Desse modo, essa cartilha foi preparada com carinho ao leitor ouleitora que nem sempre se dá conta de que, mesmo indiretamente,pode contribuir para o bem-estar de seu grupo social. Grande parte dapopulação não fica indiferente ao sofrimento do outro e ao ver o seupróximo passando por algum tipo de necessidade se sentemobilizado(a) a fazer alguma coisa para ajudar. A sua ação paraminimizar a dor alheia pode ser grandiosa ou pequenina, pública ouanônima, individual ou coletiva, material, financeira, emocional,

A Liga Acadêmica de TerapiaCognitivo-Comportamental daUniversidade do Estado do Riode Janeiro (LATCC-UERJ)preparou a cartilha Empatia eCooperação Frente à COVID-19.Nós, estudioso(as) da área daPsicologia, estamos atento(a)spara os comportamentos sociaisdurante a pandemia provocadapelo coronavírus e nosso

espiritual ou de qualquer natureza, mas saibaque faz diferença. Cuidar do outro beneficiaquem está em maior vulnerabilidade nomomento, mas também tem impacto positivo nasaúde e na qualidade de vida daquele que ajuda.

APRESENTAÇÃO

objetivo central é valorizar as iniciativas solidárias que se multiplicamno cenário de crise que vivenciamos hoje.

Os objetivos aqui são: a) apresentar o conceito de empatia; b) mostrarque a empatia pode ser desenvolvida e desempenha um papelfundamental nos grupos sociais; c) levar à reflexão sobrecomportamentos que auxiliam no enfrentamento da COVID-19 e nobem coletivo. Cumprir medidas de distanciamento físico e fazerconsumo consciente para evitar desabastecimentos são cuidados

Acreditamos que esse material também possa ser útil ao(à) leitor(a)que está tão acostumado(a) a ler notícias sobre o lado negativo do serhumano, que acabou desenvolvendo uma visão pessimista sobre ahumanidade. Nesta cartilha, iremos falar sobre empatia e cooperação,aspectos positivos da natureza humana, atrelados ao bem- estar tantode quem emite quanto de quem recebe o comportamento empático.

APRESENTAÇÃO

dirigidos ao próximo. Pequenos“sacrifícios” ajudam a construiruma cadeia invisível do bem, quese reverte para a coletividade.Serão aqui apresentados exemplosde cooperação, que podem ajudaras pessoas durante o contexto dapandemia.

Esperamos que esse materialelaborado com carinho pela equipe

seja útil para você!

A capacidade de perceber, sem julgar, os pensamentos e sentimentosde alguém é referido como “tomada de perspectiva”. No entanto,tomar a perspectiva de alguém, sem que ocorram sentimentoscongruentes (compaixão), não é, de fato, experimentar empatia. Umsociopata pode perceber, com precisão, o que se passa na cabeça deuma pessoa para usar em benefício próprio, em vez de focar nasnecessidades dela. Algumas pessoas compassivas, porém nãonecessariamente empáticas, costumam ver os outros como mais 

Empatia envolve compreender, sem julgar, as necessidades,pensamentos e emoções de alguém, bem como experimentarsentimentos congruentes. Essa virtude de enxergar o mundo atravésdos olhos de outra pessoa para poder entender como ela se sente, semperder de vista a própria visão de mundo e de sentimentos, é o que nospermite ajudar o outro naquilo que ele realmente precisa e não no queachamos que é melhor para ele.

necessitados e vulneráveis do que eles realmentesão e se engajam em ações de ajuda que podemnão ser necessárias, adequadas, desejadas ouefetivas.

Vamos falar sobre empatia?

A empatia costuma ser ativada quando testemunhamos situações nasquais alguém se encontra necessitado ou vitimado (por ex., ver umapessoa muito idosa atravessando a rua com dificuldade, ou alguém queestá se sentindo mal). Nesse momento, percebemos automaticamenteo estado do outro (tomada de perspectiva) e sentimos compaixão,seguida de motivação para fazer algo em prol da vítima. Neste caso, aempatia é ativada de forma automática.

A ativação da empatia também pode ocorrer a partir de um esforçomental consciente para entender o que alguém está sentindo epensando (por ex., quando percebemos que um amigo está triste oudistante, ou quando o cônjuge nota que seu par está menos carinhosoou atencioso). A empatia conscientemente ativada requeresforço/motivação em “ver” e sentir através do “olhar” do outro. Elaativa comportamentos de ajuda, gerando no receptor a sensação de sercompreendido e validado no seu modo de sentir e de pensar. Sentir-se

Vamos falar sobre empatia?

validado reduz a ansiedade e a depressão, alémde elevar a autoestima. Tais reações sãocontagiantes e produzem bem-estar, tantonaquele que expressa quanto no que recebe aempatia, fortalecendo o vínculo.

Em situações adversas, testemunhar o sofrimento de alguém podepromover perturbação elevada, levando a testemunha a se fixar maisna própria dor/desconforto do que na do outro. Esta experiência éconhecida como “angústia pessoal” e pode prejudicar a experiência daempatia, impedindo a ação de ajuda.

A angústia pessoal tem sido identificada em alguns profissionais desaúde frente ao testemunho de extremo sofrimento e morte e se revelapor ações de autoproteção, através de distanciamento e frieza em lidarcom a vítima. No entanto, quando o indivíduo consegue tomar aperspectiva da vítima, deixando de lado, temporariamente, a própriaperspectiva, ele deixa de lado o desconforto pessoal, focando nanecessidade do outro e permitindo ações empáticas.

Vamos falar sobre empatia?

Ficar em casa durante certo tempo é uma tarefa que boa parte dapopulação consegue realizar. O problema é manter esse isolamentopor um período longo, que pode durar semanas ou meses. Então,começam a surgir questionamentos sobre os custos de permanecer emcasa e o benefício auferido com isso.

garantir segurança para si próprio e para os outros. Assim, ficar emisolamento, longe fisicamente uns dos outros e adotar medidas dehigienização (em objetos e em si mesmo) são fundamentais paraevitar que a doença se alastre.

É compreensível que as pessoasestejam com medo do coronavírus.Esse medo, até certo patamar,pode funcionar, para a maioria dosindivíduos da população, como umredirecionamento do foco sobre asações que são prioritárias para

Um olhar empático para as questõesespecíficas do cenário atual

É bom lembrar que as interações humanas se baseiam em umanegociação entre aquilo que é bom para o indivíduo e para o grupo.Contudo, quando os recursos são escassos, nem sempre é fácilequacionar um bom resultado para todos. Em situações limite,decisões precisam ser tomadas. Os indivíduos claramente percebemque suas ações contribuem efetivamente para o bem-estar dasociedade? Eles de fato valorizam agir de modo a beneficiar aquele aquem não conhece? Ou preferem que outros tomem essa iniciativapara que o sacrifício que já fizeram cesse nesse momento?

Falta informação sobre o que é importante cada um fazer nasdiferentes funções da engrenagem social? Quem pode ficar em casaestá disposto a dar essa parcela de sacrifício? Estamos pautandonossas ações em premissas de solidariedade ou em aspectos menosnobres e mais autocentrados? Quem precisa trabalhar em serviços

Um olhar empático para as questõesespecíficas do cenário atual

essenciais está sendo cuidado pelas instânciasdevidas? O que mais importa para as pessoas nopresente? Preciso cuidar de mim e dos outros,mas quem são os outros? Eles também vãocuidar de mim se eu precisar?

Com essas questões em mente, as reflexões precisam incluir diversosfatores que nos mantêm vivos. Esse momento ímpar que estamosvivendo merece uma aposta de que todos vão agir em prol do outro.Criar uma rede de apoio garante, qualquer que seja o cenário, arecuperação e reconstrução de uma sociedade.

Quando a confiança impera entre os agentes sociais, isto é, quando aspessoas acreditam que todos vão agir de maneira racional,consumindo apenas o necessário para o momento, não provocando odesabastecimento, o funcionamento social é menos afetadonegativamente, pois isso favorece que cada indivíduo ajaconsiderando os demais na complexa engrenagem social.

Um olhar empático para as questõesespecíficas do cenário atual

O que se observa nesse momento de pandemia? Quais notícias quechegam? As de que um percentual da população corre para fazer umestoque de alimentos e insumos que talvez não venha a consumir,prejudicando outra parcela que não agiu rapidamente. Essefuncionamento desorganizado e provocado por aqueles que nãoconfiam em seus semelhantes, não parece ser a melhor estratégia parao grupo social. Agir de maneira a pensar em si próprio podeenfraquecer a todos. Parece ter sido esquecida a lição de solidariedadee de cuidado para com o outro que testemunhamos no resgate dos 12meninos e do técnico que ficaram presos em uma caverna naTailândia. O grupo só se salvou porque se mantiveram coesos, atentosa quem mais precisava de suprimento, dividindo os poucos recursoscom parcimônia. Enfrentar um momento como esse envolve sacrifício,envolve abrir mão de suas próprias necessidades. O melhor que sepode fazer é se valer da empatia e tentar agir de modo a contribuircom os menos favorecidos. Não é fácil, mas é necessário. É prementedesenvolver um olhar empático para o outro, mas apenas isso não ésuficiente. Em seguida, precisam ser planejadas e executadas açõesvoltadas para os mais vulneráveis.

Um olhar empático para as questõesespecíficas do cenário atual

existe e persiste em nós discreta e anonimamente. Se os indivíduos sãocapazes de provocar destruição e prejuízos aos demais, igualmenteestão aptos para promover ações que levam auxílio material ouimaterial àqueles que precisam. Sartre afirmou que “o inferno são osoutros”, mas podemos complementar dizendo que o céu só é alcançadopor intermédio das relações com os outros.

Diante de tragédias naturais ou provocadas, há uma movimentaçãocoletiva de conhecidos e anônimos, que se solidarizaram com osinfortúnios alheios. Quem nunca sorriu ou se emocionou frente a umexemplo de generosidade, no qual foi autor ou telespectador?Pesquisas científicas revelam que realizar ou presenciarcomportamentos de ajuda a outras pessoas aumentam osneurotransmissores associados à satisfação e ao contentamento,gerando impacto positivo na saúde e na qualidade de vida.

Embora notícias sobrecompetição e violênciaestejam encabeçando asmanchetes dos veículos decomunicação, há um traçohumano, a cooperação, que

Cooperação em cenários adversos

As adversidades exaltam a necessidade do olhar que transcende aofoco no interesse individual. Por exemplo, recentemente, a COVID-19suscitou a reflexão acerca de diversos pontos que envolvem as relaçõesinterpessoais:

Quando cumprimos o distanciamentofísico estamos protegendo nossa família,nossos vizinhos, os idosos e outras pessoasmais vulneráveis, principalmente aquelasportadoras de doenças pré-existentes.Boas práticas de higiene e cuidados com asaúde individual e coletiva devem serprioridade para todos!

ciador da vacina da Varíola, doença queatormentou a humanidade entre 1896 e 1980.Em1979, a OMS declarou a varíola erradicada. Istoocorreu, sobretudo, pelos esforços dos órgãos desaúde que promoveram cuidados e campanhasmundiais de vacinação em massa.

Um problema instaurado em um país não é exclusivo dele,pois rapidamente pode nos afetar. A vitória de um país é aesperança para a vitória do nosso próprio país!

Cooperação em cenários adversos

Se cuidar não é o suficiente para estar protegido. Énecessário cuidar também das pessoas ao seu redor!

Um bom exemplo foi a pesquisa do médico britânico Edward Jenner,

Cooperação em cenários adversos

O idoso, que já possui uma condição de vulnerabilidade,requer mais cuidados para conseguir se proteger.

A terceira idade éacompanhada pela reduçãogradativa da qualidade dosistema fisiológico e biológico,impactando o desempenho e obem-estar do idoso.

Os limites territoriais se desfazem quando há anecessidade do esforço coletivo.

Devido à disseminação global da COVID-19, diversos grupos depesquisadores, nacionais e internacionais, estão avaliando alternativaspara formular vacinas e medicamentos eficazes.

O distanciamento físico é gatilho para o adoecimentomental e as tecnologias podem ser pontes de conexãoseguras.

Cooperação em cenários adversos

É possível auxiliar outras pessoas sem sair da própria casa,fazendo diversos tipos de doações aos que dela carecem ouoferecendo suporte social através das tecnologiasdisponíveis, como WhatsApp, Skype, entre outras.

As adversidades possuem um início, um meio e um (desejável ourelativo) fim. Que as reflexões dos períodos de crise permaneçam comolembretes e ferramentas para lidarmos com as dificuldades cotidianas, afinal, as conquistas e superações se tornammelhores quando acompanhadas pelacooperação.

Comportamentos de ajuda quepodem ser oferecidos na quarentena

Dentro de casa

Ajude os vizinhos mais velhos!

Possibilitar que essas pessoas coloquem uma lista de compras emáreas comuns dos prédios onde vivem e outros vizinhos façam ascompras por eles. Também é viável ligar para aquele senhor, ou paraaquela “senhorinha

Ajude as pessoas em situação de rua!

Você pode separar alguns potes com comida, garrafas d’água ouqualquer outro alimento, e deixar em algum espaço onde estaspessoas pudessem ter acesso ou poderia doar algum valor para algumdos albergues responsáveis por cuidar de pessoas em situação de rua.Várias instituições solidárias que já realizavam esse trabalhopermanecem e você pode colaborar com elas para que a ajuda seexpanda.

Onde quer que tu estejas, ajude!

Não são tempos fáceis. Colabore em casa e participedas distribuições de tarefas para que ninguém fiquesobrecarregado. Períodos assim podem possibilitarproximidades e conexões inéditas.

É importante também estarmos atentos a pessoas com as quais temoscontato por redes sociais. Podemos identificar grupos que podemestar sofrendo com o confinamento, como os mais ansiosos e/oudepressivos, que interromperam tratamento psicoterapêutico/psiquiátrico, moram sozinhos, têm ideações suicidas, etc. Você temalgum ente querido que se encontre nessas situações ou em outrasdelicadas? Se sim, que tal pensarmos no que podemos fazer paraajudá-los? Existem algumas formas de demonstrarmos nosso apoio eauxiliarmos as pessoas que se encontrem em um momento difícil,apesar do distanciamento físico.

Comportamentos de ajuda quepodem ser oferecidos na quarentena

Nas redes sociais

Fortifique as redes de apoio!

Se alguém pode contar com você nessemomento difícil, que tal verbalizar isso?Quando as pessoas não se encontram em umestado emocional gradável, elas tendem aachar que são incômodas e inconvenientes.Dizer para seus amigos que eles podemcontar com você pode auxiliá-los a sentirem-se melhor para buscar ajuda!

Quando gostamos de alguém, sabemos o quanto essa pessoa éimportante para nós. Mas nestes momentos de pouco contato

Comportamentos de ajuda quepodem ser oferecidos na quarentena

Nas redes sociais

Busque entretenimento coletivo!

Agende momentos com seus amigos! Pode serassistir um filme ou série juntos, como tambémjogar um jogo virtual, como adedanha, gartic, ntreoutros. Também vale marcar de fazer uma mesma

Demonstre afeto e carinho!

tarefa ao mesmo empo, comoatividade física ou culinária! O importante é estarem juntos e mostrando que odistanciamento é só físico!

físico será que estamos conseguindodeixar isto claro? É sempre bomsabermos que somos importantespara alguém e que somosvalorizados! Então, porque não fazerelogios verdadeiros e expressar seussentimentos positivos sinceros?

Informação é algo crucial para orientarmosnossas ações, mas tudo tem que ser de formaequilibrada! Dessa forma, expormos nossosentes queridos à informação excessiva podecausar mal-estar e desesperança. Separe bem oque deve ser compartilhado confirmando averacidade da informação. Lembre-se: Paraquem tem ansiedade, isso pode ser um gatilhopara um sofrimento emocional grande!

Comportamentos de ajuda quepodem ser oferecidos na quarentena

Nas redes sociais

Não compartilhe fake news!

Propicie momentos de acolhimento!

É bom também sentir que a união não é sónos momentos alegres. Busque um espaçocom seus amigos para conversarem sobrecomo estão lidando com o confinamento.

Às vezes, desabafar com alguém especial já é o suficiente para nossentirmos menos sozinhos e esesperançosos! Pode ser por mensagem,áudio, ligação ou vídeo-chamada! Que tal perguntarmos “Tudo bem?”para mais além do que apenas por educação?

Em síntese, quando ajudamos alguém, nos sentimos mais felizes.Retiramos o foco de nós mesmos, das nossas dores, e passamos aprestar atenção nos outros. Só isso já é efetivo para aumentar o nossobem-estar. Portanto, apostar em comportamentos cooperativos eexercitar a empatia (se colocar no lugar do outro) são poderososaliados nesse momento de mudança de rotina, com distanciamentofísico, e com maior tempo dentro de casa.

E por que não tentar atividades criativas, tais como alguma forma decomunicação via janela de casa? Agende com os vizinhos algo quepossa ser feito de maneira compartilhada, em um horário previamenteestabelecido. Não precisa durar muito tempo, entre 15 e 30 minutos é osuficiente. Essa rotina, além de entreter é uma maneira de saber setodos estão bem, e cria uma rede de suporte social indireta. Alémdisso, pode-se colocar uma música para alegrar os vizinhos, variando oestilo diariamente. Pode-se oferecer um pedaço de bolo em umcestinho que desce por um barbante ou entregues em potinhos nasportas. Poemas podem ser declamados, músicas podem ser

Conclusão

cantadas em forma de canto coral, e tudo o maisque a imaginação criativa permitir. Cooperar vaiajudar você e aos outros a tornar esse períodoum momento de conexão, com maissolidariedade e menos sofrimento.