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    UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDOO PPAARRAANNÁÁ AARRQQUUIITTEETTUURRAA EE UURRBBAANNIISSMMOO 

    MMOOBBIILLIIÁÁRRIIOO && 

    DDEECCOORRAAÇÇÃÃOO 

    AANNTTOONNIIOO CCAASSTTEELLNNOOUU CCUURRIITTIIBBAA 22000088 

    CASTELNOU

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    SSUUMMÁÁRRIIOO 

    01 Introdução 05

    02 Estilos Antigos 07

    03 Estilos Orientais 13

    04 Antiguidade Clássica 19

    05 Estilos Medievais 25

    06 Gótico e suas Derivações 31

    07 Estilos Islâmicos 37

    08 Estilos Renascentistas 41

    09 Renascimento Francês 47

    10 Renascimento Inglês 53

    11 Estilos Barrocos 59

    12 Luíses Franceses I 65

    13 Luíses Franceses II 73

    14 Barroco Inglês 81

    15 Neoclassicismo Francês 89

    16 Neoclassicismo Inglês 97

    17 Estilos Neoclássicos 101

    18 Estilos Coloniais 107

    19 Estilos Napoleônicos 113

    20 Ecletismo 121

    Referências Bibliográficas 127

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    IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO 

     A história da civilização está intimamenteligada à história dos interiores e domobiliário e, pode-se dizer, em linhasgerais, que o espírito de cada época ficouexpresso categoricamente nos móveis ena decoração dos ambientes internos.

    É interessante estudar os principaismodos de organização dos espaços

    interiores, procurando destacar osdiferentes estilos de mobiliário etratamento decorativo nas várias fasesque passou a humanidade. 

     Ao se observar a vida do homem, verifica-se que na maior parte de seu tempo estaocorre em ESPAÇOS INTERIORES, portadores de estabilidade, permanênciae continuidade, e que mantêm uma íntimarelação com seus usuários.

     O espaço interno das edificações é

    o reduto das mais estritas leis domundo civilizado, pois encerra o lugaronde o homem nasce para a vida eacompanha-o em sua etapa dinâmica.

     Assim, o homem e o espaço internoacompanham-se e harmonizam-se namútua e agradável tarefa de criarsatisfações íntimas. Daí a importância de“sentir” o ambiente como algo especial,pulsar sua harmonia e ir criando umasintonia perfeita entre ela e o homem paramodular um determinado perfil epersonalidade (M ANCUSO, 2007).

      A DECORAÇÃO  de um ambienteinterno portanto deve ser feitacuidadosamente, pois precisa seaperfeiçoar aos gostos pessoais, comas exigências de trabalho e com osmeios de vida. A saúde, o ânimo, asrelações sociais e grande parte da vidahumana estão, por sua vez,influenciados pelos espaços internos. 

     Ao entrar em um recinto, pode-se sentir

    uma série de impressões, que produzemvárias sensações, desde a de repouso equietude até a de força e incomodidade.Certos ambientes têm ocultos impulsos

    que tratam de nos mover, de nos fazerdar alguns passos e nos dirigir adeterminados lugares; ou para produzir osefeitos exatamente contrários.

     Os MÓVEIS contribuem para essasimpressões, pois alguns transmitemfamiliaridade, enquanto que outros nãotêm o mesmo ar de graça e deencanto convencionais. ConformeDONDIS  (2002), estas influênciasdíspares são provocadas por certoselementos, cuja escolha e combinaçãopode provocar diferentes sensações: alinha, a textura e a cor .

    HHAARRMMOONNIIAA 

    O principal objetivo do interiorismo é aharmonia, a qual somos todos sensíveis,mesmo desconhecendo suas regras.

     Além disto, pode-se ainda dizer que cadaum possui sua harmonia pessoal, queestá vinculada ao seu próprio complexo ena qual atuam as forças hereditárias, deraça e de costumes.

      HARMONIA  pode ser entendidacomo a qualidade de um conjunto queresulta do acordo entre suas partes. Éproduto das relações de adaptação,conformidade e conveniência entreseus elementos.  De modo geral, estádeterminada pelo tamanho, isto é, o

    valor das massas  –  dos móveis, noque se refere a interiores  –  e pelasdistâncias, ou seja, o espaço livre quehá entre elas; além de outros fatores. 

     Ao se analisar os grandes períodos da Históriada Arte e Arquitetura, verifica-se que, em cadaum deles, houve o predomínio dedeterminadas linhas ou estilos artísticos, queexpressavam o espírito de cada época.Denomina-se  ESTILO VISUAL  a síntese detodas as forças e fatores (elementos,princípios, técnicas e finalidade básica doartista), constituindo na unificação ou

    integração de numerosas decisões quepredominam esteticamente.

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      Ele é a  adaptação das formasartísticas ao espírito ou gosto de umaépoca, sendo portanto um códigocoletivo, entendido como conjunto deelementos sígnicos, portadores de

    informação estética, que expressamas perspectivas ideológicas dedeterminado momento histórico.

    Cada estilo visual contem uma série deCHAVES VISUAIS  reconhecíveis e que, noconjunto, englobam a obra de vários artistas(pintores, escultores, arquitetos, coreógrafos,cenógrafos, estilistas, designers, artistasgráficos, etc.). Eles sempre exprimiam umideal específico, no tempo e no lugar, sendodefinidos essencialmente por historiadores ecríticos de arte.

      A definição de um estilo visual éuma tentativa do crítico (ou do artista)de estabelecer uma unidadeaparentemente onde esta não existe,ou seja, busca-se uma coerênciaartística das obras envolvidas maiorque a divergência entre elas. Assim,indica a ocorrência , com certo grau deprobabilidade, de determinadoselementos  – ou de suas combinações –  dentro de um sistema, isto é, acoincidência de certos traços

    marcantes nas obras de uma cultura. 

    Esta pesquisa tem como objetivo abordaros principais estilos de decoração de

    interiores, analisando o decorrer dahistória da humanidade até o advento daModernidade. Busca-se construir umquadro geral sobre as principaiscaracterísticas do tratamento de espaçosinternos, no que se refere à arquiteturadoméstica e ao design de mobiliário.

      De forma específica, pretende-seapontar exemplos de móveis eprincípios de decoração presentes nosdiversos estilos visuais que sesucederam na arquitetura de interioresaté o ecletismo. 

    LLIINNHHAA DDEE TTEEMMPPOO 

    1400

    1450

    1500

    1550

    1600

    1650

    1700

    1750

    1800

    1850

    1900

       |   G  u  s   t  a  v   i  a  n

       S   U    É   C   I   A

       |

       M  a  n  u  e   l   i  n  o   |   G   ó   t   i  c  o   I  n   t  e  r  n  a  c

       i  o  n  a   l

     

       |   B   i  e   d  e  r  m  e   i  e  r

       |   R  o  c  o  c   ó

       |   B  a  r  r  o  c  o

       |   R  e  n  a  s  c   i  m  e  n   t  o

       A   L   E   M   A   N   H   A

     

       |   N  e  o  c   l   á  s  s   i  c  o

       |   R  o  c  o  c   ó

       |   B  a  r  r  o  c  o

       |   R  e  n  a  s  c   i  m  e  n   t  o

       I

       T    Á   L   I   A

       |   A  r   t

       N  o  u  v  e  a  u   |   L .

       P   h   i   l   i  p  p  e   |   E  m  p   i  r  e   |   L  o  u   i  s   X   V   I   |   L  o  u   i  s   X   V   |   R  e

      g  e  n  c  e   |   L  o  u   i  s   X   I   V   |   L  o  u   i  s   X   I   I   I

       F   R   A   N   Ç   A

     

       |   A  r   t  s   &   C  r  a   f   t  s   |   V   i  c   t  o  r   i  a  n   |   R  e  g  e  n  c  y   |   A   d  a  m   |   G  e  o  r  g   i  a  n   |

       Q  u  e  e  n   A  n  n  e   |   W   i   l   l   i  a  m   &   M  a  r  y   |   T  u   d  o  r

       I   N   G   L   A   T   E   R   R   A

        |   E

      c   l   é   t   i  c  o

       |   F  e   d  e  r  a   l

       |

       C  o   l  o  n   i  a   l

       E   U   A

       |   C   h  u  r  r   i  g  u  e  r  e  s  c  o   |   R  e  n  a  s  c   i  m  e  n

       t  o

       |   I  s  a   b  e   l   i  n  o

       E   S   P   A

       N   H   A

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    22 EESSTTIILLOOSS AANNTTIIGGOOSS 

    O HOMEM PRÉ-HISTÓRICO  começou ahabitar cavernas quando abandonou avida nômade, sedimentando-se. As grutashabitadas em épocas mais recentesdemonstram seu esforço em enfeitar oambiente natural e, às vezes, embelezaras paredes, fato evidente também namais rica produção de vasilhames, comgrafito, de notável sensibilidade artística,

    decorado segundo um gosto geométricoou, ao contrário, conforme a realidade.

      Das cavernas, os primitivospartiram para a construção de palafitas

    1, cabanas em madeira ehabitações feitas de pedras, as quais já expressavam preocupações deagenciamento dos espaços internos. .

     As habitações megalíticas possuíam,em seus interiores, pedras planas epolidas servindo de cama e cadeira e,

    quando havia duas divisões, a primeiraera destinada à cozinha e a segundapara lugar de repouso. Semprepresente também estava uma rústicalareira e uma pequena fossa ao centrodo cômodo, para eliminar a infiltraçãode águas (C ARVALHO, 1993).

     As primeiras construções habitacionaisdiferenciavam-se de lugar para lugar,variando o número de cômodos, o formatoforma da planta (retangular, semicircularou cônica), o sistema de cobertura (plana

    ou em cúpula, bem rudimentar,conseguida através da superposição depedras e lajes) e a orientação. Choças,choupanas, tendas e iglus, entre outros,são tipos de habitações primitivas queapresentavam características próprias,conforme os povos que as erigiam.

    1  Palafitas eram habitações elevadas, feitas geralmente

    com troncos de árvores e palha, erigidas em locaislacustres. Sua localização às margens de rios e lagosgarantia o abastecimento de água para os primeirosagricultores; e a existência de estacas que as elevavamprotegia contra as variações de marés e enchentes. 

     Algumas habitações mais recentes, comoaquelas encontradas no Mediterrâneo,possuem paredes de pedra polida, demenor espessura e maior regularidade doque as construções megalíticas, masreforçadas por troncos, com os interstíciostapados com argila, palha triturada ealgas marinhas.

    Iluminadas por amplas janelas,provavelmente rebocadas, essascasas revelam não só uma construçãomural mais complexa, como também,pela serventia de cada cômododestinado a um particular, umaorganização familiar mais evoluída(existem armazéns, estrebarias e oforno para cozer o pão). 

    Embora ainda de modo isolado em locaisdiversos, a arquitetura pré-histórica jáostentava dois de seus atributospermanentes: o aspecto estático, querepresenta a luta contra a gravidade nashabitações primitivas; a intenção plástica nos monumentos megalíticos, destinadosao culto dos mortos e dos deuses.

      Assim, antes de enfeitar seu abrigoindividual, a sua casa, e antes detorná-lo capaz de atravessar séculos,dotando-o de solidez, o homem

    preferiu fazê-lo nos monumentos, quedepois se tornaram os abrigos dareligião, sob a forma de arquiteturatemplária erudita (GRIFFINI, 1950).

     A Antiguidade foi marcada por muitascivilizações, cujo aparecimento é envoltopor rumores, mas que se caracterizarampelas primeiras manifestações plásticasda arquitetura e, conseqüentemente, dotratamento estético dos espaços internose mobiliário. Estudam-se como os berçosdo interiorismo ocidental os estilosdecorativos do Egito dos faraós e daantiga Mesopotâmia. 

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    EESSTTIILLOO EEGGÍÍPPCCIIOO 

    Basicamente, situa-se o início da históriaegípcia por volta de 2850 aC, sendo que ainvenção da escrita coincidiu com oreinado dos primeiros faraós sobre atotalidade do Egito, no Nordeste africano.Dentre as principais divisões dos cerca de3.000 anos de existência, distingue-setrês períodos:

      Antigo Império (ou Era Menfita), de 2650a 2190 aC, foi sucedido por um períodointermediário (2190-2000 aC)

      Médio Império, que representou a faseclássica da arte egípcia, seguida por outro

    período intermediário marcado pelasinvasões dos hicsos, até 1580 aC.

      Novo Império, que durou até 1085 aC, apartir de quando se entrou numa faseagitada até a invasão do país por Alexandre em 332 aC. Sucederam-lhe oslágidas

    2 , depois os romanos à morte deCleópatra em 30 aC.

    Basicamente, a civilização egípcia criouconstruções de barro cru para ashabitações privadas, além de aplicar, nocaso dos mais pobres, troncos depalmeira e de sicômoro. Inicialmentetrabalhando com esqueletos de cana,preenchidos com tijolos de argila seca aosol (adobe), evoluiu-se para o emprego depedras, que reproduziam em cantaria asformas das construções lenhosas.

    2  Os lágidas  ou lágides  corresponderam à Dinastia quereinou no Egito de 306 a 30 aC, fundada por Ptolomeu,lugar-tenente de Alexandre, e filho de Lagos; de culturagrega, adotaram algumas tradições faraônicas.

     A CASA EGÍPCIA  comum era quasesempre de dois andares, terminando numterraço, sendo circundada por altasparedes e precedida de um jardim. As

     janelas estreitas, situadas somente noandar térreo, eram dotadas de persianase de grades de madeira. 

     Os interiores mais modestos eramenfeitados por poucos e pequenosmóveis de madeira e esteiras emcores vivas que serviam, ao mesmotempo, de assento e leito. Eram deplanta retangular ou quadrangular,alicerces de pedra e a maioria dasparedes em adobe (C ARVALHO, 1993). 

     A vida da família, transcorria grande parte do

    tempo no pátio interno, verdadeiro coração dacasa, em torno do qual se dispunham osdemais compartimentos: o pequeno vestíbulo,a cozinha, a despensa e as cocheiras. A umcanto do pátio, uma pequena escada,entremeada de patamares, conduzia aoprimeiro andar, onde ficavam os dormitórios. Oterraço, escorado por fortes colunas demadeira, era também usado como quarto deempregados, mas, quase sempre, preferidopelos familiares para reuniões sociais à noite.

     Os interiores apresentavam figurasem afrescos, baixos-relevos eestatuária. Eram marcadamenteexatos e de linhas puras, embora nemsempre as paredes internas e externasfosse totalmente verticais, mas siminclinadas. As construções eram detipo largo de base e fino de ápice. Istoporque os tetos eram planos de tijolosque faziam pressão sobre as paredes,impossibilitando desmoronamentos.

    Os PALÁCIOS EGÍPCIOS da classe maisrica também eram de argila e pedra,

    destacando-se pela entrada majestosacom batentes, forma trapezoidal eenriquecida de característicos baixos-relevos e hieróglifos. Às vezes, possuíamcolunas de pedra e duas entradas: umapública e outra dos moradores.

      A entrada pública dava para umpátio que se comunicava com umasala hipetra a céu aberto; e a entradaprivada dava ao pátio onde estavamlocalizadas as habitações dosfuncionários, cozinhas e cisternas.

    Havia a predominância de cheiossobre vazios, geralmente substituindo-se as janelas por iluminação zenital. 

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    Palmiforme Lot i form e Papir i forme

    Capi téis Campan ifo rm es Hatóric o

     A ordem protodórica marcou sob o  AntigoImpério  a transição entre o pilar e acoluna. As colunas possuíam formaspróprias e estilizadas, partindo de motivoscomo as flores-de-lótus  em broto ouabertas (respectivamente, as ordenslotiforme  e campaniforme); as palmeiras(ordem  palmiforme); os papiros (ordem papiriforme); e a própria Deusa Hátor 3 

    (ordem hatórica) (RODRIGUES, 1990).  Desenhavam-se também lírios epapoulas. As linhas que constituíam osdesenhos eram gravadas na pedra eem seguida cheias de massa colorida,geralmente com os tons virgens dascores primárias. 

     As principais características dos antigosinteriores egípcios eram: a predominânciahorizontal nas construções, de aspectociclópico e austero, com policromiainterior; a decoração profusa através debaixos-relevos e desenhos em sulcoscoloridos sobre o granito; e a temáticadecorativa expressa através de símboloscomo o sol alado (Rah), a serpente alçada(Uraeus), o escaravelho sagrado(Khepri 4 ), a cruz egípcia e os hieróglifos.

    3 A Deusa Hátor  era a deusa egípcia da música, do amore da alegria, aparecendo na decoração sob o aspecto deuma vaca ou de uma figura humana com chifres eorelhas. Era encontrada com seus atributos nas colunas

    hatóricas.4 O Khepri  ou escaravelho era o símbolo de renascimentoe de vida, sendo representado sempre empurrando diantede si o disco solar em seu curso diurno. 

    Foi no Egito que se teve início a históriados móveis, os quais foram encontradosnas tumbas em estado de conservaçãoperfeito, especialmente se comparado aomobiliário de outros povos, como os doMediterrâneo e civilizações próximas. Isto

    ocorreu devido aos subterrâneosherméticos e à falta de umidade. Mais de6.000 peças encontradas, sendo que sóno túmulo de Tutâncamon (ou Tut-Ankh- Amon), aberto em 1924, foram retiradoscerca de 1.700 (DUCHER,2001).

      Tendo em vista que as plantasegípcias nativas  –  a palmeira e otamarindo  –  não prestavam aomobiliário, importaram-se madeirasmais duras e resistentes, vindas daSíria e da Fenícia, tais como: pinho,

    cedro, oliveira e figueira. Para os maispobres, utilizava-se a madeira natural,enquanto que para os faraós e nobres,os móveis eram recobertos de ouro,prata e marfim. Às vezes, tambémeram recobertos com tecidos,bordados ou não, com almofadões deplumas. Nos móveis de luxo,empregavam-se pastas cerâmicasvítreas, tiras de ouro e marfim.

     Assim como a pintura respeitava a Lei daFrontalidade  o mobiliário egípcio seguia

    cânones. Sua decoração era feita através dedesenhos geométricos em cores vivas(vermelho, amarelo, verde e branco). Haviaainda a estilização de plantas, como o lótus e opapiro, e de animais, especialmente o leão, ofalcão (ou Deus Hórus5 ), o escaravelho(Khepri ), o escorpião, o pato, a íbis (tipo degarça), a cobra Naja, o crocodilo e a esfinge,que também representavam seus deuses.

    5  O Deus Hórus  ou falcão era o senhor do céu, cujosolhos simbolizavam a Lua e o Sol, sendo um dosaspectos de Rah (o Sol), representado por um discovermelho, assim como da serpente alçada (Uraeus), quepoderia destruir da mesma forma que o Sol poderiaconsumir o ser humano.

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     Conforme LISE (1995), o mobiliárioegípcio possuía característicaspróprias. Além do emprego deencaixes e cavilhas, utilizavam-setábuas em grandes extensões, uma ao

    lado da outra, com transversais,geralmente internas, para evitarfuturos empenamentos. O polimentoera feito por pedras-pomes; e ostecidos fixados através de pequenoscravos de madeira. Como cola,empregavam-se vísceras de galinha. 

    Nos INTERIORES  egípcios, os móveismais utilizados eram as banquetas, ascadeiras, as mesas, as camas de noite eas de repouso diurno, além da cama

    fúnebre, os cofres e suas variantes. Osquatro pés tinham a forma de patas deanimal, geralmente felino (leopardo, leãoe chacal), às vezes quadrangulares oucilíndricos; lisos ou ainda com círculosgravados, que pousavam em pequenoscilindros (tacos) para boa conservação.

      A preocupação com o realismo eratão grande que muitas vezes faziam-se as “patas dianteiras” verticais e as“traseiras” ligeiramente quebradas,como em animais verdadeiros. Alguns

    assentos, como as do faraó (tronos),tinham os pés em forma de pescoço ecabeça de pato, torneados, sendo obico voltado para o chão, unido aooutro pé por uma travessa horizontal,rente ao chão.  Havia lavrados eincrustações (LISE, 1995). 

    Enquanto as CADEIRAS  egípcias maisprimitivas tinham os pés em X e oencosto vertical, a partir do Médio Império,seu encosto inclinou-se com o reforço de

    um pontal, tornando-se oblíquo. Seus péseram unidos às vezes por numerosastravessas, verticais ou inclinados, semordem prevista. Havia o uso deesquadrias de metal, como reforço doassento em contato com o encosto.

     Eram comuns cadeiras com braçose, quanto ao assento, este geralmenteera ligeiramente côncavo, para melhoracomodação, ao mesmo tempo emque evitava a queda de almofadões depluma. Eram feitos em tecido com

    fibras vegetais, ou em uma só peça decouro, podendo também ser de tirasde couro entrelaçadas.

     As MESAS  eram semelhantes às cadeiras,porém, sem tantas travessas, já que nãosofriam movimento oscilatório do corpohumano, mas só o peso inerte dos objetos. Apartir da Terceira Dinastia, as mesaspassaram a ser compostas por seis folhasentrecruzadas ou contrachapeadas.

     As CAMAS  possuíam estrutura retangular,com trançado de cordas ou correias, sobre oqual ia o colchão de plumas. Apresentavam-sealtíssimas, sendo as mais altas as fúnebres eas de repouso, tendo sempre uma banquetaauxiliar. Os pés, assim como as cadeiras,também imitavam as patas de felinos, nosentido realista; tinham sempre um travessão

    decorado  –  às vezes com pedras oupequenas pastilhas da cerâmica vitrificada  –,para evitar a queda de almofadas e mantas.

       As camas de repousoapresentavam-se mais altas e maiscurtas, sempre acompanhadas do uol 6 . As camas fúnebres geralmentetraziam perfis de felinos, trabalhadosem ouro, prata e esmaltes coloridos,além de pedras preciosas. Já nessaépoca, aparecia a cama dobrável. 

    Também eram característicos os cofres

    egípcios e seus derivados, que possuíamcomo única decoração uma única moldura(gola). As portas eram de abrir e, muitasvezes, giravam em torno de eixos e pivôs. Emgeral, eram entalhados e pintados comdesenhos geométricos e estilizações; cobertosàs vezes de tecidos e folhas de metaispreciosos, com pés ou não. As tampas eramretas ou curvas, variando sua estrutura.

    6  O uol correspondia a um apoio em forma de meia-luz,empregado para não desmanchar os penteados, detrançados complicadíssimos. Além disso, mantinha acabeça erguida, a qual era considerada o centro da vida eque, portanto, deveria ser preservada com o maiorcuidado, inclusive para a vida após a morte. Até hoje, éusado em algumas regiões do Japão e em pontos nocentro da África.

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    EESSTTIILLOO MMEESSOOPPOOTTÂÂMMIICCOO 

    Na região da Mesopotâmia, formada entreos rios Tigres e Eufrates, no OrientePróximo  –  onde atualmente se localiza oIraque  –, vários povos manifestaram umaarquitetura específica, especialmente emcasas feitas de barro, juncos e bambus,além de construções suntuosas.

      Foi em uma parte dessa regiãochamada Caldéia que, em cerca de3000 aC, instalaram-se ao Sul ossumerianos  e, ao Norte, no país de Acad, um outro povo que passou

    depois a se denominar acádios. Ossumerianos eram de origem não-semita, enquanto que os acádios eramsemitas. Uma outra parte, mais aoNorte, conhecida como Assíria, foihabitada a princípio por povos não-semitas, que tinham vindo doSudoeste da Armênia: os assírios.

    Os sumerianos  desenvolveram-se fundandocidades isoladas e autônomas, entre as quaisEridu, Ur, Uruk e Uma, na Caldéia; e osacádios as cidades de Kix, Opis e Acad, entreoutras. A cidade da BABILÔNIA, fundadapelos sumerianos, foi a sede do ImpérioSemita, localizando-se no cruzamento dasrotas que conduziam à Assíria, Pérsia e Arábia, sendo invadida pelos assírios em 1247aC, os quais também dominaram a Caldéia.

     Além do tijiolo cozido, os povosmesopotâmicos introduziram osladrilhos unidos com argamassa.Limitando o uso da argila crua àsparedes internas, fizeram empregoprevalecente da cozida. E graças aonovo material  –  mais leve, elástico eresistente  –  levantaram paredes emprumo e aplicaram o sistema deabóbadas na cobertura de cômodos.

     As casas privadas e os templos dos assírioseram de forma retangular com tijolos cozidos eadornados com altos-relevos, empregandorevestimentos de madeira e algumas vezescom ladrilhos esmaltados. Seus primeiros

    palácios edificados eram praticamente térreose contornados de altas e grossas muralhasrevestidas, ao longo das quais se distribuíamtorres e portais em arco (GRIFFINI, 1950).

      Nos monumentos religiososchamados zigurates7 , as escadas erampas por si só já figuravam comoelementos plásticos de primeiraordem, unificando essas plataformassobrepostas escalariformes. Suasentradas eram sob um estreito arco demeio-ponto ou de vários centros, o que

    em muito contrastava com a amplitudedas que se processavam sob colunasunidas na parte superior por lintéis retos, com o domínio das horizontais(NORBERG-SCHÜLZ, 2000).

    Com a finalidade de decorar as partesmais elevadas dos seus edifícios, tantoos assírios como os babilôniosusavam ameias, que quebravam, semapreciável vantagem plástica, asgrandes linhas horizontais.

     As CASAS  particulares dos sumerianospodiam ter mais de um pavimento etambém eram de planta retangular,

    deixando um pátio ao centro e construindoao redor quartos com paredes em adobee vigas de madeira. Os tijolos eram unidospor pressão e as coberturas compostaspor abóbadas, sendo comuns os arcos demeio-ponto ou de ogiva com tijoloscozidos unidos com barro. Ladrilhosesmaltados formavam grandes painéisdecorativos.

    7  O zigurate assírio-babilônico era simultaneamentetemplo e observatório astronômico, com cerca de 100 mde altura, compondo-se geralmente de um maciçoescalariforme (volume em degraus), onde se subia porescadas e rampas, no alto do qual se encontrava otemplo propriamente dito.

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     As moradias mais simples possuíamcomo teto uma cobertura de troncos depalmeira e juncos com barro. A maioriadessas construções tinha terraços comtoldos que serviam como áreas de sombrae descanso. De modo a resistirem aenchentes, apresentavam em sua basepedras colocadas de forma irregular.

      Os templos e os paláciossumerianos possuíam várias câmaras.De tijolos, as paredes laterais e dafachada principal possuíam pilastras enichos, o que aumentava muita aespessura dos vãos de acesso, dando-lhes a forma de túneis abobadados. Aargamassa era obtida mesclando-se acala com a areia fina dos rios (VIOLLET-LE-DUC, 1945; MOSCATI, 1989). 

     A posição social da mulher, na sociedademesopotâmica, onde era permitida apoligamia, ditou novas leis na divisão dasdependências, que foram divididas em 03compartimentos bem distintos e todospossuindo um lado para o pátio principal:

      o cômodo destinado às mulheres e àscrianças, mobiliado de maneira bemmais rica do que o resto da casa e aoqual se podia chegar somente atravésde um corredor tortuoso e vigiado;

      o cômodo dos homens, o qualcompreendia também numerososcompartimentos de recepção;

      o cômodo destinado aos trabalhos,bastante complexo, constituído decozinhas, fornos, paióis e cocheiraspara cavalos e dromedários, além dearmazéns e depósitos.

     A cada apartamento correspondia um pátio,circundado por uma alta colunata, queclareava os recintos, geralmente maliluminados. As colunas possuíam cerca de 3

    m, sendo constituídas de troncos de palmeirarevestidos com betume, sobre o qual eraassentado um mosaico de madrepérola e cal.

    Os INTERIORES  caracterizavam-se pelamonumentalidade e predominância doscheios sobre os vazios, além dapolicromia e exuberância. Havia a

    ocupação de grandes superfíciesconstruídas e o uso da estruturaabobadada, assim como a grande riquezadecorativa e existência de muitos anexose compartimentos (C ARVALHO, 1993).

       Além da cobertura plana eabundantemente ajardinada, compilastras e meias colunas dispostasverticalmente, usava-se bastantevegetação interna. Também seconstruíram colunas em alvenaria detijolos, empregando-se telhas

    circulares e calhas rejuntadas A decoração era realizada com frisoscontínuos com figuras de touros em cobre eoutros motivos, estes sobrepostos a umrevestimento de cal e madrepérola, comrosetas e flores de gesso colorido, imitandoplantas. Era comum ladear as portas dostemplos, sobre um grande degrau, com doisleões de cobre e uma colunata. Já o mobiliárioera simples e prático, geralmente em cedro.

    Para evitar o aspecto monótono e frio de seusaposentos, os mesopotâmicos cobriam asparedes nuas com longos frisos verticais, alémde painéis e altos-relevos de cerâmicaesmaltada em cores (vermelho, branco epreto). Tais elementos tinham grande teorartístico e temática decorativa representadapor animais ferozes, caçadas, combates edeuses alados: os Lamassi , isto é, tourosmonolíticos e androcéfalos (dotados decabeça humana) com 05 pernas para,conforme o ângulo, parecem parados ou emmovimento (VEIGA, 1980; C ARVALHO, 1993).

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    33 EESSTTIILLOOSS OORRIIEENNTTAAIISS 

    O interiorismo dos povos asiáticos foibastante influenciado pelos elementosnaturais, pelas características culturais epelas crenças religiosas, abrangendotodas as manifestações da Ásia Central,passando pela Rússia, Índia e Indonésia,até o Extremo Oriente (China e Japão).

      No centro do continente, houve

    muitos povos primitivos, que viveramem casas comunais rústicas, feitas emmadeira ou pedra; ou ainda em choçasde bambu, além de tendas.

    Os árias8  desenvolveram o trabalho emmadeira e evoluíram para o uso da pedra,ladrilhos e metais. Suas habitação foramconstruídas com tijolos e juncos, unidoscom barro e palha, tendo ao seu centroum pátio porticado, rodeado deaposentos, sendo o maior deles destinadoà sala principal e decorada.

     Os compartimentos menores eramreservados para dormitórios, sendo omais longo e estreito usado paraguardar tesouros ou para realziarsacrifícios. No pátio secundárioestavam as estrebarias, osdepósitos e os quartos dos servos. A cozinha ficava independente, junto aos refeitórios. As divisóriasinternas eram feitas em tramadosde bambu recobertos de peles deanimais, assentados em calcário.

    Por sua vez, os povos das estepes asiáticascriaram os yurtes, ou seja, casas cilíndricasportáteis feitas de feltro (pano que não é fiado,mas fabricado com lã de carneiro e pêlo decamelo amassado com os pés), fixado emtreliçado de madeira e preso por correias decouro ou de crina de cavalo.

    8  Os árias  ou arianos  (do sânscrito arya  e do avésticoairya, nobres) eram populações indo-arianas queinvadiram o Norte da Índia a partir do século XVIII aC e aliinstalaram uma comunidade lingüística e cultural. Nãoexiste relação do termo com a idéia de “ariano” comoindivíduo típico das populações brancas de origemnórdica, que se desenvolveu consideravelmente com aideologia nazista e que não repousa sobre qualquer basecientífica.

    EESSTTIILLOO PPEERRSSAA 

     Atual Planalto do Irã, a região da Pérsiaantiga separava a Bacia dos rios Tigres e

    Eufrates daquela do Indo, tendo porlimites ao Norte, o maciço de Elbours e ascadeias que o ligam por um lado aosmontes da Armênia e por outro ao Afeganistão. A Leste, os montes Bolour eHindu Kuch; ao Sul, o Oceano Índico; e aOeste, o Golfo Pérsico e a cadeia doZagros e o Ararat (GRIFFINI, 1950).

    Os persas descendiam dasmesmas raízes étnicas que oshabitantes da Índia, dos germanos edos eslavos. Tiveram como principais

    cidades: Persépolis, Susa, Ecbátana ePasargada, dominando os atuaisterritórios da Rússia, da Turquiaasiática, parte do Turquistão, o Afeganistão, o Beluchistão e Industão.

    Sofrendo a influência de assírios ebabilônicos, além de egípcios e, maistarde, dos gregos – dos quais herdaram osentido de proporção humana  –, ospersas criaram muitos palácios e templosa partir de plataformas elevadas e ornatosesculpidos, sendo suas construções

    dotadas de salas hipostilas, cornijas ecolunas, combinadas a torres, painéisladrilhados e aplicações de vidro.

     As casas primitivas eram feitas emadobe e teto coberto por ramagens,tendo os aposentos destinados adormitório nichos que serviam comoarmários. Com o aparecimento decasas feitas em tijolos, surgiram janelas com vitrais coloridos, porémque não abriam para a rua, mas simpara corredores ou vestíbulos.

     Algumas dessas casas possuíamsótãos que eram usados nas estaçõesmais quentes por serem mais frescos.

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    Como na habitação mesopotâmica, oscompartimentos persas eram geralmentemenores e mais desadornados daquelesde recepção. Nos interiores, os aposentosmasculinos eram também separados dosfemininos, inclusive podendo estar estesúltimos em pavilhões segregados poraltos muros. A decoração se fazia pormeio de azulejos, tapeçarias e pinturas.

     Não eram os móveis, levíssimos eescassos como em todas as moradasorientais, que davam a impressão deriqueza, mas sim os tapetes, ascortinas, as almofadas e, sobretudo, ariqueza e a preciosidade do vasilhameque, por meio de jóias e cerâmicas

    decoradas com a estilização deanimais e flores, constituíam o máximoorgulho da Pérsia.

     As principais características dos interiorespersas eram: a modulação, a harmonia ea proporção construtiva, além da esbelteze da policromia; a profusão de baixos-relevos e da temática decorativa baseadaem leões, touros e monstros androcéfalosde 04 patas; as colunas com capitéiscompostos por volutas (elementos

    espiralados), touros geminados (opostospelas costas) e licórnios  (animais de umsó chifre), além de fustes com caneluras ebase esculpida; e a abundância de painéisem ladrilhos esmaltados em várias e vivascores (C ARVALHO, 1993).

      Os persas não construíramtemplos, pois suas cerimônias queofereciam ao fogo eram feitas ao arlivre. Foram nos palácios que o luxo ea policromia dos seus ladrilhos,cerâmicas e tapeçarias de invulgar

    beleza, fascinaram os mercadoreseuropeus da Idade Média, que vierambuscar de longe tal preciosidade.

    Conforme KOCH  (2001), o emprego daabóbada e cúpula pelos persas estendeu-se até Constantinopla e fez surgir aestruturação medieval da arquiteturabizantina. Contudo, foram os TAPETESPERSAS que mais marcaram seu estilode decoração. A principal característicados ornatos era sua forma geométrica,

    repleta de losangos, espirais e triângulos. Havia um alto grau de estilização, oque promoveu diversos motivosornamentais, que variavam de regiãopara região, devido a diferenças deflora e fauna. Posteriormente, o estilopersa acabou se alterando pelainfluência muçulmana na Idade Média.

     A maior parte dos tapetes persas têmorigem tribal e herdaram seus nomes dascidades onde surgiram, atualmente todaslocalizadas no Irã. O Hamadan, por

    exemplo, é um tapete tribal feito em lã decabra ou carneiro, de cores fortes e medalhãocentral, com desenhos irregulares por causado nomadismo dos artesãos que o faziam.

      Os tapetes persas não-tribaismantêm seus desenhos e cores commais regularidade, como por exemploo Isfahan, que tem suas barras muitotrabalhadas; ou o Kashan, geralmenteem seda, com motivos florais emedalhão central, sendo bastantesemelhante ao Kirman ou Kerman.

    Outros tapetes não-tribais são: o Qum;o Tabriz ; o Shiraz , de motivosgeometrizados; e o  Nain, de coresclaras com um medalhão central. 

     A influência persa fez-se presente em outrospaíses, como no tapete marroquino Zemmour ;no tapete turco Kilim, com motivosgeométricos e cores fortes; e no tapetepaquistanês Bokhara  ou Bukhara, comdesenhos geralmente repetidos. Na índia, otapete Dhurrie  (nome inglês do original hindudari ) usa uma técnica de tecelagem sem nós,parecida com a dos Kilim. Os trabalhos dealgodão ou lã têm desenhos simples: listras,quadros ou flores em azul, rosa, ocre e branco

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    EESSTTIILLOO HHIINNDDUU 

     A propagação da fé bramânica9, depoisbudista  e, finalmente, islâmica, deuimpulso à arte e arquitetura indianas,fazendo surgir inúmeros templos esantuários tanto na Índia como noSudeste asiático, influenciando os estilosda Indonésia, da Tailândia e da Malásia.

     Um exame mais apurado de toda aarquitetura hindu revela ao primeiroinstante a decomposição da totalidadeda obra em outras parciais esecundárias, onde a preocupação dodetalhe fala a favor de um grande

    espírito analítico (C ARVALHO, 1993).O Budismo deu origem a um estilo decorativobizarro, cuja forma acaba inteiramenteescondida pela ornamentação exagerada; e,com a disseminação moderna do Islamismo,produziu-se um estilo cheio de arabescos eformas eminentemente da arte muçulmana.

     A história da construção templária naÍndia antiga divide-se em 03 fases:

      Primeira Fase B ramânica , antes doséculo III aC.

      Fase  Budis ta , do século III aC até oséculo V dC.

      Segun da Épo ca Br amânic a , que vaido século V dC até o VIII dC.

    Foi no período budista que apareceram osprimeiros topes  (monumentos hemisféricos),que se elevavam sobre as relíquias de Buda,por volta do século III aC. Contemporâneos aestes, estão também os templos subterrâneos,escavados na rocha viva, repletos de colunase nichos com as suas paredes recobertas porbaixos-relevos e pinturas policrômicas, comum tope geralmente no fundo do santuário.

    9  O Bramanismo  ou Hinduísmo  é a principal religião daÍndia, caracterizada pelo reconhecimento da autoridadedos Vedas, pelo sistema de castas e pela idéia que o serhumano está preso ao samsara (sucessão de vidas regidapela lei do karma). Os Vedas compõe-se de 04 coleçõesde hinos datados entre 1400 aC e o século VII aC que seconstituem, com seus comentários rituais  –  osBrahmanas  e os Upanishads   –, a revelação, junto aosShastra  (códigos das leis) e aos Puranas  (a tradição). Oconceito de Brahman  (absoluto; totalidade) é o ponto departida do pensamento religioso do bramanismo, a partirdo qual tudo deriva por meio de diversos deusespersonificados, como Brahma  (criador), Vishnu (conservador) e Shiva  (destruidor), que constituem atrimurti   (trindade). O culto é caracterizado por umritualismo complexo de orações e gestos (mudras).

    Constituem-se no máximo da expressãoarquitetônica da religião hindu oschamados PAGODES, que tinham váriassalas e vestíbulos, uma espécie de

    santuário e, em alguns casos, andaressucessivos. O pagode era inicialmente umpequeno oratório, caracterizando-se maistarde por sua altura, ora com facescurvas, ora com o aspecto de várioscubos superpostos – cada vez menores, àmedida que subia a construção.

    Os INTERIORES  dos templos hinduscaracterizavam-se por sua modulação egosto pelo fantástico, com uma decoraçãoprofusa em cores vivas e predominânciade formas piramidais, esféricas eescalariformes; além da simetria relativa eo aspecto monumental, cuja temáticapredominante são animais selvagens emitológicos; flores, deuses andróginos e

    entidades fantásticas em ação(sensualismo místico).

      Desta forma, desfilam, diante dosolhos, um número incontável deelefantes, leões, camelos, cavalos,aves e monstros, ora isolados, oraordenados segundo as leis estéticasda repetição e alternância, cobrindoimponentes altos-relevos ou colorindosuperfícies lisas. A coluna indianaterminava formando esferas ouovóides (elefantas), sendo seusornatos rebuscados e artesanais. 

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     As HABITAÇÕES  hindus eram feitastanto em adobe como em tijolos, unidospor argamassa e betume, com coberturae estruturas em madeira. A casa humilde

    tinha planta circular ou retangular, feitaem taipa  (terra batida e esterco), comestrutura em bambu e teto em palha,dividindo-se em sala, dormitório ecozinha. As mais ricas eram feitas emalvenaria, pedra e mármore, com váriosandares, terraços e pátios internos.

     Os palacetes contavam com váriosdormitórios, salas de recepção,refeitórios e cozinhas, separados pordivisórias de madeira e cortinas. Havianichos internos para a colocação de

    esculturas e os pisos eram emmosaicos coloridos. Os indianoscoloriam as suas edificações de pedranão sem primeiro revesti-las demassa. Abundante, pesada,heterogênea e luxuriosa, a decoraçãose sobrepunha à construção.

     As residências dos nobres eram suntuosasmansões que serviam como fortalezasrodeadas das choças de seus súditos. A casatérrea com uma varanda ou galeria exterior erachamada bangla, termo que acabou originandobungalow  (NONELL, 1980).

    EESSTTIILLOO CCHHIINNÊÊSS 

    Embora surgido na Índia, o PAGODE encontrou na China sua máximaexpressão. Construído em madeira  – comexceção do embasamento que por vezesera de pedra  –, elevava-se a uma alturade até 50 m com seus 05 e até mesmo 07pavimentos. A planta era geralmentequadrada, havendo no entanto alguns que

    exibiam a forma poligonal na base,possuindo telhados superpostos, estesencurvados em forma de peito-de-pombo.

      O pavimento térreo destasconstruções era destinado ao oratóriopropriamente dito, onde eramexpostas as imagens sagradas deBuda, enquanto que os outros eram

    utilizados como belvederes, comnumerosos nichos e esculturas.

    Sua decoração interior tinha comotema principal uma viva e exuberantepolicromia, que se ajustava aosinúmeros e delicados recortes dascolunas e outras peças, que davam aoconjunto aspecto rico e rendilhado.

    Os PAGODES chineses caracterizavam-se porsuas colunas de madeira, sem capitéis,ornatos esculpidos e nervuras nos telhados,cujos motivos mais freqüentes eram osdragões  e as quimeras, sempre bastanterebuscados (RODRIGUES, 1990).

    Quanto à ARQUITETURA RESIDENCIAL,os chineses primitivos viviam em casascirculares de tetos planos, geralmentefeitas em palha e pisos em terra batida.Os mais ricos trabalhavam com pedra eladrilho, começando a criar alicerces emcantaria para sustentar colunas demadeira (pinho ou cedro), que erguiamamplos telhados para proteção da chuva. As casas dos mercadores eram de vários

    andares, mas aqueles superiores serviamde armazém para as mercadorias. 

      Os tetos podiam ser de 04maneiras: piramidais, de duas águas,de quatro águas ou mistos.Internamente, havia tetos circulares,abobadados e octogonais formadospor peças de madeira lavrada. Nãoexistiam muitas aberturas, limitando-seà uma entrada principal e outra abertaao céu. No centro da casa havia ochamado poço do céu, ao redor do

    qual se distribuíam os cômodos, comoa tradição xamânica (CISNEIROS &  ANGUIANO, 1978).

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    Conforme C ARVALHO  (1993), a CASACHINESA tradicional era de um só andar,de preferência construída ao centro de umparque e acima do solo mediante um

    aterro, sendo formada por um conjunto deaposentos retangulares. Conhecida comoting , assemelhava-se a uma tenda decampanha, com um teto que parecia umtoldo sustentado por 04 colunas, podendoser duplo ou até mesmo triplo.

      Nas residências dos ricos, oscômodos eram bastante numerosos,ao passo que, nas das famíliasmedianas, reduziam-se a um vestíbuloou sala de visitas e a um quartobastante comum, onde, geralmente,

    faziam-se as refeições e, segundo umcomplicado ritual, servia-se o chá, mastambém, em falta de outros aposentos,dormia-se sobre esteiras, geralmenteocultas durante o dia em nichosapropriados (GRIFFINI, 1950).

    Havia ainda um  pátio interno, no qual osmoradores costumavam se reunir nasmelhores estações; e que iluminava osaposentos, habitualmente privados de aberturasobre a fachada principal.

     A casa chinesa conhecida como do tipoPAVILHÃO era em estrutura de madeira,geralmente com cúpula piramidalrevestida com telhas coloridas e cujoexterior era percorrido por um corredoraberto, repleto de plantas e flores.Externamente, as paredes eram em barroou granito. As paredes internas erammóveis a base de leves biombos de sedacom marcos de madeira, o quepossibilitava grande flexibilidade.

      A casa chinesa, em seus melhoresexemplos, era dotada de um curiososistema de calefação: ao invés defogareiros, usados pelos pobres, umsistema de tubos de terracota,

    embutidos nas paredes, propagava ocalor, que era constantementealimentado do lado externo.

    Os INTERIORES  chineses tinhampouquíssimos móveis, mas eramricamente decorados com ouro, bronze e porcelanas

    10. As paredes, atapetadas deseda multicor, os pequenos móveislaqueados ou entalhados, as louças e osmetais esmaltados, os revestimentos delouça dos pátios, onde, entre as colunas,se exibiam, pintados com rara maestria,os retratos de antepassados, conferiamàs residências citadinas um aspectoalegre e fantasioso (NONELL, 1980).

      Serviam de tapumes, diante dasaberturas, painéis de papel oleado, degaze ou madrepérola; ousimplesmente cortinas, ao passo queleves biombos de bambu, de seda oude papel, freqüentemente pintadoscom rara maestria, eram instalados,aqui e acolá, para criar ângulos maisrecatados, a fim de se poder conversarsossegado ou repousar. (BEDIN, 1991;B ÁGUENA, 1997).

    O estilo chinês foi imitado em váriospaíses europeus, a partir da Renascença,construindo-se salões em grandesresidências, os quais eram decoradoscom objetos e materiais chineses,principalmente porcelanas e lacas11. Damesma forma, copiaram-se os jardinscom uma sucessão de incidentes, ou seja,diversos níveis repletos de riachos, lagos,

    pedras, pontes e pequenos templos,seguindo a doutrina taoísta.

    10  Porcelana  é um tipo de cerâmica obtida de um barrobranco (caolim), sendo as chinesas as de maior valor,embora as de Sèvres sejam as mais conhecidas.Olhando-se uma porcelana contra a luz, percebe-se que étranslúcida.

    11  Laca  é um verniz de origem oriental retirado de umaplanta chinesa. A técnica de laqueação surgiu no séculoIV aC, e da China passou para o Japão. Com asnavegações, chegou à Europa, principalmente a partir doséculo XVI. Os europeus, por não terem a árvore de ondese retira a laca, acharam um similar, extraído de um

    inseto (Goma laca). No Brasil, laqueado  é uma pinturaaplicada com pistola, não tendo nada a ver com a lacachinesa, a não ser a aparência lisa e espelhada dasuperfície, em que os veios da madeira ficam totalmenteescondidos.

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    EESSTTIILLOO JJAAPPOONNÊÊSS 

    Quanto ao Japão, sua história passou aser escrita por volta de 600 aC, época emque reinava Jimu, que fundou umadinastia que se prolongou por mais de2.500 anos e por onde desfilaram 123imperadores. No século VI, o Budismochegou ao país para ali se fixar, depois deguerras religiosas, sendo a China suamaior influência cultural e política.

      Os japoneses herdaram doschineses o uso das divisões móveis. Assim, biombos e tênues paredes debambu deslocam-se em seus

    interiores com grande facilidade, sobos tetos envernizados de esteira nointerior de suas residências leves ecoloridas, aumentando ou diminuindosalas, extinguindo ou criando quartos,onde o mobiliário escasso destaca eressalta ainda mais a singeleza deseus ambientes, a decoração de suasportas e as suas respectivas pinturas.

    Em ambientes multifuncionais, simples epuros, a CASA  tradicional japonesa erafeita em madeira com janelas recobertaspor papel, estando a cozinha separadapor questões de segurança. Imersa em

    grandes jardins, possuía embasamentoem pedra, pisos cobertos de tatamis acolchoados e telhados em várias águas.Trabalha-se com móveis embutidos emesas de baixa altura, fazendo com aspessoas se sentassem em almofadas

      Se os chineses tornaram-seexímios no fabrico de porcelanas,foram os japoneses os mestres daslacas (charão), além de inauguraremuma esplêndida arquitetura demadeira, onde brilhavam as coresmais puras, tais como o vermelhosangue-de-dragão, o azul-escuro, oamarelo, o negro e o dourado.

    Bastante próximo da arte chinesa, oINTERIORISMO  japonês também sedestaca pelo trabalho em madeira  –  compartes polidas e/ou douradas  –; pela

    decoração templária e pela ornamentaçãocom dragões e monstros fabulosos.

      Os ambientes japonesestradicionais caracterizam-se pelo seuaspecto formal delicado e elegante,além da modulação e da dominânciade vazios dobre cheios; e o uso demateriais leves, policromia e papéispintados, cuja temática decorativa sãodragões, pássaros e árvores.Marcados pela maior simplicidade,tanto paredes como tetos podiam sercobertos com ouro e cores brilhantes.

    De modo geral, a arquitetura japonesa podeser dividida em duas grandes épocas: a fase shintoísta, que dura até o século VI, quando

    ocorre a introdução do Budismo; a fasebudista, que dura até 1867. Enquanto ostemplos da primeira fase eram recobertos porpedaços de madeira Hinoki , os segundos sãocobertos por telhas cerâmicas (VEIGA, 1980).

    Em sua fase budista, do século VI até oséculo XIX, geralmente divide-se o estilo japonês em 07 períodos, a saber:

    a) Asuka (552-644): Primeiros templos budistas ecampanários, como os de Horyuji e de Hokoji;

    b) Nara (645-783):  Grandes pagodes budistascom influência da Dinastia Tian da China,

    evidente nos templos de Yakushiji e de Heijo;c) Heian (784-1185):  Abandono dos modelos

    chineses e surgimento da versãoShindenzukuri , exemplificada nos templos deByohdan-in e de Kasuga-jinja;

    d) Kamakura (1186-1392):  Quando surgiram ossamurais, o Zen-Budismo e o estilo Karayo;

    e) Muromashi (1393-1572):  Desenvolvimento daversão Karayo, estilo de apuradaornamentação, presente no templo de Tofukuji,em Kyoto;

    f) Momoyama (1573-1614):  Corresponde aoRenascimento europeu, em que apareceram apolicromia e o detalhismo, presente nos

    castelos de Himeji, Okayama e Osaka;g) Tokugawa (1615-1867): Equivalente ao barrocoda Europa, já é considerado uma etapa dedecadência. Destaca-se o templo shintoísta deToshogu, em Nikko.

    Bonsai

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    44 AANNTTIIGGUUIIDDAADDEE CCLLÁÁSSSSIICCAA 

    O interiorismo ocidental antigo encontrouseu esplendor nas civilizações da Grécia ede Roma, as quais criaram e souberamexplorar o sentido de harmonia e deramaos ambientais características estéticasde grande beleza e perfeição técnica. Abusca do equilíbrio, do ritmo e da escalahumana conferiu aos interiores clássicosgraciosidade e harmonia, sem deixar de

    lados questões práticas e funcionais.  As bases das manifestaçõesarquitetônicas da Grécia encontram-senas antigas civilizações pelásgica(Pelasgos), micênica (Micenas) eminoana (Rei Minos), cujas primeirasconstruções ciclópicas 12 constituíram-se de tumbas e templos, mais tardeaperfeiçoados em técnicas utilizando-se blocos de pedra de medidasregulares e argamassa (cantaria);tetos planos de palha, depois telhas

    cerâmicas (VIOLLET-LE-DUC, 1945). As primeiras habitações gregas foramsimples cabanas cônicas de toscas vigas,fincadas no terreno e cobertas de folhasvegetais entrecruzadas e capim. Estasforam substituídas por choças de plantaretangular que começaram a ter divisóriasinternas e serem feitas em madeira eterra, aplicadas com esquadrilhamento.

      Quanto aos romanos, seusantecedentes arquitetônicos datam

    dos etruscos, que viviam em cabanasredondas, feitas com juncos epalmeiras dispostos de forma cônica,mais tarde sobreposto a um recintocilíndrico. Com o tempo, a forma decone foi substituída por uma oblongaou oval. Feitas em pedra e madeira,possuíam iluminação zenital e, porinfluência pelágisca, incorporaramabóbadas rudimentares de pedra. 

    12 Denomina-se ciclópica (do gr, kyklopikos) a técnica deconstrução baseada em grandes pedras apoiadas umassobre as outras, sem argamassas, com os vaziospreenchidos com pequenas pedras. O termo relaciona-seaos ciclopes; seres mitológicos gigantescos com um sóolho no centro da testa, com grande força e habilidademanual.

    EESSTTIILLOO GGRREEGGOO 

     A arte e cultura gregas conheceram oauge de seu desenvolvimento entre osséculos VI e IV aC, sendo sua arquiteturalógica e racional consistindo em lintéissobre colunas que eram ligadas por duasvergas de pedra, a arquitrave. O conjuntoformado por colunas que sustentam umentablamento era chamado de ORDENS.

      As ordens gregas são um exemplode harmonia ritmada, isto porque asdimensões do conjunto eramsubordinadas a uma medida dereferência tomada no edifício: o

    diâmetro ou o raio médio da coluna.Logo, a maior contribuição gregaforam essas ordens, que consistiamem conjuntos formados pelacombinação de coluna  (base, fuste ecapitel) e entablamento  (arquitrave,friso e cornija) (SUMMERSON, 2006).

    Os primeiros templos gregos consistiamde um recinto retangular (naos), ondeguardavam seu deus, junto a um vestíbulo( pronaos) em forma de pórtico comcolunas e a uma sala do tesouro(opistodomos). Eram feitos em pedra eusados apenas para o culto sagrado, jáque as cerimônias religiosas aconteciamao ar livre (CISNEIROS &  ANGUIANO, 1978).

      Para sepultar seus mortos, osgregos primitivos criaram tumbascilíndricas (tolos) que eram utilizadas

    por gerações de uma única família.Depois, apareceram as tumbasretangulares (cestas e sarcófagos).

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    Megaron  (Templo primitivo) 

    Havia basicamente 03 (três) ordensarquitetônicas na Grécia clássica:

    a) ORDEM DÓRICA:  austera, vigorosa erobusta, era associada sempre à beleza erazão. Sua coluna repousava diretamente(sem base) no embasamento(estilóbatos), sendo que a passagem do

    fuste cônico para a arquitrave retangulardava-se através de um capitel de extremasimplicidade: uma placa (ábaco),colocado sobre uma espécie de coxim(equino), cujo perfil, na época áurea, erade uma firmeza admirável13.

    b) ORDEM JÔNICA:  mais leve e graciosa,tinha colunas mais esbeltas e sempredotadas de uma base: ora a base ática,ora a base jônica. A primeira era formadade dois toros separados por uma escócia devido à sombra projetada pelo torosuperior. A função do capitel   desustentação ou de suporte exprimia-se

    pela curvatura14 que ligava duas volutas.

    c) ORDEM CORÍNTIA:  mais rica erebuscada que as anteriores,caracterizava-se pelo seu capitel deaspecto metálico e composto de fileirasde folhas de acanto mole, cujaextremidade era ligeiramente curvada. Oábaco era côncavo e cada ângulorepousava em 02 folhas reduzidas; e oentablamento era de uma riquezaextrema, sendo a cornija enriquecida demodilhões de caixotões esculpidos.

    13  Nenhuma ornamentação, nem no equino nem noábaco, vinha contrariar a função de suporte da coluna sobo entablamento, cujo friso  era dividido em tríglifos e emmétopas, lembranças das construções em madeira. Àscabeças das vigas correspondiam os tríglifos e aos vãosentre as vigas correspondiam as métopas. As gotas representavam as cavilhas que, na construção demadeira, serviam para fixar as tábuas. A cornija compreendia o lacrimal , sustentado pelos mútulos, erecebia sobre a cimalha o frontão e suas duas vertentes(CONTI, 2000).

    14 Essa curvatura dava a impressão de uma mola que seflexionava sob o peso do entablamento, o qual eradividido em 03 faixas formando saliência, um frisodecorado com baixos-relevos e uma cornija com lacrimale cimalha decorada. As caneluras dos fustes das colunas jônicas, ao invés de serem separadas por uma aresta vivacomo na ordem dórica, eram separadas por uma fina tiralisa.

     As CASAS dos ricos atenienses, emborarevelassem um gosto requintado, pelomaterial empregado e simplicidade domobiliário, não alcançaram nunca a

    elegância das construções públicas, e istoporque os homens preferiam de muito avida pública à vida doméstica.

      Eram construídas segundo omesmo esquema das casas da classemédia: um vestíbulo, geralmenteelegante e ornamentado por estátuas,porquanto servia de sala de esperapara os fornecedores e amigos, queconduzia, através de uma segundaporta de entrada e um corredor, aopátio (aulas), e era dominada pelo altarcentral, dedicado a Zeus Herkeios(Deus protetor da casa), e por 02altares laterais, dedicados aos deusesda propriedade e da família. 

     Ao lado do pátio, abriam-se: o apartamentopara hóspedes, os banheiros e as cozinhas,que continham o forno e o moinho de trigo,além de outros numerosos cômodos paraserviços. Ao lado oposto da entrada, abria-se ocômodo dos homens (andronitide), enquantoque o apartamento bastante completo daesposa (gineceu), das crianças e das idosas,ficava no andar superior, indefectível nosprédios urbanos (C ARVALHO, 1993).

      Nas casas suburbanas, o gineceu ficava em continuação ao andronitide,

    e a este se seguia um jardim murado.De vez em quando, o primeiro andarservia de armazém e até de habitaçãode escravos. Em cidades maiorescomo Atenas freqüentemente as casaseram dotadas de 02 ou 03 andares,alugando-se os demais. 

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    Os INTERIORES  gregos caracterizavam-se por sua elegância, ritmo e proporção,além de uma marcante modinatura15 ,completada pela policromia, baixos-

    relevos (tímpanos e frisos

    16

    ) e temáticabaseada em deuses, heróis, folhas deacanto,  palmetas  (palmitos estilizados),rosetas

    17   e formas cardióides, além degregas  ou meandros  (combinações delinhas retas interrompidas).

      Os materiais empregados maiscomuns eram o tijolo cozido para asvedações; o mármore e argamassa(cal, areia e pozolana) para aestruturas e a madeira para o telhadoe escoramento (CONTI, 2000).

    An tefixa Acr otério Palmeta Acan to

    Entre os MOTIVOS DECORATIVOS gregos destacaram-se:

      Antef ixa:   telha estrelar decorada depalmetas, que era fixada na extremidadede cada fileira de telhas planas;

      Acro téri o :   ornamento disposto nacumeeira e nas extremidades do frontãodos templos, cujas formas eram variadas,

    tais como vasos, vitórias, etc.;  Gotei ras:   cabeças de leão empregadas

    para ornamentar as bicas que recebiam aságuas de chuva que saíam pela boca;

    15  Modinatura ou molduragem corresponde ao conjuntodas molduras arquitetônicas gregas, podendo as mesmasserem côncavas (escócias) ou convexas (tosros); ouainda, ao mesmo tempo, côncavas e convexas, como nagola reversa. Nunca o ornato alterava a pureza do perfilda moldura e sim se aliava ao perfil que ele acentuava.

    16  Frisos  são mosaicos e tarjas decorativas, nas quaisformas alongadas amoldam-se às arredondadas, havendo

    a alternância de palmetas e de ramos de lótus estilizados.17  Rosetas  consistiam em folhagens ao redor de umbotão, que ornamentavam freqüentemente o centro doscaixotões das abóbadas greco-romanas (DUCHER, 2001). 

      Contas :   ornatos que se encontravamacima e abaixo de rosetas, na forma derosários, separadas por dois discosbojudos ( piões);

      Óvalos:  ornatos com a forma de um ovo e

    separados por um dardo ou uma flecha;Quanto ao MOBILIÁRIO, os gregosprocuraram se afastar das influênciasorientais e preferiram que, em seusaposentos, tudo fosse inspirado em umapureza de linhas aliada a umasimplicidade de formas, que davam umaimpressão de sóbria elegância.

     O que se sabe sobre os móveis foiobtido, na maior parte, por meio dacerâmica e dos baixos-relevos,observando-se grande influênciaegípcia. As madeiras mais utilizadasforam o pinho e o cedro, mas, como osgregos tinham por hábito a vida maisao ar livre que em recintos fechados,tanto a vida pública como a privada,utilizaram outros materiais maisresistentes para o mobiliário, tais comoo bronze (trabalhado com repuxados ecinzelados), o granito e o mármore(geralmente lavrado).

    Como no Egito, as madeiras eramrecobertas com folhas de metal ou

    filetadas; e os tecidos muito ricos, deprocedência e/ou estilo oriental. Ascores mais usadas na mobília foram overmelho, o azul, o amarelo e o verde.

    Na Grécia antiga, os móveis mais usadoseram a cadeira, a mesa, a arca, a cama eo triclínio18. As cadeiras (klismos)possuíam encosto; respaldo côncavo, àsvezes, com almofada; pés geralmentecurvos, próprios para solos terrosos, emforma de patas de animais, sendo usadastambém cadeiras sem encosto, comobanquetas sem grandes detalhes.

    18 O triclínio (do gr. triklinion) era um móvel que se situavaentre a cama e o sofá, com três lugares, que tinha porfinalidade acolher as pessoas para as refeições;possuindo geralmente a forma em U, com assento largo.

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      Uma poltrona grega rara quechegou aos nossos dias foi aquelaencontrada no Teatro de Dionísio, feitade mármore, cujo espaldar é ornadode pescoços de cisnes; e está

    pousada sobre patas de leões.

     A mesa grega comum era bastantesimples, com 04 pés, sendo que podia ter

    03 pés (trípode), quando era usadageralmente como aparador. A arca tinhatampa reta ou curva, de madeira pintadacom assuntos mitológicos, palmetas eovais, havendo também tampas em 02águas. A cama grega (kline) era altíssimae semelhante à dos egípcios. Tinha péstorneados, acabando em volutas, comdesenhos estilizados de palmas, ovais eoutros ornamentos (CONTI, 2000).

    EESSTTIILLOO RROOMMAANNOO 

    Os antigos romanos herdaram dosetruscos e dos romanos a maioria do seuconhecimento artístico e arquitetônico,acabando por se apropriarem das ordensclássicas. Suas colunas dóricas possuíambase, a arquitrave ficava a prumo dacoluna em vez de ser saliente e o friso eramuitas vezes ornado de bucrânios19.

      A ordem jônica romano tinha um

    capitel cujas volutas eram menoresque as gregas e o entablamento maisrico, decorados com guirlandas20  e debase ática. A ordem compósita  foi aaliança romana do estilo jônico com ocoríntio gregos, encontradaprincipalmente nos arcos de triunfo. 

    19  Bucrânios  eram ornamentos romanos representandocrânios de boi com os chifres enguirlandados, uma vezque destes pendiam cascatas de folhagens,especialmente utilizados nas métopas dos frisos daordem dórica romana.

    20

     Guirlandas eram em geral bastante pesadas, ligando asfiguras de Amores alados que se alternavam comcandelabros, e encontradas freqüentementeornamentando os frisos da ordem jônica romana(DUCHER, 2001). 

     A arquitetura antiga de Roma égeralmente dividida em 04 grandesépocas, a saber:

      Período primitivo (750-27 aC):  fase da

    arquitetura etrusca e da República, comgrande influência grega;

      Período augusto (27 aC-69 dC): fase emque dominou a arquitetura helenística, noinício do Império;

      Período flaviano (69-211 dC): época dosFlávios e Antoninos até Sétimo Severo,correspondente ao apogeu da arquiteturaromana;

      Período da decadência (211-324 dC): fase do terceiro século do Império,marcada pelas lutas e queda.

    Inicialmente, os romanos construíramsuas casas aos moldes etruscos, ou seja,habitações quadradas somente com umaporta que conduzia a um pátio coberto(atrium) e a um centro de teto com umaabertura que permitia a entrada de ar eluz. Quando da chuva, permitia recolher aágua em um tanque (impluvio). Este tipode residência urbana chamava-se domus.

      Construídas em pedra, tijolo eladrilho, tais moradias possuíam umgrande vestíbulo enobrecido por uma

    abóbada de berço e provido debancadas para visitantes, além depinturas decorativas.  Daí, passava-se para outro vestíbulo menor, aolado do qual se dispunham osaposentos e o qual conduzia a umpequeno átrio com seu impluvio.

    Seguia-se geralmente um átrio maior rodeadode pórticos de colunas em pedra, em cujo umdos extremos situava-se uma bancadasemicircular de mármore branco que rodeavaum grande impluvio. Ao final, um amplotriclínio para reuniões sociais. Daí se

    distribuíam os dormitórios, a biblioteca, orefeitório, a cozinha, salas de descanso ebanho, e demais serviços (TERELA, 1994).

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    Nas habitações romanas mais suntuosas,havia vários locais para banhos: a vapor(caldarium), mornos (tepidarium) e frios(frigidarium), sendo que a calefação dava-seatravés de um sistema central denominado

    hipocausto, que consistia em fazer subir arquente por debaixo dos pisos, através do fogode um forno a lenha. Geralmente, osaposentos dos servos eram recintos anexos.

      Além da domus urbana, os antigosromanos também construíram casasde campo denominadas ville  emoradias de vários pavimentoschamadas de insulae. Em todos oscasos, os ambientes eramcaracterizados por pinturas murais(afrescos) e pela ornamentação em

    estuques21

    , relevos geralmente aliadosa pinturas coloridas, bastanteinfluenciados pelos ambientes gregos.

    Nos INTERIORES  romanos, os afrescosformavam grandes painéis que tinham, nocentro, um pequeno motivo alegórico, etambém uma arquitetura fingida, comcolunas de uma leveza irrealizável, em umconjunto muito complexo e de aspectofrágil; além de estuques e pinturas, querepresentavam muitas vezes temasfantasiosos e mitológicos, reunidos emarabescos ou em combinaçõesgeométricas (grutescos22 ).  As corespredominantes eram o ocre, o preto e overmelho-acastanhado (TERELA, 1994).

    21  Estuque  (do italiano, stucco) corresponde a um

    revestimento bastante utilizado em paredes, preparadocom várias demãos de uma massa básica (gesso, água ecola). Depois, lixa-se a superfície, para mostrar asdiferentes camadas de massa. Embora tenha surgido naRoma antiga, foi amplamente difundido, adquirindoespecial refinamento em Veneza e tornando-seamplamente usado no Barroco.

    22  Grutescos  ou grotescos  (do italiano, grottesco, de

    grotta; gruta) eram composições romanas caprichosas,

    embora freqüentemente ordenadas em simetria vertical,misturando arabescos, elementos vegetais e figurasimaginárias, que se tornaram fontes de inspiração para aarte ocidental desde o século XVI (Giovanni da Udine) atéo Neoclassicismo.

    Coro a Águia Óvalos e Ros eta

    Fr isos

    Os MOTIVOS DECORATIVOS  romanosmais freqüentes eram:

      Folhagens espiraladas:  enrolamentos defolhas de acanto ao redor de uma roseta,começando em geral num torso de Amoralado, cuja parte inferior prolongava-se emuma base de folhagem;

      Coroas:   ornamento de aspecto pesado,geralmente de belo lavrado, sendo que namaioria das vezes possuía 02 fitas naparte inferior desenvolvendo-se na lateral,expressando distinção e boa sorte;

      Guir landas: ornato leve feito de umentrelaçado de folhas, flores e, ás vezes,frutas, que cai entre dois pontos ou umasérie de pontos aos quais está ligada,simbolizando progresso e felicidade; 

      Vitórias aladas:   alegorias cujos pésrepousam em um globo e que eramcolocadas muitas vezes nas pedrasangulares dos arcos de triunfo;

      Águias:   freqüentemente apresentadas defrente, com as asas abaixadas e a cabeçade perfil.

    Conforme C ARVALHO  (1993), o MOBILIÁRIO romano – todo realizado em estrutura rígida  –,somente pode ser estudado a fundo por meiodas ruínas de Pompéia e Herculano, cidadessoterradas devido à erupção do Vesúvio, em79 dC. Suas descobertas arqueológicas

    permitiram reconstituir o modo de vida dosromanos, assim como a organização eornamentação de seus recintos.

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     A mobília doméstica romana era feita emmadeira, pedra e bronze, embora tenhamsido encontrados móveis de vime. Aqueles em bronze eram muito ricos, àsvezes gravados e cinzelados; outras,recobertos de prata e outros metaispreciosos. Os elementos mais freqüentesera a cadeira, a arca, a cama, a mesa eseus respectivos adornos (VEIGA, 1980).

      Os trípodes  serviam de altaresportáteis, consistindo em uma bacia debronze assentada num tripé de metal,a qual servia para o vinho das libaçõesou para o incenso. Foi bastanteutilizado na época o chamado larário (do lat. lararium), que era um tipo de

    oratório, localizado no vestíbulo e quese prestava às orações dedicadas aosantepassados ( penates), aos deuseslares e ao genius do pai da família.

     As CADEIRAS  romanas eram “circulares”ou cilíndricas, feitas em bronze, pedra ouvime. Algumas traziam descanso para ospés. Possuíam as pernas torneadasterminando com discos finos ( péslenticulares) ou mesmo cariátides23,copiadas dos gregos. Nessa época,apareceu a curul   (do lat. curulis; carro),

    que era uma banqueta com pés cruzados,sem encosto e ornada com placas demarfim, às vezes, com alças paratransporte de magistrados.

    23 As cariátides  – ou Kore  – eram figuras escultóricas demulheres com vestes longas carregando moldurasornamentais, bastante típicas na Grécia antiga e utilizadana decoração de colunas. Por causa do comportamentotraiçoeiro da aldeia grega de Karyai nas guerras persas,todas as mulheres que ali viviam foram tratadas comoescravas. Por isto, o termo também significava “escrava”.Seu equivalente masculino eram os atlantes  – ou Atlas  –,uma forte figura de homem, cujo nome derivava daqueleportador da abóbada celeste, o qual passava a sustentaro edifício ou móvel em lugar de colunas ou pilaretes.

      Bastante diversificados, osassentos eram constituídos em váriasformas e dimensões. O leito tinhaespecial destaque, pois não serviasomente para dormir, mas também

    para comer, escrever, etc., possuindodiferentes formatos e enriquecido poralmofadas e fazendas preciosas.Geralmente, as camas de repousoeram feitas em bronze, sendo quepassou a ser cada vez mais importanteo tecido de revestimento, em forma dealmofadões e tapeçarias.

     As ARCAS  romanas eram semelhantesàs dos egípcios e dos gregos, porém compés mais largos. Os romanos utilizavamtambém o triclínio (triklinion) e

    costumavam recobri-lo igualmente comricas tapeçarias. Situava-se numa sala deestar (triclinicum) composta geralmentepor três leitos (klines).

     Para a iluminação, eram utilizadoslampadários  e candelabros. Oslampadários  (do lat. lampadarius)apresentavam muitas vezes a formade uma taça com múltiplos bicos, já oscandelabros  (do lat. candelabrum)repousavam em 03 pés em garras,sendo feitos em bronze ou mármore,

    altos e ornamentados, tendo ocandeeiro

    24 no alto. 

     As MESAS  romanas apresentaram-se devários formatos: redondas, quadradas ouretangulares; com pés de pedra oubronze, torneados ou estriados,terminando em garras; e com tampos demadeiras exóticas. Surgiu o cartibulum,uma mesa de três pés, geralmente usadacomo aparador – o que também aconteciana Grécia  –, além da “mesa de campo”,de mecanismo dobrável em bronze(NONELL, 1980; O ATES, 1991).

    24  O candeeiro  é um utensílio destinado a produzir luz,queimando óleo ou gás inflamável.

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    55 EESSTTIILLOOSS MMEEDDIIEEVVAAIISS 

    Não decorreram 20 anos após o triunfo doCristianismo sem que desmoronasse aunidade do poderio romano sobre aEuropa, o qual se dividiu no Império doOcidente, derrubado 150 anos depoispelas invasões dos bárbaros; e o doOriente, que sobreviveu ainda 600 anos.

       A IDADE MÉDIA  durou

    aproximadamente dez séculos, do Vao XV, e se caracterizou pelapolimerização da sociedade ocidental,especialmente devido ao Feudalismo;pela ascensão do poder da Igrejacatólica e pelo surgimento doislamismo, além de váriastransformações sociais, políticas eeconômicas, concentradas na Europa. 

     A ARQUITETURA CRISTàoriginou-se dasíntese contraditória tanto de um surtocomo de uma decadência. As invasõesdos povos do Norte europeu derrocaram oImpério de Roma e, simultaneamente,quando florescia, na Pérsia, a civilizaçãosassânida. Enquanto isso, as caravanaspercorriam a Síria e a Armênia,espargindo a fusão de elementos greco-romanos e persas, que iriam ter umencontro famoso em Constantinopla. 

      Antes chamada Bizâncio e hojeIstambul , essa cidade foi fundada em750 aC, deixando de ser colônia gregaquando, conquistada pelos romanos

    em 326 dC, passou a ser a capital doImpério de Constantino. Foi nela quese processou o encontro dasarquiteturas oriental e ocidental. 

    Do Oriente, chegaram a cor e a riqueza dosmateriais de decoração e interiores, enquantoque do Ocidente vieram as belas proporções eo arrojo construtivo. A cúpula e as colunasgreco-romanas integraram nessa cidade umconjunto dentro do qual se estruturou umgenuíno rosário de construções religiosas degrande valor plástico. Os arcos, abóbadas

    e cúpulas foram os elementos construtivos quese movimentaram e regulamentaram o sentidoplástico e estático do Estilo Bizantino.

    Enquanto no Oriente bizantino e tambémna esfera muçulmana, a arquiteturadesenvolvia-se de maneira magnificente,no Ocidente medieval, terrivelmenteacossado pelos bárbaros, a carência detempo e de paz, assim como a escassezde recursos no campo das criaçõesartísticas mantiveram-na estagnada.

     Refugia-se assim a arquitetura nosclaustros dos mosteiros e abadias,limitando-se à imitação e reproduçãodos planos bizantinos. Com a chegadados séculos XI, com suasperegrinações em massa, e XII, comas Cruzadas e as Comunas, nasceriao Estilo Românico, expressão daépoca em que se constituíam osidiomas “romance”, próprios de cadanacionalidade de raça latina mas todosdegenerados da língua romana.

    O  principal caráter que distinguia aARQUITETURA ROMÂNICA foi o de umatransformação das formas latinas,resultante de 02 componentes: uma queera a necessidade de se construir temploscristãos em mais profusão que asmesquitas e mais duráveis que asbasílicas romanas. A segunda mergulhavaas suas raízes no estudo dosmonumentos sírios, persas e bizantinos,cuja tônica era a abóbada.

     Não existe uma linha demarcatória

    ou fronteira nítida que configure comclareza a passagem da arquiteturaromânica para a gótica que lhe seguiu.Das experiências anteriores comabóbadas e cúpulas, passou-se àoutra pesquisa eminentementetécnica, que se estendeu sobre ambosperíodos: abobadar a basílica latina.

    Paralelamente, a demanda por vãosmaiores fez nascer a pesquisaestrutural das construções góticas,todas marcadas pelas abóbadas de

    arestas, pelos arcos ogivais e peloscontrafortes de pedra, típicos do EstiloGótico, do final da Idade Média.

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     A CASA MEDIEVAL  diferenciava-seradicalmente das casas romanas,adquirindo maior importância em relaçãoà crescente progressão da burguesia que

    florescia a partir da segunda metade daIdade Média. Além disso, no períodofeudal, as vivendas senhorias foramconstruídas muitas vezes no campo,ficando nos centros urbanos apenas ashabitações dos burgueses e mercadores.

      Os grandes pátios, átrios eperistilos  –  que se constituíam nasprincipais características das casasromanas  –  tenderam a se reduzir asimples pátios de serviços, ao passoque a entrada conduzia diretamente a

    uma ampla sala de estar. Contígua aesta ficava a cozinha, enquanto osoutros locais de serviços dedesenvolviam entorno de um pátio.

    Geralmente, no piso superior da casa urbana,agrupavam-se os dormitórios, aos quais sechegava, às vezes, por meio de escadasexteriores, as quais com o tempo adquiriamelegância ornamental. Os alicerces eramutilizados como aposentos de serviços e,

    quando as plantas térreas eram destinadas alojas, toda a moradia concentrava-se noprimeiro andar. Os conjuntos eram construídosapinhados, ao redor da casa comunal, tambémde severa arquitetura (CISNEIROS &  ANGUIANO,1978).

      Construídas em técnicas mistas,utilizando madeira e tijolo através deestruturas entrecruzadas (sistema deenxaiméis), as casas urbanasdestinavam-se aos comerciantes,enquanto a nobreza se isolava emcastelos e burgos, caracterizados poruma sólida arquitetura militar, baseadana tradição da cantaria e dos murosciclópicos (GRIFFINI, 1950).

    De características exteriores praticamentehomogêneas, a habitação da Idade Médiadistinguia-se somente pelo nome de seu

    proprietário ou pela inclusão de umafigura ou emblema pintado ou esculpidona sua fachada. Já seus INTERIORES eram práticos e confortáveis, embora nemsempre salubres, já que careciam deiluminação e ventilação naturais.

      O mobiliário medieval ainda erabastante rudimentar e escasso, masas superfícies eram geralmentedecoradas com pinturas e tapeçarias.Eram comuns um florido portal depedra, balcões com balaustradas

    entalhadas ou pisos ladrilhados, o quedemonstrava o exímio trabalho deartesãos e suas respectivas guildas..

    EESSTTIILLOO BBIIZZAANNTTIINNOO 

     Atingindo seu grau mais elevado noséculo VI, o Estilo Bizantino  estendeu-sepor todo o norte da África, pelos EstadosBalcânicos e pela Itália. Com o Império

    Macedônico, no século IX, tomou novavida e misturou-se com o Românico,atingindo toda a Europa até o século XII.

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    Sua característica ornamental maismarcante era uma espécie de gravura empedra que lembrava um bordado, oMOSAICO, que foi amplamente

    empregando em pisos e paredes, alémdos capitéis de colunas, que eramesculpidos de acordo com esse processo.

      Compostos pela reunião depequenos cubos esmaltados, osmosaicos bizantinos ocupavam o lugarmais importante na decoração deinteriores. Freqüentemente, umenorme Deus em majestadeornamentava a abóbada da abside dasigrejas da época, sendo geralmenteacompanhado de painéis laterais,onde se representavampersonalidades e passagens bíblicas,além dos símbolos cristãos (cruzes,hóstias, cálices, pastores e ovelhas).

     As BASÍLICAS constantinianas possuíamuma seqüência axial dos espaços e odesenvolvimento da planta em T(simbolismo da nave e transepto comocruz latina). As paredes eram em geralpouco sólidas, de tijolo ou mesmo tufo.Havia ainda pequenas janelas, em geralsem vidro, protegidas por tecido ou

    lamelas recortadas de alabastro oumármore fino, polido e furado (transenas).

      Os pisos estavam integrados demosaicos policrômicos que seresolviam em desenhos caprichosos,sendo também as abóbadasdecoradas com painéis do mesmomaterial e representando figurasreligiosas. As coberturas mais comunseram em abóbada de berço, dearesta e sobre pendentes. Eramtambém freqüentes as colunas de

    capitel bizantino (pirâmideinvertida), cúbico, em cálice ou deduplo estádio, além do esculpido.

    Capitel Simp les Cesto Cálice

    Figuras Cúbico Pedras angulares

     Além dos mosaicos dourados e dos capitéisesculpidos, os INTERIORES  bizantinos eramcaracterizados pelo seu aspecto rico esuntuoso, obtido a partir da policromia e brilhoque acabavam por romper sua austeridade epesadez. Feitos predominantemente em pedra(mármore e outras), os ambientes possuíamaltos-relevos, frisos e entrelaçamentos, ouseja, motivos decorativos originários daMesopotâmia de grande fantasia e valorornamental (DUCHER, 2001).

    O MOBILIÁRIO bizantino limitou-sea pesadas arcas, bancadas simples ecamas de características romanas,destacando-se os tronos, estesconstruídos em nogueira e pau-marfim, com peças torneadas eincrustrações (RODRIGUES, 1990).

    EESSTTIILLOO RROOMMÂÂNNIICCOO 

    Contemporânea ao desenvolvimento dasociedade feudal e das ordensmonásticas da Idade Média, a ARTEROMÂNICA  (do lat. romanicus) surgiu nofinal do século X, desaparecendo nodesabrochar do gótico, por volta de 1140

    e 1150 na Île-de-France, seu local deorigem; e no início do século XIII, nosoutros lugares da Europa (ARRESE, 1997).

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      O Estilo Românico  espalhou-sepela Alemanha e restante da França,sendo resultado da confluência devárias linhas artísticas, como oRomano, o Bizantino  e o Oriental .

    Englobou desde a arte romanagaulesa até a arte bárbara,confundindo-se com o Estilo Gótico. 

     A ARQUITETURA ROMÂNICA  foi marcadapelo emprego de abóbadas, principalmente asde berço de volta inteira (meio-cilíndricas) ecom arcos transversais, destinados a reforçá-las. A abóbada de aresta era constituída pelapenetração de duas abóbadas de berço, o queera traduzido por arestas salientes e melhordistribuição de empuxos.

       As cúpulas mais usadas foramaquelas sobre trompas  ou sobre pendentes: elementos que permitiam apassagem do plano quadrado (nocruzeiro do transepto) para o plano

    circular (no nível da cúpula) no casodos pendentes, ou para o planooctogonal no caso das trompas.Também eram empregados colunasadossadas, pilastras e contrafortes25. 

    Sóbrios e de aspecto resistente, osINTERIORES  românicos caracterizavam-sepela repetição de elementos construtivos, taiscomo janelas e colunas geminadas; além deuma decoração pesada e escura, comtemática baseada em motivos gregos,meandros, losangos, pontas de diamante,

    animais e monstros (LUCIE-SMITH, 1997).

    25Contrafortes  eram maciços salientes de alvenaria que

    davam apoio à parede externa do recinto a fim deamortecer o empuxo das abóbadas, sendo bastanteutilizados no Estilo Românico, assim como no EstiloGótico.

    Eram usados vários tipos de capitéis no EstiloRomânico, inclusive alguns com cenas oufiguras históricas, verdadeiras imitações daordem greco-romana coríntia e do Bizantino (KOCH, 2993; CONTI, 1995). 

    Capi tel cúbico Besantes Ti jolos

    Palmetas Bestas Parras

    Botões Folhagens Figuras  

    O cesto do capitel podia conter umaornamentação: geométrica  (óvalos eentrelaçamentos), vegetal   (palmetas efolhagens), animalista  (grifos e leõesdefrontados) ou historiada  (cenas do Antigo e do Novo Testamento). Emborapodendo ser derivado do capitel coríntio(a folha de acanto aparecia então nasvolutas de ângulo), encontravam-sediferentes espécies de talhas:

      Capitel cúbico , de origem bizantina,difundido sobretudo no Nordeste na

    França, trazendo uma decoração vegetalou geométrica talhada em relevoescavado;

      Capi tel em tronco de pirâmide inv ert ida ,de origem islâmica (moçárabe);

      Capi tel geminado , que comportava umcesto que desdobrava em 02 partes parase assentar nos fustes de 02 colunasdistintas.

     As colunas podiam ser lisas ou possuíremanéis ou nós, havendo ainda as torcidas.Já as janelas podiam ser em simples ou

    duplas, com formato em arco, circularesou em lóculos. A influência árabe se fezpresente através de arcos trilobados.

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      Além de um repertório oriundo da Antiguidade greco-romana (folhagensespiraladas e gregas), cumpresalientar a importância dascontribuições orientais para o Estilo

    Românico por intermédio de Bizâncio edo Islã ibérico, assim como apersistência de tradições celtas.

    Na DECORAÇÃO  românica, oselementos geométricos eram numerosos,aparecendo geralmente em frisos (faixaslombardas) de vários formatos, entre osquais: entrelaçamentos, gregas,meandros, placas, fusos, cordões,escamas, fitas pregueadas, ziguezagues(chévrons), besantes26, dentes de serra,

    tabuleiros de xadrez e assim por diante.Era comum estarem associados a ornatosmuçulmanos, como fitas de pérolas earcadas trilobadas; e animais fantásticos.

      Usavam-se  também modilhões,que eram pequenos consolos, deorigem romana, muitas vezesesculpidos com rosetas ou cabeças demonstros, colocados sobre umacornija (DUCHER, 2001).

    26  Besantes  (do lat. bizantium, atr. do fr. besant ) eramornatos constituídos por uma série linear de discoseqüidistantes, em formas de moedas. A referência era demoedas de ouro do Império Bizantino, cunhadas emConstantinopla do século XII até o XIV, sendo que taldesignação também foi dada a outras moedas orientais.

    Tendo em vista que na  Alta Idade Média,quando se iniciou e se propagou a filosofiacristã, a prioridade do ser humano estava nodesenvolvimento da espiritualidade e nasalvação da alma, desprezando-se a maior

    parte dos valores materiais ou qualquer coisaassociada ao prazer corpóreo, o quepredominou nos ambientes internos foi ocaráter austero, onde não existiam grandesriquezas ou um mobiliário muito suntuoso.

      Exceto os interiores religiosos oudas castas superiores, havia grandecarência de móveis, os quais sedestinavam  mais a tarefas práticasde depósito de materiais ou apoioàs atividades domésticas.

    Desse modo, o MOBILIÁRIO  românicoapresentou-se com poucas novidades emrelação ao romano e ao bizantino, sendoos móveis mais utilizados: a cadeira, amesa, a cama, o escritório, a arca e aestante. As CADEIRAS  eram bastantesimples e pobres, sem detalhessignificativos, utilizando-se longos bancosde costas abertas em demasia, assimcomo banquetas individuais, geralmenteem forma de X. Há registro de já existiremcadeiras dobráveis feitas em bronze ou

    em ferro forjado. Os TRONOS eram pesados, feitosem madeira maciça (carvalho enogueira) e ricamente talhados. Seusassentos eram retangulares eespaldares altos, estes muitas vezesdecorados com figuras religiosas. Aoseu lado, os cofres e as arcas eram osmóveis melhor trabalhos em termosdecorativos, recebendo talhas eincrustações. Estes podiam ter tampaplana ou em duas águas; às vezes

    apareciam associados a bancadas,com costas altas e braços laterais(O ATES, 1991). 

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    Quanto às MESAS românicas, estas erambastante longas, compostas por largastábuas sobre cavaletes. Daí a origem dasexpressões “pôr a mesa” e “tirar a mesa”.

    Sobre a tábua, colocava-se uma tapeçariagrossa, caindo dos lados, geralmente comfranjas.

      Já as CAMAS  românicasapresentaram-se em geral muito altas. As laterais também eram elevadaspara dissimular o colchão. Em funçãoda altura desta lateral, havia anecessidade de uma interrupção nocentro, para facilitar o acesso de quemse deitava ou levantava.

     Aparecem os primeiros baldaquins  ou

    baldaquinos, que eram uma espécie de dosselou pálio; uma armação de madeira levantadasobr