima corrida
Pela face da tristeza
É sempre a despedida
De algo que era certeza.
E deixa um buraco enorme
No sitio em que se alojava
Aonde a imagem e o nome
Terão sempre uma morada.
Porque a mente não consegue
Apagar o que a lágrima cala
E o sentimento eterniza
Guardando tudo o que deve
Recordações que embala
Em berço feito de vida!
Braga, 2017, fevereiro, dia 05
21
SONETO 18/2017
Dobrei a vinco do teu verniz sem o estalar
Rasguei-te um sorriso de uma assentada
Enfunei vela em nuvem sem saber velejar
Pensando assim abrir porta há muito fechada
Arrisquei mar aonde mar não havia
Imaginando poder ser timoneiro
De uma nau em completa deriva
No casco de um sábio nevoeiro
Rasgadas foram as velas e as águas
Por quilha deslizante em colo que aconchega
A imensidão de todos os Oceanos
Que sobre o Universo lavam mágoas
E deixam na aurora boreal todos os medos
Para em liberdade abrir voos planos.
Braga, 2017, fevereiro, dia 9
22
SONETO 19/2017
Hoje sonhei contigo
Em sono alvoroçado
Pensando para comigo
Naquilo que está guardado
Nas gavetas mais profundas
Das razões que a razão esconde
Só porque as vidas vividas
Rumaram caminho diferente
Não dando oportunidade
Ao que no tempo se queria
Para sempre por eterno
Porque a grande verdade
É que não aconteceria
O sonho, que é efémero!
Braga, 2017, fevereiro, dia 10
23
SONETO 20/2017
Preenchem todos os sentidos,
Todos os cantos da memória,
Todos os segundos vividos,
Os encantos de quem namora.
Não há um momento sequer
Que não sintam a emoção.
A força em tanto querer
Deixar voar o coração.
Ao sabor de qualquer maré,
Dos vendavais que aconteçam,
Mesmo de uma tempestade.
Acreditar com a força de fé
Ser possível que mereçam
Um do outro, ser metade!
Braga, 2017, fevereiro, dia 14 (Dia dos namorados)
24
SONETO 21/2017
Ah! Como eu gostava,
De correr pelas ondas
Da linha em cascata
No tempo das mondas.
De me deixar enredar,
Numa vez primeira,
Na ilusão do sonho e voar
Sobre a estação da primavera.
Surfar pele macia brilhante
Dedos compridos com toque
E arfar emocional de satisfação.
Desfalecer num beijo ardente
Em que a chama se enleva forte
E no final, há mutua satisfação.
Braga, 2017, fevereiro, dia 17
25
SONETO 22/2017
Encontrei num dia ameno
Um desses acasos que acontecem
E tornam o dia pequeno
Para as arvores que florescem
E de cuja flor se espera fruto
Depois do aroma intenso
E cores finas antes do abrupto
Sacudir inconstante do vento.
Foi assim, algo de novo
Que brotou sem ser esperado
Num dia ameno sem novidade.
Um suspiro que absorvo
Em momento desalmado
De que ficou sentida saudade
Braga, 2017, fevereiro, dia 20
26
SONETO 23/2017
Na mão direita tenho uma rosa
Na esquerda tenho um cravo
Que te dou em forma de prosa
Lavrada em jardim que guardo
Em local aonde trago
Os cantos de encanto só
De um cacho são o bago
De uma vide são o pó
Que cobre com muito carinho
A terra que a aconchega
Para a raiz proteger
Vindo de um longo caminho
Por fio de água sem pressa
Em rego, acabado de fazer.
Braga, 2017, fevereiro, dia 23
27
SONETO 24/2017
Cansei-me de tanto te amar
Sem um motivo aparente
Não sei se... por me agastar
Esta dor que tenho presente
Não sei se.. por não querer
Palavras rendilhadas elaborar
Ou simplesmente esquecer
A pena para as lavrar
Que esta coisa de dizer
O que é simples, elaborado,
É coisa de gente fina.
Aquela que não quer sofrer
Pelo eleito, muito amado
Na elegância da rima…
Braga, 2017, fevereiro, dia 24
28
SONETO 25/2017
Este, não é o final.
Outros, hão-de vir.
De um jeito marginal
Sempre, sempre a rir.
Porque a poesia é assim,
Como as cerejas palavras,
Brotam em qualquer jardim
Terra quente que desbravas.
A poesia é a tua alma
O amor. O riso. A alegria. A tristeza.
As tuas entranhas profundas.
Da tua mão é a palma
Que nos mostra a grandeza
Do colo em que a fecundas!
Braga, 2017, fevereiro, dia 25
29
SONETO 26/2017
Das grades desta prisão
Nada se avista por altas estarem,
Somente se vê o chão
Aonde há sulcos por tanto andarem.
Em redor das paredes frias
Rasgadas pelo deslizar
De rijas mãos vazias,
Ficam histórias por contar.
Das grades de uma prisão
Por afetos construída
E com carinho calafetada
No calor de uma mão
Agarrada a uma vida
Está uma rosa encarnada!
Braga, 2017, fevereiro, dia 26
30
SONETO 27/2017
Em nuvem vi a forma
Que se desfez com o vento
De algo que me transtorna
E se perde, no vazio do tempo.
De memória dividida
Por cantos do esquecer
Os encantos desta vida
Que temos para viver
Sem que nada saibamos
Sobre o momento seguinte
Ou sequer da nossa vontade
A não ser, aonde erramos,
Aquilo que o corpo sente,
E tudo o mais da saudade.
Braga, 2017, Março, dia 4
31
SONETO 28/2017
Há uma nau que transporta
Mar adentro, vaga a vaga,
No sibilar do vento, ou em nota,
As novas que em seu seio traga.
Que não são da maresia,
Nem sequer do encapelado,
São uma sublime sinfonia
De sons, em som entrelaçado.
No acorde do vento vivo
Do despontar da alvorada
Em ondas corridas sobre a areia,
Uma espiga de trigo
Cruelmente arrancada
Da seara, em noite de Lua cheia.
Braga, 2017, Março, dia 5
32
SONETO 29/2017
As letras são os desenhos
Das palavras escritas.
As que alimentam os sonhos
Só porque não são ditas.
As letras são um jogo inacabado
Daquilo que no lápis o carvão
Dá por assunto encerrado
Trespassando forte o coração.
As letras quando lidas
Articulam da voz o som
A energia em movimento,
Rasgando diálogo nas feridas,
Uma espécie de raro dom,
Que adoça o sentimento.
Braga, 2017, março, dia 7
33
SONETO 30/2017
A cidade são as pessoas
Tudo o resto é acessório,
As coisas más e as boas
O efémero e o transitório.
A casa, a rua, o transporte.
O emprego, a formação.
O azar, o empenho, a sorte.
A mudança de geração.
A cidade são as pessoas
Que a constroem e lhe dão vida
Em crescendo permanente,
Umas más e outras boas
Se organizam na subida
De uma espiral consistente.
Braga, 2017, março, dia 10
34
SONETO 31/2017
Hoje vai ser um dia diferente.
Um dia assim, quase igual,
Aos dias de toda a gente
Com quem vivo, afinal.
Ainda não sei como vai ser.
Nem imagino o alinhamento.
Não penso sequer em morrer
E muito menos o invento.
Um dia assim, como soe dizer,
Diferente porque é novo, deslumbrante,
Cheio de cor e vida, com alegria.
Um dia em agonia ao anoitecer.
Nos minutos que são as horas de sempre,
Como se fora algo que se esvazia.
Braga, 2017, março, dia 14
35
SONETO 32/2017
Sangue de meu sangue
É sangue de meu pai
Em vida que se expande
Da vida de meu pai.
Desde o primeiro momento
Em que ao colo me pegou
Sempre fui o alimento
Dos sonhos porque lutou.
O motivo das suas lides
A que se deu e entrega
No sorriso com que ainda volta,
Absorvendo tudo o que dizes
Guardo em cada prega
A vida que me deste, sempre solta!
Braga, 2017, março, dia 16, (DIA DO PAI, SIMPLESMENTE!)
36
SONETO 33/2017
Escrever, é coisa fácil.
Basta passar para papel
De uma forma versátil
Sem rodilhos de cordel
Tudo aquilo que é a vontade
Mais recôndita ou prosaica
Transformando a ansiedade
Em agua corrente, em fonte seca.
Escrever, é deixar voar a imaginação
Ao sabor do que acontece
E se pensa poder acontecer.
É deixar que a caneta faça a combinação
Das palavras soltas em que mexe
E as misture a seu belo prazer.
Braga, 2017, março, dia 19— (dia da poesia)
37
SONETO 34/2017
A poesia é um trabalho de artífice
Desbastando dor escondida
Por entranhas aonde se disse
Ser poiso de crosta empedernida
De tal forma resistente
Ao cinzel que essa dor lavra,
Mascota de poeta persistente,
No uso singelo da palavra.
Tentando com arte inverter
O íngreme caminho da escarpa
Que o fio do pensamento tem,
Julgando assim esquecer
O acorde de uma harpa
Que soou, mas não mais vem…
Braga, 2017, março, dia 21 (dia da poesia)
38
SONETO 35/2017
Nunca te direi o estado do tempo,
Nem sequer como me corre a vida,
Na distância que instalou o silêncio
Com tapume de que não vejo saída.
Nunca te direi qual o temor
Que tenho, nem o de o enfrentar.
Nunca te direi: amor.
Que foste a luz do meu caminhar.
Por sinuosos caminhos
Por acentuadas escarpas
Por carreiros entre prados
Tentei tirar os espinhos
Do mato e de todas as farpas
Das rosas e dos cardos.
Braga, 2017, março, dia 26
39
SONETO 36/2017
O amor é um sentimento estranho
Cada um tem dele sabor diferente
É algo difícil de dizer o tamanho
Da emoção ou da dor que se sente
Não tem uma cor uniforme
Nem um único tom de o sentir
Jamais terá um único nome
Ou sequer um jeito de se exprimir
O amor, é assim, um vai e vem.
Uma mistura entre o agro e o doce
Num sentimento suspenso
É algo que, ora sabe bem.
Como se o mais desejado fosse,
E se perde num suspiro intenso…
Braga, 2017, abril, 16
40
SONETO 37/2017
Foi numa tarde
De uma tarde quente
Em que o Sol arde
Dentro da gente
E se solta num olhar
De brilho intenso
Para desafiar
O medo imenso
De se perder no ocaso
Aonde acaba o mar
Saído de um simples desejo
Que trago guardado
Num toque, de arrepiar.
Que é um gesto, feito beijo.
Braga, 2017, abril, dia 17
41
SONETO 38/2017
Seja bem vindo
Amigo meu
Mesmo desavindo
No caminho seu
Por entre vegetação densa
Aonde abundam os espinhos
Naquela vontade imensa
Que ilumina os meninos
Dos carreiros mais estreitos
Nesgas abertas em terra fecunda
Aonde germinarão as sementes
Por estre as pedras dos socalcos
Incrustadas numa fenda
Na tua mão, por estre os dedos
Braga, 2017, abril, 19
42
SONETO 39/2017
Passaste e sorriste
Ao virar da rua
Não sei se me viste
De alma nua
Tentando dizer
Aos pombos famintos
Que para comer
Há os labirintos
Por entre as agulhas
Presas aos beirais
Contornando arcos
E também as cornijas
E todos os locais
Passaste. Não me viste
Braga, 2017, abril, dia 20
43
SONETO 40/2017
Tenho na mão um cravo
Que deixei morrer
Das pétalas que dele largo
Já quase nada sei dizer
Não sei porque morreu
Ou sequer se o mataram
Só sei que era meu
E do sonho mo arrancaram
E assim, pétala a pétala
Vou percebendo o percurso
Do caule que também murcha
Como papiro de vela
Que seguindo o seu curso
Na cera encontra a cela
2017, abril, dia 25
44
SONETO 41/2017
Fez caminho duro
abrindo o horizonte
derrubou muros
em busca da fonte
que sacia a sede
e a fome em saber
como derrubar a rede
que os povos faz sofrer
Fez da descrição forma de estar
da presença física forma de ser
e da conversa franca luta permanente
Foi uma referência exemplar
de uma lucidez rara de ver
Agostinho Domingues, um camarada, sempre!
Braga, 2017, maio, dia 2
45
SONETO 42/2017
Sabes, mãe:
Disseram ser hoje o teu dia.
Não percebi muito bem,
Só quero o teu mimo e a tua alegria.
Sabes, mãe:
Não tenho de ti um só dia
Tenho todos os que a vida me dará
Do primeiro ao ultimo e o amor guardará.
Sabes, mãe:
Eu sei que sabes porque sentes
Tudo aquilo que não é necessário dizer
Daquilo que o amor tem
E que me dás em formas constantes
Aonde estar presente é o maio valor.
Braga, 2017, abril, dia 8
46
SONETO 43/2017
A poesia
É um sopro
Feito dia
Num gesto solto
A poesia
Dos diversos sons
É a sinfonia
De todos os tons
A poesia
És tu. Somos todos.
É a terra. O mar. E o céu.
É o dia
O Sol. A chuva. Os pingos.
A neblina que lhe faz o véu.
Braga, 2017, maio, dia 9
47
SONETO 44/2017
A poesia que tens na mão
E dás aos pombos livres
Como se fora a razão
Dos momentos mais felizes
É a tua força interior
Para o revés encarar
Em cada passo ulterior
Ao do acaso, do azar
A poesia não é um dia
Nem uma forma de estar
Ou alivio para o que se tem
É uma áurea de nostalgia
Sobre o que se quer mudar
Em cada madrugada que vem
Braga, 2017, maio, dia 9
48
SONETO 45/2017
Nunca te vou dizer
O que sabes por intuição
Deste duplo sofrer
Que corta a respiração
Aperta o peito e cala a voz
Prende o gesto e a expressão
Cega todos os nós
Do sentir e da emoção
Por isso não saberás
Das razões desta atitude
Tomada com tranquilidade
De que por ventura pensarás
Precipitada e sem virtude
Num qualquer momento de ansiedade
Braga, 2017, maio, dia 12
49
SONETO 46/2017
No esburacado muro
feito de pedra sobre pedra
a terra o traz seguro
aonde a era medra
Medra também a raiz
de uma figueira brava
os fetos e o petiz
que por comida aguarda
mamã melro cuidadosa
saltita os ramos temerosa
no bico traz a bicada
atenta ao que em volta
seja uma ponta solta
e ao seu ninho esteja filada
Braga, Junho, dia 12
50
SONETO 47/2017
Nos dias longos em que se perde a vista
Perscrutamos o zénite no horizonte
Poisando os sentires em forma de lista
Que estendemos nos picos do monte
E deles fazemos retalhos de manta
De cores esbatidas pelo tempo
Sem os buracos de angustia tanta
Que rasga a sorte em cada momento
E assim lavramos as noites e os dias
Entre o Sol reluzente e a Lua cheia
E os outros dias em que nem um nem outro aparecem
Aonde escondemos as dores e as alegrias
Em castelos de onde caíram as ameias
Encosta abaixo, por revinas e outros obstáculos que aparecem.
Braga, Julho, dia 25
51
SONETO 48/2017
Não importa, se fugaz
desde que não seja frio
de forma e cor eficaz
que provoque um arrepio
Daqueles que mexem a sério
e são causa de calor
sangue célere contra o medo
deixando na face o rubor
Rosado em maças macias
aonde as rugas vazias
mostram claro um desejo
no correr do suor que transpiras
sôfrego fica o ar que respiras
anda cá! Dá – me um beijo !
Braga, Setembro, dia 13
52
SONETO 49/2017
A minha menina está doente,
Está doente a minha menina
Tenho uma lagrima corrente
Em uma face que é a minha.
A minha menina está doente
Não a entendo, ela ri,
Um riso lindo, um riso quente,
Tónico para a alma, o senti.
Olha em redor e aponta
A janela, o Sol, o dia
Sempre alegre. Sempre rindo.
Penso que não se dá conta
Da mágoa que em mim porfia
Em cada dia que é findo.
Braga, Dezembro, dia 8
53
SONETO 50/2017
A minha menina é o meu Sol.
O meu ar. O meu ser. A minha vida.
Agua que cai em pedra mole,
Sempre em busca de uma saída.
Sempre pronta a correr
Nas asas do vento norte,
Que ma leva p'ra viver
Aonde haja melhor sorte.
A minha menina é uma estrela
Que brilha em permanência
Sobre o meu imaginário
Com é linda! Como é bela!
Como é forte! Como é imensa!
O meu coração é o seu sacrário!
Braga, Dezembro, dia 8
54
Um dia te direi… “António Fernandes”