Apostila_genética_2003

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO

    TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE

    Alexandra A. C. NascimentoEnilza Maria Espreafico

    Maria Luisa Pa LarsonNdia MonesiNilce Maria Martinez RossiVanderlei Rodrigues

    Reviso 1: Eliana Valria PatussiMrcia A. S. Graminha

    Reviso 2: Fbio Mrcio SquinaJosane de Freitas SousaRoberto RullerValeria Valente

    2003

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    I. CONCEITOS BSICOS

    1. INTRODUO

    At a dcada de 70, o DNA era o componente celular mais difcil deser analisado. Sua sequncia de nucleotdeos de enorme tamanho e

    monotonia qumica era geralmente analisada atravs de meios indiretos

    como a sequncia de protenas e anlise gentica. A partir da dcada de

    70 novas tecnologias foram desenvolvidas permitindo o isolamento e a

    purificao de genes especficos num processo chamado de clonagem

    gnica. Na verdade, muitas destas tcnicas so provenientes da

    Microbiologia, Bioqumica, Imunologia e Gentica Microbiana e

    permitiram que a anlise do DNA ganhasse um novo enfoque. O DNA

    tornou-se ento, a molcula mais fcil de ser analisada, sendo possvel

    isolar regies especficas, obt-las em grande quantidade e determinar a

    sua seqncia numa velocidade de milhares de nucleotdeos por dia.

    A Tecnologia do DNA recombinante, como se convencionou

    denominar este conjunto de tcnicas, tem uma ampla aplicao. Ela podeser usada para estudar mecanismos de replicao e expresso gnica, na

    determinao da seqncia de um gene e conseqentemente da protena

    que ele codifica, ou no desenvolvimento de culturas microbianas capazes

    de produzir substncias teis tais como a insulina humana, hormnio de

    crescimento, vacinas e enzimas industriais em grandes quantidades. Sua

    aplicao comercial ou biotecnolgica parece ter um potencial

    inesgotvel.

    Como conseqncia do desenvolvimento desta tecnologia

    atualmente possvel realizar investigao de paternidade e o diagnstico

    de doenas genticas e infecciosas atravs da anlise de DNA.

    2. CONCEITO DE CLONAGEM MOLECULAR

    A origem do termo clonagem vem da Gentica Bacteriana que

    considera uma colnia de bactrias como um clone porque todos os

    1

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    indivduos so geneticamente idnticos bactria inicial.

    A tcnica central da metodologia do DNA recombinante a

    clonagem molecular, a qual consiste no isolamento e propagao de

    molculas de DNA idnticas. A clonagem molecular compreende pelo

    menos dois estgios importantes. Primeiro, o fragmento do DNA de

    interesse chamado de inserto ligado a uma outra molcula de DNA

    chamada de vetorpara formar o que se chama de DNArecombinante.

    Segundo, a molcula do DNA recombinante introduzida numa clula

    hospedeira compatvel, num processo chamado de transformao. A

    clula hospedeira que adquiriu a molcula do DNA recombinante agora

    chamada de transformante ou clula transformada.Um nico transformante, em condies ideais, sofre muitos ciclos

    de diviso celular, produzindo uma colnia que contm milhares de

    cpias do DNA recombinante.

    3. ENZIMAS DE RESTRIO

    Em 1953 foi descrito um estranho fenmeno no qual a eficincia dareplicao de um bacterifago (vrus de bactrias) dependia da clula

    hospedeira na qual ele estava inserido. Algum tempo depois percebeu-se

    que a inabilidade de certos fagos crescerem em determinadas linhagens

    bacterianas era devido a presena de nucleases altamente especficas

    que clivavam o seu DNA. Isto pode ser encarado como um sistema de

    defesa bacteriano que degrada DNA que lhe estranho (restrio). A

    bactria protege seu prprio DNA desta degradao camuflando-oatravs da metilao de algumas bases especficas (modificao). Como

    conseqncia, este sistema frequentemente descrito como fenmeno

    da restrio/modificao e existe em um grande nmero de bactrias.

    As enzimas de restrio ou endonucleases de restrio so divididas

    em vrias classes, dependendo da estrutura, da atividade e dos stios de

    reconhecimento e clivagem. As enzimas do Tipo II, as mais importantes

    na Tecnologia do DNA Recombinante, so proteinas monomricas ou

    2

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    dimricas e clivam o DNA no mesmo stio do seu reconhecimento. O stio

    de reconhecimento deste tipo de enzima normalmente uma seqncia

    palindrmica, isto , ela tem um eixo de simetria e a seqncia de

    bases de uma fita a mesma da fita complementar, quando lida na

    direo oposta (Figura 1).

    Figura 1. Os dois tipos de clivagem feitos por enzimas de restrio. As setasindicam os stios de clivagem e as linhas pontilhadas representam o centro desimetria da sequncia.

    Estas enzimas reconhecem seqncias especficas de 4 a 8 pares

    de base (pb) na molcula de DNA e fazem dois cortes, um em cada fita.

    H 2 tipos distintos de clivagens: a) os dois cortes ocorrem no eixo de

    simetria da seqncia especfica, gerando extremidades abruptas, ou b)

    os cortes so feitos simetricamente, porm, fora do eixo de simetria,

    gerando extremidades coesivas. Estes dois tipos de clivagens e suas

    conseqncias esto mostrados na Figura 1.Atualmente, mais de 1000 enzimas de restrio j foram

    identificadas. A nomenclatura desenvolvida foi baseada na abreviao do

    nome do microrganismo do qual a enzima foi isolada. A primeira letra

    representa o gnero e as outras duas a espcie, seguido de um algarismo

    romano (ou outra letra) que indica a ordem da descoberta ou a linhagem

    da qual ela foi isolada. Por exemplo, a enzima de restrio denominada

    de EcoRI purificada de uma Escherichia coli que carrega um fator de

    transferncia de resistncia RI, enquanto que a Hind III isolada da

    3

    a ) C l i v a g e m n o e i x o d e s i m e t r i a

    M o l c u l a s c o m e x t r e m i d a d e s a b r u p t a s M o l c u l a s c o m e x t r e m i d a d e s c o e s i v a s

    b ) C l i v a g e m s i m t r i c a m e n t e s i t u a d a a or e d o r d o e i x o d e s i m e t r i a

    . . . T C G A . . .

    . . . A G C T . . .

    3

    5 3

    5

    +

    . . . G A A T T C . . .

    . . . C T T A A G . . .

    +

    3

    5 3

    5

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    Haemophilus influenzae, linhagem d III.

    A Tabela 1 mostra a seqncia palindrmica e o local de clivagem

    de algumas enzimas de restrio. Note que algumas enzimas deixam

    terminaes coesivas enquanto que outras fazem cortes abruptos ou no

    coesivos.

    Tabela 1. Algumas endonucleases de restrio: origem e stios de clivagem. A

    seta indica o local de clivagem. Pu e Pi referem-se, respectivamente, a

    qualquer purina e pirimidina.

    O interesse por estas enzimas de restrio aumentou em 1973quando se percebeu que elas poderiam ser usadas para fragmentar o

    4

    M i c r o r g a n i s m o E n z i m a S e q u n c i a A l v o

    E c o R IE s c h e r i c h i a c o l i

    B a c i l l u s a m y l o l i q u e f a c i e n s H

    H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s

    H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s

    H a e m o p h i l u s a e g y p t i u s

    P r o v i d e n c i a s t u a r t i i

    S t r e p t o c o c c u s a l b u s G

    T h e r m u s a q u a t i c u s

    S e r r a t i a m a r c e s c e n s

    B r e v i b a c t e r i u m a l b i d i u m

    B a c i l l u s g l o b i g i i

    B a m H I

    B g l I I

    P s t I

    B a l I

    S m a I

    H a e I I I

    T a q I

    S a l I

    H i n d I I I

    H a e I I

    G A A T T C

    C T T A A G

    G G A T C C

    C C T A G G

    A G A T C T

    T C T A G A

    P G C G C P iP i C G C G P

    u

    y u

    A A G C T T

    T T C G A A

    C T G C A G

    G A C G T C

    G T C G A C

    C A G C T G

    T G G C C A

    A C C G G T

    A G G C C T

    T C C G G A

    C C C G G GG G G C C C

    T C G A

    A G C T

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    DNA deixando extremidades de fitas simples de DNA que permitiam a

    ligao dos fragmentos. Isto significava que a recombinao poderia ser

    efetuada em tubos de ensaio. Alm disto, DNA bacteriano poderia

    recombinar com DNA humano ou de qualquer outra espcie, abrindo a

    possibilidade de clonar genes humanos ou isolar protenas de culturas

    bacterianas.

    Uma importante conseqncia da especificidade destas enzimas de

    restrio que o nmero de clivagens feito por cada uma delas no DNA

    de qualquer organismo definido e permite o isolamento de fragmentos

    deste DNA. Portanto, cada enzima de restrio gera uma famlia nica de

    fragmentos quando cliva uma molcula de DNA especfica. Enzimas quereconhecem stios de restrio compostos por 4 pares de bases clivam o

    DNA em mdia a cada 256 nucleotdeos (44=256). Aquelas que

    reconhecem stios com 6 e 8 pb clivam o DNA em mdia a cada 4096 e

    65536 pb, respectivamente. No entanto, esta mdia pode sofrer

    variaes significativas, dependendo principalmente da composio de

    bases do DNA analisado. Por exemplo, a enzima NotI reconhece um stio

    de restrio contendo 8pb, incluindo nucleotdeos CpG, que raramente

    ocorre no DNA de mamferos.

    A famlia de fragmentos gerados por digesto com enzima de

    restrio geralmente detectada pela separao destes fragmentos por

    eletroforese em gel de agarose. Os fragmentos migram em funo de

    seus pesos moleculares sendo que os menores migram mais rapidamente

    (Figura 2).

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    Figura 2. Molculas de DNA de tamanhos diferentes podem ser separadas poreletroforese. Molculas menores movem-se mais rapidamente que molculasmaiores, tornando-se portanto separadas em bandas. O DNA corado combrometo de etdio, uma molcula que fluoresce quando iluminada com luzUltra Violeta.

    4. CONSTRUO DO DNA RECOMBINANTE

    Uma enzima de restrio particular reconhece somente uma

    seqncia nica de bases. DNAs de origens diferentes sob a ao da

    mesma enzima de restrio produzem fragmentos com o mesmo

    conjunto de extremidades fitas simples. Portanto, fragmentos de dois

    diferentes organismos (por exemplo, bactria e homem) podem ser

    ligados por renaturao das regies de fita simples. Alm disto, se a

    ligao for "selada" com a enzima DNA ligase, depois do pareamento debases, os fragmentos sero ligados permanentemente.

    6

    S

    e

    n

    t

    i

    d

    o

    d

    a

    m

    i

    g

    r

    a

    o

    P a r e s d eb a s e

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    A tcnica de DNA recombinante tem um interesse especial se uma

    das fontes de DNA clivado for um plasmdeo.

    Figura 3. Construo de uma molcula de DNA hbrida a partir de fragmentosde diferentes organismos obtidos com o uso de enzima de restrio.

    A figura 3 mostra uma molcula de DNA de plasmdeo que temsomente um stio de clivagem para uma determinada enzima de

    restrio. A mesma enzima usada para clivar DNA humano. Se os

    fragmentos de DNA humano so misturados com o DNA plasmidial

    linearizado, permitindo a ligao entre eles, uma molcula de DNA

    plasmidial contendo DNA humano pode ser gerada. Este plasmdeo

    hbrido pode ser inserido numa bactria atravs de transformao e

    ento o inserto ser replicado como parte do plasmdeo. Geralmente,

    antibiticos so acrescentados ao meio da cultura para selecionar somente

    as linhagens que portam os plasmdeos (o plasmdeo usado para esta

    finalidade porta resistncia a pelo menos um antibitico).

    5. DNA LIGASE

    7

    P l a s m d e od e

    E . c o l i

    D N A h u m a n o

    D N A l i g a s e

    P l a s m d e o h b r i d o

    E n z i m a E n z i m a

    G C A T

    T A C G

    T G C A T G C A

    A C G T A C G T

    TG CA

    ACGT

    TGC A

    TGC

    A

    A

    CGT AC

    GT

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    Conforme mencionado anteriormente, esta enzima promove a ligao

    dos fragmentos de DNA em vetores previamente clivados por endonucleases

    de restrio. A DNA ligase requer um grupo OH livre na extremidade 3' de

    uma das cadeias de DNA e um grupo fosfato na extremidade 5' da outra

    cadeia (Figura 4). A E.coli e o fago T4 codificam uma DNA ligase capaz de

    selar fragmentos de DNA com dupla fita. DNA ligase isolada de E.coli e de

    outras bactrias requer NAD+, enquanto que a isolada do bacterifago T4

    requer ATP como cofator.

    Figura 4. DNA ligase cataliza a juno de duas fitas de DNA que so partesda molcula da dupla-hlice.

    5.1. Tipos de fragmentos de DNA que so ligados pela DNA

    ligase

    a) Fragmentos com extremidades coesivas

    As extremidades coesivas produzidas por vrias enzimas de

    restrio permitem que dois fragmentos de DNA sejam mais facilmenteligados. Isto porque ocorre inicialmente o pareamento das fitas simples

    das extremidades coesivas das duas diferentes molculas, atravs da

    formao de pontes de hidrognio pela complementariedade das bases.

    Finalmente, a ligao covalente (fosfodister) dos fragmentos realizada

    pela DNA ligase (ver figura 4).

    b) Fragmentos com extremidade no coesivas

    8

    D N A D N A3 O H-

    O O 5 P

    O

    -

    O

    D N A D N A 3 O O 5

    O

    P

    -

    O

    +

    D N A - L i g a s eA T P o u N A D

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    DNAs portando extremidades no coesivas so ligados com muito

    menos eficincia que aqueles que tem extremidades coesivas. Uma

    concentrao muito maior de DNA ligase e mesmo dos DNAs envolvidos

    necessria para que as molculas com extremidades no coesivas sofram

    reao de ligao.

    No entanto, a ligao deste tipo de fragmento facilitada pela

    transformao prvia das extremidades no coesivas em coesivas. Este

    procedimento pode ser feito atravs de dois processos:

    a) Adio de polidesoxiadenina na extremidade 3' de um fragmento

    de DNA e polidesoxitimina na extremidade 3' de um outro fragmento de

    DNA, atravs da enzima desoxinucleotidil-transferase-terminal ousimplesmente transferase. Esta enzima, uma DNA polimerase incomum,

    adiciona nucleotdeos extremidade 3-OH de fragmentos fita simples

    proeminentes de uma cadeia de DNA. Para gerar este tipo de

    extremidade proeminente a molcula tratada previamente com uma

    exonuclease 5-especfica para remover alguns nucleotdeos terminais.

    Aps a mistura dos dois tipos de fragmentos complementares e

    anelamento dos mesmos, as molculas so unidas preenchendo-se os

    espaos existentes com o auxlio da DNA pol I e selando-os com DNA

    ligase (Figura 5)

    b) Adio de adaptadores s extremidades no coesivas. Os

    adaptadores so oligonucleotdeos sintticos que contm stios de

    clivagem para uma ou mais enzimas de restrio. Eles so unidos ao DNA

    com o auxlio da DNA ligase (Figura 6).

    Alternativamente, no lugar de modificar a extremidade no coesiva,

    pode-se optar pela utilizao de T4 ligase em grande concentrao, o que

    permitir a ligao entre molculas de DNA sem proeminncias.

    6. TRANSFORMAO BACTERIANA

    6.1.Conceito de transformao induzidaO processo de transformao constitui um evento de alta

    9

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    importncia na tcnica de manipulao gnica. A transformao natural

    descrita por Griffith, em 1928, e por Avery e colaboradores, em 1944,

    um evento raro. No entanto, em 1970, Mandel e Higa encontraram que a

    E.coli tornou-se marcadamente competente para transformao com

    DNA exgeno, quando a bactria foi suspensa em cloreto de clcio

    gelado e submetida a um curto choque trmico 42oC. Estes mesmos

    autores tambm verificaram que as bactrias crescidas at a fase log

    eram mais competentes do que aquelas isoladas de outros estgios do

    crescimento.

    Figura 5. Fragmentos de DNA com extremidades no coesivas podem ser transformadas

    em coesivas pela adio de poli (A) e poli (T).

    10

    5 5

    5 5 3

    3

    A A A A T T T T

    3

    3

    3

    A A A A T T T T

    3

    3

    3

    5 - E x o n u c l e a s e e s p e c f i c a

    D e o x i n u c l e o t d i o t r a n s f e r a s e t e r m i n a l

    E s p a o s p r e e n c h i d o s c o m D N A P o l I . D N A l i g a s ep a r a c o m p l e t a r a l i g a o

    + d A T P + d T T P

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    Figura 6. Fragmentos de DNA com extremidades no coesivas podem ser transformadosem coesivas pela adio de adaptadores e posterior tratamento com a enzima de restrioque reconhece o adaptador.

    O procedimento do cloreto de clcio que usado at hoje produz

    uma eficincia de transformao da ordem de 105 a 107 transformantes

    por micrograma de DNA (a eficincia de transformao geralmente

    expressa como o nmero de clulas transformadas, obtido a partir de um

    micrograma de DNA plasmidial intacto).

    O tamanho e a conformao da molcula do DNA, afetam o

    processo de transformao. Plasmdeos pequenos so mais facilmente

    incorporados pela clula bacteriana competente; DNA linear

    pobremente incorporado, talvez pelo fato de sofrer degradao pelasenxonucleases presentes no espao periplasmtico.

    6.2. Mecanismos de captao do DNA

    O mecanismo de captao da molcula do DNA pela bactria

    competente ainda desconhecido. Uma hiptese que as molculas do

    DNA passam atravs de canais situados nas chamadas zonas de adeso,que so locais onde a membrana interna e externa da clula bacteriana

    11

    D N A a s e r i n s e r i d o

    +

    G A A T T C

    C T T A A G

    A d a p t a d o r

    S i n t t i c o

    T 4 D N A l i g a s e

    G A A T T C

    C T T A A G

    G A A T T C

    C T T A A G

    E c o R I

    A A T T CG

    GC T T A A

    G A A T T C

    C T T A A GV e t o r

    E c o R I

    G A A T T CC T T A A G

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    unem-se formando poros. Estes poros s esto presentes durante o

    crescimento bacteriano (fase de crescimento exponencial).

    Em condies naturais, a captao do DNA torna-se difcil devido a

    repulso eletrosttica existente entre as cargas negativas da camada de

    fosfolipdeos da membrana bacteriana e dos grupo fosfato da molcula

    do DNA.

    O papel do clcio explicado pela hiptese de que a 0oC a fluidez

    da membrana celular cristalizada, estabilizando a distribuio dos

    fosfatos carregados. Os ons Ca+2 formam um complexo com este

    grupamento, cobrindo as cargas negativas e assim facilitando a atrao

    eletrosttica com as molculas do DNA na zona de adeso. O choquetrmico, complementa este processo de captao, provavelmente

    criando um desbalano trmico entre o interior e o exterior da clula

    bacteriana, auxiliando o bombeamento do DNA atravs da zona de

    adeso. A figura 7 ilustra este processo.

    12

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    Figura 7. Mecanismo molecular proposto para explicar a transformao de E.coli com uma molcula de DNA exgeno.

    II. VETORES DE CLONAGEM MOLECULAR

    Aps o isolamento de uma informao gentica, por exemplo um

    fragmento de DNA obtido pela clivagem com enzimas de restrio, este

    fragmento dever ser inserido numa outra molcula de DNA diferente,

    capaz de amplificar aquela informao gentica em centenas de cpias.Este processo de amplificao obtido atravs do uso de molculas de

    DNA que so os chamados vetores de clonagem molecular.

    Atualmente, os tipos bsicos de vetores usados na metodologia do

    DNA recombinante apresentam caractersticas especiais que os tornam

    excelentes veculos de clonagem em diferentes situaes.

    A seguir, vamos apresentar os principais tipos de vetores

    atualmente em uso na biologia molecular.

    13

    - - - --

    -- - ---

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    --

    -

    -

    --

    -

    -

    -

    --

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    -

    --

    - - - - -

    ----

    Z o n a d e a d e s o

    P l a s m d e o

    B i c a m a d a l ip d i c a( i n t e r n a )

    B i c a m a d a l i p d i c a( e x t e r n a )F o s f o l i p d e o s

    o n d e c l c i o

    C a m a d a p e p t i d og l u c a n

    D N A g e n m i c o C l u l aB a c t e r i a n a

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    1. PLASMDEO

    Plasmdeos so pequenas molculas de DNA dupla fita, contendo

    os elementos necessrios para a sua replicao e pelo menos um gene

    que confere resistncia a antibitico. Estes elementos genticos extra

    cromossomais variam de 5 a 400 kilobases e comumente esto presentes

    em duas ou mais cpias por clula. Os plasmdeos presentes num grande

    nmero de cpias so usados como veculos de clonagem desde que

    capacitem a amplificao do segmento do DNA neles clonado.

    Um plasmdeo para ser um bom vetor de clonagem deve conter as

    seguintes propriedades:

    a) possuir uma origem de replicao (O), ou seja, uma seqncia de

    DNA que permita que o vetor seja replicado na clula hospedeira;

    b) apresentar dois ou mais stios nicos de clivagem para endonucleases

    de restrio. O conjunto destes stios, denominado de Mltiplos Stios

    de Clonagem (MSC), o local onde o inserto incorporado ao vetor de

    clonagem;

    c) possuir um gene que codifica um produto que distingue a clula

    transformada da clula no transformada. Por exemplo, muitos vetoresde clonagem carregam o gene que confere resistncia ampicilina

    (AmpR). As clulas transformadas com tais vetores so capazes de

    crescer num meio contendo o antibitico, enquanto que as clulas no

    tranformadas acabam morrendo.

    A figura a seguir ilustra as principais caractersticas estruturais de

    um plasmdeo.

    14

    A m p R

    O

    M S C

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    17/104

    Figura 8. Estrutura molecular de um plasmdeo tpico usado em clonagemmolecular. Esto representados o gene de resistncia (AmpR), a regio demltiplos stios de clonagem (MSC) e a origem de replicao (O).

    Um dos passos fundamentais no processo de clonagem molecular

    o uso de enzima de restrio que produz extremidades compatveis

    durante a clivagem do DNA a ser clonado (inserto) e a do DNA receptor

    (vetor).

    Uma vez que o DNA foi ligado ao vetor, esta molcula hbrida

    dever ser introduzida numa clula hospedeira geralmente bactrias, por

    um processo chamado de transformao, para que o vetor possa sofrer

    replicaes e consequentemente amplificar o nmero de cpias do

    inserto. A bactria transformada ser facilmente reconhecida pela

    aquisio de um novo fentipo dado pelo plasmdeo, ou seja, capacidade

    de crescer em meios contendo antibitico.

    2. FAGOS

    Um dos vetores mais utilizados nos processos de clonagem

    molecular o denominado bacterifago , o qual comporta-se como umvrus da E.coli. Antes de analisarmos o uso deste elemento como veculo

    de clonagem molecular, vamos mostrar resumidamente as suas

    propriedades biolgicas e estruturais.

    2.1 Biologia do fago O fago um parasita obrigatrio da E.coli, o qual

    necessariamente deve injetar o seu DNA na bactria hospedeira para a

    sua multiplicao. Aps a infeco da E.coli o genoma do fago pode

    seguir duas vias:

    a) No primeiro caso denominado estado ltico, o DNA do fago

    permanece na bactria como uma molcula independente, havendo aativao de alguns genes do fago e a concomitante inativao de outros,

    15

  • 7/27/2019 Apostila_gentica_2003

    18/104

    dentro de um programa estritamente definido. Como resultado o

    cromossomo do fago replicado ativamente, ocorre a sntese das

    protenas da capa e da cauda e formam-se novas partculas virais. Em

    aproximadamente 45 minutos aps a infeco a clula hospedeira

    lisada havendo a liberao de cerca de 100 novos fagos.

    b) A outra via que o cromossomo do fago pode seguir o denominado

    estado lisognico. Neste caso, o DNA do fago integrado no

    cromossomo da bactria passando a ser chamado profago. No estado

    lisognico, todos os genes do profago esto inativos com excesso do

    gene que produz a protena repressora. A bactria hospedeira carregando

    o profago multiplica-se e este replicado passivamente e distribudo paraas bactrias descendentes.

    Em condies naturais a opo entre seguir o estado ltico ou

    lisognico depende das condies do meio. Assim, via de regra, em meio

    rico em nutrientes o estado ltico preferencial, por exemplo o fago na

    bactria E.coli intestinal. Por outro lado, em meio pobre de nutrientes

    como o caso da E.coli no solo, o fago prefere o estado lisognico. Em

    condies experimentais, o estado a ser seguido depende de um balano

    entre os fatores do meio intra e extra celular e de fatores genticos da

    bactria hospedeira e do bacterifago.

    2.2 Genoma do fago O bacterifago uma partcula viral constituda de

    aproximadamente 50% de protenas e 50% de DNA. O DNA do fago , na

    forma como ele isolado da partcula viral, uma molcula linear com

    dupla fita de aproximadamente 48.500 pares de bases. As extremidades

    da molcula contm uma frao de DNA fita simples com cerca de 12

    nucleotdeos, os quais so complementares na sequncia de bases e

    atravs delas que o DNA assume a forma circular quando ele injetado

    na clula hospedeira. Estas extremidades so denominadas de stios

    cos. O genoma do fago codifica para aproximadamente 50 protenas,

    16

  • 7/27/2019 Apostila_gentica_2003

    19/104

    cujos genes tem um cronograma de expresso bem definido, o que

    determina a instalao do estado ltico ou lisognico.

    As figuras 9 e 10 ilustram o ciclo biolgico do fago em uma

    clula hospedeira e o genoma do fago com alguns dos seus principais

    genes, respectivamente.

    2.3 Controle de expresso dos genes do fago Seja qual for a via a ser seguida pelo fago , ou seja via ltica ou

    lisognica, a expresso dos genes envolvidos nestes circuitos comea

    pelos produtos dos genes N e Cro, regulados pelos promotores pL e pR

    respectivamente situados esquerda (pL) e direita (pR) do gene cI.

    Durante o transcurso da via ltica, o produto do gene cro est

    diretamente relacionado com a replicao do genoma do fago , atravs

    da induo da expresso dos genes OP. Por outro lado, o produto do

    gene N est diretamente relacionado com a expresso dos genes da

    regio de empacotamento, ou seja genes A eJ, responsveis pela sntese

    das protenas da cabea e da cauda do fago , como tambm daexpresso dos genes S e R, diretamente envolvidos com a lise da clula

    hospedeira.

    17

    1

    2

    6

    34

    5

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    Figura 9. Replicao do fago no interior da clula hospedeira. Apsadsoro (1) e injeo (2) do genoma do fago na bactria, a via lticaindicada pelos nmeros 3, 4 e 5 leva a formao de novas partculas virais.Alternativamente, a via lisognica (6) pode ser ativada levando integraodo material gentico viral ao genoma da bactria hospedeira.

    Figura 10. Representao esquemtica do genoma do fago .

    Durante a via lisognica, a transcrio tambm inicia-se pelos

    promotores pL e pR coordenando a expresso dos genes cII e cIII. O

    produto destes dois genes coordena a expresso do gene cI que produz

    uma protena repressora inibindo a expresso dos genes responsveis

    pelo empacotamento e a lise. Por outro lado, um outro gene importante

    o int, cujo produto relaciona-se com a integrao do fago no genomabacteriano estabelecendo o estado lisognico.

    2.4 O uso do fago como vetor de clonagem molecularDurante o ciclo ltico, os genes envolvidos no processo de lisognia

    so dispensveis e consequentemente a regio de integrao do genoma

    do fago pode ser totalmente substituda por um outro fragmento de DNA,sem que haja qualquer alterao nos processos envolvidos na via ltica.

    Uma das maiores vantagens de usar o fago como vetor de

    clonagem que o DNA inserido no fago empacotado in vitro. Embora a

    eficincia de empacotamento seja cerca de 10%, uma vez que os fagos

    so empacotados teremos 100% de eficincia na infeco da E.coli

    hospedeira. Este processo altamente eficiente quando comparado com

    o da transformao bacteriana com plasmdeos. Neste caso, os melhores

    resultados situam-se ao redor de 108 transformantes por g de DNA o que

    18

    E m p a c o t a m e n t o R e c o m b i n a o R e g u l a o R e p l i c a o L i s e

    c o s A J

    N C r op L p r

    . c I I I c I c I I O P S Ri n t

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    significa que menos de 1 em 1000 plasmdeos so incorporados na E.coli

    hospedeira.

    Atualmente, existem vrios derivados do fago nos quais um ou

    mais stios de restrio flanqueiam a regio de recombinao, facilitando

    a sua substituio por um outro DNA. Estes so os chamados vetores de

    substituio. Um exemplo tpico destes vetores o EMBL3, no qual a

    regio de recombinao flanqueada pelas enzimas de restrio EcoRI,

    BamHI e SalI. Esse vetor quando quando clivado pode receber

    fragmentos de DNA variando de 10,4 a 20 kb, como mostra a figura

    abaixo.

    Outros derivados do fago so os chamados vetores deinsero. Neste tipo de vetor, os fragmentos de DNA que podem ser

    inseridos devem ter no mximo at 7kb de tamanho para no alterar os

    processos de empacotamento do genoma do fago.

    Os vetores de insero derivados do fago mais bem utilizados

    especialmente na clonagem de cDNA, so os vetores gt10 e o gt11.

    Vamos a seguir fazer algumas consideraes sobre estes dois tipos de

    vetores.

    No fago gt10, o inserto geralmente cDNA, inserido no stio da

    EcoRI situado no gene repressor cI. O fago recombinante ter agora o

    gene cI obstrudo e consequentemente durante a cultura provocar a lise

    das colnias de bactrias transformadas. Essas colnias lisadas so

    visualizadas como crculos com o centro claro (placas de lise), bastante

    distintos das colnias no recombinantes, que por possurem o gene cIntegro no so lisadas e permanecem como colnias turvas.

    19

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    Figura 11. Representao esquemtica da clonagem de um fragmento deDNA genmico no fago . As regies indicadas por a contm todas asinformaes necessrias para replicao em E. coli e empacotamento in vitro.Os diferentes fragmentos obtidos da digesto do DNA de interesse com

    enzima apropriada esto indicados pelas letras b e c, onde somente c possuitamanho adequado para o empacotamento.

    Por outro lado, o fago gt11 contm um stio de restrio EcoRI

    localizado num gene chamado LacZ, a 53 nucleotdeos do cdon de

    trmino da enzima codificada por esse gene (-galactosidase). Essa

    enzima, cuja expresso pode ser induzida por IPTG (isopropil--D-

    galactosdeo), degrada o substrato X-gal produzindo um precipitado decor azul. Portanto, colnias de bactrias carregando o DNA do fago com o

    20

    E c o R I

    E c o R I

    l i g a s e

    e m p a c o t a m e n t oi n v i t r o

    a

    a

    b

    b

    b

    b

    c

    D N A b a c t e r i f a g o

    D N A c a m u n d o n g o

    b a c t e r i f a g o

    c o n t e n d o

    g e n e s d o

    c a m u n d o n g o

    i n f o r m a e s

    d e s n e c e s s r i a s

    r e p l i c a o

    c

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    gene LacZ intacto (sem inserto), na presena do indutor IPTG e do

    substrato X-gal, ficaro azuis. Enquanto que, aquelas portanto o DNA o

    fago que incorporou o inserto no stio de EcoRI, no expressam a -

    galactosidade e permanecem de cor branca, o que facilita a identificao

    dos clones recombinantes.

    3. COSMDEO

    A clonagem de fragmentos de DNA no fago apresenta uma

    limitao, pois o fragmento a ser clonado no pode ser maior do que

    cerca de 15kb (Figura 12). Na maioria das vezes, esta dimenso

    suficiente para conter um gene completo, incluindo as sequnciasflanqueadoras. Entretanto, muitos genes apresentam dimenses da

    ordem de 35 a 40 kb e nestes casos, a tcnica usada para a clonagem

    deste tipo de fragmento a chamada clonagem em cosmdeos.

    Os cosmdeos, so plasmdeos que contm um fragmento de DNA

    do fago que inclui o stio cos. Estes cosmdeos podem ser usados como

    veculos de clonagem molecular empregando o sistema deempacotamento in vitro que reconstitui a estrutura do fago (cabea e

    cauda) e assim usado para infectar a clula hospedeira.

    As enzimas do sistema de empacotamento do fago reconhecem

    os dois stios cos situados de 35 a 49 kb de distncia e neste caso,

    somente fragmentos desta ordem de tamanho sero convenientemente

    empacotados.

    O DNA genmico de interesse clivado com uma enzima de

    restrio que produz grandes fragmentos de DNA, os quais sero ligados

    ao cosmdeo, tambm clivado com a mesma enzima.

    A situao ideal que cada fragmento do DNA genmico

    apresente um stio cos nas suas extremidades. Durante o

    empacotamento, as enzimas do sistema reconhecem os stios cos

    situados a uma distncia dentro de 49Kb, clivam estes stios e

    empacotam estas molculas.

    21

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    O DNA do cosmdeo injetado no interior da clula hospedeira,

    circulariza igual ao DNA do fago e replica como um plasmdeo normal,

    sem expresso de qualquer funo do fago. As clulas infectadas sero

    selecionadas com base na resistncia adquirida a um determinado

    antibitico. A figura 12 ilustra um tpico processo de clonagem em

    cosmdeo.

    Figura 12. Esquema de clonagem em cosmdeo.

    4. VRUS

    A biologia molecular dos vrus de DNA e RNA foi extensivamente

    estudada antes do advento da metodologia do DNA recombinante. O

    vrus SV40, isolado de clulas tumorais de macacos, foi um dos

    22

    f r a g m e n t o s d e r e s t r i o

    d e 3 5 a 4 0 k b

    A m pR S t i o a l v o d e r e s t r i o

    c o s

    D N A c i r c u l a r i z a

    a p s i n f e c o

    s e l e o d ec l o n e s r e s i s t e n t e sa a m p i c i l i n a

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    primeiros sistemas virais utilizados para introduzir genes em clulas de

    mamferos. O DNA do SV40 apresenta 5.200 pares de bases e pode ser

    dividido em duas regies quanto a expresso gnica viral. Estas regies

    so chamadas de regio precoce e regio tardia.

    A regio precoce expressa atravs do ciclo ltico, enquanto que a

    expresso dos genes da regio tardia ocorre somente aps o incio da

    replicao do DNA viral. Entre estas duas regies situa-se a origem de

    replicao do DNA do vrus.

    Um produto de expresso da regio precoce o antgeno T, o qual

    responsvel pela transformao maligna de clulas no permissveis

    (clulas nas quais o vrus no completa a sua replicao), como tambmpelo incio da replicao viral em clulas permissveis. Os produtos de

    expresso codificados pela regio tardia correspondem s protenas que

    formam o capsdeo da partcula viral. A figura 13 ilustra o genoma do

    virus SV40.

    Figura 13. O DNA do virus SV40

    4.1. Clonagem no vrus SV40

    A produo de DNA recombinante no vrus SV40, pode ser

    realizada atravs da substituio do segmento de expresso precoce ou

    do segmento de expresso tardia.

    23

    o

    E x p r e s s op r e c o c e

    E x p r e s s ot a r d i a

    S V 4 0

    G e n o m a d o S V 4 0

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    No primeiro caso, o vrus recombinante no produz o antgeno T,

    ao passo que na segunda opo no haver produo das protenas do

    capsdeo. Entretanto, estas funes deletadas podem ser suprimidas

    como veremos a seguir.

    4.1.1. Clonagem no SV40 pela substituio da regio tardia

    Quando a regio tardia do SV40 substituda com outro DNA,

    perde-se a expresso das protenas do capsdeo (funes tardias). Para

    que o sistema de clonagem funcione adequadamente pode-se realizar a

    infeco simultnea com um outro vrus SV40 que tem uma deleo nos

    genes da regio precoce, mas a regio tardia intacta. Nas clulas co-infectadas as protenas da regio precoce sero produzidas pelo vrus

    recombinante e as protenas do capsdeo pelo vrus deletado. Como

    resultado, teremos a produo de uma populao de partculas virais

    mistas, ou seja, vrus deletado e vrus recombinante. A figura 14 ilustra

    este procedimento.

    24

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    27/104

    Figura 14. Clonagem no SV40 pela substituio da regio tardia

    4.1.2. Clonagem no SV40 pela substituio da regio precoce

    Quando a clonagem no SV40 feita na regio precoce, a produo

    de partculas virais depende do suprimento, por uma outra fonte, das

    protenas codificadas pela regio precoce (antgeno T). Para evitar umainfeco mista com um vrus SV40 deletado, usa-se uma linhagem

    25

    S V 4 0

    g e n e

    c o t r a n s f e c o

    p a r t c u l a s V i r a i s

    S V 4 0

    R e g i o f u n c i o n a lt a r d i a

    R e g i o

    f u n c i o n a lp r e c o c e

    O

    d ag l o b i n a

    S V 4 0 - g l o b i n a

    e m p a c o t a m e n t o e l i s e

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    celular, as clulas COS as quais, apresentam uma poro do genoma do

    SV40 integrado ao seu prprio cromossomo. Esta linhagem celular produz

    a protena viral denominada antgeno T, a qual liga-se na origem de

    replicao do vrus e induz a sua replicao. A figura 15 ilustra este tipo

    de clonagem.

    Apesar deste sistema viral ter sido usado como vetor de expresso

    em muitas estratgias de clonagem, existem algumas desvantagens de

    seu uso. Uma delas que o gene a ser clonado no pode ser grande, a

    outra que as clulas hospedeira s podem ser clulas de macacos e

    finalmente, o genoma da clula hospedeira pode sofrer rearranjados ou

    delees.Atualmente, dois outros sistemas virais mais versteis esto em

    uso, so eles o vrus da vacina e o Baculovrus, os quais podem

    aceitar genes bem maiores do que aqueles aceitos pelo SV40. Um

    inconveniente para estes dois sistemas virais que ambos apresentam

    um grande genoma e o gene a ser clonado s pode ser inserido por

    processos de recombinao dentro das clulas, o qual bastante lento

    em relao aos processos tradicionais em uso na metodologia do DNA

    recombinante.

    Finalmente, um sistema viral bastante promissor so os

    retrovrus que so vrus cujo material gentico o RNA e apresentam

    um ciclo bastante diferente dos mencionados anteriormente que so

    ciclos lticos. Os retrovrus infectam uma grande variedade de clulas de

    mamferos e o seu RNA transcrito reversamente para DNA o qual

    incorporado ao genoma da clula hospedeira. Neste estado ele produz

    continuamente novas partculas virais, juntamente com o produto do

    gene nele clonado. Devido a sua versatilidade, os retrovrus so

    atualmente os vetores eleitos para uso em terapia gnica.

    5. BACTERIFAGO M13

    O bacterifago M13 um fago filamentoso da E. coli e contm uma

    nica fita de DNA envolvida por protenas virais. Durante o seu ciclo, a

    26

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    29/104

    clula hospedeira infectada pela fita (+) a qual servir como molde

    para a sntese da outra fita (-). A dupla fita denominada de forma

    replicativa, permanece no interior da clula hospedeira e amplificada

    at 200 cpias por clula, quando ento a fita negativa no mais se

    replica e a fita positiva continua a ser sintetizada, adquire as protenas da

    cpsula viral e sai da clula hospedeira atravs de processo no ltico

    (Figura 16).

    27

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    30/104

    Figura 15. Esquema de clonagem no SV40 pela substituio da regio

    precoce.

    28

    S V 4 0

    g e n e

    P a r t c u l a V i r a l

    O

    d a

    R e g i o f u n c i o n a l

    t a r d i a

    R e g i of u n c i o n a l

    p r e c o c e

    S V 4 0 - H a

    h e m a g l u t i n i n a ( H a )

    c o - t r a n s f e c o

    S V 4 0m u t a n t e

    e m p a c o t a m e n t oe l i s e

    S V 4 0 m u t a n t ei n t e g r a d o a og e n o m a d a c l u l a C O S

    a n t g e n o T r e p l i c a o

  • 7/27/2019 Apostila_gentica_2003

    31/104

    Figura16. Replicao do bacteriofago M13.

    5.1. Clonagem no bacterifago M13

    A grande utilidade deste sistema de clonagem a sua facilidade na

    produo de DNA fita simples, facilmente recupervel do sobrenadante

    de uma cultura lquida da E.coli infectada com este vetor. Como veremos

    futuramente, este DNA fita simples bastante til no processo desequenciamento do DNA pelo mtodo desenvolvido por Sanger e

    colaboradores (1977).

    Para facilitar o seu uso especialmente em estratgias de

    seqenciamento, foram desenvolvidos vetores da srie M13mp, os quais

    contm o MSC inserido no gene que expressa a -galactosidase.

    Mutaes foram realizadas de tal modo que a enzima s ativa

    quando o vetor est na clula hospedeira, convenientemente preparada.

    Este processo denomina-se de alfacomplementao. A incluso do

    mltiplo stio de clonagem no gene da galactosidade visa a

    identificao dos possveis recombinantes quando na presena de um

    substrato cromognico o X-gal ou Bluogal (5-bromo-4-cloro-indolil--D-

    galactosdeo) e o indutor IPTG. Quando o vetor est intacto (no

    recombinante), a enzima funcional e frente ao substrato cromognicoeste clivado produzindo placas de cor azul. Por outro lado, quando um

    29

    ++ ++

    +

    -

    M 1 3

    E . c o l i

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    fragmento de DNA inserido no mltiplo sitio de clonagem, a expresso

    da enzima suprimida, portanto as clulas so incapazes de metabolizar

    o substrato cromognico formando placas incolores.

    5.2. Estratgia de clonagem em vetores da srie M13mp

    A utilizao de vetores com diferentes orientaes do mltiplo stio

    de clonagem, tais como M13mp8 e o M13mp9, facilita a insero de um

    fragmento de DNA em ambas as orientaes. Como veremos adiante,

    esta estratgia apresenta grande aplicao no programa de

    sequenciamento de um DNA pelo mtodo de Sanger.

    A figura 17 ilustra a insero de um fragmento de DNA clivado com

    as enzimas Pst1 (P) e EcoRI (E) nos vetores M13mp8 e M13mp9, ambosclivados com as mesmas enzimas. Esta clonagem orientada permite a

    insero do fragmento de DNA na orientao 5'3' no vetor M13mp8 e

    na orientao 3'5' no vetor M13mp9.

    Figura 17. Clonagem de um fragmento de DNA nos vetores M13mp8 eM13mp9 clivadoscom as enzimas EcoRI (E) e PstI (P).

    6. FAGOMDEOS

    Apesar do bacterifago M13 apresentar grande aplicabilidade

    30

    P5 3

    P E

    EP

    E

    E P

    PE

    M 1 3 m p 9 M 1 3 m p 8

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    33/104

    especialmente nos processos de seqenciamento de DNA, foram

    desenvolvidas outras geraes de fagos, os quais reunem as vantagens

    do fago M13 e a do plasmdeo. Os primeiros foram os vetores da srie

    pEMBL e mais tarde os plasmdeos pTZ, pBluescript e pGEM (+/-). Estes

    vetores so chamados de fasmdeos ou fagomdeos e apresentam as

    seguintes caractersticas principais:

    fagomdeo apresenta um verstil MSC, permitindo a clonagem

    de grandes insertos sem maiores dificuldades, alm de que, as

    enzimas situadas neste stio foram ordenadas de tal modo a

    permitir uma alternativa interessante durante o processo de

    sequenciamento. utilizando uma combinao estratgica de duas enzimas de

    restrio, possvel criar terminaes 5' e 3' proeminentes,

    tornando agora uma extremidade (a do inserto) susceptvel

    ao da Exonuclease III. Esta estratgia, permite a obteno

    progressiva e controlada de vrios fragmentos deletados do

    inserto, os quais aps a recircularizao tornam-se apropriados

    para o sequenciamento. Este procedimento, facilita o

    seqenciamento de um grande inserto de DNA, sem a

    necessidade de mltiplas subclonagens como usual no

    sistema M13 ou a sntese de vrios oligonucleotdeos internos,

    usados como iniciadores no processo de seqenciamento.

    6.1. Clonagem no fagomdeoVamos utilizar como exemplo, o fagemdeo ZAP que

    particularmente til para clonagem de cDNA. Este vetor, incorpora a

    biologia do fago M13 de tal modo que um cDNA clonado neste vetor pode

    ser automaticamente excisado do fago para um fagomdeo denominado

    pBluescript.

    Basicamente, qualquer DNA clonado no MSC inativa o gene LacZ,

    produzindo uma protena de fuso quando na orientao correta,

    podendo assim tambm ser rastreada com anticorpos.

    31

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    34/104

    Quando uma cepa da E.coli (F') infectada com o fago

    recombinante e superinfectada com o fago auxiliar, esse produz as

    protenas do sistema M13. Essas protenas reconhecem os sinais de

    iniciao e trmino da sntese de DNA do fago auxilar (f1) que esto

    flanqueando o pBluescript, que por sua vez est incorporado no fago

    ZAP e carrega o inserto. Com a clivagem destas duas seqncias, o DNA

    automaticamente circularizado na bactria para originar a forma

    recombinante do plasmdeo Bluescript SK(M13).

    O inserto clonado no Bluescript flanqueado por promotores para

    as RNA polimerases dos fagos T3 e T7. Neste sentido, aps o vetor ser

    convenientemente linearizado, cpias do RNA relativo ao inserto, podemser obtidas em ambas as direes atravs do uso das RNA polimerases

    T3 e T7.

    7. VETORES PARA TRANSFORMAO DE LEVEDURAS

    O grande interesse existente no estudo das leveduras

    Saccharomyces cerevisiae e Schizosacharomyces pombe deve-se ao fato

    de que tratam-se de organismos eucariotos inferiores e como tais

    possuem organizao celular similar de eucariotos superiores. Alm

    disso, muitas protenas de leveduras so similares estrutural e

    funcionalmente s suas homlogas em mamferos. A utilizao de

    leveduras como um modelo de estudo traz as seguintes vantagens:

    tempo de crescimento reduzido que permite a obteno de

    grandes quantidades de leveduras em pouco tempo. genoma de pequeno tamanho, cerca de 200 vezes menor que o

    genoma de mamferos, o que simplifica anlises moleculares e

    genticas.

    possibilidade de manter as leveduras como clulas haplides ou

    diplides, o que permite a obteno de mutaes recessivas em

    clulas haplides, bem como a realizao de experimentos de

    complementao gentica. As clulas de mamferos so

    32

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    diplides o que torna impossvel a deteco de mutaes

    recessivas.

    Existem diferentes marcadores de seleo que so utilizados em

    leveduras. A maior parte dos genes marcadores utilizados em leveduras

    so genes envolvidos na biossntese de aminocidos e nucleotdeos. Um

    dos marcadores frequentemente utilizados o gene de levedura LEU2

    que codifica para uma das enzimas da via de sntese da leucina, a enzima

    -isopropilmalato dehidrogenase. A linhagem mutante de levedura, leu2,

    no cresce em meio de cultura que no contm leucina. Assim quando o

    gene LEU2 utilizado na transformao da linhagem leu 2, as clulas

    desta linhagem que adquiriram o gene LEU2 sero capazes de crescer emmeio de cultura deficiente no aminocido leucina. Esta estratgia

    semelhante a resistncia ampicilina adquirida por bactrias que foram

    transformadas com plasmdeos que contm o gene que promove a

    resistncia ampicilina.

    A tabela a seguir lista alguns dos marcadores de seleo comumente utilizados em

    levedura.GENE ENZIMA SELEO

    HIS3 Imidazol glicerolfosfatodesidratase

    Histidina

    LEU2 -Isopropilmalato desidrogenase Leucina

    LYS2 -Aminoadipato redutase Lisina

    TRP1 N-(5'-fosforibosil)- antranilatoisomerase

    Triptofano

    URA3 Orotidina-5'fosfato decarboxilase Uracil

    Tabela 2. Genes marcadores de seleo em levedura. Os meios decultura utilizados em geral contm todos os aminocidos necessrios manuteno da levedura com exceo de um. Assim, por exemplo, clulastransformadas com o gene HIS 3 so selecionadas em meio de culturadeficiente em histidina.

    Os vetores utilizados na transformao de leveduras so capazes

    de se propagar tanto em E. coli quanto em levedura. A manipulao

    destes vetores (clonagem, mutagnese, seqenciamento, etc) realizadaem bactria como para qualquer plasmdeo convencional e ento o

    33

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    mesmo transferido para levedura, organismo onde os ensaios de

    interesse so realizados. Tais vetores so denominados vetores do tipo

    ponte (shuttle vectors) e contm entre outros elementos origens de

    replicao de bactria e levedura bem como genes marcadores que

    funcionam para a seleo nos dois organismos.

    Diferentes tipos de vetores so utilizados na transformao de

    leveduras:

    Vetores de integrao: tais vetores contm origem de replicao de

    bactrias e genes marcadores para seleo em bactria e levedura.

    Neste caso o plasmdeo no capaz de replicar de modo autnomo na

    levedura. O modo pelo qual este tipo de vetor propagado e capaz deexpressar o marcador de seleo atravs da integrao em um dos

    cromossomos de levedura.

    Vetores que replicam em levedura: tais vetores tambm contm

    origem de replicao de bactria e genes marcadores para seleo em

    bactria e levedura. Dois tipos de origens de replicao de levedura so

    empregadas nestes plasmdeos. O primeiro tipo consiste na origem de

    replicao do plasmdeo de 2 m, que de ocorrncia natural em

    levedura. O segundo consiste de origens de replicao isoladas de DNA

    cromossomal denominadas ARS (Autonomously Replicating Sequence,

    sequncias de replicao autnoma). Plasmdeos contendo a origem de

    replicao do plasmdeo de 2m ou sequncias tipo ARS replicam em

    mltiplas cpias em levedura (Figura 18). Uma variante deste tipo de

    vetor inclui, alm da sequncia ARS, uma sequncia tipo centromrica,denominada CEN, que garante que a replicao destes plasmdeos seja

    estvel, ocorrendo uma nica vez por ciclo celular e que eles sejam

    segregados de modo preciso durante a mitose e meiose. Vetores

    contendo sequncias tipo CEN so mantidos em cpia nica na levedura

    (Figura 18).

    YACs: (Yeast Artificial Chromosome, cromossomo artificial de levedura)

    so uma variao de um vetor de cpia nica, que contm sequncias

    centromricas (CEN) e sequncias telomricas, que so sequncias das

    34

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    extremidades dos cromossomos. A presena de sequncias telomricas

    nestes vetores permite que sejam replicados como molculas lineares,

    com comportamento semelhante ao do DNA cromossomal. YACs no so

    utilizados de rotina em experimentos de clonagem, entretanto, tm se

    mostrado uma ferramenta valiosa na caracterizao de grandes

    segmentos genmicos na medida em que possvel clonar em um YAC

    fragmentos que vo de 100 a 2000 kb (Figura 19).

    Figura 18. Vetores de levedura. Contm sequncias de plasmdeo (aqui depUC118) que permitem a propagao e do resistncia a ampicilina em E.coli,o gene de seleo em levedura (neste caso LEU 2) e stios nicos de restrio.Vetores multicpias: Estes plasmdeos existem na forma circular na levedura.Alguns destes vetores empregam a origem de replicao do plasmdeo de 2m, outros utilizam origens de replicao isoladas de cromossomos que so

    denominadas ARS. 2m e ARS permitem a replicao do plasmdio emmltiplas cpias. Vetores cpia nica: Vetores que contm origens dereplicao tipo ARS podem ser mantidos estavelmente atravs da adio desequncias centromricas, CEN. A existncia de sequncias tipo CEN asseguraque o plasmdeo seja mantido em 1 ou 2 cpias na levedura e segregado demodo preciso durante a diviso celular.

    GLOSSRIO- ARS: (autonomous replication sequence, sequncia de replicao

    autnoma). Sequncia que funciona como uma origem de replicaoem cromossomos de levedura.

    - BAC: (bacterial artificial chromosome, cromossomo artificial de

    bactria). Vetor utilizado na clonagem de DNA genmico, baseado no

    fator F de plasmdeo que assegura que o plasmdeo seja mantido em

    pequeno nmero de cpias na bactria.

    - Centrmero: regio do cromossomo que apresenta uma constrico

    e qual liga-se o fuso mittico durante a meiose ou mitose.

    necessria para a manutno da estabilidade e segregao correta

    35

    L E U 2 L E U 2

    A R S A R S

    P u c 1 1 8 P u c 1 1 8

    D N A L e v e d u r a

    D N A L e v e d u r a

    C p i a n i c a C E N

    M u l t i c p i a s

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    dos cromossomos durante a diviso celular.

    - Origem de replicao: regio onde iniciada a sntese de DNA em

    um dado fragmento de DNA.

    - Telmero: extremidade do cromossomo que contm sequncias

    repetitivas de DNA sintetizadas pela enzima telomerase e importantes

    na manuteno da integridade cromossomal.

    - YAC: (yeast artificial chromosome, cromossomo artificial de levedura).

    Sistema de clonagem em levedura que consiste de um vetor linear que

    tem capacidade de replicao autnoma e que contm um centromro

    de levedura e duas sequncias telomricas em suas extremidades.

    Figura 19. YACs: Contm um centrmero, dois telmeros, gene(s)marcadores para seleo em levedura e uma seqncia tipo ARS. Devido presena destas seqncias os YACs so replicados como pequenoscromossomos lineares na levedura.

    III. CONSTRUO E USO DE BIBLIOTECAS DE DNA RECOMBINANTE

    A obteno de uma molcula de DNA recombinante, atravs da

    ligao de um fragmento de DNA de interesse com o DNA de um vetor,

    um processo direto e relativamente simples. Entretanto, problemas

    especiais surgem quando o fragmento de interesse constitui uma frao

    pequena do DNA total. Este o caso encontrado comumente quando o

    objetivo o isolamento de genes presentes em uma nica cpia num

    genoma complexo, ou quando o objetivo o isolamento de clones

    portadores do DNA complementar RNA mensageiro raro. Deste modo,

    36

    A m pR

    T R P 1

    A R S 1

    C E N 4

    E c o R I

    U R A 3

    + E L+ E LH IB a m

    Y A C

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    claro que quando queremos clonar um determinado gene ou o DNA

    complementar da mensagem ou mensagens por ele codificado(s)

    necessrio obteno de colees de clones recombinantes, portadores

    de molculas representantes de todo o genoma, ou de colees de clones

    de cDNAs derivados de toda a populao de mensageiros da clula ou

    tecido de interesse. Essas colees de clones de DNA recombinante so

    chamadas de bibliotecas: Biblioteca Genmica, no caso dos clones

    terem sido obtidos a partir do DNA genmico ou Biblioteca de cDNA,

    no caso dos clones terem sido construdos a partir de DNA complementar.

    O DNA de organismos superiores bastante complexo: por

    exemplo, o genoma haplide de mamfero composto deaproximadamente 3x109 pares de bases (pb). Portanto, se o fragmento

    de interesse tiver 3000 pb, ele compreender somente 1 parte em 106 de

    uma preparao do DNA total. De modo similar, uma espcie de RNAm

    particularmente rara pode compreender somente 1 parte em 105 ou 106

    da frao de RNA mensageiros de uma clula. Deste modo, para que seja

    garantida a presena na biblioteca de pelo menos uma verso de todasas seqncias da populao alvo, um dos pontos principais na construo

    de bibliotecas teis a obteno de grandes quantidades de clones.

    Embora a soluo deste problema envolva estratgias especficas no

    preparo do DNA alvo e na escolha do vetor de clonagem, em linhas gerais

    a construo de bibliotecas genmicas e de cDNAs segue um

    procedimento bsico bastante semelhante. Nos dois casos, o DNA

    genmico ou os cDNAs so preparados para a insero no vetor

    escolhido. O vetor e o DNA alvo so ligados e introduzidos em E. coli

    atravs de infeco ou em alguns casos, por transformao direta (Figura

    20).

    1. BIBLIOTECA DE cDNA

    A descoberta da enzima transcriptase reversa, uma DNA polimerase

    dependente de RNA encontrada predominantemente em vrus de RNA de

    37

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    tumor, tornou possvel a sntese in vitro de DNA usando-se como molde

    RNAm. O DNA produto dessa reao o DNA complementar ou cpia da

    mensagem, abreviadamente chamado de cDNA. A sntese e possvel

    clonagem de cDNAs contriburam para grandes avanos na anlise da

    estrutura e expresso de genes de eucariotos e propiciaram uma

    revoluo tecnolgica nas indstrias farmacutica e de alimentos. Esses

    clones so comumente isolados de bibliotecas de cDNA, construdas a

    partir da populao de RNAm isolada da clula ou do tecido de interesse.

    Portanto, em comparao com bibliotecas do genoma total essas

    bibliotecas so enriquecidas com seqncias gnicas. Uma vez que o

    cDNA cpia da mensagem, ele no contm introns e apresentasignificativamente poucas seqncias que no codificam para protenas

    (Figura 21). A ausncia de introns permite que cDNAs relativos a clulas

    de eucariotos superiores sejam diretamente transcritos e traduzidos em

    bactrias e em outros microorganismos, permitindo assim a produo em

    grande escala de polipeptdios importantes tanto na rea de pesquisa

    como na rea aplicada. A ausncia de introns tambm facilita a

    determinao direta da seqncia da mensagem e subseqente deduo

    da seqncia de aminocidos da protena por ela codificada. Isso tem

    resultado na identificao da seqncia de uma enorme quantidade de

    protenas, algumas vezes mesmo antes de terem sido identificadas

    gentica ou bioquimicamente.

    38

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    Figura 20. Passos envolvidos na construo de Bibliotecas de cDNA eBibliotecas genmicas.

    Figura 21. Diagrama representando de forma simplificada as diferenas entre

    39

    Escolha doVetor

    mRNA

    Tecido

    DNA

    cDNA

    Digerir o DNA,

    Fracionar por tamanho

    DNA clonvel

    Titulao e caracterizaoda Biblioteca

    Ligar DNA a um vetor

    Introduzir o produtoda ligao em E.coli

    Parcial ou completamente

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    um fragmento de DNA genmico e do cDNA relativo a ele.

    De modo resumido, o procedimento para a sntese, clonagem e

    isolamento de cDNAs especficos envolve 4 etapas:

    1) Sntese in vitro de cDNAs de fita dupla a partir de RNAs mensageiros

    isolados do tecido de interesse.

    2) Preparo dos cDNAs para a ligao com o vetor escolhido.

    3) Introduo dos cDNA recombinantes nas clulas hospedeiras, onde

    sero replicados. Isto resultar na amplificao dos recombinantes e

    dependendo do vetor utilizado, na expresso das protenas codificadas

    pelas mensagens que deram origem aos cDNAs.

    4) Identificao dos clones de interesse atravs de um processo de

    triagem dos clones recombinantes.

    1.1. Sntesede cDNAs de fita dupla

    A construo de uma biblioteca de cDNA inicia-se com o isolamento

    do RNA total do tecido e subseqente seleo da frao de RNA poli(A)+,

    que compreende a maioria das mensagens presentes na clula. O

    isolamento de RNA poli(A)+ de boa qualidade essencial, uma vez que

    qualquer degradao do RNAm afetar a representatividade das

    seqncias na biblioteca.

    Uma vez obtida a frao de RNA poli(A)+, procede-se sntese dos

    cDNAs atravs de uma srie de reaes enzimticas (Figura 22). Nosltimos dez anos foram descritos vrios mtodos para sntese de cDNA,

    cada um apresentando vantagens e desvantagens particulares. Como

    exemplo, apresentamos a seguir um procedimento amplamente usado

    para esse fim:

    a) Sntese da fita de DNA complementar ao RNAm (cDNA) atravs da

    enzima transcriptase reversa. Essa enzima capaz de catalisar in vitro a

    polimerizao de DNA a partir RNA e requer um "primer" com a

    extremidade 3'OH livre para iniciar a sntese. Na maioria das vezes, a

    40

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    molcula utilizada como "primer" um oligo (dT), que se anela na cauda

    poli (A)+ do RNA.

    b) Aps a sntese dessa fita de cDNA, o RNAm parcialmente removido,

    pelo uso da RNase A para cortar pedaos do RNA da molcula hbrida

    RNA-DNA.

    c) Utilizando como "primer" os fragmentos de RNA no digeridos pela

    RNaseA, a DNA polimerase de E. coli substitui eficientemente o RNA por

    DNA, resultando em uma molcula de cDNA de fita dupla.

    d) O cDNA fita dupla tratado com T4 polimerase. Atravs da atividade

    3'-5' exonuclesica dessa enzima remove-se possveis nucleotdeos

    extras nas extremidades 3'.

    e) O produto final desse conjunto de reaes uma molcula de DNA de

    fita dupla, cpia exata da mensagem.

    1.2. Preparo dos cDNAs para a ligao com o vetor

    Uma vez obtido o cDNA, o prximo passo prepar-lo para a

    insero em um vetor de clonagem (Figura. 22). Para isso tambm

    existem vrios mtodos disponveis, que diferem entre si dependendo do

    tipo de vetor escolhido: plasmdio ou fago. O fago tem sido o vetor de

    escolha para a construo de bibliotecas de cDNA. A razo bsica desta

    preferncia a eficincia. Em comparao com plasmdios, o fago

    requer cerca de 16 vezes menos cDNA por g do vetor para produzir

    nmero equivalente de clones recombinantes. Alm disso, bibliotecas em

    fago so mais fceis de serem manipuladas do que bibliotecas em

    plasmdios. Entretanto, uma desvantagem dos vetores que no so

    favorveis para procedimentos de seqenciamento do DNA e de

    mutagnese dirigida. Mais recentemente, outro tipo de vetor foi

    idealizado para suprir essas deficincias. Essa classe de vetores

    compreende os fagemdios que, como o prprio nome sugere, soplasmdios contendo pores do genoma de fago e que renem

    41

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    vantagens desses dois vetores.

    Figura 22. Sntese de cDNA fita dupla.

    Para dar uma noo dos passos implicados na clonagem do cDNA

    relatamos a seguir um procedimento adotado para a clonagem de cDNA

    em fago .

    metilao dos stios de EcoRI atravs do tratamento do cDNA com

    EcoRI, na presena de S-adenosil metionina. Esse passo essencial

    para proteger os stios EcoRI que possam existir no cDNA contra a

    ao da EcoRI em digesto a ser realizada subseqentemente no

    processo de clonagem.

    adio de adaptadores, com o stio EcoRI, nas duas extremidades do

    cDNA. Essa reao resulta em molculas de cDNA com adaptadores

    mltiplos ligados nas duas pontas (ver figura 23). um nico stio de EcoRI produzido em cada ponta do cDNA pela

    42

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    digesto com EcoRI, liberando o excesso de adaptadores ligados na

    molcula. A metilao prvia do cDNA garante que no haja digesto

    interna do cDNA.

    antes de ser inserido no vetor, o cDNA separado do excesso de

    molculas de adaptadores. Isso feito atravs de filtrao em colunas

    de Sephadex.

    as molculas de cDNA so ligadas ao vetor, atravs de reao com T4

    ligase.

    o produto da ligao empacotado com as protenas formadora do

    capsdeo do fago. os fagos obtidos so utilizados para infectar bactria de linhagem que

    favorece o crescimento dos recombinantes.

    aps a infeco da bactria com os cDNA recombinantes temos como

    produto uma biblioteca de cDNA, que deve conter cpias de toda as

    seqncias de RNAm da populao original. Essa biblioteca pode ser

    estocada na geladeira, ou submetida a uma triagem em busca doclone de interesse.

    2. BIBLIOTECA GENMICA

    Para se obter informaes sobre a estrutura molecular de um gene

    de eucariotos necessrio o isolamento da poro do DNA genmico que

    contenha toda a unidade de transcrio, mais as regies flanqueadoras

    onde se localizam os elementos controladores da expresso desse gene.

    O modo mais eficiente para se conseguir isolar essa poro do DNA

    atravs do uso de uma biblioteca genmica, que deve conter clones

    portando fragmentos de DNA representantes de todo o genoma do

    organismo em questo. Deste modo, o aspecto principal considerado na

    construo de uma biblioteca genmica est na obteno de um nmerogrande de clones portando fragmentos do genoma, obtidos

    43

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    aleatoriamente. O tamanho necessrio de uma biblioteca genmica, para

    que um dado fragmento de interesse esteja entre os fragmentos

    clonados, determinado pelo tamanho do fragmento clonado e pelo

    tamanho do genoma. Deste modo, a estratgia bsica na construo de

    bibliotecas genmicas busca minimizar o nmero de clones necessrios

    atravs da clonagem de fragmentos de DNA de maior tamanho possvel,

    e maximizar a eficincia da clonagem, atravs da utilizao de vetores

    baseados no fago . Basicamente, a construo da biblioteca genmica

    envolve os seguintes passos:

    a) isolamento de DNA de alto peso molecular, que posteriormente

    quebrado de modo a produzir fragmentos de tamanhocompatvel com o vetor de clonagem.

    b) ligao desses fragmentos no vetor e introduo dos

    recombinantes obtidos nas clulas hospedeiras.

    44

  • 7/27/2019 Apostila_gentica_2003

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    Figura 23. Clonagem de cDNA em fago .

    Dentre esses passos, o modo de preparo dos fragmentos a serem

    clonados (insertos) merece ser discutido criticamente dada sua

    importncia na representatividade da biblioteca.

    2.1. Preparo do DNA do inserto

    A representatividade de uma biblioteca genmica depende

    grandemente da aleatoriedade com que os fragmentos a serem clonados

    so gerados, para que no haja excluso sistemtica de nenhuma

    seqncia. O fracionamento mecnico do DNA o meio de se obter

    completa aleatoriedade na fragmentao do DNA. Entretanto, esse

    45

    1

    5 6

    2 3

    4

    7 8 9

    Me

    Me

    Metilao do cDNA para proteger

    os st ios internos de RIEcoLigao dos adaptadores RI

    com o cDNA

    EcoDigesto com RI paragerar st ios coesivos RI

    Eco

    Eco

    Separao do cDNA do excesso de

    adaptadorescDNA purificado Ligao do cDNA dos braos

    do fago lambda

    Empacotamento dos recombinantescom as protenas formadoras da

    partcula viral

    Infeco da bactria hospedeirao fago recombinante

    Plaqueamento dos recombinantes

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    mtodo no comumente adotado devido trabalhosa manipulao

    necessria para que os fragmentos assim obtidos possam ser inseridos

    no vetor. Com bom senso e cuidado possvel conseguir fragmentao

    suficientemente aleatria atravs de digestes parciais do DNA com

    enzimas de restrio. Uma vantagem em se utilizar a digesto parcial do

    DNA a produo de fragmentos com pontas coesivas e que, portanto,

    podem ser diretamente ligados ao vetor. Para garantir que a digesto

    atinja todo o genoma so utilizadas enzimas de restrio que cortam

    freqentemente o DNA e que no apresentam desvios de distribuio de

    stios. A enzima Sau3A I, que reconhece o stio de 4 bases GATC, e que

    gera fragmentos compatveis com stios de clonagem de vrios fagos ecosmdios, tem provado ser bastante til na produo de bibliotecas de

    DNA genmico digerido parcialmente. Aps a digesto parcial, os

    fragmentos gerados precisam ser fracionados antes de serem ligados ao

    vetor. Sem esse fracionamento, fragmentos pequenos podero ligar-se

    entre si produzindo falsos recombinantes. Fragmentos muito grandes que

    no permitem o crescimento do fago podero ligar-se aos braos do fago,

    alterando a relao entre as quantidades de DNA de inserto e vetor.

    Um mtodo de fracionamento freqentemente adotado o de

    centrifugao em gradiente de sacarose. Aps a digesto parcial, a

    soluo de DNA aquecida para que possveis fragmentos agregados se

    dissociem, e ento, aplicada sobre um gradiente de sacarose de alta

    salinidade. Aps a centrifugao, so coletadas fraes desse gradiente.

    Essas fraes so analisadas por eletroforese em um gel de agarose. As

    fraes contendo os fragmentos de DNA de tamanho apropriado so

    utilizadas para a ligao com o vetor. A figura abaixo ilustra esse

    procedimento.

    46

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    Figura 24. Mtodo para fracionamento do DNA por centrifugao emgradiente de sacarose. O gradiente aspirado, de baixo para cima, com ajudade uma bomba peristltica. A poro mais densa do gradiente contendo o DNAde maior peso molecular, aspirada primeiro.

    Uma vez garantida a aleatoriedade dos fragmentos clonados,

    bastante razovel se pensar que a probabilidade de uma dada seqncia

    de interesse estar presente em uma biblioteca genmica possa ser

    estimada estatisticamente, com base na distribuio de Poisson.

    Especificamente, o nmero de clone independentes (N) que precisam ser

    triados para uma probabilidade (P) de se isolar uma seqncia especfica

    dada por:

    N = ln(1-P)/ ln[1-(I/G)]

    onde I o tamanho mdio dos fragmentos clonados, em pares de base, e

    G o tamanho do genoma, em pares de base.

    Deste modo, precisamos triar cerca de 690.000 clones de uma

    biblioteca que usa como vetor um fago , para termos 99% de chance de

    isolar qualquer dada seqncia presente em uma nica cpia em um

    genoma tpico de mamfero.

    N = ln(1-0,99)/ln[1- (2x104/3x109)]= 690.000

    2.2. Vetores utilizados na construo biblioteca genmica

    47

    1

    Tubo de plstico

    Tubo capilar

    Tubos de coleta

    Bomba

    Gradiente desacarose 2 3 4 5

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    Fagos e cosmdeos so comumente usados na construo de bibliotecas genmicas.

    Nos dois casos, fragmentos grandes de DNA gerados por fragmentao aleatria so ligados

    com o DNA do vetor para formar concatmeros que podem ento ser empacotados em

    partculas de fago . As bibliotecas construdas em vetores so armazenadas e propagadasna forma de fagos recombinantes. No caso de clonagem em cosmdios, entretanto, essas

    partculas virais servem meramente como veculos para introduzir o DNA recombinante

    dentro da bactria. Uma vez dentro da bactria o cosmdio se comporta como um plasmdio

    grande.Os cosmdios podem aceitar insertos de aproximadamente 45kb,

    quase duas vezes o tamanho dos insertos clonveis em fago . Deste

    modo, usando-se o cosmdio como vetor, necessrio gerar somente

    350.000 recombinantes para atingir 99% de probabilidade de uma

    seqncia de cpia nica estar representada em uma biblioteca

    genmica de mamfero. Entretanto, bibliotecas em cosmdios so mais

    difceis de se construir e manter do que as bibliotecas de fagos.

    Cosmdios so ento usados quando o gene de interesse muito grande

    ou quando uma regio extensa do DNA cromossomal desejada. No casode isolamento rotineiro de segmentos de genes ou em circunstncias

    onde a biblioteca ser usada muitas vezes, o uso de vetores mais

    recomendado.

    Na figura abaixo apresentamos um diagrama da estrutura de um

    vetor tipo , bastante utilizado na construo de bibliotecas genmicas.

    Figura 25. Estrutura do vetor EMBL3. BE=brao esquerdo; BD=braodireito; stuffer= fragmento central; S=SalI; B=BamHI; E=EcoRI.

    Conforme indicado no diagrama este vetor apresenta um

    48

    5'

    5'3'

    3'BE

    BE=brao esquerdo BD=brao direito

    B B

    S E E S

    BDFragmento centralcos cos

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    fragmento central flanqueado por dois fragmentos essenciais (direito e

    esquerdo). O fragmento esquerda, chamado de brao esquerdo,

    codifica para as protenas do capsdeo e o fragmento direita, chamado

    de brao direito, contm a origem de replicao do fago e promotores de

    outros genes essenciais. Entre o fragmento central e os dois braos

    encontram-se os stios de restrio utilizados na clonagem - SalI, BamHI,

    EcoRI - em orientao inversa.

    Como todo fago , a extremidade de cada brao apresenta um

    segmento de fita simples (cos). Esses segmentos so complementares

    entre si e permitem a recircularizao da molcula, e a conseqente

    replicao do DNA do fago dentro da clula hospedeira.Esse tipo de vetor chamado de vetor de substituio por que no

    processo de clonagem a parte central do DNA do fago substituda pelo

    fragmento de DNA a ser clonado, originando a molcula recombinante.

    Mais recentemente outros vetores com capacidade para grandes

    insertos foram desenvolvidos. Os cromossomos artificiais de

    levedura (YACs) so molculas lineares de DNA cuja arquitetura

    mimetiza a estrutura de um cromossomo autntico (Figura 26). Os YACs

    recombinantes so criados pela ligao de fragmentos grandes de DNA

    genmico exgeno (at 2000 kb) com os dois "braos" do vetor YAC e o

    produto da ligao introduzido na levedura por transformao. Nos

    YACs recombinantes, o segmento de DNA genmico exgeno

    flanqueado de um lado por um centrmero, uma origem de replicao e

    uma marca de seleo e pelo outro lado, por uma segunda marca de

    seleo. As leveduras transformantes com cromossomo artificial so

    selecionadas como colnias em meio com as drogas de seleo.

    Os cromossomos artificiais de bactrias (BAC) so molculas

    de DNA circulares que carregam uma marca de seleo a antibitico. Os

    segmentos de DNA genmico exgeno so clonados no vetor BAC in vitro

    e o produto da reao de ligao introduzido por eletroporao em

    cepas de E. coli, onde mantido como um plasmdio de cpia nica. Osvetores BACs carregam marcadores que permitem a discriminao dos

    49

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    clones vazios e cheios. A mdia de tamanho dos clones de BACs 120

    kb, mas alguns clones podem chegar 300kb.

    Os vetores de bacterifago P1 acomodam fragmentos genmicos

    de 70 a 100Kb. Neste sistema, as molculas lineares recombinantes

    geradas a partir de seqncias do vetor e do genoma so empacotadas in

    vitro em bacterifago P1. Aps a injeo em E. coli, as molculas se

    tornam circulares pela atividade de uma recombinase, que promove a

    recombinao de seqncias especficas presentes no vetor. Estes

    vetores carregam marca de seleo para antibitico, marca de seleo

    positiva para seleo dos clones com inserto de DNA genmico exgeno

    e uma origem de replicao plasmdial P1, que mantm uma ou duascpias dos plasmdios recombinantes na clula. Uma segunda origem de

    replicao pode ser ativada para amplificao dos plasmdios antes do

    isolamento do DNA.

    Figura 26. Construindo um cromossomo artificial de levedura (YAC). O vetor

    50

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    YAC carrega uma origem de replicao (ORI), um centrmero (CEN), doistelmeros e marcas de seleo (X e Y). Lehninger, Principles of Biochemistry.Figura 29-16, p. 1139.

    Os cromossomos artificiais P1 combinam as caractersticas dos

    bacterifagos P1 e dos BACs, incluindo a marca de seleo positiva e asorigens de replicao do bacterifago P1. Os clones circulares

    recombinantes de PACs gerados durante a reao de ligao in vitro so

    introduzidos em E.coli por eletroporao e mantidos como um plasmdio

    de cpia nica na clula. Os insertos da biblioteca de DNA do genoma

    humano em PACs variam de 60kb a 150kb.

    IV. DETECO E ANLISE DO CLONE RECOMBINANTE

    Um passo crucial na Tecnologia do DNA recombinante encontrar o

    clone correto na mistura de clones que foi criada durante os

    procedimentos da confeco da biblioteca genmica ou de cDNA. Embora

    seja relativamente fcil selecionar as colnias que abrigam os vetores de

    clonagem usando os marcadores de resistncia a antibiticos que esto

    presentes nos vetores (Figura 27A), muito mais difcil selecionar o clone

    que contenha o gene de interesse. Note que no caso do vetor ser um

    plasmdio devero ser examinadas milhares de colnias de bactrias

    crescidas em placas de petri contendo agar, para a deteco daquela(s)

    colnia(s) que produza(m) pequenas quantidades da protena expressapelo gene de interesse ou ento que possua(m) o gene de interesse sem

    qualquer expresso protica que o caracterize (Figura 27B). Ser

    discutida inicialmente a situao na qual a protena expressa no

    hospedeiro. Em seguida ser discutida a situao mais comum onde a

    protena no expressa e a anlise ser feita atravs da prpria

    presena do DNA de interesse no fago ou na bactria.

    1. QUANDO O GENE DE INTERESSE EXPRESSO NO HOSPEDEIRO

    51

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    Se o gene de interesse capaz de se expressar na clula

    hospedeira pode-se identificar o clone que carrega este gene pela

    presena desta protena entre as colnias recombinantes. Para isto, o

    hospedeiro no deve produzir esta protena, a menos que ele carregue o

    clone que a produza. Se esta protena for produzida normalmente pela

    clula hospedeira, ser ento necessrio o uso de uma clula hospedeira

    defectiva ou mutante para o gene de interesse. Quando este gene for

    incorporado ele pode ser detectado por complementao daquela funo.

    Se a protena a ser detectada for especfica de mamfero, por exemplo, a

    clula hospedeira j ser naturalmente defectiva. Se a protena for uma

    enzima que catalisa uma reao mensurvel pode ser possvel triar ascolnias por sua atividade enzimtica.

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    Se a protena de interesse no for uma enzima com funo

    detectvel, uma outra estratgia ser necessria para a identificao do

    clone correto, como por exemplo, o uso de um anticorpo especfico para

    a protena de interesse. Anticorpo uma protena do soro produzida pelos

    mamferos que se combina com alta especificidade com outra protena, o

    antgeno. Neste caso, a protena de interesse o antgeno. Como o

    anticorpo se combina especificamente com o antgeno, se o antgeno

    estiver presente em uma ou mais colnias de uma placa de petri, a

    identificao destas colnias poder ser feita observando-se a reao

    antgeno-anticorpo.

    Figura 27. Em A, estrutura do plasmdio pBR322, um tpico vetor declonagem. Em B, mtodo da inativao insercional para isolar plasmdioscontendo DNA exgeno. A insero do DNA exgeno no plasmdio pBR322

    53

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    causa inativao da resistncia tetraciclina, permitindo o isolamento detransformantes contendo o fragmento de DNA clonado (B). Lehninger,Principles of Biochemistry. Figura 29-6, p. 1126.

    Para que o antgeno seja produzido na clula hospedeira a

    biblioteca de cDNA ter de ser construda num vetor de expresso.

    Neste caso os cDNAs so inseridos nestes vetores em regies que

    promovam sua expresso em E.coli, normalmente em promotores que

    possam ser regulados. Esta protena antignica ser expressa como uma

    protena de fuso, ou seja, ser sintetizada subseqente a alguns

    aminocidos pertencentes protena do vetor bacteriano. Estas protenas

    de fuso so geralmente mais estveis que a correspondente protena de

    eucarioto produzida em bactria e, portanto podem ser obtidas em

    grande quantidade. Para visualizar a produo destas protenas, uma

    parte dos fagos de cada placa de lise (ou bactrias) recombinantes

    desenvolvidos numa placa de Petri so transferidos (como um carimbo)

    para uma membrana de nitrocelulose, tratados para expor suas protenas

    e ento submetidos a uma soluo contendo um anticorpo especfico

    para a protena desejada. Depois que os anticorpos livres so removidos,um segundo anticorpo adicionado para localizar a posio do primeiro.

    O segundo anticorpo normalmente radioativo e pode ser identificado

    por autoradiografia utilizando-se um filme de raio X. Se uma colnia

    radioativa estiver presente, uma mancha no filme de raios-X ser

    observada depois que o filme for revelado (Figura 28). A localizao desta

    mancha no filme corresponde localizao da colnia que produziu

    aquela protena, na placa de petri original. Esta colnia ser ento

    recuperada da placa original e cultivada.

    Uma limitao deste procedimento que o anticorpo utilizado nesta

    triagem precisa ser especfico para a protena de interesse. A produo

    de anticorpos pode ser obtida pela injeo da protena (antgeno) em um

    animal. No entanto, esta protena injetada deve ser pura, caso contrrio

    mais que um anticorpo ser formado.

    54

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    2 O USO DE SONDAS MOLECULARES DE CIDOS NUCLICOS PARAIDENTIFICAR O GENE DE INTERESSE

    Como pode ser detectado um gene de interesse entre as colnias

    da biblioteca genmica ou de cDNA, se este gene no expresso?

    Quando o DNA em soluo aquosa aquecido 100C, ou exposto pH alto, as bases complementares que normalmente seguram as

    duplas hlices juntas so dissociadas em duas fitas simples. Este

    processo chamado de desnaturao. Estas mesmas fitas simples

    podero se reassociar se forem conservadas 65C, por longos perodos,

    num processo chamado de renaturao (ou hibridao, quando a

    associao ocorre entre cidos nuclicos de diferentes origens). Reaes

    de hibridao ocorrem entre quaisquer duas cadeias de cidos nuclicos

    de fita simples (DNA:DNA, RNA:DNA ou RNA:RNA) desde que tenham

    seqncias de nucleotdeos complementares.

    55

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    Figura 28. Triagem de bibliotecas de expresso com anticorpos. Se o inserto estiver naorientao correta e na apropriada seqncia aberta de leitura traduzido em protena defuso (antgeno). Os anticorpos identificam as placas de lise especficas destes antgenos.

    Este princpio da hibridao molecular fundamental paracaracterizar DNAs recombinantes quando o gene de interesse no

    56

    Promotor

    EcoRI lac

    -Galactosidasegfll

    EcoRI

    EcoRI EcoRI

    EcoRIlinker

    cDNA

    Proteina de Fuso

    Empacotamento dos fagose plaqueamento em

    camada bacterianain vitro

    Membrana denitrocelulose

    Placas de lise

    Nitrocelulosesobre as placasde lise

    Remoo damembrana

    Protenas se ligama nitrocelulose

    Incuba membrana com

    anticorpo primrio

    Lava membrana

    Incuba membrana comanticorpo secundrio

    anticorpo secundrio

    anticorpo pr imrio

    Filme de raio-X

    " "

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    expresso. Sondas de cidos nuclicos (fragmentos de cido nuclico

    marcados radioativamente, geralmente com 32P) so utilizadas para

    localizar clones, numa biblioteca genmica ou de cDNA, que carreguem

    uma seqncia de DNA de interesse. Aps a confeco da biblioteca

    genmica (ou de cDNA) os fagos carregando DNA recombinante so

    espalhados juntamente com uma suspenso de bactrias numa placa de

    petri contendo meio de cultura slido. Uma vez visualizada as placas de

    lise (ou as colnias, no caso do vetor ser um plasmdio) preparada uma

    rplica de cada placa de petri com uma membrana de nilon ou de

    nitrocelulose. Este processo permite a transferncia de uma poro de

    fagos de cada placa de lise (ou de bactrias de cada colnia) para amembrana, de tal maneira que o padro das placas de lise da placa de

    petri original seja mantido na membrana. Para identificar qual das placas

    de lise porta o gene de interesse esta membrana tratada para expor e

    desnaturar o DNA das colnias ali presentes e incubados com uma

    soluo de DNA ou RNA fita simples, marcada radioativamente e

    complementar ao gene de interesse para permitir a hibridao. Dois

    polinucleotdios simples fitas somente iro se hibridar se forem

    complementares. A localizao da placa de lise que se hibridou sonda

    determinada aps a exposio da membrana a um filme de Raios-X

    (autoradiografia) e a comparao deste filme com a disposio das

    colnias na placa de petri original (Figura 29).

    Esta sonda molecular radioativa pode ser parte de um gene j

    clonado para o qual se procura o gene total, pode ser o DNA de um gene

    vizinho ao gene de interesse, pode ser o RNA de genes que so expressos

    em tecidos especficos ou em estgios especficos do ciclo celular, ou

    mesmo o gene de uma outra espcie que codifica para a mesma

    protena. Neste ltimo caso, a reao de hibridao pode ser realizada

    em baixa temperatura (420C ao invs de 650C) e em baixa concentrao

    de sal (baixa estringncia) para permitir a hibridao mesmo entre DNAs

    que tenham algumas bases no complementares.

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    Figura 29. Triagem de uma biblioteca genmica ou de cDNA, construdas nofago , com uma sonda molecular para encontrar um clone de interesse. Estatriagem feita espalhando-se os fagos previamente incubados numa culturade bactrias, em vrias placas de agar. Depois que as placas de lise tornam-sevisveis, so feitas as rplicas em membrana de nitrocelulose, seu DNA exposto e hibridizado com a sonda molecular. A posio do clonerecombinante de interesse identificada atravs de autoradiografia. O DNA

    58

    Membrana denitrocelulose

    Placas de lise Fagos absorvem anitrocelulose

    Placa mestra

    Membrana rplica

    Sonda de cidonucleico marcadacom 32p

    Sonda Hibridiza

    DNA ligado ao filtro

    Lavagem das sondasno incorporadas

    Sonda hibridiza ao DNA do fagoque contem a sequncia complementar Filme de raio-X

    Placa mestra

    DNA lambdaisolado da placa delise

    DNA clonado

    Clone lambda purificado

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    isolado dos fagos presentes na placa de lise positiva, identificada na placa depetri original e submetida a anlises posteriores.

    Genes que respondem a um mesmo mecanismo de regulao

    podem ser identificados numa biblioteca de cDNA por hibridao

    diferencial. Isto , genes expressos em tecidos especficos, em estgios

    especficos do desenvolvimento ou do ciclo celular e genes regulados por

    fatores de crescimento so adequados para serem analisados por este

    tipo de abordagem. Para esta identificao necessrio produzir duas

    populaes celulares (ou extrair mRNA de dois difere