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Aprender a Ensinar Educação Física Relatório de Estágio Profissional Relatório de Estágio Profissional apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro) Professor Orientador: Professor José Virgílio Professor Cooperante: Professor Francisco Magalhães Luís Miguel Almeida de Freitas Porto, Setembro de 2014

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Aprender a Ensinar Educação Física

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de Estágio Profissional apresentado com

vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente

ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº

74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007

de 22 de fevereiro)

Professor Orientador: Professor José Virgílio

Professor Cooperante: Professor Francisco Magalhães

Luís Miguel Almeida de Freitas

Porto, Setembro de 2014

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Ficha de Catalogação

Freitas, Luís (2014). Aprender a Ensinar Educação Física. Relatório de Estágio.

Porto: L. Freitas. Relatório de Estágio Profissional para a obtenção do grau de

Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário,

apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL; SER PROFESSOR;

COORDENAÇÃO MOTORA; DESEMPENHO MOTOR;

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Agradecimentos

Ao Professor Orientador, José Virgílio, pela sua disponibilidade, competência e

frontalidade, traços singulares do seu caráter que contribuíram para o meu

desempenho como professor estagiário.

Ao Professor Cooperante, Francisco Magalhães, pela sua orientação e

acompanhamento diários de toda a minha formação neste Estágio Profissional,

assim como pela sua capacidade motivacional e dialogante.

À Professora Olga Vasconcelos pela disponibilidade demonstrada e

colaboração preciosa na elaboração do projeto de investigação.

À minha família, em especial aos meus pais, pelo acompanhamento e apoio ao

longo da vida e, especialmente, nesta etapa tão importante para mim. Pelo

carinho, amor, incentivo e apoio que foram uma constante, assim como pelo

encorajamento e força que me deram para obter, com êxito, esta minha

formação académica.

À minha namorada, Diana, por todo o amor, carinho, amizade, mas acima de

tudo pela compreensão que demonstrou nos momentos mais difíceis e de

desânimo.

Ao meu melhor amigo e irmão para a vida, Antony, pela longa amizade e pelas

gargalhadas que sempre me proporciona.

Aos colegas de estágio, Dine e Zé, pela cooperação, partilha de conhecimentos

e ideias e sobretudo pela amizade que deu força e união a este Núcleo de

Estágio.

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Aos alunos da turma do 11º CSE1, pelo convívio, pelo constante desafio

que constituíram enquanto turma e por terem feito parte desta etapa da minha

vida.

A todos, o meu muito OBRIGADO!

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Índice

Agradecimentos ......................................................................................................................... III

Resumo ..................................................................................................................................... XIII

Abstract ...................................................................................................................................... XV

Lista de Abreviaturas ............................................................................................................. XVII

1. Introdução ............................................................................................................................ 1

2. Dimensão Pessoal.............................................................................................................. 5

2.1 Expectativas ................................................................................................................ 6

2.2. Entendimento do estágio Profissional ..................................................................... 7

3. Enquadramento institucional e da prática profissional ................................................. 9

3.1. Contexto legal, institucional e funcional do estágio profissional ......................... 9

3.2. A escola como instituição ........................................................................................ 11

3.3. Identificação da Escola ............................................................................................ 11

3.4. Caracterização da Escola ....................................................................................... 13

3.4.1. Corpo Discente ................................................................................................. 14

3.4.2. Corpo Docente .................................................................................................. 15

3.4.3. Instalações Desportivas ....................................................................................... 16

3.4.4. Inventário do Material ........................................................................................... 18

3.4.5. Material de Primeiros Socorros ........................................................................... 22

3.5. Caracterização da turma ......................................................................................... 23

3.6. Profissão: ser Professor! ......................................................................................... 24

4. Realização da prática profissional ................................................................................. 27

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem ...................... 27

4.1.1. Conceção ................................................................................................................ 27

4.1.2. Planeamento .......................................................................................................... 28

4.1.2.1. Planeamento anual ............................................................................................ 29

4.1.2.2. Unidades didáticas ............................................................................................. 32

4.1.2.3. Planos de aula .................................................................................................... 33

4.1.3. Realização .............................................................................................................. 36

4.1.3.1. Comunicação vs instrução... um problema? .................................................. 37

4.1.3.2. Professor ou Gestor? ........................................................................................ 40

4.1.3.3. Controlo: relação entre professor e alunos .................................................... 42

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4.1.4. Avaliação ................................................................................................................ 44

4.2. Área 2 e 3 – Participação na escola e relação com a comunidade.................. 49

4.2.1. XicOlimpíadas ....................................................................................................... 49

4.2.2. I Xico Handball School.............................................................................................. 52

4.2.3. Reunião de Avaliação do 1º período – o papel do diretor de turma .................. 53

4.2.4. II Xico Handball School ............................................................................................ 54

4.2.5. Aulas no Jardim de Infância de Santa Luzia ......................................................... 56

4.3. Área 4 – Desenvolvimento Profissional ................................................................ 57

4.3.1. Estudo – A importância da coordenação motora e da sua avaliação .......... 57

I- Introdução .................................................................................................................. 57

II- Revisão da Literatura ............................................................................................... 59

III- Objetivos ................................................................................................................ 63

IV- Material e Métodos ............................................................................................... 64

V- Resultados ............................................................................................................. 70

VI- Discussão dos resultados ................................................................................... 72

VII- Conclusão .............................................................................................................. 75

VIII- Bibliografia ............................................................................................................. 76

5. Considerações Finais .......................................................................................................... 81

6. Bibliografia ......................................................................................................................... 83

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Índice de Ilustrações

Ilustração 1 - Escola Secundária Francisco de Holanda .............................................................. 14 Ilustração 2 - Pavilhão Polidesportivo ......................................................................................... 16 Ilustração 3 - Espaço 1 ................................................................................................................. 16 Ilustração 4 - Espaço 2 ................................................................................................................. 16 Ilustração 5 - Espaço 3 ................................................................................................................. 16 Ilustração 6 - Auditório ................................................................................................................ 17 Ilustração 7 - Campo de basquetebol exterior ............................................................................ 17 Ilustração 8 - Pista de atletismo exterior .................................................................................... 17 Ilustração 9 – Estádio D. Afonso Henriques ................................................................................ 17 Ilustração 10 – Balneários ........................................................................................................... 18 Ilustração 11 – Sala do dep.de Ed. Física ..................................................................................... 18 Ilustração 12 - Arrecadação ........................................................................................................ 18 Ilustração 13 - Foto de turma ...................................................................................................... 23

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Índice de Quadros

Quadro 1- Nº Total de turmas da Escola ..................................................................................... 14 Quadro 2 - Turmas Ensino Secundário, Profissional ................................................................... 15 Quadro 3 - População Docente ................................................................................................... 15 Quadro 4 - Inventário do material .............................................................................................. 18 Quadro 5 - Materiais Específicos das Modalidades .................................................................... 20 Quadro 6 - Material Diverso ........................................................................................................ 21 Quadro 7 - Material de Primeiros Socorros ................................................................................ 22 Quadro 8 - Caracterização da Amostra por idades e sexos. Número de sujeitos, percentagens relativas e percentagens totais. .................................................................................................. 64 Quadro 9 - Caracterização das provas do Teste M ABC -2 para a banda de idade 1: habilidades motoras e descrição das provas .................................................................................................. 66

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para o sexo masculino e feminino. Média, desvio padrão, valores de z e de p. ................ 70

Tabela 2 - Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para a idade quatro e cinco anos. Média, desvio padrão, valores de z e de p. .................. 70

Tabela 3 - Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para o domínio motor (fraco, suficiente e bom). Média, desvio padrão, valores de z e de p. .................................................................................................................................................. 71

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XIII

Resumo

O presente trabalho pretende expor o produto final de uma etapa que

corresponde ao trajeto desenvolvido durante o estágio profissional, unidade

curricular inserida no 2ºciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário, que decorreu

na Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães, durante o ano

letivo de 2013/2014. O término de um estágio profissional é um momento

crucial para se proceder à análise e ponderação de todo o trabalho

desenvolvido, examinar os pontos positivos e as lacunas existentes e avaliar o

nosso desempenho no sentido de se melhorarem as competências enquanto

docentes. Deste modo, a reflexão apresentada é o corolário de todos estes

pressupostos e que considerei adequado dividir nos seguintes tópicos: (1)

Introdução; (2) Dimensão Pessoal; (3) Enquadramento Institucional e da

Prática Profissional; (4) Realização da Prática Profissional; e (5) Considerações

Finais. De forma sucinta, a Introdução apresenta os objetivos do presente

relatório alusivo ao estágio profissional, a sua contextualização geral e

respetiva organização do seu conteúdo; na Dimensão Pessoal é referida a

história pessoal e as expectativas acerca do estágio profissional; o tópico

Enquadramento da Prática Profissional é dedicado especificamente à

caracterização do contexto da prática pedagógica; a Realização da Prática

Profissional está organizada segundo as três áreas de desempenho previstas

nas Normas Orientadoras do Estágio Profissional da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto: Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem –, Área 2 e 3 – Participação da Escola e Relações com a

Comunidade –, e a Área 4 – Desenvolvimento Profissional – em que se insere

o nosso estudo investigação-ação; nas Considerações Finais sintetizámos o

contributo deste trabalho e como perspetivamos o nosso futuro.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL; SER PROFESSOR;

COORDENAÇÃO MOTORA; DESEMPENHO MOTOR; AVALIAÇÃO

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Abstract

The present work intends to expose the final product of a stage that

corresponds to the path developed during the internship, course inserted in then

second cycle of studies leading to the Master degree in Physical Education

Teaching, which took place in Escola Secundária Francisco de Holanda, during

the school year 2013/2014. The end of a professional internship is a crucial

moment to proceed to an analysis and ponderation of all the developed work,

examine the positive points and the existing gaps and evaluate our performance

in order to improve the competences as teachers. Thus, the shown reflection is

the corollary of all these assumptions and that I considered appropriate to divide

in the following topics: (1) Introduction; (2) Personal Dimension; (3) Professional

Practice Framework; (4) Professional Practice Performance; and (5) Final

Considerations. Succinctly, the Introduction presents the objectives of the

current report alluding to the professional internship, its general context and

respective organization of its content; in the Personal Dimension it’s referred the

personal history and the expectations about the professional internship; the

Professional Practice Framework topic is specifically dedicated to the context of

pedagogical practice characterization; The Professional Practice Performance

is organized according to the three performance areas foreseen in the Faculty

of Sport of Oporto University professional internship guidelines: Area 1 –

Teaching and Learning Organization and Management –, Area 2 and 3 –

School Participation and Community Connections –, and Area 4 – Professional

Development – in which it’s inserted our action-research study; in the Final

Considerations we synthesize the contribution of this work and our perspective

about the future.

KEY-WORDS: PROFESSIONAL INTERNSHIP; BEING TEACHER; MOTOR

COORDINATION; MOTOR PERFORMANCE; EVALUATION

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Lista de Abreviaturas

ESFH – Escola Secundária Francisco de Holanda

EP – Estágio Profissional

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

MABC – Movement Assessment Battery for Children

NE – Núcleo de Estágio

PA – Plano de Aula

PC – Professor Cooperante

PO – Professor Orientador

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1. Introdução

O presente trabalho insere-se no âmbito do Estágio Profissional, efetuado

na área do ensino da Educação Física, o qual pode ser encarado como um

momento fundamental e indispensável para a formação inicial de professores,

uma vez que vai permitir o desenvolvimento de competências ao nível do saber

fazer.

O Estágio Profissional corresponde à fase de ligação do jovem professor

ao contexto real de trabalho, permitindo-lhe o contacto direto com a dinâmica

da ação, a aprendizagem a partir do erro, a construção/consolidação de

saberes, o desenvolvimento da capacidade de refletir, o desenvolvimento da

relação pedagógica e ainda a mediação entre o profissional e a sua ação.

Deste modo, o estágio surge como a oportunidade de unificar as várias

disciplinas que constituíram a componente académica do curso, através da sua

articulação com situações reais. Segundo Franco e Machado (1993) cit. por

Ruas (2001), é no estágio pedagógico que o professor-estagiário vai pôr em

prática tudo aquilo que aprendeu e comprovar em que medida esta nova etapa

o afeta tanto a nível profissional como pessoal.

De facto, é através do estágio que o aluno, agora professor, compara a

teoria com a prática e pode aplicar, no contexto real, os conhecimentos

adquiridos ao longo da sua formação académica. É neste contexto que o

professor estagiário vai enfrentar o seu maior desafio, já que a atividade

docente não exige apenas formação científica, mas também requere a

capacidade de estabelecer relações interpessoais com os educandos, o

cumprimento dos conteúdos programáticos, a identificação de

constrangimentos e respetivas soluções, a (re) definição de estratégias e

planificações, a adequação de métodos e a articulação com outras áreas

disciplinares, de modo que sejam cumpridos os objetivos delineados e se

contribua para o sucesso educativo dos discentes. O professor dos nossos dias

acumula múltiplas tarefas e responsabilidades e, além de um profissional

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competente, deve ser participativo e envolver-se nas atividades da escola e

respetiva comunidade educativa.

A educação tem, sem qualquer dúvida, um papel fundamental no

desenvolvimento da sociedade, por isso o professor assume um importante

papel nesta tarefa, complementando um processo que tem o seu início no seio

familiar, como refere Teixeira (1993) cit. por Ferreira (2009), o professor apesar

de não ser o centro do sistema educativo, pois esse lugar cabe ao aluno, é

uma peça fundamental para tornar a educação melhor e através dela o País.

Mas se consideramos o professor como uma peça fundamental do sistema de

ensino, como um criador educativo, temos que o considerar, também, como

uma pessoa com as suas angústias, necessidades, incertezas, alegrias,

sensibilidades pois, o que hoje lhe é exigido implica, cada vez mais, força,

sabedoria e criatividade.

Neste âmbito, o Estágio Profissional apresenta-se imprescindível para

complementar a formação pessoal e profissional do futuro docente, tornando-o

consciente do “mundo” que vai encontrar e capaz de enfrentar vitoriosamente

todos os desafios ocasionados pela atividade docente. Ser professor não é

apenas ensinar as crianças mas, como diz Dias (2009) cit. por Ferreira (2009,

p.9), é “criar condições para que elas próprias se tornem capazes e procurem

crescer em todas as dimensões”. Eis o grande desafio do professor!

No sentido de dar seguimento aos objetivos deste trabalho, urge referir

que o documento tem como finalidade pôr em evidência as aprendizagens

efetuadas, os saberes consolidados, os progressos alcançados, em suma,

pretende transmitir o humilde testemunho de uma experiência única e

irrepetível que foi o Estágio Pedagógico. Assim, o corpo do documento

estruturar-se-á em três capítulos: Dimensão Pessoal, Enquadramento

Institucional e da Prática Profissional e Realização da Prática Profissional.

No primeiro capítulo serão apresentados os meus dados biográficos

como forma de dar a conhecer um pouco do meu percurso de vida e também

serão referidas as expectativas acerca do Estágio Profissional; o segundo

momento do trabalho será dedicado à caracterização do contexto da prática

pedagógica; o último capítulo será organizado de acordo com as três áreas de

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desempenho previstas nas Normas Orientadoras do Estágio Profissional:

Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem, Participação da Escola e

Relações com a Comunidade e Desenvolvimento Profissional – em que se

insere o estudo de investigação-ação.

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2. Dimensão Pessoal

“Começo a conhecer-me. Não Existo.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram.

Ou metade desse intervalo porque também há vida...

Sou isso, enfim...” (Álvaro de Campos, 1944)

O meu nome é Luís Miguel Almeida de Freitas, tenho 22 anos, nasci no

dia 21 de Agosto de 1991 e sou natural da freguesia de Azurém (Guimarães).

No presente ano letivo frequento o 2º Ano do 2º Ciclo em Ensino de

Educação Física e Deporto nos Ensinos Básico e Secundário na Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e estou a realizar o estágio

profissional (EP) na Escola Secundária Francisco de Holanda (ESFH), em

Guimarães.

Resido com os meus pais e irmã na freguesia de Mesão Frio, nos

arredores de Guimarães. Um sítio pacato e sossegado oposto do que se

verifica no centro da cidade, onde vivi na minha infância até cerca dos 10 anos.

Desde que me conheço que sempre tive uma enorme paixão pelo

desporto, mas mais ainda pelo futebol levando-me a começar a praticar a

modalidade até aos dias de hoje. Infelizmente, por motivos pessoais e depois

uma experiência menos boa no início desta época, optei por este ano me

afastar dos “relvados” dando total atenção ao EP. Sempre dei mais atenção

aos estudos do que ao futebol, e a prova disso é que nunca reprovei a

nenhuma disciplina em todo o meu percurso escolar e com apenas 22 anos

estou em vias de obter o grau de mestre em Ensino da Educação Física.

Frequentei a licenciatura em Ciências do Desporto na FADEUP,

instituição essa onde também frequento o supramencionado mestrado e pela

qual tenho e terei sempre grande carinho e apreço.

Relativamente ainda ao futebol, em termos de prática da modalidade,

representei a Academia de Futebol Fair Play onde comecei a jogar aos 11

anos, passando pelo Grupo Desportivo União Torcatense e Sport Clube

Senhora da Hora. Desempenhei também já o cargo de treinador adjunto na

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equipa de sub-11 do Sport Comércio e Salgueiros, no âmbito da metodologia

de treino desportivo de futebol.

Considero-me uma pessoa alegre, com sentido de humor, personalidade

muito própria e com objetivos bem delineados. Tento sempre fazer e dar o meu

melhor em tudo aquilo em que me envolvo, contudo por vezes peco pelo

excesso de zelo naquilo que faço, algo que vou tentar corrigir sendo mais

ponderado.

2.1 Expectativas

Antes de tecer uma opinião sobre o que espero do meu EP, parece-me

importante ressalvar primeiramente o papel de todos os seus intervenientes:

alunos, grupo disciplinar de Educação Física, núcleo de estágio (NE), o

Professor Cooperante (PC) e o Professor Orientador (PO) da Faculdade. É

através de todos eles de que vai depender, essencialmente, o meu sucesso

este ano, uma vez que cada vez mais o ensino se insere numa esfera

cooperativa em que todos devem caminhar no mesmo sentido. A ideia do

trabalho autónomo e isolado de tudo o resto é descurada e surgem as

comunidades de prática (Nóvoa, 2009) em que a “mesma equipa educativa se

envolve na conceção e desenvolvimento de um projeto comum” (Leite, 2001,

p.5).

Focando-me agora nos alunos, espero encontrar alunos participativos e

interventivos, disciplinados e colaboradores, mas acima de tudo motivados

para a prática da Educação Física. Quero estabelecer uma relação de

proximidade mas sempre mantendo a distância professor-aluno evitando faltas

de respeito e indisciplina, e que os mesmos tenham prazer em frequentar a

disciplina aplicando-se ao máximo para alcançar boas notas.

Quanto ao grupo de Educação Física espero encontrar um conjunto de

docentes afáveis, simpáticos e disponíveis para ajudar. Tentarei chegar sempre

que possível juntos dos mesmos no sentido de partilhar dúvidas e encontrar

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soluções e conselhos, e que com as suas experiências me possam enriquecer

a minha atuação como docente.

O NE, constituído por mim e pelos estagiários Dine Mazri e José Silva,

uma vez que já os conheço do 1º ano de mestrado tenho a certeza que

formaremos um bom grupo, trabalhando em conjunto em prol dos mesmos

objetivos. Teremos de estar unidos, quer nos bons quer nos maus momentos,

pois só assim se formará um grupo forte e coeso.

Do PC, espero alguém que com a sua experiência e conhecimentos

facilite a minha integração na escola e consequente relacionamento com a

turma, e com isto refiro-me ao meu papel como professor. Tenho a certeza que

será estabelecida uma boa relação, de confiança e amizade que terá os seus

frutos. Por último, sobre o PO da Faculdade, espero que me auxilie no trabalho

que é realizado fora da escola e aquele que é requerido pela faculdade,

sabendo de antemão que será uma relação mais distante que com o PC que

nos acompanhará quase diariamente.

2.2. Entendimento do estágio Profissional

“O Estágio Profissional entende-se como um projeto de formação do

estudante com a integração do conhecimento proposicional e prático

necessário ao professor, numa interpretação atual da relação teoria prática e

contextualizando o conhecimento no espaço escolar.” (Matos, 2013, p.3)

Uma nova etapa na minha vida e um novo desafio, assim encaro o EP.

Sinto-me motivado e expectante relativamente às possibilidades que o mesmo

me poderá proporcionar no futuro. Para tal conto tanto com a cooperação dos

meus colegas de estágio como com o apoio e os conselhos do PC e do PO.

Envolvo-me nesta etapa com responsabilidade, dedicação e tenacidade

para que, no final deste ano letivo, possa afirmar que enriqueci os meus

conhecimentos e capacidades. Neste sentido, procurarei aplicar os

conhecimentos adquiridos em anos anteriores, testá-los, melhorá-los,

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desenvolver novas competências, novos métodos tornando esta experiência

como uma mais-valia.

Entendo o estágio como uma oportunidade mais complexa do que o

“simples” facto de lecionar aulas, é uma oportunidade de aperfeiçoamento de

capacidades, de tomada de decisões e acima de tudo de reflexão constante. É

importante a reflexão e crítica recorrente pois só assim se pode afigurar uma

melhoria naquilo que somos e a que nos propomos.

Segundo Matos (2013, p.3) o EP entende-se como um “projeto de

formação” que tem como objetivo “a formação do professor profissional,

promotor de um ensino de qualidade; um professor reflexivo que analisa, reflete

e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do profissionalismo

docente e o conjunto das funções docentes entre as quais sobressaem funções

letivas, de organização e gestão, investigativas e de cooperação”, como tal ser

professor é muito mais do que aquilo que a componente prática pede.

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3. Enquadramento institucional e da prática profissional

“A situação de estágio, em contexto real de prática profissional, constitui uma

peça fundamental da estrutura formal de socialização inicial da profissão”

Batista e Queirós (2013, p.47)

3.1. Contexto legal, institucional e funcional do estágio

profissional

O EP enquadra-se no plano de estudos do segundo ciclo de estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário. Tem como premissa a integração no exercício da vida

profissional de forma progressiva e orientada, através da prática de ensino

supervisionada em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais

que promovam nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz

de responder aos desafios e exigências da profissão.

A iniciação à prática profissional do ciclo de estudos conducente ao grau

de mestre em Ensino da Educação física da FADEUP integra o EP – prática de

ensino supervisionada e o Relatório de Estágio, regendo-se pelas normas da

instituição universitária e pela legislação específica acerca da habilitação

profissional para a docência.

A estrutura e funcionamento do EP consideram os princípios decorrentes

das orientações legais nomeadamente as constantes do Decreto lei nº 74/2006

de 24 Março e do Decreto-lei nº 43/2007 de 22 Fevereiro e têm em conta o

Regulamento Geral dos segundos ciclos da Universidade do Porto, o

Regulamento geral dos segundos ciclos da FADEUP e o Regulamento do

curso de Mestrado em Ensino da Educação Física.

Associadas a um ensino da Educação Física e Desporto de qualidade

estão as competências profissionais, que se reportam ao perfil geral de

desempenho do Educador e do Professor consagrado no Decreto-lei

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10

nº240/2001 de 17 de Agosto e organizam-se nas seguintes áreas de

desempenho:

I. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

II. Participação na Escola

III. Relação com a comunidade

IV. Desenvolvimento profissional

A avaliação do EP, segundo o artigo 10º do regulamento da respetiva

unidade curricular, estará associada a um desempenho profissional crítico e

reflexivo apoiado na ética profissional em que a disponibilidade para o trabalho

de equipa, o sentido de responsabilidade, a assiduidade, a pontualidade, a

apresentação e a conduta pessoal adequadas na Escola serão privilegiadas.

Será ainda dada ênfase às competências pedagógicas, didáticas e científicas

do estagiário.

No que concerne às competências do EP está obviamente inerente o

exercício de todas as funções que o Professor de Educação Física

desempenha bem como o cumprimento de todas as tarefas previstas pelos

documentos orientadores do EP. O estagiário deverá ainda participar de forma

ativa nas reuniões e sessões de natureza científica cultural e pedagógica

realizadas na Escola ou Faculdade. Pretende-se assim uma integração total do

estagiário no exercício da vida profissional.

Ao nível do funcionamento o EP decorrerá durante os terceiro e quarto

semestres do 2º ciclo de estudos, sendo que as atividades do EP se iniciam no

dia 2 de Setembro e prolongam-se até ao final do ano letivo das escolas

básicas e secundárias onde se realiza o EP.

Aliando o objetivo do EP com o objetivo de nos tornarmos Professores,

seremos capazes de incutir nos alunos o gosto pela disciplina de Educação

Física que, apesar de obrigatória até ao 12º ano, deixou de contar para a

média de acesso ao ensino superior.

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11

3.2. A escola como instituição

Enquanto instituição social, a escola assumiu ao longo da sua existência

diferentes concretizações sócio históricas que vão desde a sua realização

inicial como instituição familiar e como instituição militar, passando pelo

desenvolvimento de uma escola enquanto instituição religiosa para, mais tarde,

se transformar em instituição do estado.

A Escola, como instituição, é hoje um espaço pluridisciplinar de vital

importância para toda a sociedade uma vez que, segundo Rosado e Mesquita

(2011, p.21) a mesma “é, hoje, local de encontro de culturas”, sendo que “essa

realidade torna necessária uma pedagogia para a diversidade”, e neste aspeto

a Escola tem um papel fundamental.

Se considerarmos a educação como um processo contínuo que

acompanha, assiste e marca o desenvolvimento do indivíduo, e que envolve a

preservação e a transmissão da herança cultural, rapidamente se deduz a

importância que o sistema educativo, em geral, e a escola, em particular,

assumem na socialização e perpetuação da cultura. De facto, a educação

escolar desempenha um papel de sociabilização, contribuindo para a

interiorização pelo indivíduo dos valores da sociedade. É neste sentido que a

escola constitui uma instituição de primeira linha na constituição de valores que

indicam os rumos pelos quais a sociedade trilhará o seu futuro.

Em suma, a Escola, tal como o saber e o conhecimento, está em

constante evolução e atualização a todos os níveis. Isto em benefício de um

ensino de melhor qualidade, que seja capaz de atender às necessidades da

sociedade e que se quer inclusiva para todos.

3.3. Identificação da Escola

A realização do meu EP decorreu na Escola Secundaria Francisco de

Holanda, situada na cidade de Guimarães. Segundo Dr. José Craveiro, pelo

“Decreto de 20 de Dezembro de 1864, foram criadas as três primeiras Escolas

Industriais do País: em Guimarães, Covilhã e Portalegre (com três graus:

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elementar, secundário e complementar), tornando-se uma das escolas mais

antigas do País”.

Hoje é uma escola que, através do programa de remodelação do Parque

Escolar, sofreu inúmeras modificações no sentido de proporcionar aos alunos

um espaço novo com melhores condições fomentando um ensino de qualidade.

O grupo disciplinar de Educação Física é constituído por 13 professores e

9 professores estagiários, distribuídos por 3 núcleos de estágio (FADEUP e

Universidade do Minho (UM) – 2 núcleos). A sua distribuição está assim

definida: 3 estagiários da FADEUP; 6 estagiários da UM (três a comporem um

NE e os outros três a comporem outro). Como orientador do NE, tenho o

professor Francisco Magalhães que foi preponderante para a nossa integração

na escola. Com ele ficamos a conhecer as instalações, parte do pessoal

docente e não docente e, de forma particular, os professores que constituem a

Direção da Escola.

Os espaços designados para a lecionação das aulas de Educação Física,

local da aplicação da minha prática pedagógica, são três: o pavilhão, o espaço

exterior e o auditório. Destaco, igualmente, a existência de oito balneários, o

que oferecem condições ideais para os alunos, sobretudo, para uma maior

rapidez no tempo dedicado para a preparação para a aula (equipar) e para uma

maior organização no cuidado com a higiene pessoal.

No que respeita a ocupação dos espaços, esta é determinada pelo

“roulement”, documento de gestão e designação do espaço de aula para cada

professor. Os mesmos deveram, deste modo, delinear as suas aulas, tendo em

conta o “roulement”, ajustando o plano de acordo com o espaço que lhe é

atribuído. Não posso deixar de realçar, um aspeto negativo no meu entender,

que se refere às dimensões do espaço de aula no pavilhão, uma vez que

durante as minhas aulas todos os espaços existentes estarão ocupados

ficando disponível apenas um desses mesmos espaços a cada professor (no

caso e contado comigo seremos 5). Outra questão pertinente é que no

auditório não é permitido o uso de bolas.

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3.4. Caracterização da Escola

A ESFH, criada em 1864, só entrou em funcionamento vinte anos depois,

em 1884, como Escola de Desenho Industrial, em instalações provisórias

situadas na Rua de Paio Galvão. De referir que, na origem da criação da

escola, esteve um movimento favorável ao desenvolvimento industrial e

comercial da região, que teve a sua maior expressão na realização da

Exposição Industrial.

A Escola é o resultado de uma reivindicação local, na qual se podem

identificar valores de autonomia, de afirmação das capacidades endógenas da

sub-região, de irreverência, de justiça social, de desenvolvimento, valores que

a Instituição sempre preservou e que ostenta, ainda hoje, com orgulho e

vontade de vencer o futuro.

Durante muito tempo, enquanto Escola Técnica, a escola preparou

gerações de profissionais de qualidade, particularmente nas áreas da

eletricidade, têxtil, mecânica, desenho industrial, contabilidade e escritório,

verdadeira vantagem competitiva e comparativa de que o nosso tecido

económico usufruiu durante décadas a fio.

Já em plena década de 80, foi nesta escola que o Ministro José Augusto

Seabra lançou os reclamados cursos técnico – profissionais, uma tentativa de

resposta aos repetidos pedidos dos agentes económicos para que o ensino

secundário voltasse a formar quadros intermédios.

O ritmo da evolução económica e social, dos anos 60 até à atualidade,

sem precedentes na história da humanidade, alteraram profundamente todo o

enquadramento em que assentaram até aí as reformas e os ajustamentos das

estruturas e organizações em que se sustentava a Sociedade. Questionou-se a

vida, o papel do homem, a revolução tecnológica, a escola, a função da escola,

o ensino e a formação.

Por todo o mundo, a partir dos anos 80, a reforma do ensino constituiu

preocupação primeira de todos os governos. Também em Portugal se iniciou

uma reforma que apelou à cooperação de todos e que, no início, entusiasmou

e granjeou a adesão coletiva.

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Com ela, surgiram, em 1989, os cursos tecnológicos, vocacionados para a vida

ativa, a par com os cursos gerais, orientados para o prosseguimento de

estudos.

Como sempre, esta escola é recetiva à mudança, com a vontade de

perscrutar os ventos do futuro e acompanhar o ritmo alucinante da evolução

científica e tecnológica, colocando sempre a Pessoa como centro da Escola e

do Mundo.

A ESFH é uma escola de ensino oficial pública,

situada na Alameda Dr. Alfredo Pimenta da freguesia

de S. Paio, concelho de Guimarães, que por sua vez

pertence ao distrito de Braga.

Nas suas proximidades encontramos um posto de

polícia, um hospital, um centro de saúde, o estádio D.

Afonso Henriques e ainda um quartel de bombeiros.

É circundada predominantemente por residências e espaços comerciais e

encontram-se nas proximidades algumas zonas verdes.

3.4.1. Corpo Discente

A escola tem um total de 64 turmas sendo 50 de ensino normal (diurno), 1

de curso vocacional e 13 do ensino profissional. No Quadro seguinte,

apresento o n.º de turmas do ensino secundário, do curso vocacional e ensino

profissional:

Quadro 1- Nº Total de turmas da Escola

Anos Turmas

10º; 11º e 12º 50

Curso vocacional (9ºVoc) 1

Ensino Profissional 13

Total 64

Ilustração 1 - Escola Secundária Francisco de Holanda

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No Quadro seguinte encontram-se os valores referentes às turmas do

ensino secundário, do ensino profissional e do curso vocacional, divididos por

anos.

Quadro 2 - Turmas Ensino Secundário, Profissional

Curso 10º Ano 11º Ano 12º Ano Total

Ciências Tecnológicas 8 11 7 26

Artes Visuais 2 2 2 6

Ciências Sócio- Económicas 2 2 2 6

Línguas e Humanidades 4 5 3 12

Curso Vocacional 1 1

Ensino Profissional 4 4 5 13

Total 21 24 19 64

De acordo com o Quadro 2, pode constatar-se que o ano que tem mais

turmas é o 11º ano. O curso que é frequentado pela maioria dos alunos, com

grande diferença relativamente aos restantes, é o curso de Ciências e

Tecnologias. Pode-se ainda verificar que a escola tem 13 turmas do Ensino

Profissional, sendo a maioria no 11º ano. Esta escola tem atualmente 1 turma

no curso vocacional.

3.4.2. Corpo Docente

Relativamente ao corpo docente apresentámos, de seguida, uma tabela

ilustrativa da divisão por Género.

Quadro 3 - População Docente

Feminino Masculino Total

Docentes 89 57 146

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3.4.3. Instalações Desportivas

Pavilhão Polidesportivo

Após as obras de remodelação, a escola tem ao seu dispor desde o ano

letivo anterior, um novo pavilhão polidesportivo, dividido em 3 espaços, com 3

professores e simultâneo a lecionar.

Este pavilhão conta com ótimas condições para a prática desportiva.

Neste pavilhão poderão realizar-se aulas de Futsal, Voleibol,

Basquetebol, Andebol, Bitoque Rugby, Badminton, Karaté, Ginástica

Acrobática/ de Solo/ de Aparelhos, Dança e Atletismo.

Auditório:

O auditório é um espaço polivalente também utilizado como instalação

desportiva, onde apenas um professor estará a lecionar por bloco. Devido às

condições do espaço apenas poderá ser abordado modalidades como Dança,

Karaté, Judo e Ginástica (solo, aparelhos e acrobática).

Ilustração 2 - Pavilhão Polidesportivo

Ilustração 5 - Espaço 3 Ilustração 3 - Espaço 1 Ilustração 4 - Espaço 2

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Espaço exterior:

O espaço exterior contém uma caixa de saltos (comprimento e triplo

salto), três pistas de velocidade, um mini campo de Basquetebol com 2 tabelas.

Neste espaço é possível lecionar Atletismo, Basquetebol, Bitoque.

Relativamente aos espaços exteriores, os alunos e professores da escola

podem também utilizar o circuito junto ao estádio D. Afonso Henriques para

realizar as suas aulas, nomeadamente as de Atletismo.

Ilustração 6 - Auditório

Ilustração 9 – Estádio D. Afonso Henriques Ilustração 8 - Pista de atletismo exterior

Ilustração 7 - Campo de basquetebol exterior

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Após a construção deste novo pavilhão, os alunos da ESFH passaram a

ter à sua disposição excelentes instalações para a realização das aulas de

Educação Física e de outras atividades físicas, bem como de excelentes

condições relativamente ao material disponibilizado, armazenado na

arrecadação e contamos também com ótimos balneários. Quanto aos

professores, além destas condições, têm também ao seu dispor uma sala

dedicada ao departamento de Educação

Física.

3.4.4. Inventário do Material

Quadro 4 - Inventário do material

Material

(designação)

Estado de Conservação Total

Bom Médio Mau Balizas de Andebol/Futsal (oficial alumínio) 2 2 Balizas miniandebol/Futsal (n/oficiais) em PVC 8 8 Redes de baliza Andebol/Futsal (fio polipropileno) 2 2 Postes Voleibol telescópico p/ competição 6 6 Postes Voleibol (alumínio Alta Competição) 2 2 Proteção aos postes de Voleibol de alta competição 2 2 Proteção aos postes de Voleibol c/ guincho 3 3 Proteção aos postes de Voleibol s/ guincho 3 3

Ilustração 10 – Balneários

Ilustração 11 – Sala do dep.de Ed. Física Ilustração 12 - Arrecadação

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Redes de Voleibol 5 1 2 8 Poste de Voleibol (competição c/rodas- alumínio 2 2 Pódio p/juiz árbitro de Voleibol 1 1 Postes de Badmínton (auto-estável p/competição) 2 2 Rede de Badmínton 1 3 4 Postes de Corfebol telescópico p/ competição 4 4 Postes de Ténis metálico (Competição oficial) 2 2 Rede de Ténis (com banda superior em PVC) 1 1 Guia central para rede de Ténis 1 1 Cortinas divisórias com sistema de recolha manual 2 2 Tabelas Basquetebol (Electro) 2 2 Carros Minibasquetebol c/ aro fixo 6 6 Carro transporte trave olímpica 1 1 Carro transporte Paralelas simétricas 1 1 Proteção frontal tabela Street-Basquet portátil 4 2 6 Carros de transporte de bolas 2 2 Carro de transporte de bolas e postes Voleibol 1 1 Carro de transporte de arcos 1 1 Carro de transporte de colchões na horizontal 1 1 Mini Trampolim de molas 2 2 4 Trampolim em mousse (120x60x25) 3 3 Paralelas dupla utilização 1 1 Plintos/Cavalos (lona de PVC) 2 2 Plinto madeira c/8 caixas, carro e cabeça em pele 2 2 Trampolim Reuther/SPIETH 2 2 Cavalos de saltos (oficial competição) 2 2 Colchões de queda (300x200x30) anti-derrapante 6 6 Colchões de queda 2 2 Tapetes Gímnicos (azuis) 10 10 Tapetes Ginástica (mousse e PVC-2x1x0,05) 60 60 Tapetes desdobráveis PVC (6.00x1.00x0.55m) 10 10 Colchões monobloco (200x100x50 cm) 2 2 Postes Salto em altura em alumínio p/ Atletismo 2 2 Fasquia salto em altura (fibra vidro c/ 4 metros) 1 1 Fasquia de espuma (mousse) e elástico p/ Atletismo 1 1 Blocos de partida (iniciação p/ Atletismo 8 8 Barreiras de Atletismo (competição-5 alturas) 4 4 Bolas de Voleibol 50 14 64 Bolas de Futsal 19 18 37 Bolas de Andebol 12 31 43 Bolas de Rugby 27 4 31 Bolas de Basquetebol 16 19 35

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Bolas de Corfebol 10 10 Raquetes de Badmínton 32 28 60 Volantes de Badmínton (caixas 6 unidades nylon) 2 1 10 13 Volantes de Badmínton (caixas 12 unidades penas) 5 5 Sticks Hóquei de sala 28 28 Balizas Hóquei (n/oficiais) em PVC 4 4 Bolas de Hóquei de sala 18 18 Raquetes de Ténis de mesa 30 30 Bolas de Ténis de mesa 25 25 Bola de Goal Ball 1 1 Cronómetros 3 1 4 Sinalizadores ( lotes 40 unidades) 5 5 Sacos transporte de bolas 6 2 8 Fita métrica 1 1 Compressor 1 1 Testemunhos (estafetas) 16 3 19 Aparelhos de música 1 2 3 Colunas de som 2 2 Cordas de Rítmica 10 10 6 26 Bolas de G. Rítmica 23 23 Arcos de G. Rítmica 27 23 39 Bolas medicinais 2 Sacos de valores 10 5 15 Coletes 55 55

Recursos Materiais Específicos das Modalidades

Quadro 5 - Materiais Específicos das Modalidades

Modalidades Material Total

Voleibol Bolas 64

Postes Voleibol telescópico p/ competição 6

Postes Voleibol (alumínio Alta Competição) 2

Poste de Voleibol (competição c/rodas- alumínio 2

Proteção aos postes de Voleibol de alta competição 2

Proteção aos postes de Voleibol c/ guincho 3

Proteção aos postes de Voleibol s/ guincho 3

Redes de Voleibol 8

Pódio p/juiz árbitro de Voleibol 1

Carro de transporte de bolas e postes Voleibol 1

Marcadores de pontuação 2

Basquetebol Bolas 35

Tabelas Basquetebol (Electro) 2

Carros Minibasquetebol c/ aro fixo 6

Proteção frontal tabela Street-Basquet portátil 6

Andebol Bolas 43

Balizas de Andebol (oficial alumínio) 2

Redes baliza Andebol ( fio polipropileno) 2

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Futsal Bolas 37

Balizas de Futsal (oficial alumínio) 2

Redes de baliza Futsal (fio polipropileno) 2

Badminton Volantes ( 12caixas X 6 un. Nylon + 5 caixas 12 un. Penas ) 3+5

Raquetes 60

Postes de Badminton (auto-estável p/competição) 2

Rede de Badminton 4

Goal Ball Bola 1

Rugby Bolas 31

Corfebol Bolas 10

Postes de Corfebol telescópico p/ competição 4

Ténis de Mesa Raquetes 30

Bolas 25

Ténis Postes de Ténis metálico (Competição oficial) 2

Rede de Ténis (com banda superior em PVC) 1

Guia central para rede de Ténis 1

Hóquei de Sala Sticks 1

Bolas 28

Atletismo Testemunhos 19

Barreiras 8

Postes Salto em altura em alumínio p/ Atletismo 2

Fasquia de espuma (mousse) e elástico p/ Atletismo 1

Fasquia salto em altura (fibra vidro c/ 4 metros) 1

Blocos de partida (iniciação p/ Atletismo 8

Ginástica Tapetes Gímnicos 10

Mini Trampolim de molas + 2 normais 4

Trampolim em mousse (120x60x25) 3

Paralelas dupla utilização 1

Plintos/Cavalos (lona de PVC) 2

Plinto madeira c/8 caixas, carro e cabeça em pele 2

Cavalos de saltos (oficial competição) 2

Colchões de queda (300x200x30) anti-derrapante 6

Tapetes Ginástica (mousse e PVC-2x1x0,05) 60

Tapetes desdobráveis PVC (6.00x1.00x0.55m) 10

Colchões monobloco (200x100x50 cm) 2

Tapetes Gímnicos 10

Carro de transporte de colchões na horizontal 1

Carro transporte Paralelas simétricas 1

Trampolim Reuther/SPIETH 2

Colchões de queda (grandes) 2

Mini-trampolim 2

Cordas de Rítmica 26

Bolas de Rítmica 23

Carro de transporte de arcos 1

Arcos de Rítmica 39

Material Diverso

Quadro 6 - Material Diverso

Material Total

Diversos

Cronómetros 4

Fita métrica 1

Compressor 1

Aparelhos de Música 3

Colunas de som 2

Apitos 1

Bases (sinalizadores) 200

Sacos porta-bolas 8

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Postes (base c/ pneu) 5

Coletes 55

Sacos de valores 15

Carros de transporte de bolas 2

Cortinas divisórias c/ sistema de recolha manual 2

Postes de Corfebol telescópico p/ competição 4

Bolas medicinais 2

Elásticos 3

Extensão eletricidade 2

3.4.5. Material de Primeiros Socorros

Quadro 7 - Material de Primeiros Socorros

Inventário Unidades Betadine 2

Tintura Timerosal 1

Álcool 3

Água Oxigenada 2

Algodão hidrófilo 3

Halibut 2

Pensos p/ recortar 1

Compressas de gaze 5

Pensos 2

Adesivo Mefix 1

Adesivo 2

Ligaduras elásticas 2

Mercurocromo 1

Pensos higiénicos 3

Luvas cirúrgicas 1

Luvas descartáveis latex 1

Tesoura 1

Termómetro 1

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3.5. Caracterização da turma

Ilustração 13 - Foto de turma

Para a realização do meu EP ser-me-ia atribuída a turma do 11º ano

CSE1 (ciências socioeconómicas).

A mesma é constituída por 24 alunos, sendo que 20 desses alunos são

do sexo feminino e 4 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os

15 e os 17 anos.

No que se refere à residência dos alunos registei que a maioria dos

alunos reside em Guimarães, porém existem também vários alunos que

residem em localidades da periferia nomeadamente Vizela, Riba de Ave e Fafe.

O autocarro é o meio mais utilizado pelos alunos para se deslocarem para a

escola, trajeto no qual percorrem uma distância entre 1 a 10 km e gastam entre

cerca de 10 a 30 minutos para efetuar esta distância. A distância entre a sua

residência e a escola interferiu na escolha da mesma para prosseguir os

estudos.

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À exceção de 1 aluno que respondeu que não sabia se pretendia

continuar os estudos após o 12º ano, todos os restantes deram resposta

positiva nesta questão. No entanto muitos deles não sabem que curso seguir.

No que concerne aos dados relativos ao Índice de Massa Corporal (IMC),

constatei que a esmagadora maioria tem um IMC normal, havendo contudo 2

alunos com o IMC baixo, 1 aluno com o IMC elevado e 1 aluno que não tem

dados relativos a esta categoria pois por motivos pessoais se recusou a

realizar as medições. Relativamente aos aspetos da saúde, todos os alunos

ouvem bem, no entanto quanto à visão verificam-se 5 alunos com problemas

nesse aspeto.

É também importante perceber o historial desportivo dos alunos pois é um

aspeto que certamente se irá refletir no empenho nas aulas e o gosto pelas

mesmas. Então, da turma retirei a informação de que 18 alunos já praticaram

alguma modalidade desportiva, no entanto, atualmente, apenas 10 o fazem.

Destes 10 alunos, 7 são federados e os 3 restantes praticam desportos de

lazer. Posto isto, julgo que as aulas de Educação Física serão fundamentais

tanto para o aumento dos níveis de atividade física dos alunos como na

motivação para o hábito de práticas desportivas.

3.6. Profissão: ser Professor!

A docência não é de todo uma profissão como as outras. Envolve o

contacto e comunicação constante com um diverso número de pessoas, alunos

fundamentalmente, que apresentam características peculiares e com as quais

se deve saber lidar. É uma profissão de enorme responsabilidade, uma vez que

implica a formação de indivíduos e contribui para o seu crescimento

psicológico, afetivo, moral e social, ou seja, tem como objetivo primordial o

oferecer alicerces sólidos para um futuro que se pretende que seja o melhor e

que passa necessariamente pelo sucesso educativo.

Ser professor é um exercício de formação constante, é uma troca de

saberes e experiências, avizinhando-se cada vez mais como uma tarefa árdua,

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porém no final gratificante, na medida em que ajudamos alguém a crescer nas

diversas perspetivas já mencionadas.

Nesta profissão, para qual eu e tantos outros colegas nos estamos a

preparar, é fundamental ter uma boa formação teórica e prática, porém apenas

isso não é suficiente para se ser um bom professor.

Um bom professor acima de tudo, deve saber ensinar pois esse é o seu

principal propósito, mas inerente a isso estão também outras características

que permitem defini-lo assim. Segundo Alonso (1998), são quatro os critérios

de profissionalismo docente: a competência, a autonomia profissional, a

identidade profissional e a abertura à inovação. A competência prende-se com

a capacidade de tomar decisões optando por uma alternativa em detrimento de

outra, está ligado portanto à autonomia igualmente. A identidade profissional

advém do facto de se estar inserido numa comunidade específica, no caso a

escola, e a partir dessa envolvência o professor vai criando as suas

expectativas e ideais moldando.se às agruras e sucedidos na profissão. Por

fim, a abertura à inovação é fundamenta nos tempos que correm uma vez que

a própria profissão acompanha as evoluções tecnologias e socias que vão

ocorrendo, é uma questão de constante readaptação com intuito de manter os

conhecimentos atualizados e desta forma adequados para serem transmitidos.

Por isso, ser um bom professor é mais do que estar numa sala de aula a

debitar matéria. Envolve muitas outras particularidades, como por exemplo a

relação pedagógica que se estabelece com os discentes, e que é fundamental

para o sucesso de ambas as partes. A formação profissional é elementar, e

deve ser um processo orientado para o exercício de determinada profissão.

Deve abarcar a construção social, cultural e ética bem como a formação

educacional geral do indivíduo, e num último momento um estágio onde o

mesmo aprenderá in loco a lidar com uma nova realidade.

Segundo Souza (2009), o professor inicialmente, quando confrontado com

a realidade da escola, sentirá diversos problemas durante os primeiros anos,

sendo pois um período importante na determinação do seu futuro profissional e

a sua relação com a profissão, passe a redundância. Estes mesmos dilemas

iniciais derivam, essencialmente, pela exigência na resolução de problemas

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dos quais se destacam a condução do processo ensino-aprendizagem, sendo

necessário ter em conta as capacidades dos alunos, os conteúdos

programáticos a abordar, dificuldades na relação aluno-professor e vice-versa,

aliadas à organização da sala/espaço de aula.

Ainda outro autor (Perrenoud, 2002 cit. por Souza, 2009) afirma que a

passagem de aluno para professor acarreta um conflito de identidades para o

qual o docente deve estar preparado e ter as bases indicadas que suportem

esse dilema. E aqui se pode fazer um paralelismo com as crenças que o

indivíduo tem antes de se tornar efetivamente docente.

É de todo expectável que alguém que se prepara para uma profissão,

antes de a desempenhar, se sinta com motivado, porém no meu caso não será

tanto assim. Face à realidade atual e ao futuro que se afigura pouco promissor,

não consigo imaginar uma “porta que se abra” a curto-prazo. Confesso que,

após iniciar o mestrado, e agora terminado o ano, me sinto um pouco

desiludido, dada a conjuntura nacional e a falta de perspetivas. Como é óbvio,

tento ser otimista e continuo a pensar que poderei, um dia, estar no” terreno”,

ensinar os meus alunos, trabalhar e cooperar com outros colegas, mas isso só

o futuro o confirmará.

A cada dia que passa estamos sujeitos a novas oportunidades e a novos

desafios e ser professor, nos dias de hoje, é certamente um deles.

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4. Realização da prática profissional

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem

Esta área de desempenho do EP engloba as principais tarefas da

profissão docente, nomeadamente a conceção, o planeamento, a realização e

a avaliação do ensino. Perante isto, podemos considerar que as mesmas

assumem um papel preponderante na construção de uma estratégia de

intervenção, orientada por objetivos pedagógicos, que procure otimizar o

processo de ensino-aprendizagem e contribua para a formação integral dos

alunos na aula de Educação Física.

Os conhecimentos previamente adquiridos serão preponderantes para o

cumprimento de todas as tarefas, visto que a sua confrontação com o contexto

real de ensino permitirá construir um ensino mais eficaz e definir objetivos

concretos e exequíveis.

4.1.1. Conceção

“Todo o projeto de planeamento deve encontrar o seu ponto de partida

na conceção e conteúdos dos programas ou

normas programáticas de ensino...”

(Bento, 2003, p.7)

A conceção assume-se então como a primeira tarefa do professor. Aqui é

pensada e projetada a sua atuação, com base nos documentos que regem o

processo de ensino, no conhecimento do contexto cultural e social da escola

bem como ainda das características dos alunos. Neste sentido, são de extrema

importância a conceções que o professor tem dos conteúdos do ensino e dos

alunos pois, segundo Graça (2001), as mesmas irão ser refletidas no modo

como as práticas de ensino são pensadas e desenvolvidas.

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No sentido de conhecer a organização e o funcionamento da escola, foi

realizado um trabalho de caracterização da mesma assim como do meio

envolvente. Para isto foi necessária uma análise ao projeto educativo da Escola

pois, tal como o próprio enuncia, é um “documento vértice e ponto de

referência, orientador de toda a atividade escolar”. De um modo mais

específico foi analisado o programa nacional para a disciplina de educação

física. E aqui foi de imediato notória a discrepância entre os objetivos

delineados e a realidade do contexto escolar, preconizando o programa a

abordagem de todas matérias no nível avançado.

A análise dos documentos da disciplina de Educação Física,

nomeadamente o plano anual de atividades, a planificação anual de cada ano

de escolaridade para cada período e o roulement das instalações foram

preponderantes para contextualizar as minhas ações futuras enquanto

professor de Educação Física na escola.

Culminando todas estas tarefas é importante destacar o posterior estudo

e caracterização feita à turma orientada uma vez que me permitiu conhecer

melhor e de forma mais aprofundada os alunos enquanto indivíduos dentro e

fora do meio escolar.

4.1.2. Planeamento

“O planeamento do professor constitui-se como uma janela estrategicamente

privilegiada para contemplar o ensino”

(Graça, 2001, p.108)

Para Sousa (1991) cit. por Gomes (2004), o planeamento pode ser

entendido como uma forma de prever, organizar e orientar o processo de

ensino-aprendizagem, sendo um instrumento didático-metodológico facilitador

na tomada de decisões do professor e no cumprimento dos objetivos

propostos.

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O ponto de partida está na conceção e conteúdos dos programas de

ensino, tal como refere Bento (2003), contudo será preponderante o confronto

da teoria com a realidade prática, podendo então o docente regular a ação de

uma forma eficaz e ajustada.

Por forma a promover um ensino de qualidade é necessária então uma

boa preparação do mesmo enquadrando as linhas orientadoras para a

disciplina, quer a nível global quer a nível mais específico, com as

particularidades da turma recolhidas através da sua caracterização e das

avaliações diagnósticas. Todavia, mesmo contemplando um planeamento

eficaz é necessário ter em conta que os seus pressupostos não são imutáveis

nem permanentes, uma vez que o contexto real em que decorre o ensino está

imbuído de imprevisibilidade: “O ensino é criado duas vezes: primeiro na

conceção e depois na realidade” (Bento, 2003, p.16). Cabe por isso também ao

Professor ser capaz de se adaptar e antecipar possíveis imprevistos.

Seguindo uma sequência lógica, do mais geral para o mais específico,

serão seguidamente apresentados os contornos da elaboração das tarefas

desenvolvidas ao nível do planeamento do ensino. Todas elas apresentaram

um caráter flexível sendo adaptadas ou ajustadas sempre que a realidade do

contexto da prática ou as necessidades da turma assim o exigiam.

4.1.2.1. Planeamento anual

Segundo Januário (1992) cit. por Serina (2013, p.19), o plano anual é o

“processo através do qual os professores aplicam e põem em prática os

programas escolares, cumprindo sempre a importante função de os

desenvolver e adaptar às condições do cenário de ensino – características da

população escolar e do meio envolvente, do estabelecimento de ensino e dos

alunos das diferentes turmas.”. Torna-se assim evidente a relevância desta

ferramenta no papel do docente, uma vez que abrange toda a informação

necessária para estruturar e organizar o processo de ensino bem como

delinear os objetivos que se pretendem atingir durante o decorrer do ano letivo.

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Numa perspetiva mais abrangente, o planeamento anual define-se como

sendo o primeiro passo para a preparação do ensino em que propõe a

aplicação das linhas orientadoras do programa nacional de educação física em

consonância com a realidade da escola e as características dos alunos. Devido

a esta lógica de pensamento, o departamento de Educação Física da escola

elaborou um planeamento anual para cada ano de escolaridade, cabendo a

estipulação do número de aulas a lecionar e a ordem como as modalidades

seria lecionadas aos professores da disciplina. Para o 11º ano distribuíram-se

da seguinte forma as modalidades a abordar:

1º Período: 1º e 2º desportos coletivos; Atletismo (resistência); Judo

(opção); Dança.

2º Período: 1º e 2º desportos coletivos; Atletismo (velocidade/estafetas);

Badminton.

3º Período: 1º e 2º desportos coletivos; Ginástica Acrobática.

Após diálogo com o PC, foi possível realizar algumas alterações no

planeamento. No que toca ao 1º e 2º desportos coletivos em vez de serem

ambos abordados no mesmo período, ficou decidido que se lecionaria apenas

um em cada período, nomeadamente no 1º e 2º períodos, e no 3º período

abordar-se-iam então as duas modalidades com o objetivo de serem

consolidadas. Desta forma pretendia-se que os alunos pudessem dedicar o

maior número de aulas seguidas de uma mesma modalidade, no sentido de

haver uma melhor absorção das aprendizagens. Outra alteração feita foi a não

lecionação da modalidade de Dança no 1º período, sendo substituída pela

modalidade de Judo que era optativa. Esta decisão prendeu-se com o facto de,

tanto eu como os meus colegas de estágio, nos sentirmos melhor preparados

para a lecionação de Judo.

Decidida a estrutura do planeamento anual foi possível construir o

planeamento por período para a turma e definir a calendarização das matérias

de ensino. O número de aulas dedicadas a cada modalidade foi alvo de

significativa atenção, assim como foi necessário ter em conta o roulement das

instalações. Este documento definiria o espaço disponível para cada professor

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em cada aula, sendo por isso preponderante no processo de planeamento e

consequentemente no processo de ensino. Apesar da sua importância,

também colocou os seus problemas tal como reportam as seguintes situações:

“Como tem sido habitual, mais uma vez houve um pequeno atraso

com o início de aula isto por causa dos espaços de aula. Como o espaço

para a minha aula seria o central, onde não tem os postes de basquetebol

para a colocação da rede de voleibol, tive de aguardar pelo professor que

iria ocupar o espaço 3, onde já tinha a rede colocada, no sentido de saber

se não se importaria de trocar comigo. Visto o mesmo ter chegado

atrasado o início da minha aula foi afetado.” (Aula nº 67 e 68 – Sessão 7 e 8

de Voleibol)

“...do espaço inicialmente definido (exterior) passei então para o

pavilhão interior, contando com o facto de um professor estar a faltar,

precisando de rapidamente (re) definir a organização dos exercícios. Após

resolvido este assunto, não houve quaisquer problemas de segurança com

os alunos.” (Aula nº 7 e 8 – Sessão 3 e 4 de Atletismo)

Apesar de o ano letivo aparentar ser extenso, ao elaborar a planificação

verifica-se que o mesmo se torna curto para que todas as matérias de ensino

sejam concluídas com a total taxa de êxito e plenamente consolidadas para

todos os alunos. A este aspeto acrescenta-se ainda todos os imprevistos e

condicionantes que vão surgindo, quer com os espaços disponíveis, as

condições meteorológicas, rotação dos balneários, entre outros, que vão fazer

com que o que foi planeado necessite de ser alterado ou ajustado. Contudo o

planeamento revelou-se um documento guia indispensável para o processo de

ensino-aprendizagem, com caráter permanentemente flexível, auxiliando-me na

procura de uma ação eficaz.

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4.1.2.2. Unidades didáticas

Siedentop (1998) cit. por Almeida (2011) refere que um professor eficaz

realiza uma ótima preparação e elaboração das unidades de ensino. Para

Bento (2003), as unidades didáticas correspondem a um nível de planeamento

que permite criar uma sequência lógica e metodológica dos conteúdos visando

o desenvolvimento dos alunos. São elementos fulcrais na construção de uma

unidade de ensino, e tal como qualquer planeamento as unidades didáticas

apresentam também uma estrutura flexível e passível de ser alterada

consoante as características dos alunos e do meio.

A situação seguinte espelha uma dessas alterações em que a exercitação

dos mesmos conteúdos foi necessária:

“Tendo em conta as dificuldades verificadas na última aula da

modalidade repeti novamente os exercícios assim como as mesmas

exemplificações. Todavia a maioria dos alunos pareceu esquecer o que

foi transmitido, apresentando falhas nos deslocamentos e ajustamento de

posições.” (Aula nº 39 e 40 - Sessão 19 e 20 de Basquetebol)

A unidade didática pretende ser um elemento prático e facilitador do

processo de ensino-aprendizagem, procurando orientar o professor na sua

ação. A sua elaboração desenvolveu-se com base nas avaliações diagnósticas

pois só desta forma é possível delinear objetivos exequíveis para o nível

verificado.

É todavia importante ressalvar que o planeamento de uma unidade

didática não se confina à “simples” distribuição das matérias de ensino

atribuindo a cada aula uma função didática. A mesma deve contemplar o

desenvolvimento de outras valências para além das habilidades motoras, tais

como os aspetos psicossociais, fisiológicos e a cultura desportiva. Segundo

Januário (1984) cit. por Gomes (2004), são cinco as etapas que os professores

devem ter em consideração aquando da construção de uma UD:

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1) Formulação de objetivos comportamentais finais que devem estar

relacionados com os objetivos específicos da disciplina de Educação

Física;

2) Estruturação de conteúdos, selecionado em sistema de prioridades as

matérias e objetos de ensino;

3) Gerir e maximizar os espaços e materiais disponíveis;

4) Avaliação do processo de ensino-aprendizagem;

5) Elaboração de uma estratégia geral acerca da organização e abordagem

da UD.

Uma das principais dificuldades na elaboração das unidades didáticas foi

a necessidade de condensar as matérias de ensino ao número de aulas

disponíveis para cada modalidade. Foi necessário selecionar os conteúdos

essenciais e definir metas concretizáveis, criando progressões pedagógicas

ajustadas ao nível geral dos alunos.

Ao longo do ano letivo, a unidade didática para além de determinar os

conteúdos e funções de cada uma das aulas foi igualmente um instrumento

potenciador de reflexão e procura de conhecimentos.

4.1.2.3. Planos de aula

Tal como refere Bento (2003, p.102), o professor antes de começar a aula

“tem já um projeto da forma como ela deve decorrer, uma imagem estruturada,

naturalmente, por decisões fundamentais. Tais são, por exemplo, decisões

sobre o objetivo geral e objetivos parciais ou intermédios, sobre a escolha e

ordenamento da matéria, sobre os pontos fulcrais da aula, sobre as principais

tarefas didáticas, sobre a direção principal das ideias e procedimentos

metodológicos.”

A elaboração do plano de aula (PA) baseia-se num processo de

continuidade daquilo que foi planeado nos níveis anteriores, nomeadamente o

plano anual e unidades didáticas, pretendendo atingir os objetivos definidos

através do planeamento e criação de exercícios.

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Bento (2003, p.101) destaca a importância do PA: “A aula é realmente o

verdadeiro ponto de convergência do pensamento e da ação do professor. Da

sua correta organização e estruturação e do que nela acontecer, dependem,

grandemente, os resultados de aprendizagem dos alunos.” O PA trata-se então

de uma planificação a curto prazo constituindo-se um documento orientador,

funcional e de consulta simples para o professor.

Em todos os momentos de elaboração dos planos de aula tentei ter

sempre em mente que todas situações de aprendizagem planeadas não teriam

a obrigatoriedade de serem cumpridas e que mesmo depois de finalizada a sua

conceção poderia ser necessário readaptar ou eliminar tarefas previstas. As

seguintes situações descrevem momentos em que devido a imprevistos foi

necessário recorrer à alteração total daquilo que tinha sido planeado:

“Mais uma vez não realizei a aula que tinha planeado, nomeadamente

de ginástica acrobática (auditório). Devido ao facto de ter havido uma

alteração no roulement das instalações, inerente à paragem das férias de

carnaval, foi necessário aguardar que todos os professores chegassem

para perceber como se faria a distribuição dos espaços, o que levou à

perda de algum tempo de aula.” (Aula 89 e 90 – Sessão 7 e 8 de Badminton)

“Devido a uma enorme confusão e falta de informação da minha

parte relativamente ao roulement dos espaços a aula iniciou-se muito

depois da hora. Como antes do início do período Professor Francisco

tinha informado que a distribuição dos espaços seria a mesma, e uma vez

que a aula afinal seria no exterior tal como na anterior e estava a chover,

precavi-me trazendo um vídeo para a turma visualizar...” (Aula nº 59 e 60;

Sessão 1 e 2 de Voleibol)

Indo de encontro ao que refere Bento (2003), de que as aulas devem ter

na maioria dos casos a mesma estrutura, para qualquer uma das modalidades

lecionadas procurei sempre seguir um esquema lógico e idêntico de

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exercitação em que as diferentes partes da aula estariam relacionadas. Desta

forma os alunos assimilariam mais facilmente o pretendido.

O modelo utilizado para estruturar o PA foi o tripartido, dividido pela parte

inicial/aquecimento, a parte fundamental e a parte final de retorno à calma.

Como qualquer outro tipo de planeamento, também o PA após a sua

concretização e realização era alvo de análise e reflexão, quer através do diário

de bordo quer através dos diálogos com o PC após cada aula lecionanda.

Estes diálogos foram fundamentais para perceber os meus erros, refletir sobre

os mesmos e melhorar a minha atuação, mas acima de tudo permitiu-me

adotar constantemente uma postura reflexiva em relação a todas as minhas

ações.

Este nível de planeamento foi aquele com o qual senti mais dificuldades.

Para além da grande quantidade de tempo que despendia para a sua

elaboração, também a escolha dos exercícios que pretendia que fossem

sempre ajustados ao nível da turma foram um entrave quase constante. A

seguinte situação revela um dos momentos em que um dos exercícios

planeados acabou por não ser adequado:

“Em fila, os alunos deveriam transmitir o testemunho do último

elemento para o primeiro, sendo que o último aluno teria sempre de

passar para o início da fila em corrida. Este exercício não teve o sucesso

pretendido pelo fator competitivo de chegar primeiro à meta que levou a

que os alunos entregassem o testemunho sem recurso ou à técnica

ascendente ou à técnica descendente. Além de que, apesar de ter

explicado e exemplificado o exercício, muitos dos alunos quando

recebiam o testemunho corriam com o mesmo para a frente da fila.

Perante isto conclui que a complexidade do exercício não estava ajustada

ao nível geral da turma terminando-o assim mais cedo do que o previsto.

“ (Aula nº 95 e 96 - Sessão 5 e 6 de Atletismo)

Assim, e tal como refere Bento (2003, p.152), a estruturação da aula não

deve ser feita com “espírito de esquematismo e formalismo” uma vez que a

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aplicação prática com total sucesso do PA não está determinada de antemão.

Apesar das dificuldades sentidas, considero que ao longo do EP cada vez mais

fui sentindo a elaboração do PA como uma tarefa natural e, alterando a minha

postura de preocupação, a projetá-lo como apenas um guião da minha

atuação, sem nunca descurar a sua importância.

4.1.3. Realização

“O sucesso do ensino depende tanto da atividade do docente como das

atividades de aprendizagem dos alunos”

(Bento, 2003, p.176)

Seguidamente às tarefas de conceção e planeamento, o professor

culmina a sua ação através da realização do ensino. Segundo as normas

orientadoras do EP, a realização consiste em “conduzir com eficácia a

realização da aula, atuando de acordo com as tarefas didáticas e tendo em

conta as diferentes dimensões da intervenção pedagógica” (Matos, 2013, p.4).

Para isto, deve-se recorrer a estratégias pedagógicas que diferenciem os

alunos, fomentar aprendizagens significativas, cultivar a noção de competência

no aluno, utilizar termos específicos e adequados da disciplina de Educação

Física, permitir a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem,

incrementar o tempo potencial de aprendizagem e, sempre que possível,

recorrer a ajustamentos.

É no confronto com a realidade que o professor se apercebe se a sua

atuação é eficaz e se todas tarefas anteriormente concretizadas estão

adequadas. Qualquer docente que deseje ser proficiente deve ter em mente a

aquisição de conhecimentos por parte dos seus alunos.

A realização do processo de ensino é uma parte fundamental do EP, pois

é onde os conceitos teóricos adquiridos durante toda a formação do professor

estagiário e tudo o que foi concebido e planificado anteriormente são postos

em prática.

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Nesta etapa distingo três dimensões da intervenção de qualquer docente,

nomeadamente a instrução, a gestão e o controlo, as quais serão

desenvolvidas seguidamente.

4.1.3.1. Comunicação vs instrução... um problema?

Segundo Rosado e Mesquita (2009) a capacidade de comunicar

apresenta-se como um fator determinante da eficácia do professor no ensino

da educação física. A instrução está diretamente relacionada com a

comunicação estabelecida entre o professor e o aluno, razão pela qual o

cuidado com a forma com que se transmite a informação vai influenciar o

processo de ensino-aprendizagem. As seguintes situações refletem a

consequência de uma má instrução:

“Devo salientar que no que concerne à técnica de encosto a mesma

foi apenas demonstrada e tida como mais um elemento integrante das

sequências, não havendo praticamente instrução da minha parte. A

instrução, tal como refere Mesquita (2010) está diretamente relacionada

com a interpretação que os alunos têm de uma determinada tarefa. Logo,

uma má instrução ou ausência da mesma leva a que o processo de

aprendizagem dos alunos seja afetado negativamente.” (Aula nº 81 e 82;

Sessão 5-6 de Badminton)

“ A minha atuação não foi a melhor, nomeadamente no que concerne

à instrução. A ausência de um discurso mais curto e direto/objetivo e a

não utilização de palavras-chave fizeram com que os alunos, na sua

maioria, não entendessem ou tivessem dificuldades na realização de

determinados exercícios. Isto levou a que tivesse de utilizar mais tempo

de aula para explicar o que pretendia e consequentemente a duração dos

exercícios seguintes é afetada, nomeadamente a situação de jogo que é

essencial para os alunos aplicarem os seus conhecimentos técnicos e

táticos. Isto é reforçado por Rink et al. (1992) cit. por Mesquita (2010, p.1)

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que nos diz que “a ausência de indicações objetivas e referenciadas a

critérios de realização das tarefas pode comprometer a aprendizagem”. ”

(Aula nº 83 e 84; Sessão 11-12 de Voleibol)

De acordo com Siedentop (1991), existem duas regras que o professor

deve seguir durante os períodos de transmissão de informação: evitar

exposições demasiado longas por forma a utilizar o menor tempo possível da

aula e utilizar um discurso claro e objetivo. O início do estágio foi marcado pela

dificuldade de comunicação com os alunos nomeadamente no tom de voz a

utilizar e na transmissão excessiva de informação. Com o decorrer do tempo e

com a insistência do PC em tentar corrigir esta minha debilidade as instruções

foram passando a ser mais sucintas e focadas no essencial. Comecei por me

focar na componente da exposição das tarefas que, de acordo com Graça

(1997), constitui um ponto essencial para compreensão de novos conceitos e

procedimentos bem como a consolidação de conhecimentos já adquiridos por

parte dos alunos.

Quando confrontados com a demonstração das tarefas que devem

realizar, os alunos tornam-se mais eficazes na execução das mesmas e

tendem a memorizar com mais facilidade aquilo que lhes é transmitido (Rosado

e Mesquita, 2011). Bañuelos (1992) reforça esta ideia ao afirmar que utilizando

o mesmo tempo de instrução, a quantidade de informação transmitida de forma

verbal que é captada é bastante inferior à transmitida através da

demonstração. Ao longo do ano letivo foi recorrente a utilização da

demonstração acompanhando a instrução, quer sendo eu próprio a demonstrar

quer utilizando os alunos com melhor desempenho na modalidade ou que

melhor executassem determinada habilidade. Para que tivesse total sucesso

procurei colocar os alunos de forma a que fosse audível e visível por todos:

“Para a parte inicial dispus a turma à minha volta em “U” no sentido

de todos me ouvirem e prestarem atenção ao que exemplificava.” (Aula nº

21 e 22; Sessão 1 e 2 de Judo)

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Porém, por vezes esse aspeto era esquecido:

“Terei de ter mais atenção, no futuro, em juntar todos os alunos à

minha volta aquando da transmissão de informações ou explicação dos

exercícios porque isto quando não é feito leva a que perca algum controle

naqueles que estão mais longe de mim e faz com que não percebam o

que lhes é pedido ou transmitido.” (Aula nº 71 e 72; Sessão 9 e 10 de

Voleibol)

É importante assegurar a atenção de todos os alunos, definido por Rink

(1985) como estado de alerta, para que dessa forma os mesmos possam

processar a informação que receberam e cumprir com eficácia o pretendido. O

mesmo autor define como estratégia de apresentação da tarefa, para além da

exposição verbal e da demonstração, o recurso a meios audiovisuais,

estratégia a que recorri para a lecionação da modalidade de ginástica

acrobática e que se afigurou eficaz e fonte de motivação:

“Outro aspeto que devo salientar é que para além das figuras que os

alunos teriam de realizar serem projetadas na parede, estratégia que

tenho vindo a utilizar desde a 1ª aula da modalidade, decidi colocar

critérios de êxito para cada uma delas. Isto, para além de facilitar a tarefa

instrutiva, também permite aos alunos perceberem bastante melhor os

aspetos fundamentais de cada figura.” (Aula nº 91 e 92; Sessão 9 e 10 de

Ginástica Acrobática)

Relativamente aos feedbacks inicialmente tive algumas dificuldades na

sua transmissão de forma frequente e oportuna. Tudo acontecia bastante

rápido e o meu maior foco recaía maioritariamente sobre a gestão da aula e

dos comportamentos dos alunos. Além disto, em modalidades em que não me

sentia tanto à vontade por vezes hesitava em transmitir feedbacks. Hoffman cit.

por Rosado e Mesquita (2011) corrobora isto mesmo afirmando que uma

reação eficiente ao desempenho do aluno depende de uma observação e

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identificação dos erros competente por parte do professor. Werner & Rink cit

por Arques (2009, p.9) diz-nos que a “investigação centrada na eficácia do

ensino, constatou que a clareza da informação emitida e a emissão de

feedbacks são variáveis preditoras da ocorrência de sucesso nas

aprendizagens”:

“De um lado os alunos realizavam deslocamentos frontais e laterais

conjugados com passe e manchete e do outro lado os alunos seguravam

e enviavam a bola para os primeiros, trocando de funções ao meu sinal.

Inicialmente os alunos tiveram alguma dificuldade em perceber para onde

se tinham de movimentar, porém depois de algum tempo de exercitação e

de vários feedbacks da minha parte os alunos começaram a ter maior

fluidez nos seus movimentos e nas suas ações com a bola.” (Aula nº 83 e

84; Sessão 11 e 12 de Voleibol)

Posto isto tornou-se forçosa uma melhoria rápida neste aspeto. O que

aconteceu após reparo do PO na primeira observação que realizou na escola,

mas também da constante preocupação do PC para que entendesse a

importância da utilização de feedbacks.

4.1.3.2. Professor ou Gestor?

Uma boa capacidade de gestão permite ao professor tornar-se mais

facilmente eficaz no processo de ensino-aprendizagem (Siedentop e Tannehill,

2000). Rink (1985) afirma que o processo de gestão está associado ao

comportamento do professor face à organização do tempo, espaço, alunos e

material, corroborado por Rosado e Ferreira (2011), que acrescentam que para

além disso devem ser procurados índices elevados de envolvimento através da

diminuição da indisciplina e do uso eficaz do tempo.

Segundo Metzler (2000), existem dois tipos de gestão: a gestão do tempo

e a gestão da turma. A gestão do tempo está relacionada com a capacidade

que o professor tem de aproveitar ao máximo o tempo de cada aula. Os

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períodos de gestão da aula existem inevitavelmente, contudo é fundamental

garantir um elevado tempo de atividade motora específica (Rosado e Ferreira,

2011), e fazer um planeamento das tarefas que se pretenda exequível na sua

totalidade, o que por vezes não acontecia quando iniciava uma nova

modalidade:

“O plano foi apenas cumprido pela metade, não conseguindo realizar

as figuras com 3 elementos nem o exercício final flexibilidade. A isto se

deveu as perdas de tempo para que os alunos ficassem em silêncio mas

fundamentalmente porque incluí demasiados exercícios.” (Aula nº 55 e 56;

Sessão 3 e 4 de Ginástica Acrobática)

Outras situações para além da descrita, como o mau controlo do tempo

nas tarefas de exercitação, apresentaram duas faces. Se por um lado era

negativo pois o que planeava não era cumprido ou apenas cumprido

parcialmente, por outro lado permitiu-me repensar a minha atuação, a ser mais

rigoroso e a procurar estratégias que fossem vantajosas tanto para mim como

para os alunos.

No que concerne à gestão da turma, Metzler (2000) afirma que é um

campo de ação amplo e que se encontra relacionado com as decisões do

professor no sentido de serem providenciados uma estrutura facilitadora da

aprendizagem e um clima positivo para o próprio e para os alunos. Para isto, e

tal como sugerem Rosado e Ferreira (2011), muito contribui a criação de

regras, aspeto que desde o início foi implementado. Para além das regras

gerais, que são transversais a todas as turmas, existem também as regras que

o professor cria e que advêm das suas características, das dos alunos que

leciona, das diferentes modalidades e contextos. Este tipo de regras são no

meu ponto de vista as mais difíceis de serem absorvidas, sentindo isso mesmo

durante o EP:

“No que toca ao comportamento dos alunos terei de “revisitar”

novamente as regras que fui estipulando, essencialmente no início do 1º

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período, uma vez que nesta aula, e apesar de ter alertado antes do

começo da mesma, os alunos com as suas distrações levam que percam

a lógica da sequência dos exercícios e tempo de exercitação,

fundamentalmente a parte de jogo.” (Aula nº 69 e 70 – Sessão 3 e 4 de

Badminton)

É importante implementar regras, mas é igualmente importante haver um

propósito e uma explicação para a sua aplicação. O envolvimento e a

compreensão, por parte dos alunos, do sistema de regras aplicado são cruciais

para que as mesmas sejam cumpridas com sucesso e para que a aula decorra

com normalidade. Siedentop (1991) reforça esta ideia, afirmando que um bom

sistema de gestão e de estratégias de disciplina criam as condições

necessárias para que ocorra aprendizagem.

4.1.3.3. Controlo: relação entre professor e alunos

Siedentop (1991) preconiza que o entendimento do ensino e da

aprendizagem é feito pela influência mútua entre professor e alunos. Para

Rosado e Mesquita (2011) são estas influências e interações que contribuem

de forma preponderante para o alcance dos resultados pretendidos. Neste

sentido, é criado um sistema social (Siedentop, 1991 & Siedentop e Tannehill,

2000), em que o aluno, segundo Brooker et al. (2000) cit. por Pereira (2012), é

a figura central.

A maioria das minhas ações e decisões durante o EP foram realizadas

em função dos meus alunos, necessitando para isso de conhecê-los também

como sujeitos de um contexto exterior à escola. Mesquita (2010, p.1) reforça a

importância do conhecimento dos alunos, afirmando que os mesmos devem

ser considerados como sujeitos individuais “com experiências singulares,

motivações específicas e dificuldades particulares”.

O desenvolvimento de um sistema relacional com os alunos foi um aspeto

que procurei desde logo ter em conta, tentando com breves diálogos perceber

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as suas motivações e interesses, mas também desvendar as suas principais

características e personalidades singulares. No entanto, no primeiro dia de

aulas deixei transparecer uma faceta diferente da que posteriormente adotei:

“Primeiro contacto com a turma, alguma ansiedade à mistura mas

com a sensação plena de estar preparado para um novo desafio. Adotei

por estratégia própria uma atitude mais introvertida visto saber de

antemão que a turma era já conhecida do Professor Francisco do ano

anterior e por notar elevada cumplicidade entre os mesmos. Fiz por isso

uma apresentação mais séria para não haver aso a abusos de confiança

nem faltas de respeito e para a turma ficar a perceber que apesar de

professor estagiário era eu quem iria lecionar as aulas.” (Aula nº 1 e 2;

Aula de apresentação)

Face às características da disciplina de Educação Física, o espaço de

aula torna-se um local extremamente favorável ao relacionamento e à

comunicação constante, por isso à medida que o tempo ia passando fui

ganhando maior grau de confiança com os alunos, tratando-os de forma mais

próxima. Desta feita, pretendi criar um clima favorável que levasse à

consecução dos objetivos por ambas as partes. Contudo, mantive sempre no

pensamento que entre professor e aluno deve haver uma relação baseada no

respeito, que se for quebrada pode afetar o controlo de toda a turma. Procurei

então encontrar um equilíbrio na minha atuação. Liderar um grupo de jovens

praticamente na maioridade não seria fácil e inicialmente senti algum receio de

ser demasiado autoritário ou controlador. Um professor demasiado autoritário

pode gerar um clima instável no qual o ato pedagógico é desfavorecido

(Furlani, 2000), por isso é necessário, dentro de determinados limites, dar

alguma liberdade e autonomia aos alunos:

“...os alunos formaram grupos de 6 alunos para exercitarem as figuras

que considerassem serem as mais indicadas para o esquema de grupo.

De seguida os grupos iniciaram a preparação do esquema realizando,

com o meu auxílio, as figuras que tinham selecionado mas de forma

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encadeada. É importante dar alguma autonomia pois tal como salienta

Reeve (2002) cit. por Teixeira (2007), os alunos sentem-se mais realizados,

aprendem conceptualmente e permanecem na escola porque os seus

professores, em vez de controlarem os seus comportamentos, promovem

a sua autonomia.” (Aula nº 105 e 106; Sessão 13 e 14 de Ginástica

Acrobática)

Cada aula de Educação Física tem um clima social e emocional próprio

que é determinado por aquilo que os alunos sentem quando estão com o

professor e com os colegas (Metzler, 2000). Como tal, num clima positivo, de

bem-estar e humor o processo de ensino-aprendizagem sai beneficiado

(Amado et al, 2009), devendo o professor adotar uma pedagogia equitativa

direcionada para o alcançar dos objetivos pretendidos por parte de todos os

alunos.

4.1.4. Avaliação

“A função de avaliar corresponde a uma análise cuidada das aprendizagens

conseguidas face às aprendizagens planeadas, o que se vai traduzir numa

descrição que informa o professor e alunos sobre os objetivos atingidos e

aqueles onde levantaram dificuldades.”

Ribeiro, A. e Ribeiro, L. (1990) cit. por Almeida (2011, p.20)

É comum o conceito de avaliação ter uma conotação negativa quando

apresentado dos alunos, criando-lhes algum nervosismo e ansiedade. É

igualmente confundido com o conceito de classificar, apesar de uma ser

consequência da outra, tal como nos diz Ribeiro (s.d.) cit Pais & Monteiro

(2002, p.51): “A classificação, por seu turno, transporta para uma escala de

valores a informação proporcionada pela avaliação, permitindo comparar e

seriar resultados e servindo de base a decisões relativas à promoção ou não

dos alunos no sistema escolar”. O estabelecimento desta distinção foi uma

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preocupação constante da minha parte, procurando afastar os alunos da

obsessão dos “números”.

Segundo Pais & Monteiro (2002), avaliação apresenta um duplo caráter:

formativo e formador. Relativamente ao primeiro, na medida em que sendo

uma prática diária do professor, permite regular e melhorar a sua atuação por

forma a atingir um ensino eficaz e de qualidade. Quanto ao segundo, uma vez

que a avaliação é um instrumento formador que pretende que o aluno atinja os

seus objetivos construindo o seu percurso de aprendizagem. Neste sentido, a

avaliação deve ser contínua e sistemática ao longo de todo o processo de

ensino-aprendizagem, obedecendo a pressupostos previamente delineados.

Outro aspeto importante sobre a avaliação é o seu nível de explicitação

que se refere à formalidade da situação de avaliação e ao conhecimento que

quem avalia tem da mesma (Miras e Solé cit. por Rosado e Silva, 2010). São

então considerados dois tipos de avaliação, a explícita e implícita. A avaliação

explícita é tida como um momento formal, com critérios de avaliação

evidenciados, em que os sujeitos a reconhecem como tal. A avaliação implícita

apresenta um caráter informal, sem critérios evidentes, sendo que os sujeitos

não se apercebem que estão em situação de avaliação.

As várias avaliações feitas aos alunos durante o EP representaram um

grande desafio para mim, nomeadamente ao nível da escolha dos critérios e na

capacidade de observação específica de cada aluno. As dificuldades e

obstáculos do ato de avaliar surgem, acima de tudo, pelo facto de ao fazê-lo

serem elaborados juízos de valor, recrutados saberes e conhecimentos, e da

certeza que todo esse processo vai depender sempre dos intervenientes,

momentos e das situações (Pais & Monteiro, 2002), tal como documenta a

seguinte situação:

“Apesar disto, o processo de avaliação foi afetado na medida em

que, para que todos os alunos pudessem ser avaliados, o tempo de jogo

não foi elevado e em alguns casos insuficiente para conseguir observar

todos parâmetros inerentes à modalidade.” (Aula nº 93 e 94 – Sessão 9 e

10 de Badminton)

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Relativamente às modalidades de avaliação utilizadas foram três:

diagnóstica, formativa e sumativa.

A avaliação diagnóstica é fundamental para se conhecer em que nível de

desempenho os alunos se situam, quais as suas dificuldades e facilidades, e

permitindo ainda configurar um planeamento adequado ao nível da unidade

didática de cada modalidade e posteriormente ao nível dos planos de aula.

Segundo Rosado et al. (2002), este tipo de avaliação compreende ainda a

avaliação de pré-requisito, que analisa as aprendizagens anteriores

necessárias para a aquisição de novas aprendizagens, e a avaliação dos níveis

de entrada, que permite verificar se o aluno possui conhecimentos acerca da

matéria que vai ser lecionada.

A utilização da avaliação diagnóstica surgiu sempre na primeira sessão

de cada unidade didática, sendo fundamentada pelas fichas de observação

elaboradas pelo NE no início de cada período.

As primeiras avaliações foram difíceis devido ao desconhecimento dos

alunos e pela dificuldade de observar todos os alunos de forma completa e

num só momento. A busca excessiva de habilidades e critérios a observar

influenciou o processo de avaliação, tornando-se demasiado pormenorizado.

Perante isto, em determinadas situações foi necessário prolongar o momento

avaliativo para além da aula inicialmente prevista, tal como demonstra a

seguinte situação:

“Apesar de não ter tido o tempo suficiente para retirar informações

precisas relativamente ao nível técnico e tático dos alunos, consegui

absorver que no geral a turma apresenta bastante aptidão para a

modalidade, mas acima de tudo prazer e motivação para a sua prática. Na

próxima aula aproveitarei novamente para avaliar diagnosticamente os

alunos, principalmente nos aspetos táticos ofensivos e defensivos os

quais não tive oportunidade de observar com detalhe.” (Aula nº 59 e 60;

Sessão 1 e 2 de Voleibol)

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Segundo Rink (1993), a avaliação formativa procura aferir a evolução do

desempenho do aluno em direção a uma meta. Permite regular o processo de

ensino-aprendizagem e verificar se o mesmo se encontra adaptado às

necessidades e dificuldades dos alunos. Scriven et al. cit. por Rosado e Silva

(2010) integram este tipo de avaliação numa perspetiva pedagógica uma vez

que permite ao aluno aprender de forma individualizada sendo o seu esforço

valorizado.

Ao longo de todas as aulas, através de cada reflexão, o desempenho dos

alunos foi analisado e avaliado. Assim, foi possível acompanhar de forma

contínua a evolução dos alunos antecipando qual o tipo de tarefas mais

adequado para suprimir as dificuldades detetadas. Estas dificuldades tanto

surgiram em casos pontuais, que eram resolvidos com maior acompanhamento

da minha parte e ajustamento das tarefas, como para um grupo significativo de

alunos. Neste último caso, foi necessário reformular os objetivos inicialmente

propostos e realizar um trabalho por níveis, tal como reporta a seguinte

situação:

“Em relação ao global da aula, e tendo em conta os exercícios

realizados, foi deveras patente a existência de dois níveis dentro da turma.

Se até então com exercícios mais simples e analíticos os alunos iam

cumprindo nesta aula, por exemplo no 3x2, o caso mudou de figura. Após

conversa com o Professor Francisco o mesmo sugeriu que nos próximos

planos de aula começasse a diferenciar exercícios para um nível e para

outro, assim como também me auxiliou a dividir os alunos nos níveis

elementar e intermédio.” (Aula nº 13 e 14; Sessão 5 e 6 de Basquetebol)

Por fim, a avaliação sumativa, “pretende ajuizar do progresso realizado

pelo aluno no final de uma unidade de aprendizagem, no sentido de aferir

resultados já recolhidos por avaliações de tipo formativo e obter indicadores que

permitam aperfeiçoar o processo de ensino” (Ribeiro, 1999 cit. por Gabriel, 2012,

p.28). Segundo Rosado e Silva (2010, p.7), tem habitualmente lugar no final de

cada período ou ano letivo, no final de um ciclo de ensino, e podendo também

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“ter lugar no final de uma ou várias unidades de ensino que interessa avaliar

globalmente”.

Ao longo do EP, este tipo de avaliação surgiu sempre na última aula de

cada unidade didática, na maioria dos casos coincidindo com a penúltima ou

última semana de cada período letivo. Este momento foi sempre delineado em

consonância com o restante processo, como tal a ficha de observação para a

avaliação sumativa de determinada modalidade seria idêntica à elaborada para a

avaliação diagnóstica da mesma. Assim, com os mesmos critérios em ambas as

situações de avaliação foi possível assegurar um processo coerente e fidedigno,

e que permitiu acima de tudo perceber de forma clara a evolução dos alunos em

relação a uma fase inicial.

“Na parte técnica, em relação à avaliação diagnóstica, verifiquei no

geral muitas melhorias, fundamentalmente no skipping tíbio-társico, no

qual os alunos não tinham quaisquer noções do que consistia, nos

skippings nadegueiro, baixo e alto a coordenação dos MS e MI e na corrida

saltada a elevação do joelho bastante mais evidente. No que concerne à

resistência aeróbia a evolução dos resultados em relação à avaliação

diagnóstica foi enorme, registando-se apenas uma desistência por parte de

uma aluna aos cerca de 11 minutos da prova.

Fiquei bastante satisfeito com os resultados gerais da turma contudo

é necessário não esquecer que a avaliação é contínua e que este foi

apenas mais um momento avaliativo.” (Aula nº 41 e 42; Sessão 13 e 14 de

Atletismo)

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4.2. Área 2 e 3 – Participação na escola e relação com a

comunidade

Ao longo do ano letivo, fui percebendo que ser professor de Educação

Física vai muito para além da lecionação das aulas, implica também um

envolvimento na comunidade escolar fora do contexto de aula, através da

participação em reuniões e atividades. Em conjunto com o PC, os restantes

professores de Educação Física e os meus colegas de estágio foram

desenvolvidas algumas atividades, com o objetivo de dinamizar a comunidade

escolar e promover o desporto. De seguida passo a apresentar uma descrição

e reflexão das atividades realizadas durante este ano estágio.

4.2.1. XicOlimpíadas

As XicOlimpíadas, atividade que a partir do ano de 2011 veio substituir o

habitual corta-mato, realiza-se desde então anualmente no final do 1º período

de cada ano letivo. Esta atividade envolve, para além da prova de corta-mato,

as modalidades de salto em comprimento, lançamento do peso e os 100

metros. Cada uma destas provas é aberta tanto ao sexo masculino como ao

feminino, sendo que os escalões etários passam pelos juvenis (97/98) e

juniores (95/96) e cada aluno apenas poderia participar numa das modalidades

enunciadas.

Tudo começou por volta das 8:30h do dia 11 de Dezembro com a

preparação dos espaços onde teriam lugar as provas das diferentes

modalidades bem como a afixação dos cartazes que definiriam os locais de

recolha de dorsais por parte dos participantes. O nosso núcleo, por indicação

do Professor Francisco, apenas compareceu no local por volta das 9:00h uma

vez que tanto os restantes professores de Educação Física como os núcleos

da Universidade do Minho já lá estariam não haveria necessidade de tanta

gente.

Ficaríamos responsáveis pela organização e gestão da prova de

velocidade nos 100 metros, dedicando-nos primeiramente à atribuição dos

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dorsais e verificação das presenças, processo este que decorreu nas

bancadas, encaminhando após isto os alunos para os balneários para os

mesmos se equiparem. Posto isto, deslocamo-nos para a pista levando o

material necessário: listas de seriação, mesa para registo de resultados,

câmara de filmar e muita vontade. Todos os participantes encontravam-se já

distribuídos por séries, séries essas que tiveram que sofrer alterações face à

ausência de alguns alunos já depois de confirmada a sua presença, facto que

veio ainda a atrasar o início da competição e das séries onde essas ausências

se verificavam.

Ultrapassadas estas dificuldades dividimos as tarefas ficando os meus

colegas Dine e José responsáveis pelas anotações dos resultados e filmagem

das provas, o Professor Francisco pela ativação geral dos participantes e pelo

sinal de partida e eu pela chamada dos mesmos para serem posicionados nas

respetivas pistas. De cada série apenas passariam à próxima fase,

nomeadamente as meias-finais, os 2 primeiros classificados.

Começamos por realizar a 1ª fase de juvenis femininos e masculinos e de

seguida a 1ª fase de juniores femininos e masculinos. Concluída a 1ª fase

realizamos as meias-finais de juvenis e juniores femininos e posteriormente as

meias-finais dos mesmos escalões mas no género masculino, sendo que nesta

fase os participantes apurados da 1ª fase ficavam divididos em duas séries

sendo apurados os 3 primeiros classificados de cada série para a final. Por fim,

procedemos à realização das finais de juvenis e juniores femininos e por último

as finais de juvenis e juniores masculinos. Sempre que uma prova terminava os

participantes ficavam a saber a sua classificação devolvendo os dorsais caso

ficassem eliminados.

Por fim, e terminadas as finais de todos os escalões de ambos os

géneros, procedeu-se à entrega das medalhas aos vencedores e consequente

subida ao pódio onde seriam tiradas fotografias para a posteridade. De

acrescentar ainda que seria disponibilizado lanche a todos os participantes,

bem como aos professores organizadores e estagiários.

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Ilações retiradas e aspetos a melhorar:

Não sabendo o histórico das edições anteriores nem a adesão à

atividade, é de salientar que a participação dos alunos no meu ver foi bastante

elevada.

A cooperação, espírito de equipa e a união criadas pelos professores de

Educação Física , juntamente com a colaboração dos estagiários são alvo de

relevo, visto terem sido essenciais para o desenrolar da prova dentro da

normalidade, permitindo o cumprimento de todas as tarefas definidas para o

evento. Quanto toda a gente “rema” para o mesmo lado fica tudo mais fácil e o

sucesso é atingido.

Foi para mim uma excelente oportunidade de perceber mais uma vez que

a força do desporto de facto movimenta muita gente, sendo que competição

abarcando mais modalidades do que apenas o habitual corta-mato afeta

sobremaneira esta afluência.

Em relação aos aspetos a melhorar refiro logo em primeiro lugar o modo

como se procederam as inscrições. A partir do momento que se define uma

data limite para os alunos se inscreverem a mesma tem de ser cumprida, pois

caso sejam abertas exceções, tal como aconteceu, só redobra o trabalho que

tem de ser feito depois e faz com que o que já está feito tenha de ser alterado.

E nisto refiro-me ao facto de no momento do levantamento dos dorsais

surgirem alunos que não constavam na lista inicial de participantes por

exemplo, levando a atrasos no começo das provas.

Outro aspeto que deve ser alterado é o facto de a entrega de prémios ser

no final das provas da modalidade e não no final das olimpíadas. Primeiro

porque enquanto há provas a decorrer deparamo-nos com alunos a passar nas

pistas ou lá perto e depois porque muitos alunos vão abandonado as

instalações ficando quase como espectadores os professores que entregam as

medalhas, como aconteceu na modalidade dos 100m de velocidade, por

exemplo, que fui a última a terminar.

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4.2.2. I Xico Handball School

Inserido no âmbito da Área III foi realizado nesta data um torneio de

Andebol, proposto e organizado por nós, NE, e com o auxílio do Professor

Francisco, para os 5º e 6ºs anos da escola EB 2,3 Egas Moniz. A adesão, tal

como já estávamos à espera, foi enorme participando praticamente a totalidade

dos alunos das turmas visadas.

Tudo começaria então no dia anterior com a presença do meu colega

José Silva e do Professor Francisco no pavilhão da escola onde o torneio se

iria realizar para a divisão do respetivo espaço em 3 campos de andebol e

consequente marcação das linhas dos mesmos com fita-adesiva. Estava então

dado o primeiro passo.

No dia em questão pela manhã, entre os espaços livres que temos entre

as aulas, fomos verificando se tudo se encontrava preparado para que o

torneio corresse da melhor forma. Com isto apercebe-nos que as balizas

estavam em falta, problema esse que foi resolvido pelo Professor Francisco em

conjunto com o apoio de um funcionário do clube Xico Andebol. Apesar de

resolvido o problema, ao início do torneio uma baliza estava ainda em falta algo

que foi ultrapassado com a colocação de dois cones e duas varas que

formavam uma baliza improvisada. Minutos depois chegaria a última baliza.

Relativamente ao torneio propriamente dito o mesmo organizou-se da

seguinte forma: cada turma apresentou duas equipas mistas sendo que as

mesmas teriam um treinador que as acompanharia durante todo o torneio. Aos

treinadores foi entregue o calendário dos jogos bem como a constituição da

sua equipa cabendo a si a formação da equipa inicial bem com as possíveis

substituições, tendo em conta que a mesma seria constituída por 5 elementos

(3 rapazes e 2 raparigas ou 3 raparigas e 2 rapazes). Os jogos teriam a

duração de 5 minutos, jogando os 5º anos entre si e os 6ºs anos da mesma

forma. O campeão era apurado pelos pontos obtidos.

A mim coube-me desempenhar a função de treinador. O ambiente que as

turmas criaram cantando e incentivando os colegas, a competitividade

demonstrada pelos alunos fizeram com que me envolvesse de tal forma que

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em momentos me encontrava dentro do terreno de jogo para orientar a “minha”

equipa. Foi verdadeiramente enriquecedor porque para além de por uma tarde

puder ser treinador de andebol, pude também aprender mais acerca da

modalidade em contexto de escola.

É importante ressalvar o espírito competitivo, a entrega e a envolvência

dos alunos, aspetos estes que tornaram esta atividade num momento único

para mim. Mas também o auxílio prestado pela Professora das turmas, Isabel

Vasconcelos, o nosso PC Francisco Magalhães, e todos os atletas, quer do

desporto escolar da escola Francisco de Holanda quer do clube Xico de

Holanda, que nos ofereceram uma ajuda valiosa para que atividade tivesse o

sucesso pretendido.

4.2.3. Reunião de Avaliação do 1º período – o papel do diretor

de turma

Foi a primeira vez que pude conhecer e contactar com os restantes

professores da turma, mas também a primeira vez que participei numa reunião

de avaliação.

Com esta reunião pude tirar várias ilações acerca da turma no geral, e

dos alunos em específico, dando para perceber que o comportamento dos

mesmos não difere muito de disciplina para disciplina, apesar de, como é

óbvio, haver maiores queixas por parte dos professores que têm a sala de aula

como local de ensino. Foi com alguma surpresa que descobri algumas

particularidades de determinados alunos bem como questões que envolvem o

seu ímpeto pessoal.

Contudo, a parte mais importante desta reunião, para além de ficar a

conhecer como se procede à avaliação dos alunos, foi perceber o papel do

diretor de turma.

O diretor de turma assume-se como elo de ligação com os restantes

professores, bem como, com os alunos e seus familiares, caracterizando-se

pela sua função de mediação entre as referidas partes. Ocupa igualmente uma

posição importante nas estruturas de gestão intermédia da escola, isto é,

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possui um papel fundamental numa estrutura que envolve a coordenação das

atividades dos professores do mesmo agrupamento de alunos (Formosinho,

1987). Para responder a esta função o Diretor de Turma necessita de estar

preparado, visando cumprir todas as valências que são da sua

responsabilidade. Mais do que conhecer a legislação e as funções que dela

decorrem, o diretor de turma deve ter uma visão alargada e integradora de

todos os recursos da escola e da comunidade educativa por forma a ser capaz

de responder a todos os reptos que se lhe deparem.

No sentido de dinamizar todo o processo educativo o professor diretor de

turma deve ter uma personalidade forte e de líder, consubstanciando-se esta

última característica como a chave para o sucesso na ocupação do cargo.

Termino dizendo que todas as informações recolhidas serviram para me

consciencializar ainda mais acerca do meu papel como professor no presente e

possivelmente no futuro, sendo que espero desempenhar ainda melhor as

minhas funções nos próximos períodos estando mais perto dos alunos.

4.2.4. II Xico Handball School

Inserido no âmbito da Área III foi realizado mais uma vez um torneio de

Andebol, organizado pelo nosso NE e com o auxílio do Professor Francisco,

para os 7º, 8º e 9ºs anos da escola EB 2,3 Egas Moniz. Desta vez a adesão

dos alunos não foi tão grande como na 1ª edição do torneio, muito por culpa da

realização da viagem de finalistas do 9º ano nessa mesma semana. Com isto a

necessidade de recorrer à requisição de balizas, tal como tinha acontecido no

1º torneio, bem como a marcação dos espaços de jogo não foi necessária,

estando os jogos definidos para serem realizados em campo inteiro no pavilhão

e no campo exterior. Mesmo assim, este 2º torneio contou com a participação

de 100 alunos resultando na constituição de 12 equipas.

Para o “II Xico Handball School” foram formados três grupos,

correspondendo cada grupo a um ano de escolaridade. O primeiro grupo foi

constituído por 4 equipas do 7ºano, o segundo por 3 equipas do 8º ano, e por

último, o terceiro grupo abrangeu 3 equipas do 9º ano, resultando assim no

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final em três equipas vencedoras. Tal como na edição anterior também neste

torneio os jogos foram programados por forma a que as equipas do mesmo ano

apenas jogassem entre si.

Importa referir ainda que devido às condições climatéricas instáveis o

nosso NE optou por criar dois programas, um caso o tempo fosse favorável e

permitisse a realização de parte do presente torneio na parte exterior desta

escola, e outro caso o tempo fosse desfavorável obrigando assim à sua

realização apenas no pavilhão. Apesar das dúvidas, foi possível realizar o

torneio em ambos os espaços.

A minha participação neste torneio foi, mais uma vez, bastante ativa, quer

na sua conceção quer depois na sua parte prática. A minha responsabilidade,

neste último aspeto foi a der ser o treinador de uma das equipas e a de gerir as

entradas e saídas das equipas no campo. No total foram 20 cooperantes, pois

contamos com a colaboração de alguns alunos do desporto escolar da ESFH e

de atletas e treinadores do clube Xico Andebol, que tiveram como funções a

arbitragem dos jogos, treinadores das equipas e o registo dos golos e

incidências de cada jogo. No decorrer do torneio uma das turmas do 8º ano

não compareceu nos seus jogos, o que levou a uma alteração no programa.

Porém, rapidamente o NE resolveu o problema, ajustando o mesmo sem afetar

as restantes equipas.

Importa acrescentar que este torneio foi realizado com o intuito de

promover a modalidade Andebol, fomentando o gosto pela prática desportiva

nos jovens alunos e a desenvolver valores como o respeito mútuo, a ética, o

desportivismo e o fair-play.

Segundo o PC, que mais uma vez se mostrou bastante satisfeito com o

resultado final, esta foi uma atividade que teve o sucesso pretendido, com uma

forte adesão dos alunos sobretudo dos 7ºs e 8ºs anos, fruto do muito trabalho e

ótima organização dos elementos do NE da FADEUP.

Por último, como membro integrante do NE resta-me declarar que foi uma

atividade muito bem conseguida devido ao esforço e ao tempo dedicado de

todos os membros do núcleo.

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4.2.5. Aulas no Jardim de Infância de Santa Luzia

No que concerne a esta atividade é de salientar que foi realizada no

Jardim de Infância de Santa Luzia, em Guimarães, durante todo o ano. Esta foi

uma atividade proposta ao NE pelo PC.

Assumindo a responsabilidade, a atividade consistia em lecionar duas

aulas de 45 minutos com duas turmas todas as semanas às terças-feiras. Os

alunos tinham idades compreendidas entre 3 e 4 anos numa das turmas e 4 e 5

anos na outra, o que tornou a tarefa ainda mais desafiante e enriquecedora.

Um dos fatores mais interessantes de trabalhar com alunos desta idade

foi o de realizar um trabalho mais específico de coordenação motora e

psicomotricidade, uma vez que nestas idades as crianças ainda têm as suas

capacidades motoras pouco desenvolvidas. Posto isto, importa referir que

decidimos realizar o nosso trabalho de investigação nesta área, tendo como

tema principal a coordenação motora.

Embora esta atividade tenha corrido bastante bem durante o ano há um

fator negativo a apontar, nomeadamente a falta de espaços disponíveis para

lecionar as aulas de expressão motora. Sempre que as condições climatéricas

não eram favoráveis todos os alunos do jardim de infância ficavam confinados

apenas a um espaço interior e junto à cantina, o que para além de perturbar o

nosso trabalho também provoca distrações nos nossos alunos. Além de que

face às idades tornava-se complicado controlar os seus comportamentos e

assegurar um processo de ensino-aprendizagem com qualidade.

Por fim, saliento que esta foi uma atividade muito enriquecedora quer a

nível pessoal quer como professor. As dificuldades motoras que algumas

destas crianças apresentavam e a importância da atividade física nestas idades

levaram a que a minha motivação para a realização desta atividade fosse

reforçada. Acrescento ainda as minhas expectativas face à atividade foram

amplamente superadas, possibilitando-me experimentar uma realidade

absolutamente diferente da vivenciada no EP.

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57

4.3. Área 4 – Desenvolvimento Profissional

4.3.1. Estudo – A importância da coordenação motora e da sua

avaliação

I- Introdução

Este estudo surge no âmbito da elaboração do Relatório de Estágio inserido no

2º ciclo de estudos em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário.

A destreza e coordenação motora são temas atuais e de extrema relevância e

uma vez que durante o EP iríamos lecionar aulas de expressão motora a

crianças num jardim de infância surgiu o interesse por perceber a sua

importância para as crianças em idade pré-escolar. Segundo Grosser (1983), a

destreza motora uma capacidade que permite realizar ações motoras de difícil

execução com sucesso e a coordenação motora é uma capacidade que

permite aos indivíduos executarem movimentos de forma correta. Daqui se

depreende que ambas servem de suporte para que o processo de exercitação

de habilidades motoras.

Para a avaliação das variáveis relacionadas com a destreza e coordenação

motora foi utilizada a bateria de testes Movement Assesment Battery for

Children II (MABC – 2) (Henderson, Sugden & Barnett, 2007). Através dos

mesmos procuramos responder às seguintes questões: Existe alguma relação

entre a avaliação do desempenho motor realizado pelas professoras e a

avaliação feita pela bateria de testes M ABC – 2? Qual a ligação entre a

coordenação e o desempenho motor? E no que respeita ao efeito da variável

sexo e idade na coordenação motora? Algum dos alunos se encontrará na

zona de perigo apresentando dificuldades motoras?

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58

Através deste estudo esperamos responder às questões levantadas e

aprofundar os nossos conhecimentos na área da coordenação e destreza

motora bem como na avaliação do desempenho motor.

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59

II- Revisão da Literatura

As brincadeiras de infância permitem, de forma impercetível por parte das

crianças, a exploração de habilidades motoras bem como o acesso a uma

enorme variedade de movimentos. No entanto, uma pequena porção de

crianças em idade pré-escolar tem demonstrado dificuldades na coordenação

motora, apresentando-se desajeitadas nas rotinas diárias e com atrasos no

desenvolvimento do equilíbrio, nas habilidades com bola e na destreza manual

(Michel et al., 2007). Segundo Sugden e Wright (1998), se essas dificuldades

não forem identificadas, as relações sociais, emocionais e afetivas podem ser

afetadas. Desta forma, existe um foco cada vez maior na área da coordenação

motora no sentido de se perceber qual a sua relação com a formação corporal

da criança (Henderson & Sugden, 1992; Andrade, 1996; American Psychiatric

Association, 2000), bem como com a interação social e desenvolvimento

cognitivo.

O termo coordenação motora é várias vezes confundido com outros, surgindo

várias interpretações decorrentes da multiplicidade de investigações realizadas

na área. Bernstein (1935, 1967), autor dos primeiros trabalhos sobre

coordenação e controlo motor, definiu coordenação como a organização de

várias ações motoras em função de um objetivo ou tarefa motora, atendendo

aos graus de liberdade do aparelho motor e à variabilidade condicionada ao

contexto da sua realização.

Defontaine (1978) define coordenação como sendo a união de movimentos

harmónicos, em que o funcionamento e sazonamento do sistema nervoso se

constituem como variáveis de desenvolvimento da capacidade coordenativa.

Qualquer lesão ou alteração ao nível do sistema nervoso produz

consequências no domínio motor levando à incapacidade de realizar

determinada habilidade consoante a área afetada.

Vários autores (Kiphard, 1976; Meinel, 1984; Schmidt, 1991) consideram a

coordenação motora como sendo decisiva para a aquisição de diversas

habilidades motoras e para identificar insuficiências sensório-neuro-musculares

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60

na resposta a situações impostas pelo meio. Matvéiev (1986) afirma que o

desenvolvimento da coordenação motora possibilita a construção de novas

formas de movimento, o que é reforçado por Pimentel e Oliveira (1997) que

acrescentam que a mesma permite a aquisição de habilidades motoras mais

rapidamente.

Para Negrine (1987) a coordenação motora estrutura-se em função de dois

aspetos: um em função da maturação neurológica progressiva, em que os

órgãos sensoriais têm um papel importante, e o outro em função da experiência

corporal do indivíduo. Ainda segundo o mesmo autor, o termo coordenação não

tem uma definição suficientemente explícita, significando ora uma habilidade

específica ora um conjunto complexo de movimentos ou ainda o equilíbrio

corporal.

Mais recentemente, Gallaue e Ozmun (2005) referem-se à coordenação como

a habilidade de integrar, em padrões eficientes de movimento, diferentes

sistemas motores. Quanto maior a dificuldade da tarefa motora maior é a

necessidade de um nível elevado de coordenação para que haja um

desempenho eficiente. E para desempenhar de forma eficiente e com sucesso

uma determinada tarefa motora é preciso coordenar o funcionamento conjunto

dos diferentes músculos e articulações (Magil, 2007). Este desempenho motor

organizado é fulcral na definição da coordenação motora.

É de facto difícil apontar uma definição exata para a coordenação motora,

muito por culpa da evolução das diversas áreas científicas que a investigam e

seus contributos investigacionais sobre o tema. Contudo é de fácil perceção a

existência de pontos em comum entre as diferentes posições dos vários

autores, e um deles é a importância da coordenação motora para o

desenvolvimento humano, tanto a nível motor, social ou cognitivo.

O desenvolvimento das capacidades coordenativas é bastante acentuado nos

primeiros anos da escolaridade básica, seguindo-se um período de

desenvolvimento lento ou inclusive de estagnação (Vasconcelos, 1994). Na

idade pré-escolar as crianças estão biologicamente predispostas para

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61

desenvolver a coordenação motora, contudo esse não é o único fator para que

as crianças atinjam a maturação das habilidades motoras. O meio em que se

inserem e as oportunidades para a prática são também importantes para o

desenvolvimento da criança.

Diversos autores (Lewin, 1965 cit. por Weineck, 1986; Meinel, 1984; Israel,

1997 cit por Weineck, 1986) reforçam a ideia de que as capacidades

coordenativas devem ser potenciadas o mais cedo possível. No final dos 2

anos de idade a criança já domina as habilidades motoras rudimentares que

desenvolveu até então (Gallahue e Ozmun, 2005), sendo que serão estas

habilidades que servirão de base para o aperfeiçoamento das habilidades

motoras básicas na idade pré-escolar e das habilidades motoras

especializadas na idade escolar. Aos 3 anos de idade a criança já tem a

capacidade de movimentar livremente pelo espaço, equilibrar-se e manipular

objetos como tesouras e lápis. Dos 2 aos 6 anos de idade todas estas

habilidades serão refinadas até atingirem o estádio maduro (Gallahue e

Ozmun, 2005). No entanto, para algumas crianças este tipo de ações não se

apresenta de fácil execução constituindo-se como grandes desafios (Maeland,

1992), e que segundo Silva et al. (2006) influenciam fortemente o desempenho

académico e o desenvolvimento social e psicológico.

Uma identificação precoce destas dificuldades irá prevenir o surgimento de

problemas futuros (Jongmans, 2005). Torna-se então imprescindível o

desenvolvimento de programas que permitam monitorizar o desenvolvimento e

desempenho motor das crianças.

Segundo Vasconcelos (1990) a aplicação de testes de coordenação a nível

escolar é praticamente inexistente o que leva a que a informação relativa aos

níveis coordenativos se torne limitada. Para Fox e Bidlle (1988) os testes de

coordenação motora têm o objetivo de informar as crianças do nível de

desenvolvimento das capacidades coordenativas, motivar o aperfeiçoamento

dos níveis coordenativos, transmitir a importância da coordenação na formação

corporal e estimular outras capacidades motoras. Tieman, Palisano e Sutlive

(2005) apontam que testes motores válidos e fiáveis são ferramentas

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essenciais para médicos, terapeutas e professores, funcionando como um meio

de avaliar progressos no desenvolvimento motor e a eficácia das intervenções.

Existem vários testes de avaliação de desordens no desenvolvimento motor e

da coordenação motora. Um desses testes designa-se por Movement

Assessment Battery for Children (M ABC) e é reconhecido a nível mundial

como sendo um meio extremamente eficaz na identificação de dificuldades de

coordenação motora (Chow, Hsu, Henderson, Barnett & Lo, 2006). Através da

sua utilização é possível identificar problemas motores em crianças com idades

compreendidas entre os 4 e 12 anos de idade e intervir diretamente em cada

tarefa motora no sentido colmatar as dificuldades existentes (Wright & Sugden,

1996), pretendendo-se assim construir uma ferramenta clínica e educacional

útil (Geuze et al., 2001).

Sabendo de antemão que o erro pode estar presente, os dados obtidos através

da avaliação motora devem ser utilizados para se tomarem decisões acerca

dos sujeitos testados, dados esses que têm influência nas várias vertentes do

seu desenvolvimento.

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III- Objetivos

- Avaliar a existência de Desordens Coordenativas no Desenvolvimento nos

alunos, aplicando a bateria M ABC – 2.

- Verificar se existe diferenças entre sexo, dos níveis parciais e totais de

coordenação motora.

- Verificar se existe um efeito da idade, dos níveis parciais e totais de

coordenação motora.

- Verificar se existe uma relação do desempenho motor (Fraco, Suficiente e

Bom) nos níveis parciais e totais de coordenação motora.

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IV- Material e Métodos

Para amostra deste estudo foram selecionadas 36 crianças, com idades

compreendidas entre os 4 e os 5 anos (M=4,53; dp=0,506), de nacionalidade

portuguesa. Todas as crianças pertencentes à amostra frequentavam um

jardim de infância do concelho de Guimarães.

Como critérios de inclusão na amostra definimos que a idade das crianças

deveria situar-se entre os 3 e os 6 anos, possuírem nacionalidade portuguesa

terem expressão motora como disciplina. Importa referir que para a realização

do estudo foi requerida autorização à Direção do Agrupamento de Escolas

Francisco de Holanda que não colocando entraves aceitou o pedido.

Quadro 8 - Caracterização da Amostra por idades e sexos. Número de sujeitos, percentagens relativas e percentagens totais.

Sexo Total

N (%) Masculino

N (%)

Feminino

N (%)

Idade

N (%)

4 10(27,0) 7(19,4) 17 (47,2)

5 10(27,0) 9 (25,0) 19 (52,7)

Total N (%) 20 (55,5% 16 (44,4) 36 (100)

Para a avaliação das variáveis relacionadas com a destreza e coordenação

motora foi utilizado a bateria de testes M ABC -2. O M ABC - 2 é constituído por

um Teste motor formal e uma Lista de verificação. O Teste M ABC - 2 é revisto

e editado em 2007, sendo a segunda edição da Bateria de testes M ABC

editado em 1992, do qual resulta de desenvolvimento de um trabalho iniciado

em 1966, publicado pela primeira vez em 1972 como Test of Motor Impairment,

revisto em 1984 por Stott, Moyes e Henderson (Henderson & Sugden, 1992).

Esta bateria de teste foi desenvolvida especificamente para auxiliar os

profissionais responsáveis, com o intuito de ajudar crianças com idades

compreendidas entre os 3 e os 16 anos com dificuldades de movimento

(Henderson et al., 2007).

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A Bateria de testes M ABC - 2 inclui no seu pacote, um teste estandardizado

que requer a presença da criança para realizar um conjunto de tarefas motoras

segundo orientações específicas. Juntamente com as normas relacionadas

com a idade, a Bateria também fornece informação qualitativa de como a

criança aborda e realiza as tarefas. Tem ainda no seu pacote um manual de

intervenção, designado Intervenção Ecológica para Crianças com Dificuldades

de Movimento – esta abordagem é baseada na extensa experiência

educacional e clínica dos autores e traduz as atuais perspetivas dos princípios

de aprendizagem motora. Começando com uma descrição das bases teóricas

da abordagem, o profissional é guiado por uma discussão desde assuntos

organizacionais relacionados com o processo até a uma orientação passo-a-

passo de como ensinar individualmente a criança uma nova habilidade.

Com o intuito de identificar e descrever uma possível diminuição das

habilidades motoras na criança esta bateria combina uma avaliação qualitativa

e quantitativa. A bateria de testes e a Lista de Verificação complementam-se

uma a outra, a bateria de testes pretende fazer um diagnóstico mais detalhado

e a Lista de Verificação é utilizada como um instrumento de despistagem.

No Teste M ABC - 2 de Henderson et al., (2007) a avaliação do desempenho é

referenciada à norma através de percentis, utilizando a conversão das

pontuações obtidas. Pontuações inferiores ao percentil 5 representam um

desempenho fraco que devem ser consideradas como elevado risco de ter uma

dificuldade motora. As pontuações entre o percentil 5 e 15 sugerem a presença

de um “Risco” de ter uma dificuldade motora. As pontuações acima do percentil

15 sugerem que não se verifica nenhuma dificuldade motora.

A bateria de testes é constituída por vinte e quatro provas, divididas por três

bandas de idade (Banda de Idade 1: 3-6 anos, Banda de Idade 2: 7-10 anos,

Banda 3: 11-16 anos). Para cada banda de idade é apresentado um conjunto

de oito provas que avaliam diferentes aspetos da habilidade motora da criança:

três provas de Destreza Manual; duas de Atirar e Agarrar; três de Equilíbrio. A

bateria de testes contempla diferentes tarefas com um grau de dificuldade

distintas que varia de acordo com as idades. Todas as tarefas do teste M ABC

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– 2 foram estruturadas de forma a serem facilmente desempenhas por

qualquer criança dentro de determinada faixa etária. Para o efeito deste estudo,

cuja idade da amostra, se encontra ente os 3 e os 6 anos, foi utilizada a Banda

de Idade 1.

As provas constituintes da Banda de Idade 1 são: a Destreza Manual

constituída com uma tarefa manual unilateral, em que a precisão e a

velocidade de execução com a mão preferida e a não preferida são

examinadas isoladamente; uma tarefa manual bilateral exigindo uma vez mais

precisão e velocidade na sua execução e uma tarefa em que a mão preferida é

utilizada de forma controlada. As provas de Atirar e Agarrar consistem em duas

tarefas: uma de receção e outra de projeção. As provas de Equilíbrio requerem,

uma tarefa de equilíbrio estático, o segundo equilíbrio dinâmico em que a

criança deve ser capaz deslocar-se com movimentos lentos e controlados a

terceira a criança deve realizar movimentos explosivos.

Para o efeito deste estudo foram aplicadas a todas as crianças da amostra, as

provas da Banda de Idade 1, as habilidades e a descrição das provas

encontram-se descritas no Quadro 9.

Quadro 9 - Caracterização das provas do Teste M ABC -2 para a banda de idade 1: habilidades motoras e descrição das provas

Habilidade Motora Descrição Prova (resultado avaliado)

Destreza Manual Inserir moedas num mealheiro (tempo em segundos)

Enfiar contas num cordão (tempo em segundos)

Delinear percurso da bicicleta (número de erros)

Atirar e Agarrar Agarrar saco de feijões (número de vezes que agarra)

Atirar saco de feijões para o tapete (número de vezes com sucesso)

Equilíbrio Equilibrar-se sobre um pé (tempo em segundos)

Caminhar em pontas (número correto de passos consecutivos)

Saltar nos colchões (Número de saltos corretos e consecutivos)

O M ABC – 2, é acompanhado pelo Formulário de Registo e das instruções de

aplicação dos testes, ao qual foi aplicada individualmente às 36 crianças

constituintes da amostra. Antes da aplicação dos Testes foram estudadas as

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instruções de aplicação e praticados os procedimentos de administração das

tarefas para a Banda de Idade 1.

A aplicação do teste foi realizada nas instalações do jardim-de-infância que as

crianças frequentavam, numa das salas disponibilizadas para esse efeito, o

que possibilitou a eliminação de fatores externos que pudessem perturbar a

atenção das crianças, na execução das tarefas. De forma a não interferir com o

habitual funcionamento das atividades foi definido com as Educadoras de

Infância, que as avaliações se iriam realizar durante o mês de Março e Abril

nas aulas de expressão motora em que o nosso NE estava responsável por

lecionar, cada sessão teve a duração de 60 minutos.

Todas as tarefas foram aplicadas segundo o manual de utilização do teste. O

local e a disposição dos materiais do teste foram previamente preparados, com

o intuito de seguir os procedimentos de segurança indicados pelo Manual.

Para cada grupo de testes (destreza manual, atirar e agarrar e equilíbrio), foi

calculado o valor médio dos desempenhos relativos aos testes que compõem

cada grupo. Foi calculado o somatório dos resultados totais estandardizados de

cada conjunto de tarefas motoras, que permitiu situar no sistema de referência

Traffic Light System (Semáforo). Através dos resultados obtidos e com a idade

dos sujeitos obteve-se o resultado padrão total estandardizado derivada da

tabela de referência da bateria de testes. É de realçar que a soma destes

quatro resultados totais estandardizados equivale a uma pontuação que varia

entre <29 e 108+ pontos, estando relacionado com uma determinada

percentagem. Neste semáforo, a cor vermelha representa “desordens da

coordenação motora” (ponto de corte: <56 pontos), a cor amarela representa

“propensão para essas desordens” (ponto de corte: 57 a 67 pontos) e a cor

verde representa “ausência de desordens da coordenação motora” (ponto de

corte: >67 pontos) (Henderson, Sugden & Barnett, 2007).

O facto de os crianças já conhecerem o nosso NE, facilitou a aplicação dos

testes, no entanto estes só foram aplicados quando a criança demonstrava

interesse em iniciar as provas. Desta forma nem sempre foi seguida a ordem

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pela qual são apresentadas as provas no Formulário de Registo, estando de

acordo com o sugerido pelos autores.

No que concerne à preferência manual das crianças foi aplicado o Protocolo

Dutch Handedness Questionnaire Van Strien (2002). A cada uma das crianças,

antes de iniciar os testes, foi-lhes pedido que escrevessem o seu nome numa

folha em branco, definindo-se assim a mão preferida. Assim, apenas um sujeito

tem preferência manual esquerda, do sexo masculino, apresentando os

restantes sujeitos da amostra com preferência manual direita.

Para a obtenção dos dados relativos ao desempenho motor recorremos às

fichas de avaliação elaboradas pelas professoras responsáveis pelas turmas

dos sujeitos da amostra. Cada avaliação referente ao domínio motor abrangeu

seis conteúdos: corrida, salto ao pé-coxinho, atirar uma bola, coordenação

óculo-manual, coordenação óculo-podal e lateralidade (distinção entre lado

esquerdo e lado direito). Consoante os conteúdos adquiridos os alunos foram

agrupados da seguinte forma: (I) Fraco (um ou dois conteúdos adquiridos);

Suficiente (três ou quatro conteúdos adquiridos); Bom (cinco ou seis conteúdos

adquiridos).

Posteriormente à recolha dos dados procedeu-se a organização e a análise

estatística, com recurso ao programa Statistical Package for the Social

Sciences versão 21.0. A análise exploratória dos dados foi realizada com o

objetivo de garantir a normalidade da distribuição e excluir a eventual presença

de outliers, através do teste de Shapiro-Wilk. Seguidamente foi utilizada a

estatística descritiva (média e desvio padrão) nas variáveis do estudo. No que

diz respeito à estatística inferencial, aplicou-se o teste Mann-Whitney para

comparar os grupos da variável independente Sexo e Idade relativamente às

variáveis dependentes (destreza manual, atirar e agarrar, equilíbrio e resultado

total da bateria), aplicou-se ainda o teste Kruskal-Wallis Test para comparar os

grupos da variável independente Domínio Motor (Fraco, Suficiente e Bom),

relativamente às variáveis dependentes (destreza manual, atirar e agarrar,

equilíbrio e resultado total da bateria). Para analisar os resultados da aplicação

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69

dos métodos estatísticos referidos foi mantido o nível de significância de

p≤0,05.

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70

V- Resultados

Os resultados são apresentados por forma a percebermos a possível existência

de efeitos das variáveis sexo, idade e domínio motor nas capacidades de

coordenação motora avaliadas através do teste M ABC – 2.

Na Tabela 1 apresentamos os resultados nos testes de Destreza Manual, Atirar

e Agarrar e Equilíbrio, bem como o Resultado total da bateria, obtidas através

do M ABC - 2 para o sexo masculino e para o sexo feminino.

Tabela 1 – Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para o sexo masculino e feminino. Média, desvio padrão, valores de z e de p.

Analisando a tabela 1 podemos verificar que não existem diferenças

significativas entre os sexos, tanto nos testes de destreza manual, atirar e

agarrar, equilíbrio como resultado total da bateria.

Na Tabela 2 apresentamos os resultados nos testes de Destreza Manual, Atirar

e Agarrar e Equilíbrio, bem como o Resultado total da bateria, obtidas através

do M ABC - 2 para as idades de quatro e cinco anos

Tabela 2 - Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para a idade quatro e cinco anos. Média, desvio padrão, valores de z e de p.

Mann-Whitney Test - Sexo

♂ ♀

z p Media

Desvio Padrão

Media Desvio Padrão

Destreza Manual 31,35 7,13 33,18 10,02 -0,925 0,368

Atirar e Agarrar 20,40 5,14 18.18 4,76 -1,088 0,290

Equilíbrio 32,60 4,76 32,75 5,68 -0,559 0,581

Resultado Total 84,35 13,48 84,00 18,08 -0,080 0,937

Mann-Whitney Test - Idade

4 Anos 5 Anos

z p Media

Desvio Padrão

Media Desvio Padrão

Destreza Manual 26,82 7,56 36,94 6,09 -3,571 0,001

Atirar e Agarrar 18,76 4,96 20,00 5,15 -1,194 0,244

Equilíbrio 32,64 5,92 32,68 4,43 -0,047 0,975

Resultado Total 78,23 15,36 89,52 13,83 -2,076 0,038

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71

Analisando a Tabela 2 verificamos que os alunos com cinco anos de idade

tiveram melhor desempenho, com diferenças estatisticamente significativas

(p=0,001), no teste de destreza manual (36,94±6,09) comparativamente aos

alunos com quatro anos de idade (26,82±7,56). Relativamente aos testes de

Atirar e Agarrar e de Equilíbrio não verificarmos diferenças significativas entre

os dois grupos de idade. Por fim, verificamos que os alunos com cinco anos de

idade tiveram melhor desempenho, com diferenças estatisticamente

significativas (p=0,038), no resultado total da bateria do M ABC -2

(89,52±13,83) comparativamente aos alunos com quatro anos de idade

(78,23±15,36).

Na Tabela 3 apresentamos os resultados nos testes de Destreza Manual, Atirar

e Agarrar e Equilíbrio, bem como o Resultado total da bateria, obtidas através

do M ABC - 2 para o Desempenho Motor (fraco, suficiente e bom).

Tabela 3 - Destreza Manual, Atirar e Agarrar, Equilíbrio e Resultado Total obtidas através do M ABC – 2 para o domínio motor (fraco, suficiente e bom). Média, desvio padrão, valores de z e de p.

Kruskal-Wallis Test –

Desempenho Motor

Fraco Suficiente Bom

𝑥 2 p

Media Desvio Padrão

Media Desvio Padrão

Media Desvio Padrão

Destreza Manual 22 8 28,5 6,92 34,57 7,55 5,724 0,007

Atirar e Agarrar 17,75 2,75 17,5 3,5 20,11 5,59 0,900 0,416

Equilíbrio 28,75 9,28 33 2,44 33,19 4,72 1,349 0,274

Resultado Total 68,5 19,12 79 7,15 87,80 14,86 3,567 0,040

Analisando a Tabela 3 verificamos que os alunos com desempenho motor de

nível BOM apresentam um desempenho significativamente superior

(34,57±7,55, p=0,007) no teste de Destreza Manual em relação aos restantes

grupos. No que concerne aos testes de Atirar e Agarrar e de Equilíbrio não

verificamos diferenças significativas entre os grupos. Quanto ao Resultado

Total da bateria verificamos uma diferença estatisticamente significativa

(p=0,027), sendo que os alunos de nível BOM no desempenho motor

(87,80±14,86) apresentam um desempenho mais elevado do que os alunos

dos restantes grupos.

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72

VI- Discussão dos resultados

Iniciando pela análise do efeito da variável sexo na coordenação motora, o

nosso estudo não verificou diferenças significativas entre o sexo masculino e

feminino. Corroborando este resultado Cardoso et al. (2009), num estudo com

80 crianças dos 4 aos 8 anos, também não verificaram diferenças significativas

entre sexos. Num outro estudo, realizado por Silva e Beltrame (2011), com

crianças entre os 7 e os 10 anos de idade, também não foi encontrada

correlação entre a variável sexo e coordenação motora. Chow et al. (2006),

num estudo com uma amostra de 1292 crianças entre os 4 e os 6 anos idade, e

Van Waelvelde et. Al (2008), num estudo com uma amostra de 506 crianças

dos 4 e 5 anos, concluem nos seus resultados que não existem diferenças

significativas entre sexos, tal como no nosso estudo. Contudo, outros estudos

revelam resultados diferentes. Freitas (2014) apresenta um melhor

desempenho do sexo masculino relativamente ao sexo feminino nas

habilidades com bola, avaliado através do teste Movement Assessmet Baterry

for Children (M-ABC). Outros estudos (Livesey et al., 2007; Ruiz & Graupera,

2003) referem que as raparigas apresentam um melhor desempenho na

destreza manual do que os rapazes que, em contrapartida, têm um melhor

desempenho nas habilidades com bola.

Pensamos que estas discrepâncias de resultados se devem ao meio em que os

sujeitos das amostras se inserem, aos instrumentos utilizados, entre outros

fatores, sendo que as crianças devido à crescente importância do

desenvolvimento motor são cada vez mais expostas a experiências motoras

quer dentro do meio escolar quer fora.

Analisando o efeito da variável idade na coordenação motora, o nosso estudo

verificou diferenças significativas entre o desempenho das crianças com 4 anos

de idade e as crianças com 5 anos de idade. As crianças mais velhas

apresentaram um melhor desempenho no teste de Destreza Manual e no

Resultado Total da Bateria M ABC – 2 do que as crianças mais novas. Barroso

(2008), no seu estudo mas com outros instrumentos, também verificou um

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73

melhor desempenho na Destreza Manual em crianças mais velhas em relação

a crianças mais novas. Outros estudos (Giagazoglou et al., 2011; Engel-Yeger

et al., 2010), apresentam resultados igualmente idênticos, em que as crianças

com mais idade demonstram um melhor desempenho que as mais novas na

Destreza Manual e no Resultado Total da Bateria. Livesey et al. (2007), num

estudo com uma amostra de 514 crianças entre os 3 e os 5 anos de idade,

corroboram igualmente os resultados do nosso estudo.

Relativamente ao desempenho motor o nosso estudo verificou que existem

diferenças significativas de desempenho no teste de Destreza Manual e no

Resultado Total da Bateria, não se verificando o mesmo nos testes de Atirar e

Agarrar e de Equilíbrio. Apesar disto, os resultados do nosso estudo apontam

que os alunos com desempenho motor de nível BOM têm melhores resultados

na bateria de testes M ABC – 2 que os restantes grupos de alunos.

Perante estes resultados podemos inferir que a avaliação do desempenho

motor realizada pelas professoras dos alunos vai de encontro à avaliação feita

através da bateria de testes M ABC – 2, isto é, à seriação dos alunos nos

níveis FRACO, SUFICIENTE e BOM correspondem também os desempenhos

obtidos nos testes. Os alunos avaliados com BOM desempenho motor têm

também melhores resultados no total da bateria e em sentido inverso o mesmo

se verifica nos alunos com FRACO desempenho motor.

Em estudos semelhantes, Santos et al. (2012) concluíram que crianças com

dificuldades motoras apresentam igualmente níveis baixos no desempenho da

aptidão física, indo de encontro ao que afirma Haga (2009) no seu estudo.

Também Haga (2008) revela uma associação positiva entre a competência

motora, avaliada através do teste M ABC (Henderson & Sugden, 1992), e o

desempenho físico em crianças com 9 e 10 anos de idade.

Por fim, através da análise da existência de Desordens Coordenativas no

Desenvolvimento verificamos que apenas um aluno, no caso do sexo feminino,

se encontra na zona vermelha do Trafic Light System, enquanto todos os

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74

restantes alunos da amostra se encontram na zona verde do semáforo não

apresentando desordens ao nível da coordenação motora.

Segundo Freitas (2014) as atividades de âmbito recreativo devem ser

desenvolvidas na idade pré-escolar, fase em que as crianças possuem mais

tempo para as brincadeiras e jogos, em que os professores dispõem de mais

tempo para estimular mais intensamente as crianças para os trabalhos

manuais e diversos jogos.

Neste sentido, pensamos ser essencial proporcionar às crianças experiências

motoras diversificadas desde os primeiros anos de vida, de modo a

desenvolver o seu reportório motor e proporcionar um melhor desempenho

motor ao longo da sua vida.

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75

VII- Conclusão

Neste ponto apresentam-se as principais conclusões da presente investigação

com base nos resultados obtidos.

Na amostra foi encontrado um aluno do sexo feminino com desordens da

coordenação motora.

Analisado o efeito da variável sexo, dos níveis parciais e totais na coordenação

motora, o nosso estudo não verificou diferenças significativas. Este resultado

revela, tal como no instrumento original M ABC, não existir necessidade de

diferenciação segundo o sexo para as crianças dos 4 aos 5 anos.

Quando verificamos o efeito da variável idade, dos níveis parciais e totais na

coordenação motora, o nosso estudo verificou diferenças significativas na

comparação entre alunos com 4 e 5 anos no que respeita à destreza manual e

resultado total da bateria de teste M ABC – 2, indicando que as crianças com 5

anos são mais proficientes, em média, em comparação com as crianças com 4

anos.

Verificando a relação entre a avaliação do desempenho motor dos alunos

(FRACO, SUFICIENTE e BOM) realizada pelas professoras com o

desempenho dos mesmos na bateria de testes M ABC - 2, o nosso estudo

verificou diferenças significativas nas habilidades da destreza manual e no

resultado total da bateria. Assim, os nossos resultados indicam que os alunos

com BOM desempenho motor apresentam melhores resultados de

coordenação motora na bateria de teste M ABC – 2 em comparação aos alunos

com FRACO desempenho motor.

Como limitação deste estudo referimos o número reduzido da amostra e o facto

de todos os sujeitos da amostra pertencerem ao mesmo meio.

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81

5. Considerações Finais

Concluído o estágio, é com enorme satisfação que afirmo que as minhas

expectativas foram amplamente ultrapassadas. Se, inicialmente me encontrava

algo receoso e reticente face a uma nova realidade, neste momento posso

dizer que compareci em todas a aulas com vontade de as lecionar, mas mais

importante ainda foi constatar que os alunos aprenderam com prazer e alegria

aquilo que lhes foi transmitido.

Provavelmente, face à conjuntura atual, tão cedo não terei a oportunidade

de ser professor, de acordar e sentir que tenho um dever, uma missão: a de

ensinar. Por isso, aproveitei todos os momentos que passei na escola, não só

para cumprir o meu dever, mas também para relacionar-me com diferentes

pessoas fomentando o convívio e a relação amistosa com as mesmas, o que

proporcionou melhor conhecimento de mim próprio e de todos aqueles que

pertencem à comunidade educativa. Considero, também, que é fundamental

realçar o papel do PC e dos meus colegas de estágio pois sem eles,

possivelmente, não teria prosseguido o meu trabalho com tanto empenho e

determinação. O professor Francisco, através da sua experiência, dedicação e

conhecimentos, apresentou-se como pedra basilar na minha adaptação a uma

nova etapa e nos progressos da minha atuação como professor estagiário,

semana após semana. Revelou-se uma pessoa calma, dialogante e que

transmite enorme confiança. Deu-me total autonomia sobre a turma, sem

esquecer a orientação, através da sua opinião ou sugestões fruto da sua vasta

experiência enquanto docente, sem nunca interferir na aula e sem me retirar

autoridade. Foi, sem dúvida, um ótimo exemplo a nível humano e profissional

tanto para mim como para os meus colegas.

O estágio profissional foi uma experiência enriquecedora quer no âmbito

científico como pedagógico e humano. Permitiu-me desenvolver o trabalho em

equipa, apreender aspetos fundamentais da profissão, enriquecer os meus

conhecimentos, consolidar saberes, aumentar o interesse pela investigação e,

em simultâneo, fomentar o companheirismo e novos laços de amizade.

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82

O facto de lidar com adolescentes, e muitos deles com diversos

problemas inerentes a esta fase da vida, possibilitou-me a adoção de novas

estratégias com o intuito de conseguir chegar da melhor forma “ao seu mundo”

e, por conseguinte, posso afirmar que os discentes viram em mim, não apenas

o docente, mas também o amigo. Portanto, fortaleceram-se as relações

afetivas o que facilitou o desempenho das tarefas de ambas as partes. A

grande compensação desta profissão está precisamente no facto de podermos

acompanhar o crescimento físico, social e intelectual dos nossos alunos.

Apesar da incerteza que o futuro me reserva, estou consciente de que a

formação que me transmitiram, quer na Faculdade quer no EP, foi fundamental

para me tornar um profissional competente, responsável e ciente da

importância que tem o verbo “ensinar”. O legado que recebi nos últimos anos e

que teve o seu desfecho com o estágio pretendeu, sem dúvida, “conceber o

professor de Educação Física como um especialista com um conhecimento

científico e pedagógico profundo, um profissional que realiza uma atividade

técnica e reflexiva, que atua de uma forma crítica respeitando princípios éticos

e morais e que apresenta a disposição e capacidade para continuamente

desenvolver e melhorar e a eficácia do seu trabalho, perseguindo a dignidade

profissional”. (Costa, 1994 cit. por Martins, 2011, p.72).

A expectativa de alcançar os meus propósitos, reforçou a minha

motivação, interesse e empenho na profissão que escolhi. Já diz o povo, com a

sabedoria e a experiência de quem sabe do que fala, “Quem anda por gosto

não cansa”. A verdade é que, apesar da crise económica que atravessa o país,

a elevada taxa de desemprego e precaridade das condições de vida, não

tenciono desistir, mas continuar a lutar por aquilo que quero e que me realiza.

Desejo ter a coragem de me manter firme e, mesmo que o desânimo bata

à porta, procurarei a motivação em tudo o que aprendi, na esperança de ter

outra oportunidade para desempenhar as minhas funções com afinco, garra e

tenacidade,

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