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Contrato BNDES/FINEP/FUJB Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Polticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnolgico

Nota Tcnica 37 Industrializao Descentralizada: Sistemas Industriais Locais Estudo do Setor Txtil e de Confeces

Renata Lbre La Rovere Lia Hasenclever Luiz Martins de Melo Beatriz de Castro Fialho Marcelo Machado da Silva (IE/UFRJ)

Coordenao dos Estudos Empricos Arlindo Villaschi Filho Renato Ramos Campos Marina Honrio de Souza Szapiro Cristina Lemos

Coordenao do Projeto Jos Eduardo Cassiolato Helena Maria Martins Lastres

Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro IE/UFRJ Rio de Janeiro, outubro 2000

ndice Introduo __________________________________________________________________ 4 1. Caracterizao da cadeia produtiva _______________________________________ 51.1. Panorama Internacional______________________________________________________________ 5 1.2. Produtos, Processos Produtivos e Regime Tecnolgico ___________________________________8 1.3. A Cadeia Produtiva no Brasil ________________________________________________________13

2. Perfil do Sistema Produtivo Local ___________________________________________ 222.1. Caractersticas da regio ____________________________________________________________ 22 2.2. Caractersticas do sistema produtivo local ______________________________________________ 26 2.3. Instituies de Coordenao e Iniciativas voltadas para a Inovao _________________________29

3. Capacitao e aprendizagem ______________________________________________ 323.1. Desenvolvimento de capacitao tecnolgica ___________________________________________32 3.2. Estratgias de aprendizagem_________________________________________________________33 3.3. Processos interativos para aprendizagem no arranjo______________________________________35 3.4. Vantagens associadas regio _______________________________________________________ 39

4. Polticas Pblicas _________________________________________________________ 43 Concluses e Recomendaes _______________________________________________ 49 Bibliografia: ________________________________________________________________ 52 Anexo I: Principais linhas de crdito para as micro e pequenas empresas no Brasil__ 58

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ndice de Figuras, Grficos, Quadro eTabelasFigura 1 - Fluxo Produtivo Txtil-Confeces Quadro 1: Resumo das Inovaes Tecnolgicas da Produo de Confeces Tabela 1: Tamanho Relativo das Empresas de Confeces Brasil1995 Grfico 1 Evoluo do Comrcio Exterior da Cadeia Txtil Tabela 2: Total do pessoal ocupado e Nmero de estabelecimentos industriais no estado do Rio de Janeiro e na Regio Centro-Norte Fluminense -1997 Tabela 3: Nmero de Estabelecimentos das Indstrias Txtil e de Confeces em Nova Friburgo Tabela 4: Distribuio dos estabelecimentos txteis, de confeco de artigos do vesturio e acessrios de Nova Friburgo por tamanho de estabelecimento Tabela 5: Constituio da Amostra e Entrevistas Realizadas Tabela 6: Origem do fornecimento de matria-prima das empresas entrevistadas Tabela 7: Origem do equipamento das empresas entrevistadas Tabela 8: Formas de comercializao das empresas de confeces (nmero de empresas Tabela 9: Formas de comercializao das empresas txteis (nmero de empresas) Tabela 10: Percepo das empresas em relao infra-estrutura (nmero de empresas) Tabela 11: Principais fontes de aprendizagem das empresas (% das respostas em relao ao grau de importncia) Tabela 12: Formas de incorporao de inovaes tecnolgicas das empresas (% das respostas em relao ao grau de importncia) Tabela 13: Evoluo das relaes de cooperao com empresas e instituies locais e externas nos ltimos cinco anos (% das respostas) Tabela 14: Motivos para no haver nenhuma interao universidades e centros de pesquisa regionais (% das respostas) com

9 12 14 19 23 23 24 26 27 27 28 28 31 33 35 36 36 37 38 38 40 40 41 41 42 46

Tabela 15: Evoluo das relaes de cooperao com as demais empresas e com os fornecedores da regio nos ltimos cinco anos (% das respostas) Tabela 16: Formas de interao com outras instituies (% das respostas) Tabela 17: Relaes de sub-contratao entre as empresas por tamanho Tabela 18: Percepo das empresas em relao localizao de matria-prima e equipamentos (% das respostas) Tabela 19: Percepo das empresas em relao sua localizao (% das respostas) Tabela 20: Vantagens da mo de obra local (% das respostas) Tabela 21: Principais inovaes adotadas Tabela 22 :Percepo das empresas em relao tecnologia de produo e demanda (% das respostas) Tabela 23: Iniciativas mais importantes para os empresrios

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Introduo O estudo do sistema produtivo local txtil/confeces de Nova Friburgo/RJ um dos que integram o projeto REDIPEA "Industrializao Descentralizada : Sistemas Industriais Locais".

O ponto de partida bsico para o estudo de arranjos locais de inovao o reconhecimento de que a inovao e o conhecimento necessrio para a sua gerao e difuso so elementos centrais da dinmica e do crescimento de naes, regies, setores e empresas. A inovao constitui-se em processo relacionado busca e ao aprendizado, dependente de interaes, socialmente determinado e fortemente

influenciado por formas institucionais e organizacionais. Os conhecimentos tcitos de carter localizado e especfico, que continuam tendo um papel primordial para o processo inovativo, apesar do peso crescente das informaes e conhecimentos codificados cujas condies de transferncia so cada vez mais favorveis dada a eficiente difuso das tecnologias de informao, justificam o estudo da inovao de uma perspectiva local.

Outros estudos j realizados sobre o arranjo txtil/confeces de Nova Friburgo detectaram a recente vocao da regio para especializar-se no segmento de moda ntima da indstria de confeces (Lopes e Lopes, 1999). Na medida em que o segmento de moda ntima o mais importante na definio das interaes locais, este relatrio enfatizar a dinmica e as interaes deste segmento. A incluso de algumas empresas txteis neste estudo servir como elemento de comparao para questes especficas pertinentes s relaes com os componentes do arranjo. A originalidade deste estudo enfatizar as vantagens dinmicas que podem surgir entre os agentes produtivos e as instituies de infra-estrutura educacional e tecnolgica locais ou externas no aprendizado e na promoo das inovaes. Estas vantagens se somam s vantagens estticas de aglomerao, tais como proximidade geogrfica e especializao setorial, geralmente enfatizadas nos estudos sobre distritos industriais 1.O relatrio composto de quatro partes, alm da introduo e da

1 Ver a este respeito o artigo Industrial and Technology Policy and Regional Development: promoting clusters, de autoria de La Rovere et al (2000), onde os autores enfatizam as difierenas 4

concluso. A primeira parte descreve as principais caractersticas da cadeia produtiva txtil-confeces no plano internacional e no Brasil. A segunda parte descreve o perfil do sistema produtivo local, mostrando as caractersticas da regio, as instituies de

coordenao e a infra-estrutura educacional, fsica e tecnolgica. A terceira parte analisa os principais mecanismos de capacitao e aprendizagem do sistema produtivo. Finalmente, a quarta parte analisa as principais polticas pblicas voltadas para a inovao na regio.

1. Caracterizao da cadeia produtiva 1.1. Panorama Internacional

O consumo mundial de fibras txteis, que um indicador do nvel de atividade das indstrias txtil e de confeces, tem apresentado taxas superiores s taxas de crescimento da populao, indicando um crescimento do mercado mundial. Todavia, a elevao das exportaes mundiais dos pases em desenvolvimento aumentou a concorrncia nos mercados dos pases industrializados.

O aumento da concorrncia resultante das mudanas no padro de demanda nas indstrias txtil e de confeces tem levado introduo de melhorias tecnolgicas, tais como o desenvolvimento de novos tipos de tecido, a introduo de equipamentos de base microeletrnica e a adoo de novas tcnicas de produo, como por exemplo as clulas de produo em confeces. Estas melhorias possibilitaram a flexibilidade da produo e criaram firmas com nveis de atualizao tecnolgica diferentes (SENAI/CETIQT/GTZ ,1998).

Assim, em nvel mundial, a cadeia produtiva txtil-confeces englobando a produo de fibras (naturais, artificiais ou sintticas), fiao, tecelagem, malharia, acabamento e confeco vem passando por transformaes estruturais, causadas pela introduo de equipamentos de base microeletrnica, com aumento da automao e da produtividade em vrias etapas do processo de produo.

entre a viso marshaliana e schumpteriana a respeito do estudo dos distritos industriais e clusters, respectivamente. 5

Essa mudana estrutural no ocorre homogeneamente em toda a cadeia. As atividades de fiao e tecelagem, atualmente, so as mais intensivas em capital, enquanto que a atividade de confeco permanece intensiva em mo-de-obra, sendo difcil de ser automatizada.

A flexibilizao dos processos de produo para atender mais rapidamente s mudanas da moda, caracterstica dos nichos de alto valor agregado, fortemente baseados em design2 e moda, implica uma maior cooperao e especializao entre fornecedores e clientes ao longo da cadeia txtil-confeces, o que no muito comum no Brasil, com exceo de algumas experincias isoladas3.

Alm

de

ser

heterognea

setorialmente, a cadeia txtil-confeces tambm

heterognea no que se refere ao porte das empresas que a compem, incluindo desde grandes empresas integradas verticalmente (da fiao ao acabamento) at pequenas empresas de confeces.4.

Na cadeia txtil-confeces a indstria de confeces tem uma posio estratgica. Por estar em contato permanente com os consumidores, a primeira a identificar a mudana nas suas preferncias relativas aos tipos de tecido e padres de corte e de cores. Portanto, a indstria de confeces fornece os elementos bsicos para a alterao do design dos produtos e artigos de todas as indstrias da cadeia txtilconfeces.

A ausncia de barreiras entrada de novas empresas, em especial tecnolgicas, o fato de que o equipamento bsico continua a ser a mquina de costura, cujo aprendizado operacional largamente difundido e o baixo investimento de capital necessrio para a instalao e operao de uma unidade produtiva, faz com que a indstria de confeces seja dominada por um amplo conjunto de pequenas e mdias empresas.2 . Define-se design como: visualizao de conceitos, planos e idias; e a representao de tais idias (...) para fornecer as instrues de como se fazer algo que no existia antes, ou no naquela forma. (...). at mesmo a inovao tecnolgica mais radical deve estar representada em uma forma usvel via o processo de design. Por outro lado, alguns novos produtos so designed mas no envolvem mudana tecnolgica. (Walsh, 1996:513) 3 Sobre esse ponto ver Gorini e Siqueira (1997) 4 Das 17 mil confeces formais existentes no pas em 1995, apenas 540 empresas tinham mais de 300 funcionrios, respondendo por 40% do volume de produo e 24% do total de empregos da indstria, que se situa em torno de 930 mil empregos diretos. As pequenas confeces respondem apenas por 9% do total da produo de confeccionados, mas geram 16% dos empregos diretos na indstria (idem, p.3 ). 6

A principal fonte de sobrevivncia de um grande nmero de pequenas empresas neste mercado a extrema diversificao da demanda5. Isto leva existncia de nichos de mercado, impedindo a existncia de grandes economias de escala e escopo e, por conseqncia, a existncia de grandes empresas nesses nichos de mercado. A segunda caracterstica o lanamento contnuo de colees de outono, inverno, vero e primavera ao longo do ano, o que demanda uma flexibilidade produtiva e organizacional para o ajuste da empresa s diferentes tendncias da moda. Esta flexibilidade produtiva e organizacional menos encontrada nas grandes empresas, cuja tendncia a explorao de mercados de produtos padronizados com pouca ou nenhuma diferenciao de estilo.

Alm disso, a importncia do design para a atividade de confeco tem crescido medida em que as empresas vm se centrando em estratgias de diferenciao de produto, para atender s tendncias da moda e demanda por produtos de qualidade superior relacionada concentrao de renda apontada por Wynarckzyk et al. (1995). Os principais avanos tecnolgicos na produo de confeces ocorreram na fase anteriores costura, onde no h manuseio de tecidos. A utilizao do CAD (Computer Aided Design)/ CAM (Computer Aided Manufacturing) e de equipamentos de controle numrico, diminuiu o tempo da produo e a taxa de desperdcio da matria-prima, ao mesmo tempo em que aumentava a flexibilidade produtiva. Entretanto, a fase da costura ainda a principal etapa do processo produtivo6 e nela as inovaes so mais difceis de acontecer, dado que esta etapa muito intensiva em trabalho, o que ocasiona uma forte dependncia das empresas de confeces da qualidade da mode-obra.

A alta intensidade da utilizao do trabalho pela indstria de confeces, internacional e brasileira, faz com que o salrio seja um elemento chave para a localizao das empresas7. A intensidade do uso da mo-de-obra faz com que a indstria de confeces tenha o menor gasto de capital entre todas as indstrias componentes da5 A Associao Brasileira da Indstria do Vesturio (ABRAVEST) classifica a indstria de confeces como sendo constituda de 21 segmentos produtivos distintos. 6 Gorini e Siqueira op.cit, p. 144. 80% do trabalho total so realizados na etapa de confeco.

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cadeia txtil. Assim, a anlise da competitividade da indstria de confeces deve, necessariamente, levar em conta o fato dela ser intensiva em mo-de-obra e composta em sua maioria por empresas de pequeno porte.

A grande diferena que existe entre o paradigma brasileiro, de empresas de pequeno e mdio porte com alta flexibilidade, e o paradigma internacional, a alta especializao das grandes empresas que dominam a indstria de confeces mundialmente. Essas empresas trabalham com uma ntida separao das etapas do processo produtivo: a criao do produto (design), a atividade de marketing e a distribuio esto concentradas nas unidades centrais que detm a marca8. A produo das peas toda terceirizada em vrios pases do mundo, onde o custo do trabalho mais barato e onde so instalados equipamentos de alto desempenho nas empresas locais que trabalham sob contrato, em geral produzindo um artigo apenas: cala, palet, jaqueta, bermuda, etc. Este sistema de putting out globalizado garantido pela demanda gerada pelas marcas, que viabiliza a alta escala de produo.

1.2. Produtos, Processos Produtivos e Regime TecnolgicoA cadeia produtiva txtil-confeces composta por cinco fases. Ela tem incio com a extrao de matria prima agrcola (l, algodo, seda) ou no agrcola (petroqumica). A etapa seguinte a fabricao de fibras, que tanto podem ser sintticas ou naturais (origem agrcola). Complementando esta etapa h a txtil (na qual ocorre a produo, seleo de tecidos e vendas destes). Posteriormente, a cadeia produtiva dirigida para a fase de vesturio (que divide-se entre o desenho de peas de roupas, a prmontagem e a montagem final). Assim, a cadeia produtiva chega ao fim no nvel do varejo, quando a produo resultante repassada ao consumidor. Uma representao da cadeia descrita acima pode ser apreciada na figura 1.

Como mostrado pela figura 1, a produo txtil se divide em quatro segmentos: fibras e filamentos; fiao; tecelagem/malharia; e acabamento. J a produo de confeces bastante diversificada, abrangendo 21 segmentos: roupa ntima, de dormir, de esporte, de praia, de gala, social, de lazer, infantil, de segurana, profissionais, de proteo,

7 O sucesso da China e de outros pases do sudeste asitico baseia-se em grande parte neste fator para a conquista de mercados externos. 8 Exemplo: Pierre Cardin, Nike, Calvin Klein, Benetton, entre outras. 8

meias, modeladores, acessrios para vesturio, artigos de cama, de mesa, de banho, de copa, de limpeza, de decorao, e de uso tcnico ou industrial (SENAI/CETIQT/GTZ 1998 e Serra, 1998).

Figura 1 - Fluxo Produtivo Txtil-Confeces

Tecelagem Plana Fabricao de Fibras Qumicas

Acabamentos Fiao

Beneficiamento de Fibras naturais

Malharia Indstria de Confeco

Sistema formadores de tecido.Distribuio

Consumidor Final

Fonte: Braga Junior, 1999.

Conforme observado na seo anterior, em nvel mundial a cadeia produtiva txtilconfeces atualmente est passando por mudanas importantes no seu processo produtivo com a introduo de equipamentos informatizados e estratgias de cooperao, alianas ou parcerias que levam formao de redes de firmas. Observase que existe uma tendncia de intensificao das relaes em toda a cadeia produtiva, no sentido de atender as demandas do consumidor de forma mais rpida(Carvalho e Serra, 1998).

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Assim, a cadeia produtiva txtil-confeces determina suas estratgias competitivas segundo a dinmica do mercado, que estabelecida pela moda, o que exige flexibilidade das empresas devido ao curto ciclo de vida dos produtos. O aspecto importante a destacar que as vantagens competitivas so apropriveis a partir do design, marcas comerciais e propaganda. Um estudo realizado pelo SENAI/CETIQT, em 1998, em parceria com o Gesellschaft Technologie Zentrum (GTZ), identificou as tecnologias-chave para o desenvolvimento tecnolgico das empresas txteis e de confeces no Brasil . Para a produo txtil, as principais tecnologias seriam tecnologias de medio da cor e de fiao de ltima gerao e tecnologias CAD para a tecelagem. Para as confeces, as tecnologiaschave seriam no apenas ligadas a equipamentos, como tecnologias de mquina de costura, utilizao de C AD para modelagem e risco para corte, como tambm tcnicas organizacionais: padronizao de mtodos, planejamento, programao e controle da produo informatizados e tcnicas de medida do trabalho. Deve-se observar tambm que na produo de confeces a utilizao de clulas de produo vem sendo crescentemente adotada. Um estudo do SENAI em 1996 apontou impactos positivos sobre a competitividade e a produtividade de uma empresa de confeces nacional aps a introduo desta tcnica (SENAI/CIET, 1998). As principais tendncias tecnolgicas observadas na indstria de confeces dos pases desenvolvidos envolvem a aplicao de tecnologias de base microeletrnica s etapas de produo, resumidas no quadro 1 elaborado por Melo (2000). Como observado por Dickens (1999), a introduo de novas tecnologias na cadeia txtilconfeces nestes pases resultado de trs elementos: em primeiro lugar, a necessidade de reduzir custos para competir com os custos de mo-de-obra mais baixos dos pases em desenvolvimento; em segundo lugar, o uso de tecnologias de base microeletrnica encurta o ciclo de produo, permitindo uma reduo dos custos de capital. Finalmente, o aumento na rapidez e na flexibilidade da produo permite uma resposta mais rpida das empresas s flutuaes na demanda, o que importante principalmente nos casos onde os varejistas evitam manter estoques elevados e portanto fazem pedidos constantes de pequenos lotes de produtos diversificados. No caso brasileiro, um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro (IBRE/FGV) sobre as empresas da cadeia txtil-confeces detectou que a presena de maquinrios modernos escassa nas10

empresas de confeces da cadeia (Lopes e Lopes 1999). Nas confeces ainda permanecem as mquinas de costura simples, que no exigem recursos nem treinamento especial para oper-las. As mquinas mais avanadas viabilizam uma produo maior e de melhor qualidade do produto. Porm antes de mudar para uma mquina mais moderna, as confeces optam por utilizar tecnologias intermedirias, para esgotar o potencial de produo da mquina convencional primeiro. As mquinas de costura podem ter sua vida estendida atravs de upgrades de peas isoladas, enquanto que as mquinas de bordado exigem reposio completa. Porm a tecnologia no ramo de bordados no muda muito rapidamente, e uma mquina mediana pode ser satisfatria por um tempo razovel.

No que se refere ao nvel tecnolgico de cada segmento da indstria de confeces, pode-se dizer que a confeco de malharias e de camisas exige tecnologias mais simples para sua produo, enquanto que o segmento de jeans um pouco mais sofisticado, em particular para as micro, pequenas e mdias empresas (MPMEs). No caso das confeces de bordados, a sofisticao da tecnologia est mais ligada aos recursos computacionais, onde se programam os pontos de bordados, do que s mquinas em si. O programa de bordados utilizado pode ser criado pela prpria confeco ou comprado de terceiros sob encomenda. As mquinas mais sofisticadas neste ramo possibilitam uma diferenciao do servio em termos de qualidade, atravs de pontos mais precisos e maior segurana para o operador. J no ramo de lingerie, o corte e fechamento das peas no exige mquinas sofisticadas. A fase fundamental para a lingerie o acabamento, que intensivo em mo-de-obra.

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Quadro 1: Resumo das Inovaes Tecnolgicas da Produo de ConfecesEtapas Produtivas Criao Modelagem Equipamentos Computer Aid Design - CAD Computer Aid Design CAD Enfestadeira com controle digital Avano nas funes Permite que se faa o desenho de moda com grande facilidade para o desenvolvimento de colees, possuindo caneta sensitiva que d ao estilista total liberdade. Permite o desenvolvimento de modelagem, ampliao e risco, com sistem a de simulao em trs dimenses. Sistema acoplado ao anterior. Permite que se faam enfestos de alta qualidade com velocidade, possui detectores automticos de defeitos, programao total com diversas velocidades, enfesta diferentes tipos de tecidos sem tenso alguma., reduz ao mnimo o desperdcio. Sistema de corte computadorizado que pode funcionar integrado com o CAD. Possui sistema especializado para jeans, grande volume de malharia e tecidos planos, confeces finas e pequenos lotes. Costura reta eletrnica com lanadeira grande. Permite cortar o fio interior e superior, possui levantador de calcador e posicionador de agulha, painel digital com mltiplas funes. Aumenta significativamente a produtividade do trabalho e melhora a qualidade do produto. Ponto fixo com duas agulhas eletrnicas. Lubrifica automaticamente, tem posicionador de agulha e calcador automtico, corte de fio inferior e superior, painel digital com mltiplas funes. Maior velocidade nas operaes e melhor padronizao dos produtos. Efetua transporte triplo 1 com agulha eletrnica. Lubrificao automtica. Corte de fio inferior e superior. Painel digital com mltiplas funes, posicionador de agulha e calcador. Maior velocidade nas operaes e melhor padronizao dos produtos. Coloca cs ponto fixo. Efetua corte automtico no incio e fim da operao, desligamento programado no incio e no fim, fotoclula para sensor de camada, lubrificao automtica, painel digital par programao. Coloca frente em camisas. Possui alimentador e fusionador de vis, corta automaticamente o fio anterior e posterior, empilha automaticamente. Painel digital para controle de funes. Permitem maior velocidade nas operaes e melhor qualidade do produto.

Enfesto

Corte

Computer Aid Manufacture - CAM Maquina de costura eletrnica (1)

Montagem

Maquina de costura eletrnica (2)

Maquina de costura eletrnica (3)

Maquina de costura automtica (4)

Maquina de costura automtica (5) Outras: refiladeira eletrnica, mquina de barra e ponto fixo automtico Bordadeira Eletrnica

Acabamento

Passadoria Gerenciamento

Equipamentos a vapor e a vcuo Computador e soft especfico para confeco

Faz a integrao da ao mecnica com o computador controlado eletronicamente, permite rpida e eficiente troca de cor durante o bordado. Assegura pontos precisos e o operador pode trabalhar com doze cores e corte de fios automticos. Permite a um editor comandar mltiplas mquinas de bordado com desenhos diferentes ou iguais. Maior flexibilidade e melhor qualidade dos bordados. Permitem passar as peas sem rugas, alcanando melhor resultado. Soft efetua controle de vendas, compras, cotaes, clientes, estoque, expedio, produo, representantes, custos, fichas tcnicas, exploso de materiais, faturamento, contas a pagar e a receber, fluxo de caixa, formao de preos, contabilidade gerencial, produtividade, balanceamento, clulas, lojas varejo, comunicao bancria, comissionamento, expedio em cdigo de barras, controle de royalties.

Fonte: Melo (2000), p. 12-13.

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1.3. A Cadeia Produtiva no BrasilA participao das indstrias txtil e de confeces no Produto Interno Bruto (PIB) e no valor adicionado da indstria de transformao no Brasil decrescente, devido estagnao da indstria txtil (Serra, 1998). Segundo Braga Jr. (1999), a cadeia produtiva txtil-confeces no Brasil representa cerca de 3,8% da produo industrial brasileira. O mesmo autor observa que o consumo per capita de matria-prima (8,9 Kg) est acima da mdia mundial (7,6 Kg), o que indica uma baixa produtividade. Isso se deve grande heterogeneidade tecnolgica e gerencial da cadeia txtil-confeces. Nela convivem empresas modernas com padro tecnolgico e estratgias semelhantes s empresas de melhor desempenho mundial, empresas parcialmente modernizadas, que combinam maquinrio antigo e mquinas modernas em pontos estratgicos e rigoroso controle de qualidade, e empresas obsoletas do ponto de vista tecnolgico e gerencial (Braga Jr., 1999).

Cabe ressaltar que a matriz brasileira de consumo de fibras segue uma tendncia diferente da mundial, devido cultura, ao clima e aos equipamentos instalados : no h uma tendncia observada de substituio de fibras naturais por sintticas, e sim uma tendncia de estabilizao do consumo de fibras naturais aliada a um crescimento do consumo de fibras sintticas (SENAI/CETIQT/GTZ, 1998). Assim, o estmulo introduo de equipamentos de tecelagem de tecnologia mais recente parcial, ao contrrio do que tem ocorrido nos pases desenvolvidos.

A regio Sudeste se destaca como a de mais alta tecnologia e produo, concentrando a maior parte das empresas exportadoras. De um modo geral, as empresas maiores, tanto txteis como de confeces, conseguem se adaptar melhor s mudanas tecnolgicas e gerenciais demandadas pelo novo paradigma tecno-econmico. Essas empresas trabalham com tecnologias mais sofisticadas e tm maior intensidade de capital do que as micro e pequenas empresas. Alm disso, elas tambm trabalham com tcnicas de organizao da produo prximas aos padres internacionais, tm mo de obra com boa qualificao e exportam parte da sua produo, ao contrrio da maior parte das micro e pequenas empresas da cadeia (SENAI/CETIQT/GTZ, 1998).13

Seguindo a tendncia internacional, a produo de confeces no Brasil tambm dominada por empresas de porte pequeno (ver tabela 1). Tabela 1: Tamanho Relativo das Empresas de Confeces Brasil- 1995 Empresas no. de funcionrios 540 16460 17000 > 300 250 Total CONFECES Total de Empresas 234 68 40 2 2 1 347 % 67,4 19,6 11,5 0,6 0,6 0,3 TXTEIS Total de Empresas 14 4 1 1 0 2 22 % 63,6 18,2 4,5 4,5 0,0 9,1

Fonte: RAIS 1997

A formao industrial da regio ocorreu ainda no incio do sculo, com a implantao das primeiras empresas txteis (Arp e Ypu). A partir da dcada de 60 houve um grande impulso ao desenvolvimento do plo txtil e de confeces no s pelo crescimento das empresas j instaladas, mas tambm pelo surgimento de novas empresas, dentre as quais se destaca a Fil S/A, empresa ligada a um grupo multinacional e que atua, principalmente, no segmento de moda ntima com a marca Triumph. A partir do processo de abertura econmica iniciado no final dos anos 80, as empresas passaram por um processo de reestruturao produtiva, de modo a tornarem-se mais competitivas, e um dos maiores efeitos deste processo foi uma grande diminuio do nmero de funcionrios. Por exemplo, a Fil, a maior empresa de moda ntima, reduziu seu quadro de funcionrios neste perodo de 4.000 para 1.500 empregados. Dado o baixo investimento necessrio para a implantao de uma empresa de confeces e o grande nmero de desempregados na regio com formao profissional na indstria, comearam a surgir, desde o incio dos anos 90, vrias pequenas confeces, a maioria especializada em moda ntima. O surgimento destas confeces, de acordo com entrevista realizada na seo de Nova Friburgo da Federao das Indstrias do24

Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), foi estimulado pela iniciativa de um empresrio do negcio de tecidos que comprou 126 mquinas de costura usadas das grandes empresas e as revendeu aos ex-funcionrios destas empresas, sob condio de que ele passaria a ser o fornecedor de insumos.

Dado o grande crescimento que a indstria vem tendo na regio, e o grande nmero de empresas informais existentes na mesma, estima-se que o nmero real hoje seja bem maior do que o registrado pela RAIS10. Atualmente, a regio tem uma produo mensal de 12 a 15 milhes de peas, e est desenvolvendo um projeto para organizarse nos moldes de um Distrito Industrial Italiano (Carta da Indstria, 20/09/99). De acordo com pesquisa entre 107 empresas da regio realizada pelo IBRE (Lopes e Lopes 1999 op.cit.), a maior parte dos empresrios (73,8%) nasceu na prpria regio, e um pouco mais da metade tem uma empresa cuja idade est entre 4 e 10 anos. Ainda, de acordo com o mesmo estudo, 54,7% das empresas entrevistadas tm entre 4 e 10 anos e surgiram, em grande parte, a partir de compra de mquinas de costura desativadas das empresas txteis da regio. O relacionamento entre as empresas se d principalmente atravs de troca de informaes sobre fornecedores e sua principal vantagem a proximidade do mercado consumidor. Cerca de 100 empresas locais esto homologadas pela maior empresa fornecedora de tecidos, que a Du Pont, atestando capacitao para introduo de novidades propostas pelos fornecedores. Os principais desafios se encontram nos baixos indicadores de produtividade e na reduzida comercializao das empresas locais junto a magazines e a supermercados. Alm disso, o total da produo exportada por estas empresas de apenas 2,6%. Os resultados indicam a oportunidade de se adotar uma marca de qualidade conjunta, importncia da capacitao em design, reduo dos custos, maior articulao com entidades de capacitao da regio e adoo de um consrcio de exportao que atue em quatro nveis: promoo e prospeco dos negcios, marcas que indiquem padres de qualidade, design e compra conjunta de insumos industriais.

10 Segundo informaes obtidas nas entrevistas, um levantamento recente da FIRJAN chegou a um nmero aproximado de 2.000 empresas formais e informais, envolvendo 20.000 trabalhadores. Destas 600 so empresas formais, mas apenas 150 esto associadas ao Sindicato da Indstria de Vesturio de Nova Friburgo (SINDIVEST). 25

2.2. Caractersticas do sistema produtivo localO estudo sobre o sistema produtivo local txtil/confeces de Nova Friburgo realizou uma pesquisa de campo com uma amostra representativa de 40 empresas de confeco e cinco txteis.

A seleo da amostra foi feita inicialmente considerando-se os seguintes principais critrios: ser empresa lder, apresentar dinamismo e capacidade inovativa, e potencial de exportao. O universo das empresas txteis bastante reduzido (33 empresas, de acordo com dados do CIDE), portanto a definio da amostra com base nos critrios descritos acima levou escolha de cinco empresas txteis, sendo uma grande, duas mdias e duas pequenas. No que se refere s empresas de confeco, amostra inicial contendo empresas com maior capacidade inovadora foram agregadas mais empresas, para se chegar a uma amostra representativa. A escolha destas empresas adicionais procurou manter a proporo de empresas do universo no que se refere ao tamanho, medido por nmero de empregados (ver tabela 5, abaixo).

Entretanto, a equipe de pesquisa encontrou dificuldades em entrevistar todas as empresas selecionadas, em particular no que se refere s micro-empresas de confeces (ver tabela 5). Estas empresas se caracterizam por uma centralizao das atividades na figura do empresrio, portanto a resistncia das empresas s entrevistas foi considerada normal. A falta de informaes referentes a estas empresas foi compensada pela incluso de mais duas empresas pequenas na amostra original e por entrevistas com associaes patronais. Tabela 5: Constituio da Amostra e Entrevistas RealizadasNmero de empregados Amostra 1-10 11-40 41-100 101-200 Acima de 200 Total Fonte: Pesquisa de campo 1 1 1 2 5 Txtil Entrevistada s 1 1 1 2 5 Confeces Amostra 25 8 2 3 2 40 Entrevistada s 3 10 3 2 1 19

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O fornecimento de matria-prima vem de empresas nacionais, no caso das empresas txteis, e de emp resas nacionais e locais, no caso das empresas de confeces (ver tabela 6). Como mostrado pela tabela as empresas de confeces utilizam mais insumos de origem nacional de que de origem local. Tabela 6: Origem do fornecimento de matria-prima das empresas entrevistadasNmero de empregados 1-10 11-40 41-100 101-200 Acima de 200 Fonte: Pesquisa de campo Txtil Nacional 1 1 1 2 Confeces Local 1 4 1 1 Nacional 2 6 2 2

Os insumos de origem local mais expressiva, com participao de cerca de 30%, so os aviamentos e acessrios. Todo o resto , na grande maioria, comprado em representantes locais de indstrias paulistas. No que se refere aquisio de equipamentos, apenas as maiores empresas txteis trabalham com equipamentos importados, enquanto as menores trabalham com equipamentos comprados de

empresas nacionais (ver tabela 7).

Em confeco, as mquinas de costura e corte so compradas nos representantes locais de firmas nacionais ou estrangeiras. Pelo menos 4 das firmas entre 11 e 200 funcionrios possuem mquina de risco (importada) e a empresa maior possui mquina de corte eltrica. Tabela 7: Origem do equipamento das empresas entrevistadasNmero de empregados 1-10 11-40 41-100 101-200 acima de 200 Fonte: Pesquisa de campo Nacional 1 Txtil Exterior 1 1 2 Confeces Nacional 3 10 3 2 Exterior

1

27

As formas de comercializao das empresas de confeces variam de acordo com o porte. As pequenas trabalham sob encomenda, com o varejo independente e representantes informais (sacoleiros). J as grandes tm acordos com grandes varejistas (ver tabela 8). Assim, as empresas da regio tm o mesmo padro de comercializao das empresas brasileiras descrito na seo 1.2. Cabe observar que o questionrio citou outras formas de comercializao, como escritrios de exportao, home-page na Internet e catlogos, mas estas formas foram consideradas sem importncia ou pouco importantes para as empresas entrevistadas. No momento da pesquisa apenas 3% do total produzido pelas empresas da regio era exportado. No que se refere s vendas para o mercado interno, aproximadamente metade da produo destas empresas estava sendo comercializada por sacoleiros. Tabela 8: Formas de comercializao das empresas de confeces (nmero de empresas)Sob encomenda 3 6 3 1 Lojas prprias 6 1 1 8 Grandes varejistas 1 2 3 1 7 Catlogos Outros 2 7 3 2 14

1-10 11-40 41-100 101-200 acima 200 TOTAL 13 Fonte: Pesquisa de campo

1 1

J as empresas txteis recorrem a formas mais diversificadas, mas em sua maioria trabalham tambm sob encomenda (ver tabela 9). Tabela 9: Formas de comercializao das empresas txteis (nmero de empresas)Sob encomenda 1-10 11-40 41-100 101-200 acima 200 TOTAL 1 1 1 2 5 1 Telemarketing Grandes varejistas 1 1 1 1 4 1 1 1 1 Catlogos Exportao Representantes comerciais 1 1 2 4

Fonte: Pesquisa de campo

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Dentre as entrevistadas, uma empresa de confeco entre 101 e 200 funcionrios montou uma estrutura prpria de distribuio na Argentina, e j exporta para l 70% de sua produo. Cabe observar que as exportaes, entre as pequenas e mdias empresas, so praticamente inexistentes, com apenas duas firmas tentando o mercado europeu e uma destas tambm o Mercosul. Na indstria txtil se destaca uma empresa que exporta 30% de sua produo, e s no aumenta esta participao por falta de interesse estratgico; outra empresa exporta 8 a 9% da sua produo. Ambas so empresas de porte mdio e grande. A empresa txtil que exporta 30% de sua produo, de acordo com entrevistas, promove periodicamente (duas vezes por ano) workshops com seus clientes em atualizao de moda, apoio exportao e proteo do meio-ambiente, agindo assim como difusora de informaes atualizadas que podem levar inovao em confeces.

2.3. Instituies de Coordenao e Iniciativas voltadas para a InovaoComo observado na introduo deste relatrio, a dinmica das inovaes de um arranjo produtivo local no pode ser entendida sem uma anlise das interaes entre os diversos agentes institucionais. O papel do Estado no fortalecimento da cadeia produtiva txtil-confeces no Brasil deve, na opinio dos especialistas, enfatizar a oferta dos seguintes bens pblicos: Treinamento e pesquisas, em parceria com o setor privado e utilizando o acervo de organismos de treinamento tecnolgico j existentes, tal como o CETIQT Financiamento da reestruturao administrativa e tecnolgica Fomentar o dilogo entre os elos da cadeia produtiva atravs de cmaras setoriais, visando a construo de m ecanismos de coordenao entre os principais

agentes.(Lopes e Lopes 1999) No caso do plo de Nova Friburgo, as seguintes instituies tm um papel significativo no desenvolvimento de polticas de inovao: a seo regional da Federao das Indstrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN-NF); o Sindicato da Indstria de Vesturio de Nova Friburgo (SINDVEST); o Centro de Tecnologia da Indstria Qumica e Txtil do SENAI (SENAI/CETIQT) e o Servio Brasileiro de Apoio Pequena e Mdia Empresa (SEBRAE). Outras instituies que podem ter um papel relevante na implementao de polticas de inovao so as instituies financeiras, como o Banco do Brasil e a Caixa Econmica Federal. Neste caso seria necessria uma adequao29

das polticas listadas no anexo 1 s necessidades das empresas da cadeia produtiva txtil-confeces. O crdito fundamental para a reduo dos passivos contrados, e polticas de financiamento para a reestruturao tecnolgica destas empresas so fundamentais, principalmente para as atividades de confeces e malharia (Lopes e Lopes 1999) At o momento, as iniciativas voltadas para a inovao das instituies em Nova Friburgo apontam os seguintes resultados e iniciativas: i. Instalao de um sistema de CAD, no SENAI local, para as empresas desenvolverem design. O objetivo acoplar uma mquina de risco ao sistema quando este estiver com 100% de utilizao. Entretanto, a pesquisa apurou que muitas empresas entrevistadas, principalmente as pequenas, sequer sabiam disto. Uma entrevista apontou tambm que por enquanto no h um instrutor permanente no SENAI para orientar as empresas quanto utilizao do sistema. ii. Criao de um grupo de empresas para formar um consrcio de exportao. Segundo uma diretora do SINDVEST, foi enviada correspondncia a todas as empresas do sindicato e houve dificuldades para fechar o grupo, porm muitas firmas afirmaram desconhecer o projeto e uma, entre 41 e 100 empregados, afirmou que s ficou sabendo depois que o grupo j estava montado. iii. Em 1999 o total de consultas do setor de confeces ao SEBRAE, envolvendo solues para problemas tcnicos e consultorias tecnolgicas, foi de 195, sendo 70 oferecidos por consultores do SENAI de Nova Friburgo e o restante por outras instuies. iv. A feira anual de lingerie, promovida pela FIRJAN-NF e pelo SINDVEST, reuniu no ano passado 28.000 visitantes, sendo 5.000 compradores .

Alm destas iniciativas, houve uma iniciativa isolada de formar uma cooperativa de micro e pequenas empresas (a maior tem menos de 20 empregados), com o objetivo de melhorar as condies de compra de matria prima e de comercializao. A cooperativa est montando uma loja, tendo optado por comear pela comercializao devido falta de recursos. Entretanto, a equipe de pesquisa apurou que a estrutura desta cooperativa deixa a desejar em termos de sua atuao.

As iniciativas voltadas para a inovao na regio podem entretanto ser limitadas pelas carncias de infra-estrutura das empresas. A tabela 10 aponta as principais carncias30

de infra-estrutura das empresas. Tanto as empresas txteis como as de confeces consideram a rea para instalao insuficiente, e no tm espao para se expandir devido falta de planejamento urbano da cidade (ver seo 4). As estradas so precrias, e as escolas tcnicas consideradas insuficientes porque os cursos

oferecidos no so adequados indstria de confeco. Segundo uma entrevistada, at pouco tempo atrs, o SENAI no oferecia nenhum curso para a indstria, e agora oferece cursos bsicos como os de costureira, mecnico e cortador. Entretanto, as necessidades da indstria so mais amplas. Uma pesquisa do SENAI/CETIQT realizada em 1995 entre 105 empresas do estado do Rio de Janeiro (ver seo 5) identificou como principais dificuldades enfrentadas pelas empresas: falta de mo de

obra qualificada nos setores de enfesto, risco e corte; manunteno de mquinas; costura industrial e modelagem. Tabela 10: Percepo das empresas em relao infra-estrutura (nmero de empresas)Insuficiente rea p/ instalao Energia Estradas Telecomunicaes Escolas tcnicas Tecnologias em instituies locais Fonte: Pesquisa de campo 4 3 1 4 4 Txtil Satisfatria 1 5 2 4 1 1 Excepcional Insuficiente 19 4 13 5 12 16 Confeces Satisfatri a 14 6 14 6 3 Excepcional 1

1

A anlise do papel das instituies listadas acima para a atividade inovadora na regio requer uma contextualizao de suas iniciativas no mbito das polticas pblicas voltadas para a cadeia, o que ser feito na seo 4 deste relatrio. Por outro lado, o sucesso das iniciativas voltadas para a inovao depende fortemente das condies de capacitao e aprendizagem da regio, que sero analisadas a seguir.

31

3. Capacitao e aprendizagem

3.1. Desenvolvimento de capacitao tecnolgicaAs tabelas 11 a 21, a seguir, apresentam a percepo dos entrevistados em relao s principais fontes de aprendizagem e vantagens dinmicas para a competitividade. A anlise realizada levou em considerao, para destacar as principais percepes, a soma das freqncias observadas como importante e muito importante.

A tabela 11 mostra que as fontes mais importantes de aprendizagem para as empresas so os clientes, a literatura especializada e as feiras e congressos, o que coerente com resultados sobre fontes de aprendizagem de pequenas e mdias empresas em outras indstrias (La Rovere 1999). As deficincias encontradas em escolas tcnicas e desenvolvimento contriburam para tecnolgico este local, mostradas As pela tabela revelaram 10 acima, o tambm grau de resultado. entrevistas que

conscientizao dos empresrios em relao importncia da capacitao tecnolgica bastante baixo. Por exemplo, a maioria das empresas entrevistadas nunca realizou esforos no sentido de obter certificao da qualidade de seus produtos e processos. Assim, iniciativas de conscientizao das empresas precisam ser implementadas para que hajam esforos de capacitao tecnolgica. A proposta de criao do Conselho de Capacitao, descrita na seo 4, uma iniciativa pioneira na regio que poder contribuir para uma mudana na cultura das empresas em relao capacitao.

32

Tabela 11: Principais fontes de aprendizagem das empresas (% das respostas em relao ao grau de importncia)Fonte Consultorias especializadas: na regio Nacionais no exterior Universidades e Centros Tecnolgicos: na regio Nacionais no exterior Aquisio de novos equipamentos fornecidos por produtores: da regio Nacionais do exterior Clientes Publicaes especializadas Troca de informaes com empresas do setor: na regio Nacionais no exterior Congressos e feiras comerciais e industriais realizadas: na regio Nacionais no exterior Fonte: Pesquisa de campo 1 96 88 92 92 88 100 58 63 71 8 25 46 83 79 25 38 46 29 17 4 13 13 8 8 4 4 2 3 4 4 8 8

4

8 13 8 4 17 13 17 25 4 4 17 13 75 46 17 4 13 58 42 38

13 17 17

Legenda: 1=sem importncia, 2=pouco importante, 3=importante e 4=muito importante

Cabe observar que a troca de informaes com empresas do setor na regio e a interao com clientes foi considerada bem mais importante pelas empresas com um nmero de empregados na faixa de 41 e 200 empregados do que pelo conjunto das empresas. Isto mostra que as maiores empresas dentre as pequenas e as mdias dependem menos de processos informais de comercializao do que as

microempresas, e esto atentas ao fato que o desenvolvimento de relaes estveis com clientes importante para assegurar a competitividade de seus produtos.

3.2. Estratgias de aprendizagemSeguindo o questionrio desenvolvido para o projeto Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Polticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnolgico, a pesquisa procurou levantar os gastos em inovao (P&D, design e engenharia) das empresas, entretanto no teve sucesso pois os empresrios no realizam sistematicamente e nem contabilizam estes gastos. Apesar disso os empresrios responderam que pretendem ampliar moderadamente os gastos em inovao nos prximos cinco anos.

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Foi observado nas entrevistas que a dinmica da inovao nas empresas da regio tem caractersticas distintas de acordo com o tamanho destas empresas. As micro e pequenas empresas apostam na diversificao de produtos, introduzindo

semanalmente novos modelos baseados em adaptaes ou cpias de modelos j existentes, e, com menor frequncia, novos materiais nos modelos existentes. As empresas maiores seguem uma estratgia de integrao vertical para enfrentar as oscilaes de mercado descritas na seo 1.2, e portanto investem mais na automao de seus equipamentos. A integrao vertical tambm permite maior inovao centrada no desenvolvimento de novos materiais ou em inovaes de matrias-primas. As empresas maiores tambm tm atividades formalizadas de controle de qualidade e de criao e desenvolvimento de novos modelos, tendo departamentos especficos para estas atividades.

O controle bem sucedido da qualidade de produtos e processos depende da qualificao da mo de obra. A pesquisa investigou portanto se a qualificao atual era adequada, se havia inteno de manter ou intensificar o nvel de qualificao atual e quais eram os principais locais de treinamento da mo de obra.

Quase todas as empresas responderam que a qualificao era adequada, porm, que desejavam intensific la principalmente na mo de obra relativa produo. Isto denota uma certa falta de autocrtica, pois a falta de capacitao gerencial por parte dos empresrios ntida, principalmente nas empresas com at 40 empregados. O local de treinamento a empresa, mas, na verdade, o que chamam de treinamento o que ensinam s costureiras quando as contratam. Apenas duas empresas com um nmero de empregados na faixa de 41 e 100 funcionrios, e a maior empresa de confeces tem empregados em cursos externos, mas estes envolvem parcelas pouco expressivas do total do nmero de empregados em cada empresa (2%, 1% e 5%, respectivamente). Na indstria txtil h mais treinamento externo, sendo que em duas empresas os cursos envolvem 10% do nmero total de empregados. Os poucos empresrios que j fizeram cursos de gerenciamento do SEBRAE, os consideraram inadequados s necessidades do setor e vm se baseando em orientao de fornecedores nacionais para implementar solues tcnicas.

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3.3. Processos interativos para aprendizagem no arranjoA tabela 12 mostra que as principais formas de incorporao de inovaes tecnolgicas das empresas se realizam atravs de aquisio de novos equipamentos, nas unidades de produo da empresa, contratando funcionrios de outras empresas e em cooperao com fornecedores. Conforme mencionado acima, a predominncia de micro, pequenas e mdias empresas no sistema produtivo faz com que a dinmica da inovao esteja centrada no desenvolvimento de novos modelos, da a importncia da incorporao de inovaes nas unidades de produo da empresa. A aquisio de novos equipamentos considerada importante para a modernizao da empresa e sua capacidade inovadora. Como o acabamento da lingerie intensivo em mo-de-obra, o desenvolvimento de novos modelos pode ser feito a partir da obteno de informaes junto aos funcionrios, portanto as empresas recorrem contratao como estratgia de inovao. A cooperao com fornecedores, por sua vez, importante para o desenvolvimento de novos modelos baseados em novos materiais. Tabela 12: Formas de incorporao de inovaes tecnolgicas das empresas (% das respostas em relao ao grau de importncia)Forma de incorporao de inovaes tecnolgicas 1 Aquisio de mquinas compradas no mercado nacional 17 Nas unidades de produo da empresa 42 Contratando funcionrios de empresas mais avanadas 42 Em cooperao com fornecedores de equipamentos 54 Aquisio de mquinas compradas no mercado internacional 63 Em cooperao com fornecedores de insumos 58 Em cooperao com outras empresas concorrentes 68 Em cooperao com outras organizaes 71 Via licenciamento 96 Fonte: Pesquisa de campo Legenda: 1 =sem importncia, 2=pouco importante, 3=importante e 4=muito importante) 2 8 4 21 13 13 25 20 17 3 46 33 25 21 8 13 8 13 4 4 29 21 13 13 17 4 4

A tabela 13 mostra como evoluram as relaes de cooperao nos ltimos cinco anos. Observa-se um aumento significativo das relaes de cooperao com os clientes, o que coerente com os dados da tabela 11.

35

Tabela 13: Evoluo das relaes de cooperao com empresas e instituies locais e externas nos ltimos cinco anos (% das respostas)Empresas e Instituies Clientes Concorrentes Fornecedores de insumos Fornecedores de equipamentos Centros tecnolgicos Universidades 1 6 Locais 2 3 4 6 53 12 64 23 11 53 26 6 78 6 75 25 79 16 5 24 14 11 11 5 9 6 5 1 Externos 2 3 4 5 5 32 27 36 94 6 4 43 43 9 4 57 30 4 95 5 10 0 94 89 5

4

Sindicatos e Associaes 5 9 50 27 Orgos pblicos 5 95 Fonte: Pesquisa de campo Legenda: 1) forte diminuio 2) diminuio 3) estvel 4) aumento 5) forte aumento

A pesquisa constatou que as empresas at 100 empregados tendem a cooperar mais do que as empresas maiores. O aumento das relaes de cooperao foi maior nas empresas txteis (forte aumento para 60% das empresas) do que para as empresas de confeces. Cabe observar que as empresas consideraram estvel as relaes com centros tecnolgicos e universidades mas na prtica elas so raras: apenas 20% das empresas txteis e 5% das empresas de confeces desenvolvem relaes raramente para desenvolvimento de novos processos, teste e certificao. Os motivos para no haver nenhuma interao com universidades e centros de pesquisa regionais esto listados na tabela 14. Tabela 14: Motivos para no haver nenhuma interao com universidades e centros de pesquisa regionais (% das respostas)Motivos 1 2 3 4 As instituies locais no possuem a infra-estrutura e 50 22 28 qualificao necessrias para atender as necessidades de inovao da empresa Possui infra-estrutura prpria 24 24 18 35 Conta com fornecimento externo de informaes tecnolgicas - atravs da matriz ou outras unidades do mesmo grupo 94 6 - atravs dos fornecedores de insumos e equipamentos 39 17 44 - atravs de outras consultorias tecnolgicas no pas 89 6 6 - atravs de outras consultorias tecnolgicas fora do 94 6 pas Falta de informao 13 13 75 Fonte: Pesquisa de campo Legenda: 1) sem importncia 2) pouco importante 3) importante 4) muito importante

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Para as empresas txteis, os dois primeiros itens so os mais importantes. Segundo as entrevistas realizadas, as relaes de cooperao ocorrem muito mais com outras empresas do que com instituies de pesquisa, devido tradio associativista, influenciada pela cultura protestante. Cada empresa estabelece laos de cooperao com cerca de quinze outras empresas, e dentro dos grupos formados a troca de informaes tcnicas constante. Esta afirmao, obtida numa entrevista, coerente com os resultados da tabela 15 abaixo. Tabela 15: Evoluo das relaes de cooperao com as demais empresas e com os fornecedores da regio nos ltimos cinco anos (% das respostas)Atividades cooperativas 1 Troca de informaes Ensaios para desenvolvimento e melhoria de produtos Aes conjuntas para capacitao de RH Aes conjuntas de marketing Aes conjuntas de desenho e estilo Outras Concorrentes 2 3 4 5 5 45 41 9 73 23 5 10 0 76 14 10 5 86 5 5 10 0 1 Fornecedores 2 3 4 5 38 43 19 65 25 10 95 5 79 11 11 89 11

Fonte: Pesquisa de campo Legenda: 1) forte diminuio; 2)diminuio; 3)estvel; 4)aumento; 5)forte aumento

O fato de Nova Friburgo ser uma cidade onde h membros de uma mesma famlia em diferentes empresas facilita a troca de informaes, e existe tambm em alguns casos o emprstimo de matrias-primas, que apesar de no ser um tipo de cooperao voltado para a inovao foi citado diversas vezes pelos entrevistados. Todas as empresas que consideraram a troca de informaes muito importante mencionaram tambm que esta troca aumentou devido s iniciativas da FIRJAN e do SINDVEST. As formas de interao com outras instituies tais como associaes de classe, sindicatos etc. so tambm pouco expressivas, como mostra a tabela 16.

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Tabela 16: Formas de interao com outras instituies (% das respostas)Forma de interao Realizao de eventos/feiras Cursos e seminrios Negociaes coletivas Apoio na aquisio de insumos Contatos e troca de informaes Fonte: Pesquisa de campo Legenda: IN=inexistente ME=mensal RA=rara AN=anual Impotncia Frequncia 1 2 3 4I R M A 6 17 78 33 13 54 31 46 23 46 38 4 13 43 57 71 29 10 0 25 50 25 83 8 8

Finalmente, as relaes de sub-contratao, que podem ser atividades importantes para o desenvolvimento tecnolgico, dependem do porte da empresa e da fase da produo, como mostra a tabela 17. Cabe observar que apenas as empresas de confeco recorrem sub-contratao, e que a maioria das empresas pequenas e mdias no sub-contrata. Tabela 17: Relaes de sub-contratao entre as empresas por tamanhoPorte da empresa Fase sub-contratada (% das % da produo subrespostas) contratada a b c d e f g a b c d e f 1-10 0 0 33 0 0 0 67 30 11-40 10 0 20 10 0 0 60 100 30 50 41-100 0 0 25 25 0 0 50 50 50 101-200 0 0 0 0 50 0 50 100 +200 0 0 100 0 0 0 0 30 Fonte: Pesquisa de campo Legenda: a - desenho b - corte c montagem d acabamento e - limpeza f embalagem g - no sub-contrata

A sub-contratao no uma prtica usual na regio. Apenas na indstria de confeces existem algumas empresas trabalhando com terceirizao ou faco, mas so poucas. Seria interessante que, alm da questo a respeito do modo de subcontratao, tambm existisse no questionrio do projeto Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Polticas de Desenvolvimento Industrial e Tecnolgico uma questo sobre os motivos para no sub-contratar. Isto porque, dado que o38

problema no deve ser de custo, provvel que os motivos estejam ligados a dificuldades de gerenciamento de produo em redes. Embora o questionrio no tenha sido voltado para capacitao gerencial dos empresrios locais, foi constatado durante as entrevistas que este um dos mais graves problemas da regio, e vem sendo bem pouco trabalhado pelas instituies locais. O pouco apoio que dado vem sendo feito pelos fornecedores nacionais que, com o crescimento do plo, organizam palestras para os empresrios, tentando ensinar noes bsicas de administrao e estratgia empresarial. Um fato ilustrativo, foi um entrevistado que disse ter trabalhado durante oito anos para apenas um cliente, e que, estando satisfeito com o desenvolvimento do negcio, sequer planejava expandir sua produo. O entrevistado mudou de idia aps uma palestra organizada pela DuPont, quando o palestrante comentou que isso seria absurdo. Aps discutir o assunto com o palestrante, o entrevistado montou uma loja e uma nova unidade de produo, visando buscar novos clientes, enfim, passando a funcionar como uma empresa.

Os resultados apresentados nesta seo demonstram a importncia das iniciativas de estmulo s interaes locais para incrementar a atividade inovadora e diversificar as fontes de inovao.

3.4. Vantagens associadas regioA pesquisa procurou identificar as principais vantagens associadas localizao de fornecedores de matrias-primas e equipamentos na regio. Pode-se constatar

comparando a tabela 18 com as tabelas 2 e 3 que, apesar das empresas usarem pouca matria-prima e equipamentos locais, elas consideram a localizao importante para sua competitividade. As entrevistas realizadas confirmaram os dados das tabelas 18 e 19, que mostram que as empresas associam as vantagens da localizao qualidade da mo de obra local. A tabela 19 lista as principais vantagens associadas localizao da empresa na regio.

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Tabela 18: Percepo das empresas em relao localizao de matria-prima e equipamentos (% das respostas)Vantagens de se obter matria -prima e equipamentos na regio Rapidez/garantia de entrega Custos de transporte Condies de financiamento Vantagens de preo Atributos de qualidade Fonte: Pesquisa de campo Grau de importncia 1 2 3 7 7 64 14 7 79 7 86 7 79 7 7 4 86 14 14 7 7

Tabela 19: Percepo das empresas em relao sua localizao (% das respostas)Vantagens da localizao da empresa na regio Disponibilidade de mo-de-obra Qualidade da m o-de-obra Alta demanda por produtos da regio Infra-estrutura disponvel Proximidade com fornecedores de insumos Custo da mo -de-obra Proximidade com clientes/consumidores Proximidade com universidades e centros de pesquisa Existncia de programas governamentais Fonte: Pesquisa de campo Grau de importncia 1 2 3 4 17 29 13 8 29 21 8 21 29 21 29 38 17 25 32 28 28 58 13 4 67 21 13 96 4 4 50 50 50 21 21 12 25

Pode-se perceber que a principal vantagem associada disponibilidade e qualidade da mo de obra, mas no ao seu custo, que foi comparado com de cidades vizinhas. A maior empresa de confeces da regio tem faces em cidades vizinhas, onde o custo da mo de obra mais baixo, e fornece equipamentos e treinamento s costureiras. Uma empresa com um nmero de empregados na faixa de 41 e 100 funcionrios tambm montou recentemente uma faco numa cidade vizinha. Ainda na tabela 19, observa-se que a alta demanda por produtos da regio foi citada como uma das vantagens de localizao. Diferentemente da vantagem anterior, que est ligada tradio industrial da regio, esta vantagem foi adquirida, nos ltimos cinco anos, devido intensa procura da regio por atacadistas, sacoleiras e outros compradores. As entrevistas revelaram que a qualidade da mo-de-obra uma das caractersticas da regio desde o incio deste sculo, e que os empresrios valorizam esta qualidade na40

medida em que recorrem sistematicamente a inovaes calcadas em diversificao de produtos.

As principais vantagens percebidas pelos empresrios no que se refere ao perfil da qualificao da mo-de-obra da regio encontram-se listadas na tabela 20. Tabela 20: Vantagens da mo de obra local (% das respostas)Vantagens 1 Conhecimento prtico e/ou tcnico da profisso Disciplina Capacidade para aprender novas qualificaes Concentrao Iniciativa na resoluo de problemas Escolaridade formal de 1o e 2o graus Escolaridade em nvel superior e tcnico Fonte: Pesquisa de campo 8 21 13 46 71 83 Grau de importncia 2 3 4 21 21 58 21 13 58 13 38 29 33 29 25 33 4 17 8 13 8 8 4 4

As empresas menores no consideraram disciplina um item muito importante, o que mostra o peso das relaes pessoais como fator hierrquico. A pesquisa levantou tambm as principais inovaes adotadas em produtos e processos produtivos, listadas na tabela 20. Como se pode observar, as inovaes mais importantes so a alterao no desenho/estilo e a introduo de novas matrias-primas, o que confirma o padro de inovao de pequenas empresas descrito anteriormente . Desta forma, a atividade de design fundamental para a atividade inovadora das empresas.

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Tabela 21: Principais inovaes adotadasInovaes adotadas Inovaes de Produto Alteraes no desenho/estilo Ateraes de caractersticas tcnicas Novo produto Inovaes no processo produtivo Incorporao de novos equipamentos na planta industrial Nova configurao da planta industrial Construo de uma nova planta Introduo de novas tcnicas organizacionais - Clulas de produo - Just-in-time externo - CAD/CAM Introduo de novas matrias-primas Fonte: Pesquisa de campo Grau de importncia 1 2 3 8 17 17 13 25 4 8 8 38 13 29 21 17 4 4 8 17 4 83 42 58 54 25 25 21 8 38 67

4 13 4 29 54 67 88 54 13

4

Muitas empresas iniciaram suas atividades na dcada de 90 e elas, junto com as mais antigas, tiveram um crescimento acentuado ao longo da dcada. Portanto, o alto percentual de adoo de inovaes na maioria dos itens era de se esperar. No que se refere s tcnicas organizacionais, onde os percentuais so menores, o CAD est comeando a ser mais utilizado. Uma entrevista apontou que hoje existem pelo menos 14 empresas em Nova Friburgo utilizando o sistema. Houve tentativas de implantar clulas de produo por parte de muitos empresrios que depois as desmontaram, pois segundo eles o SENAI, que estava orientando as empresas na implantao, abandonou o projeto no meio.

No que se refere tecnologia de produo a maioria das empresas a considera estvel e difundida, e a demanda foi percebida como estabilizada, como mostra a tabela 22. Tabela 22 :Percepo das empresas em relao tecnologia de produo e demanda (% das respostas)Tecnologia de produo Estvel e difundida Passando por grandes alteraes Situao da demanda Comeando a crescer Cresce a uma taxa significativa Est estabilizada Fonte: Pesquisa de campo 92 8 33 13 54

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Os dados apresentados nesta seo e nas sees anteriores explicam por que as empresas no esto conscientes em relao importncia da capacitao tecnolgica e das interaes locais para o desenvolvimento de inovaes. Em primeiro lugar,.o peso expressivo de clientes informais (sacoleiros), principalmente nas empresas menores, leva a uma ausncia de relaes estveis com clientes que torna esforos de padronizao e de controle de qualidade dos produtos desnecessrios. Em segundo lugar, ao dispor de mo-de-obra qualificada as empresas confiam que seu produto ser um produto de qualidade. Finalmente, ao considerar a tecnologia estvel as empresas no so estimuladas a modernizar seus equipamentos. Desta forma, para que as empresas da regio consigam tirar proveito das vantagens associadas sua localizao torna-se necessria a articulao de polticas voltadas para a inovao, que sero descritas na seo 4.

4. Polticas Pblicas A cadeia txtil e de confeces vem sendo alvo de estudos e de propostas de poltica da FIRJAN, do governo estadual e do SENAI/CETIQT desde que a crise no Rio de Janeiro tornou-se aparente. O estado do Rio de Janeiro estava entre os cinco primeiros maiores produtores txteis do Brasil, e hoje em dia est em dcimo lugar. O interesse destas instituies em fomentar a cadeia no estado se deve ao seu potencial de gerao de empregos: segundo clculos do IBRE/FGV, 1 bilho de dlares investidos geram 10 mil empregos na indstria automobilstica, 65 mil empregos na construo civil, e 100 mil empregos na cadeia txtil. Em 1995 o SENAI/CETIQT realizou uma pesquisa enviando 1.000 questionrios s empresas do estado do Rio de Janeiro, e a partir de uma amostra de 10% identificou as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas. Em 1997, a FIRJAN, em parceria com o SENAI e o SEBRAE e apoio da Companhia de Desenvolvimento Industrial (CODIN), apoiou um estudo da FGV sobre as potencialidades econmicas e a competitividade do estado do Rio de Janeiro. Com base nos resultados deste estudo, a FIRJAN lanou, junto com o governo estadual, um Programa de Competitividade da Indstria Txtil e de Confeco, que previa a realizao de cursos e treinamentos especficos oferecidos pelo SENAI/CETIQT e pelo SEBRAE e a criao de um grupo de trabalho visando estudar a possibilidade de reduo de carga tributria do ICMS. O43

SENAI/CETIQT realizou um estudo setorial sobre as indstrias txteis e de confeco em 1998, em parceria com o Instituto GTZ da Alemanha, no mbito do acordo bsico de cooperao entre Brasil e Alemanha. Em 1999, o IBRE/FGV realizou um estudo para subsidiar o projeto de desenvolvimento do plo de moda ntima da regio CentroNorte fluminense lanado pela FIRJAN e pelo SINDVEST. Observa-se assim uma evoluo dos estudos e das propostas de poltica, de iniciativas mais gerais visando todo o estado para iniciativas especficas para a regio centro norte fluminense.

Isso ocorreu porque j no estudo de 1997, organizado pela FIRJAN e governo estadual, a regio aparecia como a terceira maior produtora de confeces do estado, e, diversamente das duas primeiras regies produtoras (Regio Metropolitana e Baixada Fluminense), nesta regio existe uma clara especializao das confeces em um segmento, o que facilita a definio de polticas.

Cabe observar que as iniciativas voltadas para a regio tm partido do governo estadual e da FIRJAN, pois os governos municipais no exercem uma poltica voltada para o setor. De a cordo com as entrevistas, a prefeitura de Nova Friburgo no tem uma lei de uso do solo e no realiza planejamento urbano, o que dificulta a expanso das plantas produtivas. Por conta desta dificuldade, a FIRJAN, em parceria com a CODIN e a companhia de eletricidade local, est desenvolvendo um projeto de um condomnio industrial privado para atender s necessidades de expanso das empresas.

O projeto de desenvolvimento de um plo de moda ntima desenvolvido pelo IBRE/FGV e que vai ser implementado pela FIRJAN e pelo SINDVEST se baseia em duas linhas de ao especfica. A primeira a criao de um Conselho de Capacitao, que envolveria todas as cerca de 600 empresas formais da regio. Este conselho coordenaria todas as aes do SENAI, do SEBRAE do sindicato e das instituies patronais visando capacitao das empresas. De acordo com entrevista realizada no IBRE/FGV, no h no momento nenhuma articulao entre os cursos do SENAI e do SEBRAE e as necessidades das empresas: o SENAI e o SEBRAE realizam cursos por iniciativa prpria, e as empresas participam caso estes cursos atendam a suas necessidades. Como foi mostrado na tabela 11, os mecanismos de aprendizagem das empresas so centrados em informaes dos clientes, participao em eventos e literatura especializada. O Conselho de Capacitao pretende estimular a atividade de

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design na regio, e a instalao do sistema de CAD no SENAI local foi considerada por um entrevistado como um primeiro passo nesta direo.

A segunda ao a criao de um consrcio de exportao, reunindo um grupo de cerca de 40 empresas. Este grupo vai lanar marcas prprias e um selo de qualidade, mas cada empresa individual ser responsvel pela sua parte do pedido. Pretende-se assim fomentar uma cultura exportadora e de qualidade entre as empresas da regio. A certificao dos produtos dever ser feita pelo SENAI/CETIQT. Atravs deste consrcio as empresas podero obter inmeros benefcios, tais como (Lopes e Lopes 1999): Compra de matria-prima e acessrios em geral no mercado interno e externo; Compra de equipamentos em geral; Participao em feiras nacionais e internacionais; Organizao de misses ao exterior para identificao de novos mercados; Elaborao de pesquisas de mercado; Obteno de marcas prprias do consrcio, como identificao para otimizar a comercializao; Definio de um selo de qualidade, atravs do atendimento de determinados requisitos; Estabelecimento de unidades no exterior, como depsito de mercadoria, showroom, e escritrios; Organizao de cursos de treinamento e formao, em colaborao com o SEBRAE; Elaborao de material promocional, como brochuras, folders, perfil da empresa; Contratao coletiva de seguros; Negociao com bancos para se obter melhores condies de financiamentos.

Finalmente, a FIRJAN e o SINDVEST pretendem continuar atraindo cada vez mais empresas e compradores para a Feira de Lingerie, como forma de envolver as empresas da regio nas suas iniciativas.

Apesar das empresas de confeces situadas em Nova Friburgo e em seu entorno estarem localizadas em uma concentrao espacial, formando um plo local, elas no mantm interaes entre elas e no se articulam o suficiente junto s demais organizaes locais para catalizarem suas demandas, agindo, em geral, de forma no45

associada ou cooperada. Existe tambm uma diviso clara entre as aes empresariais locais e o poder pblico, em parte, atribuda a valorizao das MPME s e o seu elevado grau de informalidade. Este comportamento impede que as principais vantagens da proximidade fsica sejam concretizadas e canalizadas para a elevao do nvel competitivo das empresas (Hasenclever, Botelho e La Rovere,2000). Neste sentido, seria extremamente importante a concentrao de recursos financeiros e humanos para reduzir a fragmentao das MPMEs. As poucas aes coletivas empreendidas at o momento, como o caso da feira anual de confeces, indicam o caminho para a concentrao dos apoios e esforos institucional e financeiro do Estado e dos organismos de pesquisa. A criao de linhas especiais de crdito especficas para financiamento da capacitao de lideranas empresariais; de dirigentes de empresas; de financiamentos e crditos para projetos especficos design, modelagem, embalagem, imagem do plo,

fortalecimento de marcas e outras iniciativas que visem o fortalecimento do carter associativo e cooperativo das empresas seriam extremamente importantes para o desenvolvimento da indstria de confeces, onde predominam as empresas de porte pequeno e mdio. crdito Pode-se observar na tabela 23 que o estabelecimento de linhas de importante porque os empresrios de confeces tm

considerado

necessidade constante de capital de giro. No que se refere aos incentivos fiscais, o fato das empresas serem pequenas e intensivas em mo de obra faz com que, na percepo das empresas, estes incentivos sejam formas de compensar os elevados encargos sociais.

Tabela 23: Iniciativas mais importantes para os empresriosRanking de Importncia 1 2 3 4 5 6 Fonte: Pesquisa de campo Iniciativas Linhas de Crdito Incentivos fiscais Consultoria tcnica Treinamento tcnico Maior estabilidade macroeconmica Melhorias na Educao bsica

O desenvolvimento de centrais de compras de matrias primas, sistemas empresariais e de gesto; centrais de design e moda e centrais de marketing; os programas de capacitao de recursos humanos e capacitao em controles administrativos e46

gerenciais modernos; a negociao coletiva de preos com os fornecedores, a implantao dos sistemas de CAD/CAM de uso compartilhado entre as empresas, e a organizao de eventos e centros de informao so exemplos de iniciativas que reduzem os custos de obteno de informaes para as empresas principalmente no tocante s tendncias da moda e da tecnologia. O Plo de Americana, em So Paulo, destaca-se como um exemplo do envolvimento direto das organizaes municipais e estaduais, sindicatos, associaes comerciais, patronais e de trabalhadores, onde uma unio de esforos liderada pelo PACTo/FIA/USP, com o apoio do SEBRAE-SP, e colaborao de rgos como o IPT e o SENAI resultou em condies de alavancar condies de melhorias tecnolgicas e capacitao das empresas (Lopes e Lopes, 1999). Em Nova Friburgo os esforos feitos pelo SEBRAE, SENAI e FIRJAN da regio centro norte fluminense em muito teriam a ganhar se contassem com uma liderana da reunio destes esforos a partir da incubadora de empresas e do escritrio de transferncia de tecnologia da UERJ locais. A incubadora conta com algumas empresas produtoras de softwares que muito poderiam auxiliar na construo de sistemas de gerenciamento das informaes e alm disso a UERJ conta com uma das mais importantes escolas de design - a Escola

Superior de Desenho Industrial da UERJ (ESDI/UERJ).

O levantamento e diagnstico feito pelo SEBRAE de pontos de estrangulamento fundamental para mostrar caminhos de aes coletivas entre as empresas e para o desenvolvimento do plo. Da mesma forma, a validao destes diagnsticos por outras instituies, como o caso deste estudo, e do estudo Vocaes, Vinculaes e Difuso Tecnolgica da Regio Centro Norte Fluminense, tambm realizado pelo Grupo de Inovao do IE/UFRJ, aumentam a confiana das MPME s no sentido de canalizarem estas aes coletivas. O aprofundamento de pontos especficos detectados nestes estudos sobre o Polo de Confeco de Nova Friburgo como os aspectos socilogicos, culturais e polticos que dificultam a ao coletiva local tambm seriam de enorme interesse para o desenvolvimento das MPMEs. O papel dos governos federal, estadual e municipal no aporte de recursos para custear a manuteno das informaes tecnolgicas e gerenciais de compras e vendas imprescindvel mesmo que as organizaes privadas estejam dispostas a arcar com estes custos devido ao elevado montante de recursos envolvidos na coordenao de47

empresas de pequeno e mdio porte, que muito superior ao de empresas de grande porte.

O estudo mais abrangente de Lopes e Lopes (1999) tambm indica, como pontos fundamentais de organizao de iniciativas locais de desenvolvimento das MPMEs da indstria de confeces, o desenvolvimento de moda e design e das centrais de venda com nfase para a exportao. No caso do Plo de Nova Friburgo, j esto em franco desenvolvimento as iniciativas voltadas para a montagem de consrcios de exportao e certificao de qualidade das empresas candidatas exportao, bem como a feira anual de confeces e a criao de uma marca, lideradas pela FIRJAN e SINDVEST, com o apoio da FGV. A estas iniciativas poderiam ser associadas iniciativas de desenvolvimento da moda e do design, atravs da liderana da UERJ, que abrigaria um centro regional de moda e design compartilhado entre as vrias empresas e tambm poderia oferecer servios de informtica e desenvolvimento de softwares de gerenciamento para estas empresas. importante destacar o desenvolvimento da moda e do design como um pr-requisito para o sucesso da criao de marcas e do alcance dos mercados externos, como demonstram as experincias italianas no setor de calados.

O financiamento para compra de mquinas e equipamentos tambm servir como um elemento aglutinador das empresas em torno do plo. Segundo Lopes e Lopes (1999) estes financiamentos deveriam estar em torno de 10.000 e 500.000 reais e ser concedidos atravs do microcrdito, fundos de aval e suporte de garantias para operaes de pequenos valores.

O financiamento para capital de giro, entre 10.000 e 300.000 reais, com base em garantias de mquinas e equipamentos e os fundos de aval do SEBRAE e do Governo Federal tambm poderia ser uma medida interessante para aumentar o esprito associativo e cooperativo das empresas. Esta experincia j foi testada com sucesso nos plos de confeces localizados em Minas Gerais, conforme estudo de Lopes e Lopes (1999).

Um outro conjunto de polticas importantes para reduzir a diviso entre as iniciativas do Estado, principalmente a nvel municipal, e das associaes privadas, mencionada48

acima, seriam polticas com o objetivo de reduzir o problema da informalidade das MPME s, tais como reforma tributria e simplificao do recolhimento dos impostos e pagamento de encargos sociais propostos pelo SIMPLES.

Neste sentido poderiam ser pensadas linhas de crdito para formalizao das empresas ou crditos vinculados esta formalizao para a melhoria da gesto, produo, tecnologia, qualidade e produtividade.

E por fim, necessrio iniciar um processo de construo coletiva de padres de inovao e qualidade nas indstrias da cadeia txtil-confeces Questes como capacitao empresarial, planejamento de investimentos e de produo deveriam ser consideradas em conjunto com adequao do maquinrio e da matria prima utilizada ao produto especfico que se quer confeccionar, regulagem das mquinas para adequar o tecido utilizado na confeco das peas, conscientizao das costureiras o que qualidade desde o corte dos tecidos at o acabamento das peas, definio de padres quantitativos de qualidade das peas tais como propores e variabilidade tolervel das cores, e visual das peas.

Concluses e Recomendaes A existncia de um arranjo produtivo com base em inovao pressupe a alta

intensidade de relaes de cooperao baseadas na incorporao de tecnologia pelas empresas e instituies presentes no arranjo. O resultado da pesquisa de campo e das entrevistas analisado nas partes anteriores deste relatrio permite as seguintes concluses: i. as fontes mais importantes de aprendizagem para as empresas so os clientes, a literatura especializada e as feiras e congressos; ii. as escolas tcnicas e demais instituies de pesquisa cientfica e tecnolgica so consideradas de pouca relevncia para o aprendizado das empresas, em especial o tecnolgico; iii. em decorrncia, do item anterior acima, as relaes de cooperao entre as empresas do arranjo e os centros tecnolgicos e universidades so raras;

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iv.

as relaes de cooperao que mais evoluram foram com os clientes, o que coerente com as fontes de aprendizagem;

v. as relaes de cooperao ocorrem muito mais entre as empresas da regio, muito em funo da prpria hi stria do desenvolvimento da regio, bem como da cultura dos fundadores da cidade de Friburgo; vi. as principais aes de cooperao entre as empresas so as trocas de informaes. O mesmo ocorre nas relaes de cooperao com os fornecedores; vii. a principal vantagem dinmica associada com a localizao a existncia da

disponibilidade de mo de obra e a sua qualidade na regio (conhecimento prtico e disciplina). Em seguida a elevada demanda pelos produtos das empresas na prpria regio, o que consistente com a importncia conferida aos clientes nos processos de aprendizagem e cooperao; viii. as principais inovaes adotadas esto relacionadas com o design (normalmente cpia e adaptao de design externo, principalmente internacional) e a introduo de novas matrias primas, que facilita o novo design e o desenvolvimento do novo produto. A incorporao de novos equipamentos e as alteraes das caractersticas tcnicas vm logo a seguir, o que confirma as principais tendncias tecnolgicas do setor de confeces e a percepo de utilizao de uma tecnologia j difundida; ix. com relao demanda, vale ressaltar que o arranjo de Nova Friburgo minoritariamente exportador. Portanto, os efeitos da desvalorizao do real so menos perceptveis e mais lentos do que em outros arranjos mais voltados para a exportao. Vem da a percepo de que a demanda est estabilizada, embora algumas firmas, poucas, no entanto, j estejam vendendo propores considerveis de sua produo para o Mercosul; e x. finalmente, existe uma clara percepo por parte das empresas locais de necessidade de um presena institucional mais forte das agncias pblicas, principalmente no que se refere ao crdito. A Firjan e o SINDVEST, que so as instituies mais atuantes, so organismos de defesa e articulao dos interesses de classe e, no propriamente formuladores e operadores de polticas de fomento e desenvolvimento. Mesmo assim, eles so os principais promotores de aes de articulao industrial na regio, baseadas no desenvolvimento de um plo de moda ntima na regio com a criao de um conselho de capacitao, envolvendo todas as empresas do plo, e a constituio de um consrcio de exportao.

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Assim, o arranjo produtivo txtil/confeces de Nova Friburgo, como pode ser constatado pelas concluses acima, no tecnologicamente dinmico. Falta-lhe fundamentalmente capacitao gerencial e empresarial para assumir os riscos da criao de design prprio. Em algumas entrevistas ficou clara a percepo desta fragilidade. A tentativa de criao de marcas prprias e do selo de qualidade uma primeira ao importante neste sentido e que pode elevar, no futuro, a capacidade inovativa deste arranjo local.

Outras aes, entretanto, se fazem necessrias para que as vantagens dinmicas de aprendizado e inovao contribuam para a insero do local no global.

Neste sentido destacam-se as seguintes recomendaes: Realizar um esforo de criao de uma marca associada s vrias marcas prprias, que dar visibilidade localizao dos diferentes produtos e marcas da regio Desenvolver padres e procedimentos de certificao de qualidade para assegurar o sucesso da marca prpria Continuar o esforo de criao de um consrcio de exportao, que permitir s empresas realizar atividades exportadoras de forma sistemtica Assegurar a continuidade dos cursos de capacitao da mo de obra Promover cursos de capacitao gerencial e de design Desenvolver mecanismos de crdito alternativos que atendam s necessidades das micro e pequenas empresas do setor.

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