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APLICAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO
LINEAR NA SELEÇÃO DE ROTAS DE
COLETA SELETIVA DE MATERIAIS
RECICLÁVEIS EM ITAJUBÁ - MG
Rafael Costa Ferreira (UNIFEI)
Ana Paula Renno da Costa (UNIFEI)
Elisa Maria Melo Silva (UNIFEI)
Josiane Palma Lima (UNIFEI)
O presente trabalho pretende analisar a viabilidade e seleção de rotas
propostas pela Prefeitura de Itajubá para a coleta seletiva a ser
iniciada no segundo semestre de 2015, maximizando o lucro da
operação. A ferramenta Solver do software Excel® foi utilizada para
efetuar os cálculos da Programação Linear e contribuir para a correta
tomada de decisão do poder público. A escolha das melhores rotas é
apresentada atendendo às restrições de distância e capacidade dos
caminhões disponíveis, e, posteriormente, é demonstrado o lucro total
da operação. Por último há uma análise econômica que recomenda a
compra de um novo caminhão baú, sugerido pela nova administração
municipal.
Palavras-chave: Coleta Seletiva, Materiais Recicláveis, Programação
Linear.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
Um grande desafio para as autoridades públicas é a geração de resíduos sólidos no
Brasil. A produção desses resíduos cresce em um ritmo muito mais acelerado do que a
população urbana, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE (2012). Devido a esse crescimento, uma
solução viável é a coleta seletiva de materiais recicláveis, uma vez que esta proporciona a
preservação do meio ambiente, reduz áreas de aterro sanitário, produz emprego e renda. No
entanto, para um melhor funcionamento da coleta seletiva nas cidades é necessário
conscientizar a população para estes fins, uma vez que há um alto custo envolvido na própria
coleta, no transporte, no armazenamento e no processamento destes resíduos (O’LEARY et
al., 1999 apud BORENTEIN E SIMONETTO 2006).
Uma alternativa para resolver estas questões é a utilização da Pesquisa Operacional,
que tem por objetivo encontrar soluções eliminando erros e desperdícios. É considerada uma
ciência aplicada cuja finalidade é melhorar o desempenho das organizações através da
formulação de modelos matemáticos a serem resolvidos por meio de computadores,
auxiliando na tomada de decisões (RAO, 1996 apud DÁVALOS, 2002).
O objetivo deste trabalho é analisar as rotas de coleta seletiva de materiais recicláveis
propostas para Itajubá e sugerir quais destas devem ser percorridas maximizando o lucro total
da operação, utilizando-se Programação Linear Inteira.
Esse trabalho foi estruturado inicialmente com uma fundamentação teórica sobre
Pesquisa Operacional e Programação Linear. Em seguida, foi apresentada a definição do
problema e a formulação do mesmo. Por fim, serão apresentados os resultados obtidos com o
trabalho e uma breve conclusão.
2. Fundamentação teórica
2.1. A Pesquisa Operacional
A Pesquisa Operacional é uma técnica que aplica métodos analíticos obtendo uma
solução ótima. Pode ser aplicada em diversas áreas, tais como: manufatura, transportes,
telecomunicações, finanças, saúde, serviços públicos, operações militares, dentre outros
(ARENALES, 2007).
Vale destacar que a Pesquisa Operacional é apenas uma técnica utilizada para se
chegar ao resultado, e por esta razão considera-se que a solução de um problema gerencial se
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inicia com a detecção do problema e termina mais tarde com a fase de implementação.
Portanto, a Pesquisa Operacional traz praticidade na solução de problemas e contribui para
tomada de decisões (MOREIRA, 2007).
2.2. Programação Linear
Para Moreira (2007), a Programação Linear é um dos mais importantes modelos
matemáticos por ser capaz de resolver problemas que apresentam variáveis contínuas ou
inteiras, expressos por meio de equações ou inequações lineares.
Segundo Chiavenato (2004), a Programação Linear (PL) pode ser definida como uma
técnica matemática que visa maximizar os lucros e minimizar os custos. Requer definição das
variáveis envolvidas na decisão e um conjunto de restrições. As características da PL são: a
busca do ponto ótimo com relação ao objetivo requerido, a escolha das combinações entre
alternativas, as restrições que influenciam a decisão e as variáveis quantitativas e lineares.
A Pesquisa Operacional possui quatro fases principais: fase conceitual, modelagem,
resolução e implementação. Na fase conceitual, cabe ao pesquisador elaborar o modelo
conceitual do problema, comparando-o com o sistema real. Já na modelagem cria-se o modelo
matemático com as variáveis de decisão e suas respectivas restrições. Em seguida, se resolve
o problema proposto. E por fim, na implementação, basta analisar os resultados obtidos na
resolução (ARENALES, 2007).
Figura 1 - Processo de modelagem
Conclusões reais ou decisõesInterpretação/inferência
Conclusões do modelo
Sistema ou problema real
Formulação/modelagem
Modelo matemático
Dedução/
Análise
Avaliação/
Julgamento
Fonte: Arenales et al. (2007)
Existe uma gama de situações complexas com grandes quantidades de variáveis e
diversas restrições que podem ser solucionadas com a aplicação da PL, logo existem vários
métodos de resolução. Segundo Chiavenato (2004), um desses métodos é o Simplex, um
algoritmo criado para algebricamente encontrar a solução de um modelo de PL. O presente
trabalho utiliza o método Simplex para obter a solução ótima do problema proposto.
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3. Formulação do problema
3.1. Contextualização
Itajubá é uma cidade média situada no sul de Minas Gerais e ainda se encontra em fase
de implantação do sistema de coleta de materiais recicláveis. Na única pesquisa realizada em
Itajubá sobre a composição dos resíduos sólidos urbanos no município, Gonçalves (2007)
retratou os seguintes componentes demonstrados na figura 1:
Figura 1 – Composição dos resíduos sólidos urbanos em Itajubá
Fonte: Adaptado de Gonçalves (2007)
Percebe-se na figura 1 que somente 31% do montante de resíduos sólidos coletados em
Itajubá são potencialmente recicláveis. O montante mensal de resíduos sólidos coletados em
2014 é apresentado na tabela 1. A partir destes dados calculou-se a quantidade potencial de
material reciclável do município multiplicando os valores do volume total de lixo recolhido
mês a mês por 0,31.
Tabela 1 – Volume total de material reciclável em 2014
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Observa-se na tabela 1 que em 2014 a cidade produziu cerca de 6.213.882 kg de
material reciclável. No entanto, a maior parte desse montante foi diretamente descartada no
aterro sanitário, não havendo assim reversão em receitas para o município caso ocorresse sua
reciclagem. Para que não haja mais essa perda de receitas em 2015, o município implantará
nove rotas de coleta seletiva na cidade, atendendo trinta bairros principais da zona urbana da
cidade. As rotas que serão utilizadas se encontram na tabela 2.
Tabela 2 – Rotas programadas para coleta seletiva em 2015 em Itajubá
A definição das rotas baseou-se naquelas já utilizadas pela coleta de lixo comum que
há muito tempo é realizada na cidade. Todas estas rotas são feitas três vezes por semana na
tentativa de cobrir a maior área possível da cidade com horários e dias regulares. A única
exceção é a rota 09, que acontece apenas uma vez por semana, aos domingos.
O material potencialmente reciclável no Brasil é composto basicamente por cinco
materiais, sendo eles o aço, o alumínio, o papel, o plástico e o vidro (IPEA, 2012). Para obter
os valores da receita perdida no município com a possível venda destes materiais, pesquisou-
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se os valores da tonelada em 15 capitais brasileiras segundo o CEMPRE (2014). A média dos
preços é mostrada na tabela 3.
Tabela 3 – Preço da tonelada do material reciclável no Brasil em 2013
Resíduos Aço Alumínio Papel Plástico Vidro
Média R$ 277,00 R$ 2.471,00 R$ 311,00 R$ 778,00 R$ 95,00
Fonte: adaptado de CEMPRE (2014)
A proporção dos principais materiais recicláveis no Brasil em 2014 é apresentada na
figura 2. Observa-se que o aço apresenta o maior volume na composição dos reciclados do
país, seguido do papel, plástico e alumínio e vidro. A mesma proporção utilizada na figura 2 é
usada para descobrir qual foi a receita perdida em Itajubá com a não reciclagem desses cinco
principais materiais em 2014.
Figura 2 – Proporção dos cinco principais materiais recicláveis no Brasil em 2014
Fonte: adaptado de CEMPRE (2014)
A tabela 4 foi calculada multiplicando os valores percentuais apresentados na figura 2
com o volume total de materiais recicláveis em Itajubá demonstrado na tabela 1 e os valores
encontrados para o preço da tonelada presentes na tabela 3. Verifica-se que o montante de
receitas desperdiçado pelo município foi de R$ 2.702.477,35 somente em 2014, o que
comprova a urgência na implantação da coleta seletiva já em 2015.
Tabela 4 – Receitas desperdiçadas pelo município de Itajubá em 2014 por não realizar a coleta seletiva
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Material Receitas desperdiçadas
Aço R$ 916.770,37
Alumínio R$ 678.401,85
Papel R$ 489.689,40
Plástico R$ 589.341,49
Vidro R$ 28.274,25
Total R$ 2.702.477,35
Após o cálculo das receitas desperdiçadas pelo município de Itajubá em 2014 por não
realizar a coleta seletiva, calculou-se então a receita perdida em cada um dos trinta bairros
pilotos da coleta seletiva. A fim de se obter uma aproximação da receita desperdiçada em
cada bairro, se obteve junto à Prefeitura Municipal de Itajubá o número de moradores e foram
calculados proporcionalmente estes valores. Os resultados são apresentados na tabela 5.
Tabela 5 – Bairros de Itajubá e respectivas receitas desperdiçadas em 2014
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Bairros Moradores Porcentagem Receitas desperdiçadas
Bairro Açude 2769 2,92% R$ 78.832,34Bairro Anhumas 2020 2,13% R$ 57.508,60
Bairro Avenida 4941 5,21% R$ 140.668,32
Bairro Boa Vista 8330 8,78% R$ 237.151,82
Bairro Centro 6730 7,09% R$ 191.600,45
Bairro Cruzeiro 3565 3,76% R$ 101.494,15
Bairro Estiva 1574 1,66% R$ 44.811,16
Bairro Imbel 513 0,54% R$ 14.604,91
Bairro Jardim Bernadete 867 0,91% R$ 24.683,15
Bairro Medicina 690 0,73% R$ 19.644,03
Bairro Morro Chic 1902 2,00% R$ 54.149,19
Bairro Nossa Senhora de Fátima 816 0,86% R$ 23.231,20
Bairro Novo Horizonte 4032 4,25% R$ 114.789,45
Bairro Oriente 606 0,64% R$ 17.252,58
Bairro Piedade 875 0,92% R$ 24.910,91
Bairro Pinheirinho: 5063 5,33% R$ 144.141,62
Bairro Porto Velho 1267 1,33% R$ 36.070,99
Bairro Rebourgeon 5708 6,01% R$ 162.504,51
Bairro Santa Luzia 2475 2,61% R$ 70.462,27
Bairro Santa Rosa 3695 3,89% R$ 105.195,19
Bairro Santo Antônio 3106 3,27% R$ 88.426,60
Bairro Santos Dumont 812 0,86% R$ 23.117,32
Bairro São Judas Tadeu 425 0,45% R$ 12.099,58
Bairro São Sebastião 2782 2,93% R$ 79.202,44
Bairro São Vicente 8772 9,24% R$ 249.735,38
Bairro Varginha 9841 10,37% R$ 280.169,39
Bairro Vila Isabel 2639 2,78% R$ 75.131,29
Bairro Vila Poddis 2740 2,89% R$ 78.006,72
Bairro Vila Rubens 2138 2,25% R$ 60.868,02
TOTAL 94925,0 100,00% R$ 2.702.477,35
Há despesas gerais administrativas com pessoal, manutenção dos caminhões baús
dentre outras, mas para estas despesas se assume que se dividiriam igualmente entre todas as
rotas. A única despesa proporcional seria, portanto, o valor do diesel gasto pelos dois
caminhões baús ao cobrir a distância de cada um dos bairros durante o percurso da coleta
seletiva.
Em seguida foi feita uma pesquisa de preços do custo do diesel em Itajubá em
05/01/2015 que constatou que o litro de diesel custava R$2,45. Com dados geográficos da
distância total percorrida dentro dos 30 bairros pilotos da coleta seletiva, se encontrou o gasto
proporcional a cada um dos bairros com o combustível.
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Para conseguir a receita desperdiçada em cada bairro por cada vez, se dividiu o
montante anual de receitas desperdiçadas por 360. É importante observar que o bairro Centro
é atendido por três rotas durante a semana (rota 02, rota 05 e rota 07) e desta forma, a margem
de contribuição daquele bairro foi dividida por três. A margem obtida em cada bairro é então
calculada subtraindo-se os gastos com combustível. Os resultados são apresentados na tabela
6.
Tabela 6 – Bairros com as respectivas margens de contribuição na coleta de materiais recicláveis
Ao descobrir as margens de contribuição de cada bairro pôde-se fazer o mesmo
cálculo para as nove rotas propostas pela prefeitura de Itajubá em 2015, apresentadas na
tabela 7.
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Tabela 7 – Margem de contribuição das rotas de coleta seletiva em Itajubá
Bairros Atendidos Margem por rota
Varginha,Imbel, Porto Velho R$ 908,20
Medicina, Centro, Anhumas R$ 735,28
Morro Chic, Vila Rubens, Vila Isabel, Novo Horizonte R$ 832,72
Rebourgeon, Piedade, Jardim Bernadete, Santa Luzia R$ 776,83
Boa Vista, Centro, Pinheirinho R$ 1.570,35
Cruzeiro, Oriente, Estiva , Nossa Senhora da Agonia R$ 702,45
Avenida, Centro, São Vicente R$ 1.602,91
Açude, Vila Podis, Santo Antônio,santos dumont,São judas tadeu R$ 1.428,87
Santa Rosa, São Sebastião, Nossa Senhora Fátima R$ 566,01
No entanto, é importante salientar que há restrições quanto à capacidade dos dois
caminhões baús da coleta seletiva e, concomitantemente, há restrições também quanto à
distância a ser coberta por dois caminhões durante a semana em Itajubá. Sabe-se que cada
caminhão baú de coleta de materiais recicláveis tem uma velocidade média de 7 km/h, sendo
assim a distância máxima percorrida em um dia de 6 horas de trabalho é de 42 km. Em
relação à capacidade, por dia é possível recolher 12m3 em cada caminhão, ou seja, 24000 kg.
3.2. Variáveis de decisão do modelo
Foram definidas 9 variáveis de decisão para este problema, sendo elas a quantidade de
vezes que cada rota será percorrida em uma semana:
Xi = Quantas vezes a rota i será percorrida em uma semana.
i = (1,2,3,4,5,6,7,8,9).
3.3. Função objetivo
O objetivo do problema é maximizar o lucro obtido com as definições das rotas de
coleta seletiva de materiais recicláveis. A equação (1) mostra a função objetivo para o
problema.
Max Z = 908,2X1 + 735,28X2 + 832,72X3 + 776,83X4 + 1570,35X5 + 702,45X6 +
1602,91X7 + 1428,87X8 + 566,01X9 (1)
3.4. Restrições do modelo
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Observa-se na tabela 8 a distância percorrida em cada uma das rotas e o volume
coletado em cada uma delas por vez que forem percorridas. Estes dados serão usados nas
funções de restrição do modelo.
Tabela 8 – Distâncias e volumes de materiais recicláveis recolhidos em cada uma das rotas em Itajubá
Rotas Distância (km) Volume (kg)
Rota 01 21,984 2264,1
Rota 02 22,883 965,0
Rota 03 29,128 2086,8
Rota 04 20,3742 1933,6
Rota 05 42,74 3046,3
Rota 06 15,184 1442,3
Rota 07 28,001 3108,7
Rota 08 30,57 1919,4
Rota 09 21,8292 1420,9
As restrições apresentadas no problema e suas respectivas formulações matemáticas
são:
a) A distância máxima percorrida em cada rota por semana.
A velocidade média do caminhão baú é 7 km/h, em um dia de 6 horas de trabalho
percorre-se no máximo 42 km e em uma semana 2 caminhões percorrem no máximo 588 km.
Dessa forma, as distâncias percorridas em cada uma das nove rotas mostradas na tabela 9
devem ser menores ou iguais a 588.
21.98X1 + 22.88X2 + 29.13X3 + 20.37X4 + 42.74X5 + 15.18X6 + 28.00X7 + 30.57X8 +
21.83X9 <= 588 (2)
b) A capacidade máxima de volume coletado por rota.
Cada caminhão coleta até 12m3 por vez de materiais recicláveis. Com 2 caminhões o valor
é de 24m3, ou seja, 24000 kg por dia. Dessa forma, os volumes coletados em cada uma das
nove rotas mostradas na tabela 9 devem ser menores ou iguais a 24000.
2264.1X1 + 965X2 + 2086.8X3 + 1933.6X4 + 3046.3X5 + 1442.3X6 + 3108.7X7 +
1919.4X8 + 1420.9X9 <= 24000 (3)
c) A capacidade máxima de atendimento a ser definido em cada rota percorrida.
Esta capacidade será de três vezes por semana, ou seja, os valores das variáveis devem ser
menores ou iguais a 3 (nove restrições).
X1 <= 3 (4)
X2 <= 3 (5)
X3 <= 3 (6)
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X4 <= 3 (7)
X5 <= 3 (8)
X6 <= 3 (9)
X7 <= 3 (10)
X8 <= 3 (11)
X9 <= 3 (12)
É importante observar que o número de vezes que os caminhões dever percorrer as
rotas propostas por semana deve ser um número inteiro, dessa maneira restringe-se a
programação do software para apenas aceitar como resposta valores inteiros, ou seja, utiliza-
se a Programação Linear Inteira.
3.5. Representação matemática do problema
Resumindo:
Max Z = 908.2X1 + 735.28X2 + 832.72X3 + 776.83X4 + 1570.35X5 + 702.45X6 +
1602.91X7 + 1428.87X8 + 566.01X9
Sujeito à:
21.98X1 + 22.88X2 + 29.13X3 + 20.37X4 + 42.74X5 + 15.18X6 + 28X7 + 30.57X8 +
21.83X9 < = 588
2264.1X1 + 965X2 + 2086.8X3 + 1933.6X4 + 3046.3X5 + 1442.3X6 + 3108.7X7 +
1919.4X8 + 142.9X9 < = 24000
X1; X2; X3; X4; X5; X6; X7; X8; X9 < = 3
X1; X2; X3; X4; X5; X6; X7; X8; X9 > = 0
4. Análise dos resultados
O software usado para realizar os cálculos de Programação Linear Inteira foi o
Excel®, utilizando a ferramenta Solver. Os resultados deste trabalho são mostrados na figura
3. Observa-se que a restrição de distância não interfere no resultado final, já a restrição da
capacidade do caminhão é atendida na sua totalidade, sendo esta a principal responsável por
limitar uma maior coleta de materiais recicláveis em Itajubá segundo o software.
A ferramenta Solver apontou que o roteiro mais lucrativo se dá percorrendo duas vezes
por semana as rotas 01, 02, 03, 04, 05, 06, uma vez a rota 08 e nenhuma vez as rotas 07 e 09,
demonstrado na tabela 9.
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Figura 3 – Resultados no software Excel® utilizando a ferramenta Solver
Tabela 9 – Frequência das rotas sugerida pela ferramenta Solver
4.1. Análise econômica dos resultados
Observa-se nos resultados obtidos que com dois caminhões baús de coleta seletiva o
lucro semanal em Itajubá seria de R$12.480,00, ou seja, R$599.040,00 ao ano.
A prefeitura de Itajubá sugeriu a compra de mais um caminhão baú com 12m3 de
capacidade. Neste novo exemplo, a restrição de capacidade máxima dos caminhões no
software Excel® seria portanto de 36000 quilos. A nova restrição do modelo é demonstrada
na equação 13.
2264.1X1 + 965X2 + 2086.8X3 + 1933.6X4 + 3046.3X5 + 1442.3X6 + 3108.7X7 +
1919.4X8 + 1420.9X9 <= 36000 (13)
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Após resolver novamente este problema, o lucro semanal com a coleta seletiva em
Itajubá passou para R$16.876,00, ou seja, R$810.053,00 ao ano (aumento de 35,23%).
Uma pesquisa de preços feita nas concessionárias da região para um novo modelo
2014 de caminhão baú apontou para um preço em torno de R$130.000,00. Segundo consta na
Receita Federal (1998), a depreciação de veículos de carga é de 25% ao ano, ou seja, o prazo
da total depreciação do caminhão baú é de quatro anos. Desta maneira, o tempo utilizado na
análise econômica apresentada neste trabalho também será quatro anos.
Paralelamente, foi realizada uma pesquisa na empresa que administra a atual coleta de
lixo comum em Itajubá e se obteve o número de funcionários bem como seus respectivos
salários e encargos trabalhistas (tabela 10). Este gasto com despesas gerais foi usado como
base para os cálculos e o montante foi descontado do lucro hipotético de R$810.053,00.
Tabela 10 – Despesas gerais com funcionários do consórcio de coleta de lixo comum de Itajubá
Funcionários Número Salário Despesas mensais Encargos Despesas Anuais
Coletores 8 R$ 850,00 R$ 6.800,00 57,56% R$ 128.568,96
Motoristas 3 R$ 1.800,00 R$ 5.400,00 57,56% R$ 102.098,88
R$ 230.667,84
Na Programação Linear Inteira não é possível realizar a análise econômica. No
entanto, é possível analisar os resultados utilizando-se de técnicas de análise econômica
tradicionais. Considerando que não há aumento algum da produção de resíduos em Itajubá
nos próximos cinco anos, considerando uma taxa média de atratividade do setor de 6,6%
(ANTT 2011), supondo que se recolha apenas 35% do total de R$810.053,00 obtidos no
Solver com a coleta de materiais recicláveis, os dados do VPL (Valor Presente Líquido) e TIR
(Taxa Interna de Retorno) do investimento na compra do novo caminhão são apresentados na
tabela 11. Com isso, os valores para fluxo de caixa nos quatro anos são provenientes da
multiplicação de R$810.053,00 por 0.35, e subtraindo-se as despesas operacionais de R$
230.667,84 para todos os anos.
Tabela 11 – VPL e TIR do investimento em um novo caminhão baú de 12m3
Dados Período Fluxo de caixa
Investimento R$ 130.000,00 0 -R$ 130.000,00
TMA 6,6% 1 R$ 52.850,16
Valor Negócio R$ 180.643,12 2 R$ 52.850,16
VPL R$ 50.643,12 3 R$ 52.850,16
TIR 22,7% 4 R$ 52.850,16
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Baseando-se na tabela 11, recomenda-se investir em um terceiro caminhão baú para
agregar novas rotas na cidade, haja vista que a taxa interna de retorno obtida é considerada
alta. Com a compra de um novo caminhão e alterando a restrição do modelo, se resolveu
novamente descobrir quais rotas poderiam ser atendidas com a compra do novo caminhão.
Percebe-se que após essa compra, as rotas 01, 02, 04, 05 e 06 poderiam ser atendidas três
vezes por semana e as rotas 03 e 09 duas vezes, e essa configuração seria a que traria mais
lucro ao município.
Tabela 12 – Frequência das rotas sugerida pela ferramenta Solver após a compra de um novo caminhão baú
6. Conclusões
O presente trabalho pretendeu analisar a viabilidade e seleção das rotas de coleta
seletiva de materiais recicláveis propostas pela Prefeitura de Itajubá para o segundo semestre
de 2015. A Programação Linear Inteira foi usada para maximizar a margem de lucro obtida
com as nove rotas, sendo que estas atendiam às restrições de distância e capacidade dos
caminhões disponíveis. A ferramenta apontou que o roteiro mais lucrativo seria duas vezes
por semana coletar nas rotas 01, 02, 03, 04, 05, 06, uma vez por semana na rota 08 e nenhuma
vez nas rotas 07 e 09. Desta maneira, o consórcio intermunicipal de coleta seletiva poderia
obter um lucro anual de R$599.040,00.
Os valores de lucro total das operações apresentados denotam que a coleta seletiva na
cidade de Itajubá deve ser realizada o quanto antes possível, já que é um mercado inexplorado
e bastante rentável. Cabe ainda dizer que receitas agregadas com a diminuição da poluição e
conservação do meio-ambiente, melhora da saúde pública e outros fatores que não constam
neste trabalho, favorecem ainda mais a importância e urgência da implantação de um sistema
de coleta seletiva na cidade.
Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES, CNPq e a FAPEMIG pelo apoio a esta pesquisa.
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