Apresentação Professoras: Paula Biasini e Monica C. T. Zucherato

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Situação de Aprendizagem “No Aeroporto” Carlos Drummond de Andrade

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Situação de Aprendizagem“No Aeroporto”

Carlos Drummond de Andrade

Antes da leitura:

-Apresentar a letra da música “Encontros e Despedidas” - Milton Nascimento, ouvir com os alunos, promover uma discussão sobre o tema.

Encontros e DespedidasMande notícias do mundo de láDiz quem ficaMe dê um abraço venha me apertarTô chegandoCoisa que gosto é poder partir sem ter planosMelhor ainda é poder voltar quando quero

Todos os dias é um vai-e-vemA vida se repete na estaçãoTem gente que chega pra ficarTem gente que vai pra nunca maisTem gente que vem e quer voltarTem gente que vai e quer ficarTem gente que veio só olharTem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partirSão só dois lados da mesma viagemO trem que chegaÉ o mesmo trem da partidaA hora do encontro é também despedidaA plataforma dessa estaçãoÉ a vida desse meu lugar

-Entregar o texto “No Aeroporto” – Carlos Drummond de Andrade.

No AeroportoCarlos Drummond de Andrade

Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã e numerosa matéria atual. Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pronunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais e conversa de gestos e expressões pelos quais se faz entender admiravelmente. E o seu sistema. Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque ostensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador de suas boas intenções para com o mundo ocidentale oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a classificação.Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho; tinha horários especiais, comidas especiais, roupas especiais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores. Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merecedor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo egoísta ou importuno. Suas horas de sono - e lhe apraz dormir não só à noite como principalmente de dia - eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-lo.

Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de seus sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também nossos olhos e ouvidos se forraram a tortura da teve. Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha importância. Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso, copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta das coisas para pegá-las, mirá-las e (e seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca.Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém duvido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu sorriso sem malicia e de suas pupilas azuis — porque me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos. Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me voltei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coisas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova; ou gratuito, de poesia e jogo. Viajou meu amigo Pedro. Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente o aeroporto ficou vazio. ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. Reprod. Em: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108.

-Questionar se os alunos conhecem o autor e se já leram alguma obra dele. Em seguida, fazer comentários sobre a vida de Carlos Drummond de Andrade.-Trabalhar o título da obra, fazendo questionamentos sobre aeroportos e as expectativas sobre o texto.

-Mostrar imagens com sorrisos e olhos azuis de idosos e crianças, questionar os alunos sobre as fotos.

Durante a leitura:-Fazer uma leitura compartilhada.-Questionar sobre possíveis palavras que os alunos não conheçam.-Procurar pistas linguísticas.-Checar as hipóteses criadas antes da leitura.

Depois da leitura:-Comentários e discussões sobre o texto, impressões dos alunos.-Produção de um relato pessoal sobre despedidas.