Apostila Completa
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Sumário
Secção Página
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras 3
1.1 – Introdução 3
1.2 – Principais Contas do BP e DRE 6
1.3 –Padronização das Demonstrações 46
1.4 – Análise Vertical e Horizontal 50
1.5 – Índices Financeiros 56
1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise 67
1.7 – Questões 70
1.8 – Estudo de Caso 71
1.9 – Bibliografia Recomendada 71
CAPÍTULO 02 - A DECISÃO FINANCEIRA E A EMPRESA 72
2.1. Introdução 72
2.2. Objetivo e funções da administração financeira 73
2.3. Mercado financeiro 87
2.4. Tipos de empresas 89
2.5. Questões 92
2.6. Bibliografia recomendada 93
CAPÍTULO 03 - Mercado de Capitais 95
3.1. Introdução 95
3.2. Companhias abertas 97
3.3. Bolsas de Valores 99
3.4. Ações 103
3.5. Mercados de ações e derivativos 106
3.6. Debêntures 126
3.7. Resumo 133
3.8. Questões 135
3.9. Exercícios 138
3.10. Bibliografia recomendada 138
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 1
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 04 – Fundamentos da Gestão Financeira de Curto Prazo 140
4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro 140
4.2 - Conceitos Básicos 142
4.3 - Planejamento e Controle do Capital de Giro 148
4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro 154
4.5 - QUESTÕES 160
4.6 – Exercícios 161
4.7 – Bibliografia Recomendada 162
Capítulo 05 - Administração do Disponível 163
5.1 - Razões para Demanda de Caixa 163
5.2 - Modelos de Administração de Caixa
5.3 - Administração de Contas Bancárias 181
5.4 – Questões 184
5.5 – Exercícios 185
5.6 – Bibliografia Recomendada 186
Capítulo 06 – Administração de Valores a Receber 187
6.1 – Política de Crédito 187
6.2 – Análise de Crédito 192
6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA 206
6.4 – Questões 208
6.5 – Exercícios 210
6.6 – Bibliografia Recomendada 211
Capítulo 07 – Análise de Investimentos 212
7.1 – Modalidades de Investimento 212
7.2 – Tipos de Investimento 213
7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes 214
7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento 228
7.5 – Exercícios 228
7.6 – Bibliografia Recomendada 231
Anexo I – Ementário 232
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 2
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Conteúdo do Capítulo:
1.1 – Introdução
1.2 – Principais Contas do BP e DRE
1.3 –Padronização das Demonstrações
1.4 – Análise Vertical e Horizontal
1.5 – Índices Financeiros
1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise
1.7 – Questões
1.8 – Estudo de Caso
1.9 – Bibliografia Recomendada
1.1 – Introdução
O grande e principal objetivo desta unidade de ensino é realizar uma rápida recordação
dos conceitos estudados em Análise de Balanços, disciplina do 4º período. Não iremos
introduzir conceitos novos, mas tão somente recordar os já apresentados, praticar a
análise em casos reais, desenvolver a prática de analista de empresas, tendo como
principal meta vislumbrar as principais possibilidades e limitações das empresas.
O nome “análise de balanços”, ou “análise das demonstrações financeiras” é muito
superficial quanto à sua verdadeira amplitude. Na realidade, estaremos analisando
empresas, tendo como ferramenta básica os relatórios financeiros a nossa disposição.
No entanto uma análise bem feita, deve ser conduzida em planos endógenos e exógenos
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 3
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
do ambiente organizacional. Podemos dizer que a análise financeira de uma empresa
consiste num exame minucioso dos dados financeiros disponíveis sobre a empresa, bem
como das condições endógenas e exógenas, que afetam financeiramente a empresa.
Como dados financeiros disponíveis, podemos incluir as demonstrações financeiras,
programas de investimentos, projeções de vendas e projeção de fluxo de caixa, por
exemplo. Como condições endógenas, podemos citar a estrutura organizacional, a
capacidade gerencial e o nível tecnológico da empresa. Como condições exógenas,
temos os fatores de ordem política e econômica, concorrência e fenômenos naturais,
entre outros. Desse modo, a análise financeira transcende as demonstrações financeiras.
Na verdade, o que nos interessa é a em presa e não as demonstrações financeiras. As
demonstrações financeiras são apenas canais de informações sobre a empresa, tendo
como objetivo principal subsidiar a tomada de decisão.
As razões mais freqüentes que levam ao desenvolvimento da análise de uma empresa
tendem a ser de caráter econômico-financeiro. Um banco, antes de efetuar um
empréstimo para uma empresa, precisará analisar sua capacidade de pagamento. Um
investidor que pretende adquirir ações de determinada empresa necessitará da análise
para lhe fornecer uma expectativa de retorno sobre seu investimento. Uma empresa
cuidadosa, certamente, fará análise também de outras empresas que sejam suas
concorrentes, para melhor compreender sua própria performance. Adicionalmente, é
importante destacar que cada empresa, interna mente, precisa analisar seus próprios
dados, para conhecer os resultados que alcançou. Então, o administrador financeiro deve
analisar os dados da empresa e, se necessário, reorientar suas ações em termos
operacionais e estratégicos. Assim, resumidamente pode-se enumerar as razões, ou
objetivos da análise, como:
a) Concessão de Crédito;
b) Investimento
c) Fornecedores e clientes que tem interesse na liquidez
d) análise da concorrência
e) Análise interna.
É importante destacar que a análise financeira não pode ser limitada apenas aos
indicadores de natureza financeira, pois há uma série de fatores que, mesmo não
podendo ser chamados de financeiros, causam impacto na saúde financeira da empresa.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 4
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Para se conhecer uma empresa, algumas questões devem ser elucidadas, como, por
exemplo:
• O que faz a empresa?
• Quem são os proprietários, quem tem o poder de mando?
• Quem são os administradores?
• Que padrão de tecnologia apresenta?
• Quais os planos de investimento?
• É lucrativa e próspera?
• É sólida ou corre o risco de quebrar em pouco tempo?
• Está muito endividada?
• Que tipo de público consome seus produtos?
• Quem são seus principais concorrentes?
• A empresa é tão forte quanto seus concorrentes?
• Qual a tendência da empresa de potencialidade de geração de lucro?
O instrumento de trabalho do analista é a informação. Quanto melhor a qualidade da
informação, mais eficaz será o trabalho do analista.
O analista interno (funcionário da própria empresa) que desenvolve um trabalho de
averiguação das causas das diferenças ocorridas entre o fluxo de caixa projetado e o
realizado, por exemplo, poderá consultar a documentação na empresa e identificar se
algum pagamento ou recebimento previsto deixou de ocorrer, ou se ocorreu em
montante muito diferente do que havia sido projetado.
Portanto, quanto mais informações disponíveis, mais facilitado será o trabalho do
analista. Se, em determinada empresa, o valor da conta de duplicatas a receber num
determinado mês crescer de forma significativa, a pessoa que estiver acompanhando
aquela conta poderá consultar documentos e pessoas da própria empresa para saber
quais são as razões que provocaram o crescimento do valor. Poderá, ainda, conversar
com a área comercial para saber sobre a adoção de novas políticas comerciais que
levaram a empresa a dilatar os prazos concedidos aos clientes para pagamento. Ao
mesmo tempo, se necessário, poderá verificar se houve elevado crescimento das vendas
nos últimos tempos, afetando o montante de duplicatas a receber. Certamente, a busca
das causas que teriam levado ao crescimento expressivo de duplicatas a receber, se
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
analisadas por um analista externo, tenderia a ser muito mais trabalhosa, além de contar
com a possibilidade de receber informações não verdadeiras.
Para o analista externo, o ponto de partida da análise são as demonstrações financeiras,
que fornecem um conjunto de números e informações sobre a performance e a situação
patrimonial, econômica e financeira da empresa.
Outras informações, como as relativas à administração da empresa, à concorrência, ao
mercado, à capacidade instalada e ao grau de tecnologia, por exemplo, complementarão
o conjunto de dados para a análise. Para obtenção de tais informações, é muito
importante que o analista visite a empresa que pretende analisar, conheça as
características da concorrência e busque informações por meio de associações de classe,
de publicações especializadas e de periódicos em geral.
1.2 – Principais Contas do BP e DRE
1.2.1 – Principais Componentes do Balanço Patrimonial
Nosso objetivo agora é apresentar e conceituar as principais rubricas pertencentes ao
balanço. É de fundamental importância, para o profissional que se propõe a analisar as
demonstrações financeiras de uma empresa, um adequado conhecimento do que
representa cada um dos grupos e as respectivas contas que compõem as peças contábeis
que serão analisadas. Seguramente, o diretor ou o gerente de um banco, ao conversar
com o diretor financeiro de determinada em presa, sentir-se-á muito mais seguro se tiver
domínio sobre o vocabulário técnico utilizado pela empresa na elaboração de suas
demonstrações financeiras. Imagine o constrangimento do gerente, do profissional de
banco, se ele não souber distinguir entre disponibilidades e aplicações financeiras, ou
mesmo se não souber o que significa despesas antecipadas, por exemplo. Iremos
apresentar uma idéia básica daquilo que representa Cada uma das Contas que aparecem
Com maior freqüência nos balanços elaborados pelas empresas, para que o analista
possa melhor fundamentar seu entendimento acerca da empresa que está analisando.
Desse modo, não há a pretensão do ensinamento da contabilidade ou do
aprofundamento em procedimentos ou questões de natureza contábil, mas do uso da
informação contábil já elaborada.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 6
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Já sabemos que o balanço patrimonial representa a posição da empresa em determinado
momento, sendo composto de dois grandes blocos: do ativo e do passivo. O ativo
mostra onde a empresa aplicou os recursos, ou seja, quais são os bens e direitos de que
dispõe. Por outro lado, o passivo retrata de onde vieram os recursos, ou seja, quais são
as obrigações da empresa.
O quadro 1.1 a seguir, representa as principais contas do Balanço Patrimonial (BP).
Ativo Total Passivo Total
Ativo Circulante Passivo Circulante
Disponibilidades Empréstimos E financiamento
Caixa e Bancos Fornecedores
Aplicações Financeiras Salários
Créditos Impostos, taxas e contribuições
Estoques Provisões
Estoques Dividendos a pagar
Outros Debêntures
Outros
Ativo Realizável a Longo Prazo Passivo Exigível a longo Prazo
Créditos Diversos Empréstimos e Financiamentos
Créditos com pessoas ligadas Debêntures
Ações Judiciais Tributos a pagar
Tributos a Recuperar Provisões
Outros Outros
Ativo Permanente Patrimônio Líquido
Investimentos Capital Social
Imobilizado Reserva de Capital
Diferido Reserva de Reavaliação
Reserva de lucros
Lucros e Prejuízos Acumulados
É interessante ressaltar que as contas estão divididas quanto à sua execução, tanto de
recebimento quanto de pagamento. As contas de curto prazo, que serão realizadas
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 7
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
dentro de um ano, estão classificadas no ativo e passivo circulante. As contas de longo
prazo, que serão realizadas além de um ano, estão classificadas no Realizável a Longo
Prazo (RLP) e no Exigível a Longo Prazo (ELP). As realizações de longuíssimo prazo,
ou de prazo indefinido, estão classificadas no Ativo Permanente (AP, ou no Patrimônio
Líquido (PL).
1.2.1.1 – Ativo
As contas do ativo estão dispostas segundo uma suposta ordem de liquidez. Desse
modo, as contas mais líquidas aparecem na parte superior do ativo, enquanto aquelas de
mais difícil realização vêm na parte inferior. Por exemplo, o dinheiro (que é o ativo
mais líquido) que a empresa possui em caixa na data do balanço é classificado no ativo
circulante, enquanto os equipamentos que a em presa usa na produção são classificados
no ativo permanente. Esse critério é adotado no Brasil e em outros países para
classificar os bens e direitos da empresa no ativo. Na Inglaterra, por exemplo, a ordem
das contas do ativo é inversa a nossa.
1.2.1.1.1 – Ativo Circulante
O ativo circulante compreende as disponibilidades, os direitos realizáveis no exercício
social subseqüente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.
a)– Disponibilidades
Conforme o próprio nome sugere, as disponibilidades são compostas dos recursos
financeiros possuídos pela empresa que podem ser utilizados imediatamente, sem
restrições. Entre as disponibilidades, podemos mencionar:
- CAIXA
A conta caixa compreende o numerário (dinheiro) existente na empresa na data do
encerramento do balanço. Muitas empresas possuem vários caixas, localizados em
diversas unidades, que têm seus valores somados na data do balanço para compor o
saldo global. É também usual nas empresas a expressão “fundo fixo de caixa”, que nada
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 8
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
mais é do que um valor que é fixado para permanecer no caixa para pagamento de
pequenas despesas, como veremos na unidade que abordará o capital circulante.
O caixa é o valor mais líquido existente na empresa, representando dinheiro em espécie
ou cheques recebidos de clientes que serão depositados para crédito em conta corrente.
No que pese o cheque ser uma ordem de pagamento a vista, o comércio vem-se
utilizando do cheque como um instrumento de crédito, de modo que os clientes das lojas
efetuam suas compras e pagam, por exemplo, com dois ou três cheques para serem
depositados em datas futuras que foram combinadas de comum acordo. Nesse caso, esse
tipo de cheque pré-datado não pode ser considerado disponibilidade, pois o comerciante
não deve depositá-lo antes do prazo combinado com seu cliente. Teria mais uma
característica de “cheques a receber” ou “cheques em cobrança”, conforme a situação,
porém sem representar uma “disponibilidade”.
Algumas pequenas empresas, às vezes, usam a conta caixa como uma espécie de conta
de “fechamento”, isto é, a empresa não pratica uma contabilidade correta e, após ajustar
as demais contas do balanço, usa a conta de caixa para lançar o saldo dos ajustes, sem
que o mesmo represente existência de dinheiro na empresa. É sempre importante o
analista estar atento quando o valor da conta caixa for expressivo, para saber se seus
valores correspondem à realidade dos negócios.
- BANCOS CONTA MOVIMENTO
A rubrica com a denominação de Bancos conta movimento compreende os saldos
bancários da empresa em conta corrente, na data do balanço, disponíveis para saque,
para aplicação financeira ou outro uso que a empresa pretenda. Quando ocorre de o
saldo da conta de bancos ser credor, isto é, quando a empresa efetua saques ou
pagamentos superiores a suas disponibilidades no banco, esse saldo credor deverá ser
considerado pelo analista como um tipo de empréstimo bancário e classificado no
passivo circulante (instituições financeiras). A utilização pela empresa do limite para
saques em conta corrente pode ser exemplo dessa situação.
- APLICAÇÕES DE LIQUIDEZ IMEDIATA
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 9
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Compreendem as aplicações financeiras de liquidez imediata, ou seja, aquelas que
facilmente são convertidas em dinheiro e, desse modo, são consideradas como
disponibilidades. As chamadas aplicações em open market, over night e fundos que
possibilitem resgate imediato são exemplos. O saldo dessa conta deve corresponder ao
valor das aplicações feitas pela empresa, mais os acréscimos relativos à atualização
monetária e aos ganhos incorridos até a data do balanço. Em decorrência do chamado
princípio da competência dos exercícios, a empresa atualiza o valor das aplicações e
reconhece tais acréscimos como receita do período.
b)– Créditos
5.2.1.2 DIREITOS REALIZÁVEIS NO EKERCÍCIO SOCIAL SUBSEQÜENTE
A rubrica Créditos compreende bens e direitos que podem ser convertidos em dinheiro
num prazo inferior a 360 dias ou ao ciclo operacional da empresa. São exemplos dessa
categoria de contas:
- CONTAS A RECEBER DE CLIENTES
Contas a receber de clientes também aparece com a denominação de duplicatas a
receber. Essa conta representa os valores a receber de clientes, decorrentes dos
produtos, mercadorias ou serviços vendidos pela empresa e ainda não recebidos. O valor
dessa conta é função do volume de vendas a prazo e do prazo concedido pela empresa a
seus clientes. Portanto, normalmente, quando aumentam as vendas, cresce também o
montante de duplicatas a receber. Muitas vezes, as em presas, para ganharem mercado,
isto é, para aumentarem as vendas, concedem maiores prazos a seus clientes, gerando,
daí, dupla pressão no crescimento dos valores a receber de clientes.
- A empresa divulga o montante de contas a receber de clientes, porém é importante que
o analista faça algumas perguntas, do tipo:
- Quem são os principais clientes desta empresa?•
A empresa é dependente de poucos clientes?
- Como está a saúde financeira de seus clientes?
- Qual o percentual de atraso?
- Qual a média de dias de atraso?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 10
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
- Por que ocorrem atrasos? São cobrados encargos?
Contas a receber de clientes compreendem:
• Duplicatas em carteira.
• Duplicatas caucionadas pela empresa em operações de empréstimo.
• Duplicatas em cobrança bancária simples, isto é, remetidas ao banco para cobrança.
• Duplicatas descontadas (conta negativa); 105
- PROVISÃO PARA DEVEDORES DUVIDOSOS
A conta de provisão para devedores duvidosos é redutora de duplicatas a receber.
Durante muito tempo, a receita federal determinou critérios e percentuais para
dedutibilidade da provisão para devedores duvidosos no cálculo do lucro tributável. A
Lei n 9.430, de 27-12-1996, criou critérios para dedutibilidade das perdas no
recebimento de crédito e a provisão para devedores duvidosos deixou de ser dedutível
na apuração do lucro tributável. Desse modo, é necessário que primeiro ocorra a perda,
para depois haver sua dedutibilidade, respeitadas as condições estabelecidas na referida
lei. Muitas empresas, entretanto, constituem a referida provisão utilizando sua própria
experiência histórica ou sua expectativa de perda com incobráveis, porém não há
dedutibilidade fiscal da mesma. Isso caracteriza uma medida conservadora da empresa,
devido às possibilidades de inadimplências em sua carteira de recebíveis.
c)– Estoques
Nas empresas comerciais, os estoques são representados, basicamente, pelas
mercadorias adquiridas para venda.
Nas empresas industriais, temos, normalmente, três tipos de estoques:
1 — matéria-prima e componentes a serem utilizados na produção dos bens que são
fabricados pela empresa;
II — produtos em processo, que compreendem as matérias-primas que estão na linha de
produção, a mão-de-obra direta apropriada até o estágio em que se encontre o processo,
mais os custos indiretos de fabricação rateados e atribuídos;
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 11
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
III — produtos acabados, que correspondem às unidades produzidas e ainda não
faturadas, isto é, não vendidas.
Nos exemplos citados, relativos às empresas comerciais e industriais, referimo-nos
àqueles estoques que estão diretamente ligados às atividades comerciais das empresas.
Há, entretanto, outros tipos de estoques que devem ser classificados separadamente,
como:
• Almoxarifados: independente da atividade da empresa, a mesma pode ter
almoxarifados com materiais de escritório, produtos de limpeza, alimentos e outros
produtos de uso, isto é, não destinados à venda; tais produtos apresentam semelhança
com despesas antecipadas, porém, por serem materiais, isto é, por terem existência
física, não podem ser classifi cados na categoria de despesas antecipadas;
• Adiantamento a fornecedores: muitas empresas e autores classificam esse item como
parte integrante dos estoques; para fins de análise, é melhor que apareça separadamente.
• Peças para reposição de equipamentos: esse item deve ser classificado no ativo
permanente, no subgrupo imobilizado, em rubrica própria.
Também em se tratando de estoques, prevalece o conceito de propriedade e não o de
posse. Desse modo, produtos ou mercadorias da empresa que se encontrem em poder de
terceiros em consignação, em demonstração, para reparo ou para processamento, por
exemplo, integram seu estoque. Por outro lado, mercadorias de terceiros que estejam em
poder da empresa para demonstração, para reparo ou para processamento, não integram
seu estoque.
A regra geral que vem orientando a avaliação dos estoques é a do custo ou valor de
mercado, dos dois o menor.
d)- OUTROS VALORES A RECEBER
A quantidade de rubricas e a relevância de cada uma delas na composição do ativo
circulante serão funções da atividade da empresa e de sua situação financeira, entre
outros fatores. No geral, a tendência é de que estoques e contas a receber de clientes
sejam as contas mais representativas, podendo algumas empresas apresentarem também
disponibilidades e aplicações de liquidez não imediata com valores expressivos. Outras
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 12
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
contas, como adiantamentos a empregados, impostos a recuperar ou outros valores a
receber, podem também aparecer nos balanços. Se eventualmente qualquer rubrica com
denominação genérica tiver valor que possa representar, por exemplo, 10% ou mais do
próprio ativo circulante, é necessário que o analista busque explicação sobre a mesma.
1.2.1.1.2 - REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
Segundo o inciso II do art. 179 da Lei n 6.404/76, no realizável a longo prazo são
classificados:
“os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os direitos de
vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas, diretores,
acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais
na exploração do objeto da companhia”.
Quanto às contas que compõem o realizável a longo prazo, com exceção do disponível,
as demais rubricas classificadas no ativo circulante que tiverem prazo de realização após
o término do exercício seguinte ao do balanço, ou seja, demora rem mais de um ano
para serem recebidas, terão suas classificações no realizável a longo prazo.
a)- DIREITOS REALIZÁVEIS APÓS O TÉRMINO DO EXERCÍCIO SEGUINTE
Com maior freqüência, encontramos nos balanços publicados as seguintes rubricas:
• Valores a receber decorrentes de venda de ativo permanente.
• Depósitos judiciais, que são valores depositados pela empresa em face de pendências
judiciais, ficando nesse grupo até que haja decisão da justiça.
• Depósitos compulsórios de caráter diverso.
• Impostos a recuperar.
• Despesas antecipadas que se converterão em despesa após o exercício seguinte à data
do balanço.
• Incentivos fiscais.
b)- VALORES A RECEBER DE SOCIEDADES COLIGADAS
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 13
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Empréstimos a coligadas, controladas, diretores ou acionistas. Muitas vezes, os
empréstimos a coligadas e controladas são de difícil recebimento, podendo, inclusive,
ser transformados em participações acionárias. Havendo conhecimento da intenção clara
da empresa em transformar o realizável a longo prazo em participação acionária, o
analista pode reclassificá-lo para “investimentos”, no ativo permanente.
Como regra, os valores relativos ao realizável a longo prazo são avaliados ao custo
corrigido, devendo ser feitas as devidas provisões para prováveis perdas.
O analista deve, portanto, possuir domínio conceitual e conhecimento prático sobre cada
uma das rubricas, de modo a ter condição de identificar também valores que deveriam
ser classificados pelas empresas como realizáveis a longo prazo e que aparecem no
ativo circulante; o mesmo cuidado deve prevalecer com relação aos valores que
deveriam ser classificados como investimentos e que possam ser apresentados no
realizável a longo prazo. Em ambos os casos, o analista deve proceder a readequação
deles.
1.2.1.1.3 – Ativo Permanente
O grupo do ativo permanente, conforme o próprio nome sugere, abriga
aplicações feitas pela empresa com características de permanente, como, por exemplo,
as participações em outras empresas, as aquisições de equipamentos de produção e os
gastos com projetos que contribuirão para formação de resultados em exercícios futuros.
O ativo permanente subdivide-se em: investimentos, imobilizado e diferido.
a) Investimentos -
Conforme o art. 179 (III), da Lei n 6.404/76, são classificados em investimentos “as
participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qual quer natureza não
classificados no ativo circulante, e que não se destinem a manutenção da atividade da
companhia ou da empresa”.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 14
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Para fins de análise, podemos subdividir os investimentos em duas rubricas básicas,
sendo uma relativa às participações em coligadas e controladas e a outra para agrupar os
demais valores que consideramos com caraterísticas de investimentos.
a) Participações permanentes em outras sociedades
São participações que a empresa mantém no capital de outras sociedades. A natureza de
permanente é definida pela intenção da investidora em manter tal participação. Portanto,
se a empresa adquire ações em Bolsa de Valores, com a in tenção de negociá-las em
pouco tempo, não poderá classificar tais ações como investimentos; deverá classificá-las
no ativo circulante. Podem ser várias as razões que levam uma empresa a participar no
capital de outra. Vejamos alguns exemplos:
• Diversificação: com a finalidade de não manter concentrada a atividade numa única
área. Os grupos financeiros brasileiros são excelentes exemplos de política de
diversificação, tendo os bancos (ou as empresas de participações dos grupos
financeiros) investido em diversos outros segmentos, como informática,
eletrodomésticos, metalurgia, e assim por diante.
• Verticalização: cobrir número maior de etapas do processo produtivo. A usina de
açúcar que investe numa empresa para produção de cana ou a indústria de vinho que
investe numa empresa agrícola para produção de uvas são exemplos.
• Suprimento de matéria-prima: como em determinado exemplo em que uma empresa
decide participar do capital de outra, que é sua fornecedora, visan do ter assegurado ou
facilitado o suprimento de matérias-primas, por exemplo.
• Diversas razões poderiam ser adicionadas. Uma fábrica de confecções pode abrir uma
loja ou uma rede de lojas para distribuir seus produtos, como uma forma de aumentar
seu volume de vendas ou mesmo de tornar seus produtos mais conhecidos, entre outras
razões.
As participações em outras empresas podem possuir as seguintes características:
• Investimentos em coligadas e controladas
Quando uma empresa participa com 10% ou mais do capital de outra, sem controlá-la,
ocorre o que se chama de coligação. Por outro lado, os investimentos em controladas
são caracterizados pelo poder que a empresa detém de nomear a maioria da
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 15
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
administração e de interferir na administração de sua controlada. O poder de controle
ocorre quando a investidora detém 50% mais uma ação ordinária.
As demonstrações financeiras das empresas, quando com razoável nível de informação,
apresentam em suas Notas Explicativas quadros com a com posição dos investimentos
em coligadas e controladas, bem como o resultado de cada uma das empresas, seu
patrimônio líquido, os percentuais na participação acionária e a equivalência
patrimonial, pelo menos.
• Outras participações
Em outras participações, são classificadas as participações em outras em presas, quando
não há coligação nem controle.
A forma como a empresa avalia as participações em outras empresas varia de
acordo com a natureza da participação, sendo dois os critérios de avaliação:
1 — Pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para perdas, quando for o caso.
II — Pelo método de equivalência patrimonial, quando as participações em outras
empresas atenderem às seguintes condições:
• Investimento for relevante para empresa investidora.
• Investimento for em sociedade controlada ou coligada sobre cuja administração tenha
influência ou de que participe com 20% ou mais do capital social.
III — Nas demais situações em que o investimento permanente deve ser avaliado pelo
custo, deduzido de provisão para prováveis perdas, quando for o caso.
b) Direitos não classificados no ativo circulante
Além das participações permanentes em outras sociedades, a Lei n 6.404/76 inclui, em
investimentos, “os direitos de qualquer natureza não classificados no ativo circulante, e
que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa”. Cabe
uma observação com referência ao texto da Lei n 6.404/76, art. 179, III, quando diz “e
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 16
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
os direitos de qualquer natureza não classificados no ativo circulante, e que não se
destinem a manutenção da atividade da companhia ou da empresa”. Entendemos
juntamente com outros autores que o texto legal deveria referir-se aos direitos não
classificáveis no ativo circulante nem no realizável a longo prazo... (o texto legal omitiu
o realizável a longo prazo), para que tais direitos sejam classificados como
investimentos.
Como exemplo de valores que podem ser agrupados nessa categoria de investimentos,
temos:
• Bens não destinados à venda e que também não são utilizados na manutenção da
atividade da empresa. Como exemplo, podemos citar as obras de arte, nas empresas que
não tenham como objetivo sua comercialização. A avaliação das obras de arte na
contabilidade é pelo custo, deduzido da provisão para perdas, quando for o caso.
• Também o caso de terrenos ou imóveis que a empresa não venha utilizan do em suas
atividades, mas que os possua por razões próprias, como expansão futura, por exemplo.
Nessa condição, para fins de análise, será importante o analista estar atento, no caso de
tais imóveis estarem geran do receita para empresa. Há um lado “formal” quanto à
atividade da em presa, que se refere àquilo que está definido em seu estatuto ou contrato
social. Há o outro “lado real”, que é a situação de imóveis que estejam gerando renda
em caráter habitual (recorrente), que passa a ser parte da atividade da empresa
independente do que esteja escrito nos estatutos ou no contrato social. Nessa situação,
este imóvel tem características de ativo imobilizado. A avaliação desses bens na
contabilidade é pelo custo, deduzido da provisão para perdas, quando for o caso.
b) - IMOBILIZADO
O ativo imobilizado é parte integrante do ativo permanente da empresa. Conforme o art.
179, IV, da Lei n 6.404/76, ele compreende os direitos que tenham por objeto bens
destinados à manutenção das atividades da companhia e da empresa, ou exercidos com
essa finalidade, inclusive os de propriedade industrial ou comercial.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 17
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O imobilizado é representado por bens tangíveis ou intangíveis, tendo as seguintes
características básicas:
• sua utilização nas atividades da empresa;
• não estejam destinados à venda;
• vida útil superior a um ano;
• relevância do valor.
O tipo de imobilizado varia de acordo com a atividade operacional de cada empresa.
Numa empresa de transporte rodoviário, a tendência é de que a frota de veículos seja um
componente expressivo de seu ativo imobilizado. Em determinado tipo de indústria, as
aplicações de recursos em sua planta industrial tenderão a ser o principal absorvedor de
recursos no ativo permanente. Uma boa política relacionada à estrutura de capitais da
empresa será orientada para que o ativo permanente seja financiado com recursos
próprios ou com fontes de terceiros de longo prazo.
É importante notar que um mesmo bem pode ser classificado como imobilizado ou
como estoque, dependendo apenas de seu propósito na empresa. Numa revendedora de
veículos, por exemplo, os carros destinados à venda integram os estoques, enquanto os
veículos que fazem parte da frota de uso da revendedora integram o imobilizado.
Os itens componentes do ativo imobilizado são avaliados pelo custo de aquisição, mais
os gastos necessários à colocação dos mesmos em condição de funcionamento. Ao
mesmo tempo, os bens do imobilizado sofrem depreciação, amortização ou exaustão,
em face de sua expectativa de vida útil, ou seja, de duração.
Entre os itens que habitualmente compõem o ativo imobilizado, destacamos:
• Imóveis e terrenos
• Máquinas e equipamentos
• Equipamentos de informática
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 18
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
• Veículos
• Móveis e instalações
• Imobilizações em andamento
• Outros
- DEPRECIAÇÕES, AMORTIZAÇÕES E EXAUSTÕES
Os itens de depreciações, amortizações e exaustões são redutores do ativo imobilizado.
Apenas os bens tangíveis, que estão sujeitos ao desgaste ou deterio— ração, pelo uso ou
pelo transcorrer do tempo, devem ser depreciados. Há vários critérios e taxas para
depreciação, tendo cada critério suas próprias vantagens. Pelo princípio contábil da
consistência, a empresa deverá manter durante a vida útil do bem o mesmo critério de
depreciação que adotou desde o início, porém, na eventualidade de mudança de critério,
deverá explicitar essa ocorrência em nota explicativa. Os principais métodos de
depreciação são:
1 — Método da linha reta: pelo método da linha reta, que é o mais utilizado, com base
em uma expectativa de vida útil do bem, é estabelecido um percentual anual fixo para
depreciação. Tomando o exemplo de um veículo com vida útil esperada de cinco anos,
sua taxa de depreciação será de 20% ao ano.
II Método de Matheson ou taxa constante: pelo método de Matheson, é aplicada uma
taxa constante de depreciação sobre o valor residual, isto é, sobre o custo mais a
depreciação acumulada. Observe que, enquanto o método da linha reta mantém uma
taxa constante sobre o valor-base, o método de Matheson aplica o percentual sobre o
valor residual, fazendo com que a depreciação seja maior nos primeiros anos de vida do
bem.
III — Método de Cole ou soma dos dígitos: por esse método, também é suposto que a
depreciação é maior nos primeiros anos de vida do bem, sendo a taxa aplicada uma
fração cujo denominador é a soma dos algarismos (dígitos) seqüenciais correspondentes
aos anos de vida útil do bem. Supondo um veículo, com cinco anos de vida útil
estimada, te ríamos a soma dos números seqüenciais de 1 a 5 (1 + 2 + 3 + 4 + 5 = 15),
resultando no denominador igual a 15. O numerador é composto pelos períodos de vida
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 19
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
restantes no início de cada período, isto é, para um veículo com vida prevista de cinco
anos, no início do primeiro ano seu período de vida restante é de cinco anos; no início
do segundo ano, seu período de vida restante seria de quatro anos, isto é, o segundo ano
que está iniciando, mais três anos.
Assim, teríamos:
Anos 1 2 3 4 5
Depreciação 5/15 4/15 3/15 2/15 1/15
Observe que a soma das frações relativas aos cinco anos é igual a um, isto é,
corresponde a 100%, que é a totalidade do valor do bem a ser depreciado.
IV — Método das unidades produzidas: esse método leva em consideração a capacidade
estimada de unidades a serem produzidas durante a vida útil do bem. Portanto, a
depreciação referente a determinado período é representada por um número decorrente
da divisão do número de unidades produzidas naquele período, pelo número total de
unidades a serem produzidas durante o período de vida útil do bem. Critério análogo
pode ser adotado quando a capacidade produtiva é estimada em horas de trabalho, em
vez de unida desproduzidas.
a. depreciação: quando corresponder à perda do valor dos direitos que têm por objeto
bens físicos sujeitos a desgaste ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou
obsolescência.
b. amortização: quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na aquisição
de direitos da propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou
exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal
ou contratualmente limitado.
c. exaustão: quando corresponder à perda do valor decorrente de sua exploração, de
direitos cujo objeto sejam recursos minerais ou florestais, ou
bens aplicados nessa exploração.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 20
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
É importante destacar que os terrenos não estão sujeitos à depreciação por não sofrerem
desgaste pelo uso ou pela ação do tempo.
Quanto às amortizações, de modo geral, são aplicadas sobre os intangíveis como marcas
e patentes, ou sobre benfeitorias em propriedade de terceiro.
A exaustão, por outro lado, é utilizada no caso de florestas e de jazidas de minérios, por
exemplo.
- Reavaliação de ativos: muitas vezes as empresas reavaliam itens do ativo imobilizado,
para expressar o efetivo valor dos respectivos bens. A reavaliação aumenta o valor do
ativo imobilizado e, em contrapartida, gera um lançamento a crédito no patrimônio
líquido, numa conta de reserva de reavaliação. Muitas vezes, a reavaliação é necessária
para a empresa atualizar valores que estejam muito defasados. Outras vezes, algumas
empresas usam a reavaliação com propósito único de melhorarem artificialmente o
valor de seu patrimônio líquido.
c) - ATIVO DIFERIDO
O ativo diferido, que também é parte do ativo permanente, é composto de aplicações de
recursos em despesas que contribuirão para a formação de resultados de mais de um
exercício social, compreendendo itens intangíveis, cuja amortização ocorrerá durante o
período em que estiverem contribuindo para a formação do resultado da empresa.
São exemplos de ativo diferido as despesas incorridas durante o período pré-
operacional, construção e implementação de projetos, pesquisas e desenvolvimento, e
implementação de projetos de sistemas. Cabe observar que nesses exemplos as despesas
já foram incorridas e irão contribuir para a formação de resultados futuros. Por outro
lado, o prêmio pago por uma apólice de seguros caracterizará uma despesa antecipada,
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 21
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
isto é, pertence a um exercício futuro; portanto, ainda não incorrida e devendo ser
classificada no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, conforme o caso.
Para fins de análise financeira, o ativo diferido representa um subgrupo do ativo
permanente de péssima liquidez, ou seja, sem potencialidade de realização direta de
seus valores, que são representados por intangíveis.
• Gastos pré-operacionais
Os gastos incorridos durante a fase pré-operacional em empresas novas caracterizam
bem o ativo diferido, uma vez que a empresa ainda não iniciou sua fase de produção, de
modo que os gastos incorridos representam uma espécie de preparação para operar no
futuro. É importante destacar que um projeto ligado à construção ou à ampliação de um
prédio não deve ser classificado como ativo diferido, uma vez que ele é parte da
construção e deve integrar o ativo imobilizado.
• Outros ativos diferidos
Compreendem outros gastos como, por exemplo, pesquisa e desenvolvimento de novos
produtos, ou projetos de sistemas. É sempre fundamental que os projetos contribuam
para a formação de resultados no futuro, para que os mesmos possam ser classificados
como ativo diferido.
Finalmente, cabe lembrar que, sempre que o diferido apresentar valor relevante, é
preciso que o analista conheça bem sua composição e possa julgar se efetivamente
aqueles gastos irão contribuir para a formação de resultados pela empresa no futuro.
1.2.1.2 - - Passivo
O lado do passivo representa as fontes de recursos utilizadas pela empresa, podendo tais
recursos ser provenientes de terceiros (dívidas) ou dos sócios, por meio de aporte de
capital ou de lucro gerado pela própria empresa.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 22
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1.2.1.2.1 - PASSIVO CIRCULANTE
Compreende as obrigações vencíveis no exercício social seguinte. As mais freqüentes
são:
a) FORNECEDORES
A conta de fornecedores representa as compras a prazo efetuadas pela em presa. Tais
compras compreendem as mercadorias, as matérias-primas, os com ponentes utilizados
na produção e outros materiais de consumo. Os fornecedores podem ser nacionais ou
estrangeiros (que devem ser destacados, se relevantes). Pode ainda ocorrer de empresas
coligadas ou controladas também aparecerem como fornecedoras.
Nos casos de fornecedores de ativos permanentes, o ideal é que esse tipo de dívida seja
separado das obrigações relativas às compras de mercadorias, produtos, matérias-
primas, ou componentes, voltadas para comercialização ou produção. De certo modo, é
raro encontrarmos fornecedores de máquinas ou equipamentos, (bens do imobilizado),
uma vez que em tais compras, quando de valores expressivos, normalmente, a empresa
recorre a linhas de financiamento bancário de longo prazo.
b) Salários E Encargos Sociais
b) Salários e Encargos Sociais
Normalmente, os salários relativos a cada mês são pagos no início do mês seguinte,
devendo ser contabilizados como despesa do período e como obrigação (dívida) junto a
seus funcionários.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 23
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Conseqüente da legislação brasileira, há uma série de encargos sociais como FGTS e
INSS decorrentes da folha de pagamento, que deverão ser recolhi dos no mês seguinte
ao de sua competência. Há, ainda, outras obrigações que, mesmo que a empresa não
tenha de pagá-las no mês seguinte, deverá provisioná-las. A cada mês de trabalho, o
empregado adquire direito a uma fração de férias e de 13º salário, constituindo, dessa
forma, obrigação a ser provisionada pela empresa.
c) Impostos e Taxas
Nesse item, são agrupados os tributos (impostos, taxas e contribuições) a recolher,
como:
• ICMS
• IPI
• ISS
• PIS
• IRRF
• Cofins
d) Instituições Financeiras
Em instituições financeiras são classificados os empréstimos obtidos pela empresa em
bancos comerciais, bancos de investimentos e instituições financeiras, de modo geral.
Tais empréstimos podem ser em moeda nacional ou em moeda estrangeira. É comum as
empresas, cujas demonstrações financeiras apresentam razoável nível de informação,
trazerem nas notas explicativas as principais informações sobre seus empréstimos e
financiamentos bancários. Tais informações abrangem às características dos contratos,
como tipo de empréstimo (capital de giro, adiantamento sobre contrato de câmbio,
Resolução n 63, Lei n 4.131 etc.), prazos, taxas, garantias e instituições credoras.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 24
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
De forma geral, nesta apostila utilizar-se-á o termo empréstimo como a tomada de
recursos onerosos de terceiros, com vencimento no curto prazo, o qual é, via de regra,
utilizado no capital de giro. Por outro lado, utiliza-se o termo financiamento na tomada
de recursos onerosos de terceiros, com vencimento no longo prazo, e por conseqüência
classificado no Exigível a longo prazo, o qual é utilizado para financiar os ativos
permanentes.
Para fins de análise, é importante que o analista disponha do desdobramento da rubrica
de instituição financeira, de modo a identificar:
• os empréstimos em moeda nacional;
• os empréstimos em moeda estrangeira; e
• os empréstimos subsidiados.
e) Debêntures a Curto Prazo
Debêntures são títulos lançados pelas empresas com a finalidade de captarem recursos a
longo prazo, normalmente, pagando uma taxa de juros e possibilitando ao debenturista a
conversibilidade das debêntures em ações no final do período. Na unidade sobre o
Mercado de Capitais, estudaremos este item mais a fundo, no entanto vale alertar que
somente Cias abertas podem lançar debêntures, até um limite previsto em lei, segundo
seu Patrimônio Líquido. As debêntures são negociadas na BOVESPA.
Mesmo tratando-se de títulos de longo prazo, à medida que o vencimento
das debêntures torna-se igual ou inferior a um ano, seus valores são transferidos
para o passivo circulante.
f) Outros
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Rubricas genéricas, como outros, contas correntes, ou qualquer título que não
caracterize bem o tipo de obrigação, tendem a não ser expressivas, representando menos
de 10% do próprio passivo circulante. Portanto, tendem a agrupar pequenos valores que
a empresa tenha a pagar e que não justificam a abertura de rubricas próprias no balanço.
1.2.1.2.2 – Passivo Exigível a Longo Prazo
As obrigações de longo prazo são caracterizadas por terem seus vencimentos
após o término do exercício seguinte, isto é, num prazo superior a um ano. As
mais freqüentes são:
a) Financiamentos
A tendência mais geral é de que os financiamentos de longo prazo sejam obtidos pelas
empresas com a finalidade de financiarem bens do ativo imobilizado. Como exemplo,
podemos citar o Finame, que é uma linha de financiamento com recursos do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), destinado a financiar
projetos de expansão das empresas. Normalmente, os financiamentos de longo prazo
têm prazos de carência para a empresa iniciar o pagamento. O prazo de carência do
financiamento tende a aproximar-se do tempo de maturação do projeto. Há outras linhas
de financiamentos por meio de bancos de desenvolvimento federais ou estaduais. Há
também agências internacionais que financiam projetos a longo prazo.
Mesmo tratando-se de financiamentos de longo prazo, à medida que o vencimento se
torna igual ou inferior a um ano, seus valores são transferidos para o
passivo circulante.
b) Debêntures de Longo Prazo
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Como já vimos, as debêntures são títulos de longo prazo, lançados pelas empresas,
normalmente conversíveis em ações ao final do período.
c) Tributos
Com alguma freqüência, aparecem nos balanços parcelamentos de tributos, que podem
decorrer de tributos não pagos pela empresa nos vencimentos e que foram negociados
com os poderes competentes, para serem pagos dentro de nova programação de
pagamento compatível com as possibilidades da empresa e de acordo com as regras
aceitas pelas autoridades. Imposto de Renda, IPI, ICMS, ISS e INSS podem ser
exemplos.
d) Outros
Podem aparecer outros valores no exigível a longo prazo, como, por exemplo,
adiantamento de sócios para futuro aumento de capital.
1.2.1.2.3 – Resultados de Exercícios Futuros
No resultado dos exercícios futuros são classificadas as receitas de exercícios futuros,
diminuídas dos custos e despesas correspondentes a tais receitas.
a) Receita de Recursos Futuros
b)
As receitas de exercícios futuros constituem uma categoria especial e caracterizam-se
por representar um recebimento antecipado, sem ser um adiantamento. Não são
exigibilidades, em razão de não estarem sujeitas à devolução. Supondo um contrato de
aluguel por um ano, com recebimento antecipado e sem que o inquilino tenha direito à
restituição caso desista antes do fim do contrato, no encerramento do balanço (da
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 27
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
empresa dona do imóvel), o valor correspondente aos meses restantes do contrato será
classificado como receita de exercício futuro.
Outro exemplo de receita de exercício futuro é o recebimento de uma comissão (além de
juros e correção), por uma instituição financeira, relativa a determinado empréstimo, se
não houver cláusula de devolução no caso de o devedor liquidar a dívida
antecipadamente.
bCustos e Despesas de Exercícios Futuros
Os custos e as despesas associados às receitas de exercícios futuros deverão ser
contabilizados (inclusive provisionados), para serem deduzidos das receitas e
fornecerem o resultado de exercícios futuros.
1.2.1.2.4 – Patrimônio Líquido
O patrimônio líquido representa, no balanço patrimonial, a parte da empresa que
pertence a seus proprietários. O ativo representa, no balanço patrimonial, os bens e
direitos à disposição da empresa, isto é, a aplicação dos recursos totais. As principais
rubricas (ou grupos) que compõem o patrimônio líquido são: capital, reservas de capital,
reservas de reavaliação, reservas de lucro e lucros ou prejuízos acumulados.
a) Capital Social
O capital de uma empresa pode ser representado por ações, no caso das sociedades
anônimas, ou por quotas quando se trata de uma sociedade por quota de
responsabilidade limitada, por exemplo. Desse modo, inicialmente, os acionistas ou
sócios subscrevem determinada quantidade de ações ou quotas, conforme o caso, e as
integralizam. Na subscrição, o acionista ou o sócio assume o compromisso perante a
própria empresa de participar de seu capital social, adquirindo determinada quantidade
de suas ações ou de suas quotas. Cada ação ou cada quota tem um valor unitário
previamente determinado. A integralização do capital ocorre quando o sócio ou o
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 28
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
acionista efetua o pagamento à empresa pelas ações ou pelas quotas que havia subscrito.
A integralização pode ocorrer em dinheiro ou em bens. Após a constituição da empresa
e integralização inicial do capital, poderão ocorrer aumentos de capital decorrentes de
novos aportes de capital, de incorporações de lucros, de incorporação da correção
monetária do próprio capital (quando há correção do capital devido à inflação) ou ainda
de reavaliações de ativos.
Ocasionalmente, há casos de redução de capital, principalmente quando a empresa passa
por processo de cisão. Todo aumento de capital ocorre mediante alteração no estatuto
(sociedades anônimas) ou contrato social (sociedades por quotas de responsabilidade
limitada). Além da alteração no estatuto ou no contrato social, é possível, no caso das
sociedades anônimas, sabermos como ocorreram os aumentos de capital pela
demonstração das mutações do patrimônio líquido.
b) Capital a Integralizar
A conta de capital a integralizar representa as parcelas de capital que foram subscritas
pelos acionistas ou proprietários da empresa e que ainda não foram integralizadas. E
uma conta redutora do “capital subscrito”. Em termos de conta redutora, cabe lembrar
que a Lei das S.A. determina também que as ações em tesouraria, isto é, ações da
empresa adquiridas pela própria empresa, devem ser deduzidas do patrimônio líquido.
c) Reservas de Capital
De modo geral, as reservas constituem-se numa espécie de reforço ao capital social.
Portanto, capital social, reservas e lucros ou prejuízos acumulados compõem o
patrimônio líquido da empresa. Conforme determina o art. 182, da Lei n 6.404/76, as
reservas de capital compreendem:
• Ágio na emissão de ações: a diferença entre o valor patrimonial das ações e o preço
pago pelos acionistas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 29
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
• Alienação de partes beneficiárias: títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos
ao capital, os quais conferirão a seus titulares direito de crédito eventual contra a
companhia. A participação nos lucros, atribuída às partes beneficiárias, não pode
ultrapassar 10% dos lucros. Pode ocorrer ainda de as partes beneficiárias serem emitidas
gratuitamente, não gerando as respectivas reservas de capital.
• Alienações de bônus de subscrição: podem ser emitidas pelas com panhias, dentro do
limite de capital autorizado no estatuto, conferindo a seus titulares direito de subscrever
ações do capital social. • Prêmio recebido na emissão de debêntures: corresponde ao va
lor pago a mais pelo debenturista, em relação ao valor nominal da debên ture.
• Doação de bens: pode ser em dinheiro ou outro tipo de bens recebidos em doação pela
empresa, que devem ser contabilizados por seus valores de mercado.
• Subvenções recebidas pelas empresas: como um tipo de ajuda oferecida pelo governo.
Os incentivos fiscais podem ser entendidos como um tipo de subvenção e constituem
uma reserva de capital.
Cabe destacar, ainda, que as contas que compõem as reservas de capital não transitam
pela demonstração de resultados como receitas; portanto, não fazem parte do lucro das
operações da empresa.
d) Reservas de Lucro
As reservas de lucros, conforme sugere o próprio nome, são constituídas a
partir do lucro da empresa. Entre elas destacamos:
• Reserva legal: do lucro líquido do exercício, 5% são aplicados para a constituição da
reserva legal, que não poderá exceder 20% do capital social. A companhia poderá,
ainda, deixar de constituir a reserva legal no exercício em que o saldo dessa reserva,
acrescido das reservas de capital, exceder 30% do capital social. A reserva legal poderá
ser utilizada somente para compensação de prejuízo e para aumento de capital social.
• Reservas estatutárias: o estatuto da sociedade anônima poderá criar reservas, desde
que, para cada uma delas, indique a finalidade, estabeleça a percentagem do lucro que
será destinada a sua constituição e fixe limite máximo para tais reservas. São exemplos
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 30
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
de reservas estatutárias: as constituídas para fazer face a planos de expansão, para
pagamento de dividendos ou para resgate de partes beneficiárias.
• Reservas para contingências: são constituídas com a finalidade de compensar em
exercícios futuros a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável e cujo
valor possa ser estimado. Tal reserva será revertida no exercício em que deixem de
existir as razões que justificaram sua constituição. • Reservas de lucros a realizar:
Considerando que o lucro que apare ce na demonstração de resultados é apurado com
base no regime de com petência do exercício, a reserva de lucros a realizar tem como
principal finalidade evitar a distribuição de dividendos relativos aos lucros não rea
lizados financeiramente, como nos casos de:
e) Reservas de Avaliação
As reservas de reavaliação são constituídas como decorrência da reavaliação de bens do
ativo permanente. Entende-se por reavaliação de bens aqueles ajustes processados em
seus valores como decorrência de laudos de avaliações elaborados por especialistas.
Normalmente, a reavaliação ocorre quando a empresa julga que determinado ativo
imobilizado está subavaliado. A reavaliação tem caráter espontâneo e consiste na
atribuição de um novo valor a um bem do imobilizado, maior do que seu valor residual
na contabilidade, com o objetivo de aproximar o valor contábil ao de mercado.
A disparidade entre o valor residual de um bem no ativo imobilizado de uma
empresa e seu valor de mercado pode ter várias razões, como, por exemplo:
• A ausência de atualização monetária do ativo imobilizado ou a utilização de índices
oficiais que não reflitam adequadamente a perda do poder aquisitivo da moeda no
período.
• A valorização de um bem no mercado durante um período foi superior ao valor
contábil.
• Um prédio utilizado por uma empresa após 25 anos pode estar em boas condições de
uso, porém, tendo sido depreciado à base de 4% ao ano, terá seu valor residual igual a
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 31
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
zero. Seguramente, seu valor de mercado não será zero. É inquestionável que nessa
condição é preciso uma reavaliação.
Há também o lado ruim da questão, que é aquele em que algumas empresas fazem as
reavaliações com o propósito de maquilar, isto é, de embelezar os COMPONENTES
DO BALANÇO
f) Lucros ou Prejuízos Acumulados
Em lucros ou prejuízos acumulados, encontramos o que restou do lucro da empresa após
a constituição das reservas, distribuição de dividendos e pagamento das participações
estatutárias no lucro. A Lei das Sociedades por Ações (art. 176) obriga a publicação,
pelas empresas de capital aberto e sociedades anônimas em geral, da demonstração dos
lucros ou prejuízos acumulados, podendo tal de monstrativo fazer parte da
demonstração das mutações do patrimônio líquido.
O quadro a seguir exemplifica um balanço patrimonial de uma conhecida metalúrgica
de MG. Observe suas contas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 32
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Descrição da Conta
31/12/
2004
31/12/
2003 Descrição da Conta
31/12/
2004
31/12/
2003
Ativo Total
11.27
1.122
9.341.
603 Passivo Total
11.27
1.122
9.341.
603
Ativo Circulante
3.746.
938
2.309.
116 Passivo Circulante
2.239.
083
1.846.
094
Disponibilidades
1.398.
139
442.7
33
Empréstimos e
Financiamentos
598.2
44
898.7
93
Créditos
1.096.
629
1.025.
130 Debêntures 0 0
Contas a Receber
890.3
82
855.7
54 Fornecedores
98.97
9
185.4
22
Títulos e Valores a
Receber
206.2
47
169.3
76
Impostos, Taxas e
Contribuições
461.4
80
77.86
7
Estoques
931.4
40
682.5
92 Tributos a Recolher
131.1
65
46.41
2
Produtos Acabados
176.3
35
182.3
34
Contribuições Sociais a
Recolher 9.920 7.063
Produtos em
Elaboração
175.4
00
105.8
75
Imposto de Renda e
Contribuição Social
320.3
95
24.39
2
Matérias Primas
276.8
68
181.6
78 Dividendos a Pagar
794.8
03
306.3
72
Suprimentos e
Sobressalentes
185.3
79
158.8
25 Provisões
45.23
1
41.36
7
Importações em
Andamento
113.0
18
51.13
8
Obrigações
Trabalhistas
45.23
1
41.36
7
Outros 4.440 2.742
Dívidas com Pessoas
Ligadas
46.89
8
178.0
54
Outros
320.7
30
158.6
61 Outros
193.4
48
158.2
19
Imposto de renda e
Cont.Social diferidos
294.6
07
138.8
57 Contas a Pagar
136.9
92
95.99
5
Instrumentos 0 0 Tributos Parcelados 18.22 28.21
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 33
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Financeiros 6 8
Outros
26.12
3
19.80
4
Instrumentos
Financeiros
27.16
7
27.64
7
Ativo Realizável a
Longo Prazo
913.6
68
1.425.
614 Outros
11.06
3 6.359
Créditos Diversos
24.49
5
27.85
7
Passivo Exigível a
Longo Prazo
3.022.
060
3.470.
451
Devedores Imobiliários
11.56
1
11.68
8
Empréstimos e
Financiamentos
961.9
57
1.597.
248
Contas Correntes
Devedoras
12.93
4
16.16
9 Debêntures 0 0
Créditos com Pessoas
Ligadas
138.2
06
297.5
60 Provisões
1.552.
200
1.588.
149
Com Coligadas 0 0 Passivo a descoberto 0
117.6
62
Com Controladas
138.2
06
297.5
60 Passivos Contingentes
589.7
69
502.6
85
Com Outras Pessoas
Ligadas 0 0 Passivo Atuarial
962.4
31
967.8
02
Outros
750.9
67
1.100.
197
Dívidas com Pessoas
Ligadas 0 0
Imposto de Renda e
Cont.Social diferidos
550.8
58
934.6
50 Outros
507.9
03
285.0
54
Depósitos Judiciais
159.4
80
130.2
90
Imposto de Renda e
Cont.Social diferidos
75.59
2
89.63
7
Ações de Outras
Companhias
20.98
0
25.63
9
Contas Correntes
Credoras
125.4
63
49.63
0
Depósitos p/ Incentivos
Fiscais 0 0 Tributos Parcelados
151.2
67
91.19
0
Imóveis à Venda 5.019 5.072
Instrumentos
Financeiros
155.5
81
54.59
7
Instrumentos
Financeiros 0 0
Resultados de
Exercícios Futuros 0 0
Outros 14.63 4.546 Patrimônio Líquido 6.009. 4.025.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 34
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
0 979 058
Ativo Permanente
6.610.
516
5.606.
873
Capital Social
Realizado
1.280.
839
1.280.
839
Investimentos
3.108.
864
1.990.
933 Ações Ordinárias
608.5
34
608.5
34
Participações em
Coligadas
130.1
96
42.47
9 Ações Preferenciais
672.3
05
672.3
05
Camargo Correa
Cimentos S.A. 0 0 Reservas de Capital
1.831.
542
1.831.
542
Consórcio Siderurgia
Amazônia
78.92
9
24.20
2
Incentivo Fiscal IPI -
Lei 7554/86
149.5
24
149.5
24
MRS Logística
51.26
7
18.27
7
Subvenções para
Investimentos 0 0
Participações em
Controladas
2.932.
650
1.902.
393
Valor Excedente na
Subscrição de Ações
1.787.
313
1.787.
313
Cia Siderúrgica
Paulista
1.972.
862
1.203.
530 Ações em Tesouraria
-
105.2
95
-
105.2
95
Debêntures Subscritas
- Cosipa 0 0
Reservas de
Reavaliação 0 0
Usiminas Mecânica
S.A.
399.3
51
368.9
68 Ativos Próprios 0 0
Usiminas Importação e
Exportação S.A. 676 3.853 Controladas/Coligadas 0 0
Usiparts S.A. -
Sistemas Automotivos
29.37
4
14.77
0 Reservas de Lucro
2.897.
598
912.6
77
Siderholding
Participações Ltda 265
45.78
7 Legal
218.3
20
65.63
4
Rio Negro Com. e Ind.
de Aço S.A.
77.68
6
16.27
1 Estatutária 0 0
RNcentro
Participações Ltda 535
36.74
5 Para Contingências 0 0
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 35
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Usiminas International
Ltd
339.5
81
212.1
35 De Lucros a Realizar 0 0
Fasal S.A. Com. Ind.
Prods. Siderúrgicos
80.44
3 0 Retenção de Lucros 0 0
Unigal Ltda
27.71
4 0
Especial p/ Dividendos
Não Distribuídos 0 0
Outras 4.163 334
Outras Reservas de
Lucro
2.679.
278
847.0
43
Outros Investimentos
46.01
8
46.06
1
Para Investimentos e
Capital de Giro
2.679.
278
847.0
43
Imobilizado
3.501.
652
3.615.
940 Ações em Tesouraria 0 0
Em Operação
6.475.
877
6.774.
114
Lucros/Prejuízos
Acumulados 0 0
Depreciação
-
3.131.
967
-
3.279.
445
Em Obras
157.7
42
121.2
71
Diferido 0 0
1.2.2 – Principais Componentes da Demonstração de Resultados do Exercício
Conforme o próprio nome sugere, a demonstração do resultado mostra o lucro ou
prejuízo obtido pela empresa no período. A demonstração do resultado da empresa
abriga: (1) as receitas; (II) o custo dos produtos, mercadorias ou serviços; e (III) as
despesas relativas a determinado período, que normalmente é de um ano. Quando,
entretanto, a empresa procede à alteração na data do encerramento de seu exercício
social, temos um período diferente de 12 meses para o exercício em que ocorreu a
mudança.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 36
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Cabe lembrar que, enquanto o balanço patrimonial apresenta a posição de ativos e
passivos em determinado momento, a demonstração do resultado agrupa valores
relativos a um período.
1.2.2.2.1 - Receita Operacional
A receita operacional decorre das operações normais e habituais da empresa. Numa
indústria, a receita operacional decorre das vendas dos produtos que a em presa fabrica.
Numa empresa comercial, decorre das vendas de mercadorias. Nas empresas de
prestação de serviços, logicamente, decorrerá dos serviços prestados.
1.2.2.1.1 Receita Operacional Bruta
A receita operacional bruta, muitas vezes, aparece também com a denominação vendas
brutas, representando, portanto, o faturamento bruto da empresa.
Em cada nota fiscal que a empresa emite, o valor da venda relativo a um produto será
igual ao preço unitário daquele produto vezes a quantidade de unidades vendidas,
acrescida ainda dos impostos que sejam cumulativos sobre o valor dos produtos ou
mercadorias vendidas.
Nas empresas de prestação de serviços, o faturamento pode ser em função dos serviços
prestados ou colocados à disposição do cliente, ou mesmo de tarefas concluídas ou de
horas trabalhadas.
1.2.2.1.2 - Vendas Canceladas
As vendas canceladas são aquelas decorrentes das devoluções efetuadas pelos clientes,
em função de os produtos não atenderem a suas especificações, apresentarem defeitos,
ou por qualquer outra razão.
1.2.2.1.3 Abatimentos Sobre Vendas
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 37
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Os abatimentos são decorrentes de descontos especiais concedidos aos clientes em
função de defeitos apresentados, por exemplo.
1.2.2.1.4 Impostos Incidentes Sobre Vendas
No caso dos impostos incidentes sobre vendas, trata-se de valores que foram
transferidos pela empresa para os governos federal (IPI), estadual (ICMS) ou municipal
(ISS), por exemplo.
1.2.2.1.5 Receita Operacional Líquida
A receita operacional líquida é efetivamente a parte da receita que ficará para a empresa
cobrir seus custos e despesas e para gerar lucro. Em resumo, a receita operacional bruta,
menos devoluções, abatimentos e impostos incidentes sobre vendas, gera a receita
operacional líquida.
1.2.2.2 – Custo dos Produtos, Mercadorias ou Serviços Vendidos
Os quatro grandes grupos de atividades são:
- As indústrias, que têm a função de produzir, transformando matéria-prima em bens;
- O comércio, que tem a função de intermediação, isto é, compra e venda, sem participar
diretamente no processo de transformação, como é o caso da indústria;
- O seguimento de prestação de serviços.
- A agricultura, a pecuária e a extração, que não serão objeto de análise nesta apostila.
1.2.2.3.1 Custos dos Produtos Vendidos
A empresa industrial compra as matérias-primas, transforma-as em bens destinados ao
consumo da população, ou mesmo em máquinas e equipamentos destinados à produção
de outros bens. O cálculo do custo dos produtos vendidos envolve técnicas e conceitos
de contabilidade de custos mais abrangentes. Conceitualmente, o custo de fabricação de
um produto compreende todos os gastos necessários à obtenção desse produto. Em
resumo, temos:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 38
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Custo de Matéria-prima + Mão-de-obra + Custos Indiretos de Produção
O agrupamento dos itens do custo de produção exige da empresa uma estrutura contábil
que permita identificar a quantidade de matéria-prima, os componentes e a mão-de-obra
direta que vai em cada produto. Ao mesmo tempo, é necessário que os custos indiretos
de fabricação sejam imputados ao produto por meio de critérios de rateio. Entre os
custos indiretos de fabricação, podemos citar os salários e encargos do pessoal de
fábrica, cujo trabalho não seja de fácil identi ficação no produto, os gastos com energia
para iluminação da fábrica, combustíveis, lubrificantes e depreciações, além de outros.
É sempre importante a distinção entre os custos de produção e as despesas do período.
Um mesmo tipo de gasto, dependendo de sua utilidade, pode receber classificações
distintas. Supondo o caso dos salários e encargos de uma secretária, se a mesma estiver
alocada na área de produção, seus salários e encargos serão classificados como custo
indireto de fabricação; se estiver na área de vendas, serão classificados como despesa
comercial; se estiver na área administrativa, serão uma despesa administrativa. Observe
que, na primeira situação (produção), a atividade de secretária está relacionada de forma
indireta com o processo produtivo, enquanto nas Outras duas (vendas e administração),
sua atuação é necessária à atividade da respectiva área onde trabalha, não podendo seus
salários serem considerados custo de produção.
1.2.2.3.2 Custo das Mercadorias Vendidas
O custo das mercadorias vendidas (CMV) é utilizado no caso de empresas comerciais,
havendo duas formas básicas para seu cálculo. A primeira refere-se às empresas que não
dispõem de um controle permanente de seus estoques e que, ao final de cada período,
procedem ao levantamento físico das quantidades de mercadorias existentes. Neste caso,
o cálculo do CMV é o seguinte:
Custo das Mercadorias = Estoque Inicial + Compras - Estoque Final
Para as empresas que mantêm controle permanente de seus estoques, registrando todas
as entradas e saídas de mercadorias, a obtenção do CMV ocorre diretamente pelos
registros contábeis, servindo eventual contagem física apenas para verificação da
eficiência dos controles.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 39
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1.2.2.3.3 Custos dos Serviços Prestados
No caso das empresas de prestação de serviços, o custo dos serviços prestados (CSP)
compreende todos os gastos necessários à obtenção dos serviços. Na prática, entretanto,
muitas das empresas de prestação de serviços tratam todos seus gastos como despesas
do período (despesas operacionais), sem fazer distinção entre os custos necessários à
obtenção dos serviços e as despesas relativas ao exercício.
1.2.2.4 Lucro Bruto
O lucro bruto é a diferença entre a receita operacional líquida e o CMV, CPV ou CSP.
A chamada margem bruta é a relação percentual entre o lucro bruto e a receita líquida.
Normalmente, o analista verifica como essa relação vem se com portando
historicamente.
1.2.2.5 – Despesas Operacionais
Segundo a legislação fiscal, são operacionais as despesas não computadas nos custos,
necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, ou
seja, as despesas necessárias às atividades da empresa.
1.2.2.5.1 Despesas com Vendas
São as despesas operacionais necessárias às atividades comerciais da empresa, tais
como: comissões de vendas, salários e encargos do pessoal da área de vendas, aluguéis
relativos aos escritórios de vendas, material de escritório, comunicações, promoção e
propaganda, entre outras necessárias às atividades da empresa e relacionadas com as
funções de comercialização das mercadorias, produtos ou serviços da empresa.
1.2.2.5.2 Despesas Administrativas
Despesas administrativas são parte das despesas operacionais. Dessa forma, as despesas
administrativas compreendem os gastos incorridos com as atribuições da administração
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 40
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
geral, tais como: salários e encargos de pessoal administrativo, aluguéis, despesas legais
e judiciais, material de escritório e outras com as mesmas características.
1.2.2.5.3 Despesas Financeiras (líquidas das receitas)
As despesas financeiras geralmente são publicadas na demonstração do resultado,
líquidas das receitas financeiras. Estas decorrem fundamentalmente das aplicações
financeiras feitas pela empresa no período, enquanto aquelas decorrem, basicamente, de
juros e encargos pagos à instituições financeiras, sobretudo pela utilização de capital
emprestado. Também são contabilizados como receitas financeiras pelas empresas os
descontos financeiros obtidos por antecipação de pagamento a fornecedores. Lado
outro, cabe lembrar que os descontos que a empresa concede a seus clientes por
antecipação de pagamento, após haver faturado, também são tratados como despesas
financeiras.
1.2.5.4 Outras Receitas e Despesas Operacionais
Nesse item, são abrigadas outras receitas, bem como outras despesas operacionais não
classificadas como despesas administrativas ou como despesas com vendas.
1.2.2.5.5 Resultado de Equivalência Patrimonial
Em item anterior, ao tratarmos das participações em outras empresas, abordamos a
forma de avaliação dos investimentos em coligadas e controladas. É importante
retomarmos o assunto para entendermos o chamado resultado de equivalência
patrimonial. Conforme art. 248, da Lei n 6.404 76, é obrigatório o uso do método de
equivalência patrimonial para avaliação dos investimentos relevantes em sociedades
coligadas, sob cuja administração tenha influência ou de que participe com 20% ou mais
do capital social, e em sociedades controladas. É considerado relevante o investimento
em cada sociedade controlada ou coligada se o valor contábil é igual ou superior a 10%
do patrimônio líquido da companhia, ou se no conjunto de sociedades controladas e
coligadas esse valor for igual ou superior a 15%. Cabe destacar que, no caso das
sociedades anônimas de capital aberto, por determinação da CVM, devem avaliar seus
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 41
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
investimentos em controladas (só em controladas) pelo método de equivalência
patrimonial, independente de o investimento ser ou não relevante.
É sempre importante o analista conhecer como foram gerados os lucros nas coligadas e
controladas que deram origem à equivalência na investidora.
Desse modo, se uma empresa tem participação em outra e atende às condições para
avaliação dos investimentos pelo método de equivalência patrimonial, a empresa
investidora irá reconhecer em sua demonstração de resultado uma parcela do lucro ou
do prejuízo da empresa na qual tem o investimento, na proporção de sua participação no
capital da outra, conforme já comentamos.
Quando o resultado de equivalência patrimonial for positivo, isto indica que está
havendo lucro na empresa na qual foi feito o investimento, ao mesmo tempo que
equivalência patrimonial negativa significa prejuízo da empresa investida.
Adicionalmente, é importante destacar que o resultado de equivalência patrimonial
apresentado na demonstração do resultado pode consolidar o resultado de diversas
empresas cujos investimentos estejam sendo avaliados pelo método de equivalência
patrimonial. Normalmente, as notas explicativas relacionam todas as empresas e os
valores que compõem o total especificado na demonstração do resultado da investidora.
1.2.2.6 Lucro Operacional
O lucro operacional, é o lucro bruto menos as despesas operacionais, mais o efeito
(ganho ou perda) de equivalência patrimonial.
Lucro Bruto - Despesas com vendas - Despesas administrativas - Outras receitas e
despesas operacionais - Despesas financeiras (líquidas das receitas) +/- Resuftado de
equivalência patrimonial = Lucro operaclonal
1.2.2.7 Receitas e Despesas Não Operacionais
1.2.2.7.1 Receitas Não Operacionais
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 42
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Serão incluídos em receitas não operacionais, os valores relativos às receitas decorrentes
de transações eventuais, isto é, algo que não é recorrente, que não se repete
habitualmente, como, por exemplo, o lucro obtido na venda de um bem in tegrante do
ativo imobilizado da empresa, ou mesmo o ganho na alienação de um investimento.
Sempre que a empresa apresentar receitas não operacionais relevantes, é preciso que o
analista saiba as causas e origens de tais receitas.
1.2.2.7.2 Despesas Não Operacionais
Serão incluídos em despesas não operacionais os valores atinentes às perdas em
transações eventuais, como, por exemplo, prejuízos na venda de bens do imobilizado ou
na alienação de investimentos. Perdas eventuais decorrentes de incêndios ou
inundações, sem que haja cobertura de seguros, também são classificadas em despesas
não operacionais.
1.2.2.8 Lucro Antes dos Impostos, Contribuições E Participações (LAIR)
Mais conhecido como LAIR (Lucro antes do imposto de renda), compreende o lucro do
período antes de deduzir o Imposto de Renda, a contribuição social e as participações
estatutárias no lucro. É o mesmo que o lucro operacional, menos o saldo de correção
monetária, mais as receitas não operacionais, menos as despesas não operacionais.
1.2.2.9 Imposto de Renda, Contribuições Sociais e Participações
Representa o Imposto de Renda do exercício que é uma percentagem do lucro
tributável. A provisão para imposto de renda constituída pela empresa é debitada no
resultado do exercício e creditada como obrigação no passivo circulante ou no exigível
a longo prazo, conforme o prazo em que o Imposto de Renda tenha de ser recolhido à
Receita Federal.
A contribuição social é outra parcela que é calculada com base no lucro da empresa,
sendo recolhida ao governo federal, conforme prevê a Constituição.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 43
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Compreende as participações estatutárias, que representem parcelas dos lucros
destinadas a empregados, diretores, debenturistas ou a portadores de partes
beneficiárias, por exemplo.
1.2.2.10 Lucro Líquido do Exercício
O lucro líquido é a parcela do resultado do período que sobrou para os acionistas ou
sócios. O lucro líquido, terá sua destinação orientada segundo os estatutos ou contrato
social da empresa, segundo a assembléia de acionistas ou decisão dos sócios e segundo
a Lei n 6.404 76. O art. 193, da Lei das Sociedades por Ações, determina que 5% do
lucro líquido do exercício, antes de qualquer destinação, deverão constituir a reserva
legal, que não pode exceder 20% do capital social. Prevê a lei, ainda (art. 194), que o
estatuto da companhia poderá criar reservas, desde que:
1 - indique de modo preciso e completo sua finalidade;
II - fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão
destinados a sua constituição;
III - estabeleça o limite máximo de reserva.
Parte dos lucros poderá ser distribuída sob a forma de dividendos, desde que o estatuto
fixe uma percentagem do lucro ou do capital, ou mesmo outro critério, desde que sejam
regulados com precisão e não sujeitem o acionista minoritário ao arbítrio dos órgãos da
administração ou da maioria. O dividendo obrigatório é definido na Lei n 6.404 76, em
seu art. 202, § 2 e diz:
Quando o estatuto for omisso e a assembléia geral deliberar alterá-lo para introduzir
norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e
cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos deste artigo.
Seguramente, o lucro líquido é um dos itens mais importantes para os proprietários das
empresas, pois possibilitará o retorno sobre seus investimentos.
A seguir, como exemplo, a tabela descreve a DRE da mesma empresa usada como
exemplo para o Balanço Patrimonial
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 44
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Descrição da Conta
01/01/2004 a
31/12/2004
01/01/2003 a
31/12/2003
Receita Bruta de Vendas e/ou
Serviços 8.803.356 6.221.262
Deduções da Receita Bruta -2.120.229 -1.412.503
Receita Líquida de Vendas e/ou
Serviços 6.683.127 4.808.759
Custo de Bens e/ou Serviços
Vendidos -3.585.897 -3.012.755
Resultado Bruto 3.097.230 1.796.004
Despesas/Receitas Operacionais 780.179 -218.300
Com Vendas -97.650 -69.201
Gerais e Administrativas -118.865 -99.312
LO 1 2.880.715 1.627.491
Financeiras -298.973 -360.748
Receitas Financeiras 58.605 -34.869
Despesas Financeiras -357.578 -325.879
LO 2 2.581.742 1.266.743
Outras Receitas Operacionais 48.898 32.703
Outras Despesas Operacionais -137.053 -182.982
Resultado da Equivalência
Patrimonial 1.383.822 461.240
Equivalência Patrimonial 1.262.486 412.614
Amortização de (Ágio) Deságio,
líquida 3.674 3.674
Prov. p/ Perdas com Passivo a
Descoberto 117.662 44.952
Resultado Operacional 3.877.409 1.577.704
Resultado Não Operacional -12.628 -23.951
Receitas 2.928 2.519
Despesas -15.556 -26.470
Resultado Antes 3.864.781 1.553.753
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 45
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Tributação/Participações
Provisão para IR e Contribuição
Social -551.921 -120.740
IR Diferido -259.136 -120.326
Lucro/Prejuízo do Exercício 3.053.724 1.312.687
1.3 – Padronização das Demonstrações Financeiras
A padronização das demonstrações financeiras para fins de análise, como o próprio
nome está sugerindo, tem por finalidade levar as peças contábeis a um padrão que
atenda às diretrizes técnicas internas da instituição ou do profissional independente que
esteja desenvolvendo a análise para atender determinada finalidade, como uma decisão
de investimentos ou decisão de crédito, entre outros objetivos.
Alguém pode achar difícil entender o motivo da padronização das demonstrações
financeiras para fins de análise, uma vez que existem tantas normas e tantas
organizações que definiram critérios, que dificilmente restaria algo a acrescentar, isto é,
as demonstrações financeiras já estariam perfeitas. É evidente que essa suposição está
errada. Cada análise é desenvolvida com um propósito específico, devendo o processo
de padronização orientar a análise para atender às Políticas Internas de Análise, as quais
decorrem de diversos fatores como:
a) O objetivo da análise: crédito, investimento, fusões, incorporações e análise de
concorrência, entre outros usos.
b) No caso de análise para crédito: análise para pequenos, médios ou grandes negócios.
Para curto ou longo prazo.
c) No caso de análise de investimentos: análise para grandes ou pequenos
investimentos. Para investimentos especulativos ou para aplicações permanentes
efetivamente.
Assim, do ponto de vista de cada usuário será necessário readaptar as peças contábeis
para atender aos seus objetivos. Nossa pretensão, neste item,será tão somente apresentar
algumas técnicas que habitualmente são utilizadas pelos analistas de crédito e de
investimentos, para fins de reclassificação, ou seja, de padronização de demonstrações
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 46
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
financeiras, bem como apresentar a padronização a ser utilizada durante nosso curso.
Não obstante ao conjunto de normas que rege a apresentação das demonstrações
financeiras, há necessidade de que o analista proceda uma readaptação dos
demonstrativos contábeis, reclassificando algumas de suas rubricas. Isso visa atender
aos propósitos de análise, podendo ter também como objetivo corrigir as eventuais
distorções, tanto do ponto de vista teórico quanto em relação às diferenças de critérios
que possam existir nos procedimentos adotados pelas diversas empresas, apesar de todo
o aparato de orientação. Tal reclassificação, além de atender às Políticas Internas de
Análise, propicia ao analista consistência nos critérios, permitindo-lhe, portanto, melhor
comparabilidade entre as diversas empresas do mesmo ramo de atividade, da mesma
região geográfica e do mesmo porte. O analista tem como responsabilidade profissional
interpretar as informações disponíveis e emitir seu parecer sobre determinada empresa,
cabendo ao mesmo assumir uma posição conservadora diante de situações duvidosas,
isto é, quando as informações não forem suficientemente claras, deverá proceder à
reclassificação de forma conservadora. Daí, quanto mais cuidadoso (e competente,
evidentemente) seja o analista, maior segurança se pode ter no produto de seu trabalho.
Metodologia de Padronização
2.3.1
Conforme já foi dito, a reclassificação ou padronização das demonstrações financeiras
tem como objetivo trazê-las a um padrão de procedimento e de ordenamento na
distribuição das contas, visando diminuir as diferenças nos critérios utilizados pelas
empresas na apresentação de tais demonstrações financeiras. O outro objetivo é fazer
com que as demonstrações atendam às necessidades de análise e sejam apresentadas de
forma simples de visualizar e fácil de entender, isto é, de correlacionar os diversos itens,
seguindo critérios próprios adotados internamente na empresa que esteja procedendo à
análise.
Não é exagero dizer que a verdadeira análise começa na reclassificação das
demonstrações financeiras. É necessário que o analista responsável por essa tarefa
conheça bem o que representa cada uma das contas das demonstrações financeiras, que
tenha domínio do mecanismo contábil utilizado pelas empresas, sabendo como aqueles
valores surgiram, o que eles representam e como serão liquidados. Precisa ainda saber
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 47
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
interpretar a nomenclatura utilizada pelas empresas, conver-tendo-a para planilhas
internas. É fundamental que o analista tenha condições de avaliar a relevância de cada
item, na medida que tal item possa apresentar dificuldade. Valores importantes devem
ser esclarecidos e pequenos valores muitas vezes não justificam perda de tempo.
Mesmo havendo uma estrutura legal para apresentação do balanço patrimonial, se
observarmos várias demonstrações financeiras de diferentes empresas, notaremos que
cada uma delas pode apresentar certas particularidades e contas que sejam inerentes à
sua atividade. Daí, a necessidade da definição de uma planilha própria que possibilite a
obtenção das informações necessárias à tomada de decisão e que seja de fácil
visualização e interpretação dos dados das várias empresas em análise.
A tabela a seguir será a nossa referência de padronização de Balanços durante o curso
de Administração Financeira na Faculdade de Sabará:
Descrição da Conta 31/12/2004 31/12/2003 Descrição da Conta 31/12/2004 31/12/2003
Ativo Total 11.271.122 9.341.603 Passivo Total 11.271.122 9.341.603
Ativo Circulante 3.746.938 2.309.116 Passivo Circulante 2.239.083 1.846.094
Disponibilidades 1.398.139 442.733
Empréstimos e
Financiamentos 616.470 927.011
Créditos 1.096.629 1.025.130 Debêntures 0 0
Estoques 931.440 682.592 Fornecedores 235.971 281.417
Outros 320.730 158.661
Impostos, Taxas e
Contribuições 598.472 173.862
Dividendos a Pagar 794.803 306.372
Provisões 45.231 41.367
Outros 11.063 6.359
Ativo Realizável a Longo
Prazo 913.668 1.425.614
Passivo Exigível a Longo
Prazo 3.022.060 3.470.451
Créditos Diversos 24.495 27.857
Empréstimos e
Financiamentos 961.957 1.597.248
Créditos com Pessoas
Ligadas 138.206 297.560 Debêntures 0 0
Outros 750.967 1.100.197 Provisões 1.552.200 1.588.149
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 48
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Outros 507.903 285.054
Ativo Permanente 6.610.516 5.606.873 Patrimônio Líquido 6.009.979 4.025.058
Investimentos 3.108.864 1.990.933 Capital Social Realizado 1.280.839 1.280.839
Imobilizado 3.501.652 3.615.940 Reservas de Capital 1.831.542 1.831.542
Diferido 0 0 Reservas de Reavaliação 0 0
Reservas de Lucro 2.897.598 912.677
Lucros/Prejuízos
Acumulados 0 0
A quantidade de exercícios financeiros analisados varia de acordo com o propósito da
análise a ser desenvolvida. No exemplo, por questões de formatação na apostila,
estamos apresentando o modelo com apenas dois exercícios financeiros, mas em nossos
estudos, pela precisão que se faz necessária, sempre trabalharemos com 3 exercícios.
Comparando os dois quadros que retratam o balanço patrimonial completo, (mais no
início do capítulo), e o balanço padronizado (apresentado supra), notamos basicamente
que Algumas contas são agrupadas, como por exemplo aquelas que integram as
disponibilidades, ou ainda contas a pagar, no passivo circulante, que foi somada com
fornecedores.
As razões que justificam a padronização da demonstração do resultado são análogas às
que citamos em relação ao balanço patrimonial. Vejamos no Quadro a seguir, o padrão
que utilizaremos em nosso curso.
Descrição da Conta 01/01/2004 a 31/12/2004
Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços 8.803.356
Deduções da Receita Bruta -2.120.229
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 6.683.127
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -3.585.897
Resultado Bruto 3.097.230
Despesas Administrativas -216.515
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 49
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
LO 1 2.880.715
Financeiras -298.973
LO 2 2.581.742
Outras Receitas Operacionais 48.898
Outras Despesas Operacionais -137.053
LO 3 2.493.587
Resultado da Equivalência Patrimonial 1.383.822
Resultado Operacional 3.877.409
Resultado Não Operacional -12.628
Resultado Antes Tributação/Participações 3.864.781
Provisão para IR e Contribuição Social -551.921
IR Diferido -259.136
Lucro/Prejuízo do Exercício 3.053.724
Para chegar-se à padronização da DRE, tomamos os seguintes procedimentos:
1)Reagrupamos as despesas operacionais em três grupos: Administrativas,
Financeiras e outras.
2 As despesas administrativas são a soma das despesas com vendas, administrativas,
pagamento de administradores, e outras do tipo.
3) As despesas financeiras são a soma das receitas com as despesas financeiras.
4) Criamos 3 “Lucros operacionais intermediários”. O propósito disto é
compararmos a evolução destes lucros parciais através do tempo
1.4 – Análise Vertical e Horizontal
O método de análise vertical e horizontal presta valiosa contribuição na interpretação da
estrutura e da tendência dos números de uma empresa. Pode ainda auxiliar na análise
dos índices financeiros e em outros métodos de análise. De certa forma, análise vertical
e análise horizontal completam-se e até sobrepõem-se.
Para se fazer uma boa análise financeira de uma empresa, é necessário conjugar o
uso dos vários ferramentais disponíveis. Desse modo, a análise horizontal e vertical
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 50
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
deve ser entendida como um dos instrumentos de trabalho do analista e não como
instrumento único.
1.4.1 – Análise Vertical
A análise vertical relaciona a participação de uma conta do balanço, ou DRE, com o
tal destes. No balanço Patrimonial, tem-se o ativo total (ou passivo total) como o
denominador, e a conta em análise como numerador. O ativo total corresponde a
100%, enquanto queremos determinar quanto cada conta do balanço tem sua
participação neste total de 100%
Como exemplo, iremos utilizar as contas Disponibilidade e empréstimos, relativos
ao ano de 2004, do balanço que apresentamos como exemplo.
A disponibilidade de 2004 é de R$ 1.398.139, e o ativo total é de
R$11.271.122; Logo 1.398.139 / 11.271.122 = 12,40%
Ou seja, do total dos ativos neste empresa, 12,40% estão aplicados nas
disponibilidades.
Os fornecedores de 2004 são de R$98.979, enquanto o passivo total é de
r$11.271.122. Logo 98.979 / 11.271.122 = 0,88%
Ou seja, do total das obrigações que a empresa tem, somente 0,88% deve aos
fornecedores.
IMPORTANTE: Alerta-se que para a precisão para a qual necessitamos, todos
os resultados de quaisquer cálculos devem ter duas casas decimais.
Já na demonstração do resultado do exercício (DRE), devemos tomar sempre como
base (100%) a Receita Líquida de Vendas, ou também chamada de vendas líquidas.
Alerta-se para este ponto, pois é comum, alunos cometerem erros em trabalhos e
provas por usarem a Receita Bruta de Vendas.
Como exemplo, vamos calcular os índices verticais para as contas dos custos dos
produtos vendidos e do lucro líquido?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 51
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O CPV de 2004 é de -3.585.897, enquanto a Receita líquida de Vendas é de
6.683.12, logo -3.585.897 / 6.683.127 = 53,66%
Ou seja, de tudo que esta empresa vende, 53,66% é utilizado para pagar os
custos de fabricação de seus produtos.
O lucro líquido é de 3.053.724, enquanto a receita líquida de vendas é de
6.683.127, logo
3.053.724 / 6.683.127 = 45,69%
Assim, após esta empresa vender seus produtos, pagar seus custos e
despesas operacionais, as despesas não operacionais, pagar seus tributos,
fica com 44,69%, o que é um resultado excepcional, em todos os sentidos, de
forma que já temos a percepção que é uma empresa que dá retornos de
rentabilidades muito bons.
Em síntese: a análise vertical compara com que participação cada conta
contribui para o total do ativo, ou das receitas líquidas, caso seja BP ou DRE,
respectivamente.
1.4.2 – Análise Horizontal
A análise horizontal tem por finalidade levantar a evolução de uma determinada
conta, em relação a ela mesma, num certo período de tempo. Assim, o índice a
ser comparado é o ano mais distante, sendo ele o denominador, e o ano em
análise o numerador.
ATENÇÃO – A análise horizontal sempre é calculada em relação ao ano mais
distante. Se temos 4 exercícios financeiros, por exemplo 2006, 2005, 2004 e
2003,calculamos 2006 em relação a 2003, 2005 em relação a 2003, e 2004 em
relação a 2003.
Suponhamos, pois, que queremos saber como foi a evolução da conta
estoques nos anos que temos disponíveis em nosso balanço. Para tanto,
dividimos o estoque de 2004 pelo de 2003, assim temos:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 52
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
931.440 / 682.592 = 140,76%
Concluímos pois, que houve um aumento de 40,76% de 2003 para 2004 nos
estoques da nossa metalúrgica.
Verifiquemos agora, a evolução do lucro líquido nos anos que temos disponível
em nossa DRE. Assim teremos lucro 2004/lucro 2003, então:
3.053.724 /1.312.687 = 232,63%
Portanto, o lucro líquido aumentou em 132,63%.
Lembremos que 100% corresponde ao índice mais antigo, portanto as variação
computadas são acima ou abaixo deste índice.
Particularidades da Análise Horizontal
1) Tendo como resultado de um cálculo de índice horizontal um número
menor que 100%, a diferença entre este número e e 100 será o percentual
em que a conta decresceu.
2) Se em um ano índice, em nosso caso 2003, uma conta qualquer for igual
a 0, não posemos calcular os índices horizontais, vez que é impossível
dividir-se por 0.
3) Quando há mudança no sinal da conta (um ano é positivo e outro é
negativo), não levamos em conta o índice horizontal, pois pode causar
muitos problemas para seu entendimento.
Confirma-se o que foi falado no início deste item: as análises vertical e
horizontal se complementam, na medida em que uma auxilia a outra na
compreensão das demonstrações financeiras, ou até mesmo, ajudam a
levantar dúbidas sobre estas.
A seguir apresentamos um quadro com o cálculo dos índices vertical e
horizontal da empresa em análise.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 53
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Balanço de pagamento – Análise Vertical e Horizontal
Descrição da
Conta
AV
2004
AH
2004-
2003
AV2
003
Descrição da
Conta
AV
2004
AH
2004-
2003
AV2
003
Ativo Total
100,
00%
120,66
%
100,
00% Passivo Total
100,
00%
120,66
%
100,
00%
Ativo Circulante
33,2
4%
162,27
%
24,7
2% Passivo Circulante
19,8
7%
121,29
%
19,7
6%
Disponibilidades
12,4
0%
315,80
%
4,74
%
Empréstimos e
Financiamentos
5,47
% 66,50%
9,92
%
Créditos
9,73
%
106,97
%
10,9
7% Debêntures
0,00
% X
0,00
%
Estoques
8,26
%
136,46
%
7,31
% Fornecedores
2,09
% 83,85%
3,01
%
Outros
2,85
%
202,15
%
1,70
%
Impostos, Taxas e
Contribuições
5,31
%
344,22
%
1,86
%
Dividendos a
Pagar
7,05
%
259,42
%
3,28
%
Provisões
0,40
%
109,34
%
0,44
%
Outros
0,10
%
173,97
%
0,07
%
Ativo Realizável a
Longo Prazo
8,11
% 64,09%
15,2
6%
Passivo Exigível a
Longo Prazo
26,8
1% 87,08%
37,1
5%
Créditos Diversos
0,22
% 87,93%
0,30
%
Empréstimos e
Financiamentos
8,53
% 60,23%
17,1
0%
Créditos com
Pessoas Ligadas
1,23
% 46,45%
3,19
% Debêntures
0,00
% X
0,00
%
Outros
6,66
% 68,26%
11,7
8% Provisões
13,7
7% 97,74%
17,0
0%
Outros
4,51
%
178,18
%
3,05
%
Ativo Permanente 58,6 117,90 60,0 Patrimônio 53,3 149,31 43,0
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 54
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
5% % 2% Líquido 2% % 9%
Investimentos
27,5
8%
156,15
%
21,3
1%
Capital Social
Realizado
11,3
6%
100,00
%
13,7
1%
Imobilizado
31,0
7% 96,84%
38,7
1%
Reservas de
Capital
16,2
5%
100,00
%
19,6
1%
Diferido
0,00
% X
0,00
%
Reservas de
Reavaliação
0,00
% X
0,00
%
Reservas de Lucro
25,7
1%
317,48
%
9,77
%
Lucros/Prejuízos
Acumulados
0,00
% X
0,00
%
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 55
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Demonstração de Resultado do Exercício – Análise Vertical e Horizontal
Descrição da Conta AV 2004 AH 2004-2003 AV2003
Receita Bruta de Vendas e/ou Serviços X 141,50% X
Deduções da Receita Bruta X 150,10% X
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 100,00% 138,98% 100,00%
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos -53,66% 119,02% -62,65%
Resultado Bruto 46,34% 172,45% 37,35%
Despesas Administrativas -3,24% 128,49% -3,50%
LO 1 43,10% 177,00% 33,84%
Financeiras -4,47% 82,88% -7,50%
LO 2 38,63% 203,81% 26,34%
Outras Receitas Operacionais 0,73% 149,52% 0,68%
Outras Despesas Operacionais -2,05% 74,90% -3,81%
LO 3 36,58% 225,57% 22,54%
Resultado da Equivalência Patrimonial 20,71% 300,02% 9,59%
Resultado Operacional 58,02% 245,76% 32,81%
Resultado Não Operacional -0,19% 52,72% -0,50%
Resultado Antes Tributação/Participações 57,83% 248,74% 32,31%
Provisão para IR e Contribuição Social -8,26% 457,12% -2,51%
IR Diferido -3,88% 215,36% -2,50%
Lucro/Prejuízo do Exercício 45,69% 232,63% 27,30%
1.5 – Índices Financeiros
Os índices financeiros são relações entre contas ou grupos de contas das demonstrações
financeiras, que têm por objetivo fornecer-nos informações que não são fáceis de serem
visualizadas de forma direta nas demonstrações financeiras.
Por exemplo, se alguém nos diz que o passivo circulante de uma empresa é de $
100.000,00, essa informação isolada não é relevante, pois esse valor pode ser grande ou
pequeno, dependendo do porte da empresa e do referencial com que esteja sendo
comparado. Numa pequena empresa que tenha vendas anuais da ordem de $ 50.000,00,
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 56
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
uma dívida no curto prazo da ordem de $ 100.000,00 equivaleria a duas vezes seu
faturamento anual e representaria um valor expressivo e insuportável, enquanto que para
uma empresa de um porte maior, $ 100.000,00 pode ser um número muito pequeno ou
compatível com sua realidade.
Ainda como medida relativa de grandeza, o índice fornece a idéia quantitativa das
relações estabelecidas, sem, entretanto, nos fornecer os elementos qualitativos contidos
nas mesmas. Estes índices qualitativos, só poderão ser estabelecidos quando
comparados com outros índices de empresas do mesmo ramo, porte e localização
geográfica. Em outras palavras, se, por exemplo, calcularmos um índice de liquidez
igual a 0,9, temos o índice quantitativo, mas em termos qualitativo, o que representa
este número? Ele é bom ou ruim? Só teremos esta resposta se o compararmos com
outros índices de liquidez de empresas semelhantes as que estamos analisando. Para
isto, as publicações econômico-financeiras especializadas como a Gazeta Mercantil, o
Valor Econômico, as câmaras setoriais, publicam os índices padrão dos setores em
causa, o que nos dará uma idéia de fraco, mediano ou bom.
Assim, após definir quais os índices a serem utilizados, devemos observar a tendência e
atribuir um peso a cada índice. É importante que atribuamos um peso (um conceito) a
cada um dos índices, de modo que tenhamos uma ponderação que nos leve a uma
avaliação final da empresa. O Continuando, pois com nosso anterior exemplo, com a
taxa de liquidez geral de 0,89, comparando-a com uma tabela padrão do setor, temos
que índices desta categoria abaixo de 0,95 são fracos; entre 0,96 e 1,07 são medianos; e
acima de 1,08 são bons. Concluímos, então, que este índice é fraco.
Para fins didáticos, vamos agrupar os índices em quatro áreas de estudo, isto é:
(I) atividade e retorno (lucratividade);
(II) atividade e rotação;
(III) estrutura e endividamento;
(IV) liquidez.
Também com fins didáticos, estaremos calculando os índices para o ano de
2004 de nossa empresa de estudos.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 57
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1.5.1 Índices de Atividade e Retorno
Certamente, o que mais influencia um investidor é a rentabilidade da empresa,
por isto a grande importância nesta categoria de índices. No caso de uma
análise para assessorar ou decidir no investimento em uma empresa, estes são
os índices que mais devem ser levados em conta, tendo um peso maior em
relação aos outros. Esta categoria tem sua importância também em outros
tipos de análise, como a de crédito, visto que se uma empresa tiver índices de
endividamento moderados, mas não tiver rentabilidade suficiente, não poderá
saudar suas dívidas.
1.5.1.1 – Giro do Ativo GA
Entendendo que o ativo total é o total de investimentos, ou direitos que uma
empresa tem, desejamos saber quantas vezes uma determinada empresa gira
seu ativo durante o ano. Quanto mais vezes esta empresa girar seu ativo, quer
dizer que tem mais eficiência no uso de seus recursos.
Giro do Ativo = Receita Operacional Líquida ROL / Ativo Total AT
É um índice que quanto maior, melhor.
Giro do Ativo = 0,65
Explicação do índice: Nossa metalúrgica gira 65% de seu ativo total em um
ano.
1.5.1.2 –Retorno Sobre as Vendas RSV
É a relação entre o lucro líquido e a receita líquida. É a conhecida margem
líquida, margem de lucros, ou simplesmente o lucro líquido.
É um dos índices de mais fácil entendimento, pois demonstra quanto sobrou
para a empresa, depois de pagar todos seus custos, despesas e tributos,
contribuições e participações.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 58
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Retorno Sobre Vendas RSV = Lucro líquido LL / Receita Líquida RL
É um índice que quanto maior, melhor.
Lucro líquido = 45,69%
Explicação do índice: A metalúrgica retèm 45,69% do que vende.
1.5.1.3 – Retorno sobre o Ativo RSA
Este índice relaciona o lucro líquido com o total de investimentos feito na
empresa, uma vez que entendemos que o ativo é a totalidade dos
investimentos realizados. Os bancos de investimento prestam muita atenção a
este índice antes de fazerem seus empréstimos, pois querem saber do nível de
eficiência de se obter lucros segundo os investimentos.
RSA = Lucro lLíquido LL / Ativo Total AT
Também podemos obter este resultado multiplicando-se o GA pelo RSV.
Quanto maior, melhor.
Retorno sobre o ativo = 29,63%
Explicação do índice: Para cada real investido no ativo, ele dá o retorno de R$
0,29 por ano.
1.5.1.4 – Retorno sobre o Patrimônio Líquido RPL
Considerando que o PL é o dinheiro do acionista na empresa, queremos
determinar com este índice qual o retorno que o dinheiro do acionista retorna
para a empresa. Ou ainda, determinar se a empresa administra com eficiência
o dinheiro do acionista.
Retorno Sobre PL = Lucro líquido /PL
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 59
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quanto maior, melhor
Retorno Sobre o PL = 50,81%
Explicação do índice: Para cada real recebido do acionista, a empresa retorna
um lucro de R$ 0,51 por ano.
1.5.2 – Índices de Atividade e Rotatividade
a análise dos prazos médios constitui importante instrumento para se conhecer a política
de compra e venda adotada pela empresa. A partir dela pode-se constatar a eficiência
com que os recursos estão sendo administrados (Duplicatas a Receber, Estoques e
Fornecedores). Os índices de prazos médios não devem ser analisados individualmente,
mas sempre em conjunto. A conjugação dos três índices de prazos médios leva à análise
dos ciclos operacionais e financeiro.
Para fins de análise, quanto maior for a velocidade de recebimento de vendas e de
renovação de estoque, melhor. Por outro lado, quanto mais lento for o pagamento das
compras, desde que não corresponda a atrasos, melhor.
1.5.2.1 – Prazo Médio de Giro de Estoque
O prazo médio de giro de estoque (PMGE) ou prazo médio de rotação do estoque
(PMRE), é definido pelo espaço de tempo entre a compra da matéria prima, o processo
de fabricação, até o momento de sua venda. Quanto mais baixo este prazo, entende-se
que a empresa é mais eficiente, uma vez que não imobiliza recursos nos estoques,
podendo fazer uso dele em outros setores.
PMGE = 360 X (Esttoques / CPV)
Quanto menor o prazo, melhor.
PMGE = 94
Explicação do índice: Esta empresa analisada leva, em média, 94 dias do momento que
compra sua matéria prima, até vender seus produtos acabados.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 60
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1.5.2.2 – Prazo Médio de Recebimento das Vendas
Como o próprio nome diz, queremos com este índice, determinar, em média, quantos
dias levamos para receber as vendas realizadas.Como veremos no capítulo que tratará
do capital de giro, demonstra eficiência financeira, a princípio, a empresa que diminui
ao máximo os prazos de recebimentos, ou seja, emitir o mínimo de duplicatas, vendas a
prazo, etc, no entanto os prazos concedidos são um movimento do mercado, com o qual
a empresa não pode ir contra, sob pena de perder vendas e comprometer sua
estabilidade.
Em nossos estudos, adotaremos as nomeclaturas duplicatas e créditos com o mesmo
significado.
PMRV = 360 X (Duplicatas / Receita Bruta)
É um Índice que quanto menor, melhor.
PMRV = 59 dias
Explicação do índice: Pela aplicação da fórmula do PMRV, com os dados do balanço e
DRE da empresa metalúrgica exemplo, entendemos que do momento que a venda é
feita, esta empresa, leva, em média, 59 dias para receber.
1.5.2.3 – Prazo Médio de Pagamento das Compras
Diz a teoria financeira que uma empresa ganha eficiência e depende menos de capital de
giro de terceiros se diminuir ao máximo seus prazos de recebimento, e aumentar ao
máximo seus prazos de pagamento, sem contudo tornar-se inadimplente, o que
comprometeria seu crédito. Assim, com o PMPC, determinamos, em média, quanto
tempo se leva para pagar as compras dos produtos, ou matérias-primas.
Veremos que na fórmula, é utilizada a variável “Compras”, mas onde achamos as
compras no balanço ou DRE?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 61
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
- Na realidade não há uma rubrica compras nas demonstrações financeiras. Se a análise
levada a cabo é interna, temos acesso à contabilidade, a qual pode nos apontar a quantia
exata gasta em compras. No entanto se a análise é externa, não temos acesso a estes
dados. Assim, se estabelece, pela experiência, que:
- Empresas Comerciais: Compras = Custo da Mercadoria Vendida (CPV ou CMV);
- Empresas industriais: Compras = 62% do Custo do Produto Vendido (CPV).
É estabelecido que nas empresas industriais as compras são 62% do CPV, pois nem só
de matéria-prima é formado o custo do produto em transformação. Outros custos
operacionais diretos e indiretos estão presentes, tais como: mão-de-obra, energia elétrica
da área de produção, manutenção dos equipamentos da linha de produção, etc.
CMPV = 360 X ( Fornecedores / Compras)
É um índice que quanto maior, melhor.
PMPC = 16 dias.
Explicação do índice: A empresa analisada leva, em média, 16 dias para pagar as
compras de matéria-prima que faz, o que é um prazo relativamente pequeno, levando ao
analista a se questionar o prquê disto.
1.5.2.4 – Ciclo Operacional
O ciclo operacional é o tempo que uma empresa gasta para suas atividades operacionais,
ou seja, a compra da matéria prima, trasformação da matéria-prima e produto acabado,
formação de estoques, venda do produto e, finalmente, o recebimento da venda. Quanto
menor o ciclo operacional, melhor a eficiência administrativa e produtiva da empresa.
Para isto devemos somar o prazo médio de giro de estoque e o prazo médio de
recebimento das compras.
Ciclo Operacional = PMGE + PMRV
É um índice que quanto menor, melhor.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 62
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Ciclo Operacional = 153 dias.
Explicação do índice: A empresa leva 153 dias do recebimento da matéria-prima até o
recebimento das vendas.
1.5.2.5 – Ciclo Financeiro
As operações de uma empresa, normalmente, são do tipo: “Compra – Vende – Paga –
Recebe”. Com os índices de rotatividade e operação, já conseguimos determinar quanto
tempo levamos para produzir, vender, receber e pagar nossas comtas. No entanto,
acrescentamos no item anterior a idéia do ciclo operacional, a qual nos remete à idéia
idéia que compreende desde o momento da compra da matéria-prima, até o seu
recebimento.
Com o conceito de ciclo financeiro, queremos determinar quantos dias a empresa tem
que financiar sua produção, quer seja com capital próprio, qual seja com capital de
terceiros.
Ciclo Financeiro = CO – PMPC
É um índice do tipo quanto menor, melhor.
CF = 137;
Explicação do índice: Esquandolecontamevadosomaisssãota empresa tem que financiar
sua produção com capital suficiente para 137 dias. Em certos casos, raros por sinal, há a
possibilidade de que o ciclo financeiro seja negativo, e isto quer dizer que a empresa
compra a matéria prima, vende os produtos, recebe a venda e somente depois paga seus
fornecedores,ou seja, os fornecedores financiam a produção da empresa. Caso clássico
disto, eram as políticas de Ford, no início do século XX, enquadrando-se totalmente no
descrito supra.
1.5.3 – Índices de Endividamento
Os índices de endividamento são os mais levados em conta na análise, quando o que
estamos verificando é a concessão ou não de crédito a uma certa empresa.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 63
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O maior número de teses na administração financeira é sobre qual o nível de
endividamento que uma empresa pode assumir, e a resposta a este questionamento é que
depende de seu porte, ramo e localização.
Um banco, por exemplo, pode trabalhar com R$ 8,00 de terceiros, para cada R$ 1,00
seu. Em qualquer outro ramo, este nível de endividamento seria absolutamente
inaceitável, todavia para as instituições financeiras é normal.
Vale ressaltar que é muito usual no meio financeiro a expressão “estrutura financeira”, a
qual quer dizer como estão distribuídas as contas no passivo.
1.5.3.1 – Imobilização do Patrimônio Líquido
Este índice indica quanto do patrimômio Líquido está investido no Ativo Permanente. O
ideal é que o PL seja suficiente para financiar o AP, e ainda reste para financiar o Ativo
circulante e o realizável a longo prazo.
Quando encontramos este índice com mais de 100%, quer dizer que o PL não financia
totalmente o AP, tendo a empresa que financiar o seu imobilizado com recursos de
terceiros, o que pode ser uma situação delicada.
IPL = Ativo Permanente AP / Patrimônio Líquido PL
de
É um índice que quanto menor, melhor.
IPL = 109,99%
Explicação do índice: Nossa metalúrgica tem uma imobilização do PL de 109,99%, ou
seja, praticamente 10% do ativo permanente (investimentos, imobilizado e diferido) é
financiado por capital de terceiros, o que pode se tornar crítico para a empresa.
1.5.3.2 – Participação de Capital de Terceiros
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 64
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Indica qual percentual das obrigações da empresa que são devidas a terceiros, por
exemplo: bancos, governo (tributos), fornecedores, empregados (salários e
participações), investidores (debenturistas e distribuição de dividendos), etc.
PCT = (passivo circulante + ELP) / Patrimônio Líquido
Índice que quanto menor, melhor.
PCT = 87,54%
Explicação do índice: O capital de terceiros na empresa corresponde a 87% do capital
próprio, ou seja, há mais capital próprio do que de terceiros, o que é um número
positivo.
1.5.3.3 – Composição do Endividamento
Este índice indica quanto das dívidas da empresa vencem no curto prazo.
CE = PC / (PC+ELP)
É um índice que quanto menor, melhor.
CE = 42,56%
Explicação do índice: 42% da dívida da metalúrgica vencerá em até 360 dias, o restante
além deste prazo. É preocupante a empresa que tem a maior parcela da dívida a vencer
no curto prazo.
1.5.4 – Índices de Liquidez
Liquidez quer dizer a capacidade que uma determinada organização tem para cumprir
seus compromissos financeiros. Também pode ser chamado de solvência. É importante
de ser analisada por fornecedores que querem saber se podem conceder prazos, e se
serão pagos após este prazo. Importante também para as instituições financeiras, na
medida que querem saber se esta empresa tem a capacidade de pagar seus
compromissos.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 65
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1.5.4.1 – Liquidez Geral
O índice de liquidez geral indica a capacidade geral da empresa honrar seus
compromissos, levando em conta o curto e o longo prazo.
LG = (AC + RLP) / (PC + ELP)
[É um índice que quanto maior, melhor
LG = 0,89
Explicação do índice: Levando-se em conta os pagamentos que devem ser efetuados no
curto e longo prazo, a empresa exemplo só consegue honrar 89% deles.
1.5.4.2 – Liquidez Corrente
Indica, se no curto prazo, a empresa tem condição de honrar seus compromissos, ou se
terá de alocar outros recursos para isto.
LC = AC / PC
É um índice que quanto maior, melhor
LC = 1,67
Explicação do índice? Nossa metalúrgica exemplo tem condições de pagar todas suas
obrigações de curto prazo, e ainda tem um excesso de 67% destas obrigações.
1.5.4.3 – Liquidez Seca
Indica que, se só levarmos os ativos mais líquidos (disponibilidades e créditos), a
empresa tem condições de honrar seus compromissos de curto prazo.
LS = (Disponibilidades + Créditos) / PC
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
É um índice que quanto maior, melhor
LS = 1,26
Explicação do índice: Se esta empresa analisada parar suas atividades repentinamente,
consegue saldar todas suas dívidas de curto prazo, e ainda detêm uma sobra de 26% de
suas obrigações.
1.6 – Índices Padrão e Relatório da Análise
1.6.1 – Índices Padrão
Como já foi ressaltado, de quase nada valem os índices financeiros, verticais e
horizontais, se não temos um parâmetro para compara-los. Da mesma forma, não há
valia compararmos o índice de liquidez imediata, por exemplo, de uma empresa
pequena, com uma grande, ou de uma metalúrgica com uma empresa comercial, ou uma
empresa da região nordeste com outra do sudeste.
Para isto, analistas fazem o acompanhamento dos índices, classificando-os, de várias
formas. A que iremos adotar, mais simples e prática, classifica-se os índices como bons,
médios ou fracos.
Publicações como a Gazeta Mercantil, Valor econômico, câmaras setoriais de comércio,
Federações de empresas do mesmo ramo, publicam os índices padrão dos respectivos
setores.
Abaixo está uma tabela de índices padrão para a indústria metalúrgica, empresas de
grande porte.
Índice Fraco Médio Bom
Lucro Líquido < 7,2% De 7,3% a 15,3% >15,4%
Retorno sobre PL <22,1% De 22,2% a 30,7% > 30,8%
Participação de Capital de Terceiros > 117,1% De 98,5% a 117,0% < 98,4%
Composição do Endividamento >72,0% De 45,0% a 71,9% < 44,9%
Liquidez Geral <0,75 De 0,76 a 0,89 >0,90
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Liquidez Imediata <0,70 De 0,71 a 0,82 > 0,83
Percebe-se que nem todos os índices financeiros estão presentes nos índices padrão. Os
analistas selecionam os que acham mais relevantes e enfocam seus esforços por
determinar tais índices.
Passamos a comparar os índices que calculamos com os da tabela acima, e classificamos
como bons, médios ou fracos. Vejamos pois:
Rentabilidade
- Lucro líquido = 45,69%. Comparando com o índice padrão do setor, classificamos
como BOM.
- Retorno sobre PL = 50,81%. Comparando com os índices padrão, classificamos como
Bom.
- Conclue-se que a rentabilidade desta empresa é boa, ois os índices disponíveis para a
comparação, assim o apontam. Numa análise de viabilidade de investimentos nesta
metalúrgica, a mesma seria recomendada, visto que este item é o que leva peso maior
neste tipo de análise.
Endividamento
- Participação de Capital de terceiros = 87,54%. Comparando-se com os índices padrão,
chegamos a conclusão que classifica-se como bom.
- Composição do endividamento = 42,56%. Comparando-se com os índices padrão,
chegamos a conclusão que classifica-se como bom.
Podemos concluir que os índices de endividamento desta empresa são bons. Este
aspecto deve ser o mais relevante quando nossa análise tem a finalidade da concessão de
crédito.
Liquidez.
- Liquidez Geral = 0,89. Comparando-se com os índices padrão, chegamos à conclusão
que é um índice considerado médio.
- Liquidez Corrente = 1,67. Comparando-se com os índices padrão, chegamos à
conclusão que é um índice considerado bom.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 68
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Podemos concluir que a empresa tem boa liquidez. Este aspecto tem que ser muito
levado em conta pelos fornecedores, porque desejam saber se a empresa tem a
capacidade para honrar seus compromissos.
1.6.2 – Relatório da Análise
Ao chegarmos a este ponto da análise, após conseguirmos as demonstrações financeiras,
padronizá-las, realizar o cálculo dos índices horizontais, verticais, financeiros, após
levantarmos os índices padrão do setor, devemos realizar uma análise dos dados e
emitirmos um relatório com um parecer objetivo.
Muitos autores tem seus modelos de relatório, e sem menosprezar qualquer deles, o
autor desta apostila tem um modelo, o qual se enquadra e cumpre os objetivos de nosso
curso. Neste modelo, ao redigirmos o relatório, induz-se o aluno a aprofundar sua
análise. Ele é constituído por 6 tópicos. Vejamo-lo pois:
I – Introdução
Na introdução do relatório, você deverá descrever os principais itens que descrevem a
empresa,porte, ramo, setor, espaço geográfico ocupado, movimentos estratégicos
durante os últimos anos, dados históricos, influência da conjuntura econômica sobre a
empresa, etc.
Na introdução também deve ser citado o objetivo da análise.
II – Evolução Geral das Contas
Você deverá descrever como foi a evolução das contasnos anos avaliados. Estão
estáveis? Estão instáveis? Quais as maiores variações nas contas? Por que? Possíveis
efeitos destas alterações o estabilização.
III – Possibilidades e Limitações quanto à Rentabilidade
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 69
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Faça a comparação dos índices de rentabilidade calculados com os índices padrão.
Observe a evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados,
emita um parecer se a empresa apresenta uma rentabilidade boa, regular ou fraca.
IV – Possibilidades e Limitações quanto ao Endividamento
Faça a comparação dos índices de endividamento calculados com os índices padrão.
Observe a evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados,
emita um parecer se a empresa apresenta um endividamento baixo, aceitável ou alto.
V – Possibilidades e Limitações quanto a Liquidez
Faça a comparação dos índices de liquidez calculados com os índices padrão. Observe a
evolução destes índices durante os anos analisados. De posse destes dados, emita um
parecer se a empresa apresenta uma liquidez boa, regular ou fraca.
VI – Conclusão
Dê sua conclusão da análise, enfocando o objetivo, emitindo um parecer sobre o que
está sendo pedido, quanto a investimentos, empréstimos, concessão de linhas de crédito,
análise de concorrência, análise interna, etc.
1.7 – Questões
1. Dê os conceitos de análise horizontal e vertical.
2. Quanto à análise vertical, podemos afirmar:
a. Análise vertical é menos informativa que a análise horizontal, e só podemos utilizar
análise vertical no balanço patrimonial.
b. A análise vertical possibilita a idéia do crescimento real do ativo devi do à política de
verticalização da produção ao longo do tempo.
c. A análise vertical possibilita idenbficar a representatividade de um item em relação a
um referencial, No balanço patrimonial, esse referencial normalmente é o valor do
ativo, enquanto na demonstração do resultado é a receita líquida de vendas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 70
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
d. A análise vertical é muito conflitante com a análise horizontal e devido a esse fato
convém só usar análise horizontal para calcular a evolução das vendas. Para os demais
itens da demonstração do resultado e do balanço patrimonial devemos usar análise
vertical.
3. Com base nas demonstrações financeiras publicadas, de uma empresa de capital
aberto, que sejam completas e comparativas, desenvolva as seguintes tarefas:
a. Padronize o balanço e a demonstração do resultado.
b. Calcule a análise vertical para o balanço.
c. Identificar os itens que tiveram variações mais expressivas.
d. Relacione e comente as possíveis causas das variações.
e. Calcule a análise vertical e horizontal para a demonstração do resultado.
f. Identificar e comentar os principais itens e as causas que contribuíram para afetar o
resultado da empresa ao longo dos três exercícios em análise.
1.8 – Estudo de Caso
Analizaremos empresas durante o processo ensino-aprendizagem, os quais se
constituirão de estudos de caso, sendo apresentados, em mídia digital, durante os
trabalhos de sala de aula.
1.9 - Bibliografia Recomendada
IUDÍCIBUS, Sérgio de. Análise de balanços. 5. ed. São Paulo : Atlas, 1988.
MATARAZZO, Dante C. Análise financeira de balanços. São Paulo : Atlas, 1985.
SILVA, JOSÉ P. Análise Moderna de Empresa. São paulo: Atlas, 2005
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Ramdolpho W., JAFFE, Jeffrey F.Administração
financeira: corporate finance. São Paulo Atlas, 1993.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 71
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
CAPÍTULO 02 - A DECISÃO FINANCEIRA E A EMPRESA
CONTEÚDO DO CAPÍTULO
2.1. Introdução
2.2. Objetivo e funções da administração financeira
2.3. Mercado financeiro
2.4. Tipos de empresas
2.5. Questões
2.6. Bibliografia recomendada
2.1. Introdução
A administração financeira objetiva maximizar a riqueza dos acionistas da empresa. O
administrador financeiro é o principal responsável pela criação de valor da empresa e,
para isso, se envolve cada vez mais com os negócios da empresa como um todo. Suas
atividades abrangem decisões estratégicas, como a seleção de alternativas de
investimentos e as decisões de financiamento de longo prazo, além das operações de
curto prazo, como a gestão do caixa, o gerenciamento do risco e tantas outras. Sua área
de abrangência é ampla, ocupando-se do processo financeiro, dos mercados e das
instituições financeiras, dos instrumentos financeiros e das finanças pessoais,
governamentais e corporativas. Nesta Apostila, iremos tratar das finanças corporativas.
Como oportunidade de carreira, o administrador financeiro pode trabalhar, por exemplo,
como analista de ações, analista de crédito e cobrança, gerente de projetos, tesoureiro,
controlier, coordenador de planejamento e controle financeiro. Pode atuar também em
bancos, corretoras, distribuidoras, Bolsas de Valores, como consultor autônomo de
investimentos, como analista de risco, como orientador de seguros, enfim, em inúmeras
atividades.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 72
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O campo da administração financeira abrange ampla gama de tarefas e atividades, e os
administradores financeiros encontram grandes oportunidades de contribuírem para o
sucesso dos negócios empresariais. No campo das decisões de investimento, por
exemplo, as empresas criam, recebem e desenvolvem inúmeras alternativas, buscando
sempre a maximização da riqueza dos acionistas. Essas alternativas se restringem a um
ramo específico de negócios ou abrangem vários setores da atividade econômica. Os
investimentos podem ocorrer ao longo da cadeia produtiva da empresa, por exemplo no
caso das redes de supermercados, que investem em marcas próprias como forma de
tornarem seus clientes fiéis e diminuir sua dependência de fornecedores. De outra forma
a empresa pode optar por aplicar no mercado financeiro, se não vislumbrar bons ganhos
operacionais nos períodos futuros.
Como os recursos financeiros estão distribuídos de maneira não uniforme entre os
agentes econômicos, a intermediação financeira procura captar dos agentes
superavitários os excedentes e alocá-los aos agentes deficitários.
As decisões financeiras ocorrem ao longo do tempo. Quando se referem às atividades
normais da empresa, relacionadas aos pagamentos e recebimentos do dia-a-dia, são ditas
decisões financeiras de curto prazo. As decisões financeiras de longo prazo são aquelas
pertinentes às estratégias de financiamento e investimento. Grosso modo, em termos da
gestão financeira, pode-se definir em curto prazo, todas as operações financeiras que
acontecerão nos próximos 360 dias, e longo prazo, as operações que ocorrerão além de
360 dias. Vale ressaltar que o ano financeiro é considerado com 360 dias.
Verificar-se-á, a seguir, as principais funções e objetivos da administração financeira,
por meio de explicações e exemplos na situação brasileira.
2.2. Objetivo e Funções da Administração Financeira
Administração financeira é a arte e a ciência de administrar recursos financeiros para
maximizar a riqueza dos acionistas.
A administração financeira pode ser exercida nas mais diversas organizações, indústria,
comércio ou serviços; empresas estatais ou privadas; voltadas ou não para lucros;
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 73
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
governo, escolas, hospitais, clubes recreativos e outras. Suas funções principais são:
planejamento, controle, orçamento, previsões, fluxo de caixa, investimentos,
financiamentos, crédito, cobrança, câmbio, operações bancárias e gerenciamento de
risco. Ao exercer essas funções, o administrador financeiro procura responder a
questões como: Quais investimentos devem ser feitos? Quais fontes de financiamentos
devem ser utilizadas? Qual deve ser a política de remuneração dos acionistas? Estamos
agregando valor aos acionistas?
Existem inúmeros enfoques da administração financeira, destacando-se os de retorno,
risco, liquidez, endividamento, eficácia operacional, alavancagem, valor, fusões e
aquisições, mercados financeiros e de capital, mercados futuros e de opções. Nesta
apostila vamos tratar daqueles que, a nosso ver, constituem a essência da administração
financeira, e vamos indicar bibliografia complementar para aqueles que quiserem se
aprofundar nos assuntos.
Finanças corporativas são aplicações estratégicas da administração financeira às
empresas.
Uma das atividades financeiras de maior relevância é a intermediação de recursos
financeiros. No âmbito empresarial, os recursos originam-se das atividades
operacionais: da venda de produtos e prestação de serviços; do aporte de recursos dos
proprietários, acionistas; ou ainda de recursos tomados emprestados às instituições
financeiras. Esses recursos são utilizados nas atividades operacionais ou em projetos de
investimento. No âmbito externo à empresa, no mercado financeiro e de capitais,
diferentemente, as instituições atuam como intermediários financeiros ou como
facilitadores dos negócios no mercado mobiliário.
A captação de recursos financeiros envolve a emissão e venda de papéis no mercado de
capitais, sob a forma de ações e debêntures no longo prazo e comercial papers no curto
prazo. Essas operações ocorrem no mercado de capitais através de instituições
financeiras como as corretoras de valores, as distribuidoras de valores e os bancos de
investimentos.
2.2.1 Objetivo da Administração Financeira
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 74
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O objetivo da administração financeira é maximizar a riqueza dos acionistas
De acordo com ROSS (1998) é objetivo normativo da empresa “maximizar o valor de
mercado do capital dos proprietários existentes”. Esse objetivo deve atender também a
um desejo mais específico do acionista, a remuneração de seu capital, sob a forma de
distribuição de dividendos.
A maximização do lucro, tida por muito tempo como o objetivo principal da empresa, é
um objetivo impreciso, pois ações tomadas para maximizar os lucros atuais podem
diminuir os lucros futuros e vice-versa. A maximização da riqueza é mais precisa
porque envolve os conceitos de valor presente líquido da empresa para os seus
proprietários, incorporando conceitos de risco e de custo de capital. Esses conceitos
serão tratados ao longo da apostila. Nas instituições não voltadas ao lucro, existem
outros objetivos que não a maximização da riqueza.
A administração financeira está voltada para a maximização do valor da empresa e, para
tal, utiliza-se de conceitos, técnicas e práticas de investimentos, financiamentos,
gerenciamento de riscos, de relacionamento com investidores, de pagamento de
dividendos e tantos outros.
2.2.2 Funções Financeiras
O Quadro 2.1 apresenta as principais funções da administração financeira, agrupadas
em duas grandes áreas: tesouraria e controladoria. No Brasil, de modo geral, as funções
de tesouraria são exercidas pelo gerente financeiro; as funções de controladoria são
exercidas pelo controlier, utilizando-se o mesmo nome do profissional americano. Essas
funções surgem e se expandem, ou desaparecem, dependendo das necessidades de cada
empresa, variando segundo sua natureza, porte e estágio de desenvolvimento.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 75
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quadro2.1 - Funções da administração financeira
Tesouraria Controladoria
• Administração de caixa • Administração de custos e preços
• Administração de crédito e
cobrança
• Auditoria interna
• Administração do risco • Contabilidade
• Câmbio • Orçamento
• Decisão de financiamento • Patrimônio
• Decisão de investimento • Planejamento tributário
• Planejamento e controle financeiro • Relatórios gerenciais e Proteção de
ativos
• Salários • Sistemas de informação
• Relações com bancos • Relações com Acionistas e Investidores
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 76
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
As funções financeiras podem ser de curto ou longo prazo. As funções financeiras de
curto prazo envolvem a administração do caixa, do crédito e das contas a receber e a
pagar, dos estoques e dos financiamentos de curto prazo. A empresa precisa dispor de
recursos suficientes para saldar os compromissos com fornecedores, salários, tributos e
demais contas. Para tanto, os recebimentos das vendas e/ou prestação de serviços aos
clientes precisam ocorrer simultaneamente aos compromissos. Quando existem prazos
diferentes entre os recebimentos e os pagamentos, na maioria das vezes a empresa
precisa buscar recursos no mercado financeiro, por meio de empréstimos, ou aplicar os
recursos excedentes. A administração financeira de curto prazo também é chamada de
administração do capital circulante (ou do capital de giro). No curto prazo, o
administrador financeiro preocupa-se ainda com os planejamentos financeiro e
tributário.
Hiato entre recebimentos e pagamentos originam-se nas políticas de concessão de
crédito a clientes e obtenção de crédito junto a fornecedores; diferentes prazos legais
para pagamentos de salários e tributos; diferentes políticas de estocagem; e diferentes
ciclos de produção dos produtos vendidos e serviços prestados.
As funções financeiras de longo prazo envolvem as decisões financeiras estratégicas,
tais como, orçamento de capital, estrutura de capital, custo de capital, relacionamento
com investidores, dentre outras. No longo prazo, as decisões financeiras envolvem a
obtenção de recursos para projetos e investimentos e definição dos critérios a serem
adotados para escolha entre investimentos alternativos. O administrador financeiro é
responsável pela saúde econômica e financeira da empresa.
- O papel do tesoureiro, do controiler e do Diretor financeiro
A função financeira é executada por diversas pessoas dentro da empresa.
A forma como essas pessoas estão organizadas depende do porte da empresa e das
atividades por ela desenvolvidas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 77
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quando a empresa é pequena, os sócios costumam acumular as funções financeiras com
as demais funções gerenciais da empresa, relativas à produção, ao marketing e ao
gerenciamento de pessoas. A contabilidade normalmente é terceirizada, isto é, realizada
por escritórios contábeis. As empresas de maior porte separam melhor as funções
financeiras das demais funções gerenciais e normalmente existe um diretor para cada
uma das áreas. Nesse caso, o diretor financeiro é responsável pela captação de fundos de
curto prazo necessários às atividades diárias da empresa, e pela captação de recursos de
longo prazo, necessários ao financiamento da expansão das atividades da empresa. Os
procedimentos administrativos, relativos às atividades financeiras da empresa, são
realizados em parte pelo pessoal da tesouraria: recebimentos e pagamentos diários e, em
parte, pelo pessoal da controladoria: orçamentos, planejamento financeiro, relatórios
financeiros e auditoria.
Nas grandes empresas as funções são bastante distintas: a diretoria financeira divide-se
em controladoria e tesouraria. O tesoureiro é responsável pela manutenção do caixa da
empresa, pelos recebimentos e pagamentos diários, pela liberação de crédito para
clientes, pelas negociações com bancos para aquisição de recursos de curto prazo
(financiamento de capital de giro) e pelas aplicações dos recursos excedentes no curto
prazo. O controlier é responsável pelo acompanhamento e fiscalização das atividades
financeiras de curto e de longo prazo, pela contabilidade fiscal e gerencial, aqui incluída
a divulgação dos resultados da empresa para acionistas, partes interessadas e governo e,
finalmente, pelo gerenciamento da estrutura de capital da empresa: formas de captação
de recursos de longo prazo, endividamento junto a instituições financeiras, emissão de
debêntures, ações, comercial papers e outros títulos de dívida. O diretor financeiro
coordena essas atividades e é o principal responsável pelo relacionamento com os
acionistas e outras partes interessadas no que tange ao impacto das decisões financeiras
no valor da empresa, no preço das ações no mercado e na credibilidade financeira da
empresa no mercado.
2.2.2.1. Decisões de investimento e financiamento
A administração financeira envolve basicamente a gestão de recursos financeiros. Como
obter esses recursos e onde aplicá-los é a atividade principal do administrador
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 78
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
financeiro. A obtenção de recursos diz respeito às decisões de financiamento, e a
utilização dos recursos, às decisões de investimento.
2.2.2.1.1.- Decisão de investimento
Entende-se por investimento toda a aplicação de capital em algum ativo, tangível ou
não, para obter determinado retorno no futuro. Um investimento pode ser a criação de
uma nova empresa ou pode ser um projeto em uma empresa já existente, por exemplo.
No setor industrial, o projeto de investimento mais clássico é a aquisição de novas
linhas de produção. Mas também são importantes os projetos de reposição de
equipamentos, reforma de linhas de produção antigas, projetos para automação
industrial, projetos de substituição de mão-de-obra, projetos para adoção de novas
tecnologias e projetos linha verde, objetivando reduzir os impactos ambientais dos
processos produtivos.
No setor agroindustrial, os projetos envolvem aplicações de recursos na aquisição de
maquinário agrícola, na construção de silos e armazéns, no melhoramento genético e do
solo, no aumento da produtividade, na formação de cooperativas, no processamento de
produtos in natura, agregando valor na informatização do controle da produção e nos
canais de comercialização.
No setor de serviços, os projetos de investimento referem-se desde a reforma das
instalações até campanhas publicitárias. Os gastos com automação comercial e sistemas
de informações gerenciais também são projetos de investimento, na medida em que
podem aumentar ou diminuir o valor da empresa, em longo prazo.
Como são utilizados os recursos disponíveis para investimentos são, basicamente,
representados no lado esquerdo do balanço patrimonial, no ativo. Nesta demonstração
contábil figuram os investimentos de curto, longo e longuíssimo prazo, respectivamente
representados pelo ativo circulante, ativo realizável a longo prazo e o ativo
permanente.Evidentemente, uma empresa de capital intensivo, que requer grandes
investimentos em ativos imobilizados, exigirá respostas mais adequadas a essas
características. Exemplos deste tipo de empresa são: a EMBRAER, a VALE DO RIO
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 79
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
DOCE, a TELEFÔNICA, a COPEL. Para uma empresa do ramo varejista, que não
exige grandes imobilizações e sim grandes investimentos em estoques, serão dadas
outras respostas. Exemplos deste tipo de empresas são: PERNAMBUCANAS, CASAS
BAHIA e Lojas Americanas.
Da mesma forma, encontramos empresas que têm necessidades de recursos de curto
prazo, como panificadoras e mercearias; e outras com necessidades de recursos de longo
prazo, como por exemplo, a Petrobrás, a TOYOTA, a FIAT. Iremos tratar mais
profundamente das questões de curto prazo em futuro capítulo desta apostila.
2.2.2.1.2. Decisão de financiamento
A composição de recursos da empresa é chamada de Estrutura Financeira, e pode ser
verificada do lado direito do balanço: o Passivo .As necessidades específicas de cada
ramo de negócio, do porte da em presa, da condição econômica do país e outros fatores,
irão determinar quais as respostas mais adequadas para cada uma das situações
apresentadas no dia-a-dia. É relevante observar que empresas multinacionais, ou
grandes empresas nacionais que têm livre acesso aos mercados financeiros
internacionais, por exemplo, preferem sistematicamente captar recursos no exterior,
onde o custo de capital é muito menor. Iremos ver maiores detalhes em um capítulo
futuro.
As decisões de financiamento envolvem a escolha da estrutura de capital, a
determinação do custo de capital e a captação de recursos. Remetem, portanto, à
definição das fontes de financiamentos a serem utilizadas nas atividades da empresa e
nos projetos de investimento.
Os recursos financeiros advêm de duas fontes: capital próprio e capital de terceiros.
O capital próprio é formado por recursos dos proprietários e acionistas da empresa.
Pessoas físicas e jurídicas superavitárias aplicam seus recursos excedentes nas
empresas. Essas aplicações são feitas no longo prazo, através da compra de ações no
mercado de capitais. A motivação para a aplicação dos recursos pessoais e empresariais
em projetos de investimento é a perspectiva de obtenção de lucro. Esse lucro é
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 80
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
representado pela distribuição de dividendos, valorização do preço da ação no mercado
e distribuição de bonificações.
O capital de terceiros entra na empresa por meio de empréstimos e financiamentos
obtidos junto a instituições financeiras. Esses recursos demandam o pagamento de
valores, representando a amortização do principal e os juros. Os juros constituem a
remuneração dos recursos tomados emprestados. As dívidas da empresa com
fornecedores: duplicatas a pagar; com funcionários: salários a pagar; e com o governo:
tributos a pagar, também constituem recursos de terceiros à disposição da empresa.
É muito difícil se determinar com consistência o nível de endividamento adequado para
a empresa. Os bancos, por exemplo, trabalham com uma relação de 9 para 1, ou seja,
para cada R$1,00 de recursos próprios, eles trabalham com R$9,00 de capital de
terceiros, o que é perfeitamente aceitável. Empresas não-financeiras não podem assumir
esse nível de endividamento.
Vale chamar a atenção que nesta apostila utilizaremos as expressões empréstimos para
recursos de curto prazo, e financiamentos para recursos de longo prazo.
2.2.2.1.3. A busca de resultados
Para atingir o objetivo de maximização da riqueza dos acionistas, o administrador
preocupa-se também com os resultados apresentados nas demonstrações financeiras, por
exemplo, a Demonstração de Resultados do Exercício, a conhecida DRE.
Cabe ao administrador financeiro planejar, acompanhar e controlar as atividades e
projetos da empresa, de forma a assegurar que os objetivos de resultados estabelecidos
sejam cumpridos.
2.2.2.2. Valor
Para uma pessoa míope, suas lentes de contacto têm valor enorme. Por elas paga
qualquer preço e faz muitos sacrifícios para adquiri-las e mantê-las. Porém, se
encontradas por outra pessoa, essas lentes não representariam valor algum; pois mesmo
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 81
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
que míope fosse, dificilmente as lentes estariam no grau adequado e seria quase
impossível vendê-las.
A afirmação anterior mostra a existência de, pelo menos, dois conceitos de valor:
a) Valor de uso: é o valor atribuído à capacidade dos bens e serviços satisfazerem às
necessidades daqueles que os possuem;
b) Valor de troca: é a quantia de recursos que, de comum acordo entre as partes,
permite a troca da posse de um bem ou serviço.
As finanças preocupam-se com o valor de troca. Quando se afirma ser função
primordial da administração financeira a criação de valor para o acionista, se está
afirmando que todas as atividades deverão, direta ou indiretamente, aumentar a riqueza
do acionista, ou seja, aumentar o valor de troca da empresa. A partir de agora, ao longo
da apostila, estaremos usando apenas a expressão valor, significando esse valor de troca.
Podemos aumentar o valor da empresa de duas formas:
a) Internamente. Os recursos entram na empresa: mão-de-obra, matérias-primas,
equipamentos e tecnologia; processam bens e serviços que são vendidos por preço
acima do que custaram os recursos. A essa diferença dá-se o nome de lucro operacional.
Quanto maior este lucro, maior é a eficiência da empresa em suas atividades fins.
b) Externamente. A empresa tem uma imagem junto ao mercado e prováveis acionistas
apostam no aumento de seu valor e pagam mais por suas ações no mercado.
Existem várias formas de se expressar o valor da empresa, sendo os mais adotados:
a) Valor patrimonial contábil. É o valor dos recursos da empresa registrados na sua
contabilidade do qual é subtraído o valor das dívidas da empresa, ou seja, o valor
expresso como Patrimônio Líquido.
b) Valor patrimonial real. É o valor dos ativos e passivos — prédios, máquinas e
equipamentos, veículos, estoques, contas a receber, dentre outros; e contas a pagar,
empréstimos, outras obrigações — computados quer ao valor de reposição
correspondente ao estado em que se encontram, quer ao seu valor atualizado;
c) Valor presente líquido. É o valor obtido em função do fluxo de caixa livre
descontado. Para isto é utilizada uma taxa de desconto, chamada custo de capital.
d) Valor de mercado. É o somatório do valor das ações da empresa ao preço em que
estão sendo comercializadas no mercado, nas Bolsas de Valores. Em empresas que não
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 82
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
operam em Bolsas de Valores, ou que não são constituídas em sociedade por ações, o
valor da empresa é definido pelo valor que o mercado está disposto a pagar.
e) Valor de liquidação. É o valor obtido pela empresa numa situação de encerramento
do negócio. Normalmente esse valor costuma ser muito baixo.
Modernamente, discute-se qual é o valor que importa: o valor patrimonial, em função da
capacidade instalada da empresa, da tecnologia empregada no processo produtivo, e da
diferença entre ativo e passivo; ou o valor de mercado, em função da cotação das ações
da empresa nas Bolsas de Valores, que decorre das expectativas dos investidores em
relação ao desempenho e valorização da empresa.
2.2.2.3. Grupos de relacionamento
Os grupos de relacionamento incluem os empregados, clientes, fornecedores, credores e
outros que possuem vínculo econômico direto com a empresa. Uma empresa atenta aos
seus grupos de relacionamento evitará conscientemente medidas que possam ser
prejudiciais a eles, ou seja, afetando sua riqueza, transferindo-a a empresa. Zelar pelos
interesses dos grupos de relacionamento faz parte da responsabilidade social da empresa
e espera-se que proporcione benefícios máximos, de longo prazo, aos proprietários.
2.2.2.4. Finanças e outras ciências
A administração financeira é interdisciplinar e para isto conta com o auxílio de muitas
outras ciências. Vamos apresentar, a seguir, algumas das mais relevantes.
A Economia, ciência da escassez, ordena os agentes econômicos e estuda o seu
comportamento. A economia relaciona-se com as finanças empresariais sob duas
formas: a microeconomia e a macroeconomia. A microeconomia empresta à teoria
financeira parte de seus conceitos, porque estuda a Teoria da Firma. Os estudos e teorias
microeconômicos procuram compreender o comportamento da firma, ou seja, da
empresa, as relações de preço com oferta e demanda de bens e serviços, o
comportamento do consumidor e do investidor. Esses fatores influenciam os preços
praticados no mercado, a disponibilidade de recursos e as oportunidades de
investimento, preocupações das Finanças.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 83
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A Teoria da Preferência pela Liquidez afirma que o investidor prefere sempre dispor de
seus recursos no presente e que, para deixar de consumir hoje e aplicar os recursos em
bens que não de consumo, exige remuneração. A taxa de juros e o valor de revenda dos
bens, anteriormente adquiridos, representam essa remuneração que deve possibilitar que
o consumo de amanhã seja maior do que o de hoje.
A macroeconomia é a parte da economia que estuda o sistema econômico: seus agentes,
inter-relações, fluxos de bens e serviços, fluxo de recursos e taxas de juros. A empresa
está inserida nesse ambiente e interage com ele na busca por recursos para
financiamento, na identificação de oportunidades de investimento, na submissão às leis
e às normas e no acompanhamento do ritmo da atividade econômica.
A economia internacional é cada vez mais importante para as Finanças, em função do
crescente processo de internacionalização dos processos produtivos e da intensificação
dos fluxos de capitais internacionais.
Os registros das operações financeiras são responsabilidades da Contabilidade e
obedecem ao denominado regime de competência, no qual as informações são
registradas e reconhecidas independentemente de recebimento ou pagamento. Todas as
entradas de recursos, na forma de bens e equipamentos, ou na forma de dinheiro e
títulos, são quantificadas e registradas. Do mesmo modo, todas as saídas também são
registradas. Os aportes de capital dos sócios, os empréstimos contratados, as
valorizações patrimoniais e as vendas efetuadas e ainda não recebidas são
contabilizadas, assim como a depreciação, os pagamentos de juros e a amortização de
empréstimos e os pagamentos devidos e ainda não efetuados.
As demonstrações financeiras são exigências fiscal e societária. Constituem importante
fonte de informação do desempenho da empresa para os acionistas atuais e futuros,
fornecedores, clientes e instituições financeiras. Os registros são feitos em livros
específicos (ou arquivos eletrônicos) conforme princípios contábeis geralmente aceitos,
estabelecidos em normas legais, as quais variam entre os países. O Comitê Internacional
de Padrões Contábeis — IASC — International Accounting Standards Com itee, sugere
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 84
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
normas e padrões internacionais para o registro das operações, nos diversos relatórios
contábeis.
Nos Estados Unidos as normas são estabelecidas pelo FASB — Financial Accounting
Standards Board. Como muitas das empresas internacionais têm sua sede nos EUA ou
negociam papéis em Bolsas de Valores americanas, os padrões estabelecidos pelas
normas FASB acabam sendo seguidos por grande parte das empresas ao redor do
mundo. Na Grã-Bretanha o ASB — Accounting Standards Board e na Irlanda o Institute
of Chartered Accountants fazem a regulação contábil.
No Brasil os registros contábeis são feitos de acordo com as normas estabelecidas pelo
IBRACON — Instituto Brasileiro de Contabilidade. Para se manter atualizado sobre os
procedimentos contábeis no Brasil, a maneira mais prática é acompanhar
sistematicamente as publicações da área, estilo IOB — Informações Objetivas, guia que
acompanha toda a legislação referente às exigências legais das operações das empresas.
A Matemática e a Estatística têm importante relação com as Finanças, visto que
estabelecem as medidas quantitativas, explicativas e preditivas do objeto das finanças: a
criação de valor. A Estatística é responsável por grande parte da modelagem matemática
das teorias financeiras. Os conceitos de média, desvio padrão, variância e covariância
são utilizados para estudar o comportamento dos ativos, em especial os ativos
financeiros.
O conceito de risco de investimento é entendido como a variabilidade dos retornos
possíveis desse investimento. Essa variabilidade é medida pelo desvio-padrão e pela
variância dos retornos esperados. A relação existente entre os ativos de um
investimento, ou entre os papéis que compõem uma carteira de investimentos, é medida
pela correlação e pela covariância de seus retornos.
A Ciência da Computação vem em auxílio das finanças por meio de softwares
específicos para os controles operacionais; de bancos de dados para coleta e
sistematização de informações e de sistemas eletrônicos de informação gerencial. Difícil
conceber o controle e a tomada de decisão em finanças sem auxílio do computador.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 85
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A Estatística, associada à computação, consegue desenvolver modelos de análise
previtivos e explicativos dos fenômenos financeiros. Para tanto, utilizam técnicas
multivariadas de análise de dados, tais como Análise Fatorial, Análise de
Conglomerados e Técnicas de Regressão.
A empresa opera em ambiente de leis e normas, e daí sua interface com o Direito. O
conhecimento das normas não apenas permite o perfeito desenrolar das atividades da
organização, como também oportuniza novos negócios. O Direito normatiza as relações
sociais, nas quais as relações empresariais estão incluídas. O conhecimento das leis das
sociedades civis permite ao gestor financeiro adequar os fluxos financeiros às
exigências legais, evitando multas e suspensões. As leis tributárias, estabelecidas no
Código Tributário Nacional, implicam elevados custos para as empresas e uma boa
gestão tributária possibilita-lhes grandes economias, dentro da legalidade. Em capítulo
futuro trataremos mais detalhadamente os tributos no Brasil.
As leis trabalhistas regulamentam a contratação de funcionários, as responsabilidades da
empresa para com eles e os encargos a serem pagos. Esses elementos têm peso
significativo na pauta de custos da empresa e nas decisões de investimentos em novas
tecnologias redutoras de mão-de-obra. As leis de zoneamento e proteção ambiental são
relevantes nas decisões de localização industrial e adoção de tecnologias verdes.
2.2.2.5. Finanças e as demais atividades da empresa
O planejamento financeiro é uma das interfaces das Finanças com as diversas áreas da
Administração. Com a Administração de Pessoas, se faz a previsão das necessidades de
pessoal técnico, operacional e gerencial para atuar nos projetos em estudo. A área de
Operações atua com as Finanças quando do orçamento das suas atividades e no
estabelecimento de políticas de estoque, análise dos custos de produção, e cálculo do
ponto de equilíbrio. O Marketing e as Finanças juntos estabelecem políticas de preços,
prazos de pagamento, políticas de descontos, margens de lucro, políticas de crédito e
procuram criar e manter uma boa imagem da empresa no mercado.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 86
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A área de Pesquisa e Desenvolvimento discute as Finanças em termos de gastos com
desenvolvimento de novas tecnologias e possíveis formas de financiamento para as
atividades de P&D.
2.2.2.6 Administração financeira com ética
A preocupação com o exercício ético da administração financeira permeia todo esta
apostila, e todo o Curso de Administração da Faculdade de Sabará. Queremos que os
frutos de nosso trabalho possam ajudar na melhoria dos padrões de conduta ou de juízo
moral da administração financeira.
Robert A. Cooke, sugere que as seguintes questões sejam usadas para avaliar a
viabilidade ética de uma determinada ação:
1. O ato de ... é arbitrário ou caprichoso? Discrimina um indivíduo ou um grupo?
2. O ato de ... viola a moral ou os direitos legais de qualquer indivíduo ou grupo?
3. O ato de ... está em conformidade com os padrões morais aceitos?
4. Há cursos alternativos de ação que possam causar menos dano real ou potencial?
2.3. Mercado financeiro
As empresas operam em um ambiente econômico no qual existem agentes com recursos
financeiros em excesso e outros com falta de recursos.
Os agentes superavitários são aqueles com recursos financeiros excedentes: pessoas
físicas com rendimentos acima de seus gastos, organizações com ganhos superiores às
suas oportunidades de investimento, governos com arrecadação maior do que suas
demandas econômicas, políticas e sociais. Os agentes deficitários são aqueles com falta
de recursos: pessoas físicas cujos rendimentos não cobrem suas despesas correntes,
organizações com despesas e oportunidades de investimento acima de suas receitas,
governos cuja arrecadação fica aquém de suas necessidades de recursos.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 87
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quando o hiato de recebimentos e pagamentos ocorre em um determinado espaço de
tempo, especialmente na situação de falta de dinheiro, os intermediários financeiros
procuram canalizar os recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários.
O mercado financeiro é a reunião das instituições financeiras capazes de intermediar
recursos. Sua principal atividade é captar recursos dos agentes superavitários, a quem
remunera; e aplicar os recursos, por meio de empréstimos, aos agentes deficitários dos
quais recebem juros.
A atividade de intermediação reveste-se de situações de risco. Existe certa probabilidade
de os tomadores de recursos não pagarem em dia os recursos emprestados. Quanto
maior o risco, maior a taxa de juros cobrada. Os aplicadores que se sujeitam a emprestar
recursos para aplicações de maior risco (de maior variabilidade nas probabilidades de
retorno) exigem maior retorno sobre os seus recursos emprestados.
O mercado financeiro pode assumir diversas formas, conforme o tipo de intermediação
de recursos realizada.
Os produtos negociados nos mercados de ativos financeiros podem ser separados em
produtos de investimento e de financiamento. Produtos de investimento constituem
instrumento de captação de recursos das instituições financeiras e de aplicação dos
agentes superavitários. Abaixo segue-se uma listagem de alguns dos principais produtos
de investimento e de financiamento.
Produtos de investimento
Título - Característica
CDI: Certificado de depósito Lastro para as operações entre os bancos interbancários no
mercado monetário
CDB: certificado de depósito Captação de recursos dos investidores bancário para os
bancos
Export Notes Contratos de cessão de crédito de exportação
Cadernetas de poupança Aplicação de pequenos poupadores
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 88
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Títulos Públicos Captação para o governo
Letras e Notas do Tesouro Nacional Cobertura de déficits orçamentários
Letras e Bônus do Banco Central Fins de política monetária
Produtos de financiamento
Título - Característica
Desconto de duplicatas e Notas Recursos de curto prazo para as promissórias empresas
Hot money Empréstimo de curtíssimo prazo para financiamento de capital de giro
Leasing financeiro — arrendamento Financiamento de médio e longo prazo mercantil
CDC — crédito direto à Concessão de crédito ao consumidor final, consumidor por
sociedades de crédito, financiamento e investimento.
Contas garantidas, cheque especial, Contrato de crédito rotativo.
Vendor finance Financiamento de vendas baseado no principio de cessão de créditos
Operação 63 Instituição capta recursos no exterior em dólares
2.4. Tipos de Empresas
A constituição das empresas tem aspectos técnicos, administrativos, legais e de
mercado. Os aspectos técnicos e administrativos relacionam-se às atividades fim da
empresa, que podem ser:
• Instituições financeiras.
• Empresas privadas, comerciais, industriais e prestadoras de serviços.
• Empresas e órgãos públicos.
• Organizações sem fins lucrativos, por exemplo, as ONG’s — Organizações Não-
governamentais.
Do ponto de vista legal, as empresas podem organizar-se sob diversas formas: firma
individual, sociedade limitada e sociedade por ações. Essa constituição depende do
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 89
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
porte da empresa, do interesse dos seus organizadores e das implicações administrativas
de cada uma delas.
2.4.1 Empresas individuais
São empresas pequenas, normalmente registradas como microempresas, de simples
constituição, quase sempre de um único dono, que também é o gerente. No Brasil, essas
empresas emergem da informalidade quando os negócios começam a aumentar. São
pequenos estabelecimentos industriais, comerciais, prestadores de serviços,
profissionais liberais e autônomos. A responsabilidade do proprietário da empresa
individual é ilimitada; ou seja, seus bens pessoais respondem por todas as dívidas da
empresa, no caso de inadimplência.
A documentação exigida para a abertura da empresa e dos registros necessários para
cada negócio específico pode ser obtida junto aos balcões do SEBRAE — Serviço
Brasileiro de Atendimento Empresarial (www.sebrae.com.br), órgão que também presta
assessoria na condução das atividades da empresa.
2.4.2 Sociedade por cotas de responsabilidade limitada
Nas empresas limitadas, como são usualmente conhecidas, os sócios estabelecem um
contrato social. Esse contrato define a participação de cada um dos sócios: aporte de
capital de cada um deles, responsabilidade das partes e a natureza da atividade a ser
desenvolvida.
No caso de inadimplência, as dívidas da empresa poderão ser pagas com os bens dos
sócios limitados, correspondentes à sua participação no capital da empresa.
No Brasil, normalmente na constituição de empresas limitadas, os sócios não atentam
para esse detalhe, incorrendo posteriormente em grandes conflitos entre os sócios. Outra
característica dessas empresas, no Brasil, é sua origem familiar, onde, infelizmente, as
despesas das famílias dos sócios são confundidas com as despesas da empresa. Para
evitar inconvenientes familiares e para proteger a liquidez da empresa, sugere-se o
estabelecimento prévio das retiradas pró-labore de cada um dos sócios, vinculadas ao
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 90
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
desempenho da empresa, e não de acordo com as necessidades de cada uma das
famílias.
Com o crescente processo de fusões e aquisições, essas empresas tendem a ser
adquiridas por outras empresas maiores, mas existem muitos nichos de mercado que
podem por elas ser ocupados: prestação de serviços, comércios especializados,
industrialização terceirizada, por exemplo.
2.4.3 Sociedades por ações
As sociedades por ações, ou sociedades anônimas, são grandes empresas com capital
diluído entre milhares e até milhões de acionistas que possuem participações no capital
da empresa, por meio de ações. Cada interessado na empresa adquire essas ações, no
mercado de capitais que, por sua vez, se constitui numa das grandes fontes de captação
de recursos nos países desenvolvidos.
As sociedades anônimas podem ser de capital fechado ou aberto. As de capital fechado
são aquelas cujas ações estão nas mãos de pessoas físicas e jurídicas determinadas, e
não são comercializadas em bolsas de valores. No Brasil, normalmente são grandes
empresas de origem familiar. As de capital aberto são aquelas cujas ações são
comercializadas em bolsas de valores, estando, portanto, acessíveis a qualquer
interessado.
No Brasil, até o ano de 2001, estava em vigor a Lei das Sociedades Anônimas de 1976.
Sua reformulação foi discutida durante anos no Congresso Nacional e, finalmente, foi
decretada e sancionada uma nova lei em outubro de 2001. A Lei 10.303 sancionada em
31/10/2001 altera e acrescenta dispositivos na Lei 6.404 de 15/12/1976 que dispõe sobre
as sociedades por ações e na Lei 6.385 de 7/12/1976 que dispõe sobre o mercado de
valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários.
Praticamente toda a Teoria Financeira se baseia nas sociedades anônimas, pois, nos
Estados Unidos, as maiores empresas estão organizadas dessa forma, com ações
negociadas em Bolsas de Valores. Lá existe cobrança da sociedade sobre o desempenho
dessas empresas: as pessoas investem seus recursos em suas ações e monitoram o seu
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 91
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
desempenho. O valor da ação no mercado, os dividendos e as bonificações distribuídos,
a ação social da empresa e até o comprometimento ecológico da organização são
acompanhados pelos seus acionistas que, a qualquer momento, podem ir ao mercado
alterar a composição de sua carteira de investimentos, vendendo as ações das empresas
cujo desempenho não é satisfatório e comprando ações de empresas com melhor
desempenho.
2.5. Questões
1. Conceitue administração financeira e finanças corporativas. Comente como as
empresas obtêm seus recursos financeiros.
2. Qual o objetivo normativo da administração financeira? Por que a maximização de
lucro não é um bom objetivo para a administração financeira?
3. Quais as principais funções da administração financeira?
4. Quais as principais decisões financeiras? Como podem ser identificadas nas
demonstrações financeiras?
5. Comente detalhadamente a decisão de investimento e a decisão de financiamento. Dê
exemplos.
6. Como o administrador financeiro atua na busca de melhores resultados operacionais
da empresa? Baseie-se na demonstração de resultados.
7. Conceitue valor de uso e valor de troca. Como se aumenta o valor da empresa? Quais
as várias formas utilizadas para se expressar o valor da empresa?
8. Por que é tão importante zelar pelos grupos de relacionamento?
9. Quais as ciências com as quais a administração financeira mais se relaciona? Mostre
a importância de cada uma delas para as finanças. Em sua opinião, qual a que mais
contribui para a área financeira?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 92
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
10. Conceitue mercado financeiro e comente sobre seus vários agentes. Como eles
interagem? Dê exemplos. Classifique o mercado financeiro. Cite exemplos de produtos
de investimento e de financiamento.
11. Faça uma pesquisa teórica e empírica sobre a importância da ética na condução dos
negócios.
12. Como as empresas podem ser organizadas? Comente as empresas individuais e
sociedades limitadas.
13. Conceitue sociedade anônima e faça uma pesquisa enumerando, pelo menos 3
empresas da Grande BH com ações negociadas em bolsa.
14. A empresa Irmãos Coringa Ltda. iniciou suas atividades há cinco anos atrás no ramo
de transportes. Hoje a empresa conta com uma frota própria de 10 carretas, utiliza com
freqüência caminhões contratados e, ainda assim, não consegue atender à demanda de
fretes a partir da região sudeste do país, em direção à região Nordeste. O principal
problema da empresa é a reduzida quantidade de fretes de retorno, pois o volume de
cargas da região Nordeste para a região sudeste é bem menor. Os donos da empresa
estão pensando em diversificar suas atividades e investir na produção de frutas na região
Nordeste, atividade já existente na região e, dessa forma, aumentar o volume de cargas
de retorno. Considerando que a empresa disponha do capital necessário para iniciar esta
nova atividade, procure relacionar:
a) as implicações financeiras da decisão;
b) como essa decisão está relacionada com o marketing;
c) Como esta em presa deve ser constituída, sob o ponto de vista legal?
2.6. Bibliografia Recomendada
DAMODARAN, G. Finanças Corporativas. São Paulo: Atlas, 2006
LEMES JR., A. B. Administração Financeira. Rio de Janeiro : Editora Campus, 2005.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 93
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JAFFE, J. Administração financeira
— Corporate Finance. São Paulo: Atlas, 2005.
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JORDAN, Bradford D. Princípios de
administração financeira — essentials of corporate finance. São Paulo: Atlas, 1998.
SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.
Atlas. 2003
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 94
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
CAPÍTULO 03 - Mercado de Capitais
CONTEÚDO DO CAPÍTULO
3.1. Introdução
3.2. Companhias abertas
3.3. Bolsas de Valores
3.4. Ações
3.5. Mercados de ações e derivativos
3.6. Debêntures
3.7. Resumo
3.8. Questões
3.9. Exerresumo
3.10. Bibliografia recomendada
3.1. Introdução
Neste capítulo, trataremos da capitalização das empresas através do mercado de
capitais. O mercado de capitais abrange o conjunto de transações para transferência de
recursos financeiros entre agentes poupadores e investidores, com prazos médio, longo
ou indefinido. Ou seja, é uma relação financeira constituída por instituições e contratos
que permite que poupadores e empresas demandantes de capital de longo prazo realizem
suas operações.
Desse modo, a existência de um mercado de capitais ativo sinaliza o estágio de
desenvolvimento de uma economia, pois pessoas, empresas e instituições passam a ter
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 95
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
maiores oportunidades de investimento e, as empresas, fontes permanentes de captação
de recursos financeiros.
Além disso, a participação no mercado de capitais permite às organizações a obtenção
de recursos a custo competitivo, uma vez que elas poderão captar externamente através
da emissão de ações ou títulos de dívida (debêntures), o que reduzirá a dependência dos
financiamentos de curto prazo, de financiamento bancários caros, ou mesmo da geração
de recursos internos (os quais nem sempre são suficientes para atingir os níveis de
expansão desejados).
O mercado de capitais também contribui para o desenvolvimento econômico do país,
pois:
• Facilita o fluxo de capital dos poupadores para o investimento em indústrias, comércio
e serviços.
• Fornece maior agilidade às negociações para alteração de propriedade ou controle da
empresa.
• Facilita processos de privatização.
• Amplia a transparência das empresas participantes devido à busca por informações e
demonstrações financeiras por parte dos investidores do mercado, o que fornece maior
credibilidade ao crescimento dessas organizações.
• Facilita a entrada e aplicação do capital externo na economia nacional, auxiliando no
equilíbrio das contas da balança de pagamento e ampliação do volume de investimentos
no país.
• Permite aos poupadores a aplicação de seus recursos em diferentes empresas ao
mesmo tempo, com amplo acesso às informações sobre as companhias e alta liquidez do
investimento.
• Incentiva a formação de poupança interna de longo prazo, promovendo o crescimento
auto-sustentado do país.
No Brasil, o mercado de capitais ainda não atingiu seu potencial pleno. A BOVESPA
cresce seu volume de negociação, dia-a-dia, desde meados de 2003, no período pós
incerteza do início do mandato do Presidente Lula. Além disso, esse mercado enfrenta
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 96
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
problemas, como falta de liquidez, falta de transparência, dificuldade de acesso e custos
operacionais, o que inibe seu crescimento no país.
A falta de liquidez advém de uma série de fatores, passando pela falta de cultura do
brasileiro em investir em ações, fraudes de empresas no passado, baixa capacidade de
poupança interna, dentre outros. A falta de transparência ocorre pela instabilidade das –
r-*+98- egras que dificultam a previsibilidade das cotações. A dificuldade de acesso
ocorre devido aos altos custos burocráticos, legais e operacionais que impedem a
entrada de pequenas e médias empresas neste mercado. Mesmo algumas empresas de
grande porte têm evitado este mercado.
A mentalidade empresarial do brasileiro ainda é fortemente marcada por valores
baseados na figura da empresa familiar, administrada pelos proprietários e familiares,
impedindo que sejam cumpridas as exigências de abertura de informações que o
mercado exige. Têm sido sugeridas diversas ações para melhorar o desempenho de
nosso mercado de capitais, cabendo citar:
• Fortalecimento da transparência do mercado com o aperfeiçoamento da estrutura de
regulamentação, o fortalecimento dos direitos dos sócios minoritários, a melhoria na
estruturação e atuação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a criação de cortes
judiciais especializadas.
. • Equalização de custos tributários entre o mercado de capitais brasileiro e seus
competidores internacionais.
• Reformas tributária e trabalhista que visem uma ampla equalização de encargos entre
as empresas de capital aberto e fechado, reduzindo o custo do acesso e de transação,
com conseqüente aumento da liquidez.
• Desenvolvimento de campanha institucional visando difundir os benefícios
econômicos e sociais do mercado de capitais, bem como proporcionar uma evolução na
mentalidade empresarial em prol de uma compreensão dessas vantagens.
3.2. Companhias Abertas
Um segmento do mercado de capitais é o mercado de ações, que envolve a colocação
primária de ações emitidas pelas empresas e a negociação secundária das ações em
circulação. No entanto, para participar desse mercado, uma companhia necessita realizar
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 97
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
a abertura de seu capital, ou seja, lançar títulos de capital (ações) ou dívidas
(debêntures) para negociação pública.
Para iniciar um processo de abertura de capital a empresa deve estar organizada e
constituída de acordo com as definições constantes na Lei 6.404, de 15/12/ 1976, logo,
precisa estar na forma jurídica de uma sociedade anônima. Além disso, deverá ser
efetuado o registro da empresa junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para
ser autorizada a negociação junto ao público, tanto em Bolsas de Valores quanto no
mercado de balcão.
Uma companhia aberta é aquela que possui ações e ou debêntures negociadas junto ao
público em Bolsas de Valores ou mercado de balcão
Após a colocação dos valores mobiliários da empresa nesses mercados, ela passa a ser
considerada uma companhia aberta. Os valores mobiliários mais usuais no mercado são:
• Ações: títulos nominativos negociáveis, que representam uma fração do capital social
de uma empresa pertencente ao proprietário da ação.
• Bônus de subscrição: Títulos nominativos negociáveis, que concedem o direito de
subscrever ações do capital social da companhia que os emitiu ao seu proprietário,
dentro de condições anteriormente determinadas.
• Debêntures: Títulos nominativos negociáveis, que representam dívida de médio longo
prazo contraída pela companhia junto ao proprietário da debênture.
A Comissão que autoriza as companhias a abrirem seu capital, CVM, é uma autarquia
federal, instituída pela Lei 6.385, de 07 12 1976, que está diretamente ligada ao
Conselho Monetário Nacional (CMN) e é responsável pela regulamentação e fomento
do mercado de valores mobiliários. O mercado de capitais, como sistema de distribuição
desses valores, é constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e outras
instituições financeiras autorizadas.
As bolsas de valores são associações civis sem fins lucrativos e com funções de
interesse público, e seu principal objetivo é manter local ou sistema de negociação
eletrônico adequado para as negociações de compra e venda dos títulos nelas
registrados.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 98
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O patrimônio dessas bolsas é representado por títulos patrimoniais que pertencem às
sociedades corretoras membros. As bolsas, ao fiscalizarem o mercado e, principalmente,
as corretoras, atuam como auxiliadoras da CVM, pois devido ao volume e transparência
de suas negociações, são os mais importantes centros de negociação de ações.
As sociedades corretoras são instituições financeiras que compram, vendem e
distribuem títulos e valores mobiliários por conta própria ou de terceiros.
As corretoras precisam ser credenciadas pelo Banco Central do Brasil, pela CVM e
pelas bolsas em que irão atuar. Além de intermediárias especializadas na negociação de
valores mobiliários em pregão, as corretoras têm exclusividade na negociação de
valores mobiliários em pregão físico ou eletrônico das bolsas, elas também podem
efetuar lançamentos públicos de ações, fornecer diretrizes para escolha de investimentos
a seus clientes, administrar carteiras, auxiliar empresas na emissão de debêntures e
outros.
3.3. Bolsas de Valores no Brasil
As bolsas, como comentamos anteriormente, são instituições civis, sem fins lucrativos,
mas até meados da década de 1960, as bolsas brasileiras eram entidades oficiais
corporativas, vinculadas às secretarias de finanças dos governos estaduais, sendo seus
corretores nomeados pelo poder público. Somente após as alterações realizadas no
sistema financeiro nacional e no mercado de capitais resultantes da reforma institucional
do biênio 1964/ 65, as bolsas foram transformadas em associações civis sem fins
lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
A primeira bolsa de valores implantada foi a Bourse de Paris, no ano de 1141. Em 1698
foi fundada a Bolsa de Fundos Públicos de Londres. No Brasil, através do decreto nº
417, de 14 de junho de 1845, regulamentou-se a atividade do Corretor Oficial de
Fundos Públicos , que era vitalícia e sujeita à nomeação pelo Ministro da Fazenda. Em
1895 foi fundada a Bolsa Oficial de Títulos de São Paulo. Mas foi somente a partir de
1964, com as leis de Reforma Bancária e do Mercado de Capitais, que as Bolsas
assumiram as funções que possuem atualmente.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 99
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Assim, a sociedade corretora, constituída sob a forma de sociedade por ações
nominativas ou por cotas de responsabilidade limitada, surgiu para substituir a figura
individual do corretor de fundos públicos antes existente. Desse modo, as Bolsas de
Valores passaram a ser estruturadas dentro do modelo atualmente vigente. Essas
instituições promovem não apenas a negociação secundária de títulos, mas também a
liquidação e custódia de títulos e valores mobiliários, e títulos da dívida pública.
As bolsas de valores brasileiras atuavam de maneira completamente independente entre
si, mas a partir de um protocolo de intenções assinado em 27 de janeiro de 2001, foi
dado início a um processo de reestruturação da sistemática de atuação das bolsas
participantes do mercado de capitais nacional. Esse primeiro protocolo foi assinado
entre a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e a Bolsa de Valores do Rio de
Janeiro (B VRJ); posteriormente, outros protocolos foram sendo assinados entre a
BOVESPA e outras Bolsas de Valores existentes.
O principal objetivo era integrar, sob a administração da BOVESPA, o mercado de
valores mobiliários nacional, com a participação de corretoras de todas as regiões do
País. Já o mercado de títulos públicos de negociação eletrônica ficou sob a
administração da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, com participação aberta aos
membros da BVRJ, da BOVESPA e de todas as corretoras interessadas. Essas
alterações foram elaboradas com a finalidade de incrementar os negócios em nível
nacional, reduzir custos operacionais e fortalecer a competitividade do mercado
brasileiro. Além disso, essa integração permitiu centralizar o mercado acionário,
formalizando um único centro de liquidez para representar o país no contexto global.
A bovespa integra o mercado de valores mobiliários nacional, com a participação de
corretoras de todas as regiões do país, e a BVRJ administra o mercado de títulos
públicos.
Com a assinatura dos acordos de integração foram unidas as Bolsas de Valores de São
Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas, Espírito Santo, Brasília, do Extremo Sul, de Santos,
da Bahia, Sergipe, Alagoas, de Pernambuco e Paraíba, do Paraná e a Bolsa Regional.
Assim, o mercado de valores mobiliários brasileiro passou a estar integrado em âmbito
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 100
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
nacional, pois conta agora com a participação das sociedades corretoras de todas as
regiões do país que anteriormente estavam ligadas a cada uma dessas bolsas. Uma vez
que a BOVESPA concentra toda a negociação com ações e a Bolsa do Rio é
responsável pelas transações de títulos públicos, às outras bolsas regionais cabem as
atividades de desenvolvimento do mercado e de prestação de serviços à sua região.
A BOVESPA foi fundada em 23 de agosto de 1890 e desde a década de 1960 sempre
foi uma instituição voltada para o seu constante desenvolvimento. Desse modo, em
1972, a BOVESPA foi a primeira bolsa brasileira a implantar o pregão automatizado
com a divulgação das informações on-line e no exato tempo em que ocorriam (real
time). No final da década de 1970, introduziu as operações com opções sobre ações no
Brasil; e na década de 1980 implantou o Sistema Privado de Operações por telefone
(SPOT), desenvolveu um sistema de custódia fungível de títulos e implantou uma rede
de serviços on-line para as corretoras.
Em 1990, a BOVESPA iniciou as negociações através do Sistema de Negociação
Eletrônica - CATS (Computer Assisted Trading Sistem) - para operar simultaneamente
com o tradicional sistema de Pregão Viva Voz. E, em 1997, implantou o Mega Bolsa,
um novo sistema de negociação eletrônica que, além de utilizar um sistema tecnológico
altamente avançado, amplia o volume potencial de processamento de informações. Tudo
isso demonstra a preocupação com a manutenção do mais adequado ambiente de
negociação e com a máxima transparência, segurança e agilidade nas transações, pontos
fundamentais no desempenho adequado das funções de uma Bolsa de Valores junto a
seus participantes.
A BOVESPA também oferece a esses participantes ou aos interessados em atuar no
mercado de ações, o sistema home broker e o after market. O home broker é um sistema
interligado aos sistemas da Bovespa que permite ao investidor enviar ordens de compra
e venda de ações através da internet, isto é, utilizando o home broker (serviço
semelhante ao do home ban-king) de sua corretora, que está ligado ao sistema de
negociação da Bovespa, o investidor efetua suas transações.
O After Market é um mercado para negociação com ações que foram transacionadas
durante o pregão no mercado à vista, mas que ocorre após o horário regular de
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
negociação. Isto é, após o fechamento do pregão diurno do mercado à vista, as ações
que foram negociadas nesse dia podem ser novamente transacionadas durante a noite
(até as 21 horas) e podem variar em até 1% em relação ao preço de fechamento do
pregão diurno. Se o preço da ação variar 1%, para mais ou para menos, sua negociação
é interrompida antes das 21 horas.
Todo esse investimento coloca a Bolsa de Valores de São Paulo entre as mais modernas
bolsas de valores do mundo, permitindo uma boa colocação do Brasil no mercado
internacional de capitais e atraindo o investimento externo ao país.
O acompanhamento do mercado representado pela Bovespa é realizado através de um
índice criado em 1968 e denominado IBOVESPA. Esse índice acompanha a evolução
média das cotações das ações, sendo uma carteira teórica formada pelas 50 ações mais
negociadas no último quadrimestre anterior à montagem da carteira. Desse modo, o
Ibovespa é o valor atual, em moeda corrente dessa carteira, e sua representatividade do
mercado é garantida pela reavaliação quadrimestral realizada para alterações de
composição ou pesos que se fizerem necessárias para a manutenção das 50 ações com
maior volume transacionado.
Além do Ibovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo divulga outros índices, como o IBX
(índice Brasil) e o IEE (índice Energia Elétrica). O primeiro mede o retorno de uma
carteira de ações integrada pelas 100 ações mais negociadas e o segundo mede o
desempenho de ações do setor elétrico.
Outra importante bolsa brasileira é a Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F). A
BM&F surgiu em 1985, como Bolsa Mercantil & de Futuros, sendo que seus pregões se
iniciaram em 31 de janeiro de 1986. No entanto, se fundiu, em 9 de maio de 1991, com
a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BMSP), que havia sido criada em 26 de outubro
de 1971 por empresários paulistas ligados à agricultura, comércio e exportação, e
possuía forte tradição na negociação de contratos agropecuários (principalmente café,
boi gordo e algodão) e foi a primeira bolsa a introduzir operações a termo no Brasil. Na
data da fusão, a BM&F já oferecia diferentes negociações de produtos financeiros.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 102
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A denominação da bolsa passou a ser Bolsa de Mercadorias e Futuros, com manutenção
da antiga sigla. Posteriormente, em 30 de junho de 1997, uma nova fusão foi realizada,
agora com a Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), que havia sido fundada em 1983, no
Rio de Janeiro, para fortalecer o mercado nacional de commodities. Atualmente a
BM&F é classificada como a oitava bolsa no mundo em volume de contratos
negociados.
O principal objetivo da BM&F, sendo uma associação civil sem fins lucrativos, é
organizar, regulamentar e fiscalizar mercados de liquidação futura. Portanto, é sua
função fornecer condições físicas e organizacionais para a realização de negócios entre
os corretores que representam seus clientes; desse modo proporcionará aos participantes
do mercado a oportunidade de realizarem operações de hedging contra oscilações dos
preços de commodities agropecuárias, metais, moedas, índices e taxas de juros ou
qualquer outro item cujas variações futuras de preço possam ter impacto nos negócios.
A BM&F, dentro dessa perspectiva, apresenta operações nos mercados futuros, opções
sobre disponível, opções sobre futuro, opções flexíveis, termo, swaps e disponível. Na
sua busca pelo aperfeiçoamento e melhoria de seus mercados, a BM&F, em 31 de
janeiro de 2000, passou a fazer parte da Aliança Globex que envolve as bolsas de
Chicago (Chicago Mercan-tile Exchange), Paris (Euronext NV, ex-Paris Bourse),
Cingapura (Singa-pore Exchange-Derivatives Trading), Madri (MEFF - Mercado
Oficial de Futuros y Opciones Financieros) e Montreal (Montreal Exchange), e permite
que os participantes de um mercado possam negociar os produtos de outro. Com a
interligação eletrônica entre as bolsas da aliança, a BM&F passou a oferecer a seus
clientes a possibilidade de negociar 24 horas por dia e em diferentes mercados ao redor
do mundo. Além de facilitar o investimento do capital estrangeiro no país, uma vez que
a Resolução 2.622 do Conselho Monetário Nacional de 29 de julho de 1999, autorizou
investidores estrangeiros a efetuarem negociações com contratos futuros de produtos
agropecuários na BM&F.
3.4. Ações
As ações são títulos que representam a participação social no capital de uma empresa,
sendo nominativos e negociáveis. Há dois tipos de ações - ordinárias ou preferenciais:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 103
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
a) Ações ordinárias - São aquelas que conferem a seu titular o direito a voto na
Assembléia de Acionistas da empresa, ou seja, concedem o poder de voto nas
assembléias que determinam as principais destinações de recursos, elegem os membros
da diretoria, aprovam as demonstrações contábeis e outros. Portanto, essas ações
fornecem o direito à participação nas mais relevantes tomadas de decisão da empresa.
b) Ações preferenciais - Normalmente não concedem o direito a voto a seu titular, mas
oferecem preferência na distribuição de resultados ou no reembolso do capital em caso
de dissolução da companhia. A empresa pode definir, no seu estatuto, um dividendo
mínimo ou fixo, como percentagem do lucro ou do capital social a que os titulares das
ações preferenciais terão direito. Caso não ocorram essas definições, são garantidos às
ações preferenciais dividendos 10% maiores que aqueles pagos às ordinárias.
A Lei das Sociedades Anônimas permite que as companhias emitam até 66,6% do
capital social em ações preferenciais. Essas ações podem, em situações restritas,
conceder também o direito a voto. As ações ordinárias ou preferenciais são sempre
nominativas e podem, ainda, apresentar-se de duas formas: nominativas registradas, se
houver um registro de controle de propriedade feito pela empresa ou por terceiros,
independente da haver emissão de certificado; ou escriturais nominativas, se houver a
designação de uma instituição financeira que atuará como depositária dos títulos,
administrando-os através de uma conta-corrente de ações. Essa instituição deverá ser
credenciada pela CVM. Anteriormente ao Plano Collor, as ações de subscrição, que
seriam de um terceiro tipo, são praticamente inexistentes.
As ações poderiam ser também títulos ao portador. No entanto, após o Plano, todas
tornando-se nominativas registradas ou escriturais nominativas.
O valor de uma ação dependerá das expectativas do mercado quanto ao desempenho
futuro da empresa que a emitiu, o que reflete tanto seu desempenho passado, quanto as
suas possibilidades a médio e longo prazos. Essas possibilidades dependerão de fatores
como a gestão dos recursos da empresa e pontos fortes e fracos desenvolvidos. As
conjunturas econômicas doméstica e internacional também influenciam as cotações de
preço de uma ação, uma vez que alteram o chamado risco sistemático, ou seja, risco
resultante de fatores que afetam não somente as empresas, mas todo o sistema
econômico e poderão constituir tanto oportunidades como ameaças para a companhia.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 104
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
No entanto, apesar de o preço da ação dever refletir as perspectivas da empresa,
diariamente as cotações são fortemente influenciadas por movimentos internacionais de
capitais, perspectivas diversas de crises (como as crises russa e argentina, e as
provocadas pelo terrorismo), que ratingem países, antecipações de eleições, taxas de
juros, fusões e aquisições etc.
Uma ação dá a seu proprietário diversos direitos como:
1. Dividendos: Pagamento de parte dos lucros, em dinheiro, aos acionistas na proporção
da quantidade de ações detida, ao fim de cada exercício social. No Brasil, pela Lei das
Sociedades Anônimas, a empresa deve distribuir, no mínimo, 50% do lucro líquido do
exercício como dividendo, a menos que seu estatuto estabeleça um percentual menor.
Não pode, porém ser menos de 25%. As ações preferenciais, como colocamos
anteriormente, recebem 10% a mais de dividendos que as ordinárias, caso o estatuto
social da companhia não estabeleça um dividendo mínimo. Se apresentar prejuízo ou
estiver atravessando dificuldades financeiras, a companhia poderá não pagar
dividendos. Porém, caso não pague dividendos por mais de três exercícios, suas ações
preferenciais adquirirão direito de voto, até que se restabeleça a distribuição de
dividendos.
2. Bonificação: Distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, em função de
aumento de capital por incorporação de reservas. Excepcionalmente pode ocorrer a
distribuição de bonificação em dinheiro.
3. Desdobramento: Distribuição gratuita de novas ações aos acionistas, pela diluição do
capital em maior número de ações, para dar mais liquidez à ação.
4. Agrupamento: Transformação de várias ações em uma, com o aumento do valor
patrimonial da ação.
5. Juros sobre o capital próprio: Atualmente, pela legislação, os dividendos podem ser
pagos como se fossem juros sobre o capital próprio, até a taxa da TJLP. Do ponto de
vista de planejamento tributário, é vantajoso para a empresa e para o acionista, pois a
empresa abate do lucro líquido, reduzindo sua carga tributária de 25% do IR e 8% de
contribuição social. É descontado na fonte, do acionista, 15%.
6. Bônus de Subscrição: Direito dado ao acionista de subscrever novas ações,
proporcionais ao seu capital, a um preço menor que o de mercado. Ou seja, é o direito
de preferência na compra de novas ações emitidas, o que além de garantir a
possibilidade de manter a mesma participação no capital total, pode significar um ganho
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 105
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
adicional, dependendo das condições do lançamento. Por fim, se não exercido, o direito
pode ser vendido a terceiros.
Os principais investidores em ações são os investidores institucionais como fundos de
investimentos, fundo de ações, fundos mistos, fundos de pensão, seguradoras, dentre
outros. Esses investidores são fundamentais para o mercado de capitais devido ao
grande volume de recursos que aplicam e à qualidade de suas análises e decisões. As
ações são negociadas em dois mercados distintos: o mercado primário quando são
lançadas da primeira vez (subscrição) - e o mercado secundário - quando são vendidas
normalmente nas Bolsas de Valores ou no mercado de balcão.
Existem vários indicadores que influenciam os investimentos numa compra ou venda de
ações. Dentre eles podemos citar o beta (correlação do movimento da ação específica
com o movimento do mercado), as cotações de ações no mercado, o índice preço lucro,
o lucro por ação, o índice dividendo preço da ação, o índice dividendo lucro e o índice
preço fluxo de caixa operacional.
3.5. Mercados de Ações e Derivativos
3.5.1 Mercado à vista
Ações emitidas por empresas abertas são negociadas no mercado à vista, quando sua
compra e venda são voltadas para a liquidação imediata. Os prazos para esse tipo de
transação são dois dias após a negociação para liquidação física e três para a liquidação
financeira.
Liquidação física: D + 2
Liquidação financeira: D + 3
A liquidação física é o processo de tornar o título disponível à bolsa para entrega ao
comprador. Assim, no segundo dia útil (D+2) após a negociação em pregão, a sociedade
corretora que intermediou a ordem de venda deve entregar à bolsa os títulos que, após a
liquidação financeira, estarão à disposição do comprador.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 106
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A liquidação financeira que ocorre no terceiro dia útil (D+3) após a realização do
negócio em pregão, compreende o pagamento pelo comprador do valor total das ações,
o recebimento pelo vendedor e a transferência efetiva das ações.
Para negociar no mercado à vista é necessária a intermediação de uma sociedade
corretora credenciada pela bolsa a executar as ordens de compra e venda, através de
seus operadores em pregão. Os representantes das corretoras poderão negociar
apregoando suas ofertas de viva voz ou a corretora poderá cumprir as ordens de seus
clientes através do Sistema Eletrônico de Negociação (Mega Bolsa). Assim,
encontraremos duas formas de negociações com ações no mercado à vista:
- Viva Voz: O operador anunciará de viva voz sua oferta de compra ou venda durante o
pregão, informando o nome da empresa, o tipo da ação e a quantidade e preço de
negociação. Apenas as ações de maior liquidez são negociadas no pregão viva voz.
- Mega Bolsa (Sistema Eletrônico de Negociação): A ordem de compra ou venda é
realizada pela corretora através de terminais de computador, diretamente de seus
escritórios, sendo que o fechamento do negócio é realizado automaticamente pelos
computadores da bolsa.
As ações também podem ser transacionadas fora do horário regular do pregão no
denominado after market, como foi falado anteriormente. Essas transações deverão ser
realizadas com aquelas ações que foram negociadas durante o pregão do mesmo dia.
Para realizar ordens de compra e venda nesse mercado, os investidores também
necessitarão cadastrar-se em uma corretora credenciada pela BOVESPA, sendo que a
variação de preços das ações no after market deverá ser no máximo de 1% acima ou
abaixo do preço de fechamento do pregão diurno. As operações efetuadas nesse
mercado são divulgadas através do site da BOVESPA.
As ordens de compra e venda de ações podem ser enviadas pelos investidores às
corretoras de diferentes formas. Algumas delas são:
1. Ordem a mercado: Quando o investidor especifica à corretora apenas a quantidade e
as características dos títulos que deseja comprar ou vender, sendo que a corretora
executa a ordem a partir de seu recebimento. Caso o momento de execução fique a
critério da corretora, será caracterizada uma ordem administrada.
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
2. Ordem limitada: Quando o investidor estabelece o preço máximo ou mínimo pelo
qual quer comprar ou vender determinada ação. Ela somente será executada por um
preço igual, ou melhor, do que o indicado.
3. Ordem casada: Quando o investidor determina uma ordem de compra de um título e
uma venda de outro, escolhendo qual operação deverá ocorrer primeiro. A efetivação da
transação é condicionada ao fato de ambas as ordens serem executadas.
4. Ordem de financiamento: Quando o investidor determina uma ordem de compra (ou
venda) de um título em um mercado e uma outra concomitante de venda (ou compra) de
igual título, no mesmo ou em outro mercado, com prazos de vencimento distintos.
As operações realizadas no mercado avista envolvem custos de transação na forma de
emolumentos e taxa de corretagem pela intermediação. O cálculo da taxa de corretagem
é feito por faixas sobre o total de compras mais vendas das ordens realizadas em nome
do investidor, por corretora e pregão.
Além desses custos, existe também o Aviso de Negociações com Ações (ANA) que
deveria ser cobrado por cada pregão em que o investidor realizar negócio, independente
do número de transações. Mas esse aviso está isento de custo por tempo indeterminado.
- Day-trade: Compra e venda de uma mesma série de títulos, em um mesmo pregão, por
uma mesma sociedade corretora e para um mesmo investidor.
No mercado avista podem ocorrer, ainda, as operações de day-trade, operação de
arbitragem em que um investidor compra e vende, num mesmo pregão, a mesma ação
através de uma mesma corretora, o que pode ocorrer em mercados diferentes (compra
em um e vende em outro) ou no mesmo mercado, mas em tempos diferentes. Nos casos
dessas negociações, não ocorrerá a entrega física dos papéis, apenas a liquidação
financeira em D + 3.
3.5.2. Mercado a termo
Nesse mercado são realizadas operações de compra e venda de ações (ativo-objeto), a
um preço fixado e com prazo de liquidação determinado a partir da data da operação em
pregão. Todas as ações negociadas no mercado à vista da Bovespa podem ser
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
negociadas a termo. Portanto, operações a termo resultam em contratos com prazo de
liquidação fixado entre as partes. Esse prazo pode ser livremente escolhido entre os
investidores, desde que esteja no intervalo de 12 dias úteis a 999 dias corridos. Em sua
maioria, as negociações são de 30 dias, mas também ocorrem contratos dé 30, 60, 90,
120, 150 e até 180 dias.
Assim como no mercado à vista, a negociação a termo exige a intermediação de uma
corretora. Como o preço a termo depende do valor cotado para a ação no mercado à
vista acrescido de juros, esses juros serão livremente determinados pelo mercado, em
função do prazo do contrato.
No entanto, além dos custos de transação no mercado à vista, a operação a termo
envolve também a taxa de registro do contrato cobrada de ambas as partes e os custos da
CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação (taxa de liquidação e de registro).
Transações no mercado a termo exigem o depósito de garantias por parte do investidor
na sociedade corretora que repassará à CBLC. As garantias podem ser de duas formas:
cobertura ou margem. A cobertura pode ser feita pelo vendedor a termo que já possua as
ações negociadas em seu contrato. Nesse caso, ele as depositará na CBLC como
garantia de sua obrigação, ficando dispensado de outras garantias adicionais. A garantia
em forma de margem é feita por um depósito inicial como garantia, variando, conforme
a variação da cotação da ação negociada no mercado a vista.
O encerramento de uma negociação a termo pode ocorrer na data de vencimento
estipulada no contrato, ou se o comprador desejar, em data anterior.
3.5.3. Mercado de opções
O mercado de opções é um mercado em que são transacionados direitos. São direitos de
se negociar um lote de ações, com preços e prazos preestabelecidos, e essa negociação
poderá ser de compra e venda, dependendo do tipo de opção adquirida.
Opção = Direito
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Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Uma opção possui três figuras centrais: titular, lançador e prêmio. O titular é o
investidor que adquiriu a opção, comprando o direito de realizar a negociação se o
desejar. O lançador é o investidor que colocou no mercado a opção à venda e terá que
garantir a negociação; portanto, tem a obrigação de acatar a decisão do investidor e
realizar a outra ponta do negócio, ou seja, a compra ou venda. Para garantir esse direito,
assumir essa obrigação, o lançador recebe o prêmio, que é o pago pelo titular e
negociado em bolsa.
As opções sobre ações têm seu vencimento na terceira segunda-feira do mês de
vencimento, e usualmente ocorrem bimestralmente, nos meses pares. Já as opções sobre
índices vencem na quarta-feira mais próxima do dia 15 do mês de vencimento.
• Opção de compra (call): É aquela em que o titular adquire o direito de comprar um
determinado lote de ações, podendo exercer esse direito em qualquer data até o
vencimento da opção. Ao lançador cabe a obrigação de vender as ações assim que
receber a comunicação de que sua posição foi exercida.
• Opção de venda (put): É aquela em que o titular adquire o direito de vender um
determinado lote de ações, na data de vencimento da opção. Ao lançador cabe a
obrigação de comprar as ações.
Tanto nas opções de compra como nas de venda, o lançador receberá um prêmio pela
venda da opção, e essa venda será intermediada por um corretor e representa uma
obrigação (de compra ou venda) que o investidor assume perante a bolsa. Quando o
titular decide exercer seu direito, o lançador deve entregar as ações-objeto mediante o
pagamento do preço de exercício (opções de compra) ou comprar as ações-objeto ao
preço de exercício (opções de venda).
O prêmio é o preço de uma opção, negociado no pregão da bolsa, pelos representantes
do comprador e do lançador. Ele dependerá de diversas características da ação-objeto,
ou seja, da ação sobre a qual a opção é lançada, como o prazo de vigência da opção, sua
oferta e sua demanda, a volatilidade do preço, a diferença entre o preço de exercício e o
preço no mercado à vista, e outros.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 110
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O mercado de opções também permite operações de day-trade, sendo a liquidação
dessas transações também exclusivamente financeira. As operações de day-trade só não
são permitidas no dia de vencimento da opção.
O mercado de opções da Bovespa é um mercado escritural, ou seja, as negociações não
possuem um certificado, são apenas registradas na Bovespa. Os investidores
relacionam-se com a caixa de liquidação da bolsa e não com seus parceiros de
transação. Assim, quando é efetuado o exercício de uma opção, a determinação de quais
lançadores deverão atendê-lo é realizada por sorteio entre as posições lançadoras de
opções de série igual às da opção exercida.
As garantias no mercado de opções devem ser fornecidas pelos lançadores, que são
aqueles que precisam garantir a realização da transação se o titular o desejar. No caso do
lançamento de uma opção de compra, a opção poderá ser coberta ou descoberta. A
opção será coberta quando o lançador depositar as ações-objeto a que se refere a opção,
como garantia da negociação. Já a opção a descoberto será aquela em que o lançador
deposita como garantia não as ações-objeto da opção, mas uma margem em dinheiro e
ou outro títulos autorizados pela Bovespa. O valor desse depósito é definido por regras
de câmbio da BOVESPA.
Para as opções de venda a garantia de posição também será feita através do depósito de
uma margem em dinheiro e ou outros títulos autorizados pela bolsa, sendo que o cálculo
de seu valor adota a mesma metodologia que a da opção de compra. Os depósitos em
dinheiro são aplicados pela bolsa, que repassa às corretoras a remuneração obtida para
que essas a transfiram aos investidores.
Há um mercado de opções secundário mantido pela BOVESPA. Nele podem ser
negociados títulos antes de seu vencimento. Assim, caso os preços se elevem é
interessante ao investidor lançar uma posição igual a que ele adquiriu; se os preços dos
prêmios se reduzirem, será interessante ao lançador comprar uma opção de série igual a
que ele lançou. Nos dois casos, se qualquer das opções em que os agentes estão
envolvidos for exercida, o investidor terá a outra opção para garantir o negócio e
eliminar o seu risco, além de já ter obtido o ganho referente ao diferencial de preço do
prêmio. Exemplificando:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 111
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Suponha que um investidor A adquiriu uma opção de compra de um lote de 1.000
ações. A opção de compra ABC outubro 5,00, pagando um prêmio de 0,50 ação. Isto é,
ele adquiriu o direito de comprar um lote de 1.000 ações da empresa ABC em outubro
próximo ao preço de $5,00 por ação e, para adquirir tal direito, pagou ao lançador da
opção um prêmio de $0,50 por ação. No entanto, as variações de mercado conduziram
posteriormente o preço do prêmio dessa série de opções a 0,60 ação. O investidor A
optou, então, por fechar sua posição, ou seja, ele lançou uma opção de compra ABC
outubro 5,00 e recebeu o prêmio de $0,60 por ação. Assim:
0,50 X 1.000 = 500 - prêmio pago pelo investidor A
0,60 X 1.000 = 600 - prêmio recebido pelo investidor A
ganho do investidor A = $100 opção
*Na data de exercício dessa opção, caso o titular que comprou a opção lançada pelo
investidor A decida realizá-la, ou seja, comprar as ações por $5,00 cada, o investidor A
irá também realizar a primeira opção que comentamos, em que ele é o titular. Como o
preço de exercício e as ações são as mesmas, ele simplesmente as repassará, não tendo
ganho ou prejuízo com a transação, exceto o ganho por ele antecipado através da
diferença de valor entre os prêmios.
O encerramento de posição, portanto, permite antecipar resultados e reduzir riscos. No
entanto, é importante observar que também limita os ganhos, pois caso houvesse
ocorrido uma grande elevação das ações ABC, por exemplo $7,00 ação (logo, 1.000
ações representariam um ganho superior ao investidor A de $2.000 - $7.000 - $5.000), o
nosso investidor não poderia realizar a opção em que era titular e vender tais ações no
mercado à vista realizando o ganho de $2.000,00, pois teria que entregá-las ao titular da
opção em que é lançador, por $5,00 ação, caso aquele titular o desejasse. As operações
de compra ou venda para fechamento de posição são realizadas através de sociedades
corretoras que deverão, simultaneamente, comunicar à Bovespa o bloqueio de exercício
de sua posição.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 112
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Fechamento de Posição
Lançador — compra opção de série igual à lançada Titular — lança opção de série igual
à comprada.
Além das operações de fechamento de posição, o investidor também pode realizar
operações casadas. Esse tipo de transação ocorre quando se realiza uma operação no
mercado de opções e outra no mercado à vista em um mesmo pregão, realizadas em
conjunto, seja de compra ou venda. Desse modo, o titular de uma opção de compra
poderá exercê-la e, no mesmo pregão, vender as ações compradas através da opção no
mercado à vista. Ou no caso da opção de venda, ele pode comprar no mercado à vista as
ações que, no mesmo pregão, irá vender através de sua opção. Assim, ele obterá maior
flexibilidade e necessitará desembolsar ou imobilizar menores volumes de recursos.
O lançador de uma opção de compra pode comprar no mercado à vista as ações que
deverá vender naquele pregão ao titular da opção, caso seja uma opção a descoberto. Ou
ainda, no caso de opções lançadas cobertas, o lançador pode comprar uma opção que
feche sua posição (logo, uma transação contrária: lançou opção de venda, compra opção
de venda; lançou opção de compra, compra opção de compra) e negociar as ações que
estavam depositadas em garantia no mercado à vista naquele mesmo pregão. Outra
forma de transação casada para o lançador de opções de compra seria, ao comprar ações
à vista, lançar as opções de compra dessas ações no mesmo pregão, assim as ações
adquiridas já poderiam ser diretamente depositadas como garantia das opções vendidas.
No caso de lançamento de opções de venda, o lançador pode, no mesmo pregão em que
a opção foi exercida, realizar a venda à vista das ações que adquiriu ao atender ao
exercício da opção. Todos esses mecanismos fornecem maior agilidade e liquidez ao
mercado de opções.
O titular de uma opção, seja de venda ou de compra, tem o valor de seu prejuízo
máximo predeterminado, uma vez que quando os valores no mercado à vista tornam o
exercício da opção inviável, o investidor não exercerá a opção, nesse caso perdendo o
prêmio pago ao lançador, ou seja, seu prejuízo máximo. Já o lançador terá fixado, ao
contrário, seu ganho máximo, que será o valor do prêmio, caso a opção não seja
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 113
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
exercida. Exemplificando esse processo, suponhamos primeiramente aquela mesma
opção de compra da qual havíamos falado anteriormente:
1. Opção de Compra ABC outubro 5,00:
Preço de exercício — $5,00 ação Prêmio — $0,50 ação.
Se o preço da ação no mercado à vista, na data do vencimento da opção, estiver abaixo
ou igual ao preço de exercício ($5,00), não haverá vantagens para o titular que terá
perdido o prêmio, pois compensará mais realizar o negócio no mercado à vista. Logo,
sua perda está limitada ao valor do prêmio: $0,50 ação. Se o preço for superior a $5,00
ação, compensará o exercício da opção e, quanto maior for o preço no mercado à vista,
maior será o ganho do titular da opção. Suponhamos que o preço seja $7,00. O ganho do
titular será:
$7,00 - $0,50 - $5,00 = 1,50 ação
Já para o lançador a situação será inversa, pois ele estará vendendo por $5,00 uma ação
que vale $7,00, logo, seu prejuízo será de $1,5O ação e, quanto maior for a cotação no
mercado à vista, maior será a perda do lançador. Percebe-se assim que, inversamente ao
titular, o lançador tem definido o valor máximo de seu ganho. O prejuízo do lançador
será:
$7,00 - $0,50 - $5,00 = $1,50 ação
Suponhamos, agora, uma opção de venda:
. Opção de Venda ABC outubro 5,00: Preço de exercício - $5,00 ação Prêmio - $0,50
ação
Se o preço da ação no mercado à vista, na data do vencimento da opção, estiver acima
ou igual ao preço de exercício ($5,00), não haverá vantagens para o titular que terá
perdido o prêmio, pois compensará mais realizar o negócio no mercado à vista. Logo,
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 114
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
sua perda está limitada ao valor do prêmio: $0,50 ação. Se o preço for inferior a $5,00
ação, compensará
o exercício da opção e, quanto menor for o preço no mercado à vista, maior será o
ganho do titular da opção. Suponhamos que o preço seja $3,00. O ganho do titular será:
$5,00 - $3,00 - $0,50 = $l,50 ação
Valor que também será o prejuízo do lançador, pois ele venderá por $3,00 uma ação
que, no mercado à vista, vale $5,00. Descontando o prêmio que ele já recebeu pela
opção, ficará um prejuízo de $1,50 por ação. Novamente percebemos que o lançador
fixa seu valor de ganho máximo e o titular seu prejuízo máximo, pois caso o valor no
mercado à vista for inferior ao preço de exercício da opção, o titular não exercerá seu
direito perdendo o prêmio, que corresponde ao ganho máximo do lançador.
3.5.4. Mercado futuro
O mercado futuro é o mercado no qual se negociam lotes-padrão de ações com datas de
liquidação futura, ou seja, é um mercado em que são estabelecidos contratos futuros.
Um contrato futuro representa um compromisso entre duas partes, comprador e
vendedor, de efetivar em data futura e predefinida a comercialização de determinado
produto (ou commodities) agropecuário ou ativo financeiro, com características já
estabelecidas e por preço negociado em pregão.
Esses contratos padronizam o objeto de negociação, a quantidade, o mês de vencimento,
os locais e procedimentos de entrega, e os custos envolvidos na operação; somente o
preço futuro será negociado entre as partes, através do pregão, por intermédio de
corretoras de mercadorias. Apesar de haver a possibilidade de entrega física do produto,
a idéia básica é garantir preços e não liquidação física, pois ambos os participantes de
uma transação poderão reverter sua posição, antes da data de vencimento.
A bolsa brasileira em que são firmados os contratos futuros é a BM&F (Bolsa de
Mercadorias e Futuros). Atualmente são negociados nessa bolsa contratos de boi, soja,
milho, café, açúcar cristal, algodão e álcool anidrocarburante, além de outros produtos
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 115
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
financeiros. Sendo que cada contrato possui uma quantidade padrão de cada tipo de
mercadoria, como demonstrado na Tabela 9.1:
Tabela 3.1
Quantidade Padrão de cada Tipo de Mercadoria por Contrato Futuro
Produto Quantidade por contrato
Café 100 sacas de 60 quilos
Açúcar 270 sacas de 50 quilos
Álcool 30 metros cúbicos
Soja e Milho 450 sacas de 60 quilos
Algodão 28.108,65 libras de peso ou 12.750 quilos
Boi Gordo 330 arrobas
Fonte: Site da BM&F, março de 2001.
Os vencimentos dos contratos futuros dependerão do produto do contrato, sendo que,
exceto o contrato de boi gordo, todos os demais possuem vencimento somente em
alguns meses do ano, que são definidos em função de liquidez (concentração maior de
negócios), meses de safra e entressafra, e datas definidas por outras bolsas (para
permitir a arbitragem entre mercados).
O participante de um contrato futuro pode permanecer na bolsa até o vencimento do
contrato, quando então optará pela liquidação física ou financeira do contrato; ou sair do
mercado através da liquidação por reversão de posição.
A reversão de posição é a realização de uma operação inversa à que havia sido feita
anteriormente. Isto é, no caso de uma pessoa que possui um contrato futuro em que é o
comprador do produto, ele deverá realizar um contrato futuro de venda do mesmo
produto, para o mesmo vencimento e através da mesma corretora. No caso de ser o
vendedor, deverá firmar o contrato como comprador.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 116
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quando o participante do contrato é o comprador do produto, diz-se que ele está
comprado; e quando é o vendedor, que está vendido. A posição vendida é também
conhecida como short e a comprada, long. Assim, a reversão de posição para o
participante vendido é a compra de contratos iguais aos que possui, e para o comprado é
a venda. A Bolsa então irá cruzar os negócios (através de CGC ou CPF) e liquidar a
posição do interessado no número de contratos que tenha revertido. Se tiver comprado
ou vendido exatamente a mesma quantidade de contratos em que estava vendido ou
comprado respectivamente, sua posição estará liquidada.
A liquidação física de um contrato futuro é a entrega ou o recebimento da mercadoria
referente ao compromisso. Nesse caso, a corretora deverá emitir o Aviso de Intenção de
Liquidação por Entrega, no período que vai do quinto dia útil anterior à data de
vencimento do contrato até o último dia de negociação. Os locais e procedimentos de
entrega são determinados pela Bolsa e, portanto, já conhecidos desde o estabelecimento
do contrato.
No entanto, as entregas de produtos negociados na BM&F não ultrapassam 2% do
volume negociado, pois na data do vencimento geralmente os participantes preferem
realizar a liquidação financeira de seus contratos e vender seu produto em mercados
mais próximos de sua localização, pois terão menores custos de deslocamento.
A liquidação financeira é o resultado do pagamento ou recebimento referente ao preço
da mercadoria por ocasião da entrega mais o acerto de contas representado pelo ajuste
diário. O ajuste diário é o mecanismo desenvolvido para reduzir o risco de não
cumprimento do contrato futuro devido a uma grande diferença entre o preço negociado
e o preço à vista no vencimento do contrato. Ou seja, como o preço futuro de um
contrato é negociado em pregão e depende das expectativas de oferta e demanda futuras
de um produto, esse preço pode oscilar de acordo com novas informações ou agentes
surgidos no mercado. Assim, o preço futuro do pregão de ontem pode ser superior ou
inferior ao preço negociado no pregão de uma semana atrás. A tendência é que, à
medida que se aproxima o vencimento do contrato, o preço futuro se aproxime cada vez
mais do preço à vista.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 117
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Desse modo, ao fechar um negócio para o mês futuro a determinado preço de
vencimento e no próximo pregão esse preço se modificar, o vendedor ou comprador
deverá pagar ou receber um ajuste que equivalente ao valor financeiro da variação do
preço futuro.
O recebimento ou pagamento do ajuste dependerá da posição tomada (comprador ou
vendedor) e da variação ocorrida (valorização ou desvalorização do preço futuro), como
demonstra o Quadro 9.3.
Quadro 3.3
Definição de Recebimento ou Pagamento de Ajuste Diário
Valor de negociação do preço firmado no contrato futuro em relação ao preço
Superior Valorização
Inferior Desvalorização
Comprador
recebe ajuste diário
paga ajuste diário
Vendedor
paga ajuste diário
recebe ajuste diário
Além dos ajustes diários, que são creditados ou debitados no dia seguinte ao
encerramento do leilão, os compradores e vendedores de contratos futuros devem
depositar também uma margem de garantia. As margens são definidas pela Bolsa por
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 118
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
mercadoria e contrato, e devem ser depositadas no início de cada operação. Elas
garantem que, caso o cliente deixe de pagar os ajustes diários, após ser considerado
inadimplente o valor não pago será coberto pelas margens. Se não forem utilizadas, as
margens são devolvidas ao final do contrato.
Na BM&F, caso um cliente deixe de pagar o ajuste diário, a Bolsa o considere
inadimplente e execute suas garantias, ele não terá mais o direito de operar no pregão e
terá seu nome incluído em relação de inadimplentes distribuída a todas as corretoras. Ou
seja, a margem de garantia não deve ser vista como um recurso para pagamento de
ajuste diário, pois só será utilizada após a declaração de inadimplência do cliente, o que
o impedirá de atuar futuramente na Bolsa.
Hedges
O mercado futuro pode ser utilizado por compradores e vendedores como uma forma de
proteção contra as oscilações de preço. Nesse caso, estará sendo feito um hedging e o
tomador de posição que estiver realizando um negócio com esse objetivo será conhecido
como hedge. Assim, por exemplo, um produtor rural pode vender seu produto através
de um contrato futuro garantindo o preço de sua mercadoria na data que selecionar.
Logo, se o preço cair, ele poderá vender seu produto no mercado que desejar a esse
preço inferior, mas receberá os ajustes diários relativos a seu contrato futuro quando
fizer a liquidação financeira (poderá também, se quiser, realizar a liquidação física). Se
o preço subir, ele fará o mesmo procedimento, só que agora pagará os ajustes. De
qualquer forma, ele garantiu um preço futuro que considerava adequado a seu produto e
eliminou os efeitos das oscilações de preços em seu negócio.
No caso do comprador, pode-se citar, por exemplo, empresas que industrializam
produtos agrícolas, frigoríficos, produtores de ração e outros. Esses compradores
também podem realizar suas compras através de um contrato futuro, garantindo o preço
que consideram justo para a negociação de seus insumos em data futura. Da mesma
forma, se o preço se elevar acima do preço negociado no contrato futuro firmado, a
empresa receberá as diferença entre o preço do contrato e o preço à vista no vencimento,
e poderá comprar a mercadoria em qualquer outro mercado, desembolsando apenas
aquele valor programado através do contrato futuro, pois a diferença será paga pelo
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 119
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
montante de ajuste recebido. No caso de baixa, o procedimento será o mesmo e o
desembolso também, pois a diferença entre o preço à vista e o firmado no contrato
futuro será pago pelo comprador na forma de ajustes diários. Novamente, percebe-se
que fica garantido o preço de compra firmado no contrato e elimina-se as oscilações do
mercado. Desse modo, os participantes do contrato se protegem das variações de preços
dos produtos.
Exemplo
Suponhamos que um criador de gado, no dia 07/06/2001, preocupado com a oscilação
do preço da arroba de boi gordo até o final de agosto, período em que planejava vender
parte de seu gado, transmitiu uma ordem a seu corretor para vender 10 contratos de boi
gordo no mercado futuro da BM&F. Como cada contrato de boi gordo representa 330
arrobas ele vendeu 3.300 arrobas no mercado futuro para agosto de 2001. O preço de
negociação foi de $43,80 @. A Tabela 9.2 demonstra os movimentos de ajustes diários
desses contratos durante o restante do mês de junho. Tabela 9.2
Operação de Venda através de Contrato Futuro com Vencimento
em Agosto de 2001.
Data
Preço
início
pregão
Preço
final
pregão Diferença
X 3300
KG Ajuste
Fluxo
de
Caixa
07 06
01 R$ 43,80 R$ 43,95 -0,15 -495 -495
08 06
01 R$ 43,95 R$ 43,75 0,2 660 165
11 06
01 R$ 43,75 R$ 43,80 -0,05 -165 0
12 06
01 R$ 43,80 R$ 43,70 0,1 330 330
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 120
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
13 06
01 R$ 43,70 R$ 43,65 0,05 165 495
15 06
01 R$ 43,65 R$ 43,50 0,15 495 990
18 06
01 R$ 43,50 R$ 43,45 0,05 165 1155
19 06
01 R$ 43,45 R$ 43,55 -0,1 -330 825
20 06
01 R$ 43,55 R$ 43,55 0 0 825
21 06
01 R$ 43,55 R$ 43,27 0,28 924 1749
22 06
01 R$ 43,27 R$ 43,45 -0,18 -594 1155
25 06
01 R$ 43,45 R$ 43,20 0,25 825 1980
26 06
01 R$ 43,20 R$ 43,20 0 0 1980
27 06
01 R$ 43,20 R$ 43,00 0,2 660 2640
28 06
01 R$ 43,00 R$ 43,00 0 0 2640
29 06
01 R$ 43,00 R$ 43,25 -0,25 -825 1815
Observando a Tabela 9.2, veremos que a operação foi uma venda de contratos com
vencimento em agosto de 2001; portanto, VagoOl. O preço negociado é o valor que, no
pregão, foi negociado entre as partes. O preço de ajuste é aquele definido pela bolsa
durante o call de fechamento do mercado a cada pregão e que será o valor utilizado
como cotação daquele dia para a determinação do ajuste a ser realizado pelas partes.
Assim, no dia 07/06/2001, o preço de ajuste definido na bolsa foi de $43,95, mas o
produtor tinha negociado seu produto por $43,80. Ou seja, o preço de negociação ficou
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 121
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
0,15 @ abaixo do preço de ajuste, logo a nova previsão do mercado para o preço à vista
da arroba na data de vencimento do contrato subiu e o produtor, para honrar seu
compromisso, teria que desembolsar 0,15 @ a mais do que receberia se tivesse que
adquirir o produto para vendê-lo ao preço combinado ao outro participante (comprador
do contrato), ou caso já tenha o produto (caso do nosso exemplo), ele deixaria de ganhar
essa diferença se liquidasse fisicamente seu contrato, entregando os bois ao comprador
por $43,8 0 e não os vendendo por $43,95 ou, ainda, que ganharia a mais no mercado se
os vendesse a outro comprador. Assim, o depósito das margens garantirá que o
vendedor não tenha dificuldades financeiras para cumprir o contrato, pois a diferença
entre o preço no mercado à vista e o preço que negociou já estaria sendo, lentamente ao
longo do contrato, entregue à outra parte e nem tentaria quebrar o contrato vendendo o
produto no mercado à vista ao melhor preço no vencimento do acordo, porque seu
ganho no mercado à vista (diferença de preços) já teria sido entregue ao comprador.
Do mesmo modo, se o vendedor desejar realizar apenas a liquidação financeira do
contrato, receberá no vencimento apenas o valor do preço negociado, porque a diferença
paga na forma de ajustes diários será repassada ao comprador para que possa adquirir o
produto no mercado à vista, em que ele está mais caro.
No segundo dia, o preço de ajuste cai para $43,75. Agora, o produtor já está ajustado
para o preço de $43,95, assim:
43,95-43,75 = 0,20
O ajuste deverá ser de 0,20 @; como são 10 contratos de 330 arrobas cada, o ajuste total
será:
0,20x10x330=660,00
No entanto, como o preço caiu, o risco de não cumprimento do contrato se transferiu do
vendedor para o comprador (que poderá pensar em recusar-se a comprar mais caro
através do contrato, do que mais barato no mercado à vista na data de vencimento).
Logo, ele é quem depositará o ajuste. Como o vendedor antes teve de depositar $495,00
e agora receberá $660,00, ele passará a ter um saldo líquido de fluxo de caixa de
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 122
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
$165,00.
Assim sucessivamente, o ajuste vai sendo calculado e os depósitos ou créditos
determinados. Interessante observar que, quando o preço de ajuste em 11/06/2001 se
iguala ao preço de negociação, o saldo do fluxo de caixa gerado pelo ajuste, zera.
Suponhamos que um frigorífico deseja garantir o preço do produto que irá adquirir em
agosto e comprou, em 07/06/2001,10 contratos futuros de boi gordo para agosto de
2001 (CagoOl). Seus ajustes são demonstrados na Tabela 9.3. 349
Tabela 9.3
Operação de Compra através de Contrato Futuro com Vencimento em Agosto de 2001
Data Preço Preço de Negociado Ajuste
Operação $ @ $ @
Ajuste $
@
Ajuste
Total $
Fluxo de
caixa #
07 06 01 Cago01 43,80 43,95 0,15 495,00 495,00
08 06 01 43,75 -0,20 -660,00 -165,00
11 06 01 43,80 0,05 165,00 0,00
12 06 01 43,70 -0,10 -330,00 -330,00
13 06 01 43,65 -0,05 -165,00 -495,00
15 06 01 43,50 -0,15 -495,00 -990,00
18 06 01 43,45 -0,05 -165,00 -1.155,00
19 06 01 43,55 0,10 330,00 -825,00
20 06 01 43,55 0,00 0,00 -825,00
21 06 01 43,27 -0,28 -924,00 -1.749,00
22 06 01 43,45 vO,18 594,00 -1.155,00
25 06 01 43,20 -0,25 -825,00 -1.980,00
26 06 01 43,20 0,00 0,00 -1.980,00
27 06 01 43,00 -0,20 -660,00 -2.640,00
28 06 01 43,00 0,00 0,00 -2.640,00
29 06 01 43,25 0,25 825,00 -1.815,00
I
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 123
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Observe que o cálculo do ajuste será o inverso, pois agora a redução do preço de ajuste
terá o efeito de ampliar o risco do comprador não querer cumprir sua parte no contrato,
como comentamos anteriormente. E o aumento do preço de ajuste terá o efeito
contrário. Assim, no primeiro caso, ele depositará ajuste e no segundo ele receberá.
Finalizando nosso exemplo, vamos supor que nossos participantes, tanto comprador
como vendedor, por motivos diversos, resolveram sair da bolsa em 29/06/2001. Para
isso realizaram uma liquidação por reversão de posição, ou seja, uma operação inversa.
Logo, nosso criador de gado comprou o mesmo número de contratos que tinha vendido
e o frigorífico vendeu o mesmo número de contratos comprados, para o mesmo
vencimento e através da mesma corretora. Considerando que o criador comprou e o
frigorífico vendeu seus contratos em 29/06/2001 por $43,25 @ e $43,20 @
respectivamente, vamos refazer a última linha das Tabelas 9.2 e 9.3. Assim:
Tabela 9.4
Encerramento de Posição do Vendedor
Data Operaçã
o
Preço
Negociado
$1®
Preço de
Ajuste
$1®
Ajuste
$1®
Ajuste
Total $
Fluxo de
caixa #
29/06/01 CagoOl 43,25 43,25 -0,25 -825,00 1.815,00
Tabela9.5
Encerramento de Posição do Comprador
Data Operaçã
o
Preço
Negociado
$1®
Preço de
Ajuste
$1®
Ajuste
$1®
Ajuste
Total $
Fluxo de
caixa #
29/06/01 VagoOl 43,20 43,25 0,30 990,00 -1.650,00
Como o criador de gado comprou novos contratos pelo preço de ajuste no dia
29/06/2001, ele teve que depositar apenas o ajuste relativo ao seu antigo contrato de
venda ($825,00). Já o frigorífico vendeu 10 contratos por preço inferior ao de ajuste,
logo, agora como vendedor, se o preço de ajuste foi superior ao negociado ele deverá
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 124
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
receber o ajuste. Mas como ele já teria que receber ajuste em função de seu antigo
contrato de compra, seu ajuste por arroba será:
0,5 (ajuste do contrato de venda) + 0,25 (ajuste do contrato de compra) = 0,3 0 @
10 contratos x 330 arrobas contrato x 0,30 = 990,00
Assim, o criador de gado encerra sua posição, recebendo apenas o total do fluxo final de
caixa referente a seus ajustes ($1.815,00). Se supormos que ele resolveu vender
antecipadamente suas 3.300 arrobas de gado (10 contratos de 330 arrobas) no mercado à
vista também no dia 29 por 43,25, e somarmos o que ele recebeu de ajuste por arroba
(1.815,00 3.300= 0,55), teremos $43,80 @. Isto é, ele receberá por seu produto
exatamente o preço que havia negociado em 07/06/2001.
Já o frigorífico, se também optar por comprar o produto agora no mercado à vista,
pagando 43,25 @, e somarmos a esse valor o que ele já pagou por arroba de ajustes
diários relativos ao contrato de compra, ou I351
Seja 0,55 (1.815,00 3300), teremos $43,80 @. Portanto, podemos notar que o valor
definido no início da transação como o preço que os participantes desejavam garantir
para seus negócios no futuro foi mantido.
Outro aspecto da transação de encerramento de posição que deve ser observada é que os
participantes saíram do mercado através de compra ou venda de contratos por preço de
negociação diferentes, o que demonstra que não negociaram entre si. Isso ocorre devido
à adoção de Clearing Houses pela Bolsa, que são instituições responsáveis pelo registro
de operações e controle de posições, compensação de ajustes diários, liquidação
financeira e física de negócios, e administração de garantias, atuando como a
compradora de todos os vendedores e vendedora de todos os compradores, pois
assegura o cumprimento de todos contratos. Desse modo, torna-se possível que, após a
realização do negócio, o vendedor ou o comprador não dependam do desejo da outra
parte para liquidar seu contrato, pois poderão realizar negócio contrário com outro
participante do mercado e a Clearing House registrará a reversão de posição, como no
exemplo anterior.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 125
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
3.6. Debêntures
A obtenção de recursos de médio e longo prazos por sociedades anônimas pode ser
realizada também através da emissão de debêntures. Esses títulos são títulos de dívida
corporativa; portanto, conferem ao seu detentor, o debenturista, um direito de crédito
contra a empresa emissora da debênture.
As debêntures são títulos nominativos e negociáveis. Elas representam uma parcela do
empréstimo total efetuado pela emissora usualmente para financiamento de projetos de
investimento ou alongamento do perfil do passivo, sendo assim de médio ou longo
prazos.
As características do título, como juros, prêmio e rendimentos, são definidas na
escritura de sua emissão. As debêntures podem ser nominativas ou escriturais, sendo
que as ao portador foram extintas pela Lei nº 9.457 97.
• Debêntures nominativas são aquelas que possuem certificado (documento físico) no
qual é definido o nome do titular da debênture. Em caso de transferência de titularidade,
essa deverá ser registrada em livro destinado a esse fim, mantido pela companhia
emissora, até a substituição do certificado e deverá ser feito no antigo certificado um
endosso em preto, ou seja, deve ser indicado no título o nome do novo beneficiário.
• Debêntures escriturais são aquelas que não possuem certificado (documento físico),
mas também estão em nome de seus titulares e são mantidas em conta de depósito em
instituição financeira depositária definida pela companhia emissora.
As debêntures podem ser classificadas em:
1. Debênture simples - Pode ser resgatada somente em moeda nacional, ou seja, não é
título conversível em ação.
2. Debênture conversível em ação - Resgatada em moeda nacional, podendo também ser
convertida em ação de emissão da companhia nas condições determinadas em sua
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 126
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
escritura de emissão.
3. Debênture permutável - Pode ser transformada em ação de emissão de companhia diferente da emissora, ou ainda, em outro bem qualquer.
As debêntures conversíveis em ações possuem a peculiaridade de conceder ao título de
dívida de renda fixa a possibilidade de tornar-se um investimento de renda variável após
sua conversão em ações, e as debêntures permutáveis, na maioria das vezes, têm como
objeto de troca ações de uma companhia pertencente ao mesmo conglomerado que a
empresa emissora.
As condições para a conversão de uma debênture são definidas na cláusula de
conversibilidade. Essas condições determinam as bases da conversão, ou seja, o número
de ações equivalentes ou a relação entre o valor nominal do título e o preço das ações e
o período em que o direito de conversão pode ser exercido.
As debêntures podem ser de diferentes espécies dependendo do tipo de garantia dada à
emissão:
1. Debênture com garantia real: O título é garantido por bens móveis ou imóveis dados
por hipoteca, penhor ou anticrese, isto é, respectivamente, por bens imóveis, bens
móveis ou direito sobre frutos e rendimentos de bens imóveis. Os bens podem ser
fornecidos pela companhia emissora, por empresas pertencentes ao mesmo
conglomerado da emissora ou por terceiros.
2. Debênture com garantia flutuante: Título com garantia baseada no privilégio sobre o
ativo da empresa. Essa espécie possui preferência de pagamento em relação a
debêntures ou outros créditos especiais ou com garantias reais que tenham sido firmados
antes de sua emissão. A garantia flutuante não impede que a empresa emissora negocie
os bens que compõem seu ativo.
3. Debênture quirografaria: Título que não possui nenhuma das duas garantias
anteriores; logo, em caso de falência, passará a compor o grupo formado pelo demais
credores não privilegiados ou sem preferência (quirografários) da empresa emissora.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 127
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
4. Debênture subordinada: Título sem garantia que, em caso de falência, estará à frente
apenas dos acionistas no direito sobre o ativo remanescente da companhia emissora.
O volume de emissão da debênture dependerá de sua espécie. Assim, debêntures com
garantia real podem ser emitidas quando o valor de emissão for superior ao do capital
social em até 80% do valor dos bens gravados da empresa. Debêntures com garantia
flutuante, nas mesmas condições das anteriores, têm o valor de sua emissão limitada a
70% do valor contábil do ativo da companhia emissora (descontado o valor de outras
dívidas garantidas por direitos reais). As debêntures quirografárias podem ser emitidas
até o valor do capital social da empresa e as debêntures subordinadas não apresentam
limites máximos para sua emissão.
As debêntures podem apresentar, ainda, outras garantias adicionais que deverão ser
citadas em sua escritura de emissão. Esses títulos podem ser remunerados através de
juros fixos ou variáveis, participação e ou prêmios, além de poderem conter cláusulas de
atualização monetária.
Os prêmios podem ser definidos em função da variação de receitas e lucros da
companhia emissora. Os vencimentos desses títulos usualmente são determinados; no
entanto, podem ser emitidas debêntures de prazo não determinado.
As debêntures, caso tenha sido previsto em sua escritura de emissão, permitem que as
companhias emissoras realizem amortizações e resgates antecipados. As amortizações
referem-se à redução do valor nominal de todos os títulos em circulação daquela série
em que foi efetuada a amortização. Já o resgate, que pode ser total ou parcial,
compreende a retirada de circulação de unidades de debêntures daquela série para
posterior cancelamento dos títulos retirados. Essas operações podem ser extraordinárias,
quando não foram previstos na escritura a data e os critérios para a operação, ou
programadas, quando foram determinados na escritura a época e os critérios da
amortização ou resgate. Esses critérios relacionam-se ao percentual a ser amortizado,
quantidade a ser resgatada e fórmulas para realização desses cálculos.
Uma emissão de debêntures pode ser realizada em séries, com o 354 mesmo vencimento
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 128
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
ou não, permitindo adequar a entrada de recursos
às necessidades da companhia, como também das condições de demanda do mercado. A
emissão de debêntures, quando relativa à operação de lançamento de novos títulos, é
definida como emissão primária, que poderá ser pública ou privada. As emissões
públicas exigem o registro de distribuição na Comissão de Valores Mobiliários e só
pode ser realizada por companhias abertas, sendo títulos que podem ser negociados no
mercado secundário de debêntures. A emissão privada é aquela direcionada a um grupo
limitado de compradores que, geralmente, são os próprios acionistas da emissora ou
investidores predeterminados e, devido à sua forma de colocação, não podem ser
negociadas em mercados secundários.
Quando são distribuídas no mercado, as debêntures já emitidas mas que estavam em
poder dos acionistas da empresa ou outro investidor que ainda não as havia colocado em
circulação, ocorrem as chamadas distribuições secundárias de debêntures. Além disso, a
empresa também pode emitir no mercado externo, desde que autorizada pelo Banco
Central. Esses títulos deverão possuir garantia real ou flutuante e podem apresentar seu
valor nominal expresso em moeda nacional ou estrangeira.
Os fundos de investimento, fundos de pensão e seguradoras são os principais
investidores em debêntures, conhecidos como investidores institucionais. Eles só podem
adquirir debêntures emitidas publicamente e dentro de limites de aplicação
determinados por resoluções do Conselho Monetário Nacional, instruções da Comissão
de Valores Mobiliários ou circulares do Banco Central, dependendo da instituição.
A colocação de debêntures no mercado pode ser realizada por inter-mediadores
chamados underwriters. Esses intermediadores poderão ser bancos de investimento,
bancos múltiplos com carteira de investimentos, corretoras ou distribuidoras de valores
e eles recebem pela atividade de underwriting comissões proporcionais ao volume
emitido.
A emissão de debêntures é uma alternativa para a captação de recursos, distinta dos
empréstimos bancários, que permite financiamento de projetos, reestruturação de
passivos, aumentos do capital de giro ou estruturação de operações de securitização de
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 129
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
recebíveis pela companhia emissora.
8**Quadro 9.4
Modelo de anúncio de início de distribuição pública de debêntures
Anúncio de Início de Distribuição Pública de Emissão de Debêntures Conversíveis em
Ações Preferenciais com Garantia Flutuante
Comunicam o Início de Distribuição Pública de Debêntures Conversíveis em Ações
Preferenciais com Garantia Flutuante de Emissão da:
Logomarca da Emissora
No montante global de
R$ Milhões
AUTORIZAÇÃO
OBJETO SOCIAL DA EMITENTE
CARACTERÍSITICAS BÁSICAS DAS DEBÊNTURES A SEREM EMITIDAS
1. Emissão e divisão em Séries:
2. Forma:
3. Valor Nominal:
4. Preço a Prazo de Subscrição e Integralização:
5. Modo de Colocação e Subscrição:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 130
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
6. Exclusão do Direito de Preferência:
7. Espécie:
8. Data de Emissão:
9. Vencimento:
10. Juros Remuneratórios:
11. Juros Moratórios:
12. Conversibilidade:
13. Amortização Programada e Aquisição facultativa:
14. Vencimento Antecipado:
15. Assembléia Geral dos Debenturistas:
16. Prorrogação de Prazos:
17. Decadência dos Direitos aos Acréscimos, Renúncia de Direitos:
18. Local de Pagamento:
19. Publicidade:
20. Registro na CBLC - Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia:
21. Negociação no BOVESPAFIX da Bolsa de Valores de São Paulo
CARACTERÍSTICAS DOS BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 131
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1. Quantidade de Bônus de Subscrição Emitidos
2. Valor de Emissão
3. Número de Ações a serem Subscritas por Bônus
4. Forma
5. Integralização
6. Prazo para o Exercício dos Direitos dos Bônus de Subscrição
7. Prazo de realização de Aumento de Capital
8. Direitos e Vantagens das Ações Decorrentes do Exercício dos Bônus
DESTINAÇÃO DOS RECURSOS
COORDENADOR LÍDER
AGENTE FIDUCIÁRIO
BANCO ESCRITURADOR
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
**DATA DE INÍCIO DA DISTRIBUIÇÃO: 00 00 2001
REGISTRO NA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
Número e data
O registro da presente emissão não implica, por parte da CVM - Comissão de Valores
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 132
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Mobiliários, garantia de veracidade sobre as informações prestadas em julgamento
sobre a qualidade da Companhia Emitente, bem como as Debêntures as serem
distribuídas.
Fonte: Guia de debêntures da Bolsa de Valores de São Paulo, impresso em abril 2001
3.7. Resumo
O mercado de capitais abrange o conjunto de transações para transferência de recursos
financeiros entre agentes poupadores e investidores, com prazo médio, longo ou
indefinido. Um segmento do mercado de capitais é o mercado de ações, que envolve a
colocação primária de ações emitidas pelas empresas e a negociação secundária das
ações em circulação. No entanto, para participar desse mercado, uma companhia
necessita realizar a abertura de seu capital, ou seja, lançar títulos de capital (ações) ou
dívidas (debêntures) para negociação pública.
Uma empresa para iniciar um processo de abertura de capital precisa estar na forma
jurídica de uma sociedade anônima e deverá ser efetuado o seu registro junto à
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para ser autorizada a negociação junto ao
público tanto em bolsas de valores quanto no mercado de balcão de suas ações. O
mercado de capitais, como sistema de distribuição desses valores, é constituído pelas
bolsas de valores, sociedades corretoras e outras instituições financeiras autorizadas. Os
valores mobiliários mais usuais no mercado são: ações, bônus de subscrição e
debêntures.
Há dois tipos de ações: preferenciais e ordinárias. As ações ordinárias são aquelas que
conferem a seu titular o direito a voto na assembléia de acionistas da empresa. As ações
preferenciais normalmente não concedem o direito a voto a seu titular, mas oferecem
preferência na distribuição de resultados ou no reembolso do capital em caso de
dissolução da companhia. As ações são negociadas em dois mercados distintos: o
mercado primário - quando são lançadas da primeira vez (subscrição) - e o mercado
secundário - quando são vendidas normalmente nas Bolsas de Valores ou no mercado
de balcão.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 133
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Ações emitidas por empresas abertas são negociadas no mercado à vista quando sua
compra e venda são voltadas para a liquidação imediata. No mercado a termo são
realizadas operações de compra e venda de ações (ativo-objeto), a um preço fixado e
com prazo de liquidação determinado a partir da data da operação em pregão. Como o
preço a termo depende do valor cotado para a ação no mercado à vista acrescido de
juros, esses juros é que serão livremente determinados pelo mercado, em função do
prazo do contrato. Transações no mercado a termo exigem o depósito de garantias por
parte do investidor na sociedade corretora. As garantias podem ser de duas formas:
cobertura ou margem.
O mercado de opções é um mercado em que são transacionados direitos. São direitos de
se negociar um lote de ações, com preços e prazos pre-estabelecidos e essa negociação
poderá ser de compra e venda, dependendo do tipo de opção adquirida. Uma opção
possui três figuras centrais: titular, lançador e prêmio. O titular é o investidor que
adquiriu a opção, comprando o direito de realizar a negociação se o desejar. O lançador
é o investidor que colocou no mercado a opção à venda e terá que garantir a negociação.
Para garantir esse direito, assumir essa obrigação, o lançador recebe o prêmio, que é o
pago pelo titular e negociado em bolsa. As garantias no mercado de opções devem ser
fornecidas pelos lançadores.
O mercado futuro é o mercado no qual se negociam lotes padrão de ações com datas de
liquidação futura, ou seja, é um mercado em que são estabelecidos contratos futuros.
Esses contratos padronizam o objeto de negociação, a quantidade, o mês de vencimento,
os locais e procedimentos de entrega, e os custos envolvidos na operação; somente o
preço futuro será negociado entre as partes, através do pregão, por intermédio de
corretoras de mercadorias. Apesar de haver a possibilidade de entrega física do produto,
a idéia básica é garantir preços e não entrega ou recebimento da mercadoria. Assim, o
mais usual nesse mercado é a liquidação financeira, ou seja, o pagamento ou
recebimento referente ao preço da mercadoria por ocasião da entrega mais o acerto de
contas representado pelo ajuste diário. O ajuste diário é o mecanismo desenvolvido para
reduzir o risco de não cumprimento do contrato futuro devido a uma grande diferença
entre o preço negociado e o preço à vista no vencimento do contrato.
O recebimento ou pagamento do ajuste dependerá da posição tomada (comprador ou
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 134
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
vendedor) e da variação ocorrida (valorização ou desvalorização do preço futuro). Além
dos ajustes diários, os compradores e vendedores de contratos futuros devem depositar
também uma margem de garantia. O mercado futuro pode ser utilizado por compradores
e vendedores como uma forma de proteção contra as oscilações de preço. Nesse caso,
estará sendo feito um hedging e o tomador de posição que estiver realizando um
negócio com esse objetivo será conhecido como hedger.
As debêntures são títulos de dívida corporativa; portanto, conferem ao seu detentor, o
debenturista, um direito de crédito contra a empresa emissora da debênture. Elas
representam uma parcela do empréstimo total efetuado pela emissora usualmente para
financiamento de projetos de investimento ou alongamento do perfil do passivo, sendo
assim de médio ou longo prazos. As características do título, como juros, prêmio e
rendimentos, são definidas na escritura de sua emissão. As debêntures podem ser
nominativas ou escriturais e podem ser classificadas em debênture simples, debêntures
conversíveis em ações e debêntures permutáveis.
3.8. Questões
1. Conceitue mercado de capitais, mercado de ações e companhia aberta.
2. Quais são e o que são os valores mobiliários mais usuais no mercado ?
3. O que são as bolsas de valores e as sociedades corretoras?
4. Quais são os tipos de ações e como se diferem?
5. O que influencia a definição do valor de uma ação?
6. Qual o papel dos investidores institucionais no mercado de capitais?
7. O que é o mercado à vista?
8. Quais as formas de negociação no mercado à vista?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 135
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
9. Cite e explique 4 modalidades de ordens de compra e venda de ações no mercado à
vista que podem ser enviadas por investidores às corretoras.
10. O que é uma operação de day-trade ?
11. Que é mercado a termo?
12. Como funciona o sistema de garantias do mercado a termo?
13. O que é mercado de opções?
14. Quais são as figuras centrais de uma opção e o que significam?
15. Qual a diferença entre uma opção de compra e uma opção de venda?
16. Como é o sistema de garantias no mercado de opções?
17. O que é o encerramento de uma posição no mercado de opções?
18. Explique por que o titular de uma opção tem fixado seu prejuízo máximo e o
lançador seu ganho máximo.
19. O que é mercado futuro?
20. O que é liquidação por reversão de posição, liquidação física e liquidação financeira
de um contrato futuro?
21. Como funciona o sistema de ajustes diários do mercado de futuros?
22. Explique a função das margens de garantias no mercado futuro.
23. O que são hedgers atuantes no mercado futuro?
24. Qual o papel das Clearing Houses na BM&F?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 136
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
25. O que são debêntures?
26. Quais são os tipos de debêntures e como elas podem ser classificadas?
27. Quais são as espécies de debêntures em relação às garantias dadas à emissão?
3.9. Exercícios
1. Elabore um quadro comparativo dos mercados à vista, a termo, opções e futuro.
2. Explique qual o papel que você deveria desempenhar se, em uma opção de compra de
ações, fosse:
a) o lançador
b) o titular
3. Repita a questão anterior para uma opção de venda de ações.
4. Um investidor, após analisar o mercado, espera que as cotações das ações da
Companhia Alfa S. A. subam mais do que apontam as expectativas do mercado através
do mercado de opções. Desse modo, ele está estudando a possibilidade de comprar as
ações no mercado à vista hoje (cotação $64,00 ação) para vendê-las posteriormente; ou
comprar uma opção de compra de 1000 ações, para daqui a 90 dias, com preço de
exercício de $67,00 ação e prêmio de $3,00 ação. Analise o resultado das duas
transações, opções e mercado à vista, para cada uma das seguintes cotações no mercado
à vista da ação da Companhia Alfa daqui a 90 dias:
a) $80,00 ação
b) $70,00 ação
c) $58,00 ação
Considere em sua análise o volume de capital investido e o retorno obtido. Desconsidere
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 137
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
os custos envolvidos na transação.
5. Supondo que você adquiriu 10 contratos para venda futura de boi gordo na BM&F a
$43,55 @, complete o quadro abaixo e encerre a operação no mercado futuro com uma
operação de liquidação por reversão de posição em 25/09, negociando pelo preço de
ajuste do dia:
Operação de Venda através de Contrato Futuro com Vencimento em novembro de 2001
06 Preço Negociado
Operação $ @
Preço de Ajuste
Ajuste $ @ $ @
Ajuste Fluxo Total de
caixa
14 09 06 43,55 43,60
17 09 06 43,80
18 09 06 44,25
19 09 06 44,45
20 09 06 44,75
21 09 06 45,15
24 09 06 45,30
25 09 06 45,65
3.10. Bibliografia Recomendada
FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e Serviço. São Paulo: Qualitymark, 2001.
GALVEAS, E. Sistema financeiro e mercado de capitais. Rio de Janeiro: IBMEC, 1988.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.
MELLAGI FILHO, A. & ISHIKAWA, S. Mercado financeiro e de capitais, São Paulo:
Atlas, 2000.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 138
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
RUDGE, L. F. & CAVALGANTE, F. Mercado de capitais. Belo Horizonte: CNBV,
1996.
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São
Paulo: Atlas, 1995.
SANVICENTE, A. Z. & MELLAGI FILHO, A. Mercado de capitais e estratégias de
investimento, São Paulo: Atlas, 1988.
SECURATO, J. R. Decisões financeiras em condições de risco. São Paulo: Atlas, 1996.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 139
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 04 – Fundamentos da Gestão Financeira de Curto Prazo
Conteúdo do Capítulo
4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro
4.2 - Conceitos Básicos
4.3 - Planejamento e Controle do Capital de Giro
4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro
4.5 - QUESTÕES
4.6 - Exercícios
4.7 – Bibliografia Recomendada
4.1 – Introdução à Administração do Capital de Giro
Durante a fase de avaliação econômica que precede a abertura de uma empresa, a
principal preocupação é com a determinação da viabilidade do empreendimento,
através, principalmente, de sua rentabilidade. Nesse estágio, as atenções voltam-se
primordialmente para os ativos permanentes (máquinas, equipamentos, imóveis etc.),
com estimativas de longo prazo que envolvem sua vida útil, custos e receitas gerados.
Quando a empresa entra em operação, o gestor financeiro transfere sua prioridade para o
capital de giro, entidade representada pelos ativos circulantes. Essa alteração de foco
acontece porque o capital de giro é bastante suscetível às mudanças que acontecem
continuamente no ambiente econômico em que a empresa atua.
Assim, grande parte do tempo do gestor financeiro é destinado à solução de problemas
de capital de giro, como financiamento de estoques, gerenciamento da inadimplência de
clientes e administração das insuficiências de caixa. Esses problemas podem ser
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 140
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
minimizados ou mesmo evitados por meio de uma administração de capital de giro que
valorize a prevenção de sua ocorrência.
Neste capítulo, a administração de capital de giro é tratada sob a óptica de análise e
planejamento. Esse enfoque pretende dar melhor contribuição para a prevenção dos
problemas de capital de giro.
O termo giro refere-se aos recursos correntes (curto prazo) da empresa, geralmente
identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa no prazo máximo de
um ano. A delimitação de um ano não costuma ser seguida por empresas cujo ciclo
produção-venda-produção ultrapasse caracteristicamente este prazo (estaleiros,
atividade rural etc.), prevalecendo nesta situação o ciclo operacional para se definirem
os recursos correntes.
A Figura 4.1, ao resumir o balanço patrimonial de uma empresa apresentando seus
principais itens, permite que se identifiquem algumas definições da administração do
capital de giro.
1 - Ativos 2 - Passivos
1.1 - Ativos Circulantes 2.1 - Passivos Circulantes
1.1.1 – Disponível 2.1.1 – Empréstimos
1.1.2 – Créditos 2.1.2 – Fornecedores
1.1.3 – Estoques 2.1.3 – Salários e encargos
1.1.4 – Outros 2.1.4 – Impostos
2.1.5 – Outros
1.2 – Realizável a Longo Prazo RLP 2.2 – Exigível a Longo Prazo – ELP
1.2.1 – Créditos Diversos 2.2.1 - Financiamentos
1.2.2 – Outros 2.2.2 – Debêntures
2.2.3 – Outros
1.3 – Ativos Permanentes 2.3 – Patrimônio Líquido
1.3.1 – Investimentos 2.3.1 – Capital Social
1.3.2 – Imobilizado 2.3.2 – Reservas
1.3.3 – Diferido 2.3.3 – Lucros/prejuízos acumulados
Figura 4.1 Balanço patrimonial e capital de giro.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 141
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Os elementos de giro, diante da definição apresentada, são identificados no ativo
circulante e passivo circulante, ou seja, no curto prazo.
O capital de giro, ou capital circulante, é representado pelo ativo circulante, isto é, pelas
aplicações correntes, identificadas geralmente pelas disponibilidades, valores a receber
e estoques. Num sentido mais amplo, o capital de giro representa os recursos
demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais
identificadas desde a aquisição de matérias-primas (ou mercadorias) até o recebimento
pela venda do produto acabado.
Os elementos que compõem o ativo circulante não costumam apresentar sincronização
temporal equilibrada em seus níveis de atividade. Evidentemente, se as atividades de
seus vários elementos ocorressem de forma perfeitamente sincronizada, não haveria
necessidade de se manterem recursos aplicados em capital de giro. Por exemplo, se
todas as vendas fossem realizadas a vista, inexistiria investimentos em valores a receber.
Identicamente, se verificasse sincronização entre a produção e as vendas, isto é, se as
atividades ocorressem de maneira totalmente integrada, tornar-se-iam desnecessários
investimentos em estoques de produtos acabados.
Desta forma, pelo fato de as atividades de produção, venda e cobrança não serem
sincronizadas entre si, faz-se necessário o conhecimento integrado de suas evoluções
como forma de se dimensionar mais adequadamente o investimento necessário em
capital de giro e efetivar seu controle. O enfoque da área financeira para a realização
desta tarefa centra-se, basicamente, na procura da eficiência na gestão de recursos, o que
é feito através da maximização de seus retornos e minimização de seus custos.
4.2 - Conceitos Básicos
As necessidades de capital de giro para uma empresa dependem de determinadas
características de seu processo de produção ou de operação. Essas características são
representadas por alguns conceitos simples, mas bastante úteis ao gerenciamento do
capital de giro.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 142
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
As hipóteses simplificadoras utilizadas em alguns desses conceitos não comprometem,
absolutamente, sua utilidade na administração do capital de giro, ou mesmo em
atividades mais complexas, como a recuperação do lucro.
4.2.1 - Ciclo Operacional
Relembrando o significado de ciclo operacional de uma empresa, vamos considerar o
exemplo de uma indústria, cujo processo operacional completo abrange a seqüência de
atividades de: compra de matérias-primas, produção, estocagem, venda e, finalmente, o
recebimento das vendas.
O intervalo de tempo gasto na execução de todas essas atividades é denominado ciclo
operacional. Ele representa o número de dias transcorridos entre a compra de matérias-
primas ou produtos e o recebimento da venda dos produtos fabricados ou
comercializados.
Se refletirmos um pouco, concluímos que a duração do ciclo operacional é afetada por
fatores como eficiência produtiva, tipo de operação, políticas de estocagem e concessão
de crédito e também por suas práticas comerciais e financeiras, que envolvem prazos de
pagamento e recebimento.
A duração de cada fase integrante do ciclo operacional tem influência sobre o volume
de recursos financeiros consumidos ou imobilizados na operação da em presa.
Assim, as fórmulas que definem o ciclo operacional podem se resumir em:
CO = PMGE + PMRV
Onde:
CO = Ciclo Operacional;
PMGE = Prazo médio de giro de estoques;
PMRV = Prazo médio de recebimento das vendas.
E assim:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 143
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
PMGE = 360 * (Estoques / CPV)
PMRV = 360 * (créditos / Vendas brutas)
4.2.2 - Ciclo financeiro
O ciclo financeiro é o intervalo de tempo entre os eventos financeiros ocorridos ao
longo do ciclo operacional, representados pelo pagamento a fornecedores e pelo
recebimento das vendas.
No caso de uma indústria, supondo que a fabricação comece imediatamente após a
compra da matéria-prima e que a venda seja realizada logo após a fabricação, o ciclo
financeiro é calculado com base no prazo de fabricação e nos prazos de pagamento de
compras e de recebimento das vendas.
Numa empresa varejista, o prazo de estocagem e os prazos de pagamento e recebimento
definem seu ciclo financeiro.
O ciclo financeiro de uma empresa prestadora de serviços, na maioria dos casos, é
afetado apenas pelos prazos de pagamento e recebimento.
Como as empresas têm prazos diferentes para pagamento aos fornecedores e
recebimento dos clientes, o ciclo financeiro é determinado com base nos prazos médios
de pagamento e de recebimento.
O ciclo financeiro (CF) é calculado pela seguinte fórmula:
CF = CO – PMPC
Onde:
CF = Ciclo Financeiro;
CO = Ciclo Operacional;
PMPC = Prazo médio de pagamento das compras;
E ainda tem-se:
PMPC = 360 * (Fornecedores / Compras)
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 144
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Se em empresa comercial, as compras são igual ao custo das mercadorias vendidas
(CMV). Se em empresa industrial, e não dispormos do valor das compras podemos
considerá-la como 62% do Custo dos Produtos Vendidos (CPV).
Quando a empresa opera sem estoques, como é o caso da maioria das empresas
prestadoras de serviço, o prazo médio de giro de estoque (PMGE) é considerado igual à
zero. Na empresa varejista, o Prazo médio de giro de estoque corresponderá apenas à
idade média de seus estoques, já que esse tipo de empresa não tem processo de
produção.
Exemplo: A empresa VXZ apresenta os seguintes prazos médios em seu processo de
compra, produção e vendas:
Prazo médio de giro de estoque (PMGE) = 50 dias.
Prazo médio de recebimento das vendas (PMRV) 40 dias.
Prazo médio de pagamento das compras (PMPC) = 30 dias.
Assim o ciclo operacional é igual a:
CO = PMGE + PMRV
CO = 50 + 40
CO = 90 dias.
Entendemos pois, que a empresa VXZ leva 90 dias para comprar suas matérias primas,
processar estas matérias primas, vendê-las e receber as vendas.
O ciclo financeiro é representado por:
CF = CO – PMPC
CF = 90 – 30
CF = 60 dias.
Entendemos pois, que a empresa VXZ necessita de capital para financiar 60 dias de seu
ciclo produtivo.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 145
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
4.2.3 - Giro de caixa
O giro de caixa é um parâmetro relacionado com o ciclo de caixa que indica quantas
vezes, ao longo de um ano, ocorre o revezamento do caixa da empresa.
Se considerar 360 o número de dias de um ano, o giro de caixa (GC) é dado pelo
quociente entre 360 e o ciclo financeiro (CF):
GC = 360 ÷CF
Com base nos dados já apresentados, o giro de caixa da empresa VXZ é:
GC = 360 ÷ 60
GC = 6
O valor calculado para giro de caixa da empresa VXZ indica que, ao longo do ano, seu
caixa se reveza seis vezes.
A fórmula de cálculo do giro de caixa indica que quanto menor for o ciclo financeiro,
maior será o giro de caixa. É desejável que a empresa tenha alto giro de caixa, de modo
que reduza sua necessidade de capital de giro, como será mostrado na seção seguinte.
4.2.4 Caixa operacional
O volume mínimo de recursos financeiros de que uma empresa precisa para o giro de
suas operações é denominado caixa operacional. Esse parâmetro representa o capital de
giro mínimo necessário a um volume de vendas.
Um método simples para cálculo do caixa operacional consiste em dividir o valor da
projeção de desembolso anual de caixa (DAC) pelo giro de caixa (GC). Esse cálculo
requer a projeção de lucro da empresa para o ano e também da destinação desse lucro. A
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 146
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
projeção de desembolso anual deve abranger o pagamento a fornecedores e o
desembolso com custos operacionais.
*A fórmula para cálculo do caixa operacional é a seguinte:
CxO = DAC ± GC
Para ilustrar o cálculo da caixa operacional, considerando uma outra empresa, a
metalúrgica Fogaréu, com as seguintes características:
- Desembolso anual de caixa (DAC) = R$ 600.000,00.
O desembolso anual de caixa compõe-se de R$ 360.000,00 referentes a pagamento a
fornecedores e R$ 240.000,00 referentes a custos operacionais desembolsáveis
mensalmente.
- Prazo médio de pagamento das compras (PMPC) = 30.
- Prazo médio de giro de estoque (PMGE) = 90.
- Prazo médio de recebimento das vendas (PR) = 60.
Seus parâmetros de caixa são os seguintes:
a) Ciclo Operacional:
CO = PMGE + PMRV
CO = 90 + 60
CO = 150 dias
b) Ciclo financeiro
CF = CO – PMPC
CF = 150 – 30
CF 120 dias.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 147
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
c) Giro de caixa
GC = 360 ÷ CF
GC = 360 ÷ 120
GC = 3
d) Caixa operacional
CxO = DAC ÷ GC
CxO = 600.000 ÷ 3
CxO = 200.000
4.3 Planejamento e Controle do Capital de Giro
De posse das conclusões da análise financeira, o gestor financeiro tomará as medidas
necessárias de planejamento e controle para eliminar eventuais impropriedades no
dimensionamento, estruturação e utilização do capital de giro.
4.3.1 Necessidade de Capital de Giro
O correto dimensionamento da necessidade de capital de giro (NCG) é um dos maiores
desafios do gestor financeiro. Essa tarefa requer visão abrangente do processo de
operação da empresa, de suas práticas comerciais e financeiras, além de dados sobre
prazos de cobrança e recebimento.
Elevado volume de capital de giro irá desviar recursos financeiros que poderiam ser
aplicados nos ativos permanentes da empresa. Todavia, capital de giro muito reduzido
restringirá a capacidade de operação e de vendas da empresa.
Ao dimensionar seu capital de giro, a empresa deve observar os seguintes princípios:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 148
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
- O capital de giro deve ser minimizado até o ponto em que não traga restrições às
vendas e à lucratividade da empresa. Por exemplo, não manter estoques
desnecessariamente elevados.
- A parcela permanente do capital de giro deve ser financiada com recursos financeiros
permanentes (passivo exigível de longo prazo e patrimônio líquido). Já a parcela
flutuante do capital de giro pode ser financiada com recursos financeiros de curto prazo
(passivo circulante).
O dimensionamento do capital de giro também depende de projeções de resultado. Em
geral, a geração de lucro fornece recursos para financiar o capital de giro. Em
determinados casos, porém, existe significativa diferença entre resultado e caixa. Nessa
situação, a projeção de resultado terá menor impacto sobre o dimensionamento do
capital de giro.
Quando a empresa está em fase de expansão acelerada, o adequado dimensionamento
do capital de giro tem sido um dos fatores-chaves para o sucesso de seu crescimento. A
mesma atenção dispensada à análise de viabilidade econômica dos novos projetos de
investimento também deve ser dada ao planejamento e dimensionamento das
necessidades de capital de giro.
A necessidade de capital de giro pode ser estimada de dois modos: com base no ciclo
financeiro, ou utilizando os demonstrativos contábeis.
a) Necessidade de capital de giro com base no ciclo financeiro
Esse método de estimativa da necessidade de capital de giro é aplicável a uma empresa
em fase de implantação, por ainda não dispor de demonstrações contábeis.
A necessidade de capital de giro corresponde ao caixa operacional, cuja metodologia de
cálculo foi apresentada em seção anterior.
Os parâmetros relacionados com o ciclo financeiro (prazo médio de pagamento a
fornecedores, prazo médio de fabricação/estocagem e prazo médio de recebimento das
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 149
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
vendas) podem ser administrados de modo que forneçam determinado valor de capital
de giro. Nesse caso, é necessário desenvolver uma análise inversa, já que o capital de
giro passa a ser meta e não mais conseqüência daqueles fatores.
A projeção da necessidade de capital de giro utilizando esse método não produz
resultados satisfatórios para empresas que têm forte sazonalidade em suas vendas. Isso
acontece porque o método pressupõe que as despesas projetadas anuais são distribuídas
uniformemente ao longo do ano.
b) Necessidade de capital de giro com base no balanço patrimonial
O Capital de Giro pode ser definido como a diferença entre o ativo circulante e o
passivo circulante.
Nem todo valor do Capital de Giro (CG) assim calculado representa efetiva necessidade
de investimento no capital de giro (NCG), pois o ativo circulante contém contas
transitórias - caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo. No passivo circulante,
também são transitórios os empréstimos e financiamentos de curto prazo. Essas contas
transitórias não estão relacionadas à necessidade de investimento em capital de giro.
É possível calcular a necessidade de capital de giro (NCG) de uma empresa com base
em seu balanço patrimonial. O cálculo da NCG é efetuado com apoio nos seguintes
parâmetros, obtidos da reclassificação de algumas contas do balanço patrimonial:
Ativo permanente (AP): é formado pelos itens de longo prazo do ativo. Seu valor é
igual à soma dos seguintes itens: realizável a longo prazo, investimento, imobilizado e
diferido.
Ativo operacional (AO): representa os recursos utilizados nas operações da empresa que
dependem das características de seu ciclo operacional. E composto pelos estoques,
duplicatas a receber e os outros itens do ativo circulante que têm natureza permanente.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 150
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Ativo flutuante (AF): Também chamado de Ativo financeiro, corresponde aos itens de
curtíssimo prazo do ativo circulante que não têm vinculação direta com as operações da
empresa: caixa, bancos e aplicações financeiras
Passivo permanente (PP): é formado pelas contas de longo prazo do passivo e
representa a fonte permanente de recursos financeiros da empresa. É igual à soma do
exigível a longo prazo com o patrimônio líquido.
Passivo operacional (PO): representa as contas do passivo vinculadas ao ciclo
operacional da empresa. É composto pelas contas referentes a fornecedores, salários,
encargos, impostos e taxas.
Passivo flutuante (PF): Também chamado de Passivo Financeiro, corresponde aos itens
de curtíssimo prazo do passivo circulante que não têm vinculação direta com as
operações da em presa: empréstimos, financiamentos e outras obrigações financeiras de
curtíssimo prazo.
A necessidade de Capital de Giro (NCG) é calculada da seguinte forma:
Ncg = Ativo Operacional - Passivo Operacional
O Capital de Giro (CG) calculado com base nessa reclassificação de contas será:
CG = Passivo permanente - Ativo permanente
No quadro 4.2, a Empresa alfabeta, tem em seu balanço patrimonial em 20X7, a
seguinte posição. Vamos determinar sua necessidade de capital de giro (NCG)
Ativo Total 3100 Passivo Total 3100
Ativo Circulante 1300 Passivo Circulante 700
Disponibilidades 450 Empréstimos 100
Créditos 400 Fornecedores 350
Estoques 450 Salários e Impostos 250
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 151
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
RLP 0 ELP 200
Ativo Permanente 1800 Patrimônio Líquido 2200
Assim:
Ativo Permanente (AP) = 1800,00AO = 100 + 100 + 0 + 550
Passivo Permanente (PP) = 200 + 2200
PP = 2400
Ativo Operacional (AO) = 450 + 400
AO = 850
Passivo Operacional (PO) = 350 + 250
PO = 600
Ativo Flutuante (AF) = 450
Passivo Flutuante (PF) = 100
Então:
NCG = AO – PO
NCG = 850 – 600 NCG = 250
Por outro lado, o Capital de Giro (CG) pode-se encontrar assim:
CG = PP – AP
CG 2400 – 1800
CG = 600
4.3.2 Reserva de Capital de Giro
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 152
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes a todo tipo de
atividade empresarial. Por esse motivo, a empresa deveria manter uma reserva
financeira para enfrentar os eventuais problemas que podem surgir.
Quanto maior a reserva financeira alocada à manutenção do capital de giro, menores
seriam as possibilidades de crises financeiras.
Deve ser lembrado que somente os ativos permanentes proporcionam a rentabilidade
satisfatória para a empresa. A rentabilidade obtida pela reserva de capital de giro
aplicada no mercado financeiro normalmente é menor do que a conseguida na atividade-
fim da empresa.
A princípio, existe um conflito entre a prudência no gerenciamento do capital de giro e a
rentabilidade empresarial. Quanto maior a proteção dada ao capital de giro sob a forma
de manutenção de uma reserva financeira, menor seria a rentabilidade empresarial sobre
o total dos recursos financeiros empregados.
Esse conflito, no entanto, é relativo. Caso a empresa decida não fazer nenhuma reserva
financeira para o capital de giro e canalize os recursos correspondentes para sua
atividade-fim, estará expondo-se a um maior risco financeiro, pois poderá vir a ter
problemas de capital de giro.
Não deve ser esquecido que a rentabilidade da empresa pode esperar por uma
recuperação de lucros. Entretanto, o capital de giro não pode esperar. Ele é prioritário.
Sem o lucro, a empresa fica estagnada ou encolhe, mas sem capital de giro, ela
desaparece.
4.3.3 - Redução da necessidade de Capital de Giro
Vimos que um ciclo financeiro curto permite maior giro de caixa, que, por sua vez,
implica menor necessidade de caixa operacional ou capital de giro.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 153
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Uma alternativa para a insuficiência de capital na fase de implantação ou de operação da
empresa seria, portanto, obter uma redução de seu ciclo financeiro.
Como também já foi visto, o ciclo financeiro depende de três fatores: prazo de
pagamento das compras, prazo de produção ou estocagem e prazo de recebimento das
vendas.
Os prazos de pagamento de compras e de recebimento das vendas são determinados
pelas condições de mercado. Apenas alterações provisórias desses prazos poderiam ser
conseguidas de negociações com fornecedores e clientes. Por esse motivo, as medidas
financeiras para encurtamento do ciclo financeiro são pouco eficazes.
Apenas o encurtamento do prazo de produção ou estocagem poderia fazer mudanças
significativas e duradouras sobre o ciclo financeiro da empresa. Essas medidas,
entretanto, estão fora do escopo da área financeira, exigindo o concurso das áreas
técnicas, como produção, operação ou logística para sua implementação.
Diversas técnicas especiais podem proporcionar encurtamento da etapa de produção ou
operação e, em conseqüência, do ciclo financeiro da empresa. Entre essas técnicas, estão
o Just in Time (JIT) e Administração Total da Qualidade.
4.4 – Problemas Especiais de Capital de Giro
Nesta seção, serão abordados alguns problemas de capital de giro, de ocorrência não
generalizada, e apresentadas alternativas de solução.
4.4.1 - Sazonalidade das Vendas
Determinadas empresas têm normalmente suas vendas distribuídas de modo irregular ao
longo do ano, o que caracteriza um processo sazonal de vendas.
Quando o perfil da sazonalidade é previsível - por exemplo, 50% das vendas da empresa
concentram-se no último trimestre do ano, o problema da administração do capital de
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 154
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
giro é sensivelmente mais simples, desde que a empresa mantenha adequado
planejamento financeiro.
As principais missões do planejamento financeiro com vistas no dimensionamento do
capital de giro num quadro de vendas sazonais serão projetar o fluxo de caixa e o
resultado da empresa em base anual.
Quando não existe o planejamento financeiro, os resultados excepcionalmente bons,
verificados no período de vendas elevadas, são confundidos, freqüentemente, com uma
tendência permanente, e a provisão de reservas para o período de baixas vendas deixa
de ser feita.
Uma empresa com vendas sazonais, ao fazer seu planejamento financeiro para evitar
surpresas com o capital de giro durante a redução de vendas, provavelmente precisará
manter uma reserva sob a forma de aplicações financeiras de alta liquidez.
O valor dessas aplicações seria bem maior do que as aplicações normais de sobra de
caixa. O prazo de aplicação das reservas também seria mais longo, não necessitando ser
diário, como acontece com as sobras normais de caixa. Por esses motivos, essas
aplicações exigem maior esforço da administração financeira para maximizar sua
rentabilidade.
4.4.2 Ciclo operacional longo
A empresa com um ciclo operacional longo tem maior necessidade de capital de giro e
habitualmente precisa de maior rentabilidade sobre as vendas para com pensar o elevado
custo de financiamento do capital de giro.
O problema do ciclo operacional longo faz-se sentir quando acontecem mudanças
estruturais no mercado da empresa, fazendo com que a maior duração do ciclo, até então
um dado normal, transforme-se num empecilho ao desenvolvimento dos negócios.
Quando isso acontece, a solução exigirá alteração significativa nos processos de
produção, operação, comercialização e também no mix de produtos ou serviços.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 155
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
No Brasil, durante muitos anos, o ciclo operacional longo das livrarias era uma
característica normal desse tipo de negócio, sem causar impactos sobre sua viabilidade
econômica. Com a elevação do custo do dinheiro verificada a partir dos anos 90, esse
Segmento empresarial passou a enfrentar dificuldades para financiar seu capital de giro.
Em conseqüência, muitas livrarias pequenas encerraram suas atividades e algumas
grandes redes acrescentaram outros produtos de maior giro a sua pauta de vendas.
Na atividade de serviços, o problema do ciclo operacional longo é contornado com o
recebimento do serviço prestado mediante um cronograma de eventos, contratualmente
estabelecido. Dessa forma, quando o serviço é concluído, ele praticamente já foi
recebido. As atividades de construção civil e construção naval são exemplos típicos de
atividades de serviço com ciclo operacional longo.
Uma parcela significativa da atividade agropecuária tem ciclo operacional longo.
Criação de gado e reflorestamento são exemplos de atividade com ciclo operacional
longo. Nesses casos, a grande necessidade de recursos para financiar capital de giro por
longos períodos chega a confundir-se com investimento permanente. A solução típica
consiste em utilizar recursos próprios ou financiamentos de longo prazo, ancorados a
seguros.
4.4.3 - Insuficiência de Capital de Giro
Vários fatores podem contribuir isoladamente ou em conjunto para que o volume de
capital de giro seja insuficiente para o funcionamento normal da empresa.
Os principais são os seguintes:
- Redução de vendas.
- Crescimento da inadimplência.
- Aumento das despesas financeiras.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 156
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
- Aumento de custos.
Além da manutenção da reserva financeira, como mencionado na seção 4.3.2, as
seguintes medidas permitirão a eliminação ou prevenção da insuficiência de capital de
giro:
a) Controlar a inadimplência
A inadimplência dos clientes de uma empresa pode decorrer do quadro econômico geral
do país ou de fatores no âmbito da própria empresa.
No primeiro caso, a contração geral da atividade econômica tende a aumentar a
inadimplência. Nessa situação, a empresa tem pouco controle sobre o problema.
Quando a inadimplência é decorrente de práticas de crédito inadequadas, estabelecidas
pela própria empresa, a solução é menos difícil. Basicamente, será preciso dar mais
atenção à qualidade das vendas do que a seu volume.
b) Não financiar o capital de giro a qualquer custo
Na tentativa de suprir a insuficiência de capital de giro, muitas empresas utilizam
empréstimos de custo elevado. Via de regra, qualquer dinheiro captado a um custo
maior do que 1,17% ao mês (ou 15% ao ano), em termos reais, é incompatível com a
rentabilidade normal da maioria das empresas, que é de 15% ao ano, também em termos
reais.
O financiamento de capital de giro a uma taxa real maior do que 1,17% ao mês pode
resolver o problema imediato de caixa da empresa, mas cria outra dificuldade, a
liquidação da dívida.
c) Alongar o período do endividamento
Quando a empresa consegue negociar um prazo maior para o pagamento de suas
dívidas, ela adia as saídas de caixa correspondentes e, portanto, melhora sua situação de
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 157
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
capital de giro. Embora a ajuda seja provisória, permitirá que a empresa possa esperar
por uma melhora em seu quadro econômico.
Também, nesse caso, é importante atenção especial para o custo do alongamento de
prazo. Ele precisa ser suportado pela rentabilidade da empresa.
d) Reduzir custos
A implantação de um programa de redução de custos tem efeito positivo sobre o capital
de giro da empresa, desde que não traga restrições a suas vendas ou à execução de suas
operações.
Uma vez que a empresa com problema de capital de giro também estará com sua
capacidade de investimento comprometida, a redução de custos por meio de processos
como modernização, automação ou informatização não será possível.
Diante de uma crise de capital de giro, o programa de redução de custos tem natureza
compulsória e seu grande desafio é identificar os itens de gastos que possam ser
cortados sem grandes prejuízos para as atividades da empresa.
e) Encurtar o ciclo operacional
Quando a empresa encurta seu ciclo operacional, suas necessidades de capital de giro
são reduzidas.
Numa indústria, a redução do ciclo operacional acarretará menor tempo para produzir e,
em conseqüência, para vender. No comércio, essa redução significa um giro mais rápido
dos estoques. Na atividade de serviços, a redução do ciclo econômico equivale a
trabalhar com um cronograma mais curto para a execução dos serviços.
Como visto, a redução do ciclo operacional não é uma função tipicamente financeira.
Ela requer o apoio de funções como produção, operação e logística.
4.4.4 – Efeito Tesoura
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 158
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A maioria das empresas querem expandir sua produção e vendas, com vistas a aumentar
seus resultados, e consequentemente, maximizar a riqueza dos proprietários. Para tanto,
há uma série de estudos e planos a serem feitos, não necessariamente na área financeira,
tais como criação de novos produtos, realização de pesquisas de mercado, expansão da
linha de produção, contratação de novos funcionários, aumento dos estoques a fim de
fazer face à maior produção, etc.
É fácil perceber, portanto, que para o aumento desta produção e vendas, há a
necessidade da ampliação de investimentos em capital de giro, o qual será coberto, a
princípio, com recursos próprios, e posteriormente com parte dos recursos obtidos com
o aumento das vendas.
Se por vezes ocorrer uma falha no planejamento, e o aumento das vendas não aumente o
capital de giro, de forma sistemática, chamamos isto de efeito tesoura, o que irá levar
a empresa a sérios problemas financeiros, e muitas vezes à sua viabilidade.
Tomemos por exemplo o caso da empresa Dubom, que aumentou sua produção de
movíeis para escritório.
Mês 1 2 3 4 5
NCG 400 600 800 1000 1400
CG 300 350 380 420 500
Índice
CG/NCG
0,75 0,58 0,48 0,42 0,36
Verifica-se que as vendas podem até ter aumentado, mas o recebimento delas não se
efetivou, o que tornou-se um ciclo vicioso para a Dubom, pois está necessitando cada
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 159
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
vez mais de capital de giro, o qual, provavelmente, tem financiado com recursos de
curto prazo, e consequentemente onerosos.
Considera-se que uma empresa entrou no efeito tesoura quando a diferença entre o ativo
flutuante e o passivo flutuante é maior que seu capital de giro. Portanto:
Se AF – PF > CG, então Efeito Tesoura.
4.5 - QUESTÕES
1. Sobre que elementos de seu ciclo operacional a empresa tem liberdade de ação?
2. Por que um ciclo financeiro curto acarreta alto giro de caixa?
3. Que medida poderia trazer redução permanente e eficaz do ciclo financeiro?
4. Qual o ciclo financeiro de uma empresa que tem giro de caixa de quatro vezes por
ano?
5. Uma empresa tem um prazo de fabricação/estocagem de 50 dias, prazo de pagamento
de 40 dias e prazo de recebimento de 20 dias. Qual seu ciclo de caixa?
6. Analisando-se a necessidade da determinação de capital de giro, qual a principal
limitação do índice de liquidez corrente?
7. Demonstre que o capital de giro é igual ao passivo permanente menos o ativo
permanente (contas reclassificadas).
8. O que é o efeito tesoura?
9. Uma necessidade de capital de giro elevada acarreta alto índice de liquidez corrente.
Certo ou errado?
4.6 - EXERCÍCIOS
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 160
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1. Análise do capital de giro
O Quadro a seguir representa o balanço da empresa Q-Giro, recentemente levantado. Os
principais dados desse balanço mostram clara tendência de estabilidade quando
comparados com os balanços dos dois anos anteriores.
Com base nos dados desse balanço, responda às seguintes questões:
a) Qual o valor do capital de giro da empresa?
b) Alguma parcela do capital de giro está sendo financiada com recursos de longo prazo
(exigível a longo prazo ou patrimônio líquido)?
c) Qual o valor do índice de liquidez seca? Como você interpreta o índice calculado?
d) Considerando que no setor em que atua essa empresa, a relação entre capital de giro e
capital total (ativo circulante sobre ativo total) é, em média, 0,27, como você avalia essa
relação na Q-Giro?
e) Com base apenas nos dados apresentados, seria possível avaliar a adequação do
volume de estoques dessa empresa?
Balanço patrimonial da empresa Q-Giro - R$ 1,00.
Ativo Total 215.695,00 Passivo Total 215.695,00
Ativo Circulante 76.788,00 Passivo Circulante 88.970,00
Caixa e bancos 1.455,00 Fornecedores 26.888,00
Aplicações
Financeiras
11.345,00 Impostos 8.679,00
Contas a receber 28.323,00 Instituições
Financeiras
51.435,00
Estoques 35.665,00 Outros 1.968,00
RLP 4.025,00 ELP 42.111,00
Ativo Permanente 134.882,00 Patrimônio Líquido 84.614,00
2. Necessidade de capital de giro e efeito tesoura
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 161
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Uma empresa apresenta os seguintes dados em seu balanço:
Ativo Passivo
Caixa 1.000,00 Empréstimos 2.000,00
Aplicações financeiras 2.000,00 Fornecedores 1.000,00
Contas a receber 4.000,00 Salários e encargos 4.000,00
Estoques 4.000,00 Impostos e taxas 1.000,00
Realizável a longo prazo 2.000,00 Exigível a longo prazo 4.000,00
Ativo Permanente 8.000,00 Patrimônio líquido 9.000,00
Total 20.000,00 Total 20.000,00
Com base nesses dados, calcule a necessidade de capital de giro.
4.7 – Bibliografia Recomendada
ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São
Paulo: Atlas, 1995.
SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.
Atlas. 2003
SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 162
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 05 - Administração do Disponível
Conteúdo do Capítulo
5.1 - Razões para Demanda de Caixa
5.2 - Modelos de Administração de Caixa
5.3 - Administração de Contas Bancárias
5.4 – Questões
5.5 – Exercícios
5.6 – Bibliografia Recomendada
5.1 Razões para Demanda de Caixa
Numa situação ideal, em que uma empresa tem um controle total sobre sua liquidez, seu
saldo de caixa seria zero. É óbvio que esta é uma posição de caixa inexistente, embora
seja ótima. Fatores como alto custo do dinheiro, inflação, incerteza do fluxo de caixa,
entre outros, fazem com que qualquer entidade precise manter, em magnitudes
diferentes, um nível mínimo de caixa.
Tradicionalmente, considera-se que existem três motivos para que uma empresa
mantenha um valor mínimo de caixa. O primeiro motivo é denominado transação. Uma
empresa precisa ter recursos aplicados no caixa para poder honrar os compromissos
assumidos.
O segundo motivo de existência de um nível de caixa refere-se à precaução. Como
existem fluxos de pagamentos futuros nem sempre totalmente previsíveis e em face da
atitude do administrador financeiro em relação ao risco, uma empresa deve manter uma
quantidade de recursos para estas eventualidades.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 163
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O terceiro motivo refere-se à especulação. Neste caso, a existência de recursos em caixa
decorre da perspectiva de uma oportunidade futura para fazer negócios.
Tendo em vista que investimento em caixa representa perda de rentabilidade, a empresa
deve exercer controle sobre este item sem aumentar, em nível indesejado, o risco.
O caixa mínimo exigido dependerá de uma série de fatores. A lista a seguir apresenta
alguns destes, sem pretensão de esgotar o assunto:
- falta de sincronização entre pagamentos e recebimentos de caixa, que tende a elevar o
caixa necessário.
- grande possibilidade de ocorrência de eventos não previstos no planejamento da
empresa que representem desembolsos de caixa;
- acesso reconhecido às fontes de financiamento, seja capital próprio ou de terceiros.
- bom relacionamento com o sistema financeiro, particularmente no que se refere ao
saldo da conta em bancos.
- possibilidade de furtos e desfalques, sendo que estes fatos podem ser minimizados
através de controle mais acurado sobre os recebimentos e pagamentos de caixa;
- existência de prazo médio de recebimentos de vendas acima do necessário.
- existência de prazo de pagamento reduzido.
- existência de grande investimento em estoques.
- existência de várias contas correntes em bancos.
- processo produtivo com desperdícios e atividades com pouca contribuição para o
resultado;
- nível de taxa de inflação.
- política de crédito da empresa, em especial a morosidade dos pagamentos e a
probabilidade de que clientes, não efetuem pagamentos, o que implica maior
necessidade de caixa;
- existência de um modelo de administração de caixa claramente definido e ajustado às
operações da empresa.
- regularidade nos recebimentos da empresa, inclusive os decorrentes de operações a
vista.
O estudo dos fatores listados indica que uma empresa típica sempre necessitará de um
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 164
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
caixa mínimo para satisfazer a suas necessidades financeiras. Para determinar o valor
que uma empresa pode deixar em caixa existem diversos modelos de administração de
caixa que podem ser utilizados. O próximo item apresenta alguns dos modelos que
tratam da determinação do caixa mínimo.
5.2 Modelos de Administração de Caixa
5.2.1 Modelo do Xaixa Mínimo Operacional
Umaforma simples de estabelecer o montante de recursos que uma empresa deverá
manter em caixa é através do Caixa Mínimo Operacional. Esta técnica, pouco
sofisticada é verdade, pode ser útil no estabelecimento de um padrão do investimento
em caixa.
Para obter o Caixa Mínimo Operacional, basta dividir os desembolsos totais previstos
por seu giro de caixa. Por sua vez, para obter o giro de caixa, basta dividir 360, se a base
for em dias e o período de projeção for de um ano, pelo ciclo financeiro. Relembrando,
o ciclo financeiro de uma empresa corresponde ao período compreendido entre o
pagamento da compra de matéria-prima até o momento do recebimento das vendas.
Relembrando o capítulo passado, temos as seguintes fórmulas:
Ciclo Operacional = Prazo de Giro de Estoque + Prazo de recebimento de vendas;
Ciclo financeiro = ciclo operacional – prazo de pagamento de compras
Giro de caixa = 360 / ciclo financeiro
Caixa mínimo operacional = Desembolsos / Giro de caixa.
Exemplificando, suponha que uma empresa tenha projetado para certo exercício
desembolsos totais líquidos de caixa de $ 2,7 milhões. Sabe-se que o ciclo financeiro
desta empresa alcança 24 dias, ou seja, este é o intervalo de tempo em que a empresa
somente desembolsa recursos, ocorrendo entradas de fluxos financeiros somente a partir
do 25e dia.
Logo, o giro de caixa é de 15 vezes, isto é:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 165
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
GC = 360 / 24
Giro de caixa = 15
Conhecido o giro do caixa, o montante mínimo de caixa a ser mantido visando
satisfazer à demanda operacional por recursos no período totaliza $ 180.000; é
calculado:
Caixa Mínimo Operacional = 2700000 / 15
Caixa Mínimo Operacional = 180000
Pode-se dizer que, quanto maior for o giro de caixa e, conseqüentemente, menor o ciclo
financeiro, mais reduzidas se apresentam quantidades exigidas para o caixa. Na busca
de administração de caixa mais eficiente, a empresa deve procurar, dentro das condições
de seus negócios, maximizar o giro de seu caixa. Com isto, como o Caixa Mínimo
Operacional é obtido pela divisão dos pagamentos pelo giro, um giro de caixa alto gera
uma necessidade menor de caixa operacional.
Para melhor entendimento, suponha uma empresa com prazo de pagamento de
fornecedores de 20 dias, prazo de estocagem de 40 dias e prazo médio de recebimento
de clientes de 25 dias. O ciclo financeiro é de 45 dias e é obtido pela soma do prazo de
estocagem (40 dias) com o prazo de recebimento (25 dias) menos o prazo de pagamento
(20 dias). O giro de caixa é de oito vezes, ou seja, 360/45.
Supondo que os pagamentos anuais estimados da empresa sejam de $ 400.000, o caixa
mínimo operacional é de:
Caixa Mínimo Operacional =----= $ 50.000 '
Uma redução no prazo de recebimento para dez dias faz com que o ciclo financeiro se
reduza para 30 dias e aumente o giro de caixa para 12 vezes. Com isto, o caixa mínimo
operacional passa de $ 50.000 para $ 33.333 (= $ 400.000/12), promovendo uma
redução de$ 16.667.
O caixa mínimo operacional, por sua simplicidade de cálculo, oferece alguns
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 166
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
inconvenientes técnicos e por isso deve ser adotado com certos cuidados pela empresa,
avaliando-se principalmente se suas características se adequam à realidade de seus
negócios.
5.2.2 Modelo de Baumol
O modelo de Baumol recebe o nome do pesquisador que propôs utilizar o conceito de
lote econômico de compra, conceito este que será abordado mais adequadamente no
capítulo que trata de estoques, na administração de caixa.3 Este modelo é aplicado
quando existem entradas periódicas de dinheiro no caixa e saídas constantes de
recursos.
Entre diversas situações, podem ser citados dois exemplos em que é possível existir uma
aplicação do modelo de Baumol. O primeiro é o orçamento de uma família típica.
Mensalmente, a mãe e/ou pai recebem um salário. Este salário será consumido ao longo
do mês, à medida que ocorrerem as necessidades de pagamentos.
O segundo caso diz respeito a uma empresa de consultoria que possui clientes que
concentram o pagamento em determinado dia do mês, embora a empresa tenha que
efetuar desembolsos ao longo do mês.
Supondo a existência de um mercado financeiro com um investimento de curto prazo
qualquer, uma empresa pode transformar um fluxo regular de recebimentos de caixa em
diversos fluxos. Basta que aplique parte do recebimento inicial neste investimento e,
com o tempo, vá sacando o dinheiro existente na conta do investimento.
A Figura 5.1 apresenta a situação original em que, a cada período de tempo (um mês,
por exemplo), existe um recebimento e inúmeros pagamentos. A Figura 5.2 apresenta a
situação em que o único recebimento foi transformado em 4rês pela aplicação de 3/4 do
recebimento original num investimento de curto prazo.
Dia Entrada de Caixa Saída de Caixa
1 1000 50
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 167
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
2 50
3 50
4 50
5 50
6 50
7 50
8 50
9 50
10 50
11 50
12 50
13 50
14 50
15 50
16 50
17 50
18 50
19 50
20 50
Figura 5.1 Modelo de Baumol.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 168
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Dia Entrada de Caixa Saída de Caixa
1 250 50
2 50
3 50
4 50
5 50
6 250 50
7 50
8 50
9 50
10 50
11 250 50
12 50
13 50
14 50
15 50
16 250 50
17 50
18 50
19 50
20 50
Figura 5.2 Modelo de Baumol.
De um lado, deixar parcela do dinheiro em investimento de curto prazo proporciona um
ganho na forma de juros. Entretanto, cada operação de investir ou resgatar pode
implicar um custo. Este custo abarca desde impostos de transações financeiras até o
custo do tempo que o funcionário da empresa leva para fazer a operação de ligar para o
banco e solicitar a transferência de recursos da conta de investimento.
Através do confronto entre os rendimentos obtidos com investimento de curto prazo e o
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 169
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
custo de cada operação de aplicação e resgate, a empresa pode determinar em quantos
montantes iguais o recebimento original será dividido, de modo a maximizar seu lucro.
Este valor é obtido por:
sendo i a taxa de juros da aplicação financeira, R o montante recebido periodicamente, b
o custo de cada operação de investimento ou resgate - incluindo aqui desde impostos até
quaisquer custos diretamente vinculados a estas operações - e N o número de operações
que serão realizadas no período.
Para melhor entendimento, seja uma empresa de advocacia que recebe no dia primeiro
de cada mês $ 9.600 pela prestação de seus serviços a uma outra empresa. Supondo um
mês com 20 dias úteis, pode-se afirmar que os desembolsos médios diários da empresa
montam $ 480 (= 9.600/20). A taxa de juros de mercado é de 1 % a.m. e cada vez que é
feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a empresa despende $ 3,00
referentes ao custo vinculado a esta operação. Assim:
N = [(0,5 x 0,01 x 9.600) / 3,00] ^0,5 N=4
OBS: Elevar-se um termo qualquer a 0,5, ou ½, é igual extrair sua raiz quadrada.
Deste modo, serão feitas quatro operações de transferência de recursos, sendo que cada
um dos resgates no valor de $ 2.400 (= $ 9.600/4). Outra forma de analisar o resultado
acima é dizer que a cada cinco dias (= 20/4) existirá uma transferência de fundos da
aplicação financeira para o caixa da empresa.
O Quadro 5.1 mostra o fluxo de pagamentos e recebimentos da empresa. A primeira
coluna apresenta o caixa inicial para cada dia. Para o primeiro dia, dos $ 9.600
recebidos, $ 7.200 foram investidos no curto prazo. Os desembolsos diários de $ 480
reduzem o caixa até o instante em que seja necessário fazer uma transferência de
recursos da aplicação financeira para o caixa, o que ocorre, no exemplo citado, no 5e,
10fi e 15a dia útil do mês.
I
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 170
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quadro 5.1
Exemplo
do modelo de Baumol.
Dia Caixa Inicial Saída de
Caixa
Entrada de
Caixa
Caixa Final Investimentos
1 2.400 480 1.920 7.200
2 1.920 480 - 1.440 7.200
3 1.440 480 - 960 7.200
4 960 480 - 480 7.200
5 480 480 2.400 2.400 5.800
6 2.400 480 - 1.920 5.800
7 1.920 480 - 1.440 5.800
8 1.440 480 960 5.800
9 960 480 - 480 5.800
10 480 480 2.400 2.400 2.400
11 2.400 480 1.920 2.400
12 1.920 480 - 1.440 2.400
13 1.440 480 - 960 2.400
14 960 480 - 480 2.400
15 480 480 2.400 2.400 -
16 2.400 480 - 1.920 -
17 1.920 480 - 1.440 _
18 1.440 480 - 960 -
19 960 480 - 480 -
20 480 480 - - -
Não se pode deixar de comentar os efeitos da taxa de juros, do custo das operações de
investimento/resgate e do volume de recebimentos na determinação do número de
operações a serem realizadas. , ; ,
Se, por exemplo, a taxa de juros aumentar, o senso comum indica que se tornará ainda
mais atrativo investir os recursos em aplicações financeiras. Com efeito, utilizando a
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 171
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
fórmula apresentada para uma taxa de juros de 2,25% a.m., em lugar de 1 % a.m., tem-
se:
N = (0,5 x 0,0225 x 9.600) / 3 = 6
O resultado apurado significa dizer que o acréscimo na remuneração do investimento de
curto prazo faz com que a empresa promova mais retiradas ao longo do mês, e cada uma
delas em valores mais reduzidos, neste caso de $ 1.600 cada ($ 9.600/6).
Retornemos aos valores originais e suponhamos um acréscimo no custo das operações,
como, por exemplo, a cobrança de uma taxa por parte da instituição financeira para
fazer tais operações. Naturalmente, isto deve reduzir o número de operações.
Suponhamos, portanto, que o custo passe de $ 3 para $ 12 por operação e, assim, N
passará a ser de:
N = J(0,5 x 0,01 x 9.600) / 12 = 2
O modelo de Baumol é importante por reconhecer a existência de um custo de transação
e por relacionar o uso de caixa com o conceito de economia de escala. Assim, se a
empresa de advocacia tivesse um aumento no volume recebido, de $9.600 para $
19.200, o valor de N apresentaria um acréscimo para:
N = 7(0,5 x 0,01 x 19.200)/3 = 5,66
Para concluir, deve ser lembrado que o modelo de Baumol considera que o fluxo de
pagamentos é relativamente constante e o recebimento é periódico. Isso nem sempre é
característica das empresas em seu dia-a-dia. Logo, dificilmente um fluxo de caixa será
constante e previsível conforme suposto no modelo. Entretanto, é importante ressalvar
que muitas suposições do modelo podem ser relaxadas sem muita complexidade,
inclusive para algumas situações de incerteza, e podem ser úteis em alguns casos onde
uma solução simples de implementar seja necessária.4 Em economias instáveis, a
aplicação do modelo deve ser considerada com cuidado, pois ele em sua formulação
original não considera a demanda de caixa para precaução e especulação, além de supor
que a taxa de juros é constante no período considerado.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 172
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Apesar destas restrições, é importante notar que o modelo traz para a discussão
importantes princípios teóricos, essenciais ao estudo da administração de caixa, sendo,
pois, um parâmetro bastante útil para a avaliação do saldo de caixa.
5.2.3 Modelo de Miller e Orr
Os dois modelos apresentados anteriormente consideram que o fluxo de caixa de uma
empresa é conhecido. Em outras palavras, eram modelos determinísticos de
administração de caixa, assumindo a total previsibilidade de seus valores.
Em determinadas situações práticas, o comportamento do caixa assume uma
caracterização imprevista, inexistindo relação preestabelecida do comportamento dos
recursos ao longo do tempo. Miller e Orr propuseram um modelo de administração
financeira de caixa que pudesse ser utilizado nestas situações em que os fluxos de caixa
fossem aleatórios.5
Assim como o modelo de Baumol, o modelo de Miller e Orr parte da existência de dois
ativos: o caixa e um investimento, caracterizando-se o último por ter baixo risco e alta
liquidez. De acordo com o comportamento do fluxo de caixa no tempo, poderá existir
transferência de recursos do caixa para o investimento de curto prazo (aplicação de
recursos) ou do investimento para o caixa (resgate).
Como se assume um fluxo de caixa aleatório, não existiria um momento predeterminado
em que seriam feitas as operações de aplicação e resgate, como ocorre no modelo de
Baumol. No modelo de Miller e Orr, procura-se determinar um saldo mínimo e um
saldo máximo de caixa.
Quando o saldo de caixa estiver abaixo do limite inferior, faz-se necessário um resgate
da aplicação, com transferência de recursos do investimento para o caixa,
restabelecendo, assim, a liquidez da empresa. Por outro lado, quando o caixa estiver
acima do limite superior admitido, deverá ocorrer uma aplicação de parte dos recursos,
evitando-se, desta forma, um excesso de liquidez.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 173
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Em ambas situações, a empresa efetua transferências de recursos entre os dois ativos
considerados (caixa e investimento de curto prazo), de modo que a flutuação do caixa
no tempo fique dentro de um intervalo. O montante de recursos a ser transferido
(aplicado ou resgatado) deve ser o suficiente para que o caixa, após tal operação, retorne
a determinado nível, denominado ponto de retorno.
A Figura 5.3 apresenta o comportamento do caixa de uma empresa ao longo do tempo.
No momento 3,, o saldo de caixa ficou abaixo do limite inferior ($ 50), da figura), sendo
necessária uma transferência de recursos do investimento de curto prazo para o caixa.
Neste instante, o caixa volta para o ponto de retorno z* da figura. :
No dia 6, ocorre a situação inversa. O saldo de caixa ultrapassa o limite superior {h* da
figura), devendo existir uma aplicação de parte do caixa em investimento de curto
prazo. Após a transferência de recursos - do caixa para investimento de curto prazo -, o
volume de recursos existentes no caixa volta ao nível do ponto de retorno (z*).
O ponto de retorno, ao qual a empresa deve voltar toda vez que o caixa estiver acima ou
abaixo de determinado ponto, pode ser obtido pela fórmula a seguir:
Sendo:
M = menor valor que pode assumir ocaixa
D = Custo de cada transação de investimento ou resgate
Var = Variância diária de caixa
I = taxa de juros diária.
O valor do caixa mínimo (m da equação supra citada) será determinado pela empresa e
deve levar em consideração a aversão da gerência ao risco.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 174
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Modelo de Miller & Orr
0
100
200
300
400
500
600
700
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Dias
Sal
do
de
Cai
xa
Dias
Saldo de Caixa
Figura 5.3 Modelo Miller-Orr.
Além disso, o modelo relaciona caixa com sua variância, ou seja, dispersão do fluxo de
caixa com a necessidade de investimento. Empresas com grande dispersão no caixa
possuem maior risco e, conseqüentemente, necessitam investir mais recursos no caixa.
Menor dispersão no fluxo de caixa, ao longo do tempo, torna-se mais previsível,
reduzindo, deste modo, a importância do controle de caixa. “ - - .
A Figura 5.3 reflete modificações aleatórias nos saldos de caixa de uma empresa em
determinado intervalo de tempo. O controle dos valores dá-se através do
acompanhamento dos limites superior e inferior. No momento definido que seu saldo de
caixa atinge o limite inferior, definido pela administração da empresa. Nesta condição,
um volume de títulos negociáveis é resgatado, canalizando-se o montante monetário
para o saldo operacional de caixa. / : ;
Posteriormente, o saldo de caixa continua a oscilar, elevando-se no momento 6, para o
limite superior do controle. Nesta altura, um volume de recursos deve ser transferido do
caixa para títulos negociáveis, através de uma operação de investimento, de forma que o
saldo operacional volte à faixa de controle.
De outra forma, no gráfico existe um limite máximo que o fluxo de caixa não pode
ultrapassar. Se isto ocorrer, a empresa deve voltar ao ponto de retorno, o z* da equação.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 175
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Este limite é dado por:
H* = m + 3z*
Para melhor entendimento, o Quadro 5.2 mostra um exemplo de aplicação do modelo de
Miller e Orr. Na primeira coluna, são apresentados os valores do fluxo de caixa de uma
empresa projetados para um prazo de dez dias.
Quadro 5.2 Exemplo do modelo de Miller e Orr.
Dia Fluxo
de
Caixa
(FC)
FC –
Média
Variância
1 -300 -310 96.100
2 400 390 152.100
3 300 290 84.100
4 -300 -310 96.100
5 100 90 8.100
6 -200 -210 44.100
7 100 90 8.100
8 -200 -210 44.100
9 -100 -110 12.100
10 300 290 84.100
Total 100 629.000
Média 10 62900
Com estes valores, calculou-se a média e a variância. Estes valores serão utilizados para
a aplicação do modelo para os próximos dez dias. Suponha uma taxa de juros de 1 % ao
dia, um custo de $ 2,85 por transação e um limite inferior de $ 50:
z* = 287
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 176
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
h* = 50 + 3 x287
h* = 911
A partir deste cálculo preliminar, obtendo a variância, o limite superior e o ponto de
retormo, a empresa poderá aplicar o modelo de Miller e Orr para a administração de
caixa.
A título de exemplificação, ainda, suponha o comportamento do caixa de uma empresa,
conforme observado no Quadro 5.3. A primeira coluna apresenta o caixa inicial diário
da empresa. A segunda coluna mostra o fluxo diário de pagamentos e recebimentos
previstos. Caso a soma do caixa inicial (primeira coluna) e o fluxo diário (segunda
coluna) esteja dentro do intervalo (entre $ 50 e $ 911), nenhuma operação de
investimento ou resgate será realizada.
No 13º dia, a soma do caixa inicial mais o fluxo diário ultrapassa o limite superior ($
1.000 versus $911). Nesta situação, deve-se reduzir o volume de recursos existente no
caixa através de um investimento em título de curto prazo. O montante da transferência
de recursos deve ser o suficiente para que o caixa final seja igual ao ponto de retorno
($287). . , ;, ., ; : ,:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 177
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quadro 5.3 Exemplo do modelo de Miller e Orr - valores previstos.
Dia Caixa Inicial FC Previsto Investimento/
Resgate
Caixa Final
Previsto
11 500 300 800
12 800 - 100 700
13 700 300 - 713 287
14 287 - 100 187
15 187 200 387
16 387 100 487
17 487 - 200 287
18 287 - 250 250 287
19 287 200 487
20 487 - 100 387
No 18º dia, ocorre o inverso, ou seja, a soma do caixa inicial com o fluxo diário é menor
que o limite inferior ($37 versus $ 50). Nesta situação, a empresa vende títulos no valor
de $ 250 de tal forma que o caixa final atinja o ponto de retorno.
O modelo de Miller e Orr leva em consideração a aversão, ou propensão, ao risco da
gerência da empresa. No exemplo apresentado, para um caixa mínimo de zero, o
aumento no risco traduz-se no menor ponto de retorno e na redução do limite superior.
Em outras palavras, o modelo mostra que o volume de recursos aplicado no caixa é
reduzido em decorrência do maior risco assumido pela administração da empresa.
Além disso, o modelo considera as características de imprevisibilidade do caixa da
empresa. Se, por acaso, a dispersão do caixa for alterada ao longo do tempo, podem-se
adaptar os resultados para esta nova situação. Suponha, no exemplo citado
anteriormente, que a variância se reduza de $ 62.900 para $ 35.000. Com uma taxa de
juros de 1 % ao dia, um custo de transação de $ 2,85 e um caixa mínimo de $ 50, o
ponto de retorno é de:
z* = [50 + (0,75 x 2,85 x 35.000/0,01)]^1/3
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 178
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
z* = 246
em lugar dos $ 287 obtidos anteriormente, em que existia maior aleatoriedade do caixa.
Por sua vez, o limite superior é de:
h* = 50 + 3 x 246
h* = $ 787
cerca de $ 124 a menos que o limite anterior.
A existência de um limite inferior e um limite superior no qual o caixa da empresa
poderá variar, faz o modelo de Miller e Orr ser flexível, permitindo sua adaptação às
condições de administração de caixa.
5.2.4 Modelo de dia da semana
Em geral, o comportamento do caixa no tempo quase sempre é afetado por uma variável
sazonal. Assim, algumas empresas têm pagamentos concentrados no início de cada mês;
em outras, como a indústria do lazer, há grande movimento no final de semana. O
modelo do dia da semana é uma forma de prever o comportamento do caixa a partir de
um padrão observado.
Neste modelo, calcula-se o componente sazonal de cada dia do mês e da semana e, a
partir da previsão de saldo final de caixa para o final do mês, faz-se a previsão para o
fluxo diário através de ajustamentos que levam em conta esta sazonalidade.
Visando esclarecer melhor o funcionamento deste modelo, considere uma empresa que
realiza 21% de seu fluxo de caixa semanal na segunda-feira, 22% na terça, 17% na
quarta, 15% na quinta e 25% na sexta-feira, totalizando, assim, 100%. Caso não
existisse sazonalidade no dia da semana, o fluxo seria de 20% (100% dividido pelo
número de dias da semana).
O desvio entre a participação de cada dia da semana e a média é mostrado no Quadro
5.4.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 179
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quadro 5.4 Modelo dia da semana - Exemplo.
Dia Participação Desvio
Segunda 0,21 0,21 -0,20 = 0,01
Terça 0,22 0,22 - 0,20 = 0,02
Quarta 0,17 0,17-0,20 = -0,03
Quinta 0,15 0,15-0,20 = -0,05
Sexta 0,25 ., 0,25-0,20 = 0,05
Total 1,00 0
O outro fator de sazonalidade refere-se ao período do mês. No exemplo aqui
considerado, assume-se que a empresa possui maior fluxo de caixa nos primeiros dias
do mês, voltando a ser crescente no final do mês. As informações sobre o fluxo diário,
necessárias para a aplicação deste modelo, são apresentadas na coluna (a) do Quadro
5.5. Assim, o primeiro dia do mês representa 9% do fluxo mensal, o segundo participa
com 8%, e assim por diante.
Admita-se que o primeiro dia útil do mês caiu numa terça-feira. O quadro 5.5 apresenta,
na coluna (b), os desvios referentes ao dia da semana, conforme calculado no quadro
anterior. A soma destes desvios com as percentagens para cada dia do mês- coluna (b)
mais coluna (a) - será utilizada para previsão do fluxo de caixa diário (coluna c). A
soma desta coluna é igual à unidade.
Assim, o primeiro dia útil do mês representa 9% do fluxo mensal. Por ser uma terça-
feira, a soma desta participação mais o desvio (2%, conforme Quadro 5.4) totaliza 11 %.
Sabendo de antemão que o fluxo previsto para o mês é de $ 5.000, tem-se que a
previsão para este dia será de $ 440 (= 11%x 5.000). O Quadro 5.5, em sua última
coluna, apresenta os resultados para o restante do mês.
Dia % sobre Total
(a)
Desvios (b) Soma (a + b) FC Diário
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 180
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1 0,09 0,02 0,11 440
2 0,08 -0,03 0,05 200
3 0,07 -0,05 0,02 80
4 0,06 0,05 0,11 440
5 0,06 0,01 0,07 280
6 0,06 0,02 0,08 320
7 0,05 -0,03 0,02 80
8 0,06 -0,05 0,01 40
9 0,05 0,05 0,10 400
10 0,04 0,01 0,05 200
11 0,04 0,02 0,06 240
12 0,04 -0,03 0,01 40
13 0,03 -0,05 -0,02 - 80
14 0,03 0,05 0,08 320
15 0,02 0,01 0,03 120
16 0,02 0,02 0,04 160
17 0,04 -0,03 0,01 40
18 0,04 -0,05 -0,01 - 40
19 0,06 0,05 0,11 440
20 0,06 0,01 0.07 280
Total 1,00 0 1,00 5.000
Quadro 5.5 Modelo dia da semana - exemplo (Continuação).
Conhecendo a estimativa do caixa para o final do mês, pode-se estimar facilmente o
valor diário do caixa e, com isto, tomar decisões de financiamento ou investimento,
ajustando o caixa ao menor nível possível.
5.3 - Administração de Contas Bancárias
Boa parte da administração do disponível passa por uma instituição financeira, seja no
recebimento e no pagamento, através da troca de cheques, na aplicação das folgas
financeiras ou na obtenção de recursos para suas necessidades financeiras. Pelo volume
de recursos que isto representa, a otimização da administração da liquidez da empresa
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 181
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
passa pela negociação com bancos. Entender a forma como funciona o sistema
financeiro é condição primordial para obter mais vantagens na administração do caixa.
Além disso, o sistema bancário oferece para a empresa uma série de serviços. Estes
serviços poderão ser remunerados pelo float, ou pela cobrança de tarifas diretamente
ligadas à prestação dos mesmos.
A compensação de cheques é somente o produto mais visível da atividade bancária.
Além deste produto, os bancos fornecem extratos e cartões magnéticos; contratam
operações ativas, incluindo desconto de promissórias e cheque especial; transferem
fundos; recebem carnes; efetuam cobrança; arrecadam tributos; oferecem ligações direta
entre o computador do cliente e o computador do banco (home banking) etc.
5.3.1 - Compensação e Sistema Brasileiro de Pagamentos
Os altos níveis inflacionários observados no Brasil até meados da década de 90 fizeram
com que se desenvolvesse um moderno sistema de compensação de cheques. A
agilidade desse sistema tornou o Brasil um modelo a ser seguido por outros países e
permitiu que o cheque continuasse sendo aceito mesmo em um ambiente onde as perdas
monetárias eram elevadas.
A implantação do sistema brasileiro de pagamentos (SBP) representa mais um estágio
na modernização do sistema financeiro nacional. Com respeito a impacto desse sistema
na gestão do disponível, é importante destacar a eventual existência de descasamento
entre a entrada e a saída de recursos na conta corrente das empresas.
Considere, a título de exemplo, uma empresa varejista que possui poucos fornecedores,
cujas compras são expressivas em termos de valores. No que diz respeito aos
recebimentos, a rede de clientes da empresa é muito significativa, embora os valores de
cada transação sejam relativamente pequenos. Enquanto os pagamentos são transferidos
eletronicamente, os recebimentos entram no sistema de compensação tradicional. Nesse
caso, o descasamento entre recebimento e pagamento irá gerar uma necessidade de
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 182
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
reserva financeira de pelo menos dois dias.
Ademais, o fato de as transferências serem efetuadas ao longo do dia, e não ao final do
dia, como ocorria no passado, faz com que a atividade de controle da movimentação
financeira da tesouraria seja ainda mais estratégica.
5.3.2 - Centralizar ou Descentralizar
O problema de centralizar ou descentralizar a administração bancária diz respeito a
situações de empresas que têm recebimentos de cheques de diversas partes do país e,
portanto, sofrem o efeito da compensação nacional e da compensação não integrada,
bem como da empresa que não consegue obter a liberação imediata dos depósitos em
cheques. Como alternativa para a situação de trabalhar com somente uma agência
bancária, a empresa poderá optar em ter mais de uma conta em diversos pontos do país
ou ter contas em mais de uma instituição financeira.
Com a descentralização da administração de bancos, a empresa ganha mais rapidez na
compensação de cheques e, por conseqüência, diminui as perdas monetárias. Os
recursos liberados mais rapidamente poderão ser aplicados em investimentos e, com
isto, obter-se-ia uma rentabilidade qualquer. Esta política de descentralização tem seu
custo, representado pelo aumento na despesa de administração de bancos e no aumento
das taxas bancárias.
A rentabilidade da política de descentralização será representada pelo confronto das
receitas adicionais provenientes desta política e seus custos necessários. A
descentralização da gestão de bancos tende, inicialmente, a aumentar esta rentabilidade;
posteriormente, com o aumento exponencial dos custos da administração bancária, a
rentabilidade tende a cair.
5.3.3 Float
O float refere-se à diferença existente entre o saldo da conta de uma empresa no banco e
o valor registrado pela empresa em seus controles bancários. O float é sempre favorável
ao banco e deve ser usado pela empresa na discussão de reciprocidade bancária, quando
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 183
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
for necessária a captação de recursos de curto prazo ou quando se precisar de uma taxa
de aplicação melhor.
O float ocorre quando o banco não avisa o cliente com antecedência sobre a existência
de valores creditados. No caso de uma cobrança feita pela instituição financeira, o float
diz respeito à diferença entre a data do pagamento feito pelo cliente e a data que o
dinheiro está efetivamente disponível para a empresa.
Se o pagamento é realizado num dia e somente no dia seguinte é creditado, o recurso
ficou no banco por um dia. A instituição financeira aplicou este recurso neste prazo,
praticando o que no jargão bancário é chamado de D+1. (Caso a diferença fosse de dois
dias, seria D+2; se fosse de três dias, D+3, e assim por diante).
Assim, o float pode ser também definido como o montante de recursos transitórios que
permanece no banco. Sua existência é comum no mercado financeiro, cabendo ao
administrador financeiro negociar condições mais favoráveis para a empresa.
A empresa poderá fazer uma análise financeira do float para determinar seu valor. Esse
cálculo pode ser interessante num processo de negociação com a instituição financeira.
5.4 – Questões
1. Cite os três motivos para se manter uma quantidade mínima de dinheiro em caixa.
2. O caixa mínimo exigido dependerá de uma série de fatores. Cite 3 deles.
3. Quais os principais modelos de gestão de caixa existentes?
4. Cite três serviços bancários que uma instituição financeira pode oferecer a uma
empresa?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 184
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
5. Cite as vantagens e desvantagens em se centralizar e descentralizar os serviços
bancários.
6. O que é float?
5.5 – Exercícios
1. A empreiteira AC3 recebe no dia primeiro de cada mês $ 120.000 pela execução de
um contrato de longo prazo, relativo à manutenção de uma estrada de rodagem.
Supondo um mês com 20 dias úteis, pode-se afirmar que os desembolsos médios diários
da empresa montam $ 6000 (= 120.000/20). A taxa de juros de mercado é de 0,95%
a.m. e cada vez que é feita uma operação, seja de investimento ou de pagamento, a
empresa despende $ 9,00 referentes ao custo vinculado a esta operação. Calcule o
número de retiradas ideal, segundo o modelo de Baumol.
2. O supermercado Zap tem a seguinte variação no fluxo de caixa nos 10 primeiros dias
úteis de um determinado mês:
Dia Variação
FC
Variância
1 3500 3600
2 4000 193600
3 3000 313600
4 3900 115600
5 3700 19600
6 4200 409600
7 3500 3600
8 3300 67600
9 3000 313600
10 3500 3600
Média 3560 144400
Admitindo-se que a taxa de juros diária é de 0,05%, o custo para as operações de
aplicação/resgate é de R$ 8,00, e se deve manter um caixa mínimo de R$ 1000,00, e
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 185
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
utilizando-se do modelo de Miller-orr, calcule:
a) O ponto de retorno.
b) B) o limite máximo.
5.6 – Bibliografia Recomendada
ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São
Paulo: Atlas, 1995.
SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.
Atlas. 2003
SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 186
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 06 – Administração de Valores a Receber
Conteúdo do Capítulo
6.1 – Política de Crédito
6.2 – Análise de Crédito
6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA
6.4 – Questões
6.5 – Exercícios
6.6 – Bibliografia Recomendada
Um dos componentes mais expressivos do capital de giro de uma empresa são as contas
a receber provenientes de suas vendas a prazo. A administração de contas a receber a ser
tratada neste capítulo aborda, principalmente, o crédito comercial concedido às pessoas
jurídicas.
Uma boa administração de contas a receber deve incluir, além da execução, as funções
de planejamento e controle, para que as vendas pelo crédito comercial proporcionem
resultados efetivos.
A cobrança é a principal função operacional de contas a receber. A formulação da
política de crédito e o acompanhamento de seus resultados são as funções típicas de
planejamento e controle de contas a receber.
6.1 – Política de Crédito
Para a empresa vendedora, o prazo de pagamento concedido a seus clientes representa
uma operação financeira denominada crédito comercial.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 187
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O conjunto das condições sob as quais a empresa efetua suas vendas a prazo constitui
sua política de crédito comercial.
As diretrizes de uma política de crédito comercial têm por objetivo atingir determinadas
metas financeiras e comerciais. Desse modo, a política de crédito comercial da empresa
está subordinada a suas estratégias de marketing e de finanças.
A política de crédito de uma empresa, por meio de seus diversos elementos, afeta de
modo significativo sua participação no mercado, seu capital de giro, sua situação de
caixa e sua rentabilidade.
O principal efeito de uma política de crédito é seu impacto sobre a lucratividade da
empresa. Esta será afetada pelo custo do financiamento do capital de giro, pela
rentabilidade das vendas e pelo percentual de perda com devedores incobráveis.
Se a empresa adotar uma política de crédito liberal, conseguirá maior volume de vendas
às custas de maior risco de inadimplência. Ao contrário, uma política de crédito
restritiva trará baixo risco de inadimplência, mas reduzirá as vendas.
Uma política de crédito ótima seria aquela capaz de incentivar ao máximo as vendas
com o mínimo de perdas por inadimplência. Existem alguns métodos teóricos para
otimizar a política de crédito. Entretanto, a utilidade prática desses méto dos fica
comprometida, porque eles exigem que a empresa conheça a probabilidade de perda
com dívidas incobráveis.
Teoricamente, é possível realizar simulações para verificar o resultado de políticas
alternativas de crédito. Para isso, são usadas estimativas de vendas a crédito, margens de
lucro e probabilidades de perdas com dívidas incobráveis.
Quanto melhor for a situação financeira da empresa, mais liberdade ela terá para
estabelecer sua política de crédito. Nesse caso, ela não precisará seguir os padrões de
crédito do setor em que atua, podendo aproveitar todo o potencial de ganho do mercado.
6.1.1 - Conceitos Básicos
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 188
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A seguir, são apresentados os conceitos utilizados nos diversos tópicos deste capítulo.
a) Prazo médio de cobrança
Dependendo das condições de mercado, a empresa pode conceder a seus clientes prazos
de pagamento diferenciados, de acordo com o tipo de produto. O prazo médio de
cobrança de uma empresa é a média ponderada dos prazos de recebimento de suas
vendas pelo crédito comercial. É calculado do seguinte modo:
Pmc = (p1 X V1 +p2 x V2 + ... + Pn x Vn) / (V1 + V2 + ... + Vn)
onde:
Pmc = prazo médio de cobrança
P1 ... Pn = Prazos de cobrança
V1 ... Vn = Valores a serem cobrados
Exemplo: Calcular o prazo médio de cobrança de uma empresa cujas vendas mensais
têm a seguinte composição de valores e prazos:
- R$ 300.000,00 a 30 dias
- R$ 100.000,00 a 10 dias
- R$ 200.000,00 a 50 dias
Usando a fórmula de cálculo, temos:
Pmc = (30 x 300.000 + 10 x 100.000 + 50 x 200.000) / (300.000 + 100.000 + 200.000)
PMC = 20.000.000 / 600.000
Pmc = 33,33 dias
b) Giro de Contas a Receber
O giro de contas a receber é o parâmetro que indica quantas vezes no ano acontece a
rotação do montante de contas a receber. É calculado da seguinte forma:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 189
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
GCR = 360 / Pmc
onde:
GCR = Giro de Contas a Receber
Pmc = Prazo médio de cobrança
Tomando-se os dados do exemplo anterior, o giro de contas a receber é:
GCR = 360 / 33,33
GCR = 10,80
O parâmetro calculado indica que o montante de contas a receber dessa empresa gira
aproximadamente 11 vezes num ano.
c) Investimento em Contas a Receber
O parâmetro que representa o valor dos recursos financeiros gastos especificamente
para comprar ou produzir, para então vender pelo crédito comercial, é denominado
investimento em contas a receber.
Considerando que o custo fixo é independente do volume de produção, ou operação da
empresa, o investimento em contas a receber corresponde aos custos variáveis, aqueles
que são efetivamente incorridos para produzir ou operar. Assim, o valor do investimento
direto efetuado pela empresa em contas a receber é menor do que o valor desse contas a
receber.
O cálculo do investimento em contas a receber é realizado da seguinte forma:
ICR = CV ÷ GCR
onde:
ICR = investimento em contas a receber
CV = custo variável de contas a receber
GCR = giro de contas a receber
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 190
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Considerando o custo de contas a receber como um dado já definido, o valor do
investimento nesse ativo dependerá de seu giro. Como o giro de contas a receber
depende do prazo médio de cobrança, quanto maior for este último, maior será o
investimento em contas a receber.
Exemplo: As vendas de uma empresa têm um prazo médio de cobrança de 45 dias. O
valor de suas vendas anuais é R$ 1.200.000,00 e o custo variável é de 60% do valor
dessas vendas. Seu investimento em contas a receber será:
Giro de contas a receber:
Gcr = 360 ÷ 45 = 8
Custo variável das contas a receber:
Cv = 0,6 x 1.200.000,00 = 720.000,00
Investimento em contas a receber:
Icr = 720.000 ÷ 8 = 90.000,00
d) Margem de contribuição
A diferença entre o preço de venda e o custo variável por unidade de um produto ou
serviço é chamada margem de contribuição unitária.
O somatório das margens de contribuição de todos os produtos ou serviço de uma
empresa resulta num valor destinado a cobrir os custos fixos e proporcionar o lucro.
O planejamento e a avaliação de decisões referentes à política de crédito comercial
utiliza o conceito de margem de contribuição.
A margem de contribuição unitária é calculada pela seguinte fórmula:
MC = PV - CVU
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 191
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
onde:
MC = margem de contribuição unitária
PV = preço de venda
CVU = custo variável unitário
6.1.2 - Elementos de uma Política de Crédito
Uma política de crédito contém diretrizes de natureza mercadológica e financeira que
têm efeito sobre vários parâmetros econômico-financeiros da empresa. Volume de
vendas, necessidade de capital de giro, disponibilidade de caixa e geração de lucro são
alguns dos parâmetros afetados pela política de crédito.
A hierarquização dos mencionados parâmetros para fins de formulação da política de
crédito varia de empresa para empresa. Além disso, uma política de crédito pode não ter
objetivos permanentes.
Por sua vez, os vários elementos de uma política de crédito precisam ter sua importância
hierarquizada, o que varia de empresa para empresa, ou de setor para setor.
Os principais elementos de uma política de crédito são descritos a seguir.
a) Prazo de recebimento
O prazo concedido aos clientes para fazer seus pagamentos é um dos pilares da política
de crédito de uma empresa, pois afeta vários de seus parâmetros econômicos.
Em determinados setores empresariais, o prazo de pagamento concedido aos clientes é
padronizado. Assim, as empresas do setor terão pouca liberdade para fixar prazos de
pagamentos menores do que o padrão, sob pena de perder mercado.
A concessão de prazos de pagamento maiores do que os praticados no setor poderá ser
adotada, desde que a situação financeira da empresa vendedora o permita.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 192
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O alongamento dos prazos de pagamento para os clientes acarreta maior investimento
em contas a receber, com reflexos na necessidade de capital de giro da empresa e nos
custos financeiros correspondentes.
b) Critérios de aprovação de crédito
As empresas adotam critérios variados para aprovar a concessão de crédito comercial a
um novo cliente.
O critério dominante entre as pequenas e médias empresas para aprovação de crédito é a
análise do cadastro da empresa candidata à compra a prazo.
Num estágio intermediário de avaliação de crédito, são acrescentadas à análise do
cadastro algumas informações complementares da empresa em avaliação, como, por
exemplo, seu faturamento, perspectivas comerciais e principais clientes.
O estágio mais avançado de avaliação de crédito acrescenta às informações de cadastro
um completo estudo econômico-financeiro da empresa candidata ao crédito comercial.
Esse estudo é denominado análise de crédito.
Com base nas informações extraídas das demonstrações contábeis da empresa avaliada,
a análise de crédito fornece um prognóstico de sua situação econômico-financeira, que
permite conhecer antecipadamente sua capacidade de pagar seus credores num futuro
próximo.
c) Limite de crédito
Para reduzir o risco com possível inadimplência dos clientes, a empresa vendedora
precisa estabelecer um valor máximo de venda para cada um deles.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 193
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O valor do crédito comercial concedido a uma empresa precisa estar compatível com
sua situação financeira. Assim, ele deve ser coerente com o valor do patrimônio líquido
e das vendas da empresa candidata ao crédito.
A justificativa para a fixação de um limite superior de crédito para cada cliente é
perfeitamente aceitável. Entretanto, não existe um critério confiável para a de
terminação do limite superior de crédito.
Algumas empresas limitam a concessão de crédito comercial a 50% do patrimônio
líquido da empresa compradora, mas não existe comprovação de que esse limite
percentual seja o adequado.
Também deve ser levado em conta que uma mesma empresa pode comprar a crédito de
vários fornecedores, e as empresas vendedoras não costumam conhecer o valor dessas
compras.
Na prática, o limite superior de crédito acaba sendo fixado de forma subjetiva, com base
na análise do caso específico.
A fixação de um valor mínimo de crédito é praticada porque a empresa vendedora
incorre em custos fixos (emissão dos documentos de cobrança, tarifa bancária para a
cobrança etc.) para realizar uma operação de crédito.
A justificativa para o estabelecimento de um valor mínimo de crédito é que o lucro
gerado por uma operação de venda a crédito precisa cobrir os custos adicionais gerados
pela venda. Esses custos precisariam ser cobertos pelo lucro gerado pela operação que
lhes deu origem.
Embora largamente utilizada, a política de valor mínimo de crédito não tem
embasamento rigoroso. Ela pode ser contestada com o argumento de que os custos de
processamento e recebimento de duplicatas já estariam diluídos por todas as vendas e,
portanto, cobertos pelos preços praticados.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 194
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
As empresas que praticam a política de valor mínimo de venda a prazo não fazem
cálculo rigoroso do custo de processamento e recebimento de duplicatas. Por isso, o
valor mínimo é estabelecido de forma empírica.
d) Condições financeiras do crédito
Uma política de crédito precisa definir as condições financeiras da venda a prazo, tais
como descontos por pagamento antecipado e juros de mora para os pagamentos
efetuados com atraso.
Apesar de as condições financeiras do crédito serem, geralmente, consideradas
elementos acessórios da política de crédito, elas podem ter grande influência sobre o
quadro financeiro da empresa vendedora.
Quando o cliente antecipa um pagamento para obter um desconto, está fazendo uma
aplicação financeira. Essa operação representa captação de recursos financeiros para a
empresa vendedora. Desse modo, uma taxa de desconto maior do que a taxa de
aplicação no mercado financeiro e menor do que a taxa de captação de recursos
financeiros será interessante para as duas partes.
Tendo em vista as significativas diferenças entre taxa de captação e taxa de aplicação no
Brasil, existe espaço para que a taxa de desconto para antecipação de pagamento seja
fixada num valor mutuamente vantajoso para as empresas vendedora e compradora.
A fixação de juros de mora para o pagamento de duplicatas em atraso precisa atender a
dois requisitos. Primeiro, os juros de mora devem ser maiores do que os juros bancários
para não estimularem atrasos voluntários. Depois, esses juros não devem ser extorsivos
para não afetar o relacionamento comercial com os clientes.
e) Tratamento dispensado aos clientes inadimplentes
A política de crédito também estabelece as ações a serem tomadas em relação ao
clientes inadimplentes.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 195
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Métodos de cobrança e critérios para protesto de duplicatas vencidas são estabelecidos
pela política de crédito da empresa.
No passado, havia tendência generalizada das empresas a dispensar tratamento duro aos
clientes inadimplentes. Entretanto, essa prática perdeu seu prestígio, dando lugar à
filosofia de negociação.
6.1.3 - Planejamento e Avaliação de Política de Crédito
O prazo de pagamento concedido ao cliente e o grau de rigor na concessão de crédito
têm efeitos conflitantes sobre o resultado da empresa.
Quando a empresa vendedora aumenta o prazo de pagamento concedido aos clientes,
ocorre aumento das vendas, mas em contrapartida aumenta o volume de contas a
receber. O lucro esperado pelo aumento das vendas precisa ser comparado com o
acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber.
Se a empresa adotar uma política de crédito mais liberal, também haverá expansão das
vendas e aumento do volume de contas a receber. Nesse caso, não haverá aumento do
prazo de cobrança. O lucro adicional da expansão das vendas precisa ser comparado
com o acréscimo do custo-oportunidade do investimento em contas a receber e com as
perdas geradas pelas dívidas incobráveis, oriundas de uma política de crédito mais
liberal.
A implantação ou alteração de uma política de crédito comercial precisa ser precedida
de análise que indicará o resultado esperado.
A maior dificuldade para a avaliação dos resultados de uma política de crédito é estimar
o crescimento das vendas e das perdas com inadimplência. Um meio de contornar essa
situação é avaliar os resultados de algumas hipóteses de correlação entre os elementos
da política de crédito, o aumento das vendas e a inadimplência.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 196
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Os exemplos seguintes mostram como fazer a análise do resultado de uma alteração na
política de prazo de pagamento concedido ao cliente e de mudança no critério de
aprovação de crédito.
a) Efeito de mudança no prazo de cobrança
Suponhamos que uma empresa esteja com alguma capacidade ociosa e pretenda
aumentar o prazo de pagamento concedido a seus clientes de 30 para 60 dias, estimando
que essa mudança provoque crescimento de 10% nas vendas, que atualmente são de R$
900.000,00 por ano.
A margem de contribuição dessa empresa é de 30% sobre o valor das vendas e o custo-
oportunidade do capital imobilizado é de 15% ao ano. O Quadro 2.1 apresenta o
resultado do aumento do prazo de cobrança (aumento da margem de contribuição menos
aumento do custo-oportunidade do investimento em contas a receber).
Quadro 2.1 Resultado do aumento do prazo de cobrança.
Cobrança 30 Dias 60 dias Diferença
Acréscimos -
Vendas Anuais
900.000 990.000 90.000
Margem de
Contribuição
270.000 297.000 27.000
Custo Variável 630.000 693.000
Giro de Contas a
Receber
12 6
Investimento em
Contas a Receber
52.500 115.500
Custo Oportunidade
em contas a receber
7.875 17.325 9.450
Resultado do aumento do prazo de cobrança 17.250
Sendo este resultado positivo, a princípio, deve ser adotada a medida.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 197
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
b) Efeito de mudança no critério de aprovação do crédito
Suponhamos agora que essa mesma empresa pretenda afrouxar os padrões usados para
liberação de crédito a seus clientes. Com essa medida, ela espera conseguir aumento de
5% nas vendas, que atualmente são de R$ 900.000,00 por ano. Em contrapartida, ela
estima um aumento de 1 para 2% no percentual de perdas com clientes inadimplentes.
A margem de contribuição da empresa e o custo-oportunidade do capital continuam
sendo, respectivamente, de 30% sobre as vendas e 15% ao ano. O prazo de cobrança é
de 30 dias, antes e depois do afrouxamento do crédito.
O Quadro 2.2 apresenta o resultado da mudança no critério de aprovação do crédito
(aumento na margem de contribuição menos aumentos no custo-oportunidade do
investimento em contas a receber e em perdas com devedores incobráveis).
Quadro 2.2 Avaliação do resultado de liberação do crédito.
Sem Liberação Com Liberação Acréscimo
Vendas anuais 900.000 945.000 45.000
Margem de
Contribuição
270.000 283.000 13.000
Custo Variável 630.000 661.500
Giro de Contas a
Receber
12 12 0
Investimento em
Contas a Receber
52.500 55.125
Custo de
Oportunidade
7.875 8268,75 393,75
Perdas Incobráveis (1%) 9.000 (2%) 18.000 9.000
Resultado da Liberação das Vendas 3.606,25
6.2 – Análise de Crédito
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 198
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A política de crédito trata das condições gerais de concessão de crédito aos clientes. A
decisão de conceder crédito a determinado cliente requer avaliação específica desse
cliente.
A Análise de crédito é uma técnica de previsão que permite à empresa vendedora
estimar a capacidade de pagamento a curto prazo do pretendente ao crédito.
A utilização da análise de crédito é justificada pelo fato de que apenas a análise
cadastral não é suficiente para avaliar a capacidade de pagamento do pretendente.
Qualquer análise de cadastro informa apenas uma situação passada. A análi de crédito
permite que a empresa vendedora tenha alguma estimativa sobre a situação financeira
futura de um pretendente com um cadastro recomendável.
A análise de crédito não é um método exato para avaliação do risco de crédito. Desse
modo, não deve ser encarada como um guia infalível para apoiar as decisões de
concessão de crédito.
Embora seja uma ferramenta muito útil, a análise de crédito tem algumas limitações,
como será mostrado adiante neste capítulo.
6.2.1 - Técnicas de Análise de Crédito
A análise de crédito para empresas utiliza a análise das demonstrações contábeis como
principal elemento de apoio. A análise de crédito para pessoas físicas é menos técnica,
porque é realizada com um conjunto menor e mais incerto de informações.
Para que a decisão de crédito possa ter melhor embasamento, os aspectos quantitativos
da análise de crédito devem ser adicionados a informações de natureza qualitativa.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 199
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Em geral, observa-se na análise de crédito a preponderância dos aspectos quantitativos
sobre os qualitativos. Entretanto, não há comprovação de que essa prática produza
melhores resultados.
a) Análise das demonstrações contábeis
Com base nos índices obtidos da análise das demonstrações contábeis, é possível
estimar se uma empresa conseguirá pagar suas dívidas.
Como já foi visto no capítulo 01, os índices utilizados pertencem a três grupos: índices
de liquidez, índices de endividamento e índices de rentabilidade.
Para fins de avaliação, os índices dividem-se em dois grupos: quanto maior, melhor e
quanto menor, melhor.
No grupo quanto maior, melhor, estão os índices de liquidez e rentabilidade. Já os
índices de endividamento pertencem ao grupo quanto menor, melhor.
A análise das demonstrações financeiras fornece com facilidade prognósticos quando a
situação financeira da empresa analisada é muito boa, ou muito ruim. Sua maior
dificuldade é projetar o futuro de uma empresa quando seus índices estão situados numa
faixa intermediária de qualidade.
b) Modelos estatísticos de análise financeira
Quando os índices obtidos da análise das demonstrações financeiro-contábeis são todos
positivos, ou todos negativos, o prognóstico é imediato. Por exemplo, se uma em presa
tem boa liquidez, rentabilidade satisfatória e baixo grau de endividamento, sua
avaliação de crédito será positiva.
Muitas vezes, porém, os diversos índices apresentam resultados desencontrados. Uma
empresa pode possuir bom índice de rentabilidade, ao lado de alto grau de
endividamento e índices ligeiramente satisfatórios de liquidez. Nesse caso, a conclusão
da análise de crédito é bem mais difícil.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 200
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Uma solução para o problema dos índices de análise financeira com índices financeiros
desencontrados é a utilização de modelos estatísticos de análise financeira.
Esses modelos baseiam-se numa técnica estatística denominada Análise Discriminante,
que correlaciona a ocorrência de falência de uma empresa a determinadas combinações
de índices financeiros por elas apresentados.
Cada modelo estatístico de análise financeira fornece determinado fator para a empresa
analisada. Dependendo do valor desse fator, é possível prever se a em presa se tornará
insolvente num horizonte de um a três anos à frente.
No Brasil, os dois modelos estatísticos de análise financeira mais conhecidos foram
desenvolvidos por Stephen Charles Kanitz e José Pereira da Silva, sendo que este
segundo é muito mais usado e apropriado para a realidade nacional, prevendo, com bom
grau de acerto, a insolvência em até 3 anos após análise das demonstrações
apresentadas.
c) Pontuação de crédito
As decisões de crédito a pessoas físicas utilizam um processo de análise dife rente
daquele empregado para as empresas.
Uma decisão de crédito pessoal necessita da análise de um extenso leque de fatores que
podem afetar a capacidade de pagamento do proponente.
Os métodos simples de análise de crédito pessoal baseados apenas no histórico de
crédito do pretendente têm-se revelado insatisfatórios.
Uma técnica de análise de crédito pessoal mais poderosa é conhecida como pontuação
de crédito (credit scoring) . Foi desenvolvida há alguns anos nos Estados Unidos e hoje
sua utilização é universal.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 201
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O sistema de pontuação de crédito representa um refinamento do método tradicional de
avaliação de análise de crédito pessoal, que é um processo muito intuitivo.
O funcionamento do sistema de pontuação de crédito baseia-se no tratamento estatístico
de um conjunto de dados sobre o comportamento de uma amostra de tomadores de
crédito.
Pelo tratamento estatístico dos dados é possível correlacionar várias características dos
tomadores de crédito com o pagamento de seus débitos. Ainda com base nessa mesma
análise estatística, são atribuídas pontuações a essas características.
A análise baseia-se no tratamento estatístico dos dados do proponente - valor e tipo dos
créditos contratados, histórico de pagamentos, registros de ações de cobrança etc.,
Compara essas informações com o comportamento de pessoas com perfil similar. Cada
fator favorável recebe uma pontuação que vai formar o score de crédito do candidato.
Um relatório de crédito é então gerado, fornecendo a pontuação do proponente.
O sistema de pontuação de crédito pode ser utilizado por empresas especializadas, ou
operado pela empresa usuária.
6.2.2 - Implementação da Análise de Crédito
A análise de crédito pode ser conduzida pela própria empresa usuária, ou ser contratada
de entidades especializadas.
A manutenção de um departamento para efetuar toda a análise de crédito só se justifica
economicamente quando a empresa tem grande volume de vendas. A prática mais
comum é a empresa adquirir as informações básicas para a decisão de crédito de
empresas especializadas, e avocar para si a decisão de crédito.
Quando a empresa realiza todo o trabalho de análise de crédito, o porte da empresa
analisada determinará o grau de dependência de fontes específicas para a obtenção de
dados e informações. Se a empresa analisada tem ações negociadas em bolsa de valores,
ela é obrigada a manter uma política de abertura de informações ao público.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 202
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
As empresas de grande porte, ainda que de capital fechado, têm naturalmente uma
grande visibilidade, o que permite que sua situação financeira seja de conhecimento
geral.
As informações sobre as pequenas e médias empresas têm naturalmente menor grau de
abertura, o que torna sua análise mais difícil. A análise de crédito para essas empresas
pode ser auxiliada por informações obtidas de bancos, clientes e fornecedores.
A análise de crédito efetuada por empresas especializadas produz um conjunto
consolidado de informações sobre a empresa analisada, unificando assim as várias
informações necessárias à concessão de crédito.
Um relatório típico de uma empresa especializada em análise de crédito contém:
- Índices financeiros de solvência, endividamento, rentabilidade da em presa analisada e
distribuição estatística desses índices entre as empresas do mesmo setor.
- Informações comerciais (apontamento ou protesto de títulos).
- Informações mercadológicas.
Outro fator a ser considerado na análise de crédito é a qualidade da administração da
empresa examinada. E sabido que empresas que têm administração insatisfatória têm
um potencial de risco maior. Além disso, esse risco não pode ser quantificado.
A decisão sobre concessão de crédito, mesmo quando tomada com base nas técnicas da
análise de crédito, sempre comportará alguma dose de intuição. Nenhum número é
completo o suficiente para abranger todos os fatores envolvidos na decisão de crédito.
A experiência da empresa vendedora com a concessão de crédito é extrema mente
valiosa para orientar suas decisões e permite que ela aperfeiçoe continua mente seu
processo de aprendizado sobre a arte de conceder crédito.
6.2.3 - Administração do Risco de Crédito
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 203
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Quando a análise de crédito não recomenda a concessão de crédito comercial ao
proponente, a empresa vendedora pode contornar o problema solicitando do comprador
a apresentação de garantias reais.
Os principais instrumentos utilizados como garantia de crédito são o aval, a fiança
bancária e a caução. Dos três instrumentos de garantia mencionados, a fiança bancária é
o único que tem um custo explícito para a empresa compradora que a contrata. A
caução, representada por depósito em títulos ou dinheiro, terá direito a remuneração
correspondente a uma aplicação no mercado financeiro.
Embora os instrumentos de garantia de crédito possam reduzir ou eliminar o risco de
inadimplência, sua utilização é trabalhosa e tende a emperrar a operação de venda a
crédito. Por esse motivo, essas garantias devem ser utilizadas em situações especiais e
não como uma prática comercial rotineira.
O risco associado ao crédito comercial também é afetado pelo grau de concentração das
vendas a crédito pelos clientes. Uma empresa que tem suas vendas distribuídas de forma
mais ou menos equilibrada entre vários clientes terá naturalmente risco menor do que
aquela que tem vendas concentradas em poucos clientes.
Caso sua concentração de vendas em determinado cliente, ou num grupo reduzido de
clientes que represente percentual significativo do faturamento da empresa, a análise de
crédito deverá ser mais rigorosa.
6.2.4 - Limitações da Análise de Crédito
Não obstante seu crescente prestígio, a análise de crédito tem algumas limitações. Como
acontece com toda técnica de previsão, a análise de crédito tem como principal objetivo
fornecer as melhores estimativas possíveis acerca do futuro. Entretanto, não existe
metodologia de previsão que consiga precisão total em seus prognósticos.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 204
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Como mostramos, um dos principais suportes da análise de crédito é a análise das
demonstrações contábeis. Essa ferramenta, somada a outros fatores, é responsável pelas
limitações da análise de crédito. As principais causas dessas limitações são as seguintes:
a) Desatualização dos demonstrativos contábeis
As demonstrações contábeis retratam o quadro econômico-financeiro da em presa em
determinada data. Assim, quando o balanço é publicado, seus dados mostram uma
situação financeira passada. Esses dados são utilizados pela análise de crédito para fazer
suas previsões acerca da empresa analisada. Em muitos ca sos, a análise de crédito é
efetuada com base em um balanço com quase um ano de defasagem.
b) Qualidade das demonstrações contábeis
Para que a análise de crédito seja eficaz, os dados de balanço utilizados precisam estar
corretos para expressar a verdadeira situação financeira da empresa analisada.
Presumivelmente, a validação das demonstrações contábeis por um auditor
independente torna-as mais confiáveis. Entretanto, a maioria das empresas de pequeno e
médio porte não tem suas demonstrações financeiras auditadas. Apesar disso, essas
demonstrações contábeis têm aceitação generalizada.
c) Impossibilidade de previsão de mudanças bruscas
A análise de crédito não consegue captar mudanças bruscas que eventual-mente venham
a acontecer na situação financeira de uma empresa. Crises agudas na economia do país e
alterações repentinas e acentuadas do mercado da empresa são exemplos de fatores que
não podem ser previstos pela análise de crédito.
Quando a análise de crédito faz um prognóstico da situação financeira de uma empresa,
fica implícito que ele será válido desde que sejam mantidas as principais condições
econômicas existentes no momento de sua formulação.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 205
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Alguns setores econômicos estão naturalmente sujeitos a maior grau de instabilidade.
Por exemplo, empresas que produzem commodities, ou que utilizam tecnologia
avançada em seu processo de operação são mais propensas a sofrer alterações repentinas
em sua situação financeira.
6.3 - ADMINISTRAÇÃO DA COBRANÇA
A última etapa do trabalho do administrador na atividade de contas a receber é a
administração da cobrança.
Embora seja uma atividade fundamentalmente operacional, a cobrança também requer
planejamento e controle para torná-la eficaz.
6.3.1 - Fatores Organizacionais
As vendas a prazo de uma empresa podem ser recebidas em carteira ou por meio do
sistema bancário. A escolha da forma de cobrança dependerá de fatores específicos da
empresa vendedora, como estrutura organizacional, custo operacional, filosofia de
marketing etc.
A estrutura organizacional do setor de cobrança depende do tipo de cobrança usado pela
empresa (em carteira ou bancária), do perfil de seus clientes (grandes ou pequenas
empresas) e de seu grau de informatização.
O tipo de cobrança bancária também afeta a estrutura organizacional do setor de
cobrança. Geralmente, grandes empresas têm sistemas de contas a pagar que dispensam
os fornecedores de colocar os títulos em cobrança. O pagamento é efetuado mediante
crédito na conta corrente indicada pelo fornecedor. Se parcela significativa dos clientes
de uma empresa usa esse tipo de contas a pagar, ela terá um contas a receber mais
enxuto.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 206
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Boa parte da força de trabalho existente na atividade de cobrança ainda é utilizada na
realização de atividades repetitivas. Com o avanço da tecnologia de comunicação, o
processo de cobrança tende a simplificar-se e a diminuir custos operacionais.
6.3.2 - Fatores Econômicos
Quando a cobrança é efetuada em carteira, seu custo é representado pelos dispêndios da
empresa com a operação do sistema de pessoal e apoio. Essa forma de cobrança, como
já mencionado, tende ao desaparecimento.
A cobrança bancária tem um custo que é cobrado mediante uma tarifa explícita, ou
retenção da cobrança, ou de parte dela por um dia.
Outra alternativa para os bancos receberem pelo serviço de cobrança bancária é
remunerar a cobrança retida por uma taxa de juros inferior àquela praticada no mercado.
A quantificação do custo da cobrança bancária pode ser feita sem dificuldades quando o
relacionamento com a instituição financeira não inclui outras operações, como captação
ou aplicação de recursos financeiros a taxas diferentes daquelas de mercado.
No caso da cobrança em carteira, o custo operacional também envolve, além do
recebimento dos cheques, sua movimentação e controle.
6.3.3 - Análise e Controle
A eficiência do processo de cobrança é avaliada pelos índices de desempenho,
relacionando valores, prazos e outros dados de contas a receber em atraso. Esses índices
são comparados com metas estabelecidas, ou com padrões predefinidos.
a) Prazo médio de atraso na cobrança
O prazo médio de atraso no recebimento de duplicatas pode ser calculado do seguinte
modo:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 207
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
PMA = (P1 X V1 + P2 x V2 + … + Pn x Vn) / VT
onde:
PMA = prazo médio de atraso
P1 ... Pn = Prazos de atraso.
V1 ... Vn = Valores em atraso
VT = Valor total da cobrança em atraso
Exemplo: Uma empresa tem a seguinte posição de cobrança em atraso:
R$ 30.000,00 a 15 dias
R$ 200.000,00 a 5 dias
R$ 70.000,00 a 30 dias
Como o total de cobrança em atraso é de R$ 300.000,00, seu prazo médio de cobrança
em atraso é:
PMA = (30.000 x 15 + 5 x 200.000 + 30 x 70.000) / 300.000
PMA = 11,8 dias
b) Índice de Incobráveis
Os incobráveis são as vendas realizadas e, após o processo de cobrança, tornaram-se
impossíveis de serem recebidas.
Quanto maior o índice de incobráveis, remete a empresa em reavaliar seu processo de
concessão de crédito.
6.4 – Questões
1. Que condições precisam ser atendidas para que um afrouxamento nos padrões de
concessão de crédito acarrete aumento dos lucros da empresa vendedora?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 208
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
2. As perdas decorrentes de liberação dos padrões de crédito podem ser com pensadas
com o aumento do custo financeiro embutido no preço para pagamento a prazo?
3. As vendas de uma empresa têm a seguinte distribuição: 20% avista, 38% a 30 dias e
42% a 45 dias. Qual é seu prazo médio de cobrança? E seu giro de contas a receber?
4. A margem de contribuição média de uma empresa é de 35% sobre o valor de suas
vendas cujo volume anual é de R$ 720.000,00. Das vendas, 40% são efetuados a vista e
60% para recebimento em 30 dias. Qual o valor de seu investimento em contas a
receber?
5. Uma indústria dispõe de expressiva folga de caixa e, por isso, com o objetivo de
aumentar as vendas, decidiu usá-la para alongar o prazo médio de pagamento concedido
a seus clientes. Qual o parâmetro apropriado para medir o aumento de custo decorrente
dessa decisão?
6. Uma empresa varejista está com um estoque de produtos para venda excessivamente
elevado. Decide aumentar temporariamente o prazo de pagamento concedido a seus
clientes, sem promover nenhum acréscimo no preço. Quais são os custos a serem
afetados por essa decisão e como eles se comportarão?
7. A margem média de contribuição de uma empresa é de 28% sobre as vendas. Que
efeito acarretará sobre seu resultado um aumento de 6% em suas vendas?
8. Que opção teria uma empresa para não estabelecer um valor mínimo de crédito e
compensar as perdas acarretadas por um custo de processamento maior do que o lucro
da operação de venda a crédito com valor reduzido?
9. Assinale as afirmações corretas:
São elementos de uma política de crédito:
(a) Desconto por antecipação de pagamento.
(b) Análise dos demonstrativos contábeis.
(c) Cruzamento de informações comerciais.
(d) Fixação de limite de crédito por cliente.
10. O desconto concedido por antecipação de pagamento pode ter sua taxa de j ros
fixada num valor igual à taxa média de aplicação financeira sem risco. Por que essa
prática pode não ser atrativa para o cliente?
11. A análise das demonstrações contábeis de uma empresa mostrou alto índice de
rentabilidade do capital próprio e de grau de endividamento ao lado de baixo índice de
liquidez. Uma explicação para essa configuração de índices poderia ser a eficiência na
utilização de capital de terceiros?
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 209
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
12. "O sucesso da análise de crédito exige de quem a elabora um bom conheci mentoda
macroeconomia do país e a capacidade de formular previsões econômicas acertadas."
Está correta essa afirmação?
13. "Uma decisão de crédito baseada num modelo estatístico de análise financeira pode
revelar-se inapropriada. Isso acontece porque esses modelos não conseguem eliminar a
incerteza subjacente às decisões de crédito." Essa afirmação é correta?
14. Qual a principal vantagem do sistema de pontuação de crédito em relação ao método
tradicional de avaliação de crédito baseado exclusivamente no histórico de pagamentos
do proponente?
15. Qual a principal desvantagem econômica para a empresa compradora apresentar a
fiança bancária como garantia de crédito para seu fornecedor?
6.5 – Exercícios
Decisão sobre ampliação de crédito comercial
A empresa ACR é uma indústria de confecções femininas populares, com atuação
nacional. Sua produção é vendida em lojas e pequenos magazines.
AACR tem um patrimônio líquido de R$ 1,1 milhão, vendas anuais de R$ 2,4 milhões,
margem de contribuição de 12% e lucro líquido de 7% sobre as vendas.
Sua administração estabeleceu que a taxa de atratividade da empresa, a ser usada na
avaliação econômica das decisões, é de 15% ao ano.
Aproveitando um movimento do mercado, a ACR adquiriu um grande estoque de
matéria-prima da China, a qual, devida a sua capacidade de produção, transformou
rapidamente em produtos acabados. Assim, resolveu implementar uma nova política de
concessão de crédito, a fim de diminuir seus estoques.
A equipe financeira irá passar os prazos médios de recebimentos de 30 para 60 dias.
Esta mudança dos prazos, tende a fazer com que a perda com incobráveis passe de 3%
para 5%.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 210
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Determine quais efeitos financeiros que podem tal mudança de política fazer à empresa?
Você aconselharia esta mudança? Por que?
6.6 – Bibliografia Recomendada
ASSAF NETO, A. Administração do Capital de Giro. São Paulo: Atlas, 2004.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997.
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração financeira, São
Paulo: Atlas, 1995.
SANTOS, EDNO O. Administração Financeira de Pequenas Empresas. São Paulo.
Atlas. 2003
SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira, São Paulo: Atlas, 1997.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 211
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Capítulo 07 – Análise de Investimentos
Conteúdo do Capítulo
7.1 – Modalidades de Investimento
7.2 – Tipos de Investimento
7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes
7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento
7.5 – Exercícios
7.6 – Bibliografia Recomendada
7.1 - Modalidades de Investimento
Os investimentos podem ser classificados em função da sua modalidade. Eis as
principais:
a)Reposição ou Atualização Tecnológica de Equipamentos — Investimentos que visam
substituir ativos já desgastados ou com eficiência operacional baixa, devido à sua
obsolescência. Em alguns setores, como o de telecomunicações e o de informática, o
ritmo de inovação tecnológica é intenso. Por motivos competitivos, as empresas destes
setores estão sempre operando com equipamentos de ponta, sob pena de perder
participação no mercado. A substituição de uma mesa de comunicação analógica por
outra digital, por exemplo, representa um investimento de atualização tecnológica.
b) Expansão da Capacidade — Investimentos que ampliam a capacidade da corporação
em oferecer mais produtos ou serviços. Uma empresa que produz determinada
quantidade de ferro gusa no ano, ao instalar novo alto-forno para funcionar em conjunto
com os antigos está ampliando sua capacidade de produção. A expansão da capacidade
deve levar em conta o estado da arte. Portanto, é considerada freqüentemente dentro do
escopo da atualização tecnológica.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 212
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
c) Diferenciação de Produto ou Processo — Alguns investimentos são feitos, com o
objetivo de fazer o produto ou serviço da empresa com diferenciação em relação
àqueles produzidos pelos concorrentes. Outros são feitos para tornar o processo de
produção mais moderno e com menores custos operacionais. A indústria automobilística
fez recentemente forte investimento em sistemas de frenagem dos automóveis, visando
tornar os veículos mais seguros.
d) Diversificação de Carteira de Produto — Uma organização pode imple mentar
investimento para ampliar a quantidade de tipos de produto ou ser viço no seu portfólio.
Uma escola que usualmente possui faculdades de ensino de graduação está
diversificando carteira se implementa investimentos que viabilizem a oferta de novos
cursos de pós-graduação.
e) Diversificação de Atividades — Alguns investimentos são feitos por corporações
visando ampliar seu domínio operacional. Uma empresa pode sair do seu core business
atual e diversificar suas atividades. Ela pode implementar uma integração vertical,
investindo na atividade dos seus fornecedores ou dos seus clientes; ou pode fazer uma
diversificação de conglomerado, aplicando capital em atividade que não possui relação
operacional com o seu core business. Uma empresa mineradora de ferro está
promovendo uma integração vertical se compra uma corporação fabricante de ferro
gusa. Uma instituição financeira está fazendo um investimento de conglomerado se
compra uma empresa de informática.
Os investimentos podem se dar pela compra de ativos ou pela aquisição de títulos
representativos desses ativos. Ao comprarmos uma ação, estamos comprando parte dos
fluxos de caixa futuros que serão gerados pelos ativos da empresa emissora dessas
ações.
7.2 – Tipos de Investimentos
Existem basicamente três tipos de investimento. São eles:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 213
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
a) investimentos recorrentes;
b) investimentos estratégicos;
c) investimentos por solicitação.
Os investimentos recorrentes são aqueles em que a tecnologia envolvida e o
comportamento do mercado já são conhecidos. A estrutura de custos e as projeções de
receitas são conhecidas e podem ser estimadas com segurança.
Os investimentos estratégicos são típicos de mercados emergentes ou daqueles em que
suas empresas não possuem experiência. Geralmente a tecnologia utilizada é nova ou a
empresa não a domina. Em vista disso, os componentes dos fluxos de caixa futuros são
difíceis de ser estimados e seu valor possui maior volatilidade.
Os investimentos por solicitação são aqueles que devem ser feitos independentemente
dos valores estimados de fluxos de caixa. Estes fluxos muitas vezes são virtualmente
impossíveis de ser estimados, uma vez que os beneficios provenientes desses
investimentos não são quantificáveis. Uma substituição dos carpetes de um escritório ou
a instalação de aparelhos de ar-condicionado em uma empresa são investimentos desse
tipo. Seus beneficios se traduzem na melhoria da qualidade de vida no trabalho.
7.3 - Metodologias de escolha de projetos excludentes
Emgeral, existe mais de uma maneira de se implementar determinado investimento.
Uma aplicação de capital em linha de transmissão pode ser feita através de torres de
estrutura metálica, torres de concreto ou, até mesmo, de cabos isolados subterrâneos.
Um portal de Internet pode conter várias opções de acesso e fornecer os mais diferentes
serviços ao usuário. Um centro cirúrgico pode utilizar tecnologia a laser ou tecnologia
tradicional. Uma empresa pode optar por instalar equipamentos de informática de
maneira descentralizada e em rede, ou montar um pool centralizado de equipamentos.
Essas alternativas excludentes, em geral, se estabelecem dadas a multiplicidade de
tecnologias disponíveis, a variedade de fornecedores e a criatividade dos decisores.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 214
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Nosso objetivo imediato é estudar as metodologias de seleção de projetos excludentes.
Dentre as alternativas de investimento disponíveis, devemos escolher aquela mais
adequada em termos econômico-financeiros.
Vamos apresentar as seguintes metodologias de avaliação de projetos excludentes:
- Tempo de Retorno do Investimento (pay back);
- Valor presente líquido (VPL);
- Taxa interna de retorno (TIR);
- Taxa interna de retorno modificada (TIRM)
7.3.1 – Pay Back
O método do payback mede o tempo necessário para se ter de volta o capital investido,
sem considerar-se a mudança de valor do dinheiro no tempo (efeito do custo de capital).
Seu valor fornece indicativo do risco do investimento. Quanto maior é o payback de um
investimento mais tempo deverá ser necessário para se obter o capital investido de volta
e, portanto, maior é seu risco. Por outro lado, projetos de payback pequenos são menos
arriscados, uma vez que se projeta um período menor de recuperação do capital
investido.
No entanto, logo de início, deve-se chamar a atenção que pelo fato de não se levar em
consideração do valor do dinheiro no tempo, não pode ser o processo de decisão único,
e deve ser precedido de outros métodos de tomada de decisão.
Por exemplo, suponha uma situação utópica em que não exista taxa de juros. Calcule o
payback do projeto que se segue:
Ano 0 1 2 3
Fluxo de Caixa -200 100 100 100
O payback simples é calculado construindo-se a coluna de saldo do projeto.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 215
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Ano 0 1 2 3
Fluxo de Caixa -200 100 100 100
Saldo do projeto -200 -100 0 100
No ano 2 o capital investido de 200 foi totalmente recuperado. O pay back desse
projeto, considerando-se ausência de taxa de desconto, é de 2 anos.
Nota-se que o critério do payback despreza todos os fluxos de caixa que ocorrem após o
período de recuperação do capital investido.
Considere a ausência de taxa de desconto e calcule o payback dos dois projetos
mostrados a seguir:
Ano 0 1 2 3
FC – Projeto A -200 100 100 100
FC – Projeto B -200 100 100 200
Construindo as colunas de saldo para ambos os projetos, temos:
Ano 0 1 2 3
FC – Projeto A -200 100 100 100
Saldo Projeto A -200 -100 0 100
FC – Projeto B -200 100 100 200
Saldo – Projeto B -200 -100 0 200
Ambos os projetos possuem payback de 2 anos, apesar de sabermos que o segundo
cronograma é menos arriscado e melhor em termos de apuração de fluxo de caixa
futuro. Deve-se tomar muito cuidado com o critério do payback, quando estivermos
comparando projetos mutuamente excludentes.
Relembra-se que dois projetos são mutuamente excludentes quando a decisão de
implementar um deles implica a decisão de não aceitar o outro.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 216
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Num outro exemplo, consideremos o seguinte fluxo de caixa de um projeto:
Ano 0 1 2 3 4 5
Fluxo de Caixa -450 120 120 120 120 120
Criando-se agora a linha de saldos do projeto temos:
Ano 0 1 2 3 4 5
Fluxo de Caixa -450 120 120 120 120 120
Saldo -450 -330 -210 -90 30 150
Percebe-se que o saldo do projeto zera num momento entre o ano 3 e o ano 4. Para se
determinar em qual mês entre os anos 3 e 4, tem-se que fazer uma pequena regra de 3,
da seguinte forma:
Ano 3 – saldo de -90
Ano 4 – Entrada de 120, ou seja, 120 em 12 meses. Assim:
120 está para 12, assim como 90 está para x.
120 - 12
90 - X
120X = 12 x 90
X = 9 meses.
7.3.2 – Valor Presente Líquido - VPL
O critério do valor presente líquido (VPL) fornece indicação a respeito do potencial de
criação de valor de um investimento. Se o valor presente líqui do for maior do que zero,
significa que o investimento deve fornecer um valor adicional ao investidor, após
devolver o capital empregado e remunerar todos os agentes financiadores do
investimento (o próprio investidor e os credores). Em suma, VPL maior do que zero
significa valor extra para o in vestidor. Nesse sentido, o projeto deve ser aceito.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 217
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Se o VPL for menor do que zero, significa que o investidor deverá perder valor com o
investimento. Uma empresa que decide implementar um projeto de VPL menor do que
zero está reduzindo seu valor de mercado na mesma proporção.
Se VPL > 0 = Aceita projeto.
Se VPL < 0 = Rejeita projeto.
O VPL compreende a soma de uma série de fluxos de caixa, desde a data zero até a data
final da série. Os fluxos de caixa são todos referidos à data zero, já que não se pode
somar valores que serão auferidos em datas diferentes.
Dessa maneira o VPL obedece ao princípio da aditividade, que significa a possibilidade
de somar valores levados a uma mesma data.
Os acionistas de uma empresa estão interessados em um investimento no setor de
siderurgia, cujos fluxos de caixa esperados são os seguintes:
Ano Fluxo de Caixa Valores Descontados
0 -150
1 40
2 40
3 40
4 30
5 30
6 30
7 30
8 20
9 20
10 50
A taxa de desconto dos fluxos de caixa é de 10% ao ano.
O VPL desse projeto é calculado da seguinte maneira:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 218
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Realiza-se o desconto do fluxo de caixa, levando-se em conta a taxa de desconto
considerada, ou taxa mínima de atratividade, e o número de períodos (anos)a ser
descontado.
Por exemplo, para o ano 1, temos um período, portanto, utilizando-se a calculadora hp
12, seguiremos os seguintes passos:
40 [FV]
10 [i]
1 [n]
[PV] 36
Ou seja, descontando-se o fluxo de caixa do ano 1 (40), pela taxa de 10% AA, pelo
período de 1 ano, teremos o valor presente deste fluxo em 36.
Como o próprio nome do projeto diz, estamos trazendo para o momento presente todos
os fluxos de caixa, a fim de sabermos se o somatório destes fluxos será positivo
9agregará valor à empresa), ou negativo (tirará valor da empresa).
Seguindo-se este raciocínio para os outros anos, chegaremos aos seguintes resultados,
conforme a tabela a seguir:
Ano Fluxo de Caixa Valores Descontados
0 -150
1 40 36
2 40 32,4
3 40 30,05
4 30 20,49
5 30 18,63
6 30 16,93
7 30 15,39
8 20 9,36
9 20 8,48
10 50 19,28
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 219
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Fazendo-se o somatório da coluna dos saldos descontados, chegamos ao valor presente
líquido de R$ 58,01.
Ou seja, esse projeto deverá gerar $58,01 de valor extra para os acionistas. Portanto,
deve ser aceito.
Percebe-se, no entanto, que calcular-se 10 fluxos de caixa com base no expediente supra
citado para a calculadora hp 12 é bastante trabalhoso. Esta calculadora já tem um
algorítimo para calcular-se VPL’s, o qual facilita muito a nossa vida. Para tanto, segue-
se os seguintes passos:
150 [CHS] [G] [CF0]
40 [G] [CFJ]
40 [G] [CFJ]
40 [G] [CFJ]
30 [G] [CFJ]
30 [G] [CFJ]
30 [G] [CFJ]
30 [G] [CFJ]
20 [G] [CFJ]
20 [G] [CFJ]
50 [G] [CFJ]
10 [i]
[F] [nPV] 58,01
Desta forma, ganhamos em tempo e diminuímos exponencialmente a possibilidade de
um erro por uma digitação equivocada.
O Valor Presente Líquido de um projeto é bastante sensível a variações na taxa de
desconto. Quanto maior for essa taxa, menos valem os fluxos de caixa do projeto, e
menor é o VPL resultante.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 220
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
A taxa de desconto dos fluxos de caixa é freqüentemente chamada de taxa mínima de
atratividade. Ela representa o retorno esperado pelos financiadores do projeto. Daí a
necessidade de se descontar os fluxos a essa taxa.
Exemplo: VPL e Taxa de Desconto
Calcular o VPL da série de fluxos de caixa do exemplo anterior, considerando taxas de
desconto de 6%, 8%, 10%, 12%, 14% e 16% ao ano.
6% $96,51
8% $75,93
10% $58,01
12% $42,32
14% $28,51
16% $16,31
Quanto maior é o custo de um projeto, menor é a sua probabilidade de aceitação.
Vejamos agora o exemplo de dois projetos excludentes, ou seja, aprova A ou B.Seria a
compra de um equipamento a fim de aumentar a produção da empresa, com mesmo
grau de tecnologia, só que de fabricantes diferentes, e portanto, com produtividade,
qualidade, durabilidade e custo de manutenção diferentes. A Taxa Mínima de
Atratividade (TMA) de nossa emrpesa é de 12%. Vamos calcular o VPL destes dois
projetos.
Ano Fluxos de Caixa
Projeto A
Fluxos de Caixa
Projeto B
0 -500 -500
1 100 90
2 100 90
3 100 90
4 80 90
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 221
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
5 80 90
6 80 90
7 60 90
8 60 90
9 60 90
10 200 200
VPL A = $14,35
VPL B = $43,94
Ouseja, devemos aprovar o projeto B, uma vez que ele agregará maior valor à nossa
emrpesa.
OBSERVAÇÃO: Deve-se tomar muito cuidado na análise de projetos excludentes,
onde o capital inicial investido é diferente, e o tempo de conclusão do projeto também é
diferente.
7.3.3 – Taxa Interna de Retorno - TIR
Agora, suponha uma série de fluxos de caixa, conforme mostrada na tabela que se
segue;
Anos Fluxos de Caixa
0 -15
1 4
2 4
3 4
4 3
5 3
Calculando o VPL desse projeto, supondo as seguintes taxas de desconto, teremos:
4,5% ao ano.
5,5% ao ano.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 222
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
6,8% ao ano.
7,7% ao ano.
9,8% ao ano.
Taxa de Desconto VPL
4,5% $0,92
5,5% $0,51
6,8% $0,00
7,7% ($0,34)
9,8% ($1,07)
Note que a taxa de desconto de 6,8% ao ano fez com que o VPL fosse igual a zero. Para
valores de taxa de desconto abaixo desse valor, este projeto deve ser aceito, pois ele é
criador de valor (VPL > 0). Com taxas de desconto acima de 6,8% ao ano, esse projeto
torna-se inviável, pois destrói valor dos investidores (VPL < 0).
Assim, a Taxa Interna de Retorno (TIR) faz com que o VPL de um projeto seja igual a
zero. Representa o ponto de reversão da decisão de investir. Projetos com taxas de
desconto (taxa mínima de atratividade) superiores à TIR devem ser rejeitados. Projetos
cujos valores de taxa de desconto são inferiores aos seus valores de TIR devem ser
aceitos.
Se TIR> TMA = Aceita projeto.
Se TIR < TMA = Rejeita projeto.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) do exemplo anterior é 6,8%.
A apuração da Taxa Interna de Retorno é feita de maneira iterativa ou por métodos de
interpolação. As planilhas eletrônicas e as calculadoras financeiras possuem funções
pré-programadas, capazes de fazer tais iterações.
Assim, na hp 12, o procedimento para encontrarmos a TIR deve ser o que se segue:
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 223
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
15 [CHS] [ G] [CF0]
4 [G] [CFJ]
4 [G] [CFJ]
4 [G] [CFJ]
3 [G] [CFJ]
3 [G] [CFJ]
[F] IRR 6,80
Para encontrarmos a TIR de um projeto, podemos numa mesma operação com a hp 12,
por exemplo, calcularmos o VPL e, sem apagar-se os dados, pedirmos a TIR com o
comando [F] [IRR].
Agora encontraremos a Taxa Interna de Retorno da seguinte série de fluxos de caixa:
Anos Fluxos de Caixa
0 -20
1 8
2 8
3 4
4 4
5 4
A Taxa Interna de Retorno (TIR) desse projeto é 14,78%.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 224
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Supondo que um projeto possua uma TIR igual a 14,78% e que sua taxa mínima de
atratividade seja de 16% ao ano, decida sobre a aceitação ou não desse projeto.
O processo de decisão de um projeto de investimento com base na TIR se baseia no
seguinte critério:
Se TIR > TMA = Aceita projeto.
Se TIR < TMA = Rejeita projeto.
Como a TIR = 14,78% e a TMA = 16%, o projeto deve ser rejeitado, pois deverá
produzir VPL menor do que zero.
Agora veremos dois projetos Excludentes:
Anos
Fluxos de Caixa
Projeto A
Fluxos de Caixa
Projeto B
0 -20 -20
1 8 6
2 8 6
3 4 6
4 4 6
5 4 6
Tir A = 14,78%
Tir B = 15,24%
No caso de projetos mutuamente excludentes, onde devemos escolher por apenas um
deles, e o método da TIR for o empregado para a decisão, deve-se escolher pela maior
TIR%, pois ela nos dará maior possibilidades de ganhos e maior margem de manobra.
Assim, neste exemplo, devemos escolhero projeto B.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 225
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
OBSERVAÇÃO: Assim como no método do VPL, quando temos projetos excludentes
com investimentos iniciais diferentes e, também, prazos de etornos diferentes, devemos
examinar a situação com maior cuidado.
7.3.4 – Taxa Interna de Retorno Modificada - TIRM
Existem projetos cujos cronogramas de fluxo de caixa não são tradicionais.
Suponhamos um projeto hipotético em uma mina de ouro. No ano inicial (ano 0) deverá
haver desembolso de $1,6 para construção da mina. No ano seguinte (ano 1), a mina
deverá gerar um fluxo de caixa de $10, provenientes da extração. No ano 2, deverá ser
gasto um total de $10 para restaurar o terreno.
Ano Fluxo de Caixa
0 -1,6
1 10
2 -10
Vamos supor que a taxa de desconto do projeto é de 28% ao ano, assim O valor da TIR
encontrado deve ser confrontado com essa taxa de desconto, de maneira a obtermos o
veredicto.
Se TIR > TMA = Aceita projeto.
Se TIR < TMA = Rejeita projeto.
Usando-se os passos já descritos na hp 12, teremos:
1,6 [CHS] [g] [CF0]
10 [G] [CFJ]
10 [CHS] [CFJ]
[F] [IRR] 25,00
Infelizmente, esta equação possui duas soluções. Se utilizássemos o método TIR como
processo de decisão “aceita-rejeita”, estaríamos em dificuldade. É possível encontrar
dois valores de TIR, são eles: 25% e 400%. Ambas as taxas fazem com que o VPL do
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 226
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
projeto seja nulo. O mais grave é que uma das taxas é menor do que a taxa de desconto
apropriada (25% < 28%), sugerindo a rejeição do projeto; outra é maior do que a taxa de
desconto sugerindo sua aceitação (400%> 28%). Quando isso ocorre, devemos
abandonar o método TIR. Observe que no método VPL isso nunca ocorre, já que este
não é a raiz da equação, mas apenas um valor obtido, supondo determinada taxa de
desconto apropriada. No caso deste projeto, seu VPL( é igual a $0,11. Este valor, apesar
de muito pequeno, nos orienta para a aceitação do projeto.
Quando surge este dilema de TIR múltiplas? Sempre que houver trocas de sinal entre os
fluxos de caixa. No exemplo acima, houve duas trocas de sinal: de um valor negativo no
ano O para um valor positivo no ano 1; e de um número positivo em 2 para um número
negativo em 3.
A equação da TIR terá tantas raízes (TIR) quantas forem as trocas de si nal. No caso
acima temos duas trocas de sinal. Portanto, temos dois valores de TIR (25% e 400%).
Para resolvermos este problema típico de quando há mudança de sinal no meio do fluxo
de caixa, devemos levar todas as parcelas negativas para o momento 0. Assim teremos:
Ano Fluxo de Caixa
0 -1,6 – 6,10 = -7,70
1 10
2 0
Levamos o fluxo de caixa do ano 2 para o ano 0, e ficamos o fluxo acima representado.
Utilizando os passos na hp 12 para encontrarmos a TIR teremos:
7,70 [CHS] [G] [CF0]
10 [G] [CFJ]
0 [G] [CFJ]
[F] [IRR] 31,58
Achamos desta forma a chamada TIR Modificada, ou TIRM, pois tivemos que adequar
o fluxo de caixa para que a calculadora tenha que achar raízes múltiplas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 227
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
O critério aceita-rejeita do método TIRM é o mesmo do método TIR. Basta comparar o
valor da TIRM com o custo de capital.
Se TIRM > TMA = Aceita projeto.
Se TIRM < TMA = Rejeita projeto.
Exemplo:
O projeto do exemplo anterior deve ser selecionado ou excluído?
TIRM = 31,58% ao ano.
TMA(TMA) = 28% ao ano.
Como a TIRM é maior do que a TMA , o projeto deve ser aceito.
7.4 – Análise dos métodos de Avaliação de Investimento
A questão agora é a seguinte: Se podemos calcular o Payback, o VPL, a TIR, ou TIRM,
por qual devemos optar a fim de apoiarmos nossa decisão?
A resposta é simples. Os critérios, dentro da prioridade a darmos a eles são os
Seguintes:
1 – VPL
2 – TIR, ou TIRM, quando for o caso
3 – Payback
Devemos portanto sempre optar pelo VPL. Se o VPL dos projetos for muito parecido,
poderemos ter como critério de desempate a TIr, e quando esta for muito parecida,
poderemos usar o Payback.
7.5 – Exercícios
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 228
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
1) O Sr é o Diretor Financeiro de uma fábrica de calçados de segurança.O conselho
executivo decidiu fazer um investimento a fim de maximizar os ganhos da empresa, e o
Sr terá que decidir entre expandir a linha de calçados de segurança, que passaremos a
chamar de opção A, ou criar uma linha de calçados esportivos, que passaremos a
chamar de opção B.
Tendo em vista a lucratividade da empresa, inflação e risco do investimento, o Sr
calculou a taxa mínima de atratividade (TMA) em 14,5%. Sua equipe já projetou os
fluxos de caixa descontados, para os próximos 5 anos, os quais encontram-se no quadro
a seguir:
Opção /
Ano
0 1 2 3 4 5
A -7800 3000 3000 2500 2500 2000
B -12400 5000 -1000 6000 6000 5000
a) Apresentando seus cálculos, segundo o método do Pay Back, qual dos dois
projetos é mais vantajoso?
b) Apresentando os passos seguidos na calculadora financeira, segundo o método
do VPL, qual o projeto mais vantajoso?
c) Demonstrando apenas os passos a mais que o pedido anterior, calcule a TIR, ou
TIR modificada se for o caso, e apresente o projeto mais vantajoso, segundo este
método.
d) De posse de todos dados dos itens a, b e c, tome sua decisão por qual projeto
adotar, explicando o porquê da sua decisão. Use o verso da folha se precisar.
2) Você é o diretor financeiro de uma grande empreiteira, a qual deve decidir-se entre
dois projetos mutuamente excludentes, uma rodovia totalmente privada, ou a construção
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 229
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
de um porto com exploração nos lucros.Os fluxos de caixa a seguir demonstram a
espectativa de retorno dos investimentos.
Ano/invest 0 1 2 3 4 5 6
Rodovia -200 100 80 75 50 45 130
Porto -200 65 -10 100 130 140 150
Para sua empreiteira, em todos os estudos de análise, é usado o custo de oportunidade,
ou taxa mínima de atratividade (TMA), de 22,5% ao ano.
Determine o Valor presente líquido (VPL) dos dois projetos, e justifique sua decisão
segundo este processo de análise. Demonstre todos os passos seguidos na hp 12c.
a)
b) Determine a taxa interna de retorno (TIR), ou taxa interna de retorno modificada
(TIRM), se for o caso, dos projetos em questão, justificando a decisão de escolha do
projeto, segundo este método de análise. Demonstre todos os passos seguidos na
calculadora hp 12c.
c)Determine o Pay Back de ambos os projetos, justificando a sua escolha deste projeto,
segundo o método desta análise.
d)De posse dos resultados das questões 1, 2 e 3, decida com qual método você apoiaria
sua escolha final de projeto. Justifique sua resposta.
3) Você é o analista financeiro de uma consultoria independente, a qual foi contratada a
fim de emitir um parecer sobre dois projetos de investimento de uma mesma empresa. O
Projeto A relaciona-se com a ampliação da base fabril desta empresa, e o projeto B
relaciona-se com a abertura de um novo negócio, em um setor totalmente diferente, com
a finalidade de diversificação. O quadro a seguir apresenta os fluxos de caixas futuros
esperados para os projetos.
Ano/invest 0 1 2 3 4 5 6
A -800 430 380 350 200 185 450
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 230
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
B -800 330 -40 450 500 550 600
Para ambos os projetos, em todos os estudos de análise, é usado o custo de
oportunidade, ou taxa mínima de atratividade (TMA), de 22,5% ao ano.
a)Determine o Valor presente líquido (VPL) dos dois projetos, e justifique sua decisão
segundo este processo de análise. Demonstre todos os passos seguidos na hp 12c.
b)Determine a taxa interna de retorno (TIR), ou taxa interna de retorno modificada
(TIRM), se for o caso, dos projetos em questão, justificando a decisão de escolha do
projeto, segundo este método de análise. Demonstre todos os passos seguidos na
calculadora hp 12c.
c) Determine o Pay Back de ambos os projetos, justificando a sua escolha, segundo o
método desta análise.
d)De posse dos resultados das questões 1, 2 e 3, decida com qual método você apoiaria
sua escolha final de projeto. Justifique sua resposta.
7.6 – Bibliografia Recomendada
BRASIL, H. G. Análise Moderna de Investimentos. Rio de Janeiro: Qualitmark, 2002
DAMODARAN, G. Finanças Corporativas. São Paulo: Atlas, 2006
LEME JR., A. B. Introdução àAdministração Financeira. Rio de Janeiro : Editora
Campus, 2005.
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JAFFE, J. Administração financeira
— Corporate Finance. São Paulo: Atlas, 2005.
ROSS, Stephen A., WESTERFIELD, Randolph e JORDAN, Bradford D. Princípios de
administração financeira — essentials of corporate finance. São Paulo: Atlas, 1998
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 231
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Anexo I – Ementário
FACULDADE DE SABARÁMANTENEDORA: SOCIEDADE EDUCACIONAl E CULTURAL DE SABARÁ
Ementário
DEPARTAMENTO: Administração
CURSO: Administração PERÍODO: 7o
DISCIPLINA: Administração Financeira
CARGA HORÁRIA
TOTAL SEMANAL: 04
72 TEÓRICA: 36 PRÁTICA: 36
Professor: Rogério Alberto Del Rio Hamacek
EMENTA:1 Objetivos e metodologia de função financeira. Análise das demonstrações financeiras. Índices financeiros.
Fluxos de Caixa. Decisões de capital de giro. Custo de Capital. Planejamento Financeiro: estratégico e tático. Variáveis da estratégia financeira. Caracterização das escolhas financeiras. Conceito e estimativa do custo de capital.
OBJETIVOS:2. Propiciar aos alunos informações básicas sobre Administração Financeira, abordando as variáveis internas
e externas que influenciam o fluxo de fundos, o risco e a.expectativa de retorno de capital nas empresas, com o objetivo de transferir conhecimentos.para a formulação de políticas e estratégias empresariais.
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS:
2. O curso será desenvolvido principalmente através de exposição de conceitos por meio de uso de retroprojetor e quadro, exercícios de aplicação em sala, além de “casos” em aula envolvendo o uso de calculadora financeira, tabelas financeiras e demonstração de software específico dentro do cronograma previsto.
ESTRUTURAS DE APOIO/RECURSOS DIDÁTICO:2. Aulas expositivas;3. Transparências;3. Estudos de Casos;3. Exercícios;3. Pesquisas em jornais/revistas/internet.
AVALIAÇÃO – ESTRATÉGIAS:4. Avaliações regulares;5. Solução de estudos de casos (carga reduzida de créditos);6. Avaliações oficiais (carga elevada de créditos).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:GUITMAN, Lawrense J. Princípios de Administração Financeira. Ed. Harbra.ROSS, Stephen A. Princípios de Administração Financeira. Ed. Atlas.SANVICENTE, Antônio Zoratto. Administração Financeira. Ed. Atlas.HOJI, Masakazu. Administração Financeira. “Uma Abordagem Prática” Ed. Atlas.STICKENEY & WEIL. Contabilidade Financeira. Uma introdução aos conceitos, métodos e usos. Ed. Atlas.LEITE, Hélio de Paulo. Introdução a Administração Financeira. Ed. Atlas.ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. Ed. Atlas.MEHTA, D. R. Administração de Capital de Giro. Ed. Atlas.
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 232
Capítulo 01 – Análise das Demonstrações Financeiras
Administração Financeira – Prof Rogério A Del Rio Hamacek 233