Apostila de artes 11 dez 09

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Apostila de Artes Professor Kleber Góes Candido Portinari nasce numa fazenda de café, em Brodowski, São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1903. Seus pais foram os imigrantes italianos Batista Portinari e Domênica Torquato, que tiveram 12 filhos. Em 1909, o menino começa a desenhar. No ano de 1912, participa, durante vários meses, dos trabalhos de restauração da Igreja de Brodowski, ajudando os pintores italianos a "Dipingere Le Stelle". Mais tarde, auxilia um escultor frentista. A partir de uma carteira de cigarros, Portinari faz a lápis um retrato do músico Carlos Gomes em 1914. A família guarda o desenho. Viaja para o Rio de Janeiro em 1918. Tem aulas de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, na qual estuda desenho e pintura. Seus professores foram Amoedo, Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Carlos Chambeland. Realiza-se em 1922 na cidade de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, porém Portinari não participa. Expõe, pela primeira vez, no Salão da Escola de Belas Artes. No ano de 1923, Portinari manda para o Salão da Escola de Belas Artes o retrato do escultor Paulo Mazzucchelli, ganhando três prêmios, entre eles a medalha de bronze do Salão. Participa do Salão Nacional de Belas Artes de 1924 com o quadro Baile na Roça obra com temática brasileira, mas é recusado pelo júri. Obtém a pequena medalha de prata no Salão de 1925, no qual expõe dois retratos, e recebe a grande medalha de prata no de 1927. Com o retrato do poeta “Olegário Mariano”, ganha o prêmio de Viagem ao Estrangeiro de 1928. Antes de viajar em 1929, faz sua primeira exposição individual, com 25 retratos, por iniciativa da Associação dos Artistas Brasileiros. Parte para a Europa. Viaja pela Itália, Inglaterra, Espanha e se fixa em Paris."Comecei a trabalhar, mas no meu quarto, porque não consegui ainda ateliê dentro de minhas posses. Contudo, não estou triste, porque não estou perdendo tempo: pela manhã vou ao Louvre, à tarde faço estudos. Não pretendo fazer quadros por enquanto. Aprendo mais olhando um Ticiano, um Raphael, do que para o Salão de Outono todo". (Carta ao amigo Olegário Mariano) Vai diariamente aos museus, descobre a pintura moderna da Escola de Paris, discute sobre arte nos cafés e não tem quase nenhum tempo para pintar. Conhece Maria Martinelli em 1930, Despejados - 1934 Óleo sobre tela Tam: 60x73cm

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Apostila de Artes Professor Kleber Góes

Candido Portinari nasce numa fazenda de café, em Brodowski, São Paulo, no dia 29 de dezembro de 1903. Seus pais foram os imigrantes italianos Batista Portinari e Domênica Torquato, que tiveram 12 filhos. Em 1909, o menino começa a desenhar.

No ano de 1912, participa, durante vários meses, dos trabalhos de restauração da Igreja de Brodowski, ajudando os pintores italianos a "Dipingere Le Stelle". Mais tarde, auxilia um escultor frentista.

A partir de uma carteira de cigarros, Portinari faz a lápis um retrato do músico Carlos Gomes em 1914. A família guarda o desenho.

Viaja para o Rio de Janeiro em 1918. Tem aulas de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, na qual estuda desenho e pintura. Seus professores foram Amoedo, Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Carlos Chambeland.

Realiza-se em 1922 na cidade de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, porém Portinari não participa. Expõe, pela primeira vez, no Salão da Escola de Belas Artes.

No ano de 1923, Portinari manda para o Salão da Escola de Belas Artes o retrato do escultor Paulo Mazzucchelli, ganhando três prêmios, entre eles a medalha de bronze do Salão.Participa do Salão Nacional de Belas Artes de 1924 com o quadro Baile na Roça obra com temática brasileira, mas é recusado pelo júri.

Obtém a pequena medalha de prata no Salão de 1925, no qual expõe dois retratos, e recebe a grande medalha de prata no de 1927. Com o retrato do poeta “Olegário Mariano”, ganha o prêmio de Viagem ao Estrangeiro de 1928.

Antes de viajar em 1929, faz sua primeira exposição individual, com 25 retratos, por iniciativa da Associação dos Artistas Brasileiros. Parte para a Europa. Viaja pela Itália, Inglaterra, Espanha e se fixa em Paris."Comecei a trabalhar, mas no meu quarto, porque não consegui ainda ateliê dentro de minhas posses. Contudo, não estou triste, porque não estou perdendo tempo: pela manhã vou ao Louvre, à tarde faço estudos. Não pretendo fazer quadros por enquanto. Aprendo mais olhando um Ticiano, um Raphael, do que para o Salão de Outono todo". (Carta ao amigo Olegário Mariano)

Vai diariamente aos museus, descobre a pintura moderna da Escola de Paris, discute sobre arte nos cafés e não tem quase nenhum tempo para pintar. Conhece Maria Martinelli em 1930,

jovem uruguaia de 19 anos, radicada com família em Paris e se casa com ela. Sente saudade de Brodowski e escreve para o Brasil... "Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor. Quando comecei a pintar., senti que devia fazer a minha gente e cheguei a fazer o “Baile na Roça”... A paisagem onde a gente brincou a primeira vez não sai mais da gente, e eu quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra..."

Portinari e Maria regressam ao Rio de Janeiro em 1931 e ele passa a trabalhar num ritmo intenso. Participa da comissão destinada a promover a reforma do Salão Nacional de Belas Artes, no qual os artistas modernos são admitidos pela primeira vez. Portinari é convidado pelo então diretor da Escola Nacional de Belas Artes, o arquiteto Lúcio Costa, a fazer parte da comissão

Despejados - 1934Óleo sobre telaTam: 60x73cm

O M orro - 1936

Óleo sobre telaTam: 73x60c

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organizadora do Salão. Nesse ano, Portinari apresenta 17 obras.

Portinari expõe individualmente no Palace Hotel em 1932, dessa vez exibe obras de temática brasileira - cenas de infância, circo, cirandas. No ano seguinte faz outra Exposição Individual no mesmo local.

No ano de 1934, Portinari pinta “Despejados”, obra de temática social. Intelectuais começam a ver em sua figura o verdadeiro representante plástico do modernismo brasileiro. Tem sua tela “O Mestiço” adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo assim, a primeira instituição pública a incluir uma obra de Portinari em seu acervo.

Em julho de 1935 é contratado para lecionar pintura mural e de cavalete na Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Ao participar da Exposição Internacional do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, junto com pintores de 21 países, recebe a Segunda Menção Honrosa, com a tela "Café". Essa obra é adquirida, antes mesmo da premiação, pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema, para o Museu de Belas Artes.

Portinari pinta o seu primeiro mural em 1936, para o monumento rodoviário da Estrada Rio/São Paulo, medindo 0,96 x 7,68 metros. O Ministro Gustavo Capanema convida-o a trabalhar no edifício que será construído para o Ministério da Educação.

Em 1937, com a intenção de dedicar-se ao estudo para os afrescos do Ministério, Portinari, recebe a colaboração de alguns alunos da Universidade do Distrito Federal. Bianco, jovem pintor italiano recém-chegado ao Brasil, é apresentado a Portinari que o convida para trabalhar no Ministério.

O ano de 1938 é marcado pela execução dos trabalhos do Ministério da Educação. No ano seguinte nasce seu único filho, João Cândido, em janeiro desse ano. Executou três painéis para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque: Jangadas do Nordeste; Cena Gaúcha e Festa de São João. O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque adquire o quadro "O Morro", que René Huyghe, Diretor do Museu do Louvre, aconselhara Portinari a não utilizar. Em novembro, expõe 269 trabalhos no Museu Nacional de Belas Artes. A Universidade do Distrito Federal é fechada.

Portinari participa em 1940 da Exposição de Arte Latino-Americana no Museu Riverside, em Nova Iorque. Expõe com grande sucesso em Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. A University Of Chicago Press publica "Portinari, his life and art", o primeiro livro sobre o artista , com prefácio de Rockwell Kent e Josias Leão. Ilustra "A Mulher Ausente", de Adalgisa Nery.

Em Brodowski, na casa de seus pais, Portinari passa a pintar uma capela para sua avó - "Capela da Nonna", que já não mais podia freqüentar a Igreja. Passa vários meses de 1942 nos Estados Unidos, pintando quatro afrescos para a Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington. Vê o quadro "Guernica", de Pablo Picasso, que o impressionou profundamente. Ilustra o livro infantil "Maria Rosa", de Vera Kelsey.

A pedido de Assis Chateaubriand, pinta uma série de murais para a Rádio Tupi do Rio, inspirados na música popular brasileira. Realiza nova Exposição Individual no Museu Nacional de Belas Artes em 1943. Ilustra "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.

Em 1944, pinta três painéis para a Capela Mayrink, Rio de Janeiro. Acaba de executar um ciclo bíblico, que Assis Chateaubriand compra e leva para a Rádio Tupi de São Paulo, onde a influência da Guernica de Picasso é visível. Trabalha com dois painéis da Série Retirantes. Pinta um mural e azulejos sobre a vida de São Francisco de Assis, para a Capela da Pampulha, em Belo Horizonte - MG.

Portinari perde seu grande amigo Mário de Andrade em 1945. Faz uma "Via Sacra" para a Capela da Pampulha.Filia-se ao Partido Comunista vendo nessa organização, mesmo clandestina, a chance de lutar contra a ditadura, a favor da anistia e de eleições. Nomes de grande prestígio junto à sociedade reúnem-se à esse Partido. Candidato a Deputado Federal por São Paulo, Portinari perde as eleições. O PCB consegue eleger um Senador - Luiz Carlos Prestes e 14 Deputados.

No ano seguinte expõe na Galeria Charpentier, de Paris, seus quadros e desenhos das séries "Os Retirantes" e "Meninos de Brodósqui" . Recebe a

A Primeira Missa no Brasil - 1948

Têmpera sobre tela

Enterro na Rede - 1944

Óleo sobre telaTam: 180x220cm

Retirantes - 1944

Óleo sobre telaTam: 180x220cm

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"Legião de Honra" do Governo Francês.

Candidato a Senador, em São Paulo, pelo Partido Comunista, perde por pequena margem de voto em 1947, colocando em dúvida a lisura do pleito. Viaja para Buenos Aires, onde faz uma Exposição Individual, que volta a apresentar em Montevidéu, no Salão da Comissão Nacional de Belas Artes do Uruguai.

Em 1948, pinta em Montevidéu, à têmpera, o grande painel "A Primeira Missa no Brasil", para o Banco Boavista do Rio de Janeiro. Ilustra "O Alienista" de Machado de Assis. No final do ano, Portinari faz uma retrospectiva no MASP (Museu de Arte de São Paulo), tendo as obras Enterro na Rede, Criança Morta e Retirantes, doadas ao Museu por Assis Chateuabriand.

Entre 1949 e 1950, pinta o Mural "Tiradentes" para o Colégio de Cataguases. Apesar do convite, não consegue participar da Conferência Cultural e Científica para a Paz Mundial, em Nova Iorque, pois tem seu visto de entrada negado. Viaja para a Itália em fevereiro e visita Chiampo, terra natal de seu pai. Expõe seis trabalhos na XXV Bienal de Veneza. Recebe, pelo painel Tiradentes, a Medalha de Ouro da Paz do II Congresso Mundial dos Partidários da Paz, em Varsóvia.

Participa em 1951, com uma sala especial, da 1ª Bienal de São Paulo. A Bienal conta com mais de 2.000 trabalhos de pintura, escultura, arquitetura e gravura de artistas de 19 países. Na Itália é lançada a monografia Portinari, organizada e apresentada por Eugenio Luraghi (ed. Della Mondione, Milão).

No ano de 1952 pinta para o Banco da Bahia, em Salvador, o Mural "A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia". Com ilustrações de Portinari, o semanário “O Cruzeiro”, publica o

romance “Os Cangaceiros” de José Lins do Rego. Pinta um conjunto de obras sacras para a Igreja Matriz da cidade de Batatais - SP, pequena cidade próxima de Brodowski.

É inaugurada, em 1953, a decoração para a Igreja de Batatais. E realizada a Via Sacra para integrar o conjunto das obras. Começa a demonstrar um problema grave de saúde devido à intoxicação com tintas. Expõe no Museu de Arte Moderna do Rio uma mostra com mais de 100 obras. Inicia o trabalho dos enormes painéis "Guerra e Paz" para a sede da ONU, em Nova Iorque.

Participa em 1954 com mais quatorze artistas de quinze países da mostra organizada pelo Comitê de Cooperação Cultural com o estrangeiro em Varsóvia, que tem como tema principal a luta dos povos pela paz. Executa também um painel dedicados aos "Fundadores do Estado de São Paulo" para jornal O Estado de São Paulo. Expõe novamente no Museu de Arte de São Paulo. Participa da III Bienal de São Paulo, com uma sala especial. Com os sintomas da intoxicação cada vez mais presentes, é proibido pelos médicos de pintar por algum tempo. "Estou proibido de viver", reclama.

Em 1955, o Internacional "Fine Arts Council", de Nova Iorque, confere-lhe uma medalha como o pintor do ano. Ilustra o Romance "A Selva", de Ferreira de Castro. Em outubro é inaugurado o painel "O Descobrimento do Brasil", encomenda do Banco Português do Brasil, no Rio.

Viaja à Itália e Israel, em 1956, e faz exposição nos Museus de Tel-Aviv, Haifa e Ein Harod. Os painéis "Guerra e Paz" são apresentados no Teatro Municipal do Rio. Recebe o prêmio "Guggenheim's National Award", da Fundação Guggenheim, de Nova Iorque. O Museu de Arte Moderna do Rio edita o livro "Retrato de Portinari", de Antônio Callado.

A Maison De La Pensée, em Paris, apresenta a exposição individual de Portinari em 1957, com o patrocínio da Embaixada do Brasil, com 136 obras. Expõe no Museu de Munique. Os painéis "Guerra e Paz" são inaugurados na sede da ONU. Recebe a "Hallmark Art Award", de Nova Iorque. Solomon Guggenheim expõe "Mulheres Chorando" um dos grandes estudos preliminares do painel "Guerra". Expõe no Museu de Munique. Os painéis "Guerra e Paz" são inaugurados na sede da ONU. Recebe a "Hallmark Art Award", de Nova Iorque. No final do ano Portinari começa a escrever suas memórias: “Retalhos da minha vida de infância”: "Eram belas as manhãs frias na época da apanha do café e delicioso o canto dos carros de boi transportando as sacas da colheita. Quantas vezes adormecíamos

A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia - 1952

Óleo sobre telaTam: 47X71cm

O Descobrimento do Brasil - 1954

Óleo sobre telaTam: 98x79cm

Seu Baptista

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sobre as sacas. A luz do sol parecia mais forte.

Era somente para nós. Ia pela estrada afora o carro vagaroso, cantando. Dormíamos cheio de felicidades. Sonhávamos sempre, dormindo ou não. Nossa imaginação esvoaçava pelo firmamento. Fantasias forjadas, olhando as nuvens brancas, mais brancas do que a neve. Tudo se movia ao nosso redor como um passe de mágica. Belas eram as seriemas, as saracuras e os tatus. Quando víamos no chão um orifício, sabíamos a que bicho pertencia. Conhecíamos também a maioria das árvores e arbustos, sabíamos a maioria das árvores e arbustos, sabíamos suas serventias para as doenças; as chuvas, o arco-íris, as nuvens, as estrelas, a lua, o vento e o sol eram-nos familiares. O contacto com os elementos moldava nossa imaginação e enchia nosso coração de ternura e esperança."

Expõe em 1958, inaugurando a Galleria Del Libraio, em Bolonha - Itália, os trabalhos com motivos de Israel, os quais mostra a seguir em Lima e Buenos Aires. É convidado de honra, com sala especial, na 1ª Bienal do México. No retorno de uma viagem pela Europa declara que passará a dedicar-se à poesia. É convidado para receber em Bruxelas, a Estrela de Ouro. Seu pai "Seu Baptista", morre no Rio de Janeiro.

No ano seguinte expõe na Galeria Waldenstein, em Nova Iorque e no Museu Nacional de Belas Artes em Buenos Aires. A pedido da Librarie Gallimard, executa doze ilustrações, em cores, para "O Poder e a Glória", romance de Graham Greene. Ilustra também, com trinta gravuras , "O Menino de Engenho", de José Lins do Rego. Pinta o mural "Inconfidência Mineira" para o Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais S/A, do Rio de Janeiro. Na V Bienal de São Paulo, expõe 130 trabalhos.

Após 30 anos de casamento, Portinari separa-se de Maria em 1960, que, assumindo mais que o papel de esposa, ajudava-lhe com os problemas do cotidiano, deixando-o livre para dedicar-se mais tempo ao seu trabalho. Mesmo separados, Maria continua a prestar-lhe assistência. Ainda para a Librarie Gallimard, ilustra os romances "Terre Promisse" e "Rose de September", de André Maurois.

Executa cinco painéis para o Banco de Boston de São Paulo: "Os Bandeirantes", "Fundação de São Paulo", "Colheita de Café", "Transporte do Café" e "Industrialização". Expõe individualmente na Checoslováquia, em São Paulo e na Galeria Bonino, no Rio. É convidado a participar do júri da II Bienal do México. Realiza-se em Moscou, uma mostra de fotografias de várias de suas obras. Nasce sua neta Denise. Feliz com o nascimento de sua neta, declara: "Minha neta me libertará da solidão" (Poemas: cento e vinte e seis, 1960). A partir daí, passa a retratar sua neta em pintura e poesia.

Faz a última viagem à Europa em 1961. Encontra-se com seu filho João Candido em Paris, revê amigos e lugares que há muito lhe emocionavam. Sua saúde mostra-se mais uma vez abalada, devido à doença que o atacara. Juntamente com o amigo Eugenio Luraghi, planeja a exposição para o ano seguinte em Milão. Em julho a galeria Bonino, no Rio de Janeiro, apresenta a última exposição do artista em vida.

Envolvido no trabalho para a exposição de Milão, descuida-se de vez de sua saúde. Morre, no dia 06 de fevereiro de 1962, na Casa de Saúde de São José, no Rio de Janeiro, vítima de intoxicação das tintas que utilizava. Seu corpo é velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.

"Quando o esquife de Portinari saiu do Ministério, na manhã do dia 8, em carreta do Corpo de Bombeiros, dos edifícios envidraçados, do pátio do Palácio da Educação, das bancas de jornais, dos cafés em súbito silêncio diante da Marcha Fúnebre e do Hino Nacional, voltaram-se para o cortejo milhares de caras irmãs das que aparecem nos Morros, nos Músicos nos Retirantes de Portinari. Milhares de anônimas criaturas suas disseram adeus ao pintor, miraram uma última vez o claro e sutil feiticeiro que para sempre se aprisionou em losangos de luz e feixes de cor. Como se no espelho apagado da vida do artista ardesse num último lampejo tudo aquilo que refletira durante a vida". (Antônio Callado)

Informações retiradas do siteWWW.CASADEPORTINARI.COM.BR

Auto-Retrato

Mestiço

Óleo sobre telaTam: 81x61cm

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Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886 na Fazenda São Bernardo, município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha de José Estanislau do Amaral e Lydia Dias de Aguiar do Amaral. Era neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em razão da imensa fortuna que acumulou abrindo fazendas no interior de São Paulo. Seu pai herdou apreciável fortuna e diversas fazendas nas quais Tarsila passou a infância e adolescência.

Estuda em São Paulo no Colégio Sion e completa seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pinta seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos. Casa-se em 1906 com André Teixeira Pinto com quem teve sua única filha, Dulce. Separa-se dele e começa a estudar escultura em 1916 com Zadig e Mantovani em São Paulo. Posteriormente estuda desenho e pintura com Pedro Alexandrino. Em 1920 embarca para a Europa objetivando ingressar na Académie Julian em Paris. Frequenta também o ateliê de Émile Renard. Em 1922 tem uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses. Nesse

Auto-retrato - 1924óleo/papel-tela 38 X 32,5cm,

mesmo ano regressa ao Brasil e se integra com os intelectuais do grupo modernista. Faz parte do “grupo dos cinco” juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Nessa época começa seu namoro com o escritor Oswald de Andrade. Embora não tenha sido participante da “Semana de 22” integra-se ao Modernismo que surgia no Brasil, visto que na Europa estava fazendo estudos acadêmicos.

Volta à Europa em 1923 e tem contato com os modernistas que lá se encontravam: intelectuais, pintores, músicos e poetas. Estuda com Albert Gleizes e Fernand Léger, grandes mestres cubistas. Mantém estreita amizade com Blaise Cendrars, poeta franco-suiço que visita o Brasil em 1924. Inicia sua pintura “pau-brasil” dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1926 expõe em Paris, obtendo grande sucesso. Casa-se no mesmo com Oswald de Andrade. Em 1928 pinta o “Abaporu” para dar de presente de aniversário a Oswald que se empolga com a tela e cria o Movimento Antropofágico. É deste período a fase antropofágica da sua pintura. Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil. Separa-se de Oswald em 1930.

Em 1933 pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. No ano seguinte participa do I Salão Paulista de Belas Artes. Passa a viver com o escritor Luís Martins por quase vinte anos, de meados dos anos 30 a meados dos anos 50. De 1936 à 1952, trabalha como colunista nos Diários Associados.

Nos anos 50 volta ao tema “pau brasil”. Participa em 1951 da I Bienal de São Paulo. Em 1963 tem sala especial na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte participação especial na XXXII Bienal de Veneza. Faleceu em São Paulo no dia 17 de janeiro de 1973.

Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 6 de setembro de 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma tia do futuro pintor. Quando seu pai morre em 1914, Di obriga-se a trabalhar e faz ilustrações para a Revista Fon-Fon. Antes que os trepidantes anos 20 se inaugurem vamos encontrá-lo estudando na Faculdade de

Abaporu - 1928

óleo/tela 85 X 73cm

São Paulo - 1924óleo/tela 67 x 90cm

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Direito. Em 1917 transferindo-se para São Paulo ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Segue fazendo ilustrações e começa a pintar. O jovem Di Cavalcanti freqüenta o atelier do impressionista George Elpons e torna-se amigo de Mário e Oswald de Andrade. Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai.

Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, cria para essa ocasião as peças promocionais do evento: catálogo e programa. Faz sua primeira viagem à Europa em 1923, permanecendo em Paris até 1925. Freqüenta a Academia Ranson. Expõe em diversas cidades: Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conhece Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Retorna ao Brasil em 1926 e ingressa no Partido Comunista. Segue fazendo ilustrações. Faz nova viagem a Paris e cria os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.

Os anos 30 encontram um Di Cavalcanti imerso em dúvidas quanto a sua liberdade como homem, artista e dogmas partidários. Inicia suas participações em exposições coletivas, salões nacionais e internacionais como a International Art Center em Nova Iorque. Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos. Sofre sua primeira prisão em 1932 durante a Revolução Paulista.

Casa-se com a pintora Noêmia Mourão. Publica o álbum A Realidade Brasileira, série de doze desenhos satirizando o militarismo da época. Em Paris, em 1938, trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Viaja ao Recife e Lisboa onde expõe

no salão “O Século” quando retorna é preso novamente no Rio de Janeiro. Em 1936 esconde-se na Ilha de Paquetá e é preso com Noêmia. Libertado por amigos, seguem para Paris, lá permanecendo até 1940. Em 1937 recebe medalha de ouro com a decoração do Pavilhão da Companhia Franco-Brasileira, na Exposição de Arte Técnica, em Paris.

Com a iminência da Segunda Guerra deixa Paris. Retorna ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Um lote de mais de quarenta obras despachadas da Europa não chegam ao destino, extraviam-se. Passa a combater abertamente o abstracionismo através de conferências e artigos. Viaja para o Uruguai e Argentina, expondo em Buenos Aires.

Conhece Zuíla, que se torna uma de suas modelos preferidas. Em 1946 retorna à Paris em busca dos quadros desaparecidos, nesse mesmo ano expõe no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira de Imprensa. Ilustra livros de Vinícius de Morais, Álvares de Azevedo e Jorge Amado. Em 1947 entra em crise com Noêmia Mourão - "uma personalidade que se basta, uma artista, e de temperamento muito complicado...". Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Segue criticando o abstracionismo. Expõe na Cidade do México em 1949.

É convidado e participa da I Bienal de São Paulo, 1951. Faz uma doação generosa ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, constituída de mais de quinhentos desenhos. Beryl Tucker Gilman passa a ser sua companheira. Nega-se a participar da Bienal de Veneza. Recebe a láurea de melhor pintor nacional na II Bienal de São Paulo, prêmio dividido com Alfredo Volpi. Em 1954 o MAM, Rio de Janeiro, realiza exposição retrospectivas de seus trabalhos.

Faz novas exposições na Bacia do Prata, retornando à Montevidéu e Buenos Aires. Publica Viagem de minha vida. 1956 é o ano de sua participação na Bienal de Veneza e recebe o I Prêmio da Mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste. Adota Elizabeth, filha de Beryl. Seus trabalhos fazem parte de exposição itinerante por países europeus. Recebe proposta de Oscar Niemayer para a criação de imagens para tapeçaria a ser instalada no Palácio da Alvorada também pinta as estações para a Via-sacra da catedral de Brasília.

Ganha Sala Especial na Bienal Interamericana do México, recebendo Medalha de Ouro. Torna-se artista exclusivo da Petite Galerie, Rio de Janeiro. Viagem a Paris e Moscou. Participa da Exposição de Maio, em Paris, com a tela Tempestade. Participa com Sala Especial na VII Bienal de São Paulo. Recebe indicação do presidente João Goulart para

ser adido cultural na França, embarca para Paris e não assume por causa do golpe de 1964.

Pierreteóleo sobre tela - 78 x 65 cm

Mulheres com Frutasóleo sobe tela - 60 x 100 cm.

- 1932 -

Auto-retrato

óleo sobe tela - 33,5 x 26 cm.- 1943 -

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Vive em Paris com Ivette Bahia Rocha, apelidada de Divina. Lança novo livro, Reminiscências líricas de um perfeito carioca e desenha jóias para Lucien Joaillier. Em 1966 seus trabalhos desaparecidos no início da deácada de 40 são localizados nos porões da Embaixada brasileira. Candidata-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas não se elege. Seu cinquentenário artístico é comemorado.

modelo Marina Montini é a musa da década. Em 1971 o Museu de Arte Moderna de São Paulo organiza retrospectiva de sua obra e recebe prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Comemora seus 75 anos no Rio de Janeiro, em seu apartamento do Catete. A Universidade Federal da Bahia outorga-lhe o título de Doutor Honoris Causa. Faz exposição de obras recentes na Bolsa de Arte e sua pintura Cinco Moças de Guaratinguetá é reproduzido em selo. Falece no Rio de Janeiro em 26 de Outubro de 1976.

Aldeia de Pescadores

guache - 43 x 50 cm.- c. 1950 -