a.princesa.ada.Dalila.Leite_reduzido.pdf
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e o seu corpo especialmente recheado de algo comum
A Princesa Ada
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
Prof. Dr. Klaus Werner Capelle - Reitor
Prof. Dr. Dácio Roberto Matheus - Vice-Reitor
Pró-Reitoria de Extensão (negrito)
Prof. Dr. Daniel Pansarelli - Pró-Reitor de Extensão
Profa. Dra. Lucia Regina Horta Rodrigues Franco - Pró-Reitora Adjunta
Lilian Santos Leite Menezes - Chefe da Divisão Educacional
Maria Isabel Mesquita Vendramini Delcolli - Seção de Divulgação Cientí'ca
Vanessa Aparecida do Carmo - Seção de Divulgação Cientí'ca
Editora da UFABC
Profª. Drª. Maria Gabriela S. M. C. Marinho - Coordenação
Cleiton Fabiano Klechen
Marco de Freitas Maciel
A Princesa Adae o seu corpo especialmente recheado de algo comum
Escrito e ilustrado por Dalila Alves Leite, que – dentro do fantástico mundo da
Universidade Federal do ABC – também é identificada pelo código secreto (RA) 21050112.
Esta é uma história para crianças de alma, feita especialmente para a disciplina de Introdução à Neurociência no Reino Perdido de Santo André.
Sob a tutoria das Excelentíssimas Fada-doutora
Paula Ayako Tiba & Professora-madrinha Karin Di Monteiro Moreira.
© Copyright by Editora da Universidade Federal do ABC (EdUFABC)
Todos os direitos reservados.
Revisão
Michela Silva Moreira
Projeto grá$co, diagramação e capa
Rita Motta - Ed. Tribo da Ilha, sob coordenação da Grá&ca e Editora Copiart.
Impressão
Grá&ca e Editora Copiart
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Prefácio
Dalila Alves Leite era uma menina silvestre, obedecia ao mundo mas ao mesmo tempo crescia independente acreditando nos seus sonhos e seguindo seu instinto. Nasceu em 16 de setembro de 1994 na cidade de São Paulo, e partiu cedo com pouco mais de 19 anos por causa de um acidente de carro em fevereiro de 2013. Ela estudou na escola
primária estadual Professor Lucio de Carvalho Marques, o ensino fundamental na escola Municipal Almirante Pedro de Frontin e o ensino médio na escola Professor Carlos Gomes. Em 2011, com 17 anos, ganhou premiação como aluna destaque pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Apaixonada pelas artes e o movimento começou balé clássico aos 7 anos e dança jazz aos 10 anos, e praticou durante toda a vida dela. Em 2012 ingressou à Universidade Federal do ABC (UFABC) fazendo parte do Bacharelado de Ciência e Tecnologia e, após 1 ano, começou sua
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iniciação científica na área de Ecologia Molecular estudando a sexualidade do mamífero queixada, um tipo de porco selvagem, com a professora Cibele Biondo. Seu interesse posterior era estudar a sexualidade humana. Na UFABC ela foi parte de diferentes círculos e grupos de estudantes como dos malabares e pirofagia, tendo forte destaque nas apresentações internas dos grupos. Dalila era uma pessoa aberta ao coletivo, querida e cheia de amor. Não era estranho vê-la colocando flores e bilhetinhos de carinho espalhados pelas dependências da UFABC, só para alegrar nosso dia. O caminhar tranqüilo dela pelos corredores da faculdade refletia nas pessoas a paz que ela inspirava. O seguinte texto, apesar de ser um trabalho de faculdade, ela transformou numa historinha de criança e representa todo o carinho que a consciência dela criou como resposta ao mundo em que vivemos, as vezes agressivo, mas que com palavras da Dalila, sempre poderemos transformar com um abraço.
J. Javier S. AcuñaProfessor Adjunto
Centro de Ciências Naturais e HumanasUniversidade Federal do ABC
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Dentro da cabeça humana, existe uma pecinha chamada hipotálamo.
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Essa pecinha está ligada a muitas outras. E todas
essas peças juntas formam o sistema nervoso central.
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Esse sistema é uma parte muito importante do nosso corpo. Ele é como o rei do nosso corpo,
pois controla o que os outros sistemas vão fazer.
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Nele, ficam guardadas nossas lembranças e tudo que já aprendemos. Esse sistema também nos possibilita aprender mais.
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O sistema nervoso central é realmente muito especial!
Só que ele não é exclusivo dos seres humanos.
Muitas espécies possuem um sistema nervoso, mas nem todos são iguais.
Por isso, para animais diversos, há sistemas diversos!
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Perceba que, entre os seres humanos, também existe diversidade!
Todas as pessoas são diferentes.
Até mesmo irmãos gêmeos – que são tão parecidos – são diferentes.
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Há muito tempo, existiu uma adorável
princesa chamada Ada...
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A pecinha que ficava no centro do sistema nervoso dela estava doente. E essa pecinha, que é chamada de hipotálamo, fazia seu sistema trabalhar muito,
muito mesmo... E, por isso, Ada fabricava uma grande quantidade de uma substância mágica.
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Quando o rei e a rainha perceberam que a princesa Ada era uma criança doente, decidiram
que ela iria crescer protegida, vivendo em uma torre.
Assim, Ada cresceu sem conhecer o mundo.
A torre tinha tudo de que ela necessitava; portanto, nunca
precisaria sair de lá.
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Mas, mesmo assim, Ada era muito feliz e carinhosa com todos à sua volta, e não fazia diferença entre a realeza
e os plebeus. Para ela, todos mereciam o seu carinho.
E todas as poucas pessoas que a conheciam, adoravam estar perto da princesa.
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A substância produzida pelo hipotálamo de Ada é responsável pelas relações sociais. Funciona
como uma fita para fazer laços entre as pessoas.
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Todas as pessoas fabricam essa fita. Só que a princesa Ada fabricava muita quantidade dessa fita. Isso permitia
que ela tivesse muitos laços... Laços muito fortes.
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Muitos anos passaram, e Ada nunca tinha saído do castelo. Até que, certo
dia, ela pediu permissão a seu pai, o rei, para sair da torre. E ele permitiu.
Então, um guia levou a princesa para conhecer
o lago, a floresta, o jardim de flores e todos os outros lugares bonitos do reino.
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Quando Ada estava voltando para a torre, perguntou ao guia onde as pessoas moravam.
E o guia respondeu:
– Os camponeses e os artesãos vivem no vilarejo que fica ao lado das plantações, mas está muito tarde para irmos até lá!
E a princesa disse:
– Mas eu gostaria tanto de ir!
O guia, então, retrucou:
– Princesa, já está tarde! Além disso, o rei não lhe deu permissão para conhecer o vilarejo.
A princesa ficou decepcionada.
E eles voltaram para a torre em silêncio.
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Ada ficou muito curiosa para saber como era o vilarejo. Por isso, durante a noite, ela vestiu uma capa, arrumou uma bolsinha
com um pouco de comida e água, e fugiu da torre.
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Quando chegou ao lado das plantações, percebeu que o modo como ela vivia no castelo era muito
diferente das condições de vida das pessoas do vilarejo. Assim, a princesa Ada descobriu a pobreza.
Ada percebeu que o vilarejo era um lugar muito pobre, que muitas pessoas, além de morarem em casas muito
pequenas, passavam fome e não tinham nada para comer na cozinha. Também viu que, por não terem roupas suficientes, muitas pessoas estavam passando frio.
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A princesa ficou muito triste por tudo que viu naquele lugar. Em seguida, começou a chorar.
Antes que o sol nascesse, Ada voltou para a torre. Lá,
continuou triste, chorando.
Ela só parou de chorar quando se lembrou de que,
dentro do castelo, tinha muita comida e que ali era um
lugar bem grande e agradável.
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Por isso, durante uma viagem do rei e da rainha...
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Ada convidou todos do vilarejo para irem ao castelo. Lá, alimentou todos, oferecendo as melhores bebidas e comidas.
Deu tecidos e belas roupas para todas as pessoas.
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Em seguida, para que cada pessoa enfeitasse sua casa, doou todos os móveis, todas as
cortinas e todas as toalhas do castelo.
Depois, a princesa foi até o cofre e ofereceu todo o ouro e todas as joias do reino aos convidados.
Quando deu por si, Ada já tinha doado tudo que a família real possuía. Restou apenas o
vestido que estava em seu corpo.
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Quando o rei e a rainha voltaram, ficaram surpresos
com todas as mudanças que a generosidade da princesa Ada causou.
Eles descobriram que o castelo se tornou um
grande condomínio, onde muitas famílias viviam.
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O rei e a rainha procuraram pela filha e descobriram que, agora, Ada morava em uma casa simples,
mas confortável e bonita.
Depois desses acontecimentos, a vila cresceu
feliz e pacífica, e ninguém mais passou fome.
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Ada continuou sendo muito generosa e criou laços de amizade com todas as criaturas do reino.
E todos viveram felizes para sempre.
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Ligando os pontos...
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Por que a princesa Ada foi tão generosa???
O que a princesa Ada tinha de especial?
Uma parte bem pequena do sistema nervoso de Ada, chamada hipotálamo, gostava muito de trabalhar por causa de uma doença desconhecida. O trabalho do hipotálamo era produzir uma substância mágica.
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Substâncias mágicas existem???
A substância mágica da qual falamos na nossa história não é produto de bruxaria nem de magia. Na linguagem científica, essa substância mágica recebe o nome de oxitocina, que é um tipo de hormônio.
Hormônios são mensageiros químicos
que atuam no nosso corpo em locais
específicos, com função reguladora.
Cada hormônio possui uma função,
mas alguns trabalham em conjunto.
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Mas como a oxitocina está ligada ao comportamento da princesa Ada???
A oxitocina é responsável pela estimulação das contrações, durante o trabalho de parto. Também está envolvida na produção de leite, durante a amamentação.
Mas esse hormônio vai muito além disso...
Estudos recentes têm investigado o papel da oxitocina em vários comportamentos como relações sociais e laços afetivos. Por esse motivo, a oxitocina também é chamada de “hormônio do amor”.
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O corpo de Ada estava cheio de oxitocina.
Por isso, a princesa Ada conseguiu estabelecer laços tão fortes e com muitas pessoas diferentes, as quais, muitas vezes, ela nem conhecia.
Ada estabeleceu esses laços afetivos porque podia sentir o sofrimento das pessoas. Sabendo disso, ela fazia de tudo para ajudar. E isso a tornou uma pessoa generosa.
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Mas... E se as pessoas do vilarejo não fossem generosas e não tivessem cedido uma casa
para a ex-família real morar???
Se as pessoas do vilarejo não fossem, também, generosas, a ex-família real não teria onde morar. Portanto, o ato de cederem a casa para Ada e seus pais morarem foi uma demonstração de gratidão por tudo que a princesa fez.
Infelizmente, nem todas as pessoas são assim, principalmente fora dos contos infantis.
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Qual a moral da história???
Os laços afetivos não são somente importantes mas também necessários para o desenvolvimento e a manutenção da humanidade.
Quanto mais generosas e bondosas as pessoas forem umas com as outras (e com todas as outras espécies do planeta), melhor e mais pacífica será a nossa casa, a Terra.
Todas as pessoas podem ser boas... Mas agir com bondade é uma escolha, é um hábito.
Não é preciso ser especial para ter o corpo recheado de oxitocina.
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Mas como alguém pode ter o corpo recheado de oxitocina???
O jeito mais simples e mais eficiente de estimular a produção de oxitocina é com...
Abraços!Isso mesmo... Mas não é qualquer abraço!
Tem que ser aquele abraço com vontade, com carinho e com um sorriso no rosto.
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Abrace mais vezes!
Abrace mais pessoas,
mais animais,
mais árvores!
Mas, principalmente,
abrace os seus sonhos!
Abrace a ideia de que o mundo pode ser um lugar ainda melhor. E entenda que tudo isso vem de...
Dentro de você!
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PosfácioA disciplina de Introdução à Neurociência
e o trabalho produzido pela aluna Dalila Leite
As neurociências estudam, de forma geral, o funcionamento do Sistema Nervoso e como ele controla nossos comportamentos, emoções, aprendizados, sensações. A disciplina que introduz o tema aos alunos da UFABC tem como objetivo dar uma visão ampla sobre as possibilidades de abordagens e estudo que um neurocientista pode ter, atiçando a curiosidade e criatividade dos alunos. Como parte do processo avaliativo, no ano de 2013, procuramos incentivar os estudantes a imaginar um mundo de super-humanos, em uma das atividades propostas. Eles deveriam produzir, no formato que escolhessem (texto, história, quadrinho, livro, imagem, desenho, vídeo), um indivíduo que se diferenciasse dos demais por possuir alguma característica neural peculiar. Esta característica poderia ser benéfica ou não ao indivíduo, e a explicação científica deveria ser plausível. O presente trabalho (apresentado pela aluna) conta de forma lúdica, didática, ao mesmo tempo crítica e muito bem
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contextualizada, a estória de uma princesa, que sofria de uma disfunção neuronal, a qual a tornava uma pessoa extremamente empática e altruísta. Nunca tivemos a chance de informar à aluna Dalila que ela obteve desempenho excepcional nesta tarefa e que seu trabalho já havia sido escolhido para publicação.
Profa Dra Paula Ayako TibaProfessora Adjunta
Profa Dra Karin Di Monteiro MoreiraProfessora Visitante (2012-2014)
Centro de Matemática, Computação e CogniçãoUniversidade Federal do ABC
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Referências e material de apoio
ZAK, P. Confiança, moralidade – oxitocina, jul. 2011. TED
Global. Disponível em: <http://www.ted.com/talks/lang/pt/paul_zak_trust_morality_and_oxytocin.html>. Acesso em: 5 abr. 2014.
O’CALLAGHAN, T. “Thanks, Mom!”. 7 Jun. 2010. Time
Magazine (Time, Inc.). Disponível em: <http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1992405,00.html>. Acesso em: 8 abr. 2014.
CAMPOS, D. C. F. de; GRAVETO, J. M. G. N. Oxitocina e comportamento humano. Rev. Enf. Ref., Coimbra, v. III, n. 1, jul. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S0874-02832010000300013&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 abr. 2014.
HEINRICHS, M.; DAWANS, B. V.; GOMES, G. Oxytocin, vasopressin and human social behavior. Frontiers in
Neuroendocrinology, v. 30, n. 4, p. 548-557, oct. 2009. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0091302209000296>. Acesso em: 10 abr. 2014.