Antropologia, Pscanálise e Direitos Humanos

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  • 8/17/2019 Antropologia, Pscanálise e Direitos Humanos

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    Revista Estudos FeministasUniversidade Federal de Santa [email protected]  

    SSN (Versión impresa): 0104-026XBRASIL

    2007Ondina Pena PereiraRESEÑA DE "LAS ESTRUCTURAS ELEMENTALES DE LA VIOLENCIA. ENSAYOS

    SOBRE GÉNERO ENTRE A ANTROPOLOGÍA, EL PSICOANÁLISIS Y LOSDERECHOS HUMANOS" DE RITA SEGATO

    Revista Estudos Feministas, janeiro-abril, año/vol. 15, número 001Universidade Federal de Santa Catarina

    Rio de Janeiro, Brasilpp. 253-254

    Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal

    Universidad Autónoma del Estado de México

    http://redalyc.uaemex.mx

     

    mailto:[email protected]://redalyc.uaemex.mx/http://redalyc.uaemex.mx/http://redalyc.uaemex.mx/mailto:[email protected]

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    Estudos Feministas, Florianópolis, 15(1): 243-266, janeiro-abril/2007  253

    A regra secretaA regra secretaA regra secretaA regra secretaA regra secreta

    Las estruc turas elementa les de 

    la violenc ia . Ensayos sob re género entre a antropo logía , e l psic oanálisis y los derec hos humanos .

    Bernal: Universidad Nacional deQuilmes, 2003. 264 p.

    SEGATO, Rita.

    A riqueza do conjunto de ensaios quecompõem o livro de Rita Laura Segato reside nogrande fôlego teórico e na força crítica da autora,que resultam de sua honestidade intelectualinsubmissa. J á o título da obra, As estrutura s e l em en ta res da v io lênc i a , explicita oreconhecimento da presença do sistema clássicode Lévi-Strauss na construção de sua teoria, o quenão impede que a autora – mantendo diálogo

    aberto com a tradição – reinvente aspossibilidades de aplicação do métodoestruturalista.

    Lévi-Strauss descreveu os fundamentos dacultura humana através de um estudo minuciosodos sistemas de parentesco em que descobre auniversalidade da proibição do incesto, que serealiza através da troca de mulheres entre osgrupos. Trata-se, segundo o autor, da LeiPrimordial, que permitiu a passagem dos humanosdo estado de natureza para o estado de cultura.Se a história da espécie tem início na exigência

    de buscar alianças fora do grupo e essas aliançasse constituem na medida em que as mulheressão trocadas, a história do gênero não temdistinção com relação à história da espécie.

    Nesse ponto intervém a sutileza daargumentação de Rita Segato. Embora a autoraconcorde com a realidade da confusão entre ashistórias – de gênero e espécie – é capaz, noentanto, de criar um lugar, deslocar a “casa vazia”da estrutura, a partir de onde desentrelaça asduas temporalidades e vê as duas históriascorrendo paralelas. Com esse procedimento,

    aponta o que Lévi-Strauss não viu: o ato deviolência que funda o sistema de trocas dessaforma instituído. No desvelamento desse ato de

    violência, Rita dá um lugar decisivo à história dogênero na condução da história da espécie.

    Com e contra o estruturalismo, a construçãoda argumentação de Rita Segato nos conduz aonúcleo mesmo da Lei: a hierarquia que surge nasrelações entre os gêneros – hierarquia adocicadanas páginas de Lévi-Strauss, assim como nas deLacan – constitui-se como forma paradigmáticado poder. Ao ver o poder surgir primordialmentenas relações entre os gêneros e estender-se àsdemais relações sociais, a autora fornece ummodelo que dá visibilidade às diversas formas deusurpação, seja em termos étnicos, de classe, deorganização das regiões e das nações, etc.

    A teoria da usurpação “primeva” ésofisticada. Trata-se de associar ao modeloestruturalista de Lévi-Strauss a dinâmica daviolência. A estrutura, tão minuciosamentedescrita pelo clássico da antropologia, naperspectiva de Rita Segato só se realiza e sesustenta através de uma violência cotidiana, que,por sua vez, só ganha visibilidade na medida emque é analisada como elemento da estruturageral. Os dois eixos da estrutura são, de acordocom Lévi-Strauss, o horizontal, correspondendo aoeixo das trocas, da circulação de dádivas e

    mercadorias; e o vertical, correspondendo àstrocas conjugais e à progenitura. Este último écondição de possibilidade para a constituiçãodo primeiro. Analisado com as lentes da autora,o eixo vertical, formado por relações dehierarquia e graus de valor, permite ver uma redede relações marcadas pela violência dacobrança de tributo. No caso específico doparentesco, que dá forma às relações de gênero,“o tributo é de natureza sexual”.

     Tal noção de tributo dá um sentido pungenteao exercício de poder e ao fenômeno da

    violência, que a autora parece ter capturado deforma possivelmente definitiva: a ordem formadapor pares, por iguais, depende da capacidadede cobrança de tributos que se faz na ordem dosdesiguais, em que o outro passa a valer menosporque tem como carga a obrigatoriedade depagar, de se doar ao extremo de poder vir atornar-se vítima sacrificial. É como se a autorativesse encontrado, entrelaçada a uma leiuniversal, uma regra do jogo que circulasecretamente entre os pares, mas não é jamaisexplicitada, pois se constitui como crime à luz da

    lei.Com esse modelo, é possível levar mais

    longe até mesmo os termos do mito da horda

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