Apontamentos_O Mundo Dos Bens_Mary Douglas

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DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia

do consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004.

“Os bens são neutros, seus usos são sociais; podem ser usados como cercas ou como pontes”.

*Sugerir retomar a citação ao final da introdução

Obra e autores:

O mundo dos bens foi lançado na Inglaterra em 1976 e tem como autores a antropóloga Mary Douglas, (cuja área de pesquisa é a de antropologia social. Foi considerada uma seguidora de Émile Durkheim e uma proponente da análise estruturalista) e o economista Baron Isherwood.*Interdisciplinaridade Antropologia e Economia: consumo elemento do processo social

Objetivos:

Propõe novas lentes para ver as relações de consumo (relações de sujeitos com os objetos, e sobretudo de sujeitos entre si), dando direções precisas para os estudos nessa área. A publicação estabelece a pedra fundamental para o desenvolvimento, nas décadas seguintes, de uma linhagem de pensadores sociais que vão compreender o consumo como fenômeno chave para a análise de relações sociais e sistemas simbólicos.

*Abordagens utilizadas para nos estudos sobre consumo: “O consumo pode ser explicado como essencial para a felicidade e realização pessoal, em um enquadramento hedonista. Pode ser explicado a partir do enquadramento moralista, no qual o tom é denunciatório e o consumo é responsabilizado por diversas mazelas da sociedade. Pode ser ainda explicado num enquadramento naturalista, ora tendendo a necessidades físicas, ora respondendo a desejos psicológicos”(DOUGLAS, 2004:10)

Os autores visam uma explicação cultural para o fenômeno do consumo fugindo de determinismos e apresenta uma dupla crítica: aos postulados da economia neo-clássica, centrados no utilitarismo, racionalidade e maximização de ganhos, e as teorias de emulação estabelecidas a partir de Veblen. 1

1 Veblen é considerado o fundador da escola institucionalista de economia, ao lado de John Commons e de Wesley Mitchell. A economia de Thorstein Veblen é chamada de institucionalista em razão da grande ênfase que o autor de A Teoria da Classe Ociosa coloca sobre o que ele chamou de instituições. Na economia vebleniana, instituições são hábitos, rotinas de conduta bastante arraigadas num determinado momento histórico. Assim, por exemplo, a existência de uma classe de indivíduos que se abstêm do trabalho produtivo, a "classe ociosa", é uma instituição. Outros exemplos de instituições são a propriedade absenteísta, ou seja, o hábito, bastante presente na economia capitalista, de o dono do negócio não ser exatamente quem cuida pessoalmente dele; a financeirização da riqueza, isto é, a representação do equipamento produtivo da sociedade através de "papéis"; e a emulação, que talvez seja o

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O caráter meramente utilitário do consumo já havia sido de alguma forma posto a prova dentro da teoria econômica. Com Veblen o consumo deixa de representar a simples satisfação racional de necessidades práticas e orgânicas. Ele permanece, contudo, sendo visto sob uma ótica de base moralizante, que relaciona o mundo das coisas materiais à futilidade. O consumidor já havia saído do domínio da necessidade, mas, pendendo para o lado oposto, torna-se quase irracional no jogo da emulação e da escalada pelo status, consumindo de acordo com motivações que dizem respeito exclusivamente a imitar ou copiar gostos das classes mais altas.

*Ênfase nas pesquisas sobre o fenômeno da produção e silêncio acadêmico em relação ao consumo. Formação de um Senso comum. “Esta idéia do consumo como superficialidade, vício compulsivo ou banalidade, sua inferioridade moral em face da produção – consumo é coisa de emergente, perua, fútil, dondoca ou esnobe- também se reforça na mídia. […] isto acaba formando no senso comum um preconceito que afirma, confortavelmente, a produção como algo nobre e o consumo não” (DOUGLAS, 2004: 12).

Publicação no Brasil:

O Mundo dos Bens está sendo publicado no Brasil praticamente vinte e cinco anos depois de sua primeira edição. Não há dúvidas de que esse fuso horário de mais de duas décadas impressiona. Traz, quem sabe, a pergunta: não estará fora de lugar? Se no final dos anos setenta sua publicação foi fundamental para o estabelecimento de novas possibilidades para o estudo do consumo na Grã-Bretanha, tantos anos depois, no Brasil, não deixa de ser obra fundadora. Sua publicação por aqui é uma das pedras fundamentais de um momento muito específico do campo, em que os estudos antropológicos sobre consumo estão se firmando e ganhando visibilidade no país. Não é sem razão que coincide com a tradução e publicação no Brasil de obras de outros importantes autores da área, como Daniel Miller (2002), Don Slater (2001), Grant McCracken (2003) e Colin Campbell (200?). A obra de Mary Douglas e Baron Isherwood está, por tanto, absolutamente sintonizada com o contexto que a recebe, colaborando para o crescimento desse campo de conhecimento e abrindo espaço para uma “Antropologia do Consumo” no país.

Sugestão de bibliografia

Colin Campbell. Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno. Rocco, 2001.Daniel Miller. Teoria das Compras. Livraria Nobel, 2002.Don Slater. Cultura do Consumo e Modernidade. Livraria Nobel, 2001Grant McCracken. Cultura e Consumo. Mauad, 2003.

mais importante no livro A Teoria da Classe Ociosa, que diz respeito ao hábito dos indivíduos de se compararem uns com os outros invejosamente, ou melhor, o desejo das pessoas de serem reconhecidas como melhores que os outros

indivíduos.(Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Thorstein_Veblen acessado em 29/03/2011 as 11:04).

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--------------------------------------------------------------------------------Justificativa:

Douglas e Isherwood escrevem, em certa medida, uma resposta consistente e inovadora ao discurso de muitos críticos da sociedade de consumo, que relaciona o ato de consumir com alienação, estupidez, insensibilidade à miséria ou futilidade. A proposta de “O Mundo dos Bens” é a compreensão livre de preconceitos do fenômeno das relações de consumo na contemporaneidade. Relações de consumo são, antes de tudo, relações sociais, e, portanto, um objeto de estudo legítimo e rico para a Antropologia e as Ciências Sociais em geral.

“Há opróbrio no merchandizing e culpa na posse. A crescente onda de protesto contra a sociedade de consumo é o pano de fundo deste livro. O consumismo é vilipendiado como avareza, estupidez e insensibilidade à miséria. A cada mês um novo livro investe contra o consumo excessivo e sua exibição vulgar. […] Gostaríamos de saber como vivem os moralistas, seu estilo e sua vida. Talvez distribuam seus direitos de autor entre os pobres. Ou talvez gaste judiciosamente, como colecionadores eruditos de raros manuscritos e pinturas, ou outras formas de consumo de prestígio que rendem muito como investimento” (DOUGLAS, 2004: 25)

Sobre o título;

Mary Douglas relata que a escolha do título se deu a partir da conversa com uma amiga, a qual inquerida sobre o tema proposto para o livro de Douglas, observa que sentia-se capaz de compreender a questão dos bens de maneira simples. Enquanto mulher de soldado, portanto adaptada a um modo de vida móvel, entendia que “a escolha dos bens pelo consumidor é parte de uma tentativa de impor identidade e sentido ao ambiente”(2004: 23). A amiga ilustrou seu argumento citando a expressão O Império das coisas, do autor americano Henry James.

Retomar citação inicial:

“Os bens são neutros, seus usos são sociais; podem ser usados como cercas ou como pontes”.

Acrescentar ressalva de Everado Rocha:“O mundo dos bens ensina que ‘os bens (…) são acessórios rituais: o consumo é um processo ritual cuja função primária é dar sentido ao fluxo incompleto de acontecimentos’, e neste ritual construímos nossas cercas e pontes com as quais damos concretude e sentido ao mundo que nos cerca

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