Aqui as Sementes da Paixão não se acaba!

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1741 São João do Cariri Aqui as Sementes da Paixão não se acaba! A história do Banco de Sementes das comunidades Sítio Sacramento, Curral do Meio e Poço das Pedras, no município de São João do Cariri, é bem antiga. Para as famílias agricultoras o Banco já existia através das práticas co- munitárias de conservação das semen- tes da Paixão. Só em 26 de junho de 2011, foi oficializada sua criação. A sede, onde hoje está o Banco, foi construída em 1999 através da Associação Comunitária, por meio de mutirões e doações da própria comuni- dade. No espaço funcionava uma escola pública, após a nucleação das escolas rurais na cidade, o local ficou desativa- do. A partir daí, começou a ser usado como espaço das reuniões comunitári- as. Através da participação de Edivan e Dona Marlene no Coletivo Regional, as comunidades perceberam a importância e necessidade de formação do Banco de Sementes Comunitário. No começo oito famílias deram o pontapé ini- cial à organização do espaço, levando as sementes que conservavam em suas casas. Atualmente já são 15 famílias associadas. ‘‘Pra gente aqui nunca falta semente, aquela semente, como a gente conhece, a semente da paixão, que já foi dos avós, dos bisavós, a gente conserva. Todo ano era meio mundo de gente lá em casa atrás de semente de feijão, de milho, fava, melancia... de tudo! A gente dizia tem que montar um banco de semente aqui, pra todo mundo guardar sua semente. Porque tem pessoas que não guarda em casa, eu num sei por quê! Porque uma semente boa, como a que a gente tem lá em casa, não acha em nenhum lugar!’’ (Marlene, liderança do Sítio Sacramento) Os Bancos Comunitários das Sementes da Paixão, além de serem espaços de articulação e mobilização comunitária, cumprem o papel político e estratégico de fortalecimento das ações de conservação e multiplicação das sementes da paixão. Com a falta de chuva na região, desde 2012, a comunidade decidiu fazer campos de mul- tiplicação das sementes do milho Jaboatão, conhecido como milho de Adelaide e do feijão Costela de Vaca, também conhecido como Cara Larga. Nesse ano, foram multiplicados 12 kg do milho Adelaide e 06 kg de feijão Cara Larga. Novembro/2014 Campo de multiplicação do Milho Adelaide

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A história do Banco de Sementes das comunidades Sítio Sacramento, Curral do Meio e Poço das Pedras, no município de São João do Cariri, é muito rica. Resgata os valores e a cultura de conservação das sementes da Paixão, repassados de geração em geração.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1741

São João do Cariri

Aq ui as Sementes da Paixão não se acaba!

A história do Banco de Sementes das comunidades Sítio Sacramento, Curral do Meio e Poço das Pedras, no município de São João do Cariri, é bem antiga. Para as famílias agricultoras o Banco já existia através das práticas co-munitárias de conservação das semen-tes da Paixão. Só em 26 de junho de 2011, foi oficializada sua criação.

A sede, onde hoje está o Banco, foi construída em 1999 através da Associação Comunitária, por meio de mutirões e doações da própria comuni-dade. No espaço funcionava uma escola pública, após a nucleação das escolas rurais na cidade, o local ficou desativa-do. A partir daí, começou a ser usado como espaço das reuniões comunitári-as.

Através da participação de Edivan e Dona Marlene no Coletivo Regional, as comunidades perceberam a importância e necessidade de formação do Banco de Sementes Comunitário. No começo oito famílias deram o pontapé ini-cial à organização do espaço, levando as sementes que conservavam em suas casas. Atualmente já são 15 famílias associadas.

‘‘Pra gente aqui nunca falta semente, aquela semente, como a gente conhece, a semente da paixão, que já foi dos avós, dos bisavós, a gente conserva. Todo ano era meio mundo de gente lá em casa atrás de semente de feijão, de milho, fava, melancia... de tudo! A gente dizia tem que montar um banco de semente aqui, pra todo mundo guardar sua semente. Porque tem pessoas que não guarda em casa, eu num sei por quê! Porque uma semente boa, como a que a gente tem lá em casa, não acha em nenhum lugar!’’ (Marlene, liderança do Sítio Sacramento)

Os Bancos Comunitários das Sementes da Paixão, além de serem espaços de articulação e mobilização comunitária, cumprem o papel político e estratégico de fortalecimento das ações de conservação e multiplicação das sementes da paixão.

Com a falta de chuva na região, desde 2012, a comunidade decidiu fazer campos de mul-tiplicação das sementes do milho Jaboatão, conhecido como milho de Adelaide e do feijão Costela de Vaca, também conhecido como Cara Larga. Nesse ano, foram multiplicados 12 kg do milho Adelaide e 06 kg de feijão Cara Larga.

Novembro/2014

Campo de multiplicação do Milho Adelaide

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

Mesmo com o Banco Comunitário, as fa-mílias continuam com a estratégia de guardar as sementes em seus bancos familiares.

“Cada tipo de semente tem um preço di-ferente no mercado, além disso cada uma tem um jeito de plantar. De tudo a gente tem um pouco, pois é a semente que a gente confia, essas outras sementes a gente compra, planta as vezes não nasce, ou nasce mas não dá. Semente boa só dá coisa boa e troço ruim, só dá coisa ruim, se plantar não nasce e se nas-cer não dá!’’ (Edivan Farias, liderança da co-munidade Poço das Pedras)

As lideranças das comunidades compre-endem que para fortalecer o Banco de Sementes é preciso manter as famílias que já estão participando e aproximar mais famílias para ampliar as ações das sementes. Recentemente o grupo foi apoiado pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) pa-ra melhorar instalações e infra-estrutura do Banco.

As três comunidades de São João do Cariri, estão localizadas às margens do Rio Taperoá, um importante afluente do Rio Paraíba. É por meio das águas deste rio, que as comunidades se mantém, mesmo durante os períodos de estiagem, quando o rio está aparentemente seco, as famílias se beneficiam da água que permanece conservada abaixo da areia, por onde o rio passa.

As famílias agricultoras das comunidades Sítio Sacramento, Curral do Meio e Poço das Pedras, percebem as diferenças entre as Sementes da Paixão e as do programa de dis-tribuição de sementes do governo. Antes algu-mas pessoas das comunidades só plantavam as sementes que eram distribuídas, mas hoje, com a comparação, muitas a pesar de receber as sementes, não plantam.

‘‘A semente da paixão não se acaba, es-sa que ta aparecendo não vale nada. É um tro-ço que já vem pra acabar, não produzem for-ragem e não tem garantia de produzir mais de uma vez. Essa aqui tem bem uns 500 anos, a gente sabe que é boa!’’(Dona Josefa Araújo, agricultora da comunidade Sacramento)

Banco de Sementes Comunitário

Reunião na Casa do Banco de Sementes Comunitário

Rio Taperoá. O grupo está ao lado de um dos poços dorio que abastece a comunidade.

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