apostila-1pedro

204
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR 1

description

estudo no livro de 1 Pedro

Transcript of apostila-1pedro

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

1

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

2

SSuummáárriioo

1. Apresentação ................................................................................................................. 3

2. Agradecimento ........................................................................................................... 5

3. Introdução ....................................................................................................................... 6

4. Esperança em um mundo hostil [1Pe 1.1-2] ............................................. 16

5. Salvos para a eternidade [1Pe 1.3-5] ............................................................. 26

1. Onde Deus está quando mais preciso? [1Pe 1.6-9] ................................ 35

2. A grandeza da salvação [1Pe 1.10-12] ........................................................... 44

3. Desenvolvendo uma vida santa [1Pe 1.13-16] ......................................... 52

4. Por que ser santo? [1Pe 1.17-21] ..................................................................... 61

5. Sinais vitais do novo nascimento [1Pe 1.22-25] ...................................... 70

6. Desejando a Palavra de Deus [1Pe 2.1-3] .................................................... 78

7. As prioridades do povo de Deus [1Pe 2.4-10] .......................................... 88

8. Uma vida cristã exemplar [1Pe 2.11-12] ..................................................... 98

9. Uma vida exemplar na sociedade [1Pe 2.13-17] .................................. 103

10. Uma vida exemplar no trabalho [1Pe 2.18-25] ..................................... 112

11. Uma vida exemplar no lar [1Pe 3.1-7] ....................................................... 119

12. O segredo de uma vida feliz [1Pe 3.8-12] ................................................. 128

13. O testemunho cristão [1Pe 3.13-17] ............................................................ 137

14. O Salvador reina [1Pe 3.18-22] ...................................................................... 145

15. A morte para o pecado [1Pe 4.1-6] ............................................................... 154

16. A conduta da Igreja no fim dos tempos [1Pe 4.7-11] ......................... 163

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

3

17. Como enfrentar o sofrimento? [1Pe 4.12-19] ........................................ 172

18. A vida exemplar dos presbíteros [1Pe 5.1-4] ........................................ 184

19. A vida exemplar da igreja [1Pe 5.5-14] ..................................................... 190

20. Referências ............................................................................................................... 201

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

4

aapprreesseennttaaççããoo

O propósito deste estudo é fornecer uma simples e clara explicação da Primeira Carta do apóstolo Pedro.

A grande necessidade do homem atual é relacionar-se significativamente com seu semelhante, principalmente, com Deus.

Relacionamo-nos com Deus através da oração, quando expressamos a Ele os nossos sentimentos, angústias, dores, alegrias e agradecimentos, mas é na Bíblia Sagrada que tomamos conhecimento da Sua vontade. Pela Bíblia conhecemos a vontade de Deus e o Seu querer para nossas vidas.

Depois de todas essas certezas recomendamos a todos os cristãos este estudo da Primeira Epístola de Pedro que foi ministrado por Jocarli A. G. Junior, grande homem escolhido por Deus para trabalhar na grande seara do Senhor.

Através deste estudo, escrito numa linguagem simples, mas de conteúdo espiritual tão profundo, é que teremos a alegria de nos relacionarmos com o Altíssimo.

Francisco Rothier Teixeira

Vitória, 4 de setembro de 2013.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

5

aaggrraaddeecciimmeennttoo

Uma das grandes alegrias do ministério é poder expor as Sagradas Escrituras. Não existe honra maior do que essa. Sou grato a Deus por tão grande privilégio.

Minha gratidão a Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro, onde sirvo como pastor titular. Sou extremamente grato pelo incentivo dos meus colegas Presbíteros por me permitir investir tanto tempo em estudos expositivos como este. Agradeço aos irmãos que pacientemente contribuíram com suas sugestões e comentários durante várias quartas-feiras.

Por fim, Louvo a Deus pela minha família, uma verdadeira fonte de encorajamento. Minha esposa Luciany, e nossos filhos: Daniel e Julia permanecem como um porto seguro durante as tempestades da vida. Amo vocês!

Meu desejo e oração é que em meio às densas nuvens do sofrimento, você seja conduzido à verdade de que “... os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas” (1Pe 3.12).

Jocarli A. G. Junior

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

6

IInnttrroodduuççããoo

[ESTUDO 1]

“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios” (Mt 10.16-18).

Com estas palavras, Jesus enviou seus apóstolos para pregar a

mensagem do reino vindouro, advertindo-os que sofreriam perseguição. Muitos anos depois, quando Pedro se sentou para escrever uma carta aos crentes judeus e gentios nas províncias da Ásia Menor, esta profecia se cumpriu com rigor sangrento.

As perseguições começaram com os judeus ortodoxos que resistiam aos ensinamentos de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Incapazes de atacar a Jesus depois de Sua ascensão, os inimigos da verdade perseguiram Seus seguidores.1 Devido ao crescimento fenomenal, as autoridades judaicas desesperadamente tentaram acabar com a igreja recém-formada. Lucas escreveu:

“Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos; e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, pois já era tarde” (At 4.1-3).

No dia seguinte, o Sinédrio ordenou-lhes que parassem de pregar em

nome de Jesus (4.5-21). Destemidos, os apóstolos continuaram a pregar, e, como resultado, “... o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública” (5.17-18).2 Porém, milagrosamente libertados da prisão, foram ao templo e voltaram a pregar o evangelho (5.19-25). Levados diante do Sinédrio pela segunda vez, os apóstolos foram novamente condenados a deixar de pregar em nome de Jesus, mas desta vez, com açoites (5.26-40).

1 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (2). Chicago: Moody Publishers. 2 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (2–3). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

7

O corajoso pregador Estevão também enfrentou oposição (6.9-11), prisão, julgamento perante o Sinédrio (6.12-7.56) e martírio (7.57-60). A primeira perseguição eclodiu após o martírio de Estevão (8.1-4; 9.1-2; 11.19). Foi liderada pelo jovem Saulo de Tarso, que se tornou o apóstolo Paulo (At 8.1-3).

Depois de sua dramática conversão a caminho de Damasco (9.3-18), Paulo, o mais cruel perseguidor da Igreja, tornou-se o mais zeloso missionário. O Senhor estabeleceu o curso de seu ministério quando disse a Ananias, “... pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16). E Ele o fez sofrer, quase desde o momento de sua conversão (cf. At 9.20-25). Quando viajou por todo o Império Romano proclamando a fé que uma vez havia tentado destruir (Gl 1.23), Paulo enfrentou aflição contínua e oposição implacável (At 14.5-6, 19-20; 16.16-40; 17.5-9, 13-14, 18, 32; 18.12-17; 19.9, 21-41; 20.3, 22-23; 21.27-36; 23.12-24.9; 25.10-11; 27.1-28.28; 1Ts 2.2; 2Tm 1.12; 2.9-10; 3.11). Não surpreendentemente, o sofrimento é um tema importante em suas epístolas (Rm 8.17-18; 2Co 1.5-7; Fp 1.29; 3.8-10; 1Ts 2.14; 2Ts 1.5, 2Tm 1.8; 2.3).3

Mais tarde o rei ímpio Herodes matou Tiago, irmão de João e prendeu Pedro, que em seguida, foi milagrosamente libertado da prisão por um anjo (12.1-11).

O que começou com atos isolados das autoridades judaicas, gradualmente evoluiu para a política do governo romano, que viu a recusa dos cristãos em participar da religião do Estado como uma forma de rebelião. Três séculos de perseguições cada vez mais sangrentas culminou no início do século IV no esforço do Imperador Diocleciano de acabar com a igreja. Um decreto emitido em Nicomédia em 23 de fevereiro em 303 ordenava que as igrejas e cópias das Escrituras do Novo Testamento fossem destruídas.4 O castigo infligido por resistência foi tortura, aprisionamento e, em alguns casos, a morte.5

Diocleciano foi violento em seu ódio contra a Bíblia e o cristianismo. Ele matou tantos cristãos com crueldades ultrajantes e destruiu tantas Bíblias que muitos fugiram para escapar de sua ira. Quando parecia que Diocleciano havia feito tudo, ele mandou cunhar uma medalha com o lema: “A religião cristã foi destruída, e o culto dos deuses (Romano) foi restaurado”.6

Mas Diocleciano não aboliu o cristianismo. Ao contrário, o cristianismo cresceu mais forte do que nunca, e eventualmente triunfou

3 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (3). Chicago: Moody Publishers. 4 Mindeman, G. (1992). Diocletian. In J. Douglas & P. W. Comfort (Eds.), Who's Who in Christian history (J. Douglas & P. W. Comfort, Ed.) (206). Wheaton, IL: Tyndale House. 5 Cross, F. L., & Livingstone, E. A. (2005). The Oxford dictionary of the Christian Church (3rd ed. rev.) (486). Oxford; New York: Oxford University Press. 6 Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible Communications, Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

8

sobre o trono de César. O Pastor britânico Charles Haddon Spurgeon cita um pregador, William S. Plumer:

“De trinta imperadores romanos, governadores das províncias e outros altos cargos, que se distinguiram por seu zelo e amargura na perseguição aos primeiros cristãos, um tornou-se demente rapidamente após alguma crueldade atroz, um foi morto por seu próprio filho, um tornou-se cego, um morreu afogado, um foi estrangulado, um morreu em um infeliz cativeiro, um morreu de maneira tão repugnante que vários dos seus médicos foram postos à morte, porque não puderam suportar o fedor que enchia seu quarto, dois cometeram suicídio, um terceiro tentou, mas teve que pedir ajuda para terminar o trabalho, cinco foram assassinados por seus próprios povos e outros padeceram das mais miseráveis e excruciantes mortes, várias delas tendo uma complicação incalculável de doenças e oito foram mortos em batalha ou depois de serem feitos prisioneiros. Entre estes estava Juliano, o Apóstata. Nos dias da sua prosperidade, dizem que ele apontou o punhal para o céu, desafiando o filho de Deus, a quem comumente chamava de ‘o Galileu’. Mas quando ele foi ferido na batalha, recolheu seu sangue coagulado e atirou para o ar, exclamando: “tu conquistou, ó tu, Galileu”.7

Assim tem sido ao longo da história. Quanto mais perto chegamos do

fim, mais feroz Satanás se lança contra o povo de Deus. Nesse período, pode até parecer que o adversário está vencendo, mas a primeira e à última palavra pertencem a Deus. Quando a paciência de Deus chegar ao fim, e o cálice de Sua ira transbordar, o tempo do juízo vai se aproximar (Mt 23.32; 1Ts 2.16).

Em uma surpreendente inversão, o Imperador Constantino, em 313 d.C., juntamente com o governador da parte oriental do Império, Licínio, publicou o edito de Milão, que concedia tolerância completa a fé cristã.8 Constantino convocou o primeiro conselho geral da igreja em Nicéia, em 325 d.C. Mais tarde, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano.9

Apesar das perseguições esporádicas de autoridades romanas e em face de ataques externos e internos sobre a fé cristã, o Cristianismo se espalhou sobre toda a bacia mediterrânica, em 300 d.C. Ao mesmo tempo, Roma caiu, em parte, pelos ataques dos bárbaros ao longo de suas fronteiras e por causa da decadência moral e política interna.10

Nos últimos dias de seu ministério, Jesus predisse que Pedro um dia iria “fortalecer” seus companheiros (Lc 22.32; Jo 21.15-17). Nesta primeira de suas duas cartas, Pedro fez exatamente isso, encorajou os cristãos que

7 Boice, J. M. (2005). Psalms 1–41: An Expositional Commentary (24–25). Grand Rapids, MI: Baker Books. 8 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (3). Chicago: Moody Publishers. 9 Brisco, T. V. (1998). Holman Bible atlas. Holman Reference (276). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers. 10 Brisco, T. V. (1998). Holman Bible atlas. Holman Reference (276). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

9

estavam enfrentando perseguição (2.12, 3.16, 4.4) e que em breve experimentariam uma perseguição muito maior, com o imperador Nero (64 d.C.).11

Entretanto, nossa preocupação não deve ser apenas sobre o que o Senhor estava dizendo aos contemporâneos de Pedro através desta carta, mas o que Ele está dizendo a nós pessoalmente.12 Precisamos ser fortalecidos e encorajados na mesma fé como os primeiros cristãos foram.

1. Para quem a carta foi escrita?

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1)

Pedro responde à pergunta em 1.1. A região foi descrita nas

províncias romanas da Ásia Menor (atual Turquia) ao norte das montanhas Taurus. A maioria era de origem gentia (2.10; 4.3), embora alguns fossem cristãos hebreus (2.12; 4.3). Eles viviam em uma região ao norte das montanhas, onde o apóstolo Paulo não havia pregado (At 16.6, 7).

“... aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia,

Capadócia, Ásia e Bitínia” (v. 1) – O historiador da igreja primitiva Eusébio sugere que o próprio Pedro pode ter tido um papel na evangelização das dessas áreas. Obviamente, Pedro teve alguma razão para abordar cristãos nestas províncias ou regiões. É interessante observar que ele não inclui Lícia e Panfília ou Cilícia, províncias ao sul das montanhas de Taurus.13 Ou seja, Pedro tem em vista as áreas da Ásia Menor que estavam mais diretamente relacionadas ao seu próprio ministério do que Paulo.

Ponto e Bitínia, na costa do Mar Negro, são nomeados separadamente apesar de terem sido unificadas em uma província romana. É provável que Pedro comece com Ponto e termine com Bitínia, porque estava pensando no caminho que Silvano (5.12) ou outro mensageiro poderia percorrer ao entregar a carta, um viajante poderia começar em Ponto, no Mar Negro e terminar em Calcedónia, na Bitínia.

Não se sabe ao certo como o evangelho se espalhou para essas regiões. Paulo ministrou em pelo menos parte da Galácia e na Ásia, mas não há registro de seu trabalho evangelístico em Ponto, Capadócia ou Bitínia. Na verdade, ele foi proibido pelo Espírito Santo de entrar em Bitínia (At 16.7). Pode ser que Paulo tenha fundado algumas dessas igrejas (cf. At 19.10, 26). E outras podem ter sido fundadas por aqueles que foram convertidos no dia de Pentecostes (cf. At 2.9). Pedro também pode ter ministrado nessas

11 Willmington, H. L. (1997). Willmington’s Bible handbook (767). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers. 12 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (103–104). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 13 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (16). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

10

regiões, embora não haja registro em Atos. As congregações consistiam principalmente de gentios (cf. 1.14, 18; 2.9-10; 4.3-4), mas, sem dúvida, incluiu alguns cristãos judeus também.14

“... aos eleitos que são forasteiros da Dispersão... (v. 1) – Ele usa três

palavras fortes para descrever o seu público: “eleitos”, “forasteiros” e “dispersos”.15 Estes estrangeiros dispersos conheciam o Senhor, mas viviam no exílio, em lugares longínquos. De um ângulo terrestre eram refugiados, mas a partir de uma perspectiva celestial eram “eleitos”. Dispersos pela perseguição, vítimas de circunstâncias, vagando no deserto do desespero, porém, esses homens e mulheres ainda tinham motivo para se alegrar. Eles eram escolhidos de Deus!16

2. Quem escreveu a carta?

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1)

O escritor diz que ele é “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1.1), e foi

uma “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5.1). Ele está escrevendo com a ajuda de Silas (Silvano) a partir de um lugar que ele chama de “Babilônia”, onde o seu “filho” Marcos estava com ele (5.12-13).17 Bem como esta evidência direta de que o apóstolo Pedro foi o autor, a carta frequentemente faz alusão à vida e os ensinamentos de Jesus.

A igreja foi construída sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, porque eles receberam a revelação de Cristo (At 2.14–41; 10.34–42). Os apóstolos foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo. Pedro, como apóstolo, juntamente com Silas, um profeta, trabalhou com outros apóstolos e profetas para estabelecer as bases da igreja. Juntos, eles ensinaram a doutrina que Jesus comprometidos com eles no Espírito. A Igreja é apostólica hoje na medida em que ela permanece sobre o fundamento doutrinário estabelecido pelos apóstolos. Ninguém hoje pode reivindicar a autoridade de um apóstolo, quer por força de ofício eclesiástico ou revestimento carismático. O trabalho e a vocação de apóstolo são terminados em testemunhar a revelação final de Deus em Jesus Cristo. Ele é

14 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (9–10). Chicago: Moody Publishers. 15 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word (23). Wheaton, IL: Crossway Books. 16 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (140). Grand Rapids, MI: Zondervan. 17 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer & G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

11

o último profeta, assim como ele é o Sumo Sacerdote final, e Pedro escreve a dar testemunho de autoridade a ele.18

Alguns liberais questionam se um pescador comum poderia ter escrito esta carta, especialmente desde que Pedro e João foram ambos chamados “homens iletrados e incultos” (At 4.13). No entanto, esta frase significa apenas “leigos sem escolaridade formal”, ou seja, não eram líderes religiosos. Nunca devemos subestimar o treinamento de Pedro, durante três anos com o Senhor Jesus, nem devemos minimizar o trabalho do Espírito Santo em sua vida.19 Pedro é um belo exemplo da verdade expressa em 1Coríntios 1.26-31.

Seu nome era Simão, mas Jesus mudou para Pedro, que significa “uma pedra” (Jo 1.35-42). O equivalente aramaico de “Pedro” é “Cefas”, assim Pedro era um homem com três nomes. O Senhor havia ordenado a Pedro para fortalecer os irmãos (Lc 22.32) e para apascentar o rebanho (Jo 21.15-17; 1Pe 5.1-4), e a escrita desta carta era uma parte do seu ministério.

Embora Peter se identifique como o autor da carta, no último capítulo ele menciona: “Por meio de Silvano... vos escrevo resumidamente” (5.12). No mundo do primeiro século, essa frase muitas vezes significava que a pessoa nomeada servia como secretário tanto para escrever uma carta ditada ou contribuir para a composição da mesma, sob a autoridade direta do seu autor.20 Este é provavelmente o seu significado aqui. Pedro não diz que ele enviou a carta por meio de Silvano, mas que ele realmente escreveu a carta com sua ajuda.

Silas foi companheiro de Paulo, missionário na Ásia Menor e na Grécia, e está associada com Paulo no endereço das cartas aos tessalonicenses. Ele era também um representante dos apóstolos e anciãos em Jerusalém, e é apontado como um profeta. Se ele fez servir como um editor ou coautor, com Pedro, ele o fez como um homem inspirado.21

Pedro também mencionou João Marcos (1Pe 5.13), cujo fracasso no campo missionário ajudou a causar a ruptura entre Paulo e Barnabé (At 13.13). Pedro levou Marcos à fé em Cristo (“Marcos, meu filho”) e, certamente, manteve uma preocupação com ele.22 Sem dúvida um dos primeiros grupos de oração se encontraram na casa de João Marcos em Jerusalém (At 12.12). No final, Paulo perdoou e aceitou Marcos como alguém útil no ministério (2Tm 4.11).

Embora Pedro tenha sido chamado de “analfabeto” e, embora o grego não fosse a sua língua nativa, ele não foi nada comum. Os líderes judeus

18 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (29). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 19 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.1). Wheaton, IL: Victor Books. 20 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (139). Grand Rapids, MI: Zondervan. 21 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (21). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 22 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.1). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

12

viram Pedro como sem educação simplesmente porque não tinha sido treinado na tradição rabínica, não porque era analfabeto. Lucas também registra que esses mesmos líderes ficaram atônitos com a confiança de Pedro e do poder de sua personalidade controlada pelo Espírito (At 4.13).23 O ministério de Pedro durou mais de 30 anos e o levou de Jerusalém a Roma. Ele viveu e pregou em um mundo multilíngue.

3. Onde e quando a carta foi escrita?

“Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos” (1Pedro 5.13)

Em 5.13 o escritor envia saudações de “Aquela que se encontra na

Babilônia, também eleita, vos saúda”. Esta parece ser uma referência à igreja local, na Babilônia, mas é pouco provável que Pedro teria ido para a antiga capital do império de Nabucodonosor.24 Na época de Pedro a Babilônia estava em ruínas e era uma região pouco habitada (Is 14.23).

É mais provável que o termo “Babilônia” seja um pseudônimo de Roma, escolhido por causa da capital do Império e da idolatria (que irá caracterizar a Babilônia no fim dos tempos; cf. Ap 17 e 18). Diante da perseguição que aparece no horizonte, Pedro tomou o cuidado de não pôr em perigo os cristãos de Roma, que poderiam enfrentar grandes dificuldades se a sua carta fosse descoberta pelas autoridades romanas.25

Tudo indica que a primeira epístola de Pedro tenha sido escrita pouco antes de julho, no ano de 64 d.C., quando a cidade de Roma foi queimada.

Buscando bodes expiatórios para desviar as suspeitas do público que tinha começado o grande incêndio de 64 de julho, que devastou Roma, Nero apontou os cristãos com culpados, a quem ele já considerava como inimigos de Roma, porque não adoravam o imperador, apenas Cristo. Como resultado, eles foram envolvidos em cera e queimados na fogueira para iluminar seus jardins, crucificados e lançados às feras. Embora a perseguição oficial, aparentemente, foi confinada à vizinhança de Roma, ataques contra cristãos, sem dúvida, se espalharam sem controle para outras partes do Império. Foi como resultado da perseguição de Nero que ambos Pedro e Paulo foram martirizados.26 Mas antes de morrer, Pedro escreveu esta magnífica epístola aos crentes cujo sofrimento logo se intensificaria. Ao longo dos séculos, os cristãos se beneficiaram do sábio conselho do apóstolo e suas palavras de incentivo e conforto.

23 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (837–838). Wheaton, IL: Victor Books. 24 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer & G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press. 25 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (10). Chicago: Moody Publishers. 26 Myers, A. C. (1987). The Eerdmans Bible dictionary (758). Grand Rapids, MI: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

13

Além disso, os pais da igreja primitiva entendiam que Pedro e Paulo foram martirizados em Roma.27 Eusébio, o historiador da igreja primitiva, cita Papias e Orígenes para comprovar isto (Eusebius, II:15:2; III:1:2–3. Papias [bispo de Hierápolis, morreu cerca de 130 d.C.]). João Marcos, que é mencionado por Pedro (5.13), também é mencionado por Paulo, escrevendo de Roma (2Tm 4.11; Fm 24).

A tradição nos diz que Pedro teve que assistir à crucificação de sua esposa, mas a encorajou com as palavras: “Lembra-te do Senhor”. Quando chegou a sua vez, ele implorou dizendo que não era digno de ser crucificado como seu Senhor, mas, em vez disso, solicitou que fosse pendurado e crucificado de cabeça para baixo (67-68 d.C.).28

4. Qual é o propósito da carta?

“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (1Pedro 5.12).

A Primeira Carta de Pedro é uma epístola de encorajamento (1Pe

5.12). Assim, ao longo da carta vemos lembretes da realidade do sofrimento (1.6-7; 2.18-19; 3.15-16; 4.12-16; 5.8-10). Conforme Swindoll, o apóstolo Pedro desenvolve a sua mensagem encorajadora em tempos dolorosos através de três maneiras. 29

Em primeiro lugar, Pedro informa os seus leitores sobre a sua

esperança viva (1.1-2.12). Nesta seção, ele nos permite saber que a graça e a paz podem ser nossas, quando afirmamos nossa esperança (1.3-12), enquanto caminhamos em santidade (1.13-25), e à medida que crescemos em Cristo (2.1-12). Pedro destaca a graça de seguir em frente, descrevendo uma viva esperança, mediante a ressurreição de Cristo (1.3). Cristo torna-se a fonte de esperança em tempos dolorosos.

Em segundo lugar, Pedro exorta os seus leitores a vida

esperançosa apesar de sua vida estranha (2.13-4.11). Ele convida seus leitores a se submeter às várias autoridades (2.13-3.7), para ser humilde de espírito (3.8-22), a ser armado com resistência (4.1-6), e para glorificar a Deus (4.7-11). Estes princípios se tornam a chave para viver como cristãos em um mundo hostil. Pedro enfatiza a graça de permanecer firmes,

27 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (23). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 28 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (105). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 29

Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament

Commentary (142). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

14

descrevendo uma esperança calma através da submissão pessoal (3.6). Cristo torna-se o exemplo de esperança em tempos dolorosos.

Finalmente, Pedro conforta seus leitores no meio de sua

provação ardente (4.12-5.14). Ele lembra que ninguém deveria ficar surpreso diante das circunstâncias difíceis (4.12). Em vez disso, eles deveriam se regozijar (4.13), confiar sua vida a Deus (4.19) e lançar suas preocupações sobre Ele (5.7).

Além disso, a vida de Pedro nos ensina algo muito importante: O fracasso do passado não anula os planos de Deus para o futuro. As pessoas vão tentar persuadi-lo de que Deus segue uma regra “um erro e você está fora”. Isto é, se você pecar, Ele vai passar o ministério que está em suas mãos para alguém mais confiável e fiel. Se você acha que Deus trabalha desta forma, pense no apóstolo Pedro. Depois de fracassar ao negar a Cristo, ele foi deliberadamente restaurado e assumiu um lugar de liderança entre seus companheiros. Não pense nem por um momento que um erro em seu passado anula os planos de Deus para o seu futuro.

5. Qual é o esboço da carta? Como vimos Pedro escreveu sua epístola para exortá-los a mostrar

resistência e compromisso em meio às provações. 30 As vívidas descrições de sofrimento e morte de Cristo (2.21-25; 3.18) tornam-se um incentivo para os cristãos vencerem o mal e perseverarem até o fim.

Saudação (1.1-2)

I. Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar de Sua grande salvação (1.3-2.10) A. A certeza da salvação (1.3-12)

1. Preservada pelo poder de Deus (1.3-5) 2. Provada pelas provações da perseguição (1.6-9) 3. Prenunciada pelos profetas de Deus (1.10-12)

B. As consequências de nossa salvação (1.13-2.10)

1. A prioridade da santidade (1.13-23) 2. O poder da Palavra (1.24-2.3) 3. O sacerdócio dos crentes (2.4-10)

30 Lea, T. D. (1998). The General Letters. In D. S. Dockery (Ed.), Holman concise Bible commentary (D. S. Dockery, Ed.) (633). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

15

II. Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar do seu exemplo diante dos homens (2.11-4.6) A. A vida honrosa diante dos incrédulos (2.11-3.7)

1. Submissão ao governo (2.11-17) 2. Submissão aos senhores (2.18-25) 3. Submissão na família (3.1-7)

B. A vida honrosa diante dos cristãos (3.8-12) C. A vida honrosa em meio ao sofrimento (3.13-4.6)

1. O princípio de sofrimento pela justiça (3.13-17) 2. O modelo de sofrimento pela justiça (3.18-22) 3. O propósito do sofrimento pela justiça (4.1-6)

III. Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar de que o Senhor voltará (4.7-5.11)

A. As Responsabilidades da vida cristã (4.7-11) B. A realidade do sofrimento cristão (4.12-19) C. Os requisitos para a liderança cristã (5.1-4) D. A concretização da vitória cristã (5.5-11)

Conclusão (5.12-14)

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

16

EEssppeerraannççaa eemm uumm mmuunnddoo hhoossttiill [estudo 2 - 1pedro 1.1-2]

Todas as pessoas, em todos os lugares e em todos os momentos têm

algo em comum: o sofrimento! Se judeus ou cristãos, muçulmanos ou hindus, ateus ou idólatras, as lágrimas são todas iguais. Charles Swindoll estava certo quando escreveu: “Culturas fluem e refluem, nações ascendem e caem, e grupos de pessoas vêm e vão, mas o sofrimento transcende todas as culturas, invade cada nação, e traduz a mensagem de dor a cada pessoa que já viveu”. 31 O que as pessoas precisam é de esperança em um mundo hostil.

A Primeira carta de Pedro foi escrita aos crentes dispersos, marcados pelas chamas da perseguição. Eles viviam em circunstâncias sombrias, mas Pedro não tenta estimulá-los com pensamentos positivos. Em vez disso, ele insta os seus leitores a voltarem sua atenção para o céu, o que lhes permite ver além de suas circunstâncias e de encontrar uma nova esperança em sua vocação celestial.

Pedro é um apóstolo inspirado, e o que ele escreveu é Palavra de Deus. Sua carta foi dirigida não apenas aos cristãos da Ásia, mas a todas as igrejas de todos os séculos por meio do Espírito de Cristo.32

Assim, o apóstolo começa sua carta incentivando seus leitores a rever sua posição diante de Deus. Eles são “eleitos”, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência... , graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pe 1.2). Nesta breve saudação, Pedro mostra ao seus leitores que a graça e a paz de Deus serão “multiplicadas”, independentemente do caos que estejam enfrentando. Sua carta expande a bênção que é destilada em sua saudação.

I. Os cristãos vivem em um mundo hostil

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1).

Entre todas as religiões pagãs do mundo romano, o judaísmo era a

única religião legal não obrigada a oferecer sacrifícios ao imperador. Em vez disso, eles poderiam oferecer orações em nome do imperador. Enquanto os cristãos eram vistos como uma seita do judaísmo, os romanos os consideravam sob essa cobertura de isenção e proteção.

31 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (145–146). Grand Rapids, MI: Zondervan. 32 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (31). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

17

Mas quando a sinagoga começou a expulsá-los, o cristianismo assumiu uma identidade distinta composta de ambos (gentios e judeus), que perderam a sua proteção legal e se tornaram alvos da perseguição romana. Esta era a situação do os cristãos que viviam na Ásia Menor (atual Turquia). As palavras de Pedro são destinadas não apenas para confortar estes crentes no seu sofrimento, mas também para prepará-los para as ondas posteriores de perseguições.

Pedro se dirige aos seus leitores aos moradores de “... Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (v. 1). Como vimos no capítulo anterior, essas igrejas podem ter sido fundadas por convertidos no dia de Pentecostes, quando Pedro pregou e quase três mil foram acrescentados à igreja (At 2.9, ou pelas viagens missionárias do Apóstolo Paulo, At 16.6-7; At 19), ou através de uma combinação destes. Porém, é interessante observar que antes do apóstolo Pedro informar a localização dos destinatários, ele descreve a posição espiritual, social e política.33

Eles são dispersos: “... aos eleitos que são forasteiros da

Dispersão...” (v. 1) – A palavra “dispersão” é diáspora em grego (διασπορα). A diáspora é um termo técnico que se refere à dispersão dos judeus em todo o mundo pelos cativeiros assírios e babilônicos. Tiago usou o mesmo termo ao se referir dos crentes judeus espalhados (Tg 1.1).34 Contudo, Pedro usa o termo no sentido figurado, não se referindo aos judeus literalmente deslocados de sua terra natal da Judéia, mas a todos os cristãos, judeus e gentios que, impulsionados pelas perseguições acabaram fugindo para outras regiões (At 8.1; 11.19).

“... no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1.1) – Como as

áreas geográficas mencionadas na sua saudação indicam, esta carta teve uma circulação muito grande. Havia pelo menos sete igrejas da Ásia Menor (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia), que 30 anos mais tarde receberam a revelação especial do próprio Cristo ressuscitado (Ap 1.11; capítulos 2-3). Havia outros lugares notáveis na Ásia Menor, como Colossos, que Pedro nem sequer mencionou. Então, ele estava escrevendo para um grande número de crentes espalhados como estrangeiros espirituais ao longo de uma região hostil e pagã.

Os leitores de Pedro não deveriam se ofender com o termo “dispersão” ou “espalhados” (NTLH), pelo contrário, deveriam se alegrar por ser um título de honra. Eles são da “diáspora”, porque são o povo de Deus, espalhados pelo mundo. Jesus havia olhado com compaixão “as ovelhas perdidas da casa de Israel”, porque estavam “aflitas e exaustas, como ovelhas sem pastor” (Mt 9.36). Ele veio para reunir seu “pequeno rebanho”, incluindo

33 KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 47. 34 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (146–147). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

18

outras ovelhas que não são do aprisco de Israel (Jo 10.16). 35 Pedro escreve na certeza alegre de que os gentios na Ásia Menor são parte do rebanho do Senhor (1.18; 2.25).

Pedro dirigiu a um público grande porque a perseguição romana havia varrido o Império. Os crentes em todo lugar iriam sofrer (cf. Lc 21.12; Fp 1.29; Tg 1.1-3). Logo, o apóstolo queria que os crentes se lembrassem de que, em meio ao sofrimento, eles ainda eram os eleitos de Deus, e que, como tal, eles poderiam enfrentar a perseguição com uma triunfante esperança (cf. 4.13, 16, 19, Rm 8.35-39; 2Tm 3.11; Hb 10.34-36).36

Eles são forasteiros: “... aos que são forasteiros da Dispersão...” (v.

1) – O termo “forasteiro” é uma referência aos estrangeiros e refugiados ou residentes temporários (cf. 1Pe 2.111; Gn 23.4; Êx 2.22; 22.21, Sl 119.19; At 7.29, Hb 11.13).37

Como estrangeiros, não pertencemos a este mundo hostil. A igreja é composta de estrangeiros e peregrinos espalhados por toda a terra, longe de seu verdadeiro lar no céu (cf. Fl 3.20; Hb 11.13-16; 13.14). Nas palavras de Jesus, estamos no mundo, mas não somos do mundo (Jo 17.13-16). Ou seja, nosso comportamento deve ser distinto dos moradores deste mundo.

Entretanto, Pedro deixa claro, como fez Jesus, que não devemos nos tornar eremitas e enclausurados no mundo, mas, viver de tal forma que os outros possam ver Deus em nossa vida (2.12, 15, 20-21; 3.13-17; 4.19; 5.9). Nem devemos viver separados da igreja, como indivíduos, mas em comunidade como povo de Deus (1.22; 2.4-10; 3.8-9; 4.8-11, 17; 5.1-5, 9, 13-14). Não devemos viver no mundo e ir à igreja, mas viver na igreja e ir ao mundo. Assim, a palavra “forasteiro” significa que somos estrangeiros neste mundo mau.

Os cristãos são peregrinos em busca do verdadeiro lar celestial. Pedro trata sobre esse assunto várias vezes em sua carta, observe: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações...” (1Pe 1.6); “... portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação...” (1Pe 1.17); “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pe 2.11-12; Cf. 4.2; 5.10).

As ideias de esperança, céu, a segunda vinda de Jesus Cristo e a glória futura são destaques em 1Pedro (1.3-5, 7, 13, 21; 2.12, 3.5, 15; 4.5, 7, 13, 17, 5.1, 4, 6 “tempo adequado”, 10). Além disso, Pedro repetidamente mostra

35 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (37–38). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 36 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16). Chicago: Moody Publishers. 37 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (14–15). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

19

que os incrédulos serão julgados por Deus (1.17; 2.7-8, 12, 23, 3.12, 18-20; 4.5, 17-18).

Ironicamente, estes peregrinos errantes herdarão a terra, enquanto que aqueles que pensam que podem reivindicar o mundo vão perdê-lo no julgamento de Deus.38 Tudo isso é mais prático para aqueles que estão sofrendo, especialmente quando você olha ao redor e parece que pessoas más são bem-sucedidas enquanto os cristãos tementes a Deus estão padecendo. Vale a pena seguir a Cristo? É claro que vale! Paulo diz que, “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19).

Como estrangeiros espirituais, o mais importante para os leitores de Pedro não era a sua relação com o mundo, mas a sua relação com o céu.39 Descrevendo a esperança de Abraão, o autor de Hebreus disse: “porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10; 13-16; Jo 14.1-3; Fp 3.20).

Na verdade, o mundo é uma ponte. O homem sábio irá passar por ela, mas não vai construir a sua casa sobre ela”.40 Isso é o que Pedro está ensinando. Nossa vida na terra é temporária. Mas a salvação do Senhor é eterna. É por isso que Pedro encoraja os seus leitores que sofrem a concentrar-se na esperança desse grande dia, quando nosso Salvador retornará do céu para nos buscar!

II. Os cristãos devem viver com esperança no mundo hostil

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pedro 1.2).

A esperança bíblica não é como a esperança do mundo. A esperança do mundo é incerta, na melhor das hipóteses. A esperança bíblica é certa, porque é uma promessa do Deus que não pode mentir.

Na saudação de abertura, Pedro apresenta três razões de como viver com esperança neste mundo hostil:

A. Podemos ter esperança porque fomos escolhidos por

Deus. “... eleitos, segundo a presciência de Deus Pai...” (1Pe 1.2) – Esta

carta foi escrita para os eleitos de Deus. Eles são descritos aqui não pela

38 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (39–40). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 39 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16). Chicago: Moody Publishers. 40 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (111). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

20

situação temporal, mas por suas condições espirituais. Os cristãos são os eleitos de Deus não por acaso ou planejamento humano, mas pela escolha soberana e incondicional do Eterno.41

É importante notar que a palavra “eleito” vem logo depois da expressão “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo...” e antes de “... no Ponto, Galácia, Capadócia...” (V. 1). Ela foi colocada no início para dar ênfase. Pedro declara que o nosso relacionamento com Deus não depende de nossas forças, mas da graça de Deus. Assim, podemos buscar a Deus durante os tempos de perseguição, porque Ele é soberano para salvar e guardar os Seus filhos.42 Este reconfortante tema da soberania de Deus percorre toda a carta (1.3-5, 11-12, 20; 2.7-10; 3.17, 22, 4.11, 19; 5.10-11).

O apóstolo reitera esse conceito no capítulo 2, “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Pedro faz alusão ao Antigo Testamento em que o verso deixa claro que Deus havia soberanamente escolhido a Israel: “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Dt 7.6; cf. 14.2; Sl 105.43, 135.4).

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai...” (1Pe 1.2) – A escolha

de Deus é “segundo” (kata, em grego) ou de acordo com sua presciência. A palavra “presciência” (prognōsin) significa mais do que uma visão passiva, que contém a ideia de “tendo em conta o favor”.43 A mesma palavra é usada em 1.20 sobre Cristo, que foi “escolhido” pelo Pai antes da Criação. O Pai fez mais do que apenas saber sobre o Seu Filho à frente do tempo, Ele conhecia completamente. Assim, Deus escolheu todos aqueles a quem Ele concentrou a sua atenção (por Sua graça, não por causa de seu mérito).44

No entanto, esta verdade reconfortante de que Deus nos escolheu para a salvação, tem sido prejudicada por aqueles que dizem: “Sim, mas Ele diz que Deus nos escolheu de acordo com a Sua presciência”. Eles ensinam que a eleição significa que Deus olhou para baixo, através da história (passado, presente e futuro), viu quem acreditaria Nele e colocou o nome dos que creram no Livro da Vida. Porém, interpretar o termo “presciência” desta forma possui, pelo menos, dois problemas, vejamos:

Em primeiro lugar, esse tipo de interpretação torna o plano do

eterno Deus soberano dependente da vontade do homem. Pensar que Deus olhou para a história e disse: “Ah, seria ótimo se Saulo de Tarso

41 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (839). Wheaton, IL: Victor Books. 42 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16). Chicago: Moody Publishers. 43 Kenneth S. Wuest, First Peter in the Greek New Testament for the English Reader, p. 15. 44 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (840). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

21

acreditasse em mim, porque Ele seria um bom apóstolo”. “Excelente! Ele se decidiu por mim! Eu vou colocá-lo na minha lista dos eleitos”. Contudo, Paulo deixou claro que Deus o havia separado desde o ventre de sua mãe (Gl 1.15). Presciência não significa, meramente, que Deus sabe quem vai ser salvo, mas que Ele está ativamente no processo antes do tempo.

No Antigo Testamento, “conhecer” alguém poderia indicar uma relação íntima (Nm 31.18, 35; Jz 21.12; Cf Gn 19.8). Muito antes de Pedro articular a natureza do conhecimento de Deus, o Senhor disse a Moisés: “Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te conheço pelo teu nome” (Êx 33.17).

Em relação ao Cristo-Servo, o profeta Isaías declara: “Ouvi-me, terras do mar, e vós, povos de longe, escutai! O SENHOR me chamou desde o meu nascimento, desde o ventre de minha mãe fez menção do meu nome; fez a minha boca como uma espada aguda, na sombra da sua mão me escondeu; fez-me como uma flecha polida, e me guardou na sua aljava, e me disse: Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado” (Is 49.1-3).

O profeta Jeremias declara que Deus tinha uma relação pré-determinada com ele: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” (Jr 1.5).

O profeta Amós escreveu sobre a presciência de Deus: “De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos punirei por todas as vossas iniquidades” (Am 3.2).

Diante destas referências, a questão não é simplesmente que Deus obtém informação sobre alguém, mas Ele estabelece uma relação íntima com que lhe aprouver.45

Em segundo lugar, esse tipo de interpretação transforma a graça

de Deus em um favor merecido ao invés de imerecido. Se a eleição significa apenas que Deus vê antecipadamente quem será salvo, então Ele não escolheu soberanamente, mas escolhe por causa deles. Mas a Bíblia é clara ao declarar que é Deus quem escolhe (Rm 9.11, 16, 18). A palavra “presciência” significa que Deus sabia no sentido especial de escolher o seu povo antes da fundação do mundo. A ideia de predestinação está implícita no “conhecimento” (1Pe 1.20; Rm 8.29).

B. Nós podemos ter esperança, porque fomos salvos pelo

Deus Trino. Pedro assumiu que seus leitores aceitavam a Trindade. Ele não gasta

tempo tentando explicar ou defender, ele só afirma que fomos escolhidos de acordo com a presciência de Deus Pai, pelo trabalho santificador do Espírito, para que possamos obedecer a Jesus Cristo. Deus é um Deus que existe em

45 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (20). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

22

três pessoas co-iguais, eternas, o mesmo em substância, mas distintas em subsistência.46 Cada pessoa da trindade possui um papel em nossa salvação.

As Escrituras apresentam o Pai como a fonte da criação, o doador da vida, e Deus de todo o universo (cf. Jo 5.26, 1Co 8.6; Ef 3.14-15). O Filho é retratado como a imagem do Deus invisível, a representação exata do Seu ser e da natureza, e o Messias-Redentor (Fp 2.5-6; Cl 1.14-16, Hb 1.1-3). O Espírito é Deus em ação, Deus alcançando as pessoas, influenciando, regenerando, confortando e orientando (Jo 14.26, 15.26, Gl 4.6, Ef 2.18). Todos os três trabalham juntos (Jo 16.13-15). Podemos ter esperança, porque a nossa a salvação depende desse grande Deus Trino.

C. Podemos ter esperança porque a graça e a paz serão

multiplicadas. “... graça e paz vos sejam multiplicadas” (v. 2) – A expressão “Graça

e paz” não é, simplesmente, uma forma de saudação cristã, é muito mais. A graça de Deus foi o fator motivador na vida de Pedro, como deveria ser na vida de cada cristão. Ele usa a palavra em todos os capítulos desta carta, 10 vezes no total (1.2, 10, 13; 2.19-20; 3.7; 4.10; 5.5, 10, 12). A primeira palavra da epístola, “Pedro”, ilustra a graça de Deus de forma mais pessoal. O Simão instável que negou o Senhor tornou-se Pedro (a rocha), muito usado por Deus como um apóstolo. “Paz” é o resultado interior ao experimentar a graça de Deus.

Já a palavra “apóstolo” significa “enviado sob autoridade”, e mostra que as coisas que Pedro escreveu não são sugestões, mas mandamentos divinos. Ele não é o “príncipe dos apóstolos”, mas um apóstolo, restaurado depois de sua queda, pelo arrependimento, pelo próprio Cristo após a Sua morte e ressurreição (cf. Jo 21). Assim temos na vida do apóstolo Pedro, um caso especial da fragilidade humana, por um lado, e a doçura da graça divina, do outro.47 Pela graça, Pedro tornou-se o mensageiro de Deus.

Portanto, os cristãos vivem em um mundo hostil como estrangeiros, mas, eles podem viver com esperança.

46 A palavra “Trindade” não aparece na Bíblia, ela foi criada por estudiosos para descrever os três membros da Trindade. Em toda a Bíblia, Deus é apresentado como sendo o Pai, o Filho e o Espírito não três “deuses”, mas três distintas em um único Deus (Mt 28.19; 1Co 16.23-24, 2Co 13.13). Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary. Tyndale reference library (1275). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers. 47 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (14). Wheaton, IL: Crossway Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

23

III. Os cristãos devem viver em santidade no mundo hostil.

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pedro 1.2).

“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do

Espírito...” (v. 2) – Santidade e obediência são os temas principais em 1Pedro (1.2, 14-17, 22, 2.1, 11, 24, 3.2, 6, 8-9; 4.1-11, 15-17). Na introdução esses temas são realçados nas respectivas obras do Espírito e de Jesus Cristo em nossa salvação.

Primeiro, o apóstolo Pedro diz que somos escolhidos “pela obra

santificadora do Espírito”. A mesma frase é usada em conexão com a eleição em 2Ts 2.13. Santificação (hagiasmos, em grego) significa “separar” (1Jo 2.15-17). Mas aqui é uma referência ao trabalho inicial do Espírito ao tomar um crente e separá-lo para Deus na comunidade do povo eleito. Deus o separa das trevas para a luz, os diferencia da incredulidade à fé, e felizmente os separa do amor ao pecado e leva-o a um amor pela justiça (Jo 3.3-8; Rm 8.2, 2Co 5.17; cf. 1Co 2.10-16; Ef 2.1-5; 5.8, Cl 2.13).48

A palavra também tem um sentido contínuo que aponta para o processo pelo qual o Espírito progressivamente separa os crentes para Deus (cf. Fl 1.6; Rm 12.1-2; 2Co 7.1; 1Ts 5.23-24; Hb 12.14; cf. Ef 4.24, 30; 2Tm 4.18). Paulo diz que Deus escolheu os crentes “... antes da fundação do mundo, para serem santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef 1.4). John MacArthur acertadamente escreveu: “O que começa na salvação é concluído na glorificação.49 O processo de santificação é o trabalho do propósito eletivo de Deus na vida terrena dos cristãos (cf. Rm 6.22; Gl 4.6; Fp 2.12-13; 2Ts 2.13; Hb 12.14).

Em seguida, Pedro diz que somos escolhidos “para a obediência e a

aspersão do sangue de Jesus Cristo...” (v. 2) – Obediência a Jesus Cristo é o efeito ou subproduto da eleição divina. A palavra “obediência” (hypakoē, em grego) significa “obediência ao cumprimento”. Esta palavra está relacionada com o verbo “ouvir” (akoúō). No grego clássico se refere a um porteiro, cujo dever era responder a uma batida na porta, assim, ela traz a ideia de responder a um chamado ou obedecer a um comando.50 Para os cristãos, a obediência absoluta é a Cristo como Senhor (1.2, 14, 22). Portanto, devemos

48 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (21). Chicago: Moody Publishers. 49 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (22). Chicago: Moody Publishers. 50 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (144). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

24

ouvir os Seus mandamentos, e quando Ele chamar, devemos responder imediatamente, sem reservas.

“... para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo...” (v.

2) – Dentro da Lei do Antigo Testamento, havia três ocasiões em que acontecia a aspersão do sangue: (1) Limpeza: Quando um leproso era curado, o sacerdote aspergido o sangue de um pássaro (Lv 14.1-7). (2) Separar alguém para o serviço a Deus: Arão e os sacerdotes do tabernáculo foram aspergidos com o sangue do cordeiro sacrificial, quando foram “santificados” para o seu serviço sacerdotal (Êx 29.20-22, Lv 8.30). (3) Obediência à aliança de Deus: Quando o povo de Israel respondeu ao convite de Deus para estabelecer uma aliança, Moisés aspergiu metade do sangue dos bois sobre as pessoas e metade sobre o altar. O povo declarou: “Tudo o que falou o SENHOR faremos” (Êx 24.1-8). Novamente, a palavra-chave na aliança era “obedecer”.

O livro de Hebreus declara que de uma vez por todas o sacrifício de Jesus inaugurou a Nova Aliança (Hb 9.19-28). Assim, Pedro está se referindo a limpeza inicial do pecado que ocorre quando o sangue de Cristo é aplicado aos nossos corações quando nos comprometemos pela fé. “Obediência” olha a nossa parte, “aspersão” olha a parte de Cristo.

Tal como acontece com a palavra “santificação”, a palavra “aspersão” é um substantivo ativo que também contém a ideia de um processo contínuo. Embora o sangue de Cristo nos purifique de todos os nossos pecados no momento da salvação, existe também uma limpeza repetida aplicada ao confessarmos os nossos pecados (1Jo 1.7, 9).

Todos aqueles que são eleitos pelo Pai são redimidos pelo sangue de Cristo e santificados pelo trabalho do Espírito. Assim, o apóstolo Pedro declara que a vida cristã é um processo contínuo de separação do pecado e obediência a Deus. É antes de tudo a obra do Espírito de Deus e de Jesus Cristo em nosso favor, mas também envolve a nossa obediência ativa.

CCoonncclluussããoo:: Outra palavra-chave na primeira carta de Pedro é a palavra

“submissão” (2.13, 18, 3.1, 5, 22; 5.5). Não é uma palavra popular em nossos dias, onde todos exigem seus “direitos”, mas esquecem dos deveres. Mas “submissão” é chave para ter uma visão adequada do sofrimento. Quando enfrentamos provações, temos uma escolha. Podemos nos queixar sobre como a vida é injusta e procurar uma saída rápida e fácil. Ou, podemos nos submeter à mão poderosa de Deus para que Ele em tempo oportuno nos exalte (1Pe 5.6).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

25

O famoso pregador americano D.L. Moody contou sobre uma mulher cristã, brilhante, alegre e otimista, embora estivesse confinada em seu quarto por causa de uma enfermidade. Ela morava no quinto e último andar de um prédio velho e degradado. Certa feita, uma amiga decidiu visitá-la e levou consigo uma mulher de grande riqueza. Como não havia elevador no prédio, as duas senhoras começaram a subir as escadas. Quando chegaram ao segundo andar, a amiga rica comentou: “Que lugar escuro e sujo!” Sua amiga respondeu: “O melhor está mais acima”. Quando elas chegaram ao terceiro andar, a observação foi a mesma: “As coisas parecem ainda pior”. Novamente a amiga respondeu: “O melhor está mais acima”. As duas mulheres, finalmente chegaram ao quinto e último andar, onde se encontrava a mulher acamada. Com um sorriso no rosto, ela irradiava alegria que enchia o seu coração. Embora o quarto estive limpo e as flores estivessem no parapeito da janela, a visitante rica não conseguia superar o ambiente austero em que a mulher vivia. Ela deixou escapar: “Deve ser muito difícil para você estar aqui num lugar como este!” Sem hesitar, a mulher respondeu: “O melhor está mais acima”.

Aquela mulher acamada não olhava para as coisas temporais. Mas, seus olhos da fé estavam fixos no eterno, ela havia encontrado o segredo do verdadeiro contentamento: o melhor está mais acima.

Às vezes parece que não vamos resistir. Em muitos casos, a dor é intensa e implacável. No entanto, o sofrimento não vai durar a vida inteira. Ele vai cessar!

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

26

SSaallvvooss ppaarraa aa eetteerrnniiddaaddee [estudo 3 - 1pedro 1.3-5]

Durante um tempo de extrema perseguição, sofrimento e dor, o

apóstolo Pedro depois de sua saudação, a primeira coisa que ele faz é irromper em louvor: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Ele não começa com as necessidades dos seus leitores, mas com os louvores que Deus merece. Todavia, como ele poderia fazer uma coisa dessas?

Deixe-me colocar desta forma: se você estivesse passando por algum tipo de sofrimento e um amigo o visitasse e dissesse: “Louvado seja Deus! Você vai receber uma herança de R$ 100 milhões!” Isso faria alguma diferença? A herança de R$ 100 milhões não pode resolver todos os seus problemas, mas ajudaria em algumas áreas. Com tanto dinheiro, pelo menos, você poderia sair de férias e meditar sobre as coisas!

Entretanto, de volta à realidade! Você não herdou R$ 100 milhões. Você herdou algo muito melhore maior! Pedro está dizendo: “Bendito seja Deus, porque Ele nos deu muito mais do que R$ 100 milhões. Ele nos fez nascer de novo para uma viva esperança. Nossa herança está reservada nos céus!” Então, independente de nossos problemas, podemos louvar a Deus porque Ele nos salvou para a eternidade.

O que esperamos deve afetar a maneira como vivemos. A passagem é um hino de adoração projetado para encorajar os cristãos que vivem em um mundo hostil para desviar os olhos de seus problemas temporais e se alegrar em sua herança eterna.51 Quando exaltamos a Deus por quem Ele é e por aquilo que tem feito, sentimo-nos fortalecidos para lidar com nossas leves e momentâneas tribulações (2Co 4.16-18).

Assim, podemos louvar a Deus porque a nossa herança (salvação) vem deEle (1.3), e, porque a nossa herança está segura na eternidade (1.4-5).

I. A natureza da nossa herança.

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pedro 1.3).

Quando Pedro descreve a Deus como “o Pai de nosso Senhor Jesus

Cristo”, isso não significa que Jesus não era Deus. Jesus é o Deus eterno encarnado, a segunda pessoa da Trindade.

51 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (29). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

27

Apenas com uma exceção (quando abandonado na cruz, Mt 27.46), todas as vezes que Jesus se dirigiu a Deus nos Evangelhos, Ele chamou a Deus de “Pai” ou “meu Pai”. Ao fazer isso, Jesus estava rompendo com a tradição judaica que raramente chamava Deus de Pai, e sempre em um sentido coletivo, em vez de pessoal (Dt 32.6, Is 63.16; 64.8, Jr 3.19; 31.9; Ml 1.6; 2.10). Além disso, ao chamar a Deus de “Pai”, Jesus estava reivindicando compartilhar de Sua natureza. Ao falar com os judeus sobre a observância da Festa da Dedicação, Cristo declarou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Mais tarde, em resposta ao pedido de Filipe para que Ele revelasse o Pai, Jesus disse: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9; v 8, 10-13). Jesus afirmou que Ele e o Pai possuem a mesma natureza divina, que Ele é completamente Deus (cf. João 17.1, 5). 52 Nenhuma pessoa pode reivindicar conhecer a Deus a menos que conheça Jesus Cristo, Seu Filho. Jesus mesmo disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto” (Jo 14.6-7; cf. Mt 11.27; Lc 10.22).

Que Jesus é plenamente Deus pode ser provado de várias formas a partir do Bíblia. Mas basta olhar para o contexto imediato.

Em primeiro lugar, Jesus é mencionado com o Pai e o Espírito como tendo um papel essencial na nossa salvação (1.2).

Em segundo lugar, o título “Senhor” é a mesma palavra no Antigo Testamento usada para descrever Deus. Ou seja, ao chamar Jesus de “Senhor” é reconhecê-Lo como soberano do universo (3.22).

Terceiro, o termo “Cristo” prova que Jesus é Deus, porque “Messias” significa Cristo. O Salmo 110 declara que o “Cristo” não é apenas filho de Davi, mas também Senhor de Davi (Mt 22.42-45).

Assim, Pedro deixa claro que a nossa salvação vem de Deus Pai, por meio de Cristo e através do Espírito Santo (1Pe 1.3). A Trindade está envolvida em nossa salvação.

A. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de

Sua grande misericórdia. “... que, segundo a sua muita misericórdia...” (v. 3) – A salvação

nunca vem de qualquer mérito ou algo de valor em nós. Na verdade, não podemos fazer nada para merecê-la. Não podemos fazer nada para predispor Deus a nos concedê-la.

Misericórdia não é o mesmo que graça. Misericórdia diz respeito à condição miserável de um indivíduo, enquanto graça diz respeito a sua culpa, o que causou essa condição. A misericórdia divina leva o pecador da miséria para a glória (uma mudança de condição), e a graça divina o leva o pecador da culpa a absolvição (uma mudança de posição, Cf. Rm 3.24; Ef

52 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (30). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

28

1.7). O Senhor se entristece com a condição do pecador (Ez 18.23, 32; Mt 23.37-39). Jesus curou várias pessoas enfermas (Mt 4.23-24; 14.14, 15.30, Mc 1.34, Lc 6.17-19). Ele poderia ter demonstrado sua divindade de muitas outras maneiras, mas escolheu curar porque ilustrava melhor o coração misericordioso de Deus para com os pecadores (cf. Mt 9.5-13; Mc 2.3-12).53 As curas realizadas por Jesus, que quase baniu a doença de Israel, serviram para mostrar que o que o Antigo Testamento havia declarado a respeito de Deus, o Pai misericordioso (Êx 34.6; Sl 108.4; Lm 3.22; Mq 7.18 ) era verdade.

Como Martinho Lutero declarou, “a natureza humana alimenta a ideia de que nós, através de nossa própria força, livre arbítrio, boas obras e merecimento ou por manter a Lei de Deus, podemos expiar nossos pecados e adquirir a salvação eterna. Mas isso é a mesma coisa que devemos deixar se quisermos experimentar a misericórdia de Deus. Se merecêssemos a salvação, não experimentaríamos a misericórdia de Deus. Merecemos apenas a Sua ira por causa do nosso grande pecado, mas Ele nos mostrou grande misericórdia”.54

Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de Sua grande misericórdia! É por isso que Paulo O chama de “o Pai das misericórdias” (2Co 1.3).

B. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de

Seu poder em dar a vida eterna. “... nos regenerou para uma viva esperança...” (v. 3) – Pedro diz que

Deus “nos regenerou”. O profeta Jeremias uma vez fez uma pergunta retórica: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas?” (Jr 13.23). A resposta é um sonoro, não! Sua analogia serve para mostrar que o pecador não pode mudar sua natureza (cf. 17.9). A natureza pecaminosa da humanidade precisa mudar (Mc 1.14-15; Jo 3.7, 17-21, 36; cf. Gn 6.5; Jr 2.22; 17.9-10; Rm 1.18-2.2; 3.10-18), mas só Deus, trabalhando através do Seu Espírito Santo, pode transformar o coração humano pecador (Jr 31.31-34; Jo 3.5-6, 8, At 2.38-39; cf. Ez 37.14, At 15.8; Rm 8.11, 1Jo 5.4).55 Isto é, a única maneira do pecador receber a herança eterna de Deus, é por meio da transformação espiritual, o novo nascimento, “... nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (v. 3).

Jesus declarou a Nicodemos (com quem Pedro, sem dúvida, conheceu), que a menos que um homem nascesse de novo, não poderia ver o reino de Deus (Jo 3.3). Assim como nascemos fisicamente, devemos nascer

53 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (31–32). Chicago: Moody Publishers. 54 Commentary on Peter and Jude [Kregel], p. 20) 55 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (32). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

29

espiritualmente. E, assim como não tivemos nada a ver com nosso nascimento físico, não podemos ajudar em nosso nascimento espiritual. Ele tem a sua origem no poder vivificante de Deus (Jo 1.12-13; 6.44).

Se a nossa salvação fosse resultado do nosso esforço ou desempenho, então ela repousaria sobre um terreno movediço. Contudo, a salvação é obra da soberana vontade de Deus, com base no Seu poder em nos tirar da morte espiritual para a vida, então é algo concreto! Logo, podemos louvar a Deus porque a nossa libertação da morte espiritual vem do céu e não da terra.

C. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem da

ressurreição de Jesus Cristo. “... mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” (v.

3) – Se Deus houvesse deixado Jesus no túmulo, nossa salvação não seria completa. Em Sua morte na cruz, Jesus levou sobre Si nossos pecados. Mas, se Ele não tivesse ressuscitado não teria vencido o pecado e a morte. Como Paulo disse: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15.17).

Sejam quais forem às provações que enfrentemos, podemos louvar Deus, porque temos uma esperança viva que se baseia no fato da ressurreição de Jesus Cristo. O Senhor Jesus disse a Marta, pouco antes da ressurreição de seu irmão Lázaro da sepultura, “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?” (Jo 11.25-26).

Paulo instruiu aos Coríntios sobre a verdade e a esperança da ressurreição: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). Cristo ressuscitou dentre os mortos para garantir uma viva esperança ao crente acerca da salvação e o triunfo sobre a morte (1Pe 1.20-21; 1Co 15.20-28, 47-49, 54-58).

Assim, Pedro deseja que seus leitores saibam que não importa a grandeza dos nossos problemas, nosso futuro é glorioso, por que a nossa salvação é um obra de Deus, de Sua grande misericórdia. Como disse o apóstolo Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

30

II. O poder da nossa esperança

“para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pedro 1.4-5).

Apesar do sofrimento, podemos louvar a Deus porque a nossa

salvação está segura na eternidade (1.4-5). Pedro descreve nossa salvação como herança, trancada no cofre do banco celestial e protegida contra todos os intrusos. Além disso, podemos ter plana convicção de que o poder de Deus está nos guardando para que um dia desfrutemos de nossa herança.

A. Nossa salvação é uma herança segura no céu.

“Para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros” (1Pedro 1.4).

Confesso que não gosto muito de ler documentos legais. Por que

geralmente os advogados ou juízes não escrevem em linguagem acessível, totalmente clara. Mas há um documento onde todos permanecem atentos a cada palavra: A leitura de um testamento, quando sabemos que somos legatários de uma grande herança.

Pedro diz que a nossa salvação é uma herança guardada nos céus. É claro, o próprio Cristo está lá. Além disso, nossa herança é tão grande e preciosa que a única maneira de Pedro descrevê-la é dizendo o que ela não é: não é perecível, não é contaminada e não é destruída (v. 4).

Uma herança Incorruptível (aphtharton, em grego). Refere-se ao

que não é perecível, não é passível de morte ou sujeita a destruição. Nossa herança espiritual não está sujeita a destruição. Nossa herança é um tesouro glorioso que nunca será perdido.56

Qualquer herança humana está sujeita tanto a morte ou decadência. Qualquer pessoa pode morrer antes mesmo de obter ou desfrutar de sua herança. Você pode ser o herdeiro de uma grande fortuna, mas não desfrutar de nada se morrer antes. Caso consiga obtê-la, ainda estará sujeito à traça, ferrugem, e aos ladrões, como Jesus declarou (Mt 6.19-21). Mas a nossa herança celestial é imperecível, ela não pode ser destruída.

Uma herança imaculada (amiantos). Significa livre de

contaminação.57 A herança pode ser maculada e pode contaminar a pessoa que a recebe. Famílias de homens ricos que morreram são conhecidas pelas brigas desagradáveis que duram anos por causa da ganância de seus

56 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (35). Chicago: Moody Publishers. 57 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (650). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

31

membros. Mas a nossa herança celestial não é desse modo. Ela é pura e imaculada como o nosso Senhor (Ap 5). Somente através dele, somos capazes de entrar na presença de Deus e receber uma herança tão gloriosa, uma herança “imaculada”.58

Tudo na criação está manchado e poluído pelo pecado (Rm 8.20-22, 1Jo 5.19), e, portanto, tudo é falho. Isso é o que o apóstolo Paulo se referiu quando escreveu: “Porque sabemos que toda a criação geme e sofre as dores de parto até agora” (Rm 8.22). Toda herança terrena está contaminada, mas a herança imaculada dos crentes em Jesus Cristo é impecável e perfeita (cf. Fl 3.7-9; Cl 1.12).

Uma herança imarcescível (amarantos, em grego). Por fim, a

herança do crente não vai desaparecer. A palavra “imarcescível” é usada no grego secular para descrever uma flor que não murcha ou morre.59 Nenhum dos elementos decadentes do mundo pode afetar o reino dos céus (Lc 12.33; cf Ap. 21.27; 22.15). Nenhum dos estragos do tempo ou os males do pecado podem tocar na herança do crente, porque é em um reino atemporal, sem pecado (cf. Dt 26.15; Sl 89.29; 2Co 5.1). Mais tarde, na mesma carta, Pedro reitera a natureza imperecível da herança da Igreja: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5.4).60

Mas você pode estar pensando, é bom saber que a nossa herança está no céu. Contudo, como posso ter certeza de que vou tomar posse dessa herança?

B. Nossa salvação é guardada pelo poder de Deus.

“... que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pedro 1.5).

“... que sois guardados...” (phroureo, em grego) significa guardar, proteger através de um guarda militar, seja para evitar invasão inimiga ou impedir a fuga dos habitantes de uma cidade sitiada (ver 2Co 11.32).61 O verbo foi escrito no particípio perfeito passivo. Ou seja, isso transmite a ideia da herança já existente, mas que está sendo cuidadosamente guardada

58 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word (34). Wheaton, IL: Crossway Books. 59 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (221). Nashville, TN: T. Nelson. 60 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (35). Chicago: Moody Publishers. 61 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (284). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

32

no céu para todos aqueles que confiam em Cristo.62 Nossa herança está protegida, não por um exército vulnerável, mas pelo poder de Deus!

“... pelo poder de Deus...” (v. 5) – O poder de Deus é a Sua onipotência

soberana que protege continuamente Seus eleitos. Ninguém pode se opor a eles (Rm 8.31-39; Judas 24).63 Todos os detalhes desta promessa são oferecidos ao crente uma esperança duradoura, de modo a proporcionar alegria e resistência.

Não importa a calamidade, não importa a causa da morte, a profundidade da dor ou o horror da catástrofe, Deus está no controle. E Ele é todo-poderoso. Isso significa que podemos confiar nele independentemente das nossas circunstâncias. A morte pode destruir nossos corpos, mas Deus prometeu proteger nossas almas e nossos corpos serão ressuscitados de maneira gloriosa “no último tempo” (1Co 15.50-58). Ninguém pode nos dizer as razões pelas quais passamos por esses momentos difíceis. Mas porque sabemos o tipo de Deus que temos, podemos aceitar o mistério do sofrimento e a certeza de que Deus nos protegerá pelo Seu poder, hoje, e por toda a eternidade.64

O profeta Jeremias, mesmo no meio dos momentos mais difíceis foi capaz de declarar: “A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele” (Lm 3.24).

“... mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no

último tempo” (v. 5) – Nossa salvação está “preparada” para ser revelada, como uma estátua esperando para ser revelada. Porém, a palavra “preparada” também é usada em 1Pedro 4.5 para avisar que Deus está pronto para julgar os vivos e os mortos. O futuro detém um ou outro para cada pessoa: Ou você espera para ver o véu sendo removido e contemplar a salvação, ou você espera pelo julgamento de Deus. Ambos estão preparados. O que determina o seu futuro é visto na frase, “mediante a fé”. Nós recebemos a salvação de Deus através da fé.

“... mediante a fé...” (v. 5) – A fé não é a causa meritória da nossa

salvação, mas a causa instrumental.65 Nossa fé se apodera do poder, e o Seu poder fortalece a nossa fé, e por isso somos preservados. A alma que se baseia na autoconfiança, na presunção de sua própria força será exposta a todo tipo de perigo.66

62 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (37). Chicago: Moody Publishers. 63 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (37). Chicago: Moody Publishers. 64 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (149). Grand Rapids, MI: Zondervan. 65 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 34. 66 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (25). Wheaton, IL: Crossway Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

33

Todavia, este poderoso escudo é nosso, se vivemos pela fé no Cristo vivo. A fé é absolutamente essencial para a vida cristã. É pela fé que vamos a Cristo, e é pela fé que vivemos por Ele dia após dia (Gl 3.11). Paulo nos ensina a usar o escudo da fé para apagar todos os dardos inflamados do maligno (Ef 6.16).

Este escudo da fé nos manterá pelo poder de Deus até a nossa salvação estiver pronta para ser revelada no último tempo (v. 5). Pedro está falando sobre a revelação de Jesus Cristo em Apocalipse, quando Ele voltar para reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Haverá um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1). Assim, “Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.3-4).

Que dia será aquele! Enquanto esse dia não chega, nosso Senhor prometeu estar conosco (Mt 28.20). Ele nos prometeu a vida eterna que ninguém pode nos tirar. E Ele nos ofereceu alguns benefícios adicionais maravilhosos, incluindo uma viva esperança, uma herança celestial e um poderoso escudo.67

Diante de tão grande verdade, Davi não se contentou com uma ou duas expressões sobre a graça protetora de Deus, mas se deleitou em muitas expressões: “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte” (Sl 18.2).

Aqueles que provaram da misericórdia do Senhor perseverarão na fé até o grande dia, quando a fé se tornará visível.

CCoonncclluussããoo:: Muitos anos atrás, uma equipe de alpinistas começou uma descida

perigosa de um dos picos dos Alpes Suíços. O primeiro homem da fila perdeu o equilíbrio e caiu sobre a rocha. Em seguida, dois homens que estavam mais próximos dele foram arrastados, mas os outros alpinistas experientes acima se prepararam e mantiveram-se firmes para suportar o impacto e o peso. Mas quando a corda esticou, ao invés de suportar o peso, ela arrebentou. Horrorizados, os alpinistas viram os três amigos despencaram para a morte de uma altura de 4.000 metros. Durante meia hora os outros três alpinistas ficaram imobilizados com medo. Finalmente eles recobraram a coragem e continuaram a descida cuidadosamente. Horas depois, eles examinaram a corda e descobriram a razão do acidente, eles ficaram chocados. A corda

67 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (115). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

34

para a prática de rapel possui um fio vermelho de segurança entrelaçado, mas aquela corda não. Era um substituto fraco.68

Somente o sacrifício do Senhor Jesus Cristo é suficiente para nos salvar da condenação eterna. Se sua fé está firmada em si mesmo ou em sua própria bondade, a corda vai arrebentar e você vai perecer. Se sua fé estiver no que Deus fez através de Cristo por causa de Sua grande misericórdia, então não importa o problema que você enfrentar, você pode se juntar a Pedro e proclamar: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, porque Ele me salvou segundo a sua grande misericórdia”. Porque a minha salvação não depende das minhas próprias forças, mas de Deus, estou salvo para a eternidade! É muito melhor do que herdar R$ 100 milhões!

68 Our Daily Bread, junho/1982.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

35

OOnnddee DDeeuuss eessttáá qquuaannddoo mmaaiiss pprreecciissoo??

[estudo 4 – 1pedro 1.6-9] Há muita confusão entre os cristãos sobre como lidar com o

sofrimento. Alguns dizem que se sofremos é por falta de fé e as dificuldades da vida não veem de Deus.69 Assim, devemos reivindicar a cura pela fé e rejeitar todos os pensamentos negativos.

Outros dizem que os cristãos devem enfrentar o sofrimento com um sorriso no rosto. Eles citam versículos bíblicos para os que estão sofrendo como, “Alegrai-vos sempre.... Em tudo dai graças” (1Ts 5.16, 18); “Todas as coisas cooperam para o bem...” (Rm 8.28).

Você já deve ter percebido que as pessoas são rápidas em julgar a nossa dor e a razão de nossas provações. Alguns anos atrás durante o velório de um homem cristão que deixou a mulher e dois filhos. Após o culto, o Pastor da viúva de forma equivocada e insensível disse: pare de chorar, “louvado seja o Senhor, ele está na glória, agora!” O Pastor estava negando o sofrimento e a dor daquela família.

Na verdade, nenhuma dessas abordagens é bíblica ou uma maneira emocionalmente saudável de lidar com o sofrimento. A maneira correta não é negar a dor ou sofrimento, mas, encontrar alegria genuína do Senhor nas provações. R. C. Sproul estava certo quando escreveu: “O objetivo de nossa vocação é o céu. Mas não há nenhum caminho para o céu, senão através do vale”. 70

O apóstolo Pedro escreveu para cristãos que sofriam, mas, ele diz que eles deveriam exultar ao mesmo tempo em que estivessem angustiados por várias provações (1Pe 1.6). Pedro não está negando o sofrimento - mas ele não descarta a alegria genuína de que um cristão pode experimentar em meio à dor, se tiver a perspectiva correta. São lições preciosas para os momentos mais difíceis de nossa vida, períodos em que com frequência questionamos: Onde Deus está quando mais precisamos?

I. Deus está sempre ao lado dos Seus filhos amados.

“Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações” (1Pedro 1.6)

“Nisso exultais...” – O termo “nisto” remete à passagem anterior (1.3-5), que trata da primeira grande alegria dos cristãos, ou seja, a sua herança

69 MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (7). Victor Books. 70 SPROUL. R. C. Surpreendido pelo Sofrimento. São Paulo: Editora Cultura Cristã. Sãu Paulo, 1998, p. 23.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

36

eterna que está protegida por Deus. Já a palavra “exultais” (agalliaō em grego) transmite a ideia de “júbilo, alegria e uma exaltação espiritual”.71 Jesus usou “agalliaō” em Mateus 5.12, além da palavra comum para regozijo (Chairo). Assim, Ele intensificou o significado de sua ordem para os discípulos.72 No Novo Testamento, agalliaō sempre se refere ao espiritual, em vez de uma alegria temporal, e, geralmente, tem referência a um relacionamento com Deus (cf. 1.8, 4.13, Lc 1.47, 10.21; At 2,26; 16,34; Ap 19.7). Além disso, Pedro utilizou o termo no tempo presente, que transmite a noção de uma alegria contínua. Porém, nem sempre é fácil se alegrar, principalmente, quando as coisas vão de mal a pior.

Nossas provações não importam quão grandes sejam, são insignificantes à luz da eternidade. Assim, no meio da nossa dor, nós podemos ter uma grande alegria se nos concentramos na glória eterna que nos espera quando Jesus voltar. Alegria não é a ausência de dor, mas a presença de Deus.73

Hoje, a vida é uma escola em que Deus nos treina para o nosso ministério futuro na eternidade. Na verdade, as provações são os livros didáticos de Deus, na escola da experiência cristã.74 A experiência é a mais difícil das professoras. Ela dá o teste primeiro e depois a lição. Sendo assim, devemos ter em mente que todos os planos que Deus realiza é para preparar os Seus filhos amados para o que Ele tem reservado no céu para eles.

A Bíblia tem muito a nos ensinar sobre as provações:

Sobre o filho amado Jesus, está escrito: “... embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8) Sobre nós, a Bíblia diz: “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe... Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.6, 8). “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). Jesus também declarou que devemos esperar problemas: “No mundo tereis aflições...” (Jo 16.33). “... através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At 14.22).

71 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (266). Nashville, TN: T. Nelson. 72 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (41). Chicago: Moody Publishers. 73

DUNN, Ron. Por que Deus não me cura? São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1996, p. 213. 74 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

37

Como escreveu o apóstolo Pedro mais adiante: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pe 4.12). Note que antes de falar sobre o sofrimento, Pedro declara que somos amados.

Em certa ocasião, Pedro perguntou a Jesus: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós?” (Mc 10.28). Jesus respondeu dizendo: “Todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos...” (v. 29). Esse, sem dúvida, seria um negócio maravilhoso! Quem não se inscreveria para um programa desses? Mas em seguida, Jesus acrescentou: “... que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna” (Mc 10.30).

Assim, nesta vida: provações, perseguições, dificuldades fazem parte da vida cristã. Há bênçãos incontáveis, como Jesus deixou claro aos discípulos. É uma vida verdadeiramente abundante (Jo 10.10).

Existe uma planta marinha que cresce a uma profundidade de 150 a 200 pés e consegue boiar sobre as ondas do oceano. O caule desta planta possui menos de uma polegada de espessura, mas é capaz de resistir às ondas mais fortes e violentas do mar. Qual é a chave para a resistência desta planta aparentemente frágil diante da pressão das ondas? De acordo com os biólogos a planta sobrevive porque está solidamente ancorada às rochas que se encontram no fundo do mar. 75

Da mesma forma, podemos suportar os golpes da vida se também estivermos ancorados adequadamente na rocha. Não importa quão fraca pareça a nossa fé, quando estamos ancorados nas promessas infalíveis da Palavra de Deus, podemos resistir ao sofrimento mais difícil. Lembre-se de Daniel e seus amigos que, apesar de estarem plantados na Babilônia, seus corações e mentes estavam firmemente empenhados nos absolutos de Deus e, portanto, eles foram capazes de enfrentar e resistir às pressões de uma sociedade pagã (Dn 3).

Aqueles que são amados por Deus não estão isentos das dificuldades

da vida. Mas, por quê? Por que Deus permite que enfrentemos as mais duras provas? Não é essa a mesma pergunta que fazemos?

75 MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (52–53). Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

38

II. Ele está sempre ao lado dos Seus filhos amados para refinar a nossa fé.

“Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações. Para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.6-7).

O Salvador leva a todos a quem ama através das provações para

refinar a nossa fé. O comentarista bíblico Warren Wiersbe estava certo quando escreveu: “Uma fé que não pode ser testada não pode ser confiável”.

Nos versículos 6 e 7, o apóstolo Pedro nos apresenta o propósito, a perspectiva necessária e o objetivo das provações.

A. A perspectiva correta das provações Pedro declara que as provações são temporárias, necessárias e

variadas. As provações são temporárias. “Nisso exultais, embora, no

presente, por breve tempo...” (v. 6) – Graças ao bom Deus, as provações não duram a vida inteira, pois elas são “por breve tempo”. Quando Deus permite que Seus filhos passem pelo forno, ele mantém Seus olhos no relógio e Sua mão sobre o termostato. Se nos rebelarmos, Ele pode ter que acertar o relógio, mas se nos submetermos, Ele não permitirá que soframos um minuto além do necessário.76 O importante é aprender a lição.

As provações são necessárias. “Nisso exultais, embora, no

presente, por breve tempo, se necessário...” (v. 6) – As provações são necessárias para refinar nossa fé. O grande pregador britânico Charles Haddon Spurgeon corretamente escreveu que não só as provações, mas também as aflições são necessárias. Ele argumenta que se um cristão não passa por esses momentos, ele vai crescer orgulhoso, e não será capaz de relacionar-se com os outros que sofrem, e vai perder lições que nunca aprenderia de nenhum outro modo. Ele cita Martinho Lutero quando declarou que “a aflição é o melhor livro na minha biblioteca”.77 Ou seja, lamentavelmente aprendemos mais sobre Deus nos momentos de dor do que nos momentos de alegria. Neste sentido, Bill Hybels estava certo quando escreveu: “Se não aprendemos nada com as tempestades dessa vida, então a tragédia terá sido ainda maior”.78

76 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor Books. 77 SPURGEON, Charles Hadsdon. The Christian’s Heaviness and Rejoicing, Sermon’s Sermons [Baker], 5210 - 221). 78 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p. 2003, p. 13.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

39

O Eterno nos coloca na fornalha da aflição onde somos forçados a confiar nEle, de forma que jamais o faríamos além de tais dificuldades.

As provações são variadas. “... se necessário, sejais contristados

por várias provações...” (v. 6) – Os problemas vêm de muitas formas (Tg 1.2). A palavra grega traduzida por “variadas” é poikilos, o que significa “multicolorida”. Mais tarde, Pedro usa a mesma palavra (traduzida como “multiforme”) para descrever a graça de Deus (1Pe 4.10). Assim como o problema é diverso, a graça suficiente de Deus para os crentes é igualmente diversificada.79 Não há nenhum problema que a graça divina não possa se sobrepor (cf. 1Co 10.13). A graça de Deus é suficiente para cada provação humana.

B. O propósito das provações é refinar a fé. O Versículo 7 começa com a expressão “Para que” (1.7), ou seja, Pedro

vai declarar o objetivo das provações: uma vez confirmado o valor da vossa fé como o ouro, para remover a escória, para que na vinda de Cristo redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo.

Mas no meio dessa tristeza, Deus está graciosamente assegurando-nos que há uma finalidade positiva em nosso sofrimento. Deus não é a causa do sofrimento e da dor, mas Ele não permite que ela seja desperdiçada. Ele usa cada prova para o nosso bem (Rm 8.28).80

As provações são usadas por Deus párea refinar a nossa fé. “...

para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo...” (v. 7) – A Bíblia tem muito a nos ensinar a respeito da fé. Somos salvos pela fé; andamos pela fé e o autor de Hebreus diz que “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Por isso, o apóstolo Pedro contrasta a fé com o ouro e, segundo ele, a fé é mais preciosa do que ouro, porque o ouro é perecível, mas a fé não. Além disso, o ouro sempre pode ser roubado ou perdido. A fé, por outro lado, garante o acesso a uma herança não sujeita as intempéries terrenas (cf. Mt 6.19-20). 81 Destarte, no céu, o ouro será usado para pavimentar as ruas da Nova Jerusalém. Aquilo que usamos com ostentação neste mundo, no céu as pessoas pisarão (Ap 21.18).

Nossa fé precisa ser provada. As provações não visam a nossa destruição e sim, nossa aprovação. As palavras: “confirmado” e “apurado” têm a nuance de testes com vistas à aprovação. Deus não testa a nossa fé

79 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (43). Chicago: Moody Publishers. 80 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (117). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 81 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 88.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

40

para destruí-la, mas para queimar as impurezas assim como o ourives faz com o ouro para deixá-lo ainda mais puro.

Nos tempos bíblicos o ouro era o metal mais valorizado, e também era o padrão para todas as transações monetárias (Ed 8.27, Jó 28.15-16, Sl 19.10, Cf. 2Rs 23.35; Mt 2.11).82 Até hoje, o ouro é muito precioso. O trabalho do ourives era colocar o ouro no fogo e deixá-lo tempo suficiente para remover as impurezas, em seguida derramá-lo e fazer um belo artigo valioso. O ourives mantém o ouro no forno até que ele possa ver o seu rosto refletido nele. De modo semelhante, nosso Senhor nos mantém na fornalha do sofrimento até que a glória e a beleza de Jesus Cristo sejam refletidas em nós.83 O Eterno nos coloca na fornalha da aflição onde somos forçados a confiar nEle, de forma que jamais o faríamos além de tais dificuldades.

Assim como o fogo separa o ouro da escória inútil, então Deus usa o sofrimento e as provações para separar a verdadeira fé da profissão superficial. Mas mesmo que o ouro seja purificado, quando provado pelo fogo, ele é perecível (cf. Tg 5.3). No entanto, a fé comprovada é eterna, tornando-se mais preciosa do que o ouro.84

Na parábola do semeador, Jesus disse que a semente que caiu no solo rochoso onde a terra era pouca, logo brotou, mas quando o sol saiu, ela não resistiu porque não tinha raiz. Jesus explicou que esta semente se refere àqueles que primeiro recebem a palavra com alegria, mas quando aflição chega, eles não resistem porque a fé não era genuína (Mc 4.5-6, 16-17).

A pessoa que abandona “a sua fé” quando as coisas ficam difíceis está apenas provando que ele realmente não tinha fé.85 Mas a fé genuína crescerá mais forte através das provações. A melhor decisão a tomar em meio às aflições da vida é confiar no coração amoroso e misericordioso do Eterno.

Deste modo, o objetivo das provações é refinar nossa fé, a perspectiva que precisamos nesse momento é entender que as provações são temporárias, necessárias e, o melhor de tudo, as provações estão sob o controle de Deus.

Quem sabe, hoje, você esteja na bigorna do sofrimento, mas Deus está trabalhando. Ele está testando a autenticidade de sua fé.86 E para Ele, a fé tem valor eterno.

82 MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (141). Victor Books. 83 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor Books. 84 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (44). Chicago: Moody Publishers. 85 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor Books. 86 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word (42). Wheaton, IL: Crossway Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

41

III. Ele está sempre ao lado dos seus filhos amados em todas as provações.

“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pedro 1.8-9).

“Nisso exultais” (1.6). Em quê? Em nossa grande salvação descrita nos

versículos anteriores (1.3-5). Mas também, o motivo da alegria é que o sofrimento cumpre o cuidado de Deus, bem como sua efetiva presença em meio deles, ainda que disciplinadora (Hb 12.10, 11).87

Esse tipo de alegria não se baseia nas circunstâncias, mas se refere à alegria que provém da relação eterna e imutável com Deus. Como encontrar esta alegria nas dificuldades da vida? Pedro nos apresenta três maneiras:

A. Olhando para o Salvador com amor. “... a quem, não havendo visto, amais...” (v. 8) – Os cristãos a quem

Pedro escreveu não eram discípulos pessoais de Jesus, mas convertidos dos apóstolos. Eles não tinham visto o Senhor Jesus, no entanto, eles O amavam.

De forma semelhante, nosso amor por Cristo não é baseado em uma visão física, porque não O vemos. Nosso amor por Cristo está fundamento em nossa relação espiritual com Ele e o que Sua Palavra nos ensina a respeito dele.88 Paulo declarou que Deus derramou o seu amor em nós pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm 5.5), e assim, nos voltamos para Ele em amor.

O comentarista bíblico Wuest, K. S. acertadamente escreveu: “É preciso ter a natureza de um artista para realmente apreciar e amar a arte. É preciso ter a natureza de Deus para apreciar e amar o Senhor Jesus” (2Pe 1.4).89 Às vezes, não entendo porque Deus permite certas situações em minha vida, mas uma coisa posso compreender, a cada dia que passa, eu O amo ainda mais.

B. Olhando para o Salvador com fé. “... no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais...” (v. 8) –

Devemos viver pela fé e não por aquilo que vemos. Fé significa caminhar apesar das evidências, crer apesar das circunstâncias e esperar apesar dos sentimentos. Em seu comentário, Warren Wiersbe conta a história de uma senhora idosa que certa vez, caiu e quebrou a perna enquanto participava de uma conferência bíblia. Ela disse ao pastor que a visitou: “Sei que o Senhor me levou para a conferência. Mas não vejo por que isso tinha que acontecer!

87 MUELLER. Ênio R. I Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 84. 88 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor Books. 89 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament : For the English reader (1 Pe 1:8). Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

42

E eu não vejo nada de bom nisso”. Sabiamente, o pastor respondeu: Romanos 8.28 “não diz que vemos todas as coisas cooperam para o bem. Ele diz que nós sabemos”.90

Em um período de provações, se Cristo parece distante ou ausente, então, pela fé, você deve dizer: “Ele prometeu estar comigo até a consumação dos séculos” (Mt 28.20), “Ele prometeu nunca me deixar ou abandonar” (Hb 13.5), assim, “eu posso descansar nEle, pela fé”.

Fé significa entregar tudo a Deus e obedecer a Sua Palavra, a despeito das circunstâncias, consequências ou sentimentos. As tragédias devem nos levar a uma fé mais profunda e duradoura em Deus como a única âncora que pode nos manter firmes durante os vendavais.91 É interessante observar que o amor e a fé caminham juntos: quando você ama alguém, você confia nele. É esse amor e essa fé que conseguem transformar nossa tristeza em alegria.

C. Olhando para o Salvador com alegria. “a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas

crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória...” (v. 8) – Nem sempre é fácil se alegrar com as circunstâncias da vida, mas podemos experimentar alegria nesses períodos quando colocamos o nosso coração e mente em Jesus Cristo.

Cada experiência nos ajuda a aprender algo novo e maravilhoso sobre o nosso Salvador. Abraão descobriu que Deus era o Jeová-jiré (o Deus provedor), no monte onde ele ofereceu seu próprio filho (Gn 22). Paulo aprendeu a suficiência da graça divina, quando sofreu com um espinho na carne (2Co 12). Cada experiência nos ajuda a aprender algo novo do Altíssimo.

Pedro diz que é possível experimentar uma alegria “indizível” e “cheia de glória”. A palavra “indizível” (aneklalētō em grego) literalmente significa “mais alto do que a fala”.92 Isto é, aqueles que vivem em comunhão pessoal com Cristo experimentam uma alegria tão divina que não podem expressar em palavras. Além do mais, Pedro diz que a alegria também é cheia de glória (doxazo), que significa “render altos louvores” e da qual deriva a palavra doxologia.

Em sua comunhão com o Senhor, os crentes podem experimentar, hoje, de alguns benefícios da glória futura (cf. Ec 2.26; Sl 4.7; 21.6; 68.3; 97.11; Jd 24). O príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon costumava dizer, “Uma fé pequena levará sua alma para o céu, mas uma grande fé trará o céu a sua alma”.93

90 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor Books. 91 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p. 2003, p. 61. 92 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (47). Chicago: Moody Publishers. 93 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

43

Podemos realmente se alegrar no meio do sofrimento? Pedro responde com um sonoro “Sim!” Mas não se alegrar porque estamos fora de contato com a realidade, mas porque temos uma esperança viva, uma herança permanente, uma proteção divina, a fé em desenvolvimento, um Salvador invisível e um livramento garantido.94

As palavras de Pedro proporcionam conforto genuíno a todos os crentes que enfrentam opressão, pois elas nos lembram de que alegria indizível espera os que pertencem a Jesus.95

CCoonncclluussããoo:: Certa vez, um homem que amava o Senhor estava passando por

profundas e desencorajadoras provações, e sua fé em Deus estava fraca. Um dia ele estava passeando com o filho em um pomar. O menino desejou escalar a velha macieira, de modo que o pai permitiu e pacientemente assistia o filho subindo nas árvores. Muitos dos galhos estavam fracos, e alguns começaram a quebrar com o peso do menino.

Vendo sofrimento do filho, o homem ergueu os braços e gritou, “pula, filho, eu vou pegar você”. O menino ainda pendurado, e depois quando outro galho estalou, ele disse: “Posso largar, papai?” “Sim”, foi a resposta tranquilizadora. Sem hesitar, o menino saltou e o pai o pegou com segurança.

Mais tarde, o homem disse: “Esse incidente foi a mensagem de Deus diretamente para mim! Eu entendi o que o Senhor estava tentando me ensinar. Naquele momento em que eu não confiava completamente nele, e não demorou muito até que Ele maravilhosamente suprisse todas as minhas necessidades”.96

Assim, quando os problemas cruzarem seu caminho, abra sua mente e seu coração e diga:

Deus age em minha vida nesses dias sombrios. Fala comigo, Deus, estou ouvindo. Ensina-me, Deus, quero aprender. Diga-me o que fazer e eu farei.97 Com a ajuda de Deus, podemos acertar nossa perspectiva no meio da

calamidade e sair do outro lado melhores do que entramos. 94 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (151). Grand Rapids, MI: Zondervan. 95 Cabal, T., Brand, C. O., Clendenen, E. R., Copan, P., Moreland, J., & Powell, D. (2007). The Apologetics Study Bible: Real Questions, Straight Answers, Stronger Faith (1849). Nashville, TN: Holman Bible Publishers. 96 “Our Daily Bread,” July, 1982. 97 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p. 2003, p. 62.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

44

AA ggrraannddeezzaa ddaa ssaallvvaaççããoo

[estudo 5 – 1pedro 1.10-12] A salvação é o tema principal da primeira carta de Pedro. Foi essa

mensagem básica que Pedro proclamou ao Sinédrio, quando ele e João foram presos por pregar a ressurreição de Jesus Cristo, o apóstolo Pedro declarou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12). É acerca desta salvação que Pedro escreve agora.

Os leitores de Pedro estavam sofrendo muitas perseguições. Alguns sofriam no próprio lar, sob a pressão dos cônjuges pagãos. Outros sofriam nas mãos dos seus empregadores e a igreja sofria diante da perseguição da sociedade pagã. O clima era assustador! Devido a tanta amargura, certamente, alguém poderia questionar: “Vale a pena seguir a Cristo?” Pedro mostrou aos seus leitores que vale a pena porque a nossa salvação é grandiosa! Agora, Pedro lembra aos seus leitores que não importa o quão difícil sejam as circunstâncias, eles podem confiantemente manter a esperança da salvação eterna.98

O apóstolo examina quatro agentes divinos envolvidos com a mensagem da salvação. A salvação que desfrutamos foi almejada pelos profetas, pregada pelos apóstolos, contemplada pelos anjos e confirmada pela ação do Espírito.

I. A Salvação foi proclamada pelos profetas

“Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada” (1Pedro 1.10).

Os profetas eram os porta-vozes de Deus no Antigo Testamento que

proclamavam acerca da graça divina. Pedro diz que eles fizeram uma investigação cuidadosa para compreender a salvação prometida por Deus. De Moisés a Malaquias, todos os profetas do Antigo Testamento foram fascinados pelas promessas de salvação.

“... profetizaram acerca da graça a vós outros destinada” (v. 10) –

O Espírito de Cristo levou os profetas a predizer sobre a graça de Deus (10), e até mesmo prever os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam

98 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (50). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

45

(1Pe 1.11; Sl 22.7-8, 17-18; Is 53; Lm 1.12). Mas por mais que tentassem, eles não poderiam descobrir quando e como isso iria acontecer.99

Embora os profetas escrevessem sobre o Messias, eles nunca compreenderam tudo o que estava envolvido na vida, morte e ressurreição de Cristo.100 Eles profetizaram sobre os sofrimentos do Messias, e também a glória que se seguiria, mas não podiam compreender a conexão entre os dois. De fato, em algumas das profecias, os sofrimentos e a glória do Messias estão associados em um verso ou parágrafo.101

Alguns teólogos, como Charles Swindoll, tentam explicar a dificuldade dos profetas dizendo que eles viam dois montes: o Monte Calvário, onde Cristo morreria por nossos pecados, e, o Monte das Oliveiras, onde Ele voltará em poder e glória para estabelecer o Seu reino. Mas eles não podiam ver o vale entre os dois montes, assim como não podemos, quando olhamos para duas montanhas distantes.102 Deste modo, a primeira e segunda vinda de Jesus são mescladas na mesma passagem em profecias do Antigo Testamento (Is 9.6, 7; 61.1-3; Dn 12.2).

Como Jesus disse a seus discípulos: “Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram” (Mt 13.17; cf. Is 6.11; Hc 1.2). Porque os profetas do Antigo Testamento, incluindo o último, João Batista, não conseguiam compreender sobre o tempo, ministério e a vinda do Messias. Por isso, eles se esforçavam para compreender as próprias mensagens.

O profeta Daniel procurou pela oração e jejum entender o que Jeremias havia profetizado acerca do exílio na Babilônia. Então, o profeta Daniel orou fervorosamente para que Deus acabasse com o exílio. Em resposta as suas orações, Deus deu-lhe a profecia das 70 semanas (Dn 9.24-27). Deus respondeu à oração dizendo: “Daniel, há algo muito maior”. E foi em resposta a esta oração que Deus revelou uma das profecias sobre a vinda de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Foi-lhe dito que essas coisas estão escondidas para o tempo final (12.9).

Quando Jesus veio a Terra, os professores judeus (fariseus) esperavam um Messias conquistador que iria derrotar os inimigos de Israel e estabelecer o reino glorioso prometido a Davi. Até mesmo os próprios discípulos não compreenderam a necessidade da morte de Cristo na cruz (Mt 16.13-28). Eles ainda estavam questionando sobre o reino, mesmo depois de sua ressurreição (At 1.1-8).103 Se os discípulos não haviam

99 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer & G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.) (1Pe 1.10–12). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press. 100 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (51–52). Chicago: Moody Publishers. 101 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.8). Wheaton, IL: Victor Books. 102 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (151–152). Grand Rapids, MI: Zondervan. 103 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.8). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

46

facilmente compreendido o programa de Deus, certamente, os profetas do Antigo Testamento enfrentaram o mesmo problema.

Assim, mesmo que os profetas não compreendessem tudo o que o Espírito Santo (aqui chamado de “Espírito de Cristo” porque Ele dá testemunho de Cristo) revelou, eles profetizaram sobre a morte, ressurreição, ascensão e segunda vinda de Cristo. Como Pedro escreve mais adiantes: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética...” (2Pe 1.19).

Logo, nossa salvação é grandiosa porque foi prenunciada em todo o Antigo Testamento. Se a salvação foi estudada intensamente por todos os profetas, então deve ser tão preciosa, se não mais, para os crentes de hoje que têm a plena revelação.104

II. A salvação foi revelada por Deus ao homem

“investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam” (1Pedro 1.11).

A mensagem dos profetas é obra do Espírito Santo. Ela nasceu no céu

e não na terra. O verso 11 estabelece a inspiração divina do Antigo Testamento. Como Pedro explica “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).

O apóstolo Paulo declarou que toda a Escritura é “inspirada por Deus” (2Tm 3.16). Isto significa que a Bíblia inteira e cada palavra tem sua origem em Deus. A palavra “inspirada” (theopneustos) significa “respirada por Deus”. Embora a palavra seja usualmente traduzida “inspirada”, que significa “respirar para dentro”, tecnicamente theopneustos se refere a respirar para fora, que poderia mais acertadamente ser traduzida por “expirada”.105 Ou seja, a Escritura foi soprada por Deus.

Entretanto, inspiração não significa que os profetas e apóstolos passivamente registraram o que Deus falou de forma audível. Inspiração não é um simples ditado. Em vez disso, o Espírito Santo guiou os autores humanos, de modo que, conservando as suas diferentes personalidades e estilos de escrita, eles escreveram sem erro os pensamentos e palavras exatas de Deus. Este processo é chamado de dupla autoria da Escritura.106

Como Charles Hodge declarou: “A inspiração foi uma influência do Santo Espírito na mente de certos homens selecionados, que os tornava

104 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (55). Chicago: Moody Publishers. 105 SPROUL, RC. O que é teologia reformada. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009, 37. 106 Cornish, R. (2004). 5 Minute Theologian: Maximum Truth in Minimum Time (52). Colorado Springs, CO: NavPress.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

47

instrumentos de Deus para a comunicação infalível de Sua mente e vontade. Eles estavam em tal sentido os órgãos de Deus que o que eles disseram, Deus disse”.107

Apesar de escrita por muitos diferentes autores ao longo de milhares de anos, há uma unidade e integridade na Bíblia que não poderia existir sem a influência sobrenatural do Espírito. A Bíblia não é apenas o maior e o melhor de todos os livros, mas é também, o mais antigo. Ela foi escrita por cerca de quarenta homens diferentes e levou cerca de 1.600 anos para ser composta. Moisés começou, por volta do ano 1500 a.C., e o apóstolo João escreveu o último livro, Apocalipse, em 95 d.C. Além disso, se você rejeita a inspiração divina do Antigo Testamento, você deve rejeitar os ensinamentos do próprio Jesus, porque Ele repetidamente ensinou que a Escritura é de Deus (Mt 5.17-18; 22.31-32, 43; Jo 10.35).

Wayne Grudem equivale a autoridade das Escrituras, com a autoridade de Deus: “Ao descrer ou desobedecer a qualquer palavra da Escritura é descrer ou desobedecer a Deus”.

“... indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava...” (v. 11) – O

escritor de Hebreus oferece uma visão adicional, “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (Hb 11.13; cf. v. 39-40).

Além do mais, o Novo Testamento se vê como não menos autêntico do que o Antigo Testamento. Os apóstolos reconheceram a sua mensagem como “a palavra de Deus” (1Ts 2.13). Pedro conferiu o mesmo status aos escritos de Paulo, classificando-os com “as demais Escrituras” (2Pe 3.15-16). João rotula seu último livro como “a palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo” (Ap 1.1-2).

“... ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes

a Cristo” (v. 11) – Pedro também demonstra o papel da segunda e terceira pessoa da Trindade no plano de salvação de Deus: o Filho realiza e o Espírito a torna conhecida.108

Portanto, a nossa salvação é grande porque foi predita pelos profetas do Antigo Testamento e revelada por Deus ao homem através do Espírito Santo.

107 Hodge, C. (1997). Vol. 1: Systematic theology (154). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc. 108 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer & G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.) (1Pe 1.10–12). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

48

III. A salvação foi proclamada pelos apóstolos

“A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1Pedro 1.12).

Os apóstolos não produziram ou inventaram a sua própria mensagem.

Pedro diz que aqueles que pregavam o evangelho o fizeram “pelo Espírito Santo enviado do céu” (v. 12). O Espírito Santo não apenas inspirou os profetas do Antigo Testamento, mas também os apóstolos do Novo Testamento, que proclamaram o Evangelho plenamente revelado (At 1.8).

“... ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas...” (v.

12) – A expressão “as coisas” se refere à graça da salvação que estava por vir, especialmente na pessoa de Cristo e a proclamação do evangelho. Anos antes Pedro anunciou estas verdades no sermão entregue no dia de Pentecostes, “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.38-39; cf. 2Co 6.2).

Aqui está um paralelo muito evidente entre a geração dos profetas e a igreja primitiva, entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Espírito que toma a iniciativa de revelar ou anunciar é o mesmo; a mensagem é a mesma. Isto é, a mensagem dos apóstolos é o cumprimento da mensagem dos profetas.109

Além do apóstolo Pedro, aqueles que pregavam o evangelho incluíam o restante dos Doze, Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, Felipe, Tiago, Judas, o meio-irmão de Jesus, Estevão e outros. Nem todos eram apóstolos de Cristo, no mesmo sentido, como Paulo e os Doze (eles não tinham visto o Senhor ressuscitado), mas eles foram enviados pela igreja como mensageiros do evangelho pelo poder do Espírito Santo enviado do céu.110 Assim, os atos de profetizar no passado e de proclamar a salvação no presente (v. 12), se devem a uma e mesma ação divina, fazendo-se presente em ambos uma vontade divina uniforme, que leva a termo a sua salvação.111

Todos os dons do Espírito Santo, o chamado dos profetas, apóstolos e evangelistas, e o ministério ordinário do Evangelho através de pastores e

109

MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 95. 110 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (57). Chicago: Moody Publishers. 111 FELDMEIER. Reinhard. A primeira carta de Pedro. São Paulo: Editora Sinodal. 2009, p. 88-89.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

49

mestres concretizam o grande plano de Deus para edificar a Sua igreja (Ef 4.11-13).112

Phillips Brooks definiu a pregação como sendo “verdade através da personalidade”.113 Ou seja, o pregador não é somente um arauto, mas também uma testemunha. Ele experimentou pessoalmente o poder da verdade de Deus em sua própria vida e, portanto, pode compartilhá-lo com os outros.

No Novo Testamento, o termo “pregação” significa, “o anúncio público do cristianismo ao mundo não cristão”. Não é um discurso religioso de um grupo fechado, mas uma proclamação pública da atividade redentora de Deus através de Jesus Cristo.

Paulo ilustra bem a responsabilidade dos pregadores em proclamar a mensagem da grandeza da salvação. Ele escreveu aos crentes de Corinto,

“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1Co 2.1-5; cf. Rm 1.16-17).

IV. A salvação é desejada pelos anjos

“... coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1Pedro 1.12).

A mensagem da salvação é tão maravilhosa que até mesmo os anjos

anelam entendê-la! Você consegue imaginar isso? Os anjos que estão na presença da glória e majestade de Deus almejam compreender a mensagem da salvação. A palavra “anelar” (epithumeo, em grego) comumente denota um desejo intenso.114 Ela foi usada por Cristo ao expressar seu desejo de comer a Páscoa (Lc 22.15); do desejo do filho pródigo em satisfazer sua fome com as alfarrobas (Lc 15.16), e da carne militando contra o espírito (Gl 5.17).

Já a palavra “perscrutar” (parakúptō) significa “inclinar-se para olhar alguma coisa”.115 A palavra parakúptō foi usada em referência ao apóstolo Pedro ao abaixar-se para olhar o túmulo vazio (Jo 20.5) e para descrever

112 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (50). Wheaton, IL: Crossway Books. 113 Lectures on Preaching: Delivered Before the Divinity School of Yale College in January and February 1877, p. 5. 114 Vincent, M. R. (1887). Vol. 1: Word studies in the New Testament (635). New York: Charles Scribner’s Sons. 115 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (120–121). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

50

alguém olhando “atentamente” alguma coisa (Tg 1.25). Implica em um intenso interesse. Isso não é maravilhoso? Os anjos do céu querem contemplar e entender a maravilhosa salvação que foi declarada pelos profetas, revelada pelo Espírito Santo e está disponível a todos os que a recebem pela fé a Jesus Cristo como Salvador e Senhor!

Os profetas indagaram sobre a salvação, mas como uma nota final, Pedro acrescenta um breve lembrete de que a busca diligente ainda está em curso. Agora, até mesmo os anjos, a quem os profetas frequentemente direcionavam suas investigações, estão tentando descobrir o mistério do plano redentor de Deus.116

Os anjos vivem na santa presença de Deus (Is 6.1-3). Eles são enviados para fazer a Sua vontade (Hb 1.14). Eles são superiores aos homens em sabedoria e capacidade (2Pe 2.11; Jd 8-9). E, no entanto, há algo que eles ainda precisam aprender, sobre o amor de Deus pelos homens (Ef 1.4-5; Rm 5.5). Por isso, os anjos se inclinam para compreender nossa salvação!

Mas, qual a razão de tanto interesse por parte dos anjos? A resposta é surpreendente! Quando Satanás e os outros anjos caídos pecaram, Deus não concedeu salvação a eles. Contudo, quando o homem pecou, Deus em Sua soberania, graciosamente concedeu salvação aos seres humanos caídos, mas, a um grande preço: a morte de Jesus Cristo em nosso lugar na cruz!

Assim, os anjos perscrutam os mistérios da igreja, como os querubins debruçados sobre o Propiciatório da Arca da Aliança, onde o homem tem acesso a Deus através de um sacrifício substitutivo que o purificava do pecado. Eles não são participantes da salvação, mas espectadores do mesmo. Paulo escreveu sobre mistério: “para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais” (Ef 3.10). A multiforme sabedoria de Deus, no contexto, é a verdade do Corpo de Cristo. Isto é, a igreja é a universidade de Deus para os anjos.117 Paulo diz que os apóstolos “... se tornaram espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens” (1Co 4.9).

Se os anjos ficam maravilhados com a esperança que temos em Cristo, não deveríamos fazer o mesmo?

116 Michaels, J. R. (1998). Vol. 49: 1Peter. Word Biblical Commentary (48). Dallas: Word, Incorporated. 117 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English reader (1Pe 1.10). Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

51

CCoonncclluussããoo:: Quando você estuda a Bíblia, uma boa dica é procurar palavras

repetidas. Às vezes, essas palavras não são tão significativas em si, mas a repetição a torna relevante. Em nosso texto, existe uma palavra que ocorre uma vez em 1.10 e três vezes em 1.12, o pronome “vós”. Pedro escreveu acerca da graça “... a vós outros destinada” (1.10) e “A eles foi revelado... para vós outros”, “... as coisas que, agora, vos foram anunciadas...”, “... vos pregaram o evangelho...” (v. 12). A lição é simples: mesmo que a mensagem da salvação de Deus seja a maior mensagem da história humana, não significará nada, a não ser que você se aproprie dela pela fé em Cristo.

Em certa ocasião, o bispo John Taylor Smith, um ex-capelão do exército britânico, estava pregando sobre o tema: “Você precisa nascer de novo” (Jo 3.3). Ele disse: “Meus irmãos, nada substitui o novo nascimento. Você pode ser membro de uma igreja, mas ser membro de uma igreja não significa nascer de novo, e nosso texto diz: Você precisa nascer de novo”. O reitor estava sentado à sua esquerda. Ele continuou: “Você pode ser um reitor como o meu amigo aqui e ainda assim não ter nascido de novo, mas você tem que nascer de novo”. A sua direita estava o clérigo. Apontando para ele, John Taylor continuou, “Você pode até ser um clérigo como meu amigo aqui e ainda assim não ter nascido de novo, mas você tem que nascer de novo. Você pode até ser um bispo como eu e não nascer de novo, mas você tem que nascer de novo”.

Ele terminou a mensagem e seguiu o seu caminho. Mas vários dias depois, ele recebeu uma carta do clérigo que dizia: “Meu querido Bispo: Eu tenho sido um clérigo há mais de 30 anos, mas eu nunca soube nada da alegria que os cristãos falam. Eu nunca entendi. Mas quando você apontou para mim e disse que uma pessoa pode ser um clérigo e não ter nascido de novo, eu entendi o problema. Será que você, por favor, pode conversar comigo?” Claro, Smith conversou com o clérigo e ele respondeu positivamente ao chamado de Cristo para a salvação.118

Se você ainda não experimentou a alegria da salvação, talvez seja porque você nunca respondeu pessoalmente a Jesus Cristo. Por que não fazê-lo agora?

118 H. A. Ironside, Illustrations of Biblical Truth [Moody Press], p. 49-50).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

52

DDeesseennvvoollvveennddoo uummaa vviiddaa ssaannttaa

[estudo 6 – 1pedro 1.13-16] Um examinador para carteira de motorista na Califórnia contou sobre

um adolescente que havia dirigido e feito um teste quase perfeito. “Ele cometeu apenas um erro”, disse o examinador, “quando ele parou e saiu do carro”. Depois de respirar aliviado, o rapaz exclamou: “Estou muito feliz por não ter que dirigir assim o tempo todo!”119

Esse jovem se parece com muitos evangélicos. Vivemos um tempo onde boa parte dos cristãos fazem o que é certo quando estão sendo observados, mas o restante do tempo vivem de maneira desleixada. Lamentavelmente, hoje, não há muita diferença entre os que estão na igreja e os que estão no mundo. Os cristãos assistem aos mesmos programas de TV e filmes e gastam o mesmo número de horas semanais em frente à TV como todos os outros. Não obstante, muitos empresários, políticos e empregados cristãos têm uma péssima reputação. Recentemente, vários pastores de uma igreja evangélica do Estado do Espírito Santo foram presos e acusados de desviarem R$ 21 milhões de dízimos. Parece que o nosso cristianismo não tem muito efeito sobre a maneira como vivemos.

Entretanto, depois de descrever a salvação suprema no plano de Deus (1Pe 1.1-12). O apóstolo Pedro declara as responsabilidades de todos os que vivem na esperança da salvação (v. 13-16). Conforme John MacArthur, estas obrigações podem ser resumidas em três palavras: esperança, santidade e honra.120

I. Os crentes devem viver com esperança.

“Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.13).

O texto grego tem apenas duas ordens em 1.13-16: “... cingindo o

vosso entendimento...” e “Sede santos...”. As outras palavras (particípios) são dependentes dos verbos principais. Assim, a ordem é: tenha um foco determinado na volta de Cristo. Há três aspectos deste foco:

119 Reader’s Digest [1/84]. 120 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (61–62). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

53

A. Vida Santa à luz da vinda de Cristo começa na mente. “... cingindo o vosso entendimento...” (v. 13) – Essa expressão é uma

figura de linguagem decorrente do fato de que os homens usavam longas vestes que muitas vezes atrapalhavam andar, trabalhar ou lutar em uma batalha (Êx 12.11; 1Rs 18.46; 2Rs 4.29; 9.1; Jr 1.17). Assim, eles prendiam a túnica para mover-se rapidamente. Aqui, a expressão “cingindo” é utilizada no sentido metafórico ao processo mental do indivíduo. A ideia é, esteja mentalmente preparado para o combate na esfera da santidade. Em outras palavras, a santidade começa em sua vida de pensamento. O que você pensa que determina a forma como você vive. Por isso, cada cristão deve lidar com o pecado, também, no do pensamento.

Pedro exorta os crentes a prenderem todas as pontas soltas de sua vida, ou seja, os crentes devem corrigir seus pensamentos (cf. Rm 12.2), vivendo de acordo com as prioridades bíblicas (cf. Mt 6.33), desvencilhando-se do pecado do mundo (cf. 2Tm 2.3-5; Hb 12.1), tendo em vista a graça futura que acompanha o retorno de Cristo (cf. Lc 12.35, Cl 3.2-4).121 Além disso, Paulo nos ensina a pensar sobre as coisas que são verdadeiras e nobres, justas e puras, amáveis e de boa fama (Fp 4.8).122

Assim, cada cristão deve confessar seus pensamentos impuros a Deus e substituí-los por pensamentos expostos em Sua Palavra. Se você tem inveja de alguém, julgue-o, confesse e peça a Deus para substituí-lo pelo amor por essa pessoa. Se você está cobiçando uma mulher (ou homem), confesse a Deus os seus sentimentos e fuja imediatamente, tanto mentalmente quanto fisicamente! Como Paulo declarou: “... levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5). Você pode enganar todo mundo, mas Deus conhece os seus pensamentos. Se você não cultivar uma vida santa em sua mente, mais cedo ou mais tarde esses pensamentos serão expostos publicamente de alguma forma.

Logo, um cristão que contempla a glória de Deus tem uma motivação maior para obedecer do que um cristão que ignora o retorno do Senhor. O contraste é ilustrado na vida de Abraão e Ló (Gn 12-13; Hb 11.8-16). Abraão estava com os olhos da fé na cidade celestial. Mas Ló foi avançando gradualmente em direção a Sodoma. Abraão trouxe bênção para a sua casa, Ló, porém, trouxe julgamento. Warren Wiersbe acertadamente escreveu: “O que contemplamos determina o resultado”.123

Você precisa vigiar o que entra em sua mente tão cuidadosamente quanto vigia o que come. Você não se alimenta do lixo porque sabe que ficará doente. De forma semelhante, se você alimentar seus pensamentos diários com o lixo sensual e materialista da TV e outros meios de

121 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (64–65). Chicago: Moody Publishers. 122 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (122). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 123 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.13). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

54

comunicação e raramente se alimentar da Palavra de Deus, você não vai se tornar um homem ou uma mulher que cresce em santificação.

Santidade começa em nossas mentes quando nos alimentamos da Palavra e pensamos muitas vezes em nosso Salvador e a graciosa salvação que vamos experimentar quando Ele voltar: seremos transformados à Sua semelhança!

B. Vida santa à luz da vinda de Cristo requer um estado espiritual

de alerta. “... sede sóbrios...” (v. 13) – O termo “sóbrio” (nepho, em grego) é uma

das palavras favoritas do apóstolo Pedro (ele utiliza a palavra três vezes dos seis usos no Novo Testamento – 1.13; 4.7; 5.8). Significa literalmente “ser livre da influência de entorpecentes”, mas, obviamente, tem uma aplicação espiritual, ou seja, ser sóbrio, estar calmo e sereno de espírito.124 O substantivo é usado como uma qualificação para os anciãos (1Tm 3.2, 11, “temperante”).

Pedro usa a palavra “sóbrio” em 5.8: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8). Se um leão literalmente estivesse solto do lado de fora de sua casa, certamente, você faria com que seus filhos permanecessem dentro de casa. Você os avisaria sobre os perigos do lado de fora da casa. Você tomaria todas as precauções para ninguém se tornasse a próxima refeição do leão!

O ponto é, vivemos em um território inimigo. Nossas mentes precisam se submeter e serem controladas pelo Espírito Santo e não sob a intoxicação de qualquer espécie.125 Se você alimentar a sua mente com o lixo do mundo e não se alimentar da Palavra de Deus, vai se tornar entorpecido com o lixo e se tornará uma presa fácil nas garras do inimigo.

C. Vida santa à luz da vinda de Cristo é motivada pela graça. “... e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na

revelação de Jesus Cristo” (v. 13) – A graça de Deus é a motivação para uma vida santa. Nós fomos salvos pela graça e dependemos cada momento da graça de Deus (1Pe 1.10). Olhar para a volta de Cristo fortalece a nossa fé e esperança em dias difíceis (cf. 2Co 4.16-18; Tt 2.10-13). A graça futura deve nos motivar a viver uma vida santa, agora, não importa o quanto sofremos. O escritor e pregador Hernandes Dias Lopes estava certo quando escreveu: “O

124 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (633–634). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 125 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (122). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

55

salvo olha para o passado e contempla a cruz, onde seus pecados foram cancelados. Olha para o futuro e contempla a graça que está sendo preparada para a segunda vinda de Cristo”.126 Em outras palavras, a única maneira de suportar as intempéries da vida é vivendo na esperança da glória.

Devemos olhar para o que é invisível. Devemos olhar para o eterno ao invés do temporal. Assim como o rei Josafá (2Cr 20.12), os nossos olhos devem estar postos em Deus, principalmente, quando não sabemos o que fazer.

Assim, o primeiro aspecto do desenvolvimento de um estilo de vida santo é se concentrar em Cristo, permanecer alerta em nosso pensamento e motivado pela graça de Deus e a volta do Senhor Jesus.

II. Os crentes devem viver em obediência.

“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pedro 1.14-15).

Os crentes que vivem na expectativa do retorno de Cristo e

consideram o seu pleno significado serão motivados a viver em santidade.127 O apóstolo João diz: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1Jo 3.3). Obedecer aos mandamentos de Deus expostos em Sua Palavra é imprescindível na vida de qualquer pessoa que diz amá-Lo. É impossível alguém amar a Deus e não amar os Seus mandamentos. O apóstolo Pedro declara: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância...” (v. 14).

Há três coisas envolvidas em tal obediência: A. Devemos estabelecer um hábito de obediência. “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que

tínheis anteriormente...” (v. 14) – A verdadeira salvação sempre resulta em obediência (Rm 1.5, 1Pe 1.2). A palavra “obediência” (hupakoe), traduzida como adjetivo é na verdade um substantivo genitivo em grego. Isso significa que a obediência caracteriza todo verdadeiro filho de Deus (Jo 8.31-32; 14.15, 21; 15.10, Rm 6.17; Ef 2.10; 1Jo 5.2-3; cf. Lc 6.46), e distingue os cristãos dos não cristãos, chamados de “filhos da desobediência”(Ef 2.2).128

126 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 48. 127 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (65–66). Chicago: Moody Publishers. 128 O genitivo qualifica ou limita um substantivo por meio de uma caracterização específica. O genitivo normalmente marca um substantivo como fonte ou possuidor de algo. Ele é normalmente expresso pela preposição “de”. Por exemplo, na frase “trono do rei”, o

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

56

Eles são opostos, o caráter básico de um crente é a obediência a Deus, enquanto o caráter básico de um incrédulo é desobediência (Jo 3.20, Rm 1.28-32; 8.7-8, Ef 2.2; 4.17-18; 2Tm 3.2, Tt 1.16, 3.3).129 A obediência é um resultado inevitável da salvação (Ef 2.10; 4.24; 1Ts 4.7; 2Tm 1.9), no entanto, o apóstolo exorta aos crentes a viverem de acordo com os anseios do novo coração, prosseguindo em santidade (cf. Rm 6.12-14; 12.1; 2Co 7.1; Ef 5.1-3, 8; Cl 3.12-13, Hb 12.14; 2Pe 3.11). A obediência é o próprio fundamento da vida cristã.

Como filhos de Deus, cada crente deve adquirir o hábito de perguntar: “O que a Palavra de Deus diz?” Então obedecê-la. Assim, ser um discípulo de Jesus é negar a si mesmo, tomar a cruz e segui-Lo (Mc 8.34). Jesus disse que a pessoa que verdadeiramente O ama é aquele que O obedece (Jo 14.21).

B. Temos de fazer uma ruptura com o nosso estilo de vida

passado. “... não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa

ignorância...” (v. 14) – A palavra “amoldeis” (suschematizo) é usada apenas em outra ocasião no Novo Testamento, por Paulo em Romanos: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). Ou seja, significa assumir a forma de alguma coisa, a partir de um molde. Nosso estilo de vida passado era marcado por nossos esforços para cumprir desejos egoísta.

A palavra “paixão” (epithumia) não se refere apenas ao desejo sexual, mas todos os tipos de anseio pelo que desejo pelo que é proibido. Hoje em dia, o seu significado é confinado quase exclusivamente ao desejo imoral.130 Estes desejos têm pleno domínio sobre os incrédulos porque eles não conhecem a Deus são ignorantes sobre Sua santidade e de graça, como revelado em Sua Palavra.

Além do mais, muitos em nossa cultura estão constantemente tentando nos tornar mais tolerantes com relação a imoralidade sexual.

Uma de suas estratégias é redefinir as diversas formas de imoralidade sexual. Por exemplo, em 1998, um artigo apareceu no prestigioso Psychological Bulletin, da American Psycological Association, alegando que as provas científicas não apoiam a crença comum de que tais encontros sexuais (pedofilia) invariavelmente fazem mal aos meninos envolvidos. Por conseguinte, concluiu, é inapropriado rotular todos esses encontros como

substantivo “rei” está no genitivo e qualifica o tipo de trono. Em “sangue de Cristo”, Cristo é o substantivo genitivo que descreve posse. Heiser, M. S., & Setterholm, V. M. (2013; 2013). Glossary of Morpho-Syntactic Database Terminology. Logos Bible Software. 129 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (66). Chicago: Moody Publishers. 130 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English reader (1Pe 1.14). Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

57

“abuso sexual”. Encontros voluntários “com reação positiva” devem ser apenas identificados como “o sexo entre adultos e crianças”.131

Porém, como cristãos, devemos crescer no conhecimento de Deus. A igreja não pode tolerar a imoralidade sexual de qualquer forma. Para a igreja de Corinto, que tolerava um homem acusado de incesto, Paulo escreveu: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento...” (1Co 5.6-7). Se Deus é absolutamente intolerante com a imoralidade sexual, a igreja também deve ser! Aliás, se a igreja não for pura, o que vai proclamar ao mundo?

A nova vida em Cristo, transformando a pessoa por dentro, deve traduzir-se em novas expressões concretas de vida.132 A fé salvadora envolve mudanças drásticas, envolve arrependimento. Aquele que conhece a Cristo faz uma ruptura com o estilo de vida do passado e procura seguir a Jesus como Senhor.

Se quisermos ser santos, temos de reconhecer a fonte da santidade. Devemos conhecê-Lo, amá-Lo e obedecê-Lo. Devemos andar em comunhão com Ele.133 Na verdade, a essência da verdadeira santidade consiste em conformidade com a natureza e vontade de Deus. Isso nos leva para o terceiro e último assunto.

III. Os crentes devem viver em santidade.

“porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1.16).

A vida cristã é um processo de crescimento em conhecer a Deus

revelado nas Escrituras. Porém, nenhum cristão será plenamente santo nesta vida. Mas podemos e devemos crescer em santidade quando crescemos no conhecimento do nosso Deus Santo.

Tanto Stephen Charnock, em sua obra clássica, The Existence and Attributes of God e RC Sproul em seu livro A Santidade de Deus apontam que nenhum outro atributo Deus é elevado ao terceiro grau. A Bíblia nunca diz de Deus, “Amor, amor, amor”, “Eterno, eterno, eterno”, ou “Misericordioso, misericordioso, misericordioso”. Mas diz: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, e toda terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).

Pedro cita uma passagem central da antiga aliança. Israel como o povo de Deus deveria ser santo, pois eles estavam separados das nações pela presença de Deus em seu meio. A pureza da presença de Deus era simbolizada por cerimônias elaboradas de lavagem e limpeza. Os soldados

131 TALBOT Mark R. Fascinado pela glória de Deus. O legado de Jonathan Edwards”. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011, p. 213. 132 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 101. 133 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (123). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

58

de Israel, por exemplo, eram obrigados a carregar uma pá com suas armas. Higiene no acampamento honrava a presença do Senhor em seu acampamento (Dt 23.12-14).134

Os crentes são chamados, assim, a reproduzirem na sua vida o caráter do Deus santo que os chamou.135 A palavra hebraica usada em Levítico 19.2 é gadosh, o que denota separação, santidade ou temor. Ser santo é ser separado do pecado. A palavra grega que Pedro utilizou para “santo” foi Hagios, também traz a ideia de estar sem pecado, sem culpa ou separado da impureza.136

Blaise Pascal escreveu: “A beleza serena, silenciosa de uma vida santa é a influência mais poderosa do mundo, ao lado do poder do Espírito de Deus”. Santidade não deve ser apenas um assunto de nossa teologia, nem simplesmente palavras nas páginas dos nossos hinários. A santidade é para ser vivida em nossas vidas diárias.137 Invariavelmente, as testemunhas mais eficazes são aqueles que tiveram uma visão exaltada do Senhor Jesus Cristo e que são conscientes de sua própria indignidade de serem Suas testemunhas.

As pessoas que se comparam a outras, geralmente, se comparam com as piores pessoas, e assim se gabam de que são realmente melhores. Olhar para as águas barrentas da vida das pessoas não é a maneira certa de ver nossas falhas. Em vez disso, devemos olhar para a fonte pura da Palavra. Considerando a infinita santidade de Deus nos levará a humildade.138

Pedro havia encontrado a santidade de Deus no seu barco de pesca. Depois de uma noite de trabalho infrutífero, ele, a pedido do mestre, havia lançado suas redes novamente ao lago. Quando Simão Pedro viu a pesca milagrosa, ele percebeu que estava face a face com Deus. Pedro sabia que o único que poderia ver as profundezas do lago poderia ver também as profundezas do seu coração. Ele imediatamente se prostrou aos pés de Jesus (literalmente caiu de joelhos), dizendo: “... retira-te de mim, porque sou pecador”. Ao chamar Jesus de “Senhor” (kurios, em grego), significa “Deus” como um judeu devoto, Pedro sabia que somente Deus deve ser adorado (Dt 4.8; Dt 6.13), por isso, ele caiu diante de Jesus na postura de um adorador.139

A atitude de Pedro foi idêntica a do cobrador de impostos arrependido que, oprimido pelo seu pecado, nem levantava os olhos ao céu, mas batia no peito dizendo: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc 18.13).

134 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (65). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 135 MUELLER. Ênio R. IPedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 103. 136 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (124). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 137 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (124). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 138 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (58). Wheaton, IL: Crossway Books. 139 MacArthur, J. F., Jr. (2009). Luke 1–5. MacArthur New Testament Commentary (307). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

59

Quando Pedro viu o grande poder de Jesus, ele foi imediatamente dominado com a santidade de Jesus, em contraste com seu próprio pecado. Ele estava expressando o que Isaías sentiu quando teve um vislumbre da santidade do Senhor: “Ai de mim, pois estou arruinado! Porque eu sou um homem de lábios impuros, e eu vivo entre um povo de lábios impuros, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5). Esta visão nos mostra a nossa situação desesperada e nossa própria incapacidade de satisfazer essa necessidade.

Entretanto, observe a resposta graciosa do Senhor a Pedro: “Não temas; doravante serás pescador de homens” (Lc 5.10). A palavra de Jesus, “Não temas; doravante...” são palavras de esperança para todos nós! Talvez você tenha falhado terrivelmente. Mas, hoje, você pode se prostrar diante de Jesus como Pedro e confessar seus erros e ouvir Suas palavras de graça, “doravante”, “De agora em diante” (NTLH). Ele é o Senhor gracioso de novos começos para aqueles que se arrependem.

Se você conhece a depravação de seu próprio coração, mas também conhece a abundante graça do Senhor Jesus, então você vai sair como um mendigo que encontrou pão e saiu para contar outros mendigos onde encontrar o mesmo. Foi o reconhecimento de Paulo de si mesmo como o principal dos pecadores que o levou a pregar o evangelho (1Tm 1.15, 1Co 15.9, 10).

CCoonncclluussããoo:: As boas obras não podem pagar o preço pelos nossos pecados.

Somente o sangue de Jesus Cristo pode satisfazer a justiça de Deus. Devemos colocar nossa confiança nele, não em nossas boas obras. Mas, se a nossa fé em Cristo é genuína, resultará em uma vida de santidade progressiva. Se uma pessoa não está se esforçando contra o pecado e buscando crescer em santidade, está apenas demonstrando que ainda não conheceu e experimentou a fé salvadora. A Escritura diz: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

Se você não tem buscado uma vida santa, uma vida que agrada a Deus, a solução é a mesma para todos: Pare, confesse seus pecados e volte para Deus. Clame ao Senhor por uma consciência limpa e um coração obediente, com base no sangue de Jesus Cristo, que foi derramado por você. Veja o que Deus diz em Isaías: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15). Essa é uma excelente notícia! Como o pai do filho pródigo (Lc 15), Deus acolhe a todos com alegria quando voltam para Ele!

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

60

O escritor britânico Leonard Ravenhill escreveu: “O maior milagre que Deus pode fazer nos dias de hoje é tirar um homem profano de um mundo profano, e transformá-lo em um homem santo e colocá-lo de volta no mundo profano e mantê-lo santo”.140 Ele faz isso quando nos concentramos na vinda de Cristo, quando somos obedientes em tudo na vida e quando crescemos no conhecimento da santidade de Deus.

140 Nosso andar diário. In: http://ministeriosrbc.org/2010/12/16/o-grande-milagre/

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

61

PPOORR QQUUEE SSEERR SSAANNTTOO??

[estudo 7 – 1pedro 1.17-21] Se você estiver motivado, você pode fazer coisas incríveis. O que

levaria um universitário passar a noite inteira estudando em seu computador? Certamente seu corpo na aguenta mais de tanto sono! Certamente ele não está tão intrigado com um assunto que não consegue parar de estudar! Na verdade, ele está motivado por um professor que disse: “O trabalho vai contar 50% da nota geral. Nenhum trabalho será aceito depois do prazo. Sem exceções!”

Há uma fábula sobre um cão que se gabava de sua habilidade como corredor. Um dia, ele perseguiu um coelho e não conseguiu pegá-lo. Os outros cães ridicularizavam por conta de sua jactância anterior. Sua resposta foi: “Vocês devem se lembrar de que o coelho estava correndo por sua vida, enquanto eu estava apenas correndo pelo meu jantar”. O incentivo é muito importante.141 Seu sucesso na vida depende de sua motivação.

Por que não lemos nossas Bíblias com a consistência e o fervor que deveríamos? Por que não oramos como deveríamos? Por que nossos corações se esfriam com facilidade para as coisas de Deus? A resposta é que, por um motivo ou outro, não temos motivação.

Em 1Pedro 1.13-16, o apóstolo nos chama para uma vida santa à luz da grande salvação que Deus nos concedeu gratuitamente. Não apenas devemos viver uma vida de santidade à luz da nossa esperança, mas, também, devemos caminhar no temor do Senhor (1.17).142

Entretanto, a santidade não é algo fácil! Isso não acontece automaticamente. Temos que lutar diariamente contra os desejos da carne e a força do mundo. Para ter sucesso, temos que ser motivados. Então Pedro passa a responder à pergunta: “Por que ser santo?”

Assim, em 1.17-21, o apóstolo Pedro apresenta algo negativo (uma ameaça, Deus vai julgá-lo) e algo positivo (incentivo, o amor de Deus) como motivação para viver de maneira santa neste mundo.

141 Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible Communications, Inc. 142 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (157). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

62

I. Devemos ser santos, porque nosso Pai é também o nosso Juiz

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação” (1Pedro 1.17)

“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas...”

(v. 17) – O fato de que invocamos a Deus como nosso Pai é algo maravilhoso. Isto significa que somos Seus filhos, somos objetos de Seu amor especial. O fato de Deus ser Pai significa que Ele cuida de cada um dos Seus filhos como um pai terreno cuida de seus próprios filhos. Que pai não pagaria um milhão de dólares, se tivesse, para obter assistência médica adequada para seu filho? Um verdadeiro pai arriscaria a própria vida para salvar seu filho do perigo!

Porém, isso não significa que devemos viver desatentamente. Deus é Pai, mas, também, é Juiz! O mesmo Deus que nos proporciona um relacionamento, tão intimo, é também o Deus que vai julgar a história. O fato de chamarmos Deus de Pai não nos dá direito de nos amoldarmos às paixões mundanas.143 O Pai e o Juiz são a mesma pessoa.

“... sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um...”

(v. 17) – Devemos lembrar quem é aquele que invocamos como Pai. Ele é aquele que julga, sem parcialidade, o trabalho de cada um. Três vezes em sua epístola, Pedro nos lembra do papel de Deus como juiz. Dentro deste contexto, ele nos informa que Deus julga sem parcialidade (v. 17; 2.23; 4.5).

Pedro declara que Deus “não faz acepção de pessoas”. Ou seja, Seu julgamento é imparcial. Ele vai julgar a todos. Em vista do fato de que o Pai amorosamente disciplina seus filhos hoje, e vai julgar suas obras no futuro, devemos cultivar uma atitude de temor a Deus.

“... portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação”

(v. 17) – Pedro nos lembra de que devemos viver como estrangeiros neste mundo. A palavra “peregrinação” (Paroikia, em grego) é utilizada em Atos para se referir à estada de Israel no Egito (At 13.17). Tendo em vista que estamos aqui apenas temporariamente, não devemos nos contentar como se fosse algo permanente. Não devemos viver para recompensas deste mundo, mas sim para as recompensas eternas que o juiz imparcial vai entregar quando Cristo voltar. Somos apenas peregrinos ou estrangeiros aqui na terra.

A palavra “temor” é phoıbos (em grego) da qual temos a palavra “fobia”.144 No entanto, o tipo de temor que Pedro sugere não é causado por uma doença emocional. É um tipo de temor saudável. Este não é o temor

143 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 51. 144 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (126). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

63

servil de um escravo diante do seu mestre, mas a reverência amorosa de uma criança diante do seu pai. É o “temor de Deus” (2Co 7.1), uma reverência sóbria diante do pai.145

Moisés experimentou esse temor. A visão de Deus foi tão “horrível” que Moisés exclamou: “Sinto-me aterrado e trêmulo!” (Hb 12.21). Da mesma forma, a nossa resposta a Deus, o “fogo consumidor”, deveria ser em “reverência e santo temor” (Hb 12.28). Paulo diz que devemos viver a nossa salvação “com temor e tremor” (Fp 2.12).146

Todo aquele que confia em Cristo e obedece aos Seus mandamentos pode ter certeza de que a promessa do Senhor não falhará: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Não importa quão inútil seja, nenhum cristão perderá a salvação.

No entanto, como Paulo nos diz, “Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1Co 3.12-15). Cristo pagou o preço de modo que nenhum cristão será jamais julgado pelo pecado. Isso é somente para determinar o galardão (Cl 4.5). Porém, a imagem de atravessar o fogo é assustador o suficiente para nos motivar a viver em temor diante do Senhor diariamente.

Não despreze o amor de Deus: Ele é o nosso Pai Celestial. Mas não esqueça o julgamento final: Ele é o Juiz imparcial! Nosso estilo de vida “procedimento” (v. 18) prova a realidade da nossa fé. Devemos viver em santo temor porque nosso Pai é também o nosso Juiz.147

II. Devemos ser santos porque Deus nos redimiu por um alto preço

“sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pedro 1.18-19).

Aquele a quem chamamos de “Abba, Pai” não é apenas o nosso criador

e juiz, Ele é também o nosso redentor. Ele entregou o Seu Filho por nós,

145 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.17). Wheaton, IL: Victor Books. 146 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (157). Grand Rapids, MI: Zondervan. 147 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (158). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

64

como um cordeiro para o sacrifício (1.19).148 Consequentemente, devemos viver não apenas como estrangeiros neste mundo, mas como aqueles que foram resgatados por Jesus Cristo.

Mas o que Pedro quis dizer com a expressão: “que fostes resgatados do vosso fútil procedimento”? A palavra “resgatado” (lutroo, em grego) significa “libertar pelo pagamento de resgate”.149 Hoje, a palavra “redenção” soa como um termo teológico, mas para os leitores de Pedro, era uma palavra cotidiana carregada de significado emocional. Havia milhões de escravos no Império Romano e muitos deles se tornaram cristãos. Alguns tinham nascido escravos. Outros se tornaram escravos, quando Roma conquistou a sua terra. Outros se tornaram escravos por causa das dívidas. Mas cada escravo tinha conhecimento de que não pertencia a si mesmo. Ele não era livre para fazer o que desejasse. Ele pertencia, como uma propriedade, à outra pessoa.

Pedro faz três declarações significativas sobre a vida daqueles que

foram resgatados.150 Primeiro, Pedro destaca que não fomos resgatados pelo que

nossos pais nos legaram (v. 18) – Somente Cristo pode nos redimir da escravidão do pecado e da morte. Ele perdoa os pecados e dá poder para viver uma vida santa. A palavra traduzida como “fútil” (mataios, em grego) significa “inútil” ou “vão”. É a palavra que Paulo usa para descrever a sabedoria deste mundo em oposição à sabedoria piedosa (1Co 3.20).

Uma geração só pode passar as coisas temporárias da vida à outra geração. Nós viemos a este mundo sem nada, e deixamos este mundo sem nada. Pedro sugere que mesmo o ouro e a prata, em última análise, são perecíveis. Eles oferecem uma falsa sensação de segurança. Essas coisas motivaram o rei Salomão, um dos homens mais ricos de todos os tempos, a escrever: “Vaidade das vaidades... Tudo é vaidade” (Ec 12.8).

Mesmo as mais belas realizações dos incrédulos são inúteis do ponto de vista da eternidade. Jesus deixou isso claro por meio de duas perguntas penetrantes aos seus discípulos: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mt 16.26).

Paulo reconheceu a futilidade da vida não redimida quando proibiu o povo de Listra de adorá-lo: “Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles” (At 14.15; Cf. Rm 1.21; 6.20-21; 8.20, 1Co 3.20). Paulo também exortou aos crentes de Éfeso a abandonarem essas

148 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (68). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 149 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (515–516). Nashville, TN: T. Nelson. 150 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (126). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

65

formas fúteis: “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios” (Ef 4.17).151

O ponto é, a pessoa sem Cristo, mesmo abastada de bens, é vazia. Sem Jesus, todos são escravos do pecado e da futilidade, indo para o inferno! Jesus ensinou isto. Ele disse que o inferno será um lugar horrível (Mc 9.43-48) e que a menos que haja arrependimento, vamos perecer (Lc 13.3, 5). As pessoas precisam saber disso!

O Pastor John Maxwell conta que, certa ocasião, começou a visitar um homem que estava no hospital. Todos os dias da semana eles conversavam sobre futebol americano ou qualquer outro assunto sem importância. Então, certo dia, poucas horas depois de tê-lo visitado, ele recebeu a notícia de que aquele paciente havia morrido. Maxwell diz que sofreu muito. Ele reconheceu que durante todo o tempo estava mais preocupado com a opinião que aquele homem tinha a respeito dele do que com o estado de sua alma.152 John sofreu por vários anos com a indiferença para com aquele homem.

Tristemente, somos mais motivados em agradar as pessoas do que proclamar o elas realmente necessitam. Não é assim que agimos?

Segundo, Pedro destaca que não fomos resgatados com coisas

corruptíveis, como prata ou ouro, mas pelo sangue de Cristo (v. 18) – Um escravo nos tempos romanos poderia ser resgatado mediante o pagamento de certa quantidade de prata ou ouro. O mundo valoriza estes metais acima de qualquer coisa. Eles estão entre os metais mais imperecíveis. Mas Pedro chama de “coisas corruptíveis” e implica que são corruptíveis em comparação com o “precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.

O Antigo Testamento previa a redenção dos escravos, e observou o privilégio especial de um “resgatador” (gōʾēl, em hebraico), um parente próximo que poderia resgatar os membros da família ou posses (Lv 25.25, 48; Rt 2.20; 3.9; 4.3). Na profecia de Isaías, Deus assume o papel de “resgatador” do Seu povo: “Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o SENHOR, e o teu Redentor é o Santo de Israel” (Is 41.14; 43.14; 44.24; 47.4; 48.17; 49.7, 26; 54.5, 8; 60.16). Pedro faz a mesma ligação. Deus, o Santo, comprou de volta o seu povo como sua herança.153

Um escravo poderia ser liberado com o pagamento de dinheiro, mas nenhuma quantia de dinheiro pode definir um pecador perdido livre.

151 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (75). Chicago: Moody Publishers. 152 MAXWELL. John C. 21 minutos de poder na vida de um líder. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2001, p. 132. 153 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (70). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

66

Somente o sangue de Jesus Cristo pode nos redimir.154 Mas o povo de Deus foi redimido pelo sangue precioso de Cristo (v. 19)!

“... como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”

(v. 18) – Ao chamar Cristo de “Cordeiro”, Pedro estava lembrando seus leitores de um ensinamento do Antigo Testamento, e que deveria ser importante para nós hoje. A doutrina da substituição: uma vítima inocente dando a sua vida pelos os culpados.

A doutrina do sacrifício começa em Gênesis 3, quando Deus matou animais para revestir Adão e Eva. Um cordeiro foi morto no lugar de Isaque (Gn 22.13) e o cordeiro pascal foi morto para cada lar judaico (Êx 12). O Messias foi apresentado como um cordeiro inocente em Isaías 53. Isaque fez a pergunta: “Onde está o cordeiro?” (Gn 22.7) e João Batista respondeu quando apontou para Jesus e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). No céu, os redimidos e os anjos cantam, “Digno é o Cordeiro” (Ap 5.11-14)

O apóstolo Paulo declarou: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co 6.19-20).

Assim, viver em pecado após reconhecer o alto preço pago seria semelhante a uma mulher cujo marido a amava muito e entregou sua própria vida para salvá-la de um assassino. Após o funeral ela procura o assassino cruel e mantém um romance com ele. Isso é algo terrível! Isso é precisamente o argumento de Pedro: Porque Deus nos redimiu por um alto preço, não deveríamos brincar com o pecado para o qual Cristo derramou o Seu sangue precioso.

III. Devemos ser santos porque Deus nos redimiu para uma viva esperança

“conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (1Pedro 1.20-21).

Pedro declara que o Senhor Jesus foi “conhecido, com efeito, antes da

fundação do mundo...” (v. 21). Ou seja, Jesus não derramou Seu sangue na Cruz por acidente... Sua morte e o derramamento do seu sangue fazia parte do plano de Deus desde o princípio do mundo.155

154 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (127). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 155 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (127). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

67

Em primeiro lugar, Deus planejou a redenção do Seu povo antes

da fundação do mundo (v. 20) – A cruz não foi determinada depois que o homem caiu em pecado. Na verdade, Deus ordenou a salvação antes da criação da raça humana. A palavra “conhecido” (proginosko, em grego) não se refere somente a Deus, conhecendo de antemão. Mas implica o Seu propósito.156 Ou seja, o plano da redenção precede a criação. Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro disse: “sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23). Pedro deixou claro que a morte de Cristo foi um encontro, não um acidente, pois foi ordenado por Deus antes da fundação do mundo.

A partir da perspectiva humana, nosso Senhor foi cruelmente assassinado, mas a partir da perspectiva divina, Ele deu Sua vida pelos pecadores (Jo 10.17-18). Mas Ele ressuscitou dos mortos! Agora, qualquer um que confia nele será salvo por toda a eternidade.157

Segundo, Deus planejou a redenção ao manifestar o Senhor Jesus

ao Seu povo (v. 20) – No momento apropriado da história humana, em cumprimento das profecias do Antigo Testamento, Deus enviou o Seu Filho ao mundo. Deus, o Pai, inaugurou esse tempo no fim em sua encarnação e consumará esse tempo em sua segunda vinda.

Quando jovem, a hinista Frances Ridley Havergal viu uma imagem de Cristo crucificado com a frase: “Eu fiz isso por ti. Que fizeste por mim?” Rapidamente, ela escreveu um poema, mas insatisfeita jogou-o na lareira. O papel permaneceu ileso! Mais tarde, por sugestão de seu pai, ela publicou o poema, e hoje nós cantamos.

Morri na cruz por ti: Morri pra te livrar! Meu sangue, ali, verti, E posso te salvar. Morri! morri na cruz por ti: - Que fazes tu por mim? Morri! morri na cruz por ti: - Que fazes tu por mim? Vivi assim por ti, Em dor, em dissabor, E tudo fiz aqui Pra ser teu Salvador.

156 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (82). Chicago: Moody Publishers. 157 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.18). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

68

Sofri na cruz por ti, A fim de te salvar. A vida consegui, E agora ta vou dar. Eu trouxe a salvação, Dos altos céus favor. É livre o meu perdão, É grande o meu amor. 158 Terceiro, Deus planejou a redenção para que o Seu povo vivesse

em esperança (v. 20-21) – Por fim, a redenção é de Deus, porque Deus completou a redenção ao ressuscitar Jesus Cristo e dar-Lhe glória. Cristo morreu por Sua causa! Se você confia em Cristo, é porque Deus transmitiu a fé salvadora a você através de Cristo (Ef 2.8-9; 2Tm 2.25). Tudo o que você pode fazer é humildemente dar glória a Ele.

Além disso, a ressurreição de Cristo prova que Deus é capaz de ressuscitar os mortos. Logo, os crentes têm uma esperança inabalável de que um dia Deus vai ressuscitá-los e recebê-los na glória. O apóstolo Paulo lembrou aos romanos da esperança dos crentes: “E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23; cf. Fp 3.20-21, 1Jo 3.2). Pela fé, os santos desfrutam atualmente da redenção (“as primícias do Espírito”), e esperam pela redenção do corpo de todos os demais efeitos da queda.159

À luz da nossa grande redenção do pecado e da morte; redenção esta que custou a morte do Filho de Deus, Seu sangue precioso, a redenção que Deus, quando ainda éramos Seus inimigos, independentemente de qualquer merecimento, devemos viver em santa reverência diante dele.

158 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.19). Wheaton, IL: Victor Books. 159 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (84–85). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

69

CCoonncclluussããoo:: Um aluno do seminário contou que, quando menino, deixou de amar o

golfe. Seus pais lhe deram um inofensivo taco de golfe para brincar no quintal. Mas um dia, pensando que seus pais não estivessem em casa, ele bateu com muita força e a bola acabou atingindo uma das janelas da casa. Ainda pior, o acidente foi seguido por um grito angustiante.

O menino correu para a casa, entrou na sala e, para sua tristeza, viu sua mãe em pé diante da janela quebrada com sangue escorrendo pelo rosto. Ele gritou: “Mãe, eu poderia ter matado você!” Sua mãe o abraçou e disse, “Está tudo bem. Eu estou bem!”

O seminarista concluiu a história, dizendo: “A visão da minha mãe com sangue no rosto mudou o meu comportamento para sempre”.

Pedro deseja que seus leitores, pensassem seriamente sobre o grande preço que Jesus pagou na cruz para nos redimir dos pecados. Penar no sangue do Salvador deve nos motivar a buscar a santificação. Se Cristo morreu por mim, não há nada tão grande que eu não possa fazer por Ele.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

70

SSiinnaaiiss vviittaaiiss ddoo NNoovvoo NNaasscciimmeennttoo

[estudo 8 – 1pedro 1.22-25] Na noite em que Cristo instituiu a Ceia do Senhor, Ele disse aos seus

discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). Para nossa vergonha e tristeza, nem sempre somos conhecidos por nosso amor pelos irmãos. Um dos fatos dolorosos da vida cristã é que o povo de Deus nem sempre se dá bem uns com os outros. Àqueles que caminham na esperança e santidade devem andar em harmonia, mas isso nem sempre é verdade. O renomado pastor americano John MacArthur com inteireza declarou: “Do ponto de vista divino, há apenas um só corpo (Ef 4.4-6.), mas o que vemos comumente é uma igreja dividida e, às vezes, em guerra”.160 Precisamos urgentemente de uma unidade espiritual e o amor que é o vínculo da paz (Cl 3.14).

Vivemos em uma cultura que tem tomado algumas palavras bíblicas e utilizado de forma que redefine e deprecia o seu significado verdadeiro. Por exemplo, a palavra “amor” se tornou desvalorizada em nossos dias. Com muita frequência declaramos: “Eu amo pizza”, “Eu amo chocolate”, “Eu amo meu cão”, “Eu amo minha família” ou “Eu amo Jesus”. Sem perceber, muitas vezes, declaramos o nosso amor ao próximo sem refletir nas implicações.

É como a menina que foi convidada para jantar na casa de sua melhor amiga. A mãe de sua amiga perguntou se ela gostava de brócolis. Ela respondeu educadamente: “Ah, sim, eu amo!” Mas quando o vegetal foi oferecido, ela recusou. A anfitriã disse: “Você não disse que amava brócolis?”. A menina respondeu docemente: “Ah, sim, minha senhora, eu amo, mas não o suficiente para comer!” É fácil dizer que se ama, difícil é praticar o amor bíblico, o amor verdadeiro.

Como vimos no último estudo, sobre o tema da santidade, Pedro declarou nossa responsabilidade (1.15-16), mas, em seguida, ele apresenta uma longa justificativa por que os cristãos devem ser santos, ou seja, porque o seu Pai celeste é também seu juiz e fomos redimidos pelo sangue precioso de Cristo (1.17-21).

Pedro faz algo semelhante com o tema do amor. A resposta de uma vida santa e a obediência à verdade produz um amor sincero para com os irmãos (22-25). Quero convidá-lo a olhar primeiro para dois aspectos do novo nascimento, e então analisar o resultado: o novo amor.

160 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.18). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

71

I. O novo nascimento é marcado pela pureza da alma em obediência à verdade

“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1Pedro 1.22).

A Escritura repetidamente deixa claro que a pessoa não convertida

está longe de ter a capacidade de demonstrar amor verdadeiro (Jo 5.42, 1Jo 2.9, 11, 3.10, 4.20; cf. Jó 14.4; Sl 58.3, Jo 15.18, 25; Rm 8.7-8; 1Co 2.14, 2Co 3.5). O Senhor Jesus disse aos fariseus: “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Lc 11.42). Eles estavam mais preocupados com os detalhes minuciosos da religião que não conseguiam manifestar o amor de Deus (1Jo 3.16-17). Em contraste, Jesus declarou que o amor é a marca inconfundível na vida dos crentes: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35; cf. Jo 14.21; 2Co 5.14; 1Pe 1.8; 1Jo 2.5, 4.12, 19, 5.1).

“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à

verdade...” (v. 22) – Vida santa exige purificação (2Co 7.1). Pedro declara que os salvos não foram apenas redimidos da escravidão do pecado, mas também purificados pela obediência à verdade.161 Foi na salvação que os crentes receberam a capacidade de demonstrar amor sobrenatural. O apóstolo Paulo diz que esse amor foi derramado em nossa vida pela ação do Espírito santo que nos foi concedido (Rm 5.5).

Um resultado positivo da obediência à verdade é uma vida purificada. “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra” (Sl 119.9). Como as provações refinam a fé, de forma semelhante à obediência à Palavra de Deus refina o caráter.162 Aquele que se purifica por viver de acordo com a Palavra de Deus descobre a alegria da obediência.

Além disso, é importante destacar que a palavra “purificado” (hāgnikotes, em grego) é um “particípio perfeito” que descreve uma ação passada com resultados contínuos.163 A ênfase não está no que aconteceu, mas o “estado de coisas” no presente resultantes da ação passada.164 Em outras palavras, Deus não apenas nos purificou (cf. Hb 4.1-3; 9.22-23), Ele

161 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 58. 162 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (844). Wheaton, IL: Victor Books. 163 Vol. 1: Theological dictionary of the New Testament. 1964- (G. Kittel, G. W. Bromiley & G. Friedrich, Ed.) (electronic ed.) (124). Grand Rapids, MI: Eerdmans. 164 Heiser, M. S., & Setterholm, V. M. (2013; 2013). Glossary of Morpho-Syntactic Database Terminology. Logos Bible Software.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

72

também nos concede recursos para o presente e futuro (2Co 5.17; cf. Rm 6.3-14, Co 3.8-10; 2Pe 1.4-9).

Entretanto, diante dessa nova vida em Cristo, é importante destacar

duas lições aqui. Primeiro, o batismo não salva ninguém. A fé pessoal no sangue de

Jesus Cristo salva uma pessoa da ira e do julgamento de Deus. Mas o batismo é a forma onde o indivíduo afirma sua confiança em Cristo publicamente. Mas o batismo não salva a pessoa. O batismo é um símbolo externo de uma obediência a Cristo que reflete a realidade interna da fé salvadora.

O batismo não é capaz de regenerar ou garantir a salvação do indivíduo (Lc 23.39-43). Os Sacramentos não garantem por si mesmos a salvação. O que os torna eficazes é a ação do Espírito Santo na vida da pessoa que os recebe. Assim, quando uma pessoa é batizada, não podemos realmente saber se ela, de fato, é um cristão comprometido com Deus (1Co 12.13).

No entanto, o batismo carrega um simbolismo mais profundo do que a lavagem cerimonial da antiga aliança. Ele simboliza não apenas a remoção de toda a corrupção, mas também a renovação do Espírito Santo e o início de uma nova vida. Não apenas somos purificados pela Palavra, mas também, somos regenerados pela Palavra viva e permanente de Deus.165

Segundo, a fé salvadora é acompanhada da obediência. Há um

ensino pernicioso em nossos dias de que você pode crer em Jesus Cristo como Salvador, mas obedecê-Lo como Senhor é opcional.

Entretanto, não há essa distinção na Bíblia. Os cristãos são aqueles que têm suas almas purificadas em obediência à verdade. Em 1Pedro 2.8 e 3.1, ele se refere aos incrédulos como aqueles que são “desobedientes à palavra”. Em 4.17, ele se refere aos descrentes como “aqueles que não obedecem ao evangelho de Deus” (cf. Rm 1.5, 10.16, 16.6; 2Ts 1.8; Jo 3.36). No livro de Atos, o evangelista Lucas declara que: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7).

Logo, nas Sagradas Escrituras a salvação é acompanhada de obediência. Se uma pessoa afirma ser salvo, mas vive em desobediência a Deus e desrespeito à sua Palavra, a pessoa está enganada (1Co 6.9; Gl 6.7; 1Jo 3.7). A fé salvadora é marcada pela purificação do homem interior e a obediência à verdade de Deus.

Assim, o primeiro ponto de Pedro é que o novo nascimento é marcado pela pureza da alma na obediência à verdade.

165 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (75–76). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

73

II. O novo nascimento ocorre por meio da Palavra de Deus incorruptível

“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada” (1Pedro 1.23-25).

“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de

incorruptível...” (v. 23) – Pedro novamente lembrou aos seus leitores que eles haviam experimentado o novo nascimento. Essa transformação na vida dos crentes não cessa, porque ocorreu através da Palavra de Deus, que é imperecível. Pedro apresenta três aspectos desse novo nascimento que ocorre por meio da Palavra de Deus:

A. O novo nascimento é realizado por Deus através da Sua

Palavra, não pelo homem.

“pois fostes regenerados...” – A palavra “regenerado” (“nascer de novo” na NTLH e anagennao, em grego) é um particípio passivo (“tendo nascido de novo”). Ou seja, aponta para a ação de Deus no novo nascimento. É Deus quem nos salva “... Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).

Esse “nascer de novo” acontece através da Palavra de Deus (tanto pregada quanto escrita). Tiago afirma: “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). Os homens podem especular sobre o que Deus é, mas somente através da revelação e não da especulação, que podemos conhecer verdadeiramente a Deus. Assim, Ele usa a verdade, especialmente a verdade sobre o Seu Filho que se entregou na cruz por nossos pecados, para transformar nossos corações de pedra em coração de carne: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.25-27; cf. Jr 31.31-34; Mt 26.28; Jo 3.5; Ef 5.26; Tt 3.5).

B. O novo nascimento não é temporário, mas duradouro.

“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível...” (v. 23) – Pedro descreve o novo nascimento como vindo de uma semente imperecível, em contraste com a semente perecível do nascimento humano. A semente incorruptível é a Palavra (Lc 8.11), que é

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

74

viva e permanente. Assim, a vida nova que Deus dá através da Sua Palavra é eterna, não está sujeita à morte.

Pedro cita Isaías para apoiar o seu ponto. No contexto, Isaías profetizou ao povo de Deus que foi levado para o cativeiro na Babilônia, confortando-os sobre o fato de que Deus cumpriria Suas promessas restaurando-os a terra. A Babilônia, exteriormente, era um dos reinos mais impressionantes e poderosos do mundo. Os jardins suspensos foram considerados uma das maravilhas do mundo antigo. As muralhas da Babilônia pareciam impenetráveis.

Mas Isaías diz: “Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na verdade, o povo é erva; seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is 40.6-8).

Em outras palavras, não se deixe enganar pela imponência da Babilônia. Ela vai desaparecer como uma flor, mas a Palavra de Deus permanecerá para sempre! É claro, a Palavra de Deus através de Isaías provou-se verdadeira. Pedro acrescenta: “Esta é a palavra que foi anunciada como uma boa nova para você”. Assim, quando você estiver sofrendo nesse mundo que parece fascinante e duradoura, não se deixe enganar. Ele vai desaparecer e perecer, mas o novo nascimento que você possui por meio da Palavra de Deus habitará para sempre.

Além do mais, o amor também vai durar para sempre da mesma forma que a Palavra de Deus. Paulo diz que o amor jamais acaba (1Co 13.8). O amor vai durar para sempre (1Co 13.13). O amor deve ser visível na vida daqueles que são obedientes à verdade.

C. O novo nascimento exige um novo amor.

“... tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (v. 22b) – O amor está no centro da vida cristã. Na verdade, o amor é o próprio caráter, a própria essência de Deus (1Jo 4.8).166 Como vimos, Jesus declarou que seria por este amor que todos iriam reconhecer seus discípulos (Jo 13.35).

Pedro usou duas palavras diferentes para o amor: philadelphia que representa o amor de irmãos ou irmãs, amor fraterno.167 Pedro também utilizou a palavra agape que expressa o tipo ideal de amor, aquele que é exercido pela vontade ao invés da emoção, não determinado pela beleza ou conveniência, mas a nobre intenção de quem ama.168 Mas o que isso significa? Creio que o comentarista Warren Wiersbe estava certo quando

166 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (129). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 167 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (22). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 168 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (90–91). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

75

escreveu: “Compartilhamos o amor fraternal, porque somos irmãos e irmãs em Cristo e temos semelhanças. Compartilhamos o amor ágape, porque somos de Deus e, portanto, podemos ignorar as diferenças”.169

Diante disto, o apóstolo Pedro nos ensina que o amor bíblico possui três características específicas:

“... tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1Pedro 1.22).

Primeiro, é um amor sincero. A expressão “não fingido”

(anupokritos) significa “não hipócrita” (cf. Rm 12.9; 2Co 6.6). Este amor entre irmãos (filadélfia) deve ser sincero. Sabendo do perigo da hipocrisia, Paulo admoestou aos romanos: “O amor seja sem hipocrisia...” (Rm 12.9, 12.10). O apóstolo João nos exorta da mesma forma: “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1Jo 3.18; cf. 2Co 6.6; 8.8; Fp 2.1-2; Hb 13.1; 1Jo 3.11, 18). Ao viver esse tipo de amor, Deus pode usar a unidade amorosa dos crentes para atrair um mundo perdido e despertá-lo para a sua necessidade de salvação (cf. Jo 13.34-35; 1Co 10.31-33).170

No entanto, o amor (ágape) só pode brotar de um coração transformado pela ação do Espírito Santo de Deus. Como disse corretamente o comentarista Hernandes Dias Lopes: “O amor é a marca do cristão, pois é a evidência mais eloquente da nossa salvação”.171

Em segundo lugar, é um amor puro. O provérbio faz a seguinte

pergunta: “Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?” (Pv 20.9). A resposta é: ninguém! Não se pode limpar ou purificar a si mesmo do pecado. Somente Cristo pode fazer isso (1Pe 1.19-20).172

Você não pode amar biblicamente ao abrigar o pecado não confessado em seu coração. Ele deve partir de um coração puro. Foi exatamente isso que Paulo ensinou ao jovem Timóteo: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor” (2Tm 2.22).

Terceiro, é um amor fervoroso. “... amai-vos, de coração, uns aos

outros ardentemente” (v. 22) – A palavra “ardentemente” (ektenōs em grego) é um termo de origem fisiológica. Significa esticar um músculo ao máximo. A palavra é traduzida por Lucas como “intensamente” (Lc 22.44; At 12.5, At 26.7). Pedro também utilizou da mesma forma: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre

169 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor Books. 170 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (90). Chicago: Moody Publishers. 171 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 58. 172 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (131). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

76

multidão de pecados” (1Pe 4.8). Na literatura grega a palavra era utilizada para descrever um cavalo que corria a toda velocidade.173 Ou seja, o amor é algo que temos que nos esforçar para praticar. Como um atleta olímpico que treina a exaustão para alcançar o máximo de suas habilidades.

O amor cristão não é um sentimento, é uma questão de vontade. Mostramos amor aos outros quando tratamos da mesma forma como Deus nos trata. Deus nos perdoa, por isso, perdoamos. Deus é bom para conosco, por isso, somos gentis com os outros. Não é uma questão de sentimento, mas de vontade, e isso é algo que devemos trabalhar constantemente se quisermos ter sucesso.174

Amar biblicamente requer muito trabalho e esforço. Nem sempre é fácil. Mas é necessário como parte crucial do desenvolvimento de nossa salvação.

CCoonncclluussããoo:: Quero concluir fazendo um importante pergunta: Você realmente

nasceu de novo? Jesus advertiu que haverá muitos que O chamarão de “Senhor” e que,

inclusive, dirão que fizeram muitos milagres em Seu nome, mas no julgamento Ele dirá: “Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.23). À luz destas coisas, todos nós precisamos saber se realmente nascemos de novo ou não.

O primeiro teste dado a um recém-nascido é chamado de índice de Apgar. O teste foi desenvolvido para avaliar rapidamente a condição física de um recém-nascido após o parto e determinar qualquer necessidade imediata de cuidados médicos ou de emergência. O teste verifica o tônus muscular, a frequência cardíaca, reflexos, cor da pele e a respiração.

Quando Daniel, meu primeiro filho nasceu, fiquei maravilhado com a graça do bom Deus. Ele nasceu com muita saúde, e em seguida, como todo recém-nascido foi submetido ao teste de Apgar. Porém, quando presenciei o pediatra realizando o teste fiquei muito assustado. O médico fez com que o meu filho segurasse as pontas dos seus dedos e o levantou. Daniel parecia um trapezista. Lembro que uma senhora, entre outros pais e avós, que acompanhava o teste pelo vidro do berçário da maternidade, ao ver o médico segurando o meu pequenino bebê apenas com as pontas dos dedos declarou: “Isso é um absurdo!” “Como podem fazer isso com crianças tão frágeis?”. O que ela não sabia é que o teste é fundamental.

173 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (241). Chicago: Moody Publishers. 174 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

77

Confesso que foi um misto de alegria e indignação. Alegria por saber que tudo estava bem com o meu filho e indignação por contemplar aquela cena tão pesada.

De forma semelhante, um verdadeiro filho de Deus terá um índice de Apgar espiritual. Todo cristão precisa evidenciar três sinais vitais: a fé em Jesus Cristo, o amor ao próximo e obediência aos mandamentos de Deus. Se você respondeu afirmativamente que já nasceu de novo, então, verifique o seu índice de Apgar espiritual.

Se não há sinais de uma nova vida em Cristo, então, você precisa dobrar os joelhos e implorar a Deus por uma nova vida e “... uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

78

DDeesseejjaannddoo aa PPaallaavvrraa ddee ddeeuuss

[estudo 9 – 1pedro 2.1-3] Em seu livro, “Santos no mundo, a visão Puritana da vida cristã”, JI

Packer relata que um pregador Puritano chamado Laurence Chaderton certa ocasião pediu desculpas à sua Congregação por pregar durante duas horas. Eles responderam: “Por amor a Deus, senhor, vá em frente, vá em frente!” Ah! O sonho de todo pregador!

Minha oração é para que Deus em Sua graça utilize esse estudo para que você deseje ainda mais crescer no conhecimento da Palavra de Deus. Esse é o ponto do apóstolo Pedro: “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (1Pe 2.2).

O cristianismo não é apenas para ser crido, mas também para ser vivido. No primeiro capítulo de sua epístola, Pedro tratou da realidade do novo nascimento não por meio da semente corruptível ou temporária, mas da semente incorruptível ou eterna que é a Palavra de Deus.

Todavia, todo recém-nascido precisa de alimentação. E assim como um bebê natural necessita de leite, da mesma forma um novo convertido necessita do leite espiritual, a fim de ser nutrido em Cristo.175 Pedro nos convida a dar três passos específicos para o crescimento espiritual.

I. É necessário abandonar o pecado

“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências” (1Pedro 2.1).

A conjunção “portanto” remete a 1Pe 1.23-25 onde Pedro declarou

que “a palavra do Senhor, permanece eternamente” a “semente incorruptível”, o evangelho capaz de produzir um novo nascimento. Ou seja, a Palavra de Deus é a fonte da salvação (2Tm 3.15). Logo, Deus em Sua graça opera através da Palavra para gerar uma nova vida (Tg 1.18; cf. Jo 20.31; Rm 10.17; 1Co 15.36-37). Por isso, diante da Palavra semeada, todo cristão deve abandonar as atitudes pecaminosas de sua velha vida e buscar diariamente ser mais parecido com Cristo.

“Despojando-vos, portanto...” (v. 1) – Tiago compartilha o mesmo

conselho de Pedro quando escreve: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós

175 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (132–133). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

79

implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma” (Tg 1.21). O verdadeiro arrependimento deve sempre começar com o abandono do pecado. O verbo “despojar” (apotıthēmi, em grego) significa “se livrar de” ou “lançar fora”.176 Paulo usou a mesma palavra para expressar nossa atitude em relação às obras das trevas: “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.12).

Nas antigas cerimônias de batismo, aqueles que eram batizados deveriam descartar as roupas que usavam na cerimônia. Após o batismo, eles colocavam roupas novas que recebiam da igreja. O ato de trocar de roupa simbolizava a realidade da salvação em abandonar as coisas do passado e se revestir de uma nova vida (Rm 6.3-7; 2Co 5.17; Ef 4.24).177 O autor de Hebreus nos encoraja a “desembaraçar de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia e correr com perseverança, a carreira que nos está proposta” (Hb 12.1). Assim, um cristão que experimentou o novo nascimento deve abandonar todos os pecados que atrapalham o seu desejo pela Palavra de Deus (2Tm 2.4).

Se abandonássemos o pecado, nossa vida seria muito mais completa e abençoada. O pecado nos priva do melhor de Deus, e ainda assim, muitas vezes brincamos com o algo extremamente perigoso. Tentamos chegar o mais perto possível, sem se queimar. Mas o pecado nunca opera sem consequências.178 O que semeamos, colheremos. “Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6.8).

Pedro lista cinco pecados que devemos nos despojar a fim de experimentarmos um crescimento espiritual.

Em primeiro lugar, a Maldade – O termo maldade (kakia, em grego)

é uma palavra geral para todo o tipo de malícia (Rm 1.29, 1Co 5.8; Ef 4.31; Cl 3.8; Tt 3.3; Mt 6.34; At 8.22; Tg 1.21).179 Os outros pecados mencionados nessa lista são decorrentes dessa maldade.

Em segundo lugar, o Dolo – Essa palavra originalmente significava

“isca” ou “armadilha”. Representa um espírito traiçoeiro. Refere-se a alguém que conta uma mentira a fim de enganar os outros (2.22, 3.10; cf. Mc 7.22-23; Jo 1.47; Rm 1.29). Lucas usou o mesmo termo no livro de Atos, quando escreveu da repreensão de Paulo ao mágico Elimas por ser “cheio de todo o engano e fraude” (At 13.10).

176 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (91). Nashville, TN: T. Nelson. 177 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (97). Chicago: Moody Publishers. 178 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (134). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 179 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English reader (1Pe 2.1). Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

80

Em terceiro lugar, a “Hipocrisia” – A hipocrisia (hupokrisis, em grego) significa dissimulação. É utilizar uma máscara para esconder a verdadeira identidade. Descreve qualquer comportamento que não seja genuíno ou consistente com o que realmente acredita ou diz que acredita (Mt 23.28; Mc 12.15; Lc 12.1; Rm 12.9; Gl 2.13; 1Tm 4.2; Tg 3.17).180

No grego clássico, um hipócrita poderia ser um intérprete, orador, declamador de poesia ou ator. Jesus criticou os hipócritas de serem piedosos apenas em público (Mt 6.2, 5, 16). Os hipócritas também foram culpados de criticar as falhas dos outros e ignorar as próprias falhas (Mt 7.1-5). Jesus muitas vezes chamou os fariseus de hipócritas por causa do conflito entre suas ações externas e atitudes internas (Mt 15.1-9). Os hipócritas poderia interpretar o tempo, mas não os sinais dos tempos (Lc 12.56). Provavelmente, a discussão mais famosa de hipocrisia seja Mateus 23. Onde os líderes religiosos não praticavam o que pregavam (Mt 23.3). Jesus comparou-os aos sepulcros caiados que por fora eram impecáveis, mas por dentro eram sujos (Mt 23.25-28).

Paulo acusou Pedro de hipocrisia por se recusar a comer com os cristãos gentios em Antioquia (Gl 2.12-13). Paulo advertiu a Timóteo sobre os falsos mestres hipócritas (1Tm 4.2).

Seis vezes no Novo Testamento, os escritores mostram que a sinceridade (sem hipocrisia, anupokritos) deve caracterizar o cristão. O amor cristão (Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Pe 1.22), a fé (1Tm 1.5; 2Tm 1.5) e a sabedoria (Tg 3.17) devem ser sinceros.181

Em quarto lugar, a “Inveja” – Descreve um sentimento avarento de

querer ocupar o lugar do outro. Foi esse o sentimento por trás da crucificação de Jesus: os líderes religiosos tornaram-se invejosos diante da popularidade de Cristo (Mc 15.10, Mt 27.18; Rm 1.29; Fp 1.15, Tt 3.3). A inveja muitas vezes leva a ressentimentos, ódio, amargura e conflitos (cf. 1Co 3.3; 1Tm 6.4; Tg 3.16).

Em quinto lugar, “toda sorte de maledicências” – Por fim, o apóstolo

Pedro menciona a maledicência (katalalia, em grego) que significa calúnia. É um termo onomatopeico, ou seja, soa como os sussurros ou fofocas por trás de alguém (2Co 12.20).182 Refere-se, essencialmente, a difamação do caráter (cf. 2.12, 3.16, Tg 4.11).183 Essa palavra (katalalia, em grego) aparece somente aqui em 1Pe 2.1 e em 2Coríntios 12.20. O verbo relacionado

180 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98). Chicago: Moody Publishers. 181 McWilliams, W. (2003). Hypocrisy. In C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R. Clendenen & T. C. Butler (Eds.), Holman Illustrated Bible Dictionary (C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R. Clendenen & T. C. Butler, Ed.) (799). Nashville, TN: Holman Bible Publishers. 182 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98). Chicago: Moody Publishers. 183 Vol. 4: Theological dictionary of the New Testament. 1964- (G. Kittel, G. W. Bromiley & G. Friedrich, Ed.) (electronic ed.) (3–4). Grand Rapids, MI: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

81

katalaleō é traduzido como “falar contra” em Tiago 4.11.184 O caluniador diz coisas boas diante da pessoa, mas o deprecia por trás. Ele sempre fala mal quando a vítima não está por perto. Você conhece alguém assim?

O desejo do apóstolo Pedro é que os seus leitores jamais se esquecessem de que o pecado é uma fraude. Ele promete alegria, mas paga com tristeza. Promete prazer, mas paga com lágrimas. Quando Adão e Eva foram tentados no Jardim do Éden, Satanás compartilhou mentiras, enganos, e meias-verdades. Jesus declarou que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Entretanto, Deus é a fonte de toda a verdade.185 Ou seja, quanto mais conhecemos a respeito do Deus verdadeiro revelado em Sua Palavra, mais parecidos com Cristo nos tornamos. Como resultado, até os nossos sentimentos serão transformados (Fo 4.8-9).

Você não precisa de anos de terapia para abandonar estas coisas. Basta obedecer! Tome a decisão de romper com as atitudes e pensamentos pecaminosos de sua velha vida e viva como um verdadeiro cristão.

Alguém acertadamente declarou: “A Palavra de Deus irá mantê-lo longe do pecado ou pecado vai mantê-lo longe da Palavra de Deus”. Confesse seus pecados e os abandone o mais rápido possível! E volte para a Bíblia. Se você não fizer isso, você não será motivado a se alimentar da Palavra de Deus que é o segundo passo do crescimento espiritual.

II. É necessário se alimentar da Palavra de Deus

“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (1Pedro 2.2).

“desejai ardentemente...” (v. 2) – Pedro queria que seus leitores

desejassem ardentemente a Palavra como um bebê recém-nascido deseja o leite materno.186 A palavra desejar (epipothēsate) é um verbo imperativo. O apóstolo Paulo usou a palavra sete vezes (Rm 1.11; 2Co 5.2; 9.14; Fp 1.8; 2.26; 1Ts 3.6; 2Tm 1.4), e em cada caso, ela expressa um intenso desejo, ou paixão insaciável (cf. Sl 42.1 e 119.174; Tg 4.5).187 Todo cristão precisa e deve ansiar pelo alimento espiritual que produz crescimento, a Palavra de Deus.

É interessante notar que ao utilizar a palavra “desejar” na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo declara: “Porque muito desejo ver-vos...” (Rm

184 MacArthur, J. F., Jr. (2003). 2 Corinthians. MacArthur New Testament Commentary (435). Chicago: Moody Publishers. 185 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (134). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 186 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (844). Wheaton, IL: Victor Books. 187 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98–99). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

82

1.11) e quando escreve ao jovem Timóteo, ele disse: “Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria” (2Tm 1.4).188 Observe que há um sentimento de profunda saudade.

Além disso, é notável que Pedro não ordene aos crentes a ler a Palavra, estudar a Palavra, meditar na Palavra, ensinar a Palavra, pregar a Palavra, buscar a Palavra ou memorizar a Palavra. Todas essas coisas são essenciais, e outras passagens ordenam os crentes a fazerem isso (cf. Js 1.8; Sl 119.11; At 17.11; 1Tm 4.11, 13; 2Tm 2.15, 4.2). No entanto, Pedro foca no elemento mais fundamental que os crentes precisam ter antes de exercer qualquer dessas atividades, um desejo profundo e contínuo pela Palavra da verdade (cf. 2Ts 2.10b).189 Você sente falta da Palavra de Deus?

É exatamente esse sentimento que os leitores de Pedro deveriam nutrir em seus corações pela Palavra de Deus. Pedro declara que Palavra de Deus é pura, racional e nutritiva.

A. A Palavra é pura.

“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual...” (v. 2) – A expressão “recém-nascida” (brephos, em grego) identifica uma criança que acabara de nascer e está chorando desesperadamente por alimento.190 Sua maior necessidade é o alimento. Ela é tão frágil, mas a sua fome é grande! De forma semelhante, os crentes devem desejar a Palavra de Deus. É um desejo singular e implacável, porque a vida depende disso.

Contudo, Pedro proclama que não é qualquer tipo de alimento que devemos ansiar. Pelo contrário, ele diz: “o genuíno leite espiritual”. O termo “genuíno” (adolos, em grego) significa, literalmente, não misturado, não adulterado.191 É a mesma palavra utilizada no versículo 1 (traduzida por “dolo”). É um termo oriundo da indústria do vinho do primeiro século. O vinho era muitas vezes misturado com água, especialmente o vinho mais velho. Muitas vezes, os comerciantes tentavam vender vinho aguado ou diluído. Portanto, este termo era usado metaforicamente para aquilo que era “sem mistura” ou “genuíno”.192

Mas a adulteração não acontece apenas com o vinho. Em 2007, investigações da Polícia Federal (PF) apontaram um suposto esquema de adulteração de leite em Minas Gerais nas cooperativas. Segundo a PF, o leite

188 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (134–135). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 189 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (99–100). Chicago: Moody Publishers. 190 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (759). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 191 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (285). Nashville, TN: T. Nelson. 192 Utley, R. J. D. (2000). Vol. Volume 2: The Gospel according to Peter: Mark and I & II Peter. Study Guide Commentary Series (225). Marshall, Texas: Bible Lessons International.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

83

adulterado continha água ou soro, soda cáustica, peróxido de hidrogênio, ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar. Este era um leite “adulterado”.

Alimentar um recém-nascido com leite contaminado é assinar o seu atestado de óbito. O leite contaminado é um veneno capaz de matar mais rápido do que a fome. Da mesma forma, sem o genuíno leite espiritual, que é a Palavra de Deus, o crente vai perecer.

O comentarista bíblico Warren Wiersbe acertadamente escreveu: “A Palavra de Deus tem a vida, dá vida e alimenta a vida. Devemos ter apetite para a Palavra como bebês recém-nascidos famintos!”193 Davi declarou: “Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos” (Sl 119.20). Para Davi a lei se tornou o seu alimento dia e noite (Sl 1.2). Porém, é muito triste quando os cristãos não têm fome pela Palavra de Deus.

Pedro nos diz para desejar ardentemente o leite genuíno, o leite não adulterado. Isto é, a Palavra de Deus, sem quaisquer impurezas de erro, e livre de quaisquer influências humanas.

B. A Palavra é racional.

“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual...” (v. 2) – A palavra “espiritual” (logikos) também significa racional ou o que pertence à razão ou à lógica.194 A outra vez que ela ocorre na Bíblia é em Romanos, onde Paulo diz que devemos apresentar nossos corpos como “sacrifício vivo a Deus que é o nosso culto racional” (Rm 12.2).

Assim, o termo é propositadamente ambíguo. Pedro utiliza-o para mostrar que não está falando sobre o leite materno literalmente, mas sim sobre o leite espiritual da Palavra viva e permanente de Deus (1.23).195 Este leite espiritual é racional. A razão humana deve se sujeitar à revelação escrita de Deus. Ninguém pode conhecer a Deus sem o uso de sua mente, pois Ele se revela na Palavra escrita.

Esse equilíbrio deveria corrigir muitos dos excessos de nossos dias. Existem muitos cristãos subjetivos. Eles operam num nível de sentimento, desprovido de conteúdo teológico sólido. Outros enfatizam conteúdo teológico, mas têm medo das emoções. A Palavra de Deus deveria encher nossas mentes com o conhecimento de Deus e mover os nossos corações com Sua majestade e amor.

193 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor Books. 194 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (509–510). Nashville, TN: T. Nelson. 195 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 122.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

84

C. A Palavra é nutritiva.

“... para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (v. 2) – O objetivo do desejo de leite puro espiritual de Deus é o crescimento. É sempre triste ver um ser humano desnutrido, fraco e em desenvolvimento demorado. Mas muito mais triste é ver crentes espiritualmente desnutridos e subdesenvolvidos.196 Todos os crentes devem ser motivados pela oportunidade de crescer e amadurecer em Cristo.

“... vos seja dado crescimento...” – A palavra “crescimento”

(auxēthēte, em grego) é um verbo passivo, que significa literalmente “fazer você crescer”.197 O apóstolo Pedro usou o mesmo verbo no fim da sua segunda carta quando ordenou aos crentes a “crescerem na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18; cf. At 20.32; 1Tm 4.6). É pela ingestão da verdade do Espírito Santo que o cristão amadurece e cresce (cf. 2Co 3.18).

Deus quer que cresçamos na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. E assim deixaremos de ser um bebê espiritual ou crianças levadas de um lado para outro por qualquer vento de doutrina. Em vez disso, cresceremos em tudo naquele que é o Cabeça, Cristo (Ef 4.13-16).

A exortação de Pedro a respeito do crescimento na Palavra genuína lembra a exortação do apóstolo Paulo aos Filipenses:

“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.7-14).

Deus criou o leite materno como alimento ideal para os recém-

nascidos. Ele tem a capacidade de proteger o bebê de muitas doenças e nutri-los para o crescimento. De forma semelhante, a Palavra de Deus

196 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (100). Chicago: Moody Publishers. 197 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (1229). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

85

protegerá os cristãos de muitas doenças espirituais. O leite materno vai fazer o bebê crescer durante meses sem qualquer outro alimento. Já a Palavra de Deus alimenta os cristãos para que “cresçam para a salvação” (2.2). A salvação aqui significa o último capítulo da vida cristã, que inclui tudo o que Deus tem proporcionado para seus filhos. Nós nunca chegaremos a um lugar nesta vida onde podemos deixar de crescer.

Enquanto Pedro fala sobre o crescimento, ele também fala sobre degustação. Antes de desejar profundamente o leite espiritual, Pedro mostra que a degustação precede o desejo (v. 3).

III. É necessário provar do Deus da Palavra

“se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1Pedro 2.3)

A motivação para desejar a Palavra de Deus ecoa das palavras do

salmista, “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom” (Sl 34.8). O Salmo 34 deve ter sido o favorito de Pedro - ele cita novamente em 3.10-12. Além disso, o tema do Salmo 34 é aproximadamente o mesmo que o de 1Pedro: “Busquei o SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores” (Sl 34.4) e “Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra” (Sl 34.19).

“se é que já tendes a experiência...” (v. 3) – A palavra “experiência”

(geuomai, em grego) significa provar, traz a ideia de provar uma comida.198 Pedro se refere especialmente à bondade do Senhor ou a graça que foi mostrada aos seus leitores. Em outras palavras, se você conhece a Cristo e tem certeza de sua salvação, você experimentou da bondade do Senhor, porque você sabe que merecia julgamento, mas Deus lhe mostrou misericórdia (Rm 5.8).

Os crentes devem regularmente estudar as bênçãos de sua salvação, lembrando-se das muitas vezes em que Deus respondeu suas orações (cf. Sl 40.1; 116.1; 138.3; Jr 33.3; Mt 7.7; Jo 15.7; 1Jo 5.14-15). O profeta Jeremias escreveu: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR, Deus dos Exércitos” (Jr 15.16).199

Como o salmista todos devem afirmar, “Puríssima é a tua palavra; por isso, o teu servo a estima. Pequeno sou e desprezado; contudo, não me esqueço dos teus preceitos. A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade” (Sl 119.140-142).

198 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 123. 199 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (101). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

86

Conta-se a história sobre um pai que teve que fazer uma viagem até a cidade para comprar provisões para sua família. Antes de sair em viagem, ele disse a seu filho para limpar o canal que conduzia água ao poço da casa.

O filho começou a fazer a tarefa todos os dias, mas depois ficou cansativo para ele; assim, ele parou de ir ao canal e limpar os detritos que se acumulavam lá. No dia seguinte, a mãe percebeu que a água já não estava fluindo de maneira correta em casa.

Quando o pai chegou de viagem, uma das primeiras coisas que a mãe lhe disse foi que a água já não estava fluindo corretamente. O pai chamou o filho e perguntou se ele havia limpado o canal que conduzia água ao poço a cada dia. O filho confessou que havia deixado de fazer a tarefa. Juntos, pai e filho foram até o canal e limparam os escombros. Mais uma vez a água da montanha fluiu perfeitamente até a cisterna da casa.

Assim é a nossa vida. Às vezes permitimos que os detritos se acumulem em nosso relacionamento com o nosso Deus. Precisamos limpar os escombros para que as águas vivificantes de Deus possam fornecer o alimento espiritual a sua necessidade!

CCoonncclluussããoo:: As pessoas usam a Bíblia de formas estranhas. Você provavelmente

conhece a história do sujeito que sentia que precisava de alguma orientação da Bíblia, então, ele fechou os olhos e abriu a Bíblia ao acaso e colocou o dedo sobre um versículo: “Judas retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27.5). Ele pensou: “Isso não pode ser a vontade de Deus para mim”, então ele tentou novamente: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Ele sabia que havia algum engano, então tentou mais uma vez: “O que pretendes fazer, faze-o depressa” (Jo 13.27). Pode ser perigoso usar a Bíblia de forma errada!

Podemos até rir desta história, todavia, não podemos rir da nossa própria situação. Vivemos uma época de muitos compromissos e sem tempo para nada. Com frequência invertemos os valores e trocamos o urgente pelo que realmente importa. Quando deixamos de alimentar nossa alma com o leite espiritual, tornamo-nos fracos e debilitados para a obra. Perdemos o desejo pelas coisas de Deus. A igreja se torna sem graça e a vida secular parece mais agradável. Quando não temos tempo para a Palavra de Deus estamos apenas reafirmando que Deus não é prioridade em nossa vida. Por isso, para o bem da sua alma, leia a Bíblia Sagrada! Você já percebeu que conseguimos arrumar tempo para tudo àquilo que é prioridade para nós?

Uma vez um jovem estudante de violino, aluno de um renomado mestre, experimentou a alegria de participar do primeiro recital. No final de cada apresentação, a multidão aplaudia, mas o jovem artista parecia insatisfeito. Mesmo após o último ato, apesar dos aplausos, o músico parecia

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

87

infeliz. Porém, ao levantar o arco percebeu que um homem idoso estava na galeria do teatro assistindo a tudo. Por fim, o idoso sorriu e acenou com a cabeça em aprovação. Imediatamente, o jovem sorriu com alegria. Ele não estava olhando para a aprovação da multidão. Ele estava esperando a aprovação do seu mestre.

Os cristãos devem viver para a aprovação de Deus. Seremos aprovados na maneira como crescemos no conhecimento da Palavra de Deus e na santidade. Você tem sido descuidado no uso da Palavra genuína de Deus? O mau uso da Bíblia conduz à ruína, mas o bom uso leva à piedade. Você ama a Palavra de Deus?

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

88

AAss pprriioorriiddaaddeess ddoo ppoovvoo ddee ddeeuuss

[estudo 10 – 1pedro 2.4-10] Na correria da vida moderna, é muito fácil inverter nossas

prioridades. Sob pressão, tendemos a focar no urgente, ao invés do que é realmente importante. Por isso é bom ser lembrado ocasionalmente de nossas prioridades, como povo de Deus.

Os crentes a quem Pedro escreveu estavam sob pressão. Como vimos, eles estavam dispersos devido à perseguição e viviam como estrangeiros em um mundo pagão (1.1). Eles corriam um risco muito grande de perder de vista suas prioridades como povo de Deus. Assim, o apóstolo Pedro relembra aos seus leitores de suas prioridades diante do Senhor: nossa salvação deve ser vivida por ser construída sobre Cristo, em Comunidade cristã e como testemunho ao mundo:

I. O Senhor é a nossa prioridade

“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1Pedro 2.4).

Nosso relacionamento com Deus deve estar no centro de tudo que

fazemos, tanto individualmente quanto coletivamente. Deus conhece o nosso coração, nada escapa ao Seu olhar perscrutador. Ele não se impressiona com nosso trabalho. Ele conhece nosso coração.

Quando o Senhor reprendeu a igreja de Éfeso em Apocalipse, é interessante observar que, antes da repreensão, o Senhor elogiou a igreja pelo seu trabalho, sua perseverança e atitude em manter-se firme doutrinariamente quanto ao ensino dos nicolaítas.200 Todavia, o Senhor repreendeu a igreja dizendo: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Ef 2.4).

Apesar de todos os elogios, o olhar penetrante e onisciente do Senhor Jesus Cristo tinha visto uma falha fatal na igreja de Éfeso. Apesar de terem mantido a ortodoxia, a adoração havia se degenerado em uma ortodoxia mecânica. Apesar da sua robusta aparência externa, uma doença mortal cresceu no coração da igreja de Éfeso.

Nosso trabalho deve ser o reflexo de nossa adoração. O Senhor deve ser a nossa prioridade. Pedro nos apresenta duas lições importantes:

200 Os Nicolaítas, também mencionados na carta a Pérgamo (2.12-15), eram seguidores de uma seita que perturbavam as igrejas de Éfeso e de Pérgamo. Comiam alimentos sacrificados a ídolos e entregavam-se aos prazeres carnais (Ap 2.6-15).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

89

A. Devemos buscá-Lo repetidamente.

“Chegando-vos para ele...” (v. 4) – O segredo do crescimento espiritual é uma comunhão intensa com o Senhor Jesus. Na conversão nos aproximamos do Senhor. Porém, não é essa aproximação que Pedro está tratando aqui. Na verdade, a palavra “chegar” (proserchomai, em grego) significa “ir e ver de perto”.201 É relevante destacar que o verbo “chegar” em grego está no particípio presente do indicativo. Isso significa que devemos nos achegar a Cristo repetidamente. É um ato de fé que acontece não apenas uma vez, mas continuamente.202 Não se refere à nossa conversão, mas a nossa diária comunhão com Ele.

“... a pedra que vive” (v. 4) – Pedro utiliza um paradoxo. Uma pedra

não tem vida. Mas isso nada mais é do que uma metáfora sobre o trabalho daquele que sustenta a igreja, Jesus. Nas Escrituras o termo “pedra” (lithos, em grego) às vezes se refere a uma pedra preciosa esculpida, mas geralmente significa “pedra de construção”. O Antigo Testamento designa Deus como a única rocha (Dt 32.3-4, 31), a fundação e a força do Seu povo. No Novo Testamento, Jesus Cristo é a pedra (2.8; 1Co 10.4) e a pedra sobre a qual a igreja descansa. Aqui imagem de Pedro é de uma pedra que foi perfeitamente trabalhada para se tornar a pedra angular da Igreja, não apenas uma pedra, mas uma pedra viva.203

A “Pedra viva” é Cristo, porque Ele vive para sempre, depois de ter ressuscitado dos mortos (Rm 6.9). Não somente Ele está vivo, mas Ele também dá a vida a todos os que confiam nEle (cf. 1.3, 23; Jo 5.21, 25; 6.51-53, 1Co 15.45, Cl 2.13, 1Jo 4.9; 5.11-13).

Uma vez que você confiou em Cristo como Salvador, a vida cristã é um processo de descobrir tudo o que Ele é para você. Como Pedro diz: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3). Nossa maior necessidade na vida é crescer no conhecimento do Filho de Deus (Fp 3.10).

É importante destacar que Cristo, e não Pedro, é a pedra sobre a qual a igreja é edificada. Somente Jesus Cristo é a pedra fundamental sobre a qual a igreja foi construída. Os profetas do Antigo Testamento proclamaram sobre isso (Sl 118.22; Is 28.16). Jesus mesmo declarou essa verdade (Mt 21.42), e assim o fez Pedro e os outros apóstolos (At 4.10-12). Paulo também declarou que o fundamento da igreja é Jesus Cristo (1Co 3.11). Assim, este fundamento foi estabelecido pelos apóstolos e profetas quando pregaram Cristo aos perdidos (1Co 2.1-2; 3.11; Ef 2.20).

201 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (108). Nashville, TN: T. Nelson. 202 KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 11. 203 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (104–105). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

90

Assim, se o Senhor não estiver no centro de sua vida, suas prioridades estão erradas. Estamos construindo um trabalho na areia. Cristo foi a escolha preciosa aos olhos de Deus (v. 4c). Ele deve ser a escolha preciosa em nossa vida também.

B. Devemos adorá-Lo repetidamente.

“também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1Pedro 2.5).

“também vós mesmos, como pedras que vivem...” (v. 5) – Ser

“pedras vivas” significa que os crentes têm a vida eterna de Cristo. Se Cristo é a pedra que vive, os que estão nEle são como pedras que vivem. Eles estão unidos com Ele, que é o seu primeiro privilégio espiritual.204 Ele é a pedra angular e os cristãos se tornam participantes da natureza divina (Cl 3.3-4; cf. Gl 2.20; Ef 2.19-22; 1Co 3.9).

“... sois edificados casa espiritual” (v. 5) – O objetivo desta “casa

espiritual” é tornar-se o lugar da habitação de Deus pelo Seu Espírito (Ef 2.22). No Antigo Testamento, a glória de Deus estava no templo, o que representava a sua presença com o povo. Hoje, Deus habita em seu novo templo que é construído não a partir de matérias inanimadas, mas de crentes vivos. O Espírito Santo habita em cada crente (Jo 14.17; Rm 5.5; 8.9, 11; 1Co 2.12; Gl 3.2; 4.6, 1Jo 3.24; 4.13), que é, portanto, um “templo” (1Co 6.19).

As práticas de construção do primeiro século, muitas vezes incluíam o corte de novas pedras de pedreiras frescas, em seguida, encaixavam as pedras recém-colhidas perfeitamente no lugar. Mas uma maneira mais rápida e menos dispendiosa de coleta de materiais era usar pedras de prédios antigos ou derrubados, lapidando-as para o formato apropriado e encaixando-as em novos edifícios. Na verdade, muitas vezes os arqueólogos descobrem edifícios que incorporaram muitas pedras de séculos anteriores.

Isso se aplica perfeitamente a vida espiritual. Se as pedras vêm de novas pedreiras (crentes gentios) ou de edifícios antigos (crentes judeus), ambos requerem algum corte e lapidação para se encaixar em uma estrutura unificada e estável (1Co 3.16-17; 2Co 6.16; cf. Ef 2.20 -22). 205

Inácio, pastor de Antioquia, martirizado no início do segundo século por sua fé inabalável em Cristo, escreveu para a igreja de Éfeso por volta do ano 110: “Vocês são pedras de um templo, preparados de antemão para a

204 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (106). Chicago: Moody Publishers. 205 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (170). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

91

construção de Deus Pai, içados até as alturas pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a cruz, usando como corda o Espírito Santo” (Inácio, Aos efésios 9).206

Assim, existe uma unidade no meio do povo de Deus que transcende todos os grupos e congregações locais.207 Ao usar o templo como uma metáfora para a igreja, com suas pedras individuais como membros, Pedro enfatiza também a unidade do corpo de Cristo e da presença sobrenatural do Espírito Santo como crentes reunidos para adoração e comunhão com Deus.

Em 1Reis, está registrado que o grande templo de Salomão foi construído “... Com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro se ouviu na casa quando a edificavam” (1Rs 6.7). Nenhum edifício na história jamais foi construído dessa forma. Sua construção foi quase silenciosa, tão santo era considerado o trabalho. Silenciosamente as pedras eram transferidas e adicionadas ao templo.

As pedras eram retiradas da pedreira, moldadas e levadas ao local de construção e, em seguida, colocadas lado a lado com outras (1Reis 6.7). É uma imagem do Senhor encaixando todos os cristãos, uns com os outros, de modo que cada pedra representa uma parte vital. Pedras individuais não têm muito valor, mas quando elas se encaixam, toda a estrutura torna-se um belo e funcional lugar onde Deus é adorado. A implicação é que só em relacionamentos estreitos que Deus nos usa para o propósito de Sua glória. Para fazer isso, Ele muitas vezes tem que lapidar a nossa vida, retirar as bordas ásperas, que é um processo doloroso! Muitas vezes através de conflitos na igreja que nós aprendemos que temos de crescer e mudar. Se nos submetemos ao processo, o resultado final valerá à pena!

De forma semelhante, acontece com a igreja. Nós não ouvimos o que está acontecendo dentro das mentes e corações, como e quando Deus cria uma nova vida e a encaixa no templo que Ele está construindo. Ele adicionou Lucas, Lidia, Filemom, Onésimo e os crentes em Éfeso, e outras cidades gregas e romanas. Mais tarde acrescentou os chamamos pais da igreja primitiva, e aqueles a quem ministravam.208 Na época da Reforma, acrescentou Lutero e Calvino, Zwinglio, John Knox e muitos outros. Ele ainda está adicionando “pedras vivas” ao seu templo hoje. Louvado seja Deus!

“... a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus...”

(v. 5) – Além de “pedras vivas” e “casa espiritual” somos sacerdotes santos que oferecem a Deus sacrifícios espirituais. Este é o texto central na grande doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Não há tal coisa como um sacerdócio cristão de apenas uns poucos que são ordenados para o

206 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (170). Grand Rapids, MI: Zondervan. 207 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.4). Wheaton, IL: Victor Books. 208 Boice, J. M. (1988). Ephesians : An expositional commentary (93). Grand Rapids, Mich.: Ministry Resources Library.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

92

ministério. Todo cristão é um sacerdote e possui livre acesso à presença de Deus (Hb 4.13-16).

No Antigo Testamento, somente os sacerdotes podiam estar perto de Deus, oferecendo sacrifícios e incenso em seu altar. Apenas o Sumo Sacerdote, uma vez por ano, podia entrar no Santo dos Santos para fazer expiação para o povo. Na Antiga Aliança, a principal função dos sacerdotes era oferecer sacrifícios a Deus (Êx 29.10-19; 2Cr 35.11). Mas quando Cristo inaugurou a Nova Aliança, os sacrifícios de animais não foram mais necessários (Hb 8.13; 9.11-15; 10.1-18).209 Agora, de acordo com o apóstolo Pedro, devemos oferecer a Deus sacrifícios espirituais.

Mas o que isso significa? Conforme pastor e comentarista bíblico John MacArthur esses “sacrifícios espirituais” podem ser resumidos em sete áreas, observe: Devemos oferecer toda a energia do corpo a Deus (Rm 12.1-2). Louvar a Deus (Hb 13.15). Fazer o bem (Hb 13.16). Compartilhar os próprios recursos (Hb 13.16). Levar as pessoas a Cristo (Rm 15.16). Sacrificar os próprios desejos pelo bem de outros (Ef 5.2) e Orar (Ap 8.3).210

“... sacrifícios espirituais agradáveis...” (v. 5) – A palavra “agradável”

(euprosdektos, em grego) significa “favorável”. Contudo, pressupõe que existem sacrifícios não “agradáveis” como o sacrifício de Caim (Gn 4.5; Hb 11.4). Além disso, várias passagens do Antigo Testamento mostram Deus rejeitando o sacrifício do povo (Is 1.10-17; Jr 6.20; Os 6.6).211

“... por intermédio de Jesus Cristo” (v. 5) – Pedro destaca que esses

sacrifícios devem ser oferecidos a Deus por intermédio de Jesus Cristo. No período do Antigo Testamento, o povo tinha um sacerdócio, mas hoje, o povo de Deus é um sacerdócio.212 Ao morrer na Cruz, Jesus ofereceu o sacrifício perfeito. Verteu Seu próprio sangue. O véu do santuário foi rasgado de alto abaixo (Mt 27.51). Agora somos constituídos sacerdotes e temos livre acesso à presença de Deus.213 Cada crente tem o privilégio de entrar na presença de Deus (Hb 10.19-25). Nós não chegamos a Deus através de qualquer pessoa na terra, mas somente através do único Mediador, Jesus Cristo (1Tm 2.1-8). Porque Ele está vivo na glória, intercedendo por nós, podemos ministrar como sacerdotes santos.

209 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (107–108). Chicago: Moody Publishers. 210 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (114–119). Chicago: Moody Publishers. 211 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 129. 212 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.5). Wheaton, IL: Victor Books. 213

LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 71.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

93

II. Temos que ser edificados em unidade

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9).

Além de serem pedras vivas, o apóstolo Pedro declara que também

somos membros de uma “raça eleita”, cidadãos de uma “nação santa”, um povo de “propriedade exclusiva de Deus” (v. 9). Como membros da família de Deus, a igreja de Cristo, desfrutamos de uma maravilhosa salvação e recebemos uma missão especial no mundo.

A. Recebemos uma nova identidade.

Todos os termos utilizados por Pedro foram retirados do Antigo Testamento: A raça eleita (Is 43.20), o sacerdócio real (Êx 19.6), um nação santa (Êx 19.6); povo de propriedade exclusiva de Deus (Êx 19.5).

1. Somos um povo escolhido. “Vós, porém, sois raça eleita...” (v. 9)

– Assim como Deus chamou o povo de Israel para ser uma nação exclusiva, com um propósito especial entre os reinos pagãos, a igreja também foi chamada para ser uma testemunha única de Jesus Cristo no meio de um mundo perverso.214 Isso é graça! Deus não escolheu Israel porque eles eram um grande povo, mas porque Ele os amava (Dt 7.6-9). Da mesma forma, Deus nos escolheu puramente por causa de Seu amor e graça. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16; Jo 15.16; At 13.48; Rm 9.13-16; 11.5; 1Co 1.9; Ef 1.3-5; 1Ts 1.4; 2Ts 2.13-14; 2Tm 1.9; 2.10; Ap 13.8; 17.8; 20.15).

2. Somos um sacerdote real. “Vós, porém, sois... sacerdócio real...”

(v. 9) – O conceito de um sacerdócio real vem do livro de Êxodo, onde Deus através de Moisés disse a Israel: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19.6). Lamentavelmente, Israel negligenciou seu privilégio sacerdotal por causa de sua apostasia e a rejeição do Messias (cf. Jo 12.37-48, Rm 10.16-21; 11.7-10; Hb 3.16-19).215 Mas todos aqueles que creem em Jesus como Messias e confiam nEle para a salvação recebem o privilégio de se tornarem sacerdotes reais (Ap 5.10).

3. Somos cidadãos de uma nação santa. “Vós, porém, sois... nação

santa...” (v. 9) – Desde o início de sua primeira epístola, Pedro tem 214 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.9). Wheaton, IL: Victor Books. 215 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (125). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

94

lembrado aos seus leitores que eles são cidadãos de uma nação santa. Ele se refere aos cristãos como “peregrinos” [estranhos, estrangeiros] espalhados por todo o mundo (1.1).216

Fomos separados para pertencer exclusivamente a Deus. A nossa cidadania está no céu (Fp 3.20), de modo que devemos obedecer às leis do céu e procurar agradar o Senhor do céu. Israel se esqueceu de que era uma nação santa. Deus havia ordenado que era necessário uma “diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10), mas eles ignoraram as diferenças e desobedeceram a Deus.217

John MacArthur estava certo quando escreveu: “A santificação envolve dois aspectos importantes: a posição dos cristãos diante de Deus e seu desenvolvimento em santidade”. É por isso que no início de sua carta, Pedro declarou que seus leitores são santos (1.1-2), mas em seguida, ele os exortou a serem santos (1.16).218 Ou seja, no aspecto posicional de santificação, Deus reconhece os crentes como separados da penalidade do pecado, mas no aspecto progressivo e prático da santificação, através do Espírito Santo, os crentes precisam desenvolver sua posição (Rm 6.4; 8.1-2; Gl 5.16-23; Ef 4.20-24; Fp 2.12-13; 1Ts 4.3).

4. Somos a propriedade de Deus. “Vós, porém, sois... povo de

propriedade exclusiva de Deus” (v. 9-10) – Ao longo da história, Deus tem tomado para Si o Seu próprio povo. No Sinai, Deus prometeu aos israelitas: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis por minha propriedade peculiar dentre todos os povos” (Êx 19.5; cf. Dt 7.6-7; 14, 26.18; Ml 3.17).

Paulo compartilha este fato em Romanos, quando ele cita o profeta Oséias: “Chamarei povo meu ao que não era meu povo...” (Rm 9.25; Os 2.23). E, no verso seguinte, ele diz: “Vós não sois meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 8.26; Os 1.10). Paulo compartilha também a mesma verdade em 2Coríntios 6.16-17 quando ele cita Levítico 26.12, Jeremias 32.38, 37.27 e Ezequiel. Além disso, o autor de Hebreus apresenta o fato maravilhoso de que aqueles que não eram o povo de Deus na Antigo Aliança tornaram-se o povo de Deus através da Nova Aliança (Hb 8.7-13; Jr 31.31-34).

Pense em quanto o valor de alguma coisa comum passa a ter quando permanece nas mãos de alguém extraordinário. Um dicionário torna-se mais valioso se fosse o dicionário de Abraham Lincoln. Da mesma forma, um

216 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (142). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 217 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.9). Wheaton, IL: Victor Books. 218 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (129). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

95

homem ou uma mulher comum ganha um tipo diferente de significado quando se torna propriedade do Deus Todo-Poderoso (2.10).219

A palavra “propriedade” (peripoiēsis, em grego) significa “comprar”, “adquirir por um preço” (cf. Ef 1.14). Os crentes pertencem a Deus porque foram comprados por alto preço (1.18-19; cf. 1Co 6.20; 7.23; Hb 13.12, Ap 5.9; Tt 2.13-14; cf. At 20.28, 1Co 6.20).

Em resumo, somos uma geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus. Como o apóstolo Paulo escreveu: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

III. Devemos proclamar as excelências de Deus

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9).

“vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1Pedro 2.10).

Depois de tratar dos privilégios da igreja, o apóstolo expõe a missão

da igreja. Deus nos chamou para fora do mundo como Seu povo, para que possamos voltar ao mundo e proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (2.9). Encontramos aqui dois pontos importantes:

Em primeiro lugar, a missão. “... a fim de proclamardes as virtudes

daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (v. 9) – Proclamar (exangeilēte, em grego) é uma palavra grega que aparece somente aqui no Novo Testamento. Significa “publicar” ou “propagar”. Pedro encoraja os crentes a divulgar as virtudes de Cristo, o Salvador. A palavra “virtude” (aretas, em grego) refere-se aos atributos ou qualidades.220 Isto é, os cristãos têm o privilégio de dizer ao mundo que Cristo tem o poder de realizar o extraordinário trabalho da redenção (At 1.8; 2.22, 4.20, 5.31-32; Ap 15.3; cf. Sl 66.3, 5, 16; 71.17; 73.28; 77.12, 14; 104.24; 107.22; 111.6-7; 118.17, 119.46; 145.4; Jo 5.36, 10.25).

219 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (172). Grand Rapids, MI: Zondervan. 220 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (133–134). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

96

Em segundo lugar, a motivação. “vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus...” (v. 10) – Pedro faz aqui um forte contraste entre o passado dos cristãos e o presente.221 O que Deus fez por nós deve ser uma forte motivação para cumprirmos com zelo, fidelidade e urgência a missão que nos confiou. Estávamos perdidos, sem esperança no mundo, entregues à nossa própria desventura, mas agora Deus derramou copiosamente sobre nós Sua misericórdia.

Os crentes-sacerdotes devem viver de modo que as qualidades de seu Pai Celestial sejam evidentes em suas vidas.222 A igreja não pode se esquecer de sua missão: adorar a Deus e proclamar a mensagem do reino. Somos embaixadores do Rei dos reis. Somos pescadores de homens. Nossa missão é proclamar ao mundo o que Cristo fez por nós.

Há um provérbio africano que se aplica muito bem a nossa responsabilidade, “há somente um crime pior do que um assassinato no deserto é saber onde água está e não dizer”. Quem conhece a Jesus sabe onde a água viva está.

Poucas imagens expressam mais vividamente a transformação da chamada salvadora de Deus. Uma vez que estávamos trevas, agora somos luz no Senhor, chamados a caminhar na luz de Jesus Cristo, a luz do mundo (Ef 5.8; 1Ts 5.5; Jo 8.12).

CCoonncclluussããoo:: Gostaria de pedir a você para examinar suas prioridades. Primeiro e acima de tudo, você realmente acredita em Cristo como

Salvador e Senhor? Sua morte na cruz é preciosa para você? Se assim for, Ele é o centro da sua vida? Você tem oferecido sua vida como sacrifício espiritual a Ele?

Segundo, você está procurando edificar seus irmãos na fé ou simplesmente, tem frequentado a igreja para assistir aos cultos?

Em terceiro lugar, você tem procurado proclamar as virtudes daquele que o libertou das trevas para Sua maravilhosa luz? Você tem vivido como sal da terra e luz do mundo?

O grande compositor, Giacomo Puccini, cujas óperas são mundialmente conhecidas, foi acometido de câncer em 1922. Porém, ele estava determinado a escrever sua última ópera, “Turandot”, que alguns consideram a melhor. Seus alunos imploraram para que ele parasse e descansasse, a fim de recuperar suas forças, mas ele persistiu, e declarou: “Se eu não terminar a ópera, meus alunos vão terminá-la”.

221

LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 76. 222 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (846). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

97

Em 1924, Puccini foi levado para Bruxelas, para ser operado. Ele morreu dois dias depois da cirurgia. Mas seus alunos conseguiram concluir o seu último trabalho. Em 1926, a estreia de gala foi realizada em Milão sob o batuta do aluno favorito de Puccini, Arturo Toscanini. Tudo ocorreu brilhantemente até que eles chegaram ao ponto da ópera onde o mestre havia sido forçado a deixar sua batuta. Toscanini, com o rosto em lágrimas, parou a orquestra, deixou a batuta, virou-se para a plateia e gritou: “Até aqui, o mestre escreveu, mas ele morreu!”

Depois de alguns segundos, com um sorriso no rosto, Toscanini pegou o batuta e gritou: “Mas os seus discípulos terminaram o seu trabalho!”

Nosso Mestre morreu, ressuscitou dentre os mortos e ascendeu ao o Pai, deixando-nos a tarefa mais importante do mundo: terminar Sua obra, para proclamar a Sua salvação grande entre as nações.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

98

UUmmaa vviiddaa ccrriissttãã eexxeemmppllaarr

[estudo 11 – 1pedro 2.11-12] Após apresentar nossa identidade: “... raça eleita, sacerdócio real,

nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1Pe 2.9), o apóstolo Pedro declara nossa responsabilidade, a maneira como devemos viver diante de tão grande privilégio.

O apóstolo começa dizendo que somos “peregrinos e forasteiros”. Isso significa que não pertencemos a este mundo. Nossa verdadeira pátria não está aqui. Ou seja, o cristão deve viver de tal forma que suas atitudes sejam diferentes das ações de sua cultura.223 O pregador escocês Alexander MacLaren, com inteireza, comentou: “O mundo tem suas noções de Deus, acima de tudo, das pessoas que dizem pertencer à família de Deus. Eles nos leem muito mais do que leem a Bíblia. Eles nos veem, pois só ouvem falar de Jesus Cristo”.224

No Sermão do Monte, Jesus disse a todos que desejavam segui-Lo: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Essa é a essência do que Pedro trata nesta passagem.225 Os destinatários do apóstolo Pedro precisavam de motivação e orientação para perseverar no evangelismo mesmo em meio as mais intensas provações. Assim, Pedro exorta aos seus leitores a fortalecer seu testemunho com dois aspectos cruciais da vida cristã: santidade na vida particular e santidade na vida pública.

I. Santidade na vida particular

“Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1Pedro 2.11).

Pedro começa sua exortação abordando seus leitores como “amados”.

Ou seja, como objetos do amor incomensurável de Deus, eles deveriam obedecer Àquele que os amava (1Pe 2.9-11). Com base nisso, ele pode suplicar “exorto-vos” (parakaleo, em grego), um termo que é utilizado para um “chamado” que se destina a produzir um efeito particular, portanto, com

223 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (173). Grand Rapids, MI: Zondervan. 224 Alexander MacLaren. First and Second Peter and First John [New York: Eaton and Maines, 1910], 105 225 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (137). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

99

vários significados, tais como “confortar, desejar, pedir”, além de “rogar” ou “incentivar” (Rm 12.1). O grande amor de Deus é o motivo que nos permite suportar as dificuldades deste mundo, pois vivemos como peregrinos.

Não apenas somos filhos amados de Deus, mas somos também “peregrinos e forasteiros” neste mundo. “Peregrino” e “Forasteiro” são usados como sinônimos. Eles apontam para alguém que é um residente temporário ou viajante em um país estrangeiro, percorrendo o caminho para o seu país de origem, tal como os patriarcas em direção à cidade celestial (Hb 11.8-16). Paulo escreveu: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Como estrangeiros, os crentes devem evitar as coisas deste mundo (1Jo 2.15-17; Mc 4.19; Jo 12.25, 15.19; Rm 12.2; Cl 2.8, 20; Tg 1.27; 1Jo 5.4).

Se existe algo que tem influenciado a mudança do pensamento dos crentes como “estrangeiros” é a medicina moderna. Devemos ser gratos pelo avanço da medicina. Mas, ao mesmo tempo, o bom tratamento médico removeu a dura realidade da morte de uma maneira que não era verdade em épocas anteriores. Mesmo na virada do século, era muito raro a família que não perdesse pelo menos um filho. O teólogo puritano John Owen (1616-1683) perdeu dez dos seus onze filhos antes de atingirem à idade adulta.

Em face da morte, ninguém fica tão focado nesta vida, ao contrário, a pessoa vive mais consciente à luz do céu. Howard Hendricks acertadamente declarou: “A maioria das pessoas pensa que está na terra dos viventes, em direção à terra dos mortos. Mas a verdade é que estamos na terra dos mortos, indo em direção à terra dos viventes”. Nossa casa está no céu!

“... a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a

alma” (v. 11) – Uma vez que os cristãos não fazem parte do mundo, eles devem abster-se das concupiscências da carne (cf. Rm 8.5-9, 12-13; 13.14; Gl 5.13, 16-17).

O que são “paixões carnais”? O apóstolo Paulo advertiu aos gálatas: “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.19–21). Não é a toa que Pedro diz que devemos nos “abster” de tais desejos.

A ordem para abster-se significa que, os santos, que possuem a habitação do Espírito devem lutar contra os desejos da carne, mesmo em uma cultura pós-moderna dominada pela sensualidade, imoralidade e relativismo moral.226 Essa luta contra os desejos carnais é vitalícia, ao ceder, o crente é levado à destruição.

226 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (137–138). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

100

“... que fazem guerra contra a alma” (v. 11) – É importante observar que a batalha contra o pecado é travada na alma (psuche, em grego). Se você puder ganhar a guerra contra o pecado em seus pensamentos, você vai ganhar em seu comportamento. Todo pecado começa na mente e deve ser derrotado lá. Devemos aprender a levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2Co 10.5). O pecado sempre começa com pequenas concessões.

O que Pedro está dizendo é que a nossa verdadeira batalha não é contra as pessoas ao nosso redor, mas contra as paixões dentro de nós. O grande pregador americano DL Moody, acertadamente declarou: “Eu tenho mais problemas com DL Moody do que com qualquer outro homem que eu conheço”.227 Quando um crente cede aos desejos da carne, ele começa a viver como os perdidos ao seu redor, e se torna uma testemunha ineficaz.

Não se engane: andar com Deus há anos não elimina a necessidade de fazer guerra contra o pecado. É significativo que muitos dos gigantes de Deus que caíram em pecado, tropeçaram depois de anos de caminhada. Noé ficou bêbado e foi exposto indecentemente depois do dilúvio. Davi, o homem segundo o coração de Deus, provavelmente, estava com cinquenta anos quando cometeu o pecado de adultério com Bate-Seba. Ezequias, que realizou uma grande reforma religiosa, no final de sua vida tornou-se orgulhoso (2Rs 20.12-21). A verdade é que enquanto estivermos neste corpo, temos que permanecer vigilantes e lutar contra as paixões da carne. Nossa velha natureza não é erradicada na conversão e não se tornará mais fraca enquanto envelhecemos. A guerra vai durar a vida inteira.

Entretanto, através de fé salvadora em Jesus Cristo e através do poder do Espírito que habita em nós e a Palavra de Deus, podemos abster-se dessas paixões. Note que a vitória sobre a as paixões carnais não é o enfrentamento, mas a abstinência.

II. Santidade na vida pública

“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pedro 2.12).

O apóstolo Pedro teve o cuidado também, de salientar que os cristãos

na sociedade são representantes de Jesus Cristo. Isto é, o crente tem a responsabilidade de “proclamar as virtudes de Deus” (1Pedro 2.9).228 Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de nossa relação com o governo e as pessoas em posição de autoridade.

227 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.11). Wheaton, IL: Victor Books. 228 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

101

“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios...”

(v. 12) – A palavra “exemplar” significa “bom” ou “atraente”.229 O mundo deve olhar para a vida dos cristãos e admitir, mesmo que não aceitem a Cristo ou a Bíblia, que somos boas pessoas. Conforme Simon Kistemaker, “os cristãos estão vivendo numa vitrine; estão à mostra. Sua conduta, obras e palavras são constantemente avaliadas pelos não cristãos que querem constatar se os cristãos vivem aquilo que professam”.230

“naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores,

observando-vos em vossas boas obras...” (v. 12) – Note que os pagãos (“gentios”) observam nossas boas ações. Mesmo se você não estiver ciente disso, os incrédulos são observando a sua vida. Eles veem como reage às coisas no trabalho. Eles observar como você fala sobre os outros. Eles observam como você lida com problemas. Eles observam como você trata sua família.

“... glorifiquem a Deus no dia da visitação” (v. 13) – Pedro diz que

aqueles que observam nossas boas ações devem “glorificar a Deus no dia da visitação” (2.12). Mas o que é o “dia da visitação”?

Dia da visitação é um conceito do Antigo Testamento (cf. Jz 13.2-23; Rt 1.6; 1Sm 3.2-21; Sl 65.9; 106.4; Zc 10.3) refere-se às ocasiões em que Deus visitava a humanidade para bênção ou condenação.231 O profeta Isaías escreveu sobre a visitação divina com o propósito de julgamento: “Mas que fareis vós outros no dia do castigo, na calamidade que vem de longe? A quem recorrereis para obter socorro e onde deixareis a vossa glória?” (Is 10.3, 23.17). Por outro lado, Êxodo 3.2-10 fala da visitação de Deus para anunciar a eventual libertação de Israel do Egito, o que seria uma bênção para o Seu povo. O Antigo Testamento registra vários outros casos em que Deus visitou pessoas para bênção e julgamento (Jr 29.10, 27.22).

Como, então, os pagãos vão glorificar a Deus no dia da visitação? Alguns serão convertidos antes do julgamento, porque, humanamente falando, eles observaram as boas ações dos cristãos que tanto perseguiram. Assim, eles vão glorificar Deus por Sua graça salvadora e pela fidelidade do Seu povo. Outros estarão diante de Deus com desculpas por sua incredulidade e naquele momento diante de Deus seus joelhos se dobrarão e suas línguas outrora orgulhosas, em seguida, confessarão que “Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2.9-11).

Para o crente, o ponto é que, como peregrinos, devemos pensar constantemente no dia da visitação, para que possamos ouvir: “Bem, feito,

229 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (222). Nashville, TN: T. Nelson. 230 KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 132. 231 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (140). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

102

servo bom e fiel!” (Mt 25.21). E, enquanto estivermos neste mundo devemos procurar convencer aqueles que estão no caminho para a condenação eterna para receber a misericórdia de Deus, antes que seja tarde demais.

Quer queiramos ou não, estamos sendo observados. O mundo está assistindo. Se eles não nos veem refletindo o amor inabalável, não vão pensar muito na salvação ou em nosso Salvador.232

Antes de encerrar este estudo, gostaria de perguntá-lo: as pessoas podem ver Deus em sua vida? Suas atitudes e palavras evidenciam que você ama o Senhor? Você está preparado para o dia da visitação?

CCoonncclluussããoo:: Deus está chamando você para uma forma de vida radical – viver

como peregrino e estrangeiro neste mundo. A vida do profeta Daniel é um belo exemplo de alguém que caminhou

com Deus e jamais negociou sua fé. Como resultado, o capítulo seis do seu livro, termina dizendo que “Daniel prosperou no reinado de Dario...” (Dn 6.28). Daniel viu a Babilônia cair, mas permaneceu firme e foi promovido no reino de Dario. Deus honra aqueles que o honram. Deus é quem exalta e também quem humilha.

Por que Deus permitiu histórias como essa nas Escrituras? Para encorajar o povo em sua luta contra o mundo, a carne e o diabo. É um lembrete de que Deus está no controle de toda situação. Podemos servi-Lo sem medo das consequências. Quer enfrentemos a fornalha de fogo (1Pe 1.6-8; 4.12-19) ou o leão que ruge (1Pe 5.8-10), está sob os cuidados do Senhor, e Ele cumprirá Seus propósitos divinos para Sua glória.

232 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (173). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

103

uummAA vviiddaa eexxeemmppllaarr nnaa ssoocciieeddaaddee

[estudo 12 – 1pedro 2.13-17] Os destinatários a quem Pedro escreveu viviam em um governo e

sociedade que não eram favoráveis a fé cristã. Tanto Pedro quanto o apóstolo Paulo foram executados nas mãos do imperador romano Nero. Foi apenas no século IV, sob o imperador Constantino, que o cristianismo recebeu legitimidade oficial e proteção por parte do governo.

Em nosso último estudo, Pedro afirmou que os cristãos devem viver uma vida santa como estrangeiros e peregrinos neste mundo (2.11-12). O cristão não é um residente permanente nesta terra, mas um peregrino caminhando para o céu. Assim, seria fácil para os seus leitores concluir que, portanto, não possuem nenhuma responsabilidade cívica neste mundo. Então, Pedro antecipa essa conclusão errada, mostrando que os cristãos devem viver como bons cidadãos sujeitando-se ao governo humano (1Pe 2.13).

De forma semelhante, vivemos em meio a uma cultura pagã, que adota uma filosofia pagã, uma forma de vida e uma atitude pagã para com os crentes. Mas o Senhor nos estabeleceu aqui para sermos embaixadores de um reino diferente e levar outros a melhor cidade cujo arquiteto e construtor é Deus.233

O comentarista John MacArthur corretamente declara que esta passagem, cheia de imperativos, contém seis elementos da submissão cristã: a ordem, o motivo, a extensão, a razão, a atitude e a aplicação da submissão.234

I. A ordem para submissão

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (1Pedro 2.13-14).

“Submissão” é uma das palavras favoritas do apóstolo Pedro. Na

verdade, ela domina grande parte do resto da epístola (ela ocorre em 2.13, 18; 3.1, 5, 22; 5.5, o conceito está implícito em 4.12-19). A palavra “submissão” (hupotasso, em grego) é um termo militar (hupo, “sob” e tasso, “organizar”).235 Significa “dispor-se como fazem os militares sob as ordens

233 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (175–176). Grand Rapids, MI: Zondervan. 234 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (144). Chicago: Moody Publishers. 235 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

104

do comandante”, “colocar-se em atitude de submissão”. O Antigo Testamento apoia o princípio da submissão à autoridade (cf. Dt 17.14-15; 1Sm 10.24; 2Reis 11.12; 1Cr 29.24). Em Provérbios está registrado: “Teme ao SENHOR, filho meu, e ao rei e não te associes com os revoltosos. Porque de repente levantará a sua perdição, e a ruína que virá daqueles dois, quem a conhecerá?” (Pv 24.21–22). Submissão aos governantes é certo, porque Deus instituiu (cf. Jr 29.4–14; Jo 14.2-3; Hb 4.9-10; 11.13-16; Ap 21.1-4).

Quase uma década antes de Pedro escrever a sua carta, o apóstolo Paulo já havia ensinado a respeito da importância da submissão ao governo:

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Romanos 13.1-4).

Embora Pedro e Paulo tenham vivido no decadente Império Romano,

uma sociedade infame (inflamada pelo homossexualismo, infanticídio, corrupção, abuso de mulheres, imoralidade e violência), nenhum dos dois ensinou aos crentes a se rebelar contra as autoridades civis. Ou seja, o distanciamento dos crentes do mundo deve ser equilibrado pelo respeito adequado e submissão humilde a todas as instituições legítimas de autoridade humana.236 O próprio Jesus ordenou: “Dai a César o que é de César...” (Mt 22.21).

Certo pastor, pressionado pelo tempo e não conseguindo encontrar uma vaga de estacionamento, parou o carro em uma vaga proibida e deixou um bilhete no para-brisa: “Eu dei dez voltas no quarteirão e não encontrei nenhuma vaga”. “Tenho um compromisso muito sério”. “Perdoa as nossas dívidas...” (Mt 6.12). Quando ele voltou, encontrou uma multa juntamente com um bilhete: “Eu ando com este bloco há dez anos. Se não lhe der a multa, vou perder o meu emprego”. E, acrescentou: “Não nos deixes cair em tentação” (Mt 6.13). Submissão significa obediência à lei.

236 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (143). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

105

II. O motivo para a submissão

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (1Pedro 2.13-14).

Pedro declara a motivação para se submeter à autoridade: “por causa

do Senhor...” (v. 13). A motivação para a obediência não é evitar a punição, mas é por causa do Senhor.237 Os cristãos obedecem às autoridades civis por que desejam honrar ao Senhor (cf. Sl 119.12-13, 33; At 13.48; 1Co 10.31). Para honrar a Deus que ordenou o governo humano, os cristãos devem observar as leis feitas pelo homem com cuidado desde que essas leis não entrem em conflito com o ensino claro da Escritura (At 5.29).

Como vimos, Paulo afirma que os governantes são “ministros de Deus” (13.4, 6). Daniel declara que Deus “remove reis e estabelece reis” (Dn 2.21; 2.37; 4.17; 5.18-19, 26; Jr 27.5-8; Ez 29.19-20; Jo 19.11). Ele dirige até reis pagãos de acordo com Seus propósitos soberanos (Pv 21.1; Is 45.1-7; 46.10-11).

Quando Daniel e seus três amigos se recusaram a obedecer à dieta estabelecida por Nabucodonosor, eles desobedeceram a lei, mas a maneira que como fizeram isso provou que eles honraram o rei e respeito pelas autoridades (Dn 1). Eles não foram rebeldes, eles tiveram o cuidado de não constranger o funcionário encarregado ou colocá-lo em apuros, e ainda assim, se mantiveram firmes.238 Glorificaram a Deus e, ao mesmo tempo, honram a autoridade do rei.

Os crentes também se submetem as autoridades, a fim de imitar o exemplo de submissão obediente de Cristo ao Pai. Mais adiante Pedro declara: “pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1Pe 2.23). Cristo viveu sob o domínio injusto e iníquo das autoridades judaicas e romanas, mas Ele nunca se opôs ao direito de governar. Ele denunciou os pecados dos líderes judeus (Mt 16.11-12; 23.13-33), mas nunca tentou derrubar sua autoridade. Da mesma forma, Jesus nunca liderou manifestações contra a escravidão e abuso da justiça romana. Ele não se opôs, mesmo quando essas autoridades tentaram injustamente crucificá-Lo (Mt 26.62-63; Mc 15.3-5; Jo 19.8-11). Em vez de focar a reforma política e social, Cristo sempre focou os assuntos relativos ao seu reino (Mt 4.17; Mc 1.15; Lc 5.31-32, 19.10; At 1.3; Mt 11.28-30).239

237 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (847). Wheaton, IL: Victor Books. 238 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor Books. 239 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (147). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

106

Quando uma igreja local constrói um edifício, há um código local, que deve ser obedecido. O governo não tem o direito de controlar o púlpito, mas tem todo o direito de controlar os assuntos relacionados com a segurança e funcionamento. Se a lei exige certo número de saídas, ou extintores de incêndio, ou luzes de emergência, a igreja deve obedecer.240 Assim, tanto quanto possível, devemos cooperar com o governo e obedecer à lei, mas nunca devemos permitir que a lei nos leve a violar nossa consciência ou desobedecer a Palavra de Deus.

III. A extensão da submissão

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (1Pedro 2.13-14).

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer

seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele...” (v. 13) – Pedro discorre sobre a extensão da submissão dos crentes, observando que ela se aplica a todos os níveis de autoridade. Isto é, não importa se a autoridade é um rei, presidente ou primeiro-ministro, nosso dever é sujeitar-se a ela.

“... toda instituição humana...” (v. 13) – A palavra “instituição” (ktisis,

em grego) sempre ocorre no Novo Testamento em conexão com atividades criativas de Deus (Rm 1.20, 25; 8.39; 2Co 5.17; Gl 6.15; Cl 1.15, 23; 2Pe 3.4).241 Isto significa que Deus criou todas as bases da sociedade, o trabalho humano, a família e o governo.242Logo, os crentes se submetem às autoridades porque foram estabelecidas por Deus (1Pe 2.18; Ef 6.5; Cl 3.22, na família (Ef 5.21-6.2; Cl 3.18, 20, 22-24). Porém, há um equilíbrio que os cristãos devem manter, entre o respeito ao homem e seu ofício, mas não respeitá-lo mais que Deus.

Essa ordem não exclui as autoridades que tomam decisões ruins ou injustas. O Antigo Testamento reconhece a existência de governantes corruptos (cf. Dn 9.11-12; Mq 7.2-3), mas reconhece que Deus tem a prerrogativa de julgá-los.243 Os crentes devem confiar que Deus ainda exerce domínio soberano e perfeitamente sábio sobre sociedades e nações (cf. Gn 18.25).

240 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor Books. 241 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (484–486). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 242 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (149). Chicago: Moody Publishers. 243 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (149). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

107

“... tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (v. 14) – Pedro declara que os reis e governadores são “tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem” (v. 14). Paulo fala sobre o governo “carrega a espada”, como um vingador que traz a ira de Deus sobre aquele que pratica o mal (Rm 13.4). Isto aponta para o poder do Estado em utilizar a pena de morte, bem como uma punição menor, para trazer justiça a todos. O Antigo Testamento muitas vezes fala sobre o papel do rei na promoção da justiça.

As autoridades geralmente recompensam a boa cidadania com tratamento justo e favorável (Rm 13.3; Gn 39.2-4; 41.37-41; Pv 14.35; Dn 1.18-21).244 O papel do governo é punir aqueles que fazem o mal, e proteger aqueles que andam retamente.

O governo faz isso (em parte) por legislar a moralidade. Leis contra assassinato e roubo são morais e bíblicas. Leis contra discriminação racial refletem o ensino bíblico de que Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34; Dt 10.17). As leis devem proteger os cidadãos contra o pecado (Por exemplo, pornografia, prostituição, drogas, etc.) O fato de que algo é ilegal vai conter muitas pessoas de praticá-lo.

Assim, Pedro mostra que o governo é ordenado por Deus para promover a justiça. O resultado da promoção da justiça será a promoção da paz e ordem na sociedade: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1–2).

IV. A razão para Submissão

“Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos” (1Pedro 2.15).

“façais emudecer a ignorância dos insensatos” (v. 15) – Esse é o

objetivo o propósito de nossa submissão – que evitemos qualquer condenação e sejamos elogiados a fim de fecharmos a boca daqueles obstinados que procuram razões para criticar os cristãos.

A palavra “emudecer” (phimoo, em grego) significa “fechar a boca com uma amordaça”. É usada por Paulo em 1Coríntios ao referir à prática de fechar a boca do boi quando pisa o trigo (1Co 9.9; 1Tm 5.18).245

Paulo escreveu a Tito: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não

244 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (150). Chicago: Moody Publishers. 245 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (423). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

108

difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens” (Tt 3.1–2).

Uma das qualificações para ser um Presbítero é que o homem “tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo” (1Tm 3.7; Tt 1.6). Esse tipo de testemunho incontestável, mesmo diante daqueles que rejeitam o evangelho, silencia os inimigos e permite que o poder salvador de Cristo se manifestar.246

“façais emudecer a ignorância dos insensatos” (v. 15) – A palavra

que Pedro usa para “ignorância” (agnosia, em grego) significa mais do que simplesmente uma falta de conhecimento. A palavra agnosia exprime a ideia de algo diretamente oposto à gnosis, que significa “conhecimento” como resultado de uma observação e experiência.247 Ou seja, indica uma rejeição hostil da verdade (1Co 15.34). É uma falta de percepção espiritual escancarada que o apóstolo ainda caracterizada como “tolo” (aphronōn, em grego). Esse termo significa “sem sentido, sem razão”, e pode expressar a falta de sanidade mental.248

Quando Israel foi enviado para a Babilônia, a sua situação era paralela à dos cristãos de hoje, eram peregrinos em uma terra estrangeira, olhando para a restauração prometida à sua terra. Deus disse a Jeremias (29.5-6) a proclamar aos exilados para construir casas, plantar jardins, tomar esposas e educar os filhos. Depois, acrescentou: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29.7). Esse é um bom conselho para os cristãos que estão exilados como estranhos neste mundo perverso.

V. A atitude de submissão

“como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus” (1Pedro 2.16).

Pedro sabia que seus leitores (incluindo nós!) não aceitariam a ideia

de submeter aos governantes pagãos (e muito menos, aos bons governantes cristãos!). Ele poderia nos ouvir a objeção: “mas somos livres em Cristo! Nós não temos de obedecer a um tirano pagão!” Assim, o apóstolo Pedro escreveu: “como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus” (v.16).

246 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (151). Chicago: Moody Publishers. 247 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (317–318). Nashville, TN: T. Nelson. 248 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (150). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

109

Os cristãos desfrutam a verdadeira liberdade quando obedecem a Deus e vivem como servos de Deus (douloi, “escravos”, Rm 6.22). Apesar de viver como homens livres, eles também devem viver como escravos de Deus.249

Assim como um trem só é verdadeiramente livre quando anda sobre os trilhos, de modo semelhante, os seres humanos são livres quando obedecem a Deus. A verdadeira liberdade é viver justamente em submissão a Deus. Logo, por causa do Senhor, que ordenou o governo para o benefício da raça humana, nos submetemos a Ele, quando nos submetemos a um governo civil.

“... todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como

servos de Deus” (v.16) – Porém, Pedro adverte que os cristãos não devem usar essa liberdade espiritual como um “pretexto” (epikaluma, em grego). A palavra epikaluma significa “véu”, “cobertura” e metaforicamente “um disfarce”.250 Isto é, a liberdade cristã nunca deve ser uma desculpa para a satisfação dos próprios desejos ou para a licenciosidade (1Co 8.9-13; 2Ts 3.7-9).

Uma atitude verdadeiramente justa fará com que os cristãos a usem a sua liberdade como servos de Deus, Paulo exortou aos coríntios: “Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo” (1Co 7.22). A liberdade tem os livrou da escravidão do pecado para servir o privilégio de sermos escravos da justiça.

VI. A aplicação da submissão

“Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei” (1Pedro 2.17).

Pedro continua o seu ensinamento sobre o assunto importante de ser

servos de Deus, listando vários exemplos específicos de como devemos fazer isso.

“Tratai todos com honra” (v. 17) – A palavra “honra” (timão, em

grego) é a mesma palavra que Jesus usou ao declarar que temos que honrar pai e mãe (Mt 15.4), e que devemos honrar o Filho assim como honramos o Pai (Jo 5.23). Esta é uma marca de estilo de vida cristã autêntica, que devemos honrar todas as pessoas. A ideia te a ver com grande consideração.

249 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (847). Wheaton, IL: Victor Books. 250 Thomas, R. L. (1998). New American Standard Hebrew-Aramaic and Greek dictionaries : Updated edition. Anaheim: Foundation Publications, Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

110

A expressão refere-se não somente ao comprimento do dever, mas ao respeito interior.

“amai os irmãos” (v. 17) – O amor (agapao, em grego) deve fluir

livremente e generosamente na vida de verdadeiros cristãos. Como Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

“temei a Deus” (v. 17) – A palavra “temer” (phobeo, em grego)

significa “reverenciar, venerar, tratar com deferência ou obediência reverencial”. O temor ao Senhor é o fundamento da vida cristã. O verbo “temor” aqui não significa “terror”. Mas “respeito e reverência que leva à obediência” (1Pe 3.16; 2Co 7.11).251 Você nunca vai realmente respeitar as pessoas até que reverenciar a Deus.

“honrai o rei” (v. 17) – É natural homenagear um bom rei ou um

governante que respeitamos. No entanto, Pedro está a pedir aos seus leitores para homenagear ninguém menos do que o próprio Nero. Essa é outra marca do cristão autêntico, a capacidade de honrar até mesmo os tiranos da nossa sociedade, aqueles que abusam e nos perseguem (Mt 5.44).252 Devemos respeitar a todos àqueles que Deus colocou em posição de autoridade (cf. “o rei” em 1Pe 2.13 e “governadores” no v. 14, cf. Rm 13.1). Mesmo que não sejamos capazes de respeitar um líder, porque ele é corrupto ou imoral, devemos respeitar seu ofício. Uma vez que Deus ordenou às autoridades, desprezá-las é desprezar o próprio Deus.

Entretanto, como cristãos, temos que ter discernimento em nosso relacionamento com as autoridades humanas. Há momentos em que o certo é deixar de lado nossos próprios privilégios e há momentos em que utilizar a nossa cidadania é a coisa certa. Paulo estava disposto a sofrer pessoalmente em Filipos (At 16.16-24), mas não estava disposto a “fugir da cidade” como um criminoso (At 16.35-40). Quando foi preso sob falsas acusações, Paulo usou sua cidadania para proteger-se (At 22.22-29) e insistiu em um julgamento justo perante César (At 25.1-12).253

251 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (847). Wheaton, IL: Victor Books. 252 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (145–146). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 253 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

111

CCoonncclluussããoo:: Nosso texto se baseia na suposição de que você está em sujeição a

Deus e quer agradá-Lo. Pedro não está promovendo o moralismo, mas, submissão ao senhorio de Jesus Cristo. Ele está nos mostrando como a submissão se desenvolve em nossa relação com as autoridades. Portanto, antes de acertar com o governo, você tem que se acertar com Deus, arrependendo-se de seus pecados e confiando em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Seu relacionamento com Cristo provê a base para a submissão adequada em relação ao governo.

Sir Frederick Catherwood, um membro cristão do Parlamento Europeu, declarou: “Tentar melhorar a sociedade não é mundanismo, mas amor. Lavar as mãos para a sociedade não é amor, mas mundanismo”.254 Cidadãos cristãos devem ser bons cidadãos. A principal forma de fazer isso é através da submissão ao governo humano.

254 Christianity Today [4/19/85], 1-5.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

112

UUmmAA vviiddaa eexxeemmppllaarr nnoo ttrraabbaallhhoo

[estudo 13 – 1pedro 2.18-25] Hoje a cultura pós-moderna parece se apegar apenas a obrigação

moral básica, o sagrado dever de proporcionar igualdade de direitos a todos. Ninguém mais fala de sacrifícios apenas de direitos, como direitos étnicos, reprodutivos, direitos dos imigrantes, direitos homossexuais e direitos no local de trabalho.255 Se você é pai, certamente, já ouviu seus filhos reclamarem: “Mas isso não é justo!” E você, provavelmente, respondeu: “A vida não é justa!” Nascemos com um forte senso interior de justiça e um forte desejo de lutar por nossos direitos.

Neste parágrafo, o apóstolo Pedro se aproxima de um exemplo particular de submissão que era comum no primeiro século: a escravidão.256 Pedro exorta aos seus leitores sobre o fato de que o cristianismo não dá direito ao cristão de rebelar-se contra seus superiores. Quando tratados injustamente por superiores na estrutura social, devemos suportar em submissão e confiar em Deus, o justo Juiz.

I. A ordem para submissão

“Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso” (1Pe 2.18).

A palavra “servos” (oiketes, em grego) refere-se a empregados domésticos. Porém, eles não eram apenas empregados domésticos; eles eram tratados como escravos. Eles eram tratados como objetos, como propriedade de seus respectivos senhores (cf. At 10.7).

Para os primeiros leitores de Pedro, esta era uma exortação muito relevante. Os historiadores acreditam que a porcentagem total de escravos na sociedade romana na época de Pedro, era constituída entre 25 a 40 por cento da população.257 Os romanos adquiriram a maioria de seus escravos como despojos de guerra. Além disso, os filhos de escravos tornavam-se automaticamente “propriedade” de seus senhores. As pessoas poderiam até mesmo vender-se como escravo para quitar dívidas ou outras obrigações.

255 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (155). Chicago: Moody Publishers. 256 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 180). Grand Rapids, MI: Zondervan. 257 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 181). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

113

“sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor...” (v. 18) – A ordem básica de Pedro para eles é “sejam submissos” (cf. 1Tm 6.1-2; Tt 2.9). A submissão dos servos deveria ser feita com todo o temor. Isto é, sem amargura ou negatividade, mas com uma atitude graciosa de honra.

No entanto, Pedro desafiou os escravos cristãos a um novo comportamento que exigia deles submissão também aos senhores perversos. “... não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso” (v. 18) – A palavra “bom” (agathois, em grego) significa “bom, agradável, amável, alegre, feliz”. Já o termo “cordato” (epieikesin) refere-se a “aquele que é atencioso, razoável e justo”. Portanto, bom e cordato descrevem um bondoso e misericordioso senhor, o tipo de mestre para quem é fácil de submeter.258

“... mas também ao perverso” (v. 18) – No entanto, Pedro desafiou os

escravos cristãos a um novo comportamento que exigia que eles se submetessem e respeitasse até mesmo aqueles que são perversos. A palavra “perverso” (skolios, em grego), literalmente, significa “curvado, dobrado ou torto”. A palavra é utilizada na terminologia médica para descrever uma condição distorcida da coluna vertebral. O termo “escoliose” refere-se à curvatura da coluna.259

Desta forma, Pedro exorta os servos cristãos a se submeter aos seus mestres, mesmo àqueles que são ásperos e irracionais. Na verdade, essa é uma ordem difícil de praticar. Mas a exortação de Pedro faz sentido quando conectada à nossa vocação de brilhar como reflexo do caráter de Cristo em um mundo sombrio e sem Deus.260 Todo sevo cristão deve reconhecer que não trabalha, principalmente, para os homens, na verdade, trabalha para Deus.

O comentarista Howard Hendricks conta a história de quando estava em um avião que aguardava na pista para decolar. Os passageiros estavam cada vez mais impacientes. Um homem irritado descontou toda a sua frustração na aeromoça. Mas ela respondeu graciosamente, apesar do abuso.

Depois que eles finalmente decolaram e as coisas se acalmaram, Dr. Hendricks chamou a aeromoça ao lado e disse: “Eu preciso do seu nome completo para escrever uma carta de recomendação ao seu empregador.” Porém, Dr. Hendricks ficou surpreso com a resposta da aeromoça: “Obrigada, senhor, mas eu não trabalho para American Airlines. Eu trabalho para o meu Senhor Jesus Cristo”. Ela passou a explicar que, antes de cada voo, ela e o esposo oravam juntos, para que fosse uma representante de Cristo em seu trabalho. Ela procurava agradar a Deus em primeiro lugar.

258 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 159–160). Chicago: Moody Publishers. 259 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books. 260 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

114

II. O motivo para a submissão

“porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.19-21).

“porque isto é grato...” (v. 19) – Quando o servo se submete ao seu

senhor, apesar do tratamento injusto “encontra graça diante de Deus”. A linguagem de Pedro, aqui reflete a ensinamento de Jesus em Lucas 6.32-35. Quando oferecemos o bem àqueles que nos dirige o mal, somos recompensados por Deus. A ideia é que Deus dá graça (mesma palavra grega como “crédito” e “favor”) aos humildes. Assim, “... por motivo de sua consciência para com Deus” (v. 19) – Deus se agrada quando os crentes fazem o seu trabalho de maneira humilde e submissa (cf. 1Sm 15.22, 26.3; Sl 36.10; Tg 1.25).261 É a submissão respeitosa ao sofrimento imerecido que encontra graça diante de Deus, porque tal comportamento demonstra Sua graça.262

“Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o

suportais com paciência?” (v. 20) – Aqueles que suportam pacientemente tal sofrimento encontram o favor ou graça de Deus (cf. 3.14, 4.14, 16; Mt 5.11-12; 1Co 4.11-13; 2Co 12.9-10; Tg 1.12). Quando sofremos injustamente nas mãos de um ditador cruel ou um patrão injusto e arrogante, participamos do próprio ministério de sofrimento injusto de Cristo. Ele sofreu em nosso favor. Ele sofreu em nome de incrédulos.263 De forma semelhante, os cristãos são chamados a seguir a Cristo e imitar o Seu caráter e conduta.

“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também

Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (v. 21) – Cristo sofreu em nosso favor. Seu sofrimento injusto garantiu a nossa salvação no sentido substitutivo. Da mesma forma, mas não totalmente análoga, o nosso sofrimento injusto pode levar à salvação de pessoas perdidas, se veem o caráter de Cristo em nós quando sofremos. A atitude de lutar por nossos direitos comunica ao mundo que estamos vivendo para as coisas deste mundo. Se você está sendo tratado

261 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 161). Chicago: Moody Publishers. 262 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books. 263 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

115

injustamente, pode ser uma excelente oportunidade para testemunhar de Cristo.

“... deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (v. 21) – A palavra “exemplo” (hupogrammos, em grego) significa subescrever.264 Professores traçavam ou pontilhavam as letras do alfabeto para que os alunos pudessem escrever sobre elas para aprender a escrever. Ou, como em nossos dias, os professores colocam exemplos do alfabeto na sala para que os alunos possam olhar e copiar o modelo. Cristo é esse tipo de exemplo. Jesus Cristo é o modelo que os cristãos devem seguir no sofrimento com perfeita paciência.

Além do mais, Jesus provou que uma pessoa pode estar no centro da vontade de Deus, ser muito amado por Deus e ainda sofrer injustamente. Lamentavelmente, há uma marca superficial da teologia popular hoje que afirma que os cristãos não vão sofrer se estiverem diante da vontade de Deus. Todavia, Warren Wiersbe estava certo quando escreveu: “Aqueles que promovem tais ideias precisam meditar um pouco mais sobre a Cruz”.265

“... para seguirdes os seus passos” (v. 21) – A expressão “Seus

passos” retrata uma criança pisando nas pegadas do pai na areia. Da mesma maneira, devemos seguir o nosso Salvador. Pedro diz que somos chamados para a mesma finalidade. Se as pegadas de nosso Mestre o levaram a cruz onde Ele sofreu injustamente, podemos esperar o mesmo tratamento injusto por parte dos homens. Devemos trilhar o mesmo caminho que Jesus andou, em suma, ser semelhante a Cristo.266 Não significa que Cristo sofreu apenas como um exemplo (1.18), mas nos deixou o Seu exemplo (1Jo 2.6).267 Muitas pessoas nunca leem a Bíblia, mas leem nossas vidas.

III. O modelo de submissão

“o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1Pe 2.22-23).

Quando Jesus foi injustiçado, Ele não pagou na mesma moeda. Ele

poderia ter chamado legiões de anjos para destruir Seus inimigos, afinal, Ele é o Senhor do universo! Mas Ele não fez. Ele sempre agiu desinteressadamente, mesmo quando confrontado por Seus acusadores.

264 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 265 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books. 266 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader. Grand Rapids: Eerdmans. 267 Robertson, A. T. (1933). Word Pictures in the New Testament. Nashville, TN: Broadman Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

116

Enquanto jamais seremos tão altruístas como Jesus, é uma meta que devemos nos esforçar.

“pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando

maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (v. 23) – Pedro cita Isaías 53 para mostrar como Jesus não revidou quando injustiçado. Existem quatro coisas mencionadas que precisamos ter em mente quando somos tratados de forma injusta.

Em primeiro lugar, Jesus não cometeu pecado. Ele sempre agiu em obediência ao Pai, nunca em vontade própria.

Em segundo lugar, nunca houve engano na Sua boca. Ele não torceu os fatos para ganhar o argumento ou obter o Seu próprio caminho. Quando Se defendeu, Ele sempre foi verdadeiro.

Em terceiro lugar, quando foi injuriado, Ele não revidou. Ele não trocou insultos. Os sacerdotes e anciãos acusaram Jesus de muitas coisas, mas Ele não retrucou (Mt 27.12-14).

Em quarto lugar, Ele não proferiu ameaças. Em outras palavras, Jesus não respondeu às agressões verbais com mais agressões verbais. Nem devemos. A vingança é sempre errada para o cristão (Rm 12.19).

O imaculado Cordeiro de Deus foi um cordeiro, tanto na inculpabilidade quanto no silêncio. O profeta Isaías fala sobre isso: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7). Todos os tormentos na cruz só tiraram de Cristo: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23.34).268

“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos

pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (v. 24) – Jesus fez isso por meio da cruz continuamente confiando ao Pai que julga retamente. Ele não morreu como mártir. A cruz não foi um acidente. Sua crucificação não foi o resultado da traição de Judas. Na verdade, a expressão “Ele mesmo” salienta que o Filho de Deus Se entregou voluntariamente (Jo 10.15, 17-18) e morreu como o único sacrifício suficiente pelos pecados de todos os eleitos (cf. Jo 1.29, 3.16; 1Tm 2.5-6, 4.10; Hb 2.9, 17).269 O próprio nome Jesus indica que Ele “salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21).

A palavra “carregar” (anapherō, em grego) significa levar, conduzir. Neste caso, o peso do pecado. O pecado é tão pesado que Paulo declarou: “Toda a criação geme e suporta angústias até agora”. (Rm 8.22). Só Jesus pode remover um peso tão grande na vida dos eleitos (Hb 9.28).

Ele sabia que seria justificado e ressuscitado dentre os mortos e entronizado à direita da Majestade do Altíssimo. Ele sabia que Seus perseguidores seriam julgados e tratados de acordo com os seus pecados.

268 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter (p. 125). Wheaton, IL: Crossway Books. 269 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 170). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

117

Então, Ele “se entregou” (confiou) a Deus. É a mesma palavra usada em referência a Jesus quando foi entregue a Pilatos pelos judeus e aos soldados (Jo 19.11, 16). Eles o entregaram à morte, mas “Ele mesmo” se entregou por nossos pecados, confiando a Sua vida ao Pai.

“... por suas chagas, fostes sarados” (v. 24) – Alguns erroneamente

aplicam a palavra “cura” para a cura física. Mas é evidente que essa interpretação não está no contexto (Nem aqui nem em Isaías 53.5). A preposição “por” é explicativa, Pedro está explicando melhor o que acabou dizer com a cura realizada pela morte de Cristo. Ele foi ferido para que pudéssemos ser curados. Ele morreu para que pudéssemos viver. Nós morremos com Ele, e, portanto, estamos “mortos para o pecado” (Rm 6), para que pudéssemos “viver para a justiça”.270

Durante as Guerras Napoleônicas, os homens eram recrutados pelo Exército francês por um sistema de sorteio. O nome sorteado teria que ir para a batalha. Em uma ocasião, as autoridades chegaram a certo homem e disseram que o nome dele havia sido escolhido. Mas ele se recusou a ir, dizendo: “Eu estou morto há dois anos”. No início, eles questionaram sua sanidade, mas ele insistiu que realmente estava morto há dois anos. Ele alegou que os registros comprovariam que ele havia sido escolhido há dois anos e que havia sido morto em batalha. “Como pode ser isso?” Eles questionaram. “Você está vivo”. Ele explicou que ao ser escolhido pela primeira vez, um amigo próximo disse a ele: “Você tem uma família grande, mas eu não sou casado e não tenho nenhum dependente. Eu vou em seu lugar”. O caso foi encaminhado ao próprio Napoleão, que chegou a seguinte conclusão: “O país não tem nenhum direito legal sobre esse homem. Ele está livre, porque outro homem havia morrido em seu lugar”.

Entretanto, ninguém sofreu injustamente como Cristo. O único homem perfeito que já viveu e foi mal interpretado pelos ouvintes, caluniado pelos inimigos, abandonado pela família, traído pelos amigos, abandonado pelos discípulos, torturado pelos guardas e executada pelos políticos. O único na história, com todo o direito de apresentar uma queixa permaneceu em silêncio. Ele fez tudo isso não para Si mesmo, mas por nós (2.24). Morrer em nosso lugar na cruz, o justo pelos injustos, Ele curou as nossas almas para que pudéssemos viver uma nova vida de justiça (2.24).271

“Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos

convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma” (v. 25) – Cristo não somente deu o exemplo, mas Ele também dá orientação e proteção àqueles que estavam desgarrados.272

270 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books. 271 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI: Zondervan. 272 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

118

No Antigo Testamento, a ovelha morria para o pastor; mas no Calvário, o Pastor morreu pelas ovelhas (Jo 10). Todo pecador perdido é como uma ovelha desviada: perdida, errante, em perigo, longe do local de segurança e incapaz de ajudar a si mesmo. O pastor sai para procurar a ovelha perdida (Lc 15.1-7).273 Na verdade, Ele morreu pelas ovelhas!

“... agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa

alma” (v. 25) – Que bela imagem, especialmente para os escravos a quem Pedro estava escrevendo, que estavam sendo maltratados por seus senhores terrenos! Pedro diz que eles estão sob os cuidados do Bom Pastor. As palavras “pastor” e “bispo” (episkopos, em grego) mais tarde serão aplicados aos líderes da igreja (1Pe 5.1-2; At 20.28). Jesus, o Bom Pastor, preserva e cuida de Suas ovelhas. No sofrimento, Ele se tornou exemplo, substituto, e, principalmente, o Seu pastor.274 É o Pastor que morreu pelas suas ovelhas (Sl 22), o Pastor que vive para Suas ovelhas (Sl 23) e o Supremo Pastor que voltará para buscar Suas ovelhas (Sl 24).

CCoonncclluussããoo:: Certa mãe de três crianças foi a um conselheiro em busca de ajuda. No

decorrer da sessão ele perguntou: “Qual dos seus três filhos você mais ama?” Ela respondeu imediatamente: “Eu amo todos os meus três filhos da mesma forma”. A resposta foi rápida e simplista para o conselheiro. “Bem, seja sincera, você ama os três da mesma forma?” Sim, ela afirmou. “Eu amo todos da mesma forma”. O conselheiro então disse: “Isso é psicologicamente impossível. Se você não está disposta a cooperar comigo, teremos que acabar com a sessão”.

Diante disso, a mãe começou a chorar e disse: “Tudo bem, eu não amo todas as crianças da mesma forma. Quando uma delas está doente, eu amo mais aquela criança. Quando uma das crianças está com dor, eu amo mais aquela criança. Quando uma das minhas crianças está triste, eu amo mais aquela criança. Exceto esses momentos, eu amo todas as três crianças da mesma forma”.

A cruz diz que Deus ama especialmente aqueles que estão sofrendo - aqueles que estão debaixo do poder e das consequências do pecado. Se você crer no que Jesus Cristo fez por você ao levar a sua justa penalidade do pecado na cruz, Ele te livrará da penalidade do pecado e do seu poder. Ele deseja ser o Seu Pastor e Bispo. Ele ama você exatamente como você é, mas Ele te ama demais para deixá-lo dessa forma. Ele quer curá-lo dos efeitos devastadores do pecado. Jesus Cristo, verdadeiramente, é o Seu Pastor?

273 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books. 274 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 174). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

119

UUmmAA vviiddaa eexxeemmppllaarr nnoo llaarr

[estudo 14 – 1pedro 3.1-7] Algo estranho acontece em nossa sociedade, nunca tivemos tantos

livros publicados sobre casamento, e ao mesmo tempo, nunca tivemos tantos problemas conjugais. Além disso, é triste dizer, mas essa situação também alcançou os lares cristãos.

O fato de que um homem e uma mulher frequentam uma igreja, não lhes dá garantias de que o casamento será bem sucedido. Dizer “sim, eu prometo!” no dia do casamento é muito fácil e exige apenas alguns segundos. Porém, cumprir as promessas é trabalho para uma vida inteira. A felicidade conjugal não acontece de maneira automática. E quando um dos cônjuges não é cristão, pode tornar as coisas ainda mais difíceis.275 O sucesso não é automático é necessário muito trabalho.

Depois de apresentar o dever do cristão em manter um testemunho exemplar na sociedade (2.13-17) e no local de trabalho (2.18-25), Pedro expõe o dever dos crentes em testemunhar na própria família (1Pe 3.1-7). Embora, o apóstolo invista seis versículos sobre a responsabilidade da esposa e a apenas um versículo sobre o papel do marido, isso não significa desequilíbrio ou machismo. Pelo contrário, isso simplesmente demonstra a preocupação do apóstolo Pedro.

Na cultura greco-romana do primeiro século, as mulheres recebiam pouco ou nenhum respeito. Enquanto viviam na casa de seu pai, elas estavam sujeitas ao direito romano de patria potestas (“o poder do pai”), que concedia aos pais autoridade máxima, na vida e morte sobre os filhos. Os maridos tinham um tipo similar de autoridade legal sobre suas esposas. A Sociedade considerava as mulheres como meros servos que deveriam ficar em casa e obedecer a seus maridos.276 Se uma mulher decidisse obedecer ao evangelho, isso poderia acarretar em grande perseguição por parte do seu marido não salvo.

Assim, Pedro desafia os seus leitores a um novo comportamento como mulheres submissas e maridos atenciosos. Para um casamento bem-sucedido precisamos conhecer e praticar nossas responsabilidades.

275 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.18). Wheaton, IL: Victor Books. 276 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (176–177). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

120

I. A responsabilidade da esposa

“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa” (1Pe 3.1-7).

Uma vida piedosa é um testemunho mais poderoso do que palavras.

Isso não significa que o testemunho verbal não seja importante. No momento apropriado, as palavras são essenciais para comunicar o conteúdo do evangelho. Mas o objetivo do apóstolo Pedro é mostrar que maridos incrédulos são mais propensos à salvação por uma conduta piedosa do que pela pregação de suas esposas.277

O apóstolo Paulo em Gálatas declara que: “... Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.27–28). Todavia, Deus ordenou que as mulheres tivessem certos deveres para com seus maridos, e o apóstolo Pedro identifica como submissão, fidelidade e modéstia.

A. Ela deve ser submissa e fiel

“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor” (1Pe 3.1-2).

“Mulheres, sede vós, igualmente...” (v. 1) – Pedro começa com a

expressão “igualmente” (homoios, em grego).278 Este conjuntivo imediatamente nos remete à discussão anterior de Pedro, uma vez que nos leva a perguntar: “Igualmente o quê?” A pergunta mais apropriada deveria ser “Igualmente a quem?” Não deveria nos surpreender que o contexto imediato apresente o exemplo da fidelidade de Cristo ao plano e propósito de Deus (1Pe 2.21-25).279 Assim como Jesus foi submisso e obediente à vontade de Deus, então o marido e a esposa cristãos devem seguir o seu exemplo.

“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio

marido...” (v. 1) – Duas vezes neste parágrafo Pedro lembrou às esposas cristãs a necessidade de submissão (1Pe 3.1, 5). O apóstolo Paulo também ensinou que as esposas devem se submeter à liderança de seus maridos (Ef 5.22-23; Cl 3.18, Tt 2.4-5). Submissão (hupotasso, em grego) não implica inferioridade moral, intelectual ou espiritual na família, no trabalho ou na

277 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (176–177). Chicago: Moody Publishers. 278 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (372). Nashville, TN: T. Nelson. 279 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (185–186). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

121

sociedade em geral. Mas é o projeto de Deus para as funções necessárias para o bem-estar da humanidade.

A palavra submissão tem sua origem na palavra grega hupotasso (hupo, “sob”; tasso, “alinhar”, “colocar em ordem”, “organizar”), que, no sentido militar, significa “classificar abaixo”.280 Como cristãos, não devemos nos comparar uns com os outros. A mentalidade de toda a vida cristã quando nos relacionamos uns com os outros é de humildade e submissão.

Como disse John MacArthur: “Um comandante não é necessariamente superior em caráter às tropas sob seu comando, mas a sua autoridade é vital para o bom funcionamento da unidade”.281

“... para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem

palavra alguma...” (v. 2) – O propósito da submissão, como tudo na vida, é glorificar a Deus (1Co 10.31). Uma bela atitude, graciosa e submissa é a ferramenta evangelística mais eficaz que as esposas crentes possuem (Pv 31.26; Mt 5.16; Fp 2.15; Tt 2.3-5).

As esposas devem se submeter em tudo. Você pode perguntar, “Em tudo?” Sim! Há apenas uma exceção. Se o marido pedir para a esposa fazer algo contrário à Palavra de Deus, então a esposa deve dizer o que Pedro disse: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). Mas, fora isso, tudo!

“... ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor” (v.

2) – O termo “honesto” (hagnos, em grego) pode ser traduzido como “pura” ou “casta” (BEARC). É utilizado no Novo Testamento para se referir à abstenção do pecado (1Tm 5.22). João usa esta palavra ao declarar que os crentes devem ser puros como Jesus é puro (1Jo 3.3). Isto significa que uma mulher que deseja ganhar seu marido para Cristo deve viver em obediência a Deus. Ela é alguém moralmente pura.

Além disso, uma mulher piedosa é alguém cheia do “temor de Deus”, consciente de que Ele vê tudo o que acontece (“aos olhos de Deus”, 3.4). Para viver no temor de Deus significa reconhecer Sua santidade e ira contra todo o pecado e, portanto, viver em obediência, mesmo quando a vida é difícil.

Entretanto, nada irá conduzir um homem para mais longe do Senhor do que uma esposa irritante. Salomão disse há quase 3.000 anos, e ainda é verdade hoje: “Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa” (Pv 21.9). E, “... e um gotejar contínuo, as contenções da esposa.” (Pv 19.13b). Uma esposa irritante é capaz de levar qualquer marido à indignação, mas não levá-lo a Cristo.

280 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W. (1996). Vol. 2: Vine's Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson. 281 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (178). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

122

B. Ela deve ser modesta

“Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma” (1Pe 3.1-6).

“Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos...” (v. 3) – É interessante que a palavra traduzida como “adorno” (é kosmos, em grego) no grego, e a palavra que deu origem ao termo “cosmético”. As mulheres romanas gostavam de moda, e competiam entre si nas roupas e penteados. Era muito comum encontrar em Roma, mulheres com penteados elaborados, cravejados de ouro e prata.282 Elas usavam roupas elaboradas e caras, todos com o objetivo de chamar a atenção.

No entanto, Pedro não está proibindo o uso adequado de cosméticos, joias ou penteados. Na verdade, mulheres que usam cosméticos de forma adequada e de bom gosto não são “do mundo”.283 O objetivo de Pedro é que a ênfase deve estar nas qualidades internas e não externas. É exatamente isso que ele diz no verso a seguir, observe:

“seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível

trajo de um espírito manso e tranquilo...” (v. 4) – O versículo começa com a conjunção adversativa “porém”. Pedro contrasta às atitudes internas do coração (kardia, em grego) com os adornos externos do corpo (kosmos). Embora a origem deste adorno seja invisível, manifesta-se em palavras e ações externas. Então, Pedro contrasta kosmos com kardia, o externo com o interno, o superficial com a virtude.284 Podem-se levar apenas algumas horas para se preparar para uma noite elegante, mas é preciso uma vida inteira para construir um caráter elegante.

“... trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor

diante de Deus...” (v. 4) – Pedro diz que esse espírito é precioso aos olhos de Deus. Aqui está a beleza que nunca se deteriora, ao contrário do corpo adornado. A palavra “manso”, também, significa “terno” e “humilde” e “tranquilo” descreve o caráter de sua ação e reação ao marido e à vida em geral. Isso é valioso para Deus! Sem dúvida alguma, é também precioso aos olhos do marido!

282 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.1). Wheaton, IL: Victor Books. 283 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (187). Grand Rapids, MI: Zondervan. 284 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (187–188). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

123

Um jovem oficial que ficou cego durante uma guerra conheceu e mais tarde se casou com uma das enfermeiras que cuidou dele no hospital. Um dia ele ouviu alguém dizer: “Sorte dela que ele é cego, por que se ele pudesse ver não se casaria com ela”. Ele caminhou em direção à voz e disse: “Eu ouvi o que você falou, e agradeço a Deus pela cegueira dos olhos que podem me impedir de ver o valor maravilhoso da alma desta mulher que é a minha esposa. Ela é a pessoa mais nobre que eu já conheci...”. A beleza exterior se desbota, mas a beleza interior se torna mais forte ao longo do tempo.

“Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as

santas mulheres que esperavam em Deus...” (v. 5) – Pedro também apontou para Sara como um modelo para as esposas cristãs. Sara não era perfeita, mas provou ser uma boa companheira para Abraão, e ela é uma das poucas mulheres nomeadas em Hebreus 11.285 “Outrora” (dias do Antigo Testamento) muitas mulheres crentes “santas mulheres” apresentam estes princípios de submissão (Rt 3.11; Pv 31.10-31).286

“que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos

tornastes filhas...” (v. 6) – O termo “chamar” (kalousa, em grego) é um particípio presente, o que indica uma atitude contínua de respeito de Sara para com o seu marido Abraão. Além disso, assim como todos os santos são filhos de Abraão (Rm 4.1-16; Gl 3.7-29). Da mesma forma, todas as esposas crentes que seguem o exemplo de submissão de Sara tornam-se, nesse sentido, suas filhas. 287

Ou seja, ela o reconhecia como o líder e chefe de sua família (Gn 18.12). Como outras santas mulheres do passado, Sara colocou a sua esperança em Deus. Este tipo de conduta dá às mulheres a herança espiritual de Sara: “... da qual vós vos tornastes filhas praticando o bem e não temendo perturbação alguma” (v. 6) – O termo “temer” (ptoēsin, em grego) é uma palavra forte que significa “assustador” é utilizada apenas aqui em todo o Novo Testamento. Esposas que têm medo (talvez por causa da desobediência a seus maridos) não estão colocando toda a sua confiança em Deus.

Assim, uma esposa cristã que deseja a conversão do seu esposo e acima de tudo, que o nome de Deus seja glorificado em sua casa, vive piedosamente de tal forma, que o seu cônjuge tenha interesse em conhecer o Deus que ela serve.

285 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.1). Wheaton, IL: Victor Books. 286 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (180). Chicago: Moody Publishers. 287 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (180–181). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

124

II. A responsabilidade do marido

“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1Pe 3.7).

A submissão também é responsabilidade do marido. “Maridos, vós, igualmente...” (v. 7). A palavra “igualmente” se refere ao dever de submissão (2.13, 18, 3.1). Desta vez é o marido crente que se submete em servir sua esposa. Embora não deva se submeter a sua esposa como líder, o marido deve submeter-se ao dever amoroso de ser sensível às necessidades, temores e sentimentos de sua esposa. Pedro menciona três maneiras básicas: Consideração, cavalheirismo e companheirismo.

A. Consideração

“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar...” (1Pe 3.7a).

A palavra “comum” (sunoikountes, em grego) significa “habitar juntos”

e refere-se viver com alguém no mesmo lar.288 Alguém pode dizer: “Eu faço isso! Eu e minha esposa vivemos no mesmo endereço; partilhamos a mesma cama e tomamos muitas refeições juntos”. Mas a palavra grega significa mais do que apenas compartilhar um quarto. Ela é usada somente aqui no Novo Testamento, mas no Antigo Testamento aparecem várias vezes para se referir à relação sexual no casamento. Pedro usa para se referir ao aspecto da união.

Desta forma, o marido deve constantemente nutrir e amar sua esposa no vínculo da intimidade. Ele deve prover suas necessidades físicas, materiais e emocionais (1Tm 5.8). O apóstolo Paulo escreveu: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama” (Ef 5.25-28; Pv 5.18-19; 1Co 7.3-5).

Certa ocasião, um homem fez um voto secreto de tentar ser mais amoroso, sincero e mais presente na vida de sua esposa. Assim, ele programou duas semanas de férias com a família. Ele trabalhou duro para suprir todas as necessidades de sua esposa. Foi ótimo! No final do passeio, ele fez uma nova promessa de continuar amando a esposa da mesma forma.

Mas na última noite das férias, a esposa estava chateada. Finalmente, ela desabafou: “Querido, você está escondendo alguma coisa?” “O que você

288 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (180). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

125

quer dizer com isso?”, ele perguntou. “Bem, há algumas semanas eu fiz um exame... o nosso médico lhe disse alguma coisa? Querido, você tem sido tão bom para mim... eu estou morrendo?” Então, o esposo sorriu, tomou-a nos braços e disse: “Não, querida, você não está morrendo, eu é que estou começando a viver”.

“... como parte mais frágil, tratai-a com dignidade...” (1Pe 3.7b) –

Um marido crente também deve ser um cavalheiro. Ele reconhece que sua esposa é mais frágil. O marido deve tratar a esposa como um vaso caro, bonito e frágil, como um tesouro precioso.289 A palavra “frágil” não quer dizer que as mulheres sejam inferiores aos homens (Gl 3.28). Significa apenas que as mulheres geralmente possuem menos força física do que os homens.290 Com isso em mente, os maridos cristãos são os provedores e protetores de suas esposas (1Sm 1.4-5; Ef 5.23, 25-26; Cl 3.19; 1Tm 5.8), sejam elas esposas crentes ou não.

Um marido pode não concordar com sua esposa e ainda respeitar e honrá-la. Como o líder espiritual em casa, o marido deve, por vezes, tomar decisões que não são agradáveis, mas deve agir com cortesia e respeito.291 Nenhum médico em sã consciência toma um delicado e preciso instrumento cirúrgico para bater em um martelo. Pelo contrário, ele cuida e trata com muito carinho.

O comentarista bíblico Warren Wiersbe acertadamente declarou: “O marido deve ser o ‘termostato’ em casa, ajustar a temperatura emocional e espiritual. A mulher muitas vezes é o ‘termômetro’, deixando-o saber o nível da temperatura! Ambos são necessários”.292

Uma parte importante de honrar a esposa envolve a forma como o esposo fala com ela e sobre ela. Além disso, se o casal tem filhos, é dever do esposo se certificar de que está honrando a esposa no seu papel de mãe. Todo marido deve ser como o esposo da mulher virtuosa (Pv 31.10-31).

B. Companheirismo

“... tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1Pe 3.7).

Em terceiro lugar, o marido deve ser um companheiro para sua

esposa. Pedro diz que os dois são “herdeiros da mesma graça de vida”. Aqui não se refere à salvação, mas ao casamento – a melhor relação que a vida

289 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor Books. 290 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182). Chicago: Moody Publishers. 291 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor Books. 292 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

126

terrena pode oferecer. Pedro nomeia o casamento como “graça da vida”, porque a graça (charis) significa “favor imerecido” (Rm 1.5; 3.24, 5.15, 17, 12.3, 15.15; 2Co 8.1; 9.8; Gl 2.9; Ef 2.7; 3.2, 7; 4.7, 4.29; 2Tm 1.9; Hb 4.16; Tg 4.6). O casamento é uma providência divina dada ao homem, independentemente da sua atitude para com o doador.293

“... para que não se interrompam as vossas orações” (v. 7) – Ao

invés de terminar o assunto dizendo: “todos viverão felizes para sempre” ou “louvado seja Deus”, Pedro conclui de forma surpreendente. Pedro chama a atenção para algo que muitas vezes esquecemos: há sempre uma correlação entre seu relacionamento com sua esposa e seu relacionamento com Deus (Mt 5.23-24; 6.14-15). Se você não quer nenhum obstáculo em sua vida de oração, então aprenda a honrar sua esposa.

A oração está no centro da vida, uma vez que é a nossa ligação com o Deus vivo. Nenhuma ameaça divina mais grave poderia ser dada a um crente do que essa, a interrupção de todas as orações (Jo 14.13-14). 294 No entanto, infelizmente, muitos casais cristãos nunca oram juntos.

Matthew Henry estava certo quando escreveu: “Todos os casais devem ter o cuidado de se comportar com tanto carinho e pacificamente um com o outro para não atrapalhar, com suas brigas, o sucesso de suas orações”.295

293 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182). Chicago: Moody Publishers. 294 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182–183). Chicago: Moody Publishers. 295 Henry, M. (1994). Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: Complete and unabridged in one volume (1Pe 3.1–7). Peabody: Hendrickson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

127

CCoonncclluussããoo:: Que lição maravilhosa: Esposo e esposa são “co-herdeiros” (1Pe 3.6).

Se a mulher mostra submissão e o marido consideração, e ambos se submetem a vontade de Cristo, o resultado será um casamento bem-sucedido. Caso contrário, todo esforço será em vão (Sl 127.1).

Depois de aprender lições preciosas sobre a vida conjugal, concordo com Warrem Wiersbe, todo casal deveria fazer uma avaliação, ocasionalmente, do seu casamento. Aqui estão algumas perguntas, com base no que Pedro escreveu:

1. Você é um parceiro ou um concorrente do seu cônjuge? 2. Você procura ajudar o seu cônjuge a se aproximar mais de Deus? 3. Você é sensível aos sentimentos e necessidades do seu cônjuge? 4. Você tem visto Deus responder suas orações? 5. Seus filhos sabem o quanto você ama o seu cônjuge? 296 As respostas honestas a essas perguntas podem fazer toda diferença!

296 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

128

OO sseeggrreeddoo ddee uummaa vviiddaa ffeelliizz

[estudo 15 – 1pedro 3.8-12] Qual é o segredo de uma vida feliz? Depois de dar instruções sobre

como devemos viver em relação aos gentios (2.11-12), às autoridades (2.13-17), aos empregadores (2.18-25) e na vida conjugal (3.1-7), Pedro agora apresenta um resumo das qualidades que os crentes devem expressar em seus relacionamentos a fim de desfrutarem de uma vida feliz (v. 10).

Enquanto estiverem neste mundo, os crentes não estão isentos de graves e variadas dificuldades que roubam a alegria (1Pe 1.6; 2.11). Aliás, a perseguição e o sofrimento acompanham a vida cristã. Isso não é algo estranho (2.20-21; 3.14-15, 17, 4.1, 12, 19, 5.10). Ainda assim, apesar do sofrimento, Pedro menciona os crentes como àqueles que “amam a vida e desejam viver dias felizes” (v. 10). Mas como isso é possível?

Uma vida feliz não está fundamentada nos bens, prestígio ou glória. O rei Salomão tinha poder e influência e, aparentemente, era um homem feliz. A Bíblia diz que ele possuía terras, palácios, carros e cavalos, ouro e prata, e desfrutava da presença de muitas mulheres. Em 2Crônicas está registrado que a rainha de Sabá ao visitar Salomão e observar sua imensa riqueza, poder e glória, ficou ofegante! (2Cr 9.3-6). No entanto, até o final de sua vida, Salomão não conseguiu experimentar a vida ao máximo. Em Eclesiastes, ele escreveu: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 2.17). Salomão percebeu que uma vida feliz não é encontrada em grandes realizações e muita educação (Ec 1.12-14, 16). Nem encontrada no prazer (Ec 2.3) ou bens materiais (Ec 2.4-11; 4.1-3).

Nesta passagem, Pedro cita o Salmo 34 e apresenta aos seus leitores o segredo de uma vida realmente feliz. Concordo com John MacArtur, em 1Pedro 3.8-12 existem, pelos menos, quatro áreas que os crentes devem praticar a fim de viverem dias felizes: uma atitude correta, uma resposta correta, um padrão correto e um incentivo correto.297

I. Uma atitude correta

“Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes” (1Pedro 3.8).

“Finalmente...” (v. 8) – O apóstolo conclui sua discussão sobre a

conduta do cristão em um mundo ímpio, que começou em 2.11. Pedro usa a

297 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (187). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

129

palavra “finalmente” (telos, em grego). Isso não significa o fim da carta, mas a conclusão da seção atual.298 Pedro menciona cinco características da vida que trazem a bênção de Deus e, consequentemente, uma vida feliz:

“sede todos de igual ânimo” (v. 8) – A expressão “de igual ânimo”

(homophrōn, em grego) literalmente significa “ter a mesma mente”. Isso não quer dizer que todos devem pensar e agir da mesma forma. Unidade não é o mesmo que uniformidade, onde todo mundo parece e funcionar exatamente da mesma forma. Pedro não está nos chamando para cantar em uníssono, mas em harmonia.299 Todos os cristãos devem manter a paz e a harmonia (Jo 13.35; Rm 12.16, 15.5; 1Co 1.10; FP 2.1-2).

Desentendimentos na igreja não são novidades. Nem todos possuem o mesmo pensamento “igual ânimo”. Todavia, devemos ter o mesmo objetivo, o Senhor Jesus Cristo (Fp 2.5). A igreja é o corpo de Cristo, e em Cristo e com o Seu poder, caminhamos acima das coisas que nos dividem. Em Cristo temos uma unidade que transcende questões secundárias. Podemos discordar de muitas coisas e ainda viver em harmonia uns com os outros, se mantivermos nosso foco no Senhor Jesus Cristo.

Embora este seja o único lugar na Bíblia onde a palavra (homophrōn) seja utilizada, ela é oriunda de uma família de palavras que são usadas frequentemente para designar a união ou harmonia do corpo de Cristo. Por exemplo, no livro de Atos, lemos: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1). A palavra traduzida como “reunidos” é homothumadón que aparece cerca de sete vezes somente no livro de Atos para descrever a unidade e a harmonia dos primeiros crentes que compunham a igreja.300

Deus chamou Seus filhos e filhas a viverem em harmonia com Ele e uns com os outros (Ef 4.13). Quando vivemos debaixo do senhorio de Jesus Cristo e estamos em sintonia com Ele, estamos em harmonia com nossos irmãos e irmãs em Cristo. Quando há desarmonia e desunião na igreja, o pecado está presente. A solução é espiritual!

“compadecidos” (v. 8) – A palavra grega traduzida como

“compadecidos” é sumpathés (“Sun”, com, “pascho”, sofrer) significa literalmente “sofrer com o outro”, a partir da qual obtemos a palavra “simpatia”, em português.301 Pedro nos instrui a sermos simpáticos ou compassivos uns para com os outros.

298 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (186). Chicago: Moody Publishers. 299 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan. 300 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (159). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 301 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (116–117). Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

130

O autor de Hebreus declara que o nosso Salvador se compadeceu de nossas fraquezas (Hb 4.15) e por isso devemos fazer o mesmo. Na verdade, todo crente deve ser sensível aos sofrimentos dos outros. Devemos nos alegrar com aqueles que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12.15). Simpatia é “a dor do outro em nosso coração”. Assim, não devemos ser insensíveis, indiferentes ou cínicos sobre o sofrimento que vemos na vida dos outros irmãos.

“fraternalmente amigos” (v. 8) – A palavra usada por Pedro

(philadelphos, em grego) é a mesma utilizada para “amor fraternal” em 1.22. Refere-se a uma amizade carinhosa ou um amor de irmão.302 Essa palavra aponta para o fato de que, como crentes, somos membros de uma mesma família. Philadelphos indica um senso de lealdade tão forte como as relações de uma família natural. Aqueles que demonstram esse carinho irão fazê-lo através do serviço desinteressado (At 20.35, Rm 14.19, 15.2, 2Co 11.9; Fp 4.14-16; 1Ts 5.11, 14; 3Jo 6).303 Esse serviço começa na igreja entre os fiéis e se estende para o mundo. Frequentemente uma oportunidade de ser fraterno para com outra pessoa abre a porta para o testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo.

“Misericordiosos” (v. 8) – A palavra “misericórdia” (eusplagchnoi, em

grego) refere-se aos órgãos internos e às vezes é traduzida como “entranha” ou “intestinos” (At 1.18). Afetos e emoções têm um impacto visceral, portanto, esta palavra significa um tipo poderoso de sentimento (2Co 7.15; 1Ts 2.8).304 Paulo usa este termo em Efésios: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef 4.32).

Pedro chama os cristãos a ter emoções profundas para com aqueles que estão sofrendo. A palavra mais tarde veio a significar coragem. Aqui está a conexão. É preciso coragem para cuidar e se envolver com as necessidades dos outros. A ideia é ter sentimentos profundos e uma preocupação genuína para com os outros.

“humildes” (v. 8) – O último fator na lista de Pedro aprecia a bondade

da vida cristã, humildade de espírito (tapeinophrones, em grego). A palavra “humildade” tem sua origem na raiz da palavra “amigo” (Filadélfia-Filos; philóphrōn, em grego) significa, literalmente, ser “amigável de mente” ou ser “cortês”.305 A humildade é sem dúvida a virtude mais essencial da vida cristã

302 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan. 303 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188). Chicago: Moody Publishers. 304 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188). Chicago: Moody Publishers. 305 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

131

(Mt 5.3; 18.4, Lc 14.11, 18.14; Ef 4.1-2; Cl 3.12; Tg 4.6; Sl 34.2; Pv 3.34, 15.33, 22.4).306

John MacArthur estava certo ao declarar: “A alegria da vida em Cristo é maximizado quando estamos unidos na verdade e na vida um com o outro, na disposição pacífica, misericordiosa para com aqueles que precisam do evangelho, sensíveis às dores dos pecadores caídos, sacrifício no serviço amoroso a todos, compassivos, em vez de aspereza, e acima de tudo humilde como o Salvador”.307 Assim, uma vida feliz está diretamente ligada a relacionamentos saudáveis.

II. Uma resposta correta

“não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3.9).

O versículo 9 nos dá uma aplicação muito específica das cinco ordens no versículo 8. Pedro aplica seus ensinamentos para situações em que foram maltratados por outros. Este versículo contém um mandamento negativo e outro positivo.

“Em primeiro lugar, “... Não pagando mal por mal...” (v. 9) – Um

relacionamento saudável não é marcado apenas por atitudes corretas, mas também, por respostas ou reações corretas, principalmente, quando somos ultrajados. A palavra “pagar” (apodidomi, em grego) significa devolver ou retribuir. O cristão não deve pagar na mesma moeda (cf. Lv 19.18; Dt 32.35-36; Pv 20.22; 24.29; Rm 12.19; Hb 10.30). Aa verdade, a vingança é uma resposta inaceitável para os crentes (Ef 4.29; Cl 3.8; Pv 4.24; 19.1; Ec 5.6).

“ou injúria por injúria...” – A tentação de responder “na mesma

moeda” deve ter sido muito grande para os crentes perseguidos, que foram os primeiros leitores desta epístola. Assim, Pedro adverte seus leitores a não revidar. A expressão “injúria por injúria” (loidoria, em grego) significa “ultrajar”, “xingar” ou “falar mal de alguém” (2.23). O apóstolo Paulo declarou: “Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (1Co 4.12-13). Mais adiante Paulo adverte aos crentes a não injuriar (6.10) ou se associar com aqueles que fazem (5.11).308

306 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188). Chicago: Moody Publishers. 307 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (189). Chicago: Moody Publishers. 308 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (190). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

132

Em segundo lugar, “bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados” (v. 9) – A palavra “bendizer” (eulogeo, eu: “Bem”, logos: a palavra) significa literalmente “falar bem de”, “elogiar” ou “exaltar”.309 O ponto do apóstolo Pedro é que o crente deve livremente conceder perdão a alguém que o tenha ofendido, uma vez que a ofensa é tão pequena em comparação com a grandeza de Deus e como Ele foi ofendido pelos nossos pecados. Os crentes receberam a bênção imerecida do perdão de uma dívida impagável (Jo 10.28; Rm 5.8-9; 6.23; Gl 1.4; Ef 1.7; Cl 1.14; 2.13-14; 1Ts 5.9; 1Jo 4.9-10), ao invés de vingança merecida pelo pecado.310

Seja sincero, ao ser insultado, como você reage? Quando você recebe uma carta ou um e-mail que te deixa indignado, você é rápido para escrever uma resposta com raiva? Quando alguém faz uma acusação falsa contra você, o que você faz? Você procura uma maneira de se vingar? Se assim for, você precisa ouvir o que Deus está dizendo através desta passagem.

O escritor britânico CS Lewis corretamente declarou: “Ser cristão significa perdoar o imperdoável, porque Deus perdoou o indesculpável em você”.

III. Um padrão correto

“Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (1Pe 3.10-11).

Você quer uma vida boa? Pedro proclama quatro orientações sobre

desfrutar da verdadeira felicidade. Em primeiro lugar, “refreie a língua do mal...” (v. 10) – A língua é

muitas vezes rebelde e propensa ao pecado: “Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno” (Tg 3.6; 1.26; 3.9-10; Sl 12.3; Pv 12.18; 15.2, 4).311

Warren Wiesrbe estava certo quando escreveu: “Muitos dos problemas da vida são causados pelas palavras erradas, proclamadas no espírito errado.312 Se não utilizarmos nossas palavras com muita cautela, nos tornarmos “incendiários espirituais”, capazes de causar uma destruição

309 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 310 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (191). Chicago: Moody Publishers. 311 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192). Chicago: Moody Publishers. 312 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

133

generalizada. Assim, todo cristão deveria ler Tiago 3 regularmente e fazer a mesma súplica do salmista: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).

Em segundo lugar, “... evite que os seus lábios falem dolosamente”

(v. 10) – Além de abster-se da retaliação verbal, os crentes devem controlar a sua língua, evitando fofocas, calúnias, linguagem crua, engano, exagero, e todos os tipos de maldade e loucura.313 Um falar autêntico e dirigido ao bem de todos significaria, em nosso mundo, uma revolução de imensas proporções.314 Não há lugar para a mentira na vida de alguém que diz amar a Deus. Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é abençoada pelas suas palavras?

Em terceiro lugar, “aparte-se do mal, pratique o que é bom... (v.

11) – Continuando sua citação do Salmo 34.14, Pedro continua sua exortação para uma vida santa. O verbo “apartar-se” (ekklinatō) denota uma intensa e forte rejeição do que é pecaminoso, neste contexto, o tratamento pecaminoso dos outros, mesmo aqueles que perseguem os santos (cf. Mt 5.44; Rm 12.14).315 Assim, a palavra “apartar” significa mais do que apenas “evitar alguma coisa”, significa abandonar porque você despreza e detesta.316 Ou seja, devemos evitar o mal, porque odiamos aquilo que é errado.

Em quarto lugar, “busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (v.

11) – Os verbos “buscar” e “empenhar” transmitem uma intensa e agressiva ação. Como um caçador que busca vigorosamente sua presa. O termo “paz” (eirēnēn, em grego) indica uma condição constante de tranquilidade que produz alegria e felicidade permanente (cf. Lc 2.14; 8.48; 19.38; Jo 14.27, 16.33, Rm 5.1; 8.6, 15.13; Gl 5.22; Fp 4.7; Cl 3.15; 2Ts 3.16). Os cristãos devem buscar a paz de forma intensa (cf. Rm 12.18; 14.19; 1Ts 5.13; 2Ts 3.16).317

No entanto, gostamos de discutir e brigar. Em vez de procurar e buscar a paz, muitas vezes buscamos a polêmica.318 Sejam por divergências doutrinárias pequenas ou pela cor do tapete, os cristãos podem rapidamente roubar uns aos outros a paz. Em vez disso, os servos do Príncipe da Paz (Is

313 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (196). Grand Rapids, MI: Zondervan. 314 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 189. 315 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192). Chicago: Moody Publishers. 316 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor Books. 317 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192–193). Chicago: Moody Publishers. 318 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (196). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

134

9.6) deveriam refletir a paz, tanto na igreja quanto no mundo. Jesus declarou: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9).

IV. Um incentivo correto

“Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males” (1Pedro 3.12).

Manter a paz não é algo fácil. Na verdade, às vezes, é necessário muito

esforço. Paulo declarou: “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18). Às vezes não é possível! Mas a verdade é que a paz não acontece automaticamente. É necessário muito esforço!

“Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos...” (v. 12) –

Alguém pode argumentar: “Mas se os inimigos nos ultrajarem?”. A frase “os olhos do Senhor” é muito comum no Antigo Testamento, significa uma vigilância especial e carinhosa de Deus sobre o Seu povo (Pv 5.21; Zc 4.10). Às vezes, a frase indica vigilância e julgamento de Deus (Am 9.8; Pv 15.3), mas aqui a ênfase está na sua consciência onisciente de todos os detalhes da vida dos crentes (cf. Sl 139.1-6.).319 Nada escapa aos olhos de Deus.

“e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas...” (v. 12) – A

palavra “súplica” (deēsin, em grego) significa “petição” ou “oração”, e refere-se aos crentes “clamando por Deus para suprir suas necessidades” (Sl 5.2; Mt 7.7; Fp 4.6; 1Jo 5.14-15).

A frase “os olhos” e “ouvidos do Senhor” são figuras de linguagem, antropomorfismos que atribuem características físicas humanas a Deus. Enfatizam a supervisão atenta de Deus e uma atenção especial às necessidades de seu povo (cf. 2.25).320 Deus está sempre e plenamente consciente de tudo na vida de Seus filhos.321 É maravilhoso saber que o Senhor está sempre observando e pronto para ouvir e responder nossas orações (1Pe 4.7; Sl 50.15; 65; 2; 138.3; Rm 8.26; Hb 4.16). Como declarou o comentarista K. S. Wuest, “Deus está mais desejoso em responder do que nós em receber uma resposta”.322

Aqueles que fazem o bem não tem nenhuma razão para temer, porque Deus recompensará sua justiça e punirá qualquer um que caluniar ou

319 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (193). Chicago: Moody Publishers. 320 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books. 321 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (193–194). Chicago: Moody Publishers. 322 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader. Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

135

oprimir os crentes, não importa como!323 Podemos confiar em Deus para nos proteger e sustentar, pois somente Ele pode derrotar os nossos inimigos (Rm 12.17-21).

“mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”

(v. 12) – Em contraste com os olhos do Senhor, Pedro diz que “o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”. Isto significa que o Senhor está atento para julgar a causa do Seu povo (cf. Gn 19.13; Lm 4.16). Sua face, neste contexto, representa a manifestação da Sua ira contra os que fazem o mal e os que desobedecem a Sua Palavra (cf. Sl 76.6-8; Ap 6.16).

Pedro citou estas declarações do Salmo 34.12-15, por isso seria de grande proveito ler todo o Salmo. No Salmo 34, Davi declara que a vida do crente não está livre de temores, “livrou-me de todos os meus temores” (Sl 34.4), problemas (Sl 34.6, 17), aflições (Sl 34.19), e até mesmo um coração quebrantado (Sl 34.18). Ou seja, uma vida feliz não é ausência de dificuldades, mas a certeza da presença de Deus em todas as situações. , por causa dos problemas da vida e provações:

“Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem” (Sl 34.6-9).

CCoonncclluussããoo::

Você deseja dias felizes? Então você deve praticar o que está escrito em 1Pedro 3.8-10. Pedro cita o Salmo 34, que diz que se alguém ama a vida e deseja dias bons, então deve cuidar atentamente de suas palavras, ações e reações diante das perseguições. Então, a Escritura promete que a bênção de Deus estará sobre nós (3.12). Se não vivermos assim, o contrário é verdadeiro: A face do Senhor estará contra nós.

Em certa ocasião, a primeira dama dos Estados Unidos, Barbara Bush falou no início do semestre na Wellesley College. Ela disse:

“Tão importante quanto possam ser suas obrigações como médico, advogado ou líder de negócios, seu relacionamento com seu cônjuge, seus filhos e seus amigos são os investimentos mais importantes que você fará. No fim de sua vida, você não lamentará por não ter feito um exame clínico, nem por não ter obtido sucesso em uma causa jurídica, e nem por não ter conseguido fechar certo negócio,

323 Michaels, J. R. (1998). 1Peter (Vol. 49, p. 182). Dallas: Word, Incorporated.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

136

mas lamentará não ter passado mais tempo com seu cônjuge, seus filhos e seus amigos. O nosso sucesso na sociedade não depende do que acontece na Casa Branca, mas sobre tudo no que acontece dentro de sua casa”.324

Ela estava certa! Relacionamentos saudáveis é a essência de uma vida

feliz. Eles são essenciais se queremos glorificar a Deus e desfrutar de Suas bênçãos. Não conheço nenhuma outra parte da Escritura que seja melhor para nossos relacionamentos do que 1Pedro 3.8-12. Por isso, você faria muito bem, se gravasse em seu coração e aplicasse em seus relacionamentos. Essa é a única maneira de ter uma vida realmente feliz!

Aplique essas palavras em seu coração. Você vai ser um canal de bênção para os outros, e você vai herdar uma bênção de Deus. Amém.

324 Reader's Digest [1/91], p. 157-158.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

137

OO TTeesstteemmuunnhhoo ccrriissttããoo

[estudo 16 – 1pedro 3.13-17] Charles Earl Bowles (1829-1888), mais conhecido como Black Bart,

era um ladrão profissional cujo nome aterrorizava os passageiros da linha férrea de San Francisco a Nova York nos Estados Unidos. Entre 1875 e 1883, ele cometeu 29 assaltos em diferentes vagões. Surpreendentemente, Black Bart fez tudo isso sem disparar um tiro se quer. Ele apenas utilizava um capuz para cobrir o rosto. Quando foi preso, Black Bart declarou que não havia necessidade de utilizar armas, ele usava o medo para paralisar suas vítimas. “O medo, o rosto do desconhecido, era a minha arma, a minha arma de intimidação”. Sua presença sinistra e as ameaças eram o suficiente para superar o mais difícil guarda.

De forma semelhante, vivemos em um mundo marcado pelo medo constante. O crescimento da violência, o perigo nas estradas, a ameaça de guerras, terrorismo e o risco de bombas nucleares, biológicas ou químicas. Como se não bastasse, sofremos também com a perseguição contra a igreja, entre eles, a influência de partidários contrários aos ensinamentos bíblicos, que fazem um grande alarde. Tudo isso é capaz de perturbar a nossa alma.

Mas, louvado seja Deus, seja qual for à situação temerosa a que venhamos enfrentar, nosso mestre nunca muda. Como cristãos, somos confrontados com as crises e tentados a ceder a nossos medos e tomar as decisões erradas. É por isso que Pedro declara aos leitores que sofriam com as perseguições: “... Não tenham medo de ninguém, nem fiquem preocupados” (v. 14, NTLH). Pedro encoraja aos seus leitores com o fato de que a resposta certa aos sofrimentos imerecidos resulta em bênçãos.325 Desta maneira, podemos testemunhar em um mundo hostil de forma respeitosa e no poder de Cristo.

I. O lugar onde somos chamados a testemunhar

“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?” (1Pedro 3.13).

“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?” (v. 13) – Citando o Salmo 34, Pedro lembra aos crentes sobre a necessidade de se buscar a paz. Se formos zelosos no que é bom, em geral, não seremos perseguidos. É o mesmo princípio registrado em Provérbios:

325 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

138

“Sendo o caminho dos homens agradável ao SENHOR, este reconcilia com eles os seus inimigos” (Pv 16.7).

Isso não é uma promessa sem exceção, mas uma máxima que geralmente é verdade. Uma vida correta é mais pacífica do que uma vida má. É incomum as pessoas tratarem mal aqueles que se dedicam a fazer o bem. Por exemplo, se você pagar suas dívidas, normalmente você vai ficar financeiramente equilibrado. Se você permanecer sexualmente puro, geralmente você vai evitar decepção e ciúme. Se você se comportar com humildade e paz, na maioria das vezes você evitará inimigos. Assim, em geral, o conselho de Pedro para uma vida sábia redundará em benefícios.326

Mas é provável que Pedro esteja dizendo muito mais do que isso. Jesus declarou aos doze: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28). Como Pedro aponta (3.16, 17), se mantemos uma boa consciência quando caluniados, um dia nossos inimigos serão envergonhados. Hoje, podemos até sofrer, mas seremos recompensados na eternidade. Da mesma forma, aqueles que nos perseguem sentirão o peso das mãos do Senhor.

“... se fordes zelosos do que é bom?” (v. 13) – Se Deus está do lado

dos justos e contra os que fazem o mal, o que pode acontecer com aqueles que fazem o bem? (Sl 56.4, 91.7-10, 118.6; Is 50.9; Mt 10.28-31; Lc 12.4-7; 21.18; Rm 8.31). O adjetivo zeloso (mimetes, em grego) significa imitador ou seguidor (1Co 4.16, 11.1; Ef 5.1; Hb 6.12).327 A frase refere-se simplesmente aos seguidores ávidos ou devotos do que é bom.328 A palavra “zelosos” é a tradução de uma palavra grega que significa “fanáticos”. O verbo significa “arder em zelo, desejar ardentemente”.329

Como veremos, Cristo é o Senhor e ainda podemos confiar nele e não temer a hostilidade. Na realidade, o mundo é contrário a Cristo e se somos identificados com Cristo, há sempre a possibilidade de que o mundo seja hostil conosco (Jo 15.18-20). Mas Deus nos deixou aqui para dar testemunho da Sua misericórdia para com aqueles que estão em guerra contra Ele. Como é que vamos fazê-lo fielmente?

326 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 197). Grand Rapids, MI: Zondervan. 327 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 328 Michaels, J. R. (1998). 1Peter (Vol. 49, p. 185). Dallas: Word, Incorporated. 329 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader. Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

139

II. A prática do nosso testemunho

“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe 3.14-15).

Pedro prepara a igreja, não simplesmente para suportar a

perseguição, mas para encontrar na perseguição uma oportunidade para testemunhar.330 Pedro diz que podemos realmente “sofrer por causa da justiça” (3.14). Pedro fornece aos seus leitores quatro conselhos sobre como responder, como cristãos, as perseguições de um mundo hostil.

Em primeiro lugar, considere-se abençoado por Deus: “Mas,

ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois” (3.14a) – Quando você recebe um tratamento injusto. Esta não é a resposta que poderia esperar. Quando experimentamos um tratamento injusto, poderíamos pensar, “o que eu fiz de errado?” Ou, “será que Deus viu minhas boas obras?” Pedro tem uma abordagem semelhante de Tiago: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1.2).

Como os crentes podem se considerar “bem-aventurados” no sofrimento? Primeiro, eles são abençoados, porque Deus usa esse tipo de tratamento injusto, como parte de seu plano para fortalecê-los e torna-los mais semelhantes a Cristo (ver 2.21-3.09).331 Um tratamento injusto indica que estamos no centro da vontade de Deus. Em segundo lugar, somos abençoados porque podemos olhar para frente e pela fé contemplar uma recompensa futura por suportar tais provações. Jesus disse: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.10). Certamente, ao escrever esta carta, Pedro, se lembrara das palavras do Senhor.

A palavra “bem-aventurados” (makarioi, em grego, Cf. 4.14) é utilizado nas bem-aventuranças em Mateus 5 e Lucas 6, é especialmente frequente no Evangelho de Lucas, e encontrada sete vezes no Apocalipse (1.3, 14.13, 16.15, 19.9, 20.6, 22.7, 14).332 Significa “abençoado, feliz”.333 Os cristãos não devem ter medo do que os homens podem fazer (cf. Mt 10.28). Consequentemente 1Pedro 3.14 conclui com uma citação de Isaías 8.12 que,

330 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: the way of the cross (p. 145–146). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 331 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 198). Grand Rapids, MI: Zondervan. 332 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 333 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

140

no contexto, é uma exortação para temer a Deus mais do que aos homens.334 Os cristãos devem trocar o medo dos homens pelo temor ao Senhor.

A segunda resposta ao tratamento hostil é abster-se do medo:

“Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados” (3.14b) – O verbo grego para “amedronteis” (phobos, em grego) deu origem à palavra “fobia” em português. Isso implica fugir ou evitar alguma coisa.335 Pedro escreveu aos cristãos para não se intimidarem diante das perseguições (cf. Sl 118.6; Pv 29.25; Mt 10.28; Lc 12.4-5; At 4.23-30). Além disso, eles não deveriam ficar “alarmados”. A palavra “alarmados” (tarasso, em grego) significa agitar, sacudir (algo, pelo movimento de suas partes para lá e para cá). Jesus usou a mesma palavra no Evangelho de João, quando disse aos discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1).

Os crentes devem enfrentar todas as circunstâncias com coragem (cf. Js 1.7, 9; 10.25; 2Sm 10.12; 1Cr 28.10, 20; Ed 10.4; Sl 31.24; Mc 6.50; 1Co 16.13). O sofrimento deve ser visto como uma oportunidade de receber as bênçãos espirituais, e não como uma desculpa para comprometer a fé diante de um mundo hostil.336 Os crentes cujas mentes estão postas nas coisas do alto (Cl 3.2-3) se alegrarão quando forem submetidos aos sofrimentos. Assim como o rei Josafá (2Cr 20.12), os nossos olhos devem estar postos em Deus, principalmente quando não sabemos o que fazer.

Essa perspectiva eterna foi capaz de sustentar o apóstolo Paulo em meio aos sofrimentos temporários que marcaram seu ministério. Como ele lembrou aos Coríntios, o mundo e seus sofrimentos atuais estão passando (1Co 7.31). As coisas que vemos são temporais. Elas estão sujeitas ao fim. São todas perecíveis. Elas acabarão um dia (2Co 4.16-18). O sofrimento não dura a vida inteira. Um dia suas lágrimas serão enxugadas pelas mãos misericordiosas do Senhor Deus (Ap 21.4). A dor não vai durar a vida inteira. Depois de uma noite sombria nasce uma manhã dourada (Sl 30.5).

A terceira resposta ao tratamento injusto é estar pronto para dar

uma defesa: “estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (3.15 b) – O termo “defesa” é a palavra grega apologia, que significa “dar conta” ou fornecer testemunho legal.337 Em português à palavra “apologética” deriva desse termo. Pedro diz aos seus leitores que eles deveriam estar prontos para dar a razão da esperança que temos em Cristo. Ele é a nossa fonte de esperança

334 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books. 335 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 336 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 199). Chicago: Moody Publishers. 337 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

141

em tempos dolorosos. Jesus sozinho fornece uma base sólida para esperança em meio ao sofrimento.338

À medida que compartilhamos o evangelho gentilmente, sem brigas, silenciosamente devemos pedir a Deus que nos conceda o arrependimento e que conduza nosso ofensor ao conhecimento da verdade (2Tm 2.24-25). Para a fé cristã, um forte ataque é a melhor defesa, aliás, é a única defesa. Cristãos defendem a sua fé, proclamando o evangelho, declarando a realidade da ressurreição de Jesus Cristo no plano e poder de Deus.339

Finalmente, Pedro exorta os crentes a responder a um

tratamento injusto, mantendo uma boa consciência: “fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (3.16) – No entanto, apesar do ódio ou desprezo, o cristão apresenta a sua esperança, humildemente proclamando obra e palavra de Deus. Pedro declara que o testemunho do crente não deve ser administrado de forma arrogante, mas com mansidão e respeito.

Os cristãos que sofrem injustamente e mantêm a consciência limpa envergonham os que difamam o bom comportamento em Cristo. Mais uma vez, Pedro encorajou os seus leitores com o fato de que o bom comportamento é a sua melhor defesa contra a punição injusta e perseguição.340

Uma consciência impura, no entanto, não pode ser confortável (cf. Gn 42.21; 2Sm 24.10; At 2.37) e é incapaz de suportar o estresse proveniente de provações difíceis e perseguições. Os crentes devem ser capazes de concordar com o apóstolo Paulo, que declarou: “Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16; cf 2Co 1.12).341

Inscrita no monumento de Martin Lutero em Worms, Alemanha estão as suas palavras corajosas pronunciadas perante o conselho da igreja em 18 de abril de 1521: “Minha consciência está cativa à Palavra de Deus: não posso agir de outra maneira. Que Deus me ajude. Amém!”342

Certa baronesa cristã que vivia em Nairobi, no Quênia, possuía um jovem empregado como secretário. Depois de três meses, ele pediu à baronesa que lhe concedesse uma carta de referência para trabalhar no palácio de um sheik amigável que residia há alguns quilômetros de distância. A baronesa, não querendo que perder o empregado, ofereceu aumentar o seu salário. O jovem respondeu que não estava saindo por causa do salário.

338 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 199). Grand Rapids, MI: Zondervan. 339 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: the way of the cross (p. 149–150). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press. 340 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books. 341 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 204). Chicago: Moody Publishers. 342 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

142

Em vez disso, ele decidiu que se tornaria um cristão ou muçulmano. Foi por isso que ele aceitou o emprego para trabalhar com a baronesa por três meses. Ele queria ver como os cristãos agiam. Agora, ele queria trabalhar por três meses com o sheik para observar o comportamento dos muçulmanos. A baronesa ficou surpresa ao lembrar-se de suas muitas falhas em lidar com o jovem empregado ao longo dos últimos três meses. Ela só pôde exclamar: “Por que você não me disse antes!”343

As pessoas que não conhecem a Cristo estão observando nosso comportamento, mesmo quando o realizamos de maneira eficaz. Se formos zelosos no que é bom, especialmente quando somos maltratados, é um poderoso testemunho.

III. O poder para testemunhar vem do Senhor Jesus Cristo.

“antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo” (1Pedro 5.14).

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração...” (v. 15) – A palavra “santificar” (hagiazo, em grego) significa “separado para Deus”.344 Santificar significa tornar santo ou separado. É a mesma palavra usada na oração do Senhor, quando Jesus disse: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9).

Quando Cristo é o Senhor e Deus sobre todos os aspectos de nossa vida, não precisamos temer a oposição dos inimigos.345 Quando Jesus Cristo é o Senhor de nossa vida, cada crise torna-se uma oportunidade para testemunhar.346

Pedro exorta aos seus leitores a santificar o Messias, o Senhor Jesus, como o Senhor, verdadeiro Deus, em seus corações, dando o primeiro lugar a Ele em obediência de vida. A palavra “Senhor” (kurios, em grego) também tem a ideia de “mestre”. Assim, a segunda Pessoa da Trindade deve ser o dono e senhor de suas vidas. Ele deve ser o recurso e defensor em meio à perseguição.347

Para entender este versículo, devemos perceber que Pedro está citando Isaías 8.12-13:

343 “Our Daily Bread,” [Dec.-Feb., '82-'83]) of a Christian. 344 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude (Vol. 34, p. 164). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 345 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 199). Grand Rapids, MI: Zondervan. 346 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books. 347 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader. Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

143

“Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por temível. Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto” (Is 8.12-13).

Nesse contexto, o infiel rei Acaz de Judá havia se aliado com a Assíria

para evitar uma invasão de Israel e a Síria. Isaías e o remanescente fiel estavam sendo acusados de conspiração porque se opuseram a esta aliança ímpia. Contudo, o Senhor os incentiva a não temerem os inimigos, mas sim, deveriam temer apenas o Senhor dos Exércitos e considerá-lo como santo (“santificai”).

É interessante observar a mudança feita pelo apóstolo Pedro ao citar Isaías 8. Ele muda a expressão “O Senhor dos Exércitos” para o “Senhor Jesus Cristo”, mostrando, assim, que Jesus Cristo é divino e que Ele é o Senhor dos Exércitos em Isaías. Deste modo, se Jesus Cristo é o Senhor dos exércitos, podemos confiar nEle para triunfar diante dos sofrimentos (Mt 11.2-6.).

Se os inimigos perseguiram e crucificaram a Jesus em Sua primeira vinda, o mundo poder fazer o mesmo com aqueles que seguem a Cristo. Mas somos chamados a suportar e testemunhar, mesmo em face da hostilidade, através do nosso bom comportamento e palavras atenciosas, em submissão ao Seu senhorio, sabendo que Ele vai voltar em poder e glória para esmagar toda a oposição e reinar em justiça por toda a eternidade.

CCoonncclluussããoo:: O escritor Tom Eisenman conta uma história comovente que mostra

que todos podem ser testemunhas eficazes neste mundo hostil. Davi era um pré-adolescente, um menino grande para sua idade, mas um coração inteiramente voltado para Jesus. Na escola, ele estava confeccionando uma mesa de café para sua mãe como presente de Natal. Ele terminou poucos dias antes do Natal, e deixou-a em uma sala da escola para não levar para casa e estragar a surpresa. No último dia de aula antes das férias, Davi foi pegar a mesa. Ele ficou chocado ao descobrir que alguém havia roubado a pequena mesa.

Davi tinha vários amigos. Não demorou muito para descobrir quem havia roubado sua mesa. Era um menino mais novo, impopular e “aparentemente” fraco. Davi facilmente poderia confrontá-lo. Em vez disso, ele passou as férias na oficina de artes da escola fazendo outra mesa de café. Quando havia terminado, ele foi até a casa do outro garoto. Quando o jovem menino abriu a porta e viu Davi, ele ficou petrificado. Davi disse, “Eu gostaria

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

144

de dar algo a você e a sua família neste Natal”. Ele, então, entregou-a mesa que havia preparado.

O menino mais novo caiu em prantos. Em seguida, pediu perdão, e Davi concedeu. Dentro de algumas semanas o menino estava participando das programações dos adolescentes na igreja onde Davi congregava e, eventualmente, tornou-se um cristão.

Você tem examinado sua própria vida? Você é zeloso em boas ações, mesmo quando é maltratado? Você é capaz de fazer uma defesa do evangelho? Você teme o Senhor Jesus Cristo acima de todas as coisas? Caso contrário, faça os ajustes necessários. Mude o que precisa ser mudado. Então, Deus vai usá-lo poderosamente como testemunha neste mundo hostil.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

145

OO SSaallvvaaddoorr rreeiinnaa

[estudo 17 – 1pedro 3.18-22] Uma das lições que os seminaristas aprendem durante as aulas de

homilética (a arte de pregar) é a seguinte: se uma ilustração necessita de explicação, então, o melhor é escolher outra. O objetivo da ilustração é deixar algo bem claro, não torná-lo mais confuso.

Embora o Espírito Santo tenha usado o apóstolo Pedro para escrever esta epístola, humanamente falando, seria excelente se o apóstolo tivesse seguido princípio acima. Em 1Pe 3.18-22, o apóstolo utiliza uma ilustração (a vida do Senhor Jesus) para aplicar os versículos anteriores (3.13-17). Ou seja, somos chamados a testemunhar em um mundo hostil, mas podemos confiar em Deus para nos sustentar. Nosso grande exemplo é Jesus Cristo.

No entanto, a maioria dos comentaristas reconhece que estes são alguns dos versículos mais difíceis do Novo Testamento para interpretar. Por exemplo, o reformador Martinho Lutero declarou “que esta seja talvez a passagem mais obscura do Novo Testamento” e admitiu “que não sabia ao certo exatamente o que Pedro queria dizer”.348

Assim, enquanto o tema geral de Pedro seja claro, o exemplo de Cristo diante das perseguições sua longanimidade, os detalhes são complexos. Porém, podemos resumir esses versículos (3.18-22) em quatro lições sobre a vida do Senhor Jesus: Cristo reina sobre o pecado, sobre a morte, sobre o inferno e sobre tudo.

I. Cristo reina sobre o pecado.

“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1Pedro 3.18).

Em primeiro lugar, Pedro declara que através de Sua morte e ressurreição, o Senhor Jesus venceu o pecado.

A. Uma morte penal.

“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados”... (v.

18) – Pedro declara que Cristo morreu pelos pecados, isso quer dizer que a morte de Jesus não foi algo natural. Na verdade, foi uma morte penal. Ele foi condenado à morte por nossos pecados. Cristo “não cometeu pecado” (2.22).

348 Commentary on the Epistles of Peter and Jude [Kregel], p. 168.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

146

Ele nunca teve um único pensamento, palavra ou ação que desagradasse a Deus, pelo contrário, Seu comportamento em todos os aspectos, foi perfeitamente santo (Is 53.11; Lc 1.35; 2Co 5.21; Hb 4.15, 7.26; Jo 5.30; Hb 1.9).

O pecado causou a morte de Cristo. Este é o exemplo supremo de sofrimento por causa da justiça (v. 18). Ele voluntariamente suportou em nome dos pecadores (Is 53.4-6, 8-12; Mt 26.26-28; Jo 1.29, 10.11, 15; Rm 5.8-11, 8.32; 1Co 15.3; 2Co 5.15, 18-19; Gl 1.4; Ef 2.13-16; Cl 1.20-22; 1Ts 1.10; 1Tm 2.5-6; Hb 2.9, 17, 7.27, 9.12, 24-28, 10.10, 13.12; 1Jo 1.7, 2.2, 4.10; Ap 1.5; 5.9).

Ele foi condenado à morte pelos nossos pecados porque éramos inimigos de Deus (Rm 5.1). Em 2Cotínrtios, Paulo declarou: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21).

B. Uma morte eficaz.

“uma única vez, pelos pecados...” (v. 8) – A frase “uma única vez”

(hapax, em grego) significa “validade permanente, não necessitando de repetição” (Hb 6.4, 9.28, 10.2; Jd 3).349

Para os judeus que estavam acostumados com o sistema sacrificial, esse era um conceito novo. Para expiar o pecado, era necessária a morte de animais. Mas a morte sacrificial de Jesus Cristo foi cabal (Hb 1.3; 7.26-27, 9.24-28, 10.10-12).350

C. Uma morte vicária.

“o justo pelos injustos...” (v. 8) – Cristo é nosso exemplo no

sofrimento, mas Ele é mais do que o nosso exemplo. Ele é o único justo ou reto.

Nenhum de nós, quando sofremos, podemos verdadeiramente dizer: “Eu sou uma boa pessoa! Eu não sou um assassino ou bandido! Por que eu deveria sofrer quando pessoas perversas desfrutam de uma boa vida?”.

Mas o nosso problema é que comparamos com o padrão errado! Se desejarmos fazer alguma comparação, então, devemos fazer com o padrão absoluto da justiça de Deus, Jesus! Assim, veremos que a única coisa que merecemos é a condenação eterna!

349 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 350 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 207). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

147

“... para conduzir-vos a Deus...” (v. 8) – Quando Cristo morreu o véu do santuário foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51). Agora, simbolicamente, o caminho para Deus está aberto. O Santo dos Santos celestial, o “trono da graça” (Hb 4.16), está disponível a todos os verdadeiros crentes. Jon MacArthur estava certo ao declarar, “Como sacerdotes reais (2.9), todos os crentes são recebidos na presença de Deus (Hb 4.16; 10.19-22)”.351

O termo “conduzir” (prosago, em grego) significa “levar, abrir um caminho de acesso, de alguém para Deus”.352 Nos tribunais antigos, certos funcionários controlavam o acesso ao rei. Eles verificaram se a pessoa estava pronta para ver o governante e, em seguida, conduzia essa pessoa até o monarca. Cristo agora executa essa função para os crentes (Hb 2.17-18, 3.1-2, 4.14-15, 5.4-6, 6.20, 7.17, 21-22, 25, 8.1-2, 6, 9.13-14; Sl 110.4).

II. Cristo reina sobre a morte.

“... morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão” (1Pe 3.18).

“... morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito...” (v. 18) –

Ainda que Cristo fosse condenado à morte no corpo (sarx, “carne”), Ele foi vivificado pelo Espírito. A palavra carne aqui se refere ao corpo físico de nosso Senhor. Pedro estava falando da morte física de nosso Senhor na cruz.

Alguns críticos têm contestado a ressurreição de Cristo dentre os mortos, afirmando que Ele nunca morreu. De acordo com esse raciocínio cético, Ele simplesmente desmaiou em um semicoma na cruz, foi revivido na frieza do sepulcro, desembrulhou-se e fugiu.353 Mas a frase não deixa dúvida de que Jesus, o seu corpo, morreu na cruz.

Uma prova de que Jesus realmente havia morrido na cruz foi o fato de que os soldados não se preocuparam em quebrar Suas pernas porque viram que Ele já estava morto (Jo 19.33). Além disso, um dos soldados furou o lado de Jesus com uma lança. No mesmo instante saiu sangue e água, sinal fisiológico de que estava morto (Jo 19.34).

“... mas vivificado no espírito...” (v. 18) – O termo “espírito”

(pneumati, em grego) pode ser uma referência a terceira pessoa da Trindade ou a o espírito humano de Cristo, em contraste com seu corpo humano (cf. 1Pe 4.6). Provavelmente, o contraste seja entre a carne e o espírito (Mt 26.41; Rm 1.3-4).354 O texto grego omite o artigo definido, o que sugere que

351 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 207). Chicago: Moody Publishers. 352 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 353 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 208). Chicago: Moody Publishers. 354 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.18). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

148

Pedro não estava se referindo ao Espírito Santo, mas que o Senhor estava espiritualmente vivo, contrastando a condição da carne de Cristo (corpo) com o Seu espírito.355

É verdade que o nosso Senhor foi ressuscitado dentre os mortos pelo poder do Espírito Santo, e que é ensinado por Paulo em Romanos 8.11. Mas Pedro não está ensinando que a verdade aqui. Ele mantém o contraste perfeito entre o corpo humano de nosso Senhor e de Seu espírito humano.356

O que Pedro está dizendo é que o Senhor Jesus triunfou sobre a morte, Ele triunfou sobre a sepultura e Sua ressurreição é a prova de que Deus, o Pai, aceitou a obra do Messias, o trabalho foi concluído. A palavra maravilhosa que Jesus pronunciou na cruz, “Tetelestai” ou “está consumado!” (Jo 19.30).

Isso significa que, por causa ressurreição de Cristo, nenhuma sepultura pode nos impedir de viver eternamente com Ele. Porque assim como Jesus ressuscitou dos mortos, todos aqueles que estão em união com Cristo vão ressuscitar dos mortos e viver com Ele eternamente. Essa é a segunda lição que Pedro deseja que seus leitores aprendam a verdade de que Jesus venceu o pecado e ressuscitou para que pudéssemos desfrutar das regiões celestiais.

III. Cristo reina sobre a pregação.

“no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão” (1Pedro 3.19).

Há pouco consenso entre os estudiosos quanto ao significado da

expressão “espíritos em prisão”. Ao longo da história da igreja surgiram várias interpretações desta passagem, porém, vamos abordar as quatro mais conhecidas.

Teólogo Interpretação

Clemente de Alexandria (200 AD)

Cristo foi ao inferno em seu espírito para proclamar a mensagem de salvação para as almas dos pecadores que haviam sido presos lá desde o tempo do dilúvio (Stromateis 6:6).

Agostinho (400 dC) O preexistente Cristo proclamou a salvação através de Noé para as pessoas que viveram antes do dilúvio (Epistolae 164).

355 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 208). Chicago: Moody Publishers. 356 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader (1Pe 3.18). Grand Rapids: Eerdmans.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

149

Cardeal Roberto Belarmino (1570), um teólogo católico romano.

O espírito de Cristo foi libertar as almas dos justos que se arrependeram antes do dilúvio e foram mantidos no limbo, o lugar entre o céu e o inferno, para onde foram mantidas as almas dos santos do Antigo Testamento (DeControversiis 2:4, 13).

Friedrich Spitta (1890)

Depois de Sua morte e antes de Sua ressurreição, Cristo pregou aos anjos caídos, também conhecido como “filhos de Deus”, que durante o tempo de Noé haviam se casado com as “filhas dos homens” (Gn 6.2, 2Pe 2.4 e Jd 6).

Entretanto, essas interpretações ignoram o contexto da passagem. Ao

ler 1Pe 3.18-22, estes versículos sugerem, pelos menos, três questionamentos:

1. Quem são os espíritos a quem Jesus pregou? 2. O que Jesus pregou? 3. Quando Jesus pregou?

1. Quem são os espíritos a quem Jesus pregou? “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais,

noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé” (v. 19-20) – Em outras palavras, que são “os espíritos que foram desobedientes nos dias de Noé”? O termo “espíritos” (pneumasin, em grego) é geralmente aplicado a seres sobrenaturais, mas também usado pelo menos uma vez para se referir a “espíritos” humanos (Hb 12.23).

Provavelmente, o apóstolo Pedro estava se referindo àqueles que foram desobedientes à pregação de Noé enquanto construía a Arca (Gn 6.3).357 Durante 120 anos, Noé proclamou a respeito do juízo de Deus (dilúvio), mas os rebeldes não deram ouvidos a sua voz, exceto Noé e sua família foram salvos (Gn 6.5-9). As pessoas rejeitaram sua pregação.

Assim, entendemos que o texto não trata de pessoas justas que rejeitaram a mensagem de Noé e foram para o Hades (lugar dos mortos), nem de anjos que foram aprisionados, mas simplesmente de pessoas que, “noutro tempo” (época de Noé), rejeitaram a pregação.

Esses “espíritos” são agora “na prisão” aguardando o julgamento final de Deus no fim dos tempos.358

357 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 851). Wheaton, IL: Victor Books. 358 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 851). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

150

2. O que Jesus pregou? “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão...” (v. 19) – Se

o apóstolo Pedro está se referindo a pregação de Noé, então, porque Pedro diz que foi Cristo que pregou aos espíritos? A expressão “no qual também...” não se refere ao lugar aonde Cristo foi depois da morte, mas onde Ele estava. Ou seja, espiritualmente, Cristo estava presente no tempo de Noé. Mais adiante, Pedro declara que Noé foi “um pregador da Justiça” (2Pe 2.5). No entanto, no capítulo primeiro, Pedro havia declarado também que o “espírito de Cristo estava presente nos profetas do Antigo Testamento” (1Pe 1.11).

O conteúdo da pregação do “espírito vivificado,” através de Noé, era a salvação do juízo de Deus que haveria de vir sobre o mundo ímpio. Porém, apenas oito pessoas foram salvas (1Pe 3.20).

3. Quando Jesus pregou? “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão...” (v. 19) –

Que prisão é essa que o apóstolo Pedro se refere? É o inferno? É o Hades? O que significa?

Antes de tudo, precisamos entender para onde o Senhor Jesus foi depois de sua morte. A Bíblia diz que ao morrer na cruz, Jesus foi se encontrar com o Pai: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Isto significa que o Senhor foi diretamente para o céu.

Além disso, quando questionado pelo ladrão à sua direita, que dizia: “Lembra-te de mim, quando entrares no teu reino,” Jesus respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). A palavra “paraíso” (paradeisos, em grego) é sinônimo de céu. Foi para lá que o apóstolo Paulo foi arrebatado (“terceiro céu”, 2Co 12.4).359 Ou seja, o lugar em que Jesus Cristo permaneceu após a sua morte e até a ressurreição, não foi o Hades (o lugar dos mortos), mas o céu, o lugar de bem-aventurança.

Esta interpretação parece se encaixar com o tema geral desta seção (1Pe 3.13-22) sobre uma boa resposta diante das perseguições. Noé é apresentado como um exemplo de alguém que se comprometeu com uma consciência limpa diante de Deus. Ele não temeu os homens, mas obedeceu a Deus e proclamou sua mensagem. A recompensa de Noé em manter uma consciência limpa em meio ao sofrimento injusto foi à salvação de si mesmo e sua família do dilúvio.360

Portanto, concordo perfeitamente com a opinião de Heber Carlos Campos quando diz: “A passagem de 1Pedro 3.18-20 não fala de uma viagem de final de semana de Jesus Cristo ao inferno, mas refere-se a uma pregação

359 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 360 Zuck, R. B. (1994). A Biblical Theology of the New Testament (electronic ed., p. 449–450). Chicago: Moody Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

151

feita pelo espírito de Cristo, que é o espírito vivificado, através de Noé (1Pe 1.11), aos seus contemporâneos (2Pe 2.5), que eram homens desobedientes e, portanto, aprisionados à sua natureza pecaminosa.361

O Ministério de Noé

“a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pedro 3.21).

Pedro utiliza a libertação de Noé e sua família do dilúvio como uma

representação (antitupos, em grego) ou analogia da salvação cristã por meio do batismo. Assim como Noé passou pelas águas do dilúvio para a salvação do juízo de Deus, de modo que os crentes passam pelo batismo na salvação do julgamento de Deus. Mas, antes de pular para conclusões equivocadas, Pedro esclarece, não é o ato de batismo que salva (“a remoção da imundícia da carne”), mas a indagação de uma boa consciência para com Deus.

O batismo é um testemunho externo do que a acontece internamente na vida do crente. A pessoa é salva no momento em que coloca a sua fé no Senhor Jesus. O batismo é o testemunho visível à sua fé e à salvação que foi dada em resposta a essa fé.

“mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por

meio da ressurreição de Jesus Cristo...” (v. 21) – O termo “indagação” (eperotema, em grego) é um termo técnico que era utilizado para fazer contratos.362 Para um cristão do primeiro século, o batismo significava que ele estava seguindo através de seu compromisso com Cristo, independentemente das consequências.

O batismo não salva do pecado. Pedro ensinou claramente que o batismo não era apenas um ato cerimonial de purificação física, mas um compromisso feito com Deus. O batismo é o símbolo do que já ocorreu no coração e na vida de alguém que confiou em Cristo como Salvador (cf. Rm 6.3-5; Gl 3.27; Cl 2.12).

361 CAMPOS, Heber Carlos. “Descendit ad inferna”: uma análise da expressão “desceu ao hades” no cristianismo histórico. In: Revista Fides Reformata, Vol. 4, 1999. 362 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

152

IV. Cristo reina sobre tudo.

“o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1Pedro 3.22).

Há uma quarta e última lição que Pedro nos ensina a respeito da vida

de Jesus Cristo. Por Sua crucificação, Ele reina sobre o pecado, pela Sua ressurreição, Ele reina sobre a morte, por sua proclamação, Ele reina sobre o inferno e por Sua ascensão, Ele reina sobre tudo.

“o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus...” (v. 22) –

Apesar de “ainda não vemos todas as coisas sujeitas a Ele” (Hb 2.8), sabemos que a vitória foi conquistada e é apenas uma questão de tempo para o resultado ser revelado. Como os anjos disseram aos discípulos que olhavam para cima, enquanto o Senhor Jesus ressuscitado subia ao céu: “e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11).

“... está à destra de Deus...” (v. 22) – A mão direita de Deus é o lugar

preeminente de honra e autoridade por toda a eternidade (Êx 15.6; Dt 33.2; Sl 16.11; 18.35, 45.4, 48.10, 89.13, 98.1, 118.15-16; Mt 26.64; 7.55-56; Cl 3.1; Hb 1.3; 8.1; Ap 5.7; cf Ap 2.1). Esse é o lugar onde Cristo foi depois que ele terminou Sua obra de redenção, e é aí que Ele governa até hoje.363

Se alguém zomba: “Se isso é verdade, então por que ele não vem volta mais cedo”? A resposta é: “Porque, assim como nos dias de Noé, Deus é paciente, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.3-10).

E Pedro está dizendo: “Eu quero que você olhe para cima e eu quero

que você olhe para além das estrelas, eu quero que você olhe para as partes mais distantes do próprio céu e lá você vai ver este trono resplandecente de glória e majestade e sentado em que trono, rodeado de anjos e arcanjos e querubins e serafins e os redimidos de Deus, é o Cordeiro de Deus, a Jesus, que foi crucificado, que foi condenado, que ressuscitou dentre os mortos, que ascendeu à mão direita do próprio Deus”.

Não é um pensamento maravilhoso? Aquele em quem confiamos, o único com quem temos união, é aquele que está assentado no próprio trono. Isso não é uma coisa gloriosa?

Enquanto preparava esse estudo, tomei conhecimento de que o Presidente do Egito Mohamed Morsi não suportou a pressão do exército e foi deposto. Morsi não possui mais o poder em suas mãos. Sua autoridade foi minada e o seu prestígio subjugado.

363 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 219). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

153

Entretanto, isso nunca vai acontecer com o Jesus. Ele está assentado à destra de Deus Pai e ninguém, nem mesmo Satanás é capaz de usurpar o seu trono. Ele reina para todo o sempre, amém!

CCoonncclluussããoo:: “Aquela água representava o batismo, que agora salva vocês. Esse

batismo não é lavar a sujeira do corpo, mas é o compromisso feito com Deus, o qual vem de uma consciência limpa. Essa salvação vem por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 3.21, NTLH).

O batismo não pode salvar ninguém, mas é um passo importante de obediência a Cristo, no qual nos identificamos publicamente com Ele em Sua morte e ressurreição. Foi importante o suficiente para que Jesus mencionasse como parte de sua Grande Comissão (Mt 28.19-20). Não nos atrevemos a negligenciá-lo.

Se você já foi batizado, não deixe que o pecado comprometa a sua nova vida. Publicamente testemunhe de sua fé em Cristo! Na verdade, sua conversão a Cristo é um assunto privado entre você e Seu Senhor. Mas uma vez que você assumiu um compromisso com Cristo, não esconda o seu relacionamento com Ele.

No momento em que foi concluída em 1937 na Califórnia, a Golden Gate Bridge era a maior ponte suspensa do mundo. Durante a primeira fase do projeto de US$ 77 milhões, 23 homens morreram ao cair nas águas da baía. Poucos dispositivos de segurança foram usados. Antes de começar a segunda etapa, foi decidido que algo tinha que ser feito. Os engenheiros elaboraram a maior rede de todos os tempos (um investimento de US$ 100.000). Valeu à pena? Pergunte aos 10 homens que caíram sem se ferir! A rede não apenas salvou dez vidas, mas, a obra foi concluída antes do programado, porque os trabalhadores se sentiam seguros e estavam aliviados do medo de cair.

Da mesma forma, todos aqueles que amam a Deus e obedecem aos Seus mandamentos podem viver a vida cristã livremente e com segurança, pois foram selados para este fim.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

154

AA mmoorrttee ppaarraa oo ppeeccaaddoo

[estudo 18 – 1pedro 4.1-6] Em todo o Novo Testamento, lemos sobre a vida transformada, que

segue a conversão genuína. Quando Deus, livre e plenamente, perdoa os pecados em nossa vida, quando a justiça de Cristo é creditada em nossa conta e o Espírito de Deus passa a habitar em nossos corações, as coisas velhas se passam e tudo se faz novo (2Co 5.17). Todavia, o processo de transformação é longo, envolve mudança de atitudes, motivações, hábitos e a escolha de verdadeiros amigos.

Nesta seção, Pedro nos lembra de que o mundo em que vivemos não é o nosso verdadeiro lar. Somos representantes de um reino diferente, nossa pátria está nos céus (Fp 3.20). E, assim como estrangeiros, podemos ser a única maneira das pessoas terem uma imagem do reino de Deus.364 Ou seja, pela maneira como vivemos, podemos atrair ou repelir as pessoas do lar celestial.

O verbo chave neste parágrafo é “Armai-vos” (hoplizo, em grego). Esse verbo é usado somente aqui no Novo Testamento. Significa “preparar”, por exemplo, as refeições, sacrifícios, barcos, lâmpadas ou, no caso de soldados, armas.365 Refere-se a um soldado que toma as armas em preparação para a batalha. Paulo usa o substantivo relacionado (Hoplon, em grego) para referir-se a “armadura” de luz (Rm 13.12), “armas” da justiça (2Co 6.7), e “armas” da batalha espiritual (2Co 10.4).366

Desta forma, no capítulo 4, o apóstolo Pedro motiva aos crentes a enfrentarem as perseguições e o sofrimento com quatro perspectivas.367 Os crentes se fortalecem na perseguição quando estão armados com uma compreensão da atitude de Cristo, a vontade de Deus, a conversão e a esperança da vida eterna.

364 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 211). Grand Rapids, MI: Zondervan. 365 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 366 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 211–212). Grand Rapids, MI: Zondervan. 367 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 223–224). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

155

I. A atitude de Cristo

“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado” (1Pedro 4.1).

“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento...” (v. 1) – A palavra “Ora” remonta a 3.18, onde está escrito: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1Pe 3.18). O objetivo de Pedro é claro, Cristo não nos enviou ao mundo como turistas em um parque de diversões, mas como soldados em uma excursão do dever em um campo de batalha. Nós não somos chamados para relaxar, apreciar a paisagem, e aguardar o nosso guia para nos levar para casa. Em vez disso, estamos envolvidos em um conflito feroz em solo estrangeiro. Precisamos nos armar com a armadura espiritual para resistir às tentações deste mundo (cf. Ef. 6.10-18).368 A cruz de Jesus Cristo é a prova definitiva de que o sofrimento pode levar à vitória sobre as forças do mal.

Se armar com Sua atitude, também significa compartilhar em seu sofrimento e morte. Cristo sofreu em seu corpo, e um crente sofre em seu corpo também. Por causa da morte de Cristo, “sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está justificado do pecado” (Rm 6.6-7).

Em 1Coríntios, Paulo resume dramaticamente a vitória dos crentes sobre o pecado e a morte, nos seguintes termos a respeito da ressurreição:

“E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.54-57).

Milhares de mártires ao longo da história da igreja estavam dispostos

a morrer (cf. Hb 11.13-16, 35-38), porque eles se armaram com o mesmo propósito de Jesus Cristo. Nosso Senhor veio à terra para lidar com o pecado e para conquistá-la para sempre. Ele lidou com a ignorância do pecado, ensinando a verdade e por vivê-la diante dos olhos dos homens. Ele lidou com as consequências do pecado por curar e perdoar, e, na cruz, Ele deu o golpe de misericórdia final para o pecado em si. Ele estava armado, por

368 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

156

assim dizer, com uma atitude militante em relação ao pecado, apesar de ter grande compaixão pelos pecadores perdidos.369

Nosso objetivo na vida é “deixar o pecado”. No entanto, sabemos que não vamos atingir esse objetivo até morrer ou quando o Senhor voltar, mas isso não deve nos impedir de lutar (1Jo 2.28-3.9). Pedro não disse que o sofrimento em si levaria uma pessoa a parar de pecar. Faraó no Egito passou por um grande sofrimento durante as pragas e pecou ainda mais!370 Cristo sofreu e passou pela morte, uma morte tão vil, para adquirir a nossa vida. Então, o que pode ser demais para suportar ou abandonar e segui-lo?371

Então, uma vez que Cristo morreu por nossos pecados de uma vez por todas (1Pe 3.18), todo crente deve se armar com a intenção de lutar contra o pecado, para viver a vontade de Deus, não para as paixões dos homens. Warren Wiersbe, acertadamente declarou: “Como podemos desfrutar de algo que fez Jesus sofrer e morrer na cruz? Se um criminoso cruel esfaqueasse seu filho até a morte, você preservaria a faca em uma caixa de vidro? Duvido. Você nunca desejaria ver a faca novamente”.372

Aqueles que compartilham esses sofrimentos são co-herdeiros da glória de Cristo. “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17). Se morrermos com Cristo, viveremos com Ele para sempre. O sofrimento de Cristo pelo nosso pecado deve nos motivar a viver em santidade.

II. A Vontade de Deus

“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1Pe 4.2).

Todo pecado é uma desobediência à vontade de Deus. Nesse sentido, todo o pecado é um ato de rebelião dos crentes contra Ele (cf. Sl 51.4).373 Em Romanos, o apóstolo Paulo declarou: “não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (cf. Rm 12.2; Ef 6.5-6; Cl 4.12). O pecado é uma expressão de desobediência (cf. Ne 9.26; 1Jo 3.4) e

369 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books. 370 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 852). Wheaton, IL: Victor Books. 371 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (p. 178). Wheaton, IL: Crossway Books. 372 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books. 373 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 226). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

157

uma recusa em fazer o que Deus ordenou (Sl 106.24-25; 107.11; Jr 22.21; 35.14b).

“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de

acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (v. 2) – Em certo sentido, todos os crentes têm em suas vidas um a.C e d.C - um antes de Cristo e depois de Cristo.374 O contraste é entre os desejos dos homens e a vontade de Deus. Se fizermos a vontade de Deus, então, vamos investir “o resto do nosso tempo”, em algo que é duradouro e satisfatório, mas se nos voltarmos para as paixões do mundo, vamos perder “o resto do nosso tempo” e se arrepender amargamente quando estivermos diante de Jesus.375

A palavra “paixão” (epithumia, em grego significa “um desejo ardente”, e, neste contexto denota um desejo mal.376 Paulo exorta aos crentes a evitar o pecado e não mais viver impulsionados pelos desejos humanos (2Tm 2.22), que estão enraizados em sua carne não redimida (Rm 7.17-18; Gl 5.17) e caracteriza o seu estado regenerado (Ef 2.1-3) e vida neste mundo (1Jo 2.15-17).377

Assim, os crentes devem se armar com o compromisso de fazer a vontade de Deus e abandonar seus pecados anteriores. Isto é precisamente o que o apóstolo Paulo declara em Romanos:

“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões” (Rm 6.8-12).

374 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan. 375 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books. 376 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 377 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 227). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

158

III. A conversão

“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1Pedro 4.3).

Há momentos em que olhar para o passado pode ser prejudicial,

porque Satanás pode usar essas memórias para desencorajá-lo. Mas Deus pediu a Israel para lembrar que uma vez haviam sido escravos no Egito (Dt 5.15). O apóstolo Paulo lembrou que havia sido um perseguidor dos crentes (1Tm 1.12), e isso o encorajou a trabalhar ainda mais para Cristo.378 Às vezes nos esquecemos da escravidão do pecado e nos lembramos apenas dos prazeres transitórios.

“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade

dos gentios...” (v. 3) – Esta passagem é uma vívida descrição do padrão trágico e devastador do estilo de vida do não convertido, que termina inexoravelmente em julgamento.379 A expressão “a vontade dos gentios” significa “a vontade do mundo não salvo” (1Pe 2.12). Pecadores perdidos imitam uns aos outros. Pedro exorta aos crentes a deixarem tudo isso porque pertence à sua antiga vida em pecado. Assim, o cristão deve ver a sua vida anterior como uma questão fechada. Ele morreu com Cristo, e foi levado a novidade de vida.380 As coisas velhas se passaram. Todas as coisas se tornaram novas.

Em seguida, Pedro enumera alguns dos pecados que faziam parte daquele mundo a partir do qual eles foram separados:

“tendo andado em dissoluções” – Descreve aqueles que se envolvem

em luxúria desenfreada. Todo o tipo de “devassidão, libertinagem e lascívia”. “concupiscências” – Desejo pelo que é proibido, luxúria (1Ts 4.5; 1Tm

6.9; Jd 18). “borracheiras” – Embriaguez (oinophlugia, em grego). Literalmente

significa “vinho transbordando” e refere-se à intoxicação. Este termo também pode se referir aos efeitos do uso de narcóticos. 381

“orgias” – (Komos, em grego) refere-se a pessoas que participam de

festas ou orgias. O termo descreve um grupo de pessoas bêbadas que cantam

378 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books. 379 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books. 380 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader (1Pe 4.3). Grand Rapids: Eerdmans. 381 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 229–230). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

159

em voz alta e cambaleiam descontroladamente pelas ruas, causando uma grande perturbação da ordem pública.

“bebedices” – Ato de beber, ato de farrear. Descreve pessoas

envolvidas em apenas com o objetivo de se tornarem embriagados. Uma bebedeira, uma farra.382

“detestáveis idolatrias” – Denota o imoral, a adoração devassa de

falsos deuses (como Dionísio ou Baco, o deus grego do vinho) que acompanhava as orgias e as festas regadas a bebidas.

Se você quer crescer em santidade, você tem que abandonar não

apenas os pecados listados aqui, mas também pessoas que vivem dessa maneira. “Mas”, você diz: “Jesus era amigo de pecadores. Como posso alcançá-los para Cristo, se eu me afastar deles?”, Porém, o apóstolo Paulo escreveu: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). Há uma grande diferença entre o propósito de ganhar uma pessoa para Cristo e conviver com pecadores para satisfazer seus desejos. Se você deseja viver em santidade, você deve separar-se da multidão errada (2Co 6.14-7.1).

“Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles

ao mesmo excesso de devassidão” (v. 4) – Tais pecados eram tão comuns para os leitores de Pedro que, ao abandonarem os companheiros pecadores, ainda não regenerados, eles “estranharam” (xenizō, em grego), significa “atônito” ou “surpreso”.

Talvez você tenha ouvido algumas destas reações no início de sua caminhada com Cristo.

• “O que há de errado com você?” • “Vamos lá! Quer dizer que Deus não quer que você se divirta?” • “Então, agora você acha que é santo? Você é um santinho!” • “Você acha que é melhor do que nós?”

Muitas vezes, o espanto dos “antigos amigos” com a sua nova vida

resultará em abandono e retaliação. Você logo descobrirá que não será mais convidado para suas festas, reuniões ou passeios. Você, certamente, será rejeitado devido ao seu comportamento.

Em muitos casos, o mundo vai responder com desdém. Pedro diz que eles vão “difamá-lo” (v. 4). A palavra “difamar” é (blasphemeo, em grego), da qual nós temos a nossa palavra “blasfêmia”. Trata-se de um desabafo calunioso contra as coisas sagradas. Neste contexto, a coisa sagrada é o crente separado para uma vida santa em um mundo profano (3.15). Por

382 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

160

blasfemar contra os embaixadores, no entanto, eles também estão blasfemando o reino do Seu Rei, o grande Senhor e Juiz.383

“os quais hão de prestar contas àquele que é competente para

julgar vivos e mortos” (v 5) – Pedro, no entanto, assegurou aos seus leitores que aqueles que caluniam e perseguem os crentes terão que prestar contas àquele que julgará os vivos e os mortos. Tais ataques estão acumulando uma dívida para com Deus que vão passar a eternidade pagando (cf. Mt 18.23-34). Ninguém escapará desse julgamento final das palavras e obras de sua vida terrena, quando Cristo julgará os vivos (zōntas) e mortos (nekrous) (cf. At 10.42, Rm 14.9; 1 Ts 4.15; 2Tm 4.1).384

O apóstolo Paulo descreveu mais detalhadamente a gravidade do julgamento dos incrédulos:

“se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.6-9).

A iminência do julgamento deve motivar-nos a santidade. Nesse dia,

grandes e pequenos, vivos e mortos comparecerão diante do trono e serão julgados (Ap 20.11-13).

IV. A esperança da vida eterna

“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus” (1Pe 4.6).

Finalmente, cada cristão deve se armar com a esperança genuína da

realidade da vida eterna. Deus prometeu que através da morte, os cristãos vencerão o pecado, escaparão do julgamento final e entrarão no céu em glória.

“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos...”

(v. 6) – Não devemos interpretar 1Pedro 4.6 além do contexto de sofrimento, caso contrário, teremos a ideia de que há uma segunda chance de salvação após a morte. Na verdade, Pedro estava lembrando aos seus

383 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 212–213). Grand Rapids, MI: Zondervan. 384 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 853). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

161

leitores a respeito dos cristãos que haviam sido martirizados por sua fé. Eles haviam sido falsamente julgados por homens, mas agora, na presença de Deus, receberam o seu verdadeiro julgamento. A expressão “Aos que estão mortos” significa “os que estão agora mortos” no momento em que Pedro estava escrevendo. O evangelho é pregado somente aos vivos (1Pe 1.25), porque não há oportunidade de salvação depois da morte (Hb 9.27).385

Desta forma, Pedro lembra que, embora, julgados na carne (fisicamente mortos), haviam triunfado e estavam vivos em espírito de acordo com a vontade de Deus (cf. Hb 12.23).386

A maioria dos cristãos ao longo da história nunca enfrentou o martírio, mesmo enfrentando vários níveis de zombaria e rejeição (Jo 15.18-20; 1Jo 3.13). Ao enfrentarmos a ira de amigos e familiares, jamais devemos esquecer que apesar do julgamento “segundo os homens” na carne, Deus nos julgou “inocentes” por Sua graça. Então agora podemos viver no espírito, independentemente do que as pessoas podem fazer contra nós.387

CCoonncclluussããoo:: Tudo em 1Pedro 4.1-6, tanto as advertências quanto às recompensas

pressupõe que você seja um cristão. Isso não significa usar uma cruz no pescoço, colocar um adesivo no carro ou frequentar uma igreja. É fácil se parecer com um cristão em certos momentos e em determinados lugares. Mas, viver uma vida de integridade em todos os lugares e em todos os momentos, isso é algo muito diferente.388

Warren Wiersbe conta à experiência que teve ao jantar com um amigo. Era um daqueles restaurantes com poucas luzes. Ao olhar o cardápio, Wiersbe ficou espantado com a facilidade que conseguiu ler o cardápio. “Sim”, disse o amigo, “não é necessário muito tempo para se acostumar com a escuridão”.389

Da mesma forma, não é necessário muito tempo para se acostumar com o pecado. Ao invés de uma atitude militante que odeia e se opõe ao pecado, nós gradualmente se acostumamos com o pecado, às vezes, mesmo sem perceber. A única coisa que vai destruir “o resto do nosso tempo” é o

385 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.4). Wheaton, IL: Victor Books. 386 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 231). Chicago: Moody Publishers. 387 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan. 388 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan. 389 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

162

pecado. Um crente que vive em pecado é uma arma terrível nas mãos de Satanás.390

O arminho, é um pequeno animal conhecido por sua pele branca como a neve, vive nas florestas do norte da Europa. Deus colocou neste animal um impulso instintivo de proteger sua branca de tornar-se suja. Os caçadores aprenderam sobre essa característica. Em vez de espalhar armadilhas, eles encontram a toca do arminho na fenda de uma rocha ou uma árvore oca e sujam a entrada com piche, por exemplo. Em seguida, os cães iniciam a perseguição, e o arminho foge assustado em direção à toca. Mas ao encontrá-la coberta com piche, ele não entra, nem mesmo para salvar sua vida. Para o arminho, a pureza é mais preciosa do que a vida.

A pureza é preciosa para você também? Você não vai se tornar santo por osmose se aproximando de cristãos ou igrejas. Isso não vai acontecer espontaneamente. Você deve armar-se com a intenção de ser santo. A motivação é o sofrimento de Cristo e Seu iminente retorno como Juiz.

390 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

163

AA CCoonndduuttaa ddaa IIggrreejjaa nnoo ffiimm ddooss tteemmppooss

[estudo 19 – 1pedro 4.7-11] De vez em quando um líder religioso se torna tão convencido de que a

vinda do Senhor é iminente que persuade aos membros de sua seita a venderem tudo e se isolarem em um lugar afastado da cidade para aguardar a vinda de Jesus Cristo. Em 1988, milhares de igrejas na América receberam pelo correio um folheto escrito por Edgar Whisenant, “88 razões pelas quais o arrebatamento acontecerá em 1988”. Ele utilizou vários argumentos interessantes, mas, tudo foi em vão. Como todos sabem Jesus Cristo não voltou em 1988. Então, em 1989, ele publicou outro folheto explicando porque seus cálculos estavam errados e afirmou que a vinda do Senhor Jesus, na verdade, aconteceria em 1989. Seus cálculos também falharam naquele ano. Porém, em 1990, ele não publicou mais nada!

Edgar Whisenant admitiu em seu livreto de 1989 que se confundiu sobre a volta de Jesus, uma vez que havia muitos fatores complexos envolvidos. Contudo, seu objetivo era despertar a igreja de sua apatia espiritual. Whisenant levanta uma importante questão: De que forma devemos nos comportar a luz do fato de que estamos vivendo no fim dos tempos? Pedro responde essa pergunta em 1Pedro 4.7-11.

Nesta passagem, o apóstolo Pedro instruiu aos seus leitores sobre três aspectos básicos da conduta cristã: o incentivo, as instruções e a intenção de nossa conduta.391

I. O incentivo sobre a nossa conduta

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações” (1Pe 4.7).

Na seção anterior (1Pe 4.1-6), Pedro disse que Cristo está pronto para

julgar os vivos e os mortos (4.5). Alguns crentes haviam morrido, o que pode ter atraído alguns escarnecedores (4.6): “Os cristãos morreram, assim como todos os outros! Que diferença faz ser cristão? Eles morreram e não aproveitaram os prazeres da vida!”. Mas Pedro afirma, “Ora, o fim de todas as coisas está próximo” (v. 7).

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo...” (v. 7) – A palavra “fim” (telos, em grego) não indica, necessariamente, interrupção, rescisão ou

391 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 234). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

164

conclusão cronológica. Mas significa “consumação, realização, um objetivo alcançado”. Neste contexto, refere-se à segunda vinda de Cristo.392

O verbo “próximo” (ēggiken, em grego) indica um processo consumado (a volta de Cristo), que pode ocorrer a qualquer momento (cf. Mt 24.37-39; Rm 13.12; 1Ts 5.2; Ap 16.15, 22.20; Mc 13.35-37; Lc 12.40; 21.36; 1Co 1.7; 1Tm 6.14; Tt 2.13; Tg 5.7-9).393 Assim, os termos “fim” e “próximo” expressam a esperança do ato escatológico iminente da volta de Cristo Jesus.

Hoje, muitos zombam e dizem: “Isso é loucura! Já se passaram quase 2.000 anos e Jesus ainda não voltou. Como alguém pode dizer que o fim de todas as coisas está próximo?” Pedro responde:

“Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas” (2Pe 3.8-10).

O que tais escarnecedores não percebem é que a visão do tempo para

Deus é diferente da nossa. Mil anos para o Senhor é como um dia. Além disso, Ele não deseja que nenhum dos Seus filhos pereça.

O fato de Jesus não ter voltado ainda, não significa que o fim de todas as coisas não esteja próximo. Não é mesmo? Ainda que o Senhor Jesus não retorne enquanto estivermos vivos neste mundo, individualmente, estamos muito perto do fim, não estamos? Estou com 35 anos, faltam apenas 30 anos para a aposentadoria! Mas não tenho nenhuma garantia de que vou viver até os 36 anos. Aliás, ninguém possui essa garantia. Assim, todos precisam viver na perspectiva de que o fim de todas as coisas está próximo.

À luz do retorno de Cristo e o desdobramento do julgamento do fim dos tempos, Pedro diz que devemos responder com certas ações específicas.

II. A instrução sobre nossa conduta

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4.11b).

Se Cristo está pronto para julgar os vivos e os mortos (4.5), se o

julgamento vai começar pela casa de Deus (4.17), então aqui está como o

392 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 393 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 235). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

165

povo de Deus deve se conduzir no fim dos tempos. Há três áreas específicas: oração, amor e serviço.

A. O cristão deve glorificar a Deus através da oração (4.7 b).

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações” (1Pe 4.7).

A oração glorifica a Deus porque reconhece a fraqueza humana e a

total dependência dEle. São as orações que mantém os olhos dos cristãos na direção certa.394 Não orar é, com efeito, afirmar nossa própria suficiência e arrogância. Pedro menciona duas qualidades que vão nos ajudar a manter a perspectiva correta diante da vinda do Senhor:

Em primeiro lugar, “Sede, portanto, criteriosos” (v. 7). A palavra

“criterioso” deriva de um termo que significa literalmente, “estar na mente da pessoa certa” (sōphroneō, em grego) ou estar sob controle e não se deixar levar por uma opinião errada (Rm 12.3; cf. Pv 23.7). Marcos usou a mesma palavra para descrever o maníaco que foi libertado da legião de demônios por Jesus, “Ele estava em perfeito juízo” (Mc 5.15). O verbo também se refere à guarda do coração (Pv 4.23). A mente cristã deve ser claramente fixada nas prioridades espirituais (Js 1.8; Mt 6.33; Cl 3.2, 16; Tt 2.11-12). John MacArtur corretamente escreveu: “Quando as mentes dos crentes estão sujeitas a Cristo” (2Co 10.5). E a Sua Palavra (Sl 1.2, 19.7, 10, 119.97, 103, 105; 2Tm 3.15-17) eles veem as coisas de uma perspectiva eterna.395 Todo cristão deve viver na expectativa da vinda do Senhor.

Em segundo lugar, “Sede, portanto, sóbrios” (v. 7). A palavra

“sóbrio” (nepho, em grego) significa “estar livre da influência de entorpecentes”. 396 Mas no Novo Testamento é utilizada, metaforicamente, para a necessidade de vigilância quanto à volta de Cristo (1Ts 5.6, 8; 2Tm 4.5, 1Pe 1.13, 4.7).

O oposto da palavra é permanecer dormindo (1Ts 5.6-8). Pedro sabia bem o que era isso. No jardim do Getsêmani ele dormiu enquanto deveria orar e vigiar. Como resultado, ele caiu em tentação e negou o mestre (Mt 26.40-41). Agora, Pedro compartilha o mesmo com os seus leitores. É necessário sobriedade e vigilância, pois estes são dias cruciais. O fim está próximo.

394

MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 235. 395 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 240). Chicago: Moody Publishers. 396 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

166

B. O cristão deve glorificar a Deus através do amor.

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados. Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (1Pe 4.8-9).

1. A questão do amor. “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os

outros...” (v. 8) – Pedro admoesta aos seus leitores sobre a prioridade do amor na vida da igreja. Jesus disse que o amor um pelo outro é o seu novo mandamento, o sinal de que o mundo vai saber que somos Seus seguidores (Jo 13.34-35). Paulo escreveu aos coríntios dizendo que poderia ter todos os dons espirituais, mas sem amor, de nada adiantaria (1Co 13.1-3). Amar o próximo é uma prova concreta de que amamos a Deus (1Jo 4.20; Mt 22.37-39).

Além do mais, Pedro diz que o amor na vida do cristão tem que ser “intenso” (v. 8). O termo “intenso” (ektenēs, em grego) denota o esforço máximo dos músculos de um atleta durante a corrida. A literatura grega utilizava a palavra para descrever um cavalo que se esforça para correr a toda velocidade. Isso significa que tal amor é sacrificial, não sentimental, e requer muito esforço, apesar do insulto, injúria e a incompreensão dos outros (Pv 10.12; Mt 5.44; Mc 12.33; Rm 12.14-15, 20; 1Jo 4.11; Gl 6.10; Ef 5.2; Tg 1.27).397

O amor bíblico, muitas vezes, é mais uma questão de trabalho, atitude do que sentimento. Trata-se de muito esforço!

“... porque o amor cobre multidão de pecados” (v. 8) – Essa frase é

oriunda de Provérbios: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões” (Pv. 10.12). A palavra “cobrir” (kalúptō, em grego) significa “ocultar” ou “esconder”. Isso não quer dizer que o amor ignora a realidade do pecado. Ao contrário, a única solução para o pecado é o perdão e o amor nos motiva a perdoar. Além disso, o amor edifica (1Co 8.1). O amor se concentra ao afirmar pontos fortes em vez de criticar as fraquezas. Ele carrega os fardos uns dos outros e assim cumpre a lei de Cristo (Gl 6.2).398

Em Gênesis temos uma ilustração deste princípio. Noé bebendo do vinho embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda. Seu filho Cam viu a vergonha de seu pai e contou para os outros. Então, Sem e Jafé, em amor, tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem (Gn 9.21-23). Não deve ser muito difícil para nós cobrir os pecados

397 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 241). Chicago: Moody Publishers. 398 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (Vol. 34, p. 176). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

167

dos outros, afinal, Jesus Cristo morreu para que nossos pecados pudessem ser lavados.399

2. A questão da hospitalidade.

“Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (1Pedro 4.8-9).

O termo “hospitaleiro” (philoxenos, em grego) significa literalmente

“amigo de estranhos”.400 O que Pedro está dizendo é que o cristão não abre apenas o seu coração, mas também a sua casa. O amor do cristão não deve apenas ser intenso, mas também deve ser prático. Devemos compartilhar o nosso lar com os outros em hospitalidade generosa (e sem murmurar).

Nos tempos do Novo Testamento, a hospitalidade era uma coisa importante, porque havia poucas pousadas e os santos perseguidos precisavam de um lugar para ficar onde pudessem ser assistidos e encorajados.401 Jesus elogiou aos crentes que forneceram alimentos, roupas e abrigo aos outros (Mt 25.35-40; Lc 14.12-14). Os cristãos promovem a verdade quando abrem suas casas para os servos de Deus (3Jo 5-8).

Paulo ensinou que uma das qualidades dos Presbíteros é ser hospitaleiro (1Tm 3.2; Tt 1.8). Paulo também advertiu as viúvas a mostrarem as boas obras oferecendo hospitalidade (1Tm 5.10). Além disso, a igreja primitiva era composta de irmãos e irmãs cristãos que gostava de partilhar o que possuíam (At 18.1-4).

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.42-47).

Ser hospitaleiro não é uma questão apenas do Novo Testamento. De

acordo com a lei de Moisés, os judeus deveriam estender hospitalidade aos estranhos também (Êx 22.21; Dt 14.29; Gn 18.1-2).402 Abraão hospedou três

399 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor Books. 400 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 401 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor Books. 402 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 242). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

168

homens, e descobriu que havia hospedado o Senhor e dois anjos (Gn 18;. Hb 13.2).

C. O cristão deve glorificar a Deus através do serviço.

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 4.10-11).

Pedro declara que devemos “Servi uns aos outros, cada um

conforme o dom que recebeu...” (v. 10) – A palavra “servir” (diakoneo, em grego) significa “ser um servo, atendente ou doméstico”. Cada cristão deve colocar o dom que recebeu a serviço de todos, porque todo cristão é um “despenseiro da graça de Deus” (v. 10).

A palavra traduzida como “dom” (charisma, em grego) vem da palavra cháris que significa graça. Isto é, Pedro está escrevendo sobre um “dom de graça” ou um dom espiritual que vem do Senhor.403 Cada cristão tem pelo menos um dom espiritual que deve usar para a glória de Deus e a edificação da igreja. Deus nos confiou esses dons para que possamos usá-los para o bem da sua igreja.404 Ele mesmo nos dá a capacidade espiritual para desenvolver e sermos fiéis servidores da Igreja.

“... como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (v. 10) –

Cada crente é um mordomo ou administrador dos recursos que Deus nos concedeu para Sua glória. A palavra “despenseiro” (oikonomos, em grego) era utilizada para o administrador do lar ou dos afazeres do lar. Alguém que possuía a responsabilidade de atender os negócios do mestre, e, sobretudo, de servir à mesa. Assim, cada cristão deve considerar o outro como superior a si mesmo. Isso é possível porque todo cristão recebeu um dom com os quais podem servir aos outros.405

Já o termo “multiforme” (poikilos, em grego) significa “de muitas cores”. O termo implica uma grande variedade de dons dentro da comunidade cristã.406 Existem quatro passagens principais do Novo Testamento que nos ensinam sobre os dons espirituais: Romanos 12, 1Coríntios 12-14, Efésios 4 e 1Pedro 4. Além disso, Paulo encorajou o jovem Timóteo a ser fiel no uso de seus dons espirituais (1Tm 4.14 e 2Tm 1.6).

403 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (Vol. 34, p. 178). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 404 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor Books. 405 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 239. 406 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 222). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

169

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre...” (v. 11) – Qual é o propósito de tais dons? Como devem ser usados? Pedro dividiu o serviço cristão em duas categorias gerais: aquele que fala (lalei) e aquele que serve (diakonei; cf v. 10).407

Quem fala vai ministrar através da pregação, ensino, aconselhamento e discernimento. Quem serve ministrará através de áreas como administração, oração ou misericórdia. Essas duas funções gerais dos ministérios muitas vezes se sobrepõem. Ambos os grupos funcionam através da dependência graciosa da provisão de Deus (At 6.2-4).

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus...” (v. 11) –

Em outras palavras, se Deus nos deu o dom de falar, devemos falar no poder do Espírito Santo. O cristão deve falar não o que pensa, mas o que Deus declarou em Sua Palavra (os oráculos). Devemos falar como se Deus estivesse falando (cf. Atos 7.38; Rm 3.2).

O pregador não é um profeta. O pregador não recebe uma revelação celestial inédita; sua tarefa é expor a revelação que já foi terminantemente concedida (Hb 1.1-4). Além disso, embora o pregador seja usado pelo Espírito Santo, ele não é “inspirado” da mesma maneira que os profetas. É interessante notar que, na Escritura Sagrada, a última vez em que aparece a expressão “veio a Palavra de Deus” foi usada com relação ao ministério de João Batista (Lc 3.2). Ele, de fato, foi o último profeta. Entre o fim do Antigo Testamento e o começo do Novo Testamento, nenhuma voz verdadeiramente profética se fez ouvir na Terra. João Batista foi tanto um cumpridor da profecia quanto o último dos profetas pré-cristãos.408 Sua mensagem foi, portanto, descrita da mesma maneira como um profeta do Antigo Testamento (Jr 1.1-2). Diante disto, o pastor e comentarista John Stott acertadamente escreveu: “a Palavra de Deus não vem mais aos homens, hoje. Ela já veio a todos os homens; agora os homens é que precisam ir até ela”.409

“... se alguém serve, faça-o na força que Deus supre...” (v. 11) –

Aqueles que servem deverão fazê-lo pela força de Deus, o que aponta para a total dependência do Altíssimo. A palavra “suprir” (choregeo, em grego), principalmente, entre os gregos, significava “levar um coral ao palco”.410 Originalmente era utilizada para se referir a uma pessoa rica que custeava o investimento necessário para um coral realizar a sua apresentação. Deus é

407 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 854). Wheaton, IL: Victor Books. 408 Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Lc 3:1). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press. 409 STOTT, John. O Perfil do Pregador. São Paulo: Editora Sepal, 1991, p. 7. 410 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

170

uma fonte abundante de força para tudo o que Ele nos manda fazer. Como disse o comentarista Ênio Muller, acertadamente, “Aos cansados neste serviço, fica a lembrança de que Deus supre as forças necessárias para Ele”.411

III. A intenção sobre a nossa conduta

“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 4.11).

“para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de

Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (v. 11b) – A Palavra “glória” (doxa, em grego) tem a nuance de “magnificência, excelência, preeminência, dignidade ou graça”. Quando aplicado a Deus, a Sua glória é a Sua majestade inerente e valor infinito. A glória de Deus é a manifestação dos Seus atributos, muitas vezes expressa na terra (Mt 17.2; At 26.13; Ap 1.16). No Antigo Testamento, a glória de Deus foi vista como uma nuvem e uma coluna de fogo (Êx 24.16-18, 40.34-35).

Glorificar a Deus significa demonstrar sua excelência aos outros. Se um fotógrafo deseja destacar uma maravilha da natureza, ele nos faz deleitar-se com a beleza da cena. Vemos a fotografia e suspiramos “Olhe para as cores e a grandiosidade da montanha!” Quando o fotógrafo faz o seu trabalho corretamente, não exaltamos o fotógrafo em si; exaltamos o objeto que ele aponta. E quando os cristãos apropriadamente glorificam a Deus, as pessoas devem exclamar: “Que grande Deus é esse!” (Mt 5.16).

Lembre-se: Nossa motivação no serviço, como na oração e no amor deve ser a glória de Deus. Alguns se envolvem no serviço ao Senhor para satisfazer as suas próprias necessidades de reconhecimento. Invariavelmente, eles se machucam em algum momento, quando seus esforços passam despercebidos. Àqueles que falam (pregam) ou servem na igreja buscando apenas a glória para si mesmo estão em desacordo com o ensino do apóstolo Pedro.

O apóstolo termina esta passagem com a palavra “amém”, um termo de afirmação que significa “que assim seja”.

411

MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 242.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

171

CCoonncclluussããoo:: “Ora, o fim de todas as cousas está próximo”, por isso, a igreja deve

glorificar a Deus através da oração, do amor e do serviço. Em 1959, a Rainha da Inglaterra inesperadamente visitou o Estado de Michigan, nos Estados Unidos. Todos os hotéis foram contatados sobre a possibilidade de receber a Rainha. Porém, apenas o Drake Hotel, o mais antigo, mas de primeira classe, estava preparado. O cais estava pronto para receber a embarcação e o tapete vermelho havia sido estendido para receber a realeza e sua comitiva. Muitos hotéis contatados se recusaram em receber a rainha por que não havia tempo hábil para sem prepararem. Mas, quando entraram em contato com o Drake Hotel, a gerente explicou: “Nossos quartos estão sempre prontos para a realeza”.

Pedro está dizendo: “O rei está chegando”. Não adianta viver isolado em um sítio ou no topo de uma colina esperando pelo Senhor. Em vez disso, pergunte a si mesmo: Você está vivendo de tal forma que os outros consigam ver quão grande é o Seu Deus? Você está dependendo dele em oração? E sobre o seu amor pelos os outros cristãos? Além disso, de que forma você tem administrado os dons que Deus lhe confiou? Sua vida deve estar sempre pronta para a realeza. Não deixe que a vinda do Rei da glória encontre você despreparado!

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

172

CCoommoo eennffrreennttaarr oo ssooffrriimmeennttoo??

[estudo 20 – 1pedro 4.12-19] O famoso escritor e pregador John Bunyan nasceu na Inglaterra em

novembro de 1628. Ele nasceu em um lar simples e por isso, recebeu apenas uma educação básica, ou seja, aprendeu a ler e a escrever, nada mais do que isso.

Em 1644, quando tinha 15 anos, sua mãe e sua irmã morreram num intervalo de um mês. Para aumentar a sua inquietação, seu pai casou-se novamente, um mês depois. Aos 21 anos, John Bunyan se casou e através de alguns livros escritos por seu sogro, um homem piedoso, ele foi conduzido a Cristo. Desta união, Bunyan teve quatro filhos: Mary, Elizabeth, John e Thomas. Além disso, Mary, a mais velha, nasceu cega. Após dez anos de casamento, sua esposa morreu, John Bunyan estava com 30 anos. Um ano depois, em 1659, ele se casou pela segunda vez. No ano seguinte, ele foi preso por pregar a Palavra de Deus enquanto caminhava para realizar um culto a doze quilômetros de Bedford. Sua esposa Elizabeth Bunyan estava grávida e teve um aborto durante a crise. Então, ela cuidou das quatro crianças, como madrasta, sozinha, por doze anos.412

John Bunyan sofreu muito. O que ele poderia dizer aos membros de sua igreja a fim de encorajá-los diante do sofrimento? O texto que ele usou foi: “Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pedro 4.19).

O fato de servir a Deus não significa que não sofreremos. Na verdade, o apóstolo Pedro nos dá quatro duras lições sobre os tempos difíceis. São lições necessárias, porque ninguém está isento de tempos difíceis nesta vida (Hb 12.8).

I. Como cristãos, devemos esperar o sofrimento.

“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pe 4.12).

O sofrimento não é algo estranho. Pedro diz que não devemos estranhar “o fogo ardente”. A expressão “fogo ardente” (purosis , em grego) refere-se a uma experiência agonizante (Ap 18.9, 18). O artigo definido “o” indica que Pedro tem em mente uma circunstância particular que seus leitores estavam enfrentando. Sabemos que este julgamento está

412 Batson, E. B. (1992). Bunyan, John. (J. D. Douglas & P. W. Comfort, Orgs.)Who’s Who in Christian history. Wheaton, IL: Tyndale House.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

173

relacionado com o tratamento injusto nas mãos dos inimigos do cristianismo do primeiro século. Esse julgamento cresceu o suficiente que levou o apóstolo Pedro a escrever uma carta lembrando-lhes de sua fonte de esperança em tais ocasiões.413 Pedro nos dá duas respostas adequadas a estas provações angustiantes.

A. O sofrimento não é algo estranho à vida cristã. “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de

vós...” (v. 12) – Pedro chama as provações de “fogo ardente”. Não sabemos ao certo, mas pode ser uma referência à perseguição que o imperador Nero, desencadeou contra a igreja em Roma.

Durante o verão de 64 d.C., um grande incêndio assolou a cidade de Roma. As chamas se espalharam rapidamente pelas ruas estreitas da cidade e os muitos cortiços de madeira. O fogo durou nove dias, deixando em ruínas a maior pare da cidade – dez das suas catorze circunscrições. Milhares de pessoas perderam a vida, e as ruas ficaram cheias de gente desorientada e deslocada. Por causa de seu desejo conhecido de reformar a cidade de Roma, a população acreditava que Nero fosse o responsável por iniciar o incêndio.414 Enquanto o fogo destruía a maior parte dos bairros da cidade, ele assistia alegremente da Torre de Mecenas. Para acabar com esses boatos, Nero inventou bodes expiatórios – e puniu os cristãos com requinte de crueldade. O zelo com o qual ele reconstruiu a cidade deu a impressão de que, mesmo que Nero não tivesse ordenado o fogo, a destruição favoreceu muito seus planos de reconstrução.415

O plano de Nero foi inteligente porque os cristãos no Império Romano já eram alvos de muito ódio e difamação. Incrédulos acusavam falsamente os cristãos de consumirem carne humana e beberem sangue durante a Ceia do Senhor (cf. Mc 14.22-25; 1Co 11.23-26) e que o ósculo santo (cf. 5.14; Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26) era na verdade um sinal de luxúria descontrolada. Assim, Nero se aproveitou do sentimento anticristão e puniu os cristãos, usando-os como tochas humanas para iluminar suas festas no jardim. Ele ordenou que alguns cristãos fossem vestidos com peles de animais e lançados aos predadores, outros foram crucificados e submetidos a torturas injustas.416 Nero foi um dos homens mais cruéis da história.

413 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 227–228). Grand Rapids, MI: Zondervan. 414 Myers, A. C. (1987).The Eerdmans Bible dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans. 415 de Villiers, J. L. (1998). The political situation in the Graeco-Roman world in the period 332 BC to AD. (A. B. du Toit, Org.)The New Testament Milieu, Guide to the New Testament (Vol. 2). Halfway House: Orion Publishers. 416 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 248). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

174

Ambos os apóstolos Pedro e Paulo, provavelmente, perderam suas vidas nesta perseguição.417 Onde estava Deus em tudo isso? Por que Deus permitiu tão grande sofrimento? O Senhor Jesus havia declarado aos seus discípulos que o mundo iria odiá-los porque O odiaram primeiro (Jo 15.18-19).

Deste modo, não fique surpreso quando as pessoas perseguirem você. Muitas vezes achamos estranho quando enfrentamos oposição até mesmos dentro da própria igreja. Mas Jesus também disse aos discípulos que eles seriam perseguidos pela multidão religiosa e que seriam chicoteados nas sinagogas (Mc 13.9; Mt 23.31). As pessoas religiosas muitas vezes escondem seus pecados atrás de uma máscara de espiritualidade. Desta forma, não devemos ficar surpresos com o sofrimento, você vai sofrer! Essa é a primeira lição difícil sobre tempos difíceis!

B. O sofrimento não é para destruir, mas para purificar. “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,

destinado a provar-vos...” (v. 12) – O “fogo ardente” sobrevém em decorrência de sermos fiéis a Deus e de nos apegarmos com firmeza ao que é correto. Muitas vezes as pessoas dizem: “Eu não posso acreditar que isso está acontecendo comigo!” Ou “Por que Deus não me protegeu dessas coisas?”. Mas Pedro responde com um importante lembrete: o fogo ardente vem sobre os crentes para “provar”. Como o fogo que prova e purifica o ouro, separando o metal precioso de suas impurezas.418

No Antigo Testamento, o fogo simbolizava a santidade de Deus. O fogo no altar consumia o sacrifício (Hb 12.28, 29; Ap 4.2). Mas Pedro vê na imagem do fogo um processo de refinamento, não de julgamento divino (Jó 23.10; 1Pe 1.7).

“... como se alguma coisa extraordinária vos estivesse

acontecendo...” (v. 12) – O verbo “acontecer” é relevante, pois significa “acompanhar”. Isso significa que nenhuma perseguição ou provação simplesmente “acontece” por acidente. Antes, faz parte do plano de Deus, de modo que Ele está no controle.419 O apóstolo Paulo declarou essa verdade: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

Deste modo, não fique surpreso se você está sendo perseguido. Não fique admirado, se a vida está difícil. Não fique admirado quando alguém

417 Achtemeier, P. J., Harper & Row e Society of Biblical Literature. (1985).Harper’s Bible dictionary. San Francisco: Harper & Row. 418 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 228). Grand Rapids, MI: Zondervan. 419 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.12). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

175

discordar do seu testemunho. Não fique surpreso. Isso é inevitável. Isso é normal. Isso não é estranho!

É interessante observar que o apóstolo Pedro antes de falar a respeito do sofrimento, ele chama os seus leitores de “amados”. A palavra “amado” (agapetos, em grego, cf 2.11) é uma palavra pastoral, transmite ternura, compaixão, afeto e cuidado (cf. 1Co 4.14; 1Ts 2.8).420 Isso é muito importante porque o sofrimento nos leva a duvidar do amor de Deus. Semelhante à esposa de Jó, em meio ao sofrimento, somos tentados a proferir palavras desprezíveis contra Deus: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9). Assim, o apóstolo procurou tranquilizar seus leitores a respeito do amor infalível de Deus.

II. Como cristãos, devemos nos alegrar em meio ao sofrimento.

“pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1Pedro 4.13).

Esperar as provações é uma coisa; se alegrar é algo bem diferente! Na verdade, é humanamente impossível. Só Deus pode nos dar sobrenaturalmente grande alegria no meio das provações. Não podemos nos regozijar no julgamento em si, o que seria masoquismo, mas, podemos nos alegrar com o resultado. Como Paulo disse, “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5.3-4). Tiago nos diz que podemos experimentar alegria ao passar por todo tipo de aflição, sabendo que o resultado será a resistência e a maturidade (Tg 1.2-4).

Aqui, Pedro nos dá três razões pelas quais podemos exultar nas provações:

A. O sofrimento pode nos levar a uma profunda comunhão com

Cristo. “pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-

participantes dos sofrimentos de Cristo...” (v. 13) – A palavra “co-participantes” (koinoneo, em grego) significa comunhão. Claro, o sofrimento de Cristo foi penal e substitutivo, enquanto o nosso, não! Ele morreu por nossos pecados, enquanto a nossa morte não pode pagar os pecados de ninguém. Mas, mesmo assim, quando sofremos em nome do evangelho, nos juntamos ao nosso Salvador que sofreu injustamente nas mãos dos pecadores.

420 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 249). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

176

Os apóstolos consideravam um privilégio sofrer por amor a Cristo (At 5.40, 41). Paulo diz: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Fp 1.29).

Na medida em que os crentes sofrem injustamente como o Senhor Jesus, devem manter a alegria da esperança celestial:

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12).

O melhor de tudo é saber que, não importa a intensidade da

perseguição, o Senhor Jesus sempre está conosco (Is 41.10, 43.2). O comentarista Warren Wiersbe com inteireza declarou: “Quando os pecadores nos perseguem, eles, na realidade, estão perseguindo a Jesus Cristo” (At 9.4).421

Quando os três amigos de Daniel foram lançados na fornalha ardente, eles descobriram que não estavam sozinhos (Dn 3.23-25). Quando Estêvão foi apedrejado pelo seu testemunho ao Sinédrio, ele olhou para céu e viu Jesus em pé à mão direita de Deus (At 7.56). O apóstolo Paulo experimentou a presença consoladora de Cristo em suas tribulações (At 23.11; 27.21-25). Quando foi julgado em Roma, embora tenha sido abandonado pelos outros, Paulo informou a Timóteo como o Senhor estava com ele e o fortalecia (2Tm 4. 9-18). Na verdade, o Senhor Jesus havia prometido que estaria com os Seus “até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Amém!

B. O sofrimento representa glória no futuro.

“pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe 4.13).

“Sofrimento” e “glória” são verdades gêmeas encontradas na carta de

Pedro. O mundo acredita que a ausência de sofrimento significa glória, mas a perspectiva de um cristão é diferente. A prova de nossa fé, hoje, é a certeza da glória, quando Jesus voltar (1Pe 1.7-8).422 Esta foi a experiência de nosso Senhor Jesus (1Pe 5.1), e será também a nossa experiência.

Pedro usa duas palavras diferentes para “alegria”. Ele diz que quando nos alegramos no sofrimento iremos nos alegrar exultando na glória (agalliao, em grego). Ela transmite a ideia de uma jubilosa exaltação (Mt

421 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor Books. 422 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

177

5.12; Lc 1,47; 10.21; At 2.26; Jo 8.56; At 16.34).423 Nada neste mundo se compara com a alegria que vai preencher o nosso coração quando estivermos na presença de Deus – será uma alegria arrebatadora.

Pessoas maduras sabem que a vida inclui alguns “prazeres adiados”. Um atleta passa horas treinando e se esforçando e acaba abrindo mão de alguns prazeres momentâneos. Porém, ele olha para frente, ele contempla a linha de chegada, ele sonha com a vitória durante tanto esforço.424 De forma semelhante, todo o esforço e sofrimento que enfrentamos, hoje, redundarão em uma alegria indizível e cheia de glória (cf. Rm 8.17-18; 2Tm 3.11.).

C. O sofrimento pode nos levar a uma profunda comunhão com o Espírito de Deus.

“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1Pedro 4.14).

Quando o Espírito da glória repousa sobre um crente, algo dos

atributos de Deus é visto em nossa vida. Aqueles que apedrejaram a Estêvão viram o seu rosto como o rosto de um anjo (At 6.15).

“... porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (v. 14)

– A palavra “repousar” (anapauo, em grego) significa “dar alívio, refrigério, intervalo do trabalho” (cf. Mt 11.28-29; Mc 6.31), e descreve um de seus ministérios. 425 A palavra “glória” lembra a Shekinah, que no Antigo Testamento simbolizava a presença terrena de Deus (Êx 24.16-17; 34.5-8; 40.34-38; Hc 3.3-4). Quando o tabernáculo e a arca da aliança foram levados para o templo recém-dedicado de Salomão, “a glória do Senhor encheu a casa do Senhor” (1Rs 8.11). De forma semelhante, o Espírito Santo, hoje, vive e ministra na vida dos crentes.

Helen Roseveare foi uma médica britânica cristã, que serviu mais de vinte anos no Zaire, na África. Em 1964, durante uma revolução no país, ela e seus amigos sofreram cinco meses e meio de brutalidade e tortura inacreditáveis. Por um momento ela pensou que Deus a havia abandonado, mas, em seguida, ela foi impactada com um senso de Sua presença, e fez questão de registrar as palavras como se Deus estivesse dizendo a ela: “Vinte anos atrás, você me pediu o privilégio de ser uma missionária, o privilégio de

423 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 424 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor Books. 425 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 253). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

178

ser identificada comigo. Você não quer isso? Isso é o que significa: Esses não são os vossos sofrimentos, eles são meus”.426

Você está se sentindo abandonado? Pedro deseja que você enxergue o que está por trás da cortina, se você pudesse olhar por trás do véu, veria a presença da glória de Deus e do Espírito repousando sobre sua vida.

III. Como cristãos, devemos examinar a causa do nosso sofrimento.

“Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; 16mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?” (1Pedro 5.15-18).

Estes versículos sugerem três perguntas que precisamos fazer a nós

mesmos quando nos deparamos com os sofrimentos:

A. Por que estou sofrendo? “Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou

malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem” (v. 15) – Nem todo sofrimento traz o refrigério do Espírito Santo. Problemas decorrentes de ações ilegais, obviamente, não constituem sofrimento justo. Se algum crente é um assassino ou ladrão, ele ou ela não tem o direito de reclamar sobre a punição, nem qualquer direito de esperar o refrigério do Espírito.427 O mesmo se aplica no caso de sofrer como um malfeitor (kakopoios, em grego), um termo que abrange todos os crimes sem exceção (cf. 2.14; 3Jo 11).

A palavra “intrometido” significa literalmente “aquele que se mete em coisas alheias à sua vocação”, “agitador” ou “encrenqueiro”. Era um termo legal para a acusação contra os cristãos como sendo hostis à sociedade.428 As exortações de Paulo aos Tessalonicenses ilustram o significado da palavra:

“e a diligenciardes por viver tranquilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos” (1Ts 4.11).

426 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: sharing christ’s sufferings. Preaching the Word (p. 151). Wheaton, IL: Crossway Books. 427 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 254). Chicago: Moody Publishers. 428 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

179

“Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão” (2Ts 3.11-12).

Certamente, alguns discípulos, em seu zelo pela verdade e ressentimento ao paganismo, estavam causando problemas na sociedade por razões além de uma preocupação sincera e legítima ao evangelho.429

B. Estou glorificando a Cristo? “mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes,

glorifique a Deus com esse nome” (v. 16) – Esta declaração deve ter lembrado a Pedro de sua própria negação (Lc 22.54-62). Jesus Cristo não se envergonha dos Seus (Hb 2.11), embora muitas vezes poderia!430

Quando Pedro e João foram espancados pelo Sinédrio por pregar a Cristo, continuaram o caminho “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (At 5.41). O nome “cristão” só ocorre três vezes na Bíblia (At 11.26, 26.28; 1Pe 4.16). Significa “Pequenos cristos”, e era um termo depreciativo.

Os crentes do primeiro século eram chamados de “irmãos” (At 1.15-16; 6.3; 9.30; 12.17; 15.13), “santos” (At 9.13; Rm 8.27, 15.25; 1Co 16.1) e os do “caminho” (At 9.2; 19.9, 23, 22.4, 24.14 e 22). Ironicamente, no entanto, “cristão” era uma designação irônica dada a eles pelos pagãos, associado com ódio e perseguição. Tornou-se, e deve permanecer, o nome dominante e amado pelo qual os crentes são conhecidos, os que pertencem a Cristo.431

Pedro diz que se um cristão sofre porque tem o nome de “Cristo” em palavra e ação, não há razão para vergonha.432 Na verdade, tal sofrimento é para ser visto como uma honra.

C. Estou considerando a gravidade do meu pecado e a perspectiva

eterna do julgamento? “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada;

ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?” (v. 17) – Pedro toma um conceito do Antigo Testamento e aplica a igreja. Quando Deus purificava ou julgava, Ele

429 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 255). Chicago: Moody Publishers. 430 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.15). Wheaton, IL: Victor Books. 431 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 255–256). Chicago: Moody Publishers. 432 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 230). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

180

começava pelo santuário (Ez 9.4-6; Jr 25.29; Ml 3.1-3). Paulo disse aos coríntios que eles necessitavam julgar suas próprias vidas, lidar com os próprios pecados, para que não fossem condenados com o mundo (1Co 11.31-32). O processo de purificação deve começar com o Seu povo antes de julgar o mundo.

“E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o

ímpio, sim, o pecador?” (v. 18) – Pedro parafraseia a ideia por trás de Provérbios: “Se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e o pecador!” (Pv 11.31). Quando Pedro se refere a ser “salvo” com dificuldade, é uma referência ao sofrimento e a luta que acompanha a salvação, não uma forma de ganhar a salvação por causa do sofrimento.433

A palavra “dificuldade” (molis, em grego) refere-se à qualidade da caminhada cristã. Lucas usou a palavra para contar sobre uma viagem difícil que ele e outros experientes marinheiros sofreram enquanto navegavam em direção a Creta: “Navegando vagarosamente muitos dias e tendo chegado com dificuldade defronte de Cnido, não nos sendo permitido prosseguir, por causa do vento contrário, navegamos sob a proteção de Creta, na altura de Salmona” (At 27.7). Da mesma forma, os crentes encontram muitos obstáculos ao longo da sua caminhada cristã. A obra clássica de John Bunyan, O Peregrino, ilustra esse fato de maneira brilhante.

Deste modo, devemos esperar provações; a segunda lição é que devemos nos alegrar em Deus em meio aos sofrimentos, em terceiro lugar, devemos examinar nossa própria vida.

IV. Como cristãos, devemos confiar em Deus nas provações.

“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pe 4.19).

A. Devemos entregar a nossa vida ao cuidado de Deus.

“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus

encomendem a sua alma ao fiel Criador...” (v. 19) – Quem sofre dentro da vontade de Deus pode entregar-se ao cuidado de Deus. O verbo “encomendar” é um termo contábil e significa “depositar a fim de guardar em segurança” (ver 2Tm 1.12). A palavra “encomendar” (paratithēmi, em grego) significa colocar algo sob os cuidados de outra pessoa, fazer um depósito em custódia.434 É evidente que, quando depositamos a vida no

433 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 231). Grand Rapids, MI: Zondervan. 434 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 232). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

181

banco de Deus, sempre recebemos dividendos eternos pelo investimento.435 Paulo usou essa palavra quando escreveu a Timóteo: “e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.12). Foi a mesma palavra que Jesus proferiu quando expirou na cruz: “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego [deposito] o meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.46).

“... encomendem a sua alma ao fiel Criador...” (v. 19) – Esta é a única

vez no Novo Testamento que Deus é chamado de Criador. Se Deus criou o universo pela palavra do Seu poder, Ele é poderoso para guardar o Seu depósito e levá-lo em segurança para o Seu reino celestial.

Por que Pedro se refere a Deus como “fiel Criador” ao invés de “um fiel Juiz” ou até mesmo “um fiel Salvador”? Porque Deus, o Criador atende todas às necessidades do Seu povo (Mt 6.24-34). Ele é o Criador que fornece alimento, roupa e proteção em tempos de perigo. Quando a igreja primitiva foi perseguida, eles se reuniram para orar e dirigiram-se ao Senhor como o “Deus que fez o céu, e a terra, e o mar, e tudo o que neles há” (At 4.24). Eles oraram ao Criador!436 Nosso Pai Celestial é o “Senhor do céu e da terra” (Mt 11.25). Com esse tipo de Pai, não precisamos nos preocupar! Ele é o fiel Criador e sua fidelidade jamais falhará.

Quando o resultado de um exame não é nada agradável, lembre-se Deus é fiel. Quando você receber notícias sobre um dos seus filhos que nenhum pai gostaria de receber, lembre-se Deus é fiel. Descanse nEle. Quando você sofrer perseguições no trabalho e até mesmo na igreja, lembre-se Deus é fiel. Descanse nEle!

2. Devemos praticar o bem, mesmo diante do sofrimento. “... na prática do bem” (v. 19) – Enquanto nos entregamos ao nosso

fiel Criador, devemos fazer o bem (cf. 2.15, 20). Foi exatamente o que Paulo e Silas fizeram quando sofreram na prisão de Filipos, e isso é o que devemos fazer a cada dia, para a glória de Deus.437 Tempos de perseguição são tempos de oportunidade para um testemunho de amor para aqueles que nos perseguem (Mt 5.10-12, 43-48).

Depois de receberem muitos açoites, Paulo e Silas foram lançados no interior do cárcere. Por volta da meia-noite, enquanto oravam e cantavam louvores a Deus, de repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de

435 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.19). Wheaton, IL: Victor Books. 436 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.19). Wheaton, IL: Victor Books. 437 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (Vol. 34, p. 184). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

182

todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos! E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa (At 16.25-31).

Não foi o terremoto que levou o carcereiro de Filipos a Cristo. Na verdade, foi a preocupação amorosa de Paulo que conduziu o carcereiro à fé em Cristo.438

À medida que fazemos o que é certo em meio ao sofrimento injusto, podemos confiar nossas vidas a Ele com esperança, mesmo em tempos dolorosos.439 O apóstolo Pedro nos ensina que não importa o que aconteça conosco, Deus sempre escreve o último capítulo. Portanto, não precisamos ter medo. Podemos crer que Deus fará aquilo que é certo, por mais difícil que seja nossa situação.

CCoonncclluussããoo:: Como cristãos, precisamos entender que o sofrimento não é algo

estranho, muitas vezes, é uma prova de um Pai amoroso que utiliza as crises da vida não para nos destruir, e sim, para nos refinar e nos purificar como o fogo purifica o ouro. Aliás, Deus só prova o que é precioso. O sofrimento é o caminho para a glória. Além disso, é no sofrimento que nos aproximamos mais de Deus, uma comunhão com Cristo e com o Espírito da glória de Deus.

John Bunyan sofreu com a morte da mãe, da irmã e a morte da esposa. Ele sofreu com o nascimento de sua primogênita cega, com a prisão de doze anos em Bedford, além das pressões e temores.

Todavia, enquanto permaneceu na prisão, ele escreveu mais de 50 livros. Esses livros até hoje, tem abençoado muitas vidas ao longo dos anos. Seus sofrimentos o tornaram um grande escritor, mesmo sem ter uma formação especial.440 Um desses livros foi “O Peregrino” - A Viagem do Cristão da cidade da destruição para a Jerusalém celestial, publicado na Inglaterra em 1678. O livro é uma alegoria da vida cristã. Cada casa Inglês que possuía uma Bíblia também possuía a famosa alegoria. Eventualmente,

438 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.15). Wheaton, IL: Victor Books. 439 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 231). Grand Rapids, MI: Zondervan. 440 Batson, E. B. (1992). Bunyan, John. (J. D. Douglas & P. W. Comfort, Orgs.)Who’s Who in Christian history. Wheaton, IL: Tyndale House.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

183

ele se tornou o livro mais vendido (depois da Bíblia) na história da publicação.441

“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pe 4.19). Foi esse texto que confortou o coração de John Bunyan, o coração de Pedro, e o coração dos cristãos que estavam sofrendo, e certamente confortará o seu coração.

O grande pregador Charles Haddon Spurgeon declarou acerca do sofrimento: “É no mar da aflição que encontramos as mais raras pérolas”.442

Uma ostra que não é ferida não produz pérolas. As pérolas são produtos da dor, resultado da entrada de um parasita no interior da ostra, como um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas para proteger a ostra. Como resultado, uma linda pérola é formada. Uma ostra que não é ferida, de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.

Spurgeon estava certo, “É no mar da aflição que encontramos as mais raras pérolas”.

441 Galli, M., & Olsen, T. (2000). Introduction. 131 Christians everyone should know (p. 117). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers. 442 Piper, John. Why We Can Rejoice in Suffering. In: www.desired.com

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

184

AA vviiddaa eexxeemmppllaarr ddooss pprreessbbíítteerrooss

[estudo 21 – 1pedro 5.1-4] Não é por acaso que Deus escolheu chamar o Seu povo de “ovelhas”,

escreveu W. Phillip Keller. “O comportamento das ovelhas e dos seres humanos é semelhante em muitos aspectos... As ovelhas exigem mais atenção e cuidado do que qualquer outra classe de animais”.443

Por exemplo, Deus criou a maioria dos animais com um instinto misterioso para encontrar o caminho de casa. Mas se uma ovelha se perder do aprisco, ela fica desorientada e não consegue encontrar o caminho de volta, como na parábola da ovelha perdida (Lc 15.3-7). Ovelhas precisam de um pastor para guiá-las, protegê-las, sustentá-las e às vezes também resgatá-las do mal.

Não é de se estranhar, então, que Jesus comparou as pessoas perdidas, espiritualmente, como ovelhas sem pastor (Mt 9.36; Mc 6.34). Eles não podiam se alimentar espiritualmente e não tinham ninguém para liderá-los e protegê-los (cf. Is 53.6).

Pedro estava preocupado com o comportamento da liderança e da igreja diante do fogo ardente das perseguições (4.12). Desta forma, ele estabelece a forma como cada um deve se comportar na igreja, principalmente, em meio às lutas. Pedro sabia que uma igreja sobe ou desce devido à qualidade de sua liderança. Contudo, nenhum líder pode administrar sem apoio dos seguidores. E, mesmo com líderes fortes e seguidores comprometidos com a obra, o pecado e o orgulho, muitas vezes, ficam no caminho e provocam graves problemas. Com esses fatores em mente, Pedro nos dá uma prescrição de uma igreja genuinamente saudável. Diante disto, ele aponta a exigência, a responsabilidade e a recompensa em apascentar o rebanho de Deus.

I. A exigência – “rogo, pois, aos presbíteros”

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.1-2).

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como

eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo...” (v. 1) – A palavra “rogo” (parakaleo) significa literalmente “chamar ao lado” ou no sentido geral,

443 W. Phillip Keller. A Shepherd Looks at Psalm 23 [Grand Rapids: Zondervan, 1979], 20–21).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

185

“incentivar ou obrigar alguém em uma determinada direção”. O substantivo correspondente é frequentemente associado com o ministério do Espírito Santo (cf. Jo 14.16-17, 26, 15.26, 16.7).444 Aqui Pedro dirige o apelo aos Presbíteros, que são líderes da igreja.

“Rogo, pois, aos presbíteros... eu, presbítero como eles...” (v. 1) – A

palavra “Presbítero” enfatiza a maturidade espiritual. Há três termos do Novo Testamento usados como sinônimo para se referir a esses homens: “Anciãos” (presbuterion, cf. 1Tm 5.19; 2Jo 1, 3Jo 1). “Bispo” (episkopos, cf. 2.25; Fp 1.1; 1Tm 3.2, Tt 1.7) e “Pastor” (poimēn, cf. Ef 4.11; At 20.17, 28; Tt 1.5, 7). “Ancião” enfatiza a maturidade espiritual necessária para tal ministério. “Bispo” afirma a responsabilidade de supervisionar a igreja. “Pastor” expressa o dever prioritário de alimentar ou ensinar a verdade da Palavra de Deus.

É interessante observar que no Novo Testamento, o termo “Presbítero” é sempre utilizado no plural (Presbíteros, Bispos e Pastores). Em Atos, segundo o relatório de Paulo e Barnabé, havia “Presbíteros” em cada igreja (At 14.23). Mais adiante, Paulo chamou os “Presbíteros” da Igreja de Éfeso para se despedir (At 20.17). Em sua carta a Tito, Paulo lembra que havia designado a Tito a responsabilidade de estabelecer “Presbíteros” em cada cidade (Tt 1.5). Assim, em cada igreja havia um pluralidade de presbíteros ou pastores.445

“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como

eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo...” (v. 1) – Pedro havia sido uma testemunha dos sofrimentos de Cristo e também um participante da glória que está para ser revelada. Pedro testemunhou os sofrimentos de Cristo durante o Seu ministério terreno, inclusive sua agonia no jardim, Sua prisão e maus-tratos em Seu julgamento. Ele viu as cicatrizes nas mãos do Salvador ressuscitado. Ele testemunhou, pessoalmente, os sofrimentos de Cristo.

“... e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada” (v. 1) –

Além disso, Pedro teve um vislumbre da glória futura do Salvador no Monte da Transfiguração (Mt 17). Ele escreveu de suas próprias experiências com Jesus Cristo. Ele foi uma testemunha (5.1). A testemunha (martus, em grego) relata o que viu e ouviu. Deste modo, um Presbítero que deseja pastorear o rebanho conscientemente deve ser um estudante do testemunho apostólico na Escritura, especialmente no que se refere à cruz (“os sofrimentos do Cristo”) e a vinda do reino de Cristo (“a glória que há de ser revelada”).

444 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 263). Chicago: Moody Publishers. 445 O uso no singular da palavra “Presbítero” aparece nas cartas de João, quando o apóstolo se autodenomina como “o Presbítero” (2Jo 1, 3Jo 1) e, também, em Timóteo, quando o apóstolo Paulo utiliza o termo “Presbítero” no singular em referência a maneira de agir diante de acusações contra um Presbítero (1Tm 5.19).

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

186

A cruz é o centro da vida cristã e um Presbítero deve viver pela cruz e ser capaz de ajudar os outros a fazê-lo. Um presbítero deve ser um homem que caminha em estreita colaboração com o Senhor Jesus.

II. A responsabilidade – “pastorear o rebanho de Deus”

“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.2).

“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por

constrangimento, mas espontaneamente...” (v. 2) – A ordem, “Pastoreai o rebanho de Deus”, traz à mente uma imagem bíblica do Antigo Testamento, onde Deus é o Pastor e Seus filhos, o Seu rebanho (Sl 23; Sl 100.3; Is 40.11; Ez 34.1-24.). Ele nomeou copastores para cuidar do Seu rebanho.

“pastoreai o rebanho de Deus...” (v. 2) – Pedro adverte aos

Presbíteros sobre a responsabilidade de pastorear o “rebanho de Deus”. Observe que não é o seu próprio rebanho, mas o rebanho de Deus. O Senhor Jesus Cristo veio a Terra para redimir a Sua Igreja (cf. Jo 10.11; Ef 5.25-27b). Cristo adquiriu esse rebanho com o Seu próprio sangue (1.18-19; At 20.28), o que demonstra o valor da igreja. O termo “pastorear” (poimnion, em grego) é um diminutivo, um termo carinhoso, ressaltando ainda mais a preciosidade da igreja (cf. Jo 10.1-5).446

Pastorear significa levar o povo de Deus aos caminhos de Deus. A ovelha não pode ser conduzida como o gado. Elas devem ser conduzidas pelo exemplo (5.3). Pastorear o rebanho significa conduzir as ovelhas ao aprisco da Palavra de Deus, onde elas podem se alimentar. O pastor trata dos feridos e disciplina as ovelhas que causam problemas. Além disso, o pastor vai atrás das ovelhas desviadas e as conduz de volta ao redil. O pastor está sempre alerta para proteger o rebanho dos inimigos. Muitas vezes, esse trabalho envolve grande sacrifício e muito esforço. O exemplo supremo é Jesus, que deu a Sua própria vida por Suas ovelhas.

O fato de que o “rebanho é de Deus” lembra aos pastores que eles não são os donos e que eles devem prestar contas ao proprietário. A chave para pastorear o rebanho de Deus de forma adequada é ter uma atitude correta. Pedro descreve aqui essa atitude com uma série de três contrastes:

O que não fazer O que fazer Não por constrangimento (v. 2) Mas espontaneamente (v. 2) Nem por sórdida ganância (v. 2) Mas de boa vontade (v. 2) Nem como dominadores (v. 3) Sendo modelos do rebanho (v. 3)

446 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 267). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

187

A. “Não por constrangimento, mas espontaneamente” (5.2). Paulo diz que um líder deve “aspirar ao cargo” (1Tm 3.1). Servir como

um Pastor ou Presbítero não é uma questão de ambição, mas sim do chamado de Deus, como pode ser visto na frase, “como Deus quer” (v. 2). Um Presbítero deve servir de bom grado, porque Deus o chamou para a tarefa, não com tristeza, porque ele foi forçado a isso.

O ponto óbvio é que o Pastor deve ser diligente em vez de preguiçoso, um coração motivado ao invés de forçado e ser fiel e apaixonado por seu dever privilegiado ao invés de indiferente.447

B. “Não por sórdida ganância, mas de boa vontade” (5.2). Pastores verdadeiros nunca utilizarão o ministério para roubar o

dinheiro das ovelhas. Tal comportamento desprezível é típico de falsos pastores, os charlatões e hereges que se mascaram como servos de Deus, para tornar-se rico e suas vítimas indigentes (Is 56.11; Jr 6.13, 8.10; Mq 3.11).448 Em sua segunda carta, Pedro caracteriza os falsos mestres em linguagem clara: “também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (2Pe 2.3).

Entretanto, Paulo ensinou que “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17). Os Presbíteros que trabalham na pregação e no ensino não devem ser apenas respeitados, eles também devem receber pelo trabalho (1Tm 5.18). Em virtude de seu compromisso de tempo integral, tais anciãos geralmente assumem o papel de líder entre os líderes em uma igreja local (Pastor/docente). Mas eles compartilham a tarefa de pastorear ou supervisionar com os outros homens qualificados para o trabalho.

O desejo de ganhar dinheiro sem merecer nunca deve motivar o serviço dos ministros (1Tm 3.3; 6.9-11; 2Tm 2.4; Tt 1.7; 2Pe 2.3). Pelo contrário, eles devem servir a Deus de boa vontade (prothumōs, em grego) por sua vontade, livremente e ansiosamente. Por causa da alta vocação e privilégio (cf. 1Tm 1.12-17). Como Paulo disse aos coríntios: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?” (2Co 12.15). Verdadeiros líderes se alegram pelo privilégio de servir a igreja.

447 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 268). Chicago: Moody Publishers. 448 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 269). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

188

C. “Não como dominadores, mas como exemplos” (5.3).

“nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe 5.3).

Alguns vão para o ministério porque gostam do poder ou status da

liderança. A palavra traduzida “dominadores” (katakyrieuontes, em grego) inclui a ideia de uma pessoa forte sobre aquele que é fraco (cf. Mt 20.25; Mc 10.42, At 19.16). Ezequiel advertiu os falsos pastores: “A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo” (Ez 34.4–5).

Os líderes devem ser exemplos a serem seguidos (typoi, em grego) traz a ideia de algo que é utilizado como modelo. Os líderes devem conduzir o povo de Deus pelo exemplo de caráter cristão maduro.449

Assim, a exigência para pastorear a igreja de Deus é um relacionamento íntimo com Cristo e uma atitude correta para com rebanho: liderar espontaneamente (v. 2); de boa vontade (v. 2) e sendo modelos (v. 3)

III. A recompensa – “a coroa da glória”

“Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5.4).

As recompensas pelo trabalho somente virão quando o Supremo

Pastor retornar. O fato de Jesus Cristo ser o “Supremo Pastor” (archipoimen, o pastor chefe) novamente relembra que os líderes da igreja são apenas copastores, responsáveis perante o Chefe. A palavra “manifestar” (phaneroo, em grego) significa, literalmente, tornar manifesto ou visível. Hoje, os líderes não podem ver o Supremo Pastor, embora Ele esteja presente. Mas logo Ele se tornará visível, quando Ele voltar em poder e glória, para pastorear as nações com vara de ferro (Ap 2.27; 12.5, 19.15). Assim, a motivação de todo líder na igreja nunca deve ser a de receber o louvor dos homens, mas apenas o desejo de ouvir sobre esse grande dia, “Muito bem, servo bom e fiel!” Em seguida, compartilhar de Sua glória!

“... recebereis a imarcescível coroa da glória” (v. 4) – Ao contrário

das recompensas terrenas que se desvanecem, a coroa que os líderes receberão vai durar para sempre. Havia vários tipos de “coroas” naqueles dias. A palavra “coroa” (stephanos, em grego) refere-se a uma guirlanda de vitória, o prêmio nos jogos gregos, tecida de hera, salsa, murta, azeitona ou carvalho. Porém, a coroa dos crentes é “imarcescível” e “não pode

449 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

189

murchar”.450 A coroa do pastor fiel é uma coroa de glória, uma recompensa perfeita para uma herança que nunca irá desaparecer (1Pe 1.4).451 Tem a ver não com a autoridade para governar, mas com a honra divinamente conferida (1Pe 1.7).

O significado é que a glória que os crentes vão receber “não passa” como a glória das flores e das realizações humanas (1.24). Nada pode tirar o esplendor da coroa, pois ela não está sujeita a qualquer força que domina este mundo.452

CCoonncclluussããoo:: O escritor e pastor John Sittema no seu livro “Coração de Pastor”,

acertadamente nos diz que “Os presbíteros são homens de Deus que recebem dele responsabilidades pesadas e até assustadoras. Deus os chama para dar uma expressão humana ao coração, aos olhos e às mãos do Bom Pastor, Jesus, no seu cuidado diário do rebanho”.453 Em outras palavras, o Presbítero tem a função de demonstrar com a sua vida a maneira como o Senhor Jesus cuidaria de suas ovelhas se estivesse encarnado entre nós.

Apascentar o rebanho é uma tarefa muito séria. Tiago estava plenamente consciente desta responsabilidade quando escreveu a seguinte advertência: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1; Ez 3.17-19, 33.7-9; At 20.26-27; 2Tm 4.1-2; Hb 13.17). Tiago não estava tentando desencorajar os pastores realmente qualificados e dispostos, mas lembrando aos gananciosos e corruptos dos elevados padrões de Deus e da recompensa (“sentença”) que receberão diante do tribunal de Cristo (cf. 1Co 3.9-15; 4.3-5, 2Co 5.9-11). Destarte, copastores de Cristo enfrentam uma tarefa difícil, mas a supervisão fiel traz recompensa eterna na forma de um serviço maior e alegria no céu diante da presença do Senhor: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.23).

450 Jamieson, R., Fausset, A. R., & Brown, D. (1997). Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible (1Pe 5.4). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc. 451 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.4). Wheaton, IL: Victor Books. 452 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988, p. 258. 453 SITTEMA, John, Coração de pastor. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, prefácio.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

190

AA vviiddaa eexxeemmppllaarr ddaa iiggrreejjaa

[estudo 22 – 1pedro 5.5-14] Depois de exortar os Presbíteros da igreja, Pedro agora se dirige aos

cristãos mais jovens, especificamente sobre um assunto que a maioria das pessoas prefere ignorar, o tema da submissão.454 Todavia, bons líderes merecem bons seguidores.455 Os jovens devem se submeter aos anciãos como autoridades legítimas da igreja. Em seguida, Pedro fala a toda a comunidade: “Que todos prestem serviços uns aos outros com humildade, pois as Escrituras Sagradas dizem: “Deus é contra os orgulhosos, mas é bondoso com os humildes!” (1Pe 5.5, NTLH).

Quando Pedro chega ao fim de sua primeira carta, ele compartilha algumas importantes orientações sobre como devemos permanecer firmes na fé. Pedro sabia que uma “prova de fogo” estava prestes a ocorrer, e desejava que toda a igreja estivesse preparada.456 Pedro deu aos seus leitores seis advertências sobre como glorificar a Deus durante as perseguições: sejam humildes, confiantes, vigilantes, esperançosos, fiéis e amorosos.

I. Sejam humildes

“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça” (1Pedro 5.5).

“Rogo igualmente aos jovens...” (v. 5) – Assim como fez no início da carta ao tratar da submissão no lar (3.1, 7), Pedro utiliza o advérbio “igualmente” (homoios, em grego) como uma palavra de transição. Em todos os três usos, o termo representa uma mudança de foco de um grupo para o outro. Ou seja, em 5.1-4 Pedro se dirigiu aos líderes da igreja, agora ele se volta para a congregação. Primeiro os pastores, depois as ovelhas. Como os pastores se submetem ao Supremo Pastor, o rebanho se submete aos seus pastores.

O termo “jovens” (neōteros, em grego) significa “novo” ou “jovem”. Também pode se referir a uma pessoa fisicamente jovem em contraste com alguém mais experiente (At 5.6; Cl 3.10). Os membros mais jovens devem se

454 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (Vol. 34, p. 191). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc. 455 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books. 456 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.4). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

191

colocar voluntariamente debaixo da autoridade dos que receberam a responsabilidade da liderança.

“... sede submissos aos que são mais velhos...” (v. 5) – Os crentes

mais jovens devem submeter aos crentes mais experientes, não apenas por respeito à sua idade, mas também por respeito a sua maturidade espiritual.

Pedro já escreveu muito sobre a importância da submissão em sua carta: devemos submeter-nos a toda autoridade humana (2.13); servos devem se submeter a seus mestres (2.18); mulheres devem se submeter aos seus maridos (3.1-5) e todos os seres celestiais a Cristo (3.22).

Como vimos em 1Pedro 2.13-14, à palavra “submissão” (hupotasso, em grego) é um termo militar (hupo, “sob” e tasso, “organizar”).457 Significa “dispor-se como fazem os militares sob as ordens do comandante”, “colocar-se em atitude de submissão”. Contudo, isso não dá aos anciãos da igreja, o direito de fazer o que bem desejar e nunca ouvir os membros mais jovens! Muitas vezes há uma guerra de geração na própria igreja, com as pessoas mais velhas resistentes à mudança e as pessoas mais jovens resistindo às pessoas mais experientes!458 Isso seria facilmente resolvido se todos agissem em humildade. Os jovens não apenas devem ser submissos aos mais velhos. Na verdade, todos os cristãos devem ser submissos uns aos outros (v. 5b). Todos os crentes, mesmo aqueles com responsabilidades de liderança, devem ser submissos aos outros.

“... outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de

humildade...” (v. 5) – Em seguida, o apóstolo Pedro exortou aos jovens e velhos a se cingirem de humildade. A palavra “cingir” (enkombōsasthe, em grego) significa vestir ou amarrar, como o avental de um escravo.459 Pode ser uma referência a Cristo quando tomou uma toalha e ensinou aos discípulos sobre a humildade como pré-requisito para o serviço (Jo 13.4-15).

Um rebanho insubmisso torna o ministério dos pastores muito difícil. Respeitar a liderança é um dos requisitos mais importantes para o desenvolvimento saudável da igreja. “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hb 13.17).

“... porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes

concede a sua graça” (v. 5) – Para apoiar o seu apelo à humildade e submissão, Pedro parafraseia um ditado favorito encontrado em várias formas ao longo dos Antigo e Novo Testamento.

457 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson. 458 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.5). Wheaton, IL: Victor Books. 459 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

192

“O SENHOR é excelso, contudo, atenta para os humildes; os soberbos, ele os conhece de longe” (Salmo 138.6).

“Certamente, ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Provérbios 3.34). “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.12). “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4.6).

“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que

ele, em tempo oportuno, vos exalte” (v. 5-6) – A expressão “poderosa mão de Deus” no Antigo Testamento representava duas coisas: disciplina (Êx 3.20; Jó 30.21; Sl 32.4) e libertação (Dt 9.26; Ez 20.34). Desta forma, quando Pedro diz aos seus leitores para se “humilhar sob a poderosa mão de Deus” significa aceitar tudo o que vem dEle.460 A palavra “humilhar” (tapeinōthēte, em grego) pode ser traduzida como “permitir ser humilhado”.461 Aqueles que estavam sofrendo por causa de Cristo poderiam ser encorajados pelo fato de que a mesma mão poderosa que os permitiu sofrer, também, os exaltará (Tg 4.10). Concordo com John MacArthur quando diz que a frase “em tempo oportuno” (en Kairo, em grego) significa, literalmente, “no tempo” (At 19.23; Rm 9.9). Não é um termo escatológico. É melhor interpretá-la como um tempo determinado, quando o Senhor levantará o crente humilde e submisso da dificuldade.462

Se você vai ao hospital, você se submete às mãos de um médico capaz. Você faz isso na esperança de ser restaurado no devido tempo de sua enfermidade. De forma semelhante, devemos nos submeter à poderosa mão de Deus para que Ele nos exalte. Aqui está a boa notícia: a poderosa mão de Deus está sobre o destino do Seu povo. Podemos louvar a Deus porque não somos escravos das circunstâncias da vida, pelo contrário, somos guiados pelas mãos bondosas do Altíssimo, que estão por trás das circunstâncias da vida.

460 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 243). Grand Rapids, MI: Zondervan. 461 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 462 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 278–279). Chicago: Moody Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

193

II. Sejam confiantes

“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).

Quando nos humilhamos sob a poderosa mão de Deus, nos tornamos cada vez mais dependentes dEle. Pedro diz: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (v. 7). O verbo “lançar” (epirhıptō, em grego) significa “jogar, lançar ao chão, jogar fora, lançar fora” (Mt 15.30; Lc 4.35; Lc 17.2; At 22.23; Mt 9.36).463 Isso é exatamente o que devemos fazer. Cristo deseja profundamente tomar nossas preocupações (Is 53.4). Ele nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

Quando Pedro nos diz para lançar toda a nossa ansiedade sobre Ele, este é o meio pelo qual nós nos humilhamos debaixo de Sua mão poderosa no versículo 6.464 Assim, Pedro exorta aos crentes a lançar no Senhor toda a sua ansiedade, uma palavra que pode incluir todo o descontentamento, desânimo, desespero, questionamentos, dor e sofrimento (cf. 2Sm 22.3; Sl 9.10, 13.5, 23.4, 36.7, 37.5, 55.22; Pv 3.5-6; Is 26.4; Na 1.7; Mt 6.25-34; 2Co 1.10; Fp 4.6-7, 19; Hb 13.5), porque podem confiar em Seu amor, fidelidade, poder e sabedoria.465

“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade...” (v. 7) – A palavra

“ansiedade” (merimna, em grego) significa “dividir”. A ansiedade divide nossos pensamentos, de modo que não conseguimos nos concentrar em qualquer outra coisa.466 Alguém definiu a “preocupação excessiva” como uma pequena gota que vai contaminado todos os nossos pensamentos. Desta forma, o medo consome nossos pensamentos e a ansiedade nos leva a acreditar que nossos problemas são maiores do que o nosso Deus. A palavra “ansiedade” também significa estrangular ou sufocar. Essa é uma imagem útil porque, certamente, você já sentiu um aperto em seu coração diante das intempéries da vida. Na verdade, a ansiedade é tirar os olhos de Deus e colocá-los nas circunstâncias.

Entretanto, o apóstolo Pedro mostra como vencer a ansiedade: 1) Lançando todos os seus temores diante do trono da graça (Sl 55.22a). Devemos lançar “toda a ansiedade” e não apenas parte dela. 2) Nunca se esqueça de que Deus tem cuidado de sua vida.

463 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans. 464 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 244). Grand Rapids, MI: Zondervan. 465 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 280). Chicago: Moody Publishers. 466 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

194

“... porque ele tem cuidado de vós” (v. 7) – Pondere nessas seis palavras simples: “porque ele tem cuidado de vós”. Que verdade que elas contêm. Que esperança no tempo da tribulação.

Ao pensar sobre isso, é bom saber que, quando Pedro escreveu esse versículo, ele utilizou duas palavras gregas diferentes. A palavra traduzida por “ansiedade” na primeira parte do versículo é completamente diferente da palavra traduzida por “cuidado” na segunda parte. A palavra “cuidado” (melei, em grego) significa “pensar em algo de tal forma a dar uma resposta apropriada” (cf. 1Co 9.9).467 Isso significa que Deus tem você em Seu coração. Ele está sempre pensando em você.

Aqui está a grande lição da vida cristã: Deus cuida de você (Sl 56.9c). Ele provou isso enviando o seu próprio Filho para morrer em seu lugar (Jo 3.16). A questão foi resolvida por todos os tempos na cruz. Assim, podemos lançar sobre Ele todas as nossas preocupações. Ele nos ama. Ele nos criou. Ele veio a nós. Ele morreu por nós. Ele ressuscitou por nós. Ele voltará para nos levar para as regiões celestiais.

No Sermão do Monte, Jesus deixou claro que a ansiedade resulta de uma falta de fé e de um foco errado nas coisas deste mundo, ao invés do reino de Deus:

“Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.25-34).

467 Louw, J. P., & Nida, E. A. (1996).Greek-English lexicon of the New Testament: based on semantic domains. New York: United Bible Societies.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

195

III. Sejam vigilantes

“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pedro 5.8).

Agora, Pedro soa o alarme para a batalha. Ele faz isso, chamando a

atenção do exército para o seu adversário espiritual (5.8). Pedro informa aos soldados de Cristo como derrotar o adversário (5.9). Ele nos lembra de que o conflito feroz será doloroso, porém, um dia, sairemos vencedores (5.10). Em última análise, ele aponta para Cristo, que triunfará e exercerá domínio sobre tudo (5.11).

“Sede sóbrios e vigilantes...” (v. 8) – A palavra “sóbrio” (nepho, em

grego) significa “estar atento” ou “não influenciado por bebidas alcoólicas”.468 Jesus usou essa palavra quando estava no Jardim do Getsêmani, ao declarar a Pedro: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26.41). Paulo usou a mesma palavra ao escrever aos Coríntios: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos” (1Co 16.13).

“O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge

procurando alguém para devorar” (v. 8) – Satanás é um poderoso inimigo. O nome “Diabo” significa “caluniador”. Em Apocalipse, ele é chamado de Abbadon e Apollyon (Ap 9.11), que significa “destruidor”. Ele é descrito também como o “acusador dos irmãos” (Ap 12.10). Sua estratégia é muitas vezes atacar os crentes durante alguma provação, sugerindo também, que “Deus não é forte o suficiente para os livrar” ou “que Deus não se importa com os Seus filhos”. O Diabo é o “pai da mentira” (Jo 8.44).

Pedro descreve-o como “vosso adversário”. Satanás é como um leão que espreita as suas vítimas. Ele anda e ataca quando menos esperamos. O seu único objetivo é destruir os crentes, nosso testemunho, esperança, santidade, e, se possível, as nossas vidas.469

Embora tenha legiões de demônios para fazer Sua vontade, Satanás não é onipresente nem onipotente. Ele é um inimigo derrotado. Assim, podemos resistir-lhe, firmes na fé, e saber que ele fugirá (Tg 4.7).

“resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos

vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (v. 9) – Lembre-se que o versículo 6 vem antes do versículo 9: devemos nos humilhar diante da poderosa mão de Deus, antes de enfrentar o Diabo. Resistir o Diabo é uma postura defensiva. Satanás já foi derrotado por Cristo

468 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson. 469 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 248). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

196

(cf. Rm 16.20).470 É pela Palavra de Deus, crida e obedecida, que os cristãos vencem a Satanás:

“Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno” (1Jo 2.12-13; 4.4-6).

IV. Sejam esperançosos

“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 5.10-11).

Embora a vitória seja certa, o apóstolo Pedro nos lembra de que o

sofrimento e a dor vão acompanhar a trajetória cristã. A batalha vai nos abalar, chocar e muitas vezes deixar terríveis cicatrizes. Todavia, o Deus de toda graça, que nos permite sofrer um pouco, vai usar esse sofrimento para realizar quatro coisas importantes em nossa vida:

1. Ele vai nos aperfeiçoar. A palavra “aperfeiçoar” (katartızō, em grego)

significa “restaurar”, “consertar” ou “concluir”. Isso é exatamente o que Deus deseja fazer com a nossa vida. Ele quer restaurar o que o pecado causou, consertar o que o pecado quebrou e completar cuidadosamente para que possamos crescer e se tornar cada vez mais semelhantes a Cristo.

2. Ele vai nos firmar. O termo “firmar” (stērızō, em grego) significa “virar resolutamente em uma determinada direção”, “firmemente definido” ou “fortalecer”. Mais uma vez, Deus usa o sofrimento para nos transformar resolutamente para Ele, a abandonar o pecado, permanecer firme nEle e ser reforçado por Ele.

3. Ele vai nos fortificar. A palavra “fortificar” (sthenóō, em grego)

significa “dar vigor”. Deus nos fará fortes, vigorosos e firmes em nosso compromisso com Ele. 471

4. Ele vai nos fundamentar. O verbo “fundamentar” (themelióō, em

grego) significa “consolidar” ou “estabelecer uma base”. É usado dessa maneira em Hebreus 1.10. A casa edificada sobre a rocha resistiu à

470 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 284). Chicago: Moody Publishers. 471 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series (Vol. 34, p. 196–197). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

197

tempestade (Mt 7.24-27). Um crente que é equipado por Deus vai “permanecer na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho” (Cl 1.23). Ele não vai ser “levado ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). Quando um incrédulo passa por sofrimento, ele perde a esperança, mas para um crente, o sofrimento só aumenta a sua esperança.472

Como o sábio em Provérbios declarou: “O cavalo prepara-se para o dia

da batalha, mas a vitória vem do SENHOR” (Pv 21.31). O sofrimento é temporário, mas as recompensas são eternas. Paulo expressa a nossa esperança com eloquência: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8.18).

“A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 5.11)

– A esperança cristã está no poder de Deus. E assim, o apóstolo Pedro conclui suas observações atribuindo a Deus o eterno poder, que vai levar o Seu povo para a glória eterna. O domínio de Deus nunca será extinto. Nunca vai será apagado (cf. Êx 15.11-12; Jó 38.1-41.34; Sl 8.3, 66.7, 89.13, 102.25, 103.19, 136.12; Is 48.13; Jr 23.24; Mt 19.26; Rm 9.21).

O reformador Hugh Latimer e Nicolas Ridley foram queimados na fogueira em Oxford por sua fé em outubro de 1555. Enquanto as chamas se levantavam, Latimer declarou: “Neste dia arderemos como uma vela, um fogo que, pela graça de Deus, na Inglaterra, nunca mais se apagará”. 473

Esses homens enfrentaram uma morte bárbara com extrema calma e firmeza extraordinária. Tornaram-se mártires, com justiça, pela coragem e fé que demonstraram.

V. Sejam fiéis

“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (1Pedro 5.12).

Se você fosse um dos destinatários de língua grega originais desta

carta, você teria notado uma mudança repentina em 1Pedro 5.12. O estilo da escrita muda de repente. A gramática, sintaxe e vocabulário mudam imediatamente. Neste ponto, torna-se óbvio que o secretário de Pedro, Silas,

472 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.10). Wheaton, IL: Victor Books. 473 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: sharing christ’s sufferings. Preaching the Word (p. 173). Wheaton, IL: Crossway Books.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

198

entregou a caneta para o idoso apóstolo, que pessoalmente concluiu sua carta com sua própria mão calejada.474

“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão...” (v. 12) –

Pedro elogia Silvano (Silas), seu secretário, que provavelmente levou a carta às igrejas mencionadas em 1Pedro 1.1. Ele era um irmão fiel. Este foi, provavelmente, o mesmo Silas que acompanhou Paulo em sua segunda viagem missionária (At 15.40). O mesmo Silas que havia cantado hinos com Paulo por volta da meia-noite na prisão de Filipos depois de receber vários açoites (At 16; 2Co 1.19; 1Ts 1.1; 2Ts 1.1). Aqui está ele, servindo fielmente ao apóstolo Pedro. É um grande incentivo quando se enfrenta uma provação ter ao lado um irmão fiel como Silas, que conhece bem o Deus que sempre está conosco em meio às tempestades da vida.

Pedro o elogia chamando-o de “irmão fiel”, um modelo para a igreja, e para o próprio Pedro, como indicado pela expressão “como também o considero”.475

“... vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo,

que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (v. 12b) – Pedro resume o objetivo de sua carta. Ele escreveu para encorajar os cristãos a suportarem a perseguição, manterem-se firmes, de modo que a verdadeira graça de Deus (cf. 1.13, 4.10) seja evidenciada ao mundo incrédulo. Eles deveriam “permanecer firmes” em Sua graça (cf. 5.9).476 No meio de toda a opressão, maus-tratos, tentações ou provações, poderiam suportar com esperança por causa do poder de Deus (5.12).477 Em suma, através de Cristo podemos ter uma esperança inabalável.

VI. Sejam amorosos

“Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos. Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (1Pedro 5.13-14).

Pedro envia saudações dos que se encontram na “Babilônia”. O termo

“Babilônia” pode ser uma referência disfarçada de Roma, utilizada para proteger tanto a Igreja Romana quanto o próprio apóstolo Pedro da

474 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 251). Grand Rapids, MI: Zondervan. 475 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 288–289). Chicago: Moody Publishers. 476 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books. 477 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 251). Grand Rapids, MI: Zondervan.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

199

perseguição de Nero.478 Mas, nesse centro do mal, Deus havia plantado Sua igreja. De acordo com a evidência histórica, Pedro estava em Roma durante os últimos anos de sua vida. O uso de nomes de cidades simbólicas com conotações negativas ou positivas também foi usado em outras partes do Novo Testamento (cf. Gl 4.24-26; Ap 11.8).479

“... como igualmente meu filho Marcos” (v. 13) – Marcos também

estava na “Babilônia”, a quem Pedro chama de “meu filho”. O jovem Marcos tornou-se como um filho para o apóstolo Pedro enquanto serviam a Cristo juntos. Este é o João Marcos mencionado no livro de Atos (At 12.12). Ele era primo de Barnabé e acompanhou o apóstolo Paulo na viagem de Antioquia a Chipre (At 12.25, 13.4-5). Mais tarde, ele os abandonou em Perga (At 13.13), o que fez Paulo se recusar a levá-lo na segunda viagem missionária (At 15.36-41). Contudo, mais tarde, quando estava em Roma, Paulo declarou que João Marcos era útil para o seu ministério (2Tm 4.11). Marcos também foi o autor do evangelho que leva seu nome.

“Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós

que vos achais em Cristo” (v. 14) – Usando o costume da época, Pedro termina a sua carta incentivando os fiéis a saudarem uns aos outros com uma expressão sincera de amor. A prática do “ósculo de amor” era uma calorosa saudação que consistia de um beijo na bochecha (homens com homens e mulheres com mulheres), como acontece em algumas culturas hoje (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; Lc 7.45; 22.47-48). O beijo era um sinal comum de companheirismo e amor cristão.

Não precisamos violar nossa cultura ao adotar esta prática, literalmente, mas devemos ser realmente calorosos ao cumprimentar uns aos outros.

“... Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (v. 14) – Pedro termina

a sua carta da mesma forma que começou desejando paz a todos (1.2). O beijo refletia a paz interior entre os crentes.480 A paz está abundantemente disponível a todos os que estão em Cristo, o Príncipe da paz (Jo 14.27).481 Quaisquer que sejam as circunstâncias, a pessoa que está em Cristo (cf. Ef. 1.3-14) pode sempre desfrutar da paz de Deus.482

478 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books. 479 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 252). Grand Rapids, MI: Zondervan. 480 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (p. 253). Grand Rapids, MI: Zondervan. 481 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books. 482 Carson, D. A., France, R. T., Motyer, J. A., & Wenham, G. J. (Orgs.). (1994). New Bible commentary: 21st century edition (4th ed., 1Pe 5.12–14). Leicester, England: Inter-Varsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

200

Uma boa pergunta ao concluir o estudo desta epístola é “você tem a paz em Cristo?” “Você tem a tranquilidade de saber que, em um mundo hostil e caótico, Deus está no controle de tudo?”

CCoonncclluussããoo:: O sofrimento nunca é fácil. Mas se nos humilharmos diante da

poderosa mão de Deus, lançando sobre Ele toda nossa ansiedade, resistindo ao diabo, confiando em Sua soberania e permanecendo firmes em Sua graça com os outros santos, podemos crescer firmes através do sofrimento.

Dr. Lloyd-Jones, um dos maiores pregadores do século XX enfrentou uma longa e difícil batalha contra o câncer – dois dias antes de morrer, ele pediu a sua família: “Não orem mais pela minha cura, não me retenham da glória”. Ele morreu enquanto dormia, em 1º de março de 1981.483

Pedro deseja que seus leitores tenham essa perspectiva celestial. Seja na angústia, nas dificuldades, em meio à dor ou durante as batalhas da vida, mantenha seus olhos na glória.

Enquanto preparava esse estudo, lembrei-me de uma música antiga que aprendi ainda na adolescência e que descreve muito bem o tipo de paz que podemos experimentar em meio às circunstâncias difíceis:

Esta paz que sinto em minh’alma Não é porque tudo em mim vai bem; Esta paz que sinto em minh’alma É porque eu amo ao meu Senhor. Ainda que a terra não floresça, E a vide não dê o seu fruto; Ainda que os montes se lancem ao mar, E a terra trema, hei de confiar. Não olho circunstâncias, Olho Seu amor, Seu grande amor; Não me guio por vistas, Alegre estou. Os que se encontram em Cristo podem desfrutar de paz em todos os

momentos da vida. Além disso, essa paz ninguém pode nos tirar! “Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (1Pe 5.14). Amém!

483 Larsen, T., Bebbington, D. W., & Noll, M. A. (2003).Biographical dictionary of evangelicals. Leicester, England: InterVarsity Press.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

201

RReeffeerrêênncciiaass

Achtemeier, P. J., Harper & Row e Society of Biblical Literature. (1985). Harper’s Bible dictionary. San Francisco: Harper & Row.

Alexander MacLaren. First and Second Peter and First John [New York: Eaton and Maines, 1910].

Batson, E. B. (1992). Bunyan, John. (J. D. Douglas & P. W. Comfort, Orgs.)Who’s Who in Christian history. Wheaton, IL: Tyndale House.

Boice, J. M. (2005). Psalms 1–41: An Expositional Commentary. Grand Rapids, MI: Baker Books.

Brisco, T. V. (1998). Holman Bible atlas. Holman Reference (276). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

Cabal, T., Brand, C. O., Clendenen, E. R., Copan, P., Moreland, J., & Powell, D. (2007). The Apologetics Study Bible: Real Questions, Straight Answers, Stronger Faith (1849). Nashville, TN: Holman Bible Publishers.

Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Lc 3:1). Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press.

Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s Commentary Series. Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.

Clowney, E. P. (1988). The message of 1 Peter: The way of the cross. The Bible Speaks Today (16). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

Cornish, R. (2004). 5 Minute Theologian: Maximum Truth in Minimum Time (52). Colorado Springs, CO: NavPress.

Cross, F. L., & Livingstone, E. A. (2005). The Oxford dictionary of the Christian Church (3rd ed. rev.) (486). Oxford; New York: Oxford University Press.

DUNN, Ron. Por que Deus não me cura? São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1996.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

202

FELDMEIER. Reinhard. A primeira carta de Pedro. São Paulo: Editora Sinodal. 2009.

Galli, M., & Olsen, T. (2000). Introduction. 131 Christians everyone should know (p. 117). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

Heiser, M. S., & Setterholm, V. M. (2013; 2013). Glossary of Morpho-Syntactic Database Terminology. Logos Bible Software.

Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word. Wheaton, IL: Crossway Books.

Hodge, C. (1997). Vol. 1: Systematic theology (154). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.

HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p. 2003.

Kenneth S. Wuest, First Peter in the Greek New Testament for the English Reader.

KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006.

Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (633–634). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.

Larsen, T., Bebbington, D. W., & Noll, M. A. (2003).Biographical dictionary of evangelicals. Leicester, England: InterVarsity Press.

Lea, T. D. (1998). The General Letters. In D. S. Dockery (Ed.), Holman concise Bible commentary (D. S. Dockery, Ed.) (633). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.

Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (14). Wheaton, IL: Crossway Books.

LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012.

MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1 Peter. MacArthur New Testament Commentary (2). Chicago: Moody Publishers.

MAXWELL. John C. 21 minutos de poder na vida de um líder. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2001.

McWilliams, W. (2003). Hypocrisy. In C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R. Clendenen & T. C. Butler (Eds.), Holman Illustrated Bible Dictionary (C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R. Clendenen & T. C. Butler, Ed.) (799). Nashville, TN: Holman Bible Publishers.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

203

Michaels, J. R. (1998). Vol. 49: 1 Peter. Word Biblical Commentary (48). Dallas: Word, Incorporated.

Mindeman, G. (1992). Diocletian. In J. Douglas & P. W. Comfort (Eds.), Who's Who in Christian history (J. Douglas & P. W. Comfort, Ed.) (206). Wheaton, IL: Tyndale House.

MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1988.

Myers, A. C. (1987). The Eerdmans Bible dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans.

New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer & G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press.

Raymer, R. M. (1985). 1 Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.) (844). Wheaton, IL: Victor Books.

Robertson, A. T. (1933). Word Pictures in the New Testament. Nashville, TN: Broadman Press.

SITTEMA, John, Coração de pastor. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.

SPROUL. R. C. Surpreendido pelo Sofrimento. São Paulo: Editora Cultura Cristã. Sãu Paulo, 1998.

SPURGEON, Charles Hadsdon. The Christian’s Heaviness and Rejoicing, Sermon’s Sermons [Baker].

Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament Commentary (140). Grand Rapids, MI: Zondervan.

TALBOT Mark R. Fascinado pela glória de Deus. O legado de Jonathan Edwards”. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011.

Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible Communications, Inc.

Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible Communications, Inc.

Thomas, R. L. (1998). New American Standard Hebrew-Aramaic and Greek dictionaries : Updated edition. Anaheim: Foundation Publications, Inc.

© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR

204

Utley, R. J. D. (2000). Vol. Volume 2: The Gospel according to Peter: Mark and I & II Peter. Study Guide Commentary Series (225). Marshall, Texas: Bible Lessons International.

Vincent, M. R. (1887). Vol. 1: Word studies in the New Testament (635). New York: Charles Scribner’s Sons.

Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and New Testament Words (650). Nashville, TN: T. Nelson.

Vol. 1: Theological dictionary of the New Testament. 1964- (G. Kittel, G. W. Bromiley & G. Friedrich, Ed.) (electronic ed.) (124). Grand Rapids, MI: Eerdmans.

W. Phillip Keller. A Shepherd Looks at Psalm 23 [Grand Rapids: Zondervan, 1979].

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (837–838). Wheaton, IL: Victor Books.

Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.

Willmington, H. L. (1997). Willmington’s Bible handbook (767). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers.