2015 -FLLOG¢©DOLW¢©KVLOP ¢©VVLV¢©O¢©ULQ¢©T¢©EXO 2015 -fllog¢©dolw¢©kvlop ¢©vvlv¢©o¢©ulq¢©t¢©exo
Apostila_genética_2003
Transcript of Apostila_genética_2003
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UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO
TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE
Alexandra A. C. NascimentoEnilza Maria Espreafico
Maria Luisa Pa LarsonNdia MonesiNilce Maria Martinez RossiVanderlei Rodrigues
Reviso 1: Eliana Valria PatussiMrcia A. S. Graminha
Reviso 2: Fbio Mrcio SquinaJosane de Freitas SousaRoberto RullerValeria Valente
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I. CONCEITOS BSICOS
1. INTRODUO
At a dcada de 70, o DNA era o componente celular mais difcil deser analisado. Sua sequncia de nucleotdeos de enorme tamanho e
monotonia qumica era geralmente analisada atravs de meios indiretos
como a sequncia de protenas e anlise gentica. A partir da dcada de
70 novas tecnologias foram desenvolvidas permitindo o isolamento e a
purificao de genes especficos num processo chamado de clonagem
gnica. Na verdade, muitas destas tcnicas so provenientes da
Microbiologia, Bioqumica, Imunologia e Gentica Microbiana e
permitiram que a anlise do DNA ganhasse um novo enfoque. O DNA
tornou-se ento, a molcula mais fcil de ser analisada, sendo possvel
isolar regies especficas, obt-las em grande quantidade e determinar a
sua seqncia numa velocidade de milhares de nucleotdeos por dia.
A Tecnologia do DNA recombinante, como se convencionou
denominar este conjunto de tcnicas, tem uma ampla aplicao. Ela podeser usada para estudar mecanismos de replicao e expresso gnica, na
determinao da seqncia de um gene e conseqentemente da protena
que ele codifica, ou no desenvolvimento de culturas microbianas capazes
de produzir substncias teis tais como a insulina humana, hormnio de
crescimento, vacinas e enzimas industriais em grandes quantidades. Sua
aplicao comercial ou biotecnolgica parece ter um potencial
inesgotvel.
Como conseqncia do desenvolvimento desta tecnologia
atualmente possvel realizar investigao de paternidade e o diagnstico
de doenas genticas e infecciosas atravs da anlise de DNA.
2. CONCEITO DE CLONAGEM MOLECULAR
A origem do termo clonagem vem da Gentica Bacteriana que
considera uma colnia de bactrias como um clone porque todos os
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indivduos so geneticamente idnticos bactria inicial.
A tcnica central da metodologia do DNA recombinante a
clonagem molecular, a qual consiste no isolamento e propagao de
molculas de DNA idnticas. A clonagem molecular compreende pelo
menos dois estgios importantes. Primeiro, o fragmento do DNA de
interesse chamado de inserto ligado a uma outra molcula de DNA
chamada de vetorpara formar o que se chama de DNArecombinante.
Segundo, a molcula do DNA recombinante introduzida numa clula
hospedeira compatvel, num processo chamado de transformao. A
clula hospedeira que adquiriu a molcula do DNA recombinante agora
chamada de transformante ou clula transformada.Um nico transformante, em condies ideais, sofre muitos ciclos
de diviso celular, produzindo uma colnia que contm milhares de
cpias do DNA recombinante.
3. ENZIMAS DE RESTRIO
Em 1953 foi descrito um estranho fenmeno no qual a eficincia dareplicao de um bacterifago (vrus de bactrias) dependia da clula
hospedeira na qual ele estava inserido. Algum tempo depois percebeu-se
que a inabilidade de certos fagos crescerem em determinadas linhagens
bacterianas era devido a presena de nucleases altamente especficas
que clivavam o seu DNA. Isto pode ser encarado como um sistema de
defesa bacteriano que degrada DNA que lhe estranho (restrio). A
bactria protege seu prprio DNA desta degradao camuflando-oatravs da metilao de algumas bases especficas (modificao). Como
conseqncia, este sistema frequentemente descrito como fenmeno
da restrio/modificao e existe em um grande nmero de bactrias.
As enzimas de restrio ou endonucleases de restrio so divididas
em vrias classes, dependendo da estrutura, da atividade e dos stios de
reconhecimento e clivagem. As enzimas do Tipo II, as mais importantes
na Tecnologia do DNA Recombinante, so proteinas monomricas ou
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dimricas e clivam o DNA no mesmo stio do seu reconhecimento. O stio
de reconhecimento deste tipo de enzima normalmente uma seqncia
palindrmica, isto , ela tem um eixo de simetria e a seqncia de
bases de uma fita a mesma da fita complementar, quando lida na
direo oposta (Figura 1).
Figura 1. Os dois tipos de clivagem feitos por enzimas de restrio. As setasindicam os stios de clivagem e as linhas pontilhadas representam o centro desimetria da sequncia.
Estas enzimas reconhecem seqncias especficas de 4 a 8 pares
de base (pb) na molcula de DNA e fazem dois cortes, um em cada fita.
H 2 tipos distintos de clivagens: a) os dois cortes ocorrem no eixo de
simetria da seqncia especfica, gerando extremidades abruptas, ou b)
os cortes so feitos simetricamente, porm, fora do eixo de simetria,
gerando extremidades coesivas. Estes dois tipos de clivagens e suas
conseqncias esto mostrados na Figura 1.Atualmente, mais de 1000 enzimas de restrio j foram
identificadas. A nomenclatura desenvolvida foi baseada na abreviao do
nome do microrganismo do qual a enzima foi isolada. A primeira letra
representa o gnero e as outras duas a espcie, seguido de um algarismo
romano (ou outra letra) que indica a ordem da descoberta ou a linhagem
da qual ela foi isolada. Por exemplo, a enzima de restrio denominada
de EcoRI purificada de uma Escherichia coli que carrega um fator de
transferncia de resistncia RI, enquanto que a Hind III isolada da
3
a ) C l i v a g e m n o e i x o d e s i m e t r i a
M o l c u l a s c o m e x t r e m i d a d e s a b r u p t a s M o l c u l a s c o m e x t r e m i d a d e s c o e s i v a s
b ) C l i v a g e m s i m t r i c a m e n t e s i t u a d a a or e d o r d o e i x o d e s i m e t r i a
. . . T C G A . . .
. . . A G C T . . .
3
5 3
5
+
. . . G A A T T C . . .
. . . C T T A A G . . .
+
3
5 3
5
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Haemophilus influenzae, linhagem d III.
A Tabela 1 mostra a seqncia palindrmica e o local de clivagem
de algumas enzimas de restrio. Note que algumas enzimas deixam
terminaes coesivas enquanto que outras fazem cortes abruptos ou no
coesivos.
Tabela 1. Algumas endonucleases de restrio: origem e stios de clivagem. A
seta indica o local de clivagem. Pu e Pi referem-se, respectivamente, a
qualquer purina e pirimidina.
O interesse por estas enzimas de restrio aumentou em 1973quando se percebeu que elas poderiam ser usadas para fragmentar o
4
M i c r o r g a n i s m o E n z i m a S e q u n c i a A l v o
E c o R IE s c h e r i c h i a c o l i
B a c i l l u s a m y l o l i q u e f a c i e n s H
H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s
H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s
H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s
P r o v i d e n c i a s t u a r t i i
S t r e p t o c o c c u s a l b u s G
T h e r m u s a q u a t i c u s
S e r r a t i a m a r c e s c e n s
B r e v i b a c t e r i u m a l b i d i u m
B a c i l l u s g l o b i g i i
B a m H I
B g l I I
P s t I
B a l I
S m a I
H a e I I I
T a q I
S a l I
H i n d I I I
H a e I I
G A A T T C
C T T A A G
G G A T C C
C C T A G G
A G A T C T
T C T A G A
P G C G C P iP i C G C G P
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y u
A A G C T T
T T C G A A
C T G C A G
G A C G T C
G T C G A C
C A G C T G
T G G C C A
A C C G G T
A G G C C T
T C C G G A
C C C G G GG G G C C C
T C G A
A G C T
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DNA deixando extremidades de fitas simples de DNA que permitiam a
ligao dos fragmentos. Isto significava que a recombinao poderia ser
efetuada em tubos de ensaio. Alm disto, DNA bacteriano poderia
recombinar com DNA humano ou de qualquer outra espcie, abrindo a
possibilidade de clonar genes humanos ou isolar protenas de culturas
bacterianas.
Uma importante conseqncia da especificidade destas enzimas de
restrio que o nmero de clivagens feito por cada uma delas no DNA
de qualquer organismo definido e permite o isolamento de fragmentos
deste DNA. Portanto, cada enzima de restrio gera uma famlia nica de
fragmentos quando cliva uma molcula de DNA especfica. Enzimas quereconhecem stios de restrio compostos por 4 pares de bases clivam o
DNA em mdia a cada 256 nucleotdeos (44=256). Aquelas que
reconhecem stios com 6 e 8 pb clivam o DNA em mdia a cada 4096 e
65536 pb, respectivamente. No entanto, esta mdia pode sofrer
variaes significativas, dependendo principalmente da composio de
bases do DNA analisado. Por exemplo, a enzima NotI reconhece um stio
de restrio contendo 8pb, incluindo nucleotdeos CpG, que raramente
ocorre no DNA de mamferos.
A famlia de fragmentos gerados por digesto com enzima de
restrio geralmente detectada pela separao destes fragmentos por
eletroforese em gel de agarose. Os fragmentos migram em funo de
seus pesos moleculares sendo que os menores migram mais rapidamente
(Figura 2).
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Figura 2. Molculas de DNA de tamanhos diferentes podem ser separadas poreletroforese. Molculas menores movem-se mais rapidamente que molculasmaiores, tornando-se portanto separadas em bandas. O DNA corado combrometo de etdio, uma molcula que fluoresce quando iluminada com luzUltra Violeta.
4. CONSTRUO DO DNA RECOMBINANTE
Uma enzima de restrio particular reconhece somente uma
seqncia nica de bases. DNAs de origens diferentes sob a ao da
mesma enzima de restrio produzem fragmentos com o mesmo
conjunto de extremidades fitas simples. Portanto, fragmentos de dois
diferentes organismos (por exemplo, bactria e homem) podem ser
ligados por renaturao das regies de fita simples. Alm disto, se a
ligao for "selada" com a enzima DNA ligase, depois do pareamento debases, os fragmentos sero ligados permanentemente.
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S
e
n
t
i
d
o
d
a
m
i
g
r
a
o
P a r e s d eb a s e
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A tcnica de DNA recombinante tem um interesse especial se uma
das fontes de DNA clivado for um plasmdeo.
Figura 3. Construo de uma molcula de DNA hbrida a partir de fragmentosde diferentes organismos obtidos com o uso de enzima de restrio.
A figura 3 mostra uma molcula de DNA de plasmdeo que temsomente um stio de clivagem para uma determinada enzima de
restrio. A mesma enzima usada para clivar DNA humano. Se os
fragmentos de DNA humano so misturados com o DNA plasmidial
linearizado, permitindo a ligao entre eles, uma molcula de DNA
plasmidial contendo DNA humano pode ser gerada. Este plasmdeo
hbrido pode ser inserido numa bactria atravs de transformao e
ento o inserto ser replicado como parte do plasmdeo. Geralmente,
antibiticos so acrescentados ao meio da cultura para selecionar somente
as linhagens que portam os plasmdeos (o plasmdeo usado para esta
finalidade porta resistncia a pelo menos um antibitico).
5. DNA LIGASE
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P l a s m d e od e
E . c o l i
D N A h u m a n o
D N A l i g a s e
P l a s m d e o h b r i d o
E n z i m a E n z i m a
G C A T
T A C G
T G C A T G C A
A C G T A C G T
TG CA
ACGT
TGC A
TGC
A
A
CGT AC
GT
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Conforme mencionado anteriormente, esta enzima promove a ligao
dos fragmentos de DNA em vetores previamente clivados por endonucleases
de restrio. A DNA ligase requer um grupo OH livre na extremidade 3' de
uma das cadeias de DNA e um grupo fosfato na extremidade 5' da outra
cadeia (Figura 4). A E.coli e o fago T4 codificam uma DNA ligase capaz de
selar fragmentos de DNA com dupla fita. DNA ligase isolada de E.coli e de
outras bactrias requer NAD+, enquanto que a isolada do bacterifago T4
requer ATP como cofator.
Figura 4. DNA ligase cataliza a juno de duas fitas de DNA que so partesda molcula da dupla-hlice.
5.1. Tipos de fragmentos de DNA que so ligados pela DNA
ligase
a) Fragmentos com extremidades coesivas
As extremidades coesivas produzidas por vrias enzimas de
restrio permitem que dois fragmentos de DNA sejam mais facilmenteligados. Isto porque ocorre inicialmente o pareamento das fitas simples
das extremidades coesivas das duas diferentes molculas, atravs da
formao de pontes de hidrognio pela complementariedade das bases.
Finalmente, a ligao covalente (fosfodister) dos fragmentos realizada
pela DNA ligase (ver figura 4).
b) Fragmentos com extremidade no coesivas
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D N A D N A3 O H-
O O 5 P
O
-
O
D N A D N A 3 O O 5
O
P
-
O
+
D N A - L i g a s eA T P o u N A D
-
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DNAs portando extremidades no coesivas so ligados com muito
menos eficincia que aqueles que tem extremidades coesivas. Uma
concentrao muito maior de DNA ligase e mesmo dos DNAs envolvidos
necessria para que as molculas com extremidades no coesivas sofram
reao de ligao.
No entanto, a ligao deste tipo de fragmento facilitada pela
transformao prvia das extremidades no coesivas em coesivas. Este
procedimento pode ser feito atravs de dois processos:
a) Adio de polidesoxiadenina na extremidade 3' de um fragmento
de DNA e polidesoxitimina na extremidade 3' de um outro fragmento de
DNA, atravs da enzima desoxinucleotidil-transferase-terminal ousimplesmente transferase. Esta enzima, uma DNA polimerase incomum,
adiciona nucleotdeos extremidade 3-OH de fragmentos fita simples
proeminentes de uma cadeia de DNA. Para gerar este tipo de
extremidade proeminente a molcula tratada previamente com uma
exonuclease 5-especfica para remover alguns nucleotdeos terminais.
Aps a mistura dos dois tipos de fragmentos complementares e
anelamento dos mesmos, as molculas so unidas preenchendo-se os
espaos existentes com o auxlio da DNA pol I e selando-os com DNA
ligase (Figura 5)
b) Adio de adaptadores s extremidades no coesivas. Os
adaptadores so oligonucleotdeos sintticos que contm stios de
clivagem para uma ou mais enzimas de restrio. Eles so unidos ao DNA
com o auxlio da DNA ligase (Figura 6).
Alternativamente, no lugar de modificar a extremidade no coesiva,
pode-se optar pela utilizao de T4 ligase em grande concentrao, o que
permitir a ligao entre molculas de DNA sem proeminncias.
6. TRANSFORMAO BACTERIANA
6.1.Conceito de transformao induzidaO processo de transformao constitui um evento de alta
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importncia na tcnica de manipulao gnica. A transformao natural
descrita por Griffith, em 1928, e por Avery e colaboradores, em 1944,
um evento raro. No entanto, em 1970, Mandel e Higa encontraram que a
E.coli tornou-se marcadamente competente para transformao com
DNA exgeno, quando a bactria foi suspensa em cloreto de clcio
gelado e submetida a um curto choque trmico 42oC. Estes mesmos
autores tambm verificaram que as bactrias crescidas at a fase log
eram mais competentes do que aquelas isoladas de outros estgios do
crescimento.
Figura 5. Fragmentos de DNA com extremidades no coesivas podem ser transformadas
em coesivas pela adio de poli (A) e poli (T).
10
5 5
5 5 3
3
A A A A T T T T
3
3
3
A A A A T T T T
3
3
3
5 - E x o n u c l e a s e e s p e c f i c a
D e o x i n u c l e o t d i o t r a n s f e r a s e t e r m i n a l
E s p a o s p r e e n c h i d o s c o m D N A P o l I . D N A l i g a s ep a r a c o m p l e t a r a l i g a o
+ d A T P + d T T P
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Figura 6. Fragmentos de DNA com extremidades no coesivas podem ser transformadosem coesivas pela adio de adaptadores e posterior tratamento com a enzima de restrioque reconhece o adaptador.
O procedimento do cloreto de clcio que usado at hoje produz
uma eficincia de transformao da ordem de 105 a 107 transformantes
por micrograma de DNA (a eficincia de transformao geralmente
expressa como o nmero de clulas transformadas, obtido a partir de um
micrograma de DNA plasmidial intacto).
O tamanho e a conformao da molcula do DNA, afetam o
processo de transformao. Plasmdeos pequenos so mais facilmente
incorporados pela clula bacteriana competente; DNA linear
pobremente incorporado, talvez pelo fato de sofrer degradao pelasenxonucleases presentes no espao periplasmtico.
6.2. Mecanismos de captao do DNA
O mecanismo de captao da molcula do DNA pela bactria
competente ainda desconhecido. Uma hiptese que as molculas do
DNA passam atravs de canais situados nas chamadas zonas de adeso,que so locais onde a membrana interna e externa da clula bacteriana
11
D N A a s e r i n s e r i d o
+
G A A T T C
C T T A A G
A d a p t a d o r
S i n t t i c o
T 4 D N A l i g a s e
G A A T T C
C T T A A G
G A A T T C
C T T A A G
E c o R I
A A T T CG
GC T T A A
G A A T T C
C T T A A GV e t o r
E c o R I
G A A T T CC T T A A G
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unem-se formando poros. Estes poros s esto presentes durante o
crescimento bacteriano (fase de crescimento exponencial).
Em condies naturais, a captao do DNA torna-se difcil devido a
repulso eletrosttica existente entre as cargas negativas da camada de
fosfolipdeos da membrana bacteriana e dos grupo fosfato da molcula
do DNA.
O papel do clcio explicado pela hiptese de que a 0oC a fluidez
da membrana celular cristalizada, estabilizando a distribuio dos
fosfatos carregados. Os ons Ca+2 formam um complexo com este
grupamento, cobrindo as cargas negativas e assim facilitando a atrao
eletrosttica com as molculas do DNA na zona de adeso. O choquetrmico, complementa este processo de captao, provavelmente
criando um desbalano trmico entre o interior e o exterior da clula
bacteriana, auxiliando o bombeamento do DNA atravs da zona de
adeso. A figura 7 ilustra este processo.
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Figura 7. Mecanismo molecular proposto para explicar a transformao de E.coli com uma molcula de DNA exgeno.
II. VETORES DE CLONAGEM MOLECULAR
Aps o isolamento de uma informao gentica, por exemplo um
fragmento de DNA obtido pela clivagem com enzimas de restrio, este
fragmento dever ser inserido numa outra molcula de DNA diferente,
capaz de amplificar aquela informao gentica em centenas de cpias.Este processo de amplificao obtido atravs do uso de molculas de
DNA que so os chamados vetores de clonagem molecular.
Atualmente, os tipos bsicos de vetores usados na metodologia do
DNA recombinante apresentam caractersticas especiais que os tornam
excelentes veculos de clonagem em diferentes situaes.
A seguir, vamos apresentar os principais tipos de vetores
atualmente em uso na biologia molecular.
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Z o n a d e a d e s o
P l a s m d e o
B i c a m a d a l ip d i c a( i n t e r n a )
B i c a m a d a l i p d i c a( e x t e r n a )F o s f o l i p d e o s
o n d e c l c i o
C a m a d a p e p t i d og l u c a n
D N A g e n m i c o C l u l aB a c t e r i a n a
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1. PLASMDEO
Plasmdeos so pequenas molculas de DNA dupla fita, contendo
os elementos necessrios para a sua replicao e pelo menos um gene
que confere resistncia a antibitico. Estes elementos genticos extra
cromossomais variam de 5 a 400 kilobases e comumente esto presentes
em duas ou mais cpias por clula. Os plasmdeos presentes num grande
nmero de cpias so usados como veculos de clonagem desde que
capacitem a amplificao do segmento do DNA neles clonado.
Um plasmdeo para ser um bom vetor de clonagem deve conter as
seguintes propriedades:
a) possuir uma origem de replicao (O), ou seja, uma seqncia de
DNA que permita que o vetor seja replicado na clula hospedeira;
b) apresentar dois ou mais stios nicos de clivagem para endonucleases
de restrio. O conjunto destes stios, denominado de Mltiplos Stios
de Clonagem (MSC), o local onde o inserto incorporado ao vetor de
clonagem;
c) possuir um gene que codifica um produto que distingue a clula
transformada da clula no transformada. Por exemplo, muitos vetoresde clonagem carregam o gene que confere resistncia ampicilina
(AmpR). As clulas transformadas com tais vetores so capazes de
crescer num meio contendo o antibitico, enquanto que as clulas no
tranformadas acabam morrendo.
A figura a seguir ilustra as principais caractersticas estruturais de
um plasmdeo.
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A m p R
O
M S C
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Figura 8. Estrutura molecular de um plasmdeo tpico usado em clonagemmolecular. Esto representados o gene de resistncia (AmpR), a regio demltiplos stios de clonagem (MSC) e a origem de replicao (O).
Um dos passos fundamentais no processo de clonagem molecular
o uso de enzima de restrio que produz extremidades compatveis
durante a clivagem do DNA a ser clonado (inserto) e a do DNA receptor
(vetor).
Uma vez que o DNA foi ligado ao vetor, esta molcula hbrida
dever ser introduzida numa clula hospedeira geralmente bactrias, por
um processo chamado de transformao, para que o vetor possa sofrer
replicaes e consequentemente amplificar o nmero de cpias do
inserto. A bactria transformada ser facilmente reconhecida pela
aquisio de um novo fentipo dado pelo plasmdeo, ou seja, capacidade
de crescer em meios contendo antibitico.
2. FAGOS
Um dos vetores mais utilizados nos processos de clonagem
molecular o denominado bacterifago , o qual comporta-se como umvrus da E.coli. Antes de analisarmos o uso deste elemento como veculo
de clonagem molecular, vamos mostrar resumidamente as suas
propriedades biolgicas e estruturais.
2.1 Biologia do fago O fago um parasita obrigatrio da E.coli, o qual
necessariamente deve injetar o seu DNA na bactria hospedeira para a
sua multiplicao. Aps a infeco da E.coli o genoma do fago pode
seguir duas vias:
a) No primeiro caso denominado estado ltico, o DNA do fago
permanece na bactria como uma molcula independente, havendo aativao de alguns genes do fago e a concomitante inativao de outros,
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dentro de um programa estritamente definido. Como resultado o
cromossomo do fago replicado ativamente, ocorre a sntese das
protenas da capa e da cauda e formam-se novas partculas virais. Em
aproximadamente 45 minutos aps a infeco a clula hospedeira
lisada havendo a liberao de cerca de 100 novos fagos.
b) A outra via que o cromossomo do fago pode seguir o denominado
estado lisognico. Neste caso, o DNA do fago integrado no
cromossomo da bactria passando a ser chamado profago. No estado
lisognico, todos os genes do profago esto inativos com excesso do
gene que produz a protena repressora. A bactria hospedeira carregando
o profago multiplica-se e este replicado passivamente e distribudo paraas bactrias descendentes.
Em condies naturais a opo entre seguir o estado ltico ou
lisognico depende das condies do meio. Assim, via de regra, em meio
rico em nutrientes o estado ltico preferencial, por exemplo o fago na
bactria E.coli intestinal. Por outro lado, em meio pobre de nutrientes
como o caso da E.coli no solo, o fago prefere o estado lisognico. Em
condies experimentais, o estado a ser seguido depende de um balano
entre os fatores do meio intra e extra celular e de fatores genticos da
bactria hospedeira e do bacterifago.
2.2 Genoma do fago O bacterifago uma partcula viral constituda de
aproximadamente 50% de protenas e 50% de DNA. O DNA do fago , na
forma como ele isolado da partcula viral, uma molcula linear com
dupla fita de aproximadamente 48.500 pares de bases. As extremidades
da molcula contm uma frao de DNA fita simples com cerca de 12
nucleotdeos, os quais so complementares na sequncia de bases e
atravs delas que o DNA assume a forma circular quando ele injetado
na clula hospedeira. Estas extremidades so denominadas de stios
cos. O genoma do fago codifica para aproximadamente 50 protenas,
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cujos genes tem um cronograma de expresso bem definido, o que
determina a instalao do estado ltico ou lisognico.
As figuras 9 e 10 ilustram o ciclo biolgico do fago em uma
clula hospedeira e o genoma do fago com alguns dos seus principais
genes, respectivamente.
2.3 Controle de expresso dos genes do fago Seja qual for a via a ser seguida pelo fago , ou seja via ltica ou
lisognica, a expresso dos genes envolvidos nestes circuitos comea
pelos produtos dos genes N e Cro, regulados pelos promotores pL e pR
respectivamente situados esquerda (pL) e direita (pR) do gene cI.
Durante o transcurso da via ltica, o produto do gene cro est
diretamente relacionado com a replicao do genoma do fago , atravs
da induo da expresso dos genes OP. Por outro lado, o produto do
gene N est diretamente relacionado com a expresso dos genes da
regio de empacotamento, ou seja genes A eJ, responsveis pela sntese
das protenas da cabea e da cauda do fago , como tambm daexpresso dos genes S e R, diretamente envolvidos com a lise da clula
hospedeira.
17
1
2
6
34
5
-
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Figura 9. Replicao do fago no interior da clula hospedeira. Apsadsoro (1) e injeo (2) do genoma do fago na bactria, a via lticaindicada pelos nmeros 3, 4 e 5 leva a formao de novas partculas virais.Alternativamente, a via lisognica (6) pode ser ativada levando integraodo material gentico viral ao genoma da bactria hospedeira.
Figura 10. Representao esquemtica do genoma do fago .
Durante a via lisognica, a transcrio tambm inicia-se pelos
promotores pL e pR coordenando a expresso dos genes cII e cIII. O
produto destes dois genes coordena a expresso do gene cI que produz
uma protena repressora inibindo a expresso dos genes responsveis
pelo empacotamento e a lise. Por outro lado, um outro gene importante
o int, cujo produto relaciona-se com a integrao do fago no genomabacteriano estabelecendo o estado lisognico.
2.4 O uso do fago como vetor de clonagem molecularDurante o ciclo ltico, os genes envolvidos no processo de lisognia
so dispensveis e consequentemente a regio de integrao do genoma
do fago pode ser totalmente substituda por um outro fragmento de DNA,sem que haja qualquer alterao nos processos envolvidos na via ltica.
Uma das maiores vantagens de usar o fago como vetor de
clonagem que o DNA inserido no fago empacotado in vitro. Embora a
eficincia de empacotamento seja cerca de 10%, uma vez que os fagos
so empacotados teremos 100% de eficincia na infeco da E.coli
hospedeira. Este processo altamente eficiente quando comparado com
o da transformao bacteriana com plasmdeos. Neste caso, os melhores
resultados situam-se ao redor de 108 transformantes por g de DNA o que
18
E m p a c o t a m e n t o R e c o m b i n a o R e g u l a o R e p l i c a o L i s e
c o s A J
N C r op L p r
. c I I I c I c I I O P S Ri n t
-
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significa que menos de 1 em 1000 plasmdeos so incorporados na E.coli
hospedeira.
Atualmente, existem vrios derivados do fago nos quais um ou
mais stios de restrio flanqueiam a regio de recombinao, facilitando
a sua substituio por um outro DNA. Estes so os chamados vetores de
substituio. Um exemplo tpico destes vetores o EMBL3, no qual a
regio de recombinao flanqueada pelas enzimas de restrio EcoRI,
BamHI e SalI. Esse vetor quando quando clivado pode receber
fragmentos de DNA variando de 10,4 a 20 kb, como mostra a figura
abaixo.
Outros derivados do fago so os chamados vetores deinsero. Neste tipo de vetor, os fragmentos de DNA que podem ser
inseridos devem ter no mximo at 7kb de tamanho para no alterar os
processos de empacotamento do genoma do fago.
Os vetores de insero derivados do fago mais bem utilizados
especialmente na clonagem de cDNA, so os vetores gt10 e o gt11.
Vamos a seguir fazer algumas consideraes sobre estes dois tipos de
vetores.
No fago gt10, o inserto geralmente cDNA, inserido no stio da
EcoRI situado no gene repressor cI. O fago recombinante ter agora o
gene cI obstrudo e consequentemente durante a cultura provocar a lise
das colnias de bactrias transformadas. Essas colnias lisadas so
visualizadas como crculos com o centro claro (placas de lise), bastante
distintos das colnias no recombinantes, que por possurem o gene cIntegro no so lisadas e permanecem como colnias turvas.
19
-
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Figura 11. Representao esquemtica da clonagem de um fragmento deDNA genmico no fago . As regies indicadas por a contm todas asinformaes necessrias para replicao em E. coli e empacotamento in vitro.Os diferentes fragmentos obtidos da digesto do DNA de interesse com
enzima apropriada esto indicados pelas letras b e c, onde somente c possuitamanho adequado para o empacotamento.
Por outro lado, o fago gt11 contm um stio de restrio EcoRI
localizado num gene chamado LacZ, a 53 nucleotdeos do cdon de
trmino da enzima codificada por esse gene (-galactosidase). Essa
enzima, cuja expresso pode ser induzida por IPTG (isopropil--D-
galactosdeo), degrada o substrato X-gal produzindo um precipitado decor azul. Portanto, colnias de bactrias carregando o DNA do fago com o
20
E c o R I
E c o R I
l i g a s e
e m p a c o t a m e n t oi n v i t r o
a
a
b
b
b
b
c
D N A b a c t e r i f a g o
D N A c a m u n d o n g o
b a c t e r i f a g o
c o n t e n d o
g e n e s d o
c a m u n d o n g o
i n f o r m a e s
d e s n e c e s s r i a s
r e p l i c a o
c
-
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gene LacZ intacto (sem inserto), na presena do indutor IPTG e do
substrato X-gal, ficaro azuis. Enquanto que, aquelas portanto o DNA o
fago que incorporou o inserto no stio de EcoRI, no expressam a -
galactosidade e permanecem de cor branca, o que facilita a identificao
dos clones recombinantes.
3. COSMDEO
A clonagem de fragmentos de DNA no fago apresenta uma
limitao, pois o fragmento a ser clonado no pode ser maior do que
cerca de 15kb (Figura 12). Na maioria das vezes, esta dimenso
suficiente para conter um gene completo, incluindo as sequnciasflanqueadoras. Entretanto, muitos genes apresentam dimenses da
ordem de 35 a 40 kb e nestes casos, a tcnica usada para a clonagem
deste tipo de fragmento a chamada clonagem em cosmdeos.
Os cosmdeos, so plasmdeos que contm um fragmento de DNA
do fago que inclui o stio cos. Estes cosmdeos podem ser usados como
veculos de clonagem molecular empregando o sistema deempacotamento in vitro que reconstitui a estrutura do fago (cabea e
cauda) e assim usado para infectar a clula hospedeira.
As enzimas do sistema de empacotamento do fago reconhecem
os dois stios cos situados de 35 a 49 kb de distncia e neste caso,
somente fragmentos desta ordem de tamanho sero convenientemente
empacotados.
O DNA genmico de interesse clivado com uma enzima de
restrio que produz grandes fragmentos de DNA, os quais sero ligados
ao cosmdeo, tambm clivado com a mesma enzima.
A situao ideal que cada fragmento do DNA genmico
apresente um stio cos nas suas extremidades. Durante o
empacotamento, as enzimas do sistema reconhecem os stios cos
situados a uma distncia dentro de 49Kb, clivam estes stios e
empacotam estas molculas.
21
-
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O DNA do cosmdeo injetado no interior da clula hospedeira,
circulariza igual ao DNA do fago e replica como um plasmdeo normal,
sem expresso de qualquer funo do fago. As clulas infectadas sero
selecionadas com base na resistncia adquirida a um determinado
antibitico. A figura 12 ilustra um tpico processo de clonagem em
cosmdeo.
Figura 12. Esquema de clonagem em cosmdeo.
4. VRUS
A biologia molecular dos vrus de DNA e RNA foi extensivamente
estudada antes do advento da metodologia do DNA recombinante. O
vrus SV40, isolado de clulas tumorais de macacos, foi um dos
22
f r a g m e n t o s d e r e s t r i o
d e 3 5 a 4 0 k b
A m pR S t i o a l v o d e r e s t r i o
c o s
D N A c i r c u l a r i z a
a p s i n f e c o
s e l e o d ec l o n e s r e s i s t e n t e sa a m p i c i l i n a
-
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primeiros sistemas virais utilizados para introduzir genes em clulas de
mamferos. O DNA do SV40 apresenta 5.200 pares de bases e pode ser
dividido em duas regies quanto a expresso gnica viral. Estas regies
so chamadas de regio precoce e regio tardia.
A regio precoce expressa atravs do ciclo ltico, enquanto que a
expresso dos genes da regio tardia ocorre somente aps o incio da
replicao do DNA viral. Entre estas duas regies situa-se a origem de
replicao do DNA do vrus.
Um produto de expresso da regio precoce o antgeno T, o qual
responsvel pela transformao maligna de clulas no permissveis
(clulas nas quais o vrus no completa a sua replicao), como tambmpelo incio da replicao viral em clulas permissveis. Os produtos de
expresso codificados pela regio tardia correspondem s protenas que
formam o capsdeo da partcula viral. A figura 13 ilustra o genoma do
virus SV40.
Figura 13. O DNA do virus SV40
4.1. Clonagem no vrus SV40
A produo de DNA recombinante no vrus SV40, pode ser
realizada atravs da substituio do segmento de expresso precoce ou
do segmento de expresso tardia.
23
o
E x p r e s s op r e c o c e
E x p r e s s ot a r d i a
S V 4 0
G e n o m a d o S V 4 0
-
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No primeiro caso, o vrus recombinante no produz o antgeno T,
ao passo que na segunda opo no haver produo das protenas do
capsdeo. Entretanto, estas funes deletadas podem ser suprimidas
como veremos a seguir.
4.1.1. Clonagem no SV40 pela substituio da regio tardia
Quando a regio tardia do SV40 substituda com outro DNA,
perde-se a expresso das protenas do capsdeo (funes tardias). Para
que o sistema de clonagem funcione adequadamente pode-se realizar a
infeco simultnea com um outro vrus SV40 que tem uma deleo nos
genes da regio precoce, mas a regio tardia intacta. Nas clulas co-infectadas as protenas da regio precoce sero produzidas pelo vrus
recombinante e as protenas do capsdeo pelo vrus deletado. Como
resultado, teremos a produo de uma populao de partculas virais
mistas, ou seja, vrus deletado e vrus recombinante. A figura 14 ilustra
este procedimento.
24
-
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Figura 14. Clonagem no SV40 pela substituio da regio tardia
4.1.2. Clonagem no SV40 pela substituio da regio precoce
Quando a clonagem no SV40 feita na regio precoce, a produo
de partculas virais depende do suprimento, por uma outra fonte, das
protenas codificadas pela regio precoce (antgeno T). Para evitar umainfeco mista com um vrus SV40 deletado, usa-se uma linhagem
25
S V 4 0
g e n e
c o t r a n s f e c o
p a r t c u l a s V i r a i s
S V 4 0
R e g i o f u n c i o n a lt a r d i a
R e g i o
f u n c i o n a lp r e c o c e
O
d ag l o b i n a
S V 4 0 - g l o b i n a
e m p a c o t a m e n t o e l i s e
-
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celular, as clulas COS as quais, apresentam uma poro do genoma do
SV40 integrado ao seu prprio cromossomo. Esta linhagem celular produz
a protena viral denominada antgeno T, a qual liga-se na origem de
replicao do vrus e induz a sua replicao. A figura 15 ilustra este tipo
de clonagem.
Apesar deste sistema viral ter sido usado como vetor de expresso
em muitas estratgias de clonagem, existem algumas desvantagens de
seu uso. Uma delas que o gene a ser clonado no pode ser grande, a
outra que as clulas hospedeira s podem ser clulas de macacos e
finalmente, o genoma da clula hospedeira pode sofrer rearranjados ou
delees.Atualmente, dois outros sistemas virais mais versteis esto em
uso, so eles o vrus da vacina e o Baculovrus, os quais podem
aceitar genes bem maiores do que aqueles aceitos pelo SV40. Um
inconveniente para estes dois sistemas virais que ambos apresentam
um grande genoma e o gene a ser clonado s pode ser inserido por
processos de recombinao dentro das clulas, o qual bastante lento
em relao aos processos tradicionais em uso na metodologia do DNA
recombinante.
Finalmente, um sistema viral bastante promissor so os
retrovrus que so vrus cujo material gentico o RNA e apresentam
um ciclo bastante diferente dos mencionados anteriormente que so
ciclos lticos. Os retrovrus infectam uma grande variedade de clulas de
mamferos e o seu RNA transcrito reversamente para DNA o qual
incorporado ao genoma da clula hospedeira. Neste estado ele produz
continuamente novas partculas virais, juntamente com o produto do
gene nele clonado. Devido a sua versatilidade, os retrovrus so
atualmente os vetores eleitos para uso em terapia gnica.
5. BACTERIFAGO M13
O bacterifago M13 um fago filamentoso da E. coli e contm uma
nica fita de DNA envolvida por protenas virais. Durante o seu ciclo, a
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-
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clula hospedeira infectada pela fita (+) a qual servir como molde
para a sntese da outra fita (-). A dupla fita denominada de forma
replicativa, permanece no interior da clula hospedeira e amplificada
at 200 cpias por clula, quando ento a fita negativa no mais se
replica e a fita positiva continua a ser sintetizada, adquire as protenas da
cpsula viral e sai da clula hospedeira atravs de processo no ltico
(Figura 16).
27
-
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Figura 15. Esquema de clonagem no SV40 pela substituio da regio
precoce.
28
S V 4 0
g e n e
P a r t c u l a V i r a l
O
d a
R e g i o f u n c i o n a l
t a r d i a
R e g i of u n c i o n a l
p r e c o c e
S V 4 0 - H a
h e m a g l u t i n i n a ( H a )
c o - t r a n s f e c o
S V 4 0m u t a n t e
e m p a c o t a m e n t oe l i s e
S V 4 0 m u t a n t ei n t e g r a d o a og e n o m a d a c l u l a C O S
a n t g e n o T r e p l i c a o
-
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Figura16. Replicao do bacteriofago M13.
5.1. Clonagem no bacterifago M13
A grande utilidade deste sistema de clonagem a sua facilidade na
produo de DNA fita simples, facilmente recupervel do sobrenadante
de uma cultura lquida da E.coli infectada com este vetor. Como veremos
futuramente, este DNA fita simples bastante til no processo desequenciamento do DNA pelo mtodo desenvolvido por Sanger e
colaboradores (1977).
Para facilitar o seu uso especialmente em estratgias de
seqenciamento, foram desenvolvidos vetores da srie M13mp, os quais
contm o MSC inserido no gene que expressa a -galactosidase.
Mutaes foram realizadas de tal modo que a enzima s ativa
quando o vetor est na clula hospedeira, convenientemente preparada.
Este processo denomina-se de alfacomplementao. A incluso do
mltiplo stio de clonagem no gene da galactosidade visa a
identificao dos possveis recombinantes quando na presena de um
substrato cromognico o X-gal ou Bluogal (5-bromo-4-cloro-indolil--D-
galactosdeo) e o indutor IPTG. Quando o vetor est intacto (no
recombinante), a enzima funcional e frente ao substrato cromognicoeste clivado produzindo placas de cor azul. Por outro lado, quando um
29
++ ++
+
-
M 1 3
E . c o l i
-
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fragmento de DNA inserido no mltiplo sitio de clonagem, a expresso
da enzima suprimida, portanto as clulas so incapazes de metabolizar
o substrato cromognico formando placas incolores.
5.2. Estratgia de clonagem em vetores da srie M13mp
A utilizao de vetores com diferentes orientaes do mltiplo stio
de clonagem, tais como M13mp8 e o M13mp9, facilita a insero de um
fragmento de DNA em ambas as orientaes. Como veremos adiante,
esta estratgia apresenta grande aplicao no programa de
sequenciamento de um DNA pelo mtodo de Sanger.
A figura 17 ilustra a insero de um fragmento de DNA clivado com
as enzimas Pst1 (P) e EcoRI (E) nos vetores M13mp8 e M13mp9, ambosclivados com as mesmas enzimas. Esta clonagem orientada permite a
insero do fragmento de DNA na orientao 5'3' no vetor M13mp8 e
na orientao 3'5' no vetor M13mp9.
Figura 17. Clonagem de um fragmento de DNA nos vetores M13mp8 eM13mp9 clivadoscom as enzimas EcoRI (E) e PstI (P).
6. FAGOMDEOS
Apesar do bacterifago M13 apresentar grande aplicabilidade
30
P5 3
P E
EP
E
E P
PE
M 1 3 m p 9 M 1 3 m p 8
-
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especialmente nos processos de seqenciamento de DNA, foram
desenvolvidas outras geraes de fagos, os quais reunem as vantagens
do fago M13 e a do plasmdeo. Os primeiros foram os vetores da srie
pEMBL e mais tarde os plasmdeos pTZ, pBluescript e pGEM (+/-). Estes
vetores so chamados de fasmdeos ou fagomdeos e apresentam as
seguintes caractersticas principais:
fagomdeo apresenta um verstil MSC, permitindo a clonagem
de grandes insertos sem maiores dificuldades, alm de que, as
enzimas situadas neste stio foram ordenadas de tal modo a
permitir uma alternativa interessante durante o processo de
sequenciamento. utilizando uma combinao estratgica de duas enzimas de
restrio, possvel criar terminaes 5' e 3' proeminentes,
tornando agora uma extremidade (a do inserto) susceptvel
ao da Exonuclease III. Esta estratgia, permite a obteno
progressiva e controlada de vrios fragmentos deletados do
inserto, os quais aps a recircularizao tornam-se apropriados
para o sequenciamento. Este procedimento, facilita o
seqenciamento de um grande inserto de DNA, sem a
necessidade de mltiplas subclonagens como usual no
sistema M13 ou a sntese de vrios oligonucleotdeos internos,
usados como iniciadores no processo de seqenciamento.
6.1. Clonagem no fagomdeoVamos utilizar como exemplo, o fagemdeo ZAP que
particularmente til para clonagem de cDNA. Este vetor, incorpora a
biologia do fago M13 de tal modo que um cDNA clonado neste vetor pode
ser automaticamente excisado do fago para um fagomdeo denominado
pBluescript.
Basicamente, qualquer DNA clonado no MSC inativa o gene LacZ,
produzindo uma protena de fuso quando na orientao correta,
podendo assim tambm ser rastreada com anticorpos.
31
-
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Quando uma cepa da E.coli (F') infectada com o fago
recombinante e superinfectada com o fago auxiliar, esse produz as
protenas do sistema M13. Essas protenas reconhecem os sinais de
iniciao e trmino da sntese de DNA do fago auxilar (f1) que esto
flanqueando o pBluescript, que por sua vez est incorporado no fago
ZAP e carrega o inserto. Com a clivagem destas duas seqncias, o DNA
automaticamente circularizado na bactria para originar a forma
recombinante do plasmdeo Bluescript SK(M13).
O inserto clonado no Bluescript flanqueado por promotores para
as RNA polimerases dos fagos T3 e T7. Neste sentido, aps o vetor ser
convenientemente linearizado, cpias do RNA relativo ao inserto, podemser obtidas em ambas as direes atravs do uso das RNA polimerases
T3 e T7.
7. VETORES PARA TRANSFORMAO DE LEVEDURAS
O grande interesse existente no estudo das leveduras
Saccharomyces cerevisiae e Schizosacharomyces pombe deve-se ao fato
de que tratam-se de organismos eucariotos inferiores e como tais
possuem organizao celular similar de eucariotos superiores. Alm
disso, muitas protenas de leveduras so similares estrutural e
funcionalmente s suas homlogas em mamferos. A utilizao de
leveduras como um modelo de estudo traz as seguintes vantagens:
tempo de crescimento reduzido que permite a obteno de
grandes quantidades de leveduras em pouco tempo. genoma de pequeno tamanho, cerca de 200 vezes menor que o
genoma de mamferos, o que simplifica anlises moleculares e
genticas.
possibilidade de manter as leveduras como clulas haplides ou
diplides, o que permite a obteno de mutaes recessivas em
clulas haplides, bem como a realizao de experimentos de
complementao gentica. As clulas de mamferos so
32
-
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diplides o que torna impossvel a deteco de mutaes
recessivas.
Existem diferentes marcadores de seleo que so utilizados em
leveduras. A maior parte dos genes marcadores utilizados em leveduras
so genes envolvidos na biossntese de aminocidos e nucleotdeos. Um
dos marcadores frequentemente utilizados o gene de levedura LEU2
que codifica para uma das enzimas da via de sntese da leucina, a enzima
-isopropilmalato dehidrogenase. A linhagem mutante de levedura, leu2,
no cresce em meio de cultura que no contm leucina. Assim quando o
gene LEU2 utilizado na transformao da linhagem leu 2, as clulas
desta linhagem que adquiriram o gene LEU2 sero capazes de crescer emmeio de cultura deficiente no aminocido leucina. Esta estratgia
semelhante a resistncia ampicilina adquirida por bactrias que foram
transformadas com plasmdeos que contm o gene que promove a
resistncia ampicilina.
A tabela a seguir lista alguns dos marcadores de seleo comumente utilizados em
levedura.GENE ENZIMA SELEO
HIS3 Imidazol glicerolfosfatodesidratase
Histidina
LEU2 -Isopropilmalato desidrogenase Leucina
LYS2 -Aminoadipato redutase Lisina
TRP1 N-(5'-fosforibosil)- antranilatoisomerase
Triptofano
URA3 Orotidina-5'fosfato decarboxilase Uracil
Tabela 2. Genes marcadores de seleo em levedura. Os meios decultura utilizados em geral contm todos os aminocidos necessrios manuteno da levedura com exceo de um. Assim, por exemplo, clulastransformadas com o gene HIS 3 so selecionadas em meio de culturadeficiente em histidina.
Os vetores utilizados na transformao de leveduras so capazes
de se propagar tanto em E. coli quanto em levedura. A manipulao
destes vetores (clonagem, mutagnese, seqenciamento, etc) realizadaem bactria como para qualquer plasmdeo convencional e ento o
33
-
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mesmo transferido para levedura, organismo onde os ensaios de
interesse so realizados. Tais vetores so denominados vetores do tipo
ponte (shuttle vectors) e contm entre outros elementos origens de
replicao de bactria e levedura bem como genes marcadores que
funcionam para a seleo nos dois organismos.
Diferentes tipos de vetores so utilizados na transformao de
leveduras:
Vetores de integrao: tais vetores contm origem de replicao de
bactrias e genes marcadores para seleo em bactria e levedura.
Neste caso o plasmdeo no capaz de replicar de modo autnomo na
levedura. O modo pelo qual este tipo de vetor propagado e capaz deexpressar o marcador de seleo atravs da integrao em um dos
cromossomos de levedura.
Vetores que replicam em levedura: tais vetores tambm contm
origem de replicao de bactria e genes marcadores para seleo em
bactria e levedura. Dois tipos de origens de replicao de levedura so
empregadas nestes plasmdeos. O primeiro tipo consiste na origem de
replicao do plasmdeo de 2 m, que de ocorrncia natural em
levedura. O segundo consiste de origens de replicao isoladas de DNA
cromossomal denominadas ARS (Autonomously Replicating Sequence,
sequncias de replicao autnoma). Plasmdeos contendo a origem de
replicao do plasmdeo de 2m ou sequncias tipo ARS replicam em
mltiplas cpias em levedura (Figura 18). Uma variante deste tipo de
vetor inclui, alm da sequncia ARS, uma sequncia tipo centromrica,denominada CEN, que garante que a replicao destes plasmdeos seja
estvel, ocorrendo uma nica vez por ciclo celular e que eles sejam
segregados de modo preciso durante a mitose e meiose. Vetores
contendo sequncias tipo CEN so mantidos em cpia nica na levedura
(Figura 18).
YACs: (Yeast Artificial Chromosome, cromossomo artificial de levedura)
so uma variao de um vetor de cpia nica, que contm sequncias
centromricas (CEN) e sequncias telomricas, que so sequncias das
34
-
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extremidades dos cromossomos. A presena de sequncias telomricas
nestes vetores permite que sejam replicados como molculas lineares,
com comportamento semelhante ao do DNA cromossomal. YACs no so
utilizados de rotina em experimentos de clonagem, entretanto, tm se
mostrado uma ferramenta valiosa na caracterizao de grandes
segmentos genmicos na medida em que possvel clonar em um YAC
fragmentos que vo de 100 a 2000 kb (Figura 19).
Figura 18. Vetores de levedura. Contm sequncias de plasmdeo (aqui depUC118) que permitem a propagao e do resistncia a ampicilina em E.coli,o gene de seleo em levedura (neste caso LEU 2) e stios nicos de restrio.Vetores multicpias: Estes plasmdeos existem na forma circular na levedura.Alguns destes vetores empregam a origem de replicao do plasmdeo de 2m, outros utilizam origens de replicao isoladas de cromossomos que so
denominadas ARS. 2m e ARS permitem a replicao do plasmdio emmltiplas cpias. Vetores cpia nica: Vetores que contm origens dereplicao tipo ARS podem ser mantidos estavelmente atravs da adio desequncias centromricas, CEN. A existncia de sequncias tipo CEN asseguraque o plasmdeo seja mantido em 1 ou 2 cpias na levedura e segregado demodo preciso durante a diviso celular.
GLOSSRIO- ARS: (autonomous replication sequence, sequncia de replicao
autnoma). Sequncia que funciona como uma origem de replicaoem cromossomos de levedura.
- BAC: (bacterial artificial chromosome, cromossomo artificial de
bactria). Vetor utilizado na clonagem de DNA genmico, baseado no
fator F de plasmdeo que assegura que o plasmdeo seja mantido em
pequeno nmero de cpias na bactria.
- Centrmero: regio do cromossomo que apresenta uma constrico
e qual liga-se o fuso mittico durante a meiose ou mitose.
necessria para a manutno da estabilidade e segregao correta
35
L E U 2 L E U 2
A R S A R S
P u c 1 1 8 P u c 1 1 8
D N A L e v e d u r a
D N A L e v e d u r a
C p i a n i c a C E N
M u l t i c p i a s
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dos cromossomos durante a diviso celular.
- Origem de replicao: regio onde iniciada a sntese de DNA em
um dado fragmento de DNA.
- Telmero: extremidade do cromossomo que contm sequncias
repetitivas de DNA sintetizadas pela enzima telomerase e importantes
na manuteno da integridade cromossomal.
- YAC: (yeast artificial chromosome, cromossomo artificial de levedura).
Sistema de clonagem em levedura que consiste de um vetor linear que
tem capacidade de replicao autnoma e que contm um centromro
de levedura e duas sequncias telomricas em suas extremidades.
Figura 19. YACs: Contm um centrmero, dois telmeros, gene(s)marcadores para seleo em levedura e uma seqncia tipo ARS. Devido presena destas seqncias os YACs so replicados como pequenoscromossomos lineares na levedura.
III. CONSTRUO E USO DE BIBLIOTECAS DE DNA RECOMBINANTE
A obteno de uma molcula de DNA recombinante, atravs da
ligao de um fragmento de DNA de interesse com o DNA de um vetor,
um processo direto e relativamente simples. Entretanto, problemas
especiais surgem quando o fragmento de interesse constitui uma frao
pequena do DNA total. Este o caso encontrado comumente quando o
objetivo o isolamento de genes presentes em uma nica cpia num
genoma complexo, ou quando o objetivo o isolamento de clones
portadores do DNA complementar RNA mensageiro raro. Deste modo,
36
A m pR
T R P 1
A R S 1
C E N 4
E c o R I
U R A 3
+ E L+ E LH IB a m
Y A C
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claro que quando queremos clonar um determinado gene ou o DNA
complementar da mensagem ou mensagens por ele codificado(s)
necessrio obteno de colees de clones recombinantes, portadores
de molculas representantes de todo o genoma, ou de colees de clones
de cDNAs derivados de toda a populao de mensageiros da clula ou
tecido de interesse. Essas colees de clones de DNA recombinante so
chamadas de bibliotecas: Biblioteca Genmica, no caso dos clones
terem sido obtidos a partir do DNA genmico ou Biblioteca de cDNA,
no caso dos clones terem sido construdos a partir de DNA complementar.
O DNA de organismos superiores bastante complexo: por
exemplo, o genoma haplide de mamfero composto deaproximadamente 3x109 pares de bases (pb). Portanto, se o fragmento
de interesse tiver 3000 pb, ele compreender somente 1 parte em 106 de
uma preparao do DNA total. De modo similar, uma espcie de RNAm
particularmente rara pode compreender somente 1 parte em 105 ou 106
da frao de RNA mensageiros de uma clula. Deste modo, para que seja
garantida a presena na biblioteca de pelo menos uma verso de todasas seqncias da populao alvo, um dos pontos principais na construo
de bibliotecas teis a obteno de grandes quantidades de clones.
Embora a soluo deste problema envolva estratgias especficas no
preparo do DNA alvo e na escolha do vetor de clonagem, em linhas gerais
a construo de bibliotecas genmicas e de cDNAs segue um
procedimento bsico bastante semelhante. Nos dois casos, o DNA
genmico ou os cDNAs so preparados para a insero no vetor
escolhido. O vetor e o DNA alvo so ligados e introduzidos em E. coli
atravs de infeco ou em alguns casos, por transformao direta (Figura
20).
1. BIBLIOTECA DE cDNA
A descoberta da enzima transcriptase reversa, uma DNA polimerase
dependente de RNA encontrada predominantemente em vrus de RNA de
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tumor, tornou possvel a sntese in vitro de DNA usando-se como molde
RNAm. O DNA produto dessa reao o DNA complementar ou cpia da
mensagem, abreviadamente chamado de cDNA. A sntese e possvel
clonagem de cDNAs contriburam para grandes avanos na anlise da
estrutura e expresso de genes de eucariotos e propiciaram uma
revoluo tecnolgica nas indstrias farmacutica e de alimentos. Esses
clones so comumente isolados de bibliotecas de cDNA, construdas a
partir da populao de RNAm isolada da clula ou do tecido de interesse.
Portanto, em comparao com bibliotecas do genoma total essas
bibliotecas so enriquecidas com seqncias gnicas. Uma vez que o
cDNA cpia da mensagem, ele no contm introns e apresentasignificativamente poucas seqncias que no codificam para protenas
(Figura 21). A ausncia de introns permite que cDNAs relativos a clulas
de eucariotos superiores sejam diretamente transcritos e traduzidos em
bactrias e em outros microorganismos, permitindo assim a produo em
grande escala de polipeptdios importantes tanto na rea de pesquisa
como na rea aplicada. A ausncia de introns tambm facilita a
determinao direta da seqncia da mensagem e subseqente deduo
da seqncia de aminocidos da protena por ela codificada. Isso tem
resultado na identificao da seqncia de uma enorme quantidade de
protenas, algumas vezes mesmo antes de terem sido identificadas
gentica ou bioquimicamente.
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Figura 20. Passos envolvidos na construo de Bibliotecas de cDNA eBibliotecas genmicas.
Figura 21. Diagrama representando de forma simplificada as diferenas entre
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Escolha doVetor
mRNA
Tecido
DNA
cDNA
Digerir o DNA,
Fracionar por tamanho
DNA clonvel
Titulao e caracterizaoda Biblioteca
Ligar DNA a um vetor
Introduzir o produtoda ligao em E.coli
Parcial ou completamente
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um fragmento de DNA genmico e do cDNA relativo a ele.
De modo resumido, o procedimento para a sntese, clonagem e
isolamento de cDNAs especficos envolve 4 etapas:
1) Sntese in vitro de cDNAs de fita dupla a partir de RNAs mensageiros
isolados do tecido de interesse.
2) Preparo dos cDNAs para a ligao com o vetor escolhido.
3) Introduo dos cDNA recombinantes nas clulas hospedeiras, onde
sero replicados. Isto resultar na amplificao dos recombinantes e
dependendo do vetor utilizado, na expresso das protenas codificadas
pelas mensagens que deram origem aos cDNAs.
4) Identificao dos clones de interesse atravs de um processo de
triagem dos clones recombinantes.
1.1. Sntesede cDNAs de fita dupla
A construo de uma biblioteca de cDNA inicia-se com o isolamento
do RNA total do tecido e subseqente seleo da frao de RNA poli(A)+,
que compreende a maioria das mensagens presentes na clula. O
isolamento de RNA poli(A)+ de boa qualidade essencial, uma vez que
qualquer degradao do RNAm afetar a representatividade das
seqncias na biblioteca.
Uma vez obtida a frao de RNA poli(A)+, procede-se sntese dos
cDNAs atravs de uma srie de reaes enzimticas (Figura 22). Nosltimos dez anos foram descritos vrios mtodos para sntese de cDNA,
cada um apresentando vantagens e desvantagens particulares. Como
exemplo, apresentamos a seguir um procedimento amplamente usado
para esse fim:
a) Sntese da fita de DNA complementar ao RNAm (cDNA) atravs da
enzima transcriptase reversa. Essa enzima capaz de catalisar in vitro a
polimerizao de DNA a partir RNA e requer um "primer" com a
extremidade 3'OH livre para iniciar a sntese. Na maioria das vezes, a
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molcula utilizada como "primer" um oligo (dT), que se anela na cauda
poli (A)+ do RNA.
b) Aps a sntese dessa fita de cDNA, o RNAm parcialmente removido,
pelo uso da RNase A para cortar pedaos do RNA da molcula hbrida
RNA-DNA.
c) Utilizando como "primer" os fragmentos de RNA no digeridos pela
RNaseA, a DNA polimerase de E. coli substitui eficientemente o RNA por
DNA, resultando em uma molcula de cDNA de fita dupla.
d) O cDNA fita dupla tratado com T4 polimerase. Atravs da atividade
3'-5' exonuclesica dessa enzima remove-se possveis nucleotdeos
extras nas extremidades 3'.
e) O produto final desse conjunto de reaes uma molcula de DNA de
fita dupla, cpia exata da mensagem.
1.2. Preparo dos cDNAs para a ligao com o vetor
Uma vez obtido o cDNA, o prximo passo prepar-lo para a
insero em um vetor de clonagem (Figura. 22). Para isso tambm
existem vrios mtodos disponveis, que diferem entre si dependendo do
tipo de vetor escolhido: plasmdio ou fago. O fago tem sido o vetor de
escolha para a construo de bibliotecas de cDNA. A razo bsica desta
preferncia a eficincia. Em comparao com plasmdios, o fago
requer cerca de 16 vezes menos cDNA por g do vetor para produzir
nmero equivalente de clones recombinantes. Alm disso, bibliotecas em
fago so mais fceis de serem manipuladas do que bibliotecas em
plasmdios. Entretanto, uma desvantagem dos vetores que no so
favorveis para procedimentos de seqenciamento do DNA e de
mutagnese dirigida. Mais recentemente, outro tipo de vetor foi
idealizado para suprir essas deficincias. Essa classe de vetores
compreende os fagemdios que, como o prprio nome sugere, soplasmdios contendo pores do genoma de fago e que renem
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vantagens desses dois vetores.
Figura 22. Sntese de cDNA fita dupla.
Para dar uma noo dos passos implicados na clonagem do cDNA
relatamos a seguir um procedimento adotado para a clonagem de cDNA
em fago .
metilao dos stios de EcoRI atravs do tratamento do cDNA com
EcoRI, na presena de S-adenosil metionina. Esse passo essencial
para proteger os stios EcoRI que possam existir no cDNA contra a
ao da EcoRI em digesto a ser realizada subseqentemente no
processo de clonagem.
adio de adaptadores, com o stio EcoRI, nas duas extremidades do
cDNA. Essa reao resulta em molculas de cDNA com adaptadores
mltiplos ligados nas duas pontas (ver figura 23). um nico stio de EcoRI produzido em cada ponta do cDNA pela
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digesto com EcoRI, liberando o excesso de adaptadores ligados na
molcula. A metilao prvia do cDNA garante que no haja digesto
interna do cDNA.
antes de ser inserido no vetor, o cDNA separado do excesso de
molculas de adaptadores. Isso feito atravs de filtrao em colunas
de Sephadex.
as molculas de cDNA so ligadas ao vetor, atravs de reao com T4
ligase.
o produto da ligao empacotado com as protenas formadora do
capsdeo do fago. os fagos obtidos so utilizados para infectar bactria de linhagem que
favorece o crescimento dos recombinantes.
aps a infeco da bactria com os cDNA recombinantes temos como
produto uma biblioteca de cDNA, que deve conter cpias de toda as
seqncias de RNAm da populao original. Essa biblioteca pode ser
estocada na geladeira, ou submetida a uma triagem em busca doclone de interesse.
2. BIBLIOTECA GENMICA
Para se obter informaes sobre a estrutura molecular de um gene
de eucariotos necessrio o isolamento da poro do DNA genmico que
contenha toda a unidade de transcrio, mais as regies flanqueadoras
onde se localizam os elementos controladores da expresso desse gene.
O modo mais eficiente para se conseguir isolar essa poro do DNA
atravs do uso de uma biblioteca genmica, que deve conter clones
portando fragmentos de DNA representantes de todo o genoma do
organismo em questo. Deste modo, o aspecto principal considerado na
construo de uma biblioteca genmica est na obteno de um nmerogrande de clones portando fragmentos do genoma, obtidos
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aleatoriamente. O tamanho necessrio de uma biblioteca genmica, para
que um dado fragmento de interesse esteja entre os fragmentos
clonados, determinado pelo tamanho do fragmento clonado e pelo
tamanho do genoma. Deste modo, a estratgia bsica na construo de
bibliotecas genmicas busca minimizar o nmero de clones necessrios
atravs da clonagem de fragmentos de DNA de maior tamanho possvel,
e maximizar a eficincia da clonagem, atravs da utilizao de vetores
baseados no fago . Basicamente, a construo da biblioteca genmica
envolve os seguintes passos:
a) isolamento de DNA de alto peso molecular, que posteriormente
quebrado de modo a produzir fragmentos de tamanhocompatvel com o vetor de clonagem.
b) ligao desses fragmentos no vetor e introduo dos
recombinantes obtidos nas clulas hospedeiras.
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Figura 23. Clonagem de cDNA em fago .
Dentre esses passos, o modo de preparo dos fragmentos a serem
clonados (insertos) merece ser discutido criticamente dada sua
importncia na representatividade da biblioteca.
2.1. Preparo do DNA do inserto
A representatividade de uma biblioteca genmica depende
grandemente da aleatoriedade com que os fragmentos a serem clonados
so gerados, para que no haja excluso sistemtica de nenhuma
seqncia. O fracionamento mecnico do DNA o meio de se obter
completa aleatoriedade na fragmentao do DNA. Entretanto, esse
45
1
5 6
2 3
4
7 8 9
Me
Me
Metilao do cDNA para proteger
os st ios internos de RIEcoLigao dos adaptadores RI
com o cDNA
EcoDigesto com RI paragerar st ios coesivos RI
Eco
Eco
Separao do cDNA do excesso de
adaptadorescDNA purificado Ligao do cDNA dos braos
do fago lambda
Empacotamento dos recombinantescom as protenas formadoras da
partcula viral
Infeco da bactria hospedeirao fago recombinante
Plaqueamento dos recombinantes
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mtodo no comumente adotado devido trabalhosa manipulao
necessria para que os fragmentos assim obtidos possam ser inseridos
no vetor. Com bom senso e cuidado possvel conseguir fragmentao
suficientemente aleatria atravs de digestes parciais do DNA com
enzimas de restrio. Uma vantagem em se utilizar a digesto parcial do
DNA a produo de fragmentos com pontas coesivas e que, portanto,
podem ser diretamente ligados ao vetor. Para garantir que a digesto
atinja todo o genoma so utilizadas enzimas de restrio que cortam
freqentemente o DNA e que no apresentam desvios de distribuio de
stios. A enzima Sau3A I, que reconhece o stio de 4 bases GATC, e que
gera fragmentos compatveis com stios de clonagem de vrios fagos ecosmdios, tem provado ser bastante til na produo de bibliotecas de
DNA genmico digerido parcialmente. Aps a digesto parcial, os
fragmentos gerados precisam ser fracionados antes de serem ligados ao
vetor. Sem esse fracionamento, fragmentos pequenos podero ligar-se
entre si produzindo falsos recombinantes. Fragmentos muito grandes que
no permitem o crescimento do fago podero ligar-se aos braos do fago,
alterando a relao entre as quantidades de DNA de inserto e vetor.
Um mtodo de fracionamento freqentemente adotado o de
centrifugao em gradiente de sacarose. Aps a digesto parcial, a
soluo de DNA aquecida para que possveis fragmentos agregados se
dissociem, e ento, aplicada sobre um gradiente de sacarose de alta
salinidade. Aps a centrifugao, so coletadas fraes desse gradiente.
Essas fraes so analisadas por eletroforese em um gel de agarose. As
fraes contendo os fragmentos de DNA de tamanho apropriado so
utilizadas para a ligao com o vetor. A figura abaixo ilustra esse
procedimento.
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Figura 24. Mtodo para fracionamento do DNA por centrifugao emgradiente de sacarose. O gradiente aspirado, de baixo para cima, com ajudade uma bomba peristltica. A poro mais densa do gradiente contendo o DNAde maior peso molecular, aspirada primeiro.
Uma vez garantida a aleatoriedade dos fragmentos clonados,
bastante razovel se pensar que a probabilidade de uma dada seqncia
de interesse estar presente em uma biblioteca genmica possa ser
estimada estatisticamente, com base na distribuio de Poisson.
Especificamente, o nmero de clone independentes (N) que precisam ser
triados para uma probabilidade (P) de se isolar uma seqncia especfica
dada por:
N = ln(1-P)/ ln[1-(I/G)]
onde I o tamanho mdio dos fragmentos clonados, em pares de base, e
G o tamanho do genoma, em pares de base.
Deste modo, precisamos triar cerca de 690.000 clones de uma
biblioteca que usa como vetor um fago , para termos 99% de chance de
isolar qualquer dada seqncia presente em uma nica cpia em um
genoma tpico de mamfero.
N = ln(1-0,99)/ln[1- (2x104/3x109)]= 690.000
2.2. Vetores utilizados na construo biblioteca genmica
47
1
Tubo de plstico
Tubo capilar
Tubos de coleta
Bomba
Gradiente desacarose 2 3 4 5
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Fagos e cosmdeos so comumente usados na construo de bibliotecas genmicas.
Nos dois casos, fragmentos grandes de DNA gerados por fragmentao aleatria so ligados
com o DNA do vetor para formar concatmeros que podem ento ser empacotados em
partculas de fago . As bibliotecas construdas em vetores so armazenadas e propagadasna forma de fagos recombinantes. No caso de clonagem em cosmdios, entretanto, essas
partculas virais servem meramente como veculos para introduzir o DNA recombinante
dentro da bactria. Uma vez dentro da bactria o cosmdio se comporta como um plasmdio
grande.Os cosmdios podem aceitar insertos de aproximadamente 45kb,
quase duas vezes o tamanho dos insertos clonveis em fago . Deste
modo, usando-se o cosmdio como vetor, necessrio gerar somente
350.000 recombinantes para atingir 99% de probabilidade de uma
seqncia de cpia nica estar representada em uma biblioteca
genmica de mamfero. Entretanto, bibliotecas em cosmdios so mais
difceis de se construir e manter do que as bibliotecas de fagos.
Cosmdios so ento usados quando o gene de interesse muito grande
ou quando uma regio extensa do DNA cromossomal desejada. No casode isolamento rotineiro de segmentos de genes ou em circunstncias
onde a biblioteca ser usada muitas vezes, o uso de vetores mais
recomendado.
Na figura abaixo apresentamos um diagrama da estrutura de um
vetor tipo , bastante utilizado na construo de bibliotecas genmicas.
Figura 25. Estrutura do vetor EMBL3. BE=brao esquerdo; BD=braodireito; stuffer= fragmento central; S=SalI; B=BamHI; E=EcoRI.
Conforme indicado no diagrama este vetor apresenta um
48
5'
5'3'
3'BE
BE=brao esquerdo BD=brao direito
B B
S E E S
BDFragmento centralcos cos
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fragmento central flanqueado por dois fragmentos essenciais (direito e
esquerdo). O fragmento esquerda, chamado de brao esquerdo,
codifica para as protenas do capsdeo e o fragmento direita, chamado
de brao direito, contm a origem de replicao do fago e promotores de
outros genes essenciais. Entre o fragmento central e os dois braos
encontram-se os stios de restrio utilizados na clonagem - SalI, BamHI,
EcoRI - em orientao inversa.
Como todo fago , a extremidade de cada brao apresenta um
segmento de fita simples (cos). Esses segmentos so complementares
entre si e permitem a recircularizao da molcula, e a conseqente
replicao do DNA do fago dentro da clula hospedeira.Esse tipo de vetor chamado de vetor de substituio por que no
processo de clonagem a parte central do DNA do fago substituda pelo
fragmento de DNA a ser clonado, originando a molcula recombinante.
Mais recentemente outros vetores com capacidade para grandes
insertos foram desenvolvidos. Os cromossomos artificiais de
levedura (YACs) so molculas lineares de DNA cuja arquitetura
mimetiza a estrutura de um cromossomo autntico (Figura 26). Os YACs
recombinantes so criados pela ligao de fragmentos grandes de DNA
genmico exgeno (at 2000 kb) com os dois "braos" do vetor YAC e o
produto da ligao introduzido na levedura por transformao. Nos
YACs recombinantes, o segmento de DNA genmico exgeno
flanqueado de um lado por um centrmero, uma origem de replicao e
uma marca de seleo e pelo outro lado, por uma segunda marca de
seleo. As leveduras transformantes com cromossomo artificial so
selecionadas como colnias em meio com as drogas de seleo.
Os cromossomos artificiais de bactrias (BAC) so molculas
de DNA circulares que carregam uma marca de seleo a antibitico. Os
segmentos de DNA genmico exgeno so clonados no vetor BAC in vitro
e o produto da reao de ligao introduzido por eletroporao em
cepas de E. coli, onde mantido como um plasmdio de cpia nica. Osvetores BACs carregam marcadores que permitem a discriminao dos
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clones vazios e cheios. A mdia de tamanho dos clones de BACs 120
kb, mas alguns clones podem chegar 300kb.
Os vetores de bacterifago P1 acomodam fragmentos genmicos
de 70 a 100Kb. Neste sistema, as molculas lineares recombinantes
geradas a partir de seqncias do vetor e do genoma so empacotadas in
vitro em bacterifago P1. Aps a injeo em E. coli, as molculas se
tornam circulares pela atividade de uma recombinase, que promove a
recombinao de seqncias especficas presentes no vetor. Estes
vetores carregam marca de seleo para antibitico, marca de seleo
positiva para seleo dos clones com inserto de DNA genmico exgeno
e uma origem de replicao plasmdial P1, que mantm uma ou duascpias dos plasmdios recombinantes na clula. Uma segunda origem de
replicao pode ser ativada para amplificao dos plasmdios antes do
isolamento do DNA.
Figura 26. Construindo um cromossomo artificial de levedura (YAC). O vetor
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YAC carrega uma origem de replicao (ORI), um centrmero (CEN), doistelmeros e marcas de seleo (X e Y). Lehninger, Principles of Biochemistry.Figura 29-16, p. 1139.
Os cromossomos artificiais P1 combinam as caractersticas dos
bacterifagos P1 e dos BACs, incluindo a marca de seleo positiva e asorigens de replicao do bacterifago P1. Os clones circulares
recombinantes de PACs gerados durante a reao de ligao in vitro so
introduzidos em E.coli por eletroporao e mantidos como um plasmdio
de cpia nica na clula. Os insertos da biblioteca de DNA do genoma
humano em PACs variam de 60kb a 150kb.
IV. DETECO E ANLISE DO CLONE RECOMBINANTE
Um passo crucial na Tecnologia do DNA recombinante encontrar o
clone correto na mistura de clones que foi criada durante os
procedimentos da confeco da biblioteca genmica ou de cDNA. Embora
seja relativamente fcil selecionar as colnias que abrigam os vetores de
clonagem usando os marcadores de resistncia a antibiticos que esto
presentes nos vetores (Figura 27A), muito mais difcil selecionar o clone
que contenha o gene de interesse. Note que no caso do vetor ser um
plasmdio devero ser examinadas milhares de colnias de bactrias
crescidas em placas de petri contendo agar, para a deteco daquela(s)
colnia(s) que produza(m) pequenas quantidades da protena expressapelo gene de interesse ou ento que possua(m) o gene de interesse sem
qualquer expresso protica que o caracterize (Figura 27B). Ser
discutida inicialmente a situao na qual a protena expressa no
hospedeiro. Em seguida ser discutida a situao mais comum onde a
protena no expressa e a anlise ser feita atravs da prpria
presena do DNA de interesse no fago ou na bactria.
1. QUANDO O GENE DE INTERESSE EXPRESSO NO HOSPEDEIRO
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Se o gene de interesse capaz de se expressar na clula
hospedeira pode-se identificar o clone que carrega este gene pela
presena desta protena entre as colnias recombinantes. Para isto, o
hospedeiro no deve produzir esta protena, a menos que ele carregue o
clone que a produza. Se esta protena for produzida normalmente pela
clula hospedeira, ser ento necessrio o uso de uma clula hospedeira
defectiva ou mutante para o gene de interesse. Quando este gene for
incorporado ele pode ser detectado por complementao daquela funo.
Se a protena a ser detectada for especfica de mamfero, por exemplo, a
clula hospedeira j ser naturalmente defectiva. Se a protena for uma
enzima que catalisa uma reao mensurvel pode ser possvel triar ascolnias por sua atividade enzimtica.
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Se a protena de interesse no for uma enzima com funo
detectvel, uma outra estratgia ser necessria para a identificao do
clone correto, como por exemplo, o uso de um anticorpo especfico para
a protena de interesse. Anticorpo uma protena do soro produzida pelos
mamferos que se combina com alta especificidade com outra protena, o
antgeno. Neste caso, a protena de interesse o antgeno. Como o
anticorpo se combina especificamente com o antgeno, se o antgeno
estiver presente em uma ou mais colnias de uma placa de petri, a
identificao destas colnias poder ser feita observando-se a reao
antgeno-anticorpo.
Figura 27. Em A, estrutura do plasmdio pBR322, um tpico vetor declonagem. Em B, mtodo da inativao insercional para isolar plasmdioscontendo DNA exgeno. A insero do DNA exgeno no plasmdio pBR322
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causa inativao da resistncia tetraciclina, permitindo o isolamento detransformantes contendo o fragmento de DNA clonado (B). Lehninger,Principles of Biochemistry. Figura 29-6, p. 1126.
Para que o antgeno seja produzido na clula hospedeira a
biblioteca de cDNA ter de ser construda num vetor de expresso.
Neste caso os cDNAs so inseridos nestes vetores em regies que
promovam sua expresso em E.coli, normalmente em promotores que
possam ser regulados. Esta protena antignica ser expressa como uma
protena de fuso, ou seja, ser sintetizada subseqente a alguns
aminocidos pertencentes protena do vetor bacteriano. Estas protenas
de fuso so geralmente mais estveis que a correspondente protena de
eucarioto produzida em bactria e, portanto podem ser obtidas em
grande quantidade. Para visualizar a produo destas protenas, uma
parte dos fagos de cada placa de lise (ou bactrias) recombinantes
desenvolvidos numa placa de Petri so transferidos (como um carimbo)
para uma membrana de nitrocelulose, tratados para expor suas protenas
e ento submetidos a uma soluo contendo um anticorpo especfico
para a protena desejada. Depois que os anticorpos livres so removidos,um segundo anticorpo adicionado para localizar a posio do primeiro.
O segundo anticorpo normalmente radioativo e pode ser identificado
por autoradiografia utilizando-se um filme de raio X. Se uma colnia
radioativa estiver presente, uma mancha no filme de raios-X ser
observada depois que o filme for revelado (Figura 28). A localizao desta
mancha no filme corresponde localizao da colnia que produziu
aquela protena, na placa de petri original. Esta colnia ser ento
recuperada da placa original e cultivada.
Uma limitao deste procedimento que o anticorpo utilizado nesta
triagem precisa ser especfico para a protena de interesse. A produo
de anticorpos pode ser obtida pela injeo da protena (antgeno) em um
animal. No entanto, esta protena injetada deve ser pura, caso contrrio
mais que um anticorpo ser formado.
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2 O USO DE SONDAS MOLECULARES DE CIDOS NUCLICOS PARAIDENTIFICAR O GENE DE INTERESSE
Como pode ser detectado um gene de interesse entre as colnias
da biblioteca genmica ou de cDNA, se este gene no expresso?
Quando o DNA em soluo aquosa aquecido 100C, ou exposto pH alto, as bases complementares que normalmente seguram as
duplas hlices juntas so dissociadas em duas fitas simples. Este
processo chamado de desnaturao. Estas mesmas fitas simples
podero se reassociar se forem conservadas 65C, por longos perodos,
num processo chamado de renaturao (ou hibridao, quando a
associao ocorre entre cidos nuclicos de diferentes origens). Reaes
de hibridao ocorrem entre quaisquer duas cadeias de cidos nuclicos
de fita simples (DNA:DNA, RNA:DNA ou RNA:RNA) desde que tenham
seqncias de nucleotdeos complementares.
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Figura 28. Triagem de bibliotecas de expresso com anticorpos. Se o inserto estiver naorientao correta e na apropriada seqncia aberta de leitura traduzido em protena defuso (antgeno). Os anticorpos identificam as placas de lise especficas destes antgenos.
Este princpio da hibridao molecular fundamental paracaracterizar DNAs recombinantes quando o gene de interesse no
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Promotor
EcoRI lac
-Galactosidasegfll
EcoRI
EcoRI EcoRI
EcoRIlinker
cDNA
Proteina de Fuso
Empacotamento dos fagose plaqueamento em
camada bacterianain vitro
Membrana denitrocelulose
Placas de lise
Nitrocelulosesobre as placasde lise
Remoo damembrana
Protenas se ligama nitrocelulose
Incuba membrana com
anticorpo primrio
Lava membrana
Incuba membrana comanticorpo secundrio
anticorpo secundrio
anticorpo pr imrio
Filme de raio-X
" "
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expresso. Sondas de cidos nuclicos (fragmentos de cido nuclico
marcados radioativamente, geralmente com 32P) so utilizadas para
localizar clones, numa biblioteca genmica ou de cDNA, que carreguem
uma seqncia de DNA de interesse. Aps a confeco da biblioteca
genmica (ou de cDNA) os fagos carregando DNA recombinante so
espalhados juntamente com uma suspenso de bactrias numa placa de
petri contendo meio de cultura slido. Uma vez visualizada as placas de
lise (ou as colnias, no caso do vetor ser um plasmdio) preparada uma
rplica de cada placa de petri com uma membrana de nilon ou de
nitrocelulose. Este processo permite a transferncia de uma poro de
fagos de cada placa de lise (ou de bactrias de cada colnia) para amembrana, de tal maneira que o padro das placas de lise da placa de
petri original seja mantido na membrana. Para identificar qual das placas
de lise porta o gene de interesse esta membrana tratada para expor e
desnaturar o DNA das colnias ali presentes e incubados com uma
soluo de DNA ou RNA fita simples, marcada radioativamente e
complementar ao gene de interesse para permitir a hibridao. Dois
polinucleotdios simples fitas somente iro se hibridar se forem
complementares. A localizao da placa de lise que se hibridou sonda
determinada aps a exposio da membrana a um filme de Raios-X
(autoradiografia) e a comparao deste filme com a disposio das
colnias na placa de petri original (Figura 29).
Esta sonda molecular radioativa pode ser parte de um gene j
clonado para o qual se procura o gene total, pode ser o DNA de um gene
vizinho ao gene de interesse, pode ser o RNA de genes que so expressos
em tecidos especficos ou em estgios especficos do ciclo celular, ou
mesmo o gene de uma outra espcie que codifica para a mesma
protena. Neste ltimo caso, a reao de hibridao pode ser realizada
em baixa temperatura (420C ao invs de 650C) e em baixa concentrao
de sal (baixa estringncia) para permitir a hibridao mesmo entre DNAs
que tenham algumas bases no complementares.
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Figura 29. Triagem de uma biblioteca genmica ou de cDNA, construdas nofago , com uma sonda molecular para encontrar um clone de interesse. Estatriagem feita espalhando-se os fagos previamente incubados numa culturade bactrias, em vrias placas de agar. Depois que as placas de lise tornam-sevisveis, so feitas as rplicas em membrana de nitrocelulose, seu DNA exposto e hibridizado com a sonda molecular. A posio do clonerecombinante de interesse identificada atravs de autoradiografia. O DNA
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Membrana denitrocelulose
Placas de lise Fagos absorvem anitrocelulose
Placa mestra
Membrana rplica
Sonda de cidonucleico marcadacom 32p
Sonda Hibridiza
DNA ligado ao filtro
Lavagem das sondasno incorporadas
Sonda hibridiza ao DNA do fagoque contem a sequncia complementar Filme de raio-X
Placa mestra
DNA lambdaisolado da placa delise
DNA clonado
Clone lambda purificado
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isolado dos fagos presentes na placa de lise positiva, identificada na placa depetri original e submetida a anlises posteriores.
Genes que respondem a um mesmo mecanismo de regulao
podem ser identificados numa biblioteca de cDNA por hibridao
diferencial. Isto , genes expressos em tecidos especficos, em estgios
especficos do desenvolvimento ou do ciclo celular e genes regulados por
fatores de crescimento so adequados para serem analisados por este
tipo de abordagem. Para esta identificao necessrio produzir duas
populaes celulares (ou extrair mRNA de dois difere