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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras Sumário Secção Pági na Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras 3 1.1 – Introdução 3 1.2 – Principais Contas do BP e DRE 6 1.3 –Padronização das Demonstrações 46 1.4 – Análise Vertical e Horizontal 50 1.5 – Índices Financeiros 56 1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise 67 1.7 – Questões 70 1.8 – Estudo de Caso 71 1.9 – Bibliografia Recomendada 71 CAPÍTULO 02 - A DECISÃO FINANCEIRA E A EMPRESA 72 2.1. Introdução 72 2.2. Objetivo e funções da administração financeira 73 2.3. Mercado financeiro 87 2.4. Tipos de empresas 89 2.5. Questões 92 2.6. Bibliografia recomendada 93 CAPÍTULO 03 - Mercado de Capitais 95 3.1. Introdução 95 3.2. Companhias abertas 97 Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 1

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Análise das demonstrações financeiras

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Sumário

Secção Página

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras 3

1.1 – Introdução 3

1.2 – Principais Contas do BP e DRE 6

1.3 –Padronização das Demonstrações 46

1.4 – Análise Vertical e Horizontal 50

1.5 – Índices Financeiros 56

1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise 67

1.7 – Questões 70

1.8 – Estudo de Caso 71

1.9 – Bibliografia Recomendada 71

CAPÍTULO 02 - A DECISÃO FINANCEIRA E A EMPRESA 72

2.1. Introdução 72

2.2. Objetivo e funções da administração financeira 73

2.3. Mercado financeiro 87

2.4. Tipos de empresas 89

2.5. Questões 92

2.6. Bibliografia recomendada 93

CAPÍTULO 03 - Mercado de Capitais 95

3.1. Introdução 95

3.2. Companhias abertas 97

3.3. Bolsas de Valores 99

3.4. Ações 103

3.5. Mercados de ações e derivativos 106

3.6. Debêntures 126

3.7. Resumo 133

3.8. Questões 135

3.9. Exercícios 138

3.10. Bibliografia recomendada 138

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 04 – Fundamentos da Gestão Financeira de Curto Prazo 140

4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro 140

4.2 - Conceitos Básicos 142

4.3 - Planejamento e Controle do Capital de Giro 148

4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro 154

4.5 - QUESTÕES 160

4.6 – Exercícios 161

4.7 – Bibliografia Recomendada 162

Capítulo 05 - Administração do Disponível 163

5.1 - Razões para Demanda de Caixa 163

5.2 - Modelos de Administração de Caixa

5.3 - Administração de Contas Bancárias 181

5.4 – Questões 184

5.5 – Exercícios 185

5.6 – Bibliografia Recomendada 186

Capítulo 06 – Administração de Valores a Receber 187

6.1 – Política de Crédito 187

6.2 – Análise de Crédito 192

6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA 206

6.4 – Questões 208

6.5 – Exercícios 210

6.6 – Bibliografia Recomendada 211

Capítulo 07 – Análise de Investimentos 212

7.1 – Modalidades de Investimento 212

7.2 – Tipos de Investimento 213

7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes 214

7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento 228

7.5 – Exercícios 228

7.6 – Bibliografia Recomendada 231

Anexo I – Ementário 232

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Conteúdo do Capítulo:

1.1 – Introdução

1.2 – Principais Contas do BP e DRE

1.3 –Padronização das Demonstrações

1.4 – Análise Vertical e Horizontal

1.5 – Índices Financeiros

1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise

1.7 – Questões

1.8 – Estudo de Caso

1.9 – Bibliografia Recomendada

1.1 – Introdução

O grande e principal objetivo desta unidade de ensino é realizar uma rápida recordação

dos conceitos estudados em Análise de Balanços, disciplina do 4º período. Não iremos

introduzir conceitos novos, mas tão somente recordar os já apresentados, praticar a

análise em casos reais, desenvolver a prática de analista de empresas, tendo como

principal meta vislumbrar as principais possibilidades e limitações das empresas.

O nome “análise de balanços”, ou “análise das demonstrações financeiras” é muito

superficial quanto à sua verdadeira amplitude. Na realidade, estaremos analisando

empresas, tendo como ferramenta básica os relatórios financeiros a nossa disposição.

No entanto uma análise bem feita, deve ser conduzida em planos endógenos e exógenos

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

do ambiente organizacional. Podemos dizer que a análise financeira de uma empresa

consiste num exame minucioso dos dados financeiros disponíveis sobre a empresa, bem

como das condições endógenas e exógenas, que afetam financeiramente a empresa.

Como dados financeiros disponíveis, podemos incluir as demonstrações financeiras,

programas de investimentos, projeções de vendas e projeção de fluxo de caixa, por

exemplo. Como condições endógenas, podemos citar a estrutura organizacional, a

capacidade gerencial e o nível tecnológico da empresa. Como condições exógenas,

temos os fatores de ordem política e econômica, concorrência e fenômenos naturais,

entre outros. Desse modo, a análise financeira transcende as demonstrações financeiras.

Na verdade, o que nos interessa é a em presa e não as demonstrações financeiras. As

demonstrações financeiras são apenas canais de informações sobre a empresa, tendo

como objetivo principal subsidiar a tomada de decisão.

As razões mais freqüentes que levam ao desenvolvimento da análise de uma empresa

tendem a ser de caráter econômico-financeiro. Um banco, antes de efetuar um

empréstimo para uma empresa, precisará analisar sua capacidade de pagamento. Um

investidor que pretende adquirir ações de determinada empresa necessitará da análise

para lhe fornecer uma expectativa de retorno sobre seu investimento. Uma empresa

cuidadosa, certamente, fará análise também de outras empresas que sejam suas

concorrentes, para melhor compreender sua própria performance. Adicionalmente, é

importante destacar que cada empresa, interna mente, precisa analisar seus próprios

dados, para conhecer os resultados que alcançou. Então, o administrador financeiro deve

analisar os dados da empresa e, se necessário, reorientar suas ações em termos

operacionais e estratégicos. Assim, resumidamente pode-se enumerar as razões, ou

objetivos da análise, como:

a) Concessão de Crédito;

b) Investimento

c) Fornecedores e clientes que tem interesse na liquidez

d) análise da concorrência

e) Análise interna.

É importante destacar que a análise financeira não pode ser limitada apenas aos

indicadores de natureza financeira, pois há uma série de fatores que, mesmo não

podendo ser chamados de financeiros, causam impacto na saúde financeira da empresa.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Para se conhecer uma empresa, algumas questões devem ser elucidadas, como, por

exemplo:

• O que faz a empresa?

• Quem são os proprietários, quem tem o poder de mando?

• Quem são os administradores?

• Que padrão de tecnologia apresenta?

• Quais os planos de investimento?

• É lucrativa e próspera?

• É sólida ou corre o risco de quebrar em pouco tempo?

• Está muito endividada?

• Que tipo de público consome seus produtos?

• Quem são seus principais concorrentes?

• A empresa é tão forte quanto seus concorrentes?

• Qual a tendência da empresa de potencialidade de geração de lucro?

O instrumento de trabalho do analista é a informação. Quanto melhor a qualidade da

informação, mais eficaz será o trabalho do analista.

O analista interno (funcionário da própria empresa) que desenvolve um trabalho de

averiguação das causas das diferenças ocorridas entre o fluxo de caixa projetado e o

realizado, por exemplo, poderá consultar a documentação na empresa e identificar se

algum pagamento ou recebimento previsto deixou de ocorrer, ou se ocorreu em

montante muito diferente do que havia sido projetado.

Portanto, quanto mais informações disponíveis, mais facilitado será o trabalho do

analista. Se, em determinada empresa, o valor da conta de duplicatas a receber num

determinado mês crescer de forma significativa, a pessoa que estiver acompanhando

aquela conta poderá consultar documentos e pessoas da própria empresa para saber

quais são as razões que provocaram o crescimento do valor. Poderá, ainda, conversar

com a área comercial para saber sobre a adoção de novas políticas comerciais que

levaram a empresa a dilatar os prazos concedidos aos clientes para pagamento. Ao

mesmo tempo, se necessário, poderá verificar se houve elevado crescimento das vendas

nos últimos tempos, afetando o montante de duplicatas a receber. Certamente, a busca

das causas que teriam levado ao crescimento expressivo de duplicatas a receber, se

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

analisadas por um analista externo, tenderia a ser muito mais trabalhosa, além de contar

com a possibilidade de receber informações não verdadeiras.

Para o analista externo, o ponto de partida da análise são as demonstrações financeiras,

que fornecem um conjunto de números e informações sobre a performance e a situação

patrimonial, econômica e financeira da empresa.

Outras informações, como as relativas à administração da empresa, à concorrência, ao

mercado, à capacidade instalada e ao grau de tecnologia, por exemplo, complementarão

o conjunto de dados para a análise. Para obtenção de tais informações, é muito

importante que o analista visite a empresa que pretende analisar, conheça as

características da concorrência e busque informações por meio de associações de classe,

de publicações especializadas e de periódicos em geral.

1.2 – Principais Contas do BP e DRE

1.2.1 – Principais Componentes do Balanço Patrimonial

Nosso objetivo agora é apresentar e conceituar as principais rubricas pertencentes ao

balanço. É de fundamental importância, para o profissional que se propõe a analisar as

demonstrações financeiras de uma empresa, um adequado conhecimento do que

representa cada um dos grupos e as respectivas contas que compõem as peças contábeis

que serão analisadas. Seguramente, o diretor ou o gerente de um banco, ao conversar

com o diretor financeiro de determinada em presa, sentir-se-á muito mais seguro se tiver

domínio sobre o vocabulário técnico utilizado pela empresa na elaboração de suas

demonstrações financeiras. Imagine o constrangimento do gerente, do profissional de

banco, se ele não souber distinguir entre disponibilidades e aplicações financeiras, ou

mesmo se não souber o que significa despesas antecipadas, por exemplo. Iremos

apresentar uma idéia básica daquilo que representa Cada uma das Contas que aparecem

Com maior freqüência nos balanços elaborados pelas empresas, para que o analista

possa melhor fundamentar seu entendimento acerca da empresa que está analisando.

Desse modo, não há a pretensão do ensinamento da contabilidade ou do

aprofundamento em procedimentos ou questões de natureza contábil, mas do uso da

informação contábil já elaborada.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Já sabemos que o balanço patrimonial representa a posição da empresa em determinado

momento, sendo composto de dois grandes blocos: do ativo e do passivo. O ativo

mostra onde a empresa aplicou os recursos, ou seja, quais são os bens e direitos de que

dispõe. Por outro lado, o passivo retrata de onde vieram os recursos, ou seja, quais são

as obrigações da empresa.

O quadro 1.1 a seguir, representa as principais contas do Balanço Patrimonial (BP).

Ativo Total Passivo Total

Ativo Circulante Passivo Circulante

Disponibilidades Empréstimos E financiamento

Caixa e Bancos Fornecedores

Aplicações Financeiras Salários

Créditos Impostos, taxas e contribuições

Estoques Provisões

Estoques Dividendos a pagar

Outros Debêntures

Outros

Ativo Realizável a Longo Prazo Passivo Exigível a longo Prazo

Créditos Diversos Empréstimos e Financiamentos

Créditos com pessoas ligadas Debêntures

Ações Judiciais Tributos a pagar

Tributos a Recuperar Provisões

Outros Outros

Ativo Permanente Patrimônio Líquido

Investimentos Capital Social

Imobilizado Reserva de Capital

Diferido Reserva de Reavaliação

Reserva de lucros

Lucros e Prejuízos Acumulados

É interessante ressaltar que as contas estão divididas quanto à sua execução, tanto de

recebimento quanto de pagamento. As contas de curto prazo, que serão realizadas

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

dentro de um ano, estão classificadas no ativo e passivo circulante. As contas de longo

prazo, que serão realizadas além de um ano, estão classificadas no Realizável a Longo

Prazo (RLP) e no Exigível a Longo Prazo (ELP). As realizações de longuíssimo prazo,

ou de prazo indefinido, estão classificadas no Ativo Permanente (AP, ou no Patrimônio

Líquido (PL).

1.2.1.1 – Ativo

As contas do ativo estão dispostas segundo uma suposta ordem de liquidez. Desse

modo, as contas mais líquidas aparecem na parte superior do ativo, enquanto aquelas de

mais difícil realização vêm na parte inferior. Por exemplo, o dinheiro (que é o ativo

mais líquido) que a empresa possui em caixa na data do balanço é classificado no ativo

circulante, enquanto os equipamentos que a em presa usa na produção são classificados

no ativo permanente. Esse critério é adotado no Brasil e em outros países para

classificar os bens e direitos da empresa no ativo. Na Inglaterra, por exemplo, a ordem

das contas do ativo é inversa a nossa.

1.2.1.1.1 – Ativo Circulante

O ativo circulante compreende as disponibilidades, os direitos realizáveis no exercício

social subseqüente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.

a)– Disponibilidades

Conforme o próprio nome sugere, as disponibilidades são compostas dos recursos

financeiros possuídos pela empresa que podem ser utilizados imediatamente, sem

restrições. Entre as disponibilidades, podemos mencionar:

- CAIXA

A conta caixa compreende o numerário (dinheiro) existente na empresa na data do

encerramento do balanço. Muitas empresas possuem vários caixas, localizados em

diversas unidades, que têm seus valores somados na data do balanço para compor o

saldo global. É também usual nas empresas a expressão “fundo fixo de caixa”, que nada

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

mais é do que um valor que é fixado para permanecer no caixa para pagamento de

pequenas despesas, como veremos na unidade que abordará o capital circulante.

O caixa é o valor mais líquido existente na empresa, representando dinheiro em espécie

ou cheques recebidos de clientes que serão depositados para crédito em conta corrente.

No que pese o cheque ser uma ordem de pagamento a vista, o comércio vem-se

utilizando do cheque como um instrumento de crédito, de modo que os clientes das lojas

efetuam suas compras e pagam, por exemplo, com dois ou três cheques para serem

depositados em datas futuras que foram combinadas de comum acordo. Nesse caso, esse

tipo de cheque pré-datado não pode ser considerado disponibilidade, pois o comerciante

não deve depositá-lo antes do prazo combinado com seu cliente. Teria mais uma

característica de “cheques a receber” ou “cheques em cobrança”, conforme a situação,

porém sem representar uma “disponibilidade”.

Algumas pequenas empresas, às vezes, usam a conta caixa como uma espécie de conta

de “fechamento”, isto é, a empresa não pratica uma contabilidade correta e, após ajustar

as demais contas do balanço, usa a conta de caixa para lançar o saldo dos ajustes, sem

que o mesmo represente existência de dinheiro na empresa. É sempre importante o

analista estar atento quando o valor da conta caixa for expressivo, para saber se seus

valores correspondem à realidade dos negócios.

- BANCOS CONTA MOVIMENTO

A rubrica com a denominação de Bancos conta movimento compreende os saldos

bancários da empresa em conta corrente, na data do balanço, disponíveis para saque,

para aplicação financeira ou outro uso que a empresa pretenda. Quando ocorre de o

saldo da conta de bancos ser credor, isto é, quando a empresa efetua saques ou

pagamentos superiores a suas disponibilidades no banco, esse saldo credor deverá ser

considerado pelo analista como um tipo de empréstimo bancário e classificado no

passivo circulante (instituições financeiras). A utilização pela empresa do limite para

saques em conta corrente pode ser exemplo dessa situação.

- APLICAÇÕES DE LIQUIDEZ IMEDIATA

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Compreendem as aplicações financeiras de liquidez imediata, ou seja, aquelas que

facilmente são convertidas em dinheiro e, desse modo, são consideradas como

disponibilidades. As chamadas aplicações em open market, over night e fundos que

possibilitem resgate imediato são exemplos. O saldo dessa conta deve corresponder ao

valor das aplicações feitas pela empresa, mais os acréscimos relativos à atualização

monetária e aos ganhos incorridos até a data do balanço. Em decorrência do chamado

princípio da competência dos exercícios, a empresa atualiza o valor das aplicações e

reconhece tais acréscimos como receita do período.

b)– Créditos

5.2.1.2 DIREITOS REALIZÁVEIS NO EKERCÍCIO SOCIAL SUBSEQÜENTE

A rubrica Créditos compreende bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro

num prazo inferior a 360 dias ou ao ciclo operacional da empresa. São exemplos dessa

categoria de contas:

- CONTAS A RECEBER DE CLIENTES

Contas a receber de clientes também aparece com a denominação de duplicatas a

receber. Essa conta representa os valores a receber de clientes, decorrentes dos

produtos, mercadorias ou serviços vendidos pela empresa e ainda não recebidos. O valor

dessa conta é função do volume de vendas a prazo e do prazo concedido pela empresa a

seus clientes. Portanto, normalmente, quando aumentam as vendas, cresce também o

montante de duplicatas a receber. Muitas vezes, as em presas, para ganharem mercado,

isto é, para aumentarem as vendas, concedem maiores prazos a seus clientes, gerando,

daí, dupla pressão no crescimento dos valores a receber de clientes.

- A empresa divulga o montante de contas a receber de clientes, porém é importante que

o analista faça algumas perguntas, do tipo:

- Quem são os principais clientes desta empresa?•

A empresa é dependente de poucos clientes?

- Como está a saúde financeira de seus clientes?

- Qual o percentual de atraso?

- Qual a média de dias de atraso?

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

- Por que ocorrem atrasos? São cobrados encargos?

Contas a receber de clientes compreendem:

• Duplicatas em carteira.

• Duplicatas caucionadas pela empresa em operações de empréstimo.

• Duplicatas em cobrança bancária simples, isto é, remetidas ao banco para cobrança.

• Duplicatas descontadas (conta negativa); 105

- PROVISÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS

A conta de provisão para devedores duvidosos é redutora de duplicatas a receber.

Durante muito tempo, a receita federal determinou critérios e percentuais para

dedutibilidade da provisão para devedores duvidosos no cálculo do lucro tributável. A

Lei n 9.430, de 27-12-1996, criou critérios para dedutibilidade das perdas no

recebimento de crédito e a provisão para devedores duvidosos deixou de ser dedutível

na apuração do lucro tributável. Desse modo, é necessário que primeiro ocorra a perda,

para depois haver sua dedutibilidade, respeitadas as condições estabelecidas na referida

lei. Muitas empresas, entretanto, constituem a referida provisão utilizando sua própria

experiência histórica ou sua expectativa de perda com incobráveis, porém não há

dedutibilidade fiscal da mesma. Isso caracteriza uma medida conservadora da empresa,

devido às possibilidades de inadimplências em sua carteira de recebíveis.

c)– Estoques

Nas empresas comerciais, os estoques são representados, basicamente, pelas

mercadorias adquiridas para venda.

Nas empresas industriais, temos, normalmente, três tipos de estoques:

1 — matéria-prima e componentes a serem utilizados na produção dos bens que são

fabricados pela empresa;

II — produtos em processo, que compreendem as matérias-primas que estão na linha de

produção, a mão-de-obra direta apropriada até o estágio em que se encontre o processo,

mais os custos indiretos de fabricação rateados e atribuídos;

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

III — produtos acabados, que correspondem às unidades produzidas e ainda não

faturadas, isto é, não vendidas.

Nos exemplos citados, relativos às empresas comerciais e industriais, referimo-nos

àqueles estoques que estão diretamente ligados às atividades comerciais das empresas.

Há, entretanto, outros tipos de estoques que devem ser classificados separadamente,

como:

• Almoxarifados: independente da atividade da empresa, a mesma pode ter

almoxarifados com materiais de escritório, produtos de limpeza, alimentos e outros

produtos de uso, isto é, não destinados à venda; tais produtos apresentam semelhança

com despesas antecipadas, porém, por serem materiais, isto é, por terem existência

física, não podem ser classifi cados na categoria de despesas antecipadas;

• Adiantamento a fornecedores: muitas empresas e autores classificam esse item como

parte integrante dos estoques; para fins de análise, é melhor que apareça separadamente.

• Peças para reposição de equipamentos: esse item deve ser classificado no ativo

permanente, no subgrupo imobilizado, em rubrica própria.

Também em se tratando de estoques, prevalece o conceito de propriedade e não o de

posse. Desse modo, produtos ou mercadorias da empresa que se encontrem em poder de

terceiros em consignação, em demonstração, para reparo ou para processamento, por

exemplo, integram seu estoque. Por outro lado, mercadorias de terceiros que estejam em

poder da empresa para demonstração, para reparo ou para processamento, não integram

seu estoque.

A regra geral que vem orientando a avaliação dos estoques é a do custo ou valor de

mercado, dos dois o menor.

d)- OUTROS VALORES A RECEBER

A quantidade de rubricas e a relevância de cada uma delas na composição do ativo

circulante serão funções da atividade da empresa e de sua situação financeira, entre

outros fatores. No geral, a tendência é de que estoques e contas a receber de clientes

sejam as contas mais representativas, podendo algumas empresas apresentarem também

disponibilidades e aplicações de liquidez não imediata com valores expressivos. Outras

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Page 13: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

contas, como adiantamentos a empregados, impostos a recuperar ou outros valores a

receber, podem também aparecer nos balanços. Se eventualmente qualquer rubrica com

denominação genérica tiver valor que possa representar, por exemplo, 10% ou mais do

próprio ativo circulante, é necessário que o analista busque explicação sobre a mesma.

1.2.1.1.2 - REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

Segundo o inciso II do art. 179 da Lei n 6.404/76, no realizável a longo prazo são

classificados:

“os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os direitos de

vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores,

acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais

na exploração do objeto da companhia”.

Quanto às contas que compõem o realizável a longo prazo, com exceção do disponível,

as demais rubricas classificadas no ativo circulante que tiverem prazo de realização após

o término do exercício seguinte ao do balanço, ou seja, demora rem mais de um ano

para serem recebidas, terão suas classificações no realizável a longo prazo.

a)- DIREITOS REALIZÁVEIS APÓS O TÉRMINO DO EXERCÍCIO SEGUINTE

Com maior freqüência, encontramos nos balanços publicados as seguintes rubricas:

• Valores a receber decorrentes de venda de ativo permanente.

• Depósitos judiciais, que são valores depositados pela empresa em face de pendências

judiciais, ficando nesse grupo até que haja decisão da justiça.

• Depósitos compulsórios de caráter diverso.

• Impostos a recuperar.

• Despesas antecipadas que se converterão em despesa após o exercício seguinte à data

do balanço.

• Incentivos fiscais.

b)- VALORES A RECEBER DE SOCIEDADES COLIGADAS

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Empréstimos a coligadas, controladas, diretores ou acionistas. Muitas vezes, os

empréstimos a coligadas e controladas são de difícil recebimento, podendo, inclusive,

ser transformados em participações acionárias. Havendo conhecimento da intenção clara

da empresa em transformar o realizável a longo prazo em participação acionária, o

analista pode reclassificá-lo para “investimentos”, no ativo permanente.

Como regra, os valores relativos ao realizável a longo prazo são avaliados ao custo

corrigido, devendo ser feitas as devidas provisões para prováveis perdas.

O analista deve, portanto, possuir domínio conceitual e conhecimento prático sobre cada

uma das rubricas, de modo a ter condição de identificar também valores que deveriam

ser classificados pelas empresas como realizáveis a longo prazo e que aparecem no

ativo circulante; o mesmo cuidado deve prevalecer com relação aos valores que

deveriam ser classificados como investimentos e que possam ser apresentados no

realizável a longo prazo. Em ambos os casos, o analista deve proceder a readequação

deles.

1.2.1.1.3 – Ativo Permanente

O grupo do ativo permanente, conforme o próprio nome sugere, abriga

aplicações feitas pela empresa com características de permanente, como, por exemplo,

as participações em outras empresas, as aquisições de equipamentos de produção e os

gastos com projetos que contribuirão para formação de resultados em exercícios futuros.

O ativo permanente subdivide-se em: investimentos, imobilizado e diferido.

a) Investimentos -

Conforme o art. 179 (III), da Lei n 6.404/76, são classificados em investimentos “as

participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qual quer natureza não

classificados no ativo circulante, e que não se destinem a manutenção da atividade da

companhia ou da empresa”.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Para fins de análise, podemos subdividir os investimentos em duas rubricas básicas,

sendo uma relativa às participações em coligadas e controladas e a outra para agrupar os

demais valores que consideramos com caraterísticas de investimentos.

a) Participações permanentes em outras sociedades

São participações que a empresa mantém no capital de outras sociedades. A natureza de

permanente é definida pela intenção da investidora em manter tal participação. Portanto,

se a empresa adquire ações em Bolsa de Valores, com a in tenção de negociá-las em

pouco tempo, não poderá classificar tais ações como investimentos; deverá classificá-las

no ativo circulante. Podem ser várias as razões que levam uma empresa a participar no

capital de outra. Vejamos alguns exemplos:

• Diversificação: com a finalidade de não manter concentrada a atividade numa única

área. Os grupos financeiros brasileiros são excelentes exemplos de política de

diversificação, tendo os bancos (ou as empresas de participações dos grupos

financeiros) investido em diversos outros segmentos, como informática,

eletrodomésticos, metalurgia, e assim por diante.

• Verticalização: cobrir número maior de etapas do processo produtivo. A usina de

açúcar que investe numa empresa para produção de cana ou a indústria de vinho que

investe numa empresa agrícola para produção de uvas são exemplos.

• Suprimento de matéria-prima: como em determinado exemplo em que uma empresa

decide participar do capital de outra, que é sua fornecedora, visan do ter assegurado ou

facilitado o suprimento de matérias-primas, por exemplo.

• Diversas razões poderiam ser adicionadas. Uma fábrica de confecções pode abrir uma

loja ou uma rede de lojas para distribuir seus produtos, como uma forma de aumentar

seu volume de vendas ou mesmo de tornar seus produtos mais conhecidos, entre outras

razões.

As participações em outras empresas podem possuir as seguintes características:

• Investimentos em coligadas e controladas

Quando uma empresa participa com 10% ou mais do capital de outra, sem controlá-la,

ocorre o que se chama de coligação. Por outro lado, os investimentos em controladas

são caracterizados pelo poder que a empresa detém de nomear a maioria da

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 15

Page 16: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

administração e de interferir na administração de sua controlada. O poder de controle

ocorre quando a investidora detém 50% mais uma ação ordinária.

As demonstrações financeiras das empresas, quando com razoável nível de informação,

apresentam em suas Notas Explicativas quadros com a com posição dos investimentos

em coligadas e controladas, bem como o resultado de cada uma das empresas, seu

patrimônio líquido, os percentuais na participação acionária e a equivalência

patrimonial, pelo menos.

• Outras participações

Em outras participações, são classificadas as participações em outras em presas, quando

não há coligação nem controle.

A forma como a empresa avalia as participações em outras empresas varia de

acordo com a natureza da participação, sendo dois os critérios de avaliação:

1 — Pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para perdas, quando for o caso.

II — Pelo método de equivalência patrimonial, quando as participações em outras

empresas atenderem às seguintes condições:

• Investimento for relevante para empresa investidora.

• Investimento for em sociedade controlada ou coligada sobre cuja administração tenha

influência ou de que participe com 20% ou mais do capital social.

III — Nas demais situações em que o investimento permanente deve ser avaliado pelo

custo, deduzido de provisão para prováveis perdas, quando for o caso.

b) Direitos não classificados no ativo circulante

Além das participações permanentes em outras sociedades, a Lei n 6.404/76 inclui, em

investimentos, “os direitos de qualquer natureza não classificados no ativo circulante, e

que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa”. Cabe

uma observação com referência ao texto da Lei n 6.404/76, art. 179, III, quando diz “e

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 16

Page 17: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

os direitos de qualquer natureza não classificados no ativo circulante, e que não se

destinem a manutenção da atividade da companhia ou da empresa”. Entendemos

juntamente com outros autores que o texto legal deveria referir-se aos direitos não

classificáveis no ativo circulante nem no realizável a longo prazo... (o texto legal omitiu

o realizável a longo prazo), para que tais direitos sejam classificados como

investimentos.

Como exemplo de valores que podem ser agrupados nessa categoria de investimentos,

temos:

• Bens não destinados à venda e que também não são utilizados na manutenção da

atividade da empresa. Como exemplo, podemos citar as obras de arte, nas empresas que

não tenham como objetivo sua comercialização. A avaliação das obras de arte na

contabilidade é pelo custo, deduzido da provisão para perdas, quando for o caso.

• Também o caso de terrenos ou imóveis que a empresa não venha utilizan do em suas

atividades, mas que os possua por razões próprias, como expansão futura, por exemplo.

Nessa condição, para fins de análise, será importante o analista estar atento, no caso de

tais imóveis estarem geran do receita para empresa. Há um lado “formal” quanto à

atividade da em presa, que se refere àquilo que está definido em seu estatuto ou contrato

social. Há o outro “lado real”, que é a situação de imóveis que estejam gerando renda

em caráter habitual (recorrente), que passa a ser parte da atividade da empresa

independente do que esteja escrito nos estatutos ou no contrato social. Nessa situação,

este imóvel tem características de ativo imobilizado. A avaliação desses bens na

contabilidade é pelo custo, deduzido da provisão para perdas, quando for o caso.

b) - IMOBILIZADO

O ativo imobilizado é parte integrante do ativo permanente da empresa. Conforme o art.

179, IV, da Lei n 6.404/76, ele compreende os direitos que tenham por objeto bens

destinados à manutenção das atividades da companhia e da empresa, ou exercidos com

essa finalidade, inclusive os de propriedade industrial ou comercial.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 17

Page 18: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O imobilizado é representado por bens tangíveis ou intangíveis, tendo as seguintes

características básicas:

• sua utilização nas atividades da empresa;

• não estejam destinados à venda;

• vida útil superior a um ano;

• relevância do valor.

O tipo de imobilizado varia de acordo com a atividade operacional de cada empresa.

Numa empresa de transporte rodoviário, a tendência é de que a frota de veículos seja um

componente expressivo de seu ativo imobilizado. Em determinado tipo de indústria, as

aplicações de recursos em sua planta industrial tenderão a ser o principal absorvedor de

recursos no ativo permanente. Uma boa política relacionada à estrutura de capitais da

empresa será orientada para que o ativo permanente seja financiado com recursos

próprios ou com fontes de terceiros de longo prazo.

É importante notar que um mesmo bem pode ser classificado como imobilizado ou

como estoque, dependendo apenas de seu propósito na empresa. Numa revendedora de

veículos, por exemplo, os carros destinados à venda integram os estoques, enquanto os

veículos que fazem parte da frota de uso da revendedora integram o imobilizado.

Os itens componentes do ativo imobilizado são avaliados pelo custo de aquisição, mais

os gastos necessários à colocação dos mesmos em condição de funcionamento. Ao

mesmo tempo, os bens do imobilizado sofrem depreciação, amortização ou exaustão,

em face de sua expectativa de vida útil, ou seja, de duração.

Entre os itens que habitualmente compõem o ativo imobilizado, destacamos:

• Imóveis e terrenos

• Máquinas e equipamentos

• Equipamentos de informática

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 18

Page 19: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

• Veículos

• Móveis e instalações

• Imobilizações em andamento

• Outros

- DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES

Os itens de depreciações, amortizações e exaustões são redutores do ativo imobilizado.

Apenas os bens tangíveis, que estão sujeitos ao desgaste ou deterio— ração, pelo uso ou

pelo transcorrer do tempo, devem ser depreciados. Há vários critérios e taxas para

depreciação, tendo cada critério suas próprias vantagens. Pelo princípio contábil da

consistência, a empresa deverá manter durante a vida útil do bem o mesmo critério de

depreciação que adotou desde o início, porém, na eventualidade de mudança de critério,

deverá explicitar essa ocorrência em nota explicativa. Os principais métodos de

depreciação são:

1 — Método da linha reta: pelo método da linha reta, que é o mais utilizado, com base

em uma expectativa de vida útil do bem, é estabelecido um percentual anual fixo para

depreciação. Tomando o exemplo de um veículo com vida útil esperada de cinco anos,

sua taxa de depreciação será de 20% ao ano.

II Método de Matheson ou taxa constante: pelo método de Matheson, é aplicada uma

taxa constante de depreciação sobre o valor residual, isto é, sobre o custo mais a

depreciação acumulada. Observe que, enquanto o método da linha reta mantém uma

taxa constante sobre o valor-base, o método de Matheson aplica o percentual sobre o

valor residual, fazendo com que a depreciação seja maior nos primeiros anos de vida do

bem.

III — Método de Cole ou soma dos dígitos: por esse método, também é suposto que a

depreciação é maior nos primeiros anos de vida do bem, sendo a taxa aplicada uma

fração cujo denominador é a soma dos algarismos (dígitos) seqüenciais correspondentes

aos anos de vida útil do bem. Supondo um veículo, com cinco anos de vida útil

estimada, te ríamos a soma dos números seqüenciais de 1 a 5 (1 + 2 + 3 + 4 + 5 = 15),

resultando no denominador igual a 15. O numerador é composto pelos períodos de vida

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 19

Page 20: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

restantes no início de cada período, isto é, para um veículo com vida prevista de cinco

anos, no início do primeiro ano seu período de vida restante é de cinco anos; no início

do segundo ano, seu período de vida restante seria de quatro anos, isto é, o segundo ano

que está iniciando, mais três anos.

Assim, teríamos:

Anos 1 2 3 4 5

Depreciação 5/15 4/15 3/15 2/15 1/15

Observe que a soma das frações relativas aos cinco anos é igual a um, isto é,

corresponde a 100%, que é a totalidade do valor do bem a ser depreciado.

IV — Método das unidades produzidas: esse método leva em consideração a capacidade

estimada de unidades a serem produzidas durante a vida útil do bem. Portanto, a

depreciação referente a determinado período é representada por um número decorrente

da divisão do número de unidades produzidas naquele período, pelo número total de

unidades a serem produzidas durante o período de vida útil do bem. Critério análogo

pode ser adotado quando a capacidade produtiva é estimada em horas de trabalho, em

vez de unida desproduzidas.

a. depreciação: quando corresponder à perda do valor dos direitos que têm por objeto

bens físicos sujeitos a desgaste ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou

obsolescência.

b. amortização: quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na aquisição

de direitos da propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou

exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal

ou contratualmente limitado.

c. exaustão: quando corresponder à perda do valor decorrente de sua exploração, de

direitos cujo objeto sejam recursos minerais ou florestais, ou

bens aplicados nessa exploração.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 20

Page 21: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

É importante destacar que os terrenos não estão sujeitos à depreciação por não sofrerem

desgaste pelo uso ou pela ação do tempo.

Quanto às amortizações, de modo geral, são aplicadas sobre os intangíveis como marcas

e patentes, ou sobre benfeitorias em propriedade de terceiro.

A exaustão, por outro lado, é utilizada no caso de florestas e de jazidas de minérios, por

exemplo.

- Reavaliação de ativos: muitas vezes as empresas reavaliam itens do ativo imobilizado,

para expressar o efetivo valor dos respectivos bens. A reavaliação aumenta o valor do

ativo imobilizado e, em contrapartida, gera um lançamento a crédito no patrimônio

líquido, numa conta de reserva de reavaliação. Muitas vezes, a reavaliação é necessária

para a empresa atualizar valores que estejam muito defasados. Outras vezes, algumas

empresas usam a reavaliação com propósito único de melhorarem artificialmente o

valor de seu patrimônio líquido.

c) - ATIVO DIFERIDO

O ativo diferido, que também é parte do ativo permanente, é composto de aplicações de

recursos em despesas que contribuirão para a formação de resultados de mais de um

exercício social, compreendendo itens intangíveis, cuja amortização ocorrerá durante o

período em que estiverem contribuindo para a formação do resultado da empresa.

São exemplos de ativo diferido as despesas incorridas durante o período pré-

operacional, construção e implementação de projetos, pesquisas e desenvolvimento, e

implementação de projetos de sistemas. Cabe observar que nesses exemplos as despesas

já foram incorridas e irão contribuir para a formação de resultados futuros. Por outro

lado, o prêmio pago por uma apólice de seguros caracterizará uma despesa antecipada,

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 21

Page 22: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

isto é, pertence a um exercício futuro; portanto, ainda não incorrida e devendo ser

classificada no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, conforme o caso.

Para fins de análise financeira, o ativo diferido representa um subgrupo do ativo

permanente de péssima liquidez, ou seja, sem potencialidade de realização direta de

seus valores, que são representados por intangíveis.

• Gastos pré-operacionais

Os gastos incorridos durante a fase pré-operacional em empresas novas caracterizam

bem o ativo diferido, uma vez que a empresa ainda não iniciou sua fase de produção, de

modo que os gastos incorridos representam uma espécie de preparação para operar no

futuro. É importante destacar que um projeto ligado à construção ou à ampliação de um

prédio não deve ser classificado como ativo diferido, uma vez que ele é parte da

construção e deve integrar o ativo imobilizado.

• Outros ativos diferidos

Compreendem outros gastos como, por exemplo, pesquisa e desenvolvimento de novos

produtos, ou projetos de sistemas. É sempre fundamental que os projetos contribuam

para a formação de resultados no futuro, para que os mesmos possam ser classificados

como ativo diferido.

Finalmente, cabe lembrar que, sempre que o diferido apresentar valor relevante, é

preciso que o analista conheça bem sua composição e possa julgar se efetivamente

aqueles gastos irão contribuir para a formação de resultados pela empresa no futuro.

1.2.1.2 - - Passivo

O lado do passivo representa as fontes de recursos utilizadas pela empresa, podendo tais

recursos ser provenientes de terceiros (dívidas) ou dos sócios, por meio de aporte de

capital ou de lucro gerado pela própria empresa.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 22

Page 23: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1.2.1.2.1 - PASSIVO CIRCULANTE

Compreende as obrigações vencíveis no exercício social seguinte. As mais freqüentes

são:

a) FORNECEDORES

A conta de fornecedores representa as compras a prazo efetuadas pela em presa. Tais

compras compreendem as mercadorias, as matérias-primas, os com ponentes utilizados

na produção e outros materiais de consumo. Os fornecedores podem ser nacionais ou

estrangeiros (que devem ser destacados, se relevantes). Pode ainda ocorrer de empresas

coligadas ou controladas também aparecerem como fornecedoras.

Nos casos de fornecedores de ativos permanentes, o ideal é que esse tipo de dívida seja

separado das obrigações relativas às compras de mercadorias, produtos, matérias-

primas, ou componentes, voltadas para comercialização ou produção. De certo modo, é

raro encontrarmos fornecedores de máquinas ou equipamentos, (bens do imobilizado),

uma vez que em tais compras, quando de valores expressivos, normalmente, a empresa

recorre a linhas de financiamento bancário de longo prazo.

b) Salários E Encargos Sociais

b) Salários e Encargos Sociais

Normalmente, os salários relativos a cada mês são pagos no início do mês seguinte,

devendo ser contabilizados como despesa do período e como obrigação (dívida) junto a

seus funcionários.

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Page 24: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Conseqüente da legislação brasileira, há uma série de encargos sociais como FGTS e

INSS decorrentes da folha de pagamento, que deverão ser recolhi dos no mês seguinte

ao de sua competência. Há, ainda, outras obrigações que, mesmo que a empresa não

tenha de pagá-las no mês seguinte, deverá provisioná-las. A cada mês de trabalho, o

empregado adquire direito a uma fração de férias e de 13º salário, constituindo, dessa

forma, obrigação a ser provisionada pela empresa.

c) Impostos e Taxas

Nesse item, são agrupados os tributos (impostos, taxas e contribuições) a recolher,

como:

• ICMS

• IPI

• ISS

• PIS

• IRRF

• Cofins

d) Instituições Financeiras

Em instituições financeiras são classificados os empréstimos obtidos pela empresa em

bancos comerciais, bancos de investimentos e instituições financeiras, de modo geral.

Tais empréstimos podem ser em moeda nacional ou em moeda estrangeira. É comum as

empresas, cujas demonstrações financeiras apresentam razoável nível de informação,

trazerem nas notas explicativas as principais informações sobre seus empréstimos e

financiamentos bancários. Tais informações abrangem às características dos contratos,

como tipo de empréstimo (capital de giro, adiantamento sobre contrato de câmbio,

Resolução n 63, Lei n 4.131 etc.), prazos, taxas, garantias e instituições credoras.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 24

Page 25: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

De forma geral, nesta apostila utilizar-se-á o termo empréstimo como a tomada de

recursos onerosos de terceiros, com vencimento no curto prazo, o qual é, via de regra,

utilizado no capital de giro. Por outro lado, utiliza-se o termo financiamento na tomada

de recursos onerosos de terceiros, com vencimento no longo prazo, e por conseqüência

classificado no Exigível a longo prazo, o qual é utilizado para financiar os ativos

permanentes.

Para fins de análise, é importante que o analista disponha do desdobramento da rubrica

de instituição financeira, de modo a identificar:

• os empréstimos em moeda nacional;

• os empréstimos em moeda estrangeira; e

• os empréstimos subsidiados.

e) Debêntures a Curto Prazo

Debêntures são títulos lançados pelas empresas com a finalidade de captarem recursos a

longo prazo, normalmente, pagando uma taxa de juros e possibilitando ao debenturista a

conversibilidade das debêntures em ações no final do período. Na unidade sobre o

Mercado de Capitais, estudaremos este item mais a fundo, no entanto vale alertar que

somente Cias abertas podem lançar debêntures, até um limite previsto em lei, segundo

seu Patrimônio Líquido. As debêntures são negociadas na BOVESPA.

Mesmo tratando-se de títulos de longo prazo, à medida que o vencimento

das debêntures torna-se igual ou inferior a um ano, seus valores são transferidos

para o passivo circulante.

f) Outros

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 25

Page 26: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Rubricas genéricas, como outros, contas correntes, ou qualquer título que não

caracterize bem o tipo de obrigação, tendem a não ser expressivas, representando menos

de 10% do próprio passivo circulante. Portanto, tendem a agrupar pequenos valores que

a empresa tenha a pagar e que não justificam a abertura de rubricas próprias no balanço.

1.2.1.2.2 – Passivo Exigível a Longo Prazo

As obrigações de longo prazo são caracterizadas por terem seus vencimentos

após o término do exercício seguinte, isto é, num prazo superior a um ano. As

mais freqüentes são:

a) Financiamentos

A tendência mais geral é de que os financiamentos de longo prazo sejam obtidos pelas

empresas com a finalidade de financiarem bens do ativo imobilizado. Como exemplo,

podemos citar o Finame, que é uma linha de financiamento com recursos do Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destinado a financiar

projetos de expansão das empresas. Normalmente, os financiamentos de longo prazo

têm prazos de carência para a empresa iniciar o pagamento. O prazo de carência do

financiamento tende a aproximar-se do tempo de maturação do projeto. Há outras linhas

de financiamentos por meio de bancos de desenvolvimento federais ou estaduais. Há

também agências internacionais que financiam projetos a longo prazo.

Mesmo tratando-se de financiamentos de longo prazo, à medida que o vencimento se

torna igual ou inferior a um ano, seus valores são transferidos para o

passivo circulante.

b) Debêntures de Longo Prazo

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 26

Page 27: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Como já vimos, as debêntures são títulos de longo prazo, lançados pelas empresas,

normalmente conversíveis em ações ao final do período.

c) Tributos

Com alguma freqüência, aparecem nos balanços parcelamentos de tributos, que podem

decorrer de tributos não pagos pela empresa nos vencimentos e que foram negociados

com os poderes competentes, para serem pagos dentro de nova programação de

pagamento compatível com as possibilidades da empresa e de acordo com as regras

aceitas pelas autoridades. Imposto de Renda, IPI, ICMS, ISS e INSS podem ser

exemplos.

d) Outros

Podem aparecer outros valores no exigível a longo prazo, como, por exemplo,

adiantamento de sócios para futuro aumento de capital.

1.2.1.2.3 – Resultados de Exercícios Futuros

No resultado dos exercícios futuros são classificadas as receitas de exercícios futuros,

diminuídas dos custos e despesas correspondentes a tais receitas.

a) Receita de Recursos Futuros

b)

As receitas de exercícios futuros constituem uma categoria especial e caracterizam-se

por representar um recebimento antecipado, sem ser um adiantamento. Não são

exigibilidades, em razão de não estarem sujeitas à devolução. Supondo um contrato de

aluguel por um ano, com recebimento antecipado e sem que o inquilino tenha direito à

restituição caso desista antes do fim do contrato, no encerramento do balanço (da

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 27

Page 28: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

empresa dona do imóvel), o valor correspondente aos meses restantes do contrato será

classificado como receita de exercício futuro.

Outro exemplo de receita de exercício futuro é o recebimento de uma comissão (além de

juros e correção), por uma instituição financeira, relativa a determinado empréstimo, se

não houver cláusula de devolução no caso de o devedor liquidar a dívida

antecipadamente.

bCustos e Despesas de Exercícios Futuros

Os custos e as despesas associados às receitas de exercícios futuros deverão ser

contabilizados (inclusive provisionados), para serem deduzidos das receitas e

fornecerem o resultado de exercícios futuros.

1.2.1.2.4 – Patrimônio Líquido

O patrimônio líquido representa, no balanço patrimonial, a parte da empresa que

pertence a seus proprietários. O ativo representa, no balanço patrimonial, os bens e

direitos à disposição da empresa, isto é, a aplicação dos recursos totais. As principais

rubricas (ou grupos) que compõem o patrimônio líquido são: capital, reservas de capital,

reservas de reavaliação, reservas de lucro e lucros ou prejuízos acumulados.

a) Capital Social

O capital de uma empresa pode ser representado por ações, no caso das sociedades

anônimas, ou por quotas quando se trata de uma sociedade por quota de

responsabilidade limitada, por exemplo. Desse modo, inicialmente, os acionistas ou

sócios subscrevem determinada quantidade de ações ou quotas, conforme o caso, e as

integralizam. Na subscrição, o acionista ou o sócio assume o compromisso perante a

própria empresa de participar de seu capital social, adquirindo determinada quantidade

de suas ações ou de suas quotas. Cada ação ou cada quota tem um valor unitário

previamente determinado. A integralização do capital ocorre quando o sócio ou o

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 28

Page 29: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

acionista efetua o pagamento à empresa pelas ações ou pelas quotas que havia subscrito.

A integralização pode ocorrer em dinheiro ou em bens. Após a constituição da empresa

e integralização inicial do capital, poderão ocorrer aumentos de capital decorrentes de

novos aportes de capital, de incorporações de lucros, de incorporação da correção

monetária do próprio capital (quando há correção do capital devido à inflação) ou ainda

de reavaliações de ativos.

Ocasionalmente, há casos de redução de capital, principalmente quando a empresa passa

por processo de cisão. Todo aumento de capital ocorre mediante alteração no estatuto

(sociedades anônimas) ou contrato social (sociedades por quotas de responsabilidade

limitada). Além da alteração no estatuto ou no contrato social, é possível, no caso das

sociedades anônimas, sabermos como ocorreram os aumentos de capital pela

demonstração das mutações do patrimônio líquido.

b) Capital a Integralizar

A conta de capital a integralizar representa as parcelas de capital que foram subscritas

pelos acionistas ou proprietários da empresa e que ainda não foram integralizadas. E

uma conta redutora do “capital subscrito”. Em termos de conta redutora, cabe lembrar

que a Lei das S.A. determina também que as ações em tesouraria, isto é, ações da

empresa adquiridas pela própria empresa, devem ser deduzidas do patrimônio líquido.

c) Reservas de Capital

De modo geral, as reservas constituem-se numa espécie de reforço ao capital social.

Portanto, capital social, reservas e lucros ou prejuízos acumulados compõem o

patrimônio líquido da empresa. Conforme determina o art. 182, da Lei n 6.404/76, as

reservas de capital compreendem:

• Ágio na emissão de ações: a diferença entre o valor patrimonial das ações e o preço

pago pelos acionistas.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 29

Page 30: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

• Alienação de partes beneficiárias: títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos

ao capital, os quais conferirão a seus titulares direito de crédito eventual contra a

companhia. A participação nos lucros, atribuída às partes beneficiárias, não pode

ultrapassar 10% dos lucros. Pode ocorrer ainda de as partes beneficiárias serem emitidas

gratuitamente, não gerando as respectivas reservas de capital.

• Alienações de bônus de subscrição: podem ser emitidas pelas com panhias, dentro do

limite de capital autorizado no estatuto, conferindo a seus titulares direito de subscrever

ações do capital social. • Prêmio recebido na emissão de debêntures: corresponde ao va

lor pago a mais pelo debenturista, em relação ao valor nominal da debên ture.

• Doação de bens: pode ser em dinheiro ou outro tipo de bens recebidos em doação pela

empresa, que devem ser contabilizados por seus valores de mercado.

• Subvenções recebidas pelas empresas: como um tipo de ajuda oferecida pelo governo.

Os incentivos fiscais podem ser entendidos como um tipo de subvenção e constituem

uma reserva de capital.

Cabe destacar, ainda, que as contas que compõem as reservas de capital não transitam

pela demonstração de resultados como receitas; portanto, não fazem parte do lucro das

operações da empresa.

d) Reservas de Lucro

As reservas de lucros, conforme sugere o próprio nome, são constituídas a

partir do lucro da empresa. Entre elas destacamos:

• Reserva legal: do lucro líquido do exercício, 5% são aplicados para a constituição da

reserva legal, que não poderá exceder 20% do capital social. A companhia poderá,

ainda, deixar de constituir a reserva legal no exercício em que o saldo dessa reserva,

acrescido das reservas de capital, exceder 30% do capital social. A reserva legal poderá

ser utilizada somente para compensação de prejuízo e para aumento de capital social.

• Reservas estatutárias: o estatuto da sociedade anônima poderá criar reservas, desde

que, para cada uma delas, indique a finalidade, estabeleça a percentagem do lucro que

será destinada a sua constituição e fixe limite máximo para tais reservas. São exemplos

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 30

Page 31: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

de reservas estatutárias: as constituídas para fazer face a planos de expansão, para

pagamento de dividendos ou para resgate de partes beneficiárias.

• Reservas para contingências: são constituídas com a finalidade de compensar em

exercícios futuros a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável e cujo

valor possa ser estimado. Tal reserva será revertida no exercício em que deixem de

existir as razões que justificaram sua constituição. • Reservas de lucros a realizar:

Considerando que o lucro que apare ce na demonstração de resultados é apurado com

base no regime de com petência do exercício, a reserva de lucros a realizar tem como

principal finalidade evitar a distribuição de dividendos relativos aos lucros não rea

lizados financeiramente, como nos casos de:

e) Reservas de Avaliação

As reservas de reavaliação são constituídas como decorrência da reavaliação de bens do

ativo permanente. Entende-se por reavaliação de bens aqueles ajustes processados em

seus valores como decorrência de laudos de avaliações elaborados por especialistas.

Normalmente, a reavaliação ocorre quando a empresa julga que determinado ativo

imobilizado está subavaliado. A reavaliação tem caráter espontâneo e consiste na

atribuição de um novo valor a um bem do imobilizado, maior do que seu valor residual

na contabilidade, com o objetivo de aproximar o valor contábil ao de mercado.

A disparidade entre o valor residual de um bem no ativo imobilizado de uma

empresa e seu valor de mercado pode ter várias razões, como, por exemplo:

• A ausência de atualização monetária do ativo imobilizado ou a utilização de índices

oficiais que não reflitam adequadamente a perda do poder aquisitivo da moeda no

período.

• A valorização de um bem no mercado durante um período foi superior ao valor

contábil.

• Um prédio utilizado por uma empresa após 25 anos pode estar em boas condições de

uso, porém, tendo sido depreciado à base de 4% ao ano, terá seu valor residual igual a

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 31

Page 32: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

zero. Seguramente, seu valor de mercado não será zero. É inquestionável que nessa

condição é preciso uma reavaliação.

Há também o lado ruim da questão, que é aquele em que algumas empresas fazem as

reavaliações com o propósito de maquilar, isto é, de embelezar os COMPONENTES

DO BALANÇO

f) Lucros ou Prejuízos Acumulados

Em lucros ou prejuízos acumulados, encontramos o que restou do lucro da empresa após

a constituição das reservas, distribuição de dividendos e pagamento das participações

estatutárias no lucro. A Lei das Sociedades por Ações (art. 176) obriga a publicação,

pelas empresas de capital aberto e sociedades anônimas em geral, da demonstração dos

lucros ou prejuízos acumulados, podendo tal de monstrativo fazer parte da

demonstração das mutações do patrimônio líquido.

O quadro a seguir exemplifica um balanço patrimonial de uma conhecida metalúrgica

de MG. Observe suas contas.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 32

Page 33: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Descrição da Conta

31/12/

2004

31/12/

2003 Descrição da Conta

31/12/

2004

31/12/

2003

Ativo Total

11.27

1.122

9.341.

603 Passivo Total

11.27

1.122

9.341.

603

Ativo Circulante

3.746.

938

2.309.

116 Passivo Circulante

2.239.

083

1.846.

094

Disponibilidades

1.398.

139

442.7

33

Empréstimos e

Financiamentos

598.2

44

898.7

93

Créditos

1.096.

629

1.025.

130 Debêntures 0 0

Contas a Receber

890.3

82

855.7

54 Fornecedores

98.97

9

185.4

22

Títulos e Valores a

Receber

206.2

47

169.3

76

Impostos, Taxas e

Contribuições

461.4

80

77.86

7

Estoques

931.4

40

682.5

92 Tributos a Recolher

131.1

65

46.41

2

Produtos Acabados

176.3

35

182.3

34

Contribuições Sociais a

Recolher 9.920 7.063

Produtos em

Elaboração

175.4

00

105.8

75

Imposto de Renda e

Contribuição Social

320.3

95

24.39

2

Matérias Primas

276.8

68

181.6

78 Dividendos a Pagar

794.8

03

306.3

72

Suprimentos e

Sobressalentes

185.3

79

158.8

25 Provisões

45.23

1

41.36

7

Importações em

Andamento

113.0

18

51.13

8

Obrigações

Trabalhistas

45.23

1

41.36

7

Outros 4.440 2.742

Dívidas com Pessoas

Ligadas

46.89

8

178.0

54

Outros

320.7

30

158.6

61 Outros

193.4

48

158.2

19

Imposto de renda e

Cont.Social diferidos

294.6

07

138.8

57 Contas a Pagar

136.9

92

95.99

5

Instrumentos 0 0 Tributos Parcelados 18.22 28.21

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 33

Page 34: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Financeiros 6 8

Outros

26.12

3

19.80

4

Instrumentos

Financeiros

27.16

7

27.64

7

Ativo Realizável a

Longo Prazo

913.6

68

1.425.

614 Outros

11.06

3 6.359

Créditos Diversos

24.49

5

27.85

7

Passivo Exigível a

Longo Prazo

3.022.

060

3.470.

451

Devedores Imobiliários

11.56

1

11.68

8

Empréstimos e

Financiamentos

961.9

57

1.597.

248

Contas Correntes

Devedoras

12.93

4

16.16

9 Debêntures 0 0

Créditos com Pessoas

Ligadas

138.2

06

297.5

60 Provisões

1.552.

200

1.588.

149

Com Coligadas 0 0 Passivo a descoberto 0

117.6

62

Com Controladas

138.2

06

297.5

60 Passivos Contingentes

589.7

69

502.6

85

Com Outras Pessoas

Ligadas 0 0 Passivo Atuarial

962.4

31

967.8

02

Outros

750.9

67

1.100.

197

Dívidas com Pessoas

Ligadas 0 0

Imposto de Renda e

Cont.Social diferidos

550.8

58

934.6

50 Outros

507.9

03

285.0

54

Depósitos Judiciais

159.4

80

130.2

90

Imposto de Renda e

Cont.Social diferidos

75.59

2

89.63

7

Ações de Outras

Companhias

20.98

0

25.63

9

Contas Correntes

Credoras

125.4

63

49.63

0

Depósitos p/ Incentivos

Fiscais 0 0 Tributos Parcelados

151.2

67

91.19

0

Imóveis à Venda 5.019 5.072

Instrumentos

Financeiros

155.5

81

54.59

7

Instrumentos

Financeiros 0 0

Resultados de

Exercícios Futuros 0 0

Outros 14.63 4.546 Patrimônio Líquido 6.009. 4.025.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 34

Page 35: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

0 979 058

Ativo Permanente

6.610.

516

5.606.

873

Capital Social

Realizado

1.280.

839

1.280.

839

Investimentos

3.108.

864

1.990.

933 Ações Ordinárias

608.5

34

608.5

34

Participações em

Coligadas

130.1

96

42.47

9 Ações Preferenciais

672.3

05

672.3

05

Camargo Correa

Cimentos S.A. 0 0 Reservas de Capital

1.831.

542

1.831.

542

Consórcio Siderurgia

Amazônia

78.92

9

24.20

2

Incentivo Fiscal IPI -

Lei 7554/86

149.5

24

149.5

24

MRS Logística

51.26

7

18.27

7

Subvenções para

Investimentos 0 0

Participações em

Controladas

2.932.

650

1.902.

393

Valor Excedente na

Subscrição de Ações

1.787.

313

1.787.

313

Cia Siderúrgica

Paulista

1.972.

862

1.203.

530 Ações em Tesouraria

-

105.2

95

-

105.2

95

Debêntures Subscritas

- Cosipa 0 0

Reservas de

Reavaliação 0 0

Usiminas Mecânica

S.A.

399.3

51

368.9

68 Ativos Próprios 0 0

Usiminas Importação e

Exportação S.A. 676 3.853 Controladas/Coligadas 0 0

Usiparts S.A. -

Sistemas Automotivos

29.37

4

14.77

0 Reservas de Lucro

2.897.

598

912.6

77

Siderholding

Participações Ltda 265

45.78

7 Legal

218.3

20

65.63

4

Rio Negro Com. e Ind.

de Aço S.A.

77.68

6

16.27

1 Estatutária 0 0

RNcentro

Participações Ltda 535

36.74

5 Para Contingências 0 0

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 35

Page 36: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Usiminas International

Ltd

339.5

81

212.1

35 De Lucros a Realizar 0 0

Fasal S.A. Com. Ind.

Prods. Siderúrgicos

80.44

3 0 Retenção de Lucros 0 0

Unigal Ltda

27.71

4 0

Especial p/ Dividendos

Não Distribuídos 0 0

Outras 4.163 334

Outras Reservas de

Lucro

2.679.

278

847.0

43

Outros Investimentos

46.01

8

46.06

1

Para Investimentos e

Capital de Giro

2.679.

278

847.0

43

Imobilizado

3.501.

652

3.615.

940 Ações em Tesouraria 0 0

Em Operação

6.475.

877

6.774.

114

Lucros/Prejuízos

Acumulados 0 0

Depreciação

-

3.131.

967

-

3.279.

445

Em Obras

157.7

42

121.2

71

Diferido 0 0      

1.2.2 – Principais Componentes da Demonstração de Resultados do Exercício

Conforme o próprio nome sugere, a demonstração do resultado mostra o lucro ou

prejuízo obtido pela empresa no período. A demonstração do resultado da empresa

abriga: (1) as receitas; (II) o custo dos produtos, mercadorias ou serviços; e (III) as

despesas relativas a determinado período, que normalmente é de um ano. Quando,

entretanto, a empresa procede à alteração na data do encerramento de seu exercício

social, temos um período diferente de 12 meses para o exercício em que ocorreu a

mudança.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 36

Page 37: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Cabe lembrar que, enquanto o balanço patrimonial apresenta a posição de ativos e

passivos em determinado momento, a demonstração do resultado agrupa valores

relativos a um período.

1.2.2.2.1 - Receita Operacional

A receita operacional decorre das operações normais e habituais da empresa. Numa

indústria, a receita operacional decorre das vendas dos produtos que a em presa fabrica.

Numa empresa comercial, decorre das vendas de mercadorias. Nas empresas de

prestação de serviços, logicamente, decorrerá dos serviços prestados.

1.2.2.1.1 Receita Operacional Bruta

A receita operacional bruta, muitas vezes, aparece também com a denominação vendas

brutas, representando, portanto, o faturamento bruto da empresa.

Em cada nota fiscal que a empresa emite, o valor da venda relativo a um produto será

igual ao preço unitário daquele produto vezes a quantidade de unidades vendidas,

acrescida ainda dos impostos que sejam cumulativos sobre o valor dos produtos ou

mercadorias vendidas.

Nas empresas de prestação de serviços, o faturamento pode ser em função dos serviços

prestados ou colocados à disposição do cliente, ou mesmo de tarefas concluídas ou de

horas trabalhadas.

1.2.2.1.2 - Vendas Canceladas

As vendas canceladas são aquelas decorrentes das devoluções efetuadas pelos clientes,

em função de os produtos não atenderem a suas especificações, apresentarem defeitos,

ou por qualquer outra razão.

1.2.2.1.3 Abatimentos Sobre Vendas

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 37

Page 38: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Os abatimentos são decorrentes de descontos especiais concedidos aos clientes em

função de defeitos apresentados, por exemplo.

1.2.2.1.4 Impostos Incidentes Sobre Vendas

No caso dos impostos incidentes sobre vendas, trata-se de valores que foram

transferidos pela empresa para os governos federal (IPI), estadual (ICMS) ou municipal

(ISS), por exemplo.

1.2.2.1.5 Receita Operacional Líquida

A receita operacional líquida é efetivamente a parte da receita que ficará para a empresa

cobrir seus custos e despesas e para gerar lucro. Em resumo, a receita operacional bruta,

menos devoluções, abatimentos e impostos incidentes sobre vendas, gera a receita

operacional líquida.

1.2.2.2 – Custo dos Produtos, Mercadorias ou Serviços Vendidos

Os quatro grandes grupos de atividades são:

- As indústrias, que têm a função de produzir, transformando matéria-prima em bens;

- O comércio, que tem a função de intermediação, isto é, compra e venda, sem participar

diretamente no processo de transformação, como é o caso da indústria;

- O seguimento de prestação de serviços.

- A agricultura, a pecuária e a extração, que não serão objeto de análise nesta apostila.

1.2.2.3.1 Custos dos Produtos Vendidos

A empresa industrial compra as matérias-primas, transforma-as em bens destinados ao

consumo da população, ou mesmo em máquinas e equipamentos destinados à produção

de outros bens. O cálculo do custo dos produtos vendidos envolve técnicas e conceitos

de contabilidade de custos mais abrangentes. Conceitualmente, o custo de fabricação de

um produto compreende todos os gastos necessários à obtenção desse produto. Em

resumo, temos:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 38

Page 39: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Custo de Matéria-prima + Mão-de-obra + Custos Indiretos de Produção

O agrupamento dos itens do custo de produção exige da empresa uma estrutura contábil

que permita identificar a quantidade de matéria-prima, os componentes e a mão-de-obra

direta que vai em cada produto. Ao mesmo tempo, é necessário que os custos indiretos

de fabricação sejam imputados ao produto por meio de critérios de rateio. Entre os

custos indiretos de fabricação, podemos citar os salários e encargos do pessoal de

fábrica, cujo trabalho não seja de fácil identi ficação no produto, os gastos com energia

para iluminação da fábrica, combustíveis, lubrificantes e depreciações, além de outros.

É sempre importante a distinção entre os custos de produção e as despesas do período.

Um mesmo tipo de gasto, dependendo de sua utilidade, pode receber classificações

distintas. Supondo o caso dos salários e encargos de uma secretária, se a mesma estiver

alocada na área de produção, seus salários e encargos serão classificados como custo

indireto de fabricação; se estiver na área de vendas, serão classificados como despesa

comercial; se estiver na área administrativa, serão uma despesa administrativa. Observe

que, na primeira situação (produção), a atividade de secretária está relacionada de forma

indireta com o processo produtivo, enquanto nas Outras duas (vendas e administração),

sua atuação é necessária à atividade da respectiva área onde trabalha, não podendo seus

salários serem considerados custo de produção.

1.2.2.3.2 Custo das Mercadorias Vendidas

O custo das mercadorias vendidas (CMV) é utilizado no caso de empresas comerciais,

havendo duas formas básicas para seu cálculo. A primeira refere-se às empresas que não

dispõem de um controle permanente de seus estoques e que, ao final de cada período,

procedem ao levantamento físico das quantidades de mercadorias existentes. Neste caso,

o cálculo do CMV é o seguinte:

Custo das Mercadorias = Estoque Inicial + Compras - Estoque Final

Para as empresas que mantêm controle permanente de seus estoques, registrando todas

as entradas e saídas de mercadorias, a obtenção do CMV ocorre diretamente pelos

registros contábeis, servindo eventual contagem física apenas para verificação da

eficiência dos controles.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 39

Page 40: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1.2.2.3.3 Custos dos Serviços Prestados

No caso das empresas de prestação de serviços, o custo dos serviços prestados (CSP)

compreende todos os gastos necessários à obtenção dos serviços. Na prática, entretanto,

muitas das empresas de prestação de serviços tratam todos seus gastos como despesas

do período (despesas operacionais), sem fazer distinção entre os custos necessários à

obtenção dos serviços e as despesas relativas ao exercício.

1.2.2.4 Lucro Bruto

O lucro bruto é a diferença entre a receita operacional líquida e o CMV, CPV ou CSP.

A chamada margem bruta é a relação percentual entre o lucro bruto e a receita líquida.

Normalmente, o analista verifica como essa relação vem se com portando

historicamente.

1.2.2.5 – Despesas Operacionais

Segundo a legislação fiscal, são operacionais as despesas não computadas nos custos,

necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, ou

seja, as despesas necessárias às atividades da empresa.

1.2.2.5.1 Despesas com Vendas

São as despesas operacionais necessárias às atividades comerciais da empresa, tais

como: comissões de vendas, salários e encargos do pessoal da área de vendas, aluguéis

relativos aos escritórios de vendas, material de escritório, comunicações, promoção e

propaganda, entre outras necessárias às atividades da empresa e relacionadas com as

funções de comercialização das mercadorias, produtos ou serviços da empresa.

1.2.2.5.2 Despesas Administrativas

Despesas administrativas são parte das despesas operacionais. Dessa forma, as despesas

administrativas compreendem os gastos incorridos com as atribuições da administração

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 40

Page 41: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

geral, tais como: salários e encargos de pessoal administrativo, aluguéis, despesas legais

e judiciais, material de escritório e outras com as mesmas características.

1.2.2.5.3 Despesas Financeiras (líquidas das receitas)

As despesas financeiras geralmente são publicadas na demonstração do resultado,

líquidas das receitas financeiras. Estas decorrem fundamentalmente das aplicações

financeiras feitas pela empresa no período, enquanto aquelas decorrem, basicamente, de

juros e encargos pagos à instituições financeiras, sobretudo pela utilização de capital

emprestado. Também são contabilizados como receitas financeiras pelas empresas os

descontos financeiros obtidos por antecipação de pagamento a fornecedores. Lado

outro, cabe lembrar que os descontos que a empresa concede a seus clientes por

antecipação de pagamento, após haver faturado, também são tratados como despesas

financeiras.

1.2.5.4 Outras Receitas e Despesas Operacionais

Nesse item, são abrigadas outras receitas, bem como outras despesas operacionais não

classificadas como despesas administrativas ou como despesas com vendas.

1.2.2.5.5 Resultado de Equivalência Patrimonial

Em item anterior, ao tratarmos das participações em outras empresas, abordamos a

forma de avaliação dos investimentos em coligadas e controladas. É importante

retomarmos o assunto para entendermos o chamado resultado de equivalência

patrimonial. Conforme art. 248, da Lei n 6.404 76, é obrigatório o uso do método de

equivalência patrimonial para avaliação dos investimentos relevantes em sociedades

coligadas, sob cuja administração tenha influência ou de que participe com 20% ou mais

do capital social, e em sociedades controladas. É considerado relevante o investimento

em cada sociedade controlada ou coligada se o valor contábil é igual ou superior a 10%

do patrimônio líquido da companhia, ou se no conjunto de sociedades controladas e

coligadas esse valor for igual ou superior a 15%. Cabe destacar que, no caso das

sociedades anônimas de capital aberto, por determinação da CVM, devem avaliar seus

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 41

Page 42: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

investimentos em controladas (só em controladas) pelo método de equivalência

patrimonial, independente de o investimento ser ou não relevante.

É sempre importante o analista conhecer como foram gerados os lucros nas coligadas e

controladas que deram origem à equivalência na investidora.

Desse modo, se uma empresa tem participação em outra e atende às condições para

avaliação dos investimentos pelo método de equivalência patrimonial, a empresa

investidora irá reconhecer em sua demonstração de resultado uma parcela do lucro ou

do prejuízo da empresa na qual tem o investimento, na proporção de sua participação no

capital da outra, conforme já comentamos.

Quando o resultado de equivalência patrimonial for positivo, isto indica que está

havendo lucro na empresa na qual foi feito o investimento, ao mesmo tempo que

equivalência patrimonial negativa significa prejuízo da empresa investida.

Adicionalmente, é importante destacar que o resultado de equivalência patrimonial

apresentado na demonstração do resultado pode consolidar o resultado de diversas

empresas cujos investimentos estejam sendo avaliados pelo método de equivalência

patrimonial. Normalmente, as notas explicativas relacionam todas as empresas e os

valores que compõem o total especificado na demonstração do resultado da investidora.

1.2.2.6 Lucro Operacional

O lucro operacional, é o lucro bruto menos as despesas operacionais, mais o efeito

(ganho ou perda) de equivalência patrimonial.

Lucro Bruto - Despesas com vendas - Despesas administrativas - Outras receitas e

despesas operacionais - Despesas financeiras (líquidas das receitas) +/- Resuftado de

equivalência patrimonial = Lucro operaclonal

1.2.2.7 Receitas e Despesas Não Operacionais

1.2.2.7.1 Receitas Não Operacionais

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 42

Page 43: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Serão incluídos em receitas não operacionais, os valores relativos às receitas decorrentes

de transações eventuais, isto é, algo que não é recorrente, que não se repete

habitualmente, como, por exemplo, o lucro obtido na venda de um bem in tegrante do

ativo imobilizado da empresa, ou mesmo o ganho na alienação de um investimento.

Sempre que a empresa apresentar receitas não operacionais relevantes, é preciso que o

analista saiba as causas e origens de tais receitas.

1.2.2.7.2 Despesas Não Operacionais

Serão incluídos em despesas não operacionais os valores atinentes às perdas em

transações eventuais, como, por exemplo, prejuízos na venda de bens do imobilizado ou

na alienação de investimentos. Perdas eventuais decorrentes de incêndios ou

inundações, sem que haja cobertura de seguros, também são classificadas em despesas

não operacionais.

1.2.2.8 Lucro Antes dos Impostos, Contribuições E Participações (LAIR)

Mais conhecido como LAIR (Lucro antes do imposto de renda), compreende o lucro do

período antes de deduzir o Imposto de Renda, a contribuição social e as participações

estatutárias no lucro. É o mesmo que o lucro operacional, menos o saldo de correção

monetária, mais as receitas não operacionais, menos as despesas não operacionais.

1.2.2.9 Imposto de Renda, Contribuições Sociais e Participações

Representa o Imposto de Renda do exercício que é uma percentagem do lucro

tributável. A provisão para imposto de renda constituída pela empresa é debitada no

resultado do exercício e creditada como obrigação no passivo circulante ou no exigível

a longo prazo, conforme o prazo em que o Imposto de Renda tenha de ser recolhido à

Receita Federal.

A contribuição social é outra parcela que é calculada com base no lucro da empresa,

sendo recolhida ao governo federal, conforme prevê a Constituição.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 43

Page 44: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Compreende as participações estatutárias, que representem parcelas dos lucros

destinadas a empregados, diretores, debenturistas ou a portadores de partes

beneficiárias, por exemplo.

1.2.2.10 Lucro Líquido do Exercício

O lucro líquido é a parcela do resultado do período que sobrou para os acionistas ou

sócios. O lucro líquido, terá sua destinação orientada segundo os estatutos ou contrato

social da empresa, segundo a assembléia de acionistas ou decisão dos sócios e segundo

a Lei n 6.404 76. O art. 193, da Lei das Sociedades por Ações, determina que 5% do

lucro líquido do exercício, antes de qualquer destinação, deverão constituir a reserva

legal, que não pode exceder 20% do capital social. Prevê a lei, ainda (art. 194), que o

estatuto da companhia poderá criar reservas, desde que:

1 - indique de modo preciso e completo sua finalidade;

II - fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão

destinados a sua constituição;

III - estabeleça o limite máximo de reserva.

Parte dos lucros poderá ser distribuída sob a forma de dividendos, desde que o estatuto

fixe uma percentagem do lucro ou do capital, ou mesmo outro critério, desde que sejam

regulados com precisão e não sujeitem o acionista minoritário ao arbítrio dos órgãos da

administração ou da maioria. O dividendo obrigatório é definido na Lei n 6.404 76, em

seu art. 202, § 2 e diz:

Quando o estatuto for omisso e a assembléia geral deliberar alterá-lo para introduzir

norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e

cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos deste artigo.

Seguramente, o lucro líquido é um dos itens mais importantes para os proprietários das

empresas, pois possibilitará o retorno sobre seus investimentos.

A seguir, como exemplo, a tabela descreve a DRE da mesma empresa usada como

exemplo para o Balanço Patrimonial

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 44

Page 45: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Descrição da Conta

01/01/2004 a

31/12/2004

01/01/2003 a

31/12/2003

Receita Bruta de Vendas e/ou

Serviços 8.803.356 6.221.262

Deduções da Receita Bruta -2.120.229 -1.412.503

Receita Líquida de Vendas e/ou

Serviços 6.683.127 4.808.759

Custo de Bens e/ou Serviços

Vendidos -3.585.897 -3.012.755

Resultado Bruto 3.097.230 1.796.004

Despesas/Receitas Operacionais 780.179 -218.300

Com Vendas -97.650 -69.201

Gerais e Administrativas -118.865 -99.312

LO 1 2.880.715 1.627.491

Financeiras -298.973 -360.748

Receitas Financeiras 58.605 -34.869

Despesas Financeiras -357.578 -325.879

LO 2 2.581.742 1.266.743

Outras Receitas Operacionais 48.898 32.703

Outras Despesas Operacionais -137.053 -182.982

Resultado da Equivalência

Patrimonial 1.383.822 461.240

Equivalência Patrimonial 1.262.486 412.614

Amortização de (Ágio) Deságio,

líquida 3.674 3.674

Prov. p/ Perdas com Passivo a

Descoberto 117.662 44.952

Resultado Operacional 3.877.409 1.577.704

Resultado Não Operacional -12.628 -23.951

Receitas 2.928 2.519

Despesas -15.556 -26.470

Resultado Antes 3.864.781 1.553.753

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 45

Page 46: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Tributação/Participações

Provisão para IR e Contribuição

Social -551.921 -120.740

IR Diferido -259.136 -120.326

Lucro/Prejuízo do Exercício 3.053.724 1.312.687

1.3 – Padronização das Demonstrações Financeiras

A padronização das demonstrações financeiras para fins de análise, como o próprio

nome está sugerindo, tem por finalidade levar as peças contábeis a um padrão que

atenda às diretrizes técnicas internas da instituição ou do profissional independente que

esteja desenvolvendo a análise para atender determinada finalidade, como uma decisão

de investimentos ou decisão de crédito, entre outros objetivos.

Alguém pode achar difícil entender o motivo da padronização das demonstrações

financeiras para fins de análise, uma vez que existem tantas normas e tantas

organizações que definiram critérios, que dificilmente restaria algo a acrescentar, isto é,

as demonstrações financeiras já estariam perfeitas. É evidente que essa suposição está

errada. Cada análise é desenvolvida com um propósito específico, devendo o processo

de padronização orientar a análise para atender às Políticas Internas de Análise, as quais

decorrem de diversos fatores como:

a) O objetivo da análise: crédito, investimento, fusões, incorporações e análise de

concorrência, entre outros usos.

b) No caso de análise para crédito: análise para pequenos, médios ou grandes negócios.

Para curto ou longo prazo.

c) No caso de análise de investimentos: análise para grandes ou pequenos

investimentos. Para investimentos especulativos ou para aplicações permanentes

efetivamente.

Assim, do ponto de vista de cada usuário será necessário readaptar as peças contábeis

para atender aos seus objetivos. Nossa pretensão, neste item,será tão somente apresentar

algumas técnicas que habitualmente são utilizadas pelos analistas de crédito e de

investimentos, para fins de reclassificação, ou seja, de padronização de demonstrações

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 46

Page 47: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

financeiras, bem como apresentar a padronização a ser utilizada durante nosso curso.

Não obstante ao conjunto de normas que rege a apresentação das demonstrações

financeiras, há necessidade de que o analista proceda uma readaptação dos

demonstrativos contábeis, reclassificando algumas de suas rubricas. Isso visa atender

aos propósitos de análise, podendo ter também como objetivo corrigir as eventuais

distorções, tanto do ponto de vista teórico quanto em relação às diferenças de critérios

que possam existir nos procedimentos adotados pelas diversas empresas, apesar de todo

o aparato de orientação. Tal reclassificação, além de atender às Políticas Internas de

Análise, propicia ao analista consistência nos critérios, permitindo-lhe, portanto, melhor

comparabilidade entre as diversas empresas do mesmo ramo de atividade, da mesma

região geográfica e do mesmo porte. O analista tem como responsabilidade profissional

interpretar as informações disponíveis e emitir seu parecer sobre determinada empresa,

cabendo ao mesmo assumir uma posição conservadora diante de situações duvidosas,

isto é, quando as informações não forem suficientemente claras, deverá proceder à

reclassificação de forma conservadora. Daí, quanto mais cuidadoso (e competente,

evidentemente) seja o analista, maior segurança se pode ter no produto de seu trabalho.

Metodologia de Padronização

2.3.1

Conforme já foi dito, a reclassificação ou padronização das demonstrações financeiras

tem como objetivo trazê-las a um padrão de procedimento e de ordenamento na

distribuição das contas, visando diminuir as diferenças nos critérios utilizados pelas

empresas na apresentação de tais demonstrações financeiras. O outro objetivo é fazer

com que as demonstrações atendam às necessidades de análise e sejam apresentadas de

forma simples de visualizar e fácil de entender, isto é, de correlacionar os diversos itens,

seguindo critérios próprios adotados internamente na empresa que esteja procedendo à

análise.

Não é exagero dizer que a verdadeira análise começa na reclassificação das

demonstrações financeiras. É necessário que o analista responsável por essa tarefa

conheça bem o que representa cada uma das contas das demonstrações financeiras, que

tenha domínio do mecanismo contábil utilizado pelas empresas, sabendo como aqueles

valores surgiram, o que eles representam e como serão liquidados. Precisa ainda saber

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 47

Page 48: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

interpretar a nomenclatura utilizada pelas empresas, conver-tendo-a para planilhas

internas. É fundamental que o analista tenha condições de avaliar a relevância de cada

item, na medida que tal item possa apresentar dificuldade. Valores importantes devem

ser esclarecidos e pequenos valores muitas vezes não justificam perda de tempo.

Mesmo havendo uma estrutura legal para apresentação do balanço patrimonial, se

observarmos várias demonstrações financeiras de diferentes empresas, notaremos que

cada uma delas pode apresentar certas particularidades e contas que sejam inerentes à

sua atividade. Daí, a necessidade da definição de uma planilha própria que possibilite a

obtenção das informações necessárias à tomada de decisão e que seja de fácil

visualização e interpretação dos dados das várias empresas em análise.

A tabela a seguir será a nossa referência de padronização de Balanços durante o curso

de Administração Financeira na Faculdade de Sabará:

Descrição da Conta 31/12/2004 31/12/2003 Descrição da Conta 31/12/2004 31/12/2003

Ativo Total 11.271.122 9.341.603 Passivo Total 11.271.122 9.341.603

Ativo Circulante 3.746.938 2.309.116 Passivo Circulante 2.239.083 1.846.094

Disponibilidades 1.398.139 442.733

Empréstimos e

Financiamentos 616.470 927.011

Créditos 1.096.629 1.025.130 Debêntures 0 0

Estoques 931.440 682.592 Fornecedores 235.971 281.417

Outros 320.730 158.661

Impostos, Taxas e

Contribuições 598.472 173.862

Dividendos a Pagar 794.803 306.372

Provisões 45.231 41.367

Outros 11.063 6.359

Ativo Realizável a Longo

Prazo 913.668 1.425.614

Passivo Exigível a Longo

Prazo 3.022.060 3.470.451

Créditos Diversos 24.495 27.857

Empréstimos e

Financiamentos 961.957 1.597.248

Créditos com Pessoas

Ligadas 138.206 297.560 Debêntures 0 0

Outros 750.967 1.100.197 Provisões 1.552.200 1.588.149

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 48

Page 49: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Outros 507.903 285.054

Ativo Permanente 6.610.516 5.606.873 Patrimônio Líquido 6.009.979 4.025.058

Investimentos 3.108.864 1.990.933 Capital Social Realizado 1.280.839 1.280.839

Imobilizado 3.501.652 3.615.940 Reservas de Capital 1.831.542 1.831.542

Diferido 0 0 Reservas de Reavaliação 0 0

Reservas de Lucro 2.897.598 912.677

     

Lucros/Prejuízos

Acumulados 0 0

A quantidade de exercícios financeiros analisados varia de acordo com o propósito da

análise a ser desenvolvida. No exemplo, por questões de formatação na apostila,

estamos apresentando o modelo com apenas dois exercícios financeiros, mas em nossos

estudos, pela precisão que se faz necessária, sempre trabalharemos com 3 exercícios.

Comparando os dois quadros que retratam o balanço patrimonial completo, (mais no

início do capítulo), e o balanço padronizado (apresentado supra), notamos basicamente

que Algumas contas são agrupadas, como por exemplo aquelas que integram as

disponibilidades, ou ainda contas a pagar, no passivo circulante, que foi somada com

fornecedores.

As razões que justificam a padronização da demonstração do resultado são análogas às

que citamos em relação ao balanço patrimonial. Vejamos no Quadro a seguir, o padrão

que utilizaremos em nosso curso.

Descrição da Conta 01/01/2004 a 31/12/2004

Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços 8.803.356

Deduções da Receita Bruta -2.120.229

Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 6.683.127

Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -3.585.897

Resultado Bruto 3.097.230

Despesas Administrativas -216.515

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 49

Page 50: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

LO 1 2.880.715

Financeiras -298.973

LO 2 2.581.742

Outras Receitas Operacionais 48.898

Outras Despesas Operacionais -137.053

LO 3 2.493.587

Resultado da Equivalência Patrimonial 1.383.822

Resultado Operacional 3.877.409

Resultado Não Operacional -12.628

Resultado Antes Tributação/Participações 3.864.781

Provisão para IR e Contribuição Social -551.921

IR Diferido -259.136

Lucro/Prejuízo do Exercício 3.053.724

Para chegar-se à padronização da DRE, tomamos os seguintes procedimentos:

1)Reagrupamos as despesas operacionais em três grupos: Administrativas,

Financeiras e outras.

2 As despesas administrativas são a soma das despesas com vendas, administrativas,

pagamento de administradores, e outras do tipo.

3) As despesas financeiras são a soma das receitas com as despesas financeiras.

4) Criamos 3 “Lucros operacionais intermediários”. O propósito disto é

compararmos a evolução destes lucros parciais através do tempo

1.4 – Análise Vertical e Horizontal

O método de análise vertical e horizontal presta valiosa contribuição na interpretação da

estrutura e da tendência dos números de uma empresa. Pode ainda auxiliar na análise

dos índices financeiros e em outros métodos de análise. De certa forma, análise vertical

e análise horizontal completam-se e até sobrepõem-se.

Para se fazer uma boa análise financeira de uma empresa, é necessário conjugar o

uso dos vários ferramentais disponíveis. Desse modo, a análise horizontal e vertical

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 50

Page 51: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

deve ser entendida como um dos instrumentos de trabalho do analista e não como

instrumento único.

1.4.1 – Análise Vertical

A análise vertical relaciona a participação de uma conta do balanço, ou DRE, com o

tal destes. No balanço Patrimonial, tem-se o ativo total (ou passivo total) como o

denominador, e a conta em análise como numerador. O ativo total corresponde a

100%, enquanto queremos determinar quanto cada conta do balanço tem sua

participação neste total de 100%

Como exemplo, iremos utilizar as contas Disponibilidade e empréstimos, relativos

ao ano de 2004, do balanço que apresentamos como exemplo.

A disponibilidade de 2004 é de R$ 1.398.139, e o ativo total é de

R$11.271.122; Logo 1.398.139 / 11.271.122 = 12,40%

Ou seja, do total dos ativos neste empresa, 12,40% estão aplicados nas

disponibilidades.

Os fornecedores de 2004 são de R$98.979, enquanto o passivo total é de

r$11.271.122. Logo 98.979 / 11.271.122 = 0,88%

Ou seja, do total das obrigações que a empresa tem, somente 0,88% deve aos

fornecedores.

IMPORTANTE: Alerta-se que para a precisão para a qual necessitamos, todos

os resultados de quaisquer cálculos devem ter duas casas decimais.

Já na demonstração do resultado do exercício (DRE), devemos tomar sempre como

base (100%) a Receita Líquida de Vendas, ou também chamada de vendas líquidas.

Alerta-se para este ponto, pois é comum, alunos cometerem erros em trabalhos e

provas por usarem a Receita Bruta de Vendas.

Como exemplo, vamos calcular os índices verticais para as contas dos custos dos

produtos vendidos e do lucro líquido?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 51

Page 52: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O CPV de 2004 é de -3.585.897, enquanto a Receita líquida de Vendas é de

6.683.12, logo -3.585.897 / 6.683.127 = 53,66%

Ou seja, de tudo que esta empresa vende, 53,66% é utilizado para pagar os

custos de fabricação de seus produtos.

O lucro líquido é de 3.053.724, enquanto a receita líquida de vendas é de

6.683.127, logo

3.053.724 / 6.683.127 = 45,69%

Assim, após esta empresa vender seus produtos, pagar seus custos e

despesas operacionais, as despesas não operacionais, pagar seus tributos,

fica com 44,69%, o que é um resultado excepcional, em todos os sentidos, de

forma que já temos a percepção que é uma empresa que dá retornos de

rentabilidades muito bons.

Em síntese: a análise vertical compara com que participação cada conta

contribui para o total do ativo, ou das receitas líquidas, caso seja BP ou DRE,

respectivamente.

1.4.2 – Análise Horizontal

A análise horizontal tem por finalidade levantar a evolução de uma determinada

conta, em relação a ela mesma, num certo período de tempo. Assim, o índice a

ser comparado é o ano mais distante, sendo ele o denominador, e o ano em

análise o numerador.

ATENÇÃO – A análise horizontal sempre é calculada em relação ao ano mais

distante. Se temos 4 exercícios financeiros, por exemplo 2006, 2005, 2004 e

2003,calculamos 2006 em relação a 2003, 2005 em relação a 2003, e 2004 em

relação a 2003.

Suponhamos, pois, que queremos saber como foi a evolução da conta

estoques nos anos que temos disponíveis em nosso balanço. Para tanto,

dividimos o estoque de 2004 pelo de 2003, assim temos:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 52

Page 53: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

931.440 / 682.592 = 140,76%

Concluímos pois, que houve um aumento de 40,76% de 2003 para 2004 nos

estoques da nossa metalúrgica.

Verifiquemos agora, a evolução do lucro líquido nos anos que temos disponível

em nossa DRE. Assim teremos lucro 2004/lucro 2003, então:

3.053.724 /1.312.687 = 232,63%

Portanto, o lucro líquido aumentou em 132,63%.

Lembremos que 100% corresponde ao índice mais antigo, portanto as variação

computadas são acima ou abaixo deste índice.

Particularidades da Análise Horizontal

1) Tendo como resultado de um cálculo de índice horizontal um número

menor que 100%, a diferença entre este número e e 100 será o percentual

em que a conta decresceu.

2) Se em um ano índice, em nosso caso 2003, uma conta qualquer for igual

a 0, não posemos calcular os índices horizontais, vez que é impossível

dividir-se por 0.

3) Quando há mudança no sinal da conta (um ano é positivo e outro é

negativo), não levamos em conta o índice horizontal, pois pode causar

muitos problemas para seu entendimento.

Confirma-se o que foi falado no início deste item: as análises vertical e

horizontal se complementam, na medida em que uma auxilia a outra na

compreensão das demonstrações financeiras, ou até mesmo, ajudam a

levantar dúbidas sobre estas.

A seguir apresentamos um quadro com o cálculo dos índices vertical e

horizontal da empresa em análise.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 53

Page 54: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Balanço de pagamento – Análise Vertical e Horizontal

Descrição da

Conta

AV

2004

AH

2004-

2003

AV2

003

Descrição da

Conta

AV

2004

AH

2004-

2003

AV2

003

Ativo Total

100,

00%

120,66

%

100,

00% Passivo Total

100,

00%

120,66

%

100,

00%

Ativo Circulante

33,2

4%

162,27

%

24,7

2% Passivo Circulante

19,8

7%

121,29

%

19,7

6%

Disponibilidades

12,4

0%

315,80

%

4,74

%

Empréstimos e

Financiamentos

5,47

% 66,50%

9,92

%

Créditos

9,73

%

106,97

%

10,9

7% Debêntures

0,00

% X

0,00

%

Estoques

8,26

%

136,46

%

7,31

% Fornecedores

2,09

% 83,85%

3,01

%

Outros

2,85

%

202,15

%

1,70

%

Impostos, Taxas e

Contribuições

5,31

%

344,22

%

1,86

%

Dividendos a

Pagar

7,05

%

259,42

%

3,28

%

Provisões

0,40

%

109,34

%

0,44

%

Outros

0,10

%

173,97

%

0,07

%

Ativo Realizável a

Longo Prazo

8,11

% 64,09%

15,2

6%

Passivo Exigível a

Longo Prazo

26,8

1% 87,08%

37,1

5%

Créditos Diversos

0,22

% 87,93%

0,30

%

Empréstimos e

Financiamentos

8,53

% 60,23%

17,1

0%

Créditos com

Pessoas Ligadas

1,23

% 46,45%

3,19

% Debêntures

0,00

% X

0,00

%

Outros

6,66

% 68,26%

11,7

8% Provisões

13,7

7% 97,74%

17,0

0%

Outros

4,51

%

178,18

%

3,05

%

Ativo Permanente 58,6 117,90 60,0 Patrimônio 53,3 149,31 43,0

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 54

Page 55: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

5% % 2% Líquido 2% % 9%

Investimentos

27,5

8%

156,15

%

21,3

1%

Capital Social

Realizado

11,3

6%

100,00

%

13,7

1%

Imobilizado

31,0

7% 96,84%

38,7

1%

Reservas de

Capital

16,2

5%

100,00

%

19,6

1%

Diferido

0,00

% X

0,00

%

Reservas de

Reavaliação

0,00

% X

0,00

%

Reservas de Lucro

25,7

1%

317,48

%

9,77

%

Lucros/Prejuízos

Acumulados

0,00

% X

0,00

%

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 55

Page 56: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Demonstração de Resultado do Exercício – Análise Vertical e Horizontal

Descrição da Conta AV 2004 AH 2004-2003 AV2003

Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços X 141,50% X

Deduções da Receita Bruta X 150,10% X

Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 100,00% 138,98% 100,00%

Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -53,66% 119,02% -62,65%

Resultado Bruto 46,34% 172,45% 37,35%

Despesas Administrativas -3,24% 128,49% -3,50%

LO 1 43,10% 177,00% 33,84%

Financeiras -4,47% 82,88% -7,50%

LO 2 38,63% 203,81% 26,34%

Outras Receitas Operacionais 0,73% 149,52% 0,68%

Outras Despesas Operacionais -2,05% 74,90% -3,81%

LO 3 36,58% 225,57% 22,54%

Resultado da Equivalência Patrimonial 20,71% 300,02% 9,59%

Resultado Operacional 58,02% 245,76% 32,81%

Resultado Não Operacional -0,19% 52,72% -0,50%

Resultado Antes Tributação/Participações 57,83% 248,74% 32,31%

Provisão para IR e Contribuição Social -8,26% 457,12% -2,51%

IR Diferido -3,88% 215,36% -2,50%

Lucro/Prejuízo do Exercício 45,69% 232,63% 27,30%

1.5 – Índices Financeiros

Os índices financeiros são relações entre contas ou grupos de contas das demonstrações

financeiras, que têm por objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis de serem

visualizadas de forma direta nas demonstrações financeiras.

Por exemplo, se alguém nos diz que o passivo circulante de uma empresa é de $

100.000,00, essa informação isolada não é relevante, pois esse valor pode ser grande ou

pequeno, dependendo do porte da empresa e do referencial com que esteja sendo

comparado. Numa pequena empresa que tenha vendas anuais da ordem de $ 50.000,00,

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 56

Page 57: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

uma dívida no curto prazo da ordem de $ 100.000,00 equivaleria a duas vezes seu

faturamento anual e representaria um valor expressivo e insuportável, enquanto que para

uma empresa de um porte maior, $ 100.000,00 pode ser um número muito pequeno ou

compatível com sua realidade.

Ainda como medida relativa de grandeza, o índice fornece a idéia quantitativa das

relações estabelecidas, sem, entretanto, nos fornecer os elementos qualitativos contidos

nas mesmas. Estes índices qualitativos, só poderão ser estabelecidos quando

comparados com outros índices de empresas do mesmo ramo, porte e localização

geográfica. Em outras palavras, se, por exemplo, calcularmos um índice de liquidez

igual a 0,9, temos o índice quantitativo, mas em termos qualitativo, o que representa

este número? Ele é bom ou ruim? Só teremos esta resposta se o compararmos com

outros índices de liquidez de empresas semelhantes as que estamos analisando. Para

isto, as publicações econômico-financeiras especializadas como a Gazeta Mercantil, o

Valor Econômico, as câmaras setoriais, publicam os índices padrão dos setores em

causa, o que nos dará uma idéia de fraco, mediano ou bom.

Assim, após definir quais os índices a serem utilizados, devemos observar a tendência e

atribuir um peso a cada índice. É importante que atribuamos um peso (um conceito) a

cada um dos índices, de modo que tenhamos uma ponderação que nos leve a uma

avaliação final da empresa. O Continuando, pois com nosso anterior exemplo, com a

taxa de liquidez geral de 0,89, comparando-a com uma tabela padrão do setor, temos

que índices desta categoria abaixo de 0,95 são fracos; entre 0,96 e 1,07 são medianos; e

acima de 1,08 são bons. Concluímos, então, que este índice é fraco.

Para fins didáticos, vamos agrupar os índices em quatro áreas de estudo, isto é:

(I) atividade e retorno (lucratividade);

(II) atividade e rotação;

(III) estrutura e endividamento;

(IV) liquidez.

Também com fins didáticos, estaremos calculando os índices para o ano de

2004 de nossa empresa de estudos.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 57

Page 58: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1.5.1 Índices de Atividade e Retorno

Certamente, o que mais influencia um investidor é a rentabilidade da empresa,

por isto a grande importância nesta categoria de índices. No caso de uma

análise para assessorar ou decidir no investimento em uma empresa, estes são

os índices que mais devem ser levados em conta, tendo um peso maior em

relação aos outros. Esta categoria tem sua importância também em outros

tipos de análise, como a de crédito, visto que se uma empresa tiver índices de

endividamento moderados, mas não tiver rentabilidade suficiente, não poderá

saudar suas dívidas.

1.5.1.1 – Giro do Ativo GA

Entendendo que o ativo total é o total de investimentos, ou direitos que uma

empresa tem, desejamos saber quantas vezes uma determinada empresa gira

seu ativo durante o ano. Quanto mais vezes esta empresa girar seu ativo, quer

dizer que tem mais eficiência no uso de seus recursos.

Giro do Ativo = Receita Operacional Líquida ROL / Ativo Total AT

É um índice que quanto maior, melhor.

Giro do Ativo = 0,65

Explicação do índice: Nossa metalúrgica gira 65% de seu ativo total em um

ano.

1.5.1.2 –Retorno Sobre as Vendas RSV

É a relação entre o lucro líquido e a receita líquida. É a conhecida margem

líquida, margem de lucros, ou simplesmente o lucro líquido.

É um dos índices de mais fácil entendimento, pois demonstra quanto sobrou

para a empresa, depois de pagar todos seus custos, despesas e tributos,

contribuições e participações.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 58

Page 59: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Retorno Sobre Vendas RSV = Lucro líquido LL / Receita Líquida RL

É um índice que quanto maior, melhor.

Lucro líquido = 45,69%

Explicação do índice: A metalúrgica retèm 45,69% do que vende.

1.5.1.3 – Retorno sobre o Ativo RSA

Este índice relaciona o lucro líquido com o total de investimentos feito na

empresa, uma vez que entendemos que o ativo é a totalidade dos

investimentos realizados. Os bancos de investimento prestam muita atenção a

este índice antes de fazerem seus empréstimos, pois querem saber do nível de

eficiência de se obter lucros segundo os investimentos.

RSA = Lucro lLíquido LL / Ativo Total AT

Também podemos obter este resultado multiplicando-se o GA pelo RSV.

Quanto maior, melhor.

Retorno sobre o ativo = 29,63%

Explicação do índice: Para cada real investido no ativo, ele dá o retorno de R$

0,29 por ano.

1.5.1.4 – Retorno sobre o Patrimônio Líquido RPL

Considerando que o PL é o dinheiro do acionista na empresa, queremos

determinar com este índice qual o retorno que o dinheiro do acionista retorna

para a empresa. Ou ainda, determinar se a empresa administra com eficiência

o dinheiro do acionista.

Retorno Sobre PL = Lucro líquido /PL

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 59

Page 60: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quanto maior, melhor

Retorno Sobre o PL = 50,81%

Explicação do índice: Para cada real recebido do acionista, a empresa retorna

um lucro de R$ 0,51 por ano.

1.5.2 – Índices de Atividade e Rotatividade

a análise dos prazos médios constitui importante instrumento para se conhecer a política

de compra e venda adotada pela empresa. A partir dela pode-se constatar a eficiência

com que os recursos estão sendo administrados (Duplicatas a Receber, Estoques e

Fornecedores). Os índices de prazos médios não devem ser analisados individualmente,

mas sempre em conjunto. A conjugação dos três índices de prazos médios leva à análise

dos ciclos operacionais e financeiro.

Para fins de análise, quanto maior for a velocidade de recebimento de vendas e de

renovação de estoque, melhor. Por outro lado, quanto mais lento for o pagamento das

compras, desde que não corresponda a atrasos, melhor.

1.5.2.1 – Prazo Médio de Giro de Estoque

O prazo médio de giro de estoque (PMGE) ou prazo médio de rotação do estoque

(PMRE), é definido pelo espaço de tempo entre a compra da matéria prima, o processo

de fabricação, até o momento de sua venda. Quanto mais baixo este prazo, entende-se

que a empresa é mais eficiente, uma vez que não imobiliza recursos nos estoques,

podendo fazer uso dele em outros setores.

PMGE = 360 X (Esttoques / CPV)

Quanto menor o prazo, melhor.

PMGE = 94

Explicação do índice: Esta empresa analisada leva, em média, 94 dias do momento que

compra sua matéria prima, até vender seus produtos acabados.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 60

Page 61: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1.5.2.2 – Prazo Médio de Recebimento das Vendas

Como o próprio nome diz, queremos com este índice, determinar, em média, quantos

dias levamos para receber as vendas realizadas.Como veremos no capítulo que tratará

do capital de giro, demonstra eficiência financeira, a princípio, a empresa que diminui

ao máximo os prazos de recebimentos, ou seja, emitir o mínimo de duplicatas, vendas a

prazo, etc, no entanto os prazos concedidos são um movimento do mercado, com o qual

a empresa não pode ir contra, sob pena de perder vendas e comprometer sua

estabilidade.

Em nossos estudos, adotaremos as nomeclaturas duplicatas e créditos com o mesmo

significado.

PMRV = 360 X (Duplicatas / Receita Bruta)

É um Índice que quanto menor, melhor.

PMRV = 59 dias

Explicação do índice: Pela aplicação da fórmula do PMRV, com os dados do balanço e

DRE da empresa metalúrgica exemplo, entendemos que do momento que a venda é

feita, esta empresa, leva, em média, 59 dias para receber.

1.5.2.3 – Prazo Médio de Pagamento das Compras

Diz a teoria financeira que uma empresa ganha eficiência e depende menos de capital de

giro de terceiros se diminuir ao máximo seus prazos de recebimento, e aumentar ao

máximo seus prazos de pagamento, sem contudo tornar-se inadimplente, o que

comprometeria seu crédito. Assim, com o PMPC, determinamos, em média, quanto

tempo se leva para pagar as compras dos produtos, ou matérias-primas.

Veremos que na fórmula, é utilizada a variável “Compras”, mas onde achamos as

compras no balanço ou DRE?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 61

Page 62: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

- Na realidade não há uma rubrica compras nas demonstrações financeiras. Se a análise

levada a cabo é interna, temos acesso à contabilidade, a qual pode nos apontar a quantia

exata gasta em compras. No entanto se a análise é externa, não temos acesso a estes

dados. Assim, se estabelece, pela experiência, que:

- Empresas Comerciais: Compras = Custo da Mercadoria Vendida (CPV ou CMV);

- Empresas industriais: Compras = 62% do Custo do Produto Vendido (CPV).

É estabelecido que nas empresas industriais as compras são 62% do CPV, pois nem só

de matéria-prima é formado o custo do produto em transformação. Outros custos

operacionais diretos e indiretos estão presentes, tais como: mão-de-obra, energia elétrica

da área de produção, manutenção dos equipamentos da linha de produção, etc.

CMPV = 360 X ( Fornecedores / Compras)

É um índice que quanto maior, melhor.

PMPC = 16 dias.

Explicação do índice: A empresa analisada leva, em média, 16 dias para pagar as

compras de matéria-prima que faz, o que é um prazo relativamente pequeno, levando ao

analista a se questionar o prquê disto.

1.5.2.4 – Ciclo Operacional

O ciclo operacional é o tempo que uma empresa gasta para suas atividades operacionais,

ou seja, a compra da matéria prima, trasformação da matéria-prima e produto acabado,

formação de estoques, venda do produto e, finalmente, o recebimento da venda. Quanto

menor o ciclo operacional, melhor a eficiência administrativa e produtiva da empresa.

Para isto devemos somar o prazo médio de giro de estoque e o prazo médio de

recebimento das compras.

Ciclo Operacional = PMGE + PMRV

É um índice que quanto menor, melhor.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 62

Page 63: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Ciclo Operacional = 153 dias.

Explicação do índice: A empresa leva 153 dias do recebimento da matéria-prima até o

recebimento das vendas.

1.5.2.5 – Ciclo Financeiro

As operações de uma empresa, normalmente, são do tipo: “Compra – Vende – Paga –

Recebe”. Com os índices de rotatividade e operação, já conseguimos determinar quanto

tempo levamos para produzir, vender, receber e pagar nossas comtas. No entanto,

acrescentamos no item anterior a idéia do ciclo operacional, a qual nos remete à idéia

idéia que compreende desde o momento da compra da matéria-prima, até o seu

recebimento.

Com o conceito de ciclo financeiro, queremos determinar quantos dias a empresa tem

que financiar sua produção, quer seja com capital próprio, qual seja com capital de

terceiros.

Ciclo Financeiro = CO – PMPC

É um índice do tipo quanto menor, melhor.

CF = 137;

Explicação do índice: Esquandolecontamevadosomaisssãota empresa tem que financiar

sua produção com capital suficiente para 137 dias. Em certos casos, raros por sinal, há a

possibilidade de que o ciclo financeiro seja negativo, e isto quer dizer que a empresa

compra a matéria prima, vende os produtos, recebe a venda e somente depois paga seus

fornecedores,ou seja, os fornecedores financiam a produção da empresa. Caso clássico

disto, eram as políticas de Ford, no início do século XX, enquadrando-se totalmente no

descrito supra.

1.5.3 – Índices de Endividamento

Os índices de endividamento são os mais levados em conta na análise, quando o que

estamos verificando é a concessão ou não de crédito a uma certa empresa.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 63

Page 64: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O maior número de teses na administração financeira é sobre qual o nível de

endividamento que uma empresa pode assumir, e a resposta a este questionamento é que

depende de seu porte, ramo e localização.

Um banco, por exemplo, pode trabalhar com R$ 8,00 de terceiros, para cada R$ 1,00

seu. Em qualquer outro ramo, este nível de endividamento seria absolutamente

inaceitável, todavia para as instituições financeiras é normal.

Vale ressaltar que é muito usual no meio financeiro a expressão “estrutura financeira”, a

qual quer dizer como estão distribuídas as contas no passivo.

1.5.3.1 – Imobilização do Patrimônio Líquido

Este índice indica quanto do patrimômio Líquido está investido no Ativo Permanente. O

ideal é que o PL seja suficiente para financiar o AP, e ainda reste para financiar o Ativo

circulante e o realizável a longo prazo.

Quando encontramos este índice com mais de 100%, quer dizer que o PL não financia

totalmente o AP, tendo a empresa que financiar o seu imobilizado com recursos de

terceiros, o que pode ser uma situação delicada.

IPL = Ativo Permanente AP / Patrimônio Líquido PL

de

É um índice que quanto menor, melhor.

IPL = 109,99%

Explicação do índice: Nossa metalúrgica tem uma imobilização do PL de 109,99%, ou

seja, praticamente 10% do ativo permanente (investimentos, imobilizado e diferido) é

financiado por capital de terceiros, o que pode se tornar crítico para a empresa.

1.5.3.2 – Participação de Capital de Terceiros

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 64

Page 65: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Indica qual percentual das obrigações da empresa que são devidas a terceiros, por

exemplo: bancos, governo (tributos), fornecedores, empregados (salários e

participações), investidores (debenturistas e distribuição de dividendos), etc.

PCT = (passivo circulante + ELP) / Patrimônio Líquido

Índice que quanto menor, melhor.

PCT = 87,54%

Explicação do índice: O capital de terceiros na empresa corresponde a 87% do capital

próprio, ou seja, há mais capital próprio do que de terceiros, o que é um número

positivo.

1.5.3.3 – Composição do Endividamento

Este índice indica quanto das dívidas da empresa vencem no curto prazo.

CE = PC / (PC+ELP)

É um índice que quanto menor, melhor.

CE = 42,56%

Explicação do índice: 42% da dívida da metalúrgica vencerá em até 360 dias, o restante

além deste prazo. É preocupante a empresa que tem a maior parcela da dívida a vencer

no curto prazo.

1.5.4 – Índices de Liquidez

Liquidez quer dizer a capacidade que uma determinada organização tem para cumprir

seus compromissos financeiros. Também pode ser chamado de solvência. É importante

de ser analisada por fornecedores que querem saber se podem conceder prazos, e se

serão pagos após este prazo. Importante também para as instituições financeiras, na

medida que querem saber se esta empresa tem a capacidade de pagar seus

compromissos.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 65

Page 66: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1.5.4.1 – Liquidez Geral

O índice de liquidez geral indica a capacidade geral da empresa honrar seus

compromissos, levando em conta o curto e o longo prazo.

LG = (AC + RLP) / (PC + ELP)

[É um índice que quanto maior, melhor

LG = 0,89

Explicação do índice: Levando-se em conta os pagamentos que devem ser efetuados no

curto e longo prazo, a empresa exemplo só consegue honrar 89% deles.

1.5.4.2 – Liquidez Corrente

Indica, se no curto prazo, a empresa tem condição de honrar seus compromissos, ou se

terá de alocar outros recursos para isto.

LC = AC / PC

É um índice que quanto maior, melhor

LC = 1,67

Explicação do índice? Nossa metalúrgica exemplo tem condições de pagar todas suas

obrigações de curto prazo, e ainda tem um excesso de 67% destas obrigações.

1.5.4.3 – Liquidez Seca

Indica que, se só levarmos os ativos mais líquidos (disponibilidades e créditos), a

empresa tem condições de honrar seus compromissos de curto prazo.

LS = (Disponibilidades + Créditos) / PC

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 66

Page 67: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

É um índice que quanto maior, melhor

LS = 1,26

Explicação do índice: Se esta empresa analisada parar suas atividades repentinamente,

consegue saldar todas suas dívidas de curto prazo, e ainda detêm uma sobra de 26% de

suas obrigações.

1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise

1.6.1 – Índices Padrão

Como já foi ressaltado, de quase nada valem os índices financeiros, verticais e

horizontais, se não temos um parâmetro para compara-los. Da mesma forma, não há

valia compararmos o índice de liquidez imediata, por exemplo, de uma empresa

pequena, com uma grande, ou de uma metalúrgica com uma empresa comercial, ou uma

empresa da região nordeste com outra do sudeste.

Para isto, analistas fazem o acompanhamento dos índices, classificando-os, de várias

formas. A que iremos adotar, mais simples e prática, classifica-se os índices como bons,

médios ou fracos.

Publicações como a Gazeta Mercantil, Valor econômico, câmaras setoriais de comércio,

Federações de empresas do mesmo ramo, publicam os índices padrão dos respectivos

setores.

Abaixo está uma tabela de índices padrão para a indústria metalúrgica, empresas de

grande porte.

Índice Fraco Médio Bom

Lucro Líquido < 7,2% De 7,3% a 15,3% >15,4%

Retorno sobre PL <22,1% De 22,2% a 30,7% > 30,8%

Participação de Capital de Terceiros > 117,1% De 98,5% a 117,0% < 98,4%

Composição do Endividamento >72,0% De 45,0% a 71,9% < 44,9%

Liquidez Geral <0,75 De 0,76 a 0,89 >0,90

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 67

Page 68: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Liquidez Imediata <0,70 De 0,71 a 0,82 > 0,83

Percebe-se que nem todos os índices financeiros estão presentes nos índices padrão. Os

analistas selecionam os que acham mais relevantes e enfocam seus esforços por

determinar tais índices.

Passamos a comparar os índices que calculamos com os da tabela acima, e classificamos

como bons, médios ou fracos. Vejamos pois:

Rentabilidade

- Lucro líquido = 45,69%. Comparando com o índice padrão do setor, classificamos

como BOM.

- Retorno sobre PL = 50,81%. Comparando com os índices padrão, classificamos como

Bom.

- Conclue-se que a rentabilidade desta empresa é boa, ois os índices disponíveis para a

comparação, assim o apontam. Numa análise de viabilidade de investimentos nesta

metalúrgica, a mesma seria recomendada, visto que este item é o que leva peso maior

neste tipo de análise.

Endividamento

- Participação de Capital de terceiros = 87,54%. Comparando-se com os índices padrão,

chegamos a conclusão que classifica-se como bom.

- Composição do endividamento = 42,56%. Comparando-se com os índices padrão,

chegamos a conclusão que classifica-se como bom.

Podemos concluir que os índices de endividamento desta empresa são bons. Este

aspecto deve ser o mais relevante quando nossa análise tem a finalidade da concessão de

crédito.

Liquidez.

- Liquidez Geral = 0,89. Comparando-se com os índices padrão, chegamos à conclusão

que é um índice considerado médio.

- Liquidez Corrente = 1,67. Comparando-se com os índices padrão, chegamos à

conclusão que é um índice considerado bom.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 68

Page 69: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Podemos concluir que a empresa tem boa liquidez. Este aspecto tem que ser muito

levado em conta pelos fornecedores, porque desejam saber se a empresa tem a

capacidade para honrar seus compromissos.

1.6.2 – Relatório da Análise

Ao chegarmos a este ponto da análise, após conseguirmos as demonstrações financeiras,

padronizá-las, realizar o cálculo dos índices horizontais, verticais, financeiros, após

levantarmos os índices padrão do setor, devemos realizar uma análise dos dados e

emitirmos um relatório com um parecer objetivo.

Muitos autores tem seus modelos de relatório, e sem menosprezar qualquer deles, o

autor desta apostila tem um modelo, o qual se enquadra e cumpre os objetivos de nosso

curso. Neste modelo, ao redigirmos o relatório, induz-se o aluno a aprofundar sua

análise. Ele é constituído por 6 tópicos. Vejamo-lo pois:

I – Introdução

Na introdução do relatório, você deverá descrever os principais itens que descrevem a

empresa,porte, ramo, setor, espaço geográfico ocupado, movimentos estratégicos

durante os últimos anos, dados históricos, influência da conjuntura econômica sobre a

empresa, etc.

Na introdução também deve ser citado o objetivo da análise.

II – Evolução Geral das Contas

Você deverá descrever como foi a evolução das contasnos anos avaliados. Estão

estáveis? Estão instáveis? Quais as maiores variações nas contas? Por que? Possíveis

efeitos destas alterações o estabilização.

III – Possibilidades e Limitações quanto à Rentabilidade

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 69

Page 70: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Faça a comparação dos índices de rentabilidade calculados com os índices padrão.

Observe a evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados,

emita um parecer se a empresa apresenta uma rentabilidade boa, regular ou fraca.

IV – Possibilidades e Limitações quanto ao Endividamento

Faça a comparação dos índices de endividamento calculados com os índices padrão.

Observe a evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados,

emita um parecer se a empresa apresenta um endividamento baixo, aceitável ou alto.

V – Possibilidades e Limitações quanto a Liquidez

Faça a comparação dos índices de liquidez calculados com os índices padrão. Observe a

evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados, emita um

parecer se a empresa apresenta uma liquidez boa, regular ou fraca.

VI – Conclusão

Dê sua conclusão da análise, enfocando o objetivo, emitindo um parecer sobre o que

está sendo pedido, quanto a investimentos, empréstimos, concessão de linhas de crédito,

análise de concorrência, análise interna, etc.

1.7 – Questões

1. Dê os conceitos de análise horizontal e vertical.

2. Quanto à análise vertical, podemos afirmar:

a. Análise vertical é menos informativa que a análise horizontal, e só podemos utilizar

análise vertical no balanço patrimonial.

b. A análise vertical possibilita a idéia do crescimento real do ativo devi do à política de

verticalização da produção ao longo do tempo.

c. A análise vertical possibilita idenbficar a representatividade de um item em relação a

um referencial, No balanço patrimonial, esse referencial normalmente é o valor do

ativo, enquanto na demonstração do resultado é a receita líquida de vendas.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 70

Page 71: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

d. A análise vertical é muito conflitante com a análise horizontal e devido a esse fato

convém só usar análise horizontal para calcular a evolução das vendas. Para os demais

itens da demonstração do resultado e do balanço patrimonial devemos usar análise

vertical.

3. Com base nas demonstrações financeiras publicadas, de uma empresa de capital

aberto, que sejam completas e comparativas, desenvolva as seguintes tarefas:

a. Padronize o balanço e a demonstração do resultado.

b. Calcule a análise vertical para o balanço.

c. Identificar os itens que tiveram variações mais expressivas.

d. Relacione e comente as possíveis causas das variações.

e. Calcule a análise vertical e horizontal para a demonstração do resultado.

f. Identificar e comentar os principais itens e as causas que contribuíram para afetar o

resultado da empresa ao longo dos três exercícios em análise.

1.8 – Estudo de Caso

Analizaremos empresas durante o processo ensino-aprendizagem, os quais se

constituirão de estudos de caso, sendo apresentados, em mídia digital, durante os

trabalhos de sala de aula.

1.9 - Bibliografia Recomendada

IUDÍCIBUS, Sérgio de. Análise de balanços. 5. ed. São Paulo : Atlas, 1988.

MATARAZZO, Dante C. Análise financeira de balanços. São Paulo : Atlas, 1985.

SILVA, JOSÉ P. Análise Moderna de Empresa. São paulo: Atlas, 2005

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Ramdolpho W., JAFFE, Jeffrey F.Administração

financeira: corporate finance. São Paulo Atlas, 1993.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 71

Page 72: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

CAPÍTULO 02 - A DECISÃO FINANCEIRA E A EMPRESA

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

2.1. Introdução

2.2. Objetivo e funções da administração financeira

2.3. Mercado financeiro

2.4. Tipos de empresas

2.5. Questões

2.6. Bibliografia recomendada

2.1. Introdução

A administração financeira objetiva maximizar a riqueza dos acionistas da empresa. O

administrador financeiro é o principal responsável pela criação de valor da empresa e,

para isso, se envolve cada vez mais com os negócios da empresa como um todo. Suas

atividades abrangem decisões estratégicas, como a seleção de alternativas de

investimentos e as decisões de financiamento de longo prazo, além das operações de

curto prazo, como a gestão do caixa, o gerenciamento do risco e tantas outras. Sua área

de abrangência é ampla, ocupando-se do processo financeiro, dos mercados e das

instituições financeiras, dos instrumentos financeiros e das finanças pessoais,

governamentais e corporativas. Nesta Apostila, iremos tratar das finanças corporativas.

Como oportunidade de carreira, o administrador financeiro pode trabalhar, por exemplo,

como analista de ações, analista de crédito e cobrança, gerente de projetos, tesoureiro,

controlier, coordenador de planejamento e controle financeiro. Pode atuar também em

bancos, corretoras, distribuidoras, Bolsas de Valores, como consultor autônomo de

investimentos, como analista de risco, como orientador de seguros, enfim, em inúmeras

atividades.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 72

Page 73: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O campo da administração financeira abrange ampla gama de tarefas e atividades, e os

administradores financeiros encontram grandes oportunidades de contribuírem para o

sucesso dos negócios empresariais. No campo das decisões de investimento, por

exemplo, as empresas criam, recebem e desenvolvem inúmeras alternativas, buscando

sempre a maximização da riqueza dos acionistas. Essas alternativas se restringem a um

ramo específico de negócios ou abrangem vários setores da atividade econômica. Os

investimentos podem ocorrer ao longo da cadeia produtiva da empresa, por exemplo no

caso das redes de supermercados, que investem em marcas próprias como forma de

tornarem seus clientes fiéis e diminuir sua dependência de fornecedores. De outra forma

a empresa pode optar por aplicar no mercado financeiro, se não vislumbrar bons ganhos

operacionais nos períodos futuros.

Como os recursos financeiros estão distribuídos de maneira não uniforme entre os

agentes econômicos, a intermediação financeira procura captar dos agentes

superavitários os excedentes e alocá-los aos agentes deficitários.

As decisões financeiras ocorrem ao longo do tempo. Quando se referem às atividades

normais da empresa, relacionadas aos pagamentos e recebimentos do dia-a-dia, são ditas

decisões financeiras de curto prazo. As decisões financeiras de longo prazo são aquelas

pertinentes às estratégias de financiamento e investimento. Grosso modo, em termos da

gestão financeira, pode-se definir em curto prazo, todas as operações financeiras que

acontecerão nos próximos 360 dias, e longo prazo, as operações que ocorrerão além de

360 dias. Vale ressaltar que o ano financeiro é considerado com 360 dias.

Verificar-se-á, a seguir, as principais funções e objetivos da administração financeira,

por meio de explicações e exemplos na situação brasileira.

2.2. Objetivo e Funções da Administração Financeira

Administração financeira é a arte e a ciência de administrar recursos financeiros para

maximizar a riqueza dos acionistas.

A administração financeira pode ser exercida nas mais diversas organizações, indústria,

comércio ou serviços; empresas estatais ou privadas; voltadas ou não para lucros;

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 73

Page 74: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

governo, escolas, hospitais, clubes recreativos e outras. Suas funções principais são:

planejamento, controle, orçamento, previsões, fluxo de caixa, investimentos,

financiamentos, crédito, cobrança, câmbio, operações bancárias e gerenciamento de

risco. Ao exercer essas funções, o administrador financeiro procura responder a

questões como: Quais investimentos devem ser feitos? Quais fontes de financiamentos

devem ser utilizadas? Qual deve ser a política de remuneração dos acionistas? Estamos

agregando valor aos acionistas?

Existem inúmeros enfoques da administração financeira, destacando-se os de retorno,

risco, liquidez, endividamento, eficácia operacional, alavancagem, valor, fusões e

aquisições, mercados financeiros e de capital, mercados futuros e de opções. Nesta

apostila vamos tratar daqueles que, a nosso ver, constituem a essência da administração

financeira, e vamos indicar bibliografia complementar para aqueles que quiserem se

aprofundar nos assuntos.

Finanças corporativas são aplicações estratégicas da administração financeira às

empresas.

Uma das atividades financeiras de maior relevância é a intermediação de recursos

financeiros. No âmbito empresarial, os recursos originam-se das atividades

operacionais: da venda de produtos e prestação de serviços; do aporte de recursos dos

proprietários, acionistas; ou ainda de recursos tomados emprestados às instituições

financeiras. Esses recursos são utilizados nas atividades operacionais ou em projetos de

investimento. No âmbito externo à empresa, no mercado financeiro e de capitais,

diferentemente, as instituições atuam como intermediários financeiros ou como

facilitadores dos negócios no mercado mobiliário.

A captação de recursos financeiros envolve a emissão e venda de papéis no mercado de

capitais, sob a forma de ações e debêntures no longo prazo e comercial papers no curto

prazo. Essas operações ocorrem no mercado de capitais através de instituições

financeiras como as corretoras de valores, as distribuidoras de valores e os bancos de

investimentos.

2.2.1 Objetivo da Administração Financeira

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 74

Page 75: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O objetivo da administração financeira é maximizar a riqueza dos acionistas

De acordo com ROSS (1998) é objetivo normativo da empresa “maximizar o valor de

mercado do capital dos proprietários existentes”. Esse objetivo deve atender também a

um desejo mais específico do acionista, a remuneração de seu capital, sob a forma de

distribuição de dividendos.

A maximização do lucro, tida por muito tempo como o objetivo principal da empresa, é

um objetivo impreciso, pois ações tomadas para maximizar os lucros atuais podem

diminuir os lucros futuros e vice-versa. A maximização da riqueza é mais precisa

porque envolve os conceitos de valor presente líquido da empresa para os seus

proprietários, incorporando conceitos de risco e de custo de capital. Esses conceitos

serão tratados ao longo da apostila. Nas instituições não voltadas ao lucro, existem

outros objetivos que não a maximização da riqueza.

A administração financeira está voltada para a maximização do valor da empresa e, para

tal, utiliza-se de conceitos, técnicas e práticas de investimentos, financiamentos,

gerenciamento de riscos, de relacionamento com investidores, de pagamento de

dividendos e tantos outros.

2.2.2 Funções Financeiras

O Quadro 2.1 apresenta as principais funções da administração financeira, agrupadas

em duas grandes áreas: tesouraria e controladoria. No Brasil, de modo geral, as funções

de tesouraria são exercidas pelo gerente financeiro; as funções de controladoria são

exercidas pelo controlier, utilizando-se o mesmo nome do profissional americano. Essas

funções surgem e se expandem, ou desaparecem, dependendo das necessidades de cada

empresa, variando segundo sua natureza, porte e estágio de desenvolvimento.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 75

Page 76: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quadro2.1 - Funções da administração financeira

Tesouraria Controladoria

• Administração de caixa • Administração de custos e preços

• Administração de crédito e

cobrança

• Auditoria interna

• Administração do risco • Contabilidade

• Câmbio • Orçamento

• Decisão de financiamento • Patrimônio

• Decisão de investimento • Planejamento tributário

• Planejamento e controle financeiro • Relatórios gerenciais e Proteção de

ativos

• Salários • Sistemas de informação

• Relações com bancos • Relações com Acionistas e Investidores

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 76

Page 77: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

As funções financeiras podem ser de curto ou longo prazo. As funções financeiras de

curto prazo envolvem a administração do caixa, do crédito e das contas a receber e a

pagar, dos estoques e dos financiamentos de curto prazo. A empresa precisa dispor de

recursos suficientes para saldar os compromissos com fornecedores, salários, tributos e

demais contas. Para tanto, os recebimentos das vendas e/ou prestação de serviços aos

clientes precisam ocorrer simultaneamente aos compromissos. Quando existem prazos

diferentes entre os recebimentos e os pagamentos, na maioria das vezes a empresa

precisa buscar recursos no mercado financeiro, por meio de empréstimos, ou aplicar os

recursos excedentes. A administração financeira de curto prazo também é chamada de

administração do capital circulante (ou do capital de giro). No curto prazo, o

administrador financeiro preocupa-se ainda com os planejamentos financeiro e

tributário.

Hiato entre recebimentos e pagamentos originam-se nas políticas de concessão de

crédito a clientes e obtenção de crédito junto a fornecedores; diferentes prazos legais

para pagamentos de salários e tributos; diferentes políticas de estocagem; e diferentes

ciclos de produção dos produtos vendidos e serviços prestados.

As funções financeiras de longo prazo envolvem as decisões financeiras estratégicas,

tais como, orçamento de capital, estrutura de capital, custo de capital, relacionamento

com investidores, dentre outras. No longo prazo, as decisões financeiras envolvem a

obtenção de recursos para projetos e investimentos e definição dos critérios a serem

adotados para escolha entre investimentos alternativos. O administrador financeiro é

responsável pela saúde econômica e financeira da empresa.

- O papel do tesoureiro, do controiler e do Diretor financeiro

A função financeira é executada por diversas pessoas dentro da empresa.

A forma como essas pessoas estão organizadas depende do porte da empresa e das

atividades por ela desenvolvidas.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 77

Page 78: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quando a empresa é pequena, os sócios costumam acumular as funções financeiras com

as demais funções gerenciais da empresa, relativas à produção, ao marketing e ao

gerenciamento de pessoas. A contabilidade normalmente é terceirizada, isto é, realizada

por escritórios contábeis. As empresas de maior porte separam melhor as funções

financeiras das demais funções gerenciais e normalmente existe um diretor para cada

uma das áreas. Nesse caso, o diretor financeiro é responsável pela captação de fundos de

curto prazo necessários às atividades diárias da empresa, e pela captação de recursos de

longo prazo, necessários ao financiamento da expansão das atividades da empresa. Os

procedimentos administrativos, relativos às atividades financeiras da empresa, são

realizados em parte pelo pessoal da tesouraria: recebimentos e pagamentos diários e, em

parte, pelo pessoal da controladoria: orçamentos, planejamento financeiro, relatórios

financeiros e auditoria.

Nas grandes empresas as funções são bastante distintas: a diretoria financeira divide-se

em controladoria e tesouraria. O tesoureiro é responsável pela manutenção do caixa da

empresa, pelos recebimentos e pagamentos diários, pela liberação de crédito para

clientes, pelas negociações com bancos para aquisição de recursos de curto prazo

(financiamento de capital de giro) e pelas aplicações dos recursos excedentes no curto

prazo. O controlier é responsável pelo acompanhamento e fiscalização das atividades

financeiras de curto e de longo prazo, pela contabilidade fiscal e gerencial, aqui incluída

a divulgação dos resultados da empresa para acionistas, partes interessadas e governo e,

finalmente, pelo gerenciamento da estrutura de capital da empresa: formas de captação

de recursos de longo prazo, endividamento junto a instituições financeiras, emissão de

debêntures, ações, comercial papers e outros títulos de dívida. O diretor financeiro

coordena essas atividades e é o principal responsável pelo relacionamento com os

acionistas e outras partes interessadas no que tange ao impacto das decisões financeiras

no valor da empresa, no preço das ações no mercado e na credibilidade financeira da

empresa no mercado.

2.2.2.1. Decisões de investimento e financiamento

A administração financeira envolve basicamente a gestão de recursos financeiros. Como

obter esses recursos e onde aplicá-los é a atividade principal do administrador

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 78

Page 79: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

financeiro. A obtenção de recursos diz respeito às decisões de financiamento, e a

utilização dos recursos, às decisões de investimento.

2.2.2.1.1.- Decisão de investimento

Entende-se por investimento toda a aplicação de capital em algum ativo, tangível ou

não, para obter determinado retorno no futuro. Um investimento pode ser a criação de

uma nova empresa ou pode ser um projeto em uma empresa já existente, por exemplo.

No setor industrial, o projeto de investimento mais clássico é a aquisição de novas

linhas de produção. Mas também são importantes os projetos de reposição de

equipamentos, reforma de linhas de produção antigas, projetos para automação

industrial, projetos de substituição de mão-de-obra, projetos para adoção de novas

tecnologias e projetos linha verde, objetivando reduzir os impactos ambientais dos

processos produtivos.

No setor agroindustrial, os projetos envolvem aplicações de recursos na aquisição de

maquinário agrícola, na construção de silos e armazéns, no melhoramento genético e do

solo, no aumento da produtividade, na formação de cooperativas, no processamento de

produtos in natura, agregando valor na informatização do controle da produção e nos

canais de comercialização.

No setor de serviços, os projetos de investimento referem-se desde a reforma das

instalações até campanhas publicitárias. Os gastos com automação comercial e sistemas

de informações gerenciais também são projetos de investimento, na medida em que

podem aumentar ou diminuir o valor da empresa, em longo prazo.

Como são utilizados os recursos disponíveis para investimentos são, basicamente,

representados no lado esquerdo do balanço patrimonial, no ativo. Nesta demonstração

contábil figuram os investimentos de curto, longo e longuíssimo prazo, respectivamente

representados pelo ativo circulante, ativo realizável a longo prazo e o ativo

permanente.Evidentemente, uma empresa de capital intensivo, que requer grandes

investimentos em ativos imobilizados, exigirá respostas mais adequadas a essas

características. Exemplos deste tipo de empresa são: a EMBRAER, a VALE DO RIO

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 79

Page 80: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

DOCE, a TELEFÔNICA, a COPEL. Para uma empresa do ramo varejista, que não

exige grandes imobilizações e sim grandes investimentos em estoques, serão dadas

outras respostas. Exemplos deste tipo de empresas são: PERNAMBUCANAS, CASAS

BAHIA e Lojas Americanas.

Da mesma forma, encontramos empresas que têm necessidades de recursos de curto

prazo, como panificadoras e mercearias; e outras com necessidades de recursos de longo

prazo, como por exemplo, a Petrobrás, a TOYOTA, a FIAT. Iremos tratar mais

profundamente das questões de curto prazo em futuro capítulo desta apostila.

2.2.2.1.2. Decisão de financiamento

A composição de recursos da empresa é chamada de Estrutura Financeira, e pode ser

verificada do lado direito do balanço: o Passivo .As necessidades específicas de cada

ramo de negócio, do porte da em presa, da condição econômica do país e outros fatores,

irão determinar quais as respostas mais adequadas para cada uma das situações

apresentadas no dia-a-dia. É relevante observar que empresas multinacionais, ou

grandes empresas nacionais que têm livre acesso aos mercados financeiros

internacionais, por exemplo, preferem sistematicamente captar recursos no exterior,

onde o custo de capital é muito menor. Iremos ver maiores detalhes em um capítulo

futuro.

As decisões de financiamento envolvem a escolha da estrutura de capital, a

determinação do custo de capital e a captação de recursos. Remetem, portanto, à

definição das fontes de financiamentos a serem utilizadas nas atividades da empresa e

nos projetos de investimento.

Os recursos financeiros advêm de duas fontes: capital próprio e capital de terceiros.

O capital próprio é formado por recursos dos proprietários e acionistas da empresa.

Pessoas físicas e jurídicas superavitárias aplicam seus recursos excedentes nas

empresas. Essas aplicações são feitas no longo prazo, através da compra de ações no

mercado de capitais. A motivação para a aplicação dos recursos pessoais e empresariais

em projetos de investimento é a perspectiva de obtenção de lucro. Esse lucro é

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 80

Page 81: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

representado pela distribuição de dividendos, valorização do preço da ação no mercado

e distribuição de bonificações.

O capital de terceiros entra na empresa por meio de empréstimos e financiamentos

obtidos junto a instituições financeiras. Esses recursos demandam o pagamento de

valores, representando a amortização do principal e os juros. Os juros constituem a

remuneração dos recursos tomados emprestados. As dívidas da empresa com

fornecedores: duplicatas a pagar; com funcionários: salários a pagar; e com o governo:

tributos a pagar, também constituem recursos de terceiros à disposição da empresa.

É muito difícil se determinar com consistência o nível de endividamento adequado para

a empresa. Os bancos, por exemplo, trabalham com uma relação de 9 para 1, ou seja,

para cada R$1,00 de recursos próprios, eles trabalham com R$9,00 de capital de

terceiros, o que é perfeitamente aceitável. Empresas não-financeiras não podem assumir

esse nível de endividamento.

Vale chamar a atenção que nesta apostila utilizaremos as expressões empréstimos para

recursos de curto prazo, e financiamentos para recursos de longo prazo.

2.2.2.1.3. A busca de resultados

Para atingir o objetivo de maximização da riqueza dos acionistas, o administrador

preocupa-se também com os resultados apresentados nas demonstrações financeiras, por

exemplo, a Demonstração de Resultados do Exercício, a conhecida DRE.

Cabe ao administrador financeiro planejar, acompanhar e controlar as atividades e

projetos da empresa, de forma a assegurar que os objetivos de resultados estabelecidos

sejam cumpridos.

2.2.2.2. Valor

Para uma pessoa míope, suas lentes de contacto têm valor enorme. Por elas paga

qualquer preço e faz muitos sacrifícios para adquiri-las e mantê-las. Porém, se

encontradas por outra pessoa, essas lentes não representariam valor algum; pois mesmo

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 81

Page 82: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

que míope fosse, dificilmente as lentes estariam no grau adequado e seria quase

impossível vendê-las.

A afirmação anterior mostra a existência de, pelo menos, dois conceitos de valor:

a) Valor de uso: é o valor atribuído à capacidade dos bens e serviços satisfazerem às

necessidades daqueles que os possuem;

b) Valor de troca: é a quantia de recursos que, de comum acordo entre as partes,

permite a troca da posse de um bem ou serviço.

As finanças preocupam-se com o valor de troca. Quando se afirma ser função

primordial da administração financeira a criação de valor para o acionista, se está

afirmando que todas as atividades deverão, direta ou indiretamente, aumentar a riqueza

do acionista, ou seja, aumentar o valor de troca da empresa. A partir de agora, ao longo

da apostila, estaremos usando apenas a expressão valor, significando esse valor de troca.

Podemos aumentar o valor da empresa de duas formas:

a) Internamente. Os recursos entram na empresa: mão-de-obra, matérias-primas,

equipamentos e tecnologia; processam bens e serviços que são vendidos por preço

acima do que custaram os recursos. A essa diferença dá-se o nome de lucro operacional.

Quanto maior este lucro, maior é a eficiência da empresa em suas atividades fins.

b) Externamente. A empresa tem uma imagem junto ao mercado e prováveis acionistas

apostam no aumento de seu valor e pagam mais por suas ações no mercado.

Existem várias formas de se expressar o valor da empresa, sendo os mais adotados:

a) Valor patrimonial contábil. É o valor dos recursos da empresa registrados na sua

contabilidade do qual é subtraído o valor das dívidas da empresa, ou seja, o valor

expresso como Patrimônio Líquido.

b) Valor patrimonial real. É o valor dos ativos e passivos — prédios, máquinas e

equipamentos, veículos, estoques, contas a receber, dentre outros; e contas a pagar,

empréstimos, outras obrigações — computados quer ao valor de reposição

correspondente ao estado em que se encontram, quer ao seu valor atualizado;

c) Valor presente líquido. É o valor obtido em função do fluxo de caixa livre

descontado. Para isto é utilizada uma taxa de desconto, chamada custo de capital.

d) Valor de mercado. É o somatório do valor das ações da empresa ao preço em que

estão sendo comercializadas no mercado, nas Bolsas de Valores. Em empresas que não

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 82

Page 83: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

operam em Bolsas de Valores, ou que não são constituídas em sociedade por ações, o

valor da empresa é definido pelo valor que o mercado está disposto a pagar.

e) Valor de liquidação. É o valor obtido pela empresa numa situação de encerramento

do negócio. Normalmente esse valor costuma ser muito baixo.

Modernamente, discute-se qual é o valor que importa: o valor patrimonial, em função da

capacidade instalada da empresa, da tecnologia empregada no processo produtivo, e da

diferença entre ativo e passivo; ou o valor de mercado, em função da cotação das ações

da empresa nas Bolsas de Valores, que decorre das expectativas dos investidores em

relação ao desempenho e valorização da empresa.

2.2.2.3. Grupos de relacionamento

Os grupos de relacionamento incluem os empregados, clientes, fornecedores, credores e

outros que possuem vínculo econômico direto com a empresa. Uma empresa atenta aos

seus grupos de relacionamento evitará conscientemente medidas que possam ser

prejudiciais a eles, ou seja, afetando sua riqueza, transferindo-a a empresa. Zelar pelos

interesses dos grupos de relacionamento faz parte da responsabilidade social da empresa

e espera-se que proporcione benefícios máximos, de longo prazo, aos proprietários.

2.2.2.4. Finanças e outras ciências

A administração financeira é interdisciplinar e para isto conta com o auxílio de muitas

outras ciências. Vamos apresentar, a seguir, algumas das mais relevantes.

A Economia, ciência da escassez, ordena os agentes econômicos e estuda o seu

comportamento. A economia relaciona-se com as finanças empresariais sob duas

formas: a microeconomia e a macroeconomia. A microeconomia empresta à teoria

financeira parte de seus conceitos, porque estuda a Teoria da Firma. Os estudos e teorias

microeconômicos procuram compreender o comportamento da firma, ou seja, da

empresa, as relações de preço com oferta e demanda de bens e serviços, o

comportamento do consumidor e do investidor. Esses fatores influenciam os preços

praticados no mercado, a disponibilidade de recursos e as oportunidades de

investimento, preocupações das Finanças.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 83

Page 84: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A Teoria da Preferência pela Liquidez afirma que o investidor prefere sempre dispor de

seus recursos no presente e que, para deixar de consumir hoje e aplicar os recursos em

bens que não de consumo, exige remuneração. A taxa de juros e o valor de revenda dos

bens, anteriormente adquiridos, representam essa remuneração que deve possibilitar que

o consumo de amanhã seja maior do que o de hoje.

A macroeconomia é a parte da economia que estuda o sistema econômico: seus agentes,

inter-relações, fluxos de bens e serviços, fluxo de recursos e taxas de juros. A empresa

está inserida nesse ambiente e interage com ele na busca por recursos para

financiamento, na identificação de oportunidades de investimento, na submissão às leis

e às normas e no acompanhamento do ritmo da atividade econômica.

A economia internacional é cada vez mais importante para as Finanças, em função do

crescente processo de internacionalização dos processos produtivos e da intensificação

dos fluxos de capitais internacionais.

Os registros das operações financeiras são responsabilidades da Contabilidade e

obedecem ao denominado regime de competência, no qual as informações são

registradas e reconhecidas independentemente de recebimento ou pagamento. Todas as

entradas de recursos, na forma de bens e equipamentos, ou na forma de dinheiro e

títulos, são quantificadas e registradas. Do mesmo modo, todas as saídas também são

registradas. Os aportes de capital dos sócios, os empréstimos contratados, as

valorizações patrimoniais e as vendas efetuadas e ainda não recebidas são

contabilizadas, assim como a depreciação, os pagamentos de juros e a amortização de

empréstimos e os pagamentos devidos e ainda não efetuados.

As demonstrações financeiras são exigências fiscal e societária. Constituem importante

fonte de informação do desempenho da empresa para os acionistas atuais e futuros,

fornecedores, clientes e instituições financeiras. Os registros são feitos em livros

específicos (ou arquivos eletrônicos) conforme princípios contábeis geralmente aceitos,

estabelecidos em normas legais, as quais variam entre os países. O Comitê Internacional

de Padrões Contábeis — IASC — International Accounting Standards Com itee, sugere

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 84

Page 85: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

normas e padrões internacionais para o registro das operações, nos diversos relatórios

contábeis.

Nos Estados Unidos as normas são estabelecidas pelo FASB — Financial Accounting

Standards Board. Como muitas das empresas internacionais têm sua sede nos EUA ou

negociam papéis em Bolsas de Valores americanas, os padrões estabelecidos pelas

normas FASB acabam sendo seguidos por grande parte das empresas ao redor do

mundo. Na Grã-Bretanha o ASB — Accounting Standards Board e na Irlanda o Institute

of Chartered Accountants fazem a regulação contábil.

No Brasil os registros contábeis são feitos de acordo com as normas estabelecidas pelo

IBRACON — Instituto Brasileiro de Contabilidade. Para se manter atualizado sobre os

procedimentos contábeis no Brasil, a maneira mais prática é acompanhar

sistematicamente as publicações da área, estilo IOB — Informações Objetivas, guia que

acompanha toda a legislação referente às exigências legais das operações das empresas.

A Matemática e a Estatística têm importante relação com as Finanças, visto que

estabelecem as medidas quantitativas, explicativas e preditivas do objeto das finanças: a

criação de valor. A Estatística é responsável por grande parte da modelagem matemática

das teorias financeiras. Os conceitos de média, desvio padrão, variância e covariância

são utilizados para estudar o comportamento dos ativos, em especial os ativos

financeiros.

O conceito de risco de investimento é entendido como a variabilidade dos retornos

possíveis desse investimento. Essa variabilidade é medida pelo desvio-padrão e pela

variância dos retornos esperados. A relação existente entre os ativos de um

investimento, ou entre os papéis que compõem uma carteira de investimentos, é medida

pela correlação e pela covariância de seus retornos.

A Ciência da Computação vem em auxílio das finanças por meio de softwares

específicos para os controles operacionais; de bancos de dados para coleta e

sistematização de informações e de sistemas eletrônicos de informação gerencial. Difícil

conceber o controle e a tomada de decisão em finanças sem auxílio do computador.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 85

Page 86: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A Estatística, associada à computação, consegue desenvolver modelos de análise

previtivos e explicativos dos fenômenos financeiros. Para tanto, utilizam técnicas

multivariadas de análise de dados, tais como Análise Fatorial, Análise de

Conglomerados e Técnicas de Regressão.

A empresa opera em ambiente de leis e normas, e daí sua interface com o Direito. O

conhecimento das normas não apenas permite o perfeito desenrolar das atividades da

organização, como também oportuniza novos negócios. O Direito normatiza as relações

sociais, nas quais as relações empresariais estão incluídas. O conhecimento das leis das

sociedades civis permite ao gestor financeiro adequar os fluxos financeiros às

exigências legais, evitando multas e suspensões. As leis tributárias, estabelecidas no

Código Tributário Nacional, implicam elevados custos para as empresas e uma boa

gestão tributária possibilita-lhes grandes economias, dentro da legalidade. Em capítulo

futuro trataremos mais detalhadamente os tributos no Brasil.

As leis trabalhistas regulamentam a contratação de funcionários, as responsabilidades da

empresa para com eles e os encargos a serem pagos. Esses elementos têm peso

significativo na pauta de custos da empresa e nas decisões de investimentos em novas

tecnologias redutoras de mão-de-obra. As leis de zoneamento e proteção ambiental são

relevantes nas decisões de localização industrial e adoção de tecnologias verdes.

2.2.2.5. Finanças e as demais atividades da empresa

O planejamento financeiro é uma das interfaces das Finanças com as diversas áreas da

Administração. Com a Administração de Pessoas, se faz a previsão das necessidades de

pessoal técnico, operacional e gerencial para atuar nos projetos em estudo. A área de

Operações atua com as Finanças quando do orçamento das suas atividades e no

estabelecimento de políticas de estoque, análise dos custos de produção, e cálculo do

ponto de equilíbrio. O Marketing e as Finanças juntos estabelecem políticas de preços,

prazos de pagamento, políticas de descontos, margens de lucro, políticas de crédito e

procuram criar e manter uma boa imagem da empresa no mercado.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 86

Page 87: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A área de Pesquisa e Desenvolvimento discute as Finanças em termos de gastos com

desenvolvimento de novas tecnologias e possíveis formas de financiamento para as

atividades de P&D.

2.2.2.6 Administração financeira com ética

A preocupação com o exercício ético da administração financeira permeia todo esta

apostila, e todo o Curso de Administração da Faculdade de Sabará. Queremos que os

frutos de nosso trabalho possam ajudar na melhoria dos padrões de conduta ou de juízo

moral da administração financeira.

Robert A. Cooke, sugere que as seguintes questões sejam usadas para avaliar a

viabilidade ética de uma determinada ação:

1. O ato de ... é arbitrário ou caprichoso? Discrimina um indivíduo ou um grupo?

2. O ato de ... viola a moral ou os direitos legais de qualquer indivíduo ou grupo?

3. O ato de ... está em conformidade com os padrões morais aceitos?

4. Há cursos alternativos de ação que possam causar menos dano real ou potencial?

2.3. Mercado financeiro

As empresas operam em um ambiente econômico no qual existem agentes com recursos

financeiros em excesso e outros com falta de recursos.

Os agentes superavitários são aqueles com recursos financeiros excedentes: pessoas

físicas com rendimentos acima de seus gastos, organizações com ganhos superiores às

suas oportunidades de investimento, governos com arrecadação maior do que suas

demandas econômicas, políticas e sociais. Os agentes deficitários são aqueles com falta

de recursos: pessoas físicas cujos rendimentos não cobrem suas despesas correntes,

organizações com despesas e oportunidades de investimento acima de suas receitas,

governos cuja arrecadação fica aquém de suas necessidades de recursos.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 87

Page 88: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quando o hiato de recebimentos e pagamentos ocorre em um determinado espaço de

tempo, especialmente na situação de falta de dinheiro, os intermediários financeiros

procuram canalizar os recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários.

O mercado financeiro é a reunião das instituições financeiras capazes de intermediar

recursos. Sua principal atividade é captar recursos dos agentes superavitários, a quem

remunera; e aplicar os recursos, por meio de empréstimos, aos agentes deficitários dos

quais recebem juros.

A atividade de intermediação reveste-se de situações de risco. Existe certa probabilidade

de os tomadores de recursos não pagarem em dia os recursos emprestados. Quanto

maior o risco, maior a taxa de juros cobrada. Os aplicadores que se sujeitam a emprestar

recursos para aplicações de maior risco (de maior variabilidade nas probabilidades de

retorno) exigem maior retorno sobre os seus recursos emprestados.

O mercado financeiro pode assumir diversas formas, conforme o tipo de intermediação

de recursos realizada.

Os produtos negociados nos mercados de ativos financeiros podem ser separados em

produtos de investimento e de financiamento. Produtos de investimento constituem

instrumento de captação de recursos das instituições financeiras e de aplicação dos

agentes superavitários. Abaixo segue-se uma listagem de alguns dos principais produtos

de investimento e de financiamento.

Produtos de investimento

Título - Característica

CDI: Certificado de depósito Lastro para as operações entre os bancos interbancários no

mercado monetário

CDB: certificado de depósito Captação de recursos dos investidores bancário para os

bancos

Export Notes Contratos de cessão de crédito de exportação

Cadernetas de poupança Aplicação de pequenos poupadores

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 88

Page 89: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Títulos Públicos Captação para o governo

Letras e Notas do Tesouro Nacional Cobertura de déficits orçamentários

Letras e Bônus do Banco Central Fins de política monetária

Produtos de financiamento

Título - Característica

Desconto de duplicatas e Notas Recursos de curto prazo para as promissórias empresas

Hot money Empréstimo de curtíssimo prazo para financiamento de capital de giro

Leasing financeiro — arrendamento Financiamento de médio e longo prazo mercantil

CDC — crédito direto à Concessão de crédito ao consumidor final, consumidor por

sociedades de crédito, financiamento e investimento.

Contas garantidas, cheque especial, Contrato de crédito rotativo.

Vendor finance Financiamento de vendas baseado no principio de cessão de créditos

Operação 63 Instituição capta recursos no exterior em dólares

2.4. Tipos de Empresas

A constituição das empresas tem aspectos técnicos, administrativos, legais e de

mercado. Os aspectos técnicos e administrativos relacionam-se às atividades fim da

empresa, que podem ser:

• Instituições financeiras.

• Empresas privadas, comerciais, industriais e prestadoras de serviços.

• Empresas e órgãos públicos.

• Organizações sem fins lucrativos, por exemplo, as ONG’s — Organizações Não-

governamentais.

Do ponto de vista legal, as empresas podem organizar-se sob diversas formas: firma

individual, sociedade limitada e sociedade por ações. Essa constituição depende do

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 89

Page 90: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

porte da empresa, do interesse dos seus organizadores e das implicações administrativas

de cada uma delas.

2.4.1 Empresas individuais

São empresas pequenas, normalmente registradas como microempresas, de simples

constituição, quase sempre de um único dono, que também é o gerente. No Brasil, essas

empresas emergem da informalidade quando os negócios começam a aumentar. São

pequenos estabelecimentos industriais, comerciais, prestadores de serviços,

profissionais liberais e autônomos. A responsabilidade do proprietário da empresa

individual é ilimitada; ou seja, seus bens pessoais respondem por todas as dívidas da

empresa, no caso de inadimplência.

A documentação exigida para a abertura da empresa e dos registros necessários para

cada negócio específico pode ser obtida junto aos balcões do SEBRAE — Serviço

Brasileiro de Atendimento Empresarial (www.sebrae.com.br), órgão que também presta

assessoria na condução das atividades da empresa.

2.4.2 Sociedade por cotas de responsabilidade limitada

Nas empresas limitadas, como são usualmente conhecidas, os sócios estabelecem um

contrato social. Esse contrato define a participação de cada um dos sócios: aporte de

capital de cada um deles, responsabilidade das partes e a natureza da atividade a ser

desenvolvida.

No caso de inadimplência, as dívidas da empresa poderão ser pagas com os bens dos

sócios limitados, correspondentes à sua participação no capital da empresa.

No Brasil, normalmente na constituição de empresas limitadas, os sócios não atentam

para esse detalhe, incorrendo posteriormente em grandes conflitos entre os sócios. Outra

característica dessas empresas, no Brasil, é sua origem familiar, onde, infelizmente, as

despesas das famílias dos sócios são confundidas com as despesas da empresa. Para

evitar inconvenientes familiares e para proteger a liquidez da empresa, sugere-se o

estabelecimento prévio das retiradas pró-labore de cada um dos sócios, vinculadas ao

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 90

Page 91: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

desempenho da empresa, e não de acordo com as necessidades de cada uma das

famílias.

Com o crescente processo de fusões e aquisições, essas empresas tendem a ser

adquiridas por outras empresas maiores, mas existem muitos nichos de mercado que

podem por elas ser ocupados: prestação de serviços, comércios especializados,

industrialização terceirizada, por exemplo.

2.4.3 Sociedades por ações

As sociedades por ações, ou sociedades anônimas, são grandes empresas com capital

diluído entre milhares e até milhões de acionistas que possuem participações no capital

da empresa, por meio de ações. Cada interessado na empresa adquire essas ações, no

mercado de capitais que, por sua vez, se constitui numa das grandes fontes de captação

de recursos nos países desenvolvidos.

As sociedades anônimas podem ser de capital fechado ou aberto. As de capital fechado

são aquelas cujas ações estão nas mãos de pessoas físicas e jurídicas determinadas, e

não são comercializadas em bolsas de valores. No Brasil, normalmente são grandes

empresas de origem familiar. As de capital aberto são aquelas cujas ações são

comercializadas em bolsas de valores, estando, portanto, acessíveis a qualquer

interessado.

No Brasil, até o ano de 2001, estava em vigor a Lei das Sociedades Anônimas de 1976.

Sua reformulação foi discutida durante anos no Congresso Nacional e, finalmente, foi

decretada e sancionada uma nova lei em outubro de 2001. A Lei 10.303 sancionada em

31/10/2001 altera e acrescenta dispositivos na Lei 6.404 de 15/12/1976 que dispõe sobre

as sociedades por ações e na Lei 6.385 de 7/12/1976 que dispõe sobre o mercado de

valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.

Praticamente toda a Teoria Financeira se baseia nas sociedades anônimas, pois, nos

Estados Unidos, as maiores empresas estão organizadas dessa forma, com ações

negociadas em Bolsas de Valores. Lá existe cobrança da sociedade sobre o desempenho

dessas empresas: as pessoas investem seus recursos em suas ações e monitoram o seu

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 91

Page 92: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

desempenho. O valor da ação no mercado, os dividendos e as bonificações distribuídos,

a ação social da empresa e até o comprometimento ecológico da organização são

acompanhados pelos seus acionistas que, a qualquer momento, podem ir ao mercado

alterar a composição de sua carteira de investimentos, vendendo as ações das empresas

cujo desempenho não é satisfatório e comprando ações de empresas com melhor

desempenho.

2.5. Questões

1. Conceitue administração financeira e finanças corporativas. Comente como as

empresas obtêm seus recursos financeiros.

2. Qual o objetivo normativo da administração financeira? Por que a maximização de

lucro não é um bom objetivo para a administração financeira?

3. Quais as principais funções da administração financeira?

4. Quais as principais decisões financeiras? Como podem ser identificadas nas

demonstrações financeiras?

5. Comente detalhadamente a decisão de investimento e a decisão de financiamento. Dê

exemplos.

6. Como o administrador financeiro atua na busca de melhores resultados operacionais

da empresa? Baseie-se na demonstração de resultados.

7. Conceitue valor de uso e valor de troca. Como se aumenta o valor da empresa? Quais

as várias formas utilizadas para se expressar o valor da empresa?

8. Por que é tão importante zelar pelos grupos de relacionamento?

9. Quais as ciências com as quais a administração financeira mais se relaciona? Mostre

a importância de cada uma delas para as finanças. Em sua opinião, qual a que mais

contribui para a área financeira?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 92

Page 93: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

10. Conceitue mercado financeiro e comente sobre seus vários agentes. Como eles

interagem? Dê exemplos. Classifique o mercado financeiro. Cite exemplos de produtos

de investimento e de financiamento.

11. Faça uma pesquisa teórica e empírica sobre a importância da ética na condução dos

negócios.

12. Como as empresas podem ser organizadas? Comente as empresas individuais e

sociedades limitadas.

13. Conceitue sociedade anônima e faça uma pesquisa enumerando, pelo menos 3

empresas da Grande BH com ações negociadas em bolsa.

14. A empresa Irmãos Coringa Ltda. iniciou suas atividades há cinco anos atrás no ramo

de transportes. Hoje a empresa conta com uma frota própria de 10 carretas, utiliza com

freqüência caminhões contratados e, ainda assim, não consegue atender à demanda de

fretes a partir da região sudeste do país, em direção à região Nordeste. O principal

problema da empresa é a reduzida quantidade de fretes de retorno, pois o volume de

cargas da região Nordeste para a região sudeste é bem menor. Os donos da empresa

estão pensando em diversificar suas atividades e investir na produção de frutas na região

Nordeste, atividade já existente na região e, dessa forma, aumentar o volume de cargas

de retorno. Considerando que a empresa disponha do capital necessário para iniciar esta

nova atividade, procure relacionar:

a) as implicações financeiras da decisão;

b) como essa decisão está relacionada com o marketing;

c) Como esta em presa deve ser constituída, sob o ponto de vista legal?

2.6. Bibliografia Recomendada

DAMODARAN, G. Finanças Corporativas. São Paulo: Atlas, 2006

LEMES JR., A. B. Administração Financeira. Rio de Janeiro : Editora Campus, 2005.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 93

Page 94: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JAFFE, J. Administração financeira

— Corporate Finance. São Paulo: Atlas, 2005.

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JORDAN, Bradford D. Princípios de

administração financeira — essentials of corporate finance. São Paulo: Atlas, 1998.

SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.

Atlas. 2003

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 94

Page 95: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

CAPÍTULO 03 - Mercado de Capitais

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

3.1. Introdução

3.2. Companhias abertas

3.3. Bolsas de Valores

3.4. Ações

3.5. Mercados de ações e derivativos

3.6. Debêntures

3.7. Resumo

3.8. Questões

3.9. Exerresumo

3.10. Bibliografia recomendada

3.1. Introdução

Neste capítulo, trataremos da capitalização das empresas através do mercado de

capitais. O mercado de capitais abrange o conjunto de transações para transferência de

recursos financeiros entre agentes poupadores e investidores, com prazos médio, longo

ou indefinido. Ou seja, é uma relação financeira constituída por instituições e contratos

que permite que poupadores e empresas demandantes de capital de longo prazo realizem

suas operações.

Desse modo, a existência de um mercado de capitais ativo sinaliza o estágio de

desenvolvimento de uma economia, pois pessoas, empresas e instituições passam a ter

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

maiores oportunidades de investimento e, as empresas, fontes permanentes de captação

de recursos financeiros.

Além disso, a participação no mercado de capitais permite às organizações a obtenção

de recursos a custo competitivo, uma vez que elas poderão captar externamente através

da emissão de ações ou títulos de dívida (debêntures), o que reduzirá a dependência dos

financiamentos de curto prazo, de financiamento bancários caros, ou mesmo da geração

de recursos internos (os quais nem sempre são suficientes para atingir os níveis de

expansão desejados).

O mercado de capitais também contribui para o desenvolvimento econômico do país,

pois:

• Facilita o fluxo de capital dos poupadores para o investimento em indústrias, comércio

e serviços.

• Fornece maior agilidade às negociações para alteração de propriedade ou controle da

empresa.

• Facilita processos de privatização.

• Amplia a transparência das empresas participantes devido à busca por informações e

demonstrações financeiras por parte dos investidores do mercado, o que fornece maior

credibilidade ao crescimento dessas organizações.

• Facilita a entrada e aplicação do capital externo na economia nacional, auxiliando no

equilíbrio das contas da balança de pagamento e ampliação do volume de investimentos

no país.

• Permite aos poupadores a aplicação de seus recursos em diferentes empresas ao

mesmo tempo, com amplo acesso às informações sobre as companhias e alta liquidez do

investimento.

• Incentiva a formação de poupança interna de longo prazo, promovendo o crescimento

auto-sustentado do país.

No Brasil, o mercado de capitais ainda não atingiu seu potencial pleno. A BOVESPA

cresce seu volume de negociação, dia-a-dia, desde meados de 2003, no período pós

incerteza do início do mandato do Presidente Lula. Além disso, esse mercado enfrenta

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

problemas, como falta de liquidez, falta de transparência, dificuldade de acesso e custos

operacionais, o que inibe seu crescimento no país.

A falta de liquidez advém de uma série de fatores, passando pela falta de cultura do

brasileiro em investir em ações, fraudes de empresas no passado, baixa capacidade de

poupança interna, dentre outros. A falta de transparência ocorre pela instabilidade das –

r-*+98- egras que dificultam a previsibilidade das cotações. A dificuldade de acesso

ocorre devido aos altos custos burocráticos, legais e operacionais que impedem a

entrada de pequenas e médias empresas neste mercado. Mesmo algumas empresas de

grande porte têm evitado este mercado.

A mentalidade empresarial do brasileiro ainda é fortemente marcada por valores

baseados na figura da empresa familiar, administrada pelos proprietários e familiares,

impedindo que sejam cumpridas as exigências de abertura de informações que o

mercado exige. Têm sido sugeridas diversas ações para melhorar o desempenho de

nosso mercado de capitais, cabendo citar:

• Fortalecimento da transparência do mercado com o aperfeiçoamento da estrutura de

regulamentação, o fortalecimento dos direitos dos sócios minoritários, a melhoria na

estruturação e atuação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a criação de cortes

judiciais especializadas.

. • Equalização de custos tributários entre o mercado de capitais brasileiro e seus

competidores internacionais.

• Reformas tributária e trabalhista que visem uma ampla equalização de encargos entre

as empresas de capital aberto e fechado, reduzindo o custo do acesso e de transação,

com conseqüente aumento da liquidez.

• Desenvolvimento de campanha institucional visando difundir os benefícios

econômicos e sociais do mercado de capitais, bem como proporcionar uma evolução na

mentalidade empresarial em prol de uma compreensão dessas vantagens.

3.2. Companhias Abertas

Um segmento do mercado de capitais é o mercado de ações, que envolve a colocação

primária de ações emitidas pelas empresas e a negociação secundária das ações em

circulação. No entanto, para participar desse mercado, uma companhia necessita realizar

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

a abertura de seu capital, ou seja, lançar títulos de capital (ações) ou dívidas

(debêntures) para negociação pública.

Para iniciar um processo de abertura de capital a empresa deve estar organizada e

constituída de acordo com as definições constantes na Lei 6.404, de 15/12/ 1976, logo,

precisa estar na forma jurídica de uma sociedade anônima. Além disso, deverá ser

efetuado o registro da empresa junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para

ser autorizada a negociação junto ao público, tanto em Bolsas de Valores quanto no

mercado de balcão.

Uma companhia aberta é aquela que possui ações e ou debêntures negociadas junto ao

público em Bolsas de Valores ou mercado de balcão

Após a colocação dos valores mobiliários da empresa nesses mercados, ela passa a ser

considerada uma companhia aberta. Os valores mobiliários mais usuais no mercado são:

• Ações: títulos nominativos negociáveis, que representam uma fração do capital social

de uma empresa pertencente ao proprietário da ação.

• Bônus de subscrição: Títulos nominativos negociáveis, que concedem o direito de

subscrever ações do capital social da companhia que os emitiu ao seu proprietário,

dentro de condições anteriormente determinadas.

• Debêntures: Títulos nominativos negociáveis, que representam dívida de médio longo

prazo contraída pela companhia junto ao proprietário da debênture.

A Comissão que autoriza as companhias a abrirem seu capital, CVM, é uma autarquia

federal, instituída pela Lei 6.385, de 07 12 1976, que está diretamente ligada ao

Conselho Monetário Nacional (CMN) e é responsável pela regulamentação e fomento

do mercado de valores mobiliários. O mercado de capitais, como sistema de distribuição

desses valores, é constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e outras

instituições financeiras autorizadas.

As bolsas de valores são associações civis sem fins lucrativos e com funções de

interesse público, e seu principal objetivo é manter local ou sistema de negociação

eletrônico adequado para as negociações de compra e venda dos títulos nelas

registrados.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O patrimônio dessas bolsas é representado por títulos patrimoniais que pertencem às

sociedades corretoras membros. As bolsas, ao fiscalizarem o mercado e, principalmente,

as corretoras, atuam como auxiliadoras da CVM, pois devido ao volume e transparência

de suas negociações, são os mais importantes centros de negociação de ações.

As sociedades corretoras são instituições financeiras que compram, vendem e

distribuem títulos e valores mobiliários por conta própria ou de terceiros.

As corretoras precisam ser credenciadas pelo Banco Central do Brasil, pela CVM e

pelas bolsas em que irão atuar. Além de intermediárias especializadas na negociação de

valores mobiliários em pregão, as corretoras têm exclusividade na negociação de

valores mobiliários em pregão físico ou eletrônico das bolsas, elas também podem

efetuar lançamentos públicos de ações, fornecer diretrizes para escolha de investimentos

a seus clientes, administrar carteiras, auxiliar empresas na emissão de debêntures e

outros.

3.3. Bolsas de Valores no Brasil

As bolsas, como comentamos anteriormente, são instituições civis, sem fins lucrativos,

mas até meados da década de 1960, as bolsas brasileiras eram entidades oficiais

corporativas, vinculadas às secretarias de finanças dos governos estaduais, sendo seus

corretores nomeados pelo poder público. Somente após as alterações realizadas no

sistema financeiro nacional e no mercado de capitais resultantes da reforma institucional

do biênio 1964/ 65, as bolsas foram transformadas em associações civis sem fins

lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial.

A primeira bolsa de valores implantada foi a Bourse de Paris, no ano de 1141. Em 1698

foi fundada a Bolsa de Fundos Públicos de Londres. No Brasil, através do decreto nº

417, de 14 de junho de 1845, regulamentou-se a atividade do Corretor Oficial de

Fundos Públicos , que era vitalícia e sujeita à nomeação pelo Ministro da Fazenda. Em

1895 foi fundada a Bolsa Oficial de Títulos de São Paulo. Mas foi somente a partir de

1964, com as leis de Reforma Bancária e do Mercado de Capitais, que as Bolsas

assumiram as funções que possuem atualmente.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Assim, a sociedade corretora, constituída sob a forma de sociedade por ações

nominativas ou por cotas de responsabilidade limitada, surgiu para substituir a figura

individual do corretor de fundos públicos antes existente. Desse modo, as Bolsas de

Valores passaram a ser estruturadas dentro do modelo atualmente vigente. Essas

instituições promovem não apenas a negociação secundária de títulos, mas também a

liquidação e custódia de títulos e valores mobiliários, e títulos da dívida pública.

As bolsas de valores brasileiras atuavam de maneira completamente independente entre

si, mas a partir de um protocolo de intenções assinado em 27 de janeiro de 2001, foi

dado início a um processo de reestruturação da sistemática de atuação das bolsas

participantes do mercado de capitais nacional. Esse primeiro protocolo foi assinado

entre a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a Bolsa de Valores do Rio de

Janeiro (B VRJ); posteriormente, outros protocolos foram sendo assinados entre a

BOVESPA e outras Bolsas de Valores existentes.

O principal objetivo era integrar, sob a administração da BOVESPA, o mercado de

valores mobiliários nacional, com a participação de corretoras de todas as regiões do

País. Já o mercado de títulos públicos de negociação eletrônica ficou sob a

administração da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, com participação aberta aos

membros da BVRJ, da BOVESPA e de todas as corretoras interessadas. Essas

alterações foram elaboradas com a finalidade de incrementar os negócios em nível

nacional, reduzir custos operacionais e fortalecer a competitividade do mercado

brasileiro. Além disso, essa integração permitiu centralizar o mercado acionário,

formalizando um único centro de liquidez para representar o país no contexto global.

A bovespa integra o mercado de valores mobiliários nacional, com a participação de

corretoras de todas as regiões do país, e a BVRJ administra o mercado de títulos

públicos.

Com a assinatura dos acordos de integração foram unidas as Bolsas de Valores de São

Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas, Espírito Santo, Brasília, do Extremo Sul, de Santos,

da Bahia, Sergipe, Alagoas, de Pernambuco e Paraíba, do Paraná e a Bolsa Regional.

Assim, o mercado de valores mobiliários brasileiro passou a estar integrado em âmbito

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

nacional, pois conta agora com a participação das sociedades corretoras de todas as

regiões do país que anteriormente estavam ligadas a cada uma dessas bolsas. Uma vez

que a BOVESPA concentra toda a negociação com ações e a Bolsa do Rio é

responsável pelas transações de títulos públicos, às outras bolsas regionais cabem as

atividades de desenvolvimento do mercado e de prestação de serviços à sua região.

A BOVESPA foi fundada em 23 de agosto de 1890 e desde a década de 1960 sempre

foi uma instituição voltada para o seu constante desenvolvimento. Desse modo, em

1972, a BOVESPA foi a primeira bolsa brasileira a implantar o pregão automatizado

com a divulgação das informações on-line e no exato tempo em que ocorriam (real

time). No final da década de 1970, introduziu as operações com opções sobre ações no

Brasil; e na década de 1980 implantou o Sistema Privado de Operações por telefone

(SPOT), desenvolveu um sistema de custódia fungível de títulos e implantou uma rede

de serviços on-line para as corretoras.

Em 1990, a BOVESPA iniciou as negociações através do Sistema de Negociação

Eletrônica - CATS (Computer Assisted Trading Sistem) - para operar simultaneamente

com o tradicional sistema de Pregão Viva Voz. E, em 1997, implantou o Mega Bolsa,

um novo sistema de negociação eletrônica que, além de utilizar um sistema tecnológico

altamente avançado, amplia o volume potencial de processamento de informações. Tudo

isso demonstra a preocupação com a manutenção do mais adequado ambiente de

negociação e com a máxima transparência, segurança e agilidade nas transações, pontos

fundamentais no desempenho adequado das funções de uma Bolsa de Valores junto a

seus participantes.

A BOVESPA também oferece a esses participantes ou aos interessados em atuar no

mercado de ações, o sistema home broker e o after market. O home broker é um sistema

interligado aos sistemas da Bovespa que permite ao investidor enviar ordens de compra

e venda de ações através da internet, isto é, utilizando o home broker (serviço

semelhante ao do home ban-king) de sua corretora, que está ligado ao sistema de

negociação da Bovespa, o investidor efetua suas transações.

O After Market é um mercado para negociação com ações que foram transacionadas

durante o pregão no mercado à vista, mas que ocorre após o horário regular de

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

negociação. Isto é, após o fechamento do pregão diurno do mercado à vista, as ações

que foram negociadas nesse dia podem ser novamente transacionadas durante a noite

(até as 21 horas) e podem variar em até 1% em relação ao preço de fechamento do

pregão diurno. Se o preço da ação variar 1%, para mais ou para menos, sua negociação

é interrompida antes das 21 horas.

Todo esse investimento coloca a Bolsa de Valores de São Paulo entre as mais modernas

bolsas de valores do mundo, permitindo uma boa colocação do Brasil no mercado

internacional de capitais e atraindo o investimento externo ao país.

O acompanhamento do mercado representado pela Bovespa é realizado através de um

índice criado em 1968 e denominado IBOVESPA. Esse índice acompanha a evolução

média das cotações das ações, sendo uma carteira teórica formada pelas 50 ações mais

negociadas no último quadrimestre anterior à montagem da carteira. Desse modo, o

Ibovespa é o valor atual, em moeda corrente dessa carteira, e sua representatividade do

mercado é garantida pela reavaliação quadrimestral realizada para alterações de

composição ou pesos que se fizerem necessárias para a manutenção das 50 ações com

maior volume transacionado.

Além do Ibovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo divulga outros índices, como o IBX

(índice Brasil) e o IEE (índice Energia Elétrica). O primeiro mede o retorno de uma

carteira de ações integrada pelas 100 ações mais negociadas e o segundo mede o

desempenho de ações do setor elétrico.

Outra importante bolsa brasileira é a Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F). A

BM&F surgiu em 1985, como Bolsa Mercantil & de Futuros, sendo que seus pregões se

iniciaram em 31 de janeiro de 1986. No entanto, se fundiu, em 9 de maio de 1991, com

a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP), que havia sido criada em 26 de outubro

de 1971 por empresários paulistas ligados à agricultura, comércio e exportação, e

possuía forte tradição na negociação de contratos agropecuários (principalmente café,

boi gordo e algodão) e foi a primeira bolsa a introduzir operações a termo no Brasil. Na

data da fusão, a BM&F já oferecia diferentes negociações de produtos financeiros.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A denominação da bolsa passou a ser Bolsa de Mercadorias e Futuros, com manutenção

da antiga sigla. Posteriormente, em 30 de junho de 1997, uma nova fusão foi realizada,

agora com a Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), que havia sido fundada em 1983, no

Rio de Janeiro, para fortalecer o mercado nacional de commodities. Atualmente a

BM&F é classificada como a oitava bolsa no mundo em volume de contratos

negociados.

O principal objetivo da BM&F, sendo uma associação civil sem fins lucrativos, é

organizar, regulamentar e fiscalizar mercados de liquidação futura. Portanto, é sua

função fornecer condições físicas e organizacionais para a realização de negócios entre

os corretores que representam seus clientes; desse modo proporcionará aos participantes

do mercado a oportunidade de realizarem operações de hedging contra oscilações dos

preços de commodities agropecuárias, metais, moedas, índices e taxas de juros ou

qualquer outro item cujas variações futuras de preço possam ter impacto nos negócios.

A BM&F, dentro dessa perspectiva, apresenta operações nos mercados futuros, opções

sobre disponível, opções sobre futuro, opções flexíveis, termo, swaps e disponível. Na

sua busca pelo aperfeiçoamento e melhoria de seus mercados, a BM&F, em 31 de

janeiro de 2000, passou a fazer parte da Aliança Globex que envolve as bolsas de

Chicago (Chicago Mercan-tile Exchange), Paris (Euronext NV, ex-Paris Bourse),

Cingapura (Singa-pore Exchange-Derivatives Trading), Madri (MEFF - Mercado

Oficial de Futuros y Opciones Financieros) e Montreal (Montreal Exchange), e permite

que os participantes de um mercado possam negociar os produtos de outro. Com a

interligação eletrônica entre as bolsas da aliança, a BM&F passou a oferecer a seus

clientes a possibilidade de negociar 24 horas por dia e em diferentes mercados ao redor

do mundo. Além de facilitar o investimento do capital estrangeiro no país, uma vez que

a Resolução 2.622 do Conselho Monetário Nacional de 29 de julho de 1999, autorizou

investidores estrangeiros a efetuarem negociações com contratos futuros de produtos

agropecuários na BM&F.

3.4. Ações

As ações são títulos que representam a participação social no capital de uma empresa,

sendo nominativos e negociáveis. Há dois tipos de ações - ordinárias ou preferenciais:

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

a) Ações ordinárias - São aquelas que conferem a seu titular o direito a voto na

Assembléia de Acionistas da empresa, ou seja, concedem o poder de voto nas

assembléias que determinam as principais destinações de recursos, elegem os membros

da diretoria, aprovam as demonstrações contábeis e outros. Portanto, essas ações

fornecem o direito à participação nas mais relevantes tomadas de decisão da empresa.

b) Ações preferenciais - Normalmente não concedem o direito a voto a seu titular, mas

oferecem preferência na distribuição de resultados ou no reembolso do capital em caso

de dissolução da companhia. A empresa pode definir, no seu estatuto, um dividendo

mínimo ou fixo, como percentagem do lucro ou do capital social a que os titulares das

ações preferenciais terão direito. Caso não ocorram essas definições, são garantidos às

ações preferenciais dividendos 10% maiores que aqueles pagos às ordinárias.

A Lei das Sociedades Anônimas permite que as companhias emitam até 66,6% do

capital social em ações preferenciais. Essas ações podem, em situações restritas,

conceder também o direito a voto. As ações ordinárias ou preferenciais são sempre

nominativas e podem, ainda, apresentar-se de duas formas: nominativas registradas, se

houver um registro de controle de propriedade feito pela empresa ou por terceiros,

independente da haver emissão de certificado; ou escriturais nominativas, se houver a

designação de uma instituição financeira que atuará como depositária dos títulos,

administrando-os através de uma conta-corrente de ações. Essa instituição deverá ser

credenciada pela CVM. Anteriormente ao Plano Collor, as ações de subscrição, que

seriam de um terceiro tipo, são praticamente inexistentes.

As ações poderiam ser também títulos ao portador. No entanto, após o Plano, todas

tornando-se nominativas registradas ou escriturais nominativas.

O valor de uma ação dependerá das expectativas do mercado quanto ao desempenho

futuro da empresa que a emitiu, o que reflete tanto seu desempenho passado, quanto as

suas possibilidades a médio e longo prazos. Essas possibilidades dependerão de fatores

como a gestão dos recursos da empresa e pontos fortes e fracos desenvolvidos. As

conjunturas econômicas doméstica e internacional também influenciam as cotações de

preço de uma ação, uma vez que alteram o chamado risco sistemático, ou seja, risco

resultante de fatores que afetam não somente as empresas, mas todo o sistema

econômico e poderão constituir tanto oportunidades como ameaças para a companhia.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

No entanto, apesar de o preço da ação dever refletir as perspectivas da empresa,

diariamente as cotações são fortemente influenciadas por movimentos internacionais de

capitais, perspectivas diversas de crises (como as crises russa e argentina, e as

provocadas pelo terrorismo), que ratingem países, antecipações de eleições, taxas de

juros, fusões e aquisições etc.

Uma ação dá a seu proprietário diversos direitos como:

1. Dividendos: Pagamento de parte dos lucros, em dinheiro, aos acionistas na proporção

da quantidade de ações detida, ao fim de cada exercício social. No Brasil, pela Lei das

Sociedades Anônimas, a empresa deve distribuir, no mínimo, 50% do lucro líquido do

exercício como dividendo, a menos que seu estatuto estabeleça um percentual menor.

Não pode, porém ser menos de 25%. As ações preferenciais, como colocamos

anteriormente, recebem 10% a mais de dividendos que as ordinárias, caso o estatuto

social da companhia não estabeleça um dividendo mínimo. Se apresentar prejuízo ou

estiver atravessando dificuldades financeiras, a companhia poderá não pagar

dividendos. Porém, caso não pague dividendos por mais de três exercícios, suas ações

preferenciais adquirirão direito de voto, até que se restabeleça a distribuição de

dividendos.

2. Bonificação: Distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, em função de

aumento de capital por incorporação de reservas. Excepcionalmente pode ocorrer a

distribuição de bonificação em dinheiro.

3. Desdobramento: Distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, pela diluição do

capital em maior número de ações, para dar mais liquidez à ação.

4. Agrupamento: Transformação de várias ações em uma, com o aumento do valor

patrimonial da ação.

5. Juros sobre o capital próprio: Atualmente, pela legislação, os dividendos podem ser

pagos como se fossem juros sobre o capital próprio, até a taxa da TJLP. Do ponto de

vista de planejamento tributário, é vantajoso para a empresa e para o acionista, pois a

empresa abate do lucro líquido, reduzindo sua carga tributária de 25% do IR e 8% de

contribuição social. É descontado na fonte, do acionista, 15%.

6. Bônus de Subscrição: Direito dado ao acionista de subscrever novas ações,

proporcionais ao seu capital, a um preço menor que o de mercado. Ou seja, é o direito

de preferência na compra de novas ações emitidas, o que além de garantir a

possibilidade de manter a mesma participação no capital total, pode significar um ganho

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

adicional, dependendo das condições do lançamento. Por fim, se não exercido, o direito

pode ser vendido a terceiros.

Os principais investidores em ações são os investidores institucionais como fundos de

investimentos, fundo de ações, fundos mistos, fundos de pensão, seguradoras, dentre

outros. Esses investidores são fundamentais para o mercado de capitais devido ao

grande volume de recursos que aplicam e à qualidade de suas análises e decisões. As

ações são negociadas em dois mercados distintos: o mercado primário quando são

lançadas da primeira vez (subscrição) - e o mercado secundário - quando são vendidas

normalmente nas Bolsas de Valores ou no mercado de balcão.

Existem vários indicadores que influenciam os investimentos numa compra ou venda de

ações. Dentre eles podemos citar o beta (correlação do movimento da ação específica

com o movimento do mercado), as cotações de ações no mercado, o índice preço lucro,

o lucro por ação, o índice dividendo preço da ação, o índice dividendo lucro e o índice

preço fluxo de caixa operacional.

3.5. Mercados de Ações e Derivativos

3.5.1 Mercado à vista

Ações emitidas por empresas abertas são negociadas no mercado à vista, quando sua

compra e venda são voltadas para a liquidação imediata. Os prazos para esse tipo de

transação são dois dias após a negociação para liquidação física e três para a liquidação

financeira.

Liquidação física: D + 2

Liquidação financeira: D + 3

A liquidação física é o processo de tornar o título disponível à bolsa para entrega ao

comprador. Assim, no segundo dia útil (D+2) após a negociação em pregão, a sociedade

corretora que intermediou a ordem de venda deve entregar à bolsa os títulos que, após a

liquidação financeira, estarão à disposição do comprador.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A liquidação financeira que ocorre no terceiro dia útil (D+3) após a realização do

negócio em pregão, compreende o pagamento pelo comprador do valor total das ações,

o recebimento pelo vendedor e a transferência efetiva das ações.

Para negociar no mercado à vista é necessária a intermediação de uma sociedade

corretora credenciada pela bolsa a executar as ordens de compra e venda, através de

seus operadores em pregão. Os representantes das corretoras poderão negociar

apregoando suas ofertas de viva voz ou a corretora poderá cumprir as ordens de seus

clientes através do Sistema Eletrônico de Negociação (Mega Bolsa). Assim,

encontraremos duas formas de negociações com ações no mercado à vista:

- Viva Voz: O operador anunciará de viva voz sua oferta de compra ou venda durante o

pregão, informando o nome da empresa, o tipo da ação e a quantidade e preço de

negociação. Apenas as ações de maior liquidez são negociadas no pregão viva voz.

- Mega Bolsa (Sistema Eletrônico de Negociação): A ordem de compra ou venda é

realizada pela corretora através de terminais de computador, diretamente de seus

escritórios, sendo que o fechamento do negócio é realizado automaticamente pelos

computadores da bolsa.

As ações também podem ser transacionadas fora do horário regular do pregão no

denominado after market, como foi falado anteriormente. Essas transações deverão ser

realizadas com aquelas ações que foram negociadas durante o pregão do mesmo dia.

Para realizar ordens de compra e venda nesse mercado, os investidores também

necessitarão cadastrar-se em uma corretora credenciada pela BOVESPA, sendo que a

variação de preços das ações no after market deverá ser no máximo de 1% acima ou

abaixo do preço de fechamento do pregão diurno. As operações efetuadas nesse

mercado são divulgadas através do site da BOVESPA.

As ordens de compra e venda de ações podem ser enviadas pelos investidores às

corretoras de diferentes formas. Algumas delas são:

1. Ordem a mercado: Quando o investidor especifica à corretora apenas a quantidade e

as características dos títulos que deseja comprar ou vender, sendo que a corretora

executa a ordem a partir de seu recebimento. Caso o momento de execução fique a

critério da corretora, será caracterizada uma ordem administrada.

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

2. Ordem limitada: Quando o investidor estabelece o preço máximo ou mínimo pelo

qual quer comprar ou vender determinada ação. Ela somente será executada por um

preço igual, ou melhor, do que o indicado.

3. Ordem casada: Quando o investidor determina uma ordem de compra de um título e

uma venda de outro, escolhendo qual operação deverá ocorrer primeiro. A efetivação da

transação é condicionada ao fato de ambas as ordens serem executadas.

4. Ordem de financiamento: Quando o investidor determina uma ordem de compra (ou

venda) de um título em um mercado e uma outra concomitante de venda (ou compra) de

igual título, no mesmo ou em outro mercado, com prazos de vencimento distintos.

As operações realizadas no mercado avista envolvem custos de transação na forma de

emolumentos e taxa de corretagem pela intermediação. O cálculo da taxa de corretagem

é feito por faixas sobre o total de compras mais vendas das ordens realizadas em nome

do investidor, por corretora e pregão.

Além desses custos, existe também o Aviso de Negociações com Ações (ANA) que

deveria ser cobrado por cada pregão em que o investidor realizar negócio, independente

do número de transações. Mas esse aviso está isento de custo por tempo indeterminado.

- Day-trade: Compra e venda de uma mesma série de títulos, em um mesmo pregão, por

uma mesma sociedade corretora e para um mesmo investidor.

No mercado avista podem ocorrer, ainda, as operações de day-trade, operação de

arbitragem em que um investidor compra e vende, num mesmo pregão, a mesma ação

através de uma mesma corretora, o que pode ocorrer em mercados diferentes (compra

em um e vende em outro) ou no mesmo mercado, mas em tempos diferentes. Nos casos

dessas negociações, não ocorrerá a entrega física dos papéis, apenas a liquidação

financeira em D + 3.

3.5.2. Mercado a termo

Nesse mercado são realizadas operações de compra e venda de ações (ativo-objeto), a

um preço fixado e com prazo de liquidação determinado a partir da data da operação em

pregão. Todas as ações negociadas no mercado à vista da Bovespa podem ser

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

negociadas a termo. Portanto, operações a termo resultam em contratos com prazo de

liquidação fixado entre as partes. Esse prazo pode ser livremente escolhido entre os

investidores, desde que esteja no intervalo de 12 dias úteis a 999 dias corridos. Em sua

maioria, as negociações são de 30 dias, mas também ocorrem contratos dé 30, 60, 90,

120, 150 e até 180 dias.

Assim como no mercado à vista, a negociação a termo exige a intermediação de uma

corretora. Como o preço a termo depende do valor cotado para a ação no mercado à

vista acrescido de juros, esses juros serão livremente determinados pelo mercado, em

função do prazo do contrato.

No entanto, além dos custos de transação no mercado à vista, a operação a termo

envolve também a taxa de registro do contrato cobrada de ambas as partes e os custos da

CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação (taxa de liquidação e de registro).

Transações no mercado a termo exigem o depósito de garantias por parte do investidor

na sociedade corretora que repassará à CBLC. As garantias podem ser de duas formas:

cobertura ou margem. A cobertura pode ser feita pelo vendedor a termo que já possua as

ações negociadas em seu contrato. Nesse caso, ele as depositará na CBLC como

garantia de sua obrigação, ficando dispensado de outras garantias adicionais. A garantia

em forma de margem é feita por um depósito inicial como garantia, variando, conforme

a variação da cotação da ação negociada no mercado a vista.

O encerramento de uma negociação a termo pode ocorrer na data de vencimento

estipulada no contrato, ou se o comprador desejar, em data anterior.

3.5.3. Mercado de opções

O mercado de opções é um mercado em que são transacionados direitos. São direitos de

se negociar um lote de ações, com preços e prazos preestabelecidos, e essa negociação

poderá ser de compra e venda, dependendo do tipo de opção adquirida.

Opção = Direito

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 109

Page 110: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Uma opção possui três figuras centrais: titular, lançador e prêmio. O titular é o

investidor que adquiriu a opção, comprando o direito de realizar a negociação se o

desejar. O lançador é o investidor que colocou no mercado a opção à venda e terá que

garantir a negociação; portanto, tem a obrigação de acatar a decisão do investidor e

realizar a outra ponta do negócio, ou seja, a compra ou venda. Para garantir esse direito,

assumir essa obrigação, o lançador recebe o prêmio, que é o pago pelo titular e

negociado em bolsa.

As opções sobre ações têm seu vencimento na terceira segunda-feira do mês de

vencimento, e usualmente ocorrem bimestralmente, nos meses pares. Já as opções sobre

índices vencem na quarta-feira mais próxima do dia 15 do mês de vencimento.

• Opção de compra (call): É aquela em que o titular adquire o direito de comprar um

determinado lote de ações, podendo exercer esse direito em qualquer data até o

vencimento da opção. Ao lançador cabe a obrigação de vender as ações assim que

receber a comunicação de que sua posição foi exercida.

• Opção de venda (put): É aquela em que o titular adquire o direito de vender um

determinado lote de ações, na data de vencimento da opção. Ao lançador cabe a

obrigação de comprar as ações.

Tanto nas opções de compra como nas de venda, o lançador receberá um prêmio pela

venda da opção, e essa venda será intermediada por um corretor e representa uma

obrigação (de compra ou venda) que o investidor assume perante a bolsa. Quando o

titular decide exercer seu direito, o lançador deve entregar as ações-objeto mediante o

pagamento do preço de exercício (opções de compra) ou comprar as ações-objeto ao

preço de exercício (opções de venda).

O prêmio é o preço de uma opção, negociado no pregão da bolsa, pelos representantes

do comprador e do lançador. Ele dependerá de diversas características da ação-objeto,

ou seja, da ação sobre a qual a opção é lançada, como o prazo de vigência da opção, sua

oferta e sua demanda, a volatilidade do preço, a diferença entre o preço de exercício e o

preço no mercado à vista, e outros.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 110

Page 111: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O mercado de opções também permite operações de day-trade, sendo a liquidação

dessas transações também exclusivamente financeira. As operações de day-trade só não

são permitidas no dia de vencimento da opção.

O mercado de opções da Bovespa é um mercado escritural, ou seja, as negociações não

possuem um certificado, são apenas registradas na Bovespa. Os investidores

relacionam-se com a caixa de liquidação da bolsa e não com seus parceiros de

transação. Assim, quando é efetuado o exercício de uma opção, a determinação de quais

lançadores deverão atendê-lo é realizada por sorteio entre as posições lançadoras de

opções de série igual às da opção exercida.

As garantias no mercado de opções devem ser fornecidas pelos lançadores, que são

aqueles que precisam garantir a realização da transação se o titular o desejar. No caso do

lançamento de uma opção de compra, a opção poderá ser coberta ou descoberta. A

opção será coberta quando o lançador depositar as ações-objeto a que se refere a opção,

como garantia da negociação. Já a opção a descoberto será aquela em que o lançador

deposita como garantia não as ações-objeto da opção, mas uma margem em dinheiro e

ou outro títulos autorizados pela Bovespa. O valor desse depósito é definido por regras

de câmbio da BOVESPA.

Para as opções de venda a garantia de posição também será feita através do depósito de

uma margem em dinheiro e ou outros títulos autorizados pela bolsa, sendo que o cálculo

de seu valor adota a mesma metodologia que a da opção de compra. Os depósitos em

dinheiro são aplicados pela bolsa, que repassa às corretoras a remuneração obtida para

que essas a transfiram aos investidores.

Há um mercado de opções secundário mantido pela BOVESPA. Nele podem ser

negociados títulos antes de seu vencimento. Assim, caso os preços se elevem é

interessante ao investidor lançar uma posição igual a que ele adquiriu; se os preços dos

prêmios se reduzirem, será interessante ao lançador comprar uma opção de série igual a

que ele lançou. Nos dois casos, se qualquer das opções em que os agentes estão

envolvidos for exercida, o investidor terá a outra opção para garantir o negócio e

eliminar o seu risco, além de já ter obtido o ganho referente ao diferencial de preço do

prêmio. Exemplificando:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 111

Page 112: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Suponha que um investidor A adquiriu uma opção de compra de um lote de 1.000

ações. A opção de compra ABC outubro 5,00, pagando um prêmio de 0,50 ação. Isto é,

ele adquiriu o direito de comprar um lote de 1.000 ações da empresa ABC em outubro

próximo ao preço de $5,00 por ação e, para adquirir tal direito, pagou ao lançador da

opção um prêmio de $0,50 por ação. No entanto, as variações de mercado conduziram

posteriormente o preço do prêmio dessa série de opções a 0,60 ação. O investidor A

optou, então, por fechar sua posição, ou seja, ele lançou uma opção de compra ABC

outubro 5,00 e recebeu o prêmio de $0,60 por ação. Assim:

0,50 X 1.000 = 500 - prêmio pago pelo investidor A

0,60 X 1.000 = 600 - prêmio recebido pelo investidor A

ganho do investidor A = $100 opção

*Na data de exercício dessa opção, caso o titular que comprou a opção lançada pelo

investidor A decida realizá-la, ou seja, comprar as ações por $5,00 cada, o investidor A

irá também realizar a primeira opção que comentamos, em que ele é o titular. Como o

preço de exercício e as ações são as mesmas, ele simplesmente as repassará, não tendo

ganho ou prejuízo com a transação, exceto o ganho por ele antecipado através da

diferença de valor entre os prêmios.

O encerramento de posição, portanto, permite antecipar resultados e reduzir riscos. No

entanto, é importante observar que também limita os ganhos, pois caso houvesse

ocorrido uma grande elevação das ações ABC, por exemplo $7,00 ação (logo, 1.000

ações representariam um ganho superior ao investidor A de $2.000 - $7.000 - $5.000), o

nosso investidor não poderia realizar a opção em que era titular e vender tais ações no

mercado à vista realizando o ganho de $2.000,00, pois teria que entregá-las ao titular da

opção em que é lançador, por $5,00 ação, caso aquele titular o desejasse. As operações

de compra ou venda para fechamento de posição são realizadas através de sociedades

corretoras que deverão, simultaneamente, comunicar à Bovespa o bloqueio de exercício

de sua posição.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 112

Page 113: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Fechamento de Posição

Lançador — compra opção de série igual à lançada Titular — lança opção de série igual

à comprada.

Além das operações de fechamento de posição, o investidor também pode realizar

operações casadas. Esse tipo de transação ocorre quando se realiza uma operação no

mercado de opções e outra no mercado à vista em um mesmo pregão, realizadas em

conjunto, seja de compra ou venda. Desse modo, o titular de uma opção de compra

poderá exercê-la e, no mesmo pregão, vender as ações compradas através da opção no

mercado à vista. Ou no caso da opção de venda, ele pode comprar no mercado à vista as

ações que, no mesmo pregão, irá vender através de sua opção. Assim, ele obterá maior

flexibilidade e necessitará desembolsar ou imobilizar menores volumes de recursos.

O lançador de uma opção de compra pode comprar no mercado à vista as ações que

deverá vender naquele pregão ao titular da opção, caso seja uma opção a descoberto. Ou

ainda, no caso de opções lançadas cobertas, o lançador pode comprar uma opção que

feche sua posição (logo, uma transação contrária: lançou opção de venda, compra opção

de venda; lançou opção de compra, compra opção de compra) e negociar as ações que

estavam depositadas em garantia no mercado à vista naquele mesmo pregão. Outra

forma de transação casada para o lançador de opções de compra seria, ao comprar ações

à vista, lançar as opções de compra dessas ações no mesmo pregão, assim as ações

adquiridas já poderiam ser diretamente depositadas como garantia das opções vendidas.

No caso de lançamento de opções de venda, o lançador pode, no mesmo pregão em que

a opção foi exercida, realizar a venda à vista das ações que adquiriu ao atender ao

exercício da opção. Todos esses mecanismos fornecem maior agilidade e liquidez ao

mercado de opções.

O titular de uma opção, seja de venda ou de compra, tem o valor de seu prejuízo

máximo predeterminado, uma vez que quando os valores no mercado à vista tornam o

exercício da opção inviável, o investidor não exercerá a opção, nesse caso perdendo o

prêmio pago ao lançador, ou seja, seu prejuízo máximo. Já o lançador terá fixado, ao

contrário, seu ganho máximo, que será o valor do prêmio, caso a opção não seja

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 113

Page 114: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

exercida. Exemplificando esse processo, suponhamos primeiramente aquela mesma

opção de compra da qual havíamos falado anteriormente:

1. Opção de Compra ABC outubro 5,00:

Preço de exercício — $5,00 ação Prêmio — $0,50 ação.

Se o preço da ação no mercado à vista, na data do vencimento da opção, estiver abaixo

ou igual ao preço de exercício ($5,00), não haverá vantagens para o titular que terá

perdido o prêmio, pois compensará mais realizar o negócio no mercado à vista. Logo,

sua perda está limitada ao valor do prêmio: $0,50 ação. Se o preço for superior a $5,00

ação, compensará o exercício da opção e, quanto maior for o preço no mercado à vista,

maior será o ganho do titular da opção. Suponhamos que o preço seja $7,00. O ganho do

titular será:

$7,00 - $0,50 - $5,00 = 1,50 ação

Já para o lançador a situação será inversa, pois ele estará vendendo por $5,00 uma ação

que vale $7,00, logo, seu prejuízo será de $1,5O ação e, quanto maior for a cotação no

mercado à vista, maior será a perda do lançador. Percebe-se assim que, inversamente ao

titular, o lançador tem definido o valor máximo de seu ganho. O prejuízo do lançador

será:

$7,00 - $0,50 - $5,00 = $1,50 ação

Suponhamos, agora, uma opção de venda:

. Opção de Venda ABC outubro 5,00: Preço de exercício - $5,00 ação Prêmio - $0,50

ação

Se o preço da ação no mercado à vista, na data do vencimento da opção, estiver acima

ou igual ao preço de exercício ($5,00), não haverá vantagens para o titular que terá

perdido o prêmio, pois compensará mais realizar o negócio no mercado à vista. Logo,

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 114

Page 115: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

sua perda está limitada ao valor do prêmio: $0,50 ação. Se o preço for inferior a $5,00

ação, compensará

o exercício da opção e, quanto menor for o preço no mercado à vista, maior será o

ganho do titular da opção. Suponhamos que o preço seja $3,00. O ganho do titular será:

$5,00 - $3,00 - $0,50 = $l,50 ação

Valor que também será o prejuízo do lançador, pois ele venderá por $3,00 uma ação

que, no mercado à vista, vale $5,00. Descontando o prêmio que ele já recebeu pela

opção, ficará um prejuízo de $1,50 por ação. Novamente percebemos que o lançador

fixa seu valor de ganho máximo e o titular seu prejuízo máximo, pois caso o valor no

mercado à vista for inferior ao preço de exercício da opção, o titular não exercerá seu

direito perdendo o prêmio, que corresponde ao ganho máximo do lançador.

3.5.4. Mercado futuro

O mercado futuro é o mercado no qual se negociam lotes-padrão de ações com datas de

liquidação futura, ou seja, é um mercado em que são estabelecidos contratos futuros.

Um contrato futuro representa um compromisso entre duas partes, comprador e

vendedor, de efetivar em data futura e predefinida a comercialização de determinado

produto (ou commodities) agropecuário ou ativo financeiro, com características já

estabelecidas e por preço negociado em pregão.

Esses contratos padronizam o objeto de negociação, a quantidade, o mês de vencimento,

os locais e procedimentos de entrega, e os custos envolvidos na operação; somente o

preço futuro será negociado entre as partes, através do pregão, por intermédio de

corretoras de mercadorias. Apesar de haver a possibilidade de entrega física do produto,

a idéia básica é garantir preços e não liquidação física, pois ambos os participantes de

uma transação poderão reverter sua posição, antes da data de vencimento.

A bolsa brasileira em que são firmados os contratos futuros é a BM&F (Bolsa de

Mercadorias e Futuros). Atualmente são negociados nessa bolsa contratos de boi, soja,

milho, café, açúcar cristal, algodão e álcool anidrocarburante, além de outros produtos

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 115

Page 116: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

financeiros. Sendo que cada contrato possui uma quantidade padrão de cada tipo de

mercadoria, como demonstrado na Tabela 9.1:

Tabela 3.1

Quantidade Padrão de cada Tipo de Mercadoria por Contrato Futuro

Produto Quantidade por contrato

Café 100 sacas de 60 quilos

Açúcar 270 sacas de 50 quilos

Álcool 30 metros cúbicos

Soja e Milho 450 sacas de 60 quilos

Algodão 28.108,65 libras de peso ou 12.750 quilos

Boi Gordo 330 arrobas

Fonte: Site da BM&F, março de 2001.

Os vencimentos dos contratos futuros dependerão do produto do contrato, sendo que,

exceto o contrato de boi gordo, todos os demais possuem vencimento somente em

alguns meses do ano, que são definidos em função de liquidez (concentração maior de

negócios), meses de safra e entressafra, e datas definidas por outras bolsas (para

permitir a arbitragem entre mercados).

O participante de um contrato futuro pode permanecer na bolsa até o vencimento do

contrato, quando então optará pela liquidação física ou financeira do contrato; ou sair do

mercado através da liquidação por reversão de posição.

A reversão de posição é a realização de uma operação inversa à que havia sido feita

anteriormente. Isto é, no caso de uma pessoa que possui um contrato futuro em que é o

comprador do produto, ele deverá realizar um contrato futuro de venda do mesmo

produto, para o mesmo vencimento e através da mesma corretora. No caso de ser o

vendedor, deverá firmar o contrato como comprador.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 116

Page 117: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quando o participante do contrato é o comprador do produto, diz-se que ele está

comprado; e quando é o vendedor, que está vendido. A posição vendida é também

conhecida como short e a comprada, long. Assim, a reversão de posição para o

participante vendido é a compra de contratos iguais aos que possui, e para o comprado é

a venda. A Bolsa então irá cruzar os negócios (através de CGC ou CPF) e liquidar a

posição do interessado no número de contratos que tenha revertido. Se tiver comprado

ou vendido exatamente a mesma quantidade de contratos em que estava vendido ou

comprado respectivamente, sua posição estará liquidada.

A liquidação física de um contrato futuro é a entrega ou o recebimento da mercadoria

referente ao compromisso. Nesse caso, a corretora deverá emitir o Aviso de Intenção de

Liquidação por Entrega, no período que vai do quinto dia útil anterior à data de

vencimento do contrato até o último dia de negociação. Os locais e procedimentos de

entrega são determinados pela Bolsa e, portanto, já conhecidos desde o estabelecimento

do contrato.

No entanto, as entregas de produtos negociados na BM&F não ultrapassam 2% do

volume negociado, pois na data do vencimento geralmente os participantes preferem

realizar a liquidação financeira de seus contratos e vender seu produto em mercados

mais próximos de sua localização, pois terão menores custos de deslocamento.

A liquidação financeira é o resultado do pagamento ou recebimento referente ao preço

da mercadoria por ocasião da entrega mais o acerto de contas representado pelo ajuste

diário. O ajuste diário é o mecanismo desenvolvido para reduzir o risco de não

cumprimento do contrato futuro devido a uma grande diferença entre o preço negociado

e o preço à vista no vencimento do contrato. Ou seja, como o preço futuro de um

contrato é negociado em pregão e depende das expectativas de oferta e demanda futuras

de um produto, esse preço pode oscilar de acordo com novas informações ou agentes

surgidos no mercado. Assim, o preço futuro do pregão de ontem pode ser superior ou

inferior ao preço negociado no pregão de uma semana atrás. A tendência é que, à

medida que se aproxima o vencimento do contrato, o preço futuro se aproxime cada vez

mais do preço à vista.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 117

Page 118: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Desse modo, ao fechar um negócio para o mês futuro a determinado preço de

vencimento e no próximo pregão esse preço se modificar, o vendedor ou comprador

deverá pagar ou receber um ajuste que equivalente ao valor financeiro da variação do

preço futuro.

O recebimento ou pagamento do ajuste dependerá da posição tomada (comprador ou

vendedor) e da variação ocorrida (valorização ou desvalorização do preço futuro), como

demonstra o Quadro 9.3.

Quadro 3.3

Definição de Recebimento ou Pagamento de Ajuste Diário

Valor de negociação do preço firmado no contrato futuro em relação ao preço

Superior Valorização

Inferior Desvalorização

Comprador

recebe ajuste diário

paga ajuste diário

Vendedor

paga ajuste diário

recebe ajuste diário

Além dos ajustes diários, que são creditados ou debitados no dia seguinte ao

encerramento do leilão, os compradores e vendedores de contratos futuros devem

depositar também uma margem de garantia. As margens são definidas pela Bolsa por

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 118

Page 119: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

mercadoria e contrato, e devem ser depositadas no início de cada operação. Elas

garantem que, caso o cliente deixe de pagar os ajustes diários, após ser considerado

inadimplente o valor não pago será coberto pelas margens. Se não forem utilizadas, as

margens são devolvidas ao final do contrato.

Na BM&F, caso um cliente deixe de pagar o ajuste diário, a Bolsa o considere

inadimplente e execute suas garantias, ele não terá mais o direito de operar no pregão e

terá seu nome incluído em relação de inadimplentes distribuída a todas as corretoras. Ou

seja, a margem de garantia não deve ser vista como um recurso para pagamento de

ajuste diário, pois só será utilizada após a declaração de inadimplência do cliente, o que

o impedirá de atuar futuramente na Bolsa.

Hedges

O mercado futuro pode ser utilizado por compradores e vendedores como uma forma de

proteção contra as oscilações de preço. Nesse caso, estará sendo feito um hedging e o

tomador de posição que estiver realizando um negócio com esse objetivo será conhecido

como hedge. Assim, por exemplo, um produtor rural pode vender seu produto através

de um contrato futuro garantindo o preço de sua mercadoria na data que selecionar.

Logo, se o preço cair, ele poderá vender seu produto no mercado que desejar a esse

preço inferior, mas receberá os ajustes diários relativos a seu contrato futuro quando

fizer a liquidação financeira (poderá também, se quiser, realizar a liquidação física). Se

o preço subir, ele fará o mesmo procedimento, só que agora pagará os ajustes. De

qualquer forma, ele garantiu um preço futuro que considerava adequado a seu produto e

eliminou os efeitos das oscilações de preços em seu negócio.

No caso do comprador, pode-se citar, por exemplo, empresas que industrializam

produtos agrícolas, frigoríficos, produtores de ração e outros. Esses compradores

também podem realizar suas compras através de um contrato futuro, garantindo o preço

que consideram justo para a negociação de seus insumos em data futura. Da mesma

forma, se o preço se elevar acima do preço negociado no contrato futuro firmado, a

empresa receberá as diferença entre o preço do contrato e o preço à vista no vencimento,

e poderá comprar a mercadoria em qualquer outro mercado, desembolsando apenas

aquele valor programado através do contrato futuro, pois a diferença será paga pelo

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 119

Page 120: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

montante de ajuste recebido. No caso de baixa, o procedimento será o mesmo e o

desembolso também, pois a diferença entre o preço à vista e o firmado no contrato

futuro será pago pelo comprador na forma de ajustes diários. Novamente, percebe-se

que fica garantido o preço de compra firmado no contrato e elimina-se as oscilações do

mercado. Desse modo, os participantes do contrato se protegem das variações de preços

dos produtos.

Exemplo

Suponhamos que um criador de gado, no dia 07/06/2001, preocupado com a oscilação

do preço da arroba de boi gordo até o final de agosto, período em que planejava vender

parte de seu gado, transmitiu uma ordem a seu corretor para vender 10 contratos de boi

gordo no mercado futuro da BM&F. Como cada contrato de boi gordo representa 330

arrobas ele vendeu 3.300 arrobas no mercado futuro para agosto de 2001. O preço de

negociação foi de $43,80 @. A Tabela 9.2 demonstra os movimentos de ajustes diários

desses contratos durante o restante do mês de junho. Tabela 9.2

Operação de Venda através de Contrato Futuro com Vencimento

em Agosto de 2001.

Data

Preço

início

pregão

Preço

final

pregão Diferença

X 3300

KG Ajuste

Fluxo

de

Caixa

07 06

01 R$ 43,80 R$ 43,95 -0,15 -495 -495

08 06

01 R$ 43,95 R$ 43,75 0,2 660 165

11 06

01 R$ 43,75 R$ 43,80 -0,05 -165 0

12 06

01 R$ 43,80 R$ 43,70 0,1 330 330

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 120

Page 121: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

13 06

01 R$ 43,70 R$ 43,65 0,05 165 495

15 06

01 R$ 43,65 R$ 43,50 0,15 495 990

18 06

01 R$ 43,50 R$ 43,45 0,05 165 1155

19 06

01 R$ 43,45 R$ 43,55 -0,1 -330 825

20 06

01 R$ 43,55 R$ 43,55 0 0 825

21 06

01 R$ 43,55 R$ 43,27 0,28 924 1749

22 06

01 R$ 43,27 R$ 43,45 -0,18 -594 1155

25 06

01 R$ 43,45 R$ 43,20 0,25 825 1980

26 06

01 R$ 43,20 R$ 43,20 0 0 1980

27 06

01 R$ 43,20 R$ 43,00 0,2 660 2640

28 06

01 R$ 43,00 R$ 43,00 0 0 2640

29 06

01 R$ 43,00 R$ 43,25 -0,25 -825 1815

Observando a Tabela 9.2, veremos que a operação foi uma venda de contratos com

vencimento em agosto de 2001; portanto, VagoOl. O preço negociado é o valor que, no

pregão, foi negociado entre as partes. O preço de ajuste é aquele definido pela bolsa

durante o call de fechamento do mercado a cada pregão e que será o valor utilizado

como cotação daquele dia para a determinação do ajuste a ser realizado pelas partes.

Assim, no dia 07/06/2001, o preço de ajuste definido na bolsa foi de $43,95, mas o

produtor tinha negociado seu produto por $43,80. Ou seja, o preço de negociação ficou

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 121

Page 122: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

0,15 @ abaixo do preço de ajuste, logo a nova previsão do mercado para o preço à vista

da arroba na data de vencimento do contrato subiu e o produtor, para honrar seu

compromisso, teria que desembolsar 0,15 @ a mais do que receberia se tivesse que

adquirir o produto para vendê-lo ao preço combinado ao outro participante (comprador

do contrato), ou caso já tenha o produto (caso do nosso exemplo), ele deixaria de ganhar

essa diferença se liquidasse fisicamente seu contrato, entregando os bois ao comprador

por $43,8 0 e não os vendendo por $43,95 ou, ainda, que ganharia a mais no mercado se

os vendesse a outro comprador. Assim, o depósito das margens garantirá que o

vendedor não tenha dificuldades financeiras para cumprir o contrato, pois a diferença

entre o preço no mercado à vista e o preço que negociou já estaria sendo, lentamente ao

longo do contrato, entregue à outra parte e nem tentaria quebrar o contrato vendendo o

produto no mercado à vista ao melhor preço no vencimento do acordo, porque seu

ganho no mercado à vista (diferença de preços) já teria sido entregue ao comprador.

Do mesmo modo, se o vendedor desejar realizar apenas a liquidação financeira do

contrato, receberá no vencimento apenas o valor do preço negociado, porque a diferença

paga na forma de ajustes diários será repassada ao comprador para que possa adquirir o

produto no mercado à vista, em que ele está mais caro.

No segundo dia, o preço de ajuste cai para $43,75. Agora, o produtor já está ajustado

para o preço de $43,95, assim:

43,95-43,75 = 0,20

O ajuste deverá ser de 0,20 @; como são 10 contratos de 330 arrobas cada, o ajuste total

será:

0,20x10x330=660,00

No entanto, como o preço caiu, o risco de não cumprimento do contrato se transferiu do

vendedor para o comprador (que poderá pensar em recusar-se a comprar mais caro

através do contrato, do que mais barato no mercado à vista na data de vencimento).

Logo, ele é quem depositará o ajuste. Como o vendedor antes teve de depositar $495,00

e agora receberá $660,00, ele passará a ter um saldo líquido de fluxo de caixa de

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 122

Page 123: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

$165,00.

Assim sucessivamente, o ajuste vai sendo calculado e os depósitos ou créditos

determinados. Interessante observar que, quando o preço de ajuste em 11/06/2001 se

iguala ao preço de negociação, o saldo do fluxo de caixa gerado pelo ajuste, zera.

Suponhamos que um frigorífico deseja garantir o preço do produto que irá adquirir em

agosto e comprou, em 07/06/2001,10 contratos futuros de boi gordo para agosto de

2001 (CagoOl). Seus ajustes são demonstrados na Tabela 9.3. 349

Tabela 9.3

Operação de Compra através de Contrato Futuro com Vencimento em Agosto de 2001

Data Preço Preço de Negociado Ajuste

Operação $ @ $ @

Ajuste $

@

Ajuste

Total $

Fluxo de

caixa #

07 06 01 Cago01 43,80 43,95 0,15 495,00 495,00

08 06 01 43,75 -0,20 -660,00 -165,00

11 06 01 43,80 0,05 165,00 0,00

12 06 01 43,70 -0,10 -330,00 -330,00

13 06 01 43,65 -0,05 -165,00 -495,00

15 06 01 43,50 -0,15 -495,00 -990,00

18 06 01 43,45 -0,05 -165,00 -1.155,00

19 06 01 43,55 0,10 330,00 -825,00

20 06 01 43,55 0,00 0,00 -825,00

21 06 01 43,27 -0,28 -924,00 -1.749,00

22 06 01 43,45 vO,18 594,00 -1.155,00

25 06 01 43,20 -0,25 -825,00 -1.980,00

26 06 01 43,20 0,00 0,00 -1.980,00

27 06 01 43,00 -0,20 -660,00 -2.640,00

28 06 01 43,00 0,00 0,00 -2.640,00

29 06 01 43,25 0,25 825,00 -1.815,00

I

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 123

Page 124: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Observe que o cálculo do ajuste será o inverso, pois agora a redução do preço de ajuste

terá o efeito de ampliar o risco do comprador não querer cumprir sua parte no contrato,

como comentamos anteriormente. E o aumento do preço de ajuste terá o efeito

contrário. Assim, no primeiro caso, ele depositará ajuste e no segundo ele receberá.

Finalizando nosso exemplo, vamos supor que nossos participantes, tanto comprador

como vendedor, por motivos diversos, resolveram sair da bolsa em 29/06/2001. Para

isso realizaram uma liquidação por reversão de posição, ou seja, uma operação inversa.

Logo, nosso criador de gado comprou o mesmo número de contratos que tinha vendido

e o frigorífico vendeu o mesmo número de contratos comprados, para o mesmo

vencimento e através da mesma corretora. Considerando que o criador comprou e o

frigorífico vendeu seus contratos em 29/06/2001 por $43,25 @ e $43,20 @

respectivamente, vamos refazer a última linha das Tabelas 9.2 e 9.3. Assim:

Tabela 9.4

Encerramento de Posição do Vendedor

Data Operaçã

o

Preço

Negociado

$1®

Preço de

Ajuste

$1®

Ajuste

$1®

Ajuste

Total $

Fluxo de

caixa #

29/06/01 CagoOl 43,25 43,25 -0,25 -825,00 1.815,00

Tabela9.5

Encerramento de Posição do Comprador

Data Operaçã

o

Preço

Negociado

$1®

Preço de

Ajuste

$1®

Ajuste

$1®

Ajuste

Total $

Fluxo de

caixa #

29/06/01 VagoOl 43,20 43,25 0,30 990,00 -1.650,00

Como o criador de gado comprou novos contratos pelo preço de ajuste no dia

29/06/2001, ele teve que depositar apenas o ajuste relativo ao seu antigo contrato de

venda ($825,00). Já o frigorífico vendeu 10 contratos por preço inferior ao de ajuste,

logo, agora como vendedor, se o preço de ajuste foi superior ao negociado ele deverá

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 124

Page 125: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

receber o ajuste. Mas como ele já teria que receber ajuste em função de seu antigo

contrato de compra, seu ajuste por arroba será:

0,5 (ajuste do contrato de venda) + 0,25 (ajuste do contrato de compra) = 0,3 0 @

10 contratos x 330 arrobas contrato x 0,30 = 990,00

Assim, o criador de gado encerra sua posição, recebendo apenas o total do fluxo final de

caixa referente a seus ajustes ($1.815,00). Se supormos que ele resolveu vender

antecipadamente suas 3.300 arrobas de gado (10 contratos de 330 arrobas) no mercado à

vista também no dia 29 por 43,25, e somarmos o que ele recebeu de ajuste por arroba

(1.815,00 3.300= 0,55), teremos $43,80 @. Isto é, ele receberá por seu produto

exatamente o preço que havia negociado em 07/06/2001.

Já o frigorífico, se também optar por comprar o produto agora no mercado à vista,

pagando 43,25 @, e somarmos a esse valor o que ele já pagou por arroba de ajustes

diários relativos ao contrato de compra, ou I351

Seja 0,55 (1.815,00 3300), teremos $43,80 @. Portanto, podemos notar que o valor

definido no início da transação como o preço que os participantes desejavam garantir

para seus negócios no futuro foi mantido.

Outro aspecto da transação de encerramento de posição que deve ser observada é que os

participantes saíram do mercado através de compra ou venda de contratos por preço de

negociação diferentes, o que demonstra que não negociaram entre si. Isso ocorre devido

à adoção de Clearing Houses pela Bolsa, que são instituições responsáveis pelo registro

de operações e controle de posições, compensação de ajustes diários, liquidação

financeira e física de negócios, e administração de garantias, atuando como a

compradora de todos os vendedores e vendedora de todos os compradores, pois

assegura o cumprimento de todos contratos. Desse modo, torna-se possível que, após a

realização do negócio, o vendedor ou o comprador não dependam do desejo da outra

parte para liquidar seu contrato, pois poderão realizar negócio contrário com outro

participante do mercado e a Clearing House registrará a reversão de posição, como no

exemplo anterior.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 125

Page 126: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

3.6. Debêntures

A obtenção de recursos de médio e longo prazos por sociedades anônimas pode ser

realizada também através da emissão de debêntures. Esses títulos são títulos de dívida

corporativa; portanto, conferem ao seu detentor, o debenturista, um direito de crédito

contra a empresa emissora da debênture.

As debêntures são títulos nominativos e negociáveis. Elas representam uma parcela do

empréstimo total efetuado pela emissora usualmente para financiamento de projetos de

investimento ou alongamento do perfil do passivo, sendo assim de médio ou longo

prazos.

As características do título, como juros, prêmio e rendimentos, são definidas na

escritura de sua emissão. As debêntures podem ser nominativas ou escriturais, sendo

que as ao portador foram extintas pela Lei nº 9.457 97.

• Debêntures nominativas são aquelas que possuem certificado (documento físico) no

qual é definido o nome do titular da debênture. Em caso de transferência de titularidade,

essa deverá ser registrada em livro destinado a esse fim, mantido pela companhia

emissora, até a substituição do certificado e deverá ser feito no antigo certificado um

endosso em preto, ou seja, deve ser indicado no título o nome do novo beneficiário.

• Debêntures escriturais são aquelas que não possuem certificado (documento físico),

mas também estão em nome de seus titulares e são mantidas em conta de depósito em

instituição financeira depositária definida pela companhia emissora.

As debêntures podem ser classificadas em:

1. Debênture simples - Pode ser resgatada somente em moeda nacional, ou seja, não é

título conversível em ação.

2. Debênture conversível em ação - Resgatada em moeda nacional, podendo também ser

convertida em ação de emissão da companhia nas condições determinadas em sua

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 126

Page 127: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

escritura de emissão.

3. Debênture permutável - Pode ser transformada em ação de emissão de companhia diferente da emissora, ou ainda, em outro bem qualquer.

As debêntures conversíveis em ações possuem a peculiaridade de conceder ao título de

dívida de renda fixa a possibilidade de tornar-se um investimento de renda variável após

sua conversão em ações, e as debêntures permutáveis, na maioria das vezes, têm como

objeto de troca ações de uma companhia pertencente ao mesmo conglomerado que a

empresa emissora.

As condições para a conversão de uma debênture são definidas na cláusula de

conversibilidade. Essas condições determinam as bases da conversão, ou seja, o número

de ações equivalentes ou a relação entre o valor nominal do título e o preço das ações e

o período em que o direito de conversão pode ser exercido.

As debêntures podem ser de diferentes espécies dependendo do tipo de garantia dada à

emissão:

1. Debênture com garantia real: O título é garantido por bens móveis ou imóveis dados

por hipoteca, penhor ou anticrese, isto é, respectivamente, por bens imóveis, bens

móveis ou direito sobre frutos e rendimentos de bens imóveis. Os bens podem ser

fornecidos pela companhia emissora, por empresas pertencentes ao mesmo

conglomerado da emissora ou por terceiros.

2. Debênture com garantia flutuante: Título com garantia baseada no privilégio sobre o

ativo da empresa. Essa espécie possui preferência de pagamento em relação a

debêntures ou outros créditos especiais ou com garantias reais que tenham sido firmados

antes de sua emissão. A garantia flutuante não impede que a empresa emissora negocie

os bens que compõem seu ativo.

3. Debênture quirografaria: Título que não possui nenhuma das duas garantias

anteriores; logo, em caso de falência, passará a compor o grupo formado pelo demais

credores não privilegiados ou sem preferência (quirografários) da empresa emissora.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 127

Page 128: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

4. Debênture subordinada: Título sem garantia que, em caso de falência, estará à frente

apenas dos acionistas no direito sobre o ativo remanescente da companhia emissora.

O volume de emissão da debênture dependerá de sua espécie. Assim, debêntures com

garantia real podem ser emitidas quando o valor de emissão for superior ao do capital

social em até 80% do valor dos bens gravados da empresa. Debêntures com garantia

flutuante, nas mesmas condições das anteriores, têm o valor de sua emissão limitada a

70% do valor contábil do ativo da companhia emissora (descontado o valor de outras

dívidas garantidas por direitos reais). As debêntures quirografárias podem ser emitidas

até o valor do capital social da empresa e as debêntures subordinadas não apresentam

limites máximos para sua emissão.

As debêntures podem apresentar, ainda, outras garantias adicionais que deverão ser

citadas em sua escritura de emissão. Esses títulos podem ser remunerados através de

juros fixos ou variáveis, participação e ou prêmios, além de poderem conter cláusulas de

atualização monetária.

Os prêmios podem ser definidos em função da variação de receitas e lucros da

companhia emissora. Os vencimentos desses títulos usualmente são determinados; no

entanto, podem ser emitidas debêntures de prazo não determinado.

As debêntures, caso tenha sido previsto em sua escritura de emissão, permitem que as

companhias emissoras realizem amortizações e resgates antecipados. As amortizações

referem-se à redução do valor nominal de todos os títulos em circulação daquela série

em que foi efetuada a amortização. Já o resgate, que pode ser total ou parcial,

compreende a retirada de circulação de unidades de debêntures daquela série para

posterior cancelamento dos títulos retirados. Essas operações podem ser extraordinárias,

quando não foram previstos na escritura a data e os critérios para a operação, ou

programadas, quando foram determinados na escritura a época e os critérios da

amortização ou resgate. Esses critérios relacionam-se ao percentual a ser amortizado,

quantidade a ser resgatada e fórmulas para realização desses cálculos.

Uma emissão de debêntures pode ser realizada em séries, com o 354 mesmo vencimento

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 128

Page 129: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

ou não, permitindo adequar a entrada de recursos

às necessidades da companhia, como também das condições de demanda do mercado. A

emissão de debêntures, quando relativa à operação de lançamento de novos títulos, é

definida como emissão primária, que poderá ser pública ou privada. As emissões

públicas exigem o registro de distribuição na Comissão de Valores Mobiliários e só

pode ser realizada por companhias abertas, sendo títulos que podem ser negociados no

mercado secundário de debêntures. A emissão privada é aquela direcionada a um grupo

limitado de compradores que, geralmente, são os próprios acionistas da emissora ou

investidores predeterminados e, devido à sua forma de colocação, não podem ser

negociadas em mercados secundários.

Quando são distribuídas no mercado, as debêntures já emitidas mas que estavam em

poder dos acionistas da empresa ou outro investidor que ainda não as havia colocado em

circulação, ocorrem as chamadas distribuições secundárias de debêntures. Além disso, a

empresa também pode emitir no mercado externo, desde que autorizada pelo Banco

Central. Esses títulos deverão possuir garantia real ou flutuante e podem apresentar seu

valor nominal expresso em moeda nacional ou estrangeira.

Os fundos de investimento, fundos de pensão e seguradoras são os principais

investidores em debêntures, conhecidos como investidores institucionais. Eles só podem

adquirir debêntures emitidas publicamente e dentro de limites de aplicação

determinados por resoluções do Conselho Monetário Nacional, instruções da Comissão

de Valores Mobiliários ou circulares do Banco Central, dependendo da instituição.

A colocação de debêntures no mercado pode ser realizada por inter-mediadores

chamados underwriters. Esses intermediadores poderão ser bancos de investimento,

bancos múltiplos com carteira de investimentos, corretoras ou distribuidoras de valores

e eles recebem pela atividade de underwriting comissões proporcionais ao volume

emitido.

A emissão de debêntures é uma alternativa para a captação de recursos, distinta dos

empréstimos bancários, que permite financiamento de projetos, reestruturação de

passivos, aumentos do capital de giro ou estruturação de operações de securitização de

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 129

Page 130: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

recebíveis pela companhia emissora.

8**Quadro 9.4

Modelo de anúncio de início de distribuição pública de debêntures

Anúncio de Início de Distribuição Pública de Emissão de Debêntures Conversíveis em

Ações Preferenciais com Garantia Flutuante

Comunicam o Início de Distribuição Pública de Debêntures Conversíveis em Ações

Preferenciais com Garantia Flutuante de Emissão da:

Logomarca da Emissora

No montante global de

R$ Milhões

AUTORIZAÇÃO

OBJETO SOCIAL DA EMITENTE

CARACTERÍSITICAS BÁSICAS DAS DEBÊNTURES A SEREM EMITIDAS

1. Emissão e divisão em Séries:

2. Forma:

3. Valor Nominal:

4. Preço a Prazo de Subscrição e Integralização:

5. Modo de Colocação e Subscrição:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 130

Page 131: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

6. Exclusão do Direito de Preferência:

7. Espécie:

8. Data de Emissão:

9. Vencimento:

10. Juros Remuneratórios:

11. Juros Moratórios:

12. Conversibilidade:

13. Amortização Programada e Aquisição facultativa:

14. Vencimento Antecipado:

15. Assembléia Geral dos Debenturistas:

16. Prorrogação de Prazos:

17. Decadência dos Direitos aos Acréscimos, Renúncia de Direitos:

18. Local de Pagamento:

19. Publicidade:

20. Registro na CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia:

21. Negociação no BOVESPAFIX da Bolsa de Valores de São Paulo

CARACTERÍSTICAS DOS BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 131

Page 132: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1. Quantidade de Bônus de Subscrição Emitidos

2. Valor de Emissão

3. Número de Ações a serem Subscritas por Bônus

4. Forma

5. Integralização

6. Prazo para o Exercício dos Direitos dos Bônus de Subscrição

7. Prazo de realização de Aumento de Capital

8. Direitos e Vantagens das Ações Decorrentes do Exercício dos Bônus

DESTINAÇÃO DOS RECURSOS

COORDENADOR LÍDER

AGENTE FIDUCIÁRIO

BANCO ESCRITURADOR

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

**DATA DE INÍCIO DA DISTRIBUIÇÃO: 00 00 2001

REGISTRO NA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Número e data

O registro da presente emissão não implica, por parte da CVM - Comissão de Valores

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 132

Page 133: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Mobiliários, garantia de veracidade sobre as informações prestadas em julgamento

sobre a qualidade da Companhia Emitente, bem como as Debêntures as serem

distribuídas.

Fonte: Guia de debêntures da Bolsa de Valores de São Paulo, impresso em abril 2001

3.7. Resumo

O mercado de capitais abrange o conjunto de transações para transferência de recursos

financeiros entre agentes poupadores e investidores, com prazo médio, longo ou

indefinido. Um segmento do mercado de capitais é o mercado de ações, que envolve a

colocação primária de ações emitidas pelas empresas e a negociação secundária das

ações em circulação. No entanto, para participar desse mercado, uma companhia

necessita realizar a abertura de seu capital, ou seja, lançar títulos de capital (ações) ou

dívidas (debêntures) para negociação pública.

Uma empresa para iniciar um processo de abertura de capital precisa estar na forma

jurídica de uma sociedade anônima e deverá ser efetuado o seu registro junto à

Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para ser autorizada a negociação junto ao

público tanto em bolsas de valores quanto no mercado de balcão de suas ações. O

mercado de capitais, como sistema de distribuição desses valores, é constituído pelas

bolsas de valores, sociedades corretoras e outras instituições financeiras autorizadas. Os

valores mobiliários mais usuais no mercado são: ações, bônus de subscrição e

debêntures.

Há dois tipos de ações: preferenciais e ordinárias. As ações ordinárias são aquelas que

conferem a seu titular o direito a voto na assembléia de acionistas da empresa. As ações

preferenciais normalmente não concedem o direito a voto a seu titular, mas oferecem

preferência na distribuição de resultados ou no reembolso do capital em caso de

dissolução da companhia. As ações são negociadas em dois mercados distintos: o

mercado primário - quando são lançadas da primeira vez (subscrição) - e o mercado

secundário - quando são vendidas normalmente nas Bolsas de Valores ou no mercado

de balcão.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 133

Page 134: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Ações emitidas por empresas abertas são negociadas no mercado à vista quando sua

compra e venda são voltadas para a liquidação imediata. No mercado a termo são

realizadas operações de compra e venda de ações (ativo-objeto), a um preço fixado e

com prazo de liquidação determinado a partir da data da operação em pregão. Como o

preço a termo depende do valor cotado para a ação no mercado à vista acrescido de

juros, esses juros é que serão livremente determinados pelo mercado, em função do

prazo do contrato. Transações no mercado a termo exigem o depósito de garantias por

parte do investidor na sociedade corretora. As garantias podem ser de duas formas:

cobertura ou margem.

O mercado de opções é um mercado em que são transacionados direitos. São direitos de

se negociar um lote de ações, com preços e prazos pre-estabelecidos e essa negociação

poderá ser de compra e venda, dependendo do tipo de opção adquirida. Uma opção

possui três figuras centrais: titular, lançador e prêmio. O titular é o investidor que

adquiriu a opção, comprando o direito de realizar a negociação se o desejar. O lançador

é o investidor que colocou no mercado a opção à venda e terá que garantir a negociação.

Para garantir esse direito, assumir essa obrigação, o lançador recebe o prêmio, que é o

pago pelo titular e negociado em bolsa. As garantias no mercado de opções devem ser

fornecidas pelos lançadores.

O mercado futuro é o mercado no qual se negociam lotes padrão de ações com datas de

liquidação futura, ou seja, é um mercado em que são estabelecidos contratos futuros.

Esses contratos padronizam o objeto de negociação, a quantidade, o mês de vencimento,

os locais e procedimentos de entrega, e os custos envolvidos na operação; somente o

preço futuro será negociado entre as partes, através do pregão, por intermédio de

corretoras de mercadorias. Apesar de haver a possibilidade de entrega física do produto,

a idéia básica é garantir preços e não entrega ou recebimento da mercadoria. Assim, o

mais usual nesse mercado é a liquidação financeira, ou seja, o pagamento ou

recebimento referente ao preço da mercadoria por ocasião da entrega mais o acerto de

contas representado pelo ajuste diário. O ajuste diário é o mecanismo desenvolvido para

reduzir o risco de não cumprimento do contrato futuro devido a uma grande diferença

entre o preço negociado e o preço à vista no vencimento do contrato.

O recebimento ou pagamento do ajuste dependerá da posição tomada (comprador ou

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 134

Page 135: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

vendedor) e da variação ocorrida (valorização ou desvalorização do preço futuro). Além

dos ajustes diários, os compradores e vendedores de contratos futuros devem depositar

também uma margem de garantia. O mercado futuro pode ser utilizado por compradores

e vendedores como uma forma de proteção contra as oscilações de preço. Nesse caso,

estará sendo feito um hedging e o tomador de posição que estiver realizando um

negócio com esse objetivo será conhecido como hedger.

As debêntures são títulos de dívida corporativa; portanto, conferem ao seu detentor, o

debenturista, um direito de crédito contra a empresa emissora da debênture. Elas

representam uma parcela do empréstimo total efetuado pela emissora usualmente para

financiamento de projetos de investimento ou alongamento do perfil do passivo, sendo

assim de médio ou longo prazos. As características do título, como juros, prêmio e

rendimentos, são definidas na escritura de sua emissão. As debêntures podem ser

nominativas ou escriturais e podem ser classificadas em debênture simples, debêntures

conversíveis em ações e debêntures permutáveis.

3.8. Questões

1. Conceitue mercado de capitais, mercado de ações e companhia aberta.

2. Quais são e o que são os valores mobiliários mais usuais no mercado ?

3. O que são as bolsas de valores e as sociedades corretoras?

4. Quais são os tipos de ações e como se diferem?

5. O que influencia a definição do valor de uma ação?

6. Qual o papel dos investidores institucionais no mercado de capitais?

7. O que é o mercado à vista?

8. Quais as formas de negociação no mercado à vista?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 135

Page 136: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

9. Cite e explique 4 modalidades de ordens de compra e venda de ações no mercado à

vista que podem ser enviadas por investidores às corretoras.

10. O que é uma operação de day-trade ?

11. Que é mercado a termo?

12. Como funciona o sistema de garantias do mercado a termo?

13. O que é mercado de opções?

14. Quais são as figuras centrais de uma opção e o que significam?

15. Qual a diferença entre uma opção de compra e uma opção de venda?

16. Como é o sistema de garantias no mercado de opções?

17. O que é o encerramento de uma posição no mercado de opções?

18. Explique por que o titular de uma opção tem fixado seu prejuízo máximo e o

lançador seu ganho máximo.

19. O que é mercado futuro?

20. O que é liquidação por reversão de posição, liquidação física e liquidação financeira

de um contrato futuro?

21. Como funciona o sistema de ajustes diários do mercado de futuros?

22. Explique a função das margens de garantias no mercado futuro.

23. O que são hedgers atuantes no mercado futuro?

24. Qual o papel das Clearing Houses na BM&F?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 136

Page 137: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

25. O que são debêntures?

26. Quais são os tipos de debêntures e como elas podem ser classificadas?

27. Quais são as espécies de debêntures em relação às garantias dadas à emissão?

3.9. Exercícios

1. Elabore um quadro comparativo dos mercados à vista, a termo, opções e futuro.

2. Explique qual o papel que você deveria desempenhar se, em uma opção de compra de

ações, fosse:

a) o lançador

b) o titular

3. Repita a questão anterior para uma opção de venda de ações.

4. Um investidor, após analisar o mercado, espera que as cotações das ações da

Companhia Alfa S. A. subam mais do que apontam as expectativas do mercado através

do mercado de opções. Desse modo, ele está estudando a possibilidade de comprar as

ações no mercado à vista hoje (cotação $64,00 ação) para vendê-las posteriormente; ou

comprar uma opção de compra de 1000 ações, para daqui a 90 dias, com preço de

exercício de $67,00 ação e prêmio de $3,00 ação. Analise o resultado das duas

transações, opções e mercado à vista, para cada uma das seguintes cotações no mercado

à vista da ação da Companhia Alfa daqui a 90 dias:

a) $80,00 ação

b) $70,00 ação

c) $58,00 ação

Considere em sua análise o volume de capital investido e o retorno obtido. Desconsidere

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 137

Page 138: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

os custos envolvidos na transação.

5. Supondo que você adquiriu 10 contratos para venda futura de boi gordo na BM&F a

$43,55 @, complete o quadro abaixo e encerre a operação no mercado futuro com uma

operação de liquidação por reversão de posição em 25/09, negociando pelo preço de

ajuste do dia:

Operação de Venda através de Contrato Futuro com Vencimento em novembro de 2001

06 Preço Negociado

Operação $ @

Preço de Ajuste

Ajuste $ @ $ @

Ajuste Fluxo Total de

caixa

14 09 06 43,55 43,60

17 09 06 43,80

18 09 06 44,25

19 09 06 44,45

20 09 06 44,75

21 09 06 45,15

24 09 06 45,30

25 09 06 45,65

3.10. Bibliografia Recomendada

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e Serviço. São Paulo: Qualitymark, 2001.

GALVEAS, E. Sistema financeiro e mercado de capitais. Rio de Janeiro: IBMEC, 1988.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.

MELLAGI FILHO, A. & ISHIKAWA, S. Mercado financeiro e de capitais, São Paulo:

Atlas, 2000.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 138

Page 139: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

RUDGE, L. F. & CAVALGANTE, F. Mercado de capitais. Belo Horizonte: CNBV,

1996.

ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São

Paulo: Atlas, 1995.

SANVICENTE, A. Z. & MELLAGI FILHO, A. Mercado de capitais e estratégias de

investimento, São Paulo: Atlas, 1988.

SECURATO, J. R. Decisões financeiras em condições de risco. São Paulo: Atlas, 1996.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 139

Page 140: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 04 – Fundamentos da Gestão Financeira de Curto Prazo

Conteúdo do Capítulo

4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro

4.2 - Conceitos Básicos

4.3 - Planejamento e Controle do Capital de Giro

4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro

4.5 - QUESTÕES

4.6 - Exercícios

4.7 – Bibliografia Recomendada

4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro

Durante a fase de avaliação econômica que precede a abertura de uma empresa, a

principal preocupação é com a determinação da viabilidade do empreendimento,

através, principalmente, de sua rentabilidade. Nesse estágio, as atenções voltam-se

primordialmente para os ativos permanentes (máquinas, equipamentos, imóveis etc.),

com estimativas de longo prazo que envolvem sua vida útil, custos e receitas gerados.

Quando a empresa entra em operação, o gestor financeiro transfere sua prioridade para o

capital de giro, entidade representada pelos ativos circulantes. Essa alteração de foco

acontece porque o capital de giro é bastante suscetível às mudanças que acontecem

continuamente no ambiente econômico em que a empresa atua.

Assim, grande parte do tempo do gestor financeiro é destinado à solução de problemas

de capital de giro, como financiamento de estoques, gerenciamento da inadimplência de

clientes e administração das insuficiências de caixa. Esses problemas podem ser

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 140

Page 141: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

minimizados ou mesmo evitados por meio de uma administração de capital de giro que

valorize a prevenção de sua ocorrência.

Neste capítulo, a administração de capital de giro é tratada sob a óptica de análise e

planejamento. Esse enfoque pretende dar melhor contribuição para a prevenção dos

problemas de capital de giro.

O termo giro refere-se aos recursos correntes (curto prazo) da empresa, geralmente

identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa no prazo máximo de

um ano. A delimitação de um ano não costuma ser seguida por empresas cujo ciclo

produção-venda-produção ultrapasse caracteristicamente este prazo (estaleiros,

atividade rural etc.), prevalecendo nesta situação o ciclo operacional para se definirem

os recursos correntes.

A Figura 4.1, ao resumir o balanço patrimonial de uma empresa apresentando seus

principais itens, permite que se identifiquem algumas definições da administração do

capital de giro.

1 - Ativos 2 - Passivos

1.1 - Ativos Circulantes 2.1 - Passivos Circulantes

1.1.1 – Disponível 2.1.1 – Empréstimos

1.1.2 – Créditos 2.1.2 – Fornecedores

1.1.3 – Estoques 2.1.3 – Salários e encargos

1.1.4 – Outros 2.1.4 – Impostos

2.1.5 – Outros

1.2 – Realizável a Longo Prazo RLP 2.2 – Exigível a Longo Prazo – ELP

1.2.1 – Créditos Diversos 2.2.1 - Financiamentos

1.2.2 – Outros 2.2.2 – Debêntures

2.2.3 – Outros

1.3 – Ativos Permanentes 2.3 – Patrimônio Líquido

1.3.1 – Investimentos 2.3.1 – Capital Social

1.3.2 – Imobilizado 2.3.2 – Reservas

1.3.3 – Diferido 2.3.3 – Lucros/prejuízos acumulados

Figura 4.1 Balanço patrimonial e capital de giro.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 141

Page 142: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Os elementos de giro, diante da definição apresentada, são identificados no ativo

circulante e passivo circulante, ou seja, no curto prazo.

O capital de giro, ou capital circulante, é representado pelo ativo circulante, isto é, pelas

aplicações correntes, identificadas geralmente pelas disponibilidades, valores a receber

e estoques. Num sentido mais amplo, o capital de giro representa os recursos

demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais

identificadas desde a aquisição de matérias-primas (ou mercadorias) até o recebimento

pela venda do produto acabado.

Os elementos que compõem o ativo circulante não costumam apresentar sincronização

temporal equilibrada em seus níveis de atividade. Evidentemente, se as atividades de

seus vários elementos ocorressem de forma perfeitamente sincronizada, não haveria

necessidade de se manterem recursos aplicados em capital de giro. Por exemplo, se

todas as vendas fossem realizadas a vista, inexistiria investimentos em valores a receber.

Identicamente, se verificasse sincronização entre a produção e as vendas, isto é, se as

atividades ocorressem de maneira totalmente integrada, tornar-se-iam desnecessários

investimentos em estoques de produtos acabados.

Desta forma, pelo fato de as atividades de produção, venda e cobrança não serem

sincronizadas entre si, faz-se necessário o conhecimento integrado de suas evoluções

como forma de se dimensionar mais adequadamente o investimento necessário em

capital de giro e efetivar seu controle. O enfoque da área financeira para a realização

desta tarefa centra-se, basicamente, na procura da eficiência na gestão de recursos, o que

é feito através da maximização de seus retornos e minimização de seus custos.

4.2 - Conceitos Básicos

As necessidades de capital de giro para uma empresa dependem de determinadas

características de seu processo de produção ou de operação. Essas características são

representadas por alguns conceitos simples, mas bastante úteis ao gerenciamento do

capital de giro.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 142

Page 143: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

As hipóteses simplificadoras utilizadas em alguns desses conceitos não comprometem,

absolutamente, sua utilidade na administração do capital de giro, ou mesmo em

atividades mais complexas, como a recuperação do lucro.

4.2.1 - Ciclo Operacional

Relembrando o significado de ciclo operacional de uma empresa, vamos considerar o

exemplo de uma indústria, cujo processo operacional completo abrange a seqüência de

atividades de: compra de matérias-primas, produção, estocagem, venda e, finalmente, o

recebimento das vendas.

O intervalo de tempo gasto na execução de todas essas atividades é denominado ciclo

operacional. Ele representa o número de dias transcorridos entre a compra de matérias-

primas ou produtos e o recebimento da venda dos produtos fabricados ou

comercializados.

Se refletirmos um pouco, concluímos que a duração do ciclo operacional é afetada por

fatores como eficiência produtiva, tipo de operação, políticas de estocagem e concessão

de crédito e também por suas práticas comerciais e financeiras, que envolvem prazos de

pagamento e recebimento.

A duração de cada fase integrante do ciclo operacional tem influência sobre o volume

de recursos financeiros consumidos ou imobilizados na operação da em presa.

Assim, as fórmulas que definem o ciclo operacional podem se resumir em:

CO = PMGE + PMRV

Onde:

CO = Ciclo Operacional;

PMGE = Prazo médio de giro de estoques;

PMRV = Prazo médio de recebimento das vendas.

E assim:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 143

Page 144: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

PMGE = 360 * (Estoques / CPV)

PMRV = 360 * (créditos / Vendas brutas)

4.2.2 - Ciclo financeiro

O ciclo financeiro é o intervalo de tempo entre os eventos financeiros ocorridos ao

longo do ciclo operacional, representados pelo pagamento a fornecedores e pelo

recebimento das vendas.

No caso de uma indústria, supondo que a fabricação comece imediatamente após a

compra da matéria-prima e que a venda seja realizada logo após a fabricação, o ciclo

financeiro é calculado com base no prazo de fabricação e nos prazos de pagamento de

compras e de recebimento das vendas.

Numa empresa varejista, o prazo de estocagem e os prazos de pagamento e recebimento

definem seu ciclo financeiro.

O ciclo financeiro de uma empresa prestadora de serviços, na maioria dos casos, é

afetado apenas pelos prazos de pagamento e recebimento.

Como as empresas têm prazos diferentes para pagamento aos fornecedores e

recebimento dos clientes, o ciclo financeiro é determinado com base nos prazos médios

de pagamento e de recebimento.

O ciclo financeiro (CF) é calculado pela seguinte fórmula:

CF = CO – PMPC

Onde:

CF = Ciclo Financeiro;

CO = Ciclo Operacional;

PMPC = Prazo médio de pagamento das compras;

E ainda tem-se:

PMPC = 360 * (Fornecedores / Compras)

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 144

Page 145: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Se em empresa comercial, as compras são igual ao custo das mercadorias vendidas

(CMV). Se em empresa industrial, e não dispormos do valor das compras podemos

considerá-la como 62% do Custo dos Produtos Vendidos (CPV).

Quando a empresa opera sem estoques, como é o caso da maioria das empresas

prestadoras de serviço, o prazo médio de giro de estoque (PMGE) é considerado igual à

zero. Na empresa varejista, o Prazo médio de giro de estoque corresponderá apenas à

idade média de seus estoques, já que esse tipo de empresa não tem processo de

produção.

Exemplo: A empresa VXZ apresenta os seguintes prazos médios em seu processo de

compra, produção e vendas:

Prazo médio de giro de estoque (PMGE) = 50 dias.

Prazo médio de recebimento das vendas (PMRV) 40 dias.

Prazo médio de pagamento das compras (PMPC) = 30 dias.

Assim o ciclo operacional é igual a:

CO = PMGE + PMRV

CO = 50 + 40

CO = 90 dias.

Entendemos pois, que a empresa VXZ leva 90 dias para comprar suas matérias primas,

processar estas matérias primas, vendê-las e receber as vendas.

O ciclo financeiro é representado por:

CF = CO – PMPC

CF = 90 – 30

CF = 60 dias.

Entendemos pois, que a empresa VXZ necessita de capital para financiar 60 dias de seu

ciclo produtivo.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 145

Page 146: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

4.2.3 - Giro de caixa

O giro de caixa é um parâmetro relacionado com o ciclo de caixa que indica quantas

vezes, ao longo de um ano, ocorre o revezamento do caixa da empresa.

Se considerar 360 o número de dias de um ano, o giro de caixa (GC) é dado pelo

quociente entre 360 e o ciclo financeiro (CF):

GC = 360 ÷CF

Com base nos dados já apresentados, o giro de caixa da empresa VXZ é:

GC = 360 ÷ 60

GC = 6

O valor calculado para giro de caixa da empresa VXZ indica que, ao longo do ano, seu

caixa se reveza seis vezes.

A fórmula de cálculo do giro de caixa indica que quanto menor for o ciclo financeiro,

maior será o giro de caixa. É desejável que a empresa tenha alto giro de caixa, de modo

que reduza sua necessidade de capital de giro, como será mostrado na seção seguinte.

4.2.4 Caixa operacional

O volume mínimo de recursos financeiros de que uma empresa precisa para o giro de

suas operações é denominado caixa operacional. Esse parâmetro representa o capital de

giro mínimo necessário a um volume de vendas.

Um método simples para cálculo do caixa operacional consiste em dividir o valor da

projeção de desembolso anual de caixa (DAC) pelo giro de caixa (GC). Esse cálculo

requer a projeção de lucro da empresa para o ano e também da destinação desse lucro. A

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 146

Page 147: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

projeção de desembolso anual deve abranger o pagamento a fornecedores e o

desembolso com custos operacionais.

*A fórmula para cálculo do caixa operacional é a seguinte:

CxO = DAC ± GC

Para ilustrar o cálculo da caixa operacional, considerando uma outra empresa, a

metalúrgica Fogaréu, com as seguintes características:

- Desembolso anual de caixa (DAC) = R$ 600.000,00.

O desembolso anual de caixa compõe-se de R$ 360.000,00 referentes a pagamento a

fornecedores e R$ 240.000,00 referentes a custos operacionais desembolsáveis

mensalmente.

- Prazo médio de pagamento das compras (PMPC) = 30.

- Prazo médio de giro de estoque (PMGE) = 90.

- Prazo médio de recebimento das vendas (PR) = 60.

Seus parâmetros de caixa são os seguintes:

a) Ciclo Operacional:

CO = PMGE + PMRV

CO = 90 + 60

CO = 150 dias

b) Ciclo financeiro

CF = CO – PMPC

CF = 150 – 30

CF 120 dias.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 147

Page 148: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

c) Giro de caixa

GC = 360 ÷ CF

GC = 360 ÷ 120

GC = 3

d) Caixa operacional

CxO = DAC ÷ GC

CxO = 600.000 ÷ 3

CxO = 200.000

4.3 Planejamento e Controle do Capital de Giro

De posse das conclusões da análise financeira, o gestor financeiro tomará as medidas

necessárias de planejamento e controle para eliminar eventuais impropriedades no

dimensionamento, estruturação e utilização do capital de giro.

4.3.1 Necessidade de Capital de Giro

O correto dimensionamento da necessidade de capital de giro (NCG) é um dos maiores

desafios do gestor financeiro. Essa tarefa requer visão abrangente do processo de

operação da empresa, de suas práticas comerciais e financeiras, além de dados sobre

prazos de cobrança e recebimento.

Elevado volume de capital de giro irá desviar recursos financeiros que poderiam ser

aplicados nos ativos permanentes da empresa. Todavia, capital de giro muito reduzido

restringirá a capacidade de operação e de vendas da empresa.

Ao dimensionar seu capital de giro, a empresa deve observar os seguintes princípios:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 148

Page 149: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

- O capital de giro deve ser minimizado até o ponto em que não traga restrições às

vendas e à lucratividade da empresa. Por exemplo, não manter estoques

desnecessariamente elevados.

- A parcela permanente do capital de giro deve ser financiada com recursos financeiros

permanentes (passivo exigível de longo prazo e patrimônio líquido). Já a parcela

flutuante do capital de giro pode ser financiada com recursos financeiros de curto prazo

(passivo circulante).

O dimensionamento do capital de giro também depende de projeções de resultado. Em

geral, a geração de lucro fornece recursos para financiar o capital de giro. Em

determinados casos, porém, existe significativa diferença entre resultado e caixa. Nessa

situação, a projeção de resultado terá menor impacto sobre o dimensionamento do

capital de giro.

Quando a empresa está em fase de expansão acelerada, o adequado dimensionamento

do capital de giro tem sido um dos fatores-chaves para o sucesso de seu crescimento. A

mesma atenção dispensada à análise de viabilidade econômica dos novos projetos de

investimento também deve ser dada ao planejamento e dimensionamento das

necessidades de capital de giro.

A necessidade de capital de giro pode ser estimada de dois modos: com base no ciclo

financeiro, ou utilizando os demonstrativos contábeis.

a) Necessidade de capital de giro com base no ciclo financeiro

Esse método de estimativa da necessidade de capital de giro é aplicável a uma empresa

em fase de implantação, por ainda não dispor de demonstrações contábeis.

A necessidade de capital de giro corresponde ao caixa operacional, cuja metodologia de

cálculo foi apresentada em seção anterior.

Os parâmetros relacionados com o ciclo financeiro (prazo médio de pagamento a

fornecedores, prazo médio de fabricação/estocagem e prazo médio de recebimento das

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 149

Page 150: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

vendas) podem ser administrados de modo que forneçam determinado valor de capital

de giro. Nesse caso, é necessário desenvolver uma análise inversa, já que o capital de

giro passa a ser meta e não mais conseqüência daqueles fatores.

A projeção da necessidade de capital de giro utilizando esse método não produz

resultados satisfatórios para empresas que têm forte sazonalidade em suas vendas. Isso

acontece porque o método pressupõe que as despesas projetadas anuais são distribuídas

uniformemente ao longo do ano.

b) Necessidade de capital de giro com base no balanço patrimonial

O Capital de Giro pode ser definido como a diferença entre o ativo circulante e o

passivo circulante.

Nem todo valor do Capital de Giro (CG) assim calculado representa efetiva necessidade

de investimento no capital de giro (NCG), pois o ativo circulante contém contas

transitórias - caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo. No passivo circulante,

também são transitórios os empréstimos e financiamentos de curto prazo. Essas contas

transitórias não estão relacionadas à necessidade de investimento em capital de giro.

É possível calcular a necessidade de capital de giro (NCG) de uma empresa com base

em seu balanço patrimonial. O cálculo da NCG é efetuado com apoio nos seguintes

parâmetros, obtidos da reclassificação de algumas contas do balanço patrimonial:

Ativo permanente (AP): é formado pelos itens de longo prazo do ativo. Seu valor é

igual à soma dos seguintes itens: realizável a longo prazo, investimento, imobilizado e

diferido.

Ativo operacional (AO): representa os recursos utilizados nas operações da empresa que

dependem das características de seu ciclo operacional. E composto pelos estoques,

duplicatas a receber e os outros itens do ativo circulante que têm natureza permanente.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 150

Page 151: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Ativo flutuante (AF): Também chamado de Ativo financeiro, corresponde aos itens de

curtíssimo prazo do ativo circulante que não têm vinculação direta com as operações da

empresa: caixa, bancos e aplicações financeiras

Passivo permanente (PP): é formado pelas contas de longo prazo do passivo e

representa a fonte permanente de recursos financeiros da empresa. É igual à soma do

exigível a longo prazo com o patrimônio líquido.

Passivo operacional (PO): representa as contas do passivo vinculadas ao ciclo

operacional da empresa. É composto pelas contas referentes a fornecedores, salários,

encargos, impostos e taxas.

Passivo flutuante (PF): Também chamado de Passivo Financeiro, corresponde aos itens

de curtíssimo prazo do passivo circulante que não têm vinculação direta com as

operações da em presa: empréstimos, financiamentos e outras obrigações financeiras de

curtíssimo prazo.

A necessidade de Capital de Giro (NCG) é calculada da seguinte forma:

Ncg = Ativo Operacional - Passivo Operacional

O Capital de Giro (CG) calculado com base nessa reclassificação de contas será:

CG = Passivo permanente - Ativo permanente

No quadro 4.2, a Empresa alfabeta, tem em seu balanço patrimonial em 20X7, a

seguinte posição. Vamos determinar sua necessidade de capital de giro (NCG)

Ativo Total 3100 Passivo Total 3100

Ativo Circulante 1300 Passivo Circulante 700

Disponibilidades 450 Empréstimos 100

Créditos 400 Fornecedores 350

Estoques 450 Salários e Impostos 250

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 151

Page 152: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

RLP 0 ELP 200

Ativo Permanente 1800 Patrimônio Líquido 2200

Assim:

Ativo Permanente (AP) = 1800,00AO = 100 + 100 + 0 + 550

Passivo Permanente (PP) = 200 + 2200

PP = 2400

Ativo Operacional (AO) = 450 + 400

AO = 850

Passivo Operacional (PO) = 350 + 250

PO = 600

Ativo Flutuante (AF) = 450

Passivo Flutuante (PF) = 100

Então:

NCG = AO – PO

NCG = 850 – 600 NCG = 250

Por outro lado, o Capital de Giro (CG) pode-se encontrar assim:

CG = PP – AP

CG 2400 – 1800

CG = 600

4.3.2 Reserva de Capital de Giro

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 152

Page 153: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes a todo tipo de

atividade empresarial. Por esse motivo, a empresa deveria manter uma reserva

financeira para enfrentar os eventuais problemas que podem surgir.

Quanto maior a reserva financeira alocada à manutenção do capital de giro, menores

seriam as possibilidades de crises financeiras.

Deve ser lembrado que somente os ativos permanentes proporcionam a rentabilidade

satisfatória para a empresa. A rentabilidade obtida pela reserva de capital de giro

aplicada no mercado financeiro normalmente é menor do que a conseguida na atividade-

fim da empresa.

A princípio, existe um conflito entre a prudência no gerenciamento do capital de giro e a

rentabilidade empresarial. Quanto maior a proteção dada ao capital de giro sob a forma

de manutenção de uma reserva financeira, menor seria a rentabilidade empresarial sobre

o total dos recursos financeiros empregados.

Esse conflito, no entanto, é relativo. Caso a empresa decida não fazer nenhuma reserva

financeira para o capital de giro e canalize os recursos correspondentes para sua

atividade-fim, estará expondo-se a um maior risco financeiro, pois poderá vir a ter

problemas de capital de giro.

Não deve ser esquecido que a rentabilidade da empresa pode esperar por uma

recuperação de lucros. Entretanto, o capital de giro não pode esperar. Ele é prioritário.

Sem o lucro, a empresa fica estagnada ou encolhe, mas sem capital de giro, ela

desaparece.

4.3.3 - Redução da necessidade de Capital de Giro

Vimos que um ciclo financeiro curto permite maior giro de caixa, que, por sua vez,

implica menor necessidade de caixa operacional ou capital de giro.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 153

Page 154: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Uma alternativa para a insuficiência de capital na fase de implantação ou de operação da

empresa seria, portanto, obter uma redução de seu ciclo financeiro.

Como também já foi visto, o ciclo financeiro depende de três fatores: prazo de

pagamento das compras, prazo de produção ou estocagem e prazo de recebimento das

vendas.

Os prazos de pagamento de compras e de recebimento das vendas são determinados

pelas condições de mercado. Apenas alterações provisórias desses prazos poderiam ser

conseguidas de negociações com fornecedores e clientes. Por esse motivo, as medidas

financeiras para encurtamento do ciclo financeiro são pouco eficazes.

Apenas o encurtamento do prazo de produção ou estocagem poderia fazer mudanças

significativas e duradouras sobre o ciclo financeiro da empresa. Essas medidas,

entretanto, estão fora do escopo da área financeira, exigindo o concurso das áreas

técnicas, como produção, operação ou logística para sua implementação.

Diversas técnicas especiais podem proporcionar encurtamento da etapa de produção ou

operação e, em conseqüência, do ciclo financeiro da empresa. Entre essas técnicas, estão

o Just in Time (JIT) e Administração Total da Qualidade.

4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro

Nesta seção, serão abordados alguns problemas de capital de giro, de ocorrência não

generalizada, e apresentadas alternativas de solução.

4.4.1 - Sazonalidade das Vendas

Determinadas empresas têm normalmente suas vendas distribuídas de modo irregular ao

longo do ano, o que caracteriza um processo sazonal de vendas.

Quando o perfil da sazonalidade é previsível - por exemplo, 50% das vendas da empresa

concentram-se no último trimestre do ano, o problema da administração do capital de

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 154

Page 155: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

giro é sensivelmente mais simples, desde que a empresa mantenha adequado

planejamento financeiro.

As principais missões do planejamento financeiro com vistas no dimensionamento do

capital de giro num quadro de vendas sazonais serão projetar o fluxo de caixa e o

resultado da empresa em base anual.

Quando não existe o planejamento financeiro, os resultados excepcionalmente bons,

verificados no período de vendas elevadas, são confundidos, freqüentemente, com uma

tendência permanente, e a provisão de reservas para o período de baixas vendas deixa

de ser feita.

Uma empresa com vendas sazonais, ao fazer seu planejamento financeiro para evitar

surpresas com o capital de giro durante a redução de vendas, provavelmente precisará

manter uma reserva sob a forma de aplicações financeiras de alta liquidez.

O valor dessas aplicações seria bem maior do que as aplicações normais de sobra de

caixa. O prazo de aplicação das reservas também seria mais longo, não necessitando ser

diário, como acontece com as sobras normais de caixa. Por esses motivos, essas

aplicações exigem maior esforço da administração financeira para maximizar sua

rentabilidade.

4.4.2 Ciclo operacional longo

A empresa com um ciclo operacional longo tem maior necessidade de capital de giro e

habitualmente precisa de maior rentabilidade sobre as vendas para com pensar o elevado

custo de financiamento do capital de giro.

O problema do ciclo operacional longo faz-se sentir quando acontecem mudanças

estruturais no mercado da empresa, fazendo com que a maior duração do ciclo, até então

um dado normal, transforme-se num empecilho ao desenvolvimento dos negócios.

Quando isso acontece, a solução exigirá alteração significativa nos processos de

produção, operação, comercialização e também no mix de produtos ou serviços.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 155

Page 156: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

No Brasil, durante muitos anos, o ciclo operacional longo das livrarias era uma

característica normal desse tipo de negócio, sem causar impactos sobre sua viabilidade

econômica. Com a elevação do custo do dinheiro verificada a partir dos anos 90, esse

Segmento empresarial passou a enfrentar dificuldades para financiar seu capital de giro.

Em conseqüência, muitas livrarias pequenas encerraram suas atividades e algumas

grandes redes acrescentaram outros produtos de maior giro a sua pauta de vendas.

Na atividade de serviços, o problema do ciclo operacional longo é contornado com o

recebimento do serviço prestado mediante um cronograma de eventos, contratualmente

estabelecido. Dessa forma, quando o serviço é concluído, ele praticamente já foi

recebido. As atividades de construção civil e construção naval são exemplos típicos de

atividades de serviço com ciclo operacional longo.

Uma parcela significativa da atividade agropecuária tem ciclo operacional longo.

Criação de gado e reflorestamento são exemplos de atividade com ciclo operacional

longo. Nesses casos, a grande necessidade de recursos para financiar capital de giro por

longos períodos chega a confundir-se com investimento permanente. A solução típica

consiste em utilizar recursos próprios ou financiamentos de longo prazo, ancorados a

seguros.

4.4.3 - Insuficiência de Capital de Giro

Vários fatores podem contribuir isoladamente ou em conjunto para que o volume de

capital de giro seja insuficiente para o funcionamento normal da empresa.

Os principais são os seguintes:

- Redução de vendas.

- Crescimento da inadimplência.

- Aumento das despesas financeiras.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 156

Page 157: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

- Aumento de custos.

Além da manutenção da reserva financeira, como mencionado na seção 4.3.2, as

seguintes medidas permitirão a eliminação ou prevenção da insuficiência de capital de

giro:

a) Controlar a inadimplência

A inadimplência dos clientes de uma empresa pode decorrer do quadro econômico geral

do país ou de fatores no âmbito da própria empresa.

No primeiro caso, a contração geral da atividade econômica tende a aumentar a

inadimplência. Nessa situação, a empresa tem pouco controle sobre o problema.

Quando a inadimplência é decorrente de práticas de crédito inadequadas, estabelecidas

pela própria empresa, a solução é menos difícil. Basicamente, será preciso dar mais

atenção à qualidade das vendas do que a seu volume.

b) Não financiar o capital de giro a qualquer custo

Na tentativa de suprir a insuficiência de capital de giro, muitas empresas utilizam

empréstimos de custo elevado. Via de regra, qualquer dinheiro captado a um custo

maior do que 1,17% ao mês (ou 15% ao ano), em termos reais, é incompatível com a

rentabilidade normal da maioria das empresas, que é de 15% ao ano, também em termos

reais.

O financiamento de capital de giro a uma taxa real maior do que 1,17% ao mês pode

resolver o problema imediato de caixa da empresa, mas cria outra dificuldade, a

liquidação da dívida.

c) Alongar o período do endividamento

Quando a empresa consegue negociar um prazo maior para o pagamento de suas

dívidas, ela adia as saídas de caixa correspondentes e, portanto, melhora sua situação de

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 157

Page 158: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

capital de giro. Embora a ajuda seja provisória, permitirá que a empresa possa esperar

por uma melhora em seu quadro econômico.

Também, nesse caso, é importante atenção especial para o custo do alongamento de

prazo. Ele precisa ser suportado pela rentabilidade da empresa.

d) Reduzir custos

A implantação de um programa de redução de custos tem efeito positivo sobre o capital

de giro da empresa, desde que não traga restrições a suas vendas ou à execução de suas

operações.

Uma vez que a empresa com problema de capital de giro também estará com sua

capacidade de investimento comprometida, a redução de custos por meio de processos

como modernização, automação ou informatização não será possível.

Diante de uma crise de capital de giro, o programa de redução de custos tem natureza

compulsória e seu grande desafio é identificar os itens de gastos que possam ser

cortados sem grandes prejuízos para as atividades da empresa.

e) Encurtar o ciclo operacional

Quando a empresa encurta seu ciclo operacional, suas necessidades de capital de giro

são reduzidas.

Numa indústria, a redução do ciclo operacional acarretará menor tempo para produzir e,

em conseqüência, para vender. No comércio, essa redução significa um giro mais rápido

dos estoques. Na atividade de serviços, a redução do ciclo econômico equivale a

trabalhar com um cronograma mais curto para a execução dos serviços.

Como visto, a redução do ciclo operacional não é uma função tipicamente financeira.

Ela requer o apoio de funções como produção, operação e logística.

4.4.4 – Efeito Tesoura

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 158

Page 159: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A maioria das empresas querem expandir sua produção e vendas, com vistas a aumentar

seus resultados, e consequentemente, maximizar a riqueza dos proprietários. Para tanto,

há uma série de estudos e planos a serem feitos, não necessariamente na área financeira,

tais como criação de novos produtos, realização de pesquisas de mercado, expansão da

linha de produção, contratação de novos funcionários, aumento dos estoques a fim de

fazer face à maior produção, etc.

É fácil perceber, portanto, que para o aumento desta produção e vendas, há a

necessidade da ampliação de investimentos em capital de giro, o qual será coberto, a

princípio, com recursos próprios, e posteriormente com parte dos recursos obtidos com

o aumento das vendas.

Se por vezes ocorrer uma falha no planejamento, e o aumento das vendas não aumente o

capital de giro, de forma sistemática, chamamos isto de efeito tesoura, o que irá levar

a empresa a sérios problemas financeiros, e muitas vezes à sua viabilidade.

Tomemos por exemplo o caso da empresa Dubom, que aumentou sua produção de

movíeis para escritório.

Mês 1 2 3 4 5

NCG 400 600 800 1000 1400

CG 300 350 380 420 500

Índice

CG/NCG

0,75 0,58 0,48 0,42 0,36

Verifica-se que as vendas podem até ter aumentado, mas o recebimento delas não se

efetivou, o que tornou-se um ciclo vicioso para a Dubom, pois está necessitando cada

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 159

Page 160: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

vez mais de capital de giro, o qual, provavelmente, tem financiado com recursos de

curto prazo, e consequentemente onerosos.

Considera-se que uma empresa entrou no efeito tesoura quando a diferença entre o ativo

flutuante e o passivo flutuante é maior que seu capital de giro. Portanto:

Se AF – PF > CG, então Efeito Tesoura.

4.5 - QUESTÕES

1. Sobre que elementos de seu ciclo operacional a empresa tem liberdade de ação?

2. Por que um ciclo financeiro curto acarreta alto giro de caixa?

3. Que medida poderia trazer redução permanente e eficaz do ciclo financeiro?

4. Qual o ciclo financeiro de uma empresa que tem giro de caixa de quatro vezes por

ano?

5. Uma empresa tem um prazo de fabricação/estocagem de 50 dias, prazo de pagamento

de 40 dias e prazo de recebimento de 20 dias. Qual seu ciclo de caixa?

6. Analisando-se a necessidade da determinação de capital de giro, qual a principal

limitação do índice de liquidez corrente?

7. Demonstre que o capital de giro é igual ao passivo permanente menos o ativo

permanente (contas reclassificadas).

8. O que é o efeito tesoura?

9. Uma necessidade de capital de giro elevada acarreta alto índice de liquidez corrente.

Certo ou errado?

4.6 - EXERCÍCIOS

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 160

Page 161: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1. Análise do capital de giro

O Quadro a seguir representa o balanço da empresa Q-Giro, recentemente levantado. Os

principais dados desse balanço mostram clara tendência de estabilidade quando

comparados com os balanços dos dois anos anteriores.

Com base nos dados desse balanço, responda às seguintes questões:

a) Qual o valor do capital de giro da empresa?

b) Alguma parcela do capital de giro está sendo financiada com recursos de longo prazo

(exigível a longo prazo ou patrimônio líquido)?

c) Qual o valor do índice de liquidez seca? Como você interpreta o índice calculado?

d) Considerando que no setor em que atua essa empresa, a relação entre capital de giro e

capital total (ativo circulante sobre ativo total) é, em média, 0,27, como você avalia essa

relação na Q-Giro?

e) Com base apenas nos dados apresentados, seria possível avaliar a adequação do

volume de estoques dessa empresa?

Balanço patrimonial da empresa Q-Giro - R$ 1,00.

Ativo Total 215.695,00 Passivo Total 215.695,00

Ativo Circulante 76.788,00 Passivo Circulante 88.970,00

Caixa e bancos 1.455,00 Fornecedores 26.888,00

Aplicações

Financeiras

11.345,00 Impostos 8.679,00

Contas a receber 28.323,00 Instituições

Financeiras

51.435,00

Estoques 35.665,00 Outros 1.968,00

RLP 4.025,00 ELP 42.111,00

Ativo Permanente 134.882,00 Patrimônio Líquido 84.614,00

2. Necessidade de capital de giro e efeito tesoura

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 161

Page 162: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Uma empresa apresenta os seguintes dados em seu balanço:

Ativo Passivo

Caixa 1.000,00 Empréstimos 2.000,00

Aplicações financeiras 2.000,00 Fornecedores 1.000,00

Contas a receber 4.000,00 Salários e encargos 4.000,00

Estoques 4.000,00 Impostos e taxas 1.000,00

Realizável a longo prazo 2.000,00 Exigível a longo prazo 4.000,00

Ativo Permanente 8.000,00 Patrimônio líquido 9.000,00

Total 20.000,00 Total 20.000,00

Com base nesses dados, calcule a necessidade de capital de giro.

4.7 – Bibliografia Recomendada

ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.

ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São

Paulo: Atlas, 1995.

SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.

Atlas. 2003

SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 162

Page 163: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 05 - Administração do Disponível

Conteúdo do Capítulo

5.1 - Razões para Demanda de Caixa

5.2 - Modelos de Administração de Caixa

5.3 - Administração de Contas Bancárias

5.4 – Questões

5.5 – Exercícios

5.6 – Bibliografia Recomendada

5.1 Razões para Demanda de Caixa

Numa situação ideal, em que uma empresa tem um controle total sobre sua liquidez, seu

saldo de caixa seria zero. É óbvio que esta é uma posição de caixa inexistente, embora

seja ótima. Fatores como alto custo do dinheiro, inflação, incerteza do fluxo de caixa,

entre outros, fazem com que qualquer entidade precise manter, em magnitudes

diferentes, um nível mínimo de caixa.

Tradicionalmente, considera-se que existem três motivos para que uma empresa

mantenha um valor mínimo de caixa. O primeiro motivo é denominado transação. Uma

empresa precisa ter recursos aplicados no caixa para poder honrar os compromissos

assumidos.

O segundo motivo de existência de um nível de caixa refere-se à precaução. Como

existem fluxos de pagamentos futuros nem sempre totalmente previsíveis e em face da

atitude do administrador financeiro em relação ao risco, uma empresa deve manter uma

quantidade de recursos para estas eventualidades.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 163

Page 164: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O terceiro motivo refere-se à especulação. Neste caso, a existência de recursos em caixa

decorre da perspectiva de uma oportunidade futura para fazer negócios.

Tendo em vista que investimento em caixa representa perda de rentabilidade, a empresa

deve exercer controle sobre este item sem aumentar, em nível indesejado, o risco.

O caixa mínimo exigido dependerá de uma série de fatores. A lista a seguir apresenta

alguns destes, sem pretensão de esgotar o assunto:

- falta de sincronização entre pagamentos e recebimentos de caixa, que tende a elevar o

caixa necessário.

- grande possibilidade de ocorrência de eventos não previstos no planejamento da

empresa que representem desembolsos de caixa;

- acesso reconhecido às fontes de financiamento, seja capital próprio ou de terceiros.

- bom relacionamento com o sistema financeiro, particularmente no que se refere ao

saldo da conta em bancos.

- possibilidade de furtos e desfalques, sendo que estes fatos podem ser minimizados

através de controle mais acurado sobre os recebimentos e pagamentos de caixa;

- existência de prazo médio de recebimentos de vendas acima do necessário.

- existência de prazo de pagamento reduzido.

- existência de grande investimento em estoques.

- existência de várias contas correntes em bancos.

- processo produtivo com desperdícios e atividades com pouca contribuição para o

resultado;

- nível de taxa de inflação.

- política de crédito da empresa, em especial a morosidade dos pagamentos e a

probabilidade de que clientes, não efetuem pagamentos, o que implica maior

necessidade de caixa;

- existência de um modelo de administração de caixa claramente definido e ajustado às

operações da empresa.

- regularidade nos recebimentos da empresa, inclusive os decorrentes de operações a

vista.

O estudo dos fatores listados indica que uma empresa típica sempre necessitará de um

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 164

Page 165: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

caixa mínimo para satisfazer a suas necessidades financeiras. Para determinar o valor

que uma empresa pode deixar em caixa existem diversos modelos de administração de

caixa que podem ser utilizados. O próximo item apresenta alguns dos modelos que

tratam da determinação do caixa mínimo.

5.2 Modelos de Administração de Caixa

5.2.1 Modelo do Xaixa Mínimo Operacional

Umaforma simples de estabelecer o montante de recursos que uma empresa deverá

manter em caixa é através do Caixa Mínimo Operacional. Esta técnica, pouco

sofisticada é verdade, pode ser útil no estabelecimento de um padrão do investimento

em caixa.

Para obter o Caixa Mínimo Operacional, basta dividir os desembolsos totais previstos

por seu giro de caixa. Por sua vez, para obter o giro de caixa, basta dividir 360, se a base

for em dias e o período de projeção for de um ano, pelo ciclo financeiro. Relembrando,

o ciclo financeiro de uma empresa corresponde ao período compreendido entre o

pagamento da compra de matéria-prima até o momento do recebimento das vendas.

Relembrando o capítulo passado, temos as seguintes fórmulas:

Ciclo Operacional = Prazo de Giro de Estoque + Prazo de recebimento de vendas;

Ciclo financeiro = ciclo operacional – prazo de pagamento de compras

Giro de caixa = 360 / ciclo financeiro

Caixa mínimo operacional = Desembolsos / Giro de caixa.

Exemplificando, suponha que uma empresa tenha projetado para certo exercício

desembolsos totais líquidos de caixa de $ 2,7 milhões. Sabe-se que o ciclo financeiro

desta empresa alcança 24 dias, ou seja, este é o intervalo de tempo em que a empresa

somente desembolsa recursos, ocorrendo entradas de fluxos financeiros somente a partir

do 25e dia.

Logo, o giro de caixa é de 15 vezes, isto é:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 165

Page 166: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

GC = 360 / 24

Giro de caixa = 15

Conhecido o giro do caixa, o montante mínimo de caixa a ser mantido visando

satisfazer à demanda operacional por recursos no período totaliza $ 180.000; é

calculado:

Caixa Mínimo Operacional = 2700000 / 15

Caixa Mínimo Operacional = 180000

Pode-se dizer que, quanto maior for o giro de caixa e, conseqüentemente, menor o ciclo

financeiro, mais reduzidas se apresentam quantidades exigidas para o caixa. Na busca

de administração de caixa mais eficiente, a empresa deve procurar, dentro das condições

de seus negócios, maximizar o giro de seu caixa. Com isto, como o Caixa Mínimo

Operacional é obtido pela divisão dos pagamentos pelo giro, um giro de caixa alto gera

uma necessidade menor de caixa operacional.

Para melhor entendimento, suponha uma empresa com prazo de pagamento de

fornecedores de 20 dias, prazo de estocagem de 40 dias e prazo médio de recebimento

de clientes de 25 dias. O ciclo financeiro é de 45 dias e é obtido pela soma do prazo de

estocagem (40 dias) com o prazo de recebimento (25 dias) menos o prazo de pagamento

(20 dias). O giro de caixa é de oito vezes, ou seja, 360/45.

Supondo que os pagamentos anuais estimados da empresa sejam de $ 400.000, o caixa

mínimo operacional é de:

Caixa Mínimo Operacional =----= $ 50.000 '

Uma redução no prazo de recebimento para dez dias faz com que o ciclo financeiro se

reduza para 30 dias e aumente o giro de caixa para 12 vezes. Com isto, o caixa mínimo

operacional passa de $ 50.000 para $ 33.333 (= $ 400.000/12), promovendo uma

redução de$ 16.667.

O caixa mínimo operacional, por sua simplicidade de cálculo, oferece alguns

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 166

Page 167: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

inconvenientes técnicos e por isso deve ser adotado com certos cuidados pela empresa,

avaliando-se principalmente se suas características se adequam à realidade de seus

negócios.

5.2.2 Modelo de Baumol

O modelo de Baumol recebe o nome do pesquisador que propôs utilizar o conceito de

lote econômico de compra, conceito este que será abordado mais adequadamente no

capítulo que trata de estoques, na administração de caixa.3 Este modelo é aplicado

quando existem entradas periódicas de dinheiro no caixa e saídas constantes de

recursos.

Entre diversas situações, podem ser citados dois exemplos em que é possível existir uma

aplicação do modelo de Baumol. O primeiro é o orçamento de uma família típica.

Mensalmente, a mãe e/ou pai recebem um salário. Este salário será consumido ao longo

do mês, à medida que ocorrerem as necessidades de pagamentos.

O segundo caso diz respeito a uma empresa de consultoria que possui clientes que

concentram o pagamento em determinado dia do mês, embora a empresa tenha que

efetuar desembolsos ao longo do mês.

Supondo a existência de um mercado financeiro com um investimento de curto prazo

qualquer, uma empresa pode transformar um fluxo regular de recebimentos de caixa em

diversos fluxos. Basta que aplique parte do recebimento inicial neste investimento e,

com o tempo, vá sacando o dinheiro existente na conta do investimento.

A Figura 5.1 apresenta a situação original em que, a cada período de tempo (um mês,

por exemplo), existe um recebimento e inúmeros pagamentos. A Figura 5.2 apresenta a

situação em que o único recebimento foi transformado em 4rês pela aplicação de 3/4 do

recebimento original num investimento de curto prazo.

Dia Entrada de Caixa Saída de Caixa

1 1000 50

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 167

Page 168: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

2 50

3 50

4 50

5 50

6 50

7 50

8 50

9 50

10 50

11 50

12 50

13 50

14 50

15 50

16 50

17 50

18 50

19 50

20 50

Figura 5.1 Modelo de Baumol.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 168

Page 169: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Dia Entrada de Caixa Saída de Caixa

1 250 50

2 50

3 50

4 50

5 50

6 250 50

7 50

8 50

9 50

10 50

11 250 50

12 50

13 50

14 50

15 50

16 250 50

17 50

18 50

19 50

20 50

Figura 5.2 Modelo de Baumol.

De um lado, deixar parcela do dinheiro em investimento de curto prazo proporciona um

ganho na forma de juros. Entretanto, cada operação de investir ou resgatar pode

implicar um custo. Este custo abarca desde impostos de transações financeiras até o

custo do tempo que o funcionário da empresa leva para fazer a operação de ligar para o

banco e solicitar a transferência de recursos da conta de investimento.

Através do confronto entre os rendimentos obtidos com investimento de curto prazo e o

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 169

Page 170: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

custo de cada operação de aplicação e resgate, a empresa pode determinar em quantos

montantes iguais o recebimento original será dividido, de modo a maximizar seu lucro.

Este valor é obtido por:

sendo i a taxa de juros da aplicação financeira, R o montante recebido periodicamente, b

o custo de cada operação de investimento ou resgate - incluindo aqui desde impostos até

quaisquer custos diretamente vinculados a estas operações - e N o número de operações

que serão realizadas no período.

Para melhor entendimento, seja uma empresa de advocacia que recebe no dia primeiro

de cada mês $ 9.600 pela prestação de seus serviços a uma outra empresa. Supondo um

mês com 20 dias úteis, pode-se afirmar que os desembolsos médios diários da empresa

montam $ 480 (= 9.600/20). A taxa de juros de mercado é de 1 % a.m. e cada vez que é

feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a empresa despende $ 3,00

referentes ao custo vinculado a esta operação. Assim:

N = [(0,5 x 0,01 x 9.600) / 3,00] ^0,5 N=4

OBS: Elevar-se um termo qualquer a 0,5, ou ½, é igual extrair sua raiz quadrada.

Deste modo, serão feitas quatro operações de transferência de recursos, sendo que cada

um dos resgates no valor de $ 2.400 (= $ 9.600/4). Outra forma de analisar o resultado

acima é dizer que a cada cinco dias (= 20/4) existirá uma transferência de fundos da

aplicação financeira para o caixa da empresa.

O Quadro 5.1 mostra o fluxo de pagamentos e recebimentos da empresa. A primeira

coluna apresenta o caixa inicial para cada dia. Para o primeiro dia, dos $ 9.600

recebidos, $ 7.200 foram investidos no curto prazo. Os desembolsos diários de $ 480

reduzem o caixa até o instante em que seja necessário fazer uma transferência de

recursos da aplicação financeira para o caixa, o que ocorre, no exemplo citado, no 5e,

10fi e 15a dia útil do mês.

I

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 170

Page 171: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quadro 5.1

Exemplo

do modelo de Baumol.

Dia Caixa Inicial Saída de

Caixa

Entrada de

Caixa

Caixa Final Investimentos

1 2.400 480 1.920 7.200

2 1.920 480 - 1.440 7.200

3 1.440 480 - 960 7.200

4 960 480 - 480 7.200

5 480 480 2.400 2.400 5.800

6 2.400 480 - 1.920 5.800

7 1.920 480 - 1.440 5.800

8 1.440 480 960 5.800

9 960 480 - 480 5.800

10 480 480 2.400 2.400 2.400

11 2.400 480 1.920 2.400

12 1.920 480 - 1.440 2.400

13 1.440 480 - 960 2.400

14 960 480 - 480 2.400

15 480 480 2.400 2.400 -

16 2.400 480 - 1.920 -

17 1.920 480 - 1.440 _

18 1.440 480 - 960 -

19 960 480 - 480 -

20 480 480 - - -

Não se pode deixar de comentar os efeitos da taxa de juros, do custo das operações de

investimento/resgate e do volume de recebimentos na determinação do número de

operações a serem realizadas. , ; ,

Se, por exemplo, a taxa de juros aumentar, o senso comum indica que se tornará ainda

mais atrativo investir os recursos em aplicações financeiras. Com efeito, utilizando a

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 171

Page 172: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

fórmula apresentada para uma taxa de juros de 2,25% a.m., em lugar de 1 % a.m., tem-

se:

N = (0,5 x 0,0225 x 9.600) / 3 = 6

O resultado apurado significa dizer que o acréscimo na remuneração do investimento de

curto prazo faz com que a empresa promova mais retiradas ao longo do mês, e cada uma

delas em valores mais reduzidos, neste caso de $ 1.600 cada ($ 9.600/6).

Retornemos aos valores originais e suponhamos um acréscimo no custo das operações,

como, por exemplo, a cobrança de uma taxa por parte da instituição financeira para

fazer tais operações. Naturalmente, isto deve reduzir o número de operações.

Suponhamos, portanto, que o custo passe de $ 3 para $ 12 por operação e, assim, N

passará a ser de:

N = J(0,5 x 0,01 x 9.600) / 12 = 2

O modelo de Baumol é importante por reconhecer a existência de um custo de transação

e por relacionar o uso de caixa com o conceito de economia de escala. Assim, se a

empresa de advocacia tivesse um aumento no volume recebido, de $9.600 para $

19.200, o valor de N apresentaria um acréscimo para:

N = 7(0,5 x 0,01 x 19.200)/3 = 5,66

Para concluir, deve ser lembrado que o modelo de Baumol considera que o fluxo de

pagamentos é relativamente constante e o recebimento é periódico. Isso nem sempre é

característica das empresas em seu dia-a-dia. Logo, dificilmente um fluxo de caixa será

constante e previsível conforme suposto no modelo. Entretanto, é importante ressalvar

que muitas suposições do modelo podem ser relaxadas sem muita complexidade,

inclusive para algumas situações de incerteza, e podem ser úteis em alguns casos onde

uma solução simples de implementar seja necessária.4 Em economias instáveis, a

aplicação do modelo deve ser considerada com cuidado, pois ele em sua formulação

original não considera a demanda de caixa para precaução e especulação, além de supor

que a taxa de juros é constante no período considerado.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 172

Page 173: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Apesar destas restrições, é importante notar que o modelo traz para a discussão

importantes princípios teóricos, essenciais ao estudo da administração de caixa, sendo,

pois, um parâmetro bastante útil para a avaliação do saldo de caixa.

5.2.3 Modelo de Miller e Orr

Os dois modelos apresentados anteriormente consideram que o fluxo de caixa de uma

empresa é conhecido. Em outras palavras, eram modelos determinísticos de

administração de caixa, assumindo a total previsibilidade de seus valores.

Em determinadas situações práticas, o comportamento do caixa assume uma

caracterização imprevista, inexistindo relação preestabelecida do comportamento dos

recursos ao longo do tempo. Miller e Orr propuseram um modelo de administração

financeira de caixa que pudesse ser utilizado nestas situações em que os fluxos de caixa

fossem aleatórios.5

Assim como o modelo de Baumol, o modelo de Miller e Orr parte da existência de dois

ativos: o caixa e um investimento, caracterizando-se o último por ter baixo risco e alta

liquidez. De acordo com o comportamento do fluxo de caixa no tempo, poderá existir

transferência de recursos do caixa para o investimento de curto prazo (aplicação de

recursos) ou do investimento para o caixa (resgate).

Como se assume um fluxo de caixa aleatório, não existiria um momento predeterminado

em que seriam feitas as operações de aplicação e resgate, como ocorre no modelo de

Baumol. No modelo de Miller e Orr, procura-se determinar um saldo mínimo e um

saldo máximo de caixa.

Quando o saldo de caixa estiver abaixo do limite inferior, faz-se necessário um resgate

da aplicação, com transferência de recursos do investimento para o caixa,

restabelecendo, assim, a liquidez da empresa. Por outro lado, quando o caixa estiver

acima do limite superior admitido, deverá ocorrer uma aplicação de parte dos recursos,

evitando-se, desta forma, um excesso de liquidez.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 173

Page 174: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Em ambas situações, a empresa efetua transferências de recursos entre os dois ativos

considerados (caixa e investimento de curto prazo), de modo que a flutuação do caixa

no tempo fique dentro de um intervalo. O montante de recursos a ser transferido

(aplicado ou resgatado) deve ser o suficiente para que o caixa, após tal operação, retorne

a determinado nível, denominado ponto de retorno.

A Figura 5.3 apresenta o comportamento do caixa de uma empresa ao longo do tempo.

No momento 3,, o saldo de caixa ficou abaixo do limite inferior ($ 50), da figura), sendo

necessária uma transferência de recursos do investimento de curto prazo para o caixa.

Neste instante, o caixa volta para o ponto de retorno z* da figura. :

No dia 6, ocorre a situação inversa. O saldo de caixa ultrapassa o limite superior {h* da

figura), devendo existir uma aplicação de parte do caixa em investimento de curto

prazo. Após a transferência de recursos - do caixa para investimento de curto prazo -, o

volume de recursos existentes no caixa volta ao nível do ponto de retorno (z*).

O ponto de retorno, ao qual a empresa deve voltar toda vez que o caixa estiver acima ou

abaixo de determinado ponto, pode ser obtido pela fórmula a seguir:

Sendo:

M = menor valor que pode assumir ocaixa

D = Custo de cada transação de investimento ou resgate

Var = Variância diária de caixa

I = taxa de juros diária.

O valor do caixa mínimo (m da equação supra citada) será determinado pela empresa e

deve levar em consideração a aversão da gerência ao risco.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 174

Page 175: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Modelo de Miller & Orr

0

100

200

300

400

500

600

700

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Dias

Sal

do

de

Cai

xa

Dias

Saldo de Caixa

Figura 5.3 Modelo Miller-Orr.

Além disso, o modelo relaciona caixa com sua variância, ou seja, dispersão do fluxo de

caixa com a necessidade de investimento. Empresas com grande dispersão no caixa

possuem maior risco e, conseqüentemente, necessitam investir mais recursos no caixa.

Menor dispersão no fluxo de caixa, ao longo do tempo, torna-se mais previsível,

reduzindo, deste modo, a importância do controle de caixa. “ - - .

A Figura 5.3 reflete modificações aleatórias nos saldos de caixa de uma empresa em

determinado intervalo de tempo. O controle dos valores dá-se através do

acompanhamento dos limites superior e inferior. No momento definido que seu saldo de

caixa atinge o limite inferior, definido pela administração da empresa. Nesta condição,

um volume de títulos negociáveis é resgatado, canalizando-se o montante monetário

para o saldo operacional de caixa. / : ;

Posteriormente, o saldo de caixa continua a oscilar, elevando-se no momento 6, para o

limite superior do controle. Nesta altura, um volume de recursos deve ser transferido do

caixa para títulos negociáveis, através de uma operação de investimento, de forma que o

saldo operacional volte à faixa de controle.

De outra forma, no gráfico existe um limite máximo que o fluxo de caixa não pode

ultrapassar. Se isto ocorrer, a empresa deve voltar ao ponto de retorno, o z* da equação.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 175

Page 176: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Este limite é dado por:

H* = m + 3z*

Para melhor entendimento, o Quadro 5.2 mostra um exemplo de aplicação do modelo de

Miller e Orr. Na primeira coluna, são apresentados os valores do fluxo de caixa de uma

empresa projetados para um prazo de dez dias.

Quadro 5.2 Exemplo do modelo de Miller e Orr.

Dia Fluxo

de

Caixa

(FC)

FC –

Média

Variância

1 -300 -310 96.100

2 400 390 152.100

3 300 290 84.100

4 -300 -310 96.100

5 100 90 8.100

6 -200 -210 44.100

7 100 90 8.100

8 -200 -210 44.100

9 -100 -110 12.100

10 300 290 84.100

Total 100   629.000

Média 10   62900

Com estes valores, calculou-se a média e a variância. Estes valores serão utilizados para

a aplicação do modelo para os próximos dez dias. Suponha uma taxa de juros de 1 % ao

dia, um custo de $ 2,85 por transação e um limite inferior de $ 50:

z* = 287

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 176

Page 177: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

h* = 50 + 3 x287

h* = 911

A partir deste cálculo preliminar, obtendo a variância, o limite superior e o ponto de

retormo, a empresa poderá aplicar o modelo de Miller e Orr para a administração de

caixa.

A título de exemplificação, ainda, suponha o comportamento do caixa de uma empresa,

conforme observado no Quadro 5.3. A primeira coluna apresenta o caixa inicial diário

da empresa. A segunda coluna mostra o fluxo diário de pagamentos e recebimentos

previstos. Caso a soma do caixa inicial (primeira coluna) e o fluxo diário (segunda

coluna) esteja dentro do intervalo (entre $ 50 e $ 911), nenhuma operação de

investimento ou resgate será realizada.

No 13º dia, a soma do caixa inicial mais o fluxo diário ultrapassa o limite superior ($

1.000 versus $911). Nesta situação, deve-se reduzir o volume de recursos existente no

caixa através de um investimento em título de curto prazo. O montante da transferência

de recursos deve ser o suficiente para que o caixa final seja igual ao ponto de retorno

($287). . , ;, ., ; : ,:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 177

Page 178: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quadro 5.3 Exemplo do modelo de Miller e Orr - valores previstos.

Dia Caixa Inicial FC Previsto Investimento/

Resgate

Caixa Final

Previsto

11 500 300 800

12 800 - 100 700

13 700 300 - 713 287

14 287 - 100 187

15 187 200 387

16 387 100 487

17 487 - 200 287

18 287 - 250 250 287

19 287 200 487

20 487 - 100 387

No 18º dia, ocorre o inverso, ou seja, a soma do caixa inicial com o fluxo diário é menor

que o limite inferior ($37 versus $ 50). Nesta situação, a empresa vende títulos no valor

de $ 250 de tal forma que o caixa final atinja o ponto de retorno.

O modelo de Miller e Orr leva em consideração a aversão, ou propensão, ao risco da

gerência da empresa. No exemplo apresentado, para um caixa mínimo de zero, o

aumento no risco traduz-se no menor ponto de retorno e na redução do limite superior.

Em outras palavras, o modelo mostra que o volume de recursos aplicado no caixa é

reduzido em decorrência do maior risco assumido pela administração da empresa.

Além disso, o modelo considera as características de imprevisibilidade do caixa da

empresa. Se, por acaso, a dispersão do caixa for alterada ao longo do tempo, podem-se

adaptar os resultados para esta nova situação. Suponha, no exemplo citado

anteriormente, que a variância se reduza de $ 62.900 para $ 35.000. Com uma taxa de

juros de 1 % ao dia, um custo de transação de $ 2,85 e um caixa mínimo de $ 50, o

ponto de retorno é de:

z* = [50 + (0,75 x 2,85 x 35.000/0,01)]^1/3

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 178

Page 179: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

z* = 246

em lugar dos $ 287 obtidos anteriormente, em que existia maior aleatoriedade do caixa.

Por sua vez, o limite superior é de:

h* = 50 + 3 x 246

h* = $ 787

cerca de $ 124 a menos que o limite anterior.

A existência de um limite inferior e um limite superior no qual o caixa da empresa

poderá variar, faz o modelo de Miller e Orr ser flexível, permitindo sua adaptação às

condições de administração de caixa.

5.2.4 Modelo de dia da semana

Em geral, o comportamento do caixa no tempo quase sempre é afetado por uma variável

sazonal. Assim, algumas empresas têm pagamentos concentrados no início de cada mês;

em outras, como a indústria do lazer, há grande movimento no final de semana. O

modelo do dia da semana é uma forma de prever o comportamento do caixa a partir de

um padrão observado.

Neste modelo, calcula-se o componente sazonal de cada dia do mês e da semana e, a

partir da previsão de saldo final de caixa para o final do mês, faz-se a previsão para o

fluxo diário através de ajustamentos que levam em conta esta sazonalidade.

Visando esclarecer melhor o funcionamento deste modelo, considere uma empresa que

realiza 21% de seu fluxo de caixa semanal na segunda-feira, 22% na terça, 17% na

quarta, 15% na quinta e 25% na sexta-feira, totalizando, assim, 100%. Caso não

existisse sazonalidade no dia da semana, o fluxo seria de 20% (100% dividido pelo

número de dias da semana).

O desvio entre a participação de cada dia da semana e a média é mostrado no Quadro

5.4.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 179

Page 180: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quadro 5.4 Modelo dia da semana - Exemplo.

Dia Participação Desvio

Segunda 0,21 0,21 -0,20 = 0,01

Terça 0,22 0,22 - 0,20 = 0,02

Quarta 0,17 0,17-0,20 = -0,03

Quinta 0,15 0,15-0,20 = -0,05

Sexta 0,25 ., 0,25-0,20 = 0,05

Total 1,00 0

O outro fator de sazonalidade refere-se ao período do mês. No exemplo aqui

considerado, assume-se que a empresa possui maior fluxo de caixa nos primeiros dias

do mês, voltando a ser crescente no final do mês. As informações sobre o fluxo diário,

necessárias para a aplicação deste modelo, são apresentadas na coluna (a) do Quadro

5.5. Assim, o primeiro dia do mês representa 9% do fluxo mensal, o segundo participa

com 8%, e assim por diante.

Admita-se que o primeiro dia útil do mês caiu numa terça-feira. O quadro 5.5 apresenta,

na coluna (b), os desvios referentes ao dia da semana, conforme calculado no quadro

anterior. A soma destes desvios com as percentagens para cada dia do mês- coluna (b)

mais coluna (a) - será utilizada para previsão do fluxo de caixa diário (coluna c). A

soma desta coluna é igual à unidade.

Assim, o primeiro dia útil do mês representa 9% do fluxo mensal. Por ser uma terça-

feira, a soma desta participação mais o desvio (2%, conforme Quadro 5.4) totaliza 11 %.

Sabendo de antemão que o fluxo previsto para o mês é de $ 5.000, tem-se que a

previsão para este dia será de $ 440 (= 11%x 5.000). O Quadro 5.5, em sua última

coluna, apresenta os resultados para o restante do mês.

Dia % sobre Total

(a)

Desvios (b) Soma (a + b) FC Diário

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 180

Page 181: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1 0,09 0,02 0,11 440

2 0,08 -0,03 0,05 200

3 0,07 -0,05 0,02 80

4 0,06 0,05 0,11 440

5 0,06 0,01 0,07 280

6 0,06 0,02 0,08 320

7 0,05 -0,03 0,02 80

8 0,06 -0,05 0,01 40

9 0,05 0,05 0,10 400

10 0,04 0,01 0,05 200

11 0,04 0,02 0,06 240

12 0,04 -0,03 0,01 40

13 0,03 -0,05 -0,02 - 80

14 0,03 0,05 0,08 320

15 0,02 0,01 0,03 120

16 0,02 0,02 0,04 160

17 0,04 -0,03 0,01 40

18 0,04 -0,05 -0,01 - 40

19 0,06 0,05 0,11 440

20 0,06 0,01 0.07 280

Total 1,00 0 1,00 5.000

Quadro 5.5 Modelo dia da semana - exemplo (Continuação).

Conhecendo a estimativa do caixa para o final do mês, pode-se estimar facilmente o

valor diário do caixa e, com isto, tomar decisões de financiamento ou investimento,

ajustando o caixa ao menor nível possível.

5.3 - Administração de Contas Bancárias

Boa parte da administração do disponível passa por uma instituição financeira, seja no

recebimento e no pagamento, através da troca de cheques, na aplicação das folgas

financeiras ou na obtenção de recursos para suas necessidades financeiras. Pelo volume

de recursos que isto representa, a otimização da administração da liquidez da empresa

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 181

Page 182: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

passa pela negociação com bancos. Entender a forma como funciona o sistema

financeiro é condição primordial para obter mais vantagens na administração do caixa.

Além disso, o sistema bancário oferece para a empresa uma série de serviços. Estes

serviços poderão ser remunerados pelo float, ou pela cobrança de tarifas diretamente

ligadas à prestação dos mesmos.

A compensação de cheques é somente o produto mais visível da atividade bancária.

Além deste produto, os bancos fornecem extratos e cartões magnéticos; contratam

operações ativas, incluindo desconto de promissórias e cheque especial; transferem

fundos; recebem carnes; efetuam cobrança; arrecadam tributos; oferecem ligações direta

entre o computador do cliente e o computador do banco (home banking) etc.

5.3.1 - Compensação e Sistema Brasileiro de Pagamentos

Os altos níveis inflacionários observados no Brasil até meados da década de 90 fizeram

com que se desenvolvesse um moderno sistema de compensação de cheques. A

agilidade desse sistema tornou o Brasil um modelo a ser seguido por outros países e

permitiu que o cheque continuasse sendo aceito mesmo em um ambiente onde as perdas

monetárias eram elevadas.

A implantação do sistema brasileiro de pagamentos (SBP) representa mais um estágio

na modernização do sistema financeiro nacional. Com respeito a impacto desse sistema

na gestão do disponível, é importante destacar a eventual existência de descasamento

entre a entrada e a saída de recursos na conta corrente das empresas.

Considere, a título de exemplo, uma empresa varejista que possui poucos fornecedores,

cujas compras são expressivas em termos de valores. No que diz respeito aos

recebimentos, a rede de clientes da empresa é muito significativa, embora os valores de

cada transação sejam relativamente pequenos. Enquanto os pagamentos são transferidos

eletronicamente, os recebimentos entram no sistema de compensação tradicional. Nesse

caso, o descasamento entre recebimento e pagamento irá gerar uma necessidade de

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 182

Page 183: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

reserva financeira de pelo menos dois dias.

Ademais, o fato de as transferências serem efetuadas ao longo do dia, e não ao final do

dia, como ocorria no passado, faz com que a atividade de controle da movimentação

financeira da tesouraria seja ainda mais estratégica.

5.3.2 - Centralizar ou Descentralizar

O problema de centralizar ou descentralizar a administração bancária diz respeito a

situações de empresas que têm recebimentos de cheques de diversas partes do país e,

portanto, sofrem o efeito da compensação nacional e da compensação não integrada,

bem como da empresa que não consegue obter a liberação imediata dos depósitos em

cheques. Como alternativa para a situação de trabalhar com somente uma agência

bancária, a empresa poderá optar em ter mais de uma conta em diversos pontos do país

ou ter contas em mais de uma instituição financeira.

Com a descentralização da administração de bancos, a empresa ganha mais rapidez na

compensação de cheques e, por conseqüência, diminui as perdas monetárias. Os

recursos liberados mais rapidamente poderão ser aplicados em investimentos e, com

isto, obter-se-ia uma rentabilidade qualquer. Esta política de descentralização tem seu

custo, representado pelo aumento na despesa de administração de bancos e no aumento

das taxas bancárias.

A rentabilidade da política de descentralização será representada pelo confronto das

receitas adicionais provenientes desta política e seus custos necessários. A

descentralização da gestão de bancos tende, inicialmente, a aumentar esta rentabilidade;

posteriormente, com o aumento exponencial dos custos da administração bancária, a

rentabilidade tende a cair.

5.3.3 Float

O float refere-se à diferença existente entre o saldo da conta de uma empresa no banco e

o valor registrado pela empresa em seus controles bancários. O float é sempre favorável

ao banco e deve ser usado pela empresa na discussão de reciprocidade bancária, quando

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 183

Page 184: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

for necessária a captação de recursos de curto prazo ou quando se precisar de uma taxa

de aplicação melhor.

O float ocorre quando o banco não avisa o cliente com antecedência sobre a existência

de valores creditados. No caso de uma cobrança feita pela instituição financeira, o float

diz respeito à diferença entre a data do pagamento feito pelo cliente e a data que o

dinheiro está efetivamente disponível para a empresa.

Se o pagamento é realizado num dia e somente no dia seguinte é creditado, o recurso

ficou no banco por um dia. A instituição financeira aplicou este recurso neste prazo,

praticando o que no jargão bancário é chamado de D+1. (Caso a diferença fosse de dois

dias, seria D+2; se fosse de três dias, D+3, e assim por diante).

Assim, o float pode ser também definido como o montante de recursos transitórios que

permanece no banco. Sua existência é comum no mercado financeiro, cabendo ao

administrador financeiro negociar condições mais favoráveis para a empresa.

A empresa poderá fazer uma análise financeira do float para determinar seu valor. Esse

cálculo pode ser interessante num processo de negociação com a instituição financeira.

5.4 – Questões

1. Cite os três motivos para se manter uma quantidade mínima de dinheiro em caixa.

2. O caixa mínimo exigido dependerá de uma série de fatores. Cite 3 deles.

3. Quais os principais modelos de gestão de caixa existentes?

4. Cite três serviços bancários que uma instituição financeira pode oferecer a uma

empresa?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 184

Page 185: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

5. Cite as vantagens e desvantagens em se centralizar e descentralizar os serviços

bancários.

6. O que é float?

5.5 – Exercícios

1. A empreiteira AC3 recebe no dia primeiro de cada mês $ 120.000 pela execução de

um contrato de longo prazo, relativo à manutenção de uma estrada de rodagem.

Supondo um mês com 20 dias úteis, pode-se afirmar que os desembolsos médios diários

da empresa montam $ 6000 (= 120.000/20). A taxa de juros de mercado é de 0,95%

a.m. e cada vez que é feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a

empresa despende $ 9,00 referentes ao custo vinculado a esta operação. Calcule o

número de retiradas ideal, segundo o modelo de Baumol.

2. O supermercado Zap tem a seguinte variação no fluxo de caixa nos 10 primeiros dias

úteis de um determinado mês:

Dia Variação

FC

Variância

1 3500 3600

2 4000 193600

3 3000 313600

4 3900 115600

5 3700 19600

6 4200 409600

7 3500 3600

8 3300 67600

9 3000 313600

10 3500 3600

Média 3560 144400

Admitindo-se que a taxa de juros diária é de 0,05%, o custo para as operações de

aplicação/resgate é de R$ 8,00, e se deve manter um caixa mínimo de R$ 1000,00, e

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 185

Page 186: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

utilizando-se do modelo de Miller-orr, calcule:

a) O ponto de retorno.

b) B) o limite máximo.

5.6 – Bibliografia Recomendada

ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.

ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São

Paulo: Atlas, 1995.

SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.

Atlas. 2003

SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 186

Page 187: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 06 – Administração de Valores a Receber

Conteúdo do Capítulo

6.1 – Política de Crédito

6.2 – Análise de Crédito

6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA

6.4 – Questões

6.5 – Exercícios

6.6 – Bibliografia Recomendada

Um dos componentes mais expressivos do capital de giro de uma empresa são as contas

a receber provenientes de suas vendas a prazo. A administração de contas a receber a ser

tratada neste capítulo aborda, principalmente, o crédito comercial concedido às pessoas

jurídicas.

Uma boa administração de contas a receber deve incluir, além da execução, as funções

de planejamento e controle, para que as vendas pelo crédito comercial proporcionem

resultados efetivos.

A cobrança é a principal função operacional de contas a receber. A formulação da

política de crédito e o acompanhamento de seus resultados são as funções típicas de

planejamento e controle de contas a receber.

6.1 – Política de Crédito

Para a empresa vendedora, o prazo de pagamento concedido a seus clientes representa

uma operação financeira denominada crédito comercial.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 187

Page 188: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O conjunto das condições sob as quais a empresa efetua suas vendas a prazo constitui

sua política de crédito comercial.

As diretrizes de uma política de crédito comercial têm por objetivo atingir determinadas

metas financeiras e comerciais. Desse modo, a política de crédito comercial da empresa

está subordinada a suas estratégias de marketing e de finanças.

A política de crédito de uma empresa, por meio de seus diversos elementos, afeta de

modo significativo sua participação no mercado, seu capital de giro, sua situação de

caixa e sua rentabilidade.

O principal efeito de uma política de crédito é seu impacto sobre a lucratividade da

empresa. Esta será afetada pelo custo do financiamento do capital de giro, pela

rentabilidade das vendas e pelo percentual de perda com devedores incobráveis.

Se a empresa adotar uma política de crédito liberal, conseguirá maior volume de vendas

às custas de maior risco de inadimplência. Ao contrário, uma política de crédito

restritiva trará baixo risco de inadimplência, mas reduzirá as vendas.

Uma política de crédito ótima seria aquela capaz de incentivar ao máximo as vendas

com o mínimo de perdas por inadimplência. Existem alguns métodos teóricos para

otimizar a política de crédito. Entretanto, a utilidade prática desses méto dos fica

comprometida, porque eles exigem que a empresa conheça a probabilidade de perda

com dívidas incobráveis.

Teoricamente, é possível realizar simulações para verificar o resultado de políticas

alternativas de crédito. Para isso, são usadas estimativas de vendas a crédito, margens de

lucro e probabilidades de perdas com dívidas incobráveis.

Quanto melhor for a situação financeira da empresa, mais liberdade ela terá para

estabelecer sua política de crédito. Nesse caso, ela não precisará seguir os padrões de

crédito do setor em que atua, podendo aproveitar todo o potencial de ganho do mercado.

6.1.1 - Conceitos Básicos

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 188

Page 189: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A seguir, são apresentados os conceitos utilizados nos diversos tópicos deste capítulo.

a) Prazo médio de cobrança

Dependendo das condições de mercado, a empresa pode conceder a seus clientes prazos

de pagamento diferenciados, de acordo com o tipo de produto. O prazo médio de

cobrança de uma empresa é a média ponderada dos prazos de recebimento de suas

vendas pelo crédito comercial. É calculado do seguinte modo:

Pmc = (p1 X V1 +p2 x V2 + ... + Pn x Vn) / (V1 + V2 + ... + Vn)

onde:

Pmc = prazo médio de cobrança

P1 ... Pn = Prazos de cobrança

V1 ... Vn = Valores a serem cobrados

Exemplo: Calcular o prazo médio de cobrança de uma empresa cujas vendas mensais

têm a seguinte composição de valores e prazos:

- R$ 300.000,00 a 30 dias

- R$ 100.000,00 a 10 dias

- R$ 200.000,00 a 50 dias

Usando a fórmula de cálculo, temos:

Pmc = (30 x 300.000 + 10 x 100.000 + 50 x 200.000) / (300.000 + 100.000 + 200.000)

PMC = 20.000.000 / 600.000

Pmc = 33,33 dias

b) Giro de Contas a Receber

O giro de contas a receber é o parâmetro que indica quantas vezes no ano acontece a

rotação do montante de contas a receber. É calculado da seguinte forma:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 189

Page 190: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

GCR = 360 / Pmc

onde:

GCR = Giro de Contas a Receber

Pmc = Prazo médio de cobrança

Tomando-se os dados do exemplo anterior, o giro de contas a receber é:

GCR = 360 / 33,33

GCR = 10,80

O parâmetro calculado indica que o montante de contas a receber dessa empresa gira

aproximadamente 11 vezes num ano.

c) Investimento em Contas a Receber

O parâmetro que representa o valor dos recursos financeiros gastos especificamente

para comprar ou produzir, para então vender pelo crédito comercial, é denominado

investimento em contas a receber.

Considerando que o custo fixo é independente do volume de produção, ou operação da

empresa, o investimento em contas a receber corresponde aos custos variáveis, aqueles

que são efetivamente incorridos para produzir ou operar. Assim, o valor do investimento

direto efetuado pela empresa em contas a receber é menor do que o valor desse contas a

receber.

O cálculo do investimento em contas a receber é realizado da seguinte forma:

ICR = CV ÷ GCR

onde:

ICR = investimento em contas a receber

CV = custo variável de contas a receber

GCR = giro de contas a receber

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 190

Page 191: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Considerando o custo de contas a receber como um dado já definido, o valor do

investimento nesse ativo dependerá de seu giro. Como o giro de contas a receber

depende do prazo médio de cobrança, quanto maior for este último, maior será o

investimento em contas a receber.

Exemplo: As vendas de uma empresa têm um prazo médio de cobrança de 45 dias. O

valor de suas vendas anuais é R$ 1.200.000,00 e o custo variável é de 60% do valor

dessas vendas. Seu investimento em contas a receber será:

Giro de contas a receber:

Gcr = 360 ÷ 45 = 8

Custo variável das contas a receber:

Cv = 0,6 x 1.200.000,00 = 720.000,00

Investimento em contas a receber:

Icr = 720.000 ÷ 8 = 90.000,00

d) Margem de contribuição

A diferença entre o preço de venda e o custo variável por unidade de um produto ou

serviço é chamada margem de contribuição unitária.

O somatório das margens de contribuição de todos os produtos ou serviço de uma

empresa resulta num valor destinado a cobrir os custos fixos e proporcionar o lucro.

O planejamento e a avaliação de decisões referentes à política de crédito comercial

utiliza o conceito de margem de contribuição.

A margem de contribuição unitária é calculada pela seguinte fórmula:

MC = PV - CVU

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 191

Page 192: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

onde:

MC = margem de contribuição unitária

PV = preço de venda

CVU = custo variável unitário

6.1.2 - Elementos de uma Política de Crédito

Uma política de crédito contém diretrizes de natureza mercadológica e financeira que

têm efeito sobre vários parâmetros econômico-financeiros da empresa. Volume de

vendas, necessidade de capital de giro, disponibilidade de caixa e geração de lucro são

alguns dos parâmetros afetados pela política de crédito.

A hierarquização dos mencionados parâmetros para fins de formulação da política de

crédito varia de empresa para empresa. Além disso, uma política de crédito pode não ter

objetivos permanentes.

Por sua vez, os vários elementos de uma política de crédito precisam ter sua importância

hierarquizada, o que varia de empresa para empresa, ou de setor para setor.

Os principais elementos de uma política de crédito são descritos a seguir.

a) Prazo de recebimento

O prazo concedido aos clientes para fazer seus pagamentos é um dos pilares da política

de crédito de uma empresa, pois afeta vários de seus parâmetros econômicos.

Em determinados setores empresariais, o prazo de pagamento concedido aos clientes é

padronizado. Assim, as empresas do setor terão pouca liberdade para fixar prazos de

pagamentos menores do que o padrão, sob pena de perder mercado.

A concessão de prazos de pagamento maiores do que os praticados no setor poderá ser

adotada, desde que a situação financeira da empresa vendedora o permita.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 192

Page 193: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O alongamento dos prazos de pagamento para os clientes acarreta maior investimento

em contas a receber, com reflexos na necessidade de capital de giro da empresa e nos

custos financeiros correspondentes.

b) Critérios de aprovação de crédito

As empresas adotam critérios variados para aprovar a concessão de crédito comercial a

um novo cliente.

O critério dominante entre as pequenas e médias empresas para aprovação de crédito é a

análise do cadastro da empresa candidata à compra a prazo.

Num estágio intermediário de avaliação de crédito, são acrescentadas à análise do

cadastro algumas informações complementares da empresa em avaliação, como, por

exemplo, seu faturamento, perspectivas comerciais e principais clientes.

O estágio mais avançado de avaliação de crédito acrescenta às informações de cadastro

um completo estudo econômico-financeiro da empresa candidata ao crédito comercial.

Esse estudo é denominado análise de crédito.

Com base nas informações extraídas das demonstrações contábeis da empresa avaliada,

a análise de crédito fornece um prognóstico de sua situação econômico-financeira, que

permite conhecer antecipadamente sua capacidade de pagar seus credores num futuro

próximo.

c) Limite de crédito

Para reduzir o risco com possível inadimplência dos clientes, a empresa vendedora

precisa estabelecer um valor máximo de venda para cada um deles.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 193

Page 194: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O valor do crédito comercial concedido a uma empresa precisa estar compatível com

sua situação financeira. Assim, ele deve ser coerente com o valor do patrimônio líquido

e das vendas da empresa candidata ao crédito.

A justificativa para a fixação de um limite superior de crédito para cada cliente é

perfeitamente aceitável. Entretanto, não existe um critério confiável para a de

terminação do limite superior de crédito.

Algumas empresas limitam a concessão de crédito comercial a 50% do patrimônio

líquido da empresa compradora, mas não existe comprovação de que esse limite

percentual seja o adequado.

Também deve ser levado em conta que uma mesma empresa pode comprar a crédito de

vários fornecedores, e as empresas vendedoras não costumam conhecer o valor dessas

compras.

Na prática, o limite superior de crédito acaba sendo fixado de forma subjetiva, com base

na análise do caso específico.

A fixação de um valor mínimo de crédito é praticada porque a empresa vendedora

incorre em custos fixos (emissão dos documentos de cobrança, tarifa bancária para a

cobrança etc.) para realizar uma operação de crédito.

A justificativa para o estabelecimento de um valor mínimo de crédito é que o lucro

gerado por uma operação de venda a crédito precisa cobrir os custos adicionais gerados

pela venda. Esses custos precisariam ser cobertos pelo lucro gerado pela operação que

lhes deu origem.

Embora largamente utilizada, a política de valor mínimo de crédito não tem

embasamento rigoroso. Ela pode ser contestada com o argumento de que os custos de

processamento e recebimento de duplicatas já estariam diluídos por todas as vendas e,

portanto, cobertos pelos preços praticados.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 194

Page 195: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

As empresas que praticam a política de valor mínimo de venda a prazo não fazem

cálculo rigoroso do custo de processamento e recebimento de duplicatas. Por isso, o

valor mínimo é estabelecido de forma empírica.

d) Condições financeiras do crédito

Uma política de crédito precisa definir as condições financeiras da venda a prazo, tais

como descontos por pagamento antecipado e juros de mora para os pagamentos

efetuados com atraso.

Apesar de as condições financeiras do crédito serem, geralmente, consideradas

elementos acessórios da política de crédito, elas podem ter grande influência sobre o

quadro financeiro da empresa vendedora.

Quando o cliente antecipa um pagamento para obter um desconto, está fazendo uma

aplicação financeira. Essa operação representa captação de recursos financeiros para a

empresa vendedora. Desse modo, uma taxa de desconto maior do que a taxa de

aplicação no mercado financeiro e menor do que a taxa de captação de recursos

financeiros será interessante para as duas partes.

Tendo em vista as significativas diferenças entre taxa de captação e taxa de aplicação no

Brasil, existe espaço para que a taxa de desconto para antecipação de pagamento seja

fixada num valor mutuamente vantajoso para as empresas vendedora e compradora.

A fixação de juros de mora para o pagamento de duplicatas em atraso precisa atender a

dois requisitos. Primeiro, os juros de mora devem ser maiores do que os juros bancários

para não estimularem atrasos voluntários. Depois, esses juros não devem ser extorsivos

para não afetar o relacionamento comercial com os clientes.

e) Tratamento dispensado aos clientes inadimplentes

A política de crédito também estabelece as ações a serem tomadas em relação ao

clientes inadimplentes.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 195

Page 196: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Métodos de cobrança e critérios para protesto de duplicatas vencidas são estabelecidos

pela política de crédito da empresa.

No passado, havia tendência generalizada das empresas a dispensar tratamento duro aos

clientes inadimplentes. Entretanto, essa prática perdeu seu prestígio, dando lugar à

filosofia de negociação.

6.1.3 - Planejamento e Avaliação de Política de Crédito

O prazo de pagamento concedido ao cliente e o grau de rigor na concessão de crédito

têm efeitos conflitantes sobre o resultado da empresa.

Quando a empresa vendedora aumenta o prazo de pagamento concedido aos clientes,

ocorre aumento das vendas, mas em contrapartida aumenta o volume de contas a

receber. O lucro esperado pelo aumento das vendas precisa ser comparado com o

acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber.

Se a empresa adotar uma política de crédito mais liberal, também haverá expansão das

vendas e aumento do volume de contas a receber. Nesse caso, não haverá aumento do

prazo de cobrança. O lucro adicional da expansão das vendas precisa ser comparado

com o acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber e com as

perdas geradas pelas dívidas incobráveis, oriundas de uma política de crédito mais

liberal.

A implantação ou alteração de uma política de crédito comercial precisa ser precedida

de análise que indicará o resultado esperado.

A maior dificuldade para a avaliação dos resultados de uma política de crédito é estimar

o crescimento das vendas e das perdas com inadimplência. Um meio de contornar essa

situação é avaliar os resultados de algumas hipóteses de correlação entre os elementos

da política de crédito, o aumento das vendas e a inadimplência.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 196

Page 197: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Os exemplos seguintes mostram como fazer a análise do resultado de uma alteração na

política de prazo de pagamento concedido ao cliente e de mudança no critério de

aprovação de crédito.

a) Efeito de mudança no prazo de cobrança

Suponhamos que uma empresa esteja com alguma capacidade ociosa e pretenda

aumentar o prazo de pagamento concedido a seus clientes de 30 para 60 dias, estimando

que essa mudança provoque crescimento de 10% nas vendas, que atualmente são de R$

900.000,00 por ano.

A margem de contribuição dessa empresa é de 30% sobre o valor das vendas e o custo-

oportunidade do capital imobilizado é de 15% ao ano. O Quadro 2.1 apresenta o

resultado do aumento do prazo de cobrança (aumento da margem de contribuição menos

aumento do custo-oportunidade do investimento em contas a receber).

Quadro 2.1 Resultado do aumento do prazo de cobrança.

Cobrança 30 Dias 60 dias Diferença

Acréscimos -

Vendas Anuais

900.000 990.000 90.000

Margem de

Contribuição

270.000 297.000 27.000

Custo Variável 630.000 693.000

Giro de Contas a

Receber

12 6

Investimento em

Contas a Receber

52.500 115.500

Custo Oportunidade

em contas a receber

7.875 17.325 9.450

Resultado do aumento do prazo de cobrança 17.250

Sendo este resultado positivo, a princípio, deve ser adotada a medida.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 197

Page 198: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

b) Efeito de mudança no critério de aprovação do crédito

Suponhamos agora que essa mesma empresa pretenda afrouxar os padrões usados para

liberação de crédito a seus clientes. Com essa medida, ela espera conseguir aumento de

5% nas vendas, que atualmente são de R$ 900.000,00 por ano. Em contrapartida, ela

estima um aumento de 1 para 2% no percentual de perdas com clientes inadimplentes.

A margem de contribuição da empresa e o custo-oportunidade do capital continuam

sendo, respectivamente, de 30% sobre as vendas e 15% ao ano. O prazo de cobrança é

de 30 dias, antes e depois do afrouxamento do crédito.

O Quadro 2.2 apresenta o resultado da mudança no critério de aprovação do crédito

(aumento na margem de contribuição menos aumentos no custo-oportunidade do

investimento em contas a receber e em perdas com devedores incobráveis).

Quadro 2.2 Avaliação do resultado de liberação do crédito.

Sem Liberação Com Liberação Acréscimo

Vendas anuais 900.000 945.000 45.000

Margem de

Contribuição

270.000 283.000 13.000

Custo Variável 630.000 661.500

Giro de Contas a

Receber

12 12 0

Investimento em

Contas a Receber

52.500 55.125

Custo de

Oportunidade

7.875 8268,75 393,75

Perdas Incobráveis (1%) 9.000 (2%) 18.000 9.000

Resultado da Liberação das Vendas 3.606,25

6.2 – Análise de Crédito

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 198

Page 199: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A política de crédito trata das condições gerais de concessão de crédito aos clientes. A

decisão de conceder crédito a determinado cliente requer avaliação específica desse

cliente.

A Análise de crédito é uma técnica de previsão que permite à empresa vendedora

estimar a capacidade de pagamento a curto prazo do pretendente ao crédito.

A utilização da análise de crédito é justificada pelo fato de que apenas a análise

cadastral não é suficiente para avaliar a capacidade de pagamento do pretendente.

Qualquer análise de cadastro informa apenas uma situação passada. A análi de crédito

permite que a empresa vendedora tenha alguma estimativa sobre a situação financeira

futura de um pretendente com um cadastro recomendável.

A análise de crédito não é um método exato para avaliação do risco de crédito. Desse

modo, não deve ser encarada como um guia infalível para apoiar as decisões de

concessão de crédito.

Embora seja uma ferramenta muito útil, a análise de crédito tem algumas limitações,

como será mostrado adiante neste capítulo.

6.2.1 - Técnicas de Análise de Crédito

A análise de crédito para empresas utiliza a análise das demonstrações contábeis como

principal elemento de apoio. A análise de crédito para pessoas físicas é menos técnica,

porque é realizada com um conjunto menor e mais incerto de informações.

Para que a decisão de crédito possa ter melhor embasamento, os aspectos quantitativos

da análise de crédito devem ser adicionados a informações de natureza qualitativa.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 199

Page 200: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Em geral, observa-se na análise de crédito a preponderância dos aspectos quantitativos

sobre os qualitativos. Entretanto, não há comprovação de que essa prática produza

melhores resultados.

a) Análise das demonstrações contábeis

Com base nos índices obtidos da análise das demonstrações contábeis, é possível

estimar se uma empresa conseguirá pagar suas dívidas.

Como já foi visto no capítulo 01, os índices utilizados pertencem a três grupos: índices

de liquidez, índices de endividamento e índices de rentabilidade.

Para fins de avaliação, os índices dividem-se em dois grupos: quanto maior, melhor e

quanto menor, melhor.

No grupo quanto maior, melhor, estão os índices de liquidez e rentabilidade. Já os

índices de endividamento pertencem ao grupo quanto menor, melhor.

A análise das demonstrações financeiras fornece com facilidade prognósticos quando a

situação financeira da empresa analisada é muito boa, ou muito ruim. Sua maior

dificuldade é projetar o futuro de uma empresa quando seus índices estão situados numa

faixa intermediária de qualidade.

b) Modelos estatísticos de análise financeira

Quando os índices obtidos da análise das demonstrações financeiro-contábeis são todos

positivos, ou todos negativos, o prognóstico é imediato. Por exemplo, se uma em presa

tem boa liquidez, rentabilidade satisfatória e baixo grau de endividamento, sua

avaliação de crédito será positiva.

Muitas vezes, porém, os diversos índices apresentam resultados desencontrados. Uma

empresa pode possuir bom índice de rentabilidade, ao lado de alto grau de

endividamento e índices ligeiramente satisfatórios de liquidez. Nesse caso, a conclusão

da análise de crédito é bem mais difícil.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 200

Page 201: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Uma solução para o problema dos índices de análise financeira com índices financeiros

desencontrados é a utilização de modelos estatísticos de análise financeira.

Esses modelos baseiam-se numa técnica estatística denominada Análise Discriminante,

que correlaciona a ocorrência de falência de uma empresa a determinadas combinações

de índices financeiros por elas apresentados.

Cada modelo estatístico de análise financeira fornece determinado fator para a empresa

analisada. Dependendo do valor desse fator, é possível prever se a em presa se tornará

insolvente num horizonte de um a três anos à frente.

No Brasil, os dois modelos estatísticos de análise financeira mais conhecidos foram

desenvolvidos por Stephen Charles Kanitz e José Pereira da Silva, sendo que este

segundo é muito mais usado e apropriado para a realidade nacional, prevendo, com bom

grau de acerto, a insolvência em até 3 anos após análise das demonstrações

apresentadas.

c) Pontuação de crédito

As decisões de crédito a pessoas físicas utilizam um processo de análise dife rente

daquele empregado para as empresas.

Uma decisão de crédito pessoal necessita da análise de um extenso leque de fatores que

podem afetar a capacidade de pagamento do proponente.

Os métodos simples de análise de crédito pessoal baseados apenas no histórico de

crédito do pretendente têm-se revelado insatisfatórios.

Uma técnica de análise de crédito pessoal mais poderosa é conhecida como pontuação

de crédito (credit scoring) . Foi desenvolvida há alguns anos nos Estados Unidos e hoje

sua utilização é universal.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 201

Page 202: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O sistema de pontuação de crédito representa um refinamento do método tradicional de

avaliação de análise de crédito pessoal, que é um processo muito intuitivo.

O funcionamento do sistema de pontuação de crédito baseia-se no tratamento estatístico

de um conjunto de dados sobre o comportamento de uma amostra de tomadores de

crédito.

Pelo tratamento estatístico dos dados é possível correlacionar várias características dos

tomadores de crédito com o pagamento de seus débitos. Ainda com base nessa mesma

análise estatística, são atribuídas pontuações a essas características.

A análise baseia-se no tratamento estatístico dos dados do proponente - valor e tipo dos

créditos contratados, histórico de pagamentos, registros de ações de cobrança etc.,

Compara essas informações com o comportamento de pessoas com perfil similar. Cada

fator favorável recebe uma pontuação que vai formar o score de crédito do candidato.

Um relatório de crédito é então gerado, fornecendo a pontuação do proponente.

O sistema de pontuação de crédito pode ser utilizado por empresas especializadas, ou

operado pela empresa usuária.

6.2.2 - Implementação da Análise de Crédito

A análise de crédito pode ser conduzida pela própria empresa usuária, ou ser contratada

de entidades especializadas.

A manutenção de um departamento para efetuar toda a análise de crédito só se justifica

economicamente quando a empresa tem grande volume de vendas. A prática mais

comum é a empresa adquirir as informações básicas para a decisão de crédito de

empresas especializadas, e avocar para si a decisão de crédito.

Quando a empresa realiza todo o trabalho de análise de crédito, o porte da empresa

analisada determinará o grau de dependência de fontes específicas para a obtenção de

dados e informações. Se a empresa analisada tem ações negociadas em bolsa de valores,

ela é obrigada a manter uma política de abertura de informações ao público.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 202

Page 203: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

As empresas de grande porte, ainda que de capital fechado, têm naturalmente uma

grande visibilidade, o que permite que sua situação financeira seja de conhecimento

geral.

As informações sobre as pequenas e médias empresas têm naturalmente menor grau de

abertura, o que torna sua análise mais difícil. A análise de crédito para essas empresas

pode ser auxiliada por informações obtidas de bancos, clientes e fornecedores.

A análise de crédito efetuada por empresas especializadas produz um conjunto

consolidado de informações sobre a empresa analisada, unificando assim as várias

informações necessárias à concessão de crédito.

Um relatório típico de uma empresa especializada em análise de crédito contém:

- Índices financeiros de solvência, endividamento, rentabilidade da em presa analisada e

distribuição estatística desses índices entre as empresas do mesmo setor.

- Informações comerciais (apontamento ou protesto de títulos).

- Informações mercadológicas.

Outro fator a ser considerado na análise de crédito é a qualidade da administração da

empresa examinada. E sabido que empresas que têm administração insatisfatória têm

um potencial de risco maior. Além disso, esse risco não pode ser quantificado.

A decisão sobre concessão de crédito, mesmo quando tomada com base nas técnicas da

análise de crédito, sempre comportará alguma dose de intuição. Nenhum número é

completo o suficiente para abranger todos os fatores envolvidos na decisão de crédito.

A experiência da empresa vendedora com a concessão de crédito é extrema mente

valiosa para orientar suas decisões e permite que ela aperfeiçoe continua mente seu

processo de aprendizado sobre a arte de conceder crédito.

6.2.3 - Administração do Risco de Crédito

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 203

Page 204: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Quando a análise de crédito não recomenda a concessão de crédito comercial ao

proponente, a empresa vendedora pode contornar o problema solicitando do comprador

a apresentação de garantias reais.

Os principais instrumentos utilizados como garantia de crédito são o aval, a fiança

bancária e a caução. Dos três instrumentos de garantia mencionados, a fiança bancária é

o único que tem um custo explícito para a empresa compradora que a contrata. A

caução, representada por depósito em títulos ou dinheiro, terá direito a remuneração

correspondente a uma aplicação no mercado financeiro.

Embora os instrumentos de garantia de crédito possam reduzir ou eliminar o risco de

inadimplência, sua utilização é trabalhosa e tende a emperrar a operação de venda a

crédito. Por esse motivo, essas garantias devem ser utilizadas em situações especiais e

não como uma prática comercial rotineira.

O risco associado ao crédito comercial também é afetado pelo grau de concentração das

vendas a crédito pelos clientes. Uma empresa que tem suas vendas distribuídas de forma

mais ou menos equilibrada entre vários clientes terá naturalmente risco menor do que

aquela que tem vendas concentradas em poucos clientes.

Caso sua concentração de vendas em determinado cliente, ou num grupo reduzido de

clientes que represente percentual significativo do faturamento da empresa, a análise de

crédito deverá ser mais rigorosa.

6.2.4 - Limitações da Análise de Crédito

Não obstante seu crescente prestígio, a análise de crédito tem algumas limitações. Como

acontece com toda técnica de previsão, a análise de crédito tem como principal objetivo

fornecer as melhores estimativas possíveis acerca do futuro. Entretanto, não existe

metodologia de previsão que consiga precisão total em seus prognósticos.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 204

Page 205: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Como mostramos, um dos principais suportes da análise de crédito é a análise das

demonstrações contábeis. Essa ferramenta, somada a outros fatores, é responsável pelas

limitações da análise de crédito. As principais causas dessas limitações são as seguintes:

a) Desatualização dos demonstrativos contábeis

As demonstrações contábeis retratam o quadro econômico-financeiro da em presa em

determinada data. Assim, quando o balanço é publicado, seus dados mostram uma

situação financeira passada. Esses dados são utilizados pela análise de crédito para fazer

suas previsões acerca da empresa analisada. Em muitos ca sos, a análise de crédito é

efetuada com base em um balanço com quase um ano de defasagem.

b) Qualidade das demonstrações contábeis

Para que a análise de crédito seja eficaz, os dados de balanço utilizados precisam estar

corretos para expressar a verdadeira situação financeira da empresa analisada.

Presumivelmente, a validação das demonstrações contábeis por um auditor

independente torna-as mais confiáveis. Entretanto, a maioria das empresas de pequeno e

médio porte não tem suas demonstrações financeiras auditadas. Apesar disso, essas

demonstrações contábeis têm aceitação generalizada.

c) Impossibilidade de previsão de mudanças bruscas

A análise de crédito não consegue captar mudanças bruscas que eventual-mente venham

a acontecer na situação financeira de uma empresa. Crises agudas na economia do país e

alterações repentinas e acentuadas do mercado da empresa são exemplos de fatores que

não podem ser previstos pela análise de crédito.

Quando a análise de crédito faz um prognóstico da situação financeira de uma empresa,

fica implícito que ele será válido desde que sejam mantidas as principais condições

econômicas existentes no momento de sua formulação.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 205

Page 206: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Alguns setores econômicos estão naturalmente sujeitos a maior grau de instabilidade.

Por exemplo, empresas que produzem commodities, ou que utilizam tecnologia

avançada em seu processo de operação são mais propensas a sofrer alterações repentinas

em sua situação financeira.

6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA

A última etapa do trabalho do administrador na atividade de contas a receber é a

administração da cobrança.

Embora seja uma atividade fundamentalmente operacional, a cobrança também requer

planejamento e controle para torná-la eficaz.

6.3.1 - Fatores Organizacionais

As vendas a prazo de uma empresa podem ser recebidas em carteira ou por meio do

sistema bancário. A escolha da forma de cobrança dependerá de fatores específicos da

empresa vendedora, como estrutura organizacional, custo operacional, filosofia de

marketing etc.

A estrutura organizacional do setor de cobrança depende do tipo de cobrança usado pela

empresa (em carteira ou bancária), do perfil de seus clientes (grandes ou pequenas

empresas) e de seu grau de informatização.

O tipo de cobrança bancária também afeta a estrutura organizacional do setor de

cobrança. Geralmente, grandes empresas têm sistemas de contas a pagar que dispensam

os fornecedores de colocar os títulos em cobrança. O pagamento é efetuado mediante

crédito na conta corrente indicada pelo fornecedor. Se parcela significativa dos clientes

de uma empresa usa esse tipo de contas a pagar, ela terá um contas a receber mais

enxuto.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 206

Page 207: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Boa parte da força de trabalho existente na atividade de cobrança ainda é utilizada na

realização de atividades repetitivas. Com o avanço da tecnologia de comunicação, o

processo de cobrança tende a simplificar-se e a diminuir custos operacionais.

6.3.2 - Fatores Econômicos

Quando a cobrança é efetuada em carteira, seu custo é representado pelos dispêndios da

empresa com a operação do sistema de pessoal e apoio. Essa forma de cobrança, como

já mencionado, tende ao desaparecimento.

A cobrança bancária tem um custo que é cobrado mediante uma tarifa explícita, ou

retenção da cobrança, ou de parte dela por um dia.

Outra alternativa para os bancos receberem pelo serviço de cobrança bancária é

remunerar a cobrança retida por uma taxa de juros inferior àquela praticada no mercado.

A quantificação do custo da cobrança bancária pode ser feita sem dificuldades quando o

relacionamento com a instituição financeira não inclui outras operações, como captação

ou aplicação de recursos financeiros a taxas diferentes daquelas de mercado.

No caso da cobrança em carteira, o custo operacional também envolve, além do

recebimento dos cheques, sua movimentação e controle.

6.3.3 - Análise e Controle

A eficiência do processo de cobrança é avaliada pelos índices de desempenho,

relacionando valores, prazos e outros dados de contas a receber em atraso. Esses índices

são comparados com metas estabelecidas, ou com padrões predefinidos.

a) Prazo médio de atraso na cobrança

O prazo médio de atraso no recebimento de duplicatas pode ser calculado do seguinte

modo:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 207

Page 208: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

PMA = (P1 X V1 + P2 x V2 + … + Pn x Vn) / VT

onde:

PMA = prazo médio de atraso

P1 ... Pn = Prazos de atraso.

V1 ... Vn = Valores em atraso

VT = Valor total da cobrança em atraso

Exemplo: Uma empresa tem a seguinte posição de cobrança em atraso:

R$ 30.000,00 a 15 dias

R$ 200.000,00 a 5 dias

R$ 70.000,00 a 30 dias

Como o total de cobrança em atraso é de R$ 300.000,00, seu prazo médio de cobrança

em atraso é:

PMA = (30.000 x 15 + 5 x 200.000 + 30 x 70.000) / 300.000

PMA = 11,8 dias

b) Índice de Incobráveis

Os incobráveis são as vendas realizadas e, após o processo de cobrança, tornaram-se

impossíveis de serem recebidas.

Quanto maior o índice de incobráveis, remete a empresa em reavaliar seu processo de

concessão de crédito.

6.4 – Questões

1. Que condições precisam ser atendidas para que um afrouxamento nos padrões de

concessão de crédito acarrete aumento dos lucros da empresa vendedora?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 208

Page 209: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

2. As perdas decorrentes de liberação dos padrões de crédito podem ser com pensadas

com o aumento do custo financeiro embutido no preço para pagamento a prazo?

3. As vendas de uma empresa têm a seguinte distribuição: 20% avista, 38% a 30 dias e

42% a 45 dias. Qual é seu prazo médio de cobrança? E seu giro de contas a receber?

4. A margem de contribuição média de uma empresa é de 35% sobre o valor de suas

vendas cujo volume anual é de R$ 720.000,00. Das vendas, 40% são efetuados a vista e

60% para recebimento em 30 dias. Qual o valor de seu investimento em contas a

receber?

5. Uma indústria dispõe de expressiva folga de caixa e, por isso, com o objetivo de

aumentar as vendas, decidiu usá-la para alongar o prazo médio de pagamento concedido

a seus clientes. Qual o parâmetro apropriado para medir o aumento de custo decorrente

dessa decisão?

6. Uma empresa varejista está com um estoque de produtos para venda excessivamente

elevado. Decide aumentar temporariamente o prazo de pagamento concedido a seus

clientes, sem promover nenhum acréscimo no preço. Quais são os custos a serem

afetados por essa decisão e como eles se comportarão?

7. A margem média de contribuição de uma empresa é de 28% sobre as vendas. Que

efeito acarretará sobre seu resultado um aumento de 6% em suas vendas?

8. Que opção teria uma empresa para não estabelecer um valor mínimo de crédito e

compensar as perdas acarretadas por um custo de processamento maior do que o lucro

da operação de venda a crédito com valor reduzido?

9. Assinale as afirmações corretas:

São elementos de uma política de crédito:

(a) Desconto por antecipação de pagamento.

(b) Análise dos demonstrativos contábeis.

(c) Cruzamento de informações comerciais.

(d) Fixação de limite de crédito por cliente.

10. O desconto concedido por antecipação de pagamento pode ter sua taxa de j ros

fixada num valor igual à taxa média de aplicação financeira sem risco. Por que essa

prática pode não ser atrativa para o cliente?

11. A análise das demonstrações contábeis de uma empresa mostrou alto índice de

rentabilidade do capital próprio e de grau de endividamento ao lado de baixo índice de

liquidez. Uma explicação para essa configuração de índices poderia ser a eficiência na

utilização de capital de terceiros?

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 209

Page 210: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

12. "O sucesso da análise de crédito exige de quem a elabora um bom conheci mentoda

macroeconomia do país e a capacidade de formular previsões econômicas acertadas."

Está correta essa afirmação?

13. "Uma decisão de crédito baseada num modelo estatístico de análise financeira pode

revelar-se inapropriada. Isso acontece porque esses modelos não conseguem eliminar a

incerteza subjacente às decisões de crédito." Essa afirmação é correta?

14. Qual a principal vantagem do sistema de pontuação de crédito em relação ao método

tradicional de avaliação de crédito baseado exclusivamente no histórico de pagamentos

do proponente?

15. Qual a principal desvantagem econômica para a empresa compradora apresentar a

fiança bancária como garantia de crédito para seu fornecedor?

6.5 – Exercícios

Decisão sobre ampliação de crédito comercial

A empresa ACR é uma indústria de confecções femininas populares, com atuação

nacional. Sua produção é vendida em lojas e pequenos magazines.

AACR tem um patrimônio líquido de R$ 1,1 milhão, vendas anuais de R$ 2,4 milhões,

margem de contribuição de 12% e lucro líquido de 7% sobre as vendas.

Sua administração estabeleceu que a taxa de atratividade da empresa, a ser usada na

avaliação econômica das decisões, é de 15% ao ano.

Aproveitando um movimento do mercado, a ACR adquiriu um grande estoque de

matéria-prima da China, a qual, devida a sua capacidade de produção, transformou

rapidamente em produtos acabados. Assim, resolveu implementar uma nova política de

concessão de crédito, a fim de diminuir seus estoques.

A equipe financeira irá passar os prazos médios de recebimentos de 30 para 60 dias.

Esta mudança dos prazos, tende a fazer com que a perda com incobráveis passe de 3%

para 5%.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 210

Page 211: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Determine quais efeitos financeiros que podem tal mudança de política fazer à empresa?

Você aconselharia esta mudança? Por que?

6.6 – Bibliografia Recomendada

ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.

ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São

Paulo: Atlas, 1995.

SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.

Atlas. 2003

SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 211

Page 212: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Capítulo 07 – Análise de Investimentos

Conteúdo do Capítulo

7.1 – Modalidades de Investimento

7.2 – Tipos de Investimento

7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes

7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento

7.5 – Exercícios

7.6 – Bibliografia Recomendada

7.1 - Modalidades de Investimento

Os investimentos podem ser classificados em função da sua modalidade. Eis as

principais:

a)Reposição ou Atualização Tecnológica de Equipamentos — Investimentos que visam

substituir ativos já desgastados ou com eficiência operacional baixa, devido à sua

obsolescência. Em alguns setores, como o de telecomunicações e o de informática, o

ritmo de inovação tecnológica é intenso. Por motivos competitivos, as empresas destes

setores estão sempre operando com equipamentos de ponta, sob pena de perder

participação no mercado. A substituição de uma mesa de comunicação analógica por

outra digital, por exemplo, representa um investimento de atualização tecnológica.

b) Expansão da Capacidade — Investimentos que ampliam a capacidade da corporação

em oferecer mais produtos ou serviços. Uma empresa que produz determinada

quantidade de ferro gusa no ano, ao instalar novo alto-forno para funcionar em conjunto

com os antigos está ampliando sua capacidade de produção. A expansão da capacidade

deve levar em conta o estado da arte. Portanto, é considerada freqüentemente dentro do

escopo da atualização tecnológica.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 212

Page 213: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

c) Diferenciação de Produto ou Processo — Alguns investimentos são feitos, com o

objetivo de fazer o produto ou serviço da empresa com diferenciação em relação

àqueles produzidos pelos concorrentes. Outros são feitos para tornar o processo de

produção mais moderno e com menores custos operacionais. A indústria automobilística

fez recentemente forte investimento em sistemas de frenagem dos automóveis, visando

tornar os veículos mais seguros.

d) Diversificação de Carteira de Produto — Uma organização pode imple mentar

investimento para ampliar a quantidade de tipos de produto ou ser viço no seu portfólio.

Uma escola que usualmente possui faculdades de ensino de graduação está

diversificando carteira se implementa investimentos que viabilizem a oferta de novos

cursos de pós-graduação.

e) Diversificação de Atividades — Alguns investimentos são feitos por corporações

visando ampliar seu domínio operacional. Uma empresa pode sair do seu core business

atual e diversificar suas atividades. Ela pode implementar uma integração vertical,

investindo na atividade dos seus fornecedores ou dos seus clientes; ou pode fazer uma

diversificação de conglomerado, aplicando capital em atividade que não possui relação

operacional com o seu core business. Uma empresa mineradora de ferro está

promovendo uma integração vertical se compra uma corporação fabricante de ferro

gusa. Uma instituição financeira está fazendo um investimento de conglomerado se

compra uma empresa de informática.

Os investimentos podem se dar pela compra de ativos ou pela aquisição de títulos

representativos desses ativos. Ao comprarmos uma ação, estamos comprando parte dos

fluxos de caixa futuros que serão gerados pelos ativos da empresa emissora dessas

ações.

7.2 – Tipos de Investimentos

Existem basicamente três tipos de investimento. São eles:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 213

Page 214: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

a) investimentos recorrentes;

b) investimentos estratégicos;

c) investimentos por solicitação.

Os investimentos recorrentes são aqueles em que a tecnologia envolvida e o

comportamento do mercado já são conhecidos. A estrutura de custos e as projeções de

receitas são conhecidas e podem ser estimadas com segurança.

Os investimentos estratégicos são típicos de mercados emergentes ou daqueles em que

suas empresas não possuem experiência. Geralmente a tecnologia utilizada é nova ou a

empresa não a domina. Em vista disso, os componentes dos fluxos de caixa futuros são

difíceis de ser estimados e seu valor possui maior volatilidade.

Os investimentos por solicitação são aqueles que devem ser feitos independentemente

dos valores estimados de fluxos de caixa. Estes fluxos muitas vezes são virtualmente

impossíveis de ser estimados, uma vez que os beneficios provenientes desses

investimentos não são quantificáveis. Uma substituição dos carpetes de um escritório ou

a instalação de aparelhos de ar-condicionado em uma empresa são investimentos desse

tipo. Seus beneficios se traduzem na melhoria da qualidade de vida no trabalho.

7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes

Emgeral, existe mais de uma maneira de se implementar determinado investimento.

Uma aplicação de capital em linha de transmissão pode ser feita através de torres de

estrutura metálica, torres de concreto ou, até mesmo, de cabos isolados subterrâneos.

Um portal de Internet pode conter várias opções de acesso e fornecer os mais diferentes

serviços ao usuário. Um centro cirúrgico pode utilizar tecnologia a laser ou tecnologia

tradicional. Uma empresa pode optar por instalar equipamentos de informática de

maneira descentralizada e em rede, ou montar um pool centralizado de equipamentos.

Essas alternativas excludentes, em geral, se estabelecem dadas a multiplicidade de

tecnologias disponíveis, a variedade de fornecedores e a criatividade dos decisores.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 214

Page 215: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Nosso objetivo imediato é estudar as metodologias de seleção de projetos excludentes.

Dentre as alternativas de investimento disponíveis, devemos escolher aquela mais

adequada em termos econômico-financeiros.

Vamos apresentar as seguintes metodologias de avaliação de projetos excludentes:

- Tempo de Retorno do Investimento (pay back);

- Valor presente líquido (VPL);

- Taxa interna de retorno (TIR);

- Taxa interna de retorno modificada (TIRM)

7.3.1 – Pay Back

O método do payback mede o tempo necessário para se ter de volta o capital investido,

sem considerar-se a mudança de valor do dinheiro no tempo (efeito do custo de capital).

Seu valor fornece indicativo do risco do investimento. Quanto maior é o payback de um

investimento mais tempo deverá ser necessário para se obter o capital investido de volta

e, portanto, maior é seu risco. Por outro lado, projetos de payback pequenos são menos

arriscados, uma vez que se projeta um período menor de recuperação do capital

investido.

No entanto, logo de início, deve-se chamar a atenção que pelo fato de não se levar em

consideração do valor do dinheiro no tempo, não pode ser o processo de decisão único,

e deve ser precedido de outros métodos de tomada de decisão.

Por exemplo, suponha uma situação utópica em que não exista taxa de juros. Calcule o

payback do projeto que se segue:

Ano 0 1 2 3

Fluxo de Caixa -200 100 100 100

O payback simples é calculado construindo-se a coluna de saldo do projeto.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 215

Page 216: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Ano 0 1 2 3

Fluxo de Caixa -200 100 100 100

Saldo do projeto -200 -100 0 100

No ano 2 o capital investido de 200 foi totalmente recuperado. O pay back desse

projeto, considerando-se ausência de taxa de desconto, é de 2 anos.

Nota-se que o critério do payback despreza todos os fluxos de caixa que ocorrem após o

período de recuperação do capital investido.

Considere a ausência de taxa de desconto e calcule o payback dos dois projetos

mostrados a seguir:

Ano 0 1 2 3

FC – Projeto A -200 100 100 100

FC – Projeto B -200 100 100 200

Construindo as colunas de saldo para ambos os projetos, temos:

Ano 0 1 2 3

FC – Projeto A -200 100 100 100

Saldo Projeto A -200 -100 0 100

FC – Projeto B -200 100 100 200

Saldo – Projeto B -200 -100 0 200

Ambos os projetos possuem payback de 2 anos, apesar de sabermos que o segundo

cronograma é menos arriscado e melhor em termos de apuração de fluxo de caixa

futuro. Deve-se tomar muito cuidado com o critério do payback, quando estivermos

comparando projetos mutuamente excludentes.

Relembra-se que dois projetos são mutuamente excludentes quando a decisão de

implementar um deles implica a decisão de não aceitar o outro.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 216

Page 217: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Num outro exemplo, consideremos o seguinte fluxo de caixa de um projeto:

Ano 0 1 2 3 4 5

Fluxo de Caixa -450 120 120 120 120 120

Criando-se agora a linha de saldos do projeto temos:

Ano 0 1 2 3 4 5

Fluxo de Caixa -450 120 120 120 120 120

Saldo -450 -330 -210 -90 30 150

Percebe-se que o saldo do projeto zera num momento entre o ano 3 e o ano 4. Para se

determinar em qual mês entre os anos 3 e 4, tem-se que fazer uma pequena regra de 3,

da seguinte forma:

Ano 3 – saldo de -90

Ano 4 – Entrada de 120, ou seja, 120 em 12 meses. Assim:

120 está para 12, assim como 90 está para x.

120 - 12

90 - X

120X = 12 x 90

X = 9 meses.

7.3.2 – Valor Presente Líquido - VPL

O critério do valor presente líquido (VPL) fornece indicação a respeito do potencial de

criação de valor de um investimento. Se o valor presente líqui do for maior do que zero,

significa que o investimento deve fornecer um valor adicional ao investidor, após

devolver o capital empregado e remunerar todos os agentes financiadores do

investimento (o próprio investidor e os credores). Em suma, VPL maior do que zero

significa valor extra para o in vestidor. Nesse sentido, o projeto deve ser aceito.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 217

Page 218: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Se o VPL for menor do que zero, significa que o investidor deverá perder valor com o

investimento. Uma empresa que decide implementar um projeto de VPL menor do que

zero está reduzindo seu valor de mercado na mesma proporção.

Se VPL > 0 = Aceita projeto.

Se VPL < 0 = Rejeita projeto.

O VPL compreende a soma de uma série de fluxos de caixa, desde a data zero até a data

final da série. Os fluxos de caixa são todos referidos à data zero, já que não se pode

somar valores que serão auferidos em datas diferentes.

Dessa maneira o VPL obedece ao princípio da aditividade, que significa a possibilidade

de somar valores levados a uma mesma data.

Os acionistas de uma empresa estão interessados em um investimento no setor de

siderurgia, cujos fluxos de caixa esperados são os seguintes:

Ano Fluxo de Caixa Valores Descontados

0 -150

1 40

2 40

3 40

4 30

5 30

6 30

7 30

8 20

9 20

10 50

A taxa de desconto dos fluxos de caixa é de 10% ao ano.

O VPL desse projeto é calculado da seguinte maneira:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 218

Page 219: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Realiza-se o desconto do fluxo de caixa, levando-se em conta a taxa de desconto

considerada, ou taxa mínima de atratividade, e o número de períodos (anos)a ser

descontado.

Por exemplo, para o ano 1, temos um período, portanto, utilizando-se a calculadora hp

12, seguiremos os seguintes passos:

40 [FV]

10 [i]

1 [n]

[PV] 36

Ou seja, descontando-se o fluxo de caixa do ano 1 (40), pela taxa de 10% AA, pelo

período de 1 ano, teremos o valor presente deste fluxo em 36.

Como o próprio nome do projeto diz, estamos trazendo para o momento presente todos

os fluxos de caixa, a fim de sabermos se o somatório destes fluxos será positivo

9agregará valor à empresa), ou negativo (tirará valor da empresa).

Seguindo-se este raciocínio para os outros anos, chegaremos aos seguintes resultados,

conforme a tabela a seguir:

Ano Fluxo de Caixa Valores Descontados

0 -150

1 40 36

2 40 32,4

3 40 30,05

4 30 20,49

5 30 18,63

6 30 16,93

7 30 15,39

8 20 9,36

9 20 8,48

10 50 19,28

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 219

Page 220: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Fazendo-se o somatório da coluna dos saldos descontados, chegamos ao valor presente

líquido de R$ 58,01.

Ou seja, esse projeto deverá gerar $58,01 de valor extra para os acionistas. Portanto,

deve ser aceito.

Percebe-se, no entanto, que calcular-se 10 fluxos de caixa com base no expediente supra

citado para a calculadora hp 12 é bastante trabalhoso. Esta calculadora já tem um

algorítimo para calcular-se VPL’s, o qual facilita muito a nossa vida. Para tanto, segue-

se os seguintes passos:

150 [CHS] [G] [CF0]

40 [G] [CFJ]

40 [G] [CFJ]

40 [G] [CFJ]

30 [G] [CFJ]

30 [G] [CFJ]

30 [G] [CFJ]

30 [G] [CFJ]

20 [G] [CFJ]

20 [G] [CFJ]

50 [G] [CFJ]

10 [i]

[F] [nPV] 58,01

Desta forma, ganhamos em tempo e diminuímos exponencialmente a possibilidade de

um erro por uma digitação equivocada.

O Valor Presente Líquido de um projeto é bastante sensível a variações na taxa de

desconto. Quanto maior for essa taxa, menos valem os fluxos de caixa do projeto, e

menor é o VPL resultante.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 220

Page 221: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

A taxa de desconto dos fluxos de caixa é freqüentemente chamada de taxa mínima de

atratividade. Ela representa o retorno esperado pelos financiadores do projeto. Daí a

necessidade de se descontar os fluxos a essa taxa.

Exemplo: VPL e Taxa de Desconto

Calcular o VPL da série de fluxos de caixa do exemplo anterior, considerando taxas de

desconto de 6%, 8%, 10%, 12%, 14% e 16% ao ano.

6% $96,51

8% $75,93

10% $58,01

12% $42,32

14% $28,51

16% $16,31

Quanto maior é o custo de um projeto, menor é a sua probabilidade de aceitação.

Vejamos agora o exemplo de dois projetos excludentes, ou seja, aprova A ou B.Seria a

compra de um equipamento a fim de aumentar a produção da empresa, com mesmo

grau de tecnologia, só que de fabricantes diferentes, e portanto, com produtividade,

qualidade, durabilidade e custo de manutenção diferentes. A Taxa Mínima de

Atratividade (TMA) de nossa emrpesa é de 12%. Vamos calcular o VPL destes dois

projetos.

Ano Fluxos de Caixa

Projeto A

Fluxos de Caixa

Projeto B

0 -500 -500

1 100 90

2 100 90

3 100 90

4 80 90

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 221

Page 222: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

5 80 90

6 80 90

7 60 90

8 60 90

9 60 90

10 200 200

VPL A = $14,35

VPL B = $43,94

Ouseja, devemos aprovar o projeto B, uma vez que ele agregará maior valor à nossa

emrpesa.

OBSERVAÇÃO: Deve-se tomar muito cuidado na análise de projetos excludentes,

onde o capital inicial investido é diferente, e o tempo de conclusão do projeto também é

diferente.

7.3.3 – Taxa Interna de Retorno - TIR

Agora, suponha uma série de fluxos de caixa, conforme mostrada na tabela que se

segue;

Anos Fluxos de Caixa

0 -15

1 4

2 4

3 4

4 3

5 3

Calculando o VPL desse projeto, supondo as seguintes taxas de desconto, teremos:

4,5% ao ano.

5,5% ao ano.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 222

Page 223: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

6,8% ao ano.

7,7% ao ano.

9,8% ao ano.

Taxa de Desconto VPL

4,5% $0,92

5,5% $0,51

6,8% $0,00

7,7% ($0,34)

9,8% ($1,07)

Note que a taxa de desconto de 6,8% ao ano fez com que o VPL fosse igual a zero. Para

valores de taxa de desconto abaixo desse valor, este projeto deve ser aceito, pois ele é

criador de valor (VPL > 0). Com taxas de desconto acima de 6,8% ao ano, esse projeto

torna-se inviável, pois destrói valor dos investidores (VPL < 0).

Assim, a Taxa Interna de Retorno (TIR) faz com que o VPL de um projeto seja igual a

zero. Representa o ponto de reversão da decisão de investir. Projetos com taxas de

desconto (taxa mínima de atratividade) superiores à TIR devem ser rejeitados. Projetos

cujos valores de taxa de desconto são inferiores aos seus valores de TIR devem ser

aceitos.

Se TIR> TMA = Aceita projeto.

Se TIR < TMA = Rejeita projeto.

A Taxa Interna de Retorno (TIR) do exemplo anterior é 6,8%.

A apuração da Taxa Interna de Retorno é feita de maneira iterativa ou por métodos de

interpolação. As planilhas eletrônicas e as calculadoras financeiras possuem funções

pré-programadas, capazes de fazer tais iterações.

Assim, na hp 12, o procedimento para encontrarmos a TIR deve ser o que se segue:

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 223

Page 224: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

15 [CHS] [ G] [CF0]

4 [G] [CFJ]

4 [G] [CFJ]

4 [G] [CFJ]

3 [G] [CFJ]

3 [G] [CFJ]

[F] IRR 6,80

Para encontrarmos a TIR de um projeto, podemos numa mesma operação com a hp 12,

por exemplo, calcularmos o VPL e, sem apagar-se os dados, pedirmos a TIR com o

comando [F] [IRR].

Agora encontraremos a Taxa Interna de Retorno da seguinte série de fluxos de caixa:

Anos Fluxos de Caixa

0 -20

1 8

2 8

3 4

4 4

5 4

A Taxa Interna de Retorno (TIR) desse projeto é 14,78%.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 224

Page 225: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Supondo que um projeto possua uma TIR igual a 14,78% e que sua taxa mínima de

atratividade seja de 16% ao ano, decida sobre a aceitação ou não desse projeto.

O processo de decisão de um projeto de investimento com base na TIR se baseia no

seguinte critério:

Se TIR > TMA = Aceita projeto.

Se TIR < TMA = Rejeita projeto.

Como a TIR = 14,78% e a TMA = 16%, o projeto deve ser rejeitado, pois deverá

produzir VPL menor do que zero.

Agora veremos dois projetos Excludentes:

Anos

Fluxos de Caixa

Projeto A

Fluxos de Caixa

Projeto B

0 -20 -20

1 8 6

2 8 6

3 4 6

4 4 6

5 4 6

Tir A = 14,78%

Tir B = 15,24%

No caso de projetos mutuamente excludentes, onde devemos escolher por apenas um

deles, e o método da TIR for o empregado para a decisão, deve-se escolher pela maior

TIR%, pois ela nos dará maior possibilidades de ganhos e maior margem de manobra.

Assim, neste exemplo, devemos escolhero projeto B.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 225

Page 226: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

OBSERVAÇÃO: Assim como no método do VPL, quando temos projetos excludentes

com investimentos iniciais diferentes e, também, prazos de etornos diferentes, devemos

examinar a situação com maior cuidado.

7.3.4 – Taxa Interna de Retorno Modificada - TIRM

Existem projetos cujos cronogramas de fluxo de caixa não são tradicionais.

Suponhamos um projeto hipotético em uma mina de ouro. No ano inicial (ano 0) deverá

haver desembolso de $1,6 para construção da mina. No ano seguinte (ano 1), a mina

deverá gerar um fluxo de caixa de $10, provenientes da extração. No ano 2, deverá ser

gasto um total de $10 para restaurar o terreno.

Ano Fluxo de Caixa

0 -1,6

1 10

2 -10

Vamos supor que a taxa de desconto do projeto é de 28% ao ano, assim O valor da TIR

encontrado deve ser confrontado com essa taxa de desconto, de maneira a obtermos o

veredicto.

Se TIR > TMA = Aceita projeto.

Se TIR < TMA = Rejeita projeto.

Usando-se os passos já descritos na hp 12, teremos:

1,6 [CHS] [g] [CF0]

10 [G] [CFJ]

10 [CHS] [CFJ]

[F] [IRR] 25,00

Infelizmente, esta equação possui duas soluções. Se utilizássemos o método TIR como

processo de decisão “aceita-rejeita”, estaríamos em dificuldade. É possível encontrar

dois valores de TIR, são eles: 25% e 400%. Ambas as taxas fazem com que o VPL do

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 226

Page 227: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

projeto seja nulo. O mais grave é que uma das taxas é menor do que a taxa de desconto

apropriada (25% < 28%), sugerindo a rejeição do projeto; outra é maior do que a taxa de

desconto sugerindo sua aceitação (400%> 28%). Quando isso ocorre, devemos

abandonar o método TIR. Observe que no método VPL isso nunca ocorre, já que este

não é a raiz da equação, mas apenas um valor obtido, supondo determinada taxa de

desconto apropriada. No caso deste projeto, seu VPL( é igual a $0,11. Este valor, apesar

de muito pequeno, nos orienta para a aceitação do projeto.

Quando surge este dilema de TIR múltiplas? Sempre que houver trocas de sinal entre os

fluxos de caixa. No exemplo acima, houve duas trocas de sinal: de um valor negativo no

ano O para um valor positivo no ano 1; e de um número positivo em 2 para um número

negativo em 3.

A equação da TIR terá tantas raízes (TIR) quantas forem as trocas de si nal. No caso

acima temos duas trocas de sinal. Portanto, temos dois valores de TIR (25% e 400%).

Para resolvermos este problema típico de quando há mudança de sinal no meio do fluxo

de caixa, devemos levar todas as parcelas negativas para o momento 0. Assim teremos:

Ano Fluxo de Caixa

0 -1,6 – 6,10 = -7,70

1 10

2 0

Levamos o fluxo de caixa do ano 2 para o ano 0, e ficamos o fluxo acima representado.

Utilizando os passos na hp 12 para encontrarmos a TIR teremos:

7,70 [CHS] [G] [CF0]

10 [G] [CFJ]

0 [G] [CFJ]

[F] [IRR] 31,58

Achamos desta forma a chamada TIR Modificada, ou TIRM, pois tivemos que adequar

o fluxo de caixa para que a calculadora tenha que achar raízes múltiplas.

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 227

Page 228: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

O critério aceita-rejeita do método TIRM é o mesmo do método TIR. Basta comparar o

valor da TIRM com o custo de capital.

Se TIRM > TMA = Aceita projeto.

Se TIRM < TMA = Rejeita projeto.

Exemplo:

O projeto do exemplo anterior deve ser selecionado ou excluído?

TIRM = 31,58% ao ano.

TMA(TMA) = 28% ao ano.

Como a TIRM é maior do que a TMA , o projeto deve ser aceito.

7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento

A questão agora é a seguinte: Se podemos calcular o Payback, o VPL, a TIR, ou TIRM,

por qual devemos optar a fim de apoiarmos nossa decisão?

A resposta é simples. Os critérios, dentro da prioridade a darmos a eles são os

Seguintes:

1 – VPL

2 – TIR, ou TIRM, quando for o caso

3 – Payback

Devemos portanto sempre optar pelo VPL. Se o VPL dos projetos for muito parecido,

poderemos ter como critério de desempate a TIr, e quando esta for muito parecida,

poderemos usar o Payback.

7.5 – Exercícios

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 228

Page 229: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

1) O Sr é o Diretor Financeiro de uma fábrica de calçados de segurança.O conselho

executivo decidiu fazer um investimento a fim de maximizar os ganhos da empresa, e o

Sr terá que decidir entre expandir a linha de calçados de segurança, que passaremos a

chamar de opção A, ou criar uma linha de calçados esportivos, que passaremos a

chamar de opção B.

Tendo em vista a lucratividade da empresa, inflação e risco do investimento, o Sr

calculou a taxa mínima de atratividade (TMA) em 14,5%. Sua equipe já projetou os

fluxos de caixa descontados, para os próximos 5 anos, os quais encontram-se no quadro

a seguir:

Opção /

Ano

0 1 2 3 4 5

A -7800 3000 3000 2500 2500 2000

B -12400 5000 -1000 6000 6000 5000

a) Apresentando seus cálculos, segundo o método do Pay Back, qual dos dois

projetos é mais vantajoso?

b) Apresentando os passos seguidos na calculadora financeira, segundo o método

do VPL, qual o projeto mais vantajoso?

c) Demonstrando apenas os passos a mais que o pedido anterior, calcule a TIR, ou

TIR modificada se for o caso, e apresente o projeto mais vantajoso, segundo este

método.

d) De posse de todos dados dos itens a, b e c, tome sua decisão por qual projeto

adotar, explicando o porquê da sua decisão. Use o verso da folha se precisar.

2) Você é o diretor financeiro de uma grande empreiteira, a qual deve decidir-se entre

dois projetos mutuamente excludentes, uma rodovia totalmente privada, ou a construção

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 229

Page 230: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

de um porto com exploração nos lucros.Os fluxos de caixa a seguir demonstram a

espectativa de retorno dos investimentos.

Ano/invest 0 1 2 3 4 5 6

Rodovia -200 100 80 75 50 45 130

Porto -200 65 -10 100 130 140 150

Para sua empreiteira, em todos os estudos de análise, é usado o custo de oportunidade,

ou taxa mínima de atratividade (TMA), de 22,5% ao ano.

Determine o Valor presente líquido (VPL) dos dois projetos, e justifique sua decisão

segundo este processo de análise. Demonstre todos os passos seguidos na hp 12c.

a)

b) Determine a taxa interna de retorno (TIR), ou taxa interna de retorno modificada

(TIRM), se for o caso, dos projetos em questão, justificando a decisão de escolha do

projeto, segundo este método de análise. Demonstre todos os passos seguidos na

calculadora hp 12c.

c)Determine o Pay Back de ambos os projetos, justificando a sua escolha deste projeto,

segundo o método desta análise.

d)De posse dos resultados das questões 1, 2 e 3, decida com qual método você apoiaria

sua escolha final de projeto. Justifique sua resposta.

3) Você é o analista financeiro de uma consultoria independente, a qual foi contratada a

fim de emitir um parecer sobre dois projetos de investimento de uma mesma empresa. O

Projeto A relaciona-se com a ampliação da base fabril desta empresa, e o projeto B

relaciona-se com a abertura de um novo negócio, em um setor totalmente diferente, com

a finalidade de diversificação. O quadro a seguir apresenta os fluxos de caixas futuros

esperados para os projetos.

Ano/invest 0 1 2 3 4 5 6

A -800 430 380 350 200 185 450

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 230

Page 231: Apostila Completa

Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

B -800 330 -40 450 500 550 600

Para ambos os projetos, em todos os estudos de análise, é usado o custo de

oportunidade, ou taxa mínima de atratividade (TMA), de 22,5% ao ano.

a)Determine o Valor presente líquido (VPL) dos dois projetos, e justifique sua decisão

segundo este processo de análise. Demonstre todos os passos seguidos na hp 12c.

b)Determine a taxa interna de retorno (TIR), ou taxa interna de retorno modificada

(TIRM), se for o caso, dos projetos em questão, justificando a decisão de escolha do

projeto, segundo este método de análise. Demonstre todos os passos seguidos na

calculadora hp 12c.

c) Determine o Pay Back de ambos os projetos, justificando a sua escolha, segundo o

método desta análise.

d)De posse dos resultados das questões 1, 2 e 3, decida com qual método você apoiaria

sua escolha final de projeto. Justifique sua resposta.

7.6 – Bibliografia Recomendada

BRASIL, H. G. Análise Moderna de Investimentos. Rio de Janeiro: Qualitmark, 2002

DAMODARAN, G. Finanças Corporativas. São Paulo: Atlas, 2006

LEME JR., A. B. Introdução àAdministração Financeira. Rio de Janeiro : Editora

Campus, 2005.

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JAFFE, J. Administração financeira

— Corporate Finance. São Paulo: Atlas, 2005.

ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JORDAN, Bradford D. Princípios de

administração financeira — essentials of corporate finance. São Paulo: Atlas, 1998

Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 231

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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras

Anexo I – Ementário

FACULDADE DE SABARÁMANTENEDORA: SOCIEDADE EDUCACIONAl E CULTURAL DE SABARÁ

Ementário

DEPARTAMENTO: Administração

CURSO: Administração PERÍODO: 7o

DISCIPLINA: Administração Financeira

CARGA HORÁRIA

TOTAL SEMANAL: 04

72 TEÓRICA: 36 PRÁTICA: 36

Professor: Rogério Alberto Del Rio Hamacek

EMENTA:1 Objetivos e metodologia de função financeira. Análise das demonstrações financeiras. Índices financeiros.

Fluxos de Caixa. Decisões de capital de giro. Custo de Capital. Planejamento Financeiro: estratégico e tático. Variáveis da estratégia financeira. Caracterização das escolhas financeiras. Conceito e estimativa do custo de capital.

OBJETIVOS:2. Propiciar aos alunos informações básicas sobre Administração Financeira, abordando as variáveis internas

e externas que influenciam o fluxo de fundos, o risco e a.expectativa de retorno de capital nas empresas, com o objetivo de transferir conhecimentos.para a formulação de políticas e estratégias empresariais.

ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS:

2. O curso será desenvolvido principalmente através de exposição de conceitos por meio de uso de retroprojetor e quadro, exercícios de aplicação em sala, além de “casos” em aula envolvendo o uso de calculadora financeira, tabelas financeiras e demonstração de software específico dentro do cronograma previsto.

ESTRUTURAS DE APOIO/RECURSOS DIDÁTICO:2. Aulas expositivas;3. Transparências;3. Estudos de Casos;3. Exercícios;3. Pesquisas em jornais/revistas/internet.

AVALIAÇÃO – ESTRATÉGIAS:4. Avaliações regulares;5. Solução de estudos de casos (carga reduzida de créditos);6. Avaliações oficiais (carga elevada de créditos).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:GUITMAN, Lawrense J. Princípios de Administração Financeira. Ed. Harbra.ROSS, Stephen A. Princípios de Administração Financeira. Ed. Atlas.SANVICENTE, Antônio Zoratto. Administração Financeira. Ed. Atlas.HOJI, Masakazu. Administração Financeira. “Uma Abordagem Prática” Ed. Atlas.STICKENEY & WEIL. Contabilidade Financeira. Uma introdução aos conceitos, métodos e usos. Ed. Atlas.LEITE, Hélio de Paulo. Introdução a Administração Financeira. Ed. Atlas.ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. Ed. Atlas.MEHTA, D. R. Administração de Capital de Giro. Ed. Atlas.

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